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CESEC DE ITAMARANDIBA

ENSINO FUNDAMENTAL

História

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Telefone: 38 3521-1371
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Estudante, este é o seu material de estudos em História.


Ele contempla os cinco (5) módulos do Ensino Fundamental.
Você não poderá escrever, desenhar ou fazer quaisquer outras
interferências neste material, pois ele será usado por outros alunos.
As atividades complementares deverão ser resolvidas (a lápis) no
caderno ou em folha separada. (Não escreva na apostila).
Todas as vezes que vier ao CESEC para estudar, traga-o consigo.
Ao encerrar os estudos, devolva-o para seu professor!
Para obter bons resultados, é importante manter-se focado nos estudos. Para
isso, é importante que venha ao CESEC todas as semanas e quantas vezes forem
possíveis.
O contato direto com o professor para sanar dúvidas e receber orientações é
de suma importância para seu crescimento intelectual, assim como a convivência
com os demais funcionários do CESEC e colegas de estudos. Isso muito contribui
para seu crescimento pessoal e social.

Desejamos sucesso em sua caminhada estudantil!

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GOVERNO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DE DIAMANTINA
CESEC DE ITAMARANDIBA

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ATIVIDADES COMPLEMENTARES DE HISTÓRIA ENSINO FUNDAMENTAL - PLANO 1 E TESTE 1


Módulo I
PÁG 9 Nº 1
PÁG 12 Nº 1
PÁG 29 Nº 1
PÁG 42 Nº 1
PÁG 51 Nº 1 ( a e b)
PÁG 61 Nº 1
PÁG 79 Nº 1
PÁG 81 Nº1
ATIVIDADES COMPLEMENTARES DE HISTÓRIA ENSINO FUNDAMENTAL - PLANO 2 E TESTE 2
Módulo II
PÁG 10 Nº 1 e 2
Atividade 2 O PAPEL DO ESTADO
PÁG 22 Nº 1
PÁG 35 Nº 1 e 2
PÁG 46 Nº 2
PÁG 67 Nº 2
ATIVIDADES COMPLEMENTARES DE HISTÓRIA ENSINO FUNDAMENTAL - PLANO 3 E TESTE 3
Módulo III
PÁG 10 Nº 1
PÁG 17 Nº 1
PÁG 22 Nº 1
PÁG 41 Nº 1
PÁG 44 Nº 2
PÁG 62 Nº 2
PÁG 73 Nº 2
PÁG 103 PENSE SOBRE

ATIVIDADES COMPLEMENTARES DE HISTÓRIA ENSINO FUNDAMENTAL - PLANO 4 E TESTE 4


Módulo IV
PÁG 10 Nº 1
PÁG 12 O QUE VOCÊ JÁ SABE
PÁG 15 Nº 1 e 2
PÁG 20 Nº 1 e 2
PÁG 35 Nº 2
PÁG 44 Nº 1

ATIVIDADES COMPLEMENTARES DE HISTÓRIA ENSINO FUNDAMENTAL PLANO 5 E TESTE 5


Módulo V
PÁG 57 Nº1
PÁG 59 Nº 2
PÁG 63 Nº 1
PÁG 68 Nº1
PÁG 57 Nº1
PÁG 86 Nº 1
PÁG 57 Nº1
PÁG 87 DESAFIO
PÁG 57 Nº1
PÁG 97 Nº 1 letra ( a)
CESEC DE
ITAMARANDIBA

HISTÓRIA
Ensino Fundamental

Módulo I
(1° Teste)
HISTÓRIA

SUMÁRIO

Unidade 1 – Porque estudar História ...........................................................3

Tema 1 – Você e a História...............................................................................................................................................


Tema 2 – A sociedade em que você vive e a História .....................................................................................

Unidade 2 – Trabalho, capitalismo e sociedade .................................................................... 21

Tema 1 – O trabalho............................................................................................................................................................
Tema 2 – O capitalismo ...................................................................................................................................................
Tema 3 – Organização do trabalho e da sociedade ontem e hoje............................................................

Unidade 3 – O feudalismo e a transição para o capitalismo ................................................. 45

Tema 1 – O feudalismo na Europa ............................................................................................................................


Tema 2 – O mundo feudal ..............................................................................................................................................
Tema 3 – As relações de trabalho no feudalismo..............................................................................................
Tema 4 – A crise no feudalismo e a transição para o capitalismo...........................................................

Unidade 4 – A consolidação do capitalismo .......................................................................... 74

Tema 1 – A Revolução Industrial ............................................................................................................................. .....


Tema 2 – A manufatura ...................................................................................................................................................
Tema 3 – A grande indústria ........................................................................................................................................
Tema 4 – A Revolução Francesa ............................................................................................................................. .......

1
Caro(a) estudante,

Neste Caderno do Volume 1, o objetivo é contribuir para que você entenda, por
meio do estudo da História, isto é, por meio do estudo das ações humanas ao longo
do tempo, como o mundo em que você vive foi formado e desenvolvido. O tema
abordado ao longo deste e dos outros Cadernos de História é o mundo do trabalho,
suas características antigas e atuais, e como ele foi se constituindo historicamente.

Nesse sentido, vale perguntar: Você sabe qual é a importância da História?


Por que o estudo da História pode contribuir para você compreender melhor seus
problemas? Essas e outras perguntas serão esclarecidas na Unidade 1.

Você já ouviu falar do capitalismo? Provavelmente, já escutou essa palavra,


mas talvez tenha dificuldade em explicar o que é. Ao estudar a Unidade 2, você
poderá compreender algumas características do sistema capitalista, e, com isso,
uma parte da realidade em que você vive.

Depois de entender alguns aspectos básicos que caracterizam o capitalismo,


você poderá se perguntar: “Será que ele sempre existiu? Será que o mundo sempre
foi assim?”. Afinal, várias gerações antes da sua já viveram no sistema capitalista.
A resposta vai surpreender você! Houve outros sistemas econômicos antes do
capitalismo, bem como existem outros sistemas econômicos no mesmo período
que ele, em lugares diferentes do mundo.

Para entender as origens desse sistema econômico, você vai estudar um


período específico da História europeia, já que foi na Europa Ocidental que ele
surgiu. Assim, na Unidade 3, você estudará a sociedade feudal e o feudalismo e
perceberá que já existiram sociedades muito diferentes das de hoje, inclusive no
aspecto do trabalho.

Essa Unidade esclarecerá a você as seguintes questões: É possível identificar em


que momento o capitalismo se tornou o sistema econômico dominante, ou seja,
o mais adotado no mundo? Em outras palavras, quando e por que o feudalismo
terminou e quando começou o tipo de organização econômica, política e social que
deu origem ao modelo que vivemos hoje?

À medida que o feudalismo entrou em crise, sobretudo a partir dos séculos XIII
e XIV, as formas capitalistas de produção foram se desenvolvendo lentamente, ao
longo de séculos, e se completaram com as Revoluções Industrial e Francesa, que
alteraram definitivamente os rumos das sociedades atuais. Esses assuntos serão
explicados na Unidade 4, que encerrará este Caderno.

Bons estudos!

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HISTÓRIA
UNIDADE 1
POR QUE ESTUDAR HISTÓRIA?

TEMAS
1. Você e a História
2. A sociedade em que você vive e a História

Introdução
Para conhecer o modo como as pessoas viviam e se relacionavam em épocas
diferentes, os historiadores pesquisam e contam com muitos registros, que são
considerados documentos históricos (entre eles, documentos escritos – como
certidões de nascimento, cartas, testamentos – e também documentos não escritos –
como pinturas, vestimentas etc.). Para o historiador, todo detalhe é importante.

Você já ouviu, de diferentes pessoas, histórias sendo contadas de formas


diferentes? Isso também acontece com a História do Brasil e do mundo.
Só que os historiadores usam métodos científicos, ensinados e desenvolvidos
em universidades e centros de pesquisa, para interpretar, analisar e escrever
o que se passou na História. Mesmo assim, nenhuma ciência é neutra, ou seja,
sempre existe um motivo ou uma intenção para relatar os fatos de uma maneira
ou de outra. As perguntas que o historiador faz quando analisa os documentos,
bem como a interpretação que ele dá aos dados, permitem que a História seja
interpretada de diferentes modos.

A História que você vai estudar também pode ser contada de várias maneiras,
ou seja, de acordo com pontos de vista distintos. Por exemplo: um historiador
pode relatar um fato dando maior importância ao desenvolvimento econômico
de um país em determinado período; mas outro historiador pode contar a mesma
história, com base no que ocorreu com os trabalhadores, e assim por diante.

É comum aprender que o Brasil foi “descoberto” por Pedro Álvares Cabral,
não é mesmo? Essa história também é contada de outra forma, isto é, a partir da
visão dos povos indígenas. Imagine que você é um índio que sobrevive da caça e
da pesca, na sua terra, com seus hábitos e em um determinado momento chegam
enormes embarcações, com pessoas vestidas de uma maneira diferente e falando
uma língua que você não entende. De que forma você contaria esse acontecimento?
Os portugueses contaram de um jeito e os povos indígenas, de outro.

É sobre isto que a História trata: conhecer as ações humanas ao longo do tempo
e refletir sobre elas para compreender melhor o mundo de hoje.

Para você se familiarizar com o estudo da História, a Unidade 1 vai explicar


esses assuntos.

4
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UNIDA

IMPORTANTE!
Nos textos históricos, ao invés de dias, semanas e meses, é muito frequente contar o tempo
em séculos, de modo a identificar períodos em que ocorreram fatos ou grandes mudanças
na sociedade.

Para relembrar, então, como são contados os séculos, primeiro é preciso saber que o marco
inicial do calendário cristão é o nascimento de Jesus Cristo. Portanto, um século é cada
período de 100 anos contados a partir do ano 1, e quando você encontrar as siglas a.C. e
d.C. ao final de determinado século ou ano, saiba que elas estão indicando antes de Cristo
(a.C.) e depois de Cristo (d.C.).

O século I d.C., por exemplo, começou no ano 1 e terminou no ano 100, o século II durou
do ano 101 ao ano 200 e assim sucessivamente: o século XXI começou em 2001 e terminará
em 2100.

E como saber a qual século pertence determinado ano?

Todos os anos que terminam em 00 já indicam o próprio século. Basta cortar esses dois
zeros. Por exemplo, o ano 1500 (1500) pertence ao século XV.

Agora, para os anos que não terminam em 00, o procedimento é outro. Basta somar 1 aos
dois primeiros algarismos. Assim, para o ano de 1501 (1501), é só somar 1 ao 15, o que tota-
liza 16. Portanto, o ano 1501 já pertence ao século XVI.

E, como você viu neste texto, e verá em muitos outros no seu Caderno, os séculos são nor-
malmente indicados com algarismos romanos. É comum se confundir com eles, pois são
formados pela combinação de diferentes símbolos. Para que você possa interpretá-los ade-
quadamente, o quadro a seguir pode ajudá-lo:

I=1 V=5 X = 10 L = 50 C = 100 D = 500 M = 1.000

TEMA 1 Você e a História

A proposta deste Tema é levar você a refletir sobre como as situações reais da
sua vida articulam-se aos acontecimentos históricos mais amplos, que interferem
na vida de muitas pessoas e até mesmo na história de países inteiros. Por exemplo:
se você está ou já esteve desempregado, essa situação, que aparentemente é só
sua, pode ter ligação com uma crise que o país enfrentou ou enfrenta.

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UNIDADE 1

Você já percebeu, no seu dia a dia, problemas que não são só seus, mas de
várias pessoas? Pois saiba que muitos desses problemas podem ser considerados
fenômenos históricos, por atingirem parte da sociedade.

Registre, nas linhas a seguir, exemplos de fenômenos históricos que você pode
dizer que fazem parte da sua história e da história dos seus familiares.

A História na sua vida


Para entender como a História está presente na sua vida, lembre-se de uma
situação real pela qual você tenha passado: por exemplo, a procura por um
emprego. Se isso nunca aconteceu com você, certamente aconteceu com algum
conhecido seu.

Na busca por emprego, você talvez tenha encontrado dificuldades de vários


tipos. Por vezes, elas provocam desânimo, pois nem sempre a vaga desejada
está disponível.

REFLITA!
Quais são as dificuldades que você já viveu na busca por emprego? Por que, em sua opinião,
elas existem? Por que isso acontece? Será que você sozinho consegue resolver as dificuldades
enfrentadas na hora de arrumar emprego?

6
UNIDA

É comum ser responsabilizado pelo desemprego, mas é importante perceber


que a explicação para essas dificuldades não está necessariamente em quem está
desempregado, mas sim na História da sociedade. Por exemplo, em algum momento
da História do Brasil, pode haver alguma crise econômica que impeça as empresas
brasileiras de exportarem e venderem seus produtos; com isso, elas perdem dinheiro
e demitem muitos trabalhadores, ou não contratam mais ninguém, gerando, assim,
uma crise de emprego. Mas em algum momento seguinte, por motivos econômicos
que a História pode ajudar a explicar, acontece uma grande procura por produtos de
empresas brasileiras e elas voltam a exportar, retomando, com isso, a produção em
alta escala e a contratação de novos funcionários.

Portanto, é possível dizer que o desemprego tem diversas razões que podem ou
não atuar juntas. Entre elas, destacam-se:

• razões pessoais: ligadas às dificuldades que cada trabalhador enfrenta para


encontrar emprego ou qualificar-se para o mercado de trabalho;

• razões históricas: relacionadas à sociedade e ao mundo em que vivemos.

Com relação às razões históricas, pode-se afirmar que aqueles que procuram
um emprego encontram obstáculos que não podem ser superados apenas por sua
ação imediata ou individual. É o que ocorre, por exemplo, quando são adotadas
novas tecnologias, que podem contribuir para a demissão de trabalhadores.
O mesmo acontece quando não há redução da jornada de trabalho pelas empresas
(de modo que menos pessoas trabalham mais, impedindo a contratação de outros
funcionários); quando uma fábrica local fecha para se instalar em outra cidade
com o objetivo de reduzir custos ou impostos; quando falta terra para o pequeno
trabalhador rural, entre outros fatores.

Todos esses são exemplos de problemas que afetam a situação do emprego


no Brasil e no mundo, mas que não podem ser combatidos individualmente pelo
trabalhador. Nesse sentido, o desemprego é um problema social, ou seja, faz parte
da sociedade e está relacionado ao momento econômico, político e cultural pelo
qual um país passa ou já passou. Portanto, ele está relacionado à História do país.

Isso significa que muitos dos problemas presentes em uma sociedade podem
permanecer muito tempo ou então mudar, de acordo com a própria transformação
da História.

O entendimento desses problemas não é simples, visto que é preciso voltar


anos e anos para conhecer onde e como determinadas decisões foram tomadas.
Portanto, para compreender fenômenos, como o desemprego, e outros assuntos da
vida, é importante buscar sua origem e sua explicação ao longo da História.

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UNIDADE 1

E se houvesse emprego para todas as pessoas? Ou se todos fossem donos


dos seus próprios negócios? Como seria? Será que alguém precisaria sair para
procurar emprego? Será que, em algum momento da História, a situação dos
trabalhadores foi diferente?

Uma das formas de você organizar o seu estudo é produzir resumos dos tex-
tos lidos.
O resumo é um gênero textual que se caracteriza por apresentar, de forma
curta e objetiva, as ideias principais de um determinado texto, sem adicionar
dados além daqueles já presentes no original. Para escrever um resumo, é impor-
tante fazer os seguintes procedimentos:
• antes mesmo de iniciar a leitura, verifique o título e quem é o autor. Observe,
também, quando o texto foi feito. Identificar quem é o autor e em que momento
histórico foi escrito pode ajudá-lo a compreender melhor o texto, pois é possível
relacionar essas informações com alguns dados que estão no texto;
• na primeira leitura, fique atento e levante hipóteses a respeito do objetivo e da
intenção do autor ao escrever o texto, bem como qual é o assunto principal. Essas
observações já lhe dão pistas sobre o que você está lendo;
• na segunda leitura do texto, busque identificar as ideias principais que nele apa-
recem. À medida que a leitura gera a compreensão do texto, há um processo de
redução das informações e de construção de um resumo mental, ressaltando as
ideias principais e desprezando as secundárias. Esse resumo mental é útil para que
você, a partir dele, faça seu resumo escrito;
• procure expor as ideias do autor de forma clara e objetiva. Para tanto, inicie suas
frases com expressões, como “o autor afirma que”, “o autor nega que”, “o autor
argumenta que”, “o autor discute que”;
• para explicar as ideias principais, não copie partes do texto; além disso, elimine
tudo o que for supérfluo;
• seja fiel ao texto original e não faça avaliações a respeito do que o autor escreveu.
No resumo, não cabem críticas ao que o autor expôs;
• ao terminar, revise o que você escreveu e, se possível, peça a um conhecido que
leia o seu texto. Pergunte para essa pessoa: É possível compreender as ideias colo-
cadas no resumo?
Muito bem, depois de realizar essas etapas, é o momento de passar o seu
texto a limpo.

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UNIDA

ATIVIDADE 1
A História na sua vida
Faça um resumo do texto A História na sua vida. Procure selecionar somente as
ideias principais do que você acabou de ler.

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UNIDADE 1

Organizando-se para buscar um emprego


Você sabe o que fazer para procurar um emprego?

Em primeiro lugar, é importante que você reconheça suas qualidades, o que


gosta de fazer, quais seus conhecimentos e suas preferências. Valorize o que já
fez profissionalmente ou alguma atividade que faz em casa e que poderia ser
transformada em sua profissão.

Se você já trabalha em uma área na qual pretende continuar e/ou já sabe qual
ocupação quer seguir, valorize seus conhecimentos que são mais relacionados com
essa área.

Caso pretenda mudar de área, mas ainda não saiba o que gostaria de fazer,
você pode:

• buscar nas características e nos indicadores de emprego do seu município


as oportunidades mais requisitadas. No Estado de São Paulo, o governo possui
os Postos de Atendimento ao Trabalhador (PAT), que ajudam o(a) trabalhador(a)
na busca por um emprego. Nesses lugares, também existem cursos de capacita-
ção gratuitos aos trabalhadores, e também é possível fazer a Carteira de Trabalho.
Se você precisar, procure informar-se, em seu município, se há um PAT. No caso
do município de São Paulo, a prefeitura é responsável pelos Centros de Apoio
ao Trabalhador (CAT);

• identificar, com base na reflexão sobre seus conhecimentose suas preferências,


as suas maiores potencialidades, isto é, aquilo que você tem mais capacidade e
jeito para fazer.

Concluída essa etapa, você precisa organizar seus documentos e elaborar um


currículo que valorize seus conhecimentos para atuar na área pretendida.

Certificados emitidos por escolas são documentos importantes, mas não são
a única forma que os empregadores e as empresas utilizam, atualmente, para
conhecer possíveis futuros empregados. Vários outros meios são utilizados: análise
de currículo, entrevistas individuais, entrevistas coletivas ou dinâmicas de grupo,
referências obtidas com outros empregadores etc.

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UNIDA

É claro que buscar um emprego ou ser um empregado não é a única possibilidade


que você tem para trabalhar e conseguir uma fonte de renda. Também é possível
desenvolver-se como empreendedor e, a partir de seus conhecimentos, suas
qualidades e suas preferências, abrir uma empresa ou tornar-se um prestador
de serviços. Nesse sentido, há instituições, como a Caixa Econômica Federal, e
programas sociais destinados ao pequeno empreendedor criados pelos governos
federal, estadual e municipal, que oferecem microcrédito, a juros baixíssimos, para
você iniciar o seu negócio. Existem ainda instituições, como o Senac e o Sebrae, que
oferecem cursos e consultoria para ajudá-lo a montar um projeto, ou seja, colocar,
no papel, a sua ideia de empreendimento. Pesquise!

Seus conhecimentos
Desde o momento em que nasce, você aprende muitas coisas. Apenas uma
parte do que você sabe foi aprendida na escola e/ou formalmente, por meio de
cursos, experiências de trabalho, entre outros.

Muitos conhecimentos foram aprendidos no ambiente familiar, no seu círculo


de amigos, nas ruas ou em qualquer outro lugar. Há muitas coisas que não se têm
ideia de como se aprende. E, algumas vezes, você não dá o devido valor a esses
conhecimentos acumulados.

Se você pensar em sua experiência de vida, poderá observar que nem todos os
conhecimentos são iguais e que cada um tem a sua importância.

Existem conhecimentos:

• que são de tipos diferentes: relacionados às formas de comunicação (fala, escrita),


aos números (cálculos), à motricidade (forma e destreza nos movimentos), aos
esportes, entre outros;

• que você aprende em lugares diferentes: por exemplo, na escola (saberes que podem
ser considerados de natureza científica, filosófica ou artística); no trabalho (sabe-
res técnicos relacionados às ocupações); na família e na vizinhança (saberes de
relacionamento, que se baseiam no convívio, na intuição, na afetividade); em
revistas e jornais; assistindo à televisão (saberes relacionados às atualidades, à
História e à Arte); em sindicatos, associações de bairro e partidos (saberes relacio-
nados à participação na comunidade e à política). Cada um desses tipos de saberes
aprendidos em um lugar pode ser aplicado em outro lugar;

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UNIDADE 1

• que você aprende de maneiras diferentes: pense em uma pessoa que pratica um
esporte. Para aprendê-lo, ela pode repetir o mesmo gesto muitas vezes, ouvir ins-
truções ou simplesmente observar atentamente outros esportistas para que con-
siga fazer igual ou melhor. É possível, também, aprender a operar um computador
ou cozinhar de diferentes formas: ouvindo instruções; refletindo; comparando;
analisando; entendendo os procedimentos etc. Isso acontece com a maioria dos
conhecimentos científicos.

Diante dessas diversas possibilidades de aprendizagem, a questão, portanto,


não é pesar quais saberes e conhecimentos valem mais ou valem menos.
Conhecimentos são mais ou menos importantes (ou mais ou menos úteis)
conforme o objetivo de cada um, em cada momento.

ATIVIDADE 2
Recontando sua história de vida
O objetivo desta atividade é ajudá-lo a identificar seus conhecimentos, com
base em um balanço daquilo que você sabe fazer e das experiências pelas quais
já passou.

Relembre as experiências e as aprendizagens mais significativas que você


vivenciou até hoje. Procure pensar tanto naquilo que você considera conhecer
suficientemente bem quanto no que acha necessário melhorar.

1 Veja, a seguir, alguns exemplos de conhecimentos gerais que são importantes


para qualquer atividade profissional. Na coluna apropriada, indique aqueles em
que você se sai bem e aqueles que precisa aprimorar.

Conhecimentos Faço bem Preciso aprimorar


Entender textos de cartazes, revistas, jornais
e outras publicações.

Organizar meu tempo para fazer diferentes atividades.

Organizar as ideias antes de escrever um texto.

Falar com clareza e objetividade.

Defender de forma adequada um ponto de vista.

Respeitar as opiniões das pessoas.

Lidar com as diferentes operações matemáticas,


frações e porcentagens.

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UNIDA

2 Agora, complete as tabelas com os seus dados, segundo os itens a seguir.

a) Conhecimentos relacionados às suas experiências de trabalho:

Conhecimentos Faço bem Preciso aprimorar

b) Conhecimentos relacionados às suas experiências de vida:

Conhecimentos Faço bem Preciso aprimorar

c) Aspectos do seu jeito de ser e de agir que considere positivos e que


possam ser vistos como qualidades no mercado de trabalho:

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UNIDADE 1

LEMBRE-SE!
É muito importante ter toda a documentação sempre organizada, atualizada e em bom estado
de conservação.

Assim, em uma pasta, preferencialmente com folhas plásticas, separe e arquive cópias:

• dos documentos pessoais: CPF, RG, carteira de motorista, título de eleitor e comprovante da
última votação e, para os homens, o certificado militar regularizado;

• dos documentos relativos às atividades profissionais que já realizou, como cartas de reco-
mendação, entre outros;

• dos certificados de cursos de qualificação profissional de que participou;


• dos certificados escolares que possui.

Plano de busca de trabalho ou emprego


Considerando os apontamentos analisados por você anteriormente – o que faz
bem e o que precisa aprimorar –, reflita sobre três tipos de trabalho ou emprego
que você gostaria de realizar.

Em relação a esses trabalhos, quais são os conhecimentos que o qualificam


para fazê-los?

Observando o exemplo a seguir, pense sobre seus objetivos e pontos fortes,


os meios e recursos que você vai utilizar para procurar trabalho ou emprego,
e quando vai fazê-lo.

Plano de busca de trabalho ou emprego

Objetivo Meus pontos fortes Como procurar Quando procurar

Já trabalhei em uma oficina na


Trabalhar em cidade onde morava. Em jornal.
Amanhã.
uma oficina Com meu vizinho
Sei consertar motores de No próximo fim de
mecânica de que trabalha em
automóveis. semana.
automóveis. uma oficina.
Realizo bem tarefas em grupo.

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UNIDA

Preparando-se para o momento de se apresentar a um empregador


Preparar-se para se apresentar a um empregador implica diferentes atividades,
como redigir um currículo e saber como participar de uma entrevista de emprego.

Agora, você será orientado sobre como fazer um currículo. Esse documento
sintetiza os seus conhecimentos e saberes, para que as pessoas possam ter uma
ideia de tudo o que você já fez e/ou sabe fazer profissionalmente.

Os dados que devem constar em um currículo, para tornar sua apresentação


mais adequada, são:

• nome completo;

– outros dados pessoais, como idade, estado civil e número de filhos, além de foto,
não precisam ser incluídos, exceto se essas informações forem solicitadas pelo
empregador ou pela empresa para onde você vai encaminhar seu currículo.

• endereço completo;

• objetivo, ou seja, a vaga que você pretende ocupar;

– caso encaminhe seu currículo para mais de um local e os objetivos sejam dife-
rentes, faça currículos distintos, tendo em vista as particularidades da função que
você deseja.

• conhecimentos mais adequados ao trabalho pretendido;

– por exemplo: se o anúncio solicitar “experiência anterior”, destaque o que já fez


profissionalmente na área da vaga.

• histórico profissional, isto é, trabalhos já realizados/experiência profissional;

– se você não teve emprego com carteira assinada, escreva: “Principais experiên-
cias”. Comece pelo atual ou último emprego e siga em ordem até o mais antigo,
quer dizer, em ordem cronológica inversa.

• escolaridade e outros cursos;

– podem ser incluídos diversos cursos: idiomas, computação, oficinas de qualifica-


ção profissional relacionadas às suas áreas de interesse etc.

• trabalhos voluntários e atividade de seu interesse.

– concentre-se nas informações positivas sobre suas características que possam


fazer diferença para o empregador e no emprego que deseja obter.

9
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A sociedade em que você vive e a História TEMA 2

Este Tema contribuirá para que você compreenda como as ações humanas
transformam a História, mudando, assim, a forma pela qual as sociedades se
organizam ao longo do tempo.

Você já deve ter reparado que nossa sociedade muda constantemente.


Ao mesmo tempo, há coisas que parecem continuar sempre as mesmas. Por
exemplo, ainda que existam direitos trabalhistas, há patrões que insistem em fazer
o empregado trabalhar mais de dez horas por dia ou que o demitem sem justa
causa. Ou, ainda, mesmo que as mulheres sejam consideradas legalmente iguais
aos homens, muitos homens continuam achando que as mulheres têm menos
direitos e lhes devem obediência. Por que você acha que isso acontece?

Registre, a seguir, algumas situações em que você percebe mudanças e


outras em que nada parece mudar. Dê exemplos de fatos que você conhece e/ou
vivenciou.

1675
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UNIDA

Você já usou o dicionário? Sabe para que ele serve e como utilizá-lo?
O dicionário serve para esclarecer dúvidas sobre o significado das palavras. Por
essa razão, ele é sempre bem-vindo.
Durante a leitura dos textos a seguir, grife as palavras que você não conhece ou
não sabe o que significam.
Após a leitura, liste em uma folha de papel, de preferência em ordem alfabé-
tica, as palavras grifadas.
Com o dicionário em mãos, observe as primeiras letras de cada palavra e
procure-as no canto superior externo de cada página. Consulte, por exemplo,
a palavra bater. Tomando as letras ba como referência, procure por: babo, banca,
banco, bar, barba, bater... Lembre-se de que todas as palavras do dicionário seguem
a ordem alfabética.
Quando encontrar a palavra consultada, atente para todos os significados a
ela associados. Isso porque, dependendo de como for usada, pode ter sentidos
diferentes. Por exemplo, a palavra bater, geralmente, significa “dar pancadas”; no
entanto, “bater asas” significa “voar”; “bater palmas” é o mesmo que “aplaudir”;
“bater outro time” indica “vencer”; “bater um prato de arroz e feijão” é “comer com
muita vontade”; quando o coração “bate”, ele está “pulsando”. Então, após escolher
o significado que dá sentido à frase do texto original, registre-o no papel.
Depois desse estudo do significado das palavras, releia o texto e note como fica
mais rápido e fácil entendê-lo.

A dinâmica da História
Os problemas de uma sociedade estão relacionados às suas características his-
tóricas. Como o Brasil atual é um país capitalista, muitas de suas características
estão ligadas à forma como o capitalismo se organiza.

Capitalismo
Sistema de organização econômica da sociedade que, segundo boa parte dos historiadores,
surgiu na Europa entre os séculos XVI e XVIII, e é, atualmente, dominante na maior parte do
mundo. Nesse modelo econômico, os meios de produção (a terra, as ferramentas para trabalhá-la,
as indústrias, as máquinas e tudo que sirva para produzir o que é consumido), bem como
o comércio, são de propriedade privada, isto é, têm dono. E são os donos (também chamados
patrões, capitalistas ou burgueses) que decidem como os produtos serão ofertados, quais serão
seus preços, quais serão os salários pagos aos trabalhadores etc. Essas decisões baseiam-se na
oferta e na procura de produtos e serviços no mercado.

17
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 32 10/03/15 10:54
UNIDADE 1

O Brasil possui uma má distribuição de renda, ou seja, muita riqueza nas mãos
de poucas pessoas e uma grande parte da população brasileira sobrevivendo com
baixos rendimentos. Isso se chama desigualdade social e é uma decorrência do
fato de o Brasil ser capitalista.

Diversos problemas brasileiros têm relação direta com as desigualdades sociais,


como a fome, a exploração do trabalho dos empregados, o desemprego, a diferença
no acesso aos bens de consumo etc. Tanto o capitalismo como as desigualdades
sociais interferem na sua vida, já que você faz parte dessa sociedade. E o
capitalismo, bem como a desigualdade que ele causa, não é algo natural, pois foi
formado ao longo da História. Assim, ao estudar a História, você compreenderá
porque a sociedade em que vive é do jeito que é (por exemplo, porque o Brasil se
tornou capitalista) e quais as consequências disso para a sua vida (por exemplo, a
desigualdade social).

© Tuca Vieira /Folhapre ss

A desigualdade social é uma marca de nossa sociedade e se reflete, por exemplo, na diferença entre as moradias.

As características históricas de uma sociedade estão sempre em mudança.


No entanto, a velocidade e a direção com que essas mudanças ocorrem não
dependem da ação individual, mas da atuação coletiva, que pode alterar o rumo
da História. E como o indivíduo participa dessa ação social? Ele interfere na
História quando se organiza coletivamente para a defesa de interesses sociais
que são comuns, como a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.

17
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 33 10/03/15 10:54
UNIDA

Como as pessoas têm interesses diferentes, formam organizações sociais com


objetivos distintos que, com frequência, se chocam. Por exemplo, os trabalhadores
podem se organizar socialmente para reivindicar melhores salários, mas entrarão
em choque com os interesses dos patrões, que também se organizarão para
manter os salários baixos. De modo geral, é possível dizer que uns pressionam
por mudanças, enquanto outros defendem a permanência de uma situação social.
Existe, portanto, uma disputa entre as partes que se desenrola ao longo do tempo.
Essa disputa determina a direção e o ritmo que a História assume: o quanto ela
muda e o quanto ela se mantém como estava.

Toda ação para direcionar os rumos que a sociedade irá tomar ou a disputa
pelo rumo da mudança histórica é o que alguns historiadores chamam de política.
© Fabiano Accorsi /Folhapress

Q ua n d o a s pe s s o a s s e u n e m e m or g a niz a ç õe s e m o v i m e nt o s s ocia i s p ara luta r pe lo s s e u s


inte re s se s ou e x ig i r di reit o s, el as e s tã o f a ze n d o p olíti c a. E i s s o é o q ue p o de m u d a r a H ist ó ria.

A noção ou percepção dos limites e também das potencialidades de mudança


social é chamada de formação da consciência histórica. Pode-se dizer que uma
pessoa desenvolveu uma consciência histórica quando ela tem a noção de que os
problemas sociais têm raízes históricas e estão em constante transformação.

E se o Brasil não fosse um país capitalista, isto é, e se a propriedade não


tivesse um dono, mas sim pertencesse a todos? Será que a História do Brasil seria
diferente? Será que a sua história seria diferente?

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 1
Ação política e a mudança da História
1 Segundo o texto A dinâmica da História, o Brasil apresenta diversos problemas
relacionados às desigualdades sociais, ou seja, há muita riqueza nas mãos de pou -
cas pessoas enquanto a maioria da população tem baixa renda. De acordo com o
estudo da História, isso acontece porque:

a) a maioria das pessoas não trabalhou o suficiente para enriquecer, enquanto


as poucas pessoas que se esforçaram mais acabaram acumulando quase toda a
renda.

b) atualmente o Brasil é um país capitalista e o problema da desigualdade social


é uma das características do capitalismo.

c) é normal que haja muitas pessoas pobres e poucas pessoas ricas e poderosas,
pois isso é típico da humanidade em todas as épocas e nunca vai mudar.

2 De acordo com o texto, o que é uma ação política? De que maneira ações desse
tipo influenciam a História da sociedade?

a) Ação política é a ação dos políticos e de seus partidos para serem eleitos pelo
povo. Isso não influencia a História da sociedade, pois desconsidera os interesses
da população.

b) Ação política é a ação realizada pelos partidos políticos, eleitos pela socie-
dade para criar as leis e executá-las. Portanto, o cidadão comum está excluído da
prática política.

c) Ação política é a ação organizada coletivamente para a defesa dos interesses


da sociedade ou de parcelas dela. Esse tipo de ação influencia a História de uma
sociedade, pois procura determinar os rumos que essa sociedade tomará.

Você sabia que hoje existem vários direitos que devem ser protegidos
pelo Estado, mas que nem sempre existiram? Isto é, os direitos foram sendo
adquiridos ao longo da História pela ação política de grupos e de indivíduos que
se organizaram para isso. Por exemplo, na Europa, há mais de 500 anos, os reis e
os senhores de terras tinham o poder de vida e morte sobre as pessoas, e podiam
puni-las por falarem o que pensavam. Depois de muitas lutas e revoluções, hoje,
em quase todos os países daquele continente, todas as pessoas têm o direito
assegurado à vida e à liberdade de expressão.

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TRABALHO, CAPITALISMO E SOCIEDADE

HISTÓRIA
UNIDADE 2 TEMAS
1. O trabalho
2. O capitalismo
3. Organização do trabalho e da sociedade ontem e hoje

Introdução

Após você ter visto a importância do estudo da História na Unidade 1, o objetivo


desta Unidade é ajudá-lo a compreender a sociedade em que vive, analisando a forma
como o trabalho e a produção estão organizados. Como você estudou no Tema 2 da
Unidade 1, a sociedade brasileira é regida pelo sistema capitalista, que é uma das
formas de organizar a produção e o consumo da sociedade.

Assim, para compreender melhor a realidade em que vive, você vai estudar a
origem do capitalismo. Vai também analisar esse assunto para compreender como
se dá a produção na sociedade capitalista atual, ou seja, como o trabalho é pensado
para produzir os bens e serviços que as pessoas consomem.

Mas o que tudo isso tem a ver com a História? Para responder a essa pergunta,
você vai estudar, nesta Unidade, como as formas de organizar o mundo do
trabalho foram sendo transformadas ao longo da História, já que essas formas de
organização da nossa sociedade não são naturais, isto é, não são obras do acaso.
Pelo contrário, elas foram pensadas e construídas pelos seres humanos ao longo do
tempo e, portanto, podem ser explicadas historicamente.

O trabalho TEMA 1

O objetivo deste Tema é que você compreenda as relações existentes entre


os seres humanos e o trabalho, observando como essas relações transformam as
pessoas e modificam o mundo.

Trabalho e emprego não são a mesma coisa!

O trabalho consiste na ação humana sobre a natureza, de forma a trans- formá-


la. Utilizando a sua força física ou alguns instrumentos de trabalho, o ser
humano produz bens e serviços para seu uso, tais como: alimentos, roupas,
máquinas e móveis. Quando se fala em emprego, faz-se referência a algo muito

21
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UNIDA

mais recente, que surgiu na época da Revolução Industrial, no século XVIII,


quando um grupo de pessoas passou a vender a sua força de trabalho em troca
de um salário.

Você já fez algum trabalho em casa, como consertar coisas, cozinhar, limpar
ou qualquer outra atividade sem cobrar pelo serviço? Já trabalhou fora de casa,
como empregado ou autônomo, plantando, prestando algum tipo de serviço,
fabricando ou vendendo algo?

Baseado em sua experiência, escreva o que você já sabe sobre os seguintes


assuntos:

• O que é trabalho para você?

• Em sua opinião, qual é a diferença entre trabalho e emprego?

23
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 38 10/03/15 10:54
UNIDADE 2

O ato de estudar não é uma tarefa simples: exige disciplina e dedicação. No


entanto, algumas dicas podem ajudá-lo a aproveitar muito mais esse momento.
A seguir, você vai encontrar sugestões de como tornar essa atividade prazerosa.

Escolher uma posição para estudar é importante, pois você precisa, ao mesmo
tempo, organizar o seu material (livro, caderno, lápis etc.) e se sentir confortável
para conseguir se concentrar.

Ao realizar uma leitura, você pode utilizar alguns métodos para facilitar seu
estudo. Grifar as passagens importantes do texto, por exemplo, facilitará a com-
preensão das informações nele contidas, além de ajudar a relembrar o conteúdo,
pois bastará olhar as marcações que você fez enquanto leu. Além disso, a prática
do resumo, que você estudou na Unidade 1, pode ser um ótimo procedimento.

Se você optar pelo método de grifar o texto, siga os seguintes passos:

• em primeiro lugar, leia o texto inteiro, tentando responder à questão “Do que
trata este texto?”;

• em seguida, volte ao início e, à medida que avançar na leitura, grife as informa-


ções que julgar essenciais.

Veja, a seguir, um exemplo de como você pode grifar os trechos importantes:

“O ser humano começou a trabalhar quando passou a transformar a natureza


para atender às suas necessidades. Quando saía para caçar ou para coletar frutos,
estava trabalhando.

Qual é a diferença, porém, entre o trabalho humano e as atividades que os


animais realizam? Afinal, os animais também executam diversas atividades para
atender às suas necessidades de sobrevivência.

A diferença é que as necessidades humanas se modificam ao longo da His-


tória e, por meio de seu trabalho, em uma ação consciente e planejada, o ser
humano transforma a natureza para atender às novas necessidades.”

Observe como estão destacadas as ideias que ajudam você a perceber o que é
essencial para a compreensão do assunto.

Não deixe de praticar essas dicas nas suas próximas leituras; elas ajudarão
você a estudar com mais facilidade!

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 39 10/03/15 10:54
UNIDA

O trabalho humano
O ser humano começou a trabalhar quando passou a transformar a natureza para
atender às suas necessidades. Portanto, o trabalho é tão antigo quanto a humanidade.

Partindo do princípio de que o trabalho transforma a natureza, observe, a seguir,


alguns exemplos de como essa transformação pode ocorrer.

Por meio do trabalho, a madeira bruta retirada de uma árvore cortada


pode ser transformada em um banco.
© Timothy Mainiero/123RF

© Ruslan Rizvanov/123RF
O barro pode ser moldado por um artesão e transformado em vaso.
© JoãoPrudente/Pulsar Imagens

© Angel Luis Simon Martin/123RF

A terra, cultivada por alguém que tenha noções de agricultura, gera alimentos.
© Tetiana Vitsenko/123RF
© Denis And Yulia Pogostins/123RF

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UNIDADE 2

Esses são alguns exemplos da ação do ser humano e de como ele pode alterar a
natureza em benefício próprio.

Você já parou para pensar qual é a diferença entre o trabalho humano e as ati-
vidades que os animais realizam? Afinal, os animais também executam diversas
tarefas para atender às suas necessidades de sobrevivência, como caçar, proteger
seus filhotes etc.

A diferença é que as necessidades humanas se modificam ao longo da


História e, por meio de seu trabalho, em uma ação consciente e planejada, o ser
humano transforma a natureza para atender a essas necessidades.

No passado quando a maior parte da humanidade era nômade, ou seja,


não tinha moradia fixa, as pessoas precisavam obter comida e se defender dos
animais. Por causa disso, o trabalho era, principalmente, caçar, pescar e coletar
alimentos. Essas necessidades também levaram o ser humano a produzir ins-
trumentos de trabalho que pudessem ajudá-lo. Transformar a pedra em uma
machadinha, por exemplo, poderia ajudá-lo a caçar e se defender dos animais.
Transformar um osso em uma ponta de flecha também. Construir moradias tem-
porárias, utilizando galhos de árvores, atendia suas necessidades de abrigo, uma
vez que os grupos humanos locomoviam-se em busca de áreas ricas em alimen-
tos, quando os alimentos na área que ocupavam ficavam escassos.

Ao longo da História, as necessidades e os desejos humanos foram se transfor-


mando, bem como as relações que os homens estabelecem com a natureza. Para
satisfazer a essas necessidades e a esses desejos, o ser humano desenvolveu dife-
rentes tipos de trabalho: produzir tecidos; cortar e costurar vestimentas; planejar
e construir casas; fabricar peças e máquinas; produzir artes variadas, como teatro,
música, dança etc., entre tantos outros tipos de trabalho.

Por meio da inteligência, o ser humano desenvolveu a capacidade de transfor-


mar a natureza e planejar o uso dos seus recursos. Por causa disso, ele é capaz de
criar instrumentos, ferramentas e equipamentos que o ajudam a realizar tarefas
com diferentes graus de dificuldade. Esses instrumentos são os meios de trabalho.
A criação desses meios é uma das características que também diferenciam os
humanos dos animais.

Para uma pessoa realizar um trabalho, são necessárias algumas condições,


entre elas:

26
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UNIDA

• os meios de trabalho, que são, por exemplo, máquinas, ferramentas e outros


instrumentos;
© DelfimMartins/Tyba

• o trabalho propriamente dito, a chamada força de trabalho, que é a ação do ser


humano, sua capacidade física e intelectual, para transformar algo em produto,
utilizando os meios de produção de que dispõe.
© Claus Meyer/Tyba

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UNIDADE 2

São denominados meios de produção originais tudo o que o ser humano usa
na forma como encontra na natureza, como a água, a madeira, o peixe e a própria
terra. Quando uma pessoa realiza algum trabalho sobre esses meios de produção
para utilizá-los em um novo processo produtivo, eles se tornam matéria-prima.

Nesse sentido, a mesma madeira pode servir de lenha para um camponês ou de


matéria-prima para a fabricação de um banco. No primeiro caso, ela é considerada
um meio de produção original porque foi lenhada por meio do trabalho humano.
Já no segundo caso, a madeira será uma matéria-prima porque será empregada em
um novo processo de trabalho.

Para transformar uma matéria-prima em produto, o homem precisa empregar


diversos instrumentos e recursos. Tudo o que o trabalhador utiliza para modificar
o seu objeto de trabalho de acordo com a finalidade que planeja é denominado
meio de trabalho.

Resumindo, tanto os objetos de trabalho (matéria-prima) quanto os meios de


trabalho (instrumentos e as estruturas empregadas pelo ser humano para fabri-
car produtos) são denominados meios de produção. Mas o processo produtivo,
isto é, a produção, só se realiza quando há, efetivamente, a ação humana por
meio do trabalho.

© Science Source/Diomedia

As máquinas, a eletricidade para movê-las e o prédio para abrigar todo o material


envolvido são alguns dos meios de trabalho necessários para a produção de papel.

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UNIDA

ATIVIDADE 1 Entendendo o trabalho

1 Com base no que você entendeu do texto O trabalho humano, relacione os termos

às suas respectivas definições.

□na forma
Elementosnaturais usados pelo homem
como estão na natureza.

a) Meios de trabalho.
□um novo
Elemento da natureza empregado em
processo de trabalho.
b) Meios de produção originais.

c) Força de trabalho. □ Trabalho humano.


d) Matéria-prima. □peloInstrumentos e recursos empregados
ser humano para fabricar produtos.

e) Meios de produção.
□objetos
Conjunto dos meios de trabalho e
de trabalho.

2 Qual das atividades a seguir necessita da menor quantidade de meios de trabalho?


Por quê?

a) Fabricação de computadores.

b) Produção de lã.

c) Montagem de automóvel.

d) Coleta manual de frutas e verduras.

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TEMA 2 O capitalismo

Neste Tema, você vai estudar o capitalismo e algumas características que o


compõem. Com isso, você entenderá um pouco mais a sociedade em que vive, só
que agora pelo ponto de vista do modelo social e econômico segundo o qual ela
se organiza. Assim, você vai compreender por que essa realidade também é fruto
de uma construção histórica.

Você já deve ter ouvido falar que vive em uma sociedade capitalista. Mas o que
é o capitalismo? O que é mercado? E mercadoria? Por que dizer que se vive em
uma sociedade capitalista?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você já sabe sobre esse assunto.

Capitalismo: sociedade de classes, salário e lucro

O capitalismo é um sistema econômico Mercadoria


– isto é, um modo de organizar a produção Bens, produtos ou serviços que são
e o trabalho – presente em quase todos os vendidos e comprados mediante deter-
países do mundo hoje. Criado historicamente minado preço. Sendo assim, nem todo
produto ou serviço pode ser conside-
a partir do século XVI, na Europa Ocidental, rado mercadoria. Por exemplo, quando
sua característica básica é transformar todos uma pessoa produz algo ou faz algum
serviço sem estipular um preço, ou seja,
os bens produzidos em mercadoria, isto
sem vendê-lo, esse produto ou serviço
é, em algo que se possa vender e comprar, não é uma mercadoria.
gerando lucro. Em uma sociedade na qual

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UNIDADE 2

toda a produção é trocada por dinheiro, o trabalhador é também obrigado a


conseguir uma remuneração a fim de comprar aquilo de que precisa para viver.
Mas como ele pode ganhar dinheiro?

Do ponto de vista do trabalho, o capitalismo é uma sociedade dividida


em duas classes sociais: capitalistas e trabalhadores (ou empregadores e
empregados; ou, ainda, burguesia e proletariado). Os capitalistas são aque-
les que possuem a propriedade dos meios de produção, ou seja, tudo o que é
necessário para produzir mercadorias. Eles são os principais responsáveis pela
acumulação de riquezas nesse tipo de sociedade. Do outro lado, estão os traba-
lhadores, que contam com um único recurso: a sua força de trabalho. É essen-
cial entender que, no capitalismo, a produção em larga escala é conseguida
por meio da exploração dos trabalhadores, que vendem sua força de trabalho
e recebem por essa venda um salário. Observe que a própria força de trabalho
se transforma em mercadoria.

O sistema capitalista realiza diferentes funções sociais: produção, circulação


e consumo da riqueza, mas a busca pelo lucro é o motor do capitalismo e a
empresa privada é sua unidade básica, encarregada de gerar lucro. Todos os aspec-
tos da produção estão subordinados a essa finalidade máxima. Assim, pode acon-
tecer de uma empresa desrespeitar as leis trabalhistas ou parar de patrocinar um
evento cultural, mas, na lógica capitalista, ela jamais pode deixar de lucrar. Se isso
ocorrer, a empresa terá de fechar as portas.

Qualquer empresa está sujeita


à falência, por diversos motivos.
Entretanto, se a dificuldade em gerar
lucro atingir, simultaneamente, a maior
parte das empresas, ocorrerá uma crise
capitalista. Quando isso acontece, os
proprietários dos meios de produção,
isto é, os empresários, recorrem a
diferentes estratégias para recuperar
a lucratividade dos seus negócios,
como redução de custos, demissão
de funcionários, mudança de cidade,
Estado ou país, alteração na tecnologia,
entre outras possibilidades.

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 47 10/03/15 10:55
UNIDAD

Como seria se a nossa sociedade não fosse organizada em função do lucro dos
empresários, mas sim de acordo com os interesses dos trabalhadores? Será que
continuaríamos vivendo em uma sociedade capitalista?

Se fosse assim, o modo de organizar a produção e o trabalho seria bem


diferente. Por exemplo, se o objetivo principal da economia não fosse gerar lucro e
sim atender aos interesses da classe que vive do próprio trabalho, provavelmente
não haveria demissão em massa nem baixos salários, pois ambos existem para
garantir o lucro das empresas.

ATIVIDADE 1 O que caracteriza o capitalismo?

1 Refletindo sobre o que você leu no texto Capitalismo: sociedade de classes, salário
e lucro, identifique as seguintes afirmações como certas “C” ou erradas “E”.

a) □ Capitalismo é uma forma de organizar a produção e o trabalho em determi-


nada sociedade, de modo a valorizar os interesses dos trabalhadores – isto é, dos
empregados –, sem dar importância ao lucro.

b) □ No capitalismo, alguns são donos dos meios de produção (isto é, possuem


terras, fábricas e comércios) enquanto a maioria, por possuir apenas a própria
força de trabalho, é obrigada a vendê-la em troca de salário. Assim, o capitalismo
é um tipo de organização socioeconômica que divide a sociedade em duas classes
sociais: capitalistas e trabalhadores.

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UNIDADE 2

c) □ No capitalismo, em nome do lucro das empresas, tudo vira mercadoria, isto


é, todos os produtos, todos os serviços e até a força de trabalho das pessoas, já que
são obrigadas a vendê-la no mercado para sobreviver.

d) □ No modelo econômico capitalista, mesmo que uma empresa esteja com difi-
culdades de lucrar, ela evitará demitir os seus trabalhadores ou reduzir os salários
pagos a eles.

2 Com base no texto que leu, responda com suas palavras à seguinte pergunta:
Por que é possível dizer que nossa sociedade é capitalista?

O livro O que é capitalismo, de Afrânio Mendes Catani (1985), pode ajudar você a aprofundar os
seus conhecimentos acerca do tema apresentado.

Lucro, o motor do capitalismo

Você já sabe que o lucro é o motor do capitalismo, mas você já parou para
pensar em como a empresa privada gera lucro?

O trabalho é a fonte que gera toda riqueza porque transforma meios de produção
em um novo produto ou serviço. Mesmo em uma linha de produção com máquinas
automatizadas, os trabalhadores são sempre necessários para operá-las e dar-lhes a
devida manutenção. Se alguém juntar farinha, fermento, batedeira e um padeiro na
mesma sala, não ganhará dinheiro com isso, a menos que o padeiro trabalhe.

O capitalista compra, no mercado, tudo aquilo de que precisa para produzir


uma mercadoria: os meios de produção (matérias-primas, máquinas, equipamen-
tos) e a força de trabalho. Mas para definir o valor da mercadoria, ou seja, o quanto
a mercadoria vai custar, ele precisa pensar em alguns gastos, tais como: o preço

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UNIDAD

dos meios de produção, o salário do trabalhador e o lucro da empresa. No exem-


plo da padaria, o trabalhador produzirá diversos pães, cujo valor de produção será
superior à soma dos seus ingredientes, porque houve a incorporação da força de
trabalho. Isto é, somou-se a todos os ingredientes o trabalho do padeiro.

Valor do pão = farinha + fermento + batedeira + trabalho do padeiro

Em outras palavras, o valor de um produto só é definido quando o trabalhador


transforma os meios de produção (farinha + fermento + batedeira) em mercadoria
(pão a ser vendido). É como se o seu trabalho desse vida aos meios de produção e se
incorporasse ao bem produzido. O trabalho, portanto, dá valor ao artigo fabricado.
E, por haver trabalho incorporado, esse valor não será igual à soma dos meios de
produção utilizados; será sempre maior e, desse modo, o trabalho gera sempre um
novo valor, isto é, um valor maior do que o valor dos meios de produção somados.

E o que acontece com esse novo valor?

Voltando ao exemplo, suponha que o pão seja vendido a 10 reais. Se os meios


de produção (farinha + fermento + batedeira ) custaram 3 reais, então sobra-
ram 7 reais. O trabalhador recebe uma parte na forma de salário (por exemplo,
3 reais). A outra parte converte-se no lucro do dono da padaria (que seriam
4 reais). Pensando em termos do tempo de trabalho, é como se a jornada do tra-
balhador fosse dividida em duas partes: uma delas é destinada à produção da
riqueza que pagará seu salário e a outra gera a riqueza que será a fonte do lucro
do dono da empresa. Então, com o valor novo que foi gerado com o trabalho dele
(que é 7 reais), o trabalhador ficará somente com uma parte (3 reais), o resto é
do dono da padaria. E por que isso? Pelo simples fato de o dono da padaria ser
o proprietário de tudo: dos meios de produção e também do próprio trabalho do
seu empregado. Por isso, pode-se dizer que o lucro e a exploração do trabalho no
capitalismo só são possíveis por causa da propriedade privada dos meios de pro-
dução, isto é, porque os meios de produção pertencem a alguém (o dono), e não
a todos que trabalham.
Como, no capitalismo, a fonte básica do lucro é a diferença entre o que o capi-
talista paga ao trabalhador e o valor produzido (descontados o salário e os custos
de produção)...

Lucro = valor do bem produzido – (salário + custo de produção)

... um dos recursos para aumentar o lucro ou recuperá-lo em momentos de


crise é diminuir o ganho dos trabalhadores por meio da redução salarial e

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UNIDADE 2

da intensificação do trabalho (fazer o trabalhador trabalhar durante mais tempo,


ou produzir mais por menor salário).

Quando se estuda a História, percebe-se que nem sempre os trabalhadores


aceitaram essas imposições dos empregadores. Por essa razão, pode-se afirmar
que a evolução do capitalismo não é natural, mas um processo social que depende
da relação entre capitalistas e trabalhadores em cada contexto histórico, isto é, em
cada período da História e em cada país.

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Organização do trabalho
e da sociedade ontem e hoje TEMA 3

Neste Tema, você vai aprender a contextualizar historicamente nossa


sociedade, tendo em vista a organização do trabalho. Além disso, vai situá-la no
âmbito do capitalismo, que, por sua vez, também vem sendo construído ao longo
da História.

Você já deve ter reparado que a forma como se organiza o trabalho muda com
o tempo.

Como é que o trabalho se organiza em sua sociedade? Para responder a


essa questão, pense: A quem pertencem os meios de produção? Quem são
os trabalhadores? A que jornada de trabalho se submetem? Existem direitos
trabalhistas? A quem pertence o produto final?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre esses assuntos.

Mudanças na organização do trabalho: a transição do feudalismo para


o capitalismo

A forma como se organiza o trabalho em Estado


uma sociedade repercute em todos os aspectos A palavra “Estado” pode ter diferen-
da vida: nas relações sociais, culturais, políticas tes significados. Estado pode ser o
conjunto das instituições político-
e pessoais. No capitalismo, o trabalho é carac-
-administrativas de uma sociedade.
terizado por competição, eficiência e disciplina, O governo, as Forças Armadas e
deixando sua marca em todas as instituições do as empresas estatais, entre outras
instituições, constituem o Estado bra-
cotidiano, inclusive na escola, na família e no
sileiro. Mas Estado também pode ser
Estado. Empresas disputam mercados consumi- cada uma das divisões geográficas
dores; alunos de diferentes escolas competem e político-administrativas de uma
nação. Por exemplo: o Estado de
por vagas nas melhores universidades, a fim de
São Paulo possui um território deli-
conseguir melhor qualificação para o mercado mitado e conta com deputados,
senadores e um governador. 37
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 53 10/03/15 10:55
UNIDAD

capitalismo imprimiu em nossa vida cotidiana. Essa influência acontece por causa
da importância que o trabalho adquiriu na organização da vida humana.

As relações de trabalho estão em constante Escravidão


mudança, não apenas no Brasil, mas em todo o Entre os séculos XVI e XIX, a mão de
mundo, tanto do ponto de vista das tecnologias, obra escrava era utilizada em várias
como das suas formas de organização. É regiões, inclusive no Brasil colo-
nial. Grande parte do que era pro-
importante lembrar que o trabalho apresenta duzido e realizado na sociedade
não somente aspectos técnicos, mas também daquela época resultava do tra-
culturais, que são inseparáveis. balho escravo. O escravo era uma
mercadoria, isto é, era comprado
Tecnicamente, as condições de trabalho em e vendido. Ele tinha um valor e,
portanto, tinha um dono, não era
todo o mundo foram modificadas pelo uso de
livre. O comércio desse tipo de mão
novas tecnologias, como a energia elétrica, que de obra era altamente lucrativo.
transformou profundamente a maneira como À época em que o capitalismo eu-
ropeu se constituía, e as nações
as mercadorias são produzidas. Culturalmente,
europeias adotavam uma política
a condenação moral da escravidão , por econômica mercantilis ta, o co-
exemplo, caracteriza uma mudança que ajudou mércio de escravos movimentou
a economia dos impérios e das
a transformar definitivamente as relações de
nações que estavam se formando
trabalho: hoje apenas o trabalho remunerado é na Europa e na América.
legalizado, ou seja, a escravidão é ilegal.

Uma cena como essa, que


representa o trabalho
escravo, jamais seria
admitida nos tempos atuais.
Caso um serviço dessa
natureza fosse prestado,
seria certamente mediado
por uma relação assalariada,
de prestação de serviço ou
algo do tipo, e não como
uma atividade submissa
e imposta àqueles que a
executassem. [Jean-Baptiste
Debret. Retorno, à vila, de
um proprietário de chácara,
1835. Litografia da obra
© Museus Castro Maya

Viagem pitoresca e histórica


ao Brasil. Versão colorizada.
Museus Castro Maya, Rio de
Janeiro (RJ).]

Contudo, mesmo tendo havido melhorias técnicas e mudanças culturais nas


relações de trabalho, isso não significa que atualmente todas as dificuldades foram
superadas, nem que não tenham surgido novos problemas.

39
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55
UNIDADE 2

As condições de trabalho de qualquer indivíduo estão marcadas pelo momento


histórico em que ele nasce e vive, quer do ponto de vista cultural, socioeconômico ou
técnico. Como já dito, o trabalho escravo é inconcebível nos dias de hoje e é notável
a diferença que a energia elétrica trouxe para a produção e para o trabalho humano.

Atualmente, a forma como se organiza o trabalho no Brasil, e na maioria dos paí-


ses, está condicionada pelos padrões capitalistas. Mas nem sempre foi assim.

Antes do capitalismo, a organização da sociedade vigente na Europa Ocidental


era baseada no feudalismo. A transição do feudalismo para o capitalismo é um bom
exemplo para se observar as diferentes formas de organização do trabalho ao longo
da História da Europa Ocidental a partir dos séculos XI e XII, quando o trabalho
começou a se transformar, e mais intensamente a partir do século XIV. Uma rápida
comparação entre essas formas de organização do trabalho e da produção ajudará
você a compreender as transfor-
mações das relações trabalhistas Glossário

e a entender de que maneira Feudalismo


elas caminharam lado a lado com Forma de organização social que prevaleceu na
Europa Ocidental entre os séculos IX e XV. Carac-
as mudanças culturais e de valores
terizou-se, principalmente, pelo poder político
das sociedades. descentralizado, pela economia baseada na agri-
cultura de subsistência, pelo trabalho servil e pela
Na Europa Ocidental, entre os divisão social fixa e hierarquizada.
séculos IX e XIV, a sociedade feu-
Nobre
dal era dividida por critérios sociais
Grupo social que, por nascimento ou concessão
completamente diferentes dos que do soberano, tinha certos privilégios. No feuda-
vigoram em nossa sociedade hoje, lismo, a nobreza militar, formada pelos grandes
pois as pessoas eram definidas senhores de terra, tinha como função garantir a
por sua condição de nascimento e proteção militar da sociedade e governar as terras
onde os servos trabalhavam e viviam. Já a nobreza
religião. O trabalho que um indiví-
religiosa, composta pelos altos membros do clero
duo executaria dependia da classe (da Igreja Católica), prestava serviços religiosos
social em que essa pessoa nascera. à sociedade, fazendo uso da evangelização e de
Havia duas camadas sociais bási- serviços assistenciais. Tanto a nobreza militar
cas: os servos e os nobres. Os ser- quanto a religiosa eram proprietárias de grandes
extensões de terra. Aliás, a Igreja Católica era,
vos, principais trabalhadores da
naquele período, a maior proprietária de terras na
época, eram responsáveis por todo Europa feudal.
trabalho braçal. Como a sua con-
Entre os privilégios dos nobres estava a isenção de
dição social era determinada pelo
tributos. Os nobres não executavam trabalho bra-
nascimento, eles, dificilmente, per- çal e, por serem os proprietários das terras, eram
tenceriam à nobreza. Aos nobres, sustentados, principalmente, pelos trabalhadores
que eram os militares ou os altos (os servos) que a cultivavam.

40
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 55 10/03/15 10:55
UNIDAD

membros da Igreja Católica, atribuía-se a responsabilidade de proteger os servos


e de governar. No entanto, tal proteção justificava a exploração do trabalho servil.

Por quase todo o tempo que durou o feudalismo, praticamente não houve
trabalho assalariado tal como existe hoje. A relação de trabalho baseava-se em uma
série de obrigações dos servos para com os seus senhores, entre as quais trabalhar
na terra dos nobres e pagar tributos em forma de serviços e produtos.

Essas relações econômicas que envolviam a prestação de trabalho servil


foram influenciadas pelas relações religiosas, na medida em que as ideias que
justificavam essa divisão social eram formuladas pela Igreja Católica. Assim,
por maiores que fossem as diferenças entre os grupos sociais que compunham a
sociedade feudal, eles estavam unidos pelo cristianismo.

O comércio crescente na Europa, impulsionado em grande parte pelas Cruza-


das, fez surgir uma nova classe de homens dedicados especialmente à atividade
comercial: eram os burgueses, que, com o tempo, ganharam força e ajudaram a
transformar o modo de organização econômica e social do mundo feudal. Esses
acontecimentos contribuíram para o surgimento do capitalismo.

CRUZADAS

Na Idade Média, o mundo ocidental era dividido entre fiéis (os adeptos do cristianismo)
e infiéis (aqueles que não eram adeptos do cristianismo, como os povos pagãos, os
judeus e os muçulmanos). Como resultado dessa divisão, a sociedade medieval
foi marcada por guerras expansionistas, dentro e fora da Europa, contra os infiéis,
conhecidas como Cruzadas.

As cruzadas eram expedições militares organizadas pela Igreja, com apoio da


nobreza, para combater a expansão dos infiéis e estabelecer o domínio cristão na
Terra Santa (como era chamada a região da Palestina e a cidade de Jerusalém).
Elas aconteceram entre os séculos XI e XIII e, como consequência, estimularam o
comércio no Mar Mediterrâneo, restabelecendo as rotas comerciais com o Oriente.
O objetivo religioso, no entanto, não foi alcançado, pois os muçulmanos continuaram
a se expandir. A intolerância religiosa daquela época justificava as ações de ataque a
quem não fosse cristão.

O capitalismo formou-se inicialmente na Europa Ocidental, transformando


a organização do trabalho típica do feudalismo, e aos poucos se estendeu
para outras partes do mundo. Do ponto de vista das relações trabalhistas, sua

41
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UNIDADE 2

característica principal é o assalariamento (o trabalho pago em dinheiro). Com


a expansão do novo sistema, o critério de divisão social também mudou, não
mais se baseando no nascimento ou na religião, mas no critério econômico. Isto
é, no lugar da divisão de classes entre nobres e servos, os indivíduos passaram
a ser classificados como proprietários (capitalistas) e não proprietários assala-
riados (trabalhadores).

No feudalismo, a identidade social de um indivíduo estava fortemente


marcada pela religião. Portanto, pessoas de religiões distintas dificilmente
conviveriam em um mesmo espaço. Isso não significa, contudo, que no
capitalismo a religião tenha perdido a sua importância, mas sim que ela passou
a ser um assunto privado, não mais determinando a classe social das pessoas
nem a organização da sociedade.

E se os trabalhadores, em vez de aceitar o pensamento dominante e


conformar-se a ele, questionassem a cultura e os valores de sua época? E se
eles se organizassem para fazer valer os seus interesses em vez dos interesses
do patrão?

Nos próximos Volumes, você verificará que, ao longo da História, os


trabalhadores nem sempre se conformaram com o domínio e a exploração
que sofriam.

Veja agora duas sugestões de filmes interessantes que podem ajudar você a refletir um
pouco mais sobre a organização do trabalho na nossa sociedade:

• Tempos modernos (Modern Times). Direção: Charlie Chaplin. Estados Unidos da América, 1936.

Essa comédia mostra de forma irônica como o modo de produção industrial afetava a rotina
de um trabalhador estadunidense na década de 1930.

• Domésticas: o filme. Direção: Fernando Meirelles e Nando Olival. Brasil, 2001.

Esse filme satiriza as relações conturbadas entre patroas e empregadas domésticas, mos-
trando os preconceitos de classe vigentes por trás dessas relações.

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UNIDAD

ATIVIDADE 1 Organização do trabalho, organização da sociedade

Com base nas informações do texto Mudanças na organização do trabalho: a transi-


ção do feudalismo para o capitalismo, associe as expressões da coluna à esquerda com
as frases da coluna à direita.

□de trabalho.
Mudança nas condições técnicas

□venda
Relação de trabalho baseada na
da força de trabalho para um

a) Introdução de novas tecnologias. proprietário capitalista.

b) Mudanças culturais (mudanças □critérios


Classes sociais definidas por
econômicos (possuir ou não
nos valores).
possuir propriedade).

c) Sociedade feudal.
□ Relação de trabalho baseada em
uma série de obrigações dos traba-
d) Regime de servidão.
lhadores em relação aos nobres, como
trabalhar gratuitamente na terra.
e) Sociedade capitalista.

f) Trabalho assalariado. □ção Divisão social definida pela condi-


de nascimento e pela religião.

□mente
Transformações sobre o que é moral-
aceito nas relações de trabalho.

De imediato, é possível apontar que as dificuldades enfrentadas por parte dos


brasileiros na busca por emprego estão marcadas pela realidade histórica em que
vivem. Isso significa que uma parte desse desafio não depende da capacidade
individual de cada trabalhador. Em alguma medida, o trabalhador não tem total
responsabilidade pela sua situação, pois o desemprego tem raízes históricas mais
profundas e complexas do que qualquer história de vida.

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UNIDADE 2

De qualquer forma, em termos de responsabilidade individual, há muitas coisas


que uma pessoa à procura de emprego pode fazer. Por exemplo:

• matricular-se em cursos de qualificação profissional gratuitos oferecidos


pelo Estado;

• entrar em contato com pessoas conhecidas que possam ajudar na busca por
um emprego;

• enviar currículos para o maior número de empresas possível;

• estudar para prestar concursos públicos.

Do mesmo modo, ainda que alguém consiga emprego, solucionando o seu


problema individual, o desemprego continuará atingindo milhões de outros
trabalhadores. A única solução para transformar essa realidade é uma ação
coletiva dos trabalhadores-cidadãos para mudar essa História. Dentre essas
ações, pode-se citar a organização em cooperativas, associações profissionais e
sindicatos para lutar pelos direitos trabalhistas, como melhores salários e con-
dições de trabalho, entre outros.

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O FEUDALISMO E A TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO

UNIDADE 3

HISTÓRIA
TEMAS
1. O feudalismo na Europa
2. O mundo feudal
3. As relações de trabalho no feudalismo
4. A crise no feudalismo e a transição para o capitalismo

Introdução
Nesta Unidade, você vai estudar o feudalismo, uma forma de organização da
sociedade que antecedeu o capitalismo na Europa Ocidental, especialmente entre
os séculos IX e XV. Como seriam os costumes da população naquela época? Seriam
os mesmos que você conhece hoje?

Estudar o feudalismo é importante, pois ajuda a compreender a passagem do


sistema feudal para o sistema capitalista: Quais transformações ocorreram desde
aquela época até os dias de hoje? O que permanece como era naquele período?

Você aprenderá de que forma as transformações ocorridas no modelo feudal


levaram ao surgimento do capitalismo, dando origem ao chamado mundo moderno
(do século XV ao século XVIII). Você verá que a passagem do feudalismo para o capi-
talismo não foi um acontecimento do dia para a noite, mas um longo processo que
durou séculos.

O feudalismo na Europa TE MA 1

Neste Tema, você vai estudar alguns aspectos da vida cotidiana no período do
feudalismo, de modo a entender como a sociedade europeia se organizava política,
econômica e socialmente antes da formação do capitalismo.

Antes de começar o estudo desta Unidade, pense no que você já sabe sobre o
feudalismo. Para isso, reflita sobre as seguintes questões: Você já assistiu a filmes
que têm castelos como cenário? Quem morava nesses castelos? Como você ima-
gina que era a vida dessas pessoas? Elas trabalhavam? O que faziam? Quem cons-
truía os castelos? Onde moravam esses construtores? Que trabalhos realizavam?

Relembre também o que você estudou na Unidade 2 sobre a organização do


trabalho na época feudal.

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 61 10/03/15 10:55
UNIDA

Com base nas reflexões que você fez sobre as perguntas, escreva nas linhas a
seguir como você imagina que era o feudalismo na Europa.

Ao elaborar a resposta para uma pergunta, faça-o da forma mais completa


possível. Veja o exemplo:
• Pergunta: Quem morava nos castelos?
• Resposta: O rei e a rainha.
Esse é um exemplo de resposta incompleta, pois faltam informações, as
palavras ficam soltas e isoladas, o que dificulta a compreensão pelo leitor.
Uma resposta deve ter sentido completo e facilitar a compreensão por parte de
quem a lê. Produza uma frase ou um pequeno texto, como no exemplo a seguir:
• Resposta reescrita: Os moradores dos castelos eram o rei, a rainha e a sua família,
bem como guerreiros, empregados, o bobo da corte etc.
Quando você terminar de escrever, faça uma revisão gramatical e ortográfica
de sua resposta.

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UNIDADE 3

Feudalismo
O feudalismo foi uma forma de organização da sociedade que prevaleceu na
Europa Ocidental entre os séculos IX e XV, durante a Idade Média. Caracteri- zou-
se, principalmente, pelo poder político descentralizado, pela economia
baseada na agricultura de subsistência, pelo trabalho servil e pela divisão social
fixa e hierarquizada.

Idade Média
Tradicionalmente, a História é dividida em cinco grandes períodos:

• Pré-história – compreende o período entre o surgimento do homem, aproximadamente 150 mil


anos antes de Cristo, e a invenção da escrita, por volta do ano 3500 a.C.;

• Antiguidade – entre 3500 a.C. e o século V;


• Idade Média ou Medieval – do século V ao XV;
• Idade Moderna – do século XV ao XVIII; e
• Idade Contemporânea – do final do século XVIII até os dias de hoje.
Essa divisão do tempo foi determinada por estudiosos, com base em alguns critérios por eles
escolhidos, e serve para facilitar a localização dos acontecimentos ao longo do tempo. Cada
período reúne um conjunto de características políticas, econômicas, sociais e culturais. Quando
ocorre uma transformação significativa, inicia-se um novo período histórico. Os historiadores
adotaram o termo Idade Média para referir-se à sociedade europeia existente entre a Antiguidade
clássica (o mundo grego e romano) e o mundo moderno, quando se iniciou a passagem para o
capitalismo. Portanto, Idade Média é um período da História europeia, ou seja, não se aplica à
História de outras culturas e continentes. Usar o termo Idade Média é o mesmo que dizer Europa
Medieval, período da História europeia entre o fim do Império Romano do Ocidente, no século V,
e o início das descobertas marítimas, no século XV.

Mas como essa forma de organização da sociedade se instituiu na Europa


Ocidental?

Desde o século III, as regiões dessa parte do continente europeu vinham sendo
ameaçadas por invasões de povos germânicos vindos do norte e do centro-leste
da Europa, chamados pelos romanos de bárbaros. Ao longo dos séculos seguintes,
esses povos conquistaram a maior parte da Europa Ocidental, inclusive Roma, em
476. Essas conquistas contribuíram para a queda da extensão ocidental do Império
Romano, isto é, a região que ficava na Europa.

Com o fim do Império Romano do Ocidente, o comércio foi se desarticulando,


e os centros urbanos foram perdendo sua capacidade de se sustentar. Assim, a
sociedade acabou migrando desses centros e se estabelecendo principalmente nas
grandes propriedades rurais. Esse movimento migratório durou alguns séculos, e

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 63 10/03/15 10:55
UNIDA

a maior parte da economia europeia passou a depender da agricultura. Por isso,


tornou-se fundamental proteger a terra de ataques e invasões.

Foi esse movimento que deu origem aos feudos (também chamados senhorios),
grandes propriedades de terra que funcionavam como centro da economia e da
política no sistema feudal, que atingiu suas características clássicas no século IX.
Os feudos tendiam a ser autossuficientes, ou seja, produziam quase tudo que seus
habitantes necessitavam, garantindo a sobrevivência desses povos. Veja a seguir
a representação das divisões internas do senhorio medieval, isto é, como as terras
do feudo eram organizadas:

Veja como era a estrutura de um feudo, quem vivia onde e como se dava a produção.

TERRAS DO SENHOR
A produção do “manso senhorial” pertencia ao
senhor. Toda a labuta cabia aos servos, obrigados a
trabalhar alguns dias da semana nessa área (quase
REDUTO NOBRE
Lar do senhor feudal e metade das terras cultiváveis).
de sua família. O senhor
era dono das terras,
CANTEIRO DOS POBRES dos instrumentos de
No “manso servil”, a terra trabalho e de boa parte
também pertencia ao da produção do feudo. Ele
senhor feudal, mas aqui os defendia militarmente a
servos podiam trabalhar em propriedade.
benefício próprio, desde
que pagassem os impostos
devidos.
LAVOURA SANTA
Quando não era ela
mesma a dona do feudo
– o que não era raro –, a
Igreja Católica costumava
ter a própria porção das
ZONA NEUTRA plantações, cedida pelo
Os pastos e os senhor feudal.
bosques – as “terras
comunais” – eram
de posse coletiva,
usados tanto em
benefício do
senhor quanto dos
servos. Aqui se CASA DE DEUS
praticava a caça e A Igreja Católica era a mais
se extraía madeira. influente instituição do
© Artur Lopes e Rodrigo Ratier/Editora Abril

período. Ela monopolizava o


acesso à cultura e legitimava a
existência das camadas sociais
por meio da doutrina religiosa.
ABRIGO PLEBEU
Aqui viviam os servos, a maior parte da população
feudal. Eram a mão de obra local, altamente
explorados e dependentes da estrutura e da
proteção disponibilizadas pelo senhor.

Fonte: Guia do Estudante História Vestibular + Enem 2011. 4. ed. São Paulo: Abril, 2010.

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 64 10/03/15 10:55
UNIDADE 3

Nesse período, a nobreza e a Igreja Católica possuíam a maioria das terras da


Europa Ocidental e tinham autoridade sobre os feudos – e, portanto, governavam a
vida econômica e política das pessoas.

Poder político descentralizado

Na Europa medieval, não havia Estados politicamente organizados ou países


como os que existem atualmente. Apesar de haver reis (grandes senhores feudais),
o poder político estava descentralizado, isto é, dividido entre os senhores dos feu-
dos, que detinham toda a autoridade em suas terras.

A Igreja Católica, além de grande proprietária de terras, também detinha o


poder religioso, sendo responsável pela difusão dos valores sociais, culturais e
religiosos que davam sentido à vida no feudalismo.

Economia baseada na agricultura de subsistência e no trabalho servil

A base da economia feudal era agrária. A maioria dos trabalhadores, chamados


servos, vivia no campo e trabalhava na terra. Como o feudalismo prevaleceu
durante séculos na Europa, isso significou que, por muito tempo, houve muito
mais gente trabalhando e vivendo nas áreas rurais dos feudos do que nas cidades,
as quais entraram em declínio.

Os servos eram trabalhadores livres que recebiam terra e proteção do senhor


feudal em troca de fidelidade, obediência e pagamento de diversas taxas e impos-
tos, como a talha (entrega de metade de tudo o que produzia em suas terras para
o senhor), a corveia (alguns dias de trabalho gratuito nas terras do senhor) e as
banalidades (pagamentos pelo uso de instalações
do castelo, como moinho ou forno). Além disso, os
servos não podiam abandonar o feudo para tra- Durante o feudalismo, as cida-
balhar em outro lugar; portanto, apesar de livres, des da Europa Ocidental eram
muito pequenas se comparadas
estavam presos à terra.
com as atuais. Foi apenas com
a Revolução Industrial, ocor-
Toda a produção agrícola do feudo era vol-
rida há aproximadamente 200
tada para o abastecimento local, ou seja, era uma anos, que o mundo ocidental
agricultura de subsistência. A nobreza e o clero começou a se urbanizar. Por-
tanto, considerando-se a Histó-
(membros da Igreja Católica) eram sustentados
ria desde o começo da humani-
pelo trabalho dos servos. O comércio entrou em dade, a vida em grandes centros
declínio, e o uso de moedas na Europa Ocidental urbanos, do modo como acon-
tece hoje, é algo muito recente.
quase desapareceu.

50
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 65 10/03/15 10:55
UNIDA

Divisão social fixa e hierarquizada

A sociedade feudal seguia uma rígida divisão social. Eram basicamente três
ordens (também chamadas estamentos), como você pode ver no esquema a seguir:
© Daniel Beneventi

OS ESTAMENTOS DA SOCIEDADE FEUDAL

CLERO NOBREZA

OS QUE REZAVAM OS QUE LUTAVAM


O clero (membros da A nobreza era responsável
Igreja Católica) era pela proteção militar da
responsável pela proteção sociedade. Tinha como
espiritual da sociedade e principais funções guerrear,
por justificar a posição governar e administrar seus
social de cada indivíduo domínios.
(determinada pelo
nascimento), para garantir
a submissão à ordem
feudal estabelecida.
Dedicava-se a ensinar à
população as regras morais
e espirituais da Igreja. O
alto clero fazia parte da
nobreza religiosa.

OS QUE TRABALHAVAM
Os servos produziam tudo o que era necessário para o sustento da
sociedade feudal. Trabalhavam nas terras do feudo e, embora não
fossem escravos, estavam presos à terra em que trabalhavam. Além
dos servos, havia uma pequena parcela de outros trabalhadores,
como os artesãos e os chamados vilões (trabalhadores livres que
SERVOS (e outros
ofereciam sua força de trabalho temporariamente para o senhor
trabalhadores) feudal, não estando presos a um feudo específico).

Como é possível perceber, os servos e demais trabalhadores constituíam a


maior parcela da população na sociedade feudal, representada pela larga base da
pirâmide. Enquanto isso, no estreito topo encontrava-se a minoria privilegiada,
composta pelo clero e pela nobreza. Essa estrutura social se definia com base nas
funções de cada estamento na sociedade.
Outra característica importante da sociedade feudal era que as pessoas nas-
ciam em determinada classe e permaneciam nela por toda a vida. Havia uma
imobilidade social, pois o nascimento determinava a condição social de cada um.
Quem nascia nobre morria nobre; assim como quem nascia servo morria servo.
A mudança de grupo social era rara, mas podia ocorrer, por exemplo, se o indi-
víduo conseguisse entrar para a vida religiosa, passando a fazer parte do clero.
Mas, ainda assim, o clero também era dividido socialmente em alto clero, cujos
membros só vinham da nobreza, e em baixo clero.

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UNIDADE 3

E se, no mundo feudal, as pessoas que trabalhavam na terra também fossem


proprietárias dela? Como seria essa sociedade? Já que todos seriam donos de tudo,
talvez tivessem de decidir juntos o que fazer com a terra, em vez de ter um senhor
que tomasse todas as decisões. Você já pensou nisso?

ATIVIDADE 1 Moradias no feudalismo

1 Observe, a seguir, as imagens de um castelo e de uma pequena habitação do


manso servil. Na época medieval, as cidades ficavam nos domínios dos senhores
feudais, a eles pertencendo.

© Jo Ann Snover/123RF

LEMBRE-SE!
© Leandro Robles/Pin gado

No sistema feudal, cada


camada social tinha uma
função distinta: os senho-
res feudais eram respon-
sáveis por administrar e
proteger militarmente o
feudo; o clero orientava
religiosamente as pes-
soas; e os servos traba-
lhavam para sustentar a
nobreza e o clero.

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68 UNIDA

a) Que relação pode ser estabelecida entre a função de cada ordem social na socie-
dade feudal e as diferentes habitações apresentadas nas imagens?

b) Se essas construções fossem utilizadas ainda hoje, quem habitaria e qual função
teria cada uma delas? Por quê?

Para responder a essa pergunta, pense nas diferenças sociais e econômicas entre as pessoas nos
dias de hoje: Quem mora nos condomínios e mansões e quem mora nas favelas? O que fazem e que
trabalho têm as pessoas que vivem em cada um desses lugares?

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UNIDADE 3

2 Agora, observe uma imagem atual de Carcassone, cidade medieval localizada


no sul da França.

© Jonathan Blair/Corbis/Latinstock
As cidades que você está acostumado a ver nos dias atuais não possuem
muros, ao contrário do que ocorre em Carcassone. Por que será que, na Idade
Média, havia a preocupação de se fortificarem as cidades com muralhas?

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O mundo feudal TE MA 2

Neste Tema, você estudará o funcionamento da sociedade feudal, a partir das


relações de trabalho e de poder entre as diferentes ordens sociais daquele período.

Você já deve ter ouvido falar (ou mesmo assistido a filmes) sobre histórias e
lendas de cavaleiros medievais, como a lenda do Rei Arthur e os cavaleiros da
Távola Redonda, que representam personagens da nobreza. Na Idade Média,
apenas os nobres tinham o direito de utilizar cavalos e armamentos completos
(espada, escudo, elmo, armadura). Com isso em mente, escreva quais seriam,
em sua opinião, as obrigações do senhor feudal (cavaleiros, príncipes e nobres)
na sociedade medieval.

Você já aprendeu a utilizar o dicionário na Unidade 1. Que tal, durante a leitura


do texto a seguir, grifar as palavras desconhecidas e, depois, procurá-las no dicio-
nário? Anote o sentido mais adequado nas laterais do texto.

Após o estudo das palavras, releia o texto tentando compreendê-lo, uma vez que
você já conhecerá os sentidos e significados das palavras até então desconhecidas.

As relações sociais no feudalismo

Você estudou que, na sociedade feudal, a corveia e a talha eram algumas das
obrigações dos servos com o senhor para quem trabalhavam.

Para os servos, o senhor feudal oferecia proteção e possibilidade de viver nas


terras do feudo em troca de trabalho.

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UNIDA

Por proteção entende-se que os senhores feudais defenderiam o feudo de


ataques externos (de outros senhores) e também poderiam ajudar os servos
em casos de emergência, como em épocas de fome, quando eles, os senhores,
abriam os seus celeiros aos camponeses.

Por possibilidade de trabalho entende-se que os servos poderiam arar


o campo para garantir a subsistência da sua família. Embora não existisse a
propriedade privada da terra na forma como se vê hoje (uma vez que não era
comercializada), o feudo estava sob a autoridade do senhor feudal.

De modo geral, era a nobreza que exercia o poder político e militar no


feudalismo. Na relação entre os nobres, um senhor feudal podia ceder um
território a outro nobre em troca de fidelidade militar, estabelecendo uma
relação de suserania e vassalagem.

A RELAÇÃO ENTRE O SUSERANO E O VASSALO

DEVERES DO SUSERANO
Proteção
Concessão do feudo
Daniel Beneventi sobreimagem © Album/Latinstock

DEVERES DO VASSALO
Auxílio militar ou monetário
Fidelidade e conselho

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UNIDADE 3

Geralmente, o suserano era um nobre com autoridade sobre muitas terras, e


que pretendia ampliar seu potencial militar, aumentando o número de nobres
fiéis a ele, os quais o acompanhariam em uma guerra. Para obter essa fidelidade
militar, um grande senhor doava parcelas de terra (feudo) em benefício de outro
nobre, que, por sua vez, poderia fazer o mesmo. O vassalo, por sua vez, também
era um nobre que necessitava de terras e de camponeses que nelas trabalhassem;
em troca de sua fidelidade militar, esse vassalo recebia um feudo.

Assim, pode-se observar diferentes relações sociais no feudalismo:

• as relações entre a classe dominante aconteciam pelos vínculos de suserania e


vassalagem, ou seja, entre nobres;

• as relações entre classe dominante (nobreza) e os camponeses eram caracterizadas


pela servidão e, portanto, chamadas de relações servis;

• as relações dos servos entre si eram do tipo comunitário, ou seja, de proximidade


e ajuda mútua, mesmo que não fossem parentes.

Em uma sociedade na qual a terra era a principal fonte de riqueza, e conse-


quentemente de prestígio, as guerras para conquistar novos territórios eram um
meio comum de tentar expandir o poder.

E qual era o papel da Igreja? Na Europa Domínio da Igreja Católica


medieval, era enorme o domínio da Igreja Cató- Desde a adoção do catolicismo
pelo Império Romano, no século IV,
lica, que exercia forte influência sobre a vida
até a Reforma Protestante iniciada
das pessoas, justificando a ordem social exis- por Martinho Lutero no século XVI,
tente. Por outro lado, na parte oriental do conti- a religião era um assunto, pratica-
nente, onde existiu o Império Bizantino (antigo mente, exclusivo da Igreja Católica
na Europa Ocidental. Grande parte
Império Romano do Oriente) até o século XV, das igrejas não católicas e dos cul-
essa função era exercida pela Igreja Ortodoxa, tos que existem no Brasil pode ser
cujos membros se distanciaram dos apostólicos considerada recente se comparada
com a Igreja Católica.
romanos no século XI.

Para os católicos, o mundo dividia-se entre fiéis (os católicos) e infiéis (por exemplo,
os muçulmanos, ou seja, os seguidores do islamismo). Muitos muçulmanos ocupavam,
sobretudo, parte da Península Ibérica, território onde hoje estão Espanha e Portugal.

Tendo como intenção ampliar seus domínios territoriais e expandir a fé cató-


lica, os nobres medievais, com o apoio da Igreja, promoveram guerras contra os
muçulmanos que viviam próximos da Europa, principalmente na região agora
conhecida como Oriente Médio. Essas expedições militares receberam o nome de
Cruzadas por causa da cruz que usavam e que ainda hoje simboliza o cristianismo.

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UNIDA

Assista ao filme Robin Hood (direção de Ridley Scott, 2010), que apresenta a suposta trajetória
daquele que se tornaria Robin Hood, personagem tão conhecido entre os contadores de histó -
ria. Ambientado no início do século XII, retrata as relações sociais durante o feudalismo, com
longas disputas por terras e poder.

Um mapa é um instrumento de localização e representação geográfica, mas


também é muito utilizado em outras disciplinas, entre elas, a História. No próximo
texto, você vai encontrar a série Cruzadas, que representa as rotas da primeira e da
última expedição militar católica medieval.

Do mesmo modo que os textos escritos, os mapas também precisam ser lidos e
interpretados. Assim, ao se deparar com um mapa, procure fazer os procedimentos
descritos a seguir:

• ler o título para reconhecer o assunto ali exposto. É importante ainda observar o
ano em que o mapa foi elaborado, pois isso ajuda a entender o contexto histórico de
elaboração desse material. A série Cruzadas, por exemplo, embora trate de um tema
antigo, é composta de mapas novos, produzidos para este Programa. Portanto, con-
siste em uma visão atual sobre um episódio histórico. Os mapas antigos também são
documentos importantes que auxiliam na compreensão da História;

• identificar o espaço geográfico representado (um continente, um país, uma


cidade ou uma região específica). Na série Cruzadas há um “mapa de localização”
no canto superior direito. Ele serve exatamente para mostrar onde se localiza, no
mundo, a região ali representada. Portanto, observando esse mapa, é possível des-
cobrir que os mapas Primeira Cruzada e Oitava Cruzada focalizam parte da Europa
(de onde partiam os cruzados) e regiões do Oriente Médio e do norte da África (para
onde iam os cruzados);

• reconhecer os elementos da legenda e o que cada um deles indica. Geralmente,


as legendas são compostas por cores e outros símbolos, como linhas, círculos,
setas etc. Na série Cruzadas, a legenda informa que a cor amarela identifica os ter-
ritórios dominados pela Igreja Católica Romana;

• compreender os demais elementos do mapa, como as linhas que indicam as rotas


identificadas na série Cruzadas, e a escala, essencial para calcular o tamanho apro-
ximado da área representada.

58
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UNIDADE 3

As Cruzadas
A primeira Cruzada começou em 1096 e terminou em 1099. Nesse período,
os cruzados conquistaram Jerusalém, que era conhecida como Terra Santa e
estava sob o domínio dos muçulmanos. Mas estes últimos, liderados pelo sultão
de nome Saladino, a retomaram em 1189. Nos anos seguintes, a reconquista
dessa cidade, considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos, foi o
objetivo de muitas expedições militares europeias frustradas. Até 1270, várias
cruzadas se formaram sob o comando da Igreja, com apoio da nobreza europeia,
a fim de recuperar Jerusalém do domínio muçulmano, mas foi tudo em vão.
Além da guerra religiosa, o que mais motivou as pessoas a participar das
Cruzadas?
Naquela época, apenas o primeiro filho (primogênito) dos senhores feudais
herdava os feudos; então, a pouca terra que restava não era suficiente para os
muitos homens sem propriedades rurais. Os nobres cavaleiros, sem terra da

CRUZADAS

©Portal de Mapas
Primeira Cruzada Bruges GODOFREDO
(1096-1099) Paris
DE BULHÕES
HUGO DE
Ratisbona
VERMANDOIS Vézelay
Lyon

RAIMUNDO Toulouse
DE TOULOUSE

Bari Constantinopla
Niceia

BOEMUNDO Edessa
DA SICÍLIA Antioquia

Jerusalém
48°

A Primeira Cruzada, liderada por nobres que partiram de diferentes


pontos da Europa e fizeram várias rotas, tomou Jerusalém em 1099.
8° 0° 8° 16 ° 24 ° 32 ° 40°
A té a q uel e m o m e nto , ess a ci dad e est ava so b d o mí n io do s t u rco s .

Oitava Cruzada
(1270)

LUÍS IX
Aigues-Mortes

Túnis

48°
N
Igreja Católica Romana
Igreja Ortodoxa Grega
455 km
0° Na Oitava (e última) Cruzada, comandada pelo rei Luís IX, o exército
8° Islamismo 40°
fran cê8°s foi d er r ot ad o e m T1ú6n° is ( at ual capital d2a4 T° unís ia), n a Áf r ic a .32 °

Fonte: PENNINGTON, Ken. The Crusades in the Mediterranean World, 1070-1500.


Disponível em: <http://faculty.cua.edu/pennington/Crusades1070-1500.html>. Acesso em: 13 jan. 2012.

59
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UNIDA

qual pudessem tirar seu sustento, lançaram-se na criminalidade: roubavam,


saqueavam e sequestravam. Algo precisava ser feito.

Em 1095, o papa Urbano II convocou expedições militares com o intuito de


retomar a Terra Santa e conter a expansão territorial islâmica. Em troca da
participação nas Cruzadas, os cavaleiros ganhariam o perdão de seus pecados
e a garantia do paraíso após a morte; ganhavam também a possibilidade de se
tornarem senhores das novas terras que conquistassem dos muçulmanos.
Os cavaleiros que participassem das Cruzadas também poderiam se tornar
ricos homens de negócios, por meio do comércio das especiarias orientais, que
tinham alto valor: pimenta-do-reino, cravo, noz-moscada, canela e outras.

Entre os séculos XI e XIII, movidas pela fé e pela ambição, oito Cruzadas


partiram em direção ao Oriente.

As Cruzadas não atingiram seus objetivos – pois os muçulmanos continuaram


a se expandir –, mas proporcionaram mudanças no sistema feudal, tais como o
enfraquecimento da nobreza, o fortalecimento do poder real e o surgimento de
novas rotas comerciais (o que incentivou o surgimento de outros mercados).

Assista ao filme Cruzada (direção de Ridley Scott, 2005), que conta a história de nobres cavalei-
ros franceses unidos em uma grande cruzada para lutar contra os muçulmanos em Jerusalém,
cidade conhecida como Terra Santa.

A importância da Igreja no mundo feudal


Como na Europa medieval não havia Estados como os que existem atualmente,
o rei era uma espécie de suserano mais importante. Então, se não havia Estados
nacionais, o que unia os diferentes senhores feudais? A Igreja era a instituição que
unificava, em torno da fé cristã, a sociedade feudal.
A Igreja tinha um papel fundamental na cultura medieval. Ela centralizava, em
seus mosteiros e universidades, o estudo e a produção do conhecimento, ditava a
produção artística e organizava o calendário dos dias festivos, entre outras atividades.
De modo geral, ela também determinava o conjunto das normas que orienta-
vam o comportamento social. Até o tempo cotidiano era, de certa forma, regido
pela Igreja: em uma época em que não existiam relógios de pulso, eram as badala-
das dos sinos das igrejas que marcavam a passagem do tempo.

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UNIDADE 3

© Leemage/Diomedia

Catedral de Lincoln construída durante o século XIII na Inglaterra.

61
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UNIDA

O clero tinha um poder muito grande na sociedade feudal. Praticamente toda a


produção cultural, artística e científica estava vinculada à Igreja. Por isso, as princi-
pais obras de arte da época abordavam temas religiosos. As construções mais impo-
nentes eram, além dos castelos, as igrejas e catedrais. Os livros mais importantes
produzidos durante o feudalismo, como a Suma Teológica, de São Tomás de Aquino
(1225-1274), foram escritos religiosos.
Por ter acumulado muitas riquezas, a Igreja Católica mandou construir edifícios
grandiosos, como a catedral de Lincoln (1256-1280), na Inglaterra, no século XIII. No
período medieval, muitos reis foram coroados em catedrais como essa.
O alto clero era composto pelos membros importantes da Igreja. Era integrado
principalmente por nobres, privilegiados por sua condição de nascimento na
sociedade feudal.
Embora a Igreja fosse a maior autoridade espiritual da Idade Média, ela não era
indiferente aos assuntos materiais e também detinha considerável riqueza. Como
a Igreja tinha vastos territórios sob sua responsabilidade, pode-se afirmar que o
trabalho dos servos sustentava não somente a nobreza, mas também o clero.

ATIVIDADE 1 O mundo feudal


De acordo com os textos As relações sociais no feudalismo e As Cruzadas, relacione
as perguntas com as respostas corretas:

□ Ampliar os domínios da Igreja, espalhar a


fé católica e reconquistar a cidade de Jerusalém
(também chamada de Terra Santa), considerada
a) Quais eram as obrigações sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos.
dos senhores feudais para □salo;Oeste,
suserano concedia terras (feudos) ao vas-
em troca, oferecia apoio militar e fide-
com os servos?
lidade ao suserano.
b) Como se dava a relação
de suserania e vassalagem □de seO tornarem
perdão de seus pecados e a possibilidade
senhores das terras conquistadas,
entre os nobres?
bem como de enriquecerem como homens de
c) Quais eram os objetivos negócios, por meio do comércio das especiarias
das Cruzadas? orientais.
d) O que motivou a partici- □parteProteção dos servos de ataques externos (por
de outros senhores), ajuda em casos de
pação de nobres cavaleiros
emergência (como em épocas de fome, nas quais
nas Cruzadas?
o senhor feudal abria os seus celeiros aos campo-
neses) e possibilidade de trabalhar nas terras do
feudo para tirar o seu sustento.

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UNIDADE 3

1 Leia a descrição abaixo.

Esses homens não recebiam salário, mas trabalhavam em troca de moradia e proteção.
Eles trabalhavam em terras que não eram suas, mas de um proprietário que exigia parte
da produção. Ali viviam até a morte, nunca podendo abandonar seu trabalho. Porém, eles
não poderiam ser negociados ou expulsos da propriedade.

Esse trabalhador descrito identifica-se como

a) um homem que viveu sob o regime de parceria, trabalho típico da segunda metade do século
XIX no Brasil.
b) um escravo da Antiguidade romana, que não recebia salário nem terras, vivendo ao lado de
seu proprietário.
c) um servo feudal, preso à terra e às tradições medievais. Morava no feudo de seu senhor e pagava
pela proteção recebida, a talha e a corveia.
d) um colono que, após 20 anos de trabalho, recebia a propriedade da terra, através da Lei de
Terras de 1850.
e) um vassalo que jurava obediência ao seu senhor, seu suserano. Além dos serviços agrícolas
prestados, esse vassalo ia à guerra, defendendo os interesses de seu senhor.
Instituto Federal de São Paulo (IFSP), 2013. Ensino Técnico integrado ao Ensino Médio. Disponível em:
<http://www.ifsp.edu.br/index.php/arquivos/category/307-1.-semestre-2013.html?download=4714%3
Aprova-ensino-tecnico-integrado-ao-ensino-medio>. Acesso em: 26 fev. 2014.

2 A palavra “feudalismo” carrega consigo vários sentidos. Dentre eles, podem-se apontar aqueles
ligados a:

a) sociedades marcadas por dependências mútuas e assimétricas entre senhores e vassalos.


b) relações de parentesco determinadas pelo local de nascimento, sobretudo quando urbano.
c) regimes inteiramente dominados pela fé religiosa, seja ela cristã ou muçulmana.
d) altas concentrações fundiárias e capitalistas.
e) formas de economias de subsistência pré-agrícolas.

Fuvest 2012. Disponível em: <http://www.fuvest.br/vest2012/1fase/fuv2012v.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

63
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As relações de trabalho no feudalismo TEMA 3

Neste Tema, você estudará como se organizava o mundo do trabalho na


sociedade feudal, como acontecia a produção, como era a divisão do trabalho
e qual era o objetivo da produção na época. Assim, você terá conhecimentos
suficientes para comparar o mundo do trabalho naquela época com o de hoje.

Pense em sua rotina: Quais foram as últimas vezes que você usou dinheiro? E as
últimas vezes que recebeu algum pagamento em dinheiro? Como seria passar um mês
sem comprar nem vender nada? Você trabalharia ou já trabalhou por obrigação? Você
já trabalhou sem receber algum pagamento em dinheiro? Escreva, em poucas linhas,
sua reflexão sobre essas questões, pois elas o ajudarão a entender um pouco mais do
antigo mundo medieval em comparação com sua própria realidade.

Trabalho por obrigação e economia de subsistência

Como você observou, no feudalismo, as relações de trabalho não estavam


baseadas em salários, mas envolviam um conjunto de obrigações servis. Em troca
de proteção e da possibilidade de trabalhar em um pedaço de terra produzindo para
seu próprio consumo, os servos deviam trabalhar para o senhor feudal. Esse trabalho
acontecia de forma direta e indireta.

Trabalhar diretamente para o senhor feudal significava arar uma parte das ter-
ras desse senhor, o chamado manso senhorial, e entregar-lhe toda a produção.
O trabalho indireto ocorria quando o camponês entregava parte da produção da
sua gleba, o manso servil, para o senhorio, por meio de uma série de tributos.

64
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UNIDA

Além da corveia e da talha, existia um conjunto de obrigações menores que


acabava consumindo quase toda a produção dos servos. Mesmo com diversas
obrigações e sem poder ser proprietário de terras, os servos podiam ter suas
próprias ferramentas de trabalho, o que tinha certa importância na sociedade.

Em uma realidade na qual praticamente não existia o trabalho assalariado,


a circulação de moeda era rara, e as trocas eram uma forma de os produtores
comercializarem seus produtos. Entretanto, as trocas entre feudos não ocorriam
com frequência, já que a maioria dos produtos necessários para a subsistência de
nobres e servos era produzida no feudo.

Por isso, a economia feudal era predominantemente:

• natural, uma vez que se baseava em trocas diretas, sem a interferência do comer-
ciante, pois os produtos eram trocados entre os produtores;

• de subsistência, porque procurava atender às necessidades do feudo por meio da


produção local;

• desmonetizada, já que a circulação de moedas era restrita.

Na Idade Média, utilizava-se o sistema agrícola de rotação de culturas para preservar os nutrien-
tes da terra e aumentar a vida útil do solo. Esse sistema ainda hoje é empregado.
Na época, era comum dividir em três partes a área destinada ao cultivo. Em duas delas, planta- vam-
se dois tipos de gêneros agrícolas, como o trigo e a cevada, por exemplo. A terceira parte não
recebia plantação durante um ano, período no qual permanecia intocada.
No ano seguinte, havia um rodízio, e outra parte do campo ficava em repouso. No outro ano,
novamente os cultivos mudavam de lugar.
Com esse sistema, evitava-se o esgotamento dos nutrientes da terra, fenômeno que acontece
quando uma área recebe o cultivo de apenas um produto por muito tempo.

Portanto, a sociedade feudal não era uma sociedade de mercado, ou seja, os


bens produzidos e a força de trabalho, em geral, não se transformavam em mer-
cadoria. E, como a produção não estava orientada para o mercado, não existia a
mentalidade do lucro. Afinal, para quem passa a vida sem comprar e vender,
a ideia de lucro não faz sentido.

Além dos camponeses, havia os artesãos, que viviam em núcleos urbanos e


conheciam ofícios de carpintaria, ferraria, vidraçaria etc. Por causa dos seus
conhecimentos específicos, os artesãos reuniam-se de acordo com o seu ofício,
formando corporações de trabalho chamadas guildas ou corporações de ofício.

65
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UNIDADE 3

Nas guildas, os trabalhadores mais experientes eram denominados mestres.


Por serem donos de oficinas, onde realizavam seu trabalho, eles tinham a respon-
sabilidade de ensinar a profissão aos mais jovens, chamados aprendizes.

Após um período que variava entre dois e quatro anos, dependendo do ofício,
os aprendizes eram promovidos a artífices, uma espécie de auxiliar do mestre.
Como as oficinas, muitas vezes, funcionavam na moradia dos trabalhadores, era
comum que o ofício passasse de pai para filho.

Camponeses e artesãos tinham uma coisa em comum: possuíam seus instru-


mentos de trabalho e conheciam todas as etapas do processo produtivo em que
estavam envolvidos. Assim, um carpinteiro sabia fazer todas as peças usadas para
montar móveis variados: mesas, cadeiras, armários etc. Além de dominar o pro-
cesso de trabalho, ele era responsável por todas as etapas da produção, desde a
compra da madeira até a venda do móvel.

De modo semelhante, o camponês possuía suas ferramentas de trabalho e


dominava as diferentes etapas da produção no campo. Como a economia feudal
era voltada para a autossuficiência, um camponês não apenas trabalhava na terra,
mas realizava por conta própria a maioria das atividades necessárias para se man-
ter: construía a sua casa, confeccionava as próprias roupas e utensílios domésticos,
assava o pão etc. Isto é, não se contratava um pedreiro, nem se comprava roupas e
outros utensílios: o trabalhador procurava fazer tudo por conta própria.

As pessoas não costumavam se deslocar nessa época. Um camponês não tinha


liberdade para ir de um feudo a outro ou para trocar de senhor feudal, ou seja, ele
ficava preso à terra. Como consequência, a vida de um camponês ficava restrita ao
feudo e ao convívio com as pessoas que ali habitavam.

A partir do século XI, especialmente na Europa Ocidental, observa-se o cresci-


mento do comércio, e a figura do comerciante já se torna mais presente.

Você viu que a sociedade feudal apresentava uma rígida organização social.
Nela, grande parte dos trabalhadores não conseguia melhorar o seu padrão de
vida. Pensando nisso, atualmente, quais são as chances de um trabalhador
melhorar as suas condições de vida e a de seus familiares? O que você acha
necessário fazer para alcançar uma posição de destaque na sociedade?

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UNIDA

Hoje o trabalhador é “livre” para vender a sua força de trabalho para quem ele
quiser, mas isso não garante que ele tenha condições reais de alterar a sua posição
social, pois, para tanto, ele teria de deixar de ser empregado e tornar-se detentor
dos meios de produção, ou seja, ser proprietário e patrão. Nesse sentido, você acha
que existe muita diferença entre o mundo feudal e o mundo capitalista atual?

ATIVIDADE 1 Feudalismo versus Capitalismo

Marque com a letra “F” as características de trabalho referentes ao feudalismo


e com a letra “C” as que se relacionam com o capitalismo.

a) □ O trabalho é assalariado.

b) □ O trabalho não é remunerado e se pauta em relações de obrigação.

c) □ O trabalhador é proprietário das suas ferramentas e instrumentos de trabalho.

d) □ O trabalhador nada possui e vende a sua força de trabalho para o dono das
ferramentas e instrumentos de trabalho.

e) □ O trabalhador é livre para escolher onde e com o que trabalhar.


f) □ O trabalhador está preso à terra e ao domínio por parte do seu senhor.

g) □ O senhor tem a obrigação de proteger o seu trabalhador.

h) □ O patrão não tem nenhuma obrigação para com o trabalhador a não ser
pagar-lhe o salário em troca do trabalho realizado.

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UNIDADE 3

No quadro acima, observa-se a organização espacial do trabalho agrícola típica do período Maître de Talbot, Lestravailleurs. Reproduzido de Edward Landa & Christian Feller (Ed.), Soil and culture. New York: Springer, 2010, p. 16.

medieval. A partir dele, podemos afirmar que

a) os camponeses estão distantes do castelo porque já abandonavam o domínio senhorial, num


momento em que práticas de conservação do solo, como a rotação de culturas, e a invenção de
novos instrumentos, como o arado, aumentavam a produção agrícola.

b) os camponeses utilizavam, então, práticas de plantio direto, o que permitia a melhor conserva -
ção do solo e a fertilidade das terras que pertenciam a um senhor feudal, como sugere o castelo
fortificado que domina a paisagem ao fundo do quadro.

c) a cena retrata um momento de mudança técnica e social: desenvolviam-se novos instrumentos


agrícolas, como o arado, e o uso de práticas de plantio direto, o que levava ao aumento da produ-
ção, permitindo que os camponeses abandonassem o domínio senhorial.

d) um castelo fortificado domina a paisagem, ao fundo, pois os camponeses trabalhavam no domí -


nio de um senhor; pode-se ver também que utilizavam práticas de rotação de culturas, visando à
conservação do solo e à manutenção da fertilidade das terras.
Comvest – Vestibular Unicamp, 2011. Disponível em: <http://www.comvest.unicamp.br/vest2011/F1/f12011RY.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

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A crise no feudalismo e a transição
para o capitalismo TEMA 4

Neste Tema, você vai estudar o processo histórico que levou à crise do feuda-
lismo e a formação do capitalismo, de modo que você compreenda por que e como
surgiu o modelo de organização econômica e social de hoje em dia.

Possivelmente você já ouviu falar das Grandes Navegações. No contexto dessas


expedições marítimas, ocorreu a chegada dos portugueses ao Brasil. Você sabe o
que eles estavam procurando quando vieram para cá? Escreva, nas linhas a seguir,
o que você conhece sobre esse assunto; isso vai ajudá-lo a entender as mudanças
que contribuíram para o fim do feudalismo e o surgimento do capitalismo.

As causas internas e externas da crise do sistema feudal


A crise do sistema feudal só pode ser entendida mediante a investigação das
causas internas e externas que, juntas, levaram o feudalismo ao seu declínio.

Entre o final do
século XIII e o início

© DEA/G. Cigolini/Getty Images


do século XIV, esgo-
tavam-se as possibi-
lidades de expansão
territorial na Europa
medieval. As Cruza-
das, além de não con-
seguirem se impor
na região do atual
Oriente Médio, foram
perdendo territórios
para os muçulmanos.
A carência (falta) Vistaemperspectiva da cidade de Constantinopla. [Georg Braun e
Franz Hogenberg. Civitatis Orbis Terrarum, 1572. Xilogravura colorida.
de terras para a nobre-
Biblioteca Nacional Braidense, Milão, Itália.]
za europeia teve como

70
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UNIDA

resultado a intensificação dos conflitos entre os senhores feudais, que acabaram dis-
putando territórios e poder. Para aumentar as suas rendas, inclusive para financiar
essas guerras, os senhores feudais passaram a explorar ainda mais os servos, aumen-
tando os impostos.

No entanto, os camponeses não aceitaram essa situação passivamente. Como


resultado, a Europa atravessou um período de constante agitação popular, com
revoltas camponesas que pressionavam por mudanças sociais.

Por outro lado, do ponto de vista externo, as Cruzadas contribuíram para que
rotas marítimas e terrestres fossem reconquistadas, facilitando a retomada do
comércio no Mar Mediterrâneo, já que muitas expedições navegaram em direção
ao norte da África e do Oriente Médio, local da Terra Santa. Essas rotas acaba-
ram por consolidar os contatos comerciais entre os europeus e os comerciantes do
Oriente, especialmente com a cidade de Constantinopla.

Nas brechas que iam se abrindo no sistema feudal, o comércio ganhava força.
Conforme assinalado, apesar de nunca ter deixado de existir, ele tinha um papel
secundário durante a primeira metade da Idade Média. Nos últimos séculos desse
período, especialmente a partir do século XI, essa situação começou a mudar, a
produção agrícola cresceu e o comércio passou a ser uma força decisiva para a trans-
formação social que se preparava.

Os comerciantes, apoiados
© Archives Charmet/Bridgeman Art Library/Keyst one

pelos Estados que começavam a


se constituir, tomaram a inicia-
tiva de procurar alternativas de
expansão econômica. Uma des-
sas alternativas foram as nave-
gações para alto-mar em busca
de novas rotas para comercializar
com o Oriente, cujo resultado mais
conhecido foi a chegada dos euro-
peus à América e ao território que
hoje é o Brasil.

Com a ascensão (crescimento)


do comércio, ganhou importân-
cia um novo grupo social para a
Gravura do século XIX que representa a destruição de castelo
época: a burguesia (comerciantes), por camponeses, chamados de “jacques”, na França, em 1358, na
insurreição que ficou conhecida como a Revolta dos Jacques.
que vivia nas cidades (também

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UNIDADE 3

chamadas de burgos). Antigas cidades voltaram a crescer e pequenos povoados em


torno de um castelo se desenvolveram, dando origem a novas cidades. No local das
feiras também surgiram cidades, assim como em regiões onde diferentes estradas se
encontravam, uma vez que a circulação de mercadores também cresceu.

Inicialmente, os burgueses estavam sujeitos ao controle dos senhores feu-


dais, pois comercializavam em território do feudo, tendo de pagar impostos a
eles, assim como os moradores da cidade faziam. À medida que esses burgueses
foram enriquecendo e se fortalecendo, cresceu o descontentamento em relação
às exigências dos senhores. As cidades medievais e seus habitantes desejavam
a independência em relação aos respectivos senhores. Dessa forma, cidades e
burguesia foram se tornando independentes das obrigações feudais. Pode-se
dizer, então, que o crescimento do comércio fez parte das transformações do
próprio feudalismo.

Nessa transformação, estavam relacionados: o fim da conquista de territórios,


a rivalidade entre os senhores feudais, as rebeliões camponesas, o crescimento
das cidades, a ampliação do comércio e a ascensão da burguesia. Isso significa
que a “crise do feudalismo” não teve apenas uma causa, mas resultou de muitos
fatores ligados entre si.

A ligação entre esses fatores revela que:

• as transformações vieram de pressões internas e externas ao feudalismo;

• a ampliação do comércio transformou a economia feudal, antes voltada para


a subsistência;

• o crescimento comercial e urbano também fez surgir um novo grupo social,


a burguesia, composta de comerciantes, rompendo assim com a sociedade de
estamentos medieval.

72
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UNIDA

ATIVIDADE 1 Transformações do feudalismo

Releia com atenção o texto As causas internas e externas da crise do sistema feudal
e resuma-o, conforme as orientações a seguir.

• Faça uma pequena introdução, deixando claro o tema do seu resumo: a crise feu-
dal. Na sequência, localize no tempo o período em que ocorreu a crise do sistema
feudal, que resultou no declínio do feudalismo e no surgimento do capitalismo.

• Identifique as causas internas da crise feudal e as explique. Para isso, pense nas
razões que levaram ao aumento da exploração dos servos.

• Identifique a causa externa, citada pelo texto, que influenciou na crise do sistema
feudal. Explique como essa causa contribuiu para tal crise.

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UNIDADE 4

HISTÓRIA
A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO

TEMAS
1. A Revolução Industrial
2. A manufatura
3. A grande indústria
4. A Revolução Francesa

Introdução
Depois de estudar o modo de vida e os meios de trabalho no feudalismo e
analisar alguns elementos da passagem desse sistema econômico para o capita•
lismo, você verá, nesta Unidade, o modo como o capitalismo se consolidou – do
ponto de vista econômico, político e social – na História da nossa civilização. Esse
processo ocorreu após um longo período de formação que se iniciou na crise do
feudalismo e se estendeu até o século XVIII, quando houve a sua consolidação.

O fortalecimento do capitalismo foi mar• Revolução


cado por dois processos revolucionários que Fenômeno que ocorre quando há mudan•
serão tratados nesta Unidade: a Revolução ças profundas e radicais nos aspectos polí•
Industrial e a Revolução Francesa. A pri• ticos, sociais, econômicos e culturais de
uma sociedade ao mesmo tempo. Uma
meira teve caráter mais econômico e social, revolução pode ser pacífica ou armada.
e a segunda, mais político.

TEMA 1 A Revolução Industrial

Neste Tema, você vai estudar as principais características da Revolução


Industrial, de forma que você perceba como ela influencia a História da sociedade
ocidental até os tempos atuais.

Possivelmente, você já ouviu falar sobre a importância da indústria para o


desenvolvimento econômico de um país, Estado ou município. Nesse sentido,
reflita sobre o seguinte:

• Por que a indústria gera riquezas?

• Quais as características do trabalho industrial?

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UNIDADE 4

Agora, escreva, nas linhas abaixo, o que você já sabe sobre a indústria e sua
importância.

Aqui será proposto um procedimento de estudo um pouco diferente.

Você está acostumado a ler em voz alta para si ou para outras pessoas? Ler em
voz alta é importante por vários motivos; entre eles, destacam•se:

• ajuda no entendimento daquilo que você leu e, como consequência, torna mais
ágil o processo de aprendizagem;

• cria um estímulo visual (ver e ler as letras grafadas, as imagens e cores, acompa•
nhadas do som da sua voz, pode ajudá•lo a associar os sons às letras);

• melhora a pronúncia das palavras e ajuda a respeitar os sinais de pontuação do


texto, contribuindo para a compreensão das ideias expostas nele;

• promove o desenvolvimento da autoconfiança para falar bem em público;

• é uma oportunidade de exercitar o seu poder de concentração na leitura.

Nesta Unidade, você vai praticar a leitura em voz alta durante o estudo dos
textos. Lembre•se de que nem sempre na primeira leitura é possível ter fluência
verbal, ou seja, prática na pronúncia das palavras. Do mesmo modo, em um
primeiro momento, pode•se não compreender todas as ideias do texto. Por isso,
retome a leitura quantas vezes forem necessárias.

Você também pode utilizar os procedimentos de grifos, anotações, produções


de resumo e consultas ao dicionário – apresentados nas Unidades anteriores –
como recursos auxiliares para a compreensão dos conteúdos.

76
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 93 10/03/15 10:55
UNIDA

O capitalismo industrial
Na transição do feudalismo para o
capitalismo, a burguesia (ou seja, os
comerciantes) teve um papel funda•
mental para a expansão econômica. A
prática do comércio enriqueceu a bur•
guesia, gerou lucros e criou a necessi•
dade de expansão em busca de novas
áreas além da Europa, onde se pudesse
comprar matérias•primas e fornecer
as mercadorias produzidas pelos países
europeus. Foi nesse contexto que dois fenômenos históricos muito relacionados
com a nossa História se desenvolveram: as Grandes Navegações e a colonização das
Américas. Você estudou, nas Unidades anteriores, que, nesse período, o comércio
se tornou o principal motor da economia, e essa é uma das características prin•
cipais da Época Moderna, marcada pelo capitalismo comercial.
O triunfo da Revolução Industrial aconteceu quando, no século XVIII, o capita•
lismo comercial deu lugar ao capitalismo industrial. A atividade econômica deixou
de ser comandada pelos comerciantes e passou ao controle dos industriais, pro•
prietários dos meios de produção. E, como os industriais empregavam trabalhadores

Retrato do capitalismo comercial.


© Bridge man Art Library/Ke ysto ne

77
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UNIDADE 4

livres, surgiu a figura do operário, que é o trabalhador da indústria, dono unica•


mente da sua força de trabalho. É importante observar que a Revolução Industrial
marcou o surgimento da fábrica moderna.

Como isso aconteceu? Diferentemente do que ocorreu com outras revoluções,


não há datas específicas que indiquem início e término da Revolução Industrial.
Tratou•se de um processo longo que marcou, sobretudo, a segunda metade do
século XVIII e que começou na Inglaterra. Nesse processo, o campo inglês sofreu
transformações que podem ser diretamente associadas à Revolução Industrial,
pois foram fundamentais para que ela pudesse ocorrer. A agricultura passou a
ser uma atividade comercial, tornando•se mercantilizada. Os grandes proprie•
tários de terras passaram a produzir para o mercado, especialmente para a
indústria. Com isso, muitos trabalhadores rurais foram
expulsos dessas terras deixando de produzir para a pró• Mercantilizado
pria subsistência. Seja no campo, mas principalmente Que se tornou objeto de
comércio; que adquiriu
nas cidades, onde se concentraram as indústrias, o tra•
espírito mercantil, isto
balhador começou a vender sua força de trabalho em é, produzido em função
troca de um salário. Como consequência, a servidão foi de um lucro. Algo que se
vende ou compra como
desaparecendo e a maioria desses trabalhadores torna•
uma mercadoria.
ram•se assalariados.

Retrato do capitalismo industrial.

© NRM /SS PL /Ke yston e

78
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 93 10/03/15 10:55
UNIDA

A TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO RURAL


A transformação dos campos na Inglaterra aconteceu já a partir do século XVI, antes da
Revolução Industrial, em função da nova lógica capitalista de produção. Tal mudança con•
figurou justamente um dos fatores que permitiu à Inglaterra viver a Revolução Industrial,
fosse por conta do aumento da produção agrícola, fosse pela liberação de camponeses para
o trabalho na fábrica, como operários.

Desde o século XVI, os campos ingleses experimentavam o que se denomina de cercamentos.


Os grandes senhores de terra, com mentalidade mais capitalista, passaram a se apropriar dos
territórios dos camponeses e pequenos proprietários, de forma que os grandes latifúndios
tomaram conta da paisagem rural. Em consequência, a agricultura tornou•se uma atividade
mercantilizada e de larga escala, preocupada em atender aos crescentes mercados consumi•
dores, especialmente as cidades. Ao mesmo tempo, trabalhadores do campo foram expulsos
das suas terras e nem todos foram absorvidos como trabalhadores rurais assalariados, o
que fez que muitos migrassem para as cidades, tornando•se mão de obra disponível para as
fábricas. Daí o surgimento de um mercado de reserva para alimentar a indústria: o mercado
de operários.

A Revolução Industrial acabou estabelecendo uma crescente divisão do tra•


balho. Isso quer dizer que a produção foi dividida em partes cada vez menores,
conhecidas como trabalhos ‘especializados’. Por que especializados? Se antes,
no final da Idade Média, por exemplo, um artesão em sua oficina fazia carrua•
gens, agora passou a fabricar apenas rodas de carruagem. No novo modelo, um
operário apenas cortava a madeira, outro só pregava uma tábua à outra e assim
por diante. Na linha de montagem da grande indústria atual, o operário já nem
sequer fabrica uma roda completa. Seu trabalho resume•se a poucas operações
iguais e repetidas inúmeras vezes.

É importante refletir: Qual trabalhador era mais facilmente substituído: o


que sabia fazer a carruagem toda ou o que apenas montava a roda?

E por que o trabalho foi sendo transformado? Essa foi uma consequência do
crescimento da importância do mercado na sociedade que está ligada à ideia
do aumento dos lucros dos proprietários.

Quando a produção se destinava apenas à subsistência familiar, os cam•


poneses faziam todas as tarefas do plantio, da colheita, da preparação dos
alimentos, da pesca etc. Mas, quando passaram a produzir para o mercado,
começaram a trabalhar com produtos e artigos, que poderiam ser vendidos.
Depois, compravam no mercado as outras coisas de que precisavam para seu
sustento. Trabalhando com menos artigos, o seu ofício tornou•se cada vez mais
especializado. Por outro lado, essa especialização permitiu que produzissem

79
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 98 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

maiores quantidades de um mesmo bem para, assim,


atender ao mercado, que foi ficando cada vez maior.
O filme Daens, um grito
de justiça ( direção de
Em lugar de examinar uma situação particular,
Stijn Coninx, 1996) é um
você estudará como a divisão do trabalho evoluiu em retrato interessante das
toda a sociedade. Esse processo é parte da Revolu• condições de vida dos
trabalhadores a partir da
ção Industrial e transformou, gradativamente, toda a Revolução Industrial.
organização da produção.

Pensando no que você conhece sobre o mundo do trabalho de hoje e recordando


o que você estudou na Unidade anterior, reflita: Como era a organização do
trabalho antes da fábrica? Será que as mudanças na organização do trabalho após a
Revolução Industrial melhoraram a situação de vida dos trabalhadores?

ATIVIDADE 1
As características da Revolução Industrial
Assinale com um “X” as características da Revolução Industrial:

a) □ Crescimento econômico dependente da expansão territorial.


b) □ Comércio como principal motor da economia.

c) □ Atividade econômica comandada por industriais.

d) □ Surgimento do operário como principal tipo de trabalhador livre.

e) □ Agricultura de subsistência responsável pela produção de alimentos para a


população.

f) □ Agricultura mercantilizada responsável pela produção de matéria•prima


para produção industrial.

g) □ Todo o trabalho desenvolvido por um ou poucos homens que conhecem e


dominam todo o processo de produção de um produto.

h) □ Crescente divisão do trabalho e trabalho especializado: cada um faz uma


parte do produto.

80
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 98 10/03/15 10:55
A manufatura TEMA 2

O objetivo deste Tema é explicar para você as grandes mudanças históricas que
ocorreram na organização do trabalho e caracterizaram o capitalismo industrial.
Aqui, você vai estudar a forma de produção que deu origem à indústria moderna:
a manufatura.

Você já fez algum trabalho em que realizava todas as tarefas para chegar
ao produto final (por exemplo, construir uma pipa, fazer um móvel, costurar
uma roupa etc.)? E um trabalho em que cada um faz uma tarefa para se chegar
ao produto final, você já fez (como, por exemplo, o trabalho em um fábrica ou
oficina)? Se você não fez, pergunte para quem já realizou esses dois tipos de
trabalho: Qual é a maneira mais rápida e produtiva de se trabalhar? A satisfação
em fazer cada uma dessas diferentes tarefas é a mesma? Por quê?

Com base em suas respostas, escreva, nas linhas abaixo, o que você pensa sobre
esse assunto.

82
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 99 10/03/15 10:55
UNIDA

O trabalho manufatureiro: simplificação, repetição e produção em série


A manufatura foi a primeira forma histórica de produção capitalista. Ela se
desenvolveu a partir do século XV, quando os artesãos se concentraram em oficinas
nas quais fabricavam maior quantidade de mercadorias, de forma padronizada e em
série, mas ainda usando métodos artesanais. Ou seja, esses artesãos dedicavam•se a
produzir mercadorias iguais, de modo continuado, utilizando ferramentas simples.

Na manufatura, o trabalho também se tornou uma operação cada vez mais


repetitiva. Ao longo da História, a manufatura se originou de duas maneiras:

• a concentração, em uma mesma oficina, de diversas atividades que antes se rea-


lizavam separadamente. Por exemplo: uma carruagem era o produto do trabalho de
numerosos artesãos independentes, como o carpinteiro, o serralheiro, o torneiro, o
vidreiro, o pintor, o envernizador, o dourador etc. A manufatura de carruagens reu•
niu esses artesãos em um mesmo local, a fábrica, onde todos trabalhavam ao mesmo
tempo, colaborando uns com os outros. Não se pode pintar uma carruagem antes de
ela estar pronta. Mas, como muitas carruagens eram feitas ao mesmo tempo, umas
podiam ser pintadas enquanto outras estavam começando a ser fabricadas. O impor•
tante é observar que, nessa etapa, os artesãos conheciam todo o processo do trabalho
e ainda não se utilizavam de máquinas movidas por energia não humana;

• a reunião de indivíduos realizando um mesmo trabalho, que passou a ser divi-


dido em diferentes fases. Nesse caso, o trabalho era dividido em muitas partes e,
em vez de executarem todas as etapas da montagem de um objeto, os trabalhado•
res especializaram•se em apenas uma ou outra operação específica. Por exemplo,
no caso da carruagem, em vez de um artesão montar, sozinho, uma roda inteira,
uma pessoa só cortava a madeira em formato circular, outra só fazia os aros da
roda, outra só fazia o furo do eixo, e assim por diante, até a roda ficar pronta.
Dessa maneira, eles faziam, no mesmo tempo, muito mais rodas que um único
artesão. E o mesmo acontecia com as outras peças que faziam parte da carruagem.

Nesse novo modelo de produção, o trabalho tornou•se repetitivo e simplificado.


Você lembra que, antes dessa divisão de tarefas, o artesão conhecia todas as eta•
pas da montagem do produto, ou seja, todo o processo de trabalho? Agora, com
essa nova organização do trabalho, o artesão desconhece as outras tarefas porque
estas são executadas por outros trabalhadores. Ele perde a compreensão do traba•
lho como um todo. Por consequência, fica mais fácil substituir esse trabalhador,
pois a sua tarefa tornou•se mais simples de executar, por exemplo, só furar o eixo
da roda, em vez de ter de saber fazer a roda inteira.

83
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 100 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

Com a especialização do trabalhador em uma única tarefa, seu trabalho ficou


mais rápido, repetitivo e preciso. Com o objetivo de conseguir maior eficiência, o
trabalhador criou novas ferramentas para ter um bom aproveitamento e desem•
penho na produção.

Essas ferramentas ajudaram o trabalhador a rea• Eficiência e eficácia


lizar com maior eficácia aquilo que ele fazia antes Muitas vezes, essas palavras
usando o trabalho manual. Como foi criada pelo tra• são usadas como sinônimos,
mas são diferentes. Eficiência
balhador, essa ferramenta contém a sabedoria que
diz respeito à forma de
ele desenvolveu realizando o seu trabalho. se fazer algum trabalho. “Se
um trabalhador realizar uma
Como resultado, pode•se dizer que a especializa• tarefa de acordo com as nor•
ção do trabalho na manufatura diminuiu o “valor” mas e os padrões preestabele•
do trabalhador, pois seu trabalho passou a ser muito cidos, ele a estará realizando
de forma eficiente.” Eficácia
simples e não necessitava de conhecimento especí•
“significa fazer o que neces•
fico e iniciativa. sita ser feito para alcançar
determinado objetivo”; “[...]
Na manufatura, o produto deixou de ser a obra de um trabalhador pode produ•
um único trabalhador, tornando•se fruto do trabalho zir um produto adequado [de
de vários. Com isso, o trabalhador individual tornou•se forma eficaz], mas, se não rea•
lizar as tarefas corresponden•
uma parte, uma engrenagem de um mecanismo mais
tes com eficiência, o resultado
amplo, como se a produção resultasse de um “trabalha­ final não será apropriado”.
dor coletivo”. Dessa forma, o trabalhador não se reco• SANDRONI, Paulo. Dicionáriode Economia do Século

nhece no produto de seu próprio trabalho. XXI. São Paulo: Record, 2007. 3. ed. revista. p. 284.
© Bridge man Art Library/Ke ysto ne

© Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock

Xilogravura que representa mulheres trabalhando em Nessa imagem do início do século XX,
oficina de fiação em Saulxures, atual França, 1862. podem ser observadas características do
[Biblioteca das Artes Decorativas, Paris, França.] trabalho industrial.

84
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 100 10/03/15 10:55
UNIDA

ATIVIDADE 1
Vantagens e desvantagens da manufatura
Releia o texto O trabalho manufatureiro: simplificação, repetição e produção em série
e responda:

1 Quais as vantagens e desvantagens da manufatura para o trabalhador?

2 Quais as vantagens e as desvantagens da manufatura para o dono da fábrica?

85
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 103 10/03/15 10:55
TEMA 3 A grande indústria

Neste Tema, você vai estudar como aconteceu a passagem da manufatura para
a grande indústria, consolidando o capitalismo industrial. Enquanto o ponto de
partida da mudança na manufatura foi a força de trabalho, com o aumento da
especialização, a principal transformação na grande indústria ocorreu nos meios
de produção, uma vez que a ferramenta foi ultrapassada pela máquina.

Você também vai ver quais foram as consequências dessas transformações


para o trabalhador e para a sociedade ocidental.

Você já esteve em uma situação em que não conseguiu um novo emprego ou


uma promoção porque não sabia operar um equipamento? Ou em uma situação em
que o maquinário ditava o ritmo ou a forma de fazer o seu trabalho? Ou, ainda, você
já esteve em uma situação em que alguma máquina ou tecnologia (por exemplo,
um eletrodoméstico, um computador etc.) contribuiu para que o seu trabalho fosse
executado mais rapidamente? Refletindo sobre essas questões, escreva, nas linhas a
seguir, o que você pensa do avanço tecnológico no mundo do trabalho.

A industrialização
As mudanças na manufatura começaram com alterações na organização
da força de trabalho. Já na grande indústria, a principal transformação ocorreu
nos meios de produção, isto é, nos instrumentos de trabalho. As ferramentas se
transformaram em máquinas e foi essa transformação que determinou, em grande
medida, a forma e as condições de trabalho. Ou seja, o processo produtivo passou a
determinar a maneira como o trabalhador tinha de executar suas tarefas e em que
condição devia realizá•las.

86
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

O que é uma máquina? Originalmente, nada Força motriz


mais é do que um conjunto de ferramentas Forma de energia que movi•
impulsionadas por uma força motriz. menta ferramentas ou máqui•
nas: o vento, a água, a tração
Com o passar dos anos, as ferramentas usa• animal, a energia elétrica e a
queima de combustíveis são
das pelo ser humano no processo produtivo foram
exemplos de forças motrizes.
aperfeiçoadas e deram origem a um mecanismo
chamado máquina. A máquina foi inventada e desenvolvida para executar opera•
ções que exigiam habilidade, força e agilidade. Com essa invenção, as tarefas do
processo produtivo não mais se sujeitavam às restrições impostas pelo limite físico
do corpo humano.

Diferentemente do ser humano, a máquina pode operar diversas ferramentas


ao mesmo tempo. Por isso ela tem a capacidade de substituir muitos trabalhado•
res de uma só vez.

Não foram as descobertas de novas forças motrizes, como a energia elétrica


e a máquina a vapor, que desencadearam a Revolução Industrial. Ao contrário,
foram as criações das máquinas•ferramentas que tornaram necessária a inven•
ção da máquina a vapor. Com isso, o trabalho libertou•se das restrições impostas
pelo limite do corpo humano.

A partir de então, o aumento da produtividade não estava mais relacionado


aos limites que a natureza impunha ao homem e passou a depender apenas da
evolução das máquinas.

Ao multiplicar a capacidade produtiva, a máquina superou, no geral, a


produção artesanal. O artesanato sobreviveu apenas em atividades que exi•
giam uma habilidade particular ou nas regiões onde o capitalismo tardou a
se desenvolver.

Do ponto de vista econômico, os


artesãos não podiam competir com A tecnologia e a ciência ajudaram a impulsionar
as indústrias no século XIX.
a alta produtividade das máquinas.
A grande indústria decretou, assim, A ciência começava, então, a se tornar um dos
aspectos mais valorizados da sociedade. Os avan•
o fim da dominância da produção ços em áreas como a química, a energia (elétrica
artesanal. Foi o triunfo da Revolu• e térmica) e o transporte (naval e ferroviário)
forneceram novas bases para o desenvolvimento
ção Industrial e a consolidação do
industrial.
capitalismo.

87
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
UNIDA

© Austrian Archives/Corbis/Latinstock
Grandes máquinas são típicas
do processo industrial em larga
escala. Observe que basta apenas
uma pessoa para operar uma
única máquina, não sendo mais
ne c e ss á r io c o nt ratar muitos
tr a ba lh a do r es .

ATIVIDADE 1
Trabalho e industrialização
Reflita sobre o texto A industrialização e leia atentamente as perguntas que
estão na coluna à esquerda.
Em seguida, consulte a coluna à direita e verifique qual das alternativas melhor
responde às perguntas.

□fontes
As ferramentas passaram a ser movidas por
de energia independentes do homem,
a) Qual foi a principal
transformação que a indus• e as máquinas passaram a fazer operações antes
trialização trouxe para o feitas pelo ser humano.
trabalho?
□cessoPorque as máquinas dominaram todo o pro•
produtivo e eram movidas por uma fonte
b) Que transformações a
de energia independente do trabalho humano.
industrialização trouxe
para o trabalhador, no □maneira
Como a máquina tem um ritmo próprio e uma
própria de ser operada, o ser humano tem
que diz respeito ao seu
trabalho? de se adaptar a ela e trabalhar no seu ritmo e da
forma que ela determinar. Com isso, pela primeira
c) Por que, com a
vez na História, o ser humano deixou de controlar
industria• lização, a suas ferramentas e passou a ser controlado por elas.
produtividade nãodependia Além disso, a máquina substituiu o trabalhador em
mais dos limitesdo trabalho
suas funções, causando demissões em massa.
humano?

d) Por que a industriali•


□quem
Porque multiplicou a capacidade produtiva e
produzia “à mão” não podia competir com
zação superou o trabalho a produção industrial em escala.
artesanal?

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00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

A seguir, leia trechos de jornais e livros ingleses citados em um livro do


filósofo alemão Friedrich Engels (1820•1895). Na sequência, pense sobre as
questões propostas em Reflita.

“Nessa parte da cidade não há esgotos, banheiros públicos ou latrinas nas casas;
por isso, imundícies, detritos e excrementos de pelo menos 50 mil pessoas são jogados
todas as noites nas valetas, de sorte que, apesar do trabalho de limpeza das ruas, for•

mam•se massas de esterco seco das quais emanam miasmas que, além de horríveis à
vista e ao olfato, representam um enorme perigo para a saúde dos moradores.” (p. 79)

“M. H., de vinte anos, tem duas crianças; a menor é um bebê, que fica aos cuida•
dos do mais velho; ela sai para a fábrica pouco depois das cinco horas da manhã e
retorna às oito da noite; durante o dia, o leite escorre•lhe dos seios, ensopando•lhe o
vestido. M. W. tem três crianças; sai de casa por volta das cinco horas da manhã de
segunda•feira e só retorna no sábado, às sete horas da noite; no seu regresso, tem
tanto a fazer pelas crianças que não pode se deitar antes das três horas da manhã;
às vezes, a chuva parece molhar•lhe até os ossos e ela trabalha nesse estado; afirma:
‘Meus seios me causam dores terríveis e com frequência escorrem a ponto de me
deixarem molhada’.” (p. 182)

“Antes de chegar a Leeds, nunca constatei essa singular deformação das par•
tes inferiores do fêmur. Inicialmente, pensei tratar•se de raquitismo; mas o grand e
número de pacientes que chegavam ao hospital de Leeds, a incidência da doença
numa idade (oito a catorze anos) em que os jovens geralmente não são mai s sujei•
tos ao raquitismo e, enfim, o fato de a enfermidade só ter se manifestado a partir
do emprego dos jovens nas fábricas, isso me levou a logo mudar de opinião. Até o
presente, já examinei cerca de cem desses casos e posso afirmar, categoricamente,
que são consequência do excesso de trabalho. Tanto quanto sei, todos os casos eram

89
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
UNIDA

apresentados unicamente por crianças


empregadas em fábricas e elas pró•

© Stapleton Collection/Corbis/Latinstock
prias veem no trabalho a origem de
seu mal. O número de casos de esco•
liose da coluna vertebral que consta•
tei, provocada evidentemente por uma
longa permanência numa posição
o
ereta, não deve ser inferior a trezentos
édi
cr
©
(doutor Loudon, evid. p. 12­13).” (p. 190)

A pobreza e o desrespeito à dignidade humana


eram comuns na Inglaterra do século XIX. A gravura
representa uma rua em Whitechapel, em Londres,
Inglaterra, no ano de 1872. [Do livro London, a
pilgrimage (Londres, uma peregrinação), de Blanchard
Jerrold e Gustave Doré, 1872.]

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhad ora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. Tradução: B. A. Schumann.

REFLITA
Você acha que, do tempo em que esses registros foram publicados até hoje, a situação dos
trabalhadores mudou? Por quê? Quais aspectos mudaram e quais ainda hoje permanecem?

90
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
TEMA 4 A Revolução Francesa

Neste Tema, você vai estudar a Revolução Francesa, que ocorreu no final do
século XVIII. Você verá como ela contribuiu para a consolidação do capitalismo,
com a constituição do Estado burguês, bem como para a conquista de alguns
direitos e liberdades civis e políticas, que existem até hoje, permitindo que o tra•
balhador mudasse de sua condição de servo para a de cidadão.

Você já ouviu falar sobre o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”? E sobre


um povo que se rebelou contra o rei e cortou•lhe a cabeça na guilhotina? E
sobre Napoleão Bonaparte? Escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre
esses assuntos, pois todos eles se referem à Revolução Francesa.

A Revolução Francesa: luta do povo e ascensão da burguesia


Como você estudou, a fase final da longa transição do feudalismo para o
capitalismo foi marcada por duas revoluções: a Revolução Industrial e a Revo•
lução Francesa.

A Revolução Industrial, que teve a sua origem na Monarquia


Inglaterra, ditou o ritmo das transformações econômicas Forma de governo em
que logo se difundiriam pelo mundo. Já a Revolução que o governante recebe
o poder heredi tari a•
Francesa, iniciada no final do século XVIII, preparou o
mente e por tempo inde•
terreno político e cultural para a sociedade capitalista terminado; portanto, o
se consolidar. Embora tenha acontecido em um só país, rei tem poder vitalício
a Revolução Francesa foi referência para as mudanças (até a morte). Há tipos
distintos de monarquias.
que logo avançaram nos países onde o capitalismo
Por exemplo, na abso•
se consolidava. Neste Tema, serão abordadas as lutista, o rei tem poder
características dessa revolução para, em seguida, absoluto, ou seja, seu
analisar sua importância para o mundo. desejo é uma ordem; no
entanto, na parlamenta•
Antes da consolidação do capitalismo, a França, rista, o rei governa com
um Parlamento e tem um
como grande parte da Europa, era governada por uma papel mais simbólico do
monarquia absolutista. Nesse sistema de governo, havia que executivo.

91
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 104 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

um rei e um Estado centralizado, que exercia o poder político sobre um território,


onde ainda predominavam as marcas das relações de servidão.

A Revolução Francesa representou o fim do Estado absolutista, isto é,


daquilo que os historiadores chamam de Antigo Regime. Para fortalecer o seu
poder político, a burguesia, que já havia firmado sua influência por meio do
poder econômico, aliou•se, por um determinado momento, às camadas mais
pobres, que clamavam pelo fim da servidão. Juntos, esses dois grupos enfren•
taram o rei e os aristocratas que, para não perder seus privilégios e seu poder,
resistiam às mudanças.

Observe o quadro A Liberdade guiando o povo, pintado por Eugène Delacroix em


1830, que retrata a Revolução Francesa.

© RM N/Other I mag es

Eugène Delacroix. A Liberdade guiando o povo, 1830. Óleo


sobre tela, 260 cm × 325 cm. Museu do Louv re, Paris, Fra nça.

92
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 111 10/03/15 10:55
UNIDA

A Revolução foi um processo que durou anos e nem todas as propostas


revolucionárias foram realizadas de imediato. Além disso, houve conquistas
de direitos que depois se perderam. No conjunto, seu resultado é claro: o fim
do Estado absolutista e das instituições feudais e o triunfo do capitalismo e da
burguesia no poder, mas também da generalização da condição de cidadão para
todos os trabalhadores.
Diferentemente da Revolução Industrial, a Revolução Francesa é datada pelos
historiadores, que apontam 14 de julho de 1789 como o dia em que teve início.
Nesse dia, a população tomou, em Paris, a prisão da Bastilha, conhecida por encar•
cerar os inimigos da monarquia.
Mas quais foram os fatos que deram origem à Revolução?
A França contraiu muitas dívidas em função de seu envolvimento em guerras
contra outras nações europeias, ficando com graves problemas financeiros. Então,
o rei da França, Luís XVI, convocou, em 1789, os Estados Gerais, uma assembleia
onde se reuniram representantes da Igreja e da nobreza (aristocracia), além do
chamado Terceiro Estado, formado pela burguesia e por outras camadas da popu•
lação. No Antigo Regime, a sociedade ainda era dividida de acordo com a lógica
medieval, ou seja, em “ordens” ou estamentos. A divisão era a seguinte:
• “Primeiro Estado” – o clero, isento de pagar impostos diretos;
• “Segundo Estado” – a nobreza, isenta de pagar impostos diretos; e
• “Terceiro Estado” – o restante do povo, que reunia a burguesia, os trabalhadores
urbanos, os artesãos, os trabalhadores das manufaturas e os camponeses, entre
outros; esse grupo pagava impostos ao Estado francês.
Nessas assembleias, as discussões rapidamente se alteraram. Os representan•
tes da burguesia recusaram•se a aumentar a sua contribuição financeira ao Estado
francês sem um aumento correspondente do seu poder político, e o Terceiro
Estado se rebelou, formando uma reunião independente chamada Assembleia
Nacional Constituinte. Nessa assembleia, foi proposto que o rei se subordinasse à
Constituição Nacional.
O rei e a nobreza não aceitaram negociar com os outros grupos; afinal, no abso•
lutismo as decisões estavam concentradas nas mãos dos monarcas. Então, em 14
de julho, ocorreu a tomada e a queda da Bastilha. Em 26 de agosto, a Assembleia
Nacional Constituinte decretou o fim dos privilégios associados ao feudalismo e
aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão , que rompia com os privi•
légios do rei e dos nobres e declarava que todos eram iguais em direitos e deveres,
isto é, todos tinham os mesmos direitos e obrigações perante a lei. Nascia, assim,
a noção de cidadão que se tem até os dias atuais.

93
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 111 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

Nesse período, os franceses conviviam com a alta no preço dos alimentos,


provocada pela falta de abastecimento do setor agrícola. Também por isso, o povo,
que estava descontente, juntou•se à rebelião burguesa.

Com a crise social, política e econômica, em 1791, Luís XVI e a família real
fugiram em busca do auxílio de outras monarquias europeias para tentar conter
o processo revolucionário, mas foram capturados e presos. Isso contribuiu para
o fim da monarquia absolutista (em que o rei mandava em tudo e fazia as leis
segundo as suas vontades) e o rei teve de obedecer a uma Constituição (conjunto
de leis) que representava a soberania e a vontade do povo. Em 1792, os revolucio•
nários tiraram o rei do poder e convocou•se uma Convenção Nacional, na qual a
França foi declarada república. Era uma mudança radical, pois, em uma república
democrática, todo o poder deve vir do povo: o chefe do Estado deve ser eleito
pelos cidadãos e o seu mandato deve ter duração limitada, ou seja, a nobreza e o
rei não comandam mais a nação politicamente.

De 1792 até 1795, a Revolução entrou em sua fase mais violenta, conhecida
como “Terror”, sob a liderança dos jacobinos, o grupo mais radical da Revolução
Francesa, que era contrário à nobreza, à monarquia e à Igreja.

A maioria dos deputados da Convenção votou, condenando o rei à morte


e, assim, o monarca foi decapitado na guilhotina em 1793. Outros inimigos da
Revolução passaram a ser persegui•
dos implacavelmente pelo governo
jacobino, incluindo os de outros gru•
A classificação política em “direita” e “esquer­
pos burgueses, como os girondinos da” tem relação com a Revolução Francesa.
(mais moderados). Nas assembleias e reuniões políticas entre
jacobinos e girondinos, eles não trocavam
As notícias sobre a Revolução Fran•
a posição das suas cadeiras ao sentar•se à
cesa se espalharam pelo continente mesa. Os jacobinos, assim chamados por
fazendo que os monarcas da Áustria se reunirem no convento de Saint•Jacques,
e da Prússia, por temerem que fatos defendiam ideias mais radicais, além da
democracia revolucionária, e sempre se
semelhantes acontecessem em seus ter• sentavam à esquerda. Os girondinos, assim
ritórios, enviassem seus exércitos para conhecidos por serem do partido político
atacar os revolucionários franceses e da Gironda, defendiam os interesses da
burguesia e sempre se sentavam à direita.
restabelecer o Antigo Regime. Por causa
O fato de esses grupos não mudarem de
disso, os revolucionários se uniram e lugar em seus encontros fez que a população
se organizaram para resistir ao ataque, classificasse como esquerda os políticos
defensores do povo, e como direita os que
organizando o primeiro exército na•
defendiam os interesses da burguesia.
cional popular da história europeia.

94
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 111 10/03/15 10:55
UNIDA

O governo jacobino, liderado por um político revolucionário chamado


Robespierre, eliminou os líderes das camadas populares, bem como seus aliados
mais próximos e a grande burguesia. Com isso, foi ficando isolado e perdendo
força. Foram justamente os representantes da alta burguesia que articularam o
golpe contra Robespierre: eles proclamaram os jacobinos foras da lei e prenderam
os seus líderes.

Em 1794, Robespierre foi deposto e guilhotinado. No ano seguinte, em 1795,


instalou•se o Regime do Diretório, que pôs fim ao Terror e procurou controlar a
situação ao adotar políticas sociais conservadoras, marcando o fim de uma etapa
de mudanças radicais. A alta burguesia retomou o poder, e o exército teve seu
prestígio aumentado.

Por causa dos conflitos internos e das guerras internacionais, os militares


abriram espaço para a sua própria ascensão, consolidando•se no poder com um
golpe de Estado em 1799, liderados por um brilhante oficial de nome Napoleão
Bonaparte. Muitos historiadores consideram que esse momento marca o fim da
Revolução Francesa, pois o povo não era mais o ator principal dos eventos, e sim o
exército francês.

Sob a liderança de Napoleão, que se autocoroou imperador em 1804, o exér•


cito francês iniciou uma fase de expansão militar pela Europa. As batalhas desse
período ficaram conhecidas como campanhas napoleônicas.

Após grandes conquistas territoriais por toda a Europa, Napoleão foi final•
mente derrotado e preso em 1814. Chegou a retomar a liderança francesa no ano
seguinte, mas foi vencido definitivamente pelos ingleses na Batalha de Waterloo,
na Bélgica, em junho de 1815.

A partir de 1815, as monarquias europeias fizeram uma aliança conservadora com


o objetivo de conter a expansão da Revolução, e a monarquia foi reinstalada na pró•
pria França. O fim da Revolução e a derrota de Napoleão, porém, não significaram a
decadência das ideias da Revolução Francesa. Ao contrário, elas se espalharam pelo
mundo e motivaram muitas revoluções ao longo do século XIX.

Na América Latina, essas ideias foram uma influência ideológica decisiva para
as lutas de independência em todo o continente, inclusive no Brasil. Os ideais da
Revolução Francesa expressos no lema “liberdade, igualdade e fraternidade” esta­
vam destinados a se impor ao longo dos séculos.

95
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 120 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

Veja algumas sugestões de filmes que podem ajudar você a compreender melhor a
Revolução Francesa.
• A Revolução Francesa (The French Revolution). Direção: Doug Shultz, 2005.

Trata•se de um documentário que mostra todo o desenrolar do movimento revolucionário


francês, desde a queda da Bastilha até a ascensão de Napoleão.
• Danton: o processo da revolução (Danton). Direção: Andrzej Wajda, 1982.

Esse filme apresenta o período mais radical da Revolução Francesa (o período jacobino). No
centro da história, está Danton, um dos líderes revolucionários condenados por Robespierre.
• Napoleão (Napoléon). Direção: Abel Gance, 1927.

Trata•se de um filme mudo que retrata a ascensão de Napoleão ao poder.

Pense nas características da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.


De que forma os acontecimentos aqui estudados tiveram influência na realidade
atual? O mundo do trabalho, no qual você está inserido, foi definido ao longo da
Revolução Industrial, e boa parte de seus direitos e liberdades civis e políticas
foram conquistados durante a Revolução Francesa.

Agora ficou clara a importância do estudo da História para você compreender


melhor a sua própria vida? E mais do que isso, ficou clara a possibilidade de mudá•la?

Para realizar uma boa pesquisa, tenha clareza sobre o assunto que será pes•
quisado – neste caso, a Revolução Francesa.

Inicialmente, anote o que já sabe sobre o assunto, pois isso o ajudará a


organizar as informações iniciais, resgatando os seus conhecimentos prévios.

Na sequência, elabore perguntas a ser respondidas pela pesquisa, tais como:


O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Por quê?

Seguindo essas perguntas, utilize livros e enciclopédias – disponíveis para


consulta gratuita nas bibliotecas públicas – que tratem do assunto de forma ampla.
Geralmente, as enciclopédias indicam livros para leituras mais específicas.

96
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 120 10/03/15 10:55
UNIDA

Pesquise na internet usando palavras•chave, tais como: Revolução Francesa,


burguesia, Luís XVI, Napoleão, entre outras. Mas atenção: nem sempre os sites
encontrados são confiáveis. Procure sites de universidades, jornais e revistas espe•
cializadas, museus, arquivos e instituições públicas, e organizações não governa•
mentais reconhecidas. Por outro lado, evite sites pessoais, como alguns blogs, que
reproduzem informações sem critério e sem citar as suas fontes.

Selecione textos que mais se aproximam da sua pesquisa e, na sequência,


realize uma leitura atenta deles, procurando as respostas das suas questões.

Depois das leituras, tendo compreendido o que leu, construa o seu próprio
texto. Não faça cópias de trechos dos textos lidos. Seu texto tem de mostrar ao
leitor o que foi aprendido com a pesquisa realizada.

Não se esqueça de que, na Unidade 1 deste Volume, foi explicado o


procedimento de produção de um resumo. Caso seja preciso, retome•o.

Para finalizar, em uma pesquisa é sempre importante haver uma conclusão,


ainda que parcial, sobre o assunto estudado. Para tal, apresente o seu pensamento
sobre o assunto e a sua interpretação sobre as informações coletadas.

As pesquisas podem ser enriquecidas com imagens e outros recursos


pertinentes, tais como mapas, gráficos, entrevistas, curiosidades etc.

Por último, indique a bibliografia pesquisada, ou seja, a relação dos livros e sites
utilizados para buscar as informações.

ATIVIDADE 1
Fatos da revolução
Releia o texto A Revolução Francesa: luta do povo e ascensão da burguesia , obser•
vando as partes grifadas, e preencha o quadro indicando o ano e os respecti•
vos acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa. Dessa maneira, você
vai organizar uma cronologia – uma sequência de acontecimentos ao longo do
tempo – sobre essa revolução. Você pode complementar sua resposta, reali•
zando uma pesquisa na biblioteca ou na internet.

97
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 120 10/03/15 10:55
UNIDADE 4

Ano O que aconteceu e quais foram as consequências desse fato

A Revolução Francesa teve numerosos desdobramentos, possibilitando transformações polí•


ticas no Estado e na sociedade em vários países. Considerando os impactos sociais e políticos da
Revolução Francesa, identifique as afirmativas corretas e falsas:
O fim do Absolutismo e a instauração de Monarquias e Repúblicas constitucionais, especial•
mente na Europa.

□Direitos
O fim da propriedade privada, como resultado direto dos ideais inscritos na Declaração dos
do Homem e do Cidadão, de clara inspiração social ista.
Uma base político•ideológica, a partir do jacobinismo, para os modernos movimentos de ori•
gem popular de contestação à ordem burguesa.
O fim da servidão e a afirmação da igualdade jurídica entre todos os cidadãos, independente
da sua origem social.

□daçãoOdafortalecimento do domínio ideológico da Igreja, especialmente sobre o ensino, e a consoli•


sua hegemonia nas questões de Estado.
a) F, V, V, V, V d) F, F, V, V, F
b) F, V, F, V, F e) V, F, F, V, F
c) V, F, V, V, F
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Centro de Ciências Aplicadas a Educação (CCAE) – Simulado Enem 2011.
Disponível em: <http://www.ccae.ufpb.br/cursinho/arquivos_download/simulado_enem_2011/caderno_de_questoes.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

98
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 120 10/03/15 10:55
UNIDA

A herança da Revolução Francesa para o mundo de hoje:


liberdade, igualdade e fraternidade
Diversas ideias utilizadas atualmente nasceram e foram consagradas durante a
Revolução Francesa. Seguem algumas delas.

República
A origem da palavra república vem do latim res publica, que significa “coisa
pública”, ou seja, aquilo que pertence a todos. Assim, na concepção política inaugu-
rada pela Revolução Francesa, o poder vem do conjunto da população. O mandato do
chefe de Estado não é mais divino, mas representa a vontade do povo, que pode se
manifestar, por exemplo, por meio do voto, escolhendo seus representantes.

Liberdade
A liberdade na Revolução Francesa tem vários sentidos:
• o destino dos homens não está subordinado à vontade divina; os homens têm
liberdade de escrever sua história. Assim, um governo considerado injusto deve
ser substituído.
• o uso livre da razão e do pensamento surge como critério não apenas da inves•
tigação científica, mas também da organização social. Por isso, a sociedade deve
ser organizada segundo princípios racionais e não divinos. O homem deve usar
sua liberdade de pensamento não só para entender a sua realidade, como também
para questioná•la e propor mudanças.
• a liberdade de locomoção entre os territórios surge como consequência da abolição
da servidão que obrigava os camponeses a permanecerem presos à mesma terra.

Igualdade
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão propõe a igualdade natural dos
homens. A condição do nascimento deixa de ser um critério de divisão social.
Portanto, todas as pessoas têm direitos iguais e devem ser tratadas igualmente
perante a lei e a justiça. É daí que surge a noção contemporânea de cidadania.

Fraternidade
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão coloca•se como universal, sendo
válida para todos os lugares, pois tem a pretensão de envolver todas as pessoas
como uma grande comunidade de irmãos. Nesse sentido, considera todos iguais e
que um deve agir para com o outro com solidariedade.

99
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UNIDADE 4

Os princípios éticos e políticos defendidos durante a Revolução Francesa


acabaram influenciando a organização das sociedades e de seus Estados na
maioria dos países democráticos atuais e também os grandes organismos
internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Esses princípios
são utilizados para definir quais são os nossos direitos na atualidade. Veja a seguir
alguns desses direitos:
• todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem
agir com espírito de fraternidade em relação aos outros;
• direito à vida, à liberdade e à segurança;
• direito à proteção contra escravidão e contra tratamento cruel ou degradante;
• direito à justiça, ao reconhecimento e à proteção da lei;
• direito a habeas corpus, à defesa em um tribunal e a ser presumido inocente até
prova da culpa;
• direito à privacidade e à proteção ao lar, à honra e à reputação;
• direito à liberdade de locomoção e à residência;
• direito à liberdade de pensamento, à crença e à expressão de ideias;
• direito à livre escolha de casamento e à proteção da família;
• direito de associação;
• direito de governar, escolher os seus governantes (voto) e dispor de serviços públicos;
• direito à propriedade.

100
00_book_HISTORIA_VOL 1.indb 120 10/03/15 10:55
CESEC DE
ITAMARANDIBA

HISTÓRIA
Ensino Fundamental

Módulo II
(2° Teste)
HISTÓRIA

SUMÁRIO

Unidade 1 – A Europa depois das revoluções ................................................................. 3

Tema 1 – Nobres e burgueses: a disputa pelo Estado ....................................................................................


Tema 2 – A formação da classe operária ...............................................................................................................
Tema 3 – Novas ideias políticas: liberalismo, socialismo e comunismo ..............................................
Tema 4 – Novas ideias políticas: nacionalismo ..................................................................................................

Unidade 2 – 1848: a “Primavera dos Povos” ...................................................................................... 31

Tema 1 – Um ano de profundas mudanças ..........................................................................................................


Tema 2 – A “Primavera dos Povos” .....................................................................................................
Tema 3 – O resultado das revoluções de 1848 ...................................................................................................
Tema 4 – Novas conquistas dos trabalhadores ..................................................................................................

Unidade 3 – A Comuna de Paris ..................................................................51

Tema 1 – O surgimento da Comuna de Paris e seus desdobramentos .................................................


Tema 2 – O desfecho da Comuna de Paris ............................................................................................................

Unidade 4 – Imperialismo .......................................................................... 69

Tema 1 – Conceito de imperialismo .........................................................................................................................


Tema 2 – Capitalismo monopolista e práticas imperialistas ......................................................................
Tema 3 – A partilha do mundo ....................................................................................................................................

1
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 7 10/03/15 11:14
Caro(a) estudante,
Neste Caderno do Volume 2, você estudará a História europeia. Por que estu-
dar a Europa? Porque foi nesse continente que se formou o capitalismo, que, aos
poucos, expandiu-se pelo mundo, tornando-se o sistema econômico predominante
atualmente, inclusive no Brasil.
Você vai estudar a História europeia do final do século XVIII e do século XIX,
marcada por duas Revoluções (Industrial e Francesa), cujas consequências se
estenderam muito além dos países em que começaram. Nesse período, a indus-
trialização era referência econômica em toda a Europa, enquanto os ideários da
Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) inspiraram uma série de
movimentos revolucionários que se espalharam por esse continente. Esta revo-
lução, ao buscar melhores condições de vida e mais direitos para os trabalhadores,
bem como maior participação política, acabou influenciando os destinos das socie -
dades ocidentais até os dias de hoje.
Na Unidade 1, o ponto de partida será a Europa depois da Revolução Francesa.
Você vai estudar o processo de formação da classe operária e também o surgi-
mento de ideias políticas que tinham, em certa medida, aspectos comuns com
os princípios dessa revolução. Esses novos ideários políticos ficaram conhecidos
como liberalismo, socialismo, comunismo e nacionalismo.
Na Unidade 2, você vai estudar a “Primavera dos Povos”, nome dado ao con-
junto de eventos revolucionários que aconteceu em diferentes países da Europa
em 1848. Você verá como foi esse período, considerado pelos historiadores como
um dos mais agitados do século XIX na Europa. Ele serviu como um desabrochar de
lutas nacionalistas e também de lutas por direitos trabalhistas.
Na Unidade 3, você estudará a Comuna de Paris de 1871, uma importante
revolução dos trabalhadores franceses. Poderá compreender como foi esse
momento histórico, em que os trabalhadores, sobretudo os operários, consegui-
ram impor sua vontade e fazer prevalecer seu poder na organização e gestão da
sociedade parisiense.
Por fim, na Unidade 4, você verá como a expansão do capitalismo e a consoli-
dação da sociedade industrial foram fatores que deram origem ao imperialismo.
Para ter sucesso nessa etapa de seus estudos, é importante que você participe
ativamente das atividades e das oficinas oferecidas gratuitamente nos CEEJAs.
Nelas, é fundamental que você compartilhe sua experiência de vida e seus conheci-
mentos sobre a realidade, que são muito valiosos e precisam ser aproveitados.
Bons estudos!

2
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A EUROPA DEPOIS DAS REVOLUÇÕES

HISTÓRIA
UNIDADE 1 TEMAS
1. Nobres e burgueses: a disputa pelo Estado
2. A formação da classe operária
3. Novas ideias políticas: liberalismo, socialismo e comunismo
4. Novas ideias políticas: nacionalismo

Introdução
Duas revoluções marcaram o final do século XVIII e o século XIX: a Revolução
Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra, e a Revolução Francesa. Elas muda -
ram profundamente o mundo europeu. Caso queira ampliar seus conhecimentos
sobre esses assuntos, pesquise-os no Caderno do Volume 1.

A Revolução Industrial alterou radicalmente a forma como os europeus oci-


dentais produziam as mercadorias, criando o sistema de fábrica e introduzindo
máquinas que produziam em maior quantidade e em menor tempo.

A Revolução Francesa, por sua vez, consolidou a burguesia no poder, garan -


tindo a essa classe social, proprietária dos meios de produção, o poder político.
Em 1799, por meio de um golpe de Estado, o líder do exército francês, Napoleão
Bonaparte, assumiu o poder na França. O governo de Napoleão foi responsável pelo
fortalecimento dos ideais burgueses de liberdade, igualdade e fraternidade e pela
expansão desses ideais em boa parte da Europa, chegando até a América Latina.

Após a derrota do exército liderado por Napoleão Bonaparte, em 1815, alguns


países europeus tentaram restaurar o mundo tal como ele era antes da Revolução
Francesa. Isto é, um mundo governado por reis e monarcas absolutos, com pode-
res totais e com uma população de súditos sem direitos civis ou políticos. Mas isso
não foi possível. Os nobres voltaram a entrar em conflito com os burgueses, que
estavam cada vez mais fortes mas, ao mesmo tempo, com muito medo de perder
os privilégios por causa dos movimentos operários, que cresciam a cada dia.

Com a Revolução Industrial, surgiu uma nova classe social: os proletários,


trabalhadores das fábricas que se instalaram nas cidades onde se localizavam
as indústrias. Esses operários, entre eles crianças e mulheres, eram submetidos a
longas jornadas de trabalho e a condições de vida miseráveis, que não combina -
vam em nada com os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade defendidos na
Revolução Francesa.

3
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UNIDADE 1

No contexto de lutas de classes e conflitos sociais – gerados, em parte, pelas


condições miseráveis dos trabalhadores –, surgiram várias propostas para resol-
ver os problemas sociais e políticos daquela época. Muitas delas se baseavam nos
ideais da Revolução Francesa, que não haviam sido implantados para todos. Outras
propunham mudar radicalmente a sociedade, construindo um mundo diferente,
mais justo e igualitário. Havia também aquelas que faziam a defesa da unificação
de um povo sob uma nação. Tais propostas ficaram conhecidas como liberalismo,
socialismo, comunismo e nacionalismo.

Nesta Unidade, você vai estudar as transformações sociais e políticas mais


importantes que ocorreram no século XIX europeu.
© Bridgeman Art Library/Keystone

População pobre em Londres no século XIX. Xilogravura de Gustave Doré que


faz parte da obra Londres: uma peregrinação, 1872.

4
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 10 10/03/15 11:14
Nobres e burgueses: a disputa pelo Estado TEMA 1

Neste Tema, você estudará as disputas pelo poder político que ocorreram na
Europa enquanto o capitalismo se tornava o sistema econômico predominante.
Você vai compreender como elas acabaram por influenciar as lutas políticas e as
novas formas de organização do Estado em todo o mundo.

Você já ouviu falar da rainha da Inglaterra? Não parece contraditório que


justamente o primeiro país em que o capitalismo industrial se consolidou e as
ideias liberais se expandiram continue sendo, ainda hoje, uma monarquia?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você pensa sobre isso.

5
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UNIDADE 1

A permanência das monarquias


Quando as tropas de Napoleão Bonaparte foram derrotadas na Batalha de
Waterloo, em 1815, os líderes europeus entenderam que era necessário achar um
novo equilíbrio político para o continente, uma vez que o exército francês havia
conquistado uma série de territórios. Isso significava aproveitar o momento para
restabelecer a monarquia na França e redefinir as fronteiras territoriais da Europa,
retornando-as ao que eram antes do domínio napoleônico.
© Christie’s Images/Bridgeman Art Library/Keystone

Robert Alexander Hillingford. O duque de Wellington em Waterloo. Óleo sobre tela,


50,8 cm × 76,2 cm. Coleção particular.

Com a volta da monarquia, importantes conquistas sociais e políticas da Revo-


lução Francesa seriam perdidas ou colocadas em risco, entre elas:

• o fim do absolutismo e a instauração de monarquias e repúblicas constitucionais,


uma vez que as monarquias absolutistas foram restauradas na Europa;

• o fornecimento de uma base político-ideológica para os movimentos populares


de contestação à ordem burguesa;

• o fim da servidão e a afirmação da igualdade jurídica entre todos os cidadãos.

6
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UNIDADE 1

Depois da derrota francesa em Waterloo, os representantes das potências vence-


doras (Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia) reuniram-se na Áustria, em uma conferên-
cia conhecida como Congresso de Viena. Ao final da conferência, ficou decidido que
o rei francês Luís XVIII, deposto por Napoleão, seria reconduzido ao trono na França.

No Congresso de Viena, três países reforçaram sua união, formando a Santa Aliança: Prússia,
Áustria e Rússia.

Esses países se propuseram a lutar para defender os “preceitos da justiça, da caridade cristã e
da paz” e pregaram que as relações entre os países fossem reguladas pelas “elevadas verdades
presentes na doutrina de Nosso Salvador”. O idealizador dessa aliança foi Alexandre I, czar russo
(“czar” era um título adotado pelos reis da Rússia entre 1546 e 1917). Assim, na realidade, a Santa
Aliança pretendia defender o retorno das monarquias na Europa.

Embora a Inglaterra não tenha assinado esse acordo, sua política esteve afinada com a das demais
potências. O objetivo comum era acabar com os ideais da Revolução Francesa e garantir a monar -
quia e a ordem na Europa.

Esse movimento, que tentou, em muitos países da Europa onde ocorreram


revoltas liberais, restabelecer o Antigo Regime (monarquias absolutistas), ficou
conhecido como Restauração.

Embora o poder dos monarcas já não fosse mais absoluto, isto é, embora eles não
pudessem mais governar sem obedecer às leis estabelecidas, sua volta aos governos
na Europa significou um retrocesso em relação às ideias democráticas e republica -
nas da Revolução Francesa. No entanto, o retorno de algumas monarquias ao poder
não conseguiu evitar a independência das colônias europeias que acontecia naquele
mesmo período. Na América, surgiram muitas repúblicas, sendo o Brasil o único país
a ter adotado a monarquia, sob o governo do imperador dom Pedro I.

É possível considerar que, em seus primeiros anos, essa aliança contrarrevo-


lucionária das monarquias teve sucesso em conter mudanças radicais na Europa.
Mas as pressões por reformas sociais não puderam ser completamente contidas.

Em 1848, na Europa, a situação de exclusão política, econômica e social das


camadas populares provocou movimentos revolucionários em diferentes países,
como Áustria, Hungria, França e territórios que mais tarde se tornariam a Itália
e a Alemanha. Alguns trabalhadores – operários, pequenos comerciantes, arte-
sãos, camponeses e profissionais liberais – uniram-se na luta para que houvesse,
de fato, liberdade e igualdade para todos, e não apenas para alguns privilegiados.
A Europa vivenciava, então, inúmeros conflitos cada vez mais radicais contra
aquelas injustiças e desigualdades.

7
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UNIDADE 1

Uma das reivindicações mais importantes das Sufrágio universal


lutas populares daquele momento era o direito Possibilidade de todo e qualquer
ao voto por sufrágio universal. Além das reivindi- cidadão escolher seus governantes
cações políticas, os movimentos revolucionários em pé de igualdade, tanto para o
poder Executivo, quanto para o Legis-
também pediam reformas sociais, entre elas a lativo. No entanto, o indivíduo só é
reforma agrária. considerado cidadão com base nos
critérios predefinidos em lei. Desse
A radicalização dessas revoltas aconteceu modo, a noção de cidadania variou
especialmente no ano de 1848, quando traba- com o tempo: em alguns lugares,
cidadãos eram somente as pessoas
lhadores, principalmente os operários, influen-
que possuíam “bens”, isto é, dinheiro
ciados pelas ideias socialistas, saíram às ruas e/ou propriedades; em outros, a cida-
de Paris para protestar contra o desemprego, dania estava atrelada ao pagamento
de impostos ou à condição de gênero,
os baixos salários e as péssimas condições
ou seja, só os homens eram conside-
de vida. Eles reivindicavam o direito à greve, rados cidadãos. Havia, ainda, a dis-
a redução da jornada de trabalho e melhores tinção educacional: os analfabetos
não podiam votar.
condições de vida.

Essas manifestações acabaram por despertar, na burguesia francesa, o medo de


perder o controle político, reconquistado com a coroação de monarcas franceses que
governavam de acordo com os interesses da classe burguesa. Desse modo, ela se
voltou contra o povo, apoiando as leis que limitavam os direitos dos trabalhadores.
Mas – apesar das tentativas de conter os revoltosos – o movimento operário e seus
ideais, como o socialismo, expandiram-se não só na França, mas por toda a Europa.

Com a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o triunfo do capitalismo, a


própria base da sociedade estava mudando. Entre as mudanças visíveis que ocor-
reram nos novos tempos, podem-se destacar o surgimento do movimento operário
e do nacionalismo.

Se os ideais da Revolução Francesa eram de liberdade e igualdade entre


todas as pessoas, você não acha estranho que, após a revolução, os burgueses
tenham feito acordos com a monarquia contra a qual lutaram? Também não
parece contraditório que a burguesia tenha defendido uma sociedade sem liber -
dade de escolha para quem não pudesse pagar por serviços e produtos, limitando
essa liberdade somente ao consumo e a quem pode consumir? Uma sociedade
assim não seria desigual do ponto de vista econômico e político?
Com base nos conteúdos estudados até agora, reflita sobre essas questões.

8
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UNIDADE 1

Nas sociedades governadas por leis, o responsável por guardá-las é o Estado.


Ao se estudar a História, compreende-se que o Estado é uma invenção humana.
Mas como e por que ele é formado? Algumas teorias foram feitas para explicar os
motivos de sua criação.

Uma dessas teorias, proposta por Thomas Hobbes (pensador inglês que
viveu entre os séculos XVI e XVII), sugere que o Estado foi criado para tirar o ser
humano do seu “estado de natureza”, no qual o homem seria um ser selvagem
e não seguiria nenhuma lei ou regra. Para Hobbes, as sociedades naturais são
caóticas porque seus membros têm liberdade sem limites e, por isso, lutam entre
si. O Estado, então, é uma força que se coloca acima de todos, organizando as
relações entre os humanos e disciplinando-os.

Já no século XVIII, o pensador francês Jean-Jacques Rousseau, defensor das


camadas populares, lançou as bases do pensamento democrático, por meio
de sua teoria do contrato social. Ele defendia a ideia de que o Estado deve
agir de acordo com a vontade do povo; portanto, para Rousseau, o poder é
o próprio povo.

No século XIX, o filósofo alemão Karl Marx e, depois, os que compartilhavam as


suas ideias consideravam que o Estado é a organização do poder de uns sobre os
outros, ou melhor, da classe dominante sobre a classe dominada. Para eles, apesar
de as leis pregarem a igualdade de direitos, na prática, esses direitos não são iguais
para todos, já que muitas pessoas não têm acesso à justiça, à educação e à saúde,
por exemplo. Isso mostra que o Estado serve apenas a alguns.

Mais recentemente, no século XX, Max Weber, um célebre sociólogo alemão,


definiu o Estado como aquele que tem o monopólio legítimo da violência. Ou seja,
o Estado pode definir o que é certo ou não (lei), julgar o que é certo ou não (sistema
judiciário) e punir quem não está dentro da lei.

É importante lembrar que a relação dos cidadãos com o Estado precisa ser com-
preendida tendo em vista o momento histórico em questão. O estudo da História
ajuda a perceber como a ação dos cidadãos em movimentos organizados altera a
forma de organização do Estado.

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 1 A disputa pelo poder político

De acordo com o texto A permanência das monarquias, assinale a resposta correta


para as perguntas a seguir:

1 Qual foi uma das reivindicações mais importantes das lutas populares para
garantir os ideais de liberdade e igualdade da Revolução Francesa?

a) A volta da monarquia.
b) A manutenção da república.
c) O direito de voto por sufrágio universal.
d) O direito de liberdade comercial entre burgueses e trabalhadores.

2 A independência das colônias europeias na América Latina foi influenciada


pelos ideais da Revolução Francesa. Apesar disso, qual foi o regime político
adotado no Brasil?

a) República.
b) Monarquia.
c) Coronelismo.
d) Democracia.

ATIVIDADE 2 O papel do Estado

Quais são os problemas que você identifica no funcionamento do Estado


na região em que vive ou no Brasil? São exemplos: falta de segurança pública,
diferenças no tratamento pela Justiça, má qualidade dos serviços de saúde e de
educação, falta de saneamento etc. Em sua opinião, de que forma tais problemas
podem ser resolvidos?

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 16 10/03/15 11:14
UNIDADE 1

No contexto histórico da geração de 1848, a França tornou-se palco inicial e de expansão de


revoltas em toda a Europa que enfraqueceram definitivamente os movimentos
a) liberais, que ganhavam força política com a restauração dos Estados Absolutistas.
b) socialistas, que pregavam o fim da propriedade privada e da sociedade sem classes.
c) nacionalistas, que procuravam enfraquecer a política intervencionista da Santa Aliança.
d) conservadores, que procuravam restaurar o Antigo Regime desde o Congresso de Viena.
e) anarquistas, que defendiam o fim do poder político e o domínio superior do ideal humanista.

Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), 2005. Disponível em:


<http://www.puc-campinas.edu.br/websist/portal/graduacao/doc/vestibular/2005/vest2005_ ProvaGrupo4.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 17 10/03/15 11:14
A formação da classe operária TEMA 2

Neste Tema, você estudará a formação da classe operária na Europa e suas


reivindicações para resgatar as promessas de um mundo mais justo e igualitário
feitas na Revolução Francesa.

Consulte, na Unidade 2 do Caderno do Estudante do Volume 1, as novas classes


que surgiram com o capitalismo e após a Revolução Industrial: capitalistas e ope-
rários. Você lembra o que caracterizava cada uma?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você já sabe sobre esse assunto.

A formação da classe operária e o movimento operário na Europa

O capitalismo se firmou quando o motor da atividade econômica passou a ser


a indústria. Ela introduziu o uso da máquina e estabeleceu a produção em larga
escala, feita por um trabalhador que não dominava todo o processo produtivo, mas
somente uma única etapa da produção, na qual se especializava. Isso mudou a
organização da produção, que deixou de ser predominantemente artesanal, assim
como as relações sociais de produção, que também foram profundamente altera-
das com o surgimento de duas classes sociais principais: a burguesia, proprietária
dos meios de produção, e os operários, que vendiam sua força de trabalho.

DIFERENTES FORMAS DE NOMEAR AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO

• proprietário dos meios de produção = capitalista = burguês = patrão.

• vendedor da força de trabalho = operário = proletário = empregado = trabalhador.

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UNIDADE 1

Movimento operário

Com a grande indústria, surgiram os operários. Quando, no final do século


XVIII, eles começaram a se organizar coletivamente para lutar por melhores con-
dições de trabalho, apareceram os primeiros movimentos operários.
© Agence Bulloz/RMN/Other Images

Jean Pierre Moynet. O burguês e o trabalhador, 1848. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris. (“Então, vejamos, Burguês…
Vocês [burgueses] confiscaram duas revoluções em benefício próprio... Nós [operários] recomeçamos a tarefa em 1848 para
que todo mundo tirasse proveito, VOCÊS E NÓS... Vocês dizem que isso é ser exigent e, mas francamente isto é ser JUSTO.”
Tradução: Célia Gambini.)

Como resultado dessa organização política dos trabalhadores, no século XIX,


eles formaram associações e criaram sindicatos com o objetivo de reivindicar
melhorias nas condições de trabalho nas fábricas e de lutar por leis trabalhistas
que os protegessem da exploração dos patrões.

Quando os operários decidiram se mobilizar para lutar não apenas por melho-
rias nas fábricas, mas também para mudar a sociedade, foram criados os primeiros
partidos organizados por trabalhadores.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 19 10/03/15 11:14
UNIDADE 1

Com o passar do tempo e com as transformações do capitalismo, muitos tra-


balhadores empregaram-se fora das fábricas, em múltiplas ocupações e formas de
trabalho. No entanto, permaneceu a oposição básica entre:

Proprietários dos meios Classe operária (que vende


de produção (capitalistas)  sua força de trabalho)


Você sabe em que país surgiram as primeiras organizações operárias?
Para responder a essa questão, é importante lembrar-se de que o primeiro país
a se industrializar foi a Inglaterra. E foi justamente nesse país que ocorreram as
primeiras manifestações de trabalhadores.

A forma de organização mais importante dos trabalhadores ingleses, no começo


do século XIX, foi o “cartismo”, iniciado a partir da década de 1830. O movimento
levou esse nome porque pressionou insistentemente o governo com reivindicações
que foram registradas em um “plano” ou “carta”. Em 1842, os representantes do
movimento cartista entregaram uma carta com mais de 3 milhões de assinaturas,
com suas principais reivindicações. O Parlamento inglês recusou a petição e os car-
tistas declararam greve geral. Ao final dos conflitos, os líderes do cartismo foram
duramente reprimidos.

The British Library

Cartistas lutam contra a polícia. Xilogravura integrante do livro Histórias verdadeiras do reino
da rainha Victoria, de Cornelius Brown, 1886.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 20 10/03/15 11:14
UNIDADE 1

Os seis pontos da Carta do Povo (People’s Charter, em inglês), elaborada pelos


cartistas, são os seguintes:

Carta do Povo

1. Um voto para todo homem maior de 21 anos, com domínio de suas faculdades
mentais e que não esteja cumprindo pena por crime cometido.

2. A cédula para proteger o eleitor no exercício de seu voto.

3. Sem necessidade de qualificar os membros do Parlamento por propriedade, permi-


tindo, assim, que os eleitores reelejam o indivíduo de sua escolha, seja rico, seja pobre.

4. O pagamento aos membros do Parlamento quando esses interrompam suas ati-


vidades para atender aos interesses do país, permitindo, assim, que um comer-
ciante, trabalhador ou qualquer outra pessoa honesta possa servir a seus eleitores.

5. Base eleitoral igualitária assegurando representatividade igual para o mesmo


número de eleitores, em vez de permitir que pequenas bases eleitorais se impo-
nham sobre os votos de bases maiores.

6. Parlamentos anuais que apresentem controle mais eficaz contra suborno e inti-
midação, já que, apesar de ser possível comprar uma base eleitoral a cada sete
anos (mesmo com a cédula eleitoral), não haveria dinheiro suficiente para com-
prar uma base (sob o regime do sufrágio universal) a cada 12 meses. Os membros
seriam eleitos por apenas um ano e não seria possível ignorar ou trair seus elei-
tores como hoje.

CARTA do Povo. Associação dos Operários, 1838. Disponível em:


<http://www.chartists.net/the-six-points.htm>. Acesso em: 26 fev. 2014. Tradução: Eloisa Pires.

Releia os pontos reivindicados pelos cartistas. Analisando ponto por ponto, ima -
gine qual era a situação que eles queriam mudar. Por exemplo: se eles pediram
sufrágio universal masculino, ou seja, o direito de voto a todos os homens adultos,
pode-se deduzir que esse direito não existia. Quem votava então?

Pense em cada um dos pontos e imagine como era a política na Inglaterra e em


outros países naquela época. Você acha que depois das revoluções burguesas (Indus-
trial e Francesa) o mundo tinha se tornado mais justo e igualitário?

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 21 10/03/15 11:14
UNIDADE 1

ATIVIDADE 1 Política e movimento operário

Com base no texto A formação da classe operária e o movimento operário na Europa e


nas reivindicações dos cartistas que aparecem na Carta do Povo, descreva como fun-
cionava a política na Inglaterra e em países capitalistas, monárquicos ou republicanos
na época. Para isso, responda às seguintes questões: Quem exercia o poder político?
Quem estava de fora? O que os cartistas queriam? Como o governo reagia às manifes-
tações dos operários?

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Novas ideias políticas:
liberalismo, socialismo e comunismo TEMA 3

Neste Tema, você conhecerá a origem e as características de um conjunto de


ideias – o socialismo e o comunismo – que surgiu com a formação da classe operá-
ria e com as transformações ocorridas na Europa e no mundo ao longo do século
XIX. Essas ideias influenciam a história política até os dias de hoje.

O que você sabe sobre socialismo? E sobre comunismo? Existem diferenças


entre socialismo e capitalismo?

Talvez você não conheça esses nomes, mas já deve ter ouvido falar em países
como Cuba, ou ainda sobre a extinta União Soviética; países em que a produção e
a oferta de serviços essenciais para garantir os direitos da população não são pri-
vadas, mas totalmente públicas e administradas pelo Estado.

Tente se lembrar de alguma notícia sobre esses países e escreva, nas linhas a
seguir, o que você sabe sobre o assunto.

Liberalismo versus socialismo

A Revolução Industrial nasceu na Inglaterra, mas esse não foi o único país euro-
peu a se industrializar. No começo do século XIX, países como França, Bélgica e
Holanda também desenvolveram suas indústrias e, com isso, assistiram ao cresci-
mento da classe operária.

Essas transformações provocaram mudanças no pensamento da sociedade.


Como elas afetavam tanto a classe dominante como a dos trabalhadores, surgi-
ram novos ideários políticos que representavam os interesses dessas duas classes.
Essas ideias políticas ficaram conhecidas como liberalismo e socialismo. É possível
dizer que ambas têm relação com a Revolução Francesa, embora tenham cami-
nhado em direções opostas ao longo do século XIX.

17
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UNIDADE 1

Liberalismo

O liberalismo, já presente no final do século XVIII, representa as ideias políticas


que servem de base ao capitalismo. Ele pode ser definido como um conjunto de
princípios e teorias políticas cujo ponto central é a garantia e a defesa da proprie-
dade privada e das liberdades política e econômica.

A liberdade política é, principalmente, o direito à livre expressão do indivíduo.


Já a liberdade econômica significa deixar que o mercado regule a economia (livre
mercado), diminuindo a participação do Estado. Nesse sentido, são princípios
do liberalismo:

• defesa da propriedade privada;

• participação mínima do Estado nos assuntos econômicos;

• igualdade perante a lei (Estado de direito);

• lei da oferta e da procura, que regula o mercado. Por um lado, quando a oferta de
um determinado produto é maior do que a procura para seu consumo, a tendência
é que os preços caiam. Por outro lado, se a oferta for menor que a procura, a ten-
dência é o aumento do preço da mercadoria.

Esses princípios têm uma relação próxima com as bandeiras da Revolução


Francesa. Isso porque, além da noção de “liberdade” (central no liberalismo), a
ideia de igualdade civil perante a lei também estava presente na revolução. É justa-
mente aí que está a diferença em relação ao pensamento socialista que começava
a se formar no século XIX, pois, para este, não bastava a igualdade perante a lei,
era preciso haver também igualdade social e econômica.

O pensamento socialista

O pensamento socialista serviu de base para o movimento operário do século


XIX. Duas correntes de pensamento se destacaram: os socialistas utópicos e os
socialistas científicos. Apesar de suas diferenças, essas teorias reivindicavam uma
sociedade mais justa e igualitária.

Com o avanço das lutas sociais, surgiram movimentos que não acreditavam
que os próprios capitalistas realizariam a igualdade social. Para alcançar esse obje -
tivo, algumas correntes socialistas julgavam necessário acabar com a propriedade
privada, pois esta era a fonte de poder dos capitalistas e, de acordo com as ideias
socialistas, a causa da exploração e da miséria dos trabalhadores.

18
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UNIDADE 1

Socialismo científico

Em meados do século XIX, Karl Marx e Friedrich Utópico


Engels desenvolveram um trabalho intelectual e mili- Relativo à utopia: sonho
tante que possibilitou novos rumos ao socialismo. ainda não realizado; uma
Eles acreditavam que a solução para os problemas fantasia baseada na espe-
rança de que algo que ainda
sociais viria da observação atenta da realidade em
não existe um dia existirá;
que a classe trabalhadora vivia. Esses autores funda- um mundo ideal ou mundo
ram o denominado socialismo científico, em oposição dos sonhos.

aos pioneiros do chamado socialismo utópico.

Em termos gerais, o socialismo científico propõe o fim da propriedade pri-


vada. As fábricas, as terras, as máquinas etc. seriam desapropriadas dos capi-
talistas para serem administradas pelos trabalhadores, o que provocaria uma
socialização dos meios de produção e, com isso, o fim da desigualdade social.
A ideia era que, sem a propriedade privada dos meios de produção, ou seja, se não
houvesse um dono dos meios de produção, a sociedade se tornaria igualitária, já
que tudo seria de todos.

Os franceses Claude-Henri de Rouvroy, o conde


de Saint-Simon (1760-1825), e Charles Fourier

© RMN/Other Images
(1772-1837) e o inglês Robert Owen (1771-1858) são
considerados os primeiros socialistas do século XIX.

Eles formularam ideias de renovação social


apoiadas na boa vontade das pessoas, inclusive
Karl Marx
dos capitalistas, em transformar, aos poucos, o e Friedrich
capitalismo. Outros socialistas que vieram depois Engels
deles, como os alemães Karl Marx (1818-1883) e trabalhando
Friedrich Engels (1820-1895), consideravam essas no livro “O
ideias simpáticas, mas impossíveis de serem rea- Capital”, em
Londres.
lizadas, pois não se poderia contar com a boa
Gravura de
vontade dos capitalistas em abrir mão de suas N. Shukow,
riquezas em favor da classe operária. Por isso, os 1867.
chamaram de “socialistas utópicos”.

Socialismo e comunismo

Para Marx e Engels, o socialismo era uma fase de transição do capitalismo


para o comunismo. Essa fase de transição seria caracterizada pela existência do
Estado controlado pelos próprios trabalhadores, chamado de ditadura do pro-
letariado. O Estado existiria para concentrar e administrar todas as fábricas, as

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UNIDADE 1

terras, as máquinas e as propriedades que estavam nas mãos dos capitalistas.


Quando fosse atingido o ideal de sociedade igualitária, sem propriedade pri-
vada dos meios de produção, o Estado poderia ser extinto. Só assim surgiria uma
sociedade comunista.

Portanto, na sociedade comunista, a propriedade privada, as classes sociais


e o próprio Estado deixariam de existir. Assim, o governo não seria mais feito
por políticos profissionais e funcionários públicos, nem mesmo pela ditadura do
proletariado, mas sim pelos próprios cidadãos por meio da participação em asso-
ciações e cooperativas.

Como é muito grande a distância entre o mundo capitalista e a proposta comu-


nista, os defensores dessa proposta não acreditavam que tal mudança pudesse
acontecer rapidamente. Por isso, pensando na transição do feudalismo para o capi-
talismo, que levou séculos, eles achavam que a passagem do capitalismo para o
comunismo também seria demorada.

Desde o século XIX, essas teorias vêm tendo grande importância para as
lutas dos trabalhadores organizados em partidos políticos. Contudo, o comu-
nismo, tal como Marx e Engels propuseram para o movimento operário, até hoje
não se realizou.

As principais ideias sobre o socialismo científico estão no documento ela-


borado por Marx e Engels, chamado Manifesto comunista e publicado em 1848.
Esse documento influenciou muito os trabalhadores daquela época e, até hoje,
inspira todos aqueles que criticam o capitalismo. Para Marx e Engels, era im-
portante encontrar, dentro da própria sociedade capitalista, as forças capazes
de fazer as mudanças. Para eles, a força capaz de alterar a sociedade capita-
lista era a luta de classes, a luta entre capitalistas e operários, entre a burguesia
e o proletariado.

20
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UNIDADE 1

Manifesto comunista
As transformações ocorridas na Europa e no mundo ao longo do século XIX
foram impulsionadas, inclusive, pela formação da classe operária.
Foi nesse contexto que Marx e Engels formularam o Manifesto comunista (1848),
no qual discutiram a natureza histórica da luta de classes entre burguesia e pro-
letariado e apontaram a revolução operária como única alternativa para, a longo
prazo, promover a conquista da democracia, a transformação radical de todo o
modo de produção e a instituição do comunismo. Para tanto, os autores apresen-
taram algumas medidas que poderiam ser postas em prática, deixando claro que
nem todas deveriam ser iguais para todos os países. São elas:

1. Expropriação de todas as propriedades latifundiárias privadas (pertencentes à


burguesia) em benefício do Estado e aplicação de todo o rendimento proveniente
do uso da terra para fins públicos.
2. Aplicação de imposto de renda intensamente progressivo.
3. Abolição de todos os direitos de herança.
4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e revoltosos (ou seja, daqueles
que se opuserem à revolução).
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional
com capital do Estado e monopólio exclusivo.
6. Centralização de todos os meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado.
7. Multiplicação de fábricas e instrumentos de produção pertencentes ao Estado,
cultivo das terras ociosas e melhoria das terras cultivadas, de acordo com um
plano comum.
8. Instituição de trabalho obrigatório para Exército industrial
todos e organização de exércitos industriais, Grande contingente de operários trei-
particularmente para a agricultura. nados para o trabalho de cunho indus-
trial, seja nas fábricas, seja no campo
9. Associação do trabalho agrícola com as mecanizado (isto é, agricultura com
indústrias de manufatura, para a eliminação tecnologia industrial).
gradual da distinção entre cidade e campo.
10. Educação pública e gratuita para todas as crianças e abolição do trabalho infan-
til nas fábricas, tal como é praticado atualmente [à época da produção do docu-
mento]. Combinação da educação com a produção industrial etc.
Fonte: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista, 1848. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2273>. Acesso em: 26 fev. 2014.

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 1 Liberalismo versus socialismo

Anote, nas duas colunas a seguir, as principais características do libera-


lismo (doutrina política que serve de base ao capitalismo) e as do socialismo, de
acordo com o texto Liberalismo versus socialismo. Faça uma pesquisa na internet
ou na biblioteca para complementar sua resposta. Compare essas duas visões político-
econômicas em relação ao Estado, ao trabalho, à propriedade dos meios de
produção, à educação e à lei.

Características do liberalismo e do capitalismo Características do socialismo

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 2 Duas visões sobre o poder dos trabalhadores

Com base no que você estudou até aqui, responda: Como você definiria o comu-
nismo? Quais são as diferenças entre ele e o socialismo?

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Liberalismo versus socialismo


Características do
Características do socialismo
liberalismo e do capitalismo
• o liberalismo representa as ideias políticas • o socialismo reivindica uma sociedade mais
que servem de base para o capitalismo; justa e igualitária;

• defende as liberdades política e econômica, • julga necessário acabar com a propriedade pri-
entre elas a liberdade de expressão do indiví- vada. Segundo o socialismo, as fábricas, as terras
duo e a liberdade de comércio; e as máquinas deveriam pertencer aos trabalha-
dores. Já os meios de produção não pertenceriam
• garante e defende a propriedade privada; mais aos capitalistas, mas a toda a sociedade;
• defende que o mercado regule a economia,
• defende um Estado constituído por trabalha-
restringindo a participação do Estado (livre
dores, para governar e regular a economia de
mercado e governo limitado);
acordo com os interesses dos trabalhadores;
• defende a igualdade perante a lei (Estado
• defende o imposto de renda progressivo; ou
de direito), mas não a igualdade econômica e
seja, quem ganha menos paga menos;
social, pois acredita que cada indivíduo é res-
ponsável por sua situação social e econômica. • defende a abolição do direito de herança, para
Por isso, não tem como centro de suas preo- ninguém começar a vida com mais oportunida-
cupações a situação de miséria e pobreza da des que os outros;
maioria da população trabalhadora.
• defende educação gratuita para todas as crian-
ças em escolas públicas e abolição do trabalho
infantil nas fábricas.

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Novas ideias políticas: nacionalismo TEMA 4

Neste Tema, você estudará o nacionalismo, um conjunto de novas ideias


políticas que também surgiram com as transformações ocorridas na Europa e no
mundo durante o século XIX. O nacionalismo, assim como as teorias socialistas
e comunista apresentadas no Tema 3, influencia a história política até os dias
de hoje.

O que é nacionalismo para você? É somente torcer para a seleção brasileira nos
jogos de futebol? É amar seu país e defendê-lo, fazendo tudo o que o governo pede?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você pensa sobre esse assunto.

Nacionalismo
Você já deve ter visto diferentes ban-
deiras e hinos nacionais, especialmente
História – Volume 2
durante competições esportivas interna-
A invenção das nações
cionais, como as Olimpíadas ou a Copa
do Mundo. Você está acostumado a viver Esse vídeo retrata uma partida de fute-
em um mundo onde a existência dos paí- bol, na qual bandeiras e outros símbo-
los pátrios revelam o sentimento das
ses é considerada óbvia. Mas saiba que, pessoas sobre suas nacionalidades. Ele
por mais estranho que pareça, os países demonstra que a criação das nações é
nem sempre existiram! relativamente recente e que responde a
interesses econômicos e políticos. Para
As nações, com suas fronteiras, línguas tanto, trata do nacionalismo, uma das
e símbolos culturais, foram, em sua maio- expressões ideológicas que ajudaram a
moldar os rumos das sociedades a par-
ria, uma “invenção” do século XIX. Mesmo tir do século XIX.
em países que hoje são considerados

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UNIDADE 1

muito antigos, como a Inglaterra ou a Suíça, até o século XVIII, as pessoas não tinham
o sentimento de serem “inglesas” ou “suíças”. Essa identificação das pessoas com as
nações foi construída ao longo do século XIX.

Mas o que define uma nação?

Essa é uma pergunta difícil, pois não existe um critério claro e único para res-
pondê-la. Para ilustrar essa dificuldade, vale examinar alguns dos aspectos nor-
malmente associados à ideia de nação.

• Uma mesma língua (ou unidade linguística) – Em um país, pode-se falar mais de uma língua.
Na Suíça, Espanha e África do Sul, por exemplo, diversas línguas convivem. Na América Latina,
o Paraguai é um país oficialmente bilíngue e, no México e no Peru, há línguas indígenas vivas,
isto é, que ainda hoje são faladas. Por outro lado, uma mesma língua pode ser falada em vários
países, como acontece, por exemplo, com o português, que é falado no Brasil, em Portugal e em
outras regiões. Portanto, só a unidade linguística não é suficiente para caracterizar uma nação,
ou seja, falar a mesma língua que alguém não significa que você pertence à mesma nação que
essa pessoa.
• Uma mesma origem histórica – A história do norte da Índia é muito diferente da história do
sul desse país, assim como ocorre entre as diferentes regiões da Itália. Por sua vez, a América
Espanhola tem similaridades em sua história, embora a região abrigue países diversos. Por isso,
esse também não é um critério exclusivo para definir uma nação.

• Uma mesma genética – A ciência tem mostrado que a ideia de “pureza racial” é um mito, por-
que é impossível distinguir um grupo social de outro com base em características genéticas. Por
isso, nenhuma tentativa de utilizar o aspecto genético para definir uma nação pode ser conside-
rada válida.

• Uma mesma etnia – Em muitos países, diferentes etnias convivem, o que impede definir uma
nação com base na questão étnica.

• Uma mesma cultura – Considerando que, em uma mesma região, coexistem diferentes grupos
culturais e que a cultura se modifica com a História, não há como definir uma cultura nacional
única de um país.

A complexidade desses aspectos mostra que eles não são suficientes para
justificar como se constitui uma nação; ou seja, não é pela língua, pela história,
pela etnia, pela genética ou pela cultura que um grupo de pessoas pertence a uma
mesma nacionalidade. Sendo assim, é possível concluir que o conceito de nação
não surgiu naturalmente. Na realidade, a ideia de nação é uma invenção humana
movida por interesses políticos e econômicos.

Foi no século XIX que o conceito de nação começou a ser definido, pois foi
nesse período que as nações começaram a se constituir. Mas, como esse conceito

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UNIDADE 1

era algo recente, as pessoas não se sentiam como pertencentes à nação, ou seja,
elas não possuíam um sentimento nacional que as tornasse leais e devotas à
nação, como previa a Revolução Francesa. Era preciso criar esse sentimento.
Por isso, no século XIX, vários intelectuais passaram a discutir quais aspectos
poderiam justificar a constituição de uma nação ou o pertencimento a ela. Daí
a tentativa de justificá-la com critérios, como língua, história, cultura etc. Mas
como você viu, esses aspectos nem sempre existiam, o que exigiu, muitas vezes,
que eles fossem criados e até impostos aos povos. Por exemplo:

• escritores contribuíram para a construção do sentimento nacional, por meio de


obras que enfatizavam o amor pela pátria e a devoção à nação;

• linguistas, filólogos e gramáticos sistematizaram os idiomas que foram, em geral,


impostos como oficiais a uma determinada nação;

• historiadores procuraram identificar um passado comum que justificasse histo-


ricamente a nação que se estava construindo naquele momento.

Esses escritores, linguistas e historiadores, muitas vezes, acabaram por ajudar


a consolidar os movimentos nacionalistas.

O nacionalismo tem uma trajetória curiosa. Quando surgiu, no começo do século


XIX, ele estava ligado aos ideais da Revolução Francesa. Você se lembra de que a
revolução declarou que o poder político vinha do povo e da nação, e não de Deus?
Esse princípio propunha a substituição da fidelidade ao rei pela lealdade à pátria.

Nesse contexto, o nacionalismo, muitas vezes, se associou às lutas contra o


Antigo Regime, ou seja, constituir a nação era sinônimo de estabelecer a repú-
blica e acabar com a monarquia. Por esse motivo, é possível dizer que o naciona-
lismo batalhava pela democratização da sociedade. Lembre-se de que a Revolução
Francesa estabeleceu a igualdade jurídica entre as pessoas, que serviu de base
para criar a noção de cidadão. Segundo essa noção, todos, e não apenas os ricos,
poderiam participar da política.

Assim, no seu início, o nacionalismo andava de mãos dadas com a Revolução


Francesa. Mas, pouco mais de um século depois, já no século XX, ele foi usado
como uma ideia que, muitas vezes, se opunha à democracia e às revoluções na
Europa. Esse é o caso do nazismo na Alemanha, um regime fortemente nacio-
nalista, mas antidemocrático, que perseguiu diferentes etnias e ideias políticas
consideradas inimigas da nação alemã, chacinando milhões de pessoas por isso.

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UNIDADE 1

Por outro lado, o nacionalismo serviu de combustível para a luta de muitos


povos que, no século XX, ainda permaneciam como colônias, principalmente na
Ásia e na África. Argélia, Marrocos e Costa do Marfim, na África, e Indonésia e
Vietnã, na Ásia, são alguns desses países que conquistaram sua independência
ao longo do século XX.

É importante observar que o nacionalismo se expressava por meio de propostas


concretas que seguiam dois caminhos:

• unificação de povos até então separados, como no caso da Itália e da Alemanha;

• separação de povos que faziam parte de impérios existentes, como aconteceu


com os tchecos e os húngaros, submetidos ao Império Austríaco.

No começo do século XIX, o território que hoje se chama Alemanha era um


conjunto de 39 Estados soberanos. A situação da Itália era similar, com oito Esta-
dos independentes.

No caso alemão, o passo decisivo para forjar a unidade foi econômico, por meio
da “união alfandegária”, que derrubou as barreiras mercantis entre os Estados e
desenvolveu o capitalismo no país. A formação da Alemanha (assim como a da
Itália) foi um processo turbulento que só se realizou na década de 1870.

Outra possibilidade para formar uma nação seria: em lugar de juntar vários
territórios menores, juntar diferentes regiões de impérios para lutar contra
o império que os dominava, reivindicando a independência dessas regiões para
se tornarem nações independentes. Um exemplo disso aconteceu na própria
América, no começo do século XIX. Na mesma época em que o Brasil decla-
rou sua independência, separando-se do Império Português (1822), surgiram
novos países no território que constituía o Império Espanhol, como a Argentina,
o Chile, o Paraguai e muitos outros.

Portanto, nações podem ser formadas reunindo-se populações dispersas em


vários Estados ou separando-se uma população de um Estado maior.

ATIVIDADE 1 Jogo das diferenças

Veja, na sequência, dois mapas da Europa: um do começo do século XIX e outro


do começo do século XX (antes da 1a Guerra Mundial). O que mudou?

27
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DIVISÃO POLÍTICA DA EUROPA APÓS O CONGRESSO DE VIENA (1815)

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 25. Mapa original.
ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 25. Mapa original.

DIVISÃO POLÍTICA DA EUROPA ANTES DA 1 a GUERRA MUNDIAL (1911)


Finlândia
NORUEGA

SUÉCIA

Mar
do
DINAMARCA
REINO UNIDO Norte
DA GRÃ-BRETANHA RÚSSIA
E IRLANDA PAÍSES
BAIXOS IMPÉRIO
ALEMÃO
BÉLGICA
OCEANO
ATLÂNTICO

FRANÇA SUÍÇA ÁUSTRIA-HUNGRIA

ROMÊNIA
Mar Negro
SÉRVIA
BULGÁRIA
ITÁLIA MONTENEGRO
ESPANHA ANDORRA Córsega TURQUIA
PORTUGAL (parte europeia)
Sardenha
© Maps World

GRÉCIA
Sicília CHIPRE
(R. UN.)

Fonte: SHEPHERD, William R. The Historical Atlas. New York: Henry Holt and Company, 1911. Disponível em:
<http://www.lib.utexas.edu/maps/historical/shepherd/europe_1911.jpg>. Acesso em: 13 mar. 2014.

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UNIDADE 1

Registre, nas linhas a seguir, suas observações sobre os mapas da página anterior.

ATIVIDADE 2 Características do nacionalismo

Marque com um “X” quais seriam as principais características do nacionalismo:

a) □ Substituição da fidelidade ao rei ou a um governante pela lealdade à pátria.

b) □ Defesa da propriedade privada e das liberdades individuais.

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UNIDADE 1

c) □ Luta por uma sociedade mais justa e igualitária para os trabalhadores de


todas as nações.

d) □ Defesa da igualdade jurídica e política para os membros de uma mesma nação.

e) □ Defesa da unificação de povos considerados pertencentes a uma mesma


nação, com características comuns – a mesma língua, a mesma origem histórica
ou características genéticas semelhantes, mas principalmente a mesma cultura.

f) □ Defesa da não intervenção do Estado na economia.

g) □ Defesa da desapropriação das terras, fábricas etc., passando estas para a


administração do Estado, governado pelos trabalhadores.

Neste Tema, você estudou que os atuais países nem sempre existiram.

Nos últimos anos, a formação de novos blocos econômicos entre países é um


fenômeno cada vez mais comum, fato que vem diminuindo a importância das
fronteiras nacionais. Por exemplo, na Europa, mais da metade dos países do conti-
nente tem a mesma moeda, o euro, e pertencem à União Europeia. Na América do
Sul, constituiu-se o Mercosul.

Será que os países, tal como existem hoje, deixarão de existir?

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1848: A “PRIMAVERA DOS POVOS”

HISTÓRIA
UNIDADE 2 TEMAS
1. Um ano de profundas mudanças
2. A “Primavera dos Povos”
3. O resultado das revoluções de 1848
4. Novas conquistas dos trabalhadores

Introdução
Nesta Unidade, você estudará um dos anos mais agitados do século XIX na
Europa: 1848. Nesse ano, ocorreram movimentos revolucionários na maior parte
do continente europeu.

Esse conjunto de eventos, considerado um despertar de disputas nacionalis-


tas, mas também de lutas dos trabalhadores, ficou conhecido como “Primavera
dos Povos”.

A seguir, você vai conhecer os principais eventos históricos que marcaram


esse período.

Um ano de profundas mudanças TEMA 1

Neste Tema, você estudará as principais reivindicações políticas e sociais e as


circunstâncias históricas que permitiram o surgimento das várias revoltas e revo-
luções no ano de 1848, além de suas consequências para todo o século XIX.

De acordo com o que você estudou na Unidade 1, responda: Em sua opinião,


quais foram as causas de tamanha agitação na Europa em 1848?

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UNIDADE 2

As revoltas sociais e políticas de 1848


Você estudou, na Unidade 1, que o desenvolvimento do capitalismo e da
grande indústria provocou mudanças nas relações de trabalho. Essas mudan-
ças, por sua vez, geraram novas formas de organização dos trabalhadores,
acompanhadas de ideias originais que propunham transformações sociais.
Você também viu que, além das propostas socialistas assumidas por traba-
lhadores e do conjunto de ideias liberais que estavam associadas aos burgueses,
o nacionalismo evoluiu como um novo componente da identidade social. Mas
ainda é preciso conhecer os fatores que deram origem às revoltas sociais que
surgiram em 1848.
© Bridgeman Art Library/Keystone

Felix Philippoteaux. Lamartine rejeita a bandeira vermelha, 1848. Óleo sobre tela.
Museu da Cidade de Paris, França.

Os acontecimentos e sentimentos que muitos europeus vivenciavam nesse


período podem ser exemplificados com a fala de Alexis de Tocqueville, um polí-
tico francês, na tribuna da Câmara dos Deputados, no início de 1848:

[...] Esta é, Senhores, minha profunda convicção; acredito que, na hora atual,
estamos dormindo sobre um vulcão. [...]
Será que não percebem – como dizer? – que um vento de revolução está no ar?
Este vento, não sabemos onde nasce, de onde vem, nem, creiam, quem arrasta
com ele; e é em tempos como esses que os senhores se mantêm calmos
diante da degradação da moral pública, pois a palavra não é forte demais. [...]
TOCQUEVILLE, Alexis de. Discurso na Câmara dos Deputados, 27 de janeiro de 1848. Assembleia Nacional Francesa.
Disponível em: <http://www.assemblee-nationale.fr/histoire/Tocqueville1848.asp>. Acesso em: 26 fev. 2014. Tradução: Célia Gambini.

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UNIDADE 2

Tais palavras são tão ilustrativas que, poucas semanas depois, elas se rea-
lizaram. Uma revolta armada derrubou a monarquia francesa e a república foi
novamente proclamada. Mas os acontecimentos não se restringiram à França:
a revolução tinha começado em boa parte do continente, atingindo todos os
países do centro da Europa ao mesmo tempo.

Os eventos de 1848, que ficaram conhecidos como “Primavera dos Povos”,


afetaram países que já existiam, como a França, e também regiões onde novos
países começavam a se formar, como Itália, Alemanha e Hungria.

Quando as revoluções se espalharam por essas regiões em que países come-


çavam a se formar, elas acabaram sendo brutalmente reprimidas e derrota-
das. No entanto, essas derrotas não significaram que o mundo continuou igual.
A “Primavera dos Povos” não triunfou, mas provocou, em todos os lugares
onde ocorreu, a percepção de que era preciso mudar. Essas mudanças, se não
viessem com diálogo e negociações, viriam por meio das manifestações e
revoltas populares.

1830: recomeço das lutas

O que formava, segundo Tocqueville, o “vulcão” que entrou em erupção em


1848? Esse político francês não se referia apenas à Revolução Francesa, quando
disse que “um vento de revolução está no ar”. Ele também se referia a outro
movimento que ocorreu na França, alguns anos antes, em 1830, e a dois outros já
estudados por você: o movimento operário e o nacionalismo.

Do dia 27 ao dia 29 de julho de 1830, barricadas foram formadas pelo povo


francês, que, apoiado nos ideais da Revolução Francesa, lutava contra o regime
monárquico que havia voltado. Quando a própria Guarda Nacional aderiu aos
rebeldes, o rei Carlos X foi obrigado a renunciar. Esses dias ficaram conhecidos
como os “Três Dias Gloriosos”.

No entanto, a queda do rei não significou o fim da monarquia: apenas


limitou o poder político do novo rei, Luís Filipe, que foi obrigado a seguir
a Constituição. As medidas desse monarca a favor da burguesia lhe renderam a
alcunha de “o rei burguês”.

Desse modo, na França, apesar de o movimento popular ter derrubado o rei,


a burguesia preferiu compactuar com a monarquia constitucional instaurada,
em vez de permitir a radicalização popular.

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UNIDADE 2

Em várias outras regiões da Europa, também surgiram movimentos que reuni -


ram os mais diversos grupos sociais:

Bélgica Proclamou sua independência da Holanda.

Península Itálica Uma Constituição foi proposta por grupos revolucionários.

Ocorreram movimentos liberais constitucionalistas, ou


Confederação Germânica
seja, que defendiam a elaboração de uma Constituição, um
(futura Alemanha)
conjunto de leis gerais e básicas para a confederação.

Polônia Buscou sua independência em relação à Rússia.

Nos anos seguintes, a nova onda revolucionária abalou outros cantos da


Europa. Estava cada vez mais claro que as mudanças viriam, pelo convencimento
ou pela força. Em 1848, foi a vez da força.

As revoluções de 1848

Os problemas que deram início às revoluções de 1848 eram muito parecidos em


toda a Europa:

• expansão da ideologia liberal e do nacionalismo;

• pressão do movimento operário que crescia, embora os ideais socialistas ainda


não fossem dominantes;

• crise econômica, que provocou o fechamento de fábricas e desemprego;

• crise na produção agrícola, que provocou a alta no preço dos alimentos,


deixando ainda mais grave a situação do povo;

• insatisfação da burguesia por não possuir o poder político e por ser fortemente
afetada pela crise econômica;

As demandas dos povos europeus eram tão semelhantes que muitos autores
a consideram um movimento único, referindo-se a ele como a Revolução. Isso
porque as tendências sociais e políticas presentes nos diferentes países europeus
onde a revolução ocorreu eram bastante parecidas.

Os membros da burguesia exigiam governos constitucionais que garantissem o


fim da monarquia absolutista, confirmando a tendência liberal do movimento. Já
os trabalhadores pregavam igualdade social e se posicionavam contra a explora-
ção que sofriam, marcando uma tendência mais democrática e já com influência,
mesmo que pequena, das ideias socialistas. Além disso, havia também o naciona -
lismo, que procurava unir politicamente as populações de mesma origem étnica,
língua e/ou cultura.

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UNIDADE 2

As revoluções de 1848 formaram o movimento que posicionou definitiva-


mente a burguesia e o proletariado em campos opostos, caracterizando a História
contemporânea.

ATIVIDADE 1 Entendendo as mudanças na Europa

1 De acordo com o texto As revoltas sociais e políticas de 1848, marque a alternativa


que indica as duas novidades no cenário político e social europeu que impulsio-
naram as várias revoluções no continente:

a) Liberalismo e monarquia absolutista.

b) O movimento democrático e o retorno ao Antigo Regime.

c) O movimento operário e o nacionalismo.

2 Destaque, nas linhas a seguir, pelo menos três questões que levaram às revolu-
ções de 1848 na Europa.

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A “Primavera dos Povos” TEMA 2

Neste Tema, você estudará o processo histórico que ficou conhecido como
“Primavera dos Povos”, caracterizado por uma série de revoltas e revoluções que
aconteceram simultaneamente em muitas regiões da Europa, em torno do ano de
1848, e que mudaram o rumo político e social de muitas nações.

Você já estudou que os conflitos entre classes sociais antagônicas (burgueses versus
trabalhadores) e entre povos de nações diferentes levaram a Europa a uma série de
revoltas e revoluções.

Você já viu esse tipo de conflito na atualidade, seja no Brasil ou em outros luga -
res do mundo? Escreva, abaixo, o que você conhece sobre esses conflitos.

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UNIDADE 2

A “Primavera dos Povos”


A “Primavera dos Povos” marcou o nascimento dos movimentos nacionalis-
tas. Daquele momento em diante, poloneses, dinamarqueses, alemães, italianos,
tchecos, húngaros, croatas e romenos, entre outros, exigiram, cada um, o Estado
Nacional para si.
Essa questão aponta outra face das revoltas e revoluções que aconteceram na
metade do século XIX: o encontro entre os movimentos nacionalistas e as lutas
operárias. A burguesia, motivada pelas ideias liberais, também se levantou contra
as monarquias. Essa combinação gerou uma situação explosiva na Europa.

Novamente a França
Os problemas sociais e políticos enfrentados pelos franceses, novamente sob
o regime monárquico, continuavam: a crise econômica só piorava, o desemprego
aumentava e a burguesia estava insatisfeita com a monarquia, que ela mesma
havia apoiado. De 1830 a 1848, a França experimentou muitas manifestações, que
reuniram diferentes grupos sociais.
O que unia todos esses grupos eram as exigências por reformas eleitorais, pois
seus integrantes acreditavam que a situação seria resolvida se outros indivíduos
fossem eleitos. Mas, para isso, era necessário voltar ao governo republicano, que
havia sido instituído durante a Revolução Francesa.
Em 1848, os franceses conseguiram formar um governo provisório: o rei
abdicou, a república foi reestabelecida, instituiu-se o sufrágio universal e novas
eleições foram marcadas. Por ampla margem de votos, eles elegeram Luís
Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte. Apoiado em seu sobrenome famoso
e com promessas de recuperar os momentos de glória da época do Império Napo-
leônico, Luís Bonaparte foi eleito como um protesto aos políticos conservadores.
No entanto, poucos anos depois, ele deu um golpe de Estado, reinstituindo o im-
pério e proclamando-se imperador com o nome de Napoleão III.
Mas não foi só na França que ocorreram revoluções. Veja a tabela e o mapa nas
próximas páginas, que mostram as revoluções ocorridas fora do território francês.

História – Volume 2
A Primavera dos Povos
Esse vídeo aborda as principais revoltas e mobilizações populares que surgiram na Europa
no ano de 1848, dando destaque ao seu alcance geográfico e às proposições políticas comuns.
Reflita sobre as tentativas de mudanças sociais e políticas que deixam marcas ao longo da
História. Muitas delas influenciam acontecimentos até os dias atuais.

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UNIDADE 2

As revoluções fora da França


A Confederação Germânica: Estados alemães e Império Austro-húngaro

Em 1815, o Congresso de Viena definiu a organização da Confederação Germânica. A Confederação


reunia uma série de Estados alemães, entre eles a Prússia e o Império Austro-húngaro, que tinha
sob seu domínio tchecos, húngaros, croatas, romenos e italianos do norte. Essa Confederação era
liderada pela Áustria, mas a Prússia (um dos Estados alemães) ameaçava essa liderança.

Berlim, capital da Prússia (parte da futura Alemanha)

Influenciado pelas ideias liberais, o povo organizado pressionou o Parlamento para implantar o
sufrágio universal e foi fortemente reprimido pelos exércitos do reino da Prússia. O Parlamento
e o rei suprimiram (extinguiram) os direitos feudais e concederam liberdades políticas, embora
sem a inclusão dos trabalhadores.

Áustria

A revolta na cidade de Viena levou o imperador a reconhecer uma nova Constituição de


caráter democrático, garantir a liberdade de imprensa e abolir a censura, não sem antes matar
muita gente.
A Assembleia Nacional teve representantes de todas as províncias do império, inclusive a Prússia
e a Áustria, dando um passo importante rumo à futura unificação que formaria a Alemanha, anos
mais tarde. Dela participaram poloneses, tchecos, romenos, croatas, italianos do norte e húngaros.

Praga

Também era parte do Império Austríaco. Ali, os revoltosos conseguiram a aprovação de uma
Constituição liberal que reconhecia os direitos históricos do povo tcheco. No entanto, as forças
fiéis ao império reorganizaram-se, reprimindo o Parlamento tcheco e retomando o controle
sobre Viena, a capital imperial.

Hungria

Fazia parte do Império Austríaco e lutava pela independência desde 1830. Chegou a declarar a
autonomia de todos os territórios de língua húngara. Contudo, havia um detalhe: em território
húngaro viviam outras minorias (como sérvios, croatas e romenos).
O nacionalismo húngaro era poderoso, e o imperador austríaco, que enfrentava problemas
na sua própria Viena, precisou do auxílio de tropas russas para esmagar a revolta. Os russos
invadiram a Hungria pelo norte, e a revolução foi liquidada. A repressão foi implacável, com
centenas de pessoas executadas.

Península Itálica

Era uma região dividida em vários Estados, onde vigoravam governos absolutistas. O norte estava
dominado pelos austríacos e o sul vivia sob a sombra do Papa. Seguindo os acontecimentos
de Paris, a insurreição surgiu nos Estados mais conservadores, começando por Nápoles; já Milão
e Veneza levantaram-se contra a dominação austríaca. Em outros lugares, como Florença, Roma e
Turim, os soberanos se anteciparam à insurreição promulgando Constituições.
Em fevereiro de 1849, Giuseppe Mazzini, político e revolucionário, proclamou a república em
Roma, e o Papa foi obrigado a fugir. A insurreição foi derrotada pelos franceses que, a essa
altura, eram liderados por Luís Bonaparte; isso permitiu o retorno do Papa. Também na Itália,
a unificação e a república seriam adiadas por alguns decênios.

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UNIDADE 2

Europa: movimentos revolucionários de 1848

© Maps World

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003, p. 87.
© RMN – Grand Palais (Château de Versailles)/Gérard Blot/Other Images

Nesta gravura de 1848, estão os representantes dos operários (o socialista utópico Blanc),
dos profissionais liberais (o advogado Dupont), dos escritores (o poeta romântico Lamartine)
e da pequena burguesia (Ledru-Rollin, candidato dos democratas-socialistas), entre outros.

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UNIDADE 2

No final de 2010, surgiu, no Egito, uma revolta popular contra o presidente


Hosni Mubarak. No poder há quase 30 anos como ditador, Mubarak governava o
país com “mão de ferro”.

Ao longo desses 30 anos, o governo de Mubarak foi marcado pelo autorita-


rismo, ou seja, pela falta de democracia. Os opositores do governo eram perse-
guidos, presos e torturados. Havia corrupção e censura aos jornais. Por essas
razões, os egípcios foram para as ruas e derrubaram o ditador. A população de
vários países vizinhos, como a Arábia Saudita, o Bahrein, a Síria, o Iêmen e a
Líbia, também saíram às ruas contra os governos ditatoriais. Na Líbia, foi pre-
ciso que tropas internacionais protegessem a população local contra as forças
do governo.

Esses fatos, conhecidos como “Primavera Árabe”, aconteceram há alguns anos


e por outros motivos. Porém, possibilitam que você faça uma reflexão sobre o que
aconteceu em 1848, quando o sentimento de revolução se espalhou pela população
de muitos países ao mesmo tempo.

Você acha que esse tipo de revolta generalizada em vários países pode conti -
nuar acontecendo? Por quê?

A partir do século XVIII, aos poucos, os Estados no Ocidente foram sendo


organizados para funcionar de acordo com as Constituições, que são conjun -
tos de leis maiores de um país. Os governos poderiam elaborar outras leis,
julgar e punir segundo elas, desde que não entrassem em contradição com a
Constituição de cada país, visto que, se isso ocorresse, os governos seriam con-
siderados ditaduras.

Quanto à forma de governo, um Estado pode ser uma monarquia, em que


um rei governa enquanto vive e, quando morre, transmite ao seu herdeiro o
governo; ou uma república (governo “da coisa pública”), em que há um tempo
determinado para o mandato do governante e o poder é passado ao sucessor por
meio de eleições.

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UNIDADE 2

Uma monarquia pode ser constitucional, isto é, o rei respeita um conjunto


de leis, ou absolutista, na qual é o rei quem faz a lei – como bem representa a
frase atribuída a Luís XIV da França: “o Estado sou eu!”. Porém, isso não significa
que o poder do rei não tivesse limites. O poder absolutista era limitado pelo
próprio conjunto de valores e crenças de sua época. Do contrário, não seria
considerado legítimo.

Para garantir um limite à ação dos governantes, o filósofo francês Montesquieu


sugeriu uma tripartição de poderes, balanceando a ação do Estado entre o Le-
gislativo, que elabora as leis, o Executivo, que as executa e administra, e o
Judiciário, que julga se as leis estão sendo ou não cumpridas, seja pelo cidadão,
seja pelos governantes.

Uma república pode ser aristocrática, governada por uma elite, ou democrática,
governada pelo conjunto da população.

O Brasil atual é uma democracia representativa, organizada em três pode -


res. O povo elege diretamente o chefe do Poder Executivo – prefeito, governador
e presidente da República. Também elege seus representantes no Legislativo
– vereadores, deputados e senadores, responsáveis pela elaboração das leis e por
sua aprovação. Os cargos do Poder Judiciário são ocupados, em sua maioria, por
concurso público.

ATIVIDADE 1 As causas e consequências das revoluções

1 Em relação às revoltas e revoluções que ocorreram fora da França, pode-se dizer


que, apesar das diferenças, a consequência política comum a todos esses movi-
mentos foi:

a) a conquista popular do poder, destituindo os regimes monárquicos e implan-


tando repúblicas de caráter mais democrático.
b) a aprovação de Constituições ou leis de caráter mais liberal, que concediam a
parte da população alguns direitos civis e/ou políticos que antes não existiam.
c) o total esmagamento das revoltas em todos os países da Europa e o restabele-
cimento imediato dos antigos regimes feudais de cada país.

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UNIDADE 2

2 Cite alguns dos problemas sociais e políticos enfrentados pelos franceses, no


período estudado, de acordo com o texto A “Primavera dos Povos”.

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O resultado das revoluções de 1848 TEMA 3

Neste Tema, você estudará as principais consequências políticas, econômicas


e sociais das revoluções de 1848. Elas deixaram marcas profundas na História
europeia e mundial, ainda que a maioria delas tenha sido derrotada em seus
propósitos originais.

Considerando a situação política na Europa antes das revoluções do século XIX


e o que você conhece da realidade política europeia nos dias atuais, quais foram as
principais conquistas políticas do povo europeu nesse período de quase 200 anos?
Escreva o que você sabe sobre isso.

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UNIDADE 2

Derrotas e vitórias das revoluções de 1848


Você conheceu os acontecimentos de 1848 com detalhes suficientes para poder
ter uma ideia sobre:

• sua extensão territorial (atingiram muitos lugares da Europa);

• sua sincronia temporal (acompanhando as datas, você pode notar que todas
aconteceram no mesmo período).

Apesar do alcance e da importância das revoluções, todas as revoltas foram


reprimidas brutalmente e derrotadas. Mas a pergunta que fica é: Por quê? Existem
várias interpretações, mas há alguns pontos consensuais, isto é, há pontos em que
os especialistas concordam.

Em primeiro lugar, Inglaterra e Rússia não tiveram manifestações em seus ter-


ritórios. A Inglaterra era considerada o país mais desenvolvido economicamente,
por causa do seu desenvolvimento industrial. Já a Rússia possuía a maior extensão
territorial e a maior população de toda a Europa, ainda que, comparativamente,
fosse o país mais atrasado da Europa do ponto de vista econômico, uma vez que
era predominantemente agrícola.

No século XIX, os acontecimentos na Inglaterra, principal potência econômica


mundial, influenciavam toda a Europa, de modo parecido ao que acontece com
os Estados Unidos da América nos dias de hoje. Por isso seria importante para
o sucesso das revoluções na Europa que elas tivessem acontecido na Inglaterra
também. E por que a revolução não aconteceu nesse país? É possível apontar uma
combinação de dois fatores:

• o movimento operário inglês entrou em confronto com o Estado nos anos ante-
riores e tinha acabado de ser derrotado em 1848. Por isso, não estava em condições
de iniciar uma nova luta;
• a Inglaterra era líder absoluta do desenvolvimento Aristocracia operária
capitalista. Nessa condição, podia melhorar os salá- Expressão criada como refe-
rios de parte dos trabalhadores, criando o que depois rência aos trabalhadores que
recebiam salários muito altos
foi chamado de aristocracia operária. Ao mesmo
e tinham acesso a um padrão
tempo, o Parlamento incorporava, aos poucos, as de vida semelhante ao dos
principais reivindicações políticas dos trabalhadores. burgueses. A oferta de altos
salários foi um instrumento
A Rússia era um país de grandes proporções ter- utilizado muitas vezes pelos
ritoriais, tinha parte do seu território na Europa e na capitalistas para seduzir lide-
ranças operárias combativas.
Ásia, e a maioria de sua população era camponesa e

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UNIDADE 2

ainda vivia no regime de servidão. Essa população era oprimida pelo governo do
czar e estava insatisfeita com sua condição. Entretanto, o potencial revolucionário
não era suficiente: seus trabalhadores foram impotentes em aderir aos conflitos e,
como consequência, o exército do czar, que não precisava lutar contra os trabalha-
dores russos, pôde reprimir, violentamente, uma revolta que ocorreu na Áustria.
A ausência da revolução – ou das lutas que ocorreram em outros países – na
Inglaterra e na Rússia fragilizou os demais movimentos europeus.

Mas por que trabalhadores e nacionalistas não conseguiram triunfar nos países
em que realizaram o movimento? A resposta a essa pergunta deve também consi-
derar aspectos que se referem aos trabalhadores e à burguesia:

• Do lado popular, os movimentos operários, de modo geral, ainda iniciavam sua


experiência de luta, apesar de os trabalhadores não serem mais tão dispersos,
como no tempo em que prevalecia o trabalho artesanal. Porém, eles apenas come-
çavam a formar sindicatos e partidos políticos próprios.
• Do lado das classes dominantes, a burguesia aliou-se aos antiliberais (nobreza e
monarquia) para conter o povo rebelado. Ela seguiu com o povo até certo ponto;
depois, achou prudente abafar a luta, para manter seus privilégios.

É possível ilustrar a situação de operários e burgueses em 1848 da seguinte forma:

• A classe operária abalou as estruturas da sociedade, mas não mostrou experiên-


cia para construir algo novo em seu lugar.

• A burguesia, ao contrário, buscou o entendimento com outros setores da


classe dominante, como reis, nobres e latifundiários, para controlar os traba-
lhadores. Em outras palavras, seu principal inimigo não era mais a nobreza e o
rei, mas a classe operária.
Ainda fica outra pergunta: Qual foi o resultado das revoluções de 1848?
Embora se possa dizer que as ideias comunistas de Karl Marx não tiveram
grande repercussão nos eventos de 1848, é preciso considerar que, a partir daquele
momento, elas foram cada vez mais difundidas e influentes.

O movimento operário fortaleceu-se consideravelmente depois de 1848. Com


o crescimento da classe operária, suas organizações e seus projetos expandiram-
-se. Se as classes dominantes perceberam que era necessário mudar a sociedade
para preservar seus privilégios, os trabalhadores se deram conta de que tinham
força para transformá-la sem o apoio da burguesia. Mais do que isso, os traba-
lhadores perceberam que precisariam enfrentá-la. Essa oposição de interesses
marcaria a evolução da história do capitalismo.

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UNIDADE 2

ATIVIDADE 1 O desfecho das revoluções de 1848

1 Segundo o texto Derrotas e vitórias das revoluções de 1848, existem alguns motivos,
sobre os quais os historiadores concordam, que explicam o porquê de todas as revol-
tas de 1848 terem sido derrotadas. Escreva, nas linhas a seguir, alguns desses motivos.

2 Apesar das derrotas, o texto afirma que as revoltas e revoluções de 1848 trouxe-
ram alguns resultados para o movimento operário. Quais foram eles?

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UNIDADE 2

1 O ano de 1848 ficou célebre em razão da onda de revoluções que varreu, então, a Europa –
evento denominado Primavera dos Povos. O objetivo maior dos revolucionários de toda parte era
alcançar a liberdade e combater a opressão; em algumas regiões, porém, as palavras de ordem rei -
vindicavam, também, o fim do jugo estrangeiro, ou seja, demandavam autonomia para as nações.
Considerando-se os eventos ocorridos em 1848 e suas consequências, é CORRETO afirmar que:
a) na Alemanha, se instalou, com sucesso, uma República parlamentar, que aboliu as instituições
imperiais e consolidou a unidade do país.
b) na França, se proclamou, outra vez, a República, mas Luís Napoleão Bonaparte, o Presidente
eleito, instituiu, por meio de um golpe, o II Império.
c) na Inglaterra, uma série de greves gerais colocou em xeque a Monarquia, que precisou recorrer à
Lei Marcial para recobrar a ordem.
d) na Rússia, os revolucionários ocuparam o poder durante alguns meses, o que provocou reação
sangrenta e guerra civil.
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2009. Disponível em:
<http://download.uol.com.br/vestibular2/prova/ufmg_2009_hist.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

2 O movimento revolucionário de 1848, que abalou, mas não destruiu, a ordem social vigente na
Europa, pode ser caracterizado como um conflito no qual
a) a burguesia, ou frações desta classe, face ao perigo representado pelo proletariado, não
tomou o poder.
b) o campesinato, em luta encarniçada contra a nobreza, abriu espaço para a burguesia tomar
o poder.
c) a nobreza, diante da ameaça representada pela burguesia, fez concessões ao proletariado para
se manter no poder.
d) o proletariado, embora fosse uma classe já madura e com experiência, ficou a reboque dos
acontecimentos.
e) não houve luta de classes, e sim disputas derivadas das tensões e contradições existentes entre
ricos e pobres.
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 2004. Disponível em:
<http://vestibular.unifesp.br/index.php?option=com_phocadownload&view=category&id=16:provas-e-gabaritos-2004&Itemid=112>. Acesso em: 26 fev. 2014.

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Novas conquistas dos trabalhadores TEMA 4

Neste Tema, você aprofundará seus estudos sobre as consequências políticas


das revoluções de 1848 para os trabalhadores europeus.

Você já ouviu falar em direito ao sufrágio universal? Você sabia que esse direito
é muito recente na História e que foi necessária muita luta para democratizar a
participação política? Escreva o que você sabe sobre isso.

As conquistas políticas dos trabalhadores após as revoluções de 1848


Com os eventos de 1848, ficou evidente a união entre segmentos da burguesia e
da nobreza, que eram os grupos mais conservadores. Nesse período, a monarquia
e a nobreza perceberam que o Antigo Regime nunca seria restaurado. Os nobres
foram se tornando empresários capitalistas do campo e, de certa forma, trans-
formando-se em burgueses. Por sua vez, muitos burgueses tinham o desejo de se
tornar nobres; assim, usaram seu dinheiro para comprar títulos de nobreza ou pro-
priedades, como castelos. Essa aproximação reflete simbolicamente a associação
entre esses dois grupos sociais.

No entanto, as mudanças mais importantes pós-1848 aconteceram no terreno


político, que, aos poucos, incorporou as exigências dos trabalhadores. Na França,
por exemplo, o número de votantes nas eleições foi bastante ampliado. Essa expe -
riência francesa abriu um caminho que seria seguido, mais cedo ou mais tarde,
pelos demais países da Europa: a adoção do sufrágio universal masculino e a con-
sequente tolerância para a participação política dos trabalhadores nas eleições.

Antes disso, no começo do século XIX, a ideia de democracia despertava medo


nas classes dominantes da Europa. Existia a percepção de que, se os trabalhadores
participassem da política, naturalmente atacariam a ordem existente. Por isso,
havia tanta resistência à ampliação do direito ao voto.

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UNIDADE 2

Democracia política

Foi na segunda metade do século XIX que se construiu, na maioria dos países, a
possibilidade de se ter a democracia política – que muitos chamam de democracia
liberal – sem que o capitalismo fosse ameaçado. Entre os séculos XIX e as duas pri-
meiras décadas do século XX, diversos países europeus estabeleceram o sufrágio
masculino, como se pode observar a seguir.

Estabelecimento do sufrágio masculino em alguns países da Europa


• Grécia – 1822 • Suécia – 1911
• França – 1848 • Holanda – 1917
• Suíça – 1848
Espanha – 1890 • Inglaterra – 1918

• Noruega – 1897 • Bélgica – 1919
• Império Austro-húngaro – 1907 • Itália – 1919

Outra ideia que mudou de sentido


ao longo dos séculos XIX e XX foi a de
As unificações da Alemanha e da Itália se
nacionalismo. Você estudou que, em consumaram depois de décadas de agitação.
1848, as lutas pela unificação nacional
Contudo, em ambos os processos, as pressões
na Alemanha e na Itália foram sufoca- por democratização social não se realizaram,
das, assim como os movimentos sepa- e nenhuma das novas nações acabou com a
monarquia ou fez a reforma agrária. A célebre
ratistas dos tchecos e dos húngaros em frase do romance italiano O leopardo, de
relação ao Império Austro-húngaro. Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1958), resume
o que foi a unificação a esse respeito: “É preciso
Em síntese, em 1848, não foram cria-
que tudo mude para que tudo fique como está”.
das novas nações.

No entanto, esses movimentos acumularam força e voltaram nos anos seguintes.


A unificação italiana foi realizada em 1861, e a alemã, em 1871. A Áustria, por sua vez,
precisou reconhecer a soberania húngara em 1867, criando o Império Austro-húngaro.
O nacionalismo também se separou muitas vezes das lutas sociais a que esteve
ligado na sua origem. Nesse sentido, as unificações da Itália e da Alemanha foram
processos conservadores, sem ruptura com o poder dos latifundiários nem com a
monarquia. No século XX, o nacionalismo na Europa se transformou muitas vezes em
uma ideologia antidemocrática, como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha.

Você estudou que os direitos políticos conquistados na atualidade, como o voto,


são frutos de muita luta e de incansáveis reivindicações por parte de movimentos
organizados por diferentes setores da sociedade.

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UNIDADE 2

Atualmente, alguns jornais e revistas criticam, às vezes, as manifestações


e reivindicações de trabalhadores e de outros grupos sociais, chamando-os de
baderneiros e desordeiros. Não parece contraditório que essas mídias, que só
existem graças à liberdade de expressão, estejam justamente atacando esse
direito democrático?

ATIVIDADE 1 Uma reflexão: direitos políticos — um processo


histórico de conquistas

Pensando no período em que os trabalhadores iniciaram as reivindicações


por direitos políticos na Europa e comparando com as datas de estabelecimento
do sufrágio masculino em alguns países (conforme o quadro Estabelecimento do
sufrágio masculino em alguns países da Europa no texto As conquistas políticas dos
trabalhadores após as revoluções de 1848), que reflexão você pode fazer sobre o pro-
cesso de conquista desses direitos?

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HISTÓRIA
A COMUNA DE PARIS
UNIDADE 3

TEMAS
1. O surgimento da Comuna de Paris e seus desdobramentos
2. O desfecho da Comuna de Paris

Introdução
Na Unidade 2, você estudou que, desde o início do século XIX, os trabalhado-
res e alguns setores da burguesia se organizaram e entraram em conflito com os
governos para solicitar maior participação no poder político. Estudou também que
esses grupos não conseguiram essa conquista naquele primeiro momento, mas
somente anos depois. Além dos movimentos nacionalistas, os trabalhadores expe-
rimentaram sua força naqueles episódios. Nos anos seguintes, com o crescimento
do movimento operário, as ideias socialistas ganharam força, fazendo os trabalha -
dores acreditarem que eles próprios poderiam organizar a sociedade.

Como seria isso na prática? Em 1871, durante alguns meses, o povo de Paris
viveu essa experiência, conhecida como Comuna de Paris. Esta Unidade vai expli-
car como ela aconteceu.

O surgimento da Comuna de Paris


e seus desdobramentos TEMA 1

Neste Tema, você aprenderá sobre aquele que foi um dos eventos históricos
mais marcantes do século XIX: a Comuna de Paris. Você analisará como e quais
foram os fatores que deram origem à Comuna e, também, suas consequências para
a Europa e o mundo dali por diante.

São poucos os momentos históricos nos quais os indivíduos pertencentes aos


grupos sociais menos favorecidos conseguem impor sua vontade e fazer prevalecer
seu poder. A Comuna de Paris foi um desses casos. Ainda que tenha durado poucos
meses, ela deu mostras de como seria um governo dirigido por trabalhadores.

Em sua opinião, como seria um governo de trabalhadores que defendesse os


interesses do povo? Quais seriam as principais preocupações, as dificuldades e
as facilidades desse governo? Quem eles teriam de enfrentar?

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UNIDADE 3

Você identificaria, na História brasileira, um governo que tenha representado


os operários e demais trabalhadores? Se sim, quais contribuições esse governo
trouxe para os trabalhadores? Caso não, o que um governo precisaria fazer para de
fato representá-los?

Registre o que você pensa sobre esse assunto nas linhas a seguir.

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UNIDADE 3

A Comuna de Paris: antecedentes


Os anos seguintes aos acontecimentos de 1848 foram relativamente calmos na
Europa, sem manifestações de grandes proporções. Alguns elementos ajudam a
explicar esse clima:
• foi um período de expansão do capitalismo;

• o crescimento econômico favoreceu concessões dos capitalistas para a classe


trabalhadora;
• aos poucos, os governos também cederam aos trabalhadores, em dois sentidos:
do ponto de vista social, regulamentaram as condições de trabalho na França, reco -
nhecendo o direito de greve em 1864; na Alemanha, em 1881, e na Itália, em 1884,
foi criado o seguro por acidente de trabalho. Do ponto de vista político, os trabalha-
dores conquistaram o direito de voto universal masculino.
No entanto, em 1871, a França virou novamente de “cabeça para baixo”.
Entre os meses de março e maio, Paris, a capital do país, foi governada por tra-
balhadores. Nos poucos dias em que comandaram a cidade, esses trabalhadores
promoveram mudanças sociais radicais até então nunca vistas na História.

© BHVP/Roger-Viollet/Glow Images

Comuna de Paris (1871). Biblioteca Histórica da Cidade de Paris.

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UNIDADE 3

O lema dos adeptos da Comuna era: “O povo trabalhador de Paris e seus


arredores proclama a fundação da Comuna de Paris”. O documento principal
desse movimento revolucionário proclamava ainda: “a gestão popular de todos
os meios da vida coletiva; a gratuidade de tudo o que é necessário e de todos os
serviços públicos”.

Para entender o que levou os trabalhadores a conquistarem o poder em 1871,


é preciso analisar alguns fatores:

• O primeiro fator é que o Império Francês, comandado por Napoleão III, tornara-se
uma espécie de “sanguessuga gigante”: era forte, burocrático e corrupto. Essa
situação era reconhecida e odiada pela população, que sonhava em eliminar
o funcionalismo público, o grande parasita social. Não foi à toa que a Comuna
anulou todas as características desse Estado.

• O segundo fator é que, embora a França de 1871 fosse um país formado princi-
palmente por uma população rural (somente a Inglaterra tinha mais habitantes
nas cidades do que no campo), Paris tinha um grande número de operários, dife -
rença importante em relação a 1848, pois houve uma concentração da produção
industrial entre 1848 e 1871. A união dos trabalhadores em grandes fábricas ser-
via de estímulo para a organização operária. Naquele momento, as influências
políticas mais importantes para esses operários eram o blanquismo e as ideias
de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). O blanquismo, referência a Louis-Auguste
Blanqui (1805-1881), defendia a justiça, a liberdade e a igualdade entre os seres
humanos, direitos conquistados com a participação efetiva na luta revolucio-
nária. Por sua vez, Proudhon acreditava na propriedade coletiva dos meios de
produção, ou seja, uma associação ou cooperativa de trabalhadores que se res-
ponsabilizariam pela produção e sua respectiva distribuição. Por defender essas
propostas, acabou sendo reconhecido como um dos primeiros pensadores anar-
quistas. Sua frase mais célebre é: “A propriedade é um roubo!”.

• Por fim, o terceiro fator é que, em 1870, a França entrou em guerra contra a
Prússia (Guerra Franco-prussiana). Com a derrota francesa, a cidade de Paris
foi sitiada e um tratado de paz, considerado humilhante pelos franceses, foi
imposto. Esse acontecimento também motivou o movimento social dos traba-
lhadores parisienses.

Fazendo uma análise mais profunda, pode-se constatar que a Comuna de Paris
foi o resultado das lutas sociais que ocorriam na França desde muito antes, espe-
cialmente entre burguesia e proletariado.

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UNIDADE 3

Como surgiu a Comuna de Paris?

Um dos eventos que ajudou a dar ori- A coroação de Guilherme I marcou a for-
gem à Comuna, como já apontado, foi a mação da Alemanha, mas a unificação
alemã foi um longo processo. Sob a lide-
guerra entre a França e a Prússia, cujos
rança da Prússia – mais especificamente,
governos queriam ampliar os territórios de de Otto von Bismarck –, a formação da
seus respectivos países. O Império Francês, nação alemã foi marcada por guerras e
pela exaltação ao nacionalismo. A vitória
de Napoleão III, pretendia anexar territórios
prussiana contra a França somente con-
e aumentar seu poder. A Prússia, governada firmou o poderio prussiano e fortaleceu
por Guilherme I, almejava fazer o mesmo. o espírito nacionalista nos Estados ger-
mânicos, que acabaram se unificando e
A Prússia era, naquele momento, uma formando o Segundo Império Alemão,
das regiões de maior desenvolvimento também conhecido como Segundo Reich (o
regime nazista instaurado por Adolf Hitler,
capitalista do mundo. Além de contar com entre 1933 e 1945, ficou conhecido como
uma forte indústria, tinha um exército Terceiro Reich). Em nome do nacionalismo
poderoso, que inovou as estratégias milita- alemão, os diferentes Estados germânicos
foram se unindo, liderados por Bismarck,
res. Assim, na guerra entre as duas nações,
para combater a França.
a França foi derrotada e humilhada.

© Mary Evans/Diomedia

Em 1871, Guilherme I foi coroado imperador da Alemanha no Palácio de Versalhes, lugar simbólico do poder da
monarquia francesa. Essa atitude foi considerada uma ofensa pelos franceses. [Anton Alexander von Werner. A
Proclamação de Guilherme como imperador do novo Reino da Alemanha na Sala dos Espelhos em
Versalhes, 1885. Óleo sobre tela, 140 cm × 142 cm. Castelo Friedrichsruhe, Alemanha.]

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UNIDADE 3

Com a prisão de Napoleão III, a república foi proclamada pela terceira vez na
França. Quem assumiu sua liderança foi uma figura conservadora, o ex-minis-
tro Adolfo Thiers, que negociou a rendição humilhante com os prussianos. Os
termos de rendição incluíam a obrigatoriedade de os franceses custearem a
guerra – com aumento de impostos a serem pagos à Prússia.

Adolfo Thiers tentou proibir o uso de armas por membros da Guarda Nacio-
nal, uma organização civil que existia em Paris desde a Revolução Francesa.
Quando a população se deu conta dessa manobra, expulsou Thiers e o exército
prussiano da cidade de Paris. Nesse contexto, foi proclamada a Comuna, que
existiu oficialmente de março a maio de 1871.
© RMN – Grand Palais/Agence Bulloz/Other Images

Jean-Baptiste-François Arnaud-Durbec. Barricada em 19 de março de 1871. Aquarela sobre papel.


Museu Carnavalet, Paris, França.

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UNIDADE 3

O que foi a Comuna?


Do termo “comum”, isto é, o que é de todos, ou aquilo de que todos podem par -
ticipar, derivam as palavras “comunista” e “comunidade”. E desta última palavra
deriva o termo “comuna”.

Os participantes da Comuna de Paris ficaram conhecidos como communards,


uma palavra que não tem tradução exata em português (utiliza-se o termo
comunardos). Não se deve confundir comunardos com comunistas: estes últimos
seriam os seguidores do comunismo proposto por Marx e Engels.

Uma vez instaurada a Comuna, foram convocadas eleições para resol-


ver os problemas de abastecimento dos comunardos e cuidar das coisas cole-
tivas, ou seja, dos serviços públicos. Para tanto, organizou-se o “Comitê de
Salvação Pública”.

Durante um breve período, os comunardos buscaram solucionar vários pro-


blemas sociais, como a escola das crianças, que deveria ser pública e laica, ou
seja, não religiosa, bem como a condição da mulher, que deveria ter os mesmos
direitos dos homens. Essas soluções passavam pela justiça, religião, economia,
política internacional etc. Em todos os campos, os revolucionários produziram
ideias bastante radicais para o seu tempo e muitas delas podem ser consideradas
assim até hoje. Veja alguns exemplos:

• iniciaram o controle operário da produção, por meio da instalação de coopera -


tivas, da redução da jornada de trabalho e da legalização dos sindicatos (muitos
industriais fugiram de Paris);

• reorganizaram o sistema de transportes, que se tornou gratuito para todos;

• decretaram a distribuição das residências vazias para moradia popular e proibi -


ram a especulação imobiliária;

• instituíram um plano de previdência social inédito, para todos os cidadãos;

• decretaram o fim da construção de ruas que agredissem espaços verdes e áreas


de convivência na cidade;

• estabeleceram como princípio a educação pública, laica, gratuita, obrigatória e


universal – para homens e mulheres;

• proclamaram a igualdade das mulheres em relação aos homens.

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UNIDADE 3

Como você percebeu, os líderes da Comuna de Paris não se preocuparam apenas


com a justiça, a política e a economia, mas com a cultura de toda a sociedade.

Em seus escritos, a liderança da Comuna tratou de assuntos como a


independência da mulher e das crianças e proclamou a liberdade de nas-
cimento, o direito à informação sexual desde a infância e o direito da mulher de
abortar e prevenir-se da gravidez. Esses líderes pensavam, ainda, que as crian-
ças não deveriam ser propriedade de seus pais; assim, na escola, elas tomariam
suas decisões com autonomia e governariam suas próprias vidas.

Será que se essas ideias fossem implantadas, não haveria menos agressão a
mulheres e menos crianças nas ruas hoje em dia?

ATIVIDADE 1 O trabalho nas fábricas na Comuna de Paris

Leia o artigo a seguir, proclamado pela Comuna de Paris, sobre a produção nas
fábricas e procure o significado das palavras desconhecidas.

Artigo IX
• todas as empresas privadas (fábricas, grandes armazéns) são expropriadas e os
seus bens entregues à coletividade;
• os trabalhadores que exercem tarefas predominantemente intelectuais (direção,
gestão, planificação, investigação etc.) periodicamente serão obrigados a desem-
penhar tarefas manuais;
• todas as unidades de produção são administradas pelos trabalhadores em geral e
diretamente pelos trabalhadores da empresa, em relação à organização do traba-
lho e distribuição de tarefas;
• fica abolida a organização hierárquica da produção;
• as diferentes categorias de trabalhadores devem desaparecer e desenvolver-se a
rotatividade dos cargos de trabalho;
• a nova organização da produção tenderá a assegurar a gratuidade máxima de tudo
o que é necessário e diminuir o tempo de trabalho;
• devem-se combater os gastadores e parasitas. Desde já são suprimidas as funções
de contramestre, cronometrista e supervisor.

COGGIOLA, Osvaldo (Org.). A Comuna de Paris na história. In: . Escritos sobre a Comuna de Paris. São Paulo: Xamã, 2003, p. 16.

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UNIDADE 3

O que, em sua opinião, as medidas da Comuna poderiam causar na sociedade


francesa, caso fossem implementadas definitivamente? Lembre-se de que, até
aquele momento, a sociedade francesa era uma sociedade burguesa e capitalista.

Registre sua resposta nas linhas a seguir.

História − Volume 2

A Comuna de Paris

Esse vídeo aborda o momento em que os trabalhadores parisienses conseguiram fazer pre-
valecer seus interesses, implantando um novo modelo de organização e gestão da sociedade.
Ele mostra as ideias e os interesses que marcaram a organização da Comuna de Paris e ajuda
a entender a importância desse movimento para a classe trabalhadora, até os dias de hoje. Ele é
um importante recurso para ajudar você a compreender o que estudou nesta Unidade.

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O desfecho da Comuna de Paris TEMA 2

Neste Tema, você aprenderá sobre os processos que levaram ao desfecho da


Comuna de Paris e a importância desses fatos para a história do capitalismo.

Você aprendeu de que maneira a Comuna de Paris se constituiu. Com base no


que estudou até aqui, procure se lembrar das causas desse movimento revolucio-
nário e registre o que você já sabe nas linhas a seguir.

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UNIDADE 3

A Comuna e sua organização política


Durante dois meses, a cidade de Paris foi administrada pelo Comitê Central
Revolucionário e, dessa forma, as camadas operárias entraram em contato com a
realidade do poder. A Comuna propôs uma revolução na organização do Estado e
na forma de fazer política.

Para acabar com a corrupção dos funcionários públicos Burocracia


e dos políticos, os comunardos propuseram eliminar de vez
Sistema administra-
a burocracia que não funcionava. Decretaram a separação tivo, baseado em car-
entre o Estado e a Igreja, o fim dos exércitos permanentes, gos definidos por uma
a extinção do trabalho noturno nas padarias e a reabertura ordem hierárquica de
competência e divisão
de fábricas que haviam sido fechadas e que passariam a de tarefas.
ser dirigidas por corporações operárias. Para completar,
a Comuna instituiu o ensino gratuito.

A Comuna defendia os seguintes princípios políticos:

• todos os membros da administração podem ter o seu mandato revogado em qual-


quer momento e não podem se perpetuar no cargo. Isso configura uma ação contra
a burocracia;

• a remuneração de um cargo público não pode ser maior do que a remunera-


ção de um operário qualificado. Com isso, propõe-se acabar com o privilégio nas
funções públicas;

• deve haver o fim de qualquer corpo armado diferente da população: a nação é o povo
em armas, o que configura, em última análise, uma proposta de extinção do exército;

• será abolida a divisão de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário); a Comuna


representa, ao mesmo tempo, os três poderes.

Em resumo, a Comuna seria a representação direta do povo. Embora não


abolisse o Estado, como defendiam alguns comunistas, seria a substituição da
estrutura burocrática do Estado antigo pela construção de um novo sistema
para administrar os bens públicos.

Para os comunardos, o Estado perderia sua função política e se tornaria pura-


mente administrativo. Em outras palavras, ele não mandaria, só cumpriria ordens.
E quem daria essas ordens? O conjunto dos cidadãos.

Segundo os comunardos, a sociedade deveria absorver as funções do Estado.


A proposta não era tirar um juiz e colocar no seu lugar um operário, mas acabar com
a estrutura burocrática do Poder Judiciário. Não existiria mais o juiz profissional;
representantes da sociedade seriam eleitos periodicamente para essa função.

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 1
A Comuna
De acordo com o texto A Comuna e sua organização política, cite, nas linhas a
seguir, pelo menos três modificações políticas propostas pela Comuna.

A Semana Sangrenta
Enquanto a Comuna revolucionava Paris, o exército francês reorganizava-se a
partir da cidade de Versalhes, a poucos quilômetros da capital, preparando-se para
um embate com os comunardos. Outras cidades da França também proclamaram
“Comunas”, mas essas duraram menos tempo.
Você estudou que, por causa da Guerra Franco-prussiana, havia tropas da Prússia
próximas de Paris. No entanto, os prussianos não invadiram a cidade tomada pela
população armada, pois consideravam que tinham atingido seus objetivos na guerra:
além da vitória militar, apropriaram-se de um importante território francês rico em
minérios, a Alsácia-Lorena.
Mas, com o tempo, o governo prussiano, que liderou a unificação alemã, ficou
alarmado com o que acontecia em Paris, pois temia que o sentimento revolucionário
se espalhasse. Assim, quando o exército francês voltou para a cidade determinado
a esmagar o movimento, as tropas alemãs não interferiram na batalha entre os
franceses. Contudo, ajudaram o exército francês ao soltarem centenas de solda-
dos, prisioneiros de guerra, para auxiliarem nessa tarefa. Diante da Comuna, a
rivalidade entre as nações foi substituída pela colaboração entre os governos que
defendiam os interesses dos nobres e burgueses de seus países.
Em maio daquele mesmo ano (1871), o exército francês invadiu Paris e cumpriu
sua missão com uma brutalidade que marcou os registros históricos. Enfrentando
a resistência determinada dos trabalhadores, que montaram barricadas em toda
a cidade, as tropas do governo agiram sem piedade: o resultado ficou conhecido
como a “Semana Sangrenta”.

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UNIDADE 3

© Musée Carnavalet/Roger-Viollet/Glow Images

A tomada de Paris, 1871. Litogravura. Museu Carnavalet, Paris, França.


© RMN – Grand Palais/Hervé Lewandowski/Other Images

Georges Jules Victor Clairin. O incêndio das Tulherias em maio de 1871. Óleo sobre tela, 48 cm × 79 cm.
Museu d’Orsay, Paris, França.

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UNIDADE 3

Mesmo depois de vencer os rebeldes, a repressão continuou a fazer vítimas:


houve milhares de execuções sumárias de presos e exilados. Leia a seguir testemu-
nhos de sobreviventes da repressão à Comuna:

Vinte mil homens, mulheres e crianças mortos durante a batalha ou após a


resistência, em Paris, e no interior; pelo menos três mil mortos nas detenções,
nas barcaças, nos fortes, nas prisões, na Nova Caledônia, no exílio ou de doenças
contraídas no cativeiro; treze mil e setecentos condenados a penas que, para
muitos, duraram nove anos; setenta mil mulheres, crianças, idosos privados de
seus arrimos ou jogados para fora da França; cento e sete mil vítimas aproxi-
madamente, eis o balanço das retaliações da alta burguesia à Revolução de dois
meses, do 18 de março.
LISSAGARAY, Prosper-Olivier. História da Comuna de 1871, p. 487. Gallica. Biblioteca Nacional da França (BNF). Disponível em:
<http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k36518g/f494.image>. Acesso em: 9 abr. 2014. Tradução: Célia Gambini.

© Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

Gustave Boulanger. Batalha na Praça da Concórdia durante os últimos dias da Comuna, 1871.
Óleo sobre tela. Museu Carnavalet, Paris, França.

64
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UNIDADE 3

Em uma extensão que nos pareceu sem fim, avistamos pilhas de cadáveres. “Reco-
lham todos esses vagabundos”, disse-nos o sargento, “e os coloquem nessas carro-
ças”. Carregamos esses corpos pegajosos de sangue e de lama. Os soldados faziam
brincadeiras horríveis: “Olha só que cara isso vai fazer!” e esmagavam alguns
rostos com o tacão. Parecia-nos que alguns ainda estavam vivos e avisamos os
soldados, mas eles responderam: “Vamos! Vamos! Continuem!”. Certamente,
alguns morreram ali. Colocamos mil novecentos e sete corpos nas carroças.
LISSAGARAY, Prosper-Olivier. História da Comuna de 1871, p. 525. Gallica. Biblioteca Nacional da França (BNF).
Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k36518g/f532.image>. Acesso em: 9 abr. 2014. Tradução: Célia Gambini.

O que explica tal violência? A justificativa mais provável é que as classes


dominantes francesas e europeias sentiram-se aterrorizadas com a experiência
da Comuna. Quiseram, então, mandar um aviso para os trabalhadores de toda a
Europa: qualquer tentativa de revolução popular seria massacrada sem piedade.
O recado foi passado. No entanto, a mensagem dos comunardos perdura até os dias
de hoje, influenciando as lutas dos trabalhadores durante vários momentos da
História dos séculos XIX e XX.
© Roger Viollet/Glow Images

Fuzilamento de comunardos. [Alfred-Henri Darjou. O muro dos Federados no cemitério Père-Lachaise


em 28 de maio de 1871. Técnica mista. Museu Carnavalet, Paris, França.]

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UNIDADE 3

© RMN/Réunion des Musées Nationaux/Other Images

Paul Charles Chocarne-Moreau. Na barricada. Fotografia exposta no Salão dos Artistas Franceses de 1909.
Negativo monocromático em suporte de vidro. Fundo Druet-Vizzavona. Paris, França.

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 2
A Semana Sangrenta

1 Para você, o que significa dizer que as classes dominantes da Europa se senti-
ram ameaçadas com a experiência vivida durante a Comuna de Paris?

2 Passados mais de 140 anos da Comuna, o que você acha que os trabalhadores
de hoje poderiam aprender com esse movimento?

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UNIDADE 3

No começo do século XIX, havia entre as classes dominantes um temor genera-


lizado de que o sufrágio universal pudesse significar uma revolução social.

Com o sufrágio, os trabalhadores, que formavam a maioria da população,


poderiam votar em candidatos que defenderiam seus interesses. Como os in-
teresses dos trabalhadores, muitas vezes, contrastavam com os dos capitalistas,
imaginava-se que isso ameaçaria a ordem social.

Mesmo com a repressão aos movimentos populares, não seria justamente pela
pressão deles que os novos direitos são conquistados?

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HISTÓRIA
IMPERIALISMO
UNIDADE 4
TEMAS
1. Conceito de imperialismo
2. Capitalismo monopolista e práticas imperialistas
3. A partilha do mundo

Introdução
No final do século XIX, o desenvolvimento industrial criou as condições para
uma expansão do capitalismo que atingiu vários continentes além da Europa. Esse
movimento se caracterizou por um novo processo de expansão colonial europeia,
especialmente sobre os continentes africano e asiático.

Outros países em processo de industrialização, especialmente Estados Unidos


da América e Japão, também participaram desse movimento de expansão.
Os EUA atuaram especialmente sobre a América Latina e o Japão, sobre a região
do Pacífico.

Essa expansão foi parte de um movimento muito maior conhecido como


imperialismo. Sua principal motivação foi a busca por novas áreas que pudes-
sem ser mercados consumidores dos produtos industrializados europeus, bem
como fornecedoras de matérias-primas que seriam transformadas na indústria.
Dessa forma, ampliavam-se as possibilidades de negócio para além do mercado
europeu e, portanto, as margens de lucro das empresas.

No “Velho Continente”, como também é conhecida a Europa, o desenvolvi-


mento do capitalismo favoreceu concessões econômicas para a classe traba-
lhadora, que as conquistou por meio de lutas e permanente pressão. Muitos
governos integraram os trabalhadores à participação política, fazendo uso do
direito de votar e de eleger seus representantes, regulamentaram as condi-
ções de trabalho, minimizando a exploração dos trabalhadores, e permitiram
a organização de sindicatos.

Com tudo isso, ficou mais interessante para os capitalistas europeus instalarem
suas indústrias em países onde a mão de obra fosse mais barata e possuísse menos
ou nenhum direito trabalhista, o que facilitaria sua exploração e aumentaria as
margens de lucro das empresas. Essa é uma das características dessa movimenta-
ção imperialista.

Nesta Unidade, você estudará temas relacionados ao imperialismo.

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TEMA 1 Conceito de imperialismo

Neste Tema, você estudará o processo histórico que ficou conhecido como
imperialismo e seus efeitos na história do capitalismo.

Antes de começar o estudo desta Unidade, reflita sobre o que você já sabe sobre
o assunto.

Quais são as marcas dos produtos que você geralmente consome? Pesquise nos
rótulos das embalagens a origem de cada uma dessas marcas. Com base nessa pes-
quisa, você acha que, no capitalismo atual, as empresas precisam estar instaladas
nas mesmas cidades onde vendem seus produtos?

Agora, reflita sobre as seguintes questões:

• Você conhece as marcas dos produtos que você consome?

• As empresas que produzem essas marcas são brasileiras ou têm origem em


outro(s) país(es)?

• Você acha que essa reflexão tem alguma relação com o imperialismo, tema desta
Unidade? Por quê?

Registre suas ideias nas linhas a seguir.

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UNIDADE 4 87

O que é imperialismo?
Atualmente, a expressão imperialismo refere-se à relação de dominação de
um país sobre outro. No caso do Brasil, os Estados Unidos exercem esse controle
indireto sobre a economia, a política e a cultura. Desse modo, quando alguém diz
“abaixo o imperialismo americano”, está se queixando dessa intervenção estadu-
nidense sobre seu país.

Existe uma segunda maneira de enten-


der o imperialismo: como um dos estágios
O capitalismo esteve em crise entre
do capitalismo. A ideia é que, quando o capi- 1873 e 1896, mas isso não impediu que
talismo atingiu determinado grau de desen- ele se espalhasse.

volvimento, ele precisou se espalhar pelo Existem várias análises que tentam
explicar como isso foi possível. Uma
mundo para se fortalecer, e a forma como delas defende a ideia de que “crise”,
ele se propagou para atingir seu objetivo para o capitalismo, significa dificul-
dades para lucrar, podendo ser gerada
foi por meio de uma relação de dominação.
por vários motivos. Como, nas últimas
Portanto, de acordo com essa visão, embora décadas do século XIX, os negócios em
alguns países tenham sido chamados de outras regiões do mundo ofereciam
novas oportunidades de lucro, eles
“imperialistas”, o centro da questão está no poderiam ser entendidos como parte de
próprio capitalismo e não nos países. Em uma saída da crise.

outras palavras, o que se tornou imperialista Em outras palavras: se estava difícil


lucrar no próprio país, os capitalistas
foi o capitalismo e não os países. poderiam buscar novas oportunidades
de negócio no exterior – principalmente
Esse novo momento do capitalismo em outros continentes.
caracterizou-se pela concentração e centra-
lização de capital. O que isso quer dizer? Na prática, isso significa que as pequenas
e médias empresas, pressionadas pelo poder econômico das grandes corporações,
acabam falindo, por não conseguirem concorrer no mercado, ou são compradas
pelas grandes empresas, que concentram cada vez mais o capital.

Nesse processo, a concorrência cedeu Monopólio


espaço para a realidade das grandes empre- Organização do mercado em que uma
sas e gigantes multinacionais, que, ao pos- empresa detém a exclusividade da pro-
dução e comercialização de determi-
suírem o controle do mercado, passaram
nado produto, bem ou serviço.
a exercer o monopólio. Ao mesmo tempo,
essas grandes indústrias foram se associando aos bancos, concentrando ainda mais
o capital. Dessa forma, o capitalismo industrial, consolidado na segunda metade
do século XVIII e caracterizado pela concorrência entre as indústrias, adquiriu, na
segunda metade do século XIX, novas características, entre elas o monopólio.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 86 10/03/15 11:15
UNIDADE 4

O imperialismo é, portanto, resultado da consolidação do capitalismo monopolista.


Mas, qual é exatamente a relação entre o capitalismo monopolista e o imperialismo?
O capitalismo monopolista é caracterizado por empresas que concentram e centra-
lizam indústrias, bancos, comércios etc. Além de controlar grandes mercados, o capi-
talismo monopolista depende de enormes fontes de matéria-prima, de mão de obra
abundante e barata e de um grande mercado consumidor para manter-se e expandir-se.

Capitalismo concorrencial Capitalismo monopolista

Revolução Industrial Imperialismo

Final do século XVIII Final do Século XIX

Como consequência dessas ações, as grandes nações capitalistas precisam


dominar econômica e, muitas vezes, também politicamente várias regiões e territórios
espalhados pelo mundo que forneçam esses recursos. Essa dominação de algumas
potências capitalistas sobre outras regiões é chamada de imperialismo.

O imperialismo nos dias de hoje


Como você viu, o imperialismo pode ser entendido de dois modos: como a domi -
nação de um país sobre outro ou como um dos estágios do capitalismo monopolista.
A situação a seguir pode ilustrar a diferença e a relação entre esses dois entendi-
mentos. Quando um iraquiano, atacado pelo exército dos Estados Unidos, protesta
contra o imperialismo estadunidense, ele está falando de algo bastante concreto,
pois existem tropas estrangeiras em seu país. É sabido, porém, que há interes-
ses econômicos por trás da intervenção dos EUA no Iraque. Mas será que esses
interesses são de todos os estadunidenses?
Certamente, o interesse maior é de alguns negócios, como o setor petrolífero, a
indústria militar e a construção civil. Nesse sentido, o principal motor da intervenção
militar não é o sentimento nacional dos estadunidenses, mas os interesses econômicos.

Assista ao filme Syriana (direção de Stephen Gaghan, EUA, 2005. 127 min). Ele trata de questões
políticas e de terrorismo, ambos ligados à indústria do petróleo. Veja-o e associe seu conteúdo
ao que você aprendeu no Tema 1.

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UNIDADE 4

ATIVIDADE 1 Imperialismo

Observe a imagem a seguir.

A pizza representa o território da China e as pessoas que querem dividi-la


representam as nações imperialistas. Na imagem, do fim do século XIX, estão
representados, da esquerda para a direita, Inglaterra, Alemanha, Rússia, França e
Japão. O homem ao fundo representa a China, que não participa da divisão.

© RMN – Grand Palais/Dietmar Katz/Other Images

Charge de Henri Meyer. Le Petit Journal, 1898. Paris, França.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 88 10/03/15 11:15
UNIDADE 4

Agora, responda às seguintes questões:

1 Que relação pode ser feita entre a imagem e o que você estudou até aqui sobre
o imperialismo?

2 Assinale “V” para verdadeiro e “F” para falso, em cada uma das sentenças a seguir.

a) □ Um dos modos de entender o imperialismo é como uma fase do capitalismo,


pois os países que adotam ações consideradas imperialistas o fazem em acordo
com interesses econômicos.

b) □ O imperialismo é uma prática de colaboração dos países que atingiram um


patamar de desenvolvimento avançado em relação àqueles que ainda não conse -
guiram se estabilizar economicamente.

c) □ Do ponto de vista histórico, o imperialismo foi um fenômeno derivado da


transformação do capitalismo concorrencial que se iniciou com a Revolução Indus-
trial e cedeu lugar às indústrias multinacionais, entre outros acontecimentos.

d) □ O imperialismo foi necessário para que países sem acesso à ciência e à tec-
nologia pudessem se desenvolver.

O imperialismo, ou neocolonialismo, como também é conhecido, é constituído por práticas


dos Estados Nacionais, que pretendem colocar-se como expansores de seus domínios, controlando
outras nações supostamente imaginadas como mais frágeis e mesmo até menos civilizadas.
Sobre o imperialismo das últimas décadas do século XIX, é correto afirmar que:
a) o Brasil foi colaborador da política imperialista na África.
b) os países latino-americanos, no final do século XIX, em sua maioria ainda colônias das
metrópoles, também sofreram com o neocolonialismo.
c) os Estados Unidos foram o Estado mais ostensivo em sua política imperialista no período citado.
d) as investidas dos países europeus na expansão de seus domínios foram centradas sobretudo na
África e Ásia.
e) Alemanha e Itália, países há muito tempo constituídos como Estados Nacionais, tiveram papel
de destaque no imperialismo do final do século XIX.
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), 2011. Disponível em:
<http://www.vestibular.udesc.br/arquivos/id_submenu/695/prova_objetiva_manha_1_fase.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2014.

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Capitalismo monopolista e
práticas imperialistas TEMA 2

Neste Tema, você conhecerá como o capitalismo se organizou na fase mono-


polista. Para tanto, identifique as principais práticas imperialistas e como elas
influenciaram a economia de diferentes países.

Procure observar que os processos históricos trabalhados neste Tema são


importantes para entender não apenas a situação econômica atual, mas também o
impacto que ela exerce na sua vida.

Uma das práticas imperialistas da atualidade é o processo de fusão de empresas.

• Você já ouviu falar em fusão de empresas?


• Lembra-se de alguma fusão entre empresas no Brasil ou no mundo?

• Em relação às fusões que você conhece, quais foram as consequências desse processo?
Escreva, a seguir, o que você conhece sobre esse assunto. Se você já trabalhou
em alguma empresa que sofreu um processo de fusão com outra empresa, registre
suas percepções sobre essa experiência.

Capitalismo monopolista
A motivação para a expansão do capitalismo pelo mundo, embora seja um
assunto polêmico, não é difícil de ser entendida. Ela resulta de duas tendências do
capitalismo monopolista: a concentração e a centralização de capitais.

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UNIDADE 4

O que é a concentração de capital?


Uma das maneiras de se concentrar capital é aumentando a quantidade de
bens, ou seja, o patrimônio de uma empresa. Isso acontece quando uma empresa
compra novos equipamentos para ampliar sua produção.

No caso do trabalhador, por exemplo, imagine que uma costureira assalariada


compre uma máquina de costura. Dessa forma, ela vai acumular patrimônio por-
que adquiriu o equipamento e porque ela pode, fora do expediente, fazer pequenos
serviços e receber por eles; além de vender, mensalmente, a própria força de traba-
lho em troca de um salário.

A concentração do capital também pode ser resultado de um processo complexo,


mas fácil de compreender: capital gera mais capital. Isso se dá porque uma parte do
lucro do capitalista pode ser investida na ampliação do negócio. Por exemplo:

• Uma fábrica investe R$ 2,00 para produzir mercadorias, que vende por R$ 4,00.

• Os R$ 4,00 obtidos da venda das mercadorias são divididos do seguinte modo:

– R$ 3,00 são reinvestidos na produção;

– R$ 1,00 sobra para o dono da fábrica.

• O ciclo recomeça, mas dessa vez o capitalista terá R$ 3,00 para investir (e não
R$ 2,00); ou seja, seu capital aumentou. Desse modo, ele produzirá mercadorias
que poderá vender por R$ 6,00, e, assim, sucessivamente.

Com isso, você tem uma ideia do que é a concentração de capital: ela significa
o aumento do volume do capital.

O que é a centralização de capital?


A centralização de capital é resultado da concorrência entre patrimônios, na
qual as empresas maiores compram as menores.

Por que isso acontece? Na disputa entre as empresas pela obtenção dos merca-
dos, quem é maior produz mais barato, pois tem ganhos de escala, ou seja, pode
vender uma quantidade grande de mercadoria.

Como assim? Muitos gastos de uma empresa serão os mesmos quando o negócio
cresce: o aluguel de um galpão não será diferente se tiver uma, duas ou dez má -
quinas funcionando; uma empresa maior pode negociar descontos na compra de
matérias-primas, uma vez que precisa de maiores quantidades delas; e assim por
diante. Essa situação é chamada de ganhos de escala.

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UNIDADE 4

Mas não é só isso. Uma grande empresa tem outros recursos para “quebrar”
seus concorrentes e comprá-los. Devido a seus altos lucros acumulados, ela tem
condições de vender seus produtos, por um determinado período, com preço re-
duzido e forçar o prejuízo do rival. Essa estratégia funciona porque a empresa
recupera o lucro quando o concorrente deixa de existir.

Quando ocorre uma crise, geralmente a empresa grande tem mais meios de
sobreviver. Um exemplo é a maior facilidade que ela tem para conseguir crédito
bancário. Muitas vezes, ela aproveita esses momentos para comprar a preços
baixos os negócios dos concorrentes que enfrentam dificuldades.

Independentemente dos meios, existe uma tendência no capitalismo:


as empresas grandes ficam maiores e as menores são absorvidas pelas maiores.
É o processo chamado centralização de capital.

A longo prazo, se for mantido esse movimento de centralização, haverá menor


quantidade de grandes empresas dominando os mercados de diversas regiões do
planeta. Essas empresas terão um número cada vez mais reduzido de concorrentes
e, por isso, poderão se aproximar de uma situação de monopólio.

A concorrência e o monopólio
De acordo com o que você estudou até aqui, os processos de concentração e
centralização se associam e se reforçam, isto é, os processos de concentração
de capitais em algumas grandes empresas se associam à redução do número de
empresas no mercado, resultando na seguinte tendência:

Concentração de capitais
(aumento do volume de capitais)

+
Centralização de capitais
(redução do número de empresas)

=
Empresas cada vez maiores e em menor número

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UNIDADE 4

Quando isso acontece no capitalismo, diz-se que não é mais a concorrência que
prevalece no mercado, mas o monopólio, já que pequenas e médias empresas não
conseguem concorrer com as grandes. Formam-se as grandes corporações, que
tendem a absorver várias marcas que antes competiam entre si.

ATIVIDADE 1
As práticas do capitalismo monopolista

Faça um resumo do texto Capitalismo monopolista, destacando as características


de cada uma das práticas estudadas: concentração e centralização de capital.

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UNIDADE 4

O imperialismo em fatos concretos


Existem diversas leituras sobre o imperialismo. Uma das interpretações mais
conhecidas, e que você estudou no Tema 1, foi proposta por Vladimir Ilitch
Ulianov, mais conhecido como Lenin, marxista russo que procurou entender
esse fenômeno no começo do século XX. Para ele, o imperialismo é a fase supe-
rior do capitalismo, quando a produção é tão grande que a livre-concorrência
deixa de existir e é substituída pelos grandes monopólios.
Um bom exemplo para entender o que são os grandes monopólios é observar,
no dia a dia, a ação das grandes multinacionais. Elas nada mais são do que as gran-
des corporações, ou seja, as empresas gigantescas que se formam atravessando as
fronteiras de diferentes países e que controlam os grandes mercados mundiais.

Além disso, Lenin destacava que outra característica do imperialismo é a fusão


(união) do capital bancário com o industrial, chamada de capitalismo financeiro.
Em fatos concretos, o aumento de capitais, a formação das grandes empresas e o
aumento da produção dessas empresas levaram ao esgotamento dos próprios mer-
cados europeus. Isso explicaria a necessidade delas de exportar capitais para fora da
Europa, bem como conquistar territórios em outros continentes. Foi nesse contexto que
as grandes potências europeias partilharam a África e a Ásia no final do século XIX.

Você conhece o jogo “Monopoly”, no Brasil também chamado de “Banco Imobiliário”? Nesse
jogo, os participantes compram e vendem propriedades. Com o passar das rodadas, aqueles
que conseguem comprar mais dessas propriedades causam a falência dos que têm menos.
Desse modo, o jogo reproduz a dinâmica do próprio capitalismo. Por esse motivo, seu nome
original é “Monopoly”.

ATIVIDADE 2 Holding, uma forma de concentração de capital

Como você estudou, uma das características do imperialismo é a concentração de


capitais. É importante saber que existem diferentes formas de concentrar o capital. Uma
delas é por meio da holding. A seguir, é apresentada uma definição desse termo. Com
base nela e observando as mercadorias que você consome, identifique uma holding.

“Holding – formada por uma empresa que controla uma série de outras empre-
sas do mesmo ramo ou de ramos diferentes. Esse controle acontece porque essa
grande empresa tem o controle da maior parte das ações das empresas menores.”

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UNIDADE 4

Agora, preencha o quadro a seguir com os seguintes dados:

• nome da holding;

• qual é/são a(s) empresa(s) que ela controla em dois ramos distintos (por exem-
plo, ramo alimentício, ramo de higiene etc.).

Holding:

Ramo Ramo

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UNIDADE 4

Fusão de negócios industriais com bancos


No capitalismo monopolista, os negócios não apenas se concentram, mas tam-
bém misturam os ramos de atividade. Por exemplo: um banco pode possuir terras,
grandes indústrias podem se associar a bancos, e assim por diante. Além disso, o
capital industrial e o capital bancário se combinam, dando origem ao que se chama
de capital financeiro.

A partir do século XIX, grandes empresas ligadas à exploração do petróleo,


à siderurgia e à eletricidade, entre outras, passaram a exigir volumes de capital
extraordinários, impossíveis de serem obtidos com recursos próprios. Por isso a
fusão com o capital bancário foi necessária. Os bancos passaram a financiar essas
atividades, bem como a controlar muitas das ações dessas empresas.

Exportação de capitais
Quando as grandes empresas esgotam suas possibilidades de ampliação de
negócios no país de origem, elas precisam expandir seus mercados, investindo em
outros países.

Uma empresa que tem fábricas em outros países é uma multinacional, forma-
ção que, como já foi explicado, começou a ser adotada por capitalistas no final do
século XIX.
Essas empresas não precisam apenas de mercados, mas também de matérias-
-primas em grande escala. Por esse motivo, no final do século XIX, muitos países
menos desenvolvidos se especializaram na produção de alguns gêneros para expor -
tação, como café no Brasil, trigo e carne na Argentina, cobre no Chile etc.
Com isso, começou a ser desenhada uma divisão internacional da produção, de
acordo com a qual alguns países exportavam produtos industrializados e outros,
matérias-primas.
Um fator importante dessa nova configuração econômica é que muitos dos
negócios multinacionais precisam passar pelo controle do Estado. Nesse caso,
existem duas modalidades principais, pois com o capital internacional, isto é, o
dinheiro investido em outro país por uma empresa ou grupos de empresas, inclu-
sive bancos, pode-se:

• obter uma concessão (licença) para operar um serviço ou explorar uma área,
como iluminar uma cidade e cobrar tarifa ou explorar petróleo;

• emprestar dinheiro para o Estado, que deverá pagá-lo, posteriormente, com juros.
A dívida externa de um país surge dessa prática.

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UNIDADE 4

ATIVIDADE 3
Multinacional

A expansão do capitalismo, no século XIX, permitiu Assista ao documen-


tário A corporação (The
que empresas com sede em seu país de origem pudes-
corporation, direção de
sem se expandir e atuar em outros países por meio da Mark Achbar, Jennifer
instalação de filiais. Originalmente, são chamadas mul- Abbott e Joel Bakan.
EUA, 2003. 145 min).
tinacionais. Atualmente, há quem prefira o termo trans-
Ele aborda a influência
nacional, uma vez que a empresa atua além de suas e o poder das grandes
fronteiras nacionais. empresas, desde suas
origens até as ativida-
Observe que, no Brasil, há a presença de muitas des- des exercidas por elas
sas empresas transnacionais. Pesquise em jornais, ou atualmente. Veja-o para
que você possa com-
mesmo em estabelecimentos comerciais, como super- plementar seus estu-
mercados, e descubra pelo menos cinco empresas mul- dos sobre o processo
tinacionais que atuem no Brasil. Em seguida, identifique de formação das multi-
nacionais.
o ramo de atuação de cada uma delas.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 99 10/03/15 11:15
A partilha do mundo TEMA 3

Neste Tema, você aprenderá como o desenvolvimento do capitalismo pro-


vocou, ao longo do século XIX, um novo processo de colonização de territórios
pertencentes à Ásia, à África e à América Latina.

Você já deve ter percebido a mania que muitos brasileiros têm de achar que
tudo que vem de fora do país é melhor, não é mesmo?

Mas será que isso é verdade? Por que será que essa imagem de que os europeus
e os estadunidenses são superiores e de que os brasileiros têm de se submeter a
eles ficou gravada na cabeça de tantas pessoas?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre esse assunto.

85
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 99 10/03/15 11:15
UNIDADE 4

A expansão do imperialismo
A história da chegada do capitalismo a outros países e outras regiões fora da
Europa nem sempre aconteceu pacificamente. Quando encontravam resistência,
muitas vezes, os países capitalistas adotavam a guerra como meio de abrir portas
para seus negócios.
Por esse motivo, a Inglaterra, que era a grande potência mundial no século XIX
(como os Estados Unidos são hoje), envolveu-se em conflitos em todos os continentes.
Assim, como já foi visto, a expansão do capitalismo pelo mundo deu início
a uma nova colonização, baseada em relações capitalistas, que ficou conhecida
como “imperialismo” ou “neocolonialismo”.
© Bridgeman Art Library/Keystone

Jornal francês Le Petit Journal, final do século XIX. A colonização europeia é reproduzida conforme a
visão eurocentrista: soldados levantam a bandeira francesa, afirmando o domínio europeu, e,
ao fundo, a fumaça sugere que a colonização não foi pacífica.

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UNIDADE 4

No tempo das Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVI, as colônias euro-


peias eram usadas para produzir matérias-primas para o mercado europeu. Já a
colonização do século XIX, motivada pelo capitalismo monopolista e financeiro,
tinha como objetivo fundamental ampliar negócios capitalistas, transformando as
colônias não só em fornecedoras de matérias-primas, como também em mercados
consumidores de alguns dos produtos industrializados europeus.
Ingleses e franceses, por exemplo, estabeleceram, durante todo o século XIX e a
primeira metade do século XX, na Ásia e na África, as instituições necessárias para
a dominação, que geralmente combinavam governo, exército e negócios.
Em alguns lugares, como na América Latina, a presença dos negócios inter-
nacionais (principalmente ingleses e estadunidenses) não exigiu dominação
colonial, pois esse continente já estava mais ocidentalizado e inserido na
economia capitalista. No entanto, em outras partes do mundo, o caminho foi
aberto por meio da guerra.

O Ocidente na Ásia
A região da Índia, onde os portugueses tiveram feitorias (entrepostos comer -
ciais, geralmente fortificados e instalados em zonas costeiras) entre os séculos
XVI e XVIII, foi colonizada pela Inglaterra no século XIX. Na realidade, a Índia não
era um país unido, mas sim composto de diferentes reinos, línguas e etnias. Para
estabelecer sua dominação, os ingleses souberam explorar a seu favor a rivalidade
entre os diferentes reinos, assim como as tensões entre diferentes grupos sociais.

© GL Archive/Alamy/Glow Images

Indianos carregando um inglês em um palanquim em 1922.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 99 10/03/15 11:15
UNIDADE 4

Os ingleses tiveram forte presença na Índia desde o século XVIII, situação que
causou diversas revoltas entre os indianos. A principal delas foi a Guerra dos Cipaios
(“cipaios” era o nome dado aos soldados indianos), em 1857. Os rebeldes foram repri-
midos em 1859 e a Índia passou a ser administrada diretamente pelos ingleses.
© American Art Association of New York/Biblioteca do Congresso, Washington, EUA

Execução de rebeldes cipaios pelas tropas britânicas. Fotogravura da pintura de Vasily Vereshchagin,
c. 1884. Biblioteca do Congresso, Washington, EUA.

Em 1841, os ingleses provocaram uma guerra para forçar o livre-comércio com a China. Esse con-
flito ficou conhecido como a Guerra do Ópio. Os ingleses, que produziam ópio em grande quan-
tidade na Índia, forçaram a legalização da droga no território chinês. O ópio é uma droga feita
com base em algumas espécies da papoula e provoca euforia, seguida de cansaço físico e mental.

Em 1839, as autoridades chinesas haviam jogado 20 mil caixas de ópio ao mar. Em resposta, a
Inglaterra exigiu indenização. Como a China não aceitou, os ingleses declararam guerra. Der-
rotada, a China assinou o Tratado de Nanquim, abrindo seus portos ao livre-comércio e entre-
gando a ilha de Hong Kong à Inglaterra. O vício do ópio difundiu-se entre os chineses, e Hong
Kong só foi devolvida à China em 1997.

88
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UNIDADE 4

A divisão da África
Entre 1884 e 1885, 14 países europeus, além dos Estados Unidos e da Rússia,
reuniram-se na cidade alemã de Berlim. Eles pretendiam entrar em acordo sobre
a “partilha da África” entre os países presentes, pois o continente africano era
rico em matérias-primas e recursos minerais, além de ser um potencial mercado
consumidor dos produtos das indústrias europeias.
A partilha foi feita de acordo com a relação de forças entre os países na época:
Inglaterra e França ficaram com as maiores áreas. A Alemanha, país recentemente
unificado e que estava em ascensão econômica e militar, também foi contemplada
com diversas colônias, embora não tivesse ficado satisfeita com essa partilha. Países
menores não receberam territórios.

COLÔNIAS AFRICANAS, 1914 part justice

1914

Estados independentes

Possessões:

alemãs
belgas
britânicas (domínios,
colônias e protetorados)
espanholas
Ateliê de Cartografia da Sciences Po, 2012

francesas (departamento
argelino, colônias e protetorados)
italianas
portuguesas

Império Otomano

Fontes: F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995;


J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2o11.
D’après Afrique contemporaine, 235, 2o1o.

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/colonies-et-ind-pendances-


africaines>. Acesso em: 2 jun. 2014. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original.

89
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL2.indb 99 10/03/15 11:15
UNIDADE 4

Portugal foi uma exceção, pois mantinha ocupações na África desde o tempo
das Grandes Navegações, no final do século XV, e possuía territórios nos quais
seu domínio já estava consolidado.

Veja, na página anterior, como ficou o mapa da África depois da Conferência


de Berlim. Nele, é possível notar que diversas fronteiras são linhas retas. Isso sig -
nifica que elas não seguem nenhum marco natural – um rio ou uma montanha –,
como é comum acontecer. Trata-se de um sinal de que as fronteiras foram dese-
nhadas com réguas e esquadros, baseando-se em acordos políticos.

A partilha da África trouxe diversas consequências para os povos desse continente.

Em primeiro lugar, essa divisão não respeitou a história nem os vínculos étnicos e
familiares dos habitantes locais. Como resultado, muitas etnias ficaram divididas em
vários países. O contrário também aconteceu: etnias diferentes e, muitas vezes, que
viviam conflitos históricos, foram reunidas em um mesmo território. Essa situação está
na raiz de muitos conflitos étnicos que se estendem no continente até os dias atuais.
© Bettmann/Corbis/Latinstock

Soldados ingleses junto à esfinge durante a ocupação do Egito (c. 1870-1899).

90
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UNIDADE 4

Em segundo lugar, a colonização da África


fortaleceu o racismo: muitos colonizadores jus-
Assista ao filme Hotel R uan d a
tificaram sua empreitada com ideias de supe- (Hotel Rwanda, direção de Terry
rioridade racial. Hoje, sabe-se que essa ideia George. Canadá, 2004. 128 min).
é totalmente sem fundamento, mas, naquela Ele conta a história real de um
gerente de hotel que abrigou
época, houve quem procurasse dar validade perseguidos durante a guerr a
científica a essas teses. civil de Ruanda, em 1994, entre
tutsis e hutus. Você poderá per-
Para a maioria dos europeus do final do ceber que ele é uma forte repre-
século XIX, a “superioridade da raça branca” sentação dos horrores causados
pela guerra em um país e, prin-
era uma verdade indiscutível. Apesar de essas
cipalmente, nas pessoas. Vale a
ideias já terem sido contestadas há muito pena vê-lo!
tempo, esse mito ainda traz consequências
nefastas para o mundo atual. Um exemplo disso é o racismo de uma forma geral
e a xenofobia (aversão a estrangeiros), presentes principalmente nos EUA e nos
países da Europa.

História – Volume 2
A partilha da África

O vídeo, que você recebeu com o material, apresenta a ação imperialista europeia sobre a
África no final do século XIX, destacando a partilha do continente entre as grandes potências
europeias. Ele relaciona a divisão do continente aos problemas africanos atuais, entre eles a
miséria e os conflitos étnicos.

Os países africanos ainda convivem com as fronteiras artificiais derivadas da


ação imperialista do século XIX. É importante observar que o continente africano
continua rico em recursos minerais como cobre, ouro, zinco, diamantes e petróleo,
recursos que, para serem explorados, dependem de tecnologia de exploração. As
empresas estrangeiras, como as grandes petrolíferas e empresas de extração de
diamantes, continuam a explorar a África e, muitas vezes, intervêm diretamente
nos governos dos países onde atuam.

Em sua opinião, essa intervenção na África nos dias atuais é favorável para a
população africana?

91
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UNIDADE 4

ATIVIDADE 1
Colonialismo e ideologia
Cecil Rhodes (1853-1902) foi um dos mais conhecidos agentes do colonialismo
inglês no final do século XIX. Seus negócios no sul da África adquiriram tamanha
proporção que deram seu nome a um país da região: a Rodésia, cujo nome foi
mudado em 1980 para Zimbábue.
Observe a charge a seguir, que representa o colonialista Cecil Rhodes segurando
a linha telegráfica que se estendia do Egito até o sul da África.
© Heritage Images/Diomedia

“O Colosso de Rhodes – avançando da Cidade do Cabo ao Cairo.”

Agora, leia atentamente o texto a seguir, escrito por Rhodes.

O mundo já está totalmente loteado, e o pedaço que sobrou está sendo dividido,
conquistado e colonizado [...]. Eu conquistaria os planetas, se pudesse, sempre
penso nisso. Entristece-me vê-los tão claros e ainda tão distantes.
Apud: HUBERMAN, Leo. Man’s Worldly Goods: the story of the wealth of nations.
The Leo Huberman People’s Library, p. 268. Tradução: Eloisa Pires.

92
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UNIDADE 4

Nesse texto, Rhodes faz referência ao “loteamento do mundo”. Tendo em vista


o que você está estudando sobre o imperialismo do final do século XIX, o que ele
quis dizer ao afirmar: “o mundo já está totalmente loteado”? Que áreas estavam
sendo loteadas? Por que ele tinha tanto interesse em conquistar outras regiões?

93
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CESEC DE
ITAMARANDIBA

HISTÓRIA
Ensino Fundamental

Módulo III
(3° Teste)
HISTÓRIA

SUMÁRIO

Unidade 1 — O início do século XX: a 1a Guerra Mundial e a Revolução Russa.................. 3

Tema 1 – Os motivos da 1a Grande Guerra ...........................................................................................................


Tema 2 – A 1a Guerra Mundial ....................................................................................................................................
Tema 3 – As raízes da Revolução Socialista .........................................................................................................
Tema 4 – A Revolução Russa ........................................................................................................................................
Tema 5 – O nascimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.............................................

Unidade 2 — O período entreguerras ........................................................ 34

Tema 1 – A Crise de 1929 ...............................................................................................................................................


Tema 2 – Os regimes autoritários ..............................................................................................................................

Unidade 3 — 2a Guerra Mundial e Guerra Fria ........................................................................ 56

Tema 1 – Os antecedentes da 2a Guerra Mundial e a expansão nazista ..............................................


Tema 2 – A 2a Guerra Mundial .....................................................................................................................................
Tema 3 – A Guerra Fria ....................................................................................................................................................

Unidade 4 — Revolução e contrarrevolução no mundo da Guerra Fria ...............................81

Tema 1 – A descolonização na Ásia e na África ..................................................................................................


Tema 2 – Revolução e contrarrevolução na América Latina ......................................................................

1
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Caro(a) estudante,
O Volume 3 é dedicado ao estudo do século XX. Nele, é apresentado o período
histórico que se inicia em 1914, com a 1 a Guerra Mundial, e que se estende até o
episódio que ficou conhecido como Guerra Fria.
Na Unidade 1, você estudará a 1a Guerra Mundial (1914-1918) e a Revolução
Russa (1917), que tiveram grande impacto no mundo todo.
Essa experiência russa, que pretendia instalar um Estado de operários e cam-
poneses para construir o comunismo, despertou sentimentos contraditórios: ins-
pirou trabalhadores que queriam seguir a proposta comunista e, ao mesmo tempo,
gerou pânico entre aqueles que defendiam a ordem capitalista. A situação ficou
mais delicada com a crise econômica do capitalismo, precipitada pela quebra da
Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, Tema que será tratado na Unidade 2.
Nessa Unidade, você verá que, como resposta à crise, em alguns países capitalis-
tas, reforçou-se o papel do Estado, como nos Estados Unidos da América (EUA) e
na Grã-Bretanha. Em outros países, foram instituídos regimes autoritários, como o
fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha.
O fortalecimento do nazismo na Europa, as questões imperialistas não resolvidas
ao fim da 1a Guerra Mundial e o crescimento do anticomunismo podem ser consi-
derados as principais motivações para o início da 2 a Guerra Mundial, assunto que
será estudado na Unidade 3. Nela, você verá que, ao final da 2a Guerra Mundial, duas
grandes potências despontaram e passaram a disputar a Hegemonia
hegemonia do mundo: os EUA, país capitalista, e a União
Poder de uma nação sobre
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), socialista. as outras, superioridade,
Nesse período, os EUA e a URSS desenvolveram a tecnolo- supremacia.
gia nuclear. O antagonismo entre o capitalismo estaduni-
dense e o socialismo soviético desencadeou o que ficou conhecido na História como
Guerra Fria, que influenciou lutas sociais e políticas em vários países após o fim da
2a Guerra Mundial.
Por fim, você verá, na Unidade 4, que as diversas lutas pelo fim da dominação
colonial dos países europeus na Ásia e na África se tornaram vitoriosas. Estudará
também que, na América Latina, a Guerra Fria acentuou-se após o triunfo da Revo-
lução Cubana em 1959 e que, nos anos seguintes, golpes militares foram apoia-
dos pelos EUA sob a alegação de combate ao socialismo soviético. Isso aconteceu,
por exemplo, no Brasil e interrompeu inúmeros processos de mudança social que
questionavam o modelo capitalista vigente.
Como você pode perceber, a História do século XX foi bastante intensa do ponto
de vista social, político e econômico, e contribuiu para definir o modo como a
sociedade atual vive e se organiza.

Bons estudos!

3
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 8 10/03/15 11:28
O INÍCIO DO SÉCULO XX: A 1a GUERRA

HISTÓRIA
UNIDADE 1
MUNDIAL E A REVOLUÇÃO RUSSA
TEMAS
1. Os motivos da 1a Grande Guerra
2. A 1a Guerra Mundial
3. As raízes da Revolução Socialista
4. A Revolução Russa
5. O nascimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

Introdução
Na primeira parte da Unidade, você vai estudar a 1a Guerra Mundial (1914-
-1918). Na sequência, será analisada a Revolução Russa (1917). Esses dois grandes
eventos marcaram a História do mundo ao longo do século XX.

Ao estudar a 1a Grande Guerra, como ficou conhecida a 1 a Guerra Mundial, você


verá que o desgaste gerado por um conflito que sacrificou milhões de pessoas pro-
vocou comoções sociais em muitas partes da Europa. Essa situação se radicalizou
na Rússia, onde ocorreu um fato inédito na História: a tomada do poder por tra -
balhadores. Isso provocou um clima de insegurança entre as classes dominantes
no mundo todo, ao mesmo tempo em que encheu de esperança os que sonhavam
com um mundo mais justo e igualitário.

Os motivos da 1a Grande Guerra TEMA 1

Neste Tema, você vai estudar os principais motivos que levaram a Europa à
guerra, em um contexto de choque de interesses entre capitalistas de diferentes
países, bem como de conflitos nacionalistas e imperialistas.

Caso você não se lembre, consulte o Caderno do Volume 2 para ver como o
capitalismo se formou e se consolidou na Europa, dando origem ao imperialismo
no final do século XIX. Com o imperialismo, o
Imperialismo
capitalismo se expandiu para fora da Europa,
Conjunto de práticas de dominação
explorando outras áreas do mundo, especial- política e econômica e de conquista
mente Ásia, África e também América Latina. territorial por parte de alguns países
Como consequência, quando os países que sobre outros. Se precisar rever esse
assunto, leia-o na Unidade 4 do
lideravam a expansão do capitalismo entra- Volume 2.
ram em conflito entre si, envolveram todos

4
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 9 10/03/15 11:28
UNIDADE 1

os continentes, ainda que o centro dos acontecimentos tenha sido a Europa. Foi o
que ocorreu na 1a Guerra Mundial.

• Você já assistiu a algum filme ou documentário sobre a 1a Guerra Mundial? Já leu


algum livro sobre ela?

• Como você imagina ter sido essa guerra?

• Quais foram os principais países envolvidos nesse conflito? Por que esses países
se envolveram?

Escreva o que você sabe sobre esses assuntos nas linhas a seguir.

5
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 10 10/03/15 11:28
UNIDADE 1

A proposta é que você grife trechos do texto Antecedentes da Guerra a seguir,


para compreendê-lo melhor.

Leia o texto inteiro tentando responder à seguinte questão: “Do que trata o
texto?”. Somente após essa compreensão, retome a leitura, grifando com o lápis
as informações que julgar essenciais para identificar os motivos que levaram à
1a Guerra Mundial.

Antecedentes da 1a Grande Guerra


A Europa entrou no século XX com um equilíbrio de forças muito delicado entre
os países. Isso porque se acentuavam:

• as disputas por territórios no continente europeu;

• a política de expansão geográfica e econômica imperialista;

• as disputas por mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas para


as indústrias.

Somando-se a isso, as ideologias nacionalis- Preconceito étnico


tas contribuíam para aumentar os preconceitos Atitude de pessoas de um deter-
étnicos em todo o continente, estimulando ainda minado grupo étnico ou naciona-
lidade quando julgam pessoas de
mais os conflitos entre diferentes povos e nações.
outros grupos étnicos ou nacio-
nalidades como problemáticas ou
Nesse contexto de instabilidade, os motivos inferiores em função de alguma
que levaram as principais potências europeias a característica física ou cultural.
iniciar a 1a Guerra Mundial relacionavam-se, sobre- Faz parte desse tipo de precon-
ceito, por exemplo, o racismo.
tudo, à política imperialista adotada desde o final
do século XIX.

A disputa pelas áreas coloniais criou rivalidades entre os diferentes países euro-
peus, aumentando a tensão entre eles. Esse clima conflituoso agravou-se com a
entrada da Alemanha no campo de disputas.

A unificação política da Alemanha foi tardia, no final do século XIX, assim


como seu processo de industrialização. Porém, a industrialização alemã acon-
teceu de forma rápida e bastante intensa, em um ritmo acelerado. Ao entrar na

6
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 11 10/03/15 11:28
UNIDADE 1

corrida imperialista, até então liderada pela Inglaterra e França, a Alemanha que-
brou o velho equilíbrio de forças europeu, aumentando as oposições entre as gran-
des potências europeias.

No final do século XIX, o equilíbrio político-econômico europeu era mantido por


meio de um elaborado jogo de alianças político-militares.
Os principais países europeus alinharam-se em dois blocos rivais: de um
lado, formou-se a Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália);
de outro, a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia). Essas alianças, no
entanto, mudariam com o tempo, já que a Itália, como você verá a seguir, trocou
de lado e se aliou à Tríplice Entente.
Durante muitos anos, a diplomacia teve êxito em conter as tensões entre
os países europeus, mas não conseguiu eliminá-las. Ao contrário, elas cres-
ciam na medida em que os interesses desses países por mais terras e matérias-
-primas chocavam-se entre si, em razão das políticas imperialistas praticadas.
A corrida armamentista, caracterizada pelo desenvolvimento de armas e pelo
aumento do arsenal, travada entre os principais países europeus da época, manti-
nha a chamada “paz armada”, um equilíbrio baseado no poderio bélico, isto é, no
poder das armas dos países e impérios europeus. Só que tal situação não se susten-
tou por muito tempo porque as disputas entre essas potências foram se agravando.
Mas, afinal, como essas tensões se manifestavam de fato?
• Havia rivalidade entre Inglaterra e Alemanha, uma vez que o país germânico
ameaçava o poder inglês, sobretudo ao disputar maiores fatias dos mercados colo-
niais. O interesse alemão em construir uma ferrovia que ligasse Berlim a Bagdá, no
atual Iraque, agravou ainda mais o conflito entre os dois países, uma vez que, se
concluída a ferrovia, os alemães teriam acesso ao petróleo do Oriente Médio, bem
como aos mercados da região.

• Havia também rivalidade entre França e Alemanha. A nação alemã derrotara a


França na Guerra Franco-prussiana de 1870. Com essa derrota, a França perdeu os
territórios da Alsácia e da Lorena, ricos em minérios, para os alemães, o que gerou,
nos franceses, um forte sentimento de revanche.

• O expansionismo russo entrou em choque Povos eslavos


com os interesses do Império Austro-húngaro, Os diversos povos que habitam o cen-
do Império Otomano (atual Turquia) e da tro e o leste da Europa, entre eles, os
Alemanha. Em nome do pan-eslavismo, os sérvios, os tchecos, os russos e bielo-
-russos, os poloneses, os croatas, os
russos pregavam a união de todos os povos
búlgaros, os ucranianos, os macedô-
eslavos, ameaçando invadir territórios desses nios, os eslovenos e os eslovacos.
impérios.

7
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 12 10/03/15 11:28
UNIDADE 1

Os russos pretendiam se apossar dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, sob


domínio do decadente Império Otomano, regiões por onde passaria a estrada de
ferro Berlim-Bagdá. Isso ia contra os interesses da Alemanha, que, naquela época,
apoiava o Império Austro-húngaro e o Império Otomano.

A tensão na Europa explodiu com o assassinato do arquiduque Francisco


Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, em Sarajevo (capital da atual
Bósnia, na Península Balcânica), em 1914. Seu assassino foi um nacionalista
sérvio que protestava contra o domínio da Áustria-Hungria sobre a Sérvia, que,
assim como a Rússia, também tinha interesse em unificar os povos eslavos da
região sob sua liderança.

© Mansell/Time Life Pictures/Getty Images

Arquiduque Francisco Ferdinando momentos antes de ser assassinado.

Esse evento provocou o rompimento das frágeis relações diplomáticas


entre os governos na Europa. As nações, estimuladas por sentimentos nacio-
nalistas e motivadas por disputas econômicas imperialistas, convocaram o
sistema de alianças militares e entraram em conflito. Dessa maneira, o Império

8
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UNIDADE 1

Austro-húngaro aproveitou o atentado contra o arquiduque Francisco Ferdinando


e, dando vazão às suas pretensões de expansão imperialista, declarou guerra
à Sérvia.
Motivada pela ideia do pan-eslavismo, a Rússia enviou tropas em defesa da
Sérvia. A Alemanha, aliada do Império Austro-húngaro, pôs-se ao seu lado. A
França, por causa dos conflitos territoriais com a Alemanha, na região da Alsácia-
-Lorena, na Europa e em suas colônias na África, uniu-se aos russos e sérvios.
Com a invasão alemã da Bélgica, a Grã-Bretanha, impulsionada pela sua rivalidade
com a Alemanha devido às disputas pelas colônias na África e no Pacífico, bem como
pela aliança que tinha com os belgas, entrou na guerra para combater a Alemanha. Na
sequência, motivada pelo desejo de expansão territorial para fomentar sua industria-
lização recente, a Itália aliou-se à Alemanha e ao Império Austro-húngaro. Posterior-
mente, no meio da guerra, a Itália mudou de lado, aliando-se à França, Grã-Bretanha
e Rússia em troca da promessa de que receberia territórios na África.

Sempre que observar um mapa, tente compreendê-lo realizando uma leitura da


representação do espaço geográfico. Para fazer a análise do mapa, leia inicialmente
o título, tentando reconhecer a temática em questão. Procure a legenda – que nor-
malmente está ao lado ou abaixo do mapa – e observe suas informações. Isso vai
ajudá-lo a compreender melhor os dados.

No caso do mapa da página a seguir, observe que a temática é a divisão polí-


tica da Europa no contexto da 1a Guerra Mundial. Nesse sentido, as cores ajudam
a compreender quais foram os países que se aliaram, quais foram os países inva -
didos e os neutros. Observe as cores amarelas, rosas, amarelas com tarjas verme-
lhas, verdes e roxas. Procure identificar o que cada uma dessas cores representa.
Identificadas essas informações, ficará fácil responder às questões propostas na
Atividade 1 – Alianças para a 1a Guerra Mundial.

ATIVIDADE 1 Alianças para a 1a Guerra Mundial


Localize, no mapa da próxima página, os países que participaram da 1a Guerra
Mundial e suas respectivas alianças.

9
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UNIDADE 1

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 27. Mapa original (mantida a grafia).

1 Preencha o quadro abaixo com os países que formaram as seguintes alianças


militares:

Tríplice Entente Tríplice Aliança

2 De acordo com o texto Antecedentes da 1a Grande Guerra, escreva o que motivou


cada país envolvido a entrar na guerra. Em seguida, explique os motivos que os
levaram a escolher um dos lados do conflito.

1
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0
UNIDADE 1

Você conheceu até agora os vários motivos que levaram grande parte dos paí-
ses europeus à 1a Guerra Mundial, responsável por uma enorme perda populacio-
nal e destruições materiais. Entre esses motivos estão: as disputas imperialistas
(isto é, disputas econômicas e políticas por dominação de territórios, que seriam
fontes de matérias-primas para a indústria e mercados consumidores) e os con-
flitos étnicos e nacionalistas (ou seja, entre povos que se julgavam melhores que
outros por estes apresentarem características diferentes).

Agora, pense nos conflitos atuais e procure lembrar as informações que você vê
na TV ou nos jornais, por exemplo, sobre as guerras no Oriente Médio. Você poderá
observar que os motivos das disputas ainda são as fontes de riquezas econômicas (no
caso atual, o petróleo) e que, em algumas situações, as justificativas continuam sendo
étnicas e religiosas, como no conflito entre palestinos e israelenses no Oriente Médio.

Você vê sentido para que existam guerras no mundo? Que caminhos podem ser
trilhados para que se evitem futuras guerras?

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UNIDADE 1
a
TEMA 2 A 1 Guerra Mundial

Neste Tema, você vai estudar a 1 a Guerra Mundial, os motivos para o seu fim e
suas consequências para a História da Europa e do mundo.

Você já viu filmes de guerra nos quais os soldados ficavam se protegendo den-
tro de trincheiras, avançando pouco a pouco, desviando de balas e explosivos?
A guerra de trincheiras foi um tipo de batalha que marcou a 1 a Guerra Mundial.
Você tem algum conhecimento de como é uma guerra de trincheiras? Escreva, nas
linhas abaixo, o que você sabe sobre esse assunto.

12
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UNIDADE 1

O conflito
A 1a Guerra Mundial foi um conflito de grande dimensão na História. Embora
outros confrontos tenham durado mais tempo do que a 1a Guerra Mundial,
nenhum envolveu tantas pessoas, direta ou indiretamente, até aquele momento.
Protagonizada por alguns dos países mais industrializados do mundo, a guerra
mobilizou toda a estrutura econômica e social das nações que dela participavam.
Até aquele momento, nunca se havia lutado com tantos recursos. E esses recur-
sos apoiavam-se em um desenvolvimento tecnológico que ampliava o alcance e
o tamanho da destruição. Estima-se que mais de 8,5 milhões de pessoas tenham
morrido na guerra (cf. PBS, disponível em: <http://www.pbs.org/greatwar/resour-
ces/casdeath_pop.html>. Acesso em: 13 mar. 2014).
Inicialmente, a dinâmica da guerra mostrou um equilíbrio entre o poder militar
da Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e da Tríplice Entente (Grã-
-Bretanha, França e Rússia). Após anos de luta nas trincheiras, que eram abrigos ou
proteções escavados na terra para que os soldados pudessem se proteger, o entu -
siasmo nacionalista que motivara os primeiros combates foi diminuindo.

© Collection Roger-Viollet/Glow Images

Batalha de Menin, na Bélgica, durante a 1a Guerra Mundial, em fotografia


de 1917. Soldados britânicos em suas trincheiras aguardavam a ordem
para atacar.

13
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 19 10/03/15 11:28
UNIDADE 1

A guerra tornou-se impopular nos diferentes países envolvidos e, em muitos


casos, converteu-se em um grave problema interno às nações, por causa da insa-
tisfação de suas populações.

Durante o desenrolar da guerra, em outubro de 1917, a Rússia, membro da


Tríplice Entente, viu-se, internamente, diante de um movimento revolucionário.
A insatisfação quanto à participação russa na guerra, bem como o governo autori -
tário característico da Rússia e personificado na figura do czar (título utilizado pelos
imperadores russos), levou operários e camponeses a tomar o poder.

Por causa do processo revolucionário interno que vivia, a Rússia saiu da guerra,
após assinar com a Alemanha o tratado de paz de Brest-Litovsky, cujas condições de
paz eram penosas para os russos. O exemplo da Revolução Russa, como você verá no
próximo Tema, tornou-se um estímulo para muitos soldados e operários de outros
países e, ao mesmo tempo, foi motivo de preocupação para diversos chefes de Estado
aliados à classe burguesa dominante, que temiam uma revolução social no seu país.

A situação foi particularmente delicada na Alemanha, país que contava com a


organização socialista mais forte da Europa no começo do século XX. Os soldados
alemães, que também eram trabalhadores, tinham contato com os socialistas rus-
sos nas trincheiras. Assim, as pressões exercidas pelo movimento operário alemão,
sob influência do que acontecia na Rússia, levaram setores da classe dominante da
Alemanha a propor o término da guerra.

Além disso, depois de 1917, os EUA, que até então só participavam do esforço
econômico da guerra, apoiando principalmente os ingleses e os franceses com
envio de mantimentos e armas, aderiram ao confronto, aliando-se à Tríplice
Entente. Foi uma mudança decisiva: a entrada de tropas estadunidenses (ou seja, o
apoio de uma das maiores potências econômicas mundiais) desempatou a guerra a
favor da Tríplice Entente. O fato de a Itália ter mudado de lado também contribuiu
para o enfraquecimento da Tríplice Aliança.

No final de 1918, o exército alemão enfrentava crescentes dificuldades, assim


como seus aliados, mas não estava completamente vencido, pois tropas alemãs
ainda ocupavam porções do território francês. Porém, além da situação militar
desfavorável, havia o medo de um resultado que, na visão das classes dominan-
tes, seria pior do que a derrota nacional: a revolução social. As perdas impostas
pela guerra ao povo alemão geraram grande insatisfação popular contra os mem-
bros da classe dominante.

Nesse contexto de insatisfação, houve a queda do Império Alemão e a proclama-


ção da República, que, dentre outros fatores, levaram a 1 a Guerra Mundial a seu tér-
mino. Em 11 de novembro de 1918, o novo governo republicano alemão assinou um
armistício (um tratado para cessar-fogo).

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UNIDADE 1

A queda do Império Alemão e o estabelecimento da República na Alemanha foram impulsionados


por uma revolução.
Essa revolução, que deu início à República de Weimar, foi organizada pelo Partido Social-
-Democrata Alemão, com o apoio de comunistas e socialistas – já que ambos sempre atuaram
na oposição ao regime imperial –, obrigando o imperador Guilherme II a ir para o exílio.

As consequências da 1a Guerra Mundial


Do ponto de vista econômico, os EUA despontaram como a principal potência
mundial. Isso aconteceu porque tiveram um crescimento econômico significativo,
uma vez que abasteceram alguns dos mais importantes mercados europeus ao
longo da guerra, sem sofrer com a destruição causada pelas batalhas, já que não
tiveram conflitos em seus territórios.

A Europa, que havia sido o centro do capitalismo, passou da condição de cre-


dora (que emprestava dinheiro e cobrava) à de devedora (que pedia dinheiro e
devia) dos EUA. Essa situação foi reforçada pela necessidade de reconstrução do
continente europeu nos anos seguintes.

Com o fim da guerra, o Império Russo foi desmoralizado política e militarmente, o


que facilitou o triunfo da revolução socialista naquele país, resultando na formação da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a qual marcaria o século XX.

O final da 1a Guerra Mundial precipitou a queda de diversos impérios em fun-


ção do enfraquecimento dos seus governos diante de movimentos sociais e nacio-
nalistas em seus territórios. Além do Império Alemão, caíram também os impérios
Russo, Turco-otomano e Austro-húngaro.

Diversos Estados nacionais nasceram (ou renasceram) como resultado des-


ses desmembramentos, tais como Polônia, Hungria, Finlândia, Tchecoslováquia
e Iugoslávia. A Turquia e diversos países do Oriente Médio surgiram em decor-
rência da queda do Império Turco-otomano, que havia apoiado a Tríplice Aliança.
A Itália, embora tivesse conflitos com a França pela dominação de regiões na
África, mantinha também, desde o processo de unificação ocorrido décadas antes,
conflitos de caráter expansionista com a Áustria-Hungria pela disputa na região do

15
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UNIDADE 1

Tirol e da Ístria. Nesse contexto, a Itália assinou um tratado de não agressão com
a França e com a Rússia, tornando frágil sua posição na Tríplice Aliança. Como os
italianos não tiveram suas reivindicações territoriais atendidas ao final da guerra,
isso foi explorado posteriormente pelo fascismo.

Os mapas europeus, a seguir, mostram as mudanças ocorridas na divisão polí-


tica do continente após a 1a Guerra Mundial.
Reproduzido por Eduardo Dutenkefer com autorização da Folhapress

VEJA como a Primeira Guerra mudou o mapa da Europa. Folha de S. Paulo, Mundo, 11 nov. 2008, 02h28.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u466294.shtml> (Acesso restrito). Acesso em: 13 mar. 2014.
Mapa original (base cartográfica com generalização; algumas feições do território não estão representadas). A Prússia, que li derou a
unificação da Alemanha no final do século XIX, era um dos Estados alemães em 1919. Além disso, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) somente se constituiu em 1922, tendo a Rússia como seu maior Estado e Moscou como sua capital [nota do editor].

Ao término dos conflitos, as nações vencedoras reuniram-se na chamada Conferên-


cia de Paris, com a intenção de discutir as condições que levariam ao estabelecimento
da paz na Europa. O principal resultado desse encontro foi a assinatura do Tratado de
Versalhes, que impôs severas perdas aos alemães, a quem os vencedores atribuíram a
responsabilidade pela destruição causada aos adversários durante a guerra.

As perdas impostas aos alemães foram:

• reduzir suas tropas pela metade;

• pagar indenizações altíssimas aos países vencedores;

• abrir mão de todas as suas colônias na África e Ásia para serem divididas entre
os países vencedores (principalmente, França e Inglaterra);

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UNIDADE 1

• devolver a região da Alsácia-Lorena à França;

• ter seu território separado em duas partes por um corredor de terras que dava
acesso para o mar à Polônia (corredor polonês).
Para muitos alemães, a assinatura desse tratado significou uma humilhação
que deveria ser reparada assim que possível. Esse foi um dos aspectos que favore -
ceram o crescimento do nazismo e que acabaram dando origem a outro conflito de
grandes proporções: a 2a Guerra Mundial.

A destruição causada nos territórios e nas sociedades envolvidas na 1 a Guerra


Mundial motivou a formação da Liga das Nações, organização internacional que deve-
ria impedir o surgimento de confrontos semelhantes. Contudo, ela foi impotente para
evitar que, poucos anos depois, ocorresse a 2a Guerra Mundial. Mas sua experiência
foi uma referência para a formação da atual Organização das Nações Unidas (ONU).

Em sua opinião, atualmente a ONU tem feito um trabalho eficaz para o estabe-
lecimento da paz mundial e a efetivação dos direitos humanos? Por quê?
É possível afirmar que, tal como a Liga das Nações, a ONU é impotente diante
dos interesses que impulsionam as nações aos conflitos? Por sua vez, sem a exis-
tência da ONU, os conflitos mundiais não poderiam ser maiores ainda?

ATIVIDADE 1 Fatos da guerra


Leia as frases a seguir e, de acordo com o que foi estudado sobre a 1 a Guerra
Mundial, identifique quais afirmações estão corretas e quais estão incorretas.

I – A 1a Guerra Mundial foi um conflito que envolveu somente países europeus e,


por haver pouco desenvolvimento tecnológico na época, teve pouco impacto em
termos de destruição.

II – A 1a Guerra Mundial envolveu alguns dos países mais industrializados na


época, com imensos recursos e tecnologias capazes de ampliar o alcance e a
escala da destruição.

III – A 1a Guerra Mundial só terminou em função de um acordo entre as potências


dos dois lados, que resolveram partilhar seus territórios pelo mundo.

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UNIDADE 1

IV – A 1a Guerra Mundial caminhou para seu desfecho com a entrada dos EUA ao
lado da Tríplice Entente.

V – As pressões exercidas pelo movimento operário alemão e as crescentes difi-


culdades do exército alemão foram alguns dos motivos que levaram ao fim da
1a Guerra Mundial.

Agora, marque a alternativa que indica quais frases estão corretas:

a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) II, IV e V.
d) III, IV e V.

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TEMA 3 As raízes da Revolução Socialista

O objetivo deste Tema é apresentar a você as condições que contribuíram para


que acontecesse uma Revolução Socialista na Rússia.

Você já ouviu falar da Revolução Russa? Essa revolução, que ocorreu em 1917,
derrubou o capitalismo na Rússia e estabeleceu um governo socialista, cujo poder
estava nas mãos dos trabalhadores.

Se você nunca ouviu ou leu nada sobre o assunto, assista, se possível, ao do-
cumentário Eles se atreveram: a Revolução Russa de 1917 (direção de Contraimagem/
Instituto del Pensamiento Socialista “Karl Marx”, 2007), que pode ser encontrado
na internet.

Agora, escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre esse assunto.

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UNIDADE 1

A Rússia pré-revolucionária
Embora a eclosão da Revolução Russa de outubro de 1917 estivesse relacionada à
1a Guerra Mundial, suas raízes eram mais profundas e suas consequências para o
mundo foram duradouras. A tentativa da Rússia de construir uma sociedade diferente
da sociedade capitalista e orientada inicialmente por valores comunistas dividiu a
política, ao longo do século XX, em dois lados opostos: os que se sentiam estimulados
pelo exemplo russo e os que nele enxergaram uma tragédia que deveria ser evitada.

Mas como foi possível acontecer uma revolução operária na Rússia, que era um
dos países mais desiguais socialmente e menos desenvolvidos economicamente da
Europa no começo do século XX?

É importante destacar que a Rússia czarista era um país essencialmente agrícola


com população fundamentalmente camponesa. Somente no final do século XIX a
industrialização começou a penetrar na economia russa, dependendo do capital
estrangeiro. Com isso, um operariado começou a se formar e as primeiras greves de
trabalhadores ocorreram na década de 1890.

Ao contrário do que se possa imaginar,


uma revolução não é um acontecimento PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA RÚSSIA:
pontual, mas o desfecho de longos proces- • Revolução de 1905: abalou as estruturas
do Império Russo, mas não as derrubou,
sos históricos. terminando em um banho de sangue,
conhecido como “Domingo sangrento”.
Geralmente, quando falam em Revolu-
• Revolução de fevereiro de 1917: levou
ção Russa, as pessoas lembram-se apenas
à abdicação do czar (título usado por
da revolução mais famosa: aquela que, em monarcas russos de 1546 até 1917)
outubro de 1917, pela primeira vez na His- Nicolau II e ao fim do Império Russo em
plena 1a Guerra Mundial.
tória, colocou os trabalhadores no poder,
• Revolução de outubro de 1917 (ou
iniciando uma tentativa de construção de
Revolução Bolchevique): levou os bol-
uma sociedade comunista. No entanto, cheviques, o setor mais radical dos
no caso russo, ocorreram três revoluções socialistas russos, ao poder e à criação
da URSS, em 1922. Para além desses
entre 1905 e outubro de 1917, quando
fatores políticos, eliminou a propriedade
triunfou o setor mais radical dos socialis- privada, coletivizando a produção, isto é,
tas russos, os bolcheviques (maioria). Esse fazendo as fábricas, as terras e os outros
meios de produção deixarem de perten-
grupo defendia a ideia de que somente a cer a alguém para pertencer a todos.
revolução proletária, liderada pelos tra-
balhadores, poderia criar uma sociedade
comunista. Diferente da posição dos mencheviques (minoria), que defendiam a ideia
de que uma sociedade socialista poderia ser construída de forma lenta e natural.

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UNIDADE 1

A Rússia era, no século XIX, do ponto de vista econômico e social, uma das nações
mais atrasadas da Europa. Assim mesmo, era considerada uma potência, como Ingla-
terra, França, Alemanha e Império Austro-húngaro, devido à sua vasta extensão
territorial e à unidade política do Império, controlado pelo czar.
A maioria da população russa era camponesa e sofria a exploração dos grandes
proprietários rurais, que submetiam essa enorme massa de trabalhadores à servi-
dão, abolida apenas em 1861. Além disso, o Império Russo reprimia as liberdades
civis (como a liberdade de imprensa, o direito de ir e vir, a liberdade de associação
etc.), apoiava a exploração do trabalho camponês e operário e oprimia, em seu ter-
ritório, os judeus e as minorias nacionais não russas, como os poloneses, asiáticos,
ucranianos, georgianos, armênios e tártaros.

No entanto, o atraso político e social da Rússia governada pelo czar não


impediu o desenvolvimento industrial, principalmente em torno das cidades de
São Petersburgo e Moscou, sobretudo após a segunda metade do século XIX. Essa
industrialização foi, muitas vezes, baseada em capital estrangeiro e explorou os
abundantes recursos naturais do país, bem como seus trabalhadores.

Desse modo, conviveram na Rússia uma população rural que trabalhava a terra
em condições de atraso técnico e opressão senhorial, e um crescente operariado
envolvido com as indústrias que também era explorado por seus patrões.

Assim, para promover o desenvolvimento russo, exploravam-se os trabalha-


dores, que, em 1905, realizaram uma greve reivindicando melhores condições de
vida e de trabalho – já que havia longas jornadas, baixos salários e nenhum direito
trabalhista. Essas manifestações grevistas, envolvendo operários, camponeses e
marinheiros, foram reprimidas pelo czar, mas isso não impediu novas manifesta-
ções. No auge da agitação popular, foram formados os Sovietes, conselhos de tra-
balhadores que lutavam pelos seus direitos.

Essa forma de progresso, que associava a exploração dos trabalhadores rurais


e urbanos e a dominação tirânica do czar à qual eram submetidos, foi definida por
Leon Trotski, um dos principais pensadores e líderes socialistas, como “desenvol-
vimento desigual e combinado”.

Tal desenvolvimento gerou agudas contradições sociais, com uma minoria


repleta de privilégios e uma população no campo e nas cidades extremamente
pobre, que constituíram o pano de fundo das revoluções ocorridas na Rússia no
começo do século XX, dando início à Revolução Bolchevique. Durante a 1 a Guerra
Mundial, os embates com a Alemanha provocaram muitas mortes e agravaram a
crise econômica, ocasionando novas greves e repressão por parte do czar.

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UNIDADE 1

História – Volume 3

A Revolução Russa

O vídeo aborda a Revolução Russa, seus antecedentes e suas principais consequências. Você
vai entrar em contato com personagens históricas, como Lênin, Trotski e Josef Stálin, e vai
entender a importância desse movimento revolucionário para o século XX.

É um ótimo vídeo para que você compreenda mais sobre este e os próximos Temas explicados
neste Caderno.

Você viu que as condições de exploração e opressão exercidas pelo czar sobre
o povo trabalhador russo contribuíram para a insatisfação popular e sua organiza -
ção para uma revolução. Você acha que essas condições existem atualmente em
outros países do mundo? Você acha que hoje em dia seria possível acontecer uma
revolução do mesmo tipo da que ocorreu na Rússia? Por quê?

ATIVIDADE 1
Motivos para a revolução
De acordo com o texto A Rússia pré-revolucionária, escreva, a seguir, alguns dos
principais motivos que levaram a Rússia à revolução.

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A Revolução Russa TEMA 4

Este Tema vai apresentar o processo revolucionário russo de outubro de 1917, que
levou os trabalhadores a tomar o governo de um país pela primeira vez na História.

Você já ouviu falar em “sovietes”? E em conselhos, associações ou cooperativas?

Escreva, a seguir, o que você sabe sobre esse assunto. Em sua opinião, essas
organizações são importantes para os trabalhadores?

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UNIDADE 1

O processo revolucionário
Em 9 de janeiro de 1905, uma passeata pacífica que reivindicava aumento de
salários e redução na jornada de trabalho seguia em direção ao Palácio Imperial,
em São Petersburgo, mas foi brutalmente massacrada pela guarda imperial do czar.
Esse acontecimento ficou conhecido como “Domingo sangrento”. Após esse episó-
dio, uma onda de protestos e greves espalhou-se pelo país e a popularidade do czar
entrou em declínio.

Diante da onda revolucionária que se estendia, o czar Nicolau II lançou, em


outubro de 1905, um manifesto, no qual fez algumas concessões. Entre elas, a
permissão para a elaboração de uma Constituição por um Parlamento.

O Parlamento, chamado Duma, foi criado e convocou-se uma Assembleia Cons-


tituinte (isto é, uma assembleia para escrever uma nova Constituição).
© Album/akg/Latinstock

“Domingo sangrento”: soldados do governo czarista massacraram trabalhadores russos que,


em 1905, exigiam reformas políticas, econômicas e sociais.

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UNIDADE 1

A monarquia absolutista, na qual o poder do imperador não tinha limites


jurídicos, cedeu lugar para a monarquia constitucional. Nesse contexto, foi
formalmente admitida a atuação de partidos políticos.

No entanto, essa liberdade política durou pouco. Retomado o controle da situa -


ção, o czar voltou a perseguir seus opositores, enquanto os trabalhadores não
encontravam solução para seus problemas.

Durante a 1a Guerra Mundial, da qual a Rússia participava aliada à Tríplice


Entente, uma nova onda revolucionária invadiu o Império Russo no ano de 1917.
O desastre militar na guerra, as perdas humanas estimadas em quase 2 milhões
(cf. PBS, disponível em: <http://www.pbs.org/greatwar/resources/casdeath_pop.
html>. Acesso em: 13 mar. 2014) e a crise econômica derivada da perda de áreas
agrícolas, bem como da destruição das indústrias, foram fatores que contribuíram
para esse novo momento revolucionário.

O esforço nacional para a guerra impunha crescentes sacrifícios à população


civil, que convivia com desabastecimento alimentar e alto custo de vida. Ao des-
contentamento dos trabalhadores, agregava-se a insatisfação de setores burgueses
da sociedade russa, favoráveis a mudanças liberais, especialmente no que dizia
respeito à industrialização e modernização do país.

Assim, a condição do czar ficava cada vez mais insustentável: externamente,


ele enfrentava uma difícil situação militar; internamente, as pressões dos traba -
lhadores somavam-se às da burguesia liberal. No momento em que os protestos
sociais foram retomados com muita força, no início de 1917, Nicolau II não conse-
guiu assegurar o poder.

No auge da agitação popular, soldados e trabalhadores invadiram o Palácio


Tauride, local onde se reunia a Duma (Parlamento), em Petrogrado (hoje
São Petersburgo), capital do país naquele tempo. O czar Nicolau II renunciou,
abrindo espaço para a formação de duas instituições que exerceriam um poder
paralelo nos meses seguintes:

• o Governo Provisório, constituído por deputados moderados da Duma;

• o Soviete (conselho) de Petrogrado, formado por trabalhadores e soldados de


diversas correntes políticas.

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UNIDADE 1

© Hulton Archive/Getty Images

Soviete reunido no Palácio Tauride, em Petrogrado.

Como funcionam os Sovietes


Por John Reed (escrito entre 1918 e 1919)

O Estado dos Sovietes baseou-se nos Sovietes – ou Conselhos – dos operários


e camponeses.

Esses conselhos – instituição característica da Revolução Russa – fizeram a sua


aparição em 1905, quando, durante a primeira greve geral dos operários, as fábricas de
Petrogrado e as organizações sindicais enviaram delegados a um comitê central. [...]

Quando a Revolução de 1905 fracassou, uma parte dos membros do Conselho


pôs-se em fuga, enquanto os outros foram enviados para a Sibéria*. Mas esse tipo
de organização unitária mostrou-se tão extraordinariamente eficaz, enquanto orga-
nismo político, que todos os partidos revolucionários incluíram um Conselho dos
Deputados Operários no seu programa para a próxima sublevação**.

Em março de 1917, quando [...] o czar abdicou, o grão-duque Miguel renunciou


e a frágil Duma [Parlamento] foi forçada a tomar as rédeas do governo, o Conselho
dos Deputados Operários surgiu de novo, completamente estruturado. Em poucos
dias, ampliou-se de modo a incluir também delegados do exército e passou a cha-
mar-se “Conselho dos Deputados Operários e Soldados”. Por outro lado, o Comitê

* Região extremamente fria ao norte da Rússia [nota do editor].


** Ato de revolta ou rebelião contra o poder estabelecido [nota do editor].

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UNIDADE 1

da Duma era composto [...] por burgueses e não tinha qualquer relação com as
massas revolucionárias.

[...] os Sovietes eram na altura compostos por operários e soldados; pouco depois
formaram-se Sovietes de camponeses. [...]

Fonte: Centro de Mídia Independente (CMI). © Copyleft http://www.midiaindependente.org.


É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída. Acesso em: 13 mar. 2014.

Enquanto o Governo Provisório, comandado por políticos não revolucionários,


assumia os rumos da política do país, crescia o prestígio dos Sovietes como expres-
são legítima do poder dos trabalhadores.

A convivência entre o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado, nos meses


seguintes à queda do czar, expressava uma dualidade de poderes, isto é, uma divisão
de poder, na sociedade russa. No entanto, na medida em que representavam inte-
resses divergentes, essa dualidade não poderia ser sustentada para sempre.

Em um primeiro momento, o Governo Provisório adotou medidas liberais, como


liberdade de expressão, perdão aos presos políticos e redução da jornada de traba-
lho para oito horas diárias. Também convocou uma Assembleia Constituinte, que
deveria ser eleita no final do ano por meio do voto universal.

Contudo, havia dois pontos cruciais para o povo russo Reforma agrária
que o Governo Provisório se mostrou incapaz de resol-
Processo de redistribui-
ver: a reforma agrária e a intenção de retirada do país da ção de terras, tendo em
1a Guerra Mundial. Esses motivos alimentavam a espe- vista sua função social,
ou seja, transformar
rança de que os Sovietes pudessem ser um instrumento
o camponês que nela
de mudança social eficaz. vive e trabalha na con-
dição de em pregado,
Em meio a essa situação, líderes revolucionários, como em proprietário. Cabe
Vladimir Lênin, aproveitaram-se do perdão concedido ao Estado prom over
essa r edi s tri b ui ção
pelo Governo Provisório e deixaram o exílio, voltando,
da terra, seja expro-
assim, para a Rússia. Defendendo o lema de “Paz, terra e priando terras ou com-
pão”, a influência dos bolcheviques crescia sobre os Sovie- prando.
tes, com base na relação de confiança que haviam estabe-
lecido com organizações operárias durante o czarismo.

Conscientes da fragilidade do Governo Provisório e do potencial dos conselhos


de trabalhadores, os bolcheviques estimularam a formação de Sovietes de soldados,
camponeses e operários por todo o país. Eles fizeram isso porque vislumbraram
uma possibilidade de revolução inédita na História da humanidade: uma sociedade

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UNIDADE 1

governada diretamente pelos trabalhadores, na qual o poder seria exercido,


especialmente, por meio desses conselhos. Fortaleceu-se, então, um segundo lema
revolucionário: “Todo poder aos sovietes”. Dessa forma, o prestígio dos bolcheviques
entre os Sovietes crescia a cada mês.

Em agosto de 1917, houve uma tentativa de golpe militar na Rússia que só pôde
ser barrada pela atuação decisiva dos Sovietes. Como resultado do fracasso do golpe,
duas coisas ficaram claras para os revolucionários: a fragilidade do Governo Provisório
e a força dos Sovietes. Assim, naquele momento, sob a liderança dos bolcheviques, os
Sovietes começaram a articular uma ação para a tomada efetiva do poder, realizada em
25 de outubro daquele ano. Nesse dia, tropas populares lideradas por Trotski ocuparam
os principais edifícios da capital e o Governo Provisório foi obrigado a renunciar.

Era o fim da dualidade de poder entre o Governo Provisório e o Soviete de


Petrogrado. Pela primeira vez na História, uma revolução de operários e camponeses
assumia o comando político de um país.

ATIVIDADE 1
A revolução

1 Marque as alternativas que indicam as condições que provocaram a Revolução


de 1917 na Rússia.

a) □ A morte de muitos camponeses e operários durante a 1a Guerra Mundial.


b) □ Os ideais liberais de livre comércio e sufrágio universal.

c) □ O desabastecimento alimentar e o alto custo de vida resultantes do esforço


nacional para a guerra.

d) □ A difícil situação militar da Rússia no exterior.


e) □ A bem-sucedida campanha militar do czar durante a 1a Guerra Mundial.

2 Quando Lênin, um dos líderes revolucionários dos bolcheviques, defendeu o lema


“Paz, terra e pão” para o povo russo, ele estava defendendo que tipo de medidas?
Assinale a alternativa correta.

a) A saída da Rússia da 1a Guerra Mundial e a distribuição de comida para o povo.

b) A saída da Rússia da 1a Guerra Mundial e a reforma agrária.

c) A destruição total do inimigo na 1a Guerra Mundial e a distribuição de comida


para o povo.

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O nascimento da União das Repúblicas
TEMA 5 Socialistas Soviéticas

Neste Tema, você vai estudar como a Rússia se transformou durante e após
a revolução, dando origem a uma grande potência mundial que foi referência
ao longo de toda a História do século XX: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(1922-1991).

Você já ouviu falar da antiga União Soviética? Caso não, pesquise em biblio-
tecas, na internet ou pergunte às pessoas mais velhas. Em seguida, escreva as
informações obtidas sobre esse assunto.

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UNIDADE 1

A Rússia revolucionária
Os revolucionários russos que assumiram o poder em outubro de 1917, lide-
rados por Vladimir Lênin, defendiam um projeto político inspirado nas ideias de
Karl Marx, teórico e crítico radical do capitalismo. Como substituição ao sistema
econômico capitalista, eles propunham a construção de uma sociedade comunista,
sem patrões nem empregados, sem propriedade privada e sem Estado, como um
projeto para o mundo e não somente para um país.

Se você consultar o Caderno do Volume 2, verá que a construção do comunismo


não era imaginada como uma realização imediata, do dia para a noite, mas sim
como um longo processo histórico. A transição do capitalismo para o comunismo,
na visão original dos revolucionários russos, seria por meio do socialismo, que
apresentaria elementos da sociedade passada (o capitalismo), com outros da
sociedade futura (o comunismo).

Em vez de desaparecer, o Estado socialista concentraria os meios de produ-


ção, que antes pertenciam aos capitalistas. Ou seja, o Estado seria o principal
proprietário de terras, fábricas, bancos etc., representando os interesses dos traba -
lhadores, e não dos capitalistas.

No quadro a seguir, foram esquematizadas as diferenças entre capitalismo e


comunismo, bem como a proposta imediata para o socialismo.

Capitalismo Socialismo Comunismo


Propriedade estatal dos
Propriedade privada Propriedade coletiva, ou
meios de produção, gerida
dos meios de produção. comum, dos meios de produção.
por trabalhadores.

Governo econômico, social


e político dos trabalhadores,
Estado burguês. Estado dos trabalhadores. por meio de cooperativas,
conselhos e associações de
livres produtores.

Expropriação dos
Divisão da sociedade capitalistas e divisão Fim das classes sociais:
em classes. dos recursos por meio de todos são produtores.
serviços públicos do Estado.

Com o triunfo da revolução em 1917, os bolcheviques, fiéis a esses ideais,


imediatamente propuseram:

• uma reforma agrária, dividindo as grandes propriedades de terra entre os cam-


poneses pobres;

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UNIDADE 1

• a estatização dos bancos e das fábricas, incluindo empresas estrangeiras;

• o controle direto das fábricas pelos operários;

• a negociação da paz com os alemães e a retirada dos russos da guerra.

Como se pode perceber, a Revolução de Outubro indicava uma ruptura não


somente com a Rússia imperial, mas com o próprio capitalismo. Por esse motivo,
seu ideário tinha consequências que ultrapassavam as fronteiras russas: o triunfo
dos bolcheviques sinalizava aos trabalhadores de todo o mundo que era possível
tomar o poder.

Os próprios bolcheviques tomaram a iniciativa de formar uma organização com o


objetivo de reunir os partidos comunistas do mundo inteiro, visando a trabalhar por
uma revolução mundial. Essa organização ficou conhecida como a III Internacional.

A vitória dos bolcheviques preocupou as nações capitalistas do mundo inteiro,


entre elas, aquelas envolvidas na 1 a Guerra Mundial. O medo de que o exemplo da
Rússia pudesse espalhar-se para além das suas fronteiras estimulou muitos países,
que até então lutavam entre si, a enviar tropas contra a Revolução de Outubro.
© Mary Evans/Diomedia

Mesa diretora da abertura do Congresso da III Internacional em Moscou. Entre os participantes


estava Lênin, o terceiro da esquerda para a direita.

31
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UNIDADE 1

Assim, os bolcheviques não tiveram trégua. Antes mesmo de quase ser encerrada
a 1a Guerra Mundial, a revolução precisou formar um exército popular, conhecido
como Exército Vermelho, para enfrentar os contrarrevolucionários russos e seu Exército
Branco, apoiado por ingleses, estadunidenses, franceses e japoneses, entre outros.

Com a intenção de defender a revolução, os bolcheviques priorizaram a produ-


ção industrial e agrícola para o esforço de guerra, o que fez a população civil sofrer
terríveis privações. Para os bolcheviques, esse era o preço a ser pago para vencer a
guerra contra o Exército Branco.
Em 1921, o Exército Vermelho foi vitorioso. A revolução socialista havia sobre-
vivido. No entanto, o país estava arrasado: plantações foram queimadas, cida-
des foram destruídas e muitas vidas perdidas. O governo revolucionário deveria
enfrentar, então, o desafio de, em um contexto de hostilidade mundial, reconstruir
uma sociedade devastada.
Essa não seria uma tarefa fácil. Com a morte de Lênin, em 1924, o país perdeu
sua liderança revolucionária. E após a ascensão do líder revolucionário Stálin, o pro-
cesso revolucionário russo tomaria uma direção diferente daquela prevista por seus
idealizadores. A utopia da revolução mundial deu lugar a uma política de defesa dos
interesses do novo país, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Nas políticas econômicas internas, investiu-se no desenvolvimento industrial
de base e na mecanização do campo. Analisado por esse ângulo, o regime liderado
por Stálin foi um sucesso: em pouco tempo, a URSS
tornou-se uma potência econômica mundial. Entre-
tanto, do ponto de vista social, o país pagou um alto
Assista ao filme Doutor Jivago
preço: a realização dos programas do governo muitas (Doctor Zhivago, direção de
vezes contrariou os interesses dos trabalhadores e os David Lean, 1965). O filme
ideais comunistas. O Estado tornou-se opressor e o é baseado no livro homô-
nimo do escritor russo Boris
regime stalinista perseguiu todos aqueles que discor-
Pasternak, um crítico da
daram dele. Revolução de Outubro.
Assim, a experiência do chamado “socialismo real” Veja também o filme Reds
acabaria distanciando-se de seus objetivos originais. (Reds, direção de Warr en
Apesar disso, a URSS seria, ao longo do século XX, Beatty, 1981). Ele conta a his-
tória do jornalista estaduni-
uma referência para trabalhadores e intelectuais no
dense John Reed, que estava
mundo inteiro, que acreditavam na necessidade da na Rússia quando estourou
construção de uma sociedade diferente da capitalista. a Revolução de Outubro e
escreveu o famoso livro Os
Ela foi também uma referência negativa para aqueles
dez dias que abalaram o mundo,
que temiam uma revolução social e que combateram simpático ao movimento.
a experiência soviética de todas as maneiras possíveis.

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42 UNIDADE 1

A Revolução Russa, primeira revolução que levou a classe trabalhadora ao


poder, influenciou intelectuais, partidos, movimentos sociais e outras organi-
zações políticas no mundo inteiro. Ainda que tenha seguido rumos diferentes
daquele inicialmente planejado por seus primeiros líderes, essa revolução ficou
marcada na História como a principal ameaça ao sistema capitalista vigente,
dividindo o mundo no século XX entre países capitalistas e países socialistas.
Tendo isso em mente, pense nos partidos, movimentos sociais e outras orga -
nizações políticas do Brasil e do mundo que foram influenciados pela Revolução
Russa e seus ideais. Você acha que os motivos e as práticas dessa revolução ainda
fazem sentido no mundo de hoje? Por quê?

Você pode pesquisar, nos Cadernos dos Volumes 1 e 2, que o Estado moderno
foi constituído com base na concentração do poder político nas mãos de um
monarca absoluto. Após sua consolidação, tornou-se objeto de disputa de dife-
rentes grupos políticos e classes sociais que pretendiam assumir o governo da
sociedade em que viviam. Assim, dependendo da orientação ideológica e dos
interesses dos grupos que assumem o poder, a máquina estatal pode ser usada
para implementar preferencialmente certas políticas em detrimento de outras.
Não se trata de uma regra, mas se, por exemplo, a classe burguesa estiver no
poder, a tendência é que o Estado seja usado para garantir a proteção da proprie -
dade privada e promover o livre mercado, bem como garantir determinados direi-
tos civis e políticos.
Se o Estado estiver sob orientação socialista, existe uma grande possibilidade
de o governo promover os direitos econômicos e sociais, defendendo os interesses
do trabalhador por meio da promoção de serviços públicos de qualidade, como
saúde, educação e assistência social. É provável também que regule o mercado de
acordo com as necessidades da maioria da população, estipulando e controlando
salários e turnos de trabalho, juros e câmbio, entre outros.
Nas sociedades democráticas, nas quais os poderes Legislativo e Executivo defi-
nem o rumo político da sociedade pela votação de leis e estipulação de políticas a
serem implementadas, é mais comum existir maior pluralidade de grupos e classes
sociais no poder político. Por isso, o Estado tende a ser usado em diferentes direções,
tanto nas mais opressivas como nas mais promotoras dos interesses coletivos.

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UNIDADE 1 43

ATIVIDADE 1
O que aconteceu depois da revolução

Baseando-se nos seus conhecimentos sobre a Revolução Russa, assinale as


alternativas corretas.

a) □ Os revolucionários russos que assumiram o poder em outubro de 1917 defen-


diam um projeto político inspirado nas ideias liberais e, por isso, defendiam a
democracia representativa, a proteção à propriedade privada, o livre comércio e os
direitos civis.

b) □ Os revolucionários russos que assumiram o poder em outubro de 1917 defen-


diam um projeto político inspirado nas ideias de Marx e, como substituição ao
capitalismo, propunham a construção de uma sociedade comunista, sem patrões
nem empregados, sem propriedade privada e sem Estado.

c) □ Com o triunfo da revolução, algumas das medidas tomadas foram: uma


reforma agrária dividindo a terra entre os camponeses pobres; a estatização dos
bancos e das fábricas; e o controle direto das fábricas pelos operários.

d) □ Os revolucionários, logo após chegarem ao poder, realizaram as seguintes


reformas: venderam grandes propriedades de terras para empresas internacionais;
privatizaram as fábricas e demitiram muitos operários a fim de equilibrar as contas
das empresas.

e) □ Com a morte de Lênin e a ascensão de Stálin ao poder, o processo revolu-


cionário russo tomou uma direção diferente da original. A partir desse momento,
na recém-formada URSS, prevaleceu a realização de programas do governo para
transformar o país em uma potência econômica e militar, sendo muitas vezes
contrários aos interesses dos trabalhadores, além da opressão e perseguição aos
opositores do regime de Stálin.

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HISTÓRIA
O PERÍODO ENTREgUERRAS
UNIDADE 2

TEMAS
1. A Crise de 1929
2. Os regimes autoritários

Introdução
Nesta Unidade, você vai estudar um período turbulento da História mundial: o
período entreguerras.

Na Unidade 1, você estudou que as causas da 1 a Guerra Mundial estavam vin-


culadas ao imperialismo, que, por sua vez, influenciou diretamente o desenvolvi -
mento do capitalismo entre o final do século XIX e o início do século XX.

Ainda nessa Unidade, você viu que uma revolução socialista triunfou na Rússia
(Revolução Russa) e que ela se opunha ao sistema capitalista.

Além disso, estudou que, ao final da 1 a Guerra Mundial, em 1918, as potências


capitalistas não resolveram suas desavenças políticas e econômicas. Na realidade,
esses problemas ficaram mais complexos, isso porque a disputa deixou de ser ape-
nas pelo controle político e econômico de territórios e passou a ser pela construção
de uma hegemonia sobre o mundo, ou seja, eles passaram a disputar o domínio
econômico e político-ideológico de todas as nações e o controle do mercado finan-
ceiro internacional. Na prática, as tensões entre as potências imperialistas não
foram resolvidas na 1 a Guerra Mundial e se agravaram com a crise do capitalismo
na década de 1920.

Em resumo, três fenômenos relacionados entre si contribuíram para o início da


2a Guerra Mundial:

• a crise econômica do capitalismo, que teve seu ponto central na quebra da Bolsa
de Valores de Nova Iorque, em 1929;

• a consolidação de regimes autoritários em alguns países da Europa, como na


Itália fascista de Benito Mussolini e na Alemanha nazista de Adolf Hitler;

• a formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1922, que


ocorreu depois da Revolução Russa de 1917.

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TEMA 1 A Crise de 1929

Neste Tema, você vai estudar como foi o processo que levou à crise do capita-
lismo, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929. Você também
identificará as consequências dessa crise para a economia de vários países, tanto
na América quanto na Europa.

Após a 1a Guerra Mundial, os Estados Unidos da América (EUA) se fortaleceram


financeiramente, incentivando o consumo exagerado pela população (traço carac-
terístico do capitalismo). Contudo, o desequilíbrio entre produção e consumo foi
um dos fatores que levou a uma das maiores crises econômicas da História.

• Você já ouviu falar de crises econômicas mundiais?

• Sabe o que acontece durante essas crises?

• Você já passou por uma crise econômica?

Registre, nas linhas a seguir, o que você já sabe sobre o assunto.

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UNIDADE 2

A Europa e os Estados Unidos após a 1a guerra Mundial

A Europa depois da 1a guerra Mundial


O final da 1a Guerra Mundial não trouxe a paz para a Europa. Mesmo com
as mudanças entre 1914 e 1918, os pontos de tensão entre os países permane-
ceram. Ao mesmo tempo, outros elementos contribuíram para o surgimento de
novos conflitos, como você verá a seguir.

Na Unidade 1, você estudou que o crescimento do movimento operário na


Alemanha contribuiu para que esse país saísse da guerra. Ao mesmo tempo, a
vitória dos bolcheviques na Rússia foi um estímulo para a revolução socialista
em outros lugares do mundo. Mas a agitação social daquele período não ficou
restrita a esses países. Na Hungria e na Itália, por exemplo, também aconte-
ceram movimentos operários que, na opinião de algumas lideranças da época,
colocavam em risco o capitalismo.

Na Itália, os trabalhadores, influen-


ciados pela Revolução Socialista Russa,
© Coleção do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro/Instituto Astrojildo Pereira

assumiram o controle de diversas fábri-


cas, que foram comandadas tempora-
riamente por Conselhos de Operários.
Na Hungria, os comunistas chegaram
a tomar brevemente o poder em 1919,
proclamando a República Soviética da
Hungria. Na Alemanha, a Revolução
Espartaquista, também em 1919, foi
uma tentativa fracassada de revolução
comunista.
Mesmo derrotadas, as experiências
vividas na Itália, na Alemanha e na
Hungria foram uma expressão clara da
agitação que os trabalhadores de outros
países experimentaram por influência
dos bolcheviques, que foram vitoriosos
na Rússia.

Outro sinal dessa influência foi a fun-


dação de partidos comunistas pelo mundo Capa do documento publicado em 1925, referente ao II
Congresso do PCB, partido fundado em 1922.
nos anos seguintes à Revolução Russa,
como o Partido Comunista do Brasil (PCB),
em 1922.

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UNIDADE 2

Mesmo em países nos quais a pressão dos trabalhadores não era forte para
ameaçar o capitalismo, houve mudanças significativas com o final da 1a Guerra
Mundial. Um exemplo disso são os impérios que deixaram de existir, como o Turco-
otomano, o Austro-húngaro, o Russo e o Alemão.

Em todas essas situações, as monarquias (que eram países governados por reis)
foram substituídas por repúblicas (países governados por representantes escolhidos
pela população).

Esses impérios abrigavam diversas nacionalidades, e muitas delas tiveram sucesso


em seu esforço para se tornarem países independentes. Veja alguns exemplos:

Estados que surgiram/se formaram


Situação antes da 1a Guerra Mundial
após a guerra

Esse império se dividiu em Turquia, Síria, Iraque,


Líbano, Palestina e Transjordânia. No entanto, nem
todos se tornaram Estados independentes.

A Síria ficou sob domínio francês.


Império Turco-otomano
A Palestina, a Transjordânia e o Iraque ficaram sob
mandato inglês.

No caso do Iraque, o fim do domínio britânico só se


deu em 1932.

Esse império se dividiu em Áustria, Hungria,


Império Austro-húngaro Tchecoslováquia, Iugoslávia e parte do
território da Romênia.

Depois da guerra, o império se dissolveu dando


Império Alemão origem à Alemanha, que pelo Tratado de Versalhes
perdeu territórios para a França, Bélgica e Polônia.

Esse império se dividiu em Rússia, Finlândia,


Império Russo Lituânia, Estônia, Letônia e parte do
território da Polônia.

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UNIDADE 2

Apesar dessas importantes mudanças na Europa, os movimentos nacionalistas


das colônias europeias que visavam à emancipação foram reprimidos pelos coloni -
zadores. Ou seja, o princípio de autodeterminação dos povos, isto é, a capacidade
e o direito de os povos definirem a si mesmos e escolherem o caminho que querem
tomar, não foi considerado para as nacionalidades colonizadas ao redor do mundo,
principalmente na Ásia e na África.

A luta pela independência de muitos desses povos africanos e asiáticos aconte-


ceu apenas depois da 2 a Guerra Mundial e foi marcada por extrema violência das
nações colonizadoras. Isso deixou claro que os direitos que os europeus conquista -
vam para si não seriam aplicados para os povos que eles dominavam.

Os Estados Unidos após a 1a guerra Mundial


Uma das consequências da 1a Guerra Mundial foi a consolidação dos EUA como
principal potência capitalista do planeta. Esse poderio estadunidense dura até
a atualidade.

Por causa dos conflitos da 1a Guerra Mundial, o continente europeu teve


a maior parte das suas indústrias e da produção de matérias-primas prejudicada
ou destruída. Para atender as necessidades dos países Aliados, os EUA forneciam
diversos tipos de mercadorias e armamentos. Essas transações comerciais estimu -
laram fortemente a economia estadunidense durante o confronto.

Ao final da guerra, os EUA saíram fortalecidos, estabelecendo sua hegemonia


sobre os países europeus, uma vez que eles foram os grandes responsáveis por
financiar a reconstrução da Europa Ocidental. As perdas materiais e humanas foram
bem menores se comparadas com a dos países europeus; basta pensar que os esta-
dunidenses entraram na guerra tardiamente e não tiveram batalhas em seus territó-
rios. Desse modo, a destruição ocorrida no continente europeu foi uma oportunidade
de investimento para os EUA, que obtiveram grandes ganhos econômicos derivados
dos empréstimos feitos durante e após a guerra.

Vários países, como França e Inglaterra, passaram a dever valores extremamente


altos aos EUA, por conta desses empréstimos feitos ao longo da guerra que eram usa-
dos para manter exércitos e comprar armamentos e gêneros alimentícios; bem como
por empréstimos feitos após a guerra, usados para a reconstrução desses países.

A entrada de dinheiro nos EUA (por causa dos pagamentos das dívidas dos
países europeus) permitiu o investimento em sua indústria e agricultura, que se
expandiram bastante no início da década de 1920.

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UNIDADE 2

Assim, a economia dos EUA viveu um período de grande crescimento após a


1a Guerra Mundial. Entre 1926 e 1929, os estadunidenses eram responsáveis por
42,2% da produção mundial de mercadorias industrializadas, sendo os maiores
consumidores de petróleo do planeta e os principais produtores de carvão, eletrici-
dade, aço e ferro fundido. As empresas estadunidenses, além de serem as maiores
exportadoras de mercadorias no mundo, fizeram grandes investimentos em diver-
sas regiões do planeta.

No entanto, esse entusiasmo com o crescimento econômico acabou em 1929,


com a quebra (crash) da Bolsa de Valores de Nova Iorque e com a crise de superpro-
dução no sistema capitalista que afetou diversos países do mundo.

Essa não foi, contudo, a primeira e nem a última crise econômica mundial.
De modo geral, para entender as crises do capitalismo e, em especial, a Crise de
1929, é preciso que se leve em consideração as causas imediatas que lhe deram
origem, mas também a forma como o capitalismo se organiza. Desse modo, pode-
-se dizer que dentro da própria organização do capitalismo estava a semente que
originaria a Crise de 1929.

Em 2007, iniciou-se uma grave crise econômica nos países mais desenvolvidos e que afetou
todo o mundo.
Assim como em 1929, essa crise, que havia começado em 2007, atingiu um dos lugares-
-símbolo do capital financeiro mundial: a rua conhecida como Wall Street, o centro finan-
ceiro de Nova Iorque. Em 2011, Wall Street foi palco de manifestações que, por meio da
internet, ficaram conhe-
cidas pelo mundo: o cha-
mado O ccu p y (ocupar ,
© Craig Ruttle/AP Photo/glow Images

em inglês) Wall Street. O


lema do movimento foi
uma cifra: “99%”, pois a
intenção deles era cha-
mar a atenção para a
concentração de renda
no planeta. Segundo o
movimento, 1% da popu-
lação decide os rumos
financeiros do mundo
e seria responsável por
cr is es que af etam os
demais 99%. Manifestação do movimento Occupy Wall Street, em Nova Iorque, 2011.

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UNIDADE 2

ATIVIDADE 1 A ascensão dos EUA


Você viu que, após a 1 a Guerra Mundial, os EUA tornaram-se a principal potên-
cia capitalista do planeta. De acordo com o texto A Europa e os Estados Unidos após
a 1a Guerra Mundial, o que favoreceu esse crescimento econômico estadunidense?

As causas da Crise de 1929


Você estudou que os EUA emergiram como principal potência econômica mun-
dial ao final da 1 a Guerra Mundial. O investimento na reconstrução europeia favo-
receu essa expansão, aumentando os vínculos entre as economias dos dois lados
do Oceano Atlântico.

Em virtude do crescimento econômico dos EUA, a presença estadunidense


nos negócios mundiais aumentou muito, não somente na Europa, mas no mundo
inteiro. No entanto, ao final dos anos 1920, a Europa dava sinais de haver recupe-
rado sua capacidade de produção e países europeus, como a França, aumentavam as
taxas protecionistas, de forma a estimular a produção interna e diminuir as importa-
ções. O resultado disso foi a diminuição da dependência em relação aos EUA.
Internamente, a situação dos EUA, a princípio, era favorável, pois haviam
ampliado as novas tecnologias e a capacidade produtiva das indústrias. Entretanto,
se o crescimento dos EUA gerava riqueza, também aumentava a concentração de
renda (isto é, deixava poucas pessoas muito ricas e a maioria muito pobre). Além
disso, com esse crescimento, houve um aumento na produção, o que gerou, ainda
na década de 1920, uma crise de superprodução, ou seja, havia mais oferta (produ-
tos à venda) que demanda (consumidores para comprá-los).

Com essa crise, muitas empresas quebraram e, como consequência, diversos tra-
balhadores ficaram desempregados. Tanto a distribuição irregular de renda quanto o
desemprego foram fatores que diminuíram a capacidade de consumo da população.

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52 UNIDADE 2

Outro elemento que contribuiu para a crise foi o avanço do próprio sistema pro-
dutivo das empresas capitalistas. O taylorismo e o fordismo constituíram os típicos
modos de produção capitalista, nos quais a fabricação é feita em série na tentativa
de agilizar o processo produtivo, visando a maior lucratividade. Porém, muitas
vezes, a produção é excessiva e não há demanda (procura) ou consumo suficiente,
o que gera uma crise de superprodução.

Essa crise acontece, basicamente, da seguinte maneira: a empresa capitalista


não consegue vender tudo o que produziu e, no limite, pede falência. Com isso,
demite seus trabalhadores. Esses, por estarem desempregados, não consomem
os produtos de outras empresas, que também decretam falência e demitem mais
trabalhadores. E assim sucessivamente, até que toda a sociedade entra em crise.

Essa situação piorou por causa de operações na Bolsa de Valores conhecidas


como especulação financeira. Mas o que é isso?
As empresas, quando querem crescer mais, colocam papéis (chamados de
ações) que representam parte de seus lucros para serem negociados em um lugar
chamado Bolsa de Valores. Na Bolsa, qualquer pessoa ou empresa pode comprar ou
vender ações quando achar conveniente.
Entre os anos de 1920 e 1930, os estadunidenses, incentivados pela prosperi-
dade que marcava seu estilo de vida, passaram a comprar e vender, de forma des-
controlada, ações das mais diferentes empresas. Essas transações financeiras eram
feitas na Bolsa por corretores ou especuladores. Esses profissionais do mercado
financeiro tinham como base o princípio da oferta e da procura. Com base nesse
princípio, eles compravam as ações das empresas quando elas estavam em baixa,
ou seja, quando poucas pessoas tinham interesse em comprá-las (e, por isso, elas
apresentavam bom preço) e vendiam essas ações a um preço maior quando esta-
vam em alta, momento em que diversas pessoas começavam a comprá-las. Os
motivos para essas ações estarem em alta ou baixa dependiam de uma série de
fatores, especialmente do real crescimento do capital das empresas.

Mundo do Trabalho

Organização do trabalho

O vídeo mostra como se deu a reorganização do trabalho nas sociedades capitalistas com base
nas ideias de Frederick Taylor e Henry Ford, que tinham como objetivo fazer uma empresa
produzir no menor tempo e com o menor desperdício de materiais, a fim de aumentar a pro-
dutividade.

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UNIDADE 2

Para facilitar sua compreensão sobre os procedimentos na comercialização das


ações, segue o exemplo de um vendedor de ingressos ambulante (cambista): ele
adota o mesmo princípio, porque compra ingressos para eventos, como jogos de
futebol, shows etc., meses antes de eles acontecerem, ou seja, quando o ingresso
está mais barato, porque ninguém ainda está tão interessado. No dia do evento,
quando diversas pessoas estão querendo ingressos para comprar, o cambista os
vende com um preço muito mais caro do que quando ele comprou. Isso, também,
chama-se especulação. Quando especuladores da Bolsa de Valores fazem isso com
as ações, isso se chama especulação financeira.
O que aconteceu na Bolsa de Valores de Nova Iorque, nos EUA, em 1929, foi
o seguinte: os especuladores vendiam e compravam ações sem levar em conside-
ração a realidade econômica das empresas que disponibilizavam suas ações no
mercado financeiro. Eles faziam os preços das ações subirem artificialmente, isto
é, acima das possibilidades reais de lucro das empresas.
Por causa disso, muitas pessoas e empresas investiram bastante dinheiro
em ações de empresas que entraram em crise e faliram. Dessa maneira, muitos
desses investidores faliram também. Isso gerou desespero em milhares d e
pessoas que dependiam das vendas e compras de ações para sustentar seus
negócios. Assim, com a quebra da Bolsa de Valores, toda a sociedade foi
financeiramente atingida.

© Mary Evans/Diomedia

Com a quebra
da Bolsa de
Valores de
Nova Iorque,
pessoas
correram
aos bancos
para tentar
resgatar suas
aplicações.

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UNIDADE 2

Assista ao filme Loucura americana (American madness, direção de Frank Capra, 1932). Ele narra o
momento da Crise de 1929 sob o ponto de vista de um diretor de banco que sofre enorme pres-
são por causa da crise que atinge os EUA e, por consequência, afeta o banco em que ele trabalha.

Outro filme interessante sobre esse assunto se chama Vinhas da ira (The grapes of wrath, direção
de John Ford, 1940). Nele, o ponto de vista é o de uma família de trabalhadores rurais que busca
novas oportunidades, mas se depara com as dificuldades provenientes do momento da crise.

Ao vê-los, você terá a oportunidade de conhecer pontos de vista diferentes sobre esse momento
tão conturbado da História.

ATIVIDADE 2 Os fatores da crise


Assinale as alternativas corretas sobre os fatores que deram origem à crise eco-
nômica mundial de 1929.

a) □ O avanço do socialismo na Europa, que fez os países daquele continente


cancelarem as importações de produtos estadunidenses.

b) □ A recuperação da capacidade europeia de produzir, o que diminuía sua


dependência econômica em relação aos EUA.

c) □ A falta de desenvolvimento do modo de produção das indústrias capitalistas,


que não conseguiram atender a enorme demanda do mercado e por isso faliram.

d) □ O desemprego gerado pelo próprio modo de produção das indústrias capita-


listas, como o taylorismo e o fordismo, que acabou por diminuir a capacidade de
consumo da população.

e) □ A crise de superprodução, quando as empresas produzem mais do que con-


seguem vender.

f) □ A falta de investimento da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o que deixou a


economia pouco dinâmica e subdesenvolvida.

g) □ A especulação financeira na Bolsa de Valores de Nova Iorque, em que se


vendiam e compravam ações sem levar em consideração a realidade econômica
das empresas.

Da crise econômica para a crise social


Os EUA eram os maiores exportadores do mundo, responsáveis por mais de
40% da produção industrial e com negócios espalhados por todos os continentes.
Vários países tinham suas economias dependentes da economia dos EUA, uma vez

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UNIDADE 2

que vendiam para esse país muito do que produziam e dele importavam boa parte
do que precisavam.

Mas quando a nação estadunidense entrou em crise econômica, ela não pôde
mais consumir os produtos desses países e nem fornecer-lhes suas mercadorias.
Dessa forma, todos foram atingidos economicamente em função da crise econô-
mica pela qual os EUA passavam.

Foi o que aconteceu, por exemplo, no Brasil, que na época usava grande parte
das suas terras produtivas e da sua força de trabalho para plantar café que seria
vendido aos EUA. Portanto, quando os estadunidenses pararam de comprar
café, muitos proprietários brasileiros faliram e vários trabalhadores ficaram sem
emprego. Esse é um exemplo de como a crise desencadeada naquele país repercu-
tiu no capitalismo mundial.

O efeito imediato dessa crise foi a recessão econômica. Um país entra em reces-
são quando sua economia não vai bem, momento em que as taxas de consumo e a
oferta de empregos diminuem, o que contribui ainda mais para a falência de vários
negócios e o aumento do desemprego. Durante a Crise de 1929, fábricas foram
fechadas, enquanto banqueiros, apoiados pelas leis, confiscavam as terras dos
agricultores, que não conseguiam quitar seus empréstimos bancários.

Em muitos países, a crise econômica transformou-se em uma grave crise social.


Os trabalhadores procuraram resistir e a agitação generalizou-se.

História – Volume 3

A Crise de 1929

Esse vídeo mostra a Crise de 1929 e como seu raio de influência foi amplo, afetando a economia
e a política mundial, com repercussão inclusive na América Latina. O vídeo trata também do
New Deal, nome dado a uma série de medidas implantadas pelo governo do presidente estadu-
nidense Franklin Roosevelt, que tinha o objetivo de recuperar e reformar a economia dos EUA,
além de auxiliar os afetados pela Grande Depressão.

Tentativas de saída da crise


Diante da situação econômica crítica e da grave crise social, os países afe-
tados adotaram políticas que tinham algo em comum: a intervenção do Estado
na economia. Isso ocorreu mesmo onde prevalecia a tradição liberal, como nos
EUA e na Inglaterra.

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UNIDADE 2

Nos EUA, com a vitória do candidato democrata Franklin Delano Roosevelt nas
eleições de 1932, foi implantado o programa conhecido como New Deal (em portu-
guês, “Novo Acordo”). Sua proposta central foi a de reativar a economia por meio
da iniciativa do Estado. Realizaram-se inúmeras obras públicas, visando a empre-
gar trabalhadores e injetar dinheiro na produção, ao mesmo tempo em que eram
oferecidos créditos e energia barata para os agricultores. Depois de alguns anos, o
New Deal conseguiu melhorar a situação econômica do país.

No entanto, seria somente entre o final da década de 1930 e o início da década


de 1940, com o estímulo econômico gerado pela 2 a Guerra Mundial, que a economia
estadunidense voltaria a crescer aceleradamente e o desemprego deixaria de ser
um problema socioeconômico.
Embora muitos países adotassem medidas semelhantes às dos EUA, as deci-
sões políticas nem sempre foram tomadas com base em conceitos democráticos.
Alemanha e Japão, por exemplo, eram países relativamente pobres em reservas
internacionais de matérias-primas, pois não possuíam colônias espalhadas pelo
mundo para explorar. Tinham, portanto, menos alternativas para lidar com a crise
e com a crescente insatisfação popular.
Nesses países, na década de 1930, consolidaram-se governos autoritários que
mobilizaram parte significativa da população em nome de uma expansão militar
agressiva, que logo provocaria a 2a Guerra Mundial.

ATIVIDADE 3 Consequências sociais e políticas da crise


Segundo os textos Da crise econômica para a crise social e Tentativas de saída da
crise, a crise econômica que atingiu os EUA em 1929 acabou por afetar o mundo
inteiro, já que a maior parte dos países tinha sua economia muito dependente da
economia estadunidense. Essa crise gerou várias consequências sociais e políticas
em muitas nações do mundo.

Marque a seguir, com um “X”, as afirmações que correspondem a essas conse-


quências, de acordo com os textos.

a) □ Falência de negócios e aumento de desemprego.


b) □ Expansão da revolução comunista mundial.

c) □ Desencanto com o capitalismo e com a democracia em todos os países.

d) □ Intervenção estatal na economia.

e) □ Surgimento de governos autoritários em vários países do mundo.

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UNIDADE 2 57

Em seu discurso de posse, em 1933, o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, tentou
encorajar seus compatriotas: “O único medo que devemos ter é do próprio temor. Uma multidão
de cidadãos desempregados enfrenta o grave problema da subsistência e um número igualmente
grande recebe pequeno salário pelo seu trabalho. Somente um otimista pode negar as realidades
sombrias do momento.”
O problema que atemorizava os EUA, cujos efeitos foram desemprego e baixos salários, referido
pelo presidente Roosevelt, era:
a) a Primeira Guerra Mundial, em que os EUA lutaram ao lado da Tríplice Entente contra a
Tríplice Aliança, obtendo a vitória após três anos de combate. Entretanto, a vitória não trouxe
crescimento econômico, mas, sim, desemprego e fome.
b) a Segunda Guerra Mundial, quando os norte-americanos lutaram ao lado dos Aliados contra o
Eixo nazifascista. Embora vencedores, o ônus financeiro da guerra foi muito pesado.
c) a Guerra do Vietnã, quando os EUA apoiaram o Vietnã do Sul contra o avanço comunista do
Vietnã do Norte, tendo gasto milhões de dólares em uma guerra infrutífera.
d) a depressão de 1929, causada pela existência de uma superprodução, acompanhada de um
subconsumo, crise típica de um Estado Liberal.
e) a primeira Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kuwait e os EUA, na defesa de seus
interesses petrolíferos, invadiram o Iraque na defesa de seu pequeno estado aliado.
Fonte: Instituto Federal de São Paulo (IFSP), 2011. Ensino Superior. Disponível em:
<http://www.ifsp.edu.br/index.php/component/content/article/62 -vestibular/1373-1o-semestre-de-2011.html>. Acesso em: 13 mar. 2014.

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Os regimes autoritários TEMA 2

Neste Tema, você vai estudar a formação dos governos autoritários na Europa –
principalmente na Itália e na Alemanha –, fenômeno ocorrido no período entre-
guerras e relacionado à 2a Guerra Mundial, a qual aconteceria anos mais tarde.

Você conhece algum grupo organizado? Qual? Participa ou já participou de


algum grupo organizado e até uniformizado, como, por exemplo, partidos políticos,
grupos sindicais ou mesmo torcidas uniformizadas? Quando está com esse grupo,
você se sente mais fortalecido para expressar uma ideia que defende, reivindicar
algo ou ainda ter atitudes que não teria sozinho?

Registre suas ideias nas linhas a seguir.

Nazismo e fascismo
O estudo do nazifascismo, fenômeno que marcou diferentes países europeus,
deve ser entendido dentro do contexto da crise do capitalismo, que ocorreu no
final da década de 1920.

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UNIDADE 2

A crise econômica fez o capitalismo liberal e a democracia associada a ele fica-


rem em descrédito. Como resultado, os regimes autoritários foram vistos, por par -
celas da sociedade europeia, como solução para a crise, sem que fosse necessário
romper com o capitalismo.

O nazismo na Alemanha e o fascismo Fascismo


na Itália são dois exemplos de regimes Movimento social e político que surgiu na
autoritários. Além deles, muitos países Itália entre as décadas de 1910 e 1920 sob
a liderança de Benito Mussolini. Ao longo
europeus, naqueles anos, formaram gover-
das duas décadas seguintes, expandiu-se
nos autoritários, como Espanha, Portugal, por vários países da Europa, chegando, em
Romênia, Grécia, Albânia e Polônia. alguns casos, a tomar o poder do Estado e
se impor como regime político, com apoio
Diversas pessoas que se interessam de elites tradicionais conservadoras, de
parte das forças armadas e mesmo de tra-
por História habituaram-se a enxer-
balhadores que se viam ameaçados pela
gar no nazismo e no seu principal líder, crise econômica da época.
Adolf Hitler, um fenômeno excepcio- Caracterizava-se principalmente por: anti-
nal na História europeia e mundial. No comunismo; descrença na democracia; uso
entanto, nem todos sabem que o tipo de da violência como forma de se impor sobre
seus opositores; preconceito e perseguição
regime adotado por Hitler na Alemanha em relação às minorias étnicas e ultrana-
não foi inventado por ele, mas inspirado, cionalismo (nacionalismo muito exagerado,
que pode gerar ódio e exclusão dos diferen-
em muitos aspectos, em uma experiên-
tes ou dos que pensam de modo diferente).
cia que acontecia na Itália desde os anos
Esse regime, quando instaurado, promoveu
1920: o fascismo.
a recuperação econômica baseada na mili-
tarização da nação, na guerra e na repressão
às organizações autônomas dos trabalhado-
Fascismo italiano res, ou seja, no controle policial dos sindica-
No final da 1a Guerra Mundial, havia, tos e das reivindicações dos trabalhadores,
de forma a permitir o avanço capitalista.
na Itália, uma intensa agitação operária.
Diversas fábricas foram ocupadas por tra-
balhadores, principalmente em Turim, centro industrial localizado ao norte do
país. Impulsionados pelas notícias da Revolução Russa, os operários italianos radi-
calizavam, promovendo greves e ingressando em partidos políticos como o Partido
Socialista e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). Ao mesmo tempo que
ocorria essa agitação nas fábricas, os deputados socialistas já ocupavam um terço
do Parlamento.

Aquele era um momento em que o país parecia estar à beira da revolução


social e, aos olhos dos setores vinculados à burguesia, o fascismo oferecia uma
alternativa à crise da democracia liberal.

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UNIDADE 2

Desse modo, o fascismo iniciou-se no país antes mesmo do final da 1a Guerra


Mundial e cresceu rapidamente com a intensa agitação social na Itália do pós-
-guerra. Seu principal líder foi Benito Mussolini, um ex-militante socialista,
expulso do partido por apoiar a entrada da Itália na 1a Grande Guerra.

Os Camisas Negras
A crise que se abatia sobre a Itália levou muitas pessoas a procurar res-
ponsáveis sobre os quais pudessem jogar a culpa. Os alvos visados foram o s
trabalhadores organizados que defendiam o socialismo e o comunismo como
alternativas ao Estado burguês. A principal novidade política do fascismo foi a
capacidade de mobilizar as massas em sentido contrário ao das organizações
convencionais de trabalhadores (sindicatos, partidos, greves etc.).

Mussolini percebeu que as pessoas, quando reunidas e uniformizadas em


prol de uma ideia, eram capazes de atos de violência que dificilmente comete-
riam sozinhas. Para que se tenha uma
visão aproximada do que isso signi-
fica atualmente, é possível observar
Como você já viu na Unidade anterior, o
as brigas de torcidas organizadas de socialismo é considerado a etapa de transi-
futebol. Nesse sentido, os fascistas se ção para o comunismo.
organizaram como um grupo unifor- Na Europa e em outras partes do mundo,
mizado para difundir as suas ideias e aqueles que lutam contra o capitalismo
nem sempre concordam quanto ao método
brigar contra os inimigos do fascismo.
de transformação dessa sociedade ou sobre
Esse grupo fascista uniformizado cha- como organizar a nova sociedade dos traba-
mava-se Camisas Negras e o alvo da lhadores. Com isso, para se diferenciarem
entre si, uns se denominam socialistas e
sua violência eram os socialistas e outros, comunistas.
os comunistas.

Se, a princípio, o fascismo foi visto com desdém pela elite burguesa italiana,
ao longo da década de 1920, muitos dos burgueses passaram a apoiar o movi-
mento. A burguesia industrial e financeira, assim como os pequenos burgue -
ses que manejavam negócios de pouco volume, tinham receio de uma revolução
socialista e por isso começaram a sustentar o governo fascista.

O fascismo também encontrou apoio em outra base social: os desempregados


do campo e da cidade, que, muitas vezes, encontravam no fascismo uma iden-
tidade social. O fascismo podia significar para esses indivíduos uma forma de
ganhar a vida, pois, em geral, recebiam um salário por atuarem como militantes.

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UNIDADE 2

Por outro lado, os trabalhadores e suas organizações de classe, os sindicatos,


foram silenciados.
© Schirner Sportfoto/picture-alliance/Easypix

Jogadores italianos saúdam Mussolini antes da partida contra a seleção francesa, durante a Copa
do Mundo de Futebol de 1938, na França. Como o uniforme titular das duas equipes era azul, a
Itália deveria utilizar seu segundo uniforme, de cor branca. No entanto, Mussolini ordenou que a
equipe se vestisse de negro, em uma alusão aos Camisas Negras fascistas.

Assim, com o apoio de parcela da


população, Mussolini assumiu a lide-
Assista ao filme A onda (Die Welle, direção
rança do governo em 1922, após uma
de Dennis Gansel, 2008). Ele retrata a his-
ameaça de marchar com os Camisas tória de um professor que tem de dar um
Negras em Roma. curso sobre governos autoritários para estu-
dantes do Ensino Médio na Alemanha. Para
isso, o professor propõe aos alunos uma
O nazismo alemão série de atividades e experiências. Essas ati-
O contexto histórico que permitiu vidades eram semelhantes ao que foi feito
a formação do movimento nazista e com o povo alemão pelo Partido Nazista ao
longo das décadas de 1930 e 1940, de forma
sua ascensão ao poder na Alemanha
a envolvê-los cada vez mais na filosofia e
tem muitas semelhanças com a situa- na prática nazista sem que eles tivessem
ção italiana. Quando Adolf Hitler assu- muita consciência disso. Com o tempo, essa
miu o poder na Alemanha, em 1933, experiência pedagógica foge ao controle e
o movimento se espalha formando um
Mussolini já comandava a Itália havia
grande grupo de jovens com comportamen-
mais de uma década. Naquela época, tos muito parecidos com os dos nazistas.
os fascistas italianos já tinham ini- Esse é um ótimo filme para entender o pro-
ciado suas tentativas de conquistar cesso de manipulação política e ideológica
que pôde, e ainda pode, levar uma nação a
novos territórios, na direção do Leste aderir ao nazismo.
Europeu e do norte da África.

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UNIDADE 2

Ao longo dos anos 1920, houve também na Alemanha uma intensa


mobilização operária apoiada pelos partidos socialistas de maior tradição no
continente europeu. Os próprios soviéticos depositavam grandes esperanças
na revolução alemã, que interpretavam como o início de uma revolução
comunista mundial.

Mesmo depois do assassinato das principais lideranças revolucionárias


alemãs, em 1919, o movimento comunista alemão ressurgiu com força
entre 1922 e 1924 e, depois, entre 1929 e 1930. No entanto, a incapacidade
de socialistas e comunistas se aliarem na política nacional e o temor que os
capitalistas alemães tinham de uma revolução social facilitaram a ascensão
do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Esse partido,
conhecido como Partido Nazista, identificava-se ideologicamente com o
fascismo italiano.

No início da Crise de 1929, os trabalhadores alemães estavam fragilizados,


pois enfrentavam a inflação e o desemprego desde o final da 1a Guerra
Mundial. Assim, a frágil república alemã caiu em descrédito entre setores
importantes da sociedade mundial, que a viam como um símbolo de fracasso,
derrotas e humilhações.

Além desses fatores políticos e econômicos, havia alemães que ainda se


sentiam humilhados com o Tratado de Versalhes, elaborado pelos países
considerados vencedores da 1a Guerra Mundial, com exceção da URSS. Apesar de
ser um tratado de paz, pode-se dizer que ele estabeleceu a paz dos vencedores,
declarando os alemães responsáveis pela guerra e impondo a eles uma série de
sanções, tais como: diminuição do poder militar da Alemanha, endividamento
em relação aos países vencedores da guerra, perda de boa parte de seus
territórios etc.

Nesse contexto de intensa agitação social e insatisfação, o Partido Nazista


elegeu cada vez mais representantes para o Parlamento alemão (Reichstag). Essa
nova composição parlamentar sinalizou o aumento da popularidade do partido,
até que Hitler, seu líder, assumiu o poder como chanceler (primeiro-ministro),
em 1933.

Ainda em 1933, o Parlamento alemão aprovou um ato que deu ao chanceler amplos
poderes executivos e legislativos, primeiro passo para sua ascensão como ditador.
Era o começo do regime nazista e também da organização e do estabelecimento do

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UNIDADE 2

Terceiro Reich, que duraria até o final da 2 a Guerra Terceiro Reich


Mundial, com a derrota da Alemanha. No idioma alemão, significa “Ter-
ceiro Império”. Foi por esse nome
Também em 1933, os nazistas culparam os que ficou conhecido o regime
comunistas por um incêndio no Parlamento, que nazista liderado por Hitler, entre
eles mesmos haviam provocado. Desencadeou-se, 1933 e 1945. O Primeiro Reich, cha-
mado Sacro Império Romano-
assim, uma perseguição implacável aos comunistas
-germânico, existiu sob diferen-
e a outros representantes dos trabalhadores, possi- tes formas entre 962 e 1806. O
bilitando que, após alguns meses, o Partido Nazista Segundo Reich (1871-1918) foi esta-
belecido com a unificação alemã.
fosse declarado o único partido político legal do país.
© Universal Images group/Universal History Archive/Diomedia

O incêndio no Parlamento alemão (Reichstag), em 1933, foi um símbolo


da destruição da democracia na Alemanha.

Em 1934, com a morte do então presidente, Paul von Hindenburg, Hitler acumulou
os cargos de chanceler e presidente, tornando-se líder soberano da Alemanha nazista.
Do ponto de vista econômico, o capitalismo alemão apoiou-se na repressão
ao movimento operário para estabelecer um período de grande expansão. Em
vez de se oporem ao nazismo, algumas grandes corporações lucraram direta

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UNIDADE 2

ou indiretamente com ele. Muitas delas fariam negócios relacionados à milita-


rização do Estado alemão, investindo, inclusive, na indústria de armas, ainda
que, pelo Tratado de Versalhes, o exército alemão estivesse limitado a 100 mil
homens. Outras corporações simplesmente se beneficiariam do disciplinamento
da mão de obra garantido pela repressão nazista.
Mas, se o regime nazista reprimiu os trabalhadores alemães, por que ele teve
tanto apoio popular?
Alguns dos fatores que podem explicar esse apoio popular são:
• a melhoria da economia alemã com sua reindustrialização, principalmente bélica
(que produz artefatos para a guerra), e com o sucesso no combate à inflação (queda
do poder de compra do dinheiro e aumento generalizado nos preços), o que gerou
um período de prosperidade para boa parte da população;
• a militarização da sociedade alemã, que abria perspectiva de emprego e de carreira
no serviço militar, principalmente aos jovens, além de algum tipo de inclusão social.
No plano das ideias, os nazistas se assemelhavam
Raça ariana
aos fascistas italianos ao pregarem o nacionalismo faná-
Conceito que surgiu no
tico, mas aliavam a essa ideia um racismo que defendia século XIX e que pregava
a superioridade da raça ariana. Essa crença na superio- a superioridade de um
ridade racial justificava a expansão nazista, que pregava grupo de pessoas. Elas
a necessidade de ampliar o território alemão de forma a acreditavam que faziam
parte de uma “raça pura”
definir um “espaço vital” da nacionalidade alemã.
de seres humanos, a qual
No entanto, em termos sociais, nem todos os ale- seria mais nobre que as
mães eram considerados membros da raça ariana: demais. Os arianos eram
brancos e se considera-
judeus nascidos em território alemão, ciganos, homosse-
vam fortes e inteligentes.
xuais, deficientes físicos, entre outros, eram vistos como
pertencentes a uma raça inferior. Assim como os comunistas, todos esses grupos
foram perseguidos durante o regime nazista.
Essas ideias de intolerância racial, política e moral foram as bases para as
agressões do exército alemão contra outros povos, como os eslavos, contribuindo
para o desencadeamento da 2a Guerra Mundial, em 1939.

História – Volume 3
O fascismo e o nazismo
O vídeo aborda as condições que favoreceram a ascensão do fascismo e do nazismo após a
1a Guerra Mundial. Ele mostra como esses sistemas totalitários estão relacionados, entre outros
fatores, à crise do capitalismo, ao nacionalismo e à crise econômica que se abateu sobre os
países no pós-guerra, com desemprego e falências.

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UNIDADE 2

Assista ao filme O grande ditador (The great dictator, direção de Charles Chaplin, 1940). Esse filme,
realizado durante a 2a Guerra Mundial, é uma sátira ao nazismo e ao fascismo.

ATIVIDADE 1
O eterno perigo do fascismo
Leia a notícia a seguir, publicada em 2012, sobre a situação da Grécia.

CAROS AMIGOS | POLÍTICA São Paulo, 1º de agosto de 2012 - 13h58

A ameaça nazista que surge dos


escombros da crise grega Caio Zinet e Gabriela Moncau

Aurora Dourada cresce na esteira da crise econômica e social

[...] O crescimento e a força de Na noite do dia da última elei-


partidos de direita não é novidade ção, em 17 de junho, por exem-
na Europa. São comuns partidos plo, um imigrante paquistanês foi
ganharem expressão eleitoral se espancado dentro de uma estação
baseando em uma plataforma xenó- de trem de Atenas. Testemunhas
foba que culpa os imigrantes pela disseram à polícia que 11 homens
falta de empregos, defendendo sua vestidos de preto, espécie de uni-
expulsão do país e o endurecimento forme do partido, deram socos e
de políticas anti-imigrantes. pontapés no imigrante e em seguida
o esfaquearam. A vítima foi enca-
[...] O que vemos na Grécia, no minhada para o hospital e, embora
entanto, parece estar um patamar tenha sido muito machucada, sobre-
acima dessas experiências. Para além viveu ao atentado.
de palavras e discursos racistas e anti-
-imigrantes, os membros do Aurora Militantes de esquerda tam-
Dourada têm tomado as ruas com prá- bém têm sido alvo de ataques. Uma
ticas violentas. Dia sim, e o outro tam- barraca do Partido Comunista Grego
bém, as manchetes dos jornais gregos (KKE) foi atacada no dia 15 de junho,
estampam notícias sobre espanca- dois dias antes das eleições, num
mentos cometidos por grupos de cerca bairro mais afastado do centro de
de dez pessoas contra imigrantes (em Atenas. [...]
especial paquistaneses e afegãos).

Caros Amigos. Disponível em: <http://www.carosamigos.com.br/index.php/politica/especial -grecia/ 2333-a-


ameaca-nazista-que-surge-dos-escombros-da-crise-grega>. Acesso em: 13 mar. 2014.

Xenófobo
Aquele que tem aversão ao estrangeiro, preconceito ou antipatia ao imigrante.

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UNIDADE 2

De acordo com o que foi lido e com seus conhecimentos sobre o assunto, res-
ponda às seguintes questões.

1 Você considera que o perigo nazifascista já foi afastado ou acha que ele pode
ocorrer de novo? Por quê?

2 Quais são as semelhanças entre os grupos que agem na Grécia, descritos na


matéria, e os grupos nazifascistas do período entreguerras? Se precisar, retome os
textos Os Camisas Negras e O nazismo alemão.

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2a GUERRA MUNDIAL E GUERRA FRIA

HISTÓRIA
UNIDADE 3
TEMAS
1. Os antecedentes da 2a Guerra Mundial e a expansão nazista
2. A 2a Guerra Mundial
3. A Guerra Fria

Introdução
Nesta Unidade, você vai estudar a 2a Guerra Mundial (1939-1945) e a sua
principal consequência no pós-guerra: a oposição entre duas grandes potências
mundiais – Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) –, o que caracterizou a chamada Guerra Fria.

Revendo a História, parece inacreditável que após quase 20 anos do encerra-


mento da 1a Grande Guerra, as principais potências mundiais tenham se envolvido
em um novo confronto armado: a 2a Grande Guerra.

Esse confronto foi ainda mais devastador que o anterior: os mortos no


primeiro conflito foram estimados em mais de 8,5 milhões; enquanto, na
2a Guerra, foram aproximadamente 50 milhões de pessoas. Por que os mesmos
países se envolveram em outra guerra em tão pouco tempo, causando uma des-
truição ainda maior?

Na Unidade 2, você estudou a crise do capitalismo mundial e sua relação com


o crescimento do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. Viu também
que esses regimes autoritários combinaram dois fatores importantes: naciona-
lismo agressivo e racismo, o que justificou a ampliação do poder dos militares.
Assim, quando a 2a Guerra Mundial estourou, nacionalismo, racismo, imperia-
lismo e anticomunismo estavam no auge, além da economia de guerra, pela qual
as indústrias produziam gêneros necessários para os confrontos bélicos, especial-
mente armas e alimentos.

Nesta Unidade, você vai estudar que, devido ao grande poderio militar do
regime nazista, uma nova aliança foi articulada para combatê-lo. No entanto,
logo que foi encerrado esse conflito militar, a aliança entre os vencedores se
rompeu, dando início a uma oposição que marcou a segunda metade do século
XX: a Guerra Fria.

Como é possível entender essa inversão radical, em que aliados se torna-


ram opositores?

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Os antecedentes da 2a Guerra Mundial e a
TEMA 1 expansão nazista

O objetivo deste Tema é apresentar a você os fatores geradores da 2 a Guerra


Mundial.

Você viu, nas Unidades anteriores, as características das ideologias nazifascis-


tas e como elas cresceram e se difundiram pelas sociedades italiana e alemã. Viu,
também, que com o fim da 1 a Guerra Mundial, as disputas de caráter imperialista
(isto é, pelo domínio econômico e político de mais territórios ao redor do mundo)
entre as potências europeias não ficaram bem resolvidas.

Pensando nesses dois fenômenos – a ascensão nazifascista e as disputas impe-


rialistas – reflita sobre como eles podem ser relacionados com a 2 a Guerra Mundial.
Em seguida, registre sua reflexão nas linhas abaixo.

Motivações para a guerra


A 2a Guerra Mundial afetou a maioria dos países do mundo, ou seja, teve
alcance global, diferentemente da 1a Guerra Mundial, considerada por muitos um
conflito europeu. Mas o que levou parte dos países do mundo a se envolver em
outra guerra, de dimensão tão grande, e em tão pouco tempo?

A resposta mais imediata a essa pergunta é que as causas que levaram à explo-
são da 2a Guerra Mundial estavam no fato de que os problemas que haviam gerado
a 1a Guerra Mundial ainda não haviam sido solucionados.

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UNIDADE 3

Isso parece explicar porque os principais países envolvidos eram pra-


ticamente os mesmos, o que indica que as contradições e as disputas que
caracterizavam o imperialismo tiveram um papel importante também nesse
segundo confronto.

No entanto, aos motivos do conflito da 1 a Guerra se acrescentam outros, espe-


cíficos da 2a Guerra.

O Império Alemão do Kaiser (imperador, em alemão) Guilherme II e o Terceiro


Reich de Adolf Hitler eram muito diferentes. No nazismo de Hitler, a união entre
nacionalismo e racismo gerou a indústria de guerra e relacionou-se diretamente
com ela. Esse fato assombrou o mundo e motivou o combate ao poder militar
nazista. Nessa tentativa de conter o poder bélico alemão, algo que parecia impos-
sível aconteceu: uma aliança militar entre potências capitalistas e a URSS.

Essa aliança não foi fácil nem imediata. Muitos historiadores entendem que
as potências liberais (como Inglaterra, França e EUA) toleraram a ascensão do
nazismo e seus primeiros movimentos de guerra esperando que eles pudes-
sem reprimir a agitação da esquerda na Europa e destruir o Estado soviético.
No entanto, quando ficou evidente que os nazistas tinham uma ambição maior,
a de estabelecer uma nova ordem mundial comandada por eles, a aliança final-
mente aconteceu entre Inglaterra, França, EUA e URSS.

Entre as principais razões que motivaram a 2a Guerra Mundial estão:

• as rivalidades entre os países imperialistas (disputa por territórios e mercados


durante a expansão capitalista);

• as contradições sociais, em um contexto de crises, a inflação, o desemprego


e a mobilização dos trabalhadores, apoiada na difusão das ideias socialistas
e comunistas;

• a ideia crescente de que os comunistas europeus e a URSS representavam um


mal que precisava ser exterminado pelo mundo capitalista;

• a ascensão dos regimes nazifascistas, que, por serem nacionalistas e mili-


taristas, estimulavam os conflitos entre nações e a luta contra a expansão
do comunismo.

Em 1938, a Alemanha de Hitler começou sua expansão para o resto da Europa:


anexou a Áustria e ocupou uma região na Tchecoslováquia, onde viviam aproxi -
madamente 3 milhões de pessoas de origem germânica.

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UNIDADE 3

Embora inicialmente contrárias à ocupação alemã, França e Inglaterra acaba-


ram adotando uma política de não conflito na Conferência de Munique, convo-
cada por Hitler e realizada no fim de setembro desse mesmo ano (1938). Esses
países, marcados profundamente pela 1 a Guerra Mundial e sem condições milita-
res e financeiras para derrotar a Alemanha, acreditavam que se não questionas-
sem a invasão da Tchecoslováquia, os nazistas se aquietariam. Contudo, França e
Inglaterra estavam enganadas.

Os resultados da Conferência de Munique puderam ser entendidos pela


URSS como uma mostra da tolerância dos países liberais em relação às atitu-
des nazistas, de forma a dar sinais de que a Alemanha poderia marchar con-
tra a URSS. Essa foi a justificativa mais provável para a assinatura do Pacto
Molotov-Ribbentrop, conhecido como Tratado Nazissoviético de Não Agressão,
firmado entre essas lideranças quase um ano depois da Conferência, em agosto
de 1939. Esse acordo estipulava que a Alemanha e a União Soviética não entra-
riam em guerra e dividiriam o domínio de alguns territórios do Leste Europeu,
como a Tchecoslováquia. Quando divulgado, esse pacto causou rejeição em mili-
tantes socialistas em todo o mundo.

Apesar do pacto, em 1o de setembro de 1939, poucos dias após a sua assina-


tura, os nazistas invadiram a Polônia, aproximando-se da fronteira com a URSS.
Com base no Pacto Molotov-Ribbentrop, e para se defender de uma possível inva-
são nazista, os soviéticos, por sua vez, entraram na Polônia e, posteriormente, na
Estônia, Lituânia, Letônia e Finlândia.

Com a invasão da Polônia pelos nazistas, a Inglaterra e a França declararam


guerra à Alemanha, de forma a tentar evitar o avanço do imperialismo alemão.
Assim, em 1o de setembro de 1939, iniciava-se a 2a Guerra Mundial.

Após a conexão econômica entre os continentes, iniciada com a expansão


comercial e consolidada com o imperialismo no século XIX, nos dias atuais, todas
as guerras, ainda que não mundiais, afetariam vários países, mesmo indireta-
mente. Já que todos seriam afetados, como é possível que a maioria dos países
ainda aceite tantas guerras? Quais seriam os interesses por trás das guerras?
Seriam os interesses de alguns países mais importantes que os da maioria?

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 1 Expansão nazista


No mapa a seguir, localize a Alemanha, a Áustria, a Tchecoslováquia, a Polônia
e a URSS.

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 27. Mapa original (mantida a grafia).
A URSS seria constituída apenas a partir de 1922 [nota do editor].

Agora responda: Considerando a direção da expansão nazista vista no texto


Motivações para a guerra, qual(is) das potências aliadas teria(m) mais motivos para
se preocupar?

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 2 Motivações para a guerra


Com base no texto Motivações para a guerra, marque a alternativa que explicita
alguns dos motivos da guerra iniciada pelos nazistas.

a) A defesa de uma nova ordem mundial mais democrática e livre dos elementos
indesejáveis da sociedade.

b) Os interesses imperialistas da Alemanha e o desejo de expansão do comunismo.

c) As rivalidades imperialistas não resolvidas durante a 1 a Guerra Mundial e a ideia


de combate ao comunismo.

d) O desejo de exterminar os judeus e a afirmação da ideologia neoliberal.

Em discurso proferido em 17 de março de 1939, o primeiro-ministro inglês à época, Neville


Chamberlain, sustentou sua posição política: “Não necessito defender minhas visitas à Alemanha
no outono passado, que alternativa existia? Nada do que pudéssemos ter feito, nada do que a
França pudesse ter feito, ou mesmo a Rússia, teria salvado a Tchecoslováquia da destruição. Mas
eu também tinha outro propósito ao ir até Munique. Era o de prosseguir com a política por vezes
chamada de ‘apaziguamento europeu’, e Hitler repetiu o que já havia dito, ou seja, que os Sudetos,
região de população alemã na Tchecoslováquia, eram a sua última ambição territorial na Europa, e
que não queria incluir na Alemanha outros povos que não os alemães.”

Internet: <www.johndclare.net> (com adaptações).

Sabendo-se que o compromisso assumido por Hitler em 1938, mencionado no texto acima, foi
rompido pelo líder alemão em 1939, infere-se que:

a) Hitler ambicionava o controle de mais territórios na Europa além da região dos Sudetos.

b) a aliança entre a Inglaterra, a França e a Rússia poderia ter salvado a Tchecoslováquia.

c) o rompimento desse compromisso inspirou a política de “apaziguamento europeu”.

d) a política de Chamberlain de apaziguar o líder alemão era contrária à posição assumida pelas
potências aliadas.

e) a forma que Chamberlain escolheu para lidar com o problema dos Sudetos deu origem à destrui-
ção da Tchecoslováquia.
Enem 2008. Prova 1 – amarela. Disponível em:
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2008/2008_amarela.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2014.

62
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a
TEMA 2 A 2 Guerra Mundial

Neste Tema, você vai estudar o processo histórico que caracterizou a 2 a Guerra
Mundial (1939-1945), compreendendo como foi o seu desenvolvimento e os moti-
vos que contribuíram para o seu fim. Vai ver também algumas de suas principais
consequências para o mundo.

Os principais países que se enfrentaram na 2 a Guerra Mundial se dividiram em


dois grupos rivais. Um desses grupos era chamado de “Aliados” e o outro era cha-
mado de “Eixo”. Veja quem ficou de cada lado:

Aliados Eixo
URSS Alemanha

EUA Itália

Inglaterra Japão

França

Lembre o que você estudou na Unidade 1 e reflita: Quais foram os principais


países que se envolveram nos dois confrontos? Quais foram os novos países que
se envolveram no segundo confronto? De que lado ficou cada um desses países na
1a e na 2a Guerra?

Escreva sua reflexão nas linhas a seguir.

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UNIDADE 3

O desenrolar da 2a Guerra Mundial


Como você já sabe, ao longo da guerra, foram formados dois grupos rivais: o
Eixo e os Aliados.

O Eixo, composto por Alemanha, Itália e Japão, era formado por países que
desenvolveram o capitalismo um pouco mais tarde do que as primeiras nações
capitalistas – somente no fim do século XIX e início do século XX. Os integran-
tes do Eixo quase não possuíam colônias ou territórios que pudessem dominar
política e/ou economicamente.

Quando esses países se industrializaram, encontraram uma grande e impor-


tante parte dos mercados internacionais já ocupados por potências rivais, como
Inglaterra e França, que haviam se industrializado antes. Portanto, assim
como a 1a Guerra, esse novo conflito também tinha motivações imperialistas, isto
é, de conquistas de territórios, matérias-primas e mercados consumidores que já
eram dominados por outras potências.

Os Aliados reuniram países que representavam projetos políticos e eco-


nômicos opostos: de um lado, estavam os EUA, a Inglaterra e a França, que
eram, e ainda são, potências capitalistas defensoras do liberalismo; de outro
lado, estava a URSS, produto da Revolução Russa e defensora, na época,
do socialismo.

Em relação ao Eixo, o exército alemão teve um resultado considerável no


primeiro ano do conflito. Depois dos ataques à Europa Oriental, foi a vez de
os vizinhos do Norte e do Ocidente sofrerem a investida alemã: Dinamarca,
Noruega, Holanda, Luxemburgo e Bélgica foram ocupados em maio de 1940.
(Consulte o mapa da Atividade 1 – Expansão nazista, no Tema 1 desta Unidade).

No caso dos Aliados, as tropas francesas e inglesas tentaram resistir ao


avanço nazista em direção à França, mas foram derrotadas em junho de 1940:
aproximadamente 350 mil soldados Aliados cruzaram o Canal da Mancha, que
separa a França da Inglaterra, em direção à ilha britânica, com o auxílio de todo
tipo de embarcação. Nesse mesmo mês, os alemães entraram em Paris: a França
havia se rendido. Em seguida, na cidade de Vichy, foi instalado um governo
francês – comandado pelo marechal Philippe Pétain – disposto a colaborar com
os nazistas.

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UNIDADE 3

Depois dessa conquista, os ale-


mães moveram sua força de guerra

© Collection Roger-Viollet/Glow Images


contra a Inglaterra. Com aviões,
bombardearam várias cidades,
incluindo a capital, Londres. Porém,
a reação da Força Aérea Real britâ-
nica (Royal Air Force – RAF) foi eficaz
e a invasão não se concretizou.

Com a entrada da Itália no lado


alemão da guerra, em setembro de
1940, abriram-se novas frentes de
combate na Europa. Alguns países
aliaram-se ao Eixo, como Romênia,
Bulgária e Hungria, enquanto outros
foram ocupados por tropas nazistas.

Em outros países, como França,


Holanda e Noruega, os alemães
estabeleceram governos que cola-
boravam com eles, encontrando
apoio em setores da sociedade
que simpatizavam com o regime
nazista. Mas, apesar desse apoio,
enfrentaram a resistência de mui- Hitler, acompanhado por oficiais do
exército alemão e por membros do alto
tos patriotas, principalmente dos
escalão nazista, passeia pelas ruas de Paris
militantes comunistas, que organi- após a rendição francesa à Alemanha.

zaram focos de guerrilha contra os


alemães.

Assim, vista no seu conjunto, em meados de 1941, a Europa estava dominada


pelo Eixo. Foi nesse contexto que Hitler iniciou uma grande operação militar contra
os soviéticos, conhecida como Operação Barbarossa. As batalhas nessa frente seriam
decisivas para o desfecho da guerra.

Em pouco tempo, ficou evidente que os planos do Terceiro Reich para o Leste
Europeu eram diferentes dos propostos para o restante do continente. Assim
como acontecia com outros povos, como os judeus, a ideologia nazista consi-
derava os eslavos uma raça inferior. Por isso, o “espaço vital alemão” (ou seja,

65
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UNIDADE 3

a área para o povo alemão se desenvolver) deveria estender-se aos territórios


do Leste Europeu, e a população eslava precisaria ser dominada ou, até mesmo,
escravizada.

Essa foi, portanto, a finalidade inicial dos campos de concentração: obter


mão de obra para a indústria de guerra alemã. No entanto, conforme a
Alemanha avançava para o leste e impunha seu domínio sobre outros povos, os
campos instalados na região começaram a ter outras finalidades: limpeza étnica
(isto é, eliminar determinados povos) e extermínio, tanto por motivos racistas
quanto por razões políticas. Por isso, posteriormente eles ficaram conhecidos como
“campos de extermínio”.

A maioria dos poloneses contrários ao nazismo foi enviada para campos


de concentração ou extermínio. O caso dos soviéticos mostrava-se ainda mais
difícil, pois ao racismo nazista somava-se um anticomunismo radical. Diante
dessas circunstâncias, o povo russo percebeu que não lutava apenas por sua
pátria, mas por sua própria sobrevivência.

Campos de Concentração e Extermínio e Principais Centros de “Eutanásia”


Königsberg
MAR BÁLTICO
Danzig
MAR DO NORTE Kiel
Stutthof PRÚSSIA
O RI EN TAL
Hamburgo
Neuengamme
Bremen Ravensbrück
Bydgoszcz
Sachsenhausen Treblinka
Bergen-Belsen
Amsterdã Berlim Meseritz Poznan
Hanover Obrawalde
Brandemburgo Chelmno Varsóvia
Magdeburg Oder

Bernburg AL EM AN H A Lodz Sobibor


Leipzig Lublin
Colônia
POLÔNI A Majdanek
Buchenwald Dresden Gross-Rosen Breslau
Erfurt
Hadamar Sonnenstein
BÉLGICA Belzec
Limburg Katowice
Eichberg Frankfurt
Meno Praga Cracóvia Lvov
Luxemburgo Auschwitz
Flossenbürg
Mannheim Nuremberg
Brno
Stuttgart TC H ECOSLOVÁ QUIA Centros de “Eutanásia”
Estrasburgo Danúbio
Campos de Concentração
Natzweiler Ulm
Campos de Extermínio
Grafeneck Dachau Linz Viena Campos de Concentração
FRANÇA Munique Hartheim e Extermínio combinados
Eglfing-Haar Mauthausen
Danúbio
Salzburgo N
Budapeste
Zurique
SUÍÇ A 0 200 kms
Berna ÁUSTRIA HUNGRIA 124 mi

NOAKES, Jeremy. (Ed.). Nazism, 1919-1945. v. 3. Exeter: University of Exeter Press, 1998, p. 645. Disponível em:
<http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/map.cfm?map_id=3432>. Acesso em: 13 mar. 2014.
Mapa original. Tradução: Renée Zicman.

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UNIDADE 3

A vitória soviética
Inicialmente, os nazistas avançaram de forma
rápida sobre o território soviético. Há indícios de
Leia O diário de Anne Frank,
que Josef Stálin tenha sido surpreendido pelo ataque
escrito por Anne Frank.
nazista, demorando, inclusive, para se convencer
Esse livro, publicado origi-
de que a invasão de fato acontecia. Do lado alemão,
nalmente em 1947, conta
a facilidade do avanço inicial deixou os nazistas eufó- as vivências de uma ado-
ricos. Impulsionados pelo rápido êxito que tiveram les ce nt e ju di a d ur a nte
os anos de p er s e gui çã o
na Europa Ocidental, os invasores germânicos acredi-
nazista, enquanto esteve
tavam que logo marchariam sobre a capital Moscou. escondida com sua famí-
Dessa vez, porém, os alemães se enganaram. lia em cômodos secretos e
no sótão de uma casa em
Nos campos de batalha, os soviéticos conse- Amsterdã, na Holanda. O
guiram se reerguer após uma derrota inicial que diário, escrito entre os anos
de 1942 e 1944, é um como-
quase acabou com seu exército. O Exército Verme-
vente relato sobre o impacto
lho, comandado pelo marechal Zhukov, derrotou as da 2a Guerra Mundial e do
tropas de Hitler na cidade de Stalingrado, no início nazismo na vida cotidiana
de 1943. Foi a primeira vez que o exército alemão das pessoas.

sofreu uma derrota importante na guerra. Para con-


seguir esse feito, Zhukov contou com:

• o apoio de uma eficiente produção industrial constituída por meio do planejamento


do Estado soviético;

• a determinação patriótica de seus soldados, que ofereceram uma forte resistência


aos nazistas;

© Ria-novosti/Easypix
• o inverno rigoroso que
d i fic ultou o a b a ste c i -
mento e desloca mento
das tropas nazistas pela
densa neve e pelo excesso
de lama.

Além disso, outros


fatores possibilitaram aos
soviéticos inverter a situa-
ção, tornando-se os prin-
cipais responsáveis pela
derrota alemã. Na Batalha de Stalingrado, o exército soviético impôs às
tropas alemãs sua primeira derrota.

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UNIDADE 3

Um dos motivos que explica essa reviravolta foi a tarefa monumental, rea-
lizada pelos soviéticos, que dificilmente poderia ser feita em um país no qual
prevalecesse a propriedade privada da grande indústria: eles transferiram grande
parte de seu parque produtivo para o leste do país, na retaguarda do Exército
Vermelho. Com isso, colocada a salvo das tropas alemãs, a indústria soviética
pôde se dedicar à produção de armas.

Mesmo com esses esforços de guerra, os soviéticos ainda estavam em uma


situação muito difícil. Stálin fez diversos apelos aos Aliados, mas o exército
soviético teve de resistir à invasão do exército alemão por um longo período
e sem ajuda. Até que no dia 6 de junho de 1944, nas praias da Normandia, na
França, ocorreu o desembarque das tropas Aliadas. Esse acontecimento, que
contribuiu para a derrota da Alemanha, ficou conhecido na História ocidental
como “Dia D”.

Assista ao filme O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, direção de Steven Spielberg, 1998).

Esse filme estadunidense aborda a Batalha da Normandia, ao norte da França, representando a


invasão das tropas Aliadas na região, ocupada pelos alemães durante a 2a Guerra Mundial.

O conflito no Pacífico
O Japão, assim como a Alemanha, industrializou-se tardiamente. E, como
potência industrial que precisava expandir seus mercados e explorar fontes de
matérias-primas, militarizou-se para conquistar novos territórios na Ásia e
no Pacífico.

No entanto, outras potências industriais, como a Grã-Bretanha e os EUA, já


tinham, ou pretendiam ter, colônias nessas regiões.

Nesse contexto, o Japão aliou-se à Alemanha, tornando-se um membro do Eixo.


Como o Japão conquistava mais e mais territórios no extremo leste da Ásia e ao
longo do Oceano Pacífico, Grã-Bretanha e EUA decretaram embargo econômico a
esse país, isto é, proibiram que suas empresas e outros países comercializassem
com os japoneses. Em resposta, o Japão atacou a base naval estadunidense de Pearl
Harbor, no Havaí, no Oceano Pacífico. Com esse acontecimento, o governo esta -
dunidense declarou guerra ao Japão e o conflito se deu com ações tão destrutivas
quanto as que ocorriam na Europa.

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UNIDADE 3

Domínio japonês em 07-12-1941


Império japonês

Protetorado japonês

Território ocupado

Estado aliado
Limites máximos da expansão japonesa (1942)

Incursões japonesas

Ofensiva aliada

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 31. Mapa original (mantida a grafia).

Assista ao filme Pearl Harbor (Pearl Harbor, direção de Michael Bay, 2001). Ele representa o ata-
que japonês contra a base naval estadunidense de Pearl Harbor, no Havaí, que impulsionou
os EUA a entrar na guerra.
Veja também Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima, direção de Clint Eastwood, 2006). Esse filme
representa uma das maiores batalhas entre japoneses e estadunidenses em uma ilha do Pacífico
durante a 2a Guerra Mundial.

ATIVIDADE 1
Fatos da guerra

1 A expansão nazista para o leste da Europa e a ocupação desses territórios


permitiram aos alemães estabelecerem (ou construírem) uma série de campos
de concentração e de extermínio nessa região. Com base no texto O desenrolar da
2a Guerra Mundial, leia, na próxima página, as afirmações sobre as principais finali-
dades dos campos de concentração e de extermínio na região e assinale a correta.

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UNIDADE 3

a) Prender os soldados inimigos e forçá-los a trabalhar para o exército alemão, bem


como reeducar os prisioneiros de acordo com a doutrina nazista.
b) Prover mão de obra para o esforço da indústria de guerra alemã e exterminar
pessoas por motivos racistas ou por razões políticas.
c) Prender soldados que abandonaram o exército alemão e soldados inimigos, bem
como exterminar somente judeus por motivos racistas.

2 Quando os nazistas invadiram a URSS, sofreram sua primeira derrota impor-


tante na guerra. Com base no texto O desenrolar da 2a Guerra Mundial, leia as afirma-
ções a seguir e assinale a resposta correta sobre um dos aspectos que explica essa
capacidade de resistência soviética.
a) A transferência que os soviéticos fizeram de grande parte de sua indústria de
armas para o leste do país, protegendo-a dos ataques alemães.
b) A esperança soviética de que o exército alemão não resistisse ao rigoroso
inverno russo e morresse de frio.
c) A ajuda dos EUA e outros Aliados ao Exército Vermelho.

3 Com base no que você estudou, leia as afirmações a seguir e assinale a resposta
correta sobre o que motivou os japoneses a se envolver na guerra na Ásia e no Pacífico.
a) A necessidade de expandir seus mercados e explorar fontes de matérias-primas
para suas indústrias nessas regiões.
b) A necessidade de provar sua honra de samurai ao grande imperador japonês.
c) O ódio e o racismo que os japoneses sentiam em relação aos estadunidenses e
outros povos ocidentais.

O desfecho da guerra
Em julho de 1943, o líder fascista
Benito Mussolini foi deposto. Captu-
No começo da 2a Guerra Mundial, o Brasil
rado ao tentar fugir para a Suíça, ele adotou uma posição de neutralidade. Na
foi julgado e condenado à morte pelos época, o país vivia a ditadura comandada
partigiani (guerrilheiros antifascistas). A por Getúlio Vargas, simpático ao regime
rendição de alemães e japoneses tarda- fascista. No entanto, a pressão dos EUA
acabou se impondo e, em 1943, foi criada a
ria mais do que a dos italianos.
Força Expedicionária Brasileira (FEB). No ano
Até a invasão da Normandia, as seguinte, em torno de 25 mil soldados brasi-
principais tropas aliadas combateram leiros foram enviados à Itália, onde integra-
ram as tropas Aliadas e combateram ao lado
em territórios fora do espaço europeu.
do exército estadunidense.
Leia, na próxima página, quais foram
esses conflitos:

70
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84 UNIDADE 3

• Os EUA, envolvidos na guerra desde dezembro de 1941, por causa do ataque japo-
nês a Pearl Harbor, combatiam, sobretudo, no Oceano Pacífico.
• A Grã-Bretanha lutava no Mar Mediterrâneo e no norte da África, onde conseguiu
abrir caminho para invadir a Itália.
Em 1944, os soldados Aliados desembarcaram na França. Isso favoreceu
o avanço das tropas soviéticas, que vinham pressionando, desde a Batalha de
Stalingrado, o exército alemão de volta ao seu território. Por ter de lidar com a
guerra em duas frentes (a oriental e a ocidental), o exército alemão começou a
enfraquecer. Quando os soviéticos ocuparam Berlim, a capital alemã, em abril de
1945, o líder nazista Adolf Hitler cometeu suicídio.
© Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock

Soldado russo ergue a bandeira de seu país sobre o antigo Parlamento


alemão após a invasão de Berlim pelas forças soviéticas, em 1945.

Era o fim do governo de Hitler, mas não da guerra: ainda restava a frente do
Pacífico, na qual se enfrentavam, desde o ataque a Pearl Harbor em 1941, principal-
mente, EUA e Japão.

Nesse momento da guerra, em que era quase certa a derrota do Japão, os EUA
lançaram uma bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto
de 1945, causando a morte imediata de milhares de civis. A rendição japonesa já
se anunciava, mas, mesmo assim, três dias depois, os EUA atiraram uma segunda
bomba atômica, dessa vez na cidade de Nagasaki. As duas bombas mataram ins-
tantaneamente mais de 300 mil pessoas, além de terem deixado milhares de
sobreviventes com graves sequelas, como mutilações, queimaduras, mutações
genéticas e diversos tipos de câncer, decorrentes da radiação nuclear.

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UNIDADE 3

© Science Source/Diomedia

© Bettmann/Corbis/Latinstock

Explosão da bomba atômica lançada pelos EUA em Nagasaki, no Japão. A cidade japonesa
de Hiroshima aparece arrasada após o ataque atômico realizado pelos estadunidenses.

Muitos historiadores acreditam que o objetivo dos EUA, ao lançar essas bom-
bas, já não era a vitória sobre os japoneses, uma vez que ela estava praticamente
garantida. O propósito real seria enviar uma mensagem intimidadora aos soviéti -
cos, que, aos olhos do mundo, saíam como os principais responsáveis pela derrota
do nazismo. A forma como terminava a 2 a Guerra Mundial era um anúncio ante-
cipado da Guerra Fria, o confronto indireto entre as duas superpotências, EUA e
URSS, que ocorreria nas décadas seguintes.

Durante a 2a Guerra Mundial, foi necessária a produção de milhões de armas,


aviões, foguetes, veículos, uniformes para soldados; a construção de prisões e de
campos de extermínio; o fornecimento de combustível, alimentos etc. Para tudo
isso, os países envolvidos precisaram de financiamento de bancos e da produção
de empresas. Boa parte desses bancos e empresas que investiram e produziram,
tanto para os Aliados como para o Eixo, existe até hoje. E diversas dessas empresas
continuam produzindo para as guerras atuais e ganhando bilhões de dólares com
isso. Seriam as guerras apenas bons negócios que, em nome do lucro de alguns,
custam a vida de milhões de pessoas?

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 2 O fim da guerra


Analise as frases a seguir sobre o fim da 2a Guerra Mundial.

I – A derrota da Itália se deu com a deposição de Mussolini, em 1943; a da Alemanha,


com a invasão soviética em Berlim e o suicídio de Hitler, em 1945; e a do Japão, com
as bombas atômicas lançadas pelos EUA, em 1945.
II – As duas bombas atômicas jogadas no Japão, que mataram mais de 300 mil
pessoas, tiveram como objetivo, segundo alguns historiadores, enviar uma men-
sagem intimidadora aos soviéticos.
III – Os grandes responsáveis pela derrota alemã foram as tropas francesas, ingle-
sas e estadunidenses, que invadiram o país no “Dia D”, tendo os soviéticos pouca
participação nessa vitória.

De acordo com o texto O desfecho da guerra, pode-se afirmar que estão corretas
as frases:
a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) todas.
e) nenhuma.

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TEMA 3 A Guerra Fria

Neste Tema, você vai estudar sobre a Guerra Fria, uma das principais conse-
quências da 2a Guerra Mundial, fenômeno que marcou a divisão do mundo entre
países capitalistas e países socialistas e influenciou os principais conflitos milita-
res, políticos e ideológicos ao longo do século XX.

Você já assistiu a filmes estadunidenses como Rambo, Rocky III, Braddock, 007,
entre outros, nos quais os russos e os comunistas são sempre os inimigos e os
vilões a serem combatidos pelos heróis? Em sua opinião, quais são as principais
mensagens desses filmes?

Um novo equilíbrio
Pouco tempo depois de encerrada a 2a Guerra Mundial, um dos conflitos
mais destrutivos da humanidade até então, a aliança formada para enfrentar o
Eixo se desfez.

Após a guerra, os EUA e a URSS surgiram como as grandes potências mundiais.


Nas décadas seguintes, elas dividiram o mundo em áreas de influência política,
dando origem ao bloco capitalista e ao bloco socialista. Como explicar que países,
antes aliados, tivessem se tornado adversários tão rapidamente?

É necessário lembrar que as alianças militares construídas no período da


2a Guerra Mundial não foram estáveis ou fiéis. Ingleses e franceses fizeram con-
cessões aos nazistas em Munique, Stálin pactuou com Hitler logo depois, mas os
alemães entraram em conflito contra os três. Quando a máquina de guerra alemã
dirigiu todo o seu poder contra os soviéticos, os Aliados não demonstraram deter -
minação nem rapidez em auxiliá-los. Os Aliados dialogaram efetivamente com
Stálin somente depois que ficou evidente a recuperação do Exército Vermelho e o
apuro vivido pelos alemães.

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UNIDADE 3

Os principais líderes do grupo dos Aliados, Josef Stálin (URSS), Winston


Churchill (Inglaterra) e Franklin Roosevelt (EUA), encontraram-se pela primeira vez
em Teerã (Irã), em novembro de 1943. No ano de 1945, houve novas reuniões em
Yalta (URSS, atual Ucrânia) e, depois, em Potsdam (Alemanha), quando os alemães
já estavam derrotados.
O principal motivo desses encontros era discutir como ficaria o equilíbrio entre
as potências mundiais no contexto do pós-guerra. Em outras palavras, os vencedo-
res discutiam sua influência nas diferentes regiões do planeta.

Os governos dos EUA e da Inglaterra, expoentes do liberalismo, não tiveram


dificuldades para negociar e entrar em um acordo que, mais do que beneficiar um
ou outro país, beneficiava o próprio capitalismo. Isso, porém, não aconteceu com
os soviéticos, que representavam um projeto econômico e político muito diferente
do capitalismo liberal.
Nesse sentido, o que estava em discussão não era uma divisão política do
mundo entre potências capitalistas, como ocorrera até então, mas uma disputa
entre distintos modelos socioeconômicos e político-ideológicos (capitalismo versus
socialismo), de forma que EUA, França e Inglaterra interpretavam uma eventual
concessão aos soviéticos como sendo uma ameaça ao capitalismo. Tratava-se, por-
tanto, de uma negociação tensa.
Apesar de estar em desvantagem econômica e militar, se comparados aos EUA,
os soviéticos conseguiram, ainda durante a guerra, ampliar a área sob sua influên-
cia no Leste Europeu. O objetivo inicial dos soviéticos era romper o isolamento
imposto pelos países capitalistas em decorrência do triunfo da Revolução Russa de
1917, firmando, assim, relações de cooperação com os países sob sua influência na
fronteira leste europeia.
Os demais Aliados (EUA, França e Inglaterra) cederam à expansão soviética no
Leste Europeu, mas logo se arrependeram, por temerem que as ideias socialistas se
espalhassem pelo mundo. O fato é que a presença do Exército Vermelho garantiu
o futuro poder soviético nessa região.

Os soviéticos, sob a liderança de Stálin, nem sempre se interessaram pelo


triunfo de revoluções populares em outros países, especialmente quando essas
revoluções não estavam ligadas ao Partido Comunista Russo. Na Iugoslávia, por
exemplo, triunfou uma revolução socialista independente dos soviéticos. O mesmo
ocorreria depois com a China, também governada pelo Partido Comunista, e com
a Albânia. Esses casos demonstraram que, de maneira diferente do que se pode
acreditar, o bloco socialista nunca foi homogêneo.

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UNIDADE 3

Assim, é possível dizer que a oposição entre EUA e URSS não significou neces-
sariamente somente uma disputa entre capitalismo e socialismo, mas sim entre
duas nações que buscavam o controle econômico, político e militar sobre outros
países do mundo. Muitas vezes, os discursos anticapitalista e anticomunista foram
utilizados para justificar, perante a opinião pública interna, as políticas adotadas
pelos países desses dois blocos em relação ao domínio de outras nações.

ATIVIDADE 1 Estados Unidos versus União Soviética

De acordo com o texto Um novo equilíbrio, escreva, com suas palavras, o porquê
de os EUA e de a URSS, que foram aliados durante a 2 a Guerra Mundial, terem se
tornado inimigos logo após a guerra e durante quase todo o século XX.

A propaganda anticomunista e a economia de guerra


Muitos autores entendem que o avanço da propaganda anticomunista nos
EUA estava relacionado aos interesses dos grandes produtores de armas. Para tais
autores, foi a economia de guerra, no final dos anos 1930, que possibilitou aos
estadunidenses superar a Crise de 1929. Por esse motivo, entendem que a manu-
tenção e o desenvolvimento de um extraordinário aparato militar se tornou uma
necessidade política e econômica para se alcançar a hegemonia, isto é, a influência
estadunidense sobre outros países.

Segundo essas análises, o agressivo nacionalismo estimulado constantemente


pela mídia estadunidense ajudou a justificar, perante a população, os gastos com
a indústria de armas, assim como o envolvimento concreto do país em conflitos
no mundo durante a Guerra Fria, como a Guerra do Vietnã e a Revolução Cubana.
As altas somas investidas na corrida armamentista também estariam relacionadas
a essas motivações ideológicas e econômicas.

76
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UNIDADE 3

Havia uma disputa real por influência geopolítica (isto é, pela influência política
sobre diferentes territórios e países), em que se misturavam motivos de natureza
diversa, principalmente:

• nacionais – o desenvolvimento econômico das duas potências apoiava-se na


hegemonia sobre regiões do planeta, ao mesmo tempo em que a disputa ideo-
lógica reforçava internamente a fidelidade da população ao seu respectivo país;

• de classe – embora a experiência concreta da URSS se distanciasse cada vez mais


do comunismo tal qual pensado pelo líder revolucionário russo Lênin, a mera exis-
tência de uma “república de operários e camponeses” era considerada um estímulo
para uma revolução anticapitalista em todo o mundo.
©Leslie Illingworth/Daily Mail, 29 out. 1962/British Cartoon Archive, University of Kent

A queda de braço entre os líderes da URSS (Nikita Kruchev) e dos EUA (John Kennedy), na década de
1960, representa a disputa pela hegemonia mundial entre esses dois países durante a Guerra Fria.

História – Volume 3

Guerra Fria: a paz impossível

O vídeo, que começa com a explosão da bomba atômica no Japão como prenúncio da Guerra
Fria, representa os vários palcos onde essa guerra se desenrolou. Nessa diversidade de
embates, a polarização de forças entre URSS e EUA encontrou várias expressões: os feitos na
conquista espacial, a corrida armamentista e a indústria cultural. No vídeo, é discutida também
a Guerra do Vietnã.

77
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UNIDADE 3

Uma das expressões da Guerra Fria foi a formação de dois blocos de aliança militar:

• Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), constituída em 1949 sob a liderança


dos EUA. Tratava-se da criação de um exército conjunto que reunia EUA, Bélgica, Canadá,
Dinamarca, França, Inglaterra, Islândia, Holanda, Itália, Luxemburgo, Noruega e Portugal.
Entre 1952 e 1982, Grécia, Turquia, Alemanha Ocidental e Espanha aderiram ao bloco. Os
países membros da OTAN se comprometiam a garantir a colaboração militar mútua em
caso de ataques oriundos dos países do bloco socialista.
• Pacto de Varsóvia, aliança constituída em 1955 sob a liderança da URSS, como res-
posta do bloco socialista à criação da OTAN. Essa aliança militar reunia URSS, Romênia,
Tchecoslováquia, Bulgária, Polônia, Hungria e Albânia. Mais tarde, a Alemanha Oriental
aderiu ao bloco.
Observe o mapa a seguir, que representa as respectivas áreas de influência.

ALIANÇAS MILITARES DURANTE A GUERRA FRIA, 1947-1989

Oceano Glacial Ártico

Bloco socialista
Pacto de Varsóvia
(criado em 1955)
Pacto sino-soviético
(anos 1950)

ESTADOS UNIDOS URSS JAPÃO Tratados bilaterais


DA AMÉRICA
COREIA DO SUL de segurança com a URSS
COREIA DO NORTE Tratados cancelados
MONGÓLIA durante o período
CHINA Oceano
Pacífico Aliados da URSS que
Oceano não assinaram um tratado
CUBA Atlântico de segurança
IUGOSLÁVIA
França e Reino Unido
EGITO ÍNDIA (territórios do Pacífico)
ALBÂNIA

Bloco capitalista
Pacto do Rio (criado em 1947)
SOMÁLIA Cuba foi membro, mas foi
suspensa a partir de 1962
Ateliê de Cartografia da Sciences Po, 2014

Oceano
OTAN (criada em 1949)
Índico AUSTRÁLIA
ANZUS (criado em 1951)

NOVA ZELÂNDIA SEATO (criada em 1954,


dissolvida em 1977)
Aliados dos Estados
Unidos da América

Fontes: compilação dos autores


a partir de anuários estatísticos
dos anos 1980.

ATELIER de Cartographie de Sciences Po, 2014. Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.

Por que essa guerra era “fria”?


Quando os Estados Unidos da América lançaram as duas bombas atômicas
nas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, no final da 2a Guerra Mundial,

78
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 67 10/03/15 11:28
UNIDADE 3

ficou evidente para o mundo que qualquer novo conflito seria letal para quem os
enfrentasse. Intimidados pela ameaça que isso significava, os russos responde-
ram de maneira semelhante e, em poucos anos, também desenvolveram a bomba
atômica. Intensificou-se, então, uma corrida armamentista e nuclear entre as
potências, que se desdobrou em direção a uma corrida espacial.

Com o crescimento do poder destru-


tivo das armas, ficou claro que um conflito

© Bettmann/Corbis/Latinstock
direto entre EUA e Rússia ameaçaria a pró-
pria humanidade. Dessa forma, a criação
da Organização das Nações Unidas (ONU),
em 1945, na cidade de São Francisco, nos
EUA, deveria auxiliar na manutenção da
paz mundial e da segurança internacional.
Para tanto, a ONU deveria criar mecanis-
mos de cooperação entre as nações, bem
© NASA

como zelar pelos direitos fundamentais


de qualquer ser humano, promovendo o
progresso social. Na visão de muitos ana-
listas, contudo, a organização tornou-se
em pouco tempo um instrumento ine-
ficaz, principalmente por sua falta de
autonomia em relação à política externa
dos EUA.

Nesse contexto, a expressão “Guerra A Rússia saiu à frente na corrida espacial. Em 1957,
Fria” significava que a disputa entre a cadelinha Laika foi o primeiro ser vivo lançado ao
espaço. Na corrida pela conquista espacial, durante
EUA e Rússia não deveria chegar, de a Guerra Fria, os EUA apressaram-se para enviar o
primeiro homem à Lua, o que conseguiram em 1969.
fato, a um combate militar, mesmo em
seus momentos mais tensos. Por isso, a
disputa entre esses dois países se dava por meio do apoio a guerras civis ou da
intervenção militar direta dessas duas potências em outros países.

São exemplos dessa disputa entre as superpotências: os casos em que apoia-


ram as guerras civis na África; as intervenções militares dos EUA no Vietnã,
no Camboja, em Cuba e na Nicarágua; o apoio do governo estadunidense às
ditaduras militares na América Latina; as intervenções militares russas no
Afeganistão etc.

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UNIDADE 3

Conta-se que Albert Einstein (1879-1955), um dos mais brilhantes cientistas do


século XX, foi questionado por um jornalista sobre quais armas seriam utilizadas
em uma possível 3a Guerra Mundial. Pacifista que era, teria respondido que não
sabia como seria travada essa guerra, mas que em uma suposta 4 a Guerra Mundial
seriam usados paus e pedras.

Qual foi a arma mais letal utilizada durante a 2a Guerra Mundial? Quais foram
os danos causados nos territórios por ela atingidos?

Após essa primeira reflexão, retome o que Einstein respondeu em relação às


guerras futuras. O que você acha que ele quis dizer com isso?

ATIVIDADE 2
Propaganda: a alma do negócio
Segundo o texto A propaganda anticomunista e a economia de guerra, o real motivo
das propagandas desenvolvidas pelos EUA durante todo o século XX foi:

a) combater a influência de uma ideologia perigosa para a humanidade, pois gerou


um modelo político inimigo da liberdade.
b) criar uma justificativa e conseguir apoio da população para a manutenção
de uma economia de guerra altamente lucrativa.
c) conseguir apoio da população para invadir os países comunistas, de forma a
devolver-lhes a liberdade capitalista.

Os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial foram tensos entre as grandes potências
mundiais. Considerando-se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de
Varsóvia, criados nesse período, é CORRETO afirmar que:
a) a OTAN visava a apaziguar os conflitos relacionados à divisão da cidade de Berlim, bem como a pro-
teger os países sob sua influência econômica das ameaças de invasão externa e de conflitos militares.
b) ambos desenvolveram políticas que incentivaram a chamada corrida armamentista, que,
durante o período da Guerra Fria, colocou o Planeta sob a ameaça de uma guerra nuclear.
c) ambos foram estabelecidos, simultaneamente, para defender os interesses dos países que dispu-
tavam, após a Segunda Guerra, uma reordenação dos espaços europeu e americano.
d) os países signatários do Pacto de Varsóvia se aliaram e, para defender seus interesses financeiros,
formaram um bloco econômico, a fim de competir com a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos.
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2009. Disponível em:
<http://download.uol.com.br/vestibular2/prova/ufmg_2009_hist.pdf>.
Acesso em: 13 mar. 2014.

80
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UNIDADE 3

A fim de evitar as atrocidades cometidas ao longo da 2 a Guerra Mundial e de


tentar promover a construção de um mundo mais justo e democrático para todos
os povos, os países-membros da ONU envolveram-se em um debate com o obje-
tivo de construir referências para mediar a relação entre os governos de todas as
nações e destes com seus cidadãos.
Liderados pelos EUA e pela URSS, e sob sua influência, os representantes de
diversas nações se organizaram para a criação da Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos, na perspectiva de que fosse garantido a todas as pessoas do mundo
o acesso a certos direitos. Essa declaração terminou por combinar as orientações
ideológicas do bloco liberal-capitalista (direitos civis e políticos) com as do bloco
socialista (direitos econômicos e sociais).
Tal declaração tornou-se muito importante como marco e referência para a cons-
trução de muitas Constituições nacionais (inclusive a última Constituição brasileira, de
1988) e para estabelecer parâmetros internacionais em relação à organização de várias
esferas da vida, criados por órgãos internacionais como a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em relação ao trabalho; a Organização das Nações Unidas para a Edu-
cação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relação à educação; a Organização Mundial
da Saúde (OMS), em relação à saúde; entre outras. Para conhecer a Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos na íntegra, acesse o site da Unesco. Disponível em: <http://
unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2014.

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HISTÓRIA
REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO
UNIDADE 4
NO MUNDO DA GUERRA FRIA

TEMAS
1. A descolonização na Ásia e na África
2. Revolução e contrarrevolução na América Latina

Introdução
Na Unidade anterior, você estudou que a 2a Guerra Mundial foi um conflito
devastador: nunca antes uma guerra tinha atingido tantos pontos do planeta ao
mesmo tempo, nem causado tantas mortes entre militares e civis.

Você viu também que, embora nada parecido tenha acontecido na História, o
final do conflito não anunciou uma época de paz. Segundo alguns historiadores,
as explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki no Japão, ao final
da 2a Guerra Mundial, foram uma maneira de os Estados Unidos da América
(EUA) intimidarem a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Como resultado, em pouco tempo, a aliança dos dois países contra o


nazismo e o fascismo se desfez, e a rivalidade entre os defensores do capi-
talismo e os adeptos do regime socialista soviético dividiu o mundo em duas
zonas de influência.

Iniciou-se, dessa forma, a Guerra Fria, que ficou conhecida com esse nome
por não ter envolvido conflitos armados diretos entre EUA e URSS, as duas
superpotências daquela época.

Essa polaridade, contudo, provocou muitos conflitos indiretos entre essas


potências (isto é, conflitos que envolviam outras nações), além de guerras civis
e golpes de Estado. Ou seja, o mundo continuou vivendo uma intensa violência,
mas agora longe da Europa, nos demais continentes.

Para entender como isso aconteceu, você vai estudar, nesta Unidade, o
período que ficou conhecido como Guerra Fria, que se estende de 1945, com o
fim da 2a Guerra Mundial, até 1989, quando houve a queda do Muro de Berlim,
que dividia a cidade de Berlim em parte ocidental (capitalista) e parte oriental
(socialista).

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TEMA 1 A descolonização na Ásia e na África

Neste Tema, você vai estudar a descolonização e a luta por independência


nos continentes africano e asiático, como parte da disputa entre EUA e URSS no
contexto da Guerra Fria. Disputa que acabou criando vários conflitos pelo mundo
e influenciando, com muita frequência, os rumos políticos de muitas nações ao
longo do século XX, inclusive do Brasil.

Conforme você estudou na Unidade anterior, em um século de tantas trans-


formações, o final da 2 a Guerra Mundial e o início da Guerra Fria criaram um novo
cenário mundial que estava longe de poder ser chamado de pacífico.

Apesar do surgimento de duas superpotências, EUA e URSS, na segunda metade


do século XX, elas não possuíam colônias como as antigas potências europeias,
entre as quais Inglaterra e França.

Em sua opinião, como esses países garantiam suas áreas de influência, sem
estabelecer colônias? De que forma a indústria armamentista e a de propaganda
contribuíram para garantir essas áreas de influência?

A descolonização da Ásia
Como você já estudou, apesar de a Guerra Fria não ter sido um conflito armado
de grandes proporções entre EUA e URSS, ela influenciou confrontos em diver-
sas partes do mundo durante a segunda metade do século XX. Esses confrontos
ocorreram, principalmente, em continentes que estavam à margem do quadro do
desenvolvimento econômico mundial: África, Ásia e, também, América Latina.

83
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UNIDADE 4

Isso significa que os conflitos durante a Guerra Fria aconteceram, portanto,


fora dos territórios estadunidense e soviético. Eles também estavam distantes
dos principais centros do capitalismo europeu que haviam protagonizado as duas
guerras mundiais.
Com o início da 2a Guerra Mundial, os japoneses aproveitaram o fato de a
França e a Inglaterra estarem sendo atacadas pela Alemanha nazista – e, portanto,
sem força para defender suas colônias pelo mundo –, para invadirem diversos ter-
ritórios na Ásia, controlados por essas nações europeias. Até 1942, o Japão havia
conquistado a Indochina Francesa, a Malásia, as Filipinas, Hong Kong, a Birmânia
(atual Mianmar) e várias pequenas ilhas no Pacífico. Nessa época, o Japão ampliou
também seu domínio na China.
Em decorrência de seu acelerado desenvolvimento como país capitalista, ini-
ciado no final do século XIX, o Japão desejava superar as limitações geográficas
de seu território, que era formado por muitas ilhas, e expandir-se em direção aos
territórios vizinhos. Foi, inclusive, em função da expansão japonesa que os EUA,
também interessados em exercer sua hegemonia (isto é, seu controle político e
militar) no Pacífico, entraram na 2a Guerra Mundial.
Com a derrota japonesa no confronto, surgiram movimentos nacionalistas fer-
vorosos em regiões da Ásia afetadas pela guerra. Em alguns casos, esses movimen -
tos foram influenciados pelas ideias socialistas vindas da URSS. Considerando que
as potências coloniais europeias estavam enfraquecidas, esses movimentos de
contestação ao imperialismo europeu tiveram sucesso em várias situações, embora
sempre ao custo de muita luta, uma vez que era de interesse dos EUA manter esses
países capitalistas como áreas consumidoras dos produtos industrializados.
Os casos que ocorreram na China, na Índia e no Vietnã são bons exemplos para
ilustrar as ações das duas superpotências (EUA e URSS) no continente asiático.

China
Décadas depois da Revolução Russa e logo após a 2 a Guerra Mundial, houve
outra revolução conduzida por comunistas: a Revolução Chinesa.
A Revolução Comunista Chinesa foi liderada por Mao Tsé-tung (1893-1976)
e representou o triunfo final dos comunistas no país, em 1949. O processo de
mudança política na China teve início em 1912, quando o país deixou de ter um
imperador e passou a ser uma república.
No entanto, tal mudança não resolveu os graves problemas sociais que afe-
tavam a China naquela época. Muitos desses problemas estavam associados à

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UNIDADE 4

dependência chinesa em relação às potências imperialistas ocidentais. Além


disso, os chineses enfrentavam, na época, as perseguições feitas pelo governo.
Isso porque a república instaurada era governada pelo Partido Nacionalista
(Kuomintang) que, sendo capitalista, perseguia os comunistas, organizados
desde 1920 no Partido Comunista Chinês (PCC).
Na década de 1930, a sociedade chinesa estava abalada por uma guerra civil,
com movimentos populares sendo reprimidos pelas forças governamentais, que
tinham apoio das elites chinesas e das potências capitalistas; ambas temiam o
crescimento das ideias comunistas na China.

Aproveitando a desorganização interna da China, o Japão invadiu a região da


Manchúria, território chinês, em 1931. Tal ataque forçou uma aliança entre o partido
do governo (capitalista) e o Partido Comunista para impedir o avanço dos japoneses.
Porém, em 1945, com a rendição japonesa após o ataque nuclear estadunidense, os
chineses nacionalistas, apoiados pelos EUA, voltaram a combater os comunistas.

A resistência conduzida pelos chine-


ses comunistas na zona rural foi deci-
Em alguns países da Europa também
siva para consolidar a liderança política e
houve revoluções de tendência socia-
militar do Partido Comunista Chinês. Em lista no final da 2a Guerra Mundial.
1949, tropas do PCC ocuparam Pequim, a
A maioria delas foi derrotada pela
capital do país, e expulsaram os antigos
intervenção dos EUA e da Inglaterra,
governantes. Foi proclamada a Repú- como ocorreu na Grécia. No entanto, na
blica Popular da China, conduzida pelo vizinha Iugoslávia, a revolução triun-
fou. Liderado pelo marechal Tito, esse
Partido Comunista Chinês e liderada
país realizou uma experiência socialista
por Mao Tsé-tung, em oposição à China durante várias décadas (1945-1992).
Nacionalista, em Taiwan, de tendência
capitalista.
Assim como aconteceu após a revo- Glossário
lução socialista na Rússia, os comunistas
Guerra civil
chineses enfrentaram militarmente os
Guerra entre grupos organizados, de ten-
contrarrevolucionários apoiados pelos dências políticas distintas, dentro de um
EUA em uma guerra civil. mesmo país ou território.

O mapa da próxima página repre- Contrarrevolucionário


senta a situação política de uma parte Aquele que se posiciona contra as ideias
do continente asiático, antes da Revo- e os princípios de uma deter mi nada
lução Comunista Chinesa, que triunfou revolução.

em 1949. Nele, você pode identificar as

85
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UNIDADE 4

regiões ocupadas pelas potências capitalistas europeias – como a Indochina


Francesa e as Índias Britânicas, ao sul – e as regiões ocupadas pela Rússia socialista,
ao norte. Se você observar bem o mapa, notará que, entre essas áreas ocupadas por
socialistas e capitalistas, há o território chinês que apresenta diferentes zonas de
influência e algumas áreas ocupadas por essas potências, o que gera uma tensão em
torno da ocupação do território chinês e de qual regime político prevaleceria nesse
país. Esse cenário ficou ainda mais tenso ao final da 2 a Guerra Mundial e nos anos
iniciais da Guerra Fria, pois a revolução na China significou um fortalecimento da
URSS em detrimento do poder dos EUA no Oriente.

Fontes: compilação a partir de Georges DUBY,


Atlas historique mondial, Paris, Larousse, 1987;
Putzger, Historischer Weltatlas. Berlim, Cornelsen, 1992;
Jean SELLIER, Atlas des peuples d’Asie méridionale et
orientale, Paris, La Découverte, 2004.

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/chine-occupation-trang-


re-premi-re-moiti-du-xxe-si-cle>. Acesso em: 13 mar. 2014. Mapa original. Tradução: Renée Zicman.

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UNIDADE 4

Índia

Na Índia, o movimento de liberta- Glossário


ção contra o domínio da Grã-Bretanha Hinduísmo
tornou-se mundialmente famoso Uma das religiões mais antigas do mundo, que
por meio da atuação de Mohandas tem um grande número de seguidores na Índia,
Karamchand Gandhi, conhecido como no Nepal, no Paquistão e na Indonésia.

Mahatma Gandhi (1869-1948). Inspi- Os hindus são politeístas (acreditam em vários


deuses). Faz parte de seus princípios um pro-
rado por ideias que misturavam aspec- fundo respeito à vida em geral, daí o caráter
tos do hinduísmo à desobediência pacifista e de não agressão dessa religião.
civil como forma de luta, a atuação de Desobediência civil
Gandhi combinou resistência cultural e Não obedecer uma lei, com o objetivo de mostrar
crítica econômica contra a dominação publicamente que ela é injusta e levar os legisla-
britânica em territórios indianos. dores a modificá-la.

Para por em prática as suas ideias, Gandhi tecia as vestimentas que usava. Esse
gesto representava a resistência cultural ao negar o modo de vida inglês imposto
aos indianos (no caso, negando as vestes ocidentais e valorizando a vestimenta
indiana), mas, ao mesmo tempo, simbolizava a crítica à dominação econômica
britânica, pois negava o consumo dos produtos de sua indústria têxtil, afirmando
a autonomia dos indianos em relação à Inglaterra.

Embora Gandhi pregasse a não violência como forma de resistência, ele foi preso
inúmeras vezes e os nacionalistas indianos foram brutalmente reprimidos pelo
governo colonial britânico. Após décadas de luta, a Grã-Bretanha foi obrigada a abrir
mão do domínio de sua colônia no território indiano em 1947, consequência do seu
enfraquecimento como potência mundial e da dificuldade em manter suas colônias.
© Bridgeman Art Library/Keystone

Assista ao filme Gandhi (Gandhi,


direção de Richard Attenborough,
1982). Esse filme ajuda a conhe-
cer mais sobre a vida e a atuação
política de Gandhi, um dos líde-
res mais importantes da História,
durante o processo de indepen-
dência da Índia.

Gandhi tecia a própria roupa como forma de


resistir e criticar a dominação britânica na Índia.

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UNIDADE 4

Vietnã

O Vietnã, localizado na antiga Indochina, no sudeste da Ásia, era colônia fran -


cesa desde o final do século XIX e, durante a 2 a Guerra Mundial, sofreu também a
ocupação japonesa, mais precisamente no ano de 1940. Quando a guerra acabou
e os japoneses foram derrotados, os vietnamitas, liderados por Ho Chi Minh e
apoiados pelos partidos nacionalistas, inclusive o Partido Comunista, declararam
a independência do país em setembro de 1945.

Apesar das dificuldades internas que enfrentava, a França não cedeu ao


movimento nacionalista do Vietnã. Pelo contrário, apoiada pelos EUA, a França
promoveu uma guerra civil muito cruel que se estendeu até 1954, quando os
franceses foram vencidos pelos vietnamitas. Nesse mesmo ano, a Conferência
de Genebra reconheceu a independência do Vietnã; porém, o país foi dividido
em dois: o Vietnã do Norte, governado por Ho Chi Minh e de influência socia-
lista, e o Vietnã do Sul, que ficou sob a influência estadunidense.

Apoiado pelos vietnami-


tas comunistas do Vietnã do

© Bettmann/Corbis/Latinstock
Norte, crescia um movimento
de guerrilha no Vietnã do Sul,
que lutava contra o governo
estabelecido na região. Em fun-
ção disso, o governo dos EUA
decidiu intervir no Vietnã em
1960, provocando um dos con-
flitos anti-imperialistas mais
sangrentos do século, a Guerra
do Vietnã.

Anti-imperialista
Ser contra o império ou a autoridade
imperialista. Neste caso, significa
posicionar-se contra a dominação
estrangeira.

Crianças vietnamitas fugindo em pânico de ataque aéreo com


napalm (arma química inflamável) a seu povoado, em 1972.

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UNIDADE 4

A forte resistência dos norte-vietnamitas por mais de dez anos, somada


à impopularidade nacional e internacional que a guerra provocou, fez os
EUA se retirarem do país em 1975, assumindo, portanto, sua derrota no con-
fronto. Como resultado de quase trinta anos enfrentando a França e os EUA,
o Vietnã tornou-se, enfim, um país soberano e unificado, isto é, deixou de ser
colônia e passou a ser reconhecido por todas as nações do mundo como
país independente.

É importante perceber que a Guerra do Vietnã não foi uma simples guerra
de independência. Seu significado é maior, pois ela está dentro do contexto da
Guerra Fria e pode ser entendida como uma guerra contra a expansão do comu-
nismo na Ásia.

A participação dos EUA na Guerra do Vietnã teve como Vietcongue


objetivo manter o capitalismo e o domínio estadunidense
Sul-vietnamita que,
sobre a região, mas suas forças militares não foram capa- com apoio do norte-
zes de vencer os guerrilheiros vietcongues e foram derro- -vietnamita, lutava
tadas. Essa vitória do Vietnã foi um símbolo internacional contr a o dom í ni o
dos EUA.
de resistência ao imperialismo estadunidense.

Assista ao filme Apocalypse Now (Apocalypse Now, direção de Francis Ford Coppola, 1979). Há
diversos filmes produzidos por Hollywood que se referem à Guerra do Vietnã. Muitos deles
estão marcados pelo discurso anticomunista característico da Guerra Fria, mostrando os viet-
namitas como inimigos desumanos e os soldados estadunidenses como heróis. Evidentemente,
essa não é a versão vietnamita da História e nem daqueles que se opunham à intervenção dos
EUA no país. Nesse sentido, esse filme é um dos exemplos de discussão crítica da guerra feita
pelos próprios estadunidenses.

Outro exemplo do pensamento crítico estadunidense sobre a guerra no Vietnã é o filme Platoon
(Platoon, direção de Oliver Stone, 1986), que você também pode ver.

ATIVIDADE 1 Descolonização e independência

Preencha o quadro da próxima página com as principais características dos


processos de independência dos países estudados (China, Índia e Vietnã), conside-
rando também os principais fatores que levaram à independência desses países.
Para isso, retome o que você estudou sobre a descolonização da Ásia após a 2 a
Guerra Mundial. Volte ao texto quando for necessário.

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UNIDADE 4

Principais características dos processos de Principais fatores que levaram à


Nações
independência independência/soberania

China

Índia

Vietnã

A descolonização da África
Se o movimento de independência das anti- Descolonização
gas colônias europeias na Ásia, processo conhecido Processo no qual um país
como descolonização asiática, cresceu logo após a dominado por outro con-
quista ou recupera sua
2a Guerra Mundial, a África seguiu essa mesma ten-
independência.
dência pouco tempo depois. Na Conferência Afro-
-asiática de Bandung, realizada na Indonésia em 1955, com a participação de
chefes de 29 Estados desses continentes (África e Ásia), foi dado um importante
impulso para esse processo.

O objetivo desse encontro foi promover a cooperação dos países participantes


como alternativa à hegemonia dos EUA ou da URSS no contexto da Guerra Fria.

Em uma atitude pioneira, a conferência afirmou que o imperialismo e o


racismo eram crimes, propondo a criação de um Tribunal da Descolonização para
julgar os responsáveis pelas políticas imperialistas, interpretadas como crimes
contra a humanidade.

Também foram lançados os princípios políticos que propunham defender


uma posição de neutralidade dos países participantes da conferência em relação
às superpotências. Esses princípios podem ser chamados de “não alinhamento”
à política das superpotências. Posteriormente, a Conferência de Bandung recebeu

90
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 103 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

a adesão de países de outros continentes, como Glossário


Iugoslávia (na Europa) e Cuba (na América),
Terceiro mundo
representando uma consciência generalizada do
Originalmente, o termo refe-
chamado Terceiro Mundo sobre as relações de ria-se aos países que adotaram
dominação entre os países industrializados e os uma posição neutra na Guerra
países exportadores, principalmente de produtos Fria. Com o passar do tempo,
“Terceiro Mundo” se tor nou
agrícolas e matérias-primas.
popular como uma referência
A luta pela independência na África começou aos países dependentes e subor-
dinados ao capitalismo central.
pelos países do norte do continente, uma região em
De acordo com essa visão, os
que predominam a língua árabe e a religião muçul- países capitalistas industrializa-
mana (islamismo). O primeiro processo de liberta- dos integrariam o chamado “Pri-
ção ocorreu na Tunísia, em 1956, ano no qual esse meiro Mundo” e os socialistas
industrializados comporiam o
país se tornou independente da França.
“Segundo Mundo”.
Em seguida, o movimento anticolonial espa-
África Subsaariana
lhou-se pela África Subsaariana, ou seja, nos
Nesses territórios da África pre-
territórios que estão no sul da região do deserto domina a população negra, em
do Saara, entre o Saara Ocidental e o Egito. contraste com o norte do conti-
Localize essa região no mapa intitulado Cronolo- nente, banhado pelo Mar Medi-
terrâneo e de maioria árabe.
gia das independências africanas, representado na
próxima página.
Ao longo dos anos 1960, mais de 30 países africanos conquistaram sua inde-
pendência. Em muitos casos, alguns elementos presentes no conjunto das lutas
anticoloniais na África também podiam ser observados na Ásia, como:
• o declínio das potências colonizadoras europeias e a ascensão dos EUA;

• as tensões ideológicas, políticas e militares características da Guerra Fria;

• uma aproximação frequente entre nacionalismo e socialismo;

• a dificuldade em converter a independência política em real soberania.

A característica específica das lutas anticoloniais na África Subsaariana foi a


baixa integração econômica e social desses novos países, inclusive em compa-
ração com outras regiões do chamado Terceiro Mundo. Essa região sofreu com
a exploração e os preconceitos europeus desde o tempo do tráfico de escravos
(séculos XVI-XIX). As fronteiras de seus países foram definidas pelos colonizadores
europeus durante a Conferência de Berlim no final do século XIX, no contexto do
imperialismo europeu da época, sem levar em conta as identidades culturais dos
povos que habitavam o território. Ainda hoje, essa herança do período colonial
representa um desafio para a concretização da soberania e da justiça social no
continente africano.

91
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 103 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

As cores no mapa e as informações nas legendas vão ajudar você a compreen-


der os períodos em que cada uma das colônias conquistou sua independência.

Cronologia das independências africanas

Ateliê de Cartografia da Sciences Po, 2014


Tunísia
Marrocos
Argélia Líbia Egito
Saara
Ocidental*
Senegal
Cabo
Verde Mauritânia Mali Níger
Chade Sudão Eritreia
Gâmbia Burkina
Guiné- Faso Djibuti
-Bissau Nigéria Etiópia
Guiné República Sudão
Serra Leoa Centro-africana do Sul
Libéria Camarões Somália
Uganda
Costa do Marfim Gabão Quênia
Gana RDC Ruanda
Togo Burundi
Benin Tanzânia Seicheles
São Tomé e Príncipe Comores
Guiné Equatorial
Congo
Angola Zâmbia

Zimbábue Malauí Maurício


Madagascar
Namíbia Botsuana Moçambique

Países não colonizados Suazilândia


África Lesoto
Independências:
do Sul
Antes de 1922

1951 - 1958
1960 * Território não autônomo
1961 - 1968
1974 - 1980 Fontes:
F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995;
1990 - 1993
J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2o11.
2011 Segundo Afrique contemporaine, 235, 2o1o.

ATELIER de Cartographie de Sciences Po, 2014. Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.

92
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 103 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

Na segunda metade do século XX, Portugal ainda mantinha colônias na África. Essas colônias
portuguesas estiveram entre as últimas a obter a independência no continente africano, em
meados dos anos 1970. Nessa época, centenas de jovens do exército português morriam na
África defendendo a dominação colonial sobre esse território que muitas pessoas de diversas
nacionalidades viam como injusta.

O descontentamento com essa situação, acrescido de uma grave crise econômica que se
agravava desde a década de 1960, culminou em Portugal na chamada “Revolução dos Cravos”,
um levante de jovens militares de ideias progressistas que derrubou, em 1974, a ditadura de
Salazar. Com o fim do regime de inspiração fascista que governava Portugal desde os anos
1930, os países africanos Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e
Angola conquistaram a independência.

ATIVIDADE 2 O neocolonialismo

Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

[...] O fim da dominação colonial não significa o fim da influência dos antigos
colonizadores. Para salvaguardar seus interesses, eles continuam a orientar as evo-
luções políticas e econômicas de suas antigas colônias. Esse fenômeno tem um
nome: neocolonialismo. Ele se manifesta de diversas maneiras: relações privilegiadas
entre os antigos colonizadores e as elites dirigentes das novas nações progressi-
vamente colocadas por eles no poder, manutenção de quadros e técnicos euro-
peus em alguns postos-chave, dependência econômica (transferência de tecnologia,
investimentos de capitais etc.), acordos militares e de cooperação científico-cul-
tural etc. Muitas vezes, a antiga potência colonial interfere para eliminar homens
políticos considerados nacionalistas e pouco compreensivos aos interesses do Oci-
dente – os que são contra a ordem neocolonial. [...] Dessa forma, foram assassina-
dos, entre outros, Patrice Emery Lumumba, que foi primeiro-ministro do primeiro
governo independente do atual Zaire*, Amilcar Cabral e Eduardo Mondlane, líderes
das independências da Guiné-Bissau e de Moçambique. Foram derrubados o presi-
dente Kuame Nkrumah, líder da independência de Gana, e Milton Obote, primeiro-
-ministro de Uganda. [...]

*Antigo Zaire, atual República Democrática do Congo [nota do editor].

SERRANO, Carlos; MUNANGA, Kabengele. A revolta dos colonizados: o processo de descolonização e as independências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995, p. 71.

93
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 108 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

Para você compreender melhor as quatro características que exemplificam o


neocolonialismo, retome a leitura completa do texto e grife com o lápis as informa -
ções que julgar essenciais. Depois, transcreva-as nas linhas a seguir.

94
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Revolução e contrarrevolução na América Latina TEMA 2

Neste Tema, você vai estudar como o contexto da Guerra Fria influenciou os
rumos políticos, econômicos e sociais da História dos países latino-americanos no
período após a 2a Guerra Mundial.

Em sua opinião, como a nova organização política do mundo, surgida a partir


da 2a Guerra Mundial e da Guerra Fria, influenciou os acontecimentos em todos os
continentes e, em especial, na América Latina?

Registre suas ideias nas linhas a seguir.

95
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 111 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

As intervenções dos Estados Unidos na América Latina


Ao contrário do que ocorria na Ásia e na África, Glossário
na América quase não havia situações de dominação América Latina
colonial no século XX, com exceção de algumas ilhas Parte do continente ameri-
do Caribe e da região das Guianas. Após a indepen- cano ao sul dos EUA, colo-
nizada principalmente por
dência dos EUA (1776), a maior parte das colônias na
povos latinos, como espa-
América Latina, incluindo o Brasil, alcançou, nas pri- nhóis e portugueses, e que
meiras décadas do século XIX, a independência. Como coincide geograficamente
resultado, um conjunto de novas nações surgiu no com o México, a América
Central e a América do Sul.
continente até fins desse mesmo século.
Emancipação
No entanto, a emancipação política não significou No sentido histórico, signi-
que todos esses países puderam ser, de fato, indepen- fica assumir o comando do
dentes em termos econômicos. No caso brasileiro, por próprio destino político, ou
seja, a independência.
exemplo, a independência política não foi acompa-
Golpe de Estado
nhada da independência econômica, pois o Brasil ficou
Derrubada ilegal de um
sob a influência inglesa. Após o final do século XIX, os
governo legítimo, tomando
EUA defenderam o direito de domínio sobre a América o poder por vias incons-
Latina, pois a consideravam sua área de influência polí- titucionais, ou seja, por
meios que violam a Cons-
tica e econômica. Como resultado, intervieram militar-
tituição do país. São exem-
mente muitas vezes no continente, sobretudo na região plos desses golpes:
da América Central e do Caribe. • a tomada do poder pelos
militares em 1964 no Brasil;
Com a Guerra Fria, a intervenção dos EUA na polí-
tica interna dos países do continente americano tor- • a derrubada do governo
de Salvador Allende no
nou-se frequente. Os estadunidenses apresentavam Chile.
como justificativa a existência de uma ameaça comu-
nista. Para impedir que tal ameaça se concretizasse, eles apoiaram e organizaram
diversos golpes de Estado, que, em alguns casos, interromperam processos
de democratização em países que tinham profundas desigualdades sociais
e econômicas.

ATIVIDADE 1 Intervenções na América Latina

Leia o texto da próxima página para realizar as atividades solicitadas. Durante


a leitura, grife as datas e os períodos indicados. Isso o ajudará a retomar a leitura
e organizar uma cronologia das intervenções estadunidenses na América Latina.

96
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 112 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

[...] Em 1911, a República Dominicana foi militarmente ocupada até 1914. Naquele
mesmo ano, os marines desembarcaram na Nicarágua, onde permaneceram até 1924.
Cuba e Honduras sofreram mais uma intervenção dos EUA em 1912. Nova ocupa-
ção de Cuba ocorreu em 1917, e se prolongou por dois anos, sem que ainda houvesse
sequer o pretexto do comunismo... E se repetiu em 1922. Em 1924, Honduras sofreu
sua quarta intervenção e, no ano seguinte, a quinta. Em 1926, os marines invadiram de
novo a Nicarágua.
Em 1947, por um acordo com os militares nativos, os EUA derrubaram, na Venezuela,
o presidente Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo expor-
tado. Em 1954, utilizando aviões de bombardeio e mercenários, os paladinos da liberdade
puseram fim, na Guatemala, ao governo democrático de Jacobo Arbenz. Em 1961, ocorreu
a fracassada invasão de Playa Girón, em Cuba. Em 1964, no Panamá, soldados dos EUA
mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam tro -
car, na zona do canal, a bandeira estrelada pela bandeira de seu país! No mesmo ano, a
CIA participou do golpe militar que derrubou o governo João Goulart, no Brasil. Em 1965,
num acinte ao Direito Internacional, o Congresso dos EUA reconheceu unilateralmente
o “direito” de os EUA intervirem militarmente em qualquer país do continente. No mesmo
ano, para livrar a República Dominicana “do perigo comunista”, os marines ocuparam
o país, com a ajuda de tropas brasileiras, e impediram a posse de Juan Bosch.
Em 1973, a CIA arquitetou o plano que, em 11 de setembro, resultou no
assassinato do presidente Salvador Allende, do Chile, e levou o general Augusto
Pinochet ao poder. Em 25 de outubro de 1983, tropas da 82a divisão aerotransportada
invadiram Granada e assassinaram o presidente Maurice Bishop. Em 1984, para
reforçar a contrarrevolu- ção nicaraguense, 11 mil soldados dos EUA se espalharam
por Honduras. Em 1988 e 1989, pilotos americanos e a Guarda Nacional de Kentucky
participaram de bombar- deios à população civil do interior da Guatemala, sob
pretexto de combater guerrilhas. Em El Salvador, inúmeros oficiais dos EUA
assessoraram as tropas do governo contra os combatentes da FMLN. Em 20 de
dezembro de 1989, 25 mil soldados dos EUA inva- diram o Panamá, derrubaram e
aprisionaram o presidente Manuel Noriega, sob pre- texto de tráfico de drogas, e
impuseram no poder o presidente Guillermo Endara. Mais de mil panamenhos foram
mortos durante a ocupação. E entre 1982 e 1990, o governo dos EUA patrocinou uma
guerra de agressão à Nicarágua, financiando e treinando mercenários e mantendo o
bloqueio econômico.
Por onde andaram, as tropas de invasão dos EUA só deixaram miséria, desigualdade,
corrupção e morte. Mas fizeram bem, amado Teófilo, em colocar a Estátua da Liberdade
à porta principal dos EUA. Assim, estamos todos cientes de que ela delimita a esfera
da liberdade. A todos nós, que não somos norte-americanos, resta-nos a liberdade de
jamais contrariar a liberdade de eles restringirem ou suprimirem a nossa.
BETTO, Frei. O paraíso perdido: nos bastidores do socialismo. São Paulo: Geração, 1993, p. 70-72.

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00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 112 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

1 Organize, no quadro a seguir, as informações apresentadas no texto anterior. Para


isso, retome as datas grifadas durante a leitura. Veja os exemplos dados abaixo, com
informações retiradas dos primeiros parágrafos. Agora, continue a completar o quadro.

País Períodos de intervenção

República Dominicana 1911-1914


Nicarágua 1914-1924, 1926
Cuba 1912, 1917-1919, 1922
Honduras 1912, 1924, 1925
Venezuela
Guatemala
Panamá
Brasil
Chile
Granada

2 Em sua opinião, qual teria sido a razão dessas intervenções?

A Revolução Cubana
Em 1959, um movimento guerrilheiro, liderado por Fidel Castro, derrubou a
ditadura de Fulgêncio Batista em Cuba, ilha localizada na América Central, e deu
início a um programa de reformas sociais que não agradou os EUA, já que contri-
buía para que Cuba se tornasse cada vez mais independente da influência e do
domínio econômico estadunidense. Nesse programa, constavam: reforma agrária;
reforma urbana; nacionalização dos bancos (o que significou que os bancos deve-
riam ser controlados pelo Estado e não por empresas privadas); nacionalização
de algumas empresas estrangeiras, inclusive estadunidenses; nacionalização do
ensino; campanha nacional para erradicar o analfabetismo; entre outras medidas.

98
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 114 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

No início, o programa do governo revolucionário era nacionalista e não socia-


lista. Mas a ousadia dos cubanos não foi tolerada pelo poderoso vizinho, que resol-
veu intervir.

Em 1961, os EUA, governados naquela época por John Kennedy, pagaram por
uma expedição de mercenários – termo militar utilizado para se referir ao sol-
dado militar ou civil treinado que luta por dinheiro –, com o objetivo de derrubar
o governo iniciado por Fidel Castro. Imaginavam que seria uma empreitada fácil,
mas não foi. A ação estadunidense ficou conhecida como a invasão da Baía dos
Porcos e foi um fracasso.

Os mercenários não contavam que os revolucionários tinham a confiança e o


apoio maciço do povo cubano, conquistados por causa do desempenho do governo
rebelde em seus primeiros anos e do convívio pacífico que a população tinha com
os guerrilheiros. Esse apoio contribuiu para a rápida derrota dos invasores finan -
ciados pelos EUA.

A tentativa de derrubada do governo revolucionário e a precária situação da


economia contribuíram para Cuba buscar uma aproximação com a URSS. Isso por -
que os EUA, mesmo após a tentativa fracassada de invasão, iniciaram um bloquei o
comercial à ilha, suspendendo o envio de seus produtos aos cubanos e punindo
outros países que mantivessem comércio com a ilha.

Após cinquenta anos, esse embargo comercial ainda continua vigente.

O triunfo da revolução socialista em uma ilha situada a aproximadamente


160 km da costa dos EUA teve profundas repercussões no continente americano.

A política na América Latina radicalizou-se, para a esquerda e para a direita:


surgiram movimentos revolucionários de esquerda que buscaram tomar o
poder político, enquanto os grupos dominantes de direita ampliaram a repres-
são aos movimentos sociais que questionavam o capitalismo e suas injustiças.

Em meio a essa agitação, diversos processos democráticos de mudança


social no continente foram interrompidos, dando lugar a ditaduras repressivas,
que asseguraram a manutenção da desigualdade social e da dependência eco-
nômica externa, inclusive por meio da censura e da repressão violenta. O Brasil
pode ser citado como exemplo, porque foi um dos países nos quais se instaurou
uma ditadura militar, apoiada pelos EUA.

99
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 117 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

América do Sul – Alguns países nos quais vigoraram regimes


ditatoriais após a Revolução Cubana
País Início Término
Brasil 1964 1985
Chile 1973 1990
Uruguai 1973 1985
Argentina 1976 1983
Fontes: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php>;
Almanaque Folha. Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/mundo80.htm>. Acessos em: 31 mar. 2014.

Uma das primeiras medidas da Revolução Cubana, em 1959, foi organizar uma campanha nacio-
nal para acabar com o analfabetismo.
Mais de 250 mil professores e estudantes, inclusive jovens de 10 a 19 anos, voluntariaram-se
para essa ação. A maioria deles atuava na área rural, tornando a campanha uma oportuni-
dade para que os estudantes conhecessem melhor a realidade do país. A taxa de analfabe-
tismo, que era superior a 20% antes da Revolução, baixou para menos de 4% em 1961. Pouco
tempo depois, Cuba foi declarada território livre de analfabetismo.

História – Volume 3
Revolução Cubana e Guerra Fria
Não deixe de assistir a esse vídeo, pois nele é apresentado o processo histórico da revolução que
levou Cuba a se tornar um país socialista. A Revolução Cubana de 1959 pode ser considerada um
divisor de águas desse período: depois dela, as posições políticas se radicalizaram, aumentando
a oposição entre os países capitalistas e as nações socialistas, os dois polos da Guerra Fria.
Esse vídeo destaca também o ataque dos militares ao governo socialista liderado por Salvador
Allende, no Chile.

A ditadura no Chile
O Chile viveu uma das ditaduras que mais violou os direitos políticos na América
do Sul. Em 1970, na quarta vez em que concorreu à presidência nas eleições
nacionais, o candidato do Partido Socialista, Salvador Allende, venceu a disputa.
Allende tinha um ambicioso programa de transformação da sociedade, propondo
uma “via chilena” ao socialismo.
Sua proposta era construir lentamente, e por meio do caminho constitucional
e democrático, as mudanças necessárias para superar a desigualdade social e a
dependência externa.

100
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 117 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

No entanto, ao realizar suas propostas, que incluíam a reforma agrária e a


nacionalização do cobre (principal riqueza natural do país) e dos bancos, os setores
contrariados com o seu projeto político tentaram prejudicar o governo.

Com o objetivo de atrapalhar o abastecimento das cidades, os empresários arti-


cularam uma poderosa greve dos transportes, tentaram paralisar a produção de
cobre e procuraram boicotar a circulação dos produtos.

Para enfrentar o desabastecimento, Glossário


gerir fábricas falidas e conter o boicote
Cordão industrial
dos patrões, trabalhadores organizados Forma de organização popular que reunia
formaram cordões industriais. Assim, diferentes fábricas e instituições de uma
sem que se pudesse evitar, a sociedade região. Seu objetivo era enfrentar os pro-
blemas de desabastecimento e boicote.
chilena se polarizou, ou seja, dividiu-se No Chile, cordões desse tipo organizavam
entre os que estavam a favor e os que a distribuição de alimentos, bem como
estavam contra o governo de Allende. garantiam a segurança diante da provoca-
ção feita pelos setores que se opunham às
Uma vez que as táticas políticas e eco- reformas do presidente Salvador Allende.

nômicas empregadas pela oposição não Golpe militar


produziram o resultado esperado, recor- Tomada do poder de um país pelo exército,
por meio de um golpe de Estado, dando iní-
reu-se à conspiração militar, com apoio
cio a um regime de ditadura militar, com a
dos EUA. Em 11 de setembro de 1973, mili- justificativa de defender o país de interesses
tares comandados pelo general Augusto externos ou de ameaças internas.

Pinochet, que até a véspera do golpe pare-


cia ser fiel ao presidente, colocaram em
prática o golpe militar que encerrou a “via Assista aos documentários dirigidos por
Patrício Guzmán, que tratam do governo
chilena” ao socialismo.
de Salvador Allende e do golpe militar
no Chile: El primer año (1972); A batalha
Como o presidente Allende resistiu à
do Chile (La batalla de Chile, 1973, 1977,
renúncia imposta pelos opositores, os sol- 1979 – trilogia); Chile, a memória obstinada
dados invadiram o palácio presidencial de (Chile, la memoria obstinada, 1997); Salvador
La Moneda, que já estava em chamas por Allende (2004); Nostalgia da luz (Nostalgia
de la luz, 2010).
causa das bombas atiradas por soldados
O filme Desaparecido: um grande mistério
comandados pelo general Pinochet.
(Missing, direção de Costa-Gavras, 1982)
Enquanto as tropas militares toma- também é interessante, pois conta a histó-
ria de um jornalista e cidadão dos EUA que
vam a sede do governo, Allende foi desaparece no Chile durante o golpe militar.
encontrado morto. Com isso, iniciou-se
a ditadura do general Pinochet, que durou até 1990 e vitimou mais de 40 mil cida -
dãos, entre torturados, mortos e desaparecidos.

101
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 117 10/03/15 11:29
UNIDADE 4

© OFF/AFP/Getty Images

Soldados chilenos posicionados em frente ao palácio presidencial de La Moneda, em Santiago,


no Chile, durante o golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet, futuro ditador.
Com a ajuda dos EUA, Pinochet depôs Salvador Allende, presidente eleito democraticamente.

ATIVIDADE 2 Revoluções e contrarrevoluções

1 Marque “V” para verdadeiro e “F” para falso.

a) A Revolução Cubana, desde o início, foi planejada e financiada pela URSS,


que tinha interesse na expansão do socialismo na América Latina.

b) A aproximação entre Cuba e a URSS se deu em função do fim das relações


comerciais entre Cuba e EUA que, na tentativa de conter a revolução socialista,
declararam o bloqueio comercial àquele país.

2 Releia o texto A ditadura no Chile. Grife duas propostas do presidente Salvador


Allende que foram utilizadas como pretexto para o golpe militar. Em seguida, res-
ponda com suas palavras: Por que essas propostas justificaram a tomada do poder
pelo exército?

102
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UNIDADE 4

O governo chileno construiu recentemente o Museu da Memória e dos


Direitos Humanos, a fim de registrar a História do país (disponível em: <http://
www.museodelamemoria.cl>, acesso em: 13 mar. 2014).
O museu mostra como foram cometidas violações dos direitos humanos pelo
Estado chileno entre os anos de 1973 e 1990.
De que forma um museu da memória e dos direitos humanos pode estimular a
reflexão e o debate a respeito da importância da tolerância e da democracia?

103
00_BOOK_HISTORIA_CE_VOL3.indb 119 10/03/15 11:29
CESEC DE
ITAMARANDIBA

HISTÓRIA
Ensino Fundamental

Módulo IV
(4°Teste)
HISTÓRIA

SUMÁRIO

Unidade 1 ‒ Da colônia à independência .................................................................3

Tema 1 – As Grandes Navegações e a colonização do Novo Mundo ..............................................


Tema 2 – A colonização da América e o antigo sistema colonial ....................................................
Tema 3 – A América portuguesa ........................................................................................................................
Tema 4 – A independência nas Américas .....................................................................................................

Unidade 2 ‒ Do Império à República ..................................................... 29

Tema 1 – O cenário político do Brasil Império ..........................................................................................


Tema 2 – O cenário econômico do Brasil Império ..................................................................................
Tema 3 – O desenvolvimento do capitalismo no Brasil durante a
Primeira República (1889-1930).........................................................................................................................

Unidade 3 ‒ Da Primeira República a Getúlio Vargas ........................................ 53

Tema 1 – O capitalismo no Brasil......................................................................................................................


Tema 2 – A Primeira República ou República Velha (1889-1930) ..................................................
Tema 3 – A Era Vargas .............................................................................................................................................
Tema 4 – O retorno de Getúlio ao poder .......................................................................................................

Unidade 4 ‒ De Juscelino Kubitschek (JK) à ditadura ................................................... 76

Tema 1 – O dilema da formação nacional ....................................................................................................


Tema 2 – De Juscelino Kubitschek (JK) a João Goulart (Jango) .........................................................
Tema 3 – A ditadura militar no Brasil (1964-1985)...............................................................................

1
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 7 10/03/15 11:53
Caro(a) estudante,

O Volume 4 é dedicado ao estudo da História do Brasil em seus diferentes


momentos: da colonização portuguesa à independência; do período monárquico
ao republicano; e da ditadura ao começo da redemocratização. Para melhor
compreender a História nacional, é preciso relacioná-la à mundial.

Na Unidade 1, você verá que a colonização do Brasil, iniciada no século XVI,


está ligada à transição do feudalismo para o capitalismo. Estudará, também, que
ela foi marcada por três características fundamentais: a escravidão; o latifúndio
e a consequente concentração fundiária; e a subordinação da colônia em relação
à sua metrópole (Portugal). Essas características levaram à formação de uma
sociedade desigual.

Já na Unidade 2, estudará como a independência do Brasil, em 1822, e a


posterior abolição da escravatura, já no final do século XIX, estão relacionadas
à Revolução Industrial e à consolidação do capitalismo. Verá que a formação do
Brasil como nação independente não alterou o sentido da colonização, marcada
pela dependência externa e pela desigualdade social. Na realidade, o Brasil
tornou-se um país em que a riqueza e o trabalho estavam a serviço dos negócios
internacionais e não das necessidades da maioria da população.

A Unidade 3 tratará de como a industrialização brasileira e a formação da


classe operária no País estão vinculadas à expansão do capitalismo a partir do final
do século XIX.

Por fim, na Unidade 4, você verá como a ditadura no Brasil (1964-1985) está
relacionada à Guerra Fria e às revoluções que fervilhavam na Ásia, na África e no
restante da América Latina.

A abordagem da História nacional também será norteada por dois eixos, que
servem como referência a todo este Volume: relações de trabalho e soberania. Você
refletirá sobre a situação dos trabalhadores e a situação do Brasil em relação à
política externa.

Ao longo deste Caderno, você vai perceber que o mais importante no estudo
da História não é memorizar os eventos ocorridos, mas sim, interpretar os
acontecimentos, estabelecer relações mais amplas e, desse modo, construir uma
visão mais crítica sobre a vida nacional e mundial.

Bons estudos!

2
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HISTÓRIA
DA COLÔNIA À INDEPENDÊNCIA
UNIDADE 1 TEMAS
1. As Grandes Navegações e a colonização do Novo Mundo
2. A colonização da América e o antigo sistema colonial
3. A América portuguesa
4. A independência nas Américas

Introdução

Esta Unidade aborda o processo de colonização do território brasileiro pelos


portugueses a partir de 1500. Inicialmente, você vai estudar a relação entre as
Grandes Navegações europeias e a colonização das Américas. A proposta é que
você compreenda a colonização desse continente no contexto de transição do
feudalismo para o capitalismo que ocorria na Europa.

Na sequência, conhecerá as características fundamentais da sociedade que se


formou no Brasil entre o século XVI e o início do século XIX. Verá também como a
independência do País estava articulada à crise do próprio sistema colonial.

Por fim, analisará a relação entre a emancipação Emancipação


brasileira – no contexto das guerras de independência Ato ou efeito de tornar-se inde-
na América Latina – e o processo de consolidação do pendente. No caso, o Brasil
tornou-se independente poli-
capitalismo no século XVIII, tratado nos Volumes 2 e 3,
ticamente de Portugal em 7 de
que podem ser consultados por você. setembro de 1822.

As Grandes Navegações e
a colonização do Novo Mundo TEMA 1

Neste Tema, você vai estudar as Grandes Navegações e o início da colonização


europeia do continente americano, suas principais motivações e características.

Na transição do feudalismo para o sistema capitalista na Europa (assunto


abordado no Volume 1), as sociedades europeias passaram a se organizar em
torno da propriedade privada e da obtenção de lucro, decorrente da venda das
mercadorias. Com isso, surgiu a necessidade dessas nações de buscar novas
terras e expandir seus mercados produtor e consumidor. Foi nesse contexto
que se deu a conquista portuguesa sobre o território que hoje é o Brasil e sua
posterior colonização.

3
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UNIDADE 1

O que você já sabe sobre o “descobrimento” do Brasil? Quais histórias você já


ouviu a respeito desse fato histórico?

ATENÇÃO!
Foi usada a palavra “descobrimento” entre aspas, pois, quando os europeus chegaram ao Brasil,
milhares de indígenas já viviam aqui há muito tempo. Portanto, de fato, o Brasil não foi desco-
berto, mas conquistado pelos portugueses.

As Grandes Navegações e a busca por especiarias


A formação do capitalismo na Europa nos séculos XV e XVI impulsionou os
países europeus, em primeiro lugar Portugal e Espanha, a procurarem terras
fora da Europa para expandirem suas atividades comerciais. Eles pretendiam
encontrar áreas produtoras de matérias-primas e de produtos agrícolas, e que
também fossem consumidoras dos produtos europeus. Esse movimento em busca
de territórios para além da Europa se deu por meio das Grandes Navegações ou
Expansão Marítima.

As Expedições Marítimas, apoiadas pelos Estados europeus que, então, se


fortaleciam, tinham os seguintes objetivos:

• abrir novas possibilidades de negócios, de forma a expandir o comércio para além


das fronteiras;

• conquistar e ampliar territórios, o que era considerado um fator de fortaleci-


mento do Estado;

• encontrar ouro e prata para acumular riqueza;

• expandir a fé cristã, o que aumentava os poderes da Igreja Católica.

4
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UNIDADE 1

Essa busca dos países europeus por terri- Especiaria


tórios começou quando eles tentaram encon- Nome genérico dado a plantas aromá-
trar uma rota alternativa para um território já ticas e condimentares, utilizadas para
conhecido: o Oriente (principalmente para a fins culinários e medicinais. Pimenta,
noz-moscada, cravo, gengibre e canela
Índia e a China). Essa região era muito impor- são exemplos de especiarias.
tante para o comércio na época, já que de lá
vinham produtos que eram vendidos a bons preços na Europa, como as especiarias.
No entanto, os europeus tinham um obstáculo: o caminho conhecido para che-
gar ao Oriente era através do Mar Mediterrâneo, que estava, desde a conquista da
cidade de Constantinopla, em 1453, sob domínio dos turco-otomanos (povos islâ-
micos e inimigos dos cristãos europeus). Isso dificultava o acesso dos europeus ao
Oriente e causava prejuízos para seu comércio. Por esse motivo, procuravam uma
rota alternativa até esse continente, sendo esse o objetivo inicial dessas expedi-
ções. Só que, nessa busca, os europeus também não descartavam a oportunidade
de encontrar novos territórios em suas expedições, ampliando, assim, as oportu-
nidades de negócios e de enriquecimento. E foi isso que aconteceu. No final do
século XV, os europeus chegaram ao continente americano.

© Giraudon/Bridgeman Art Library/Keystone

Mapa das Ilhas Molucas, que fazem parte da Indonésia, tal como
os exploradores europeus imaginavam o comércio de especiarias
no continente asiático no século XVI.

5
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UNIDADE 1

A motivação para o negócio das Glossário


especiarias, como a de qualquer Mercantilismo
comércio, era acumular riqueza. Conjunto de práticas econômicas adotado pelos
De acordo com os princípios do Estados Modernos Europeus.

mercantilismo que prevaleciam Esses Estados, ao estabelecerem seu domínio


sobre territórios, tornavam-se metrópoles dessas
nessa época, a riqueza se dava prin-
áreas, que, por sua vez, eram denominadas colô-
cipalmente por meio da obtenção nias. Estas passavam a produzir e a consumir de
e da acumulação de ouro e prata. acordo com os interesses das metrópoles.

Portanto, descobrir minas desses Os Estados Modernos, ou Estados Absolutistas,


tinham como princípio o acúmulo de riquezas
metais preciosos tornou-se uma por meio do comércio de mercadorias. Portugal
obsessão das Coroas e dos explora- e Espanha também visaram a acumular metais
dores europeus. preciosos extraídos de suas colônias. Para isso,
deveriam manter o monopólio, isto é, somente
eles poderiam comercializar com suas colônias.
Portugal e Espanha, por terem
c e n tr a li z a d o, antes das outras Coroa
Expressão usada para se referir às monarquias
regiões da Europa, o poder polí-
europeias, que eram as metrópoles na época
tico e administrativo na forma de da colonização. A coroa é um dos símbolos do
monarquias absolutas, tiveram con- poder dos reis.

dições de sair na frente nas Gran-


des Navegações de exploração.

Como parte desse movimento de expansão por meio dos mares, ocorreu a con-
quista e colonização de todo o continente americano, inclusive do que viria a ser o
território brasileiro.

Entre as inúmeras Expedições Marítimas que partiram da Europa, duas marca -


ram a História da ocupação da América pelas metrópoles espanhola e portuguesa.
A primeira foi realizada pelo navegador genovês Cristóvão Colombo, que, repre-
sentando a Coroa espanhola, chegou, em 1492, ao território que ficaria conhecido
como América. A segunda foi realizada pelo navegador Pedro Álvares Cabral que,
representando a Coroa portuguesa, desembarcou na costa da Bahia – atual cidade
de Porto Seguro – em abril de 1500.

Veja, no mapa da próxima página, as principais rotas das Grandes Expedições


Marítimas dos portugueses e dos espanhóis pelo mundo, entre os séculos XV e XVI.

Observe as cores das linhas que estão no mapa e veja as rotas que estão
indicadas na legenda. Cada linha traçada no mapa corresponde a uma rota
específica e a legenda o ajudará na identificação de cada uma delas.

6
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UNIDADE 1

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 19. Mapa original.

Quando os espanhóis chegaram à América, rapidamente fizeram contato com


povos que conheciam ouro e prata, como os maias e os astecas no México, e os
incas na região do atual Peru.

Os portugueses, ao conquistarem e colonizarem o território que hoje é o Brasil,


encontraram povos que não demonstravam conhecer metais preciosos. Inicial-
mente, a única atividade comercial que pareceu interessante aos portugueses na
nova colônia envolvia uma madeira denominada por eles de pau-brasil – da qual
se extraía uma tinta avermelhada, valorizada por sua beleza e utilizada na Europa
para tingir tecidos. Esse fato é uma das várias possibilidades existentes para expli-
car o nome do País.

A colonização portuguesa no território brasileiro impôs a lógica da produção


capitalista aos indígenas que aqui viviam, já que esses povos, anteriormente, não
produziam de forma mercantilizada, isto é, seus produtos não eram vendidos como

7
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UNIDADE 1

mercadorias. Tudo o que eles produziam


Mercadoria
era para consumo próprio, podendo, em
Produto ou serviço vendido ou comprado
alguns casos, haver troca de excedentes mediante um preço determinado. Por exem-
com outros povos. Assim, a mercantiliza- plo, as populações indígenas do Brasil, antes
da colonização, não produziam mercadoria,
ção da produção e a consequente forma-
pois tudo o que produziam era para consumo
ção do capitalismo no Brasil são resultados próprio ou da comunidade, e não para ven-
da colonização, que impôs o modo de viver der, já que a economia era de subsistência.

e de produzir do colonizador.

A palavra “índio”, usada para denominar os nativos do continente americano, foi originalmente
utilizada pelos europeus para se referir aos povos da atual Índia, na Ásia, onde predomina va a
religião hindu.

Antes das Grandes Navegações, as pessoas não tinham informações suficientes para conhe-
cer o mundo como atualmente. Naquela época, havia muitas incertezas sobre o tamanho dos
oceanos e sobre as terras que existiam, e os mapas não tinham a precisão de hoje. O próprio
Cristóvão Colombo acreditou que estava em uma região da Ásia, as Índias, quando chegou
às ilhas do Caribe.

Do pau-brasil à cana-de-açúcar
Entre os anos de 1500 e 1530, a extração do pau-brasil foi a principal atividade
econômica praticada pelos portugueses. Para isso, utilizaram-se do trabalho
indígena. Os nativos cortavam a madeira e a armazenavam em depósitos
chamados feitorias até que os navios portugueses viessem buscá-la. Em troca,
os portugueses entregavam bugigangas aos indígenas. Essa relação de trocas é
chamada de escambo.

Os portugueses tinham o monopólio do comércio do pau-brasil, ou seja, o direito


exclusivo sobre esse comércio. Porém, isso não impedia que exploradores de outros
reinos visitassem o litoral brasileiro e, atuando como piratas, também negociassem
a madeira com os indígenas. Nesse período, a concorrência entre as potências euro-
peias ameaçou, por meio de inúmeras invasões, como as de franceses e ingleses, a
posse dos portugueses sobre o novo território. Entretanto, a Coroa portuguesa criou
alternativas para manter a posse da região e torná-la rentável. Para garantir a ocupa-
ção e proteger o território, portugueses começaram a vir à colônia com o objetivo de
fortificar parte da costa litorânea, tomar posse da terra e realizar a ocupação da região.

Para essa ocupação, foi criado o sistema de capitanias hereditárias e sesmarias.


Nele, o território brasileiro foi dividido em grandes faixas de terra que foram doadas

8
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UNIDADE 1

a nobres portugueses os quais ficaram responsáveis de ocupá-las, administrá-las,


defendê-las e torná-las lucrativas para a Coroa. Com o tempo, esse sistema não deu
certo devido ao descaso de alguns dos donatários (nobres que recebiam as terras), e
o território passou a ser administrado por um governo geral com sede em Salvador.

A exploração intensa do pau-brasil nesse período de aproximadamente 30 anos


levou à escassez da madeira. Os portugueses, então, sentiram a necessidade de ter
outra atividade rentável na colônia, sobretudo em um momento em que metais
preciosos ainda não haviam sido encontrados.

Uma vez que os indígenas, que já habitavam Glossário


essas terras, não movimentavam um mercado de
Novo Mundo
especiarias, como ocorria nas Índias, nem revela- Expressão usada para se referir
vam conhecimento sobre as minas de metais pre- ao continente americano, que foi
conquistado pelos europeus no
ciosos, como em outras partes do “Novo Mundo”, final do século XV.
os portugueses precisaram desenvolver uma ati-
Cana-de-açúcar
vidade lucrativa. Essa foi uma das motivações
Planta original da Ásia, que já era
para o cultivo da cana-de-açúcar na América conhecida, produzida e comer-
portuguesa, passados alguns anos do início da cializada pelos europeus. Os
colonizadores trouxeram essa
empresa colonial extrativista do pau-brasil. planta para a América, pois já
tinham experiência com seu cul-
A produção do açúcar para o mercado euro- tivo e com a produção de açúcar
peu necessitava de uma vasta plantação de cana- em engenhos. Naquela época, o
açúcar extraído dela era um pro-
-de-açúcar, o que justificava o latifúndio e a duto extremamente valorizado
monocultura (grande propriedade de terras, com nos mercados de luxo da Europa,
gerando altos rendimentos para
um só dono, usada para produzir um só produto).
quem o comercializasse. Foi só a
Nessa produção, era preciso também um grande partir da Revolução Industrial, no
número de trabalhadores braçais, o que justifi- século XVIII, que o açúcar se tor-
nou, assim como o café e o cacau
cava, por sua vez, o uso da mão de obra escrava. (matéria-prima para o chocolate),
Ela era mais barata do que a assalariada e estava um produto destinado para o
consumo em grande escala.
disponível, seja por meio da captura dos povos
indígenas nativos ou da comercialização de africanos escravizados. É importante
destacar que o interesse pelo trabalho escravo também estava relacionado ao fato
de os portugueses comercializarem escravos. Eles capturavam africanos que eram
transformados em escravos. Esses africanos escravizados eram vendidos pelos trafi-
cantes de escravos, na colônia, para os grandes proprietários. Esse comércio gerava
grandes lucros para a metrópole.

9
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 15 10/03/15 11:53
UNIDADE 1

Diferentemente das Índias, onde os europeus abriram entrepostos comerciais


(chamados feitorias) para comprar e vender artigos já produzidos localmente; na
América, foi essencial organizar a produção das mercadorias para enviá-las às
metrópoles. Foi essa a motivação que esteve na raiz da colonização do Novo Mundo.

História – Volume 4

Engenhos da colonização

O vídeo, disponibilizado com seu material de estudos, destaca os aspectos econômicos da


ocupação do território brasileiro que, até hoje, fundamentam as relações sociais e a formação
cultural do nosso povo. Apresenta também um engenho de cana-de-açúcar, localizado entre
Santos e São Vicente, que é um dos marcos da colonização portuguesa no Brasil.

Os nativos, que viviam nas terras brasileiras antes da chegada dos portugueses,
chamavam o pau-brasil de “ibirapitanga” (madeira vermelha). No entanto, o territó-
rio não foi batizado com o nome indígena da planta, e sim com o nome português.
O fato de o Brasil ter seu nome derivado de uma mercadoria remete à maneira
como os portugueses colonizaram essa terra, isto é, uma colonização não para
povoar e fazer desenvolver uma nação e sim para explorar ao máximo os povos e
recursos dessa terra e enviar seus produtos para o exterior.

Será que essa relação prevalece até os dias de hoje? Afinal, no Brasil, prevalece
a produção para a exportação ou a produção para satisfazer os interesses internos?

ATIVIDADE 1 Navegar e enriquecer

1 Quais eram os principais objetivos das Grandes Navegações iniciadas pelas


nações europeias no século XV?

10
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UNIDADE 1

2 Os portugueses não acharam ouro e prata quando chegaram ao Brasil. Quais


foram as formas que eles encontraram para extrair riquezas dessa terra? Que
riquezas foram essas?

11
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 17 10/03/15 11:53
A colonização da América e
o antigo sistema colonial TEMA 2

Neste Tema, você vai estudar o processo de colonização das Américas, seus
diferentes objetivos em cada parte do território e as suas características definidas
pelo antigo sistema colonial.

Você já ouviu falar que o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA) tiveram
processos de colonização muito diferentes? Em um lugar, as pessoas foram para
explorar e em outro, para viver. Escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre
esse assunto.

Colônias de exploração e colônias de povoamento


Foram dois os tipos de colonização ocorridos na América: a colonização de
povoamento e a colonização de exploração, mas ambas foram marcadas por carac-
terísticas de um sistema articulado, que os historiadores denominam “antigo sis-
tema colonial”.

As colônias de povoamento se caracterizaram pela imigração de famílias


que cultivavam pequenas propriedades de produção diversificada, baseadas em
regime de trabalho livre, ou seja, comandavam e realizavam o próprio trabalho.
Esse tipo de colonização do Novo Mundo foi predominante na Nova Inglaterra,
localizada na região norte das “Treze colônias”, núcleo do povoamento que deu
origem aos EUA.

As colônias de exploração, por sua vez, eram organizadas para atender ao prin-
cipal objetivo de suas metrópoles: a obtenção de lucros. Esse tipo de colonização

12
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 19 10/03/15 11:53
UNIDADE 1

predominou no sul da região que hoje é os EUA e nos territórios da América


colonizados por Portugal e Espanha. Nesse contexto, poucas foram as famílias
portuguesas e espanholas que se aventuraram em terras coloniais. No geral,
os colonizadores vinham para a América sozinhos e ficavam envolvidos com a
administração das grandes propriedades de produção especializada, nas quais
prevaleceu o trabalho escravo.

Em todas as colônias, houve povoamento e exploração. Mas pode-se dizer que,


na primeira situação, povoou-se para explorar, enquanto na segunda, explorou-se
para povoar. Desse modo, ambas colonizações apresentam aspectos semelhantes.
Mas, o que há de comum na colonização da América?

A colonização desse continente teve como características comuns:

• a dominação política: a última instância de decisão era sempre da metrópole,


mesmo em regiões em que os colonos tinham relativa autonomia política, como na
Nova Inglaterra (uma das Treze colônias);

• o exclusivo do comércio: a colônia só podia Exclusivo do comércio


comercializar com a metrópole; Os colonos eram obrigados a vender
sua produção aos comerciantes da
• a tendência ao trabalho obrigatório, sobre- metrópole, dos quais também com-
tudo nas colônias de exploração: observava-se pravam os artigos manufaturados de
que necessitavam na colônia. Essa
uma dominância do trabalho forçado (pre-
relação também era conhecida como
valecendo a escravidão), realizado, em sua “exclusivo metropolitano”. Era por
maioria, por africanos capturados e trazidos meio desse mecanismo que se rea-
para o continente, mas também por indíge- lizava a transferência de riqueza da
colônia para a metrópole.
nas nativos.

Ao analisar o conjunto do comércio colonial, é possível perceber que o trá-


fico de africanos escravizados, a produção de mercadorias nas colônias e o
comércio de produtos manufaturados europeus constituíam a base do antigo
sistema colonial.

Nesse sistema comercial mundial, o principal “produto” de exportação do


continente africano eram os escravos, cujos principais compradores eram os
colonos de várias partes do continente americano. Nesse sentido, o africano
escravizado era visto como uma mercadoria, desprovido de sua humanidade.
Sob essa condição, ele foi a base de sustentação de toda a produção colonial para
a metrópole. Observe a extensão desse comércio no mapa da próxima página.

13
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 20 10/03/15 11:53
UNIDADE 1

TRÁFICOS NEGREIROS OCIDENTAIS E ÁRABES, séc. VII-XIX


Liverpool
Amsterdã

Europa
Nantes
Bordeaux

Lisboa

Estados Unidos
COMÉRCIO Córdoba Argel
Mar Mediterrâneo
Charleston TRIANGULAR Trípoli
Marrakesh Norte Cairo
Nova Orleans
da África Shiraz
Assuan
Oceano Índia
Havana Jeddah Muscat
Atlântico
Caribe Oriente Mumbai
Veracruz Timbuktu
St-Louis Médio
Gorée Cartum Goa
Sikasso Zabid
Cabo Verde África
América Caracas África Ocidental
espanhola Bissau Oriental
Cartagena Costa
continental Guianas Costa Lagos Costa
do Marfim do Ouro
dos Escravos
Mogadíscio

São Tomé Malindi


Transferências de escravos:
África Oceano
origem / destino Central Mombaça
Zanzibar Índico
Tráfico ocidental Luanda
(Atlântico, Oceano Índico) Kilwa
séc. XVI-XIX
Salvador
Tráfico oriental Benguela
(mundo muçulmano) Moçambique
séc. VII-XIX Brasil Sofala
Portos e lugares envolvidos
no tráfico Rio de Janeiro Walvis Bay Ilhas
do Oceano
Índico
Fontes: compilação segundo Olivier Petré-Grenouilleau, La Traite des noirs. Paris: PUF, 1998. Col. "Que-sais-je?";

Benoît Martin, nov. 2008


L’Argent de la traite, milieu négrier, capitalisme et développement: un modèle. Paris: Aubier Histoires, 1998;
Bernard Lugan, Atlas historique de l’Afrique, des origines à nos jours. Paris: Rocher, 2001; L’Histoire, "La vérité sur
l’esclavage", Especial, out. 2003; L’Histoire, n. 126, out. 1989; Catherine Coquery-Vidrovitch, L’Afrique et les
Africains au XIX e s. Mutations, révolutions, crises. Paris: Armand Colin, 1999; Joseph Ki-Zerbo, Histoire de l’Afrique
noire, d’hier à demain. Paris: Hatier, 1994; Jean Sellier, Bertrand de Brun e Anne Le Fur, Atlas des peuples
d’Amérique. Paris: La Découverte, 2005; Hubert Deschamps, Histoire de la traite des Noirs, de l’antiquité à nos
jours. Paris: Fayard, 1972. © Le Monde / La Vie / Sciences Po (L’Atlas des migrations, 2 8)

DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas da mundialização: dossiê especial Brasil. São Paulo: Saraiva , 2009, p. 26. Mapa original.

Você acabou de ler que a escravidão dos povos africanos fez parte do antigo
sistema colonial. Como o objetivo desse sistema era transferir riqueza para a
metrópole e seu mecanismo principal era o comércio, o tráfico de africanos
escravizados, feito por mercadores europeus, se impôs como tendência domi-
nante. Contudo, apesar de o comércio de africanos escravizados ter sido predo-
minante, ele não era o único.

Nas regiões da colônia em que o comércio com a metrópole era muito menor e,
portanto, havia menos riqueza para compra de escravos, os colonos utilizaram a
escravidão indígena. Isso aconteceu, por exemplo, na região da Vila de São Paulo
de Piratininga, origem da atual cidade de São Paulo. Nesse caso, o comércio de
indígenas escravizados era um negócio interno, cujos lucros ficavam nas mãos dos
próprios traficantes, conhecidos como bandeirantes.

Já nas regiões da América produtoras de açúcar, houve latifúndios, ou seja,


grandes propriedades, em que se utilizava o trabalho escravo africano. Essa

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UNIDADE 1

realidade se afirmou independentemente de qual fosse o povo colonizador: os por-


tugueses, no Brasil; os ingleses, na Jamaica; os franceses, no Haiti; os holandeses,
no Suriname; ou os espanhóis, em Cuba. Todos produziram açúcar utilizando o
trabalho escravo africano e participaram do tráfico negreiro durante séculos.

ATIVIDADE 1 Colonização e comércio

1 Identifique, a seguir, com a letra “P” o que se relaciona com a colonização de


povoamento e com a letra “E” o que se relaciona com a colonização de exploração
nas Américas.

a) □ Imigração de famílias para ocupar e colonizar a terra.

b) □ Grandes propriedades de produção especializada.

c) □ Trabalho escravo em larga escala.

d) □ Pequenas propriedades de produção diversificada.

e) □ Regime de trabalho livre, ou seja, os trabalhadores comandavam e realiza-


vam o próprio trabalho.

f) □ Não prevaleceram a vinda de famílias, mas sim de homens engajados na


produção para a exportação.

g) □ Predominou na região norte dos EUA.

h) □ Predominou nas colônias de Portugal e da Espanha.

2 Escreva, a seguir, as principais características do antigo sistema colonial.

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A América portuguesa TEMA 3

Neste Tema, você estudará as características da colonização portuguesa na


América. Com isso, você poderá compreender a formação do Brasil, tendo como
base os ciclos econômicos que aqui se desenvolveram e suas consequências para a
ocupação do território e a constituição da cultura brasileira.

Quem sai da capital do Estado de São Paulo em direção ao interior pode utilizar
uma série de rodovias: Anhanguera, Raposo Tavares, Bandeirantes, Fernão Dias,
entre outras. Por que será que essas rodovias têm esses nomes? Você já ouviu falar
dos bandeirantes? Quem eles eram? Escreva o que você sabe sobre esse assunto
nas linhas abaixo.

Os ciclos econômicos do Brasil colonial


Quando se analisa a colonização da América portuguesa como parte do antigo
sistema colonial, compreende-se o propósito dos portugueses: fazer do território
colonial um bom negócio.
Mas nem todos que vieram para a colônia
tinham interesse em explorá-la economicamente.
Assista ao filme britânico
É importante considerar que havia outras motiva-
A missão (The mission, dire-
ções entre aqueles que participavam da colonização. ção de Roland Joffé, 1986). Ele
Por exemplo, muitos missionários vieram da Europa aborda a história da coloniza-
ção da América do Sul pelos
com o intuito de converter os nativos ao catoli-
portugueses e espanhóis, e se
cismo, em um movimento de expansão da Igreja passa nas fronteiras do Brasil,
Católica. No sul do atual Rio Grande do Sul e em da Argentina e do Paraguai.

parte da atual Argentina e do Paraguai, os jesuítas,


que formavam uma ordem religiosa pertencente à Igreja Católica, organizaram os
Sete Povos das Missões, também conhecidos como República Guarani. No local,
eles reuniram milhares de indígenas convertidos ao catolicismo, em aldeamentos
denominados missões.

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UNIDADE 1

Ao observar as características do Brasil ao longo de todo o período colonial, ou


seja, no período em que era território português na América, entre o século XVI
e o início do século XIX, é possível notar que a ação portuguesa sobre o território
estava voltada para a obtenção de lucros. Você perceberá isso com mais evidência
ao estudar os ciclos econômicos descritos a seguir.

O primeiro ciclo foi o do pau-brasil, produto que foi comercializado até


seu quase esgotamento. Esse comércio era feito com os indígenas por meio do
escambo, relação comercial caracterizada pela troca direta de produtos, sem o uso
de moeda.

A partir de 1530, a preocupação portuguesa em povoar a terra e nela produzir


levou ao desenvolvimento da produção açucareira, especialmente no Nordeste bra -
sileiro. Essa foi a principal atividade econômica até o final do século XVII.

Sendo assim, o segundo ciclo foi o do açúcar, que era o principal produto colonial
desde o início da colonização até a descoberta do ouro em Minas Gerais, Mato Grosso
e Goiás. Esse ciclo do açúcar abrangeu diversas regiões da América portuguesa além
da colônia brasileira, como Açores e Moçambique, na África. Quando a rentabilidade
da produção e do comércio do açúcar diminuiu, principalmente em função da con-
corrência com outras colônias (inglesas, francesas e holandesas), a Coroa portuguesa
buscou alternativas de exploração em seu território.

O terceiro ciclo, o da mineração, cujo centro geográfico foi o atual Estado de


Minas Gerais, iniciou-se com a descoberta de ouro e pedras preciosas (em especial,
diamantes) no final do século XVII. Esse ciclo desenvolveu-se ao longo do século
XVIII, entrando em crise no final desse mesmo século.

Algumas cidades históricas do interior do Brasil, Tombado


como Mariana, Diamantina e Ouro Preto em
Determinado bem (uma constru-
Minas Gerais, e Goiás Velho no Estado de Goiás, ção, um território, uma obra de
tiveram sua origem, seu auge e sua decadên- arte, uma manifestação cultural
etc.) que, por decreto do Poder
cia relacionados ao ciclo da exploração do ouro.
Público não pode ser destruído
Durante o ciclo da mineração, essas cidades tive- ou modificado por possuir valor
ram destacada vitalidade econômica e social, histórico, cultural, arquitetô-
nico, ambiental e também valor
mas, hoje, boa parte delas são pequenos municí-
afetivo para a população.
pios com a economia voltada fundamentalmente
para o turismo. Seu casario (conjunto de casas coloniais) dos séculos XVII e XVIII
foi preservado e posteriormente tombado pelo atual Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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UNIDADE 1

© Douglas Cometti/Folhapress

Vista do Museu da Inconfidência (à esquerda) e da Igreja


Nossa Senhora do Carmo (à direita). Ouro Preto (MG), 2010.

Por fim, no século XIX, o café tornou-se o principal produto de exportação


da América portuguesa. Mesmo depois que o Brasil se declarou independente de
Portugal, em 1822, o café continuou a ser o motor da economia brasileira.

Esses ciclos funcionaram de modo seme- Tratado de Tordesilhas


lhante: tratava-se de um esforço em desenvol-
Assinado em 7 de junho de 1494,
ver, ao menor custo e no menor tempo possível, o Tratado de Tordesilhas fez a
algum produto para ser exportado. Em todos os partilha do Novo Mundo entre
Portugal e Espanha, tomando por
casos, quando se deixou de investir em determi-
base um meridiano a 370 léguas
nada produção, seja por esgotamento das con- a oeste do arquipélago de Cabo
dições naturais ou por mudanças no mercado Verde, na África. Todas as terras
localizadas na parte oeste dessa
internacional, a prosperidade da região produ-
linha eram dos espanhóis; as ter-
tora decaiu. ras que se localizavam na parte
leste eram dos portugueses. Isso
No contexto desses ciclos, houve uma expan-
foi feito para que se evitasse um
são do domínio territorial português para além enfrentamento pela disputa das
da faixa do Tratado de Tordesilhas, assinado em terras “descobertas e por desco-
brir” naquele imenso território.
1494 com a Espanha e que servia como referên-
Observe que o Tratado foi assi-
cia para a divisão dos territórios coloniais entre nado antes mesmo de as cara-
essas duas metrópoles. A extensão da ocupação velas de Pedro Álvares Cabral
chegarem à Baía de Porto Seguro.
portuguesa na América se deu principalmente

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UNIDADE 1

pelas expedições bandeirantes, também conhecidas por bandeiras, cujo princi-


pal objetivo era guerrear contra os índios a fim de escravizá-los, caçar escravos
fugitivos e encontrar metais preciosos.

Os bandeirantes marcaram a História do Estado de São Paulo e do Brasil. Diante da pobreza


da antiga Vila de São Paulo de Piratininga, esses paulistas organizavam as bandeiras: expedi-
ções que iam para o interior do território colonial com o objetivo de caçar índios que seriam
escravizados e buscar ouro, prata e pedras preciosas. A figura dos bandeirantes é muito
polêmica. Para alguns historiadores, eles foram grandes heróis, responsáveis pela ampliação
do território brasileiro, à medida que penetraram pelo interior da colônia e ultrapassaram
o Tratado de Tordesilhas. Contudo, os bandeirantes agiam com extrema violência, também
sendo responsáveis pela escravização e pelo extermínio de milhares de índios.

Posteriormente, quando São Paulo se tornou o centro econômico do País, os paulistas adotaram
a figura do bandeirante como símbolo de empreendedorismo. Por exemplo, a sede do governo
estadual paulista é conhecida como Palácio dos Bandeirantes.

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 20. Mapa original.

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 1 As marcas da colonização

1 Segundo o texto Os ciclos econômicos do Brasil colonial, os portugueses tinham um


grande propósito em sua colonização na América: fazer do território colonial
um bom negócio. Nesse sentido, pensando na América portuguesa, quais foram os
ciclos econômicos que contribuíram para esse objetivo?

2 De acordo com o texto, marque as alternativas corretas sobre os bandeirantes.

a) □ Foram os grandes heróis nacionais que, obedecendo às ordens da Coroa, des-


bravaram terras e trouxeram justiça aos povos indígenas.

b) □ Organizaram expedições com o objetivo de buscar metais preciosos e caçar


índios para a escravidão.

c) □ Foram considerados, por alguns historiadores, os mais selvagens dos colo-


nos, sendo boa parte deles naturais do atual Estado de São Paulo.

d) □ Transformaram a região em que moravam, o atual Estado de São Paulo, na


mais próspera e rica do período colonial português.

e) □ Eram homens cultos e justos, que levaram a civilização aos índios do Brasil.

f) □ Ajudaram a estender a ocupação portuguesa para além da faixa do Tratado


de Tordesilhas, contribuindo para que o Brasil alcançasse seu tamanho atual.

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A independência nas Américas T EMA 4

Neste Tema, você vai aprender sobre o processo de independência das co-
lônias americanas, no qual a independência do Brasil está inserida. O estudo
desse assunto se baseará nas contradições que deram origem à crise do antigo
sistema colonial.

Você já ouviu ou leu algo sobre dom Pedro I ou sobre seu grito de independên-
cia ou morte às margens do Ipiranga, que está descrito na letra do hino nacional?
Escreva, nas linhas abaixo, o que você sabe a respeito da independência do Brasil:
Quando aconteceu? Onde? Por quê? Depois, compare com as informações do texto
A crise do antigo sistema colonial e a independência das colônias, que vem a seguir.

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UNIDADE 1

A crise do antigo sistema colonial e a independência das colônias


Entre a independência do Paraguai, em 1811, e a do Brasil, em 1822, quase todas
as colônias da América tornaram-se independentes. Outras regiões, como os EUA
e o Haiti, emanciparam-se mais cedo (em 1776 e 1804, respectivamente). Como
explicar essa “onda” de independências?

O desenvolvimento do capitalismo comercial na Europa, a partir dos séculos XV


e XVI, fez os países colonizadores promoverem o desenvolvimento econômico, ainda
que mínimo, de suas diversas colônias na América, pois isso era necessário para
explorá-las. Esse processo gerou uma elite proprietária de terra nas colônias, que, com
o tempo, almejou tornar-se ela mesma senhora dessas terras. Essa elite pretendia que
as colônias se tornassem nações independentes e organizadas segundo seus interes-
ses, pois estava insatisfeita em relação à exploração feita pela metrópole.

Nas colônias americanas, essa insatisfação dos grandes proprietários de terra,


juntamente à notícia das mudanças causadas pela Revolução Francesa e pela
Revolução Industrial (tratadas nos Volumes 1 e 2), colocou em crise o antigo
sistema colonial. Isso porque a estrutura e a forma como esse sistema funcio-
nava foram abaladas pelo poder da economia inglesa, que impunha ao mundo
novas relações econômicas, de acordo com as exigências da Revolução Indus-
trial. Entre essas exigências, pode-se citar o fim do monopólio colonial, com
o objetivo de garantir a expansão dos mercados consumidores e do comércio
mundial de produtos industrializados.

Com a consolidação do capitalismo indus- Liberalismo


trial na segunda metade do século XVIII, as prá- Conjunto de princípios e teorias
ticas mercantilistas acabaram sendo colocadas políticas cujo ponto central é a
de lado. Dessa forma, uma nova política econô- garantia e a defesa da propriedade
privada e das liberdades política
mica se fortaleceu: o liberalismo. e econômica. A liberdade política é
garantida, principalmente, pelo
Nessa política econômica, o exclusivo comer- direito à livre expressão, enquanto
cial entre colônia e metrópole era um obstáculo a econômica significa que o mer-
para o desenvolvimento do comércio capitalista cado regula a economia, restrin-
gindo a participação do Estado
e, por isso, os liberais defendiam o fim do sis-
nesse setor (livre mercado).
tema colonial. A escravidão feria o ideal de liber-
dade e, ao mesmo tempo, era um entrave ao crescimento do trabalho assalariado,
fator importante para o aumento do poder de compra de produtos industrializa-
dos. Essas ideias tiveram impacto sobre a América e influenciaram os movimentos
de independência.

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UNIDADE 1

Desse modo, as ideias liberais colocavam em xeque o mecanismo do sistema


colonial (o monopólio colonial) e as relações de trabalho que o sustentavam (a escra-
vidão). As relações capitalistas ameaçavam a engrenagem desse sistema e, como
consequência, enfraqueciam a dominação das metrópoles sobre as colônias.

Embora, nas Américas espanhola e portuguesa, os descontentamentos com as


metrópoles já viessem se acumulando havia tempo, foram as guerras napoleô-
nicas na Europa (abordadas no Volume 1) que precipitaram a independência das
colônias americanas, tanto a portuguesa como as espanholas.

Nas colônias espanholas, quando as tropas francesas invadiram a Espanha e cap-


turaram o rei, os colonos mais poderosos – brancos, descendentes de espanhóis, mas
nascidos na América, em geral proprietários de terras, conhecidos como criollos –
levantaram-se em defesa do rei cativo.

Porém, quando Napoleão começou a perder a guerra e o rei espanhol recuperou


seu poder na Europa, esses colonos perceberam que sua solidariedade inicial não
seria recompensada. O rei queria continuar com seu poder absoluto e com a explo-
ração sobre a colônia, mantendo os criollos fora da vida política.

A esperança criolla de maior participação política nos assuntos do reino foi frus-
trada e, com isso, surgiram inúmeros conflitos contra as forças que ainda eram
leais à metrópole. Desse modo, o movimento de independência das colônias espa-
nholas foi marcado pela guerra. Em 1824, por exemplo, graças à aliança dos exér-
citos liderados por Simón Bolívar, saído da Venezuela, e por José de San Martín,
saído da Argentina, o Peru alcançou sua independência.

Simón Bolívar foi um militar e líder político venezuelano. É considerado um dos principais
libertadores das ex-colônias espanholas e, junto a José de San Martín, um dos fundadores
de várias nações independentes na América Latina. Dentre essas nações, foi presidente
tanto da Grã-Colômbia, como do Peru.

José de San Martín foi um general sul-americano que lutou e liderou os processos de inde-
pendência da Argentina, do Chile e do Peru.

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UNIDADE 1

Veja, no mapa a seguir, as diversas nações que se formaram e os períodos em


que alcançaram a independência.

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 22. Mapa original.

Ao contrário de Portugal, que tinha uma única e grande colônia na América (o Brasil),
a Espanha dividiu seu domínio sobre o território americano em várias colônias, de forma a
facilitar e organizar sua administração. Os termos usados pela Espanha para designar suas
colônias na América eram “Vice-Reinados” ou “Capitanias”, administrados por governado-
res e representantes do rei.

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UNIDADE 1

ATIVIDADE 1 Fatores da independência

De acordo com o texto A crise do antigo sistema colonial e a independência das colô-
nias, escreva, nas linhas a seguir, os fatores que explicam a independência das
colônias espanholas na América entre 1811 e 1822.

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UNIDADE 1

A independência do Brasil
Na América portuguesa, a História aconteceu de maneira diferente do modo
como ocorreu nas colônias espanholas. Por causa das guerras napoleônicas na
Europa, a família real portuguesa foi obrigada a vir para o Rio de Janeiro, em 1808,
porque o exército de Napoleão estava prestes a invadir Portugal. A partir desse
momento, o Brasil, que até então era uma colônia, tornou-se, na prática, a sede
do governo português, pois foi daqui que dom João passou a governar. A vinda
da família real portuguesa para o Brasil tornou-se possível após acordos firma-
dos com a Inglaterra. Os portugueses, antigos aliados e devedores dos ingleses,
tiveram sua corte escoltada por navios ingleses até chegarem à costa brasileira.

Uma vez no Brasil, já no início de 1808, o governo português abriu os portos


brasileiros ao livre comércio, isto é, deu liberdade comercial à sua colônia, que,
a partir daquele momento, poderia comercializar com qualquer nação considerada
amiga de Portugal. O fim do exclusivo do comércio (no qual a colônia só podia
negociar com a metrópole portuguesa) beneficiou principalmente a Inglaterra, que
era a potência industrial em ascensão e que podia, agora, negociar diretamente
com o Brasil.

Além de abrir os portos, dom João criou diversas instituições fundamentais


para a administração do reino, como o Banco do Brasil, a Academia Real Militar
e a Imprensa Régia.

Após a derrota napoleônica na Europa, em 1815, os portugueses, especialmente


os comerciantes que se sentiram prejudicados com a abertura dos portos coloniais
ao comércio com outras nações, passaram a exigir o retorno da corte portuguesa
para Portugal. Durante a Revolução do Porto, em 1820, essa era a principal reivin-
dicação dos revolucionários portugueses. Esses revolucionários também exigiam a
recolonização do Brasil, ou seja, que o exclusivo do comércio fosse retomado e que
o Brasil, submetido novamente à condição de colônia, tivesse seu comércio contro-
lado pelo governo português.

A corte portuguesa, pressionada, retornou a Portugal. O retorno do rei signi-


ficou a tentativa de restabelecer os laços de dominação colonial anteriores. Os
colonos reagiram a essa situação planejando o processo de independência em
relação à metrópole.

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UNIDADE 1

Diferentemente da América espa-


nhola, no território brasileiro, a eman-
Durante o período colonial, que no Brasil
cipação, desejada pela elite proprietária
ocorreu entre os séculos XVI e o começo do
de terra, foi articulada com a participa- século XIX, aconteceram muitas revoltas
ção do próprio dom Pedro, herdeiro do regionais que buscavam a independência
em relação ao domínio português. Algumas
trono português que havia ficado no delas foram marcantes na História do Brasil,
Brasil como príncipe regente. Essa foi como a Conjuração Baiana, a Inconfidência
uma estratégia encontrada para manter Mineira e a Revolução Pernambucana.

o novo País ligado à sua antiga metró-


pole e fazendo negócios com ela. Desse modo, no dia 7 de setembro de 1822, dom
Pedro proclamou a independência do Brasil, às margens do Rio Ipiranga, na cidade de
São Paulo.

Essa maneira de tornar o Brasil independente permitiu transferir o poder


político das mãos do governo português para a elite proprietária brasileira,
os grandes donos de terra, representada, então, por dom Pedro I. Do ponto de
vista dessa classe dominante, ao realizar a independência desse modo, eles
não enfrentariam uma guerra nem atravessariam reações sociais muito fortes –
embora tivessem acontecido rebeliões regionais nesses anos e nos seguintes.

O Brasil independente tornou-se, então, um impé-


Uma república, diferente-
rio. Esse acontecimento foi único nas Américas, pois o
mente de uma monarquia,
processo de independência iniciou-se sob o comando pressupõe um processo
de um monarca e não sob a liderança de indivíduos sucessório no comando
da nação, com governan-
que exigiam uma república – como ocorreu em toda
tes que têm mandato por
a América espanhola e nos EUA. Isso foi fundamen- tempo determinado.
tal para que a colônia portuguesa na América (o Brasil)
não fragmentasse seu território em várias nações diferentes, como aconteceu com
o antigo território colonial espanhol, mantendo-se assim como um único e grande
país americano de língua portuguesa.

ATIVIDADE 2 Independência ou morte!

Analise as seguintes afirmações sobre o processo de independência do Brasil:

I – Com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808,


a colônia tornou-se, imediatamente, um reino independente.
II – A proteção inglesa para a viagem da família real teve como conse-
quência a abertura dos portos brasileiros para a Inglaterra.

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UNIDADE 1

III – Com a derrota de Napoleão em 1815, a nobreza portuguesa exigiu a


volta do rei dom João VI para Portugal e buscou restabelecer a dominação
colonial sobre o Brasil, o que desagradou os colonos, especialmente os gran-
des proprietários de terra, que começaram a planejar a independência.
IV – Tal como na América espanhola, a independência do Brasil se deu com
uma guerra contra a família real portuguesa, estabelecendo-se uma repú-
blica logo após a expulsão do príncipe dom Pedro para Portugal.
V – Para as classes dominantes na colônia, a maneira como o Brasil tor-
nou-se independente permitiu-lhes manter seu poder e evitar comoções
sociais generalizadas.

Agora, assinale a alternativa que indica quais dessas afirmações estão corretas.
a) □ I e II. c) □ II e III. e) □ III, IV e V.
b) □ I, II e III. d) □ II, III e V. f) □ Todas estão certas.

A colonização da América portuguesa durou mais de três séculos, entre


a chegada de Cabral, em 1500, e a independência, em 1822. Essa experiência
imprimiu, ao menos, duas marcas na sociedade brasileira: a de uma sociedade
dependente, já que a colônia era administrada em função da metrópole; e a
superexploração do trabalho de muitos, em sua maioria escravos, para o benefício
de poucos. O historiador Caio Prado Jr. afirmava que, apesar da independência,
a situação brasileira havia mudado na superfície, mas não em sua estrutura, já que
o país continuaria dependente e desigual. Você concorda?

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DO IMPÉRIO À REPÚBLICA

HISTÓRIA
UNIDADE 2
TEMAS
1. O cenário político do Brasil Império
2. O cenário econômico do Brasil Império
3. O desenvolvimento do capitalismo no Brasil durante a
Primeira República (1889-1930)

Introdução
Na Unidade 1, você estudou que a expansão mercantil europeia foi o que
moveu a colonização portuguesa e espanhola nas Américas e que ela fez parte
do processo de transição do feudalismo para o capitalismo. Como consequên -
cia do processo de expansão mercantil, a colonização portuguesa na América
desenvolveu-se, sobretudo, baseada no comércio de produtos para exportação,
utilizando trabalho escravo.

Ainda na Unidade 1, você viu que, no processo de colonização do Brasil, é pos-


sível identificar uma contradição: a necessidade da metrópole de tornar a colônia
lucrativa promoveu, nesta, um nível de desenvolvimento que contribuiu para o
surgimento de uma elite colonial – formada por grandes proprietários de terra que
viviam nelas – que, com o tempo, passou a reivindicar sua autonomia política e
liberdade de comércio. Essa reivindicação, apoiada pelo próprio dom Pedro I, resul-
tou na independência brasileira.

Nesta Unidade, você estudará a trajetória do Brasil a partir de sua independên-


cia e ao longo de todo o século XIX.

TEMA 1 O cenário político do Brasil Império

Neste Tema, você estudará o que permaneceu e o que mudou no Brasil, com a
independência, a partir de 1822.

Você já ouviu falar de dom Pedro I, o “herói da independência brasileira”?


Após a independência, quais mudanças ele promoveu no Brasil? E o que per-
maneceu igual?

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UNIDADE 2

Registre, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre o assunto.

Um balanço da independência do Brasil


Em relação à antiga situação colonial, o que permaneceu e o que mudou com a
independência do Brasil em 1822?

Uma das permanências mais marcantes foi que a base da economia bra-
sileira continuou sendo o latifúndio monocultor voltado para a exportação.
Isso significava que os grandes latifundiários continuaram no poder mesmo após
a independência.

Uma das mudanças mais importantes ocorreu no plano político: as decisões


tomadas no Brasil não precisariam mais da aprovação dos portugueses da metró-
pole. E, para que o País administrasse seus assuntos – como as relações interna-
cionais, a segurança nacional e os conflitos internos –, foi necessário formar um
Estado nacional reconhecido por outros países.

Ainda em relação ao plano político, no Brasil, Nacionalismo


diferentemente do que ocorreu na maior parte da Movimento social e polí-
América, a independência manteve a monarquia. Esse tico que surgiu na Europa
ao longo do século XIX e
fato é uma exceção na História da independência da
que se caracteriza pelo
América, uma vez que todos os outros novos países do seguinte: lealdade à pátria;
continente constituíram-se como repúblicas. Nesses defesa da igualdade jurí-
dica e política para os
países, as revoltas internas contra o domínio espanhol
membros de uma mesma
ajudaram a construir o nacionalismo. Já no império nação, em oposição às
brasileiro, o sentimento nacionalista desenvolveu-se im po siç õe s de outr as
nações; defesa da unifica-
entre as elites latifundiárias de cada região, sem a par-
ção de povos com caracte-
ticipação da maioria da população. rísticas comuns, como uma
língua comum, a mesma
Após a independência, vários movimentos con- origem histórica ou carac-
testaram a separação do Brasil em relação a Portugal, terísticas genéticas simila-
enquanto outros queriam proclamar uma república, res, mas, principalmente,
a mesma cultura.
seguindo o que ocorria nas demais nações americanas

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UNIDADE 2

e na Europa. Antes mesmo da proclamação da independência, já emergiam no


Brasil movimentos de caráter republicano, como a Inconfidência Mineira, no final
do século XVIII (1789), que teve entre seus principais heróis Tiradentes, e a Revo-
lução Pernambucana, em 1817. Em 1824, quando o País já havia se emancipado,
Pernambuco foi o centro de uma nova revolta, a Confederação do Equador, dessa
vez contra dom Pedro I.

História – Volume 4

Desafios da Independência

Com base na obra Independência ou Morte (1888), do pintor Pedro Américo, que representa um
dos principais momentos da História do Brasil, o vídeo faz um contraponto entre a realidade e
a ficção, e apresenta reportagens sobre os principais acontecimentos que contribuíram para o
nascimento e a consolidação do processo da independência brasileira.

A Confederação do Equador propôs reunir as províncias do atual Nordeste sob


a forma federalista, ou seja, em que o poder seria descentralizado nas diferentes
partes da Federação. O movimento se deu como uma reação à política de dom
Pedro I, que outorgou (isto é, impôs) um texto da Constituição de acordo com os
interesses políticos da monarquia em 1824, dando poderes absolutos ao monarca.
Contra essa atitude absolutista do
Glossário
imperador, alguns líderes políticos e
Mercenário
os latifundiários em Pernambuco e nas Soldado contratado mediante pagamento
províncias vizinhas se revoltaram e pro- para lutar por uma causa.
clamaram uma república independente. Período Regencial (1831-1840)
Diante da repressão do governo central, Período em que o Brasil foi governado por
o movimento radicalizou-se e encorajou diferentes regentes, após a saída de dom
Pedro I, em 1831, que abdicou o trono bra-
a participação das camadas populares.
sileiro para retornar a Portugal. Sua renún-
O imperador convocou suas tropas e tam- cia foi feita em favor de seu herdeiro, Pedro
bém contratou o serviço de mercenários Alcântara (posteriormente, dom Pedro II),
que, na época, tinha apenas cinco anos de
ingleses, que enviaram uma frota naval,
idade. Como era novo para assumir o trono,
sufocando a rebelião em pouco tempo. a Assembleia Geral, formada pelos deputa-
dos e senadores, passou a escolher regentes
Mas não foi só a Confederação do
para governar a nação até que ele comple-
Equador que ameaçou dividir o Brasil no tasse a maioridade. Quando o príncipe fez 14
começo do Império. No chamado Período anos, assumiu prematuramente o comando
do governo em um episódio conhecido como
Regencial (1831 -1840), aconteceram
Golpe da Maioridade.
diversas rebeliões no território nacional.

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UNIDADE 2

Duas das mais significativas re-


voltas regenciais foram a Revolução
O Brasil pr otagoniz ou uma das guerras
Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos, mais sangrentas do século XIX, a Guerra do
1835-1845) e a Revolta dos Cabanos Paraguai.
(ou Cabanagem, 1835-1840).
O Paraguai seguiu um caminho único na
A Revolução Farroupilha, ocor- América Latina depois de sua independên-
cia: desenvolveu uma economia voltada para
rida no Rio Grande do Sul, foi liderada
o mercado interno, baseada na produção
pelos grandes estancieiros – donos de camponesa, em que o Estado era um agente
extensas propriedades e criadores de importante. Sem saída para o mar, o país
dependia de rios da Bacia do Prata, que dividia
gado na região Sul do País – que tam-
com o Brasil e a Argentina, para ter acesso ao
bém queriam proclamar uma república Oceano Atlântico e, assim, comunicar-se com
independente, tornando-se um país o exterior. As disputas geradas pelo controle
dessa Bacia, vital para o Paraguai, desencadea-
separado do Brasil. Já a Revolta dos
ram a Guerra do Paraguai.
Cabanos, ocorrida no atual Pará, tinha
à frente mestiços, índios, negros e Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Trí-
plice Aliança que, após cinco anos de guerra,
pobres da região que lutavam contra os
dizimou o exército e a população paraguaia,
mandonismos dos portugueses abas- na maioria de origem indígena. Depois dessa
tados, em geral, brancos. Esta última catástrofe, conhecida também como Grande
Guerra, o Paraguai tornou-se uma nação
revolta foi a única ocasião em que o
marcada pelo latifúndio e pela dependência,
povo ocupou o poder de toda uma pro- subordinada à Argentina e, principalmente,
víncia por algum tempo – entre 1835 e ao Brasil.
1840 – e com certa estabilidade.

A permanência da escravidão

A independência do Brasil não alterou as relações de trabalho, pois não aboliu a


escravidão. Apesar de a elite colonial ter se baseado nas ideias liberais para buscar
a liberdade política e econômica que viria com a emancipação, essa mesma elite
proprietária, de forma contraditória, não queria abrir mão de seus escravos. Esse é
um dos limites do liberalismo no Brasil independente. José Bonifácio de Andrada
e Silva, conhecido como “o Patriarca da Independência” por sua participação polí -
tica no processo, reconheceu a contradição entre a continuidade da escravidão e o
liberalismo.

Bonifácio acreditava que se, no momento da independência, também fosse


sugerido o fim da escravidão, os grandes proprietários de terras, os quais com -
punham a elite agrária brasileira, iriam contra a proposta de independência bra -
sileira. Portanto, a manutenção da escravidão, na qual ainda se baseava o poder

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UNIDADE 2

econômico dos grandes proprietários rurais no Brasil, era, naquele momento, mais
importante do que a libertação política.

Nesse sentido, Bonifácio pensava de forma semelhante a Thomas Jefferson, o


principal articulador da independência dos Estados Unidos da América em 1776.
Para ambos, a abolição da escravidão poderia causar problemas que inviabiliza -
riam a independência.

Se para Bonifácio era perigoso desa-


gradar a elite colonial, para Jefferson,
Durante o período em que a escravidão vigo-
o fim da escravidão nos EUA poderia
rou no Brasil, os escravos rebelaram-se diver-
dividir o país. O Norte, industrializado, sas vezes contra sua condição.
defendia o trabalho livre, enquanto o
Eram muitas as formas de resistência adota-
Sul, cuja História de colonização esteve das pelos escravos para tentar romper com
ligada ao latifúndio e ao trabalho a condição que lhes era imposta. No dia a
dia, era possível identificar a insatisfação dos
escravo, apoiava a escravidão.
escravos com a própria escravidão: suicídio,
Assim, ao se comparar o processo assassinato do senhor, sabotagem da produ-
ção, quebra de ferramentas, fugas individuais
da independência brasileira com o dos
ou coletivas etc. Essas eram as formas de rea-
EUA, é possível notar uma semelhança: gir ao cativeiro. Por outro lado, outras formas
para manter a unidade territorial nes- mais sutis também faziam parte desse cená-
rio: jogar capoeira, trabalhar lentamente, não
sas duas ex-colônias, foi necessário
gerar filhos etc.
preservar o trabalho escravo. No Brasil
Os escravos fugiam das senzalas para o
independente, o receio de um levante interior do País e fundavam inúmeros qui-
popular que ameaçasse a estrutura lombos. Os quilombos eram comunidades
escravista limitou o radicalismo da de ex-escravos que, por terem fugido de
seus senhores, se consideravam homens
maior parte das revoltas regionais.
livres. Eles se organizavam social e econo-
Nos EUA, somente quando o Norte micamente para garantir sua subsistência
e preservar suas tradições culturais. O caso
do país estava em vias de se tornar uma mais famoso desse tipo de organização é o
potência industrial e, portanto, alme- Quilombo dos Palmares, cujo principal líder
java a ampliação do trabalho livre assa- foi Zumbi.

lariado é que a escravatura foi abolida,


por meio de uma sangrenta guerra civil
contra os latifundiários escravocratas do
Sul – a Guerra de Secessão (1861-1865). O filme franco-brasileiro Quilombo (dire-
ção de Cacá Diegues, 1984) conta a histó-
Em termos políticos, enquanto os EUA se
ria de um grupo de escravos que, por volta
tornaram uma república (desde 1776), o de 1650, foge de um engenho de açúcar em
Brasil continuou como uma monarquia Pernambuco e busca refúgio no Quilombo
dos Palmares.
duradoura no continente americano.

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UNIDADE 2

Na América espanhola, as lutas pela independência tiveram a participação da


população mais pobre e das comunidades indígenas. Embora muitos vivessem
submetidos ao trabalho forçado e à servidão, eles pegaram em armas. Vários povos
indígenas organizaram verdadeiros exércitos, o que contribuiu para sua libertação
da condição de escravos. Entretanto, no geral, após os processos de independência,
a elite criolla excluiu as massas populares da participação política.
Enquanto, no Brasil, o poder ficou centralizado nas
Caudilho
mãos do imperador, na América espanhola, as disputas
Proprietário rural que
pelo controle do Estado geraram inúmeras lutas entre impõe relações de pro-
caudilhos. Esses confrontos levaram, muitas vezes, à teção e fidelidade aos
constituição de federações, nas quais o poder político foi seus subordinados, mo-
bilizando-os frequente-
descentralizado.
mente para finalidades
Foi nesse cenário que, após as guerras de indepen- políticas e, por vezes,
militares. Equivalente ao
dência, formaram-se os diversos países da América
coronel no Brasil.
espanhola, frustrando os esforços de líderes, como
Simón Bolívar, para manter a unidade continental.

Com a proclamação da Independência em 1822, iniciou- Súdito


se a formação de um Estado nacional, que teve como marco
Pessoa submetida à von-
jurídico a promulgação da Constituição de 1824. Ela estabe- tade ou ao poder dos reis,
leceu a separação dos poderes em Executivo, Legislativo e em um regime político
monárquico.
Judiciário, o que, a princípio, significaria a descentralização
do governo. Só que essa mesma Constituição criou também
o Poder Moderador, que se sobrepunha aos outros três. Com ele, o imperador tinha
mais força do que os representantes dos demais poderes, podendo interferir sobre eles.
Também dedicou uma seção específica aos direitos civis e políticos, transformando,
pelo menos no âmbito jurídico-legal, os súditos do rei em cidadãos.

No campo dos direitos civis, os direitos à liberdade, à segurança individual e à


propriedade passaram, em princípio, a proteger as pessoas de ficar à mercê dos inte-
resses dos soberanos. Em relação aos direitos políticos, a Constituição determinava
que homens com mais de 25 anos e donos de bens votariam em um colegiado que,
posteriormente, elegeria deputados e senadores, garantindo assim, ainda que de
forma indireta, a participação de uma pequena parcela da população na escolha do
governo. Era o chamado sistema de voto censitário, segundo o qual só poderiam votar
os homens que possuíssem determinada renda exigida pela Constituição vigente.

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UNIDADE 2

ATIVIDADE 1 O Brasil independente

1 Descreva, em linhas gerais, o que mudou e o que permaneceu igual no Brasil,


comparando o período colonial com o período logo após a independência.

2 Depois de refletir sobre as permanências e as mudanças na História do


Brasil, responda: A escravidão foi abolida em 1888, porém ela deixou marcas pro-
fundas na sociedade brasileira até os dias de hoje. Quais são essas marcas?

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UNIDADE 2 47

3 O latifúndio, forma de organização da propriedade da terra, existe no Brasil desde


a sua colonização. Mais que isso, a grande propriedade da terra é um dos graves pro-
blemas que permanecem na História brasileira. Quais são os problemas que marcam
nossa sociedade e que estão ligados à existência do latifúndio até hoje?

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O cenário econômico do Brasil Império TEMA 2

O objetivo deste Tema é que você compreenda os principais aspectos econômicos


que marcaram o período imperial no Brasil.

Você já sabe que a independência não trouxe liberdade para os africanos escra-
vizados no Brasil. Em sua opinião, por que a escravidão não foi abolida com a
independência? Registre suas conclusões nas linhas a seguir. Quando terminar de
estudar este Tema, não deixe de conferir sua resposta, certo?

Aspectos econômicos da independência


No plano econômico, a independência trouxe mudanças, mas também perma-
nências. A independência do Brasil, assim como a da América espanhola, signifi -
cou o fim do exclusivo do comércio (termo que você já estudou na Unidade 1), ou
seja, a quebra do monopólio de Portugal sobre o comércio colonial.

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UNIDADE 2

Com a abertura dos portos brasileiros, houve, naquele contexto, um aprofunda -


mento das relações comerciais do Brasil com a Inglaterra, país que havia se desen -
volvido muito com a expansão do capitalismo industrial, tornando-se uma grande
potência mundial.

Essa realidade limitou o alcance da mudança: se, de um lado, o papel de inter -


mediário comercial dos portugueses foi reduzido, de outro, em muitos casos, os
ingleses assumiram esse lugar. O século XIX foi marcado pela invasão de produ-
tos ingleses comercializados em terras brasileiras, inclusive aqueles de pouca uti -
lidade por aqui, como patins de gelo ou carteiras de dinheiro em papel, quando
por aqui só se usavam moedas.

Ao longo do século XIX, a presença inglesa na América aumentou conforme


o ritmo da evolução do capitalismo mundial: com a passagem do capitalismo
concorrencial para o capitalismo monopolista (questão tratada no Volume 2), cres-
ceu a participação dos ingleses como investidores e/ou como credores (uma espé-
cie de fiador) das dívidas dos novos Estados americanos. No Brasil, por exemplo,
os ingleses financiaram o pagamento da indenização exigida por Portugal para
reconhecer a independência brasileira.

Portanto, embora as possibilidades de acúmulo de capital no Brasil e na


América espanhola tenham melhorado com as independências, as fragilidades
decorrentes de suas dependências externas não foram resolvidas. Além disso, esse
aumento de investimentos externos no Brasil não beneficiou toda a população
brasileira, ficando apenas nas mãos
Gênero primário
da elite proprietária e dos grandes
Produto obtido por meio da exploração de
comerciantes. recursos da natureza, como mineração,
madeira e itens agrícolas. Desde a chegada
Isso fica muito claro quando se
dos europeus, o Brasil fornecia produtos,
percebe que o Brasil continuou essen- como pau-brasil, cana-de-açúcar e ouro, para
cialmente produtor e exportador de a Europa, que os utilizava na indústria de
transformação.
gêneros primários – por exemplo, o
A indústria primária, até os dias de hoje, é
café – produzidos por essa elite, como
um setor da economia muito vulnerável, pois
já acontecia desde o período colonial. depende de fenômenos da natureza, que exer-
cem grande influência nos preços. Por exem-
plo, em épocas em que se produz muito, o
O fim da escravidão no Brasil
preço de venda cai, pois há excesso de oferta
de alguns produtos. Em épocas de escassez de
No início do século XIX, a Ingla-
produção, o preço aumenta, mas, em compen-
terra tornou-se a principal interessada sação, os produtores desse setor podem ficar
na abolição da escravidão no mundo. sem produtos suficientes para comercializar.

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UNIDADE 2

A indústria inglesa desejava ampliar seus mercados consumidores e, para isso, pre -
cisava do aumento do trabalho assalariado. Sem contar que, ao expandir o trabalho
assalariado e proibir a escravidão, no caso do Brasil, boa parte dos capitais até então
investidos em escravos poderia ser redirecionada para outros setores da economia,
inclusive para o consumo.

Embora as pressões inglesas pelo fim do tráfico de escravos fossem anteriores


à independência do Brasil, proclamada em 1822, somente em 1850 foi promulgada
a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravos da África para o Brasil.
Com a proibição do tráfico internacional, o preço dos escravos, que ainda eram
comercializados internamente, subiu muito, deixando de ser, ao longo do tempo,
economicamente interessante. A partir desse momento, ficou claro para os gran-
des proprietários de terra que o fim da escravidão era uma questão de tempo.

O problema da classe proprietária no Brasil passou a ser: Como abolir o traba-


lho escravo e manter os níveis de produção sem essa mão de obra? As soluções
encontradas foram: estimular a imigração europeia, de forma que os imigrantes
pudessem se tornar trabalhadores nas grandes lavouras e, ao mesmo tempo,
restringir o acesso à propriedade da terra, impedindo o crescimento de pequenas
propriedades familiares.

Simultaneamente à falta de mão de obra, havia outro problema que afetava


os grandes plantadores de cana, ou de café, e os grandes criadores de gado: a
falta de uma regulamentação da propriedade da terra que pudesse dificultar o
acesso a ela. Sem essa regulamentação, os imigrantes (pessoas vindas de outros
países) recém-chegados, em vez de trabalharem nos latifúndios, sobretudo dos
cafeicultores, poderiam ocupar uma região e se tornar pequenos proprietários.

Não por acaso, no mesmo ano em que se proibiu o tráfico negreiro no


Brasil, foi decretada a Lei de Terras (Lei n o 601, de 18 de setembro de 1850), que
obrigava os proprietários a demarcar e a registrar seus terrenos em deter-
minado prazo.

Toda terra não registrada passou para o Estado, que só podia vendê-la,
nunca doá-la. Em resumo, essa lei transformava a terra brasileira em mer-
cadoria e instituía a propriedade da terra nos moldes do capitalismo. Surgi-
ram, assim, as terras devolutas, ou seja, terras que se tornaram propriedade do
Estado, mesmo quando nelas moravam pessoas que não tiveram conhecimento
das novas regras.

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UNIDADE 2

Com a nova Lei de Terras, o Estado esperava arrecadar dinheiro para financiar
a vinda de imigrantes e resolver o problema da falta de mão de obra decorrente
do fim do tráfico de escravos. Contudo, suas consequências mais importantes
foram outras.

Milhares de pessoas perderam suas moradias e pequenas plantações de


subsistência. Comunidades inteiras, inclusive indígenas, foram colocadas na
ilegalidade. Para comprar terras era necessário ter dinheiro, condição que os
trabalhadores, agora livres da escravidão, ou mesmo os imigrantes em situação
de miséria, não tinham. Na prática, a Lei de Terras impediu aos trabalhadores
livres o acesso à terra; por isso, ela está na raiz da questão agrária do Brasil, e
seus efeitos podem ser sentidos até hoje.

A lei garantiu a terra aos que a registraram como sua propriedade, o que
aumentou a concentração de grandes extensões de terra em poder de poucos.
Com isso, trabalhadores tornaram-se mão de obra barata para a lavoura ou para
a indústria que começava a se desenvolver no País.

Trabalhadores rurais da atualidade lutam pela redistribuição de terras para todos que
querem trabalhar nela. Essa luta histórica também é consequência da antiga Lei de
Terras, que, no passado, impediu os trabalhadores rurais de terem acesso à terra. A
foto mostra agricultores e produtores rurais durante a Marcha da Reforma Agrária, na
Via Epia, em direção à Esplanada dos Ministérios. Brasília (DF), 5 set. 2011.
© Ed Alves/Esp. CB/D.A Press

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UNIDADE 2

A expansão cafeeira e o fim da escravidão

Ao mesmo tempo que se expandia a produção cafeeira no Sudeste, as expor-


tações do açúcar declinavam no Nordeste. O açúcar produzido no litoral nor-
destino passou a ter fortes concorrentes internacionais: o açúcar produzido nas
Antilhas e o açúcar de beterraba produzido na Europa.

Com isso, o café, cultivado em grandes propriedades, se firmou ao longo do


século XIX como o principal produto de exportação do País. Seu cultivo estava con-
centrado nas províncias do Rio de Janeiro e, principalmente, de São Paulo – no Vale
do Paraíba –, região que até então tinha pouca importância econômica. Na segunda
metade do século XIX, o café expandiu-se pelo centro-oeste paulista, atendendo a
uma extraordinária expansão na demanda mundial por esse produto.
Como já foi mencionado, a Lei Eusébio de Queiroz diminuiu o número de afri-
canos escravizados disponível para o comércio. Enquanto puderam, os cafeicul-
tores compraram escravos dos fazendeiros nordestinos, mas, como os preços dos
escravos eram cada vez maiores, essa não era uma solução definitiva. Então, os
grandes proprietários apostaram na imigração europeia como alternativa de mão
de obra para as plantações.

A vinda da maioria dos imigrantes para a América, no século XIX, estava relacionada à
unificação nacional da Itália e da Alemanha. Você pode estudar sobre esses processos no
Volume 2.
As unificações europeias foram movimentos socialmente conservadores em que o acesso
à terra não foi democratizado. Ao contrário: milhares de camponeses italianos e alemães
perderam suas terras, vítimas do desenvolvimento capitalista no campo. Assim sendo, a
maioria dos que se dirigiram para o continente americano no século XIX, inclusive para o
Brasil, viajou nessa complicada circunstância, deixando para trás esse difícil cenário europeu.

Apesar da falta de uma política imigratória do Estado brasileiro, os conflitos


europeus e a miséria em que viviam muitos trabalhadores rurais daquele conti -
nente possibilitaram um fluxo migratório imenso para a América em geral, e para
o Brasil em particular.

O governo paulista pagou parte dos custos da vinda de imigrantes, já que


outros países – como a vizinha Argentina – também disputavam esses trabalha-
dores. As primeiras iniciativas com trabalhadores imigrantes europeus foram
realizadas em fazendas de café no interior de São Paulo, antes mesmo do fim do
tráfico negreiro.

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UNIDADE 2

Essas tentativas fracassaram porque os fazendeiros enfrentavam um dilema:


para ser rentável, o trabalho livre deveria custar menos do que o escravo, o que
exigia uma exploração além dos limites que os colonos imigrantes podiam supor -
tar. Foi somente a partir dos anos 1880 que o trabalho livre imigrante se tornou
uma alternativa viável para substituir os escravos nas lavouras cafeeiras.
O que havia mudado nesse período? Em primeiro lugar, uma extraordinária
expansão na demanda mundial por café incentivou a modernização da produção.
Para estimular o aumento e a modernização da produção cafeeira, o governo
deu recursos aos cafeicultores, fez investimentos estatais na construção de ferro-
vias e na mecanização da produção e barateou o transporte marítimo. O conjunto
dessas práticas reduziu os custos da comercialização do café no mercado mun-
dial e garantiu o lucro dos produtores.
Essas mudanças não apenas viabilizaram economicamente a contratação do
trabalhador imigrante, como também o tornaram imprescindível: a nova lógica de
produção (capitalista) era incompatível com o trabalho escravo. Foi nesse contexto
que ocorreu o fortalecimento econômico dos paulistas, que passaram a interferir
cada vez mais no poder político.
© Acervo Iconographia/Reminiscências

Imigrantes trabalhando em fazendas de café em Araraquara (SP), c. 1902.

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UNIDADE 2

Para as classes dominantes do Brasil, o problema da força de trabalho estava


encaminhado com o incentivo do trabalho livre assalariado do imigrante europeu,
o que diminuiu a resistência da elite à ideia de abolição.

A escravidão poderia, então, ser abolida. A menor resistência à abolição, porém,


não significou que o processo ocorreu sem luta: o movimento abolicionista é consi-
derado um dos principais movimentos de mobilização popular de natureza política
no Brasil do século XIX.

Há incontáveis casos de fuga massiva de escravos e de diferentes formas de


insurreição popular. Grupos agrários não ligados à escravidão, setores da classe
média urbana, como intelectuais, profissionais liberais e estudantes universitários,
participavam de protestos, editavam jornais e fundavam associações em defesa da
abolição da escravatura.

Quando a Lei Áurea foi decretada, em 13 de maio de 1888, a abolição já era um


fato consumado na prática – e não um desejo exclusivo da princesa Isabel, regente
do Brasil naquele momento em que assinou a lei.

História – Volume 4

Imigração

O vídeo aborda o processo de imigração no século XIX, mostrando a chegada de europeus e


japoneses à costa brasileira, para trabalhar nas lavouras de café, no momento da abolição
da escravidão.

ATIVIDADE 1 Sociedade de classes

Leia atentamente o texto a seguir.

Como a Abolição resultara mais do desejo de livrar o país dos inconvenientes da


escravidão do que de emancipar o escravo, as camadas sociais dominantes não
se ocuparam do negro e da sua integração na sociedade de classes. O ex-escravo
foi abandonado à sua própria sorte. Suas dificuldades de ajustamento às novas
condições foram encaradas como prova de incapacidade do negro e da sua infe-
rioridade racial. [...]
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 9. ed. São Paulo: Unesp, 2010, p. 343.

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UNIDADE 2

Agora, pense sobre as questões apontadas no texto e responda:

1 Levando-se em conta o trecho lido, explique o que quer dizer “o ex-escravo foi
abandonado à sua própria sorte”.

2 Um dos aspectos que se pode identificar como uma problemática derivada do


período escravista brasileiro diz respeito ao Brasil ser ou não uma democracia racial.
Em sua opinião, o Brasil é uma democracia racial? Justifique sua resposta.

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O desenvolvimento do capitalismo no Brasil
TEMA 3 durante a Primeira República (1889-1930)

Neste Tema, você estudará o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, no iní-


cio do período republicano, chamado de Primeira República ou República Velha.
Verá também como esse desenvolvimento estava relacionado com o contexto
social, político e econômico da América Latina.

Pensando nas transformações da economia brasileira, desde a chegada dos


portugueses em 1500 até o final do império, é possível perceber que, ao longo da
História do Brasil, diferentes atividades econômicas se desenvolveram e foram
fundamentais para a economia brasileira: a cana-de-açúcar, a mineração e o café
são exemplos disso.

Em sua opinião, o que as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil entre


o século XVI e o início do século XX – em especial, a cana-de-açúcar, a mineração
e o café – tinham em comum?

O capitalismo na América Latina e a República no Brasil


Um ano após a promulgação da Lei Áurea, em 1889, o império brasileiro chegou
ao fim com a proclamação da República.

O que explica essa mudança política e qual foi seu significado concreto? Em
termos gerais, a proclamação da República foi uma resposta à inadequação das
ações políticas do império diante das transformações econômicas e sociais do País.

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UNIDADE 2

Mas que inadequação era


essa? O crescimento econô-
A proclamação da República no Brasil, diferentemente do
mico paulista e o desenvol- que aconteceu em outros países da Europa e do continente
vimento capitalista exigiam americano, não se deu mediante um conflito armado.
mudanças na distribuição Líderes republicanos do exército brasileiro, que planeja-
e na gestão do poder que o vam uma insurreição militar, puseram-na em prática ao
Império não conseguia fazer. convencer o marechal Deodoro da Fonseca – até então um
monarquista convicto – a liderar o golpe.
Em outras palavras, era pre-
ciso abrir espaço para os Na madrugada de 15 de novembro de 1889, as tropas
rebeldes se reuniram no Campo de Santana, no Rio de
novos grupos poderosos do Janeiro. Um grupo de soldados rebelados foi enviado até
País (em especial, os cafeicul- o Paço Imperial, no centro da cidade, e depôs o chefe de
tores paulistas e mineiros e o governo, o visconde de Ouro Preto. O imperador dom
Pedro II, que estava em Petrópolis, foi informado do golpe
exército) e modificar as for- republicano quando retornou ao Rio de Janeiro. Ele não
mas de exercer o poder, até ofereceu resistência e, desiludido, foi enviado com a
então fundamentadas nos família imperial ao exílio na Europa. Naquele momento,
Deodoro da Fonseca tornou-se o primeiro presidente da
interesses dos fazendeiros República do Brasil.
escravistas.
Nos últimos vinte e cinco anos do século XIX, o Brasil vivenciou diversas
transformações econômicas, as quais fortaleceram novos grupos, como os cafei-
cultores paulistas, que eram a favor da república porque ela lhes proporcionaria
maior participação política. Essas transformações estavam intimamente relacio-
nadas com a expansão do capitalismo mundial.

A expansão do capitalismo ampliou a necessidade mundial por gêneros pri-


mários (termo que você já estudou nesta Unidade, lembra?). Isso ocorreu por dois
motivos principais:

• aumento da produção de matérias-primas, como os minérios, destinados para


a indústria dos países que as possuíam;

• aumento da produção de gêneros para o consumo em massa, como os produ-


tos agropecuários.

No Brasil, ao final do século XIX, houve um surto de exportação de dois produtos


primários, além do café: a borracha da Amazônia e o cacau da Bahia.
Além de fortalecer os latifundiários produtores desses gêneros, a expan-
são da produção exigiu investimentos em infraestrutura. No caso paulista, tais
investimentos ocorreram na região do centro-oeste, onde as áreas rentáveis
para a plantação de café aumentavam. Essa realidade também se reproduzia
no continente: onde havia produção para a exportação, havia investimento em

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UNIDADE 2

infraestrutura. Calcula-se que, em 1870, havia aproximadamente 2,8 mil quilô-


metros de estradas de ferro construídas na América Latina. Trinta anos depois,
seriam mais de 41 mil quilômetros.

Por sua vez, regiões que não produziam gêneros para exportação em grande
escala eram simplesmente excluídas do crescimento econômico.

Como consequência de todo esse investimento, paralelamente à crescente


economia cafeeira, ocorreu um processo de urbanização. As cidades tiveram
suas vias ampliadas, praças e parques foram criados, obras de saneamento
básico foram feitas e houve modificações de transportes nos bairros mais ricos.
Ainda que o País fosse predominantemente rural, nas cidades brasileiras foram
fundados jornais que defendiam os valores da modernidade e apoiavam ideias
republicanas.

Nessa época, também havia ocorrido o fortalecimento do exército após a vitó-


ria na Guerra do Paraguai. Parte dos militares sentia que o governo monárquico
não lhe dava o merecido reconhecimento e desejava maior participação na polí-
tica nacional.

ATIVIDADE 1 A economia brasileira no final do século XIX

Faça uma pesquisa sobre a produção cafeeira no Brasil. Utilize a internet, livros,
revistas e/ou jornais. Com base nas informações que encontrar, responda:

1 Qual é a relação entre o aumento da produção do café, sua exportação e o tra-


balho operário?

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UNIDADE 2

2 Quais foram os principais investimentos em infraestrutura (transportes, urba-


nização, portos etc.) vinculados à produção cafeeira?

A Primeira República
As alterações econômicas, culturais e sociais do século XIX constituem o
cenário propício para a mudança da forma de governo que ocorreu no Brasil em
1889. A proclamação da República abriu espaço para ampliar o poder de novos
grupos econômicos – como os cafeicultores paulistas –, em um contexto de trans-
formação capitalista.

Os produtores capitalistas, que eram a favor da república, desejavam fazer as


modificações no poder político, só que sem a participação dos trabalhadores. Para
eles, a participação popular os obrigaria a ampliar os direitos dos trabalhadores.
Foi por isso que os republicanos da elite apoiaram os militares na mudança do
Império para a República.

Assim, os dois primeiros presidentes brasileiros – Deodoro da Fonseca e


Floriano Peixoto – foram militares e seus governos atenderam aos interesses das
elites de latifundiários. Para os trabalhadores, a alteração da forma de governo não
representou nenhuma transformação significativa.

Por isso, Aristides da Silveira Lobo, político e jornalista republicano brasileiro


na época do Império, em artigo publicado no jornal Diário Popular de 18 de novem-
bro de 1889, escreveu sobre a proclamação da República: “O povo assistiu àquilo
bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava”.

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UNIDADE 2

No final do século XIX, milhares de trabalhadores pobres se reuniram no sertão da Bahia, sob a
liderança de Antônio Conselheiro, e fundaram uma comunidade.
Essa comunidade, que chegou a ter mais de 30 mil pessoas, ficou conhecida como arraial dos
Canudos. A república não tolerou essa tentativa de autonomia popular. Sucessivas expedi-
ções militares foram enviadas para desfazer o arraial. Porém, só obtiveram sucesso, em 1897,
quando o exército se impôs e o arraial foi completamente destruído, e muitos de seus inte-
grantes foram assassinados ou presos. Esse episódio é conhecido como Guerra de Canudos.
Os acontecimentos desse trágico evento foram narrados em detalhes por Euclides da Cunha,
na sua obra Os sertões (1902).
Flávio de Barros (Coleção Canudos)/Acervo Museu da República

Mulheres e crianças de Canudos presas durante os últimos dias


de resistência do arraial.
© Acervo Iconographia/Reminiscências

Reprodução de como seria o arraial no sertão baiano.

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UNIDADE 2

O filme brasileiro Guerra de Canudos (direção de Sérgio Rezende, 1997) é baseado na história real
do movimento liderado por Antônio Conselheiro e mostra o enfrentamento entre o exército
nacional e os trabalhadores.

Capitalismo dependente

O café proporcionou um importante aumento de capital para o desenvolvimento


das primeiras indústrias nacionais. Sobretudo a partir de 1870, surgiram pequenas
fábricas de móveis e de artefatos de ferro. A produção de bens de consumo não
duráveis também cresceu: fábricas de velas, chapéus, bebidas, laticínios, entre
outras. Essas indústrias instalavam-se, geralmente, na região Sudeste, nas cidades
das províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em São Paulo, no final do
século XIX, por exemplo, surgiram as Indústrias Matarazzo e o Cotonifício Crespi.
No Brasil, como ocorrera na Europa séculos antes, formava-se o embrião de uma
nova classe social, a burguesia industrial. De modo geral, a formação do capitalismo
nos países da América Latina foi diferente da trajetória europeia por vários motivos.
O principal é que ele não evoluiu somente a partir de um movimento interno: as
relações com o mercado mundial estimularam decisivamente esse processo. Quando
o capitalismo foi implementado na América (a partir da segunda metade do século
XIX), ele já estava bem estabelecido na Europa (desde o século XVIII). Sendo assim,
foi o capitalismo europeu que determinou as regras na América Latina.

Mas esse estímulo internacional tampouco foi o único responsável pelo desenvolvi-
mento do capitalismo na América Latina. Ele combinou impulsos externos e internos,
em um processo que o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes chamou de “moder-
nização induzida”. Quer dizer, a modernização do Brasil não foi completa e, onde ela
aconteceu, foi por causa da relação de um segmento social com a economia externa.

Se você consultar o Caderno do Volume 2 (que trata da formação do movimento


operário na Europa a partir da Revolução Industrial), verá que, em 1848 – mesmo
ano em que Karl Marx e Friedrich Engels escreveram o Manifesto do Partido Comu-
nista –, em muitos países houve revoluções que acabaram sendo derrotadas.
Também poderá observar que, em 1871, trabalhadores franceses assumiram
durante alguns dias o comando da cidade de Paris e ensaiaram a construção de uma
nova sociedade, em um movimento que ficou conhecido como Comuna de Paris.
Você já notou que, enquanto isso acontecia na Europa, a maioria dos trabalha-
dores no Brasil ainda era composta de escravos? O que esse fato pode indicar sobre
o Brasil desse período?

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UNIDADE 2

ATIVIDADE 2 Sistematizando seus conhecimentos

1 Faça uma lista destacando os principais problemas enfrentados pelo Brasil logo
após a proclamação da Independência.

2 Quais foram as principais revoltas que aconteceram durante o período da


Regência? O que elas reivindicavam?

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UNIDADE 2 65

3 Qual era a relação entre a Lei de Terras, a abolição da escravidão no Brasil e a


vinda de imigrantes para o País?

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CESEC DE
ITAMARANDIBA

HISTÓRIA
Ensino Fundamental

Módulo V
5° Teste
HISTÓRIA
DA PRIMEIRA REPÚBLICA A GETÚLIO VARGAS
UNIDADE 3 TEMAS
1. O capitalismo no Brasil
2. A Primeira República ou República Velha (1889-1930)
3. A Era Vargas
4. O retorno de Getúlio ao poder

Introdução
Esta Unidade abordará a História do Brasil entre o início da república, em 1889, e o
último governo de Getúlio Vargas, que terminou em 1954. De início, serão analisadas
as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, uma questão essen-
cial dessa fase. Na sequência, o período será dividido em duas partes, segundo suas
características políticas: a Primeira República (1889-1930) e os dois governos de Vargas
(1930-1945; 1951-1954).
Durante a Primeira República, também conhecida como República Velha, diver-
sos presidentes alternaram-se no poder, geralmente representantes dos Estados
de São Paulo e Minas Gerais. Os anos seguintes foram dominados pela liderança de
Getúlio Vargas, que governou o País por muitos anos, ora como ditador, ora como
presidente e eleito democraticamente, até o seu suicídio em 1954. Na esfera inter-
nacional, observa-se a repercussão, não somente no Brasil, mas em toda a América
Latina, de acontecimentos diversos, como as duas grandes guerras mundiais, a
Revolução Russa, a ascensão do fascismo, a Crise de 1929 e a Guerra Fria (Temas
que você pode consultar no Volume 3).
Na primeira metade do século XX, o desenvolvimento da indústria nas zonas urba-
nas, sobretudo no Sudeste brasileiro, fez emergir duas classes sociais com interes-
ses divergentes: uma nova burguesia urbana, dona das indústrias e do comércio, e o
operariado, formado pela classe trabalhadora. Tais classes passaram a conviver com
a burguesia agrária, formada pelos donos das grandes propriedades rurais, e com o
trabalhador rural.
Mas, apesar do desenvolvimento da indústria, o Brasil continuou sendo exportador
de produtos primários (matérias-primas) e importador de produtos manufaturados e
industrializados. E, como o País ainda era essencialmente agrário, a população, em sua
maioria, vivia e exercia suas atividades no campo.
A dívida externa (a quantia que o Brasil devia no exterior, por causa dos emprés-
timos feitos com bancos ou governos estrangeiros) aumentou ainda mais, e as diver-
gências de interesses no interior das classes – e entre elas – são uma característica do
período. Com o crescimento do trabalho assalariado, por exemplo, surgiram novas
formas de organização e de reivindicação trabalhistas.

53
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TEMA 1 O capitalismo no Brasil

Neste Tema, você vai estudar o desenvolvimento do capitalismo brasileiro na


primeira metade do século XX, que foi impulsionado pela economia cafeeira, e as
transformações sociais dele decorrentes.

A partir do final do século XIX, ocorreram diversas mudanças no capitalismo


mundial (que foram tratadas no Caderno do Volume 2). Elas contribuíram para que
fossem construídos grandes monopólios e para que o capital financeiro adquirisse
cada vez mais importância, enquanto o capitalismo se expandia para quase todas
as regiões do mundo.

No Brasil, esse movimento pressionou pelo fim da escravidão. Como conse-


quência disso, os proprietários de escravos se viram obrigados a contratar mão
de obra livre assalariada. Assim, desde as últimas décadas do século XIX e ao
longo da primeira metade do século XX, os governos brasileiros incentivaram
a vinda de imigrantes europeus, que substituíram os escravos na lavoura e em
muitos outros ofícios.

Refletindo sobre essas informações, escreva, nas linhas a seguir, o que você
sabe sobre as relações que podem ser estabelecidas entre o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil e o capitalismo mundial.

54
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UNIDADE 3

Desenvolvimento do capitalismo brasileiro


Muita coisa mudou no Brasil entre a proclamação da República (1889) e o suicídio
de Getúlio Vargas (1954).

Entre essas mudanças, observa-se o desenvolvimento considerável da econo-


mia do País. O motor inicial dessa evolução foi a exportação de café, concentrada
na região Sudeste

O dinamismo da economia

© Rembrandt/CPDOC FGV
de exportação possibilitou um
acúmulo de capitais favorável à
instalação das primeiras indús-
trias nacionais ainda na segunda
metade do século XIX. São consi-
deradas nacionais não somente
porque se instalaram no Brasil,
mas porque se tratava de inves-
timento de brasileiros no País.
Quando essas indústrias produ-
ziam para consumo dos próprios
brasileiros, elas estavam orien-
tadas para o mercado interno.
Tratava-se de uma novidade
importante em relação à pro-
dução desde o período colonial:
pela primeira vez, formava-se um
setor da economia que não estava
voltado para a exportação, mas
para atender às necessidades da
população brasileira. Família de imigrantes trabalhando na colheita de café.

Um processo semelhante acontecia no campo. Imigrantes europeus, e depois


japoneses, fortemente motivados para se tornarem proprietários de terra, pres-
sionaram pela difusão da pequena propriedade rural produtora de gêneros para
consumo interno. Além disso, o crescimento das cidades exigia seu abasteci-
mento com gêneros alimentícios e demais produtos, como móveis, materiais
de cozinha e de limpeza, roupas, sapatos etc. Mas a produção monocultora da
grande propriedade não atendia a tal necessidade. Assim, embora o latifúndio

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UNIDADE 3

monocultor para exportação ainda dominasse a paisagem rural (como acontece


ainda hoje), também no campo formava-se um setor da economia voltado para o
mercado interno, principalmente na região Sul do Brasil.

Essa produção voltada para o mercado interno está relacionada com o cresci-
mento da classe consumidora brasileira. Nas zonas urbanas, o crescimento das
indústrias teve como consequência a ampliação do número de trabalhadores assa -
lariados que podiam, mesmo com dificuldades, comprar algumas das coisas de que
necessitavam. Eram, portanto, consumidores. Essa foi uma mudança fundamental
em relação aos tempos da escravidão. Isso, porém, não significava que os proble -
mas dos trabalhadores estivessem resolvidos.

Os primeiros direitos trabalhistas criados no Brasil são do final do século XIX.


Entretanto, no início do século XX, a organização desses trabalhadores fez que eles
conseguissem ampliar os direitos trabalhistas e de cidadania, que fortaleceriam
seu poder de reivindicação diante do governo. À medida que o trabalho assalariado
se consolidava como a relação de trabalho predominante, o capitalismo se estabe-
lecia definitivamente no Brasil.
© Fabio Praça

O detalhe do painel representa a classe trabalhadora brasileira, composta por operários da indústria e trabalhadores rurais. [Clóvis
Graciano. História do desenvolvimento paulista, 1969. Detalhe de painel em azulejos na Avenida Rubem Berta, São Paulo (SP).]

56
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 41 10/03/15 11:53
UNIDADE 3

ATIVIDADE 1 As mudanças do desenvolvimento

De acordo com o texto Desenvolvimento do capitalismo brasileiro, escreva, nas


linhas a seguir, pelo menos três grandes mudanças que ocorreram na economia
e/ou na sociedade brasileira durante o período inicial do desenvolvimento do capi-
talismo no País.

Contradições do capitalismo brasileiro


É possível apontar uma contradição geral que marca a evolução do capitalismo
brasileiro: de um lado, uma economia voltada para a exportação e baseada na super-
exploração do trabalhador; de outro, uma economia direcionada para o mercado
interno, que dependia de um aumento do poder aquisitivo do trabalhador brasileiro.

No período colonial (1500-1822), ocorreu algo semelhante: embora a colônia


produzisse para a exportação, foi necessário desenvolvê-la para o progresso da
metrópole. Só que tal desenvolvimento possibilitou o surgimento de interesses
contrários aos da metrópole, o que, consequentemente, impulsionou o processo
de independência.

O modo como se desenvolveu o capitalismo no Brasil, a partir do século XIX,


resultou na constituição de dois setores econômicos relacionados entre si, mas com
interesses distintos: a monocultura voltada para a exportação e a produção voltada
para o mercado interno. O setor exportador acompanhou as tendências internacio-
nais: exportou mais quando os países desenvolvidos precisaram. Desse modo, gran-
des exportadores tinham seus interesses vinculados a esse mercado internacional.
O mercado interno, por sua vez, teve uma dinâmica vinculada ao consumo no pró-
prio País. Assim, os empresários que produziam para o consumo dos brasileiros
tinham interesses econômicos vinculados ao território nacional.

Portanto, os interesses desses dois segmentos da burguesia daquela época


eram distintos: um considerava mais importante investir na exportação e con-
tinuar vinculado ao capital internacional, superexplorando os trabalhadores
para manter o preço do café competitivo, enquanto o outro propunha incentivos

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UNIDADE 3

para promover um desenvolvimento econômico nacional mais autônomo. Para


obter essa autonomia, a indústria nacional demandava o crescimento do consumo
interno, o que exigia o aumento do poder aquisitivo do trabalhador. Isso signifi -
cava pagar melhores salários, o que contrariava a superexploração do trabalho,
traço típico do capitalismo.

Esses dilemas marcaram a História da sociedade brasileira no século XX.

Por conta da exploração, típica do capitalismo, os trabalhadores tiveram uma


condição de vida, muitas vezes, indigna para qualquer ser humano. Eles sofreram
não somente com sua condição econômica, mas também com a exclusão social.

Veja, a seguir, a imagem de uma pintura de Tarsila do Amaral que causou


grande impacto na década de 1930, porque expunha a condição socioeconômica
da maioria dos trabalhadores vindos do campo para a cidade grande.
© Romulo Fialdini

Tarsila do Amaral. Segunda classe, 1933. Óleo sobre tela, 110 cm × 151 cm. Coleção Fanny Feffer.

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UNIDADE 3

A imagem representa uma família de trabalhadores obrigados a viajar de


segunda classe. Da separação nos transportes – como trens, navios e aviões –,
marcada pela diferença de poder aquisitivo entre as pessoas, surgiu a expressão
“pessoa de segunda classe” ou “cidadão de segunda classe”. Essas expressões eram
usadas por algumas pessoas ricas para se diferenciar e discriminar os que não
eram da “primeira classe”.

Ainda que nosso País tenha se tornado mais democrático que na época em que
Tarsila pintou seu quadro, você acredita que esse preconceito tenha deixado de
existir nos dias de hoje? Por quê?

ATIVIDADE 2 Desencontros no capitalismo brasileiro

De acordo com o texto Contradições do capitalismo brasileiro, escreva quais foram


os dois setores econômicos que entraram em oposição entre si no processo de
desenvolvimento do capitalismo brasileiro e o porquê.

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A Primeira República ou
República Velha (1889-1930) TEMA 2

Neste Tema, você vai estudar as principais características sociais e políticas,


bem como os principais acontecimentos, que marcaram o início da república no
Brasil, período em que o País foi controlado pelas oligarquias rurais, ou seja, os
grandes proprietários de terra pertencentes à elite agrária.

Você já ouviu falar de voto de cabresto? E de voto comprado ou voto em troca


de favores? Será que isso ainda existe no Brasil? Por que isso acontece?

Escreva o que você pensa sobre esse assunto nas linhas a seguir.

A República das Oligarquias


A República das Oligarquias corresponde ao período da História do Brasil em
que o País foi controlado politicamente pelas oligarquias paulistas e mineiras.
Essas oligarquias eram formadas pelos grandes proprietários rurais da região
Sudeste. As principais características desse período foram: o crescimento das
indústrias e, como consequência, da classe operária; o coronelismo (troca de favo-
res entre coronéis e população local); o tenentismo (movimento social de caráter
político-militar); e a “política do café com leite” (alternância no governo federal
entre paulistas e mineiros).

No contexto da expansão do capitalismo, a economia brasileira passou por um


período de progresso. A exportação de café foi acompanhada pelo surgimento de
indústrias e pelo crescimento das cidades.

O desenvolvimento das cidades fez a comunicação e a infraestrutura avança-


rem nas regiões economicamente dinâmicas, sobretudo na região Sudeste. Com o
aumento do número de indústrias, cresceu o contingente de operários. As condições
precárias em que eles viviam e a falta de uma legislação trabalhista os levaram a
mobilizações e lutas por direitos.

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UNIDADE 3

Em 1917, no mesmo ano em que acontecia Anarquista


a Revolução Bolchevique na Rússia, uma greve Aquele que nega a autoridade
geral, a mais importante entre muitas que ocor- do Estado ou qualquer forma de
reram naqueles anos, parou a cidade de São poder /organização que possa
representar o Estado. O grande
Paulo. Pouco depois, em 1922, fundou-se o Par- objetivo dos anarquistas é a cons-
tido Comunista Brasileiro (PCB). Como se pode trução de uma sociedade igua-
notar, o movimento operário, apesar da repressão litária, organizada com base em
experiências comunitárias.
sofrida, cresceu lutando por direitos trabalhistas.
Grande parte desses operários era formada por imigrantes europeus, entre eles
italianos, influenciados pelas ideias socialistas e anarquistas.

Washington Luís, ex-governador de São Paulo, declarou, certa vez, que a ques-
tão operária era um caso de polícia, deixando claro como o Estado lidava com as
questões trabalhistas durante a República Velha.

Esses movimentos operários, que reagiam às péssimas condições de traba-


lho, ocorriam, principalmente, no Sudeste. Isso porque nessa região se desenvol-
viam as áreas urbanas, com o crescimento das indústrias e da população urbana.
Nas demais regiões do País, predominava a população rural que, sem acesso à
propriedade da terra, se submetia a trabalhar nas terras dos grandes senhores,
a quem deviam a mais completa obediência e submissão. Desse modo, as diferen-
ças entre as regiões do Brasil acentuaram-se, sem que houvesse políticas públicas
para integrar o País como um todo.

Durante a Primeira República, nem todas as pessoas tinham direito de parti-


cipação política por meio do voto. Apesar de a Constituição republicana de 1891
ter eliminado a exigência de uma renda mínima para garantir o direito de votar,
somente eram considerados eleitores os homens, maiores de 21 anos, alfabetiza -
dos. Estavam excluídos: analfabetos, mendigos, praças militares e mulheres. Com
isso, grande parte da população brasileira era excluída da participação política.

O poder dos coronéis e a política do café com leite

Durante a República Velha, nas zonas urbanas e, principalmente, nas zonas


rurais, havia chefes políticos, conhecidos como “coronéis”, que controlavam o voto
das pessoas que estavam sob sua dependência. Eles exigiam que os eleitores votas-
sem nos candidatos por eles indicados. Em troca do voto, os coronéis prestavam
favores dos mais variados tipos: desde dar roupas e sapatos de presente e levar
alguém doente para o hospital, até arrumar vaga no serviço público do município
sob seu domínio político.

61
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UNIDADE 3

O território de domínio político do coronel era Cabresto


conhecido como o seu “curral eleitoral”. Por isso, esse Correia colocada na cabeça
tipo de voto ficou conhecido como “voto de cabresto”. do animal e que serve para
Na prática, ocorriam trocas: o coronel garantia a seu amarrá-lo ou guiá-lo.

eleitor proteção e favores, inclusive econômicos,


enquanto o eleitor lhe dava o voto. Ao se referirem aos cidadãos como se fos-
sem gado, essas expressões revelavam os estreitos limites da liberdade política
no Brasil republicano.

Em algumas regiões do Brasil, como as áreas do interior do Nordeste, o poder


dos coronéis era muito grande, inclusive com forças militares próprias. Em outras
regiões, como nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os che -
fes políticos locais se submetiam aos governadores dos Estados.

A força econômica de São Paulo


e de Minas Gerais fazia paulistas e
Entre 1922 e 1924, militares de média e baixa
mineiros terem destaque na política patentes protagonizaram diversos enfrenta-
nacional, revezando-se na presidên- mentos com o Estado brasileiro.
cia da República. Esse “rodízio” ficou Esse movimento ficou conhecido como
conhecido como a “política do café “tenentismo” e pretendia moralizar as ins-
com leite”, uma vez que São Paulo tituições. Buscaram mobilizar a população,
principalmente a urbana, e as oligarquias dis-
era um Estado importante economi- sidentes, ou seja, as que não se beneficiavam
camente por ser grande produtor de com o poder controlado pelos oligarcas paulis-
café e Minas Gerais, grande produtor tas e mineiros.

de leite. O Estado mineiro também era Derrotados militarmente, uma parte dos
importante do ponto de vista político revoltosos se reorganizou no interior do Brasil,
sob o comando de Miguel Costa e Luís Carlos
por ser um dos maiores colégios elei- Prestes. Conhecido como Coluna Prestes, esse
torais do País. grupo percorreu aproximadamente 25 mil qui-
lômetros pelo País em mais de dois anos, com
No início do período republicano, a intenção de semear a revolução, pregando
a maior parte dos interesses regionais reformas políticas e sociais contra a explo-
ração das camadas mais pobres. No final do
de outros Estados não era contem-
processo, Prestes aderiu ao comunismo e se
plada pelo governo federal, coman- tornou a principal liderança do Partido Comu-
dado, basicamente, por paulistas e nista Brasileiro.

mineiros, que se sucediam no poder.


Por esse motivo, quando Washington Luís quis impor outro paulista como seu
sucessor em 1930, forças lideradas pelo gaúcho Getúlio Vargas se levantaram,
dando outro rumo à forma de se fazer política no Brasil.

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00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 41 10/03/15 11:53
UNIDADE 3

ATIVIDADE 1 Voto de cabresto

Você sabe o que são charges? Charges são imagens, baseadas em fatos do dia
a dia, que podem ser complementadas com palavras. Nas charges, os autores,
normalmente, usam o humor para ironizar uma determinada situação. Elas são
bastante utilizadas para analisar, de forma crítica, situações políticas, questões
cotidianas e aspectos da vida social.

Procure compreender a charge a seguir, observando atentamente a imagem em


relação ao texto escrito.
© Acervo Iconographia/Reminiscências

“Voto de cabresto”. Ilustração na revista Careta. 19 fev. 1927.

O título da charge (As próximas eleições... “de cabresto”) é uma ironia à situação
política na época da Primeira República no Brasil. De acordo com o texto A Repú-
blica das Oligarquias, como é possível interpretar essa charge?

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00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 78 10/03/15 11:53
TEMA 3 A Era Vargas

O gaúcho Getúlio Dorneles Vargas foi um dos políticos mais influentes da


História brasileira de 1930 até 1954. Com exceção do período compreendido entre
os anos de 1946 e 1950, quando o País foi presidido pelo militar Eurico Gaspar
Dutra, Vargas esteve à frente da presidência do Brasil, às vezes como ditador, às
vezes eleito democraticamente. Neste Tema, você vai estudar a longa trajetória dos
governos de Getúlio Vargas e as importantes transformações políticas, econômicas
e sociais que ocorreram na História brasileira durante esse período.

Você já ouviu falar de direitos trabalhistas, como férias remuneradas, licença-


-maternidade, fundo de garantia etc.? Você conhece as grandes empresas nacio -
nais, como a Petrobras, o BNDES, a Vale do Rio Doce etc.? Você sabia que tudo isso
foi implementado por Getúlio Vargas? Escreva, nas linhas a seguir, um pouco do
que você sabe desse antigo governante do Brasil e seus feitos.

64
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 81 10/03/15 11:53
UNIDADE 3

Revolução de 1930

Durante a República Velha, houve a chamada “política do café com leite”, em que
presidentes paulistas alternavam o poder com mineiros. Essa política, porém, entrou
em crise nas eleições de 1930, quando as lideranças paulistas romperam a aliança
com Minas Gerais e o presidente Washington Luís indicou outro paulista para a pre-
sidência: Júlio Prestes. Em oposição a esse ato, as lideranças de Minas Gerais e da
Paraíba apoiaram a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas. Só que quem se elegeu
foi Júlio Prestes.

Por causa da derrota, o movimento oposicionista liderado por Vargas e


apoiado pelos militares deu um golpe de Estado, impedindo Júlio Prestes de
tomar posse como presidente da República. Com o golpe, Getúlio assumia
o poder, estabelecendo um governo provisório. Esse episódio ficou conhecido
como Revolução de 1930.

No plano político, o golpe foi de grande importância. Encerrou a Primeira


República, inaugurando uma nova etapa na política brasileira. O governo pro-
visório de Getúlio contava com o apoio de diferentes grupos sociais e políticos.
Ele reunia a crescente burguesia industrial, os segmentos das classes médias
urbanas e as oligarquias dos Estados que rivalizavam com São Paulo. Os grandes
perdedores eram os membros da oligarquia paulista, ainda que Vargas tivesse
clareza de que não podia abandonar o setor cafeeiro. Por contar com o apoio
dos diversos grupos, o presidente incentivou a diversificação da economia e do
mercado interno.

Diante dessa diversidade de forças que apoiaram o golpe, o novo governo tra-
tou logo de centralizar em suas mãos as decisões econômicas e políticas e tentar
articular os diferentes interesses que estavam em jogo.

Um novo tipo de governo surgiu com Getúlio: do ponto de vista econômico, o


governo getulista procurou promover o capitalismo, incentivando a industrializa -
ção de caráter nacional. Do ponto de vista social, procurou articular uma aliança
entre a burguesia industrial e os trabalhadores. Do ponto de vista da segurança
interna, fortaleceu as Forças Armadas e, em especial, o Exército.

Durante o governo provisório de Vargas, os paulistas não aceitaram o novo


encaminhamento político e econômico que, segundo eles, representava uma
ameaça real ao seu próprio poder econômico. Alegando que o governo provisório
de Vargas tomava feições ditatoriais, decidiram recorrer às armas.

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00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 82 10/03/15 11:53
UNIDADE 3

A Revolução Constitucionalista, como ficou conhecida, ocorreu entre julho e


outubro de 1932 e exigia a deposição do governo provisório de Getúlio e o estabe-
lecimento de uma nova Constituição. A revolta contou com intensa mobilização
popular, participando dela diferentes setores da sociedade paulista: industriais,
estudantes, membros da pequena burguesia e também operários. Apesar disso, o
movimento ficou isolado e as oligarquias dos outros Estados não aderiram a ele.

Os paulistas foram derrotados, mas a derrota militar não trouxe prejuízo político ou
econômico significativo para as classes dominantes do Estado de São Paulo. Ao contrá-
rio, Vargas sinalizou que pretendia governar com os paulistas e não contra eles. E assim
foi feito. Para atender a uma das exigências da Revolução, ele convocou eleições para a
Assembleia Nacional Constituinte que daria origem à Constituição de 1934.

Então, quando, em 1937, Vargas instituiu o Estado Novo, iniciando uma


ditadura de fato, os paulistas que haviam se revoltado alguns anos antes não
se opuseram.

1934-1937

A Assembleia Nacional Constituinte, convocada por Vargas, reuniu oligarquias


regionais, tenentistas, representantes classistas (como médicos, sindicalistas e
advogados), representantes da Igreja Católica e integrantes de partidos políticos.
Ela foi responsável pela promulgação, em 1934, de uma nova Constituição, que
substituiu a de 1891.

A nova Constituição estabelecia uma república federativa (como já o havia feito


a Constituição de 1891). Ela garantia o voto secreto e obrigatório a todos os cida -
dãos e o estendia às mulheres. Do ponto de vista econômico, a carta constitucional
nacionalizava as riquezas do subsolo (minerais), o que era uma garantia para a
economia e a defesa do País. Do ponto de vista social, o texto constitucional pre-
via, para os trabalhadores urbanos, salário mínimo, regulamentação do trabalho
das mulheres e das crianças, descanso semanal, jornada diária de oito horas de
trabalho, férias remuneradas, indenização quando a dispensa era sem justa causa,
entre outras conquistas.

Essa Constituição, porém, não durou muito tempo, já que, em 1937, Vargas
fechou o Congresso Nacional e instaurou a ditadura, que ficou conhecida como
Estado Novo. Uma nova Constituição foi outorgada em 1937, suprimindo direitos
políticos da população. Mas qual foi o pretexto que levou Vargas a dar um golpe de
Estado e instaurar uma ditadura?

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UNIDADE 3

Ao longo da década de 1930, duas correntes de pensa- Integralista


mento ganhavam espaço entre parcelas da população bra- Referente ao inte-
sileira. De um lado, em 1932, foi criada a Ação Integralista gralismo, movi-
Brasileira, de tendência fascista, que defendia o fortaleci- mento político de
extrema direita e
mento do Estado e o autoritarismo. De outro lado, em 1935, ultranacionalista,
foi criada a Aliança Nacional Libertadora, a ANL, de influên- inspirado no fas-
cia comunista. cismo italiano.

Ligado à ANL, um grupo de comunistas brasileiros, alguns deles saídos das filei-
ras do Exército, como o próprio Luís Carlos Prestes, realizou, em 1935, uma tenta -
tiva revolucionária de derrubar Getúlio, batizada pejorativamente pelos opositores
como “Intentona Comunista”. Os revolucionários tinham receio do avanço dos
integralistas no governo de Getúlio, por isso era preciso derrubá-lo. Mobilizando
militares em Natal (RN), no Recife (PE), em Olinda (PE) e no Rio de Janeiro (RJ),
o movimento fracassou em sua intenção de levantar a população contra o governo
e foi duramente reprimido.

No início de 1937, um setor integralista do Exército forjou um documento


denominado “Plano Cohen”, no qual inventou um plano de tomada do poder pelos
comunistas. Com o pretexto da agitação em curso, Vargas, apoiado pelas Forças
Armadas, fechou o Congresso e outorgou, isto é, impôs uma nova Constituição
(a de 1937), de inspiração fascista. Iniciava-se a ditadura varguista, que seus
formuladores chamaram de Estado Novo.

O Estado Novo manteve alguns dos princípios da Constituição de 1934: a cria-


ção da Justiça Eleitoral e do voto secreto para tentar acabar com o voto de cabresto;
o fortalecimento dos Estados; a previsão de nacionalização de minas, jazidas mine -
rais, nascentes e cachoeiras; a criação da Justiça do Trabalho, do salário mínimo
(que só entrou em vigor, de fato, em 1940), da jornada de trabalho de oito horas,
das férias anuais remuneradas e do descanso semanal.

Os defensores paulistas da “Revolução” Constitucionalista de 1932 se diziam


“defensores da liberdade” por lutarem contra um ditador (Getúlio Vargas), mas, ao
mesmo tempo, temiam as reformas sociais e trabalhistas que Getúlio pretendia
promover para melhorar a vida dos trabalhadores (como a criação da Consolidação
das Leis Trabalhistas – a CLT).

67
00_book_HISTORIA_CE_VOL4.indb 82 10/03/15 11:53
UNIDADE 3

Nesse sentido, o movimento paulista defendia a liberdade de quem? De todos


os brasileiros? Quais interesses estavam envolvidos nessa luta? Por qual grupo
social eles realmente estavam lutando?

ATIVIDADE 1 A Revolução de 1930 e seus opositores

1 A Revolução de 1930, considerada mais um golpe de Estado do que uma re-


volução, teve grande importância no plano político brasileiro. Segundo o texto
Revolução de 1930, qual foi essa importância?

2 Em 1934, o governo “revolucionário” de Getúlio promulgou uma nova Constituição,


que substituiu a de 1891. Apesar de ter tido vida curta, ela foi importante, pois em sua
elaboração foi mobilizada a sociedade civil para expressar suas demandas. Cite alguns
princípios da Constituição de 1934 que permanecem em vigor até os dias de hoje.

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UNIDADE 3

O Estado Novo (1937-1945)


Durante o período denominado Estado Novo, o Parlamento, as assembleias
estaduais e as câmaras municipais foram fechados. As liberdades civis assegura-
das pela Constituição de 1934 foram suspensas e uma nova carta constitucional
foi elaborada por Francisco Campos e outorgada em 1937. Intervindo nos governos
estaduais quando fosse de seu interesse, Getúlio governou autoritariamente por
meio de decretos-leis. Estabeleceu-se, portanto, um governo ditatorial.

Porém, não foi somente a força que assegurou o poder de Vargas. Do ponto de
vista econômico, o crescimento industrial, acelerado durante a 2 a Guerra Mundial
(1939-1945), renovou as bases do capitalismo no País, o que fez que a classe bur -
guesa apoiasse o governo varguista. As dificuldades da produção agrícola e indus-
trial na Europa reduziam as importações brasileiras e isso incentivava a produção
interna. Além disso, o preço do café, no início dos anos de 1940, voltou a subir no
mercado externo, o que agradou à elite agrária.

Para expandir ainda mais o setor industrial brasileiro, o governo implantou


indústrias de base, como a Companhia Vale do Rio Doce, hoje chamada apenas
de Vale, e a Companhia Siderúrgica Nacional, que passaram a processar a grande
quantidade de minérios existentes no País. Assim, foi impulsionada a produção de
bens para o consumo interno, fortalecendo a indústria nacional.

O Estado Novo também criou a Companhia Hidrelétrica do São Francisco e o


Conselho Nacional do Petróleo (que esteve na raiz da criação da Petrobras, em
1953). O próprio Estado brasileiro cresceu e um órgão foi criado especialmente para
gerir sua modernização: o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp).
Sob a gestão de Getúlio, formou-se ainda o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE).

Muitas dessas medidas foram consideradas nacionalistas. De fato, avançava-se


na formação de um espaço econômico nacional. No entanto, as relações de
trabalho no campo não mudaram, nem a dependência externa foi superada.
O País ainda carecia de uma indústria de bens de capital (fábricas de máquinas
para outras fábricas) e permanecia tecnologicamente atrasado e dependente.
Mesmo com os avanços, o Brasil continuava, em grande parte, exportador
de produtos primários.

69
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UNIDADE 3

A política trabalhista

A expansão industrial, que necessitava de mais mão de obra, multiplicou o


número de operários que já crescia desde o começo do século XX. Durante o Estado
Novo, as relações entre a burguesia industrial e os trabalhadores sofriam a inter-
ferência do Estado. Ao mesmo tempo que Getúlio procurava atender algumas das
demandas sociais dos trabalhadores urbanos por direitos trabalhistas, agia de
forma violenta e repressiva para manter o controle sobre a massa trabalhadora.

Em março de 1931, com a Lei de Sindicalização,


Getúlio alterou o papel dos sindicatos, exigindo
que esses encaminhassem as demandas dos tra- No Estado Novo, o sindicato
que colaborava com o Estado
balhadores pelas vias legais, isto é, por intermédio era chamado de pelego, pois
do Ministério do Trabalho. Dessa forma, os sindi- servia de intermediário entre
catos se tornavam órgãos de colaboração com o os trabalhadores e o governo
de Vargas, em vez de se con-
poder público. Greves e outras formas de manifes- centrar na luta pelas reivindi-
tações continuaram a ser consideradas ilegais e cações dos trabalhadores.
duramente reprimidas.

Mundo do Trabalho

Previdência social

O vídeo é um documentário sobre a Previdência Social. No documentário, são explicados os


direitos dos contribuintes da Previdência Social e é frisada a importância da formalização do
trabalho para garantir a seguridade social do trabalhador.

Apesar de sua importância para o novo momento econômico brasileiro, a princí-


pio, os operários continuaram sendo tratados como “caso de polícia”, como tinham
feito alguns governos anteriores. Entretanto, com o tempo, as demandas sociais dos
trabalhadores urbanos por direitos trabalhistas, entre outros, não podiam mais ser
ignoradas pelo governo de Vargas, que interpretou habilmente a nova realidade.

Dessa forma, em 1943, inspirado na Carta del Lavoro (Carta do Trabalho) do


regime fascista italiano, Getúlio consolidou as leis trabalhistas, já conquistadas por
diversas categorias nos anos anteriores, em um documento único – a Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT) – extensivo a todos os trabalhadores urbanos. Os traba-
lhadores rurais não eram explicitamente excluídos da legislação trabalhista, mas
dependiam de uma lei especial para a sindicalização, que só foi introduzida em 1963.

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UNIDADE 3

Também foram criados, durante


o governo Vargas, os Institutos de
Consciente de que o País se tornava uma socie-
Aposentadoria e Pensões (IAPs) e a dade de massas e graças às dificuldades que
Justiça do Trabalho, e foram insti- enfrentava para manter o poder somente à força,
tuídos o salário mínimo e as férias Getúlio começava a se preocupar com a propa-
ganda do regime e com a própria imagem.
remuneradas, conquistas já pre-
Governando de forma personalista, a fim de
sentes na Constituição de 1934.
conquistar o apoio da população em geral, e
A Consolidação das Leis Tra- construindo sua autoimagem como “pai dos
pobres”, Getúlio criou, em 1939, o Departamento
balhistas (CLT), criada durante o
de Imagem e Propaganda, o DIP.
governo Vargas, rege as relações
Enquanto a polícia perseguia opositores, censu-
de trabalho no Brasil até os dias
rava ideias que criticavam o governo e enchia as
atuais, com poucas modificações. prisões do regime varguista, o DIP criava a imagem
de Getúlio como “pai dos pobres”, expressão que o
O fim do Estado Novo povo completava com: “... e mãe dos ricos”.
Essa maneira de fazer política ficou conhecida
Apesar dos “flertes” de Getúlio como “populismo” e não foi uma originalidade
Vargas com o fascismo, o peso brasileira: os presidentes Juan Domingo Perón,
da influência estadunidense no na Argentina, e Lázaro Cárdenas, no México, que
governaram mais ou menos na mesma época
Brasil e na América Latina foi
que Vargas, também são considerados exemplos
determinante para que o País de populistas.
apoiasse os Aliados contra o Eixo,
durante a 2a Guerra Mundial, até mesmo enviando combatentes à Itália. Há
quem analise esse alinhamento como gerador de uma contradição, já que um
ditador brasileiro mandava tropas para lutar contra o fascismo na Europa.

Em fins de 1945, estavam previstas eleições para presidente, e a sociedade


civil começou a se mobilizar para garantir que elas fossem realizadas. Getúlio,
visando a ter a simpatia dos trabalhadores, iniciou uma transição para a demo -
cracia e concedeu anistia ao Partido Comunista Brasileiro, até então considerado
ilegal. Com isso, o partido passou a apoiar o movimento denominado Quere-
mismo (cujo nome vem do slogan “Queremos Getúlio”). Esse movimento defendia
a continuidade de Getúlio no governo, comandando o processo de democra-
tização, e uma nova Assembleia Constituinte. A proposta era que Getúlio fosse
candidato para as novas eleições diretas que só deveriam acontecer depois. Era
uma jogada política: Vargas pretendia manter-se no poder.

Os militares, juntamente aos opositores de Getúlio, temerosos em relação à


aliança de Getúlio com o Partido Comunista Brasileiro, pressionaram e Vargas foi
forçado a renunciar e a desistir da candidatura à presidência.
Assim, em 1945, Vargas foi deposto pelo alto comando do Exército.

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UNIDADE 3

ATIVIDADE 2 O Estado Novo transformando o País

Durante o período do governo de Vargas denominado Estado Novo, instalou-se


uma ditadura no Brasil e reprimiu-se uma série de liberdades civis e políticas. No
entanto, nesse mesmo período, Getúlio tomou diversas medidas nacionalistas para
modernizar o País, desenvolver e expandir a sua industrialização, bem como para
regular as relações de trabalho. Com base no texto O Estado Novo (1937-1945), men-
cione algumas dessas medidas.

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O retorno de Getúlio ao poder TEMA 4

Neste Tema, você vai estudar o último período do governo de Getúlio Var-
gas no Brasil, bem como suas consequências para os caminhos que a nação
seguiria depois.

Você já ouviu falar do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –


BNDES? E da Petrobras?

Escreva, nas linhas a seguir, o que você sabe sobre essas instituições e sua
importância para o País.

O último governo Vargas

1945-1950: um período sem Vargas

As eleições realizadas no final de 1945 levaram à presidência um militar, Eurico


Gaspar Dutra, que assumiu o poder no começo de 1946. Diferentemente de Getúlio,
Dutra não procurou estabelecer vínculos populistas com os trabalhadores. Seu
governo foi marcado pela aproximação brasileira com os Estados Unidos da América,
alinhando-se a eles na Guerra Fria.

No plano econômico, acelerou-se a inserção de capitais estadunidenses no Brasil.


Isso facilitou a importação de manufaturados e a instalação de multinacionais no
País, o que aumentou as importações brasileiras e contribuiu para o esgotamento de
nossos recursos. Na esfera política, o presidente Dutra rompeu relações com a União
Soviética e, novamente, colocou o PCB na ilegalidade, cassando seus parlamentares
recém-eleitos. Mesmo com a retomada formal das liberdades civis, as perseguições
políticas aos movimentos sociais continuaram. Entre 1947 e 1950, registraram-se
mais de 400 intervenções federais em sindicatos.

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UNIDADE 3

1951-1954

As eleições de 1950 trouxeram Vargas de volta ao poder Executivo, com quase


50% dos votos em uma eleição direta (em sua carta-testamento, ele escreveu:
“Voltei nos braços do povo”). Seu mandato foi marcado por algumas contradições,
tais como políticas nacionalistas, de um lado, e acolhimento dos interesses das mul-
tinacionais, de outro; políticas de incentivo à industrialização do País, de um lado,
sem contrariar grandes produtores rurais, de outro; e atendimento das demandas
dos trabalhadores, de um lado, e pressão política para não fazê-lo, de outro.

O presidente retomou políticas de cunho nacionalista, incentivando a indus-


trialização baseada no investimento estatal e no apoio às empresas nacionais,
sem, no entanto, desagradar os grandes latifundiários de terra. Nesse sentido,
criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, atual Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES) para financiar a industrialização
do País. O nacionalismo de Vargas ia contra os interesses imperialistas estaduni -
denses, pois tinha como objetivo o desenvolvimento da economia brasileira de
forma autônoma.

Dentro dessa perspectiva, nasceu a campanha estatal “O petróleo é nosso”,


resultando na criação da Petrobras. Essa política foi contra os interesses das multi -
nacionais petrolíferas dos EUA, em especial a Esso. Mas, por outro lado, os interes-
ses das multinacionais no País eram uma realidade que Getúlio não se dispunha
a enfrentar plenamente. Pressionado pelo Parlamento, em 1953, Getúlio liberou as
importações e a entrada e saída de capitais.

A política nacionalista de Vargas tinha opositores. Uma de suas maiores opo-


sitoras era a UDN (União Democrática Nacional), partido político liderado por
Carlos Lacerda, que defendia uma política econômica liberal. Além da intensa
oposição à sua política nacionalista, o governo Vargas enfrentava uma forte alta
da inflação, uma carestia de alimentos e uma lentidão em resolver os proble-
mas trabalhistas por meio da relação entre sindicato e governo. Este último fator
levou ao aumento das mobilizações dos operários. Em março de 1953, por exem-
plo, 300 mil trabalhadores entraram em greve em São Paulo, contrariando a posi-
ção dos dirigentes sindicais.

Os dilemas do governo se evidenciaram em torno do salário mínimo. O minis-


tro do Trabalho do governo Vargas, João Goulart (que se tornaria presidente do
Brasil), propôs um aumento de 100% no salário mínimo no começo de 1954. No
entanto, diante das pressões que sofreu, o governo recuou e Goulart foi demitido.

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UNIDADE 3

A oposição a Getúlio, liderada pelo deputado fluminense Carlos Lacerda, cres-


cia, e Vargas procurou, novamente, o apoio dos trabalhadores. Em 1 o de maio do
mesmo ano, ele concedeu o aumento prometido.

Pressionado pelas contradições de sua política, o presidente suicidou-se poucos


meses depois, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

Você estudou, nesta Unidade, que os trabalhadores obtiveram importantes


direitos trabalhistas durante o governo de Getúlio Vargas. Interpretada em sua
época como uma conquista, a CLT tem sofrido tentativas de mudança, chamadas
de flexibilização, em que certos direitos trabalhistas, como o pagamento de férias
remuneradas, o FGTS, a licença-maternidade etc., não são mais contemplados em
algumas relações trabalhistas, como na contratação de pessoas jurídicas.

Houve também, no governo de Vargas, a criação de importantes empresas esta-


tais, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale do Rio Doce,
atual Vale, que foram privatizadas na década de 1990.

A flexibilização dos direitos trabalhistas e a privatização de empresas estatais


seriam um avanço ou um atraso para o País? Quais grupos nacionais elas favore -
ceram? O que a flexibilização dos direitos trabalhistas pode causar aos próprios
trabalhadores?

ATIVIDADE 1 O fim de Getúlio

De acordo com o texto O último governo Vargas, em seu último mandato como
presidente do Brasil, Getúlio deparou-se com medidas contraditórias em seu
governo, que, por fim, o fizeram se suicidar. Cite algumas dessas contradições.

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HISTÓRIA
DE JUSCELINO KUBITSCHEK (JK) À DITADURA
UNIDADE 4
TEMAS
1. O dilema da formação nacional
2. De Juscelino Kubitschek (JK) a João Goulart (Jango)
3. A ditadura militar no Brasil (1964-1985)

Introdução
Nesta Unidade, você vai estudar o governo de Juscelino Kubitschek (JK), de 1956
a 1961. Também serão abordados os acontecimentos que desencadearam o pro-
cesso que deu origem ao golpe de 1964 e a instauração da ditadura militar, entre
os anos de 1964 a 1985.

Você verá o significado desses períodos da Dilema


História brasileira e os dilemas que eles criaram Nesse caso, a palavra tem o
na formação da sociedade atual. sentido de uma situação com-
plicada, difícil, que obriga o
Esses dilemas podem ser resumidos em torno indivíduo a escolher um deter-
minado caminho, entre dois ou
de um grande desafio: superar a articulação entre
mais possíveis.
desigualdade social e dependência externa, que
está na raiz da colonização do Brasil, para colocar o trabalho e a riqueza a serviço
dos interesses e das necessidades da maioria da população brasileira.

O dilema da formação nacional TEMA 1

O suicídio de Getúlio Vargas em 1954 foi sua última e grande jogada política
contra seus opositores. Após a sua morte, uma grave crise de poder se instaurou
com a disputa entre segmentos políticos e sociais com projetos diferentes para o
País. Por trás dessa disputa, havia um dilema: escolher entre dois caminhos opos-
tos para o Brasil. É sobre esse dilema que se tratará neste Tema, pois ele acabou
por definir a História brasileira na segunda metade do século XX, que será estu -
dada nesta Unidade.

Na Unidade anterior, você estudou a Era Vargas, que ficou marcada por algumas
contradições. Do ponto de vista econômico, pode-se destacar que, ao mesmo tempo
que o governo incentivava a industrialização nacional, mantinha os interesses dos

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UNIDADE 4

grandes latifundiários e acolhia o interesse das multinacionais. Do ponto de vista


social, apesar de o governo Vargas proporcionar alterações significativas na quali-
dade de vida da maioria da população, ele não criou meios que permitissem mudan-
ças na diminuição da desigualdade social no País.

Tendo essas questões em vista, responda: Você sabe quando as empresas mul-
tinacionais se instalaram no Brasil? Quais mudanças elas trouxeram para a eco-
nomia e para a sociedade brasileira? Registre suas ideias nas linhas a seguir.

O Brasil na encruzilhada: dependência ou independência?


Durante toda a sua História, o Brasil foi um país essencialmente agroexportador
e extremante desigual. Isso porque seu “papel” na economia capitalista internacio-
nal era o de exportar matérias-primas para os países industrializados e de abaste-
cer o mercado internacional com produtos agrícolas. Mas para que seus produtos
fossem competitivos no mercado internacional, o custo de sua produção – e, por-
tanto, de sua mão de obra – deveria ser baixo, o que significava manter os traba-
lhadores brasileiros na pobreza.

No entanto, a partir do século XX, com o surgimento e o desenvolvimento da


indústria nacional, o País passou a ter a possibilidade de mudar seu rumo desen -
volvendo uma indústria baseada no consumo interno de seus produtos. Essa
mudança significava pagar melhores salários ao trabalhador brasileiro para tor- ná-
lo capaz de ingressar no mercado consumidor. Isso gerou um dilema para a nação:
manter-se subdesenvolvida, mas conectada às demandas econômicas inter-
nacionais, ou desenvolver-se de forma independente, rompendo com seu papel no
capitalismo global?

Esse dilema da formação nacional e o caráter de subdesenvolvimento que


marca nosso País foram temas de debate entre diversos pensadores brasileiros,
tais como o historiador Caio Prado Jr. (1907-1990), o sociólogo Florestan Fernandes
(1920-1995) e o economista Celso Furtado (1920-2004).

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UNIDADE 4

Cada um desses pensadores tinha pontos de vista diferentes sobre esse dilema,
os quais serão resumidamente apresentados aqui. Dessa forma, você poderá
entender algumas características que fizeram parte da constituição da sociedade
brasileira.

Na visão de Florestan Fernandes, o dilema gerado pelo desenvolvimento do


capitalismo brasileiro durante a primeira metade do século XX colocava duas pos-
sibilidades históricas para a elite brasileira:

• a primeira seria investir na formação de uma nação forte e independente, o que


significaria romper com a desigualdade social e com a dependência externa, exis-
tentes desde o passado colonial. Para isso, seria necessário fortalecer a burgue-
sia nacional (empresários brasileiros cujos negócios estão vinculados ao território
nacional) e integrar o povo por meio do trabalho e do consumo de produtos ofere -
cidos pela burguesia brasileira;

• a segunda seria consolidar o capitalismo Capitalismo dependente


dependente, intensificando a exploração do Forma de desenvolvimento em que o
trabalhador brasileiro para que as empre- crescimento econômico de um país se
sas estrangeiras pudessem produzir em apoia na manutenção da dependên-
cia do capital internacional, ou seja, de
território brasileiro produtos mais baratos empresas multinacionais estrangeiras.
para o mercado internacional.

À primeira vista, parece fácil


resolver esse dilema. Afinal, qual
O subdesenvolvimento do Brasil e de outros paí-
seria o interesse em manter o ses foi alvo de muitos estudos durante a segunda
subdesenvolvimento no País? No metade do século XX. Celso Furtado, já mencio-
entanto, a análise de Florestan nado anteriormente, foi um dos intelectuais que
se dedicou a combater, na teoria e na prática, esse
mostra que os caminhos eram subdesenvolvimento.
mais complexos. A escolha entre
A visão de Furtado sobre o subdesenvolvimento se
um ou outro destino não depen- resume nas seguintes ideias fundamentais:
dia da vontade de indivíduos, mas
• O subdesenvolvimento é primitivo para produzir e
das condições históricas marcadas sofisticado para consumir. O indivíduo que não conse-
pela existência do latifúndio desde gue o que comer e aquele que se serve em um banquete
representam as duas faces da mesma moeda. O ponto
os tempos coloniais, bem como
em comum entre os dois é a concentração de renda.
pela exploração do trabalhador e • Os países subdesenvolvidos nunca “alcançarão”
pelas práticas políticas marcadas os desenvolvidos; por isso, precisam escrever uma
História própria; para tanto, é necessário haver
pela troca de favores. Foi assim uma descolonização cultural: se os pés estão no
que o País seguiu o rumo do capi- Brasil, a cabeça não pode estar em Miami (EUA).
talismo dependente.

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UNIDADE 4

Para Caio Prado Jr., o dilema da formação nacional se coloca nos seguintes ter-
mos: para que o capitalismo no Brasil evoluísse em bases nacionais, era necessário
fortalecer o mercado interno.

Segundo esse pensador, para que houvesse o fortalecimento do mercado


interno, eram necessários a melhoria do padrão de consumo dos trabalhadores e a
consolidação da burguesia nacional diante da concorrência internacional.

Para que fosse possível o aumento do padrão de consumo dos trabalhadores,


era preciso, entre outras atitudes, promover uma reforma agrária que redistribuísse
terras do Estado ou terras improdutivas concentradas nas mãos de grandes fazen -
deiros para a população rural sem terras e sem trabalho. Dessa maneira, tal reforma
criaria, também, oportunidades para que os trabalhadores rurais tivessem condições
de subsistência, fosse como pequenos proprietários ou como empregados.

Para Caio Prado Jr., a concentração fundiária constituiu um dos principais


obstáculos para a formação de um Estado nacional capaz de combinar capita-
lismo, democracia e soberania nacional.

Muitos países capitalistas fizeram suas reformas agrárias com esses objetivos.
Por que ela, ainda hoje, não aconteceu no Brasil e em outros países da América
Latina? Parte da resposta é a constatação de que uma melhora das condições de
vida do trabalhador rural refletiria no preço do trabalho nas cidades.

Afinal, o que estava na raiz da migração de milhões de pessoas do campo para


as cidades ao longo do século XX era a falta de perspectiva da vida no campo. Esses
migrantes formaram uma massa de trabalhadores em situação fragilizada que, nas
cidades, trabalhavam para sobreviver em condições mínimas.

É possível supor que, se tivesse sido feita uma reforma agrária no País e hou-
vesse boas condições de trabalho no campo, esse movimento migratório se inter-
romperia ou até se inverteria. Caso as mudanças tivessem sido implementadas,
uma das saídas que os patrões teriam de adotar para manter os empregados seria,
entre outros benefícios, o aumento dos salários.

Portanto, é possível afirmar que uma reforma agrária modificaria o padrão de vida
da classe trabalhadora, tanto no campo, quanto nas cidades. No entanto, os privilégios
da classe dominante foram assentados na exploração da mão de obra dos trabalhado-
res brasileiros, pois a reforma agrária não estava entre os interesses da elite.

Privilegiados dificilmente renunciam à sua condição de modo voluntário. Além


disso, uma evolução do padrão de vida dos trabalhadores teria consequências políticas.

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UNIDADE 4

Na perspectiva das classes dominantes, existe o risco de que, “se derem a mão,
o povo pedirá o braço”. E se os trabalhadores, fortalecidos, resolvessem enfrentar o
capitalismo?

Em relação ao fortalecimento da burguesia nacional, Caio Prado Jr. defendia a


ideia de que a economia colonial e pós-independência se desenvolveu como parte
integrante da economia capitalista mundial, impedindo o surgimento de uma
burguesia autenticamente nacional. Era necessário, portanto, o fortalecimento
do mercado interno brasileiro por meio de “bases nacionais” próprias, de forma
que o mercado interno brasileiro deixasse de ter sua economia voltada para o
mercado externo. Dessa forma, a burguesia nacional poderia deixar de ser depen-
dente da burguesia internacional.

ATIVIDADE 1 Uma reflexão sobre a relação entre patrão e empregado

Fotos e imagens também são documentos históricos que auxiliam na com-


preensão da realidade. Analise a imagem a seguir, que mostra uma relação
empregatícia. O que ela revela sobre a relação entre patrão e empregado? De que
época é a imagem? Quais são as possibilidades dessa relação de trabalho?

© David Lees/Stone/Getty Images

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UNIDADE 4

Outro aspecto do dilema


A outra face do dilema da formação nacional é a relação com o capital inter-
nacional. O capitalismo no Brasil desenvolveu-se mais tarde do que na Europa.
Enquanto lá ocorria a Revolução Industrial desde o final do século XVIII, aqui, o
século XIX ainda estava marcado pela exportação de café produzido por escravos.
E quando a indústria brasileira começou a se desenvolver no final do século XIX,
formavam-se, na Europa e nos Estados Unidos da América, os grandes monopólios
do capitalismo mundial.

Diante dessa realidade, a indústria nacional não apresentava condições de


competir com empresas que tinham décadas de experiência em desenvolvimento
tecnológico e já produziam em escala mundial.

Para desenvolver a indústria nacional, seriam necessárias medidas chama -


das “protecionistas”, que protegem o mercado interno, privilegiando a indústria
nacional. O aumento de impostos para produtos importados é um dos exemplos
de política protecionista adotada por países que não estiveram entre os primeiros
a se industrializar, como Alemanha e EUA.

Contudo, a proteção à indústria nacional contrariava os interesses das indús-


trias multinacionais e dos empresários brasileiros vinculados a elas, pois dificultaria
seus negócios nos mercados internacionais, ao mesmo tempo que estimularia a
formação de potenciais concorrentes.

É fácil imaginar que empresas privadas estrangeiras, que durante o governo


de Juscelino Kubistchek instalaram fábricas no Brasil, não tivessem simpatia pela
antiga Fábrica Nacional de Motores (FNM), produtora de carros e caminhões desde
sua instalação, ainda no governo Vargas. Por sua vez, uma fábrica brasileira que
produzisse ônibus e caminhões certamente precisaria de estímulo e proteção para
concorrer com gigantes em atividade desde o início do século.

Em resumo, promover o desenvolvimento do País de modo autônomo e que


viesse a fortalecer a nação brasileira significava colocar a riqueza e o trabalho a
serviço dos anseios e das necessidades do conjunto da população brasileira.

Porém, isso dependia do rompimento com as estruturas que marcaram a


História do Brasil desde os tempos coloniais, quando o trabalho e as riquezas eram
explorados segundo interesses alheios aos da população trabalhadora. Para supe-
rar o capitalismo dependente, seria necessário enfrentar a desigualdade social e
a dependência externa. Como se diz popularmente: “não se faz uma omelete sem
quebrar os ovos”.

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De Juscelino Kubitschek (JK)
TEMA 2 a João Goulart (Jango)

O objetivo deste Tema é estudar os acontecimentos mais importantes dos


governos de Juscelino Kubitschek (JK) e de João Goulart (Jango), tendo como refe-
rência o dilema da formação nacional estudado anteriormente. Você poderá per-
ceber que, nesse período, as disputas em torno do rumo que o Brasil deveria tomar
constituíram o cenário social e econômico que culminaram no golpe de 1964.

Dois anos depois da morte de Getúlio Vargas, um novo presidente assumiu o


governo brasileiro: era Juscelino Kubitschek. A capital do País mudou do Rio de
Janeiro para Brasília, e produtos modernos, como automóveis e eletrodomésticos,
chegavam às lojas de todo o Brasil.

Você conhece Brasília? Por que você acha que a capital do Brasil foi transferida
para lá?

Registre, a seguir, o que você já sabe sobre esse assunto.

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UNIDADE 4

O governo de JK (1956-1961)
O mineiro Juscelino Kubitschek (JK) foi empossado no governo em 1956,
substituindo Café Filho – que assumiu a presidência da República após o suicí-
dio de Vargas. JK gravou suas iniciais na História brasileira como o construtor
de Brasília, cidade planejada e erguida em aproximadamente quatro anos e
para onde se transferiu a capital brasileira em 1960.

Salvador foi a primeira capital brasileira, permanecendo assim até o século XVIII, quando, em
1763, o governo português transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.
A transferência da capital para o Rio de Janeiro estava ligada à mudança do eixo econômico na
época: com a decadência da produção açucareira e o crescimento da mineração, sobretudo em
Minas Gerais, o ouro dessa região era escoado pelos portos cariocas.
JK, por sua vez, construiu Brasília no Planalto Central, área até então pouco povoada, e para
lá transferiu a capital, em 1960, de forma a manter o governo federal longe do clima de cons-
piração que estava presente no Rio de Janeiro e também para proporcionar maior ocupação e
desenvolvimento na região Centro-Oeste do País.

Brasília foi construída no Planalto Central e trazia o desejo de JK de povoar o


centro do País, ao mesmo tempo que o afastava do Rio de Janeiro, onde a instabi -
lidade política e a ação de seus opositores poderia colocar em risco seu governo.
O governo JK também é associado à instalação de muitas fábricas, subsidiárias
de empresas multinacionais, em diversos ramos, como o de eletrodomésticos, apa-
relhos eletrônicos e, especialmente, automóveis.

© Mario Fontenelle/Fundo Novacap/Arquivo Público do Distrito Federal

A imagem mostra os candangos, operários que se deslocaram do Nordeste para a construção de Brasília.
Inicialmente, o termo tinha conotação pejorativa, mas, nessa época, foi ressignificado, adquirindo
sentido positivo, para indicar pessoas lutadoras, corajosas e dignas.

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UNIDADE 4

O governo empenhou-se em atrair investimentos estrangeiros oferecendo


incentivos tributários, inclusive para a importação de máquinas e equipamentos,
além de criar facilidades para o envio de lucros ao exterior, entre outras medidas.
A região do ABC em São Paulo, por exemplo, recebeu diversas indústrias nesse
período por causa da proximidade com o porto de Santos.

Como resultado dessa política, o governo investiu intensamente na expansão


da indústria de base, na infraestrutura energética e no aumento da malha viária
(rodovias) do País.

Novas siderúrgicas (empresas de fabricação de ferro e aço) foram criadas, como


a Usiminas, e a capacidade produtiva da Petrobras foi ampliada. A in stalação das
multinacionais automotivas significou a opção pelo transporte rodoviário em detri -
mento dos demais.

No conjunto, o investimento estatal garantiu as condições estruturais para os


investimentos internacionais. A construção de Brasília, a instalação das fábricas
multinacionais e as aplicações de dinheiro público em infraestrutura eram aspec-
tos do chamado Plano de Metas de JK, cujo lema de governo era: “50 anos em 5”.

Esse plano estava sustentado em uma ideologia desenvolvimentista, segundo a


qual o crescimento econômico era condição e instrumento para resolver os proble -
mas sociais no País. Entretanto, essa modalidade de desenvolvimento gerou outros
problemas econômicos. O endividamento externo brasileiro se multiplicou, uma
vez que muitas dessas obras contavam com empréstimos internacionais. As mul-
tinacionais, por sua vez, mandavam seus lucros para suas matrizes, fora do Brasil.
Houve, também, o aumento da inflação. Várias foram as razões para o aumento da
taxa inflacionária: os gastos governamentais imensos com a construção de Brasí-
lia, o aumento dos salários dos funcionários públicos, a ampliação do número de
empréstimos para o setor privado, entre outros fatores.

No Plano de Metas, constavam a expansão da indústria de base e de usinas


hidrelétricas, a construção de estradas, a exploração de petróleo, entre outras ações.
Mas enquanto o governo facilitava a entrada de multinacionais, as indústrias brasi -
leiras investiam em setores tradicionais: alimentação, tecelagem, móveis, constru-
ção civil, cuja demanda aumentava com o crescimento dos centros urbanos.

É importante ressaltar que a política desenvolvimentista do governo JK intensi-


ficou a produção industrial no Brasil, mas não foi capaz de mudar uma realidade: o
País não rompeu com a produção, em larga escala, de gêneros da indústria primá-
ria, como açúcar, café, algodão e cacau, para o mercado externo.

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UNIDADE 4

Algumas características antigas, como os latifúndios dominados pelos pro-


prietários de terra e a miséria dos trabalhadores do campo, não mudaram. Nesse
governo, nem se tocou no assunto da reforma agrária.

De uma maneira geral, as ações do governo pouco mudaram a condição da maio-


ria da população, que não tinha condições de consumir os produtos da indústria
moderna daquela época. Isso significa que as desigualdades sociais permaneceram.

Para os trabalhadores, o grande problema era a inflação cada vez maior. Entre 1956
e 1959, o preço do arroz triplicou, enquanto o feijão tornou-se oito vezes mais caro.
Como o salário não acompanhava esses aumentos, as greves se tornaram mais fre-
quentes, assim como os processos trabalhistas e a repressão da segurança pública.
O governo tornou-se cada vez mais impopular e o sucessor apoiado por JK não foi
eleito. Nas eleições de 1960, o paulista Jânio Quadros foi eleito com 48% dos votos.

História – Volume 4
Industrialização
Esse vídeo apresenta o processo da industrialização no Brasil, iniciado em meados
do século XX, e relata os acontecimentos dessa época e suas consequências para as
transformações econômicas, sociais e políticas do País, durante os governos de Vargas e de
Juscelino Kubitschek.

ATIVIDADE 1
Desenvolvimentismo e consumo
Com a instalação de multinacionais no Brasil durante o governo JK, a propa -
ganda de eletrodomésticos, automóveis, cosméticos e produtos químicos (produtos
de limpeza, tintas e remédios) se intensificou nos diferentes meios de comunica -
ção (rádio, TV e impressos).

De acordo com o que você leu no texto O governo de JK (1956-1961), responda:


A maioria da população podia comprar esses produtos? Justifique sua resposta.

86
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UNIDADE 4

A respeito do governo Juscelino Kubitschek, assinale a alternativa correta.


a) O setor agrícola sofreu grande impulso econômico, fixando o trabalhador no campo e detendo o
êxodo rural.
b) A Operação Panamericana (OPA), proposta por Kubitschek, recebeu na época total apoio dos E.U.A.
c) O Fundo Monetário Internacional deu total sustentação ao governo de Kubitschek, sem impor
sacrifícios à política econômica desenvolvimentista.
d) O extraordinário crescimento econômico do período anulou as diferenças regionais no país e não
concentrou a renda.
e) A política desenvolvimentista apoiava-se nos investimentos diretos estrangeiros, nos
empréstimos externos e nas emissões, tendo o Estado como promotor do crescimento econômico.
Mackenzie, 2001. Disponível em: <http://www.vestibulandoweb.com.br/historia/mack2001g1.htm>. Acesso em: 24 mar. 2014.

O governo de Jânio Quadros (1961)


O paulista Jânio Quadros foi vereador, deputado Glossário
estadual, prefeito e governador do Estado de São
Político personalista
Paulo, além de presidente da República por menos Aquele cuja ação política é
de sete meses. Político personalista e carismático, centrada em sua personali-
dade, geralmente forte e caris-
sua campanha eleitoral para a presidência baseou-se
mática. No geral, a tendência
em um discurso moralista em que denunciava a cor- de governos personalistas é se
rupção nos meios políticos e a desordem financeira. tornarem autoritários.

Entre outras coisas, adotou como símbolo uma vas- Carismático


Pessoa que tem a capacidade
soura, indicando a “limpeza” que pretendia fazer.
de seduzir, agradar as outras.
Sua vitória foi uma demonstração da insatisfação Severo
que predominava entre grande parte dos brasileiros. O que é feito com rigor, com
dureza.
Para enfrentar a enorme dívida pública e combater a
inflação, Jânio adotou um plano severo: congelou os salários, restringiu o crédito, cor-
tou gastos públicos e desvalorizou o cruzeiro (a moeda da época). Essas medidas foram
aprovadas pelos credores brasileiros, que renegociaram a dívida externa brasileira.

Porém, essas medidas não atenderam aos clamores da população, sobretudo


dos trabalhadores, que foram duramente reprimidos ao demonstrarem sua insa-
tisfação. Além de adotar um plano severo para reorganizar a economia brasileira,
o governo passou a reprimir os movimentos populares e a ampliar o controle sobre
os sindicatos. Também aumentou os impostos sobre os lucros de empresas nacio-
nais e estrangeiras. Com isso, descontentou diferentes segmentos sociais e se viu
obrigado a renunciar.

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UNIDADE 4

Alguns historiadores dizem que Jânio calculava que haveria resistência à sua renún-
cia. Talvez ele imaginasse reassumir com maior prestígio, em condições de governar
de maneira autoritária. Isso porque Jânio considerava-se importante para os partidos
políticos e acreditava que as classes dominantes brasileiras, diante de sua renúncia,
pediriam seu retorno, pois não correriam o risco de serem governadas por João Goulart
(o seu vice-presidente, conhecido como Jango, que tinha o apoio dos operários).

Jango era visto por muitos como o herdeiro político de Getúlio Vargas, de quem
foi ministro. Embora Jânio estivesse certo em pressentir a oposição a Jango, Jânio
não se beneficiou disso politicamente. A oposição, liderada pelo jornalista Carlos
Lacerda, chamou Jango de comunista. O perigo comunista e a aproximação com a
União Soviética eram veementemente combatidos pela elite capitalista brasileira.

O Governo de Jango (1961-1964)


O gaúcho João Goulart (Jango) estava em viagem oficial à China quando o presi-
dente Jânio Quadros renunciou. Houve diversas movimentações para impedir sua
posse e um impasse se instalou.
O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, em reportagem de 29 de agosto de
1961, defendeu uma única “solução moral”: a “desistência espontânea do Sr. João
Goulart ou então a reforma da Constituição”.
O governador do Rio Grande do
Sul, Leonel Brizola, liderou os que
João Goulart não era do mesmo partido nem
defendiam a posse de Jango e o
da mesma chapa eleitoral de Jânio Quadros.
respeito à Constituição vigente. Ao
final, impôs-se uma solução interme- Naquela época, o voto para vice-presidente
era separado do voto para presidente, e Jango
diária: Jango tomou posse, apesar da
foi o candidato a vice-presidente mais votado.
oposição, mas o Congresso substituiu Ele também foi o vice-presidente de JK.
o presidencialismo pelo parlamenta-
rismo no Brasil. A instituição do regime parlamentarista significava a redução
dos poderes do então presidente Jango, uma vez que, quem de fato passava a
governar o País era o Congresso, com o primeiro-ministro.
Jango herdou os problemas financeiros que Jânio, por sua vez, havia herdado
de JK. A estratégia do novo presidente foi elaborada por seu ministro do Planeja-
mento, Celso Furtado (economista cujas ideias foram estudadas no Tema O dilema
da formação nacional). A proposta era combinar a renegociação da dívida externa
com novos empréstimos para manter o crescimento da economia, ao mesmo
tempo que se atacaria a inflação.

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UNIDADE 4

No plano social, a sociedade civil (trabalhadores rurais, bancários, estudantes,


operários, entidades classistas) estava novamente mobilizada, exigindo mudan-
ças que ficaram conhecidas como “Reformas de Base” – um conjunto de reformas
em diversas esferas (agrária, bancária, fiscal, urbana, educacional), orientadas por
princípios democráticos e nacionalistas.
Entre as medidas sociais pretendidas, a reforma agrária era considerada a mais
importante e, também, a que despertava maiores resistências. Além das dificuldades
da própria situação política e econômica do País, o sistema parlamentarista dificultava
o deslanche das reformas, pois tudo tinha de passar pelo Congresso Nacional. Mas,
em 1963, foi feita uma consulta popular, ou seja, um plebiscito, para saber se o parla-
mentarismo seria mantido. O povo votou pelo retorno do presidencialismo, apoiando
Jango, que a partir desse momento, poderia governar com maior autonomia.

Reformas de Base
Após o retorno do presidencialismo, Jango lançou o programa de reformas
durante um grande comício no Rio de Janeiro, no início de 1964, com a presença de
aproximadamente 300 mil pessoas. Entre suas propostas, estava o combate ao impe-
rialismo, por meio da nacionalização de refinarias de petróleo privadas. O presidente
era favorável à reforma agrária e ao direito de voto aos analfabetos e aos praças do
Exército (sargentos, cabos e suboficiais). Suas propostas tinham a intenção de redu-
zir a desigualdade social, mas seus opositores o acusavam de comunista.
Houve reação imediata nos grandes centros urbanos. Em São Paulo, o empre-
sariado organizou, com apoio de setores conservadores da classe média e da
© Arquivo/Agencia Estado/AE

Movimento
mobilizado
pelos setores
conservadores
da sociedade
organiza uma
marcha na
região central
de São Paulo
(SP), 25 de
março de 1964.

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UNIDADE 4

pequena burguesia, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo em


torno de 400 mil pessoas, contra as reformas de Jango. Os setores mais conserva -
dores da Igreja Católica também participaram da marcha. Eles acreditavam que
um governo comunista não teria motivos para manter um bom relacionamento
com a Igreja Católica e seus seguidores.

No contexto da Guerra Fria (Tema do Volume 3), as reformas moderadas pro-


postas pelo governo e a pressão popular que apoiava Jango pareciam uma grande
ameaça ao capitalismo. Temia-se, assim, o avanço do comunismo no Brasil, como
havia acabado de acontecer com Cuba, em 1959, com a revolução liderada por
Fidel Castro.

Também ocorriam as manifestações que eram favoráveis às medidas propostas


por Jango. No campo, as chamadas Ligas Camponesas da região de Pernambuco,
lideradas pelo deputado pernambucano Francisco Julião, organizavam os trabalha-
dores rurais na luta pela reforma agrária. Nessa mesma região, o educador Paulo
Freire desenvolvia um método de educação de jovens e adultos, segundo o qual o
combate ao analfabetismo era associado a uma proposta de conscientização polí -
tica. Nas cidades, o movimento sindical articulou inúmeras greves no início dos
anos 1960, motivadas não apenas por reivindicações salariais, mas para pressionar
pelas Reformas de Base.

Essa agitação popular também se refletia no campo da cultura. A associação


entre intelectuais críticos e o movimento estudantil, liderado pela União Nacional
dos Estudantes (UNE), criou, em 1962, o Centro Popular de Cultura (CPC), cuja pro-
posta era realizar uma “arte popular revolucionária”. O clima de originalidade con-
tagiava todas as esferas da cultura: surgiam o Cinema Novo e o Teatro de Arena,
ao mesmo tempo que a chamada MPB (música popular brasileira) prosseguia a
renovação iniciada pela Bossa Nova nos anos 1950.

Mesmo com as manifestações em favor das Reformas de Base, no dia 1 o de abril de


1964, um golpe militar derrubou o presidente João Goulart. Com isso, encerrou-se um
governo que permitia, pela primeira vez na História do País, manifestações populares
e dos trabalhadores, sem repressão. Barrou-se também o processo de politização do
povo brasileiro que estava em curso. Os militares golpistas usaram como justificativa
o medo do comunismo e manipulavam os anseios da classe média pela manutenção
de sua condição econômica.

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UNIDADE 4

© Arquivo/Agência O Globo

© Arquivo/Agência O Globo

Tanques atravessam as ruas do Rio de Janeiro durante o golpe militar de 1964, anunciando o terror e
a repressão que a ditadura imporia à população.

ATIVIDADE 2 João Goulart e o parlamentarismo

1 Quais eram os principais problemas enfrentados por João Goulart na presidência?

2 Pesquise o que significa parlamentarismo e o diferencie de presidencialismo.

3 Pesquise o que é plebiscito e em que momentos da História brasileira o governo


recorreu a ele e para quê.

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A ditadura militar no Brasil (1964-1985) TEMA 3

Neste Tema, você vai estudar a ditadura militar implantada no Brasil a partir de
1964. Você poderá compreender como esse período da História recente contribuiu
para a formação do cenário sociocultural, político e econômico do País atual.

Você estudou, no Tema anterior, que o golpe militar foi uma das justificativas
adotadas pelos setores conservadores e dominantes da sociedade brasileira da
época para solucionar supostos problemas do Brasil.

Quais problemas do País seriam solucionados pelo regime militar?

Observando o País em que você vive hoje, você conclui que esses problemas
foram solucionados?

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UNIDADE 4

As características da ditadura
Durante mais de 20 anos, o Brasil viveu sob uma ditadura comandada
pelos militares e apoiada por diferentes setores da sociedade civil. Durante
esse período, não houve liberdade de expressão, organização ou comunicação.
A imprensa foi censurada, assim como qualquer manifestação cultural que
criticasse o regime. Qualquer crítica ao governo era julgada revolucionária ou
subversiva e, portanto, proibida pelos militares. Na política, aqueles que expres-
sassem publicamente seu desacordo estavam sujeitos à prisão e à tortura, que
em muitos casos levaram à morte, e também à execução sumária. Qualquer
oposição ao regime era considerada fora da lei, embora a própria ditadura
fosse ilegítima.

Os métodos violentos que a ditadura empregou para se impor foram respal-


dados por uma Constituição promulgada em 1967 pelo Congresso, que havia sido
fechado pelos militares em outubro de 1966 e reconvocado para se reunir extraor-
dinariamente a fim de aprovar a carta constitucional.

Os militares não governaram sozinhos. Seus apoiadores constituíram a


Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido do qual participaram muitos dos
representantes dos segmentos dominantes de sempre: oligarquias agrárias,
empresários de multinacionais, intelectuais receosos do comunismo etc.

Para compor a cena política, os militares permitiram a formação de um par-


tido de oposição moderada (o Movimento Democrático Brasileiro – MDB), que
atuava com a Arena (partido da situação). Tais partidos aceitavam os presiden-
tes, mas somente aqueles previamente escolhidos pelos militares.

O golpe militar foi chamado de revolução por seus articuladores.

Na perspectiva de confundir o povo e a imprensa, os golpistas não podiam chamar essa


medida de “golpe”, pois daria um tom de ilegalidade ao acontecimento (o que poderia gerar
descontentamento popular). Então, em vez disso, os golpistas da ditadura o chamaram de
revolução para parecer que estavam “inovando” ou “mudando” de forma radical e armada
(revolucionária) uma situação de descontentamento expressa pela sociedade em geral.

O golpe de 1964 não pode ser considerado uma revolução, pois com ele não houve nenhuma
ruptura na hierarquia social e política do País. O golpe militar garantiu a permanência dos inte-
resses capitalistas e impediu o avanço das reformas sociais no Brasil. No poder, permanecia a
elite capitalista representada, então, pelos militares.

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UNIDADE 4

Os chefes de Estado durante a ditadura foram:


• Humberto Castello Branco (1964-1967);
• Arthur da Costa e Silva (1967-1969);
• Emílio Garrastazu Médici (1969-1974);
• Ernesto Geisel (1974-1979);
• João Baptista Figueiredo (1979-1985).
Do ponto de vista da intensidade da repressão, a ditadura pode ser dividida em
três momentos:

• O fortalecimento da ditadura entre 1964 e 1968. Nesse período, as liberdades políti-


cas foram restringidas; centenas de funcionários públicos, professores e juízes foram
demitidos ou aposentados compulsoriamente; e deputados considerados críticos à
ditadura foram cassados, por meio de uma sucessão de atos institucionais – um con-
junto de decretos que criava normas e determinava as decisões políticas dos militares.

• O auge da repressão se deu a partir do final de 1968, quando o Ato Institucional


no 5 (AI-5) suspendeu todos os direitos previstos da Constituição. Nesse período,
aumentou muito o número de pessoas perseguidas, torturadas e assassinadas pelo
governo militar, pelo simples fato de terem ideias que questionavam esse governo.
O progressivo endurecimento da ditadura levou diversos grupos de oposição a
optar pela luta armada contra o regime.

• O processo de redemocratização política, qualificado pelo regime como uma aber-


tura “lenta, gradual e segura”. Iniciado sob o governo de Ernesto Geisel, esse processo,
seguindo as orientações do presidente, oscilou entre a abertura e o fechamento polí-
tico. Foi em seu governo que o movimento operário ressurgiu, no ano de 1977. Antes
de terminar seu mandato, Geisel preparou a abertura, acabando com a censura prévia
e pondo fim às cassações ocasionadas pelo AI-5. Além disso, ficou estabelecido que
nenhum presidente da República poderia fechar o Congresso. Mas, por outro lado, o
próprio Geisel agia de forma repressiva, como quando decretou o “pacote de abril”,
em 1977, que impôs o recesso do Congresso para que o governo pudesse aprovar um
conjunto de medidas que recuavam na abertura política.

O processo de redemocratização do País avançou no governo do general


Figueiredo. Declarada a anistia geral, os opositores do regime militar que foram
cassados, exilados e presos puderam voltar às suas atividades legais. Políticos e
artistas retornaram do exílio e novos partidos políticos foram criados. Esse pro-
cesso culminou na campanha Diretas Já, em 1984, que reivindicava o direito do
povo ao voto direto para presidente da República.

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UNIDADE 4

ATIVIDADE 1 Guerrilheiros ou terroristas?


Leia atentamente o texto a seguir.

“Foi na realidade uma noite do povo”, publicou O Globo em sua edição do dia
seguinte. Espetáculo de gala no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Pelé teria
festejado seu milésimo gol se o resultado fosse o contrário. Mas foi o Corinthians
que marcou quatro gols no Santos. [...]

[...] Pelé permaneceu na soma de 996 gols ao longo de seu inigualável


desempenho como jogador de futebol. [...]

[...] No intervalo do jogo, a torcida movimentava-se agitada. [...] Possantes


holofotes cobriam com um véu branco o gramado verde do Pacaembu.
Nos vestiários, os times recobravam fôlego. Súbito, um ruído metálico de
microfonia ressoou pelo estádio. [...] Cessaram as batucadas, silenciaram
as cornetas, murcharam as bandeiras em torno de seus mastros. O gramado
vazio aprofundou o silêncio curioso da multidão. O locutor pediu atenção e deu
a notícia, inusitada para um campo de futebol: “Foi morto pela polícia o líder
terrorista Carlos Marighella”.

BETTO, Frei. Batismo de sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella. 14. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p. 17-18.

1 Tomando como ponto de partida o texto lido, pesquise e responda:

a) Quem foi Carlos Marighella? Será que ele foi de fato um terrorista ou essa era
uma imagem propagada pelos líderes da ditadura?

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UNIDADE 4

b) Segundo o texto, a morte de Marighella foi noticiada ao público em meio a uma


partida de futebol. Em sua opinião: O que explica esse anúncio excepcional?

2 Faça uma pesquisa na internet, em livros, revistas ou jornais sobre a atuação


dos grupos guerrilheiros no Brasil no período ditatorial brasileiro.

Consultando sua pesquisa, responda às questões a seguir.

a) Em sua opinião, os guerrilheiros devem ser considerados terroristas?

b) E o Estado, que praticava a tortura e o assassinato a quem se posicionava e


lutava contra a ditadura, também poderia ser considerado terrorista?

Assista ao filme Batismo de sangue (direção de Helvécio Ratton, 2007), baseado no livro de
mesmo título, de Frei Betto. Ele conta a história de quatro frades dominicanos que passam
a lutar contra a ditadura, até mesmo apoiando o grupo de guerrilheiros da Ação Libertadora
Nacional (ALN), comandada por Carlos Marighella. Nele, você poderá ver as práticas de tortura
realizadas pela polícia na época.
Outra sugestão é o filme Lamarca (direção de Sérgio Rezende, 1994), baseado no livro Lamarca,
o capitão da guerrilha, de José Emiliano e Miranda Oldack. Ele mostra a história do ex-capitão do
exército brasileiro Carlos Lamarca e de suas lembranças da trajetória que o levou a se rebelar
contra a ditadura, tornando-se líder de um grupo de guerrilheiros.

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UNIDADE 4

O envolvimento dos civis na ditadura


Embora a ditadura fosse chefiada por militares, é um equívoco pensar que eles
agiram sem qualquer tipo de apoio. Ao contrário, o golpe teve o apoio das camadas
conservadoras da sociedade brasileira, incluindo a maior parte da classe domi -
nante, no campo e na cidade, e uma parte expressiva da classe média.
Existem documentos que comprovam o envolvimento da iniciativa privada com
a ditadura, até mesmo no financiamento de operações clandestinas de repressão e
tortura praticadas pelo Estado brasileiro.
O governo contou inclusive com o apoio diplomático dos EUA, país que, aliás,
enviou agentes para treinar policiais e militares em práticas de tortura. O apoio dos
EUA à ditadura, com treinamento militar e até com dinheiro, deve-se ao fato de esse
país temer que a esquerda brasileira tomasse o poder e seguisse o exemplo cubano
rumo ao socialismo, perdendo assim sua hegemonia sobre o Brasil para a URSS.
Considerando o intenso envolvimento de civis com o regime, é possível descre-
vê-lo como ditadura, e não especificamente como ditadura militar.

ATIVIDADE 2
Apoio civil ao golpe

1 Leia, com atenção, o texto a seguir, publicado no jornal O Globo no contexto do


golpe de 1964, e responda às questões.

O Globo | EDITORIAL Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964

Ressurge a Democracia!
Vive a Nação dias gloriosos. Porque Governo irresponsável, que insistia em
souberam unir-se todos os patriotas, arrastá-lo para rumos contrários à sua
independentemente de vinculações vocação e tradições.
políticas, simpatias ou opinião sobre
Como dizíamos no editorial d e
problemas isolados, para salvar o que é
anteontem, a legalidade não poderia
essencial: a democracia, a lei e a ordem.
ser a garantia da subversão, a escora
Graças à decisão e ao heroísmo das dos agitadores, o anteparo da desor-
Forças Armadas, que, obedientes a seus dem. Em nome da legalidade não seria
chefes, demonstraram a falta de visão legítimo admitir o assassínio das insti-
dos que tentavam destruir a hierar- tuições, como se vinha fazendo, diante
quia e a disciplina, o Brasil livrou-se do da Nação horrorizada. [...]

O Globo.

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UNIDADE 4

a) Qual é a visão que o jornal expressou em relação ao golpe de 1o de abril de 1964?

b) Por que os jornais mais importantes do País apoiaram a ditadura, até mesmo
chamando-a de “democracia”, como você viu no artigo citado? De quem eram
esses jornais e a quais interesses serviam?

2 Apesar de a imprensa ser livre para noticiar o que quiser, você considera que,
nos dias de hoje, ela nos apresenta as diferentes versões sobre os fatos ou está
comprometida com determinados interesses políticos, econômicos e ideológicos,
dando-lhes privilégios? Por quê?

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UNIDADE 4

Ditadura e capitalismo
A ditadura no Brasil estava relacionada à manutenção dos interesses dos capi-
talistas brasileiros. Os setores capitalistas estavam preocupados com as forças
sociais que não concordavam com o encaminhamento socioeconômico do País e
que se opunham ao:

• arrocho salarial (quando os salários não acompanham a inflação) e à intensifica-


ção da exploração do trabalho;

• crescimento industrial baseado no investimento multinacional e no endivida-


mento externo, que teve como contrapartida a desnacionalização da economia
brasileira e o agravamento da dependência externa.

Os efeitos socioeconômicos da ditadura podem ser visualizados com a análise


do gráfico a seguir e das tabelas da próxima página.

Total de horas de trabalho para adquirir a ração mínima

Anos

1974 163h32

1973 147h04

1972 119h08

1971 111h47

1965 88h16

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 Tempo


(horas)

Fonte: KOWARICK, Lucio; CAMPANÁRIO, Milton. São Paulo, Metrópole do Subdesenvolvimento Industrializado.
Novos Estudos Cebrap, out. 1985, p. 70. Disponível em: <http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/
contents/47/20080623_sao_paulo_metropole.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.

Se g und o o gr á fi co, e n q ua n to em Ração essencial mínima


dezembro de 1965 era necessário traba- Lista de alimentos considerados neces-
lhar 88 horas e 16 minutos para adquirir sários ao sustento de um trabalhador
a ração essencial mínima, em 1974 era adulto por um mês. Ela foi fixada durante
necessário trabalhar 163 horas e 32 minu- a ditadura Vargas, em 1938. Depois da
Constituição de 1988, a lei que trata do
tos para comprar a mesma quantidade de salário mínimo prevê que a cesta básica
alimentos. Isso indica que houve arrocho deve representar aproximadamente 48%
salarial e que a exploração dos trabalhado- das despesas desse salário.
res brasileiros aumentou.

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UNIDADE 4

Já a tabela Participação das empresas na economia indica uma diminuição na par-


ticipação econômica das empresas nacionais em relação às empresas estrangeiras
no Brasil. O aumento da participação das empresas estatais está ligado à sua atua -
ção nos setores básicos e de infraestrutura, que servem de suporte à expansão dos
negócios internacionais no País.

Participação das empresas na economia


Ano 1968 1973
Empresas estatais 27,00% 32,01%
Empresas estrangeiras 36,04% 41,05%
Empresas nacionais 36,05% 26,04%
Fonte: Dados citados por Luciano Coutinho, em conferência sobre as perspectivas atuais da economia brasileira, Porto Alegre, 1974. Apud: ALENCAR, Francisco; CARPI, Lucia;
RIBEIRO, Marcus Venício. História da sociedade brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985, p. 321.

Isso ajuda a explicar as contradi- Ufanista


ções da ditadura: enquanto fazia um No Brasil, utiliza-se o termo “ufanista” para se
discurso nacional ufanista, incen- referir à propaganda que os militares faziam da
tivava a internacionalização da eco- ditadura e do próprio Brasil. São exemplos desse
ufanismo slogans como “Ninguém segura este
nomia. Algumas dessas medidas País”; “Brasil: ame-o ou deixe-o”; e a música “Pra
adotadas concentravam a riqueza e frente Brasil”, composta para a copa do mundo
empobreciam a população. de futebol de 1970.

Por fim, a tabela Comparação da distribuição da renda no Brasil – 1960, 1970 e 1976
indica um aumento na concentração de renda no País: enquanto os ricos enrique-
ceram ainda mais, a camada popular empobreceu.

Comparação da distribuição da renda no Brasil – 1960, 1970 e 1976

População economicamente Participação de renda


ativa (porcentagem)
1960 1970 1976
50% mais pobres 17,71% 14,91% 11,80%
30% seguintes 27,92% 22,85% 21,20%
15% seguintes 26,66% 27,38% 28,00%
5% mais ricos 27,69% 34,86% 39,00%
Fontes: Para os anos 1960 e 1970: LANGONI, Carlos Geraldo. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura. Dados referentes
aos Censos Demográficos de 1960 e 1970. Para o ano de 1976: calculados com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio realizada pelo IBGE em 1976. Apud:
ALENCAR, Francisco; et al. História da sociedade brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985, p. 319.

Essa má distribuição de renda significou que, apesar do acelerado cresci-


mento da economia brasileira, especialmente nos primeiros anos da década de
1970 (conhecidos como época do “milagre brasileiro”), a riqueza não beneficiou
a todos.

100
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UNIDADE 4

O ministro da Fazenda na ocasião, Antônio Delfim Netto, resumiu a política


econômica do regime em uma receita: “aumentar o bolo para depois dividir”.
Os dados da época mostram que o bolo cresceu, mas não foi dividido.

Uma síntese da ditadura


A repressão desencadeada pela ditadura desarticulou as forças sociais que
pressionavam por uma democratização da sociedade brasileira. Como resultado,
as políticas do regime ditatorial aprofundaram a exploração dos trabalhadores e a
dependência externa, promovendo um crescimento econômico baseado na asso-
ciação com o capital estrangeiro. Enquanto houve uma conjuntura mundial favo-
rável ao investimento externo, o Brasil cresceu aceleradamente, ao mesmo tempo
que as desigualdades sociais se agravaram, com a crescente concentração da renda
nacional.

Na avaliação de alguns historiadores, os problemas políticos que isolaram


Getúlio Vargas e o golpe militar de 1964 foram iniciados por setores mais con-
servadores da sociedade que se opunham às políticas nacionalistas comanda -
das por Vargas e por João Goulart, em 1961.

A partir do governo de Juscelino Kubitschek, acelerou-se a entrada de indús-


trias estrangeiras no Brasil, o que afetou gravemente o processo de constituição
da indústria nacional.

Na opinião do sociólogo Florestan Fernandes, a ditadura significou a vitória


do setor das classes dominantes brasileiras que, temerosas das consequências
dos movimentos populares, apoiaram uma aliança com o capital internacional
como alternativa segura para garantir seus privilégios.

Houve uma modernização na industrialização brasileira, mas as indústrias


se desnacionalizaram, uma vez que a maior parte do lucro produzido pelas
indústrias estrangeiras (multinacionais) era enviada, em geral, para suas matri-
zes, em seus países de origem.

A entrada intensiva do capital internacional no Brasil foi facilitada pela


expansão dos investimentos das empresas multinacionais no mundo depois
da 2a Guerra Mundial. A consequência desse processo foi o incentivo ao cresci-
mento econômico que não acompanhou, do mesmo jeito, a integração econô-
mica e social da maior parte da população.

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Durante o período ditatorial, a economia brasileira cresceu, particularmente


nos anos 1970, mas esse crescimento agravou as desigualdades sociais em vez de
reduzi-las. Isso ocorreu, entre outros motivos, porque baixos salários e recursos
naturais baratos são fatores de atração para as multinacionais, itens que o Estado
brasileiro ditatorial tratou de garantir.

Assim, apesar da modernização industrial, o que permaneceu no Brasil foi uma


estrutura econômica na qual a exploração da mão de obra dos trabalhadores pre-
dominava e a devastação dos recursos naturais era comum. Outra consequência
da abertura do mercado nacional para o investidor externo foi a associação entre
dependência externa e desigualdade social, presente até os dias atuais.

Quando o cenário internacional, no final dos


anos 1970, se modificou, a economia brasileira
O filme Eles não usam black-tie (dire-
tornou-se refém da dívida externa e da infla-
ção de Leon Hirszman, 1981) expõe
ção. Ao mesmo tempo, os movimentos ope- os problemas vivenciados entre
rário, estudantil e sindical fortaleceram suas pai e filho, ambos operários e com
diferentes posições ideológicas, em
lutas, antes reprimidas com perseguições. Com
um contexto de greves e lutas dos
o ressurgimento do movimento operário, em trabalhadores nos anos 1980.
1977, cresceram também as lutas sindicais no
ABCD paulista, região na qual surgiram lideran-
ças sindicais que influenciaram no processo de redemocratização do País. Des-
pontou nesse contexto a liderança de Luís Inácio Lula da Silva, que mais tarde se
tornaria presidente da República (2003-2011).

As Diretas Já e o retorno da democracia


Nos últimos anos da década de 1970 e começo da década de 1980, as manifes-
tações populares se intensificaram desencadeando, em 1983, a campanha por elei -
ções diretas para presidente, conhecida como Diretas Já.

Apesar do grande envolvimento popular na campanha das Diretas Já, a ditadura


foi encerrada por meio de uma transição negociada em 1985. Dessa maneira, preju -
dicou-se a implementação de um sistema de governo que poderia ter sido a expres-
são da democracia, da vontade da maioria das pessoas.

Em 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente da República, por meio do voto
indireto de um colégio eleitoral composto por políticos de várias tendências ideo-
lógicas. No entanto, o novo presidente morreu antes de tomar posse e quem
assumiu foi seu vice, um homem cuja carreira política estava ligada à ditadura:

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o maranhense José Sarney, que pertencera ao partido político da Arena. Uma


nova Constituição foi redigida em 1988 e, somente no ano seguinte, houve elei-
ções diretas para a presidência da República.

A disputa presidencial que se deu com o retorno da democracia trouxe


novamente para a nação a possibilidade de escolha entre os dois projetos que
marcaram o dilema nacional: a manutenção do subdesenvolvimento atrelado
à dependência do capital internacional ou o desenvolvimento independente.
De um lado, estava Fernando Collor de Mello (PRN), representando o primeiro
projeto, ao propor a abertura da economia às empresas estrangeiras e a manu -
tenção do País como nação agroexportadora. Do outro lado, estava Lula (PT),
propondo o segundo projeto: desenvolvimento da indústria nacional, inserção
do trabalhador como consumidor e rompimento com a dependência externa.
Nas eleições, em 1989, venceu Collor.

Collor tomou uma série de medidas para combater a inflação, preparando


a economia nacional para o investimento estrangeiro, entre elas: a criação
de uma nova moeda e o confisco de poupanças da população. Essa segunda
medida, associada às denuncias de corrupção, fizeram o presidente perder
apoio popular, assistir a uma série de protestos contra seu governo (como a dos
“caras pintadas”) e, por fim, sofrer um impeachment, isto é, um processo de cas-
sação do mandato presidencial.

Quem assumiu em seu lugar foi o vice-presidente, Itamar Franco, que,


com o Plano Real, estabilizou a moeda e a economia. Na sequência, foi eleito
Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB, após ter disputado com Lula as
eleições presidenciais de 1994. Na perspectiva do dilema nacional, FHC, que
foi reeleito em 1998, manteve a economia estável, mas ainda dependente do
capital internacional.

Com as eleições de 2002, que conduziram Lula à presidência, retomou-se


o projeto, iniciado por Vargas, de levar o Brasil rumo ao desenvolvimento do
capitalismo nacional, inserindo a grande massa dos trabalhadores brasileiros
no mercado consumidor e flexibilizando a dependência externa em relação às
potências capitalistas tradicionais, como EUA e Europa, ao estabelecer novos
acordos comerciais com países que se tornaram potências econômicas emer-
gentes, principalmente a China.

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Durante a ditadura, os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos


brasileiros foram atacados pelos militares e deixaram de existir. A antiga Cons-
tituição foi alterada por uma série de atos institucionais e não servia mais para
reger uma sociedade democrática. Foi assim que, logo após a redemocratização
do Brasil, fez-se necessário redigir uma nova Constituição que expressasse os
valores democráticos e os novos anseios da população brasileira.

Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição da República Fede-


rativa do Brasil, que até hoje orienta e regula a vida civil, política, econômica e
social dos cidadãos brasileiros. Diversos setores da sociedade estiveram envol-
vidos, direta ou indiretamente, na elaboração dessa nova Carta Magna: políti -
cos, membros da sociedade civil organizada, movimentos sociais e defensores
dos interesses do empresariado e dos trabalhadores. Desse modo, seus princípios,
tal qual na Declaração Universal dos Direitos Humanos, contemplam tanto a
influência do pensamento liberal como dos movimentos trabalhistas e social-
-democratas, expressos em seu artigo primeiro, tal como segue:

[...] Art. 1 o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em: 24 mar. 2014.

A Constituição de 1988, ou “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida, tam-


bém deixa claros os objetivos que a nação redemocratizada pretendia alcançar:

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[...] Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação. [...]

Fonte: BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em: 24 mar. 2014.

A Constituição de 1988 também qualificou a tortura e as ações armadas contra o


Estado democrático e a ordem constitucional como crimes inafiançáveis, ou seja, aqueles
que não admitem o livramento por pagamento de fiança. Com isso, seus artigos expres-
sam a vontade da sociedade brasileira, à época, de romper com tudo o que significou a
ditadura. E aí está a sua importância para a consolidação da democracia no Brasil.

ATIVIDADE 3 O desenvolvimento da economia brasileira

Com base no que você estudou do texto, assinale “V” para verdadeiro e “F” para falso.
a) □ O desenvolvimento econômico era um assunto que estava no centro das
preocupações dos militares durante a ditadura.

b) □ O Brasil passou por um grande progresso na indústria de base e no setor de


transportes rodoviários.

c) □ A economia brasileira se desenvolveu muito, de modo que se tornou inde-


pendente da tecnologia dos países estrangeiros.

d) □ As desigualdades sociais diminuíram drasticamente com a implementação


do regime militar.

Depois do impeachment de Fernando Collor de Melo, em 1992, os três presidentes


eleitos, na sequência, tinham em comum o fato de terem participado da oposição
à ditadura militar:
• Fernando Henrique Cardoso foi um professor universitário que optou por viver
fora do País durante a ditadura, até candidatar-se ao senado pelo MDB em 1978 e à
presidência da República pelo PSDB;

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• Luiz Inácio Lula da Silva foi líder sindical em São Bernardo do Campo (região do
ABCD paulista), em um contexto de intensa mobilização operária no final dos anos
1970. Tornou-se um dos fundadores do PT e candidato à presidência da República
pelo mesmo partido;
• Dilma Rousseff participou de organizações vinculadas à luta armada durante a
ditadura e foi prisioneira política entre 1970 e 1972, eleita presidente pelo PT.
No plano político, o Brasil, governado por esses presidentes, é diferente daquele
da época da ditadura, que censurava e perseguia seus opositores. E do ponto de
vista da desigualdade social e da dependência externa, houve mudanças significa -
tivas? Quais são elas?

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