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Um agradecimento especial a
todos que se apaixonaram pelo
primeiro livro “A Esposa do
Rei”. Confesso que eu não
esperava tanto carinho. Amei
receber mensagens de
madrugada, áudios, vídeos,
montagens e muito mais. A
todos vocês meus amores,
escrevo “A Heroína do Rei”
com todo carinho do Universo.
Amo vocês. De todo meu
coração.
Miriam
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ENCRENCA
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arsenal?
Passei a ouvir com muito mais atenção.
— Que nada. Deixa de ser molenga. Vamos
pegar o dinheiro e sumir — teimou o ameba.
— Acreditem... Éfer está fazendo bruxarias e
logo o mundo inteiro será dele — insistiu o
medroso.
Será que ele se refere àquela arma
biológica?
— Conversa. Essa curandeira já descobriu
um jeito de acabar com a bruxaria dele — soltou
outro sequestrador.
— Ah... aquilo não foi nada — retorquiu o
medroso.
Engoli em seco. Se Éfer tinha algo pior que
aquela bactéria, tínhamos de nos preparar e
descobrir o que era, e rápido. O problema era que
não tinha como saber se o medroso dizia a verdade
ou se estava se “borrando” e tentava convencer os
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ATO DE GUERRA
M eus
retornaram
sentidos
mais
lentamente do que eu gostaria e meu cérebro só
captava o balançar da minha carcaça. Onde eu
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me ajudar.
Por mais que aquela passagem não fosse tão
estreita, confesso que deu um “friozinho” na
barriga por ver aquele cânion enorme dos dois
lados. Qualquer desvio de percurso, e a queda seria
um tombo e tanto. A guarda real acelerou o ritmo e,
quando estava quase nos alcançando, transpomos o
final daquela estranha passagem. Tão logo a
carroça trespassou para a outra extremidade, o
medroso diminuiu a velocidade, voltando a
conduzir com certa tranquilidade. Olhei para a
passagem, e observei Lui, bem como toda a guarda
detendo-se no exato limite da ponte.
Essa não! Não acredito! Que filho da...
Eu não conhecia aquela região, mas, só de
observar a situação, compreendi tudinho. Se eu
tivesse um milhão de ciclos de ouro podia apostar
que aquele cânion era a divisa entre Yonah e Karur.
Por isso, a guarda parou bem ao final da ponte. Eu
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de ser um adversário.
Antes que eu pudesse responder, chegaram os
cavaleiros da outra comitiva e, dando uma boa
olhada no grupo, pude perceber um deles
ostentando um colar com uma espécie de brasão.
Ele era do tipo que Joen classificaria com
incomum, e seu corpo era alto e magro. Bem
magro, do tipo “nunca passei nem em frente a uma
academia na vida”. Seus olhos eram verdes
acinzentados e o cabelo negro comprido estava
semipreso por um coque. Parecia ser alguém
importante porque o nariz empinado estava nas
alturas. O restante não passava de um bando de
idiotas, isso era óbvio, no entanto havia um bocó
dentre aqueles homens, observando tudo de longe,
como se, simplesmente, adorasse ver o circo pegar
fogo.
Após dar uma boa olhada naquele grupo,
tornei a me concentrar na minha batalha com o
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cima a baixo.
— Está muito longe de casa, senhora, e seu
marido não tem nenhum poder aqui — afirmou de
um jeito presunçoso ao extremo, colocando meu
módulo “ranço” para funcionar.
— Vossa Graça não deveria ficar tão próxima
da fronteira, isso é um risco ao nosso país —
considerou uma voz daquele grupo.
Observando bem aquela situação, algo não
me cheirava bem. Decidi dar minha cartada.
— Então, o próprio Rei Éfer estava
esperando por mim? Ora, mas quanta consideração
— disparei, bem sarcástica, enquanto espreitava a
reação do grupo ao redor.
— A última esposa de Sete merecia minha
especial atenção — retrucou o metido de cima da
montaria, exalando um sarcasmo muito maior que o
meu.
Olhei bem para ele, analisando detidamente.
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provocador.
— O Rei Sete não se importa nem um pingo
por quem tenho ou deixo de ter apreço — blefei,
porque eu não podia deixar que Éfer me usasse
como uma arma para os seus propósitos.
— Não sei se isso é bem verdade, afinal ele
se desfez de setecentas por você — retorquiu, ainda
jogando.
— Parece que Vossa Graça está mal
informado. O rei dispensou todas as esposas,
inclusive eu. No entanto, ainda precisava de mim
como curandeira. Mas agora que já ensinei o que
precisam fazer, não necessitará mais de meus
serviços — contra-ataquei — se devolver o soldado
à Yonah vivo, como ato de misericórdia, mesmo
que ele tenha violado a divisa, aposto que o Rei
Sete esquecerá esse mal-entendido e dará o assunto
por encerrado — finalizei, rezando para que o
movimento que eu acabara de realizar no tabuleiro
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SOBREVIVENTE
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àquele lugar.
Ao que parecia, Éfer tinha cruzado um bom
trajeto até a fronteira para me recepcionar
pessoalmente e isso indicava que ele tinha alguma
informação privilegiada a meu respeito. Certamente
ele desconfiava de que eu vinha do mundo azul, a
pergunta era: como ele poderia saber disso?
Transpomos a cidade e logo avistei um
castelo sombrio erguido no alto da colina, cuja
construção possuía um aspecto medieval,
assemelhando-se a uma verdadeira fortaleza.
Droga, fugir vai ser bem mais complicado do
que pensei.
O mais engraçado era que essa cena de
chegar a um palácio em um veículo de tração a
cavalo me dava uma sensação estranha de déjà vu.
Ainda que muitos pensem que um harém seja
melhor que uma masmorra, continuo a crer que isso
depende do ponto de vista.
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inconsciência.
Eu sabia perfeitamente que Éfer viria
pessoalmente conferir se seus “presentinhos” me
fariam implorar por piedade. Então, resolvi colocá-
los de em uma forma bem confortável para mim e
me sentei à espera do anfitrião, o qual não me
deixou aguardando muito. O rei de Karur se
aproximou das barras da cela e, assim que ele me
olhou, mexi meu traseiro, afofando meu novo
assento.
— Quer mandar mais alguns para deixar
minha mais nova poltrona maior e mais macia? —
indaguei, mirando-o com aquele meu olhar
desafiador infalível.
O rei estava vestido de forma bem mais
descontraída e, no momento em que assimilou a
situação, cruzou os braços e se apoiou na parede,
abrindo um sorriso bem debochado.
— E se eu colocasse uns dez aí com você,
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daquele rapaz?
A pergunta me deixou perplexa, mas tentei
bravamente não fazer nenhum movimento brusco.
Ele sabia do Jason e, por isso, me pôs lá. É
ardiloso ao extremo mesmo!
Eu tinha de pensar em algo rápido, até
porque, mesmo que fosse um jogador formidável,
ele não ia me vencer.
— Para quê? Pelo que vi até agora deste país,
seria inútil. É claro que aquele pobre desgraçado
vai morrer ali no escuro sem que ninguém sequer
note — encenei, sem expor a menor gota de
sentimento.
Éfer me mirou com os olhos semicerrados e,
em seguida, delineou um sorriso astuto.
— Será que me enganei a seu respeito, minha
senhora?
— Disso eu não tenho dúvida — respondi
entre dentes.
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PALAVRAS MÁGICAS
das portas.
— Dáian, espere — chamei baixinho.
— Lin, temos de ser rápidos — alertou,
sussurrando.
— Eu sei, mas preciso entrar aqui, rapidinho.
Antes que ele pudesse protestar, abri devagar
a porta daquela sala e logo fitei as prateleiras
abarrotadas de coisas. Avancei sem nem piscar na
direção da lanterna que tinha visto antes e, graças a
Deus, as pilhas ainda tinham alguma carga. Meu
próximo alvo foi a mala médica. Em seguida,
peguei uma bolsa, onde coloquei algumas coisas
úteis, até que parei em frente à dinamite, cogitando
se devia levá-la conosco.
Estava alocada junto com outras bugigangas,
isso só podia significar que Éfer não fazia a menor
ideia do propósito do artefato. Se ele tinha mesmo
acesso a algum tipo de...
Espera um pouco...
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Dáian me seguiu.
— Então já podemos ir?
— Ainda não. Tem algo muito mais
importante numa das celas.
— Vamos rápido, então — advertiu.
Atravessamos aqueles corredores sinuosos e
a chegada da noite revelara-se muito bem-vinda
porque colaborou muito com o nosso modo “ninjas
invisíveis”. Assim que alcançamos a ala da
masmorra, Dáian dominou o carcereiro e o colocou
para dormir, muito antes deste perceber o que o
atingira. Pegamos o molho de chaves e fomos até a
cela. A sorte foi que o lugar ainda se encontrava
vazio e a pouca iluminação me obrigou a utilizar
mais uma vez a lanterna.
— Jason — chamei.
O terráqueo abriu os olhos com dificuldade e,
assim que me reconheceu, um alívio emocionado o
dominou.
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uma pluma.
Passei pela porta da cela e, assim que Dáian a
atravessou, ouvi o barulho da cabeça de Jason se
chocando com a grade.
— Ops! — emitiu o rei.
— Ops? — ecoei, reprovando-o.
— Já estou carregando um homem que te
abraçou na minha frente, então... acredite... estou
fazendo muito mais do que pensei ser possível —
justificou.
Balancei a cabeça.
O Rei Sete estava mesmo ali, não é?
Voltamos pela mesma passagem secreta e
seguimos pela área externa até encontrarmos Lui,
que nos aguardava com o nosso meio de fuga.
— Pegue-o — disse Dáian, entregando Jason
a Lui, quase como se fosse uma carga.
— Um homem! — exclamou meu ex-
professor dirigindo-se a mim.
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NÃO DESCANSAREI
M esmo depois de
transpormos os
limites do palácio, ainda cavalgamos um tanto
apreensivos, tendo em vista a quantidade de
pessoas transitando por aquelas estradas secas, as
quais pareciam feitas de fuligem e pó. Karur era
infinitamente mais retrógrada que Yonah, e a
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ao vilarejo.
Dáian assentiu a contragosto, porque, só de
ver sua reação eu soube que, por ele, voltaríamos a
Karur naquele mesmo instante, apenas para ele ter
o prazer de socar a cara da hiena astuta. A seguir,
voltamos a nossa montaria e, após um tempinho,
chegamos ao nosso destino, descendo dos cavalos
logo na entrada do vilarejo. Apenas Jason
permaneceu onde estava.
À medida que caminhávamos pelas pacatas
ruas e as pessoas iam reconhecendo Dáian, uma
comoção ia se formando em torno dele. Em
pouquíssimo tempo, mais e mais pessoas se
aproximaram formando um aglomerado gigante de
gente, querendo cumprimentá-lo, tocá-lo e até
beijar-lhes as mãos.
Tudo bem que ele era o rei. Isso ninguém
discute. No entanto, confesso que fiquei espantada
com aquele tipo de reação da população. Não
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um tom áspero.
Estranhei um pouco a entonação que o
comandante usara desde minha primeira pergunta e
resolvi mirá-lo por alguns instantes. Não havia
como deixar de notar ele fitando Dáian com um
olhar ressentido e amargo, como se não
conseguisse lidar com a própria dor. Sem querer,
aquela expressão desorientada que demonstrou
quando nos encontrou no castelo, voltou a minha
memória. Só, então, compreendi o tamanho do meu
egoísmo.
Nossa... Everlin, como você é sem noção!!!
Aff...
Com toda a vergonha do mundo, tenho de
admitir que a minha “sem noçãozisse” me vez
esquecer completamente de um detalhe crucial: a
grandeza da minha felicidade era diretamente
proporcional ao sofrimento enfrentado por Lui.
Dáian tinha razão. Ele havia... de fato...
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prefeito.
Minutos depois, já estavam nos conduzindo a
uma das casas e acabei por aceitar a ajuda de
alguns curandeiros. Dáian saiu para atender os
líderes da região, ao passo que eu fiquei um bom
tempo me dedicando aos cuidados de Jason. Ainda
que a nova mala médica tenha se mostrado útil, não
continha remédios eficazes, como antibióticos.
Então, eu estava apreensiva ao pensar se aquela
ferida na perna iria mesmo se curar.
Assim que Jason estava relativamente
medicado e descansando, saí para respirar um
pouco, mais com a intenção de enxotar dos meus
ombros o peso da minha própria impotência que a
de dar um passeio de verdade. Caminhando à beira
do rio, encontrei uma árvore baixa, cujo tronco
secundário parecia um banco confortável. Resolvi
me acomodar e admirar o curso d’água.
— Senhora, posso lhe falar? — ouvi atrás de
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ele.
— Não sabia o que era quando colocou no
braço? — investigou, incrédulo e espantado.
— Pois é... então... não — confessei,
encabulada.
Lui franziu o cenho.
— Dáian não me disse o que era quando
colocou no meu braço, eu tinha apenas catorze anos
na época — expliquei com cuidado, torcendo para
que fosse o suficiente para esclarecer tudo.
Meu ex-professor arregalou os olhos e
manteve-se estático, olhando para mim como se
não pudesse crer no que acabara de ouvir.
— Mas... quando estava no palácio, a senhora
agia como se nunca o tivesse visto na vida! —
exclamou atônito.
— Tá aí uma coisa engraçada, não é? —
expressei com a cara mais sem graça que já produzi
na face da Terra ou terras, afinal aquele planeta não
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raciocínio.
— Isso não pode ser! — refletia Lui,
reagindo do mesmo modo que qualquer ouvinte
diante de uma história como aquela.
— Agora que já sabe a verdade, por que não
desiste de uma vez? — interrompeu Dáian e, pelas
palavras, devia ter ouvido toda a nossa conversa.
Lui olhou para mim como se implorasse para
eu lhe dizer outra coisa. Como se quisesse se
agarrar a um fio de esperança de que tudo aquilo
não passava de um pesadelo e eu fosse a única com
poder para fazê-lo despertar. Desviei o meu olhar.
Tudo o que eu havia dito era a mais pura verdade e
não havia nada que eu pudesse fazer por ele.
Depois de ouvir tudo, o comandante voltou-se
atordoado para a trilha do vilarejo e a seguiu.
Entretanto, após caminhar um pouco, retornou com
passos decididos, não se detendo até estar frente a
frente comigo.
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até de salsicha.
Entretanto, eu não sabia bem o porquê de não
conseguir formular uma resposta decente para Lui.
Mesmo com Dáian diante de nós, não fui capaz de
pensar em algo aceitável a dizer ao homem que
acabara de fazer a declaração de amor mais direta e
ousada que já ouvi na vida. Até tentei mexer os
lábios, mas o som não se formava. Ao perceber que
minha resposta não vinha, Dáian acabou se
interpondo entre nós.
— Quando ela for sua rainha terá de se
curvar — interpelou o rei, desafiando.
— Pelo que vejo, majestade, ainda tem muita
água para correr por debaixo dessa ponte antes
disso acontecer — retorquiu o comandante,
enfrentando o seu rival.
O rei também pareceu ficar sem reação diante
da determinação inabalável de um homem
apaixonado. Lui exalava o ar confiante de um
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Florescer Dourado
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— Templo de Yonah?
— Sim, é subterrâneo.
— Foi como preservaram os pergaminhos
também, imagino.
— Sim.
— Não me diga que os reis do passado não
queriam dividir? — fiz a pergunta mais como um
comentário brincalhão, enquanto continuava
pulando para tentar colher uma das flores.
Um silêncio estranho se instalou no ar a
nossa volta. Parei de saltar feito um canguru e olhei
para Dáian, que mirava o céu como se se
envergonhasse pelos atos dos antepassados.
— Amor, me perdoe. Eu não quis tocar em
um assunto que não me diz respeito — falei sem
saber ao certo o que dizer.
Dáian sorriu.
— Tudo o que me diz respeito, te diz respeito
— insinuou, tocando a ponta do meu nariz e
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sequência.
— Majestade, antes de entrar nos assuntos
mais preocupantes, gostaria de lhe dar uma boa
notícia. Muitas plantações estão prosperando na
região, graças às flores de Éden. Essas árvores
foram uma benção para a nossa gente.
Ouvi o prefeito e minha curiosidade acabou
me vencendo. Tive de retornar.
— Me perdoe, mas o senhor disse que as
flores auxiliam nas plantações de outras culturas?
Como? — perguntei sem saber se era adequado de
minha parte, aliás sem me importar nem um pingo
com isso.
— Ah... minha senhora. O pólen das flores de
Éden mantém outras plantações livres de doenças e
pragas. As abelhas e outros insetos fazem a
polinização. A polinização é um processo...
— Eu sei o que é polinização, não se
preocupe — interrompi.
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— pedi.
Dáian veio andando até mim e, em seguida,
deu a volta por meu corpo, abraçando-me pelas
costas.
— Meu amor, pode me chamar do que quiser
na frente de qualquer pessoa deste mundo. Pode me
chamar de “meu amor”, “meu querido”, “meu
benzinho” e por aí vai. A lista pode ser infinita —
falou, como se fosse a coisa mais séria do mundo.
O prefeito corou e virou-se para o lado
encabulado.
— Dáian — repreendi entre dentes — quero
dizer, majestade — corrigi, ainda entre dentes, mais
vermelha e mais sem graça que o prefeito.
O rei gargalhou. Era o único achando graça
da situação.
— Para que quer a flor, meu amor?
— Ora, se mantém doenças afastadas até de
outras plantas, deve ser um biocida poderosíssimo.
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BANHO FRIO
E m meus sonhos,
flutuava entre nuvens,
pousando em um lugar familiar. De repente, eu
estava naquela cachoeira azul esverdeada, o
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beijar.
Olhei em volta para tentar entender a
situação, observei que a porta estava trancada, a
janela também, as luzes apagadas, o quarto
parcialmente iluminado pela luz das luas e Dáian
vestia roupas de dormir.
— Mas você pretende dormir aqui? —
questionei surpresa.
— Ué, por que não? — insinuou, sem tirar os
lábios de mim.
— Amor... é que... é que... já havíamos
combinado... — tentei explicar, sem conseguir
formular uma frase coerente sequer.
— Por favor, amor. Não me expulse. Eu
prometo que fico quietinho. Eu nem estou
pensando nisso! — argumentou com uma carinha
que quase parecia de santo. Quase.
Olhei para ele, arqueando uma das
sobrancelhas e cruzando os braços.
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vencida.
Assim que me ouviu, o rei explodiu de
felicidade e me beijou, deixando toda aquela
vibração alegre chegar até mim, fazendo com que
meu corpo palpitasse na mesma sintonia.
— Você está linda, a propósito.
Ruborizei.
Em seguida, despiu a camisa e se atirou sobre
a cama com os braços abertos, mostrando-me o
peito, como se dissesse para eu me aninhar ali e
sem abandonar, nem por um minuto sequer, aquele
sorriso contente maravilhoso. Acabei me rendendo
e deitando onde ele queria.
Dáian suspirou, no instante em que meu rosto
tocou o seu peito.
— Então, o que tem para me dizer de tão
importante? — indagou satisfeito.
Levantei e o encarei.
— Lin, continue aqui — reclamou, batendo
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me conhece.
Em dado momento, Lui se levantou e veio
em minha direção trazendo seu prato. Pela atitude,
não havia dúvida de que viria se sentar ao meu
lado. Ao perceber o que o meu ex-professor faria,
confesso que um ataque súbito de nervosismo me
invadiu e, tão logo ele se acomodou, eu me
levantei. Uma atitude infantil e mais óbvia só se eu
fizesse isso com uma melancia amarrada no
pescoço.
Lui queria me dizer alguma coisa, mas, no
fim, optou por se calar. De minha parte, nem lhe
dei chance de pensar melhor e conversar. Não
queria que sofresse e, muito menos, que fosse eu a
lhe causar alguma dor. Queria menos ainda que ele
e o rei tivessem outro embate. Dáian era impulsivo
e muito ciumento, duas características que não
combinam nadinha com um triângulo amoroso.
Retornei para a multidão de pacientes, a qual
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TEMPESTADE
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também.
— Tragam o que sua senhora está lhes
pedindo porque o que precisará fazer é doloroso até
para um homem adulto e treinado, imaginem para
uma criança — ouvi alguém disparar na porta.
Voltei-me para a entrada e vi Dáian recostado
no batente.
A distração de Lui fez sentido.
— Agora mesmo, meu senhor — acatou o pai
do garoto.
Tão logo trouxeram a bebida, extraí um
pouquinho do látex, tomando cuidado com a
quantia, até porque poucas flores foram o suficiente
para apagar um baita animal. Misturei o extrato
natural a um pouco de água e à bebida. Em seguida,
dei o pseudoláudano ao menino.
As pessoas costumam dizer que “o Universo
conspira”, e essa era a única explicação razoável
para eu ter descoberto aquela planta, justo naquele
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certeza.
No entanto, embora eu desejasse, com todas
as forças, que ele não se machucasse, embora eu
soubesse que ele era a última pessoa da face da
Terra deles a merecer sofrer por amor, a decisão era
dele e não minha.
— Você está mesmo testando a minha
paciência, não é? Soldado — Dáian rosnou da porta
do quarto.
Lui afastou-se uns passos, jogando a camisa
suja por sobre um dos ombros. Dáian entrou e se
interpôs entre nós. Em seguida, os dois se
entreolharam por alguns momentos, e o
comandante acabou seguindo para fora do quarto,
lançando sobre o rei um olhar ferino, como se
estivesse convencido de que seu oponente não
passava do maior estraga-prazeres do universo, ou
melhor, o maior estraga-felicidades.
— Você está bem? — indagou o rei,
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com elas, mas também não era justo com ele. Nem
comigo. Pensando bem, a justiça havia passado
longe de todo mundo.
Dáian não queria ter se separado de mim,
nem eu dele. A injustiça começou aí. E o resto?
Acabou apenas se tornando uma bola de neve quase
sem fim. Inadvertidamente, lágrimas começaram a
rolar por meu rosto.
— Meu amor, não. Não lhe contei isto para
fazê-la chorar — confortou-me com um abraço
cheio de zelo.
— Você nunca me esqueceu! — transformei
em palavras o pensamento que me assombrava
porque enquanto eu havia feito tudo o que pude
para esquecê-lo, ele fez tudo o que pode para me
manter viva em sua memória.
— Nem um dia sequer. Sabe por que pisar
naquele harém e escolher uma mulher era um dos
piores momentos da minha vida?
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SOLSTÍCIO
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seguida.
— Vem, aproxime-se mais e sorria — instruí
animada.
Dáian não obedeceu e ficou mirando o rio.
— Amor, vem — insisti.
— Você acabou de pôr a mão nas partes
íntimas de um homem — despejou irritado.
— Ah, meu bravinho — brinquei,
aproximando-me dele e depositando carícias em
seu pescoço, bochecha e lábios.
— Nem vem, você não vai me fazer ceder
com beijos — avisou.
O mais engraçado era ele afirmar com tanta
convicção que não iria se render, mas inclinava-se
cada vez mais para mim, permitindo mais e mais
beijos.
— Eu prometo que você irá entender assim
que eu mostrar.
— Eu acho bom — decretou.
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prefeito.
— Solstício, o dia mais longo do ano, não é?
E por que comemoram?
O prefeito olhou-me aturdido.
— A senhora não conhece as tradições de
Yonah?
— A minha esposa veio de um lugar distante
— esclareceu o rei.
— Amor, você disse no bilhete para eu não
me esquecer do festival. Tem alguma razão em
especial?
— Não, Lin. Não se preocupe com isso —
respondeu meio acanhado.
Não sei por que, não acreditei muito nesse
“não se preocupe com isso”.
— É melhor irmos. Até mais tarde, amor —
despediu-se, beijando minha testa.
Quando seguia para onde Jason estava
hospedado, algumas senhorinhas solicitaram que as
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segurar o riso.
— Como assim? — indaguei sem entender.
— Você encheu o prato do rei com azeite de
Kalahan — falou, mostrando-me o vidro do óleo
maravilhoso.
— O gosto é muito bom — justifiquei.
— Sim, ele é uma delícia — concordou.
Depois me puxou para perto de si.
— E muito afrodisíaco — finalizou, falando
baixinho.
— O queeeeeeeê? — exclamei constrangida e
mais alto do que gostaria.
Quase instantaneamente, a mulherada caiu na
gargalhada.
Caramba! E agora? Não tenho tempo de
refazer!
Se eu não levasse o prato para Dáian era
quase certeza que ele ficaria chateado, mas, se eu
levasse, como ficaria... bem... o “nosso momento”?
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minutos degustando.
Ai, meu Deus, tinha me esquecido da bomba.
Enterrei minha cabeça entre meus braços,
debruçando-me sobre a mesa, sem saber onde me
enterrar de verdade.
— Você quer mesmo me matar, não é? —
soltou, caindo na gargalhada.
— Ah, amor. Só depois que eu já tinha
colocado me disseram o que isso fazia. Eu não
tinha ideia... — tentei explicar a situação, mas
acabei sendo meio reticente.
— Estou vendo, terei de dormir no rio hoje
— afirmou ainda sorrindo e abocanhando o
macarrão.
— Ah, amor, então, não coma mais.
— Claro que eu vou comer. Não sabe o
quanto esperei por essa comida —declarou,
comendo com tanto gosto que eu, certamente,
poderia esperar por chumbo grosso à noite.
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mal.
— Eu coloco se você admitir que está
enciumada.
— Enciumada, eu? Claro que não.
— Então, vou trabalhar assim.
— Então, vai dormir no rio mesmo ou no
sofá, você escolhe.
— Malvada — rendeu-se vencido, colocando
a camisa.
Hum... descobri outro gatilho para conseguir
o que eu quiser — refleti valendo-me novamente da
cara de emoji pensativo.
— Por que não admite que está com ciúmes?
— indagou, aproximando-se e agachando-se bem a
minha frente.
— Está estampado na minha testa, por que
quer que eu diga? — questionei, esbanjando meu
jeito Everlin de ser.
— Porque, às vezes, o outro precisa ouvir,
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FESTIVAL
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o olhar.
— Obrigada — agradeci sem saber se devia
permanecer ali ou voltar para dentro.
Resolvi retroceder para evitar a confusão, a
qual já se tornara mais frequente do que eu
gostaria.
— Espere, senhora.
— Lui, por favor... — comecei sem
conseguir finalizar.
— Já viu uma desta? — indagou, mostrando-
me uma rosa maravilhosa.
Era cintilante. Não fluorescente como as
flores de Éden, mas reluzia conforme a luz tocava
as pétalas. Era, simplesmente, espetacular.
— Pela sua surpresa, suponho que não tem
dessas no seu mundo.
— Assim, brilhando naturalmente, nunca vi
— afirmei sorrindo.
— Para a senhora — ofereceu, estendendo a
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enfim...
Prosseguindo, aquele lugar era, apenas,
brilho. Puro, límpido, natural e, o melhor,
ecologicamente sustentável.
— É maravilhoso — elogiei atônita.
A luz dos enfeites por toda a cidade ia até
onde os olhos podiam alcançar. Em poucos
minutos, Dáian se transformou em celebridade,
igualzinho no vilarejo, eram sempre os mais
humildes a demonstrar-lhe mais amor. Não vou
negar que me senti bem orgulhosa, nem vou negar
minha total preocupação por ele ter dito: “em nosso
momento, você não me escapa”.
Passeamos por vários lugares. Comi muito.
E, o melhor de tudo, parecíamos um casal
razoavelmente normal, desfrutando de um passeio
de fim de semana. Em dado momento da noite, o
povo da cidade se reuniu na parte mais baixa, onde
havia um rio aos pés do morro. Só então fiquei
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acompanhá-lo.
— Eu não sei os passos — informei, tímida.
— Não se preocupe. Faça como no
treinamento. Aguce seus sentidos e siga seu mestre
— afirmou, piscando para mim.
Ah, de novo esse gatilho.
Dançamos sob os mais diversos olhares. A
maioria deles transbordava felicidade, pois uma boa
parte do povo me aprovava como “Esposa do Rei”.
Entretanto, alguns destilavam inveja, e o pior de
todos era o da bocudinha. Havia também um olhar
triste, fitando-nos em meio à multidão.
Lui ainda está acompanhando a gente?
Apesar disso, dançar com Dáian foi incrível.
— Já está na hora de nos recolhermos —
avisou novamente com “a carinha travessa”.
Ai, meu Deus. É agora! Mas espera um
pouco. Eu nem preparada estou. Não posso fazer
Dáian desbravar uma floresta, não é? E agora?
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HEROÍNA
E nquanto Dáian
colocava Lui no sofá,
os curandeiros chegavam apressados para ajudar.
Peguei a mala médica e comecei a examiná-lo. Em
seguida, passei a retirar-lhe a camisa.
— Lin! — repreendeu o rei.
— Amor, eu tenho que fazer isso —
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justifiquei.
Assim que despi o tórax, o ergui para que se
sentasse, puxando-o para mim.
— Refresquem as costas com um pano úmido
— pedi aos curandeiros, que estavam auxiliando.
Nesse instante, Lui passou a me abraçar e a
se aproveitar da proximidade para sentir o perfume
do meu pescoço.
— Tão linda, tão cheirosa — falava sem o
menor controle enquanto, praticamente, agarrava-
me.
Dáian esmurrou a porta e os ajudantes se
entreolharam.
— Lui, está me colocando em uma situação
constrangedora — repreendi.
— Que todos saibam de uma vez. Eu a amo.
Não suporto vê-la com o rei — bradava
desenfreado.
— Resfriem a testa também — solicitei.
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casamento.
— Quase perfeito. Só será perfeito se eu
puder colocar, no lugar da aliança, um bracelete
maior que esse — acrescentou, sem a menor
vergonha na cara.
— O quê? Quer por uma algema em mim, é?
— perguntei em tom de comédia.
— Não me dê ideias — devolveu a
brincadeira.
Balancei a cabeça, rindo meio boba.
— Lin, me diga uma coisa. Se eu não sou seu
marido no seu mundo e nem seu noivo, o que eu
sou?
— Namorado — respondi de forma bem
direta.
— O que é um namorado?
— Hã... um namorado é... puxa nunca
imaginei que eu um dia teria de definir o que é um
namoro. Bem... duas pessoas namoram para se
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ajudar — me ofereci.
— Nem pensar. Você fica aqui, cuidando do
seu outro paciente. Eu volto logo, prometo —
comprometeu-se, beijando minha testa rapidamente
e saindo em companhia de Lui.
— Dáian... — chamei-o novamente, mas ele
já estava fora de alcance.
Todos os soldados do vilarejo e os homens
capazes de empunhar uma espada deixaram a vila
sob o comando do rei. E aquele dia acabou
ascendendo ao topo da lista dos mais angustiantes
de minha vida. Dáian havia partido com pouco
mais de cem homens e cada hora, sem informação,
tornava-se um verdadeiro martírio.
A cidade de Katar era grande e próxima,
contava com um bom contingente de militares. O
problema é que o vilarejo de El se situava em
sentido oposto, num lugar quase inacessível para
quem se aproximava pelo pé da montanha. À
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mulheres grávidas.
O bando cavalgava a certa distância do
vilarejo, mas não demoraria a nos alcançar. Além
disso, na vila não havia um guerreiro sequer.
— Aquela fenda no paredão do morro, logo
na encosta e próxima à fábrica, aonde leva?
— Ao outro lado do monte, senhora. A
passagem começa bem estreita e depois se expande.
É uma volta grande até chegar do outro lado para
quem não passa pela abertura da rocha.
— Ótimo — falei ao prefeito — vão e avisem
as mulheres para irem à frente e levarem as
crianças até a encosta próxima à fábrica, rápido.
Quando forem para lá, levem uma pederneira —
ordenei, dirigindo-me aos garotos.
Os meninos assentiram e dispararam para a
vila. De minha parte, também corri e apanhei dois
bastões de luta. Em seguida, comecei a bradar a
todo volume para as mulheres e crianças se dirigem
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um olhar interesseiro.
— Coisa é a sua avó, seu cretino — bradei
para meu mais novo inimigo.
Pensando bem, meus inimigos também
estavam proliferando como coelhos.
Dermet gargalhou, depois saltou da encosta,
fugindo. Dáian veio até mim e me abraçou. Mirei
seu rosto, mas não pude lutar contra a gravidade.
Sucumbi.
— Lin! — o rei chamava desesperado.
Entrei num estado de semiconsciência. Eu
ouvia tudo ao meu redor, mas não conseguia
responder, nem demonstrar reação alguma. Vi os
homens do vilarejo correndo angustiados em busca
de suas mulheres e irromperem em alegria ao
encontrá-las a salvo. Ouvi Dáian bradar, o que me
pareceu um milhão de vezes, por curandeiros,
enquanto me carregava para vila. Ao chegarmos ao
nosso alojamento, o meu “não-namorado” me
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Exército
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sucumbindo a dor.
— Ai... — soltei, mas já era tarde demais.
— Não se esforce, amor — pediu o rei, vindo
amparar-me.
— Minha senhora, o povo está agradecido
pelo que fez. Os homens contaram que só
conseguiram chegar a tempo porque foram guiados
pelo fogo na fábrica.
— Mas a fábrica está destruída e algumas
casas foram queimadas — lembrei, voltando-me
para Dáian.
— Ninguém foi levado, minha senhora. É
isso o importante. Todos no vilarejo a chamam de
heroína.
— Eu ouvi você me chamar de sua heroína
ontem quando o prefeito esteve aqui — revelei,
fitando o rei e arqueando uma das sobrancelhas.
— Ouviu, é? — expressou, com um sorriso
lindo.
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um visível desapontamento.
— Claro que pode — concordei
constrangida, lembrando-me do que tínhamos
combinado na noite em que Lui teve febre e
desejando um buraco para me enterrar, um que eu
pudesse caber inteira já no primeiro pulo, de
preferência.
— Então, eu vou me virar para que você
possa despir a parte de cima do vestido — falou
enquanto respirava fundo e não sabia o que fazer
com as mãos.
Gelei. Gelei de verdade.
Dáian se virou, eu também acabei respirando
profundamente, na tentativa fracassada de me
acalmar. Despi a parte de cima da minha roupa e
deitei de bruços sobre a cama, agarrando-me ao
travesseiro. Permaneci por alguns angustiantes
minutos esperando pelo toque dele e o alívio do
remédio.
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de bater.
— Meu amor, você está gelada — Dáian
estranhou, arrancando-me dos meus pensamentos.
Entreguei-lhe o instrumento e apontei na
direção que eu estava vendo. Assim que o rei mirou
o horizonte através da luneta, seu corpo se
enrijeceu.
— Temos de voltar ao palácio imediatamente
— asseverou o rei.
Quando retornamos ao vilarejo, Dáian
convocou várias autoridades locais com urgência.
Logo o lugar estava repleto de militares e pessoas
importantes, trouxeram também uma espécie
animal linda que chamaram de Sairens, a qual, para
mim, assemelhava-se aos velociraptors vistos no
cinema, porém a pele encouraçada tinha uma cor
indefinida e reluzia como tinta metálica. Eram
lindos demais.
— São dóceis? — perguntei ao primeiro
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BAILE
sádica, afinal não foi para obter isso que ele tanto
me aporrinhou quando tive o desprazer de conhecer
sua masmorra?
Após me preparar para dormir, fiquei
imaginando se devia ficar em meu quarto ou ir para
o do rei. Havíamos combinado de dormirmos
juntos, mas a ideia de ir ao quarto dele congelava-
me até a alma. Além disso, eu não sabia ao certo
quanto tempo ainda duraria a reunião ou se
haveriam outros compromissos ao término.
Decidi permanecer em meu aposento e,
embora eu tivesse me deitado havia certo tempo,
continuava a me revirar na cama, sem conseguir
agarrar o sono nem a laço. Até que, enfim, ouvi a
porta do quarto abrir em meio à penumbra.
Nem pensei duas vezes, levantei-me na
mesma hora e corri até ele, abraçando-o.
— Ainda acordada, meu amor? — indagou o
rei, cheio de carinho.
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enquanto, não é?
— Acho melhor não, ao menos até
conseguirmos a paz. Perdoe-me, meu amor. Sei que
deve estar doida para rever seus pais.
— Para nos casarmos também — confessei
sem jeito.
O rei sorriu como um menino.
— Já somos casados, não sou isso que você
disse, o tal “namorado”, coisa nenhuma, já falei —
sentenciou resoluto.
Acabei rindo.
— Lin, preciso lhe dizer uma coisa.
Dáian endireitou-se para me olhar de frente, e
eu mirei seu rosto com mais atenção.
— Eu quero a nossa cerimônia. Quero lhe
fazer uma promessa diante de seus pais e diante de
Deus, como você disse. Por isso, vamos esperar
para fazer amor — pronunciou, fitando-me com um
olhar tão brilhante que consegui apreciar
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mínimo, entendeu?
Não eram sapatos de cristal, mas quase. Era
uma sandália de salto finíssimo, toda trabalhada em
diamante.
— Não, Rali. Isso não! Ninguém vai ver os
meus pés nesse oceano de tecido — decretei,
movimentando o mar de pano sobre o meu quadril.
— Vão sim, porque o rei a fará flutuar
quando dançarem — lembrou o servo.
— Isso é um baile ou um pesadelo? —
protestei, mais alto do que gostaria.
— Senhora, hoje é o dia em que mestre a
apresentará formalmente para o mundo —
asseverou o preceptor, com uma voz afetuosa.
Apesar da minha rebeldia de garota
acostumada à normalidade, era bom sentir o quanto
Ralifax me aprovava como rainha, mesmo quando
nem eu me aprovava. Aliás, apenas me acostumar
com a ideia já parecia impossível.
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Noite de Ralifax
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estratégia.
— Estou ouvindo, majestade — respondi.
— Quero que cante, minha senhora —
solicitou.
— Cantar? Mas eu não canto muito bem —
retruquei.
— Não sei o porquê, mas acredito que isso
não seja inteiramente verdade — retorquiu,
enviando-me um olhar insinuante.
Resolvi me dirigir ao piano, afinal era um
pedido do qual eu não poderia fugir. Sentei-me
calmamente, matutando o que eu poderia cantar.
Sem querer, minha mente divagou, voltando ao
passado distante. Eu aprendi piano depois de
conhecer Dáian, muito embora já sonhasse com o
instrumento desde os seis anos. Com essa idade,
lembro-me de ter juntado duas mesadas para
comprar um minipiano de cauda, que emitia sons
de verdade e vinha até com a banquetinha. Assim
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— Eu sou...
— Melhor não — Dáian me parou, colocando
um dedo sobre meus lábios — Senão não vou
aguentar — completou, encabulado.
Eu também acabei recuperando um pouco o
senso de realidade.
— Eu vou matar Ralifax, eu juro — brincou,
na sequência.
— Ele só queria que se sentisse orgulhoso —
respondi, retornando à dimensão dos mortais.
— Eu fiquei muito orgulhoso, hoje. Mordido,
mas orgulhoso — admitiu com um sorriso,
tentando também se recompor.
— Temos de conseguir a aliança — lembrei,
já mais com os pés no chão.
— Sim. Vamos selar a paz hoje, porque eu
preciso te levar para o seu mundo amanhã —
confessou, estendendo-me uma das mãos e
convidando-me a regressar.
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comemorou o servo.
— Sim, graças a você e aos demais servos
que fizeram um trabalho excepcional — agradeci,
tomando suas mãos entre as minhas.
— Graças a nossa futura rainha que brilhou
mais um diamante hoje — vibrou o preceptor.
— Rali, ainda não podemos comemorar, não
sem um acordo de paz.
— O acordo virá, minha rainha. Tenha fé —
encorajou-me.
Sorri. Ralifax tinha esse poder de melhorar
tudo com seu otimismo, e não tive a menor dúvida
de com quem Dáian havia aprendido isso. Também
não sabia o porquê de eu não querer corrigir o
“minha rainha”. Talvez fosse a forma tão
carinhosa com a qual ele pronunciava essas duas
palavras.
— Mas não vim até aqui para elogiar o baile,
e sim para buscá-la, minha senhora — informou o
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servo.
— Me buscar? — indaguei, achando
estranho.
— Sim, o rei a aguarda em seu aposento.
— Ah não, Rali. Pensando melhor, diga para
Dáian vir até aqui — acabei surtando, nervosa.
— De maneira alguma! Não me esforcei
tanto para deixá-la deslumbrante para nada. Hoje,
enfim, é o grande dia. Eu sabia que deixar tudo nas
alturas ia dar resultado — desabafava quase
retoricamente.
— Quer dizer que isso tudo aqui — falei
apontando para a parte chamativa da minha
produção — foi de caso pensado, é? — indaguei,
abismada.
— Claro! Tantas noites aqui e nada —
explicou o servo como se fosse lógico.
— Como sabe disso? — inquiri, incrédula.
— Ah, o dia em que meu menino realizar o
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cabelos.
Não pensei muito, apenas comecei:
Aliança
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para consegui-la.
Não queria ter de despertar meu amado, mas
eu precisava trocar aquele vestido.
— Meu amor, vou me trocar e já volto —
sussurrei.
— Ah... não. Está tão bom aqui —
murmurou, contrariado.
— Imagino, o problema é esse vestido
gigante — argumentei para ver se ele desligava o
modo “garoto mimado”.
— Você está linda assim.
— Mas não posso dormir desse jeito, amor
— insisti, carinhosa — Eu volto já, prometo.
— Não demora, tá. Vou esperar por você.
— Não precisa, pode dormir.
— De jeito nenhum. Só durmo, quando você
chegar.
Achei melhor não contrariar.
Levantei e fui até meu quarto. Troquei o
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— E o que é?
— Energia elétrica.
— Ah... é o que acende as lâmpadas do seu
mundo.
— Isso. Exatamente.
— Ahhh... — expressou com um gesto
afirmativo, parecendo tão feliz por saber que o
MP3 não estava danificado.
Em seguida, o rei agarrou-se a um travesseiro
e deitou-se de bruços, olhando para mim. No
entanto, seus olhos estavam pesados. Suas
pálpebras demoravam cada vez mais para abrir
entre uma piscada e outra. Deitei ao seu lado. Tão
logo Dáian fechou os olhos, segurei o celular e tirei
uma foto dele dormindo.
Era impressionante, mas Dáian não tinha um
único pelo no rosto. Nem na face nem no peito,
muito menos na axila. Talvez fosse alguma
peculiaridade da genética dele, algum tipo de
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sorrindo.
— Depois da reunião conversamos, então —
despediu-se beijando-me.
— Até depois.
Passei o resto da tarde na biblioteca distraída
com alguns registros de Ralifax referentes ao pai de
Dáian. Comecei intrigada com a informação de que
falecera aos setenta e seis anos. Se Dáian tinha
dezenove na época, ele tinha idade para ser avô do
atual rei, e não pai. Pesquisando um pouco mais as
informações disponíveis e ao estabelecer uma
conexão com alguns dados, inclusive financeiros,
descobri o motivo.
O Rei Seis havia feito pagamento de altas
quantias à boa parte da nobreza para que esperasse
o máximo pelo herdeiro, gerando uma reação em
cadeia no cofre real, refletindo sobre impostos e
empobrecendo boa parte da população.
— Não imaginei que se interessasse por esse
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Mensagem
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Salvação
L ui e eu nos sentamos
no primeiro degrau que
encontramos, onde comecei a retirar as ataduras do
seu braço. A queimadura estava bem feia e,
infelizmente, o unguento ministrado seria,
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antes do esperado.
Mas se eu tivesse o poder de salvar a vida
dele, eu não o faria?
Muito provavelmente, não hesitaria um
instante sequer.
Nesse momento, ouvi alguém bater à porta.
Meu sangue gelou, alguma coisa dizia que a hora
da verdade havia chegado. Virei-me na direção da
porta e Ralifax entrou devagar. O olhar assustado, o
andar compassado e até a respiração entrecortada
revelavam o propósito de sua vinda.
Era evidente o que estava por vir. Meu
coração disparou e senti minha própria força esvair-
se de mim, abandonando-me para agarrar-se ao
vento e fugir, desertora, da maré de desventuras.
Mesmo que eu soubesse, mesmo que estivesse
estampado em seu rosto, eu tinha de ouvir dos seus
lábios.
— Minha senhora, o rei pediu para lhe dizer
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que...
Respire, respire... apenas respire...
— Que...
Não importa como, continue respirando.
— Que ele decidiu aceitar a aliança com a
nação de Aldrean.
Minhas pernas perderam a força na mesma
hora. Meu corpo entorpecido desabou, e nem senti
o impacto do chão contra os meus joelhos. A
seguir, as lágrimas vieram em profusão, num
desespero descontrolado. Inspirei profundamente,
mas o ar parecia ter deixado de existir. Minha visão
ficou turva, meus sentidos estavam me
abandonando.
— Não... não... não — comecei a repetir sem
parar e me sentindo completamente fora da
realidade.
— Minha senhora, por favor — suplicou
Ralifax, vindo ao meu encontro e segurando-me
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pelos ombros.
— Não... não... não... — continuei repetindo
entorpecida.
Senti como se o mundo físico estivesse se
desintegrando, como se meu corpo houvesse sido
empurrado para um abismo escuro e sem fim. E o
que me restava era apenas o vazio. Sombrio,
silencioso, interminável e, sobretudo, aterrorizante.
Ralifax me sacudiu, na tentativa de me trazer
de volta.
— Senhora, acredite em mim. Todos nós
dependemos mais da sua força do que da do mestre.
Se for até ele agora e disser que não é isso o que
quer, ele desistirá no mesmo instante, sem
pestanejar nem pensar duas vezes. Tenho quase
certeza de que só está disposto a aceitar o tratado
por medo de encontrá-la no campo de batalha. Por
isso eu lhe imploro, por tudo o que mais ama,
minha senhora, salve-nos! — rogou o servo,
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Tratado
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Caro leitor,
Nunca abandone a literatura. Saiba que a
leitura é a ponte de “Einstein-Rosen” que o
levará até os seus sonhos.
Obrigada pelo carinho!
Um beijo no seu coração,
M. Okuno
PARA UMA
SURPRESA, PROSSIGA.
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Capítulo Extra
Para Jojozinha, que
me fez acrescentar
esse capítulo. Tudo o
que quiser, ó
poderosa Beta.
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Além da compreensão
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como estava.
— Mestre, vai acabar abrindo um buraco
nesse chão se continuar andando assim.
— Como ela está, passou no quarto dela?
— Não, mestre. Vim direto para cá.
— Ela ficou enfurnada na biblioteca o dia
todo.
— Ela pensa que o senhor vai libertá-la, o
senhor vai?
Mestre Dáian exalou o ar com força, como
sempre fazia quando queria responder “não”, mas
sua consciência o censurava por saber do dever de
dizer “sim”.
— Ela vai me escolher — pronunciou por
fim, no entanto sua voz não demonstrava a mesma
convicção das palavras.
— O senhor precisa aprender a falar com ela.
Ela será capaz de entender se o senhor explicar.
— Ela não vai acreditar em mim, Ralifax.
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se sobremaneira.
— Meu CD do Backstreet Boys, Black &
Blue!
Ela pegou o objeto de minhas mãos.
— Como isso foi parar aqui? — indagou
assombrada.
— O rei guarda um monte dessas relíquias
em sua sala de tesouros.
— Ele pegou do meu quarto? — perguntou
emocionada.
— Tudo o que pode — afirmei —
provavelmente deixou o lugar quase vazio.
A senhora pareceu divagar por alguns
instantes, mas logo tudo pareceu lhe fazer sentido.
Era óbvio que ficaria mais feliz com o objeto
roubado pelo mestre, o qual, muito provavelmente,
não passava de uma quinquilharia, do que com a
joia de diamantes e rubis à sua frente. Se não fosse
assim, não seria a mulher a deixar o poderoso Rei
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entregou.
— Minha senhora...
— Mostre isso para que ele entenda o quanto
isso é importante. Diga que ninguém pode passar.
Que meu mundo não pode descobrir a existência
dessa ponte, de jeito nenhum. Você está
compreendendo o que estou dizendo? Diga que se
tiver de escolher entre mim e o templo, ele precisa
escolher o templo. Pelo bem de tudo o que ele ama,
e o que eu amo.
Olhos dela reluziam uma determinação e um
pavor arrepiante. O mal que ela previa era de
proporções cataclísmicas.
— Eu prometo.
Mal acabei de pronunciar minha promessa e
um punhal já estava contra minha garganta.
— Largue a arma ou ele morre — disparou
aquele vil, o qual mantinha-me subjugado.
A senhora Everlin nem titubeou, largou os
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estrondeou.
— Mestre — segurei seu rosto — eu juro! Eu
vi a profecia do fim nos olhos dela! — esbravejei,
olhando dentro de seus olhos.
Nesse instante, o rei voltou-se para a
montanha e viu a guarda em sérios apuros. A
seguir, voltou-se para a senhora e, quando viu a
carruagem afastando-se, uma feição de pavor
tomou conta dele. Um tipo de terror dolorido, o
qual eu nunca vira nele antes.
— Eu os ouvi dizer, vão levá-la até o rei Éfer.
Não vão machucá-la.
Mesmo com minhas palavras, ele não
abandonou o semblante apavorado. Nos breves
instantes de indecisão, a senhora ficou mais
distante.
— Eu vi, meu rei, acredite, se não proteger o
templo, a profecia dos antepassados se cumprirá,
será o fim de tudo.
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volta.
— Não, eu vou pessoalmente atrás dela —
decretou, já separando as armas, as quais levaria
consigo.
— Meu rei, existem homens treinados para
isso. É perigoso o senhor deixar o palácio assim.
— Acha que depois de tudo vou perdê-la?
Nunca!
— Mas meu senhor...
— Não, Ralifax! — estrondeou.
A seguir, depois de armar-se até os dentes,
pegou um bolsa e a encheu com ouro.
— O Sairen está pronto, meu rei, como
ordenou — avisou o guarda.
— Ótimo.
— Meu rei, isso é muito perigoso — insisti.
— Cuide de tudo até eu voltar.
— Sim senhor. Cuide-se também, por favor
— pedi, até porque nada o faria mudar de ideia.
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Registro de Ralifax,
preceptor de Dáian, sétimo
da dinastia de Dar. Ano
3.657 do pós-guerra.
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