Você está na página 1de 349

SME-RIO

Professor de Ensino Fundamental - História

1. Perspectivas teóricas e conceituais da História: tendências e concepções historiográficas;


fatos e crítica histórica; noções e experiências temporais; presentismo; narratividade; métodos
e fontes históricas; verdade e função social da História; formação do historiador. ................... 1
2. Ensino de História e propostas curriculares para o ensino de História para os anos finais
do ensino fundamental: a disciplina escolar e o saber histórico; planejamento e propostas
curriculares; procedimentos metodológicos e avaliativos; livros, fontes e matérias didáticos;
ensino de História e História ensinada;Lei 9394/96; Lei 10.639/03; Lei 11.645/08; PCN - História
5ª a 8ª série; BNCC – Base Nacional Comum Curricular. ...................................................... 19
3. Relação entre a sociedade, economia e o meio ambiente, em diferentes momentos da
História de povos do Mundo e do Brasil: os povos caçadores e coletores; a revolução agrícola
na África e no Oriente Médio; ................................................................................................ 48
Crescimento populacional e alteração do meio ambiente na Europa medieval; ................ 53
As relações socioeconômicas e ambientais das sociedades africanas subsaarianas
précoloniais; .......................................................................................................................... 53
A expansão marítima e comercial europeia; exploração econômica de recursos naturais
pelos colonizadores europeus no Brasil e na América; .......................................................... 61
Expansão da fronteira agrícola no Brasil, ontem e hoje; usos da terra: diferentes formas de
posse e propriedade da terra; ................................................................................................ 71
A Revolução Industrial e a alteração no meio ambiente em escala mundial; a luta pela terra
no Brasil através dos tempos; ................................................................................................ 72
O processo de Globalização; os problemas mundiais ambientais na atualidade: clima,
energia, poluição, entre outros. ............................................................................................. 78
4. Relações de trabalho em diferentes momentos da História de povos do Mundo e do Brasil:
escravidão antiga: Grécia e Roma; servidão e corporações de ofícios na sociedade medieval
europeia; ............................................................................................................................... 95
As relações de trabalho no capitalismo; o trabalho e a resistência indígena na sociedade
colonial brasileira e latino americana; o trabalho escravizado do africano no Brasil, lutas,
resistências e abolicionismo; tráfico e formação do escravismo da época Moderna; o trabalho
negro pós-emancipação; organização de trabalhadores rurais e urbanos brasileiros e latino
americanos através dos tempos: ligas, sindicatos, organizações patronais e suas lutas por
melhores condições de vida e trabalho; formas de exploração do trabalho no mundo
globalizado; greves, lutas de classe e embates culturais no mundo industrial e globalizado.
............................................................................................................................................. 105
5. Processos de constituição dos Estados Nacionais, confrontos, lutas, guerras e revoluções
na Europa, África, Oriente, América e no Brasil: a organização das antigas sociedades do
Oriente Médio; as cidades-estado gregas, a República romana e a descentralização política na
Idade Média; Feudalismo; culturas tradicionais do mundo árabe, expansão muçulmana no norte
da África e imperialismo no Oriente Médio; ......................................................................... 105
Sociedades africanas subsaarianas: os reinos Iorubás; Daomeanos; de Gana; do Mali, do
Congo e do Monomotapa; ................................................................................................... 117
Consolidação do Estado Nacional Moderno europeu; administração colonial portuguesa,
espanhola e inglesa na América; ......................................................................................... 117
Iluminismo e a Revolução Francesa; .............................................................................. 128

1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA


A Independência dos Estados Unidos; constituição dos Estados Nacionais na América
Latina; .................................................................................................................................. 139
Brasil: lutas pela independência, a transmigração da família real, o processo de
independência e o Estado Monárquico; ............................................................................... 144
Nacionalismo na Europa nos séculos XIX e XX; ............................................................. 171
África e Ásia: expansão imperialista dos Estados Europeus; resistência chinesa ao
imperialismo; ....................................................................................................................... 171
O expansionismo norte americano: a marcha para o oeste e a política externa
intervencionista para a América Latina: Doutrina Monroe e o Pan-Americanismo; .............. 177
Implantação do regime republicano no Brasil: a República Velha; .................................. 183
Primeira e Segunda Guerras Mundiais: o nazi fascismo, organização dos Estados socialistas
e comunistas; ....................................................................................................................... 200
A Revolução de 1930 e o Estado Novo de Vargas; ......................................................... 211
China: revoluções comunista e cultural; ........................................................................... 218
Guerra Fria, Guerra da Coréia; ...................................................................................... 221
Conflitos no mundo árabe: confronto entre palestinos e israelenses - passado e presente;
resistência e lutas pela independência das nações africanas; guerras entre as nações africanas
no período pós-colonial; ...................................................................................................... 231
Redemocratização brasileira entre 1945-1964; o período militar ditatorial no Brasil - 1964-
1985; ................................................................................................................................... 236
Guerra do Vietnã; ............................................................................................................ 251
A Revolução Cubana; Socialismo e Golpe Militar no Chile; a Revolução Iraniana;
esfacelamento dos Estados socialistas na Europa, queda do Muro de Berlim; conflitos étnicos
no leste europeu; o avanço da política neoliberal no mundo; .............................................. 251
O Estado Brasileiro pós regime militar: a transição para a democracia; .......................... 262
A crise política e econômica da Europa atual; ................................................................. 274
A China no mundo atual; O mundo multipolar e os conflitos recentes: Caxemira, Coreias,
Tibete, Ruanda, Colômbia, México, Bálcãs, Cáucaso; Israel e Palestina; Líbano, Guerra do
Golfo, Guerra do Afeganistão, Guerra do Iraque. ................................................................ 279
6. Cidadania e Direitos Humanos no Mundo: a cidadania em Atenas e Roma; os ideais
iluministas e as práticas de cidadania durante a Revolução Francesa e a partir da
independência dos Estados Unidos; o socialismo, o anarquismo, o comunismo, a social
democracia, o nazismo, o fascismo na Europa; experiências autoritárias na América Latina, as
declarações dos Direitos Universais do Homem e os contextos de suas elaborações; a luta
contra o apartheid na África do Sul. Os direitos das mulheres, dos jovens, das crianças, das
etnias e das minorias culturais, a pobreza e a desigualdade social e econômica. ............... 297
7. Cidadania e Direitos humanos no Brasil: os "homens bons"; o poder oligárquico, o
coronelismo e o voto na Primeira República; as Constituições e as mudanças nos direitos
políticos e civis (Estado Novo e governo militar pós 64); experiência liberal democrática de
1945- 1964; Golpe civil-militar de 1964 e repressão; Movimentos populares e estudantis, luta
dos povos indígenas; movimento de consciência negra; lutas contra as desigualdades
econômicas e sociais e pelas aspirações de direitos para toda a população brasileira hoje; a
luta pelos direitos civis das mulheres e dos movimentos LGBTQ+. ..................................... 310
8. Globalização: conceituação; antecedentes históricos, globalização em diferentes níveis:
alcances e limites; blocos econômicos e livre comércio; a política neoliberal e o Estado do bem-
estar social; as sociedades nacionais e a emergência da sociedade global: questões sociais e
culturais. .............................................................................................................................. 322
9. Dimensões da intolerância política e religiosa: cruzadas, guerras de religião e inquisição;
tolerância e intolerância na era do Iluminismo; imperialismo e darwinismo social; holocausto e
genocídio; impacto das ações terroristas no mundo; os movimentos de guerrilha; a atual política
norte-americana e a luta contra o terrorismo. ....................................................................... 325
10. Outras questões do mundo contemporâneo: racismo, xenofobia e homofobia; crime
organizado, atividades ilícitas e corrupção; AIDS e epidemias globais; aquecimento global,
questão energética e movimentos ecológicos. ..................................................................... 325

1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA


Olá Concurseiro, tudo bem?

Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua
dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do
edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando
conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você
tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação.

Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail


professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou
questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam
por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior
aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens:

01. Apostila (concurso e cargo);


02. Disciplina (matéria);
03. Número da página onde se encontra a dúvida; e
04. Qual a dúvida.

Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhar em e-mails separados,
pois facilita e agiliza o processo de envio para o tutor responsável, lembrando que teremos até
cinco dias úteis para respondê-lo (a).

Não esqueça de mandar um feedback e nos contar quando for aprovado!

Bons estudos e conte sempre conosco!

1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA


1. Perspectivas teóricas e conceituais da História: tendências e concepções
historiográficas; fatos e crítica histórica; noções e experiências temporais;
presentismo; narratividade; métodos e fontes históricas; verdade e função
social da História; formação do historiador.

*Candidato(a), antes de iniciarmos gostaria de fazer um esclarecimento. Todo o edital


aparentemente seguiu uma linha temática da História. Isso implica em termos e assuntos
trabalhados Ensino mais de uma vez em tópicos diferentes. Por isso você encontrará alguns
tópicos sendo remetidos à outras partes dessa apostila. Isso acontecerá por dois motivos:
- O mesmo conteúdo foi pedido em outro tópico com palavras/temas diferentes ou;
- Apenas um trecho de um conteúdo maior foi pedido isoladamente, e por isso o direcionamos
dentro do “todo”, uma vez que todo o nosso material segue uma organização cronológica.

TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA

Micro-História

A Micro-História é um gênero da historiografia que reduz a escala de observação de seus objetos na


pesquisa histórica.
Entre 1981 e 1988 surgiu uma coleção, na Itália, organizada pelos historiadores Carlo Ginzburg e
Giovanni Levi e intitulada de Microstorie. A coleção fez muito sucesso apresentando sua forma inovadora
de se abordar o objeto de pesquisa e passou a influenciar historiadores em várias partes do mundo com
as novas metodologias.
A Micro-História é uma forma de se pesquisar e escrever História na qual a escala de observação é
reduzida. Sem deixar de levar em consideração as estruturas estabelecidas pela História Geral, a Micro-
História se foca em objetos bem específicos para apresentar novas realidades. A proposta é que o
historiador desenvolva uma delimitação temática extremamente específica em questão de temporalidade
e de espaço para conseguir observar realidades que não são retratadas pela História Geral.
A Micro-História oferece grandes serviços à História Geral, já permite revelar fatos e realidades até
então desconhecidas. Assim, a Micro-História aborda o cotidiano de comunidades determinadas ou
apresenta biografias que complementem o contexto geral, mesmo que os indivíduos destacados fossem
figuras anônimas. Na verdade, é isso que permite esclarecer as realidades conjunturais existentes dentro
das estruturas já conhecidas.
A diferença da Micro-História para a História Geral é notória também quando é escrita. Enquanto esta
se desenvolveu como um gênero mais ligado à narrativa histórica, a Micro-História se dedica a uma
profunda exploração das fontes, utilizando os artifícios da narrativa, mas também da descrição
etnográfica.
Ainda assim, a Micro-História demorou a se tornar conhecida no mundo. Durante muito tempo
permaneceu como um método muito característico e restrito aos italianos.
A relação da Micro-História com a História Social se demonstrou muito frutífera. Uma vez que esta
procura dar voz às camadas mais baixas da sociedade, a Micro-História contribui fornecendo elementos
enriquecedores para permitir que os excluídos da História Geral se expressem.
A Micro-História forneceu um grande benefício também para a ciência História como um todo, já que
incluiu no trabalho dos historiadores uma gama imensa de fontes de pesquisa até então desconsideradas.
O trabalho do historiador se enriqueceu muito, mostrando-se capaz de reconstituir com melhores detalhes
o cotidiano do passado.

O Queijo e os Vermes
Uma das obras de destaque da Micro-História é o livro O queijo e os Vermes. O livro de Carlos
Ginzburg têm a pretensão de mostrar como era a mentalidade na Idade Média, por volta do século XVI,
de um simples homem do campo através da análise de um processo da Inquisição, narrando à história
de um moleiro, que afirmava que a origens dos seres vivos vinham da putrefação, como os vermes que
nascem do queijo, tudo viria do caos, a terra, o mar, as arvores, as pessoas os anjos, Deus o Diabo,
Inferno e o Céu. Indo contra o pensamento da Igreja Católica. Essas ideias trouxeram problemas para
Menocchio que acabou sendo preso e torturado pela Inquisição Católica.
A obra de Ginzburg é inovadora. Ele trabalha com todos os dados que dispõe de forma excepcional.
O trabalho de reconstrução é brilhante e por fim ele traz uma grande contribuição historiográfica, pois

1
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
trata de temas que não deixam de ser atuais e que produzem reflexões importantes sobre culturas popular
e eruditas, religião, costumes, leitura, entre outros.

Tendências da historiografia latino-americana


Durante boa parte do século XX, prevalecia em termos quantitativos na América Latina um tipo de
história que se poderia chamar de ‘tradicional’, ou seja, não profissional, produzida por intelectuais
autodidatas com as mais diversas formações.
O positivismo era uma tendência e os fatos políticos dominavam as análises históricas, que por sua
vez tratavam apenas dos grandes homens e suas conquistas, méritos e feitos em geral. Buscava-se na
História um elemento aglutinador que proporcionasse aos indivíduos uma identidade comum, ou seja, um
sentimento identitário nacional que justificasse as ações das elites. A História estava voltada para as elites
e era utilizada como discurso para o imperialismo, para o expansionismo. Prova disso foi a invasão do
México pela França onde Michel Chevalier, historiador e senador do Império francês, levou consigo a
ideia de que a França era a herdeira das nações católicas e lhe correspondia levar à América a tocha das
raças latinas, isto é, francesa, italiana, espanhola e portuguesa.”
Após a década de 60 – especificamente no ano de 1968 – houve uma alteração no quadro
historiográfico tradicional.
[...] emergia um renovado interesse nos mais variados aspectos da existência humana, acompanhado
da convicção de que a cultura do grupo e mesmo o desejo do indivíduo podem ser, em determinadas
circunstâncias, vetores de mudança potencialmente tão importantes quanto as forças impessoais do
desenvolvimento material e do crescimento demográfico.1
Houve uma valorização dos ‘excluídos’ pela história tradicional. Outros grupos sociais emergiam e os
modelos macro-históricos ainda presentes não bastavam para explicar os anseios do momento.
As visões conservadoras da história foram questionadas e sua funcionalidade também. A crença no
progresso, na razão e num sentido para a História foram colocados em xeque. Também a História Política
entraria em crise para ser retomada com consistência após cerca de duas décadas com o auxílio das
ciências sociais – ciência política e a antropologia, principalmente. Dá-se ênfase aos estudos das
identidades, dos modos de vida, das desconstruções, dos gêneros, etc.
A partir disso, houve uma fragmentação de objetos. Consequentemente surgiram novos métodos de
análise para esta nova demanda historiográfica. Grupos sociais ainda discriminados foram alvos de
constantes pesquisas, sendo que a análise da cultura se sobressaiu sobre a econômica, política e social.
Com o desenvolvimento da “Nova História”, dentro das propostas de Braudel, podemos perceber que
houve um crescimento quantitativo e qualitativo nas análises sobre a América Latina. Diversos autores
dedicam obras riquíssimas em informações e análises culturais sobre as populações autóctones. Mas
segundo Jurandir Malerba, não se pode desqualificar ou desconsiderar a produção marxista da história
latino-americana. Para ele, a análise materialista da História constituiu durante décadas grande parte dos
estudos sobre essas sociedades. O historiador ainda critica a análise pós-moderna da história e reivindica
um movimento “pós-marxista”:

História Social Inglesa


A História Social é mais um gênero que ganhou muita notoriedade e espaço entre os historiadores. A
tradicional História Geral costumava tomar os acontecimentos como de longa duração, partindo das
classes dominantes e considerando suas rupturas apenas em grandes eventos. Novas formas de encarar
a História revelaram um passado bem mais rico em detalhes.
A História Social aborda objetos de pesquisa que são alheios ao mundo das elites, parte das classes
menos favorecidas na sociedade. Este novo modo de enfocar a História revelou amplos laços sociais e
concedeu o papel de protagonistas da História também para classes inferiores.
Na Inglaterra, pode ser definida como um conjunto de trabalhos produzidos por um grupo de
historiadores e de teóricos de outras áreas formado na década de 60, que adotou uma linha de pesquisa
da história a partir da obra de Marx, porém em contraposição a perspectiva dogmática do marxismo,
chamada de “marxismo vulgar” por Eric Hobsbawm. Esse historiador é um dos expoentes do marxismo
inglês, assim como Thompson, Christopher Hill, Perry Anderson, Tom Nairn, Raymond Williams e outros.
Existem divergências teóricas e metodológicas entre os pesquisadores marxistas dessa corrente de
pensamento, porém podemos dizer que a proposta do grupo busca construir uma análise da sociedade
como uma totalidade em movimento, na qual a experiência humana não se encontra submissa a qualquer
forma de determinismo mecânico. Mais do que isso, além das abordagens socioeconômicas relativas ao
interesse sobre os processos estruturais de desenvolvimento do capitalismo, bastante comuns à tradição

1 MALERBA, Jurandir. A História na América Latina: ensaio de crítica historiográfica. RJ: FGV, 2009

2
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
do marxismo, também há abordagens ao cultural que até então era uma carência no pensamento
marxista.
Este gênero ganhou força com a terceira geração da Escola dos Annales, especialmente através do
historiador Edward Palmer Thompson. O autor se tornou conhecido após escrever A Formação da Classe
Operária Inglesa [1963], uma obra em três volumes que solapa as interpretações deterministas
econômicas do marxismo clássico, inclusive algumas ideias de Engels. Para Thompson, a classe operária
inglesa não foi um produto mecânico da exploração do trabalho na Revolução Industrial, todavia sua
consciência foi formada a partir de um modo de produção cultural ligado as experiências sociais anteriores
ao trabalho nas fábricas.
Thompson integrou uma corrente comprometida com a “História vista de baixo”, cujo trabalho
empenhava-se em abordar camponeses, operários, escravos, pessoas comuns ou menos favorecidas da
sociedade para revelar maior riqueza das relações sociais.
A História Social ganhou muito espaço na historiografia, mostrou-se competente na capacidade de
enriquecer os detalhes do passado. A História Social faz uso de fontes diversificadas, considerando não
apenas, por exemplo, documentos governamentais oficiais, mas todo tipo de registro humano de um
grupo ou uma comunidade.

Nova História Francesa


A Nova História é a corrente historiográfica correspondente a terceira geração da Escola dos Annales.
A terceira geração é tida como uma geração difícil de traçar um perfil, pois estes historiadores vão
trabalhar com uma história fragmentada, com várias perspectivas e inúmeras vertentes de estudo dentro
do grupo. A história nova como é conhecida a terceira geração teve como principais correntes do
momento o retorno da história política, as mentalidades e o ressurgimento da narrativa histórica.
A nova história política tem como característica o interesse pelo poder e a relação dos micros poderes
existentes na vida cotidiana, o uso político dos sistemas de representação, abrindo espaço para a história
vista de baixo preocupada com as grandes massas anônimas, preocupando-se com o indivíduo comum,
não se preocupando mais excepcionalmente com as grandes figuras da política.
As mentalidades têm como características o enfoque da sociedade relacionada ao mundo mental e
aos modos de sentir, onde os seus olhares se dirigem para o universo mental, os modos de sentir, os
âmbitos mais espontâneos das representações coletivas e também do inconsciente coletivo, analisando
a vivencia, a subjetividade, como a pessoa sente, vive e percebe o mundo social que a cerca, onde o
conceito de imaginário não trabalha a realidade em sim, mas a forma como esta é pensada ou
representada pelos sujeitos sociais.
A narrativa histórica e o seu retorno têm como características a micro história que estuda as partes e
não o todo, fazendo uma descrição detalhista e minuciosa. Os principais historiadores e intelectuais dessa
geração ou os mais destacados são: Phillipe Áries, Jean Delameau, George Duby, Jacques Le Goff,
Roger Chartier, Pierre Bordieu, Michel de Certau, Le Roy Ladurie e Michel Foucault.
Phillipe Áries tem seus interesses na relação entre a natureza e a cultura e as formas pela qual uma
cultura vê e classifica fenômenos tais como infância e morte.
Emmanuel Le Roy Ladurie tem seus interesses pela antropologia social, fazendo análise de estruturas
de classes no início da sociedade moderna, onde faz uma análise estrutural das lendas, os estudos dos
gestos simbólicos da vida social, tratando os acontecimentos como ralação ou respostas as mudanças
estruturais.
Le Goff e Duby são historiadores medievalistas que trabalham com o imaginário social. Le Goff insiste
na mediação de estruturas mentais, de hábito de pensamento ou de aparatos intelectuais ou em outras
palavras mentalidades, onde faz uma relação entre o material e o mental no decorrer das mudanças
sociais, através da representação coletiva da sociedade feudal e sua estrutura tripartite.
Duby preocupa-se com a história das ideologias, da reprodução cultural e do imaginário social e
econômico da França medieval, em que procura combinar com a história das mentalidades, fazendo uma
relação da representação coletiva da sociedade dividida em três partes: os que rezam os que guerreiam
e os que trabalham. Duby acredita que a ideologia, não é um reflexo passivo da sociedade, mas um
projeto para agir sobre ela, onde integra a relação do imaginário dos indivíduos com a sua existência real.
Bourdieu e Certeau abordaram uma história antropológica, onde Bourdieu possui o ideal de educação
como reprodução social.
Certeau foi um especialista da história da religião, porém contribuiu em outros três campos: analisando
a política da linguagem, o estudo do coletivo sobre a vida cotidiana e a escrita da história social
concentrando-se sobre o processo que descreve a construção do outro, frequentemente o inverso da
imagem que se tem de si mesmo.

3
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Roger Chartier trabalha com a história dos livros, onde se preocupa com a mudança na abordagem da
história com a reescrita, com as transformações sofridas pelos textos particulares quando adaptados às
necessidades do público ou escalamento de públicos sucessivos.
Michel Foucault tem seu estudo voltado a história cultural da sociedade e sobre o imaginário coletivo,
onde a história cultural da sociedade ou a sociedade em si mesma é uma representação coletiva.

História Cultural
A história cultural é considerada uma das práticas historiográficas mais comuns e difundidas na
atualidade. Apesar de seu sucesso, seus conceitos e sua história não possuem uniformidade entre os
historiadores.
O termo nova história cultural ganhou força a partir dos anos 1980, mas entre alguns autores que
analisaram a sua definição, ela possui dois eixos de identificação: os que defendem que está ligada
diretamente, como herdeira e ao mesmo tempo questionadora, de uma história cultural que tem raízes
desde o século XVIII; em segundo, aqueles que acreditam que este “movimento” possui raízes mais
recentes, vinculadas objetivamente na tradição historiográfica francesa, conhecida como história das
mentalidades, surgida após os anos 1960.
O que se faz muito habitualmente é uma distinção entre uma História Social da Cultura (ou uma História
Cultural propriamente dita) e uma História da Cultura que se limita a examinar estilisticamente certos
objetos culturais – geralmente pertencentes à “grande” Arte ou à “grande” Literatura – como se estes
objetos pudessem ser abordados de maneira autônoma, mais ou menos desvinculados da sociedade que
os produziu.
Sendo originadas de diferentes heranças e tradições, a nova história cultural vem privilegiando objetos,
domínios e métodos bem diferentes:
A representação e o imaginário: São as matrizes que geram as práticas sociais e os
comportamentos, que dão coesão e explicação para a realidade.
A cultura popular: Tradicionalmente, os historiadores trataram a cultura popular como um sistema
simbólico coerente e autônomo, enquanto outros, dependentes de um sistema de dominação e
desigualdade social, compreenderam a cultura popular a partir de suas dependências em face à cultura
dos dominados.
Os discursos e a linguagem: No mundo contemporâneo, existem duas crises relacionadas entre si
e que influenciaram muitos dos debates da nova história cultural: a da modernidade e a crise da História.
A primeira é referente às problemáticas elaboradas após os anos 1960 à cultura moderna, à visão
racionalista de origem oitocentista sobre a História e as raízes iluministas sobre o conhecimento da
realidade. A crise da História seria relacionada tanto ao seu objeto quanto as suas formas tradicionais de
conhecimento e método.
As práticas culturais: Para os novos historiadores culturais, as relações econômicas, sociais e
mentais são campos de práticas e produções culturais. As práticas envolvem todo o espaço da
experiência vivida e a cultura permite ao indivíduo pensar essa experiência, ou seja, criar as formulações
da vivência.
O estudo das culturas abandona os temas generalizantes e superficiais, para se concentrar em
questões de grupos particulares em momentos específicos, o que possibilita ao pesquisador, ou seja, ao
historiador, uma melhor compreensão e interpretação das relações que envolvem esses indivíduos,
permitindo assim o conhecimento daquilo que é a essência da vida para essas comunidades.

TEMPO HISTÓRICO E AS PERIODIZAÇÕES

O ano de 1453 é um dos marcos para o fim da Idade Média e passagem para a Idade Moderna, quando
a cidade de Constantinopla é conquistada pelos turcos, liderados pelo sultão Maomé II. A queda da cidade
e não significou a mudança total dos modos de vida e da organização social da Europa no ano seguinte.
A divisão da História em períodos pode gerar uma certa confusão, já que falar que houve a mudança da
mentalidade na transição entre os dois períodos não é um acontecimento uniforme, mas que ocorreu de
maneira diferenciada e em épocas diferenciadas.
Sendo a história uma ciência que estuda a experiência humana, é óbvio que compartimentar o
conhecimento simplifica fenômenos que são complexos.
No entanto, para refletir sobre o passado para tentar entender o presente e preparar para o futuro; é
fundamental dividir o tempo para sistematizar e organizar a análise.
Assim, embora nem sempre seja possível categorizar o objeto do estudo dentro do âmbito de um
tempo especifico, o historiador é sempre forçado a trabalhar com períodos para organizar seus estudos.

4
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Por outro lado, está realidade complexa que precisa ser transformada em discurso para que possamos
discuti-la, sempre gera confusão na hora de delimitá-la em períodos.
O estudante brasileiro possui dificuldade em localizar cada era na linha do tempo, fica perdido nas
datas e fatos que simbolizam cada época.

Periodização na História
A cronologia é a ciência da contagem do tempo, permitiu elaborar os calendários e, por sua vez,
organizar o trabalho humano, possibilitando a evolução da espécie.
A divisão cronológica da história, tal como conhecemos hoje, foi desenvolvida a partir do século XIX.
Visava facilitar o estudo das ações do homem através dos tempos, sendo baseada então no calendário
cristão, uma vez que foi criada a partir da cultura europeia Ocidental greco-romana.
Obviamente, o tempo passou a ter como marco zero o nascimento de Cristo, ou ao menos o ano que
se supunha Jesus teria nascido.
É interessante ressaltar que outras culturas possuem diferentes marcos iniciais para o início de seu
calendário.
Os gregos antigos tinham como ponto de partida os primeiros jogos olímpicos, os romanos a mítica
fundação da cidade de Roma.
Os muçulmanos ainda contam o tempo a partir da data da fuga de Maomé da cidade de Meca para
Medina, o que aconteceu no ano 622 pelo nosso calendário, o que faz com que eles estejam muito atrás
do ano 2.000, seiscentos anos.
Igualmente, os chineses e judeus também contam o tempo diferente do mundo Ocidental.
De qualquer forma, o calendário cristão dividiu o tempo em séculos, períodos de cem anos.
O que serviu de base para que a cronologia dividisse o tempo em grandes períodos, com início e final
marcados por fatos significativos para a humanidade.

Pré-História.
Seria o período antes da História. Tem como como marco o surgimento do homem no planeta terra,
cerca de um milhão de anos a.C. até a invenção da escrita, por volta de 5.000 anos atrás.
Mas por que a escrita?
A divisão dos períodos históricos foi feita, como citado anteriormente durante o século XIX, na Europa.
Portanto, seus períodos foram estabelecidos de acordo com a noção de desenvolvimento da civilização
ocidental, com base na Europa.
Apesar da nomenclatura estar convencionada e a ser adotada cientificamente, este um conceito está
ultrapassado, pois muitas sociedades que não possuíram escrita, nem por isto não deixaram de ter
história.
Os indígenas da América do Sul, por exemplo, não conheciam a escrita, mas preservavam sua história
oralmente.
Os arqueólogos são responsáveis pela coleta de indícios matérias destas sociedades sem escrita,
recompondo sua história.
Entre os problemas para a determinação da escrita como ponto de mudança está a noção de que as
sociedades ágrafas (que não possuem escrita) ainda vivem na pré-história, já que não alcançaram o
elemento básico da escrita, determinado pelos europeus.

Idade Antiga.
A antiguidade foi determinada após o fim desse período, ou seja, é claro que quando os gregos viveram
não se consideram antigos, na sua ótica eles eram contemporâneos.
Do período em que se desenvolveram as primeiras civilizações até o fim do império romano do ocidente
em 476, foi denominada a nomenclatura de Idade Antiga.
Em relação ao desenvolvimento das primeiras civilizações, é preciso entender o termo como a
formação de uma cultura mais complexa, com componentes sociais, políticos e econômicos; onde o
trabalho começou a ser organizado em benefício da humanidade, implicando na construção de cidades
e no entrelaçamento de redes comerciais e intercâmbios de várias ordens entre os povos.
Apesar das controvérsias entre o início e o fim desse período e do longo período de transição para
mudanças significativas, a antiguidade é cronologicamente dividida em três períodos:

- Antiguidade Oriental, até 400 anos a.C.


- Antiguidade Clássica, o período do predomínio da cultura grega e parte da romana, com delimitação
controversa, em geral fixada entre 400 anos a. C até o ano 300 d.C.

5
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Antiguidade Tardia, um período de transição que ultrapassa a Idade Antiga e entra na medieval, vai
do ano 300 até o início do século VI, note que 476, final do século V, é o marco do fim da antiguidade.

Idade Média

A ideia de uma idade média, ou seja, um separador no meio de dois períodos, foi criado para justificar
e para separar uma era de ouro, no caso a antiguidade, da retomada do crescimento do progresso
humano na modernidade.
Um erro teórico que não é mais aceito pelos historiadores, pois o período medieval foi tão ou mais rico
de realizações que a antiguidade, registrando importantes avanços técnicos e culturais.
As universidades, por exemplo, surgiram na Idade Média.
Em todo caso, a medievalidade está intimamente relacionada com a história da Europa, marcada pelo
feudalismo no Ocidente, ignorando outros povos que viveram em contextos distintos e com avanços mais
significativos.
A Idade Média tem como marco oficial o ano de 476, a queda de Roma, indo até 1453, quando caiu
Constantinopla, portanto, o fim do Império romano do Oriente, chamado de bizantino.
A Idade Média é comumente dividida em dois períodos cronológicos:

- Alta Idade Média, um período que vai de 476 até o ano 1.000, marcado pelo feudalismo em boa
parte da Europa.
- Baixa Idade Média, a qual marca o colapso do sistema feudal e a transição para a modernidade,
incluindo o Renascimento, termo que remete a uma retomada das práticas da antiguidade.

Idade Moderna
A partir do renascimento, a Idade Moderna foi concebida como um período de resgate da antiguidade,
depois de um suposto período de trevas, no caso a Idade Média.
O termo modernidade remete a grandes mudanças que possibilitaram a aceleração do
desenvolvimento humano na Idade Contemporânea.
O início desta era é repleto de controvérsias quanto sua periodização, vários historiadores defendem
marcos diferentes para o começo e o fim do período.
A corrente francesa, aquela que acabou cunhando a data tradicionalmente aceita para o início e final
da Idade Moderna, defende 1453, a queda de Constantinopla.
No entanto, datas mais significativas são defendidas como marco inicial por outras vertentes teóricas.
Entre elas 1415, a conquista de Ceuta pelos portugueses, uma cidade no norte da África inserida no
comercio de especiarias intermediadas do Oriente para a Europa.
Um marco que denota o começo da expansão ultramarina e o incremento do sistema capitalista
nascente, através do mercantilismo.
Também inserido no contexto das especiarias é o ano de 1497, data em que Vasco da Gama chegou
à Índia navegando pelo Atlântico, um feito que permitiu ampliar as fronteiras social, econômicas e culturais
da Europa.
Outra data é 1492, com a descoberta da América por Cristóvão Colombo, algo que alterou
profundamente o panorama do mundo conhecido.
Podemos notar que qualquer que seja o marco escolhido, a semelhança das outras periodizações, a
cronologia é eurocentrista.
A controvérsia também existe com relação à datação do final da Idade Moderna.
A corrente francesa delimita o fim da modernidade em 1789, ano da queda da Bastilha, prisão política
do poder absolutista, um tradicional marco tido como início da Revolução Francesa.
Porém, existem historiadores que defendem 1760 como uma data mais apropriada, pois é o ano que
tem começo a Revolução Industrial, alterando o ritmo da evolução tecnológica da humanidade.
Existem aqueles que preferem ainda 1776, quando foi assinada a declaração da independência dos
Estados Unidos da América, em quatro de julho na Virginia.
Destarte, apenas uma minoria, em geral historiadores norte-americanos, considera a data significativa
em termos globais.
Uma visão eurocêntrica tem como proposta 1814, data do Congresso de Viena, quando as fronteiras
políticas da Europa foram redefinidas, o que, a longo prazo, conduziria a primeira e segunda guerra
mundial.
O ponto de discórdia, com relação à Idade Moderna, não se limita a datação do início e final da
modernidade.

6
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Existe uma corrente historiográfica inglesa que prefere trabalhar com o conceito de Tempos Modernos
ao invés de Idade Moderna, dividindo as sociedades em pré-industriais e indústrias.
Simultaneamente, a historiografia marxista tende a estender o conceito de Idade Média até as
revoluções liberais que terminaram com o poder absolutista dos reis, considerando o mercantilismo e o
comercio de especiarias como parte das cruzadas.
Os marxistas deslocam a Idade Moderna para o período chamado tradicionalmente de
Contemporâneo.
Devido a esta confusão, justifica-se iniciar o estudo da história moderna a partir da crise do sistema
feudal, enfatizando a formação do sistema capitalista, encerrando com os processos de independência
das colônias americanas e o Congresso de Viena.

Idade Contemporânea
O período contemporâneo é aquele em que vivemos atualmente, daí o termo, sendo caracterizado
pelo capitalismo norteando as ações do Estado, com o liberalismo e o neoliberalismo em seu interior.
Obviamente começa com o final da Idade Moderna e segue até nossos dias, não tem uma data que
delimite seu fim, já que estamos ainda vivendo a contemporaneidade.
No entanto, existe uma discussão em volta da demarcação de seu fim, implicando em rediscutir a
tradicional cronologia que atualmente delimita os períodos históricos. Um exemplo é a grande influência
que a internet e a globalização exercem na vida das pessoas, e a grande mudança proporcionada por
elas.

Eurocentrismo
É importante notar que a divisão dos períodos está pautada em uma visão Eurocêntrica. O
Eurocentrismo é a ideia de que no mundo como um todo, a Europa e seus elementos culturais são
referência e o ápice no contexto de composição da sociedade moderna.
Essa perspectiva é uma doutrina que toma a cultura europeia como a pioneira da história, dessa forma
se enquadra como uma referência mundial para todas as nações, como se apenas a cultura europeia
fosse útil e verdadeira.
Essa ideologia da centralidade cultural europeia foi tão difundida, que dentro e fora da Europa existe
a visão de que essa representa toda a cultura ocidental no mundo.
Essa abordagem é negativa, já que não leva em consideração as inúmeras culturas de civilizações
que contribuem para a diversidade sociocultural do mundo, principalmente das nações que foram
colonizadas pelos europeus a partir do século XV.

TEORIAS DA HISTÓRIA E SUAS IMBRICAÇÕES NO ENSINO FORMAL

Ainda que o construto História remonte à Antiguidade Clássica, não havia uma unidade, de modo que,
até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento histórico, como algo padronizado, com
unidade mínima para ser considerado ciência. O termo ‘história’ era utilizado para designar relatos sobre
as experiências dos homens no tempo como escritos em pedras de túmulos, anais de reis, dentre outros
aportes, e apenas no início do século XIX começam a ocorrer a sistematização do saber histórico de
modo autônomo e particular, com a figura do historiador e o emprego da História no sentido de
investigação (FREITAS, 2010)2.
No campo da História, a teoria permite que o pesquisador exponha, embora de provisoriamente,
determinadas ações da sociedade com base num prisma (LE GOOF, 2008). Pode-se dizer, dessa
maneira, que a teoria normatiza a subjetividade do historiador, em que o texto histórico é o resultado do
trabalho de campo, do amadurecimento teórico e das influências do seu período histórico (BOURDIEU,
1979). Os historiadores, com efeito, ela boram suas teses em consonância com as múltiplas questões
sociais, o mesmo ocorrendo com a História ensinada, influenciada pelo contexto, desde a produção de
materiais didáticos até as escolhas teórico-metodológicas dos professores (SCHMIDT, 2004).
Perceptíveis são as influências que as teorias da História exercem sobre a História ensinada e o ensino
em geral e, assim sendo, vale caracterizar as três principais correntes de pensamento histórico que
exerceram acentuada presença no ensino de História: Positivismo, Marxismo e Escola dos Annales
(STAMATTO, 2008). Essas teorias estiveram arraigadas às tendências pedagógicas, e a História
ensinada delas se embebedou, direcionando o modo como se efetivavam o ensino e a aprendizagem
formal, ou seja, aquela que é intencional, sistemática e ministrada em instituição específica para essa
finalidade (LIBÂNEO, 1994).
2Fialho, L. M. F. Machado, C. J. S. Sales, J. A. M. As Teorias da História e a História Ensinada no Ensino Fundamental. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 1043-1065,
set./dez. 2016. http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/educativa/article/download/5465/3022

7
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para compreender a dimensão do Positivismo, faz-se necessário perceber que as mudanças
socioeconômicas advindas da Revolução Industrial, entre o final do século XVIII e o início do XIX,
interferiram de forma imperativa nas áreas do conhecimento e, em especial, na área de Ciências
Humanas (FEBVRE, 1992). A História, como área do conhecimento e disciplina escolar foi marcada por
uma metodologia rigorosa e, como conhecimento genuinamente do passado, essa tendência ficou
conhecida como Positivista ou, Escola Metódica (BLOCH, 2002).
Ranke, pensador alemão do século XIX, entendia a História como algo que realmente acontecera, e
tinha a função de julgar o passado e instituir as verdadeiras narrativas em benefício das gerações futuras
(MORAES, 1994). Para tanto, o historiador deveria estar apto, cientificamente, restringindo-se aos fatos
e mantendo-se neutro a estes. Junto ao cientificismo do século XIX, emerge a concepção de que a
sociedade era regulada por leis naturais imutáveis, que independiam do contexto (ALVES, SAHR, 2009).
Seguindo tal crença, caberia aos estudos da área de Humanas estabelecer métodos e técnicas
semelhantes aos das Ciências Naturais e o conhecimento produzido deveria ser sempre verdadeiro, o
conhecimento Positivo da História (BLOCH, 2002).
Augusto Comte, considerado o pai do Positivismo, atribuiu razões humanas para as ações do homem
na sociedade, dedicando-se a estudos voltados para a vida prática da sociedade, contrariando, por
exemplo, as explicações teológicas e metafísicas (STAMATTO, 2008). No Positivismo, contudo, acredita-
se num ideal de neutralidade, em que o pesquisador mantém um distanciamento de sua obra, e esta, por
sua vez, é a compilação do conhecimento verdadeiro, sem que fossem necessárias interpretações, já que
os fatos falavam por si. Como se percebe, nesta concepção teórica, o papel do historiador seria apenas
de recuperar e colocar à mostra, com amparo em uma rigorosa seleção de fontes históricas, os fatos
acontecidos (REIS, 2001). Salienta-se que somente eram consideradas fontes históricas os documentos
oficiais, incorporados fielmente ao seu relato, sem que houvesse questionamentos, e a legitimação do
documento dava-se pela originalidade, oficialização, timbres, entre outros (PILLETI, 1997).
No Brasil, o Positivismo obteve grande abertura, seja no campo historiográfico, seja no âmbito escolar.
No que diz respeito à educação e, especial a História ensinada, cabe destacar o fato de que este foi
marcado pela falta do pensamento crítico e pela formação do Sujeito Cívico, e os grandes homens e os
grandes feitos históricos são mostrados para as novas gerações.
A História ensinada era pautada por uma prática educativa baseada no modelo tradicional em que a
tendência pedagógica liberal (tradicional, tecnicista e de competências) se destacava e se caracterizava
pela didática com foco no professor como detentor e transmissor de conteúdos, estigmatizando o
processo educativo em operações mnemônicas voltadas para enumeração mecanicamente de datas,
heróis, grandes feitos dentre outras informações descontextualizadas, com caráter enciclopédico, sem
desenvolver análise crítica sobre os conhecimentos, perpetuando a ordem e a ideologia vigentes
(VESENTINI, 1988). Azevedo e Stamatto comungam do exposto quando exprimem a ideia de que,

Na disciplina História, tais pressupostos marcam um processo de ensino-aprendizagem onde o


conteúdo histórico é veiculado principalmente pelo texto-base ou pelo discurso do professor, tornando-se
o objeto principal do ensino a recuperação de informações e a memorização. O exercício “Responda”,
com variantes como: citar, preencher lacuna, escrever nomes, copiar informações do texto, entre outras,
torna-se o eixo central das atividades (2010, p. 706).

Assim, a concepção positivista de História é canalizada para a escola proporcionando uma visão
inquestionável, verticalizada, em que a participação dos alunos se limitava à passividade no tocante ao
que era expresso: homens, nobres, eclesiásticos, militares (ROMANELLI, 1985). E as atividades
educativas elucidavam uma característica meramente mnemônica e descontextualizada.
A corrente positivista foi posta em questão na segunda metade do século XIX com o movimento da
renovação, a expansão capitalista e o fim da segunda guerra mundial, por intermédio do Marxismo e do
Materialismo Histórico (MORAES, 1994). O impulso original marxista será a busca do leitmotiv que
explique a dinâmica das sociedades industriais e se dedica a demonstrar a exploração do homem pelo
homem, a má concentração de riqueza, as relações de trabalho e dentre outros (NADAI, 1984).
Com Karl Marx e Friedrich Engels, a História, assim como a Ciências Humanas em geral, começou a
vivenciar outra compreensão do homem, da História e dos procedimentos metodológicos na constituição
do saber histórico. Segundo essa corrente, a História são as forças motrizes, geradoras de mudanças
nas sociedades, uma história-problema, que os historiadores deveriam analisar com apoio nas nos
problemas vividos por uma deter minada sociedade (BURK, 1992). Com origem em contribuições, busca-
se o entendimento da sociedade não apenas pela aparência das coisas, sendo preciso compreender as
estruturas sociais e se fazendo necessária a formulação de categorias.

8
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Pode-se atrelar ao marxismo o caráter cientifico da produção de conhecimento, onde se encontra um
esquema teórico para a sua constituição, que se propõe a responder sobre a totalidade da sociedade,
uma Teoria Geral do Movimento das sociedades (VILAR, 1979). No Marxismo, a sociedade é dividida em
classes, e estas vivem em eterno conflito, constituindo o próprio motor da história. Diferentemente da
proposta positivista, na produção marxista, não aparecem os grandes homens e seus feitos, mas sim
todos os trabalhadores, na categoria de proletariado, como sujeitos sociais atuantes.
No Brasil, a teoria marxista experimentara uma predominância, principalmente na década de 70 do
século XX. Cabe ressaltar que a historiografia marxista é aqui caracterizada por uma complexa disputa
interna entre vários grupos político-acadêmicos que buscavam estabelecer sua interpretação. Salutar,
entretanto, se torna ressaltar a tênue relação entre a produção científica marxista e a atuação política de
partidos de esquerda (MORAES, 1994).
No tocante ao ensino de História, referido à concepção marxista, a disciplina pode se tornar um
instrumento revolucionário, contribuindo para a formação da identidade de classe e, consecutivamente,
formando cidadãos revolucionários. Nesta vertente, trabalhando conceitos como ideologia, desigualdade,
entre outros, busca-se despertar o senso crítico, fazendo-se necessário entender a sociedade burguesa
para compreender as sociedades anteriores, o passado.
No início do século XX, o campo da História passou por uma das mais significantes mudanças,
vivenciando a emergência de outros objetos, abordagens e problemas, com suporte na Escola dos
Annales, no final dos anos 1920, influenciando, ainda hoje, as produções historiográficas (LE GOFF,
NORA, 1988). Fundada em 1929, a Escola dos Annales vivera quatro fases, a saber: Primeira geração -
liderada por Marc Bloch e Lucien Febvre; Segunda geração - dirigida por Fernand Braudel; Terceira
geração – com Jacques Le Goff e Pierre Nora; e a Quarta geração - de 1989 em diante, indo até a
contemporaneidade.
Com a nova perspectiva conceitual discutida pela Escola dos Annales, a História se jungiu a estudos
de várias estruturas sociais, como: Economia, Política, Cultura, Religião etc. Ao trabalhar em conjunto
com outras disciplinas, a Escola deu um importante passo para um melhor entendimento da História.
Houve, por exemplo, com a Antropologia, uma maior possibilidade de compreender os comportamentos
de civilizações antigas; e, com a Psicologia, vieram significativas contribuições acerca dos estudos das
mentalidades; dentre outras. (BURKE, 1992).
O conceito de fonte histórica, expresso por essa Escola, ampliou-se significativamente, entendendo-a
como vestígios de naturezas diversas deixados por sociedades do passado. O historiador, contudo, deve
dominar métodos de interpretação, entendendo que as fontes deveriam ser criticadas e historicizada.
Nesse caso, a utilização das fontes históricas não trata de buscar as origens ou a verdade de fatos, como
defendiam os positivistas, visando ao registro dos atos históricos (BLOCH, 2002). Agra do Ó acrescenta:

Assim, tomaremos como referenciais da história tributária da concepção dos Annales as seguintes
questões: a submissão das preocupações teóricas ao cotidiano do ofício do historiador; a repulsa a uma
história simultaneamente presa ao passado, voltada para grandes eventos e personagens e data a luz
como uma narrativa linear; a consideração do presente como lugar de onde emergem as questões do
historiador; a valorização da história problema; a abertura para outros saberes. (2003, p. 166).

A diversificação das fontes históricas fez com que os his toriadores utilizassem pinturas, fotografias,
objetos, filmes, móveis, roupas e músicas como fontes. Com isso, a noção de documento escrito também
proliferou, pois se passou a recorrer a cartas, diários íntimos, jornais, receitas culinárias, entre outros
(FEBVRE, 1992). Essa inovação proposta pela Escola dos Annales ampliou de tal maneira o universo
das pesquisas históricas que ensejou vivível aumento nas possibilidades de o professor trabalhar em sala
de aula com variados temas no ensino da História. Afinal, se as fontes forem bem utilizadas, em uma
perspectiva que considere o desenvolvimento cognitivo envolvido na relação entre ensino e aprendizagem
em História, tornam-se ferramentas, no sentido amplo que estas podem alcançar, auxiliando a
compreensão histórica da educação escolar. Nessa percepção de História ensinada, busca desenvolver
o cidadão crítico, o qual se faz presente e atuante dentro da História (BITTENCOURT, 2004).
A História ensinada se define como um ensino como uma sequência de atividades do professor e dos
alunos, tendo em vista a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, mediante as
quais os alunos aprimoram capacidades cognitivas. Desse modo, a finalidade do ensino da história é
proporcionar aos alunos os meios para que assimilem ativamente os conhecimentos mediados pela
relação entre professor, conteúdos e alunos. Assim, ensinar e aprender são duas facetas do mesmo
processo, que se realizam em torno dos conhecimentos, sob a orientação de um professor (LIBÂNEO,
1994).

9
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A HISTÓRIA ENSINADA NO SÉCULO XXI: OBJETIVOS,
OBJETO DE ESTUDO E CATEGORIAS DE ANÁLISE PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
A História foi quase invisibilizada no ensino fundamental, sendo concebida no primeiro momento na
perspectiva despolitizada e religiosa (ROMANELLI, 1985), ou, em outro, servindo primeiramente a fins
nacionalistas (SODRÉ, 1988). Atualmente, os saberes históricos foram considerados estratégicos não
apenas como instrumento de poder e luta de classes, como centra foco a corrente histórica marxista, mas
principalmente, como meio para se compreender a inter-relação de homens e sociedades, em espaços e
tempos diferentes, em uma perspectiva crítica (MIRANDA, 2007).
Para pensar o ensino da História no ensino fundamental na contemporaneidade é necessário
compreender que cada sujeito é único e faz suas percepções e elaborações com procedência em suas
individualizações, não havendo uma receita pronta para se trabalhar esse conhecimento específico, que
se inicia de maneira informal nos primeiros anos de vida (CAINELLI, SCHMIDT, 2004). Deleuze e Guattari
(1992) postulam a ideia de que o pintor não pinta sobre uma tela virgem, nem o escritor escreve sobre
uma página branca, porque a página ou a tela estão já cobertas de clichês preexistentes. Nessa direção,
Gadotti (2004) acrescenta que, para mediar a aprendizagem no ensino, não se deve “apagar” ou ignorar
os conhecimentos preexistentes elaborados pela leitura de mundo, mas se torna essencial levar em
consideração os saberes que o aluno já traz.
Assim sendo, não se concebe mais uma práxis educativa baseada no modelo positivista em que a
tendência pedagógica liberal, animada na transmissão verticalizada de informação, resume o processo
educativo em operações mnemônicas descontextualizadas voltadas para a memorização e enumeração
de datas, nomes de heróis e feitos marcantes mecanicamente, com caráter enciclopédico, sem
desenvolver análise crítica sobre eles (BITTENCOURT, 2004). Faz-se necessário “substituir a apreensão
fragmentada da vida social, a que os alunos vêm sendo expostos, por uma compreensão articulada da
vida social, no seu funcionamento e na sua historicidade” (PENTEADO, 2010, p 40)
O ensino da História deve ser ministrado numa perspectiva progressista, que concebe o aluno como
centro do ensino aprendizagem, detentor de autonomia e apto ao desenvolvimen to cognitivo e intelectual,
ao professor cabendo instigar com problematizações e mediar o conhecimento para facilitar a assimilação
e internalização de novos saberes (PIAGET, INHELDER, 1979), considerando a inter-relação do passado
com o presente. Cainelli converge com o exposto, quando explicita a ideia de que ensinar História significa

[...] pensar como despertar interesse pela contemporaneidade através do passado que a fundamenta.
A questão principal é proporcionar à criança possibilidades de dialogar com o passado através das vozes
e vestígios que o tempo multifacetado permite. É urgente que o professor do ensino fundamental pare de
tentar levar o aluno para o passado, como se fosse possível embarcar em uma máquina do tempo. Cabe
ao professor demonstrar aos alunos que conhecer o passado só é possível se conseguirmos distinguir
seus rostos, falas e sentimentos no presente (2006, p. 71).

Ao permitir que o aluno se perceba parte da História e se compreenda como ser social ativo, que
interfere no curso dessa história viva, possibilita-se que o conhecimento se torne mais significativo para
o aluno, que não estará estudando algo alheio a sua pessoa, mas, ao contrário, estará compreendendo
a própria dinâmica de vida articulada socialmente no tempo e no espaço. Por esse motivo, importa ao
professor criar possibilidades para o diálogo com o passado evidenciando que a “alfabetização histórica”
perpassa o reconhecimento do aprendiz de que ele é parte integrante do processo problematizado.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os objetivos gerais da História para o ensino
fundamental são sete. Sintetizando-os: 1- identificar o próprio grupo de convívio e as relações que
estabelecem com outros tempos e espaços; 2- organizar alguns repertórios históricos e culturais que lhe
permitam organizar acontecimentos numa multiplicidade de tempo e formular explicações para algumas
questões do presente e do passado; 3- conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais,
em diversos tempos e espaços, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles; 4- reconhecer
mudanças e permanências nas vivências humanas na sua comunidade e em outros grupos em diferentes
tempos e espaços; 5- questionar a realidade e identificar alguns problemas refletindo acerca de possíveis
soluções; 6- utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a
ler diferentes registros escritos, icnográficos e sonoros; 7- valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar
a diversidade, reconhecendo-a como elemento de fortalecimento da democracia (PCN, 1997). Cabe
comentar que, para alcançar os objetivos propostos nos PCN, se faz necessário mostrar ao aluno que
cidadania é o sentimento de pertencer a uma realidade repleta de relações entre homem e natureza
(PENTEADO, 2010).
O objetivo no ensino fundamental, no entanto, é “alfabetizar historicamente” o aluno pela mediação de
aprendizagens, para que ele, por intermédio da observação, descrição, reflexão, representação,

10
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
explicação, analogia, síntese e experimentação, se aproprie de conceitos e categorias básicas que
possibilitem a compreensão do tempo, fato e sujeito histórico (CASTELAR, 2000), aprendendo a ler, lendo
a realidade que o cerca; ou seja, compreender o mundo com olhar histórico (CALLAI, 2005), para que se
possa desenvolver a consciência histórica, capacidade de rememorar experiências, interpretá-las sob a
forma de uma história e utilizá-las para um propósito prático da vida (RÜSEN, 2007).
A História, na qualidade de ciência social, ao estudar as ações do homem e a sociedade, nas suas
inter-relações com tempo e espaço, constitui, em seu arcabouço, um conjunto de conceitos específicos
que expressam sua identidade. Ao se apropriar, paulatinamente, desse corpo conceitual, a criança vai
desenvolvendo uma linguagem histórica que possibilita “um olhar histórico” do mundo (CALLAI, 2005).
A “alfabetização histórica” passa pela formação dos conceitos, que são desencadeados no processo
de conhecer o mundo com origem na vida cotidiana e na compreensão do tempo e espaço no qual se
está inserido, e se consolida com a apropriação crítica e reflexiva de categoria de análise, possibilitando
uma ação consciente e cidadã no mundo (BARCA, 2006). Bittencourt assevera essa afirmação, quando
relata:

O conhecimento histórico não se limita a apresentar o fato no tempo e no espaço acompanhado de


uma série de documentos que comprovam sua existência. É preciso ligar o fato a temas e ao sujeito que
o produziram para buscar uma explicação. E para explicar e interpretar os fatos, é preciso uma análise,
que deve obedecer a determinados princípios. Nesse procedimento, são utilizados conceitos e noções
que organizam os fatos, tornando-os inteligíveis (2004, p. 183).

Salienta-se, no entanto, que não é possível o professor ensinar definição de conceitos e categorias
aos alunos. Ele, no máximo, os apresenta, porque o aluno, como sujeito ativo e autônomo, é quem vai
formular seus conceitos sobre as coisas e acontecimentos arrimado em suas internalizações. Cabe ao
professor a mediação desse processo propiciando o trabalho com a linguagem adequada e a apropriação
de significados constituídos pelas problematizações, análises e negociações desenvolvidas com o aluno
(CAVALCANTI, 2005).
Vale esclarecer que a formulação dos conceitos e, consecutivamente, a aprendizagem, não se inicia
apenas no ensino fundamental, mas começa pela leitura de mundo desde o nascimento (CAINELLI,
2004). Os conceitos são representações mentais, ideias que possuem a função genérica de identificar,
descrever e classificar, propiciando conhecer os elementos que constituem a experiência humana. Desse
modo, nem toda palavra é um conceito, porque, para se constituir como tal, ela precisa trazer consigo
uma série de significados que possibilitam interpretações de proposições compiladas em um construto
(FREITAS, 2010).
Importa salientar que a Teoria de Desenvolvimento Cognitivo (Piaget), muito difundida no Brasil, que
dividia a aprendizagem infantil em estádios delimitados etariamente (até dois anos, sensório-motor, de
dois a sete, pré-operatório, de sete a doze, operacional concreto, e a partir dos doze, operacional formal
ou abstrato), influenciou o ensino e levou muitos educadores a acreditar em que a criança do ensino
fundamental não conseguiria apreender inúmeros conceitos históricos, porque estes eram abstratos e
não havia maturação biológica para sua internalização no ensino infantil e primeiras séries do ensino
fundamental (FREITAS, 2010), deixando de estimular o desenvolvimento da aprendizagem dos conceitos.
Com a difusão da teoria de Vygotsky, que entende a formação da consciência e suas funções
psicológicas superiores com suporte na atividade do sujeito em relação com instrumentos socioculturais
- e não apenas por uma evolução intrínseca e linear - foi possível ampliar a compreensão de que a
mediação é essencial desde os primeiros anos, para que haja evolução constante da zona de
desenvolvimento proximal, possibilitando passar da zona real para potencial com a formação de
pseudoconceitos (CAVALCANTI, 2005).
Na criança, os conceitos são inicialmente formados pelo contato empírico com os objetos físicos,
mediados por adultos do seu meio social ou professores, e estes vão sendo (res) significados ao longo
da vida (RÜSEN, 2007). Segundo Freitas (2010) os conceitos são considerados a matéria-prima da
disciplina História porque medeiam à leitura de mundo, auxiliam na aquisição de novos conceitos e
categorias mais abstratos e viabilizam a comunicação, contudo, não há consenso entre pesquisadores,
legisladores e professores acerca de quais conceitos históricos devem ser ensinados, já que estes não
possuem valores em si próprios, mas são mutáveis e variáveis como os códigos sociais e os escritos dos
historiadores.
Como os conceitos e categorias históricos são abstratos e de apreensão difícil, faz-se necessário
trabalhar desde a educação infantil, noções baseadas na realidade mais concreta da criança, com aquilo
que lhe é significativo. Tal afirmação enseja um conhecimento contextualizado, mas não desconsidera
possibilidades de metodologias que partem do global para o singular As múltiplas linguagens - narrativas,

11
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
objetos, jogos, brinquedos, contos, livros, fotos, textos, e o próprio corpo - estimuladas pela ludicidade,
são instrumentos para propiciar situações de aprendizagem das noções de antes, depois, devagar,
depressa, início, término, dentre outras que possibilitam a criança passar a vivenciar distintos tempos e
compreender a relação de causalidades e consequências dos acontecimentos (RIBEIRO, MARQUES,
2001).
Aos poucos, os pseudoconceitos vão sendo amadurecidos, internalizados com significações pessoais,
e a criança evolui da visão de tempo físico e linear para tempo cíclico e histórico, concluindo o ensino
fundamental com a compreensão de algumas categorias de análise fundamentais nessa etapa da
escolarização: ordenação, duração, simultaneidade, contemporaneidade e periodização. Com arrimo em
elaborações simples, há o domínio das categorias, relevantes para o aluno desenvolver a compreensão
sociocultural e do funcionamento das relações sociais que os envolvem (CAIMI, 2001).
O saber histórico escolar compreende três categorias fundamentais: fato histórico - ações humanas
significativas em determinados momentos históricos que destaquem mudanças ou permanências
ocorridas na vida coletiva; sujeito histórico - agentes da ação social, pessoas, grupos ou classes, que
foram agentes de lutas por transformações ou permanências; e tempo histórico - que pode ser
dimensionado cronologicamente ou em vários níveis e ritmos de duração – acontecimento, conjuntura e
estrutura (PCN, 1997).
O objeto de estudo da História no ensino fundamental é a identidade, entendida como formulação
social, como um conjunto de objetos e de ações que revela as práticas sociais dos diversificados grupos
que vivem num determinado lugar, espaço e tempo, interagindo, produzindo e (re) constituído
(BITTENCOURT, 2004). O ensino da História no ensino fundamental deve levar em consideração as
representações de vida dos alunos, articulando o formalismo teórico da ciência aos conhecimentos
cotidianos (SOARES, 2011) e, ao contrário da História puramente nacionalista, de cunho pedagógico
maçante e inútil ele se exprime embebido da prática e permeado por pensamentos epistemológicos que
envolvem o homem, as sociedades e o lugar (FEBVRE, 1992).
Para que o professor conheça os conceitos e as categorias necessários ao aprendizado da História,
bem como possua habilidade para mediar situações estimulantes de pesquisa e desenvolvimento de
saberes, é necessária uma formação pedagógica de qualidade (FREITAS, 2010). Sanches sinaliza,
entretanto, o despreparo do professor de ensino fundamental quando enfatiza:

Cabe salientar que professores das séries iniciais possuem, geralmente, formação em pedagogia e
apresentam pouco conhecimento sobre o assunto epistemológico das disciplinas específicas. A formação
voltada para o ensino nas séries iniciais garante a estes professores relativa facilidade em intervenções
didáticas em sala de aula, porém metodologias específicas de História não são utilizadas em situação de
ensino (2011, p. 8).

Foi constatado, ainda nos dias atuais, que essa formação inicial é incipiente e a práxis dos professores
“generalistas” é construto utilizado para fazer referência aos professores da educação infantil e primeiras
séries do ensino fundamental que ministram aula de diversas disciplinas, muitas vezes se caracterizando
pelo amadorismo do docente que não domina os conceitos e as categorias históricas, reproduzindo uma
cultura nacionalista, onde se valorizam datas, eventos e personalidades, reproduzindo uma memória
oficial naturalizada (FARIAS, 2010).
Interessa esclarecer que, ainda na atualidade, é possível observar uma matriz pedagógica pautada no
tradicionalismo e nacionalismo, com característica ufanista. Esse fato torna relevante uma discussão
permanente acerca da história ensinada, pois, mediante a disseminação do conhecimento produzido, é
possível ensejar reflexões e problematizações que contribuem para inquietações acerca do fazer
pedagógico no ensino da História. Afinal, defende-se “o princípio de inclusão das crianças e a conquista
de um espaço de reivindicação que passa pela organização de ações e práticas sociopedagógicas
críticas, includentes e democráticas” (TOMÁS, FERNANDES, 2013) e não apenas reprodutivista e
acrítica.
Salienta-se que transmitir e propagar a História de maneira contextualizada, relacionando o sujeito, o
tempo e o espaço em uma perspectiva de produção e transformação da sociedade (SCHIMIDT, GARCIA,
2005), exige qualificação profissional. Mas é urgente conceber o aluno como sujeito histórico inserido
num âmbito dialógico crítico e o professor um mediador que não resume sua tarefa à transposição
didática, reelaborando segundo dinâmica própria a interpretação e construção histórica viva que conduza
o aluno a se apropriar desse saber singular como parte de sua vida pessoal (BITTENCOURT, 2004).
Considerando que a História perpassa os fenômenos econômicos, sociais, políticos e culturais, as
transformações do mundo se constituem história e a leitura do mundo se efetiva por intermédio de um
raciocínio histórico complexo, que permita a compreensão de como esses fatores se combinam

12
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
diferentemente (SCHIMIDT, GARCIA, 2005). Por isso, necessita-se desenvolver, desde a infância, a
vivência e análise de experiências pluridisciplinares e específicas, que, possibilitem compreender a
complexidades dos fenômenos humanos sobre o terreno em envergadura planetária (MORIN, ROGER,
MOTTA, 2007).

APRENDER E ENSINAR HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL3

Como se aprende História? Como se ensina História?


Não se aprende História apenas no espaço escolar. As crianças e jovens têm acesso a inúmeras
informações, imagens e explicações no convívio social e familiar, nos festejos de caráter local, regional,
nacional e mundial. São atentos às transformações e aos ciclos da natureza, envolvem-se com os ritmos
acelerados da vida urbana, da televisão e dos videoclipes, são seduzidos pelos apelos de consumo da
sociedade contemporânea e preenchem a imaginação com ícones recriados a partir de fontes e épocas
diversas. Nas convivências entre as gerações, nas fotos e lembranças dos antepassados e de outros
tempos, crianças e jovens socializam-se, aprendem regras sociais e costumes, agregam valores,
projetam o futuro e questionam o tempo.
Rádio, livros, enciclopédias, jornais, revistas, televisão, cinema, vídeo e computadores também
difundem personagens, fatos, datas, cenários e costumes que instigam meninos e meninas a pensarem
sobre diferentes contextos e vivências humanas. Nos Jogos Olímpicos, no centenário do cinema, nos
cinquenta anos da bomba de Hiroshima, nos quinhentos anos da chegada dos europeus à América, nos
cem anos de República e da abolição da escravidão, os meios de comunicação reconstituíram com
gravuras, textos, comentários, fotografias e filmes, glórias, vitórias, invenções, conflitos que marcaram
tais acontecimentos.
Os jovens sempre participam, a seu modo, desse trabalho da memória, que sempre recria e interpreta
o tempo e a História. Apreendem impressões dos contrastes das técnicas, dos detalhes das construções,
dos traçados das ruas, dos contornos das paisagens, dos desenhos moldados pelas plantações, do
abandono das ruínas, da desordem dos entulhos, das intenções dos monumentos, que remetem ora para
o antigo, ora para o novo, ora para a sobreposição dos tempos, instigando-os a intuir, a distinguir e a olhar
o presente e o passado com os olhos da História. Aprendem que há lugares para guarda e preservação
da memória, como museus, bibliotecas, arquivos, sítios arqueológicos.
Entre os muitos momentos, meios e lugares que sugerem a existência da História, estão, também, os
eventos e os conteúdos escolares. Os jovens, as crianças e suas famílias agregam às suas vivências,
informações, explicações e valores oferecidos nas salas de aula. É, muitas vezes, a escola que cria
estímulos ou significados para lembrar ou silenciar sobre este ou aquele evento, esta ou aquela imagem,
este ou aquele processo.
Algumas das informações e questões históricas, adquiridas de modo organizado ou fragmentado, são
incorporadas significativamente pelo adolescente, que as associa, relaciona, confronta e generaliza. O
que se torna significativo e relevante consolida seu aprendizado. O que ele aprende fundamenta a
construção e a reconstrução de seus valores e práticas cotidianas e as suas experiências sociais e
culturais. O que o sensibiliza molda a sua identidade nas relações mantidas com a família, os amigos, os
grupos mais próximos e mais distantes e com a sua geração. O que provoca conflitos e dúvidas estimula-
o a distinguir, explicar e dar sentido para o presente, o passado e o futuro, percebendo a vida como
suscetível de transformação.
É preciso diferenciar, entretanto, o saber que os alunos adquirem de modo informal daquele que
aprendem na escola. No espaço escolar, o conhecimento é uma reelaboração de muitos saberes,
constituindo o que se chama de saber histórico escolar. Esse saber é proveniente do diálogo entre muitos
interlocutores e muitas fontes e é permanentemente reconstruído a partir de objetivos sociais, didáticos e
pedagógicos. Dele fazem parte as tradições de ensino da área; as vivências sociais de professores e
alunos; as representações do que e como estudar; as produções escolares de docentes e discentes; o
conhecimento fruto das pesquisas dos historiadores, educadores e especialistas das Ciências Humanas;
as formas e conteúdos provenientes dos mais diferentes materiais utilizados; as informações organizadas
nos manuais e as informações difundidas pelos meios de comunicação.
Nas suas relações com o conhecimento histórico, o ensino e a aprendizagem da História envolvem
seleção criteriosa de conteúdos e métodos que contemplem o fato, o sujeito e o tempo.
Os eventos históricos eram tradicionalmente apresentados por autores de modo isolado, deslocados
de contextos mais amplos, como muitas vezes ocorria com a história política, em que se destacavam
apenas ações de governantes e heróis. Hoje prevalece a ênfase nas relações de complementariedad e,

3 Fonte: Parâmetros curriculares nacionais: história

13
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
continuidade, descontinuidade, circularidade4, contradição e tensão com outros fatos de uma época e de
outras épocas. Destacam-se eventos que pertencem à vida política, econômica, social e cultural e
também aqueles relacionados à dimensão artística, religiosa, familiar, arquitetônica, científica,
tecnológica. Valorizam-se eventos do passado mais próximo e/ou mais distante no tempo. Há a
preocupação com as mudanças e/ou com as permanências na vida das sociedades.
De modo geral, pode-se dizer que os fatos históricos remetem para as ações realizadas por indivíduos
e pelas coletividades, envolvendo eventos políticos, sociais, econômicos e culturais.
No caso dos sujeitos históricos, há trabalhos que valorizam atores individuais, quer sejam lideranças
políticas, militares, diplomáticas, intelectuais ou religiosas, quer sejam homens anônimos tomados como
exemplos para permitir o entendimento de uma coletividade. Outros trabalhos preocupam-se com sujeitos
históricos coletivos, destacando a identidade e/ou a discordância entre grupos sociais. Em ambos os
casos, há uma preocupação em relacionar tais atores com valores, modos de viver, pensar e agir.
De modo geral, pode-se dizer que os sujeitos históricos são indivíduos, grupos ou classes sociais
participantes de acontecimentos de repercussão coletiva e/ou imersos em situações cotidianas na luta
por transformações ou permanências.
No caso do tempo histórico, de uma tradição marcada por datas alusivas a sujeitos e fatos, passa-se
a enfatizar diferentes níveis e ritmos de durações temporais. As durações estão relacionadas à percepção
dos intervalos das mudanças ou das permanências nas vivências humanas. O ritmo relaciona-se com a
percepção da velocidade das mudanças históricas.
O tempo histórico baseia-se em parte no tempo institucionalizado – tempo cronológico – e o transforma
à sua maneira. O tempo cronológico – calendários e datas – possibilita referenciar o lugar dos momentos
históricos na sucessão do tempo, mas pode remeter à compreensão de acontecimentos datados
relacionados a um determinado ponto de uma longa e infinita linha numérica. Os acontecimentos
identificados dessa forma podem assumir uma concepção de uniformidade, de regularidade e, ao mesmo
tempo, de sucessão crescente e cumulativa. A sequência cronológica dos acontecimentos pode sugerir
que toda a humanidade seguiu ou deveria seguir o mesmo percurso, criando a ideia de povos atrasados
e civilizados.
Na prática dos historiadores, o tempo não é concebido como um fluxo uniforme, em que os fenômenos
são mergulhados tais como os corpos num rio cujas correntezas levam sempre para mais longe. O tempo
da História é o tempo intrínseco aos processos e eventos estudados. São ritmados não por fenômenos
astronômicos ou físicos, mas por singularidades dos processos, nos pontos onde eles mudam de direção
ou de natureza.
As várias temporalidades e ritmos da História são categorias produzidas por aqueles que estudam os
acontecimentos no tempo. Mas, na perspectiva da realidade social e histórica, os indivíduos e os grupos
vivem os ritmos das mudanças, das resistências e das permanências. Imersos no tempo, apreendendo e
sentindo os sinais de sua existência vivem, simultaneamente, as diferentes temporalidades.
A apropriação de noções, métodos e temas próprios do conhecimento histórico, pelo saber histórico
escolar, não significa que se pretende fazer do aluno um “pequeno historiador” e nem que ele deve ser
capaz de escrever monografias. A intenção é que ele desenvolva a capacidade de observar, de extrair
informações e de interpretar algumas características da realidade do seu entorno, de estabelecer algumas
relações e confrontações entre informações atuais e históricas, de datar e localizar as suas ações e as
de outras pessoas no tempo e no espaço e, em certa medida, poder relativizar questões específicas de
sua época.
No processo de aprendizagem, o professor é o principal responsável pela criação das situações de
trocas, de estímulo na construção de relações entre o estudado e o vivido, de integração com outras
áreas de conhecimento, de possibilidade de acesso dos alunos a novas informações, de confrontos de
opiniões, de apoio ao estudante na recriação de suas explicações e de transformação de suas
concepções históricas. Nesse sentido, a avaliação não deve acontecer apenas em determinados
momentos do calendário escolar. A avaliação faz parte do trabalho do professor para diagnosticar quando
cabe a ele problematizar, confrontar, informar, instigar questionamentos, enfim criar novas situações para
que o aprendizado aconteça.
Assim, a avaliação não revela simplesmente as conquistas pessoais dos jovens ou do grupo de
estudantes. Ela possibilita ao professor problematizar o seu trabalho, discernindo quando e como intervir
e quais as situações de ensino-aprendizagem mais significativas ao longo do ciclo. Para atender à
diversidade de situações que encontra quando se coloca diante dos alunos, deve conhecer uma
variedade de atividades didáticas. Nessa linha, deve aprender a registrar as situações significativas

4 A circularidade diz respeito a valores, ideias, visões de mundo e práticas, vividas ou produzidas por certos grupos ou classes, que são absorvidas ou recriadas por
outros grupos de uma mesma sociedade ou de outra sociedade, em um tempo específico, ou de tempos diferentes.

14
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
vividas no processo de ensino, procurar conhecer experiências de outros docentes e socializar as suas
com outros educadores.
Um importante instrumento do professor para avaliar a coerência de seu trabalho, identificar as pistas
para recriá-lo, construir um acervo de experiências didáticas e socializar suas vivências de sala de aula,
é a produção de relatórios escritos. Com isso, ele estimula o exercício de explicitar em uma comunicação
com as outras pessoas as intenções, as reflexões e as fundamentações, as hipóteses dos alunos e as
intervenções pedagógicas, recuperando, entre inúmeros aspectos, aqueles que poderiam ser modificados
ou recriados em uma outra oportunidade.

Objetivos Gerais de História

Espera-se que ao longo do ensino fundamental os alunos gradativamente possam ampliar a


compreensão de sua realidade, especialmente confrontando-a e relacionando-a com outras realidades
históricas, e, assim, possam fazer suas escolhas e estabelecer critérios para orientar suas ações. Nesse
sentido, os alunos deverão ser capazes de:

- identificar relações sociais no seu próprio grupo de convívio, na localidade, na região e no país, e
outras manifestações estabelecidas em outros tempos e espaços;
- situar acontecimentos históricos e localizá-los em uma multiplicidade de tempos;
- reconhecer que o conhecimento histórico é parte de um conhecimento interdisciplinar;
- compreender que as histórias individuais são partes integrantes de histórias coletivas;
- conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos, em diversos tempos e espaços, em suas
manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre
eles, continuidades e descontinuidades, conflitos e contradições sociais;
- questionar sua realidade, identificando problemas e possíveis soluções, conhecendo formas político-
institucionais e organizações da sociedade civil que possibilitem modos de atuação;
- dominar procedimentos de pesquisa escolar e de produção de texto, aprendendo a observar e colher
informações de diferentes paisagens e registros escritos, iconográficos, sonoros e materiais;
- valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade social, considerando critérios éticos;
- valorizar o direito de cidadania dos indivíduos, dos grupos e dos povos como condição de efetivo
fortalecimento da democracia, mantendo-se o respeito às diferenças e a luta contra as desigualdades.

CONTEÚDOS DE HISTÓRIA: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO

É consensual a impossibilidade de estudar a História de todos os tempos e sociedades. Torna-se


necessário fazer seleções baseadas em determinados critérios para estabelecer os conteúdos a serem
ensinados. A seleção de conteúdos na história do ensino da área tem sido variada, sendo feita geralmente
segundo uma tradição já consolidada mas permanentemente rearticulada de acordo com temas
relevantes a cada momento histórico.
Na escolha dos conteúdos, a preocupação central desta proposta é propiciar aos alunos o
dimensionamento de si mesmos e de outros indivíduos e grupos em temporalidades históricas. Assim,
estes conteúdos procuram sensibilizar e fundamentar a compreensão de que os problemas atuais e
cotidianos não podem ser explicados unicamente a partir de acontecimentos restritos ao presente.
Requerem questionamentos ao passado, análises e identificação de relações entre vivências sociais no
tempo.
Isto significa que os conteúdos a serem trabalhados com os alunos não se restringem unicamente ao
estudo de acontecimentos e conceituações históricas. É preciso ensinar procedimentos e incentivar
atitudes nos estudantes que sejam coerentes com os objetivos da História.
Entre os procedimentos é importante que aprendam a coletar informações em bibliografias e fontes
documentais diversas; selecionar eventos e sujeitos históricos e estabelecer relações entre eles no
tempo; observar e perceber transformações, permanências, semelhanças e diferenças; identificar ritmos
e durações temporais; reconhecer autorias nas obras e distinguir diferentes versões históricas; diferenciar
conceitos históricos e suas relações com contextos; e elaborar trabalhos individuais e coletivos ( textos,
murais, desenhos, quadros cronológicos e maquetes) que organizem estudos, pesquisas e reflexões.
É importante que adquiram, progressivamente, atitudes de iniciativa para realizar estudos, pesquisas
e trabalhos; desenvolvam o interesse pelo estudo da História; valorizem a diversidade cultural, formando
critérios éticos fundados no respeito ao outro; demonstrem suas reflexões sobre temas históricos e
questões do presente; valorizem a preservação do patrimônio sociocultural; acreditem no debate e na
discussão como forma de crescimento intelectual, amadurecimento psicológico e prática de estudo;

15
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
demonstrem interesse na pesquisa em diferentes fontes — impressas, orais, iconográficas, eletrônicas
etc.; tenham uma postura colaborativa no seu grupo-classe e na relação com o professor; demonstrem a
compreensão que constroem para as relações sociais e para os valores e interesses dos grupos nelas
envolvidos; expressem e testem explicações para os acontecimentos históricos; construam hipóteses
para as relações entre os acontecimentos e os sujeitos históricos; e troquem e criem idéias e informações
coletivamente.
Os conteúdos expressam três grandes intenções:
- contribuir para a formação intelectual e cultural dos estudantes;
- favorecer o conhecimento de diversas sociedades historicamente constituídas, por meio de estudos
que considerem múltiplas temporalidades;
- propiciar a compreensão de que as histórias individuais e coletivas se integram e fazem parte da
História.

A proposta sugere que o professor problematize o mundo social em que ele e o estudante estão
imersos e construa relações entre as problemáticas identificadas e questões sociais, políticas,
econômicas e culturais de outros tempos e de outros espaços a elas pertinentes, prevalecendo a História
do Brasil e suas relações com a História da América e com diferentes sociedades e culturas do mundo.
Tais problemáticas e relações orientam o estudo de acontecimentos históricos sem a prescrição de
uma ordem de graduação espacial e sem a ordenação temporal, como se encontra no que se denomina
História Integrada5. Na escolha dos conteúdos, os docentes devem considerar para a formação social e
intelectual do aluno:
- a importância da construção de relações de transformação, permanência, semelhança e diferença
entre o presente, o passado e os espaços local, regional, nacional e mundial;
- a construção de articulações históricas como decorrência das problemáticas selecionadas;
- o estudo de contextos específicos e de processos, sejam eles contínuos ou descontínuos.

A partir de problemáticas amplas optou-se por organizar os conteúdos em eixos temáticos e desdobrá-
los em subtemas, orientando estudos interdisciplinares e a construção de relações entre acontecimentos
e contextos históricos no tempo.
O trabalho com eixos temáticos não esgota verticalmente os subtemas. Por sua vez, os conteúdos
contemplados nos subtemas não esgotam as virtualidades dos eixos temáticos e dos subtemas
propostos. A apresentação de um amplo leque de conteúdos – nos quais se pode identificar
acontecimentos, conceitos, procedimentos e atitudes – é uma sugestão para o professor fazer escolhas
de acordo com:

- o diagnóstico que realiza dos domínios conquistados pelos alunos para estudarem e refletirem sobre
questões históricas;
- aquilo que avalia como sendo importante para ser ensinado e que irá repercutir na formação histórica,
social e intelectual do estudante;
- as problemáticas contemporâneas pertinentes à realidade social, econômica, política e cultural da
localidade onde leciona, de sua própria região, do seu país e do mundo.

Esta é uma opção de ensino de História que privilegia a autonomia e a reflexão do professor na escolha
dos conteúdos e métodos de ensino. É igualmente uma concepção metodológica de ensino de História
que incentiva o docente a criar intervenções pedagógicas significativas para a aprendizagem dos
estudantes e que valoriza reflexões sobre as relações que a História, principalmente a História do Brasil,
estabelece com a realidade social vivida pelo aluno.
Para o terceiro ciclo está sendo proposto o eixo temático “História das relações sociais, da cultura e
do trabalho”. Para o quarto ciclo, “História das representações e das relações de poder”. Estes são
recortes históricos e didáticos que procuram propiciar a compreensão e a interpretação de realidades
históricas em suas múltiplas inter-relações, respeitando-se as características e domínios dos alunos em
cada ciclo.
Os eixos temáticos e subtemas que deles derivam procuram dar conta de duas grandes questões
históricas tão clássicas quanto atuais. A primeira refere-se aos contatos culturais, inter-relações e
confrontos entre grupos, classes, povos, culturas e nações. As lutas sociais de grupos e de classes, que
reivindicam respeito às diferenças e igualdades, e as lutas de culturas e de etnias na defesa de seus
territórios e de suas identidades são problemas cruciais do mundo de hoje. São importantes temas de
5 “História Integrada” é uma proposta de história total que articula a História do Brasil, da América e Geral em um único processo, explicado por relações de
causalidade, contiguidade e de simultaneidade no tempo.

16
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
estudo, na medida em que buscam a compreensão da diversidade de modos de vida, de culturas e de
representações internas das sociedades e das organizações sociais. São historicamente relevantes por
possibilitarem estudos sobre trocas, intercâmbios e confrontos que contribuem para as transformações e
as permanências históricas. Favorecem a percepção dos conflitos geradores de situações de dominação,
discriminação, luta, igualdade e desigualdade.
A segunda questão refere-se às grandes transformações políticas e tecnológicas atuais, que têm
modificado as relações de trabalho, as relações internacionais e marcado profundamente o modo de vida
das populações. Os computadores estão nos bancos, nas farmácias, nos supermercados, nas escolas e
nas residências. O cartão magnético, o código de barras, a leitura óptica, o fac-símile aceleraram as
atividades cotidianas, transformando as noções humanas de duração e percepção temporal. As grandes
redes de comunicação via satélite por computador, televisão, rádio, telefone, romperam com as distâncias
entre os locais do mundo, difundindo e socializando informações e redimensionando as formas de poder.
A mecanização da produção agrícola e a agroindústria transformaram a paisagem rural, os hábitos e os
valores. As cidades não pararam de crescer e nelas se multiplicaram os shopping centers, os fastfood,
os congestionamentos e a poluição ambiental. Na indústria, a mão-de-obra está sendo substituída
gradativamente pelos robôs e inicia-se um processo de rompimento com a produção especializada e
seriada do trabalho e uma profunda transformação sociocultural. Mudou o ritmo de vida, assim como, em
outras épocas, outras revoluções tecnológicas interferiram no destino dos povos e da humanidade. Não
se pode negar que este tema de estudo remete para questões atuais e históricas, favorecendo a
percepção de transformações na relação dos homens entre si, com a natureza e com as formas de
apreensão da realidade e do tempo.

Os conteúdos estão articulados, igualmente, com os temas transversais, privilegiando:

- as relações de trabalho existentes entre os indivíduos e as classes, envolvendo a produção de bens,


o consumo, as desigualdades sociais, as transformações das técnicas e das tecnologias e a apropriação
ou a expropriação dos meios de produção pelos trabalhadores;
- as diferenças culturais, étnicas, etárias, religiosas, de costume, gênero e poder econômico, na
perspectiva do fortalecimento de laços de identidade e reflexão crítica sobre as consequências históricas
das atitudes de discriminação e segregação;
- as lutas e as conquistas políticas travadas por indivíduos, classes e movimentos sociais;
- a relação entre o homem e a natureza, nas dimensões culturais e materiais, individuais e coletivas,
contemporâneas e históricas, envolvendo a construção de paisagens e o discernimento das formas de
manipulação, uso e preservação da fauna, flora e recursos naturais;
- reflexões históricas sobre saúde, higiene, vida e morte, doenças endêmicas e epidêmicas e as
drogas;
- as imagens, representações e valores em relação ao corpo, à sexualidade, aos cuidados e
embelezamento do indivíduo, aos tabus coletivos, à organização familiar, à educação sexual e à
distribuição de papéis entre homens, mulheres, crianças e velhos nas diferentes sociedades
historicamente constituídas;
- os acordos ou desacordos que favorecem ou desfavorecem convivências humanas mais igualitárias
e pacíficas e que podem auxiliar no respeito à paz, à vida e à concepção e prática da alteridade.

A PERCEPÇÃO DO FATO NO ENSINO DE HISTÓRIA6

O ensino de História pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade ao


incorporar a reflexão sobre o indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas
afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com classes, grupos sociais,
culturais, valores e com gerações passadas e futuras.
De acordo com os PCN, o ensino de História é portador da possibilidade de levar o aluno a estabelecer
relações e produzir reflexões sobre culturas, espacialidades e temporalidades variadas através da
construção de noções que contemplem os seus valores e os de seu grupo, desenvolvendo para isto
relações cognitivas que o levem a intervir na sociedade.
Para ensinar História a partir da experiência de vida do aluno faz-se necessária uma perspectiva
teórico-metodológica que fale da vida das pessoas, as memórias e lembranças dos sujeitos de todos os
segmentos sociais. É preciso dar voz às histórias desses sujeitos que sempre estiveram excluídos dos
conteúdos ensinados. O ensino de História pode também possibilitar ao aluno reconhecer a existência da
6 http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/historia/ensino-historia-memoria-historia-local.htm

17
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
história crítica e da história interiorizada e a viver conscientemente as especificidades de cada uma delas.
O estudo de sociedades de outros tempos e lugares pode possibilitar a constituição da própria identidade
coletiva na qual o cidadão comum está inserido, à medida que introduz o conhecimento sobre a dimensão
do ‘outro’, de uma ‘outra sociedade’, ‘outros valores e mitos’, de diferentes momentos históricos.
A seleção dos conteúdos faz parte de um conjunto formado pela preocupação com o saber escolar,
com as capacidades e as habilidades e não pode ser trabalhada independentemente. Busca-se a
coerência entre os objetivos da disciplina e os fundamentos historiográficos e pedagógicos. Com isso, o
aluno estará construindo um instrumental conceitual que permitirá a identificação das diferenças e de
suas formas próprias de realização na História. O ensino de História fornece aos seus alunos a
capacidade de compreensão da construção do conhecimento histórico oferecendo habilidades e
competências para o seu aprendizado.
A compreensão da disciplina História passa por uma compreensão de como a história é construída a
partir das evidências do passado e essa construção é feita sempre distanciada do mesmo. A história não
é o passado, mas a sua reconstrução a partir das evidências balizadas pelas compreensões possíveis e
pelos interesses do momento da reconstrução. A apreensão das noções de tempo histórico em suas
diversidades e complexidades pode favorecer a formação do estudante como cidadão, fazendo-o
aprender a discernir os limites e possibilidades de sua atuação na permanência ou na transformação da
realidade histórica em que vive.
O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos e dos sujeitos históricos
e o desenvolvimento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos
e espaços.
O estudo histórico desempenha um papel importante na medida em que contempla reflexões das
representações construídas socialmente e das relações estabelecidas entre os indivíduos, os grupos, os
povos e o mundo social em uma determinada época. Por isso este ensino pode proporcionar escolhas
pedagógicas capazes de possibilitar ao aluno refletir sobre seus valores e suas práticas cotidianas e
relacioná-las com problemáticas históricas inerentes ao seu grupo de convívio, à sua localidade, à sua
região e à sociedade nacional e mundial.
A História, se concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização da vida
social como ponto de partida para a investigação produtiva e criativa, buscando identificar as relações
sociais de grupos locais, regionais, nacionais e de outros povos; perceber as diferenças e semelhanças,
os conflitos, as contradições e as solidariedades, igualdades e desigualdades existentes nas sociedades;
comparar problemáticas atuais e de outros momentos; posicionar-se de forma crítica no seu presente e
buscar as relações possíveis com o passado.

Questão

01. (SEDUC-AM - Professor – História – FGV) Embora não tenham instituído oficialmente um
currículo mínimo obrigatório para o ensino de História no país, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s) apresentaram propostas de conteúdos a serem trabalhados com os alunos.
Os conteúdos de História propostos nos PCN’s para os anos finais do Ensino Fundamental foram
escolhidos tendo em vista a preocupação central de que os alunos desenvolvam a capacidade de:
(A) perceber relações entre vivências sociais em tempos históricos distintos.
(B) valorizar a homogeneidade do patrimônio sociocultural brasileiro.
(C) utilizar as crises como instrumento de tomada de decisão.
(D) construir o conhecimento a partir de uma única fonte.
(E) adotar, no cotidiano, atitudes de aceitação das injustiças.

02 - Leia o texto e, a seguir, assinale a alternativa correta:


No século XIX não é mais o poder despótico dos reis que tem que ser derrubado, é essa nova instância
onipotente, a força da necessidade histórica, que se levanta para determinar o curso dos acontecimentos.
Contrariando a ideia humanista da Iluminação que postulava o poder glorioso da razão humana, o que
anuncia a filosofia de Hegel é um novo Absoluto: do Bon Plaisir do rei ao Ukase inelutável da lei histórica
– um processo imanente e irrevogável que os novos profetas procuraram interpretar e predizer como
autênticos sacerdotes do mistério divino. (PENNA, José Oswaldo de Meira. O Espírito das Revoluções:
da Revolução Gloriosa à Revolução Liberal. Campinas, SP: Vide Editorial, 2016. p. 161).
Levando-se em consideração os principais acontecimentos que caracterizam o século XIX, é possível
dizer que Meira Penna em “derrubar a força da necessidade histórica” faz referência:
(A) à concepção de tempo dos reis absolutistas, que pregavam a demolição dos privilégios
aristocráticos e clericais.

18
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(B) à concepção de tempo clássica, que vigorava nas antigas civilizações grega e romana e que teve
seu retorno no século XIX.
(C) à concepção de tempo revolucionário, nascida com a Revolução Francesa e que se disseminou no
século XIX.
(D) à concepção de tempo na Idade Média, na qual os sacerdotes esperavam pelo Juízo Final, pelo
fim dos tempos e pela reintegração do Homem com a Eternidade.
(E) à concepção de tempo cíclico, herdada da cultura indiana pelos intelectuais europeus do século
XIX.

03. (SED/SC – Professor Séries Iniciais – ACAFE) De acordo com a concepção de história definida
na Proposta Curricular de Santa Catarina, é imprescindível analisar as múltiplas dimensões do tempo de
modo a capturar o sentido da superação das noções anteriores para a compreensão dos múltiplos e
simultâneos tempos históricos. Nessa perspectiva, compreende-se que:
(A) o processo histórico acontece num tempo e espaço determinados, com imbricações sociais,
econômicas, culturais, políticas que nem sempre estão visíveis.
(B) as diversas concepções de tempo são produtos advindo da escolarização, os quais são
compreendidos somente no espaço formal de educação.
(C) trabalhar atividades didáticas que envolvam os conteúdos da história significa voltar no tempo e
saber o que aconteceu no passado.
(D) o ensino de história é atemporal, já que está distante da nossa realidade, devendo ser analisado a
partir das concepções individuais dos alunos e professores

Gabarito

01.A / 02.C / 03.A

Comentários

01. Resposta: A.
De acordo com os PCN, o ensino de História é portador da possibilidade de levar o aluno a estabelecer
relações e produzir reflexões sobre culturas, espacialidades e temporalidades variadas.

02. Resposta: C.
O texto de Meira Penna faz referência à concepção de tempo histórico nascida com a Revolução
Francesa, sobretudo com os jacobinos, como Robespierre, que pregava a “aceleração do tempo histórico”
por meio da revolução. É essa concepção de que a história pode ser moldada, de que o futuro pode ser
construído, que dominou as ideologias políticas do século XIX e a primeira metade do século XX.

03. Resposta: A
Os exemplos dados no início do material referente ao PC de Santa Catarina tratam da percepção do
tempo e suas mudanças em lugares que não apenas o âmbito escolar. Essas percepções não estão
apenas restritas ao passado distante ou recente mas a toda a mudança, incluindo as atuais que nos
afetam como sociedade e não apenas como indivíduo.

2. Ensino de História e propostas curriculares para o ensino de História para os


anos finais do ensino fundamental: a disciplina escolar e o saber histórico;
planejamento e propostas curriculares; procedimentos metodológicos e
avaliativos; livros, fontes e matérias didáticos; ensino de História e História
ensinada;Lei 9394/96; Lei 10.639/03; Lei 11.645/08; PCN - História 5ª a 8ª série;
BNCC – Base Nacional Comum Curricular.

Prezado(a) Candidato(a), as legislações exigidas pelo edital neste tópico foram trabalhadas juntamente
com a LDB (Lei 9.394) na apostila de Fundamentos Teórico Metodológicos e Político Filosóficos da
Educação. Portanto evitando repetições e redundâncias elas não serão aqui novamente abordadas.

19
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
HISTÓRIA7

*Candidato(a). O arquivo original BNCC conta com 472 páginas. Mesmo com a parte referida à
disciplina de História não sendo o total dessas páginas, consideremos que o arquivo é muito
extenso.
Segue aqui uma apresentação do conteúdo e o link com o documento na íntegra referenciado
no rodapé.

Todo conhecimento sobre o passado é também um conhecimento do presente elaborado por distintos
sujeitos. O historiador indaga com vistas a identificar, analisar e compreender os significados de diferentes
objetos, lugares, circunstâncias, temporalidades, movimentos de pessoas, coisas e saberes. As
perguntas e as elaborações de hipóteses variadas fundam não apenas os marcos de memória, mas
também as diversas formas narrativas, ambos expressão do tempo, do caráter social e da prática da
produção do conhecimento histórico.
As questões que nos levam a pensar a História como um saber necessário para a formação das
crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a
dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo atual.
A relação passado/presente não se processa de forma automática, pois exige o conhecimento de
referências teóricas capazes de trazer inteligibilidade aos objetos históricos selecionados. Um objeto só
se torna documento quando apropriado por um narrador que a ele confere sentido, tornando-o capaz de
expressar a dinâmica da vida das sociedades. Portanto, o que nos interessa no conhecimento histórico é
perceber a forma como os indivíduos construíram, com diferentes linguagens, suas narrações sobre o
mundo em que viveram e vivem, suas instituições e organizações sociais. Nesse sentido, “O historiador
não faz o documento falar: é o historiador quem fala e a explicitação de seus critérios e procedimentos é
fundamental para definir o alcance de sua fala. Toda operação com documentos, portanto, é de natureza
retórica.”
A história não emerge como um dado ou um acidente que tudo explica: ela é a correlação de forças,
de enfrentamentos e da batalha para a produção de sentidos e significados, que são constantemente
reinterpretados por diferentes grupos sociais e suas demandas – o que, consequentemente, suscita
outras questões e discussões.
O exercício do “fazer história”, de indagar, é marcado, inicialmente, pela constituição de um sujeito.
Em seguida, amplia-se para o conhecimento de um “Outro”, às vezes semelhante, muitas vezes diferente.
Depois, alarga-se ainda mais em direção a outros povos, com seus usos e costumes específicos. Por
fim, parte-se para o mundo, sempre em movimento e transformação. Em meio a inúmeras combinações
dessas variáveis – do Eu, do Outro e do Nós –, inseridas em tempos e espaços específicos, indivíduos
produzem saberes que os tornam mais aptos para enfrentar situações marcadas pelo conflito ou pela
conciliação.
Entre os saberes produzidos, destaca-se a capacidade de comunicação e diálogo, instrumento
necessário para o respeito à pluralidade cultural, social e política, bem como para o enfrentamento de
circunstâncias marcadas pela tensão e pelo conflito. A lógica da palavra, da argumentação, é aquela que
permite ao sujeito enfrentar os problemas e propor soluções com vistas à superação das contradições
políticas, econômicas e sociais do mundo em que vivemos.
Para se pensar o ensino de História, é fundamental considerar a utilização de diferentes fontes e tipos
de documento (escritos, iconográficos, materiais, imateriais) capazes de facilitar a compreensão da
relação tempo e espaço e das relações sociais que os geraram. Os registros e vestígios das mais diversas
naturezas (mobiliário, instrumentos de trabalho, música etc.) deixados pelos indivíduos carregam em si
mesmos a experiência humana, as formas específicas de produção, consumo e circulação, tanto de
objetos quanto de saberes. Nessa dimensão, o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório
da memória voltado para a produção de um saber próprio da história.
A utilização de objetos materiais pode auxiliar o professor e os alunos a colocar em questão o
significado das coisas do mundo, estimulando a produção do conhecimento histórico em âmbito escolar.
Por meio dessa prática, docentes e discentes poderão desempenhar o papel de agentes do processo de
ensino e aprendizagem, assumindo, ambos, uma “atitude historiadora” diante dos conteúdos propostos,
no âmbito de um processo adequado ao Ensino Fundamental.
Os processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise de um objeto
estimulam o pensamento.

7 < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf>

20
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
De que material é feito o objeto em questão? Como é produzido? Para que serve? Quem o consome?
Seu significado se alterou no tempo e no espaço? Como cada indivíduo descreve o mesmo objeto? Os
procedimentos de análise utilizados são sempre semelhantes ou não? Por quê? Essas perguntas auxiliam
a identificação de uma questão ou objeto a ser estudado.
Diferentes formas de percepção e interação com um mesmo objeto podem favorecer uma melhor
compreensão da história, das mudanças ocorridas no tempo, no espaço e, especialmente, nas relações
sociais. O pilão, por exemplo, serviu para preparar a comida e, posteriormente, transformou-se em objeto
de decoração. Que significados o pilão carrega? Que sociedade o produziu? Quem o utilizava e o utiliza?
Qual era a sua utilidade na cozinha? Que novos significados lhe são atribuídos? Por quê?
A comparação em história faz ver melhor o Outro. Se o tema for, por exemplo, pintura corporal, a
comparação entre pinturas de povos indígenas originários e de populações urbanas pode ser bastante
esclarecedora quanto ao funcionamento das diferentes sociedades. Indagações sobre, por exemplo, as
origens das tintas utilizadas, os instrumentos para a realização da pintura e o tempo de duração dos
desenhos no corpo esclarecem sobre os deslocamentos necessários para a obtenção de tinta, as
classificações sociais sugeridas pelos desenhos ou, ainda, a natureza da comunicação contida no
desenho corporal. Por meio de uma outra linguagem, por exemplo, a matemática, podemos comparar
para ver melhor semelhanças e diferenças, elaborando gráficos e tabelas, comparando quantidades e
proporções (mortalidade infantil, renda, postos de trabalho etc.) e, também, analisando possíveis desvios
das informações contidas nesses gráficos e tabelas.
A contextualização é uma tarefa imprescindível para o conhecimento histórico. Com base em níveis
variados de exigência, das operações mais simples às mais elaboradas, os alunos devem ser instigados
a aprender a contextualizar. Saber localizar momentos e lugares específicos de um evento, de um
discurso ou de um registro das atividades humanas é tarefa fundamental para evitar atribuição de sentidos
e significados não condizentes com uma determinada época, grupo social, comunidade ou território.
Portanto, os estudantes devem identificar, em um contexto, o momento em que uma circunstância
histórica é analisada e as condições específicas daquele momento, inserindo o evento em um quadro
mais amplo de referências sociais, culturais e econômicas.
Distinguir contextos e localizar processos, sem deixar de lado o que é particular em uma dada
circunstância, é uma habilidade necessária e enriquecedora. Ela estimula a percepção de que povos e
sociedades, em tempos e espaços diferentes, não são tributários dos mesmos valores e princípios da
atualidade.
O exercício da interpretação – de um texto, de um objeto, de uma obra literária, artística ou de um mito
– é fundamental na formação do pensamento crítico. Exige observação e conhecimento da estrutura do
objeto e das suas relações com modelos e formas (semelhantes ou diferentes) inseridas no tempo e no
espaço. Interpretações variadas sobre um mesmo objeto tornam mais clara, explícita, a relação
sujeito/objeto e, ao mesmo tempo, estimulam a identificação das hipóteses levantadas e dos argumentos
selecionados para a comprovação das diferentes proposições. Um exemplo claro são as pinturas de El
Greco. Para alguns especialistas, tratam-se de obras que abandonam as exigências de nitidez e harmonia
típicas de uma gramática acadêmica renascentista com a qual o pintor quis romper; para outros, tais
características são resultado de estrabismo ou astigmatismo do olho direito do pintor.
O exercício da interpretação também permite compreender o significado histórico de uma cronologia
e realizar o exercício da composição de outras ordens cronológicas. Essa prática explicita a dialética da
inclusão e da exclusão e dá visibilidade ao seguinte questionamento: “O que torna um determinado evento
um marco histórico?” Entre os debates que merecem ser enunciados, destacam-se as dicotomias entre
Ocidente e Oriente e os modelos baseados na sequência temporal de surgimento, auge e declínio. Ambos
pretendem dar conta de explicações para questões históricas complexas. De um lado, a longa existência
de tensões (sociais, culturais, religiosas, políticas e econômicas) entre sociedades ocidentais e orientais;
de outro, a busca pela compreensão dos modos de organização das várias sociedades que se sucederam
ao longo da história.
A análise é uma habilidade bastante complexa porque pressupõe problematizar a própria escrita da
história e considerar que, apesar do esforço de organização e de busca de sentido, trata-se de uma
atividade em que algo sempre escapa. Segundo Hannah Arendt, trata-se de um saber lidar com o mundo,
fruto de um processo iniciado ao nascer e que só se completa com a morte. Nesse sentido, ele é
impossível de ser concluído e incapaz de produzir resultados finais, exigindo do sujeito uma compreensão
estética e, principalmente, ética do objeto em questão.
Nesse contexto, um dos importantes objetivos de História no Ensino Fundamental é estimular a
autonomia de pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época
e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e condutas. A percepção de

21
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
que existe uma grande diversidade de sujeitos e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e
a formação para a cidadania.
A busca de autonomia também exige reconhecimento das bases da epistemologia da História, a saber:
a natureza compartilhada do sujeito e do objeto de conhecimento, o conceito de tempo histórico em seus
diferentes ritmos e durações, a concepção de documento como suporte das relações sociais, as várias
linguagens por meio das quais o ser humano se apropria do mundo. Enfim, percepções capazes de
responder aos desafios da prática historiadora presente dentro e fora da sala de aula.
Todas essas considerações de ordem teórica devem considerar a experiência dos alunos e
professores, tendo em vista a realidade social e o universo da comunidade escolar, bem como seus
referenciais históricos, sociais e culturais. Ao promover a diversidade de análises e proposições, espera-
se que os alunos construam as próprias interpretações, de forma fundamentada e rigorosa. Convém
destacar as temáticas voltadas para a diversidade cultural e para as múltiplas configurações identitárias,
destacando-se as abordagens relacionadas à história dos povos indígenas originários e africanos.
Ressalta-se, também, na formação da sociedade brasileira, a presença de diferentes povos e culturas,
suas contradições sociais e culturais e suas articulações com outros povos e sociedades.
A inclusão dos temas obrigatórios definidos pela legislação vigente, tais como a história da África e
das culturas afro-brasileira e indígena, deve ultrapassar a dimensão puramente retórica e permitir que se
defenda o estudo dessas populações como artífices da própria história do Brasil. A relevância da história
desses grupos humanos reside na possibilidade de os estudantes compreenderem o papel das
alteridades presentes na sociedade brasileira, comprometerem-se com elas e, ainda, perceberem que
existem outros referenciais de produção, circulação e transmissão de conhecimentos, que podem se
entrecruzar com aqueles considerados consagrados nos espaços formais de produção de saber.
Problematizando a ideia de um “Outro”, convém observar a presença de uma percepção estereotipada
naturalizada de diferença, ao se tratar de indígenas e africanos. Essa problemática está associada à
produção de uma história brasileira marcada pela imagem de nação constituída nos moldes da
colonização europeia.
Por todas as razões apresentadas, espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma
forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de
construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento
contínuo ao longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a história em ferramenta a serviço
de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive.
Retornando ao ambiente escolar, a BNCC pretende estimular ações nas quais professores e alunos
sejam sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, eles próprios devem assumir uma
atitude historiadora diante dos conteúdos propostos no âmbito do Ensino Fundamental.
Cumpre destacar que os critérios de organização das habilidades na BNCC (com a explicitação dos
objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades
temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não
devem ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currículos.
Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da BNCC e com as
competências específicas da área de Ciências Humanas, o componente curricular de História deve
garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 8

HISTÓRIA

APRESENTAÇÃO
A proposta de História, para o ensino fundamental, foi concebida para proporcionar reflexões e debates
sobre a importância dessa área curricular na formação dos estudantes, como referências aos educadores,
na busca de práticas que estimulem e incentivem o desejo pelo conhecimento. O texto apresenta
princípios, conceitos e orientações para atividades que possibilitem aos alunos a realização de leituras
críticas dos espaços, das culturas e das histórias do seu cotidiano.
O documento está organizado em duas partes. Cada uma delas pode ser consultada de acordo com
o interesse mais imediato: aprofundamento teórico, definição de objetivos amplos, discernimento das
particularidades da área, sugestões de práticas, possibilidades de recursos didáticos, entre outros. Mas
recomenda-se a leitura na íntegra para uma visão abrangente da área.

8 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf

22
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Na primeira parte, analisam-se algumas concepções curriculares elaboradas para o ensino de História
no Brasil e apontam-se as características, a importância, os princípios e os conceitos pertinentes ao saber
histórico escolar. Também estão explicitados os objetivos gerais da área para o ensino fundamental. São
eles que sintetizam as intencionalidades das escolhas conceituais, metodológicas e de conteúdos,
delineados na proposta.
Na segunda parte, são apresentados os eixos temáticos para as primeiras quatro séries e os critérios
que fundamentam as suas escolhas. São discutidas, ainda, as articulações dos conteúdos de História
com os Temas Transversais. A seguir, encontram-se os princípios de ensino, os objetivos, os eixos
temáticos e os critérios de avaliação propostos. Os conteúdos são apresentados de modo a tornar
possível recriá-los, considerando a realidade local e/ou questões sociais contemporâneas.
As orientações didáticas destacam pontos importantes da prática de ensino e da relação dos alunos
com o conhecimento histórico, que ajudam o professor na criação e avaliação de atividades no dia-a-dia.

Secretaria de Educação Fundamental

HISTÓRIA

1 ª PARTE

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE HISTÓRIA

A História no ensino fundamental

ENTRE A HISTÓRIA SAGRADA E A HISTÓRIA PROFANA

A partir da constituição do Estado brasileiro a História tem sido um conteúdo constante do currículo da
escola elementar. O Decreto das Escolas de Primeiras Letras, de 1827, a primeira lei sobre a instrução
nacional do Império do Brasil, estabelecia que “os professores ensinariam a ler, a escrever, as quatro
operações de aritmética (...), a gramática da língua nacional, os princípios de moral cristã e de doutrina
da religião católica e apostólica romana, proporcionadas à compreensão dos meninos; preferindo, para o
ensino da leitura, a Constituição do Império e História do Brasil”.
O texto do decreto revelava que a escola elementar se destinava a fornecer conhecimentos políticos
rudimentares e uma formação moral cristã à população. A História a ser ensinada compreendia História
Civil articulada à História Sagrada; enquanto esta utilizava-se do conhecimento histórico como catequese,
um instrumento de aprender a moral cristã, aquela o utilizava para pretextos cívicos.
As propostas vigentes no ensino não distinguiam as ideias morais e religiosas das histórias políticas
dos Estados, nem dos costumes dos povos. No período do Império prevaleceu a presença do ensino
religioso no currículo escolar das escolas de primeiras letras e no nível secundário, visando dar
legitimidade à aliança estabelecida entre o Estado e a Igreja.
Apesar das intenções legislativas, a História aparecia como disciplina optativa do currículo nos
programas das escolas elementares. Os planos de estudos das escolas elementares das províncias que
as criaram, na maioria das vezes, instituíam “noções de geografia e de história, principalmente, a nacional”
como disciplinas “permitidas” pelas autoridades e consideradas facultativas ao ensino elementar.
A constituição da História como disciplina escolar autônoma ocorreu apenas em 1837, com a criação
do Colégio Pedro II, o primeiro colégio secundário do País, que apesar de público era pago e destinado
às elites. Como a regulamentação da disciplina seguiu o modelo francês, a História Universal acabou
predominando no currículo, mas se manteve a História Sagrada.
A História do Brasil foi introduzida no ensino secundário depois de 1855 e, logo após, foram
desenvolvidos programas para as escolas elementares. Mas ao lado da História Nacional, a História
Sagrada também apareceu como matéria constitutiva do programa das escolas elementares, como
conteúdo integrante de educação moral e religiosa.
Por volta de 1870, sob influência das concepções cientificistas que travaram um embate com os
setores conservadores ligados a um ensino moralizante dominado pela Igreja Católica, os programas
curriculares das escolas elementares foram sendo ampliados com a incorporação das disciplinas de
ciências físicas, de História Natural, com a adoção dos preceitos metodológicos das chamadas “lições de
coisas” e a inclusão de tópicos sobre História e Geografia Universal, História do Brasil e História Regional.
Para os educadores desejosos de ampliar as disciplinas do ensino elementar, o ensino de História teria
dois objetivos. Serviria como lições de leitura, com temas menos áridos, “para incitar a imaginação dos

23
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
meninos” e para fortificar o “senso moral”, aliando-se à Instrução Cívica, disciplina que deveria substituir
a “Instrução Religiosa”.
No final da década de 1870 foram feitas novas reformulações dos currículos das escolas primárias
visando criar um programa de História Profana mais extenso e eliminar a História Sagrada. Tal fato
traduzia a atmosfera das discussões sobre o fim da escravidão, a transformação do regime político do
Império para a República e a retomada dos debates sobre o ensino laico, visando dessa vez a separação
entre o Estado e a Igreja Católica e sua ampliação para outros segmentos sociais.
Se do ponto de vista do programa curricular a História no Império dividiu-se entre a História Profana e
a História Sagrada, o mesmo não se poderia afirmar sobre a história ensinada. A precariedade das
escolas elementares indicavam que entre as propostas de ensino e sua efetivação na sala de aula existiu
sempre um hiato.
Em geral, as salas de aula eram palco de uma prática bastante simplificada. Por isso, as autoridades
escolares exigiam dos professores o cumprimento mínimo da parte obrigatória composta de leitura e
escrita, noções de Gramática, princípios de Aritmética e o ensino da Doutrina Religiosa. As disciplinas
consideradas facultativas raramente eram ensinadas, o que fez a História Sagrada predominar sobre a
História Civil nacional.
Os programas de História do Brasil seguiam o modelo consagrado pela História Sagrada, substituindo
as narrativas morais sobre a vida dos santos por ações históricas realizadas pelos heróis considerados
construtores da nação, especialmente governantes e clérigos. A ordem dos acontecimentos era articulada
pela sucessão de reis e pelas lutas contra os invasores estrangeiros, de tal forma que a história culminava
com os “grandes eventos” da “Independência” e da “Constituição do Estado Nacional”, responsáveis pela
condução do Brasil ao destino de ser uma “grande nação”.
Os métodos de ensino então aplicados nas aulas de História eram baseados na memorização e na
repetição oral dos textos escritos. Os materiais didáticos eram escassos, restringindo-se à fala do
professor e aos poucos livros didáticos compostos segundo o modelo dos catecismos com perguntas e
respostas, facilitando as arguições. Desse modo, ensinar História era transmitir os pontos estabelecidos
nos livros, dentro do programa oficial, e considerava-se que aprender História reduzia-se a saber repetir
as lições recebidas.

CIVILIZAÇÃO E NACIONALISMO
No final do século XIX, com a abolição da escravatura, a implantação da República, a busca da
racionalização das relações de trabalho e o processo migratório, houve novos desafios políticos. Nesse
contexto ganharam força as propostas que apontavam a educação, em especial a elementar, como forma
de realizar a transformação do País. O regime republicano, sob a égide de um nacionalismo patriótico,
buscava inserir a nação num espírito cívico. A escola elementar seria o agente da eliminação do
analfabetismo ao mesmo tempo em que efetuaria a moralização do povo e a assimilação dos imigrantes
estrangeiros no interior de uma ideologia nacionalista e elitista que apontava a cada segmento o seu lugar
no contexto social.
No plano do currículo, os embates e disputas sobre a reelaboração de determinados conteúdos foram
essenciais para a definição das disciplinas escolares, dividindo aqueles que o desejavam baseado em
disciplinas mais científicas, portanto, mais técnicas e práticas, adequadas à modernização, e aqueles que
defendiam as disciplinas literárias, entendidas como formadoras do espírito. Como resultado das disputas,
as disciplinas escolares foram obtendo maior autonomia, afirmando seus objetivos, formando um corpo
próprio de conhecimentos, desenvolvendo métodos pedagógicos. A História passou a ocupar no currículo
um duplo papel: o civilizatório e o patriótico, formando, ao lado da Geografia e da Língua Pátria, o tripé
da nacionalidade, cuja missão na escola elementar seria o de modelar um novo tipo de trabalhador: o
cidadão patriótico.
A História da Civilização substituiu a História Universal. Com isso completava-se o afastamento entre
o laico e o sagrado na História, deslocando-se o motor dos acontecimentos da religião para o processo
civilizatório, identificado com os próprios desígnios divinos. O Estado passou a ser visto como o principal
agente histórico condutor das sociedades ao estágio civilizatório. Por isso abandonou-se a periodização
da História Universal, que identificava os Tempos Antigos com o tempo bíblico da criação, com o
predomínio do sagrado sobre o tempo histórico, e passou-se ao estudo da Antiguidade do Egito e da
Mesopotâmia, momento de gênese da Civilização com o aparecimento de um Estado forte, centralizado
e uma cultura escrita.
A História Nacional identificava-se com a História Pátria, cuja missão, juntamente com a História da
Civilização, era de integrar o povo brasileiro à moderna civilização ocidental. A História Pátria era
entendida como o alicerce da “pedagogia do cidadão”, seus conteúdos deveriam enfatizar as tradições

24
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
de um passado homogêneo, com feitos gloriosos de célebres personagens históricos nas lutas pela
defesa do território e da unidade nacional.
A moral religiosa foi substituída pelo civismo, sendo que os conteúdos patrióticos não deveriam ficar
restritos ao âmbito específico da sala de aula. Desenvolveram-se, nas escolas, práticas e rituais como
festas e desfiles cívicos, eventos comemorativos, celebrações de culto aos símbolos da Pátria, que
deveriam envolver o conjunto da escola demarcando o ritmo do cotidiano escolar.
Nas primeiras décadas do século XX os governos republicanos realizaram sucessivas reformas mas
pouco fizeram para alterar a situação da escola pública. Mesmo assim, o período constituiu-se num
momento de fortalecimento do debate em torno dos problemas educacionais e surgiram propostas
alternativas ao modelo oficial de ensino, logo reprimidas pelo governo republicano, como as escolas
anarquistas, com currículo e métodos próprios de ensino, no qual a História identificavase com os
principais momentos das lutas sociais, como a Revolução Francesa, a Comuna de Paris, a Abolição.
A partir de 1930, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública e a Reforma Francisco
Campos, acentuou-se o fortalecimento do poder central do Estado e do controle sobre o ensino. O ensino
de História era idêntico em todo o País, dando ênfase ao estudo de História Geral, sendo o Brasil e a
América apêndices da civilização ocidental. Ao mesmo tempo refletia-se na educação a influência das
propostas do movimento escolanovista, inspirado na pedagogia norteamericana, que propunha a
introdução dos chamados Estudos Sociais, no currículo escolar, em substituição a História e Geografia,
especialmente para o ensino elementar.
Com o processo de industrialização e urbanização, se repensou sobre a inclusão do povo brasileiro na
História. Enquanto alguns identificavam as razões do atraso econômico do País no predomínio de uma
população mestiça, outros apontavam a necessidade de se buscar conhecer a identidade nacional, suas
especificidades culturais em relação aos outros países, como meio de assegurar condições de igualdade
na integração da sociedade brasileira à civilização ocidental.
Nos programas e livros didáticos, a História ensinada incorporou a tese da democracia racial, da
ausência de preconceitos raciais e étnicos. Nessa perspectiva, o povo brasileiro era formado por brancos
descendentes de portugueses, índios e negros, e, a partir dessa tríade, por mestiços, compondo conjuntos
harmônicos de convivência dentro de uma sociedade multirracial e sem conflitos, cada qual colaborando
com seu trabalho para a grandeza e riqueza do País.
Ao longo desse período, poucas mudanças aconteceram em nível metodológico. Apesar das propostas
dos escolanovistas de substituição dos métodos mnemônicos pelos métodos ativos, com aulas mais
dinâmicas, centradas nas atividades do aluno, com a realização de trabalhos concretos como fazer
maquetes, visitar museus, assistir a filmes, comparar fatos e épocas, coordenar os conhecimentos
históricos aos geográficos, o que predominava era a memorização e as festividades cívicas que passaram
a ser parte fundamental do cotidiano escolar.
A prática recorrente das salas de aula continuou sendo a de recitar as “lições de cor”, com datas e
nomes dos personagens considerados mais significativos da História. O aumento da importância dos
exames finais de admissão ao ginásio ou ao ensino superior acabavam por consagrar, conjuntamente
com a produção didática, uma seleção tradicional dos conteúdos que eram vistos como a garantia de um
bom desempenho dos alunos nesses exames.

DA HISTÓRIA AOS ESTUDOS SOCIAIS


Da Segunda Guerra Mundial até o final da década de 70 foi um período de lutas pela especificidade
da História e pelo avanço dos Estudos Sociais no currículo escolar. Podem-se identificar dois momentos
significativos nesse processo: o primeiro ocorreu no contexto da democratização do País com o fim da
ditadura Vargas e o segundo durante o governo militar.
Nos anos imediatos ao pós-guerra, a História passou a ser considerada, pela política internacional,
como uma disciplina significativa na formação de uma cidadania para a paz, merecendo cuidados
especiais tanto na organização curricular quanto na produção dos materiais didáticos. A Unesco passou
a interferir na elaboração de livros escolares e nas propostas curriculares, indicando possíveis perigos na
ênfase dada às histórias de guerras, no modo de apresentar a história nacional e nas questões raciais,
em especial na disseminação de idéias racistas e preconceituosas. A História deveria revestir-se de um
conteúdo mais humanístico e pacifista, voltando-se ao estudo dos processos de desenvolvimento
econômico das sociedades, bem como dos avanços tecnológicos, científicos e culturais da humanidade.
No plano da educação elementar a tendência era substituir História e Geografia por Estudos Sociais.
Essa proposta renovava o enfoque da disciplina que perdia o caráter do projeto nacionalista cívico e
moralizante, marcando a penetração da visão norte-americana nos currículos brasileiros.
No início dos anos 50 foi estabelecida uma nova seriação de História Geral e do Brasil para o ensino
secundário, por influências de historiadores profissionais formados pelas universidades.

25
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Ao longo das décadas de 50 e 60, sob inspiração do nacional-desenvolvimentismo, e da presença
americana na vida econômica brasileira, o ensino de História, no nível secundário, voltou-se
especialmente para o espaço americano, fortalecendo o lugar da História da América no currículo, com a
predominância da História dos Estados Unidos. A temática econômica ganhou espaço na disciplina com
o estudo dos ciclos econômicos. A História era entendida a partir da sucessão linear dos centros
econômicos hegemônicos da cana-de-açúcar, mineração, café e industrialização. Paralelamente,
introduziam-se, nos cursos das escolas experimentais e vocacionais, os programas de Estudos Sociais.
As experiências no ensino elementar centravam-se no desenvolvimento da ideia dos círculos
concêntricos, indicando o predomínio de um discurso de homogeneização, de educação para o trabalho,
de um preparo voltado para o advento do mundo urbano e industrial.
No nível secundário foram propostos estudos econômicos baseados nos “modos de produção”, sob a
influência da historiografia marxista, como os do grupo que lançou uma produção didática chamada
História Nova, com uma abordagem histórica que enfatizava as transformações econômicas e os conflitos
entre as classes sociais, em detrimento da história tradicional que valorizava o político e a trajetória
vitoriosa da classe burguesa na consolidação harmoniosa do mundo moderno.
Nas escolas primárias, apesar das propostas de Estudos Sociais, prevaleciam os conhecimentos
históricos baseados nas festividades cívicas, e nas séries finais preparavam-se os alunos com resumos
da História colonial, imperial e republicana para atender ao programa dos exames de admissão.
A consolidação dos Estudos Sociais em substituição a História e Geografia ocorreu a partir da Lei n.
5.692/71, durante o governo militar. Os Estudos Sociais constituíram-se ao lado da Educação Moral e
Cívica em fundamentos dos estudos históricos, mesclados por temas de Geografia centrados nos círculos
concêntricos. Com a substituição por Estudos Sociais os conteúdos de História e Geografia foram
esvaziados ou diluídos, ganhando contornos ideológicos de um ufanismo nacionalista destinado a
justificar o projeto nacional organizado pelo governo militar implantado no País a partir de 1964.
A organização das propostas curriculares de Estudos Sociais em círculos concêntricos tinha como
pressuposto que os estudos sobre a sociedade deveriam estar vinculados aos estágios de
desenvolvimento psicológico do aluno, devendo, pois, partir do concreto ao abstrato em etapas
sucessivas. Assim iniciava-se o estudo do mais próximo, a comunidade ou o bairro, indo sucessivamente
ao mais distante, o município, o estado, o país, o mundo. Os conteúdos ordenados hierarquicamente
deveriam respeitar a faixa etária do aluno, por isso a história do mundo não deveria ser ensinada na
escola primária, por ser considerada distante e abstrata.
Essa visão da disciplina gerou os chamados pré-requisitos de aprendizagem, configurando-se a
necessidade da aquisição de noções e de conceitos relacionados às Ciências Humanas. Para
compreender a História o aluno deveria dominar, em princípio, a noção de tempo histórico. No entanto, o
desenvolvimento dessa noção no ensino limitava-se a atividades de organização do tempo cronológico e
de sucessão como datações, calendário, ordenação temporal, sequência passado-presente-futuro. A
linha do tempo, amarrada a uma visão linear e progressiva dos acontecimentos, foi sistematicamente
utilizada como referência para distinguir os “períodos históricos”.
Mas as transformações ocorridas durante o governo militar não se limitaram às mudanças no currículo
e nos métodos de ensino. O fim do exame de admissão e o ensino obrigatório de oito anos da escola de
primeiro grau trouxeram mudanças significativas no público escolar. Todavia, à medida que eram
ampliadas as oportunidades de acesso à escola para a maioria da população, ocorria uma paradoxal
deterioração da qualidade do ensino público.
Para atender à demanda de profissionais da área de Estudos Sociais os governos militares permitiram
a criação dos cursos de Licenciatura Curta o que contribuiu para o avanço das entidades privadas no
ensino superior e uma desqualificação profissional do docente. Além disso, os Estudos Sociais, que
praticamente ignoravam as áreas de conhecimentos específicos em favor de saberes puramente
escolares, contribuíram para um afastamento entre as universidades e as escolas de primeiro e segundo
graus. Isso prejudicou o diálogo entre pesquisa acadêmica e o saber escolar, bem como atrasou as
necessárias introduções de reformulações do conhecimento histórico e das ciências pedagógicas no
âmbito escolar.
No decorrer dos anos 70 as lutas de profissionais, desde a sala de aula até a universidade, ganharam
maior expressão com o crescimento das associações de historiadores e geógrafos (ANPUH e AGB) que
se abriram aos docentes, e seu engajamento na batalha pela volta de História e Geografia aos currículos
escolares e extinção dos cursos de Licenciatura de Estudos Sociais.

O RETORNO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA


No processo de democratização dos anos 80 os conhecimentos escolares passaram a ser
questionados e redefinidos por reformas curriculares. As transformações da clientela escolar composta

26
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
de vários grupos sociais que viviam um intenso processo de migração, do campo para as cidades, e entre
os Estados, com acentuado processo de diferenciação econômica e social, forçavam mudanças no
espaço escolar. As novas gerações de alunos habituavam-se à presença de novas tecnologias de
comunicação, especialmente o rádio e a televisão, que se tornaram canais de informação e de formação
cultural. Entrava pelas portas das escolas uma nova realidade que não poderia ser mais ignorada. O
currículo real forçava mudanças no currículo formal. Essas mudanças passaram a ser consideradas e
discutidas pelos diversos agentes educacionais preocupados em absorvê-las à organização e ao currículo
escolar. Os professores tornaram-se uma importante voz na configuração do saber escolar, diminuindo o
poder dos chamados “técnicos educacionais”.
Nesse contexto iniciaram-se as discussões sobre o retorno da História e da Geografia ao currículo
escolar a partir das séries iniciais de escolarização. Reforçaram-se os diálogos entre pesquisadores e
docentes do ensino médio, ao mesmo tempo em que se assistia a uma expansão dos cursos de pós-
graduação em História, com presença significativa de professores de primeiro e segundo graus, cuja
produção foi absorvida parcialmente pela expansão editorial na área do ensino de História e da
historiografia.
As propostas curriculares passaram a ser influenciadas pelo debate entre as diversas tendências
historiográficas. Os historiadores voltaram-se para a abordagem de novas problemáticas e temáticas de
estudo, sensibilizados por questões ligadas à história social, cultural e do cotidiano, sugerindo
possibilidades de rever no ensino fundamental o formalismo da abordagem histórica tradicional.
A história chamada “tradicional” sofreu diferentes contestações. Suas vertentes historiográficas de
apoio, quer sejam o positivismo, o estruturalismo, o marxismo ortodoxo ou o historicismo, produtoras de
grandes sínteses, constituidoras de macrobjetos, estruturas ou modos de produção, foram colocadas sob
suspeição. A apresentação do processo histórico como a seriação dos acontecimentos num eixo espaço-
temporal eurocêntrico, seguindo um processo evolutivo e sequência de etapas que cumpriam uma
trajetória obrigatória, foi denunciada como redutora da capacidade do aluno, como sujeito comum, de se
sentir parte integrante e agente de uma história que desconsiderava sua vivência, e era apresentada
como um produto pronto e acabado. Introduziu-se a chamada História Crítica, pretendendo desenvolver
com os alunos atitudes intelectuais de desmistificação das ideologias, possibilitando a análise das
manipulações dos meios de comunicação de massas e da sociedade de consumo.
Paralelamente às análises historiográficas, ocorreram novos estudos no âmbito das ciências
pedagógicas, especialmente no campo da psicologia cognitiva e social. Difundiam-se estudos sobre o
processo de ensino e aprendizagem nos quais os alunos eram considerados como participantes ativos
do processo de construção do conhecimento. Uma perspectiva que, para o ensino de História, significava
valorizar atitudes ativas do sujeito como construtor de sua história, em consonância com a visão de alguns
educadores sobre propostas pedagógicas construtivistas.
Os currículos foram ampliados com conteúdos de História a partir das escolas de educação infantil e
nos primeiros anos do ensino fundamental. Os conteúdos passaram a ser avaliados quanto às
necessidades de atender um público ligado a um presenteísmo intenso, voltado para ideias de mudanças
constantes do novo cotidiano tecnológico.
Os professores passaram a perceber a impossibilidade de se transmitir nas aulas o conhecimento de
toda a História da humanidade em todos os tempos, buscando alternativas às práticas reducionistas e
simplificadoras da história oficial. Questionando-se sobre se deveriam iniciar o ensino da História por
História do Brasil ou Geral alguns professores optaram por uma ordenação sequencial e processual que
intercalasse os conteúdos das duas histórias num processo contínuo da Antiguidade até nossos dias.
Outros optaram por trabalhar com temas e, nessa perspectiva, desenvolveram-se as primeiras propostas
de ensino por eixos temáticos. Para os que optaram pela segunda via, iniciou-se um debate, ainda em
curso, sobre as questões relacionadas ao tempo histórico, revendo a sua dimensão cronológica, as
concepções de linearidade e progressividade do processo histórico, as noções de decadência e de
evolução.
Os métodos tradicionais de ensino têm sido questionados com maior ênfase. Os livros didáticos,
difundidos amplamente e enraizados nas práticas escolares, passaram a ser questionados em relação
aos conteúdos e exercícios propostos. A simplificação dos textos, os conteúdos carregados de ideologias,
os testes ou exercícios sem exigência de nenhum raciocínio são apontados como comprometedores de
qualquer avanço que se faça no campo curricular formal. Dessa forma, o ensino de História atualmente
está em processo de mudanças substantivas em seu conteúdo e método.
Muitas vezes no ensino fundamental, em particular na escola primária, a História tem permanecido
distante dos interesses do aluno, presa às fórmulas prontas do discurso dos livros didáticos ou relegada
a práticas esporádicas determinadas pelo calendário cívico. Reafirmar sua importância no currículo não
se prende somente a uma preocupação com a identidade nacional, mas sobretudo no que a disciplina

27
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
pode dar como contribuição específica ao desenvolvimento dos alunos como sujeitos conscientes,
capazes de entender a História como conhecimento, como experiência e prática de cidadania.

O conhecimento histórico:

Características e importância social


Nas últimas décadas, o conhecimento histórico tem sido ampliado por pesquisas que têm transformado
seu campo de atuação. Houve questionamentos significativos, por parte dos historiadores, relativos aos
agentes condutores da história — indivíduos e classes sociais —, sobre os povos nos quais os estudos
históricos devem se concentrar, sobre as fontes documentais que devem ou podem ser usadas nas
pesquisas e quais as ordenações temporais que devem ou podem prevalecer.
Tem sido criticada, simultaneamente, uma produção histórica que legitima determinados setores da
sociedade, vistos como únicos condutores da política da nação e de seus avanços econômicos. Tem sido
considerada, por sua vez, a atuação dos diversos grupos e classes sociais e suas diferentes formas de
participação na configuração das realidades presentes, passadas e futuras.
A aproximação da História com as demais ciências sociais, em especial com a Antropologia, ampliou
os estudos de povos de todos os continentes, redimensionando os estudos de populações não-europeias.
A multiplicidade de povos e de culturas em tempos e espaços diferentes tem sido estudada, considerando-
se a diversidade de vivências no interior de uma dada sociedade, na medida em que grupos e classes
sociais manifestam especificidades de linguagens, de representações de mundo, de valores, de relações
interpessoais e de criações cotidianas.
O questionamento sobre o uso exclusivo de fontes escritas levou a investigação histórica a considerar
a importância da utilização de outras fontes documentais, aperfeiçoando métodos de leitura de forma a
abranger as várias formas de registros produzidos. A comunicação entre os homens, além de escrita, é
oral, gestual, figurada, musical e rítmica.
O aprofundamento de estudos de diversos grupos sociais e povos trouxe como resultado também
transformações nas concepções de tempo, rompendo com a idéia de um único tempo contínuo e evolutivo
para toda a humanidade. Os estudos consideram que, no confronto entre povos, grupos e classes, a
realidade é moldada por descontinuidades políticas, por rupturas nas lutas, por momentos de
permanências de costumes ou valores, por transformações rápidas e lentas.
O conhecimento histórico, como área científica, tem influenciado o ensino, afetando os conteúdos e os
métodos tradicionais de aprendizagem. Contudo, não têm sido essas transformações as únicas a
afetarem o ensino de História. As escolhas do que e como ensinar são provenientes de uma série de
fatores e não exclusivamente das mudanças historiográficas. Relacionam-se com a série de
transformações da sociedade, especialmente a expansão escolar para um público culturalmente
diversificado, com a intensa relação entre os estudantes com as informações difundidas pelos meios de
comunicação, com as contribuições pedagógicas — especialmente da Psicologia social e cognitiva — e
com propostas pedagógicas que defendem trabalhos de natureza interdisciplinar.
O ensino de História possui objetivos específicos, sendo um dos mais relevantes o que se relaciona à
constituição da noção de identidade. Assim, é primordial que o ensino de História estabeleça relações
entre identidades individuais, sociais e coletivas, entre as quais as que se constituem como nacionais.
Para a sociedade brasileira atual, a questão da identidade tem se tornado um tema de dimensões
abrangentes, uma vez que se vive um extenso processo migratório que tem desarticulado formas
tradicionais de relações sociais e culturais. Nesse processo migratório, a perda da identidade tem
apresentado situações alarmantes, desestruturando relações historicamente estabelecidas,
desagregando valores cujo alcance ainda não se pode avaliar. Dentro dessa perspectiva, o ensino de
História tende a desempenhar um papel mais relevante na formação da cidadania, envolvendo a reflexão
sobre a atuação do indivíduo em suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades e
sua participação no coletivo.
Surgem, a partir dessa dimensão, desafios para o trabalho histórico que visa à constituição de uma
identidade social do estudante, fundada no passado comum do seu grupo de convívio mas articulada à
história da população brasileira. Assim, os estudos históricos devem abranger três aspectos
fundamentais.
Inicialmente, a inclusão da constituição da identidade social nas propostas educacionais para o ensino
de História necessita um tratamento capaz de situar a relação entre o particular e o geral, quer se trate
do indivíduo, sua ação e seu papel na sua localidade e cultura, quer se trate das relações entre a
localidade específica, a sociedade nacional e o mundo.
Do trabalho com a identidade decorre, também, a questão da construção das noções de diferenças e
de semelhanças. Nesse aspecto, é importante a compreensão do “eu” e a percepção do “outro”, do

28
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
estranho, que se apresenta como alguém diferente. Para existir a compreensão do “outro”, os estudos
devem permitir a identificação das diferenças no próprio grupo de convívio, considerando os jovens e os
velhos, os homens e as mulheres, as crianças e os adultos, e o “outro” exterior, o “forasteiro”, aquele que
vive em outro local. Para existir a compreensão do “nós”, é importante a identificação de elementos
culturais comuns no grupo local e comum a toda a população nacional e, ainda, a percepção de que
outros grupos e povos, próximos ou distantes no tempo e no espaço, constroem modos de vida
diferenciados.
O trabalho com identidade envolve um terceiro aspecto: a construção de noções de continuidade e de
permanência. É fundamental a percepção de que o “eu” e o “nós” são distintos de “outros” de outros
tempos, que viviam, compreendiam o mundo, trabalhavam, vestiam-se e se relacionavam de outra
maneira. Ao mesmo tempo, é importante a compreensão de que o “outro” é, simultaneamente, o
“antepassado”, aquele que legou uma história e um mundo específico para ser vivido e transformado.
O conhecimento do “outro” possibilita, especialmente, aumentar o conhecimento do estudante sobre
si mesmo, à medida que conhece outras formas de viver, as diferentes histórias vividas pelas diversas
culturas, de tempos e espaços diferentes. Conhecer o “outro” e o “nós” significa comparar situações e
estabelecer relações e, nesse processo comparativo e relacional, o conhecimento do aluno sobre si
mesmo, sobre seu grupo, sobre sua região e seu país aumenta consideravelmente.
Essas considerações são importantes para explicitar os objetivos, os conteúdos e as metodologias do
ensino de História que estão sendo propostos, neste documento, para os dois primeiros ciclos do ensino
fundamental.
Considera-se, então, que o ensino de História envolve relações e compromissos com o conhecimento
histórico, de caráter científico, com reflexões que se processam no nível pedagógico e com a construção
de uma identidade social pelo estudante, relacionada às complexidades inerentes à realidade com que
convive.

APRENDER E ENSINAR HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL


O ensino e a aprendizagem de História envolvem uma distinção básica entre o saber histórico, como
um campo de pesquisa e produção de conhecimento do domínio de especialistas, e o saber histórico
escolar, como conhecimento produzido no espaço escolar.
Considera-se que o saber histórico escolar reelabora o conhecimento produzido no campo das
pesquisas dos historiadores e especialistas do campo das Ciências Humanas, selecionando e se
apropriando de partes dos resultados acadêmicos, articulando-os de acordo com seus objetivos. Nesse
processo de reelaboração, agrega-se um conjunto de “representações sociais” do mundo e da história,
produzidos por professores e alunos. As “representações sociais” são constituídas pela vivência dos
alunos e professores, que adquirem conhecimentos dinâmicos provenientes de várias fontes de
informações veiculadas pela comunidade e pelos meios de comunicação. Na sala de aula, os materiais
didáticos e as diversas formas de comunicação escolar apresentadas no processo pedagógico constituem
o que se denomina saber histórico escolar.
O saber histórico escolar, na sua relação com o saber histórico, compreende, de modo amplo, a
delimitação de três conceitos fundamentais: o de fato histórico, de sujeito histórico e de tempo histórico.
Os contornos e as definições que são dados a esses três conceitos orientam a concepção histórica,
envolvida no ensino da disciplina. Assim, é importante que o professor distinga algumas dessas possíveis
conceituações.
Os fatos históricos podem ser traduzidos, por exemplo, como sendo aqueles relacionados aos eventos
políticos, às festas cívicas e às ações de heróis nacionais, fatos esses apresentados de modo isolado do
contexto histórico em que viveram os personagens e dos movimentos de que participaram.
Em uma outra concepção de ensino, os fatos históricos podem ser entendidos como ações humanas
significativas, escolhidas por professores e alunos, para análises de determinados momentos históricos.
Podem ser eventos que pertencem ao passado mais próximo ou distante, de caráter material ou mental,
que destaquem mudanças ou permanências ocorridas na vida coletiva. Assim, por exemplo, dependendo
das escolhas didáticas, podem se constituir em fatos históricos as ações realizadas pelos homens e pelas
coletividades que envolvem diferentes níveis da vida em sociedade: criações artísticas, ritos religiosos,
técnicas de produção, formas de desenho, atos de governantes, comportamentos de crianças ou
mulheres, independências políticas de povos.
Os sujeitos da História podem ser os personagens que desempenham ações individuais ou
consideradas como heroicas, de poder de decisão política de autoridades, como reis, rainhas e rebeldes.
A História pode ser estudada, assim, como sendo dependente do destino de poucos homens, de ações
isoladas e de vontades individuais de poderosos, em que pouco se percebe a dimensão das ações

29
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
coletivas, das lutas por mudanças ou do poder exercido por grupos sociais em favor das permanências
nos costumes ou nas divisões do trabalho.
O sujeito histórico pode ser entendido, por sua vez, como sendo os agentes de ação social, que se
tornam significativos para estudos históricos escolhidos com fins didáticos, sendo eles indivíduos, grupos
ou classes sociais. Podem ser, assim, todos aqueles que, localizados em contextos históricos, exprimem
suas especificidades e características, sendo líderes de lutas para transformações (ou permanências)
mais amplas ou de situações mais cotidianas, que atuam em grupo ou isoladamente, e produzem para si
ou para uma coletividade. Podem ser trabalhadores, patrões, escravos, reis, camponeses, políticos,
prisioneiros, crianças, mulheres, religiosos, velhos, partidos políticos, etc.
O conceito de tempo histórico pode estar limitado ao estudo do tempo cronológico (calendários e
datas), repercutindo em uma compreensão dos acontecimentos como sendo pontuais, uma data,
organizados em uma longa e infinita linha numérica. Os acontecimentos, identificados pelas datas,
assumem a ideia de uniformidade, de regularidade e, ao mesmo tempo, de sucessão crescente e
acumulativa. A sequenciação dos acontecimentos sugere ainda que toda a humanidade seguiu ou deveria
seguir o mesmo percurso, criando assim a ideia de povos “atrasados” e “civilizados” e ainda limitando as
ações humanas a uma ordem evolutiva, representando o tempo presente um estágio mais avançado da
história da humanidade.
O tempo histórico pode ser dimensionado diferentemente, considerado em toda sua complexidade,
cuja dimensão o aluno apreende paulatinamente. O tempo pode ser apreendido a partir de vivências
pessoais, pela intuição, como no caso do tempo biológico (crescimento, envelhecimento) e do tempo
psicológico interno dos indivíduos (ideia de sucessão, de mudança). E precisa ser compreendido,
também, como um objeto de cultura, um objeto social construído pelos povos, como no caso do tempo
cronológico e astronômico (sucessão de dias e noites, de meses e séculos).
O tempo histórico compreendido nessa complexidade utiliza o tempo institucionalizado (tempo
cronológico), mas também o transforma à sua maneira. Isto é, utiliza o calendário, que possibilita
especificar o lugar dos momentos históricos na sucessão do tempo, mas procura trabalhar também com
a ideia de diferentes níveis e ritmos de durações temporais.
Os níveis das durações estão relacionados à percepção das mudanças ou das permanências nas
vivências humanas. As mudanças podem ser identificadas, por exemplo, apenas nos acontecimentos
pontuais, como no caso da queda de um governo, da implantação de uma lei, do início de uma revolta
popular. Podem ser identificadas, por outro lado, a partir de acontecimentos que possuem durações mais
longas, como nas permanências e nas transformações econômicas regidas por governos ou partidos
políticos, na permanência de crises financeiras ou na duração de uma lei ou costume. Podem, ainda, ser
identificadas em acontecimentos de longuíssimo tempo, como os comportamentos coletivos mais
enraizados, os valores e as crenças que permanecem por gerações, as relações de trabalho que
atravessam séculos.
A Independência do Brasil, por exemplo, representou no plano político uma mudança no regime de
governo, que pode ser relacionada a uma data (7 de setembro de 1822). No plano econômico, as
mudanças não foram, todavia, imediatas, já que o rompimento com a dominação portuguesa se
manifestou, inclusive, nas políticas de D. João VI no Brasil, desde 1808. No plano das relações de
trabalho, por sua vez, a Independência não representou mudanças significativas, já que a escravidão
permaneceu ainda por muitas décadas (século XVI ao final do XIX).
Os ritmos da duração, por sua vez, possibilitam identificar a velocidade com que as mudanças ocorrem.
Assim, podem ser identificados três tempos: o tempo do acontecimento breve, o da conjuntura e o da
estrutura.
O tempo do acontecimento breve é aquele que representa a duração de um fato de dimensão breve,
correspondendo a um momento preciso, marcado por uma data. Pode ser, no caso, um nascimento, a
assinatura de um acordo, uma greve, a independência política de um país, a exposição de uma coleção
artística, a fundação de uma cidade, o início ou o fim de uma guerra.
O tempo da conjuntura é aquele que se prolonga e pode ser apreendido durante uma vida, como o
período de uma crise econômica, a duração de uma guerra, a permanência de um regime político, o
desenrolar de um movimento cultural, os efeitos de uma epidemia ou a validade de uma lei.
O tempo da estrutura é aquele que parece imutável, pois as mudanças que ocorrem na sua extensão
são quase imperceptíveis nas vivências contemporâneas das pessoas. É a duração de um regime de
trabalho como a escravidão, de hábitos religiosos e de mentalidades que perduram, o uso de moedas nos
sistemas de trocas ou as convivências sociais em organizações como as cidades.
Os diferentes conceitos — de fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico — refletem distintas
concepções de História e de como ela é estruturada e constituída. Orientam, por exemplo, na definição

30
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
dos fatos que serão investigados, os sujeitos que terão a voz e as noções de tempo histórico que serão
trabalhadas.
O conhecimento histórico escolar, além de se relacionar com o conhecimento histórico de caráter
científico nas especificações das noções básicas da área, também se articula aos fundamentos de seus
métodos de pesquisa, adaptando-os para fins didáticos.
A transposição dos métodos de pesquisa da História para o ensino de História propicia situações
pedagógicas privilegiadas para o desenvolvimento de capacidades intelectuais autônomas do estudante
na leitura de obras humanas, do presente e do passado. A escolha dos conteúdos, por sua vez, que
possam levar o aluno a desenvolver noções de diferença e de semelhança, de continuidade e de
permanência, no tempo e no espaço, para a constituição de sua identidade social, envolve cuidados nos
métodos de ensino.
Assim, os estudos da história dos grupos de convívio e nas suas relações com outros grupos e com a
sociedade nacional, considerando vivências nos diferentes níveis da vida coletiva (sociais, econômicas,
políticas, culturais, artísticas, religiosas), exigem métodos específicos, considerando a faixa etária e as
condições sociais e culturais dos alunos. Existe uma grande diversidade cultural e histórica no País,
explicada por sua extensão territorial e pela história de seu povoamento. As diferenças sociais e
econômicas da população brasileira acarretaram formas diversas de registros históricos. Assim, há um
grande número de pessoas que não fazem uso da escrita, tanto porque não tiveram acesso a processos
formais de alfabetização como porque pertencem a culturas ágrafas, como no caso de populações
indígenas. Nesse sentido, o trabalho pedagógico requer estudo de novos materiais (relatos orais,
imagens, objetos, danças, músicas, narrativas), que devem se transformar em instrumentos de
construção do saber histórico escolar.
Ao se recuperar esses materiais, que são fontes potenciais para construção de uma história local
parcialmente desconhecida, desvalorizada, esquecida ou omitida, o saber histórico escolar desempenha
um outro papel na vida local, sem significar que se pretende fazer do aluno um “pequeno historiador”
capaz de escrever monografias, mas um observador atento das realidades do seu entorno, capaz de
estabelecer relações, comparações e relativizando sua atuação no tempo e espaço.
A escolha metodológica representa a possibilidade de orientar trabalhos com a realidade presente,
relacionando-a e comparando-a com momentos significativos do passado. Didaticamente, as relações e
as comparações entre o presente e o passado permitem uma compreensão da realidade numa dimensão
histórica, que extrapola as explicações sustentadas apenas no passado ou só no presente imediato.

OBJETIVOS GERAIS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL


Espera-se que, ao longo do ensino fundamental, os alunos gradativamente possam ler e compreender
sua realidade, posicionar-se, fazer escolhas e agir criteriosamente. Nesse sentido, os alunos deverão ser
capazes de:
• identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços;
• organizar alguns repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa
multiplicidade de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões do presente e do
passado;
• conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços,
em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e
diferenças entre eles;
• reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas, presentes na sua realidade e em
outras comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço;
• questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas
possíveis soluções, reconhecendo formas de atuação política institucionais e organizações coletivas da
sociedade civil;
• utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a ler
diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros;
• valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos
povos e indivíduos e como um elemento de fortalecimento da democracia.

CONTEÚDOS DE HISTÓRIA: CRITERIOS DE SELEÇÃO DE ORGANIZAÇÃO


É consensual a impossibilidade de se estudar a História de todos os tempos e sociedades, sendo
necessário fazer seleções baseadas em determinados critérios para estabelecer os conteúdos a serem
ensinados. A seleção de conteúdos programáticos tem sido variada, mas geralmente é feita segundo uma
tradição de ensino, que é rearticulada e reintegrada em novas dimensões e de acordo com temas
relevantes para o momento histórico da atual geração.

31
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A escolha dos conteúdos relevantes a serem estudados, feita neste documento, parte das
problemáticas locais em que estão inseridas as crianças e as escolas, não perdendo de vista que as
questões que dimensionam essas realidades estão envolvidas em problemáticas regionais, nacionais e
mundiais. As informações históricas locais relevantes a serem selecionadas expressam, assim, a
intencionalidade de fornecer aos alunos a formação de um repertório intelectual e cultural, para que
possam estabelecer identidades e diferenças com outros indivíduos e com grupos sociais presentes na
realidade vivida — no âmbito familiar, no convívio da escola, nas atividades de lazer, nas relações
econômicas, políticas, artísticas, religiosas, sociais e culturais. E, simultaneamente, permitir a introdução
dos alunos na compreensão das diversas formas de relações sociais e a perspectiva de que as histórias
individuais se integram e fazem parte do que se denomina História nacional e de outros lugares.
Os conteúdos propostos estão constituídos, assim, a partir da história do cotidiano da criança (o seu
tempo e o seu espaço), integrada a um contexto mais amplo, que inclui os contextos históricos. Os
conteúdos foram escolhidos a partir do tempo presente no qual existem materialidades e mentalidades
que denunciam a presença de outros tempos, outros modos de vida sobreviventes do passado, outros
costumes e outras modalidades de organização social, que continuam, de alguma forma, presentes na
vida das pessoas e da coletividade. Os conteúdos foram escolhidos, ainda, a partir da ideia de que
conhecer as muitas histórias, de outros tempos, relacionadas ao espaço em que vivem, e de outros
espaços, possibilita aos alunos compreenderem a si mesmos e a vida coletiva de que fazem parte.
A proposta privilegia, assim, no primeiro ciclo, a leitura de tempos diferentes no tempo presente, em
um determinado espaço, e a leitura desse mesmo espaço em tempos passados. No segundo ciclo, sugere
estudos sobre histórias de outros espaços em tempos diferentes. A predominância está voltada para as
histórias sociais e culturais, sem excluir as questões políticas e econômicas.
Os temas ligados à questão urbana, à sua dominância sobre o modo de vida rural, à predominância
da cidade sobre o campo e à imposição do ritmo de tempo da fábrica sobre o ritmo de tempo da natureza
são problemas comuns à maioria da população brasileira e à grande maioria dos indivíduos que vivem no
planeta na atualidade. Pode-se dizer, também, que são problemas que estão presentes na realidade local
das crianças e são temáticas comuns às múltiplas realidades nacionais. Não se pode negar que, hoje em
dia, a vida rural tem sofrido forte influência do modo urbano, vivendo modificações ou persistindo em suas
particularidades. Nesse sentido, esta proposta opta por trabalhar com temas relacionados às questões
urbanas, mas estabelecendo as articulações constantes com as questões rurais locais ou nacionais.
O estudo dos problemas urbanos, na contemporaneidade, orienta, assim, a possibilidade de escolhas
de grandes eixos temáticos sobre as questões locais, inserindo-as em dimensões espaciais de maior
grandeza e dimensões temporais amplas, que abarcam a possibilidade de diálogos múltiplos entre o
presente e o passado.
Os conteúdos escolhidos, que fundamentam esta proposta, estão articulados, ainda, com os temas
transversais:
• as relações de trabalho existentes entre os indivíduos e as classes, por meio do conhecimento sobre
como se processam as produções, as comercializações e a distribuição de bens, as desigualdades
sociais, as transformações das técnicas e das tecnologias e a apropriação ou a desapropriação dos meios
de produção pelos trabalhadores;
• as diferenças culturais, étnicas, de idade, religião, costumes, gêneros, sistemas econômicos e
políticos;
• as lutas e as conquistas políticas, travadas por indivíduos, por classes e movimentos sociais;
• as relações entre os homens e a natureza, numa dimensão individual e coletiva, contemporânea e
histórica, envolvendo discernimento quanto às formas de dominação e preservação da fauna, flora e
recursos naturais;
• reflexões sobre a constituição da cidadania, em diferentes sociedades e tempos, relacionadas à
saúde, à higiene, às concepções sobre a vida e a morte, às doenças endêmicas e epidêmicas;
• as imagens e os valores em relação ao corpo, relacionados à história da sexualidade, dos tabus
coletivos, da organização das famílias, da educação sexual e da distribuição de papéis entre os gêneros
nas diferentes sociedades historicamente constituídas.

Considerou-se que, diante da diversidade de conteúdos possíveis, os professores devem fazer as


escolhas daqueles que são mais significativos para serem trabalhados em determinados momentos ou
determinados grupos de alunos, no decorrer da escolaridade. Os conteúdos de História, como são
propostos neste documento, não devem ser considerados fixos. As escolas e os professores devem
recriá-los e adaptá-los à sua realidade local e regional.

32
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
HISTÓRIA

2ª PARTE

PRIMEIRO CICLO

Ensino e aprendizagem de História no primeiro ciclo


O ensino e a aprendizagem da História estão voltados, inicialmente, para atividades em que os alunos
possam compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e as transformações no modo
de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no presente e no passado, mediante a leitura de
diferentes obras humanas.
As crianças, desde pequenas, recebem um grande número de informações sobre as relações
interpessoais e coletivas. Entretanto, suas reflexões sustentam-se, geralmente, em concepções de senso
comum. Cabe à escola interferir em suas concepções de mundo, para que desenvolvam uma observação
atenta do seu entorno, identificando as relações sociais em dimensões múltiplas e diferenciadas.
No caso do primeiro ciclo, considerando-se que as crianças estão no início da alfabetização, deve-se
dar preferência aos trabalhos com fontes orais e iconográficas e, a partir delas, desenvolver trabalhos
com a linguagem escrita. De modo geral, no trabalho com fontes documentais — fotografias, mapas,
filmes, depoimentos, edificações, objetos de uso cotidiano —, é necessário desenvolver trabalhos
específicos de levantamento e organização de informações, leitura e formas de registros.
O trabalho do professor consiste em introduzir o aluno na leitura das diversas fontes de informação,
para que adquira, pouco a pouco, autonomia intelectual. O percurso do trabalho escolar inicia, dentro
dessa perspectiva, com a identificação das especificidades das linguagens dos documentos — textos
escritos, desenhos, filmes —, das suas simbologias e das formas de construções dessas mensagens.
Intervenções pedagógicas específicas, baseadas no trabalho de pesquisa histórica, provocam
significativas mudanças nas compreensões das crianças pequenas sobre quem escreve a História.
Por exemplo: passam a considerar a diversidade de fontes para obtenção de informações sobre o
passado, discernindo sobre o fato de que épocas precedentes deixaram, intencionalmente ou não,
indícios de sua passagem que foram descobertos e conservados pelas coletividades. Podem
compreender que os diferentes registros são fontes de informação para se conhecer o passado.
Na organização de dados históricos obtidos, cabe ao professor incentivar os alunos a compreenderem
os padrões de medida de tempo, como calendários, que permitem entender a ordenação temporal do seu
cotidiano e comparar acontecimentos a partir de critérios de anterioridade ou posteridade e
simultaneidade.

Objetivos de História para o primeiro ciclo


Espera-se que ao final do primeiro ciclo os alunos sejam capazes de:
• comparar acontecimentos no tempo, tendo como referência anterioridade, posterioridade e
simultaneidade;
• reconhecer algumas semelhanças e diferenças sociais, econômicas e culturais, de dimensão
cotidiana, existentes no seu grupo de convívio escolar e na sua localidade;
• reconhecer algumas permanências e transformações sociais, econômicas e culturais nas vivências
cotidianas das famílias, da escola e da coletividade, no tempo, no mesmo espaço de convivência;
• caracterizar o modo de vida de uma coletividade indígena, que vive ou viveu na região, distinguindo
suas dimensões econômicas, sociais, culturais, artísticas e religiosas;
• identificar diferenças culturais entre o modo de vida de sua localidade e o da comunidade indígena
estudada;
• estabelecer relações entre o presente e o passado;
• identificar alguns documentos históricos e fontes de informações discernindo algumas de suas
funções.

Conteúdos de História para o primeiro ciclo

EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA LOCAL E COTIDIANO


Os conteúdos de História para o primeiro ciclo enfocam, preferencialmente, diferentes histórias
pertencentes ao local em que o aluno convive, dimensionadas em diferentes tempos.
Prevalecem estudos comparativos, distinguindo semelhanças e diferenças, permanências e
transformações de costumes, modalidades de trabalho, divisão de tarefas, organizações do grupo familiar
e formas de relacionamento com a natureza. A preocupação com os estudos de história local é a de que

33
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
os alunos ampliem a capacidade de observar o seu entorno para a compreensão de relações sociais e
econômicas existentes no seu próprio tempo e reconheçam a presença de outros tempos no seu dia-a-
dia.
Ao ingressarem na escola, as crianças passam a diversificar os seus convívios, ultrapassando as
relações de âmbito familiar e interagindo, também, com um outro grupo social — estudantes, educadores
e outros profissionais —, caracterizado pela diversidade, e, ao mesmo tempo, por relações entre iguais.
A própria classe possui um histórico no qual o aluno terá participação ativa. Sendo um ambiente que
abarca uma dada complexidade, os estudos históricos aprofundam, inicialmente, temas que dão conta de
distinguir as relações sociais e econômicas submersa nessas relações escolares, ampliando-as para
dimensões coletivas, que abarcam as relações estabelecidas na sua localidade.
Os estudos da história local conduzem aos estudos dos diferentes modos de viver no presente e em
outros tempos, que existem ou que existiram no mesmo espaço.
Nesse sentido, a proposta para os estudos históricos é de favorecer o desenvolvimento das
capacidades de diferenciação e identificação, com a intenção de expor as permanências de costumes e
relações sociais, as mudanças, as diferenças e as semelhanças das vivências coletivas, sem julgar
grupos sociais, classificando-os como mais “evoluídos” ou “atrasados”.
Como se trata de estudos, em parte, sobre a história local, as informações propiciam pesquisas com
depoimentos e relatos de pessoas da escola, da família e de outros grupos de convívio, fotografias e
gravuras, observações e análises de comportamentos sociais e de obras humanas: habitações, utensílios
caseiros, ferramentas de trabalho, vestimentas, produção de alimentos, brincadeiras, músicas, jogos,
entre outros.
Considerando o eixo temático “História local e do cotidiano”, a proposta é a de que, no primeiro ciclo,
os alunos iniciem seus estudos históricos no presente, mediante a identificação das diferenças e das
semelhanças existentes entre eles, suas famílias e as pessoas que trabalham na escola. Com os dados
do presente, a proposta é que desenvolvam estudos do passado, identificando mudanças e permanências
nas organizações familiares e educacionais.
Conhecendo as características dos grupos sociais de seu convívio diário, a proposta é de que ampliem
estudos sobre o viver de outros grupos da sua localidade no presente, identificando as semelhanças e as
diferenças existentes entre os grupos sociais e seus costumes; e desenvolvam estudos sobre o passado
da localidade, identificando as mudanças e as permanências nos hábitos, nas relações de trabalho, na
organização urbana ou rural em que convivem, etc.
Identificando algumas das características da sociedade em que os alunos vivem, podem-se introduzir
estudos sobre uma comunidade indígena que habita ou habitava a mesma região onde moram
atualmente. A opção de introduzir estudos de povos indígenas é relevante por terem sido os primeiros
habitantes das terras brasileiras e, até hoje, terem conseguido manter formas de relações sociais
diferentes das que são predominantes no Brasil. A preocupação em identificar os grupos indígenas que
habitam ou habitaram a região próxima do convívio dos alunos é a de possibilitar a compreensão da
existência de diferenças entre os próprios grupos indígenas, com especificidades de costumes, línguas
diferentes, evitando criar a imagem do índio como povo único e sem história. O conhecimento sobre os
costumes e as relações sociais de povos indígenas possibilita aos alunos dimensionarem, em um tempo
longo, as mudanças ocorridas naquele espaço onde vivem e, ao mesmo tempo, conhecerem costumes,
relações sociais e de trabalho diferentes do seu cotidiano.
Diante da proposta ampla de possibilidades de aprofundamentos de estudos, cabe ao professor:
• fazer recortes e selecionar alguns aspectos considerados mais relevantes, tendo em vista os
problemas locais e/ou contemporâneos;
• desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos de história com outras áreas de conhecimento;
• avaliar o seu trabalho ao longo do ano, refletindo sobre as escolhas dos conteúdos priorizados, as
atividades propostas e os materiais didáticos selecionados, para replanejar a sua proposta de ensino de
um ano para o outro.

A localidade
• Levantamento de diferenças e semelhanças individuais, sociais, econômicas e culturais entre os
alunos da classe e entre eles e as demais pessoas que convivem e trabalham na escola:
• idade, sexo, origem, costumes, trabalho, religião, etnia, organização familiar, lazer, jogos, interação
com meios de comunicação (televisão, rádio, jornal), atividade dos pais, participação ou conhecimento
artístico, preferências em relação à música, à dança ou à arte em geral, acesso a serviços públicos de
água e esgoto, hábitos de higiene e de alimentação.
• Identificação de transformações e permanências dos costumes das famílias das crianças (pais, avós
e bisavós) e nas instituições escolares:

34
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• número de filhos, divisão de trabalhos entre sexo e idade, costumes alimentares, vestimentas, tipos
de moradia, meios de transporte e comunicação, hábitos de higiene, preservação da saúde, lazer,
músicas, danças, lendas, brincadeiras de infância, jogos, os antigos espaços escolares, os materiais
didáticos de outros tempos, antigos professores e alunos.
• Levantamento de diferenças e semelhanças entre as pessoas e os grupos sociais que convivem na
coletividade, nos aspectos sociais, econômicos e culturais:
• diferentes profissões, divisão de trabalhos e atividades em geral entre idades e sexos, origem,
religião, alimentação, vestimenta, habitação, diferentes bairros e suas populações, locais públicos
(igrejas, prefeitura, hospitais, praças, mercados, feiras, cinemas, museus), locais privados (residências,
fábricas, lojas), higiene, atendimento médico, acesso a sistemas públicos de água e esgoto, usos e
aproveitamento dos recursos naturais e fontes de energia (água, terra e fogo), locais e atividades de lazer,
museus, espaços de arte, diferentes músicas e danças.
• Identificação de transformações e permanências nas vivências culturais (materiais e artísticas) da
coletividade no tempo:

• diferentes tipos de habitações antigas que ainda existem, observações de mudanças no espaço,
como reformas de prédios, construções de estradas, pontes, viadutos, diferenciação entre produtos
manufaturados e industrializados, mecanização da agricultura, ampliação dos meios de comunicação de
massa, sobrevivência de profissões artesanais (ferreiros, costureiras, sapateiros, oleiros, seleiros),
mudanças e permanências de instrumentos de trabalho, manifestações artísticas, mudanças nas
vestimentas, sistema de abastecimento de alimentos, técnicas de construção de casas e suas divisões
de trabalho, as músicas e danças de antigamente, as formas de lazer de outros tempos.

Comunidade indígena
• Identificação do grupo indígena da região e estudo do seu modo de vida social, econômico, cultural,
político, religioso e artístico:
• o território que habitam e que já habitaram, organização das famílias e parentesco, a produção e
distribuição de alimentos, a divisão de trabalho entre os sexos e as idades, as moradias e a organização
do espaço, os rituais culturais e religiosos, as relações materiais e simbólicas com a natureza (os animais
e a flora), a língua falada, as vestimentas, os hábitos cotidianos de higiene, a medicina, as técnicas de
produção de artefatos, as técnicas de coleta ou de produção de alimentos, a delimitação do território
geográfico e de domínio da comunidade, os espaços que são públicos e os espaços considerados
privados, as transformações sofridas pela cultura no contato com outros povos, as relações de amizade,
trocas ou identidade com outras comunidades indígenas, as brincadeiras e as rotinas das mulheres, dos
homens, das crianças e dos velhos, a medição do tempo, o contar histórias, as crenças, lendas e mitos
de origem, as manifestações artísticas, como músicas, desenhos, artesanato, danças.
• Identificação de semelhanças e diferenças entre o modo de vida da localidade dos alunos e da cultura
indígena:
• existem vários aspectos da coletividade dos alunos que são diferentes do modo de vida da
comunidade indígena estudada1: na ocupação do território, no relacionamento com a natureza (produção
de alimentos, uso da água, do solo e da vegetação, mitos, medicina, preservação), nas construções de
moradias (materiais, técnicas, construtores, distribuição e uso do espaço interno), na divisão de tarefas
entre as pessoas na realização de trabalhos, nos tipos e confecção de vestimentas, nos tipos de lazer,
na religiosidade, nos mitos de origem, nas técnicas de fabricação e uso de instrumentos nas mais diversas
atividades de trabalho, no uso do espaço geográfico, nos hábitos de higiene, nos meios de comunicação,
nos meios de transporte, nos diferentes modos de medir o tempo.

CONTEÚDOS COMUNS ÀS TEMÁTICAS HISTÓRICAS


Todas as temáticas são permeadas pelos conteúdos que se seguem, cuja aprendizagem favorece a
construção de noções históricas. É necessário que o professor oriente e acompanhe passo a passo a
realização desses procedimentos pelos alunos, de forma que a aprendizagem seja bem-sucedida.
• Busca de informações em diferentes tipos de fontes (entrevistas, pesquisa bibliográfica, imagens,
etc.).
• Análise de documentos de diferentes naturezas.
• Troca de informações sobre os objetos de estudo.
• Comparação de informações e perspectivas diferentes sobre um mesmo acontecimento, fato ou tema
histórico.
• Formulação de hipóteses e questões a respeito dos temas estudados.
• Registro em diferentes formas: textos, livros, fotos, vídeos, exposições, mapas, etc.

35
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• Conhecimento e uso de diferentes medidas de tempo.

É fundamental destacar a importância de o professor não realizar comparações que depreciem


qualquer cultura, orientando seus alunos também nesse sentido. Para melhor compreensão sobre o
assunto, ver o documento de Pluralidade Cultural.

Critérios de avaliação de História para o primeiro ciclo


Ao final do primeiro ciclo, depois de terem vivenciados inúmeras situações de aprendizagem, os alunos
dominam alguns conteúdos e procedimentos. Para avaliar esses domínios, esta proposta destaca, de
modo amplo, os seguintes critérios:
• Reconhecer algumas semelhanças e diferenças no modo de viver dos indivíduos e dos grupos sociais
que pertencem ao seu próprio tempo e ao seu espaço
Este critério pretende avaliar se, a partir dos estudos desenvolvidos, o aluno se situa no tempo
presente, reconhece diversidades e aproximações de modo de vida, de culturas, de crenças e de relações
sociais, econômicas e culturais, pertencentes às localidades de seu próprio tempo e localizadas no
espaço mais próximo com que convive (na escola, na família, na coletividade e em uma comunidade
indígena de sua região).
• Reconhecer a presença de alguns elementos do passado no presente, projetando a sua realidade
numa dimensão histórica, identificando a participação de diferentes sujeitos, obras e acontecimentos, de
outros tempos, na dinâmica da vida atual
Este critério pretende avaliar as conquistas do aluno no reconhecimento de que sua realidade
estabelece laços de identidade histórica com outros tempos, que envolvem outros modos de vida, outros
sujeitos e outros contextos.

SEGUNDO CICLO

Ensino e aprendizagem de História no segundo ciclo


No segundo ciclo permanecem as preocupações de ensino e aprendizagem anteriores, com a
valorização dos conhecimentos dos alunos e a preocupação de o professor intervir, com situações
pedagógicas particulares para ampliar os conhecimentos históricos.
A particularidade do segundo ciclo reside no fato de os alunos dominarem melhor a linguagem escrita,
possuírem experiências de trocas de informações e terem vivenciado momentos de questionamentos,
comparações e trabalhos com ordenação temporal.
Como no primeiro ciclo, os questionamentos são realizados a partir do entorno do aluno, com o objetivo
levantar dados, coletar entrevistas, visitar locais públicos, incluindo os que mantêm acervos de
informações, como bibliotecas e museus.
Valorizando os procedimentos que tiveram início no primeiro ciclo, a preocupação de ensino e
aprendizagem no segundo ciclo envolve um trabalho mais específico com leitura de obras com conteúdos
históricos, como reportagem de jornais, mitos e lendas, textos de livros didáticos, documentários em
vídeo, telejornais.
O destaque para a leitura das obras de cunho histórico sustenta-se no diagnóstico feito por inúmeros
educadores, que afirmam que as crianças na atualidade têm acesso a um grande número de informações,
pelos meios de comunicação de massa, convívio social, sem contudo selecionar ou comparar com
informações provenientes de outras fontes, acreditando que tudo o que ouvem ou leem constitui-se
“verdades absolutas”.
Nesse sentido, cabe ao professor criar situações instigantes para que os alunos comparem as
informações contidas em diferentes fontes bibliográficas e documentais, expressem as suas próprias
compreensões e opiniões sobre os assuntos e investiguem outras possibilidades de explicação para os
acontecimentos estudados.
Torna-se importante desenvolver a preocupação de se diagnosticar a complexidade de entendimento
dos temas pelos alunos, respeitando suas ideias e intervindo sempre com questionamentos, com novas
informações e com propostas de socialização de suas reflexões no grupo.
Nas dinâmicas das atividades, propõe-se que o professor considere as já citadas para o primeiro ciclo,
e, ainda, selecione materiais com argumentos, opiniões e explicações diferentes, sobre um mesmo
acontecimento atual ou do passado e promova debates, trocas de opiniões e sínteses coletivas.

Objetivos de História para o segundo ciclo


Espera-se que ao final do segundo ciclo os alunos sejam capazes de:

36
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• reconhecer algumas relações sociais, econômicas, políticas e culturais que a sua coletividade
estabelece ou estabeleceu com outras localidades, no presente e no passado;
• identificar as ascendências e descendências das pessoas que pertencem à sua localidade, quanto à
nacionalidade, etnia, língua, religião e costumes, contextualizando seus deslocamentos e confrontos
culturais e étnicos, em diversos momentos históricos nacionais;
• identificar as relações de poder estabelecidas entre a sua localidade e os demais centros políticos,
econômicos e culturais, em diferentes tempos;
• utilizar diferentes fontes de informação para leituras críticas;
• valorizar as ações coletivas que repercutem na melhoria das condições de vida das localidades.
Conteúdos de História para o segundo ciclo

EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA DAS ORGANIZAÇÕES POPULACIONAIS


Os conteúdos de História para o segundo ciclo enfocam as diferentes histórias que compõem as
relações estabelecidas entre a coletividade local e outras coletividades de outros tempos e espaços,
contemplando diálogos entre presente e passado e os espaços locais, nacionais e mundiais.
Prevalecem, como no primeiro ciclo, os estudos comparativos para a percepção das semelhanças e
das diferenças, das permanências e das transformações das vivências humanas no tempo, em um
mesmo espaço, acrescentando as caracterizações e distinções entre coletividades diferentes,
pertencentes a outros espaços.
Nessa fase, é importante que os alunos dimensionem as relações sociais, econômicas, políticas e
culturais que vivenciam, enriquecendo seu repertório histórico com informações de outras localidades
para que possam compreender que seu espaço circundante estabelece diferentes relações locais,
regionais, nacionais e mundiais.
Na localidade onde as crianças moram, existem problemáticas que só podem ser entendidas na
medida em que elas conhecem histórias de outros espaços e de outros tempos: populações que chegam
de outros lugares, com outros costumes, outras línguas, outras religiões, em diferentes momentos;
êxodos de pessoas de sua coletividade que ocorrem por diferentes razões; completo ou parcial
desaparecimento de populações nativas, provocado por questões históricas nacionais e internacionais;
modalidades de regime de trabalho e de divisão de riquezas que são comuns, também, em outras
localidades e a outros tempos; modos de produção de alimentos intercambiados com outras populações;
comércio de mercadorias realizados com grupos ou empresas instalados fora de sua localidade; modelos
de administração pública que são comuns a outras coletividades e estabelecem, com a sua localidade,
vínculos de identidade regional ou nacional (organizações municipais, estaduais e federais); lutas sociais
de grupos ou classes que extrapolam o âmbito local ( partidos políticos, organizações sindicais,
organizações ambientalistas, lutas dos sem-teto e dos sem-terra, lutas por direitos das mulheres, das
crianças ou da terceira idade); atividades culturais que extrapolam o âmbito local (festas nacionais, festas
religiosas, eventos culturais e esportivos); eventos difundidos pelos meios de comunicação, que ocorrem
em outras localidades; ou políticas nacionais e regionais, decididas em outros locais, que interferem na
dinâmica da sua localidade.
A opção por estudos que relacionam as problemáticas locais com outras localidades explicasse pelo
fato de que, nos estudos históricos é fundamental localizar o maior número possível de relações entre os
acontecimentos e os sujeitos históricos, estabelecidas, também, além de seu próprio tempo e espaço, em
busca de explicações abrangentes, que deem conta de expor as complexidades das vivências históricas
humanas. O fato é que se registra, na história de inúmeras sociedades, intensos intercâmbios humanos,
culturais, econômicos, políticos, sociais e artísticos. Na sociedade contemporânea, por exemplo, pode-se
dizer que é difícil de serem encontradas coletividades que vivem de modo isolado, permanecendo fiel
unicamente a tradições de seus antepassados diretos, já que os meios de comunicação, as relações
capitalistas de produção, a organização da vida social em cidades têm crescido assustadoramente.
Assim, só numa dimensão de tempo que se alarga em direção ao passado e numa dimensão de espaço
que contempla outras localidades, é que se evidenciam as particularidades locais e o que nela existe em
comum ou recriado em relação aos outros lugares.
Em uma outra perspectiva, pode-se dizer que é somente no alargamento de fronteiras temporais e
espaciais que os sujeitos históricos podem dimensionar a sua inserção e a sua identidade com os grupos
sociais maiores, como no caso das classes sociais, das etnias, dos gêneros, das culturas ou das
nacionalidades. Assim, por exemplo, é pelo conhecimento do deslocamento de grandes levas de
trabalhadores africanos para o Brasil, em contextos específicos que os colocaram na situação de
escravidão e, posteriormente, na situação de cidadão de “segunda classe” (pela discriminação construída
para as especificidades de sua cor, de sua raça, de sua cultura), que os afrodescendentes podem
dimensionar, na sua individualidade e na sua identidade coletiva, a abrangência de suas lutas sociais e

37
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
políticas. É, por exemplo, por meio do conhecimento sobre o que há de comum entre as diferentes
localidades que se espalham pelo território brasileiro, o que há de comum ou de particular entre as
populações regionais e locais, o que há de específico nos conflitos, nos ganhos e nas perdas que
marcaram a história que se pode dizer como sendo de “um povo” (que fornece um caráter de identidade
na diversidade), que um indivíduo, que nasceu e vive no Brasil, pode dimensionar a sua inserção dentro
desta nação.
Como no primeiro ciclo, a proposta é a de que os estudos históricos não retrocedam às origens dos
eventos e não tracem trajetórias homogêneas do passado em direção ao presente. Também não
valorizem a organização dos acontecimentos no tempo a partir de uma perspectiva de evolução. Ao
contrário, a proposta é de que os estudos históricos possibilitem estudos críticos e reflexivos, expondo as
permanências, as mudanças, as diferenças e as semelhanças das vivências coletivas.
Cabe ao professor, ao longo de seu trabalho pedagógico, integrar os diversos estudos sobre as
relações estabelecidas entre o presente e o passado, entre o local, o regional, o nacional e o mundial. As
vivências contemporâneas concretizam-se a partir destas múltiplas relações temporais e espaciais, tanto
no dia-a-dia individual, familiar, como no coletivo. Assim, a proposta é de que os estudos sejam
disparados a partir de realidades locais, ganhem dimensões históricas e espaciais múltiplas e retornem
ao local, na perspectiva de desvendá-lo, de desconstruí-lo e de reconstruí-lo em dimensões mais
complexas.
Considerando o eixo temático “História das organizações populacionais”, a proposta é de que, no
segundo ciclo, os alunos estudem:
• a procedência geográfica e cultural de suas famílias e as histórias envolvidas nos deslocamentos e
nos processos de fixação;
• os deslocamentos populacionais para o território brasileiro e seus contextos históricos;
• as migrações internas regionais e nacionais, hoje e no passado;
• os grupos e as classes sociais que lutam e lutaram por causas ou direitos políticos, econômicos,
culturais, ambientais;
• diferentes organizações urbanas, de outros espaços e tempos;
• as relações econômicas, sociais, políticas e culturais que a sua localidade estabelece com outras
localidades regionais, nacionais e mundiais;
• os centros político-administrativos brasileiros;
• as relações econômicas, sociais, políticas e culturais que a sua localidade estabelece ou estabeleceu
com os centros administrativos nacionais, no presente e no passado; e
• medições de tempo, calendários, quadros cronológicos, linhas de tempo e periodizações, para
organizarem sínteses históricas das relações entre as histórias locais, regionais, nacionais e mundiais.

Como no primeiro ciclo, seguem sugestões amplas de possibilidades de estudo. Cabe, então, ao
professor:
• fazer alguns recortes e escolher alguns temas, priorizando os conteúdos mais significativos para que
os alunos interpretem e reflitam sobre as relações que sua localidade estabelece ou estabeleceu com
outras localidades situadas na região, no País e no mundo, hoje em dia e no passado;
• desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos de História com outras áreas de conhecimento;
• avaliar o seu trabalho ao longo do ano, refletindo sobre as escolhas dos conteúdos priorizados, as
atividades propostas e os materiais didáticos selecionados, para replanejar a sua proposta de ensino de
um ano para o outro.

Deslocamentos populacionais
• Levantamento de diferenças e semelhanças das ascendências e descendências entre os indivíduos
que pertencem à localidade, quanto à nacionalidade, etnia, língua, religião e costumes:
• estudo das famílias dos alunos: origem geográfica das famílias (países, continentes ou outras regiões
nacionais), época de deslocamento da família para região, lembranças da família sobre as razões e as
trajetórias de deslocamentos, época de chegada na localidade, proximidade temporal com o tempo da
chegada, costumes mantidos como tradição (comida, vestimentas, língua, religião, modalidades de
trabalho, festas, tradições, lendas e mitos, especificidades no vocabulário);
• estudo dos costumes de diferentes regiões: identificação de populações locais que possuem
descendência diferenciada, suas descendências e costumes específicos.
• Contextualização dos processos de deslocamento de populações para o território nacional:
• momento da chegada e formas de dominação dos portugueses no território nacional;
• identificação das populações nativas locais (indígenas), seu modo de vida e os confrontos com
populações europeias;

38
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• formas de deslocamentos de populações africanas para a América, origens dos povos africanos e
seu modo de vida, as condições de vida estabelecidas para os africanos no Brasil, locais de fixação,
deslocamentos posteriores, em diferentes épocas, no território nacional;
• contextos de deslocamentos de outros grupos de imigrantes (europeus e asiáticos nos séculos XIX
e XX), seu modo de vida e sua inserção nas atividades econômicas nacionais.
• Identificação de deslocamentos populacionais locais, no passado e no presente, as migrações
regionais e nacionais:
• identificação das origens das populações nacionais que compõem a população local, estudo dos
contextos históricos de fixação no local e suas motivações;
• identificação das razões de deslocamentos populacionais para outras regiões do País ou para o
exterior;
• identificação das áreas para onde as populações se deslocaram num possível regresso ao seu lugar
de origem, seus contextos históricos, especificidades de costumes que permanecem ou que se
transformam nos deslocamentos.

Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos


• Levantamento de diferenças e semelhanças entre grupos étnicos e sociais, que lutam e lutaram no
passado por causas políticas, sociais, culturais, étnicas ou econômicas:
• movimentos de âmbito local: trajetória do movimento, lutas travadas, conquistas e perdas, relações
mantidas com grupos nacionais ou de outras regiões, meios de divulgação de ideias, pessoas e grupos
envolvidos, ideais de luta (movimentos ambientalistas, feministas, de idosos, de indígenas, de classes
sociais, de liberdade de expressão, de direitos humanos, de organização religiosa, dos negros, dos sem-
terra, de construção de moradias ou de saneamento básico, em prol da saúde ou da educação).

Organizações políticas e administrações urbanas


• Identificação de diferentes tipos de organizações urbanas, destacando suas funções e origens:
• cidades que nasceram com função administrativa, religiosa, comercial ou de paragem, de diferentes
lugares do mundo e de épocas históricas diferentes, como Cuzco, Tenochtitlán, Machu Pichu, Atenas,
Pequim, Amsterdã, Paris, Nova York, e/ou do Brasil, como Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Luís,
Ouro Preto, Diamantina, Campinas, etc.;
• estudos de organizações e distribuições dos espaços urbanos e rurais, sistemas de defesa, de
abastecimento de alimento, de fornecimento de água e escoamento de esgoto, sistemas de comunicação,
as relações comerciais, as atividades econômicas e administrativas, as vivências cotidianas da população
em diferentes épocas, medições de tempo.
• Caracterização do espaço urbano local e suas relações com outras localidades urbanas e rurais:
• crescimento urbano, atividades urbanas exercidas pela população e suas relações ou não com a vida
rural, relações comerciais praticadas com outras localidades, atividades econômicas, processos de
industrialização (internos e externos), organização administrativa, desenvolvimentos do atendimento de
serviços nos seus diferentes espaços (esgoto, água, escolas, hospitais), ritmos diferenciados de tempo
na organização das rotinas diárias.
• Estudo das transformações e das permanências que ocorreram nas três capitais brasileiras
(Salvador, Rio de Janeiro e Brasília) e as diferenças e semelhanças entre elas e suas histórias:
• as origens das cidades, suas organizações e crescimento urbanístico, seu papel administrativo como
capital, as relações entre as capitais brasileiras e Lisboa (num contexto de relações entre metrópole e
colônia), as questões políticas nacionais quando eram capitais, sua população em diferentes épocas, as
suas relações com outras localidades nacionais e internacionais, as mudanças em suas funções urbanas,
seu crescimento ou estagnação, suas funções na atualidade, o que preservam como patrimônio histórico.

Organização histórica e temporal


• Construção de sínteses históricas, tomando-se as relações entre os momentos significativos da
história local e os da história regional e nacional:
• estudos de calendários e medições de tempo que possibilitem localizar acontecimentos de curta,
média e longa duração (anos, décadas, séculos);
• construção de sínteses cronológicas, incluindo e relacionando acontecimentos da história local,
regional, nacional e mundial;
• construção de linhas de tempo, relacionando a história local com a história regional e a história
nacional;
• construções de diferentes periodizações históricas, que deem conta de caracterizar predomínios e
mudanças nos modelos econômicos, nas organizações políticas, nos regimes de trabalho, nos costumes,

39
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
nos movimentos sociais e étnicos, no modelo de vida rural ou de vida urbana, nas relações entre as
políticas locais e as políticas nacionais, comparando-as com aquelas tradicionalmente utilizadas nos
estudos didáticos da disciplina (Brasil Colônia, Brasil Império, Brasil República).

CONTEÚDOS COMUNS ÀS TEMÁTICAS HISTÓRICAS


Tal como no primeiro ciclo, os conteúdos que se seguem referem-se a todas as temáticas propostas.
Repetem-se aqui, uma vez que seu aprendizado tem continuidade no segundo ciclo.
• Busca de informações em diferentes tipos de fontes (entrevistas, pesquisa bibliográfica, imagens,
etc.).
• Análise de documentos de diferentes naturezas.
• Troca de informações sobre os objetos de estudo.
• Comparação de informações e perspectivas diferentes sobre um mesmo acontecimento, fato ou tema
histórico.
• Formulação de hipóteses e questões a respeito dos temas estudados.
• Registro em diferentes formas: textos, livros, fotos, vídeos, exposições, mapas, etc.
• Conhecimento e uso de diferentes medidas de tempo.

Critérios de avaliação de História para o segundo ciclo


Ao final do segundo ciclo, depois de terem vivenciado inúmeras situações de aprendizagem, os alunos
dominam alguns conteúdos e procedimentos. Para avaliar esses domínios, destacam-se os seguintes
critérios:
• Reconhecer algumas semelhanças e diferenças que a sua localidade estabelece com outras
coletividades de outros tempos e outros espaços, nos seus aspectos sociais, econômicos, políticos,
administrativos e culturais

Este critério pretende avaliar se, a partir dos estudos desenvolvidos, o aluno reconhece algumas
relações que a sua coletividade estabelece, no plano político, econômico, social, cultural e administrativo,
com outras localidades, no presente e no passado, criando com elas vínculos de identidade, de
descendência e de diferenças.
• Reconhecer alguns laços de identidade e/ou diferenças entre os indivíduos, os grupos e as classes,
numa dimensão de tempo de longa duração

Este critério pretende avaliar se o aluno identifica, em uma dimensão histórica, algumas das lutas e
identidades existentes entre grupos e classes sociais, discernindo as suas características e os seus
contextos históricos.
• Reconhecer algumas semelhanças, diferenças, mudanças e permanências no modo de vida de
algumas populações, de outras épocas e lugares
Este critério pretende avaliar o discernimento do aluno na identificação das especificidades das
realidades históricas, relacionando-as com outros contextos temporais e espaciais.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Nas dinâmicas das atividades, propõe-se que o professor:
• valorize, inicialmente, os saberes que os alunos já possuem sobre o tema abordado, criando
momentos de trocas de informações e opiniões;
• avalie essas informações, identificando quais poderiam enriquecer seus repertórios e suas reflexões;
• proponha novos questionamentos, informe sobre dados desconhecidos e organize pesquisas e
investigações;
• selecione materiais de fontes de informação diferentes para que sejam estudados em sala de aula;
• promova visitas e pesquisas em locais ricos em informações;
• proponha que os estudos realizados se materializem em produtos culturais, como livros, murais,
exposições, teatros, maquetes, quadros cronológicos, mapas, etc.

O professor deve ter consciência de que as produções dos alunos não são semelhantes àquelas
construídas pelos historiadores nem devem dar conta de explicar a totalidade das questões que,
possivelmente, poderiam decorrer de estudos mais sofisticados.

Orientações didáticas gerais


Esta proposta baseia-se na ideia de que os conhecimentos históricos se tornam significativos para os
alunos, como saber escolar e social, quando contribuem para que eles reflitam sobre as vivências e as

40
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
produções humanas, materializadas no seu espaço de convívio direto e nas organizações das sociedades
de tempos e espaços diferentes, reconhecendo-as como decorrentes de contradições e de regularidades
históricas.
Nesse sentido, propõe-se, para o ensino de História, conteúdos e situações de aprendizagem que
possibilitem aos alunos refletir criticamente sobre as convivências e as obras humanas, ultrapassando
explicações organizadas a partir unicamente de informações obtidas no presente e a partir unicamente
de dados parciais. Propõe-se, assim, que os alunos conheçam e debatam as contradições, os conflitos,
as mudanças, as permanências, as diferenças e as semelhanças existentes no interior das coletividades
e entre elas, considerando que estão organizadas a partir de uma multiplicidade de sujeitos, grupos e
classes (com alguns interesses comuns e outros diferentes), de uma multiplicidade de acontecimentos
(econômicos, sociais, políticos, culturais, científicos, filosóficos) e de uma multiplicidade de legados
históricos (contínuos e descontínuos no tempo).
Para que os alunos dimensionem a sua realidade historicamente é importante que o professor crie
situações de aprendizagem escolares para instigá-los a estabelecer relações entre o presente e o
passado, o específico e o geral, as ações individuais e as coletivas, os interesses específicos de grupos
e os acordos coletivos, as particularidades e os contextos, etc.
Considerando a formação mais ampla dos alunos e a importância de desenvolverem atitudes de
autonomia em relação aos seus estudos e pesquisas, é necessário que o professor, por meio de rotinas,
atividades e práticas, os ensine como dominar procedimentos que envolvam questionamentos, reflexões,
análises, pesquisas, interpretações, comparações, confrontamentos e organização de conteúdos
históricos. Nesse sentido, o professor deve considerar, cotidianamente, a participação dos alunos nas
decisões dos encaminhamentos das diferentes atividades, lembrando, contudo, que, inicialmente, é ele,
como educador, quem define o tema de estudo, quem aponta as questões a serem investigadas, quem
orienta e sugere onde e o que pesquisar, quem propõe questões e aprofundamentos, quem aponta as
contradições entre as ideias, as práticas e as obras humanas. Participando e opinando, aos poucos, os
alunos aprenderão como proceder de modo autônomo no futuro.
Os procedimentos de pesquisa devem ser ensinados pelo professor à medida que favoreçam, de um
modo ou de outro, uma ampliação do conhecimento e das capacidades das crianças: trocas de
informações, socialização de ideias, autonomia de decisão, percepção de contradições, construções de
relações, atitudes de confrontamento, domínios linguísticos, escritos, orais, iconográficos, cartográficos e
pictóricos.
É importante que o professor retome, algumas vezes, a proposta de trabalho inicial, para que os alunos
possam tomar decisões sobre novos procedimentos no decorrer das atividades. Assim, por exemplo, é a
problemática inicial que orienta o julgamento das fontes de informação que são mais significativas. Entre
as entrevistas coletadas, algumas podem ser descartadas e outras confrontadas, por registrarem
informações conflituosas ou complementares. Em uma pesquisa nos arquivos, fotografias podem ser
selecionadas, entre as muitas recolhidas, para reforçarem argumentos defendidos ou por revelarem
situações não imaginadas. Textos jornalísticos, sobre episódios do passado, podem ser organizados para
demonstrarem pensamentos da época, por expressarem conflitos entre grupos sociais, ou dispensados
por abordarem questões específicas que não serão desenvolvidas.
A pesquisa e a coleta de informação devem fundamentar a construção de uma ou mais respostas para
os questionamentos disparados no início do trabalho. Essas respostas, que podem ser individuais, em
dupla ou em grupos maiores, devem ser, de algum modo, registradas: texto, álbum de fotografia, livro,
vídeo, exposição, mural, coleção de mapas, etc.

Problematizações
A abordagem dos conteúdos insere-se numa perspectiva de questionamentos da realidade organizada
no presente, desdobrando-se em conteúdos históricos, que envolvem explicitações e interpretações das
ações de diferentes sujeitos, da seleção e organização de fatos e da localização de informações no tempo
histórico. As explicações para os questionamentos implicam, por sua vez, a exposição dos conflitos, das
contradições e da diversidade de possibilidades de compreensão dessa realidade.
Nesse sentido, é importante que o professor crie situações rotineiras, nas suas aulas, de atitudes
questionadoras diante dos acontecimentos e das ações dos sujeitos históricos, possibilitando que sejam
interpretados e compreendidos a partir das relações (de contradições ou de identidade) que estabelecem
com outros sujeitos e outros acontecimentos do seu próprio tempo e de outros tempos e outros lugares,
isto é, relações que estabelecem por suas semelhanças, suas diferenças, suas proximidades, suas
dependências, suas continuidades. As explicações dos alunos para os questionamentos devem
considerar, assim, uma multiplicidade de entendimentos, de abrangências, de confrontamentos e de
relações, revelando tramas conflituosas para a história estudada.

41
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
São favorecidas, assim, as diferentes leituras de jornais e revistas, o debate sobre problemas do bairro
ou da cidade e as pesquisas de cunho social e econômico entre a população; a identificação de diferentes
propostas e compreensões defendidas na sociedade para solucionar seus problemas; as situações em
que as crianças organizam as suas próprias soluções e estratégias de intervenção sobre a realidade
(escrever cartas às autoridades, fazer exposições para informar a população); o aprendizado de como ler
documentos variados, tanto aqueles que podem ser encontrados na realidade social (construções,
organização urbana, instrumentos de trabalho, meios de comunicação, vestimentas, relações sociais e
de trabalho) como também produções escritas, imagens e filmes.

Trabalho com documentos


O conhecimento histórico não se confunde com a realidade passada, pois é construído em uma
determinada época, comprometido com questões de seu próprio tempo. É um conhecimento que envolve
escolha de abordagem, reflexão e organização de informações, problematização, interpretação, análise,
localização espacial e ordenação temporal de uma série de acontecimentos da vida coletiva, que ficaram
registrados, de algum modo, por meio de escritas, desenhos, memórias individuais e coletivas, fotografias,
instrumentos de trabalho, fragmentos de utensílios cotidianos e estilos arquitetônicos, entre outras
possibilidades.
Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem interpretadas, analisadas e
comparadas. Nesse sentido, eles não contam, simplesmente, como aconteceu a vida no passado. A
grande maioria não foi produzida com a intenção de registrar para a posteridade como era a vida em uma
determinada época; e os que foram produzidos com esse objetivo geralmente tendem a contar uma
versão da História comprometida por visões de mundo de indivíduos ou grupos sociais. Assim, os
documentos são entendidos como obras humanas que registram, de modo fragmentado, pequenas
parcelas das complexas relações coletivas. São interpretados, então, como exemplos de modos de viver,
de visões de mundo, de possibilidades construtivas, específicas de contextos e épocas, estudados tanto
na sua dimensão material (elementos recriados da natureza, formas, tamanhos, técnicas empregadas),
como na sua dimensão abstrata e simbólica (linguagens, usos, sentidos, mensagens, discursos).
São cartas, livros, relatórios, diários, pinturas, esculturas, fotografias, filmes, músicas, mitos, lendas,
falas, espaços, construções arquitetônicas ou paisagísticas, instrumentos e ferramentas de trabalho,
utensílios, vestimentas, restos de alimentos, habitações, meios de locomoção, meios de comunicação.
São, ainda, os sentidos culturais, estéticos, técnicos e históricos que os objetos expressam, organizados
por meio de linguagens (escrita, oralidade, números, gráficos, cartografia, fotografia, arte).
No caso do livro, por exemplo, a leitura pode recair tanto sobre o modo como ele é confeccionado
(caligrafia, tipografia, computador), as técnicas empregadas (artesanal, industrial) e o material utilizado
(papel, couro, chip), como sobre a linguagem escrita, considerada como universo simbólico que abarca
signos, símbolos, conteúdos, mensagens, sentidos, construção argumentativa, estrutura linguística, etc.
A utilização da fotografia, como fonte de pesquisa, deve levar em consideração que a imagem impressa
no papel não se confunde com a realidade. Se o pesquisador considerar que tudo o que pode ser visto
na foto era costume da época, pode chegar a conclusões equivocadas sobre como, por exemplo, as
pessoas se vestiam antigamente. No século XIX, as pessoas aparecem nas fotos com roupas apertadas,
bem passadas e arrumadas e sempre posando com ar sério. Entretanto, as pessoas que viveram naquela
época não se comportavam ou se vestiam sempre assim. A foto, por ser um recorte particular da
realidade, representa apenas o congelamento de um momento, principalmente aquelas produzidas em
estúdios, como há cento e cinquenta anos, quando as pessoas tinham que ficar paralisadas por mais de
um minuto (por causa do equipamento) e se arrumar para a ocasião, porque, geralmente, era a única foto
que tiravam na vida.
Considerar a técnica utilizada, as condições em que a foto foi produzida, o estilo artístico do fotógrafo,
o ângulo que ele privilegiou, a razão pela qual a foto foi tirada, as técnicas de revelação, as interferências
feitas no negativo, podem propiciar informações interessantes sobre o contexto da época.
As reflexões sobre a linguagem fotográfica são importantes de serem consideradas em relação às
outras fontes documentais, quando se fala na organização de situações didáticas com conteúdos
históricos escolares. Assim, entre muitos aspectos, o professor pode ensinar a seus alunos a preocupação
que se pode ter com as técnicas, os materiais e os estilos de vestimentas, habitações e transportes, as
diferentes lembranças das pessoas sobre uma mesma época, o arquivamento de documentos, as
diferenças de atendimentos de serviços públicos na cidade, o que envolve a confecção de um jornal ou
de uma revista, as funções sociais de uma escritura de terra ou a de uma propaganda divulgada em um
jornal. A intenção é que os alunos não aceitem facilmente as informações, considerando apenas
significativas aquelas que estão mais evidentemente explicitadas e expostas na realidade ou nos
documentos, ou seja, que construam atitudes questionadoras, procurem informações em detalhes não

42
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
facilmente observados, identifiquem informações não apenas por meio daquilo que imaginam
inicialmente, mas, também, a partir de detalhes que não foram considerados, e aprendam a comparar e
a confrontar as informações obtidas em uma pesquisa.
A leitura dos documentos, em um trabalho didático, pode implicar a coleta de informações que são
internas e externas a eles. A história do autor e a história da técnica de registro são, por exemplo,
informações que podem ser obtidas em outras fontes, auxiliando os alunos a localizarem o contexto
histórico do documento e as relações entre os seus conteúdos e a época em que foi produzido. Por sua
vez, o material de que é feito, os personagens históricos e os acontecimentos descritos podem ser
identificados e localizados, por exemplo, na leitura e análise do próprio documento.
O trabalho de leitura de documentos, considerando as particularidades de suas linguagens, é favorável
de ser desenvolvido nas séries iniciais do ensino fundamental, principalmente levando em consideração
que as crianças pequenas estão tomando contato com as diversas linguagens comunicativas, como
língua escrita, matemática e artes. Nesse caso, são favoráveis as atividades, inclusive, envolvendo
estudos sobre as histórias das ciências e dos meios de comunicação: história da escrita, dos números,
dos calendários, da cartografia, da pintura, da fotografia, do cinema, do jornal, do rádio, da televisão.

Trabalho com leitura e interpretação de fontes bibliográficas


Cabe ao professor ensinar os seus alunos a realizar uma leitura crítica de produções de conteúdos
históricos, distinguindo contextos, funções, estilos, argumentos, pontos de vista, intencionalidades. Assim,
além de as crianças terem a oportunidade de obter e organizar informações diretamente das fontes de
informação primárias (construções, utensílios, depoimentos orais, fotografias), podem aprender a obter
informações, de modo crítico, em fontes secundárias (textos enciclopédicos, de historiadores, didáticos,
documentários históricos), consideradas, também, como obras que necessitam ser localizadas em
contextos históricos e analisadas.
Didaticamente, é importante que os alunos aprendam a identificar as obras de conteúdo histórico
(textos feitos por especialistas, livros didáticos, enciclopédias e meios de comunicação de massa) como
sendo construções que contemplam escolhas feitas por seus autores (influenciados em parte pelas ideias
de sua época): seleção de fatos históricos, destaque feito a determinados sujeitos históricos, organização
temporal das análises e das relações entre acontecimentos.
Os trabalhos desenvolvidos com Língua Portuguesa, principalmente os que privilegiam os diferentes
estilos de textos (narrativo, dissertativo, descritivo), a identificação de contextos de autores, o
discernimento de construção de argumentos e os modelos textuais usualmente privilegiados, auxiliam os
alunos no que se refere à leitura de textos de conteúdo histórico.
Podem ser criadas situações em que os alunos aprendam a questionar e a dialogar com os textos: em
que contexto histórico foi produzido? Quais os fatos e os sujeitos históricos que foram privilegiados?
Existiria a possibilidade de privilegiar outros sujeitos e outros fatos? Como o tempo está organizado?
Quais os argumentos defendidos pelo autor? Como está organizado o seu ponto de vista? Existem outras
pessoas que defendem as mesmas ideias? Como pensam outras pessoas? Como se pode pensar de
modo diferente do autor? Qual é a opinião pessoal sobre o que o autor defende?
Os questionamentos sobre as obras disparam, necessariamente, trabalhos de pesquisa pelos alunos
e a seleção, por parte do professor, de materiais complementares que auxiliem a identificação de
contextos e discernimento dos pontos de vista dos autores.
Assim, além de promover questionamentos coletivos e individuais sobre as obras e propor pesquisas,
cabe ao professor selecionar algumas produções, como recurso didático, referentes à mesma temática
estudada, mas que se diferenciam como forma ou conteúdo (constroem argumentos de modo diferente e
defendem ideias opostas), que dão destaque para diferentes sujeitos históricos (para indivíduos ou para
determinados grupos sociais), que contam a História a partir da seleção de fatos diferentes (de dimensão
política, econômica, cultural), que fazem recortes de tempos diversos (numa dimensão de curta, média
ou longa duração).
Nesse sentido, cabe ao professor ensinar como questionar uma obra, como também promover
momentos em que seus alunos possam lê-la mais criticamente, mediante comparação e confrontação
com outras obras que se distinguem por enfocarem abordagens diferenciadas.
Nessa mesma linha de procedimentos didáticos, cabe ao professor, no momento em que os alunos
forem organizar os seus conhecimentos históricos, promover debates sobre a construção de suas
próprias obras de conteúdos históricos: que ponto de vista irão defender e como irão comunicá-lo, quais
os sujeitos, fatos e tempo histórico que irão privilegiar e o que está fundamentando suas escolhas.
Valorizar trabalhos de leitura crítica significa optar por aprendizagens qualitativas e não simplesmente
quantitativas, que visam, por exemplo, apenas o acesso a informações históricas de caráter cumulativo.
É importante que o professor considere que tanto as informações mais explícitas nas obras quanto

43
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
aquelas obtidas por leituras críticas contribuem para a ampliação do repertório cultural e histórico de seus
alunos. O modo como os alunos identificam e reconstroem as questões pertinentes à disciplina da
História, como de fato, sujeito e tempo histórico, serão também fundamentais para que possam
compreender, de modo cada vez mais complexo, as relações entre os homens, as suas ações e as suas
produções.

O tempo no estudo da História


O tempo é um dos conceitos mais complexos de entendimento. Para os estudiosos que se dedicam a
entendê-lo, existe uma série de abrangências que são consideradas, relacionadas às possibilidades de
contornos que assume, tanto no campo da realidade natural e física como nas criações culturais humanas.
Dependendo do ponto de vista de quem o concebe, o tempo pode abarcar concepções múltiplas.
As diversas concepções de tempo são produtos culturais que só são compreendidas, em todas as
suas complexidades, ao longo de uma variedade de estudos e acesso a conhecimentos pelos alunos
durante sua escolaridade. Nesse sentido, não deve existir uma preocupação especial do professor em
ensinar, formalmente, nos dois primeiros ciclos, uma conceituação ou outra, mas trabalhar atividades
didáticas que envolvam essas diferentes perspectivas de tempo, tratando-o como um elemento que
possibilita organizar os acontecimentos históricos no presente e no passado: estudar medições de tempo
e calendários de diferentes culturas; distinguir periodicidades, mudanças e permanências nos hábitos e
costumes de sociedades estudadas; relacionar um acontecimento com outros acontecimentos de tempos
distintos; identificar os ritmos de ordenação temporal das atividades das pessoas e dos grupos, a partir
de predominâncias de ritmos de tempo, que mantêm relações com os padrões culturais, sociais,
econômicos e políticos vigentes.

O TEMPO CRONOLÓGICO
No estudo da História, considera-se que o que existiu teve um lugar e um momento. Utilizam-se, então,
calendários, para possibilitar que diferentes pessoas possam compartilhar de uma mesma referência de
localização dos acontecimentos no tempo, ou seja, que todas concordem, por exemplo, que o homem
chegou à Lua no ano de 1969. Assim, é importante que as crianças conheçam o calendário utilizado por
sua cultura, para que possam compartilhar as mesmas referências que localizam os acontecimentos no
presente, no passado e no futuro.
No estudo da História é preciso considerar, então, que as marcações e ordenações do tempo, por meio
de calendários, são uma construção que pode variar de uma cultura para outra. As datações utilizadas
pela cultura ocidental cristã (o calendário gregoriano) são apenas uma possibilidade de referência para
localização dos acontecimentos em relação uns aos outros, permitindo que se diga a ordem em que
aconteceram.
Nos primeiros ciclos, deve ser uma preocupação do professor o domínio do calendário pelas crianças,
assim como as ideias a ele associadas, como as de que os acontecimentos são diferentes entre si, por
receberem datações (dia, mês e ano), e são irreversíveis no tempo.

O TEMPO DA DURAÇÃO
No estudo da História considera-se, também, a dimensão do tempo como duração, a partir da
identificação de mudanças e de permanências no modo de vida das sociedades. São essas mudanças
que orientam a criação de periodizações, como, por exemplo, as clássicas divisões da História do Brasil,
que distinguem os períodos Colonial, Imperial e República, tendo-se como referência, principalmente, o
tipo de regime político vigente em diferentes épocas. De um modo geral, dependendo das referências de
estudo sobre uma dada sociedade, pode-se dividir o tempo histórico em períodos que englobem um modo
particular e específico de os homens viverem, pensarem, trabalharem e se organizarem politicamente,
que começam e terminam com mudanças nesse modo de viver.
A divisão da História em períodos, com base nas mudanças e nas permanências, auxilia a identificar
a continuidade ou a descontinuidade da vida coletiva, ou seja, pode-se compreender e tentar explicar
quando e como um modelo de viver e de pensar sofreu grandes transformações, quando permaneceu
por longos períodos sem qualquer mudança, quando foram ocorrendo aos poucos, ou ainda quando foram
interrompidos.
O estudo dos acontecimentos, do ponto de vista de suas durações, permite valorizar, também,
diferentes dimensões de tempo, como já referido em outras partes deste documento, sobre o tempo de
curta, média ou longa duração.
Nos trabalhos com os alunos, não deve existir a preocupação em ensinar, formalmente, as
conceituações de tempo histórico, mas deve existir a intencionalidade didática de escolher temas de
estudos que abarquem acontecimentos que possam ser dimensionados em diferentes durações. Por

44
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
exemplo, podem-se trabalhar fatos políticos que se sucedem com rapidez no tempo, mudanças em
costumes que demoram uma geração ou costumes que demoram para sofrer transformações.
Pode-se escolher trabalhar, também, com acontecimentos singulares, que podem ser explicados em
seus limites restritos na sua relação com alguns outros acontecimentos próximos de seu tempo. E pode-
se trabalhar esse mesmo acontecimento em relação à sua inserção em uma estrutura histórica maior,
procurando distinguir a sua relação com inúmeros outros acontecimentos de muitos outros tempos,
extrapolando o tempo presente e revelando aspectos sociais e econômicos que perduram por décadas
ou por séculos. Nesse caso, o professor cria situações pedagógicas que permitam revelar as dimensões
históricas dos acontecimentos passados e presentes, expondo suas complexidades e sua presença
emaranhada na realidade e na História.

RITMOS DE TEMPO
No estudo da História, considera-se, ainda, a dimensão do tempo que predomina como ritmo de
organização da vida coletiva, ordenando e sequenciando, cotidianamente, as ações individuais e sociais.
No caso, por exemplo, das rotinas de trabalho dos camponeses, que dependem da época do ano para
plantar e colher, o ritmo de vida, que orienta suas atividades, está mais relacionado aos ciclos naturais.
Nesse sentido, é possível falar que os camponeses vivenciam, no seu trabalho, um “tempo de natureza”.
Na produção de uma fábrica, por outro lado, onde os operários ganham pelas horas de trabalho, o ritmo
de tempo é orientado, por exemplo, pela marcação mecânica das horas de um relógio. Esse ritmo de
tempo, que pode ser chamado de “tempo da fábrica”, é encontrado também em outras atividades sociais,
como é o caso, por exemplo, das rotinas escolares.
Não deve existir a preocupação em ensinar formalmente aos alunos os ritmos de tempo que
predominam em uma ou em outra sociedade histórica, mas de estabelecer comparações, nos estudos
realizados, sobre a predominância de um ou outro ritmo nas atividades das pessoas e dos grupos sociais.
Dessa forma, os alunos podem compreender e encarar de modo crítico os valores que predominam na
sociedade atual, na qual o ritmo avassalador do relógio e da produção da fábrica impõe, cultural e
economicamente, as dinâmicas e as vivências de crianças, jovens, mulheres, homens e velhos.

Recursos didáticos

ATIVIDADES COM TEMPO


No trabalho com os alunos, no que se refere aos domínios em relação ao conhecimento cultural e
social das medições de tempo, pode-se trabalhar uma série de atividades envolvendo calendários:
• criação de rotinas diárias e semanais de atividades, organizando-as em quadros de horário ou
agendas, que possibilitem às crianças se organizar de modo autônomo em relação aos acontecimentos
e estudos de cada dia e da semana;
• nas rotinas diárias, registro com os alunos do dia da semana e do mês, do mês e do ano, dos
aniversários, festas, feriados, dias de descanso, acontecimentos do passado e do presente que estão
estudando;
• observação, registro e levantamento de hipóteses sobre as repetições dos fenômenos naturais, como
dia e noite, mudanças das fases da Lua, da posição do Sol no céu, na vegetação, mudanças na
temperatura, nos ventos;
• criação de calendários sustentados nessas mudanças observadas em relação aos elementos
naturais, estabelecendo periodicidades de um mês para o outro, ou de ano para o outro;
• confecção de relógios de Sol, ampulhetas, relógios de água (clepsidra);
• conhecimento do funcionamento e das histórias que envolvem os calendários utilizados por alguns
povos, como o cristão, o egípcio, o asteca;
• comparação entre os diferentes calendários e sua utilização para localização e comparação de
acontecimentos no tempo.

No trabalho com tempo histórico, dimensionando-o como duração, escolher temas de estudos que
possibilitem:
• comparar acontecimentos do presente com outras épocas e lugares; e
• identificar e estudar acontecimentos de curta, média e longa duração.
O tempo, como elemento cultural que estabelece ritmos para as atividades humanas, pode ser
trabalhado por meio de estudos e pesquisas sobre os reguladores do tempo (relógios, ciclos naturais):
• como estão regulados os inícios e os fins das atividades escolares, familiares e da população local,
quanto ao trabalho, à alimentação, ao tempo de lazer; e

45
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• comparações sobre os reguladores do tempo da sociedade em que os estudantes vivem e os
reguladores de comunidades diferentes — de localidades rurais ou urbanas e de culturas de outros
tempos e espaços.

ESTUDOS DO MEIO
É gratificante e significativo, para o professor e para os seus alunos, trabalhos que envolvam saídas
da sala de aula ou mesmo da escola: visitar uma exposição em um museu, visitar um fábrica, fazer uma
pesquisa no bairro, conhecer cidades históricas, etc. Essas situações são geralmente lúdicas e
representam oportunidades especiais para todos se colocarem diante de situações didáticas diferentes,
que envolvam trabalhos especiais de acesso a outros tipos de informações e outros tratamentos
metodológicos de pesquisa.
Tanto nas visitas, nos passeios, nas excursões, nas viagens, ou mesmo nos estudos da organização
do espaço interno à sala de aula ou à escola, quando o professor quer caracterizar estas atividades como
estudo do meio, é necessário que considere uma metodologia específica de trabalho, que envolve o
contato direto com fontes de informação documental, encontradas em contextos cotidianos da vida social
ou natural, que requerem tratamentos muito próximos ao que se denomina pesquisa científica.
O estudo do meio não se relaciona à simples obtenção de informações fora da sala de aula ou à
simples constatação de conhecimentos já elaborados, encontrados em livros didáticos, enciclopédias ou
jornais, que se pode verificar in loco na paisagem humana ou geográfica. Não se realiza um estudo do
meio para se verificar que as casas construídas no início do século seguem uma série de características
relacionadas ao estilo neoclássico. E não se visita uma fábrica para simplesmente verificar, por exemplo,
que existe uma divisão de trabalho entre os operários.
O estudo do meio envolve uma metodologia de pesquisa e de organização de novos saberes, que
requer atividades anteriores à visita, levantamento de questões a serem investigadas, seleção de
informações, observações em campo, comparações entre os dados levantados e os conhecimentos já
organizados por outros pesquisadores, interpretação, enfim, organização de dados e conclusões.
Em um estudo do meio, o estudante não depara com a composição dos conteúdos históricos em forma
de enunciados ou já classificados a partir de conceituações. Ao contrário, é uma atividade didática que
permite que os alunos estabeleçam relações ativas e interpretativas, relacionadas diretamente com a
produção de novos conhecimentos, envolvendo pesquisas com documentos localizados em contextos
vivos e dinâmicos da realidade. Nesse sentido, os alunos deparam com o todo cultural, o presente e o
passado, a parte e o todo, o particular e o geral, a diversidade e as generalizações, as contradições e o
que se pode estabelecer de comum no diferente. Ou seja, dos indícios da arquitetura de uma, duas, três
casas, ele pode construir seus próprios enunciados para caracterizar o estilo de habitação da época. Dos
ornamentos observados nas igrejas e nos detalhes das obras de arte, ele pode remodelar e conferir os
conhecimentos que já domina sobre o assunto, aceitando variações em vez de manifestações genéricas.
E, conversando com os moradores que vivem e preservam os patrimônios históricos, pode incorporar,
àquilo que já sabe, um conjunto novo de representações que inclui soluções diversas.
No caso do estudo do meio, uma paisagem histórica é um cenário composto por fragmentos,
suscitadores de lembranças e problemáticas, que sensibiliza os estudantes sobre a participação dos
antigos e modernos atores da História, acrescentando-lhes vivências e concretudes para a sua
imaginação.
É no local, conhecendo pessoalmente casas, ruas, obras de arte, campos cultivados, aglomerações
urbanas, conversando com os moradores das cidades ou do campo, que os alunos se sensibilizam,
também, para as fontes de pesquisa histórica, isto é, para os “materiais” sobre os quais os especialistas
se debruçam para interpretar como seria a vida em outros tempos, como se dão as relações entre os
homens na sociedade de hoje ou como são organizados os espaços urbanos ou rurais. O estudo do meio
é, então, um recurso pedagógico privilegiado, já que possibilita aos estudantes adquirirem,
progressivamente, o olhar indagador sobre o mundo de que fazem parte.
É fundamental para o estudante que está começando a ler o mundo humano conhecer a diversidade
de ambientes, habitações, modos de vida, estilos de arte ou as formas de organização de trabalho, para
compreender de modo mais crítico a sua própria época e o espaço em seu entorno. É por meio da leitura
das materialidades e dos discursos, do seu tempo e de outros tempos, que o aluno aprende a ampliar
sua visão de mundo, tomando consciência de que se insere em uma época específica que não é a única
possível. Em um estudo do meio, o ensino de História alcança a vida, e o aluno transporta o conhecimento
adquirido para fora da situação escolar, construindo propostas e soluções para problemas de diferentes
naturezas com os quais defronta na realidade.
O estudo do meio, como recurso didático, favorece uma participação ativa do aluno na elaboração de
conhecimentos, como uma atividade construtiva que depende, ao mesmo tempo, da interpretação, da

46
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
seleção e das formas de estabelecer relações entre informações. Favorece, por outro lado, a explicitação
de que o conhecimento é uma organização específica de informações, sustentado tanto na materialidade
da vida concreta como a partir de teorias organizadas sobre ela. Favorece, também, a compreensão de
que os documentos e as realidades não falam por si mesmos; que para lê-los é necessário formular
perguntas, fazer recortes temáticos, relacioná-los a outros documentos, a outras informações e a outras
realidades. Favorece, ainda, a compreensão de que o conhecimento organizado faz parte de uma
produção de um pesquisador ou de um grupo de pesquisadores, a partir de informações e de ideias de
muitos outros estudiosos, e é criado num tempo específico, a partir de perguntas escolhidas e formuladas
ao longo de um processo.
A seguir, são apresentadas algumas sugestões de metodologias de trabalho na organização de
estudos do meio, as quais podem ser recriadas pelo professor:
• criar atividades, anteriores à saída, que envolvam levantamento de hipóteses e de expectativas
prévias;
• criar atividades de pesquisa, destacando diferentes abordagens, interpretações e autores
(reportagens, jornais, enciclopédias, livros especializados, filmes) sobre o local a ser visitado. Existem
propostas de estudo do meio que sugerem que as pesquisas sejam desenvolvidas após o estudo de
campo. Nesse caso, o professor pode experimentar e avaliar diferentes alternativas metodológicas;
• se possível, integrar várias disciplinas, permitindo investigações mais conjunturais dos locais a serem
visitados, que incluam, por exemplo, pesquisas geográficas, históricas, biológicas, ambientais,
urbanísticas, literárias, hábitos e costumes, estilos artísticos, culinária, etc.;
• antes de realizar a atividade, solicitar que os alunos organizem em forma de textos ou desenhos,
mesmo sendo o professor aquele que registra, as informações que já dominam, para que subsidiem as
hipóteses e as indagações que serão realizadas no local;
• se possível, conseguir um ou mais especialistas para conversar com os alunos sobre o que irão
encontrar na visita, ou sobre o tema estudado. Como no caso da pesquisa, a conversa com o especialista
pode ser posterior ao estudo de campo;
• o professor deve visitar o local com antecedência, para que possa ser, também, um informante e um
guia ao longo dos trabalhos;
• organizar, junto com os alunos, um roteiro de pesquisa, um mapa do local e uma divisão de tarefas;
• conseguir, com antecedência ou posteriormente, para estudo na classe, mapas de várias épocas
sobre o local, para análise da transformação da paisagem e da ocupação humana;
• conversar com os alunos, antes da excursão, sobre condutas necessárias no local, como, por
exemplo, interferências prejudiciais aos patrimônios ambientais, históricos, artísticos ou arqueológicos.

Essas atividades podem se tornar mais ricas desde que não sejam utilizadas apenas como um modo
de aproximar a teoria escolar da observação direta. O conhecimento está sempre embasado em teorias
que orientam o olhar do observador. Para se estar aberto a um número maior de informações é importante
ter acesso a diferentes dados e conhecer várias teorias para interpretar os fenômenos de modo cada vez
mais complexo.
Compreender as relações entre os homens significa compreendê-las não como universais e genéricas,
mas como específicas de uma determinada época, envoltas em um contexto. No contato com a fonte de
interpretação, pelo estudo do meio, podem ser criadas oportunidades para os alunos confrontarem o que
imaginavam ou sabiam, com o que a realidade apresenta como materialidade, vida, com suas
contradições dinâmicas. Nesse sentido, o que se observa provoca conflitos fundamentais, que instigam
os alunos a compreender a diversidade de interpretações sobre uma mesma realidade e a organizar as
suas próprias conclusões como mais algumas possíveis.
Um dos aspectos mais ricos nessas atividades é quando os estudantes têm a oportunidade de conviver
e conversar com os habitantes da região, imprimindo em suas lembranças a linguagem local, o
vocabulário diferenciado, as experiências, as vivências específicas, os costumes, a hospitalidade.
Essas saídas podem propiciar o desenvolvimento do olhar histórico sobre a realidade. Isso não
significa apenas observar os dados visíveis. Com o auxílio dos habitantes locais e do professor, o aluno
pode identificar as características da cultura, percebendo o que não é explícito. Olhar um espaço como
um objeto investigativo é estar sensível ao fato de que ele sintetiza propostas e intervenções sociais,
políticas, econômicas, culturais, tecnológicas e naturais, de diferentes épocas, num diálogo entre os
tempos, partindo do presente. É, também, desconstruir a visão espontânea do local, impregnada de
ideias, ideologias, teorias científicas e mitos não conscientes, da cultura contemporânea, tendo a
oportunidade de reconstruir a interpretação do mundo, encarando-o de modo novo. Nesse sentido, até
os espaços escolares e familiares podem ser escolhidos como objetos de estudo do meio.

47
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A utilização de outras metodologias de ensino significa, também, construir o currículo ao longo do
processo, partindo de vivências do grupo (professor e alunos), sem deixar de considerar o conhecimento
historicamente constituído.
Depois de realizada a atividade, é fundamental que o professor encontre propostas para que os alunos
organizem as informações que obtiveram, sistematizando interpretações, teorias, dados, materiais e
propostas para problemas detectados, atribuindo a esse trabalho uma função social, isto é,
conhecimentos que possam ser socializados e compartilhados com outras pessoas (livro, jornal,
exposição, mostra). Assim, além de identificarem significações pessoais para as atividades, os alunos
podem enxergar a si mesmos como sujeitos participativos e compromissados com a História e com as
realidades presente e futura.
Como em outras atividades significativas que são desenvolvidas na escola, o professor não pode
esquecer de escrever suas reflexões sobre os procedimentos pedagógicos escolhidos, o processo de
trabalho e as produções dos estudantes. Os relatórios sobre as saídas podem ser socializados com outros
professores, aprofundando propostas educacionais e consolidando práticas bem-sucedidas.

3. Relação entre a sociedade, economia e o meio ambiente, em diferentes


momentos da História de povos do Mundo e do Brasil: os povos caçadores e
coletores; a revolução agrícola na África e no Oriente Médio;

PRÉ-HISTÓRIA

O período humano que chamamos de pré-história é bastante grande. Corresponde aos tempos desde
o surgimento do Homem até a invenção da escrita, que ocorreu a aproximadamente há 5.000 anos na
Mesopotâmia.
Quando surgiu o conceito de pré-história no século XIX, os historiadores consideravam somente como
documentos de estudo fontes escritas. Então convencionou-se chamar de pré-história o período anterior
à escrita. Hoje os pesquisadores já não concordam mais com esta expressão, pois o homem é um ser
histórico e este conceito não consegue abarcar a diversidade de povos e culturas existentes no mundo,
pois ainda hoje existem tribos espalhadas pelo planeta que não desenvolveram a escrita. Vivem eles na
pré-História? Então sabemos que ao usar esta expressão devemos fazer ressalvas, mas podemos usá-
la tranquilamente por ser um convenção consagrada. Para podermos compreender melhor a pré-História,
os historiadores dividem o período em dois momentos: O Paleolítico (pedra lascada), que vai do
surgimento do Homem até aproximadamente 10000 atrás, quando foi inventada a escrita. Depois temos
o período Neolítico (pedra nova), que vai até a invenção da escrita.
Os principais registros fósseis permitem concluir que o homem surgiu na África e de lá se espalhou
para outros continentes. Migrou para a Ásia e para a Europa. O povoamento da América ocorreu mais
tarde. Os registros para estudarmos esta época são pinturas rupestres e pontas de flechas e lanças de
pedra ou Sílex, que eram rudimentarmente lascadas para se tornarem instrumentos para os homens. As
comunidades eram tribais e pequenas e não eram fixos a um território, ou seja, eram populações
nômades de caçadores e coletores. Viviam em um local até que os recursos se esgotassem ou se
tornassem insuficientes para a tribo, que passava a buscar novos locais para viver. Nesta época já ocorre
o domínio do fogo. Há registros de instrumentos musicais e estatuetas femininas que datam de
aproximadamente 35000 anos.

A vida na Pré-História
Durante esse grande espaço de tempo o homem aprendeu a viver em sociedade e aprendeu como
moldar a natureza e os elementos a seu favor. Ferramentas eram criadas e problemas eram solucionados
de acordos com as necessidades e desafios que se colocavam diante do ser humano
A pré-história pode ser dividida em alguns períodos, de acordo com a maneira de vida e as técnicas
que as pessoas utilizavam, sendo eles:

Paleolítico
Durante o paleolítico o ser humano era nômade, ou seja, não possuía um local fixo de residência,
movendo-se de acordo com as necessidades de caça e alimentação do ambiente em que viviam. Quando
sua sobrevivência era dificultada pela falta de alimentos as famílias que compunham os grupos humanos
migravam para novos locais. Normalmente abrigavam-se em cavernas e grutas para fugir do frio e dos
predadores. Durante esse período o ser humano tinha seu sustento através da caça de animais de

48
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
pequeno, médio e grande porte, da pesca e da coleta de produtos silvestres (frutos, raízes, mel, entre
outros)
O animais abatidos eram fonte de outros recursos, como peles e ossos. As peles poderiam ser
utilizadas para a confecção de roupas, que ajudavam a manter o corpo aquecido, e os ossos poderiam
ser transformados em ferramentas
As ferramentas fabricadas e utilizadas durante esse período eram feitas de pedras lascadas e como
anteriormente descrito, ossos de animais. Eram utilizadas principalmente para cortes, raspagens e
perfurações e também para a caça.

Exemplo de ferramenta do período paleolítico


Fonte:http://www.historyofinformation.com/images/biface_small.jpg

A Descoberta do Fogo
O fogo foi muito importante para o ser humano que viveu durante a pré-história. Antes de seu domínio,
o ser humano dependia da natureza e de acontecimentos como a queda de um raio em uma floresta para
obtê-lo. Esse fogo poderia ser utilizado para a iluminação de cavernas, a preparação de um alimento ou
para esquentar-se do frio.
Segundo apontam os estudos, o Homo Erectus, um ser de maior capacidade intelectual que seus
antecessores, descobriu que a partir da fricção, ou seja, o movimento de esfregar duas pedras uma na
outra gerava uma pequena fagulha, que se feita próxima a materiais de fácil combustão poderia criar uma
chama para iniciar uma fogueira.
A partir do momento em que aprende a controlá-lo, a vida ficou muito mais fácil. Agora acabava a
necessidade de aguardar um fenômeno da natureza para sua obtenção. Carnes poderiam ser cozidas ou
assadas, o que tornava seu gosto mais agradável e permitia uma duração maior antes de começar a se
decompor, assim como os legumes e raízes. O fogo também ajudou o ser humano a se proteger de
animais, permitindo uma vida mais tranquila.

A Arte Rupestre e a Comunicação


Antes da invenção da escrita, o ser humano utilizava outras formas de se expressar. A principal delas
foram as pinturas rupestres. A arte rupestre é compreendida como o amplo conjunto de desenhos,
pinturas e inscrições feitas pelo ser humano.
Essas pinturas eram feitas em superfícies de rochas, em paredes de cavernas e paredões, cujos
materiais mais usados são o sangue, saliva, argila, e excrementos de morcegos. As pinturas
representavam cenas da vida do cotidiano, como pessoas em diversas atividades que iam dos atos
sexuais, partos, e rituais às caçadas. Também eram representados animais, isoladamente ou atacando
grupos de pessoas.
As pinturas mais antigas encontradas até o momento foram encontradas nas atuais regiões da
Indonésia, França e Espanha. Os exemplares encontrados possuem idade entre 35 mil e 40 mil anos,
com representações de mãos humanas e animais de caça.

Pintura rupestre encontrada na região da França, representando animais


Fonte:http://www.portaldarte.com.br/04-pintura-rupestre/lascaux-policromicos.jpg

49
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As pinturas rupestres formam uma importante forma de comunicação do ser humano na pré-história.
Através da pintura nas superfícies de rochas o homem conseguiu vencer a barreira do tempo e deixar
suas marcas de maneira permanente.
Além da pintura, oralidade, ou seja, os sons e a fala foram outro meio encontrado pelo ser humano
para se comunicar. Acredita-se que quando o ser humano começa a viver em pequenos agrupamentos
durante o período paleolítico a utilização de sons e gestos passa a ser empregada para indicar objetos e
ações que eram realizadas em conjunto. Os sons produzidos eram limitados a um pequeno conjunto, já
que a fala não havia sido completamente desenvolvida por esses grupos.

Período Neolítico
Segundo apontam os estudos, o período neolítico teria se iniciado por volta de 12 mil anos atrás. Esse
período trouxe importantes mudanças na vida do ser humano, com o domínio de elementos da natureza
que resultariam na agricultura, melhor desenvolvimento de ferramentas e a sedentarização.
Após sobreviver da coleta de plantas e raízes, o ser humano descobre que quando uma semente era
depositada no solo, após algum tempo ocorria a germinação, que resultava no crescimento de uma planta
semelhante à que havia sido consumida. O plantio de várias sementes do mesmo tipo garantiu a produção
de alimentos, que poderiam ser consumidos após as colheitas. O ser humano também descobre que
algumas plantas possuem adaptação melhor em diferentes épocas do ano, o que gerava a necessidade
de cultivar diferentes tipos de planta ao longo das estações para conseguir produzir alimentos o ano todo.
A partir do cultivo de seus alimentos, era necessário criar mecanismos para o armazenamento de suas
colheitas. O ser humano passa a produzir instrumentos feitos a partir do barro (argila), como panelas,
potes e bacias.
O domínio do cultivo de plantas pelo ser humano é entendido como o início da atividade agrícola. A
partir desse momento não era mais necessária a mudança de local em local para garantir a sobrevivência
e a obtenção de alimentos, agora é possível tê-los em um único lugar, sem precisar se deslocar. Essa
garantia de alimentos em local fixo garantiu ao ser humano o necessário para tornar-se sedentário, ou
seja, abandonar o nomadismo e fixar-se em um único local que fosse propicio para a agricultura.
Além dos processos de agricultura e sedentarismo, o homem do neolítico passar a domesticar animais,
como o boi, o cavalo e a ovelha. Esses animais passam a fazer parte da vida, servindo a diversas funções
como obtenção de carne para alimentação, o transporte de pessoas e cargas e a produção de vestimentas
para se aquecer em períodos de frio.
Outra grande mudança se dá na maneira de produzir ferramentas e utensílios. Ao invés do lascamento
de pedras, característico do período paleolítico, agora utiliza-se a chamada pedra polida, através de um
processo de fabricação que permitia criar instrumentos mais afiados e precisos

Idade dos Metais


A partir desse período, o ser humano aprender a extrair e trabalhar o metal, de maneira a moldá-lo de
acordo com suas necessidades. A utilização de metais se iniciou com a extração e produção do cobre,
utilizado para fabricar armas mais afiadas e resistentes que aquelas feitas de pedra. Mais tarde aprendeu
que poderia misturá-lo com o estanho para produzir uma liga metálica mais resistente, que ficou
conhecida como bronze.
É a partir da idade dos metais que surgem os primeiros núcleos urbanos e as primeiras cidades. Os
mais antigos indícios apontam que as primeiras cidades teriam surgido no atual Oriente Médio. Entre as
mais antigas estão as cidades de Jericó na Palestina, Biblos no Libano e Çatal Hüyük na Turquia. Além
de serem centros urbanos estabelecidos, contavam com um sistema de religião que já se desenvolvia
desde o período neolítico e também com atividades comerciais.

A Pré-História e as Origens do Homem Americano


O Brasil possui um grande período de ocupação humana antes da chegada dos portugueses em
1500.Existem diversas teorias para explicar a chegada do ser humano ao continente americano, que
variam entre 40 e 15 mil anos atrás
A teoria mais difundida é de que os primeiros seres humanos chegaram na América, vindos da Ásia,
através da travessia do Estreito de Bering, localizado entre os Estados Unidos(Alaska) e a Rússia. A ideia
é de que a última glaciação garantiu a passagem segura entre os continentes. A partir daí o ser humano
teria se espalhado pelo continente de maneira gradual, ocupando territórios até chegar ao Brasil.
Outra teoria aceita é a de que o homem americano tenha chegado através das ilhas polinésias em
embarcações rudimentares na costa sul-americana.
A arqueóloga Niède Guidon descobriu no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, diversos
vestígios, como ossos de animais, ferramentas de pedra, e pinturas rupestres que podem indicar uma

50
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
ocupação ainda mais antiga do território, com datações que podem alcançar até 45.000 anos. A
arqueóloga defende a ideia de que os seres humanos chegaram ao continente americano em diversas
levas migratórias, vindas de várias partes da África e da Ásia em períodos diferentes, o que poderia
explicar a grande variedade linguística encontrada entre os povos nativos.
Os primeiros habitantes do continente praticavam principalmente a caça e a coleta de frutos, utilizando
instrumentos feitos de pedra lascada. Utilizavam fogueiras para se aquecer, cozinhar alimentos e
defender-se de animais selvagens. Por volta de 5000 anos atrás alguns povos começam a praticar a
agricultura, após a revolução neolítica, que permitiu a utilização de ferramentas mais elaboradas e
contribuiu para a sedentarização de vários grupos. A cerâmica também é desenvolvida no período
neolítico, como forma de armazenar os alimentos que passaram a ser cultivados. No território brasileiro
destacam-se os povos Tupi, Guarani e Caraíbas como praticantes da agricultura.

Pinturas Rupestres
Muitos dos antigos habitantes do território brasileiro buscaram alojamento em cavernas. Nas paredes
dessas cavernas foram encontradas pinturas que retratam cenas do cotidiano de vida dessas pessoas,
com representações de caçadas, de partos e relações sexuais. As figuras eram desenhadas a partir da
mistura de sangue de animais, carvão e minerais dissolvidos em água. As pinturas rupestres representam
parte importante da pesquisa arqueológica no Brasil, servindo como fonte para a datação de sítios
arqueológicos

Fonte:http://www.revistaea.org/img/claudia21_html_60586f2a.jpg
Pintura Rupestre representando animais, Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí.

População Sambaqui: As populações que habitaram o litoral, desde cerca de 6 mil anos atrás
acumularam próximo a suas moradias ao longo do tempo os restos de alimentos, conchas e ossos de
peixe. Esses depósitos deram origem aos sambaquis. O termo sambaqui é de origem Tupi-Guarani e
significa “monte de conchas”.
A dieta desses povos era baseada em peixes, crustáceos e moluscos. Os instrumentos e ferramentas
fabricados por esses povos eram compostos de arpões e anzóis, além de instrumentos polidos Pela
grande abundancia de alimentos que o mar proporcionava, esses povos fixavam-se em pontos
específicos, sem a necessidade de migração. Os sambaquis também eram utilizados para o sepultamento
dos mortos e podem ser encontrados em diversos pontos da costa brasileira, de nordeste a sul, além de
outros países.

Questões

01. Nas últimas décadas o Piauí vem figurando como um tema obrigatório nas discussões sobre o
primitivo povoamento do território americano, o que decorre, principalmente, dos achados arqueológicos
da Serra da Capivara, no município piauiense de São Raimundo Nonato. Sobre esse assunto, assinale,
nas alternativas a seguir, aquela que está INCORRETA:
(A) Os municípios de São Raimundo Nonato, no Piauí, e de Central, na Bahia, detêm os mais antigos
vestígios da presença humana na região nordeste.
(B) O acervo arqueológico de São Raimundo Nonato é administrado pela FUMDHAM - Fundação
Museu do Homem Americano.
(C) A arqueóloga Niede Guidon, personalidade mais conhecida entre os profissionais que atuam junto
ao acervo arqueológico de São Raimundo Nonato, tem protagonizado, ao longo dos anos, vários conflitos
e polêmicas com o governo do Piauí, com órgãos federais como o IBAMA e até mesmo, com nativos do
município de São Raimundo Nonato.
(D) Os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato, no Piauí, assim como aqueles encontrados
na Bahia, impõem uma revisão das teorias sobre o povoamento da América e não deixam dúvidas quanto
à natureza autóctone do homem americano.

51
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(E) Hoje, apesar de ainda ser forte a tese do povoamento da América ter-se dado através do Estreito
de Behring, os estudiosos, a partir de acervos arqueológicos como os do Piauí, consideram seriamente a
hipótese de múltiplas correntes de povoamento. Quanto à data da chegada dos primeiros povoadores,
ainda há muitas controvérsias, não estando, em rigor, nada definitivamente estabelecido.

02. Tradicionalmente, podemos definir a pré-história como o período anterior ao aparecimento da


escrita. Portanto, esse período é anterior há 4000 a.C, pois foi por volta desta época que os sumérios
desenvolveram a escrita cuneiforme. Com base nesse entendimento, qual a alternativa que apresenta
características das atividades do homem na fase paleolítica?
(A) Os homens aprenderam a polir a pedra. A partir de então, conseguiram produzir instrumentos
(lâminas de corte, machados, serras com dentes de pedra) mais eficientes e mais bem acabados.
(B) Os homens descobriram uma forma nova de obter alimentos: a agricultura, que os obrigou a
conservar e cozinhar os cereais.
(C) Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio alimento, os homens não tinham mais por
que mudar constantemente de lugar e tornaram-se sedentários.
(D) Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os juros.
(E) Os homens ainda não produziam seus alimentos, não plantavam e nem criavam animais. Em
verdade, eles coletavam frutos, grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.

03.

Pintura rupestre da Toca do Pajaú

A pintura rupestre mostrada na figura anterior, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa
(A) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil.
(B) a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros.
(C) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil.
(D) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos.
(E) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial.

04. São fatos ligados à Revolução Neolítica:


(A) Vida nômade e organização em tribos.
(B) terras pertencentes ao Estado e escravismo.
(C) domesticação de plantas e animais e sedentarização do homem.
(D) escravidão, impostos em trabalho e vassalagem,
(E) pintura em cavernas, vida nômade, caça e coleta de vegetais.

Gabarito

01.D / 02.E / 03.C / 04.C

Comentários
01. Resposta: D.
Apesar de muito importantes, os vestígios encontrados em São Raimundo Nonato não podem ser
utilizados como prova definitiva da origem do ser humano na América, muito menos determinar uma

52
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
origem exclusiva. O assunto ainda é muito discutido na comunidade cientifica e gera muitos debates, pois
são diversas as teorias apresentadas para o povoamento do continente.

02. Resposta E.
O período paleolítico é conhecido por características que definiam o homem pré-histórico, como as
atividades de caça e pesca como forma de alimentação, a utilização de ferramentas simples feitas através
do lascamento de pedras e ossos de animais e a vida em abrigos sob rocha. As técnicas agrigolas,
domesticação de animais e a utilização de ferramentas elaboradas veio com o período Neolitico.

03. Resposta C.
As pinturas rupestres foram a maneira encontrada pelos seres humanos de eras passadas para
expressar cenas do dia-a-dia, caçadas e rituais relacionados à vida e natureza. Não existem evidencias
de pinturas rupestres feitas durante o contato com os europeus. A cena no caso mostra uma caçada e
cenas do cotiano. É importante lembrar que quando os seres humanos surgem no planeta os dinossauros
já haviam sido extintos há muito tempo.

04. Resposta C.
É a partir do período conhecido como idade Neolítica ou revolução Neolítica que o ser humano passa
a praticar a agricultura e domestica animais selvagens. Os dois fatores anteriores contribuíram para a
sedentarização, onde não precisaria mais se mudar de acordo com a oferta de alimentos de um
determinado local, já que o ser humano agora é responsável pela criação de seus próprios alimentos.

Crescimento populacional e alteração do meio ambiente na Europa medieval;

*Candidato(a) O conteúdo será trabalhado junto do Tópico “Idade Média”

As relações socioeconômicas e ambientais das sociedades africanas


subsaarianas pré-coloniais;

HISTÓRIA DOS POVOS AFRICANOS

Sociedades Africanas pré-coloniais9


A grande maioria das populações africanas empregadas como mão-de-obra escrava no
empreendimento colonial americano foi trazida de regiões da África Subsaariana. Compreendendo uma
extensão que vai do Senegal até a Angola, diversas populações subsaarianas, pertencentes ao tronco
linguístico banto, se fixaram ao longo das regiões de savana formando diferentes culturas. As aldeias ali
formadas surgiam em terrenos onde a caça e a agricultura se mostravam mais viáveis.
Esse tempo em que as aldeias se formaram foi marcado por diferentes deslocamentos populacionais
motivados por conflitos tribais, desastres naturais ou crescimento demográfico. Ao longo de sua história,
diversas tribos passaram a entrar em contato e, posteriormente, formaram pequenos Estados. Essa
primeira experiência política mais complexa possibilitou o desenvolvimento de um articulado comércio de
gêneros agropecuários.
As condições hostis dessa região acabaram sendo propulsoras de uma série de práticas que marcaram
os costumes destes povos africanos. As doenças e intempéries climáticas faziam com que a capacidade
de manter uma prole extensa fosse extremamente valorizada. A virilidade sexual era compreendida como
um dado que distinguia socialmente os indivíduos. A título de exemplo, observa-se a grande recorrência
de esculturas representando a figura de mulheres grávidas.
De forma geral, a economia se organizava em torno da posse coletiva das terras. Um chefe tribal
ordenava a distribuição de lotes de terra mediante o pagamento de uma determinada tributação. A divisão
de tarefas no trabalho agrícola contava com a participação de homens e mulheres. As famílias agregavam
uma ampla extensão de indivíduos que englobava filhos, esposas, parentes mais pobres, agregados e
escravos. A prática da escravidão nessas culturas contava com uma complexa organização.

9 SOUSA, Rainer Gonçalves. "África pré-colonial"; Brasil Escola. https://bit.ly/2OlFCqx.

53
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os escravos mais prestigiados eram utilizados para os combates militares entre as tribos rivais. Outra
parcela de escravos trabalhava junto aos camponeses e acabavam sendo incorporados ao ambiente
familiar. Alguns escravos chegavam a desfrutar de alguns privilégios e poderiam até mesmo ter algum
tipo de posse. A inserção social de escravo só não acontecia na livre escolha de uma esposa ou na
participação das questões políticas.
As práticas religiosas destas tribos africanas contavam com uma grande variabilidade de crenças. Um
exemplo dessa questão pode ser claramente observado nas concepções que regiam a relação dos
indivíduos com a natureza. Em algumas culturas, as manifestações naturais eram temidas e vistas como
uma consequência direta do comportamento dos deuses. Dessa forma, diversos rituais eram
desenvolvidos com o propósito de apascentar tais forças. Em outras culturas, animais eram
compreendidos como representantes de determinadas virtudes e características.
A partir do processo de expansão marítima empreendido pelas nações europeias e o desenvolvimento
do tráfico negreiro, diversas dessas culturas foram profundamente transformadas. No ambiente colonial,
várias das tradições foram reinterpretadas à luz das demais culturas que conviviam no continente
americano. Contudo, as poucas características aqui levantadas sobre as culturas africanas, demonstram
a existência de todo um modo de vida rico e diverso, estabelecido antes do contato com o “europeu
civilizado”.

África
No século XIX a África foi considerada como um continente atrasado e dominado pela barbárie. De
acordo com as ideias inspiradas no evolucionismo biológico de Charles Darwin, povos como os africanos
estariam num estágio cultural e histórico correspondente aos ancestrais da Humanidade. Como
argumento para tal afirmação, os europeus citavam a utilização do alfabeto, inexistente em muitas culturas
africanas.
A partir dessas concepções de atraso, por muito tempo a África foi pensada como um continente cuja
história e a cultura antes do contato europeu fosse inexistente (em várias situações o Egito é descrito
como algo separado da África)
A degeneração da imagem das sociedades africanas, de suas ciências, e de seus produtos é resultado
do projeto do neocolonialismo, que difundiu a ideia de que o continente africano é tórrido e cheio de tribos
perdidas na História e na Civilização. É resultado também do etnocentrismo das ciências europeias do
século XIX. É necessário, pois, ver de que História e de que Civilização se trata. E do ponto de vista
histórico-econômico, o imperialismo colonial na África é meio e produto do Capital, uma das grandes
invenções que vem desde a era dos Descobrimentos reforçada ainda mais pela consolidação do
Liberalismo.
Antes do contato pelo período das navegações, a Europa já conhecia o norte da África, na região do
mar Mediterrâneo. Nessa região foi fundada a cidade de Cartago, que durante muito tempo desafiou o
poder do Império Romano, fator que desencadeou as guerras púnicas.
Além do Egito, o reino de Aksum, na Etiópia também desenvolveu um expressivo poder. O reino surgiu
por volta do século V a.C e seus governantes declaravam-se descendentes da Rainha de Sabá e do Rei
Salomão de Israel. Além da expressividade no poder, Aksum foi o primeiro a cunhar moedas e criou
inclusive um alfabeto próprio durante o século III.
Para além da região norte da África, em direção ao sul do continente estendia-se o deserto do Saara,
que para os estrangeiros configurava-se em um grande obstáculo. Para os povos que já habitavam a
região, a travessia do deserto para alcançar a África subsaariana era uma questão de conhecimento das
rotas e dos oásis em meio ao deserto. Entre os principais conhecedores dessas rotas estavam os
berberes e os tuaregues.
Além dos caminhos por terra, havia também rotas marítimas pelo litoral da África Oriental, via Oceano
Índico, em direção à Índia e à China. As correntes marítimas facilitavam a navegação para os hábeis
navegadores africanos e seus parceiros que conheciam seus movimentos nas diferentes estações do ano
A costa oriental africana tinha ricas cidades-porto movimentadas pelo ir e vir de barcos, pessoas e
mercadorias. Havia nesse litoral comerciantes indianos e árabes, além de muitos africanos. Era ativa a
negociação com grupos do interior do continente, que traziam marfim, peles, cascos de tartaruga, chifres
de rinocerontes, plumas de avestruz, âmbar e ceras. Na costa recebiam tecidos e especiarias vindas da
Índia, porcelanas chinesas, sedas do Japão, entre tantos outros produtos.

Os reinos da África Ocidental


Na África, durante o período conhecido como Idade Média na história da Europa, houve grandes e
poderosos reinos, como os de Gana, Mali e Songai. Esses reinos, localizados na África Ocidental, ficaram
conhecidos pelo controle que tinham sobre as rotas de comércio e as minas de ouro na sua região.

54
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Realizavam comércio com diferentes partes do mundo, incluindo a Europa e o Oriente, através das rotas
de caravanas que atravessavam o deserto de Saara e chegavam ao norte da África. No comércio de
longa distância se fazia ao mesmo tempo contatos e trocas de mercadorias, bem como intercâmbios de
tecnologias e conhecimentos.

Gana10
Na região entre os rios Senegal e Níger, os soninquês (povos de origem mandê), fundaram pequenas
cidades, que desde o século 4 foram se unificando, muito provavelmente para resistir às guerras com
povos nômades. No século 8, a região era conhecida como Império de Gana.
Os soninquês chamavam sua região de Wagadu, mas os berberes (povos do Magreb), que chegaram
ali no século 8, a chamavam de Ghana, pois era esse o título do rei da região (ghana: "rei guerreiro").
Por muito tempo, o deserto do Saara dificultou o acesso dos povos do norte da África ao interior do
continente. Uma viagem do Magreb (região africana banhada pelo mar Mediterrâneo, exceto o Egito) até
a bacia do rio Níger poderia durar até 4 meses em pleno deserto.
Dessa forma, enquanto o norte da África estava inserido no comércio entre diversos povos desde a
Antiguidade (gregos, romanos, fenícios, cartagineses, líbios, persas, egípcios, árabes), o reino de Gana,
na África Subsaariana (ou África Negra), pôde se desenvolver isoladamente.
Somente quando os árabes conquistaram o Magreb e introduziram o camelo como animal de
transporte foi possível a viagem através do deserto. A partir de então, os reinos e as grandes riquezas da
África Negra passaram a fazer parte do comércio internacional do Mediterrâneo.
Gana já era um reino rico antes da chegada dos comerciantes do norte, e são os documentos deixados
por esses comerciantes (árabes e berberes) que nos informam o que foi Gana, e relatam um império
extraordinário, também chamado de Terra do Ouro. Segundo Al-Bakri, comerciante árabe de Córdoba
(século 11), o rei de Gana usava túnicas bordadas a ouro, colares e pulseiras de ouro - e os arreios dos
cavalos e as coleiras dos cachorros do rei eram de ouro.
O império de Gana tinha como capital Kumbi-Saleh. Dessa cidade, o rei e seus nobres controlavam
povos vizinhos, obrigando-os a pagar impostos em troca de proteção. Além disso, Gana controlava o
comércio tanto das mercadorias que eram trazidas do norte (como sal e tecidos), quanto das que saíam
do interior da África (como ouro e escravos). Na capital, o comércio era intenso: os seus 20 mil habitantes
recebiam diariamente as caravanas que vinham de diversas regiões. Entre os séculos 9 e 10, Gana viveu
seu apogeu, sendo um dos mais ricos reinos do mundo, segundo Ibn Haukal, viajante árabe da época.
Com o processo de islamização dos povos africanos (os primeiros convertidos foram os berberes), o
Império de Gana (que se recusava a se converter ao Islã) foi perdendo força, até que em 1076 os
almorávidas (dinastia berbere) conquistaram e saquearam Kumbi-Saleh, transformando a cidade em um
reino tributário. A partir daí, todo império se fragmentou, o que possibilitou as incursões de vários povos
vizinhos, um deles os sossos, que passaram a controlar várias regiões do antigo império.

Mali
O Reino de Mali era, a princípio, uma região do Império de Gana habitada pelos mandingas. Era
composto por 12 reinos menores ligados entre si, e tinha como capital Kangaba. Os mandingas
chamavam seu território de Manden (= terra dos mandingas).
Após anos de guerras entre os soninquês de Gana e os almorávidas (século 11), e depois das guerras
com os sossos (século 12), Mali conseguiu sua independência e adotou o islamismo. E, apesar de passar
por um período de crise política e econômica, conseguiu se restabelecer e, em 1235, os mandingas de
Mali conquistaram o território do antigo Império de Gana, sob a liderança de Maghan Sundiata, que
recebeu o título de Mansa, que na língua mandinga significa "imperador".
O nome que os mandingas davam ao seu império era Manden Kurufa; o nome Mali era usado por seus
vizinhos, os fulas, para se referir ao grande império. Manden Kurufa significa Confederação de Manden.
A capital era Niani (atualmente uma aldeia na República da Guiné).
Ao contrário do Império de Gana, que somente se preocupava em manter os povos dominados, a fim
de controlar o comércio regional, o Império de Mali se impôs de forma centralista, estabelecendo fronteiras
bem definidas e formulando leis por meio de uma assembleia chamada Gbara, composta por diversos
povos do império. A aplicação da justiça era implacável, tanto que vários viajantes se referiam aos povos
negros como "os que mais odeiam as injustiças - e seu imperador não perdoa ninguém que seja acusado
de injusto". Acredita-se que o Império de Mali tivesse a extensão da Europa Ocidental.
O Império de Mali se tornou herdeiro do Império de Gana, pois passou a controlar todo o comércio
local. O ouro extraído por Mali sustentava grande parte do comércio no Mediterrâneo. Conta-se que, entre

10 Adaptado de Turci

55
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
1324 e 1325, Mansa Mussa, em peregrinação a Meca, parou para uma visita ao Cairo e teria presenteado
tantas pessoas com ouro, que o valor desse metal se desvalorizou por mais de 10 anos.
Também sob o reinado de Mussa, a cidade de Timbuktu (ou Tombuctu) se tornou uma das mais ricas
e importantes da região. Sua universidade era um dos maiores centros de cultura muçulmana da época,
e produziu várias traduções de textos gregos que ainda circulavam nos séculos XIV e XV. A grandiosidade
de Timbuktu atravessou os tempos e, no século XIX, exploradores europeus se embrenharam pelos
caminhos africanos, seguindo o rio Níger, em busca da lendária cidade.
O Império de Mali entrou em decadência a partir do final do século 14, em função das disputas políticas
internas e das incursões dos tuaregues (povo berbere), sendo conquistado, no século 15, pelos songais
(povo africano até então dominado por Mali). Foi nesse mesmo século que os portugueses, em pleno
processo de expansão marítima, conheceram o já decadente Mali.

Cidades iorubás
A partir do século IX formaram-se as cidades da civilização iorubá, na região da atual Nigéria, já
habitada por esse povo desde o século 4.
Os iorubás nunca unificaram suas cidades, mas mantiveram a mesma cultura (língua, religião etc.). A
cidade iorubá mais importante era Ifé, considerada sagrada, por ser o berço dos iorubás, segundo a
crença local. Outra cidade importante foi Oyo, um centro militar que, no final do século 17, tinha se
expandido até Daomé (atual Benin).
Ifé foi um grande centro artesanal e artístico, e era governada por um rei sacerdote que tinha o título
de Oni, enquanto nas outras cidades os governantes recebiam o título de Oba.
Apesar do cristianismo e do islamismo terem chegado até os iorubás, a maioria desse povo sempre
se manteve fiel às antigas tradições politeístas locais, sendo os orixás os seus deuses.
Ao contrário do que se acredita, a crença nos orixás não se expandiu pela África, mantendo-se
exclusivamente iorubá. Mas como muitos iorubás (chamados de nagôs ou anagôs pelos portugueses)
foram transformados em escravos e trazidos à força para a América, o culto aos orixás se misturou ao
cristianismo imposto por portugueses e espanhóis, criando vários sincretismos religiosos que fazem parte
da cultura americana, como, por exemplo, o Candomblé e a Umbanda, no Brasil, e o Vodu no Haiti (apesar
de o Vodu também receber influências de outras culturas africanas).
A partir do século XV, as cidades iorubás iniciaram seu processo de declínio (apesar de Oio ter se
mantido até o século XIX). Muitos pesquisadores acreditam que a falta de unidade política foi uma das
causas desse declínio, já que os iorubás não tiveram condições de se fortalecer para enfrentar o processo
de escravização que lhes foi imposto.

A expansão Banto
Durante os últimos milênios, as sociedades africanas passaram por longos e diversos processos
migratórios e adaptativos em relação ás mudanças climáticas no interior do continente.
Esses movimentos migratórios levaram ao surgimento de diversas cidades e aldeias, além de criar
diferentes povos, com diferentes costumes.
O surgimento de novos polos de habitação e as migrações geraram diversos conflitos por territórios, o
que fez com que surgissem as primeiras fronteiras entre diferentes grupos.
Os grupos que compartilhavam uma história de migração comum e a conquista de um território, com
o tempo desenvolveram uma tradição e uma língua comuns. Muitas vezes seus vizinhos de região tinham
a mesma antiga origem. Mas, o momento em que partiram na sua migração, os caminhos que tomaram
e diferente maneira pela qual cada um dos grupos se apossou da terra, mudaram sua história. Mudando
a história, mudava também a sua tradição e a sua identidade. Tinham uma origem comum, mesmo que
distante no tempo, eram vizinhos, mas eram povos distintos. Assim, foram se formando as identidades
dos grupos, mais tarde chamadas de identidades étnicas.
Entre as principais origens dos povos africanos, está o tronco linguístico Banto. A palavra Banto é a
combinação de ‘ntu’ (ser humano) acrescido do prefixo ‘ba’, que designa plural. Ou seja, banto (em alguns
lugares é escrita como bantu) quer dizer: ‘seres humanos’ ou ‘gente’.
A ocupação dos povos de origem banto no continente africano, ao sul da linha do equador foi um
processo lento, que ocorreu ao longo de milhares de anos.
A primeira grande onda migratória teria se movimentado ainda no final do IIº milênio a.C., partindo da
região norte, entre o Camarões e a Nigéria. Estes grupos cruzaram a região onde fica hoje a República
Centro Africana, ocupando áreas dentro e fora da floresta equatorial, a oeste e a leste. Ao se
estabelecerem, de forma sedentária ou semi-sedentária, introduziram dois sistemas diferentes de
produção de alimentos, que se adaptaram respectivamente às florestas e à savana. Eram agricultores e

56
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
foram os primeiros nesta região a se organizar em aldeias e a agrupar estas aldeias em unidades mais
abrangentes, com cerca de 500 pessoas cada.
Uma segunda onda migratória ocorreu por volta do ano 900 a.C., quando terminava a longa expansão
inicial. A esta altura haviam dois grandes grupos, falando línguas semelhantes, porém diversas:
- Os bantos do oeste (norte da atual República Popular do Congo e leste do Gabão);
- Os bantos do leste (atual Uganda).

Os bantos do oeste desceram para a região que atualmente compreende o norte de Angola e
chegaram a uma terra mais seca. Outros permaneceram na fronteira entre a savana e a floresta, seguindo
os cursos de água. Enquanto isso, os bantos do leste moveram-se em direção ao Sul, para o sudeste do
Zaire e Zâmbia atuais.
Os processos de expansão banto não representaram invasões. Eles foram parte de um movimento
populacional lento e irregular. Os bantos acabaram por estabelecer contatos com outros povos, que
habitavam as regiões para onde migravam. As pesquisas linguísticas e arqueológicas demonstram que
algumas vezes os bantos mudaram seu modo de vida, tornaram-se pastores nômades, e chegaram em
alguns casos a transformar sua própria língua.
Novas ondas migratórias dos grupos banto do leste desceram em direção ao Sul, nos séculos iniciais
da era Cristã, e parecem ter levado junto consigo as importantes técnicas de metalurgia para estas áreas.
A esta altura seriam, além de agricultores, também ferreiros. O domínio desta técnica modificou
enormemente a vida destes povos. A partir deste momento - em torno do século V - e como resultado
desta verdadeira rede de movimentos de população, expandiram técnicas de produção de alimento e
metalurgia entre os povos da África subequatorial.
Com o domínio das técnicas agrícolas, a produção de alimentos ficou assegurada, levando estes
grupos ao sedentarismo. O sedentarismo foi importante na criação da noção de pertencimento à terra, da
ligação de determinados grupos a seus territórios.
Os contatos entre os grupos foram aumentando com as trocas entre produtores de diferentes tipos de
alimentos, de acordo com a região. O inhame e o azeite de dendê, além da caça e pesca das áreas mais
próximas às florestas podiam ser trocados por cereais e outros produtos de áreas próximas.
Estas mudanças foram sendo acompanhadas por transformações nas organizações sociais destes
grupos. Surgiram novos modos de reconhecer e se relacionar interna e externamente. Em alguns casos,
apareceram divisões sociais mais profundas e em outros se criaram autoridades a partir da história de
liderança da ocupação da terra. E, em todos os casos, estas criações para o funcionamento da vida em
sociedade se basearam no mundo espiritual, parte inseparável do entendimento da vida para estas
populações.
Assim, e paralelamente a esta história de ocupação de grandes partes da África ao sul do equador,
foram surgindo grupos que, por uma história, língua, crenças e práticas em comum passaram a constituir
povos. Isto ocorreu longamente, entre o século V a.C e século V da nossa era. Foram surgindo novas
identidades de grupo.

A África Muçulmana
Atualmente o número de muçulmanos na África está estimado em mais de 300 milhões, ou seja, cerca
de 27% do total dos seguidores da religião no mundo
A expansão do Islã na África se deu no início mais pelo comércio e pela migração do que pelas
conquistas militares. A expansão do islã na África seguiu três direções:
- Do noroeste do continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a África Ocidental;
- Do baixo para o alto vale do Nilo, chegando ao nordeste da África (península da Somália e arredores);
- Comerciantes originários da porção sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do subcontinente
indiano, criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a presença muçulmana para o
interior.
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo
uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).
A partir do norte do Egito, os muçulmanos tentaram ir mais ao sul, mas esbarraram nos exércitos da
Núbia cristã. Derrotados, foram forçados a reconhecer a autonomia do reino cristão núbio. Mas, do Norte
conseguiram expandir-se para o Oeste (que, em árabe, quer dizer Magreb, nome pelo qual esta região
da África ficou conhecida). Foram pouco a pouco conseguindo dominar o Norte do continente africano,
durante a segunda metade do século VII. A partir dali, cruzaram o mar Mediterrâneo e conquistaram
partes do sul da Europa, incluindo a Península Ibérica (Espanha e Portugal).
Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos contribuíram para o surgimento de importantes reinos
na África Ocidental, que floresceram graças ao comércio feito por caravanas que, atravessando o Saara,

57
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
punham em contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do Sudão Ocidental e África centro-
ocidental. A conversão de certos monarcas africanos fez não só o islã avançar como criou uma florescente
cultura. Assim, cidade de Tumbuktu (no atual Máli) era, no século XIV, um núcleo urbano conhecido pelo
alto nível de suas escolas islâmicas, que atraíam muçulmanos de várias partes do mundo.
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do Índico,
levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da atual Eritréia e do leste da
Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o avanço
muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos
seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos bantos que estavam em processo de
expansão para a África oriental e meridional.
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao atual
Moçambique, um conjunto de importantes cidades-estados e fortalezas, junto ao litoral e nas ilhas, cujo
comércio de ouro se manteve até o início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do início
da colonização europeia, o islã se constituía na principal presença "importada" no continente, presença
esta que já estava fortemente integrada às sociedades africanas.

Os Reinos Africanos11
A região da África Oriental, dos reinos da Núbia, Etiópia e posteriormente Burundi e Uganda, sofreram
grande influência religiosa em seu processo de organização cultural e espacial. Conflitos religiosos entre
mulçumanos e cristãos foram decisivos para a nova organização desses reinos, a exemplo do Antigo
Egito, que teve que se consolidar como Estado mulçumano entre duas potências cristãs – Bizâncio e
Dongola.
O resultado desses conflitos foi à conquista de Dongola em 1323 pelos mulçumanos, e a tomada
gradativa do controle da Núbia em 1504, o que daria um golpe de misericórdia nos reinos cristãos da
região. Nos casos da Núbia e da Etiópia, além dos conflitos religiosos existentes, o comércio
principalmente com o Egito, foi outra atividade que influenciou diretamente, servindo como estímulo para
a criação destes Estados. Esta atividade comercial se dava por rotas que cortavam o deserto do Saara,
em caravanas puxadas por cavalos, dificultando o percurso e prejudicando consequentemente a atividade
comercial, uma vez que o camelo domesticado só foi introduzido no Norte africano no século II da era
cristã. Só a partir do domínio mulçumano na região é que as atividades comerciais expandiram-se mais
para o sul do continente. Portanto, os conflitos religiosos entre mulçumanos e cristãos, além das
atividades comerciais exercidas entre esses povos, foram decisivos para a organização espacial dos
territórios da África Oriental, fatos que produzem reflexos atuais na cultura e na religiosidade dos Estados
africanos atuais.

ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS


Na apresentação das grandes civilizações africanas, em 1000 a.C., povos semitas da Arábia emigram
para a atual Etiópia. Depois, em 715 a.C. o Rei de Cush, funda no Egito a 25a dinastia. Em 533 a.C.
transfere sua capital de Napata para Meroé, onde, cerca de cinquenta anos depois, já se encontra uma
metalurgia do ferro, altamente desenvolvida. Por volta do ano 100 a.C. desabrocha, na Etiópia, o Reino
de Axum. O tempo que se passou até a chegada dos árabes à África Ocidental foi, durante muitos séculos,
considerado um tempo obscuro, face à absoluta ausência de relatos escritos, que só apareceram nos
séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e o “Tarik-Es-Sudam”, redigidos, respectivamente, por
Muhammad Kati e Abderrahman As Saadi, ambos nascidos em Tombuctu. Mas o trabalho de arqueólogos
do século XX, aliado aos relatos da tradição oral, conseguiu resgatar boa parte desse passado. O mais
antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre os séculos III e VII, a Etiópia teve como vizinhos outros reinos
cristãos: o Egito e a Núbia, contudo, com a expansão do islamismo essas duas últimas regiões caíram
sob o domínio árabe e a Etiópia persistiu como único grande reino cristão da África. Antes do efetivo início
do processo de islamização do continente africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de
desenvolvimento bastante alto. E, os antigos Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin,
são excelentes exemplos de pujança das civilizações pré-islâmicas. Império do Gana

O Antigo Império de Gana


Teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o florescimento desse império
remonte ao século IV. Fundado por povos berberes, segundo uns, e por outros, por negros mandeus,
mandês ou mandingas, do grupo soninkê. O antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma
área tão vasta quanto à da moderna Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental

11 https://bit.ly/2OokeRL

58
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
e o sudeste da Mauritânia. Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o
Antigo Império de Gana era tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana,
tal como seus súditos, eram denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências
no comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076 d.C., em
nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe, atacam
e conquista Kumbi Saleh, capital do Império de Gana.O atual Gana, que antigamente se chamava Costa
de Ouro, deve o seu nome moderno ao de um antigo império que dominava a África Ocidental durante a
Idade Média. O velho Gana ficava a muitos quilómetros mais para norte do atual, entre o deserto do Saara
e os rios Níger e Senegal. O Gana foi provavelmente fundado durante os anos 300. Desde essa data até
770 os seus governantes constituíram a dinastia dos Magas, uma família berbere, apesar do povo ser
constituído por negros das tribos Soninque. Em 770 os Magas foram derrubados pelos Soninques, e o
império expandiu-se grandemente sob o domínio de Kaya Maghan Sisse, que foi rei cerca de 790.Nessa
altura o Gana começou a adquirir uma reputação de ser uma terra de ouro. Atingiu o máximo da sua glória
durante os anos 900 e atraiu a atenção dos Árabes. Depois de muitos anos de luta, a dinastia dos
Almorávidas berberes subiu ao poder, embora não o tenha conservado durante muito tempo. O império
entrou em declínio e em 1240 foi destruído pelo povo de Mali. Os soninkés habitavam a região ao sul do
deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este
império era comandado por reis conhecidos como caia-maga. Viviam da criação de animais, da agricultura
e da pesca. Habitavam uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro para trocar por outros
produtos com os povos do deserto (berberes). A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área de
intenso comércio. Os habitantes do império deviam pagar impostos para a nobreza, que era formada pelo
caia-maga, seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção das terras e do comércio que
era praticado na região. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores,
que trabalhavam nas terras da nobreza.

O Império do Mali
Os fundados do Antigo Mali teriam sido caçadores reunidos em confrarias ligadas pelos mesmos ritos
e celebrações da religião tradicional. O fervor com que praticavam a religião de seus ancestrais veio até
bem depois do advento do Islã. Conquistando o que restara do Antigo Gana, em 1240, Sundiata Keita,
expandiu seu império, que já era oficialmente muçulmano desde o século anterior. E, o Mali se torna
legendário, principalmente sob o mansa (rei) Kanku Mussá, que, em 1324, empreendeu a peregrinação
a Meca com a intenção evidente de maravilhar os soberanos árabes. O Antigo Império Gana teve seu
apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o florescimento desse império remonte ao século
IV. Fundado por povos berberes, segundo uns, e por outros, por negros mandeus, mandês ou mandingas,
do grupo soninkê. O antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área tão vasta quanto à
da moderna Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental e o sudeste da Mauritânia.
Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o Antigo Império de Gana era
tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana, tal como seus súditos, eram
denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências no comércio do ouro, o Antigo
Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076 d.C., em nome de uma fé islâmica ortodoxa,
os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, cap ital
do Império de Gana. No século XVI chegou a ser o mais importante entreposto comercial do império, mas
os mesmos fatores que causaram a decadência da «cidade irmã» – o comércio marítimo dos portugueses,
a ocupação marroquina e, depois, francesa – acabaram por torná-la num insignificante centro agrícola
dotado de magníficos exemplares de arquitetura islâmica. Djenné foi igualmente um importante centro de
peregrinação e cultura, atraindo peregrinos e estudantes de toda a África ocidental. Durante muito tempo
foi uma verdadeira escola de juristas. Os seus monumentos, entre os quais se destaca uma Grande
Mesquita que remonta ao século XIII, recorrem ao mesmo tipo de material e técnicas construtivas que os
de Tombuctu. O que dá origem a problemas de conservação muito semelhantes.

Império Songai
A organização do Songai era mais elaborada ainda que a do Mali. O Império Songai teria suas origens
num antepassado lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos pescadores sorkôs. Por volta
de 500 d.C., diz ainda a tradição, que guerreiros berberes, chefiados por Diá Aliamen teriam chegado à
curva norte do Níger, tomando o poder dos sorkôs. A partir daí, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma
ilha perto do Níger, até 1009, quando o reino se converte oficialmente ao islamismo e transfere a capital
para Goa, onde a dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songhai se liberta do Antigo Mali, de quem
se tornara vassalo em 1275 e, começa a conquistar as regiões vizinhas. O Império Songhai, também
conhecido como o Império Songhay foi um estado pré-colonial africano e grande civilização oriental, em

59
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Mali. Do início do século XV até o final do século 16, Songhai foi um dos maiores impérios africanos da
história. Este império tinha o mesmo nome de seu grupo étnico líder, os Songhai. Sua capital era a cidade
de Gao, onde uma pequeno estado Songhai já existia desde o século XI. Sua base de poder era sobre a
volta do rio Níger nos dias atuais Níger e Burkina Faso. Antes do Império Songhai, a região tinha sido
dominada pelo Império Mali, uma das civilizações mais ricas da história do mundo. Mali tornou-se famoso
devido à sua imensa riqueza obtida através do comércio com o mundo árabe, e os lendários hajj de Mansa
Musa. No início do século XV, o Império do Mali começou a declinar. As disputas pela sucessão
enfraqueceram a coroa e muitos afastaram-se. Os Songhai foram um deles, fazendo a cidade
proeminente de Gao a sua nova capital. A cidade do Songhai originou-se na região de Dendi, do noroeste
de Nigéria e o rio expandido chega gradualmente de Níger, no século VIII. No ano 800, estabeleceram
uma cidade do mercado florescendo em Gao. Aceitaram o Islão em torno do ano 1000. Por diversos
séculos, dominaram os estados adjacentes pequenos, quando foram controlados ao mesmo tempo pelo
império poderoso de Mali ao oeste.

Império Kanem-Bornu
Outro grande Estado da África Negra, florescido por essa época, no norte da atual Nigéria, foi Kanem-
Bornu, em torno do ano 800 d.C. As cidades-estados haussás, situadas entre o Níger e o Chade que se
encontram em uma grande encruzilhada. Constituíram-se por volta do século XII, em redor das vias
comerciais que ligavam Trípolis e o Egito à floresta tropical, por um lado, e, por outro lado, o Níger ao alto
vale do Nilo pelo Darfur. Os haussás ou a classe dirigente são negros que habitavam muito mais ao norte
e a leste do que hoje. Junto com o Mali e o Songai, um dos mais vastos impérios dos grandes séculos
africanos foi o Kanem-Bornu. A sua influência, no seu período de maior esplendor, estendia-se da
Tripolitânia e do Egito até ao Norte dos Camarões atuais e do Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem
encontra-se a conjunção dos nômades e dos sedentários.

Império Iorubá
A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma estrutura
ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a aldeia. No sudoeste,
desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos VI e XI. As suas origens,
mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos fornecem, do ponto de vista cronológico,
informações suficientes. O grande passado de todos estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de
Olodumaré, que para muitos seria o Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica,
de Lamurudu, rei de Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças
coroadas”, a reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma
cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades iorubás.
É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas originais para,
segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da antiga Oyó pelos Nupês
(Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.
A partir do século XVI o poder da cidade-Estado de Oyó cresce até unificar toda as cidades-Estado
ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania temporal dos iorubas e também começa a questionar a
legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano, como divindade principal. No século XVII o
Império de Oyó dominará grande parte da Nigéria, incluindo o Reino de Daomé. A civilização dos iorubas
alcançou grande prosperidade, notavelmente em relação à vida urbana. Censos iorubas de 1850 revelam
10 cidades com mais de 100 mil habitantes.
O Império de Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um império da África Ocidental onde é hoje a Nigéria
ocidental. O império foi criado pelos Yoruba, no século XV e cresceu para se tornar um dos maiores
estados do Oeste africano encontradas pelos exploradores coloniais. Aumentou a vantagem riqueza
adquirida através do comércio e de sua posse de uma poderosa cavalaria. O império de Oyo foi o estado
mais importante politicamente na região de meados século XVII ao final do século XVIII, dominando não
só outras monarquias Yoruba nos dias atuais Nigéria, República do Benim, e Togo, mas também outras
monarquias africanas, sendo a mais notável o reino Fon do Dahomey localizado no que é hoje a República
do Benim).Império do BeninFamoso por sua arte, o Benin, situado ao sudeste de Ifé, foi fundado, segundo
a tradição, também por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó e Ifé.
A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou por uma revolta,
quando se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu no século XIV, com a capital Edo, que perdura até
hoje. A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos sudaneses do
império iorubá, acima citado, em suas origens.Na verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil, a
língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos, tendo dominado as línguas faladas pelos
escravos de outras nações. O iorubá compreende vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá,

60
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente
o Ketu, pelos candomblés mais conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos
que falavam o Iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os
franceses chamavam apenas nagô.
O reino possuí uma origem mítica: teria sido fundado por Oranian, um ioruba. A sede é a cidade de
Ubini. No século XVI é proibido a escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico. O oba
mantinha o monopólio na produção e circulação do marfim e da Pimenta.O território onde o Benim se
localiza era ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias tribais, das quais a mais poderosa
foi a do reinado Fon de Daomé. A partir do século XVII, os portugueses estabelecem entrepostos no
litoral, conhecido então como Costa dos Escravos. Os negros capturados são vendidos no Brasil e no
Caribe. No século XIX, a França, em campanha para abolir o comércio de escravos, entra em guerra com
reinos locais. Em 1892, o reinado Fon é subjugado e o país torna-se protetorado francês, com o nome de
Daomé. Em 1904 integra-se à África Ocidental Francesa. O domínio colonial encerra-se em 1960, quando
Daomé torna-se independente, tendo Hubert Maga como primeiro presidente. A partir de 1963, o país
mergulha na instabilidade política, com seis sucessivos golpes militares. Em 1972, um grupo de oficiais
subalternos toma o poder e institui um regime esquerdista, liderado pelo major Mathieu Kérékou, que
governa até 1990. Kérékou nacionaliza companhias estrangeiras, estatiza empresas privadas de grande
porte e cria programas populares de saúde e educação.
A doutrina oficial do Estado é o marxismo-leninismo, mas a agricultura e o comércio permanecem em
mãos privadas. Em 1975, o país passa a designar-se Benim. O regime político entra em crise na década
de 1980, e o governo recorre a empréstimos estrangeiros. Uma onda de protestos, em 1989, leva Kérékou
a promover uma abertura política e econômica. Com a instituição do pluripartidarismo, surgem mais de
50 partidos. Nicéphore Soglo, chefe do governo de transição formado em 1990, é eleito presidente em
1991.

A expansão marítima e comercial europeia; exploração econômica de recursos


naturais pelos colonizadores europeus no Brasil e na América;

EXPANSÃO ULTRAMARINA

A Expansão Ultramarina europeia dos séculos XV e XVI foi liderada por Portugal e Espanha, que
conquistaram novas terras e rotas de comércio, como o continente americano e o caminho para as Índias
pelo sul da África.
Desde o Renascimento Comercial, durante a Baixa Idade Média, até a expansão ultramarina, as
cidades italianas foram os principais polos de desenvolvimento econômico europeu. Elas detinham o
monopólio comercial do mar Mediterrâneo, abastecendo os mercados europeus com os produtos obtidos
no Oriente (especiarias), especialmente Constantinopla e Alexandria.
Durante a Idade Média, as mercadorias italianas eram levadas por terra para o norte da Europa,
especialmente para o norte da França e Países Baixos. Contudo, no século XIV, diante da Guerra dos
Cem Anos e da peste negra, a rota terrestre tornou-se inviável. A partir de então, começou a ser utilizada
uma nova rota, a rota marítima, ligando a Itália ao mar do Norte, via Mediterrâneo e Oceano Atlântico.
Esta rota transformou Portugal num importante entreposto de abastecimento dos navios italianos que
iam para o mar do Norte, estimulando o grupo mercantil luso a participar cada vez mais intensamente do
desenvolvimento comercial europeu. No início do século XV, Portugal partiu para as grandes navegações,
objetivando contornar a África e alcançar as Índias, para obter diretamente as lucrativas especiarias
orientais.
A expansão marítima portuguesa foi acompanhada, em seguida pela espanhola e depois por vários
outros Estados europeus, integrando quase todo o mundo ao desenvolvimento comercial capitalista da
Europa.

Motivos Para as Expansões

- O desejo de descobrir uma nova rota para o Oriente com o objetivo de reduzir o custo dos produtos
comercializados na Europa;
- Obter acesso aos metais preciosos, que eram necessários para a cunhagem de moedas e para o
desenvolvimento econômico. Esses metais eram pouco encontrados na Europa;
- Aumento do poder da burguesia (mercadores), que ambicionavam expandir seus negócios;

61
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Aumento do poder real, fundamental para a organização das expedições marítimas;
- Desenvolvimento de novos instrumentos e técnicas de navegação, como o astrolábio, o quadrante,
a bússola, além de melhorias na construção dos navios, permitindo viagens mais longas;
- Queda de Constantinopla em 1453, que apesar de ter ocorrido após o início das primeiras expedições
marítimas, ajudou a acelerar o desejo europeu por novas rotas, já que a cidade era o principal entreposto
comercial entre Ocidente e Oriente.

Mitos e as Grandes Navegações

Uma das barreiras para concretizar as viagens no além mar eram os medos que os navegantes
possuíam em relação ao mar aberto, um lugar desconhecido que na mente de muitos marinheiros era
povoado por seres extraordinários e criaturas fantásticas.
Esses medos eram originários do imaginário medieval e da falta de conhecimento sobre lugares ainda
não mapeados, em uma época de pouco ou nenhuma divulgação cultural ou científica. Vale lembrar que
os europeus, até o século XVI conheciam apenas o norte da África e a região que hoje chamamos de
Oriente Médio.

Fonte: Raisz, Erwin. Cartografia Geral, 1969

O mapa acima é uma reprodução de um tipo de mapa muito comum na Idade Média, conhecido como
Orbis Terrarum, ou mapa T no O, por sua forma. No mapa é possível perceber a representação do mundo
conhecido na Idade Média, em que haviam apenas três continentes, não sendo incorporados nem a
América, a Antártida ou Oceania. Apesar da forma arredondada, a terra era entendida como um disco
plano, cercada por mares que terminavam em um abismo profundo. Apesar das teorias de que o mundo
possuía um formato esférico existirem desde a antiguidade, ainda era comum aceitá-lo como uma tábula
cercada pelos astros celestes.
Outro fator importante a ser notado no mapa é a influência que a religião (cristianismo) exercia sobre
todos os aspectos da vida dos europeus. A orientação geográfica coloca a Ásia onde o norte está
localizado, lugar que em um mapa moderno seria ocupado pela Europa. Antes da utilização da bússola
de maneira definitiva na Europa, o norte não possuía a primazia da parte superior dos mapas e cartas. A
parte superior era reservada ao Oriente, a terra do Sol nascente, da luz, do paraíso, de onde haviam sido
expulsos Adão e Eva. Por essa razão, acreditava-se que o paraíso, descrito no livro bíblico de Gênesis,
estava localizado em algum lugar da Ásia, que não havia sido ainda reencontrado pelos cristãos.
Jerusalém, cidade de importante significado religioso e alvo de conquista das cruzadas é entendida como
o centro do mundo.

Expansão Ultramarina Portuguesa e a Chegada ao Brasil


Portugal foi o primeiro país a investir na expansão marítima em virtude de uma série de fatores:
- Desenvolvimento comercial, que proporcionou o surgimento de uma burguesia dinâmica e
economicamente forte;
- Interesse do grupo mercantil em expandir suas transações comerciais; consolidação do poder real
por meio da Revolução de Avis (1383-85) promovida pela burguesia;
- Aperfeiçoamentos náuticos pela invenção da caravela, utilização da vela triangular ou “latina” e,
possivelmente, a existência de um centro de estudos náuticos em Sagres;
- Posição geográfica favorável em direção à costa africana.

Os empreendimentos marítimos portugueses são divididos em duas etapas distintas:

62
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Reconhecimento e exploração do litoral da África e procura de um novo caminho marítimo para
o Oriente (Índias). A primeira foi iniciada pela tomada de Ceuta em 1415, um entreposto mercantil norte-
africano até então controlado pelos mouros (árabes). Nessa fase, durante a qual foram fundadas várias
feitorias na costa africana para traficar escravos e produtos locais (ouro, marfim, pimenta-vermelha),
descobriram-se as ilhas atlânticas da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde; as ilhas Canárias foram
descobertas em um período anterior.
- “Périplo africano” (contorno do continente) - Com a conquista de Constantinopla pelos turcos em
1453, os preços das especiarias orientais elevaram-se repentinamente, incentivando ainda mais a busca
de uma rota para as Índias. Assim, com a morte do Infante D. Henrique (1460), que até então dirigira a
expansão marítima portuguesa, o Estado luso empenhou-se em completar o “périplo africano”. Nessa
nova etapa, destacaram-se as viagens de Bartolomeu Dias (Cabo das Tormentas ou Boa Esperança, em
1488) e de Vasco da Gama (chegada a Calicute, na Índia, em 1498). Pouco depois a esquadra de Pedro
Álvares Cabral, que chegou ao Brasil, em 1500.
Já no século XVI, sob o comando do almirante Francisco de Almeida, novas tentativas são
desenvolvidas, mas somente por volta de 1509 os portugueses vêm a conhecer suas vitórias mais
significativas. Entre esse ano e aproximadamente 1515, o comandante alm. D. Afonso de Albuquerque
— considerado o formador do Império português nas Índias — passou a ter sucessivas vitórias no Oriente,
conquistas que atingiram desde a região do Golfo Pérsico (Áden), adentraram a Índia (Calicute, Goa, Diu,
Damão), a ilha do Ceilão (Sri Lanka) e chegaram até à região da Indochina, onde foi conquistada a
importante Ilha de Java.

Conflito, Dominação e Resistência dos Indígenas

Resistências à Escravidão
O processo de interação e dominação entre indígenas e europeus começa com os primeiros contatos
nas ilhas da América Central em 1492. Lá foram implantados os “repartimentos” que consistiam na
distribuição de indígenas a alguns espanhóis, conhecidos como encomendeiros, que tinham a função de
cuidar e os catequizar na fé cristã, ganhando em troca a mão de obra indígena. Em 1500 a coroa
espanhola tornou os indígenas livres e não mais sujeitos a servitude. Ao mesmo tempo ainda era possível
dominar e escravizar indígenas através da chamada “Guerra Justa”, quando as ações dos espanhóis
pudessem ser consideradas morais.
O impacto da escravidão das populações indígenas foi imenso. Poucos anos após a chegada de
Colombo em 1492 grande parte da população nativa da América havia sido dizimada por doenças e
conflitos com europeus. Em 1512, tentando regular o funcionamento das Encomiendas, surgiu a Lei de
Burgos (primeiro código de leis que deveria guiar o comportamento os espanhóis na América, entre suas
diretrizes, estava a proibição ao mal trato indígena). Porém, a lei pouco adiantou, pois a ação intensiva
dos encomendeiros e a falta de fiscalização sobre suas ações não acabaram com as práticas de morte e
trabalhos forçados.
Apesar dos impérios americanos constituírem grande parte do território de ação dos espanhóis, alguns
grupos autônomos renderam aos espanhóis grandes preocupações e conflitos. Grupos como os
Araucanos e Mixtecas, que viviam nas fronteiras dos grandes impérios, não possuíam a mesma unidade
de Incas e Astecas, e tinham de ser conquistados um por um. A existência de grupos não pacificados ou
dominados gerava uma grande perda para a economia local, pois os gastos com a defesa desses lugares
eram muito grandes, além dos prejuízos gerados pelos ataques, como são os casos das Guerras de
Arauco na região do Chile e as rebeliões no norte do México causados por Mixtecas.

A Escravidão no Brasil
O domínio da América portuguesa se deu de forma muito diferente da América espanhola. O território
brasileiro possuía uma grande variedade de povos indígenas, de diferentes culturas e costumes. É
importante destacar a heterogeneidade dos povos que aqui viviam. Há uma estimativa de que no
momento do contato com os europeus viviam aqui entre 2 e 4 milhões de pessoas, que estariam, segundo
alguns autores, divididos em mais de 1000 povos diferentes, que desapareceram por conta de epidemias,
conflitos armados e desorganização social e cultural.
Para os portugueses o desafio foi diferente do enfrentado pelos espanhóis. A mão de obra indígena
era indispensável para as intenções mercantilistas de Portugal, que pretendia iniciar a produção da cana-
de-açúcar para a produção do açúcar voltada para a exportação para o mercado europeu. Isso gerava a
necessidade da existência de uma grande quantidade de mão de obra barata para gerar lucros.
Apesar de serem considerados súditos da coroa e portanto, não poderem ser escravizados, a
legislação criada por Portugal permitia recursos legais para a prática da dominação das populações

63
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
nativas. Os grupos indígenas que sofreram o maior impacto da escravidão foram aqueles localizados no
nordeste do país, nas capitanias de Pernambuco e Bahia. Durante o período de 1540 a 1570 muitos
colonos que habitavam as citadas capitanias fizeram contato com indígenas da região e começaram a
estabelecer trocas. Pelo fato de existirem muitos grupos indígenas no Brasil, existiam também muitas
diferenças e as guerras entre eles eram algo constante. Muitos dos prisioneiros feitos nesses conflitos
eram trocados com os portugueses, que os utilizavam como escravos.
Uma das formas de resistência indígena, consistia no isolamento, eles foram se deslocando para
regiões mais pobres, onde o homem branco ainda não havia chegado. Isso permitiu que houvesse a
preservação da herança biológica, social e cultural. Apesar de muitos índios terem se isolado, o número
de mortos foi ainda maior. Estima-se que viviam no Brasil cerca de quatro milhões de índios quando os
colonizadores chegaram, hoje em dia, segundo o IBGE, são cerca de 817 mil índios 12.

Ocupar, Dominar e Colonizar o Brasil


Os portugueses chegam ao Brasil em 22 de abril de 1500, com a esquadra de Pedro Alvares Cabral,
iniciando o período conhecido como Pré-Colonial.
Durante os primeiros trinta anos o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses que tinham
ficado de fora do Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras recém
descobertas em 1494). Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-brasil, o
que gerava medo por parte da coroa portuguesa em perder o território brasileiro para um outro país. Para
tentar evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém
com poucos resultados.
Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo feitorias no litoral que serviam em
resumo como armazéns e postos de trocas com os indígenas.
No ano de 1530, o rei de Portugal, D. João III, organizou a primeira expedição com objetivos de
colonização efetiva, comandada por Martin Afonso de Souza. A intenção era povoar o território brasileiro,
expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.

Questões

01. No final do Século XIV, o único Estado centralizado e livre de guerras, o que lhe permitiu ser o
pioneiro na expansão ultramarina, era o
(A) espanhol.
(B) inglês.
(C) francês.
(D) holandês.
(E) português

02. A expansão marítima e comercial empreendida pelos portugueses nos séculos XV e XVI está
ligada:
(A) aos interesses mercantis voltados para as "especiarias" do Oriente, responsáveis inclusive, pela
não exploração do ouro e do marfim africanos encontrados ainda no século XV;
(B) à tradição marítima lusitana, direcionada para o "mar Oceano" (Atlântico) em busca de ilhas
fabulosas e grandes tesouros;
(C) à existência de planos meticulosos traçados pelos sábios da Escola de Sagres, que previam poder
alcançar o Oriente navegando para o Ocidente;
(D) a diversas casualidades que, aliadas aos conhecimentos geográficos muçulmanos, permitiram
avançar sempre para o Sul e assim, atingir as Índias;
(E) ao caráter sistemático que assumiu a empresa mercantil, explorando o litoral africano, mas sempre
em busca da "passagem" que levaria às Índias

03. A partir dos estudos realizados pelo governo português, o pioneirismo na expansão ultramarina
estava em suas mãos, como grande marco do início da dominação portuguesa, responda qual foi o marco
que dá início a sua dominação.
(A) Colonização da Guiné
(B) Chegada dos portugueses ao Brasil
(C) Dominação de Ceuta

12 https://indigenas.ibge.gov.br/graficos-e-tabelas-2.html

64
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) Chegada as Índias
(E) Realização do chamado “périplo africano”

04. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período “pré-colonial”


(1500-1530), foi marcado pelo(a):
(A) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil;
(B) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano.
(C) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa e militar já experimentada no Oriente;
(D) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os indígenas;
(E) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses.

05. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro:


(A) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se estabelecer no Rio
de Janeiro e no Maranhão.
(B) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o objetivo de impedir a
escravização do gentio.
(C) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência de organização
social produtora de excedentes negociáveis.
(D) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos portugueses, cujo objetivo
metalista conduzia sempre à prática da violência.
(E) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo catequético
superava os fins materiais da expansão marítima.

06. (Fuvest) A colonização, apesar de toda violência e disrupção, não excluiu processos de
reconstrução e recriação cultural conduzidos pelos povos indígenas. É um erro comum crer que a história
da conquista representa, para os índios, uma sucessão linear de perdas em vidas, terras e distintividade
cultural. A cultura xinguana – que aparecerá para a nação brasileira nos anos 1940 como símbolo de uma
tradição estática, original e intocada – é, ao inverso, o resultado de uma história de contatos e mudanças,
que tem início no século X d.C. e continua até hoje.

Carlos Fausto. Os índios antes do Brasil.


Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Com base no trecho acima, é correto afirmar que


(A) o processo colonizador europeu não foi violento como se costuma afirmar, já que ele preservou e
até mesmo valorizou várias culturas indígenas.
(B) várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mesmo com alterações, ao processo
colonizador europeu, como a xinguana.
(C) a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador europeu, foi recriada de modo mitológico
no Brasil dos anos 1940.
(D) a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indígenas, não foi afetada pelo processo
colonizador europeu.
(E) não há relação direta entre, de um lado, o processo colonizador europeu e, de outro, a mortalidade
indígena e a perda de sua identidade cultural.

Gabarito

01.E / 02.E / 03.C / 04.A / 05.A / 06.B

Comentários

01. Resposta E
A reconquista das terras ocupadas pelos Mouros e a centralização do estado a partir do poder
concentrado na figura do rei permitiram a Portugal os recursos necessários para se lançar ao mar em
busca de novas rotas comerciais e novas terras para exploração.

65
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
02. Resposta E
Apesar das viagens às índias garantirem muito dinheiro, o tempo gasto para fazer a rota poderia levar
longos meses, o que gerava desgaste e riscos ao navio e tripulação. Um caminho mais curto garantiria
uma maior obtenção de lucros.

03. Resposta: C
O fato que marca o início do processo de conquista português é a dominação da região de Ceuta (atual
Marrocos), logo após esta conquista os portugueses dão início a conquista do litoral africano.

04. Resposta: A
Nos primeiros trinta anos da colonização, observamos que os portugueses limitaram-se a enviar
expedições de reconhecimento e proteção ao litoral brasileiro. Sob o ponto de vista econômico, a extração
do pau-brasil era realizada através da mão de obra voluntária dos índios, que recebiam pequenas
mercadorias pelo serviço prestado (escambo).

05. Resposta: A
Vista como uma das mais graves consequências do desinteresse português em relação às terras
brasileiras, a invasão dos franceses revelou o desenvolvimento de uma concorrência de outras nações
europeias no processo de colonização do continente americano. Sem reconhecer a validade do Tratado
de Tordesilhas, os franceses realizaram o contrabando do pau-brasil e tentaram consolidar algumas
colônias no litoral brasileiro.

06. Resposta: B
Durante muito tempo foi comum a ideia da Aculturação do indígena, ou seja, a perda de sua cultura
e inserção na cultura nacional, descaracterizando o indivíduo como indígena. Esse ponto de vista tem
mudado com o entendimento de que os povos indígenas brasileiros não “perderam” sua cultura, apenas
tiveram de adaptá-la para garantir a sobrevivência, tanto de seus praticantes como de seus costumes.

O início do domínio europeu e as tentativas de resistências à escravidão na América


O processo de interação e dominação entre indígenas e europeus começa com os primeiros contatos
nas ilhas da América Central em 1492. Lá foram implantados os “repartimentos” que consistiam na
distribuição de indígenas a alguns espanhóis, conhecidos como encomendeiros, que tinham a função de
cuidar e catequizar na fé cristã, ganhando em troca a mão de obra indígena. Em 1500 a coroa espanhola
tornou os indígenas livres e não mais sujeitos a servitude. Ao mesmo tempo ainda era possível dominar
e escravizar indígenas através da chamada “Guerra Justa”, quando as ações dos espanhóis pudessem
ser consideradas morais.
Os espanhóis possuíam vantagem em relação aos povos americanos pela estranheza e admiração
que causavam. O cavalo era um animal nunca antes visto no continente e impressionava os indígenas.
Também a crença espanhola na superioridade cultural, moral, e principalmente religiosa ajudou no
processo de dominação, além dos equipamentos de combate, como armaduras e arcabuzes (primeiras
espingardas) contra lanças e flechas.
O impacto da escravidão das populações indígenas foi imenso. Poucos anos após a chegada de
Colombo em 1492 grande parte da população nativa da América havia sido dizimada por doenças e
conflitos com europeus. Em 1512, tentando regular o funcionamento das Encomiendas, surgiu a Lei de
Burgos. Porém, a lei pouco adiantou, pois a ação intensiva dos encomendeiros e a falta de fiscalização
sobre suas ações não acabaram com as práticas de morte e trabalhos forçados
Apesar de algumas sociedades que fizeram contato com espanhóis estarem acostumados com
grandes batalhas, como Incas e Astecas nas regiões da Mesoamérica e andes, os armamentos que os
espanhóis possuíam tinham uma grande vantagem em relação aos indígenas. Armas de pedra e madeira
não eram páreo e se quebravam ou não possuíam efeito nas armaduras espanholas, armas de fogo
possuíam mais poder destrutivo do que um arco e flecha. Assim, mesmo em menor número, os espanhóis
ainda conseguiam obter uma vantagem militar.
Além dos elementos bélicos, os espanhóis também se aproveitaram dos conflitos já existentes entre
grupos indígenas distintos para conquistar as populações da América. Diferentemente do caso brasileiro,
onde existiam diversas etnias diversificadas entre si, os espanhóis encontraram grandes impérios nos
caso Inca e Asteca, onde o poder ficava centralizado na figura de um único individuo, e a conquista e
dominação destes significava a desestruturação da sociedade que comandavam. Em casos como o
Asteca, os espanhóis utilizaram seus inimigos que foram dominados por um longo período. A derrubada
do império Asteca também significava para esses indivíduos o fim da opressão que vinham sofrendo de

66
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
seus dominadores. Apesar da vitória contra os Astecas e o auxílio aos espanhóis, essas populações
acabaram por ter o mesmo destino, que seus inimigos, indo de encontro também à escravidão
No caso Inca a geografia de seus territórios auxiliou para prolongar a resistência. Apesar da rápida
conquista que obtiveram, optaram por fundar uma nova capital para comandar a região, em Lima (Atual
capital do Peru), deixando a antiga capital do império Inca em Cuzco na mão de subordinados do antigo
império. A distribuição desigual de riquezas entre os lideres incas pelos espanhóis causaram revoltas,
como as ocorridas entre 1536 e 1537, na tentativa de recuperar as terras que haviam sido dominadas. A
vantagem dos indígenas nesse caso foi a altitude dos Andes, que lhes rendeu vitórias em batalha por
algum tempo, já que os espanhóis não estavam acostumados com a falta de oxigênio causada pela
altitude das montanhas.
Apesar dos impérios americanos constituírem grande parte do território de ação dos espanhóis, alguns
grupos autônomos renderam aos espanhóis grandes preocupações e conflitos. Grupos como os
Araucanos e Mixtecas, que viviam nas fronteiras dos grandes impérios, não possuíam a mesma unidade
de Incas e Astecas, e tinham de ser conquistados um por um. A existência de grupos não pacificados ou
dominados gerava uma grande perda para a economia local, pois os gastos com a defesa desses lugares
era muito grande, além dos prejuízos gerados pelos ataques, como são os casos das Guerras de Arauco
na região do Chile e as rebeliões no norte do México causados por Mixtecas.
O funcionamento interno das colônias foi um dos principais pontos de divergência. Apesar dos fatores
que levaram Inglaterra e Espanha a explorarem seus interesses nas colônias, de certo modo semelhantes
(interesses mercantis), é possível perceber que o desenvolvimento das colônias se deu de maneiras bem
diferente.

A colonização inglesa
Um dos motivos para a vinda de ingleses para a América foi a intolerância religiosa em seu país de
origem. Ao chegar ao poder, a dinastia Stuart encontrou na Inglaterra diversos grupos protestantes e
católicos, além da Igreja Anglicana, a oficial, em conflito. Diversos grupos, entre eles os quakers,
enxergavam na América uma oportunidade de serem livres na prática de seus cultos.
No começo da colonização muitos grupos religiosos se dirigiam para a América em busca de liberdade
para seus cultos, vetados na Inglaterra, a exemplo dos peregrinos, que vieram para a América abordo do
navio Mayflower. Os quatro principais grupos religiosos da América Inglesa eram os puritanos, os
anglicanos, os quakers, e os holandeses reformados. Além destes também haviam presbiterianos,
católicos, luteranos e huguenotes. Algumas colônias foram criadas com o intuito de livre culto. A religião
oficial das colônias era o Anglicanismo, porém havia a presença de batistas e presbiterianos no “Velho
Oeste”, além de pastores de seitas alemães. Os católicos (especialmente em Maryland), huguenotes,
batistas, entre outros, eram perseguidos em algumas colônias pela divergência religiosa, e muitas vezes
se encontravam em conflito com os anglicanos
A colônia também era utilizada como destino para o excedente populacional da Inglaterra que alcançou
nos anos anteriores um forte crescimento demográfico.
A presença de negros nas colônias inglesas se fez de maneira muito intensa, utilizados como mão-de-
obra nas lavouras principalmente no sul, introduzido pela necessidade de mão-de-obra nas plantations.
O trabalho escravo era considerado mais rentável e barato que a mão-de-obra livre.
A exploração colonial e a escravidão estavam tão relacionadas que chegaram a ser vistas como
sinônimos, “peças inseparáveis do mesmo sistema”.
Nas colônias inglesas do sul, a exploração colonial era apoiada na grande propriedade agrícola voltada
para o comércio e no escravismo. As colônias existiam principalmente para o fornecimento de produtos
de áreas tropicais para as metrópoles.
As colônias do norte, por seu clima semelhante ao europeu não ofereciam muitos produtos novos para
a Inglaterra e eram vistas como competidoras com a metrópole. A economia da região era voltada ao
mercado interno e à subsistência, então estava tão condicionada aos interesses da metrópole. Pautava-
se, principalmente, no trabalho livre. A distinção climática entre as colônias do Norte e do Sul causavam
também a distinção socioeconômica.

Colonização Espanhola
Ao chegarem na América os espanhóis se depararam com grandes e complexas civilizações. Muitos
dos centros urbanos criados pelos povos pré-colombianos superavam as cidades da Europa.
Um dos mais expressivos processos de dominação da população nativa aconteceu quando Hernán
Cortéz liderou as ações militares contra o Império Asteca, dominando e escravizando uma numerosa
população indígena.

67
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O confronto e a doença funcionavam como importantes meios de dominação, além de outros casos,
em que os espanhóis instigavam o acirramento das rivalidades entre duas tribos locais. Dessa forma,
depois dos nativos se desgastarem em conflitos, a dominação hispânica agia para controlar as tribos em
questão.
Após a conquista, os colonizadores tomaram as devidas providências para assegurar os novos
territórios e, no menor espaço de tempo, viabilizar a exploração econômica de suas terras. A extração de
metais preciosos e o desenvolvimento de atividades agroexportadoras nortearam a nova feição da
América colonizada. Além de contar com uma complexa rede administrativa, os espanhóis aproveitaram
da mão de obra dos indígenas subjugados.
O grupo majoritário era composto de indígenas, que formavam a base de sustentação da economia
colonial. Os indígenas foram considerados os vassalos do rei e deviam trabalhar para que o Império
Espanhol ficasse mais forte. Além disso, deveriam pagar impostos, cobrados na forma de trabalhos
compulsórios.
A América Espanhola, foi caracterizada por uma descentralização administrativa, que se subdividia em
quatro vice-reinos:

– Nova Espanha: vice-reino foi criado no ano de 1535, estando assim incluído o México, parte da
América central e o oeste dos Estados Unidos.
– Peru: esse vice-reino criado no ano de 1543 e formado pelo novo Peru e por parte da Bolívia.
– Nova Granada: vice-reino criado no ano de 1717 e formado por novos territórios da Colômbia,
Equador e Panamá.
– Rio da Prata: esse vice-reino foi criado no ano de 1776 e foi formado por novos territórios do
Paraguai, parte do Peru e da Bolívia, Uruguai e Argentina.

BRASIL PRÉ-COLONIAL

“Brasil Pré-Colonial” é o período entre o descobrimento e 1530. Recebeu esse nome devido à pouca
atenção que a Coroa portuguesa dedicou ao processo de colonização. Fato que mudou a partir de 1530,
com o envio da expedição de Martin Afonso de Souza.
O termo “Descobrimento do Brasil” traz uma visão pautada no eurocentrismo, que é a valorização da
cultura europeia em detrimento das outras, já que expõe a chegada (termo mais apropriado) dos
portugueses ao Brasil como o início da civilização e da presença humana no país, desconsiderando a
presença e a cultura indígena já presentes há milhares de anos neste território.

O Pau-brasil13

O comércio de pau-brasil, árvore assim chamada devido à cor de brasa do interior de seu tronco, era
o grande interesse de Portugal nesse início de colonização.
Havia pau-brasil em abundância no litoral que ia de Pernambuco até Angra dos Reis e a exploração
era monopólio da Coroa portuguesa. Isso significava que ninguém poderia retirá-lo das terras brasileiras
sem prévia autorização do governo e pagamento de impostos correspondentes. Isso não intimidava os
estrangeiros, especialmente ingleses e franceses principalmente.
A primeira concessão de exploração dada por Portugal foi para o comerciante português Fernão de
Noronha, em 1502. Seus navios foram os primeiros a chegar à ilha que hoje é Fernando de Noronha.
Os comerciantes de pau-brasil eram chamados brasileiros, termo que com o tempo irá designar todo
e qualquer colono nascido na colônia. O pau-brasil chamou atenção dos comerciantes portugueses, pois
do seu lenho era preparada uma tinta de cor vermelha empregada no tingimento de penas. Este corante
de imediato passou a ser utilizado pelos europeus, o que gerou lucros a Coroa e justificou o interesse dos
estrangeiros. Além da tinta, a madeira do pau-brasil era útil na confecção de instrumentos musicais,
móveis e outros utensílios domésticos.
Os índios encarregavam-se de derrubar as madeiras, cortá-las em toras, transportá-las para as
feitorias e acomodá-las; em troca, recebiam objetos como miçangas, tecidos, vestimentas diversas,
canivetes, facas e outros utensílios desse gênero. Essa prática (troca) era chamada de escambo. Dando
e recebendo presentes os índios acreditavam selar acordos de paz e de apoio quando houvesse alguma
guerra.
A chegada dos europeus revelou a eles um universo completamente novo, de tecnologias, animais e
modo de pensar. Pero Vaz de Caminha, o escrivão daquela empreitada descreve a curiosidade dos
13“Terra do Brasil”: Período Pré-Colonial(1500-1532).
https://www.promilitares.com.br/content/aula/62VJ-5F8Y/terra_do_brasil_-_periodo_pre-colonial_(1500-1532).pdf

68
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
nativos ao conhecerem a galinha. “Quase tiveram medo dela – não lhe queriam tocar, para logo depois
tomá-la, com grande espanto nos olhos”.
O fim da extração do pau-brasil não livrou a espécie do perigo de extinção. As atividades econômicas
subsequentes, como o cultivo da cana-de-açúcar e do café, além do crescimento populacional, estiveram
aliadas ao desmatamento da faixa litorânea, o que restringiu drasticamente o habitat natural desta
espécie. Mas sob o comando do Imperador Dom Pedro II, vastas áreas de Mata Atlântica, principalmente
no estado do Rio de Janeiro, foram recuperadas, e iniciou-se uma certa conscientização preservacionista
que freou o desmatamento. Entretanto, já se considerava o pau-brasil como uma árvore praticamente
extinta.

As Feitorias

Durante o período pré-colonial não teremos a fundação de cidades, apenas a instalação de feitorias.
Era o nome dado aos entrepostos comerciais europeus em territórios estrangeiros. Inicialmente
estabelecidas nos diferentes estados na Europa medieval, foram mais tarde adaptadas às possessões
coloniais. Uma feitoria podia ser desde uma simples casa até um conjunto de equipamentos e estruturas
militares ou de acolhimento e manutenção de navios, no caso do Brasil pré-colonial o principal objetivo
era o armazenamento do pau-brasil.

As Primeiras Expedições

As principais expedições marítimas portuguesas enviadas ao Brasil após a passagem da esquadra de


Pedro Álvares Cabral, e chamadas de expedições exploratórias foram:
Expedição de Gaspar de Lemos (1501) – explorou grande parte do litoral brasileiro e deu nome aos
principais acidentes geográficos então encontrados (ilhas, cabos, rios, baías). Esses batismos aconteciam
conforme o santo de cada dia e as festas religiosas comemoradas na época. Assim, surgiram nomes
como Ilha de São Vicente, Cabo de São Rock, rio São Francisco, Ilha de São Sebastião, etc.
Participava da tripulação o experiente navegador florentino Américo Vespúcio, que verificou a
existência de grande quantidade de pau-brasil em longas faixas do litoral, o que provocou contentamento
em diversos comerciantes.
Expedição de Gonçalo Coelho (1503) – organizada a partir de um contrato entre a Coroa e ricos
comerciantes de olho no pau-brasil, dentre os quais se destacava Fernão de Noronha.
Esse contrato tinha essencialmente duas cláusulas: enviar seis navios anualmente ao Brasil para
explorar até trezentas léguas do seu litoral e construir feitorias destinadas à proteção do litoral, mantendo-
as pelo prazo de três anos. Para Portugal a construção de feitorias significava a proteção da terra, medida
fundamental já que diversos estrangeiros visitavam a costa brasileira.
Expedição de Cristóvão Jacques (1516 e 1520) – essas expedições foram chamadas de guarda-
costas ou de policiamento, já que o objetivo era vigiar o litoral especialmente temendo uma invasão
francesa. Durante o século XVI, franceses e portugueses tiveram vários confrontos disputando o comércio
do pau-brasil.
Tinham um caráter basicamente militar, pois sua missão era aprisionar os navios franceses que sem
pagar tributos à Coroa Portuguesa retiravam enormes quantidades de pau-brasil do nosso litoral. O
resultado alcançado por essas expedições foi pouco significativo. A grande extensão da costa brasileira
tornava impossível policiá-la integralmente e impedir o tráfico por contrabandistas.
Indiretamente a concorrência entre franceses e portugueses deixou marcas na costa brasileira. Foram
construídas fortificações por ambas as facções nos trechos mais ricos e proveitosos para servir de
proteção em caso de ataque e para armazenamento do pau-brasil à espera do embarque. As fortificações
não duravam muito, apenas alguns meses, o necessário para que se juntasse a madeira e se
embarcasse.
A exploração do pau-brasil era uma atividade que tinha necessariamente de ser nômade, pois a floresta
era explorada intensivamente e rapidamente se esgotava, não dando origem a nenhum núcleo de
povoamento regular e estável.

A Colonização Acidental do Brasil

* A respeito da “colonização acidental” do Brasil, fique atento. Normalmente ela é contextualizada em


duas situações:
- A primeira e menos comumente cobrada é a respeito da História de Diogo Álvares Correa, o quase
folclórico Caramuru. Nessa linha, acredita-se que desde o seu naufrágio (1510) e estabelecimento entre

69
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
os Tupinambás da Bahia, foi iniciado gradativamente o processo colonizador, mesmo que não intencional.
Caramuru estabeleceu família, e oferecia facilidades a negociadores estrangeiros que ao Brasil
chegavam. O mesmo ocorreu com João Ramalho, que tinha as mesmas características, porém viveu na
região de São Vicente entre os índios Guaianá.
- A segunda entende que todos os esforços anteriores a 1530 (experiências com feitorias, missões
guarda-costas) “acidentalmente” iniciaram a colonização do Brasil. É considerada acidental porque
apenas após o envio de Martín Afonso de Souza, a experiência das Capitanias e o Governo Geral é que
o governo português realmente mostrou intenção de colonizar o território.

E é justamente a instabilidade e a insegurança do domínio português sobre o Brasil que estão na


origem direta da expedição de Martim Afonso de Sousa, nobre militar lusitano, e a posterior cessão dos
direitos régios a doze donatários sob o sistema das capitanias hereditárias. Em 1530, D. João III mandou
organizar a primeira expedição com objetivos de colonização.
Esta tinha como objetivos: povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo de
cana-de-açúcar no Brasil.
Não bastando o risco de invasão, os portugueses não alcançaram o lucro esperado com a construção
de uma rota marítima que os ligassem diretamente às Índias. O desgaste causado pelo longo percurso e
a concorrência comercial de outros povos acabou fazendo com que o comércio com o Oriente não fosse
muito atrativo. Desse modo, o governo português voltaria suas atenções para a exploração do espaço
colonial brasileiro.

Questões

01. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período "pré-colonial"


(1500-1530), foi marcado pelo(a):
(A) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil;
(B) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano.
(C) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa e militar já experimentada no Oriente;
(D) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os indígenas;
(E) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses.

02. "Apesar dos exageros e incorreções, a Lettera de Américo Vespúcio para Piero Soderini com
certeza continha várias passagens verídicas. Uma delas é o trecho no qual, referindo-se à sua primeira
viagem ao Brasil, realizada entre maio de 1501 e julho de 1502, Vespúcio afirma: 'Nessa costa não vimos
coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de pau-brasil (...) e já tendo estado na viagem bem
dez meses, e visto que nessa terra não encontrávamos coisa de metal algum, acordamos despedirmo-
nos dela.' Deve ter sido exatamente esse o teor do relatório que Vespúcio entregou para o rei D. Manoel,
em julho de 1502, logo após desembarcar em Lisboa, ao final de sua primeira viagem sob bandeira
portuguesa. O diagnóstico de Vespúcio selou o destino do Brasil pelas duas décadas seguintes. Afinal,
no mesmo instante em que era informado pelo florentino da inexistência de metais e de especiarias no
território descoberto por Cabral, D. Manoel concentrava todos os seus esforços na busca pelas
extraordinárias riquezas do Oriente.

(BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil.


Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998, p. 65.)

A descoberta do Brasil não alterou os rumos da expansão portuguesa voltada prioritariamente para o
Oriente, o que explica as características dos primeiros anos da colonização brasileira, entre as quais se
inclui o (a):
(A) caráter militar da ocupação, visando à defesa das rotas atlânticas;
(B) escambo com os indígenas, garantindo o baixo custo da exploração;
(C) abertura das atividades extrativas da colônia a comerciantes das outras potências europeias;
(D) migração imediata de expressivos contingentes de europeus e africanos para a ocupação do
território;
(E) exploração sistemática do interior do continente em busca de metais preciosos

03. (Espcex - Aman) “Os primeiros trinta anos da História do Brasil são conhecidos como período Pré-
Colonial. Nesse período, a coroa portuguesa iniciou a dominação das terras brasileiras, sem, no entanto,
traçar um plano de ocupação efetiva. […] A atenção da burguesia metropolitana e do governo português

70
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
estavam voltados para o comércio com o Oriente, que desde a viagem de Vasco da Gama, no final do
século XV, havia sido monopolizado pelo Estado português. […] O desinteresse português em relação ao
Brasil estava em conformidade com os interesses mercantilistas da época, como observou o navegante
Américo Vespúcio, após a exploração do litoral brasileiro, pode-se dizer que não encontramos nada de
proveito”.
Berutti, 2004.

Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que o(a)


(A) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros anos de colonização, deu-se em decorrência dos
tratados comerciais assinados com a Espanha, que tinha prioridade pela exploração de terras situadas a
oeste de Greenwich.
(B) maior distância marítima era a maior desvantagem brasileira em relação ao comércio com as
Índias.
(C) desinteresse português pode ser melhor explicado pela resistência oferecida pelos indígenas que
dificultavam o desembarque e o reconhecimento das novas terras.
(D) abertura de um novo mercado na América do Sul, ampliava as possibilidades de lucro da burguesia
metropolitana portuguesa.
(E) relativo descaso português pelo Brasil, nos primeiros trinta anos de História, explica-se pela
aparente inexistência de artigos (ou produtos) que atendiam aos interesses daqueles que patrocinavam
as expedições.

Gabarito

01.A / 02.B / 03.E

Comentários

01. Resposta: A
Nos primeiros trinta anos da colonização, observamos que os portugueses limitaram-se a enviar
expedições de reconhecimento e proteção ao litoral brasileiro. Sob o ponto de vista econômico, a extração
do pau-brasil era realizada através da mão de obra voluntária dos índios, que recebiam pequenas
mercadorias pelo serviço prestado (escambo).

02. Resposta: B
O escambo realizado com os índios exemplificava a falta de interesse dos portugueses em investirem
grandes capitais na exploração do espaço colonial brasileiro. Mais interessados em consolidar laços
econômicos com o mundo oriental, Portugal limitou-se a explorar a extensa quantidade de pau-brasil, que
poderia ser empregado na indústria têxtil, na fabricação de embarcações e na construção de residências
e móveis.

03. Resposta: E
Quando não foram encontrados metais preciosos na chegada dos portugueses, o governo
metropolitano automaticamente deu preferência ao comercio com o oriente (o pau-brasil, por mais
mercado que tivesse na Europa, não concorria com os valores das especiarias). Portugal só passou a
mostrar real interesse frente as ameaças estrangeiras e o declínio do valor das especiarias.

Expansão da fronteira agrícola no Brasil, ontem e hoje; usos da terra: diferentes


formas de posse e propriedade da terra;

*Candidato(a). Esse tópico está “diluído” dentro dos diferentes períodos da História do Brasil e
você os encontrará em seus respectivos períodos. Não queremos por exemplo, isolar aqui a ação
do movimento das Entradas e Bandeiras do restante do período Colonial, ou a Lei de Terras no
Período Imperial (...). Todo o movimento expansionista e de uso da terra está presente em seus
períodos.

71
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Revolução Industrial e a alteração no meio ambiente em escala mundial; a luta
pela terra no Brasil através dos tempos;

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A revolução industrial é um dos momentos de maior importância e influência sobre o modo de vida das
sociedades atuais. Ela marca a passagem e as transformações sociais ocorridas primeiramente na
Europa e que posteriormente se espalharam pelo restante do mundo.
A passagem da sociedade rural para a sociedade urbana, a transformação do trabalho artesanal e
manufatureiro para o trabalho assalariado e a organização fabril foram algumas dessas transformações.
A Revolução Industrial normalmente é dividida em três fases:
A Primeira Fase que vai de 1760 a 1850, predominantemente na Inglaterra, quando surgiram as
primeiras maquinas a vapor;
A Segunda Fase que vai de 1830 a 1900 e marca a difusão da revolução por países europeus como
Bélgica, França, Alemanha e Itália, além dos Estados Unidos e Japão. Durante esse período surgem
formas alternativas de energia, como a hidrelétrica e motores de combustão interna, movidos a gasolina
e diesel.
E por fim, a Terceira Fase que começa em 1900, caracterizada pela inovação nas comunicações e do
aumento da produção em massa.

O que é Industrialização?

A industrialização pode ser entendida como a transformação de matérias-primas para serem


consumidas e utilizadas pelo ser humano.
A transformação de matérias-primas em produtos através da utilização de maquinas é conhecida como
maquinofatura, enquanto a transformação manual é conhecida como manufatura.
Existe também uma outra categoria de transformação, o artesanato, em que o processo de produção
é efetuado por uma única pessoa do início ao fim.

* Cuidado ao diferenciar o artesanato, manufatura e maquinofatura.


O artesanato condiz a técnica do trabalho manual não industrializado, no qual é realizado elo artesão,
e que escapa à produção em série. A manufatura é um estágio mais avançado, em que numerosos
trabalhadores se reúnem para a realização de um mesmo objetivo, possuem funções definidas e são
coordenados por um chefe que gerencia a produção.
Por sua vez, maquinofatura se caracteriza pelo uso de ferramentas e máquinas que são utilizadas no
processo de produção.

Como tudo começou?


Para entender a Revolução Industrial é preciso entender as mudanças ocorridas na Inglaterra a partir
do século XVIII e o restante da Europa no século XIX.
Um dos fatores que colaborou com a Revolução Industrial foi a melhoria de condições de higiene e
alimentação, garantindo uma maior longevidade, que aumentava o consumo de produtos e também
disponibilizava mão-de-obra para o trabalho na indústria.
As revoluções inglesas que ocorreram no século XVIII colocaram o poder político da Inglaterra nas
mãos da burguesia capitalista. Seu interesse no desenvolvimento econômico colaborou para a
organização do sistema de circulação de mercadorias através da abertura de canais, estradas, portos e
comercio exterior. Os impostos (cobrança e aplicação) foram organizados no mesmo período.
A ascensão da burguesia ao poder colaborou para o processo de cercamento de terras baldias e terras
de uso comum, o que extinguiu os yeomen14, que formavam uma classe de pequenos proprietários e
trabalhadores rurais que sobreviviam do cultivo de terras arrendadas e da utilização das áreas comuns.
Com as terras que eram utilizadas pelos yeomen confiscadas pelo governo, muitos trabalhadores
rurais acabaram migrando para as cidades em busca sobrevivência, tornando-se empregados nas
manufaturas.
A religião teve um importante papel para a mentalidade e economia na Inglaterra. O Puritanismo é
uma concepção da fé cristã que surgiu na Inglaterra, criada por grupos protestantes radicais após as

14 classe de homens que possuem pequenas e médias terras.

72
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
reformas que ocorreram no país. Inspirados pelo calvinismo, tinham a crença da acumulação, poupança
e enriquecimento, que eram vistos como demonstrativos da salvação.
Além disso, durante muito tempo, os ingleses desenvolveram seu comércio e sua agricultura. O
comercio foi expandido em escala mundial, criando um grande mercado que pudesse comprar seus
produtos e absorver sua produção de produtos industrializados, em especial o algodão.
Ele mostrou-se uma alternativa mais atraente para os comerciantes ingleses, devido à sua abundancia
de produção nas colônias britânicas no Oriente e nos Estados Unidos, que ainda pertenciam à Inglaterra.
Como não havia regulamentação sobre o comercio do algodão e a mão-de-obra disponível juntamente
com a matéria-prima era extremamente atraente, do ponto de vista econômico, os esforços empresariais
concentraram-se nessa área.
Toda essa rede de comercio e produção garantiu para a Inglaterra grande acumulo de capital, ou seja,
os recursos necessários para investir e aumentar a produção industrial.
Esse capital, junto de outros fatores ajudaram a Inglaterra a destacar-se como pioneira na Revolução
Industrial com o aluguel de terras produtivas, o lucro obtido na venda de matérias primas e a elevação
constante de preços, que garantiam uma grande margem de lucro para os comerciantes.
Com uma grande quantidade de capital disponível era possível fazer empréstimos que possuíam juros
baixos, o que permitia fazer investimentos a longo prazo, em produtos e maquinas que levavam um longo
tempo para garantir retorno e compensação financeira.
A Inglaterra possuía além dos fatores econômicos e sociais necessários para a criação de industrias,
elementos minerais que eram utilizados na construção das máquinas, como o ferro e o carvão.
A existência de ferro e carvão no país colaboraram para as invenções que ajudaram a mudar a
indústria. A criação de mecanismos que aumentavam determinada etapa da produção obrigava outros
setores a buscar alternativas para acompanhar o ritmo de produção, transformando-se em um ciclo de
desenvolvimento industrial, gerados através da busca pela produção.

Industrialização e o Trabalho

Para suprir a grande produção e atender o mercado consumidor, as fabricas precisavam de mão-de-
obra para operar a produção. Se antes os trabalhadores, principalmente artesãos, trabalhavam em suas
casas, agora o trabalho era concentrado no ambiente das fabricas.
Para conseguir lucros as fabricas precisavam produzir em larga escala, o que barateava a produção,
pois não fazia sentido a utilização de recursos imensos como maquinas a vapor e represamento de rios
para a utilização de energia hidráulica com o intuito de produzir pouco.
Outra grande mudança para os trabalhadores era a relação entre o tempo e o trabalho. Para produzir
com eficiência as fabricas precisavam organizar seus funcionários, seja em turnos ou escalas, para que
garantam que a produção nunca pare ou caia, o que ajudava a maximizar os lucros e evitar prejuízos, e
é ai que entra o conceito de tempo.
Até o período anterior à revolução industrial era comum que pessoas trabalhassem sem horários ou
dias fixos, normalmente eles o faziam (trabalhavam) até obter o necessário para os gastos da semana ou
pelo período desejado.
Com o trabalho concentrado nas fabricas e com a necessidade de se manter a produção, era essencial
que os trabalhadores cumprissem horários determinados de entrada e saída em seus postos de serviço.
Foi nesse período que o relógio se popularizou, já que era necessário para garantir a rotina imposta pelas
fábricas.
Com a introdução da maquinofatura outro importante aspecto ganha forma: a separação entre
trabalhador e meio de produção.

Se antes da Revolução Industrial um fabricante de tecidos utilizava seus equipamentos, como a roca
de fiar, agora ele dependia de equipamentos sofisticados para tornar seus produtos competitivos. O preço
desses equipamentos normalmente atingiam valores altos, que poucas pessoas poderiam pagar.
Anteriormente um artesão era capaz de produzir com suas próprias ferramentas, agora com o trabalho
nas indústrias e com o custo dos equipamentos, o trabalhador dependia dos meios de produção, no
entanto, não os possuía, assim a pessoa acabava se tornando funcionário de uma empresa, e a partir daí
utilizava os seus meios de produção.
Com essa mudança a sociedade divide-se em duas categorias:

- Quem possuía os meios de produção, capital, matéria prima e equipamentos – uma pequena minoria;
- E as pessoas que vendiam sua força e capacidade de trabalho para o primeiro grupo em troca de um
salário.

73
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As mudanças que ocorreram no século XVIII não agradaram a todos. Muitos artesãos e trabalhadores
ficaram insatisfeitos com as rotinas de trabalho de impostas. Era comum existirem jornadas de trabalho
de 14 a 16 horas diárias em condições extremamente desfavoráveis e arriscadas, como o barulho
incessante de maquinas e o trabalho repetitivo a que se sujeitavam para receber baixos salários.
A situação era ainda mais complicada no caso de mulheres e crianças, que recebiam uma quantia
menor, independentemente do nível de trabalho executado em relação aos homens.
Com a grande leva de camponeses que buscavam oportunidades nos centros industriais, a
concorrência por empregos aumentava. Com isso os donos de fabricas davam preferência para a mão-
de-obra barata e abundante que vinha do campo.
A concentração em grandes centros também prejudicava aqueles com pouco poder aquisitivo. Nas
regiões industrializadas a população crescia em ritmo acelerado, chegando a cidade a possuir mais de 1
milhão de habitantes antes do século XIX.
O crescimento da população nem sempre era acompanhado pela oferta de moradia, o que gerava
alugueis com altos preços e aglomeração de pessoas em pequenos espaços, muitas vezes abrigando
diversas famílias.
O próprio país sofreu mudanças em sua paisagem. Nesse período a Inglaterra dividia-se em dois
contextos: a Inglaterra Negra, que era dominada por industrias, instaladas principalmente onde havia
disponibilidade de carvão, em geral no norte e oeste do país, e a Inglaterra Verde no sul e sudeste, que
era responsável pela agricultura e pastoreio.

Movimentos Organizados
As dificuldades enfrentadas levaram à criação de movimentos organizados de trabalhadores que
reivindicavam melhores condições de remuneração e segurança no trabalho.
Entre os movimentos de reinvindicação que ocorreram no século XVIII, o Ludismo possui destaque.
Os ludistas eram contra a industrialização da produção e mecanização do trabalho e ficaram famosos
por quebrarem maquinas em indústrias têxteis. Seus membros acreditavam que as maquinas tiravam o
trabalho das pessoas e que era necessário acabar com elas para garantir empregos para a população.
Apesar do movimento ludista ter durado pouco tempo (entre 1811 e 1812) ele teve uma grande
repercussão e serviu de inspiração para movimentos posteriores. Entre os atos mais notáveis de seus
participantes está a invasão noturna na manufatura de William Cartwright que ficava no condado de York,
em abril de 1812.
Como consequência, 64 pessoas foram acusadas de participar da invasão e julgadas um ano depois.
Dentre as penas sofridas, 13 pessoas foram condenadas à pena de morte, sob o crime de atentado contra
a manufatura de Cartwright e duas pessoas foram deportadas para as colônias britânicas.
O termo Ludismo ainda hoje é utilizado para referir-se a pessoas que são contra o desenvolvimento
tecnológico e industrial. Seu nome deriva do nome de um operário chamado Ned Ludd, que supostamente
teria quebrado as maquinas de seu patrão. A história serviu de inspiração para que outras pessoas
aderissem a essa ideia.
Um segundo movimento importante foi o Cartismo, que ocorreu nas décadas de 1830 e 1840 na
Inglaterra. Sua origem vem da carta escrita pelo radical William Lovett, que ficou conhecida como Carta
do Povo, documento que continha as reivindicações do grupo.
Suas exigências eram:
- Voto universal;
- Igualdade entre os distritos eleitorais;
- Voto secreto por meio de cédula;
- Eleição anual;
- Pagamento aos membros do Parlamento;
- Abolição da qualificação segundo as posses para a participação no Parlamento;

O movimento cartista buscava melhorias nas condições dos operários, que mesmo após quase cem
anos do início da Revolução Industrial ainda eram péssimas. Possuiu uma grande adesão da população
e foi considerado o primeiro grande movimento tanto de classe como de caráter nacional que lutava contra
a condição social na Grã Bretanha.
A intenção era de que a Carta do Povo fosse aprovada pelo parlamento inglês, de maneira a garantir
os direitos reivindicados. O parlamento não só rejeitou a carta como perseguiu os líderes e simpatizantes
do movimento, com a intenção de acabar com sua influência.
Apesar dos esforços do parlamento, o movimento exerceu grande influência no operariado, tanto inglês
como internacional e conseguiu convocar em 1848 uma grande mobilização que estimava reunir 500 mil

74
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
trabalhadores e pressionar o parlamento. A mobilização fracassou, porém, diversas leis trabalhistas foram
criadas para beneficiar os trabalhadores.

As Trade Unions
Como maneira de conseguir melhores condições de trabalho, muitos trabalhadores partiram para a
formação de associações e para lutar por seus direitos.
Em várias partes da Inglaterra, em especial nas cidades com grande concentração de indústrias como
Lancashire, Yorkshire e Manchester, diversas sociedades de trabalhadores (conhecidas como Trade
Unions) começam a aparecer com o objetivo de promover ajuda mútua entre os trabalhadores.
Por sua vez, os patrões ficaram atentos ao movimento dos trabalhadores e também se organizaram
para conter as revoltas. As greves, uma das formas de protesto mais prejudiciais para a indústria até hoje,
foram amplamente utilizadas.
Com trabalhadores paralisados em manifestações e protestos, as maquinas paravam e, portanto, não
produziam, o que afetava os lucros.
De olho em formas de conter tanto greves como associações, os empresários e patrões tiveram que
recorrer à influência que possuíam no governo da Inglaterra. Em 1799 uma lei foi criada para proibir as
associações de trabalhadores, que foi derrubada pela forte oposição que eles conseguiram fazer.
Além de leis, também era utilizada a violência para conter o aumento dessas associações. Apesar da
grande disputa entre os dois lados, em 1824 as leis que proibiam a formação de associações foram
revogadas.

Outros Países na Disputa


Durante muitos anos, a Revolução Industrial ocorreu praticamente apenas na Inglaterra, que fez o
possível para manter as maquinas e técnicas de produção em seu território. Apesar de toda a legislação
e proibições, muitos fabricantes tinham interesse em expandir seus negócios.
Em 1807 William Cockrill criou fabricas para a produção de tecidos na Bélgica, que se desenvolveram
com bastante eficiência, já que além do interesse também haviam ferro e carvão disponíveis em
quantidades satisfatórias.
A França passava por um período turbulento na época, com o fim da Revolução Francesa. Além disso
havia uma tradição da pequena indústria no país juntamente com a produção de artigos de luxo. Somente
após 1848 a indústria começa a desenvolver-se timidamente e com uma política protecionista de
mercado, ou seja, com o impedimento de importações e o incentivo de exportação de produtos franceses.
E tanto Itália como Alemanha começam a desenvolver suas industrias após 1870, quando os países
terminam seus processos de unificação.
Além da Europa, os Estados Unidos foram o único país a desenvolver com êxito a Revolução Industrial,
com uma grande produção de artigos manufaturados no fim do século XIX.

Segunda Revolução Industrial

No final do século XIX novas tecnologias propiciaram o que ficou conhecido como Segunda
Revolução Industrial ou Revolução Techno-científica. A produção agora não estava restrita somente
a tecidos e produtos do gênero. Através do investimento em pesquisa e produção em outras áreas, além
da descoberta de novas fontes de energia e transporte, o leque industrial ampliou-se.
No setor energético duas mudanças foram significativas: a utilização de produtos derivados do
petróleo e a energia elétrica.
Edwin Drake perfurou o primeiro poço de petróleo em 1859, no estado da Pensilvânia. A técnica
utilizada por Drake foi desenvolvida a partir das técnicas de exploração das minas de sal. A descoberta
de uma maneira viável de extrair o petróleo ajudou a expandir sua utilização em vários setores industriais.
O dínamo industrial também foi um passo muito importante e marcou a passagem da utilização do
carvão para a energia elétrica, que se mostrava mais barata e eficiente. O dínamo é um aparelho que
gera corrente contínua, convertendo energia mecânica em eléctrica, através de indução eletromagnética.
A descoberta de novas técnicas para a produção de aço, como o processo de Bessemer15 na Inglaterra
possibilitou a criação de maquinas mais resistentes. A indústria química também se desenvolveu e
possibilitou a criação de novos ramos de produção como tintas, corantes, fertilizantes e munições.
Os transportes se desenvolveram em grande escala com a invenção e aprimoramento de maquinas a
vapor, com destaque para a locomotiva criada na Inglaterra em 1814, e do navio a vapor em 1805 nos
Estados Unidos.

15 primeiro processo industrial de baixo custo para a produção em massa de aço a partir de ferro gusa fundido.

75
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A criação de meios de transporte mais rápidos e eficientes possibilitou uma melhor movimentação no
transporte de cargas e produtos, deixando de depender de condições climáticas e naturais. Um exemplo
são os trilhos da locomotiva que estavam sempre no mesmo lugar e evitavam que ela atolasse ou tivesse
que parar durante a viagem. Os navios também não dependiam mais da força dos ventos para navegar.
Outras invenções que revolucionaram o setor de transportes foram o avião, no início do século XX e
motor de combustão interna, que popularizou a utilização do automóvel como meio de transporte.
As comunicações passaram por grandes mudanças durante o período, e permitiram o contato entre
duas pessoas a uma longa distância através de mensagens em tempo real. Em 1837 Samuel Morse
inventou o telégrafo nos Estados Unidos e ao longo do século XIX a colocação de cabos submarinos
permitiram a ligação telegráfica entre os Estados Unidos e a Europa.
O trabalho também passou por diversas mudanças que buscavam aumentar a eficiência e os lucros
das empresas através da organização da produção. O fordismo e o taylorismo foram as duas principais
ideias adotadas.
O Fordismo tem como características: produção em série e a introdução de linhas de produção
mecanizadas. É famosa a frase de seu idealizador Henry Ford quando se referia ao seu famoso
automóvel, o Ford T: “Quanto ao meu automóvel, as pessoas podem tê-lo em qualquer cor, desde que
seja preta!”. Acontece que, para a Linha de Produção Fordista, a cor preta é a que secava mais rápido.
No Taylorismo existe o controle da produtividade dos operários através da análise técnica de seus
gestos e movimentos diante das maquinas.

Lado Financeiro
As grandes inovações e novas invenções que surgiam quase diariamente tornavam cada vez mais
difícil os investimentos feitos por uma única pessoa. Nesse contexto os bancos ganham muito destaque,
lucrando através de empréstimos e de ações de empresas na bolsa de valores.
Você sabe como funciona a bolsa de valores?

A bolsa de valores é o mercado organizado onde se negociam ações de sociedades de capital aberto
(públicas ou privadas) e outros valores mobiliários16.
Tudo começa quando uma empresa decide lançar ações ao público. Essa iniciativa é conhecida
como abrir o capital. Com o capital aberto, novos acionistas são atraídos e injetam dinheiro nessa
empresa. Em caso de lucro, todos ganham. Se houver prejuízo, as perdas também são divididas
proporcionalmente.
Para participar das apostas na bolsa, a companhia precisa credenciar-se em uma corretora de
valores. Essas instituições estão por trás de todas as negociações, fazendo as transações para quem
quer investir em ações e mantendo a bolsa financeiramente.

Neste período as práticas monopolistas também se intensificaram. As consequências foram o acumulo


de capital nas mãos de poucos grupos ou pessoas. Assim surge o que ficou conhecido como capitalismo
financeiro ou monopolista.
O monopólio é a pratica de dominação do mercado através do controle de um determinado produto.
Além do monopólio outras práticas surgiram e se fortaleceram:

- Cartel: O cartel é um acordo entre empresas independentes com a finalidade de criar uma ação
coordenada para o estabelecimento de preços. Atualmente no Brasil a prática de cartel é considerada
uma atividade criminosa. Como exemplo é possível citar os carteis em redes de postos de combustível 17.
- Dumping: O dumping é a pratica da venda de produtos a um preço artificialmente baixo, para eliminar
a concorrência e voltar a praticar preços mais altos.
- Holding: O holding é a pratica de uma empresa controlar as ações de diversas outras empresas.
- Sociedades anônimas: são um tipo de sociedade em que o capital é dividido em ações que podem
ser livremente negociáveis.
- Truste: É a fusão de empresas que visam obter controle sobre alguma atividade econômica.

16 https://www.osmelhoresinvestimentos.com.br/bolsa-de-valores/como-funciona-bolsa-valores/
17 http://www.cade.gov.br/servicos/perguntas-frequentes/perguntas-sobre-infracoes-a-ordem-economica

76
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução Industrial ocorre após o termino da Segunda Guerra Mundial, em meados de
1940. Sua principal característica é o uso de tecnologias avanças para a produção industrial e teve como
líder os Estados Unidos.
As fontes de energia passam a ter importância ainda maior e é nesse período começam as buscas por
fontes alternativas como a energia nuclear e a eólica. O desenvolvimento tecnológico nesse período é
importante não apenas na busca de novas fontes de energia, mas na produção em si.
Uma grande mudança proporcionada pela tecnologia é a disputa com a mão-de-obra humana. Linhas
de produção passaram a dispensar trabalhadores e substitui-los por maquinas que conseguem fazer o
serviço com mais rapidez e precisão, o que abriu ainda mais o leque de industrias, com destaque para a
Biotecnologia e a Nanotecnologia.
No cenário mundial surgiram outras potências tecnológicas como a Alemanha, o Japão e a China. A
globalização é um fenômeno bem característico do período, com a produção de produtos com peças que
são fabricados em diversas partes do mundo.
Com o grande investimento e desenvolvimento da tecnologia, ela passa a ser cada vez mais acessível
para as pessoas, o que revolucionou novamente os meios de comunicação com a produção em massa e
de baixo custo de telefones celulares, computadores pessoais, notebooks, tablets e smartfones.

Questões

01. "As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII. Retiravam
a água acumulada nas minas de ferro e de carvão e fabricavam tecidos, muitos tecidos. Graças às
máquinas a vapor, a produção de mercadorias ficou muito maior."
(Schmidt, Mário. "Nova História Crítica". São Paulo: Nova Geração, 2002).

O texto citado refere-se:


(A) à Revolução Francesa
(B) à Revolução Industrial
(C) à Revolução Gloriosa
(D) ao Renascimento
(E) à Revolução Russa

02. "Um fato saliente chamou a atenção de Adam Smith, ao observar o panorama da Inglaterra: o
tremendo aumento da produtividade resultante da divisão minuciosa e da especialização de trabalho.
Numa fábrica de alfinetes, um homem puxa o fio, outro o acerta, um terceiro o corta, um quarto faz-lhe a
ponta, um quinto prepara a extremidade para receber a cabeça, cujo preparo exige duas ou três
operações diferentes: colocá-la é uma ocupação peculiar; prateá-la é outro trabalho. Arrumar os alfinetes
no papel chega a ser uma tarefa especial; vi uma pequena fábrica desse gênero, com apenas dez
empregados, e onde consequentemente alguns executavam duas ou três dessas operações diferentes.
E embora fossem muito pobres, e portanto mal acomodados com a maquinaria necessária, podiam fazer
entre si 48.000 alfinetes num dia, mas se tivessem trabalhado isolada e independentemente, certamente
cada um não poderia fazer nem vinte, talvez nem um alfinete por dia."
FARIA, Ricardo de Moura et all. "História". Vol. 1. Belo Horizonte: Lê, 1993. [adapt.].

O documento sobre a Revolução Industrial, na Inglaterra,


(A) relaciona a divisão de trabalho com a alta produtividade, situação bem diferente da produção
artesanal característica da Idade Média.
(B) enfatiza o trabalho em série e as condições do trabalhador nas fábricas, reforçando a importância
das leis trabalhistas, no início da Idade Moderna.
(C) demonstra que a produtividade está diretamente relacionada ao número de empregados da fábrica,
ao contrário das Corporações de Ofício, em que a produção artesanal dependia do mestre.
(D) destaca a importância da especialização do trabalho para o aumento da produtividade, situação
semelhante à que ocorria nas Corporações de Ofício, de que participavam aprendizes, oficiais e mestre.
(E) evidencia as ideias fisiocráticas e mercantilistas, ao realçar a divisão do trabalho, características
marcantes da Revolução Comercial.

77
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
03. (SEDUC/AL – Professor – CESPE/2018) Determinadas transformações do sistema capitalista
mundial resultam da revolução tecnológica das últimas décadas do século XX e do início do século XXI.
A esse respeito, julgue o item subsequente.

A revolução tecnológica da Terceira Revolução Industrial aumentou a produtividade sem descentralizar


o capital das grandes empresas.
(A) Certo
(B) Errado

Gabarito

01.B / 02.A / 03.B

Comentários

01. Resposta: B
O aprimoramento e a invenção de novas tecnologias de produção permitiram uma grande mudança
na maneira de produzir. Maquinas faziam em um tempo menor o trabalho dos homens, gerando menos
gastos e mais lucros. Esse conjunto de mudanças ficou conhecido como revolução industrial.

02. Resposta: A
A divisão do trabalho foi um grande avanço para o aumento da produção. A partir da divisão era
possível aumentar consideravelmente a quantidade de produtos, mesmo com funcionários de baixa
instrução e conhecimento do ofício pois as operações tornavam-se simples e rápidas, de modo que
qualquer pessoa pudesse executá-las.

03. Resposta: B
A tecnologia possibilitou o aumento da produção de forma geral, ao contrário do que ocorreu no início,
quando o capital de grandes fabricas ficou concentrado em seus núcleos. Hoje, é comum que grandes
empresas tecnológicas se estabeleçam perto de centros com mão de obra qualificada por exemplo. A
diversidade desses centros também faz com que esse capital permaneça descentralizado.

O processo de Globalização; os problemas mundiais ambientais na atualidade:


clima, energia, poluição, entre outros.

O que é Globalização - Conceito


Podemos dizer que é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países
e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam
ideias, realizam transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos
do planeta.
O conceito de Aldeia Global se encaixa neste contexto, pois está relacionado com a criação de uma
rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e
econômicas de forma rápida e eficiente.

Origens da Globalização e suas Características


Muitos historiadores afirmam que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes
Navegações e Descobertas Marítimas. Neste contexto histórico, o homem europeu entrou em contato
com povos de outros continentes, estabelecendo relações comerciais e culturais. Porém, a globalização
efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do socialismo no leste europeu e na União Soviética.
O neoliberalismo, que ganhou força na década de 1970, impulsionou o processo de globalização
econômica.
Com os mercados internos saturados, muitas empresas multinacionais buscaram conquistar novos
mercados consumidores, principalmente dos países recém-saídos do socialismo. A concorrência fez com
que as empresas utilizassem cada vez mais recursos tecnológicos para baratear os preços e também
para estabelecerem contatos comerciais e financeiros de forma rápida e eficiente. Neste contexto, entra
a utilização da Internet, das redes de computadores, dos meios de comunicação via satélite etc.

78
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Uma outra característica importante da globalização é a busca pelo barateamento do processo
produtivo pelas indústrias. Muitas delas, produzem suas mercadorias em vários países com o objetivo de
reduzir os custos. Optam por países onde a mão-de-obra, a matéria-prima e a energia são mais baratas.
Um tênis, por exemplo, pode ser projetado nos Estados Unidos, produzido na China, com matéria-prima
do Brasil, e comercializado em diversos países do mundo.
Para facilitar as relações econômicas, as instituições financeiras (bancos, casas de câmbio,
financeiras) criaram um sistema rápido e eficiente para favorecer a transferência de capital e
comercialização de ações em nível mundial.
Investimentos, pagamentos e transferências bancárias, podem ser feitos em questões de segundos
através da Internet ou de telefone celular.
Os tigres asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul) são países que souberam usufruir
dos benefícios da globalização. Investiram muito em tecnologia e educação nas décadas de 1980 e 1990.
Como resultado, conseguiram baratear custos de produção e agregar tecnologias aos produtos.
Atualmente, são grandes exportadores e apresentam ótimos índices de desenvolvimento econômico e
social.

Blocos Econômicos e Globalização


Dentro deste processo econômico, muitos países se juntaram e formaram blocos econômicos, cujo
objetivo principal é aumentar as relações comerciais entre os membros. Neste contexto, surgiram a União
Européia, o Mercosul, a Comecom, o NAFTA, o Pacto Andino e a Apec. Estes blocos se fortalecem cada
vez mais e já se relacionam entre si. Desta forma, cada país, ao fazer parte de um bloco econômico,
consegue mais força nas relações comerciais internacionais.

Internet, Aldeia Global e a Língua Inglesa


Como dissemos, a globalização extrapola as relações comerciais e financeiras. As pessoas estão cada
vez mais descobrindo na Internet uma maneira rápida e eficiente de entrar em contato com pessoas de
outros países ou, até mesmo, de conhecer aspectos culturais e sociais de várias partes do planeta. Junto
com a televisão, a rede mundial de computadores quebra barreiras e vai, cada vez mais, ligando as
pessoas e espalhando as ideias, formando assim uma grande Aldeia Global. Saber ler, falar e entender
a língua inglesa torna-se fundamental dentro deste contexto, pois é o idioma universal e o instrumento
pelo qual as pessoas podem se comunicar.

Principais aspectos negativos da globalização


- Uma dos principais aspectos negativos da globalização é a forte contaminação de vários países em
caso de crise econômica em um país ou bloco econômico de grande importância. O exemplo mais claro
desta situação é a crise econômica de 2008 ocorrida nos Estados Unidos. Rapidamente ela se espalhou
pelos quatro cantos do mundo, gerando desemprego, falta de crédito nos mercados, queda abrupta em
bolsas de valores, falências de empresas, diminuição de investimentos e muita desconfiança. O mesmo
aconteceu em 2011 com a crise econômica na Europa.
- A globalização favorece a transferência de empresas e empregos. Países que oferecerem boas
condições (mão-de-obra barata e qualificada, baixa carga de impostos, matéria-prima barata, etc.) para
costumam atrair empresas que saem de países onde o custo de produção é alto. Este fato acaba
ocasionando desemprego, principalmente, nos países mais desenvolvidos. Um bom exemplo é o que está
ocorrendo na Europa desde o início do século XX. Muitas empresas transferiram suas bases de produção
para países como China, Índia, Cingapura, Taiwan, Malásia, etc.
- A globalização pode provocar distorções cambiais, principalmente alta valorização de moedas locais
de países em desenvolvimento. Quando os Estados Unidos colocam no mercado uma grande quantidade
de dólar, por exemplo, grande parcela deste volume acaba em países emergentes, valorizando a moeda
local. Este fato acaba favorecendo as importações e desfavorecendo as exportações das empresas
destes países emergentes. O Brasil, por exemplo, tem sofrido com a alta valorização do Real nos últimos
anos, desde que os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa despejaram no mercado
elevadíssimos volumes de moedas.
- Facilidade de especulações financeiras, causando problemas para as finanças, principalmente dos
países em desenvolvimento. Como na globalização os mercados dos países estão interligados, bilhões
de dólares podem entrar ou sair de um país em questão de segundos. Este capital especulativo acaba
prejudicando muito a economia dos países que não conseguem controlar este fluxo de capitais.

79
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Principais aspectos positivos da globalização

Aspectos econômicos
- Numa economia globalizada as empresas podem diminuir os custos de produção de seus produtos,
pois buscam em várias partes do mundo as melhores condições de produção. Algumas empresas chegam
a fabricar em produto em várias etapas em vários países. Uma empresa de computadores pode, por
exemplo, fabricar componentes eletrônicos no Japão, teclados e mouse na China, as partes plásticas na
Índia e oferecer assistência técnica através do Brasil. Com este sistema de produção globalizado, o preço
final do produto fica mais barato para o consumidor final, pois os custos de produção puderam ser
reduzidos em cada etapa.
- Geração de empregos em países em desenvolvimento. Em busca de mão-de-obra barata e
qualificada, muitas empresas abrem filiais em países emergentes (China, Índia, Brasil, África do Sul, entre
outros), gerando empregos nestes países.

Aspectos científicos
- A globalização faz circular de forma mais rápida e eficiente conhecimentos científicos e troca de
experiências. Este aspecto faz com que ocorra de forma mais rápida e eficiente avanços nas áreas de
Medicina, Genética, Biomedicina, Física, Química, etc.

Aspectos culturais
- Com a globalização ocorreu um aumento do intercâmbio cultural entre pessoas de diversos países
do mundo. Impulsionado pela Internet, este intercâmbio é importante para ampliar a visão de mundo das
pessoas, que passam a conhecer e respeitar mais outras realidades culturais e sociais.
- Com a globalização aumentou o interesse pela cultura, economia e política de outros países. Além
de se sentirem integrantes de um país, muitas pessoas sentem que são cidadãos do mundo,
desenvolvendo um grande interesse pelos diversos aspectos da vida de outras nações. Com os sistemas
de informações atuais, principalmente Internet, este aspecto ganhou um grande avanço nos últimos anos.

Globalização
Com o final da Segunda guerra Mundial e com a transformação dos Estados Unidos em grande
potência mundial, surge uma nova forma de economia. Apesar do capitalismo ter vivido a sua “Era de
Ouro” na década de 1970, com a exploração do petróleo, a Guerra Fria acabou por não permitir que esse
sistema alcançasse o mundo todo. Somente com a desintegração da União Soviética é que o mundo
passa viver sob uma nova ordem mundial, a partir do início dos anos de 1990, essa nova ordem será
construída sob o processo da globalização.
O que possibilitou para que essa nova ordem mundial se instalasse foi o grande aumento de fluxo de
informações que temos hoje. Com os grandes avanços tecnológicos, principalmente no âmbito da
telecomunicação e da informática, se tornou possível que o mundo se conectasse e se integrasse. O
mundo já vivenciou três revoluções industrial, a primeira que foi marcada pelo aparecimento da fábrica e
da máquina a vapor, a segunda pelo surgimento da ferrovia, da eletricidade, do telégrafo e do automóvel.
E a terceira, que ainda estamos vivendo, que é marcada pelo grande desenvolvimento tecnológico, como
telefones e celulares, computadores, automação da indústria, etc.
Esse grande avanço tecnológico, principalmente dentro da indústria, acabou por gerar uma maior
diversificação de produtos, além de ter barateado inúmeros produtos, tornando-os mais acessíveis.
Contudo, para chegar a essa barateamento, o custo da produção teve que diminuir e foi através da
mecanização e automação dos serviços que esse corte foi feito. Como consequência, pequenas
empresas que não conseguem acompanhar tal desenvolvimento acabam por ser absorvidas pelas
grandes.
Com a transformação da economia mundial, surgiram as empresas multinacionais ou
transnacionais, essas empresas produzem bens montados com peças fabricadas em diversas partes do
mundo, principalmente nos países menos desenvolvidos, onde a mão-de-obra e as matérias-primas são
mais baratas. É comum que cada parte do produto seja produzido em um país diferente, desde que o
custo da produção seja ainda mais reduzido.
Apesar de gerar um grande número de empregos, quando um país recebe as empresas multinacionais,
grande parte do lucro gerado volta para o país de origem. Os países que receberam as empresas além
de quase não obter o lucro, acaba por quase nunca alcançar o desenvolvimento de países já
industrializados. A desigualdade social gerada pela globalização é outro ponto negativo, a renda e o poder
acabam por ficar concentrada nas mãos de uma minoria.

80
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No caso do Brasil, o processo de entrada das multinacionais começa com o governo de Juscelino
Kubitschek (1956-1961), com a instalação de fábricas da Ford, Volkswagen, GM, entre outras.

Consequências da Globalização
Com o grande avanço das multinacionais, a expansão dessas empresas para países menos
desenvolvido, acabou por gerar um maior avanço da industrialização e na urbanização nos países menos
desenvolvidos, incluindo o Brasil.
Outro ponto de grande relevância que foi gerado graças a globalização, foi a formação de acordos e
blocos econômicos. Esses acordos permitem que haja uma maior troca comercial entre os países que
participam.
O grande avanço da globalização, acabou por consolidar o sistema capitalista, permitindo a sua rápida
transformação. Com a grande interação mundial, o sistema liberal ou neoliberal, acabou se estendendo
por quase todo o mundo, o liberalismo econômico acredita que o Estado deva interferir o mínimo possível
na econômica, favorecendo assim a iniciativa privada.
O aumento e a popularização do acesso à internet e a comunicação quase instantânea através dos
meios de comunicação, é um fator representativo do quanto o processo de globalização nos atinge.

Questões

01. (SEDUC/PI - Professor – Geografia – NUCEPE) Sobre a globalização na atualidade, diferentes


interpretações são elaboradas, sejam elas de ordem econômica, financeira, política e institucional.
Marque a alternativa que apresenta a dimensão econômica da globalização na atualidade.
(A) A internacionalização da economia viabilizou um vasto campo de investimentos externos,
redefinindo as relações econômicas entre os países, tornando vulneráveis as economias e as moedas.
(B) O processo de expansão capitalista promoveu a autonomia dos territórios e a dependência das
empresas nacionais.
(C) A lógica da dimensão econômica da globalização é pautada no crescimento do comércio em
detrimento do avanço tecnológico.
(D) As moedas e mercadorias tornaram-se dependentes das empresas de tecnologia de informação
afetando a soberania nacional.
(E) O agravamento das questões políticas fortalecem os regimes autoritários por meio das questões
sociais, culturais e econômicas.

02. (SEDUC/PA -Professor - História – CESPE) A globalização econômica dos dias atuais
(A) é um processo sem raízes na história do capitalismo
(B) inclui-se na evolução complexa das formas de produzir e consumir que se desdobra da Terceira
Revolução Industrial.
(C) não encontra apoio na nova ordem política internacional em gestação.
(D) está relacionada à ampla socialização e distribuição equitativa dos bens da produção.

03. (SEDUC/RJ - Professor – História – CEPERJ) Dentre outras modificações nas relações sociais
de produção, recentemente, o fordismo passa a adquirir formas híbridas ou a ser trocado por processos
mais flexibilizados de trabalho e produção, e surge um modelo mais atento às novas exigências do
mercado que busca integrar inovação, competitividade e produtividade. Muitos historiadores e cientistas
sociais afirmam que, especialmente após os anos 80 do século passado, vivemos um novo ciclo de
expansão do capitalismo e inauguramos um também novo processo civilizatório de alcance mundial. O
nome genérico pelo qual conhecemos o fenômeno que, dentre outros, relaciona-se com a transformação
histórica mencionada é:
(A) Perestroika
(B) Glasnost
(C) Globalização
(D) Antiglobalização
(E) Imperialismo

Gabarito

01.A / 02.B / 03.C

81
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Comentários

01. Resposta: A.
Com a globalização, houve na economia um processo de internacionalização da economia através das
multinacionais, o que acabou por tornar os país mais ligados uns aos outros. Por esse motivo é que
também acabou por tornar a economia e a moeda mais vulneráveis, pois se um país entre em crise,
consequentemente os países que mantem certa dependência acabam por entrar em uma crise também,
um grande exemplo disso é a relação dos países com os Estados Unidos, sua economia depende de
como o país caminha economicamente.

02. Resposta: B.
A globalização econômica ocorreu principalmente pela grande evolução tecnológica que ainda
vivenciamos. A chamada Terceira Revolução Industrial trouxe novas formas de se produzir, trazendo mais
eficiência e barateamento do produto final.

03. Resposta: C.
A afirmativa da pergunta faz referência ao momento histórico estudado, chamado de globalização.
Podemos ver características como uma nova forma de mercado que exige inovações, a grande
produtividade possibilitada pelas novas tecnologias aplicadas a indústria e a maior competitividade dos
mercados.

As Origens dos Problemas Ambientais

Desde a Antiguidade, o ambiente é um tema discutido pelas sociedades. Na Grécia antiga, por
exemplo, os filósofos já debatiam sobre qual era a essência de tudo o que existe no mundo, especialmente
da água, da terra, do fogo e do ar.
As poucas, mas significativas, descobertas feitas por eles levaram-nos a acreditar que a Terra era
perfeitamente harmônica, concebida por algo divino e de extrema inteligência.
Aristóteles (c. 485 a.C-420 a.C.), um dos maiores pensadores gregos, defendia que todas as coisas
na Terra, vivas e não vivas (como as rochas), tinham uma profunda ligação entre si e até mesmo uma
essência comum, sendo úteis para a sobrevivência. Pouco a pouco se desenvolveu a ideia de que a Terra
é um gigantesco ser vivo.
Na Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), o ambiente passou a ser tratado isoladamente, como
se fosse um conjunto de elementos que não tinham nenhuma relação com a sociedade e existiam apenas
para atender às suas necessidades.
Dentro desse contexto histórico, com suas características sociais, econômicas e políticas, os
interesses econômicos privados tomaram-se explícitos e prevaleceram sobre qualquer alerta de
problemas ambientais que poderiam surgir em longo prazo.
De meados do século XIX até os nossos dias, ocorreu um verdadeiro saque aos recursos naturais e
uma destruição de muitos elementos da natureza.

A Sociedade de Consumo
Vivemos em uma sociedade marcada e dominada pela lógica do consumo. Todos os seus
componentes, jovens, adultos e idosos, sejam eles ricos ou pobres, estão inseridos nesse contexto.
Grande parte dos meios de comunicação faz uma ligação entre o consumo e o prazer. São centenas
de milhares de produtos apresentados como necessários para se alcançar a felicidade.
É cada vez mais comum observarmos que o ato de consumir é colocado como uma das formas que
permite ao cidadão ou ao indivíduo sentir-se inserido na sociedade.
A expansão acelerada do consumismo acarreta alta demanda de energia, minérios, água e tudo o que
é necessário à produção e ao funcionamento dos bens de consumo. Esse padrão vem se difundindo em
todo o globo, por uma espécie de globalização do consumo, que vem crescendo a cada ano.
Extensos estudos feitos pela ONU, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
alertam para a velocidade de utilização dos recursos naturais, que já é muito maior que a capacidade de
regeneração da natureza, uma vez que a reposição de alguns elementos é impossível, pois a escala de
tempo para a sua formação é milhões de vezes maior que a da vida média dos seres humanos.

82
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Consumo e seus Impactos no Espaço Urbano
O consumo crescente também altera a paisagem urbana. As melhores áreas e as mais centrais, ou
ainda com melhor acessibilidade, normalmente são dominadas pelo setor comercial, gerando uma
hipervalorizarão dos imóveis em seu entorno.
Essa especulação imobiliária nos grandes centros urbanos empurrou e ainda empurra um grande
número de trabalhadores para locais distantes dos seus postos de trabalho. Quanto maiores forem os
deslocamentos, maiores serão os custos de transporte e a poluição gerada.
Um exemplo disso é a produção de veículos, que por sua vez está atrelada à produção de aço,
petróleo, ferramentas e máquinas. Em uma sociedade de consumo, o investimento em transporte deve
se manter vinculado à produção de mercadorias a serem transportadas. Portanto, mais consumo, maior
produção; maior produção, mais transportes; mais transportes, maior emissão de poluentes.
Por fim, a produção de energia deve também acompanhar o crescimento de todas essas atividades
econômicas, o que demanda também maior produção de equipamentos. Note, portanto, que estamos
praticamente em um ciclo vicioso.

O Desenvolvimento Sustentável

Apesar de relativamente recente, a ideia de desenvolvimento sustentável vem ganhando espaço com
o desenvolvimento das relações internacionais intensificadas pelo aumento das trocas comerciais,
principalmente nos últimos 200 anos.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que essas preocupações ganharam relevância.
Uma das principais razões para isso foi a tragédia das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (1945),
que mataram centenas de milhares de pessoas. Ao deixar um rastro de radioatividade, as bombas
ampliaram muito as ocupações ambientais de uma considerável parcela da população mundial.
Com a criação da ONU, em 1945, as relações internacionais passaram por uma mudança que também
atingiu a questão ambiental. Em 1949 ocorreu a conferência das Nações Unidas para a Conservação e
Utilização dos Recursos (Unscur), em Nova York.
Em 1968, intelectuais, empresários e líderes políticos criaram uma organização voltada ao debate
sobre o futuro da humanidade, o chamado Clube de Roma, que financiava pesquisas para publicação de
relatórios importantes.
Em 1972 eles lançaram o relatório Limites do crescimento, em conjunto com cientistas do
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Esse relatório gerou muita polêmica, pois basicamente
afirmava que, se continuassem os ritmos de crescimento da população, da utilização dos recursos
naturais e da poluição, a humanidade correria sérios riscos de sobrevivência no final do século XXI.

Um Novo Patamar de Discussões a partir de 1972


Em 1972, a ONU organizou a Conferência de Estocolmo, conhecida também como a Primeira
Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano.
Já se sabia que a economia do planeta consumia um volume cada vez maior de combustíveis fósseis
e recursos não renováveis, lançando bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, criando
assim, uma grande instabilidade climática.
Era preciso reduzir o impacto das atividades econômicas, mas, para isso, fazia-se necessário reduzir
o consumo e o desperdício. Começava, então, uma corrida para se atingir o desenvolvimento sustentável.
Efetivamente, poucos avanços foram conseguidos ao final desse encontro em 1972. Porém, a
sensibilização das lideranças da comunidade internacional acabou levando a ONU a criar, naquele
período, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida pela sigla Pnuma.
No entanto, tanto os países em desenvolvimento quanto os muito pobres não estavam interessados
em abrir mão das vantagens do desenvolvimento econômico em nome da preservação ambiental. Assim,
como havia muitas discussões sem solução, foi adotado um primeiro conceito chamado
“ecodesenvolvimento18”.
Somente em 1987 o Pnuma divulgou o relatório Nosso futuro comum, sendo o primeiro grande
documento científico que apresentou com detalhes as causas dos principais problemas ambientais e
ecológicos.
A grande contribuição desse documento foi a popularização do chamado desenvolvimento
sustentável, como um aperfeiçoamento do ecodesenvolvimento.
Para atingir o desenvolvimento sustentável seria necessário:

18 O ecodesenvolvimento é um conjunto de ideias e procedimentos que dão prioridade ao processo criativo de transformação do meio em que vivemos, porém, com
a ajuda de técnicas ecologicamente corretas e que sejam adequadas a da um dos lugares. São as populações desses lugares que devem se envolver, se organizar,
utilizar os recursos naturais de forma prudente e procurar soluções que em a um futuro digno.

83
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
→ A implantação de projetos econômicos baseados em tecnologias menos agressivas ao ambiente
como uma forma de ajuda ao combate das instabilidades e do subdesenvolvimento, que representavam
um risco para o equilíbrio ecológico, justamente pela falta de recursos para implementar as mudanças
necessárias;
→ O combate da pobreza humana, uma vez que populações desempregadas e desamparadas tendem
a retirar recursos da natureza de forma descontrolada para sua sobrevivência, incluindo assim, o conceito
de desenvolvimento social;
→ A tomada de decisões sobre os caminhos a serem tomados, com ampla participação da sociedade,
para que fossem revertidos em resultados positivos ao equilíbrio ambiental, incluindo assim, a
democracia.
Assim, definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável:
Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.

Eco 92

Em junho de 1992, a ONU organizou na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), que ficou conhecida como Cúpula da Terra ou Eco
92.
Entre os objetivos principais dessa conferência, destacaram-se:
→ Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo de
desenvolvimento vigente;
→ Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos países
subdesenvolvidos;
→ Incorporar critérios ambientais ao processo de desenvolvimento;
→ Prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos emergenciais;
→ Reavaliar os organismos da ONU, eventualmente criando novas instituições para implementar as
decisões da conferência.
Abaixo vamos conhecer algumas resoluções e documentos importantes da ECO-92.

A Convenção do Clima
A Convenção do Clima atribuiu aos países desenvolvidos a responsabilidade pelas principais emissões
poluentes, dando a eles os encargos mais importantes no combate às mudanças do clima. Aos países
em desenvolvimento, concedeu-se a prioridade do desenvolvimento social e econômico, mantendo,
porém, a tarefa de controlar suas parcelas de emissões de poluentes na medida em que se
industrializassem. As recomendações da convenção foram:
→ Adotar políticas que promovessem eficiência energética e tecnologias mais limpas;
→ Reduzir as emissões do setor agrícola;
→ Desenvolver programas que protegessem os cidadãos e a economia contra possíveis impactos da
mudança do clima;
→ Apoiar pesquisas sobre o sistema climático;
→ Prestar assistência a outros países em necessidade;
→ Promover a conscientização pública sobre essa questão.
Infelizmente os acordos da Eco 92 ficaram apenas no plano das boas intenções.

A Convenção da Biodiversidade
Nessa convenção, estava prevista a transferência de parte dos recursos ou lucros obtidos com a
exploração e comercialização dos recursos naturais para o seu local de origem, que receberia esse
volume de dinheiro para aplicar em programas de preservação e de educação ambiental.
Esse tratado visava a favorecer o diálogo Norte-Sul, ou seja, as relações entre os países desenvolvidos
e as nações em desenvolvimento. Porém, muito pouco foi feito.
A evolução dos estudos genéticos levou a biotecnologia a adquirir a capacidade de alterar e reproduzir
organismos, como plantas e seres vivos em geral. Esse fato dotou os países ricos da possibilidade de
explorar produtos naturais e modificá-los geneticamente, adquirindo o direito de patentear tais espécies.
Isso abriu espaço para a biopirataria.

A Agenda 21

84
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Esse documento, assinado pela comunidade internacional durante a Eco 92, assumiu compromissos
para a mudança do padrão de desenvolvimento no século XXI. Ou seja, a Agenda 21 procurou traduzir
em ações o conceito de desenvolvimento sustentável.
O termo "agenda" teve, nesse caso, o sentido de intenções, isto é, de propostas de mudanças, visando
a criar um modelo de civilização pelo qual sejam possíveis a convivência e a simultaneidade do equilíbrio
ambiental com a justiça social entre as nações.
A Agenda 21 buscava:
→ Geração de emprego e de renda;
→ Diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda;
→ Mudança nos padrões de produção e consumo;
→ Construção de cidades sustentáveis;
→ Adoção de novos modelos e instrumentos de gestão.
No entanto, para alcançar essas metas, era preciso mobilizar, além dos governos, todos os segmentos
da sociedade.

Uma Nova Etapa Pós Eco 92: o Protocolo de Kyoto

Como estava previsto na Convenção do Clima, assinada durante a Eco 92, deveria ocorrer um novo
encontro internacional para se discutir a redução da emissão de gases responsáveis pelo aumento da
temperatura do planeta.
Tal reunião ocorreu em 1997, em Kyoto, no Japão, onde líderes de 160 nações assinaram um
compromisso que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto.
Esse documento previa, entre 2008 e 2012, um corte de 5,2% nas emissões dos gases causadores do
efeito estufa, em relação aos níveis de 1990.
Para entrar em vigência, o Protocolo de Kyoto deveria ser ratificado por, no mínimo, 55 governos, que,
se somados, representariam no mínimo 55% das emissões de CO ² produzidas pelos países
industrializados. Essa porcentagem foi adotada para que os Estados Unidos, um dos maiores poluidores
do planeta, não pudesse impedir, sozinho, a adoção dessas medidas.

A Rio+10

Em 2002, mais uma vez a ONU tentou estabelecer ações globais para a melhoria da qualidade de
vida. Tal medida ficou conhecida como Rio+10, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável,
que se realizou em Johanesburgo, na África do Sul. Os principais temas então abordados foram:
Clima e energia: foi estabelecido o uso de energias limpas, mas não foram determinadas as metas.
Por isso, os ambientalistas protestaram, afirmando que o texto permitia a inclusão da energia nuclear, já
que incentivava as energias avançadas;
Subsídio agrícola: segundo muitos críticos, a superficialidade do texto fortaleceu a OMC, controlada
pelos países ricos, e esvaziou o papel mediador da ONU;
Protocolo de Kyoto: desde o protocolo, pouco mudou, pois os países que não haviam assinado até
então, apenas prometeram que estudariam o caso (exceto os Estados Unidos, que até mesmo abandonou
a reunião antes de seu final);
Biodiversidade: decidiu-se reduzir o ritmo de desaparecimento de espécies em extinção e repassar
os recursos obtidos pela exploração de produtos naturais para seus locais de origem;
Água e saneamento: foi decidido que se devia aumentar o número de pessoas com acesso à água
potável. Os críticos afirmaram, porém, que o texto poderia ser mais específico quanto aos procedimentos
conjuntos a serem adotados;
Transgênicos: foram objeto de polêmica, pois as organizações supranacionais recomendaram que
regiões com fome crônica adotassem esses alimentos. Por outro lado, o mesmo documento dizia que os
países teriam o direito de rejeitar os transgênicos até o surgimento de estudos mais conclusivos;
Pesca e oceano: o tema constituiu a maior conquista da reunião, já que previa a criação de áreas de
proteção marinha e a abolição imediata de qualquer subsídio à atividade pesqueira irregular.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)

No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).

85
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O principal papel desse organismo foi o de criar relatórios e documentos para acompanhar a situação
ambiental do planeta e também o de fornecer essas informações para a Convenção do Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, órgão responsável por essas discussões.
Em 2007, o IPCC recebeu, junto com o ex-vice-presidente estadunidense AI Gore, o prêmio Nobel da
paz, pelo trabalho de divulgação e busca de conscientização sobre os riscos das mudanças climáticas.
Veja os principais alertas do IPCC:
→ A temperatura da Terra deve subir entre 1,8ºC e 4ºC, nas próximas décadas, o que aumentaria a
intensidade de tufões e secas, ameaçaria um terço das espécies do planeta e provocaria epidemias e
desnutrição;
→ O derretimento das camadas polares poderia fazer com que os oceanos se elevassem entre 18 e
58 cm até 2100, fazendo desaparecer pequenas ilhas e, assim, obrigando centenas de milhares de
pessoas a aumentar o fluxo dos chamados "refugiados ambientais".

A Conferência de Copenhague

Em dezembro de 2009, realizou-se em Copenhague, Dinamarca, a Cop-15 (Conferência da ONU sobre


Mudanças do Clima), tendo como princípio norteador, as responsabilidades comuns, porém
diferenciadas. Mas o que seria isso?
Os países industrializados, que historicamente foram os primeiros a lançar uma quantidade maior de
CO² e outros gases de efeito estufa na atmosfera, teriam uma responsabilidade maior no corte de
emissões. Acreditava-se que eles fossem assumir plenamente uma meta de 25 a 40% de redução até
2020. Os países emergentes seguiriam o mesmo caminho, mas com outras metas.

A Rio+20

Em 2012, o Rio de Janeiro foi sede de um evento para marcar o 20º aniversário da Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento do meio Ambiente, realizada em 1992, conhecida como Rio 92.
O encontro foi popularmente chamado de Rio+20.
A meta principal foi fazer um balanço dos últimos anos na busca de um modelo econômico baseado
no desenvolvimento sustentável. Uma das principais resoluções foi transformar o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU, como por exemplos, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que lhe daria mais poderes
e recursos.
Um exemplo de avanço na Rio+20 foram acordos para a redução da emissões de gases causadores
de efeito estufa.

Os Principais Problemas Ambientais do Planeta

Poluição Atmosférica
A poluição do ar consiste no lançamento e acúmulo de partículas sólidas e gases tóxicos que se
concentram na atmosfera terrestre alterando suas características físico-químicas.
De maneira geral, os poluentes atmosféricos podem ser produzidos por fontes primárias ou
secundárias.
Os poluentes primários são aqueles liberados diretamente das fontes de emissão, como os gases que
provém de queimadas em florestas ou da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), lançados
do escapamento dos veículos automotores e também das chaminés das fábricas, entre eles, monóxido
de carbono (CO), dióxido de carbono (CO²), dióxido de enxofre (SO²) e metano (CH4).
Os poluentes secundários, por sua vez, são aqueles formados na atmosfera a partir de reações
químicas entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera, como o ácido sulfúrico
(H²SO4), ácido nítrico (HNO³) e ozônio (O³). A esses poluentes somam-se ainda materiais particulados
que abrangem um grande conjunto de poluentes formados por poeiras, fumaças, materiais sólidos e
líquidos, que se mantêm suspensos na atmosfera.
Desde o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o nível de poluentes na atmosfera
terrestre vem aumentando exponencialmente com o avanço da industrialização, dos meios de transportes
e demais atividades econômicas que se desenvolvem apoiadas na queima de combustíveis fósseis.
Milhares de toneladas de gases poluentes são lançados todos os dias na atmosfera terrestre,
desencadeando uma série de problemas ambientais, com impactos que ocorrem tanto em escalas local
e regional (como o fenômeno das inversões térmicas e das chuvas ácidas) quanto em escala global (como
a diminuição da camada de ozônio e a ocorrência do efeito estufa).

86
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A alta concentração de poluentes no ar forma uma camada de partículas em suspensão, parecida com
uma neblina, conhecida como smog, fazendo com que a visibilidade diminua. Também causa muitos
problemas de saúde, principalmente relacionados ao sistema respiratório e cardiovascular.
Em grandes centros urbanos dos países industrializados, é frequente os níveis de poluição do ar
ultrapassarem os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses gases
poluentes são provenientes da queima de florestas e, em especial, de combustíveis fósseis (petróleo e
carvão). Os principais agentes poluidores são os veículos automotores e as indústrias, sobretudo as
termelétricas, siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e refinarias de petróleo.
Um exemplo disso é a população chinesa, que é aconselhada constantemente a usar máscara para
sair às ruas, evitar exercícios ao ar livre e, em dias críticos, é alertada a permanecer no interior de suas
casas, devido aos altos níveis de poluição do ar encontrados em diversas províncias do país. Foram
registradas milhares de mortes, principalmente na última década, decorrentes de problemas respiratórios
e cardiovasculares agravados pela poluição do ar.
Inversão Térmica
Em condições normais, o ar presente na Troposfera19 costuma circular em movimentos ascendentes,
o que ocorre em razão das diferenças de temperatura entre o ar mais aquecido e, portanto, mais leve,
nas camadas mais baixas, e o ar mais frio e mais denso, nas camadas mais elevadas.
Em regiões afetadas por intensa poluição atmosférica, como os grandes centros urbanos, a fuligem e
os gases poluentes lançados pelas chaminés das fábricas e pelo escapamento dos veículos automotores
tendem a se dispersar por meio dessas correntes ascendentes.
Em dias mais frios, com baixas temperaturas e pouco vento, típicos do outono e do inverno, a ausência
de corrente de ar dificulta a dispersão dos poluentes atmosféricos. Nessa situação, o ar em contato com
a superfície mais fria também se resfria, ficando aprisionado pela camada de ar mais quente acima, o que
impede a dispersão dos poluentes atmosféricos.
Tem-se, assim, uma inversão da temperatura do ar atmosférico, a chamada inversão térmica,
fenômeno que pode ser observado na forma de uma faixa cinza-alaranjada no horizonte dos grandes
centros urbanos.
Com a ausência dos ventos ascendentes, os poluentes atmosféricos deixam de dispersar e
concentram-se próximos à superfície, o que compromete a qualidade do ar e gera problemas de saúde
aos habitantes das grandes cidades.
Quando expostas aos altos índices de poluição, muitas pessoas apresentam sintomas como dores de
cabeça, coceira na garganta e irritação nos olhos, crises alérgicas e pulmonares, problemas que afetam
principalmente crianças e idosos, mais sensíveis à poluição.

As Mudanças Climáticas
A humanidade já passou por períodos mais quentes que o atual e por períodos muito frios também.
Dessa forma, muitos podem afirmar que as preocupações com o aquecimento são exageradas e que
a Terra vai passar por períodos de resfriamento tal qual já ocorreu.
Isso não é verdade. O problema está no fato de que se ampliou muito a emissão de CO ² na atmosfera
desde o início da Revolução Industrial.
As fábricas e as indústrias usavam e ainda usam carvão mineral para gerar energia. Com o avanço
das tecnologias, o petróleo passou a ser usado também como matéria-prima e fonte de combustíveis para
muitos sistemas de transporte.
Apesar de a emissão de poluentes não ser igual em todos os países e de os mais industrializados
terem responsabilidade maior nesse processo, hoje já é possível afirmar que se trata de um problema
global.
Grandes quantidades de poluição produzidas em um lugar podem atingir outras localidades do planeta,
em função da circulação das massas de ar que transportam esses rejeitos.

O Desequilíbrio no Efeito Estufa


O principal problema causado pelo CO² e por outros poluentes é o desequilíbrio no efeito estufa.
Efeito estufa é um fenômeno natural, em que alguns gases funcionam como retentores de calor,
condição fundamental para manter a existência de vida no planeta.
As temperaturas médias no mundo subiram muito nos últimos 150 anos, e a explicação está no
acúmulo de gases causadores do efeito estufa.
O metano é outro gás muito agressivo. Sua capacidade de reter calor na atmosfera é 23 vezes maior
que a do gás carbônico. Cerca de 30% das emissões mundiais de metano estão ligadas à pecuária, mas

19 A troposfera é a camada mais baixa da atmosfera terrestre, sendo a região em que vivemos e onde ocorrem os fenômenos meteorológicos.

87
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
o metano é liberado também por outras fontes, como a queima de gás natural, de carvão e de material
vegetal e também por campos de arroz inundados, esgotos, aterros e lixões.
Entre os exemplos mais bem-sucedidos de combate à poluição atmosférica podemos citar a
estruturação de áreas urbanas com base na circulação de transporte público e bicicletas ao longo de
corredores e ciclovias, o que contribui para reduzir as emissões provenientes dos automóveis.
Promover o uso de combustíveis alternativos, como o etanol e o biodiesel, que emitem menos gases
poluentes do que a gasolina e o diesel convencional, além do desenvolvimento de carros elétricos,
também podem ser medidas válidas para minimizar a poluição; porém, elas não reduzem a dependência
da população em relação ao automóvel, objetivo que deve estar na agenda de qualquer sociedade
sustentável.

O Buraco na Camada de Ozônio


No final do século XVIII e início do século XIX, o cientista holandês Martin van Marum, descobriu um
gás com cheiro muito forte durante algumas experiências com reações químicas.
Anos depois, o cientista alemão Christian Friedrich Schönbein, chamou esse gás de ozônio, quando
percebeu que ele era liberado nos processos químicos de purificação da água.
Schönbein também notou que esse gás subia pelo ar rapidamente e adquiria uma cor azul bem pálida.
Ele acreditava então que o ozônio existia em grande quantidade nas altas camadas da atmosfera, fato
que veio a ser comprovado por Gordon Miller Bourne Dobson por volta dos anos 1920.
Por meio dessas pesquisas foi possível perceber que a camada de ozônio é um filtro natural para a
Terra. A constituição química do gás detém os raios solares nocivos à saúde humana, portanto, a camada
de ozônio é um dos elementos mais importantes para a manutenção da vida.
A destruição dessa camada tem relação direta com o modo de vida e o modelo produtivo adotado pela
economia mundial nos últimos tempos.
Para refrigerar os alimentos usavam-se, no início do século XX, gases extremamente perigosos, como
a amônia e o enxofre. No final dos anos 1920, Thomas Midgley Jr. descobriu um gás proveniente da
combinação do carbono com o flúor e o cloro, trata-se do clorofluorcarboneto (CFC), depois registrado
pela empresa dona da patente como gás fréon.
Com inúmeras vantagens em relação aos outros gases, o fréon passou a ser usado largamente e
permitiu a popularização das geladeiras domésticas, que eram impensáveis quando se usavam os outros
gases.
As pesquisas também permitiram a fabricação de espumas, produtos de limpeza, sprays e uma
quantidade infinita de derivados desse gás.
Em meados dos anos 1980, descobriu-se a existência de uma falha nessa camada protetora da Terra.
Cientistas britânicos e estadunidenses anunciaram que havia um buraco de milhões de quilômetros
quadrados na atmosfera sobre a Antártida.
As pesquisas apontavam que esse buraco era causado pela emissão de gases fréon, que, quando
sobem às altas camadas, destroem o ozônio e permitem a passagem dos raios solares nocivos à vida. O
problema reside no fato de que esses gases duram na atmosfera entre 20 e 90 anos.
Na imagem acima, observa-se a Camada de ozônio sobre o Polo Sul, em setembro de 2018. Em roxo
e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais.
O buraco está principalmente sobre a Antártica, mas já se notam pequenas falhas também no
Hemisfério Norte. Sabe-se que existe um sistema mundial de circulação de ar que acumula os gases
fréon sobre a Antártica em quantidade máxima justamente nos meses mais frios, quando o ar fica mais
denso e circula somente nas proximidades dessa área. Quando os raios solares mais fortes chegam a
essa região no verão, as reações químicas quebram o ozônio e permitem a passagem dos raios nocivos.
A solução para esse problema está ligada à redução da emissão de gás CFC, fato que já foi registrado
muitas vezes por cientistas credenciados pela ONU. Para se chegar a esse pequeno avanço, foi assinado
em 1987 o Protocolo de Montreal (Canadá), que previa a erradicação gradual da produção de CFC.
Entre 1988 e 1995, o consumo do gás diminuiu quase 80% em escala mundial. Mesmo assim,
especialistas acreditam existir um mercado paralelo e ilegal de CFC que movimenta milhares de toneladas
de gás por ano.
Esse quadro influencia diretamente a saúde humana. Especialistas na área de medicina afirmam que
problemas como casos de catarata e câncer de pele vêm se avolumando em grande escala no planeta.

A Devastação das Florestas


As atividades agropecuárias, a urbanização e a industrialização podem ser caracterizadas de maneira
geral como os processos que iniciaram a devastação das florestas.

88
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Com o desenvolvimento da tecnologia em todos os campos da ação humana, surgiram métodos que
aceleraram o desmatamento e acabaram afetando vastas áreas ricas em biodiversidade.
Como exemplos, podem-se citar extensas áreas florestais da Europa e dos Estados Unidos
praticamente extintas no final do século XIX e início do século XX. Esse processo esteve ligado ao
desenvolvimento e ao avanço das relações capitalistas que se materializavam no território.
Infelizmente esse processo de destruição continua até hoje e de forma cada vez mais preocupante. A
instalação de atividades econômicas sobre áreas praticamente intactas é resultado da expansão da
indústria madeireira, das atividades mineradoras, em especial as ilegais, e da corrida por novas áreas
pela agricultura comercial, fato que ficou conhecido como expansão das fronteiras agrícolas.
A partir dos anos 1980, principalmente, a consciência ecológica levou muitos países, em especial os
mais desenvolvidos, a realizar programas de replantio de espécies nativas, o que possibilitou a
recuperação de antigas áreas devastadas. Em contrapartida, nos países mais pobres e nas nações em
desenvolvimento, essa tragédia natural tem crescido ano a ano.
A atuação de grandes empresas exploradoras que operam em regiões florestais do planeta gera outros
graves problemas. As populações das regiões florestais extremamente pobres viviam dos frutos das
florestas de forma racional, uma vez que o ritmo de exploração das matas permitia a sua regeneração.
Com a chegada das grandes empresas exploradoras, ocorreu uma radical mudança na vida dessas
pessoas.
Desprovidos de áreas para exercer suas atividades, os trabalhadores pobres empregam-se nessas
companhias, recebendo baixíssimos salários. Aqueles que não trabalham nessas empresas acabam
derrubando a mata para vender a madeira de forma ilegal e assim obter recursos para sustentar suas
famílias.
Nos últimos anos as preocupações estão cada vez maiores, pois mapeamentos detalhados mostram
que a devastação põe em risco principalmente as florestas localizadas em regiões úmidas do planeta.
São áreas de mata inundadas ou saturadas de água, como as várzeas dos rios, manguezais, florestas
em áreas costeiras e próximas de grandes bacias hidrográficas.
Na Ásia, a maior parte das terras úmidas florestadas estão ameaçadas pela expansão da agricultura
comercial do arroz e pela exploração de madeira, como no caso da Indonésia, que já perdeu grande parte
de sua cobertura florestal original.
Todos os relatórios e avisos feitos pelos cientistas alertam que essas áreas úmidas devem ser
preservadas, pois ajudam a regular o fluxo e o abastecimento de depósitos subterrâneos de água. Caso
essas regiões entrem em colapso natural, isso pode gerar um efeito desastroso para a sociedade, que
ficaria sem água.
Uma experiência que merece menção é a da Finlândia. Quase 80% do território finlandês é coberto
por florestas, o que é a maior taxa de ocupação florestal da Europa, em razão de as florestas terem sido
consideradas patrimônio ecológico, social, cultural e econômico do país. Nas últimas décadas, as áreas
plantadas vêm superando as áreas cortadas em 20 a 30% anualmente.
Um dos grandes segredos desse sucesso está no replantio de espécies nativas; na Finlândia somente
podem ser replantadas madeiras originais daquela região. Isso permite uma atividade econômica mais
sustentável e não tão agressiva ao solo, ao clima e aos animais que habitam essas matas.
Os defensores da silvicultura (atividade que se dedica ao manejo e estudo de florestas plantadas)
finlandesa afirmam que a estrutura do replantio é semelhante à das florestas naturais e que os seres
humanos a exploram desde sempre.
Dessa forma, a indústria florestal é um dos maiores setores da economia do país, e a comercialização
de madeira, papel, polpa de papel e outros derivados da celulose chega a representar cerca de 30% de
suas exportações.
Para combater o mercado clandestino de madeira e o desmatamento em todo o mundo, foi criada a
certificação florestal pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), uma entidade ambientalista mundial.
Esse certificado garante ao consumidor final de madeira e de seus derivados que aquele produto é
fruto de um reflorestamento não agressivo ou mesmo de uma exploração sustentável, que preserva e
respeita o ritmo de regeneração da natureza. Já existem milhares de itens e produtos que contam com
essa certificação. Portas, pisos, móveis e até mesmo papel higiênico são certificados para comprovar que
não vieram de uma matéria-prima fruto da devastação.

A Destruição dos Recursos Hídricos


O modelo econômico que vigora em nossos dias é marcado por um consumo crescente de mercadorias
das mais variadas. No entanto, para se produzir nessa larga escala, estamos assistindo a um desenfreado
consumo de água.

89
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em função desse modelo econômico, o processo de industrialização e de urbanização dá origem a um
volume cada vez maior de esgotos domiciliares, lixo e outros resíduos, que são lançados nos rios e mares
cotidianamente. Isso afeta qualidade das águas, tanto as superficiais quanto as dos aquíferos, em vários
pontos do planeta.

Escassez de Água: Uma Crise Anunciada


Os rios e os lagos, que formam os ecossistemas de água doce, são considerados o meio de vida
natural mais ameaçado do planeta.
Embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, os ecossistemas de água doce abrigam cerca de
40% das espécies de peixes e 12% dos demais animais.
Para se ter uma ideia da diversidade desses ecossistemas, o Rio Amazonas, sozinho, possuiu mais
de 3 mil espécies de peixe.
Todos os estudos feitos recentemente apontam que 34% das espécies de peixes de água doce
encontradas em todo o mundo correm o risco de extinção, ameaçadas, principalmente, pela construção
de represas, canalização dos rios e poluição.
Entre 1950 e os nossos dias atuais, o número de grandes barragens no mundo passou de 5.750 para
mais de 41 mil, fato que alterou radicalmente a dinâmica da vida aquática.
Esse cenário alarmante é agravado pela pequena disponibilidade de água para o consumo humano.
Embora 75% da superfície terrestre seja recoberta por água, os seres humanos só podem usar uma
pequena porção desse volume, porque nem sempre ela é adequada ao consumo.
É o caso da água salgada dos mares e oceanos, que representa cerca de 97% da quantidade total de
água disponível na Terra.
Dos cerca de 3% restantes, apenas um terço é acessível, em rios, lagos, lençóis freáticos superficiais
e na atmosfera. Os outros dois terços são encontrados nas geleiras, calotas polares e lençóis freáticos
muito profundos.
Além de ser um recurso finito, a água é cada vez mais consumida no mundo todo. Ao longo do século
XX, por exemplo, a população mundial cresceu três vezes, enquanto as superfícies irrigadas cresceram
seis vezes e o consumo global, sete vezes.
Esse aumento exponencial do consumo mundial de água está gerando um fenômeno conhecido como
estresse hídrico, isto é, carência de água. Segundo o Banco Mundial, essa situação ocorre quando a
disponibilidade de água não chega a 1.000 metros cúbicos anuais por habitante.

O Mal Uso da Água e a Salinização dos Solos


São consideradas regiões que sofrem com a salinização aquelas que perdem seu rendimento
econômico na agricultura.
Salinização é a concentração de sais, provocada pela evapotranspiração máxima ou intensa,
principalmente em locais de climas tropicais áridos ou semiáridos, onde normalmente existe drenagem
ineficiente.
Os solos apresentam sais em níveis diferenciados. Quando este nível se eleva, chegando a uma
concentração muito alta, pode prejudicar o desenvolvimento de algumas plantas mais sensíveis, ou
mesmo impedir o desenvolvimento de praticamente todas as espécies.
A salinização do solo pode ser causada pelo mau manejo da irrigação em regiões áridas e semiáridas,
caracterizadas pelos baixos índices pluviométricos e intensa evapotranspiração.
A baixa eficiência da irrigação e a drenagem insuficiente nessas áreas contribuem para a aceleração
do processo de salinização, tornando-as improdutivas em curto espaço de tempo.
Os solos mais sujeitos a esse problema são os que estão em regiões mais secas. Neles, qualquer tipo
de irrigação mal conduzida pode gerar uma forte salinização se não estiver presente um adequado
sistema de drenagem.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e agricultura estima que, dos 250 milhões de
hectares irrigados em todo o planeta, cerca de metade já tem problemas de salinização, e uma grande
parte é abandonada todo ano por esse motivo. Por isso, a irrigação precisa ser feita com muito cuidado.
Entendemos que a água está cada vez mais escassa em todo o globo. A combinação de fatores
naturais e socioeconômicos como pressão demográfica e uso irracional gera desertificação, salinização
e poluição desenfreada.
O aumento do estresse hídrico já reduziu de forma considerável as reservas hídricas disponíveis no
planeta. Em quase metade das localidades habitadas, já existem problemas de escassez, e cerca de 20
a 30% da população mundial não têm acesso a redes satisfatórias de água e esgoto. Esse quadro fica
ainda mais grave uma vez que a escassez desse recurso se soma a problemas políticos entre povos e
nações.

90
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No Oriente Médio, por exemplo, há inúmeras disputas pela posse da água que se misturam a
rivalidades criadas por décadas de conflitos.
Israelenses e palestinos têm na água um dos maiores pontos de discórdia. Eles disputam as águas
oriundas da nascente do Rio Jordão e do Lago Tiberíades nas proximidades das Colinas de Golã. Além
disso, 90% dos canais de abastecimento de água são controlados por Israel.
Organismos internacionais afirmam que a disponibilidade per capita de água é quatro vezes maior em
Israel do que nos territórios palestinos, fato que potencializa epidemias, queda da produtividade agrícola
e tantos outros problemas.
Outro exemplo de tensão em razão da disputa pela água ocorre entre Síria, Turquia e Iraque. A Turquia
tem um plano de desenvolvimento que inclui a construção de mais de 20 barragens ao longo dos rios
Tigre e Eufrates.
Essas obras de grande porte alteram radicalmente a vazão de água dos rios e ameaçam o
abastecimento de grandes áreas em países vizinhos, como o Iraque e a Síria. Esses países discutem
hoje um estatuto comum para a administração desses rios, visto que não foram poucas as vezes que eles
entraram em alerta para uma possível guerra: um temendo perder o enorme volume de água, fundamental
para seu povo, outro temendo perder as barragens, fundamentais para seu desenvolvimento.

A Destruição dos Oceanos


A intensificação do comércio internacional nas últimas décadas tem deixado marcas negativas nos
oceanos.
Nos mares de quase todas as regiões do planeta existem gigantescas manchas de petróleo. Em parte,
essas manchas ocorrem por descaso e pelo uso de equipamentos obsoletos que causam vazamentos.
Além disso, muitos navios petroleiros chegam a lavar seus reservatórios nas costas de países pobres,
especialmente africanos, que não têm sistemas de vigilância eficientes para evitar esse crime.
Outro grave problema é a pesca predatória, que também contribui para o esgotamento dos estoques
de pescados oceânicos. Cerca de 90% das espécies comerciais, ou seja, pescadas, processadas e
vendidas, correm risco iminente de destruição em razão da pesca predatória.
Grandes grupos econômicos ligados direta e indiretamente ao setor alimentício são os responsáveis
por essa destruição. Eles permitem a prática da pesca predatória, que, na busca do lucro imediato, não
respeita, em muitos casos, o período de reprodução das espécies, fato que minimamente garantiria a
reposição dos estoques.
O mar também sofre a partir das terras costeiras. Grupos imobiliários promovem a ocupação irregular
de áreas litorâneas pela construção de casas, condomínios e hotéis em áreas de manguezal, alterando
o equilíbrio ambiental.
É importante lembrar que os oceanos são fundamentais para o equilíbrio ecológico de todo o planeta.
Eles concentram 97% das águas e produzem cerca de um sexto do oxigênio da atmosfera, além de serem
os principais responsáveis pela recomposição dos estoques de água doce, graças à umidade que geram.
Por todos esses fatores, os oceanos são fundamentais para a manutenção das características climáticas
do planeta.

A Degradação dos Solos (Desertificação)


A degradação do solo geralmente é causada pela associação de situações climáticas extremas, como
exemplos, a seca ou o excesso de chuvas, práticas predatórias, como o desmatamento de áreas
florestais, expansão das pastagens, utilização intensiva de agrotóxicos e a mineração descontrolada.
Essas atividades alteram e destroem a cobertura vegetal natural do solo, deixando-o exposto à ação
de ventos e chuvas, que gradualmente desgastam o solo desnudo de vegetação.
Esse processo erosivo pode evoluir, e a rocha bruta, base do solo, chegar a ficar exposta. Quando
isso ocorre, está se iniciando o processo de desertificação.
O manejo agrícola inadequado é um dos grandes responsáveis pela degradação dos solos. Quase
metade das áreas agrícolas do planeta tem algum problema que afeta a sua produção de alimentos.
Esse problema está longe de ser somente ambiental. Ele tem profunda relação com a sociedade e a
economia, uma vez que a perda de grãos com a desertificação chega a mais de 20 milhões de toneladas,
cifra suficientemente grande para atenuar o problema da fome no mundo.
As consequências nefastas da degradação do solo afligem também grandes contingentes
populacionais. Calcula-se que 30 milhões de pessoas morreram, nas últimas décadas, de fome,
ocasionada pelo esgotamento de suas áreas naturais, e mais de 120 milhões realizaram o êxodo rural
nos últimos 50 anos.
As soluções para esse problema passam sempre pela alteração do modelo produtivo ou pela aplicação
de enormes recursos financeiros na recuperação de áreas.

91
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1994 foi assinada a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A principal
decisão foi a aplicação de vastos recursos financeiros para promover a educação ambiental,
principalmente em sociedades agrárias, para que estas sejam reprodutoras das práticas e dos
conhecimentos voltados à conservação dos solos.

Resíduos Sólidos: Recurso e Problema


Diariamente milhões de toneladas de resíduos sólidos são lançadas no ambiente. A prática de
depositar resíduos ao ar livre, lançá-los na água, descartá-los em terrenos baldios e queimar os restos
inaproveitáveis teve início nas civilizações antigas, em que os métodos de lidar com os descartes
consistiam em depositá-los bem longe das moradias.
Essa solução vigorou durante muito tempo e se incorporou à cultura cotidiana de muitas populações.
Hoje é evidente que o crescimento populacional e o aumento do consumo levaram a humanidade a uma
enorme produção de resíduos, que causam graves problemas quando manipulados e depositados de
forma inadequada.
Após a década de 1950, iniciou-se uma mudança de mentalidade em relação ao resíduo sólido, a
princípio nos países mais ricos. Antes visto como desprezível e problemático, gradualmente ele passou
a ser encarado como energia, matéria prima e parte da solução para alguns problemas.
Atualmente, processos como a reciclagem reduzem o volume de resíduos sólidos descartado e
interferem no processo produtivo, economizando energia, água e matéria-prima, além de reduzir
sensivelmente a poluição da água, do ar e do solo. Mesmo assim, a quantidade de lixo reciclada é muito
pequena perante a total.
Uma das soluções que podem ajudar a solucionar esse problema é a coleta seletiva de lixo, ou seja,
o processo pelo qual se separam os materiais encontrados no lixo. Essa separação é fundamental para
o reaproveitamento dos resíduos, pois a coleta potencializa o reaproveitamento dos materiais. A
reciclagem passou a ser uma obrigação em função do enorme volume de resíduos que a sociedade
produz.

As Consequências das Mudanças Climáticas e Ambientais

A Chuva Ácida
A atmosfera, como vimos, vem sendo contaminada por compostos químicos como o enxofre e o
nitrogênio, que vão se concentrando no vapor de água e, consequentemente, nas nuvens. Estas, quando
muito carregadas, despejam uma chuva extremamente ácida.
Até a década de 1990, a chuva ácida era comum apenas nos países de industrialização mais antiga,
mas depois, com a expansão mundial do processo industrial, ela passou a ocorrer em grande quantidade
também na Ásia, em países como China, Índia, Tailândia e Coreia do Sul, que hoje são os grandes
responsáveis pela emissão de óxido nitroso (NO) e dióxido de enxofre (SO²).
Grande parte desse problema foi surgindo conforme a produção industrial se expandia. Isso significou
maior uso de termelétricas que geram energia por meio do carvão e do petróleo (combustíveis altamente
poluentes), maior circulação de carros e outros meios de transportes.
Nos últimos anos há incidência de chuva ácida praticamente em todo o mundo. Em alguns lugares
onde não existem atividades industriais poluentes, ela ocorre em razão do deslocamento das massas de
ar vindas de países emissores de poluição.
Entre as consequências da chuva ácida, destacam-se:
→ Alteração da composição do solo e das águas, tanto dos rios quanto dos lençóis freáticos;
→ Destruição da cobertura florestal (No Brasil, isso é visível por exemplo, em trechos das encostas da
Serra do Mar nas proximidades de Cubatão, no litoral de São Paulo, importante polo industrial
petroquímico que já foi conhecido mundialmente pela péssima qualidade do ar);
→ Contaminação das lavouras;
→ Corrosão de edifícios, estátuas e monumentos históricos.

Poluição Atmosférica e Aquecimento Global: O Aumento da Temperatura do Planeta


As razões do aumento da temperatura do planeta ainda geram muitos debates entre os cientistas.
Causas naturais e provocadas pelos seres humanos têm sido propostas para explicar o fenômeno.
A principal evidência do aquecimento vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas
em todo o globo desde 1860. Os dados mostram que houve um aumento médio da temperatura durante
o século XX.

92
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para explicar essas mudanças, os cientistas usam ainda evidências secundárias, como a variação da
cobertura de gelo e neve em certas áreas, o aumento do nível dos mares e das quantidades de chuvas,
entre outras.
Diversas montanhas já perderam enormes áreas geladas e nevadas, e a cobertura de gelo no
Hemisfério Norte na primavera e no verão também diminuiu drasticamente.
O aumento da temperatura global pode levar um ecossistema a graves mudanças, forçando algumas
espécies a sair de seus habitats, invadindo outros ecossistemas, ou potencializando a extinção.
Outra situação que causa grande preocupação é o aumento do nível do mar, de 20 a 30 cm por década.
Algumas ilhas no Oceano Pacífico já sofrem com esse problema.
Deve-se lembrar que a subida dos mares ocorre principalmente por causa da expansão térmica da
água dos oceanos, ou seja, as águas dilatam. No entanto, as preocupações com o futuro incluem também
o derretimento das calotas polares e dos glaciares, que guardam enormes quantidades de água na forma
de gelo. Alguns cientistas afirmam que as mudanças podem ocorrer de forma sutil e mesmo imperceptível.
Tudo isso leva a uma situação preocupante. Previsões feitas pela ONU alertam que entre 50 e 100
milhões de pessoas podem abandonar suas casas temporária ou definitivamente por problemas
relacionados a questões ambientais nas próximas décadas, tornando-se refugiados ambientais.
Nesses números estão incluídos grupos humanos, comunidades inteiras que serão levadas a migrar
em razão da poluição das águas, de enchentes, do desgaste dos solos, do fim da disponibilidade de
peixes e da subida do nível dos oceanos.
É certo que essa situação exigirá uma legislação internacional, uma vez que países e regiões inteiras
vão ser evacuados, e os refugiados poderão ser levados em circunstâncias emergenciais a outros países.

Sustentabilidade20

A qualidade de vida das gerações atuais e futuras começou a se tornar preocupante, tendo em vista o
estilo de vida e a relação que temos com o meio ambiente, provedor de matérias-primas para a nossa
sobrevivência. Por causa disso, a sustentabilidade hoje é um tema bastante discutido em escolas,
universidades, redes sociais e países de modo geral.

O que é uma Sociedade Sustentável?


A defesa de uma sociedade sustentável baseia-se na ideia de o ser humano estabelecer uma relação
com o espaço que o rodeia de modo que seu estilo de vida não prejudique as futuras gerações. Ou seja,
a sustentabilidade tem como premissa uma exploração do meio ambiente que respeite os limites do
planeta e minimize os efeitos da ação do ser humano.
Atualmente, pensar sobre esses limites é uma tarefa cada vez mais importante e emergencial, pois se
o nível de consumo mundial dos recursos naturais continuar no mesmo patamar, será insustentável sua
manutenção para, consequentemente, usufruto das gerações futuras.
Mesmo garantindo nossa própria sobrevivência, a qualidade de vida de toda a população também deve
ser um motivo de preocupação. Nesse sentido, a própria desigualdade social pode ser considerada
insustentável, pois favorece uns em detrimento de outros.

As Construções Alternativas
As paisagens urbanas têm cada vez mais se distanciado da forma original da natureza, de modo que
não proporciona um vínculo entre a dinâmica das cidades e o meio ambiente. Atualmente, 60% dos
resíduos sólidos urbanos provêm da construção civil, o que também provoca grande demanda de
madeira, contribuindo para o desmatamento de áreas de floresta.
Inseridas no pensamento sustentável, as construções alternativas começam a ser disseminadas com
o intuito de minimizar a desarmonia entre o ambiente natural e o construído, reduzindo os impactos
ambientais envolvidos na construção civil.
Essas construções são baseadas em uma arquitetura que considera a necessidade de transformar
sem agredir o ambiente, promovendo a utilização de matérias-primas biodegradáveis e de maneira
proveniente de reservas extrativistas sustentáveis, além do emprego de tecnologias que reduzam o
desperdício de água e energia e que facilitem a reutilização.
Para que essas construções atendam a esses objetivos, os elementos do clima local devem ser sempre
considerados; assim, é possível executar um planejamento voltado à iluminação e ao aquecimento
natural, por exemplo.

20 FURQUIM JR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição: São Paulo, editora AJS, 2015.

93
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A aplicação de coberturas verdes e o uso da energia solar, captada por painéis fotovoltaicos, são
exemplos que se encaixam na construção sustentável. No entanto, pelo fato de exigirem maior
investimento, essas construções não são tão comuns quanto deveriam.

Questões

01. (Transpetro – Técnico Ambiental Júnior – CESGRANRIO/2018) Conforme o Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido pelas iniciais em inglês — IPCC, o
aumento da temperatura média global nos últimos anos deve-se principalmente às emissões de Gases
do Efeito Estufa (GEEs), provocadas pelo homem.
A esse aquecimento é dado o nome de
(A) aquecimento global antropogênico
(B) aquecimento global dos mares
(C) aquecimento global primário
(D) aquecimento global devido à variabilidade natural
(E) potencial de aquecimento global

02. (Câmara de Natividade/RJ – Analista Legislativo – IDECAN/2017) “_________________ é


aquele que considera a preservação de recursos naturais e dos ecossistemas, bem como o bem-estar e
a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral, a longo prazo.” Assinale a alternativa que
completa corretamente a afirmativa anterior.
(A) Impacto ambiental
(B) Aquecimento global
(C) Novo código florestal
(D) Desenvolvimento sustentável

03. (PC/RO – Delegado de Polícia Civil – FUNCAB) Em setembro de 2013, os cientistas do Painel
Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgaram novo relatório sobre
aquecimento global. De acordo com esse relatório:
(A) o aquecimento global retrocedeu significativamente na última década, devido à maior absorção do
calor pelas águas dos oceanos.
(B) os países emergentes, como China e índia, são os mais afetados no mundo pelo aquecimento
global, e, portanto, os principais interessados em reverter esse processo.
(C) o aumento do aquecimento global é um processo natural, que não está relacionado às ações
humanas.
(D) o desmatamento das áreas de floresta, especialmente no Brasil, é a principal causa do
aquecimento global.
(E) as ações humanas estariam intensificando o efeito estufa e provocando aumento do aquecimento
global.

Gabarito

01.A / 02.D / 03.E

Comentários

01. Resposta: A
Aquecimento global é o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da
Terra causado por massivas emissões de gases que intensificam o efeito estufa, originados de uma série
de atividades humanas (daí o termo antropogênico), especialmente a queima de combustíveis fósseis e
mudanças no uso da terra, como o desmatamento, bem como de várias outras fontes secundárias.

02. Resposta: D
Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a
preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social para o presente e gerações futuras.

03. Resposta: E
No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse

94
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).

4. Relações de trabalho em diferentes momentos da História de povos do Mundo


e do Brasil: escravidão antiga: Grécia e Roma; servidão e corporações de ofícios
na sociedade medieval europeia;

GRÉCIA

Situada na Europa Meridional, entre os mares Jônio, Egeu e Mediterrâneo, a Grécia é um país
montanhoso, em cuja costa existem muitos golfos e enseadas. A pobreza do solo e o litoral recortado
com muitas ilhas, contribuiu para que os gregos se tornassem excelentes navegadores, lançando-os à
conquista de outras regiões mais produtivas.
Diferente do país que conhecemos hoje, no passado a Grécia era formada por diversos territórios que
se espalhavam pelos mares que a cercavam. O próprio nome Grécia não era utilizado, pois os habitantes
da região chamavam a Grécia Antiga de Hélade e a si de helenos. Os povos que ali habitavam julgavam-
se autóctones descendentes de Heleno, filho de Deucalião, que havia escapado de um dilúvio provocado
por Júpiter, pai dos Deuses. Daí o nome de Hélade.

A Grécia Primitiva
A Ilíada e A Odisseia, poemas atribuídos a Homero, nos fornecem muitos conhecimentos sobre a
Grécia Antiga.
A Ilíada narra a guerra entre os gregos e os troianos. A causa dessa guerra foi o rapto da bela Helena,
esposa de Menelau, por Páris, filho do rei de Tróia ou Ileo (daí Ilíada).
Comandados por Agamenon os gregos atacaram os troianos.
Durante as lutas Aquiles foi o destaque grego enquanto Heitor era o herói troiano.
Protegido pelo deus Hefaísto, que lhe cedera uma armadura impenetrável, Aquiles atacou os troianos
que fugiram, exceto o corajoso Heitor, que enfrentou Aquiles. Apesar da bravura, Heitor foi morto por
Aquiles que acabou profanando o seu cadáver.
O irmão de Heitor, Paris, que jurara vingança, acabou matando Aquiles após feri-lo com uma flecha
em seu único lugar vulnerável: o calcanhar, daí o termo calcanhar de Aquiles que quer dizer o ponto fraco
de uma pessoa.
Não conseguindo tomar Tróia pela força, os gregos usaram da astúcia…
Após terem celebrado a paz com os troianos, os gregos enviaram à Tróia um grande cavalo de madeira
como presente (daí a expressão “presente-de-grego”). Acontece que dentro desse cavalo estavam os
melhores guerreiros gregos. Estes, já dentro da cidade, abriram as portas para que o exército grego
liquidasse os troianos que foram apanhados desprevenidos.
Foi assim que os gregos conquistaram Tróia, após uma guerra de durou 10 anos.
Hoje acredita-se que apesar da aventura contada no obra, os gregos forçaram a invasão a Tróia por
causa de sua localização estratégica para o comércio marítimo no mar Egeu.
A Odisseia narra as aventuras de Ulisses (ou Odisseu), rei da Ítaca, que após a destruição de Tróia
procura retornar a sua fiel esposa Penélope, que prometera escolher um noivo, assim que terminasse de
tecer um manto. Acontece que na esperança da chegada de Ulisses ela desmanchava, à noite, o trabalho
que fizera durante o dia.
Finalmente, Ulisses chegou. Disfarçado em mendigo, se dirigiu ao local onde se celebrava a festa em
honra do deus Apolo. Nesta festa, Penélope propôs que aquele que conseguisse disparar o arco e as
flechas de Ulisses ela desposaria. Todos tentaram, sem sucesso.
Ulisses, graças à interferência de Telêmaco, seu filho, que sabia de seu segredo, disparou as doze
flechas. Em seguida venceu os seus adversários e revelou-se a Penélope, que não acreditava ser aquele
velho esfarrapado o seu esposo. Para contornar a situação, a deusa Atenéia devolveu a Ulisses a sua
juventude e também a obediência a seu povo.
No final do período homérico, o aumento populacional e a falta de terras acabou desagregando a
comunidade primitiva.
As terras coletivas foram divididas pelo páter (chefe de família) entre seus parentes mais próximos,
surgindo dessa forma à propriedade privada e a hierarquização da sociedade em classes distintas.
Dessa forma, de um lado formou-se uma poderosa aristocracia que possuía as melhores terras e
controlava o poder político, do outro lado os despossuídos que passaram a trabalhar para os aristocratas
ou se dedicaram ao comércio e ao artesanato. Outros ainda acabaram emigrando para novas terras.

95
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Povo Grego
Na verdade a civilização grega resultou numa mistura de diversos povos.
Por volta do segundo milênio a.C., a ilha de Creta, graças ao seu comércio marítimo possuía uma
civilização bastante complexa.
As comunidades neolíticas das costas do mar Egeu foram muito influenciadas pela metalurgia. O
comércio de metais e as novas armas conferiram superioridade a alguns povos, provocando mudanças
em sua organização.
A civilização grega teve suas raízes mais profundas na cultura cretense, desenvolvida nos milênios III
a.C. e II a.C, baseada na agricultura e em um rico comércio marítimo.
A partir de 2200 a.C, a ilha de Creta adquiriu um papel preponderante na região do mar Egeu.
Localizada nas proximidades do Egito e da Ásia Menor, seu esplendor se iniciou em torno do ano 2000
a.C, época na qual a cidade de Cnossos dominava a ilha.
A sociedade minoica era governada por príncipes, que criaram um império marítimo. Dentre eles
destacou-se o legendário Minos (o mesmo da lenda do minotauro), que teria construído numerosos
palácios em Cnossos, a cidade mais importante de Creta. Por isso, a cultura cretense também é
denominada cultura minoica.
A economia, construída sobre uma base agrícola, evoluiu para o comércio. A aplicação do torno à
cerâmica e o domínio da metalurgia impulsionaram a exportação e a importação. Além de produtos
agrícolas, os cretenses exportavam suas manufaturas e importavam matérias-primas: cobre do Chipre e
estanho da Europa ocidental. Eles eram os intermediários comerciais entre os povos vizinhos. O comércio
favoreceu o desenvolvimento da vida das pessoas nas cidades.
A arte minoica esteve bastante presente na construção dos palácios e sobretudo na decoração de
seus interiores. As obras artísticas, que anteriormente tinham apenas inspiração religiosa, sofreram
mudanças graças às transformações ocorridas na vida e na mentalidade da sociedade. Assim, elas
deixaram de ter caráter apenas sagrado e passaram a ter sentido próprio, voltadas à simples
contemplação. Destacam-se as elegantes pinturas em afresco que representavam cenas da vida
cotidiana.
Os minoicos utilizavam dois tipos de escrita, Linear A e Linear B. O primeiro ainda não é bem
conhecido, mas o segundo está ligado à escrita grega.
Atraídos pelo desenvolvimento de Creta, por volta de 1400 a.C, os aqueus invadiram e conquistaram
a ilha. Contudo, não destruíram a cultura cretense; ao contrário, procuraram assimilá-la e preservá-la, de
onde surgiu a civilização micênica.
A Civilização Micênica é considerada uma das sociedades mais sofisticadas da cultura grega pela
grande disseminação artística e pela avançada organização política que via as mulheres com igualdade.
Entretanto, ao contrário das civilizações gregas mais antigas que adoravam uma deusa-mãe, os
micênicos passaram a louvar Poseidon, que eles acreditavam ser o governador máximo da Terra.
Acredita-se que nesta civilização se dá início às primeiras lendas da Mitologia Grega, pois ao fim deste
período o deus principal passou a ser Zeus.
O sistema político e econômico era centrado na figura do rei, mas pouco se sabe sobre a hierarquia
social da época. Alguns especialistas sustentam que, abaixo dos reis, havia uma forte organização militar
detentora de grandes lotes de terra. Os escravos, trabalhadores livres e comerciantes faziam parte da
escala social mais baixa.
Os micênicos eram grandes navegadores e construíram embarcações bem mais avançadas que as
iniciadas pelos minoicos. Este povo, que se caracterizava pelo aspecto guerreiro, construiu barcos de
carga que eram propícias ao combate. Como armamento, os micênicos começaram a utilizar o ferro e o
bronze.
Não se sabe ao certo qual foi o real motivo de desaparecimento dessa civilização, mas alguns
historiadores acreditam que a invasão dos dórios na região de Creta foi o principal motivo. Os dórios
acabaram com toda a potência marítima iniciada pelos micênicos e a ilha de Creta, que se tornara uma
das regiões mais desenvolvidas da Grécia, perdeu sua hegemonia com sua divisão em cidades-Estado.
Os dóricos entraram violentamente na Grécia pouco depois da Guerra de Tróia, por volta de 1100 a.C.
Eram mais poderosos que os Aqueus do ponto de vista bélico, pois possuíam armas feitas de ferro. Com
a invasão de Creta as cidades micênicas foram destruídas.
Os dóricos não conseguiram absorver as conquistas micênicas, como a escrita, e a urbanização
praticamente desapareceu. A Grécia viveu um período conhecido como idade obscura ou período
Homérico (recebeu este nome por conta das poucas fontes, e sendo as obras Ilíada e Odisseia de Homero
as principais), do qual se conhece muito pouco.
Com a invasão dórica muitos habitantes fugiram da Península do Peloponeso, essa foi a primeira
diáspora grega.

96
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Cidades-Estado
A história da Grécia Antiga caracteriza-se pela presença da cidade-Estado (pólis). Havia ao todo cerca
de 160 cidades-Estado na Grécia, todas elas soberanas, com destaque para Atenas e Esparta. A
independência dessas cidades resultou de vários fatores: o relevo montanhoso, que dificultava as
comunicações terrestres; o litoral recortado e as numerosas ilhas existentes no Mar Egeu, que
estimulavam a navegação; a ausência de uma base econômica interna sólida, que poderia aglutinar os
gregos em um Estado-nação. Contudo, os gregos passaram por um processo de dispersão que os levou
a fundar numerosas colônias no litoral do Mediterrâneo e do Mar Negro. Essas colônias vieram a tornar-
se outras tantas cidades-Estado, de forma que não se estabeleceu uma unidade política entre elas.
Entretanto, como havia unidade cultural (identidade de língua, etnia, religião e costumes), por isso
podemos falar em um Mundo Grego, mas não em um Império Grego.
Nessa época, os gregos viviam em pequenas comunidades agrícolas autossuficientes — os genos –
cujos membros eram aparentados entre si e obedeciam à autoridade de um pater famílias. A propriedade
da terra era coletiva. O sistema gentílico desintegrou-se quando o crescimento demográfico tornou
insuficiente a produção dos genos. Os parentes mais próximos do pater famílias (os eupátridas)
apropriaram-se das terras, transformando-as em propriedade privada; quanto aos parentes mais
afastados, estes se transformaram em camponeses sem terra ou então emigraram. Separando-se dos
camponeses, os eupátridas passaram a morar em locais fortificados que, com o correr do tempo e o
desenvolvimento do comércio, deram origem às polis.
Constituída por um aglomerado urbano, abrangia toda a vida pública de um pequeno território e
geralmente encontrava-se protegida por uma fortaleza. Compreendia a totalidade dos cidadãos, exceto
os escravos, metecos e membros de populações subjugadas e distinguia-se de outras cidades pelo nome
dos seus habitantes.
A criação da pólis foi favorecida pelo progresso da agricultura, do comércio e pelo aparecimento da
indústria têxtil, bem como pela intensificação da vida política. Quando os habitantes de povoações
disseminadas transferiram a sua residência para perto das fortalezas, a acrópole se converteu no centro
político da pólis.
A pólis era uma organização social constituída por cidadãos livres que discutiam e elaboravam as leis
relativas à cidade. Dentro dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a Acrópole, além dos espaços
urbano e rural. A agricultura era a base da economia da pólis.
A Ágora era uma grande praça pública, um espaço onde os cidadãos se reuniam para atividades
comerciais, discussões políticas e manifestações cívicas e religiosas.
A Acrópole era uma fortificação onde estavam os monumentos, os templos e os palácios dos
governantes.
Atenas e Esparta foram as pólis com maior reconhecimento através dos tempos, com fama até os dias
atuais.

Esparta
Esparta localizava-se na região da Lacônia, que ocupava a parte sudeste da Península do Peloponeso,
ao extremo sul da Grécia, sendo uma das primeiras cidades-Estado. Foi fundada pelos dórios, por volta
do século IX a.C., após a submissão dos aqueus.
Durante o Período Homérico, os dórios vivenciaram o sistema gentílico, como as demais regiões da
Grécia. Nesse período, as terras que haviam sido conquistadas aos aqueus foram distribuídas entre os
guerreiros, que as trabalhavam coletivamente, sob um regime patriarcal. No século VII a.C., em razão da
escassez de terras e do crescimento da população dória, teve início a expansão vitoriosa sobre a Planície
Messênia; os messênios foram reduzidos à condição de escravos. Esse fato promoveu profundas
alterações na estrutura econômica e fundiária de Esparta. As propriedades coletivas desapareceram,
cedendo lugar a uma vasta propriedade estatal, denominada de terra cívica — as terras centrais e mais
férteis da planície.
Essas terras foram divididas em cerca de 8.000 lotes, que foram distribuídos aos guerreiros dórios,
detentores da posse útil da terra cívica. Recebiam também cerca de seis escravos para realizar os
trabalhos. As terras periféricas foram divididas entre os aqueus, que detinham a propriedade privada
sobre a terra, podendo vendê-la ou dividi-la.
A conquista da Planície Messênia promoveu uma reestruturação social em Esparta. Basicamente,
após a conquista da Planície, a sociedade era composta de esparciatas (cidadãos e guerreiros de origem
dória, que constituíam a camada social superior e recebiam educação militar), periecos (aqueus,
habitantes da periferia, que, apesar de serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e hilotas
(escravos). A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem mobilidade social.

97
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Até o século VII a.C., a legislação de Esparta—Grande Retra — estabelecia que o governo deveria ser
exercido por dois reis (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao trono era
hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e os Euripôntidas. O Conselho, denominado
Gerúsia, era formado pelos homens idosos e tinha um caráter apenas consultivo. A Assembleia, Ápela,
era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as decisões finais sobre todos os assuntos. A
Constituição e a organização política eram praticamente imutáveis, pois eram atribuídas à lendária figura
de Licurgo, personagem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia essa divinização às normas por
ele criadas. Com o processo de conquista da Planície Messênia concluído no século VII a.C., as
transformações políticas foram proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma
transformação conservadora e mais uma vez essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou
a oligarquia como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse momento,
compunha-se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes vitalícios.
O Poder Executivo passou a ser exercido pelos éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes,
com o mandato de um ano. A antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação, correspondendo,
nesse contexto, a um órgão formal de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A diarquia
continuou a existir, mas os seus poderes políticos foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder
sacerdotal e as atribuições militares. O caráter conservador de Esparta resultou da preocupação da
minoria esparciatas em manter a maioria hilota subordinada. Daí o militarismo do estamento dominante,
a xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o laconismo (forma sintética de expressão), que sufocavam o
surgimento de ideias e restringiam o espírito crítico.
A educação espartana estava voltada para a guerra, moldando os homens, desde crianças, que se
preparavam para tornar-se soldados.
Esse processo de formação militar começava quando ainda criança, quando um grupo de anciãos
observava as crianças, que não poderiam ter problemas físicos e de saúde. Caso a criança fosse
completamente saudável ela ficaria sob a guarda da sua mãe até os sete anos de idade; após, quem se
tornaria responsável pela criança era o próprio Estado.
Assim, ao sete anos, a criança “entrava” para o exército onde permaneceria até seus doze anos de
idade, quando receberia alguns ensinamentos para que conhecesse a dinâmica do estado Espartano e
principalmente as tradições de seu povo, e após esses ensinamentos entrariam de fato em um
treinamento militar.
Aprendiam a combater com eficácia, eram testados fisicamente e psicologicamente, além de
aprenderem a sobrevivência em condições extremas e diversas, e principalmente aprendiam a obedecer
seus superiores. Se por algum acaso esses jovens soldados não conseguissem completar essas missões
pela qual eram submetidos, ocorriam punições.
O teste final na vida do soldado espartano era realizado aos seus 17 anos. Esse teste era conhecido
como Kriptia e funcionava como um jogo, onde os soldados escondiam de dia em campo para ao
anoitecer, saírem a caça do maior número de escravos (hilotas) possíveis.
Passando por esses processos de seleções o jovem espartano já poderia integrar oficialmente os
exércitos e teria direito também a um lote de terras.
Aos trinta anos de idade o soldado poderia ganhar a condição de cidadão e isso o dava o direito de
participar de todas as decisões e leis que seriam colocadas na mesa pela Apela, e aos sessenta anos o
indivíduo poderia sair do exército podendo integrar a Gerúsia.

Atenas
De origem jônica, Atenas se apresentou como um padrão para o desenvolvimento para outras cidades-
estados gregas. A região cercada de montanhas, foi poupada de uma ocupação dos Dórios. Ao lado de
Esparta, a cidade de Atenas é caracterizada como um modelo a ser seguido, isso pois, nessa cidade
aconteceu a formação e o desenvolvimento da Democracia. Essa palavra em sua origem representa:
DEMO (povo) KRATOS (poder), ou seja, poder do povo. A Democracia é até hoje o regime político
utilizado na maioria dos países Ocidentais, inclusive no Brasil.
Em 621 a.C, o legislador Drákon foi o encarregado de escrever as primeiras leis escritas em Atenas,
codificou portanto as antigas leis conhecidas pela tradição oral. Nada mudou em relação à legislação, os
eupátridas continuavam sendo os que detinham os maiores direitos políticos, por isso, aconteceram em
Atenas várias manifestações dos Thetas (camada social marginalizada, camponeses, servos...) que
queriam participar da política ateniense, lutando principalmente contra a escravidão por dívida que ainda
existia em Atenas.
Somente em 594 a.C. com o legislador Sólon, aconteceram reformas políticas em Atenas mais
próximas dos interesses dos Thetas. Sólon decretou a lei seisachtéia, a proibição da escravidão por
dívida, além de determinar o confisco de terras dos eupátridas e uma divisão de terras para as famílias

98
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
mais pobres, isso resultou numa grande paz e estabilidade social. No plano jurídico decretou a eunomia,
a igualdade de todos perante a lei. Essa reforma foi decisiva para o desenvolvimento de um sentimento
democrático em Atenas.
A Democracia em Atenas passaria ainda por algumas reformas, o que aconteceu em 507 a.C com o
legislador Clístenes, que recebeu o título de “pai da democracia”.

Educação
Na antiguidade, a cidade-estado grega de Atenas destacou-se nas áreas de artes, teatro, literatura e
outras atividades culturais. Desta forma, a educação ateniense refletiu os anseios e valores desta
sociedade.
A educação ateniense tinha como objetivo principal à formação de indivíduos completos, ou seja, com
bom preparo físico, psicológico e cultural.
Por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era orientado por um pedagogo. Na escola, os
jovens estudavam música, artes plásticas, Filosofia, etc.
As atividades físicas também faziam parte da vida escolar, pois os atenienses consideravam de grande
importância a manutenção da saúde corporal.
Já as meninas de Atenas não frequentavam escolas, pois ficavam aos cuidados da mãe até o
casamento.

CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE


Comumente consideramos como antiguidade o período que vai do surgimento da escrita, por volta de
3000 a.C na Mesopotâmia, até a queda do Império Romano do Ocidente, no ano de 476 d.C. Diferentes
povos se desenvolveram na Idade Antiga, entre elas as civilizações do Egito, Mesopotâmia, China, as
civilizações clássicas como Grécia e Roma, os Persas, os Hebreus, os Fenícios, além dos Celtas,
Etruscos, Eslavos, dos povos germanos (visigodos, ostrogodos, anglos, saxões,) entre outros. Ela surge
como um período histórico de fundamental importância, destacadamente por suas criações e legados,
muitos dos quais lançaram as bases para a construção de muitas sociedades atuais.
Além de ser o período do surgimento da escrita, a antiguidade também viu nascerem os jogos
olímpicos, a organização do conhecimentos, o surgimento de diversas cidades e a criação do Estado
enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o crescente
nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações políticas.

Política
Os sistemas de governo na Antiguidade estavam baseados em elementos teocráticos, ou seja,
sustentados por uma visão religiosa e dominado por uma pequena elite política. O Faraó no Egito era
visto como um enviado dos deuses, e, em alguns casos, como uma reencarnação divina. Nos povos
mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes as
interferências do sacerdote em assuntos políticos.

O exemplo de Esparta
Até o século VII a.C., a legislação de Esparta —Grande Retra — estabelecia que o governo deveria
ser exercido por dois reis (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao trono era
hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e os Euripôntidas.
O conselho, denominado Gerúsia, era formado pelos homens idosos e tinha um caráter apenas
consultivo. A Assembleia, Ápela, era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as decisões finais
sobre todos os assuntos.
A Constituição e a organização política eram praticamente imutáveis, pois eram atribuídas a lendária
figura de Licurgo, personagem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia essa divinização às
normas por ele criadas.
Com o processo de conquista da Plante Messênia concluído no seculo VII a C., as transformações
políticas foram proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma transformação
conservadora e mais una vez essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou a oligarquia
como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse momento, compunha-
se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes vitalícios. O Poder Executivo passou a
ser exercido pelos éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes, com o mandato de um ano. A
antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação, correspondendo, nesse contexto, a um órgão formal
de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A diarquia continuou a existir, mas os seus
poderes políticos foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder sacerdotal e as atribuições
militares. O caráter conservador de Espana resultou da preocupação da minoria esparciata em manter a

99
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
maioria hilota (escravos) subordinada. Daí o militarismo do estamento dominante, a xenofobia (aversão
ao estrangeiro) e o laconismo (forma sintética de expressão), que sufocavam o surgimento de ideias e
restringiam o espirito crítico.
A sociedade espartana era composta de esparciatas (cidadãos e guerreiros de origem dória, que
constituíam a camada social superior e recebiam educação militar), periecos (aqueus, habitantes da
periferia, que, apesar de serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e hilotas (escravos).
A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem mobilidade social.
A política nos exemplos citados possui uma maneira de organização pautada na hierarquia e na
participação de um seleto grupo de pessoas, que governavam e mantinham o poder através da
justificativa divina e também familiar.
Apesar do caráter oligárquico da política na Antiguidade, algumas experiências merecem destaque
por mudarem esse cenário, aumentando a participação da população nos assuntos políticos.

A democracia em Atenas
A democracia, governo do povo (demo = povo, cracia=governo), foi implantada em Atenas, por volta
de 510 a.C., quando Clístenes comandou um revolta contra o último tirano que governou a cidade-
estado. As reformas políticas adotadas por Clístenes visavam a resolver os graves conflitos sociais
decorrentes da estratificação social em Atenas.
O regime político democrático instituído por Clístenes tinha por princípio básico a noção de que “todos
os cidadãos têm o mesmo direito perante as leis”.

E quem eram os cidadãos?


Somente os homens atenienses maiores de 21 eram considerados cidadãos, ou seja, eram
excluídos da vida política as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os jovens. A democracia de Atenas
era, dessa forma, elitista, patriarcal e escravista, porque apenas uma pequena minoria de homens
proprietários de escravos poderia exercê-la.
Os cidadãos participavam da Assembleia do Povo, órgão de decisão que ficava a cargo de aprovar
ou rejeitar os projetos apresentados para a cidade. Esses projetos eram elaborados pelo Conselho dos
Quinhentos, um conjunto de 500 cidadãos eleitos anualmente. Após serem aprovados pela Assembleia
do Povo, os projetos eram executados, em tempos de paz, pelos estrategos.
A democracia ateniense acabou por volta de 404 a.C., quando a cidade-estado foi derrotada por
Esparta na Guerra do Peloponeso, voltando a ser governada por uma oligarquia.

Império Romano21

Uma breve introdução


Recebe o nome de Império Romano (em latim, Imperium Romanum) o estado existente entre 27 a.C.
e 476 d.C. e que foi o sucessor da República Romana. De um sistema republicano semelhante ao da
maioria dos países modernos, Roma passa a ser governada por um imperador vitalício, e que em 395
dividirá o poder com outro imperador baseado em Bizâncio, (depois rebatizada Constantinopla e
atualmente Istambul). Foi em sua fase imperial (por volta de 117 d.C.) que Roma acumulou o máximo de
seu poder e conquistou a maior quantidade de terras de sua história, algo em torno de 6 milhões e meio
de quilômetros quadrados, um território do tamanho do Brasil, sem os estados do Pará e Mato Grosso.
O império tinha por característica principal uma estrutura muito mais comercial do que agrária. Povos
conquistados eram escravizados e as províncias (regiões controladas por Roma) eram uma grande fonte
de recursos. O primeiro imperador foi Otávio, entre 27 a.C. a 14 d.C. Antes, porém, é importante citar
Júlio César, que com suas manobras políticas acabou por garantir seu governo vitalício, entre 49 a.C. até
seu assassinato em 44 a.C. Apesar de não ser considerado imperador, César foi o verdadeiro responsável
pela consolidação do regime; prova disso é que todos os seus sucessores passam a receber o título de
"césar", e seu perfil é incluído em meio ao dos imperadores romanos na histórica obra "As Vidas dos
Doze Césares", de Suetônio.

O Império Romano foi governado por várias dinastias:


Dinastia Júlio-Claudiana (de 14 a 68)
Dinastia dos Flávios (de 69 a 96)
Dinastia do Antoninos (de 96 a 192)
Dinastia dos Severos (de 193 a 235)

21 https://bit.ly/2nkJDjF

100
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A religião politeísta romana, em muitos aspectos similar à da Grécia antiga foi a principal do Estado
durante boa parte de sua história, até 313, quando o imperador Constantino institui o Edito de Milão, que
tornaria o cristianismo religião oficial do império até o seu final. Em 395, o imperador Teodósio divide o
império, estabelecendo uma duarquia, com um imperador em Roma, responsável pela metade ocidental
e outro em Bizâncio, responsável pela metade oriental do império.
Por volta do século III, inicia-se a lenta decadência do Império Romano, devido à corrupção dentro do
governo e os gastos com luxo, o que drenava os investimentos no exército. Com o fim das conquistas,
diminui o número de escravos, e há uma queda na produção agrícola. Isso gerava por sua vez um menor
pagamento de tributos das províncias. As constantes pressões do bárbaros, aliados aos problemas já
citados culminam com o fim do Império Romano do Ocidente, em 476.
De acordo com a leitura de muitos historiadores, porém, o Império Romano só chegou de fato ao seu
fim em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos. Isto porque, apesar de ser
conhecido nos manuais de história como Império Bizantino (império cuja capital é Bizâncio), seu nome
oficial era Império Romano, e seus cidadãos geralmente se denominavam romanos, apesar da religião
estatal ser a ortodoxa grega e a língua oficial ser o grego. Aliás, o adjetivo "romano" permaneceu na
língua grega com o mesmo sentido até mesmo depois da unificação grega em 1821.

Império Romano - A desintegração: Divisão e invasões bárbaras22


(Veremos aqui alguns eventos e personagens anteriores ao período imperial (oficialmente falando)
mas que marcaram a história de forma a não existir maneiras de não abordá-los quando falamos em
Roma. Alguns desses personagens, como falamos de César acima, apesar de nunca usarem o título de
imperador, tiveram muito mais poder sobre Roma do que alguns imperadores já no período do Baixo
Império (235 – 476).

A ascensão dos militares


Com as vitórias do exército, os chefes militares conquistaram prestígio e começaram a ganhar
popularidade (competindo com o Senado).
Mário foi o primeiro a se destacar nessa área. Com fama após conquistar vitórias sobre a Numídia no
norte da África, no ano de 106 a.C., foi eleito cônsul no ano seguinte. Uma figura que já era amada por
soldados, principalmente de sua legião, Mário fez muito pelo exército romano. Foi ele quem instituiu o
pagamento de solto aos soldados, permitiu que eles participassem dos espólios de guerra lhes deu o
benefício de receber terras como prêmio após 25 de serviços.
Foi reeleito cônsul várias vezes (o que não era permitido) e suas medidas desagradavam os
conservadores do senado. Morre em 82 a.C., (segundo dizem, com “aprovação” do Senado e deu seu
maior rival militar na época, Sila).
Após da morte de Mário, Sila impõe uma ditadura em Roma e governa até 78 a.C.

César, Crasso e Pompeu


Crasso e Pompeu surgem também se aproveitando do prestígio militar. Após o governo de Sila, várias
revoltas ameaçaram o território romano, o que exigiu grandes campanhas militares.
Crasso foi responsável pela vitória contra Espártaco (líder da maior revolta de escravos do mundo
antigo).
Pompeu venceu uma rebelião popular comandada por Sertório na Península Ibérica entre os ano de
78 e 72 a.C.
César, que era sobrinho de Mário, vivenciou o melhor período e a queda do tio contra Sila e sofreu as
consequências por isso, começou a ganhar prestígio ligado ao partido popular (no qual Mário sempre teve
maior aproximação).
Em 60 a.C. Crasso, Pompeu e César foram eleitos senadores e se uniram (cada qual com seu
interesse) em um governo chamado de Primeiro Triunvirato.
Logo após a criação do Triunvirato, César parte com suas legiões para a Gália, com o intuito de
consolidar a conquista romana no território, e como sabia, aumentar o próprio prestígio através das
conquistas militares.
Com a morte de Crasso, César e Pompeu iniciam a disputa pelo poder. Pompeu se aproveitou de sua
influência dentro do senado (e do fato de César ainda estar na Gália) para que obtivesse o título de cônsul
com plenos poderes. E com o aval do senado ordena que César desmobilize suas legiões e retorne a
Roma.

22 https://bit.ly/2Maht9g

101
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
César se recusa a obedecer as ordens de Pompeu e do senado e de forma rápida marchou com suas
legiões contra Roma (49 a.C.) com o discurso de que agora havia uma ditadura contra o povo governando
a cidade. Pompeu e seus aliados (grande parte dos senadores romanos) fogem para o oriente. César os
persegue até vencê-los na Grécia, e a seguir conquista o Egito, que foi transformado em protetorado
romano.
Retornando para Roma em triunfo, César foi proclamado ditador perpétuo. Em seu governo, promoveu
a construção de obras públicas, reorganizou finanças, fundou colônias e distribuiu terras.
Estendeu o direito de participação política aos habitantes das províncias conquistadas em uma
tentativa de unificar o mundo romano.
Com um exército que o amava e com o apoio da plebe, Júlio César concentrava todo o poder em suas
mãos (o que descontentava o senado).
Uma conspiração de senadores faz com que César seja assassinado em 15 de março de 44 a.C.

Os herdeiros políticos de César


Com a morte de César, a disputa pelo poder ficou entre Marco Antônio (general popular e amigo de
César desde as campanhas na Gália) e Otávio (sobrinho de César e filho adotivo, uma vez que César
não teve filhos homens e em testamento deixa seus bens para Otávio e para o Povo de Roma).
Marco Antônio e Otávio se juntam a Lépido (um rico banqueiro romano) e forma o Segundo Triunvirato,
que teve apenas cinco anos de duração.
Os três dividiram o território romano entre si, e levados por Marco Antônio e Otávio, eliminam todos os
conspiradores da morte de César.
Após isso Otávio e Marco Antônio passam a brigar pelo poder e Otávio o vence em 31 a. C. Ao retornar
a Roma, Otávio recebe os títulos de primeiro cidadão (Princeps), divino (Augusto) e suprmo (Imperator).
Augusto, como passou a ser chamado, se tornou o primeiro imperador de Roma.

Território romano em seu auge.

Mapa extraído de "Acetato 7", História 7, Porto Editora

O Baixo Império
O desguarnecimento do limes (ou fronteiras) tornava-se ainda mais grave naquelas regiões onde as
fronteiras naturais do Império (desertos, montanhas, oceano) eram mais frágeis. E essa fragilidade
mostrava-se mais acentuada na fronteira do Império com a vasta região conhecida como Germânia, a
qual tinha como fronteira básica os rios Reno e Danúbio.
A região conhecida pelos romanos como Germânia abrigava uma série de povos, genericamente
chamados de germânicos, como francos, vândalos, visigodos, ostrogodos, anglos, saxões, jutos, hérulos,
burgúndios, lombardos e vários outros. Tais povos representavam um potencial numérico muito grande e
uma ameaça efetiva ao Império, notadamente num quadro de retração do seu poderio militar.

Tetrarquia e divisão do Império


A crise econômica teve também uma clara manifestação administrativa. A redução da arrecadação
gerou uma queda no número de funcionários do Estado, tornando a administração mais difícil,
principalmente nas províncias mais distantes de Roma.

102
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Numa tentativa de sanar esse problema, o imperador Diocleciano dividiu o Império em duas partes: o
Ocidente, com capital em Roma, e o Oriente, com capital em Bizâncio, às margens do mar Negro. Em
cada uma dessas partes havia um imperador, com o título de Augusto, e um outro governante para as
regiões mais distantes, com o título de César. Por contar com, na verdade, 4 governantes, essa forma de
divisão foi chamada de Tetrarquia.
A Tetrarquia durou pouco tempo. Já no início do século 4, o imperador Constantino reunificou o
Império. Entretanto, como o risco de invasão fosse maior na parte ocidental, ele transferiu a capital para
Bizâncio, mais protegida e, na época, mais rica. Ali, ele ergueu uma cidadela para servir de sede ao
governo, dando a ela o nome de Constantinopla, nome que, durante séculos, acabou designando toda a
cidade.
Durante o século 4, o Império manteve-se unificado, com sua sede em Constantinopla. No final do
século, o imperador Teodósio estabeleceu, em 395, a divisão definitiva: Império Romano do Ocidente,
com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, também chamado de Império Bizantino, com capital
em Constantinopla.

Decadência e êxodo urbano


Ao mesmo tempo em que o Império se debatia com toda a sorte de dificuldades administrativas e
militares, os aspectos econômico e social da crise iam gerando uma nova realidade. O declínio do
comércio gerava uma decadência de toda a atividade urbana. E a incapacidade crescente do Estado
romano de manter a ordem e a paz internas transformava as cidades em alvo de ataques e saques. Outro
elemento era a impossibilidade de manter a política de concessão de alimentos à plebe miserável,
tornando impossível sua permanência em Roma.
Esses elementos vão gerar um processo de êxodo urbano. A grande massa que sai das cidades para
o campo vai passar a viver e trabalhar naqueles mesmos latifúndios em que, até então, utilizava-se a
mão-de-obra escrava. O declínio da escravidão abria espaço, portanto, para o trabalho plebeu, mas em
condições significativamente diferentes.
Tais latifúndios continuavam com sua mesma extensão, sendo necessário que várias famílias
vivessem e trabalhassem dentro de uma mesma propriedade. Assim, a paisagem rural do Império,
notadamente no ocidente, passou a se caracterizar por um tipo de propriedade à qual os romanos davam
o nome de vilas, nas quais várias famílias de trabalhadores vivem e trabalham numa terra que não lhes
pertence.

Bases do feudalismo
Esse processo de ruralização apresentava outras características. Esses trabalhadores, apesar de
serem livres, não eram proprietários da terra. Ao mesmo tempo, a escassez de moedas inviabilizava o
pagamento de salários. Dessa forma, a única possibilidade de vida para esses trabalhadores era extrair
da terra o seu sustento, entregando ao proprietário um excedente - como forma de pagamento pelo uso
da terra. São os primeiros rudimentos econômicos do feudalismo, já presentes na crise do Império.
Ao lado desses elementos, outra realidade se desenrolava. Desde o início do século 3, o Império havia
adotado a política de permitir que tribos bárbaras se instalassem dentro das suas fronteiras. Essa relação
estabelecia-se com o Império cedendo a essas tribos terras, chamadas pelos romanos de feudus.
Esses bárbaros eram admitidos na condição de colonos, segundo a qual, em troca da terra, eles se
comprometiam a cultivá-la, pagar tributos ao Império e, por lei, estar presos à terra, não podendo deixá-
la. Isso se explica pela necessidade romana de usar esses povos para a própria defesa das regiões
fronteiriças. Tanto que esses bárbaros eram também considerados como federados ao Império, termo
que tinha uma conotação de aliados militares.
Quando a crise no interior do Império agravou-se, no final do século 3, com Roma cada vez mais
dependente da produção agrícola, o regime de colonato foi estendido para as próprias populações
romanas. Tal medida foi baixada pelo imperador Diocleciano, tornando o colonato uma instituição.

Os hunos, os povos germânicos e o fim do Império


A partir do final do século 4, a situação do Império tendeu ao colapso. Já por volta de 370, a presença
de um povo asiático - os hunos - no sul da Europa contribuiu para destruir o frágil equilíbrio em que ainda
se assentava o Império e sua relação com os povos bárbaros.
Ao longo de quase um século, os hunos assolaram regiões da Europa, chegando mesmo a sitiar Roma
em 452. Ferozes, saqueadores e extremamente numerosos, eles espalharam terror por várias regiões da
Europa, incluindo a Germânia.
Para vários historiadores, os ataques dos hunos contribuíram largamente para pressionar os povos
germânicos em direção às terras pertencentes a Roma, acelerando o processo de invasões. Tais invasões

103
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
se estenderam ao longo do século 5. Os visigodos saquearam Roma em 410, e os vândalos em 455; os
francos, após saquearem Roma, ocuparam a Gália; anglos, saxões e jutos invadiram a Bretanha;
burgúndios, o sul da França; lombardos, o norte da Itália; e, em 476, os hérulos, seguidos pelos
ostrogodos, depuseram o último imperador, Rômulo Augusto.
Esse evento assinala oficialmente o fim do Império Romano do Ocidente. A parte oriental do Império
manteve-se unificada até 1453, quando Constantinopla foi tomada pelos turcos. Entretanto, a influência
do chamado Império Bizantino sobre a Europa foi rapidamente esvaindo-se. As áreas dominadas pelos
vários povos germânicos deram origem a uma série de reinos fragmentados, destruindo a unidade
imposta pelos romanos. Também esse evento assinala o início da Idade Média europeia, erigida a partir
justamente da integração entre elementos romanos e germânicos.

Questões

01. (MPE-SP – Analista Técnico Científico – Pedagogo – VUNESP-2016) Das alternativas a seguir,
assinale aquela que define corretamente o modelo de democracia cuja experiência mais marcante e
conhecida foi a da Grécia Antiga. Esse modelo, conhecido como democracia direta, é
(A) uma forma em que o cidadão escolhe seus representantes, que devem eleger os responsáveis
pela condução do poder público, nos diferentes níveis.
(B) o sistema de eleição em que todos os cidadãos participam da escolha dos candidatos à eleição
para os diferentes cargos eletivos.
(C) o sistema em que o eleitor vota diretamente no seu representante para o Poder Executivo e
Legislativo.
(D) quando as decisões são tomadas por cada um dos cidadãos, administrar sem intermediários.
(E) o sistema em que o cidadão escolhe, entre os candidatos do seu distrito, aquele que deverá
participar da eleição em nível municipal.

02. (TJ-RS – Historiógrafo – FAURGS) Foram os gregos os primeiros a interessar-se pelas culturas
chamadas bárbaras. A partir desse interesse, foi rompido o ciclo de produção dos anais d inásticos e
iniciou-se o movimento que propunha uma reflexão mais ampla sobre a sociedade em geral. Assim
nascia a história ocidental. A respeito da História produzida na Grécia Antiga, qual das afirmações
abaixo está INCORRETA?
(A) Fundamentava-se na coleta e cotejo de informações e na sua guarda em arquivos.
(B) Cabia ao historiador dizer a verdade sobre os acontecimentos que achava digno relatar.
(C) Representou a emergência de um discurso sobre o passado que aspirava à verdade.
(D) Demonstrava interesse pelo estrangeiro e apresentava digressões etnográficas e geográficas.
(E) Baseava-se na observação direta, por meio do testemunho do historiador, e na valorização da
tradição oral.

03. (FEI) Atenas foi considerada o berço do regime democrático no mundo antigo. Sobre o regime
democrático ateniense, é CORRETO afirmar que:
(A) Era baseado na eleição de representantes para as Assembleias Legislativas, que se reuniam uma
vez por ano na Ágora e deliberavam sobre os mais variados assuntos.
(B) Apenas os homens livres eram considerados cidadãos e participavam diretamente das decisões
tomadas na Cidade-Estado
(C) Os estrangeiros e mulheres maiores de 21 anos podiam participar livremente das decisões
tomadas nas assembleias da Cidade-Estado.
(D) Era erroneamente chamado de democrático pois negava a existência de representantes eleitos
pelo povo
(E) A inexistência de escravos em Atenas levava a uma participação quase total da população da
Cidade-Estado na política.

04. (FEI) A Guerra do Peloponeso, ocorrida na Grécia entre 431 e 401 a.C., foi:
(A) Uma guerra defensiva empreendida pelos gregos contra a invasão dos persas e a ameaça de perda
de suas principais praças de comércio do Mar Mediterrâneo;
(B) Uma luta entre dórios e aqueus na época da ocupação do território grego que resultou na formação
das cidades de Esparta e Atenas;
(C) Uma luta comandada pelas cidades de Esparta e Corinto contra a hegemonia da Confederação de
Delos - liderada por Atenas - sobre o território grego;

104
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) Uma guerra entre gregos e romanos, pelo desejo de implantação de uma cultura hegemônica sobre
os povos do Oriente Próximo;
(E) Uma invasão do território grego pelas tropas de Alexandre - O Grande, na época de expansão do
Império Macedônico que herdara de seu pai.

Gabarito

01.D / 02.A / 03.B / 04.C

Comentários
01. Resposta: D
A democracia direta é aquela em que os próprios cidadãos elaboram as leis e participam diretamente
das decisões estatais, como a criação de tributos, de leis, da necessidade de se implantar uma obra
pública, dentre outros. Esse modelo surgiu na Grécia e teve diversas variações, porém geralmente quem
podia participar eram os cidadãos da Polis (vedado para mulheres, plebeus, estrangeiros e escravos).

02. Resposta: A
Na Grécia Antiga não há ainda o conceito de fontes históricas documentais, embora a história tenha
sendo escrita e documentada para estudos posteriores. O que historiadores como Heródoto relatavam
eram suas observações, utilizavam da tradição oral e havia uma valorização pelo cotidiano dos sujeitos.

03. Resposta: B
O “direito” de ser cidadão em Atenas passava por alguns requisitos. Apenas homens maiores de 21 e
filhos de atenienses podiam ter participação política. Mulheres, estrangeiros, homens atenienses menores
de 21 anos e escravos (ou mesmo escravos libertos) não tinham direitos políticos.

04. Resposta: C
A Guerra do Peloponeso pode ser considerada uma consequência direta da hegemonia de Atenas
após o conflito contra os persas. O poder marítimo ateniense após as Guerras Medicas fez com que
Esparta se sentisse ameaçada e o resultado foi o conflito interno na Grécia.

As relações de trabalho no capitalismo; o trabalho e a resistência indígena na


sociedade colonial brasileira e latino-americana; o trabalho escravizado do
africano no Brasil, lutas, resistências e abolicionismo; tráfico e formação do
escravismo da época Moderna; o trabalho negro pós-emancipação; organização
de trabalhadores rurais e urbanos brasileiros e latino americanos através dos
tempos: ligas, sindicatos, organizações patronais e suas lutas por melhores
condições de vida e trabalho; formas de exploração do trabalho no mundo
globalizado; greves, lutas de classe e embates culturais no mundo industrial e
globalizado.

*Candidato(a). Formas de trabalho e exploração do mesmo estão inseridos nos seus períodos.

5. Processos de constituição dos Estados Nacionais, confrontos, lutas, guerras


e revoluções na Europa, África, Oriente, América e no Brasil: a organização das
antigas sociedades do Oriente Médio; as cidades-estado gregas, a República
romana e a descentralização política na Idade Média; Feudalismo; culturas
tradicionais do mundo árabe, expansão muçulmana no norte da África e
imperialismo no Oriente Médio;

IDADE MÉDIA E FEUDALISMO

Feudalismo
O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de organização da vida durante a Idade Média
na Europa Ocidental. Suas origens remontam à crise do Império Romano a partir do século III.

105
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Idade Média abrange um longo período da história europeia, e é comum dividi-la em duas fases:
Alta Idade Média e Baixa Idade Média.
- A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao XI, corresponde à formação e consolidação
do sistema feudal;
- A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV, caracteriza-se pela crise do feudalismo
e início da formação do sistema capitalista.
A formação do sistema feudal tem início com a crise do século III do Império Romano e acentua-se
no século V, com as invasões dos povos germânicos. A queda do escravismo, a formação do colonato e
a posterior implantação de um regime servil constituem o passo decisivo para a formação do sistema.
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império Romano levaram consigo relações sociais
comunitárias de exploração coletiva das terras e subordinação aos grandes chefes militares (comitatus).
As invasões, além de despovoar as cidades, aumentando a população rural, dificultaram as comu-
nicações e provocaram o isolamento das localidades, forçando-as a adotar uma economia de subsistência
autossuficiente.
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor maneira, porém, é defini-lo conforme suas
relações sociais básicas: relações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), relações comunitárias
(entre os servos) e relações servis (que ligavam o mundo dos senhores ao mundo dos servos).
Esta última ligação se processava por meio das obrigações, que resultavam das imposições feitas pelo
senhor aos servos, de realizar paga mentos em produtos ou serviços, e que constituem a própria essência
do feudalismo. Tais obrigações eram costumeiras e não contratuais, como ocorre no sistema capitalista.
Note-se que o servo era vinculado ao feudo, dele não podendo sair.

Feudos

A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias:


Propriedade privada, no manso senhorial (terra do senhor);
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso comum para senhores e servos);
Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso servil. (O senhor detinha a posse legal e o servo,
a posse útil da terra.)
Levando-se em consideração que a maior parte da produção obtida pelo servo não se conservava em
suas mãos, pois passava para o senhor feudal, seu interesse era mínimo. Associando-se a este fato o de
que os trabalhos agrícolas eram realizados coletivamente, tolhendo a iniciativa individual, eles resultavam
em baixo nível da técnica e pequena produtividade: para cada grão semeado, colhiam-se dois. Daí o
regime de divisão das terras cultiváveis em três campos, destinados alternadamente para o plantio de
cereais e de forragem, reservando-se o terceiro para o descanso (pousio). Realizava-se a rotação trienal
dos campos, com vistas a impedir o esgotamento do solo.

Sociedade Feudal
De acordo com as bases materiais descritas não havia possibilidade de mobilidade social nos feudos:
a sociedade era, portanto, estamental. O princípio de estratificação era o nascimento, surgindo então
duas camadas básicas: senhores e servos. Existiam também categorias intermediárias, tais como os
vilões (camponeses livres) e os ministeriais (corpo de funcionários livres do senhor).
O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não havia guerras de expansão para apresá-
los; além disso, a Igreja condenava a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões tendiam a se
tornar servos, pois de nada lhes adiantava a liberdade dentro da insegurança reinante: o fundamental era
a obtenção de proteção.

106
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais. Os senhores feudais viviam com suas
famílias em casas fortificadas. Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em castelos.
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

Outra classe social existente no feudo era o clero, os membros da Igreja. Os clérigos eram os
responsáveis pela transmissão religiosa e cultural. Também eram os responsáveis pelas leis, que nesta
época eram transmitidas pela interpretação religiosa. Isto tudo garantia ao clero a responsabilidade pelo
caráter moral da sociedade. E, não por acaso, que foi neste período que a Igreja Católica se transformou
na mais poderosa instituição da Idade Média. O domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com
acesso ao saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser instruídos de educação e,
consequentemente, eram os poucos que sabiam ler e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos
entregues à Igreja.
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade medieval reflete muito bem o pensamento
da época, pois para o bispo “na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de outros é guerrear e de
outros trabalhar”. Para a Igreja medieval, cada indivíduo tinha um importante papel na sociedade, por
isso, deveria executar a sua função com zelo e gratidão como se estivesse trabalhando para o próprio
Deus. Com isso, a Igreja garantia a manutenção da sociedade tal e qual ela era.

Relações Vassálicas
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.
Impossibilitados de defender o reino, os soberanos delegaram essa tarefa aos senhores feudais. Por
isso, e com vistas a se protegerem, os senhores procuravam relacionar-se diretamente por um
compromisso: o juramento de fidelidade. O senhor feudal que o prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele
que o recebesse seria seu suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e vassalos tinham obrigações
recíprocas, pois à homenagem prestada pelo vassalo correspondia o benefício concedido pelo suserano.
Essa relação definia-se em um rito denominado "cerimônia de investidura" ou "cerimônia de adubamento".

Igreja Medieval
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas invasões germânicas
e ao esfacelamento do Império Romano, a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se
como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa e difundindo o cristianismo entre os povos
bárbaros.
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em
diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação
política da sociedade feudal.

107
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias:
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos mosteiros), hierarquizado em padres, bispos,
arcebispos etc.
Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que obedecia às regras de sua ordem religiosa:
beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.

No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o papa, bispo de Roma, considerado sucessor do
apóstolo Pedro. Nem sempre a autoridade do papa era aceitar por todos os membros da Igreja, mas em
fins do século VI ela acabou se firmando, devido, em grande parte, à atuação do papa Gregório Magno.
Além da autoridade religiosa, o papa contava também com o poder temporal da Igreja, isto é, o poder
advindo da riqueza que acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em troca da
salvação.
Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa
Ocidental.
O papa, desde 756, era o administrador político do Patrimônio de São Pedro, o Estado da Igreja,
constituído por um território italiano doado pelo rei Pepino, dos francos.
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em diversos conflitos políticos com monarquias
medievais. Exemplo marcante desses conflitos é a Questão da Investiduras, no século XI, quando se
chocaram o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Henrique IV.

Questão das Investiduras e o Movimento Reformista


A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes
para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador.
As raízes desse conflito remontam a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império
Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer
seus poderes. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia
ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa.
Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-se de
sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeações) feitas
pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o
compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado
pela Ordem Religiosa de Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram ganhando força dentro da Igreja,
culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem reformista.
Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que julgou necessárias para recuperar a moral
da Igreja. Instituiu o celibato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074, e proibiu que o imperador
investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. Henrique IV, imperador do Sacro Império, reagiu
furiosamente à atitude do papa e considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou Henrique
IV. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual
do papa.
Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto
III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura
espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra de um bispado,
o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

Inquisição
Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se nos termos exatos pretendidos pela
doutrina católica. Havia uma série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas heresias, que se
chocavam com os dogmas da Igreja.
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja
missão era descobrir e julgar os heréticos. Os condenados pela inquisição eram entregues às autoridades
administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas a cada
caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.
O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes etapas: o tempo de graça, o interrogatório
e a sentença.

Vida cultural
Quando se compara a produção cultural da Idade Média com a Antiguidade ou a Modernidade, ela é
considerada tradicionalmente um período de trevas. Ao longo do tempo, esse conceito tem sofrido

108
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
algumas revisões, graças à reabilitação da Idade Média por certos autores que nela encontram as raízes
culturais do Mundo Moderno e - num sentido mais imediato - do Renascimento.
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande mantenedora da cultura durante o Período
Feudal, apesar de o fazer de forma que justificasse suas ideias e dogmas. O privilégio da leitura e da
escrita também estava vinculado à Igreja.
Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a criação das universidades, o pensamento
filosófico desenvolveu-se, surgindo, então, a escolástica ("filosofia da escola"), produzida por São Tomás
de Aquino, autor da Suma Teológica. O ideal tomista era conciliar o racionalismo aristotélico com o
espiritualismo cristão, harmonizando fé e razão.

Baixa Idade Média e as Mudanças na Sociedade Feudal


Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema capitalista. Ao mesmo tempo, surgiram
novas classes sociais, principalmente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo de centralização
política.
A questão fundamental para entender as mudanças durante a Baixa Idade Média é a crise do
feudalismo. A produção feudal era baseada no trabalho servil, sendo limitada e estática, o que, por sua
vez, representava o baixo nível de técnica do sistema feudal.
No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma certa estabilidade na Europa, além de
condições de segurança para o aumento da circulação de mercadorias. Houve uma maior redistribuição
da produção, gerando um crescimento demográfico que não foi acompanhado pelo aumento da oferta de
empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a introdução de novos artigos de luxo, os senhores
feudais passaram a ter necessidade de aumentar as suas rendas. Para obter mais recursos, eles eram
obrigados a aumentar as obrigações dos servos, que, pressionados, partiam para as cidades em busca
de uma vida melhor. A solução para a crise seria a substituição do regime de trabalho servil pelo trabalho
assalariado, porém essa mudança incentivou a evolução do modo de produção feudal para o capitalista,
o que não seria viável num curto período.
Dessa forma, a crise do feudalismo ocorreu pela incapacidade da antiga estrutura econômica de
sustentar as mudanças, o que foi gerando uma nova organização do modo de vida.
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de marginalização social, quer pela fuga dos
servos, quer pelos deserdamentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe como
consequência o aumento da belicosidade, marcada por assaltos e sequestros a ricos cavaleiros.
A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a "Paz de Deus" (proteção aos cultivadores,
viajantes e mulheres) e a "Trégua de Deus" (na qual os dias para realizar guerras ficavam limitados a 90
por ano). Porém, essa intervenção da Igreja não foi suficiente para conter a crise e a violência feudais.

Cruzadas
Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado esperado, a Igreja propôs as Cruzadas, uma
contraofensiva da cristandade diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os séculos VIII e XI, não
teve condições de reagir contra os árabes, passava a reunir nesse momento as condições necessárias:
- Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa;
- Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre o homem medieval, que o levou a crer na
necessidade de resgatar o Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano;
- Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII impôs sua autoridade a Henrique IV, na Querela
das Investiduras:
-A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da cristandade, quebrada pelo Cisma de 1054;
- O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o perigo que os muçulmanos representavam;
- Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das Investiduras, convocar as Cruzadas
demonstrava prestígio e autoridade perante toda a Igreja.

Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II convocou a cristandade para uma guerra santa
contra o Islã. Foram realizadas oito Cruzadas, entre 1095 e 1270.
Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são consideradas um insucesso, que se deve
em primeiro lugar ao caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não criou raízes
entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia as colônias militares
estabelecidas em território inimigo. A luta fratricida foi uma constante entre as ordens religiosas e os
cruzados latinos.

109
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Fonte: 10emtudo.com.br

Consequências das Cruzadas


As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão,
Castela, Navarra e Aragão começavam a Reconquista da Península Ibérica contra os muçulmanos. A
ofensiva teve início com a tomada da cidade de Toledo, em 1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada
de Granada. A vitória dos italianos sobre os muçulmanos no Mar Tirreno e norte da África fez com que
as cidades italianas iniciassem o seu domínio sobre o Mediterrâneo, lançando as sementes do comércio
e do capitalismo. As relações entre Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois de séculos de
bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam pela Europa. O contato com o Oriente trouxe o
conhecimento de novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e metalurgia.

Renascimento do Comércio
As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI e XIV na Europa foram imensos. A crise
do feudalismo acentuou-se, principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem das batalhas em terras
orientais, os cruzados traziam consigo produtos de luxo, como tapetes persas, porcelanas chinesas,
tecidos finos ou especiarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a população europeia,
proporcionado o Renascimento do Comércio.
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afastadas, os europeus abriram um novo eixo
comercial ligando o Ocidente ao Oriente. As principais rotas de comércio eram feitas pelo mar
Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, Veneza, Pisa, Constantinopla,
Barcelona e Marselha. No mar Báltico e no mar do Norte, o domínio ficava por conta de cidades como
Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países Baixos).

Burgos e Burgueses
Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram o campo e foram viver dentro dos burgos -
vilas fortificadas com muralhas, construídas entre os séculos IX e X e posteriormente abandonadas -,
onde esperavam encontrar melhores condições de vida. Em pouco tempo, contudo, esses lugares
tomaram-se pequenos e as pessoas viram-se obrigadas a se instalar do lado de fora de suas muralhas.
Essa população, formada principalmente por artesãos, operários e comerciantes, acabou dando
origem a novos burgos em vários pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição aos nobres que viviam
em castelos, ficaram conhecidos como burgueses.
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou uma nova necessidade: a padronização
de unidades de valor. O uso de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca de
mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram também primeiras casas bancárias, responsáveis
pelas operações de câmbio e empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o dinheiro passasse
a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária deixassem de ser a base da riqueza na Europa.
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos lucros, os mercadores e banqueiros
conquistavam maior status social e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava prestígio
e espaço, aproximando-se dos reis e emprestando-lhes dinheiro em troca de medidas políticas favoráveis
ao comércio. Ao mesmo tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, muitas delas
decorrentes das altas despesas com as Cruzadas.

Humanismo
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato entre os burgueses e os monarcas financiou
o surgimento de novas universidades. Com a expansão comercial surgiu a necessidade de formar

110
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
pessoas que entendessem de direito e comércio. Com a criação das universidades, a difusão do
conhecimento deixou de ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino tomou-se laico, voltado cada vez mais
para questões mundanas.
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, principalmente os dos gregos e romanos, e as atenções
dos estudiosos dirigiam-se a diversas áreas do saber e das artes. Iniciava-se o Humanismo, movimento
cultural que viria a influenciar a Europa por quase três séculos. Até então hegemônico, o pensamento da
Igreja passou a ser questionado por religiosos e filósofos leigos.

Guerra, Fome e Peste


O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores sofreu um forte golpe no século XIV. As
mudanças climáticas geraram um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar dos diversos
avanços tecnológicos verificados no campo, como a invenção da charrua, da ferradura, a difusão dos
moinhos de vento, a produção não era suficiente para abastecer a população europeia, que duplicou
entre o ano 1000 e o ano 1300, levando boa parte da população a passar fome.
Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste Negra, uma epidemia decorrente das péssimas
condições de higiene das cidades, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos-pretos ou
outros roedores, matando cerca de 30 milhões de pessoas, mais de um terço da população europeia na
época. A situação ficou ainda mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra deram início à
chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se estendeu de 1337 a 1453 provocando grande número
de mortos em ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península ibérica, na Itália e na
Alemanha.

Baixa Idade Média – Crescimento Demográfico23

No século X as guerras que haviam assolado a Europa, notadamente as invasões bárbaras, já haviam
terminado. Ao mesmo tempo, por viverem isolados nos feudos, os servos e os senhores feudais estavam
menos sujeitos às epidemias. Deste modo, melhoraram-se as condições de vida do homem feudal,
possibilitando a melhoria do cultivo e a possibilidade de crescimento demográfico. De fato, foi o que
ocorreu. A partir do século X a taxa de natalidade cresceu substancialmente enquanto a de mortalidade
se mantinha estável. Há, portanto, uma explosão demográfica na Europa.
A expansão demográfica promove o desequilíbrio na oferta e demanda de alimentos. A primitiva e
ineficiente produção agrícola feudal não consegue suprir as necessidades de uma sociedade em
expansão. Surge, no interior dos feudos, o excedente populacional. Dada a insuficiência de recursos para
prover o excedente populacional, inicia-se o processo de marginalização social. Os senhores feudais
expulsam de suas terras a população excedente. Tal população se desloca, em sua maioria, para antigos
centros urbanos, passando a viver do comércio, criando mercados latentes, verdadeiros polos comerciais.
Outros, passam a viver do saque.
Note-se que o crescimento demográfico iniciado no século X exigia melhores colheitas, estimulando o
aperfeiçoamento e/ou a criação de novas técnicas. É nesse período que surge, por exemplo, o arado.
Contudo, o desenvolvimento tecnológico se esbarrava na falta de motivação do servo, uma vez que, para
ele, não haveria benefícios. Para o servo, o desenvolvimento técnico lhe traria mais trabalho, na medida
em que ele se via obrigado a pagar tributos ao senhor feudal. Desse modo, o crescimento demográfico
não é acompanhado por um aumento na oferta. Os senhores feudais buscam pela expansão territorial.
Reiniciam-se as guerras de conquista, utilizando-se do excedente populacional como “soldado” e
posterior ocupante do território conquistado. É nesse contexto que se inseriram a a participação de muitos
cavaleiros (nobres) na Guerra de Reconquista, contra os árabes na península ibérica. Também nesse
contexto estão as Cruzadas, iniciadas no século XI, se estendendo até o século XIII, sob liderança da
Igreja Católica.

CRISE DO SÉCULO XIV

Habitualmente se concorda em que, durante a maior parte do século XIV e pelo menos na primeira
metade do século XV, a Europa Ocidental atravessou uma "crise" econômica de excepcional gravidade.
Em compensação, não há nenhum acordo quanto às causas e às modalidades dessa contração 24. Na
França, acusam-se, antes de mais nada, as devastações da guerra, a que se atribui o afrouxamento da
produção e das trocas; ora, exceção feita de algumas regiões — o Bordelais, onde, como mostrou

23 https://portaldoestudante.wordpress.com/2011/07/08/baixa-idade-media-crescimento-demografico/
24 http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/35777/38493.

111
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Boutruche, a guerra assolou de maneira quase endêmica desde 1294, a Bretanha, teatro de prolongadas
hostilidades a partir de 1341 — pouco sofreu o reino desde o início da Guerra dos Cem Anos, sendo que
o campo só começou a sofrer as depredações profundas dos guerreiros após 1356, num momento em
que a economia conhecia há muito tempo graves dificuldades. De seu lado, os historiadores ingleses
atribuíam excepcional importância à Peste Negra de 1348-1349, que a seus olhos constituía o ponto de
partida da evolução econômica dos últimos séculos da Idade Média; sabe-se hoje, todavia, que a maioria
das dificuldades que há pouco se atribuíam a essa punção demográfica lhe são muito anteriores. Mais
recentemente, Calmette e Déprez atribuem todo o mal às mudanças monetárias, que teriam
desencadeado um mecanismo bastante simplista de desordenada alta de preços, de contração das
trocas, de perturbação material seguida de crise moral. E' por isso que fazem começar a "crise" na França
com as primeiras manipulações de Filipe-o-Belo (1296) e não a revelam na Inglaterra senão em 1351,
pois ignoram as desvalorizações anteriores de 1304 e de 1344-1346. Pensamos que tomaram o efeito
pela causa e que, de resto, nem todas as manipulações monetárias têm a mesma significação econômica.
Enfim, Pirenne e seu discípulo Henri Laurent, cujo horizonte estava limitado aos Países-Baixos, assinalam
o início das dificuldades na passagem do XIII para o XIV século, com a dupla decadência da manufatura
de tecidos flamenga e das feiras de Champagne. Divergências. Não se originam do fato de que a palavra
"crise" tem sido empregada para designar, indiferentemente, dois fenômenos que, entretanto, são
distintos? Ora se trata de bruscas depressões, limitadas no tempo, e que são as únicas que merecem
nome de "crises" — ora de um movimento de declínio durável prolongado da economia. Cremos que o
século XIV conheceu os dois fenômenos. Uma série de crises próximas uma das outras — crise
frumentária de 1315-1320, crise financeira e mone-tária de 1335-1345, crise demográfica de 1348-1350
— exerceu. Ação paralisadora sobre a economia e manteve-a, por um século, em estado de duradoura
contração.
A conjuntura favorável que se prolongou pelas primeiras décadas do século XIV merece, antes de
tudo, ser caracterizada com precisão. Por muito tempo fora sustentada por um contínuo acréscimo da
população, o qual permitira, ao mesmo tempo, os grandes desbravamentos — quase concluídos na
França, mas que ainda prosseguiram no início do século XIV na Inglaterra setentrional, a colonização dos
países novos, as aventuras coloniais das Cruzadas, o nascimento e o crescimento das cidades. Esse
impulso demográfico estimulava uma produção incessantemente aumentada para alimentar e vestir essa
massa humana cada vez mais numerosa; inversamente, fornecia à produção mão de obra abundante e
relativamente pouco custosa — pois não havia falta de braços. Mesmo se, ficando-se nos limites de
prudente verossimilhança, não atribuímos à França de 1300 mais de dez ou onze milhões de almas, e à
Inglaterra pouco mais de 3.500.000, fazemos ressaltar enorme densidade, considerando-se que a técnica
agrária e artesanal era ainda primitiva. Amplamente ultrapassado o ponto optimum, havia em muitas
regiões saturação de população. E' impossível acompanhar os desbravamentos, que não mais se faziam
a não ser em solos pobres, em terras marginais de pouco rendimento; e aliás o desflorestamento atingira
os limites além dos quais a pastagem do gado, o fornecimento da madeira de aquecimento e de
construção corriam o risco de periclitar.
O melhoramento da técnica agrária, por falta de instrumentos aratórios e de adubos, permanecia
limitado. Aqui e ali (centro da Inglaterra), passava-se do arroteamento bienal à rotação trienal; alhures
(Inglaterra, Flandres), aumentava-se a proporção da cultura das leguminosas, que esgotavam menos o
solo: não eram senão paliativos. A divisão em pedaços das dependências dos feudos acentuava-se
perigosamente: em Weedon Beck (Northants), passara-se, entre 1248 e 1300, sem novos
desbravamentos, de 81 a 110 rendeiros; a proporção dos pequenos rendeiros, com lotes insuficientes
para a subsistência de uma família, subira de 39 a 73% da comunidade total. Enfim, como a engrenagem
comercial não permitia a importação em massa de cereais dos países novos para as regiões
superpovoadas, — principalmente o trigo do Báltico, com o qual comerciam os hanseáticos, — essa
população fica à mercê de permanente sub-alimentação e de fomes prolongadas. Assim, a conjuntura
favorável traz consigo mesma os germes de uma crise, limitando' ao extremo a margem de subsistência
das massas rurais e artesanais. Enquanto isso, gozava-se, havia muito tempo, de notável estabilidade
monetária.
As agitações de Filipe-o-Belo e de seus filhos perturbaram-na apenas temporariamente, porquanto
com frequência se voltava, em seguida, à "boa" moeda do tempo de São Luiz. A evicção progressiva da
fraca moeda senhorial ou eclesiástica em proveito da moeda real de bom quilate, o frequente recolhimento
das moedas de ouro e prata, destinado a evitar-lhe a deterioração e o desgaste, a cunhagem da moeda
sã, cujo valor unitário não varia, favorecem a expansão e a regularidade das trocas. A coisa é tanto mais
notável que, tanto na Inglaterra como na França, vive-se sob o regime do monometalismo de prata. E'
verdade que em 1247 houve a cunhagem, rara e não continuada, dos pennies de ouro de Henrique III,
imitando o escudo de ouro, igualmente raro, de São Luiz, e depois o pequeno real do início do reinado de

112
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Filipe IV; - a cunhagem, mais abundante, após 1295, da massa de ouro, enfraquecida, aliás, a 21 quilates,
também foi seguida de interrupção bastante longa. Praticamente, as únicas espécies que circulam
abundantemente são as moedas italianas, que têm por modelo o florim de Florença. Nesse regime de
moeda estável efetua-se uma elevação dos preços lenta mas contínua, fator poderoso de expansão em
uma economia de lucro.
Os únicos lesados são os rendeiros, isto é, os senhores de bens de raiz cujos lucros fixos perdem o
seu poder aquisitivo — e ainda, muito fracamente, a maior parte dos pagamentos de rendas que se fazem
em bens naturais. Inversamente, o produtor vê aumentar de volume sua margem beneficiária, já que os
salários e os produtos artesanais estão sempre em atraso em relação à alta dos preços na produção. Na
Normândia, de 1180 a 1260, os preços agrícolas e o aluguel da terra aumentaram de 50%; ao passo que
na Inglaterra, de 1250 a 1300, a elevação dos salários limita-se a 15%. Lucros aumentados, isto é, criação
contínua de capital novo que pode ser reempregado, pelo menos parcialmente, em novos negócios. A
exploração dos solares do priorado-catedral de Cantuária, entre 1285 e 1318, produz um lucro líquido
global de £ 22.446. Uma vez amortizadas as antigas dívidas (20,6%), reguladas as despesas de luxo
como o embelezamento da catedral (9,3%) e pagos os pesados encargos da fiscalização real e papal
(46,4%), restam ainda, 23,7% dessa quantia para investimentos de capital, compras de terras, trabalhos
de secamento e de drenagem, melhoramento das construções de exploração. Disso resulta que o lucro
bruto, em outros termos, o volume dos negócios, aumenta de 25% em cerca de trinta anos.
Também resulta que, Com um estoque de metais preciosos e um número de cunhos monetários
estreitamente limitados, ainda não se sente, por volta do ano de 1300, a fome monetária que causará
devastações pouco mais tarde. E' que a velocidade de circulação das espécies é mais importante que o
seu número global. Não há dúvida de que elas não circulam rapidamente. Apenas a ourivesaria
representa uma imobilização temporária, porém do metal precioso, pois ela é frequentemente empenhada
para se liquidarem créditos, por um processo dispendioso, aliás. Basta apenas lembrarmos as várias
formas de crédito geradoras de capital: hipoteca de bens de raiz, empréstimos sob penhor ou sob cauções
(que sempre comportam um juro disfarçado, mas que têm o defeito de serem feitos a curto prazo), rendas
imobiliárias perpétuas ou temporárias, em uma ou mais vidas, empréstimos disfarçados, constituídos,
para os produtores ingleses de lã, pela compra antecipada e a dinheiro de sua produção por vários anos.
Ao lado das moedas de 'metal circulam a moeda fiduciária, representada pelas letras de obrigação, as
apólices dos tesouros públicos, frequentemente negociadas com grande desconto; moeda escritural
aumentada pelas letras de câmbio e pelas contas correntes das firmas italianas; e, finalmente, moeda-
matéria, criada pelas operações de compensação entre os negociantes, nas feiras e nos principais centros
comerciais. Assim, com mínimos empregos de capital, podem levar-se avante negócios muito
importantes, em geral lucrativos, por vezes especulativos, justamente na medida em que as reservas são
insuficientes para se enfrentar dificuldades imprevistas.

EXPANSÃO DO ISLÃ

Na Idade Média, os árabes formaram um vasto Império que passou a rivalizar com o Império Bizantino
(ou Império Romano do Oriente) e o Império Persa. A rápida expansão dos árabes, que constituiu um dos
principais aspectos da História Medieval, resultou da unificação política e religiosa da Arábia, efetuada
por Maomé, que lançou as bases da fundação do primeiro Estado nacional árabe.

Península Arábica
A Península Arábica é uma região desértica em sua maior parte. Fica localizada entre o Mar Vermelho
e o Golfo Pérsico. Apesar do aspecto árido da região, os diversos oásis propiciaram o surgimento de
postos caravaneiros, além de algumas cidades situadas na proximidade da costa e dos portos.
A condição geográfica da região não despertou o interesse dos grandes impérios da antiguidade, como
o romano.

Religião na Península Arábica


A palavra islamita quer dizer "submisso a Deus" e muçulmano significa "crente. Os árabes acreditavam
em espíritos (djinns), representados por árvores e pedras, e em uma infinidade de divindades
subordinadas a um ser superior - Alá (Deus, a divindade). O único fator de unidade religiosa era o
santuário existente na cidade de Meca, a Caaba, em cujo interior era guardada uma Pedra Negra,
reverenciada por todos os árabes que para lá se dirigiam em peregrinação. Ali estavam também
representados os ídolos das diversas tribos da Arábia, que todos os anos eram visitados pelos peregrinos
que aproveitavam para realizar suas práticas comerciais.

113
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Com o tempo, Meca ganhou importância e tornou-se um grande centro comercial e parada obrigatória
de caravanas e viajantes. Aos habitantes de Meca interessavam, sobretudo, as romarias que se
realizavam ao final de cada ano, pois dinamizavam as trocas e enriqueciam a cidade. Sua única grande
rival era Yatreb, velha cidade situada em um oásis, 350 quilômetros ao norte de Meca. Desse afluxo de
beduínos viviam os grandes comerciantes pertencentes à tribo dos coraixitas, que controlavam o
santuário da cidade e o poder político local.

Maomé
Maomé era filho de uma família pobre (haxemitas), porém, pertencia à tribo dos coraixitas. Dedicou-
se ao trabalho em caravanas, o que lhe permitiu viajar por toda a Península Arábica e além, conhecendo
outros povos do Oriente Médio. Em suas viagens também entrou em contato com o cristianismo e o
judaísmo. Após anos de trabalho nas caravanas, Maomé casou-se com uma rica viúva, Kadidja.
Após o casamento, Maomé entregou-se aos retiros espirituais e meditações, sem abandonar por
completo a atividade profissional. Segundo ele, teve sucessivas visões do arcanjo Gabriel. O Arcanjo teria
confiado a missão de propagar uma nova religião, cuja essência se consubstanciava na seguinte frase:
"Maomé, tu és o Profeta do Deus único, Alá." Maomé converteu primeiramente seus familiares e, em
seguida, tentou convencer os coraixitas, porém, não conseguindo, teve de fugir de Meca para Yatreb, que
desde então passou a ser chamada Medina en Nabi, que significa “a Cidade que recebeu o Profeta”.
A fuga de Maomé com seus vários familiares, ficou conhecida como Hégira, que marca o início do
calendário muçulmano. Apoiando-se nos habitantes de Medina. Maomé deu início à Guerra Santa contra
Meca, atacando suas caravanas. O prestigio de Maomé cresceu com suas vitórias e, com o apelo dos
beduínos, marchou contra Meca, destruindo os ídolos da Caaba, declarando sagrado o recinto do
santuário e implantando definitivamente o monoteísmo. Nesse ano de 630, nasceu o Islã.
Maomé passou os últimos anos de sua vida convertendo os demais árabes pela força das armas.
Maomé morreu em 632 d.C., na cidade de Medina, onde construiu a primeira mesquita do Islã, deixando
elaborada a doutrina islâmica, que transmitiu a seus seguidores. As transcrições de seus ensinamentos
consubstanciaram-se mais tarde no livro sagrado, o Corão ou Alcorão. A doutrina islâmica é um
sincretismo fundamentado no cristianismo e no judaísmo, bem como nas tradições religiosas da própria
Arábia. Prega a crença em um único Deus, nos anjos, no paraíso celestial e no Juízo Final. Impõe aos
fiéis como princípios essenciais do dogma: peregrinar à Meca, pelo menos uma vez na vida; dar esmolas;
jejuar no mês do Ramadã; orar e pronunciar a profissão de fé cinco vezes ao dia, voltados em direção a
Meca; fazer a Guerra Santa (jihad), que representava uma obrigação ocasional. As tradições sobre a vida
de Maomé foram reunidas por seus seguidores em outro livro, chamado Suna (Tradição), utilizado sempre
que se tratava de achar argumentos para impor uma decisão ou definir uma norma de governo para a
qual o Corão não fornecesse elementos.

Jihad
É um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho. É muitas vezes considerado um dos
pilares da fé islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão a
Deus.
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos muçulmanos de disseminar a fé muçulmana. É
também utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual.
Ao contrário do que muitas vezes é dito, jihad não significa uma guerra santa, implica mais uma luta
interna com o objetivo de melhorar o próprio indivíduo ou o mundo à sua volta.
Grupos extremistas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico apropriaram-se do termo como justificativa
para as ações contra os considerados “infiéis” (normalmente países ocidentais, como Europa e Estados
Unidos)
A unidade do mundo muçulmano foi quebrada após a morte de Maomé, com o surgimento de vários
movimentos, entre os quais se destacam os sunitas e os xiitas. A divergência inicial entre os dois grupos
reside na questão do direito de sucessão ao governo do Islã. Segundo o Corão, somente os parentes de
Maomé poderiam substitui-lo no comando da fé. Mas na Suna não havia a mesma afirmação sobre a
questão. Assim, os xiitas constituíram o grupo fundamentalista que aceita apenas as regras estabelecidas
pelo Corão, ou seja, que apenas os descendentes de Maomé possuem o direito de governo, enquanto os
sunitas abraçaram a Suna e iniciaram um processo de disputa sucessória com os xiitas.

Expansão Muçulmana (Séculos VII-XI)


Quando Maomé morreu, deixou Arábia unificada, com sua capital em Meca e sob a preponderância
política dos haxemitas. A morte de Maomé não provocou a dissolução do Estado árabe:

114
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Primeiro, porque os adeptos do islamismo, em sua maioria, eram crentes apegados à fé e à
propagação dos ideais religiosos;
- Segundo, porque surgiram de imediato dois homens, Abu Bekr e Omar - os dois primeiros califas -
que souberam assumir a sucessão e a herança de Maomé, exercendo autoridade civil, militar e religiosa.
Um ano após a morte de Maomé, Abu Bekr conseguiu eliminar os focos de resistência locais e consolidar
a unificação da península. A expansão islâmica, iniciada imediatamente após a morte de Maomé, foi
estimulada por diversos fatores:
- Econômico - interesse pelo saque contra os vencidos ("butim");
- Social - alta densidade demográfica, provocada pelo crescimento da população e pela grande
capacidade de miscigenação dos árabes;
- Político - unificação política alcançada pela unidade religiosa;
- Religioso - obediência ao preceito de Guerra Santa contra os infiéis;
- Psicológico -atração exercida pelo paraíso muçulmano, que prodigalizava recompensas materiais.

Consideram-se ainda elementos propulsores da expansão árabe, facilitando suas conquistas, a


fraqueza dos Impérios Bizantino e Persa e a instabilidade política dos reinos germânicos do Ocidente.
Omar foi o principal califa da Dinastia Haxemita. Conquistou a Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
A substituição dos califas haxemitas pelos omíadas, em 660, levou a duas mudanças: a capital foi
transferida para Damasco, na Síria, e as conquistas voltaram-se para o Ocidente. Avançando de forma
fulminante, os maometanos conquistaram a África do Norte, a Península Ibérica e até o sul da Gália, onde
foram detidos pelos francos, liderados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers; as ilhas de Córsega,
Sardenha e Sicília também caíram sob dominação muçulmana Os árabes passavam a deter o controle
sobre o Mar Mediterrâneo. Em 750, em Damasco, um golpe político afastou os omíadas do poder. Nesse
momento, ascendia a Dinastia Abássida, formada por parentes de Maomé, instalando a capital em Bagdá.
O Islamismo, é a religião que mais cresce atualmente no mundo, mais de 1/4 da população Mundial é
Muçulmana, segundo o último censo Mundial realizado pela ONU.
Considera-se países muçulmanos aqueles em que os muçulmanos representem mais de 50% da
população e a maioria deles são membros da Organização do Congresso Islâmico, que foi fundado em
1969, com sede em Jedah na Arábia Saudita. Os presidentes e os reis destes países se reúnem a cada
3 anos.
Os países muçulmanos que não são membros do Congresso Islâmico são: Costa do Marfim, Albânia,
Etiópia, República Centro Africana, Tanzânia e Togo.

Questões

01. (FGV) "A palavra 'servo' vem de 'servus' (latim), que significa 'escravo'. No período medieval, esse
termo adquiriu um novo sentido, passando a designar a categoria social dos homens não livres, ou seja,
dependentes de um senhor. (...) A condição servil era marcada por um conjunto de direitos senhoriais ou,
do ponto de vista dos servos, de obrigações servis". (Luiz Koshiba, "História: origens, estruturas e
processos")

Assinale a alternativa que caracterize corretamente uma dessas obrigações servis:


(A) Dízimo era um imposto pago por todos os servos para o senhor feudal custear as despesas de
proteção do feudo.
(B) Talha era a cobrança pelo uso da terra e dos equipamentos do feudo e não podia ser paga com
mercadorias e sim com moeda.
(C) Mão morta era um tributo anual e per capita, que recaía apenas sobre o baixo clero, os vilões e os
cavaleiros.
(D) Corveia foi um tributo aplicado apenas no período decadente do feudalismo e que recaía sobre os
servos mais velhos.
(E) Banalidades eram o pagamento de taxas pelo uso das instalações pertencentes ao senhor feudal,
como o moinho e o forno.

02. (FATEC-SP) Uma das características a ser reconhecida no feudalismo europeu é:


(A) A sociedade feudal era semelhante ao sistema de castas.
(B) Os ideais de honra e fidelidade vieram das instituições dos hunos.
(C) Vilões e servos estavam presos a várias obrigações, entre elas o pagamento anual de capitação,
talha e banalidades.
(D) A economia do feudo era dinâmica, estando voltada para o comércio dos feudos vizinhos.

115
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(E) As relações de produção eram escravocratas.

03. (FUVEST) Politicamente, o feudalismo se caracterizava pela:


(A) atribuição apenas do Poder Executivo aos senhores de terras;
(B) relação direta entre posse dos feudos e soberania, fragmentando-se o poder central;
(C) relação entre a vassalagem e suserania entre mercadores e senhores feudais;
(D) absoluta descentralização administrativa, com subordinação dos bispos aos senhores feudais;
(E) existência de uma legislação específica a reger a vida de cada feudo.

04. (UNIP) O feudalismo:


(A) deve ser definido como um regime político centralizado;
(B) foi um sistema caracterizado pelo trabalho servil;
(C) surgiu como consequência da crise do modo de produção asiático;
(D) entrou em crise após o surgimento do comércio;
(E) apresentava uma considerável mobilidade social.

05. (PUC) A característica marcante do feudalismo, sob o ponto de vista político, foi o enfraquecimento
do Estado enquanto instituição, porque:

(A) a inexistência de um governo central forte contribuiu para a decadência e o empobrecimento da


nobreza;
(B) a prática do enfeudamento acabou por ampliar os feudos, enfraquecendo o poder político dos
senhores;
(C) a soberania estava vinculada a laços de ordem pessoal, tais como a fidelidade e a lealdade ao
suserano;
(D) a proteção pessoal dada pelo senhor feudal a seus súditos onerava-lhe as rendas;
(E) a competência política para centralizar o poder, reservada ao rei, advinha da origem divina da
monarquia.

Gabarito

01.E / 02.C / 03.B / 04.B / 05C

Comentários

01. Resposta: E
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

02. Resposta: C
Apesar de não serem escravos, os servos estavam presos à terra do senhor feudal, através de diversas
obrigações e impostos que deveriam ser pagos para usufruir da terra e das benfeitorias do feudo.

03. Resposta: B
O feudalismo marcou a descentralização do poder, com cada feudo funcionando como uma unidade
autônoma, onde o senhor feudal, dono da terra, era o soberano.

04. Resposta: B
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.

116
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
05. Resposta: C
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.

Sociedades africanas subsaarianas: os reinos Iorubás; Daomeanos; de Gana; do


Mali, do Congo e do Monomotapa;

*Candidato(a). Tópico já trabalhado.

Consolidação do Estado Nacional Moderno europeu; administração colonial


portuguesa, espanhola e inglesa na América;

O Estado moderno e o Absolutismo monárquico25

No final da Idade Média o feudalismo entrou em uma profunda crise. A guerra, a fome e a peste
desestruturaram a sociedade e a economia.
Nesse contexto, a burguesia, interessada no desenvolvimento do comércio (eliminação dos entraves
feudais, unificação da moeda e do sistema de pesos e medidas), apoiou o processo de centralização
monárquica financiando os exércitos nacionais.
No rastro das guerras surgiram Estados fortes nos quais surgiram soberanos absolutistas. Os
principais Estados Nacionais modernos foram França, Inglaterra, Portugal e Espanha.

Características do Estado Moderno


Centralização administrativa: o rei passou a controlar todas as decisões importantes do Estado.
Soberania: o rei é soberano nas atitudes relativas ao Estado que governa, substituindo o conceito
feudal de suserania.
Burocracia: o rei era auxiliado na administração do Estado por um amplo funcionalismo.
Exército nacional: veio substituir a cavalaria feudal para impor as vontades do rei e garantir a
integridade do território do Estado, assim como fazer guerras contra Estados vizinhos ou senhores
insubordinados.
Delimitação fronteiriça: o rei precisava saber até onde poderia exercer o seu poder.
Tributação: somente o Estado poderia cobrar impostos da população.
Exercício da violência: o Estado tomou para si o direito de fazer justiça, reprimindo as formas
tradicionais e pessoais de justiçamento (“fazer justiça com as próprias mãos”).
Uniformização do sistema de pesos e medidas: visava facilitar as trocas comerciais, favorecendo o
desenvolvimento econômico estatal.
Uniformização linguística: a língua nacional era necessária para que as pessoas se sentissem parte
de um todo coeso.

Teóricos do Absolutismo

Nicolau Maquiavel (1469-1527): Sua obra mais conhecida “O Príncipe”, foi escrita para a educação
de um futuro soberano. Nela argumentou que “os fins justificam os meios”; esse novo princípio ético
separou a condição de moral individual da condição de moral pública. Esse posicionamento lhe deu o
título de pai da ciência política moderna. Maquiavel foi conselheiro de muitos governantes poderosos de
seu tempo.
Thomas Hobbes (1588-1679): Tem fundamental importância no pensamento político contemporâneo.
Seu livro “Leviatã”, é um elogio ao absolutismo, onde o autor destaca o papel do Estado absoluto no
aprimoramento social, pois sem Estado “o homem é o lobo do homem”, eternamente dilacerando-se
em contendas sangrentas. Ao Estado Leviatã coube a tarefa de impor regras de conduta civilizadas aos
súditos, mesmo que para isso tenha de usar de violência (exército ou polícia).
25http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:7GmysO_qwr0J:www.santadoroteia-rs.com.br/wp-
content/uploads/2011/05/prof_vander_aula_absolutismo_mercantilismo.doc+&cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br.

117
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Jean Bodin (1530-1596): Este autor defendeu a tese da autoridade divina do rei na obra “A
República”. Assim, o poder real deveria ser total tanto sobre o Estado como sobre os súditos.
Jacques Bossuet (1627-1704): pregava que o Estado deveria se resumir a “um rei, uma lei, uma
fé”. Na obra “Política Segundo as Sagradas Escrituras”. Defendeu que o poder do rei (predestinado)
provém diretamente de Deus. Assim, somente Deus tem o direito de julgar os atos reais.
Hugo Grotius (1583-1645): é considerado o “pai do direito internacional”, pois articulou seu
pensamento em torno dos problemas envolvendo as relações entre os Estados absolutistas.

O Absolutismo Inglês
A Inglaterra foi derrotada na Guerra dos Cem Anos em 1453. Essa derrota alimentou as disputas
internas e apenas dois anos depois os principais representantes da nobreza inglesas iniciaram a Guerra
das Duas Rosas (1455-1485), entre as família aristocrática de York, cujo brasão trazia uma rosa branca
e a família nobre de Lancaster que tinha por símbolo heráldico uma rosa vermelha.
A longa e sangrenta guerra chegou a seu termo em 1485 e deixou como saldo um feudalismo
enfraquecido na Inglaterra. Esse fato desencadeou a centralização monárquica pelas mãos da dinastia
Tudor iniciada por Henrique VII (1485-1509).
Os governantes Tudor implementaram o absolutismo. Pacificaram a Inglaterra, o comércio da lã teve
um grande desenvolvimento e a indústria naval floresceu.
Henrique VIII governou a Inglaterra de 1509 a 1547, e teve um importante papel na consolidação do
absolutismo inglês. A partir de 1527 envolveu-se num grande litígio em torno do divórcio com sua primeira
esposa, a espanhola Catarina de Aragão.
A recusa do Papa em desfazer o casamento real foi o estopim do rompimento inglês com Roma pelo
Ato de Supremacia, em 1534.
Henrique VIII tornou-se a cabeça da Igreja anglicana e casou-se com a cortesã Ana Bolena, mãe de
Elizabeth.
Em 1547, o único filho de Henrique VIII, Eduardo VI tornou-se rei aos 10 anos para morrer aos 15 sem
governar. Em 1553 ascendeu ao trono a ultra-católica Maria Tudor que declarou guerra aos protestantes
e passou para a história como “a sanguinária”.
Elizabeth I governou no auge do absolutismo inglês entre 1558 e 1603. Incentivou a construção naval,
criou a Companhia das Índias Orientais e apoiou a pirataria. Interferiu na religião consolidando o
anglicanismo pela lei dos 39 pontos de 1563. Derrotou a invencível armada da Espanha em 1588. O
teatro floresceu com as peças de William Shakespeare.
Elizabeth I foi a última governante Tudor. Durante seu reinado a Inglaterra tornou-se a maior potência
mercantilista europeia. Foi sucedida por Jaime I, fundador da dinastia Stuart.

O Absolutismo Francês
O feudalismo francês sofreu um golpe de misericórdia com a Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
Esse fato favoreceu a centralização do poder na França, mas o absolutismo teve de esperar o fim das
guerras religiosas entre católicos e protestantes (huguenotes) que dividiram e abalaram profundamente
a França no século XVI.
A pacificação religiosa começou com a ascensão de um huguenote (calvinista) ao trono em 1594. O
novo rei era Henrique de Navarra que havia destronado a rei católico Henrique III.
Os católicos franceses opuseram-se violentamente a ter um protestante no governo. Diante de tal
resistência o novo rei converteu-se ao catolicismo (“Paris bem vale uma missa”). Henrique de Navarra
subiu ao trono como Henrique IV no ano de 1594.
O novo rei iniciou a dinastia Bourbon que levou a França a ser o país mais absolutista da Europa.
Em 1598, Henrique IV assinou o Édito de Nantes, pelo qual concedeu direito de livre culto aos
protestantes pondo fim às contendas religiosas na França.
Henrique IV foi morto por um católico inconformado em 1610. Seu filho e sucessor, Luís XIII (1610-
1643), contava apenas 9 anos e a regência ficou a cargo de Maria de Médicis.
Em 1624, Luís XIII convocou o Cardeal Richelieu como seu primeiro ministro. Esse empenhou-se em
impor controle aos protestantes, transformar a França numa potência mercantilista e a consolidar o poder
absoluto preparando o caminho para Luís XIV.
Luís XIV (1643-1715) entrou para a história como o “Rei Sol”, em seu extenso reinado, levou a França
ao apogeu do absolutismo.
Em 1685, revogou o Édito de Nantes, pois temia que os huguenotes se tronassem “um Estado dentro
do Estado”. Calcula-se que perto de 500.000 ricos burgueses huguenotes tenham deixado a França
provocando grandes problemas econômicos.

118
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em seus delírios de grandeza o rei sol dilapidou as finanças públicas em guerras e na construção do
Palácio de Versalhes, no qual viviam milhares de nobres ociosos parasitando os cofres públicos.
O brilho fulgurante da corte em Versalhes contrastava com a acelerada deterioração econômica do
país. Os impostos abusivos pesavam sobre o povo e as insatisfações contra o governo aumentavam sem
parar, nesse momento podemos já reconhecer os fundamentos do pensamento iluminista e da Revolução
Francesa.
Luís XV (1715-1774), herdou uma França em grave crise financeira. Não obstante continuou a política
belicista do pai travando entre 1756 e 1763 a guerra dos sete anos com a Inglaterra.
O último representante da dinastia Bourbon foi Luís XVI (1774-1792), que herdou do pai uma França
completamente falida com um povo que se agitava por mudanças drásticas. A Revolução Francesa de
1789 significou o fim do absolutismo na França e a execução do rei na guilhotina em 1793.

Formação da Monarquia Nacional Espanhola 26


A formação da Monarquia Nacional Espanhola ocorreu com o processo das guerras de reconquista de
territórios perdidos para os muçulmanos durante a Idade Média.
A formação dos Estados Nacionais Europeus está entre os acontecimentos mais importantes da
passagem da Idade Média para a Idade Moderna. O fortalecimento político da Europa a partir dos séculos
XIV e XV e a consequente ascensão do Absolutismo como modelo político ocorreram por meio de
guerras, divergências religiosas, acordos aristocráticos e casamentos entre dinastias. Ao lado
da Monarquia Nacional Inglesa e da Francesa, a formação da Monarquia Nacional
Espanhola determinou o que ficou conhecido como Europa.
Durante o século VIII d.C., a Península Ibérica (onde estão localizados os atuais países de Portugal e
Espanha) passou a sofrer com a ocupação islâmica, que perdurou até o século XIV, época em que os
últimos muçulmanos foram expulsos pelos cristãos. Foi nessa atmosfera que se formou
a Monarquia Nacional Espanhola.
A maior organização política islâmica na Península Ibérica foi o Califado de Córdoba, que chegou a
criar grandes polos comerciais, milhares de mesquitas, hospitais, entre outras atividades sofisticadas se
comparadas com o passado medieval da Península. Com a instituição desse califado e, posteriormente,
com a ascensão do Império Almorávida, os cristãos refugiaram-se no extremo norte da Península, de
onde se organizaram para combater os árabes.
O processo de expulsão dos árabes iniciou-se no século XI, quando houve também a formação e
consolidação da monarquia astur-leonesa. Foi nesse século também que se iniciaram as Cruzadas e as
tentativas de quebra da hegemonia islâmica sobre o mar Mediterrâneo. No século XII, destacaram-se as
efetivas Guerras de Reconquista. Os cristãos foram avançando e conseguindo ocupar as regiões de
Meseta Central e de Al-Andaluz, culminando na expulsão dos mouros de Andaluzia.
Foi nesse processo também que se formou Portugal a partir do Condado Portucalense, administrado
por Henrique de Borgonha, conhecido como Afonso Henrique. Na medida em que os espanhóis
ganharam terreno com suas conquistas, passaram a desenvolver reinos e vice-reinos. Os quatro
principais reinos eram o de Castela, de Aragão, de Navarra e de Leão. Os reinos de Castela, Leão e
Aragão unificaram-se com o casamento de Fernando (de Aragão) e Isabel (de Castela e Leão). Dessa
união, resultou a formação da Monarquia Espanhola, que no ano de 1492 expulsou o último reduto
islâmico do sul da Península Ibérica. Havia uma justificativa que os espanhóis usavam para legitimar as
guerras de reconquista, que foi sintetizada pelo pesquisador Carlos Roberto Nogueira:
“A ideia que a Espanha formava uma real unidade, unidade conquistada pelos godos e sancionada
pela ordo eclesiástica, com o prestígio especial dos vários Concílios de Toledo, portanto, uma legítima
unidade que foi usurpada pelo muçulmano invasor, vai se lentamente elaborada e testada até constituir,
no final do século XII, uma realidade incontestável, que garantia aos cristãos, em especial aos
castelhanos, o direito sagrado e historicamente legítimo de possuir e usufruir da Península e no limite,
dela expulsar estrangeiros e infiéis.” (NOGUEIRA, Carlos Roberto F. A Reconquista Ibérica: A construção
de uma ideologia. HID 28 [2001]).
O fato é que essa unificação transformou a Espanha no maior império ultramarino da época
do Mercantilismo, sobretudo quando esteve sob o reinado de Felipe I

26CLÁUDIO FERNANDES. Formação da Monarquia Nacional Espanhola. Mundo Educação. http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/formacao-monarquia-


nacional-espanhola.htm

119
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Formação da Monarquia Nacional Portuguesa27
A instalação das monarquias espanhola e portuguesa é usualmente compreendida a partir das guerras
que tentaram expulsar os muçulmanos da Península Ibérica. Desde o século VIII os árabes haviam
dominado boa parte do território ibérico em função da expansão muçulmana ocorrida no final da Alta
Idade Média. A partir do século XI, no contexto das Cruzadas, os reinos cristãos que dominavam a região
norte formaram exércitos com o objetivo de reconquistar as terras dos chamados “infiéis”.
Os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão juntaram forças para uma longa guerra que chegou ao
fim somente no século XV. Nesse processo, os reinos participantes desta guerra buscaram o auxílio do
nobre francês Henrique de Borgonha que, em troca, recebeu terras do chamado condado Portucalense
e casou-se com Dona Teresa, filha ilegítima do rei de Leão. Após a morte de Henrique de Borgonha, seu
filho, Afonso Henriques, lutou pela autonomia política do condado.
A partir desse momento, a primeira dinastia monárquica se consolidou no Condado Portucalense
dando continuidade ao processo de expulsão dos muçulmanos. As terras conquistadas eram diretamente
controladas pela autoridade do rei, que não concedia a posse hereditária dos feudos cedidos aos
membros da nobreza. Paralelamente, a classe burguesa se consolidou pela importante posição
geográfica na circulação de mercadorias entre o Mar Mediterrâneo e o Mar do Norte.
No ano de 1383, o trono português ficou sem herdeiros com a morte do rei Henrique I. Nesse momento,
o reino de Castela tentou reivindicar o domínio das terras lusitanas apoiando o genro de Dom Fernando.
Sentindo-se ameaçada, a burguesia lusitana empreendeu uma resistência ao processo de anexação de
Portugal formando um exército próprio. Na batalha de Aljubarrota, os burgueses venceram os castelhanos
e, assim, conduziram Dom João, mestre de Avis, ao trono português.
Essa luta – conhecida como Revolução de Avis – marcou a ascensão de uma nova dinastia
comprometida com os interesses da burguesia lusitana. Com isso, o estado nacional português se
fortaleceu com o franco desenvolvimento das atividades mercantis e a cobrança sistemática de impostos.
Tal associação promoveu o pioneirismo português na expansão marítima que se deflagrou ao longo do
século XV.

O Mercantilismo
O renascimento comercial da Baixa Idade Média favoreceu o desenvolvimento do capitalismo moderno
que ficou conhecido como Capitalismo Comercial ou Mercantil.
O mercantilismo significou a transição entre o modo de produção feudal e o modo de produção
capitalista.
A acumulação de capital provocada pelo mercantilismo na Europa favoreceu o desenvolvimento da
Revolução Industrial na Inglaterra a partir do século XVIII.

Características do Mercantilismo
Metalismo ou Bulionismo: o mercantilismo foi muito influenciado pela ideia metalista de acumulação
de capital, ou seja, o Estado seria tão mais rico quanto mais metais moedáveis (ouro e prata) dispusesse.
Tendo amplos recursos minerais em suas colônia da América (Peru, Colômbia e México), a Espanha
adotou o bulionismo com maior ênfase.
Balança Comercial Favorável: exportar muito e importar o mínimo necessário foi um estratagema
utilizado por vários Estados para acumular capital através do superávit na balança comercial.
Protecionismo: tributar as importações e incentivar a produção manufatureira interna foi a forma de
evitar evasão de divisas (metais) encontrada por Estados pobres em recursos minerais. O protecionismo
favoreceu o desenvolvimento de uma maior organização do trabalho manufatureiro, o que repercutiu na
Revolução Industrial.
Intervenção Estatal: o Estado centralizado encontrou na economia mercantilista a forma de alicerçar
e fortalecer o absolutismo monárquico e dar respostas à greve crise que se enunciou em todos os setores
da sociedade europeia em fins da Idade Média e início da Era Moderna.
Industrialismo ou Colbertismo: essa política foi implementada na França por Colbert, ministro de
Luís XIV. Baseava-se no incentivo à produção de artigos de luxo que a França poderia exportar facilmente
obtendo superávit comercial.
Colonialismo: A adoção simultânea de medidas protecionistas por vários Estados europeus
neutralizou grande parte das trocas comerciais na Europa. Assim, o colonialismo surgiu como forma de
dinamizar o comércio e obter imensos lucros na exploração colonial da América, África e Ásia.

27 SOUZA, RAINER. Formação da Monarquia Nacional Portuguesa. Brasil Escola. http://brasilescola.uol.com.br/historiag/formacao-monarquia-nacional-


portuguesa.htm

120
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Construção dos Estados Nacionais
A construção dos estados nacionais deu-se a partir de um longo processo ocorrido durante a Idade
Média.
A transição do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo confronto entre a ascendente Burguesia
capitalista e a decadente Nobreza feudal. A burguesia, interessada na ampliação de seus negócios e,
sobretudo, em assegurar para si condições estáveis para exercê-los, via a nobreza feudal cada vez mais
como um obstáculo.
Para a nobreza, o poder político fragmentado era vantajoso, pois permitia:
- A ação de nobres saqueadores, que tornavam incerto o comércio, e inseguras as rotas;
- A coexistência de leis e tribunais diversos, dificultando o estabelecimento e cumprimento de
contratos;
- A cobrança de tributos diversos encarecendo a prática do comércio;
- Diversidade monetária, pois cada cidade ou região cunhava sua própria moeda.

A nobreza via com desconfiança o crescimento das cidades, berço de um novo poder e polo de atração
para uma população servil cada vez menos disposta a cumprir as obrigações feudais.
O choque entre burguesia e nobreza foi resolvido com a intervenção dos monarcas, interessados em
submeter a nobreza feudal à um poder centralizado.
Como forma de assegurar seu domínio, os monarcas aproximaram-se da burguesia, cobrando um
imposto nacional. Com o dinheiro arrecadado através do imposto, o rei passava a dispor de recursos
para enfrentar e superar a nobreza, centralizando todo o poder político em suas mãos e fundando o
Estado Nacional e também o Exército Nacional.
Durante o processo de formação e centralização do poder, os monarcas europeus tiveram que superar,
além dos senhores feudais, com seus interesses diversos, as pretensões políticas do Papa, reivindicador
do poder espiritual universal sobre todo o ocidente.
Cada Estado Nacional teve suas particularidades durante sua formação, que serão apresentadas a
seguir.

França
O processo de centralização do poder teve início durante o século X, na dinastia capetíngia, sucessora
da dinastia carolíngia. Entre os principais monarcas que buscaram o poder centralizado, estavam:

Felipe Augusto (Felipe II – 1180-1223) – O rei aproximou-se da burguesia, iniciando a cobrança de


impostos e a criação de um exército nacional. Através da utilização de seu exército, Felipe combateu a
nobreza militar, obtendo vitórias significantes, como a tomada da região da Normandia. Criou cargos de
fiscais, conhecidos como bailios ou senescais, que percorriam a França, recolhendo impostos e fazendo
com que a justiça real sobrepujasse a justiça estabelecida localmente pelos senhores feudais. Também
criou as cartas de franquia para os burgos e manteve um controle firme sobre a nobreza

Luís IX (1226-1270) Responsável por fortalecer os tribunais reais e pela padronização monetária,
estabelecendo uma moeda única para a França. O rei também teve participação na sétima e na oitava
cruzada, onde morreu. Posteriormente foi canonizado pela igreja, recebendo o título de São Luís.

Felipe IV, o Belo (1285-1314) Felipe IV gerou atritos com a Igreja, após estabelecer para o clero o
pagamento de taxas. Por suas atitudes o rei foi ameaçado de excomunhão pelo papa Bonifácio VIII.
Buscando uma maneira de fortalecer seu poder, o rei criou a Assembleia dos Estados Gerais, que
reunia alguns representantes da sociedade francesa: clero, nobreza e trabalhadores (burguesia).
Apesar de possuir um caráter apenas consultivo, a assembleia servia como instrumento de legitimação
das ações do rei.
Após a morte de Bonifácio VIII, Felipe influenciou na nomeação do um novo papa, o francês Clemente
V. Além da indicação do papa, o rei transferiu a sede do papado para Avignon, no sul da França. Essa
transferência ficou conhecida como Cativeiro de Avingnon, e durou de 1307 a 1377. Em 1341 foi eleito
um novo papa, gerando a divisão da cristandade ocidental em dois papados, criando a Cisma do
Ocidente.

Inglaterra
A formação do Estado Nacional Inglês tem origem na dinastia Plantageneta, iniciada em 1154 com a
chegada de Henrique II ao trono. O sucessor de Henrique, Ricardo I Coração de Leão, que governou
entre 1189 e 1199, esteve envolvido com o movimento das Cruzadas, e não conseguiu estabelecer a

121
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
centralização do poder. Entre suas tentativas, o aumento constante de impostos deixou a população
insatisfeita.
João-sem-Terra, que governou entre 1199 e 1216, também não conseguiu atingir a centralização,
cercado por várias guerras que levaram ao aumento de impostos para financiamento do exército.
A necessidade cada vez maior de recursos levou o rei a confrontar o papa Inocêncio III. Enfraquecido
pela falta de apoio, o rei foi obrigado a assinar a Magna Carta, proposta tanta pela burguesia quanto pela
aristocracia. Essa medida submetia os reis da Inglaterra à autoridade de um Grande Conselho de
Nobres, principalmente no que dizia respeito à cobrança de impostos. O Parlamento inglês teve sua
origem no Grande Conselho.
Com a submissão do rei à um Conselho, a centralização do poder na Inglaterra tornava-se cada vez
mais distante, tendo sido concretizada após a Guerra das Duas Rosas, quando a dinastia Tudor chega
ao poder, já no final do século XV.

Sacro Império Romano Germânico


O Sacro Império Romano Germânico foi criado no século X, e correspondia aproximadamente aos
atuais territórios da Itália e Alemanha, mantendo uma estrutura política descentralizada e tipicamente
feudal.
Apesar da existência de um imperador, o Sacro Império era também residência do papa, e gerava
conflitos entre ambos. O ápice dos conflitos ocorreu durante o pontificado de Gregório VII (1073-1085),
através do episódio conhecido como Querela das Investiduras. Após esse episódio, os principados
alemães e das cidades do norte da Itália, que tornaram-se praticamente independentes. A unificação tanto
da Itália quanto da Alemanha só ocorreria de fato durante o século XIX.

A Península Ibérica
A Península Ibérica foi marcada pelas invasões árabes durante o século VII. Com a expansão do
islamismo na península, os grupos cristãos concentraram-se em quatro pequenos reinos: Leão, Castela,
Navarra e Aragão. A partir disso, iniciou-se durante o século XI a Guerra de Reconquista, que tinha por
objetivo expulsar os árabes da região e restabelecer o cristianismo.
A guerra de reconquista teve fim em 1492, quando a cidade de Granada foi dominada. Durante os
conflitos ao longo de mais de 300 anos, os quatro pequenos reinos foram se expandindo e também
acabaram por unir-se. O casamento dos “reis católicos”, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, em
1479, foi marco no nascimento da Espanha.
Já Portugal teve suas origens na doação de um feudo, feita pelo rei de Leão, Afonso VI, para o nobre
francês Henrique de Borgonha, que lutou na Reconquista. Em 1139, o Condado Portucalense adquiriu
autonomia, através da iniciativa de D. Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha com D. Teresa.
Dessa forma foi fundado o reino de Portugal e sua primeira dinastia, a de Borgonha.
Uma das práticas do feudalismo português foi a doação de terras em caráter não hereditário, feita pelo
rei aos nobres. Com a prática, o rei conseguia manter domínio sobre a nobreza, que dependia de sua
indicação para adquirir terras.
A Guerra dos Cem Anos contribuiu de maneira excepcional para a centralização do poder em
Portugal. Com os conflitos, as rotas continentais europeias passaram a cruzar parte do território
português, criando uma vasta atividade comercial.
Com um rei forte, uma nobreza controlada e um setor mercantil a pleno vapor, Portugal atingiu a
centralização política antes de seus vizinhos europeus, com a chegada de D. João de Avis ao trono, em
1385.

SISTEMA COLONIAL

Administração Colonial Espanhola28


Com a efetivação do projeto de dominação colonial espanhol, os novos conquistadores da América
iniciaram a implantação de um complexo sistema de controle sob as regiões dominadas. Valendo-se da
justificativa religiosa e do grande interesse comercial da Coroa, a Espanha apresentou hábitos,
instituições e homens que garantiram o funcionamento da lógica de exploração hispânica.
Inicialmente, as possessões espanholas foram divididas em quatro grandes Vice-reinados: Nova
Espanha (MEX), Nova Granada (COL/EC), Peru (PERU/BOL) e Rio da Prata (PAR/URU/ARG).
Paralelamente, houve a instalação de outras quatro capitanias-gerais: Cuba, Guatemala, Chile e

28 SOUZA, Rainer. Administração colonial espanhola. Mundo educação.http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-america/administracao-colonial-espanhola.htm

122
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Venezuela. Nomeados pela Coroa, os vice-reis e capitães-gerais contavam com uma série de órgãos que
legitimavam sua autoridade político-administrativa.
Na esfera regional, ainda existiam os cabildos (ou ayuntamientos), que funcionavam como câmaras
municipais incumbidas de resolver as questões de caráter local. Todos os cargos do alto escalão
administrativo da Coroa Espanhola eram dominados por um grupo específico. Somente os indivíduos
nascidos na Espanha, chamados chapetones, podiam ocupar estes cargos.
Logo em seguida, existia uma elite local que detinha o controle sobre as atividades comerciais e
agroexportadoras. Os criollos formavam uma elite nascida em solo americano que, por determinação da
administração colonial, não usufruíam dos mesmos privilégios políticos da classe chapetone. Esse tipo
de separação causou grandes conflitos entre criollos e chapetones na América espanhola.
Nos extratos intermediários da sociedade colonial hispânica estavam os mestiços. Esses, apesar de
serem trabalhadores livres, não desfrutavam de nenhuma espécie de direito político. Por fim, as
populações indígenas compunham a grande parcela da população colonial e, ao mesmo tempo,
representava o sustentáculo de toda economia. A exploração da mão-de-obra indígena era organizada
em duas diferentes modalidades: a mita e a encomienda.
A mita consistia em uma espécie de imposto pago em forma de trabalho. Essa relação de trabalho,
herdada dos incas, escolhia por sorteio parcelas da população indígena que deveriam compulsoriamente
prestar serviços durante um período de três a quatro meses. Já encomienda era um tipo de relação de
trabalho onde um encomendero organizava as populações que teriam sua mão-de-obra explorada. Em
troca, os índios recebiam a catequização católica. A escravidão também foi explorada na América
Espanhola, principalmente na medida em que a mão-de-obra indígena mostrava-se insuficiente.
O Conselho Real e Supremo das Índias era o órgão máximo da administração colonial. Para controlar
as riquezas produzidas e a cobrança dos impostos foi criada na metrópole a Casa de Contratação. Nelas,
o “sistema de porto único” era dotado para evitar o contrabando comercial. Segundo esse sistema,
somente nos portos de Cádiz e Sevilha poderia circular os produtos oriundos e destinados ao continente
americano. Em solo americano, somente os portos de Veracruz (MEX), Porto Belo (PAN), e Cartagena
(COL) podiam comercializar com a Espanha.
Ao longo do século XVII e XVIII, os interesses político-econômicos da elite criolla e a ascensão do
ideário iluminista criaram um sério desgaste na administração colonial espanhola. Com o advento da Era
Napoleônica, as autoridades coloniais metropolitanas perderam sua autoridade no momento em que
Napoleão ameaçava a estabilidade do poder central hispânico. Nesse contexto, as várias independências
latino-americanas do século XIX deram fim ao poderio colonial espanhol.

Colonização Francesa nas Américas 29


A colonização francesa nas Américas, assim como a inglesa, foi retardatária se comparada às
expedições espanholas e portuguesas. Apesar do atraso, os franceses empreenderam tentativas de
colonização nas três Américas.
Como os franceses ficaram fora da divisão do Tratado de Tordesilhas, o rei francês Francisco I havia
ironizado o tratado, ao dizer que queria ver o testamento de Adão para saber se ele havia destinado as
terras do mundo apenas a Portugal e Espanha. Porém, o tratado não impediu os franceses de tentar
colonizar áreas do território americano e nem de tentar lucrar com o comércio marítimo na região.
As práticas de pirataria foram estimuladas pela coroa francesa. Inúmeros navios corsários passaram
a navegar em águas americanas, com o objetivo de saquear navios e localidades comerciais litorâneas.
Com as ações de pirataria, os franceses conseguiram ganhos econômicos consideráveis.
Havia também interesse na criação de colônias nos territórios americanos. Uma tentativa se deu em
meados do século XVI, na região da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Em estreita ligação com os
indígenas da região, os franceses fundaram em 1555 a França Antártica, cujo objetivo era criar um espaço
de colonização no litoral brasileiro, buscando desenvolver atividades econômicas, principalmente no
extrativismo. A iniciativa teria fim alguns anos depois, quando os portugueses e seus aliados indígenas
derrotaram os Franceses.
Ainda no que conhecemos como litoral brasileiro, os franceses tentaram uma nova empresa
colonizadora, dessa vez na atual região do Maranhão. Nesse local, entre 1612 e 1615, os franceses
criaram a França Equinocial, cujo principal legado é a cidade de São Luís do Maranhão. Mais uma vez
os franceses não foram capazes de manter a colônia, sendo novamente expulsos pelos portugueses.

29P. DOS SANTOS, Tales. Colonização Francesa nas Américas. Mundo educação.http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-america/colonizacao-francesa-nas-
americas.htm

123
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Na América do Sul, os franceses teriam mais sorte na região das Guianas, onde até os dias atuais há
um território francês: a Guiana Francesa. Nela houve a produção de produtos tropicais destinados à venda
no mercado europeu.
Na América do Norte, os franceses ocuparam inicialmente territórios onde hoje se localiza o Canadá.
O ponto de partida foi a formação de Quebec no início do século XVII. A partir daí os franceses passaram
a ocupar a região dos Grandes Lagos, onde conheceram a foz do rio Mississipi. O rio auxiliou ainda os
franceses a ocuparem a região central do continente norte-americano, em uma faixa territorial que ia
desde os Grandes Lagos até o Golfo do México, ao sul. A região ficou conhecida como Louisiana, nome
dado em homenagem ao rei Luís XIV.
Na região do Golfo do México, os franceses construíram a cidade de Nova Orleans, um importante
entreposto comercial, onde eram escoadas principalmente madeiras e peles, já que não houve um
incentivo à produção agrícola nos territórios franceses. Tal situação ocorreu principalmente por não ter
havido grande incentivo da coroa francesa na colonização, cabendo a empresas privadas a exploração.
Na região das Antilhas, os franceses conquistaram algumas ilhas, destacando-se parte da Ilha de
Santo Domingo, atual Haiti. Inicialmente a exploração agrícola dessa região era de produtos como tabaco,
café e cana-de-açúcar, trabalhados pelos chamados “engagés” (engajados), criminosos e marginalizados
na metrópole que iam para a colônia em troca de trabalho e acesso a terra após três anos de serviços.
Mas com o aumento da produção, essa mão de obra foi substituída pelo trabalho de africanos
escravizados. No século XVII, o ministro das Finanças de Luís XIV mudou a política colonial e criou a
Companhia das Índias Ocidentais, 1635, com objetivo de administrar as colônias.
O Haiti tornou-se a principal colônia francesa, onde era produzida a maior parte do açúcar fabricado
no mundo. Entretanto, com a eclosão da Revolução Francesa, os ideais revolucionários influenciaram a
luta dos escravos, que aboliram a escravidão em 1794 e conseguiram a independência em 1804.
Os territórios da América do Norte seriam perdidos após uma série de derrotas em guerras travadas
contra algumas potências europeias, principalmente a Inglaterra. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e
os acordos do Tratado de Paris custaram aos franceses a região de Quebec e todas as suas possessões
no Canadá, além da Louisiana e de algumas ilhas das Antilhas.
Nos dias atuais, ainda se mantêm como departamentos franceses as Ilhas de Guadalupe, São
Martinho, São Bartolomeu e Martinica, nas Antilhas; e a Guiana Francesa, na América do Sul.

Império Colonial Holandês30


Recebeu a denominação de Império Colonial Holandês o conjunto de territórios ultramarinos
controlados, em um primeiro momento, pelas Províncias Unidas (República das Sete Províncias Unidas
dos Países Baixos), nos séculos XVI ao XVII, e posteriormente, pelo moderno estado dos Países Baixos,
uma monarquia constitucional, indo do século XVIII ao XX.
Os holandeses foram responsáveis pelo estabelecimento de uma nova forma de colonialismo, que em
certos pontos lembra as atividades das grandes corporações capitalistas em atividade nos dias de hoje.
As diferenças começam pelo fato dos holandeses não se envolverem muito nas atividades exploratórias,
sendo poucos o navegadores holandeses a descobrirem territórios, como Abel Tasman, Willem Barents
ou Henry Hudson.
A estratégia da nova potência, recém-independente da Espanha, em 1581, foi a de se estabelecer em
entrepostos já consolidados pelas duas únicas forças ultramarinas à época, ou seja, a sua antiga
metrópole, a Espanha, e Portugal. É assim, que quase ao mesmo tempo os holandeses irão ocupar os
entrepostos lusos no Brasil, São Tomé & Príncipe, Angola, Índia Portuguesa, Sri Lanka, Formosa
(Taiwan), Japão e Indonésia. A duras penas, os portugueses recuperariam parte desses territórios, mas
abandonaria para sempre outros, em especial os territórios colonizados na Indonésia, onde começa a se
constituir o Império Holandês.
O Império Holandês possuía ainda outras características que o diferenciava dos outros. Ao invés de
manter políticas mercantilistas e impor as restrições do chamado Pacto Colonial aos seus territórios, eles
optaram por "terceirizar" o trabalho a companhias especializadas, responsáveis por armar navios, manter
entrepostos em todo o globo, transportar colonos para povoamento e trabalho, transportar escravos e
coletar os produtos. Eram elas a Companhia Holandesa das Índias Orientais (Vereenigde Oost-Indische
Compagnie, VOC, em holandês), responsável pelos entrepostos localizados no oriente, e a Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais (Geoctroyeerde Westindische Compagnie, WIC, em holandês),
destinada aos territórios holandeses no ocidente. Praticamente toda a atividade colonial era comandada
por estas duas companhias, sendo o estado holandês responsável apenas nominalmente pela
empreitada.
30 SANTIAGO, Emerson. Império Colonial Holandês. Info Escola http://www.infoescola.com/historia/imperio-colonial-holandes/.

124
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os dois pilares da colonização holandesa eram a Colônia do Cabo e a já citada Indonésia, sob o nome
de Índias Orientais Holandesas, sendo o primeiro ponto de povoamento e parada de navios, e o segundo
fonte de várias matérias-primas que seriam distribuídas pela Europa através dos capitalistas em Haia e
Amsterdam. Além destes territórios, estavam sob domínio das duas companhias o Sri Lanka, o entreposto
em Deshima, Nagasaki, no Japão, onde os holandeses tinham a exclusividade de comércio com aquele
país, Malaca, na Malásia, vários postos tomados aos portugueses na Índia, no oriente; no ocidente,
estavam Nova Amsterdam (futura Nova Iorque, trocada pelo atual Suriname no fim do século XVII), Costa
do Ouro (atual Gana), Antilhas Holndesas, Suriname, Tobago, Ilhas Virgens Britânicas e nordeste do
Brasil.
A rivalidade com outras potências emergentes, como França, e Grâ-Bretanha iria desgastar aquela
que foi a maior força marítima até então, com os melhores e mais velozes navios de sua época. A Grâ-
Bretanha se apoderaria de boa parte de seus territórios, e a França de Napoleão invadiria a república,
tornando-a um estado-satélite francês. Ao recuperar sua independência, em 1815, o país já era uma
monarquia, que havia se unido à Bélgica e Luxemburgo, formando o Reino Unido dos Países Baixos,
estado que duraria até 1830, com a independência da Bélgica. As duas companhias responsáveis pelas
colônias tinham sido liquidadas, revertendo todos os territórios ao Estado. O que restou do império, ou
seja, Indonésia, Suriname, Curaçao e Dependências e Costa do Ouro (Gana) foram administradas a partir
de então, sem maiores investimentos.
Gana foi cedida aos britânicos em 1872, e a Indonésia se tornaria independente após breve luta com
a metrópole, em 1949, sendo que a parte ocidental da ilha de Nova Guiné (Nova Guiné Holandesa)
permaneceria holandesa até 1962. O objetivo era tornar o território um país independente, o que não
ocorreu, pois no ano seguinte a Indonésia anexou o território e promoveu um dúbio referendo no qual a
população escolheu por unir-se a esta; ainda hoje, oposicionistas dentro do território de Irian Jaya (nome
que o território tomou como província indonésia) buscam a independência. Suriname teve sua
independência concedida em 1975, e com isso, permanecem em poder holandês apenas as Antilhas
Holandesas. Aruba, em referendo ocorrido em 1986 decidiu por ser um território à parte do conjunto de
ilhas. Em 2010, as Antilhas Holandesas foram dissolvidas, sendo que Curaçao e Sint Maarten também
optaram por serem administradas em separado, e Bonaire, Saba e Sint Eustatius formam o atual Caribe
Holandês, parte autônoma dos Países Baixos.
O funcionamento interno das colônias foi um dos principais pontos de divergência. Apesar dos fatores
que levaram Inglaterra e Espanha a explorarem seus interesses nas colônias, de certo modo semelhantes
(interesses mercantis), é possível perceber que o desenvolvimento das colônias se deu de maneiras bem
diferente.

A colonização inglesa
Um dos motivos para a vinda de ingleses para a América foi a intolerância religiosa em seu país de
origem. Ao chegar ao poder, a dinastia Stuart encontrou na Inglaterra diversos grupos protestantes e
católicos, além da Igreja Anglicana, a oficial, em conflito. Diversos grupos, entre eles os quakers,
enxergavam na América uma oportunidade de serem livres na prática de seus cultos.
No começo da colonização muitos grupos religiosos se dirigiam para a América em busca de liberdade
para seus cultos, vetados na Inglaterra, a exemplo dos peregrinos, que vieram para a América abordo do
navio Mayflower. Os quatro principais grupos religiosos da América Inglesa eram os puritanos, os
anglicanos, os quakers, e os holandeses reformados. Além destes também haviam presbiterianos,
católicos, luteranos e huguenotes. Algumas colônias foram criadas com o intuito de livre culto. A religião
oficial das colônias era o Anglicanismo, porém havia a presença de batistas e presbiterianos no “Velho
Oeste”, além de pastores de seitas alemães. Os católicos (especialmente em Maryland), huguenotes,
batistas, entre outros, eram perseguidos em algumas colônias pela divergência religiosa, e muitas vezes
se encontravam em conflito com os anglicanos
A colônia também era utilizada como destino para o excedente populacional da Inglaterra que alcançou
nos anos anteriores um forte crescimento demográfico.
A presença de negros nas colônias inglesas se fez de maneira muito intensa, utilizados como mão-de-
obra nas lavouras principalmente no sul, introduzido pela necessidade de mão-de-obra nas plantations.
O trabalho escravo era considerado mais rentável e barato que a mão-de-obra livre.
A exploração colonial e a escravidão estavam tão relacionadas que chegaram a ser vistas como
sinônimos, “peças inseparáveis do mesmo sistema”.
Nas colônias inglesas do sul, a exploração colonial era apoiada na grande propriedade agrícola voltada
para o comércio e no escravismo. As colônias existiam principalmente para o fornecimento de produtos
de áreas tropicais para as metrópoles.

125
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As colônias do norte, por seu clima semelhante ao europeu não ofereciam muitos produtos novos para
a Inglaterra e eram vistas como competidoras com a metrópole. A economia da região era voltada ao
mercado interno e à subsistência, então estava tão condicionada aos interesses da metrópole. Pautava-
se, principalmente, no trabalho livre. A distinção climática entre as colônias do Norte e do Sul causavam
também a distinção socioeconômica.

Colonização Espanhola
Ao chegarem na América os espanhóis se depararam com grandes e complexas civilizações. Muitos
dos centros urbanos criados pelos povos pré-colombianos superavam as cidades da Europa.
Um dos mais expressivos processos de dominação da população nativa aconteceu quando Hernán
Cortéz liderou as ações militares contra o Império Asteca, dominando e escravizando uma numerosa
população indígena.
O confronto e a doença funcionavam como importantes meios de dominação, além de outros casos,
em que os espanhóis instigavam o acirramento das rivalidades entre duas tribos locais. Dessa forma,
depois dos nativos se desgastarem em conflitos, a dominação hispânica agia para controlar as tribos em
questão.
Após a conquista, os colonizadores tomaram as devidas providências para assegurar os novos
territórios e, no menor espaço de tempo, viabilizar a exploração econômica de suas terras. A extração de
metais preciosos e o desenvolvimento de atividades agroexportadoras nortearam a nova feição da
América colonizada. Além de contar com uma complexa rede administrativa, os espanhóis aproveitaram
da mão de obra dos indígenas subjugados.
O grupo majoritário era composto de indígenas, que formavam a base de sustentação da economia
colonial. Os indígenas foram considerados os vassalos do rei e deviam trabalhar para que o Império
Espanhol ficasse mais forte. Além disso, deveriam pagar impostos, cobrados na forma de trabalhos
compulsórios.
A América Espanhola, foi caracterizada por uma descentralização administrativa, que se subdividia em
quatro vice-reinos:

– Nova Espanha: vice-reino foi criado no ano de 1535, estando assim incluído o México, parte da
América central e o oeste dos Estados Unidos.
– Peru: esse vice-reino criado no ano de 1543 e formado pelo novo Peru e por parte da Bolívia.
– Nova Granada: vice-reino criado no ano de 1717 e formado por novos territórios da Colômbia,
Equador e Panamá.
– Rio da Prata: esse vice-reino foi criado no ano de 1776 e foi formado por novos territórios do
Paraguai, parte do Peru e da Bolívia, Uruguai e Argentina.

Colonização inglesa na América do Norte 31


A participação da Inglaterra na expansão marítima dos europeus para novas terras ocorreu
posteriormente às empreitadas realizadas por Portugal e Espanha, que desde o século XV haviam se
lançado às expedições no oceano Atlântico. Apesar da diferença temporal, a colonização inglesa na
América do Norte foi importantíssima para o desenvolvimento econômico da Inglaterra e de suas colônias
no norte do continente americano, conhecidas como as Treze Colônias.
A primeira tentativa de ocupação da América do Norte pelos ingleses ocorreu com Walter Raleigh, que
organizou três expedições à região no fim do século XVI. Raleigh não conseguiu o sucesso esperado com
as expedições, em virtude dos constantes ataques dos povos indígenas que habitavam o local. Mas por
volta de 1607, Raleigh conseguiu constituir uma colônia na América do Norte: a Virgínia, nome dado em
homenagem à rainha Elisabeth I, que era solteira.
A intensificação do processo colonizador se daria apenas na metade final do século XVII em
decorrência das várias situações políticas e econômicas que ocorriam nas ilhas britânicas. Após a vitória
sobre a Invencível Armada, esquadra do rei espanhol Felipe II, comerciantes ingleses em conjunto com
o Estado passaram a formar companhias de comércio marítimo, destacando-se a Companhia das Índias
Orientais, o que intensificou os contatos com as terras americanas. Outro estímulo da Coroa inglesa foi
dado às ações de pirataria nas águas do Atlântico.
Um grande impulso a esse comércio foi conseguido com a aprovação, em 1651, dos Atos de
Navegação, que estipulavam que poderiam desembarcar nos portos ingleses apenas as mercadorias dos
navios britânicos ou da nacionalidade de origem das mercadorias.

31 http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-america/colonizacao-inglesa-na-america-norte.htm

126
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Paralelo a essa situação econômica, havia as disputas políticas e as questões sociais na Inglaterra,
principalmente em torno das sucessões dinásticas, das perseguições religiosas e do despovoamento dos
campos.
A perseguição religiosa aos puritanos, os calvinistas ingleses, principalmente depois da criação do
anglicanismo com Henrique VIII, levou-os a se deslocarem para a América. O objetivo era criar espaços
de vivência onde podiam exercer livremente seus preceitos religiosos. A primeira expedição de puritanos
para a América do Norte ocorreu em 1620, quando o navio Mayflower atracou onde hoje se localiza o
estado de Massachusetts. Nessa região, os puritanos criaram o primeiro núcleo de colonização,
conhecido como Plymouth.
Além das disputas políticas e religiosas, que em períodos diferentes levaram anglicanos e puritanos à
América, houve também a expulsão de grande parte da população camponesa dos campos,
principalmente com os Cercamentos. Esse processo de cercamento de terras por grandes proprietários
gerou um inchaço populacional urbano, contribuindo para que parte da população emigrasse para a
América do Norte.
A religião puritana contribuiu para a colonização inglesa, no sentido de que a religião preconizava que
através do trabalho se poderia alcançar a graça e a salvação divina. Os preceitos religiosos serviram para
consolidar uma ética do trabalho, contribuindo para a prosperidade dos colonos e também conformando
um rígido código de conduta social.
Essa situação verificou-se mais na região norte das Treze Colônias, que ficou conhecida como Nova
Inglaterra. Faziam parte da Nova Inglaterra as colônias de Massachusetts, Connecticut, Rhode Island e
New Hampshire. Com clima temperado, semelhante ao que existia na Inglaterra, desenvolveram-se
atividades econômicas ligadas à pesca, à pecuária, a atividades comerciais e à produção manufatureira.
Em virtude da maioria de puritanos na região, a intolerância religiosa também marcou a forma de
organização social da região.
Ao contrário dessa intolerância religiosa da Nova Inglaterra, as colônias centrais, Nova Iorque,
Delaware, Pensilvânia e Nova Jersey mostraram-se mais abertas à vinda de grupos sociais de distintas
crenças. Além disso, destacou-se na colonização dessas áreas a presença de holandeses, suecos,
escoceses e de outros povos europeus. No aspecto econômico, as colônias centrais aproximavam-se de
suas vizinhas do norte, ganhando destaque a formação de um importante centro comercial na cidade da
Filadélfia.
Essas duas regiões conheceram o desenvolvimento de uma economia autônoma da metrópole,
mercantil e manufatureira. Uma característica distinta das colônias do Sul.
Região formada pelas colônias da Virgínia, Maryland, Carolina do Norte e Geórgia, o Sul das Treze
Colônias era marcado pela produção agrícola em sistema de plantation: monocultura trabalhada por mão
de obra escrava, em grandes propriedades e destinadas à venda no mercado europeu. Existia nessa
região uma lógica de povoamento distinta, em face do trabalho escravo e da produção agrícola de tabaco,
algodão, arroz e do índigo (anil) para a Europa.
Apesar das diferenças, o que unia essas colônias, além da origem comum da maioria da população,
foi a política de extermínio realizada contra os povos indígenas da região. Apaches, sioux, comanches,
cheyennes, iroqueses e esquimós foram exterminados e expulsos de suas terras pelos colonizadores
europeus.
Havia ainda a dependência da metrópole inglesa. Porém, essa dependência era muito diferente da
verificada nas colônias portuguesas e espanholas. Os embates políticos na metrópole inglesa dificultavam
um controle maior sobre as colônias americanas.
Porém, a partir do século XVIII, quando o desenvolvimento econômico capitalista e a estabilidade
política foram alcançados na Inglaterra, a monarquia parlamentar buscou delinear uma nova política
colonial de ampliação da restrição econômica e de aumento da tributação sobre os colonos. Estes seriam
os principais motivos para as lutas de independência, que se iniciaram em 1776.

Crise do Sistema Colonial 32


A crise colonial teve como antecedentes as diversas revoluções que ocorreram não só na Europa, mas
também na América do Norte e uma série de movimentos nativistas realizada na colônia portuguesa.
A burguesia estava em constante Ascenção do poder na Europa e neste período predominava o
Iluminismo Burguês com racionalismo, liberdade, igualdade e felicidade, ao contrário do que pregava o
Antigo Regime. Esse pensamento iluminista ajudou ainda a fortalecer e fazer acontecer a Revolução
Industrial, a Americana e a Francesa.

32 http://www.estudopratico.com.br/crise-do-sistema-colonial-como-se-deu-e-independencia-do-brasil/

127
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para que pudessem explorar mais a colônia, as metrópoles precisavam desenvolvê-las, mas quanto
mais estas cresciam, mais se aproximavam da independência. Com a chegada da Revolução Industrial
na Inglaterra, por volta de 1970, os industriais passaram a desejar o fim das colônias modificando as
relações econômicas. Isso para que estas pudessem consumir os produtos e fornecer matéria-prima
barata.
Dez anos depois, as Treze Colônias Inglesas tornaram-se independentes com a Revolução Americana
e em 1789, a Revolução Francesa aconteceu, sendo caracterizada pela ascensão da burguesia e pela
quebra do antigo sistema colonial.

Iluminismo e a Revolução Francesa;

REVOLUÇÃO FRANCESA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Ao proporem a divisão quadripartite da História (Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade
Contemporânea), os historiadores positivistas do século XIX elegeram a Revolução Francesa como um
dos grandes marcos divisórios da chamada “História Geral” – baseada na concepção eurocêntrica –.
Por ter representado uma profunda mudança nos padrões de vida e da sociedade da época, o ano de
1789 (início da Revolução) marca justamente a divisão entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.

Antecedentes da Revolução

Na França do século XVIII vigorava um sistema de governo conhecido como Absolutismo Monárquico.
Luís XVI era o rei francês no período da Revolução e sua imagem personificava o Estado, reunindo em
sua pessoa os direitos de criar leis, julgar e governar (daí a referência ao poder absoluto).
Dentro da França absolutista havia uma divisão de três grupos distintos, chamados de Estados
Gerais.
O Primeiro Estado era representado pelos representantes do Alto Clero; o Segundo Estado tinha
como representantes a nobreza, ou a aristocracia francesa – que desempenhava funções militares
(nobreza de espada) ou funções jurídicas (nobreza de toga); por fim, o Terceiro Estado era representado
pela burguesia e pelos camponeses. O Terceiro Estado sozinho totalizava cerca de 97% da população.
Apesar de representar a maioria esmagadora da população, o terceiro estado possuía direitos limitados
e estava subordinado aos interesses dos dois primeiros estados.

O Terceiro Estado era bastante heterogêneo e dele faziam parte:


- Alta burguesia: banqueiros e grandes empresários;
- Média burguesia: profissionais liberais;
- Pequena burguesia: artesãos e lojistas;
- Sans-culottes: trabalhadores, aprendizes e marginalizados urbanos e cerca de 20 milhões de
camponeses, dos quais cerca de 4 milhões ainda viviam em estado de servidão feudal.

Era sobre o Terceiro Estado que pesava o ônus dos impostos e das contribuições para a manutenção
do Estado e da Corte, e mesmo sem existir uma unidade, os membros do Terceiro Estado de uma maneira
geral concordavam em reivindicações como o fim dos privilégios de nascimento e instauração da
igualdade civil.
Ao longo do século XVIII alguns fatores contribuíram para a agitação política e a insatisfação popular
verificadas no instante da revolução. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada contra a Inglaterra,
contabilizou milhares de mortos, feridos e elevadíssimos gastos e prejuízos materiais para ambos os
países, além da própria derrota sofrida pela França.
A derrota levou o país a financiar e instigar os colonos britânicos da América a buscarem autonomia,
o que resultou no processo de independência dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Corte absolutista
francesa que possuía um alto custo de vida era financiada pelo Estado, que, por sua vez, já gastava
bastante seu orçamento com a burocracia que o mantinha em funcionamento. A esses dois fatores ainda
vale acrescentar a crise que afetou a produção agrícola francesa nas décadas de 1770 e 1780, o que
resultou em péssimas colheitas e alta da inflação.
O resultado desses fatos gerou uma crise financeira, ao passo em que o Estado terminava por
arrecadar uma quantidade inferior aos gastos anuais, com uma dívida pública que se acumulava

128
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
sobretudo pela falta de modernização econômica – principalmente a falta de investimento no setor
industrial.
O último item que deve ser levado em conta para entender o contexto da Revolução é a ascensão da
burguesia. Resultado do desenvolvimento do capitalismo comercial, essa classe social apresentava duas
tendências marcantes: ou procurava ingressar na nobreza por meio da compra de títulos, ou tentava
afirmar os seus valores, impondo critérios econômicos de hierarquização social em substituição ao critério
do nascimento e da tradição, típico da sociedade estamental.
A segunda tendência marcou a ascensão da burguesia e rompeu os quadros da sociedade do Antigo
Regime.

Cenário Político
Em meio ao caos econômico vivido na França, Luís XVI chega ao poder em 1774 enfrentando desde
o início o problema de insuficiência na arrecadação de impostos. Turgot, primeiro de seus ministros de
finanças, tenta cobrar impostos de padres e nobres. Frente a negatividade de suas ações foi obrigado a
renunciar.
Ele foi substituído por Necker, que incentivou o apoio francês à independência dos Estados Unidos
como forma de revidar o resultado da Guerra dos Sete Anos. Necker permaneceu até 1781, quando
contraiu grandes empréstimos para cobrir os gastos com o financiamento da emancipação americana e
acabou por aumentar a dívida francesa.
Calonne, seu sucessor, buscou cobrar impostos sobre as terras da nobreza e acabou substituído por
Brienne, que teve o mesmo destino. A saída de Brienne gerou uma crise ministerial, resolvida com a volta
de Necker.
Somente em 1789, durante o mandato de Necker, as autoridades reais abriram portas para o
movimento reformista. Em maio daquele ano, os Estados-gerais foram convocados para a formação de
uma assembleia que deveria mudar o conjunto de leis da França.
A Assembleia dos Estados Gerais era um órgão político de caráter consultivo e deliberativo (servia
para que o rei consultasse a opinião dos membros, além de poder tomar decisões, se o rei assim
permitisse), constituído por representantes dos três estados.
Na contagem dos representantes de cada estado, o primeiro estado contava com 291 membros, o
segundo com 270 e o terceiro estado dispunha de 578 membros votantes. Apesar da maioria absoluta, a
forma de voto da Assembleia dos Estados Gerais impedia a hegemonia dos interesses do terceiro estado.
Conforme previsto, os votos eram dados por estados, com isso a aliança de interesses entre o clero e a
nobreza impedia a aprovação de leis mais transformadoras que beneficiassem o terceiro estado.
Os Estados Gerais reuniram-se em Versalhes, em 5 de maio de 1789. O Terceiro Estado queria
votações individuais. Os outros dois insistiam em voto por Estado, tendo o apoio do rei.
O Terceiro Estado, revoltado com essa situação reuniu-se separadamente e jurou não se dispersar
enquanto o rei não aceitasse uma Constituição que limitasse seus poderes.
Por sua vez Luís XVI cedeu, mandando o clero e a nobreza juntarem-se ao Terceiro Estado, surgindo
assim a Assembleia Nacional Constituinte. O rei queria ganhar tempo, pois pretendia juntar tropas para
dispersar a Assembleia.
Ao mesmo tempo em que ocorriam essas tensões políticas, socialmente também haviam problemas.
Os produtos alimentícios começavam a faltar, surgindo revoltas nas cidades e nos campos. Os rumores
de composição aristocrática da realeza cresciam aumentando o medo do Terceiro Estado. Tudo isso junto
da reunião de tropas próximas a Paris, e a demissão de Necker, provocaram a insurreição.

Em 14 de julho de 1789 ocorre a queda da Bastilha.

A Bastilha foi construída em 1370, e era uma fortaleza utilizada pelo regime monárquico como prisão
de criminosos comuns. Na regência do Cardeal Richelieu, entre 1628 e 1642, o prédio foi transformado
em prisão de intelectuais e nobres, especialmente os opositores à monarquia, sua política ou mesmo à
religião católica, oficial no período monárquico. Apesar de ser uma prisão, na data de sua invasão a
Bastilha contava com apenas sete presos.
Para além do sentido físico de domínio do prédio, a tomada da Bastilha representou a derrota do Antigo
Regime para a revolta da população, sendo considerada a data de início da Revolução Francesa.
O rei já não tinha mais como controlar a fúria popular e tomou algumas precauções para acalmar o
povo que invadia, matava e tomava os bens da nobreza: o regime feudal sobre os camponeses foi abolido
e os privilégios tributários do clero e da nobreza acabaram.

129
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Assembleia Nacional (1789-1791)

Após a invasão de Bastilha, a Assembleia Geral Nacional se transformou em Assembleia Constituinte,


onde os deputados elaboraram uma constituição que determinou o fim dos privilégios feudais e de
nascimento, a igualdade de todos perante a lei e a garantia de propriedade. Foi feito um juramento, que
deu origem ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du
Citoyen), proclamada em 26 de agosto de 1789 determinou o fim das estruturas restantes do Antigo
Regime. Ela proclama que todos os cidadãos devem ter garantidos os direitos de “liberdade, propriedade,
segurança, e resistência à opressão”. Isto argumenta que a necessidade da lei provém do fato que “… o
exercício dos direitos naturais de cada homem tem só aquelas fronteiras que asseguram a outros
membros da sociedade o desfrutar destes mesmos direitos”. Portanto, a Declaração vê a lei como “uma
expressão da vontade geral”, que tem a intenção de promover esta igualdade de direitos e proibir “só
ações prejudiciais para a sociedade”. Sobre ela, o historiador inglês Eric Hobsbawm escreveu:
"Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um
manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. Os homens nascem e vivem livres e iguais
perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda
que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural sagrado,
inalienável e inviolável. ” 33

Segue abaixo a reprodução do texto da Declaração:


Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo em vista que a
ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males
públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis
e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo
social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder
Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda
a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos,
doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da
Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser
Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis
do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação,
nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício
dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros
membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela
lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não
pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja
para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a
todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que
não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de
acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar
ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve
obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser
punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.

33 Eric Hobsbawm, A ERA DAS REVOULUÇÕES

130
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável
prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua
manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem.
Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos
desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é,
pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável
uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da
necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar
a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a
separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não
ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia
indenização.

Luís XVI, mesmo derrotado, se opunha aos decretos e recusava-se a ratificá-los. Tendo o rei se
recusado a sancionar estes últimos decretos, o povo de Paris (a comuna), marchou em direção ao Palácio
de Versalhes trazendo o rei para a cidade e obrigando-o a assiná-los. Como consequência, a nobreza
francesa sentindo-se ameaçada fugiu para o Império Austríaco.
Em 1790, os bens do clero foram confiscados, servindo de lastro para a emissão dos assignats (papel
moeda), por intermédio da Constituição Civil do Clero.
A lei visava reorganizar em profundidade a Igreja da França, transformando os párocos em
"funcionários públicos eclesiásticos”, e serviu de base para a integração da Igreja Católica ao novo
sistema político em vigor a partir de 1789.
A Lei sobre a Constituição Civil do Clero se compunha de quatro partes, dedicadas aos cargos
eclesiásticos, o pagamento dos religiosos e outras questões práticas. As circunscrições das dioceses
foram adaptadas às novas unidades estatais dos départements, cada um destes correspondendo a um
bispado. A redistribuição reduziu o número de sedes episcopais de 139 para 83.

A Constituição francesa ficou pronta em setembro de 1791, modificando completamente a organização


social e administrativa da França. O documento concebeu uma forma de governo baseada no princípio
da separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), proposta por Montesquieu.
O poder executivo, responsável por gerir o Estado, foi confiado à monarquia, que agora deveria
obedecer aos princípios determinados na constituição, ou seja, também estava sujeita à força da lei,
conforme deixavam bem claros os artigos 3 e 4 do capítulo II:
Artigo 3. Não existe na França autoridade superior à da Lei. O Rei reina por ela e não pode exigir a
obediência senão em nome da lei.
Artigo 4. O Rei, no ato de sua elevação ao trono, ou a partir do momento em que tiver atingido a
maioridade, prestará à Nação, na presença do Corpo legislativo, o juramento de ser fiel à Nação e à Lei,
de empregar todo poder que lhe foi delegado para, manter a Constituição decretada pela Assembleia
Nacional constituinte nos anos de 1789, 1791, e de fazer executar as leis.

O poder legislativo passava a ser formado por uma assembleia, que não poderia ser violada ou
dissolvida (evitando o abuso do poder real). Ela era eleita através do voto censitário, e tinha o poder de
fiscalizar os ministros, as finanças e a política estrangeira. O voto censitário era a concessão do direito
do voto apenas àqueles cidadãos que possuíam certos critérios que comprovassem uma situação
financeira satisfatória.
Na prática, a política continuava nas mãos da classe abastada, em geral dos grandes proprietários,
excluindo do processo mais de 20 milhões de franceses que não atendiam os critérios estabelecidos pelo
voto censitário.
A exclusão da maior parte da população do processo político logo tornou o novo governo impopular,
gerando também rupturas internas, que fizeram com que a Assembleia se dividisse em várias tendências:

131
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Feuillants: Monarquistas constitucionais, liderados por La Fayette e Barnave
Jacobinos: Defensores da República democrática
Girondinos: Grupo de deputados convencionais, liderados por representantes da região da Gironda,
partidários da Revolução e da República, mas com posições bem mais moderadas do que os Jacobinos,
especialmente quanto ao papel das massas populares no movimento revolucionário.
Cordeliers: Clube político muito próximo das posições dos “sans-culottes”, representando a população
mais pobre.

A dificuldade para governar enfraqueceu a Assembleia, o que garantiu a Luís XVI a chance de tentar
escapar para o Império Austríaco, com o objetivo de organizar uma contrarrevolução. O rei foi
reconhecido próximo a região de Varennes, onde foi capturado e enviado para Paris. Após a tentativa
frustrada de fuga, a Assembleia suspendeu seu poder.
O êxito da Revolução na França deu novo estímulo aos revolucionários de outros países, onde, porém,
não surtiu efeito, corno nos Países Baixos, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Áustria e Itália.
Ainda assim, simpatizantes com a Revolução na França organizaram demonstrações de apoio. Os
déspotas esclarecidos, alarmados, abandonaram seus programas de reformas e se aproximaram da
aristocracia contra as classes baixas.
Alguns escritores na Europa defenderam a contrarrevolução, ou seja, a retomada do poder na França
pela força das armas e restauração da Monarquia Absoluta.
Muitos franceses abandonaram o país. Nobres, clérigos e mesmo burgueses esperavam o auxílio das
potências europeias que por sua vez se mantiveram indiferentes a princípio, mas, quando as ideias que
resultaram da Revolução ameaçavam abalar os soberanos absolutos da Europa, modificaram sua atitude.
Em 20 de abril de 1792, a perseguição dos emigrados pelos franceses provocou a guerra com a
Áustria, que continuaria com poucas interrupções até 1815. Os insucessos repetiram-se de abril a
setembro.
O avanço do exército prussiano rumo a Paris fez crescer o temor da contrarrevolução, arquitetada pelo
rei e pela aristocracia. Em 10 de agosto as tulherias34 foram ocupadas e o rei aprisionado no templo. No
início de setembro, a massa parisiense atacou as prisões e massacrou os nobres feitos prisioneiros. O
Exército passou a convocar voluntários para defender a Revolução.
Em Valmy, as forças francesas venceram os invasores. No mesmo dia, uma nova Assembleia tomava
posse: a Convenção. Foi nesse período que a República foi proclamada. A segunda fase da guerra, de
setembro de 1792 a abril de 1793, é marcada pelas vitórias da França, que avançou em direção à Bélgica,
região do Reno, Savoia e Nice.

Convenção Nacional

Os membros eleitos para a Convenção Nacional organizaram-se em três grandes partidos: Gironda,
Montanha e Planície. (Contra as cinco principais representações anteriores).
- Gironda: Os Girondinos faziam parte um grupo político moderado durante o processo da Revolução
Francesa. Seus integrantes faziam parte da burguesia francesa. Entre seus líderes destacavam-se Brissot
e Vergniaud.
- Montanha (ou Jacobinos): Os jacobinos faziam parte de uma organização política, criada em 1789
na França durante o processo da Revolução Francesa. No princípio tinham uma posição moderada sobre
os encaminhamentos revolucionários, porém, com a liderança de Robespierre, passaram a ter posições
radicais e esquerdistas. Pequenos comerciantes e profissionais liberais eram as principais camadas
sociais que compunham este grupo. Entre seus líderes destacavam-se Saint Just, Marat, Danton e
Robespierre.
- Planície (ou Pântano): apesar de ser formada por membros da burguesia, era considerado um
partido de centro, fazendo acordos e estabelecendo relações com ambos os partidos.

Convenção Girondina (1792-1793)


Após seu estabelecimento, a Convenção foi liderada pelos girondinos, sob forte oposição jacobina.
O rei foi julgado pela Convenção em 21 de janeiro de 1793 e, a despeito do esforço dos Girondinos,
foi condenado à morte como traidor, sendo guilhotinado.
A condenação do rei abalou as demais monarquias absolutistas europeias, que temiam sofrer
processos revolucionários parecidos em seus países. Assim, os impérios da Áustria, da Rússia e da
Prússia uniram-se militarmente com Inglaterra e Holanda, contestadoras da ocupação francesa sobre a

34 palácio parisiense, cuja construção começou em 1564 sob o impulso de Catarina de Médici, num local ocupado anteriormente por uma fábrica de telhas (tuiles)

132
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Bélgica, e formaram a I Coligação. A união de forças foi capaz de derrotar as tropas francesas, além de
incentivarem os contrarrevolucionários a influenciarem a revolta camponesa da Vendéia.
As derrotas sofridas pelas tropas, aliadas aos problemas internos, acentuaram os ânimos dos
extremistas montanheses. Os Jacobinos, núcleo mais radical da Montanha, eram apoiados pela Comuna
de Paris, composta por trabalhadores, artífices, pequenos proprietários e trabalhadores rurais.
O acirramento dos ânimos levou a exigência da criação de um tribunal revolucionário contra os
suspeitos e chefes girondinos, além da criação de um exército revolucionário para a defesa do país. As
reivindicações foram suficientes para reunir as camadas mais baixas e resultaram na queda dos
girondinos em junho de 1793.

Convenção Montanhesa (1793-1794)


Os montanheses chegaram ao poder com o apoio dos sans-culottes, porém buscaram conter o
movimento popular para evitar extremos. Como parte das reformas introduzidas, no campo político
aboliram a escravidão nas colônias e confiscaram as terras dos nobres, transformando-as em pequenas
propriedades. Na política, introduziram uma constituição democrática, assegurando uma participação
mais ativa das camadas mais baixas.
As tensões internas e as vitórias da I Coligação criaram um clima de insegurança, que aumentou ainda
mais quando o líder montanhês Marat foi assassinado pela monarquista Charlotte Corday, o que revelou
a possibilidade do restabelecimento da monarquia. Esses fatores colaboraram para a instalação do
Terror.

O Terror
Colocado em prática em setembro de 1793, o Terror contou com amplo apoio dos sans-culottes.
Liderados por Robespierre, os montanheses criaram os Comitês da Salvação Pública e da Segurança
Geral com o objetivo de governar o país, e o Tribunal Revolucionário, para aplicar a justiça.
As prisões eram feitas com base na Lei dos Suspeitos, que permitia capturar e julgar todos aqueles
considerados suspeitos de traição contra a República. Milhares de pessoas foram enviadas para a
guilhotina, entre elas a rainha Maria Antonieta.
Com o mesmo argumento de proteção da Revolução, as igrejas também foram fechadas, sendo
instituído o “culto do Ser Supremo”, que na verdade tratava-se de uma devoção à razão.
No plano econômico foi instituída a lei do Máximo Geral, ou seja, a fixação de um teto Máximo para os
produtos de primeira necessidade.
O terror gerou resultados, com a derrota da Vendéia e da Coligação. Superadas as dificuldades,
Robespierre acreditava que a ditadura era a única forma de manter a Revolução, e não hesitou em enviar
para a guilhotina todos aqueles que considerou inimigos.
Paris durante esse período passava por um momento de grande efervescência política, e grupos
distintos, com visões completamente diferente acabaram levando o mesmo fim, tendo as cabeças
separadas dos corpos. Os enragés (enraveicidos) propunham a taxação e a suspensão da especulação
monetária e tinham muito prestígio perante os sans-culottes, porém foram guilhotinados.
Os indulgentes, liderados por Danton, acreditavam que as medidas eram enérgicas e autoritárias
demais. Por outro lado, os hebertistas, liderados por Hébert, consideravam que elas ficavam aquém do
necessário para salvar a Revolução. Para Robespierre tanto um quanto outro, e qualquer outro tipo de
divergência eram uma ameaça, e ambos foram guilhotinados.
Nem mesmo o cientista Lavoisier escapou da condenação, pois era visto com maus olhos por possuir
origem nobre e ser membro da Ferme Générale, agência ligada ao governo e responsável pelo
recolhimento de impostos, vista como corrupta.
O Terror não poupou nem mesmo seus dirigentes. As execuções em massa, a ditadura e a intervenção
na economia acabaram enfraquecendo o poder de Robespierre, que teve sua queda votada pela
Convenção em 27 de julho de 1794. Juntamente com dezenove partidários, o líder acabou enfrentando o
destino que muitos de seus tiveram: a própria guilhotina.

A Guilhotina

Criada pelo médico Joseph Ignace Guillotin, a guilhotina não apareceu como um método de
execução usado para amedrontar os inimigos da revolução. Criada com a finalidade de proporcionar
uma morte rápida e sem dor aos condenados à morte, o doutor Gillotin defendeu na Assembleia
Nacional que esse seria um método mais humanitário, eficaz e igualitário, pois os condenados teriam
a mesma pena e o executor não precisaria necessariamente sujar suas mãos com sangue.

133
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Porém, com a Revolução Francesa todo e qualquer suspeito de se opor ao regime passou a ser
decapitado, dessa forma a guilhotina ficou marcada como símbolo de crueldade e opressão.
Mesmo com o fim da Revolução na França, a guilhotina continuou a funcionar como aparelho de
execução, com a última condenação registrada em 1977, quase duzentos anos após sua utilização em
massa.

Convenção Termidoriana
Após a queda de Robespierre, um novo governo assumiu o poder liderado pela Planície. O novo
governo buscou afastar-se da pequena burguesia e dos sans-culottes, e pouco a pouco retirou os poderes
do Comitê de Salvação Pública, além de revogar as leis dos Suspeitos e do Máximo. A Igreja e o novo
governo estabeleceram um acordo de separação.
O fim da Lei do Máximo provocou um aumento nos preços dos produtos, inflacionando os assignats.
O aumento nos preços gerou novas tensões populares, e a alta burguesia, com medo de perder seus
privilégios e seu poder, eliminou o governo de convenção e criou a Constituição do ano III que instituía
o Diretório, em 1795. A nova constituição buscou reafirmar o direito à propriedade e a liberdade
econômica, através do restabelecimento do voto censitário, o que excluiu novamente as camadas
populares do processo político.

Diretório (1795-1799)
O novo governo baseava-se na teoria da separação dos poderes. O poder legislativo dividia-se entre
o Conselho dos Quinhentos (em que os membros deveriam ter mais de 30 anos) e o conselho dos Anciãos
(que deveriam ter mais de 40 anos). O poder executivo era composto por um Diretório (junta de diretores)
que era eleito pelos conselhos.
A nova constituição não conseguiu estabilizar o país, e também não conseguiu afastar os opositores
(nobres emigrados e sans-culottes). Os nobres tentaram um golpe de retomada do poder, porém foram
impedidos pelo general Napoleão Bonaparte. Entre as camadas populares, o crítico da propriedade
privada, Graco Babeuf articulou uma conjuração, a Revolta dos Iguais, que buscava derrubar o
Diretório, porém não obteve sucesso.
A corrupção no governo e a má administração enfraqueceram o regime. Juntamente com os problemas
internos, foi formada a II Coligação, através da união militar entre o Império Turco, a Rússia, a Inglaterra
e a Áustria, com o objetivo de retomar o poder na França.
Frente aos problemas enfrentados, alguns membros do Diretório defendiam a ideia de que a única
forma de manter o poder era o estabelecimento de uma nova monarquia. Preocupando-se em perder o
poder, parte da alta burguesia apoiou um golpe de Estado, contando com a popularidade de Napoleão
que havia conquistado vitórias importantes no Egito e no norte da Itália.
Apoiado por Roger Ducos e pelo abade Sièys, ambos lideres burgueses, em 9 de novembro de 1799
Napoleão derrubou o Diretório e estabeleceu um consulado provisório, composto pelo general e pelos
dois líderes que ajudaram a arquitetar o golpe.
A chegada de Napoleão ao poder ficou conhecida como golpe de 18 Brumário, data que correspondia
aos meses de outubro e novembro no calendário revolucionário. Os apoiadores do golpe acreditavam
que através de um poder executivo autoritário poderiam conter os contrarrevolucionários. Contudo, ao
assumir o poder, Napoleão buscou satisfazer suas próprias ambições, e impôs uma ditadura na França.

Período Napoleônico

Ao chegar ao poder em 1799, a França apresentava um aspecto desolador: a indústria e o comércio


estavam arruinados, os caminhos e os portos destruídos e o serviço público desorganizado. Todos os
dias mais e mais pessoas deixavam o país, fugindo da desordem e da ameaça de ver os seus bens
confiscados. Os clérigos que se tinham negado a jurar fidelidade à nova Constituição eram perseguidos
e a guerra civil ameaçava estourar em numerosas províncias.
Napoleão buscou conciliar os diferentes grupos em conflitos, na tentativa de restabelecer a paz e a
segurança.
Em 1799 uma nova constituição foi submetida a um plebiscito, e com a aprovação por mais de 3
milhões de votos, Napoleão agora possuía poderes ilimitados, sob o disfarce do consulado. O voto voltou
a ser universal, e os candidatos eram escolhidos através de uma lista dos mais votados. O Poder
legislativo perdeu grande parte de sua importância, tornando-se basicamente um poder formal.
Ele era composto de quatro assembleias: o Conselho de Estado, que preparava as leis; o Tribunal,
que as discutia; o Corpo Legislativo, que as votava e o Senado, que velava pela sua execução.

134
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Poder Executivo, confiado a três cônsules nomeados pelo Senado por dez anos, era o mais forte de
todos. Quem detinha efetivamente o poder era o primeiro-cônsul, que propunha, mandava publicar as
leis e nomeava os ministros, os oficiais, os funcionários e os juízes.
As guerras continuaram até 1802, quando Napoleão assinou a Paz de Amiens, pondo fim ao conflito
europeu iniciado em 1792. A administração do Estado foi reorganizada e centralizada.
Importantes medidas financeiras, como a criação de um corpo de funcionários para arrecadar os
impostos e a fundação do Banco da França (que recebe o direito de emitir papel moeda), foram tornadas,
melhorando sensivelmente a situação econômica do pais.
Na educação, o ensino secundário foi organizado com o objetivo de instruir funcionários para o Estado.
Uma das maiores contribuições do de Napoleão foi a criação do Código Civil, inspirado no Direito
Romano, nas Ordenações Reais e no Direito Revolucionário, completado em 1804, continua, na essência,
em vigor até hoje na França.
As relações com a Igreja Católica foram retomadas, através de Concordata 35 com o papa. O sumo-
pontífice aceitou o confisco dos bens eclesiásticos e o Estado ficou proibido de interferir no culto. Os
bispos, indicados pelo governo e investidos de funções religiosas pelo papa, prestariam juramento de
fidelidade ao governo e as bulas só entrariam em vigor depois de aprovadas por Napoleão.
Os êxitos obtidos tanto internamente como externamente permitiram a Napoleão conquistar o direito
de nomear seu sucessor garantido pelo senado, em 1802. Na prática, estabelecia-se uma Monarquia
hereditária.
Com o reinício dos conflitos externos em 1803, o Consul aproveitou-se da situação de perigo nacional
para que fosse proclamado imperador da França. Já em 1804 uma nova Constituição legalizava a
instituição do Império e convocava um plebiscito para confirmá-la. Oficializada a proclamação através da
vontade popular, Napoleão foi sagrado imperador pelo papa, e tratou de formar uma nova corte, com
muitos membros da antiga nobreza francesa.
Além do Código Civil, que já vinha sendo elaborado, foram criados o Código Comercial e o Código
Penal. A economia sofreu um grande impulso, tanto pelo aumento da produção no campo – o que levou
os camponeses a apoiarem o imperador – quanto no incentivo pela industrialização do país. Os projetos
de reformas de pontes e estradas foram concluídos e novos portos e canais concluídos.
Ao mesmo tempo em que era verificada prosperidade em algumas áreas, em outras as coisas não
pareciam caminhar tão bem. Com o aumento da popularidade, Napoleão tornava-se cada vez mais
despótico, até mesmo para os padrões da monarquia francesa. As assembleias foram suprimidas, o poder
judiciário passou cada vez mais para as mãos do imperador e as liberdades individuais foram revogadas.
A imprensa também passou a ser censurada, e o ensino foi modelado para garantir a obediência ao
imperador, tanto que se estendeu à educação superior: a Universidade Imperial monopolizou o ensino e
as disciplinas consideradas perigosas para o regime (História e Filosofia) tiveram seus programas
alterados.
No plano religioso, o catecismo orientava que os deveres existiam para com Deus e também com o
Imperador. As desavenças com poder papal, que não aceitou as imposições feitas pelo imperador,
resultaram no confinamento do pontífice em Savoia e na tomada de seus Estados. Os bispos que
buscaram apoiar a Igreja foram também perseguidos.
O resultado foi uma nova onda de crises e descontentamento. A burguesia opunha-se à perda de
liberdade e às perseguições policiais, as guerras arruinavam a economia e os portos, o restabelecimento
de antigos impostos irritava os contribuintes e os jovens procuravam fugir ao serviço militar obrigatório.

Conflitos externos
Apesar de Napoleão ter assinado com a Inglaterra a Paz de Amiens36, em 1805, as ameaças francesas
promoveram a formação da primeira coligação antifrancesa, reunindo a Inglaterra, Rússia e Áustria.
Napoleão venceu em Ulm e Austerlitz, mas a esquadra franco-espanhola foi derrotada em Trafalgar
pelo almirante inglês lorde Nelson. Após a vitória contra a nova coligação, em 1806, Napoleão dissolveu
o Sacro Império Romano-Germânico, fundando a Confederação do Reno37.
Em 21 de novembro de 1806, foi decretado que os países que estavam sob o domínio do império
francês estavam proibidos de fazer comércio ou autorizar o acesso aos portos para navios ingleses. A
medida, que ficou conhecida como Bloqueio Continental, visava enfraquecer o concorrente, afim de poder
dominá-lo.

35 acordo diplomático que o Vaticano celebra com outro Estado


36 tratado de paz firmado em 25 de março de 1802 na cidade francesa de Amiens. Ele pôs fim às hostilidades existentes entre França e Reino Unido durante as
chamadas Guerras Revolucionárias Francesas.
37 A Confederação do Reno ou Liga Renana foi constituída por Napoleão Bonaparte em 12 de Julho de 1806, no contexto da Terceira Coligação contra a França

135
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para que o bloqueio fosse efetivo, Napoleão necessitava que todas as nações sob sua influência
aderissem totalmente ao acordo, o que foi feito pela Rússia e Pela Áustria, mas não por Portugal.
Portugal era um pequeno reino na Península Ibérica que dependia imensamente de suas colônias para
o sustento econômico. O principal parceiro econômico de Portugal era a Inglaterra, e desde 1703 os dois
países estavam sob um acordo conhecido como Tratado de Methuen, que recebeu o nome em função do
embaixador inglês que conduziu as negociações.
O Tratado estabelecia o comércio de panos ingleses e vinhos portugueses, o que a longo prazo provou-
se desvantajoso para Portugal, pois o volume de panos que chegava era maior que o volume de vinhos
que saía. Com o investimento na produção de vinho, Portugal perdeu muitas das áreas de produção de
alimentos, o que o obrigou a importar parte dos gêneros alimentícios. Além dos alimentos, Portugal deixou
de investir em sua indústria, e importava uma grande quantidade de produtos manufaturados da
Inglaterra.
Por conta de todos os fatores citados, o Bloqueio Continental era desvantajoso para o pequeno país,
que optou por não aderir à estratégia de Napoleão. Sentindo-se prejudicado pela decisão portuguesa, e
vendo que seus esforços para impedir o comércio não estavam rendendo o esperado, em agosto de 1807
Napoleão envia um ultimato a D. João VI: ou Portugal rompia suas relações com a Inglaterra, ou seria
invadido.
Como Portugal manteve-se firme em sua decisão, a França assinou em conjunto com a Espanha o
Tratado de Fontainebleau, que dividia o território português entre os dois países e extinguia a dinastia
dos Bragança, à qual pertencia D. João VI.
Buscando manter suas relações comerciais, a Inglaterra, que possuía um poderoso poder naval,
pressionou Portugal através de seu embaixador em Lisboa, lorde Strangford, a fugir para o Brasil.
Em novembro de 1807, o Príncipe Regente reuniu a família real e toda sua corte, totalizando cerca de
15 mil pessoas, e partiu para o Brasil aportando em 22 de janeiro de 1808 na Bahia.
Aproveitando-se da luta de Napoleão na Espanha, a Áustria formou em 1809 uma coligação, sendo
porém, derrotada em Wagram38, perdendo vastos territórios e transformando-se em potência secundária.
Nesse momento, o Império Napoleônico encontrava-se em seu apogeu, com mais de 70 milhões de
habitantes, dos quais somente 27 milhões eram franceses. O exército francês parecia imbatível. Em 1812,
porém, a Rússia rompeu o bloqueio ao comércio inglês, sendo invadida por forças francesas. Apesar da
vitória na Batalha de Moscou, Napoleão foi obrigado a fazer uma retirada desastrosa, na qual morreram
milhares de homens.
Entusiasmados por este fracasso de Napoleão, Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia formaram
uma coligação, derrotando os franceses na Batalha de Leipzig, em 1813. Napoleão foi então aprisionado
na ilha de Elba, de onde fugiu um ano depois, retornando à França e retomando o poder. Inicia-se o
governo dos Cem Dias. Durante esse governo, enfrentou a última coligação contra a França, sendo
derrotado pelos ingleses em Waterloo, na Bélgica, e novamente aprisionado e exilado na ilha de Santa
Helena, onde morreu em 1821.

A Europa em Guerra e em Equilíbrio (1789 -1830): Napoleão, Congresso de Viena e


Restauração.39
Com o fim da Era Napoleônica, as potências que se envolveram nas guerras empreendidas pelo
imperador francês articularam-se na capital da Áustria, Viena, para traçar os rumos que a Europa tomaria
a partir daquele momento. A essa articulação deu-se o nome de Congresso de Viena.
Além da Áustria, que sediou o congresso, as outras potências participantes foram a França, a Prússia,
a Rússia e a Grã-Bretanha.
O objetivo principal do Congresso de Viena era retomar o modelo político que ordenava a Europa antes
das guerras napoleônicas, o que significava retomar as estruturas do Antigo Regime, com repressão às
ideias liberais e às manifestações revolucionárias das quais a França foi o principal alvo.
Os líderes participantes do Congresso de Viena ainda propuseram a defesa de dois princípios gerais:
o princípio da legitimidade (determinava que as dinastias que detinham o poder no período anterior ao
processo revolucionário francês deveriam reassumir seus tronos e territórios) e o equilíbrio do poder
(pregava que as potências que ganharam a guerra contra a França teriam o direito sobre territórios fora
do continente europeu e poderiam permanecer com aqueles que já lhes pertenciam por merecimento pela
participação na luta contra Napoleão Bonaparte).

38Deutsch-Wagram é um município da Áustria localizado no distrito de Gänserndorf, no estado de Baixa Áustria


39FERNANDES, Cláudio. Congresso de Viena. https://bit.ly/2MtiZA8
SANTOS, Marco Cabral dos. Congresso de Viena: Conservadores restauram o Antigo Regime. https://bit.ly/2nlIOah.

136
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os Reis de Volta ao Trono
O princípio da legitimidade garantiu o retorno de algumas das antigas dinastias europeias, como os
Bourbon em Nápoles, Espanha e França, a dinastia Orange na Holanda, os Bragança em Portugal e os
Saboia no Piemonte, além do restabelecimento do papa nos Estados Pontifícios.
Pelas intervenções de Talleyrand, a França – que saíra derrotada com a queda de Napoleão – garantiu
sua integridade territorial, restaurando suas fronteiras de antes de 1792. A Inglaterra foi o que mais se
beneficiou a longo prazo, pois conseguiu garantir a hegemonia militar e comercial nos oceanos, além de
grande influência política e econômica no continente. A Prússia praticamente dobrou sua extensão
territorial, incorporando partes da Saxônia, da Pomerânia e da Polônia, assim como a Rússia, que garantiu
a anexação da Finlândia, da Bessarábia e de parte da Polônia.
Esse retorno à antiga ordem que caracterizou as propostas das potências vencedoras também
implicava uma redefinição do mapa geopolítico da Europa, que havia sido profundamente afetado pelo
império napoleônico. Para tanto, o czar russo, Alexandre I, propôs a criação de uma aliança.
Formada por Rússia, Prússia e Áustria, a Santa Aliança, como ficou conhecida, objetivava garantir a
hegemonia desses três países, bem como combater focos de revoluções impulsionados pelas ideias
liberais.
O primeiro artigo da Santa Aliança pode ser lido abaixo:
Art. 1º De acordo com as palavras das Santas Escrituras que ordenam a todos os homens olharem-se
como irmãos, os três monarcas contratantes permanecerão unidos pelos laços de uma fraternidade
verdadeira e indissolúvel e, considerando-se como compatriotas, se prestarão, em qualquer ocasião ou
lugar, assistência, ajuda e socorro; julgando-se, em relação aos seus súditos e exércitos, como pais de
família, eles os dirigirão no mesmo espírito de fraternidade de que se acham animados para proteger a
religião, a paz e a justiça. (“Tratado da Santa Aliança”. Trad. Luiz Arnault. Dep. Hist. Contemporânea.
UFMG.)
O pacto militar começou a ruir a partir do momento em que a Inglaterra se recusou a apoiá-lo. Ela era
contrária aos propósitos do envio de tropas para a América Latina, com o propósito de reprimir os diversos
levantes emancipacionistas que ameaçavam o colonialismo. Além disso havia grande interesse na
expansão comercial e em garantir novos mercados aos seus produtos industrializados, os ingleses
desaprovavam a presença militar nas colônias americanas, postando-se contra a política intervencionista
da Santa Aliança.

Questões

01. (MPE/GO – Auxiliar Administrativo – MPE/GO – 2019) A Revolução Francesa é um marco


histórico no que diz respeito à cidadania. Foi na França que o conceito de cidadão passou a ter uma
dimensão de reconhecimento de direitos. Pergunta-se: em que ano ocorreu a Revolução Francesa?
(A) 1787
(B) 1789
(C) 1791
(D) 1772
(E) 1790

02. "Artigo 6 - A lei é a expressão da vontade geral; todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou por seus representantes, à sua formação; ela deve ser a mesma para todos, seja
protegendo, seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a
todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo sua capacidade e sem outras distinções que
as de suas virtudes e de seus talentos".
("Declaração dos direitos do homem e do cidadão", 26 de agosto de 1789.)

O artigo acima estava diretamente relacionado aos ideais


(A) socialistas que fizeram parte da Revolução Mexicana.
(B) capitalistas que fizeram parte da Independência dos EUA.
(C) comunistas que fizeram parte da Revolução Russa.
(D) iluministas que fizeram parte da Revolução Francesa.
(E) anarquistas que fizeram parte da Inconfidência Mineira.

03. A Revolução Francesa de 1789 foi diretamente influenciada pela Independência dos Estados
Unidos da América e pelo Iluminismo no combate ao Antigo Regime e à autoridade do clero e da nobreza
na França. Além do mais, a França passava por um período de crise econômica após a participação

137
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
francesa na guerra da independência norte-americana e os elevados custos da Corte de Luís XVI, que
tinham deixado as finanças do país em mau estado. Em 1791, os revolucionários promulgaram uma nova
Constituição, a partir dos princípios preconizados por Montesquieu, que consagrou, como fundamento do
novo regime:
(A) a subordinação do Judiciário ao Legislativo.
(B) a divisão do poder em três poderes.
(C) a supremacia do Judiciário sobre os outros poderes.
(D) o estabelecimento da soberania popular.
(E) o fortalecimento da monarquia absolutista.

04. De um modo geral, observa-se como numa sociedade a intervenção dos detentores do poder no
controle do tempo é um elemento essencial (...). Depositário dos acontecimentos, lugar das ocasiões
místicas, o quadro temporal adquire um interesse particular para quem quer que seja, deus, herói ou
chefe, que queira triunfar, reinar, fundar.
JACQUES LE GOFF
Adaptado de "Memória-História". Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1984.

Diversas experiências políticas contemporâneas alteraram as representações do tempo histórico, na


forma como são mencionadas no texto. Uma ação política que exemplifica essa intervenção no controle
do tempo, e que resultou na implantação de um novo calendário, ocorreu no contexto da revolução
denominada:
(A) Cubana
(B) Francesa
(C) Mexicana
(D) Americana

05. O início da Revolução Francesa tem como marco simbólico:


(A) a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789
(B) a instalação da Assembleia dos Estados Gerais, em maio de 1789
(C) a "Noite do Grande Medo"
(D) a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em agosto de 1789
(E) a execução do rei Luís XVI, em 1793

Gabarito

01.B / 02.D / 03.B / 04.B / 05.A

Comentários

01. Resposta B.
A Revolução Francesa ocorreu no ano de 1789 e é considerada o evento que marca a passagem do
Período Moderno para o Contemporâneo.

02. Resposta D.
O iluminismo esteve presente de maneira enraizada nos ideais revolucionários, como pode ser
observado no lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade, além de uma defesa pelos direitos dos cidadãos
presente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

03. Resposta B.
Montesquieu foi um defensor da ideia de que o poder, se concentrado nas mãos de uma única pessoa,
seria mal utilizado. Para combater essa falha propõe que exista uma divisão de poderes entre Legislativo,
Executivo e Judiciário. Os princípios defendidos por Montesquieu iam de encontro as ideias iluministas,
inclusive sendo adotados ainda hoje na sociedade Brasileira.

04. Resposta B.
A revolução Francesa representou uma mudança muito grande na forma de entendimento de política
e organização de uma sociedade. Durante sua fase mais radical foi criado até mesmo um novo calendário
baseado nos ideais iluministas e rompendo com o calendário Gregoriano, de origem cristã.

138
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
05. Resposta A.
A Bastilha, que funcionava como uma prisão, representava também o símbolo da opressão do Antigo
Regime na sociedade francesa. Sua tomada e queda representam o domínio da população sobre o antigo
sistema e a dominação do rei.

A Independência dos Estados Unidos; constituição dos Estados Nacionais na


América Latina;

ESTADOS UNIDOS

A Independência dos EUA (1776)


A colonização dos EUA ocorreu no século XVII através da formação de uma colônia de povoamento.
Os primeiros colonos fugiam das perseguições religiosas que sofriam na Inglaterra e fundaram colônias
puritanas (protestantes ingleses). Os laços coloniais não eram tão rígidos e os colonos possuíam certa
liberdade com relação à metrópole, principalmente a liberdade de produzir suas próprias manufaturas.
Eram as treze colônias. As colônias do norte eram tipicamente de povoamento, predominava a mão de
obra livre e as manufaturas. As colônias do sul eram próximas do modelo de exploração e se baseavam
na agricultura do plantation (monoculturas para exportação realizada em grandes latifúndios) e na
escravidão africana.
Apesar de constituírem um território único de pertencimento à Inglaterra, as treze colônias possuíam
diferenças marcantes, em especial na questão da forma de trabalho e organização da sociedade. Apesar
disso todas ainda estavam sujeitas as mesmas leis de domínio inglês.
Como as colônias do Norte tinham uma produção semelhante ao continente europeu, o comercio
metropolitano despertou pouco interesse e tornava alto o preço de viagens comerciais entre Inglaterra e
a região, já que os navios traziam produtos mas geralmente voltavam sem nenhuma carga para comercio.
Esse fato colaborou para o desenvolvimento e prosperidade do modelo de pequena e média propriedade
e da criação de manufaturas, mesmo que estas fossem proibidas na colônia pelo modelo de pacto
colonial.
A criação de manufaturas ajudou as colônias do norte a desenvolver uma economia fortalecida e uma
quase autonomia em relação à Inglaterra.
A situação do Sul era completamente oposta. Como as condições climáticas permitiam a produção de
mercadorias tropicais, predominaram as grandes propriedades escravistas e a monocultura voltada
para exportação. Os principais produtos produzidos eram o algodão, o tabaco e o anil.

Pacto colonial? metrópole? monopólio?


O Pacto Colonial é a relação comercial entre a colônia e sua metrópole. Mas o que isso significa?
Durante o período de colonização da América, os países que controlavam as colônias eram
chamados de metrópoles. O pacto colonial nada mais era do que a relação de comercio
exclusivo(monopólio) entre a colônia, como as treze colônias, por exemplo, e a metrópole, no caso a
Inglaterra. A manutenção desse comercio exclusivo garantia vantagens para a metrópole que poderia
controlar e lucrar facilmente com os produtos produzidos na colônia, já que ela não poderia fazer
comercio com outros agentes, somente com a metrópole. Caso a colônia tentasse comercializar seus
produtos com outras metrópoles poderia sofrer consequências como intervenções militares e aumento
de impostos.

Os triângulos comerciais
Aos poucos as atividades comerciais das colônias do Norte foram se expandindo, e começaram a
surgir os triângulos comerciais. Estes triângulos consistiam no comercio em etapas. O mais famoso
desses triângulos incluía o comercio de peixe, gado e madeira com as Antilhas, onde eram adquiridos
melaço, rum e açúcar. Esses produtos voltavam para os portos de Nova York e Pensilvânia, onde o
melaço era transformado em rum e somado ao rum comprado nas Antilhas, que então era enviado para
a África com a finalidade de comprar escravos. Os escravos adquiridos eram comercializados novamente
com as Antilhas ou com as colônias do Sul que precisavam de mão-de-obra escrava para produção.
Outros triângulos incluíam carregamentos saídos da Filadélfia, Nova York ou Newport até a Jamaica,
onde ocorria a troca por melaço e açúcar que seguiam para a Inglaterra, onde as cargas eram trocadas
por tecidos e ferragens que retornavam para seus portos de origem.

139
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O desenvolvimento do comercio pelas colônias do Norte acabou desenvolvendo-se até um ponto em
que despertou o interesse da Inglaterra, no momento em que começou a concorrer com o comercio
metropolitano.

A intervenção da Inglaterra nas colônias


Com a intenção de frear uma possível concorrência das próprias colônias, a Inglaterra passa a aprovar
medidas que aumentem sua influência e poder.
A Guerra dos Sete dias (1756-63). Foi uma guerra travada entre a Inglaterra e a França (que
colonizara a região de Quebec, litoral atlântico do Canadá) pelos territórios hoje canadenses. A França
foi derrotada e perdeu seus territórios na América. Essa derrota garantiu um certo alívio para os colonos
que eram pressionados pela França, porém teve como resultado o aumento dos impostos cobrados na
colônia como forma de compensar os custos da guerra e punir os colonos, que não fizeram muito para
auxiliar a Inglaterra e obtiveram lucros através do comercio com franceses durante o conflito.
Aumento da opressão Inglesa: A Inglaterra venceu a guerra dos 7 anos, mas teve gastos enormes,
e resolveu transferir os custos da guerra para sua colônia aumentando os impostos. Os colonos não
aceitaram o aumento da pressão da Inglaterra. Entre as novas medidas da Inglaterra estavam:
- Lei do açúcar, ou Sugar Act.(1764) Determinava que somente poderiam consumir o açúcar
fornecido pela metrópole. Seriam proibidos de comprar açúcar do caribe, melhor e mais barato. Além
disso a fiscalização foi reforçada para impedir a ação de contrabandistas.
- Lei do Selo ou Stamp Act.(1765) A lei do selo determinava que fosse fixado um selo em todos os
documentos legais, contratos, jornais, folhetos, baralhos e dados. A reação dos colonos foi imediata, com
o argumento de que o imposto cobrado deveria permanecer nas colônias, e não ser enviado para a
Inglaterra.
Outro argumento de protesto dos colonos era a falta de representação no parlamento inglês, que era
responsável por aprovar as leis que influenciavam a vida e o comercio nas colônias. Em 1765 o
congresso da Lei do Selo decidiu boicotar o comercio inglês, porém mantendo-se fiel à coroa e seu
domínio. Com a queda nas negociações o parlamento inglês foi pressionado pelos comerciantes ingleses,
que contaram com o auxílio de William Pitt e Edmund Burke para revogar a Lei do Selo e reduzir os
impostos sobre a importação do melaço.
A tensão entre colônia e metrópole agravou-se ainda mais com a chegada de Charles Townshend ao
posto de primeiro-ministro. Em 1767 foram aprovados os Atos de Townshend baseados na ideia de que
os colonos deviam impostos para a metrópole sobre os produtos importados, como chá, vidro, papel,
zarcão e corantes. Novamente houve boicote comercial por parte dos colonos e pressão por parte dos
comerciantes, o que levou ao fim dos Atos de Townshend em 1770, com exceção da Lei do Chá
A Lei do Chá ou Tea Act dava o monopólio do comercio de chá para a Companhia das Índias
Orientais, o que atendia ao interesse de diversos políticos ingleses. A intenção era de que o comercio
fosse feito diretamente entre as índias e as colônias americanas, sem intermediários, o que aumentaria
o lucro da companhia e diminuiria o preço para o consumidor final.
A Lei do Chá criou uma grande preocupação entre os colonos, já que nada impedia que outras leis
semelhantes fossem criadas, o que prejudicaria muitos comerciantes americanos. Como maneira de
revidar, comerciantes em Boston fantasiaram-se de índios Mohawks e destruíram trezentas caixas de chá
dos porões de navios parados no porto de Boston, em um episódio que ficou conhecido como Boston
tea party ou Festa do Chá de Boston.
Como forma de controlar as revoltas na colônia e firmar sua posição de dominação a Inglaterra baixou
em 1774 as Leis Intoleráveis, que interditaram o porto de Boston até que fossem reparados os danos,
estabeleceram novos critérios de julgamento para funcionários ingleses que cometessem crimes e dando
poderes excepcionais para o governador de Massachusetts. Além disso, o governo resolveu conter a
expansão para o interior do continente, determinando como limite as montanhas Allegheny, uma extensão
dos montes Apalaches. Qualquer território a oeste deste ponto foi considerada reserva indígena. A
proibição da expansão foi um duro golpe para os produtores do Sul, que quando endividados vendiam
suas terras e rumavam para oeste em busca de novas áreas de plantio para manter seus negócios.
A Lei da Moeda, ou Currency Act que havia sido aprovada em 1764, proibia a emissão de moedas
nas colônias, o que limitava a alta dos preços de produtos agrícolas e tornava mais complicada a situação
dos plantadores.
Foram convocadas dois grandes congressos: O primeiro e o segundo congresso da Filadélfia. No
primeiro somente queriam a abolição das medidas restritivas da metrópole e o retorno da situação
anterior, mas diante da recusa inglesa de aceitar as exigências dos colonos, o segundo congresso decidiu
pela independência e a Inglaterra declarou guerra. Thomas Jefferson redigiu a Declaração de
Independência dos Estados Unidos da América. A Guerra se estendeu por sete anos e em 1777 foi

140
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
redigida a primeira constituição dos EUA. Esta constituição, assim como todo o processo de
independência, foi profundamente influenciada pelas ideias iluministas. Foi proclamada a república
presidencialista, adotada uma constituição democrática, regime federalista (autonomia jurídica dos
estados do pais), garantia da propriedade privada e várias garantias individuais. Apesar de todos estes
avanços a escravidão foi mantida. O primeiro presidente dos EUA foi George Washington.

Relação entre a Independência dos Estados Unidos e o Iluminismo 40


A independência americana foi baseada nas ideias iluministas, tais como: igualdade, direito à
liberdade, participação popular nas decisões políticas através da escolha dos representantes dos
cidadãos para governar a nação (voto); a divisão dos três poderes e a elaboração de uma Constituição
que define a vida do país. Tais características podem ser identificadas na Declaração de Independência
dos Estados Unidos da América na qual está registrado: "Todos os homens foram criados iguais, foram
dotados de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade"
e "que, a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos
poderes do consentimento dos governados". Por ter proclamado o direito à resistência contra um governo
opressivo, influenciou a revolução francesa. Nos Estados Unidos da América, apesar da forte presença
da escravidão negra, não havia nobreza, servidão de camponeses nem uma igreja oficial.
A Constituição, que vigora até o presente, zela pelo equilíbrio entre os três poderes (o legislativo, o
judiciário e o executivo).

FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA

O nacionalismo na América Latina41


A colonização e suas diversas vertentes foi um fator fundamental para a fragmentação da América
como unidade territorial. As diferentes formas de exploração colonial se manifestaram através da
utilização feita pelas metrópoles e foi um fator fundamental para a divergência destas unidades, que
tinham tantas convergências entre si.
- América Hispânica: servidão ameríndia;
- América Lusitana: escravidão africana;
- América Anglo-Saxônica: plantações sulistas escravocratas e propriedades familiares nortistas;
- Caribe: plantations, nações micro-insulares e piratas.
O século XIX foi marcado pela estruturação dos Estados nacionais na América, e teve como ponto de
partida os primeiros processos de independência, no início do mesmo.
As colônias espanholas e portuguesa foram palco de transformações políticas e econômicas,
marcadas por guerras civis e conflitos na disputa por territórios, poder e influência.
A própria geografia territorial influenciou nas disparidades entre os diferentes espaços, tendo a
metrópole dedicado maior interesse à núcleos específicos, que ficava concentrados e separados por
barreiras geográficas, como desertos ou cordilheiras.
A invasão da Espanha pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte em 1810 catalisou todo o
processo de independências na América Latina.
As elites criollas (filhos de espanhóis nascidos na América) influenciaram-se por ideais iluministas de
libertação da França e de república independente dos Estados Unidos, buscaram seus próprios processos
emancipatórios através de líderes como Simon Bolívar e José de San Martí
Com a restauração da Coroa em 1814, intensificaram-se os ideais de libertação frente a uma ofensiva
recolonizadora da Espanha.
Bolívar então propôs, na Carta da Jamaica, a unificação da América Hispânica, desde o México até a
Argentina e sua independência em relação à metrópole.
“É uma ideia bastante grandiosa pretender formar uma só nação (...) Já que tem uma origem, uma
língua, uma religião e os mesmos costumes deveria, por consequência ter um só governo, que será
configurado através de diferentes estados que haverão de formar-se. Mas não é possível, porque climas
remotos, situações diversas, interesses opostos e caráter discrepante, dividem a América.”
Simon Bolívar, em Carta de Jamaica.
Mais tarde, em seu discurso Carta de Angostura, Bolívar insiste na necessidade de se partir da própria
realidade e busca conscientizar o povo através de questionamentos sobre sua própria identidade.
A fragmentação territorial da América Hispânica se deu sobre forma de oligarquias regionais, que
herdaram o modo administrativo metropolitano.

40 http://aformacaodosestadosunidos.blogspot.com.br/2013/04/relacao-entre-independencia-americana-e.html
41 https://bit.ly/2vsGfaO

141
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Bolívar, então presidente da Grã- Colômbia, convocou o Congresso do Panamá, numa última tentativa
de integração, mas poucas nações compareceram e o Congresso foi um fracasso.
Esta fragmentação foi fator gerador de diversos conflitos, guerras civis e de fronteiras, já que os novos
Estados formaram-se baseados na defesa dos interesse da elite criolla e dos caudilhos políticos regionais.
O México ainda propôs iniciativas para reintegração, revelando ambições de tornar-se líder
regionalmente, mas perdeu força após a Guerra com os Estados Unidos. O projeto bolivariano
concentrou-se na América do Sul.
No fim do século XIX o hispano-americanismo foi substituído pelo pan-americanismo, graças à
ascensão dos EUA como grande potência mundial e aos sucessivos fracassos nas tentativas
integracionistas.
Este pan-americanismo teve suas bases na Doutrina Monroe, que foi um projeto norte-americano para
estender sua influência à América Latina e impedir que nações europeias pudessem fazer o mesmo.
A “América para os americanos” sintetizava a oposição entre república independente e colonialismo
europeu e denotava o interesse norte-americano em estabelecer uma área onde tivesse acesso a
mercados e comoddities.
Esse duplo caráter da Doutrina Monroe -anticolonial e expansionista- foi o principal fator para sua
manutenção durante tanto tempo, servindo como base ideológica para a construção de toda esfera de
influência dos EUA.

Formação dos Estados Nacionais


A fragmentação do território e a consequente formação dos Estados nacionais foram causadas por
dois fatores fundamentais e inter-associados.
A Internacionalização do modo de produção capitalista: conduziu à uma maior internacionalização do
poder burguês mundialmente, que buscava a expansão e internacionalização da economia. Esta
economia internacional caracterizava-se por princípios de livre-comércio, divisão internacional do trabalho
de acordo com as vantagens comparativas de cada país. Foi um processo de caráter econômico-social.
Emancipação das Colônias Ibéricas: estes processos emancipatórios tiveram influência em no aspecto
político-militar, contribuindo para a formação de um conceito de América Latina e seus limites territoriais.
A identidade nacional, da maneira como foi concebida, prevê a participação popular na vida política,
ou ao menos da classe média mais intelectualizada. Na América espanhola a intensa participação popular
e a existência de vertentes mais radicais foi motivadora de diversos conflitos.
O poder político tinha caráter local e regional e este poder, geralmente representado pelas elites e
criollos, não possuía senso nacionalista e suas negociações econômicas aconteciam preferencialmente
com o exterior. Este fato iniba a construção de um mercado interno e de um maior desenvolvimento
econômico dos novos Estados.
A unidade da América era um problema geopolítico e econômico, já que não podia manter-se devido
à enorme extensão territorial, demografia irregular, entre outros.
A disparidade entre a crescente ascensão dos EUA e aos grandes problemas enfrentados pelas
nações latinas, deu espaço para a elaboração das mais diversas tentativas de integração, onde nações
buscavam associar-se, sem, no entanto, perder sua autonomia ou soberania. Foi um complexo processo
de associação e confrontamento entre as nações, que também buscavam sua própria auto definição e
identidade nacional.
Haviam duas correntes principais, e opostas, quanto ao relacionamento entre as nações latino-
americanas.
Projeto Modernizador: seguia diretrizes dos países mais desenvolvidos. Buscavam avanço tecnológico
e priorizavam modernização em detrimento das origens culturais.
Projeto Identitário: buscava a valorização da identidade latina, da soberania nacional e do
aprofundamento dos laços de solidariedade. A valorização dessas soberanias visava a manutenção das
independências políticas e da integridade territorial. Valorização cultural do latino, do indígena, do
humanista e da não-intervenção dos países desenvolvidos nas nações latino-americanas.

Questões

01. (PUC/PR) Leia o texto a seguir e extraia a ideia central:


"São verdades incontestáveis para nós: todos os homens nascem iguais; o Criador lhes conferiu certos
direitos inalienáveis, entre os quais os de vida, o de liberdade e o de buscar a felicidade; para assegurar
esses direitos se constituíram homens-governo cujos poderes justos emanam do consentimento dos
governados; sempre que qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins, assiste ao povo o direito

142
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
de mudá-la ou aboli-la, instituindo um novo governo cujos princípios básicos e organização de poderes
obedeçam às normas que lhes pareçam mais próprias para promover a segurança e a felicidade gerais."
(Trecho da "Declaração de Independência dos Estados Unidos da América", Ministro das
Relações Exteriores, EUA.)
A ideia central do texto é:
(A) A forma de governo estabelecida pelo povo deve ser preservada a qualquer preço.
(B) A realização dos direitos naturais independem da forma, dos princípios e da organização do
governo.
(C) Cabe ao povo determinar as regras sob as quais será governado.
(D) Todos os homens têm direitos e deveres.
(E) Cabe aos homens-governo estabelecer as regras para o povo.

02. (CESGRANRIO) No século XVIII, a revogação da Lei do Selo causou grande tristeza aos políticos
ingleses, o que, entretanto, contrastava com a alegre movimentação dos trabalhadores na beira do cais,
em decorrência da reabertura dos armazéns de manufaturados e da partida para a América de inúmeros
navios carregados de mercadorias.
Assinale a opção que explica corretamente a "tristeza" dos políticos com a revogação da Lei do Selo.
(A) A revogação da Lei do Selo representou um golpe nas pretensões inglesas de arrecadação,
mediante impostos, nas colônias americanas.
(B) A revogação da Lei do Selo significou a vitória dos norte-americanos que, assim, não mais
precisariam pagar impostos sobre o chá, o ferro e o açúcar.
(C) A pressão popular sobre o Parlamento aumentou, já que, com a revogação da Lei do Selo, do Chá
e do Açúcar, os membros das Câmaras dos Lordes e dos Comuns voltaram a ficar submetidos ao rei
inglês.
(D) Em meados do século XVIII, a metrópole inglesa perdeu cerca da metade de seu mercado
consumidor de manufaturas, face ao crescimento da produção colonial.
(E) As Treze Colônias criaram impedimentos à atuação inglesa no continente americano, delimitando
a ação da metrópole exclusivamente às áreas de plantation do sul.

03. (FATEC) A Lei do Açúcar (1764), a Lei do Selo (1765) e a Lei Townshend (1767) representaram,
quando implementadas, para
(A) os EUA, um estopim à declaração de guerra à França, aliada, incondicionalmente, aos interesses
ingleses.
(B) a França e a Inglaterra, formas de arrecadação e controle sobre o Quebec e sobre as Treze
Colônias.
(C) os EUA, uma excepcional oportunidade, pela cobrança destes impostos, à ampliação de seus
mercados interno e externo.
(D) as Treze Colônias, uma medida tributária que possibilitou a expansão dos negócios da burguesia
de Boston na Europa, marcando, assim, o início da importância dos EUA no cenário mundial.
(E) a Inglaterra, uma alternativa para um maior controle sobre as Treze Colônias, e, também, uma
medida tributária que permitisse saldar as dívidas contraídas na guerra com a França.

04. (FGV) Uma forma de arrecadação de imposto e de censura foi imposta pela metrópole inglesa aos
colonos das Treze Colônias, em 1765, através da(s):
(A) leis denominadas, pelos colonos, intoleráveis;
(B) Lei do Selo;
(C) Lei Townshend;
(D) criação de um tribunal metropolitano de averiguação de preços e documentos na colônia.
(E) permissão de circulação exclusiva de jornais ingleses metropolitanos.

Gabarito

01.C / 02.A / 03.E / 04.B

143
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Comentários

01. Resposta C.
O trecho destacado tem relação com as ideias do iluminismo, com os ideais de que o povo tem poder
para escolher seus governantes, ao contrário do absolutismo onde o rei governava de maneira total e
com poderes ilimitados.

02. Resposta A.
A revogação da Lei do Selo foi um golpe nas pretensões econômicas inglesas, acabando com a
arrecadação pretendida. As outras leis citadas, como a Lei do Chá ainda não havia sido criada e a lei do
açúcar ainda permanecia, sendo necessário ainda o pagamento dos impostos provenientes dela.

03. Resposta E.
Os constantes conflitos com a França geraram enormes gastos para a Inglaterra, que viu em suas
colônias uma fonte de renda extra para cobrir as despesas. Essas leis também serviram para aumentar
o ódio e descontentamento dos colonos em relação à metrópole, o que viria a causar alguns anos depois
as revoltas pela independência dos Estados Unidos, que foram apoiados inclusive pela França.

04. Resposta B.
A Lei do Selo foi criada em 1765, estabelecendo que todos os documentos em circulação
na colônia americana deveriam receber selos provenientes da colônia. A Lei de Townshend foi criada em
1767 e determinava a taxação de artigos de consumo como o chá, o vidro, o papel e outros, além da
criação de tribunais alfandegários nas colônias.

Brasil: lutas pela independência, a transmigração da família real, o processo de


independência e o Estado Monárquico;

BRASIL COLONIAL

Da Organização da Colônia ao Governo Geral

• A organização colonial mostrada aqui é aquela a partir de 1530, após o chamado período pré-colonial.
É o período após o envio da expedição de Martin Afonso de Souza com a intenção de policiar, ocupar e
explorar efetivamente o território brasileiro, aceito como início real da colonização.

As Capitanias Hereditárias

Fonte: http://www.estudopratico.com.br/

A implantação do regime de capitanias hereditárias no Brasil em 1534 está vinculada com a


incapacidade econômica do Estado português em financiar diretamente a colonização. Lembrando que o

144
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
comércio com as Índias, maior responsável pelo excedente da balança comercial portuguesa já não era
tão lucrativo.
Por essa razão, e considerando a necessidade de se colonizar o país, D. João III decidiu dividir o
território em capitanias hereditárias para que elas se “auto colonizassem” com recursos particulares sem
que a coroa tivesse que investir dinheiro.
O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo
Verde e São Tomé) e no próprio Brasil já existia a capitania de São João, correspondente ao atual
arquipélago de Fernando de Noronha.
O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias e doadas a doze donatários. Os limites de cada
território definido sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral, estavam especificados na Carta de
Doação. Este documento estipulava que a capitania seria hereditária, indivisível e inalienável, podendo
ser readquirida somente pela Coroa.
Nesse processo havia um segundo documento: o Foral, que regulamentava minuciosamente os
direitos do rei. Na realidade, os donatários não recebiam a propriedade das capitanias, mas apenas sua
posse. Ainda assim possuíam amplos poderes administrativos, militares e judiciais, respondendo
unicamente ao soberano. Tratava-se portanto de um regime administrativo descentralizado.
São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que prosperaram. O fracasso do projeto como
um todo decorreu de vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande distância da
metrópole, excessiva extensão territorial, ataques indígenas, desinteresse de vários donatários e, acima
de tudo, insuficiência de recursos.
Motivado por esses fracassos, a saída encontrada pelo rei foi uma mudança na forma de administrar
a colônia, com a criação do Governo-Geral.
As capitanias hereditárias não desapareceram de uma vez com a criação do Governo-Geral, elas
foram gradualmente readquiridas pela Coroa até serem totalmente extintas, na segunda metade do século
XVIII pelo Marquês de Pombal.

* A relação de propriedades e nomes dos donatários e suas capitanias já não é alvo de questões (é
mais pedida em vestibulares do que em concursos). De qualquer forma a lista segue abaixo. Sugiro que
foquem sua atenção mais nas características e motivos do fracasso do que na relação capitania-
donatário.

Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa),
Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira),
Espírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge
Figueiredo Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António
Cardoso de Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e Fernando
Álvares de Andrade).

Governo Geral

A ideia de D. João III era centralizar a administração colonial subordinando as capitanias a um


governador-geral que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do Brasil. Com esse objetivo
elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral no Brasil, que regulamentava as funções do
governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o
capitão-mor (Defesa).
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, fundador de Salvador, primeira cidade e capital do
Brasil. Com ele vieram os primeiros jesuítas.
A administração do segundo governador-geral, Duarte da Costa, apresentou mais problemas que seu
antecessor:
- revoltas dos índios na Bahia
- conflito entre o governador e o bispo
- a invasão francesa do Rio de Janeiro (criação da França Antártica).

Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, mostrou-se tão eficiente que a metrópole
o manteve no cargo até sua morte. Foi ele quem conseguiu expulsar os invasores franceses, com ajuda
de seu sobrinho Estácio de Sá.
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida temporariamente em dois governos-gerais:
a primeira teve como divisão a Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul, com capital no
Rio de Janeiro.

145
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A segunda divisão foi durante a União Ibérica42, onde o Brasil foi transformado em duas colônias
distintas: Estado do Brasil (cuja capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão
(cuja capital era São Luís e, depois, Belém). A reunificação só seria concretizada pelo Marquês de
Pombal, em 1774.
Além das Capitanias e do Governo-Geral, as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades
desempenhavam papel menor na administração do Brasil colonial. O controle das Câmaras Municipais
era exercido pelos grandes proprietários locais, conhecidos como "homens-bons". Entre suas
competências, destacavam-se a autoridade para decidir sobre preços de mercadorias e a fixação dos
valores de alguns tributos.
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas entre os já citados homens-bons. Elegiam-
se três vereadores, um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a presidência de um juiz ordinário
(juiz de paz).

Sistema Colonial

Sociedade
No topo da pirâmide social do período estavam os senhores de engenho. Eles dominavam a economia
e a política, exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas que viviam em seus domínios sob
sua proteção – os agregados. Era a chamada família patriarcal.
Na camada intermediária estavam os homens livres, como religiosos, feitores, capatazes, militares,
comerciantes, artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e escravos, porém não exerciam
grande influência individualmente, principalmente em relação à economia.
Na base estava a maior parte da população, que era composta de africanos e índios escravizados
(sendo os índios a primeira tentativa de escravidão). Os escravos não eram vistos como pessoas com
direito a igualdade. Eram considerados propriedade dos senhores e faziam praticamente todo o trabalho
na colônia. Os escravos nas zonas rurais não tinham nenhum direito na sociedade e começavam a
trabalhar desde crianças.
A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas
tendências e mudanças. Suas características básicas entretanto, definiram-se logo no início da
colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste
açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada
pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações dos séculos seguintes 43.
No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento
populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para
atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda conservasse o
seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma
relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos
XVI e XVII.
Os folguedos (festas populares) das camadas mais pobres conviviam com os saraus e outros eventos
sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover em cadeirinhas ou redes
transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque para os
chamados negros de ganho44.

Escravos e homens livres na Colônia


No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada amplamente. A escravidão está presente na
formação do país, desde os índios aos negros que chegavam em navios, a utilização do trabalho escravo
se deu pela intenção de maximizar lucros através da super exploração do trabalho e do trabalhador.
Apesar da ampla utilização do trabalho escravo, este não foi o único. Uma parte da sociedade era livre,
composta de trabalhadores livres, que no início eram apenas os portugueses condenados ao exílio na
América como punição.
Ser livre, mas pertencer ao último estamento social na colônia significava apenas não ser escravo.
Mesmo sendo livres, os mais pobres eram marginalizados e tinham poucas chances de ascensão sendo
privados de exigir melhores situações econômicas. No grupo de trabalhadores livres estavam os
desgredados portugueses, escravos forros (libertos) e os pardos.

42 *A União Ibérica foi o período em que o império português e espanhol estiveram sob a mesma administração. Quando D. Sebastião – Rei de Portugal - desapareceu
durante conflitos contra os mouros na África sem deixar herdeiros diretos, o trono português foi ocupado provisoriamente por seu tio-avô. Após seu falecimento,
Felipe II, rei da Espanha e tio de D. Sebastião assume o trono português. Esse período durou 60 anos (1580 – 1640). Ele influenciou definitivamente as relações
entre Portugal e Espanha e alterou de forma marcante nosso território originalmente definido pelo Tratado de Tordesilhas.
43 https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/sociedade-colonial-brasileira
44 Escravos que repassavam todos os ganhos de seu trabalho aos seus donos.

146
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação de posição dos trabalhadores livres, em
que os senhores de engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão da terra através das
sesmarias45 beneficiava os mais abastados que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma
parte para colonos que não possuíam condições para ter sua própria terra, denominando assim os
senhores de engenhos (produtores de açúcar) e os agricultores (produtores de cana). As relações entre
senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado
internacional, formaram o setor açucareiro.

A Resistência à Escravidão
Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência escrava. No Brasil os escravizados
criaram diversas maneiras de resistência ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em que
a escravidão existiu entre nós. A resistência poderia assumir diversos aspectos: fazer “corpo mole” na
realização das tarefas, sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de
quilombos. Qualquer tipo de afronta à propriedade senhorial por parte do escravizado deve ser
considerada como uma forma de resistência ao sistema escravista.
As motivações que levavam um escravizado a fugir eram variadas e nem todas as fugas tinham por
objetivo se livrar do domínio senhorial. De forma contrária, às vezes, o escravizado fugia à procura de um
outro senhor que o comprasse; caso o seu senhor não aceitasse a negociação, ele poderia continuar
fugindo e, portanto, dando prejuízos e maus exemplos, até que seu senhor resolvesse vendê-lo.
Era comum a fuga por alguns dias, quando em geral o escravizado ficava nas imediações da moradia
de seu senhor, às vezes para cumprir obrigações religiosas, outras para visitar parentes separados pela
venda, outras ainda, para fazer algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor da alforria.

Os Quilombos
Os quilombos ou mocambos (conjunto de habitações miseráveis) existiram desde a época colonial até
os últimos anos do sistema escravista e assim como as fugas, foram comuns em todos os lugares em
que existiu escravidão. A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga de
rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois
significava viver sendo perseguido não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso.
O Brasil teve em sua história vários grandes quilombos e o mais conhecido foi Palmares. Palmares foi
um quilombo formado no século XVII, na Serra da Barriga, região entre os estados de Alagoas e
Pernambuco. Localizado numa área de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado
com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha por modelo a organização social de
antigos reinos africanos. Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil pessoas.
Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em 1888, as comunidades negras deram outro
sentido ao termo “quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao cativeiro, mas
sim como morada e sobrevivência da família negra em pequenas comunidades onde seus valores
culturais eram preservados. Tais comunidades receberam diferentes nomeações: remanescentes de
quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de
terreiro.

Educação
A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos padres jesuítas no final da primeira metade
do século XVI, inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase da educação no país,
observando que a sua relevância encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e civilização
brasileiras46.
Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Logo perceberam que não
seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever.
De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos depois da sua
chegada, já eram compostos por cinco escolas de instrução elementar – cursos de Letras, Filosofia e
Teologia -, localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga,
e três colégios, localizados no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
A educação era privilégio apenas das classes abastadas, pois as famílias tradicionais faziam questão
de terem entre seus filhos um doutor (médico ou advogado) e um padre. A educação era usada como
instrumento de legitimação da colonização, inculcando na população ideias de obediência total ao Estado
45 Sesmarias nada mais eram do que pedaços de terra doados a beneficiários para que estes a cultivassem. Assim como no exemplo das capitanias, a posse real
ainda era da Coroa e os beneficiários, deviam cumprir uma série de exigências para garantir sua posse. Diferentemente das capitanias, ela não podiam ser divididas
em novos lotes.
46 OLIVEIRA, M. B. AMANDA. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. Revista Brasileira de História da Religiões.
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/005%20-%20AMANDA%20MELISSA%20BARIANO%20DE%20OLIVEIRA.pdf

147
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
português. Os jesuítas impunham um padrão educacional europeu, que desvalorizava completamente os
aspectos culturais dos índios e dos negros.
Em relação às mulheres, mesmo as das famílias mais abastadas raramente recebiam instrução
escolar, e esta limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas domésticas. As crianças escravas por
sua vez estavam excluídas do processo educacional, não tendo acesso às escolas.

Religião
A origem do processo de ocupação territorial do Brasil, serviu também para as intenções da igreja
católica.
Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos no ideal similar ao das cruzadas, adotando
o catolicismo como símbolo do poder da coroa.
Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da
fé em cristo era vista como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação
que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis.
Havia também o outro lado da moeda, em que o gentil era visto como potencialmente um servo da
coroa e de Deus, desde que tivesse a devida instrução. Essa ideia era defendida por muitos jesuítas,
como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido por defender o direito de liberdade dos nativos
cristianizados.
Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a
soberania do Estado.

A Religiosidade Africana
Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de
escravos, considerados utensílios de trabalho semelhantes a uma ferramenta, os africanos foram
obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa47.
Apesar disso, elementos das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia
cristã.
Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia (múltiplos
sentidos de uma palavra) e sincretismo48 religioso brasileiro.
Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades
representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial.
Surgiram como forma de conferir status e proteção aos seus membros, sendo responsáveis pela
construção de capelas, organização de festas religiosas e pela compra de alforrias de seus irmãos,
auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da população escravizada.
Entretanto, ao se organizarem geralmente em torno da devoção a um santo específico que assumiu
múltiplos significados, incorporando ritos e cultos que eram originais aos deuses africanos, permitiram o
nascimento de religiões afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu.

Os Judeus
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de
perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal.
Aos olhos do Estado, os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto
pela Inquisição sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas.
O Brasil se transformou na terra prometida para os cristãos-novos portugueses, compelidos a
migrarem para novas terras em além-mar.
Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no reino, tendo em vista o fato da Inquisição
nunca ter se instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações do Santo Ofício em 1591, 1605,
1618, 1627, 1763 e 1769.
Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba e no Maranhão; os cristãos-novos recém-
chegados integraram-se rapidamente ocupando cargos nas Câmaras Municipais em atividades
administrativas, burocráticas e comerciais, destacando-se também como senhores de engenho, algo
impensável em Portugal.
Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos continuaram a exercer práticas judaicas no
interior de seus lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários clandestinamente e ao mesmo
tempo, adotando uma postura pública católica respondendo a uma necessidade de adesão, participação
e identificação.

47 MOREIRA, S. ANTONIA. Intolerância Religiosa em Acapare. UNILAB.


http://repositorio.unilab.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/373/1/Antonia%20da%20Silva%20Moreira.pdf
48 Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.

148
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Cultura
As manifestações artístico-culturais foram até o século XVII, condicionadas às atividades
desenvolvidas aos centros de educação, que eram os colégios jesuíticos. No trato social alicerçavam-se
práticas, usos e costumes que seriam marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do
século XVIII esse cenário mudou.
Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações tornaram-se presentes, como a arte
barroca (seja ela plástica ou literária), as manifestações árcades e parnasianas, principalmente ligadas a
uma referência mais letrada e influenciada pelos matizes europeus (a produção cultural não era mais
monopólio da igreja).

Economia
• A primeira atividade extrativista lucrativa da colônia foi em torno da exploração do pau-brasil. É
considerado seu ápice ainda no período pré-colonial, anterior a 1530 com a chegada de Martin Afonso e
o empenho dos primeiros engenhos. Tratamos aqui a partir do cultivo de cana e produção do açúcar.

- A cana-de-açúcar
Houveram muitos motivos para a escolha da cana como principal produto da colônia, sendo o principal
a ocorrência do solo de massapê, propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, era um produto
muito bem cotado no comércio europeu.
As primeiras mudas chegaram no início da ocupação efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim
Afonso de Souza e plantadas no primeiro engenho, construído em São Vicente.
Os principais centros de produção açucareira do Brasil localizavam-se nos atuais estados de
Pernambuco, Bahia e São Paulo.
A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente ligada à indústria açucareira. A economia
de plantation49 possui relação intensa com os interesses dos proprietários de terras que lucravam
enormemente com as culturas de exportação.
O latifúndio formou-se nesse período tendo consequências até os dias de hoje. A produção da cana-
de-açúcar também contribuiu para a vinculação dependente do país em relação ao exterior, a monocultura
de exportação e a escravidão com suas consequências. A colônia portuguesa de exploração prosperou
graças ao sucesso comercial de sua produção.
Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia, na região de Pernambuco, que era a maior
produtora de açúcar na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o
conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses
conhecimentos criaram as bases para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente,
de produção de açúcar em grande escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos holandeses,
que haviam sido expulsos pelos portugueses, fez com que o Brasil perdesse o monopólio que exercia no
mercado mundial do açúcar, levando a produção a entrar em declínio.

- Outras atividades econômicas


Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se rapidamente, pois o capital necessário para a
montagem de uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram fartas e o criador precisava
somente requerer a doação de uma sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra.
As instalações das propriedades pastoris eram comuns, com poucas casas e alguns currais feitos com
material encontrado nas localidades. O método de criação também era muito simples, feito de maneira
extensiva (o gado vivia solto no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou especializada.
Na região amazônica a geografia impedia a implantação de fazendas de cultivo ou a criação de
animais. Ao penetrarem os rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios utilizavam uma
grande variedade de frutas, ervas, folhas e raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos
utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum, guaraná, cravo e resinas aromáticas foram
chamados de drogas do sertão, e possuíam bom valor de comércio na Europa, podendo ser vendidas
como substitutas ou complementos das especiarias. Além das plantas, outras variedades de drogas do
sertão incluíam: gordura de peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e felinos.

- O ciclo do ouro
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para
as regiões onde foi encontrado o ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais.
Praticamente todas as pessoas que se deslocaram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se

49 Possui como características: latifúndio, mão de obra escrava e interesses voltados à exportação.

149
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
exclusivamente na exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a
sobrevivência, como a produção de alimentos.
Isso gerou uma profunda escassez de mercadorias na região. Era comum entre os anos de 1700 e
1730 a ocorrência de crises de fome caso o acesso a outras regiões das quais os produtos básicos eram
adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar com a expansão de novas atividades, e
com a melhoria das vias de comunicação.

- Impostos e a administração da coroa


Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas em Minas Gerais, a Coroa publicou o
Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para as minas de ouro, no ano
de 1702.
Para executar o regimento, cobrar impostos e superintender o serviço de mineração, foram criadas as
Intendências de Minas, uma para cada capitania em que houvesse a extração de ouro.
Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a comunicação para a Intendência. O Guarda-
mor, então, dirigia-se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser explorado. Este era dividido em
lotes, que eram chamados de datas.
As datas eram entregues através de sorteio. No dia da distribuição, comunicado com certa
antecedência, deviam comparecer todos aqueles que estivessem interessados em receber um lote; não
se admitiam procuradores ou representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito de escolher
uma data, mas também de receber um prêmio em dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data
para si, vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram sorteadas entre os presentes.
Encerrado o sorteio, se sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição suplementar. Se o número
de interessados era muito grande, o tamanho das datas era reduzido. Normalmente as datas eram lotes
com no máximo 50 metros de largura.
No início da atividade mineradora foi estabelecido um imposto para as pessoas que se dedicavam à
extração: o quinto. Correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser pago para a Coroa. Como era
difícil determinar se uma barra ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era uma pratica
fácil de ser realizada.
Com o objetivo de regularizar a cobrança, foi criado um imposto adicional chamado finta50 que não
funcionou como planejado e acabou sendo extinto. Para resolver o problema o governo criou as Casas
de Fundição, das quais a mais famosa foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725.
Nas casas de fundição o minerador entregava seu ouro, que era fundido e transformado em barras,
das quais era descontado o quinto. Após as Casas de Fundição, também foi proibida a comercialização
e exportação de ouro em pó. É possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos do pau oco”
(imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas com ouro em pó, para fugir da fiscalização e da
cobrança).
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Capitação. Era um imposto per capita, pago
em ouro pelas pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora.
Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. Apesar disso, era exigida uma arrecadação
mínima de 100 arrobas de ouro por ano. Caso não fosse atingida a arrecadação era decretada a derrama:
cobrança da quantidade que faltava para completar as 100 arrobas de arrecadação.
Conforme as jazidas foram se esgotando, a produção de ouro caiu assim como a arrecadação de
impostos. As suspeitas de sonegação de impostos e a violência da Intendência aumentaram juntamente,
gerando atritos e conflitos entre autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência Mineira de
1789.
Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de empreendimentos: lavras e faiscações.
As lavras eram unidades de produção relativamente grandes, podendo até possuir equipamento
especializado e o trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento de alto capital, sendo
rentável apenas em jazidas de ouro de tamanho suficientemente grande.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, trabalhavam somente algumas pessoas
(por vezes eram até mesmo compostas de trabalhadores individuais). Era comum a prática do envio de
escravos por homens livres para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos.

Expansões Geográficas

Entradas e bandeiras, conquista e colonização do nordeste, penetração na Amazônia, conquista do


Sul, Tratados e limites.

50 30 arrobas de ouro cobradas anualmente.

150
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Bandeiras e Bandeirantes
As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de
caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expansão territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São
Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de
metais preciosos no interior e particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino
durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a
busca mineral.

• As entradas tinham uma origem diferente, porém com finalidade semelhante à dos bandeirantes.
Enquanto o movimento das bandeiras tratava-se de uma expedição particular (normalmente financiada
pelos próprios paulistas) com objetivo de obter lucros (encontrando metais preciosos, preando índios ou
comercializando as ervas do sertão), as entradas eram expedições financiadas pela Coroa, normalmente
composta por soldados portugueses e brasileiros. Embora o objetivo inicial fosse mapear o território
brasileiro e facilitar a colonização, as entradas também envolviam-se em conflitos com os índios
(principalmente aqueles que apresentavam resistência) e, como era de se esperar, também lucravam
com isso.

A Caça ao Índio
Inicialmente a caça ao índio (preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a
prestação de serviços domésticos aos próprios paulistas. Porém logo transformou-se em atividade
lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
(cultura do trigo) paulista.
Na primeira metade do século XVII os vicentinos (bandeirantes da Vila de São Vicente) realizaram
incursões principalmente contra as reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias
missões, como as do Guairá, Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses,
que haviam ocupado uma parte do Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos
negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos no Brasil.

O Bandeirismo de Contrato
A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do
Nordeste com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do
bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi
a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente
como Palmares.
A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na
América. Num espaço muito curto os bandeirantes devassaram o interior da colônia explorando suas
riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste
do Brasil.
Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru atingindo a foz
do rio Amazonas, completando assim o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, os bandeirantes agiram
de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do
sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.

Conquistas e Tratados
Fato curioso na ação das bandeiras e entradas é que eles não tinham real noção do tamanho do nosso
território. Era comum pensarem que se adentrassem o suficiente, logo chegariam às colônias espanholas.
As necessidades econômicas (que já falamos acima) levaram os portugueses a adentrar muito mais do
que o combinado no Tratado de Tordesilhas e posteriormente obrigou os governos a reconhecerem novos
acordos.
No século XVII um evento ajudou para que essa expansão ocorresse sem maiores problemas. Trata-
se da União Ibérica. Para a expansão territorial brasileira isso foi ótimo. Primeiro por estreitar as relações
entre colônias portuguesas e espanholas e depois por, quando dos portugueses adentrarem o território
além do estabelecido não encontrarem nenhum problema, afinal os espanhóis entendiam que o seu povo
estava povoando a sua terra.
Os limites estabelecidos em Tordesilhas foram tão alterados e de forma tão definitiva (várias novas
colônias já haviam sido estabelecidas) que um novo acordo sobre os limites territoriais entre Portugal e
Espanha foi estabelecido: o Tratado de Madri (1750). Em resumo ele reconhecia que a maioria do
território desbravado pertencia a Portugal, baseado no princípio da posse por uso.

151
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
• No período colonial, que dura até o ano de 1815 quando o Brasil é elevado à categoria de Reino
Unido de Portugal e Algarves, ainda teremos o início dos conflitos da Cisplatina (1811 – 1828) – disputa
entre Portugal e Espanha em torno da fronteira do RS devido às pretensões espanholas de controlar o
rio da Prata -. Porém esse conteúdo é mais comumente pedido dentro do período imperial, talvez pelo
seu final ter sido após 1822.

União Ibérica
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião de Portugal,
desapareceu. Com isso teve início uma crise sucessória do trono português, já que o rei não deixou
descendentes. O trono foi assumido por um curto período de tempo por seu tio-avô, o cardeal Dom
Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros.
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, demonstrou o interesse
em assumir o trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca
hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito.
Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo
governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se
recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o
comércio de escravos com os portugueses que controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o
controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros
obtidos através da arrecadação tributária.
Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma significativa parcela dos privilégios e
posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses.
Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi
responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam
a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no
tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o
monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640 a
Restauração definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da
União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar
Portugal.

Invasões

Invasões Francesas
A França foi o primeiro reino europeu a contestar o Tratado de Tordesilhas que dividiu as terras
descobertas na América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram constantemente o litoral brasileiro
desde o período da extração do pau-brasil mantendo relações amistosas com os povos indígenas locais.
Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral:
tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os
colonizadores portugueses.
Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a França Antártica, criando uma sociedade
de influências protestantes. Através dos franceses, algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas
feitorias e fortes.
Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos entre os portugueses e a Confederação dos
Tamoios. Em 1567 os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os franceses do litoral
brasileiro, o que não desencorajou os ideais franceses.
No século XVII (1612), fundaram a França Equinocial, correspondente à cidade de São Luís, capital
do estado do Maranhão.
Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal enviou uma expedição militar à região do
Maranhão. Essa expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. Em 1615, foram
derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas onde fundaram uma
colônia, a chamada Guiana Francesa.
Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa no Brasil colonial,
os franceses passaram a saquear através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro no
século XVIII. A principal delas foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da
colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses;
entretanto, no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos

152
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
portugueses um alto resgate para libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no Brasil.

Invasões Inglesas
As incursões inglesas no Brasil ficaram restritas a ataques de piratas e corsários.
William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns
pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou
em Santos em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa
Elizabeth I.
O corso realizado pelos ingleses, entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século XVI,
quando os conflitos entre católicos e protestantes tornaram-se intensos na Inglaterra e os mercadores
empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas.
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James
Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a
Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês.

Invasões Holandesas
As invasões holandesas na primeira metade do século XVII estão relacionadas com a criação da União
Ibérica. Antes do domínio dos Habsburgos51, as relações comerciais e financeiras entre Portugal e
Holanda eram intensas. Pouco antes de Filipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos iniciaram uma
guerra de independência tentando libertar-se do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra de
libertação culminou com a União de Utrecht52, sob a chefia de Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam
as Províncias Unidas dos Países Baixos, mas a guerra continuou.
Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o comércio açucareiro luso-flamengo. O embargo de
navios holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias privilegiadas de comércio. Entre 1609
e 1621, houve uma trégua que permitiu a normatização temporária do comércio entre Brasil-Portugal e
Holanda. Em 1621, terminada a trégua, os holandeses fundaram a Companhia de Comércio das Índias
Ocidentais cujo alvo era o Brasil. Começava então a Guerra do Açúcar.
A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem
muita resistência e o governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso, tendo a cidade saqueada. A
população fugiu para o interior onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos Teixeira e por
Matias de Albuquerque. Os baianos também receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola
(“Jornada dos Vassalos”) e, em maio de 1625 os holandeses foram expulsos.
A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada contra Pernambuco, uma capitania rica em
açúcar e pouco protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A resistência foi comandada por
Matias de Albuquerque a partir do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os invasores
ampliassem sua área de dominação. Mas a traição de Domingos Calabar alterou a situação.
Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo conde Mauricio de Nassau-Siegen, que
expandiu o domínio holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola (fornecedora de
escravos). Porém, em 1638 fracassou ao tentar conquistar a Bahia.
Quando Portugal restaurou sua independência e assinou a Trégua dos Dez Anos com a Holanda,
Nassau continuou administrando o Brasil holandês de forma exemplar. Urbanizou Recife, fundou um
zoológico, um observatório astronômico e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e promoveu a vinda
de artistas e cientistas para o Brasil.
Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a economia canavieira. Sua política garantiu o
apoio da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da Companhia das Índias Ocidentais.
O desgaste com a Companhia levou Nassau a deixar o Brasil em 1644. Enquanto isso, os próprios
brasileiros organizaram a luta contra os flamengos com a Insurreição Pernambucana. Os líderes foram
André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias (negro) e o índio Filipe Camarão.
Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes foram vencidas pelos nativos. Em 1652, o apoio
oficial de Portugal e as lutas dos holandeses na Europa contra os ingleses em decorrência dos prejuízos
causados pelos Atos de Navegação de Oliver Cromwell, levaram os holandeses a Capitulação da
Campina do Taborda53.
Os holandeses foram desenvolver a produção de açúcar nas Antilhas, contribuindo para a crise do
complexo açucareiro nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o Tratado de Paz de Haia

51 Poderosa família que dos séculos XVI ao XX governaram diversos reinos na Europa, entre eles Áustria, Nápoles, Sicília e Espanha.
52 A União de Utrecht foi um acordo assinado na cidade holandesa de Utrecht, em 23 de Janeiro de 1579, entre as províncias rebeldes dos Países Baixos - naquele
tempo em conflito com a coroa espanhola durante a guerra dos 80 anos.
53 Acordo que estabelecia, entre tantas cláusulas que o governo holandês abdicava de suas terras no Brasil.

153
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(1661), graças a mediação inglesa. Segundo tal tratado a Holanda receberia uma indenização de 4
milhões de cruzados e a cessão pelos portugueses das ilhas Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o
direito de comercializar com maior liberdade nas possessões portuguesas, em razão da perda do Brasil
holandês.

As Rebeliões Nativistas
A população colonial já enraizada na terra e portanto, com fortes sentimentos nativistas, manifestou
seu descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em vista disto, surgiram os primeiros sinais
de rebeldia, denominados rebeliões nativistas.

Revolta de Beckman (1684)


Na segunda metade do século XVII, a situação da economia maranhense que nunca fora boa, tendia
a piorar. A Coroa, pressionada pelos jesuítas proibiu a escravização de indígenas, os quais eram a base
da mão-de-obra local utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de subsistência.
Visando melhorar a situação da capitania, o governo português criou em 1682 a Companhia de
Comércio do Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio maranhense e em troca deveria
promover o desenvolvimento da agricultura local.
A má administração da empresa gerou uma rebelião de colonos em 1684, sob a chefia dos irmãos
Manoel e Thomas Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da Companhia e a expulsão dos
jesuítas. A revolta foi sufocada pela coroa, mas a Companhia encerrou suas atividades.

A Guerra dos Emboabas (1708-1709)


Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento
ainda mais devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras
jazidas, cerca de 6 mil pessoas haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse número
quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela área.
Pouco depois surgiram os conflitos entre paulistas, que foram os descobridores das jazidas e primeiros
povoadores e os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, pernambucanos e baianos.
Os dois grupos disputavam o direito de exploração das terras. Os paulistas argumentavam que
deveriam ter o direito de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas defendiam que por
serem cidadãos do Reino também possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e 1709,
ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com derrotas sucessivas por parte dos paulistas.
O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a pacificação geral em 1709, quando foi
criada a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa.

A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714)


Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, originada pela
expulsão dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiro do fornecimento de açúcar
à Europa foi trágica para os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a burguesia lusitana de
Recife, que passou a financiar a produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas.
A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha correspondente político, visto que seus
habitantes continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, Recife conseguiu sua
emancipação político-administrativa transformando-se em município autônomo. Os olindenses,
comandados por Bernardo Vieira de Melo invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates,
chefiados por João da Mota.
A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando foi encerrada graças à mediação da Coroa.
O esforço da aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia.

Os Movimentos Emancipacionistas

As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados


pelo forte anseio de conquistar a independência do Brasil com relação a Portugal. Entre os principais
motivos para esses movimentos estavam:
- a alta cobrança de impostos;
- limites estabelecidos pelo Pacto Colonial que obrigava o Brasil de comercializar somente com
Portugal;
- a falta de autonomia e representação na criação de leis e tributos, além da política dominada por
Portugal;
- os ideais iluministas e separatistas vindos da Europa e dos Estados Unidos.

154
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Inconfidência Mineira (1789)
Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro nas Minas Gerais vinha apresentando um
grande declínio, o que aumentou os choques e conflitos entre a população local e as autoridades
portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento da
Derrama54, atitude que afetaria boa parte da elite local.
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que eram também os que mais teriam a perder
com as medidas do governo português, resolveram tomar uma atitude dando início em 1789 ao
movimento que seria chamado pela metrópole de Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira.
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata separação da colônia, criando uma República
moldada pelo pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados Unidos, que havia
conquistado sua independência em 1776. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole,
estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à
abertura de manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. Em relação à escravidão as
posições eram divergentes.
A revolta foi suspensa quando participantes da conspiração denunciaram o movimento ao governador.
O coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado como principal delator. Endividado com a coroa assim
como outros inconfidentes, o coronel resolveu separar-se do movimento e apresentar um depoimento
formal para o governador da capitania, Visconde de Barbacena. O governador suspendeu a cobrança e
mandou prender os inconfidentes.
Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos suspeitos foi instituída a devassa, uma
investigação levada a cabo pelas autoridades da época, constatando que envolveram-se no movimento
da Capitania das Minas grandes fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores de minas,
magistrados, militares, além de intelectuais luso-brasileiros.
Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e
Manuel Rodrigues da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, comandante militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, também
comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio
José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único “conspirador” que não fazia parte da elite.
Conhecido como alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez por sua origem o mais
duramente castigado. A memória de Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a Proclamação da
República, quando foi considerado herói nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de 1889.
Sua representação mais conhecida é muito semelhante à imagem de Cristo, reforçando a construção da
imagem de mártir.
Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se
dois dias depois: ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros participantes foram condenados
ao desterro na África.

Conjuração Baiana (1798)


A conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, assim como a Conjuração Mineira, foi influenciada
pelos ideais iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na Bahia em 1798, buscava a
emancipação e defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
Entre as causas do movimento estava a insatisfação com Portugal pela transferência da capital para
o Rio de Janeiro em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios
e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências
à colônia vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local. O preço dos alimentos
também gerou revolta na população. Além de caros, muitos produtos tornavam-se rapidamente escassos
pelas restrições impostas sobre o comércio e as importações.
Os revoltosos defendiam a separação da região do restante da colônia, buscando independência de
Portugal e instalando um governo baseado nos princípios da República. Também defendiam a liberdade
de comércio (fim do pacto colonial estabelecido), o aumento dos soldos55 e a igualdade entre as pessoas,
resultando na abolição da escravidão.
O movimento ganhou o nome de Revolta dos Alfaiates pela grande adesão desses profissionais no
movimento, entre eles Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento. Outros setores
também aderiram ao movimento, como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das Virgens.

54 No Brasil Colônia, a derrama era um dispositivo fiscal aplicado em Minas Gerais a fim de assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. O
quinto era a retenção de 20% do ouro em pó ou folhetas que eram direcionadas diretamente a Coroa Portuguesa
55 A palavra ¨soldo¨ (em latim ¨solidus¨), remuneração por serviços militares e ¨soldado¨, têm sua origem no nome desta moeda.

155
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O movimento contou com a participação de pessoas pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes,
escravos e ex-escravos.
A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro José da Veiga informou sobre os detalhes
do movimento ao governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter os revoltosos.

Questões

01. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o Período Colonial Brasileiro, assinale a alternativa
INCORRETA:
(A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em torno do pau-brasil. Após 1530, declinando o
comércio com as Índias, a coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do Brasil.
(B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja, passou a ser um monopólio real, cabendo
ao rei conceder a permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira. O primeiro arrendatário
a ser beneficiado com o estanco foi Fernando de Noronha, em 1502.
(C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por meio do sistema de Capitanias Hereditárias.
Com seu fracasso foram instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as capitanias, mas para
centralizar sua administração.
(D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das terras era assegurada pela Carta de Doação
e pelo Foral. A carta de doação determinava os direitos e deveres dos donatários e o Foral cedia aos
donatários as terras, bem como o poder administrativo e jurídico das mesmas.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de São Vicente, fundada no litoral paulista em
1532.

02. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período Colonial brasileiro, assinale a única alternativa
que está INCORRETA:
(A) Portugal só deu início à colonização das terras conquistadas, que passaram a chamar-se Brasil,
devido à pressão que sofria com o declínio de seu comércio com o oriente e com a sistemática ameaça
estrangeira no território brasileiro.
(B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado por D. João III mas não teve o sucesso
esperado. Entre os fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias podemos citar: falta de terras
férteis em algumas regiões, falta de interesse dos donatários, conflitos com os indígenas, falta de recursos
financeiros para o empreendimento por parte de quem recebia a capitania.
(C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do Brasil e a sede do governo geral foi
estabelecida na Bahia.
(D) A estrutura econômica brasileira do período colonial tinha como principais características a
monocultura, o latifúndio, o trabalho escravo e a produção para o mercado externo.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de Santos, fundada em 1532.

03. (PC/SC - Investigador de Polícia - ACAFE) Sobre a economia do período colonial do Brasil, todas
as alternativas estão corretas, exceto a:
(A) O ciclo do ouro contribuiu para a formação de núcleos urbanos no interior do Brasil e para a
transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.
(B) A propriedade agrícola no qual se baseava o sistema colonial tinha duas características básicas: a
monocultura e o trabalho escravo.
(C) O pau-brasil foi um dos primeiros produtos explorados no Brasil, sendo obtido pelos europeus
numa relação de escambo com os nativos.
(D) O ciclo da cana-de-açúcar foi fundamental para a criação de um mercado econômico interno,
realizando a ligação comercial entre o litoral e o interior da colônia.

04. (Prefeitura de Padre Bernardo/GO - Contador) Entre 1708 e 1709 o estado de Minas Gerais foi
palco de um conflito marcado pela disputa pelo Ouro. Tal guerra se baseou no conflito entre bandeirantes
paulistas e forasteiros que buscavam a riqueza oriunda dos metais preciosos. Tal conflito ficou conhecido
como:
(A) Guerra das Emboabas.
(B) Inconfidência Mineira.
(C) Levante de Vila Rica.
(D) Guerra Mata Maroto.

156
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Gabarito

01.D / 02.E / 03.D / 04.A

Comentários

01. Resposta: D
Na alternativa incorreta houve uma inversão, pois Carta de Doação era um documento que cedia aos
Donatários a posse da terra, já o Foral era o documento que estabelecia direito e os deveres dos
donatários.

02. Resposta: E
Martim Afonso de Souza fundou, em 1532, o primeiro núcleo populacional do Brasil: A Capitania de
São Vicente.

03. Resposta: D
A produção de cana-de-açúcar era feita em grandes latifúndios, toda a produção feita na colônia era
voltada ao mercado externo, nessa época não havia produção destinada ao mercado interno, exceto os
gêneros alimentícios de subsistência.

04. Resposta: A
O enunciado da questão faz referência a Guerra dos Emboabas. Como havia sido um paulista a
descobrir ao ouro, eles achavam que tinham direitos especiais sobre a terra. Quando um dos líderes dos
emboabas enfrentou, junto com uma frente armada e conseguiu expulsar os paulistas da região de
Sabará, o ato foi entendido por eles como uma declaração de guerra.

PERÍODO JOANINO E A INDEPENDÊNCIA

Só passando para lembrar que quando tratamos sobre a chegada dos portugueses no Brasil a
partir do período joanino ou após o período colonial, estamos falando das CORTES portuguesas,
uma vez que a presença lusitana no nosso território é ininterrupta desde o descobrimento.

Realizações Político-sociais das Cortes no Brasil

As mudanças econômicas e políticas que vinham soprando suas ideias da América do Norte e da
Europa para as colônias é fator chave para entendermos porque a família real portuguesa mudou-se com
toda a sua Corte da “civilizada” Lisboa para a abandonada colônia brasileira.
O absolutismo viu suas bases estremecerem na segunda metade do século XVIII principalmente pelo
sucesso das Revoluções Estadunidense e Francesa com suas ideias democráticas. No mesmo sentido,
sua política econômica - o mercantilismo - via o capitalismo industrial começar a tomar a dianteira frente
ao capitalismo comercial, marca desses governos.
Mas foi da França o empurrão fundamental para a mudança da Corte lusitana 56. Quando da expansão
napoleônica na Europa, apenas a Inglaterra conseguia fazer frente aos franceses. Em uma tentativa de
enfraquecer seu maior adversário, a França decreta um bloqueio comercial à Inglaterra por todos os
países que estavam sob sua influência, entre eles, Portugal, que não aceita manter o bloqueio,
desencadeando a invasão francesa, consequência da fuga da Corte para o Brasil.
Os motivos que o leva a não aceitar manter o bloqueio dizem respeito a uma série de acordos
econômicos entre Portugal e Inglaterra (mal feitos), que tornou Portugal uma nação dependente. As
premissas dos acordos mantinham os portugueses como uma economia basicamente agrária enquanto
os ingleses desenvolviam sua indústria.
O Tratado de Methuen exemplifica bem isso: Portugal forneceria vinho aos ingleses (campo) e a
Inglaterra forneceria tecidos aos portugueses (indústria). Sem opção e por exigência da Inglaterra,
Portugal recusa o bloqueio.
Por sua vez, Napoleão foi um cão que latia e também mordia. Ao ver a recusa portuguesa nos seus
planos, a França invade e divide Portugal com a Espanha (Tratado de Fontainebleau) além de declarar
extinta a Dinastia dos Bragança.

56 Que se refere à Lusitânia, antiga região situada na península Ibérica. Atualmente, refere-se ao território português.

157
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Fuga para o Brasil
Portugal contou com o apoio naval inglês para sua fuga. Cerca de 15 mil pessoas que compunham a
Corte fizeram a viagem que durou cerca de dois meses com escolta e medidas de segurança como
colocar membros da família real em diferentes navios, caso houvesse ataques.
Ao chegar, D. João tomou duas medidas que afetaram tanto França quanto Inglaterra, sendo:
- a retaliação à Napoleão, invadindo e conquistando a Guiana Francesa; e
- premiando a Inglaterra e visando o próprio conforto, ainda em 1808 assinou uma Carta Régia com a
medida que ficou conhecida como “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, beneficiando basicamente o
país inglês.
A medida mudava o status do Brasil, mas beneficiou muito os ingleses que agora não precisavam mais
negociar com a metrópole suas relações comerciais em território nacional.
Além das mudanças que afetavam política e economia externas, D. João também realizou mudanças
internas.
Temos que ter em mente que até então o Brasil é uma colônia. Isso significa que todo o aparato
administrativo, judiciário e econômico são da metrópole. Com a vinda da Corte, todos os tipos de decisões
nesse sentido que eram tomadas em Lisboa, teriam que ser tomadas no Rio de Janeiro e para isso seguiu-
se uma série de mudanças: nomeou ministros de Estado, criou secretarias públicas, criou tribunais de
justiça, o Banco do Brasil e o Arquivo Central.
Mudanças na cidade também foram realizadas com a intenção de tornar a capital do Brasil uma cidade
mais próxima do que a Corte estava acostumada na Europa: foram criados jornais de circulação diária,
uma biblioteca real com mais de 60 mil exemplares vindos de Lisboa, Academias militar e da marinha,
faculdades de medicina e de direito, observatórios, jardim botânico, teatros (...) Estruturalmente a cidade
ganhou iluminação pública, ruas pavimentadas, chafarizes e pontes.
Culturalmente a principal mudança se deu pela vinda da Missão Francesa para a criação da Imperial
Academia e Escola de Belas-Artes, tendo como principal nome o artista Jean-Baptiste Debret.
Apesar de os trabalhos realizados pela Missão Francesa não influenciarem o grosso da população
brasileira e carioca, foram de grande importância para o conhecimento do Brasil na Europa.
Como era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam, foi natural o crescimento populacional. Além
do número crescente de brasileiros que migravam em busca de emprego na capital, o número de escravos
também aumentou – para atender a maior demanda de serviços – assim como o de estrangeiros que
faziam negócios e já pregavam a ideia de trabalhadores assalariados.
Economicamente, apesar de D. João autorizar a instalação de manufaturas no país, os acordos
desiguais feitos com a Inglaterra castravam as intenções empreendedoras dos brasileiros.
Em 1810 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação em que os produtos ingleses entravam em
nosso país com taxas menores até do que os produtos portugueses.

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena57 contou com os principais representantes dos
países europeus e decidiu os caminhos que seriam tomados a partir de então.
Em uma disputa de interesses entre Inglaterra e França, D. João acaba sendo influenciado pelas ideias
francesas e decide continuar com a Corte no Brasil, além de declará-lo como Reino Unido de Portugal e
Algarves.
No Congresso de Viena ficou decidido que toda e qualquer mudança realizada durante a expansão
napoleônica seria desfeita. Reis destituídos – como os casos de Portugal e Espanha – teriam seu governo
restaurado. Essa era uma medida que beneficiaria novamente a Inglaterra. Se D. João voltasse a
Portugal, dificilmente ele conseguiria fazer com que as mudanças realizadas no Brasil (econômicas)
voltassem ao modelo antigo, aquele em que a metrópole tem controle sobre a colônia.
A Inglaterra já havia estabelecido negócios e influência dentro do nosso país, e os próprios
comerciantes e classe alta brasileiros não aceitariam o retorno à condição de colônia.
Do outro lado do Atlântico tínhamos uma Lisboa financeiramente debilitada ao ponto de a Corte preferir
permanecer no Rio de Janeiro. A solução para manter a posição em Lisboa e o controle sobre o Brasil foi
elevá-lo a categoria de Reino e não mais colônia.

57O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes potências europeias que aconteceu na capital austríaca, entre maio de 1814 e junho
de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica

158
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Revolução Pernambucana

Todas as melhorias que foram descritas há pouco ficaram restritas apenas ao Rio de Janeiro. As outras
províncias do Brasil ainda sofriam com a precariedade econômica e social. Esse cenário gerou
descontentamento em várias regiões mas apenas algumas fizeram algo a respeito, como foi o caso de
Pernambuco.
Com ideais republicanos, separatistas e anti-lusitanos, a Revolução Pernambucana ia contra os
pesados impostos, descaso administrativo e opressão militar.
A Revolução apenas teve início após a delação do movimento. Quando os líderes conspiradores foram
presos, a luta começou. A revolta chegou a contar com a participação da Paraíba e Rio Grande do Norte,
porém a coroa conseguiu encerrá-la através da força militar.
Alguns líderes foram executados e outros receberam o perdão real anos depois, como Frei Caneca.

O Retorno de D. João para Portugal

Lisboa e Rio de Janeiro literalmente inverteram os papeis nesse período. Se antes Lisboa era o centro
do império português com suas instituições e riquezas colhidas pela forma de governo colonial, agora ela
via o Rio de Janeiro assumir esse papel.
Os comerciantes portugueses viram sua economia despencar quando das assinaturas de D. João nos
novos acordos com os ingleses. O Brasil era o principal mercado lusitano. Não bastasse isso, o rei de
Portugal não tinha planos de regressar e ainda deixou o governo do país a cargo de um inglês (general
Beresford).
Fórmula certa para insatisfação, foi o que ocorreu: Em 24 de agosto de 1820 eclodiu a Revolução do
Porto, onde, vitoriosa, a nova Assembleia Constituinte (Cortes portuguesas) adotou nova Constituição,
exigindo o retorno da Família Real para jurar à ela e a volta do Brasil à condição de colônia. Não foi o que
aconteceu.
D. João garantiu que sua família ainda governasse os dois territórios. Para agradar os portugueses,
ele regressou à Portugal. Para agradar os brasileiros ele deixou seu filho, D. Pedro I como regente,
assegurando que o Brasil não voltaria a ser colônia.

O Dia do Fico e a Independência do Brasil

Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não encararam bem o fato de D. Pedro I ter
ficado no Brasil como regente. A partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para Portugal e prestar
homenagens às Cortes.
Por outro lado a aristocracia brasileira sabia que a única forma de garantir que o país não regressasse
à condição de colônia era apoiar o movimento emancipacionista em volta de D. Pedro I.
Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento emancipacionista brasileiro D. Pedro I não
cumpre às exigências das Cortes e afirma que permaneceria no Brasil (“Dia do Fico”). Esse dia foi seguido
de negociações e mudanças na administração brasileira até finalmente em 7 de setembro do mesmo ano
ser declarada a independência do Brasil.

O Reconhecimento da Independência
O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente não o tornava assim. Era necessário que
externamente essa independência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No início apenas alguns
reinos africanos com o qual o Brasil tinha relações comerciais (negociação de escravos) e os Estados
Unidos (dois anos depois) reconheceram nossa autonomia.
A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o Brasil não reconheceu de imediato a nova
condição, uma vez que não queria perder Portugal como parceiro/dependente dentro da Europa. Visando
os próprios interesses foi ela quem intercedeu para que um acordo fosse realizado entre Brasil e Portugal.
Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e Aliança, em que mediante o pagamento de
dois milhões de libras esterlinas como indenização, e a continuidade do título de imperador do Brasil para
D. João, Portugal reconhecia a emancipação do Brasil.
O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus acordos comerciais com o Brasil e
conseguiu o “compromisso” do fim da escravidão no país, além do pagamento da própria dívida. A partir
daí outras nações da América e do mundo também reconheceram o Brasil como nação autônoma.

159
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Primeiro Reinado (1822-1831)

De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da independência do Brasil:


- éramos o único país na América que após a emancipação da metrópole continuamos a viver em um
regime monárquico;
- a população não teve participação alguma no processo e até mesmo províncias mais distantes só
ficaram sabendo da mudança meses depois;
- a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar.

Algumas regiões, principalmente aquelas com conservadores portugueses e acúmulo de tropas


lusitanas não apenas recusaram-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como lutaram contra ela.
As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará resistiram ao novo governo e apenas com
o uso da força aceitaram a nova condição.
Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda vivíamos em uma monarquia centralizadora e
mesmo os defensores de ideias republicanas só pensavam em sua projeção política e não em uma
mudança de fato.

A Primeira Constituição Brasileira


D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte antes mesmo de declarar o Brasil
independente. E desde o primeiro momento houve desacordo.
A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a intenção de fazer uma Constituição similar à
portuguesa, onde D. Pedro teria seus poderes limitados. Já o monarca, que era conhecido por ser
autoritário e centralizador trabalhou para permanecer com todos os poderes em torno de si.
Apesar da Constituição elaborada por influência dos Andrada ter a intenção de limitar os poderes de
D. Pedro I, ela garantia os privilégios da aristocracia rural. Popularmente conhecida como Constituição
da Mandioca58 ela garantia os privilégios à quem tivesse a posse da terra e defendia a manutenção da
escravidão.
Acontece que essa Constituição, onde o legislativo predominaria pelo executivo nem chegou a ser
concluída. Em 12 de novembro de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da Assembleia (episódio
conhecido como “Noite da Agonia”), convocou um Conselho de Estado e encomendou a nova
Constituição do país, onde seu poder estaria assegurado.
A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador.
O poder moderador era exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos os outros. Assim ele mantinha
todas as características centralizadoras e absolutistas de uma monarquia e não via precedentes de
verdadeira oposição.

A Confederação do Equador
A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição desagradaram em vários aspectos muitas
províncias brasileiras. O nordeste, já marginalizado nesse período e com histórico de revoltas contra a
coroa, novamente se movimentou. Com início em Pernambuco e com apoio popular, outras províncias se
juntaram ao movimento (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba).
Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles Cipriano Barata e Frei Caneca, as elites
regionais também apoiaram o movimento. Do ponto de vista social foi o mais avançado do período com
reformas sociais, mudança de direitos políticos e abolição da escravidão.
Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites regionais a abandonar o movimento, pois temiam
perder seus próprios privilégios.
Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão do governo, o levante foi contido com
dezesseis membros sendo condenados à morte, entre eles, Frei Caneca.

A Cisplatina
A região da Cisplatina 59 sempre foi alvo do interesse do governo português que desejava expandir
suas fronteiras até o rio da Prata. Após a “bagunça” feita por Napoleão às Coroas europeias, mais
precisamente à Coroa espanhola que teve sua continuidade interrompida e retomada após a queda do
general francês, as colônias americanas viviam um período de instabilidade e descentralização. Todos os
movimentos de independência dessas colônias, apesar de bem sucedidos, as debilitaram econômica e
politicamente. Foi quando dessa instabilidade que D. João viu a oportunidade de realizar um antigo desejo
português, em 1820 ele ordena às tropas imperiais invadirem a região da Cisplatina.
58 Apenas pessoas com mais de 150 alqueires de mandioca poderiam se candidatar ou votar.
59 Província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, posteriormente, do Império do Brasil. A província correspondia ao atual território do Uruguai.

160
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Mesmo após o retorno de D. João à Portugal e à independência, a Cisplatina continuou sendo parte
do Brasil (até 1828), porém à duras custas, a região nunca aceitou o domínio brasileiro, e constantemente
D. João e posteriormente D. Pedro I tinham de enviar expedições para conter as revoltas. Isso não apenas
gerava custos aos cofres imperiais como também atacava a imagem do imperador, que se mostrava
incapaz de resolver a questão. A opinião pública era avessa à causa de gastar com os conflitos e insistir
em manter a posse de uma região que nem era semelhante culturalmente ao povo brasileiro.
Enfim, em 1828, com apoio do governo argentino, as forças cisplatinas fazem com que o Brasil se
retire do conflito e proclamam a República Oriental do Uruguai.
A imagem de D. Pedro I sai abalada após o episódio. Seguiu-se a isso o misterioso assassinato de
Libero Badaró (jornalista declarado opositor e crítico de D. Pedro I), maior força do movimento liberal e
aumento das críticas a respeito da conduta política do imperador.
Além da pressão política, do exército e da população, D. Pedro I teve de superar uma crise sucessória.
Quando D. João faleceu, D. Pedro I abdica do trono português em favor de sua filha. Em Portugal é
iniciado então um conflito sucessório entre D. Maria da Glória e o irmão de D. Pedro I, D. Miguel.
D. Pedro passa a gastar recursos brasileiros para garantir o trono de sua filha, o que gera mais
descontentamento nacional. Com a pressão interna e a necessidade de cuidar de seus interesses em
Portugal, D. Pedro I abdica do trono brasileiro e retorna para seu país, deixando como herdeiro seu filho,
D. Pedro II.

O Período Regencial (1831-1840)

D. Pedro II, herdeiro do trono brasileiro tinha apenas cinco anos de idade quando D. Pedro I retornou
a Portugal. A maioria dos políticos brasileiros ainda eram favoráveis à manutenção do império e se
preocuparam com as possíveis revoltas que haveriam tendo uma criança como governante. Ficou então
decidido que o país seria governado por regentes até a idade apropriada de D. Pedro II.
Politicamente esse foi o período mais conturbado desde a colonização. Além dos grupos regionais que
se revoltaram, o próprio cenário político não tinha unidade. Apesar de todos fazerem parte basicamente
dos mesmos segmentos e terem interesses econômicos semelhantes, politicamente estavam divididos
entre:

- Restauradores (conhecidos como Caramurus, eles defendiam a continuidade de D. Pedro I no poder


e acreditavam que a tranquildade política passava pela ação absolutista. José Bonifácio fazia parte desse
grupo que foi articulador do Golpe da Maioridade anos depois);
- Liberais moderados (apesar do nome, esse grupo era composto em grande parte pela aristocracia
rural. Eram contra reformas sociais e lutavam por manter seus privilégios. Defendiam a monarquia, porém
de forma menos autoritária do que D. Pedro I empregava. Eram chamados de Chimangos);
- Liberais exaltados (era o grupo mais variado, tinha desde aristocratas até trabalhadores livres e sem
terras. Esse grupo buscava reformas sociais e políticas, maior autonomia das províncias e mudanças
constitucionais. Eram conhecidos como Chapéus-de-palha).

A Regência Trina Provisória


A Constituição previa que caso o soberano não tivesse um parente próximo com mais de 35 anos para
governar em seu lugar, uma regência trina (composta por três pessoas) deveria fazê-lo.
Como na época em que D. Pedro I abdicou os deputados estavam de férias, foi formada uma Regência
Trina Provisória.
Suas principais ações foram a manutenção da Constituição de 1824, reintegração do ministério
demitido por D. Pedro I, anistia aos presos políticos e a promulgação da Lei Regencial de abril de 1831,
que limitava os poderes dos regentes.

A Regência Trina Permanente


Foi eleita em junho de 1831. Com o padre Digo Antônio Feijó como ministro da justiça e composta por
Bráulio Muniz, Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva, essa regência teve como principal realização
a criação da Guarda Nacional.
A criação da Guarda Nacional gera uma série de consequências que serão vistas até o século XX,
principalmente no período da República Velha. A Guarda foi uma tentativa de baratear os custos da
segurança no país “terceirizando” as funções de polícia e do exército. Os chamados coronéis compravam
suas patentes militares e recebiam autonomia para organizar suas próprias forças armadas locais.
Embora na teoria seu papel fosse garantir a ordem regional, essa força só servia aos seus interesses,
como as leis garantiam que apenas ingressasse na Guarda quem dispusesse de altos ganhos anuais, e

161
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
estes eram apenas os grandes proprietários de terras, apenas a aristocracia rural ficou identificada com
os coronéis.
A mesma administração ainda promulga a “Lei Feijó” que proibia o tráfico e tornava livre todos os
africanos introduzidos em território brasileiro. Essa lei nunca foi respeitada de fato e a escravidão
permaneceu até 1888.

Ato Adicional de 1834


O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de 1824. Promulgado em 12 de agosto,
possuía caráter descentralizador, instituindo a criação de assembleias legislativas nas províncias, a
supressão do Conselho de Estado e a Regência Una (governante único). O Rio de Janeiro foi considerado
um território neutro. Também foi reduzida a idade para o imperador ser coroado, de 21 para 18 anos.

Regência Una
Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em 1832, abandonando o cargo de Ministro da
Justiça logo em seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição para Regente em 1835.
Sendo empossado em 12 de outubro do mesmo ano para um mandato de quatro anos, não completando
nem dois anos no cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar e rebeliões
provinciais, como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com
poucos recursos para governar e isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837.

Segunda Regência Una


Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os conservadores obtêm maioria na Câmara dos
Deputados e elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de setembro de
1837. A segunda regência una é marcada por uma reação conservadora, e várias conquistas liberais são
abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder
provincial e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de D.
Pedro II. Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.

Revoltas no Período Regencial

Em muitas partes do império a insatisfação com o governo cresceu muito, levando alguns grupos a
apelarem para a luta armada e a revolta como forma de protesto.

Cabanagem (1833-1840)
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e 1839, na região do Grão-Pará, que
compreende os atuais estados do Amazonas e Pará. A revolta começou a partir de pequenos focos de
resistência que aumentaram conforme o governo tentava sufocar os protestos, impondo leis mais rígidas
e a obrigação de participação no exército para aqueles que fossem considerados praticantes de atos
suspeitos. A cabanagem contou com grande participação da população pobre, principalmente os
Cabanos, pessoas que viviam em cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de Belém,
porém foram derrotados pelas tropas imperiais.

Revolução Farroupilha (1835-1845)


A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma revolta promovida por grandes proprietários
de terras no Rio Grande do Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de seus líderes era de separar-
se do restante do país.
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do sul em relação aos produtores estrangeiros
de charque, principalmente os platinos e argentinos que comercializavam e concorriam com os
estancieiros pelo mercado do produto no Brasil, utilizado principalmente na alimentação de escravos.
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros iniciam a revolta, tendo Bento Gonçalves como
principal chefe do movimento, comandando as tropas farroupilhas que dominaram Porto Alegre. Com as
vitórias obtidas foi proclamado um governo independente em 1836, conhecido como República do Piratini,
com Bento Gonçalves como presidente.
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. Forças rebeldes, comandadas por Giuseppe
Garibaldi e Davi Canabarro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a República Juliana.
A revolta consegue ser contida somente após a coroação de D. Pedro II e com os esforços do Barão
de Caxias, encerrando os conflitos em 1 de março de 1845.

162
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Revolta dos Malês (1835)
Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os negros escravos ou libertos correspondiam a
cerca de metade da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e religiosos, entre os quais
os muçulmanos – genericamente denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos Malês, em
1835.
O exército rebelde era formado em sua maioria, por “negros de ganho”, escravos que vendiam produtos
de porta em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores. Podiam circular mais livremente
pela cidade que os escravos das fazendas, o que facilitava a organização do movimento. Além disso,
alguns conseguiam economizar e comprar a liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão e a
imposição da religião católica, em detrimento da religião muçulmana.
A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, que teve muitos mortos, presos e feridos.
Mais de quinhentos negros libertos foram degredados para a África como punição.

Sabinada (1837-1838)
A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar uma república independente. Foi liderada
pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou conhecida como Sabinada. O
principal objetivo da revolta era instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do trono
imperial não atingisse a maioridade legal. Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a
sabinada não contou com o apoio das camadas populares e nem com os grandes proprietários rurais da
região, o que garantiu ao exército imperial uma vitória rápida.

Balaiada (1838-1841)
Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse nome devido ao apelido de uma das
principais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio", conhecido por ser
vendedor do produto.
A Balaiada representou a luta da população pobre contra os grandes proprietários rurais da região. A
miséria, a fome, a escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de descontentamento que
levaram a população a se revoltar.
A principal riqueza produzida na província, o algodão, sofria forte concorrência no mercado
internacional, e com isso o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da insatisfação popular,
a classe média maranhense também se encontrava descontente com o governo imperial e suas medidas
econômicas, encontrando na população oprimida uma forma de combatê-lo.
Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em 1839 e estabelecer um governo provisório,
com medidas que causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional e a expulsão dos
portugueses que residiam na cidade.
Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de escravos foragidos, a classe média que
apoiava as revoltas aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o movimento e garantiu a
vitória em 1841, com um saldo de mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os revoltosos
que acabaram presos foram anistiados pelo imperador.

A Maioridade e a Tranquilidade Política


Toda a instabilidade do período regencial colocou tanto liberais quanto conservadores em xeque, uma
vez que ambos haviam ocupado o poder mas nenhum conseguiu trazer estabilidade ao país. A ideia de
antecipar a maioridade de D. Pedro II começou a agradar ambos os grupos: os liberais esperavam que
com isso teriam a chance de voltar ao governo. Os conservadores viam nisso uma oportunidade de
preservar a monarquia e manter a unidade do império. Em 1840, com uma regência conservadora o
parlamento aprova adiantar a maioridade de D. Pedro II.

Segundo Reinado

Ao contrário do que aconteceu com seu pai, a preparação política de D. Pedro II parece ter sido melhor.
Mesmo sem abandonar o aspecto autoritário em seu governo, politicamente ele soube trabalhar com as
aristocracias rurais. D. Pedro II dava a elas a condição de crescerem economicamente e em troca recebia
seu apoio político.
Falamos em aristocracias porque nesse período uma nova elite agrária e mais poderosa surgiu
representada pelos cafeicultores do sudeste frente a antiga elite nordestina. O café passou a ser o
principal produto do país e assim permaneceu até a república.

163
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Liberais e Conservadores60
Liberais (chamados de Luzia) e conservadores (Saquarema) diferiam em suas teorias e aspirações
políticas em seus discursos, porém, durante todo o Segundo Reinado ficou claro que quando no poder,
ambos eram iguais.
Os liberais defendiam a descentralização e autonomia das províncias enquanto os conservadores,
como o próprio nome sugere, defendiam um governo forte e centralizado.

As Eleições do Cacete
Ao assumir, D. Pedro II vivenciou um grande impasse político: para auxiliá-lo em seu governo foi criado
o Ministério da Maioridade. O problema se deu porque o Ministério tinha sua maioria composta por
liberais, enquanto a Câmara era composta maioritariamente por conservadores. Qualquer decisão a ser
tomada gerava grande debate pelas divergências entre ambos.
A solução encontrada para acabar com essa disputa foi dissolver a Câmara e convocar novas eleições:
As Eleições do Cacete. O nome não foi por acaso. Para garantir a vitória, o partido liberal colocou
“capangas” para trabalhar nas eleições e através de coerção e ameaças eles venceram.
Os liberais mantiveram-se no poder por pouco tempo. Apesar de serem maioria, as pressões externas
(Inglaterra) e internas (Guerra dos Farrapos), e a má impressão que ficou após o uso da força nas eleições
fez com que o imperador novamente dissolve-se a Câmara e formasse um novo ministério, este composto
por ambos os lados.

Revolução Praieira
A Revolução Praieira ocorreu na metade do século XIX (1848) em um contexto onde o nordeste já
sofria as consequências econômicas da crise do açúcar, enquanto a região sudeste já era a “favorita” do
Império com a prosperidade econômica ocasionada pelo café.
Pernambuco era uma província conturbada na época: eram os portugueses quem controlavam o
comércio e a política local. O cenário de problemas econômicos, sociais e políticos criou o clima para um
conflito entre os partidos Liberal e Conservador.
Os portugueses se concentravam em torno do partido conservador. Os democratas e liberais
brasileiros em torno do partido liberal. Após as eleições de 1848 que tiveram como resultado a eleição de
um conservador para o cargo de presidente de província, os liberais revoltam-se pegando em armas e
lançando o Manifesto ao Mundo, documento que exigia o fim dos privilégios comerciais portugueses,
liberdade de imprensa, fim da monarquia e proclamação da república, fim do voto censitário, extinção do
poder moderador e Senado vitalício.
Com adesão popular os revoltosos chegaram a derrubar o presidente de província e controlar Olinda,
porém as tropas imperiais os contêm em 1849.

O Parlamentarismo às Avessas
Em 1847 D. Pedro II cria no Brasil um sistema parlamentarista até então inédito no mundo.
Um sistema parlamentarista tradicional funciona com o rei (ou presidente) sendo o chefe de Estado,
porém não sendo o chefe de governo. Isso implica nas responsabilidades políticas do cargo, onde o chefe
de governo as têm em muito maior quantidade.
Normalmente é o parlamento quem elege o Primeiro Ministro para chefe de governo. No Brasil as
coisas aconteceram um pouco diferentes: o Parlamentarismo às Avessas, como ficou conhecido, contava
com um novo cargo, o de Presidente do Conselho de Ministros (que em um sistema normal seria o
Primeiro Ministro), submisso e escolhido por D. Pedro II, que poderia destitui-lo quando quisesse.
Era uma forma de manter o parlamento e o Presidente sob controle e que acabava descaracterizando
o sistema como Parlamentarista.

A Influência do Café
O sistema de produção rural no Brasil sempre foi o mesmo, baseado na monocultura, grande
propriedade e trabalho escravo. Desde a crise do açúcar e esgotamento das jazidas de ouro, o país
procurava seu novo salvador econômico. Este se apresentou na figura do café, que além da mudança
em relação à mão de obra, mostrou poucas mudanças na estrutura de produção.
Graças ao aumento do consumo europeu, clima e solos favoráveis, além da já estabelecida estrutura
de grandes propriedades e monocultura, o café já na primeira metade do século XIX despontava como
principal produto nacional. Das primeiras fazendas comerciais no Rio de Janeiro, até sua expansão para
o interior de Minas Gerais, São Paulo e norte do Paraná, até quase a metade do século seguinte o café

60 Adaptado de MARTINS. U. (Segundo Reinado – 1840 – 1889)

164
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
não apenas conseguia sozinho equilibrar nossa balança comercial, mas foi responsável pelo
desenvolvimento da malha ferroviária, algumas cidades que a acompanhavam e pela introdução da mão
de obra livre.
Com crescente demanda, maior necessidade de braços para a lavoura, com a pressão da Inglaterra
pelo fim do tráfico e posteriormente fim da escravidão, os cafeicultores não encontraram outra solução
que não trazer trabalhadores imigrantes europeus para suas fazendas.
Esse foi um período que marca o país em todos os aspectos:
- sociais com o surgimento de novas classes;
- políticos com a mudança do eixo central da velha oligarquia açucareira para a nova oligarquia
cafeeira (Barões do Café); e
- econômicas com o desenvolvimento de cidades, serviços e ensaios de industrialização.

Cultura
A cultura no século XIX desenvolveu-se de acordo com os padrões europeus.
Na literatura tínhamos o romantismo como principal gênero seguindo as devidas influências exteriores.
José de Alencar com sua obra O Guarani nos dá um bom exemplo disso, descrevendo o índio Peri como
herói que enfrenta tribos menos civilizadas.
No campo das artes os indígenas também eram retratados de maneira ao imaginário europeu:
passivos e martirizados, além de características físicas distorcidas (a obra Moema – Victor Meirelles - é
representada com pele quase branca).
No campo das instituições, D. Pedro II revelou-se grande entusiasta e apoiador. Sempre demonstrou
interesses pelas atividades do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) do qual chegou a receber
o título de protetor da instituição. Pouco depois fundou a Ópera Nacional, a Imperial Academia de Música
e o Colégio Pedro II, onde ele frequentemente fazia visitas.
Por fim, manteve incentivos financeiros em campos de estudo como medicina e direito.

O Caso Indígena
No século XVIII se desenvolveu um projeto civilizador que foi incorporado à colônia. O conceito era
simples à primeira vista: povos que não respondiam ao poder real precisavam ser subjugados.
Acontece que as elites locais/regionais ao incorporar a ideia não levavam em conta o fator “civilizador”,
mas sim o econômico. Caso não houvesse a possibilidade de angariar recursos (de qualquer natureza) a
intervenção não era justificada. De uma forma mais simples: o projeto só aconteceu em regiões que
dariam algum retorno financeiro para as expedições, para as elites ou para o governo central.
Civilizar ou não o indígena tinha um segundo lugar de importância nessa empreitada.

A Questão Agrária
Do início da colonização até o século XIX a questão e a política agrária no Brasil eram definidas pelas
sesmarias. Ao mesmo tempo em que a concessão de uma sesmaria era a garantia legal de posse da
terra, apenas quem tivesse relações e contatos políticos conseguiam esse acesso.
Outras formas como a ação de posseiros também eram comuns, porém até o ano de 1850 ela era
ilegal mediante algumas condições.
O que muda em 1850 é o advento da Lei nº 601, conhecida como Lei de Terras. A criação dessa lei
não apenas afirmava a legalidade das sesmarias como garantia o direito legal da terra a posseiros (desde
que as terras tivessem sido possuídas anteriormente à lei e fossem devidamente cultivadas).
A Lei de Terras veio para garantir o valor de um novo produto, a própria terra, uma vez que a escravidão
via seus dias contados desde a aprovação da Lei Eusébio de Queirós. A lei que proibia o tráfico de
escravos dificultou a obtenção de mão de obra para os grandes fazendeiros, que então importavam
escravos de outras regiões do país. Com a escassez de escravos, a terra passaria a ser o principal
produto e símbolo de status (da mesma forma que ter um grande número de escravos destacava as
pessoas de maiores fortunas e influência, agora a terra garantia essa imagem).
A Lei de Terras ainda tinha um segundo propósito: garantir que apenas quem tivesse capital
(normalmente quem já tinha terras) conseguisse obtê-las. As terras devolutas (aquelas “desocupadas”61)
não mais seriam entregues por doação ou ação de posseiros, o que garantia que os trabalhadores
dependessem de um emprego em fazendas.
O governo arrecadou mais impostos com demarcação e vendas e com isso conseguiu financiar, junto
de cafeicultores a vinda de mão de obra imigrante no período.

61 Quando falamos em terras “desocupadas” falamos do ponto de vista do governo da época. Eram terras no qual o governo não havia recebido rendimentos.
Indígenas e posseiros sem permissão ocupavam essas terras e eram expulsos sem cerimônia ou compensação.

165
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Imigração62
Vários são os motivos que explicam o movimento de imigração para o Brasil: internamente havia o
preconceito dos grandes produtores rurais que, quando obrigados a abrir mão do trabalho escravo por
motivos de lei ou econômicos, não admitiam ter que pagar para os mesmos negros trabalhar em suas
terras. Havia a desinteligência de que a partir daquele momento o escravo não seria ideal para o trabalho
rural e ainda as aspirações do governo de uma “recolonização”, principalmente da região sul ainda alvo
de disputas de fronteiras ou povoada por indígenas.
Externamente víamos na Europa um exemplo inverso ao Brasil: aqui tinham terras de sobra e poucos
trabalhadores, lá eles tinham muitos braços livres e poucas terras. A Europa do século XVIII e XIX viu um
aumento na taxa de natalidade, expulsão dos trabalhadores do campo e pequenos proprietários, além de
perseguições políticas e religiosas.
Pareceu à época uma solução natural que os imigrantes europeus arriscassem a sorte no novo
continente.
A região sudeste, principalmente o estado de São Paulo, apesar de ter tido grande influência imigrante
demorou a “engrenar”. As primeiras experiências receberam o nome de sistema de parceria. Nesse
sistema os imigrantes trabalhavam no cultivo e colheita do café, e dividiam os lucros e eventuais prejuízos
com o dono da terra. O maior exemplo desse sistema (e seu fracasso) foi o implantado pelo Senador
Campos Vergueiro. Apesar da promessa, a fazenda tinha o monopólio de tudo que os imigrantes
necessitavam adquirir (sempre com preços mais elevados), o que resultava em uma dívida viciosa com
o fazendeiro. Além disso, devido à proximidade do contato com o trabalho escravo, o tratamento com os
imigrantes era semelhante, o que chegou a fazer com que o próprio governo italiano recomendasse que
seus cidadãos não viessem para o Brasil.
Nos últimos anos do século XIX, com a situação se agravando na Itália e com a maior necessidade de
mão de obra no Brasil, governo e fazendeiros oferecem melhores condições, o que abre as portas
definitivamente para a chegada do europeu.
O sul, como falamos acima, mostrou uma colonização diferente. Composto por pequenas propriedades
familiares ou comunidades rurais, a região não atendeu os interesses do mercado externo e o governo
tinha maior preocupação em garantir a posse do Brasil na região do que garantir as exportações da época.

Tráfico Negreiro, Lutas Abolicionistas e o Fim da Escravidão63


À época da independência D. Pedro I se viu pressionado por dois lados muito importantes para manter
seu governo:
- De um lado a Inglaterra, nação industrializada que via na extinção do comércio de escravos (e na
própria instituição escravista) maior possibilidade de capital e mercado consumidor. Seu apoio político e
financeiro ao Brasil no processo de independência estava condicionado ao compromisso do país em
abolir essa prática.
- Do outro lado estavam os grandes proprietários de terra, motivo pelo qual nem D. Pedro I, nem a
regência e nem D. Pedro II conseguiram cumprir o acordo.
No curto período anterior ao aumento da produção cafeeira no país, o tráfico de escravos de fato
diminuiu em números visto que a necessidade de mão de obra era menor. A partir do momento em que
os grandes fazendeiros sentiram necessidade de mais braços em suas lavouras, mesmo com leis da
regência proibindo a importação de escravos, o volume voltou a crescer. As consequências foram a maior
pressão inglesa sobre o Brasil no aspecto político, e na prática uma perseguição real da marinha inglesa
a navios negreiros.
Sentindo a pressão britânica surtir mais efeito que a interna, finalmente em 1850 o governo brasileiro
promulga uma lei com a verdadeira intenção de cumpri-la. A Lei Eusébio de Queiroz, que a partir da data
de sua publicação proíbe o tráfico negreiro no Brasil.
Como o governo não tinha intenção nenhuma de acelerar o processo que levaria o fim da escravidão,
a Lei Eusébio de Queiroz garantia apenas o fim do tráfico de importação. O tráfico ou troca interna ainda
era permitido, o que ocasionou grande deslocamente de contingente negro escravo do nordeste para as
colheitas de café no Vale do Paraíba no sudeste.
Uma segunda consequencia foi que com o capital que agora estava “sem destino”, uma vez que a
compra de escravos se tornava mais difícil com o tempo, novas atividades econômicas começaram a
receber esse dinheiro: bancos, estradas de ferro, indústrias, companhias de navegação...
A modernização do pensamento econômico, mesmo que de certa forma forçada, também provocou
mudanças na política externa do país. Em 1844 o ministro da Fazenda Alves Branco promulga uma lei
que levaria seu nome, e que aumentava as taxas alfandegárias para os produtos importados. Era uma
62 Adaptado: UNOPAREAD < http://www.unoparead.com.br/sites/museu/exposicao_sertoes2/Imigrantes-e-migracoes.pdf>
63 Adaptado de FOGUEL, I. Brasil: Colônia, Império e República. < https://bit.ly/2Iqul4S>

166
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
das poucas vezes até então em nossa história que o governo tomava medidas que beneficiavam nossa
indústria em relação à estrangeira.

Processo Abolicionista64
Em maio de 1888, a princesa Isabel Cristina Leopoldina de Bragança conhecida posteriormente como
“A Redentora” assina o documento que finalmente colocou fim à escravidão no país.
A História normalmente nos ensina a respeito do ato generoso dessa figura, mas não podemos ignorar
que o dia 13 de maio foi apenas o cume de uma empreitada que vinha sendo construída há muito tempo.
A resistência à escravidão por parte dos negros existiu sempre que houve a escravidão. Fugas,
violência contra os senhores e formação de quilombos eram algumas das práticas comuns que existiam
desde a colônia. A partir da segunda metade do século XIX, talvez por algumas leis já existirem, elas se
tornaram mais comuns.
A sociedade também já contava com um número maior de entusiastas que estavam dispostos a lutar
pelo fim dessa prática e pressionar o governo. O império inglês junto desses fatores finalmente consegue
se colocar em posição de forma que o Brasil não podia mais ignorá-lo.
As seguintes leis são o resultado dessas pressões e mostram a evolução do processo de abolição:

Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850: a partir dessa data é proibido o
tráfico de escravos para o Brasil. Trocas internas entre províncias de escravos que já estão no país ainda
são permitidas.

Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871: considerava livre todos os filhos de
mulheres escravas nascidas a partir dessa data.

Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe), de 28 de setembro de 1885: a Lei
concedia liberdade a escravos com mais de 60 anos de idade.

Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888: Art. 1o É declarada extinta desde a data desta lei a
escravidão no Brasil.”

A Questão Platina65

A questão da Cisplatina foi um conflito entre Brasil e Argentina pelo controle de parte da bacia do Prata,
especificamente na região Cisplatina (que corresponde ao atual Uruguai).
Deve-se entender que apesar de em parte da história o Uruguai pertencer ao Brasil ou ser tomado
pela Argentina, o conflito nunca envolveu apenas duas partes.
Historicamente o que hoje corresponde ao território uruguaio foi uma colônia portuguesa (Colônia de
Sacramento). Quase um século depois (1777) a colônia passa a ter domínio espanhol, que dura até a
transferência da coroa portuguesa para o Brasil que volta a anexá-lo.
Acontece que o período em que a Espanha controlou a região deixou marcas mais fortes que o período
colonial português (cultura e língua). Não se sentindo como parte do império português, a Cisplatina
(Uruguai) inicia um movimento de separação.
A Argentina que já era independente e tinha interesses expansionistas à região não demorou a comprar
o lado do Uruguai enviando além do apoio político, suprimentos.
O governo brasileiro não recuou, além de fazer frente ao Uruguai ele declarou guerra à Argentina.
Apesar de haver algum equilíbrio durante o início do conflito, o nosso governo sofreu com grande pressão
interna. O país já estava endividado com os gastos da independência e bancar um conflito em tão pouco
tempo depois causou insatisfação geral (aumento de impostos).
Em 1828, com mediação inglesa e se vendo muito pressionado, Brasil e Argentina chegam a um
acordo e ambos concordam que a região da Cisplatina se tornaria independente. Tinha início a república
do Uruguai.
Posteriormente Brasil e Argentina ainda brigaram indiretamente dentro do território uruguaio: a política
do novo país estava dividida principalmente entre dois partidos, os “colorados” e os “blancos” (federalistas
e unitários respectivamente) onde o Brasil apoiava os colorados e a Argentina os blancos.
Internamente o Uruguai sofreu com sucessivas trocas no comando por parte de generais ou de acordo
com os interesses vizinhos até o ano de 1865, contando com grande contingente brasileiro (gaúcho)
quando o general Flores assume o poder e cessam os conflitos internos.
64 História do Negro no Brasil. CEAO/UFBA.
65 Adaptado de: JARDIM, W. C. A Geopolítica no Tratado da Tríplice Aliança. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH

167
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi um conflito envolvendo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina que durou entre
os anos de 1864 e 1870 e teve consequências que marcam o continente até hoje.
O Paraguai não era o país mais rico da América Latina até o início do conflito, mas é correto dizer que
era o mais desenvolvido socialmente e menos dependente economicamente.
Desde 1811, ano de sua independência, o país fora governado por apenas três governantes, não
encontrando a turbulência política interna que aconteceu com alguns vizinhos, como o Uruguai.
Era Francisco Solano Lopes o líder uruguaio no período do conflito e assim como seus antecessores
ele garantiu algumas medidas que tornavam o Paraguai um país único na América Latina: apesar de não
ser democrático, seu governo beneficiava as camadas populares, não havia elite agrária e as terras eram
garantidas aos trabalhadores rurais, seus principais produtos (erva-mate e madeira) eram de monopólio
do Estado, a maioria das famílias tinham garantido o direito a emprego, comida, moradia e vestuário. O
analfabetismo quase não existia, não tinha dívida externa e já havia iniciado um processo de
industrialização.

As Causas da Guerra
O Paraguai se manteve fora dos conflitos na região desde sua independência. Tinha um acordo com
o Brasil que garantia a autonomia uruguaia e um acordo com o Uruguai que garantia ajuda mútua.
Foi a partir das intervenções brasileiras no governo uruguaio (quando depôs Aguirre e assume Flores)
que o Paraguai quebra sua política de neutralidade. Considerando que o Brasil perturbava a harmonia da
região e temendo que ele mesmo fosse o próximo alvo (além do fato de Solano Lopes ser simpatizante
de Aguirre, derrotado no Uruguai com ajuda brasileira), o Paraguai direcionou vários avisos preventivos
ao Brasil. Não surtindo efeito, no final de 1864 Solano Lopes ordena o aprisionamento do navio brasileiro
Marquês de Olinda e declara guerra do Brasil, é o início da Guerra do Paraguai.

O Conflito
O início do conflito envolveu apenas os dois países, porém o próprio Paraguai acabou fomentando os
seus vizinhos a se juntarem a causa brasileira.
O Paraguai mostrou clara vantagem tomando partes do território brasileiro (MS) e posteriormente
invadindo até a Argentina (queria através dela dominar o Rio Grande do Sul). A vantagem do país se
mantém até a formação da Tríplice Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai.
A partir daí o conflito se torna desfavorável. Apesar de o Paraguai estar estruturado, os números não
podiam ser ignorados. O Paraguai contava com uma população total de 800.000 habitantes no período
contra 13.000.000 dos aliados. O Rio da Prata, única via de comunicação do Paraguai para fora do
continente foi bloqueado pelo maior número de navios aliados. Por fim, países como a Inglaterra
ofereciam apoio financeiro aos aliados enquanto o Paraguai se matinha sozinho.
A partir de 1868, muito sob o domínio de Caxias a vantagem já havia passado para os aliados e a
Guerra se passou apenas em território paraguaio. Em março de 1870, já com o conflito vencido, Conde
D’Eu, genro de D. Pedro II, substituto de Caxias no comando das tropas aliadas persegue o restante das
forças paraguaias e executa Solano Lopes.

As Consequências da Guerra
Apesar de os países aliados ganharem territórios, seu saldo comum dessa guerra foi o aumento da
dívida externa além do número de vidas perdidas.
Para o Paraguai as perdas foram irremediavelmente mais pesadas e mostram sequelas até hoje.
Cerca de 75% de sua população morreu nesse período (90% dos homens). Ele perdeu 150.000 km²
de seu território, teve seu parque industrial destruído, sua malha ferroviária vendida a companhias
inglesas a preço de sucata, reservas de madeira e erva-mate praticamente entregue aos estrangeiros.
Por fim, todas as terras passaram para o controle de banqueiros estrangeiros que as alugavam aos
paraguaios.

A Crise do Império

A partir da década de 1870 o império brasileiro vê seus melhores dias passarem. Uma crise iniciada
com o conflito do Paraguai resultaria em quase vinte anos depois na proclamação da república.
A crise do império pode ser baseada em quatro pilares:

168
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Questão abolicionista e de terras: durante muito tempo a escravidão foi a base econômica das
elites que apoiavam a monarquia. Com a grande campanha abolicionista e as medidas graduais tomadas
pelo império, a antiga aristocracia escravista que ainda apoiava D. Pedro II ficou descontente com seu
governo. As novas elites, que faziam fortuna com o café e se adaptaram ao trabalho livre imigrante
europeu, ansiavam por mais autonomia política, e passaram a fazer grande campanha em favor da
república.
A sociedade, agora com crescente número de imigrantes também convivia com novas ideias (entre
elas o abolicionismo).
D. Pedro II se viu sem o apoio da classe média da sociedade, da nova aristocracia e também da antiga.

- Questão religiosa: a Constituição de 1824 declarava o Brasil um país oficialmente católico. A


Constituição fixava que a Igreja deveria ser subordinada ao Estado, razão pelo qual já haviam alguns
atritos. O problema maior se dá a partir de 1860 quando o Papa Pio IX publica a Bula Syllabus, excluindo
membros da maçonaria de irmandades católicas. Apesar de o imperador não acatar as recomendações,
os bispos de Olinda e Belém seguem as instruções do Papa. Em consequência, D. Pedro II ordena que
ambos sejam presos, o que leva a Igreja a também dar as costas a coroa.

- Questão militar: até a Guerra do Paraguai o exército brasileiro não tinha qualquer influência ou
importância para o governo. Durante as regências a criação da Guarda Nacional garantiu que a
necessidade de um exército forte quase não existisse.
A Guerra do Paraguai vem para mudar essa situação. Forçados a se modernizar e se estruturar, após
a guerra o exército não apenas exige maior participação no governo do país como passa a ter setores
contrários às ideias monarquistas.
Como a Coroa continuava intervindo em assuntos militares e punindo alguns de seus membros a ponto
de censurar a imprensa em determinados assuntos relacionados às forças armadas, o exército também
dá as costas a monarquia e com isso deixa D. Pedro II sem nenhum apoio de peso.
Sem apoio após a abolição da escravatura por parte da princesa Isabel, em novembro de 1889 com a
ação militar, sem conflitos ou participação popular, termina o império brasileiro e tem início o período
Republicano.

Questões

01. (Prefeitura de Monte Mor/SP – Agente de Transito – CONSESP) Historicamente, o primeiro


passo para o advento do Parlamentarismo no Brasil, ocorreu na época do Império com:
(A) A Constituição outorgada em 1824
(B) A criação da presidência do Conselho de Ministros por D. Pedro II
(C) A abdicação de D, Pedro I
(D) A declaração da maioridade

02. (IF/AL – Professor-História – CEFET/AL) No processo crescente que levou à abolição dos
escravos (1888), o Brasil passou a instituir uma legislação que iria culminar com a abolição. Em 1850
foi sancionada a Lei Euzébio de Queiróz (proibição do tráfico de escravos). Em contrapartida o império
instituiu a Lei das Terras, que significou:
(A) Objetivando regularizar os quilombos que existiam no Brasil, foi criada a Lei das Terras, dessa
forma, os quilombolas poderiam permanecer nas terras ocupadas.
(B) O império objetivava com a criação da LEI DAS TERRAS facilitar a aquisição de terras pelos negros
libertos e dificultar para os imigrantes.
(C) A Lei das Terras tinha o objetivo de restringir terras para os novos libertos e facilitar para os
imigrantes.
(D) Pensando em proteger os negros libertos, a Lei das Terras seria um arcabouço jurídico que
protegeria todos os brasileiros.
(E) Visando a aumentar os valores das terras, a lei foi criada dificultando, assim, a compra por parte
dos libertos, favorecendo a permanência dos libertos como trabalhadores nas fazendas já existentes.

03. (SEDUC/AM – Professor-História – FGV) A Constituição do Império do Brasil, outorgada por


D. Pedro I em 1824, inaugurou formalmente um sistema político-eleitoral que sofreu algumas
alterações ao longo do período monárquico (1822-1889).

Assinale a opção que caracteriza corretamente uma dessas alterações.

169
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(A) 1834 – modificação da Constituição extinguiu o Poder Moderador, assegurando a independência
dos três poderes.
(B) 1840 – interpretação parcial da Reforma Constitucional de 1834, ampliando a autonomia dos
legislativos provinciais.
(C) 1847 – criação do cargo de Presidente do Conselho de Ministros, inaugurando o “parlamentarismo
às avessas”.
(D) 1855 – reforma eleitoral denominada “Lei dos Círculos”, extinguindo o voto distrital da Constituição
do Império.
(E) 1881 – nova reforma eleitoral conhecida como “Lei Saraiva”, estendendo o direito de voto aos
analfabetos.

04. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido em três momentos distintos: Primeiro Reinado
(1822-1831); Regências (1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). Sobre as principais questões que
marcaram esses momentos, assinale a alternativa incorreta.
(A) A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi a grande responsável pelo enfraquecimento
do poder de D. Pedro I, resultando na Independência do Brasil.
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve dificuldades para se consolidar, o Primeiro Reinado
foi curto e marcado por tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era português com os brasileiros.
(C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em 1824, por D. Pedro I.
(D) A segunda etapa da história do Brasil monárquico inicia-se em 1831, com a renúncia de D. Pedro
I em favor do filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.
(E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se com o reinado de Dom Pedro II, período
marcado pela centralização do poder de um lado e pelas disputas político-partidárias entre liberais e
conservadores, de outro.

Gabarito

01.B / 02.E / 03.C / 04.A

Comentários

01. Resposta: B
Como falamos, a primeira experiência com o parlamentarismo ocorreu da criação e prática do que
ficou conhecido como “Parlamentarismo às Avessas”, em que D. Pedro II criou um quarto poder, o
“moderador” onde a ele (o próprio D, Pedro II) caberia autoridade sobre todos os outros e a livre opção
de colocar ou retirar qualquer pessoa do cargo de Primeiro Ministro.

02. Resposta: E
Além da questão econômica (agora a terra não seria apenas um símbolo de status social, mas de
poder), a medida garantia que o preço elevado das terras mantivesse apenas quem tinha maior poder
aquisitivo com sua posse. Como quem detinha o poder financeiros eram comumente os próprios
proprietários de terras, acabou-se criando um ciclo onde aqueles que trabalhavam nela, teriam que
continuar trabalhando pela dificuldade em obtê-la.

03. Resposta: C
Dentre todas as mudanças que a Constituição sofreu, como o senado vitalício, a criação do cargo de
Presidente do Conselho de Ministros foi a mais drástica, uma vez que em nenhuma outra experiência
parlamentarista havia um quarto poder acima dos outros. A alternativa “E” poderia causar alguma
confusão, mas note que ela não faz nenhuma referência a uma renda mínima, critério presente na
Constituição.

04. Resposta: A
A Guerra do Paraguai ocorre somente durante o segundo reinado, quando D. Pedro II estava no trono.
A abdicação de D. Pedro I ocorre somente em 1831, ou seja, quase dez anos após a Proclamação da
Independência.

170
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Nacionalismo na Europa nos séculos XIX e XX;

NACIONALISMO

Na Europa do século XIX, proliferavam os mais diversos grupos étnicos, linguísticos e históricos. O
império russo, por exemplo, possuía mais de 200 etnias, numa babel de línguas, culturas e de religiões.
No entanto, essas diferenças não eram respeitadas. O russo era idioma da administração, da justiça e do
ensino. A igreja ortodoxa era a oficial. As minorias eram reprimidas em meio a um processo avassalador
de russificação. Mesmo assim, as diversas nações resistiam.
A Revolução Francesa consagrou “o direito de os povos disporem de si próprios” e a obrigação de os
governantes colocarem em prática a “vontade da nação”. Hinos patrióticos, bandeiras e obras intelectuais
(historiadores, linguistas e filósofos políticos) endossavam o movimento das nacionalidades.
Uma outra fonte do nacionalismo está na tradição, no retorno ao passado e no culto de seus
particularismos. A valorização da Idade média, da religião, a restauração de obras arquitetônicas e as
pesquisas de filólogos, procurando reconstituir línguas antigas, são exemplos deste “retorno ao passado”.
Como bem salientou René Rémond, o movimento das nacionalidades foi bastante contraditório. Em
alguns países (França, por exemplo), ele se inclinou para a esquerda, ansiando por uma sociedade liberal
ou democrática. Em outras regiões (Polônia e Hungria), o nacionalismo foi aristocrático, feudal e religioso,
pois visava restaurar a ordem social e política do Antigo Regime.

*Candidato(a). As principais manifestações nacionalistas da Europa (Fascismos) serão


trabalhadas adiante no contexto entre Guerras.

África e Ásia: expansão imperialista dos Estados Europeus; resistência chinesa


ao imperialismo;

IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO

O Imperialismo é a prática através da qual nações poderosas procuram ampliar e manter controle ou
influência sobre povos ou nações mais pobres.
Algumas vezes o imperialismo é associado somente com a expansão econômica dos países
capitalistas; outras vezes é usado para designar a expansão europeia após 1870. Embora Imperialismo
signifique o mesmo que Colonialismo e os dois termos sejam usados da mesma forma, devemos fazer a
distinção entre um e outro.
Colonialismo normalmente implica em controle político, envolvendo anexação de território e perda da
soberania.
Imperialismo se refere, em geral, ao controle e influência que é exercido tanto formal como
informalmente, direta ou indiretamente, política ou economicamente.

Desde o século XVIII, a Europa vinha passando pela Revolução Industrial, importante para o
entendimento da sociedade atual. Conforme novas técnicas e equipamentos eram desenvolvidos, a
produção industrial tornava-se mais eficiente, muitas vezes porém, à custa dos trabalhadores. Com o
passar do tempo os trabalhadores começaram a reunir-se em associações e sindicatos que buscavam
defender seus interesses e lutar por condições de trabalho mais dignas. Vale lembrar que benefícios
como férias remuneradas, auxílio doença, décimo terceiro salário, licença-maternidade, entre outros,
foram conquistados através da busca por situações de trabalho mais dignas para os trabalhadores.
Para evitar o pagamento de salários mais altos, os empresários passaram a investir em tecnologia. O
investimento em tecnologia barateava o custo da produção e ao mesmo tempo diminuía o número de
trabalhadores necessários para operar uma fábrica. Porém, em compensação, não havia quem pudesse
comprar as mercadorias, forçando a queda dos preços.
Essa relação entre a produção e os preços foi a primeira grande depressão sofrida pelo capitalismo,
iniciada em 1873, e acabando somente em 1896. Para resolver a situação de crise em que se
encontravam, foram propostas duas saídas:

171
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- A concentração do capital, através da formação de grandes empresas capazes de resistir à crise e
não ir à falência;
- A abertura de novo mercados consumidores de produtos industrializados na África e na Ásia,
originando um novo colonialismo.

As colônias também seriam utilizadas para investir os lucros da produção industrial, para evitar uma
crise de superprodução na Europa. Além de evitar crises, os lucros obtidos com esses investimentos em
infraestrutura, como transporte, iluminação e energia poderiam ser até maiores que os investimentos na
indústria europeia.
As colônias, além de zona de despejo para as sobras da industrialização, forneceriam à metrópole
alimentos e matérias-primas estratégicas, como o petróleo. Para as colônias eram também enviados os
excedentes demográficos que agravavam os problemas sociais das metrópoles, evitando-se assim a
perda dessa mão-de-obra com a emigração. As colônias transformar-se-iam em elementos de prestígio
no concerto internacional das nações: população maior para o recrutamento militar, pontos de apoio para
a Marinha, pontos de abastecimento para as rotas oceânicas.
Além das vantagens econômicas e estratégicas, a religião também foi um fator de impulso para a
exploração das colônias. Com o discurso de expandir a civilização europeia para o mundo, considerada
pelos europeus como mais avançada e necessária para o bem da humanidade, além de expandir também
a fé cristã, considerada mais civilizada, “justa” e importante, os europeus, baseados nas teorias raciais
desenvolvidas a partir dos estudos de Charles Darwin sobre a evolução das espécies. Essa prática ficou
conhecida como Darwinismo Social.
Em 1859 o cientista Charles Darwin publicou seu livro, revolucionário para a época, chamado “A
Origem das Espécies”. O livro causou polêmica ao negar as ideias de que os seres vivos haviam sidos
criados por um ser superior, mas sim eram resultado de um longo processo evolutivo, através da
adaptação ao ambiente em que viviam. Pensadores sociais começaram a transferir os conceitos de
evolução e adaptação para a compreensão das civilizações e demais práticas sociais. A partir de então
o chamado “darwinismo social” nasceu desenvolvendo a ideia de que algumas sociedades e civilizações
eram dotadas de valores que as colocavam em condição superior às demais. No caso, dizer que europeus
estavam em um estágio de evolução superior ao que se encontravam muitas civilizações africanas ou
asiáticas. Portanto, era comum entre os defensores do neocolonialismo o argumento da ignorância dos
povos nativos em relação às riquezas que possuíam em suas terras. O domínio europeu era tido como
uma atitude justa, que promovia a circulação das riquezas que tais povos não utilizavam nem para o
benefício próprio e muito menos para os demais.
As ideias do Darwinismo Social chegaram inclusive ao Brasil. Além das diferenças sociais, os
defensores dessa teoria racista acreditavam que o europeu, homem branco, era biologicamente superior
aos demais povos. Um dos exemplos dessa crença está descrito nas páginas do livro L’émigration au
Brésil, de 1873, escrito pelo Conde de Gobineau, amigo de D. Pedro II. Em um dos trechos de seu livro
ele diz que: “Todos os países da América, seja no Norte seja no Sul, mostram hoje de uma maneira
categórica que os mulatos dos diferentes graus só se reproduzem até um número limitado de gerações.
A infecundidade não se apresenta sempre nos casamentos; mas os produtos vão gradualmente se
mostrando doentios, tão pouco viáveis que desaparecem, seja antes mesmo de ter gerado crianças, seja
deixando crianças que não podem sobreviver.” A partir dessa convicção, Gobineau estabeleceu a
previsão de que por volta de 2140 a população brasileira fruto da miscigenação iria desaparecer, restando
somente os descendentes diretos dos europeus.

As Diferenças entre o Colonialismo do Século XVI e do Século XIX


Apesar do nome semelhante, o colonialismo exercido pela Europa durante o século XVI possuiu
diferenças marcantes com o praticado durante o século XIX.
Durante a primeira fase do colonialismo, no século XVI, a preocupação das potencias europeias estava
pautado no metalismo (acumulação de ouro e prata), no encontro de mercados fornecedores de
especiarias e outros produtos tropicais e de mercados consumidores para os produtos manufaturados
europeus. Durante essa fase a concentração de interesses esteve voltada principalmente para a América,
também chamada de Novo Mundo.
Já no século XIX, os olhares voltam-se para terras novas, porém já conhecidas há muito tempo pela
Europa: a África e a Ásia. Apesar da mudança geográfica, os interesses continuavam sendo econômicos,
além de serem acrescidos por outros: busca por mercados fornecedores de matérias-primas, como o
ferro, o carvão, o petróleo, terras para o cultivo de algodão e também alimentos; busca por um mercado
consumidor capaz de absorver os excessos de produção da indústria europeia e de regiões onde os
lucros obtidos com a produção pudessem ser investidos.

172
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Além disso, a população europeia estava crescendo num ritmo acelerado e precisava encontrar novas
terras onde pudesse se estabelecer. No plano político, os Estados europeus estavam preocupados em
aumentar seus contingentes militares, para fortalecer sua posição entre as demais potências. Possuindo
colônias, contariam com maior disponibilidade de recursos e de mão de obra para os seus exércitos.
A religião também impulsionou a ocupação. Os missionários cristãos desejavam converter africanos e
asiáticos à sua crença, e havia gente que considerava ser o dever dos europeus difundir a sua civilização
entre esses povos, considerados primitivos e atrasados. Essas preocupações civilizadoras, porém, foram,
principalmente, pretexto para justificar a colonização.

A Ocupação da África
Até a primeira metade do século XIX a presença colonial europeia na África esteve limitada aos colonos
holandeses e britânicos na África do Sul e aos militares britânicos e franceses na África do Norte.
Com a descoberta de diamantes na África do Sul e abertura do Canal de Suez, ambos em 1869, a
Europa criou interesse sobre a importância econômica e estratégica do continente. Os países europeus
rapidamente começaram a disputar territórios no continente.
Em algumas áreas os europeus usaram forças militares para conquistar os territórios, em outras, os
líderes africanos e os europeus entraram em entendimento à respeito do controle em conjunto sobre os
territórios. Esses acordos foram decisivos para que os europeus pudessem manter tudo sob controle.
A corrida colonialista do século XIX começou com o rei Leopoldo II da Bélgica, que formou uma
sociedade capitalista internacional para explorar economicamente o Congo. Essa sociedade, denominada
Associação Internacional Africana foi seguida pela criação, posteriormente, do Comitê de Estudos do Alto
Congo.
Os demais países europeus lançaram-se rapidamente à aventura africana. A França conquistou a
Argélia, Tunísia, Madagascar; os ingleses anexaram a Rodésia, União Sul-Africana, Nigéria, Costa do
Ouro e Serra Leoa; a Alemanha, que entrou tardiamente na corrida colonial, adquiriu apenas Camarões,
África Sudoeste e África Oriental; e a Itália anexou o litoral da Líbia, Eritreia e Somália.
Os antigos países colonizadores da Europa, Portugal e Espanha, ficaram com porções reduzidas: a
Espanha, com Marrocos Espanhol, Rio do Ouro e Guiné Espanhola; Portugal, com Moçambique, Angola
e Guiné Portuguesa. A Conferência de Berlim, convocada por Otto Von Bismarck, primeiro-ministro da
Alemanha, foi o marco mais importante na corrida colonialista. Sua finalidade primeira foi legalizar a
propriedade pessoal do rei Leopoldo II da Bélgica sobre o Estado Livre do Congo e estabelecer as regras
da "partilha da África" entre as principais potências imperialistas. A corrida colonial africana produziu
inúmeros atritos entre os países colonialistas, constituindo de fato um dos fatores básicos do desequilíbrio
europeu responsável pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Imperialismo na Ásia
Até o século XIX, as relações entre a Ásia e o mundo ocidental se resumiam ao contato estabelecido
entre as cidades portuárias e as embarcações comerciais europeias. Algumas poucas experiências
coloniais se desenvolviam nas regiões do Macau (China), Damão, Goa e Diu (Índia), e Timor (Indonésia),
todas elas controladas pelos portugueses. Além disso, os espanhóis exploravam as Filipinas e os
holandeses se fixaram nas regiões de Java e Sumatra.
Esse relativo isolamento garantiu certa imunidade à influência europeia no Oriente, situação que
mudou a partir do crescimento no interesse dos europeus pelos recursos e pelo mercado asiático a partir
do século XIX. Os países ocidentais passaram do simples comércio portuário para a política de zonas de
influências, promovendo uma verdadeira partilha. Começaram os investimentos em ferrovias, que abriram
o mercado asiático para os produtos ocidentais. A Rússia era o país mais interessado na expansão
territorial da Ásia, graças à proximidade com seu território. Chocou-se com os ingleses na Ásia Central e
com o Japão na Manchúria, depois da construção da estrada de ferro que ia de Moscou a Vladivostok,
no litoral do Pacifico.
Já durante o século XVIII a penetração inglesa havia começado, a partir da tomada da Índia em 1763,
então pertencente aos franceses. Após a conquista, uma companhia inglesa ficou encarregada da
exploração das riquezas do território. Em 1858, os nativos que serviam nos exércitos coloniais, e que
eram conhecidos como Cipaios, revoltou-se. Após a revolta ser contida a Índia foi incorporada ao Império
Britânico.
A ação inglesa também se estendeu até a China, quando os britânicos descobriram que poderiam
explorar a comercialização do ópio como droga entorpecente. Inconformado com os prejuízos causados
à saúde da população, o governo chinês estabeleceu a proibição do comércio da droga e uma severa
política contra qualquer tentativa de contrabando do mesmo produto. A insistência dos ingleses na venda
do produto, legal ou ilegalmente, gerou a Guerra do Ópio, motivada pela destruição de carregamentos de

173
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
ópio pertencentes a súditos ingleses, pelos chineses, o que permitiu a conquista de Hong Kong, Xangai
e Nanquim. Outras expedições militares foram organizadas a pretexto de punição pela morte de
missionários, provocando a abertura de novos portos.
Na segunda metade do século XIX, o Japão abre os portos ao comércio externo. Em 1868 começou
através de uma revolução, seguida de uma guerra civil, a Era Meiji. O imperador Mutsuhito, que acabara
de assumir o controle sobre o país, abole o feudalismo. Ao contrário do que ocorria com seus vizinhos, o
Japão, após resistir durante muito tempo ao imperialismo ocidental, dá início à própria expansão
imperialista. Vence a China na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), em que disputa o controle da Coréia.
Os alemães conquistaram a península Chantung, enquanto a França dominava a Indochina. A reação
contra a invasão da China partiu dos Boxers, que promoviam atentados contra os estrangeiros residentes
na China. As nações europeias organizaram uma expedição conjunta para punir a sociedade e o governo
chinês que a apoiava, surgindo daí a Guerra dos Boxers, que completou a dominação da China pelas
potências ocidentais.
De forma geral, existiam dois tipos de dominação colonial, a exemplo do caso francês, que não
diferenciava do praticado por outros países. A França administrava dois tipos de empreendimentos:
colônias e protetorados.
As colônias estavam sob forte intervenção da metrópole. Eram supervisionadas pelo Ministério das
Colônias, e governadas por um governador-geral, que era responsável por administrar as atividades
coloniais.
Os Protetorados por sua vez possuíam grande autonomia, com parlamento eleito localmente e
domínios de certa forma independentes.

A Exploração das Colônias


Com exceção dos ingleses, que possuíam um império colonial imenso, ao redor de todo o planeta, os
países colonialistas da Europa procederam de maneira empírica na organização do sistema de
exploração colonial. A partir de 1850, a política livre-cambista da Inglaterra foi estendida às colônias. O
livre-cambismo caracteriza-se não interferência do estado na economia, diferenciando-se do
protecionismo. A França adotou uma política tarifária variante. Dependia da colônia e dos tipos de
produtos que produzia e comercializava.
A ocupação de terras nas colônias causou problemas para a administração europeia. Muitos dos
colonos que vinham da Europa queriam terras, que tinham de ser desapropriadas dos ocupantes nativos.
Para resolver esse impasse, as tribos locais eram confinadas em pequenas reservas criadas pelo
governo, nem sempre nos mesmos locais que habitavam e em condições que muitas vezes não atendiam
às necessidades básicas.
A exploração econômica das terras foi concedida a particulares, visando a encorajar a colonização.
Somente as grandes companhias capitalistas tinham condições de empreender a exploração, que
necessitava de uma vultosa soma de capitais. Os empreendimentos industriais nas colônias praticamente
inexistiam, evidentemente para evitar a concorrência com a produção metropolitana. Por isso, as únicas
indústrias que conseguiram sobressair, impulsionando a economia colonial, eram as extrativistas de
minerais e vegetais, que utilizavam a abundante mão de obra e a matéria-prima disponível. A construção
de estradas de ferro nas colônias significou o interesse de particulares em obter elevados rendimentos.
Era apenas um negócio lucrativo, não apresentando nenhuma preocupação em relação ao
desenvolvimento das vias de comunicação colonial, visando apenas a incrementar o comércio
metropolitano.

Imperialismo Norte-Americano
Imperialismo norte-americano é uma referência ao comportamento autoritário de influência militar,
cultural, política, geográfica e econômica dos Estados Unidos sobre os outros países.
É por meio dessa prática que sucessivos governos dos EUA mantêm o controle econômico de diversas
nações.
O conceito refere-se a império americano, considerando o comportamento político dos EUA a partir da
segunda metade de 1800.
No caso dos Estados Unidos, o imperialismo está enraizado na crença do diferencial em relação aos
demais países do mundo em que teria como missão a difusão dos ideais de liberdade, a igualdade e a
democracia.

Guerras e Poder
O termo ganhou força ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, considerando a demonstração do
poderio bélico dos EUA, com o lançamento de duas bombas atômicas sobre o Japão.

174
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No decorrer da chamada "idade do imperialismo", o governo norte-americano exerceu forte controle
político, social e econômico sobre Cuba, as Filipinas, a Alemanha, a Coreia, o Japão e a Áustria.
Entre as experiências intervencionistas também estão as guerras ocorridas no Vietnã, Líbia,
Nicarágua, Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Paquistão e Líbia. Nos países do Oriente Médio, o interesse
norte-americano é claro: o controle sobre as reservas de petróleo.
Com o advento da Guerra Fria, os EUA passaram a incentivar a organização de ditaduras militares na
América Latina.

Política do Big-Stick
A política do Big-Stick (porrete grande em português) é a referência à maneira do presidente norte-
americano Theodore Roosevelt (1901 - 1909) de tratar as relações internacionais.
Em discurso, Roosevelt afirmou que era preciso falar de maneira mansa, mas deixar as demais nações
conscientes do poderio militar norte-americano.
O big-stick foi usado para interferir na política dos países latino-americanos contra credores europeus.
O presidente disse que os EUA impediu que a Alemanha atacasse a Venezuela, mas ponderou que o
governo norte-americano poderia usar da força contra os países latino-americanos, caso julgasse
necessário.

Doutrina Monroe
A doutrina Monroe é uma referência à política externa do presidente James Monroe (1817 - 1825) a
partir de 1823 para reconhecer a independência das colônias sul-americanas.
Segundo a doutrina, qualquer ato de agressão de europeus às nações sul-americanas sofreria
interferência dos EUA.

A Belle Époque
A Belle Époque normalmente é entendida como o período que vai do final do século XIX até o início
da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
A expressão francesa Belle Époque significa “bela época”, e representa um período de cultura
cosmopolita na história da Europa. A época em que esta fase era comum foi marcada por transformações
culturais intensas que demonstravam novas formas de pensar e viver. Considerada uma época de ouro,
beleza, inovação e paz entre os países; a fase trazia invenções que faziam com que a vida se tornasse
mais simples para todos os níveis sociais. Era comum a crença de que a partir dessa época a humanidade
viveria um grande período de prosperidade, melhorando cada vez mais.
Durante esta época, a Europa passou por diversas mudanças, especialmente na área tecnológica.
Entre as principais inovações estão o surgimento do telefone, do telégrafo sem fio, do cinema, do avião
e do automóvel. A França, e principalmente paris, tornam-se centro da cultura, com os balés, livrarias,
óperas, teatros e diversas expressões artísticas. Estes ambientes tornaram-se, nesta época, muito
comuns na rotina dos burgueses e apenas eles tinham acesso ao mundo da arte.

Art Nouveau
O termo tem origem na galeria parisiense L'Art Nouveau, aberta em 1895 pelo comerciante de arte e
colecionador Siegfried Bing. Suas características envolvem a valorização das cores vivas, curvas
sinuosas que se baseavam nas formas das plantas, animais e mulheres, além dos ornamentos. As
principais obras deste estilo são fachadas de edifícios, vitrais, joias, móveis e portões.
Durante esse período o Brasil possuía uma ligação muito forte com a França, sendo muito comum a
visita de membros da elite brasileira à Paris, ao menos uma vez por ano, para interagir e ficar a par das
novidades do velho mundo.
No Brasil o movimento ganhou força com a Proclamação da República em 1889, e vai até 1922,
quando explode o Movimento Modernista, com a realização da Semana da Arte Moderna na cidade de
São Paulo.
Todo o movimento de prosperidade e alegria vividos na Europa fora, em boa parte, sustentado pela
exploração das riquezas coloniais. Essas mesmas riquezas foram motivo de disputas entre as potencias
europeias entre o final do século XIX e início do século XX. Cada vez mais intensas, as disputas atingiram
seu ápice em 1914. A Primeira Guerra Mundial acabou com o sentimento de prosperidade vivido até
então. Os perfumes da belle époque deram lugar ao cheiro de pólvora das trincheiras. Para o historiador
inglês Eric Hobsbawm, 1914 foi o ano que inaugurou “oficialmente” o século XX, marcado pelos conflitos
sangrentos por territórios, por duas guerras mundiais, pelo racismo e pelo preconceito e também por
movimentos totalitários e ditaduras.

175
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Questões

01. (IF/AL – História – CEFET/AL) A colonização portuguesa e espanhola do século XVI havia se
limitado à América. Com raras exceções, as terras africanas e asiáticas não foram ocupadas. Ali, os
europeus limitaram-se ao comércio, principalmente o de especiarias e de escravos. Por isso, no século
XIX, havia grandes extensões de terras desconhecidas nos dois continentes, que Portugal e Espanha
não tinham condições de explorar. Começou então uma nova corrida colonial envolvendo outras
potências europeias, sobretudo as que haviam passado por uma transformação industrial, como
Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha e Itália. É nesse contexto que tem início o Imperialismo, que se
caracterizou:
(A) Pela busca incessante por metais preciosos e mercados abastecedores de produtos tropicais e
consumidores de manufaturas europeias;
(B) Pela urgência de desenvolver novos mercados produtores de manufaturados nas áreas periféricas
da África;
(C) Pela divisão entre o capital bancário e o capital industrial formando o capital financeiro;
(D) Pelo acirramento das tensões entre as principais potências industrializadas da época, situação que
seria determinante para eclosão da II Guerra Mundial;
(E) Por uma alteração na economia capitalista, em que a empresa individual tende a ser substituída
pelas sociedades anônimas que administram conglomerados transnacionais ou multinacionais.

02. (Prefeitura de Congonhas/MG – História – CONSULPLAN) “… Nós conquistamos a África pelas


armas… temos direito de nos glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja
existência no século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora temos outra missão não menos
meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás…"

A partir da citação anterior, analise as afirmativas:


I. Os europeus em geral classificavam os povos que viviam no continente africano, asiático e em outros
continentes como primitivos para justificar a ocupação territorial e a submissão que utilizavam.
II. A ideia de levar a civilização aos povos considerados bárbaros estava presente no discurso dos que
defendiam a política imperialista.
III. Para os europeus, civilizar consistia em povoar e partilhar a cultura com os povos de outros
continentes, assim desenvolveram a origem da globalização.
IV. Uma das preocupações dos estados nacionais europeus era justificar a ocupação dos territórios,
apresentando os melhoramentos materiais que beneficiariam as populações nativas.
Estão corretas apenas as afirmativas:
(A) II, IV
(B) I, II, III
(C) I, II, IV
(D) I, III
(E) III, IV

03. (IFC/SC – História – IFC) O texto abaixo se refere aos “instrumentos e modalidades coloniais”
inerentes ao imperialismo na África, Ásia e América.
A penetração colonial se fez de diferentes maneiras. Em certos casos, o reconhecimento da região era
feito através de expedições científicas, religiosas e paramilitares, ao que se seguia o estabelecimento de
companhias concessionárias e depois (ou simultaneamente) o estabelecimento da soberania político-
administrativa do Estado colonizador. Em outros casos, a expedição militar abria caminho para o
estabelecimento da exploração econômica ou ia juntamente com ela.
(MOURA, Gerson; FALCON, Francisco. A Formação do Mundo Contemporâneo. RJ: Campus, 1989.
p. 87)
Quanto a uma correta nomenclatura dos autores para os instrumentos coloniais, relacione a COLUNA
A com a COLUNA B e em seguida assinale a alternativa correta de cima para baixo.
COLUNA A
1 – Áreas ou Zonas de influência
2 – Colônias estratégicas
3 – Colônias propriamente ditas
4 – Protetorados

COLUNA B

176
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
( ) áreas em que o domínio da metrópole colonizadora é exercido em todos os setores e níveis da
atividade econômica, se subdivide em colônias de enraizamento ou povoamento e colônias de
enquadramento.
( ) o país colonizador assegura a manutenção aparente da estrutura política e social pré-existente,
como se o país colonizado fosse apenas um aliado “protegido” e ajudado pelo país colonizador, que se
faz representar por intermédio de um ministro residente ou seu equivalente.
( ) a potência colonizadora reserva para seus nacionais áreas em que os mesmos possam atuar sob
a proteção de privilégios especiais em detrimento dos possíveis competidores europeus; o Estado pré-
existente é conservado e com ele são negociados os tratados e convenções necessários.
( ) muito em voga no século XIX, se referem à obtenção de portos, ilhas e outros pequenos territórios
capazes de servir ao abastecimento de frotas de guerra e navios mercantes ou de entrepostos comerciais,
ou mesmo de simples ponto de apoio para as comunicações telegráficas.
(A) 4, 2, 3, 1
(B) 2, 3, 4, 1
(C) 1, 4, 2, 3
(D) 3, 1, 2, 4
(E) 3, 4, 1, 2

Gabarito

01.E / 02.C / 03.E

Comentários

01. Resposta: E
A relação entre a produção e os preços foi a primeira grande depressão sofrida pelo capitalismo,
iniciada em 1873, e acabando somente em 1896. Para resolver a situação de crise em que se
encontravam, foram propostas duas saídas:
- A concentração do capital, através da formação de grandes empresas capazes de resistir à crise e
não ir à falência;
- A abertura de novo mercados consumidores de produtos industrializados na África e na Ásia,
originando um novo colonialismo.

02. Resposta: C
Os europeus utilizaram a justificativa de levar sua civilização, crenças e costumes para os povos da
África e da Ásia para beneficiá-los com sua superioridade. Eles não tinham interesse em compartilhar os
costumes alheios, no máximo viam os outros povos como algo curioso.

03. Resposta: E

O expansionismo norte americano: a marcha para o oeste e a política externa


intervencionista para a América Latina: Doutrina Monroe e o Pan-Americanismo;

Expansão territorial dos Estados Unidos e Guerra de Secessão


A primeira metade do século XIX na história dos EUA foi marcada pela conquista de territórios em
direção ao Oceano Pacifico, conhecida como "a marcha para o Oeste". No final do século XVIII, a
população norte-americana alcançava quatro milhões de habitantes, que estavam concentrados na costa
do Atlântico, sendo urna sociedade essencialmente agrária, formada por granjas no Nordeste e grandes
latifúndios exportadores no Sudeste.
Em menos de 80 anos, o pequeno território que formava as treze colônias aumentou
consideravelmente, transformando os Estados Unidos em um dos maiores países do mundo.

Fatores da expansão
A imigração, nesse período, foi muito intensa, principalmente de pessoas vindas da Alemanha, Irlanda
e Inglaterra. Os motivos para esse deslocamento estavam ligados às dificuldades financeiras pelas quais
a população europeia passava, à expulsão dos camponeses da terra em virtude da concentração fundiária
e do desemprego de artesãos decorrente da mecanização industrial nas cidades. No início do século XIX,

177
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
a população norte-americana passava a contar cerca de sete milhões de habitantes. Esse crescimento
demográfico e a pequena área do país contribuíram para que se pretendesse ocupar terras a oeste, em
razão da necessidade de aumentar a produção agrícola e a área destinada aos rebanhos. Na seguida
metade do século XIX, a pecuária chegou a ocupar um quarto do território americano, estendendo-se do
Texas ao Canadá. A descoberta de ouro na Califórnia, em 1848, estimulou uma corrida em busca de
"riqueza fácil", incentivando o deslocamento populacional. Além disso, a construção de ferrovias, iniciada
em 1829, barateava o transporte. Em fins do século XIX, a quantidade de quilômetros de linhas férrea s
nos Estados Unidos era maior que a soma de todos os países europeus. Em 1890, uma ferrovia ligava a
costa do Atlântico ao Pacifico.
A expansão para o Oeste foi justificada pela doutrina do “Destino Manifesto”, que pregava serem os
norte-americanos destinados por Deus a conquistar e ocupar os territórios situados entre o Atlântico e o
Pacifico. Em 1820 a expansão norte-americana ganhou um conteúdo politizado com a Doutrina Monroe,
que, inicialmente, colocou-se como defensora das recém-independentes nações latino-americanas ao
pronunciar “a América para os americanos", mas, conforme os interesses territoriais dos Estados
Unidos foram se ampliando em direção a oeste e Sul, a doutrina seria mais bem definida pela frase "a
América para os norte-americanos".

Leis sobre terras


Antes mesmo da independência, os colonos americanos já cobiçavam terras a oeste. Um dos motivos
que causaram o início da luta contra os ingleses foi a Lei de Québec (parte das Leis Intoleráveis, 1774),
que proibia a ocupação de terras entre os Apalaches e o Mississippi pelos colonos.
Após a independência, foi elaborada, pela Convenção da Filadélfia, a Lei Noroeste (1787), que
estabeleceu as bases para a ocupação das terras a oeste e a integração dos novos territórios surgidos
na União, ao definir que, quando a população atingisse 5 mil habitantes do sexo masculino em idade de
votar, poderia organizar um Legislativo bicameral e passaria a ter o direito de um representante no
Congresso, sem direito a voto; ao atingir uma população livre de 60 mil habitantes, o território seria
incorporado à União como Estado.
As grandes companhias loteadoras incorporaram essas terras e passaram a comercializa-las com os
pioneiros por um preço bem reduzido (aproximadamente dois dólares por hectare). Esses pioneiros eram
granjeiros, caçadores ou grandes latifundiários sulistas que estavam interessados em expandir a cultura
algodoeira ou seu rebanho. O governo norte-americano também incentivou a ocupação;
Em 1862. Lincoln concedeu terras gratuitamente por meio do Homestead Act - Segundo essa lei,
qualquer chefe familiar, maior de 21 anos, e que nunca tivesse lutado contra os EUA em algum conflito
teria o direito de ocupar um quarto de milha quadrada (cerca de 402 m²) de terras devolutas desocupadas.
Dessa forma, um modelo baseado na pequena propriedade, policultura e de mão de obra familiar, o que
impulsionou a ocupação dos novos territórios conquistados.

Mecanismos de conquista
Pelo Tratado de Versalhes, de 1783, firmado com a Inglaterra, o território dos Estados Unidos abrangia
da costa do Atlântico até o Mississippi. No século XIX, essa realidade se alterou consideravelmente. Em
direção ao Oeste apareceu o território da Louisiana, colônia francesa que Napoleão Bonaparte, em razão
das guerras na Europa e Antilhas (Haiti), negociou com os norte-americanos por 15 milhões de dólares
(1803). A Florida foi comprada dos espanhóis, em 1819, por cinco milhões de dólares. A Rússia vendeu
o Alasca aos Estados Unidos, em 1867, por sete milhões de dólares.
O Oregon (Noroeste), colônia inglesa que despertou pouco interesse até 1841, foi cedido aos
americanos em 1846.
O sudoeste americano pertencia ao México; a conquista desse terno-ria ocorreu com a guerra. Em
1821, os americanos passaram a colonizar essa região com autorização do governo mexicano, que exigiu
lealdade e adoção da religião católica por parte dos pioneiros.
A dificuldade encontrada pelo México na consolidação do Estado Nacional refletiu-se em conflitos
internos e no estabelecimento de ditaduras como a de López de Sant'Anna. Esses fatos impediam um
efetivo controle sobre a região que fora concedida. Dessa maneira, o Texas estava fadado a compor os
Estados Unidos, o que ocorreu em 1845, quando os colonos norte-americanos ali estabelecidos
declararam a independência do território em relação ao México e a sua incorporação aos Estados Unidos.
A guerra estendeu-se até 1848, quando foi assinado o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia o
Rio Grande como fronteira entre o México e o Texas, além da cessão da Califórnia, Arizona, Novo México,
Nevada, Utah e parte da Colorado aos Estados Unidas por 15 milhes de dólares.
Em 1853 foi completada a anexação de territórios do México com a incorporação de Gadsden. Metade
do território mexicano havia sido perdido para os Estados Unidos.

178
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os indígenas
Além da guerra travada contra o México, os Estados Unidos entraram em guerra com as nações
indígenas que habitavam o oeste da América do Norte. O genocídio dos povos indígenas atingiu
proporções imensas, fazendo desaparecer etnias inteiras que recusavam-se a ceder suas terras e seus
lares ao país, o que ficava evidenciado na visão que alguns colonos difundiam durante o expansionismo,
de que "o único índio bom é um índio morto", afirmação essa, atribuída ao general Armstrong Custer,
considerado um dos maiores matadores de índios nesse contexto. Entre os principais grupos que
ofereceram resistência estão: Os Sioux, os Blackfeet, os Crow, os Chayenne; e os Arapahoe no Norte e
os Comanche; os Kiowa, os Ute, Chayene meridionais, os Apaches e os Arapahoe meridionais no Sul.
Os norte-americanos acreditavam que, além de serem os predestinados por Deus a ocuparem todo o
território, deveriam cumprir a missão de civilizar outros povos. Nesse sentido. Contribuíram decisivamente
para o aniquilamento dos indígenas e de sua cultura. De acordo com o americano, o general Armstrong
Custer, considerado o 'grande matador de índios": "O único índio bom e o índio morto.'

A política no processo de expansão


Em 1789, foi eleito o primeiro presidente dos Estados Unidos. George Washington, que governou o
país durante dois quadriênios. Nesse período, dois grupos políticos disputavam o poder:
O Partido Federalista e o Partido Republicano Democrático, liderados respectivamente cor Alexander
Hamilton e Thomas Jefferson, secretários do Tesouro e do Estado, ligados ao governo de George
Washington.
O Partido Federalista defendia um governo com poder centralizado, representando os interesses dos
grandes comerciantes, manufatureiros e financistas. Já o Partido Republicano Democratico defendia um
governo descentralizado, ou seja, uma maior autonomia para os Estados, e lambem uma maior
participação popular nas eleições (eram simpáticos aos ideais da Revolução Francesa e representavam
os interesses dos pequenos proprietários.).
1 O governo de Andrew Jackson (1829-1837) foi marcado pela mudança de orientação política. Ligado
ao recém-criado Partido Democrata, defendia os interesses dos grandes fazendeiros do Oeste e operários
do Norte. Durante sua gestão, foram realizados expurgos de elementos que pertenciam a governos
anteriores, processo que ficou conhecido como "sistema de despojos” (Spoil System).

Consequências da expansão
A conquista de um vasto território criou condições para o grande desenvolvimento da economia norte-
americana. Em 1912, concluiu-se o processo de formação da União, com a incorporação do Arizona como
Estado. O crescimento da agricultura, indústria, comercio, mineração e pecuária foi acentuado. A
população atingiu cerca de trinta milhes de pessoas em 1860.
Formaram-se sociedades diferenciadas dentro do pais:
A norte e leste, surgiu uma poderosa burguesia industrial e comercial, juntamente com um operariado
fabril;
Ao sul. predominavam os grandes aristocratas vinculados ao latifúndio, a monocultura, a exportação e
a escravidão;
Nas Regiões Centro e Oeste, nasceu uma sociedade organizada pelos pioneiros e baseada na
agricultura e pecuária.
No entanto, aumentou a rivalidade entre os interesses conflitantes dos Estados do Norte e do Sul, o
que culminou, mais tarde, em urna guerra civil.

A Guerra de Secessão
A primeira metade do século XIX marcou o início do processo de industrialização norte-americana, que
ocorreu no Norte, sobretudo na região da Nova Inglaterra, com base ainda em características do período
colonial.
Em meados do século, o Norte, ou mais precisamente o Nordeste, era o polo vital da economia. Esse
desenvolvimento foi favorecido por ocasião das guerras napoleônicas e pela Segunda Guerra de
Independência (1812-1814), já que as importações diminuíram e o mercado interno passou a consumir
as manufaturas locais. Essa incipiente indústria, por vota de 1810, beneficiou-se também de grande
disponibilidade de ferro, carvão e energia hidráulica da Região Norte.
O mesmo processo não atingiu a Região Sudeste, que permanecia com uma economia marcadamente
colonial, cuja produção ainda se fazia no interior da grande propriedade monocultora, voltada para o
mercado externo e baseada na exploração do trabalho escravo. Enquanto no Norte-Nordeste se formava
uma sociedade tipicamente industrial, dominada por uma forte burguesia, no Sul-Sudeste a sociedade
permanecia quase inalterada desde o período colonial. Os Estados Unidos, na realidade abrigavam duas

179
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
nações distintas (o Norte-Nordeste e o Sul-Sudeste) e o antagonismo de interesses entre essas duas
regiões levaria o país a urna guerra civil, a Guerra de Secessão.

Fatores da guerra
O protecionismo alfandegário foi certamente fundamental para a eclosão da Guerra Civil americana.
Os Estados do Norte, em processo de industrialização, reivindicavam alias tarifas de importação como
mecanismo de manutenção de seu desenvolvimento, pois não conseguiam competir com os preços dos
produtos ingleses. O Sul, por outro lado, dependia economicamente do Norte, exportando para Iá parte
de sua produção algodoeira e importando manufaturados. Para sua sobrevivência, defendia a liberdade
de comercio, preferindo importar os manufaturados ingleses, de melhor qualidade e mais baratos do que
os produzidos pelos Estados do Norte. ´
Além desse fato, os industriais ingleses poderiam deixar de comprar sua produção, caso os Estados
do Sul optassem por dar apoio as propostas protecionistas dos industriais do Norte. O problema da
manutenção do escravismo encontrou seu campo de discussão, no âmbito político, no Congresso, que,
ao sintetizar as disputas políticas pela salvaguarda de interesses econômicos dos Estados do Norte e do
Sul, dividiu-se em abolicionistas e escravistas. Com o processo de expansão para o Oeste e a
incorporação de novos Estados a União, as disputas acirraram-se em torno da questão abolicionista.
Ao Sul interessava que fosse livre a adoção do escravismo, pois. Assim, preço do escravo manter-se-
ia elevado. O Norte defendia o abolicionismo, por ter interesse no crescimento do mercado consumidor
e. ao mesmo tempo, em obter mão de obra barata.
Em 1820, o Missouri solicitou sua integração a União, gerando uma série de conflitos, pois a balança
política passou a pender a favor dos Estados do Sul. Esses atritos levaram a se firmar o Compromisso
do Mississippi-Missouri, no mesmo ano, que arbitrou a questão, estabelecendo a incorporação do
Missouri (Estado escravista) e do Mane (Estado com mão de obra livre). O ponto de referência seria o
paralelo 36'30', separando o trabalho livre (Norte) e o trabalho escravo (Sul). A incorporação da Califórnia,
em 1849, como Estado livre, mesmo estando abaixo do paralelo 36'30', contribuiu para acirrar a polemica,
pois pelo Compromisso do Mississippi- Missouri, a Califórnia deveria ser escravista.
Um novo acordo foi firmado em 1850, o Compromisso Clay, definindo que caberia a cada Estado
decidir sobre a continuidade ou não do escravismo. Em 1860, o Norte lançou a candidatura de Abraham
Lincoln para a Presidência. Lincoln, em relação ao escravismo, tinha posições moderadas. Considerava
que manter a União era mais importante do que a questão social dos negros. Depois de eleito, chegou a
pronunciar-se sobre a questão nos seguintes termos: "Se pudesse salvar a União sem libertar nenhum
escravo, eu o faria. Se pudesse salvar a União libertando os escravos, eu o faria.'
Desde a Independência dos Estados Unidos, os grandes proprietários rurais do Sul e a burguesia do
Norte, por meio do Partido Democrata, controlavam a vida política nacional. Em 1854, foi criado, no Norte,
o Partido Republicano. Os principais tópicos de seu programa eram a luta em favor do abolicionismo e a
manutenção da União, propostas que atraíram muitos políticos do Partido Democrata. As eleições
presidenciais de 1860, extremamente tensas, encontraram o Partido Democrata dividido em torno de dois
candidatos: John Breckinridge e Stephen Douglas. O Partido Republicano uniu-se em torno da
candidatura de Lincoln. O Partido da União Constitucional lançou um quarto candidato, John Bell. Lincoln
venceu o pleito, e esse fato desencadeou a Secessão.
Com a vitória de Lincoln, a Carolina do Sul, seguida depois de mais dez outros estados escravistas,
declarou que não mais fazia parte dos Estados Unidos, em dezembro de 1860. Os representantes dos
estados que se separaram reuniram-se e formaram os Estados Confederados da América, escolhendo
como presidente Jefferson Davis, já em 1861.
Os Estados Confederados da América eram: Texas, Luisiana, Arkansas, Mississipi, Alabama,
Tennessee, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Virgínia e Flórida. Somando um total de onze
estados.
Os Estados da União eram compostos por: Oregon, Califórnia, Área Indígena, Kansas, Wiscosin,
Michigan, Missouri, Illinois, Indiana, Kentucky, Ohio, Virgínia Ocidental, Pensilvânia, Massachusetts, Nova
Iorque, Vermont, New Hampshire e Maine. Somando um total de 18 estados.
A Guerra se iniciou em 12 de abril de 1861, em Charleston, na Carolina do Sul. Tropas confederadas
capturaram o Forte Sumter, do exército da União. Depois, os dois lados rapidamente recrutaram soldados.
A primeira batalha importante da guerra aconteceu em 21 de julho. Cerca de 30 mil soldados da União
marcharam para a capital confederada de Richmond, na Virgínia. Foram detidos pelos confederados no
rio Bull Run, perto da cidade de Manassas. As tropas da União foram forçadas a recuar para Washington.

180
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
1862
As forças da União tiveram algum êxito no oeste em 1862. Em fevereiro, sob o comando do general
Ulysses S. Grant, capturaram fortes confederados no oeste do Tennessee. Em abril, Grant venceu a
batalha de Shiloh, perto de Pittsburg Landing, no Tennessee. Então a marinha da União tomou a cidade
de Nova Orleans.
A primeira batalha entre navios foi travada na Virgínia em março de 1862. Nem o Merrimack, navio da
Confederação, nem o Monitor, da União, obtiveram uma vitória indiscutível.
O general Robert E. Lee obteve vitórias importantes para a Confederação no leste. Em agosto de 1862,
suas forças venceram uma segunda batalha em Bull Run. As tropas da União detiveram os confederados
em Antietam Creek, em Maryland, em setembro. Mas em dezembro as tropas de Lee derrotaram um
exército da União em Fredericksburg, na Virgínia.

1863
No início da guerra, o presidente Lincoln queria manter unidos os estados. Terminar com a escravidão
não era seu objetivo principal. Isso mudou após a batalha de Antietam. A vitória da União o encorajou a
fazer a Proclamação da Emancipação, libertando todos os escravos nos estados confederados. Como
resultado, muitos negros aderiram ao exército da União.
Em maio de 1863, Lee derrotou as forças da União perto de Chancellorsville, na Virgínia. Novamente
ele invadiu o norte. Sofreu sua primeira grande derrota em julho em Gettysburg, na Pensilvânia.
A batalha de Gettysburg virou a guerra em favor da União. Um dia depois, Grant capturou a cidade de
Vicksburg, no Mississípi, para a União, e passou então a controlar todo o rio Mississípi. Em novembro de
1863, Grant e o general William Tecumseh Sherman expulsaram os conferados de Chattanooga, no
Tennessee.

1864-1865
Em março de 1864, Lincoln recompensou Grant com o comando dos exércitos da União. Enquanto
Grant lutava na Virgínia, Sherman foi para a Geórgia. Em setembro, ele capturou Atlanta. Conduziu então
suas tropas numa marcha para Savannah, um porto no oceano Atlântico. Ao longo do caminho, destruiu
estradas e suprimentos. Sherman capturou Savannah em dezembro.
Em março de 1865, Lee sofria com a falta de homens e de suprimentos. No dia 3 de abril, Grant
capturou Richmond, a capital confederada. Aceitou a rendição de Lee em Appomattox, na Virgínia, em 9
de abril. No final de maio, todos os exércitos confederados haviam se rendido.
Foi o conflito que mais mortes causou entre os estadunidenses, matando aproximadamente 970 mil
pessoas. O resultado da guerra foi a demonstração do poder dos estados do norte, que já eram mais
desenvolvidos do que os estados do sul. Ao fim do conflito, com os interesses da região sul derrotados,
os Estados Unidos aboliram por completo a escravidão no país e assumiram uma postura econômica na
linha dos interesses do norte, guiada para o desenvolvimento industrial e expansão do mercado interno.
Elementos que permitiram o enorme desenvolvimento tecnológico e econômico do pais e criaria as
condições necessárias para que os Estados Unidos assumissem posição de destaque no mundo na
época da Primeira Guerra Mundial.
A vitória do Norte sobre o Sul decidiu definitivamente a questão da unidade nacional, fortalecendo a
União. A sociedade urbana e industrial do Norte prevaleceu, arrasando a sociedade agrária e aristocrática
do Sul. A grande propriedade cedeu lugar as pequenas e medias. O escravismo foi abolido, mas não se
criou uma solução para a "questão negra: apesar do direito ao voto, os negros continuaram
marginalizados. Intensificaram-se as atitudes racistas com o surgimento de grupos como a Ku Klux Klan,
nascida em 1867. Em 14 de abril de 1865, Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth, um fanático do
Sul. Os Estadas Unidos começavam a despontar como potência mundial.

Questões

01. (IF/AL - Professor - História - CEFET-AL) Entre os anos de 1820 – 1850, os Estados Unidos
incorporam extensas áreas ao seu território e suas fronteiras estenderam-se do Atlântico ao Pacifico.
Esse processo legou ao país sua atual formação territorial. Esse alargamento das fronteiras norte-
americanas deveu-se, exceto:
(A) À Doutrina Monroe que corporificou politicamente a expansão internacional dos Estados Unidos,
fundamental para o desenvolvimento capitalista do país;
(B) À doutrina do Destino Manifesto, que preconizava o domínio norte-americano sobre à América;
(C) Ao avanço natural para o Oeste, tendo em vista a chegada de um imenso contingente de imigrantes
europeus;

181
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) À vitória na guerra contra o México que, derrotado, foi obrigado a ceder quase a metade de seu
território aos norte-americanos;
(E) À formação do caráter nacional estadunidense, individualista, democrático e empreendedor.

02. (Cesgranrio) No início do governo Abraão Lincoln, os Estados Unidos apresentavam-se divididos
e, nas palavras desse Presidente, o país era "uma casa dividida contra si mesma", uma vez que:
I - os sulistas, favoráveis ao sistema escravista, reagiram com hostilidade à eleição de um Presidente
contrário à expansão desse sistema;
II - a secessão sulina era um rude golpe para o país, face ao caráter complementar das economias do
norte e do sul;
III - os Estados nortistas não abriram mão da política livre-cambista, condenada pelo Sul protecionista;
IV - divididos internamente, os Estados Unidos não poderiam prosperar economicamente e enfrentar
desafios externos.

Assinale se estão corretas apenas:


(A) I e II
(B) I e III
(C) II e IV
(D) I, II e III
(E) I, II e IV

03. (FUVEST) Da vitória dos estados nortistas na "Guerra de Secessão" resultou:


(A) diminuição do número de pequenos e médios proprietários e o crescimento da aristocracia rural no
sul.
(B) unificação do mercado interno, desenvolvimento capitalista e transformação dos EUA em potência
econômica.
(C) anexação da região do Texas ao território dos EUA.
(D) extinção do tráfico de escravos negros para os EUA.
(E) regulamentação, pelo compromisso do Missouri, dos territórios que passaram a ser escravistas ou
livres.

Gabarito

01.C / 02.E / 03.B

Comentários

01. Resposta: C
O avanço para o Oeste não foi uma consequência natural da imigração, mas uma ação que era
planejada há muito pelos colonos, tanto pequenos como grandes proprietários de terras, que desejavam
expandir suas áreas de cultivo, porém eram impedidos por legislações inglesas que garantiam a soberania
das terras aos indígenas.

02. Resposta: E
Ao contrário do que aponta a afirmação III, os estados do Norte adotavam a política protecionista, com
o objetivo de elevar os preços de produtos estrangeiros e incentivar a produção interna. Os estados do
Sul possuíam pouquíssimas manufaturas, o que os tornava dependentes de produtos vindos de fora,
principalmente da Inglaterra, portanto era interessante que mantivessem uma política de livre-cambismo,
sem a interferência e taxação do Estado nos produtos importados/exportados.

03. Resposta: B
O tráfico de escravos nos Estados Unidos já havia sido proibido antes da Guerra Civil, porém a prática
da escravidão ainda permanecia. Antes da guerra já haviam sido tentados vários acordos para resolver a
questão escravista, porém, esses acordos não foram satisfatórios. Após a Guerra Civil, o país tornou-se
unificado, o que permitiu o desenvolvimento tanto do mercado como da economia, que levaram os
Estados Unidos a transformar-se em potência econômica.

182
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Implantação do regime republicano no Brasil: a República Velha;

BRASIL REPÚBLICA

A palavra República possui várias interpretações, sendo a mais comum a identificação de um sistema
de governo cujo Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de seus representantes, com
poderes limitados e com tempo de governo determinado.
A República tem seu nome derivado do termo em latim Res publica, que significa algo como “coisa
pública” ou “coisa do povo”.
Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a República no Brasil. Entre os fatores responsáveis para o
acontecimento, estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a Igreja e o desgaste
provocado pela abolição da escravidão. Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento do exército, os
ideais republicanos começaram a ganhar força, sendo abraçados também por parte da elite cafeicultora
do Oeste Paulista.

O Movimento Republicano e a Proclamação da República

Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do


século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade.
O café, que já era um produto em ascensão ganhou mais destaque quando cultivado no Oeste Paulista.
Juntamente com o café na região amazônica a borracha também ganhava mercado.
Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores
assalariados gerando o surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas
indústrias. Surgiram diversos organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço,
substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e fluviais.
As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje
abrange as regiões Sul e Sudeste foram diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos
núcleos urbanos. Em outras partes como na região Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar e do algodão,
que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam em declínio.
Muitos dos produtores e da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a questionar o
centralismo político existente no império brasileiro que tirava a autonomia local. A solução para resolver
os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema federalista, capaz
de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os principais apoiadores
do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que passavam a reivindicar
com mais força seus interesses econômicos.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi
apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado
através da sistematização partidária.
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino
Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos entre
políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos.
Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava
o poder pessoal do imperador.
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente
pelo país. Um dos principais frutos foi a fundação do Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção
de Itu em 1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos
cafeicultores do Oeste Paulista.
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A
Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária.
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição
do império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a
morte do imperador.
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República
precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se
poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiúva (maio de

183
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias
revolucionárias.
O final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou os antagonismos entre o Exército e a Monarquia. O
exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados pelo Império.
Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e liderados por
Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos por corrigir
os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional" não era privativa deste
pequeno grupo de jovens. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram
"puros" e "patriotas", ao passo que os civis, as “casacas” como diziam eram corruptos venais e sem
nenhum sentimento patriótico.
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército descontente, e o setor cafeeiro da
economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa que
imporia ao país um sistema favorável a seus interesses.
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia
continuou dependente do setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de produção
continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes
proprietários. Houve apenas uma modernização institucional.
O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de
integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que
aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação
política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo,
a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.

O Governo Provisório e a República da Espada

Proclamada a República, o primeiro desafio era estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da


Fonseca ficou responsável por assumir a função de Presidente até que um novo presidente fosse eleito.
Os primeiros atos decretados por Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil, estabelecimento
de uma nova bandeira nacional, separação entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a Grande Naturalização, ato que garantiu a
todos os estrangeiros que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não manifestassem dentro
de seis meses a vontade de manter a nacionalidade original.
No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de Ministro da Fazenda lançando uma política de
incentivo ao setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos bancários, a especulação de ações
e a emissão de papel-moeda em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa que buscavam
modernizar o país, acabaram por gerar uma forte crise que provocou o aumento da inflação e da dívida
pública, a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos investidores. Essa dívida ficou conhecida
como Encilhamento.
Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso Constituinte, responsável por promulgar a primeira
Constituição republicana brasileira, elaborada com forte influência do modelo norte-americano. O Poder
Moderador, de uso exclusivo do imperador foi extinto, assim como o cargo de Primeiro-Ministro, a
vitaliciedade dos senadores, as eleições legislativas indiretas e o voto censitário.
Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de tripartição entre Executivo, Legislativo e
Judiciário, com um sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos sem reeleição. As
províncias, que agora eram denominadas Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia através
do Sistema Federalista.
Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o sufrágio universal masculino, ou seja, “todos” os
homens alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática o voto ainda continuava restrito,
visto que eram excluídos os mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente). No Brasil de
1900, cerca de 35%66 da população era alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as mulheres,
já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na constituição, “considerou-se implicitamente que
elas estavam impedidas de votar”67
A Constituição também determinava que a primeira eleição para presidente deveria ser indireta através
do Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129 votos a favor e 97 contra, resultado
considerado apertado na época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o marechal Floriano
Peixoto.

66 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob enfoque demográfico. Cad. Pesqui. Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574
67 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 251.

184
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo Congresso, já que ele buscava um
fortalecimento do Poder Executivo baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro substituiu o ministério
que vinha do governo provisório por um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, tradicional
político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o presidente fechou o Congresso, prometendo novas
eleições e a revisão da Constituição.
A intenção do marechal era limitar e igualar a representação dos Estados na Câmara, o que atingia os
grandes Estados que já possuíam uma participação maior na política. Sem obter o apoio desejado dentro
das forças armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de 1891, assumindo em seu lugar
o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na construção de um governo estável e centralizado,
com base no exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A visão de Floriano chocava-se
diretamente com a visão dos grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de São Paulo
que almejavam um Estado liberal e descentralizado. Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Floriano a República corria o risco de acabar,
e sem o apoio dos fazendeiros, Floriano não conseguiria governar.
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil ganharam o nome de República da Espada devido
ao fato de seus presidentes serem membros do exército.

A Revolução Federalista
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco de protestos e indignações com o governo,
como pode ser observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até 1845. Com a Proclamação
da República, a política no Estado manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de presidente
estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e 1893, dezessete governos se sucederam no comando
do Estado68, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado.
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Rio-grandense (PRR)
e o Partido Federalista (PF).
O Partido Republicano era composto por políticos defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de
Castilhos e de Floriano Peixoto. Sua base política era composta principalmente de imigrantes e habitantes
do litoral e da Serra do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Durante o conflito foram
conhecidos como Pica-paus.
O Partido Federalista defendia um sistema de governo parlamentarista e a revogação da constituição
do Estado, de caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o político Silveira Martins,
conhecida figura política do Partido Liberal durante o império. A base de apoio do Partido Federalista era
composta principalmente de estancieiros de campanha, que dominaram a cena política durante o império.
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos.
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os federalistas, descontentes com a imposição do
governo de Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o presidente estadual. Desde o início da
revolta, Floriano Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos republicanos. Os opositores
de Floriano em todo o país passaram a apoiar os federalistas.
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da Revolta Armada que teve início no Rio de Janeiro,
causada pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o descontentamento do almirante Custódio José
de Melo, frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na presidência.
Parte da esquadra naval comandada pelo almirante deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de
Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando parte do Paraná e a capital
Curitiba. O prolongamento do conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de recuar e
manter-se no Rio Grande do Sul.
A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os combatentes maragatos depuseram as
armas e assinaram um acordo de paz com o presidente da república, garantindo a anistia para os
participantes do conflito. Apesar de curta, a Revolução Federalista teve um saldo de mais de 10.000
mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em conflitos e mortos posteriormente, o que
garantiu o apelido de “revolução da degola”.

Características da Primeira República

O período que vai de 1889, data da Proclamação da República, até 1930, quando Getúlio Vargas
assumiu o poder, é conhecido como Primeira República. O período é marcado pela dominação de poucos

68 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999.

185
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
grupos políticos, conhecidos como oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São Paulo
e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder local exercido pelos Coronéis.
Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início o período chamado República das
Oligarquias. A palavra Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de poucos”. Os grupos
dominantes, em geral ligados ao café e ao gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis específicas para beneficiar o grupo
dominante.

O Coronelismo
Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II,
diversas revoltas e tentativas de separação e instalação de uma república aconteceram no Brasil. Sem
condições de controlar todas as revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó, criou a
Guarda Nacional.
Com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império
Brasileiro, sua criação desorganiza o Exército e começa a se constituir no país uma força armada
vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta por membros da
elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era necessário possuir
amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer parte dela apenas
aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os
interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX.
Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao setor agrário ganharam força na política
nacional, gerando uma maior relevância para os coronéis no controle dos interesses e na manutenção da
ordem social. Como comandantes de forças policiais locais, os coronéis configuravam-se como uma
autoridade quase inquestionável nas áreas rurais.
A autoridade do coronel, além de usada para manter a ordem social, era exercida principalmente
durante as eleições, para garantir que o candidato ou grupo político que ele representasse saísse
vencedor. A oposição ao comando do coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
perseguições, o que fazia com que muitos votassem a contragosto, para evitar as consequências de
discordar da autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto de Cabresto.
Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis
compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto,
os coronéis mandavam os capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais
eleitorais.
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto
fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias
vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações.
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, garantindo que seus candidatos fossem
eleitos em nível municipal e também estadual, e garantindo também participação na esfera federal.

Prudente de Morais

Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado político, porém as poucas bases de apoio
de que dispunha não lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de março de 1894 foi eleito
o paulista Prudente de Morais, encerrando o governo de membros do exército, que só voltariam ao poder
em 1910, com a eleição do marechal Hermes da Fonseca.
Prudente buscou desvincular o exército do governo, substituindo os cargos que eram ocupados por
militares por civis, principalmente representantes da cafeicultura, promovendo uma descentralização do
poder.
Suas principais bandeiras eram a de uma república forte, em oposição às tendências liberais,
antimonarquistas e antilusitanas.

186
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Campos Salles

Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles assumiu a presidência no lugar de Prudente de
Morais. Antes mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a dívida brasileira, que vinha se
arrastando desde os tempos do império.
Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e estabeleceu um acordo chamado Funding-
Loan. Este acordo consistia no seguinte: o Brasil fazia empréstimos e atrasava o pagamento da dívida,
fazendo concessões aos banqueiros nacionais. Como consequência a indústria e o comércio foram
afetados e as camadas pobres e a classe média também foram prejudicadas.
A transição de governos consolidou as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no poder. O único
entrave para um governo harmônico eram as disputas políticas entre as oligarquias locais nos Estados.
O governo federal acabava intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma colaboração duradoura
entre os Estados e a União ainda permanecia. Outro fator que não permitia uma plena consolidação
política era a vontade do executivo em impor-se ao legislativo, mesmo com a afirmação na Constituição
de que os três poderes eram harmônicos e independentes entre si.
A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um arranjo político capaz de garantir a
estabilidade e controlar o legislativo, que ficou conhecido como Política dos Governadores.
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em uma ideia simples: o presidente apoiava as
oligarquias estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam e votavam nos candidatos
indicados pelo presidente.
Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu o domínio. Conhecida como Comissão de
Verificação de poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos deveriam integrar a Câmara e
quais deveriam ser “degolados”, que na gíria política da época significava ser excluído.
Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores em cada estado recebiam um diploma. Na
falta de um sistema de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a validade do diploma. A
comissão era escolhida pelo presidente temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito.
Com a reforma, o presidente da nova Câmara deveria ser o presidente do mandato anterior, desde
que reeleito. Dessa forma, o novo presidente da Câmara seria sempre alguém ligado ao governo, e caso
algum deputado oposicionista ou que desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil removê-lo
do poder.

Convênio de Taubaté
Desde o período imperial o café figurava como principal produto de exportação brasileiro,
principalmente após a segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na Europa e nos
Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando
sua marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na província de Minas Gerais (Zona da Mata e
sul do estado), ao mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior de São Paulo,
principalmente no “Oeste Paulista”.
A grande oferta causada pela produção em excesso levou a uma queda do preço, visto que havia mais
produto no mercado e menos pessoas interessadas em adquiri-lo.
O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906, último ano do mandato de Rodrigues Alves
(1902-1906), entre os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade
de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em prática um plano de valorização do café, garantindo o preço
do produto por meio da compra, pelo governo federal, do excedente da produção. O acordo foi firmado
mesmo contra a vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu sucessor, Afonso Pena.

O Tratado de Petrópolis e a Borracha


O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o início do século XX, considerado uma zona
não descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização, que consistia em misturar enxofre
com borracha a uma temperatura elevada (140ºC/150ºC) durante certo número de horas. Com esse
processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos.
Apesar do surto econômico e da procura do produto, favorável para a Amazônia brasileira, havia um
sério problema para a extração do látex: a falta de mão-de-obra.
Isso foi solucionado com a chegada à região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de
1877. Prisioneiros, exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do Acre,
fundavam povoações, avançavam e se estabeleciam em pleno território boliviano.

187
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A exploração brasileira na região incomodava o governo boliviano, que resolveu tomar posse definitiva
do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e foram instalados postos da
alfândega para arrecadar tributos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa atitude
causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos.
Liderados pelo seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as
autoridades bolivianas, em 03 de maio de 1889.
Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de
maior alcance político, proclamando a independência e instalando o que ele chamou de República do
Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o “Imperador
do Acre”, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho
Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O governo brasileiro, signatário do
Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz
Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo boliviano.
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação continuava insustentável. O clima de
animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu
arrendar o Acre a um grupo de empresários americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o
Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e formar
sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses.
Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram a situação.
Estimulados por grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do Amazonas e do Pará, deram
início, no dia 06 de agosto de 1902, a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas
entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Plácido de Castro, ex-major do Exército,
rebaixado a cabo por participar da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, ao lado dos Maragatos.
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado, fortalecia-
se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, além de apoio político e
popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil.
A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediatas providências em
defesa dos acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via
diplomática, tendo à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão
do Rio Branco. Mas todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos
tornavam-se mais frequentes e acirrados.
Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Manuel Pando, organizou sob seu
comando uma poderosa expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O presidente do Brasil,
Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato
Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros acreanos. O enfrentamento de tropas
regulares do Brasil e da Bolívia gerou a Guerra do Acre.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma divisão naval,
ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto Alonso, hoje Porto Acre.
Em consequência, no dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, as repúblicas do Brasil e da
Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o
compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao governo boliviano e mais
114 mil ao Bolivian Syndicate.
O Tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou
o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de negociações seu ambicionado
projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.

O Declínio da Borracha
Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou sementes de seringueiras da região situada entre
os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Muitas das
sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão
e Malásia.
Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com um grande
número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano de 1900. Gradativamente,
a produção asiática foi superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando em
1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.

188
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para a economia nacional, a borracha teve suma importância nas exportações, visto que em 1910, o
produto representou 40% das exportações brasileiras. Para a Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi
importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades
amazônicas: Belém do Pará e Manaus.
Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi responsável por aproximadamente 1/3 do PIB do
Brasil. Isso gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe tecnologias que outras cidades do sul e
sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos e avenidas construídas sobre pântanos
aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o
Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de Manaus, o Mercado de São Brás, Mercado
Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos, corredores de mangueiras e diversos
palacetes residenciais no caso de Belém.

Industrialização e Greves
Ao ser proclamada a República em 1889, existiam no Brasil 626 estabelecimentos industriais, sendo
60% do ramo têxtil e 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já era de 7.430 indústrias,
com 153.000 operários.
Após o incentivo para abertura de novas indústrias decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a
Europa esteve em guerra, diversas empresas produtoras principalmente de matéria-prima iniciaram
atividades no Brasil. Em 1920, o número havia subido para 13.336, com 275.000 operários. Até 1930,
foram fundados mais 4.687 estabelecimentos industriais.
Há que se levar em conta que a industrialização se concentrou no eixo Rio-São Paulo e,
secundariamente, no Rio Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café, do setor
importador e da elite dos imigrantes.
Durante o período republicano fica evidente o descaso das autoridades governamentais com os
trabalhadores. O país passava por um momento de industrialização e os trabalhadores começam a se
organizar.
Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma forte influência dos ideais anarquistas e
comunistas, os primeiros trabalhadores das fábricas brasileiras possuíam um discurso inflamado,
convocando os colegas a se unirem em associações que resultariam posteriormente na fundação dos
primeiros sindicatos de trabalhadores.
Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores condições de trabalho para seus colegas
como redução de jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra a manutenção da
propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”.
Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão pelo país, através de movimentos de
tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em contrapartida, o governo
brasileiro criou leis para impedir o avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os estrangeiros que
fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional.
A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a Greve Geral em São Paulo, que contou com
os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais atuantes. O governo, para
reprimir o movimento utilizou inclusive forças do Exército e da Marinha.
A repressão cada vez mais dura do governo através de leis, decretos e uso de violência acabou
sufocando os movimentos grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no ano de 1922,
inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também
começam a se organizar no período.

Revoltas

Guerra de Canudos
A revolta em Canudos deve ser entendida como um movimento messiânico, ou seja, a aglomeração
em torno de uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança de uma vida melhor através
de pregações.
Canudos formou-se através da liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também por
Antônio Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão pregava a salvação por meio do abandono
material, exigindo que seus fiéis o seguissem pelo sertão nordestino.
Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no
sertão baiano, à margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. Ali fundou a cidade santa,
à qual dera o nome de Belo Monte, administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, cada
qual responsável por um setor (comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra, escrivão de
casamentos, entre outros).

189
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A razão para o crescimento do arraial em torno da figura de Antônio Conselheiro pode ser explicada
pela pobreza dos habitantes do sertão nordestino, aliada à fome e a insatisfação com o governo
republicano, sendo o beato um aberto defensor da volta da monarquia.
A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, mantendo-se por via das trocas com as
comunidades vizinhas.
Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o governo da Bahia - uma questão mal resolvida
em relação ao corte de madeira na região - o governo estadual resolveu repreender os habitantes,
enviando uma tropa ao local. Apesar das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana foi
derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para as tropas federais.
Canudos manteve-se firme diante das ameaças, derrotando duas expedições de tropas federais
municiadas de canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel Antônio Moreira César,
também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na
repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os
revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas no Rio de Janeiro.
Com a intenção de resolver de vez o problema, foi organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com
8.000 soldados sob o comando do general Artur de Andrade Guimarães. Dotada de armamento moderno,
a expedição levou um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente arrasando o arraial em agosto
de 1897, quando os últimos defensores do vilarejo foram capturados e degolados.
Canudos foi incendiada para evitar que novos moradores se estabelecessem no local. Nos jornais e
também no pensamento do governo federal, a vitória sobre Canudos foi uma vitória “da civilização sobre
a barbárie”.
Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro
Os Sertões. O livro busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista do autor, que possuía
uma visão de “raça superior”, comum do pensamento científico da época. De acordo com esse
pensamento, o mestiço brasileiro seria uma raça de características inferiores, que estava destinada ao
desaparecimento por conta do avanço da civilização.
Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O pensamento racial baseado em teorias
científicas foi comum no Brasil da virada do século XX.

A Guerra do Contestado
Na virada do século XX uma grande parte da população que vivia no interior do estado era composta
por sertanejos, pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o Paraná. A região foi palco de
um intenso conflito por posse de terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como Guerra do
Contestado.
O conflito teve início com a implantação de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São
Paulo, além de uma madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-Americano Percival
Farquhar.
A Brazil Railway ficou responsável pela construção da estrada de ferro que ligaria os dois pontos.
Como forma de remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia uma extensa faixa de
terra ao longo dos trilhos, aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do caminho.
As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa na categoria de terras devolutas, ou seja,
terras não ocupadas pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de milhares de pessoas que
habitavam a região, porém não possuíam registros de posse sobre a terra.
Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à companhia pudessem ser habitadas somente
por estrangeiros, o principal interesse do empresário era a exploração da madeira que se encontrava na
região, em especial araucárias e imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação da
Southern Brazil Lumber and Colonization Company, responsável por explorar a extração da madeira e
que posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na América do Sul.
A derrubada da floresta implicava necessariamente em remover os antigos moradores regionais,
gerando conflitos imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que vagavam pelo sertão
pregando a palavra de Deus a inspiração e a liderança para lutar contra o governo e as empresas
estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de resistência ficou conhecido como José Maria.
Adorado pela população local, o monge era visto pelos sertanejos como um salvador dos pobres e
oprimidos, e pelo governo como um empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro.
O governo e as empresas investiram fortemente na tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912
próximo ao vilarejo de Irani ocorreu uma intensa batalha entre governo e população, causando a morte
do Monge. A morte do líder causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a resistência, unindo
sua crença em outras figuras que despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem de quinze

190
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
anos de idade, que foi considerada por historiadores como Joana D'Arc do sertão. A jovem afirmava
receber ordens espirituais de batalha do Monge Assassinado.
O conflito foi tomado como prioridade pelo governo federal, que investiu grande potencial bélico na
contenção dos revoltosos, como fuzis, canhões, metralhadoras e aviões. O conflito acaba em 1916 com
a captura dos últimos lideres revoltosos. Assim como em Canudos, a Revolta do Contestado foi marcada
por um forte caráter messiânico.

A Revolta da Vacina
A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser procurada na questão social gerada pelas
desigualdades sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo prefeito Pereira Passos.
O grande destaque do período foi a Campanha de Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida por Oswaldo
Cruz. Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, ocorreu o descontentamento popular.
Isso ocorreu devido a forma que a campanha foi conduzida, onde os agentes usavam da força para
entrar nas casas e vacinar a população. Não houve uma campanha prévia para conscientização e
educação. Disso se aproveitaram os militares e políticos adversários de Rodrigues Alves.
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), sob a liderança do senador Lauro Sodré.
O levante foi rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente.

Revolta da Chibata69
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada
pelos castigos físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas graves eram punidas com 25
chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.
O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250
chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra
estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros,
desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já
na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o
fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso
não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de
Janeiro (então capital do Brasil).

Segunda Revolta70
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos.
Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão
de alguns deles. A insatisfação retornou e no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta
na Ilha das Cobras.
Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram
presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida
eram desumanas alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a
Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de
Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram
da revolta.

O Cangaço no Nordeste71
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da República), ganharam força, no nordeste
brasileiro, grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em
função principalmente das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio que concentrava
terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava a margem da sociedade a maioria da população.
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão:

O defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios,


disputa de terras e rixas de famílias;
O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros;

69 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/revolta-da-chibata
70 http://www.abi.org.br/abi-homenageia-filho-do-lider-da-revolta-da-chibata/
71 http://www.seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/3-ano/03-ht/aula-presencial/aula-5.pdf

191
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O independente, com características de banditismo.

O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por
parte dos cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino.
Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção
de resgates. A população que respeitava e acatava as ordens dos cangaceiros era muitas vezes
beneficiada por suas atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até
mesmo admirados por parte da população da época.
Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos
policiais. Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, da vegetação
cheia de espinhos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que
possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou
obterem esconderijos.
Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais conhecido e temido da época foi o bando
comandado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do
Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários subgrupos, dentre os quais os chefiados por
Corisco, Moita Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e Mariano. Entre seus bandos,
Lampião sempre teve grande apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e também
grande amigo de Virgulino.
Lampião morreu numa emboscada armada por uma volante72, junto com a mulher Maria Bonita e
outros cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais
públicos, pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região.
A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como um todo, enfraquecendo e dividindo os
grupos restantes. Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940, encerrando de vez o cangaço
no Nordeste.

A Semana de Arte Moderna de 1922

O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura brasileira, com a realização da Semana de
Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de introduzir elementos
brasileiros nos campo da arte e da cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela elite econômica quanto por trabalhadores
imigrantes, principalmente italianos que trabalhavam na indústria paulista.
Na virada do século XX, São Paulo despontava como segunda maior cidade do país, atrás apenas do
Rio de Janeiro, capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em tamanho, a cidade possuía grande
taxa de industrialização, mais até que a capital, principalmente pelos recursos proporcionados pela
produção de café.
O contato proporcionado pelos novos meios de transporte e de comunicação proporcionou o contato
com novas tendências que rompiam com a estrutura das artes predominante desde o renascimento. Entre
elas estavam o futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo.
No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato,
Lima Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura de “falsas aparências”, procurando
discutir ou descobrir o “Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento acadêmico. As novas
tendências apareceram em 1917, em trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade.
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da indústria, da máquina, da metrópole, do
burguês e do proletário, do homem da terra e do imigrante.
Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o espírito da Semana é Oswald de Andrade. De
maneira geral, sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua formação cultural: o
momento de transição que une o Brasil agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a modernização.
Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de Andrade,
principal animador do movimento modernista e seu espírito mais versátil. Cultivou a poesia, o romance,
o conto, a crítica, a pesquisa musical e folclórica.

72 Tropa ligeira, que não transporta artilharia nem bagagem.

192
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os Anos 1920 e a Crise Política 73

Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana passava cada vez mais a participar da política.
A presença desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e figuras públicas apoiados em um
discurso liberal, que defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de transformar a República
Oligárquica em República Liberal. Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto secreto, e
a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a corrupção nas eleições.
Em 1919, Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em 1910 e 1914, entrou novamente na disputa
como candidato de oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que concorria como novo
sucessor pelo PRM (Partido Republicano Mineiro).
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a campanha, devido à sua atuação na Conferência de
Paz da França, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em abril de 1919 e retornou ao Brasil em
julho para assumir a presidência da República.
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu atingir cerca de um terço dos votos, sem
nenhum apoio da máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política dos Governadores, e o controle estabelecido
por São Paulo e Minas Gerais no revezamento de poder a partir da década de 1920, estados com uma
participação política e econômica considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar com a
hegemonia da política do “Café com Leite”.
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se uniram nas eleições presidenciais de 1922,
lançando um movimento político de oposição - a Reação Republicana - que lançou o nome do fluminense
Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes.
A chapa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o
fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas
propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira.
O movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio
Pessoa, que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação Republicana conseguiu,
em uma estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em
comícios populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal,
quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram exaltados com a publicação de cartas no Jornal
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato Artur Bernardes e endereçadas
ao líder político mineiro Raul Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-presidente e Marechal
do Exército, Hermes da Fonseca, por ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando os militares extremamente insatisfeitos com
o candidato. Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a autoria das cartas e comprovaram
tratar-se de uma armação. A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam
transcorrer normalmente em março de 1922.
Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O problema foi que nem a Reação
Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e não aceitou
a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de
tempo.

O Tenentismo74
Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de baixa patente, principalmente tenentes (e
daí deriva o nome do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos permaneciam baixos e o
governo não fazia menção de aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito
lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.
Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização e o abandono em que se encontrava o
exército brasileiro. Com o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de que os problemas
que enfrentavam não estavam apenas no exército, mas também na política.
Com a intenção de fazer as mudanças acontecerem, os revoltosos pressionaram o governo, que não
se prontificou a atendê-los, o que gerou movimentos de tentativa de tomada de poder por meio dos
militares. Esse programa conquistou ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve
mobilização popular e nem mesmo engajamento de dissidências oligárquicas à revolução (com exceção
do Rio Grande do Sul), daí o seu isolamento e o seu fracasso.

73 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica
74 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/MovimentoTenentista

193
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os 18 do Forte
Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes em março de 1922 não agradou os setores
oposicionistas. Durante o período em que aguardava para assumir a posse, que acontecia no dia 15 de
novembro, houveram diversos protestos contra o mineiro.
Em junho, o governo federal interveio durante a sucessão estadual em Pernambuco, fato que foi
extremamente criticado por Hermes da Fonseca. O presidente Epitácio Pessoa, que ainda exercia o
poder, mandou prender o ex-presidente e ordenou o fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em uma série de levantes na madrugada de 5
de julho. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do
Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio
do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a
maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram a disparar seus canhões contra diversos
redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças
legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio.
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 de julho, quando resolveram abandonar o
Forte e marchar pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo que enfrentavam.
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram quase todos os revoltosos, que ficaram
conhecidos como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao grupo, as fontes de
informação da época não são exatas, com vários jornais divulgando números diferentes. Os únicos
sobreviventes foram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, com graves ferimentos.

A Revolta de 192475
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e punidos em dezembro de 1923, acusados de
tentar promover um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações com o governo federal
agravadas, com uma tensão crescente que gerou uma nova revolta militar, novamente na madrugada,
em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major
Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente
Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os
tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal.
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o
início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa.
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como
as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública,
entre outros.
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São Paulo, Carlos de Campos, deixou o
palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os rebeldes instalaram
um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com um intenso
bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, principalmente em bairros operários de São Paulo na
região da zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram os mais atingidos pelo
bombardeio.
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José
Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o
general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório
e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma
anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida.
Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas e a pressão do governo aumentava, a solução
foi mudar a estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a cidade, indo em direção a Bauru, no
interior do Estado. O deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas revoltas no interior, com a
tomada de prefeituras.
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso em
apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio
Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As

75 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Levantes1924

194
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925.
Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes.

A Coluna Prestes
Enquanto alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís Carlos Prestes, também militar,
organizava outro grupo no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição, a Paulista
liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes, uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma
caminhada pelo Brasil.
Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos evitavam confrontos diretos com as tropas,
por meio de táticas de guerrilha.
Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à população a situação política e social do
país. Num primeiro momento, não houve muitos resultados, porém o movimento ajudou a balançar as
bases já enfraquecidas do sistema oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze
estados do Brasil. Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates contra as tropas
governistas, sem sofrer derrotas.
A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na população. Como forma de desmoralizar
o movimento, o governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a assassinos e bandidos.
Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no
Paraguai com a intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu Goiás, entrou em Minas
Gerais e retornou a Goiás.
Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão,
ocasião em que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou
no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a
coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro,
invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides
Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
revolucionários.
Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais,
pelo norte do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se. O comando da
coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro76", retornar
ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
Grosso em outubro de 1926.
Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à
Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna: continuar a luta ou
rumar para o exílio.
Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna,
comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde
encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias
da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se.
Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações
para a situação de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo interior brasileiro. Em dezembro
de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora
incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do
PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de
seu comandante".
Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as primeiras informações
sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. A seguir, mudou-se para a
Argentina, onde leu Marx e Lênin.

A Defesa do Café
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram a dívida brasileira, principalmente após as
emissões de moeda realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou uma desvalorização
do câmbio e o aumento da inflação. Artur Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira,
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a partir do ano de 1927.

76 Recebia esse nome devido ao percurso da manobra lembrar o desenho aplicado na platina dos uniformes dos oficiais de antigamente, o “laço húngaro”.

195
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, em fins de 1923 uma missão financeira
inglesa, chefiada por Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a comissão apresentou
um relatório à presidência da República, em que apresentava os riscos decorrentes da emissão
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores internacionais.
A defesa dos preços do café representava um gasto entendido pelo governo federal como secundário
nesse momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas pelo setor cafeeiro. A solução foi
passar a responsabilidade da defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado o Instituto
de Defesa Permanente do Café, que possuía a função de regular a entrada do produto no Porto de Santos
e realizar compras do produto para evitar a desvalorização.

O Governo de Washington Luís

Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista
radicado Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor nas eleições de 1926. Seu
governo seguiu com relativa tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos e externos,
mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil.
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em especial da classe média, crescia cada vez
mais. A estrutura de governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da predominância dos
grandes proprietários e produtores de café da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era beneficiada pelo sistema de governo.
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O partido desponta como oposição ao PRP
(Partido Republicano Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus integrantes pertenciam a
uma faixa etária mais jovem em comparação aos republicanos, o que também contribuiu para agradar
boa parte da classe média insatisfeita com o PRP.
Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de fazendeiros de café, o partido tinha como
pauta a reforma do sistema político, através da implantação do voto secreto, da representação de
minorias, a real divisão dos três poderes e a fiscalização das eleições pelo poder judiciário.

A Sucessão de Washington Luís


Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a campanha para a escolha do sucessor de
Washington Luís. Pela tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já que o presidente
que estava no poder fora eleito por São Paulo.
Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís insistiu na candidatura do governador de
São Paulo, Júlio Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em Minas Gerais, e ajudou
a alavancar o Rio Grande do Sul no cenário político.
O governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que esperava ser o indicado para a sucessão
presidencial, propôs o lançamento de um movimento de oposição para concorrer contra a candidatura de
Júlio Prestes. O apoio partiu de outros dois estados insatisfeitos com a situação política: Rio Grande do
Sul e Paraíba.
Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões entre os três estados, o nome de Getúlio
Vargas – governador gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda de Washington Luís – para
presidente, tendo como vice o nome do governador da Paraíba e sobrinho do ex-presidente Epitácio
Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.
Definidos os nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome que definiu a campanha. O Partido
Democrático de São Paulo expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas, enquanto alguns
membros do Partido Republicano Mineiro resolveram apoiar Júlio Prestes.
A Aliança Liberal refletia os desejos das classes dominantes regionais que não estavam ligadas ao
café, buscando também atrair a classe média. Seu programa de governo defendia o fim dos esquemas
de valorização do café, a implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a aposentadoria
(nem todos os setores possuíam), a lei de férias e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores
de idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo poder público das questões sociais,
que Washington Luís afirmava serem “caso de polícia”. Um dos pontos marcantes da campanha da
Aliança Liberal foi a participação do proletariado.

Reflexos da Crise de 1929 no Brasil


No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova York, seguida da crise que afetou grande
parte da economia mundial, também teve repercussões no Brasil.
O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café, tudo que os produtores não esperavam. A
colheita de quase 30 milhões de sacas na safra 1927-1928 representava aproximadamente o dobro da

196
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
produção dos anos anteriores. Esperava-se que, devido a alternância entre boas e más safras 1929
representasse uma colheita baixa, já que as três últimas safras haviam sido boas.
Aliada a ideia de uma safra baixa, estava a expectativa de lucros certos, garantidos pela Defesa
Permanente do Café, o que levou muitos produtores a contraírem empréstimos e aumentarem suas
lavouras.
A produção, ao contrário do esperado, graças às condições climáticas e a implantação de novas
técnicas agrícolas. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu o consumo, e
consequente o preço do café. O resultado foi um endividamento daqueles que apostaram em preços altos
e não quitaram suas dívidas.
Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro recorreu ao governo federal na busca de
perdão das dívidas e de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a estabilidade cambial,
recusou-se a ajudar o setor, fator que foi explorado politicamente pela oposição.
Apesar do esforço em tentar combater o candidato de Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz
de derrotar Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.

A Revolução de 1930

Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente do Brasil conquistando 1.091.709 votos,
contra 742.794 votos recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados de cometer fraudes
contra o sistema eleitoral, seja manipulando votos, seja impondo votos forçados através de violência e
ameaça.
A derrota Getúlio Vargas nas eleições de 1930 não significou o fim da Aliança Liberal e sua busca pelo
controle do poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam que ainda poderiam conquistar o
poder através das armas.
Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista havia tentado anos antes, os jovens políticos
buscaram fazer contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com desconfiança. Entre os
motivos para o receio dos tenentes, estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e condenações contra o grupo.
Porém, depois de conversas e desconfianças dos dois lados, os grupos chegaram a um acordo com a
adesão de nomes de destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez Távora, João Alberto e
Miguel Costa. A grande exceção foi o nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou -se
abertamente como socialista revolucionário, e recusou-se a apoiar a disputa oligárquica.
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram da maneira esperada, deixando o
movimento conspiratório em uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 ocorreu um
fato que serviu de estopim para o movimento revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria “Glória”,
em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas.
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por disputas públicas, foi utilizado como
justificativa para o movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, e transformado João
Pessoa em “mártir da revolução”.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por seus aliados como elemento político para
concretizar os objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e ser natural da região, o corpo
do presidente da Paraíba foi enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator que reuniu
uma enorme quantidade de pessoas para acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam relutantes em apoiar a causa dos revolucionários.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul
e no Nordeste, estourou a revolução comandada por Getúlio Vargas e pelo tenente-coronel Góes
Monteiro. As ações foram rápidas e não encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da população, conseguiu dominar
Pernambuco sem esforços.
Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que
representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos
no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República.

Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos presidentes da República Velha com a cronologia
correta:

- 1889-1891: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca;


- 1891-1894: Floriano Vieira Peixoto;

197
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- 1894-1898: Prudente José de Morais e Barros;
- 1898-1902: Manuel Ferraz de Campos Sales;
- 1902-1906: Francisco de Paula Rodrigues Alves;
- 1906-1909: Afonso Augusto Moreira Pena (morreu durante o mandato)
- 1909-1910: Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena, assumiu em seu lugar);
- 1910-1914: Marechal Hermes da Fonseca;
- 1914-1918: Venceslau Brás Pereira Gomes;
- 1918-1919: Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito, morreu de gripe espanhola, sem ter assumido
o cargo);
- 1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues Alves, assumiu em seu lugar);
- 1919-1922: Epitácio da Silva Pessoa;
- 1922-1926: Artur da Silva Bernardes;
- 1926-1930: Washington Luís Pereira de Sousa (deposto pela Revolução de 1930);
- 1930: Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em 1930, não tomou posse, impedido pela
Revolução de 1930);
- 1930: Junta Militar Provisória: General Augusto Tasso Fragoso, General João de Deus Mena Barreto,
Almirante Isaías de Noronha.

Questões

01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo
combati o senhor. Fui eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus do
avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. Os meus e os outros amigos, para
acabar com a eleição. Agora tudo acabou.
(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela)

O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, identifica o


(A) tenentismo, que considerava o exército como a única força capaz de conduzir os destinos do povo.
(B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder privado se manifestar por meio da política.
(C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os conflitos no interior das elites agrárias do
país.
(D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de subjugar a população por meio da força.
(E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e
poder político.

02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Para responder à questão, considere
o texto abaixo.
... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com a possibilidade de contrair empréstimos
externos, constituir forças militares próprias e uma justiça estadual.
[...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional ao número de habitantes dos Estados,
foi outro princípio aprovado...
[...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, que marcou o início da república civil
oligárquica, consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano dependia do
apoio regional [...].
(Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo:
Cebrap, 1972, p. 2-4)

O principal mecanismo para a consolidação da república a que o texto se refere foi a


(A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos militares ligados aos grandes fazendeiros
mineiros e paulistas com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do sudeste.
(B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação dos preços dos produtos de exportação e
garantia os empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes propriedades.
(C) “política dos governadores", que consistia na troca de apoio entre governo federal e governos
locais, com a finalidade de manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros.
(D) política do “café-com-leite", que incentivava uma disputa acirrada entre os representantes dos
pequenos Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros.
(E) política de “valorização do café" realizada pelos Estados contribuía para o enfraquecimento do
poder local e garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal.

198
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Ao contrário do que sucedeu na Capital
da República, as primeiras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram já sob a
inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito menor grau, o
socialismo reformista. As condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da
organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada classe operária nascente, estrangeira em
sua grande maioria. (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente organizatória do
movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
(FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/data, p.60-62)

A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a cena do movimento operário brasileiro
durante a segunda década do século XX,
(A) pode ser tratada como um sistema de pensamento social visando a modificações fundamentais na
estrutura da sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por alguma forma de
cooperação não governamental entre indivíduos livres.
(B) investe contra o capital e o Estado capitalista, pretendendo substitui-lo por uma livre associação de
produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na organização do sindicato único como meio
de promover a emancipação das classes trabalhadoras.
(C) defende a coletivização dos meios de produção, a violência nas lutas operárias e dá ênfase ao
papel que os sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da sociedade, e na
luta operária para a conquista do Estado.
(D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articulador da autogestão e um instrumento do
plano econômico e da unidade de produção, e que as diversas associações produtivas devem ser
coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao Estado.
(E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a necessidade de realizar de imediato a tese
marxista segundo a qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser determinada pelas
assembleias sindicais de cada Estado da Federação.

Gabarito

01.B / 02.C / 03.A

Comentários

01. Resposta: B
Durante a República Velha os grandes fazendeiros(coronéis) impunham seu poder através de seus
exércitos particulares de jagunços. O voto era aberto e os eleitores que moravam nas grandes fazendas
eram forçados a votar no candidato do coronel.

02. Resposta: C
A política dos governadores foi um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pe lo
presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da
República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não
interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal.

03. Resposta: A
O anarquismo é o movimento político que defende a supressão de todas as formas de dominação e
opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária,
fruto de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. O anarquismo é
frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no
mundo moderno como o estado laico, a lei, a ordem, a religião e a propriedade privada.

199
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Primeira e Segunda Guerras Mundiais: o nazi fascismo, organização dos
Estados socialistas e comunistas;

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra, como foi chamada na época, aconteceu entre os anos
de 1914 e 1918. Foi chamada assim por seus contemporâneos, pois nenhuma das guerras europeias
haviam atingido proporções globais.

I - Antecedentes
A Primeira Guerra Mundial, surgiu a partir de tensões formadas na segunda metade do século XIX. O
desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo – prática que consistiu no domínio de nações
poderosas sobre povos mais pobres – desencadeou a formação dos Estados nacionalistas. O capitalismo,
motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar mercados, através do
imperialismo, aumenta ainda mais a tensão entre os países da Europa.
Um dos fatores que fez aumentar a insatisfação entre os países europeus, foi a má divisão da África e
Ásia, que ocorreu no final do século XIX. Como a Itália e a Alemanha haviam se unificado tardiamente,
fato que fez com que eles ficassem fora do processo neocolonial, enquanto a França e a Inglaterra
exploravam as novas colônias, ricas em matérias-primas, gerou descontentamento, e aumentou o
sentimento de rivalidade já existente entre a Alemanha e a França, já que os franceses haviam perdido
para a Alemanha a região da Alsácia-Lorena. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha, de
forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.
Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados
ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a
tradicional potência britânica.
A partir do Imperialismo, um novo sentimento surge na paisagem pré Primeira Guerra. O nacionalismo,
aparece como uma fonte legitimadora da guerra. Esse sentimento aparece sob diversas formas, por
exemplo, na França o revanchismo aparece, provocado pela sua derrota na Guerra Franco-Prussiana.
Na Rússia, surge o pan-eslavismo, que se baseava na teoria de que todos os eslavos pertencentes a
Europa Oriental, deveriam constituir-se como uma família, e a Rússia como país mais poderoso dos
estados eslavos, deveria ser o líder e o protetor. Já na Alemanha, aparece uma forma de nacionalismo
que se manifesta na forma de pangermanismo, uma corrente ideologia que lutava para que todos os
povos germânicos se unissem sob a liderança alemã.
O grande sentimento nacionalista e a disputa imperialista, fazem com que as nações formem dois
blocos. O primeiro a surgir foi a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no
ano de 1882. Logo depois, surge a Tríplice Entente, aliança militar formada pela Inglaterra, França e
Rússia.

Dessa forma, as seis maiores potências europeias estavam prontas para a guerra, a Europa estava
dividida politicamente em dois blocos. A única coisa que faltava para iniciar um confronto era um pretexto,
e ele surge no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro
do trono austríaco, na capital da Bósnia, Sarajevo, por um estudante sérvio.

II - A Guerra
Com a morte do arquiduque austríaco, a Áustria culpou a Sérvia e exigiu que providencias fossem
tomadas. Como a Sérvia não encontrou uma saída que agradece ambos, a Áustria declara guerra à
Sérvia. No dia 30 de julho a Rússia entra na guerra, mobilizando suas tropas para atacar a Áustria, em
resposta a Alemanha declara guerra aos russos. Logo em seguida, no dia 3 de agosto, a Alemanha
declara guerra à França e invade o território Belga, um país neutro. Devido a violação da neutralidade, a
Alemanha da motivo para a Inglaterra intervir e declarar guerra à Alemanha, no dia 4 de agosto.

II.a - Primeira Fase da Guerra: Guerra de movimento


A primeira fase da guerra, iniciada em agosto de 1914, contou com ataques a França, realizados pela
Alemanha. Os alemães planejavam derrotar a França de forma rápida, contudo o exército francês
conseguiu deter o ataque, esse conflito ficou conhecido como a primeira batalha de Marne. Essa batalha
inaugurou a chamada guerra de trincheiras (frentes estáticas escondidas em valas cavadas no chão). Os
franceses conseguiram deter a ofensiva alemã, a apenas 40 km de Paris, graças à ajuda dos britânicos,

200
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
esse avanço é contido, mas a capital do país passa a ser Bordeaux. A Rússia, em 15 de agosto de 1914,
invade a Alemanha e a Austro-Hungria.

II.b - Segunda Fase da Guerra: Guerra de Trincheiras ou Guerra de posições


A segunda fase da Primeira Guerra Mundial, foi a época em que ocorreu os avanços estratégicos. O
uso das trincheiras foram amplamente utilizados. O armamento despertou um surto industrial fazendo
com que novas armas aparecessem.
Em 1917, com o triunfo da revolução Russa, a Rússia assina um acordo com a Alemanha, que
oficializava a sua saída da guerra, o acordo levou o nome de Tratado de Brest-Litovsk.
No mesmo ano os Estados Unidos entram na Guerra após ter seus navios mercantes atacados em
águas internacionais, por submarinos alemães. Apesar de manterem uma política de não-intervenção nos
assuntos europeus, depois do ataque, o presidente declara guerra à Alemanha.
Com a intensificação da guerra, as alianças estavam desenhadas da seguinte forma: A Tríplice
Aliança, antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início dos conflitos,
O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha, devido a sua rivalidade com a Rússia em 1914, a
Bulgária se une a eles em 1915. A Tríplice-Entente, antes formada pela Inglaterra, França e Rússia,
durante a guerra, mais 24 nações são incorporadas. Nações como o Japão (1915), Portugal e Romênia
(1916), Estados Unidos, Grécia e Brasil (1917). A Itália que antes pertencia a Tríplice Aliança, entra no
conflito em 1915 ao lado dos países da tríplice Entente.

III - O Final da Guerra


Depois da saída da Rússia e com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a situação da Aliança foi
ficando cada vez mais crítica. E março de 1918 os alemães iniciaram mais uma ofensiva na frente
ocidental, utilizando aviões, canhões e tanques, nessa investida, chegaram a 46 km de Paris. Nesse
momento, com a ajuda dos norte-americanos, os alemães forma obrigados a recuar. A partir de então,
eles começaram a perder aliados até o ponto da situação ficar insustentável.
Neste momento o povo alemão sofria com a fome, devido a um bloqueio naval, a escassez de
alimentos levou a população a fazer uma manifestação pedindo o a saída da guerra. A população de
Berlim, em novembro de 1918, conseguiu tirar do poder o imperador Guilherme II, implantou-se então um
governo provisório, sob a liderança do Partido Social-Democrata, que assinou um acordo de paz com os
Aliados, terminando assim, a Primeira Guerra Mundial

IV – Consequências
Com a rendição dos países que formavam a Tríplice Aliança, um acordo foi assinado, nas proximidades
de Paris, apenas os países vencedores participaram. Pelo acordo a Alsácia-Lorena, voltava a pertencer
a França, além de ter perdido território para outros países. Este tratado também impôs fortes punições, a
Alemanha foi obrigada a pagar uma indenização aos países, afim de pagar os prejuízos da guerra, outra
imposição foi a de que deveria ser entregue aos países vencedores uma parte de sua frota mercante,
suas locomotivas e suas reservas de ouro. Seu exército teve de ser reduzido, assim como sua indústria
bélica. Esse tratado, assinado em junho de 1919 levou o nome de Tratado de Versalhes, pois foi
assinado na sala dos Espelhos do palácio de Versalhes.
A Primeira Guerra Mundial, deixou um legado de aproximadamente 10 milhões de mortos, e quase o
triplo de feridos. Campos a indústria foram destruídos, além dos grandes prejuízos.
O conceito de guerra mudou a partir da Primeira Guerra Mundia, o modelo aristocrático que
caracterizou as guerras de Napoleão, não existia mais. O uso de novas armas, como bombas, tanques,
rifles de precisão e metralhadoras, transformou os exércitos em uma máquina mortífera. Esse motivo fez
com que a guerra durasse mais do que se esperava.

As Influências da Primeira Guerra Mundial no Cenário Brasileiro 77


A primeira guerra representa para a industrialização brasileira um momento de desenvolvimento
acelerado. Por ser o Brasil geograficamente complexo, com suas unidades distantes e pobres,
representava um mercado interno incipiente. Somente através das medidas fiscais e protecionistas de
certos governos, pode-se localizar uma indústria caseira nos fins do século XIX e início do XX. Com a
Guerra dificultam-se as importações de produtos, incentivando-se o surgimento de novos ramos
industriais. Por ser este um processo de transformação das estruturas de certas zonas geográficas é um
processo lento. Esta expansão é liderada pelas regiões Sul e Leste, por serem ricas e variadas
climaticamente.
77 BRASIL ESCOLA. As influências da Primeira Guerra Mundial no cenário brasileiro. Brasil Escola. https://bit.ly/2MunYRf.

201
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os elementos da acumulação capitalista são a aplicação de pequeno capital e o baixo salário, que
acrescia, além dos lucros normais, pela inflação e pela aplicação de parte dos lucros do café, devido à
proibição de novos plantios em 1902.
Depois de 1914 surgem as grandes indústrias e uma concentração operária. Dá seus primeiros passos
a indústria pesada e vai ocupar parcialmente um mercado que demanda uma autossuficiência, somente
alcançada no período da Segunda Guerra, em Volta Redonda. Paradoxalmente, desenvolvem-se as
indústrias subsidiarias estrangeiras de petróleo e derivados, químicos e farmacêuticos, que
conjuntamente aos trustes estrangeiros, crescem acompanhando as necessidades do país.
As classes dominantes não apoiam esta expansão, por ser formada basicamente por proprietários de
terras. A indústria só superará a atividade agrária após a Segunda Guerra. Somente no governo de Afonso
Pena que se compreendeu a necessidade de um equilíbrio entre indústria e consumidor. No Governo de
Hermes da Fonseca e de Venceslau Brás, tentava-se rever as taxas alfandegárias. A guerra precipita a
solução, onde, nota-se a necessidade de desenvolver os recursos industriais de energia e ferro próprios.
Devido à guerra, ocorrem grandes dificuldades fiscais, levando o país a uma inflação acelerada, onde
a moeda circulante ultrapassa a casa de um milhão de contos de réis de emissão do tesouro, sem contar
as emissões bancárias. O presidente Epitácio Pessoa (1919- 1922), adota uma política de baixa cambial.
Com esta situação, aumenta as reivindicações operárias e pequeno-burguesas com relação a custo de
vida e moradia. Este governo foi o último que tentou uma política antiindustrialista. Os governos
posteriores tiveram de reconhecer a necessidade da industrialização.
Diferentemente da produção industrial, exclusivamente de consumo interno, a produção industrial,
exclusivamente de consumo interno, a produção agrícola é basicamente de exportação.
Esta produção primária aumenta progressivamente, acarretando em um saldo credor para o Brasil,
onde, se permitia cobrir compromissos externos e suprir algumas necessidades internas. Com a
concorrência das plantações africanas e asiáticas, onde ocorre aplicação de grandes capitais e uso de
técnica racional, com mão-de-obra mais barata e clima propício, fizeram com que certos produtos de
exportações brasileiras a partir da Primeira Guerra fossem declinando.
Por sua vez, o café, teve vários fatores a seu favor. O Brasil que possuía ¾ da produção mundial
expandia-se nas terras roxas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, principalmente. Aumenta
continuamente sua produção devido a interesses capitalistas estrangeiros, que participaram
principalmente de sua distribuição. Devido ao consumo ser menor que a produção, sente-se à
consequência da acumulação que se dá a partir da Crise de 1893.
Com estas ações protecionistas, que garantia a estabilidade, guerra, em um país como o Brasil, um
círculo vicioso entre bons preços e mais aplicações de capitais em novas lavouras, tendo como resultado
um acúmulo de estoque que tendia à crise, desenrolada e m 1929. (Esta crise de 1929 foi uma crise
mundial que assolou em especial os EUA com o Crack da bolsa de Nova York que depois da primeira
guerra viveram um fortalecimento da suas economias por tudo que produzirem ser exportado para a
Europa que ficou destruída com a Guerra neste período já estavam quase que recuperada e não
precisava mais nem dos empréstimos em dinheiro americano ou de produtos dos demais países os
excedentes de produção levaram muitos destes países à crise econômica). Em continuação aos
prósperos anos de guerra, as mercadorias agrícolas e industriais atingem um superávit, com relação às
importações. Passada a euforia econômica de 1919, segue uma paralisação e a crise de 1920, acelerada
devido à política titubeante e antiindustrialista do governo.

Questões

01. (CVM - Agente Executivo – ESAF) Atritos permanentes decorrentes de disputas imperialistas,
profundas rivalidades políticas assentadas em extremado nacionalismo e constituição de dois blocos
antagônicos de alianças entre países, a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente, configuram, entre outros
aspectos, o quadro histórico que resultou na:
(A) Segunda Guerra Mundial.
(B) Guerra Franco-Prussiana
(C) Guerra dos Boxers
(D) Guerra Civil Americana
(E) Primeira Guerra Mundial

02. (PC/MG - Escrivão de Polícia Civil – FUMARC) São conjunturas que precedem à eclosão da
Primeira Guerra Mundial, EXCETO:

202
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(A) A presença de várias potências europeias na Ásia e na África fez com que interesses imperialistas
se antagonizassem, sobretudo, no que se refere ao controle de territórios.
(B) A política de alianças produzirá um “efeito dominó”, lançando à guerra, uma após outra as nações
signatárias dos acordos.
(C) O nacionalismo adquire grande importância na eclosão da guerra, uma vez que as alianças entre
as nações europeias, no período que precede o conflito, nortearam-se fundamentalmente, por questões
étnicas.
(D) A escalada inflacionária, o desemprego e o ódio racial favoreceram a subida ao poder de partidos
totalitários como o Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães. Antissemitismo e expansionismo
territorial faziam parte da política desses partidos, o que acabou determinando a guerra.

03. (CONFERE – Auditor - INSTITUTO CIDADES) Vários problemas atingiam as principais nações
europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países
estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX.
Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e
Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado
consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das
causas da:
(A) Guerra Fria
(B) Grande Guerra
(C) Segunda Guerra Mundial
(D) Revolução Socialista Marxista

Gabarito

01.E / 02.D / 03.B

Comentários

01. Resposta: E.
Podemos afirmar que os antecedentes da Primeira Guerra Mundial surgiu a partir de tensões formadas
na segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo nos países
europeus. A partir dessas tensões dois blocos antagônicos se formas, a Tríplice Aliança, formada pela
Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no ano de 1882 e a Tríplice Entente, aliança militar formada pela
Inglaterra, França e Rússia.

02. Resposta: D.
A opção D é a única que não se refere ao período que antecede a Primeira Guerra Mundial, pois a
afirmativa da questão, refere-se aos motivos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. As opções A,
B e C estão corretas a respeito dos motivos que precederam o início da Grande Guerra.

03. Resposta: B.
A unificação tardia da Alemanha e da Itália, faz com que ambas as nação ficassem fora do processo
neocolonial, gerando um grande descontentamento. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha,
de forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.

TOTALITARISMO
O Totalitarismo é uma forma de governo em que uma ditadura controla o estado em todas as esferas
da sociedade. O controle sobre os meios de informação é muito forte e a repressão é utilizada como meio
de conter as revoltas da população e evitar novas ações. A educação vincula-se à propaganda como
meio de controle e promoção do regime, ressaltando suas realizações, obras, projetos e principalmente
a figura do líder do governo, que em muitos casos passa a ser venerado através da imposição. O modelo
totalitário ganhou força no século XX após a Primeira Guerra Mundial. Existem duas vertentes do
Totalitarismo: Esquerda e Direita
O Totalitarismo de Esquerda caracteriza-se pela abolição da propriedade privada, adoção das ideias
do socialismo, extinção da religião na esfera política e coletivização obrigatória de meios de produção
agrícolas e industriais.

203
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No Totalitarismo de Direita as organizações sindicais estão sob olhar atento do Estado. A cultura,
religião e etnicidade são valorizados de maneira tradicionalista e a burguesia industrial é fortemente
apoiada.
Apesar das grandes diferenças, tanto o Totalitarismo de esquerda como o de direita possuem diversas
semelhanças, como a adoção de um único partido que comanda o pais e de onde partem as decisões
sobre os rumos que ele deve tomar. Ideias de supervalorização do sentimento de orgulho do
país(patriotismo), seu enaltecimento e elogios ao potencial energético, natural e humano (Ufanismo) e a
defesa ferrenha e muitas vezes irracional do país (chauvinismo) são incentivadas e impostas à população
como forma de aumentar e garantir seu domínio. O culto à personalidade do líder do partido é também
imposto como forma de dominação carismática. Alguns dos maiores exemplos de culto à personalidade
são os ditadores Adolf Hitler na Alemanha Nazista e Joseph Stalin na União Soviética. Na atualidade a
figura de Kim Il-Sung na Coréia do Norte é um exemplo de culto à personalidade.
Entre os regimes totalitários mais significativos estão o Nazifacismo presentes em países como Itália,
Alemanha, Portugal e Espanha, e o Stalinismo na União Soviética.

Fascismo Italiano
O fascismo italiano teve início no começo da década de 20, resultado da insatisfação com os resultados
da Primeira Guerra Mundial. Os tratados assinados após a guerra não garantiram para a Itália alguns
territórios de interesse, como o caso de algumas colônias alemãs na África e a região da Dalmácia,
atribuída à Iugoslávia. Além dos territórios desejados não serem entregues ao país, o saldo de mortos
durante a guerra foi enorme. Em torno de 650 mil pessoas morreram, além da região de Veneza ter sido
devastada.
A situação econômica do pais entrou em um momento de grande caos e crise. A Itália já possuía um
problema de superpovoamento e atrasos de desenvolvimento, que foram agravados após a I Guerra com
a alta inflação provocada pela emissão de moedas e empréstimos exteriores para financiar seu exército.
Como resultado, a Lira, que era a moeda nacional da época, ficou extremamente desvalorizada.
Com a crise econômica afetando até mesmo as grandes indústrias do país, o desemprego cresceu,
juntamente com o número de greves de operários. Revoltas e pilhagens de lojas pela população tornaram-
se constantes. Por volta de 1920, mais de 600 mil metalúrgicos das regiões piemonteses e lombardos
tomaram controle de fábricas e tentaram dirigi-las, tentativa que falhou por conta da falta de credito
bancário. Além das fábricas e cidades, no campo várias terras foram ocupadas e muitos camponeses
exigiam reforma agraria.
Com medo do avanço dos movimentos sociais, do avanço das ideias comunistas e a incapacidade do
governo em conter as revoltas, grupos burgueses acabaram aliando-se a um grupo contrário ao
comunismo e ao socialismo: os Fascistas.
Os fascistas tinham como representante Benito Mussolini. Nascido em uma família pobre e
crescendo em um meio de influencias anarquistas, ingressou no Partido Socialista e refugiou-se durante
algum tempo na Suíça para fugir do serviço militar. Mussolini possuía ideais pacifistas, tendo inclusive
trabalhado como redator do jornal Avanti. Suas opiniões mudariam após o início da I Guerra Mundial,
quando fazia pedidos de intervenção militar da Itália em favor dos aliados em seu próprio jornal, Popolo
d’Itália.
Mussolini participou da guerra, de onde voltou gravemente ferido. Em seu jornal exigia atendimento
aos ex-combatentes que não conseguiam empregos, além de propor reformas sociais e criticar a
degradação e perda de poder do Estado, exigindo um regime de governo forte.
Os fascistas culpavam a democracia e o liberalismo. Vestiam-se de preto, daí o nome como foram
conhecidos, “camisas negras de Milão”. Formavam grupos paramilitares, os Squadres, ou “Fascio
de combatimiento” que combatiam as greves e os comunistas. Em 1922 estava marcada uma grande
greve geral em Roma, liderada pelos comunistas. Os fascistas impediram violentamente esta greve e
realizaram uma grande passeata, a “Marcha sobre Roma”. Após a marcha e a grande popularidade
alcançada pelos fascistas, o Imperador italiano indicou Mussolini para Primeiro Ministro. Mussolini foi
responsável por uma grande manobra diplomática com a Igreja Católica. Através do Tratado de Latrão
foi criado o Estado do Vaticano, que conquista o apoio e reconhecimento do Estado Italiano pela Igreja
(reconhecimento que não havia ocorrido desde a unificação Italiana em 1870)

Salazarismo e Franquismo
As consequências do fim da I Guerra Mundial e da Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque
causaram um efeito devastador na política e na economia de muitos países europeus. As crises
econômicas se alastravam, o desemprego aumentava junto com a insatisfação de operários de fabricas
que realizavam greves constantemente e muitos grupos políticos de esquerda chegavam ao poder. Com

204
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
medo de perder espaço e privilégios, os grandes empresários e a igreja católica aliaram-se e financiaram
a ascensão de grupos políticos de extrema-direita para conter as revoltas sociais e o avanço das ideias
socialistas que se espalhavam pelo continente. A década de 30 na Europa foi marcada pela ascensão do
nazifascismo. Esse modelo de governo surgido na Itália e Alemanha foi também praticado em Portugal
(Salazarismo) e Espanha (franquismo).
Em Portugal, assim como na Alemanha, a crise de 1929 colocou a extrema direita no poder, o que
possibilitou a ascensão de Antônio Oliveira Salazar que em 1930 instaurou a ditadura do “Estado Novo”
e outorgou uma constituição autoritária, nacionalista, com unipartidarismo e a proibição de greves. O
ditador permaneceu no poder até 1970, quando faleceu. O modelo ditatorial permaneceu em vigor até o
ano de 1974, quando acontece a “Revolução dos Cravos” que derruba o governo autoritário promove
novamente a democracia. A revolução também coloca fim na Guerra Colonial portuguesa, conflito entre
tropas portuguesas e grupos separatistas de Angola, Guiné e Moçambique. Os separatistas buscavam a
autonomia, ou seja a independência do domínio colonial de Portugal. Salazar foi contrário à ideia de
separação e enviou tropas para suas colônias na África a partir de 1961 para conter os rebeldes. Com a
saída de Salazar do poder, a partir de 1975 tem início uma rodada de negociações para discutir a
descolonização dos territórios conflituosos com o Tratado de Alvor.
Com a queda do governo monárquico em 1931, após a renúncia do rei Afonso XIII, é proclamada a
Segunda Republica. Nas eleições ocorridas em dezembro do mesmo ano a esquerda sai vitoriosa. Alcalá
Zamora é eleito presidente da República. Com as reformas propostas pelo governo, que não se
mostraram significativas para nenhum dos lados, a insatisfação aumenta.
Manuel Azaña ficara encarregado por Alcalá Zamora de organizar o governo, que não consegue
resolver as questões agrária e trabalhista. Na questão religiosa, a companhia de Jesus é dissolvida na
Espanha, e as demais ordens religiosas apesar de continuarem, são proibidas de dedicar-se ao ensino.
As reformas foram consideradas moderadas em relação ao espirito anticlerical presente no parlamento
espanhol, que era composto por uma maioria de esquerda. As medidas tomadas não agradaram nem a
direita e a igreja, que enxergavam de forma negativa a laicização do Estado (Separação entre Estado e
religião) e do ensino, nem a esquerda, que considerava as reformas promovidas como medidas
insignificantes.
A polarização política (como no resto da Europa) entre a extrema direita e a extrema esquerda levou
o pais à uma guerra civil em 1936. Enfrentaram-se o “Nacionalistas”, grupo formado pelo Exército, a
Igreja e os Latifundiários (grandes proprietários de terra) e os “Republicanos”, grupo formado pelos
sindicatos, partidos de esquerda e os partidários da democracia. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
teve apoio das tropas portuguesas da ditadura salazarista e também o apoio da Alemanha nazista. O
conflito serviu de laboratório para a nova nova tática de guerra nazista: a Blitzkrieg (termo alemão para
"guerra-relâmpago. A Blitzkrieg consistia em uma doutrina militar que consistia em utilizar forças móveis
em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de
organizar a defesa.Com o desequilíbrio das forças militares os nacionalistas venceram a guerra e subiu
ao poder o General Francisco Franco, que governou até 1975, ano de sua morte. Seu governo era
fundamentado no militarismo, anticomunismo e no catolicismo.
A Guerra Civil Espanhola deixou um saldo de mais de 500 mil vítimas, além de muitos prédios
destruídos, metade do gado do país morto e uma estagnação econômica que durou pelos próximos 30
anos. A guerra causou impacto também em vários artistas, que manifestaram sua visão através de obras
e textos criticando o conflito. Entre as produções mais expressivas está a pintura de Pablo Picasso,
Guernica.
A obra, uma pintura a óleo em estilo cubista, retrata o bombardeio e a destruição da cidade basca de
Guernica, no norte da Espanha. O autor a produziu em 1937, enquanto o autor morava em Paris. Nela
estão retratados os sofrimentos e mutilações de pessoas e animais e a destruição edifícios atingidos pela
Luftwaffe (Força Aérea Alemã).

Picasso, Pablo. Guernica. Óleo sobre tela.

205
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Fonte:http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/guernica2.jpg

Além de Picasso, outros artistas como o pintor surrealista Salvador Dali, o poeta Federico García Lorca
e o escritor estadunidense Ernest Hemingway.

O Nazismo Alemão
O Nazismo era a sigla em alemão para “partido nacional socialista dos trabalhadores alemães”
(National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei ou N.S.D.A.P) fundado em 1920. Em 1923 membros do
partido tentam um golpe de Estado que ficou conhecido como Putch de Munique. O golpe foi frustrado e
os nazistas foram presos, entre eles um soldado que combatera na Primeira Guerra Mundial, chamado
Adolf Hitler. Na cadeia Hitler escreve seu livro com os princípios fundamentais do nazismo o “Mein Kampf”
(minha luta) no qual ele expressou suas ideias antissemitas, racialistas e nacional-socialistas. Após serem
anistiados (anistia = perdão de crime político) os membros do partido começaram um intenso trabalho de
divulgação de suas ideias, recebendo o apoio de grandes industriais e banqueiros alemães. Com o apoio
recebido os nazistas chegam ao poder. Após a vitória parlamentar do partido nazista, Hitler é nomeado
chanceler (primeiro ministro) da Alemanha em 1933.
Com a chegada de Hitler ao poder, tem início a implantação da ditadura totalitária nazista. O
parlamento foi incendiado e a culpa foi jogada nos grupos comunistas. As greves e os partidos comunistas
foram proibidos, e teve início a perseguição realizada aos Judeus. Hitler desobedece ao tratado de
Versalhes e inicia a militarização do país, pregando a necessidade de “espaço vital” alemão, ou seja o
espaço necessário para a expansão territorial de um povo, e a conquista de territórios ocupados pela
população Germânica. Inicia-se também a recuperação econômica com base em um programa baseado
na militarização do país e criação de empregos (principalmente na indústria militar).

A expansão Nazista
Os nazistas deram início em 1936 uma expansão militar com a participação em conflitos, a invasão e
anexação de territórios. Hitler leva a Europa à guerra (desta vez sim, a culpa é da Alemanha). O início da
expansão militar ocorre com a participação alemã na “Guerra Civil Espanhola”, em 1936, depois em
1938 anexam a Áustria, e em 1938/39 invadem e anexam os Sudetos da Tchecoslováquia (região
montanhosa à sudoeste do país).

A Guerra civil espanhola e a Blitzkrieg: Para muitos historiadores a Guerra Civil Espanhola foi um
laboratório para os alemães testarem sua nova tática de guerra, a Blitzkrieg (Guerra relâmpago). Era um
ataque surpresa e simultâneo entre a aviação (Luftwaffe), divisão de tanques blindados (divisão Panzer)
e a infantaria de soldados.

Questões

01. O fascismo se afirmou onde estava em curso uma crise econômica (inflação, desemprego, carestia
etc.), ou onde ela não tinha sido completamente superada, assim como estava em curso uma crise do
sistema parlamentar, o que reforçava a ideia de uma falta de alternativas válidas de governo.
(Renzo De Felice. O fascismo como problema interpretativo,
In. A Itália de Mussolini e a origem do fascismo. São Paulo: Ícone Editora, 1988, p 78-79. Adaptado)

Interpretando-se o texto, pode-se afirmar que os regimes fascistas, característicos de alguns países
europeus no período entre as duas guerras mundiais, foram estabelecidos em um quadro histórico de
(A) abolição das economias nacionais devido à fusão de indústrias e de empresas capitalistas em
escala global.
(B) criação de blocos econômicos internacionais com a participação dos países de economia socialista.
(C) dificuldades econômicas conjugadas com a descrença na capacidade de sua solução pelos meios
democráticos.
(D) independência das colônias africanas devido ao desequilíbrio provocado pelas revoluções
nacionalistas.
(E) enfraquecimento do Estado na maioria das nações devido ao controle da economia pelos
trabalhadores.

02. (VUNESP - PM/SP) Leia a notícia.


Um jovem preso por planejar um massacre contra alunos da Universidade de Brasília (UnB) é suspeito
de atuar como representante de grupos neonazistas no Distrito Federal. A Polícia Federal (PF) investiga

206
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
a ligação de Marcelo Valle Silveira Mello, 26 anos, com radicais da Região Sul que pregam o ódio a
negros, homossexuais e judeus.
(Http://www.correiobraziliense.com.br.
Acesso em 14.05.2012. Adaptado)

Prática como essa tem como modelo o regime nazista (1933-45), que defendia
(A) o pluripartidarismo e a expansão militar.
(B) a xenofobia e o internacionalismo.
(C) a democracia e o irracionalismo.
(D) o nacionalismo e a intolerância.
(E) a guerra e a diversidade cultural.

03. São características da ideologia Nazista:


(A) racismo, totalitarismo e marxismo;
(B) racismo, defesa do capitalismo e humanismo;
(C) unipartidarismo; marxismo e totalitarismo;
(D) sociedade militarista; antissemitismo e racismo;
(E) nacionalismo; bolchevismo e totalitarismo.

Gabarito

01.C / 02.D / 03.D

Comentários

01. Resposta C.
As inúmeras crises em que entraram diversos países após o fim da Primeira Guerra Mundial levaram
ao surgimento de muitos estados de governos extremistas, que levaram até mesmo a população a
acreditar que a melhor forma de governo seria a de um estado forte que controlava a economia.

02. Resposta D.
O Nazismo deriva do nome do partido que comandou a Alemanha de 1933 a 1945, o partido Nacional-
Socialista. Entre as crenças dos defensores do partido estava a de que o povo alemão derivava de uma
raça superior e de que muitos outros povos não chegavam nem perto do desenvolvimento alemão ou
como no caso dos Judeus, foram culpados pela situação econômica instável que o pais alcançou após o
final da Primeira Guerra Mundial.

03. Resposta D.
Entre as ideias defendidas pelo nazismo estavam as que pregavam o ódio a judeus, negros, ciganos,
homossexuais e outras minorias da sociedade, enquanto o povo alemão era celebrado como raça
suprema da humanidade. O alistamento militar tornou-se obrigatório a partir de 1936, além da existência
da juventude hitlerista, grupo paramilitar que alistava crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Segunda Guerra Mundial, ocorreu entre 1939 e 1945. Assim como a Primeira Guerra, ela ganhou
esse nome por não ficar confinada apenas ao continente europeu. Foi a maior guerra vista na história da
humanidade, setenta e duas nações foram envolvidas. O número de mortes é estimado em cerca de
cinquenta milhões.

I - Antecedentes
Com o final da Primeira Guerra Mundial e com o Tratados de Versalhes, nações como a Alemanha
entraram em uma profunda crise social e econômica. Com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, a
situação que estava começando a melhorar, piora novamente, gerando um grande descontentamento em
relação ao liberalismo americano.

Sob essa paisagem é que surge movimentos em diversos países da Europa, principalmente Alemanha
e Itália, governos totalitaristas. Em 1922, Benito Mussolini chega ao poder na Itália, iniciando uma

207
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
ditadura do Partido Fascista, e em 1932, na Alemanha, o Partido Nazista após vencer as eleições alcança
o poder e Adolf Hitler é nomeado chanceler alemão.
Com o objetivo de expandir e ter de volta as região que lhe foram tiradas pelo Tratado, o governo
Alemão, desafiando os acordos feitos pelo Tratado de Versalhes, volta a produzir armamentos e a
aumentar sua força militar. A região da Renânia, que fazia fronteira com a França, volta a se rearmar.
Através destas atitudes a Europa já começa a se alarmar e esperar uma outra guerra acontecer.
Em 1935, a Itália dá início ao seu processo de expansão, anexando a Etiópia e logo depois a Albânia.
Na Alemanha, esse processo começa em 1938 quando anexam a Áustria e a Tchecoslováquia. Itália e
Alemanha já haviam assinado um acordo de apoio mútuo, em 1936, chamado de Eixo Roma-Berlim. O
Japão entra nesse acordo apenas quatro anos depois.
As outras nações, como a França e a Inglaterra, só interviram nas ações desses países, quando em
1939, após ter assinado um pacto de não agressão com a União Soviética - Pacto Ribbentrop-Molotov -
ela invade a Polônia, que havia ficado dividida pelo acordo. A invasão à Polônia aconteceu no dia 1° de
Setembro de 1939, dois dias depois é declarado guerra à Alemanha.
A Segunda Guerra Mundial reuniu nações de grande parte do mundo, divididas em dois blocos, o Eixo,
liderado pela Alemanha, Itália e Japão, e os Aliados, liderados principalmente pelos Estados Unidos,
Inglaterra e União Soviética.

II- A Guerra

II.a - Invasão da França e URSS


Sob o comando do general Erich Von Manstein, a Alemanha inaugura uma nova forma de guerra.
Conhecida como Blitzkrieg - guerra relâmpago – consistia em destruir o inimigo através do ataque
surpresa. Usando essa tática, em abril de 1940, o exército alemão invade e ocupa a Dinamarca e a
Noruega. Um mês depois Luxemburgo, Holanda e Bélgica, países até então neutros foram invadidos. O
próximo destino dos alemão era atacar a fronteira da França, que pegados de surpresa não conseguiram
se defender, deixando o exército alemão se aproximar de mais de Paris. No dia 14 de julho de 1940 a
capital francesa é dominada, forçando o governo francês a se transferir para o interior do país e apenas
alguns dias depois o governo francês se rende.
No acordo de rendição, metade do território da França passava a pertencer a Alemanha, a outra
metade ficaria com eles, desde que as autoridades francesas colaborassem com os alemães. O general
francês Charles de Gaulle, não contente com a situação, fugiu para a Inglaterra, de onde liderou
resistências contra a presença dos nazistas no país.
Em 1941, sem nenhum aviso, o exército alemão, invade a URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), atacando durante três meses, três regiões diferentes – Leningrado, Moscou e Stalingrado).
Sabendo da força do exército, a posição tomada pela URSS foi de recuar. Contudo, Hitler, subestimando
as forças soviéticas, ordenou um ataque a Moscou e Leningrado, onde assistiu a sua tática de guerra
falhar. Além dos soviéticos terem se defendido bem, os alemães se viram enfrentando o rigoroso inverno
Russo.
Quando finalmente conseguem chegar a Stalingrado, a batalha acontece na própria rua, onde com
apenas 285 mil soldados a Alemanha se vê cercada por forças soviéticas. Apenas em janeiro de 1943 é
que, depois de vários meses de guerra, os sobrevivente alemães se rendem à força da URSS. Esse fato
marca o fim da fase próspera vivida pelo Eixo.

II.b Guerra no Pacífico e Entrada dos Estados Unidos na Guerra


Apesar do Japão estar aliado ao Eixo, ele permaneceu fora do conflito direto nos primeiros anos da
guerra. Até o ano de 1941, sua estratégia era pressionar os Estados Unidos, para que este reconhecesse
sua superioridade no continente Asiático. Quando perceberam que o governo americano não atenderiam
as suas exigências, o governo japonês ordenou um ataque surpresa à base norte-americana de Pearl
Harbor, no Havaí em dezembro de 1941. Após o ataque, o Governo dos Estados Unidos entram na guerra,
em favor aos Aliados.
Após o ataque, os japoneses conseguiram conquistar diversas regiões da Ásia, onde conseguiram o
domínio de matérias-primas importantes, como o petróleo, borracha e minério.
Em junho de 1942, os Estados Unidos conseguem vencer a força japonese no pacífico. Essa batalha
ganhou o nome de “Batalha de Midway”

II.c – Fim da Guerra


Após a derrota dos japoneses no pacífico, as forças inglesas e norte-americanas conseguiram expulsar
o exército alemão do norte da África. No ano seguinte, em 1943, os Aliados conseguiram chegar no sul

208
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
da Itália, enquanto isso, o exército soviético (Exército Vermelho) dava início a invasão da Alemanha. Em
1944, na Itália, Mussolini é fuzilado por guerrilheiros Antifascistas.
No mesmo ano, no dia 6 de junho, que ficaria conhecido como o “Dia D”, as forças inglesas e norte
americanas, com mais de 3 milhões de homens, conseguem chegar no norte da França, região da
Normandia. Em agosto, os Aliados conseguem entrar em Paris. O fim da guerra para os alemães era
apenas uma questão de tempo.
No dia 30 de abril de 1945, Hitler, com sua mulher Eva Braun, se suicidam na capital da Alemanha,
Berlim. Após a sua morte, os soviéticos conseguem chegar a Berlim, onde finalmente o exército alemão,
junto com seus comandantes, assinam a rendição.
Apesar da guerra ter acabado na Europa, o Japão se recusou a se render. Para forçar sua saída, no
dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos ordena o lançamento de uma bomba atômica sobre a cidade
de Hiroshima, ode em questão de segundos mais de 80 mil pessoas foram mortas. Mesmo após o ataque
o Japão não concordou em assinar a rendição. Com isso três dias depois, outra bomba atômica é lança,
agora sobre a cidade de Nagasaki, matando mais de 40 mil pessoas. Depois do segundo ataque, o
governo japonês concorda em assinar a rendição.

II.d – Participação do Brasil na Segunda Guerra78

Neutralidade brasileira na primeira fase da guerra


Desde 1939, início do conflito, o Brasil assumiu uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial. O
presidente do Brasil na época era Getúlio Vargas.

Ataques nazistas e entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial


Porém, esta posição de neutralidade acabou em 1942 quando algumas embarcações brasileiras foram
atingidas e afundadas por submarinos alemães no Oceano Atlântico. A partir deste momento, Vargas fez
um acordo com Roosevelt (presidente dos Estados Unidos) e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados
(Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, entre outros). Era importante para os Aliados que o
Brasil ficasse ao lado deles, em função da posição geográfica estratégica de nosso país e de seu vasto
litoral.

Participação efetiva no conflito


A participação militar brasileira foi importante na Segunda Guerra Mundial, pois somou forças na luta
contra os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas forças
nazistas), em julho de 1944, 25 mil militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira), 42 pilotos e 400
homens de apoio da FAB (Força Aérea Brasileira).
As dificuldades foram muitas, pois o clima era muito frio na região dos Montes Apeninos, além do que
os soldados brasileiros não eram acostumados com relevo montanhoso.

Vitórias
Os militares brasileiros da FEB (também conhecidos como pracinhas) conseguiram, ao lado de
soldados aliados, importantes vitórias. Após duras batalhas, os militares brasileiros ajudaram na tomada
de Monte Castelo, Turim, Montese e outras cidades.
Apesar das vitórias, centenas de soldados brasileiros morreram em combate. Na Batalha de Monte
Castelo (a mais difícil), cerca de 400 militares brasileiros foram mortos.

Outras formas de participação


Além de enviar tropas para as áreas de combate na Itália, o Brasil participou de outras formas
importantes. Vale lembrar que o Brasil forneceu matérias-primas, principalmente borracha, para os países
das forças aliadas.
O Brasil também cedeu bases militares aéreas e navais para os aliados. A principal foi a base militar
da cidade de Natal (Rio Grande do Norte) que serviu de local de abastecimento para os aviões dos
Estados Unidos.
Foi importante também a participação da marinha brasileira, que realizou o patrulhamento e a proteção
do litoral brasileiro, fazendo também a escolta de navios mercantes brasileiros para garantir a proteção
contra ataques de submarinos alemães.

78 O Brasil na Segunda Guerra Mundial. Sua Pesquisa. https://bit.ly/2Og74Gs

209
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
III – Consequências
Com o fim da guerra em 1945, líderes dos três principais países vencedores – URSS, Estados Unidos
e Inglaterra – se reuniram em na Conferência de Potsdam, onde ficou decidido que a Alemanha seria
dividida em quatro áreas de ocupação, que foram entregues a França, Inglaterra, Estados Unidos e União
Soviética. A capital, Berlim, também foi dívida. Já o Japão teria seu território dominado pelos Estados
Unidos por tempo indeterminado.
Após a guerra, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potência mundiais. As ideias
antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo. De um lado estava o capitalismo e do outro o
socialismo. A partir dessa divisão, um conflito entre essas grandes potências se instaurou, começou a
chamada Guerra Fria.

III.a – Criação da Organizações das Nações Unidas


Em fevereiro de 1945, após uma das conferências de paz, ficou decido a criação de um órgão que
tentaria unir as nações, estabelecendo relações amistosas entre os países. A Carta das Nações Unidas
foi incialmente assinada por cinquenta países, onde foram excluídos de participar os países que
participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda tentativa de promover a paz, a primeira tentativa
que fracassou, foi a formação da Liga das Nações, criada após a Primeira guerra.

Questões

01. (TJ/PR - Titular de Serviços de Notas e de Registros – IBFC) Sobre a Segunda Guerra Mundial
(1939/1945), assinale a alternativa incorreta:
(A) Uma de suas causas foram as severas sanções pecuniárias impostas pelo Tratado de Versalhes
à Alemanha e seus aliados, comprometendo a sua economia, elevando a inflação a índices astronômicos
e gerando um arraigado sentimento de humilhação nos alemães e a exacerbação do nacionalismo,
possibilitando a ascensão de Hitler e do Partido Nazista ao poder.
(B) O evento que deflagrou o conflito foi o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, situadano
Oceano Pacífico.
(C) O conflito envolveu basicamente dois grupos: o Eixo (integrado por Alemanha, Itália e Japão) e os
Aliados (entre eles: Inglaterra, Estados Unidos, França e União Soviética).
(D) Com a vitória aliada, foi dissolvido o Terceiro Reich e dividida a Alemanha (Oriental e Ocidental),
criada a ONU-Organização das Nações Unidas e iniciada a Guerra Fria, diante do estabelecimento dos
Estados Unidos e da União Soviética como superpotências.

02. (SEDU/ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) Um mundo


dividido ideologicamente, além das marcas da destruição causadas por vigorosas máquinas de guerra —
eis a realidade que emerge da Segunda Guerra Mundial, oficialmente encerrada em 1945. No que
concerne à história mundial após o encerramento do grande conflito, julgue o próximo item.
A Organização das Nações Unidas (ONU) é considerada uma das mais significativas consequências
da Segunda Guerra Mundial e nela coexistem órgãos de participação igualitária entre os estados-
membros, como a Assembleia Geral, e outros dominados por alguns poucos, como o Conselho de
Segurança.
(A) Certo
(B) Errado

03. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Na Segunda Guerra Mundial, o Japão aliou-se à
Alemanha, tal como já fizera na Primeira Guerra.
(A) Certo
(B) Errado

Gabarito

01.B / 02.A / 03.B / 04.B

Comentários

01. Resposta: B.
A afirmativa “B” está errada pois o fato que desencadeou a guerra foi a quebra do pacto feito entre a
Alemanha e a União Soviética, quando o exército alemão invadiu a Polônia.

210
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
02. Resposta: A.
A criação da ONU, após a Segunda Guerra Mundial, pode ser considerada uma das principais
consequências da guerra. A Carta das Nações Unidas foi incialmente assinada por cinquenta países,
onde foram excluídos de participar os países que participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda
tentativa de promover a paz.

03. Resposta: B.
A afirmativa da questão está errada, pois o Japão não se aliou a Alemanha na Primeira Guerra. O país
fez parte da Tríplice Entente.

04. Resposta: B.
O fato que serviu de estopim para a guerra foi a invasão da Polônia pela Alemanha, já que esta havia
feito um acordo com a União Soviética de não agressão e a região polonesa havia sido dividida. Após
esta invasão França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha, iniciando assim a Segunda Guerra
Mundial.

A Revolução de 1930 e o Estado Novo de Vargas;

A ERA VARGAS

Dentro das divisões históricas do período republicano, a “Era Vargas” é dividida em três intervalos
distintos:
1 - um período provisório, quando assume o governo após o movimento de 1930;
2 - um período constitucional, quando eleito após a promulgação da Constituição de 1934, e;
3 - um autoritário, com o golpe de 1937, que deu início ao período conhecido como Estado Novo.

Período Provisório

As Forças de oposição ao Regime Oligárquico


No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias,
insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram
forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade.
Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1921-30, a crise econômica e o
rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração
importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança
Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o
resultado desse complexo movimento político.
Getúlio Vargas se apoiou em vários setores sociais liderados por frações das oligarquias descontentes
com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal.

O Governo Provisório
Ao final da Revolução de 1930, com Washington Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado
como chefe do governo provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover
uma centralização política e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o
controle efetivo do país. Em outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra.
Para atingir esse objetivo, foram nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de
confiança, normalmente oriundos do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir em cada estado as
determinações do governo provisório.
Esse fato e o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições
desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no Estado de São Paulo. As
eleições dariam ao país uma nova Constituição, um presidente eleito pela população e um governo com
legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na
Revolução de 30.

211
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Reação Paulista
A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não
admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não
aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação
de um interventor civil e paulista, se somou à reivindicação de eleições para a Constituinte. Essas teses
foram ganhando rapidamente simpatia popular.
As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do Estado, até
por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD).
Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um
interventor do próprio Estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam
derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido.
Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins,
Dráusio e Camargo (MMDC) foram mortos e se transformaram em mártires da luta paulista em nome da
legalidade constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras “concessões”: elaborou o código eleitoral
(que previa o voto secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto para a Constituição e marcou
as eleições para 1933.

A Revolução Constitucionalista de 1932


A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as concessões suficientes. Baseada no apoio
popular que conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, desencadeou em 9 de julho
de 1932, a chamada Revolução Constitucionalista.
Ela visava a derrubada do governo provisório e a aprovação imediata das medidas que Getúlio
protelava. Entretanto, o apoio esperado dos outros estados não ocorreu e, depois de três meses, a revolta
foi sufocada. Até hoje, o caráter e o significado da Revolução Constitucionalista de 1932 geram polêmicas.
De qualquer forma, é inegável que o movimento teve duas dimensões:
No plano mais aparente, predominaram as reivindicações para que o país retornasse à normalidade
política e jurídica, baseadas numa expressiva participação popular. Nesse sentido, alguns destacam que
o movimento foi um marco na luta pelo fortalecimento da cidadania no Brasil.
Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava o rancor das elites paulistas, que viam no
movimento uma possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe fora arrebatado em 1930.
Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que aconteceu em São Paulo em 1932, foi a
tentativa de uma contra revolução, pois visava restaurar uma supremacia que durante mais de 30 anos
fez a nação orbitar em torno dos interesses da cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por
um reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto modernizador de 1930.

As Leis Trabalhistas
Como forma de garantir o apoio popular, Getúlio Vargas consolidou um conjunto de leis que garantiam
direitos aos trabalhadores, destacando-se entre eles: salário mínimo, jornada de oito horas,
regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso remunerado (férias e finais de semana),
indenização por demissão, assistência médica, previdência social, entre outras.
A formalização dessa legislação trabalhista teve vários significados e implicações. Representou a
primeira modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a questão social e definiu as regras a
partir das quais o mercado de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar. Garantiu, assim,
uma certa estabilidade ao crescimento econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos
assalariados urbanos à política getulista.
Essa legislação denota a grande habilidade política de Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de
conquistas que, em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos principais centros industriais.
Com isso, construiu a sua imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores.

O Controle Sindical
A aprovação da legislação sindical representou um grande avanço nas relações de trabalho no Brasil,
pois pela primeira vez o trabalhador obtinha individualmente amparo nas leis para resistir aos excessos
da exploração capitalista.
Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado definiu regras extremamente rígidas para
a organização dos sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu funcionamento (Carta Sindical), as
que regulavam os recursos da entidade e as que davam ao governo direito de intervir nos sindicatos,
afastando diretorias se julgasse necessário. Mantinha, assim, os sindicatos sob um controle rigoroso.

212
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Período Constitucional

Eleições Presidenciais de 1934


Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia Constituinte converteu-se em Congresso
Nacional e elegeu o presidente da República por via indireta: o próprio Getúlio. Começava o período
constitucional do governo Vargas.

O Governo Constitucional e a Polarização Ideológica


Durante esse período, simultaneamente à implantação do projeto político do governo, foram se
desenhando duas ideologias para o país: uma defendia um nacionalismo conservador, a outra, um
nacionalismo revolucionário.

- Nacionalismo conservador
Esse movimento contava com o apoio das classes médias urbanas, Igreja e setores do Exército. O
projeto que seus apoiadores tinham em mente decorria da leitura que eles faziam da história do país até
aquele momento.
Segundo os conservadores, o aspecto que marcava mais profundamente a formação histórica do país
e do seu povo era a tradição agrícola. Desde o descobrimento, toda a vida econômica, social e política
organizou-se em torno da agricultura. Todos os nossos valores morais, regras de convivência social,
costumes e tradições fincavam suas raízes no modo de vida rural.
Dessa forma, tudo o que ameaçava essa “tradição agrícola” (estímulos a outros setores da economia,
crescimento da indústria, expansão da urbanização e suas consequências, como a propagação de novos
valores, hábitos e costumes tipicamente urbanos) representava um atentado contra a integridade e o
caráter nacional, uma corrupção da nossa identidade como povo e nação.
O movimento se caracterizava como nacionalista e conservador por ser contrário a transformações
modernizadoras de origem externa (induzidas pela industrialização, vanguardas artísticas europeias,
etc.).
Para que a coerência com a nossa identidade histórica fosse mantida, os ideólogos do nacionalismo
conservador propunham o seguinte: os latifúndios (grandes propriedades rurais) deveriam ser divididos
em pequenas parcelas de terras a ser distribuídas. Assim, as famílias retornariam ao campo tornando o
Brasil uma grande comunidade de pequenos e prósperos proprietários.
Podemos concluir a partir desse ideário, que eram antilatifundiários e antiindustrialistas. Na esfera
política, defendiam um regime autoritário de partido único.
Nesse contexto o maior defensor dessas ideias foi o movimento que recebeu o nome de Ação
Integralista Brasileira (AIB), cujo lema era Deus, Pátria e Família, que tinha como seu principal líder e
ideólogo Plínio Salgado.
Tradicionalmente, a AIB também é interpretada como uma manifestação do nazifascismo no Brasil,
pela semelhança entre os aspectos aparentes do integralismo e do nazifascismo: uniformes, tipo de
saudação, ultranacionalismo, feroz anticomunismo, tendências ditatoriais e apelo à violência eram traços
que aproximavam as duas ideologias.
Um exame mais atento, entretanto, mostra que eram projetos distintos. Enquanto o nazi fascismo era
apoiado pelo grande capital e buscava uma expansão econômico-industrial a qualquer custo, ao preço
de uma guerra mundial se necessário, os integralistas queriam voltar ao campo. Num certo sentido, o
projeto nazifascista era mais modernizante que o integralista. Assim, as semelhanças entre eles
escondiam propostas e projetos globais para a sociedade radicalmente distintos.

- Nacionalismo Revolucionário
Frações dos setores médios urbanos, sindicatos, associações de classe, profissionais liberais,
jornalistas e o Partido Comunista prestaram apoio a outro movimento político: o nacionalismo
revolucionário. Este defendia a industrialização do país, mas sem que isso implicasse subordinação e
dependência em relação às potências estrangeiras, como a Inglaterra e os Estados Unidos.
O nacionalismo revolucionário propunha uma reforma agrária como forma de melhorar as condições
de vida do trabalhador urbano e rural e potencializar o desenvolvimento industrial. Considerava que a
única maneira de realizar esses objetivos seria a implantação de um governo popular no Brasil. Esse
movimento deu origem à Aliança Nacional Libertadora, cujo presidente de honra era Luís Carlos Prestes,
então membro do Partido Comunista.

213
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As Eleições de 1938
Contida a oposição de esquerda, o processo político evoluiu sem conflitos maiores até 1937. Nesse
ano, começaram a se desenhar as candidaturas para as eleições de 1938, destacando-se Armando Sales
Oliveira, paulista que articulava com outros estados sua eleição para presidente.
Getúlio Vargas, as oligarquias que lhe davam apoio e os militares herdeiros da tradição tenentista não
viam com bons olhos a possibilidade de retorno da oligarquia paulista ao poder. Uma vez mantido o
calendário eleitoral, isso parecia inevitável. Como forma de evitar que as eleições acontecessem, Getúlio
Vargas coloca em prática o famoso Plano Cohen.
Segundo as informações oficiais, forças de segurança do governo tinham descoberto um plano de
tomada do poder pelos comunistas. Muito bem elaborado, esse plano colocava em risco as instituições
democráticas do país.
Para evitar o perigo vermelho, Getúlio Vargas solicitou ao Congresso Nacional a aprovação do estado
de sítio, que suspendia as liberdades públicas e dava ao governo amplos poderes para combater a
subversão.

Período Autoritário

A Decretação do Estado de Sítio e o Golpe de 1937


A fração oligárquica paulista hesitava em aprovar a medida, mas diante do clamor do Exército, das
classes médias e da Igreja, que temiam a escalada comunista, o Congresso autorizou a decretação do
estado de sítio. A seguir, com amplos poderes concentrados em suas mãos, Getúlio Vargas outorgou
uma nova Constituição ao país, implantando, por meio desse golpe o Estado Novo.

Estado Novo (1937-1945)79


A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945. Embora Vargas
agisse habilidosamente com o intuito de aumentar o próprio poder, não foi somente sua atuação que
gerou o Estado Novo. Pelo menos três elementos convergiam para sua criação:

1 - A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores, que dependiam dele para manter os preços
do café;
2 - Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos cafeicultores, já que o crescimento das
indústrias dependia da proteção estatal;
3 - As oligarquias e classe média urbana, que assustavam-se com a expansão da esquerda e julgavam
que para “salvar a democracia” era necessário um governo forte.

Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por alguns motivos:

- Por sua formação profissional, os militares possuíam uma visão hierarquizada do Estado, com
tendência a apoiar mais um regime autoritário do que um regime liberal;
- Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados do exército por Vargas e pela dupla Góis
Monteiro-Gaspar Dutra80;
- Entre os oficiais do exército estava se consolidando o pensamento de que se deveria substituir a
política no exército pela política do exército. A política do exército naquele momento visava o próprio
fortalecimento, resultado atingido mais facilmente em uma ditadura.

Com todos esses fatores a seu favor, não houveram dificuldades para Getúlio instalar e manter por
oito anos a ditadura no país. Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão
policial e política e a perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado.

Política Econômica do Estado Novo81


Por meio de interventores, o governo passou a controlar a política dos estados. Paralelamente a eles,
foi criado em cada um dos estados um Departamento Administrativo, que era diretamente subordinado
ao Ministério da Justiça com membros nomeados pelo presidente da república.
Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava as leis decretadas pelo interventor e
fiscalizava seus atos, orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os programas estaduais
ficavam subordinados ao governo federal.

79 MOURA, José Carlos Pires. História do Brasil.1989.


80 Ambos foram ministros da Guerra no período em que Vargas estava no poder. Monteiro (1934-1935). Dutra (1936-1945)
81 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/PoliticaAdministracao/DASP

214
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Na área federal foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Além de
centralizar a reforma administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o orçamento dos órgãos
públicos e controlar a execução orçamentária deles.
Com a criação do DASP e do Conselho Nacional de Economia, não só a atuação administrativa e
econômica do governo passou a ser muito mais eficiente, como também aumentou consideravelmente o
poder do Estado e do presidente da república, agora diretamente envolvido na solução dos principais
problemas econômicos do país, inclusive com a criação de órgãos especializados: o instituto do Açúcar
e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do Pinho, etc.
Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar de maneira satisfatória os principais
problemas econômicos da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a exportação agrícola
foi diversificada, a dívida externa foi congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de ferro e
carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi consolidada.
Com essas medidas, as elites enriqueceram, a classe média melhorou seu padrão de vida e o
operariado ganhou a proteção que lutou por anos para conseguir. Dessa forma, mesmo com a repressão
e perseguição política em seu regime, Vargas atingiu altos níveis de popularidade.
No período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado objetivava racionalizar e incentivar atividades
econômicas já existentes no Brasil. A partir de 1940, com a instalação de grandes empresas estatais, o
Estado alterou seu papel passando a ser um dos principais investidores do setor industrial.
Os investimentos estatais concentravam-se na indústria pesada, principalmente a siderurgia química,
mecânica pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia hidroelétrica. Esses eram setores
que exigiam grandes investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o que não despertou o
interesse da burguesia brasileira.
Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o investimento do capital estrangeiro ou o
investimento estatal. O segundo foi o escolhido. A iniciativa teve êxito graças a um pequeno número de
empresários e também do exército, que associava a indústria de base com a produção de armamentos,
entendendo-a como assunto de segurança nacional.
A maior participação do Estado na economia gerou a formação de novos órgãos oficiais de
coordenação e planejamento econômico, destacando-se:
CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938)
CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica (1939)
CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942)
CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (1944)
CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944)

As principais empresas estatais criadas no período foram:


CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940)
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942)
CNA – Companhia Nacional de Álcalis (1943)
FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943)
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945)

Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento industrial ocasionado pela Segunda Guerra
Mundial devido à dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima, quando o Estado Novo se
encerrou em 1945, a indústria brasileira estava plenamente consolidada.

Características Políticas do Estado Novo


Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista possuía uma constituição, que é uma
característica das ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder absoluto do ditador.
A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada por Francisco Campos, o mesmo responsável
por criar o AI-1 (Ato Institucional) em 1964, que deu origem à ditadura militar no Brasil. A constituição
“Polaca” era extremamente autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao governo.
Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou da seguinte maneira:
- O poder político concentrava-se todo nas mãos do presidente da república;
- O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas;
- O sistema judiciário ficou subordinado ao poder executivo;
- Os Estados eram governados por interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez,
nomeavam os prefeitos municipais;
- A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram total liberdade de ação, prendendo,
torturando e assassinando qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;

215
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente usada pelo governo, por meio do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Os partidos políticos foram fechados (até mesmo o Partido Integralista que mudou seu nome para
Associação Brasileira de Cultura.). Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de governo que fracassou
em poucas horas. Seus principais líderes foram presos, inclusive Plínio Salgado, que foi exilado para
Portugal.
Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era
incansável tanto na censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores da sociedade –
operários, estudantes, classe média, crianças e militares – abrangendo assuntos tão diversos quanto
siderurgia, carnaval e futebol.
Procurava-se assim, formar uma ideologia estadonovista que fosse aceita pelas diversas camadas
sociais e grupos profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo das gigantescas
manifestações operárias, particularmente no dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além de
comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem a Vargas, apelidado de “o pai dos
pobres”82.

Leis trabalhistas no Governo de Getúlio Vargas


As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem de Estado disciplinando ao mercado de
trabalho em benefício dos assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter controlador do
Estado sobre os movimentos operários.
O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era muito interessante, temperado pelos famosos
discursos do governante nos quais sempre começavam pela frase “trabalhadores do Brasil...”. Utilizando
um modelo de política populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança operária que tentasse
uma atuação autônoma em relação ao governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado,
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado.
Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de propaganda, repressão e concessões, Getúlio
obteve um amplo apoio das camadas populares.

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entrou em vigor em 1943, durante a típica comemoração
do 1º de maio. Entre seus principais pontos estão:
- Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias.
- Descanso de um dia semanal, remunerado.
- Regulamentação do trabalho e salário de menores.
- Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário.
- Direito a férias anuais.
- Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na carteira do trabalhador.

As deliberações da CLT priorizaram em 1943 as relações do trabalhador urbano, praticamente


ignorando o trabalhador rural que ainda representava uma grande parcela da população. Segundo dados
do IBGE, em 1940 aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona rural.
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas trabalhistas específicas, nem com políticas que
facilitassem o acesso à terra e à propriedade.
Para organizar os trabalhadores rurais, a partir da década de 1950 surgiram movimentos sociais como
as Ligas Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, até o mais estruturado
destes movimentos, o MST (Movimento dos Trabalhadores dos Trabalhadores Rurais Sem Terra),
nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral da Terra, em 1985, no Paraná.
Enquanto isso, a PE continuava agindo: prendia pessoas, sendo que a maioria jamais foi julgada,
ficando apenas presas e sendo torturadas durante anos a fio.
Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para investigar as barbaridades cometidas pela
polícia durante o período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos
Delituosos da Ditadura”. Mas os levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram quase sempre
abafados, fazendo-se o possível para que caíssem no esquecimento, por duas razões:

1 - A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam na polícia depois que a PE havia sido extinta,
sendo apenas transferidos para outros órgãos e funções;

82 Referência: < http://pessoal.educacional.com.br/up/50240001/1411397/12_TERC_7_HIST_265a326%20(1)-%20AULA%2075.pdf>

216
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
2 - Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira,
chegando a ocupar postos importantes na administração e na política.

Também era comum durante o período a espionagem feita por militares e civis, que eram conhecidos
como “invisíveis”. Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou fazer uma espionagem
generalizada em escolas, universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte público, cinemas, locais
de lazer, unidades militares e repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos pessoais com
informações minuciosas sobre as pessoas, que seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do
Estado Novo, na Ditadura Militar.

Fim do Estado Novo


O início da Segunda Guerra Mundial em 1939, possibilitou algumas variações ao Brasil.
Permitiu ao governo de Vargas neutralidade para negociar tanto com os Aliados (Estados Unidos,
Inglaterra, Rússia...) como com o Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Conseguiu financiamento dos Estados
Unidos para a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, a compra de armamentos alemães e
fornecimento de material bélico norte-americano.
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o desenrolar do conflito para determinar apoio ao
provável vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos sobre quem apoiar:
Oswaldo Aranha, que era ministro das Relações Exteriores era favorável aos Estados Unidos,
enquanto os generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao nazismo. Com a entrada dos
Estados Unidos na guerra em 1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros, o país
entra em guerra ao lado dos aliados em agosto de 1942.
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália,
marcando a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a Segunda Guerra Mundial teve um efeito
na política brasileira. Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não aceitavam voltar para
casa e viver em um regime autoritário.
O sentimento de revolta cresceu na população e muitas manifestações em prol da redemocratização
foram realizadas, mesmo com a forte repressão da polícia. Pressionado pelas reivindicações, em 1945
Vargas assinou um Ato Adicional que marcava eleições para o final daquele ano.
Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática nacional), PSD (Partido Social
Democrático), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi legalizado,
além de outros menores.
Apesar dos protestos para o fim do Estado Novo, muitas pessoas queriam que a redemocratização
ocorresse com a continuação de Getúlio no poder. Daí vem o movimento conhecido como “Queremismo”,
que vem do slogan “Queremos Getúlio”.

Questões

01. (MPE/GO – Secretário auxiliar – MPE/2017) Sobre o Estado Novo de Getúlio Vargas, é incorreto
afirmar:
(A) que foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe
comunista no Brasil.
(B) que tomado por uma orientação socialista, o governo preocupava-se em obter o favor dos
trabalhadores por meio de concessões e leis de amparo ao trabalhador.
(C) financiava o amplo desenvolvimento do setor industrial brasileiro, ao realizar uma política de
industrialização por substituição de importações e com criação das indústrias de base.
(D) para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Campos redigiu uma nova Constituição
inspirada nas constituições fascistas italiana e polonesa.
(E) adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde foram criados mecanismos de controle e vias
de negociação política responsáveis pelo surgimento de uma ampla frente de apoio a Getúlio Vargas.

02. (IPEM/RO – Agente de Atividades Administrativas – FUNCAB) O processo histórico da


formação do estado de Rondônia possui muitos capítulos importantes, com diferentes atores. Um dos
marcos nesse processo foi a criação do Território Federal do Guaporé por meio do Decreto-Lei nº 5.812,
de 13 de setembro de 1943. O Presidente da República que assinou o referido documento foi:
(A) Getúlio Vargas.
(B) Gaspar Dutra.
(C) Juscelino Kubitschek.

217
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) Jânio Quadros.
(E) João Goulart.

03. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) Em 1945 chega ao fim o Estado Novo implantado
pelo presidente Getúlio Vargas. Entre as causas tivemos a(s)
(A) Revolução de 1945 realizada pelos sindicatos e apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro daquela
época.
(B) Atuação do movimento estudantil, liderado pela UNE, que assumiu o poder apoiando o partido da
União Democrática Nacional.
(C) Pressões norte-americanas obrigando Getúlio Vargas a extinguir o Estado Novo e tornar o país
uma democracia.
(D) Adesão de Getúlio ao Fascismo, propiciando que ele implante no Brasil um regime semelhante
após 1945.
(E) Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado das democracias, criando uma situação interna
contraditória, pois o país vivia, até aquele ano, uma ditadura.

Gabarito

01.B / 02.A / 03.E

Comentários

01. Resposta: B
Getúlio nunca escondeu sua simpatia pelo regime Fascista, e não pelo socialista. Seu governo teve
forte caráter populista, o que não deve ser confundido como um regime de cunho socialista. Vale lembrar
que apesar de sua simpatia pelos regimes fascistas, no período da Segunda Guerra, o Brasil ficou do
lado dos Aliados.

02. Resposta: A
Questão simples que não necessita de conhecimentos regionais (RO) para encontrar a questão
correta. É necessário apenas lembrar que durante do período de 1930 a 1945 Getúlio Vargas esteve no
poder. Em caráter provisório (1930-1934), em caráter legal (1934-1937) e em caráter inconstitucional
(1938 – 1945).

03. Resposta: E
O fato de o Brasil enviar seus soldados para lutar pelos estados que representavam a democracia na
2ª Guerra Mundial criou uma situação contraditória no país. Defendíamos a democracia lá fora e vivíamos
em uma ditadura aqui dentro. A mobilização popular contra essa situação ganhou força de modo que
Getúlio desistiu de seu governo permitindo eleições livres.

China: revoluções comunista e cultural;

CHINA
Revolução Chinesa83
A China entrou no século XX sob o estigma da humilhação nacional. Parte do seu território, inclusive
de sua capital estava ocupada por oito potências estrangeiras – Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha,
França, Rússia czarista, Japão, Itália e Áustria.
Em 1900, a rebelião dos Boxers foi cruelmente sufocada por uma coligação militar dos países europeus
sob o comando do exército alemão.
O domínio estrangeiro sobre a China e a incapacidade de resistência da monarquia manchu, fizeram
com que a dinastia Qing caísse no descrédito da população. O movimento republicano foi liderado por
Sun Yat-sen, que fundou em 1894 a “União pelo Renascimento da China”. O movimento ganhou força e
a República foi proclamada em 1911. Mas Sun Yat-sen, representante da nascente burguesia chinesa
em aliança com a pequena-burguesia urbana, ainda sumamente débeis – não conseguiu manter-se no

83 Adaptado de Raul Carrion

218
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
poder e foi obrigado a renunciar, sendo substituído pelo despótico general Yuan Shikai. Esse governo fez
concessões ainda maiores aos estrangeiros e a China mergulhou na anarquia, dilacerada pela luta entre
os diferentes “senhores da guerra” (que eram detentores do poder nas províncias).
A “União pelo Renascimento da China” deu origem, em 1912 ao “Partido Nacional do Povo”
(Guomindang), tendo como líder civil Sun Yat-sen e como dirigente militar o jovem general Chiang Kai-
shek. A Revolução Russa, em 1917, influenciou e impulsionou os nacionalistas chineses.
Em 1919, grandes manifestações estudantis contra a dominação estrangeira e contra o governo
sacudiram a China, congregando intelectuais, artesãos e trabalhadores, o que deu um novo impulso à
luta anti-imperialista. Em julho de 1921, em Shangai, foi fundado o Partido Comunista da China
(Kungchantang), tendo a sua frente, entre outros, Mao Zedong.
Sun Yat-sen formulou, nessa época, a sua doutrina das Três Políticas: “colaboração com a URSS,
colaboração com o PC da China e apoio aos operários e camponeses”. Em 1923, é assinado o “Pacto
Yoffe-Sun Yat-sen”, através do qual os soviéticos passaram a proporcionar assistência administrativa e
militar ao Guomindang.

A Primeira Guerra Civil Revolucionária (1924-1927)


Entre 1924 e 1927, varre a toda a China uma nova vaga revolucionária – conhecida como “a grande
Revolução” –, tendo por esteio a Frente Única entre o Guomindang e o Partido Comunista da China.
Em março de 1925, falece Sun Yat-sen, amigo sincero da URSS e defensor da aliança com o Partido
Comunista. À medida que o tempo passava e a luta avançava, crescia no seio do Guomindang a ala
anticomunista, liderada pelo Jiang Jieshi. Mas, a “Expedição do Norte” contra os caudilhos militares do
norte – apoiados pelas potências imperialistas e muito bem armados – necessitava do apoio da URSS e
do PC da China, o que neutralizou temporariamente as atitudes anticomunistas.
A aproximação do “Exército Nacional Revolucionário” das cidades de Shangai, Cantão e Wuhan
estimulou insurreições operárias que, dirigidas pelos comunistas, ocuparam esses grandes centros
urbanos.
Preocupado com o crescimento e o fortalecimento dos comunistas, Chiang Kai-shek rompeu, em abril
de 1927, a Frente Única com o PC da China e iniciou uma feroz repressão aos seus militantes. Só em
1927, foram mortos 40 mil comunistas, sendo que 13 mil foram executados posteriormente. Assim, a
“primeira guerra civil revolucionária” terminou com a derrota das forças revolucionárias.
Batidos, os comunistas refugiaram-se em áreas do interior, para fugir ao massacre, e iniciaram uma
das mais longas guerras civis dos tempos modernos, que só terminaria 22 anos depois, em 1949, com a
vitória da Revolução Chinesa, dirigida por Mao Zedong.

A Segunda Guerra Civil Revolucionária (1927-1937)


Em 1º de agosto de 1927, sob a liderança de Zhu De e Zhou Enlai, ocorreu o levante de dois corpos
do antigo Exército Nacional Revolucionário de Nanchang, onde encontravam-se mais de 20 mil soldados
controlados ou influenciados pelos comunistas. Esse levante foi seguido de outros, como o da Colheita
de Outono, em Hunan, dirigido por Mao Zedong. Em um primeiro momento a estratégia dos comunistas
foi a de tomar grandes cidades, o que logo revelou-se inadequado, levando-os a derrotas.
A partir de então, sob a direção de Mao Zedong, os comunistas chineses orientaram-se no sentido de
organizar bases de apoio no campo e desenvolver a luta de guerrilhas. Em abril de 1928 formou-se o “4º
Corpo do Exército Vermelho de Operários e Camponeses”, que passou a combater nas montanhas de
Jing Gang, na província de Jiangxi, tendo por Comissário Político Mao Zedong e por Chefe Militar Zhu
De.
Beneficiando-se das condições topográficas favoráveis – “região fácil de defender e difícil de atacar” –
logo as bases de apoio se multiplicaram, principalmente nas províncias de Tzian-Si, Fu-Tzian, Hunan,
Hubei, Huan-si e outras, situadas na China central e meridional.
A medida que as áreas liberadas se consolidavam, o poder passava às mãos de Conselhos (Soviets)
de operários e camponeses, que confiscavam as terras aos latifundiários e as entregavam aos
camponeses pobres. Da mesma forma, as empresas dos capitalistas estrangeiros eram confiscadas; já
os capitalistas chineses podiam manter as suas empresas e eram apoiados pelo novo poder.
Em dezembro de 1931, na cidade de Chzhui-Tzin, reuniu-se o “Primeiro Congresso dos Soviets”,
estando representadas nele todas as bases revolucionárias da China. Esse congresso elegeu um governo
central operário-camponês das regiões libertadas, tendo à sua frente Mao Zedong.
Entre 1930 e 1932, Chiang Kai-shek organizou quatro campanhas militares contra as regiões
libertadas, mas não conseguiu destruí-las. Em setembro de 1931, o Japão invadiu o nordeste da China
(Manchúria), sem maior resistência do Governo de Nanquim, mais preocupado em combater os

219
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
comunistas. Em 1932, foi constituído, no território ocupado pelos japoneses, o estado títere de Man-
chuko, governado por Pu Yu, último imperador da dinastia manchu.
Frente aos apelos dos comunistas para a constituição de uma grande frente única para combater os
japoneses, Jiang Jieshi respondeu com sua quinta campanha contra as bases revolucionárias, lançando
sobre elas, em outubro de 1933, um exército de um milhão de soldados. Erros “esquerdistas” na condução
da luta (sob influência de Wan Min, que abandonou a tática de guerrilhas e passou à ofensiva contra as
grandes cidades e à defesa a qualquer preço dos territórios), somados à grande superioridade numérica
das forças de Jiang Jieshi (as forças revolucionárias totalizavam em torno de 100 mil combatentes),
forçaram o abandono das bases revolucionárias da China Central e Meridional e deram origem a “Grande
Marcha”.
Em outubro de 1934, o Exército Vermelho conseguiu romper o cerco e iniciou uma grande retirada em
direção ao noroeste da China, que durou um ano. Em meio a encarniçadas batalhas e sofrendo graves
perdas, as unidades remanescentes do Exército Vermelho cruzaram onze províncias, percorrendo um
trajeto de doze mil quilômetros. Apenas dez mil dos noventa mil guerrilheiros que iniciaram a “Grande
Marcha” chegaram, em fins de 1935, à província de Shensi-Kansu, que se converteu na principal base
dos revolucionários, tendo por capital Yenan.
Nesse processo, Wan Min e a sua política aventureira foram derrotados na direção do PC da China e
Mao Zedong e a sua política tornaram-se hegemônicos no partido.

A Guerra de Libertação contra o Japão (1937/1945) e a Terceira Guerra Civil Revolucionária


Em julho de 1937, as tropas japonesas iniciaram uma ofensiva no norte da China visando a ocupação
de todo o país. Em pouco tempo, tomaram Beijing, Nanjing, Tien-Tsin, Shangai e outras importantes
cidades da China. Sob forte pressão, inclusive de seus generais, Chiang Kai-shek viu-se obrigado a
aceitar a Frente Única proposta pelos comunistas para enfrentar o Japão.
Na prática, porém, as tropas do Guomindang pouco faziam contra os japoneses, que apoderaram-se
de todas as províncias do litoral chinês e de todos seus centros econômicos e políticos. Quem de fato
enfrentava as tropas japonesas eram o Quarto e o Oitavo Exércitos Vermelhos, secundados pelos
movimentos guerrilheiros que se multiplicavam na retaguarda do inimigo. As vitórias da URSS contra as
tropas japonesas no Lago Hasán (1938) e junto ao Rio Jaljin-Gol (1939) também favoreceram muito a
luta das forças patrióticas chinesas.
Em 1940, as regiões libertadas pelos comunistas já abrangiam um território com uma população de
100 milhões de habitantes e as fileiras das unidades regulares do Exército Popular Libertador contavam
com mais de meio milhão de combatentes. Em 1941 e 1942, os japoneses lançaram suas principais forças
contra as regiões libertadas e contra o Exército Popular Libertador da China, mas sem conseguir vencê-
lo. Enquanto isso, a resistência do Guomindang havia-se desfeito totalmente e Jiang Jieshi colaborava
abertamente com os japoneses.
Em agosto de 1945, o exército soviético passou à ofensiva na Manchúria, destruindo as principais
forças do exército japonês. O “Exército Popular Libertador da China” aproveitou as circunstâncias para
lançar uma grande ofensiva, libertando 150 cidades e novos territórios na China Central e do Norte,
aproximando-se de Beijing, Nanquim e Changai. Preocupados com o avanço das tropas revolucionárias,
os Estados Unidos desembarcaram um exército de mais de cem mil homens em várias regiões da China
e, junto com as forças do Guomindang, ocuparam Beijing, Shangai e Nanquim.
Derrotados os japoneses, os comunistas propuseram a retirada de todas tropas estrangeiras da China
e a formação de um governo de coalizão, com a participação de todos os partidos políticos.
Mas, em julho de 1946, depois de uma trégua de sete meses, os exércitos do Guomindang iniciaram
seu ataque ao “Exército Popular Libertador”, no norte e no centro do país. Eram quatro milhões e trezentos
mil homens do Guomindang – abastecidos pelos Estados Unidos com o que havia de mais moderno em
armamentos – contra um milhão e duzentos mil homens das forças revolucionárias, precariamente
armados.
Aplicando amplamente a tática de guerrilhas, em combinação com tropas regulares, o “Exército
Libertador” resistiu aos ataques de Chiang Kai-shek e em julho de 1947 passou à contraofensiva em
escala nacional. Em pouco mais de dois anos, o “Exército Popular” libertou toda China Central e
Setentrional e penetrou no Sudoeste, tomando Nanquim, Shangai, Hanchou e outras importantes cidades.
Nesses três anos de luta, o “Exército Popular de Libertação” chegou a contar com mais de cinco
milhões de combatentes, enquanto o exército do Guomindang se reduziu a um milhão.
Em 23 de abril de 1949, os revolucionários tomaram Nanquim, sede do governo do Guomindang. No
dia 1º de outubro de 1949, foi proclamada em Beijing a República Popular da China. Jiang Jieshi e seus
aliados fugiram para a ilha de Taiwan (Formosa), sob a proteção da esquadra e do exército norte-
americano.

220
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Questões

01. (FGV/SP) A Grande Marcha empreendida nos anos 30 por Mao Tsé-tung e seus seguidores foi:
(A) uma fuga dos contingentes comunistas que estavam sendo perseguidos pelas tropas do
Kuomitang.
(B) uma fuga dos seguidores de Mao perseguidos pelas tropas japonesas que invadiram a Manchúria.
(C) uma tentativa das tropas comunistas de cortar as linhas de abastecimento das tropas nacionalistas.
(D) uma tentativa das tropas de Mao de cercar as tropas japonesas que haviam invadido a Manchúria
e o norte da China.
(E) a marcha empreendida pelos comunistas sobre Nankim para derrotar as tropas do Kuomitang.

Gabarito

01.A

Comentários

01. Resposta: A
A fuga dos membros do Partido Comunista para o interior do país visava conseguir apoio camponês
para enfrentar as tropas nacionalistas do Kuomitang, que estavam no poder e perseguiam Mao e seus
seguidores.

Guerra Fria, Guerra da Coréia;

BIPOLARIZAÇÃO DO MUNDO E GUERRA FRIA

Guerra Fria
O período conhecido como Guerra Fria teve início logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em
1945, percorrendo praticamente todo o restante do século XX, e terminando em 1991, com o fim da União
Soviética.
Ela tem início partir da emergência de duas grandes potências econômicas no fim da Segunda Guerra
Mundial: Estados Unidos e União Soviética, defensores do Capitalismo e do Socialismo,
respectivamente.
A diferença ideológica entre os dois países era marcante, o que levou o período a ser conhecido
também como Mundo Bipolar.

A Conferência de Potsdam
Logo após o término da guerra, em 1945, as nações vencedoras do conflito reuniram-se para decidir
sobre os rumos da política e da economia mundial.
No dia 17 de julho os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido estabeleceram as definições
sobre a Alemanha no pós-guerra, dividindo-a em zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os
territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental,
também foi dividida em quatro setores. Ao final da conferencia foram definidas quatro ações prioritárias a
serem exercidas na Alemanha: desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os
alemães para a democracia. Também foi exigida a rendição imediata do Japão.

As Tensões Começam
Desde a Revolução Russa, em 1917, vários setores do capitalismo, especialmente nos Estados
Unidos, temiam o aumento do socialismo, conflitante com seus interesses. Após o fim da Segunda Guerra
essa preocupação aumentou ainda mais, já que a União Soviética havia saído como uma das vencedoras
do conflito.
A definição de fronteiras estabelecidas durante acordos anteriores, como a conferencia de Yalta não
agradou a todos, e focos de conflitos começaram a aflorar. Em 1947 surgiram, tanto na Grécia quanto na
Turquia, movimentos revolucionários de caráter comunista, com o objetivo de aliar esses países à União
Soviética. Pelo acordo estabelecido na Conferência de Yalta, ambos os países deveriam ficar sob o

221
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
domínio do Reino Unido, o que levou as tropas estadunidenses a intervirem na região e sufocar os
movimentos revolucionários.
Como parte da justificativa para a invasão, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, enviou
uma mensagem ao Congresso dizendo que os Estados Unidos deveriam apoiar os países livres que
estavam “resistindo a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas.” Com
esse discurso o presidente pretendia justificar também qualquer intervenção em países que estivessem
sob o domínio ou influência política comunista.
Essa atitude do presidente ficou conhecida como Doutrina Truman, iniciando efetivamente a Guerra
Fria. A partir de então, Estados Unidos e União Soviética passaram a buscar o fortalecimento econômico,
político, ideológico e militar, formando os dois blocos econômicos que dominaram o mundo durante
restante do conflito.
A oposição dos Estados Unidos ao comunismo gerou um pensamento maniqueísta, colocando
capitalismo como algo bom e o comunismo como algo ruim e mau. A análise desses sistemas econômicos
através de definições tão simples é algo equivocado, pois não é possível reduzi-los a uma comparação
tão rasa. O auge desse maniqueísmo político se deu através da figura do senador Joseph Raymond
McCarthy. Por meio de discursos inflamados e diversos projetos de lei, esse estadista conseguiu aprovar
a formação de comitês e leis que determinavam o controle e a imposição de penalidades contra aqueles
que tivessem algum envolvimento com “atividades antiamericanas”. Essa perseguição ao comunistas
ficou conhecida como Macarthismo.

Incentivos Econômicos
Em 1947 os Estados Unidos lançaram uma política econômica de reconstrução da Europa, devastada
pela guerra. O Programa de Recuperação Europeia ficou popularmente conhecido como Plano
Marshall. Recebeu esse nome em função do Secretário de Estado dos Estados Unidos chamado
George Marshall, seu idealizador.
Entre os objetivos do Plano Marshall estavam:
- Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial;
- Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os
Estados Unidos, principalmente através das relações comerciais;
- Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu.

Até o início da década de 1950, os Estados Unidos destinaram cerca de 13 bilhões de dólares aos
países que aderiram ao plano. O dinheiro foi aplicado em assistência técnica e econômica e, ao fim do
período de investimento, os países participantes viram suas economias crescerem muito mais do que os
índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial. A Europa Ocidental gozou de prosperidade e
crescimento nas duas décadas seguintes e viu nascer a integração que hoje a caracteriza. Por outro lado,
os Estados Unidos solidificavam sua hegemonia mundial e a influência sobre vários países europeus,
enquanto impunha seus princípios a vários países de outros continentes. Entre os países que mais
receberam auxílio do plano estão a França, a Inglaterra e a Alemanha.
A União Soviética também buscou recuperar a economia dos países participantes do bloco socialista,
através da COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua) auxiliando a Polônia, Bulgária,
Hungria, Romênia, Mongólia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental. Assim como os Estados Unidos, a
União Soviética também utilizou o plano para espalhar sua influência e sua ideologia para os países
beneficiados.
Baseados nesses programas de ajuda, os dois blocos que se formavam passaram a construir alianças
político-militares com o objetivo de proteção contra ataques inimigos. Essas alianças também eram
utilizadas como demonstração de força através do desenvolvimento armamentista.

As Alianças Militares
No dia 4 de abril de 1949 foi criada em Washington a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), formada pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha Ocidental, Canadá, Islândia,
Bélgica, Holanda, Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Portugal, Itália, Grécia e Turquia. Ficava então
estabelecido que os países envolvidos se comprometiam na colaboração militar mútua em caso de
ataques oriundos dos países referentes ao bloco socialista.
A atuação da OTAN não ficou restrita apenas ao campo militar. Embora fosse seu preceito inicial, a
organização tomou dimensões de interferência nas relações econômicas e comerciais dos países
envolvidos.

222
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Bandeira da OTAN

Como resposta à criação da OTAN, em 1955 o bloco soviético também criou uma aliança militar, o
Pacto de Varsóvia, celebrado entre a União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria,
Polônia, Romênia e Alemanha Oriental.
A atuação do Pacto de Varsóvia se deu no âmbito militar e no econômico, e manteve a ligação entre
os países membros. As principais ações do Pacto de Varsóvia se deram na repressão das revoltas
internas. Foi o caso no ano de 1956 quando as forças militares do grupo reprimiram ações de revoltosos
na Hungria e na Polônia e também em 1968 no evento conhecido como Primavera de Praga, ocorrido na
Tchecoslováquia.

Conflitos
Com a criação das alianças políticas, tanto Estados Unidos como União Soviética estiveram presentes
em diversos conflitos pelo mundo, fosse com a presença militar ou com o apoio econômico. Apesar disso,
os países nunca enfrentaram um ao outro diretamente.

Guerra da Coréia (1950-1953)


Após o termino da Segunda Guerra, a Coréia foi dividida em duas zonas de influência: o Sul foi
ocupado pelos Estados Unidos e o Norte foi ocupado pela União Soviética, sendo divididos pelo Paralelo
38º, determinado pela conferência de Potsdam
Em 1947, na tentativa de unificar a Coréia, a Organização das Nações Unidas – ONU - cria um grupo
não autorizado pela URSS, para pretensamente ordenar a nação através da realização de eleições em
todo o país. Esta iniciativa não tem êxito e, no dia 9 de setembro de 1948, a zona soviética anuncia sua
independência como República Democrática Popular da Coréia, mais conhecida como Coréia do
Norte. A partir de então, a região é dividida em dois países diferentes - o norte socialista, apoiado pelos
soviéticos; e o sul, reconhecido e patrocinado pelos EUA.
Mesmo após a divisão entre os dois países, a região da fronteira continuou gerando tensões, com
tentativas dos dois lados para garantir a soberania sobre o território vizinho, principalmente através da
propaganda, de ambos os lados.
Em 25 de junho de 1950 a Coreia do Norte alegou uma transgressão do paralelo 38º pela Coreia do
Sul. A partir de então começa uma invasão que resulta na tomada da capital sul-coreana, Seul, em 3 de
julho do mesmo ano.
A ONU não aceitou a invasão propagada pela Coreia do Norte e enviou tropas para conter o avanço,
comandadas pelo general americano Douglas MacArthur, para expulsar os socialistas, que pretendiam
unificar o país sob a bandeira do Comunismo. A união Soviética não agiu diretamente no conflito, porém,
cedeu apoio militar para a Coreia do Norte.
Em setembro de 1950, as forças das Nações Unidas tentam resgatar o litoral da região oeste, sob o
domínio dos norte-coreanos, atingindo sem muitas dificuldades Inchon, próximo a Seul, onde se
desenrola uma das principais batalhas, e depois de poucas horas elas ingressam na cidade invadida, com
cerca de cento e quarenta mil soldados, contra setenta mil soldados da Coréia do Norte. O resultado é
inevitável, vencem as forças sob o comando dos EUA. Com o domínio do Sul, as tropas multinacionais
seguem o exemplo dos norte-coreanos e também atravessam o Paralelo 38º. Seguem então na direção
da Coréia do Norte, entrando logo depois em sua capital, Pyongyang, ameaçando a fronteira chinesa ao
acuar os norte-coreanos no Rio Yalu, sede de intensa batalha.
Com medo do avanço das tropas sobre seu território, a China resolve entrar na batalha, enviando
trezentos mil soldados para auxiliar a Coreia do Norte, forçando o general MacArthur a recuar e
conquistando Seul em janeiro de 1951. Em contrapartida, as tropas americanas avançaram novamente
entre fevereiro e março, expulsando as tropas coreanas e chinesas e obrigando-as a retornar para os
limites estabelecidos pelo Paralelo 38º, deixando os conflitos equilibrados entre os dois lados. A guerra
continua até meados de 1953, quando em 27 de julho o tratado de paz é assinado, com o Armistício de
Panmunjon. Após o tratado, as fronteiras estabelecidas em 1948 foram mantidas e foi criada uma região

223
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
desmilitarizada entre as duas Coreias. Apesar do fim da guerra as tensões entre os dois países continua
até a atualidade, com a corrida armamentista e as declarações da Coreia do Norte sobre a fabricação e
armazenamento de armamento nuclear.

Guerra do Vietnã (1959-1975)


O Vietnã está localizado na península da Indochina. Era uma possessão colonial francesa. Na
Segunda Guerra foi invadido pelos japoneses. Os vietnamitas expulsaram o Japão ao fim da guerra e
teve início o processo independência (chamado pelos franceses de descolonização). Ao norte as tropas
que expulsaram os franceses eram tropas lideradas por líderes socialistas. Em 1954, na Convenção de
Genebra, foi reconhecida a independência dos países da península da Indochina: Laos, Camboja e
Vietnã.
Foi estabelecida então a divisão do Vietnã pelo Paralelo 17º. O Vietnã do Norte manteve-se governado
pelo líder comunista Ho Chi Minh e o Vietnã do Sul, governado pelo rei Bao Dai, que nomeou Ngo Dinh
Diem como Primeiro-ministro.
Em 1955, Ngo Dinh Diem, aplicou um golpe de Estado e depôs o rei Bao Dai. Após a chegada ao
poder, Ngo Dihn Diem proclamou a República, recebendo apoio dos Estados Unidos. O governo de Ngo
Dihn Diem foi marcado pelo autoritarismo e pela impopularidade. Em 1956 o presidente suspendeu as
eleições estabelecidas pela conferência de Genebra, repetindo o ato em 1960.
Em oposição ao governo foi criada a Frente de Libertação Nacional, que tinha como objetivo depor
o presidente e unificar o Vietnã. A Frente de Libertação, possuía um exército guerrilheiro, o Vietcongue.
Após o cancelamento das eleições em 1960, o conflito teve início. O exército Vietcongue teve apoio
do Vietnã do Norte e em 1961 os Estados Unidos enviaram auxilio ao presidente do Vietnã do Sul. O
exército guerrilheiro dominou boa parte dos territórios do Sul até 1963, mesmo ano em que morreu o
presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, e o governo foi assumido por seu vice, Lyndon Johnson.
Em 1964, dois comandantes estadunidenses iniciaram o bombardeio do Vietnã do Norte, sob a
alegação de que o país havia atacados dois navios norte-americanos em Tonquim.
Os bombardeios norte-americanos sobre o Norte prolongaram-se até 1968, quando foram suspensos
com o início das conversações de paz, em Paris, entre norte-americanos e norte-vietnamitas. Como nos
encontros de Paris não se chegou a uma solução, os combates prosseguiram. Em 1970, o presidente dos
EUA, Richard Nixon, autorizou a invasão do Camboja e, em 1971, tropas sul-vietnamitas e norte-
americanas invadiram o Laos. Os bombardeios sobre o Vietnã do Norte por aviões dos EUA recomeçaram
em 1972.
Desde 1968, a opinião pública norte-americana, perplexa diante dos horrores produzidos pela guerra,
colocava-se contrária à permanência dos EUA no conflito, exercendo uma forte pressão sobre o governo,
que iniciou a retirada gradual dos soldados. Em 1961, eram 184.300 soldados norte-americanos em
combate; em 1965, esse número se elevou para 536.100 soldados; e, em 1971, o número caía para
156.800 soldados. Em 27 de janeiro de 1973 era assinado o Acordo de Paris, segundo o qual as tropas
norte-americanas se retiravam do conflito; haveria a troca de prisioneiros de guerra e a realização de
eleições no Vietnã do Sul. Com a retirada das tropas norte-americanas, os norte-vietnamitas e o
Vietcongue deram início a urna fulminante ofensiva sobre o Sul, que resultou, em abril de 1975, na vitória
do Norte. Em 1976, o Vietnã reunificava-se, adotando o regime comunista, sob influência soviética. Em
1975, os movimentos de resistência no Laos e no Camboja também tomaram o poder, adotando o regime
comunista, sob influência chinesa no caso do Camboja. Os soldados cambojanos, com apoio vietnamita,
em 1979, derrubaram o governo pró-chinês do Khmer Vermelho.
A guerra do Vietnã é considerada o conflito mais violento da segunda metade do século XX, com
violações constantes dos direitos humanos e batalhas sangrentas. Durante todo o desenrolar da guerra,
os meios de comunicação do mundo inteiro divulgaram a violência e intensidade do conflito, além de
falarem sobre o mau desempenho dos americanos, que investiram bilhões de dólares e mesmo assim,
não conseguiram derrotar o Vietnã. Foi nesta guerra que os helicópteros foram usados pela primeira vez.
Entre as técnicas mais devastadoras utilizadas pelos Estados Unidos estavam o Agente Laranja e o
Napalm.
A característica de guerrilha do exército Vietcongue priorizava os ataques através de emboscadas,
evitando o combate direto. Para facilitar a identificação dos guerrilheiros nas matas, os norte-americanos
e sul-vietnamitas utilizaram o Agente Laranja, um desfolhante (produto químico que causa a queda das
folhas, normalmente utilizado como agrotóxico) lançando-o através de aviões, o que impedia que os
soldados se escondessem na mata. Calcula-se que tenham sido lançados 45,6 milhões de litros do
produto durante os anos 60, atingindo vinte e seis mil aldeias e cobrindo dez por cento do território do
Vietnã. O Agente Laranja causa sérios danos ao meio ambiente e à população, e seus efeitos, como
degradação do solo e mutações genéticas são sentidos até hoje.

224
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Outro agente químico utilizado na guerra, foi o Napalm, que é um conjunto de líquidos inflamáveis à
base de gasolina gelificada, tendo o nome vindo de seus componentes: sais de alumínio co-precipitados
dos ácidos nafténico e palmítico.
O napalm foi usado em lança-chamas e bombas incendiárias pelos Estados Unidos, vitimando alvos
militares e cidades e vilarejos de civis posteriormente.

Conflitos Árabes-Israelenses (1948-1974)


Desde a criação de Israel, em 1948, por diversas ocasiões o estado judeu entrou em guerra com seus
vizinhos árabes. As diferenças entre esses grupos continuam no século XXI.
A parte do Oriente Médio conhecida como Palestina era a antiga terra do povo judeu. No século I d.C.,
os romanos expulsaram grande parte dos judeus da região, espalhando-os por outras partes do império.
Os muçulmanos tomaram posse da Palestina no século VII. De 1923 a 1948, a região foi dominada pelos
britânicos, e nesse período muitos judeus emigraram de volta da Europa para lá. Tanto os árabes como
os judeus que viviam na Palestina passaram a disputar o controle do território.
Quando os britânicos deixaram a região, as Nações Unidas (ONU) dividiram a região. Cada um dos
dois povos recebeu uma parte da terra, mas os árabes não concordaram com a partilha, dizendo que os
judeus receberam terras que pertenciam a eles.
Em 14 de maio de 1948, com a criação de Israel, os palestinos e os países árabes vizinhos declararam
guerra a Israel. Forças árabes ocuparam partes da Palestina, mas quando acabou a guerra Israel ficou
com mais terras do que tinha antes.
Em janeiro de 1949, Israel e os países árabes assinaram acordos sobre as fronteiras. Contudo, não
houve um tratado de paz. Os inúmeros palestinos que perderam suas casas foram acabar em campos de
refugiados nos países árabes.
Em meados de 1967, o conflito entre a Síria e Israel levou à Guerra dos Seis Dias. Israel viu que o
Egito estava se preparando para entrar na guerra para ajudar a Síria. Em 5 de junho, os israelenses
atacaram rapidamente a força aérea egípcia e destruíram-na quase por completo. Em apenas seis dias
Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a península do Sinai, a Faixa de Gaza, o território da Jordânia
a oeste do rio Jordão (chamado Cisjordânia) e as colinas sírias de Golã, junto à fronteira de Israel.
Em 6 de outubro de 1973, dia do Yom Kippur (ou Dia do Perdão), que é sagrado para os judeus, e
época do ramadã, mês sagrado para os palestinos, o Egito e a Síria atacaram Israel. Nessa guerra, os
israelenses empurraram ambos os exércitos inimigos de volta a seus territórios, mas sofreram pesadas
perdas. Ao terminar a luta, no início de 1974, a ONU estabeleceu zonas neutras entre esses países e
Israel.
Em 26 de março de 1979, Israel e o Egito assinaram um tratado de paz. Contudo, a tensão entre Israel
e as comunidades árabes continuou. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) atacou Israel
em 1982, a partir de campos de refugiados no Líbano. Em 5 de junho de 19892, Israel contraatacou e
invadiu esse país. Após meses de bombaredeios israeleses, foi negociada a retirada da OLP da capital
libanesa. As tropas israelenses permaneceram ali até 2000.
No final da década de 1970, os israelenses começaram a construir assentamentos nas áreas ocupadas
por eles na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em 1987, o aumento no número desses assentamentos
causou protestos dos palestinos. Estouraram rebeliões e ataques — conhecidos como intifada —, que
continuaram até o início dos anos 1990. Em 1993, Israel concordou em ceder aos palestinos parte do
controle dos territórios ocupados. Em 2000, porém, começou nova intifada. Isso paralisou as
conversações de paz entre Israel e os palestinos.

A Questão Alemã e o Muro de Berlim


Após a divisão alemã entre os vencedores da Segunda Guerra, os países capitalistas (Estados Unidos,
França e Inglaterra) resolveram unificar suas zonas de ocupação e implantar uma reforma monetária,
além de criar um Estado provisório sob seu controle. Para empresários e autônomos, a reforma era algo
extremamente favorável.
Com medo de que a população do lado oriental migrasse para a zona de domínio ocidental, Stalin
bloqueou o lado ocidental de Berlim, deixando-o isolado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de
Ocupação Soviética, Stalin mandou interditar todas as comunicações por terra.
Vale lembrar que pela divisão de territórios em Potsdam, Berlim estava situada dentro do domínio
soviético. Porém, a cidade também foi dividida, provocando isolamento da parte Ocidental por via
terrestre.

225
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de
23 de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea
organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento.
Em 23 de maio de 1949, os aliados criaram a República Federal da Alemanha (RFA). A URSS que
ocupava a parte leste do país decidiu também por transformá-la em um país, e em outubro do mesmo
ano foi fundada a República Democrática Alemã (RDA), com capital em Berlim Oriental. A RDA era
baseada na política comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à socialização da
indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário (SED) passou
a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental.
Com a criação dos dois Estados alemães, a disputa entre EUA e URSS foi acirrada, manifestando de
maneira intensa a disputa da Guerra Fria.
Auxiliada pelo Plano Marshall, em alguns anos a Alemanha Ocidental alcançou um nível de
prosperidade econômica elevada, garantida também pela estabilidade interna e pela integração à
comunidade europeia que surgia no pós-guerra. A RFA também integrou a OTAN.
A Alemanha Oriental integrou o pacto de Varsóvia, e apesar das despesas com a guerra e com a
reconstrução do país, também alcançou desenvolvimento significativo entre os países socialistas.
Apesar do avanço, com o passar do tempo as diferenças foram acentuando-se, e muitos alemães
residentes na parte Oriental migravam para a parte ocidental, atraídos pela liberdade democrática e pelo
estilo de vida.
A situação ficou crítica no final dos anos 50, com as tentativas de unificação. A RFA não reconhecia a
RDA como um país, e exigia a integração. Por outro lado, os soviéticos exigiam a saída das tropas norte-
americanas de Berlim Ocidental.
Entre 1949 a 1961, quase 3 milhões de pessoas fugiram da Alemanha comunista para os setores
ocidentais de Berlim. Somente em julho de 1961, 30 mil pessoas escaparam. A ameaça de esvaziamento
da Alemanha Oriental levou a URSS a construir uma barreira física no meio da cidade. Na manhã de 13
de agosto de 1961, soldados começaram a construir o Muro de Berlim, demarcando a linha divisória
inicialmente com arame farpado, tanques e trincheiras. Nos meses seguintes, foi sendo erguido em
concreto armado o muro que marcaria a vida da cidade até 1989. Ao longo dos anos, a fronteira
transformou-se numa fortaleza. Como os soldados tivessem ordem de atirar para matar, muitos que
tentaram atravessar acabaram morrendo.
A divisão imposta pelo Muro de Berlim também separou muitas famílias, o que levou muitas pessoas
a tentar atravessá-lo durante os 28 anos em que manteve-se de pé. Ao longo do tempo o muro foi sendo
fortificado com paredes de concreto, alarmes, e torres de vigia, dificultando cada vez mais a fuga.

Corrida Armamentista
Apesar de não terem travado batalhas diretas, os líderes dos blocos econômicos gastaram
massivamente na pesquisa, desenvolvimento e produção de armas. Assim que um novo armamento era
apresentado por um país, o outro buscava desenvolver algo semelhante e, se possível, melhor. Essa
busca pela superioridade bélica ficou conhecida como corrida armamentista, e preocupou muitos, pois
a capacidade de destruição alcançada pelos armamentos poderia até mesmo destruir o planeta, caso
usados com força total.
O ponto de partida da corrida armamentista se deu com as bombas nucleares lançadas pelos Estados
Unidos no Japão em 1945. Em 1949 a União Soviética também possuía a tecnologia para produzir tais

226
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
bomba. A possibilidade de ataque nuclear por ambos os lados criaram a ideia de uma Hecatombe
Nuclear, que aconteceria caso um dos países atacasse o outro, desencadeando uma guerra que
terminaria por extinguir os seres humanos.
Surgiu assim um jogo político-diplomático conhecido como "o equilíbrio do terror", que se transformou
num dos elementos principais do jogo de poder entre EUA e URSS. Os dois buscavam produzir cada vez
mais armamentos de destruição em massa, como forma de ameaçar o inimigo.
A corrida armamentista implicava também uma estratégia de dominação, em que as alianças regionais
e a instalação de bases militares eram de extrema importância. Os exércitos de ambos os lados possuíam
centenas de soldados, armas convencionais, armas mortais, mísseis de todos os tipos, inclusive
nucleares que estavam permanentemente apontados para o inimigo, com objetivo de atingir o alvo a partir
de longas distâncias.
Para se ter uma noção do poder destrutivo dos armamentos, em 1960 a União Soviética produziu a
maior bomba nuclear de todos os tempos, a Tsar Bomba. Com um poder de detonação de 100 megatons
a bomba era 3 mil vezes mais poderosa que a bomba lançada sobre Hiroshima em 1945, e era capaz de
destruir tudo em um raio de 35 quilômetros da explosão.
A necessidade de posicionar-se contra o inimigo deixou o mundo muito perto da Terceira Guerra
Mundial em 1962, durante o episódio conhecido como Crise dos Mísseis de Cuba.
Em 1961 os Estados Unidos haviam instalado uma base na Turquia, com capacidade de operação de
armamentos nucleares. A atitude desagradou os soviéticos, devido à proximidade geográfica da Turquia
e da URSS. Para revidar, a União Soviética decidiu instalar uma base de misseis em Cuba, sua aliada na
América, que havia passado por uma revolução socialista em 1959, e estava localizada a
aproximadamente 200 quilômetros da costa da Flórida, ao sul dos Estados Unidos.
Desde a revolução socialista, os Estados Unidos tentavam derrubar o presidente da ilha, Fidel Castro.
Em 1961, apoiados pela CIA, agência secreta americana, um grupos de 1400 refugiados cubanos tentou
invadir a ilha pela baía dos Porcos, em um episódio desastroso que acabou com a morte de 112 pessoas
e a prisão dos restantes.
Buscando novas maneiras de depor o presidente, em 1962 os americanos sobrevoaram a ilha e
descobriram que a União Soviética estava instalando também plataformas de lançamento de armamentos
nucleares.
No dia 14 de agosto, o presidente americano, John Kennedy, anunciou para a população de seu país
sobre o risco existente com a possibilidade de um ataque altamente destrutivo, encarando o fato como
um ato de guerra. Do outro lado do Atlântico, o Primeiro Ministro soviético Nikita Kruschev alegou que a
base com os mísseis resultavam apenas de uma ação defensiva e serviriam também para impedir um
nova invasão dos Estados Unidos à Cuba.
Durante treze dias de tensão, foram realizadas diversas negociações que acabaram por resultar na
retirada dos misseis da Turquia e de Cuba.
A tentativa de superioridade não esteve limitada ao campo bélico. Durante a Guerra Fria a disputa
também foi travada fora do planeta.
Durante a Segunda Guerra, os cientistas alemães desenvolveram a tecnologia de propulsão de
foguetes, que foram utilizados para equipar as bombas V-1 e V-2. Após o termino da guerra, muitos dos
cientistas que trabalharam no projeto de construção desses artefatos foram capturados por ambos os
lados, que buscavam o domínio dessa tecnologia.
Em 4 de outubro de 1957 a União Soviética lançou na órbita terrestre o satélite Sputnik I. Poucas
semanas depois, em novembro, os soviéticos inovaram novamente e lançaram o primeiro ser vivo ao
espaço, a cadela Laika, que morreu na volta.
Como reação por parte dos Estados Unidos, em 1958 foi criada a National Aeronautics & Space
Administration, NASA, que no mesmo ano lançou ao espaço o satélite Explorer 1.
Buscando superar suas conquistas, a união Soviética saiu na frente novamente, lançando o primeiro
ser humano em órbita terrestre. Em 12 de abril de 1961, durante uma hora e quarenta e oito minutos, o
cosmonauta Iuri Gagarin percorreu 40 mil quilômetros ao redor da terra, a bordo da capsula espacial
Vostok 1. Os Estados Unidos reagiram em 1962, ao enviar o astronauta John Glenn para o espaço.
Após os lançamentos de seres humanos ao espaço, o objetivo foi enviar um ser humano para a lua.
Os Estados Unidos investiram pesadamente no programa Apollo, que em 1968 enviou a primeira equipe
de astronautas para a órbita lunar e, em 1969 realizou o primeiro pouso, com os astronautas Neil
Armstrong e Edwin Aldrin.
A União Soviética não conseguiu acompanhar o passo dos Estados Unidos, e mudou seu foco para a
exploração e pesquisa do ambiente espacial e da gravidade zero com a estação espacial Salyut, lançada
em 19 de abril de 1971. Em resposta, os americanos lançaram, em maio de 1973, a Skylab. Em 1986, a
URSS lançou a Mir, que já foi destruída.

227
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Durante a Guerra Fria, importantes projetos espaciais foram realizados. A sonda americana Voyager
1, lançada em 1977, foi a Júpiter e a Saturno e a Voyager 2, lançada no mesmo ano, visitou Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. As duas sondas encontram-se agora fora do sistema solar. O Telescópio
Espacial Hubble, a nave Galileu, a Estação Espacial Internacional Alpha, a exploração de Marte e o Neat
(Programas de Rastreamento de Asteroides Próximos da Terra) fazem parte dessa geração.
Em 1978, a Agência Espacial Europeia entra na corrida espacial com os foguetes lançadores Ariane.
A França passa a controlar sozinha o projeto Ariane em 1984 e, atualmente, detém cerca de 50% do
mercado mundial de lançamento de satélites.

Fim da Guerra Fria


A disputa entre União Soviética e Estados Unidos durante a Guerra Fria sofreu uma desaceleração
entre o fim dos anos 1970 e início de 1980. Durante esse período a União Soviética passou a enfrentar
crises internas nos setores políticos e econômicos. O gasto com armamentos e pesquisas espaciais para
equiparar-se aos Estados Unidos foi enorme, e os dois países buscam firmar acordos para reduzir o poder
bélico, e finalmente alcançar uma trégua.
Internamente, o país passava por crises de abastecimento e revoltas sociais. Desde a morte de Stalin,
em 1956, a URSS passou por pequenas reformas, porém manteve o perfil ditatorial, com controle sobre
os meios de comunicação e da população. Os líderes que sucederam Stalin mantiveram o mesmo
sistema, o que agravou a crise interna. Em 1985 o país colocou no poder o ultimo líder do Partido
Comunista da União Soviética: Mikhail Gorbachev. Gorbachev defendia a ideia de que a URSS deveria
passar por mudanças que a adequassem à realidade mundial.
Durante a década de 1980 a União Soviética enfrentou momentos difíceis, como a invasão ao
Afeganistão, que gerou altos gastos, e o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Além disso,
boa parte das commodities, matérias-primas exportadas pelo país, como petróleo e gás natural sofreram
quedas nos preços. Buscando salvar o país de um colapso iminente, Gorbachev lançou dois planos: a
Perestroika e o Glasnost.
A Perestroika, Também chamada de reestruturação econômica, teve início em 1986, logo após a
instalação do governo Gorbatchev. A Perestroika consistia em um projeto de reintrodução dos
mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade privada em diferentes setores e
retomada do crescimento. Ou seja, acabar com a economia planificada existente na União Soviética.
A Economia planificada, também chamada de "economia centralizada" ou "economia centralmente
planejada", é um sistema econômico no qual a produção é previa e racionalmente planejada por
especialistas, na qual os meios de produção são propriedade do Estado e a atividade econômica é
controlada por uma autoridade central.
A perestroika tinha como objetivo acabar com os monopólios estatais, descentralizar as decisões
empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em mãos de proprietários privados
nacionais e estrangeiros. Apesar das mudanças, o Estado continuaria como principal proprietário, porém,
permitindo a propriedade privada em setores secundários da produção de bens de consumo, comércio
varejista e serviços não-essenciais. No setor agrícola foi permitido o arrendamento de terras estatais e
cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada do crescimento é projetada por meio da
conversão de indústrias militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e de
investimentos estrangeiros.
O Glasnost, Também chamado de transparência política, surgiu juntamente com a perestroika, e foi
considerado essencial para mudar a mentalidade social, liquidar a burocracia e criar uma vontade política
nacional de realizar as reformas.
Entre as medidas mais importantes estavam o fim da censura, da perseguição e da proibição de
determinados assuntos. Foi marcada simbolicamente pelo retorno do exílio do físico Andrei Sakharov, em
1986, e incluiu campanhas contra a corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a
intervenção ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Avança ainda na
liberalização cultural, com a liberação de obras proibidas, a permissão para a publicação de uma nova
safra de obras literárias críticas ao regime e a liberdade de imprensa, caracterizada pelo número
crescente de jornais e programas de rádio e TV que abrem espaço às críticas.
A abertura causada pela Perestroika e pelo Glasnost impulsionaram os movimentos de independência
e de separação de países membros da URSS, enfraquecendo o Pacto de Varsóvia. Um importante
acontecimento nesse período foi a queda do Muro de Berlim, que simbolicamente representava o fim da
Guerra Fria.
O muro de Berlim formava uma barreira, sendo que Somente na região metropolitana de Berlim, o
Muro tinha mais de 43 quilômetros de comprimento, vigiado por torres militares para observação do
movimento nos arredores. Além disso, contava com cães policiais e cercas elétricas para manter a

228
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
população afastada. Mesmo com todos esses mecanismos, muitas pessoas tentaram atravessar essa
barreira, resultando em 80 mortes oficialmente.
A proibição existia apenas na passagem de Berlim Oriental para Berlim Ocidental. O trajeto contrário
era permitido. Durante a década de 70, havia oito pontos onde, obtidas as permissões e os documentos
necessários, as pessoas do lado ocidental podiam atravessar o muro. O mais famoso deles - conhecido
como Checkpoint Charlie - era reservado para visitantes estrangeiros, incluindo diplomatas e autoridades
militares do bloco capitalista.
Durante o tempo em que esteve de pé, o Muro de Berlim foi um ícone da Guerra Fria. Com as
mudanças políticas ocorridas na União Soviética, várias revoltas começaram a surgir nas duas partes da
Alemanha, pedindo a queda do Muro, que separava o país desde 1961. No dia 9 de novembro de 1989,
diante das pressões contra o controle de passagem do muro, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter
Schabowski, disse em uma entrevista que o governo iria permitir viagens da população ao lado Ocidental.
Questionado sobre quando essa mudança vigoraria, ele deu a entender que já estava valendo.
Finalmente, população revoltada resolve derrubar o muro por conta própria, utilizando marretas, martelos
e tudo o mais que estivesse disponível.
Além da Alemanha, a Polônia e a Hungria abriam caminho para eleições livres, e revoltas pelo fim da
URSS aconteceram na Tchecoslováquia, Bulgária, e Romênia. As políticas adotadas por Gorbachev
causaram uma divisão dentro do Partido Comunista, com setores contra e a favor das reformas. Esta
situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi
Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia,
foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em
Setembro, os países bálticos conseguiram a independência.
Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de
1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo.
Assim termina a União Soviética, e também acaba oficialmente a Guerra Fria.

Questões

01. (VUNESP PM/SP) Os dois lados viram-se comprometidos com uma insana corrida armamentista
para a mútua destruição. Os dois também se viram comprometidos com o que o presidente em fim de
mandato, Eisenhower, chamou de “complexo industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez maior de
homens e recursos que viviam da preparação da guerra.
Mais do que nunca, esse era um interesse estabelecido em tempos de paz estável entre as potências.
Como era de se esperar, os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus governos a
usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes, e conquistar lucrativos mercados
de exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas
armas nucleares.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos – O breve século XX – 1914-1991.
São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 233. Adaptado)
O historiador refere-se à situação da política internacional que resultou, em grande medida, da
Segunda Guerra Mundial, e que pode ser definida como a
(A) democratização do uso de armas nucleares, o que tornou possível o seu emprego por pequenos
grupos de guerrilheiros.
(B) existência de equilíbrio nuclear entre as maiores potências, somada à grande corrida armamentista.
(C) expansão da ideologia da paz armada, que estimulou as potências a equiparem os países pobres
com armas nucleares.
(D) predominância de uma potência nuclear em escala global, que interfere militarmente nos países
subdesenvolvidos.
(E) formação de uma associação internacional de potências nucleares, que garantiu uma paz
duradoura entre os países.

02. Período histórico denominado de Guerra Fria, refere-se


(A) à rivalidade de dois blocos antagônicos liderados pelos EUA e URSS.
(B) às sucessivas guerras pela independência nacional ocorridas na Ásia.
(C) ao conjunto de lutas travadas pelo povo iraquiano contra a dinastia Pahlevi.
(D) às disputas diplomáticas entre árabes e israelenses pela posse da península do Sinai.

229
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
03. Sobre a queda do muro de Berlim, no dia 10 de novembro de 1989, é correto afirmar que
(A) o fato acirrou as tensões entre Oriente e Ocidente, manifestas na permanência da divisão da
Alemanha.
(B) resultou de uma longa disputa diplomática, que culminou com a entrada da Alemanha no Pacto de
Varsóvia.
(C) expressou os esforços da ONU que, por meio de acordos bilaterais, colaborou para reunificar a
cidade, dividida pelos aliados.
(D) constituiu-se num dos marcos do final da Guerra Fria, política que dominou as relações
internacionais após a Segunda Guerra Mundial.
(E) marcou a vitória dos princípios liberais e democráticos contra o absolutismo prussiano e
conservador.

04. O lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 de agosto de 1945, provocou
a rendição incondicional do Japão, na Segunda Guerra. Nesse momento, o mundo ocidental vivia a
dualidade ideológica, capitalismo e socialismo. Nesse contexto, o lançamento da bomba está relacionado
com
(A) o descompasso entre o desenvolvimento da ciência, financiado pelos Estados beligerantes (em
guerra), e os interesses da população civil.
(B) a busca de hegemonia dos Estados Unidos, que demonstraram seu poder bélico para conter, no
futuro, a União Soviética.
(C) a persistência da luta contra o nazifascismo, pelos países aliados, objetivando a expansão da
democracia.
(D) a difusão de políticas de cunho racista associadas a pesquisas que comprovassem a superioridade
da civilização europeia.
(E) a convergência de posições entre norte-americanos e soviéticos, escolhendo o Japão como inimigo
a ser derrotado.

Gabarito

01.B / 02.A / 03.D / 04.B

Comentários

01. Resposta B.
O medo de um ataque nuclear desferido pelo inimigo fez com que as duas maiores potências do mundo
durante a Guerra Fria, EUA e URSS entrassem em uma disputa tecnológica para provar ao inimigo que
possuíam o melhor armamento. O clima de desconforto entre as duas nações criou um equilíbrio gerado
pela constante atualização de seus armamentos.

02. Resposta A.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países emergem como as duas grandes
superpotências do planeta, em uma disputa indireta que possuía ideias políticas diferentes. De um lado
os EUA com a defesa do Capitalismo enquanto do outro a URSS representava a ideia de uma sociedade
Socialista.

03. Resposta D.
A queda do muro de Berlim é um dos grandes marcos do fim da Guerra Fria. Após o fim da Segunda
Guerra e a divisão da Alemanha entre os vencedores do conflito e simbolizou a divisão do mundo durante
a Guerra Fria, separando em dois a cidade de Berlim e estabelecendo contraste entre o mundo capitalista
e o mundo socialista.

04. Resposta B.
Com o lançamento de duas bombas atômicas no Japão em 1945, os estados Unidos demonstram ao
mundo o seu potencial bélico. A demonstração de poder levou a URSS a desenvolver um programa
nuclear durante a Guerra Fria, dentro da ideia do medo de ser atacado pelo inimigo sem poder devolver
o ataque em poder de fogo semelhante.

230
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Conflitos no mundo árabe: confronto entre palestinos e israelenses - passado e
presente; resistência e lutas pela independência das nações africanas; guerras
entre as nações africanas no período pós-colonial;

DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E ÁSIA

Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa entrou em declínio, e passou a sofrer forte
influência da União Soviética e dos Estados Unidos. O declínio europeu permitiu o fortalecimento do
nacionalismo e o crescimento do desejo de independência. Desejo esse que passou a se apoiar na Carta
da ONU, que reconhecia o direito à autodeterminação dos povos colonizados e que fora assinada pelos
países europeus (os colonizadores).
No ano de 1955, vinte e nove países recém-independentes reuniram-se na Conferência de Bandung,
capital da Indonésia, estabelecendo seu apoio à luta contra o colonialismo. A Conferência de Bandung
estimulou as lutas por independência na África e Ásia.
Os princípios emersos da Conferência de Bandung podem ser resumidos nestas dez disposições
descritas abaixo:
01.Respeito aos direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU.
02.Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações.
03.Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas.
04.Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país. (Autodeterminação dos
povos)
05.Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente, de acordo com a Carta
da ONU
06.Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada a servir aos interesses
particulares das superpotências.
07.Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade
territorial ou a independência política de outro país.
08.Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações,
arbitragens por tribunais internacionais), de acordo com a Carta da ONU.
09.Estímulo aos interesses mútuos de cooperação.
10.Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

A independência dos países africanos e asiáticos recebeu apoio tanto do bloco capitalista quanto do
bloco comunista, que enxergavam a possibilidade de ampliar sua influência política nas novas nações.
A luta pela independência teve características próprias em cada país, com a transição por meios
violentos e também por meios pacíficos. No caso da via pacífica, a independência da colônia era realizada
progressivamente pela metrópole, com a concessão da autonomia político-administrativa, mantendo-se
o controle econômico do novo país, criando, dessa forma, um novo tipo de dependência.
As independências que ocorreram pela via da violência resultaram da intransigência das metrópoles
em conceder a autonomia às colônias. Surgiam as lutas de emancipação, geralmente vinculadas
ao socialismo, que levaram a cabo as independências.

O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO DA ÁSIA

O Fim do Domínio Inglês na Índia


A partir da década de 1920, Mahatma Gandhi e Jawarharlal Nerhu, através do Partido do Congresso,
com apoio da burguesia, passaram a liderar o movimento de independência da Índia. Gandhi pregava a
desobediência civil e a não-violência como meios de rejeição à dominação inglesa, transformando-se na
principal figura do movimento indiano pela independência.
O desfecho da Segunda Guerra resultou na perda do poder econômico e militar pela Inglaterra, o que
retirou-lhe as condições para continuar a dominação na Índia.
Em 1947, os ingleses reconheceram a independência indiana, que levou — em função das rivalidades
religiosas — à formação da União Indiana, governada por Nerhu, do Partido do Congresso, com maioria
hinduísta, e do Paquistão (Ocidental e Oriental), governado por Ali Jinnah, da Liga Muçulmana, com
maioria islamita. O Ceilão também se tornava independente, passando a ilha a se denominar Sri-Lanka,
com maioria budista.
A independência da Índia resultava de um longo processo de lutas nacionalistas, permeadas pelas
divergências religiosas entre hinduístas e muçulmanos, o que levou, em 1949, ao assassinato de Gandhi.

231
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Paquistão Oriental, em 1971, sob liderança da Liga Auami, separa-se do Paquistão Ocidental,
constituindo a República de Bangladesh.

A Independência da Indonésia
A Indonésia é formada por cerca de dezessete mil ilhas das quais seis mil são habitáveis, com
destaque para Java e Sumatra, as duas maiores. Desde o século XVII até 1941, o arquipélago esteve
sob domínio holandês.
Em 1941, durante as ofensivas da Segunda Guerra, o Japão passou a dominar a Indonésia, o que
levou à formação de um movimento nacionalista de resistência liderado por Alimed Sukarno.
Com a derrota japonesa, em 1945, o movimento de resistência proclama a independência do país, que
não foi aceita pela Holanda, o que acabou gerando uma tentativa de recolonização da Indonésia. Sukarno,
aglutinando os nacionalistas, liderou a guerrilha contra a Holanda que, em 1949, reconheceu a
independência da Indonésia.

Indochina
A Indochina esteve sob o domínio francês entre os anos de 1887 e 1940, quando o país europeu foi
invadido pela Alemanha.
Em 1941 os japoneses aproveitaram-se da aliança feita com os nazistas e ocuparam toda a Indochina,
com o consentimento do Marechal Philippe Pétain, chefe do regime de Vichy, que executou as ordens de
Hitler na França.
A ocupação japonesa levou à formação do movimento de resistência nacionalista, comandado
pelo Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã).
O Vietminh era liderado por Ho Chi Minh, dirigente comunista, que após a derrota do Japão na Segunda
Guerra proclamou a independência da República Democrática do Vietnã (parte norte).
Terminada a Segunda Guerra, os franceses não reconheceram o governo de Ho Chi Minh e tentaram,
a partir de 1946, recolonizar a Indochina, ocupando as regiões do Laos, Camboja e o Vietnã do Sul,
desencadeando a Guerra da Indochina, que se estendeu até 1954, quando os franceses foram derrotados
na Batalha de Dien Bien Phu.
No mesmo ano, realizou-se a Conferência de Genebra, na qual a França retirava suas tropas e
reconhecia a independência da Indochina, dividida em Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.
Laos e Camboja ficaram proibidos de manter bases militares estrangeiras em seu território, e no Vietnã
deveriam se realizar eleições num prazo de dois anos para decidir a reunificação.

Filipinas
As Filipinas, que desde o século XVI passava pelo domínio da Espanha, EUA e Japão, em 1946 é
retomada pelos norte-americanos, que lhe concedem a independência.

Birmânia
A Birmânia, em 1948, tornou-se independente da Inglaterra.

Malásia
A Malásia, em 1957, tornou-se independente da Inglaterra e integrante da Comunidade Britânica,
a Commonwealth.

A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
No início do século XX, 90,4% do território africano estava sob domínio do colonialismo europeu.
Apenas três Estados eram independentes: África do Sul, Libéria e Etiópia.
A descolonização da África ocorreu de forma veloz. Entre 1957 e 1962, 29 países tornaram-se
independentes de suas metrópoles europeias.

Egito
O Egito esteve sob domínio francês até 1881, quando a Inglaterra assumiu o controle do território. Em
1914, tornou-se um protetorado inglês. O fim do domínio colonial inglês cessou em 1936. Porém, a
Inglaterra não abriu mão do controle que exercia desde 1875 sobre o Canal de Suez.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Egito foi palco de manobras militares alemãs e italianas,
comandadas pelo general Rommel (Afrikakorps). Os ingleses, em 1942, expulsaram as tropas do Eixo e
impuseram o rei Faruk no poder.

232
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1952, o general Naguib, com o apoio do Exército, depôs o rei e proclamou a República, assumindo
o poder. Em 1954, o coronel Gamal Abdel Nasser substituiu o general Naguib, mantendo-se no poder até
1970.

Argélia
A Argélia foi dominada pela França em 1830. A partir da década de 1880, iniciou-se um processo de
imigração francesa para o território argelino, ocupando as melhores terras, que passaram a ser destinadas
à vinicultura.
Os colonos franceses na Argélia, denominados pieds noirs (pés pretos), tinham condições de vida
superiores às dos argelinos e o grau de discriminação era muito grande.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a invasão da França pelos alemães provocou a divisão do território
francês e a formação de dois governos: Paris ficou diretamente controlada pelos nazistas, e em Vicky
estabeleceu-se o governo colaboracionista do marechal Pétain. O general Charles de Gaulle comandava
a França livre. A Argélia passou a responder ao governo de Pétain.
Em 1945 ocorreram as primeiras manifestações pela independência — em razão da crise econômica
do pós-Segunda Guerra na França, que nas áreas coloniais foi muito mais grave. Essas manifestações
foram lideradas por muçulmanos, grupo religioso predominante na Argélia, mas foram prontamente
sufocadas pelos franceses.
A derrota francesa na Guerra da Indochina, em 1954, evidenciava o enfraquecimento do seu poder.
Nesse mesmo ano, a população muçulmana da Argélia, movida pelo nacionalismo islâmico, voltou a
colocar se contra a França, através de manifestações que foram coibidas, mas que resultaram na criação
da Frente Nacional de Libertação.
A Frente Nacional de Libertação passou a se organizar militarmente para derrotar o domínio francês.
No próprio ano de 1954 eclodia a guerra de independência. Em 1957, ocorreu a Batalha de Argel, na
qual os líderes da Frente foram capturados e levados presos para Paris, onde permaneceram até 1962.
A violência praticada pelos franceses com a população civil na Batalha de Argel só fez aumentar ainda
mais os descontentamentos dos argelinos.
Em 1958 é proclamada a IV República francesa. O general De Gaulle sobe ao poder e recebe plenos
poderes para negociar a paz com o Governo Provisório da Argélia, estabelecido no Cairo (Egito).
As negociações de paz se estendem até 1962, quando foi assinado o Acordo de Evian, segundo o
qual a França reconhecia a independência da Argélia, pondo fim à guerra que já durava oito anos.

Congo (antigo Zaire)


Em 1867, a Bélgica funda a Sociedade Internacional para a Exploração e Civilização da África,
iniciando a ocupação do Congo, que se tornou possessão belga a partir de 1885, e colônia em 1908.
O congo presenciou um dos piores atos de genocídio já registrados. Sob o domínio de Leopoldo II,
que fazia da escravidão a principal forma de trabalho no território, foi criada a Força Pública, um temível
corpo de soldados reforçado por mercenários.
Para garantir a produção e exploração dos recursos naturais disponíveis no Congo, foi criado um
sistema de cotas. Assassinatos, amputações, estupros e saques eram comuns em casos de cotas não
cumpridas. Tentativas de resistência mais veementes eram contidas com violência tão brutal que
contribuiu para um total de mortos estimado por acadêmicos em 8 a 10 milhões de pessoas, o que
equivalia, na época, a metade da população congolesa.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os movimentos de emancipação se generalizavam na África
e, em 1960, na Conferência de Bruxelas, a Bélgica concede a independência do Congo, que passa a
constituir a República do Congo.
O governo passou a ser exercido pelo presidente Joseph Kasavubu e pelo primeiro-ministro Patrice
Lumumba.
Em seguida à independência do país, na província de Catanga, ocorre um movimento separatista
liderado pelo governador Moise Tchombe, que, apesar de proclamar a independência da província, não
obteve o reconhecimento internacional. Desencadeou-se, então, uma guerra civil. Catanga recebia apoio
de grupos internacionais interessados nos minérios da região e de tropas mercenárias belgas.
Em setembro de 1960, o presidente Kasavubu demite o primeiro-ministro Patrice Lumumba, e Joseph
Ileo assume o Gabinete. Lumumba não aceitou sua demissão e o Congo passou a ter dois governos.
Então, o coronel Mobutu dissolveu os Gabinetes. Kasavubu foi preservado. Lumumba foi aprisionado e
levado para Catanga, onde foi assassinado, em 1961. Sua morte provocou violentas manifestações
dentro e fora do Congo. Internamente, a crise política se alastrava, o Congo se fragmentava, e as lutas
dividiam a população.

233
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1962, as forças da ONU intervieram no Congo para impedir a secessão de Catanga. Moise
Tchombe foi para o exílio.
Assumia o governo Cyrille Adula em meio aos movimentos liderados pelos partidários de Lumumba
(morto em 1961), que se tornaria o símbolo da luta congolesa.
Os partidários de Lumumba dominavam boa parte do país, em 1964, quando Adula convida Moise
Tchombe (recém-chegado do exílio) para auxiliá-los e vencer os rebeldes. Adula renuncia e Tchombe
assume o cargo de primeiro-ministro.
A guerrilha aumentava e, então, os EUA intensificaram a ajuda militar — que já vinha concedendo —
ao governo de Tchombe.
Os partidários de Lumumba, em resposta, transformaram 60 norte-americanos e 800 belgas em reféns
da guerrilha, o levou a Bélgica a preparar uma ação de resgate, provocando o fuzilamento de 60 reféns
pelos guerrilheiros; os demais foram libertados.
O presidente Kasavubu, em 1965, demitiu o primeiro-ministro Tchombe e logo em seguida o general
Mobutu dá um golpe e assume a presidência do país, que a partir de 1971, passa a se denominar
República do Zaire.

O Fim do Império Colonial Português


Portugal foi o grande expoente durante o período das Grandes Navegações. No início do século XV,
mais precisamente em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, no Norte da África, o que permitiu o
avanço pela costa do continente.
No século XVII o Império formado por Portugal começou a entrar em declínio, o que resultou na perda
de grande parte de suas colônias para os espanhóis, holandeses e ingleses. Após a perca de territórios
no século XVI, as conquistas portuguesas não obtiveram o mesmo sucesso, e durante a corrida
neocolonialista no século XIX o país obteve Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e aos arquipélagos de
Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.
Em 25 de abril de 1974, ocorreu a Revolução dos Cravos em Portugal, marcando a ascensão de um
regime democrático que substituiu o governo fascista do presidente Américo Tomás e do primeiro-ministro
Marcelo Caetano, já enfraquecido com a morte de Oliveira Salazar, que governou Portugal entre 1932 e
1970.
O novo governo empossado em 1974 reconhecia no ano seguinte as independências das colônias, o
que significou a desintegração do Império Colonial Português.

Angola
O MPLA, Movimento Popular pela Libertação da Angola, foi fundado em 1956, e em 1961
desencadeou as lutas pela independência no país, sob a liderança do poeta Agostinho Neto.
Outros dois movimentos surgiram dentro do processo de lutas de independência: a União Nacional
para a Independência Total de Angola, Unita, e a Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA.
Em 1974, foi assinado o Acordo de Alvor, segundo o qual os portugueses reconheceriam a
independência de Angola em 1975, devendo ser formado um governo de transição composto pelo MPLA,
Unita e FNLA.
Os três grupos iniciaram entre si uma série de divergências que culminaram com uma guerra civil e a
invasão do país por tropas do Zaire e da África do Sul (apoiadas pela FNLA e Unita, respectivamente),
que recebiam ajuda militar norte-americana.
O MPLA, liderado por Agostinho Neto, solicitou então ajuda de Cuba e, em 1976, derrotou as forças
da Unita e da FNLA.

Moçambique
Em 1962, foi criada a Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo, por Eduardo Mondlane, que
iniciou as lutas pela independência.
Samora Machel, em 1969, assumiu a direção do movimento, que passou a disputar, através da
guerrilha, o controle do território.
Em 1975, Portugal reconheceu a independência da República Popular de Moçambique.

Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe


Amilcar Cabral, em 1956, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde,
PAIGC, que desencadeia a luta pela independência a partir de 1961.
Em 1973, mais da metade do território da Guiné estava sob domínio do PAIGC. Nesse ano, Amilcar
Cabral é assassinado e assume Luís Cabral a presidência da recém- proclamada República Democrática
Anti-imperialista e Anticolonialista da Guiné.

234
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1974, o governo português reconhece a independência da Guiné.
Em 1975, Cabo Verde tem sua independência reconhecida por Portugal.
São Tomé e Príncipe, no mesmo ano que Cabo Verde, tem sua independência reconhecida por
Portugal.

Consequências da Descolonização Afro-Asiática


A principal consequência do processo de descolonização afro-asiática foi a criação de um novo bloco
de países que juntamente com a América Latina passaram a compor o Terceiro Mundo.
Os efeitos da exploração europeia nos dois continentes ainda podem ser observados, principalmente
através da divisão territorial que não respeitou limites étnicos e acabou confinando povos inimigos em um
mesmo país, gerando uma série de conflitos e guerras civis.

Questões

01. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Ao chegar ao fim, a Segunda Guerra Mundial
desvelava um novo cenário mundial. Ao declínio europeu e à emergência de um sistema internacional
bipolar, soma-se o movimento de independência na Ásia e na África. Relativamente a esse processo de
descolonização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
O processo de descolonização foi marcado pelo ambiente de tensão próprio da Guerra Fria, mas não
pode ser a esta debitada influência exclusiva sobre as motivações e a forma de condução da luta pela
emancipação das colônias.
(A) Certo
(B) Errado

02. (UFSM/RS) "A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: Não aceitarei mais o papel de
escravo. Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com a
minha consciência. O assim chamado patrão poderá sussurrar-vos e tentar forçar-vos a servi-lo. Direis:
Não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá implicar sofrimentos. Vossa
prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada." (Mahatma Gandhi)
In: MOTA, Myriam; BRAICK, Patrícia. História das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo:
Moderna, 2005. p.615.
“Acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada” são palavras de Mahatma Gandhi
(1869-1948) que, no contexto da Guerra Fria, inspiraram movimentos como
(A) o acirramento da disputa por armamentos nucleares entre os EUA e a URSS, objetivando a
utilização do arsenal nuclear como instrumento de dissuasão e amenização das disputas.
(B) a reação dos países colonialistas europeus visando a diminuir o poder da Assembleia Geral da
ONU e reforçar o poder do Secretário-Geral e do Conselho de Segurança.
(C) as concessões unilaterais de independência às colônias que concordassem em formar alianças
econômicas, políticas e estratégicas com suas antigas metrópoles, como a Comunidade Britânica de
Nações e a União Francófona.
(D) o reforço do regime de “apartheid” na África do Sul que, após prender o líder Nelson Mandela e
condená-lo à prisão perpétua, procurou expandir a segregação racial para os países vizinhos, como a
Rodésia e a Namíbia.
(E) o não alinhamento político, econômico e militar aos EUA ou à URSS, decisão tomada pelos países
do Terceiro Mundo reunidos na Conferência de Bandung, na Indonésia.

03. A utilização maciça de desfolhantes “pretendia arrasar a cobertura vegetal, para impedir que o
adversário se camuflasse, e destruir as colheitas para matar de fome as populações e os combatentes.
O segundo objetivo era explícito: como as operações de guerrilha dependiam estreitamente das colheiras
locais para seu abastecimento, os agentes antiplantas possuíam um elevado potencial ofensivo para
destruir ou limitar a produção de alimentos.”
GRENDEU, Francis. Quem Faz as guerras químicas. Le Monde Diplomatique, 1º janeiro de 2006.
O texto acima se refere a táticas utilizadas em uma guerra inserida no contexto da Descolonização
Afro-asiática. À qual conflito se refere o texto?
(A) A guerra de independência da Indonésia.
(B) A guerra pela libertação da Argélia.
(C) A guerra do Vietnã.
(D) A guerra separatista do Congo.
(E) A luta pela formação do Estado Palestino.

235
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Gabarito

01.A / 02.E / 03.C

Comentários

01. Resposta: A
Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa entrou em declínio, e passou a sofrer forte
influência da União Soviética e dos Estados Unidos. O declínio europeu permitiu o fortalecimento do
nacionalismo e o crescimento do desejo de independência.

02. Resposta: E
A luta pela descolonização e pela independência dos países africanos e asiáticos resultou também na
oposição às políticas imperialistas tanto dos EUA quanto da URSS, dando origem ao chamado movimento
dos Países Não Alinhados, que envolvia o chamado Terceiro Mundo.

03. Resposta: C
Foi na guerra do Vietnã que os EUA utilizaram uma grande quantidade de armas químicas para tentar
derrotar a guerrilha que eles enfrentavam. Apesar de todas as atrocidades cometidas, os vietnamitas
conseguiram vencer os estadunidenses.

Redemocratização brasileira entre 1945-1964; o período militar ditatorial no


Brasil - 1964-1985;

BRASIL REPÚBLICA – POPULISTA – DITADURA MILITAR

- República Populista

O Governo de Eurico Gaspar Dutra

O governo Dutra foi marcado internamente pela promulgação da nova Carta Constitucional, em 18 de
setembro de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição de 1946 iria reger a vida do país por
mais duas décadas84.
Em 18 de setembro de 1946 foi oficialmente promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o que consagrou liberdades que existiam na
Constituição de 1934, mas haviam sido retiradas em 1937.

Alguns dos dispositivos regulados pela Constituição de 1946 foram:


- A igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
- A liberdade de expressão, sem censura, fora em espetáculos e diversões públicas;
- Sigilo de correspondência inviolável;
- Liberdade de consciência, crença e exercício de quaisquer cultos religiosos;
- Liberdade de associação para fins lícitos;
- Casa como asilo do indivíduo torna-se inviolável;
- Prisão apenas em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla
de defesa do acusado;
- Fim da pena de morte;
- Os três poderes são definitivamente separados.

A separação dos três poderes visava delimitar a ação de cada um deles. Esta nova lei, na verdade foi
elaborada devido à reflexão sobre os anos em que Vargas ampliou as atribuições do Poder Executivo e
obteve controle sobre quase todas as ações do Estado. Fora isso, o mandato do presidente se
estabeleceu em 5 anos, sendo proibida a reeleição para cargos do Executivo 85.

84 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/governo-eurico-gaspar-dutra
85 SOARES, L. M. SILVA. A dimensão pedagógica da ação ideológica de uma instituição cultural do período de 1955 a 1964.
http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1031/1/Silvia%20Leticia%20Marques%20Soares.pdf

236
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No que se referia às leis trabalhistas, a Constituição de 1946 manteve o princípio de cooperação dos
órgãos sindicais e diminuiu o controle dos mecanismos do Estado aos sindicatos e seus adeptos. Já no
que tocava à organização do processo eleitoral, a Carta de 1946 diluiu as bancadas profissionais de
Getúlio Vargas e aumentou a participação do voto das mulheres.
Sendo assim, a distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados foi alterada, aumentando-se as
vagas para Estados considerados “menores”. Porém, o Governo de Dutra feriu sua própria constituição,
que pregava o pluripartidarismo, ao iniciar uma cassação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe Militar em 1964. Nessa ocasião, os militares
passaram a aplicar uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo regime até ser
definitivamente suspensa pelos Atos Institucionais e pela Constituição de 196786.
Com o avanço da redemocratização, o movimento operário ganhou vigor, com um aumento
significativo no número de sindicalizados e a eclosão de várias greves no país. Para barrar o avanço do
movimento sindical, que contava com forte apoio dos comunistas, Dutra, ainda no início do governo e
antes da promulgação da nova Constituição, baixou um decreto proibindo o direito de greve.
No primeiro ano do governo Dutra, por conta de uma conjuntura internacional favorável à cooperação
entre países capitalistas e socialistas, a atuação dos comunistas, apesar das restrições, foi tolerada. As
mudanças ocorridas no cenário internacional a partir de 1947, com o dissolvimento da aliança entre os
Estados Unidos e a União Soviética transformaram a situação, levando ao início da Guerra Fria. Segundo
o presidente americano Harry Truman, as potência mundiais da época estavam divididas em dois
sistemas nitidamente contraditórios: o capitalista e o comunista. E a política externa americana voltou-se
para o combate ao comunismo.
No Brasil, as repercussões da Guerra Fria foram imediatas. No dia 7 de maio de 1947, após uma
batalha judicial, o PCB teve seu registro cassado. Nesse mesmo dia, o Ministério do Trabalho decretou a
intervenção em vários sindicatos e fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil criada pelo
movimento sindical em setembro de 1946 e não reconhecida oficialmente pelo governo.
A exclusão dos comunistas do sistema político partidário culminou em janeiro de 1948, com a cassação
dos mandatos de todos os parlamentares que haviam sido eleitos pelo PCB. Sob o impacto da cassação,
o PCB lançou um manifesto pregando a derrubada imediata do governo Dutra, considerado um governo
"antidemocrático", de "traição nacional" e "a serviço do imperialismo norte-americano"87.
A política econômica do governo Dutra foi guiada pelo plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte
e Energia), programa com grande incentivo dado à pesquisa, refino e distribuição do petróleo. Por meio
dessas ações de controle, o governo Dutra conseguiu atingir uma média anual de crescimento econômico
de 6%.
Em relação à política externa, a aliança com os Estados Unidos foi reforçada. Em decorrência disso,
o Brasil foi um dos primeiros países ocidentais a romper relações com a União Soviética (durante a época
da Guerra Fria, o país manteve-se aliado aos estadunidenses). O Brasil tomou parte da fase inicial da
Organização das Nações Unidas (ONU) como membro não permanente, participando da aprovação do
Estado de Israel, em 1947, tendo Oswaldo Aranha como Presidente da Segunda Assembleia Geral da
ONU.
Em nível de integração internacional, a atuação brasileira se fez presente na montagem do Sistema
Interamericano, iniciada no Rio de Janeiro, em 1947, com a Conferência para a Manutenção da Paz e da
Segurança, em que as nações do continente assinaram o Tratado Internamericano de Assistência
Recíproca e, no ano seguinte, na Conferência de Bogotá, com a aprovação da criação da Organização
dos Estados Americanos (OEA). Em 1948, com o intuito de estabelecer um foro de defesa de interesses
econômicos comuns, os países latino-americanos criaram a Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL)88.
O governo Dutra pregava a não intervenção do Estado na economia e a liberdade de ação para o
capital estrangeiro. Sua política econômica fez crescer a inflação e a dívida externa.
O liberalismo econômico adotado pelo presidente Dutra, dando facilidade à livre importação de
mercadorias, teve como consequência o esgotamento das divisas do país; mais tarde, o governo teve de
modificar sua posição, restringindo algumas importações.
O período que abrange os anos de 1946 a 1964, é considerado pelos historiadores e cientistas sociais
como a primeira experiência de regime democrático no Brasil. O período de existência da República
Oligárquica ou República Velha (1889-1930) esteve longe de representar uma experiência

86 https://unipdireito2015.files.wordpress.com/2015/11/sistema-eleitoral-e-jurisprudc3aancia.doc
87 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/DoisGovernos/CassacaoPC
88 http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/old/serie-estrangeira-old

237
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
verdadeiramente democrática devido aos incontáveis vícios políticos mascarados por princípios de
legalidade jurídica prescritos nas leis89.
Não obstante, o presidente Eurico Gaspar Dutra praticou uma política governamental deliberadamente
autoritária a partir de medidas que desrespeitou flagrantemente a Constituição vigente.
Chegando em 1950, os brasileiros preparavam-se para uma nova eleição para presidente da
República. Mais uma vez, assim como em 1945, o cenário político nacional experimentava a carência de
líderes políticos nacionais. De tal forma, o PSD (Partido Social Democrático) ofereceu a candidatura do
incógnito mineiro Cristiano Machado e a UDN (União Democrática Nacional) apostou novamente no
brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) por sua vez, chegava à frente lançando
o nome de Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos.

O Governo Democrático de Getúlio Vargas

Em 1950 Getúlio lança-se à presidência juntamente com Café Filho pelo PTB e PSP (Partido Social
Progressista). Com a fraca concorrência, é eleito presidente do Brasil, assumindo novamente o poder,
agora por vias democráticas, em 31 de janeiro de 1951.
De volta ao Palácio do Catete, Vargas adotou "uma fórmula nova e mais agressiva de nacionalismo
econômico”, tanto aos aspectos internos quanto aos externos dos problemas brasileiros. A fórmula do
nacionalismo radical propunha, como o próprio nome já diz, uma mudança radical na estrutura social e
econômica que vigorava, visto que a mesma era considerada exploradora pelos nacionalistas radicais. 90
Após a década de 30, no primeiro governo de Vargas, começa-se a investir na “nacionalização dos
bens do subsolo” devido à presença de empresas estrangeiras. Um dos maiores incentivadores de tal
campanha foi um importante escritor brasileiro: Monteiro Lobato.
Ao voltar dos EUA, onde se encantara com a perspectiva de um país próspero para seus habitantes,
ele se tornou um grande articulador da conscientização popular através de palestras, artigos em jornais,
livros sobre o assunto e até cartas ao então presidente, Getúlio Vargas que, em 1939 cria o CNP –
Conselho Nacional de Petróleo – tornando o petróleo um recurso da União.
Mais tarde, no início da década de 50 a esquerda brasileira lança a campanha “O Petróleo é Nosso”
contra a tentativa dos chamados “entreguistas” de propugnar a exploração do petróleo brasileiro por
empresas ou países estrangeiros alegando que o país não possuía recursos nem técnica suficiente para
fazê-lo91.
Em resposta, Getúlio Vargas assina a Lei 2.004 de 1953, criando a Petrobras.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o projeto de criação da Eletrobrás
também fazem parte da política nacionalista, industrialista e estatizante de novo governo de Getúlio.
Desde o início do seu mandato sofreu forte oposição, sem conseguir o apoio que precisava para
realizar reformas. Neste período Vargas entra em constantes atritos com empresas estrangeiras
acusadas de enviar excessivas remessas de lucro ao exterior. Em 1952 um decreto institui um limite de
10% para tais remessas.92
Em 1953 João Goulart foi nomeado para o ministério do Trabalho com o objetivo de criar uma política
trabalhista que aproximasse os trabalhadores do governo, aventando-se a possibilidade do aumento do
salário-mínimo em 100%. A campanha contra o governo voltou-se então contra Goulart.
Jango, como era conhecido, causava profundo descontentamento entre os militares que em 8 de
fevereiro de 1954 entregaram um manifesto ao ministério da Guerra (Manifesto dos Coronéis). Getúlio
pressionado e procurando conciliar os ânimos, aceitou demitir João Goulart.
Os ânimos contra Getúlio se acirraram e ele procurou mais do que nunca se amparar nos
trabalhadores, concedendo em 1º de maio de 1954 o aumento de 100% no salário-mínimo. A oposição
no congresso entra com um pedido de impeachment, porém sem sucesso.
Embora Vargas tivesse o apoio político do PTB, do PSD, dos militares nacionalistas, de segmentos da
burguesia, da elite agrária, dos sindicatos e de parte das massas urbanas, seu governo sofreu forte
oposição.
No meio político, o foco da oposição era a UDN. Para esse partido, "a indústria e a agricultura deveriam
desenvolver-se livremente, de acordo com as forças do mercado, além de valorizar o capital estrangeiro,
atribuindo-lhe o papel de suprir as dificuldades naturais do País.
A imprensa conservadora e particularmente o jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda inicia uma
violenta campanha contra o governo. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda sofre um atentado que matou o

89 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-gaspar-dutra-1946-1951-democracia-e-fim-do-estado-novo.htm
90 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975
91 Federação da Agricultura do Estado do Paraná. http://www.sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2017/06/BI-1253.pdf
92 https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=263288

238
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
major-aviador Rubens Florentino Vaz. O incidente teve amplas repercussões e resultou numa grave crise
política.93
As investigações demonstraram o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de
Getúlio. Fortunato acabou sendo preso.
A pressão da oposição tornou-se mais intensa no Congresso e nos meios militares, exigia-se a
renúncia de Vargas. Cria-se um clima de tensão que culmina com o tiro que Vargas dá no coração na
madrugada de 24 de agosto de 1954.
Antes de suicidar-se escreveu uma Carta-Testamento, na realidade seu testamento político. Onde diz
coisas como: “Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios (…) Não querem
que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. (…) Eu vos dei a minha vida.
Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da Eternidade
e saio da vida para entrar na História”.94

Governo Café Filho (1954-1955)

João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café Filho, como era mais conhecido no meio
político, teve um curto mas agitado governo. Durante os poucos mais de 14 meses em que ocupou a
Presidência da República, Café Filho teve que conciliar os problemas econômicos herdados do governo
anterior com o acirramento político provocado pelo cenário aberto com a morte de Getúlio Vargas.

A Sucessão Presidencial
Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partido que Vargas fundara uma década antes, lançou
o nome de Juscelino Kubitscheck (JK) à Presidência da República. Na disputa para vice-presidente, que
na época ocorria em separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex-ministro do Trabalho do
governo Vargas, João Goulart, do PTB, sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950.
Setores mais radicais da UDN, representados pelo jornalista Carlos Lacerda, receosos de que a vitória
de Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno da política varguista, passaram a pedir
a impugnação da chapa. Lacerda chegou a declarar, na época, que "esse homem (JK) não pode se
candidatar; se candidatar não poderá ser eleito; se for eleito não poderá tomar posse; se tomar posse
não poderá governar".
A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse dos novos eleitos intensificou-se logo após
a divulgação dos resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-PTB. De outro lado, entre os
militares, também surgiam divergências quanto ao resultado das urnas. A principal delas ocorreu quando
um coronel declarou-se contrário à posse de JK e Jango, numa clara insubordinação ao ministro da
Guerra de Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a favor do resultado. 95

Carlos Luz

A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto, dependia de autorização do presidente da República,


que em meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital do Rio de Janeiro. Afastado das
atividades políticas, Café Filho foi substituído no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro nome na
linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados.
Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu não autorizar o marechal Lott a seguir em frente com a punição, o
que provocou sua saída do Ministério da Guerra.
A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha contra o presidente em exercício, que terminou
na sua deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de auxiliares civis e militares, Carlos
Luz refugiou-se no prédio da Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no litoral paulista.
Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a deposição de Carlos Luz, o próximo na linha
de sucessão seria o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que assumiu a Presidência da República
e reconduziu Lott ao cargo de ministro da Guerra.
Subitamente, Café Filho tentou reassumir o cargo, mas foi vetado por Henrique Lott e outros generais
que o apoiavam. Era acusado de conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia 22 de novembro, o
Congresso Nacional aprovou o impedimento para que ele reassumisse a Presidência da República. Em
seu lugar, permaneceu o senador Nereu Ramos, que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao
presidente constitucionalmente eleito: Juscelino Kubitscheck, o "presidente bossa nova". 96

93 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/estado-novo
94 http://www.culturabrasil.org/vargas.htm
95 Câmara Municipal de São Paulo. http://www.camara.sp.gov.br/memoria/wp-content/uploads/sites/20/2017/11/leg4_final_02.pdf
96 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-cafe-filho-1954-1955-os-14-meses-do-vice-de-vargas.htm

239
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Nereu de Oliveira Ramos

Nascido na cidade de Lages, em Santa Catarina, Nereu de Oliveira Ramos era advogado e assumiu a
presidência aos 67 anos. Em virtude do impedimento do Presidente Café Filho e do Presidente da Câmara
dos Deputados Carlos Luz, o Vice-Presidente do Senado Federal, assumiu a Presidência da República,
de 11/11/1955 a 31/01/1956.

Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Na eleição presidencial de 1955, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) se aliaram, lançando como candidato Juscelino Kubitschek para presidente e João Goulart para
vice-presidente. A União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Democrata Cristão (PDC) disputaram
o pleito com Juarez Távora.

O Plano de Metas
O governo de Juscelino Kubitschek entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se
registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo
foi "Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo".
Para cumprir com esse objetivo, o governo federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado
crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial, com investimentos na produção de aço,
alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria
pesada e equipamento elétrico.
O Plano de Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da gestão governamental a economia brasileira
registrou taxas de crescimento da produção industrial (principalmente na área de bens de capital) em
torno de 80%.

A Construção de Brasília
A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país nasceu ainda no século XVIII, algumas
décadas após Rio de Janeiro tornar-se o centro administrativo do país, título que até então pertencia a
Salvador. Os inconfidentes mineiros queriam que a capital da república, caso seu plano de separação
funcionasse, fosse a cidade de São João del Rey-MG. Mesmo com a independência do Brasil em 1822,
a capital permaneceu no Rio.
Já em meados do século XIX, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem reiniciou a luta pela
transferência, propondo que uma nova capital fosse construída na região onde hoje fica a cidade de
Planaltina-GO.
Após a Proclamação da República, a ideia de transferir a capital brasileira voltou a ser tema de debate,
principalmente pelos problemas sanitários e as epidemias de Febre Amarela que assolavam o Rio de
Janeiro durante o verão, e pela posição estratégica em caso de guerra, já que o acesso a uma capital no
interior do território brasileiro seria dificultado para os inimigos.
Os constituintes de 1891 estabeleceram nas Disposições Transitórias, essa determinação que, não
tendo sido executada em toda a Velha República, foi renovada na constituição promulgada em 1934.
Igualmente a carta de 1946 conservou aquele propósito, determinando a nomeação, pelo presidente da
República, de uma comissão de técnicos que visassem estudos localizando, no Planalto Central, uma
região onde fosse demarcada a nova capital.
Em maio de 1892, o governo Floriano Peixoto criou a Comissão Exploradora do Planalto Central e
entregou a chefia a Louis Ferdinand Cruls, astrônomo e geógrafo belga radicado no Rio de Janeiro desde
1874. Essa comissão tinha como objetivo, conforme disposto na constituição, proceder à exploração do
planalto central da república e à consequente demarcação da área a ser ocupada pela futura capital. 97
Diversos problemas, entre eles a questão logística, impediram a construção da nova capital federal,
pois a dificuldade nos transportes e também no acesso ao Planalto Central tornavam a ideia inviável.
Ao assumir a presidência da República, Juscelino Kubitschek, logo após a sua posse, em Janeiro de
1956, afirmou o seu empenho “de fazer descer do plano dos sonhos a realidade de Brasília”.
Apresentando o projeto ao congresso como um fato consumado, em setembro do mesmo ano, foi
aprovada a lei nº 2.874 que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (vulgarizada pela sigla
NOVA-CAP). As obras se iniciaram em Fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados
de “candangos”.

97 http://blogs.correiobraziliense.com.br/candangando/missao-cruls-exaltava-fartura-de-agua-na-nova-capital/

240
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura,
recusando-se a traçar os planos urbanísticos de Brasília, insistindo na necessidade de um concurso para
a escolha do plano-piloto, aceito em março de 1957.

Desenvolvimento e Dependência Externa


A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio
de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. O
acelerado processo de industrialização registrado no período, porém, não deixou de acarretar uma série
de problemas de longo prazo para a econômica brasileira.
O governo realizava investimentos no setor industrial a partir da emissão monetária e da abertura da
economia ao capital estrangeiro. A emissão monetária (ou emissão de papel moeda) ocasionou um
agravamento do processo inflacionário, enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro
gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque as empresas estrangeiras (as chamadas
multinacionais) passaram a controlar setores industriais estratégicos da economia nacional.
O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante nas indústrias automobilísticas,
de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais começaram a remeter grandes
remessas de lucros (muitas vezes superiores aos investimentos por elas realizados) para seus países de
origem. Esse tipo de procedimento era ilegal, mas as multinacionais burlavam as próprias leis locais.
Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados esperados, por outro, foi
responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente que sofreu muitas críticas
e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista.

Denúncias da oposição
A gestão de Juscelino Kubitschek não esteve a salvo de críticas dos setores oposicionistas. No
Congresso Nacional, a oposição política ao governo de JK vinha da UDN. A oposição ganhou maior força
no momento em que as crescentes dificuldades financeiras e inflacionárias (decorrentes principalmente
dos gastos com a construção de Brasília) fragilizaram o governo federal.
A UDN fazia um tipo de oposição ao governo baseada na denúncia de escândalos de corrupção e uso
indevido do dinheiro público. A construção de Brasília foi o principal alvo das críticas da oposição. No
entanto, a ação de setores oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade governamental na
gestão de JK.98

Governabilidade e Sucessão Presidencial


Em comparação com os governos democráticos que antecederam e sucederam a gestão de JK na
presidência da República, o mandato presidencial de Juscelino apresenta o melhor desempenho no que
se refere à estabilidade política.
A aliança entre o PSD e o PTB garantiu ao Executivo Federal uma base parlamentar de sustentação
e apoio político que explica os êxitos da aprovação de programas e projetos governamentais. O PSD era
a força dominante no Congresso Nacional, pois possuía o maior número de parlamentares e o maior
número de ministros no governo. Era considerado um partido conservador, porque representava
interesses de setores agrários (latifundiários), da burocracia estatal e da burguesia comercial e industrial.
O PTB, ao contrário, reunia lideranças sindicais representantes dos trabalhadores urbanos mais
organizados e setores da burguesia industrial. O êxito da aliança entre os dois partidos deu-se ao fato de
que ambos evitaram radicalizar suas respectivas posições políticas, ou seja, conservadorismo e
reformismo radicais foram abandonados.
Na sucessão presidencial de 1960, o quadro eleitoral apresentou a seguinte configuração: a UDN
lançou Jânio Quadros como candidato; o PTB com o apoio do PSB apresentou como candidato o
marechal Henrique Teixeira Lott; e o PSP concorreu com Adhemar de Barros.
A vitória coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva votação. Naquela época, as eleições para
presidente e vice-presidente ocorriam separadamente, ou seja, as candidaturas eram independentes.
Assim, o candidato da UDN a vice-presidente era Milton Campos, mas quem venceu foi o candidato do
PTB, João Goulart. Desse modo, ele iniciou seu segundo mandato como vice-presidente.99

Governo Jânio Quadros (1961)

A gestão de Jânio Quadros na presidência da República foi breve, duraram sete meses e encerrou-se
com a renúncia. Neste curto período, Jânio Quadros praticou uma política econômica e uma política
98 http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217
99 http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217

241
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
externa que desagradou profundamente os políticos que o apoiavam, setores das Forças Armadas e
outros segmentos sociais.
A renúncia de Jânio Quadros desencadeou uma crise institucional sem precedentes na história
republicana do país, porque a posse do vice-presidente João Goulart não foi aceita pelos ministros
militares e pelas classes dominantes.

A Crise Política
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social a partir do momento em que
adotou uma política econômica austera e uma política externa independente. Na área econômica, o
governo se deparou com uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da balança
comercial e crescimento da dívida externa.
O governo adotou medidas drásticas, restringindo o crédito, congelando os salários e incentivando as
exportações. Mas foi na área da política externa que o presidente acirrou os ânimos da oposição ao seu
governo.
Nomeou para o ministério das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar
radicalmente os rumos da política externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países
socialistas. O governo brasileiro restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS).
As atitudes menores também tiveram grande impacto, como as condecorações oferecidas
pessoalmente por Jânio ao guerrilheiro revolucionário Ernesto "Che" Guevara (condecorado com a Ordem
do Cruzeiro do Sul) e ao cosmonauta soviético Yuri Gagarin, além da vinda ao Brasil do ditador cubano
Fidel Castro100. Apresentando assim indícios de alinhamento aos governos socialistas do período.

Independência e Isolamento
De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de
seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros por
meio de acordos diplomáticos e comerciais.
Porém, a condução da política externa independente desagradou o governo norte-americano e,
internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio estava vinculado, a UDN, sofrendo também
uma forte oposição das elites conservadoras e dos militares.
Ao completar sete meses de mandato presidencial, o governo de Jânio Quadros ficou isolado política
e socialmente. Renunciou a 25 de agosto de 1961.

Política Teatral
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos espetaculares característicos do estilo de Jânio. Com
ela, o presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, e o Congresso seria forçado a pedir
seu retorno ao governo, o que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o que aconteceu.
A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente. Vale lembrar que as atitudes teatrais eram
usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó sobre
os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso
sanduíches de mortadela e os comia em público.
No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança-perfume, criando polêmicas com questões
menores, que o mantinham sempre em evidência, como um presidente preocupado com o dia a dia do
brasileiro.

Governo João Goulart (1961-1964)

Com a renúncia de Jânio Quadros, a presidência caberia ao vice João Goulart, popularmente
conhecido como Jango. No momento da renúncia, se encontrava na Ásia, em visita a República Popular
da China.
O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu o governo provisoriamente. Porém,
os grupos de oposição mais conservadores representantes das elites dominantes e de setores das Forças
Armadas não aceitaram que Jango tomasse posse, sob a alegação de que ele tinha tendências políticas
esquerdistas. Não obstante, setores sociais e políticos que apoiavam Jango iniciaram um movimento de
resistência.101

100 https://cidadeverde.com/noticias/241078/reportagem-especial-janio-quadros-os-100-anos-de-um-politico-incomum
101 http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=73

242
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Campanha da Legalidade e Posse
O governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, se destacou como principal líder da
resistência ao promover a campanha legalista pela posse de Jango. O movimento de resistência, que se
iniciou no Rio Grande do Sul e irradiou-se para outras regiões do país, dividiu as Forças Armadas
impedindo uma ação militar conjunta contra os legalistas. No Congresso Nacional, os líderes políticos
negociaram uma saída para a crise institucional.
A solução encontrada foi o estabelecimento do regime parlamentarista de governo que vigorou por
dois anos (1961-1962) reduzindo enormemente os poderes constitucionais de Jango. Com essa medida,
os três ministros militares aceitaram, enfim, seu retorno. Em 5 de setembro retorna ao Brasil, e é
empossado em 7 de setembro.

O Retorno ao Presidencialismo
Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema
parlamentarista. Cerca de 80% dos eleitores votaram pelo restabelecimento do sistema presidencialista.
A partir de então, Jango passou a governar o país como presidente, e com todos os poderes
constitucionais a sua disposição.
Porém, no breve período em que governou o país sob regime presidencialista, os conflitos políticos e
as tensões sociais se tornaram tão graves que seu mandato foi interrompido pelo Golpe Militar de 1º de
abril de 1964.
Desde o início de seu mandato, não dispunha de base de apoio parlamentar para aprovar com
facilidade seus projetos políticos, econômicos e sociais, por esse motivo a estabilidade governamental foi
comprometida.
Como saída para resolver os frequentes impasses surgidos pela ausência de apoio político no
Congresso Nacional, adotou uma estratégia típica do período populista, recorreu a permanente
mobilização das classes populares a fim de obter apoio social ao seu governo.
Foi uma forma precária de assegurar a governabilidade, pois limitava ou impedia a adoção por parte
do governo de medidas antipopulares, ao mesmo tempo em que seria necessário o atendimento das
demandas dos grupos sociais que o apoiavam. Um episódio que ilustra de forma notável esse tipo de
estratégia política ocorreu quando o governo criou uma lei implantando o 13º salário. O Congresso não a
aprovou. Em seguida, líderes sindicais ligados ao governo mobilizaram os trabalhadores que entraram
em greve e pressionaram os parlamentares a aprovarem a lei.

As Contradições da Política Econômica


As dificuldades de Jango na área da governabilidade se tornaram mais graves após o restabelecimento
do regime presidencialista. A busca de apoio social junto às classes populares levou o governo a se
aproximar do movimento sindical e dos setores que representavam as correntes e ideias nacional-
reformistas.
Por esta perspectiva é possível entender as contradições na condução da política econômica do
governo. Durante a fase parlamentarista, o Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica foi
ocupado por Celso Furtado, que elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico
e Social.
O objetivo do Plano Trienal era combater a inflação a partir de uma política de estabilização que
demandava, entre outras coisas, a contenção salarial e o controle do déficit público. Em 1963, o governo
abandonou o programa de austeridade econômica, concedendo reajustes salariais para o funcionalismo
público e aumentando o salário mínimo acima da taxa pré-fixada.
Ao mesmo tempo, tentava obter o apoio de setores da direita realizando sucessivas reformas
ministeriais e oferecendo cargos às pessoas com influência e respaldo junto ao empresariado nacional e
os investidores estrangeiros.

Polarização Direita-Esquerda
Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações sociais que polarizaram as correntes de
pensamento de direita e esquerda em torno da condução da política governamental. Em 1964 a situação
de instabilidade política agravou-se.
O descontentamento do empresariado nacional e das classes dominantes como um todo se acentuou.
Por outro lado, os movimentos sindicais e populares pressionavam para que o governo programasse
reformas sociais e econômicas que os beneficiassem.102

102 http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=73

243
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao governo eclodem por todo o país. Em 13 de
março, ocorreu o comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu
300 mil trabalhadores em apoio a Jango.
Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial e setores conservadores da Igreja
realizaram a “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, considerada o ápice do movimento de
oposição ao governo.
As Forças Armadas também foram influenciadas pela polarização ideológica vivenciada pela
sociedade brasileira naquela conjuntura política, ocasionando rompimento da hierarquia devido à
sublevação de setores subalternos.
Os estudiosos do tema assinalam que, a quebra de hierarquia dentro das Forças Armadas foi o
principal fator que ocasionou o afastamento dos militares legalistas que deixaram de apoiar o governo de
Jango, facilitando o movimento golpista.

Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos presidentes da República Populista com a cronologia
correta:
- José Linhares (1945-1946 - interino)
- Eurico Gaspar Dutra (1946-1951)
- Getúlio Vargas (1951-1954)
- Café Filho (1954-1955)
- Carlos Luz (1955 - interino)
- Nereu Ramos (1955-1956 - interino)
- Juscelino Kubitschek (1956-1961)
- Jânio Quadros (1961)
- Ranieri Mazilli (1961 - interino)
- João Goulart (1961-1964)

Questões

01. (TRT/MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho João Goulart provocou grande turbulência
política em 1954 ao
(A) ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de Vargas, uma vez que era o principal líder do
Partido Trabalhista, que nele via possibilidade de reverter o clima político desfavorável em razão da
oposição exercida pela União Democrática Nacional.
(B) propor um aumento de 100% no valor do salário mínimo, proposta que causou a indignação de
setores do Exército insatisfeitos com sua situação e incomodados com o fato de que o salário de um
operário, caso recebesse o aumento em questão, se aproximaria do salário de um oficial.
(C) comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio, sua carta-testamento, alegando que uma
conspiração política antivarguista havia influenciado a população que agora culpava a ele e ao ex-
presidente pela alta inflacionária e pela crise econômica em curso.
(D) renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do empresariado e das Forças Armadas às
suas medidas trabalhistas, atitude que despertou o apoio da população a Jango e o clamor por sua
permanência no cargo, fenômeno apelidado de “queremismo”.
(E) atender às pressões dos sindicatos e propor amplas reformas de base, insubordinando-se à
autoridade de Getúlio Vargas por considerar que seu governo não estava tomando medidas
suficientemente favoráveis aos trabalhadores.

02. (SEDUC/PI – Professor-História – NUCEPE)

“Bossa nova mesmo é ser presidente


Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original".
(Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).

Considerando o período apresentado na composição, e o governo de Juscelino Kubitschek (1956-


1961), podemos afirmar CORRETAMENTE:
(A) Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino propunha romper com a política econômica do
governo Vargas, investindo com capitais nacionais nas áreas prioritárias para o governo, como energia,
transporte, indústria e distribuição de renda.

244
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(B) Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o governo de Juscelino conseguiu reduzir
drasticamente as disparidades econômicas e sociais do país, permitindo uma tranquilidade social que
perdurou até vésperas do Golpe Civil-Militar.
(C) Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a base monetária do país e assim custear
investimentos produtivos que permitiram o controle do déficit do orçamento público e a redução da
inflação.
(D) Seu governo coincidiu com um período de forte otimismo, apoiado em uma visão de modernidade
industrializante, o que fez o presidente prometer 50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato.
(E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de forma autoritária em sua forma de governar,
condição que pode ser exemplificada com o episódio em que puniu o ministro da Guerra, o general
Teixeira Lott, por ter contrariado um de seus aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede, subordinado
do general.

03. (IF/AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart (1961/1964) foi marcado pela interrupção
e conseguinte instalação da ditadura militar no país. O governo Goulart, na prática, ficou caracterizado
em função das suas ações políticas, como um governo:
(A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao socialismo chinês.
(B) Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto período pelos partidos de esquerda, inclusive
o partido comunista.
(C) Conturbado, em que foi implantado o parlamentarismo, fato este, que não foi suficiente para
amenizar as crises políticas do período.
(D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas forças armadas.
(E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por setores da chamada classe média, dos
trabalhadores e do empresariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na proposta de modernizar o
país.

Gabarito

01.B / 02.D / 03.C

Comentários

01. Resposta: B
No início de 1954, Jango propôs um projeto de aumento do salário mínimo de 100%. Segundo ele,
devido à elevação do custo de vida, a questão salarial continuava explosiva e, para enfrentá-la, era
necessário elevar o salário mínimo de 1.200 para 2.400 cruzeiros. A reação contrária foi tamanha que
Jango acabou sendo exonerado do cargo em 22 de fevereiro do mesmo ano.

02. Resposta: D
O marco da proposta de campanha de JK foi o “Plano de Metas”, com previsões esperançosas para
acelerar o crescimento econômico através da indústria, produção do aço, alumínio, cimento, álcalis e
outros metais. Com a abertura do mercado estrangeiro a ampliação e investimentos na indústria se
tornariam ainda mais fáceis. O plano consistia de 31 metas, sendo a última, a construção de Brasília,
chamada de Meta Síntese.

03. Resposta: C
Além da implantação de um sistema parlamentar que não rendeu resultados, a aproximação de Jango
com figuras ligadas ao bloco comunista, como o revolucionário Che Guevara e o cosmonauta Yuri Gagarin
foram motivo de duras críticas da oposição.

O Regime Militar

O início do governo militar é marcado por grande perseguição política aos líderes de esquerda, tendo
por exemplo deputados e políticos seus mandatos cassados. Para tanto foi criado o SNI (Serviço Nacional
de Informação).
O SNI era o serviço secreto do Exército e contava com agentes infiltrados em vários setores como
jornais, sindicatos, escolas (...). Apesar das cassações de mandato o Congresso Nacional foi mantido e

245
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
mesmo após a constituição de 67, que institucionalizava o regime, os militares continuaram governando
através de atos institucionais103.
Foram eles:
AI-1: Ampliação dos poderes do presidente, eleição indireta e a cassação de parlamentares de
esquerda. O início da instalação da Ditadura. Perseguem lideranças opositoras (líderes camponeses,
estudantis, sindicais, partidários e intelectuais) e são cassados mandados políticos e cargos públicos.
AI-2: Instituiu bipartidarismo. Só podiam existir dois partidos: a ARENA e o MDB. Consolida as eleições
indiretas. Os voto dos congressistas para a presidência era aberto e declarado dito no microfone na
assembleia. Não havia oposição de fato. O congresso aprovava tudo o que os presidentes militares
mandavam.
AI-3: Estabelecia eleições indiretas para governadores de estado. Votavam os deputados estaduais
por voto aberto e declarado.
AI-4: Convocação urgente da assembleia para a aprovação da constituição de 67
AI-5: Concede poder excepcional ao presidente que pode cassar mandatos, cargos, fechar o
congresso e estabelece o estado de sítio. O AI-5 eliminou as garantias individuais.

Os presidentes eram escolhidos pelos próprios militares em colégio eleitoral, assim como os
governadores de estado e prefeitos de cidades com mais de 300 mil habitantes. O voto da população em
nível federal limita-se aos deputados e senadores que eram ou da ARENA (conhecido como “partido do
sim”) ou do MDB (conhecido como “partido do sim senhor”). Não havia oposição real e concreta no
congresso. Somente a permitida pelos militares.
Foram presidentes militares:
- Castelo Branco (64-67)
- Costa e Silva (67-69)
- Garrastazu Médici (69-74)
- Ernesto Geisel (74-79)
- Figueiredo (79-85)

A ditadura entre 1964 e 1967 durante o governo do Marechal Castelo Brancos foi um período mais
brando dentro do contexto do regime. Os partidos foram extintos (ficou o bipartidarismo) e a censura
ocorria, mas ainda que pequeno, havia um espaço para os trabalhadores e estudantes se manifestarem,
sobretudo os artistas. As manifestações proliferaram. Ocorreram grandes greves operárias em Contagem
(MG) e São Paulo.
O último ato de Castelo Branco foi a imposição de LSN (Lei de Segurança Nacional), que estabelecia
que certas ações de oposição ao regime seriam consideradas “atentatórias” à segurança nacional e
punidas com rigor.
Em dezembro de 1968, sob o governo do Marechal Costa e Silva foi instituído o AI-5, o mais duro e
repressor dos atos institucionais.
Alguns grupos políticos contra a ditadura passaram a atuar na clandestinidade. Alguns deles, devido
ao AI-5 optaram por partir para a revolta armada que adotou táticas de guerrilha.
Surgiram focos de guerrilha urbana (principalmente São Paulo) e guerrilha rural (na região do rio
Araguaia). A guerrilha nunca representou um grande problema de verdade, pois eram pequenos e poucos
grupos, mas forneceu o argumento que a ditadura precisava para manter e aumentar a repressão, pois
tínha inclusive um inimigo interno comunista. O risco não havia passado (lembra-se que o pretexto do
golpe era afastar o risco comunista?).

Milagre Econômico e Repressão


Durante o Governo do General Médici o país viveu a maior onda de repressões e torturas da ditadura.
O AI-5 era aplicado com toda a força e a censura era plena. Ao mesmo tempo o país vivia um período de
propaganda ufanista (nacionalismo e enaltecimento do Brasil) e experimentava um grande crescimento
econômico e urbano em razão do “milagre econômico”.
Foram contraídos empréstimos e concedidos créditos ao consumido, mas ao mesmo tempo os salários
foram congelados. Esta política nos primeiros anos de aplicação gerou um enorme consumo e
consequentemente gerou empregos (cada vez menos remunerados). Ao final da década de setenta o
país amargava uma grande inflação, salários cada vez mais defasados e um aumento da desigualdade
social.

103
O Golpe de 1964 e a Ditadura Militar em Perspectiva / Carlo José Napolitano, Caroline Kraus Luvizotto, Célio José Losnak e Jefferson Oliveira Goulart (orgs). - -
São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2014

246
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Movimentos de Resistência

O Movimento Estudantil
Entre os grupos que mais protestavam contra o governo de João Goulart para a implementação de
reformas sociais estavam os estudantes, mobilizados pela União Nacional dos Estudantes e União
Brasileira dos Estudantes secundaristas.
Quando os militares chegaram ao poder em 1964, os estudantes eram um dos setores mais
identificados com a esquerda comunista, subversiva e desordeira; uma das formas de desqualificar o
movimento estudantil era chamá-lo de baderna, como se seus agentes não passassem de jovens
irresponsáveis, e isso se justificava para a intensa perseguição que se estabeleceu.
Em novembro de 1964, Castelo Branco aprovou uma lei, conhecida como lei "Suplicy de Lacerda",
nome do ministro da Educação, reorganizando as entidades e proibindo-as de desenvolverem atividades
políticas.
Os estudantes reagiram, boicotando as novas entidades oficiais e realizando passeatas cada vez mais
frequentes. Ao mesmo tempo, o movimento estudantil procurou assegurar a existência das suas
entidades legítimas, agora na clandestinidade104.
Em 1968 o movimento estudantil cresceu em resposta não só repressão, mas também em virtude da
política educacional do governo, que já revelava a tendência que iria se acentuar cada vez mais no sentido
da privatização da educação, cujos efeitos são sentidos até hoje.
A política de privatização tinha dois sentidos: um era o estabelecimento do ensino pago (principalmente
no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das
necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão-de-obra e técnicos especializados).
Estas diretrizes correspondiam à forte influência norte-americana exercida através de técnicos da
Usaid (agência americana que destinava verbas e auxílio técnico para projetos de desenvolvimento
educacional) que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de
acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira.
As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a
subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano. O movimento estudantil
não parava de crescer, e com ele a repressão.
No dia 28 de março de 1968 uma manifestação contra a má qualidade do ensino realizada no
restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro, foi violentamente reprimida pela polícia, resultando
na morte do estudante Edson Luís Lima Souto105.
A reação estudantil foi imediata: no dia seguinte, o enterro do jovem estudante transformou-se em um
dos maiores atos públicos contra a repressão; missas de sétimo dia foram celebradas em quase todas as
capitais do país, seguidas de passeatas que reuniram milhares de pessoas.
Em outubro do mesmo ano, a UNE (União Nacional dos Estudantes), na ilegalidade convocou um
congresso para a pequena cidade de Ibiúna, no interior de São Paulo. A polícia descobriu a reunião,
invadiu o local e prendeu os estudantes.

Movimentos Sindicais
As greves foram reprimidas duramente durante a ditadura. Os últimos movimentos operários ocorreram
em 1968, em Osasco e Contagem, sendo reavivadas somente no fim da década de 1970, com a greve
de 1.600 trabalhadores no ABC paulista em 12 de maio de 1978, que marcou a volta do movimento
operário à cena política.
Em junho do mesmo ano, o movimento espalhou-se por São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de
julho registraram-se 166 acordos entre empresas e sindicatos beneficiando cerca de 280 mil
trabalhadores. Nessas negociações, tornou-se conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva.
No dia 29 de outubro de 1979 os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos interromperam o trabalho.
No dia seguinte o operário Santos Dias da Silva acabou morrendo em confronto com a polícia, durante
um piquete na frente uma fábrica no bairro paulistano de Santo Amaro. As greves se espalharam por todo
o país.
Em consequência de uma greve realizada no dia 1º de Abril de 1980 pelos metalúrgicos do ABC
paulista e de mais 15 cidades do interior de São Paulo, no dia 17 de Abril o ministro do trabalho, Murillo
Macedo, determinou a intervenção nos sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André, prendendo
13 líderes sindicais dois dias depois. A organização da greve mobilizou estudantes e membros da Igreja.

104http://repositoriolabim.cchla.ufrn.br/bitstream/123456789/111/16/O%20MOVIMENTO%20ESTUDANTIL%20BRASILEIRO%20DURANTE%20O%20REGIME%20

MILITAR%201968-1970.pdf
105 https://www.une.org.br/2011/09/historia-da-une/

247
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Ligas Camponesas
O movimento de resistência esteve presente também no campo. Além da sindicalização formaram-se
Ligas Camponesas que, sobretudo no Nordeste, sob a liderança do advogado Francisco Julião, foram
importantes instrumentos de organização e de atuação dos camponeses.
Em 15 de maio de 1984 cerca de 5 mil cortadores de cana e colhedores de laranja do interior paulista
entraram em greve por melhores salários e condições de trabalho. No dia seguinte invadiram as cidades
de Guariba e Bebedouro. Um canavial foi incendiado. O movimento foi reprimido por 300 soldados.
Greves de trabalhadores se espalharam por várias regiões do país, principalmente no Nordeste.

A Luta Armada
Militantes da Esquerda resolveram resistir ao regime militar através da luta armada, com a intenção de
iniciar um processo revolucionário. Entre os grupos mais notórios estão:

- Ação Libertadora Nacional (ALN), em que se destaca Carlos Marighella, ex-deputado e ex-
membro do Partido Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em 1969;

- Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos
Lamarca, morto na Bahia, em 17 de setembro de 1971. Em 1969 funde-se com o Comando de
Libertação Nacional (COLINA), e muda o nome para Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), que teve participação também da presidente Dilma Rousseff;

- A Ação Popular, que teve origem em 1962 a partir de grupos católicos, especialmente influentes no
movimento estudantil;

- Partido Comunista do Brasil (PC do B), que surge de um conflito interno dentro do PCB.

Um dos principais feitos da ALN, em conjunto ao Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), foi
o sequestro do embaixador estadunidense Charles Ewbrick, em 1969. Em nenhum lugar do mundo um
embaixador dos EUA havia sido sequestrado. Essa façanha possibilitou aos guerrilheiros negociar a
libertação de quinze prisioneiros políticos. Outro embaixador sequestrado foi o alemão-ocidental Ehrefried
Von Hollebem, que resultou na soltura de quarenta presos.
A luta armada intensificou o argumento de aumento da repressão. As torturas aumentaram e a
perseguição aos opositores também. Carlos Marighella foi morto por forças policiais na cidade de São
Paulo. As informações sobre seu paradeiro foram conseguidas também através de torturas.
O VPR realizou ações no Vale do Ribeira em São Paulo, mas teve que enfrentar a perseguição militar
na região. Lamarca conseguiu fugir para o Nordeste, mas acabou morto na Bahia, em 1971.
O último foco de resistência a ser desmantelado foi a Guerrilha do Araguaia. Desde 1967, militantes
do PCdoB dirigiram-se para região do Bico do Papagaio, entre os rios Araguaia e Tocantins, onde
passaram a travar contato com os camponeses da região, ensinando a eles cuidados médicos e
auxiliando-os na lavoura.
As Forças Armadas passaram a perseguir os guerrilheiros do Araguaia em 1972, quando descobriu a
ação do grupo. O desmantelamento ocorreria apenas em 1975, quando uma força especial de
paraquedistas foi enviada à região, acabando com a Guerrilha do Araguaia.
No Brasil, as ações guerrilheiras não conseguiram um amplo apoio da população, levando os grupos
a se isolarem, facilitando a ação repressiva. Após 1975, as guerrilhas praticamente desapareceram, e os
corpos dos guerrilheiros do Araguaia também. À época, a ditadura civil-militar proibiu a divulgação de
informações sobre a guerrilha, e até o início da década de 2010 o exército não havia divulgado informação
sobre o paradeiro dos corpos.

Redemocratização do País e Diretas Já.


O General Geisel assume em 74. Foi o militar que deu início à abertura política, assinalando o fim da
ditadura. O fim do regime foi articulado pelos próprios militares que planejaram uma abertura “lenta,
segura e gradual”.
Nas eleições parlamentares de 74 os militares imaginaram que teriam a vitória da ARENA, mas o MDB
teve esmagadora maioria. Em razão deste acontecimento a ditadura lança a Lei Falcão e o Pacote de
Abril. A lei falcão acabava com a propaganda eleitoral. Todos os candidatos apareceriam o mesmo tempo
na TV, segurando seu número enquanto uma voz narrava brevemente seu currículo. Apesar de uma
oposição consentida o MDB estava incomodando e o pacote de abril serviu para garantir supremacia da
ARENA.

248
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A constituição poderia ser mudada somente por 50% dos votos (garante a vitória da ARENA). Um terço
dos senadores teriam o papel de “senador biônico”, ou seja, indicado pela assembleia (sempre
senadores da ARENA) e alterou o coeficiente eleitoral de forma que a região nordeste (que ainda ocorria
claramente o voto de “cabresto” e os eleitores votavam em peso na ARENA) tivesse um maior número de
deputados. Geisel pôs fim ao AI-5 em 1978.
Em 1979 assumiu a presidência o General Figueiredo, sob uma forte crise econômica resultado da
política econômica do milagre brasileiro. Em 79 foi aprovada a Lei da Anistia (perdão de crimes políticos),
que de acordo com o governo militar era uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.
O que isso queria dizer?
Que todos os crimes cometidos na ditadura seriam perdoados, tanto o “crime” dos militantes políticos,
estudantes, intelectuais e artistas que se encontravam exilados (fora do país por motivos de perseguição
política), e puderam voltar ao Brasil, como os torturadores do regime.
Em 1979 são liberadas para a próxima eleição o voto direto aos governadores. Também foi aprovada
a “Lei Orgânica dos Partidos” que punha fim ao bipartidarismo e foram fundados novos 5 partidos:
- PDS (Partido Democrático Social)
- PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
- PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)
- PDT (Partido Trabalhista Brasileiro)
- PT (Partido dos Trabalhadores)

Obs.: A lei eleitoral obrigava a votar somente em candidatos do mesmo partido, de vereador à
governador. A oposição ao regime, na eleição para governador de 1982, obteve vitória
esmagadora.

A Resistência às Reformas Políticas de Figueiredo


Assim como Geisel, o general Figueiredo teve de enfrentar resistência da linha-dura às reformas
políticas que estavam em andamento. As primeiras manifestações dos grupos que estavam descontentes
com a abertura vieram em 1980.
No final desse ano e no início de 1981, bombas começaram a explodir em bancas de jornal que
vendiam periódicos considerados de esquerda (Jornal Movimento, Pasquim, Opinião etc.). Uma carta-
bomba foi enviada à OAB e explodiu nas mãos de uma secretária, matando-a. Havia desconfianças de
que fora uma ação do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de
Defesa Interna), mas nunca se conseguiu provar nada.

O Caso Riocentro
Em abril de 1981, ocorreu uma explosão no Riocentro durante a realização de um show de música
popular. Dele participavam inúmeros artistas considerados de esquerda pelo Regime. Quando as
primeiras pessoas, inclusive fotógrafos, se aproximaram do local da explosão, depararam com uma cena
dramática e constrangedora.
Um carro esporte (Puma) estava com os vidros, o teto e as portas destroçados. Havia dois homens no
seu interior, reconhecidos posteriormente como oficiais do Exército ligados ao DOI-Codi. O sargento,
sentado no banco do passageiro, estava morto, praticamente partido ao meio. A bomba explodira na
altura de sua cintura. O motorista, um capitão, estava vivo, mas gravemente ferido e inconsciente.
O Exército abriu um inquérito Policial-Militar para apurar o caso e, depois de muitas averiguações,
pesquisas, tomadas de depoimentos, concluiu que a bomba havia sido colocada ali, dentro do carro e
sobre as pernas do sargento do Exército, por grupos terroristas. Essa foi a conclusão da Justiça Militar, e
o caso foi encerrado.
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do país, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano.
Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-se chapas
para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que o
presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney. Contudo Tancredo Neves passou mal na
véspera da posse e foi internado com infecção intestinal, não resistiu e morreu. Assumiria a presidência
da República em 1985 José Sarney.
O Governo de José Sarney foi um momento de enorme crise econômica, com hiperinflação, mas um
dos momentos mais fundamentais que coroaria a redemocratização, pois foi em seu governo que foi

249
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
aprovada a nova constituição. Foi reunida em 1987 uma assembleia nacional constituinte (assembleia
reunida para escrever e promulgar uma nova constituição).

A Constituição de 1988

A nova constituição foi votada em meio a grandes debates e diferentes visões políticas. Havia muitos
interesses em disputa. O voto secreto e direto para presidente foi restaurado, proibida a censura,
garantida a liberdade de expressão e igualdade de gênero, o racismo tornou-se crime e o estado
estabeleceu constitucionalmente garantias sociais de acesso a saúde, educação, moradia e
aposentadoria.
Ao final de 1989 foi realizada a primeira eleição livre desde o golpe de 1964. Foi disputada em dois
turnos. O segundo foi concorrido entre o candidato Fernando Collor de Mello (PRN – partido da renovação
nacional), contra Luís Inácio Lula da Silva. Collor ganhou a eleição, com apoio dos meios de comunicação
e governou até 1992 após ser afastado por um processo de impeachment. Ocorreram grandes
manifestações populares, sobretudo estudantis, conhecidas como o “movimento dos caras-pintadas”.

Questões

01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) O processo de abertura política no
Brasil, ao final do período de regime militar, foi marcado
(A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso oficial que culpava os grupos guerrilheiros
e o imperialismo soviético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos países vizinhos.
(B) pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição outorgada em 1967 continuou vigente,
mantiveram-se os cargos “biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos Institucionais durante a
década de 1980.
(C) pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o governo encampasse uma abertura “lenta,
gradual e irrestrita”, os setores populares organizaram greves nacionais que culminaram na realização de
eleições diretas para presidente em 1985.
(D) pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que prevaleceram pressões por parte dos setores
afinados com o regime e concessões dos movimentos pela democratização, em um complexo jogo político
que se estendeu pelos anos 1980.
(E) pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem as Comissões da Verdade que conseguiram,
com o aval do primeiro governo civil pós-ditadura, atender as demandas por “verdade, justiça e reparação”
da sociedade brasileira.

02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) A respeito dos Atos Institucionais
decretados durante o regime militar no Brasil,
(A) sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante a ditadura, sendo o último, em 1968, o que
suspendeu a garantia do direito ao habeas corpus e instituiu a censura prévia.
(B) refletiram a intenção dos militares em preservar a institucionalidade da democracia, uma vez que
todos os atos eram votados pelo Congresso.
(C) prestaram-se a substituir a falta de uma nova Constituição, chegando a 20 decretações que se
estenderam até o governo Geisel.
(D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua promulgação destaca-se o reforço dos poderes
discricionários da Presidência da República.
(E) concentraram-se nos dois primeiros anos de governo militar e instituíram o estado de sítio e o
bipartidarismo.

03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) O golpe de 1964, que deu início ao
regime militar no Brasil e que foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, teve, entre seus objetivos
(A) refrear o avanço do comunismo apoiado pelo presidente Jango que, após ver concretizado seu
programa reformista, articulava-se para adaptar o Estado aos moldes socialistas, por meio do projeto de
uma nova constituição difundido e aplaudido no histórico Comício da Central do Brasil.
(B) reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime parlamentarista pelo qual João Goulart
governava favorecia alianças entre partidos pequenos e grupos de esquerda liderados pelo PTB, que
tinha representação significativa na Câmara e no Senado.
(C) destituir o governo de João Goulart, contando com o apoio do governo dos Estados Unidos e de
parcelas da sociedade brasileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
organizada por setores conservadores da Igreja Católica.

250
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do equilíbrio econômico, uma vez que greves
paralisavam a produção nacional e movimentos de apoio à reforma agrária se radicalizavam, caso das
Ligas Camponesas que haviam iniciado a guerrilha do Araguaia.
(E) iniciar um processo autoritário de transição política e econômica nos moldes do neoliberalismo, por
meio de uma estratégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a Cepal, com o aval do
empresariado brasileiro insatisfeito com o governo vigente.

Gabarito

01.D / 02.D / 03.C

Comentários

01. Resposta: D
A ideia de uma abertura “Lenta, gradual e segura” foi utilizada pelo governo militar. No final da década
de 70 e início da década de 80 ocorreram muitas greves, principalmente na região do ABC paulista.
A primeira eleição direta para presidente após a abertura ocorreu em 15 de novembro de 1989.

02. Resposta: D
Os Atos Institucionais foram normas elaboradas no período de 1964 a 1969 durante o regime militar.
Foram editadas pelos Comandantes-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo Presidente
da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional. Foram 17 atos ao todo, sendo o mais
conhecido deles o AI-5, cuja descrição é: Suspende a garantia do habeas corpus para determinados
crimes; dispõe sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio, nos casos
previstos na Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais; suspensão
de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação de mandatos
eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores;
exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares
decorrentes; e dá outras providências.

03. Resposta: C
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período também é chamado de Ditadura Civil-Militar (Ditadura militar com apoio civil). O
argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”.

Guerra do Vietnã;

*Candidato(a). Assunto trabalhado no contexto da Guerra Fria.

A Revolução Cubana; Socialismo e Golpe Militar no Chile; a Revolução Iraniana;


esfacelamento dos Estados socialistas na Europa, queda do Muro de Berlim;
conflitos étnicos no leste europeu; o avanço da política neoliberal no mundo;

REVOLUÇÃO CUBANA

A Independência de Cuba e a Influência dos Estados Unidos


Cuba foi o último domínio da Espanha a emancipar-se, em 1898. Apesar da independência, a realidade
política de cuba não foi muito alterada. Sua emancipação foi resultado da guerra entre Estados Unidos e
Espanha, com a vitória do país americano, que passou a exercer sua influência sobre a ilha.
A Constituição cubana, criada após a independência, incluiu uma lei aprovada pelo Congresso norte-
americano: a Emenda Platt, que estabelecia, entre outras coisas, que o governo de Cuba nunca deveria
ingressar em nenhum tratado ou outro pacto estabelecido com qualquer potência estrangeira; que o
governo de Cuba deveria permitir que os Estados Unidos exercessem o direito de intervir a fim de

251
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
preserva a independência do país; que todos os decretos dos Estados Unidos em Cuba durante sua
ocupação militar deveriam ser ratificados e validados. Essa postura dos Estados Unidos enquadrou-se
no âmbito do "Big Stick Policy" e foi adotada pelo presidente Theodore Roosevelt, sendo também
responsável pela dependência do país ao capitalismo norte-americano.
O domínio dos Estados Unidos durou até 1933, quando o Dr. Ramón Grau San Martín chegou ao
poder, apoiado por um movimento popular que contou com apoio comunista. Durante essa nova etapa
de governo, a Emenda Platt foi revogada, foi criado o Ministério do Trabalho, e as mulheres ganharam o
direito ao voto.

O Governo de Fulgêncio Batista


O governo de San Martin não agradou alguns setores da sociedade cubana, ligados aos interesses
norte-americanos. O sargento Fulgêncio Batista encabeçou a oposição ao governo e foi eleito presidente
em 1940. Seu governo caracterizou-se pelo cunho ditatorial, durando até 1944, quando o Partido
Autentico reelegeu San Martin.
Durante os anos 1950, em plena Guerra Fria, os Estados Unidos temiam o avanço do comunismo na
América, e apoiaram a tomada de poder de diversos governos autoritários de direita para garantir sua
hegemonia. Apoiado pelos norte-americanos, em 10 de março de 1952 Fulgêncio Batista toma o poder
novamente.
Paralelamente à chegada de Batista ao poder, começam a eclodir diversas greves e revoltas,
movimentadas pelo proletariado e pelo movimento estudantil. Em 1953 começam as tentativas de
revolução, quando os rebeldes tentaram conquistar os quartéis de Moncada e de Carlos Manuel de
Céspedes, em 26 de Julho. A ação fracassou e boa parte dos revoltosos que não morreram durante o
conflito foram presos. Entre eles estava um jovem que havia ganhado destaque na liderança dos
movimentos: o advogado recém-formado pela Universidade de Havana, Fidel Alejandro Castro Ruz.
Após passar alguns meses na prisão, Castro é libertado e exilado, refugiando-se no México, onde
conseguiu reunir as condições necessárias para iniciar uma guerrilha com o objetivo de derrubar Batista
do poder. Dessa forma surge o Movimento Revolucionário 26 de Julho (M-26-7), que contava com
apoio de membros no México, em Cuba, Guatemala e até mesmo nos Estados Unidos. Nessa época
entra para o grupo o médico e também guerrilheiro, Ernesto “Che” Guevara
Durante mais de dois anos o grupo guerrilheiro de Fidel estruturou-se para garantir a coesão do grupo.
Ao longo desse período foi sendo traçado o plano de invasão de Cuba: penetrar as florestas do sudoeste
da ilha com um grupo de guerrilheiros, aos pés da Sierra Maestra, e a partir daí, espalhar o movimento
com a ajuda de camponeses pobres que viviam na região.

O Início dos ataques


Os guerrilheiros vieram do México a bordo do iate Granma, transportando 82 pessoas, armamentos e
mantimentos. Dois dias depois do planejado, em 2 de dezembro de 1956, o iate encalhou no sudeste da
ilha. A distância do litoral obrigou os combatentes a alcançar a praia à nado, o que revelou-se uma
tentativa frustrada, ao serem reconhecidos por um barco de patrulha costeira de Cuba, que disparou
incessantemente contra eles. O resultado foi a morte de 60 guerrilheiros.
Os sobreviventes embrenharam-se nas selvas da Sierra Maestra, contando com a ajuda de
camponeses para conseguir abrigo e alimentos. Ciente do risco que corria, o governo de Batista retalhou
com firmeza as tentativas do grupo, punindo severamente qualquer um que fosse acusado de colaborar
com os rebeldes
Organizando-se clandestinamente, a partir de técnicas e aparelhos rudimentares, os rebeldes foram
ganhando espaço e conquistando a simpatia da população carente, que via neles uma esperança de
mudança de vida. Através das táticas de guerrilha, conseguiam vencer conflitos contra os soldados do
exército, muitas vezes em maior número. Para garantir a sobrevivência do movimento, foram dividas
“colunas”, grupos de certa forma autônomos, comandados por um líder
Mesmo com as afirmações do governo de que o movimento havia sido sufocado na Sierra Maestra, os
focos de conflito continuavam a crescer.
As colunas, agora já maiores e melhor organizadas traziam consigo vantagens e desvantagens.
Tornava-se inviável bater na casa de um camponês e pedir-lhe comida. A base guerrilheira, então
instalada na Sierra Maestra funcionava como um Quartel General e muito por iniciativa de Ernesto
Guevara (Che), criou-se em plena floresta um sistema rudimentar para a produção de pão e charque que
alimentasse as tropas, artigos de couro para os soldados e inclusive uma pequena imprensa com um
mimeógrafo antigo de onde eram editados manifestos e até um jornal da floresta. Atos de insubordinação
ou indisciplina, também eram frequentes e firmemente tolhidos. Algumas vezes até passíveis de crítica

252
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
quanto a sua dureza, principalmente na figura de Che Guevara. Promovido a chefe de uma coluna, Che
era conhecido pela sua conduta exemplar e por exigir não menos que isso de seus soldados.
No final de 1958 os grupos guerrilheiros estão próximos da capital, cada vez mais fortalecidos. A coluna
de Che já toma a segunda cidade em importância de Cuba e marcha para a capital, assim como a coluna
de Camilo Cienfuegos, personagem de vital importância para a Revolução.
Conseguindo cada vez mais apoio e recursos, no primeiro dia de 1959, os guerrilheiros chegam à
Havana, capital cubana. Entendendo que a situação estava perdida, Batista havia abandonado o país,
juntamente com alguns membros de seu governo.

Fidel no Poder
Após a chegada ao poder, os revolucionários ocuparam-se em julgar aqueles que se posicionaram
contra a revolução e os apoiadores de Batista. Os métodos utilizados foram criticados, pois os
condenados eram enviados para a morte por pelotões de fuzilamento.
Os Estados Unidos foram contra a Revolução Cubana, tentando de todas as formas revertê-la. Cuba
assumiu o comunismo, recebendo apoio da União Soviética. Vale lembrar que cuba fica próxima dos
Estados Unidos, sendo considerada uma posição estratégica.
Várias tentativas de derrubar Fidel do poder foram feitas, como a invasão da baía dos porcos em 1961.
Em 1962 a ilha envolveu-se em uma polêmica com a implantação de mísseis soviéticos, que geraram
tensão entre Estados Unidos e URSS.
Como as tentativas de retomar o controle da ilha não funcionaram, em 1962 os Estados Unidos
declararam embargo econômico, proibindo as nações aliadas de realizarem comércio com Cuba.

Questões

01. (FUVEST) Na América Latina, no século XX, aconteceram duas grandes revoluções: a
Mexicana de 1910 e a Cubana de 1959. Em ambas, os
(A) camponeses sem terra lideraram sozinhos os movimentos.
(B) EUA enviaram tropas que lutaram e quase derrotaram os rebeldes.
(C) grupos socialistas iniciaram a luta armada, tornando hegemônicas suas ideias.
(D) revolucionários derrubaram governos autoritários e alcançaram a vitória.
(E) programas revolucionários foram cópias de movimentos europeus.

02. (FGV) A Revolução Cubana, vitoriosa em 1959, teve como principal característica:
(A) A mobilização popular por meio de manifestações de massas e a organização de seguidas greves
gerais que interromperam as atividades econômicas de Cuba.
(B) A prática do “foquismo”, com grupos armados que se dedicavam à luta armada caracterizada pela
tática de guerrilhas.
(C) A mobilização internacional por meio de campanhas que denunciavam o desrespeito aos direitos
humanos por parte do governo cubano.
(D) A intervenção soviética, que enviou tropas de apoio aos revolucionários e bombardeou bases do
governo cubano.
(E) A vitória eleitoral dos revolucionários no pleito de 1958 e a gradativa implementação de medidas
socializantes por Fidel Castro.

Gabarito

01.D / 02.B

Comentários

01. Resposta: D
Nos dois casos, grupos revolucionários, ligados aos setores mais pobres da sociedade buscaram
alterar o poder dominante por meio de revoltas e conflitos. No caso cubano o governo manteve-se por
toda a segunda metade do século XX inalterado, com Fidel Castro como governante.

02. Resposta: B
Os líderes do movimento propunham que pequenos grupos armados usando táticas de guerrilha, com
apoio camponês, poderiam chegar ao poder; o “foco guerrilheiro”.

253
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O movimento liderado por Fidel Castro em 1959 acabou por derrubar o ditador Fulgêncio Batista e, em
1961, Cuba tornava-se um Estado socialista, aliado à União Soviética.

FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA106

A queda do governo de Stálin trouxe à tona uma série de transformações que abriu portas para o fim
da centralização política promovida pelo stalinismo. No governo de Nikita Kruchev, várias das práticas
corruptas e criminosas do regime stalinista foram denunciadas. Depois de seu governo, Leonid Brjnev
firmou-se frente a URSS de 1964 a 1982. Depois desse período, Andropov e Constantin Tchernenko
assumiram o governo russo.
Nesse período, os problemas gerados pela burocratização do governo soviético foram piorando a
situação social, política e econômica do país. O fechamento do país para as nações não-socialistas forçou
a União Soviética a sofrer um processo de atraso econômico que deixou a indústria soviética em situação
de atraso. Além disso, os gastos gerados pela corrida armamentista da Guerra Fria impediam que a União
Soviética fosse capaz de fazer frente às potências capitalistas.
A população que tinha acesso ao ensino superior acabou percebendo que o projeto socialista
começava a ruir. As promessas de prosperidade e igualdade, propagandeadas pelos veículos de
comunicação estatais, fazia contraste com os privilégios a uma classe que vivia à custa da riqueza
controlada pelo governo. Esse grupo privilegiado, chamado de nomenklatura, defendia a manutenção do
sistema unipartidário e a centralização dos poderes políticos.
No ano de 1985, o estadista Mikhail Gorbatchev assumiu o controle do Partido Comunista Soviético
com idéias inovadoras. Entre suas maiores metas governamentais, Gorbatchev empreendeu duas
medidas: a perestroika (reestruturação) e a glasnost (transparência). A primeira visava modernizar a
economia russa com a adoção de medidas que diminuía a participação do Estado na economia. A
glasnost tinha como objetivo abrandar o poder de intromissão do governo nas questões civis.
Em esfera internacional, a União Soviética buscou dar sinais para o fim da Guerra Fria. As tropas
russas que ocupavam o Afeganistão se retiraram do país e novos acordos econômicos foram firmados
junto aos Estados Unidos. Logo em seguida, as autoridades soviéticas pediram auxílio para que outras
nações capitalistas fornecessem apoio financeiro para que a nação soviética superasse suas dificuldades
internas.
A ação renovadora de Mikhail Gorbatchev criou uma cisão política no interior da União Soviética. Alas
ligadas à burocracia estatal e militar faziam forte oposição à abertura política e econômica do Estado
soviético. Em contrapartida, um grupo de liberais liderados por Boris Ieltsin defendia o aprofundamento
das mudanças com a promoção da economia de mercado e a privatização do setor industrial russo. Em
agosto de 1991, um grupo de militares tentou dar um golpe político sitiando com tanques a cidade de
Moscou.
O insucesso do golpe militar abriu portas para que os liberais tomassem o poder. No dia 29 de agosto
de 1991, o Partido Comunista Soviético foi colocado na ilegalidade. Temendo maiores agitações políticas
na Rússia, as nações que compunham a União Soviética começaram a exigir a autonomia política de
seus territórios. Letônia, Estônia e Lituânia foram os primeiros países a declararem sua independência.
No final daquele mesmo ano, a União Soviética somente contava com a integração do Cazaquistão e do
Turcomenistão.
No ano de 1992, o governo foi passado para as mãos de Boris Ieltsin. Mesmo implementando diversas
medidas modernizantes, o governo Ieltsin foi marcado por crises inflacionárias que colocavam o futuro da
Rússia em questão. No ano de 1998, a crise econômica russa atingiu patamares alarmantes. Sem
condições de governar o governo, doente e sofrendo com o alcoolismo, Boris Ieltsin renunciou ao governo.
Somente a partir de 1999, com a valorização do petróleo no governo de Vladimir Putin, a Rússia deu
sinais de recuperação.

Declínio do Socialismo nos Países Europeus107


Depois da Segunda Guerra Mundial, os países da Europa Oriental ficaram sob a área de influência da
União Soviética. Com exceção da Iugoslávia e da Albânia, todos eles seguiam rigorosamente as diretrizes
do Partido Comunista da União Soviética. É claro, portanto, que a introdução da perestroika e da glasnost
iria desencadear enormes mudanças também nesses países.

106
http://brasilescola.uol.com.br/historiag/urss.htm
107As mudanças nos Países da Europa Oriental. Aticaeducacional. Disponível em: < http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/Especiais/URSS/link17.htm>
Acesso em 03 de maio de 2017.

254
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Por seu significado no jogo da guerra fria, o grande marco dessas mudanças foi a queda do muro de
Berlim, em novembro de 1989. A destruição do muro – que o mundo inteiro viu com a sensação de estar
assistindo ao próprio desenrolar da História – simbolizou como nenhum outro fato o esfacelamento do
mundo socialista e a redefinição do poder no mundo.
Vamos examinar a transformação ocorrida nos países da Europa Oriental, um por um: Polônia,
Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia, Albânia, Alemanha Oriental e Iugoslávia.

Polônia
Na Polônia, o processo de transformações políticas e econômicas começou antes que em qualquer
outro país socialista. Já no final da década de 1970 e início da de 1980, movimentos grevistas agitaram
os principais centros industriais do país, principalmente os estaleiros de Gdansk.
Diante da falta de iniciativa das autoridades e dos sindicatos, atrelados ao governo, um grupo de
operários e de intelectuais fundou um sindicato independente, o Solidarnosc (Solidariedade). Sua
combatividade entusiasmou os operários, que aderiram em massa à organização.
A iniciativa dos trabalhadores e de seus líderes, entre os quais se destacava Lech Walesa, atingiu
frontalmente as autoridades, que passaram imediatamente a combater o Solidariedade. Como não
conseguiram resultado, em 1982 o governo instaurou a lei marcial, e o sindicato foi declarado ilegal e
proibido de funcionar.
Os anos seguintes foram extremamente difíceis. O Solidariedade funcionou na ilegalidade e diversos
membros da sua direção estiveram presos.
Com a perestroika na União Soviética, a partir de 1985, a situação começou a mudar, e em 1988 o
sindicato emergiu novamente com força, liderando uma onda de greves. O governo foi obrigado a ceder.
Por um acordo assinado entre o Solidariedade e o governo, em abril de 1989, a ilegalidade do sindicato
foi revoga da e foram estabelecidas novas regras para o jogo político: foi criado o cargo de presidente da
República e instituído um Parlamento com duas câmaras.
Em junho do mesmo ano, o Solidariedade, agora transformado em partido, conquistou 99 das 100
cadeiras do Senado e 35% das da Câmara dos Deputados (65% haviam sido reservadas aos comunistas
e seus aliados). Tadeus Mazowiecki, um dos principais líderes do Solidariedade, assumiu o cargo de
primeiro-ministro.
O Partido Comunista, após as eleições, passou a perder força a cada dia, até tornar-se totalmente
inexpressivo.
Em 1990 Lech Walesa venceu a primeira eleição para presidente da República. Durante seu governo,
procurou acelerar o processo de retorno da economia polonesa às regras do livre mercado.

Hungria
Em 1956 a Hungria fez uma tentativa de mudar os rumos do socialismo. Imre Nagy liderou um
movimento que propunha a democratização do regime, com maior liberdade de expressão e certa
liberalização da economia, mas as tropas enviadas pela facção stalinista do PC esmagaram a rebelião.
O sucessor de Nagy , embora seguisse inicialmente a orientação de Moscou, começou lentamente a
introduzir algumas reformas na economia. A produção de bens de consumo passou a ter prioridade e as
empresas estatais ganharam maior autonomia.
A coletivização da agricultura foi abandonada, os camponeses ganharam liberdade para comercializar
suas safras. Graças a essas medidas, o abastecimento alcançou excelentes níveis de eficiência, difíceis
de observar nos outros países socialistas.
Com o advento da perestroika, essas reformas foram aceleradas por iniciativa do próprio Partido
Socialista Operário Húngaro (o Partido Comunista). Em fevereiro de 1989 foi abolido o sistema de partido
único e introduzido o pluripartidarismo. No ano seguinte realizaram-se eleições para a Presidência da
República e o Parlamento.
A transição para a economia de mercado manteve-se em ritmo acelerado. Em 1990 a Hungria
inaugurou a primeira bolsa de valores do mundo socialista.

Tchecoslováquia
Em 1968, Alexander Dubcek, então secretário-geral do Partido Comunista da Tchecoslováquia, iniciou
um intenso movimento de democratização do país, que ficou conhecido como Primavera de Praga. Os
tanques do Pacto de Varsóvia interromperam violentamente as reformas e Dubcek foi destituído do cargo.
Só em 1977 é que um novo movimento começou a estruturar-se com a publicação de um manifesto
assinado por diversos intelectuais. A Carta 77 protestava contra a repressão e exigia maior respeito aos
direitos humanos. A violenta reação do governo interrompeu o processo, que seria retomado apenas na
segunda metade da década de 80, graças à perestroika.

255
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A partir de 1987 a oposição se reorganizou e recomeçaram os protestos contra o regime. O movimento
intensificou-se em 1989, quando os intelectuais da Carta 77 passaram a liderá-lo. Eles tinham fundado o
Fórum Cívico, cujo líder mais importante era Vaclav Havel, grande escritor e teatrólogo.
Rapidamente o movimento de oposição, fortalecido por grandes manifestações populares, obrigou o
Partido Comunista a deixar o poder, que foi assumido pelo Fórum Cívico. Em dezembro de 1989
Alexander Dubcek assumiu a presidência da Câmara dos Deputados. Vaclav Havel tornou-se presidente
da República. As mudanças na Tchecoslováquia receberam o nome de revolução de veludo.
Com a democratização, voltou a manifestar-se o nacionalismo eslovaco, represado durante o regime
socialista. Em 1º de janeiro de 1993, concluindo um processo pacífico de negociação, a Tchecoslováquia
dividiu-se em dois Estados indepentendentes: a República Tcheca e a Eslováquia.

Alemanha Oriental
A República Democrática Alemã, ou Alemanha Oriental, era o país mais desenvolvido de todo o Leste
europeu. Erich Hõnecker era seu dirigente máximo.
Na década de 1980, para manter a política de subsídios, característica dos regimes socialistas, o
governo recorreu a empréstimos externos, endividando o país e diminuindo os investimentos em
infraestrutura. Em decorrência, a economia entrou em crise. Mais do que nunca, os alemães orientais se
viram tentados a cruzar a fronteira com a Alemanha Ocidental, o país mais rico da Europa, em busca de
novas oportunidades de trabalho. Nem o muro de Berlim conseguia desestimular as fugas.
No final de década de 1980, com a abertura dos regimes da Polônia e da Hungria, consolidou-se uma
via segura de evasão. Como não era necessário passaporte para transitar entre os países socialistas, os
alemães orientais dirigiam-se para a Polônia e a Hungria e dali para o Ocidente, sem maiores dificuldades.
Em agosto de 1989, quando a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria, milhares de alemães
orientais atravessaram a Tchecoslováquia, a Hungria e a Áustria e chegaram à Alemanha Ocidental.
Em setembro começaram a ocorrer em diversas cidades grandes manifestações populares em favor
de reformas. A polícia política – Stasi –tentava reprimi-las, mas com pouco sucesso. Em 1989, Egon
Krenz, um dos altos dirigentes do Partido Comunista, derrubou Erich Hõnecker e deu início a reformas no
partido e no regime.
Em novembro de 1989, sem ver outra alternativa, o governo de Egon Krenz determinou a derrubada
do muro de Berlim.
Foi uma festa. Milhares de pessoas ajudaram alegremente a quebrar a muralha. Todos queriam
participar daquele momento histórico. Em três dias, 3 milhões de alemães-orientais foram visitar Berlim
Ocidental. Eram recebidos com alegria e ganhavam de presente do governo ocidental alguns marcos
para comemorar a liberdade.
O muro de Berlim, que tinha sido o marco principal da divisão do mundo entre capitalismo e socialismo,
tornava-se o símbolo mais importante da derrocada do mundo socialista.
A população passou a se organizar em partidos, sindicatos e grupos políticos diversos, alguns dos
quais defendiam a reunificação da Alemanha. Entre esses movimentos destacou-se o Novo Fórum, com
uma plataforma contrária reunificação e a favor da democratização do socialismo. Era, até o início de 90,
a agremiação favorita nas eleições previstas para abril.
Mas, de olho na unificação, partidos políticos da Alemanha Ocidental interferiram na política interna
Oriental, especialmente Helmut Kohl, chanceler (primeiro-ministro) e membro da Democracia Cristã.
Procurando agrupar os conservadores, Kohl conseguiu formar uma coalizão – Aliança pela Alemanha –
com um discurso pró-unificação que surtiu efeito junto ao eleitorado alemão oriental, esvaziando a força
do Novo Fórum.
Nas eleições, a Aliança pela Alemanha recebeu sozinha 48% dos votos para o Parlamento da
Alemanha Oriental. Helmut Kohl conseguira seu intento: em 3 de outubro de 1990 a Alemanha foi
reunificada.
Após os festejos que uniram alemães dos dois lados, começou o processo de absorção da parte
oriental pela parte ocidental. Muitas empresas do leste foram fechadas, pois utilizavam tecnologia
superada. A moeda oriental foi trocada pela ocidental. Como a unificação se deu muito rapidamente,
acabou sendo traumática para muitas pessoas, que perderam seus empregos.

Bulgária
A Bulgária sempre foi um país fielmente ligado à União Soviética. Por isso, as mudanças começaram
apenas em 1989, quando o movimento já estava muito adiantado em outros países da Europa Oriental.
No final de 1989, começaram manifestações exigindo reformas. Todor Jivkov, que estava no poder
havia 35 anos, foi substituído por um dirigente identificado com a perestroika, que prometeu implantar o

256
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
pluripartidarismo no país. Na mesma época surgiu a União das Forças Democráticas, que levou 100 mil
pessoas às ruas para exigir eleições livres e o fim do regime de partido único.
As manifestações prosseguiram e, no início de 1990, Jivkov foi preso e acusado de crimes contra o
Estado. O próprio Partido Comunista adotou a denominação de Partido Socialista e passou a defender a
economia de mercado.
Ainda em 1990 foi eleita uma Assembleia Constituinte, que elaborou uma nova Constituição,
promulgada no ano seguinte. Foi instaurada a democracia e definido o parlamentarismo como forma de
governo. Na economia, iniciou-se o processo de privatização das empresas estatais.

Romênia
A onda de liberalização do Leste Europeu não deixou de atingir a Romênia, governada com mão de
ferro por Nicolae Ceausescu durante 24 anos. Justamente por sua resistência a acompanhar o processo
desencadeado pela perestroika, ele acabou derrubado do poder de forma violenta e fuzilado no dia de
Natal de 1989.
Na década de 1970, Ceausescu lançara um ambicioso plano de industrialização, centralizado na
petroquímica e financiado por empréstimos externos. Em meados da década, em decorrência da crise
internacional do petróleo, o déficit comercial da Romênia atingiu cifras elevadas. Considerado pelo
Ocidente como um bom pagador, Ceausescu resolveu honrar seus compromissos à custa de sacrifícios
impostos à população. Trabalho redobrado, racionamento de gêneros de primeira necessidade, cortes no
fornecimento de energia, fazia-se de tudo para ampliar as exportações e carrear recursos para os cofres
públicos. Qualquer contestação era duramente punida.
Como parte de seus planos, o ditador decretou a romenização da minoria húngara que vivia no país.
Esse ato de força desencadeou forte reação popular a partir da cidade de Timisoara, berço da minoria
húngara, em dezembro de 1989. Ceausescu mandou reprimir com violência as manifestações. Houve
milhares de mortos. A revolta se intensificou mais ainda, alcançando praticamente todo o país, incluindo
a capital. Diante disso, o Exército também se revoltou, indo engrossar a oposição.
Permaneceu ao lado do ditador apenas a Securitate, sua polícia secreta, que no entanto não deu conta
de protegê-lo. Ceausescu acabou preso quando tentava fugir de helicóptero. Ele e sua mulher foram em
seguida submetidos a um tribunal militar, condenados à morte e fuzilados, diante das câmaras de
televisão.
Na falta de partidos de oposição organizados, foi criada a Frente de Salvação Nacional, formada
basicamente por ex-dirigentes do Partido Comunista que haviam caído em desgraça sob o governo de
Ceausescu, tendo à frente Ion Iliescu.
Foi anunciado imediatamente o fim da censura, a liberdade partidária, a dissolução da Securitate e o
fim do racionamento dos gêneros de primeira necessidade. Em 1990 Iliescu foi eleito presidente por ampla
margem de votos.
A falta de uma tradição democrática retardou a reorganização da sociedade romena. Além de sofrer
os problemas econômicos e políticos próprios de um período de transição, o país assistiu ao
ressurgimento de grupos ultranacionalistas e racistas, que pressionavam pela expulsão da minoria
húngara.
Apesar desses conflitos, em novembro de 1991 foi aprovada uma
nova Constituição, que consagrou a propriedade privada e estabeleceu diretrizes para levar o país à
abertura econômica, a exemplo dos demais países do Leste Europeu.

Albânia
Último reduto do stalinismo na Europa, a Albânia resistiu o quanto pôde aos ventos da abertura. Sob
a condução de Enver Hohxa, que governou o país desde o fim da Segunda Guerra Mundial até 1985, a
Albânia se isolou do mundo. Em 1961 afastou-se até da União Soviética e do Comecon, por não concordar
com a desestalinização proposta por Kruschev. Alinhou-se então com a China.
Sua política econômica sempre privilegiou a indústria pesada, aproveitando as fontes de matéria-prima
existentes no país, como o petróleo e o cromo. Na agricultura a regra era a coletivização. A médio prazo,
esse modelo fez o país atingir a autossuficiência em alimentos. Trocas no exterior, só a dinheiro, e quando
absolutamente imprescindíveis.
A partir dos anos 80, já rompida também com a China, a Albânia iniciou uma pequena aproximação
econômica com o Ocidente. Mas sua política permaneceu inalterada até 1985, quando Enver Hohxa
morreu. Seu sucessor continuou com essas diretrizes, e o país chegou ao final da década com um padrão
de consumo muito restrito. Produtos banais – absorventes, por exemplo – não existiam no mercado local.
O governo apresentava, como conquistas importantes, bons sistemas de saúde, educação, transporte
e habitação. Mas esse argumento não sensibilizava os mais jovens, que ansiavam por um padrão de vida

257
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
melhor, que conheciam pelos programas de televisão captados da Iugoslávia, da Itália e da Grécia.
Em julho de 1990, milhares de albaneses começaram a invadir embaixadas estrangeiras na capital,
Tirana, em busca de asilo. O governo acabou autorizando a emigração. Simultaneamente, tomou medidas
para afastar os ministros mais duros, que queriam reprimir a população.
Os albaneses conseguiram obter legalmente seus passaportes, pequenas empresas familiares foram
autorizadas a funcionar, a entrada de capital estrangeiro foi permitida, ainda que timidamente, e os
camponeses foram autorizados a vender sua produção aos preços de mercado. Após o relaxamento da
censura, foi concedida também liberdade religiosa e partidária. Finalmente, em março de 91, realizaram-
se eleições parlamentares, que deram 66% dos votos aos candidatos do Partido do Trabalho, o Partido
Comunista local.
Apesar desses avanços, parte da população decidiu não esperar mais pela melhoria das condições de
vida, ainda bastante duras em comparação com os vizinhos mais prósperos.
Em agosto de 91, uma leva de 22 mil albaneses tentou emigrar para a Itália, através de Brindise, no
sul do país. O governo italiano, que havia acolhido albaneses anteriormente, dessa vez se recusou, pois
o mercado de trabalho no sul da Itália, região menos desenvolvida do país, não comportaria tal volume
de imigrantes. Sob protesto, 17 mil albaneses foram repatriados.
Em março de 1992, novas eleições para o Parlamento deram vitória ao Partido Democrático (não-
comunista). Era o fim da experiência socialista na Albânia.

Iugoslávia – Formação e Desagregação108


A antiga Iugoslávia era composta por diferentes povos: croatas, eslovenos, sérvios, muçulmanos,
albaneses, macedônios, entre outros. Esses povos tinham diferentes características culturais, como a
língua, os hábitos e a religião, tão específicos que chegaram a entrar em conflito várias vezes no decorrer
da história.
A FORMAÇÃO DA IUGOSLÁVIA E A IMPORTÂNCIA DE TITO
A Federação Iugoslava originou-se após a Primeira Guerra Mundial, a partir de territórios que faziam
parte dos Impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano. Apesar da balcanização étnica e religiosa, a
Iugoslávia manteve-se unida após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Essa união deveu-se à
influência e habilidade política de um líder socialista e carismático, o marechal Josip Broz Tito, que se
destacou na luta contra os invasores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Tito implantou na Iugoslávia um regime socialista, mas jamais aceitou a interferência da União
Soviética. Após a morte de Tito, em 1980, a situação política e econômica começou a se agravar.
A Iugoslávia era formada por uma federação de repúblicas (Sérvia, Montenegro, Croácia, Eslovênia,
Bósnia-Herzegovina e Macedônia) e por regiões autônomas (Voivodina e Kosovo). Dentre as repúblicas
que integravam a Iugoslávia, a Sérvia era a mais poderosa, uma vez que controlava a maior parte das
forças armadas e da economia do país.
A ocorrência de minorias sérvias na Bósnia-Hezergovina, Croácia e Eslovênia teve o objetivo de
misturar os povos do país, a fim de dificultar futuros movimentos separatistas nessas regiões.
Conflitos e mudanças geopolíticas recentes:
1- Bósnia-Herzegovina (Guerra Civil entre 1991-1995)
2- Kosovo (conflito em 1999, área com administração da ONU com presença de tropas da OTAN e
Rússia)
3- Macedônia (conflitos entre macedônios e a minoria albanesa em 2001)
4- Independência de Montenegro por referendo em 2006

ESLOVÊNIA, CROÁCIA E MACEDÔNIA


Na década de 1990, com a ampliação da crise econômica na Iugoslávia, revigoraram-se as antigas
rivalidades entre os grupos étnicos, conduzindo a movimentos nacionalistas e separatistas. A partir de
então, iniciou-se a fragmentação política e territorial iugoslava.
A Eslovênia foi a primeira república a declarar-se independente, firmando a cidade de Liubliana como
sua capital. Trata-se de um pequeno país, mas com razoável industrialização e renda per-capita elevada
para os padrões do Leste Europeu.
Em seguida, a Croácia declarou sua independência, com a capital em Zagreb. O governo central
iugoslavo, controlado pelos sérvios, mandou tropas para conter os separatistas e os combates agravaram
a crise.

108Iugoslávia – Formação e Desagregação. Cola da Web. Disponível em: < http://www.coladaweb.com/geografia/paises/iugoslavia-formacao-e-desagregacao>


Acesso em 03 de maio de 2017.

258
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A Macedônia, a mais pobre das ex repúblicas iugoslavas, também tomou-se independente. A partir de
2000, o país passou a enfrentar conflitos entre macedônios e a minoria albanesa, que se rebelou na
fronteira com Kosovo.

BÓSNIA-HERZEGOVINA
A crise na Iugoslávia tornou-se ia mais grave na república da Bósnia-Herzegovina, pois sua população
era composta por grupos étnicos diferentes, 44% de muçulmanos, 31% de sérvios e 17% de croatas,
grupos estes que tinham objetivos divergentes:
Os croatas e muçulmanos que viviam na Bósnia desejavam sua independência política;
Os sérvios que moravam na Bósnia queriam continuar pertencendo à Iugoslávia, com a Sérvia e
Montenegro.
Um plebiscito aprovou a independência da Bósnia-Herzegovina em 1992, reconhecida por vários
países europeus e pelos Estados Unidos. Entretanto, as divergências entre os três grupos étnicos levaram
a uma sangrenta guerra civil, que visava ao controle sobre vários territórios. Os sérvios-bósnios tiveram
auxílio da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro); já os croatas-bósnios foram ajudados pela vizinha Croácia.
A guerra civil deixou cerca de 200 mil mortos. Foram violados quase todos os direitos humanos
básicos. Houve massacre de populações civis indefesas, campos de concentração, alocação de
cadáveres em valas comuns, estupros em massa de mulheres de grupos étnicos adversários, entre outras
atrocidades. Os anos de guerra levaram à devastação da economia e da infraestrutura da Bósnia.
Por meio de pressões internacionais lideradas pela ONU, Estados Unidos, Rússia e União Europeia,
chegou-se a um acordo de paz a partir de 1995, após a assinatura do Tratado de Dayton. Por esse acordo,
a Bósnia-Herzegovina foi mantida como país independente por meio de uma Confederação.
Cerca de 49% do seu território ficou sob controle sérvio-bósnio, enquanto que 51% dele passou para
o controle dos muçulmanos e croatas-bósnios. Essa divisão territorial por grupos étnicos também passou
a vigorar na sua capital, Sarajevo.

Questões

01. (UFRN) Em 1991, a guerra civil na República Federativa da Iugoslávia iniciou-se com alguns
conflitos na Croácia e na Eslovênia. Em 1992, as lutas ocorreram na Bósnia-Herzegovina, estendendo-
se até dezembro de 1995. Recentemente, elas atingiram a província de Kosovo, na República Sérvia.
Para a ocorrência de todos esses conflitos, contribuiu o (a):
(A) colapso dos regimes socialistas no Leste Europeu, o que provocou abalos na unidade política das
províncias balcânicas, criando condições para que emergissem as diferenças étnicas, culturais e
religiosas.
(B) interferência das nações europeias participantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) para evitar que os conflitos locais da região balcânica tivessem o apoio dos países signatários do
Pacto de Varsóvia.
(C) processo de globalização, que acelerou a modernização industrial dos países participantes da
União Europeia (UE), causando desemprego, o que poderia ser resolvido com o crescimento dos
exércitos regulares.
(D) origem histórica dos povos eslavos, que buscavam uma forma de reconstruir o Império Otomano,
desfeito autoritariamente pelo Acordo de Potsdam e pela Conferência de Yalta após a Segunda Guerra
Mundial.

02. Em 1991, a cúpula do Partido Comunista Russo organizou um golpe contra o então líder reformista
Mikhail Gorbachev. Entre os golpistas, encontravam-se Gennady Yanayev, Dimitri Yazov, Boris Pugo,
Vladimir Kryuchov e Valentin Pavlov. A população russa, desgastada pelo regime comunista, insurgiu-se
contra o golpe naquele mesmo ano. Nesse contexto, a figura política que se encarregou de liderar a
população a lutar pela liberdade foi:
(A) Dmitri Medvedev
(B) Boris Yeltsin
(C) Lev Kamenev
(D) Nikita Kruschev
(E) Karl Kautsky

03. Com o esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em decorrência do
colapso do modelo político-econômico comunista, que vigorou nesses países durante décadas, uma nova

259
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
associação de apoio mútuo foi estabelecida entre a Rússia e outros países da ex-URSS. O nome dado a
essa associação foi:
a) Organização do Tratado do Atlântico Norte
b) Associação Progressista do Leste Europeu
c) Pacto de Varsóvia
d) Comunidade dos Estados Independentes
e) Fundo Monetário Internacional

Gabarito

01.A / 02.B / 03.D

Comentários
01. Resposta A
O território da ex-Iugoslávia era caracterizado pelas complexas divergências religiosas e étnico-
nacionalistas. Essas divergências estiveram sob o controle totalitário do general Josip Broz Tito durante
as primeiras décadas da Guerra Fria, que, ao contrário de outros líderes daquela região, não ficou
submetido integralmente à autoridade de Moscou. Com a desintegração da URSS, em 1991, alguns dos
Estados que compunham a Iugoslávia declararam-se independentes, como foi o caso da Bósnia-
Herzegóvina. Os interesses dos vários Estados vinculados à Iugoslávia acabaram por entrar em rota de
colisão, dando início à guerra civil.

02. Resposta B
Boris Yeltsin foi o principal articulador da transição do comunismo soviético para o estabelecimento da
democracia na Rússia. Sua figura tornou-se mundialmente emblemática após ele ter enfrentado
diretamente o golpe articulado pela cúpula do partido comunista soviético contra Gorbachev, em 1991.

03. Resposta D
A Comunidade dos Estados Independentes, ou CEI, foi criada em dezembro de 1991 após os
tumultuados meses de crise que configuraram o fim da União Soviética. Como o próprio nome indica, os
países inclusos na CEI não estavam mais subordinados ao poder central de Moscou, como ocorria na
URSS, mas eram livres política e economicamente.

Pós-Guerra Fria109
A partir dos anos de 1980, o declínio do sistema socialista estava ficando cada vez mais comum. Os
comunistas passavam por uma série de problemas com o mercado e o dinheiro. Na política, a população
demonstrava desapontamentos por causa da pouca participação exercida pelo povo. Deu-se, então, o
desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, agora, apenas Rússia.
O Exército Vermelho começou a enfraquecer, prova disso, o recuo das tropas soviéticas do território
afegão. A cova da URSS já estava quase pronta. Isso começou na década de 70, com as reformas
políticas executadas por Mikhail Gorbatchev, o Glasnost e a Perestroika. A política de Karl Marx
(socialismo) foi sendo deixada de lado. A antiga China Comunista aderiu ao movimento capitalista –
apenas na economia ela era comunista
Com o pós-Guerra Fria, houve o surgimento da expressão “Globalização” e os Estados Unidos se
transformaram numa potência, praticamente inalcançável. No decorrer dos conflitos entre os capitalistas
e socialistas, cerca de 60% da riqueza mundial estava em poder dos norte-americanos, pois, eles
dominavam sobre todos os outros.
As ditaduras militares foram abolidas e a democracia começava a se instaurar nos países. Os direitos
humanos se sobressaem e é o fim dos regimes totalitários. Poucas nações continuaram com o sistema
de economia planificada, que foi o caso de Coreia do Norte, Cuba e Mianmar. O restante “se libertou” e
aderiu à política capitalista.
Na economia, não foi diferente. Estabeleceram-se de vez as relações comerciais através dos blocos
econômicos, como, por exemplo, UE – União Europeia; Mercado Comum do Sul – Mercosul, Tratado
Norte Americano de Livre Comércio – Nafta; Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico – APEC, a
Comunidade dos Estados Independentes – CE, União Africana e outros.
No ramo cultural, o idioma inglês tornou-se uma língua universal, visto que as tecnologias e estudos
avançados estavam todos em poder dos norte-americanos. Isso aconteceu principalmente por meio da

109 http://guerra-fria.info/pos-guerra-fria.html

260
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
internet. O cinema, com os mais famosos filmes de Hollywood, complementa a expansão cultural dos
estadunidenses.
O mundo pós-Guerra já caminhava por outra ideologia, a da preocupação com o meio ambiente. O
aquecimento global se tornou pauta dos debates mundiais. As crises no Oriente Médio estouraram, o
terrorismo tomou conta da região e, novamente os Estados Unidos usaram da política de intervenção, na
tentativa de apaziguar.
Atualmente, o mundo possui uma multipolaridade entre três potências mundiais, Estados Unidos,
Japão e Alemanha. Além disso, os países se subdividiram em um mapa diferente dos geográficos,
separado por paralelos e meridianos. Agora, começa a existir a divisão entre norte e sul, entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Esse avanço tantos nas relações políticas, quanto econômicas,
trouxe alguns problemas como: o racismo, a xenofobia (preconceito com imigrantes), as questões
climáticas e destruição do meio ambiente, o desemprego, a fome, a exclusão e diversos outros problemas
sociais.

Terceiro Mundo
Com o passar do tempo, o mundo foi recebendo diferente regionalizações para que facilitasse o estudo,
evitando que fosse feita generalizações de informações, tornando que a análise fosse mais específica.
Uma das formas encontradas de regionalizar o mundo na época da Guerra Fria foi dividir o mundo em
Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo. A expressão “Terceiro Mundo” era designada aos países que não
se posicionaram nem contra nem a favor dos Estados Unidos nem da URSS, eram os chamado “não-
alinhados”. Essa expressão foi usada pela primeira vez por um demógrafo Francês chamado Alfred
Sauvy.
Na época em que houve a chamada Guerra Fria, onde a União Soviética e os Estados Unidos travavam
uma disputa diplomática, a maioria dos países da África, da Oceania, alguns da Ásia e a Índia, ainda eram
colônias e não estavam preocupados com essa disputa, mas sim com seus movimentos nacionalistas
que buscavam a sua independência.
Em 1955, houve a primeira conferência que conseguiu reunir tais países, a Conferência de Bandug,
aconteceu na Indonésia, onde participaram Índia, Egito, Iugoslávia, Indonésia, Cingapura, China, Japão,
os dois Vietnãs e outros países totalizando 29 países asiáticos e africanos. Essa conferência teve como
objetivo promover uma cooperação econômica e cultural afro-asiático. Também foram tratados assuntos
até então inéditos, como a influência negativa dos países ricos e a prática do racismo considerada crime.
Após o término da Guerra Fria, o termo “terceiro mundo” passou a designar países que pobres e que
não haviam atingido certo desenvolvimento. Atualmente os países considerados do “terceiro mundo” são
chamados de países em desenvolvimento.

Questão

01. (UERJ) Falamos a todo momento em dois mundos, em sua possível guerra, esquecendo quase
sempre que existe um terceiro. É o conjunto daqueles que são chamados, no estilo Nações Unidas, de
países subdesenvolvidos. Pois esse Terceiro Mundo ignorado, explorado, desprezado como o Terceiro
Estado, deseja também ser alguma coisa. ALFRED SAUVY, Adaptado de France-Observateur,
14/08/1952.
Com essas palavras, o demógrafo e economista francês Alfred Sauvy caracterizou, na década de
1950, a expressão Terceiro Mundo. No contexto das relações internacionais a que se refere o texto, esse
conceito foi utilizado para a crítica da:
(A) luta pela descolonização
(B) expansão do comunismo
(C) bipolaridade da Guerra Fria
(D) política da Coexistência Pacífica

Gabarito

01.C

Comentário

1. Resposta: C.
A expressão “Terceiro Mundo” era designada aos países que não se posicionaram nem contra nem a
favor dos Estados Unidos nem da URSS, eram os chamado “não-alinhados.

261
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Estado Brasileiro pós regime militar: a transição para a democracia;

BRASIL REPÚBLICA - NOVA

- Nova República

Chamamos Nova República a organização do Estado Brasileiro a partir da eleição indireta de Tancredo
Neves pelo Colégio eleitoral, após o movimento pelas diretas já. No dia da posse foi hospitalizado e
faleceu. Então a cadeira presidencial foi ocupada por seu vice José Sarney

A Vitória da Aliança Democrática e a posse de Sarney

Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, primeiro presidente civil em 20
anos. Ele obteve 275 votos do PMDB (em 280 possíveis), 166 do PDS (em 340 possíveis), que
correspondiam à dissidência da Frente Liberal, e mais 39 votos espalhados entre os outros partidos. No
total foram 480 contra 180 do candidato derrotado.
O PT, por não concordar com as eleições indiretas, não participou da votação. A posse do novo
presidente estava marcada para 15 de março. Um dia antes, entretanto, Tancredo Neves foi internado
com diverticulite. Depois de várias operações, seu estado de saúde se agravou, falecendo no dia 21 de
abril de 1985. Com a morte do presidente eleito, assumiu o vice, José Sarney.

O Governo Sarney
José Sarney foi o primeiro presidente após o fim da ditadura militar. Durante seu governo foi
consolidado o processo de redemocratização do Estado brasileiro, garantido liberdade sindical e
participação popular na política, além da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte,
encarregada de elaborar uma nova constituição para o Brasil.
Entre os princípios incluídos na Constituição de 1988 estão:
- Garantia de direitos políticos e sociais;
- Aumento de assistência aos trabalhadores;
- Ampliação das atribuições do poder legislativo;
- Limitação do poder executivo;
- Igualdade perante a lei, sem qualquer tipo de distinção;
- Estabelecimento do racismo como crime inafiançável.

No plano econômico, o governo adotou inúmeras medidas para conter a inflação, como congelamento
de preços e salários e a criação de um novo plano econômico, o Plano Cruzado.
No final de 1986, o plano começou a demonstrar sinais de fracasso, acentuado pela falta de
mercadorias e pressão por aumento de preços.
Além do Plano Cruzado, outras tentativas de conter a inflação foram colocadas em prática durante o
governo Sarney, como o Plano Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano de Verão. No último mês do governo
Sarney, em março de 1990, a inflação alcançou o nível de 84%.

O Governo Collor

No final de 1989, os candidatos Fernando Collor de Mello, do PRN (Partido da Renovação Nacional)
e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores) disputaram as primeiras eleições diretas
(com voto da população) para presidente após a redemocratização. Com forte apoio de setores
empresariais e principalmente da mídia, Collor vence as eleições.
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que se beneficiavam do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino110, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).
Seu governo ficou marcado pelos Planos Collor:

110 Referente ao governo de Juan Domingo Peron na Argentina durante os anos de 1952 – 1955.

262
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Plano Collor111
A inflação no período de março de 1989 a março de 1990 chegou a 4.853%, e o governo anterior viu
apenas tentativas fracassadas de conter a inflação. Após sua posse, Collor anuncia um pacote econômico
no dia 15 de março de 1990: o Plano Brasil Novo.
Esse plano tinha como objetivo pôr fim à crise, ajustar a economia e elevar o país, do terceiro para o
Primeiro Mundo. O cruzado novo é substituído pelo "cruzeiro", bloqueia-se por 18 meses os saldos das
contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços
foram tabelados e depois liberados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados
entre patrões e empregados.
Os impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros tributos, foram suspensos os incentivos
fiscais não garantidos pela Constituição. Foi anunciado corte nos gastos públicos e também se reduziu a
máquina do Estado com a demissão de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano também
previa a abertura do mercado interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação.
As empresas foram surpreendidas com o plano econômico e sem liquidez pressionaram o governo. A
ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do dinheiro retido, denominado
de "operação torneirinha", para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de
pagamento e contribuições previdenciárias. O governo liberou os investimentos dos grandes empresários,
e deixou retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.

Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida, pois o plano era ousado e tirava o dinheiro
de circulação. Porém, ao mesmo tempo em que caía a inflação, iniciava-se a maior recessão da história
no Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas e a produção diminuiu
consideravelmente, com uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As empresas
foram obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em
São Paulo nos primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram de existir, pior
resultado, desde a crise do início da década de 80. O Produto Interno Bruto diminuiu de US$ 453 bilhões
em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.112

Privatizações113 - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacional de Desestatização que estava


previsto no Plano Collor foi regulamentado. A Usiminas foi a primeira estatal a ser privatizada, através de
um leilão em outubro de 1991. Depois disso, mais 25 estatais foram privatizadas até o final de 1993,
quando Itamar Franco já estava à frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimoniais
do setor público para o setor privado, com o processo de privatização dos setores petroquímicos e
siderúrgico já praticamente concluído. Então se inicia a negociação do setor de telecomunicações e
elétrico, existindo uma tentativa de limitar as privatizações à construção de grandes obras e à abertura
do capital das estatais, mantendo o controle acionário pelo Estado.

Plano Collor II
A inflação entra em cena novamente com um índice mensal de 19,39% em dezembro de 1990 e o
acumulado do ano chega a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É decretado o
Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Tinha como objetivo controlar a ciranda financeira. Para isso extinguiu as operações de overnight e
criou o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF) onde centralizou todas as operações de curto prazo,
acabando com o Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNf), que era usado pelo mercado para indexar
preços.
Passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros prefixados e aumenta o Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço para desindexar
a economia e tenta mais um congelamento de preços e salários. Um deflator é adotado para os contratos
com vencimento após 1º de fevereiro.
O governo acreditava que aumentando a concorrência no setor industrial conseguiria segurar a
inflação, então se cria um cronograma de redução das tarifas de importação, reduzindo a inflação de 1991
para 481%.

A Queda de Collor
Após um curto sucesso nos primeiros meses de governo, a administração Collor passou por profundas
crises. Com a taxa de inflação superior a 20%, em 1992 a impopularidade do presidente cresceu. Em

111 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR.


112 https://vdocuments.com.br/fernando-collor.html
113 GANDOLPHO, C. Plano Collor completa 20 anos. Diário do Grande ABC. http://www.dgabc.com.br/Noticia/144113/plano-collor-completa-20-anos

263
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
maio do mesmo ano, o irmão do presidente, Pedro Collor, acusou Paulo Cesar Farias, que havia sido
caixa da campanha de Fernando Collor, de enriquecimento ilícito, obtenção de vantagens no governo e
ligações político financeiras com o presidente.
Em junho do mesmo ano, o Congresso Nacional instalou uma Comissão de Inquérito Parlamentar
(CPI) para que fossem apuradas as irregularidades apontadas. Em 29 de setembro a Câmara dos
Deputados aprovou a abertura do processo de Impeachment e em 3 de outubro o presidente foi afastado.
Em dezembro o processo foi concluído e Fernando Collor teve seus direitos políticos cassados por oito
anos, e o governo passou para as mãos de seu vice, Itamar Franco.

O Governo Itamar Franco (1992-1994)

Durante seu período na presidência, Itamar Franco passou por um quadro de crescente dificuldade
econômica e alianças políticas instáveis com inúmeras nomeações e demissões de ministros do
executivo.
Um plebiscito foi realizado em 1993 para definir a forma de governo, com uma vitória esmagadora da
República Presidencialista. Outras opções incluíam a monarquia e o parlamentarismo.
No ano de 1993 a economia começava a dar sinais de melhora, com índice de crescimento de
aproximadamente 5%, que não ocorria desde 1986. Apesar do crescimento, houve um aumento na
população, deixando a renda per capita com menos de 3%.
Em 1994 a inflação continuou a subir, até que os efeitos do Plano Real começaram a surtir efeito.

Implantação do Plano Real114


O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco,
consistia em três fases: o ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Valor) e a
instituição de uma nova moeda, o Real.
De acordo com os autores do plano, as reformas liberais do Estado que estavam em andamento
naquele período seriam fundamentais para efetividade do plano.
A primeira fase, o ajuste fiscal procurava criar condições fiscais adequadas para diminuir o
desequilíbrio orçamentário do Estado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria um
dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do FSE (Fundo Social de Emergência), que
tinha por finalidade diminuir os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de impostos,
foi uma das principais iniciativas do governo.
A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o Real começou a funcionar em 1º de julho
de 1994, era um índice de inflação formado por outros três índices: o IGP-M115, da Fundação Getúlio
Vargas, o IPCA116 do IBGE e o IPC117 da FIPE/USP. O objetivo do governo era amarrar o URV ao dólar,
preparando o caminho para a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto dos outros
planos, com esta ferramenta transitória. Dessa forma, ao contrário da proposta de “moeda indexada” e
da criação de duas moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois o URV servia
como uma “unidade de conta”.118
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova moeda, que substituiria o Cruzeiro de
acordo com a cotação da URV que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que este
valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo Banco Central em US$ 1,00, com a
garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993.
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo não garantiu a conversibilidade das duas
moedas, como ocorreu na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma forma mais
adequada às turbulências desencadeadas pela crise do México, que começou a se intensificar no final de
1994.
A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de curto prazo, e a abertura do país aos
produtos estrangeiros, com a queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para complementar
a introdução da nova moeda e para combater a inflação e elevar os níveis de emprego.
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

114 Adaptado de Ipolito.


115 Índice Geral de Preços de Mercado.
116 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
117 Índice de Preços ao Consumidor.
118 GHIORZI, J. B. Política Monetária dos Governos FHC e LULA. UFSC. http://tcc.bu.ufsc.br/Economia295594

264
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Primeiro Governo Fernando Henrique

Em seu discurso de posse, o presidente destacou como prioridades a estabilização da nova moeda e
a reversão do quadro de exclusão social dos brasileiros.
Assim como outros países ao redor do mundo (e seus respectivos blocos), o Brasil começava a dar
início ao MERCOSUL.

Mercosul119
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 26 de março de 1991, o Tratado de Assunção,
com vistas a criar o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O objetivo primordial do Tratado de Assunção
é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes.
A configuração atual do MERCOSUL encontra seu marco institucional no Protocolo de Ouro Preto,
assinado em dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade jurídica de direito internacional
do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para negociar em nome próprio acordos com terceiros
países, grupos de países e organismos internacionais.
O MERCOSUL caracteriza-se, ademais, pelo regionalismo aberto, ou seja, tem por objetivo não só o
aumento do comércio intrazona, mas também o estímulo ao intercâmbio com outros parceiros comerciais.
São Estados Associados a Bolívia (em processo de adesão), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003),
a Colômbia e o Equador (desde 2004). Guiana e Suriname tornaram-se Estados Associados em 2013.
Com isso, todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL, seja como Estados Parte,
seja como associado.
O aperfeiçoamento da União Aduaneira é um dos objetivos basilares do MERCOSUL. Como passo
importante nessa direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as negociações para a conformação
do Código Aduaneiro do MERCOSUL.
Na última década, o MERCOSUL demonstrou particular capacidade de aprimoramento institucional.
Entre os inúmeros avanços, vale registrar a criação do Tribunal Permanente de Revisão (2002), do
Parlamento do MERCOSUL (2005), do Instituto Social do MERCOSUL (2007), do Instituto de Políticas
Públicas de Direitos Humanos (2009), bem como a aprovação do Plano Estratégico de Ação Social do
MERCOSUL (2010) e o estabelecimento do cargo de Alto Representante-Geral do MERCOSUL (2010).
Merece especial destaque a criação, em 2005, do Fundo para a Convergência Estrutural do
MERCOSUL - FOCEM, por meio do qual são financiados projetos de convergência estrutural e coesão
social, contribuindo para a mitigação das assimetrias entre os Estados Partes.
Em operação desde 2007, o FOCEM conta hoje com uma carteira de projetos de mais de US$ 1,5
bilhão, com particular benefício para as economias menores do bloco (Paraguai e Uruguai). O fundo tem
contribuído para a melhoria em setores como habitação, transportes, incentivos à microempresa,
biossegurança, capacitação tecnológica e aspectos sanitários.
O Tratado de Assunção permite a adesão dos demais Países Membros da ALADI 120 ao MERCOSUL.
Em 2012, o bloco passou pela primeira ampliação desde sua criação, com o ingresso definitivo da
Venezuela como Estado Parte. No mesmo ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao
MERCOSUL, que, uma vez ratificado pelos congressos dos Estados Partes, fará do país andino o sexto
membro pleno do bloco.
Com a incorporação da Venezuela, o MERCOSUL passou a contar com uma população de 285
milhões de habitantes (70% da população da América do Sul); PIB de US$ 3,2 trilhões (80% do PIB sul-
americano); e território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). O MERCOSUL passa
a ser, ainda, ator incontornável para o tratamento de duas questões centrais para o futuro da sociedade
global: segurança energética e segurança alimentar. Além da importante produção agrícola dos demais
Estados Partes, passa a ser o quarto produtor mundial de petróleo bruto, depois de Arábia Saudita, Rússia
e Estados Unidos.
Em julho de 2013, a Venezuela recebeu do Uruguai a Presidência Pro Tempore do bloco. A Presidência
Pro Tempore venezuelana reveste-se de significado histórico: trata-se da primeira presidência a ser
desempenhada por Estado Parte não fundador do MERCOSUL.
Na Cúpula de Caracas, realizada em julho de 2014, destaca-se a criação da Reunião de Autoridades
sobre Privacidade e Segurança da Informação e Infraestrutura Tecnológica do MERCOSUL e da Reunião
de Autoridades de Povos Indígenas.
119 http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul
120 Associação Latino Americana de Integração

265
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Uma das prioridades da Presidência venezuelana, o foro indígena é responsável por coordenar
discussões, políticas e iniciativas em benefício desses povos. Foram também adotadas, em Caracas, as
Diretrizes da Política de Igualdade de Gênero do MERCOSUL, bem como o Plano de Funcionamento do
Sistema Integrado de Mobilidade do MERCOSUL (SIMERCOSUL).
Criado em 2012, durante a Presidência brasileira, o SIMERCOSUL tem como objetivo aperfeiçoar e
ampliar as iniciativas de mobilidade acadêmica no âmbito do Bloco.
No segundo semestre de 2014, a Argentina assumiu a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL.
Entre os principais resultados da Cúpula de Paraná, Argentina, destacam-se: a assinatura de Memorando
de Entendimento de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e o Líbano; a assinatura
de acordo-quadro de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e a Tunísia; e a aprovação
do regulamento do Mecanismo de Fortalecimento Produtivo do bloco.
Em 17 de dezembro de 2014, o Brasil recebeu formalmente da Argentina a Presidência Pro Tempore
do MERCOSUL, que foi exercida no primeiro semestre de 2015. No dia 17 de julho de 2015 a Presidência
Pro Tempore foi passada ao Paraguai, que a exercerá por um período de seis meses.

O MERCOSUL na Atualidade
O MERCOSUL atravessa um processo acelerado de fortalecimento econômico, comercial e
institucional. Os Estados Partes consolidaram um modelo de integração pragmático, voltado para
resultados concretos no curto prazo. O sentido da integração do MERCOSUL atual é a busca da
prosperidade econômica com democracia, estabilidade política e respeito aos direitos humanos e
liberdades fundamentais.
Os resultados desse novo momento do MERCOSUL já começaram a aparecer. Entre os muitos
avanços recentes, destacam-se:
- Aprovação do Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (2017), que amplia a
segurança jurídica e aprimora o ambiente para atração de novos investimentos na região;
- Conclusão do acordo do Protocolo de Contratações Públicas do MERCOSUL (2017), que cria
oportunidades de negócios para as nossas empresas, amplia o universo de fornecedores dos nossos
órgãos públicos e reduz custos para o governo;
- Encaminhamento positivo da grande maioria dos entraves ao comércio intrabloco;
- Modernização no tratamento dos regulamentos técnicos;
- Apresentação dos projetos brasileiros para Iniciativas Facilitadoras de Comércio e Protocolo de
Coerência Regulatória.
- Tratamento do tema de proteção mútua de indicações geográficas entre Estados Partes do
MERCOSUL;
- Aprovação do Acordo do MERCOSUL sobre Direito Aplicável em Matéria de Contratos Internacionais
de Consumo (2017), que estabelece critérios para definir o direito aplicável a litígios dos consumidores
em suas relações de consumo.
Ainda há muito avanços necessários para consolidar o Mercado Comum previsto no Tratado de
Assunção, em todos os seus aspectos: a livre circulação de bens, serviços e outros fatores produtivos,
incluindo a livre circulação de pessoas; a plena vigência da TEC e de uma política comercial comum; a
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais; e a convergência das legislações nacionais dos
Estados Partes.
Na área institucional, é fundamental tornar o MERCOSUL mais ágil, moderno e dinâmico. Também há
espaço para avançar na racionalização da estrutura institucional do Bloco, tornando-a mais enxuta,
transparente e eficiente.
Nas áreas de cidadania e das políticas sociais, as metas estão dadas pelo Estatuto da Cidadania e
pelo PEAS. Entre as prioridades estabelecidas pelo Brasil, destacam-se a facilitação da circulação de
pessoas no MERCOSUL, por meio da modernização e simplificação dos procedimentos migratórios, e a
plena implementação do sistema de mobilidade acadêmica do MERCOSUL.
O Brasil seguirá trabalhando para que o MERCOSUL dê continuidade à concretização de uma agenda
pragmática, tendo sempre em mente os interesses dos cidadãos e empresas do bloco no fortalecimento
da integração econômica e comercial, da democracia e da plena observância dos direitos humanos.

Questões

01. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) São Membros Plenos ou Estados Partes do Mercosul
(Mercado Comum do Sul), bloco econômico sediado na América do Sul, EXCETO:
(A) Brasil
(B) Argentina

266
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(C) Chile
(D) Uruguai
(E) Paraguai

02. (DEMAE/GO – Técnico em Informática – CS/UFG) Alguns Blocos Econômicos agregam países
de um mesmo continente. No caso da América do Sul, onde foi criado, em 1991, o Mercado Comum do
Sul (Mercosul) pelo Tratado de Assunção, poucos países fazem parte deste Bloco, entre eles:
(A) Equador e Suriname
(B) Argentina e Uruguai
(C) Peru e Guiana Francesa
(D) Colômbia e Guiana

Gabarito

01.C / 02.B

Comentários

01. Resposta: C
O Chile faz parte do grupo MERCOSUL apenas como Estado Associado, assim como a Bolívia,
Colômbia, Peru e Equador.

02. Resposta: B
Os membros fundadores do MERCOSUL são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do
Tratado de Assunção de 1991. Todos os outros países que compõem o grupo estão na condição de
Estados Associados.

O Segundo Governo Fernando Henrique

Em seu segundo mandato, vencido novamente através da disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva,
houveram dificuldades para manter o valor do Real em relação ao Dólar.
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana, e a saída de capital especulativo
relacionada à queda da cotação do dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a
estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia em grande parte do capital estrangeiro.
A crise mostrou que a política de contenção da inflação com a valorização das moedas nacionais frente
ao dólar não poderia ser sustentável a longo prazo.
Negando sempre à similaridade entre o Brasil, o México e a Argentina, o governo passou a desacelerar
a atividade econômica e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros, aumento das
restrições às importações e estímulos à exportação. Com a necessidade de opor a situação econômica
brasileira à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis mostrar que corrigiria a
trajetória de sua balança comercial, atingindo saldo positivo.
Após a retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de 1997, a crise dos Tigres Asiáticos121,
que começou com a desvalorização da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia, Filipinas
e Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados financeiros mundiais.
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros e decretar um novo ajuste fiscal.
Novamente a fuga de capitais voltou a assolar a economia brasileira e o Plano Real.
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos não estáveis da União, suspensão do
reajuste salarial do funcionalismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de 6% no
valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele
ano.
A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilidade financeira na Rússia, com a
desvalorização do Rublo (moeda russa) e a decretação da moratória por parte do governo.
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa de juros básica cresceu até 49% e
um novo pacote fiscal surgiu no período de 1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises,
o governo recorreu ao FMI (Fundo Monetário Internacional) em dezembro de 1998, com quem obteve
cerca de US$ 41,5 bilhões, comprometendo-se a: manter o mesmo regime cambial, acelerar as

121 Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan (República da China) e Hong Kong (região administrativa da República Popular da China).

267
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assumir metas com relação ao superávit
primário. O que gradativamente desvalorizou o Real.

O Fim da Âncora Cambial


Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, a
repercussão da crise cambial russa chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros
começavam a perder força como ferramenta de manutenção do capital externo na economia brasileira e
um novo déficit recorde na conta de transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial,
que foi ampliada para R$ 1,32.
Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da banda, sendo desvalorizado em 8,2%, o que
influenciou na queda do valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do mundo todo.
O Banco Central tentou defender o valor da moeda vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou
ameaçando se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI no ano anterior. Nesse
momento, o governo não teve outra escolha senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a
cotação de R$ 1,98 em relação ao Dólar em 13 dias.
Os índices de desemprego atingiram um alto nível, alcançando 7,6 milhões de pessoas em 1999,
número três vezes maior que os 2 milhões do final da década de 1980. Apenas a Federação Russa, com
9,1 milhões e a Índia com 40 milhões possuíam taxas de desemprego maiores do que as do Brasil.
No plano político, foi aprovada em 2000 a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de controlar
os gastos do poder público e de restringir as dívidas deixadas por prefeitos e governadores a seus
sucessores.

O Governo Lula

Pouco antes de encerrar seu primeiro mandato, Fernando Henrique aprovou uma emenda que alterou
a constituição, permitindo a reeleição por mais um mandato. Com o fim de seu segundo mandato em
2002, José Serra, que foi ministro da saúde e um dos fundadores do PSDB foi apoiado por Fernando
Henrique para a sucessão.
Do lado da oposição, Lula concorreu à presidência pela quarta vez, conseguindo levar a disputa para
o segundo turno com o candidato tucano, quando obteve 61% dos votos válidos. A vitória de Lula foi
atribuída ao desejo de mudança na distribuição de riquezas, entre diversos grupos sociais.
Em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, não foram adotadas medidas grandiosas, com o presidente
buscando ganhar progressivamente a confiança de agentes econômicos nacionais e internacionais. Foi
mantida a política econômica do governo FHC, com a busca pelo combate da inflação por meio de altas
taxas de juros e estímulos à exportação. Em 2005 foi saldada a dívida com o FMI.
Como resultado da política econômica, em julho de 2008 a dívida externa total do país era de US$ 205
bilhões, e o país possuía reservas internacionais acima dos US$ 200 bilhões. As exportações bateram
recordes sucessivos durante o governo Lula, com ampliação do saldo positivo da balança comercial.
No plano social, o projeto de maior repercussão e sucesso foi o Bolsa-Família, baseado na
transferência direta de recursos para famílias de baixa ou nenhuma renda. Em janeiro de 2009 o programa
já contava com mais de 10 milhões de famílias atendidas, recebendo uma remuneração que variava de
R$ 20,00 a R$ 182,00. Para utilizar o programa, era exigência a frequência escolar e vacinação das
crianças. O programa teve como efeito a melhoria alimentar e nutricional das famílias mais pobres, além
de uma leve diminuição nas desigualdades sociais.
Em seu segundo mandato, destacou-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Mensalão
Em 2005, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB – RJ) denunciou no jornal Folha de São Paulo o
esquema de compra de votos conhecido como Mensalão.
No Mensalão deputados da base aliada do PT recebiam uma “mesada” de R$ 30 mil para votarem de
acordo com os interesses do partido. Entre os parlamentares envolvidos no esquema estariam membros
do PL (Partido Liberal), PP (Partido Progressista), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
e do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Entre os nomes mais citados do esquema estão: José Dirceu, que na época era ministro da Casa Civil
e foi apontado como chefe do esquema, Delúbio Soares era Tesoureiro do PT e foi acusado de efetuar
os pagamentos aos participantes e Marcos Valério, que era publicitário e foi acusado de arrecadar o
dinheiro para os pagamentos.
Outras figuras de destaque no governo e no PT também foram apontadas como participantes do
mensalão, tais como: José Genoíno (presidente do PT), Sílvio Pereira (Secretário do PT), João Paulo

268
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados e ex-Ministro das Comunicações), Luiz Gushiken (Ministro
dos Transportes), Anderson Adauto, e até mesmo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Governo Dilma Rousseff122

Primeira Mulher Presidente


As viagens internacionais e os encontros com chefes de Estado marcaram os primeiros meses do
governo Dilma em razão do ineditismo de o Brasil ser representado por uma presidente mulher. Entre as
visitas mais importantes está a do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, em março de 2011.
Em setembro, ela foi a primeira mulher a fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU.
Em sua fala, disse que era a "voz da democracia" e defendeu a criação do Estado Palestino.
No roteiro de viagens de Dilma, além de países da América do Sul, estiveram França, África, Bélgica,
Grécia e Turquia.

Troca de Ministros e 'Faxina Ética'


Antes de completar um ano de governo, Dilma viu sete ministros caírem, seis deles por acusações de
corrupção. Em dezembro de 2010, o recém-indicado ministro do Turismo, Pedro Novais, foi o primeiro
integrante do governo a ser acusado, antes mesmo da posse. Denunciado por irregularidades cometidas
quando era deputado, acabou deixando a pasta em setembro de 2011.
O primeiro ministro a sair, no entanto, foi Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil em 8 de junho do
mesmo ano, um dia após as acusações contra ele terem sido arquivadas pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel. Palocci era suspeito de enriquecimento ilícito, porque teria multiplicado seu
patrimônio em 20 vezes nos quatro anos anteriores. A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) assumiu a pasta.
Os ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura),
Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho) completaram a lista de baixas.
A forma enérgica como Dilma lidou com esses episódios fez com que parte da população passasse a
vê-la como a grande responsável pela "faxina ética" contra a corrupção.
Isso se refletiu na aprovação de 59% da população - o maior índice para o primeiro mandato de um
presidente desde a redemocratização, maior até que a popularidade de Lula nos primeiros quatro anos
na presidência, que foi de 52%.

Lava Jato e Pasadena


Deflagrada em março de 2014, a operação Lava Jato começou a investigar um grande esquema de
lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos.
Uma das primeiras prisões, também em março, foi a do doleiro Alberto Youssef. Dias depois, houve a
prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Costa era investigado pelo
Ministério Público Federal por supostas irregularidades na compra pela Petrobras da refinaria de
Pasadena, no Texas, em 2006.
Indícios de que a compra da refinaria teria sido desastrosa para a estatal - em uma época em que
Dilma ainda era ministra de Minas e Energia do governo Lula e presidente do Conselho Administrativo da
empresa - levaram ao pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Duas CPIs
acabaram sendo criadas: uma exclusiva do Senado e uma mista.
Depois de meses de investigação, a CPI mista aprovou o relatório do deputado Marco Maia (PT-RS),
que pedia o indiciamento de 52 pessoas e reconhecia prejuízo de US$ 561,5 milhões (R$ 1,9 bilhão) à
época, na compra da refinaria.
Costa e Youssef assinaram com o Ministério Público Federal acordos de delação premiada para
explicar detalhes do esquema e receber, em contrapartida, alívio de penas.
Em novembro de 2014, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Lava Jato, que envolveu buscas
em grandes empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e outras sete companhias.

Economia em Desaceleração
No primeiro ano do governo Dilma a economia já dava sinais de desaceleração, depois de o PIB
brasileiro ter crescido 7,5% em 2010, o maior avanço desde 1986. Em 2011, o PIB cresceu 2,7%, bem
menos que os 5,5% projetados.
O ponto positivo ficou por conta do emprego formal, que se mantinha em alta e apenas 5% da
população economicamente ativa estava desempregada. No entanto, à medida que o primeiro mandato
avançava, a economia apresentava mais resultados preocupantes.
122BBC BRASIL. De aprovação recorde ao impeachment: relembre os principais momentos do Governo Dilma. BBC Brasil. http://www.bbc.com/portuguese/brasil-
37207258

269
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 2012, ela cresceu 0,9%, o pior desempenho desde 2009. No ano seguinte, se recuperou
impulsionada pela alta de investimentos - o governo fez várias linhas de financiamento - e a alta do PIB
foi de 2,3%.
Para enfrentar a desaceleração, o governo apelou para medidas de desoneração, tanto para o setor
produtivo quanto para os consumidores. Pacotes de estímulos fiscais e financeiros também foram
lançados contra os gargalos de infraestrutura, como nas estradas e portos.
Segundo cálculos feitos por auditores da Receita Federal para a Folha de S. Paulo, as desonerações
concedidas pelo governo desde 2011 somariam estimados R$ 458 bilhões em 2018, quando deveria
terminar o segundo mandato de Dilma.
A redução de impostos começou no governo Lula, como forma de estimular o crescimento do país. No
entanto, passou a ser mais intensa quando Dilma foi eleita e avançou fortemente no primeiro ano de
mandato.
As desonerações aumentaram a dívida bruta do país. Em 2014, o setor público gastou R$ 32,5 bilhões
a mais do que arrecadou com tributos — o equivalente a 0,63% do PIB, o primeiro déficit desde 2002.

Pedaladas Fiscais
Em 2013 começaram a ocorrer as chamadas pedaladas fiscais, nome dado à prática do Tesouro
Nacional de atrasar de forma proposital o repasse de dinheiro para os bancos públicos, privados e
autarquias, como o INSS.
O objetivo era melhorar artificialmente as contas federais. Ao deixar de transferir o dinheiro, o governo
apresentava todos os meses despesas menores do que elas deveriam ser na prática.

Segundo Governo Dilma

Eleições de 2014
A campanha presidencial foi marcada pela disputa acirrada por votos e pela morte do candidato do
PSB, Eduardo Campos, que estava em terceiro lugar nas pesquisas e era considerado uma via alternativa
à oposição PT-PSDB. Marina Silva, substituta de Campos, logo saiu do páreo. Dilma foi reeleita com
51,64% dos votos válidos.

Popularidade Abalada
A popularidade da presidente se inverteu no segundo mandato, com os efeitos da situação econômica
e da crise de governabilidade. Nos primeiros três meses de 2016, pesquisa CNI-Ibope (Confederação
Nacional da Indústria) apontou que somente 24% dos entrevistados diziam confiar em Dilma, o pior
resultado desde o início do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999.

Ajuste Fiscal e Desemprego


No primeiro mandato, sinais de que a meta do superávit primário (economia para pagar os juros da
dívida) não seria cumprida levaram o governo a adotar, no primeiro mandato, um ajuste fiscal voltado à
redução de gastos públicos.
Em 2015, encabeçado pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o ajuste voltou a fazer parte da
agenda econômica do governo, mas para recompor as receitas. A nova prioridade da política econômica
era reequilibrar as contas públicas.
Para isso, Levy lançou medidas que ficaram conhecidas como "pacote de maldades", com o objetivo
de aumentar a arrecadação federal e retomar o crescimento da economia, entre elas, medidas provisórias
que alteraram o acesso a direitos previdenciários como seguro-desemprego e pensão por morte. Logo
nos primeiros meses, houve também ajustes nos preços dos combustíveis e da eletricidade para
aumentar a arrecadação.
No entanto, muitos economistas consideram que o corte necessário de gastos não veio, assim como
o aumento de impostos, o que foi agravado pela crescente dificuldade do governo de dialogar com o
Congresso.
Em 2015, o PIB caiu 3,8%. Tarifas de ônibus e energia elétrica, além de impostos e taxas, como IPVA
e IPTU, estiveram por trás da alta da inflação, que bateu 7% nos primeiros meses do ano.
Com a economia em crise, o mercado de trabalho passou por dificuldades, com reflexos sobre o
emprego e formalização do trabalho.
A taxa de desemprego do país cresceu para 8,5% na média no ano passado, conforme divulgação do
IBGE. Esse resultado é o maior já medido pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), iniciada em 2012. Em 2014, a média foi de 6,8%.

270
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Depois de uma sequência de derrotas em sua batalha para promover o ajuste, inclusive a perda do
grau de investimento do país, Levy deixou o governo em dezembro de 2015.

Lava Jato
As fases da operação Lava Jato monopolizaram as manchetes dos jornais desde 2014. Entre os
momentos mais importantes estão a prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da
Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo.
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele teria recebido cerca de R$ 4,26
milhões em propinas envolvendo contratos da Petrobras. O então senador e líder do governo no Senado
Delcídio do Amaral (ex-PT) foi preso sob acusação de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, foi o
primeiro caso no Brasil de prisão de senador no exercício do cargo.

Protestos "Fora Dilma"


Em um cenário de crise econômica e ajustes fiscais, a reprovação do governo Dilma chegou a 62%
em 2015, de acordo com o Datafolha, e levou milhares às ruas das principais cidades do país. As
principais bandeiras dos manifestantes eram o combate a corrupção e a saída de Dilma e do PT do
governo. Muitos elogiavam a atuação do juiz Sérgio Moro, da Lava Jato.
Realizada após novos protestos nas ruas, pesquisa do Datafolha indicou que o segundo mandato da
petista já alcançou a mais alta taxa de rejeição de um presidente desde setembro de 1992, pouco antes
do impeachment de Fernando Collor.

Saída do PMDB e Isolamento


A saída do PMDB, partido do vice-presidente, Michel Temer, da base aliada concretizou o isolamento
da presidente no Congresso. O afastamento da presidente dos parlamentares se agravou com a marcha
do processo de impeachment e o convite feito a Lula para ocupar a Casa Civil.
A tentativa de trazer Lula para construir pontes com os partidos enfrentou forte resistência e levou
milhares de manifestantes às ruas, além de afastar possibilidades de novas alianças.

Impeachment
Em dezembro de 2015, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, autorizou o pedido para a abertura
do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ele deu andamento ao requerimento formulado pelos
juristas Hélio Bicudo, fundador do PT, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior. Os juristas atacaram as
chamadas "pedaladas fiscais", prática atribuída ao governo de atrasar repasses a bancos públicos a fim
de cumprir as metas parciais da previsão orçamentária.
Em abril, a Câmara aprovou a Comissão Especial do Impeachment. Por 38 votos a 27, a comissão
aprovou no dia 11 de abril o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) favorável à abertura do processo
de afastamento da presidente. O afastamento da presidente também passou pelo plenário da Câmara,
por 367 votos a favor e 137 contra.
O processo seguiu para o Senado. No dia 6 de maio, a Comissão Especial do Impeachment da Casa
aprovou por 15 votos a 5, o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável à abertura de um
processo contra Dilma.
Em seguida, o plenário decidiu por 55 votos a 20 que a petista seria processada e, assim, afastada
temporariamente do cargo para o julgamento. Ela deixou o cargo em 12 de maio. Em seu primeiro
discurso na nova condição, Dilma Rousseff afirmou que o processo de impeachment era "fraudulento" e
um "verdadeiro golpe".

Posse de Michel Temer

Três horas após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel Temer foi empossado o novo presidente da
República. Na primeira reunião ministerial do governo, Temer destacou que agora a cobrança sobre o
governo seria "muito maior" e rejeitou a acusação de que o impeachment foi um golpe. "Golpista é você,
que está contra a Constituição", afirmou dirigindo-se a Dilma.

Repercussão e Manifestações
Após a votação final do impeachment, houve protestos a favor e contra Temer pelo país. A Avenida
Paulista, se tornou um exemplo da divergência de opiniões entre os manifestantes. Um grupo protestava
contra o impeachment, enquanto outro comemorava seu desfecho.

271
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Repercussão Internacional
A rede norte-americana CNN deu grande destaque à notícia em seu site e afirmou que a decisão é
“um grande revés” para Dilma, mas "pode não ser o fim de sua carreira política". O argentino “Clarín”
afirma que o afastamento de Dilma marca “o fim de uma era no Brasil”. O “El País”, da Espanha, chamou
a atenção para a resistência da ex-presidente, que decidiu enfrentar o processo até o final, apesar das
previsões de que seu afastamento seria concretizado.

E como fica agora?123


O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido dos Trabalhadores (PT), que a sustentava,
passa à oposição depois de 13 anos no poder. Porém o Senado manteve os direitos políticos de Dilma,
o que lhe permitirá se candidatar a cargos eletivos e exercer funções na administração pública.
A saída da presidente era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede
que tenha sido uma comoção nacional.
Atualmente o presidente Temer está afundado em denúncias e escândalos e também sofre grande
pressão para deixar o cargo.

O Brasil escolhe Jair Bolsonaro

Vitória de ex-capitão defensor do regime militar marca volta da extrema direita brasileira ao poder e
sucesso de campanha antissistema com estrutura heterodoxa. Resultado também é novo fracasso para
ex-presidente Lula124.
Após quatro anos de crise política e econômica, casos rumorosos de corrupção e uma campanha tensa
que demoliu antigos padrões eleitorais, os brasileiros elegeram um militar reformado de extrema direita
para o cargo máximo do país.
Jair Bolsonaro (PSL), um deputado que por mais de duas décadas foi considerado um pária no mundo
político brasileiro, mas que soube aproveitar o sentimento antissistema e antipetista de parte do
eleitorado, foi eleito presidente com 55,13% dos votos válidos. Seu adversário, o petista Fernando
Haddad, que substituiu o ex-presidente Lula ao longo da campanha, recebeu 44,87%.
Em seu discurso de vitória, Bolsonaro ignorou o seu adversário no segundo turno, e preferiu falar de
Deus e em "quebrar paradigmas". Ele prometeu governar "seguindo os ensinamentos de Deus ao lado
da Constituição". "Não poderíamos mais continuar flertando com o socialismo, com o comunismo e com
o populismo, e com o extremismo da esquerda", completou. Em frente à casa do presidente eleito,
centenas de apoiadores se reuniram para celebrar a vitória e entoar coros antipetistas.

Campanha Eleitoral
Sua ascensão a partir de 2017 foi completamente subestimada pelas forças políticas tradicionais, que
chegaram a expressar o desejo de tê-lo como adversário, acreditando que seu radicalismo e o certo
amadorismo de sua campanha seriam facilmente rejeitados pela maior parte do eleitorado em um
confronto direto. Até setembro deste ano, era o futuro eleitoral de Lula que ainda monopolizava as
atenções.
Mas, alimentado sobretudo pelo crescente antipetismo e desprezo de parte do eleitorado aos políticos
tradicionais e compensando sua falta de recursos com forte presença nas redes sociais, Bolsonaro
continuou a crescer. Ele não adotou nenhuma tática mais moderada, preferindo explorar a retórica do
confronto e apostando em declarações ultrajantes e de ódio aos adversários, que muitas vezes flertavam
com a violência política.
O próprio presidente eleito chegou a ser vítima de um episódio de violência ao longo da campanha e
por pouco não morreu. Atingido por um ataque a faca, Bolsonaro permaneceu a maior parte da campanha
afastado de atos públicos. Primeiro, transformou o hospital em quartel-general da campanha. Depois,
passou a comandar a candidatura de casa.
O ataque não diminuiu a retórica do candidato, que continuou a apostar nas táticas agressivas,
mesclando ainda populismo e nacionalismo. Nas redes sociais, compensou o tom vago das suas
propostas com uma verdadeira indústria de ataques aos adversários, que na maioria das vezes
promoviam mentiras grosseiras e boatos. Essa "tempestade perfeita" que levou Bolsonaro ao poder
também escondeu as próprias contradições do candidato, uma voz que pregava um discurso
antissistema, mas que era um político profissional com 28 anos na Câmara e que criou uma verdadeira
dinastia política, um defensor do Exército que cometeu atos de indisciplina e deslealdade contra a
instituição nos anos 1980.
123 http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/opinion/1472682823_081379.html
124 Deutsche Welle. O Brasil escolhe Jair Bolsonaro. DW. https://www.dw.com/pt-br/o-brasil-escolhe-jair-bolsonaro/a-46065651.

272
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A vitória de Bolsonaro marca a volta da direita radical ao poder no Brasil. Defensor do regime militar
(1964-1985), Bolsonaro já defendeu a tortura e o assassinato de militantes durante o período. Passando
para a posição de chefe de Estado, ele deve garantir um protagonismo ainda maior de atuais e antigos
membros das Forças Armadas. Diversos generais são cotados para assumir ministérios e seu vice
também é um militar reformado.

Questões

01. (IF/AL- CEFET) O Brasil, a partir do processo de redemocratização (1985), definiu-se por medidas
econômicas que foram significativamente adotadas. Podemos afirmar que entre as medidas citadas
consta:
(A) Processo de privatização em ramos da economia, como comunicação e mineração.
(B) Prioridade na ampliação do comércio internacional com os países africanos e asiáticos.
(C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento de tarifas alfandegárias de importações.
(D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos agrícolas nacionais.
(E) Um intenso programa de reforma agrária no país, inclusive sem indenizações das terras
desapropriadas.

02. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se à minoria da


população. Os escravos e as mulheres não tinham direitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam
na cidade de Atenas podiam ser cidadãos.

De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem NÃO pode votar no Brasil atualmente são os
(A) maiores de 70 anos.
(B) maiores de dezesseis anos.
(C) estrangeiros naturalizados.
(D) analfabetos.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

03. (MPE/SP - VUNESP) Com o fim da ditadura e o restabelecimento da normalidade democrática, a


escolha do Presidente da República passou a ocorrer por meio do voto popular, exigindo que os
candidatos expusessem suas propostas e o histórico de sua atuação política. Nos anos 1980 e 1990,
respectivamente, o Brasil conheceu um candidato popularmente chamado de “O caçador de marajás” e
outro que, enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade pela implantação do Plano Real,
responsável pela estabilização da economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente,
(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves.
(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
(C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
(D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
(E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.

Gabarito

01.A / 02.E / 03.C

Comentários

01. Resposta: A
Entre as medidas tomadas para garantir o funcionamento da economia brasileira estiveram os
programas de privatização de algumas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, por exemplo.

02. Resposta: E
Os menores de 16 anos, os conscritos (o jovem prestando serviço militar obrigatório), e os presos com
sentença transitada em julgado que estejam cumprindo suas penas privativas de liberdade não podem
votar. A razão para isso é que todos eles seriam facilmente manipuláveis pelos pais, pelo comandante do
quartel ou pelo diretor do presídio.

273
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
03. Resposta: C
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

A crise política e econômica da Europa atual; a China no mundo atual;

EUROPA E MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS 125

Divisão Política da Europa

A Europa possui uma área de 10 milhões de quilômetros quadrados e se encontra dividida em 51


Estados. Alguns são pequenas ilhas e principados, como Malta, Mônaco, Andorra e Liechtenstein,
enquanto outros são mais extensos, como a Espanha e a França. Muitas das fronteiras atuais foram
definidas ao final da Segunda Guerra Mundial, principalmente no caso da Europa Ocidental. Já as
fronteiras da Europa Oriental foram definidas a partir do final da Guerra Frias, após a fragmentação da
União Soviética.

A Europa Ocidental
A Europa Ocidental compreende desde a Península Ibérica, onde se situam Portugal e Espanha, até
as fronteiras orientais da Alemanha, Áustria e Itália.
Foi delimitada com base em critérios políticos e abrange também os países escandinavos: Inglaterra,
Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte e Irlanda; e a Islândia.
Devido essa delimitação, a Europa Ocidental engloba nações de origem latina, saxônica e germânica.
Essa região apresenta os melhores índices de desenvolvimento humano (IDHs) do continente, apesar
de existirem disparidades dentro dela.
Entre os dez países com maior IDH do mundo, principal indicador de qualidade de vida, cinco estão
localizados na Europa Ocidental: Noruega, Suíça, Holanda, Alemanha e Dinamarca.
Os países da região apresentam populações majoritariamente urbanas e o número de aglomerados
urbanos é alto, embora a maioria represente cidades pequenas em áreas rurais, que são características
marcantes da paisagem do continente europeu, tanto na Europa Ocidental como na Europa Oriental.
No entanto, na Europa Ocidental também estão alguns dos principais centros urbanos do mundo sob
o ponto de vista econômico e cultural – cidades como Londres (Inglaterra), Paris (França) e Frankfurt
(Alemanha), entre outras, que funcionam como polos econômicos e financeiros.
Nessas cidades estão localizadas sedes administrativas de empresas multinacionais, bolsas de
valores de grande importância, universidades que representam algumas das melhores instituições de
ensino do mundo, além de destacados pontos turísticos e enormes aeroportos, ou hubs aéreos, que
servem de ponto de entrada para todo o continente.
Em função da extensão latitudinal, a Europa Ocidental apresenta um evidente contraste entre os tipos
de clima predominante, com a ocorrência de áreas de clima mediterrâneo e altas temperaturas na costa
do Mar Mediterrâneo e áreas de clima frio e polar na porção mais setentrional da região, na Finlândia, na
Noruega, e na Suécia.
Na maior parte da Europa Ocidental, no entanto, predomina o clima temperado, com invernos frios e
verões amenos, sendo que em áreas de altitude, como nos Alpes, o clima dominante é o frio de montanha.
No litoral do Atlântico Norte, no entanto, a corrente quente do Golfo proporciona um clima mais ameno
do que no interior do continente, onde os invernos são mais rigorosos. Nessas áreas, grandes nevascas
ocorrem com frequência durante os meses mais frios do ano, muitas vezes bloqueando estradas.
Um dos marcos geográficos mais importantes da Europa Ocidental são os Alpes, a maior cadeia de
montanhas do continente, formada pelo choque entre duas placas tectônicas e que atravessa a região,
traçando u marco de aproximadamente 1.200 km, do Golfo de Gênova, na Itália, até Viena, na Áustria.

125 FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.

274
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em áreas de maior altitude, os Alpes apresentam montes cobertos de neve durante todo o ano e
abrangem a maior parte do território de alguns países, como a Suíça e a Áustria.
Os Alpes, assim, como outras grandes cadeias de montanhas, são fonte de inúmeros rios que
abastecem importantes bacias hidrográficas.
Os rios principais da região integram importantes vias de navegação e transporte de pessoas e
mercadorias, dentre os quais podemos citar o Reno, o Sena, o Loire, entre outros.

O Leste Europeu
A Europa Oriental, ou Leste Europeu, é a região que abrange os países que estão a leste da
Alemanha, Áustria e Itália – o que inclui os Bálcãs, os Cárpatos e parte da área banhada pelo Mar Báltico,
que envolve países como Letônia, Estônia e Lituânia.
Ela também, integra a Rússia, maior país o mundo, embora a maior parte do território russo, a leste
dos Montes Urais, localiza-se no continente asiático.
Os países que compõem o Leste Europeu possuem um passado histórico recente comum, que é o
fato de terem sido zonas de influência política e cultural da União Soviética, governados por regimes
alinhados com o socialismo durante a Guerra Fria. Além disso, há outra semelhança envolvendo os países
da região: a maior parte de sua população é de origem eslava.
Embora não seja tão urbanizada quanto a Europa Ocidental e apresente paisagens marcadas pela
predominância de áreas rurais com pequenos vilarejos, é na Europa Oriental que estão localizadas as
duas cidades mais populosas do continente europeu: Istambul (Turquia) e Moscou (Rússia), que, com
suas regiões metropolitanas, formam as duas únicas manchas urbanas da Europa, com mais de 10
milhões de habitantes. Também há outros importantes centros urbanos, como São Petersburgo (Rússia)
e Kiev (Ucrânia).
Já sob o ponto de vista físico e climático, podemos destacar a presença dos Montes Cárpatos, a maior
cadeia de montanhas da região e que representa a porção mais oriental do mesmo sistema de montanhas
que os Alpes, além de rios extensos e importantes, como o Volga, na Rússia – o maior rio da Europa – e
o Danúbio.
A maior parte da região possui clima e frio e, com exceção de áreas mais ao sul, também é caracteriza
por invernos extremamente rigorosos. No sudoeste da Rússia também há ocorrência de clima semiárido.

A Europa e as Migrações Internacionais


Ao mesmo tempo que a população europeia se encontra envelhecida e apresenta hoje uma proporção
de indivíduos em idade economicamente ativa menor do que em outros períodos históricos, milhões de
imigrantes chegam ao continente de forma legal e ilegal todos os anos para trabalhar e estudar nas
cidades europeias. Embora as migrações sejam parte importante da História da humanidade e durante
séculos os próprios europeus tenham migrado (e continuem migrando) para outros continentes, como
para a América do Sul, o crescente desemprego nos países da Europa tem acirrado as tensões étnicas
e o preconceito contra imigrantes, atualmente um dos problemas mais graves no continente.

O Envelhecimento da População Europeia


Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os países da Europa passaram a vivenciar uma explosão
demográfica causada por um grande aumento nas taxas de natalidade, número de nascidos vivos, a cada
mil habitantes em um ano. Como resultado, esses países passaram por um período no qual a população
economicamente ativa (PEA), com idade entre 15 e 65 anos, superava largamente a de dependentes,
idosos e crianças, impulsionando assim o crescimento econômico.
No entanto, o aumento das taxas de natalidade foi gradualmente revertido ao longo da segunda
metade do século XX, e a grande maioria dos países do continente adentrou o século XXI com taxas de
natalidade em queda.
A diminuição do número de nascimentos, somada às baixas taxas de mortalidade e ao aumento na
expectativa de vida da população no mesmo período, em função de boas condições sociais e
econômicas, avanços da medicina e no saneamento básico, entre outros fatores, formou um cenário no
qual o número de idosos, habitantes com mais de 65 anos, passou a aumentar cada vez mais em relação
ao total na população, enquanto o número de indivíduos que entram na idade economicamente ativa
diminuiu.
Na maior parte dos países do continente, com exceção do Leste Europeu, esse cenário tende a se
intensificar ainda mais no futuro. Em 2013, por exemplo, a proporção de indivíduos com 65 anos de idade
ou mais em relação à população total era de 18%, mas em 2050 será de aproximadamente 28%. No
mesmo período, a proporção de indivíduos entre 15 e 64 anos terá caído de aproximadamente 66% para
cerca de 57%, ou seja, a população europeia está, em média, ficando mais velha a cada década.

275
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Uma das consequências desse processo é que esses países terão cada vez mais gastos com a saúde
e o sistema de previdência social, que garante o pagamento de aposentadoria, sendo que ambos já são
consideravelmente altos. Além disso, como a proporção de indivíduos em idade economicamente ativa
tende a diminuir, isso pode representar um impacto à economia dos países europeus.
Essa situação, exatamente oposta ao bônus demográfico, período no qual a população
economicamente ativa supera largamente a de idosos e crianças, configura um momento delicado.
Embora o envelhecimento da população seja uma tendência global e uma situação que tende a cada vez
mais afetar países de todos continentes, inclusive o Brasil, na Europa é onde esse processo se manifesta
de maneira evidente. Isso não significa, porém, que a oferta de trabalho tenha diminuído. Afinal, o século
XXI vem sendo marcado por uma invasão de imigrantes no continente.

Um Continente de Imigrantes
A migração é um fenômeno universal, que ocorreu em todos os tempos históricos da humanidade, e é
algo natural e inerente de muitas sociedades. As migrações ocorrem por diferentes motivos e envolvem
aspectos negativos e positivos para os envolvidos.
A Europa é um continente marcado pelas migrações internas e pela emigração, tanto durante o período
colonial como em função de crises provocadas por conflitos, como a Primeira e a Segunda Guerra
Mundiais, por exemplo. Milhares de europeus migraram para outros continentes, dando origem a uma
população substancial de ascendência europeia no continente americano.
Com a recuperação econômica europeia na segunda metade do século XX, a migração tornou-se
novamente um foco de atenção das políticas públicas e da mídia internacional, mas dessa vez a situação
inverteu-se: a Europa passou a ser e uma região atraente para milhões de famílias africanas, sul-
americanas e asiáticas em busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho.
Para termos uma noção desse fenômeno, na passagem do século XX para o XXI, havia na Europa
aproximadamente 21 milhões de estrangeiros, incluindo indivíduos de outros continentes e europeus que
se mudaram para outros países dentro da Europa, população maior do que a de diversos países do
continente.
De modo geral, as migrações têm como objetivo principal propiciar uma vida melhor, e as razões
variam desde a busca por oportunidades de trabalho até a fuga de conflitos ou perseguições étnicas,
entre outras.
Uma vez na Europa, os imigrantes, legais ou ilegais, passam a se inserir tanto na economia formal
quanto na informal dos países do continente. No entanto, muitos permanecem voltados apenas ao
comércio informal, ou estão à margem da sociedade, sem emprego e vivendo em condições precárias, e
são vistos muitas vezes como intrusos e "ladrões" de empregos por parte da população local.
Como os acordos firmados pela União Europeia (UE) garantem uma situação de legalidade a
indivíduos que possuem cidadania de algum país-membro do bloco, permitindo maior mobilidade, muitos
dos imigrantes do continente são pessoas que se deslocam de países mais pobres para mais ricos,
principalmente do Leste Europeu para a Europa Ocidental.
Desde 2007, por exemplo, quando a Romênia e a Bulgária, que apresentam índices de
Desenvolvimento Humano, ou IDHs, inferiores aos dos países da Europa Ocidental, ingressaram na
União Europeia, muitos cidadãos desses países enxergaram no acordo uma grande oportunidade para
alavancar suas vidas em países em situação econômica mais favorável, com e res taxas de desemprego.
Em função desse deslocamento crescente de búlgaros e romenos, diversos países da Europa Ocidental,
como a França e a Alemanha, alteraram suas respectivas legislações para dificultar o ingresso de pessoas
originárias desses países em seus territórios.
No entanto, o maior problema da atualidade reside no fluxo ilegal de pessoas vindas de países
localizados em outros continentes, como a África, a Ásia e a América do Sul, ou de países do Leste
Europeu que não integram a União Europeia - como a Turquia. É importante considerar que, em ambos
os casos, o deslocamento se dá principalmente para os países da Europa Ocidental que apresentam
melhores situações econômicas, como a Alemanha, país com o maior número de indivíduos estrangeiros
na atualidade.
Os imigrantes ilegais são aqueles que encontram sempre as maiores dificuldades, pois correm o risco
da deportação e não possuem visto para trabalhar legalmente de acordo com as leis locais. Por isso
atuam como funcionários não registrados ou estão inseridos na economia informal como vendedores
ambulantes, por exemplo.

276
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As Rotas da Imigração Ilegal
Devido à proximidade da Europa em relação à África, à Ásia e ao Oriente Médio, indivíduos de países
localizados nesses continentes tentam entrar na Europa ilegalmente todos os anos por meio de rotas
terrestres e marítimas.
No entanto, com o reforço da segurança nas fronteiras da Europa e dos Estados Unidos após os
atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e na Europa em anos seguintes, a fiscalização tem
aumentado na última década, e os imigrantes são obrigados a optar por rotas cada vez mais perigosas
para chegar a seus destinos. Essas rotas envolvem até mesmo enfrentar as águas perigosas do Atlântico,
a partir da costa ocidental da África, em embarcações improvisadas, o que tem provocado um aumento
no número de vítimas fatais nessas jornadas.
As principais rotas ilegais utilizadas por indivíduos de origem africana, no entanto, são através do Mar
Mediterrâneo e das ilhas da Sicília e Malta, ou então diretamente do Marrocos em direção à Espanha.
Segundo estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de indivíduos
que morreram tentando chegar à Europa em 2013 foi de 900, o triplo do registrado em 2003.
Os governos europeus, por sua vez, vêm agindo de forma cada vez mais repressiva, interceptando
embarcações ou levas de imigrantes que acabam sendo posteriormente deportados.
Por causa da proximidade com a Líbia, que vive uma situação política e social instável, e da costa da
Tunísia, a pequena ilha de Lampedusa, muito próxima da Sicília (Itália), tornou-se um dos principais
pontos de chegada de milhares de imigrantes.
Como consequência, somente na Itália são mantidos mais de dez complexos de detenção, de onde
esses imigrantes aguardam a deportação e são tratados, muitas vezes, de maneira ríspida. Apesar de a
União Europeia ter proibido os campos de detenção, e o governo italiano ter sido alvo de críticas de
órgãos internacionais dedicados à defesa dos direitos humanos, milhares de africanos atualmente se
encontram detidos nesses campos, nos quais eles podem permanecer por meses aguardando a
deportação.
Lidar com os imigrantes ilegais, seja da África, da Ásia, do Oriente Médio e também da Turquia, tem
sido uma das questões mais polêmicas envolvendo os governos da Europa nos últimos anos. A maioria
dos países tem se mostrado intolerante quanto à legalização desses imigrantes, mesmo frente às
questões humanitárias envolvidas, já que o número de trabalhadores ilegais já é muito alto e quase todos
esses países sofrem com taxas consideráveis de desemprego.
Um exemplo de como a atitude dos governos europeus tem se mostrado cada vez mais rígida em
relação aos imigrantes ilegais foi a decisão tomada pelo governo da Bulgária, que resolveu iniciar a
construção de um muro de 30 quilômetros de extensão e 3 metros de altura ao longo de sua fronteira com
a Turquia.

Enfrentando a Xenofobia
Nos países da Europa, a chegada de um número cada vez maior de imigrantes, principalmente ilegais,
tem causado manifestações xenofóbicas, ou seja, caracterizadas pelo preconceito contra estrangeiros. A
maior parte dessas manifestações é motivada pelo nacionalismo, e os grupos xenófobos se colocam
contrários à aceitação de certos grupos étnicos ou religiosos da sociedade, como ocorre na Alemanha,
Itália e França. Nesta última, principalmente, os casos mais extremos têm envolvido imigrantes
muçulmanos, característica intensificada, sobretudo, após o atentado terrorista à sede da revista Charlie
Hebdo, em Paris, em 2015.
Além de muçulmanos provenientes de diversos países, o preconceito na França e em outros países
da Europa Ocidental tem se direcionado aos negros africanos e ciganos do Leste Europeu, por exemplo,
Na maior parte dos casos, além de serem vistos de forma negativa por competirem pelas mesmas
oportunidades de emprego com a população local, esses imigrantes são frequentemente associados ao
aumento da criminalidade e ao tráfico de drogas.
O debate em torno da regularização dos imigrantes na Europa é controverso. No entanto, como o
continente passa por uma grande queda da fecundidade, o que poderá acarretar graves consequências
no futuro, como a diminuição de jovens e adultos, e até mesmo da população, a imigração pode ser uma
maneira de resolver parcialmente essa questão, embora muitos grupos se coloquem radicalmente contra
essa medida.

China Atual126
Atualmente a China é um dos países que mais cresce no mundo, no contexto econômico, industrial,
financeiro, está prestes a se tornar uma potência mundial.

126 http://brasilescola.uol.com.br/china/china-pais-que-mais-cresce.htm

277
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para a compreensão das características do território e dos aspectos políticos, é importante realizar
uma análise dos dados humanos e naturais.
A China é denominada de República Popular da China, seu território encontra-se localizado ao leste
do continente asiático, a área do país corresponde a 9.536,499 km2, seu espaço é um dos maiores do
planeta, com dimensão continental.
Um destaque em relação aos outros países está no contingente de pessoas, atualmente a população
chinesa é a maior do mundo, são aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas; alguns analistas estimam que
esse número seja ainda superior, pois muitos pais não fazem o registro do segundo filho temendo
repressões por parte do Estado, que estabeleceu uma política de controle de natalidade, dessa forma,
esse número pode saltar para cerca de 1,7 bilhão de pessoas.
O imenso território chinês é composto por planaltos que vão de oeste a leste, a sudoeste está situada
a maior cadeia de montanhas do mundo, o Himalaia. No centro e a oeste está o planalto do Tibet, ao
norte está localizado o deserto de Gobi e o planalto da Mongólia, ao nordeste fica a planície da Manchúria
e no sul, a planície da China.
Na paisagem é possível visualizar formas distintas de relevos, vegetações, climas e minérios, tudo isso
é proveniente da dimensão continental do território, que abrange diferentes formações rochosas, solos
que influenciam diretamente na composição das paisagens.
Na variedade de climas, a China apresenta no norte do país um clima árido e frio, já nas proximidades
das Cordilheiras e também nos planaltos, o clima é o frio de montanha. No sul da China as características
climáticas alteram-se, pois nela o clima é quente e úmido com incidência de chuvas no verão,
demonstrando aspectos tropicais, e por fim, no nordeste e leste o clima é temperado.
Em recursos minerais, a China ocupa um lugar de destaque no cenário mundial, esse fator é importante
para o abastecimento das indústrias e contribui para o crescimento econômico do país.
O principal minério chinês é o carvão mineral, sendo o maior produtor mundial, além de ocupar o
ranking de sétimo lugar em produção de petróleo, pois corresponde a 4,6% de todo minério fóssil do
mundo. Outros minérios importantes e encontrados com abundância são estanho, ferro e alumínio.

“A Economia Socialista de Mercado”.127


O gigante chinês, depois de viver décadas em estado de letargia, à margem do explosivo crescimento
econômico de seus vizinhos – os Tigres Asiáticos_, resolveu finalmente acordar. Sob o comando de Deng
Xiaoping, iniciou-se, a partir de 1978, um processo de reforma econômica no campo e na cidade,
paralelamente à abertura da economia chinesa ao exterior. A China buscava segundo Deng: “integrar a
verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país(...) e construir um socialismo com
peculiaridades chinesas”.
Trata-se, na verdade, de uma tentativa de conciliar o processo de abertura econômica (o estímulo à
iniciativa privada, ao capital estrangeiro, à modernização do país) com a manutenção, no plano político,
de uma ditadura de partido único.
Para um país com uma população com mais de um bilhão de habitantes, e aproximadamente 70%
camponesa, é natural que as reformas se iniciassem pela agricultura. Foram extintas as comunas
populares, embora a terra continuasse pertencendo ao Estado, cada família poderia cultivá-la como
desejasse. Depois de entregar uma parte ao Estado, poderia vender no mercado o restante.
A reforma na agricultura provocou a disseminação da iniciativa privada e do trabalho assalariado no
campo, levando a um aumento da renda dos agricultores, inclusive com o surgimento de uma camada de
camponeses ricos. Houve também uma expansão do mercado interno, como consequente estímulo à
economia como um todo.
A partir de 1982, iniciou-se efetivamente o processo de abertura no setor industrial. As indústrias
estatais tiveram que se enquadrar à realidade e foram incentivadas a adequar-se aos novos tempos,
melhorando a qualidade de seus produtos, abaixando seus preços e ficando atentas à demanda do
mercado. Além disso, o governo permitiu o surgimento de pequenas empresas e autorizou a constituição
de empresas mistas (joint ventures), atraindo o capital estrangeiro.
A grande virada, porém, veio mesmo com a abertura das ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS em
várias provinciais litorâneas. O objetivo fundamental dessas zonas econômicas, espécie e enclaves
capitalistas dentro da China, era atrair empresas estrangeiras, que trariam, além de capitais, tecnologia
e experiência de gestão empresarial, que faltavam aos chineses.
Como resultado disso tudo, a economia da China cresce a uma taxa média de 9% ao ano. Com certeza,
uma das taxas mais altas do mundo.

127 GEO GUIA. China: “A economia socialista de mercado”. Geo Guia.http://geoguia.blogspot.com.br/2008/11/china-economia-socialista-de-mercado.html>

278
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
No plano da economia, a China está seguindo, em linhas gerais, os passos dos Tigres. Aliás, é
interessante lembrar que, com exceção da Coréia do Sul, as populações de Taiwan, Hong Kong e
Cingapura são compostas basicamente por chineses, o que favorece o fluxo de capitais, informações,
pessoas e de uma “cultura capitalista”. Aí está, portanto, a face “tigre” da China, nas zonas econômicas
especiais.

O “Milagre Chinês”.
Além da liberalização econômica, o fator fundamental que está atraindo vultosos capitais para a China,
notadamente para as ZEEs, é o baixíssimo custo de uma mão-de-obra muito disciplinada e trabalhadora.
Aliás, esse é o grande fator de competitividade da indústria chinesa no momento. Nesse sentido, ela está
no mesmo patamar dos Tigres há mais ou menos vinte anos. O salário mínimo na China é de 25 dólares
por uma jornada de trabalho de 12 horas diárias.
Uma outra face desse “milagre” é o aprofundamento das desigualdades sociais e regionais, que tem
provocado o aumento das migrações internas, apesar das restrições do governo central.
Assim, com base em uma profunda abertura econômica e nos baixos salários, o MADE IN CHINA invadiu
o mundo. No entanto, cada vez mais levantam-se restrições ao país, que constantemente é acusado (até
pelo Brasil) da prática de “DUMPING SOCIAL”, ou seja, vende produtos muito baratos, já que
superexplora a mão-de-obra, fazendo uma concorrência desleal.
Como consequência desse verdadeiro BOOM industrial, a China tem, atualmente, um parque industrial
bastante diversificado. No entanto, tem apresentado um crescimento bastante desigual não só territorial,
mas também setorialmente.

O mundo multipolar e os conflitos recentes: Caxemira, Coreias, Tibete, Ruanda,


Colômbia, México, Bálcãs, Cáucaso; Israel e Palestina; Líbano, Guerra do Golfo,
Guerra do Afeganistão, Guerra do Iraque.

CONFLITOS MUNDIAIS

Guerra das Malvinas


As ilhas Malvinas formam arquipélago localizado a 480 quilômetros da costa Argentina. Em 1833, uma
expedição britânica, invadiu as Ilhas do Atlântico Sul. A partir de então, a Argentina reclamou em várias
oportunidades a soberania das Ilhas Malvinas – Falklands para os britânicos.
Apesar das reclamações argentinas sobre a posse das ilhas, seu controle permaneceu por mais de
um século com os britânicos, até que em 1982 os argentinos resolveram retomar as ilhas com o uso da
força.
No princípio de 1982, o regime militar argentino estava chegando ao seu fim, e contestava-se o caráter
e a legitimidade do poder dos militares. O regime militar estava desgastado politicamente devido às
atrocidades contra os direitos humanos bem como pelos erros repetitivos de ordem político e econômico.
Com a tentativa de desencadeamento de uma contenda, cuja emotividade patriótica pudesse aglutinar
em torno da junta militar e sua representatividade um certo respaldo social, a fim de se manter
interinamente no governo e conseguir assim “limpar” a imagem que estava totalmente deteriorada e
desfocada, o governo argentino define um ambicioso plano de tomada das ilhas Geórgias e Sandwich do
Sul, nome pelo qual os inglês as denominam.
O ataque é lançado em 2 de abril de 1982, em uma operação conjunta das forças área, naval e do
exército. Porém, a desastrosa ação militar desempenhada pelo alto comando militar argentino, tanto na
parte logística de sua ação militar não obteve o resultado esperado, gerando na verdade o efeito oposto.
O conflito nas Malvinas, apesar de sua pequena extensão territorial, exigia que as forças militares
envolvidas estivessem preparadas para enfrentar o clima hostil marcado por nevadas e chuvas
constantes. A primeira invasão realizada pelos argentinos foi vitoriosa e resultou no controle de Port
Stanley, que, com a conquista, mudaram o nome da cidade para Puerto Argentino. Enquanto o regime
propagandeava sua vitória na mídia, os ingleses tentaram negociar uma retirada pacífica dos militares
argentinos.
Mediante a negativa do governo Galtieri, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher ordenou a
preparação das forças britânicas para um conflito contra os argentinos. A evidente superioridade bélica
inglesa poderia antever o resultado deste conflito. Após uma fase de relativo equilíbrio entre as forças
militares envolvidas na guerra, o lado britânico colocou em ação a chamada Operação Sutton, enviando
um grande número de armas e fuzileiros para participar da guerra.

279
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os números estavam totalmente contra os argentinos: o exército britânico possuía quase três vezes
mais soldados em relação ao exército argentino (28 mil contra 10 mil), além de um estoque maior e mais
sofisticado de armamentos.
A maior baixa argentina ocorreu em 2 de maio: longe da zona de conflito, o cruzador General Belgrano
foi torpedeado por um submarino britânico de propulsão atômica e afundou, matando 368 homens.
Em 4 de maio, a resistência aérea argentina conseguiu uma vitória a oeste das Malvinas ao atingir o
destroier Sheffield, matando 20 homens. Nos dias seguintes, ataques argentinos afundam mais quatro
navios. Mas as baixas não conseguiram impedir o avanço da moderna esquadra britânica, que se
aproximava cada vez mais das ilhas Malvinas
O avanço britânico foi consolidado em 21 de maio, com um desembarque anfíbio na costa norte da
ilha Malvina Oriental. Enfrentando tropas mal preparadas e com armas antiquadas, os britânicos capturam
povoados menores, como Goose Green, até cercarem a capital, Stanley. Em 14 de junho, os argentinos
se rendem e a guerra acaba.
O saldo final do conflito resultou em 750 mortos do lado argentino e 256 mortos do lado britânico, com
um profundo sentimento de derrota que perdura até a atualidade.

Guerra Irã x Iraque (1980-1988)


O conflito entre Irã e Iraque teve início em 22 de setembro de 1980, apresentando como justificativa a
partilha das águas do Estreito do Chatt-el-Arab. Na verdade, as hostilidades entre os dois países datam
de uma época anterior.
Durante o século XX, o Irã conviveu com um governo totalitário controlado diretamente pela dinastia
Reza Pahlevi. Durante a década de 1930, esse novo governo decidiu se afastar da influência política dos
russos e britânicos para empreender uma aproximação com o regime totalitarista dos alemães. Com a
eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o posicionamento político iraniano acabou sofrendo
a oposição das tropas aliadas, que decidiram invadir o país árabe.
Com isso, ocorreu um processo de renovação política no Irã que veio a colocar esse país em
proximidade com os países ocidentais. Contudo, a predominância religiosa xiita organizou um forte
movimento de oposição que veio a lutar contra o processo de ocidentalização das práticas e instituições
do país. No ano de 1977, esse movimento conseguiu promover o retorno do conservador aitaolá Ruholá
Khomeini, que viria a transformar o país em um Estado teocrático.
A consolidação de um novo governo no Irã repercutiu na influência dos Estados Unidos no Oriente
Médio e também representou uma ameaça ao Iraque, país vizinho. Ao cortar relações com os Estados
Unidos, os americanos perderam no Irã um importante aliado e também um grande fornecedor de
petróleo.
A busca pela retomada do controle americano sobre a região convergiu com os interesses
expansionistas do ditador iraquiano Saddam Hussein, que recebeu apoio militar para a empreitada.
Outros motivos ainda podem ser lembrados, como o desejo do Iraque de recuperar terras perdidas
para o Irã em 1975; a questão do separatismo curdo, que sempre foi um ponto de desacordo entre os
dois países; a preocupação do governo de Bagdá com a evolução do Islamismo xiita em seu território, o
ódio pessoal de Khomeini contra o Iraque, de onde foi expulso em seu exílio.
Enquanto os iranianos realizavam ataques contra a ação intervencionista do regime de Saddam
Hussein, os EUA e outras nações árabes de orientação sunita apoiaram militarmente as forças iraquianas.
Nesse meio tempo, a minoria curda que vivia no Iraque aproveitou do período instável para guerrear
contra Hussein na esperança de estabelecer um governo independente na região. Contudo, o reforço
bélico estrangeiro serviu para promover o genocídio dessa minoria.
A deflagração desse conflito paralelo permitiu que os iranianos resistissem durante oito anos contra as
intenções políticas e econômicas de seus principais inimigos. O prolongamento das lutas acabou
desgastando os dois lados do conflito e com isso, seguindo a orientação da ONU, assinaram um cessar-
fogo que preservou os mesmos limites territoriais anteriores à guerra. Dessa maneira, mais de 700 mil
vidas foram ceifadas para que não houvesse nenhum tipo de alteração que acabasse com o impasse.
Depois disso, vários países árabes decidiram se reaproximar do governo iraniano, respeitando seu
regime e seus governantes. Por outro lado, Saddam Hussein acabou perdendo o apoio militar dos EUA
que também desistiram de intervir indiretamente no cenário político do Oriente Médio.

Guerra do Afeganistão
A União Soviética invadiu o Afeganistão a 24 de dezembro de 1979, fator que acirrou a disputa com
os EUA, no contexto da Guerra Fria.

280
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1919 o Afeganistão foi reconhecido pela Grã-Bretanha como Estado independente e Amanullah
Khan tornou-se rei. Durante a década de 1920, o país passou por uma série de reformas e medidas de
modernização, entre as quais a educação para as mulheres, o que acabou provocando revoltas internas.
Apesar da forte oposição de grupos tradicionais durante o reinado de Zahir Shah, o programa de
modernização foi intensificado e, em 1946, o Afeganistão passou a fazer parte da Organização das
Nações Unidas (ONU). Em 1973, o rei Zahir Shah foi derrubado e proclamou-se a República do
Afeganistão.
Em 1973, a república é proclamada por Daud Khan, que seria deposto e morto em 1978. No mesmo
ano, após o violento golpe de Estado, um Conselho Revolucionário tomou o poder, dando início a um
programa socialista que provocou a ira de parte dos muçulmanos ao ponto de levá-los à resistência
armada. Um militar chamado Mohammad Taraki (deposto e fuzilado, em 1979) toma o poder e implanta
um governo com partido único e dentro dos moldes comunistas. Em 1979, dá-se a ocupação soviética,
que tinha interesses estratégicos, entre eles o de aproximar suas fronteiras do mar e proteger, com maior
eficácia, as fronteiras do sul e apoiar o regime pró-comunista, afastando a ameaça de que o país caísse
nas mãos do fundamentalismo islâmico.

Os Mujahedins
Os mujahedins formaram o principal grupo de oposição ao governo central. Eram unidades de
guerrilheiros, alguns deles dissidentes das forças armadas afegãs, porém a maioria era formada por civis,
em geral agricultores, pastores, comerciantes ou inimigos do governo socialista.
O que unia os mujahedins era o fundamentalismo islâmico, razão inclusive que os motivou no combate.
Assim que o governo assumiu o poder, uma série de reformas contrárias aos ensinamentos do corão
foi posta em prática, o que significava, para os mujahedins, um sacrilégio, vindo de um governo
blasfemador, que deveria ser destituído e dar lugar a um regime teocrático, um califado muçulmano no
Afeganistão, organizado com base na Sharia.
Sharia é um termo árabe que significa "caminho", mas, que historicamente, dentro da religião islâmica,
tem sido continuamente empregado para se referir ao conjunto de leis da fé, compreendida pelo Alcorão,
a Suna (obra que narra a vida do profeta Maomé), além de sistemas de direito árabe mais antigos,
tradições paralelas, e trabalho de estudiosos muçulmanos ao longo dos primeiros séculos do Islã.

A Retirada Soviética
A retirada soviética ocorre em 1988 e 1989. A retirada ocorreu pela resistência dos mujahedin
(guerrilheiros islâmicos apoiados pelos EUA, Paquistão e Irã).
O “Vietnam” da URSS foi visto pelo Ocidente como uma operação expansionista de Moscou em direção
a sul, para uma área de grande importância estratégica. Com a eleição de Ronald Reagan, em 1980, os
Estados Unidos lançaram a Iniciativa de Defesa Estratégica, ou Guerra das Estrelas, forçando a URSS a
entrar nessa corrida aos armamentos. No terreno afegão, a guerrilha também impunha fortes custos
financeiros e milhares de mortos ao regime soviético
A invasão soviética do Afeganistão, foi um conflito armado de nove anos entre tropas soviéticas, que
apoiavam o governo marxista do Afeganistão, e insurgentes mujahidin afegãos, que procuravam derrubar
o regime comunista no país. A União Soviética apoiou o governo, enquanto que os rebeldes receberam
apoio dos Estados Unidos, do Paquistão e de outros países muçulmanos. O conflito coincidiu no tempo
com a Revolução Iraniana. As primeiras tropas soviéticas a entrar no Afeganistão chegaram em 25 de
dezembro de 1979. A retirada final começou em 15 de maio de 1988 e foi concluída em 15 de fevereiro
de 1989.
Durante os nove anos de guerra no Afeganistão, a União Soviética perdeu quinze mil soldados.
Além dos Estados Unidos, participaram da ofensiva contra a Rússia, Irã, Arábia Saudita, Egito e
Paquistão, que declararam uma guerra santa contra os comunistas ateus. Esses países passaram a
enviar mais insurgentes islâmicos para o Afeganistão, o que intensificou o conflito e exauriu as forças
russas.

A Guerra Civil
Em 1989 a União Soviética retira-se do Afeganistão. Após a saída dos soviéticos o governo continua
sendo fortemente atacado pelos mujahidin. Mesmo após a retirada, a URSS continua auxiliando os
comunistas afegãos com apoio financeiro e bélico. Os esforços conjuntos dos dois países tem fim quando
um dos principais generais do governo, Abdul Rashid Dostum, passa para o lado dos mujahidin.
Em 1992, divergências internas provocaram a cisão dos mujahidin. Gulbuddin Hekmatyar foi apontado
como o responsável por um devastador ataque de foguetes contra Cabul, e Dostum começou a atacá-lo.
Os confrontos destruíram grande parte de Cabul.

281
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Talibã
O movimento Talibã, com características de milícia, surge em 1994, no sul do país, apoiado pelo
Paquistão. A milícia tem origem nas tribos que vivem na fronteira entre esses dois países e se formou
após a ocupação soviética do Afeganistão e durante o governo dos também rebeldes mujahedins. A
milícia invadiu a capital Cabul e tomou o poder, governando o país de 1996 até a invasão americana, em
2001. Apesar de ter sido destituído do governo formal, o grupo continuou sendo influente. Para tentar
desestabilizar o inimigo, o grupo utiliza táticas de guerrilha e ataques de homem-bomba. A característica
principal do grupo é ter uma interpretação muito rígida dos textos islâmicos, incluindo proibição à cultura
ocidental e a obrigação ao uso da burka pelas mulheres
O movimento islâmico Talibã se propunha a implantar a lei islâmica no país, desagregado pela queda
do regime comunista. Era composto por jovens treinados em escolas religiosas islâmicas rurais, surgidas
ao longo da década de 1980. Estas escolas haviam sido berço de militantes que lutaram contra a
ocupação soviética no país.
Seu governo tem-se caracterizado por uma aplicação rígida da lei islâmica. Decretos do Ministério da
Virtude e Supressão do Vício impuseram leis que incluem:
Uma rígida segregação das mulheres. As meninas são impedidas de cursar a escola. Mulheres que
trabalhavam em hospitais e escolas foram mandadas de volta para casa e obrigadas a cobrir-se dos pés
à cabeça.
Os homens são obrigados a deixar a barba crescer. A televisão está proibida, assim como a música
ocidental e os jogos de azar. As salas de cinema foram fechadas e a imprensa que não foi proscrita teve
que banir das páginas fotos e imagens.
As punições para qualquer tipo de transgressão incluem açoites em praça pública para os que
consumirem álcool, a amputação de membros para os culpados de roubo e morte por apedrejamento
para os adúlteros.
Apesar de ter sido denunciado por organizações internacionais de direitos humanos, o novo regime
solicitou o reconhecimento da comunidade internacional, com o argumento de que havia restaurado a
ordem na maior parte do solo afegão.
Os talibãs provocaram mais protestos mundiais ao promulgar uma lei que obrigava outros grupos
étnicos, como os hindus, a usar um broche que os identificassem. Outra onda de protestos surgiu após
os talibãs terem dado ordem para destruir esculturas de Buda em todo o país. Entre elas estavam duas
gigantescas estátuas no vale de Bamiyan, próximo a Cabul, talhadas em pedra há mais de 1.500 anos.
Uma delas, de 53 metros de altura, era a maior representação de Buda já construída. Ambas foram
explodidas em março de 2001. A razão para a destruição de uma parte da herança cultural afegã é a
proibição islâmica de adoração de ídolos.

Guerra do Golfo
A Guerra do Golfo teve início em agosto de 1990, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein acusou
o Kuwait praticar uma política de super-extração de petróleo causando uma queda nos preços e
prejudicando a economia iraquiana. Saddam também ressuscitou problemas antigos e exigiu indenização.
Como o Kuwait não aceitou foi invadido por tropas iraquianas.
Aparentemente era mais uma das diversas tensões do Oriente Médio. Em 1991, se dá a invasão
iraquiana de 100 mil soldados no Kuwait. Boa parte da família real kuwaitiana conseguiu fugir. Somente
a força aérea do Kuwait demonstrou alguma resistência durante a ocupação.
A força do corpo de elite iraquiana era tão grande que nem se pode dizer que foi uma guerra, mas sim
uma manobra militar. Com isso o Kuwait foi anexado ao Iraque como a 19ª província do país. Veio da
ONU a primeira reação concreta, um embargo econômico contra o Iraque. O que significava que os países
não podiam comprar do Iraque nem vender para ele.
A atitude de Saddam mobilizou o mundo e diversas nações, lideradas pelos EUA, se uniram para tentar
reverter esse quadro. A ONU fixou o prazo de 15 de janeiro de 1991 para que as forças iraquianas se
retirassem do Kuwait. Passado o tempo dado pela ONU para a desocupação, as forças aliadas deram
início à Operação Tempestade no Deserto, em 17 de janeiro de 1991. Foi o maior aparato militar colocado
em operação desde a Segunda Guerra Mundial. Consistindo primordialmente em ataques aéreos e no
lançamento de mísseis de cruzeiros, durante a Tempestade no Deserto foram realizadas mais de 116 mil
viagens de ataque ao Iraque, a partir das quais foram lançadas mais de 85 mil toneladas de bombas.
Buscando envolver outros países árabes no conflito, os iraquianos atacaram Israel com mísseis scund,
de fabricação soviética. Tendo em vista a ideia de que se Israel respondesse ao ataque, provavelmente
os outros países árabes iriam apoiar o Iraque e se retirariam da aliança anti-Iraque. No entanto, a
diplomacia e o dinheiro norte-americano foram fundamentais. Pois com isso os EUA conseguiram
convencer Israel de não contra-atacar e premiaram-no com baterias antimísseis patriot.

282
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 28 de fevereiro, o presidente americano George Bush declarou o cessar fogo, porém o Iraque só
o aceitou em abril.
O conflito resultou em centenas de mortes, dentre elas civis e militares. Milhares de mísseis foram
usados e o mundo presenciava, pela primeira vez, uma guerra com a cobertura total da mídia.
Após a guerra, os prejuízos foram enormes. O Kuwait perdeu quase 10 bilhões de dólares com a queda
da produção de petróleo, mas voltou a ser independente. O Iraque sofreu sanções econômicas e os EUA
conseguiram despertar o ódio em mais gente.
Em relação à perda de vidas humanas, entre 60 mil e 200 mil soldados iraquianos pereceram no
conflito. Do lado aliado, 148 soldados caíram em batalha e outros 145 morreram em outras situações,
como ataques realizados por engano nas próprias tropas aliadas.
Outro fato marcante da Guerra do Golfo foi o desastre ambiental causado pela queima de centenas de
poços de petróleo que resultou em uma intensa poluição do ar, que se espalhou por milhares de
quilômetros. Foram necessários dez meses para que o fogo fosse apagado. Milhões de barris de petróleo
foram despejados no Golfo Pérsico, resultando na contaminação das águas do Oceano Índico e na zona
costeira do Kuwait, além da morte de milhares de espécies animais que habitavam a região.

A Guerra do Chifre da África


O chamado Chifre da África também conhecido como Nordeste Africano e algumas vezes como
península Somali, é a região mais oriental do continente africano, sendo formada por quatro países:
Etiópia, Eritreia, Somália e Djibuti. As paisagens dominantes são de deserto e semideserto, com exceção
do sul da Etiópia e da Somália, onde o clima é menos seco.
A região do Ogaden, hoje sob soberania da Etiópia foi o principal motivo de discórdia entre a Etiópia e
a Somália desde os finais do século XIX. A disputa foi intensificada com a guerra de 1977-1978, que foi
diferente e mais complexa de todos os confrontos anteriores envolvendo os dois países.
A guerra foi o primeiro conflito interestatal ocorrido no continente após a Segunda Guerra Mundial,
Além disso, a guerra Etíope-Somali estava inserida dentro da lógica dos conflitos da Guerra Fria
envolvendo a disputa das duas superpotências (URSS e EUA) pelas áreas de influências, já que a posição
geográfica estratégica dos dois países conferia-lhes grande relevância no contexto da guerra fria.
A Somália manteve relações estreitas com a União Soviética desde a revolução ocorrida no país em
1969 e em 1974 foi assinado um tratado de cooperação e amizade entre os dois países, com o
oferecimento equipamentos militares, assistência técnica e treinamentos para o exército Somali, por parte
dos soviéticos, que em troca receberiam parte do território somali para instalações de bases de apoio
naval.
Já a Etiópia, até a revolução ocorrida em 1974 era o principal aliado dos Estados Unidos na região e
continuou sendo até 1977, porém a partir de 1974 o país começou uma aproximação com a União
Soviética e em 1977 rompeu as relações com os Estados Unidos, tornando-se o maior aliado dos
Soviéticos no chifre da África.
Depois de conduzir os problemas internos mais urgentes, Siad Barre, presidente da Somália desde
1969, voltou a atenção para os problemas externos do país, particularmente com os seus vizinhos. O
objetivo de reunir todos os territórios Somali sobre uma única bandeira “a grande Somália” foi o principal
impulso da política externa de Barre na época.
Após a revolução Etíope ocorrida em 1974, que derrubou o imperador Haile Selassié, Siad Barre
aproveitou-se desse período de instabilidade interna no país vizinho e aumentou significativamente o
apoio aos grupos guerrilheiros nacionalistas que lutavam pela autonomia da região do Ogaden, entre os
quais o mais forte e bem organizado movimento de libertação, a Western Somali Liberation Front (WSLF)
visando a desestabilização do novo regime.
Em julho de 1977, de certa forma encorajada pela Arábia Saudita, Egito, EUA e Sudão, a Somália
invadiu a região do Ogaden com um efetivo aproximadamente de 35 mil soldados em apoio aos
guerrilheiros da WSLF que contavam com 15 mil combatentes.
Alguns meses antes da inclusão do conflito armado entre os dois aliados da União Soviética na região
na época e logo no início da guerra, os Soviéticos tentaram mediar a agitação por meios pacíficos
enviando conselheiros militares à região, entre eles Fidel Castro, onde propuseram uma solução
negociada ao conflito. A URSS propôs uma confederação entre os Estados do Chifre da África que
formalmente se definiam como Socialista, Etiópia, Eritréia e a Somália. A proposta foi rejeitada por Siad
Barre.
Em um primeiro momento, a ocupação foi bem-sucedida, as tropas Somalis e os combatentes da
WSLF conseguiram vitórias significativas, chegaram a ocupar 90% do deserto do Ogaden.

283
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A virada veio quando a União Soviética e demais aliados deixaram de apoiar a Somália e passaram a
apoiar a Etiópia. Assim, aproximadamente 16.000 soldados Cubanos foram enviados à Etiópia, e o fluxo
de armamentos aumentou consideravelmente.
O Exército Nacional da Somália perdeu a guerra, quando um completo bloco oriental (composta por
Cuba, Alemanha Oriental, Líbia, Iêmen do Sul e exército da União Soviética) uniram-se para a causa
etíope.
Além de sair derrotada no conflito, a Somália também perdeu seu maior fornecedor de armas e se viu
isolada na região, pois a maioria dos vizinhos apoiaram a Etiópia, principalmente o Quênia, país com a
qual a Somália também possui disputa territorial á várias décadas. Durante o Conflito o Governo Queniano
permitiu que Etiópia recebesse armas através do seu território e fechou o seu espaço aéreo para as
aeronaves militares Somalis.
Depois dessa derrota, em março de 1978, Barre ordenou a retirada das suas forças do Ogaden, porém
a WLSF continuou com as suas ações de guerrilha na região.
Os dois países só vieram assinar o acordo de paz dez anos depois, em 1988.

Guerra Civil da Somália


Após a derrota para a Etiópia na Guerra do Ogaden, a Somália entrou em um processo de crises do
qual não conseguiu se recuperar, tornando inevitável a queda do regime político imposto por Siad Barre
em 1991, o que deu origem a uma sangrenta guerra civil que perdura até a atualidade.
As consequências da derrota para a Etiópia foram desastrosas para o regime. A população passou a
perder a confiança no governo, dificultando a obtenção de apoio popular; a perda da União Soviética
como aliado externo deixou um grande espaço vago, que os Estados Unidos não conseguiram preencher
de imediato, e inicialmente se reservaram a um relacionamento cuidadosa e limitada com o regime Barre;
Por fim, o exército estava enfraquecido tanto tecnicamente como moralmente.
Uma outra grande consequência do conflito foi o aumento no número de refugiados da etnia somali,
de quase 1 milhão de pessoas, o que abalou o já frágil sistema econômico do país.
Na tentativa de reverter essa situação caótica e visando atrair a ajuda do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Barre abandonou formalmente o Socialismo em 1980. Apesar da mudança, o
resultado esperado não foi alcançado e o país passou a depender de ajuda externa. A Somália passou a
década de 80 recebendo doações e empréstimos flexíveis do Banco Mundial e do FMI e ajuda alimentar
através da USAID.
O regime de Siad Barre começou a enfrentar opositores, principalmente dentro do exército, que
mostrou sinais de agitação e indisciplina dentro do corpo dos oficiais. Logo após a Guerra do Ogaden um
grupo oficiais liderados pelos Coronéis Mahammad Shaykh Usmaan e Abdullahi Yusuf Ahmed tentou
derrubar Barre do poder, porém foram duramente reprimidos.
Em 1988, após uma investigação iniciada pelo Congresso Americano sobre a violação dos direitos
humanos na Somália, particularmente a violenta repressão aos movimentos opositores no norte do país,
levou os Estados Unidos a suspender toda ajuda militar ao país. Poucos meses depois, com o fim da
Guerra Fria já evidente, a região perdeu o interesse dos norte-americanos, e toda a ajuda financeira foi
retirada, deixando o país à beira de uma guerra civil.
Após a perda do auxílio externo, a oposição armada ganhou força e começou a conquistar territórios
importantes no norte e no sul do país. Em 1990 o governo controlava apenas 10% de todo o território
nacional, com sinais de que a queda do regime era inevitável.
Em Setembro do mesmo ano durante um encontro na Etiópia, os líderes dos três maiores grupos
insurgentes (USC, SNM e SPM) acordaram em coordenar as suas estratégias para depor barre. Dessa
forma, percebendo a vulnerabilidade do regime, as forças rebeldes sob o comando da USC, liderada por
Mohamed Farah Aidid invadiram a capital Mogadíscio no início de janeiro de 1991. Depois de duas
semanas de intenso confronto entre USC e as tropas governamentais, Said Barre perseguido pelas forças
do General Aidid fugiu da capital em 26 de janeiro de 1991.
A deposição de Barre, realizada sem um projeto de governo definido para substituí-lo, gerou um caos
generalizado no país, e a região sul e central do país incluindo a capital Mogadíscio transformaram-se
num violento campo de batalha com diversos grupos extremamente armados lutando entre si visando o
controle de territórios e busca pelo poder.
Conhecidos como “warlords” (senhores da guerra), esses grupos se dividem em três principais
facções: o Movimento Nacional Somali (SNM), o Movimento Patriótico Somali (SPM) e o Congresso
Somali Unido (USC). Tendo cada um dos “warlords” reivindicando o poder para si, o cenário político
somaliano mergulhou em uma profunda crise em que nenhuma autoridade central ou conciliadora tivesse
capacidade de alcançar a estabilidade nacional.

284
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Não bastando isso, em maio de 1991, os clãs do norte se unificaram e declararam a sua independência
com a formação da República da Somalilândia. Mesmo sem reconhecimento internacional, essa região
acabou firmando a sua autonomia com uma forma de governo própria. Em meio a crise política, a grave
situação de fome e miséria impeliu a ONU a intervir na Somália com o oferecimento de mantimentos para
a população menos favorecida.
No ano de 2000, a crise política e os constantes conflitos internos foram discutidos em uma reunião no
Djibuti, onde houve a reunião de 200 delegados somalis. O evento acabou estabelecendo a criação de
uma Assembleia Nacional e repassou o governo ao presidente Abdulkassim Salad Hasan. No mês de
outubro, o novo governo foi formado. Logo em seguida, alguns grupos armados dissidentes não
reconheceram a nova autoridade e, com isso, preservaram o desgastante estado de guerra.
Em 2004, uma nova reunião tentou reatar o diálogo entre os clãs e os grupos armados para a formação
de um parlamento capaz de reorganizar a nação somali. A partir de então, a influência e a predominância
da religião muçulmana acabou estabelecendo a adoção de leis islâmicas para todo o território. Entretanto,
o alcance da paz foi novamente ameaçado quando os grupos islâmicos armados do país resolveram
declarar guerra a Etiópia, país vizinho apoiado pelos Estados Unidos.
A invasão das tropas etíopes acabou aprofundando o caos, a miséria e a fome que se arrastam entre
a população somali. Somente em 2008, um acordo de cessar fogo conseguiu empreender a paz entre os
dois países. Em janeiro de 2009, a completa saída da Etiópia do país foi seguida pela organização de um
novo Parlamento agora tomado pela oposição islâmica moderada. Ainda hoje, o novo governo enfrenta a
ação das milícias islâmicas de orientação radical, como o a do grupo Al Shabab.

Questões

01. (UERJ) Guerra das Malvinas ainda divide Argentina e Inglaterra após 30 anos

No dia 2 de abril de 2012, o início da guerra pelo controle das Ilhas Malvinas completou 30 anos. O
conflito, que durou dois meses e meio, marcou uma geração de argentinos e britânicos. Para os britânicos,
elas são Falkland Islands; para os argentinos, Ilhas Malvinas. No mapa, a distância para o continente sul-
americano é pequena. Mas, na prática, a viagem é longa. É um voo por semana, que parte do Chile.
Assim, quem sai da Argentina tem que seguir primeiro para Santiago. Quase oito horas depois, chega-se
ao destino. A catedral é anglicana. O pastor prega em inglês, a língua oficial, apesar de o espanhol constar
do currículo escolar. Os jovens entre 16 e 17 anos podem ir para a Inglaterra cursar uma faculdade. Tudo
por conta do governo britânico. São 3 mil habitantes, 62 nacionalidades, mas só́ 29 argentinos.
Adaptado de http://g1.globo.com.
Ocupadas pelos britânicos a partir da década de 1830, ainda hoje, como mostra a reportagem, as ilhas
mencionadas são alvo de disputas entre Reino Unido e Argentina.
A polemica sobre o controle dessas ilhas é acentuada, na atualidade, pela seguinte
característica da sociedade local:
(A) persistência das rivalidades entre as etnias latinas e europeias
(B) isolamento da economia em contexto de globalização capitalista
(C) vigência de costumes em oposição aos ideais pan-americanistas
(D)valorização do nacionalismo por meio da defesa da identidade cultural

02. (IFSUL-Integrado) Em março de 1982, a Argentina, pressionada pelos problemas sociais e


econômicos que colocavam a população contra o governo, declara guerra ao Império Britânico pela posse
de um arquipélago situado ao sul de seu território. A manobra política também vai se revelar um desastre
militar para o país latinoamericano. O episódio que contribuiu para a derrocada da ditadura naquele país
ficou conhecido como
(A) Guerra das Malvinas.
(B) Guerra do Pacífico.
(C) Guerra dos 6 dias.
(D) Guerra do Prata.

03. (UERJ) "(...) é de assustar o número de partidos que vêm se formando e ganhando apoio popular
em diversos países muçulmanos, usando muitas vezes a violência para alcançar seus objetivos. A Argélia
e o Afeganistão são apenas os exemplos mais evidentes desta situação, e a contínua existência de grupos
fundamentalistas entre a população palestina é prova da vitalidade de suas ideias. Da mesma forma,
Israel, hoje, vive as consequências do profundo dissenso ideológico e cultural entre judeus seculares e
fundamentalistas. Acirrando um conflito que teve origem no próprio momento de fundação do Estado,

285
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
opostos à paz com os árabes e à pluralidade política e religiosa, os judeus fundamentalistas são a maior
ameaça à consolidação da democracia em Israel. (...) Isto muda completamente a situação com a qual
israelenses e árabes estavam acostumados a lidar há quase um século, quando o inimigo era o vizinho.
Agora, o inimigo está do lado de dentro."
(CRINBERG, Keila. In: REIS FILHO, D. e outros (org.). "O século XX: o tempo das dúvidas". Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.)
Segundo a ideia central deste texto, as dificuldades para a consolidação da paz, neste momento, no
Oriente Médio, estão relacionadas de forma mais geral com:
(A) permanência de divergências entre árabes e judeus
(B) disputas internas no mundo muçulmano e em Israel
(C) dissolução do fundamentalismo religioso na Argélia e no Afeganistão
(D) enfrentamento entre os partidos da esquerda na Argélia e em Israel

Gabarito

01.D / 02.A / 03.B

Comentários

01. Resposta: D
A Guerra das Malvinas que ocorreu entre 2 de Abril de e 14 de junho de 1982, foi um conflito militar
entre Argentina e Reino Unido pela posse das Ilhas Malvinas (ou Ilhas Falklands para os britânicos).
Situadas a 464 km da costa argentina, o arquipélago possui localização estratégica e fora colonizada
pelos britânicos em 1883, mas tiveram sua propriedade questionada pelos argentinos em 1982 devido a
sua localização no Atlântico. Como demonstra o texto, apesar de sua localidade a maioria da população
da Ilha possui língua e cultura britânica, o que aumenta a polêmica sobre a posse a Ilha que permanece
até hoje.

02. Resposta: A
A derrota para os britânicos na Guerra das Malvinas foi um dos fatores que levaram ao fim da ditadura
na Argentina durante a década de 1980, com o crescimento da insatisfação popular em relação ao
governo.

03. Resposta: B
O texto justifica as diferenças internas entre muçulmanos e entre judeus (e não apenas de uns com os
outros) como problema para se chegar a paz.

CONFLITOS ÉTNICO-RELIGIOSOS NOS SÉCULOS XX E XXI

Os Conflitos Territoriais do Mundo Multipolar


O mundo está cada vez mais complexo. A interdependência entre os lugares exige que tenhamos
conhecimento sobre a geopolítica mundial.
Atualmente, vivemos em um mundo de questionamentos às hegemonias. Muitas vezes grupos
contestadores usam do terrorismo como forma de combate e protesto.
Vamos estudar as tensões que afligem o mundo contemporâneo para assim criarmos a nossa própria
visão sobre temas de importância mundial.

A Atual Conjuntura Multilateral


A palavra bipolaridade está diretamente relacionada ao período da Guerra Fria (1945-1991). Nessa
fase, o sistema de relações internacionais era fortemente marcado pelas disputas entre Estados Unidos
e União Soviética, países que dominavam a distribuição do poder mundial e influenciavam grande parte
das decisões políticas, econômicas, culturais e até mesmo o que havia de mais cotidiano na vida das
pessoas.
A atual conjuntura econômica do planeta, porém, aponta para outro caminho e o transforma em mais
do que necessário e praticamente indispensável: o multilateralismo.
O mundo está cada vez mais interligado, o que contribui de modo decisivo para a criação de uma
ordem política multilateral. Assim, o termo "multilateralismo" aplica-se a um sistema internacional, no qual
diversos Estados passam a se relacionar por princípios democráticos e a considerar os interesses de
cada um na tomada de decisões. Essas relações não podem ser discriminatórias e devem se basear na

286
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
reciprocidade. Dessa forma, todos os Estados nacionais devem lutar pelos seus interesses baseados no
respeito e nos limites dos interesses de outros Estados.

A Evolução do Multilateralismo até os Nossos Dias


Esse sistema de relações internacionais, formado por emaranhados complexos e baseado na
globalização econômica, vem exigindo formas mais eficientes de combater os problemas comuns em
escala global. Das mudanças climáticas às epidemias de Aids, das crises financeiras aos subsídios
agrícolas, todos os assuntos geram preocupações e tensões internacionais muito presentes em nosso
dia a dia.
A ONU tem feito um trabalho de conscientização e capacitação de técnicos, diplomatas e governantes
que buscam abordar a totalidade de maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições públicas e
privadas podem administrar seus problemas comuns, em um "amplo, dinâmico e complexo processo
interativo de tomada de decisão que está constantemente evoluindo e se ajustando a novas
circunstâncias", segundo o manual de governança global da instituição.
Mas o que é "governança"? De acordo com o direito internacional, esse termo está ligado a todas as
atividades diplomáticas, humanitárias, econômicas e de qualquer natureza que são feitas com objetivos
comuns entre os países, mesmo que alguns destes não sejam obrigados a participar legalmente. Quando
falamos em governança, trata-se de algo mais amplo que governo; trata-se das instituições
governamentais e também da participação de ONGs e outras instituições para a solução de determinados
problemas. Para isso, os governos e as instituições envolvidas devem se organizar e, assim, são criadas
condições de governança.
A cooperação internacional é cada vez mais necessária, mesmo para os Estados mais poderosos.
Até mesmo a ONU busca adaptar-se aos novos tempos. Seu maior desafio está na reformulação do
seu Conselho de Segurança, órgão responsável pela segurança mundial e o único capaz de aprovar
resoluções definitivas sobre guerras e outros tipos de confrontos internacionais. O principal objetivo do
Conselho de Segurança é solucionar esses impasses, e, portanto, ele possui autonomia para autorizar
uma intervenção militar ou enviar missões de paz a regiões conturbadas por violências e conflitos. Outro
papel fundamental do Conselho de Segurança, com frequência exercido, é a aplicação de sanções de
ordem econômica contra países que, no entender do \Conselho, violem leis, acordos ou princípios
internacionalmente aceitos.
Esse Conselho é formado por França, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia (antiga URSS), pois são
considerados os países vencedores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que lutaram como Aliados
contra o Eixo formado por Alemanha, Japão e Itália.
Além desses países, a China, que foi uma das fundadoras da ONU em 1945, também ocupa um
assento permanente no Conselho de Segurança.
Principalmente nas duas últimas décadas têm crescido as pressões para uma reformulação do
Conselho de Segurança, fato que acompanha o processo de dinamização e multilateralização da
economia mundial.
Uma das propostas consiste em acrescentar ao grupo de países com poder de veto e assento
permanente dois países industrializados e três em desenvolvimento, além de um da África, um da Ásia e
outro da América Latina. Outra ideia é atribuir vagas permanentes relativas a regiões do globo - essas,
porém, seriam ocupadas de forma rotativa.
Existe um consenso de que a composição do Conselho de Segurança já não reflete de forma fiel a
realidade econômica e política mundial.

O Multilateralismo nas Relações Internacionais e os Grupos de Interesse


A busca de maior sucesso nas relações internacionais uniu grupos de países que formaram coalizões
políticas e econômicas em torno de determinados temas. Os especialistas afirmam que as ações
conjuntas são fundamentais para que os países mais pobres e os países em desenvolvimento possam
aumentar seu poder de negociação em um mundo cada vez mais multilaterizado.
Vamos agora conhecer os principais arranjos e grupos dessa Nova Ordem Mundial.

G-77
Em 1964, a ONU realizou em Genebra, Suíça, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e -Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em inglês). A principal meta dessa reunião era valorizar
os produtos primários exportados pelos países em desenvolvimento, que não tinham poder de negociação
com os países ricos. Foi assim que surgiu o G-77. \;
Atualmente, o G-77 é composto por mais de 130 Estados - além da China, que é um Estado observador
- e é o maior grupo que atua de forma organizada em vários órgãos internacionais dentro da ONU. Em

287
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
2010, o G-77 foi liderado por um país asiático, dando continuidade ao rodízio que marca sua presidência
desde o princípio. Com a expansão do comércio mundial, é claro que um grupo de países tão grande
passaria a ter interesses conflitantes entre seus membros. Muitos desses interesses dissonantes estão
sendo evidenciados com o agravamento das questões ambientais no planeta.
Podemos identificar um grupo mais presente nas negociações internacionais, o Brics, formado por
Brasil, África do Sul, China e Índia. Eles têm muito poder de barganha no comércio internacional, mas já
são pressionados a adotar medidas importantes, por exemplo, no combate ao aquecimento global.

G-20
Logo após a crise financeira russa, no final dos anos 1990, autoridades monetárias do mundo todo
passaram a se preocupar com a circulação de capitais em escala global. Em 1998 e 1999, grupos
chamados de G-22 e G-33 já discutiam a possibilidade de fazer mudanças radicais no sistema financeiro
global para evitar a fuga de capitais de um país que estivesse passando por uma crise. A ideia, portanto,
era formar um grupo de discussão que se reunisse constantemente para avaliar a situação internacional,
o que aconteceu em 1999 com a adesão de 20 países.
Atualmente, o G- 20 é um fórum de discussões, com reuniões periódicas, formado por ministros das
finanças e presidentes dos bancos centrais de 19 países mais um representante da União Europeia. Os
países-membros detêm juntos mais de 80 do comércio mundial.
Nas últimas reuniões do G-20, os países-membros passaram a se preocupar cada vez mais com o
combate à lavagem de dinheiro de atividades criminosas e com a transparência nos relatórios que
mostram a política fiscal de cada país, ou seja, o funcionamento da arrecadação de impostos e o destino
deles.

O G-20 agrícola
Com o desenvolvimento do comércio mundial, as trocas comerciais passaram por profunda
dinamização. Em 2003, um grupo de países resolveu tomar uma atitude conjunta e assim valorizar seus
produtos agrícolas. Eles representam cerca de 50 da população mundial e mais de 30 das exportações
agrícolas. A meta principal é abrir uma via de negociação para os produtos agrícolas, inclusive os
plantados e subsidiados nos países ricos.
Segundo o G-20 agrícola, os subsídios dados aos produtores dos países ricos são um entrave ao
desenvolvimento do grupo. Eles vêm lutando no âmbito da OMe para derrubar esses privilégios
comerciais e, assim, obter igualdade de condições nas disputas comerciais de produtos primários.

Os Conflitos Internacionais em Tempos de Globalização

A Questão Iraquiana
O Iraque vem ocupando as manchetes dos noticiários desde o início dos anos 1980. Naquele período,
o país havia entrado em guerra contra seu vizinho, Irã, em uma disputa pelo Canal de Shatt al-Arab, via
de escoamento da produção de petróleo, e por campos petrolíferos, localizados na fronteira sul dos dois
países, importantes produtores da região do Golfo Pérsico.
Existiram, porém, outros motivos para esse conflito. Além da tentativa expansionista, havia uma
profunda rivalidade entre os líderes iraquianos e iranianos pelo domínio e pela influência no mundo
muçulmano.
Em 1979, subiu ao poder no Irã um governo religioso muçulmano de linha xiita, derrubando a
monarquia iraniana, representada pelo xá (título de rei no Irã) Reza Pah1avi (1919-1980), um fiel aliado
dos Estados Unidos. Sua queda representava a subida ao poder de um grupo totalmente ante
estadunidense, liderado por aiatolá Khomeini.
Dessa forma, na fase final da Guerra Fria, os EUA passaram a oferecer um considerável apoio ao
governante do Iraque, Saddam Hussein, para que ele pudesse derrotar o Irã e seu governo religioso, que
naquele período já representava uma das maiores ameaças ao poder estadunidense.
A guerra estendeu-se por quase 10 anos e nem o apoio estadunidense ao Iraque foi suficiente para
determinar uma vitória das tropas de Saddam Hussein.
Calcula-se que morreram mais de 1 milhão de combatentes de ambos os lados em um conflito de
extrema violência. Mas, além do custo humano, a guerra teve um alto custo financeiro, que levou
praticamente à falência os dois países. A guerra Irã X Iraque foi tão intensa que a indústria armamentista
do mundo todo ampliou suas vendas em função das batalhas ocorridas.
Ao final de 1988, a falência econômica levou os dois países a decretar um cessar-fogo. Tanto Iraque
quanto Irã saíram do conflito arrasados e endividados.

288
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Enquanto no Irã a teocracia tinha apoio considerável da população, no Iraque a situação era diferente.
Saddam Hussein passou a ser questionado e a sofrer críticas da oposição, que, mesmo reprimida,
conseguiu mostrar os problemas criados pela guerra.
Além disso, o Iraque é um país multirreligioso e multiétnico, com rivalidades entre os seguintes grupos:
• xiitas: os xiitas representam entre 60 e 65 da população, mas historicamente têm sido discriminados
pela minoria sunita, que, durante anos, foi liderada por Saddam Hussein. Esses grupos xiitas vêm se
aproximando cada vez mais dos xiitas iranianos.
• sunitas: os sunitas representam pouco mais de 20 da população e, desde a criação do país pelo
Reino Unido, em 1920, têm grande influência e forte poder de decisão na política iraquiana.
• cristãos: os cristãos, cujo maior grupo são os caldeus, representam pouco mais de 3 da população
iraquiana.
• curdos: os curdos são descendentes de antigas tribos indo-europeias que vivem em partes do norte
do Iraque, Irã, Turquia e Síria. No Iraque, eles representam pouco mais de 15 da população.
Nesse quadro de tensão e de grave crise política e econômica, o Iraque partiu para uma nova ofensiva
militar.
No segundo semestre de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kuwait, seu vizinho ao sul, alegando que
esse país era uma antiga província iraquiana. Na verdade, Saddam Hussein estava tentando dominar um
país produtor de petróleo e desviar a atenção dos problemas internos do Iraque.
Rapidamente, formou-se uma coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos, para libertar o
Kuwait.
Vale lembrar que a principal preocupação das grandes potências era evitar que o Iraque se
transformasse em uma potência regional, criando tensões em uma região importante para a economia
mundial, uma vez que é fornecedora de petróleo, matéria-prima fundamental para o funcionamento do
sistema capitalista.
Durante o conflito, alguns fatos criaram ainda mais tensões em todo o mundo.
Tentando atrair a simpatia do mundo árabe e dos muçulmanos, o Iraque lançou mísseis sobre Israel
De imediato, os Estados Unidos assumiram a proteção de Israel, criando um escudo de mísseis para
combater os ataques.
Internamente, Saddam Hussein aproveitou o conflito para tentar esmagar a oposição e algumas
minorias dentro do Iraque.
O que marcou esse conflito foi o fato de os Estados Unidos terem apoiado e encoberto inicialmente o
governo ditatorial de Saddam Hussein, e, no momento em que este se tornou uma ameaça, terem
passado a considerá-lo um perigo à paz internacional (principalmente por meio de sua mídia).
Em poucas semanas os Estados Unidos e seus aliados conseguiram expulsar as tropas iraquianas do
Kuwait e encerrar o conflito. Porém, a situação social no Iraque ficou muito preocupante, já que um pesado
bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e seus aliados impedia a chegada de medicamentos,
alimentos e muitos outros produtos básicos para a população.
Para piorar a situação, as contas iraquianas no exterior foram bloqueadas, e o governo de Saddam
Hussein ficou sem dinheiro para pagar funcionários públicos e abastecer os bancos. A situação tornou-
se um caos.
Com o intuito de amenizar o grave quadro social, a ONU criou um programa pelo qual os recursos
obtidos com o petróleo iraquiano poderiam ser usados na compra de alimentos. Dessa forma, o dinheiro
da venda do petróleo do Iraque era depositado em uma conta não acessível ao governo iraquiano. A
ONU, então, usava esses recursos no pagamento de seus próprios gastos no Iraque e na compra de
alimentos básicos para a população carente do país.
Mesmo assim, os meios de comunicação continuaram uma campanha para desestabilizar ainda mais
o governo controlado por Saddam Hussein.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, em Nova York, o governo dos Estados Unidos passou
a acusar o governo iraquiano de ter apoiado os terroristas e de estar preparando armas de destruição
em massa para serem usadas contra os estadunidenses. Em março de 2003, os Estados Unidos
invadiram o território iraquiano com apoio das tropas do Reino Unido, da Espanha, da Itália, da Polônia e
da Austrália.
A meta era derrubar o governo de Saddam Hussein e destruir as instalações que produziam armas
químicas e de destruição em massa. No entanto, essas instalações nunca foram encontradas.

Compreendendo com a História


Os ataques de 11 de setembro introduziram um grau de organização e uma capacidade de destruição
jamais vistos em atentados terroristas. Tal acontecimento foi um marco histórico importante não só para
a história estadunidense, mas também para todo o mundo contemporâneo.

289
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Logo após os atentados, o governo dos Estados Unidos, na época comandado por George W. Bush,
assumiu o suposto papel de defensor dos valores ocidentais na luta contra o terrorismo. Com base em
seus conhecimentos, responda: quais ações são um exemplo concreto dessa postura política?

O Povo Curdo, a Maior Nação sem Território


Os curdos estão espalhados principalmente pela Turquia, pelo Irã, pelo Iraque e pela Síria, países nos
quais são uma minoria que sofre discriminação pelos governos e não tem direitos políticos. Apesar de
não ter fronteiras estabelecidas, essa região é chamada de Curdistão. Desde o final da Primeira Guerra
Mundial, os curdos reivindicam, em vão, uma pátria livre.
O Iraque foi um dos países que resultaram da divisão do Império Otomano, ao final da Primeira Guerra
Mundial. O Iraque, inicialmente, havia sido idealizado corno um país para dois povos: árabes e curdos.
No entanto, a aproximação dos ingleses com as lideranças árabes, que controlavam os poços de petróleo,
tirou dos curdos qualquer chance de formar urna nação.
Desde essa época, o Iraque passou a ser governado pelos árabes, que oprimiram os curdos,
fortemente discriminados também na Turquia. O governo iraquiano impediu a todo custo que os curdos
conquistassem sua independência, usando até mesmo armas químicas para conter o deslocamento
dessa população, concentrada no norte do país.
A vida dos curdos iraquianos começou a sofrer alterações quando estes apoiaram os Estados Unidos
na derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein. Dessa forma, passaram a desfrutar de certa
autonomia e, pouco a pouco, puderam administrar sua região. Os interesses dos Estados Unidos em
proteger os curdos estão claros, urna vez que, na região habitada pelos curdos no norte do Iraque, estão
alguns dos maiores poços de petróleo do Oriente Médio.
Enquanto isso, os curdos do lado turco vivem outra realidade. Concentrados no sudeste da Turquia,
sofrem forte repressão do governo. As tropas turcas são extremamente violentas nessa localidade, e a
discriminação é imperante, fato que leva muitos curdos a adotar identidades turcas corno forma de
conseguir trabalho, escondendo, assim, sua origem.
No fim dos anos 1970, grupos de resistência curda se organizaram e formaram o Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK, em curdo). Considerado terrorista, o PKK já sofreu diversas ofensivas
do exército turco, que objetiva reprimir essa organização.
Os governantes turcos acreditam que conceder autonomia ao Curdistão turco é colocar em risco uma
grande parte dos recursos hídricos e energéticos do país, concentrados nas bacias hidrográficas do sul
e do sudeste, notadamente nos rios Tigre e Eufrates.
A situação dos curdos do ponto de vista social é alarmante, uma vez que eles têm dificuldades em
encontrar empregos e vivem muitas vezes em situação de miséria absoluta.
A pequena autonomia que os curdos têm no Iraque, portanto, não interessa à Turquia, que acredita
que um Curdistão autônomo no Iraque pode representar uma base para que eles tentem dominar o
Curdistão que está sob domínio turco.
Em 2007, houve grande tensão no Iraque, uma vez que o exército e a aeronáutica turcos atacaram
acampamentos de guerrilheiros curdos em território iraquiano.

As Tensões na URSS
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) surgiu com a fusão política, econômica e militar
de vários países que aderiram ao socialismo, no fim da Primeira Guerra Mundial, e de outros que foram
anexados pelo exército soviético entre os anos 1920 e 1940.
Com a crise econômica agravando-se na década de 1980, alguns desses países manifestaram a
vontade de se separarem da URSS e se libertarem da influência da Rússia, a maior das repúblicas
socialistas.

A Questão de Nagorno-Karabakh
Durante a fase de formação da URSS, joseph Stalin (1878-1953) utilizou o fracionamento territorial
como forma de enfraquecer as etnias que compunham as repúblicas soviéticas, dividindo-as, acirrando
as rivalidades e facilitando, assim, o domínio do poder central.
Nesse contexto, Stalin concedeu um pedaço do território armênio chamado Nagorno-Karabakh para
ser administrado como região autônoma do Azerbaijão.
Com a crise soviética, que começou a surgir nos anos 1980 e teve seu desfecho em 1991, a população
de Nagorno- Karabakh passou a reivindicar sua anexação à Armênia, desencadeando violenta reação do
Azerbaijão, o que resultou em uma guerra de relativa duração (1988-1994) e vitória dos armênios. Hoje,
Nagorno-Karabakh é uma república ligada à Armênia que não desfruta de amplo reconhecimento
internacional.

290
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As tentativas diplomáticas de solucionar o problema continuam, mas sem muitos avanços. Os
armênios não aceitam fazer parte do Azerbaijão, o qual, por sua vez, não aceita perder essas terras para
a Armênia, ameaçando desferir um ataque contra esse território.

O Conflito na Chechênia
A região autônoma da Chechênia, parte da grande Federação Russa, sofre enorme influência dos
russos desde o século XVII. Nesses territórios residem diversas etnias, entre elas uma população
muçulmana com fortes ligações com a cultura persa (atual Irã).
Como entre Armênia e Azerbaijão, os problemas avolumaram-se na região durante a era Stalin (1927-
1953). Naquele período, o governo soviético reprimia as manifestações religiosas, consideradas um
atraso pelo regime socialista.
Stalin ordenou a deportação em massa de chechenos para trabalhos forçados no interior da Rússia.
Famílias inteiras foram separadas por décadas, o que causou grande revolta interna.
Durante a crise soviética dos anos 1980, muitos deportados e suas famílias retomaram às suas terras
e iniciaram um movimento de libertação contra a dominação russa. A guerrilha chechena lutou no início
dos anos 1990 para expulsar as tropas russas, que tinham como vantagem um maior poderio bélico. Entre
1994 e 1995, as tropas russas arrasaram a cidade de Grozny, capital da Chechênia,
Depois dessa ofensiva russa, os grupos chechenos passaram a praticar atos terroristas contra alvos
russos.

Os Conflitos na Ossétia
Como vimos, há muitos séculos a região do Cáucaso foi ocupada por diversas etnias, entre elas a dos
ossetas. Tal qual outras regiões, a Ossétia também foi fracionada para atender aos interesses políticos
dos líderes da extinta URSS.
Assim, a parte norte da região passou a fazer parte da Federação Russa, enquanto a parte sul
transformou-se em uma região autônoma da Geórgia, uma das ex-repúblicas soviéticas.
Assim como os povos de outras regiões do Cáucaso, os ossetas do sul foram oprimidos pelo governo
georgiano. Com o fim da URSS, iniciaram um movimento de libertação contra a Geórgia, contando com
apoio russo. Segundo a Rússia, essa ajuda justificava-se pelo fato de a Ossétia do Sul possuir muitos
residentes russos.
O governo georgiano, temendo perder uma parcela de seu território, iniciou uma ofensiva militar contra
os ossetas do sul. De imediato, o exército russo partiu para a defesa dos ossetas, alegando risco à
integridade dos russos que moravam naquelas localidades.

A Primavera Árabe
Nos últimos anos, uma série de protestos populares vem ocorrendo em países de língua árabe e de
maioria de população muçulmana.
Eles são o estopim de uma onda enorme de lutas originárias de rivalidades políticas e étnicas, além
de graves problemas sociais e econômicos.
Nesses países, a população jovem, geralmente, não encontra empregos e grande parte dela é
obrigada a migrar ilegalmente em busca de oportunidades em outros continentes. A falta de um
dinamismo econômico leva muitos desses países a passar por fases de racionamento de produtos
básicos. Para piorar a situação, esses países foram ou ainda são governados por grupos hegemônicos
ou ditaduras militares que reprimem fortemente qualquer manifestação política de opositores.
Diferentemente do que muitos pensam, especialmente no Ocidente, essas manifestações não tiveram
necessariamente um viés religioso, como foi comum em outros tempos.
O fator desencadeador, usado como símbolo desse processo, aconteceu na Tunísia. Em 17 de
dezembro de 2010, o jovem Mohamed Bouazizi (1984-2011) ateou fogo ao próprio corpo em protesto
contra o confisco de seu carrinho - com o qual vendia frutas para ajudar sua família, já que não arrumava
emprego - e faleceu após dezoito dias de internação hospitalar. Em seu funeral, milhares de pessoas
tomaram as ruas e pressionaram Ben Ali, que estava no poder há mais de 23 anos de forma ditatorial,
para que se retirasse.
Esses protestos continuaram a ocorrer em outros países do norte da África e do Oriente Médio. No
Egito, milhares de pessoas passaram a protestar contra o governo de Hosni Mubarak, que estava no
poder havia quase 30 anos. A população ocupou a Praça Tahir, no Cairo, capital do país, e passou a
exigir a renúncia do ditador. Foram meses de protestos, durante os quais milhares de jovens acamparam
na praça, chamando a atenção dos meios de comunicação. Depois de inúmeros confrontos com forças
militares, a população conseguiu a renúncia de Mubarak em fevereiro de 2011. A luta por democracia e
transparência continua muito ativa no Egito.

291
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Na Líbia, o ditador Muammar Gaddafi (1942-2011) estava no poder desde 1969. Denunciado como
líder de um dos mais violentos e corruptos regimes do mundo árabe, ele reprimia a oposição e se colocava
como inimigo de regimes ocidentais. Foi assim que os grupos opositores aproveitaram essa atmosfera de
mudanças e, com ajuda de governos estrangeiros, iniciaram uma ofensiva que acabou com a ditadura.
Durante as batalhas, Gaddafi foi capturado e morto por grupos rebeldes.

O Caso da Síria
Certamente um dos conflitos mais preocupantes é o da Síria. Os grupos opositores ao regime de
Bashar al-Assad vêm se unindo para derrubar a ditadura da família, que se iniciou em 1970 com Hafez
al-Assad (1930-2000), o pai do atual presidente.
Semanas antes de explodirem os protestos, em março de 2011, Bashar al-Assad lançou a Política dos
quatro mares. Por meio dela, o governo esperava que o território sírio se transformasse em uma
encruzilhada energética, por onde passariam gás e petróleo, ligando o Mar Cáspio, o Golfo Pérsico, o
Mar Negro e o Mediterrâneo. A Síria seria o fiel da balança na "distribuição" desses recursos, interligando
grandes gasodutos e oleodutos do Egito à Arábia Saudita, do Irã aos Bálcãs. Alguns contratos da Síria
para a construção dos oleodutos estavam sendo assinados com Irã, Turquia e Arábia Saudita, e parte do
capital para isso poderia -ir da China - que é ávida por energia. Para se fazer uma comparação, em 2012,
Arábia Saudita exportou mais petróleo para a China do que para os Estados Unidos, por exemplo.
A Turquia é beneficiária de megaprojetos energéticos como o oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan e o
Nabucco (por hora paralisado), que liga Ásia Central, Mar Cáspio, Turquia e Europa. Esses são
financiados com capital estadunidense e europeu.
Internamente, a minoria alauíta, facção religiosa do presidente Assad, favorecida durante décadas,
seria beneficiada mais uma vez pelos contratos para a realização dessas obras e por toda a soma indireta
gerada por elas. A maioria sunita estava sendo colocada mais uma vez à margem de todo o processo.
Em março de 2011, 15 jovens sunitas foram presos e torturados na cidade de Dar'a por protestar contra
o governo. Esse fato deu início a um sangrento conflito.

Os Conflitos Africanos Persistem na Nova Ordem Mundial


O duro contato da África com a brutal realidade dos países dominantes ocorreu principalmente entre
os séculos XV e XIX, quando traficantes retiravam homens, mulheres e crianças do continente e os
vendiam como mão de obra escravizada na América e em alguns países da Europa.
Ao longo do século XIX, a Europa efetivou um domínio mais formal do continente africano,
estabelecendo colônias e entrepostos comerciais. Eram raras as nações africanas que tinham autonomia
ou algum tipo de governo próprio. Para concretizar esse domínio, os europeus promoveram a divisão do
continente entre eles, mediante tratados e acordos. A divisão dos territórios visava a satisfazer as
necessidades econômicas das metrópoles, incluindo limites que separavam um mesmo povo ou
aglutinavam diferentes etnias em um mesmo território. Essa prática mostrou-se desastrosa, pois acabou
gerando inúmeros conflitos em todo o continente africano. Basta observar nos napas as muitas fronteiras
retilíneas: algumas foram traçadas cessa forma pela ausência de, dentes naturais importantes grandes
rios, montanhas etc.); outras foram traçadas em linha reta apenas para atender aos interesses dos
europeus.
No período posterior à Se da Guerra Mundial, a atuação de diversos movimentos nacionalistas,
associada ao declínio antigas potências imperialistas e à expansão do socialismo, permitiu que os países
africanos alcançassem a independência. Mas essas nações recém-libertadas conservaram as fronteiras
postas pelos europeus. Em consequência, rapidamente numerosos conflitos explodiram todo o
continente.

Conflito no Sahel
Durante a década de 1980, ocorreram graves conflitos ao longo de todo o limite sul do deserto do
Saara. Essa região é conhecida como Sahel, de transição entre a aridez ao norte e as pastagens e matas
ao sul do deserto.
Nessa região, as populações praticavam uma agricultura de técnicas rudimentares que, ao longo
tempo, acabou com a fertilidade do solo, provocando fome e desnutrição. Essas populações tentaram
avançar para as terras mais férteis do sul e aram entrando em choque com outros grupos étnicos, que já
as ocupavam.
Durante a Guerra Fria, as potências armaram esses grupos rivais na expectativa de ampliar suas áreas
de influência. Tal prática gerou inúmeras tragédias de grandes proporções, que ainda apresentam efeitos
sobre as populações dessa parte da África. Os casos mais drásticos verificam-se na Somália, Etiópia,
Chade, Mali, Níger e Sudão, onde milhões de pessoas morrem de fome.

292
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Os Conflitos em Ruanda e Burundi
Ao longo dos séculos ocorreram inúmeros confrontos tribais em toda a África. Nas últimas décadas,
porém, verdadeiras tragédias abateram-se sobre as populações de diversos países.
A população de Ruanda foi vitimada por um dos piores massacres do século XX. Em 1994, as duas
maiores etnias do país, os tutsis e os hutus, entraram em guerra, disputando poder e território. Essa
rivalidade, que existe desde o século XV, agravou-se durante o domínio alemão, no século XIX, e durante
o domínio belga, no início do século XX. Em meados de 1994, os confrontos ficaram cada vez mais
violentos, e milhões de ruandeses começaram a fugir do país. Cerca de 1 milhão de pessoas foram mortas
por grupos paramilitares ou pela epidemia de cólera que se alastrou no país. O problema estendeu-se a
outros países da região, como Uganda e Burundi, também habitados por tutsis e hutus em constante
clima de rivalidade.
Em outras nações africanas, os conflitos tribais estão associados à exploração de riquíssimas jazidas
minerais. Em Serra Leoa, o grau de violência dos confrontos afetou toda a infraestrutura do país.
Ocorreram mutilações em massa, e especula-se a participação de multinacionais mineradoras no
financiamento dessa barbárie.

Conflito em Darfur, no Sudão


Desde o final do século XIX até os anos 1950, foi crescente a influência britânica no Sudão. Da mesma
forma que outras nações africanas, o Sudão conseguiu romper com a metrópole europeia e declarar sua
Independência em 1956.
Formado por diversas etnias e religiões, o país sempre viveu sob a tensão de conflitos internos. Na
década de 1980, o governo, de maioria muçulmana, instalou um conjunto de leis de inspiração religiosa,
revoltando as populações do sul, que iniciaram movimentos de separação.
Desde então o governo do norte vem reprimindo violentamente as minorias, uma vez que teme perder
grande parte das terras férteis e das riquezas minerais, como o petróleo, concentrado no sul do país.
Organismos internacionais de ajuda humanitária acreditam que já morreram mais de 1,5 milhão de
pessoas nos últimos anos, vítimas desses embates. O caso mais grave vem sendo o da província de
Darfur.
Darfur está localizada na região oeste do Sudão e é formada por grande parte de terras semiáridas. A
área de Darfur é muito maior que a maioria dos países da Europa.
A escassez de terras agricultáveis e de pastagens, associada à pobreza extrema, criou um clima de
tensão entre os diversos grupos étnicos. Grupos muçulmanos nômades de cultura árabe reivindicam a
posse das poucas áreas de pastagens dominadas por fazendas pertencentes a diferentes grupos étnicos,
muitos deles também muçulmanos, porém de cultura africana.
O governo sudanês vem apoiando claramente os grupos muçulmanos árabes, levando a reações dos
grupos étnicos africanos locais. Em 2003, ocorreram os primeiros conflitos entre as facções rebeldes de
Darfur e as tropas do governo.
O exército sudanês entrou na região com muita violência, expulsando milhares de pessoas de suas
casas, que precisaram ir para campos de refugiados nas proximidades da fronteira oeste do país,
principalmente na divisa com o Chade.
Como agravante da situação, esses grupos étnicos africanos são perseguidos por uma violenta milícia,
conhecida como Janjaweed, que sequestra, principalmente, mulheres e as escraviza. As notícias de
violência sexual contra essas mulheres são muito frequentes, e a população com medo parte em fuga e
muitas vezes morre de sede e fome, tanto ao longo do caminho quanto nos campos de refugiados, que
já contam com mais de 2 milhões de pessoas e não recebem nem remédios, nem alimentos.
A situação se tornou tão grave que governos e organismos internacionais passaram a pressionar as
autoridades sudanesas para que abrissem uma negociação a fim de cessar essa catástrofe social. Em
janeiro de 2005 foi estabelecido um acordo que previa um referendo sobre o futuro da unidade do país.
Após anos de conflito, o referendo decidiu pela divisão do país e o surgimento do Sudão do Sul em 2011.

Os Conflitos e Tensões no Continente Americano

Canadá: a Questão de Quebec


Apesar de ser um dos países com melhores índices sociais do mundo, o Canadá tem uma pendência
política interna. A região do Quebec é uma antiga colônia da França que mantém até hoje a língua e as
tradições francesas. Os habitantes dessa província reclamam de uma forte discriminação política e
econômica, uma que são minoria em relação às províncias de origem inglesa. Em 1969, o francês tornou-
se a língua oficial do país, ao lado do inglês.

293
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Durante a década de 1990, diversas solicitações levaram à realização de um plebiscito pela autonomia
de Quebec. A autonomia foi rejeitada, porém ou plebiscitos estão sendo organizados e podem levar ao
surgimento de um novo país na américa.

Questão dos Inuítes


Os inuítes habitam há 5 000 anos a região que hoje é parte do Canadá. Os primeiros tatos com os
europeus foram feitos efetivamente em 1585 pela expedição de Martin Frobisher (1535-1594).
Com a chegada dos europeus, os inuítes firam de fora da formulação política que deu origem ao
Canadá. Eles acabaram sendo usados como mão de obra para os exploradores, foram deslocados de
seus territórios e perderam sua autonomia.
A partir dos anos 1970 os inuítes passaram lutar pelos seus direitos e pela autonomia de território,
Nunavut ("nossa terra', no idioma inuíte). A província inuíte foi criada em 1999, de hoje esse povo vem
desenvolvendo uma economia sustentável explorando de forma racional os recursos locais, como a oferta
de peixes e de madeira. Ao mesmo tempo, os inuítes querem poder aproveitar dos avanços tecnológicos
do mundo atual.

A Explosão da Violência na Colômbia


No início do século XXI, a Colômbia atravessou sua pior crise institucional.
Desde meados da década de 1970, o esfacelamento da pequena produção rural, sem condições de
competir com as grandes fazendas comerciais, estimulou a expansão do plantio de coca, utilizada na
fabricação de cocaína, uma vez que a remuneração oferecida pelos narcotraficantes é muito superior aos
ganhos obtidos com as plantações de gêneros alimentícios e matérias-primas.
O poder dos cartéis do tráfico tem crescido em escala vertiginosa, envolvendo grande parcela da
sociedade colombiana. Nesse mesmo ritmo, milhares de colombianos vão sendo marginalizados pelo
agravamento da situação econômica.
Atuam no país alguns grupos revolucionários de linha socialista que aglutinam jovens excluídos e
pregam a luta armada como forma de alteração profunda da sociedade. Originalmente, inspiraram-se na
guerrilha cubana comandada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Contudo, após décadas de luta,
muitos perderam seus propósitos iniciais.
Entre os grupos mais conhecidos destacam-se as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc). Seus guerrilheiros controlam uma porção do território a leste e são acusados pelas autoridades
colombianas de terem forte ligação com o narcotráfico.
A atual violência na Colômbia preocupa até mesmo o governo brasileiro, uma vez que a área de
atuação da guerrilha - e dos combates - está próxima da fronteira brasileira, na região amazônica.
Nesse sentido, o governo brasileiro vem estruturando projetos que visam também a conter os riscos
ao território nacional. O projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) tem capacidade de monitorar
essa região, observar e tentar prevenir a passagem de aviões do narcotráfico ou detectar desmatamentos.
Recentemente, por iniciativa dos Estados Unidos, foi implantado o Plano Colômbia. Tal plano prevê
investimentos financeiros na região, além de treinamento do exército colombiano por parte das forças
militares estadunidenses.

O Conflito das Malvinas


O arquipélago das Malvinas localiza-se no Atlântico Sul, nas proximidades dos limites de águas
territoriais da Argentina. A região, ocupada pelos britânicos - que a chamam de Falklands - desde o século
XIX, tornou-se área de criação de ovinos para a produção de lã.
De forma inesperada, em abril de 1982 o governo ditatorial militar argentino realizou uma invasão na
ilha. A intenção era desviar a atenção da população argentina dos graves problemas econômicos e
políticos pelos quais passava o país, por meio da tomada de um território há muito tempo reivindicado por
essa nação.
O conflito ocorreu sobre uma pequena parcela do território, localizada, porém, em uma região de clima
muito frio sob uma forte influência das massas de ar geladas vindas do continente antártico. Isso exigia
de ambas as partes uma preparação especial para a guerra.
Não foi possível nenhum acordo diplomático, e as tropas inglesas rumaram cara o Atlântico Sul a fim
de retomar as ilhas. Nos primeiros combates, era evidente a superioridade técnica e militar das tropas
britânicas. Assim, apesar de lentos combates e centenas de mortos de ambos os lados, a Argentina foi
derrotada.
Inglaterra e Argentina rompe relações diplomáticas, e a relação tem sido feita de forma gradual. Um
exemplo disso foram os acordos de exploração conjunta dos recursos petrolíferos das Malvinas,
assinados em 1995 e em vigor até 2007, data em que os ingleses intensificaram o desejo de explorar o

294
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
petróleo na região unilateralmente, de tal modo que iniciaram projetos e estudos para a concessão de
áreas petrolíferas águas profundas. O governo argentino manifestou-se contrário a isso, passando a exigir
a posse das ilhas novamente, fato que gerou novo foco de tensão mundial.
Acredita-se que (tal qual na área de exploração do pré-sal do Brasil) nessa regiao a menos de 500
quilômetros do litoral argentino, também haja um potencial bilhões de barris de petróleo a serem
explorados.
Como vivem os jovens em Dadaab: o maior campo de refugiados do mundo o Alto Comissariado da
ONU para Refugiados (Acnur) instalou os primeiros campos de refugiados em Dadaab, no Quênia, entre
1991 e 1992, para abrigar os refugiados dos conflitos que naquela época ocorriam na Somália. A intenção
original era que os campos de Dadaab abrigassem até 90 mil pessoas, entretanto, atualmente vivem no
complexo mais de 463 mil refugiados, incluindo cerca de 10 mil pessoas que conformam a terceira
geração nascida em Dadaab, cujos pais eram refugiados que também nasceram nos campos.
São esses jovens que estão tentando mudar essa realidade tão difícil, numa construção pequena e
modesta, onde fica a sede da Organização Juvenil de Ifo. Ali acontecem quinzenalmente reuniões e
debates acirrados entre os 27 partidos que compõem o Parlamento dos jovens. Eles têm cargos, funções
e muita vontade. Só lhes falta a legitimidade do "povo".
A Organização Juvenil de Ifo é formada por moradores dos acampamentos de Dadaab. Como são
refugiados, os habitantes de Dadaab não podem trabalhar, estudar, viajar ou ser representados
politicamente fora do campo. Dentro, eles tentam viver a juventude como podem.
Existem reuniões de gabinete para organizar campanhas de saúde. Uma delas é contra a mutilação
genital feminina, mas há também aquelas de vacinação. Além da promoção da saúde, há pouco sobre o
que os jovens e o seu Parlamento possam deliberar. O único projeto original de sucesso foi um
campeonato esportivo entre os jovens.
Muitos nasceram em Dadaab e nunca saíram, o que é quase uma prisão para a maioria deles. Se
nada for feito, muitos jovens podem ser cooptados por grupos marginais, ligados à criminalidade, que
existem nos campos.
Entre os planos futuros desses jovens, está a tentativa de registrar o grupo como agência humanitária
- o único tipo de entidade autorizada a se fixar e trabalhar em Dadaab com mais eficiência.
Eles lutam para que mais jovens possam deixar o acampamento para estudar em universidades -
inexistentes em Dadaab. Para muitos que ficam, a alternativa é trabalhar geralmente no comércio e casar
cedo. Muitos jovens declaram que optam por ter uma família para sentir a conquista de algo e, assim,
continuar acreditando em um futuro melhor128.

Questões

01. (ENEM - MEC) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa
divisão propiciou a formação de alianças antagônicas de caráter militar, como a Otan, que aglutinava os
países do bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, que concentrava os do bloco oriental. É importante
destacar que, na formação da Otan, estão presentes, além dos países do oeste europeu, os EUA e o
Canadá. Essa divisão histórica atingiu igualmente os âmbitos político e econômico, que se refletia pela
opção entre os modelos capitalista e socialista.
Essa divisão europeia ficou conhecida como
(A) Cortina de Ferro.
(B) Muro de Berlim.
(C) União Europeia.
(D) Convenção de Ramsar.
(E) Conferência de Estocolmo.

02. (ENEM - MEC) Os mapas a seguir revelam como as fronteiras e suas representações gráficas são
mutáveis.
Essas significativas mudanças nas fronteiras de países da Europa Oriental nas duas últimas décadas
do século XX, direta ou indiretamente, resultaram
(A) do fortalecimento geopolítico da URSS e de seus países aliados, na ordem internacional.
(B) da crise do capitalismo na Europa, representada principalmente pela queda do muro de Berlim.
(C) da luta de antigas e tradicionais comunidades nacionais e religiosas oprimidas por Estados criados
antes da Segunda Guerra Mundial.

128 TAMDJIAN, James Onning. Geografia; estudos para compreensão do espaço. 2ª edição. São Paulo: FTD.

295
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(D) do avanço do capitalismo e da ideologia neoliberal no mundo ocidental.
(E) da necessidade de alguns países subdesenvolvidos ampliarem seus territórios.

03. (ENEM - MEC) A figura apresenta as fronteiras entre os países envolvidos na Questão Palestina e
um corte, no mapa, da área indicada.
Com base na análise dessa figura e considerando o conflito entre árabes e israelenses, pode-se afirmar
que, para Israel, é importante manter ocupada a área litigiosa por tratar-se de uma região
(A) De planície, propícia à atividade agropecuária.
(B) estratégica, dado que abrange as duas margens do rio Jordão.
(C) habitada, majoritariamente, por colônias israelenses.
(D) que garante a hegemonia israelense sobre o mar Mediterrâneo.
(E) estrategicamente situada devido ao relevo e aos recursos hídricos.

Gabarito

01.A / 02.D / 03.E

Comentários

01. Resposta A.
A expressão "cortina de ferro" foi muito utilizada no período da Guerra Fria para designar uma linha
imaginária que se estendia de norte a sul pela Europa, separando os países ocidentais dos países
orientais. Os países ocidentais referiam-se aos países orientais como ditaduras comunistas, "atrás" da
cortina. O termo originou-se de uma palestra proferida pelo primeiro ministro inglês Winston Chur-chill
nos Estados Unidos em 1946.
A alternativa B é falsa. O Muro de Berlim foi uma obra de engenharia civil que serviu para evitar a
evasão da população de Berlim Oriental em direção à parte ocidental da capital da Alemanha.
A alternativa C é falsa. A União Europeia é um grande bloco europeu integrado em termos de
circulação de pessoas e ideias, capital e produtos diversos, funcionando sob a administração do
Parlamento Europeu e com uma moeda padrão, o euro.
A alternativa D é falsa. A Convenção de Ramsar, elaborada em 2 de fevereiro de 1971, diz respeito à
criação de Zonas Úmidas de Importância Internacional, reconhecendo a interdependência do ser humano
e de seu ambiente, reguladora dos regimes de água, enquanto hábitats de flora e fauna, especialmente
de aves aquáticas.
A alternativa E é falsa. A Conferência de Estocolmo, realizada no mês de junho de 1972, foi o primeiro
grande encontro de autoridades mundiais para discutir problemas ambientais relacionados ao modelo de
produção econômica, utilitário de combustíveis fósseis e seus efeitos de longo prazo sobre
o ambiente.

02. Resposta D.
A retomada de autonomia política no pós-guerra resulta do avanço da industrialização do comércio e
da financeirização das novas economias.
A alternativa A é falsa. A URSS desapareceu ao final do século XX;
A alternativa B é falsa. A queda do Muro de Berlim favoreceu a expansão capitalista por toda a Europa.
A alternativa C é falsa. A Iugoslávia foi criada após a Segunda Guerra Mundial.
A alternativa E é falsa. Países subdesenvolvidos têm dificuldades ou falta de capacidade para ampliar
seu território.

03. Resposta E.
O Estado de Israel, reinstituído em 1947, faz fronteiras terrestres com países árabes, um dos fatores
de instabilidade regional. Na Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou militarmente áreas de importância
estratégica para sua sobrevivência, na visão de seus líderes. O relevo elevado das colinas de Golã, as
nascentes do Rio Jordão e seu vale, passam a ter importância estratégica para a nação israelense.
A alternativa A é falsa. A região apresenta relevo movimentado.
A alternativa B é falsa. A margem esquerda do Rio Jordão fica na Jordânia.
A alternativa C é falsa. As colônias são predominantemente palestinas.
A alternativa D é falsa. Israel não tem a hegemonia do Mar Mediterrâneo.

296
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
6. Cidadania e Direitos Humanos no Mundo: a cidadania em Atenas e Roma; os
ideais iluministas e as práticas de cidadania durante a Revolução Francesa e a
partir da independência dos Estados Unidos; o socialismo, o anarquismo, o
comunismo, a social democracia, o nazismo, o fascismo na Europa;
experiências autoritárias na América Latina, as declarações dos Direitos
Universais do Homem e os contextos de suas elaborações; a luta contra o
apartheid na África do Sul. Os direitos das mulheres, dos jovens, das crianças,
das etnias e das minorias culturais, a pobreza e a desigualdade social e
econômica.

*Candidato(a). Como nos tópicos anteriores, a maioria dos temas foram trabalhados dentro dos
seus períodos históricos.

Experiências autoritárias na América Latina 129


As ditaduras na América Latina se estabeleceram no período em que a ordem internacional sofria pelos
enfrentamentos da Guerra Fria. Na época, os Estados Unidos desenvolveram uma série de mecanismos
de combate ao expansionismo comunista. Já nos anos 1950, fora estabelecida pelas autoridades do país
a Doutrina de Segurança Nacional, cujas diretrizes procuravam combater o “perigo vermelho” dentro e
fora do território norte-americano.
Neste contexto, e notadamente a partir da Revolução Cubana e da ascensão do governo comunista
de Fidel Castro, os EUA viriam a intensificar a vigilância sobre a América Latina. Tal preocupação originou,
por exemplo, a Aliança para o Progresso, programa instituído por Washington conjuntamente a diversas
lideranças latino-americanas, através do qual buscava-se melhorar os índices socioeconômicos da região
e, concomitantemente, frear o crescimento das alternativas socialistas.
No entanto, a despeito de tais esforços, grupos de esquerda e simpatizantes da causa comunista
floresceram em diversas nações do continente. Frente a isso, e não raramente com auxílio estadunidense,
forças conservadoras se mobilizaram nessas regiões e, atendendo a demanda de diversos setores da
sociedade civil, apoiaram a instituição de governos militares. Através de golpes de Estado sucessivos, a
América Latina assistiu nos anos 60 e 70 a ascensão de inúmeras ditaduras militares.

OPERAÇÃO CONDOR
Se por um lado são evidentes as relações entre tais golpes militares e os interesses do capitalismo
norte-americano, por outro é igualmente inegável o apoio despejado por boa parte da população latino-
americana à chegada ao poder desses governos. Acreditava-se que somente através de administrações
fortes, comandadas pelo ímpeto dos militares, estaria garantida a urgente defesa contra a ameaça
comunista.
Neste sentido, podemos verificar um espantoso número de movimentos civis que se proliferaram em
favor das intervenções militares em boa parte do continente. Muitos desses foram arquitetados por setores
da classe média, do empresariado nacional, das oligarquias locais e até mesmo da Igreja Católica,
temerosos que o exemplo de Cuba viesse a se espalhar por nações vizinhas.

Operação Condor e repressão


Os governos militares latino-americanos mantinham entre si uma poderosa rede de comunicação, onde
os contatos eram tecidos com o objetivo de expurgar todo tipo de oposição. É justamente nesses termos
que podemos localizar a criação da Operação Condor, uma aliança instituída por tais regimes com a
intenção de perseguir esquerdistas, antipatriotas e subversivos nos países do Cone Sul, independente da
nacionalidade do “criminoso”.
Contra esses “inimigos da ordem”, as ditaduras se utilizavam de tantos outros expedientes. A
repressão fora instituída nas suas mais diversas facetas, sendo a censura aos meios de imprensa
oficializada e a tortura legitimada juridicamente. Exílios, prisões e desaparecimentos de perseguidos
políticos também se fizeram cotidianos em países como Chile, Uruguai, Argentina, Bolívia e Brasil.
Crescimento e crise
A grande popularidade obtida por alguns desses governos esteve relacionada ao relativo crescimento
econômico que alcançaram em determinados períodos. Vinculadas ao grande capital internacional,
destacadamente às diretrizes norte-americanas, as ditaduras latino-americanas obtiveram os

129 https://bit.ly/2HnFKWO

297
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
investimentos necessários ao fortalecimento de suas economias. Assim, a pujança financeira parecia
legitimar os autoritarismos estatais.
No entanto, a inserção desses países na ordem neoliberal não garantiu necessariamente a melhoria
dos índices sociais, notadamente daqueles referentes aos grupos menos abastados. Ao contrário, o
Estado cada vez mais se distanciou da tarefa de garantir os mínimos parâmetros sociais, subjugando as
parcelas mais humildes desses países.
Em fins dos anos 70, com a inflamação dos movimentos de oposição, essas ditaduras começaram a
dar os primeiros sinais mais evidentes de fragilidade. Internacionalmente, havia igualmente um cenário
favorável à redemocratização das instituições políticas. Nos EUA, com a derrota do país na Guerra do
Vietnã e ascensão do governo Jimmy Carter, cresceu a pressão por um posicionamento mais claramente
contrário às experiências autoritárias na América Latina. A própria Igreja Católica, em muitos casos
entusiasta dos golpes militares, passara a criticar de modo mais veemente os abusos cometidos por tais
governos.

COMISSÕES DA VERDADE
As ditaduras latino-americanas tiveram fins distintos. Em alguns países, como na Argentina e Chile,
tais experiências foram tratadas como Terrorismo de Estado, sendo muitos dos seus responsáveis
punidos pela sociedade civil. Já em outros casos, como no Brasil, os autores das violências e
autoritarismos cometidos foram anistiados por dispositivos legais, muitos dos quais criados pelos próprios
governos militares (como a brasileira Lei da Anistia).
Posteriormente, as Comissões da Verdade cumpriram o importante papel de investigar o passado e
denunciar os horrores cometidos pelas ditaduras. Buscaram igualmente elucidar a contemporaneidade
acerca das condições históricas que possibilitaram tais experiências. No Brasil, a Comissão Nacional da
Verdade só veio a ser criada em 2012 com o objetivo de investigar as violações cometidas contra os
Direitos Humanos no período de 1946 a 1988.

Questão

01. (FUVEST) Existem semelhanças entre as ditaduras militares brasileira (1964-1985), argentina
(1976-1983), uruguaia (1973-1985) e chilena (1973-1990).
Todas elas:
(A) receberam amplo apoio internacional tanto dos Estados Unidos quanto da Europa Ocidental.
(B) combateram um inimigo comum, os grupos esquerdistas, recorrendo a métodos violentos.
(C) tiveram forte sustentação social interna, especialmente dos partidos políticos organizados.
(D) apoiaram-se em ideias populistas para justificar a manutenção da ordem.
(E) defenderam programas econômicos nacionalistas, promovendo o desenvolvimento industrial de
seus países.

Gabarito

01.B

Comentários

1. Resposta: B.
A opção correta é a letra B, pois caracteriza corretamente aspectos convergentes entre as experiências
ditatoriais abordadas na questão, ou seja, o combate violento às forças identificadas com “projetos de
esquerda”, notadamente aqueles simpatizantes dos ideais comunistas.

DIREITOS SOCIAIS NAS CONSTITUIÇÕES

Direitos Civis
Os direitos civis são os privilégios e garantias que o direito internacional e principalmente as
constituições nacionais dão a seus cidadãos. Os direitos civis agrupam as prerrogativas de liberdade
individual, liberdade de palavra, manifestação, pensamento e fé, liberdade de ir e vir, defesa, propriedade,
contrair contratos válidos e o direito à justiça. Os tribunais são as instituições públicas por excelência para
salvaguarda dos direitos civis.
Antes da constituição da cidadania moderna, os direitos e deveres entre os homens eram definidos
por privilégios sociais (posses, rendas, títulos de nobreza).

298
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O surgimento dos direitos civis assinalou uma mudança substancial nas relações dos homens em
sociedade. Foram rompidos os laços de dominação baseados nas relações comunitárias tradicionais,
característicos do período medieval e do sistema feudal.
Os direitos civis impuseram um nivelamento jurídico entre os cidadãos, que passaram a ser
considerados iguais perante a lei. As distinções de origem e classe social continuam a existir, mas não
devem interferir na igualdade jurídica dos cidadãos. Esse é o princípio básico de tais direitos.

Direitos Humanos
O homem ao longo da história percorreu um longo caminho marcado por lutas, principalmente
causadas pelo desejo de lucro e poder, visto que traz a herança da personalidade humana desde os
primórdios dos tempos, de extinto animal. Para eliminar, ou pelo menos diminuir essa personalidade “não
social” é indispensável a educação para “retirar o homem dos resquícios de sua condição primitiva”.
Os direitos humanos surgiram como um dos fatores mais importantes para a convivência do homem
em sociedade, refinando seu comportamento.
O objetivo dos direitos humanos é assegurar a dignidade humana, através de um conjunto de direitos
realizados de maneira consciente.
A concepção contemporânea de direitos humanos, foi estabelecida internacionalmente nem 1948, pela
Declaração Universal de Direitos Humanos, pouco tempo depois das crueldades cometidas pelos nazistas
na Segunda Guerra Mundial. Referida declaração foi ratificada pela Declaração dos Direitos Humanos de
Viena, em 1993, onde os direitos humanos e as liberdades fundamentais foram declarados direitos
naturais de todos os seres humanos, bem como definiu que a proteção e promoção dos direitos humanos
são responsabilidades primordiais dos Governos.
Além disso, os direitos humanos são universais e indivisíveis, visando proteger os direitos a vida, a
liberdade, igualdade e segurança pessoal, o que leva ao respeito integral a dignidade humana.

Os direitos humanos se orientam pelas seguintes expressões:


- Direitos do homem: empregada aos direitos conexos ao natural, direito a vida.
- Direitos humanos em sentido estrito: direitos conexos positivados em tratados e convenções
internacionais
- Direitos fundamentais: quando os tratados dos direitos humanos foram incorporados no
ordenamento jurídico do Estado.

A doutrina aponta certa distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais, sustentando que
direitos fundamentais são os direitos reconhecidos positivamente pela ordem constitucional.
Direitos Humanos são a concretização das exigências de liberdade, igualdade e dignidade humana,
as quais devem ser reconhecidas nos ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais, em cada
momento histórico.
Desta forma, é possível notar que os direitos fundamentais são direitos humanos positivados no
ordenamento jurídico.
Para que os direitos humanos sejam concretizados é necessário que o Estado cumpra seu dever de
respeitar a liberdade e autonomia do homem e, por outro lado, implementar ações aptas a proporcionar
a dignidade humana.

Os Direitos Humanos como bandeiras de lutas dos movimentos sociais.


Os direitos humanos podem ser concebidos como direitos utópicos, de cunho filosófico ou ideológico
e se constituem em valores que permeiam a sociedade em diferentes períodos históricos, com conotações
oriundas das demandas econômicas, sociais, políticas e culturais.
Os movimentos sociais se organizam dentro da ordem vigente e lutam contra essa ordem para forçar
a classe detentora dos meios de produção a abrir mão de regalias, fazendo com que o Estado assegure
direitos em prol da maioria. Bem como, a reelaboração de conceitos de direitos, tais como: trabalho; carga
horária; contratos coletivos; melhores condições de vida; habitação; educação; saúde; lazer, dentre
outros.
Essas lutas ocorrem tanto no âmbito urbano, quanto rural. Algumas delas são expressas pelos
movimentos: dos Sem-Teto ou da Luta por Moradia; dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST); dos
Operários, das mulheres, dos negros, dos homoafetivos, entre outros.
Ressalta-se que, a compreensão dessas lutas sociais é respaldada pelo paradigma do materialismo
histórico dialético, mais conhecido como as ideias marxistas. Esse paradigma contribui para entender não
só como foi constituído e construído o sistema capitalista, mas também, as relações antagônicas entre o

299
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Capital e o Trabalho, a constituição das desigualdades sociais, e∕ou a concentração de renda nas mãos
de uma minoria. Como exemplo dessa situação, essa minoria no mundo reside em torno de 1%.
A lute pelos direitos humanos vem inspirando a criação de organizações da sociedade civil,
associações de moradores, de produção, cooperativas, grupos de mulheres, de crianças, idosos,
sindicatos, dentre outros, a fim de fortalecer os movimentos sociais e a defesa intransigente dos direitos
humanos, superando a barbárie do capital em direção à emancipação humana e na construção de uma
sociedade democrática que assegure todos os direitos sociais. 130

Direitos Políticos131
Os direitos políticos são os direitos do cidadão que permitem sua participação e influência nas
atividades de governo.
Para Pimenta Bueno, citado por Silva (2006, p.345), os direitos políticos são “as prerrogativas,
atributos, faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção
direta ou só indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade do gozo desses direitos.”
Para Gomes (2012, p. 4), direitos políticos são “as prerrogativas e os deveres inerentes à cidadania.
Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da organização e do funcionamento
do Estado.”
A Constituição Federal de 1988 dedica o capítulo IV do título II, referente aos direitos e garantias
fundamentais, aos direitos políticos.132
O tema direitos políticos compreende os institutos do direito de sufrágio, sistemas eleitorais, privação
dos direitos políticos e inelegibilidades.

Direito de sufrágio

A palavra sufrágio é apresentada nos dicionários de língua portuguesa com três acepções, a saber:
1 – como sinônimo de voto, votação,
2 – como parecer favorável, aprovação, apoio ou concordância, e
3 – como ato pio ou oração pelos mortos.

Na primeira acepção, apresenta-se a razão do equívoco muito comum de equiparar sufrágio a voto. A
própria Constituição Federal distingue os dois institutos quando, no seu artigo 14, prescreve que “a
soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos”.
A segunda acepção seria a que mais se aproxima do verdadeiro significado de sufrágio, que vem do
latim sufragium e significa apoio, intercessão, aprovação. No caso, o sufrágio seria a aprovação que pode
se dar por meio do voto.
Segundo Silva (2006, p. 349), o sufrágio é o direito público subjetivo de natureza política que tem o
cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder estatal. Em suma, o
direito de sufrágio é o direito de votar e ser votado.

Sufrágio e voto
O direito de sufrágio é exercido praticando-se o voto.
Na Constituição Federal, está previsto o voto secreto, obrigatório, direto e igual para todos os
brasileiros133
O voto é secreto porque seu conteúdo não pode ser revelado pela Justiça Eleitoral, que deve garantir
ao eleitor que seu voto será resguardado e mantido em sigilo. É direto e igual porque o eleitor brasileiro
escolhe seus governantes sem intermediários, e cada pessoa tem direito a único voto de igual valor.
Por fim, o voto é obrigatório, porque, além de um direito, é também um dever jurídico, social e político
(SILVA, 2006, p. 358). A Constituição declara que, no Brasil, o alistamento eleitoral e o voto são
obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os
maiores de 16 e menores de 18 anos.

130 Movimentos Sociais, Direitos Humanos e Serviço Social no Brasil. Regina Sueli de Sousa. Alessandra Gomes Castro. http://cress-sc.org.br/wp-
content/uploads/2014/03/Movimentos-Sociais-Direitos-Humanos-e-SS-no-Brasil2.pdf
131 http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/direitos-politicos-e-sufragio-roteiros-eje
132 Artigos 14 a 16 da CF 88.
133 Art. 14 da CF 88.

300
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Tipos de sufrágio

Universal
Igual
Restrito
Desigual

O sufrágio é universal porque todos os cidadãos do país podem votar, não sendo admitidas restrições
fundadas em condições de nascimento, de capacidade intelectual, econômicas ou por motivos étnicos.
Mas claro que poderá haver hipóteses de restrições motivadas por circunstâncias pessoais ou
incompatibilidades com o regramento eleitoral.134
O sufrágio igual ocorre quando é respeitado o princípio da igualdade, ou seja, todas as pessoas têm o
mesmo valor e cada pessoa corresponde a um voto.
O sufrágio é restrito quando o direito é concedido apenas a determinada categoria ou classe de
pessoas. Pode ser censitário ou capacitário, sendo o primeiro aquele do qual participam somente os que
apresentem determinada condição econômica e o segundo aquele do qual participam todos que tenham
determinado grau de instrução ou capacidade intelectual. Esse tipo de sufrágio vigorou no Brasil durante
o período do Império
O sufrágio desigual, por sua vez, se dá quando apenas determinados eleitores são qualificados, isto
é, quando determinados eleitores têm direito a mais de um voto, de acordo com sua capacidade civil, seu
patrimônio ou pagamento de altos impostos.

Sistemas eleitorais
O sistema eleitoral é o procedimento que vai orientar o processo de escolha dos candidatos.
Para Silva (2006, p. 368), sistema eleitoral é “o conjunto de técnicas e procedimentos que se
empregam na realização das eleições, destinados a organizar a representação do povo no território
nacional”. Gomes (2012, p. 109) igualmente conceitua o sistema eleitoral como “o complexo de
procedimentos empregados na realização das eleições”.

São conhecidos três tipos de sistemas eleitorais:


Majoritário
Proporcional
Misto

O sistema majoritário é aquele em que são eleitos os candidatos que tiveram o maior número de votos
para o cargo disputado. Por esse sistema são disputadas, no Brasil, as eleições para os cargos de
presidente da República, governadores, prefeitos e senadores.
Deve-se observar, ainda, que, para os cargos de presidente, governador e prefeitos de municípios com
mais de duzentos mil eleitores, é necessária a obtenção da maioria absoluta de votos, não computados
os em branco e os nulos, no 1º turno, sob pena de se realizar o 2º turno com os dois candidatos mais
votados135
.
O sistema proporcional, por sua vez, é utilizado para os cargos que têm várias vagas, como vereadores
e deputados, e por ele são eleitos os candidatos mais votados de cada partido ou coligação.
Tal sistema objetiva distribuir proporcionalmente as vagas entre os partidos políticos que participam
da disputa e, com isso, viabilizar a representação de todos os setores da sociedade no parlamento.
A ideia do sistema proporcional é de que a votação seja transformada em mandato, na ordem da sua
proporção, isto é, o partido que obtiver, por exemplo, 10% dos votos deve conseguir transformá-los em
torno de 10% das vagas disputadas.
Por fim, o sistema misto é aquele que procura combinar o sistema proporcional com o sistema
majoritário. Muito se tem debatido sobre sua implantação no Brasil e há propostas para que esse sistema
seja chamado de distrital misto, já que, por ele, parte dos deputados é eleita pelo voto proporcional e
parte pelo majoritário.

134 Os mentalmente incapazes, os condenados e os estrangeiros, por exemplo, são impedidos de votar.
135 Art. 29, II, da CF 88.

301
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Perda e suspensão dos direitos políticos
Encontra-se na plenitude dos direitos políticos aquele que não incorrer em nenhuma das hipóteses de
perda ou suspensão.

A perda dos direitos políticos se dará na ocorrência de:


Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, inciso I, da Constituição
Federal);
Perda voluntária da nacionalidade brasileira (art. 12, § 4º, inciso II, da Constituição Federal).

Já a suspensão de direitos políticos ocorre nos seguintes casos:


Decretação da incapacidade civil absoluta (art. 15, inciso II, da Constituição Federal);
Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos (art. 15, inciso III, da
Constituição Federal);
Improbidade administrativa (art. 15, inciso V, e 37, § 4º, da Constituição Federal);
Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII da
Constituição Federal (art. 15, inciso IV, da Constituição Federal);

Outorga a brasileiros do gozo dos direitos políticos em Portugal com base no estatuto especial de
igualdade entre brasileiros e portugueses (Decreto n.º 70.391 de 12.04.72 e art. 51, § 4º, da Resolução
n.º 21.538/2003-TSE).
Para melhor entendimento das hipóteses de suspensão dos direitos políticos, será explicado o que
cada uma delas significa:
Decretação da incapacidade civil absoluta – a declaração da incapacidade civil é feita em favor
daqueles considerados absolutamente incapazes, isto é, aqueles que não podem exercer pessoalmente
os atos da vida civil. São eles: os menores de 16 anos, os que por enfermidade ou deficiência mental não
tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil e os que não puderem exprimir
sua vontade.
Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos – a condenação
criminal transitada em julgado é aquela condenação com sentença penal condenatória da qual não caiba
mais recurso.
Improbidade administrativa – é o termo utilizado para designar atos que gerem prejuízo ao tesouro
público em proveito do agente. Os atos de improbidade são atos ilegais que devem ser apurados em
processo judicial.
Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa – a Constituição Federal
garante que todos são iguais perante a lei e não cabe a ninguém, por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa. Exemplo comum para ilustrar essa hipótese é o alistamento militar obrigatório para
o qual, se o jovem alegar que não o prestará, por motivos de crença religiosa ou convicção filosófica ou
política, estará obrigado a cumprir a prestação alternativa correspondente.
Outorga a brasileiros o gozo dos direitos políticos em Portugal com base no estatuto especial de
igualdade entre brasileiros e portugueses – é assegurada, aos portugueses no Brasil e aos brasileiros em
Portugal, a igualdade de direitos e deveres com os respectivos nacionais, e o exercício decorrente desses
direitos e deveres não implica perda das respectivas nacionalidades. Tal igualdade de direitos e deveres
deverá ser reconhecida, mediante decisão do Ministério da Justiça no Brasil e do Ministério do Interior em
Portugal, aos portugueses e brasileiros que a requeiram, desde que civilmente capazes e com residência
permanente. O gozo de direitos políticos por portugueses no Brasil e por brasileiros em Portugal só será
reconhecido aos que tiverem cinco anos de residência permanente e desde que haja requerimento à
autoridade competente, sendo que, a partir do reconhecimento do gozo dos direitos no Estado de
residência, haverá a suspensão do exercício deles no Estado da nacionalidade.

Inelegibilidades
As inelegibilidades consistem em hipóteses de restrição ao direito político de se candidatar a cargo
público, ou seja, quem fica ou está inelegível perde a capacidade de receber votos para ocupar cargo
público eletivo.
Silva (2006, p. 388) ensina que “inelegibilidade revela impedimento à capacidade eleitoral passiva
(direito de ser votado)”.
Costa (2009, p. 148) igualmente leciona que “a inelegibilidade é a situação de inexistência do direito
de ser votado.”

302
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
As inelegibilidades, previstas na Constituição Federal e na Lei complementar nº 64/90, têm por
finalidade proteger a integridade e honestidade da administração pública, a moralidade para o exercício
dos mandatos e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração pública. 136
Na Constituição está previsto que são inelegíveis para qualquer cargo os inalistáveis137 e os
analfabetos, bem como o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por
adoção, do presidente da República, dos governadores e dos prefeitos, dentro do território em que é
exercida a titularidade do mandato, salvo se já for titular de mandato e candidato à reeleição.
Nesses casos, a inelegibilidade não atinge os demais direitos políticos, como, por exemplo, votar e
participar de partidos políticos, o que indica que as inelegibilidades não têm, necessariamente, uma
finalidade punitiva.
A Lei Complementar nº 64/90, por sua vez, traz várias hipóteses de inelegibilidades que podem ser
impostas àqueles que desejam ocupar cargo público, devido a infrações constitucionais, legais e
regimentais.
Como é possível perceber, os direitos políticos estão diretamente relacionados à democracia, uma vez
que permitem a participação do povo no governo. Atualmente, são raros os governos ou países que não
se proclamem democráticos e, em todos eles, como corolário da democracia, estão o direito de sufrágio
universal e igual e o voto direto e secreto.
É evidente que, embora a garantia dos direitos políticos tenha sido uma grande conquista, ainda há
um longo caminho a ser percorrido com vistas à implantação de estados democráticos que, de fato,
materializem todos os direitos garantidos ao cidadão.

Direitos Sociais

Os Direitos Sociais buscam a garantia de serviços que resultem em um mínimo de qualidade de vida
para as pessoas.
Um dos pontos mais marcantes no avanço das conquistas dos direitos sociais ocorreu com a
Revolução Industrial. Ela foi um passo importante não só na maneira como os sistemas de produção são
organizados e auxiliaram na consolidação do capitalismo. Com a substituição da mão-de-obra humana
pelas máquinas, milhões de pessoas perderam seus empregos, gerando um grande contingente de mão-
de-obra ociosa e não utilizada e acentuando a miséria e a desigualdade social. Ao passo em que
proprietários de fábricas arrecadavam cada vez mais, muitos indivíduos passavam a viver abaixo da linha
da miséria.
A industrialização, marcada pelo signo do laissez faire, laissez passer,138 acentuou a exploração do
homem pelo homem, problema que o Estado liberal, de característica absenteísta, não tinha como
resolver.
A classe operária, produtora da riqueza, mas excluída de seus benefícios, passou a organizar-se na
fórmula marxista da luta de classes, situação que ameaçava as instituições liberais e, por decorrência
lógica, a estabilidade do desenvolvimento econômico.
Essa situação de pessoas desempregadas e sem possibilidade de produzir, imersas na pobreza
extrema, também conhecida como pauperismo, era prejudicial ao capitalismo, pois essas pessoas
estavam completamente excluídas do sistema. Para tentar resolver o problema, o Estado precisou intervir
para garantir um amparo mínimo aos trabalhadores.
Os direitos sociais já aparecem na Constituição Francesa de 1791, que no seu título 1º “previa a
instituição do secours publics para criar crianças abandonadas, aliviar os pobres doentes e dar trabalho
aos pobres inválidos que não o encontrassem”.
O oferecimento e a prática de serviços que garantissem seguridade social seriam conquistas
posteriores. O sociólogo alemão T. H. Marshall argumenta que, na Europa Ocidental, houve uma
conquista gradual e consecutiva de direitos. O primeiro deles teria sido o Direito Civil, conquista do
século XVIII. O Direito Político teria sido o próximo, pertinente ao século XIX. E o Direito Social teria

136Art. 14, §9º, da Constituição Federal.


137Inalistáveis são aqueles impedidos de fazer a inscrição eleitoral, são eles:
- os estrangeiros (CF, art. 14, § 2º);
- aqueles que estejam prestando o serviço militar obrigatório (CF, art. 14, § 2º);
- os que não sabem exprimir-se na língua nacional (CE, art. 5º, II);
- os que perderam ou tiveram os direitos políticos suspensos (CE, art. 5º).

138No âmbito da ciência económica, a expressão de origem francesa “laissez-faire” (na sua forma mais completa, laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-
même (que em português significa “deixem fazer, deixem passar, o mundo vai por si mesmo”) representa um princípio defendido pelos economistas mais liberais e
que defende que o Estado deve interferir o menos possível na atividade económica e deixar que os mecanismos de mercado funcionem livremente.

303
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
sido o último deles a ser alcançado, durante o século XX. O somatório dessas três conquista (Direitos
Civil, Político e Social) resultaria no que consideramos como Cidadania.
Os Direitos Sociais foram uma grande conquista dos trabalhadores no século XX, através de um
processo de longo prazo, marcado por lutas e embates ao longo de séculos. Para proporcionar uma vida
digna ao cidadão, o Estado deve garantir o direito à vida, o direito à igualdade, o direito à educação, o
direito de imigração e emigração e o direito de associação. A atual Constituição Brasileira, de 1988, por
exemplo, estabelece que são Direitos Sociais o acesso à educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, lazer, segurança, previdência social e a proteção à maternidade, à infância e aos
desamparados.

Direitos sociais nas constituições brasileiras139


Ao todo o Brasil já teve sete constituições, que marcaram os diferentes momentos políticos vivenciados
pelo país, que vão desde a proclamação da independência em 1822 até a redemocratização, após o fim
da Ditadura Militar.
Na Constituição Política do Império do Brasil de 1824, outorgada na cidade do Rio de Janeiro,
houveram influencias da Constituição Espanhola de 1812, da Constituição Francesa de 1814 e da
Constituição Portuguesa de 1822.
Essa constituição garantia a liberdade de expressão de pensamento (artigo 179, IV); a liberdade de
convicção religiosa e de culto privado, contanto que fosse respeitada a religião do Estado (artigo 5º).
No campo dos direitos sociais, assegurava a igualdade de todos perante a lei (artigo 179, XIII);
liberdade de trabalho (artigo 179, XXIV); e, instrução primária gratuita (artigo 179, XXXII).
Importante citar que a Constituição do Império estabelecia o acesso de todos os cidadãos aos cargos
públicos (artigo 179, VIX); a proibição de foro privilegiado (artigo 179, XVI).
No mesmo artigo, estabelecia que o direito a saúde a todos os cidadãos (artigo 179, XXXI). Interligado
a saúde, assegurava que as cadeias deveriam ser limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para
a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes (artigo 179, XXI).
A segunda Constituição brasileira foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, após a proclamação da
República, nomeada Constituição dos Estados Unidos do Brasil.
A Constituição de 1891 adotava a forma republicana de governo (artigo 1º), sendo influenciada pela
doutrina norte-americana, o Poder Legislativo passou a ser constituído pelo Congresso Nacional, Senado
Federal e Câmara dos Deputados (artigo 16, parágrafo 1º), a igreja foi separada do Estado (artigo 72,
parágrafo 7º), livre associação (artigo 72, parágrafo 8º) e a pena de morte passou a ser proibida (artigo
72, parágrafo 21).
Mesmo com importantes transformações em seu contexto, a Constituição de 1891 não disciplinava
normas que condiziam com a realidade do Brasil, e por isso não obteve eficácia social. A título
exemplificativo, a primeira Constituição da República não previu o direito a instrução gratuita, como previa
a Constituição de 1824.
As questões sociais ganharam foça com a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930. Vargas criou
o Ministério do Trabalho, incentivou a cultura brasileira através da criação do SPHAN, mudou o sistema
eleitoral e propôs a formação de uma Assembleia Constituinte
Em 16 de julho de 1934 foi promulgada a terceira Constituição do Brasil, com uma forte
conscientização pelos direitos sociais.
Essa conscientização pelos direitos sociais, juntamente com a influência da Constituição Mexicana de
1917, a Constituição de Weimar de 1919 e a Constituição da Espanha de 1931, fizeram com que a
Assembleia Nacional Constituinte instituísse normas até então inéditas.
Em seu artigo 10, inciso II, disciplinava que era competência concorrente da União e dos Estados
cuidar da saúde e assistência pública. No artigo 121, parágrafo 1º, alínea h, estabelecia a assistência
médica sanitária ao trabalhador, a assistência médica à gestante, assegurada a ela descanso antes e
depois do parto.
A Constituição de 1934 elevou os direitos e garantias trabalhistas como norma constitucional,
instituindo normas de proteção social do trabalhador (artigo 121, caput).
Dentre as principais normas referentes aos direitos trabalhistas, citamos a proibição de diferença de
salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil (art. 121, § 1º,
a); salário mínimo capaz de satisfazer as necessidades normais do trabalhador (art. 121, § 1º, b); limitação
do trabalho a oito horas diárias, só prorrogáveis nos casos previstos pela lei (art. 121, § 1º, c); proibição
de trabalho a menores de 14 anos, de trabalho noturno a menores de 16 anos e em indústrias insalubres
a menores de 18 anos e a mulheres (art. 121, § 1º, d); repouso semanal, de preferência aos domingos

139 Adaptado de Iurconvite

304
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(art. 121, § 1º, e); férias anuais remuneradas (art. 121, § 1º, f); indenização ao trabalhador dispensado
sem justa causa (art. 121, § 1º, g); assistência médica sanitária ao trabalhador (art. 121, § 1º, h, primeira
parte); assistência médica à gestante, assegurada a ela descanso antes e depois do parto, sem prejuízo
do salário e do emprego (art. 121, § 1º, h, segunda parte); instituição de previdência, mediante
contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da
maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (art. 121, § 1º, h, in fine); regulamentação
do exercício de todas as profissões (art. 121, § 1º, i); reconhecimento das convenções coletivas de
trabalho (art. 121, § 1º, j); a criação da Justiça do Trabalho, vinculada ao Poder Executivo (art. 122); e,
obrigatoriedade de ministrarem as empresas, localizadas fora dos centros escolares, ensino primário
gratuito, desde que nelas trabalhassem mais de 50 pessoas, havendo, pelo menos, 10 analfabetos (art.
139).
Importante mencionar, ainda, que a Constituição de 1934 estatuiu que todos têm direito a educação
(art. 149) e a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, inclusive para os adultos, e tendência a
gratuidade do ensino ulterior ao primário (art. 150, § único, a).
Diante do elucidado, não há como se olvidar que a Constituição Brasileira de 1934 representou um
grande avanço no campo dos direitos sociais, concebendo um Estado intervencionista.
Apesar dos grandes avanços instituídos pela constituição de 1934, esta durou apenas três anos, sendo
substituída pela constituição de 1937, também chamada de constituição Polaca.
A constituição de 1937 refletiu o momento político do Brasil, que entrava no período conhecido por
Estado Novo, de características ditatoriais e autoritárias. A nova Constituição ampliava o alcance do
poder Executivo, concentrando os poderes nas mãos do chefe desse poder, no caso, o Próprio presidente
Getúlio Vargas.
Do ponto de vista político-administrativo, seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo
do presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores.
A constituição de 1937 estabelecia em seu artigo 16, inciso XXVII a competência privativa da União
legislar sobre normas fundamentais da defesa e proteção da saúde, especialmente da saúde da criança.
Em seu artigo 137, alínea l, prescrevia que a legislação do trabalho deveria observar, dentre outros
preceitos, a assistência médica e higiênica ao trabalhador e para a gestante, assegurado a esta, sem
prejuízo do salário, um período de descanso antes e após o parto.
Como fator negativo, a Constituição de 1937 prescrevia que todo o Poder Executivo e Legislativo era
concentrado nas mãos do Presidente da República, acabando com o princípio de harmonia e
independência entre os três poderes.
Os partidos políticos foram extintos e a pena de morte foi reintroduzida. Foi instituído o estado de
emergência, que permitia ao presidente suspender as imunidades parlamentares, invadir domicílios,
prender e exilar opositores, além de retirar do trabalhador o direito de greve.
Com os eventos do fim da Segunda Guerra Mundial, que derrubaram os governos autoritários da
Alemanha e Itália, dos quais Vargas era simpatizante, o Estado Novo chegou ao fim.
Após a saída de Getúlio do poder e a redemocratização do país, foi promulgada uma nova
Constituição em 1946.
Além de restaurar os direitos e garantias individuais, a Constituição de 1946 reduziu as atribuições do
Poder Executivo, restabelecendo equilíbrio entre os poderes.
O artigo 5º, inciso XV, alínea b prescrevia que era competência de a União estabelecer normas gerais
sobre a defesa e proteção da saúde, permitindo que os Estados legislassem de forma supletiva ou
complementar (art. 6º).
No artigo 157, inciso XV estabelecia que a legislação do trabalho e da previdência social obedeceriam,
dentre outros preceitos que visassem a melhoria das condições dos trabalhadores, a assistência sanitária,
inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à gestante, repetindo as regras das
Constituições de 1934 e 1937.
No mais, inseriu em seu corpo o mandado de segurança para proteger direito líquido e certo não
amparado por habeas corpus e a ação popular (artigo 141) e a propriedade foi condicionada a sua função
social, possibilitando a desapropriação por interesse social (artigo 141, § 16º).
O artigo 145 (Título V: Da Ordem Econômica e Social) estabelecia que a ordem econômica devesse
ser organizada conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a
valorização do trabalho humano.
A Constituição de 1946 estabeleceu, ainda, que o salário mínimo deverá atender as necessidades do
trabalhador e de suas famílias (art. 157, I); participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da
empresa (art. 157, IV); proibição de trabalho noturno a menores de 18 anos (art. 157, IX); fixação das
percentagens de empregados brasileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos
estabelecimentos de determinados ramos do comércio e da indústria (art. 157, XI); assistência aos

305
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
desempregados (art. 157, XV); obrigatoriedade da instituição, pelo empregador, do seguro contra
acidente do trabalho (art. 157, XVII); direito de greve; liberdade de associação patronal ou sindical (art.
158); gratuidade do ensino oficial superior ao primário para os que provassem falta ou insuficiência de
recursos (art. 168, II, primeira parte); instituição de assistência educacional, em favor dos alunos
necessitados, para lhes assegurar condições de eficiência escolar (art. 168, II, in fine); e, obrigatoriedade
de manterem as empresas, em que trabalhassem mais de 100 pessoas, ensino primário para os
servidores e respectivos filhos, obrigatoriedade de ministrarem as empresas em cooperação,
aprendizagem aos seus trabalhadores menores (art. 168, III).
Após o período democrático vivido pelo Brasil a partir de 1946, no dia primeiro de abril de 1964 o país
entrou novamente em um governo ditatorial, que se extendeu até 1985.
Para afirmar o poder do governo militar instituído, uma nova Constituição foi planejada. A Constituição
de 1967 foi promulgada em 24 de janeiro e entrou em vigor em 15 de março do mesmo ano, quando o
Marechal Arthur da Costa e Silva assumiu a Presidência.
Já no artigo 8º, inciso XV, afirmava competir a União estabelecer planos nacionais de saúde, e no
inciso XVII, alínea c, estatuía a União a competência para legislar sobre defesa e proteção da saúde,
permitindo que os Estados legislassem de forma supletiva (§ 2º).
Em seu artigo 158, inciso XV, assegurava aos trabalhadores, nos termos da lei, dentre outros direitos
que visassem a melhoria de sua condição social, a assistência sanitária, hospitalar e médica preventiva.
De resto, a forma federalista do Estado foi mantida, todavia com maior expansão da União. O princípio
da separação dos poderes foi novamente afetado, eis que foi dada uma maior ênfase ao Poder Executivo,
que passou a ser eleito indiretamente por um colégio eleitoral, mantendo-se as linhas básicas dos demais
poderes.
Suprimiu a liberdade de publicação de livros e periódicos que fossem considerados como propaganda
de subversão da ordem, restringiu o direito de reunião, estabeleceu o foro militar para os civis e criou a
pena de suspensão dos direitos políticos.
Quanto aos direitos sociais, a Constituição de 1967 apresentou dois tipos de inovações, positiva e
negativa.
Negativamente, a Constituição de 1967 reduziu para 12 anos a idade mínima de permissão do trabalho
(art. 158, X); a supressão da estabilidade e o estabelecimento do regime de fundo de garantia como
alternativa (art. 158, XIII); e, restrições ao direito de greve (art. 158, XXI).
De forma positiva, a Constituição de 1967 inseriu modestas inovações, como a inclusão do direito ao
salário-família aos dependentes do empregador (art. 158, II); proibição de diferença de salários também
por motivo de etnia (art. 158, III); participação do trabalhador na gestão da empresa (art. 158, V); e,
aposentadoria da mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral (art. 158, XX).
Em 30 de outubro de 1969 entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 1, no qual intensificou a
concentração de poder no Executivo dominado pelo Exército e permitiu a substituição do então presidente
por uma Junta Militar, apesar de existir o vice-presidente. Mais uma afronta aos direitos fundamentais.
Ao todo, a Constituição de 1967 sofreu vinte e sete emendas, até que fosse promulgada a atual
Constituição Federal em 1988.

CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de
2015)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

306
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da
lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade
em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de
cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato
de trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze
anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e,
atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013)
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro
no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou
empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas;

307
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato,
salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de
colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos
públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

Políticas Afirmativas140
Ações afirmativas são políticas públicas feitas pelo governo ou pela iniciativa privada com o objetivo
de corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos.
Uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a todos. As ações afirmativas podem
ser de três tipos: com o objetivo de reverter a representação negativa dos negros; para promover
igualdade de oportunidades; e para combater o preconceito e o racismo.
A Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) atua em parceria com outros entes
do governo e da sociedade na elaboração, execução e acompanhamento de ações afirmativas em áreas
como saúde, educação, trabalho, juventude e mulheres, entre outras.
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são
constitucionais e políticas essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no
país.
Vale lembrar que as políticas de ações afirmativas não são exclusivas do governo. A iniciativa privada
e as organizações sociais sem fins lucrativos também são atores importantes neste processo, podendo
atuar em conjunto, dando suporte, ou de forma complementar ao governo.
As ações afirmativas no Brasil partem do conceito de equidade expresso na constituição, que significa
tratar os desiguais de forma desigual, isto é, oferecer estímulos a todos aqueles que não tiveram
igualdade de oportunidade devido a discriminação e racismo.
Uma ação afirmativa não deve ser vista como um benefício, ou algo injusto. Pelo contrário, a ação
afirmativa só se faz necessária quando percebemos um histórico de injustiças e direitos que não foram
assegurados.
O termo ação afirmativa foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, na década de 60 do século
XX, para se referir a políticas do governo para combater as diferenças entre brancos e negros. Antes
mesmo da expressão, as ações afirmativas já eram pauta de reivindicação do movimento negro no mundo
todo, além de outros grupos discriminados, como árabes, palestinos, kurdos, entre outros oprimidos.
No Brasil, as ações afirmativas integram uma agenda de combate a herança histórica de escravidão,
segregação racial e racismo contra a população negra.
Para compreender a necessidade de uma ação afirmativa, é preciso, antes de tudo, compreender o
contexto social vivido por um país, por isso o que gera preconceito por parte de setores da sociedade em
muitos casos é analisar uma ação afirmativa sem antes entender o histórico que precedeu a política
pública.
Ao debater as cotas para negros nas universidades, por exemplo, é preciso retornar ao Brasil colonial
e perceber como o processo de escravidão criou desigualdades sociais que são presentes até hoje,
mesmo após 127 anos da abolição da escravidão. A partir de dados estatísticos que demonstram a
diferença entre negros nas universidades comparados com o percentual desta população no total de

140 Fonte: http://www.seppir.gov.br/assuntos/o-que-sao-acoes-afirmativas

308
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
brasileiros, o governo comprova a necessidade de criar uma política para compensar séculos de
desigualdades.
É assim que nasce uma política de ação afirmativa. Após a leitura de um diagnóstico sociocultural
histórico, há a comprovação estatística das desigualdades existentes e da necessidade de reparos. Após
o diagnóstico e o planejamento de uma política de ação afirmativa, os gestores governamentais
encaminham a legislação, monitoram sua aprovação e implementação.
O papel da Seppir é atuar em todas estas etapas de construção de políticas de ações afirmativas, por
entender que as políticas públicas são fundamentais para tornar o Brasil um país justo e com
oportunidades iguais para todos.
Uma ação afirmativa não deve ser vista como algo paternalista ou que cria dependência. Elas são
ações necessárias para a correção de desigualdades. Tão logo estas desigualdades desaparecem, a
adoção de ações afirmativas deixa de ser necessária.

Questões

01. (ENEM) A Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiências, realizada, em 2006,
em Nova York, teve como objetivo melhorar a vida da população de 650 milhões de pessoas com
deficiência em todo o mundo. Dessa convenção foi elaborado e acordado, entre os países das Nações
Unidas, um tratado internacional para garantir mais direitos a esse público. Entidades ligadas aos direitos
das pessoas com deficiência acreditam que, para o Brasil, a ratificação do tratado pode significar avanços
na implementação de leis no país.
http://www.bbc.co.uk. Acesso em: 18 mai. 2010 (adaptado).

No Brasil, as políticas públicas de inclusão social apontam para o discurso, tanto da parte do governo
quanto da iniciativa privada, sobre a efetivação da cidadania. Nesse sentido, a temática da inclusão social
de pessoas com deficiência:
(A) vem sendo combatida por diversos grupos sociais, em virtude dos elevados custos para a
adaptação e manutenção de prédios e equipamentos públicos.
(B) está assumindo o status de política pública bem como representa um diferencial positivo de
marketing institucional.
(C) reflete prática que viabiliza políticas compensatórias voltadas somente para as pessoas desse
grupo que estão socialmente organizadas.
(D) associa-se a uma estratégia de mercado que objetiva atrair consumidores com algum tipo de
deficiência, embora esteja descolada das metas da globalização.
(E) representa preocupação isolada, visto que o Estado ainda as discrimina e não lhes possibilita meios
de integração à sociedade sob a ótica econômica.

02. (ENEM) A primeira instituição de ensino brasileira que inclui disciplinas voltadas ao público LGBT
(lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) abriu inscrições na semana passada. A grade curricular é
inspirada em similares dos Estados Unidos da América e da Europa. Ela atenderá jovens com aulas de
expressão artística, dança e criação de fanzines. É aberta a todo o público estudantil e tem como principal
objetivo impedir a evasão escolar de grupos socialmente discriminados.
Época, 11 jan. 2010 (adaptado).
O texto trata de uma política pública de ação afirmativa voltada ao público LGBT. Com a criação de
uma instituição de ensino para atender esse público, pretende-se:
(A) contribuir para a invisibilidade do preconceito ao grupo LGBT.
(B) copiar os modelos educacionais dos EUA e da Europa.
(C) permitir o acesso desse segmento ao ensino técnico.
(D) criar uma estratégia de proteção e isolamento desse grupo.
(E) promover o respeito à diversidade sexual no sistema de ensino.

03. (ENEM) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores: a lei
nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de
horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes
que agonizam no dia que está amanhecendo.
FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade. SãoPaulo: Martins
Fontes. 1999

309
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O filósofo Michel Foucault (séc. X) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à
organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das
sociedades modernas é:
(A) combater ações violentas na guerra entre as nações.
(B)coagir e servir para refrear a agressividade humana.
(C) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação.
(D) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.
(E) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.

Gabarito

01.B / 02.E / 03.E

Comentários

01. Resposta: B
A questão das pessoas portadoras de necessidades especiais ganhou destaque nos debates sobre
políticas públicas de inclusão, representando uma vitória para os grupos e movimentos sociais que o
incentivaram e lutaram para que essas pessoas fossem reconhecidas enquanto portadores de direitos
específicos. Hoje a luta tem como resultado o olhar e a execução de práticas institucionalizadas no que
diz respeito às políticas públicas e cumprimento de direitos tanto no Estado, quanto nas instituições
privadas. A preocupação com a imagem positiva via marketing institucional encontra-se nas medidas que
garantem acessibilidade e atividade profissional voltada para os portadores de alguma deficiência.

02. Resposta: E
A diversidade sexual é um dos principais temas de discussão na sociedade brasileira. Desde grupos
conservadores que não admitem a expressão pública das preferências sexuais consideradas por eles
como “anormais” até ativistas do movimento LGBT que lutam firmemente para a aceitação da diversidade
sexual. A inserção dessa temática no ensino tem a ver com a necessidade de fomento a respeitabilidade
que esse público tratado na matéria em si requer.

03. Resposta: E
Segundo o autor, as relações humanas são permeadas por correlações de força. Isso inclui o poder
político e a ideia de que as relações, organizações e consequências das mesmas dependem de quem
detém mais ou menos poder.

7. Cidadania e Direitos humanos no Brasil: os "homens bons"; o poder


oligárquico, o coronelismo e o voto na Primeira República; as Constituições e as
mudanças nos direitos políticos e civis (Estado Novo e governo militar pós 64);
experiência liberal democrática de 1945- 1964; Golpe civil-militar de 1964 e
repressão; Movimentos populares e estudantis, luta dos povos indígenas;
movimento de consciência negra; lutas contra as desigualdades econômicas e
sociais e pelas aspirações de direitos para toda a população brasileira hoje; a
luta pelos direitos civis das mulheres e dos movimentos LGBTQ+.

NOVAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL 141

Nas diversas conjunturas históricas tem ocorrido à necessidade da população em geral e da população
de baixa renda em particular, de lutar pela sobrevivência e pelas necessidades humanas básicas. Isso
tem levado essa população a mobilizações organizadas e às vezes desorganizadas ou a formação de
movimentos sociais urbanos de caráter reivindicatórios em diversas sociedades ou setores destas.
Os movimentos sociais de modo geral existem desde muitos séculos. O autor Beer, usando a
denominação de lutas sociais narra sua existência na mais remota Antiguidade e, atravessando guerras
e conflitos que marcaram a vida dos povos, passando pelos tempos modernos chega à época
Contemporânea (década de 1920, do século passado).

141 Texto adaptado de CABRAL, A. A. C. e SÁ, A. J. de Professores pesquisadores.

310
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Hofmann (1984) afirma que ―todo o pensamento do movimento social contemporâneo encontra a sua
origem nas grandes ideias da Filosofia do Iluminismo. Para ele é ― pela primeira vez na história do
mundo, o Iluminismo traçou a imagem de uma humanidade libertada. Isto faz com que o homem coevo
crie e realize as suas utopias ou busque realizá-la. E continua Hofmann, “o que constituiu uma esperança
para o Iluminismo, passou a constituir para o movimento social um programa ainda não cumprido e
passível de ser realizado.” Para Gohn (1982), os movimentos sociais europeus, anteriores ao século XX,
e principalmente os do século XIX, caracterizam-se por suas ideologias e práticas revolucionárias. A
unidade básica destes movimentos era dada no próprio plano da produção. As péssimas condições de
vida dentro das fábricas levavam à sua eclosão.
Movimentos e mobilizações de grupos sociais são encontrados em diferentes épocas, lugares,
situações e em distintas sociedades, com maior ou menor significação. Como exemplos podemos nos
referir às revoltas de escravos, aos movimentos de mulheres da Idade Média, às guerras camponesas do
século XVI, aos conflitos étnicos, aos movimentos religiosos como o franciscanismo, o protestantismo do
século XVI. Na história do Brasil, encontramos vários deles, de diferentes características e dimensões,
como movimentos emancipacionistas, messiânicos, culturais, políticos... Os dos anos 70 e 80 têm seus
predecessores nos movimentos de bairro, de camponeses e operários das décadas anteriores. Ao se
falar dos movimentos das últimas duas décadas, os autores procuram distingui-los dos anteriores,
denominando-os de novos movimentos sociais.
Como vimos, os Movimentos Sociais decorrem das desigualdades de classes ao longo da história e,
do avanço do processo urbano-industrial, que no início do século XX, compreendia quase exclusivamente
a organização do proletariado industrial, isto é, os sindicatos. Entretanto, Ammann (1991) destaca que os
Movimentos Sociais só recentemente mereceram a atenção dos cientistas sociais. Para estes, o que vem
a qualificar um movimento como Movimento Social é o elemento constitutivo: a contestação, o protesto,
a insatisfação, o conflito, o antagonismo.
Movimento é aqui entendido no sentido dado por Gohn (1985): Os movimentos se expressam através
de um conjunto de práticas sociais nas quais os conflitos, as contradições e os antagonismos existentes
na sociedade constituem o móvel básico das ações desenvolvidas. E continua Gohn, o movimento social
também expressa a consciência possível da classe que representa.
Todo Movimento Social carrega o germe da insatisfação, do protesto contra relações sociais que
redundam em situações indesejáveis para um grupo ou para a sociedade, sejam elas presentes ou
futuras. Sendo assim, todo Movimento Social inscreve-se em uma problemática relacional de poder, e,
como tal, é preciso compreendê-lo como uma relação de força, de confronto, de disputa e conflito entre
lutas de classes, dominantes e dominados, de relação capital/trabalho, com todas as complexidades e
implicações que envolvem estas categorias, hoje.
Esta luta nem sempre é pela direção da produção da sociedade, mas protestam contra formas de
direção vigentes ou anunciadas, e de suas consequências para a classe dominada, Andrade enfatiza que
a história e o processo de produção do espaço constituem assim uma interminável luta entre os grupos
sociais dominantes entre si, e da classe dominante como um todo, frente às classes dominadas.
O jogo dialético da luta dentre as classes dá origem e se origina, a um só tempo, do sistema de relações
de trabalho dominante em face do nível de desenvolvimento, de utilização das forças produtivas. Daí a
ligação direta que há entre o tipo de espaço produzido e o modo de produção e/ou a formação econômico
social dominante.
Sendo assim, o antagonista visível dos Movimentos Sociais pode ser o Estado ou outros
representantes diretos da exploração, enquanto responsáveis por relações sociais consideradas
indesejáveis. Os representantes dos Movimentos Sociais podem ser, uma classe social, uma etnia, uma
região, uma religião, um partido político, ou inúmeras outras categorias. Mas Gohn (1985) e Ammann
(1991), nos alerta que, tanto a classe dominante como a classe dominada, com suas respectivas frações,
podem constituir-se em sujeitos sociais dos movimentos, insatisfeitas com as relações sociais vigentes
ou propostas. Entretanto, aqui se faz necessário alertar que apesar dos Movimentos Sociais encontra-se
regidos por uma lógica de exploração do capital, este produz outras formas de opressão e dominação
específicas, entre as quais figura as problemáticas dos índios, homossexuais, étnicos, ecológicos entre
outros, que não se reduz em relação capital/trabalho. Esses movimentos específicos têm objetivos
particulares, não podendo ser reduzidos as relações de classe como adverte Ammann (1991); em outras
palavras, apesar de estar no interior do regime capitalista, quando dentro desses movimentos suprimir-
se a oposição entre capital/trabalho não se enquadrando como movimentos sociais. Entretanto, as
necessidades cotidianas dos moradores pobres e miseráveis do nosso País se inserem nas questões de
lutas de classes, apresentando-se como movimentos.

311
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Isto mostra-nos que são as intencionalidades dos processos de contestação que define o que será ou
não um Movimento Social, em outras palavras, são os ―processos de contestação que objetivam a
contraversão ou a preservação da ordem estabelecida, a partir das contradições específicas da realidade.
Para superar as imprecisões e ambiguidades do conceito de Movimentos Sociais básicos que
conhecemos Gohn (1985) elabora um quadro geral, denominado de Principais Movimentos Sociais; o
qual transcrevemos abaixo:

Principais Movimentos Sociais


1) Movimentos Sociais Ligados à Produção:
- Movimento Operário
- Movimento dos Produtores
- Movimento Sindical: Operário e Patronal
2) Movimentos Sociais Político-Partidários
- Partidos Institucionalizados
- Grupos e Facções Políticas Não Institucionalizados
3) Movimentos Sociais Religiosos
- Movimentos de Igreja Católica
- Movimentos de Igrejas Protestantes e Outras
- Movimentos Messiânicos
- Movimentos Religiosos Ligados a Tradições Culturais e Folclóricas
4) Movimentos Sociais do Campo
- Proprietários
- Trabalhadores Rurais
5) Movimentos Sociais de Categorias Específicas
- Movimento Feminista
- Movimento Negro
- Movimento de homossexuais
- Movimento de Defesa do Índio
- Movimento de Estudantes e Professores
6) Movimentos Sociais a partir de Lutas Gerais
- Lutas pela Preservação do Meio Ambiente — Movimento Ecológico
- Lutas pela Democracia (Ex. Movimento pela Anistia e Luta pelas Diretas)
- Lutas contra inflação e a Política Econômica do Governo (Ex. Movimento contra a Carestia)
- Lutas de Defesa dos Consumidores
- Movimentos dos Desempregados
7) Movimentos Sociais Urbanos:
- Populares: Movimentos Econômicos, Reivindicatórios de Bens e Equipamentos. Movimentos Sociais
Populares Urbanos de Caráter Marcadamente Político
- Burgueses: Ações Reivindicatórias de Bens e Equipamentos Urbanos Defensores de Privilégios e
anti-igualitários.
Já Ammann (1991), enumera seis princípios para conceituar o que seja Movimento Social, que
descrevemos a seguir:
- É a contestação o elemento construtivo dos Movimentos Sociais;
- Os Movimentos Sociais contestam determinadas relações sociais, no contexto das relações de
produção;
- Os protagonistas podem ser classes sociais, etnias, partidos políticos, regiões etc.;
- Nem todo Movimento Social tem caráter de classe;
- Nem todo movimento Social luta pelo poder;
- O objetivo dos Movimentos Sociais pode ser a transformação ou, contrariamente, a preservação de
relações sociais dadas, quando as mesmas se encontram ameaçadas.
Diante do exposto, concordamos com o conceito formulado por Ammann, movimento social é uma
ação coletiva de caráter contestador, no âmbito das relações sociais, objetivando a transformação ou a
preservação da ordem estabelecida na sociedade. Sendo assim, os movimentos sociais em sua maioria
lutam por melhorias sociais (de bens, equipamentos e serviços), e não pela tomada do poder (do Estado),
como veremos a seguir.

Movimentos Sociais Urbanos Reivindicatórios


Como vimos acima, as lutas e reivindicações por menores desigualdades e exclusões sociais, ou seja,
melhores condições de vida em sentido pleno (de cidadania), não são novas nem exclusivas do Brasil,

312
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
mas tem acompanhado a humanidade desde que surgiu a divisão social do trabalho (divisão de classe),
contudo apresentam particularidades no tempo e no espaço.
No entanto, os estudos propriamente ditos dos movimentos sociais reivindicatórios de melhorias
urbanas datam de época recente. Segundo Gohn (1982), eles se desenvolveram principalmente a partir
de uma abordagem derivada de uma leitura estruturalista de Marx. Na Europa, o maior número destas
análises tem ocorrido na França, sendo Manuel Castells um de seus principais representantes.
Esse autor foi um dos que mais influenciou na literatura sobre Movimentos Sociais na América Latina.
Para ele, um movimento social nasce do encontro de uma dada combinação estrutural, que acumula
várias contradições, com um certo tipo de organização. Todo movimento social provoca, por parte do
sistema, um contra movimento que nada mais é do que a expressão de uma intervenção do aparelho
político (integração/repressão) visando à manutenção da ordem.
E continua Castells, o movimento social urbano é um sistema de práticas resultando da articulação de
uma conjuntura do sistema de agentes urbanos e das outras práticas sociais, de forma que seu
desenvolvimento tende objetivamente para a transformação estrutural do sistema urbano ou para uma
modificação substancial da relação de forças na luta de classes, quer dizer, em última instância, no poder
do Estado.
Outro autor a influenciar teoricamente os movimentos sociais urbanos na América Latina foi Alain
Touraine. Para ele, Movimentos Sociais são a ação conflitante de agentes das classes sociais, lutando
pelo controle do sistema de ação histórica. Touraine deixa mais clara a definição quando afirma que os
Movimentos Sociais são forças centrais que lutam umas contra as outras para dirigir a produção da
sociedade por ela mesma, a ação de classe pela direção da historicidade.
Para nós os movimentos sociais urbanos reivindicatórios, ou seja, os movimentos populares de bairros
são organizações da classe destituída de poder, que demandam através das reivindicações, por direitos
básicos de acesso à participação e cidadania, não se dirigindo à luta pelo domínio (controle) político do
Estado. Mas, tendo no Estado não apenas o destinatário de suas reivindicações, mas também um
adversário e, às vezes, paradoxalmente, até um aliado.

No Brasil
No Brasil, as contradições urbanas decorrentes do desenvolvimento do capitalismo se iniciam após
1930, com uma lógica no processo de acumulação do capital que cria como precondição, para seu
funcionamento e desenvolvimento, a participação controlada das massas populares no processo
econômico e político (RAICHELIS, 1988). Gerando um novo tipo de sociedade urbana, especialmente
nas duas principais metrópoles do país, Rio de Janeiro e São Paulo, baseando-se na superconcentração
de atividades produtivas e de sua reprodução. Concentrou-se nessas regiões, já que ai se centralizava
os demais fatores indispensáveis para sua ampliação.
Para Moisés (1985), as enormes massas de população foram formadas neste contexto, sendo
obrigadas a se acomodar ao fenômeno que se poderia chamar de urbanização por extensão de periferias,
fenômeno que adquiriu as feições de um verdadeiro processo ecológico de discriminação social. E
continua ele, a formação das principais áreas metropolitanas brasileiras foi acompanhada do surgimento
de uma série de contradições sociais e políticas específicas que apareceram na forma das distorções
urbanas conhecidas, por exemplo, por cidades como São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte, Salvador e
Porto Alegre, entre outras. Desde os anos 40 e, mais intensamente, após a industrialização que se inicia
em meados dos anos 50, o aprofundamento da divisão social do trabalho no país provocou a emergência
de necessidades sociais e urbanas novas para a sobrevivência da população. Aumentou a demanda por
serviços de infraestrutura (água, esgotos, asfaltamento de ruas, iluminação privada e pública, etc.) e por
um sistema de transportes coletivos mais rápido e eficiente, pois a expansão da periferia tornava bem
maiores as distâncias entre o local de moradia e o local de trabalho da mão-de-obra. Por outro lado, o
novo desenvolvimento criou necessidades (reais ou ilusórias) infinitamente maiores para o sistema
educacional, em todos os níveis, pois a modernização econômica impôs expectativas novas à mão-de-
obra e, ao mesmo tempo, uma ânsia de valorização (qualificação e especialização) para o conjunto da
força de trabalho; de outra parte, ampliou consideravelmente a demanda por serviços de saúde (pronto
socorros, postos de saúde, maternidades, hospitais, etc.), pois a complexificação de vida urbana, com a
intensidade e a rapidez de sua concentração, altas taxas de densidade, circulação rápida e veículos,
trânsito, etc., e ao ritmo cada vez intenso do trabalho e da vida social, aumentou os acidentes de trabalho
e de trânsito, as doenças nervosas, as epidemias e as enfermidades em geral. Criou uma demanda nova
por equipamentos sociais e culturais (creches, maternidades, parques infantis, bibliotecas, centros de
recreação, locais de práticas de esportes, áreas verdes), pois não apenas as crescentes levas de
migrantes recém-chegados à cidade exigiam atendimento social especial, como as condições urbanas
aprofundaram a qualidade das expectativas, provocando a emergência de uma demanda inteiramente

313
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
nova para o sistema. A incorporação da mulher à força de trabalho criou problemas sempre crescentes,
como a necessidade de hospitalização durante a gravidez e a assistência à população infantil durante o
horário de trabalho. Além disso, a atomização da vida social e a diluição da vida familiar exigiu o
surgimento de novos padrões de sociabilidade da mesma forma que lançou os agentes dessa vida
moderna a um tal grau de complexificação de sua existência, que seria inevitável a emergência de
problemas como as chamadas enfermidades mentais, a prostituição, a criminalidade do menor, etc.
Viver nas áreas metropolitanas, além de exigir a integração a novos padrões de consumo, que
garantissem uma sociabilidade adequada à vida moderna (de que a televisão talvez seja o melhor
exemplo), exigia também, da população, o desenvolvimento de uma rápida capacidade de resposta ao
ritmo urbano de vida (longas distâncias, tráfego congestionado, mobilidade rápida no trabalho, acidentes,
surtos epidêmicos, etc.). E a integração nesse ritmo rápido e violento de vida, indispensável para o
funcionamento da metrópole, não podia mais se dar no âmbito das soluções individuais, tomadas por
cada família dos componentes da força de trabalho. Ela dependia de soluções globais situadas ao nível
das macro decisões, só passíveis de serem tomadas ao nível do Estado.
É interessante observar do exposto acima, como o processo de industrialização/urbanização não só
alterou a vida da população pobre (da classe trabalhadora), com novas necessidades, como também
levou a um agravamento do estado de pauperização desta. Além de transferir com uma nova ideologia
criada pela classe dominante, segundo a qual cabia agora ao Estado ser o provedor de toda a população,
isto é, um Estado acima das classes, responsável a atender às necessidades mais prementes da
população, e assim, resolver a problemática urbana, que crescia sempre mais. Levando também, a
alteração, no transcorrer do tempo, da importância do antagonismo entre proletariado e burguesia nos
conflitos sociais induzindo a uma nova contradição, que é o confronto entre as massas populares e o
Estado.
Este processo de metropolização que vai formando-se nas principais cidades brasileira, só foi possível
entre outros fatores, graças aos movimentos migratórios do campo, que apresenta verdadeira inversão
quanto ao lugar de residência da população apontada nas taxas de urbanização do país entre 1940 e
2000, melhor dizendo, em 1940, a taxa de urbanização representava 26,35% do total, passou para
36,16% em 1950; alcançando 45,52% em 1960; em 1970 chega 56,80%; em 1980 vai para 68,86% e em
1991 e 2000 atinge 77,13% e 81,25% respectivamente.
Estes recém-emigrados do campo se fixam na periferia das principais cidades, em condições muito
precárias de vida, estando disponíveis, abaixo preço para investimento do capital, tanto na agricultura (os
boias frias), como nas atividades urbanas (indústrias e serviços), como à construção civil; se constituindo
em um subproletariado (GOHN, 1982) que subsiste mediante a venda da força de trabalho diária, sem
desfrutar das garantias da legislação trabalhista, constituindo o proletariado urbano. Em outras palavras,
os trabalhadores e seus familiares constituem a força de trabalho predominante nos grandes centros
urbanos, necessitando que aumente a demanda dos serviços de infraestrutura urbana que necessitam, e
ao mesmo tempo, que eleva e acelera as proporções de moradia em condições inadequadas, de forma
geral, agrava também, conforme o perfil social, a cidade. Surgindo assim, as favelas e os bairros
periféricos, além de novas formas de organização e estrutura de poder que se materializa nos movimentos
sociais urbanos reivindicatórios.

Movimentos Sociais no Brasil e Cidadania


A análise dos movimentos sociais no Brasil revelam forte enfoque teórico oriundo do marxismo, sejam
eles vinculados ao espaço urbano e/ou rural. Tais movimentos, quando se referiam ao espaço urbano
possuíam um leque amplo de temáticas como por exemplo, as lutas por creches, por escola pública, por
moradia, transporte, saúde, saneamento básico etc. Quanto ao espaço rural, a diversidade de temáticas
expressou-se nos movimentos de boias-frias (das regiões cafeeiras, citricultoras e canavieiras,
principalmente), de posseiros, sem-terra, arrendatários e pequenos proprietários.
Cada um dos movimentos possuía uma reivindicação específica, no entanto, todos expressavam as
contradições econômicas e sociais presentes na sociedade brasileira.
No início do século XX, era muito mais comum a existência de movimentos ligados ao rural, assim
como movimentos que lutavam pela conquista do poder político. Em meados de 1950, os movimentos
nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade através da realização de manifestações em espaços
públicos (rodovias, praças, etc.). Os movimentos populares urbanos foram impulsionados pelas
Sociedades Amigos de Bairro - SABs - e pelas Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Nos anos 1960
e 1970, mesmo diante de forte repressão policial, os movimentos não se calaram. Havia reivindicações
por educação, moradia e pelo voto direto. Em 1980 destacaram-se as manifestações sociais conhecidas
como "Diretas Já".

314
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Em 1990, o MST e as ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos coletivos, tais como os
movimentos sindicais de professores.
Concomitante às ações coletivas que tocam nos problemas existentes no planeta (violência, por
exemplo), há a presença de ações coletivas que denunciam a concentração de terra, ao mesmo tempo
que apontam propostas para a geração de empregos no campo, a exemplo do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST); ações coletivas que denunciam o arrocho salarial (greve de professores
e de operários de indústrias automobilísticas); ações coletivas que denunciam a depredação ambiental e
a poluição dos rios e oceanos (lixo doméstico, acidentes com navios petroleiros, lixo industrial); ações
coletivas que têm espaço urbano como lócus para a visibilidade da denúncia, reivindicação ou proposição
de alternativas.
As passeatas, manifestações em praça pública, difusão de mensagens via internet, ocupação de
prédios públicos, greves, marchas entre outros, são características da ação de um movimento social. A
ação em praça pública é o que dá visibilidade ao movimento social, principalmente quando este é
focalizado pela mídia em geral. Os movimentos sociais são sinais de maturidade social que podem
provocar impactos conjunturais e estruturais, em maior ou menor grau, dependendo de sua organização
e das relações de forças estabelecidas com o Estado e com os demais atores coletivos de uma sociedade.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido pela sigla MST, é um
movimento social brasileiro de inspiração marxista cujo objetivo é a implantação da reforma agrária no
Brasil. Teve origem na aglutinação de movimentos que faziam oposição ou estavam desgostosos com o
modelo de reforma agrária imposto pelo regime militar, principalmente na década de 1970, o qual
priorizava a colonização de terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de
excedentes populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST declara buscar
a redistribuição das terras improdutivas.
Apesar dos movimentos organizados de massa pela reforma agrária no Brasil remontarem apenas às
ligas camponesas, associações de agricultores que existiam durante as décadas de 1950 e 1960, o MST
proclama-se como herdeiro ideológico de todos os movimentos de base social camponesa ocorridos
desde que os portugueses entraram no Brasil, quando a terra foi dividida em sesmarias por favor real, de
acordo com o direito feudal português, fato este que excluiu em princípio grande parte da população do
acesso direto à terra.
Uma das atividades do grupo consiste na ocupação de terras improdutivas como forma de pressão
pela reforma agrária, mas também há reivindicação quanto a empréstimos e ajuda para que realmente
possam produzir nessas terras. Para o MST, é muito importante que as famílias possam ter escolas
próximas ao assentamento, de maneira que as crianças não precisem ir à cidade e, desta forma, fixar as
famílias no campo.
A organização não tem registro legal por ser um movimento social e, portanto, não é obrigada a prestar
contas a nenhum órgão de governo, como qualquer movimento social ou associação de moradores.
O movimento recebe apoio de organizações não governamentais e religiosas, do país e do exterior,
interessadas em estimular a reforma agrária e a distribuição de renda em países em desenvolvimento.
Sua principal fonte de financiamento é a própria base de camponeses já assentados, que contribuem
para a continuidade do movimento.
Dados coletados em diversas pesquisas demonstram que os agricultores organizados pelo movimento
têm conseguido usufruir de melhor qualidade de vida que os agricultores não organizados.
O MST reivindica representar uma continuidade na luta histórica dos camponeses brasileiros pela
reforma agrária. Os atuais governantes do Brasil tem origens comuns nas lutas sindicais e populares, e
portanto compartilham em maior ou menor grau das reivindicações históricas deste movimento. Segundo
outros autores, o MST é um movimento legítimo que usa a única arma que dispõe para pressionar a
sociedade para a questão da reforma agrária, a ocupação de terras e a mobilização de grande massa
humana.

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST


O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) surgiu em 1997 da necessidade de organizar a
reforma urbana e garantir moradia e a todos os cidadãos. Está organizado nos municípios do Rio de
Janeiro, Campinas e São Paulo. É um movimento de caráter social, político e sindical. Em 1997, o MST
fez uma avaliação interna em que reconheceu que seria necessária uma atuação na cidade além de sua
atuação no campo. Dessa constatação, duas opções de luta se abriram: trabalho e moradia.
Estão em quase todas as metrópoles do País. São desdobramentos urbanos do MST, com um
comando descentralizado. As formas de atuação variam de um movimento para outro. Em geral, as

315
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
ocupações não têm motivação política, apenas apoio informal de filiados a partidos de esquerda. O
objetivo das ocupações é pressionar o poder público a criar programas de moradia e dar à população de
baixa renda acesso a financiamentos para a compra de imóveis.
Atualmente, o MTST é autônomo em relação ao MST, mas tem uma aliança estratégica com esse.

Fórum Social Mundial - FSM


O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento altermundialista organizado por movimentos sociais de
diversos continentes, com objetivo de elaborar alternativas para uma transformação social global. Seu
slogan é “Um outro mundo é possível”.
É um espaço internacional para a reflexão e organização de todos os que se contrapõem à
globalização neoliberal e estão construindo alternativas para favorecer o desenvolvimento humano e
buscar a superação da dominação dos mercados em cada país e nas relações internacionais.
A luta por um mundo sem excluídos, uma das bandeiras do I Fórum Social Mundial, tem suas raízes
fixadas na resistência histórica dos povos contra todo o gênero de opressão em todos os tempos,
resistência que culmina em nossos dias com o movimento irmanando milhões de cidadãos e não-cidadãos
do mundo inteiro contra as consequências da mundialização do capital, patrocinada por organismos
multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e a Organização Mundial
do Comércio (OMC), entre outros.
O Fórum Social Mundial (FSM) se reuniu pela primeira vez na cidade de Porto Alegre, estado do Rio
Grande do Sul, Brasil, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o objetivo de se contrapor ao Fórum
Econômico Mundial de Davos. Esse Fórum Econômico tem cumprido, desde 1971, papel estratégico na
formulação do pensamento dos que promovem e defendem as políticas neoliberais em todo mundo. Sua
base organizacional é uma fundação suíça que funciona como consultora da ONU e é financiada por mais
de 1.000 empresas multinacionais.

Movimento Hippie
Os "hippies" (no singular, hippie) eram parte do que se convencionou chamar movimento de
contracultura dos anos 60 tendo relativa queda de popularidade nos anos 70 nos EUA, embora o
movimento tenha tido muita força em países como o Brasil somente na década de 70. Uma das frases
idiomáticas associada a este movimento foi a célebre máxima "Paz e Amor" (em inglês "Peace and Love")
que precedeu a expressão "Ban the Bomb”, a qual criticava o uso de armas nucleares.
As questões ambientais, a prática de nudismo, e a emancipação sexual eram ideias respeitadas
recorrentemente por estas comunidades.
Adotavam um modo de vida comunitário, tendendo a uma espécie de socialismo-anarquista ou estilo
de vida nômade e à vida em comunhão com a natureza, negavam o nacionalismo e a Guerra do Vietnã,
bem como todas as guerras, abraçavam aspectos de religiões como o budismo, hinduísmo, e/ou as
religiões das culturas nativas norte-americanas e estavam em desacordo com valores tradicionais da
classe média americana e das economias capitalistas e totalitárias. Eles enxergavam o patriarcalismo, o
militarismo, o poder governamental, as corporações industriais, a massificação, o capitalismo, o
autoritarismo e os valores sociais tradicionais como parte de uma "instituição" única, e que não tinha
legitimidade.
Nos anos 60, muitos jovens passaram a contestar a sociedade e a pôr em causa os valores tradicionais
e o poder militar e econômico. Esses movimentos de contestação iniciaram-se nos EUA, impulsionados
por músicos e artistas em geral. Os hippies defendiam o amor livre e a não-violência. Como grupo, os
hippies tendem a viver em comunidades coletivistas ou de forma nômade, vivendo e produzindo
independentemente dos mercados formais, usam cabelos e barbas mais compridos do que era
considerado "elegante" na época do seu surgimento. Muita gente não associada à contracultura
considerava os cabelos compridos uma ofensa, em parte por causa da atitude iconoclasta dos hippies,
às vezes por acharem "anti-higiênicos" ou os considerarem "coisa de mulher".
Foi quando a peça musical Hair saiu do circuito chamado off-Broadway para um grande teatro da
Broadway em 1968, que a contracultura hippie já estava se diversificando e saindo dos centros urbanos
tradicionais.
Os Hippies não pararam de fazer protestos contra a Guerra do Vietnã, cujo propósito era acabar com
a guerra. A massa dos hippies eram soldados que voltaram depois de ter contato com os Indianos e a
cultura oriental que, a partir desse contato, se inspiraram na religião e no jeito de viver para protestarem.
Seu principal símbolo era o Mandala (Figura circular com 3 intervalos iguais).

316
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Movimento Feminista
O Feminismo é um discurso intelectual, filosófico e político que tem como meta os direitos iguais e a
proteção legal às mulheres. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias, todas preocupadas com
as questões relacionadas às diferenças entre os gêneros, e advogam a igualdade para homens e
mulheres e a campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses. De acordo com Maggie Humm e
Rebecca Walker, a história do feminismo pode ser dividida em três "ondas". A primeira teria ocorrido no
século XIX e início do século XX, a segunda nas décadas de 1960 e 1970, e a terceira teria ido da década
de 1990 até a atualidade. A teoria feminista surgiu destes movimentos femininos, e se manifesta em
diversas disciplinas como a geografia feminista, a história feminista e a crítica literária feminista.
O feminismo alterou principalmente as perspectivas predominantes em diversas áreas da sociedade
ocidental, que vão da cultura ao direito. As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais
das mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos ao voto), pelo direito da mulher à sua
autonomia e à integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos (incluindo
o acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção de mulheres e garotas
contra a violência doméstica, o assédio sexual e o estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-
maternidade e salários iguais, e todas as outras formas de discriminação.
Durante a maior parte de sua história, a maior parte dos movimentos e teorias feministas tiveram
líderes que eram principalmente mulheres brancas de classe média, da Europa Ocidental e da América
do Norte. No entanto, desde pelo menos o discurso Sojourner Truth, feito em 1851 às feministas dos
Estados Unidos, mulheres de outras raças propuseram formas alternativas de feminismo. Esta tendência
foi acelerada na década de 1960, com o movimento pelos direitos civis que surgiu nos Estados Unidos, e
o colapso do colonialismo europeu na África, no Caribe e em partes da América Latina e do Sudeste
Asiático. Desde então as mulheres nas antigas colônias europeias e no Terceiro Mundo propuseram
feminismos "pós-coloniais" - nas quais algumas postulantes, como Chandra Talpade Mohanty, criticam o
feminismo tradicional ocidental como sendo etnocêntrico. Feministas negras, como Angela Davis e Alice
Walker, compartilham este ponto de vista.
Desde a década de 1980, as feministas standpoint argumentaram que o feminismo deveria examinar
como a experiência da mulher com a desigualdade se relaciona ao racismo, à homofobia, ao classismo
e à colonização. No fim da década e início da década seguinte as feministas ditas pós-modernas
argumentaram que os papeis sociais dos gêneros seriam construídos socialmente, e que seria impossível
generalizar as experiências das mulheres por todas as suas culturas e histórias.

Movimento Estudantil
O movimento estudantil, embora não seja considerado um movimento popular, dada a origem dos
sujeitos envolvidos, que, nos primórdios desse movimento, pertenciam, em sua maioria, a chamada
classe pequeno burguesa, é um movimento de caráter social e de massa. É a expressão política das
tensões que permeiam o sistema dependente como um todo e não apenas a expressão ideológica de
uma classe ou visão de mundo. Em 1967, no Brasil, sob a conjuntura da ditadura militar, esse movimento
inicia um processo de reorganização, como a única força não institucionalizada de oposição política. A
história mostra como esse movimento constitui força auxiliar do processo de transformação social ao
polarizar as tensões que se desencadearam no núcleo do sistema dependente. O movimento estudantil
é o produto social e a expressão política das tensões latentes e difusas na sociedade. Sua ação histórica
e sociológica tem sido a de absorver e radicalizar tais tensões. Sua grande capacidade de organização e
arregimentação foi capaz de colocar cem mil pessoas na rua, quando da passeata dos cem mil, em 1968.
Ademais, a histórica resistência da União Nacional dos Estudantes (UNE), como entidade representativa
dos estudantes, é exemplar.
O movimento estudantil é um movimento social da área da educação, no qual os sujeitos são os
próprios estudantes. Caracteriza-se por ser um movimento policlassista e constantemente renovado - já
que o corpo discente se renova periodicamente nas instituições de ensino.
Podem-se encontrar traços de movimentos estudantis pelo menos desde o século XV, quando, na
Universidade de Paris, uma das mais antigas universidades da Europa, registraram-se vários movimentos
grevistas importantes. A universidade esteve em greve durante três meses, em 1443, e por seis meses,
entre setembro de 1444 e março de 1445, em defesa de suas isenções fiscais. Em 1446, quando Carlos
VII submeteu a universidade à jurisdição do Parlamento de Paris, eclodiram revoltas estudantis - das
quais participou, entre outros, o poeta François Villon - contra a supressão da autonomia universitária em
matéria penal e a submissão da universidade ao Parlamento. Frequentemente, estudantes eram detidos
pelo preboste do rei e, nesses casos, o reitor dirigia-se ao Châtelet, sede do prebostado, para pedir que
o estudante fosse julgado pelas instâncias da universidade. Se o preboste do rei indeferia o pedido, a

317
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
universidade entrava em greve. Em 1453, um estudante, Raymond de Mauregart, foi morto pelas forças
do Châtelet e a universidade entrou novamente em greve por vários meses.
Contemporaneamente, destacam-se os movimentos estudantis da década de 1960, dentre os quais
os de maio de 1968), na França. No mesmo ano, também se registraram movimentos em vários outros
países da Europa Ocidental, nos Estados Unidos e na América Latina. No Brasil, o movimento teve papel
importante na luta contra o regime militar que se instalou no país a partir de 1964.

Era pós 90
A partir de 1990, ocorreu o surgimento de outras formas de organização popular, mais
institucionalizadas - como os Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, pela Reforma Urbana, o Fórum
Nacional de Participação Popular etc. Os fóruns estabeleceram a prática de encontros nacionais em larga
escala, gerando grandes diagnósticos dos problemas sociais, assim como definindo metas e objetivos
estratégicos para solucioná-los. Emergiram várias iniciativas de parceria entre a sociedade civil
organizada e o poder público, impulsionadas por políticas estatais, tais como a experiência do Orçamento
Participativo, a política de Renda Mínima, Bolsa Escola etc. Todos atuam em questões que dizem respeito
à participação dos cidadãos na gestão dos negócios públicos. A criação de uma Central dos Movimentos
Populares foi outro fato marcante nos anos 1990, no plano organizativo; estruturou vários movimentos
populares em nível nacional, tal como a luta pela moradia, assim como buscou uma articulação e criou
colaborações entre diferentes tipos de movimentos sociais, populares e não populares.
Ética na Política, um movimento do início dos anos 1990, teve grande importância histórica, porque
contribuiu decisivamente para a deposição - via processo democrático - de um presidente da República
por atos de corrupção, fato até então inédito no país. Na época, contribuiu também para o ressurgimento
do movimento dos estudantes com novo perfil de atuação, os "caras-pintadas".
À medida que as políticas neoliberais avançaram, outros movimentos sociais foram surgindo: contra
as reformas estatais, a Ação da Cidadania contra a Fome, movimentos de desempregados, ações de
aposentados ou pensionistas do sistema previdenciário. As lutas de algumas categorias profissionais
emergiram no contexto de crescimento da economia informal, no setor de transportes urbanos, por
exemplo, apareceram os transportes alternativos ("perueiros"); no sistema de transportes de cargas
pesadas nas estradas, os "caminhoneiros". Algumas dessas ações coletivas surgiram como respostas à
crise socioeconômica, atuando mais como grupos de pressão do que como movimentos sociais
estruturados. Os atos e manifestações pela paz, contra a violência urbana, também são exemplos dessa
categoria. Se antes a paz era um contraponto à guerra, hoje ela é almejada como necessidade ao
cidadão/cidadã comum, em seu cotidiano, principalmente nas ruas, onde motoristas são vítimas de
assaltos relâmpagos, sequestros e assassinatos.
Grupos de mulheres foram organizados nos anos 1990 em função de sua atuação na política, criando
redes de conscientização de seus direitos e frentes de lutas contra as discriminações. O movimento dos
homossexuais também ganhou impulso e as ruas, organizando passeatas, atos de protestos e grandes
marchas anuais. Numa sociedade marcada pelo machismo, isso também é uma novidade histórica. O
mesmo ocorreu com o movimento negro ou afrodescendente, que deixou de ser predominantemente
movimento de manifestações culturais para ser, sobretudo, movimento de construção de identidade e luta
contra a discriminação racial. Os jovens também criaram inúmeros movimentos culturais, especialmente
na área da música, enfocando temas de protesto, pelo rap, hip hop etc.
Deve-se destacar ainda três outros importantes movimentos sociais no Brasil, nos anos 1990: dos
indígenas, dos funcionários públicos - especialmente das áreas da educação e da saúde - e dos
ecologistas. Os primeiros cresceram em número e em organização nessa década, passando a lutar pela
demarcação de suas terras e pela venda de seus produtos a preços justos e em mercados competitivos.
Os segundos organizaram-se em associações e sindicatos contra as reformas governamentais que
progressivamente retiram direitos sociais, reestruturam as profissões e arrocharam os salários em nome
da necessidade dos ajustes fiscais. Os terceiros, dos ecologistas, proliferaram após a conferência Eco-
92, dando origem a diversas organizações não governamentais. Aliás, as ONGs passaram a ter muito
mais importância nos anos 1990 do que os próprios movimentos sociais. Trata-se de ONGs diferentes
das que atuavam nos anos 1980 junto a movimentos populares. Agora são inscritas no universo do
terceiro setor, voltadas para a execução de políticas de parceria entre o poder público e a sociedade,
atuando em áreas onde a prestação de serviços sociais é carente ou até mesmo ausente, como na
educação e saúde, para clientelas como meninos e meninas que vivem nas ruas, mulheres com baixa
renda, escolas de ensino fundamental etc. (Era pós 90 - Texto adaptado da autora GOHN, M. G.).

318
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Movimentos de Igualdade Racial
Desde a abolição, os negros passaram a se abrigar em guetos e comunidades, sendo marginalizados.
O fim da escravidão não havia mudado a mentalidade social que, por muito tempo e ainda hoje, os vê
como inferiores142.
Com o passar dos anos, diversos movimentos sociais em defesa da igualdade racial foram criados
com o objetivo de conquistar direitos.
E mesmo que a situação ainda seja de vulnerabilidade e preconceito, o Brasil avançou na criação de
políticas públicas para a população negra, e os movimentos estão aí para garantir que essa luta continue.
Entre essas conquistas está a criação das cotas para negros, que reservam uma certa porcentagem
de vagas a pessoas de etnias distintas. Ainda há polêmica em torno das cotas, mas não deixa de
representar um grande avanço.
Há um grande caminho pela frente. Os negros ainda vivenciam a desigualdade nas relações de
trabalho, além do preconceito velado de um país que registra casos de racismo nos dias de hoje.

Movimentos de Igualdade de Gênero


Apesar de trazer muitas vitórias em sua trajetória, o Movimento Feminista tem, ainda, um grande
caminho pela frente.
A mulher ainda é vista por muitos como objeto, sendo criticada pela sua forma de vestir e se portar.
Inúmeras são vítimas de violência sexual, psicológica, física e ideológica, ferindo gravemente o direito a
autonomia pelo próprio corpo.
Apesar do movimento feminista já atuar há algumas décadas, percebe-se que atualmente ele está
diferente. Algumas pessoas dizem que o feminismo de hoje é multifacetado, sendo criados diversos
grupos com interesses semelhantes, mas cada um defendendo uma pauta específica.
No passado, essa luta se concentrava na conquista pelo direito ao voto, pela igualdade salarial e
inserção do mercado de trabalho. Hoje, o movimento agrega outras pautas e ganha espaço não apenas
nas ruas, mas principalmente nas redes sociais.
Recentemente, campanhas a favor da legalização do aborto, como forma de conquista pela autonomia
do corpo, e contra a cultura do estupro que acomete mulheres de todas as idades se espalham em todo
o mundo.

Movimento LGBT
Talvez este seja um dos movimentos que mais ganhou visibilidade nos últimos tempos. No Brasil e no
mundo, a causa em defesa das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
busca, de forma democrática, conquista de direitos, além de lutar contra a homofobia, a intolerância
sexual e a discriminação.
É composto por ativistas que, representando os homossexuais, buscam garantir a valorização dos
mesmos, com foco na humanização e no bem-estar dessas pessoas que, há tanto tempo, vêm sofrendo
ações preconceituosas por parte de uma sociedade ainda atrasada e intolerante.
Dentre as principais conquistas LGBTs, podemos citar:
- a retirada do termo “homossexualismo” da Classificação Internacional de Doenças (CID);
- o reconhecimento da união estável entre casais homossexuais;
- a possibilidade de requerer junto ao INSS pensão por morte de companheiro;
- a aprovação de lei no Rio de Janeiro que impõe sanções para quem agir de forma discriminatória (Lei
nº 7041 de 15/07/2015);
- a legalização da adoção homo afetiva;
- a legalização da união civil homo afetiva.

Quanto à criminalização da homofobia, infelizmente ainda não existe lei que pune o agressor e os
casos de violência contra os homossexuais ainda é classificada como lesão corporal. Em 2006, foi criado
um projeto de Lei que criminaliza a Homofobia (PLC 122/06), porém, após tramitar por 8 anos foi
arquivado.
Outra pauta que tem causado discussão é a restrição à doação de sangue. No Brasil, ela está expressa
na portaria 158/2016, do Ministério da Saúde. Porém, essa decisão está sendo questionada no Supremo
Tribunal Federal (STF) pelo Partido Socialista Brasileiro, que quer acabar com as restrições de doação
de sangue impostas aos homossexuais, afinal, todo sangue recebido é testado independentemente de
quem os tenha doado.

142 Human. 4 movimentos sociais que valem a pena acompanhar. https://bit.ly/2HAVxhN

319
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Movimentos das Pessoas com Deficiência
Os movimentos sociais em defesa das pessoas com deficiência têm, ao longo do tempo, lutado para
fazer valer os direitos de acessibilidade a esse público, garantindo a possibilidade de uma vida comum e
a participação de forma direta ou indireta na definição de políticas públicas.
E, nessa jornada de lutas, a Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989, representa uma grande conquista
para o movimento. Por meio dela, fica assegurado o exercício de direitos individuais e sociais das pessoas
com deficiência, bem como sua efetiva integração social.
Como foi dito, é um grande avanço, mas ainda há muito o que ser feito, visto que, infelizmente, o poder
público e parte da sociedade ainda não dão a devida importância à problemática que essas pessoas
vivem no cotidiano.
Os movimentos lutam por inclusão social, acesso à mobilidade urbana, ao mundo de trabalho, à
educação e também por mais atenção por parte do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Organizações que atuam na defesa dos direitos das pessoas com deficiência: APAE, Associação
Laramara, Movimento Superação, Amigos pra Valer, entre outros.

Classes Sociais e Movimentos Sociais 143


Segundo Tompson (1981), “as classes surgem porque homens e mulheres, em relações produtivas
determinadas, identificam seus interesses antagônicos e passam a lutar, a pensar e a valorar em termos
de classes: assim o processo de formação de classes é um produto de auto confecção, embora sob
condições dadas”. Ele nos oferece uma concepção do momento de configuração de uma classe social,
onde estrutura e sujeito mantêm uma relação de não superposição. A classe acontece, então, enquanto
as pessoas vivem sua própria história, configurando-se como uma formação econômica, política, social e
cultural. A classe não existe independente da elaboração de uma representação de classe – da criação
de um mundo de significação, em que as necessidades e interesses dos sujeitos são tratados em sua
cultura e consciência. Desta forma, sua existência efetiva-se quando as situações e relações produtivas
são experimentadas, não só como interesses e necessidades, mas também como sentimentos, normas
e valores.
Quando as classes sociais são concebidas como um dado espaço constituído e ao mesmo tempo
como um espaço de formulações de representações e significados, é preciso que se esteja atento às
lutas e movimentos esboçados na vida social. É nesse sentido que a temática dos movimentos sociais
torna-se de grande valia na análise da configuração das classes. Sendo estes aqui concebidos como
práticas sociais que elaboram a constituição de novos sujeitos. Representam manifestações bem
características das sociedades complexas contemporâneas. A diversificação da estrutura social, sua
heterogeneidade, as diversas formas de inserção dos sujeitos sociais são, sem dúvida, elementos que
compõem a emergência desses movimentos. É muito rica a possibilidade de se captar por meio deles
como determinados agrupamentos se colocam no cenário social, fazendo-se representar e reconhecer.
É no momento da percepção do fazer representar-se, do se fazer ouvir, da expressão de interesses
próprios e da luta coletiva pela defesa desses interesses, que se pode enriquecer a análise das classes
sociais.
Para Alain Touraine (1977), o caráter mais novo das classes sociais nas sociedades contemporâneas
(que ele denomina pós-industriais), é que, estando menos sustentadas pela transmissão hereditária das
posições sociais, por regras institucionais e por aparatos simbólicos, as classes só são realidades
observáveis na medida em que figuram, efetivamente, como atores históricos, ou seja, em que participam
de movimentos sociais, ainda que estes sejam incompletos. Esses movimentos constituem-se, assim, na
expressão mais evidente da historicidade. As classes serão reconhecidas a partir da colocação dos atores
em movimento. A fundamentação teórica de Touraine tem o mérito de estabelecer o elo de ligação entre
o conceito de classes e a noção de movimentos sociais.
Lojkine (1981), por sua vez, caracteriza um movimento social principalmente pela capacidade de um
conjunto de agentes das classes dominadas diferenciar-se dos papéis e funções através dos quais a
classe (ou fração de classe) dominante garante a subordinação das classes dominadas com relação ao
sistema socioeconômico em vigor. O alcance histórico real de um movimento só pode ser definido pela
análise de sua relação com o poder político. Apesar de muitas vezes observando a realidade, não
podermos afirmar que os movimentos sociais representam, necessariamente, uma força transformadora,
é inegável o seu poder de revigoramento do cenário político. Esses movimentos trazem uma crescente
politização da vida social, ampliando a visão do político, que deixa de ser um espaço restrito aos canais
representativos instituídos. É importante ainda destacar que na medida em que a estrutura social não é
encarada como o único fator determinante das ações de classes, colocando-se como fundamental a forma

143 Texto adaptado de MASCARENHAS, A. C. B.

320
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
como os sujeitos sociais vividas poderão estabelecer fronteiras entre as classes. Aqui, surge o papel das
conjunturas sócio-políticas como fator relevante explicativo, estabelecendo a mediação entre a situação
objetiva estrutural e os elementos constitutivos do plano das representações coletivas.

Classes Sociais e Cidadania


A relação entre a constituição das classes sociais e a luta pela extensão dos direitos de cidadania tem
se dado por meio de uma ligação muito íntima. Mas encontramos hoje uma tendência a afrouxar bastante
os laços que ligam essas questões. A noção de cidadania aumenta o seu fôlego, com ares de
independência e rouba a cena. Não sei se desde os brados da revolução Francesa tivemos um momento
em que está noção estivesse tão em evidência, do discurso dos meios de comunicação de massa ao
discurso acadêmico. E aqui é preciso novamente que tenhamos muita cautela, pois a pressão para a
extensão dos direitos de cidadania teve e tem como pano de fundo os conflitos de classes. Sem querer
reduzir todo tipo de conflito a caracterização de conflito de classe, o que é preciso salientar é a
abrangência desse fenômeno e a pertinência de destacá-lo na caracterização dos conflitos nas
sociedades contemporâneas.
Um exemplo da supervalorização da noção de cidadania como princípio explicativo da composição do
conflito social moderno é a proposição de Dahrendorf (1992) de que uma vez que a esmagadora maioria
das pessoas dos países das sociedades da OCDE tornaram-se cidadãos no sentido pleno da palavra, as
desigualdades sociais e as diferenças políticas assumiram uma nova compleição. As pessoas não
precisam mais juntar forças com outras na mesma posição para lutar por direitos básicos. Elas podem
fazer progredir suas chances de vida através do esforço individual, de um lado, e através da
representação de grupos de interesses constituídos mas fragmentados, do outro. (...) A nova classe é a
classe dos cidadãos, se o paradoxo for permissível, ou, de qualquer modo, a classe da maioria. Um
capítulo da história política e social que começou com lutas de classes profundas e potencialmente
revolucionárias levou, depois de muitos esforços e sofrimentos, a conflitos mais calmos de antagonismos
de classes democráticos ou institucionalizados.
Dahrendorf reconhece o paradoxo colocado, mas parece encará-lo como permissível, o que é
lamentável. Como podemos falar em uma “classe de cidadãos”? O aglomerado de cidadãos, ainda que
exista majoritariamente, abarca grandes clivagens, diferenciações, muitas desigualdades. O que significa
um grande agrupamento de cidadãos, se uma das partes se apropria do trabalho da outra? Acredito ainda,
que a melhor maneira de responder a essa questão e a muitas outras é procurar delinear a forma como
os agrupamentos distinguem-se uns dos outros por meio de sua caracterização econômica, política e
sociocultural, como vivenciam o mundo e como o representam. Nesse sentido, não encontro melhor
aparato analítico conceitual que o embutido na configuração das classes sociais e as relações travadas
por elas. O conceito de classes sociais é o elemento essencial, respaldado por análises conjunturais e
despido de ortodoxias e visões messiânicas.
Outra questão colocada na mesa das discussões sobre os conflitos sociais modernos é a possibilidade
de realização de um novo contrato social. Sobre que bases ele emergiria? Sobre as bases de uma
socialdemocracia? De um novo liberalismo? Socialismo? Melhor não desenterrar o defunto... as
alternativas apontadas estão imersas majoritariamente no âmbito de uma democracia capitalista. Essa
perspectiva representa sérios limites. Recorro aqui a Przewoski (1989) que salienta o componente do
universalismo inerente a ideologia burguesa, onde dentro dos contornos da noção de cidadania, os limites
expressam-se na caracterização da mesma como a harmonia básica de interesses dos indivíduos
(cidadãos). Na democracia capitalista, as massas não agem diretamente em defesa de seus interesses.
A representação resulta em uma desmobilização das mesmas. A estrutura do Estado burguês produz
pelo menos dois efeitos: separa as lutas econômicas das políticas e impõe uma forma específica à
organização de classes em cada uma dessas lutas. Os sindicatos tornam-se organizações separadas dos
partidos políticos e a organização de classes assume uma forma representativa.
O estabelecimento de um novo contrato social passa necessariamente pela composição dos vários
agrupamentos que integram a sociedade, ainda que todos, ou a maioria esteja abrigada no grande grupo
dos cidadãos. São cidadãos que distinguem-se entre si: uns são mais afortunados que outros, uns contam
com melhores condições de vida, tem mais prestígio, mais acesso ao saber, ao poder, etc. Então como
não procurar caracterizá-los à partir dessas distinções? A caracterização desses agrupamentos como
classes sociais representa nesse contexto um exercício bastante salutar. Przewoski com relação a essa
questão afirma que as classes são formadas como efeito de lutas; seu processo de formação é perpétuo,
elas são continuamente organizadas, desorganizadas e reorganizadas.

321
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Questões

01. (TJ-SP – Assistente Social – VUNESP) Os movimentos sociais latino-americanos ocuparam o


centro do cenário político na década de 1990 a partir de resistências contra as privatizações e os
programas de ajuste estrutural. É nesse contexto que ocorre o incremento da resistência e da luta popular
na América Latina, que abarca as mais diversas formas de protesto social. No Brasil, ainda nos anos 90,
surgem também mobilizações coletivas centradas mais em questões________________ com
mobilizações que partem de um chamamento à consciência individual das pessoas, apresentando-se
mais como___________ do que como movimentos sociais.

Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto.


(A) éticas e morais … campanhas
(B) jurídicas e operacionais … paralisações
(C) políticas e culturais … agitações
(D) econômicas e estruturais … piquetes
(E) legais e pessoais … manifestações

02. (DPU – Sociólogo – CESPE) Com relação aos movimentos sociais, assinale a opção correta:
(A) As lutas do movimento feminista na contemporaneidade focam, em todas as esferas sociais, as
discriminações sexistas, o patriarcado, a misoginia ou a divisão sexual do trabalho.
(B) O movimento feminista é considerado um movimento social recente.
(C) Apenas alguns movimentos sociais devem ser considerados sexuados.
(D) O papel das mulheres como sujeito coletivo em movimentos sociais mistos é central e visível.
(E) O movimento das mulheres em bloco rejeita a ideia de que a igualdade com os homens supõe a
transformação global das relações sociais.

Gabarito

01.A / 02.A

Comentários

01. Resposta: A
Os anos 90 são marcados pelos movimentos de ética na política. O processo de impeachment do
presidente Collor exemplifica bem o cenário. As mobilizações do período buscavam tocar a própria
consciência individual das pessoas, o que os caracterizava mais como campanhas do que com
movimentos sociais.

02. Resposta: A
Todos os aspectos citados na alternativa A corroboram para o entendimento de que o movimento
feminista não apenas NÃO é recente como ainda combate práticas que remontam ao período colonial,
como o patriarcado. A história seguiu dando exemplos de exclusão da vida política e capitalista (na forma
da oferta e diferenciação de remuneração nos empregos).

8. Globalização: conceituação; antecedentes históricos, globalização em


diferentes níveis: alcances e limites; blocos econômicos e livre comércio; a
política neoliberal e o Estado do bem-estar social; as sociedades nacionais e a
emergência da sociedade global: questões sociais e culturais.

Neoliberalismo e o Estado de Bem Estar Social 144


A noção de Estado de bem-estar social teve início na Inglaterra no pós-II Guerra Mundial, quando o
partido trabalhista, socialdemocrata, estabeleceu que independente da sua renda, todo cidadão teria o
direito de ser protegido pelo Estado. O Estado de bem-estar teve como principais características a
propriedade privada e a liberdade de mercado, sem a interferência do Estado na economia (Liberalismo
clássico).

144 https://bit.ly/2vrwLg7

322
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A partir do pensar e do implantar do bem-estar social dos cidadãos, os governos começaram a criar
medidas para o Estado oferecer serviços para a sociedade. Para isso, foi necessário implantar uma
estruturada previdência social e um organizado sistema de assistência médica.
Desde então, o Estado passou a oferecer serviços prestativos aos cidadãos, como a institucionalização
de seguros contra a velhice, a invalidez, doenças e maternidade. Posteriormente, implantaram-se outros
serviços assistenciais, como o seguro-desemprego. Todos os seguros sociais ofertados pelo Estado aos
seus cidadãos passaram a ter enormes custos para o governo, e resolveram apenas parcialmente esse
problema, aumentando os tributos públicos, ou seja, os impostos.
Na década de 1960, os tributos e gastos dos Estados aumentaram acentuadamente. Surgiu, então, a
teoria econômica neoliberal que propõe ideias para a redução das taxas e gastos do governo. O Estado,
a partir da lógica neoliberal, passou a ofertar cada vez menos serviços e políticas assistenciais para os
cidadãos. Os neoliberais compactuam que assistência social não é dever do Estado, mas um problema
que deve ser superado pelas leis do mercado.
O neoliberalismo teve sua ascensão na década de 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde o
Estado de bem-estar social sofreu várias restrições na assistência à população.
No Brasil, o neoliberalismo chegou e foi implantado no governo de Fernando Henrique Cardoso, no
ano de 1994. O citado presidente iniciou uma série de medidas que visavam à redução de gastos do
Estado, como as privatizações dos setores públicos das telecomunicações (Telebrás), das mineradoras,
como a Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda e a Companhia Vale do Rio Doce. Além disso,
abriu a economia brasileira para o mercado internacional (Multinacionais).
Portanto, o Estado de bem-estar social interferiu no mercado. Para tentar regulá-lo, investiu-se em
recursos para criação de uma rede de proteção social, médica e previdenciária para os trabalhadores. O
Estado passou a ser o grande mantenedor da assistência médica, da moradia, educação, entre outros. O
neoliberalismo inverteu a lógica do Estado de bem-estar social, retirando as obrigações do Estado para
os cidadãos. Isso explica as carências atuais nos setores de saúde, educação e moradia, serviços
ofertados pelos governantes.

Neoliberalismo
O neoliberalismo é um conjunto de ideias capitalistas, abrangendo o âmbito político e econômico, que
basicamente defende a não intervenção do Estado na economia. Essas ideias surgem na década de
1970, como uma solução para a crise que atingiu a economia nesta desta década. O neoliberalismo é um
releitura da forma clássica de liberalismo que vigorou entre os séculos XVIII e XIX.
De acordo com as ideias neoliberais, o crescimento econômico e social de um país é garantido através
do livre comércio, que são acordos feitos entre países, aumentando as relações comerciais entre eles.

I. Consenso de Washington
As ideias neoliberais somente ganharam visibilidade e força, quando em 1989, há o Consenso de
Washington. Nessa ocasião, os líderes do Reino Unido e dos Estados Unidos, Margareth Thatcher e
Ronald Reagan respectivamente, se unirão para propor que todos os países adotassem medidas
neoliberais. Foi sugerido que primeiramente os governos direcionassem seus investimentos as empresas.
Houve uma série de recomendações destinadas aos países mais pobres, como a redução de gastos
governamentais, diminuição dos impostos, liberação para a entrada do capital estrangeiro, privatização
da economia, entre outros.
O objetivo desta reunião, foi alcançado, tenso vários países adotado as propostas feitas. Contudo,
muitos país não tiveram condições de arcar com algumas das proposições feitas, o que geral um grande
número de pedido de empréstimos ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa abertura dos países
claramente favoreceu os países mais ricos, que foram capazes de comprar diversas empresas estatais.
No Brasil, esse sistema foi adotado de forma aberta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em
seus dois mandatos. Diversas empresas estatais foram privatizadas em seu governo como a Vale do Rio
Doce e a Telebrás.

II. Principais Características do Neoliberalismo


- Pouca participação do Estado na economia do país;
- Privatização de empresas estatais;
- Desburocratização do Estado, leis mais simplificadas e regras econômicas que facilitasse o
funcionamento das atividades;
- Diminuição dos impostos;
- Base da economia do país formada por empresas privadas;
- Defesa dos princípios capitalistas;

323
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- Pouca intervenção do Estado no mercado de trabalho;
- Livre circulação do capital estrangeiro

Questões

01. (UFMA - Técnico Assuntos Educacionais – UFMA) Uma das principais características do
neoliberalismo é:
(A) O equilíbrio entre o custo e o benefício dos serviços públicos
(B) A democratização das relações entre as instituições públicas e privadas
(C) O pleno emprego
(D) Uma educação pública para todos independente das classes sociais
(E) O Estado Mínimo

02. (UFBA - Assistente Social – UFBA) O neoliberalismo caracteriza-se pela universalização dos
serviços públicos.
(A) Certo
(B) Errado

03. (PRODEB - Assistente – Operação – IDECAN) “Dois conceitos muito discutidos nos dias atuais:
__________________ é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países
e as pessoas do mundo todo, de modo que as pessoas, os governos e as empresas trocam ideias,
realizam transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do
planeta; enquanto __________________ é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que
defendem a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total
liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o
desenvolvimento social de um país." Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente a
afirmativa anterior.
(A) neoliberalismo / globalização
(B) globalização / neoliberalismo
(C) socialismo / liberalismo econômico
(D) liberalismo econômico / socialismo

Gabarito

01.E / 02.B / 03.B

Comentários

01. Resposta: E.
A principal característica do neoliberalismo é a intervenção mínima do Estado na economia do país.

02. Resposta: B.
Ao contrário da afirmação feita, o neoliberalismo não defende a universalização dos serviços públicos,
eles defendem a existência de um Estado Mínimo, a sociedade civil é quem deve se organizar em suas
políticas, não o Estado.

03. Resposta: B.
No texto, a primeira parte claramente diz respeito a globalização, pelo fato de relatar um processo, que
estabelece a ligação e interação com diversos países do mundo, através de redes de comunicação e
comerciais, há interações com diversos governos. Já na segunda parte, o texto faz referência ao sistema
neoliberal, afirmando que a partir dessas ideias, o Estado deve se tornar mínimo, não participando das
relações econômicas do país.

324
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
9. Dimensões da intolerância política e religiosa: cruzadas, guerras de religião e
inquisição; tolerância e intolerância na era do Iluminismo; imperialismo e
darwinismo social; holocausto e genocídio; impacto das ações terroristas no
mundo; os movimentos de guerrilha; a atual política norte-americana e a luta
contra o terrorismo.

*Candidato(a). Segue a regra dos tópicos anteriores. Esses temas foram trabalhados em seus
devidos períodos históricos.

10. Outras questões do mundo contemporâneo: racismo, xenofobia e


homofobia; crime organizado, atividades ilícitas e corrupção; AIDS e epidemias
globais; aquecimento global, questão energética e movimentos ecológicos.

XENOFOBIA E RACISMO

Xenofobia145
O significado da palavra xenofobia dependerá do contexto em que ela estiver sendo usada, pois, por
ter um significado amplo, pode ser caracterizada como um transtorno psiquiátrico ou como uma forma de
preconceito e racismo.
A xenofobia como forma de preconceito se caracteriza pela aversão e a discriminação dirigidas a
pessoas de outras raças, culturas, crenças e grupos. Essa aversão pode desenvolver sentimentos de
ódio, causando animosidade e preconceito com tudo o que ela julga ser diferente.

Racismo146
O racismo consiste na atribuição de uma relação direta entre características biológicas e qualidades
morais, intelectuais ou comportamentais, implicando sempre em uma hierarquização que supõem a
existência de raças humanas superiores e inferiores. Fatores como a cor da pele ou o formato do crânio
são relacionados a uma série de qualidades aleatórias, como a inteligência ou a capacidade de comando.
Discursos racistas historicamente têm servido para legitimar relações de dominação, naturalizando
desigualdades de todos os tipos e justificando atrocidades e genocídios.
O racismo e as teorias racistas não surgiram do nada, elas possuem uma história própria. Os primeiros
discursos racistas derivam de uma visão teológica, são baseados na leitura de uma série de episódios
bíblicos, como aquele no qual Noé amaldiçoa seu único filho negro, afirmando que seus descendentes
seriam escravizados pelos descendentes de seus irmãos. Essas interpretações serviram para justificar e
naturalizar relações de exploração, como a escravização do povo africano pelos europeus. Já no século
XVIII surgem as primeiras teorias racistas de cunho científico. Da mesma forma como já fazia com as
plantas e os animais, a ciência passa a classificar a diversidade humana e, para tal, usa como critério
central a pigmentação da pele. O problema central dessa classificação é que ela conecta a essas
características físicas atributos morais e comportamentais depreciativos ou valorativos, a depender de
que “raça” se está tratando.
Carl Von Linné, naturalista sueco, foi um dos primeiros a sistematizar essa classificação racista. Ele
divide os humanos em quatro raças: a asiática, de pele amarela e caráter melancólico; a americana, de
pele morena e comportamento colérico; a africana, negra e preguiçosa; e a europeia, branca, engenhosa
e inventiva. Esse tipo de teoria racista, que junta adeptos por décadas a fio, utilizou-se da sua autoridade
científica para justificar o tratamento de populações não-europeias como inferiores, indignas de respeito
e incapazes de governar a si mesmas, legitimando as empreitadas colonialistas sob a Ásia, a África e as
Américas. Obviamente, o desenvolvimento da ciência foi completamente incapaz de provar qualquer tipo
de ligação entre as quantidades de melanina de um ser humano e sua personalidade/capacidade
intelectual. No entanto, elementos dessa hierarquização seguiram intactos nos imaginários coletivos e se
expressam até os dias de hoje.

Racismo no Brasil
O Brasil é um país marcado pelo racismo como sistema, uma forma de organização social que
privilegia um grupo em detrimento de outro. O genocídio dos povos indígenas e o sequestro, escravização

145 https://bit.ly/2KKnIeX
146 https://bit.ly/1I7S7iH

325
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
e desumanização dos africanos – e seus descendentes nascidos aqui – ocupam boa parte da história do
país. São fatos que deixaram consequências profundas tanto na forma coletiva de pensar, quanto nas
condições materiais dos descendentes desses povos. Apesar de negros e pardos constituírem a maioria
da população, sua presença é minoritária nas classes sociais mais abastadas, nos espaços acadêmicos,
nos postos de chefia e nas profissões bem remuneradas.
Nas ações do aparato repressivo, entretanto, a população negra se evidencia, constituindo-se como
maioria entre as vítimas fatais da violência policial. A perversidade do racismo brasileiro foi suavizada
durante anos através da ideia de “democracia racial”, nascida nas Ciências Sociais, com destaque para
a contribuição de Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1933).
A ausência de um regime de segregação institucional – tal como ocorrera nos EUA e na África do Sul,
através do apartheid – foi subterfúgio para amenizar a força do racismo no Brasil. O mito da democracia
racial brasileira fez com que o país postergasse a adoção de medidas de reparação – a exemplo de ações
afirmativas, já há muito consolidadas nos EUA – e de combate ativo a ideologia racista – tal como a
adoção de uma perspectiva multiculturalista no seu sistema educacional.

Meios Jurídicos de combate a Xenofobia e ao Racismo 147


Legislação que proíbe as descriminações no exercício de direitos, por motivos baseados na raça, cor
nacionalidade ou origem étnica: Lei nº 134/99, de 28 de Agosto; Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de Julho.
- A igualdade é a característica do que é igual. O que significa que nenhuma pessoa é mais importante
que outra, quaisquer que sejam os seus pais e a sua condição social. Naturalmente, as pessoas não têm
os mesmos interesses e as mesmas capacidades, nem estilos de vida idênticos. Consequentemente, a
igualdade entre as pessoas significa que todos têm os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. No
domínio da educação e do trabalho, devem dispor de oportunidades iguais, apenas dependentes dos
seus esforços. A igualdade só se tornará uma realidade quando todos tiverem, em termos idênticos,
acesso ao alojamento, à segurança social, aos direitos cívicos e à cidadania.
- O interculturalismo consiste em pensar que nós enriquecemos através do conhecimento de outras
culturas e dos contatos que temos com elas e que desenvolvemos a nossa personalidade ao encontrá-
las. As pessoas diferentes deveriam poder viver juntas apesar da sua diferença cultural. O
interculturalismo é a aceitação e o respeito pelas diferenças.

CRIME ORGANIZADO 148

A definição literal de crime é a de todo comportamento desviante que quebre ou infrinja o código de
leis escritas vigentes de uma nação. Comumente no referimos às ações cometidas por um ou um pequeno
grupo de indivíduos, com pouca ou nenhuma preparação, aproveitando-se de um momento específico e
tendo em vista um proveito imediato e, geralmente, em pequena escala.
No entanto, podemos observar a existência organizações e grupos que se estabelecem na prática do
crime com tamanho preparo e maestria que, em alguns casos, conseguem se passar por organizações
legítimas. Esses são os grupos dedicados a atividades criminosas que integram a categoria de “crime
organizado”. Desses, o exemplo mais utilizado ao nos referirmos a esse tipo de crime é o do tráfico de
drogas, contudo não é o único. Atividades como o jogo ilegal, mercado de contrabando e roubos em larga
escala são todas atividades criminosas que requerem grande preparação e cooperação das pessoas
envolvidas para que possam se estabelecer; e essa é a principal característica do crime organizado: a
cooperação sistemática entre as partes envolvidas.
O exemplo clássico de um grupo organizado voltado para a prática de atividades ilegais é a famosa
máfia italiana, que esteve ativa entre os anos de 1930 e 1960. O grupo criminoso era formado por famílias
de imigrantes italianos que chegavam aos Estados Unidos e que já tinham, anteriormente, a ideia de
grupo “familiar” formada. Um dos grupos mais famosos se denominam “Cosa nostra”, que ainda existe e
atua no mundo criminoso dos Estados Unidos.
A violência está intimamente ligada ao mundo do crime organizado, sendo uma das ferramentas
utilizadas para a manutenção de sua existência. A cooperação de órgãos institucionais, seja pela omissão
ou pela corrupção, também é um fator determinante.
É parte do senso comum relacionar o crime e a sua incidência à realidade econômica e ao nível
educacional de uma região ou de um indivíduo. Entretanto, muito embora estejam relacionados e possam
se tornar um dos agravantes da incidência de atos criminosos em uma região, não são fatores
determinantes. Os chamados “crimes de colarinho branco” são geralmente cometidos por indivíduos
altamente especializados com alto nível de educação formal. Possuem contato direto com meios ou
147 https://bit.ly/1BydmUC
148 http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/crime-organizado.htm

326
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
pessoas influentes nos cenários políticos e econômicos, e por isso conseguem manipular regras
institucionais em benefício próprio.
A “lavagem de dinheiro” é uma das principais atividades ligadas ao crime organizado. Ela consiste na
troca do dinheiro “sujo” obtido por meio do crime, por investimentos em fontes de renda “limpa” e legais.
Ou seja, o dinheiro obtido ilegalmente é usado em investimentos legais, de forma que o grupo criminoso
continua obtendo rendimentos com o dinheiro “sujo”, mas sem os riscos ligados ao crime.

MOVIMENTOS SOCIAIS E ECOLOGIA HOJE

Olá candidato(a). No conteúdo a respeito de Meio Ambiente dentro dos tópicos de atualidades,
teremos uma ordem um pouco diferente. Antes dos textos noticiados no período estipulado, traremos
alguns conceitos e explicações que normalmente são cobrados independente de ser um conteúdo
veiculado através de meios de comunicação ou não. Envolvem definições de desenvolvimento
sustentável e créditos de carbono por exemplo. Caso tenha alguma dúvida, por favor entre em contato
conosco.

Desenvolvimento sustentável149: é o modelo que prevê a integração entre economia, sociedade e


meio ambiente.

Responsabilidade Socioambiental150: Está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e a


políticas que tenham como um dos principais objetivos a sustentabilidade. Todos são responsáveis pela
preservação ambiental: governos, empresas e cada cidadão.

Gestão do Lixo
O lixo ainda é um dos principais desafios dos governos na área de gestão sustentável. No entanto, na
última década, o Brasil deu um salto importante no avanço para a gestão correta dos resíduos sólidos.
Para regulamentar a coleta e tratamento de resíduos urbanos, perigosos e industriais, além de
determinar o destino final correto do lixo, o Governo brasileiro criou a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (Lei n° 12.305/10), aprovada em agosto de 2010.

Créditos de Carbono
No mercado de carbono, cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida é transformada em
crédito, que pode ser negociado livremente entre países ou empresas.
O sistema funciona como um mercado, só que ao invés das ações de compra e venda serem
mensuradas em dinheiro, elas valem créditos de carbono.
Para isso é usado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que prevê a redução certificada
das emissões de gases de efeito estufa. Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução
dos gases poluentes tem direito a comercializar os créditos.
Por exemplo, um país que reduziu suas emissões e acumulou muitos créditos pode vender este
excedente para outro que esteja emitindo muitos poluentes e precise compensar suas emissões.
O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países que participam desse mercado, com cerca
de 5% do total mundial e 268 projetos.

Consumo racional151
É um modo de consumir capaz de garantir não só a satisfação das necessidades das gerações atuais,
como também das futuras gerações. Isso significa optar pelo consumo de bens produzidos com tecnologia
e materiais menos ofensivos ao meio ambiente, utilização racional dos bens de consumo, evitando-se o
desperdício e o excesso e ainda, após o consumo, cuidar para que os eventuais resíduos não provoquem
degradação ao meio ambiente. Principalmente: ações no sentido de rever padrões insustentáveis de
consumo e diminuir as desigualdades sociais.
Adotar a prática dos três 'erres':
Redução, que recomenda evitar o consumo de produtos desnecessários;
Reutilização, que sugere que se reaproveite diversos materiais; e
Reciclagem, que orienta reaproveitar materiais, transformando-os e lhes dando nova utilidade.

149 Fonte: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/desenvolvimento-sustentavel.html


150 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental.
151 Texto adaptado de http://www.wwf.org.br/natureza_

brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/

327
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Aquecimento Global
É uma consequência das alterações climáticas ocorridas no planeta. Diversas pesquisas confirmam o
aumento da temperatura média global. Conforme cientistas do Painel Intergovernamental em Mudança
do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos
cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer
insignificante, mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e afetar profundamente a
biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais.
As causas do aquecimento global são muito pesquisadas. Existe uma parcela da comunidade científica
que atribui esse fenômeno como um processo natural, afirmando que o planeta Terra está numa fase de
transição natural, um processo longo e dinâmico, saindo da era glacial para a interglacial, sendo o
aumento da temperatura consequência desse fenômeno.
No entanto, as principais atribuições para o aquecimento global são relacionadas às atividades
humanas, que intensificam o efeito de estufa através do aumento na queima de gases de combustíveis
fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural. A queima dessas substâncias produz gases como
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que retêm o calor proveniente das
radiações solares, como se funcionassem como o vidro de uma estufa de plantas, esse processo causa
o aumento da temperatura. Outros fatores que contribuem de forma significativa para as alterações
climáticas são os desmatamentos e a constante impermeabilização do solo.
Atualmente os principais emissores dos gases do efeito de estufa são respectivamente: China, Estados
Unidos, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia do Sul. Em busca de
alternativas para minimizar o aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de Kyoto em 1997.
Conforme o documento, as nações desenvolvidas comprometem-se a reduzir sua emissão de gases que
provocam o efeito de estufa, em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Essa meta teve que ser
cumprida entre os anos de 2008 e 2012. Porém, vários países não fizeram nenhum esforço para que a
meta fosse atingida, o principal é os Estados Unidos.

Lixo Eletrônico
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho, OIT, destaca que 40 milhões de toneladas de
lixo eletrônico são produzidas todos os anos. O descarte envolve vários tipos de equipamentos, como
geladeiras, máquinas de lavar roupa, televisões, celulares e computadores. Países desenvolvidos enviam
80% do seu lixo eletrônico para ser reciclado em nações em desenvolvimento, como China, Índia, Gana
e Nigéria. Segundo a OIT, muitas vezes, as remessas são ilegais e acabam sendo recicladas por
trabalhadores informais.
Saúde - O estudo Impacto Global do Lixo Eletrônico, publicado em dezembro, destaca a importância
do manejo seguro do material, devido à exposição dos trabalhadores a substâncias tóxicas como chumbo,
mercúrio e cianeto. A OIT cita vários riscos para a saúde, como dificuldades para respirar, asfixia
pneumonia, problemas neurológicos, convulsões, coma e até a morte.
Orientações - Segundo agência, simplesmente banir as remessas de lixo eletrônico enviadas à países
em desenvolvimento não é solução, já que a reciclagem desse material promove emprego para milhares
de pessoas que vivem na pobreza. A OIT sugere integrar sistemas informais de reciclagem ao setor formal
e melhorar métodos e condições de trabalho. Outro passo indicado no estudo é a criação de leis e
associações ou cooperativas de reciclagem.

Textos Noticiados:

Um milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçadas de extinção, aponta ONU 152

Estudo envolveu 145 cientistas de 50 países e revisou mais de 15 mil pesquisas.


Um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, segundo o relatório da
Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema
(IPBES). A plataforma da Organização das Nações Unidas (ONU) contou com 145 cientistas de 50 países,
no que é o considerado o relatório mais extenso sobre perdas do meio ambiente.
O estudo, divulgado nesta segunda-feira (06/05), foi feito com base na revisão de mais de 15 mil
pesquisas científicas e fontes governamentais. Os cientistas destacam cinco principais causas de
mudanças de grande impacto na natureza nas últimas décadas:
- perda da habitat natural
- exploração das fontes naturais
152G1. Um milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçadas de extinção, aponta ONU. G1 Natureza. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/05/06/um-
milhao-de-especies-de-plantas-e-animais-estao-ameacadas-de-extincao-segundo-relatorio-da-onu.ghtml. Acesso em 06 de maio de 2019

328
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
- mudanças climáticas
- poluição
- espécies invasoras

Desde 1900, a média de espécies nativas na maioria dos principais habitats terrestres caiu em pelo
menos 20%. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos corais e mais de um terço de todos
os mamíferos marinhos estão ameaçados. Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à
extinção desde o século 16.
“Ecossistemas, espécies, populações selvagens, variedades locais e raças de plantas e animais
domesticados estão diminuindo, deteriorando-se ou desaparecendo. A rede essencial e interconectada
da vida na Terra está ficando menor e cada vez mais desgastada ”, disse o Prof. Settele.
“Esta perda é um resultado direto da atividade humana e constitui uma ameaça direta ao bem-estar
humano em todas as regiões do mundo ”, disse o Prof. Settele, um dos participantes o estudo.
O relatório diz ainda que desde 1980 as emissões de gás carbônico dobraram, levando a um aumento
das temperaturas do mundo em pelo menos 0,7 ºC.
Ainda de acordo com os cientistas, a perda de biodiversidade não é apenas uma questão ambiental,
mas também uma questão de desenvolvimento, econômica, de segurança, social e moral.
Segundo o relatório, as atuais tendências negativas impedirão em 80% o progresso das metas dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, relacionadas a pobreza, fome, saúde, água, cidades, clima,
oceanos e terra.
Três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente
alterados por ações humanas. Em média, essas tendências foram menos severas ou evitadas em áreas
mantidas ou gerenciadas por povos indígenas e comunidades locais.
Além disso, um terço das áreas terrestres e 75% do uso de água limpa é para plantação e criação de
animais para alimentação. O valor da produção agrícola aumentou cerca de 300% desde 1970, a
derrubada de madeira aumentou 45% e aproximadamente 60 bilhões de toneladas de recursos
renováveis e não renováveis são extraídos globalmente a cada ano.

Veja outros pontos destacados pelo relatório:


- A degradação da terra reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre global, até US$ 577
bilhões em safras globais anuais estão em risco de perda de polinizadores
- Entre 100-300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de enchentes e furacões devido à
perda de habitats e proteção da costa
- Em 2015, 33% da vida marinha estava sendo pescada em níveis insustentáveis
- Áreas urbanas dobraram desde 1992
- A poluição plástica aumentou dez vezes desde 1980. De 300 a 400 milhões de toneladas de metais
pesados, solventes, lamas tóxicas e outros resíduos de instalações industriais são despejados
anualmente nas águas do mundo
- Fertilizantes que entram nos ecossistemas costeiros produziram mais de 400 "zonas mortas"
oceânicas, totalizando mais de 245.000 km² - uma área combinada maior que a do Reino Unido

Ainda dá tempo
Apesar das notícias não serem boas, o relatório aponta caminhos para uma mudança. Governos
devem trabalhar em conjunto para a implementação de leis e produção mais sustentável.
Segundo o relatório, é possível melhorar a sustentabilidade na agricultura, planejando áreas de
plantação para que elas forneçam alimentos e ao mesmo tempo apoiem as espécies nativas. Outras
sugestões incluem a reforma de cadeias de suprimento e a redução do desperdício de alimentos.
Além disso, para preservar a vida marinha, o relatório sugere cotas de pesca efetivas, demarcação de
áreas protegidas e redução da poluição que vai da terra para o mar.

Mundo apaga suas luzes pela Hora do Planeta153

Iniciativa busca reflexão sobre o impacto do gasto energético sobre as mudanças climáticas.
A Torre Eiffel parisiense, a Acrópole de Atenas, o Kremlin em Moscou e a Ópera de Sydney apagaram
suas luzes durante uma hora neste sábado, na chamada Hora do Planeta, para aumentar a
conscientização sobre as mudanças climáticas e seu impacto na biodiversidade. Para a 13ª edição da
Hora do Planeta, organizada pela ONG WWF, milhões de pessoas em 180 países vão apagar suas luzes
153AFP. Mundo apaga suas luzes pela Hora do Planeta. Correio do Povo. https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/mundo-apaga-suas-luzes-pela-
hora-do-planeta-1.329913. Acesso em 01 de abril de 2019

329
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
para refletir o impacto do gasto energético sobre as mudanças climáticas e seu papel fundamental na
natureza. "Somos a primeira geração a ter consciência que estamos destruindo o mundo. E podemos ser
os últimos capazes de fazer algo a respeito", diz a chamada da WWF. "Nós temos as soluções, só
precisamos que nossas vozes sejam ouvidas".
O presidente da WWF-Austrália, Dermot O'Gorman, disse à AFP que "a Hora do Planeta continua a
ser o maior movimento de base no mundo para que as pessoas adotem medidas contra as mudanças
climáticas". "Trata-se de incitar os indivíduos a realizar ações pessoais e, desta forma, se unir a centenas
de milhões de pessoas em todo o mundo para demonstrar que não precisamos apenas de ações urgentes
em relação às mudanças climáticas, mas também devemos proteger nosso planeta", acrescentou.
Dezenas de empresas em todo o mundo se comprometeram a aderir a essa iniciativa de desligar as
luzes por uma hora. Inúmeros monumentos e edifícios emblemáticos vão permanecer às escuras entre
20h30 e 21h30min, como a Torre de Xangai, o Porto Victoria de Hong Kong, a Torre Burj Khalifa de Dubai,
as pirâmides do Egito, a basílica de São Pedro de Roma, o Big Ben de Londres, o Corcovado do Rio de
Janeiro e a sede da ONU em Nova Iorque.
No ano passado, quase 7 mil cidades em 187 países apagaram as luzes de seus edifícios
emblemáticos, segundo WWF. Este ano, o apelo ocorre após a divulgação de relatórios globais com
advertências urgentes sobre o estado do habitat natural e das espécies na Terra. De acordo com o último
relatório "Planeta Vivo" publicado pela WWF em 2018, entre 1970 e 2014, o número de espécimes de
vertebrados - peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis -, caiu 60% em todo o mundo.
Um declínio que atingiu 89% nos trópicos, na América do Sul e Central. Enquanto esta ação, realizada
em várias cidades ao redor do mundo, é um gesto simbólico, a Hora do Planeta liderou campanhas bem-
sucedidas na última década para proibir, por exemplo, os plásticos nas Ilhas Galápagos e plantar 17
milhões de árvores no Cazaquistão.

Poluição é responsável por 1 a cada 4 mortes prematuras no mundo 154

Relatório da ONU aponta que poluição do ar mata entre 6 e 7 milhões de pessoas por ano. Falta de
acesso à água potável é responsável por 1,4 milhão de mortes nesse mesmo período.
Um quarto das mortes prematuras e das doenças que proliferam atualmente no mundo estão
relacionadas à poluição e a outros danos ao meio ambiente provocados pelo homem. O alerta é feito pela
ONU em um relatório sobre o estado do planeta, divulgado nesta quarta-feira (13/03) em Nairóbi, capital
do Quênia.
O relatório, chamado de GEO (Global Environement Outlook), é resultado do trabalho de 250 cientistas
de 70 países, durante seis anos. O documento utiliza uma base de dados gigantesca para calcular o
impacto da poluição sobre centenas de doenças, além de listar uma série de emergências sanitárias no
mundo.
Segundo o GEO, a poluição atmosférica, os produtos químicos que contaminam a água potável e a
destruição acelerada dos ecossistemas vitais para bilhões de pessoas estão provocando uma espécie de
epidemia mundial.
As condições ambientais "medíocres" são responsáveis por cerca de 25% das mortes prematuras e
doenças no planeta. A poluição do ar mata entre 6 e 7 milhões de pessoas por ano. Já a falta de acesso
à água potável mata 1,4 milhão de pessoas a cada ano devido a doenças que poderiam ser evitadas,
como diarreias.
O relatório também indica que produtos químicos despejados no mar provocam efeitos negativos na
saúde de várias gerações. Além disso, 3,2 bilhões de pessoas vivem em terras destruídas pela agricultura
intensiva ou pelo desmatamento.
Já a utilização desenfreada de antibióticos na produção alimentar pode resultar no surgimento de
bactérias ultrarresistentes, que poderiam se tornar a primeira causa de mortes prematuras até a metade
do século.

Desigualdades entre Norte e Sul


O documento também revela outros problemas provocados pelas imensas desigualdades entre os
países ricos e pobres. O consumo excessivo, a poluição e o desperdício alimentar no Hemisfério Norte
resultam em fome, pobreza e doenças para o Sul.
"Ações urgentes e de uma amplitude sem precedentes são necessárias para pausar e inverter essa
situação", indica a conclusão do relatório. Para os autores do documento, sem uma reorganização da

154RFI. Poluição é responsável por 1 a cada 4 mortes prematuras no mundo. G1 Natureza. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/03/13/poluicao-e-responsavel-
por-1-a-cada-4-mortes-prematuras-no-mundo.ghtml. Acesso em 13 de março de 2019.

330
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
economia mundial em direção a uma economia sustentável, até mesmo o conceito de crescimento
mundial pode ser questionado, diante da alta quantidade de mortes e custos dos tratamentos.
"A principal mensagem é que se você tem um planeta saudável, isso vai ter impacto positivo não
apenas no crescimento mundial, mas na vida dos pobres, que dependem do ar puro e da água limpa",
afirma Joyeeta Gupta, vice-presidente do GEO.

Apelo pela redução de CO2


O relatório aponta, no entanto, que a situação não é irremediável e pede, sobretudo, a redução das
emissões de CO2 e do uso de pesticidas. É o que prevê o Acordo de Paris de 2015, que aspira limitar o
aquecimento global a +2 ºC até 2100, e se possível a +1,5 ºC, na comparação com a era pré-industrial.
No entanto, os cientistas lembram que não existe nenhum acordo internacional equivalente sobre o
meio ambiente e os impactos sobre a saúde da poluição, do desmatamento e de uma cadeia alimentar
industrializada são menos conhecidos.
Segundo eles, o desperdício de alimentos também precisa ser reduzido: o mundo joga no lixo um terço
da comida produzida (56% nos países mais ricos).
"Em 2050, teremos que alimentar 10 bilhões de pessoas, mas isto não quer dizer que devemos dobrar
a produção", insistiu Gupta, defendendo, por exemplo, a redução do gado. "Mas isto levaria a uma
mudança do modo de vida", reconheceu.

Licenciamento recorde de novos agrotóxicos155

Enquanto no andar de cima a palavra de ordem é “libera geral”, multiplicam-se os fatores de risco à
saúde e ao meio ambiente.
Sem estardalhaço, com os espaços mais nobres do noticiário tomados por sucessivas tragédias,
passou despercebida a notícia de que o atual governo autorizou em seus primeiros 47 dias de existência,
54 novos agrotóxicos no mercado, o que dá uma média superior a um novo produto licenciado por dia. O
Ministério da Agricultura alega que todos os ingredientes já eram comercializados no Brasil, e que a
novidade seria a aplicação desses produtos em novas culturas, o sinal verde para que novos fabricantes
possam comercializá-los, e que novas combinações químicas entre eles sejam permitidas. A julgar pelas
explicações dadas pelo ministério, ninguém deveria ficar preocupado. Acoberta-se assim - mais uma vez
- a apreensão que acompanha já há algum tempo vários técnicos (alguns do próprio governo), em relação
à forma como o Brasil vem se tornando o paraíso do setor químico com 2.123 (número válido até o
fechamento desta edição) agrotóxicos licenciados.
Sempre discreta, longe dos holofotes, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, cumpre aquilo que se
espera de quem, no ano passado, no comando da Frente Parlamentar da Agropecuária, liderou o rolo
compressor da bancada ruralista na aprovação do chamado “Pacote do Veneno”. A aprovação do PL
6299/2002 em uma comissão especial do Congresso abriu caminho para a tramitação de um pacote que,
na prática, reduz drasticamente as atribuições do Ibama (meio ambiente) e da Anvisa (saúde) no processo
de licenciamento desses produtos. O texto aprovado confere ao Ministério da Agricultura poderes sem
precedentes para autorizar a comercialização de agrotóxicos no Brasil.
Em favor da flexibilização da lei - o “Pacote do Veneno” ainda não foi votado em plenário - os ruralistas
dizem que o processo usual de licenciamento dessas “moléculas” (como a ministra prefere chamar)
costuma levar anos, prejudicando a produção. O grande problema é a distância que separa o gabinete
da ministra do Brasil real. Enquanto no andar de cima a palavra de ordem é “libera geral”, multiplicam-se
os fatores de risco à saúde e ao meio ambiente.
Um dos exemplos da farra na pulverização de veneno nas lavouras vem dos exames realizados em
amostras de alimentos consumidos pela população. A Fundação Oswaldo Cruz abriga o mais importante
laboratório federal de análises de substâncias químicas presentes nos alimentos, ligado à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. Mais de 30 alimentos costumam ser periodicamente analisados por lá.
Para surpresa dos pesquisadores, em algumas amostras é possível encontrar até 15 princípios ativos de
diferentes agrotóxicos, o que indica uma brutal desinformação do agricultor que está usando “bala de
canhão para matar uma mosca”.
“Quem determina quais produtos químicos os agricultores devem usar, e em quais dosagens, é o
varejista”, afirma uma fonte da Embrapa. Além de não dispor do conhecimento técnico necessário para
indicar a melhor resposta para todas as situações, o vendedor ainda recebe comissão pelas vendas
desses produtos químicos. Curiosamente, o próprio relator do “Pacote do Veneno”, deputado Luís
Nishimori (PR-Paraná), esteve à frente de duas empresas que vendiam agrotóxicos (Nishimori Agricultura
155André Tigueiro. Licenciamento recorde de novos agrotóxicos. https://g1.globo.com/natureza/blog/andre-trigueiro/post/2019/02/21/licenciamento-recorde-de-novos-
agrotoxicos.ghtml. Acesso em 21 de fevereiro de 2019.

331
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
e Mariagro Agrícola Ltda.), mas, segundo ele, à época da votação, as empresas estariam “desativadas”.
Em tempo: o conflito de interesses no Congresso alcança de forma avassaladora vários parlamentares
ligados ao agronegócio, mineração, indústria das armas, etc.
Outro motivo de preocupação é a instrução normativa nº 40 da Secretaria de Defesa Agropecuária do
Ministério da Agricultura (lançada no ano passado) que deu plenos poderes aos engenheiros agrônomos
para determinarem livremente misturas de diferentes agrotóxicos para a produção de receitas de acordo
com cada situação. Ou seja, deu-se carta branca para que estes profissionais inventem novas receitas
químicas sem que os efeitos dessa mistura sobre a saúde ou o meio ambiente sejam devidamente
conhecidos. “Empoderamos os engenheiros agrônomos”, disse então o ministro da Agricultura, Blairo
Maggi.
Uma tragédia silenciosa sobre a qual nem a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e muito menos o
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se pronunciaram até agora é a elevada mortandade de
abelhas no Brasil em eventos associados à pulverização de agrotóxicos. O registro mais recente de
desastre vem do Rio Grande do Sul, onde a Associação dos Apicultores Gaúchos contabiliza a perda de
6 mil colmeias nos últimos meses, inviabilizando a entrega de 150 toneladas de mel. “Claro que tem outras
causas de mortes, mas em 80% das análises das abelhas mortas, foi constatado algum tipo de agrotóxico
presente”, afirmou ao G1 o tenente Edelberto Ginder, da Patrulha Ambiental da Brigada Militar de Santa
Rosa.
O prejuízo dos apicultores é apenas a ponta do iceberg. O maior problema - já visível em vários países
- é o impacto sobre a polinização de alimentos. Estima-se que o trabalho realizado de graça pelas abelhas
tenha um valor econômico equivalente a 10% da produção agrícola mundial. No Brasil, mais de 50 milhões
de toneladas de produtos agrícolas dependem diretamente da polinização. Alguns cálculos dão conta de
que a morte contínua das abelhas pode significar quase 50 bilhões de reais de prejuízos para a agricultura
brasileira.
O assunto é tão grave e urgente que para proteger as abelhas, a União Europeia decidiu no ano
passado proibir o uso de agrotóxicos claramente associados a mortandade do inseto. No Brasil, nada
sugere que algo parecido venha a acontecer. Alguns produtos proibidos na Europa - como os
neonicotinoides, inseticidas derivados da nicotina - continuam sendo pulverizados em larga escala por
aqui.
Outro problema amplamente diagnosticado no Brasil é a pulverização de venenos por aviões, sem que
se respeitem os protocolos básicos de segurança como evitar a dispersão dos agrotóxicos em sobrevoos
muito altos ou quando haja vento forte. A chuva de veneno fora do perímetro das lavouras com impactos
sobre a saúde das comunidades próximas e a biodiversidade vem sendo documentada há anos, sem a
devida resposta do poder público. Há pouco mais de um ano, na maior operação de combate às práticas
criminosas de pulverização irregular por aeronaves, nada menos que 48 aviões foram interditados nos
Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná. A Operação Deriva II resultou na aplicação de
R$ 8,2 milhões em multas que, como se sabe, resultam em processos intermináveis sem prejuízo efetivo
para os infratores. Aeronaves não autorizadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e
pulverização de agrotóxicos proibidos por lei no Brasil ou com prazos de validade vencidos são infrações
comuns. Não se sabe quando será a próxima operação ou por que elas acontecem de forma tão
espaçada.
Uma cena da novela “Velho Chico”, de Benedito Ruy Barbosa, exibida em 2016 pela TV Globo, ilustra
bem o que parece ser o pensamento de uma parcela dos produtores rurais que aplicam agrotóxicos de
forma irresponsável em suas lavouras. Na fazenda de Afrânio (Antonio Fagundes), as plantações de
manga recebem cargas monumentais de veneno. Maria Tereza (Camila Pitanga), filha de Afrânio, fica
horrorizada com o que vê. E dá a ordem aos funcionários: “Podem parar com isso. Todos vocês”. Eles
dizem que devem continuar, mas ela é taxativa: “Que pare o mundo se for preciso. Eu não quero mais
uma só manga sendo colhida encharcada”. Maria Tereza colhe uma fruta do pé e segue irritada até o
escritório do pai. Lá chegando, cobra dele uma explicação: “Pai, o que é isso? O senhor está encharcando
a manga de veneno. Muito mais do que o necessário. Isso não está certo. Pode dar problema”. O pai olha
com ar de desdém para a filha e responde sem afetação: “É daí? Eu não planto pra comer. Eu planto pra
vender”.
O Brasil merece comer o que se planta sem sustos, sem riscos, sem que o interesse privado se
sobreponha ao interesse público.

Aquecimento global: década pode ser a mais quente da história, diz agência britânica 156

156 BBC. Aquecimento Global: década pode ser a mais quente da história, diz agência britânica. G1 Natureza.
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/02/07/aquecimento-global-decada-pode-ser-a-mais-quente-da-historia-diz-agencia-britanica.ghtml. Acesso em 07 de
fevereiro de 2019.

332
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O mundo está no meio do que pode ser a década mais quente já registrada, de acordo com um estudo
do Met Office — o serviço meteorológico do governo britânico.
O serviço, cujos registros remontam a 1850, projeta que as temperaturas nos próximos cinco anos
estarão até 1°C mais altas do que aquelas observadas no período pré-revolução industrial.
Há também uma pequena chance de que um destes anos registre temperaturas até 1,5°C maiores.
Este patamar é visto como um limite crítico para o aquecimento global.
Se os dados realmente corresponderem às projeções do Met Office, o período de 2014 até 2023 será
a década mais quente nos 150 anos de dados da agência.

Como as projeções do Met Office podem impactar o Acordo de Paris?


Segundo o Met Office, o ano de 2015 foi o primeiro no qual a temperatura média global da superfície
da Terra atingiu 1°C acima dos níveis pré-revolução industrial — geralmente, este nível é calculado
levando em conta as temperaturas entre os anos de 1850 e 1900.
Em todos os anos desde 2015, a temperatura média global ficou próxima ou ligeiramente acima desta
marca de 1°C a mais. Agora, o Met Office afirma que esta tendência deve se manter ou até se fortalecer
nos próximos cinco anos.
"Acabamos de fazer as previsões deste ano e elas vão até 2023 e o que sugerem é um rápido
aquecimento global", disse o professor Adam Scaife, chefe de previsão de longo prazo do Met Office.
"Olhando individualmente para cada ano nessa previsão, podemos ver agora, pela primeira vez, que
há o risco de uma superação temporária, e repito, temporária, do limiar de 1,5°C estabelecido no acordo
climático de Paris."
Em outubro passado, cientistas da ONU publicaram um relatório sobre os impactos de longo prazo de
um aumento de temperatura de 1,5°C.
Eles concluíram que seria necessário um grande esforço de corte de carbono para impedir que o
mundo ultrapassasse esse limite até 2030. Agora, a análise do Met Office diz que há 10% de chance de
isso acontecer nos próximos cinco anos.
"É a primeira vez que as previsões mostram um risco significativo de superação - que é apenas
temporária. Estamos falando de anos individuais variando acima do nível de 1,5 grau", disse o professor
Scaife.
"Mas o fato de que isso possa acontecer nos próximos anos devido a uma combinação de aquecimento
geral e flutuações devido a eventos como os do El Niño significa que estamos chegando perto desse
limiar".

Quão confiante está o Met Office sobre sua previsão?


O serviço diz que tem um patamar de confiança de 90% nas previsões para os próximos anos.
Segundo o Met Office, de 2019 a 2023, veremos temperaturas variando de 1,03°C a 1,57°C acima do
nível de 1850-1900, com aumento do aquecimento em grande parte do globo, especialmente em áreas
como o Ártico.
A equipe de pesquisadores diz que está bastante segura de suas previsões por causa de experiências
passadas. Sua previsão anterior, feita em 2013, já havia mencionado a rápida taxa de aquecimento que
foi observada nos últimos cinco anos. Previu também alguns dos detalhes menos conhecidos, como a
mancha de resfriamento observada no Atlântico Norte e os pontos mais frios do Oceano Antártico.
Se as observações do Met Office para os próximos cinco anos corresponderem às expectativas, a
década entre 2014 e 2023 será a mais quente em mais de 150 anos de registros.

E o que disseram outras agências climáticas?


A previsão do Met Office vem ao mesmo tempo que várias agências publicam suas análises sobre as
temperaturas observadas em 2018, mostrando que o ano foi o quarto mais quente desde que os registros
começaram.
Dados divulgados nesta quarta pela Nasa e pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional
(Noaa, na sigla em inglês), instituição governamental dos Estados Unidos, ressaltam esse panorama e
informam que 2015, 2016 e 2017 foram os outros três anos mais quentes.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou uma análise de cinco grandes conjuntos de
dados internacionais, mostrando que os 20 anos mais quentes já documentos aconteceram nos últimos
22 anos.
"As temperaturas são apenas parte da história. O clima extremo e de alto impacto afetou muitos países
e milhões de pessoas, com repercussões devastadoras para economias e ecossistemas em 2018", disse
o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

333
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
"Muitos dos eventos climáticos extremos são consistentes com o que esperamos de um clima em
transformação. Essa é uma realidade que precisamos encarar. A redução de emissões de gases do efeito
estufa e as medidas de adaptação ao clima devem ser uma prioridade global", afirmou.
Outros pesquisadores da área disseram que a nova previsão para os próximos cinco anos está
alinhada com as expectativas, dado o nível recorde de CO2 bombeado para a atmosfera em 2018.
"A previsão do Met Office, infelizmente, não é uma surpresa", disse Anna Jones, química do British
Antarctic Survey, órgão responsável pelos interesses do Reino Unido na Antártica.
"Temperaturas médias em todo o mundo estão em um recorde de alta, e tem sido assim por vários
anos. Elas são impulsionadas predominantemente pelo aumento das concentrações de gases do efeito
estufa, como o dióxido de carbono, que resultam do nosso uso contínuo de combustíveis fósseis", disse.
"Até reduzirmos as emissões de gases do efeito estufa, podemos esperar tendências de alta nas
temperaturas médias globais".

Brumadinho: O que se sabe sobre o rompimento de barragem que matou ao menos 60


pessoas em MG 157

Até a noite de domingo, 60 corpos foram resgatados da região atingida pelo rompimento
da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, município na zona metropolitana de
Belo Horizonte.
Entre as 60 mortes confirmadas até o momento, 19 corpos foram identificados, de acordo com a Defesa
Civil de Minas Gerais. Pelo menos 292 pessoas continuam desaparecidas.
Desde sexta, 192 pessoas foram localizadas e resgatadas pelos bombeiros.
Em coletiva de imprensa na noite de domingo, o porta-voz da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-
coronel Flávio Godinho, disse que um ônibus foi localizado próximo à área administrativa da Vale e que
haveria mais corpos dentro dele. Dessa forma, o trabalho do Corpo de Bombeiros continuará noite adentro
e o número de vítimas deve subir.
As buscas haviam sido interrompidas na madrugada de domingo, quando técnicos da mineradora
informaram que havia "risco iminente de rompimento" da barragem B6, e foram retomadas por volta de
15 horas.
Ainda de acordo com o tenente-coronel, boa parte do material da represa, que acumulava entre 3
milhões e 4 milhões de metros cúbicos de água, já foi drenado e a estrutura não corre mais risco de
rompimento. Restariam apenas 140 mil metros cúbicos de água, que serão drenados nos próximos 10 a
15 dias.
Cerca de 3 mil pessoas chegaram a ser acionadas pelas autoridades para que deixassem suas casas,
que estariam em áreas de risco, segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. A
Defesa Civil já as liberou, contudo, para que elas voltassem para suas casas.
O juiz do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Renan Chaves Carreira Machado, a pedido da
Advocacia Geral do Estado (AGE), determinou ainda na sexta-feira o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas
da Vale.
A medida, proposta pelo Estado de Minas Gerais e decidida pela Justiça em caráter liminar, buscava
oferecer "imediato e efetivo amparo às vítimas e redução das consequências (...) e na redução do prejuízo
ambiental". A decisão determina, ainda, que a empresa apresente, em até 48 horas, "um relatório sobre
as ações de amparo às vítimas, adote medidas para evitar a contaminação de nascentes hidrográficas,
faça um planejamento de recomposição da área afetada e elabore, de imediato, um plano de controle
contra a proliferação de pragas e vetores de doenças diversas".
Desde então, outras duas liminares foram concedidas pela Justiça de Minas Gerais para que outros
R$ 10 bilhões da mineradora fossem bloqueados para mitigar os dados ambientais e prestar auxílio às
vítimas.

Ajuda externa
Ainda neste domingo, chega a Minas Gerais uma equipe de 136 soldados do Exército israelense,
especializada em operações de resgate em situações extremas, para auxiliar na busca por sobreviventes.
A informação, antecipada no sábado pelo presidente Jair Bolsonaro, foi confirmada pelo governo de
Minas Gerais.
Na segunda-feira, a equipe fará um reconhecimento da área e iniciará em seguida os trabalhos. Além
de especialistas em salvamento, a equipe israelense conta com cães farejadores e 16 toneladas de
equipamentos, incluindo radares terrestres.
157
BBC. Brumadinho: O que se sabe sobre o rompimento de barragem que matou ao menos 60 pessoas em MG. BBC Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
47002609. Acesso em 28 de janeiro de 2019.

334
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Bloqueio de bens da Vale
Até a tarde de domingo, a Justiça havia determinado o bloqueio de um total de R$ 11 bilhões da
mineradora Vale. Foram três decisões diferentes: uma ainda na noite do rompimento da barragem, no
valor de R$ 1 bilhão, e outras duas no valor de R$ 5 bilhões, em liminares deferidas pela juíza Perla Saliba
Brito.
Os recursos deverão ser usados para reparação dos danos ambientais e auxílio às vítimas.
A Vale foi multada pelo Ibama em R$ 250 milhões devido aos danos ao meio ambiente causados pelo
rompimento das barragens da mina do córrego do Feijão. Foram cinco infrações no valor de R$ 50 milhões
cada, o máximo previsto na Lei de Crimes Ambientais. A empresa também foi multada pela Secretaria
Estadual do Meio Ambiente em R$ 99 milhões, pelos danos causados. O valor seria usado para reparos
na região.
Em entrevista coletiva, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que funcionários da empresa
compõem a maioria dos atingidos pelo rompimento da barragem.
Em nota divulgada logo após o rompimento, a mineradora informou que os rejeitos liberados pela
barragem atingiram a área administrativa da empresa no local, conhecido como Mina Córrego do Feijão.
A lama também atingiu parte da comunidade da Vila Ferteco, nas proximidades. Ambos ficam a 18 km do
centro de Brumadinho.
"O resgate e os atendimentos aos feridos estão sendo realizados no local pelo Corpo de Bombeiros e
Defesa Civil. Ainda não há confirmação sobre a causa do acidente", disse a empresa.
"A Vale acionou o Corpo de Bombeiros e ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para
Barragens. A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e
integrantes da comunidade", continuou o comunicado.
À BBC News Brasil o secretário adjunto de Saúde de Brumadinho, Geraldo Rodrigues do Carmo, disse
que funcionários da mineradora relataram ter visto a lama atingir a portaria e o refeitório da empresa no
horário do almoço. Ainda acordo com Carmo, além de concentrar a administração da Vale, a Vila Ferteco
abrigaria casas e sítios, mas não seria muito populosa.

Resposta do governo
Na manhã deste sábado, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a área atingida pelo rompimento da
barragem.
Bolsonaro não chegou a pousar na região e, portanto, não deu declarações no local. Ele já está de
volta a Brasília. Pelo Twitter, o presidente disse que é "difícil ficar diante de todo esse cenário e não se
emocionar" e acrescentou que o governo fará o que estiver ao seu alcance para atender as vítimas,
minimizar danos, apurar os fatos e prevenir novas tragédias, citando o desastre de Mariana, há três anos.
Horas depois, na noite de sábado, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional),
general Augusto Heleno, disse que o governo pretende realizar vistorias em todas as barragens do país
que "ofereçam maior risco". Heleno falou à imprensa depois de participar de uma reunião do gabinete de
crise criado por Bolsonaro para monitorar as consequências da tragédia.
"É importante e urgente que aquelas barragens, no Brasil inteiro, que ofereçam maior risco sejam
submetidas a uma nova vistoria, para que nós possamos nos antecipar, na medida do possível, a novos
desastres", declarou.
O ministro também afirmou que há a intenção de mudar o protocolo de licenciamento de barragens.
Ainda de acordo com o general, o governo deve oferecer ajuda financeira para as vítimas do desastre,
como adiatamentos de benefícios, mas ele disse que os valores ainda não estão definidos.
A ajuda, acrescentou o ministro, também deve vir de Israel, que enviará um avião com equipes e
equipamentos para reforçar as buscas.

A barragem
No cadastro nacional da Agência Nacional de Mineração, a barragem do Córrego do Feijão é
classificada como uma estrutura de pequeno porte com baixo risco e alto dano potencial.
A lei 12.334/10 explica que o risco é calculado "em função das características técnicas, do estado de
conservação do empreendimento e do atendimento ao Plano de Segurança da Barragem". Já o dano
potencial se refere ao "potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos econômicos, sociais e
ambientais decorrentes da ruptura da barragem".
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável informa que o
empreendimento e a barragem em Brumadinho estão devidamente licenciados.
Em dezembro de 2018, a Vale obteve licença para o reaproveitamento dos rejeitos dispostos na
barragem e encerramento de atividades.

335
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
"A barragem não recebia rejeitos desde 2014 e tinha estabilidade garantida pelo auditor, conforme
laudo elaborado em agosto de 2018. As causas e responsabilidades pelo ocorrido serão apuradas pelo
governo de Minas."
Em nota, a Vale afirmou que a barragem foi construída em 1976, pela Ferteco Mineração (adquirida
pela mineradora em 2001). Segundo a empresa, os rejeitos dispostos ocupavam um volume de 11,7
milhões de metros cúbicos.
A Vale disse ainda que a barragem possuía Declarações de Condição de Estabilidade emitidas pela
empresa TUV SUD do Brasil em junho e setembro de 2018.
"A barragem possuía Fator de Segurança de acordo com as boas práticas mundiais e acima da
referência da Norma Brasileira. Ambas as declarações de estabilidade mencionadas atestam a segurança
física e hidráulica da barragem."
Segundo a companhia, a barragem passava por inspeções de campo quinzenais. "Todas estas
inspeções não detectaram nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura."

Aquecimento dos oceanos bateu recorde em 2018, dizem cientistas 158


Em estudo publicado nesta quarta (16/01), pesquisadores chineses e americanos afirmam que as
águas do planeta atingiram as temperaturas mais altas nos últimos 60 anos.
Pesquisadores chineses e americanos constataram que a temperatura dos oceanos em 2018 foi a
mais quente já registrada nos últimos 60 anos. O estudo, com base nos dados mais recentes do Instituto
de Física Atmosférica, na China, foi publicado nesta quarta (16/01) na revista científica "Advances in
Atmospheric Sciences".
A conclusão está de acordo com a tendência de aquecimento dos oceanos registrada nos últimos cinco
anos — que já eram os cinco mais quentes desde a década de 1950, dizem os cientistas. O aumento na
temperatura oceânica acontece desde então e se acelerou a partir da década de 1990.
“A tendência de longo prazo de aquecimento do oceano é uma grande preocupação tanto para a
comunidade científica quanto para o público em geral. As temperaturas mais altas causam a expansão
térmica da água e um aumento do nível do mar — o que expõe a água doce costeira à intrusão de água
salgada e torna comunidades mais suscetíveis ao aparecimento de tempestades”, dizem os
pesquisadores no estudo.

Além do Instituto de Física Atmosférica, ligado à Academia de Ciências da China, a pesquisa envolveu
especialistas do Ministério de Recursos Naturais e da Universidade Hohai, também no país asiático, e do
Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica e da Universidade St. Thomas, nos Estados Unidos.
O aquecimento visto nos oceanos em 2018 resultou em um aumento médio de 1,4 mm no nível do mar
ao redor do globo em comparação à média de nível registrada em 2017. Os padrões associados ao nível
do mar atual devem continuar no futuro, segundo a pesquisa.
O aumento de calor no oceano também eleva as temperaturas e a umidade do ar — o que, por sua
vez, intensifica as tempestades e as chuvas fortes. Em 2018, foram registradas várias tempestades
tropicais no mundo, como os furacões Florence e Michael e os tufões Jebi, Maria, Mangkhut e Trami.
Entre outras consequências listadas pelos cientistas como decorrentes do aquecimento dos oceanos,
estão a diminuição no nível de oxigênio presente neles, o branqueamento e a morte de corais e o
derretimento de geleiras. Há também efeitos indiretos, como a intensidade de secas, ondas de calor, e
risco de incêndios.
“O aquecimento global é consequência do aprisionamento de gases de efeito estufa — que mantêm a
radiação do calor dentro do sistema terrestre. Devido à longevidade do dióxido de carbono e outros gases
desse tipo, mitigar as mudanças e os riscos de consequências socioeconômicas causadas pelo
aquecimento global e dos oceanos depende de adotar medidas para reduzir imediatamente as emissões
de gases estufa”, concluem os pesquisadores.

Salles diz que Brasil permanece no Acordo de Paris159

Ministro do Meio Ambiente afirma que pacto pode trazer recursos e que Bolsonaro concordou com a
posição.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o Brasil continuará no Acordo de Paris e
que o presidente Jair Bolsonaro concordou com a posição. Ele argumentou que há pontos importantes

158 Lara Pinheiro. Aquecimento dos oceanos bateu recorde em 2018, dizem cientistas. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/01/16/aquecimento-dos-oceanos-
bateu-recorde-em-2018-dizem-cientistas.ghtml. Acesso em 17 de janeiro de 2018.
159 Cleide Carvalho. Salles diz que Brasil permanece no Acordo de Paris. https://oglobo.globo.com/brasil/salles-diz-que-brasil-permanece-no-acordo-de-paris-

23371858. Acesso em 15 de janeiro de 2019.

336
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
no acordo, que podem trazer recursos para o país, e que o problema está na internalização de princípios
para a legislação nacional. O acordo estabelece metas de para redução da emissão de gases que causam
o efeito estufa.

Japão deixa comissão que protege baleias e anuncia volta da caça comercial 160

Retomada da atividade, proibida há mais de 30 anos, deve ocorrer em julho de 2019. País integrava
organização desde 1951 e tentou derrubar proibição durante evento no Brasil.
O Japão anunciou nesta quarta-feira (26/12) sua retirada da Comissão Internacional da Baleia (IWC,
na sigla em inglês) no próximo ano e a retomada da caça comercial nas águas territoriais e na zona
econômica exclusiva do país a partir de julho. A decisão foi lida pelo porta-voz do governo, Yoshihide
Suga, que também anunciou o fim da prática polêmica na Antártida.
"A partir de julho de 2019, depois que a saída entrar em vigor em 30 de julho, o Japão realizará a caça
comercial de baleias dentro do mar territorial do Japão e de sua zona econômica exclusiva, e cessará o
abate de baleais no Oceano Antártico/Hemisfério Sul", disse o secretário-chefe de gabinete, Yoshihide
Suga, em um comunicado ao anunciar a decisão.
O Japão era membro da IWC desde 21 de abril de 1951. A organização foi criada há sete décadas
para garantir a preservação desses cetáceos e impedir sua caça indiscriminada nos oceanos. Em 1986,
impôs a proibição da caça comercial, depois que algumas espécies foram praticamente levadas à extinção
pela pesca predatória.
Desde 1987, o Japão permite que se matem baleias apenas com fins científicos, mas essa é uma
questão controversa. Críticos e organizações de proteção dos animais afirmam que o programa é usado
para encobertar a caça comercial, já que a carne é vendida no mercado.
Os japoneses alegam que comer carne de baleia faz parte da cultura do país.
Em setembro desse ano, o Japão tentou derrubar a proibição à caça comercial durante a reunião da
organização em Santa Catarina, mas foi derrotado em votação.
Em 2014 o Tribunal Penal Internacional determinou que o Japão deveria suspender a caça na Antártida
– o que Tóquio fez durante uma temporada, reduzindo o número de animais e espécies visados, mas
reiniciou na temporada 2015-2016.
O porta-voz do governo japonês disse que, após a sua retirada da organização, o país atuará como
observador dentro da IWC e assegurou que o governo de Tóquio continua comprometido com a gestão
dos recursos marinhos de acordo com dados científicos.

Repercussão
Austrália e Nova Zelândia saudaram a decisão de abandonar a caça às baleias na Antártida, mas
expressaram decepção pela decisão do Japão se envolver no abate dos mamíferos oceânicos.
O Greenpeace condenou a decisão e contestou a afirmação de que os estoque de baleias se
recuperaram, observando que a vida marinha está ameaçada pela poluição e pela pesca excessiva.
"A declaração de hoje está em desacordo com a comunidade internacional, sem falar na proteção
necessária para salvaguardar o futuro dos nossos oceanos e criaturas majestosas", diz a nota da ONG.
"O governo do Japão deve agir urgentemente para conservar os ecossistemas marinhos, em vez de
retomar a caça comercial de baleias", afirma o comunicado.

Emissões globais de CO2 crescem e batem novo recorde161

O dióxido de carbono procedente dos combustíveis e da indústria aumentou 2,7% este ano.
Foi uma ilusão. Poucos anos atrás, alguns pensaram que o mundo havia finalmente conseguido
desvincular o crescimento econômico das emissões de dióxido de carbono (CO 2), o principal gás do efeito
estufa. Durante três anos, entre 2014 e 2016, as emissões globais procedentes dos combustíveis fósseis
e da indústria (que representam 90% do dióxido de carbono emitido pelas atividades humanas)
estancaram, enquanto o PIB mundial crescia. Aquela tendência, contudo, não se consolidou. E em 2017
as emissões voltaram a aumentar 1,6%. As projeções divulgadas nesta quarta-feira pelos pesquisadores
do Global Carbon Project parecem confirmar que a ilusão chegou ao fim: as emissões de CO 2 crescerão
cerca de 2,7% este ano, atingindo 37,1 gigatoneladas — um recorde na história da humanidade.

160 G1. Japão deixa comissão que protege baleias e anuncia volta da caça comercial. G1 Natureza. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2018/12/26/japao-deixa-
comissao-que-protege-baleias-e-anuncia-volta-da-caca-comercial.ghtml. Acesso em 27 de dezembro de 2018.
161 Manuel Planelles. Emissões Globais de CO 2 crescem e batem novo recorde. El País.
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/05/internacional/1544012893_919349.html?id_externo_rsoc=TW_BR_CM. Acesso em 07 de dezembro de 2018.

337
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Porque houve esse aumento? “Porque a economia global está crescendo bem, e de uma forma muito
coordenada entre os blocos econômicos mais importantes do mundo: Estados Unidos, Europa, Japão,
China...”, diz Pep Canandell, diretor do Global Carbon Project, um grupo de pesquisadores que
anualmente publica as projeções de emissões coincidindo com as cúpulas do clima, como a COP24, que
está sendo realizada em Katowice (Polônia). “Infelizmente, a capacidade das energias renováveis
instaladas não é grande o bastante para cobrir o crescimento da demanda global de energia. Portanto,
usinas de carvão que vinham funcionando abaixo de sua capacidade (a maioria na China) aumentaram
sua produção”, diz o especialista.
Atualmente, o aumento ou a redução das emissões anuais está nas mãos de quatro potências, que
acumulam quase 60% do CO2 do planeta: China, EUA, União Europeia (UE) e Índia. E em todas elas,
salvo na UE, estão previstos fortes incrementos em 2018.
A China é a principal emissora do mundo desde a década passada, com 28% do total de dióxido de
carbono do planeta. As projeções para 2018 indicam que suas emissões aumentarão 4,7%. Os EUA, em
segundo lugar na lista, registrarão um aumento de 2,5%. Já na UE a previsão é que haja uma diminuição
de 0,7%. Na Índia, a última grande potência emissora desse grupo de quatro grandes economias, estima-
se um aumento de 6,3% neste ano.

Carvão em alta novamente


Um dos dados que mais chamaram a atenção dos pesquisadores é o aumento das emissões do
carvão. O uso desse combustível fóssil, o mais poluidor, atingiu o ápice em 2013 e vinha sofrendo uma
queda contínua desde então. Mas em 2017 e 2018 houve uma retomada. “Essa mudança é um dos
principais motivos para o aumento das emissões em 2018”, dizem os pesquisadores do Global Carbon
Project. O uso foi maior na China e na Índia. Nos EUA, apesar das declarações de Donald Trump em
defesa do carvão, sua utilização caiu. Mais de 250 usinas térmicas foram fechadas desde 2010.
Outro dado de destaque é o crescimento contínuo do uso do petróleo (e de suas emissões). “Desde
2012, o consumo de petróleo cresceu 1% ao ano”, dizem os cientistas. Segundo eles, é “surpreendente”
o caso dos EUA e da UE, onde o emprego do petróleo aumentou apesar da melhora na eficiência dos
motores. “O número de veículos elétricos duplicou entre 2016 e 2018, chegando a quatro milhões. Mas
eles ainda são apenas uma pequena parcela da frota mundial”, advertem.

Um pouco de otimismo
Apesar dos dados ruins, Canandell destaca alguns aspectos que ensejam certo otimismo. Por um lado,
ele lembra que “as emissões do carvão ainda são mais baixas do que as registradas em seu ápice, em
2013”. “Embora não saibamos o que acontecerá com a China nos próximos anos, a queda das emissões
de carvão na Europa, EUA, Japão e Austrália é imparável”, afirma. Em segundo lugar, Canandell diz que
“a capacidade instalada de energia renovável no mundo dobra a cada quatro anos, algo sem dúvida
extraordinário”.
Talvez, além do aumento em 2018, um dos principais problemas agora é que não se vislumbra um teto
para as emissões. “Ninguém sabe quando poderá ser alcançado [o limite]”, diz o diretor do Global Carbon
Project, mas isso dependerá da “vontade das nações”. “É razoável pensar que talvez ainda precisemos
de outra década para que as energias renováveis alcancem um volume suficiente para competir com
os combustíveis fósseis”, completa.
“As emissões globais de CO2 devem começar a cair antes de 2020 para alcançarmos os objetivos
do Acordo de Paris”, afirma Christiana Figueres, ex-responsável da ONU para a mudança climática, num
artigo publicado nesta quarta-feira na revista Nature. O pacto de Paris, assinado em 2015, estabelece
como objetivo que o aumento da temperatura no final do século não passe de 1,5 ou 2 graus em relação
aos níveis pré-industriais. E o planeta já sofreu um aumento de um grau. “Já são evidentes os impactos
terríveis de um grau de aquecimento”, diz Figueres. “Os desastres provocados pelo clima em 2017
custaram 320 bilhões de dólares (1,2 trilhão de reais) à economia mundial, e ao redor de 10.000 vidas se
perderam.”

OS 19 PAÍSES QUE MOSTRAM O CAMINHO A SEGUIR


A maioria dos países contribui para o aumento global das emissões, informa o Global Carbon Project.
Mas também há importantes exceções – e a Espanha não está entre elas. As emissões continuam
crescendo ano após ano no país europeu, onde os gases do efeito estufa tiveram um crescimento de
cerca de 4,4% em 2017.
No entanto, os pesquisadores do Global Carbon Project ressaltam o caso de 19 países que respondem
por 20% das emissões de gás carbônico mundiais e que mostraram uma “tendência de queda” na última
década, entre 2008 e 2017, “enquanto sua economia continuou crescendo”.

338
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Esses países são: Aruba, Barbados, República Checa, Dinamarca, EUA, França, Groelândia [região
autônoma da Dinamarca], Islândia, Irlanda, Malta, Holanda, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Suécia,
Suíça, Trinidad e Tobago, Reino Unido e Uzbequistão.
No caso concreto da Espanha, Pep Canandell lamenta que o país tenha perdido a liderança mundial
em energias renováveis. Enquanto o resto do mundo aumenta a implantação de fontes limpas, na
Espanha elas estão estagnadas desde 2013. “É importante acelerar o plano para fechar as usinas
térmicas de carvão e ajudar na penetração de mais energias renováveis”, afirma o especialista. “A
Espanha tem um clima para voltar a liderar a grande transição energética”.

Conferência do clima começa na Polônia com apelo por mais ações162

COP24 reúne representantes de quase 200 nações e é vista como teste do comprometimento dos
países em implementar medidas para alcançar suas metas climáticas.
Negociadores de todo o mundo iniciaram neste domingo (02/12) em Katowice, na Polônia, duas
semanas de conversações sobre as mudanças climáticas e como implementar as medidas para manter
o aquecimento do planeta abaixo de 2 graus Celsius, definidos no Acordo de Paris em 2015.
O encontro recebeu um impulso neste fim de semana, quando 19 grandes economias, reunidas na
cúpula do G20 em Buenos Aires, reafirmaram seu comprometimento com o Acordo de Paris. A exceção
foram os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, anunciou que vai deixar o acordo.
Mesmo assim, o clima é de otimismo entre os ambientalistas. "A boa notícia é que sabemos muita
coisa sobre o que precisamos fazer para chegar lá", disse David Waskow, da ONG ambientalista World
Resources Institute.
Segundo ele, o momento é positivo apesar da decisão de Trump. "Não se trata mais de um ou
dois players na arena internacional. É o que eu chamaria de uma liderança distribuída, na qual você tem
um número de países – alguns pequenos ou médios – realmente fazendo progressos e trabalhando em
parceria com cidades e estados e empresas", declarou.
Na cerimônia de abertura, neste domingo, representantes dos países que organizaram as mais
recentes conferências do clima apelaram aos governos de todo o mundo para que tomem ações decisivas
para enfrentar a ameaça urgente do aquecimento global.
O apelo foi feito pelos presidentes das últimas quatro cúpulas do clima: ex-ministro do Meio Ambiente
peruano, Manuel Pulgar-Vidal (responsável pela COP20); ex-ministro do Exterior da França, Laurent
Fabius (COP21); o ministro do Exterior marroquino, Salaheddine Mezouar (COP22); e o primeiro-ministro
das Ilhas Fiji, Frank Bainimarama (COP23).
Na agenda da 24.ª Conferência de Partes (COP24) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para
as Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) estão compromissos de redução de emissões de
gases do efeito de estufa e questões como as novas tecnologias favoráveis ao clima, a população como
líder de mudança e o papel das florestas. A conferência é organizada pela Polônia pela terceira vez.

Terra perdeu 60% de seus animais silvestres em 44 anos, diz relatório 163

Pesquisa também mostra que 90% das aves têm plástico no estômago. Estudo foi baseado no
acompanhamento de 16.700 populações de 4 mil espécies.
Um levantamento divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) nesta terça-feira (30/10)
indica que o estilo de vida dos humanos tem impactado diretamente os ecossistemas e a vida selvagem
do planeta. As populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e
anfíbios, sofreram uma redução de 60% entre 1970 e 2014 devido à ação humana.
O 'Relatório Planeta Vivo' é baseado no acompanhamento de mais de 16.700 populações de 4 mil
espécies, utilizando câmeras, análise de pegadas, programas de investigação e ciências participativas.
Um dos indicadores mostra que o impacto crescente do lixo plástico nos oceanos interfere na qualidade
de vida de várias espécies, entre elas, as aves marinhas. Na década de 1960, apenas 5% das aves
tinham fragmentos de plástico no estômago. Hoje, o índice é de 90%.
"Preservar a natureza não é apenas proteger os tigres, pandas, baleias e animais que apreciamos (...).
É muito mais: não pode haver um futuro saudável e próspero para os homens em um planeta com o clima
desestabilizado, os oceanos sujos, os solos degradados e as matas vazias, um planeta despojado de sua
biodiversidade", declarou o diretor da WWF, Marco Lambertini.

162 DW. Conferência do Clima começa na Polônia com apelo por mais ações. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-br/confer%C3%AAncia-do-clima-
come%C3%A7a-na-pol%C3%B4nia-com-apelo-por-mais-a%C3%A7%C3%B5es/a-46543140. Acesso em 04 de dezembro de 2018.
163 G1. Terra perdeu 60% de seus animais silvestres em 44 anos, diz relatório. G1 Natureza. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2018/10/30/terra-perdeu-60-de-

seus-animais-silvestres-em-44-anos-diz-relatorio.ghtml. Acesso em 31 de outubro de 2018.

339
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
O Brasil é destaque no relatório. A floresta amazônica se reduz cada vez mais, do mesmo modo que
o Cerrado, diante do avanço da agricultura e da pecuária.
Por ano, uma área equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol de área verde desaparecem do
mapa por causa do desmatamento. Já as áreas de pastagens abandonadas em todo o país por quem
cria gado equivalem a duas vezes o estado de São Paulo - 50 milhões de hectares, segundo o estudo.
"Se chegarmos a 25% do desmatamento da Amazônia – e já estamos em 20% – a gente já vai chegar
ao chamado ponto sem retorno, a gente não vai conseguir recuperar o equilíbrio da floresta amazônica.
Estamos perto deste limite", diz Gabriela Yamaguchi, diretora de engajamento da WWF Brasil em
entrevista ao Bom Dia Brasil.
Em nível mundial, apenas 25% dos solos estão livres da marca do homem. Em 2050, isto cairá para
apenas 10%, segundo pesquisadores.
Sem florestas, os animais, como tatu-bola, correm o risco de extinção. Mas, os cuidados com a
preservação indicam que é possível reverter quadros, como o da população de onças pintadas, que teve
a população recuperada em 30%.
O declive da fauna afeta todo o planeta, com regiões especialmente prejudicadas, como os Trópicos.
Na área do Caribe e América do Sul, os dados apontam um quadro "aterrador": um declive de 89% em
44 anos.
América do Norte e Groenlândia sofreram as menores reduções da fauna, com 23%. Europa, Norte da
África e Oriente Médio apresentaram um declive de 31%.
A primeira explicação é a perda dos habitats devido à agricultura intensiva, à mineração e à
urbanização, que provocam o desmatamento e o esgotamento dos solos.

'Nossa oportunidade'
"O desaparecimento do capital natural é um problema ético, mas também tem consequências em
nosso desenvolvimento, nossos empregos, e começamos a ver isto", assinalou Pascal Canfin, diretor-
geral do WWF França.
"Pescamos menos que há 20 anos porque as reservas diminuem. O rendimento de alguns cultivos
começa a cair. Na França, o trigo está estancado desde os anos 2000. Estamos jogando pedras em nosso
próprio telhado".
Os economistas avaliam os "serviços devolvidos pela natureza" (água, polinização, estabilidade dos
solos e etc.) em US$ 1,25 trilhão anuais.
A cada ano, o dia em que o mundo já consumiu todos os recursos que o planeta pode renovar
anualmente chega mais cedo. Em 2018 foi em 1º de agosto.
"O futuro das espécies não parece chamar a atenção suficiente dos líderes" mundiais, alerta a WWF,
que defende "elevar o nível de alerta" e provocar um amplo movimento, como se fez pelo clima. "Que
todo o mundo compreenda que o status quo não é uma opção".
"Somos a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso impacto nela.
Poderemos também ser a última capaz de inverter esta tendência", advertiu a WWF, que pede uma ação
antes de 2020, "um momento decisivo na história". "Uma porta sem precedentes se fechará rápido".

Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão destruindo camada de


ozônio164

Nos últimos meses, cientistas de todo o mundo foram surpreendidos com um misterioso aumento das
emissões de gases que estão comprometendo, de forma drástica, a camada de ozônio que protege a
Terra.
Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter descoberto os responsáveis pelos danos ao meio
ambiente: espumas de isolamento térmico de poliuretano, produzidas na China para uso em residências.
A Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), com base no Reino Unido, identificou
a presença de CFC-11, ou clorofluorocarbonos-11, na produção dessas espumas na China. O composto
químico havia sido proibido em 2010, mas está sendo usado intensamente em fábricas chinesas.
O relatório da EIA apontou a construção de casas na China como fonte das emissões atípicas de
gases. Há dois meses, pesquisadores publicaram um estudo que mostrava que a esperada redução do
uso de CFC-11, banido há oito anos, havia desacelerado drasticamente.
Os pesquisadores suspeitavam que o composto continuava sendo usado em algum lugar do leste da
Ásia. Mas a fonte exata ainda era desconhecida.

164
BBC. Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão destruindo camada de ozônio. BBC Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44778158.
Acesso em 13 de julho de 2018.

340
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Especialistas tinham receio de que o CFC-11 pudesse estar sendo usado secretamente para
enriquecer urânio na produção de armas nucleares.
Agora, os pesquisadores dizem não ter dúvidas de que a fonte de produção do composto está
vinculada ao uso de espuma para isolamento térmico de casas.

'Agente expansor'
Os CFC-11 funcionam como um eficiente agente expansor na fabricação de espuma de poliuretano,
convertendo-as em isolantes térmicos rígidos usados, principalmente, como forro no teto de residências
para reduzir o custo da eletricidade e a emissão de carbono.
O EIA entrou em contato com fábricas de espuma de poliuretano em dez províncias na China. Depois
de várias conversas com executivos de 18 empresas, os investigadores concluíram que o composto
químico estava sendo usado na maioria dos isolantes de poliuretano produzidos pelas empresas.
A razão é simples: os CFC-11 têm melhor qualidade e são muito mais baratos que os produtos
alternativos. Apesar do CFC-11 ter sido banido, a fiscalização não é eficiente e, por isso, ele continua
sendo usado.
"Ficamos totalmente chocados ao descobrir que as empresas eram muito abertas em confirmar que
estavam usando o CFC-11 e, ao mesmo tempo, reconhecendo que era ilegal", disse à BBC Avipsa
Mahapatra, do EIA.
A EIA calcula que os gases produzidos na China estão ligados ao aumento das emissões observado
no relatório da agência em maio. No entanto, embora os achados da EIA sejam considerados plausíveis,
alguns especialistas acreditam que eles não explicariam, por si só, o atual elevado nível de emissão de
gases que tem comprometido a camada de ozônio.
Stephen Montzka, da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa, na Sigla em inglês),
disse à BBC que "o uso generalizado do CFC-11, que parece ser evidente na China com base no estudo
(do EIA), é bastante surpreendente".
Ele pondera, contudo, ser difícil analisar com precisão o cálculo das emissões provenientes do uso do
CFC-11 para "saber se é realmente possível que essa atividade explique tudo ou quase tudo que estamos
observando na atmosfera global".

Por que a descoberta da EIA é importante?


Ainda que o uso de CFC-11 em fábricas chinesas não seja o único ou mesmo o maior responsável
pela emissão de gases que estão destruindo a camada de ozônio, a descoberta do EIA é importante por
ter identificado que uma quantidade considerável de químicos ilegais continua sendo usada - com a
capacidade em potencial de reverter a já observada recuperação da camada de ozônio.
A espuma de poliuretano fabricada na China representa quase um terço da produção global desse
produto. Os pesquisadores calculam que a produção atrasará em uma década ou mais o objetivo de
fechar o buraco que permite os efeitos nocivos da radiação solar.
Como a China é signatária do Protocolo de Montreal - tratado de 1987, mas que entrou em vigor dois
anos depois -, seria possível impor sanções comerciais contra o país. Mas desde que o protocolo foi
firmado, há mais de 20 anos, nenhum país foi punido com sanções e dificilmente será esse o caso para
o uso de CFC-11 na China.
É provável que a China seja incentivada a reduzir a produção de CFC-11 e será aberta uma
investigação com o apoio do secretariado do Protocolo de Montreal para averiguar a situação no país.
Nesta semana, representantes do Protocolo de Montreal se reúnem em Viena, na Áustria, para
elaborar um plano na tentativa de solucionar o problema.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de poluição plástica 165

A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são consumidas no mundo; e todos os anos, 8 milhões
de toneladas de plástico são despejadas nos mares; secretário-geral da ONU suspendeu o uso de copos
plásticos no gabinete dele, segundo recado dado em redes sociais.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, marcado neste 5 de junho, tem como mensagem central a poluição
plástica principalmente nos oceanos. Segundo dados da agência ONU Meio Ambiente, todos os anos, 8
milhões de toneladas de plástico são jogadas nos mares.
Segundo a agência, se nada for feito, até 2050 os oceanos terão mais plástico que peixes. A ONU
Ambiente lançou a campanha “Acabe com a Poluição Plástica” ou #BeatPlasticPollution, na sigla em
inglês.
165Daniela Gross. No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de poluição plástica. <https://news.un.org/pt/story/2018/06/1625911> Acesso em 06 de junho de
2018.

341
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Coleta

Vários eventos estão sendo realizados pelo mundo como coletas de lixos nas praias e palestras de
conscientização sobre a importância de dizer não aos plásticos descartáveis. Por toda a semana passada,
a ONU frisou incluindo em mensagens pelo próprio secretário-geral, António Guterres, que se o utensílio
só pode ser usado uma vez, ele deve ser dispensado.
Guterres chegou a gravar um vídeo para as redes sociais dizendo que estava abolindo de seu gabinete
os copos de plástico.

Oceanos

A ONU News conversou com a coordenadora do Dia do Meio Ambiente no Brasil e também da
campanha Mares Limpos, Fernanda Daltro. De Brasília, ela explicou que o plástico é um dos maiores
desafios ambientais da era atual.
“O plástico se tornou um material presente em absolutamente todos os lugares do planeta, inclusive
nas regiões mais remotas. E esta poluição tem uma relação direta com a sociedade de consumo em que
a gente vive hoje. Este volume de lixo se mistura à cadeia alimentar. Todas as espécies nos oceanos
acabam tendo contato e se alimentando do plástico de uma forma ou de outra.”
Para celebrar o Dia do Meio Ambiente, o Comitê Olímpico Internacional, COI, anunciou uma parceria
com a ONU para combater o plástico descartável.
Atletas olímpicos de várias modalidades incluindo triátlon, surfe, e rúgbi se comprometeram em cortar
os utensílios de plástico.

5 trilhões de sacolas

A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são consumidas no mundo. Já a quantidade de sacolas
plásticas chega a 5 trilhões por ano.
De acordo com o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, já existe a consciência da
situação alarmante, mas os impactos de longo prazo desta crise ambiental sobre a saúde ainda são pouco
conhecidos.
Solheim comparou esta falta de informação ao pouco conhecimento que antes se tinha em relação ao
tabaco, ao pó de amianto e ao mercúrio.
Ainda na entrevista à ONU News, Fernanda Daltro da ONU Meio Ambiente, no Brasil, destacou a
importância da mudança na cabeça dos consumidores.

Canudo

“É muito importante entender que nós, como consumidores, temos um papel ativo e simples no
combate à poluição plástica. E este papel está em fazer escolhas melhores. Não apenas em relação ao
material, em deixar de usar o plástico descartável, em todas as situações, mas simplesmente abolir das
nossas vidas alguns itens que não têm real necessidade. É o caso do canudo, por exemplo, que não
chega a ter uma reciclagem e o consumo dele é relativamente desnecessário na maior parte das
situações. ”
Entre as recomendações da ONU Ambiente para acabar com a poluição plástica estão ações simples
que podem ser adotadas no dia a dia.
Entre elas, levar a própria sacola ao supermercado, recusar canudos e talheres de plástico, preferir
garrafas de água reutilizáveis, catar o plástico que encontrar na rua enquanto estiver caminhando e apoiar
políticas governamentais contra o uso único das sacolas de plástico.

Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no governo166

Para presidente da Anvisa, mudança em regra para agrotóxico põe em risco segurança dos brasileiros.
BRASÍLIA - Uma nova proposta de projeto de lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização
de agrotóxicos no País abriu uma crise dentro do governo, colocando o Ministério da Saúde, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ibama em rota de
colisão com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além da Frente Parlamentar
Agropecuária (FPA).
166BORGES, A. FORMENTI, L. Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no governo. Estadão. <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,projeto-de-lei-do-
agrotoxico-abre-crise-no-governo,70002295137> Acesso em 10 de maio de 2018.

342
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
A movimentação se intensificou devido à leitura do texto relatado pelo deputado Luiz Nishimori
(PR/PR), em audiência marcada para a próxima terça-feira, (08/05), na Comissão Especial da Câmara
que analisa o PL. De um lado, Ibama e Anvisa declaram que a proposta é inconstitucional e cercada de
falhas que prejudicariam a fiscalização, ameaçando a vida das pessoas. Do outro, o Mapa e a FPA
afirmam que o tema é tratado com “preconceito e ideologia” e que precisa ser modernizado.
O texto substitutivo, que foi juntado ao projeto de Lei 6.299/2002, de autoria do ministro da Agricultura,
Blairo Maggi, propõe mudanças profundas no setor, a começar pelo próprio nome com que esses
produtos são chamados.
Pela proposta, o termo “agrotóxico” deixaria de existir. Entraria em seu lugar a expressão “produto
fitossanitário”. A responsabilidade por conceder registros de novos agrotóxicos também mudaria de mãos.
Hoje Ibama, Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura tomam decisões de forma conjunta. Com a
mudança, o Ministério da Agricultura concentraria todo o poder decisório.
O Ibama e o Ministério da Saúde teriam apenas a função de homologar pareceres técnicos, mas essas
avaliações não seriam elaboradas por esses órgãos públicos. Caberia às próprias empresas interessadas
em vender os agrotóxicos a missão de apresentar essas avaliações.
O texto também acaba com os atuais critérios de proibição de registro de agrotóxicos no País. Segundo
o Ibama e a Anvisa, a proposta deixa brechas para que sejam vendidos no mercado nacional produtos já
banidos em boa parte do mundo, causadores de distúrbios hormonais e danos ao sistema reprodutivo.
Inconstitucional. O Estado obteve uma nota técnica do Ibama sobre o substitutivo ao projeto de lei. O
documento, assinado pela presidente do Ibama, Suely Araújo, foi concluído na semana passada. O órgão
se posiciona radicalmente contra o PL, sob o argumento de que “são propostas excessivas simplificações
ao registro de agrotóxicos, sob a justificativa de que o sistema atual está ultrapassado e de que não estão
sendo atendidas as necessidades do setor agrícola”.
Na avaliação do Ibama, trata-se de mudanças “inviáveis ou desprovidas de adequada fundamentação
técnica e, até mesmo, que contrariam determinação constitucional”.
A conclusão do órgão ligado ao MMA é de que as propostas “reduzirão o controle desses produtos
pelo poder público, especialmente por parte dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde e
do meio ambiente”.
“O registro dos agrotóxicos, com participação efetiva dos setores de saúde e meio ambiente, é o
procedimento básico e inicial de controle a ser exercido pelo poder público e sua manutenção e
aperfeiçoamento se justificam na medida em que seja, primordialmente, um procedimento que previna a
ocorrência de efeitos danosos ao ser humano, aos animais e ao meio ambiente”, informa a nota técnica.
Procurado pela reportagem, o Ibama não comentou a análise.

Retrocesso
Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa afirma que a proposta
em tramitação do Congresso representaria um retrocesso para o País. “O projeto muda para pior as
regras de registro de agrotóxicos”, avalia.
As críticas também são feitas entre especialistas em saúde pública. A pesquisadora da Fundação
Oswaldo Cruz de Pernambuco Aline Gurgel considera a mudança nas regras de registro de agrotóxicos
um atraso que pode colocar em risco tanto a saúde da população quanto o meio ambiente. “A regra atual
é moderna, equilibrada, pois dá um poder equivalente ao Ministério da Agricultura, à Anvisa e ao Ibama.
É inaceitável que Anvisa e Ibama, que hoje têm poder de veto, passem a exercer apenas um mero papel
consultivo”, completa a pesquisadora.
As críticas de Aline à proposta vão além da restrição do poder de veto da Anvisa e Ibama. A começar
da sugestão de tratar agrotóxicos por defensivos fitossanitários. “Isso provocaria a ocultação do risco. O
agrotóxico tem toxicidade. E isso precisa ficar claro para população. O termo precisa ser mantido.”
A pesquisadora é contrária também à regra que facilitaria o registro provisório de agrotóxicos. “Feitos
para algumas moléculas, esses registros baseiam-se em informações que constam em processos de
registro do produto em outros países, sem que haja a devida análise dos órgãos ambientais e de saúde.”
Aline rebate ainda a justificativa apresentada pelo projeto, de que regras atuais acabam levando a um
processo moroso de avaliação de aprovação de novos agrotóxicos para culturas brasileiras. “A análise
não pode ser simplista, movida por motivos econômicos. Estamos falando de saúde, de preservação do
meio ambiente.”

Ideologia e preconceito
O Ministério da Agricultura reagiu duramente às críticas. Em resposta encaminhada ao Estado, o Mapa
afirmou que, dos órgãos envolvidos na regulação de agrotóxicos no Brasil, é a Pasta, por meio da
Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), que de fato executa as fiscalizações federais de agrotóxicos.

343
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
“São feitas mais de 1.500 ações fiscais no Brasil por ano, com atingimento de mais de 99,9% de
conformidade nos produtos fiscalizados”, declarou. “Portanto, fiscalização é uma atividade realizada
eminentemente pelos órgãos de agricultura no Brasil, considerando a área de agrotóxicos.”
Sobre o texto do projeto de lei e o relatório final do deputado Luiz Nishimori, o Mapa afirmou que a
proposta “congrega uma série histórica de diversas demandas negligenciadas pelos órgãos federais nos
últimos 20 anos”. A Pasta admitiu que “alguns pontos devem ser discutidos em função de seu contexto e
origem”, mas sustenta que o relatório representa “uma iniciativa do legislativo de ajustar o marco legal e
permitir a modernização da legislação nacional”.
A respeito do termo “agrotóxico”, o ministério declarou que se trata de um “neologismo brasileiro, único
no planeta” e que este “reflete a intenção do legislador de comunicar o risco para produtos que possuem,
naturalmente, um perigo intrínseco”. Quanto à acusação do Ibama e Anvisa de que estes perderiam
funções de fiscalizar o setor, o Mapa declarou que, “no que tange ao registro e às prioridades para
produtos que serão usados fundamentalmente para controle de pragas nas lavouras brasileiras, é missão
indissociável do órgão federal de agricultura”.
Questionado sobre o risco de entrada de substâncias proibidas no País, o Mapa afirmou que o
“alinhamento da legislação é fundamental para trazer serenidade na regulação de agrotóxicos no Brasil,
diminuindo ruídos ideológicos e baseando a regulação unicamente em ciência”.
“O Mapa repudia ideias de exclusão dos entes de saúde e meio ambiente do meio regulatório, mas
entende que é necessário incrementar com recursos o corpo técnico, as ferramentas de informática e os
conceitos pétreos científicos para que mantenhamos a excelência e o reconhecimento internacional de
produção agropecuária”, conclui o Ministério.
O relator do texto substitutivo, deputado Luiz Nishimori, respondeu por meio da Frente Parlamentar
Agropecuária (FPA). Em nota, a frente esclareceu que, apesar do texto ser apensado ao PL de autoria
de Blairo Maggi, a proposta base foi criada a partir do PL 3200/15, de autoria do deputado Covatti Filho
(PP-RS).
Segundo a FPA, a atual avaliação de risco do agrotóxicos é “restritiva porque não leva em
consideração que, sempre que usados em respeito às boas práticas agrícolas, os defensivos não
oferecem riscos à saúde do agricultor, dos animais, das plantas, dos consumidores ou ao meio ambiente”.
A frente ruralista afirmou que “todos os parâmetros internacionais de avaliação de riscos aceitáveis
para a saúde humana, animal e para o meio ambiente estão mantidos” e criticou a demora na emissão
de registros de produtos.
“Hoje, demora-se de 8 a 10 anos para aprovar o registro de um novo produto. Muitas vezes, quando o
produto é autorizado, já está defasado. Em países como EUA e Austrália, por exemplo, o prazo médio de
registro é de três anos. A demora no registro de novos defensivos agrícolas no Brasil é um dos principais
gargalos da legislação”, declarou.

Ideia antiga
A proposta de afrouxar as regras para agrotóxicos no País não é nova. No ano passado, o governo
preparou uma Medida Provisória que facilitava o registro de agrotóxicos no País. Redigido pelo Ministério
da Agricultura com a colaboração do setor produtivo, o texto criava uma brecha para o uso de defensivos
que atualmente são classificados como cancerígenos, com risco de provocar má-formação nos fetos ou
capacidade de provocar mutações celulares. Pelas regras atuais, qualquer produto que se encaixe nessas
características é proibido de ser lançado no Brasil. No texto proposto na MP, esses empecilhos cairiam
por terra. Bastaria que algumas condições fossem atendidas para reduzir os riscos desses efeitos.

Risco
A proposta em tramitação no Congresso para mudar as normas de registro de agrotóxicos colocaria
em risco a saúde dos trabalhadores do campo, reduziria a segurança dos brasileiros em geral e, ainda,
poderia provocar danos para a imagem de produtos brasileiros no mercado externo, afirma o presidente
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa. “Seria muito prejudicial. Torço para
não ser aprovada.”
Em entrevista ao Estado, Barbosa afirma que seria um erro retirar a Anvisa e o Ibama da análise dos
pedidos de registro de agrotóxicos, como propõe o projeto. A atribuição ficaria a cargo do Ministério da
Agricultura. “Mas quem vai fazer a avaliação do impacto à saúde ou ao meio ambiente? O Ministério da
Agricultura não tem experiência acumulada para fazer avaliação toxicológica. Seria um retrocesso
imenso.” Teoricamente, Ibama e Anvisa atuariam numa comissão criada para fazer a avaliação, mas sem
poder de veto. “O Brasil vai passar a dar registro só levando em conta as necessidades da indústria
agrícola?”, questiona.

344
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
Para o setor produtivo, o sistema atual é muito burocrático e lento, o que acabaria reduzindo as
chances de entrada no mercado de novos produtos, mais baratos, eficientes e portanto essenciais para
tornar a produção brasileira mais competitiva no mercado internacional.
O presidente da Anvisa, no entanto, tem uma avaliação diferente. Ele alerta que uma mudança de
regras tem impacto negativo também no mercado externo. “A ideia será a de que o País abriu mão de
uma regulação mais séria”, ponderou. O impacto no mercado interno também seria significativo.

Questões

01. (UFRR - Assistente Social - UFRR - 2018) A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC,
Lei nº 12.187/2009) aponta as diretrizes de enfrentamento da mudança climática que o Brasil deve
executar para a redução de emissão de gases do efeito estufa, reduzindo a vulnerabilidade dos sistemas
naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima. Sobre este tema:
(A) Os estudos relacionados a mudanças climáticas e os efeitos na saúde das populações comprovam
que não há relação direta entre a ação humana na natureza e a propagação de doenças.
(B) A interferência humana no clima vai alterar a terra, os mares e a atmosfera por milhares de anos.
(C) Os cientistas têm denominado como antropoceno a ação humana que altera o clima do planeta.
(D) O foco dessa política é o combate do desmatamento no bioma Amazônia.
(E) Considera-se mudança climática as ações que possam ser diretas ou indiretamente atribuídas à
atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial, gerando impactos nos ecossistemas
naturais.

02. (UFRR - Assistente Social - UFRR - 2018) “Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior
consumidor de agrotóxicos do mundo. Os impactos na saúde pública são amplos, atingem vastos
territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como trabalhadores em diversos ramos de
atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós, que consumimos alimentos
contaminados. Tais impactos estão associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado
prioritariamente para a produção de bens primários para exportação.” (Dossiê ABRASCO: um alerta sobre
os impactos dos agrotóxicos na saúde, 2015).

Com base nessa afirmação, assinale a alternativa incorreta.


(A) A PL 6.299/2002, prevê a criação da Comissão Técnica Nacional de Fitossanitários (CNTFito), que
em suas atribuições avaliará quais agrotóxicos seriam liberados, desde que não haja um “risco
inaceitável” na sua utilização.
(B) Os serviços e os profissionais da saúde estão devidamente capacitados para diagnosticar os
efeitos relacionados com a exposição aos agrotóxicos, tais como neuropatias, imunotoxicidade,
alterações endócrinas, neoplasias, entre outros danos à saúde.
(C) Um terço dos alimentos consumidos, cotidianamente, pelos brasileiros está contaminado pelos
agrotóxicos, segundo análise de amostras coletadas em todas os 26 estados do Brasil, realizada pelo
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa (2011).
(D) Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de soja, milho, algodão e gado bovino, e no ano de 2010
cultivou 9,6 milhões de hectares entre soja, milho, algodão e cana e pulverizou nessas lavouras cerca de
110 milhões de litros de agrotóxicos (IBGE, 2011).
(E) Outra situação que deve merecer a atenção da saúde pública são as plantas transgênicas direta
ou indiretamente destinadas à alimentação humana, uma vez que utilizam o uso de agrotóxicos em sua
produção.

03. (TRF-5ª Região – Analista Judiciário – FCC) Desenvolvimento Sustentável


(A) envolve iniciativas que concebem o meio ambiente de modo articulado com as questões sociais,
tais como: saúde, habitação e educação, e que estimulem uma visão acrítica da população acerca das
questões ambientais.
(B) e crescimento econômico são sinônimos, significando atividades de incentivo ao desenvolvimento
do país, seguindo modelos de avanço tecnológico e científico.
(C) significa crescimento da economia, demonstrado pelo aumento anual do Produto Nacional Bruto
(PNB) combinado com melhorias tecnológicas e ganhos sociais relevantes.
(D) pode ser alcançado somente através de políticas e diretrizes governamentais de estímulo à
redução do crescimento populacional do país, tendo em vista que a dinâmica demográfica exerce forte
impacto sobre o meio ambiente em geral e os recursos naturais em particular.

345
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA
(E) significa crescimento econômico com utilização dos recursos naturais, porém com respeito ao meio
ambiente, à preservação das espécies e à dignidade humana, de modo a garantir a satisfação das
necessidades das presentes e futuras gerações.

Gabarito

01.E / 02.B / 03.E

Comentários

01. Resposta: E.
O termo “mudança do clima” ou “mudança climática” normalmente refere-se à variação do clima que
pode ou não ser resultado da ação do homem. Acontece em escala global ou dos climas regionais do
planeta ao longo do tempo.

02. Resposta: B.
Os serviços e os profissionais de saúde nunca foram e não estão devidamente capacitados para
diagnosticar os efeitos relacionados com a exposição aos agrotóxicos, tais como, as neuropatias, a
imunotoxicidade, as alterações endócrinas, os efeitos sobre o sistema reprodutor, sobre o
desenvolvimento e crescimento e na produção de neoplasias, entre outros efeitos negativos. Sem esses
diagnósticos, não se evidenciam as enfermidades vinculadas aos agrotóxicos, e essas se ocultam, em
favor dos interesses de mercado (Carneiro, 2012, pág. 49).
(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572012000100005)

03. Resposta: E
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e
propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
(http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/)

346
1564938 E-book gerado especialmente para JESSYCA SILVEIRA SOUZA

Você também pode gostar