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PERIGOSAS NACIONAIS

Perdão Amor
Pry Oliver
1ª. Edição
2018

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Cpyright © 2018 Pry Oliver


Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
Capa: Carol Cappia
Diagramação: Criativa TI
Revisão: Vanessa Batista
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é
entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova
Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. São
proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de

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qualquer parte dessa obra, através de quaisquer


meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Sinopse
Um contrato. Milhões de reais em jogo.
Uma jovem inexperiente; um homem
ambicioso e avesso a sentimentos.
Oito anos de separação e uma corrida contra o
tempo para recuperar a família, antes do fim do
contrato que impede o divórcio.
Esta, é a história de um homem que exaltou a
ambição e os prazeres momentâneos e perdeu o
verdadeiro amor de sua vida.
"Perdão, amor. Quero você e nossa filha de
volta.”
***
"Eduardo analisou o rostinho de Dudinha; ela
tinha os olhos de Maria Fernanda, mas os traços
do rosto eram seus, e os cabelos, de sua mãe
Suzane. Ele sentiu uma vontade enorme de abraçá-
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la e acariciar os cabelinhos que eram como fios de


ouro. Sentiu o coração bater forte no peito. Estava
rendido pela emoção. Ele tinha uma filha. Uma
menina linda e esperta. Ali estava seu melhor
projeto. Um projeto lindo. Tinha feito algo de bom
na vida. Agora sim, lutaria com esperanças. Havia
uma luz no final do maldito túnel que construiu.
Teria o amor de sua família de volta.”

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Primeira fase

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Prólogo
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e
dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze
que soa ou como o címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e


conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda
que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar
montes, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens
entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio
corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada
disso me aproveitará.

I Coríntios, 13

***

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Durante aquela madrugada turbulenta, a


jovem, herdeira de uma das maiores fazendas de
gados do interior do Paraná, estava desolada no
corredor da maternidade Senhora das Dores.
Izabelle, — como se chamava — tinha passado por
um dos piores dias de sua vida. Acabara de perder
sua amiga, Maria Eduarda, decorrente de um parto
sofrido. Cinco anos de amizade estavam indo
embora da maneira mais dolorosa. Era triste ver a
dor estampada nos olhos da jovem fazendeira ao se
lembrar do que teve que prometer horas antes para
a companheira moribunda.

— Me promete... promete que vai cuidar da


Nandinha?

— Eu prometo, eu... prometo que vou cuidar


dela, mas juntamente com você. Vou ter meus filhos
e eles brincarão todos juntos no riacho, enquanto
nós duas tomamos banho de sol.

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— Eu gostaria muito que isso pudesse ser


verdade, amiga, mas sei o que me espera. Eu sou
muito grata pelo que fez por mim todos esses anos,
mas...
Emocionada, Izabelle tampou os lábios da
amiga.

— Vamos fazer aquela viagem à Europa que


eu te falei. Vou te levar a Torre Eiffel. Lembra que
você disse que queria conhecer Paris? Então,
iremos ainda este ano, basta esperar a Nandinha
ganhar mais uns quilinhos para marcar a viagem.
— Me promete, amiga. Eu não tenho muito
tempo. Prometa que irá cuidar da minha menina e
que irá amá-la com todo o amor e proteção que
não poderei dar.

— Eu prometo. Mas, por favor, não fecha os


olhos. Por favor! A Nandinha precisa de você...

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***
Izabelle foi despertada de seus pensamentos
tristes pelo médico, um velho conhecido. Há alguns
meses, ela vinha se tratando de uma doença grave
em um hospital onde ele era plantonista.

— Iza, sinto muito pelo ocorrido. Fizemos de


tudo, mas não conseguimos conter a hemorragia. —
O homem parecia cansado depois de longas cinco
horas de cirurgia, tentando salvar a vida da jovem
paciente.
— Eu sei doutor, e agradeço por tudo o que
fizeram, porém é muito doloroso perder alguém
que amamos.
— Como vai ficar a situação da menina?

— Vou cuidar dela. — Izabelle não hesitou. —


Fiz uma promessa e pretendo cumpri-la. A
Nandinha será cuidada com amor, proteção e

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conforto.

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ANOS MAIS TARDE...

Giovane e Maria Fernanda entraram correndo


na sede da fazenda.

Giovane era filho único do esposo de Izabelle,


que também era o administrador do local. Ambos
foram criados por ela com amor incondicional.
Izabelle nunca conseguiu engravidar por causa da
doença grave que lhe atingiu o útero. Conformou-
se em cuidar de sua menina e de seu enteado. O
jovem de dezoito anos nutria um amor platônico
por Maria Fernanda desde a infância. Ela, apesar
das constantes brigas, também não desgrudava
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nenhum minuto do amigo com quem fora criada.


Quando não estavam estudando, — porque a
madrinha era muito rígida nesse assunto —
passavam os dias correndo juntos nos campos da
fazenda.

— Venham aqui os dois — a madrinha os


chamou assim que os avistou na entrada do quarto.
— Minha doença está muito avançada, Nandinha.
Sua mãe me confiou a sua segurança e sinto que
não posso mais fazer isso. Estou fraca, mal consigo
levantar dessa cama... Entenda que tudo o que eu
faço, é para o seu bem. — Os olhos da garota
estavam cheios de lágrimas.

— Madrinha... você vai ficar bem. Os médicos


se enganam e os exames podem ser trocados, não é
Giovane? — Olhou de soslaio para o amigo ao seu
lado.
Giovane sabia que a mulher que o criou estava
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certa e isso lhe doía, mas queria acalmar o coração


de Maria Fernanda, por isso, havia contado
algumas coisas que ouvira falar nos noticiários, só
para lhe dar um pouco de esperança.
— Nandinha, você vai fazer dezoito anos, mas
sei que ainda é uma menina, passou a vida toda
aqui na fazenda. Preocupo-me com sua estabilidade
quando eu não estiver mais aqui. Uma mulher
sozinha, ainda mais ingênua e despreparada como
você, não vai saber gerir a herança que te deixarei.
Então, decidi algumas coisas e preciso que você
esteja de acordo — sussurrou, não se sabe se pela
voz fraca ou se pela decisão que havia tomado sem
consultar a opinião da afilhada.

— Seja o que for eu aceito, madrinha. A


senhora sempre sabe o que é o melhor para mim. —
Chorosa, ela observava a situação da mulher que a
amou e cuidou como se fosse uma filha.

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— Sente aqui, minha linda. — A senhora deu


dois tapinhas ao seu lado no colchão. — Eu tomei
uma decisão que vai garantir a sua estabilidade e
segurança. — Parou um pouco para recuperar o
fôlego. Estava tão cansada, que poucas palavras já
a enfraqueciam. — Você irá se casar com o filho do
meu primo Olavo.
Paralisada, a menina fitou sua protetora com o
olhar confuso e lágrimas de desespero começaram a
brotar de seus olhos.

— Madrinha, eu não posso fazer isso. —


Enxugou os olhos. — Ainda sou muito nova. Eu...
não posso me casar agora.
— Minha pequena, entenda que eu só quero o
melhor para você. Você e o Giovane são meus
herdeiros. O Eduardo é um menino de ouro. Aos
vinte e três anos já é um engenheiro civil, e eu
soube por meu primo que ele tem muitos planos.
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Quero deixar com ele uma parte da minha herança,


para que o ajude na realização de seus sonhos.
Também quero te deixar dentro da minha família e
com meu sobrenome. Você irá se casar, mas
permanecerá comigo até eu partir deste mundo. Só
quero garantir que fique bem.
Giovane não conseguiu mais conter as
palavras.

— Eu e o pai cuidaremos dela, prometo minha


mãe. Ela não precisa casar. — Uma das mãos da
madrinha acariciou o rosto do jovem.
— Eu sei disso, meu querido, mas logo você se
casará. Terá sua própria vida. E seu pai é um
homem jovem, pode refazer a vida. Penso na
Nandinha tendo que ficar sozinha no mundo.
Eduardo e meu primo chegarão segunda, e logo
após o casamento, eles retornarão para a sua cidade
e você ficará comigo. Estou adiantando o
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casamento, pois minha saúde está frágil e não quero


deixá-la sozinha antes do tempo. Quando ele
chegar, explicarei o acordo de casamento.
***
— Pensa pelo lado maravilhoso da vida de
casado, Edu... acabou aquela vida de noitada,
mulheres avulsas, casadas ou viúvas, velhas ou
novas. Acabou tudo! Você é um cara de sorte, meu
amigo.
Sergio, o melhor amigo de Eduardo, passou
todo o percurso da viagem de carro, da capital até a
fazenda, tentando fazer o amigo desistir da ideia do
casamento.
— Negócios, Sergio. Estou fazendo um
investimento alto e necessário. Terei minha
empresa antes do previsto.

— Cara, é casamento! Pensa bem. E se essa

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mulher te colocar em um cabresto e você virar um


desses pais de família? Cara, isso não combina com
você, Edu. Abre o olho meu irmão, e cai fora disso!
— Milhões, Sergio. — Olavo, o pai de
Eduardo, que estava no banco de trás da
caminhonete, pronunciou-se.

Olavo estava com os olhos vidrados na tela do


notebook. O advogado não parava um só minuto de
trabalhar. Aquela influência havia alimentado no
filho a sede desenfreada pelo sucesso e realização
pessoal.
— Você sempre teve as melhores estratégias,
irmão, mas com isso, você corre o risco de se
apaixonar e ficar de quatro, feito um cachorrinho,
por uma única mulher. Ainda dá tempo, Edu.

Eduardo que estava ao volante, sorriu


sarcasticamente.

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— Nunca me apaixonei por nenhuma mulher


experiente, capaz de me dar o que preciso. Acha
que vou fazer isso por uma menina caipira, que
cheira a leite e inocência? Nada muda meu amigo.
Só vou assinar um bendito contrato, nada mais que
isso. Ele me garante milhões, mas não me pede
fidelidade — falou ao observar a entrada luxuosa
da fazenda.
A caminhonete buzinou na porta da sede.
Maria Fernanda, que estava por perto, num misto
de temor e curiosidade, correu arrastando Giovane
para casa. Entraram na sala e avistaram os
visitantes.

— Venha cá, Nandinha. Venha conhecer o


Eduardo — convidou Izabelle, sentada no sofá da
sala.
Maria Fernanda parou no canto do aposento.
Giovane segurava uma de suas mãos com toda
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força. Seu coração doía. Se ao menos ele


enfrentasse tudo e todos, mas não queria passar por
cima de uma decisão de sua mãe de criação. Ainda
por cima, teria que declarar o seu amor a Maria
Fernanda e ela poderia rejeitá-lo ou entender tudo
errado e se afastar por completo.
Eduardo desceu os olhos pelo corpo de Maria
Fernanda, e fez sua análise por completo. Era
esguia, tinha muita pose e nariz empinado demais
para ser uma caipira em vestidos tão infantis e
normais. Talvez o conforto proporcionado pela
madrinha tivesse dado aquele ar de grandeza. Em
poucos segundos, desvendou o que seus olhos
visualizavam, mas pegou-se curioso por mais. A
jovem era linda, entretanto transparecia inocência,
algo que ele não tinha paciência de lidar.

— Você ainda é muita menina. — Ele sorriu


amigável. Mesmo em sua impaciência, precisava

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ser convincente.
Maria Fernanda sentou ao lado da madrinha e
não o olhou. Giovane contraiu a mandíbula, com
ódio.

— Não, não vou permitir isso! Isso é uma


loucura, minha mãe! — gritou Giovane.
— Giovane! — Izabelle interferiu. — Largue
de ciúmes, meu filho, sua irmã está noiva e o
Eduardo cuidará bem dela.

— Não! Eu cuidarei da Nandinha. Ela não


precisa de um desconhecido!

Eduardo mirou seu concorrente com calma, em


seguida curvou o lábio em um sorriso desafiador.
— Não se preocupe, "cunhado". Cuidarei da
sua irmã com carinho.

Giovane fechou o punho, sentindo vontade de

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esmurrar o rosto do homem à sua frente, mas ao ver


sua mãe moribunda, respirou fundo e saiu da sala,
batendo a porta com toda força. Maria Fernanda
deixou uma lágrima escapar, sentindo-se indefesa.
— Por que está chorando? — Eduardo
perguntou e estendeu a mão para enxugar seu rosto.
Ela se esquivou.

— O Edu é um homem muito família, ele é tão


dedicado ao lar, que algumas pessoas duvidam de
sua masculinidade — Sergio falou, olhando para
Izabelle.
Eduardo apenas fechou os olhos e idealizou
socar o rosto do amigo quando estivessem
sozinhos.

— Você é um bom menino. Sei que vai cuidar


de minha menina e serão muito felizes juntos.
— Está com a via do contrato aí, Izabelle? —

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Olavo tinha pressa que o filho firmasse o acordo


para receber os milhões descritos no contrato. Logo
Eduardo construiria a empresa que tanto visava ter.
— Sim, está tudo aqui. — Izabelle pegou uma
pasta que estava na mesa do centro. — Como
havíamos combinado, o casamento será amanhã à
tarde.

Maria Fernanda começou a fungar o nariz em


um choro descompensado e Eduardo levantou uma
das mãos e acariciou uma mecha de seus cabelos
longos. Ele sentiu a maciez entre os dedos e repetiu
o mesmo gesto repetidas vezes. Sergio que estava
sentado mais à frente estreitou os olhos.
— Vou cuidar de você, prometo. — Eduardo
olhou para Izabelle e sorriu.

Era muito dinheiro envolvido, contudo o que


mais lhe importava era que o casamento garantiria

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sua empresa de engenharia antes do previsto. Ter


alguém preso a ele não seria um problema. Apesar
de a garota assustada a sua frente ter os cabelos
mais perfeitos que já tinha visto e o rosto
semelhante ao de uma boneca de porcelana, isso
não lhe garantia fidelidade. Ele sempre havia sido
de todas que o servissem.
— O contrato já foi redigido. Não poderá
haver divórcio no prazo de dez anos. Caso haja,
minha menina será beneficiada com os bens em seu
valor total. — Olhou para Eduardo — No seu caso,
os milhões para a construção da empresa de
engenharia não seriam recebidos. Se a empresa já
estiver de pé, não importa, tudo irá para a
Nandinha. Mesmo assim, o nome dela ainda
constará nos documentos de sócios da empresa.
Então, a empresa ficará cinquenta por cento no
nome dela e a outra metade em seu nome. Acredito

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muito que o amor no coração dos dois será revelado


e meu propósito de proteção será alcançado sem
necessitar da cláusula que fala sobre a quebra do
contrato.
— Estou disposto, minha tia. — Eduardo
estava inspecionando o corpo da jovem.

— A Nandinha só poderá mexer no dinheiro


depois dos dezoito anos, até lá você, Eduardo,
ficará na obrigação de trazer conforto a minha
menina, do seu próprio bolso. Meus outros bens
serão do Giovane e a fazenda do meu esposo. Eu
quero que prometa que irá cuidar de minha menina,
Eduardo.
— Seremos muito felizes, minha tia. —
Eduardo fixou o olhar nos lábios carnudos de Maria
Fernanda, depois seguiu para os olhos azuis, que
estavam amedrontados.

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Em um rompante, Maria Fernanda levantou e


abandonou a sala.
— Nandinha! — A madrinha tentou gritar, mas
não conseguiu.

— Deixa, minha tia. Vou conversar com ela.

— Me preocupo, pois ela ainda é muito nova e


ingênua, mas sinto-me fraca e não sou mais capaz
de oferecer a proteção e o cuidado que ela precisa.
Você é da minha família, é inteligente, esforçado,
dedicado aos estudos... por isso sua parte na minha
herança veio com a mais linda condição, a condição
de aprender a amá-la.

— Sou grato pela confiança, tia. Vou


conversar com ela. Nós daremos certo. Com a sua
licença. — Eduardo beijou a mão da mulher e
seguiu o rastro de Maria Fernanda. Precisava
garantir que seu mais novo negócio gerasse a

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rentabilidade desejada.
Encontrou-a sentada em uma cerca de madeira,
com o olhar distante. Seus cabelos estavam em toda
parte, seguindo a corrente de vento que estava um
pouco forte naquela manhã.

Quando seu pai lhe falou sobre o acordo com


sua prima distante, ele recusou. Ele amaldiçoava a
ideia de um dia estar preso a uma única mulher.
Muito menos com uma menina de dezessete anos.
Mas, depois de uma longa noite analisando suas
perspectivas de futuro, chegou à conclusão de que a
proposta era tentadora, afinal, além de milhões de
reais em sua conta de um dia para outro, seu projeto
de futuro se realizaria mais cedo. E só o que ele
teria de fazer era aguentar ficar casado durante
alguns anos. Sua irmã Luísa reprovou a ideia, mas
não falou nada sobre o assunto, não concordava que
o irmão casasse por dinheiro, mas também não

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interferiu na história, pois sabia que ele era


irredutível em seus objetivos.
A família de Eduardo não era pobre. Muito
longe disso, pois possuía uma qualidade de vida
razoável. Seu pai era dono de uma empresa
conceituada de advocacia que estava crescendo ao
prestar consultorias a multinacionais. Sua mãe era
uma dondoca que veio da lama, mas que amava
esbanjar dinheiro e arrogância.

Pensativo, Eduardo passou os olhos pelas


pernas esguias de Maria Fernanda. No final das
contas, a menina era bela, não tinha como negar.
Nada que se assimilasse às mulheres com quem ele
estava acostumado, mas apesar de muito nova e
franzina, Maria Fernanda tinha uma beleza
selvagem e pura ao mesmo tempo.
Ele se aproximou lentamente por trás e sentiu
uma vontade enorme de enfiar os dedos nos cabelos
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da jovem outra vez, para sentir a maciez dos fios. E


foi o que fez, assustando-a.
Maria Fernanda deu um pulo do outro lado da
cerca.

— Passe para o lado de cá. Precisamos


conversar. — Tentou moldar o tom de voz. Maria
Fernanda abraçou os próprios braços e olhou para
os lados, traçando sua rota de fuga. — Estou
encarando isso como um acordo, nada mais que
isso. Quando estiver em minha casa terá algumas
regras, mas nada que interfira seu bem-estar —
continuou.

Maria Fernanda estava muito assustada e isso


se refletia em seus olhos. Não conseguiu
pronunciar uma palavra sequer. Então, tomou uma
lufada de ar e correu o mais rápido que pôde em
direção à sede da fazenda, onde se jogou em sua
cama, com o rosto banhado em lágrimas de
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desespero por medo do desconhecido.

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Eduardo estava jogado em uma cadeira em


frente ao altar improvisado. Parecia despreocupado,
como se aquele dia fosse outro qualquer. Olavo
estava satisfeito e ainda sem acreditar na sorte
grande do filho, por entrar em um negócio sem
dinheiro algum e ganhar uma rentabilidade tão
rápida. Para Olavo, tudo aquilo não passava de
negócios. Eduardo não pensava diferente, afinal ele
seria o beneficiado.

O pai ainda não se conformava em ter ficado


apenas com cinco por cento dos bens de seus pais
de criação, enquanto Henrique, o pai de Izabelle,
tinha herdado noventa e cinco por cento. Sentia
agora o gosto da vitória e o cheiro fresco de
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dinheiro merecido, o que ele mais amava.


Eduardo ficou de pé, frente ao juiz, assim que
viu a menina entrando na sala. Estava linda com os
cabelos soltos e um simples véu de renda italiana
sobre a cabeça. O vestido branco e modesto tinha o
comprimento até os joelhos, e em suas mãos, estava
depositada uma tulipa branca.

À medida que ela se aproximava dele, seu


olhar se tornava mais triste, e quando finalmente
ficou cara a cara com ele, deixou que algumas
lágrimas escorressem pelo canto dos olhos.
Ele levantou uma das mãos e secou o chorinho
teimoso da jovem, e sentiu mais uma vez a maciez
da sua pele enquanto admirava o seu rosto. Maria
Fernanda estremeceu ao seu toque. Só havia notado
naquele momento o quanto ele era bonito e quão
intenso era o azul de seus olhos.

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Envergonhada, desviou o olhar para o juiz e


cumprimentou com um aceno tímido.
Minutos se passaram com o curto discurso do
condutor da cerimônia, até que o casamento foi
confirmado com as últimas palavras do acordo e,
para a alegria de Izabelle e a ambição de Eduardo, a
palavra final de ambos foi "sim".

Estavam oficialmente casados e os papéis já


tinham sido assinados. Não havia mais volta. O
destino de Maria Fernanda acabara de ser selado.
***

Maria Fernanda não havia encontrado Giovane


desde a manhã daquele dia, quando o viu pela
janela sair disparado em seu alazão. Por isso
mesmo, quando assinou o último papel do acordo,
saiu a todo vapor à sua procura, não se importando
com o quê ou quem havia deixado para trás.

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— Giovane! — gritou perto do riacho, o


esconderijo secreto dos dois. — Giovane, por
favor, eu preciso de você! — Sua voz estava
embargada e as lágrimas percorriam por seu rosto
desolado. — Você não pode fugir e me abandonar
assim — disse ao cair de joelhos no meio do mato,
próximo à margem. — Você prometeu cuidar de
mim, agora eu preciso de você. Eu vou embora em
breve e nunca mais você me verá novamente. Estou
indo embora, está me ouvindo? — Sem resposta,
levantou e saiu correndo para a sede da fazenda.
Não muito longe dali, Giovane ouvia todo o
desabafo da menina com um choro abafado. Seu
coração estava dilacerado. O amor de sua vida iria
embora em breve. Seu amor de infância agora
estava casada.

Maria Fernanda entrou na fazenda e sequer


olhou quem estava à sua frente, nem mesmo na

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hora em que trombou em Eduardo, antes de entrar


em seu quarto e se jogar com tudo sobre a cama.
— Me abandonou no dia do nosso casamento.
— Eduardo aproximou-se da porta, analisando a
figura esmorecida sobre a cama.

— Me deixa sozinha!
Eduardo não se agradou nem um pouco
daquela ordem, muito menos do seu tom de voz.
Nunca nenhuma outra mulher ousou tentar lhe dar
ordens.

— Não sei se você já entendeu, mas somos


casados, menina. De agora em diante, só te deixo
sozinha quando for da minha vontade. E terá que
obedecer às minhas ordens.
— Não escolhi me casar com você. Sai do meu
quarto! Não vou obedecer às ordens de um ogro! —
Ela ajoelhou sobre a cama e gritou a centímetros do

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rosto dele.

— Como é que é? — Ele estreitou os olhos e


analisou friamente a jovem a sua frente.

Era muita pretensão e ousadia. Precisava


coloca a caipira, selvagem e respondona logo em
seu lugar, ou ela lhe traria problemas, afinal, ele
tinha uma namorada de conveniência que lhe traria
muitos contratos.
— Vou precisar te colocar logo nos trilhos,
querida esposa. — Com um olhar de deboche, ele
acariciou seus cabelos. A beleza da cabeleira longa
e castanha da sua mulher o instigava.

— Não toque em mim! — ela gritou e o


empurrou.
Eduardo sentiu um arranhão em seu ego.
Nunca antes uma mulher sentiu pânico ao ser
tocada por ele. No entanto, aquela menina estava

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com pavor, apenas por ele encostar carinhosamente


em seus cabelos macios. Furioso, puxou-a de cima
da cama e segurou-a com força pelos ombros.
— Agora somos casados, menina, e não há
problemas se eu quiser tocar em você! Além do
mais, foi apenas um toque estúpido e até carinhoso!

— Não preciso de seu carinho! — ela gritou


ainda mais furiosa.
— Primeira regra de convivência entre nós,
querida esposa: nunca, sob hipótese alguma,
levante sua voz para mim. Pois todas as vezes que
desobedecer a essa ordem, terei que te mostrar
como faço para amansar uma gata arisca como
você. — Puxou-a e apertou seus lábios contra os
dela com toda força.

Maria Fernanda se debateu, mas quanto mais


tentava se afastar dele, mais Eduardo aprofundava

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o contato sem emoção, querendo apenas puni-la.


Segundos se passaram até que entraram pela porta
do quarto, gritando pela menina.
— Desculpe senhor, eu não sabia que...

Matias, um dos empregados de dentro da sede,


ajeitou o seu chapéu na frente do corpo e mirou o
chão, envergonhado. Maria Fernanda respirou
aliviada por ter se livrado dos braços de Eduardo.
Lembraria de agradecer a Matias com uma fatia de
sua torta de milho mais tarde.
— O que te faz pensar que pode entrar no
quarto de minha mulher assim!?

— Desculpe senhor, mas é que a Dona Izabelle


está passando mal e não cessa de chamar pela
Nandinha.
— Madrinha!
Maria Fernanda correu até o escritório de
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Izabelle. Seus olhos não puderam acreditar no que


viram: sua protetora estava agonizando sobre o sofá
de couro preto, enquanto Joaquim estava aos seus
pés, em prantos.
— Madrinha! Madrinha! — A menina
sacolejou inutilmente a sua protetora.

— Ela está nos deixando, Nandinha. Minha


Bell está indo embora. — Lamentava o marido, em
desespero.
— Não, madrinha! Por favor, não me deixe, eu
preciso de você!

— Meu amor, eu estou indo feliz, pois cuidei


de você e sei que estará bem de agora em diante. —
respondeu a debilitada, num fio de voz.
— Madrinha, por favor, não me deixe!
Maria Fernanda chorava em desespero no
momento em que Giovane, juntamente com
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Eduardo, entraram pela porta do escritório.

— Minha mãe, não vá, eu ainda preciso de


você. — Giovane chorou feito uma criança.

— Cuide de seu pai e de sua irmã, meu


menino, e se cuide também. Você foi o filho que
nunca pude ter, mas que os céus me presentearam.
Eu amo vocês, nunca se esqueçam disso.
— Por favor, madrinha, eu preciso de você! —
Maria Fernanda implorou.

— Eduardo, venha aqui, meu filho. — A


mulher, quase sem forças, esticou a mão para ele.
— Vem se juntar com Maria Fernanda e Giovane.
— Oi, minha tia? — Meio perdido, Eduardo
fixou o olhar na mão da mulher, que segurava a sua
sem forças.
— Prometa que vai cuidar dela, prometa que
vai fazer a Nandinha feliz...
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Eduardo se viu em uma situação difícil. Sua tia


distante estava implorando pela proteção da
afilhada e ele sabia que não teria qualquer relação
com a esposa. Nunca se sentiria responsável por
ela, mas não negaria um pedido de uma pessoa à
beira da morte, ainda mais se ela não estivesse mais
presente para vê-lo cumprir a promessa.
— Eu cuidarei dela, minha tia, sempre terá o
meu cuidado e proteção — prometeu, incomodado
com a grandiosidade de suas palavras.

***
Uma semana se passou desde que Izabelle se
fora. O coração de Maria Fernanda doía por saber
que agora iria para a casa do homem com quem se
casou, mais cedo do que pretendia.

— Promete que vai me visitar, Giovane?


Promete! — Ela segurou o rosto do amigo com as

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mãos.
— Eu nunca te deixarei, minha bonequinha
linda. Qualquer coisa, você liga, que eu bato lá na
sua casa em dois tempos.

— Eu te amo, Giovane.

— Eu também te amo, Nandinha, e sempre vou


amar.

Giovane tinha convicção na sua fala. Tinha


certeza de que sempre amou Maria Fernanda e que
nunca nenhuma outra mulher despertaria algo
assim em seu coração.

— Vamos! — pigarreou Eduardo nas costas de


Maria Fernanda. — Ele precisava manter sua
postura de bom marido na frente de Giovane e do
pai.
— Se eu souber que você não está cuidando
dela, vou buscá-la, está me ouvindo? — Giovane
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apontou o dedo a centímetros do rosto de Eduardo.

— Se tem uma coisa que eu sempre soube


fazer é cuidar de uma mulher. — Eduardo tocou a
cintura de Maria Fernanda, em provocação. —
Vamos! — Segurou a mão dela.

Eduardo já havia percebido no olhar de


Giovane que o sentimento dele pela jovem não era
só amizade. Sabia do interesse do rapaz e teve um
leve palpite de problemas futuros.
Maria Fernanda segurou o pescoço de Giovane
e o abraçou, mesmo sob a posse do marido.

— Vamos, menina, o caminho é longo.


Giovane o olhou com ódio, mas Eduardo não
se incomodou e puxou-a na direção do carro, onde
seu pai já estava os esperando. O amigo, Sergio,
tinha voltado para a cidade no dia seguinte do
casamento.

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***

A viagem havia sido longa, Maria Fernanda


ficou encolhida no banco de trás da caminhonete
durante todo o percurso, e ali chorou baixo até
adormecer.

— Ei, acorde. Acabamos de chegar. —


Eduardo balançou o corpo adormecido de Maria
Fernanda no banco traseiro do carro, entretanto,
ela não acordou de imediato. — Vamos ferinha,
levante. — Balançou o rosto dela de um lado a
outro. — Como pode ter a pele tão macia, menina?
Mas que diabos eu estou... ACORDE! — gritou.

Maria Fernanda arregalou os olhos e se


encolheu no banco. Eduardo respirou sem
paciência.

— Saia daí. Chegamos e eu não tenho o dia


todo pra perder com você.

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Ele abandonou o carro e caminhou na direção


da casa.
Maria Fernanda caminhou pelo jardim da casa
de pintura amarela, ainda sonolenta. Passou pela
porta esfregando os olhos.

— E você, quem é minha jovem? — Uma


mulher, que aparentava ter em torno de quarenta e
cinco anos, estava na sala recebendo os patrões.
— Boa tarde, sou Maria Fernanda. — A garota
analisou cada canto da casa para saciar a sua
curiosidade.

— Você veio com o senhor Olavo e o


Eduardo?
— Eu me casei com o senhor Eduardo na
semana passada. — Ainda estava olhando o interior
da casa.
— Com o Eduardo? Então, aquela conversa
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que a Suelen ouviu era verdade? — meditou a


mulher sobre o que ouviu na cozinha de uma das
arrumadeiras da casa.
— A senhora trabalha aqui ou é parente dele?
— Enfim ela olhou para o rosto da negra.

— Me chamo Antonieta, e sou a governanta e


cozinheira da casa. Você é muito nova, minha filha,
não deveria estar se casando e sim estudando.
Ainda mais com o Edu.
— Foi o desejo da minha madrinha.

Maria Fernanda se aproximou dos porta-


retratos na bancada, e olhou tudo com muita
curiosidade.
— E você não poderia ter negado? — Não era
de se estranhar a preocupação evidente da jovem
senhora. Afinal, ela sabia a vida de boêmio que
Eduardo levava.

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— Não poderia ir contra um pedido da mulher


que tanto cuidou de mim. — Maria Fernanda
seguiu em direção à cozinha, analisando tudo o
que via pelo caminho.
— Está com fome?

— Um pouco. — O olhar dela estava na


pintura artística na parede — É uma réplica perfeita
de “A Última ceia”[1].
— Acredito que seja original. O senhor Olavo
gosta de ir a leilões.

— Perdoe-me senhora, mas essa aqui nunca foi


original. É uma boa réplica, mas não passa disso.
— Consegue distinguir a farsa de uma obra de
arte? — Antonieta segurou um vaso de cristal antes
que a jovem derrubasse no chão.
— Não, não tenho essa capacidade, mas penso

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pela lógica. A original está em Milão, no


Monastério da Igreja de Santa Maria Delle Grazie.
Antonieta parou um momento e a observou de
cima abaixo. A menina era nova, seu corpo não era
tão desenvolvido, mas aparentemente era esperta.
— “O suficiente para ficar longe de Eduardo?”

— Você tem quantos anos? — perguntou


Antonieta, puxando-a em direção à mesa da
cozinha.
— Dezessete. — Maria Fernanda pensou em
seguir na direção do corredor final da casa e
observar as plantas, mas Antonieta a fez se sentar.

— Deus! Ainda é menor de idade? Que mãe


irresponsável é a sua para permitir isso! É o seu
futuro que está em jogo. Foi pelo dinheiro? —
Antonieta depositou uma generosa quantidade de
chocolate quente em uma xícara de porcelana.

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— Minha mãe faleceu no dia em que eu nasci.


Não a conheci. Meu pai a abandonou quando soube
que ela estava me esperando.
A expressão de Antonieta se enterneceu.

— Me perdoe, eu não podia... me perdoe, mas


eu não entendo como esse casamento foi acontecer.
Você ama o Edu, é isso? Como isso foi acontecer?
— Não, claro que não. Como poderia amar um
ogro? Eu o conheci há uma semana. Como eu disse,
o casamento foi um desejo da minha madrinha. Ela
me criou junto de si depois que minha mamãe
morreu. Estudei em casa, na fazenda. E viajamos
com certa regularidade para que eu tivesse contato
com outras culturas. Mas, a maior parte da minha
vida correu na fazenda mesmo, portanto, não
poderia amar uma pessoa que não conhecia. A
madrinha queria me deixar casada antes de também
partir. Foi isso que aconteceu.
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— Valei-me! Ela também morreu? —


Antonieta se assustou com tanta informação.
— Sim... — Os olhos de Maria Fernanda
perderam o brilho da curiosidade e se tornaram
tristes. — Há uma semana, no mesmo dia do
casamento. Parece que só estava esperando por
isso. — Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Céus... tão nova e com tanta bagagem e


você caiu logo aqui? Pobre menina. — Antonieta
abraçou-a. — Só peço a Deus que te proteja de
agora em diante.
Eduardo entrou na cozinha e olhou por alguns
segundos para a jovem sentada a mesa com uma de
suas empregadas. Pensava o que iria fazer com ela
de agora em diante. Nunca seria seu marido como
sua tia Izabelle pensava. Ser esposo não fazia parte
de seu perfil. Ele pegou uma das suculentas maçãs
que estavam na fruteira da bancada, parou, e
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continuou encarando a menina.

— Antonieta, providencie um quarto para ela.

— Quartos separados, Eduardo?


— Se contrapõe a isso, Antonieta?

— Lá em cima não há mais quartos


desocupados.
— Então, veja um aqui embaixo. Sabe que não
abriria mão de minha privacidade.
— Mas o único quarto vazio aqui em baixo é o
quartinho dos fundos, que serve de depósito e está
com infiltrações. Ela é sua mulher, Edu. Vai
colocá-la em um quarto de empregados todo
molhado?

Ele fixou nos olhos da garota.


— Você se importa com isso, menina?

— Tudo bem, eu não me importo. Prefiro ficar


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aqui mesmo.
Maria Fernanda sabia que, o quanto mais longe
ficasse de Eduardo, seria melhor para ela, pois
tinha medo dele reivindicar os direitos de marido.

Antonieta não se conformou.

— Mas, minha querida, você é a mulher dele.


Tem que exigir os seus direitos de dona da casa.

Eduardo se enfureceu.
— Já está jogando a menina contra mim,
Antonieta? Não acha que está exagerado um pouco
com a liberdade que tem? Acha mesmo que os seus
bolos vão me conquistar para sempre, mulher?
— Eduardo, eu só estou dizendo que a menina
é muito nova. É bem-criada, não é certo para ela
ficar dormindo em um minúsculo quartinho dos
fundos.

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— Tudo bem. — Ele respirou sem paciência.


— Pegue as coisas dela no carro e leve para meu
quarto. Providencie a reforma do quartinho. Mande
Jorge ver isso o mais rápido possível.
— Vou buscar as coisas dela.

Assim que ela se foi, Eduardo aproximou-se da


cadeira onde Maria Fernanda estava.
Ela baixou os olhos.

— Você vai entrar em meu quarto apenas para


dormir. Vai evitar diálogos longos, não vai encher
meus ouvidos com reclamações, vai ficar longe dos
meus projetos e de qualquer outra coisa que me
pertença. Tenho minha própria rotina. E, sob
hipótese alguma, interfira nela. Outra coisa: não
ande com suas roupas íntimas quando eu estiver
presente e, tampouco, deixe seus cabelos no ralo do
meu banheiro. — Puxou uma mecha do cabelo dela

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e começou a enrolar nos dedos.


Ela balançou a cabeça de cima abaixo,
enquanto apertava os olhos. Eduardo percebeu o
seu pânico e aquilo o agradou. Medo era sinal de
obediência e ele não precisava de uma pirralha
irritante interferindo em sua liberdade.

— Você é a minha esposa. Sabe o que significa


isso, não é? — Olhou para o tecido retesado que
evidenciava as formas redondas e medianas dos
seios de Maria Fernanda.
— Por favor, não me toque, senhor.

— Está com medo de mim? — Eduardo riu


dele mesmo, por estar observando tais dotes em
uma jovem com vestidos tão infantis.
— Estou.
— Não se preocupe. — Ele se afastou, para
alívio dela. — Não me interesso por crianças. —
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Sorriu e saiu da cozinha.

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Depois que Eduardo pegou o carro e saiu de


casa, Maria Fernanda subiu as escadas para
bisbilhotar o andar superior e procurar o quarto
para onde tinham sido levadas suas malas. Uma das
capacidades naturais que ela tinha de sobra era a
curiosidade. Por meio da exploração e do desejo
intenso de conhecer algo novo, alguns anos antes,
ela tinha ficado internada por semanas. Na ocasião,
ela queria descobrir se seu alazão seria mais rápido
que um vespeiro de marimbondos. O pobre cavalo
não resistiu, mas ela, por sorte, conseguiu entrar no
riacho e foi pouco atingida.

O primeiro quarto em que entrou era muito


luxuoso. Ela sentou na cama para testar o colchão,
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foi até os vidros de perfumes sobre a bancada da


penteadeira e experimentou todos. Mas não se
deteve ali, pois ainda tinha outras quatro portas a
serem exploradas. Gostou da aparência de um
quarto feminino e o idealizou para si, mas estava
montado e tinha roupas femininas no guarda-
roupas. Certamente já estava ocupado. Ela entrou
nas outras portas e apenas viu inúmeras araras de
roupas e muitos sapatos e bolsas. Por último, entrou
no quarto de Eduardo. Percebeu se tratar do quarto
dele, pois a roupa que usava durante a viagem
estava jogada aos pés da cama.

O quarto era espaçoso e tinha uma


escrivaninha repleta de projetos e livros de estudos.
A cama era uma King Size, e um enorme guarda-
roupas tomava conta de uma das paredes. Um
minibar era embutido em outra parede, frente à
cama.

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Maria Fernanda viu suas malas ao lado da


escrivaninha e caminhou até elas, mas sua
curiosidade a direcionou para as montanhas de
papéis. Mexeu absolutamente em tudo. Leu os
rascunhos, ligou a calculadora científica, somou
alguns cálculos e ainda se arriscou a consertar os
que não estavam exatos. Afinal, ela dominava a
matemática e muitas das vezes sem precisar usar
calculadora.
Depois de passar horas resolvendo os cadernos
de atividades dos livros, ela arrumou a papelada
que estava jogada sobre a mesa e respirou satisfeita
com sua organização. Havia alguns papéis jogados
ao chão, então julgou ser lixo e deu seu destino a
eles.

— Um ogro muito desorganizado, deveria usar


suas regras para arrumar a própria bagunça. —
resmungou arrastando as malas para perto do

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guarda roupa.
Abriu uma das portas e não encontrou espaço.
Seguiu, portanto, abrindo as outras e também não
encontrou um cantinho sequer desocupado. Então,
arrastou os edredons que estavam em um suporte
inferior interno, pegou sua mala com produtos de
beleza e roupa que precisaria após o banho, e em
seguida colocou as outras duas malas dentro do
guarda-roupas e fechou a porta. Sorriu por tudo ter
dado certo. Usaria os edredons para fazer sua
própria cama, sobre o felpudo tapete do quarto.

Cantarolando uma música de ninar ela foi para


o banheiro e acomodou seus inúmeros cremes e
shampoos ao redor da borda da banheira. Depois
retirou a roupa e preparou seu confortável banho.
***

No final do dia, Maria Fernanda voltou à

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cozinha. Ela tinha dormido na cama de Eduardo


depois do banho. Já era noite e ele ainda não tinha
retornado.
Antonieta estava sentada à mesa, esperando a
arrumadeira, Carmem, que seguiria com ela até o
supermercado.

— Descansou, filha?
— Primeiro arrumei a bagunça. Apesar de não
ter sujeira, não me sentiria bem em viver em um
quarto com tanta coisa fora do lugar.

— O Eduardo não gosta que mexam nas coisas


dele. Deixe tudo como está! Evite conflito. Ele
costuma ser estourado e você não merece
grosserias.
— Como é possível alguém se irritar com
organização? Só mexi para comportar minhas
coisas no lugar. Não vou poder tirar minhas coisas

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da mala, mas peguei um pequeno espaço no


banheiro.
Antonieta observou a menina com mais
cuidado. Ela tinha uma inocência natural, porém
não parecia ser tão vulnerável. Talvez, quem sabe,
ela conseguisse dobrar Eduardo. Não,
definitivamente era um caminho perigoso para uma
jovem que demonstrava ser tão amorosa. Eduardo
era só espinhos e não saberia tratá-la com seu
merecido valor. Só a faria sofrer com tantos casos
extraconjugais. Antonieta o conhecia muito bem,
por isso, afastou a ideia da mente. Protegeria a nova
patroa do que fosse possível.

— Quantas pessoas trabalham aqui, Antonieta?


— Além de mim, há Jorge que é o motorista, e
duas arrumadeiras, Suelen e a Carmem.

— Todos vocês também moram aqui? —

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Maria Fernanda pegou uma faca e começou a cortar


as verduras que estavam sobre a mesa.
— Sim, é exigência da patroa, mas cada um
tem o seu final de semana de folga. — Antonieta
tomou a faca e afastou as verduras.

— Vou ajudar vocês com o trabalho. Lá na


fazenda há muitos empregados, mas eu vivia entre
eles, éramos uma família. A madrinha tratava todos
por igual e para mim era natural viver dentro da
cozinha.
— Você precisa estudar. Já terminou os
estudos?

— Estou nos últimos livros. Eu estudava em


casa com professores particulares. A madrinha
preferia que fosse assim, porque não havia boas
escolas nos arredores da fazenda. Assim, ela
mandava vir os melhores para darem aulas para

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mim e Giovane.
— Vou falar com o Edu. Ele precisa ver uma
escola para você. Fique perto de mim o tempo
todo.Eu vou te proteger se algo der errado.

— Estou com saudades do Giovane. Nunca


fiquei longe dele antes. — Uma lágrima escorreu
dos olhos da jovem ao se lembrar do amigo
inseparável. — Ele sempre me disse isso. Iria ficar
ao meu lado pra sempre.
— Quem é Giovane, filha?

— Meu irmão do coração. Giovane não sabe


viver sem mim. Quem vai com ele ao riacho agora?
Ele tem medo de trovão, assim como eu. Agora não
estamos mais juntos para nos proteger das noites de
trovão.
— Venha cá, minha querida.Deixa eu te dar
um abraço. Eu vou te proteger. Não se preocupe.

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— Vamos, Antonieta? — Uma velhinha


apareceu, carregando uma bolsa de lado.
— Agora vou ao supermercado com a
Carmem. Qualquer coisa, chame a destrambelhada
da Suelen.

Antonieta desligou o forno, beijou seus cabelos


e saiu com a senhorinha.
— Olha o cheirinho bom de torta de laranja —
Jorge, o robusto motorista esfregou as mãos e
pegou sua generosa fatia da bandeja. — Ah! Como
vai, menina patroa?

— O senhor é Jorge, o motorista?


— Sim. — O homem mirou o bolo em suas
mãos com brilho nos olhos. — Seus cabelos são
bonitos, menina. — falou com parte de uma fatia de
torta na boca.
— Obrigada, acabei de lavá-los.
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— Você gasta o quê... um shampoo a cada


lavagem?
— Não, senhor, não exagere!

— Jorge, dá para você falar de boca vazia?


Quantas vezes eu já te falei isso? Não é porque
trabalhamos na casa que não vamos ter modos.
A jovem Suelen, arrumadeira da casa, entrou
na cozinha com os ombros despencados de
cansaço, já que tinha acabado de faxinar a área da
piscina.

— Eu tenho bons modos. — repetiu o


motorista, deixando escapar alguns farelos de bolos
da boca.
— Preciso de um banho, não aguento mais
essa vida de mucama. — Suelen sentou na cadeira
ao lado de Maria Fernanda. — Oi! Vi você mais
cedo, de longe. Não me apresentei porque estava no

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meu trabalho escravo. Sou Suelen, mucama e futura


estilista.
— É um prazer te conhecer, Suelen.

— Sou um amor de mucama, mas estou morta.

— Deveria parar e descansar, já que está


cansada.

— Olha que amor, Jorginho. — Suelen sorriu


— Tinha mesmo que vir alguma alma boa para essa
casa, pena que caiu nos braços do cafajeste.
— Onde está Antonieta? — Eduardo entrou
pela cozinha.

— Ai! Que susto, assombração! — Suelen


colocou a mão no coração. — Foi ao supermercado
com a Carmen.

— O que disse?!
— Que Antonieta foi ao supermercado com a
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Carmem. Não foi, patroinha? — Suelen deu uma


leve cotovelada em Maria Fernanda.
Os olhos de Eduardo foram até Maria
Fernanda e desenhou o caimento do cabelo sedoso
sobre o colo da jovem.

— Então... você, Suelen, — desviou o olhar


para a empregada. — Traga um lanche. Meus
amigos estão na sala de vídeo. Coloque torta de
maçã, a Viviane pediu. — Voltou a olhar para a
jovem depois se virou em direção à sala.
— E agora, Jorge, o Sergio deve estar aí e eu
não posso ir até lá, não quero vê-lo.

Suelen era só uma jovem de dezenove anos


que se envolveu em um relacionamento conflituoso
com o melhor amigo de Eduardo, e aquilo ainda
machucava o seu coração.
— Eu não posso ir lá, Suelen, não quero perder

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meu emprego. Sabe muito bem que só posso entrar


na cozinha.
— Por favor, Jorginho, a patroa não vai te ver.
Eu te dou cobertura. — A arrumadeira fez sua
melhor expressão doce.

— Sinto muito, mas não vou me arriscar.


— Você é um gordo covarde, barrigudo de
uma figa! — Ela desmanchou o rosto meigo e
jogou o pano que estava em suas mãos nas costas
do motorista. — Um dia, tu ainda vai precisar de
mim, ruindade!

— Sou gordo e covarde mesmo. E não vou


arriscar o meu emprego.
— Eu vou, Suelen.
Maria Fernanda levantou da mesa e se
apresentou como voluntária. Não entendia o que
poderia causar tanto medo aos empregados e, sendo
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ela parte da família, não viu problemas em ajudar.

— Obrigada, patroa, mas ignore totalmente a


megera da Viviane e saia de lá o mais rápido
possível. Nem sei o que essa vaca está fazendo
aqui, se agora você é a mulher dele. Aquele safado!

— Apenas no acordo, Suelen. Ele não é meu


marido de verdade.
— Que coisa estranha, hein? Mas cuidado
mesmo assim, e ignore a Viviane.

— Tudo bem, Suelen, não se preocupe comigo.


Maria Fernanda ajeitou seus cabelos para trás,
tomou a bandeja nas mãos e adentrou a sala, que
Suelen mostrou de longe.
— Com licença. — Ela depositou a bandeja na
mesa de centro com os olhos sempre baixos, como
foi advertida por Suelen.

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Eduardo mudou as vistas da televisão para ela.


Ele passou os olhos em Maria Fernanda. O que
chamou sua atenção novamente foram os cabelos
recém-lavados. Estranhou internamente estar
observando outra vez aquilo. Havia um ar de
descoberta gritante dentro dele.
— Prendada ela, não é Edu? — falou Sergio,
depois de observar a maneira que o amigo a olhava.
Sergio sorriu e sentou na poltrona onde estava
deitado. — Então, como tem sido as noites de amor
do casal?

Sorrindo, levantou-se da poltrona e caminhou


na direção da jovem. Maria Fernanda levantou os
olhos e arriscou uma olhada para Eduardo, que
observava a atitude do amigo, calado. Quando o
jovem tocou em seus cabelos, ela se esquivou para
o lado e acabou indo na direção de Eduardo.
— O que deu em você, Sergio? Agora se
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interessa por crianças? — Eduardo, enfim, se


pronunciou.
— Então essa é a caipira vendida? Deram
milhões nessa coisinha?

— Viviane. — Eduardo advertiu a loira.

Ele tinha consciência que precisava das duas


para alcançar seus objetivos, por isso contou sobre
o casamento para Viviane, garantindo que não
passava de um contrato que garantiria milhões.

Maria Fernanda manteve seu nariz empinado e


o queixo erguido. Ela não se esforçou para fazer
aquilo, a pose de autoconfiança era algo natural
dela, pois nunca havia experimentado humilhações
ou algo do tipo.
— Meu nome é Maria Fernanda, senhora.
— Senhora! — A loira se enfureceu.

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— Provavelmente deve ter o dobro da minha


idade, melhor tratá-la com o devido respeito.
Maria Fernanda não falou para provocar, ela
realmente tinha sido educada daquela maneira.
Deveria se dirigir às pessoas mais velhas com o
devido tratamento.

Eduardo ergueu o lábio em um curto sorriso e


olhou Maria Fernanda dos pés à cabeça.
— Eu vou dar na cara dessa caipira! —
Viviane levantou, mas Eduardo a puxou de volta
para o sofá.

— Vivi, por que você não finge que não está


incomodada com a bonequinha aqui. — Sergio
segurou na cintura de Maria Fernanda, mas ela se
esquivou novamente.
— Que rebaixamento, Sergio! Já esteve em
dias melhores.

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A loira esnobe ao lado de Eduardo estava


evidentemente se sentindo ameaçada com a figura
da menina esguia de cabelos longos na sala. Já
Maria Fernanda sentiu-se aliviada ao saber que
Eduardo tinha uma namorada.

— Cabelo cheiroso. Pensa só, uma noite


inteirinha sentindo esse cheirinho de laranja. —
Sergio olhou para o amigo e inalou com efeitos
sonoros o aroma fresco que vinha de Maria
Fernanda.

— O senhor pode, por favor, não tocar em


mim — ela pediu, educada e firme.

— Calma, só quero conversar um pouco. —


Mais uma vez, tocou os cabelos da jovem e levou
uma longa mecha até as narinas. — Ele parecia agir
para cutucar o amigo. — Muito cheiroso. — Olhou
para Eduardo.

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— Eu sou casada com seu amigo, não pode


tocar em mim dessa forma. — Maria Fernanda o
afastou com um sopapo.
Viviane, a namorada, se enfureceu:

— Olha aqui, sua caipira, eu vou deixar uma


coisa bem clara: você não é nada, absolutamente
nada do Eduardo! Eu sou a mulher dele. Você é só
um negócio, então não se sinta no direito de sair
por aí dizendo que é casada com o meu homem se
não quiser seu rostinho lisinho com alguns
hematomas.
— Vai bater em mim? — Maria Fernanda
olhou para Eduardo assustada.

— Pode ir menina! — Eduardo segurou firme


na mão da loira para que ela não se levantasse.
— Por que vai bater em mim? — Maria
Fernanda insistiu, afinal, ela nunca tinha sido

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ameaçada.

— Suma da minha frente, menina! — Eduardo


gritou.

Maria Fernanda tomou uma lufada de ar, se


desviou de Sergio e correu até a cozinha.

— O que aqueles miseráveis fizeram com


você? — Suelen, aflita, sentiu-se culpada.

— Um ficou pegando em mim. E aquela dona


me chamou de caipira, disse que ela era a mulher
do senhor Eduardo e ameaçou me bater. Ninguém
nunca me ameaçou nesta vida, e eu não fiz nada
com ela, apenas fui educada.
— É tudo culpa minha. Se eu tivesse ido, eles
não teriam mexido com você, mas eu não suporto
mais o que o Sergio tem feito comigo depois de
tudo que vivemos. Eu pensei que com você pudesse
ser diferente, sendo esposa do Edu.

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— Tudo bem, Suelen, eu só não estou


acostumada a ser tratada assim.
— Viu por que eu não quis ir? — Jorge, de
posse de uma banana, falou de boca cheia.

— Você é um covarde, Jorge. Se fosse macho


o suficiente não deixaria isso aqui acontecer.
— Agora o culpado sou eu?

— Eu vou me deitar, minha cabeça começou a


doer. — Maria Fernanda levantou e amarrou os
cabelos no alto da cabeça.
Eduardo entrou na cozinha com Viviane.
Estavam abraçados de forma íntima.
— Queridinha, quero suco de morango. —
Viviane falou olhando para Maria Fernanda. Soou
como uma ordem.

— Só um instante, senhora. — Suelen se

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antecipou e foi em direção à geladeira pegar as


frutas.
— Não, você não. Eu quero que ela faça. —
ordenou, apontando para Maria Fernanda.

— Não, senhora, ela é a nova patroa. Eu sou a


mucama.
Suelen não gostava de Viviane e jurava que um
dia ainda iria entortar os dentes brancos dela com
um soco.

— Ela morava em uma fazenda e deve saber


fazer sucos melhores do que você. Eu quero que ela
faça.
Maria Fernanda olhou para Eduardo, e por
alguma razão, quis ver a expressão facial dele.
— Meu suco, querida.

Maria Fernanda continuou esperando Eduardo

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se manifestar.
— MEU SUCO. ESTOU ESPERANDO! —
Viviane gritou.

— Ela é a patroa. Você me ouviu. — Suelen se


excedeu, valendo-se da coragem conquistada com a
súbita intimidade com Maria Fernanda.
— Eu faço, Suelen. — Maria Fernanda ainda
olhava para Eduardo quando pronunciou a frase.

Ela foi até a geladeira, pegou as frutas e


espremeu na centrífuga. O líquido deu pouco mais
de um copo. Terminando, entregou a Viviane.
Eduardo sabia da natureza arrogante e infantil de
Viviane e não via problemas, divertia-se com o
jeito egocêntrico da namorada oficial. No entanto,
ele não conseguia tirar o olhar de sua jovem esposa.
Odiou-a por ela ter cedido ao pedido de Viviane.
Ele odiava pessoas fracas e medrosas. E de longe

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dava para ver a falta de malícia de Maria Fernanda.


Viviane percebeu o olhar de piedade que
Eduardo dava para a jovem e lançou o suco
avermelhado no rosto da menina.

O líquido escorreu sobre o vestido branco e


espirrou parte em Jorge, que deu um pulo da
cadeira onde estava.
— ESTÁ SEM AÇÚCAR. FAÇA OUTRO,
AGORA! — gritou, arrogante.

Só então Maria Fernanda percebeu que estava


sendo humilhada. Ainda era muito nova e não
estava acostumada com aquele tipo de situação.
Mesmo sem o amor dos pais, ela cresceu com
pessoas que a amavam e nunca antes havia se
sentido tão desprotegida. Depois de olhar para
Eduardo e encontrar indiferença, sentiu as lágrimas
descerem.

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Eduardo a viu chorando, mas permaneceu com


a mão na cintura de Viviane.
— Suba menina e vá se deitar. Suelen, limpe
isso.

— Quero que ela limpe, Eduardo. — Viviane


exigiu olhando para Maria Fernanda.
— Eu já estou limpando. — Suelen começou a
esfregar o pano no chão e olhou para a loira,
emanando ódio. Idealizou que chegasse o dia em
que ela pudesse arrancar os fios loiros de Viviane
um por um.

— Esse homem aqui é meu, filhinha. Antes


disso tudo, eu fui consultada e sei que você é
apenas uma negociação. Nem sonhe em chegar
perto do meu homem, coisinha sonsa.
— Vá dormir, menina! — Eduardo falou
grosso.

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Havia alguns riscos que ele não poderia correr.


Um deles era perder um dos braços. Maria
Fernanda, o investimento; Viviane, a influência.
Ele presumia que Viviane era mais fácil de escapar,
pois a jovem não transparecia ter entendimento de
mundo. Ficaria de qualquer jeito.
Maria Fernanda abandonou a cozinha e saiu
apressada em direção à escada da sala. Trombou
em Sergio no caminho, mas não se importou subiu
as escadas correndo.

***
Logo após Sergio ter ido para casa, Eduardo
levou Viviane para o escritório da casa, pois de
agora em diante, Viviane não dormiria em sua
cama até que o quartinho destinado a Maria
Fernanda estivesse pronto.

— VOU APERTAR O PESCOÇO DESSA

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CAIPIRA! — Viviane entrou berrando de raiva


dentro do escritório da casa.
— Viviane, não dê chilique de ciúmes em
minha frente. Poupe-me dessas infantilidades.

— Escuta aqui! — Apontou o dedo no rosto de


Eduardo e uma simples olhada dele a fez abaixar a
pose de mandona. — Essa pirralha já esteve em sua
cama?
— Não fale besteira. — Eduardo se jogou no
sofá de couro. — Não sinto tesão em mulheres
inocentes. Você sabe do que gosto, Viviane. Ando
totalmente sem paciência para isso.

— Sei, meu gato. — A loira amansou a voz. —


Mas vou ficar de olho para cortar as asas dela antes
que queira voar em cima do meu homem. —
Passou o vestido pela cabeça e o jogou longe.
A loira o montou, mas foi jogada com

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violência sobre o sofá.

— Vire-se! — ele ordenou. Ela o obedeceu de


imediato.

***

Quando Eduardo entrou no quarto já era


madrugada. Tinha levado Viviane até sua casa, mas
preferiu voltar antes do amanhecer.

Ele mirou a jovem dormindo toda enrolada


sobre os edredons no chão e sorriu lentamente.
Apenas a luz do hall de entrada estava ligada, e ele
preferiu não acordá-la, então seguiu para o
banheiro, onde retirou toda a roupa para entrar
debaixo do chuveiro.
Ainda sentindo a água lavar seu corpo,
visualizou uma grande quantidade de produtos de
beleza ao redor das bordas da banheira. Também
viu um sutiã de algodão com florzinha no chão, ao

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lado da banheira. Respirou fundo, puxou a toalha e


ajeitou ao redor de sua cintura.
Saiu do banheiro todo molhado e acendeu a
luz. Foi então que avistou seus projetos de planta
baixa enrolados no canto da mesa, seus livros
empilhados e seus cadernos organizados
simetricamente por cores.

Enfurecido ele puxou o cobertor que cobria de


Maria Fernanda e jogou longe.
— O que está fazendo? — Sonolenta, ela
puxou parte do cobertor que cobria o tapete e
quando o percebeu só de toalha, cobriu os olhos.

— Quais foram minhas ordens? Quando foi


que eu disse que você poderia mexer nesse caralho?
— Apontou para a escrivaninha. — Meus projetos
de meses estavam ali!
Ele apertou os próprios cabelos e seguiu para

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conferir o estrago. Abriu algumas plantas e viu


rabiscos de cálculos diferentes.
— Não! Você não teve a coragem...

Abriu outra planta e viu que tinha sido apagado


um cálculo importante. Olhou para os livros que há
dias estavam abertos nas páginas certas para
facilitar o estudo e, no entanto, estavam fechados.
— Meus rascunhos... — Ele levantou os
cadernos, mas não os encontrou.

Maria Fernanda estava com o cobertor na


altura do nariz e tremia.

Eduardo socou a parede do quarto e se virou


para ela com o olhar fulminante.
— Maldita hora que eu te trouxe para dentro
do meu quarto! — Ele andou de um lado a outro,
frente a ela, com os punhos cerrados.

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Maria Fernanda, no misto de medo e


curiosidade, passou os olhos pelos músculos
definidos de Eduardo. O corpo dele era algo que
não passava despercebido. Lembrou-se dos livros
de biologia, em que os desenhos masculinos eram
sempre cheios de músculos definidos. Sempre
achou exagero, pois Giovane — o único homem
que convivia com ela — não era tão definido. Mas
a sua frente estava a cópia fiel dos modelos
anatômicos descritos nos livros de estudos.
— Não deveria estar me olhando dessa forma,
nenê. Não me provoque, porque não sou bonzinho.
— Ele a tirou de suas observações e se ajoelhou
frente a ela.

— Ahh! — Ela deu um grito fino e cobriu os


olhos com o cobertor. — Você está pelado, saia de
perto de mim!
Eduardo fechou o punho furioso e mais uma
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vez respirou fundo.

— Maldito sacrifício! — Ele se levantou, foi


até o bar, abriu uma garrafa de vodca e virou na
boca.

Maria Fernanda passou os braços ao redor dos


joelhos. Estava assustada.
Eduardo bebeu metade do conteúdo e depois
de abandonar a garrafa, olhou-a outra vez.

— Para você nunca mais mexer no que não lhe


diz respeito, vai dormir no chão.
Foi até ela e ouviu outro grito fino. Mais uma
vez respirou fundo e puxou os cobertores que
cobriam o tapete do quarto.
— Boa noite, sacrifício. Agradeça-me. Afinal,
esse tapete é bastante confortável para a minha
segunda ideia. Ou você prefere dormir sentada no
vaso do banheiro?
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Ela não respondeu.

Ele pegou os cobertores e jogou no topo do


guarda roupa

— Vai sentir frio durante a noite, então junte-


se a mim na cama.

Virou de costas e deixou a toalha pelo meio do


caminho, dando a ela uma visão privilegiada do seu
traseiro definido.

— Ah! — ela gritou e tampou os olhos com as


mãos.
Ele mais uma vez fechou o punho lutando para
controlar seu excesso de fúria ao escutar o zumbido
fino no ouvido.
— Essa noite está muito quente. — Ele pegou
o controle do ar-condicionado sobre o criado mudo
e ligou o aparelho.

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— Me de-devolve meu cobertor, senhor. —


Ela colocou o braço sobre o joelho e abaixou a
cabeça.
Eduardo apagou a luz e colocou o controle
abaixo do travesseiro.

— Senhor Eduardo, eu não vou mexer outra


vez. — Eduardo fechou os olhos e sorriu. —
Senhor, está me ouvindo? Estou com frio.
Maria Fernanda deitou no tapete felpudo e
abraçou os próprios braços, que estavam revestidos
pelo tecido de algodão do pijama.

— Então, por favor, o senhor pode desligar o


ar?
Percebendo que não seria ouvida, Maria
Fernanda calou-se e esperou que o sono a distraísse
do frio.

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— Bom dia, Antonieta. — Maria Fernanda


entrou na cozinha esfregando os olhos e fungando o
nariz. Acabou ficando levemente resfriada.

— Por que acordou tão cedo, menina? A essa


hora ninguém acorda na casa. Eu fui te ver ontem
quando cheguei do supermercado, mas já era tarde
e você estava dormindo, por isso não quis te
acordar. Suelen e Jorge me contaram tudo. Eu não
acredito como aquela megera teve a ousadia de
ofender uma Moedeiros.
— Ela é namorada dele e por isso não gosta de
mim. — Maria Fernanda sentou-se à mesa e
começou a cortar o bolo que estava na bandeja.

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— Você é linda, jovem e esposa. Esse é o


medo dela. — Antonieta tomou a faca e começou a
fazer o trabalho que Maria Fernanda já tinha
iniciado. — Não abaixe sua cabeça para ela, tome
sua posição.

— Eu apenas fui negociada, não tenho posição


nenhuma nessa casa.

— E em um mau negócio, minha filha. Nisso


tudo você só saiu perdendo... me perdoe falar
assim, mas é bom você ficar logo ciente que o Edu
não é fácil.
— Eu não me importo, eu só quero que ele
continue longe de mim durante os dez anos.

— Céus! Tudo isso? Pelo que parece, essa sua


madrinha gostava muito de você.
— Sim, ela gostava, sempre cuidou de mim
como uma filha. — Maria Fernanda, com toda sua

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ingenuidade, não entendeu o sarcasmo de


Antonieta.
— Bom dia, Antonieta. — Eduardo entrou na
cozinha vestido apenas com a bermuda do pijama.

— Oi, Eduardo. Acordado tão cedo... o que


aconteceu? Sua consciência pesou e não te deixou
dormir?
— Antonieta, como consegue ser bem-
humorada tão cedo? — Olhou para Maria
Fernanda.

A jovem, vendo Eduardo quase desnudo,


abaixou rapidamente o olhar para a mesa que
estava repleta de doces. Eduardo percebeu que ela
estava constrangida. Ele sorriu e resolveu que
poderia piorar sua situação.
— Bom dia, ferinha. — Beijou a parte desnuda
do ombro da menina, coberto apenas pela alça de

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vestido. Maria Fernanda ficou estática com o toque.


Eduardo decidiu aumentar ainda mais o seu nível
de nervosismo, e então, abaixou-se novamente e
beijou o outro ombro da jovem. Só parou quando
ela iniciou uma fraca crise de tosse. — Vai me dar
bom dia, ou vai querer que eu continue te
incentivando a abrir a boca? — Mergulhou os
dedos nos cabelos de Maria Fernanda e descobriu a
nuca da menina.
— Eduardo, você quer parar com isso? —
Antonieta atacou suas costas com o pano que usava
para enxugar a louça.

— Isso dói, Antonieta, você sabia? —


Esquivou-se da mulher que o atacava.
— Eu sei. Se não parar de atormentar a
menina, vai doer mais ainda!

— Antonieta, Antonieta... Qualquer dia desses

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eu perco a paciência e te dou o troco.


— Não me ameace porque sei que você não
sobreviveria sem mim. Agora pare de atormentar a
Maria Fernanda e vá vestir uma roupa.

— Mas, qual o problema? Eu estou em minha


casa, ao lado de minha esposa. Por que você, que é
a cozinheira, se incomoda tanto com isso? —
Começou a acariciar os cabelos de Maria Fernanda.
— Estou cometendo algum crime grave?
— Está. Por deixar a Viviane humilhar a sua
mulher. — Antonieta falou dura, deixando escapar
a sua indignação com o ocorrido.

— Isso não é problema seu, minha querida


cozinheira, que adora se meter na minha vida.
Ele ainda estava alisando os cabelos da jovem
de forma carinhosa. Maria Fernanda não entendia o
porquê daquele cafuné tão gostoso que recebia.

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Eduardo não estava se dando conta de que ainda


sua mão se mantinha mergulhada nos fios. A
verdade é que ele, inconscientemente, estava se
viciando naquela maciez longa e castanha.
— Você agora é um homem casado, Eduardo.
Não pode estar casado com uma e vivendo com
outra.

— Então, agora vai me dar lição de moral


também? Não fique muito perto dessa mulher,
ferinha. Você já é muito arisca, não quero que fique
desaforada. — Olhou para Maria Fernanda e se deu
conta do cafuné que fazia em seus cabelos, e viu
que ela parecia gostar de receber.
— Vou me aprontar para trabalhar. — Saiu da
cozinha, deixando-a envergonhada sob o olhar de
Antonieta.

— Antonieta, ele tem essa namorada há quanto

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tempo?
— Há uns três anos. O pai dela é responsável
pelas obras públicas da cidade e o Edu é
engenheiro. Parece que tudo gira em torno do
interesse.

— Então, acha que ele não gosta dela de


verdade?
— Eu não sei. — Antonieta analisou a menina
por alguns segundos, prevendo o que poderia
acontecer. — Fique longe dele. Você é muito
bonita, ele não vai demorar a perceber isso.

Suzane, a mãe de Eduardo, entrou pela cozinha


batendo o salto do scarpin no piso liso.
— Antonieta, querida, hoje eu precisei
madrugar e mesmo assim estou atrasadíssima.
Suzane era uma dondoca que havia saído da
pobreza para se casar com um homem rico. Ela
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havia conhecido Olavo, o pai de Eduardo, quando


saía do salão de beleza em que trabalhava como
manicure. Pelo histórico de vida dela, era uma
mulher fiel, característica que balanceava com sua
índole egocêntrica e arrogante. Depois do
casamento, ganhou de presente um grande salão de
beleza, onde a maior parte das dondocas da cidade
batiam ponto diariamente.
— Essa aí é a menina? — perguntou,
direcionando o olhar a Antonieta, ignorando a
presença de Maria Fernanda.

— Sim, ela é a Maria Fernanda, sua nora.

— Assim tão nova? — Analisou a jovem


cuidadosamente por alguns segundos. — Esse
cabelo é seu mesmo? — Balançou o dedo pálido
que destacava a unha vermelha. — É seu? —
tornou a perguntar

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— Sim, senhora. — Maria Fernanda não tinha


respondido, pois estava o tempo todo observando a
roupa e o modo de gesticular incomum de Suzane.
Ela ainda não tinha visto a mulher, pois se
restringia a ala dos empregados.

— Quando quiser cortar, me procure. Tem


muita gente procurando um cabelo igual ao seu lá
no salão. A menina olhou para Antonieta, que deu a
volta na mesa e colocou os braços em volta dos
ombros dela, em um gesto de proteção.

— Não volto para o almoço, pois tenho duas


noivas para fazer testes agora pela manhã. — Saiu
rebolando os fartos quadris e fazendo um barulho
irritante a cada pisada.
— Fique longe dela também, filha. Aliás, fique
longe de todos eles. Trabalho aqui há anos e sei que
não são confiáveis.

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***

Maria Fernanda conseguiu novos cobertores no


quarto ao lado. Naquela noite, sua cama
improvisada estava mais confortável que a noite
anterior.

Eduardo chegou de madrugada em casa.


Depois do trabalho, a noitada tinha sido longa. Sem
paciência e bêbado, jogou-se debaixo do chuveiro e
acabou adormecendo. Já era quase manhã quando
ele despertou e colocou uma calça de moletom.
Deitou em sua cama e observou o rosto de
Maria Fernanda, que estava toda embrulhada no
tapete ao lado de sua cama.

Aquela era uma manhã de sábado. Nos finais


de semana, Eduardo costumava acordar depois das
nove da manhã. Ele estagiava na maior empresa de
engenharia do país, J.A Engenharia, que prometia

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ser sua maior concorrente quando estivesse no


topo. Também havia iniciado a pós-graduação e
geralmente estendia as noites até o dia seguinte. Ele
seguia uma filosofia própria: se durante o dia era
um homem crescendo para os negócios, durante as
madrugadas se aprimorava para uma vida divertida
e prazerosa.
Aquele também era o final de semana de folga
da Suelen, que acabou convencendo Maria
Fernanda a passar aqueles dias com ela.

Já estava tudo pronto, só restava comunicar a


Eduardo. Maria Fernanda se viu na obrigação de
pedir autorização para dormir fora de casa. Ela já
estava há minutos criando coragem para acordá-lo.
Depois de uma longa respirada e um pedido
interno de coragem, aproximou-se de Eduardo, que
estava em posição fetal sobre a sua King Size.

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Aguçada por sua curiosidade, chegou mais


perto dele e sentiu o cheiro de banho recém
tomado.
— Senhor Eduardo — chamou baixinho e não
obteve sucesso. — Senhor Eduardo... — Com o
indicador, pressionou a bochecha dele, que acordou
devagar e gritou percebendo a jovem de cócoras em
sua frente.

— Ai que susto, menina! Quer me matar do


coração?
— Eu preciso de sua permissão para dormir
fora este final de semana.

— É o quê? — Ele sentou-se sobre a cama.


— A Suelen me chamou para ficar na casa dela
este fim de semana e eu quero ir.
— Não vai — ele a interrompeu.

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— Mas...

— Não vai! — interrompeu mais uma vez.

— Eu estarei de volta domingo à noite.


— Não. Agora me deixe dormir. — Deitou de
volta na cama e cobriu o rosto com o travesseiro.

— Minha bolsa já está arrumada e a Suelen


está me esperando lá embaixo.
— Não quero você andando com a Suelen. Ela
é uma mulher fácil e você, além de inocente, é
minha responsabilidade. — Descobriu o rosto sem
paciência.

— Mas eu já sou casada, e madrinha me


emancipou, então não sou mais criança.

Eduardo observou a esperteza na conclusão da


menina e pensou se ela era tão ingênua como
pensava. Era linda, não podia negar, mas ainda não

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conseguia vê-la como mulher. Talvez, se houvesse


um pequeno esforço, aquilo deixasse de ser um
impedimento.
Eduardo sorriu, desceu da cama e começou a ir
de encontro a ela, que dava passadas largas para
trás.

— Senhor, o que está fazendo? — Maria


Fernanda já estava encostando-se à parede do
quarto.
Eduardo não respondeu nada, apenas
continuou analisando seu rosto, querendo achar
algum defeito, mas não obteve sucesso em sua
busca.

Ela não conseguia retribuir o olhar. As


bochechas estavam levemente avermelhadas e
mirar a porta entreaberta foi a forma que encontrou
para não fazer isso.

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— Então, você não é mais criança, não é


mesmo? — Segurou a ponta do seu queixo e a fez
encará-lo. Acariciou as mechas do cabelo castanho.
— E é casada comigo. — Encostou os lábios de
leve em seu rosto, que tremia. Não perdeu a chance
e aproveitou para inalar o aroma dos cabelos de
Maria Fernanda. — Você não é mais criança, sou
seu marido e tenho alguns direitos sobre você.
— Tudo bem, eu não vou, senhor. Eu só
preciso avisar a Suelen. — Maria Fernanda apertou
os olhos, como se aquilo fizesse tudo a sua volta
desaparecer. — Eduardo beijou o outro lado da
bochecha dela e afundou os dedos na ondulação de
fios castanhos. — Senhor, eu estava errada. Eu... eu
ainda sou uma criança.

Uma lágrima escapou dos olhos de Maria


Fernanda. Não demorou muito e ela sentiu os lábios
de Eduardo se movendo sobre os seus e uma das

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mãos dele sustentando sua cintura.


Maria Fernanda estava estática entre a parede e
Eduardo não conseguia mover um músculo sequer.
Ele, por sua vez, tentava a todo custo buscar a
língua dela dentro de sua boca, mas Maria
Fernanda não reagia. A menina era nova,
certamente apenas ele a teria beijado. Poderia estar
sendo egoísta da parte dele, mas não estava tendo
resposta negativa, ou melhor, não estava tendo
resposta alguma, então iria insistir até obter uma
reação.

Ela estava assustada, suas pernas não paravam


de tremer e Eduardo insistia um tanto possessivo.
— Não, não, não chora. — Ele respirou
próximo a boca dela. — O que deu em você pra
chorar de pavor de um beijo como o meu? — Ele
respirou pesado, mas não resistiu aos lábios
carnudos a sua frente, então deu uma leve mordida.
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— Céus!

Ele ouviu um grito agudo e se separou


rapidamente de Maria Fernanda, que fitou Suelen
na porta do quarto, com os olhos maiores do que os
de costume.

— Desculpe, eu não sabia que... eu não sabia


que vocês... que vocês estavam...
— O que faz em meu quarto, Suelen? — ele
falou sem paciência.

— A patroinha demorou e eu vim socorrê-la.


Mas, pelo que parece, ela estava muito bem. —
Suelen olhou para Maria Fernanda maliciosamente.
Ela havia chegado no momento exato em que
Maria Fernanda fechou os olhos.
Maria Fernanda ainda sentia as mãos de
Eduardo sobre sua cintura e olhou para o local,
evitando olhá-lo nos olhos, que estavam ali tão

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perto. Eduardo, vendo aquilo, pareceu ter recobrado


o juízo e se afastou por completo, esfregando os
dedos nos cabelos ainda molhados.
— Não vá pela cabeça da Suelen. — Suelen
estreitou os olhos lutando para não falar os
desaforos que estavam sempre preparados na ponta
de sua língua. — Pode ir com ela, menina — Olhou
para Maria Fernanda e a viu segurando o choro. —
O que está esperando? Vá logo, antes que eu
desista!

— Com licença. — A jovem sussurrou e saiu


do quarto, sendo seguida por Suelen.

Eduardo sentou-se na cama e fitou o cantinho


da parede onde, segundos atrás, estava com Maria
Fernanda e sorriu ao lembrar da reação inerte da
menina ao ser beijada.

— Onde eu fui me meter? Se você tiver juízo,

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ficará bem longe de mim — murmurou para si


mesmo e voltou a se envolver nos lençóis de sua
cama.
Maria Fernanda, descendo a escada às pressas,
estava sendo interrogada por Suelen.

— Então, vão ser marido e mulher de verdade?


— Não vamos ser marido e mulher e eu não
comecei aquilo.

Ela enxugou os olhos.


— Ele que te beijou! — Suelen gritou, mas
logo cobriu a boca e olhou para os dois lados da
sala. — Cuidado com aquele lá, ele é bonitão, mas
não vale nada. Você gostou, não tente me enganar,
danadinha.
— Eu não gostei de nada.

— Mas se foi assim, porque não o empurrou e

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deu um chute no meio das pernas?


— Ele é forte.

— Estou estranhando isso. Segundo minhas


observações, você não faz muito o tipo daquele lá.
Será que ele acordou e descobriu que está caído de
amores pela pequena Maria Fernanda? Hein, hein...
— Cutucou a barriga da jovem, fazendo-a se curvar
em um esquivo. — Por que está chorando?
Vergonha por ter gostado do beijo do bonitão
cafajeste?
— Como poderia ter gostado de um ogro que
me beijou sem permissão!

— Do ângulo onde eu estava, cheguei a ver


uma virada de olho. Não minta para mim, não
minta que eu descubro tudo.
Suelen entrou na cozinha ainda cutucando a
cintura de Maria Fernanda.

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— Suelen, pare com isso! — Antonieta a


advertiu.
— Antonieta você não sabe, o senhorzinho
mulherengo, está caindo de amores pela nossa
pequena patroa de olhos azuis. – Suelen piscou os
olhos várias vezes.

Jorge, que bebia displicente uma generosa


xícara de café, expeliu o líquido para fora e
Antonieta colocou a mão no coração e suspirou
extremamente preocupada. Maria Fernanda olhou
para Suelen, implorando sem palavras, para não
falar do beijo.

— Não é para tanto, gente, só tirei essa


conclusão, pois ele a deixou sair comigo sem
contestar. — Devolveu um olhar cúmplice para a
jovem, que suspirou aliviada.

— Ele deixou? — Jorge limpou a própria

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camisa suja de café.


— Deixou e eu não sei o que a danadinha
precisou fazer para ele permitir. — Suelen abafou o
riso com a mão.

— Suelen, não fique colocando besteira na


cabeça da menina. Você conhece bem quem são
esses meninos, já esqueceu o que o Sergio fez com
você?
— Antonieta, por favor, não me lembre de que
aquele desgraçado existe.

— Não, senhorita, é bom você lembrar


bastante para nunca mais cair na mesma cilada,
muito menos empurrar a Maria Fernanda para uma.
— Vamos, patroinha? — Suelen não gostava
de tocar naquele assunto que ainda doía, então
desviou a conversa. — Antonieta e Jorge, sinto
muito deixar vocês, mas precisamos ir agora,

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beijinhos. E não escravize a Carmen, ela já está


muito velha e caduca. — Beijou a bochecha de
Antonieta e deu um tapa de leve na cabeça de
Jorge, que acabou derramando mais café em sua
blusa.

—Tenha muito cuidado com a Suelen. Não


faça nada do que ela lhe aconselhar. Se ela te
mandar fazer algo, faça o contrário, se ela mandar
você entrar em uma rua, procure outro caminho —
Jorge, evidentemente emburrado, ainda limpava a
sua camisa.

— Vou deixar para te dar o troco na volta,


Jorginho linguarudo. — Suelen soltou um beijo no
ar e saiu carregando Maria Fernanda.
***

Sergio e Eduardo estavam jogados na sala de


vídeo da casa assistindo uma série de TV antes de

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saírem para uma festa.


— Beijei a menina, Sergio. Fui cair na besteira
de dar um susto nela e olha no que deu.

— Mas foi beijo, tipo beijo?

— Sei lá, Sergio. Beijo é beijo. Ela é


inexperiente, não sabe nem seguir o meu ritmo. Eu
não sei nem porque te contei isso.

— Cara, você gostou. — Sergio caiu na risada.


— Você tá louco? Voltou a usar aquelas
porcarias de novo?
— Que conversa é essa, Edu? Estou sóbrio,
não uso nada há meses. Você é que está gostando
de pegar a caipirinha e escondendo o jogo. Tudo
bem, não precisa esconder. Ela não é gostosa, mas
é muito linda. Tenho visão de futuro, cara, e já
estou imaginando aqui aquela gracinha dez anos
mais velha.
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— Visão de futuro para a carreira você não


tem. Mulher é coisa de momento. Fodas casuais,
nada mais que isso. Dez anos à frente serei
respeitado nesta cidade e conhecido como um
engenheiro que faz a diferença. Essa deveria ser a
sua visão.
— Se liga só, irmão. Sergio Sampaio e
Eduardo Moedeiros, respeitados e cobiçados por
todas. — Sergio sorri, deslumbrado. — Penso nisso
sim, cara. Estudamos juntos para isso.

— Eu já sou cobiçado por todas sem precisar


ser dono de nada, mas para você seria um grande
avanço. — Eduardo não perdia o jeito de alfinetar o
melhor amigo e seu principal concorrente com as
mulheres da cidade. — Essa menina apareceu na
melhor hora, foi o meu primeiro negócio de peso
que deu certo.
Uma pausa foi dada entre a conversa dos
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amigos de infância enquanto assistiam. No


momento de mais ação, Sergio chamou a atenção
de Eduardo.
— Cara, isso não é contra lei, não?

— Claro que é. Eles são corruptos e a polícia


vai chegar aí tocando a porra toda.
— Estou falando de você ficar pegando a
caipira pelos cantos.

— Claro que não. Somos casados, ela é minha


por direito.
— Então, vai continuar pegando-a?

— Você sabe que eu gosto de mulher e não de


adolescentes com cheiro de virgindade.

— Então, libera para mim?


— Você acha mesmo que a Suelen não vai
contar que você abandonou ela grávida?
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— Você sabe que o filho era de outro, não


toque nesse assunto. Estou querendo saber se estou
liberado para ensinar seu bebezinho a falar.
— Por mim, tudo bem. Meu interesse é a
empresa, e no contrato se exigia o casamento por
dez anos, mas não se fala nada sobre fidelidade.

— Cara, eu vou investir, depois não queira


voltar atrás, pois vou conquistar aquela gatinha e,
se ela me quiser, juro que não olho mais para rabo
de saia nenhum. Quem sabe, ela me faça esquecer o
que a Suelen fez comigo.
Eduardo não deu muito ouvido a fala de Sergio
e voltou atenção a cena de ação da TV.

***
— O Sergio não quis o nosso bebê, patroinha.
Não tive saída, estava muito machucada e com
medo, mas me arrependo muito de ter abortado

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meu filhinho. Ele falava que ia se casar comigo,


que ia me levar para conhecer a família dele, que ia
me tirar do trabalho, mas era tudo mentira. O
Sergio não presta. Ele foi a pior coisa que
aconteceu na minha vida. Tirou tudo de mim, e não
me deu nada em troca. Ele falou na minha cara que
o filho não era dele. Eu era virgem, não conheci
nenhum homem antes dele. Antes eu havia
implorado para meu pai me deixar trabalhar fora,
porque eu tinha sonhos de conseguir mudar minha
vida. Queria sair da máquina de costura e ganhar o
mundo como estilista. Meu pai me avisou tudo.
Falou do exemplo para minha irmãzinha e me fez
prometer que não o decepcionaria. Mas quando
encontrei o Sergio, me apaixonei pelo jeito doce e
divertido dele. Ele era romântico e sabia fazer
minhas pernas tremerem. Enganei-me com um lobo
em pele de ovelha. Foi ele que mandou a mãe trazer
os remédios. Minha cabeça estava a mil naquele
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dia. Eu estava frágil e com medo, e só me dei conta


quando começou a hemorragia.
Maria Fernanda chorava ao saber do
sofrimento de Suelen. Ela nunca tinha presenciado
a maldade das pessoas e era muito triste saber que
um pai rejeitou seu próprio filho daquela maneira
tão cruel. Afinal, ela mesma nunca tivera um pai
presente. Nem sequer o conhecia.

— Era só um bebê indefeso, um bebezinho que


nunca fez mal a ninguém... Ele nem teve chance de
conhecer a mãe. — Tentou enxugar os olhos, mas a
informação que tinha recebido era muito forte e não
conseguia secar as lágrimas. Ela vivia longe de
todo o perigo, não tinha aprendido a viver no meio
da maldade humana.
— A culpa foi toda minha, eu nunca mais vou
me perdoar. Era o meu filho, eu deveria ter fugido
para bem longe com ele, mas não fui. Fiquei com
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medo dos meus pais. Eu sou uma criminosa, a


minha culpa é a maior de todas. Sou uma assassina.
— Suelen abraçou a barriga com os próprios
braços, lembrando-se do ser indefeso que já esteve
ali. — Eu não consigo deitar a minha cabeça um
dia sequer no travesseiro, sem pensar no que
aconteceu. Eu ainda tenho que ver o Sergio sempre
na casa. Às vezes, ele leva outras namoradas e faz
tudo para me afrontar, só para jogar na minha cara
que eu não tenho valor para ele. Eu o odeio com
todas as minhas forças e pode passar o tempo que
for eu nunca vou perdoar o que ele fez comigo. Da
mesma maneira que não me perdoo por ter ingerido
aqueles remédios que ele mandou a mãe trazer.
Maria Fernanda não sabia o que falar para
acalmar Suelen. Sabia que aquilo tudo era errado,
mas tinha aprendido que cada um tem a sua própria
vida, as suas próprias escolhas e medos. Não se

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colocaria contra Suelen, pois não estava na sua


situação para saber tudo o que passou. Então, sem
dizer uma só palavra, abraçou a mais nova amiga,
passando toda cumplicidade e amizade que duraria
para o resto de suas vidas.

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Era final da tarde de domingo quando Suelen


entrou agarrada ao braço de Maria Fernanda na
cozinha da mansão.

— Boa tarde, família! Estamos de volta.


Jorge e Antonieta tomavam um café da tarde e
estranharam a chegada dela antes do horário.

— Já voltaram? O que deu em você, Suelen?


Quando foi que você não chegou aqui de
madrugada? Que estranho!
— Querida Antonieta, eu sou uma moça
responsável e cumpro com minhas obrigações.
Além disso, a Nanda falou ao patrão que viria hoje
à tarde, então, fiz um pequeno esforço por minha
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amiga. Vai que ele dá à louca e a proíbe de sair de


casa.
— Sei... — Antonieta parecia incrédula. — Foi
tudo bem lá, filha? — perguntou a Maria Fernanda
e permaneceu com a sobrancelha arqueada,
desconfiada da súbita pontualidade de Suelen.

— Foi sim, Antonieta, a família da Su me


recebeu muito bem.
— O senhor Edu perguntou por você, patroa.
— Jorge falou entre um gole de café.

— Mas você é um enxerido mesmo, não é,


Jorge? — Antonieta exclamou.
— O que foi? Só falei a verdade. Ele entrou
aqui e, disfarçadamente, perguntou que horas você
iria chegar. Acho que estava preocupado. Qual o
problema, Antonieta?
— Você deveria experimentar ficar com sua
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boca calada, Jorge. Não fique colocando coisas na


cabeça da menina. Você sabe muito bem quem é o
Edu e ele deve ter qualquer outro interesse, menos
o de se preocupar com quem quer que seja.
— Mas, eu só falei a verdade.

— Eu vou tomar um banho, Antonieta, depois


vou dormir um pouco. — Maria Fernanda beijou o
rosto da mulher.
A última pessoa que Maria Fernanda queria
ver era Eduardo, não depois dos últimos momentos
antes de sair com Suelen.

— Isso. Vá, filha, e leve a Suelen junto.


— Vou mesmo. O domingo ainda não acabou,
então permaneço de folga até o último segundo.
Vamos Nanda.
— Mas é atrevida... — reclamou a mais velha.

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Suelen saiu da cozinha arrastando Maria


Fernanda pelo braço e soltou um beijo para
Antonieta, que apenas sorriu já acostumada com a
jovem.
***

Maria Fernanda estava pegando água na


cozinha quando ouviu o barulho na sala. Curiosa
como era, largou o copo sobre a pia e foi observar a
ação.
Eduardo estava tentando subir a escada. Estava
evidentemente bêbado. Ela se segurou e até voltou
em direção à cozinha, mas teve medo dele cair da
escada e morrer igual um vilão do último livro que
havia lido. Seria assustador saber que ele havia
morrido na sua frente, talvez fosse acusada, feito
uma mocinha do livro.

Quando percebeu, já estava sustentando o peso

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dele e sentindo seus braços trêmulos pela força do


corpo que era maior que o seu.
Eduardo a olhou por alguns segundos e depois
de piscar os olhos três vezes, tentou firmar seu
corpo no chão.

— Está bêbado, senhor?


— Me solte, menina.

— Vou te ajudar a subir. Não gosto de bebida.


— Não gosto de sua infantilidade. Vai mudar
por isso? — Se soltou dela e cambaleou pela
escada.

Eduardo se desequilibrou no último degrau,


mas conseguiu ser ágil em se segurar no corrimão.

— Vou te deixar no quarto. — Ela passou o


braço dele pelo pescoço. — Não quero levar a
culpa de sua morte se você cair daqui e quebrar o

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pescoço.
Maria Fernanda o jogou sobre a cama e acabou
caindo juntamente com ele. Eduardo estava tonto,
havia misturado bebida quente com fria, mas estava
lúcido ao ponto de sentir seu sangue ferver com o
corpo da jovem sobre o seu.

Ele desceu uma das mãos e apertou a coxa de


Maria Fernanda com firmeza.
— Com licença. — Assustada, ela tentou se
levantar — Me solta!

— Esse seu cheiro doce é tentador, menina —


Subiu o vestido de algodão e apertou o bumbum de
Maria Fernanda.
— Por favor, só queria ajudar, me solta! — A
voz dela saiu trêmula.
Em um gesto rápido, Eduardo a virou, se
posicionando sobre ela. Sua boca invadiu a dela
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com força. Maria Fernanda tentou se soltar, mas


Eduardo prendeu suas mãos sobre o lençol. Quando
ele abandonou a boca e seguiu em direção ao
pescoço, Maria Fernanda puxou o ar para os
pulmões com urgência.

— Por favor, por favor, por favor — ela


implorou — Não faça isso. — Eduardo estancou
sobre o pescoço dela, se dando conta do que estava
prestes a fazer.

— Procure outro lugar para dormir essa noite.


Não chegue perto de mim quando eu estiver
excitado. A não ser que sente aqui e rebole. — Ele
rolou para o lado ainda zonzo pela mistura de
bebidas.
Maria Fernanda levantou assustada, ajeitou o
vestido e saiu rapidamente do quarto. Desceu as
escadas correndo e se trancou dentro da despensa
da casa. Sentou no chão e chorou com as mãos ao
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redor dos joelhos.

Bem cedo, Antonieta forçou a porta em busca


de ingredientes para fazer seus bolos. Maria
Fernanda despertou e abriu a porta com o rosto
inchado de choro.

— O que faz aqui, filha? — A negra abraçou-a


e a fez caminhar até a cozinha.
— Ele bebeu e passou a mão no meu corpo.

— Céus! E até onde ele foi? Conte-me tudo.


— Ele me mandou sair do quarto e eu corri.
— Vou mandar o Jorge contratar logo alguém
para começar a reforma do quartinho. É um quarto
minúsculo, mas pelo menos estará longe das mãos
do Edu.

***
Mas uma semana de trabalho se iniciou e
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devido à bebedeira da noite anterior, Eduardo


estava chegando mais uma vez atrasado na
empresa.
Ele entrou na J.A Engenharia e deparou-se
com Junior — filho de seu patrão — saindo da sala
em que ele dividia com Sergio.

— O que faz em minha sala, Junior?


— O que você faz em minha empresa, Eduardo
Moedeiros?

— Aprendendo a ser melhor que o dono. —


Eduardo devolveu. — Não pense você que vai
armar algo contra minha carreira só porque você é
um merdinha incompetente que vive frustrado com
os próprios erros.
Junior vivia em uma competição desmedida
com Eduardo desde a faculdade. O jovem já tinha
tentado prejudicar o oponente muitas vezes, mas

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para sua frustração, Eduardo sempre havia sido


esperto. Depois que Eduardo conseguiu ser o
melhor estagiário da empresa de seu pai, tudo
piorou, pois Alfredo — o dono — o adotou como
um filho nos negócios. O Empresário passava tudo
que sabia para os dois, mas Eduardo sempre se saía
melhor.
— Soube que você se casou, Eduardo
Moedeiros.

— Agora está supondo sandices!


— Eduardo, Eduardo. Não esconda, pois tenho
fontes seguras e já sei de tudo, inclusive o
propósito do seu casamento, e fiquei sabendo que
rolou muito dinheiro. Já pensou se meu pai sabe
que o protegido dele comprou uma mulher?

Eduardo fechou o punho, tentando se conter


para não perder o controle dentro da empresa e

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próximo à sala de seu mestre e patrão.


— Não sou eu que precisa pagar para dormir
com uma mulher. Sou Eduardo Moedeiros e até sua
namoradinha já se ofereceu para dormir em minha
cama.

— Desgraçado! Estou doido para conhecer a


senhora Moedeiros. — Junior sorriu, possesso de
raiva.
— Não se meta na minha vida, Júnior, ou
acabo com você!

— Olha se não são os melhores engenheiros


dessa empresa, juntos. —Alfredo, se aproximou
dos dois.
— Como vai, senhor Alfredo? Desculpe o
atraso, mas tive problemas pessoais e não consegui
ter uma boa noite de sono. Acabei dormindo
demais agora pela manhã.

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— Isso está se repetindo com frequência. Não


seria melhor rever os horários e diminuir as
noitadas?
— Ele se casou, meu pai. — Junior sorriu
sarcasticamente e cruzou os braços.

— Casou? Que novidade é essa, Eduardo?


— Foi um casamento às pressas, senhor
Alfredo, não deu tempo de convidar ninguém.
Apaixonamo-nos, ela morava longe e para não
ficarmos distantes, resolvemos nos casar. Fiz isso
nas férias. — Tentou se explicar enquanto
praticamente fuzilava Junior com os olhos.

— Então, seus atrasos estão explicados. Por


que não pediu mais dias de férias? Você ainda tem
dias na casa.
— Não houve necessidade. Vamos marcar uma
viagem em breve. Ela é do interior. Não gosta

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muito de sair de casa.

— Você agora é um homem de família, meu


filho. Uma boa mulher pode levantar a carreira de
um homem. Assim foi a minha Alice. Cuide bem
dela. Sua mãe vai gostar de saber, Junior. Ela ama
essas histórias de amor.

— Depois eu apresento a Maria Fernanda a


vocês. Gosto muito da Dona Alice. Ela é como uma
mãe pra mim desde que vim trabalhar aqui.
— Agora vamos trabalhar, meu jovem. O seu
futuro promissor te espera, e em breve virão os
herdeiros. Agora o trabalho precisa ser dobrado. —
Alfredo entrou com Eduardo na sala.

Junior cerrou os punhos, enciumado. Já estava


mais do que na hora de bolar algo grande contra o
oponente.
***

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Mas tarde, Eduardo estava lidando com as


papeladas de um projeto em sua mesa. Estava
furioso com o atraso do amigo que deveria estar
com ele revisando as análises.
— Bom dia, irmão. Cara! Peguei uma gostosa
no elevador. Ela é gêmea, meu irmão. Mas esqueci
de pegar o contato. Seria uma minha outra sua.

— Sabe Sergio, às vezes fico pensando se você


vai chegar junto comigo no topo. — Eduardo não
retirou os olhos do projeto. — Porque tudo o que eu
tenho feito é lutar por minha empresa. E para não te
deixar para trás te ofereci a vice-presidência, mas
eu penso bastante se sua imbecilidade não vai
atrapalhar meu sucesso.
— Edu... era mulher, cara. Uma gostosa.

— Uma gostosa, seu imbecil! — Eduardo


apertou o colarinho da blusa de Sergio e o

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empurrou para fora da cadeira — Quantas vezes eu


devo te falar que diversão é lá fora? Quantas vezes
você me viu com alguma mulher no elevador desta
empresa?
— A carne é fraca, Edu. Você sabe, estou na
merda depois da Suelen.

— Pensa no trabalho! Esquece de mulher,


porra e foca no seu futuro! — Eduardo levantou,
colocou a mão na cintura por baixo do terno e virou
de costas tentando se controlar para não socar o
amigo. — Você quer ficar pra trás, porque foi pego
em uma câmera comendo uma puta no elevador!
Você sabe muito bem que o senhor Alfredo é
ligado nessas coisas de família. É seu futuro que
está em jogo, seu desgraçado.
— Desculpa Edu, você está certo. Só não
consegui resistir à morena. Mas tarde passo no
quest office e apago as imagens.
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Eduardo voltou a olhar para o amigo.

— Vai, senta ai! — Ajeitou a cadeira para ele


— Da próxima vez, carregue-a para qualquer lugar
que não possa ser visto. — Bateu no rosto do
amigo. — O desgraçado do Júnior descobriu que
casei e falou para senhor Alfredo. Agora tenho que
ter cuidado para não perder a confiança do velho.

— E como está a bonequinha de porcelana?


Ela já aprendeu a escrever ou ainda está pegando na
mão dela?
— Não sinto atração por adolescentes. E ainda
não vi necessidade de seduzi-la. Ela é boba. Vai
ficar de qualquer maneira. — Eduardo mexeu em
uma coisa qualquer sobre a mesa.

— Em dez anos aquela gracinha pode virar a


tua cabeça cara e a de qualquer homem.
— Olhos bonitos e cabelos sedosos não

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alimentam a fome de quem está dentro das minhas


calças. Posso até fodê-la, mas por uma causa maior:
minha empresa. Vamos trabalhar, esse projeto está
atrasado por sua culpa. Pegue os relatórios.
***

Maria Fernanda respirou aliviada, já era noite e


não tinha encontrado com Eduardo. Tentaria fugir
ao máximo dele, estava decidida. Passou a vê-lo
com um ogro, vilão de certo livro que havia lido
um tempo atrás.
Ela estava na cozinha pegando um pouco de
água antes de se deitar quando foi surpreendida por
Sergio em suas costas. Gelou de imediato.

— Olá, mulher do Edu! — sussurrou próximo


ao ouvido dela.
— Com licença, senhor. — Tentou se afastar
rapidamente.

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— Espera, espera, espera... — Ele segurou o


braço dela e olhou fixamente através dos olhos
azuis.
— Você é bonita. Como o Edu ainda não
descobriu isso?

— Senhor, por favor, me solte. Eu preciso


dormir.
— Eu vou soltar, mas você vai me prometer
que vai sentar e conversar comigo. Seu marido é
meu amigo desde a infância, vamos estreitar os
laços. Preciso te contar umas coisas sobre o Edu.
Quero ser seu amigo, linda.

— Fique longe de mim! Seu destruidor de


corações! Sou casada, não tente me seduzir, porque
não acredito em suas falsas palavras. Seu mau
caráter! — Maria Fernanda teve medo, mas o
enfrentou em nome da amiga. — Eduardo assistia

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tudo da porta da cozinha e segurava o riso.


— Ei, calma aí! Só estou querendo interagir
com você... Que violência é essa, menina?

— Você vai ficar sozinho e eu espero muito


que sua culpa te atormente todas as noites.

— Não, aí você já está me rogando praga sem


saber da situação. Não sei o que o Edu andou te
contando, mas quando usei aquelas porcarias eu
estava na pior. Meu coração estava destruído e...

— Cínico! Queria ter forças para socar sua


cara!

— O quê? Menina, estou começando a ficar


ofendido.
— Se tentar algo contra mim eu grito! — Ela
deu um passo para trás. Sergio seguiu sua passada.

— Sergio!

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A voz firme de Eduardo causou certa


displicência no amigo, o suficiente para Maria
Fernanda se soltar e correr para a porta. Eduardo
foi mais rápido e segurou a mão dela antes que ela
saísse da cozinha.

— Não vá pela conversa desse idiota.

— Já sei quem é ele. Já sei de tudo. — Ela se


abraçou e mirou Sergio com raiva.
— Qual é, Edu? Vai cortar minha onda
mesmo?

— Posso cortar qualquer coisa sua, mas hoje


vou deixar você dar meia volta e encontrar outro
lugar para se encostar. — Eduardo ordenou, ainda
segurando a mão de Maria Fernanda.
— Claro, se o casal quer privacidade quem sou
eu para negar. — Sergio levantou as mãos e saiu
contrariado.

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— Estava com medo dele? — Eduardo tocou


com as duas mãos a base da cintura de Maria
Fernanda e olhou em seus olhos, encontrando o
medo evidente. — Fique longe de qualquer homem
quando eu não estiver por perto.

— Também estou com medo do senhor. — Ela


tentou desvencilhar dos braços dele.

— O que está acontecendo aqui! — Jorge


entrou na cozinha com seu pijama verde, repleto de
ossinho. O susto lhe deu certa firmeza e coragem.
Ele tinha planos de pegar uma boa porção de
alimentos e estocar para passar a madrugada.
Encontrar alguém na cozinha sabotou os seus
planos.

— Volte a dormir, Jorge, o que faz acordado


uma hora dessas?
— Vim pegar água, nada mais que isso.

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— Pegue sua água e volte.

Maria Fernanda aproveitou a discussão entre


Eduardo e o empregado e correu para o quarto.
Porém, Eduardo abandonou Jorge e a seguiu.

Ela entrou rápida e se jogou debaixo da


coberta.
Eduardo sorriu irônico e caminhou até a cama
improvisada. Maria Fernanda estava lutando para
afastar o pensamento que vinha em sua mente.

Ele se abaixou ao lado dela e puxou o


edredom.

— O que está fazendo? Por favor, não faça


isso. — Ela se encolheu sentada.
Eduardo aproximou o rosto e inalou o perfume
dos cabelos de Maria Fernanda, como se aquilo
fosse uma droga que ele estivesse em abstinência.
Ainda cheirando seus fios, levantou uma das mãos
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e desceu a alça da larga camisola. Maria Fernanda


resistiu ao toque e mordeu a mão dele.
— Gata selvagem! — Ele sacudiu a mão. —
Então, você gosta de morder, não é mesmo? Venha
aqui! — Puxou-a de vez e usou a força para
controlar o esperneio de Maria Fernanda.

— E agora, o que eu faço com você, ferinha


selvagem? — Jogou-a sobre a cama e prendeu-a
debaixo de seu corpo.
— Antoni... — Eduardo apertou os lábios
contra os dela e Maria Fernanda lutou para manter
a boca fechada.

— Olhe pra mim, menina. — Ele prendia as


mãos dela no colchão.
Maria Fernanda moveu o rosto de um lado a
outro. Os olhos estavam fechados. Eduardo sorriu e
beijou a ponta do nariz empinado. Conseguiu o que

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queria, ela abriu os olhos e as duas imensidões


azuis se encontraram.
— Você bebeu outra vez e está querendo se
aproveitar de mim. — Os olhos dela estavam
cheios de lágrimas. — Eu não quero e tenho medo
de você.

— E mais o quê? — Eduardo desceu a boca até


o queixo dela e beijou. — O que mais sente quando
eu faço isso? — Beijou a testa dela. — Você é
linda, ferinha. Não me acha bonito?
— Te acho um ogro! — Ela olhou para o lado,
pois não possuía forças físicas para sair dali. — O
senhor sabe que não é nada meu, então, tira seu
peso de cima de... — Eduardo começou torturar o
pescoço dela com beijos. Eduardo era cheio de
artimanhas masculinas e logo a viu se aquietar.

— Melhor assim, não acha?

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Maria Fernanda fechou os olhos, estava


inquieta e perdida nas sensações que aqueles beijos
trouxeram ao seu corpo.
— Abra a boca e siga seus instintos.

Ela sentiu a respiração de Eduardo tocar a pele


de seu rosto, mas atordoada não obedeceu ao
comando. Logo sentiu a ponta da língua dele entre
os seus lábios, instigando-a a obedecê-lo e ela não
pestanejou. Rendeu-se ao comando e sentiu a
língua ágil de Eduardo adentrar em sua boca,
atormentando-a com carícias e trazendo chamas de
desejo ao seu corpo inexperiente. Ele não se
restringiu aos lábios, beijou toda a extensão de sua
face, fazendo-a arfar ao sentir o atrito sensual de
sua barba. Maria Fernanda gostou daquilo e
acariciou os cabelos dele. O que estava
acontecendo com ela? Antes, a ideia da
consumação do casamento a apavorava, mas dentro

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daquele novo contato, já não sentia tanto medo.


Não demorou, ele abandonou os lábios carnudos de
sua mulher e a viu respirar ofegante.
— Isso foi para você saber quem manda aqui.
— Levantou-se e a olhou totalmente mole sobre a
cama. — Garotas virgens são tão fáceis de serem
levadas. Basta um beijo e já querem se entregar de
corpo e alma.

Maria Fernanda olhou para o volume na calça


dele e lembrou-se das histórias que lia nos
romances históricos. Aquilo era sinal de que um
homem estava desejando possuir uma mulher,
então por que ele a fez se sentir humilhada?
— Não, não se iluda comigo, ferinha. — Ele a
pegou no flagra. — Um homem se excita com
qualquer coisa. Isso não quer dizer que eu esteja te
desejando. Boa noite, nenê. Pode fechar suas
pernas e voltar para sua caminha.
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Caminhou até o banheiro e Maria Fernanda


desceu da cama e se jogou embaixo de suas
cobertas. Sentiu-se triste e chorosa, mas não soube
identificar que o sentimento foi pela rejeição.
— Você... você nunca mais tocará em mim. —
Ela falou ao enxugar os olhos com o cobertor.

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Eduardo entrou na cozinha com a mochila nas


costas, pegou uma fatia do seu bolo de banana e um
pouco de café, sob o olhar desconfiado de
Antonieta.

— O que foi agora, mulher? — Percebeu que


ela o olhava atravessado.
— Maria Fernanda precisa ir à escola. É sobre
isso que quero te falar. — Eduardo analisou as
palavras de Antonieta e terminou de comer o seu
bolo.

— E mais isso? Ela ainda não terminou os


estudos?
— Você já deveria estar ciente disso, não
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acha?

— Antonieta, eu tenho muito trabalho e não


tenho tempo para besteiras. Mas veja isso para
mim. Procure uma boa escola, de preferência com
segurança máxima.

— Estou falando sobre colégio externo, para


ela terminar as últimas matérias. Ela não tem
necessidade de entrar em um internato. O que você
quer fazer da vida dessa menina, Edu?
Eduardo respirou fundo. Ele tinha estima pela
cozinheira, mas quando ela ia contra a suas
decisões, ele relutava para não a ofender.

— Ela é nova, linda e amável. Não merece ser


maltratada por você.
— Nunca maltratei ninguém, Antonieta.
Apenas sigo minha vida e afasto quem interfere
contra o meu progresso.

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— Pense bem no que vai fazer da vida dessa


menina. Eu sei que você... — A empregada
analisou suas palavras, mas às vezes, era preciso
tentar colocar um pouco de lucidez na cabeça do
menino que viu crescer. — Eu sei que você recebeu
pouco amor durante sua vida, mas ela merece ser
amada.
— Que conversa é essa, mulher? Vá a qualquer
colégio e resolva esse problema. Depois eu passo
para acertar os valores. — Levantou da cadeira,
incomodado com o rumo da conversa.

— Eu já acertei tudo. Ela vai para a mesma


escola que sua irmã estudou. Passe lá agora, antes
do trabalho e pague a matrícula e as mensalidades.
Vou comprar o uniforme dela e amanhã mesmo ela
começa.
— Certo. Se for para eu não ouvir mais essa
conversa, vou resolver logo o problema do meu
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sacrifício. Fui eu que assumi, não foi?

— Pelos céus. Não a trate assim. Deveria


colocar sua vida nos eixos, agora que é um homem
casado.

— Tenha um bom dia de trabalho, Antonieta.


Continue fazendo seus deliciosos bolos, mas não se
preocupe com nada além disso.
Ele saiu da cozinha e abandonou a empregada.

***
Suelen avistou Maria Fernanda sentada na
grama do jardim e se aproximou dela.

— Está chorando, Nanda?

A Jovem negou e secou os olhos com as pontas


dos dedos.
— O que ele fez?

— Suelen, por que o senhor Eduardo é tão


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malvado?
— Não sei, mas deve ser coisa de família.
Todos eles são ruins. A Antonieta me falou que a
irmã dele é diferente do restante da família, mas eu
não cheguei a conhecê-la. Ela já estava estudando
fora do país quando eu vim trabalhar aqui.

— Ele me beijou na boca ontem, e foi


diferente, mas depois me chamou de virgem fácil.
Ele fez isso para me humilhar.
— Miserável! Sim, ele fez. Só não entendo por
que o Edu separou um tempinho para se importar
em te humilhar.

— E ontem eu nem mexi nas coisas dele. Eu


não sou fácil. Até agora só beijei um homem na
boca. — Maria Fernanda começou soluçar.
— Engole! Engole o choro agora! — Suelen
falou autoritária. — Maria Fernanda tampou a

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boca, mas não conseguiu conter as lágrimas. —


Não vai chorar na frente dele. Comece a treinar
agora. Engole, ou eu te sento a mão. Aí você vai
chorar de verdade.
Maria Fernanda olhou assustada para Suelen e
nem percebeu que seus soluços se acalmaram.

— Que coisa, né? — Suelen sorriu sem graça.


Ela já se sentia tão íntima de Maria Fernanda que,
às vezes, esquecia-se que era apenas uma
funcionária. — O dia hoje foi ensolarado. Eu
deveria ter lavado minhas roupinhas... — continuou
rindo sem graça.

— Você tem razão, Su. Mas, acontece que eu


era bem tratada desde que nasci e ainda não me
acostumei com minha nova vida ao lado do ogro
malvado.

— Por isso, eu não quero que sofra o que eu já

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passei. Você não merece. Eles são bonitos e sabem


como seduzir, mas os dois são cobras criadas. Hoje
eu sei me defender e proteger meus sentimentos,
mas você ainda é uma menina, e o senhorzinho
cafajeste pode querer se aproveitar disso.

— Quanto a isso não se preocupe. De certo, ele


me odeia por precisar casar comigo para pegar a
parte dele na herança da madrinha. Não vou ceder
aos beijos dele. Não sou virgem fácil e vou mostrar.

— Assim que se fala! Virgem sim, fácil nunca.


Não quero ver lágrimas nesses olhos azuis
poderosos. Sigo o mesmo lema. No meu caso, nem
virgem, nem fácil.
***

Naquela noite, Eduardo chegou mais cedo em


casa, pois iria estudar. Estava exagerando nas
noitadas por aqueles dias e precisava recuperar o

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tempo perdido, afinal, brevemente ele seria dono e


não mais estagiário de uma das maiores empresas
de engenharia do país. Maria Fernanda não
esperava que ele chegasse tão cedo, pois desde que
ela estava na casa, ele só aparecia em inícios de
madrugada.
Ela estava sentada à beira da banheira, os
cabelos presos em um enorme coque no alto da
cabeça e o corpo com vestígios de espumas.

Deslizava uma lâmina depilatória nas pernas


esguias. Apesar de transparecer simplicidade, a
jovem gostava de cuidar da beleza desde cedo.
Tinha muitos produtos importados, e a pequena
parte do que havia levado com ela, estavam todos
espalhados ao redor da larga banheira.
Quando Eduardo abriu a porta do quarto, logo
avistou o clarão vindo de uma fresta aberta na porta
do banheiro. Ele teve noção de que Maria Fernanda
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estava lá dentro e por alguma razão não se deteve e


seguiu sorrateiramente para espiá-la.
Engoliu em seco com a visão da jovem nua,
que estava sentada de uma maneira que ele apenas
conseguia ver seu perfil.

Ele acompanhou o contorno do corpo delicado


de Maria Fernanda e observou com certo fascínio
todo o processo lento que ela fazia. A lâmina
percorria arrastando o excesso de loção, tornando a
pele mais sedosa e limpinha. Os olhos pidões
seguiam o mesmo caminho até que o vagaroso
processo fosse finalizado.

Viu-a abandonar a lâmina e pegar um dos


cremes que estava ao lado para em seguida resvalar
sobre ambas as pernas. Os olhos de Eduardo
estavam hipnotizados. Sua jovem esposa o seduzia
sem saber que tinha aquele poderoso artifício. Ele
sentiu seu corpo impetuoso, e inspirou o ar com
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certa urgência quando a viu levantar, dando-lhe


uma visão privilegiada do seu dorso gracioso e
bumbum pequeno e redondo.
Ela se abaixou dentro da água e ele temeu ser
surpreendido, por isso, seguiu até sua cama, onde
se sentiu sem fôlego.

Os olhos turvos miraram a camada de


cobertores sobre o tapete e em um lapso pensou em
sumir com a segunda cama.
Ele apertou os cabelos, indignado com os
próprios pensamentos.

Ele ouviu o barulho abrupto de água, correu


para fora do quarto e desceu as escadas com a
mochila nas costas.
— Chegou agora e já vai sair? — Antonieta o
questionou, quando ele chegou à cozinha.
— Não vou sair, apenas tive sede e vim beber
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água.

— Bebeu água antes de subir. — Suelen que


estava lavando a louça o mirou de cima abaixo.

Eduardo não deu importância, apenas sentou à


mesa e abraçou a mochila onde carregava seu
Notebook.
— O que vocês querem? Não tem nada para
fazer longe daqui? — questionou depois de alguns
segundos sendo observado. — Antonieta, você
pode servir minha torta? Ou prefere ficar
admirando qual o lado do meu perfil é mais
másculo?

— Credo! — Suelen virou-se para a pia e


seguiu com o que fazia.
— Amanhã certamente faltarão os ingredientes
da sua torta. — Antonieta ameaçou.
Quinze minutos depois, Eduardo largou o prato
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sobre a mesa e voltou para o quarto.

Encontrou Maria Fernanda sentada sobre sua


cama, nutrindo os longos fios castanhos com um
óleo que era um verdadeiro elixir. Ela deu um pulo
da cama e não quis fitá-lo.

— Pensa em sair para algum lugar essa noite?


— Admirou por alguns instantes o brilho das
madeixas, mas segurou firme no braço dela quando
passou rente a ele.
— Para bem longe de você. — Ela evitou olhá-
lo. — Seu aperto está me machucando. —
Continuou olhando para o lado oposto a ele.

— Quem está colocando essas tolices em sua


cabeça? É a Suelen ou a Antonieta?
— Eu sou dona de minhas ações.
Eduardo sorriu debochado.

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— Não, nenê. Eu mando aqui. — Segurou o


queixo dela e a fez olhá-lo. — Criança bobinha. —
Assoprou as palavras a centímetros do rosto dela e
afrouxou a mão que a segurava. — Agora vá!
Preciso de minha privacidade. Volte aqui apenas
para dormir.
Maria Fernanda puxou o braço e mesmo sem
forças suficientes, empurrou o peito dele e saiu
rápida do quarto.

O cheiro doce e frutal ficou impregnado no


ambiente e Eduardo inalou os acordes femininos,
que sentia quando chegava próximo dela com mais
intensidade.
Ele foi até o óleo que tinha ficado sobre sua
cama e o encostou próximo ao nariz. “Então, esse é
o óleo responsável pelo brilho e aroma dos cabelos
dela?”

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Sentiu-se um idiota em estar com aquela


curiosidade boba. Jogou o óleo sobre a cama
montada no tapete e seguiu para o banheiro.
Trancou a porta e arrancou tudo do corpo. Viu as
peças íntimas com desenhos de florzinha
penduradas no box e respirou fundo para se
controlar, pois aquilo o irritava. Observou que a
banheira estava vazia e não viu sinal de cabelos
largados.
Desligou o chuveiro quente e deixou a água
gelada cair em seu corpo nu. Precisava acalmar seu
corpo. Que tipo de desejo era aquele, capaz de fazê-
lo admirar dotes femininos que nunca havia dado
importância?

***
Maria Fernanda estava esperando todos da casa
irem dormir para usar o telefone e falar com
Giovane na fazenda. Suelen era sua cúmplice na
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missão. Giovane tinha o costume de dormir nas


altas horas da madrugada, então valeria o risco.
— Toma, patroinha. — Suelen entregou o
telefone. — Está chamando.

O telefone chamou algumas vezes e quando ela


escutou a voz de Giovane só conseguiu chorar,
deixando o rapaz aflito do outro lado da linha.
“— Nandinha é você? Me responde, sei que é
você. O que está acontecendo, Nandinha?
Responde!"

— Sou eu Giovane... você está bem? —


respondeu depois de segurar o choro.
"— Como você está? Por que demorou tanto a
ligar? Estou com muitas saudades de você."
— Me perdoa. Eu também estou com muitas
saudades, como está o padrinho?

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Suelen abraçou a amiga.

—"O pai já está dormindo, ele também está


com saudades, eles estão te tratando bem aí?"

— Eu fiz duas amigas, a Suelen e a Antonieta,


elas me ajudam muito.

"— Ele está te tratando bem!"

— Venha me visitar, Giovane, por favor,


venha e não demore. Estou com tantas saudades, eu
preciso muito de você aqui. Eu não estou sendo
bem tratada por ele. O Ogro sem coração me odeia.
O telefone foi arrancando das mãos de Maria
Fernanda, abruptamente.
"— Vou te buscar!"

Quem ouviu a frase de Giovane foi Eduardo, e


ele estava possesso de raiva.
— Ela agora é minha mulher! Minha mulher,
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está entendendo? Esqueça qualquer esperança que


um dia você colocou nessa sua cabeça. Ela é
minha! Se você pisar os pés aqui, eu acabo com
você!
Eduardo desligou o aparelho e respirou fundo
antes de olhar para as duas jovens.

— Você estava marcando encontros às


escondidas!
— A culpa foi toda minha. — Suelen defendeu
a amiga.

— Eu me acerto com você depois, Suelen, vá


dormir!
— Vamos, Nanda, dorme comigo hoje. Eu
durmo sentada e você fica com minha cama —
Suelen puxou a jovem, mas foi impedida por
Eduardo.
— Ela fica! Eu vou ter uma conversa com
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minha mulher, não se meta nos assuntos da casa.


Agora vá dormir!
Suelen olhou para Maria Fernanda e encolhida
caminhou em direção à cozinha.

Maria Fernanda tremeu e as lágrimas já


tomavam conta de seus olhos oceânicos. Eduardo
analisava a cena de perto, ainda no escuro da sala,
em plena madrugada.
— Você bebeu? — Ela tentou se afastar.

— QUE CARALHO VOCÊ ACHA QUE


ESTÁ FAZENDO? — gritou e Maria Fernanda deu
um passo atrás.
— Nanda, você vem agora? — Era Suelen
outra vez. Na verdade ela ainda não tinha saído da
sombra da porta e esperava, aflita, a reação de
Eduardo.
— Suelen, vá dormir! Eu já mandei! —
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Eduardo falou forte o suficiente para assustá-la. —


Isso aqui é conversa minha com minha mulher, não
se meta.
— Não pense você que eu vou permitir...

— VÁ DORMIR, SUELEN! — Eduardo


gritou, acuando Suelen. — Estou perdendo minha
paciência e não vou me importar com pedidos de
defesa do Sergio — avisou.
Suelen olhou Maria Fernanda e pediu
desculpas apenas com o olhar, depois saiu em
direção à cozinha e entrou para seu quarto. Ficou
torcendo para tudo acabar bem.

Na sala, apenas a luz do abajur iluminava o


ambiente. Eduardo segurava a mão trêmula de sua
mulher, lutando para controlar o excesso de fúria.
Se ela estivesse tramando uma fuga, ele precisava
agir rápido.

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— Venha — falou mais uma vez e puxou-a


escada acima. Ela tentou se soltar, mas foi inútil.

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Maria Fernanda se soltou de Eduardo e se


deitou entre os cobertores no tapete.

— Você acha mesmo que é prudente


desobedecer ao seu marido? Você agora é uma
mulher casada. Esqueça qualquer namorico bobo
que teve antes de mim, ou você acha que me
engana com esse papo de irmãos? — Por alguma
razão, ele estava furioso. — Se duvidar, andavam
mesmo era trepando no meio do mato.
— NÃO INVENTE TAL CALÚNIA
CONTRA MIM E MEU IRMÃO! — ela gritou,
mas ao final, sua voz saiu trêmula. Estava
inconformada com as palavras de Eduardo.

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Ele se abaixou bem próximo e Maria Fernanda


caminhou de costas e se encolheu no canto da
parede.
— Não... Grite... Comigo! Porque isso não vai
te fazer mais forte, só vai me irritar e não queira me
ver fora do sério, sacrifício!

Ele se aproximou ainda mais dela.


— Então não chegue perto de mim! Seu ogro,
nojento! — Ela cuspiu no rosto dele. Aquela era a
primeira vez que Maria Fernanda se irritava
fortemente com algo.

— Isso já foi longe demais! — Ele limpou o


rosto com a camisa, puxou-a pelo braço e jogou
sobre a cama. — Hora de amansar a fera! —
Segurou na gola de seu vestido e arrancou todos os
botões frontais de uma só vez.
— Não! — Ela o estapeou — Não vai fazer

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isso comigo.

— Quieta! — Ele prendeu os pulsos dela no


lençol e desceu os olhos para o sutiã rosa que
cobria os seios da jovem. Perdeu tempo demais
olhando a carne redonda acima dos bojos e não
percebeu quando Maria Fernanda o atacou.

— Não vou viver dez anos com você... — Os


olhos de Maria Fernanda estavam turvos de
lágrimas.
— Você me mordeu novamente sua selvagem!
— Ele tocou o lugar ferido e em seguida, terminou
de rasgar o vestido, deixando-a apenas com as
peças intimas. — Você vai aprender quem manda
aqui, na marra.

— Não mereço ser tratada assim!


Ela se engasgou com o choro e Eduardo freou
as duas mãos que estavam prontas para arrancar seu

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o sutiã.

Ele sentou ao lado dela.

Maria Fernanda virou de bruços sobre a cama.


Seu corpo estava tremendo para que pudesse
levantar, mas sua vontade era correr para longe.
Tinha quebrado a promessa feita horas antes no
jardim da casa. Estava soluçando de tanto chorar ao
lado dele.
— Madrinha confiou em você.

Eduardo virou a cabeça para o teto do quarto,


pois sentiu vontade de afagar os cabelos castanhos
e pela primeira vez, pedir desculpas a alguém.
Ele não suportava pessoas fracas. Era como
lutar sozinho, sem um concorrente à altura. Gostava
de vencer na marra e derramava até a última gota
de suor para conseguir seus resultados. No entanto,
sentia-se extremamente comovido pelo choro de

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Maria Fernanda.

Seja lá o que estivesse sentindo, cortaria pela


raiz. Suspirou decidido. Jamais se entregaria a
sentimentos fracos e autodestrutivos.

Ele já estava com muitos contratos assinados,


havia fechado parcerias e a planta do prédio da
empresa já estava sendo desenvolvida. Jamais
perderia seu projeto de vida. O dinheiro da herança
de sua tia distante tinha chegado na hora certa
como combustível aos seus sonhos. Se aquele era o
preço a ser pago, ele assumiria. Seduziria a jovem,
no intuito de mantê-la por dez anos em um
casamento de fachada. Seria quente na cama, mas
manteria seu coração frio e protegido de possíveis
sentimentos. Fora de casa, ele seria livre para
possuir outras mulheres que suprisse o que
certamente Maria Fernanda seria incapaz de
satisfazer.

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Vendo a jovem arfar no meio dos soluços, ele


levantou, pegou as chaves do carro e bateu a porta
do quarto. Precisava se acalmar para colocar o
plano em ação.
— O que aconteceu, Edu? — Perguntou
Olavo.

Os pais dele estavam no corredor, saíram do


quarto quando ouviram os gritos.
— O problema que me arranjou começou
colocar as asinhas de fora.

— Só não bata nela. Os empregados podem


denunciar à polícia e isso estragaria sua carreira,
filho. — A mãe aproximou-se dele e alisou o rosto
tentando acalmá-lo.
— Boa noite, mãe. Volto amanhã cedo. — Ele
se afastou e desceu as escadas. Iria passar a noite
longe, acompanhado por algumas mulheres e

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regado a bebidas.

***

Maria Fernanda estava próximo ao carro que


ficava na responsabilidade do motorista da família.
Ela estava com o uniforme da nova escola. Aquele
seria seu primeiro dia de aula. Suelen estava ao seu
lado e já sabia de todo o ocorrido na noite passada.
— Não quero ficar aqui, Suelen. Você me
ajuda a fugir? Por favor, faça isso por mim.

— Vou ligar para seu amigo da fazenda.


Mando ele te encontrar amanhã depois da escola.
Não vou te deixar nas mãos desse troglodita.
— Obrigada. — Maria Fernanda abraçou a
amiga. — Um dia vou te recompensar por ser tão
boa comigo.
— Fazer o bem não é troca, mas a recompensa
é a consequência. Não se preocupe com nada. Vou
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te ajudar, pois somos amigas e não posso permitir


que você sofra nas mãos de um homem seco de
sentimentos feito o patrão.
— Estou mais tranquila. Obrigada mais uma
vez.

— Vamos, menina patroa? — Jorge apareceu


no jardim com uma vasilha plástica nas mãos.
Dentro estava seu pequeno lanche para a viagem de
vinte minutos.
Maria Fernanda entrou no carro e Jorge deu a
partida, mas quando o carro chegou próximo ao
portão, o de Eduardo vinha entrando. Ele parou o
veículo, impedindo a saída do outro. Maria
Fernanda fixou o olhar para o lado oposto, evitando
o contato direto. Eduardo a mirou por alguns
segundos e depois de duas buzinadas de Jorge, o
patrão saiu do caminho.

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***

— Vou precisar seduzir a pirralha, Sergio.


Peguei uma ligação dela para o caipira. Eles estão
tramando uma fuga. — Eduardo afrouxou o nó da
gravata e sentou em sua cadeira.

— Se ela for, já era né?


— Ela não vai. E você vai me ajudar. Comece
falando algo que eu poderia dar de presente a ela.

— Uma joia? Bolsa de marca?


— Pense como se você fosse presentear. Você
é todo "frufru", deve pensar em algo que agrade a
pirralha.
— Perfume?

— Ela tem mais perfume que a própria


perfumaria — Eduardo falou sem paciência.
— Um vestido bem sexy?
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— Algo para me aproximar.

— Você quer conquistar e não seduzir?

— Sim, conquistar. Eu sei prender uma mulher


na cama, mas aquela lá é diferente, deve ser toda
cheia de sentimentalismo bobo.

— Então, compra uma coisa fofa. Mulheres


românticas gostam de coisas fofas.

— Boa, uma coisa fofa seria ideal. — Eduardo


apontou a caneta para o amigo. — Mas o que seria
uma coisa fofa?
— Cara, você não quer deixar eu conquistar a
menina? Isso não vai funcionar com você, irmão.
Você é um cavalo, Edu. Ela pode fugir mais rápido.
Efeito reverso.
— Minha pirralha, minha empresa. Deixo
qualquer mulher aos meus pés, não vai ser diferente
com ela. Só preciso de uma aproximação sutil. Vou
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comprar algo... fofo. E você, tire o olho dela.


Preciso mantê-la em casa por muito tempo.
— Cara, a menina é virgem, você é muito
bruto, vai acabar com ela. Deixa comigo eu sei
fazer isso.

— Volte ao trabalho e não se meta com minha


mulher.
***

Maria Fernanda tinha um jeito tímido, mas não


se encolhia no seu mundo. Pela primeira vez em
uma escola de verdade, fez amizade com alguns
alunos e, como toda aluna nova de uma escola no
meio do ano letivo, foi alvo dos olhares
masculinos. Soube a intenção de cada um que a
cumprimentou.
Estava se tornando adulta, não se deixaria levar
por cantadas adolescentes.

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— Como é morar em uma fazenda, Fernanda?


— Thiago, um taiwanês que estudava na mesma
turma em que ela foi inserida, estava encantado
com a beleza da jovem de sorriso tímido.
— Lá na fazenda é muito bom. Nadar no
riacho, comer frutas direto do pé, respirar o ar puro
e acordar com os passarinhos cantando em nossa
janela. — Ela estava com os olhos brilhando e o
coração saudoso.

— Você fala com tanta paixão que eu estou


quase pedindo uma fazenda para meus pais de
aniversário.

— Ninguém pede uma fazenda de presente,


Thiago. É uma área enorme de terra, algo muito
caro para se ganhar assim... — Maria Fernanda deu
uma gargalhada espontânea e o taiwanês ficou
ainda mais encantado com o som da risada.

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— Sou filho único e meus pais falaram que eu


poderia escolher qualquer coisa. — Ele não
conseguia desviar os olhos puxados de Maria
Fernanda.
Ela se recuperava da risada e percebeu que era
observada.

— Seus pais devem ser bastante ricos para te


dar um presente desses.
— Meu pai é dono de uma rede de joalherias
chamada Império. Ele abriu duas filiais aqui no
Brasil e, desde então, eu moro aqui com minha
mãe. Ele vem todo final de mês.

— E como você fala português tão bem assim?


— Minha mãe é brasileira.
— Então, você é o único herdeiro do império?

— Por enquanto, sou.

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— Eu também sou filha única, mas tenho um


irmão do coração, o Giovane, e ele é o meu melhor
amigo.
— E um namorado, você tem? — O taiwanês
tentou disfarçar a timidez ao fazer a pergunta, que
já estava na ponta de sua língua desde que colocou
os olhos em Maria Fernanda.

A jovem pensou por alguns segundos na


melhor resposta. Namorado ela realmente não
tinha, mas também não ia falar que era casada com
um homem que a maltratava. Sentiu vergonha de
sua situação.

— Então, você tem?

— Não, não tenho ainda. Sou muito nova para


isso, Thiago. — Olhou para os próprios pés,
tentando esconder a vergonha em seu rosto. — Eu
preciso ir agora. O Jorginho já deve estar me

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esperando lá fora.
— Sim, eu não quero te atrasar. Até amanhã,
então. Foi um prazer conhecer você, Fernanda. —
O jovem deu um sorriso de canto a canto que
deixou Maria Fernanda com as bochechas coradas.

— Tchau, Thiago. — Virou-se e sorriu


enquanto caminhava até o carro.
***

Quando Eduardo voltou pra casa, já era muito


tarde. Tinha estendido o trabalho, pois precisava
dar tudo de si nos últimos projetos que faria na J.A.
Engenharia. Queria sair de lá com as portas abertas
e a boa recomendação do chefe e professor.
Maria Fernanda estava sentada sobre seus
cobertores, escovando os cabelos. Levou um susto
quando a porta foi aberta. Eduardo deixou a
mochila sobre o sofá e seguiu direto para o

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banheiro.

Ela olhou para o vaso de porcelana ao lado.


Havia pegado na sala, e uma pancada dele deixaria
Eduardo desacordado. Usaria, se ele a tocasse
novamente.

Dez minutos depois ele saiu do banheiro.


Estava de calça moletom, mas não usava camisa.
Maria Fernanda abraçou a escova de cabelo e olhou
disfarçadamente para o vaso ao lado.
— Eu vou comer um sanduíche. Você quer
alguma coisa da cozinha? — Tentou puxar assunto
com ela.

Ela deu outra olhada para o vaso e foi naquele


momento que Eduardo visualizou a possível arma.
— Você está bem, gostou da escola?
Ela não respondeu.

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— Não vai falar comigo? — Ele cruzou os


braços, e ela mirou outra vez o vaso. — Pode
dormir na cama. Eu fico com o tapete — Ela o
olhou atravessado. — Eu vou descer para comer
algo e quando voltar, eu vou querer os cobertores
livres. Estou cansado e preciso dormir.
Ele abandonou o quarto e desceu para a
cozinha.

— Filho de uma rapariga. — Suelen falou


quando ele chegou na cozinha.
— É o quê?

— Estava cantando uma música da minha terra


— Suelen falou emanando raiva.
— Me dê um copo de leite, vou levar para a
Maria Fernanda.
— Não vou deixar você envenená-la, seu “fi da
peste”.
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— Você já durou demais nesta casa. —


Eduardo caminhou até a empregada. Ele só a
mantinha ali, pois o amigo Sergio implorou para
que ele nunca a demitisse. — Você é uma morena
muito bonita para não ter cuidado com a língua, eu
já te avisei isso uma vez. — Ficou frente ao rosto
dela.
— Foi no dia que eu corri atrás de você com
uma peixeira, como poderia esquecer?

— Foi por isso que o Sergio não te assumiu


para a família. Já imaginou você na casa da mãe
dele com uma faca do lado?

— Você e o Sergio são dois merdas. Vão


terminar os dias sozinhos, um abraçando o outro.
Só digo uma coisa, isso aí também vai cair. —
Apontou para as calças dele.

— Vá dormir. Deveria agradecer ao babaca do

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Sergio, por me fazer te aturar dentro da minha casa


e não te jogar agora mesmo na rua. — falou duro
como ele sempre fazia. — Quero você longe da
Maria Fernanda. Se eu sonhar que você anda
colocando coisa na cabeça dela, eu te chuto daqui
pra casa da porra, está me ouvindo! SAIA DAQUI!
— gritou.
Depois de um olhar mortal para o patrão,
Suelen seguiu para seu quarto.

Eduardo se jogou em um dos sofás da sala de


vídeo e adormeceu no meio do filme.
***

— Vamos, Jorginho, já estamos atrasados. —


Maria Fernanda puxou Jorge pela manga do paletó,
fazendo algumas gotas do café de sua xícara cair
sobre a mesa.
— Calma, menina, eu preciso me alimentar

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primeiro. Ou quer que eu desfaleça de fome ao


volante? Minha visão embaça e minhas mãos
tremem se eu não tomar meu café reforçado.
— Você é um guloso, Jorginho. Não está
vendo que sua barriga já está dirigindo o carro
sozinho? — Suelen largou a louça que lavava e
ajudou Maria Fernanda a puxar a outra manga do
paletó. — Vamos, ande que a comida do mundo
não vai acabar hoje.

— Vai logo, Jorge, a menina está com pressa.


Só saia da porta do colégio quando ela estiver
dentro, entendeu? — Antonieta advertiu.

— Mais alguma coisa, patroa? — Jorge, já de


pé, limpava os respingos da roupa.

— Vamos, Jorge — Maria Fernanda chamou


mais uma vez. Sua empolgação era pelo encontro
com Giovane depois da aula.

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Ela acompanhava Jorge até o carro quando foi


puxada pela mão.
Eduardo olhou-a diretamente nos olhos, num
momento que pareceu andar em câmera lenta. Ele
viu os cabelos caídos sobre o colo dela
contrastando com a pele branca e os olhos
oceânicos. Observou-a piscar três vezes e nenhuma
palavra foi dita. Ele desceu os olhos e observou o
uniforme impecável sobre seu corpo. Foi a primeira
vez que a viu de calça Jeans, sem os vestidos de
sempre que a infantilizam. Achou-a mais adulta,
linda.

— O que quer? — Puxou o braço e virou para


Jorge, que assistia a tudo.
— Jorge, vá fazer outra coisa, eu vou levá-la.
— Eduardo puxou-a pela mão, pegou a mochila das
mãos de Jorge e seguiu em direção ao seu carro.

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— Eu não vou com você! — Ela tentou se


soltar, inutilmente. Temia que seu encontro com
Giovane, depois da aula, desse errado.
Eduardo abriu a porta, a fez sentar no banco do
passageiro e deu a volta no carro. Depois fechou a
porta e deu a partida.

Maria Fernanda estava virada para o vidro do


carro.
— Não precisa dizer para o pessoal da escola
que é casada. — Ele tentou quebrar o gelo.

— Não se preocupe. Eu não me orgulho disso.


— As palavras de Maria Fernanda saíram secas.
Ela mantinha o olhar nas casas luxuosas que
ficavam para trás à medida que o veículo ganhava a
pista.
— Diga que somos primos. Não estará
mentindo, já que por pouco não somos.

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— Eu não vejo qualquer ligação minha com


você. — Ela estava tentando controlar o tremor de
seu corpo. Parte pela sensação de ter Eduardo
próximo tentando um diálogo, parte pelo frio do ar
condicionado do carro ligado.

Eduardo a analisou durante o sinal fechado.


Sentiu uma vontade incontrolável de tocar nos
cabelos dela que tapava toda a visão de suas costas.

— Está com frio?


— Não importa!

Eduardo mudou o ar para o aquecedor e voltou


a dirigir.
Quando ele estacionou o carro frente à escola,
tentou uma nova aproximação.
— Chegamos. Você quer almoçar fora ho...

Maria Fernanda não esperou Eduardo

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completar a frase, pois abriu a porta do carro e


entrou pelo grande portão sem olhar para trás.

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Eduardo estava em uma lojinha que ficava na


mesma rua da J. A Engenharia. Tinha ido em busca
de algo que o aproximasse de Maria Fernanda.

— Você tem certeza que isso é fofo? — Ele


arqueou as sobrancelhas a contragosto. Ele nunca
tinha comprado algo parecido para nenhum de seus
casos.

— É o mais fofo que temos. — A vendedora


sorridente estava amarrando uma fita na sacola de
papel, dentro estava um urso de pelúcia. — Eu
gostaria de ganhar um desses e, como uma hora
dessas não há nada aberto por aí, é o melhor que
temos no momento. Mas já que ela é sua mulher,

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tenho lingeries aqui comigo. São originais, vendo


por fora. Toda mulher gosta de presentes fofos e
peças íntimas. — A mulher pegou uma bolsa
grande e colocou sobre o balcão. — Também tenho
peças fofas.

— De fofo já basta o urso. — Eduardo se


lembrou das calcinhas de florzinha que via em seu
banheiro. Odiava tanto as peças infantis quanto vê-
las espalhadas.

— Olha só isso... — A mulher suspendeu uma


calcinha minúscula e balançou frente ao rosto dele.
Eduardo sorriu preguiçoso e abriu a carteira
para pegar o pagamento. Mas antes de escolher o
cartão, ele imaginou Maria Fernanda com os
cabelos soltos, olhos brilhantes e o sorriso largo no
rosto. No corpo esguio, apenas a peça minúscula.
“O que estava acontecendo com ele para ter aquele
tipo de pensamento?”
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— Imagine só, será um presente para os dois.

— Não. Guarda isso. Quanto foi o urso?

— Olhe novamente. — A vendedora segurou a


peça na ponta dos dedos. Ela queria vender e faria
de tudo para ganhar o cliente.

Eduardo a olhou atravessado. Aquela era uma


boa vendedora, mas ele conhecia todas as táticas de
vendas, e não cairia facilmente.

— Quanto foi o urso, mulher?


— Ela, no meio de sua cama, usando apenas
isso e mais nada...

— Você tem algo "P"?

— Sou especialista em peças "P" — Nem era


— Tenho muitas aqui comigo. Um homão desses
com uma mulher "P" deve ser uma loucura, hein?
Também vendo produtos para apimentar a relação.

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— Acabamos de nos casar e ela é novinha.


Seja rápida com isso, por favor, estou atrasado —
falou sério.
— No começo, imaginação é o que não falta,
não é mesmo? Acho que ela vai gostar dessa. — A
mulher retirou da caixa um conjunto de lingerie
sexy calesson preta, todo rendado. Eduardo gostou
da peça. — Esta é "P" e fica bastante confortável e
sexy no corpo. Leve também uma branca. — A
mulher deu a última cartada para convencê-lo a
desembolsar cinco notas de cem.

Eduardo respirou fundo e bateu a mão sobre o


balcão, deixou seu cartão de débito e puxou a
sacola com o urso.
— Passe o cartão, ou eu levo de graça. Tem
cinco segundos para fazer isso.

Para a vendedora o importante não era a

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grosseria e sim a venda, então, ela se apressou e


sorriu satisfeita com o extra.
***

Jorge estava dirigindo o mais rápido que podia.


Sabia que Maria Fernanda estava ansiosa para
encontrar o amigo e torcia para que tudo desse
certo. E também torcia para que Eduardo nunca
soubesse o que estava fazendo.
Maria Fernanda abraçava a mochila no banco
do carro, contando os minutos que a separavam de
Giovane. Aqueles dias tinham sido muito difíceis
sem ele por perto.

O carro parou em frente a uma pousada cinco


estrelas. Ela desceu rapidamente e puxou Jorge
pelo braço. Entraram pela recepção, identificaram-
se e foram direcionados até os fundos, que nada
mais era do que uma imensidão azul de uma praia

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praticamente deserta.
Maria Fernanda tirou a sapatilha dos pés,
dobrou a barra da calça jeans e caminhou mais à
frente, foi quando viu Giovane sentado em um dos
troncos de árvore na beira da praia. Seu coração
acelerou. Ela fez sinal para Jorge, colocando um
dedo sobre os lábios, e ele imediatamente parou.
Ela seguiu sorrateiramente pelas costas de Giovane,
que continuava olhando a imensidão do mar.
Chegou de mansinho e colocou as mãos sobre os
olhos do rapaz, que sorriu, sentindo o cheiro já
conhecido das mãos da menina.

Giovane a girou para frente e a fez se sentar


em seu colo, dando um abraço bem apertado,
mostrando o quanto estava com saudades.
— Assim você quebra meus ossos, Giovane.

— Eu estava com tanta saudade dessas suas

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implicâncias comigo. — Ele levantou com ela nos


braços e começou a girá-la no ar.
— Eu vou ficar tonta. Me coloque no chão!

— Você está ainda mais linda. — Ele fez o que


ela pediu.

— Para de me elogiar e me fale do padrinho.


Como ele está?

— Tentando continuar... Depois que a mãe se


foi, ele não sai mais de casa, anda triste e pensativo.
A mãe era a vida daquele homem. Mas, e você, me
conte tudo.

— Quero ir embora com você. Ele é um ogro


comigo. Não quero viver dez anos com ele.
— Vá para casa e arrume suas coisas. —
Giovane falou de imediato.

— Posso ir agora mesmo. Eu não preciso de

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mais nada.
— Está com os documentos, aí?

— Não, mas o Jorge pode ir pegar e trazer até


aqui. — Maria Fernanda enxugou os olhos.

— Jorge? — perguntou Giovane.

— É o motorista da casa, bastante simpático.


Jorge, venha até aqui! — gritou esperançosa com a
possibilidade da fuga.
Seu cúmplice desceu a rampa de areia com
dificuldades e, depois de se esborrachar no chão,
conseguiu chegar até Maria Fernanda e Giovane.

— Oi. Tudo bom, Senhor? — Giovane apertou


a mão do motorista, que ainda limpava a areia do
terno preto.

— Jorginho, você pode, por favor, pegar meus


documentos com a Antonieta e trazer aqui para

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mim?
— Claro. Mas por que, menina?

— Vou fugir com o Giovane. — Maria


Fernanda sorriu despreocupada.

— Vai o quê?

— O Giovane veio me buscar e eu vou voltar


com ele para a fazenda. — Continuou sorrindo.
— Quer me fazer perder o emprego?
— Senhor, se fizer isso por ela, eu posso
recompensá-lo com uma bela quantia em espécie.
— Giovane tentou um acordo.

— Está tentando me subornar, meu jovem?


— Não, nada disso. Apenas vim buscar a
minha bonequinha, mas ela ainda é menor de idade
e eu preciso dos documentos dela para viajar.

Jorge levou as mãos até a cabeça e começou a


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entrar em desespero.
— Bem que eu não queria me meter nisso. Tá
vendo, aí!? Por que eu não ouvi minha mãezinha
quando ela me aconselhou? "Filho, não se meta na
vida dos patrões." Mas não... fui logo ser bonzinho
e olha só; estão me fazendo perder meu emprego.
Vocês sabem quantos anos eu tenho de carteira
assinada naquela casa? Doze. Doze anos não são
doze dias para jogar assim, no ar, por causa de uma
patroinha que quer fugir do marido.

— Jorginho, eu não quero que você perca seu


emprego, só preciso dos documentos.

— E não vai ser só eu que vou perder o


emprego, não. A Suelen, a Antonieta e quem sabe
até a Carmem! Coitada, ela nem está envolvida
nisso tudo. A Carmem está velha, ela não vai
conseguir emprego em lugar nenhum se for
demitida de lá.
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Com tanta lamúria, Giovane se compadeceu de


Jorge. Afinal, não tinha intenção de fazer tanta
gente perder o emprego. Seria melhor planejar tudo
antes.
— Vá para casa, arrume tudo o que precisa
levar e amanhã eu te pego na entrada da escola,
tudo bem? — Beijou a testa dela.

— Não, Giovane. Eu quero ir agora.


— Vocês dormem no mesmo quarto? —
Giovane levantou o queixo dela para buscar a
verdade nos olhos.

— Dormem. — Jorge, que escutava


atentamente a conversa, deu a informação.
— Não! Nunca dormi com ele, apenas
dividimos o mesmo quarto.
— Nandinha, escuta... vamos fazer as coisas
com cautela. Amanhã de manhã você vai para bem
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longe disso tudo e ninguém mais vai tirar você de


mim. Eu prometo. Agora, vá arrumar algumas
coisas, que te encontro amanhã na entrada do
colégio.
***

Maria Fernanda chegou a casa e foi correndo


falar as novidades para Antonieta e Suelen. Ambas
temeram pela jovem caso Eduardo descobrisse
algo.
— Você tem certeza disso, filha? — A mais
velha estava apreensiva.

— Não tem nada que eu queira mais do que


isso, Antonieta. Não há sinal de que teremos uma
família. Não quero viver dessa maneira.
— O patrão não vai te perdoar. Eu não quero
nem imaginar se ele ficar sabendo disso. Vai ser
pior para mim e para vocês. Ou acha que ele não

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vai descontar em nós três aqui? Quem sabe até na


Carmem! — Jorge estava tentando equilibrar o
copo de água com açúcar nas mãos.
— Me perdoem vocês todos, mas eu não estou
bem aqui. Se quiserem, posso levar todos para a
fazenda comigo.

— Pra virar peão? Não, menina, eu não tenho


mais idade para isso. Tenho problemas de coluna e
ainda tem a minha mãezinha, que já está idosa e
tem os gatos que ela cuida. Prefiro que não fuja.
Por favor, não faça isso, olha o estado em que eu
estou. — Jorge realmente estava tremendo. Seu
maior medo era ficar sem o emprego que ele se
gabava de manter há doze anos.
— JORGE, VOCÊ QUER PARAR?! — gritou
Suelen — Nanda, se é isso que você quer, vá. Fuja
e vá ser feliz em outro lugar. E se o Eduardo me
demitir, eu também vou para a fazenda com você.
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— Obrigada, Su. Eu preciso de sua ajuda para


arrumar a minha mochila. Não vou poder levar
muitas coisas para ele não desconfiar.
***

Já passava da meia noite. Eduardo tinha


chegado às oito horas. Maria Fernanda ficou com
Suelen até meia noite, tempo suficiente para ele
pegar no sono.
Ela entrou sorrateiramente no quarto, fechou a
porta e acendeu a luz. Quando virou em direção aos
cobertores, deu de cara com Eduardo de braços
cruzados.

— Ahhhh! — gritou e tentou correr, mas ele a


agarrou pelo meio da cintura.
— Quieta! Eu estava te esperando, precisamos
conversar.
— Me solta! — Ela esperneou e tentou sair dos
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braços dele. — Socorro! Me larga! — Balançou as


pernas no ar, na tentativa de escapar.
— Para de escândalo, menina! Ninguém
precisa saber o que está acontecendo aqui dentro.
— Eduardo a jogou na cama e subiu sobre ela.

— Por favor, por favor, por favor, me solta. —


Ela apertou os olhos.
— Só me implore se for para eu te fod... amar
com mais intensidade. — falou cinicamente e
beijou o seu pescoço. Antes dos lábios de Eduardo
explorarem a pele em um segundo beijo, ele sentiu
os dentes de Maria Fernanda cravados em seus
ombros.

Ela conseguiu se soltar e correu para pegar o


vaso de porcelana. Segurou o objeto frente ao corpo
e o ameaçou.
Eduardo sorriu debochado.

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— Não se aproxime de mim. — Ela segurava o


vaso como se fosse uma espada. — Fique aí, eu não
estou brincando.
— Eu estou começando a gostar de suas
mordidas, ferinha. Quero ver suas garras em
minhas costas.

Ele levantou da cama e caminhou na direção


dela. Maria Fernanda deu passadas para trás e
encostou-se à parede do quarto.
— Não venha. Eu vou cometer um crime. Eu
juro que não quero ir para a cadeia, mas se você
chegar perto de mim, será um ogro morto.

Ele sorriu apenas com os olhos e Maria


Fernanda se perdeu por alguns segundos dentro
daquele trejeito do marido.
— Quero outra mordida, mas agora vou
escolher o lugar.

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Parou muito próximo a ela. Foi inevitável, e


Maria Fernanda desviou os olhos para os músculos
expostos do marido, especificamente nos gominhos
do abdômen.
— Gosta do que vê? — Ele tomou o vaso das
mãos dela. — Pode olhar e até tocar se quiser. —
Deu outro passo e roçou os lábios nos dela. — Eu
sou todo seu, ferinha.

Maria Fernanda estremeceu em um arrepio e


Eduardo percebeu aquilo.
— Senhor, Eduardo... não fique tão perto de
mim.

— Você é linda. — Ele tocou os cabelos dela,


que estavam frente ao rosto, e em seguida beijou a
bochecha esquerda. — Pele macia. — Beijou o
outro lado de sua face— Cheirosa... — Beijou-a
nos lábios, mas Maria Fernanda cerrou a boca e

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virou o rosto. — Vamos dormir. — Segurou sua


mão — De hoje em diante você dorme ao meu
lado. — Puxou-a na direção da cama, onde a jogou.
— Não vou dormir com o senhor! — Ela
tentou escapar, mas ele a abraçou e colocou uma
perna sobre ela.

— Boa noite, Ferinha. — Ele fechou os olhos e


esfregou o nariz em seus cabelos.
Maria Fernanda continuou se esperneando,
mas logo percebeu que não sairia dali, até que ele
estivesse adormecido.

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Naquela manhã, Eduardo levantou mais tarde


do que o costume. Percebeu que estava sozinho na
cama, olhou o horário e correu para o banho. Não
deu tempo de tomar o café, então passou direto
para a garagem e seguiu para a J.A Engenharia.
Maria Fernanda já estava no carro com Jorge, pois
tinha levantado bem cedo e preparado tudo para a
fuga. Antonieta não concordava com o plano, mas
torcia para que ela fosse feliz, então lhe deu um
longo abraço e prometeu uma visita à fazenda nas
próximas férias.

— O que vai ser de mim de agora em diante?


— Jorge estava descontrolado ao volante. Já tinha
furado um sinal e quase causado um acidente no
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trânsito.
— Me desculpe, Jorginho, mas eu não posso
ficar... você não tem culpa de nada e o seu patrão
vai entender isso.

— Não vai, não. Uma vida... foi uma vida me


dedicando àquele trabalho e olha só agora...
— Eu não posso ficar... eu, eu vou sentir sua
falta e das meninas, mas não posso mais ficar lá.

Jorge parou o carro em frente ao colégio e viu


Giovane também parado em um táxi. Então iniciou
uma crise de choro carregado de chantagem.

— Por favor, menina, ainda dá tempo, desista


disso.
—Tchau, Jorginho, vou sentir sua falta. — Ela
apenas o beijou nas bochechas roliças e distanciou-
se do carro.

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— Se cuida, menina patroa, e talvez eu aceite


aquele emprego de peão que me ofereceu. Você
deixou o endereço com a Antonieta?
— Sim, e será um prazer ter você conosco na
fazenda.

— Posso levar a minha mãezinha e os gatos


dela?
— Serão todos bem recebidos pelo padrinho.
Eu vou indo porque o Giovane já está ali. É melhor
você ir também.

—Tchau, menina.

Maria Fernanda apressou os passos até


Giovane e foi recebida com um abraço caloroso.
— Por que demorou tanto? Eu já estava
pensando que desistiria.

— Isso é tudo o que mais quero, Giovane. Eu

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não quero viver naquela casa nem uma noite a


mais. — Giovane beijou-a no rosto e a abraçou
mais uma vez.
Maria Fernanda sentiu um solavanco forte no
braço e só se deu conta do que estava acontecendo
quando viu Giovane no chão, golpeado por um
soco de Eduardo.

— Você estava me enganando esse tempo


todo, menina? — ele gritou, apertando o braço de
Maria Fernanda. — Se encontrando com outro
homem pelas minhas costas!
Giovane levantou e revidou o soco em
Eduardo. Ela abraçou Giovane pela cintura em uma
tentativa de conter a fúria do rapaz.

— Ela é minha mulher. Minha! Só minha! E


venha cá. Vamos voltar para casa. — Puxou o
braço da jovem novamente e Giovane mais uma

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vez foi para cima.


— Não, Giovane! Não se machuque por mim.

— Por você eu até morreria, Nandinha. Não se


preocupe comigo. Agora, venha. — Giovane
também a puxou.

— Eu vou com ele, vou voltar para fazenda, eu


não quero mais viver na sua casa. — Ela quase
implorou, olhando para Eduardo.

— Mas é o quê? Então, estava tramando uma


fuga! Ia fugir de mim? Depois de tudo... —
Eduardo parou por alguns minutos tentando
recompor-se da raiva que estava sentindo. Não
perderia seu projeto. — Você pode estar esperando
um filho meu agora. Você acha mesmo que eu te
deixaria ir carregando o meu filho? — Jogou de
propósito.
— Como você pôde, seu pervertido? Ela é só

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uma menina! — Giovane socou novamente o rosto


de Eduardo, que dessa vez conseguiu se esquivar.
— Minha mulher. Ela é minha mulher, só
minha.

Maria Fernanda chorava, sabendo que seu


plano de fuga não daria certo. Para Giovane era
muito difícil assimilar que seu grande amor agora
pertencia a outro homem.
— Nandinha, olhe para mim... isso é verdade?

— Não. Não estou esperando um bebê.


— Mulher, entre no meu carro e vamos
conversar longe daqui. — Eduardo pensou na
empresa, precisava conter aquela situação e afastar
Giovane. — Como você faz uma coisa dessas,
depois da noite que tivemos? Venha comigo, vou te
perdoar e passar uma borracha sobre isso.
— Giovane, me leva? — pediu desesperada.
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Giovane, apesar do baque interno, não


suportava vê-la chorando. Doía demais nele, então
a abraçou e ouviu-a soluçar ainda em seus braços.
— Só dormimos juntos, mas não estou com um
bebê. Eu não queria dormir na cama dele. Eu juro.

— Ele te forçou, machucou ou qualquer coisa


do tipo? Me fale.
— Como poderia machucar a mulher que eu
amo? Vamos pra casa, Maria Fernanda. Vamos
conversar. Vou te entender e perdoar. — Eduardo
tentou pegar na mão dela, mas Maria Fernanda se
esquivou.

— Me leve, por favor, Giovane!


— Ele já levantou a mão para você?
Ela negou com o rosto.

— Mas me machuca com palavras e arrancou

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minha roupa.
— Seu miserável! — Giovane socou
novamente o rosto de Eduardo, que não revidou.
Ele precisava segurar a raiva para virar aquele jogo.

— Foi um jogo íntimo. Você não precisa falar


nossas intimidades, Maria Fernanda. Mas já que
começou, por que não fala que adora me morder
quando fazemos amor, e que ontem mesmo me
mordeu a noite inteira?
Maria Fernanda negou com cabeça, pois os
soluços a impediram de falar.

— Não tem problema, Nadinha. Não se


envergonhe. É a sua vida. Você está com medo do
casamento, mas vai acabar se acostumando. Você
tem uma família agora.
Giovane, apesar de estar com a jovem em seus
braços, sentiu seu orgulho ferido pelas últimas

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palavras ditas por Eduardo. A seu ver, o casal já


estava se acertando, só precisava de ajustes. Pensou
por um momento que não tinha mais nada a fazer
ali.
— Espero que tenham aproveitado o suficiente
para matar a saudade, cunhado. Agora vamos
mulher, precisamos conversar. Não sei em que
posso estar errando, mas vou tentar melhorar pelo
nosso casamento.

— Vá com ele, Nandinha. — As palavras


saíram com dificuldade da boca de Giovane e
acabaram pegando Maria Fernanda desprevenida.
A decepção tomou conta dos olhos dela.
— Não... vai me levar?

— Tem uma vida aqui, Nadinha. Ele já te


obrigou quando não queria?
— Não, mas ele não me deixa voltar para a

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fazenda. Ele não é um bom marido.

— Maria Fernanda, não sou bom o bastante,


mas estou tentando melhorar por você, não faça
isso comigo. — Eduardo continuou em seu
desesperado jogo.

— Por favor, me permita ir? — Ela olhou para


Eduardo, em seguida para Giovane.
— Me leva, Giovane.

— Vamos resolver isso em casa, mulher.


— Vá com o seu marido. Eu também preciso
cuidar da minha vida e já estou atrasado alguns
anos para isso.
— Giovane, por favor! — Ela abraçou o jovem
em desespero, mas ele não reagiu, apenas beijou
sua testa afastou-se e entrou no táxi, sem olhar para
trás.

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Ela permaneceu no mesmo lugar, chorando,


abraçando o próprio corpo. Seu coração estava
esmigalhado ao ver Giovane partindo.
— Não deveria me fazer de otário, menina!

Ela se virou para Eduardo, furiosa.

— Nunca mais chegue perto de mim! Seu


monstro, interesseiro! Está fazendo isso pela sua
empresa! Não pense que eu sou tola de acreditar
que me vê como sua mulher!

— Me enganei muito com você, sacrifício. Sou


um idiota por acreditar em um rostinho angelical.
Não serei tão complacente com você, querida
esposa. Estou nessa por minha empresa, sim.
Preciso que fique pela empresa que a tia me deixou
— falou amargo. — Inocente... de inocente você
não tem nada! — Puxou-a e a jogou no banco de
trás do carro.

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***

Eduardo entrou em seu quarto puxando Maria


Fernanda pelo braço, jogou-a sobre a cama e
trancou a porta por fora.

— ANTONIETA. — Entrou gritando na


cozinha
— O que foi Eduardo?

— Não finja que não sabe de nada! Todo


mundo aqui agiu pelas minhas costas. Onde está o
Jorge?
— Ele passou mal e teve que pegar um dia de
atestado médico.
— Ele está fugindo. Aquele safado! Quando
chegar aqui vai para o olho da rua! Até você,
Antonieta, até você está contra mim! Todos aqui
estão. — Eduardo estava irado.

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— Eduardo acalme-se, você não gosta dessa


menina. Para quê prendê-la nesta casa?
— Então... você teve mesmo a coragem de me
apunhalar pelas costas, Antonieta? Eu não estou
nem aí para essa pirralha. Mas acontece que, se ela
me largar, fica com tudo que já está sendo feito.
Nunca vou deixá-la ir.

— Onde está Maria Fernanda, Eduardo?


— Presa no quarto. Ficará lá até se arrepender
do que ia fazer.

— Eduardo, ela é só uma menina. Você não


pode tratá-la como adulta.
— Estou cansado disso! Ela quase fugiu com
outro homem, é isso que as meninas fazem? De
agora em diante, não quero ninguém se
intrometendo nos meus assuntos. Está me ouvindo,
Antonieta? — Apontou o dedo no rosto da negra.

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— Como quiser Eduardo, mas saiba que não


vou deixa-lo maltratar essa menina.
— Vá cuidar da comida, que dos meus
negócios, cuido eu. — Saiu da cozinha pela porta
dos fundos e voltou para o carro.

— Burro! Burro! Burro!


Socou o volante com brutalidade ao se lembrar
que voltou da empresa para entregar o presente de
Maria Fernanda na porta do colégio. Planejou
mostrar para todos que estavam casados e assim se
aproximar da jovem, que certamente seria elogiada
pelas colegas de classe. Afinal, ele era um homão
de dar inveja. Um tolo vaidoso.

***
A jovem passou o dia todo dentro do quarto.
Não sentiu fome, apesar do vazio em seu estômago.
A maneira com que Giovane havia falado com ela

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era o que mais a fazia chorar, e estava arrasada.

Suelen abriu a porta com um grampo de cabelo


e Antonieta insistiu em alimentá-la, mas não obteve
sucesso.

— Você precisa ser muito forte, minha filha. A


vida aqui nesta casa não vai ser muito fácil para
você. Precisa se alimentar. — Antonieta estava
enxugando os cabelos de Maria Fernanda com uma
toalha, pois depois de muito insistir, a jovem tinha
levantado da cama para o banho.
— Giovane não quis me levar. Ele prometeu
que cuidaria de mim... eu nunca mais vou perdoá-
lo.

— Não fale isso, filha, ele só não quis se meter


em seu casamento. Você tem que entender o lado
dele.
— Eu nunca quis isso aqui, ele sabe disso. É

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um mentiroso, prometeu algo para a madrinha e


não cumpriu. E ainda acreditou no senhor Eduardo.
— Se acalme filha, você está com a cabeça
quente. Depois você vai perdoar o seu irmão e vai
entender o lado dele.

— Odeio o senhor Eduardo.


— Minha filha — Antonieta segurou sua mão
—, quero que confie em mim. Conheço esse
menino há um bom tempo, sei da natureza dele.
Eduardo não estava pronto para entrar em um
casamento... Ele alguma vez exigiu algo que você
não queria? Vou sempre te perguntar isso e quero
que me responda.

— Nunca tive nada com ele. Mentiu e o


Giovane acreditou. Os homens acreditam uns nos
outros. Ele anda com outra mulher, mas não me
deixa sair para não perder o dinheiro. Não posso ter

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um bebê dele, preciso ter cuidado e nunca me


deixar levar pelos beijos. Pois toda vez que ele me
beija devagar eu sinto vontades. — Olhou para
Antonieta. — Você acha que ele faria igual ao
amigo dele fez com a Su?

— Não, minha querida, ele não faria isso, pois


o Eduardo sabe muito bem o que faz, e um filho
não é o que ele quer. Melhor você ir dormir agora,
amanhã terá aula logo cedo.

***
Era dez da noite quando Eduardo chegou com
Viviane.

— Edu, eu estava esperando você chegar. —


falou Antonieta.
— Veja como ela está. — Eduardo retirou a
chave do bolso e jogou para Antonieta.
— Ela não está nada bem, Edu. Melhor você ir
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vê-la e pedir desculpas. — Antonieta fuzilou


Viviane com o olhar. Nunca havia tido simpatia
pela loira esnobe e, sabendo que Eduardo
continuava com ela e casado com Maria Fernanda
— por quem ela tinha um carinho gratuito — só
fazia aumentar sua antipatia.
— Antonieta, eu tenho coisa melhor para fazer
agora. Vá lá e cuide dela.

— Mas, Edu, a menina passou o dia todo sem


comer nada dentro daquele quarto, só chorando.
— Então vá e cuide dela. Vou ficar ocupado
agora com a Viviane.

Viviane olhou maliciosamente para Eduardo,


que retribuiu o olhar, e então foram para o
escritório da casa. Antonieta se indignou e seguiu
para seu quarto, pois Maria Fernanda já estava
dormindo. Depois da meia noite, Maria Fernanda

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não conseguiu dormir, pois a agonia do estômago


vazio estava a incomodando. Ela respirou aliviada
por Eduardo não estar dormindo na cama.
A jovem desceu a escada e seguiu em direção a
cozinha. Encontrou Viviane e Eduardo aos beijos,
encostados no balcão. Eduardo estava de calça e
sem camisa, Viviane apenas de calcinha e sutiã.

Ela foi até a geladeira e abriu para pegar algum


alimento. Não deu importância a presença dos dois,
mas Eduardo e Viviane encerraram o beijo e ainda
grudados observaram os movimentos dela.
Maria Fernanda colocou leite em um copo e
tomou de uma só vez, depois bebeu água. Apagou a
luz que estava acesa e voltou para o quarto.

— A caipira é sonâmbula? — A loira


perguntou ainda no escuro.
— Vivi, vou te levar para casa. Vá vestir a

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roupa.

— Ah, não. Só mais um pouquinho. Nem


aproveitei direito, eu sei que você não está
satisfeito. Podemos dormir na sala de vídeo ou no
escritório. Tem o quarto da Luiza...

— Não vou te levar para o quarto de minha


irmã, Viviane. Vá vestir a roupa. Eu vou jogar uma
água no corpo e já desço.
Eduardo subiu as escadas quase correndo.
Abriu a porta do quarto e ouviu o barulho no
banheiro, aproximou-se da porta e correu assim que
viu Maria Fernanda sentada no chão. Ela havia
vomitado no vaso sanitário.

— O que aconteceu? — Ajoelhou-se ao seu


lado — Menina, você está pálida. O que aconteceu?
— Segurou-lhe o rosto, afastou seus cabelos e
sentiu a pele gelada.

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Ela estava com o corpo mole, mas debruçou-se


outra vez no vaso e iniciou outra crise de vômito.

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10

— Maria Fernanda, o que aconteceu?

Eduardo segurou seus cabelos. Ela ainda


estava debruçada no vaso sanitário, vomitando.
— O que você está sentindo?

— Eu quero sair daqui... — Ela virou as costas


para ele e colocou a cabeça sobre os joelhos. —
Engasgou-se no próprio choro.

— Levanta desse chão frio, menina. — Ele


tentou, mas ela recusou a ajuda.

Apoiou-se no chão e pegou impulso para


levantar, mas estava fraca. Foi um longo período
sem ingerir nenhum alimento e a cena que tinha

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acabado de presenciar causou-lhe ânsia.


Eduardo a apoiou e sustentou de pé.

— Me deixe. — Ela puxou o braço e seguiu


até a pia, onde lavou o rosto e a boca.

— Quer que eu pegue alguma coisa pra você?


Está com dor no estômago?

Maria Fernanda voltou para o quarto e deitou-


se em meio aos cobertores, então curvou o corpo,
abraçando o abdome com os braços.
Eduardo olhou a jovem abatida, com
evidências de dor abdominal e esticou o pescoço
para olhá-la, mas Maria Fernanda se contorceu
sobre os cobertores.
— Menina, me fale o que está acontecendo. Eu
já te perguntei três vezes, não sou tão paciente,
então, se quiser minha ajuda, fale agora ou eu vou
te deixar sozinha.
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Maria Fernanda gemeu de dor e enterrou a


cabeça no travesseiro.
Eduardo apertou as mãos nos cabelos, levantou
e andou de um lado a outro no quarto.

— É a última vez que eu te pergunto. Fale o


que está sentindo ou... ou eu te deixo aqui sozinha,
eu não estou brincando.
Ela se encolheu e continuou gemendo de dor.

— Eu... eu vou chamar a Antonieta.


Ele desceu as escadas correndo, passou direto
por Viviane e foi em direção ao corredor dos
empregados.
— ANTONIETA! ANTONIETA! — gritou na
porta do quarto da cozinheira — ANTONIETA!

— O que foi? O mundo está acabando? — A


mulher abriu a porta. Estava de touca no cabelo e

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camisola até os pés.


— A menina está doente. Preciso que você
faça alguma coisa. Ela não quer falar comigo.

Antonieta saiu correndo em direção as escadas.

— O que a sonsa da caipira aprontou? —


Viviane passou a mão no peito nu de Eduardo.

Eduardo olhou para a loira, foi até a porta do


quarto de Jorge e invadiu. O motorista deu um pulo
da cama e acabou tropeçando nos chinelos, por
pouco não se arrebentou no chão.
— Leve a Viviane pra casa, Jorge.

— Mas já amanheceu? Que horas são? — O


motorista ainda sonolento sentou na cama.

— Pegue as chaves do carro e vá levá-la. —


Eduardo puxou o homem da cama. — Levante daí
e vá trabalhar que eu estou mandando!

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— Estou de pijama, senhor. Ainda não fiz a


primeira refeição.
— Quem se importa? Pegue as chaves.
Viviane, o Jorge vai te levar. A menina passou mal.
Vou ficar, caso precise levá-la ao médico.

— Eu não vou. Estou tentando entender o que


está acontecendo aqui, Eduardo! — Viviane se
alterou. Você está de casinho com essa fedelha?
Eduardo odiava quando alguém tentava se opor
às suas ordens.

— A menina é minha responsabilidade. Agora,


vá — Empurrou Viviane para fora do quarto e
puxou Jorge pela blusa do pijama.
— Eduardo, eu não vou a lugar nenhum com o
Jorge, eu exijo que você me leve.
— Amanhã a gente conversa, Viviane. —
Continuou carregando a mulher. Jorge corria para
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acompanhar seus passos.

— Ela está jogando para querer sua atenção e


está conseguindo. Eu vou dá um jeito nessa caipira.

— Até amanhã, Viviane. — Eduardo colocou a


mulher para fora, empurrou Jorge e fechou a porta.

— O que você aprontou com ela? — Suelen


apareceu na sala com os cabelos para o alto.

— Não se meta nos meus assuntos. Volte para


seu quarto e deixe de se meter nos assuntos dos
patrões.
Ele passou a frente de Suelen e subiu as
escadas.
— E aí, Antonieta?

— Foi o estômago vazio. Eu tenho certeza


disso, Eduardo. Vou descer, pegar um remédio e
trazer sopa para ela. Eu espero muito que você

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repense o que anda fazendo com vida dela. —


Antonieta saiu do quarto.
Eduardo se aproximou e sentou no chão ao
lado da jovem. Estendeu a mão e retirou os cabelos
que cobriam o rosto molhado. Maria Fernanda se
assustou e afastou o corpo.

— Deite-se na cama, é mais confortável para


você, menina — falou sem olhar em seu rosto.
— Você está fedendo àquela mulher. Saia de
perto de mim. — A voz dela saiu arrastada.

— Não me dê ordens! — Ele apontou o dedo


próximo ao rosto dela.
— Saia! Saia daqui e me deixe em paz!
Eduardo apertou os punhos, levantou,
caminhou até o banheiro e bateu a porta com
brutalidade.

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Dentro do banheiro, ele tirou a roupa do corpo


com certa violência e jogou com força sobre os
cremes de Maria Fernanda.
— O que essa pirralha pensa... Quem ela pensa
que é para tentar mandar em mim? Minha casa,
minhas ordens! Eu vou mostrar pra ela quem
manda.

Ligou o chuveiro e se ensaboou.


— Estou tomando banho porque eu quero.
Ninguém manda em mim. Uma pirralha querendo
dar ordens a Eduardo Moedeiros. Está pra nascer
uma mulher que mande em mim e faça mudar meus
pensamentos — continuou resmungando e
ensaboando o corpo por inteiro.

Quando terminou o banho, pegou um de seus


perfumes e deu uma borrifada no pescoço. Saiu do
banheiro vestido em uma camiseta cinza e um short

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moletom.
Maria Fernanda estava sentada na cama
tomando sopa. Antonieta estava ao lado dela.

— Vou dormir. Amanhã venho pegar a


bandeja. Depois da sopa tome o remédio, filha. Boa
noite, Eduardo. — Antonieta o olhou seriamente e
passou direto para fora do quarto.
Maria Fernanda descansou a colher dentro do
prato.

— Continue comendo! Não quero ninguém


morrendo ao meu lado. Coma! Coma tudo.

Ele deitou na cama e virou as costas pra ela.


Maria Fernanda voltou a comer o alimento e
algumas lágrimas caíram de seus olhos. Ela estava
mais sensível que o normal, pois tinha entrado no
período menstrual.

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Eduardo estava ouvindo-a fungar o nariz. Ele


tinha uma das mãos abaixo do travesseiro e os
olhos abertos. Às vezes olhava sobre o ombro e a
via comento e secando os olhos.
Ele foi atingido pelo peso daquelas lágrimas.
Sentiu uma enorme culpa e, ao mesmo tempo, uma
vontade de abraçá-la. Porém, seu orgulho era muito
grande. Acreditava que arrependimento era
sinônimo de fraqueza, uma qualidade que ele
abominava. Engoliu o nó que se formou na
garganta e firmou o olhar em um ponto qualquer à
sua frente.

Quando ela saiu da cama para levar o prato até


a bandeja, ele se adiantou e tomou das mãos dela.
— Deite mulher, você não está doente?

Ele colocou o prato na bandeja sobre a


escrivaninha e voltou para a cama.

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— Tome seu remédio. — Tirou o comprimido


e a entregou.
— Não vou tomar. — Ela enxugou o rosto e se
preparou para deitar.

Eduardo puxou o cobertor de uma só vez e a


forçou a levantar o tronco. Enfiou o comprimido na
boca dela e mesmo levando algumas unhadas e
tapas, ele pegou o copo sobre o criado mudo e
empurrou a água em sequência, molhando parte da
cama.
— Agora durma! Não pense você que vai faltar
a aula amanhã. Se eu fosse faltar a aula a cada dor
que sentia, hoje não estaria formado. — Apagou a
luz, puxou o cobertor e fechou os olhos.

***
Assim que o carro de Eduardo parou frente à
escola, Maria Fernanda saiu o mais rápido possível.

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Thiago estava na porta da escola, ainda não tinha


entrado, pois esperava Maria Fernanda, assim como
no dia anterior.
— Você não veio ontem, senti sua falta. — O
amigo beijou o rosto dela, mas como Maria
Fernanda não tinha aquele costume, ficou com as
bochechas rosadas. — Ontem a professora dividiu
os grupos para o seminário do final da unidade e eu
incluí você, tudo bem?

— Sim, obrigada. Ontem eu tive um problema


e não pude vir.
— Não tem problema, eu te passo a matéria na
hora do intervalo. — Ele segurou-lhe a mão, que
não rejeitou o gesto de carinho, pois estava carente
de afeto devido aos últimos acontecimentos.

— Não vai me apresentar ao seu amigo, Maria


Fernanda? — Eduardo falou grosso e a menina

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sentiu o coração palpitar mais forte.


Ele tinha dado a partida no carro, mas não se
agradou quando viu Thiago beijando o rosto dela.

— Vamos, Thiago, estamos atrasados. — Ela


puxou o colega de turma pela mão.

— Sou Eduardo. — Ele seguiu os mesmos


passos e parou na frente dos dois.

— Sou Thiago. Você é o tio da Fernanda?


— O quê? — Eduardo ganhou mais fúria ainda
ao ver o rosto despreocupado de Thiago e o sorriso
de Maria Fernanda.

— Ele não é nada meu, apenas moro na casa


dos pais dele.

— São parentes, então?


— Primos, somos primos distantes. — O olhar
de Eduardo não saía das mãos entrelaçadas. —
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Venho buscar você às doze em ponto. Esteja aqui,


eu odeio esperar.
Maria Fernanda não esperou ele terminar de
falar, apenas puxou Thiago para dentro da escola.
Eduardo ficou para trás, evidentemente enfurecido.

***
Às doze em ponto, ele já estava no carro,
esperando a menina que ainda não tinha saído da
escola. Já tinha olhado o seu Rolex pela quinta vez.

Doze e quinze, e Maria Fernanda ainda não


havia aparecido. Eduardo desceu do carro disposto
a entrar no colégio, mas, antes de cruzar o portão,
viu Maria Fernanda saindo acompanhada de alguns
colegas. Ela estava sorrindo. O sorriso sumiu de
seu rosto quando avistou Eduardo.
Depois de se despedir das colegas e receber um
beijo na bochecha de Thiago, caminhou até o carro

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e fechou a porta. Eduardo entrou logo em seguida,


respirou fundo e apenas dirigiu o carro da maneira
mais rápida possível. Parecia descontar a raiva na
velocidade.
Já dentro do jardim da casa, Maria Fernanda
praticamente correu em direção a casa, pois queria
estar o mais longe possível dele. Eduardo também
estava sendo rápido e logo a alcançou, então sua
mão a fez parar.

— Eu quero você longe dele. — Eduardo


segurou o braço dela.
— Não fico. Você não manda em minhas
vontades! — Ela o empurrou.

Eduardo sorriu nervoso. Ele estava tentando


afastar os motivos para estar tão furioso com a
possibilidade de Maria Fernanda se envolver com o
amigo.

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— O que foi? Já andaram se esfregando atrás


das árvores do colégio?
Ela levantou a mão para uma bofetada, mas ele
segurou firme no punho dela.

— Estou te odiando com todas as minhas


forças — ela falou tentando livrar o braço outra
vez.
— Não grite comigo, e não tente fazer isso
novamente.

— Ninguém nunca me maltratou, nunca


precisei odiar nada. — A voz de Maria Fernanda
estava trêmula. — Mas agora, eu me sinto
machucada. Você vive com aquela mulher e faz
isso na minha frente. Eu não tenho mais ninguém
no mundo e eu deveria ser bem tratada nessa casa,
mas apenas os empregados me reconhecem.
Eduardo olhou dentro dos olhos dela e ficou

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tentado a enxugar as lágrimas que escorriam de lá.

— Se você não fosse tão infantil, eu poderia


fazer você aproveitar esses dez anos. Mas só te vejo
como uma pirralha chorona que ao invés de usar a
língua, mostra os dentes. — falou para afastar a
vontade boba de abraçá-la.

— Eu não deveria me sentir machucada com


suas palavras.
— É bom você se acostumar logo com meu
jeito. Eu tinha uma vida antes de você. Não sou
igual aos príncipes encantados dos seus livros. É
bom você saber logo, para não se iludir. Também
não tenho tempo disponível para ficar lidando com
as suas infantilidades.

— Então, para de me prender aqui. Não quer


ter responsabilidades comigo? Deixa-me ir e
prometo nunca mais aparecer aqui novamente. —

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Maria Fernanda estava com o tom de voz pacífica,


implorando a compreensão.
— Não vou te deixar ir. Estamos casados e
vamos conviver até o prazo acabar. Faço isso
unicamente por meu projeto de vida. A empresa é
meu grande projeto de vida.

— Eu te odeio. — Maria Fernanda cerrou os


punhos, mas parou, pois, analisou que suas forças
eram pequenas perto das dele.
— Não me importo se você me odeia.

— Eu assino qualquer coisa, se me deixar ir.

— E para onde você vai, Maria Fernanda?


Ela travou os lábios em um choro sentido.
Realmente não tinha mais um abrigo, depois do
abandono de Giovane. Tinha os amigos de sua
madrinha, mas moravam em outro país, e ela ainda
não se sentia capaz de viajar para tão longe
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sozinha.

— Tudo bem, não precisa chorar. Não chore,


menina. — Ele olhou para o lado evitando olhá-la,
pois aquele choro estava ameaçando romper suas
armaduras. — Não tem como quebrar esse contrato.

Eduardo sabia que tinha uma possibilidade


assim que ela fizesse dezoito anos, mas por algum
motivo não queria que ela soubesse. Maria
Fernanda certamente não notaria nunca as cláusulas
daquele contrato.
— Eu vou odiar cada dia desses dez anos com
você.

Eduardo a puxou e pressionou os lábios na


testa dela.
— Prefiro ter você me odiando, que nutrindo
sentimentos tolos — falou ainda com os lábios em
sua pele. Em seguida a largou e entrou na casa,

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abandonando-a no jardim.

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11

Um mês se passou e apesar de Maria Fernanda


dormir na mesma cama que Eduardo, eles não
trocavam uma só palavra. Quando ele chegava em
casa, já era início da madrugada e a cama estava
sempre dividida por travesseiros. Ele seguia direto
para o banheiro, onde tomava banho e se
perfumava para retirar o cheiro do álcool e outras
mulheres do corpo. Eduardo sentia que algo não
estava normal, pois quando estava com Viviane ou
outra qualquer, sentia um peso diferente no peito,
mas desde a adolescência, quando iniciou sua vida
sexual, não conseguia ficar muitos dias sem uma
mulher na cama.

Ele fortalecia diariamente seu orgulho, jamais


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admitiria que pudesse estar à mercê de um


sentimento que abominava. “Não, ele jamais seria
cachorrinho de uma mulher. Jamais colocaria
outra pessoa acima de sua própria carreira. Ainda
mais uma pirralha mimada, acostumada a sempre
ouvir "sim" como resposta.”
Durante aquele mês, antes de cair no sono, ele
não resistia e tocava as mechas soltas sobre o
travesseiro. Uma vez, chegou a beijar as madeixas
castanhas e por pouco ela não acordou, pegando-o
no flagra.

Maria Fernanda não admitia, mas no início do


mês ela ficava acordada até tarde, apenas para vê-lo
chegar. Nas poucas vezes que Eduardo chegou
antes da meia-noite, ela sentia, no interior do
quarto, o vestígio de perfumes femininos diferentes
dos seus, então foi abandonando aquela infantil
mania e passou a se entregar ao sono antes das dez

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horas. Não havia motivos para esperá-lo.


Naquela manhã de segunda-feira, Eduardo
estava frente ao espelho, enlaçando a gravata no
pescoço, e Maria Fernanda estava sentada sobre a
cama, terminando de trançar os cabelos.

Ele a olhava através do reflexo, sentindo-se


extremamente tentado a ir até ela e desmanchar a
maldita trança que prendia o movimento dos fios.
Mas há muito eles não conversavam, e até as brigas
foram extintas. Às vezes, ele procurava alguma
desculpa para brigarem, mas ela saia do quarto e
não lhe dava ouvidos. Aquilo deixava o homem
possesso de raiva.
— Espera! — Ele correu até a porta e segurou
o braço da mulher, antes que saísse do quarto. —
Eu... eu vou te levar hoje.

— Como quiser. — Ela se soltou e o

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abandonou.
Eduardo correu até a poltrona do quarto, pegou
a mochila com o notebook, a planta do projeto que
iria precisar naquele dia e desceu as escadas quase
correndo.

— Antonieta, venho almoçar em casa hoje —


ele falou, já dentro da cozinha. O olhar estava sobre
Maria Fernanda, que tinha começado a tomar o café
da manhã.
— Sim, o que tem? — Antonieta colocou a
torta de banana sobre a mesa.

— Tem que eu nunca faço isso e hoje venho


almoçar aqui.
— Você está olhando muito para a Nanda. O
quê que é, hein? — Suelen o confrontou, pois
estava sempre de olho para proteger a amiga de
possíveis atitudes grosseiras.

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— Cuide do seu trabalho! E agradeça por mais


um mês de minha tolerância, em nome do idiota do
Sergio.
— Em nome dele o que? Quem se acaba para
trabalhar aqui? Quem anda com as mãos cheias de
calos e quem dorme todo dia com as costas
queimando sou eu! Se eu recebo salário nesta casa
é porque trabalho. Me diga o que eu devo a ele e a
você!

— Sua desaforada! Você perdeu mesmo a


noção do perigo. Você é subordinada, eu sou seu
patrão e posso te demitir a qualquer momento!
Suelen... você não brinque comigo!
Jorge, que estava na mesa, se encolheu. O
motorista odiava a palavra demissão. Teve medo de
respingar sobre ele.

— Eduardo, se acalme. Suelen, vai para o

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quarto um minuto. — Antonieta tentou apaziguar a


situação.
— Quer saber... — Suelen jogou o pano que
usava para secar a louça sobre a mesa. — Me
mande embora seu “fi da peste!” Não estou aqui
para ouvir que me acabo de trabalhar igual uma
mula, pois o coisa ruim do Sergio e você sentem
peninha de mim.

— Não! Você não vai demitir a Su! — Maria


Fernanda levantou da mesa e encarou o marido.
Ele sorriu nervoso e olhou para os dois lados
indignado com mais uma possível ordem.

— Vou pegar minhas coisas. — Suelen se


afastou da mesa.
— Não, Su, se acalma. Ele não vai te mandar
embora. Se você for, eu vou junto.
— É o que?! — Eduardo se enfureceu mais
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ainda.

— SE ELA SAIR DESTA CASA, EU VOU


JUNTO. OU ACHA QUE EU PREFIRO FICAR
COM UM MALDITO OGRO SEM CORAÇÃO A
MORAR COM MINHA AMIGA? — Ela
continuou gritando.

— Eu te deixo acorrentada aos pés da cama


antes disso. — Pegou a mochila de Maria Fernanda
e puxou a jovem na direção das portas do fundo.
— Eduardo, a menina não terminou de tomar o
café! — Antonieta correu atrás deles no jardim.

— Ela está bastante saudável e eu pago uma


gorda mensalidade que inclui a alimentação dela na
escola. — Ele continuou a puxando em direção ao
carro.
— Antonieta, não deixa a Su sair! — Maria
Fernanda gritou.

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Antonieta encerrou os passos quando ele fez a


jovem se sentar no banco ao lado do motorista e
fechou a porta.
Eduardo passou o caminho todo dividindo o
olhar entre a estrada e os cabelos de Maria
Fernanda — que tomava as costas e parte caia
sobre o estofado do carro.

Ela estava debruçada sobre a janela do carro,


recusando-se a olhá-lo.
— Chegamos. Venho buscar você ao meio-dia.
— Ele retirou o cinto de segurança.

Antes de se livrar de seu cinto, Maria Fernanda


virou-se para pegar a mochila no banco de trás. Foi
quando os rostos se chocaram e os olhos índigos de
ambos se encontraram.
Eduardo foi fisgado para dentro do olhar
feminino e por mais que ela não fizesse esforço, o

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atraia. Maria Fernanda piscou os olhos duas vezes e


quando percebeu que os dele desceram de encontro
aos seus lábios, ela abaixou o rosto e estendeu a
mão em busca da mochila.
Eduardo sentou-se ereto frente ao volante. Ele
estava atordoado e seus olhos tornaram-se
assustados. Queria dar um fim naquela agonia que
surgiu dentro de seu peito. Ainda com os olhos
fixos nos poucos alunos que passavam à sua frente,
ele torceu para ela sair o mais rápido possível do
carro.

Mas quando Maria Fernanda colocou a mão na


maçaneta da porta, ele travou o carro e fechou os
olhos, ainda lutando contra a vontade louca que não
o deixava raciocinar.
— O que pretende com isso? Abre a porta,
agora! Abre essa porta! — Ela o sacudiu.

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Eduardo estava no mesmo lugar, ainda de


olhos fechados, lutando contra seus desejos. Maria
Fernanda o sacudia e os gritos finos não eram
maiores que o intenso sentimento que afligia o
peito de Eduardo, a ponto de tocar seu corpo por
inteiro.
— Abre essa porta, Eduardo! Abre e me deixa
sair daqui! — Ela o estapeou pela oitava vez.

Ouvir seu nome na boca dela o motivou a dar


um fim na luta interna. Ele virou-se rapidamente e
quando Maria Fernanda se encolheu, ele segurou as
duas mãos ao lado do rosto da mulher e selou os
lábios rosados.
Maria Fernanda arregalou os olhos e o
estapeou para que a largasse, contudo Eduardo não
tinha passado sobre seu orgulho à toa, ele só a
largaria quando fosse retribuído. Ele moveu os
lábios sobre os inexperientes até que ela abrisse a
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boca, e quando ela, totalmente envolvida pela


atitude dele, relaxou os lábios, Eduardo invadiu,
tornando o beijo sensual e prazeroso.
Uma das mãos que estava sobre a pele macia
do rosto foi usada para trazer o tronco feminino
próximo do seu corpo, a outra se perdeu dentro dos
fios que tinham se tornado seu mais novo fetiche.

Depois de um longo tempo moldando o beijo e


ensinando-a os movimentos certos, ele a deixou
respirar e beijou várias vezes sobre as bochechas,
que estavam coradas.
Quando Eduardo se afastou, Maria Fernanda
baixou os olhos. Ela ainda não sabia o que estava
acontecendo. Tinha gostado daquele beijo e a
corrente elétrica que queimava sua pele tinha sido
prazerosa, mas não queria olhá-lo e ver que o
homem responsável por aquele alvoroço dentro
dela era o temido ogro infiel que ela pretendia
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manter distância.

— Você está bem? — Ele perguntou, também


estava se sentindo estranho.

— Eu estou atrasada. Se você abrir a porta, eu


consigo chegar antes dos portões serem fechados.

— Claro! O que eu tenho na cabeça para não


abrir a porta... — Ele revirou os olhos ao notar suas
palavras sem noção. — Pronto. Pode ir. Volto ao
meio-dia para almoçarmos.

Maria Fernanda saiu do carro rapidamente e


não deu uma última palavra. Na estrada até o
portão, ela cobriu o rosto com uma das mãos e
sorriu, sem saber definir o que estava sentindo.
Eduardo a esperou entrar, então seguiu até a
empresa. Ele também sorriu, ainda confuso durante
o caminho. O gosto de morango do gloss de Maria
Fernanda ainda era sentido, talvez pela lembrança

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que o atingia ou pelos vestígios no paladar.

— Que porra é essa? — Ele esmurrou o


volante ao se pegar desejando sentir algo a mais
que o gosto dos lábios daquela mulher.

***

— Chegou atrasado, Edu. Precisamos entregar


esse projeto. Se continuar assim, não poderei
continuar com a nossa parceria. — Sergio o imitou,
pois ouvia aquilo todos os dias da boca do amigo.

— Adiantou as coisas?
— Estava esperando você. — Sergio o
observou minuciosamente. Eduardo parecia aéreo e
atordoado.
— Está passando mal, parceiro?

— Pegue as plantas e vamos trabalhar. —


Eduardo afrouxou o nó da gravata e sentou em sua

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cadeira, de frente para Sergio.


— O que foi? Engravidou alguém? Cara, você
vai ser pai!

— Eu vou quebrar seus dentes se você não


parar de falar merda e se concentrar nesse projeto!
De onde você tirou isso?
— Se foi, pode desabafar. Eu sei que você
abomina a ideia de ser pai, mas essas coisas
acontecem, não é? Se a Suelen não tivesse me
traído, ela teria um filho meu agora. Você
engravidou a Viviane ou outra, irmão?

Eduardo se inclinou sobre a mesa e apertou o


pescoço do amigo.
— Se eu descobrir que você continua usando
drogas, desgraçado, te dou uma coça tão grande
que você vai ficar um ano sem conseguir andar. E
vou arrancar todos os dentes de sua boca com um

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alicate de jardineiro!

— O que é isso... parceiro? — Sergio falou no


meio da asfixia. — So... solta, Edu. Nunca mais
cheguei... perto d...de nada.

— Então não fale idiotices além do seu


normal.
Eduardo empurrou o amigo, que tossiu,
tocando o pescoço.

— Concentre-se aqui e esqueça o mundo lá


fora. Sua carreira é mais importante que qualquer
outra coisa. Não me faça furar sua cabeça com uma
caneta e escrever isso lá dentro.
— Eu já estou trabalhando. — Sergio pegou
um lápis e baixou o olhar para a planta baixa que
estava sobre a mesa.
***

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Maria Fernanda parou na frente do portão da


escola. Com ela, estava Thiago e outras colegas da
sala.
— Então, começaremos a preparar o seminário
semana que vem, lá em casa. — Sibele, uma garota
ruiva, finalizou o assunto sobre o grande trabalho
do trimestre.

— Por mim tudo bem. — Maria Fernanda


olhou para o outro lado da rua, onde o carro de
Eduardo deveria estar estacionado.
— Alguém vem te buscar, Fernanda? —
Thiago perguntou.

— O Eduardo disse que viria... o meu primo.


— Ela abaixou os olhos, ainda não conseguia
mentir com tranquilidade. — Mas até agora não
veio.
— Minha mãe pode te levar até seu

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condomínio. É bom que eu aprendo o caminho.

O carro de Jorge estacionou do outro lado da


rua e o motorista buzinou.

— Ele mandou o Jorge. Eu vou indo! Até


amanhã, meninas e Thiago.

Depois de receber um beijo do amigo, ela


seguiu na direção do carro.

— Me atrasei, menina patroa. Estava com uma


fraqueza e almocei antes de vir.
— Não tem problema, Jorge. — Ela colocou o
cinto de segurança. — O Eduardo mandou você vir
me buscar?
— Mas como? Se já é certo, eu te buscar todos
os dias, patroa?

— Você tem razão, Jorge. O que eu estou


pensando? — Ela virou o rosto para esconder o

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rubor em sua pele.


***

Eram dez horas da noite. Maria Fernanda já


tinha ido à varanda do quarto pelo menos cinco
vezes, mas não havia nenhum sinal do carro de
Eduardo no jardim.
Ela já tinha lido cinco capítulos de um dos seus
romances de época e penteava seus cabelos, quando
ouviu a voz dele conversando com o pai no
corredor do quarto. Ela jogou a escova sobre o
tapete e cobriu-se por inteira.

Eduardo entrou no quarto, olhou o bolo


humano embrulhado sobre sua cama e respirou
fundo, aliviado por ela já estar dormindo. Estava
exausto, tinha ficado na empresa trabalhando até às
nove e meia. O cansaço o deixava sem paciência e
mais grosseiro que o normal.

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Ele jogou a mochila sobre a poltrona, foi até o


guarda-roupa, pegou um pijama e seguiu para o
banheiro.
Assim que a porta foi fechada, Maria Fernanda
descobriu os olhos e o nariz.

Minutos depois, quando Eduardo saiu do


banheiro e se jogou na cama, ela arregalou os
olhos.
Ele olhou para a barreira de travesseiros,
desdobrou seu lençol e jogou sobre as pernas. Foi
neste momento que viu os pezinhos brancos
descobertos, um coçando a sola do outro. Eduardo
sorriu, arteiro, e puxou o edredom dela de uma vez.
Maria Fernanda sentou rapidamente na cama e
cobriu os pés debaixo da larga camisola.

— Eu... eu estava dormindo... — Olhou para a


poltrona à frente, evitando olhá-lo.

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— Não vai me dar um beijo de boa noite,


ferinha?
— Que conversa é essa? Devolva meu
edredom, senhor. — Ela ajeitou a barreira de
travesseiros, que em parte tinha se dissolvido.

— Me chame de Eduardo ou vai dormir


desenrolada. — Ele aproximou-se do rosto dela e
tentou um acordo. O efeito do nome dele na boca
dela era alucinante. Eduardo estava se apegando a
pequenas coisas.
— Ogro! Vou te chamar de ogro pelo resto da
vida. — Ela ficou estática com a proximidade.

— Você amou a pegada desse ogro. Ou vai


negar que gostou? — sussurrou, sentindo o cheiro
do hidratante no rosto da jovem. Aliás, ela estava
repleta de cheiros, já que usava um hidratante para
cada parte do corpo.

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Eduardo aproximou as narinas dos cabelos


soltos, pois aquele cheiro era o seu preferido. O
corpo de Maria Fernanda tremeu de imediato.
Instigado, ele mergulhou os dedos abaixo do
pescoço dela e segurou firme entre os cabelos.

Maria Fernanda deixou escapar um pequeno


gemido e Eduardo sorriu.

— Uma ferinha manhosa deixa o ogro feliz. —


Ele sorriu e beijou a bochecha da mulher.
— Eu estou assustada, é... isso que está
acontecendo. — Ela tentou se justificar.

Maria Fernanda não conseguia compreender


aquelas sensações que ele despertava em seu corpo,
mas o melhor caminho era negar.
— E o que mais? — Ele apenas passou os
lábios sobre os dela.
— Eu não sinto nada...
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Eduardo cobriu a boca dela com a sua e a


puxou, beijando-lhe com a mesma intensidade que
usou pela manhã, mas agora eles estavam a sós e
Maria Fernanda sobre seu colo.

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12

Eduardo largou os lábios de Maria Fernanda,


pois não poderia ser egoísta a ponto de deixá-la
desfalecer com a falta de oxigênio. Apesar que,
mesmo livre para respirar, ela seguia com
dificuldade com as insistentes investidas de
Eduardo em seu pescoço com beijos quentes.

— Então, a ferinha gosta dos meus beijos?

— Melhor pararmos com isso. — Ela lutou


para respirar.

— Fica assim mansinha, pois estou querendo


você, ferinha manhosa.
— O que está fazendo?

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Ela não teve condições de impedir que as mãos


de Eduardo subissem por suas pernas.
— Vamos experimentar deixar de ser
inocente?

Ele aproximou os rostos e apenas encostou a


boca na dela. Maria Fernanda fechou os olhos,
sendo tentada por um beijo que não se
concretizava.
— Serei carinhoso se ficar quieta. — Ele
nunca havia cumprido a promessa de carinho antes,
ou melhor, nunca tinha feito promessa parecida.

“O que estou fazendo? Por que não consigo


deixar de sentir esse cheiro? A empresa, estou
fazendo isso apenas pela empresa.” Internamente a
razão de Eduardo queria ganhar forças e inventava
um motivo para ele estar tão dedicado à sua jovem
mulher.

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Ele beijou o queixo dela e desceu, espalhando


beijos sobre o ombro, ainda coberto pela camisola
de algodão.
— Não... não vou me submeter a isso. —
Maria Fernanda estremeceu com o toque.

Ele voltou a olhá-la e sorriu. Maria Fernanda


desviou o olhar, pois percebeu que aquele sorriso o
deixava ainda mais bonito.
— Esse cheiro seu está me enlouquecendo,
mulher. Você está me deixando louco. —
Aproveitou o pescoço dela exposto e inalou o
perfume novamente.

Algo dentro da sua cabeça gritava para ir


devagar ou estragaria tudo. Ela era jovem demais, e
virgem, para aguentar o desejo — que naquele
momento —, o consumia. Não iria possuí-la com
força, apesar de seus desejos mais ocultos

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cogitarem aquilo.
— Por favor, senhor, não faça isso. — Ela
fechou os olhos, sem forças para lutar contra aquele
Eduardo, torcendo para ele desistir, pois ela mesmo
não conseguiria.

Eduardo não fazia ideia do que estava


acontecendo com ele. Seu desejo por Maria
Fernanda aumentava a cada segundo.
— Não me chame de senhor, isso faz você
parecer ainda mais infantil. Diga meu nome. Quero
ouvir meu nome em sua boca. Não sou seu senhor.
— Pediu grosseiro, fazendo-a estremecer.

— Não vou ceder... isso... é errado. — Naquele


momento ela estava se referindo ao calor que
percorreu seu corpo.
— Gostar disso não é errado. — Ele sussurrou
no ouvido dela e apertou um dos seios na palma da

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mão.

Maria Fernanda lutou para manter a respiração


normal, mas seu corpo inexperiente ansiou por
mais. Quando Eduardo desceu o rosto e abocanhou
um dos seios por sobre o vestido. Ela perdeu as
forças.

— Eduardo... — ela gemeu de imediato.


Ouvir seu nome na boca dela através de um
gemido o enlouqueceu. Ele foi tomado por
sentimentos que não conseguia controlar. Sua boca
encontrou os lábios carnudos. Ela até relutou no
início, mas no momento seguinte estava entregue.
Ele saboreou cada centímetro e, naquele momento,
o gosto do beijo dela era melhor do que qualquer
coisa que já havia provado na vida. A mão de
Eduardo apertou a cintura fina e Maria Fernanda
não conseguiu controlar as reações do seu próprio
corpo ao marido. A sensação que sentia era algo
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novo e quente. Não queria sentir aquilo, devia


afastá-lo e não o contrário. Mas seu corpo lhe traía.
A boca sobre a dela fazia com que quisesse mais
um pouco de toda aquela confusão que se instaurou
em seu corpo, trazendo chamas poderosas.

Eduardo subiu o tecido da camisola até a base


do quadril. Um gemido escapou da garganta dela,
quando ele mordiscou levemente seus lábios.

Então era assim que as pessoas casadas se


sentiam? Então era bom ter um marido. Eduardo
poderia ser igual seu padrinho foi para sua
madrinha. Ela o teria julgado?

— Vou deitar você e tirar isso. — Segurou-a


nos braços e ainda de joelhos sobre a cama deitou-
a.

Ele desabotoou todos os botões da camisola e


quando terminou de tirar a larga peça, mirou o

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corpo dela apenas coberto por um conjunto de


algodão. A peça era simples e com desenhos
infantis. Eduardo odiou aquele tecido, mas, de
repente, pequenas coisas perdiam o sentido perto
dela.

Ela se cobriu com os braços, mas Eduardo foi


ágil e prendeu as duas mãos dela, uma para cada
lado do corpo.

— Não se esconda de mim. — Desceu os olhos


em direção aos seios dela. — Linda, você é linda.
— Soltou as mãos dela e sorriu ao vê-la deixar no
mesmo lugar por sua própria vontade. — Agora
tenho seu corpo por inteiro em minha mente. —
Voltou a beijá-la.
A beleza que ela possuía, aliada ao que ele
desejava e sentia, fazia dela a mulher mais perfeita
do mundo. Os seios cobertos eram médios, os
quadris delicados e as pernas longas e bem-feitas.
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— Você é tão linda, mulher.

O que estava acontecendo com ele? De


repente, havia esquecido que apenas um contrato
deveria uni-lo àquela jovem.

O coração dela bateu desenfreado. As palavras


sussurradas a afetaram demasiadamente. Ali ela
teve esperanças de que poderiam fazer aquele
casamento esquisito dar certo.
— Me deixe fazê-la minha, Maria Fernanda?
— Ele perguntou ofegante.

Aquela frase também era inédita. Ele


costumava invadir sem cerimônia. Alguma coisa
estava diferente e Eduardo não gostou nenhum
pouco daquilo. Só que naquele momento não queria
pensar em nada, tê-la tão perto foi melhor do que
havia fantasiado nos últimos dias. Queria ouvir a
resposta dela e aguardaria mesmo que impaciente.

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— Me responda. — Sua boca voltou a passear


na pele macia.
— Quero...— A voz dela saiu timidamente.
Ela desejou ter a felicidade que sua madrinha tinha
ao lado do esposo.

Ouvi-la aumentou ainda mais o desejo de


Eduardo. Seu membro reagiu de imediato e seu
coração palpitou ansioso.
“Que porra de sentimento é esse?” Ele
apertou os olhos tentando eliminar o anseio
desconhecido, para fixar apenas no desejo. Estava
deitado ao lado dela e seu rosto estava frente ao da
mulher. Perguntou-se se o desejo de se enterrar
naquele corpo miúdo estava causando aquilo.

— Está passando mal? — ela perguntou o


encarando.
— Não. — Beijou-a nos lábios. — Não vou te

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machucar, eu prometo.

O que ele mais queria era adorar o corpo da


jovem com cheiro de leite e inocência. Ele desceu a
boca e beijou-lhe o ombro delicadamente. Iria
saborear cada pedacinho dela, depois pensaria no
que fazer.

Afastou-se por um momento e tirou a camiseta.


Maria Fernanda desviou o olhar do peito musculoso
à sua frente, Eduardo sorriu.
— Isso não estava em meus planos. Acredito
que muito menos nos seus. Mas desejo você. Seu
modo de balançar os cabelos, essa pele macia e
seus olhos tímidos estão me deixando sem dormir.
Quero que entenda que nunca observei isso em uma
mulher... — Maria Fernanda o olhou de relance,
mas desviou o olhar novamente. As palavras de
Eduardo e o tom em que estava sua voz a deixaram
encabulada.
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— Olhe pra mim, mulher. Me toque, se quiser.


— O rosto de Maria Fernanda corou e ela encarou
o teto do quarto. — Você vai perder essa vergonha
agora. — Ele inspirou o cheiro dos cabelos macios
e a beijou de uma forma que a fez se sentir
especial.
Maria Fernanda não conhecia aquelas
sensações, mas de repente ele parecia como os
mocinhos dos livros de romance que lia na
biblioteca da fazenda. Deixando suas pernas
bambas, seu coração batendo desenfreado e a
fazendo suspirar. Estava errada. Eduardo,
normalmente, não agia daquela maneira. Ele era
intenso e não precisava se esforçar tanto para ter
uma mulher, já que choviam aos seus pés.
Geralmente, elas que queriam satisfazê-lo de todas
as formas. Definitivamente ela não conhecia as
vontades loucas do marido!

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Ele beijou o meio do sutiã dela e desceu em


direção ao umbigo, fazendo-a fechar os olhos com
a sensação que era totalmente nova para Maria
Fernanda.
Ela apertou os olhos, envergonhada. Estava
perdida, mas queria sentir mais um pouco daquilo.
Seu corpo inexperiente ansiava por mais, ele
continuou com sua deliciosa tortura.

— Abra os olhos — sussurrou perto de sua


intimidade, fazendo-a sentir um arrepio percorrer
seu corpo. — Não tem do que se envergonhar.
Ela negou com a cabeça e olhou para o teto. Lá
no fundo um medo ainda ameaçava tomar conta. Os
dedos experientes de Eduardo sabiam exatamente
onde tocá-la e ela não conseguia segurar os
gemidos do prazer que sentia.

— Eduardo... — Ela gemeu seu nome. Ele

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interrompeu o que estava fazendo e sorriu.


— Eu nem comecei ainda, mulher. — Ele
desceu a calcinha devagar e salivou com a visão
perfeita, rosada e intocável. Maria Fernanda era
linda e seria apenas dele. Aquela tentação úmida
teria sua total atenção.

— Eduardo isso não é erra... — Ela se calou e


voltou a cabeça para trás ao sentir a boca experiente
do marido a invadindo.
Eduardo não agia com pressa, saboreava a
melhor parte dela lenta, intensa e loucamente.
Deliciava-se com a pele macia. Jamais havia se
sentido tão excitado por uma mulher. Sua língua
passeava de baixo para cima em uma tortura
deliciosa. O cheiro que emanava dela o
enlouquecia. O prazer que Maria Fernanda sentia
era intenso. Sugou o ponto sensível dela fazendo-a
arquear o tronco sobre a cama.
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— Eduardo... — Ela se contorceu gritando o


nome dele.
Eduardo não imaginou que sentiria tanto prazer
satisfazê-la. As reações tímidas do corpo dela
estavam o deixando louco. Iria agradá-la como
nunca tinha feito à outra mulher. Era a primeira vez
que se relacionava com uma virgem, inexperiente.
Contudo, sabia que precisava prepará-la ao extremo
para recebê-lo, apesar de ter consciência da
possibilidade de machucá-la de qualquer maneira.
Dedicou-se à parte sensível de sua parceira e Maria
Fernanda gritou seu nome por vezes seguidas.

Quando ele a sentiu vibrar em sua boca,


levantou os olhos para observá-la e o rosto corado
de Maria Fernanda no meio dos espasmos o deixou
orgulhoso pelo que tinha feito. Porém, quis mais.
Quis vê-la gemer mais um pouco, aquele som o
excitava, então voltou a torturá-la com beijos

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experientes, enquanto saboreava o líquido do


primeiro prazer de sua mulher.
— Eduardo... Por favor... — ela gemeu, quase
perdendo os sentidos. — Pare... — Eduardo não
parou e aumentou ainda mais o ritmo da tortura no
ponto rígido. — Não... não vou... Aaah! — ele
firmou a cintura dela sobre a cama, quando a sentiu
desfalecer pela segunda vez em sua língua.

“Você está ferrado, Eduardo!” A voz em seu


subconsciente gritava em sua cabeça. Sua excitação
atingia o nível máximo. Precisava dela. Mais do
que tudo, ele a desejava.

Eduardo a beijou no ventre e subiu em direção


ao rosto que estava voltado para o teto.

— Maria Fernanda... — Ele sentiu prazer em


falar o nome dela. Era lindo e nenhum outro lhe
causava aquele efeito devastador. — Agora, preciso

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de você, mulher...
Ele levantou para tirar o que restava de suas
roupas e a viu arregalar os olhos e se encolher com
a visão de seu corpo nu.

— Não se preocupe. Será sua primeira vez e


prometo ser gentil com você. Já te preparei. Não
vai sentir tanta dor. — Ele se aproximou devagar,
mas o medo estampado nos olhos dela não se
desfez.
— Por favor, saia daqui. Isso... — Ela cobriu o
rosto com o braço, com medo do que tinha visto.

— Maria Fernanda, confie em mim. Olha o


que acabamos de compartilhar, acha que eu seria
capaz de te machucar? Estou sendo gentil com
você.
Ela se encolheu ainda mais, Eduardo sentiu
uma pontada de decepção com a reação. Havia feito

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tudo certo, apenas dado prazer a ela, e agora aquilo!

Maria Fernanda tinha gostado muito do que


havia acontecido e seu corpo ainda vibrava. Nunca
imaginou que um homem a faria sentir tudo aquilo,
mas quando o viu nu, não conseguiu controlar o
medo de ser machucada. Era um mundo
completamente novo para ela, só que teve muito
receio do desejo que viu arder nos olhos dele e
mesmo que ele fosse cuidadoso, certamente ela
sairia marcada de algum modo.

— Calma. — Ele deitou ao lado dela e com um


dos cotovelos apoiados na cama, a beijou a boca.
— Quero te fazer sentir mais. Entende o que eu
digo? Quero fazer você sentir ainda mais prazer.
Nunca me preocupei com isso antes. Não tenha
medo, não vou te machucar, não seria covarde ao
ponto de te possuir com brutalidade. — Seu lado
insano lutava internamente com aquele novo

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Eduardo que apenas ela despertara.


— Não quero! Sai daqui, por favor.

— Pelos céus, menina! Você viveu em um


colégio de freiras? Isso que sentiu, essa sensação
maravilhosa foi apenas uma parte do que um
homem pode proporcionar a uma mulher.
Ela o empurrou, pressionando o tecido do
vestido contra o próprio corpo e sentou na cama.

Eduardo demorou alguns segundos encarando-


a e tentando absorver as palavras de Maria
Fernanda. Os cabelos da mulher cobriam suas
costas e ainda sobrava parte sobre a cama. Ela era
perfeita, mas a rejeição tirou todo o autocontrole de
seu marido. Sentiu-se furioso porque estava duro e
desejando aquela maldita menina idiota. O velho
Eduardo veio à tona. Mulher nenhuma o rejeitava e
não seria aquela menininha boba que o faria.

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— Não sei o que deu em mim para querer


agradar uma pirralha igual a você. — Levantou da
cama abruptamente, vestindo suas roupas. — Não
acredito que perdi meu tempo achando que
chegaríamos a algum lugar.

Ela começou a chorar.

— Que ótimo! Era disso que precisava. Um


bebê chorão.
Ela puxou o edredom e cobriu o corpo. Seu
choro aumentou.

— Pare de chorar, não vou fazer nada que não


queira. Não me humilharia a tal ponto! Veja o
estado que me deixou. — Ele apontou o volume
nas próprias calças — Não se preocupe, vou achar
uma mulher de verdade para resolver meu
problema, de preferência uma que não chore como
uma criança mimada.

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Saiu e bateu a porta com força, estrondando o


barulho dentro do quarto e no corredor.

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13

No dia seguinte, Eduardo chegou em casa na


hora do café. Iria se preparar para ir ao trabalho
mais cedo. Dormir fora de casa não estava em seus
planos, pois tinha um projeto para apresentar na
empresa.

Antes de subir para trocar de roupa, foi para


cozinha pegar uma fatia do seu bolo preferido.
Suelen estava lavando a louça suja e Antonieta
preparando o café da manhã.
— Eduardo! — Antonieta se assustou com a
chegada silenciosa do patrão.

— Bom dia. — Cumprimentou a mulher sem


nenhum vestígio de humor.
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Antonieta já sabia o que ele queria, então


colocou sobre a mesa um prato com uma fatia de
seu bolo de banana. Ele sentou à mesa e começou a
degustar o alimento calado. Suelen olhou para
Antonieta e fez uma careta investigativa.

Maria Fernanda entrou na cozinha, já


uniformizada e baixou os olhos quando viu a figura
dele na cozinha. Lembrou-se de tudo o que havia
vivenciado com ele na noite passada. “Ele teria
realmente ido atrás de outra mulher?” Perguntou-
se enquanto seguia até a geladeira, onde ficou um
bom tempo mirando os alimentos e sentindo o
vento gelado.

Eduardo não escondeu sua feição amargurada.


Sentiu seu orgulho queimar dentro do peito.
— Estão se evitando? — Suelen não segurou a
língua.

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Eduardo continuou comendo a torta,


transparecendo raiva. Ele não deveria estar tão
frustrado. Era apenas uma pirralha. Uma pirralha
que tinha o deixado na vontade.
Quando deixou Maria Fernanda no quarto, ele
foi até a casa de Viviane, mas antes de sair do carro
esmurrou o pobre do volante que, há tempos, sofria
com a sua fúria. Queria descontar a raiva por não
conseguir sair do carro e apagar o cheiro de Maria
Fernanda que estava em seu corpo. Ele passou a
noite em seu apartamento que ainda não tinha
mobília. Estava possesso de raiva com o seu
comportamento.

— Sai de dentro dessa geladeira, filha. Vai


ficar resfriada. — Antonieta chamou a atenção de
Maria Fernanda. A cozinheira também tinha
percebido o mesmo que Suelen.
Eduardo olhou para sua mulher dos pés à
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cabeça. Seu corpo tremeu. Ele a desejou ali mesmo.


Enraivecido e odiando seus próprios desejos, tentou
dar atenção ao seu bolo preferido. Mas de uma hora
para outra, apenas o gosto dela fazia sentido.
Depois de uma luta interna, Eduardo não
resistiu. O homem suspendeu a cabeça, respirou
fundo e abandonou o prato. Foi até a geladeira onde
ela estava. Colou o corpo ao dela e buscou uma
jarra com iogurte caseiro que estava no fundo da
geladeira. Ela estremeceu ao senti-lo.

O corpo de Eduardo pegava fogo só em tê-la


tão perto.

— Dormiu satisfeita? Chorar depois de se


satisfazer é bom, não é? — Sua voz saiu cortada,
demonstrando seu grau de frustração. — Você não
terá aquilo novamente — sussurrou e acabou não
resistindo, roçando os lábios no pescoço de Maria
Fernanda, contrapondo suas palavras. — Que porra
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de sedução é essa que você jogou em mim, mulher?


— Seus lábios tocaram a pele do ombro da jovem.
O atrito da barba fez o corpo dela estremeceu.
— Não xingue perto de mim.

— Não me dê ordens! — Eduardo falou


entredentes, colado ao ouvido dela.
— Estão nos olhando... — Maria Fernanda
falou em um tom baixo.

— Sobe comigo. Vamos passar esse dia só


você e eu. Sinta como eu estou. — Forçou seu
corpo ao dela e gemeu baixo, louco de desejo.
Maria Fernanda sentiu o rosto entrar em chamas. —
Preciso de seu alívio, ferinha. — Eduardo esqueceu
que tinha outras pessoas na grande cozinha,
colocou novamente a jarra dentro da geladeira e
passou o braço pela cintura de Maria Fernanda. —
Preciso de você. Não me negue isso. — Forçou o

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corpo dela contra seu uma vez mais.


— Já que estão se entendendo, por que não
tentam fazer isso sem as roupas? E dentro do
quarto? — Suelen acabou com a alegria de
Eduardo.

Ele se afastou de Maria Fernanda, mas as mãos


continuaram na cintura dela.
— Deixa a menina, Eduardo. — Antonieta
falou de longe. A mais velha ficou constrangida
com a cena.

— Será que eu não posso ter privacidade com


minha mulher dentro da minha própria casa?!
— Só pare de atormentar essa menina. —
Antonieta evitou olhá-los.
Ele largou Maria Fernanda e suspirou pesado.

— Vou trabalhar. Já estou atrasado. — Saiu da

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cozinha com o humor alterado.


— O que deu nele, filha? — Antonieta parecia
desconfiar de algo.

— Eu... eu não sei. — Maria Fernanda se


sentou à mesa e colocou a mão sobre a testa. Ela
estava ofegante. Suelen estreitou os olhos, mas
segurou a língua para quando estivessem apenas as
duas.
***

Depois que voltou da escola, Maria Fernanda


passou a tarde enfiada no jardim da casa. Estava
calada enquanto cuidava das plantas.
— Nanda, vamos conversar? — Suelen
aproveitou que Antonieta tinha saído de casa e foi
procurar Maria Fernanda. — Somos amigas, não
me esconda nada.
— Eu quero ficar sozinha, Su.
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— O que ele aprontou? Vocês dormiram juntos


na mesma cama, fazendo coisas? Não sei seu grau
de ingenuidade, por isso estou tendo cuidado com
as palavras. Você entende o que estou perguntando,
não é?

— Eu entendo, Su. — Maria Fernanda encarou


Suelen.

— Ele te machucou? Ele te forçou, foi isso?


Maria Fernanda saiu em direção às flores do
outro lado do jardim. Suelen a acompanhou.

— Aquele filho de uma rapariga teve coragem


de fazer isso com você! —Suelen cerrou os punhos.
— Não! Não foi assim. Ele não me forçou. Se
eu gritei foi porque não consegui conter minha
boca fechada. — Ela em sua inocência deixou
escapar além do que pretendia.
Suelen assimilou as palavras de Maria
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Fernanda para em seguida estourar em uma


gargalhada.
— Não vou te contar mais nada. — Maria
Fernanda fechou a cara.

— Desculpa. Tudo bem, hoje sou mais


tranquila com esses assuntos. Se quiser conversar
estou aqui. Posso te esclarecer qualquer coisa.
Usaram proteção?
— O que?

— Proteção. Sabe, uma capinha para evitar


bebês e outras coisas graves?

— Para, Suelen! Essa conversa me constrange.


Suelen mexeu nas rosas.

— Mas na hora dos gemidos ninguém ficou


constrangida, não foi? — Suelen gargalhou mais
uma vez e entregou uma rosa a Maria Fernanda. —

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Não vai me demitir por essa conversa, não é?


— Jamais faria isso.

Suelen respirou aliviada.


— Eu nunca tinha visto um homem
completamente sem as roupas, Su. Tive medo e ele
saiu furioso do quarto...

Suelen gargalhou novamente. Mais alto que a


última vez.
— Você deixou Eduardo Moedeiros na mão,
sua danadinha? Como ele permitiu isso?
Maria Fernanda estava muito envergonhada. A
cena de Eduardo completamente nu estava
impregnada em sua mente.

— Tive medo que ele me machucasse. Ele é


mais forte que eu, mais alto...
— Maior... — Suelen completou em uma
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gargalhada e Maria Fernanda corou.

— Não vai contar para ninguém sobre isso.


Não quero que ele pense que estou fofocando sobre
essas coisas.

— Tenho certeza que a cidade toda já sabe o


tamanho da coisa. — Suelen se deu conta das
palavras, mas já tinha pronunciado. — Não...
Esqueça isso, pode ser que ele mude, eu duvido
muito, mas milagres acontecem por aí, não é
mesmo?
— Ele me chamou de criança mimada e disse
que outra mulher resolveria o estado que ele ficou.
Não quero que ele tenha uma namorada. Aquela
dona já é uma mulher vivida, não vou conseguir
superar o que ela pode oferecer. Não tenho
experiência nenhuma, Suelen.

— Você está mesmo querendo esse

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casamento?
— Ele me fez sentir coisas boas. Minhas
pernas tremeram e naquele momento eu quis que
estivéssemos casados de verdade. Não apenas no
acordo. Ele também sabe fazer aquilo muito bem.

— Aquilo?
Maria Fernanda virou as costas para a amiga e
respondeu, envergonhada:

— Com a boca.
Suelen gargalhou mais alto ainda e lutou ao
mesmo tempo para se controlar.

— Ai... por favor, eu preciso parar de rir. —


Seguiu controlando a risada. — Sou sua amiga,
mas... para, pois meu estômago está doendo.

— Para de rir, Su. Eu só não sabia como eram


essas coisas.

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— Eu não consigo parar. — Suelen apontou


para o próprio rosto. — Mas só aceite outra vez se
ele largar a Viviane de verdade. — Tossiu e
mostrou-se mais controlada. — O problema que te
deu medo à noite passada pode ser resolvido se ele
souber conduzir. Se não for carinhoso, caia fora ou
ele pode te machucar de verdade. Depois você vai
acostumando. Se ele te deixou de pernas bambas e
saiu vesgo, pode ser que ele esteja querendo você
de verdade. Desculpa, depois conversamos. — A
morena saiu correndo para sorrir em outro lugar.
Suelen estava em uma crise de risos e temeu
ser interpretada como desdém.

***
Eduardo saiu da empresa e foi direto para uma
festa na casa da família de Viviane. Ele precisava
estar presente em todos os eventos que eles
organizavam. O grande projeto de Eduardo era sua
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empresa, não mediria esforços para consegui-la.


Ele convivia com Viviane há alguns anos. Ela
nunca foi única, mas além de ser filha do chefe das
obras públicas da cidade, ele sentia prazer em estar
com ela, pois a loira sabia satisfazê-lo na cama. O
jeito egocêntrico e as atitudes fúteis eram ignorados
em favor dos grandes contratos que ela traria.
Eduardo estava em um grau altíssimo de
exaltação carnal. Havia bebido durante a noite para
atropelar o estresse e a impaciência de seu corpo,
mas nada tinha adiantado. Aquela noite, além de
satisfazê-lo de todas as maneiras, Viviane
precisaria apagar os vestígios que Maria Fernanda
tinha deixado em seu corpo e pensamentos.

Maria Fernanda estava inquieta dentro do


quarto, já era muito tarde e o marido ainda não
tinha retornado. Durante aquela tarde, depois da
conversa com a amiga Suelen, ela tinha repensado

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sobre a maneira que foi tratada por ele nos minutos


antes de ser atingida pelo medo. Queria fazer
aquele casamento dar certo e para isso precisava
esquecer as preocupações bobas e aproveitar as
sensações prazerosas que ele causava quando a
tocava. Estava decidida.
Queria surpreendê-lo com um beijo ainda na
entrada da porta. Depois conversariam e certamente
dariam uma chance ao casamento que tinha
começado de uma maneira torta. Eduardo parecia
ser um bom professor, ela seria uma aluna
dedicada.

A mulher sorriu e corou ao olhar para a cama


sem a barreira de travesseiros. Sentou na poltrona
e, ainda olhando na direção da cama, lembrou-se de
tudo o que tinha acontecido na noite anterior. “Ela
ainda estava com medo, mas, se dava certo com
outras mulheres, qual o problema dela tentar?”

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Ela acabou cochilando no sofá e quando


despertou com o barulho da porta já era muito
tarde, mas ela não teve noção do tempo que esteve
dormindo.
Ela olhou Eduardo fechando a porta do quarto,
sorriu e correu em sua direção.

— Eduardo, eu estava te esperando... — falou


ainda sonolenta, mas freou as mãos que estavam na
camisa social do marido, pois sentiu as notas de um
perfume feminino diferente dos seus.
— Me esperou, Maria Fernanda? — Ele falou
calmamente, compadecido da feição decepcionada
e dos olhos azuis lacrimejantes.

Ela virou de costas para esconder as lágrimas


que caíram de seus olhos.
— Não... eu só queria saber se você viria
dormir em casa, pois se assim não fosse, não

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precisava separar a cama.

Ela se abraçou com os próprios braços e seguiu


até a cama. Eduardo apertou os cabelos
nervosamente e aquela agonia voltou, mas agora
queimava seu peito por inteiro e o maldito nó em
sua garganta o torturou.

Ele seguiu rápido na direção do banheiro,


precisava limpar o cheiro desconhecido que feriu
sua mulher. Como se aquilo apagasse as quatro
horas que esteve com Viviane.
— Nada mudou. Eu não preciso me preocupar
— Ele ligou o chuveiro e encostou a cabeça no
azulejo. — Nada mudou. — Pegou o sabonete, mas
em seguida o jogou longe e esmurrou a parede do
banheiro.

Minutos depois, quando criou coragem para


voltar ao quarto, soube que ela estava chorando

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escondido, pois a viu secar o rosto com o dorso da


mão.
Ele deitou ao lado dela. Seus olhos seguiram o
comprimento dos fios sobre a cama. Os cabelos
estavam com cachos nas pontas, certamente ela
tinha feito algo novo, talvez modelado de outra
maneira. Ele enrolou um ondeado entre os dedos e
levou até as narinas, exalando o cheiro cítrico que o
prendia como um encantamento.

— Você... não vai dividir a cama hoje? —


Tentou puxar conversa, apenas para saber se ela
ainda chorava.

— Eu vou dormir no quarto da sua irmã. —


Ela sentou, de costas para ele — Não vou mexer
em nada. Você pode mandar o Jorge ver aquele
pedreiro para adiantar a reforma do quartinho?
Ainda não começou, você acabou esquecendo.

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— Maria Fernanda, eu pensei que não


quisesse... Te mostrei como eu estava. Quase não
consegui trabalhar hoje. — A voz dele saiu em um
tom carinhoso demais.
— Eu não quero ser um peso na vida de
ninguém. Não sinta pena, por favor. Preciso
amadurecer e aprender como funciona a vida lá
fora. No mundo que foi pintado para mim não
existiam lágrimas ou essa dor frustrante que está
sufocando meu peito. Lá as princesas encontram
seus príncipes... que tolice, não é? Eu mesma
deveria zombar de mim por ter acreditado tanto
tempo nisso.

— Não deveria ter criado expectativas. — Ele


respirou pela boca para controlar a emoção
repentina ao ouvir a voz trêmula de Maria
Fernanda.
— Você dormiria com outra, da mesma
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maneira, se estivéssemos vivendo como marido e


mulher?
— Eu tinha uma vida toda programada antes
de você chegar. Posso te satisfazer nesta cama
todos os dias, mas não sou capaz de te oferecer
sentimentos.

Maria Fernanda soluçou, ainda de costas para


ele.
— Não chore. Seus olhos vão ficar inchados.

Ela levantou da cama e saiu do quarto,


decidida a ficar longe dele, pois tinha se iludido
com a maneira que foi beijada.
Ela estava sentindo falta do afeto que recebeu
desde que era uma menina. Mesmo sem pai e mãe,
sempre viveu cercada por pessoas a amavam, mas
agora não existia mais ninguém. A ideia de ter
alguém ao seu lado, para abraçar durante os anos

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seguintes, influenciou seus pensamentos naquela


tarde, sem contar a satisfação prazerosa que seu
corpo sentiu ao ser tocado por Eduardo. Seria um
conjunto carnal e protetor, que parecia ser bom e
agradável. Mas a resposta tinha sido negativa e
mais uma vez ela sentiu o peso de estar sozinha no
mundo. Precisava começar a saber lidar com
aquilo.

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14

TRÊS SEMANAS DEPOIS...

— Edu, você anda muito aéreo, irmão.


Sergio estava observando Eduardo rodando
uma caneta sobre a mesa, quando deveria estar
finalizando o último projeto na empresa. Nas
próximas semanas ele deixaria o estágio para se
dedicar apenas a Moedeiros Engenharia, seu
próprio empreendimento.
— A Maria Fernanda saiu do quarto da Luiza
ontem.

— Jura que você está há vinte minutos


pensando nisso?

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— Faz alguns dias que ela anda doente. O


quartinho é úmido, talvez não seja adequado...
— Ela quer ficar longe de você, Edu.

— Ela é novinha, mas sabe ser linda. E tem os


cabelos perfeitos, não só os cabelos... ela tem
cheiro de princesa e é tão deliciosa...
— O quê? — Sergio se ajeitou na cadeira e
aproximou o corpo da mesa. — Já provou e não me
falou nada? Você nunca me escondeu as coisas.
Sempre dividimos tudo, inclusive a maioria das
mulheres. Existe uma parceria aqui e você está
quebrando. Linda... cabelos... o que eu perdi, Edu?
Está falando isso de uma mulher?

— Para de ouvir a porra do meu pensamento!


— Eduardo jogou a caneta sobre a mesa e apontou
o dedo na cara do amigo. — Eu vou sair, Sergio. Se
eu voltar e encontrar esse projeto do mesmo jeito,

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eu juro que eu escolho qualquer filho da puta para


minha vice-presidência no seu lugar.
Eduardo abandonou a sala. Chocou-se com
Junior no corredor e seguiu direto para o
estacionamento.

***
Eduardo estava dentro do carro, na esquina da
rua do colégio. Ele observava Thiago alisando as
mechas do cabelo de Maria Fernanda. O marido
estava furioso, mas aguardava para ter certeza se
suas suspeitas estavam certas.

A jovem sorria e ele não se lembrava de ter


visto aquele sorriso antes. Era lindo, como muitas
coisas nela, mas não estava sendo para ele.
O ciúme estava assumindo o controle de suas
ações e quando viu Thiago selar os lábios de Maria
Fernanda, ele acelerou o carro e freou

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abruptamente na frente do casal.

Com o susto, Maria Fernanda se afastou de


Thiago e quando ela viu que o motorista furioso era
Eduardo, sua primeira reação foi correr até ele.

— Não, por favor, não faça isso. — Segurou a


cintura do homem, mas ele continuou andando. —
Foi algo inocente, ele não sabe de nada.
— Senhor, eu posso explicar. — Thiago se
aproximou.

— Não, Thiago! Por favor, eu explico. Sua


mãe já está chegando. Eu resolvo isso.

— Estamos gostando um do outro. Minhas


intenções são as melhores, peço permissão para
namorarmos.
Eduardo empurrou Maria Fernanda e seguiu na
direção do jovem.

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— Você empurrou a Fernanda! Você está


louco, cara? — Thiago o enfrentou.
— Escuta aqui, fedelho: esta mulher é minha!
Se eu sonhar que você passou a dez metros de
distância dela outra vez, eu acabo com esse seu
rostinho de príncipe oriental dos infernos.

— Mulher? Fernanda, esse cara está te


assediando dentro de casa? Por isso estava
chorando?
Eduardo virou de costas, passou a mão no
rosto, sorriu e virou violentamente, acertando o
rosto do jovem com um soco.

— Você é louco? Por que fez isso? — Maria


Fernanda estapeou o homem que ainda estava
furioso. — Por que fez isso, seu psicopata violento?
Thiago... — Ela se ajoelhou no chão para ajudar o
jovem levantar.

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Thiago conferiu seu sangue sendo expelido do


nariz.
— O que esse homem fez com você,
Fernanda? Vamos falar com a diretora da escola e
minha mãe. Depois vamos à polícia.

Eduardo sorriu, possesso de raiva, e segurou o


braço de Maria Fernanda.
— Casados! Somos recém-casados! Ela é
minha mulher, diante da porra da lei. Se encostar as
mãos nela outra vez, não vai levar só um soco, seu
desgraçado.

— Filho! — A mãe de Thiago gritou de longe.


Eduardo arrastou Maria Fernanda para o carro.
Uma roda de alunos estava assistindo a
confusão. Maria Fernanda não soube se o medo foi
maior que a vergonha.

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Eduardo saiu em alta velocidade e furou o


primeiro sinal, quase causando um acidente entre
dois carros.
— Você foi a pior coisa que aconteceu na
minha vida. Eu te odeio... — Maria Fernanda
murmurou, entre o choro e o medo.

Ela segurava firme no estofado do carro, pois a


velocidade estava muito alta.
— Você pensa que eu te amo! — Ele riu
enfurecido e fez uma ultrapassagem perigosa. —
Amo a minha empresa! Você é apenas um negócio
que eu fiz para ter rentabilidade rápida! Minha
empresa é tudo o que me importa nesse maldito
casamento!

— Sim! Eu fui negociada! Mas sou uma


pessoa movida a sentimentos! — Ela gritou, mas
em seguida tampou os ouvidos, pois o choro estava

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sendo agonizante. — Eu quero esquecer que você


existe...
— Mas vai lembrar de mim até quando esse
contrato acabar. — Ele sorriu mais uma vez. — Foi
meu nome que você gemeu quando estava virando
os olhos pela primeira vez. Toda vez que um filho
da puta chupar você, é de mim que...

— Pare! Pare com isso! Por que me desrespeita


dessa maneira? Isso me fere profundamente. Será
que não vê? — Ela mais uma vez se engasgou com
o choro.
— Eu não vou ter do que lembrar. Não, talvez
eu me lembre da única mulher que se comportou
igual uma porta, uma caipira que teve medo do
tamanho do meu pau.

— Para de me machucar com palavras! Para


que me humilhar desse jeito? — Ela cobriu o rosto

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com as duas mãos.


O carro derrapou na pista e por pouco Eduardo
não perdeu o controle.

— Para esse carro! Para! — Ela segurou outra


vez no assento.

Eduardo calou-se e a feição tornou-se séria. O


olhar fixou em qualquer lugar, menos na estrada.

— Para! — Ela começou a soluçar. Ele iria


bater o carro a qualquer momento. — Para esse
carro, por favor...
Eduardo freou em uma encosta e saiu do carro.
Ele foi até a porta do passageiro e retirou a mulher
do veículo.
— Vai me deixar aqui? — Ela correu até a
porta do motorista e esmurrou, mas ele já tinha
fechado e em seguida deu partida.

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Ela olhou para os lados da pista e viu que


aquele trecho era deserto. Sua cabeça já tinha
começado a doer, aliás, as dores de cabeça e
fraquezas repentinas estavam sendo constantes nos
últimos dois meses.

Maria Fernanda estava sem nada, pois até sua


mochila tinha ficado no carro. Não tinha dinheiro,
endereço ou sequer sabia o caminho de volta. Mas
seguiu pela beira da pista. Desesperada, com um
choro magoado e sentindo-se um nada.

Eduardo chegou à sua casa e correu para o


quarto. Abriu a primeira garrafa que encontrou
sobre o bar.
Bebeu uma dose no gargalo e andou de um
lado a outro.

— Essa pirralha não vai me fazer de otário! —


Bebeu outro gole e lembrou-se do momento que

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Thiago beijou Maria Fernanda. — Desgraçada! —


Jogou a garrafa de vodca da parede.
Seguiu para pegar outra garrafa e viu uma das
escovas de cabelo da mulher, que estava sobre o
tapete, certamente teria caído quando ela buscou os
pertences no quarto.

Ele se abaixou, pegou o objeto e sentou na


cama. Recusou-se a sustentar o sentimento de
arrependimento que surgiu.
— Você não vai invadir meu maldito coração.
— Jogou a escova na mesma direção que atirou a
garrafa.

Desceu para cozinha.


— O que foi, Eduardo? — Perguntou
Antonieta, vendo-o andar de um lado a outro.
Ele não respondeu.

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— Antonieta, eu fui buscar a patroa, mas dei


viagem perdida... — Jorge entrou na cozinha e
calou-se quando viu o patrão. — Eu só parei na
barraquinha de churros para comprar um lanche
para ela, eu juro patrão.

— Onde está, Maria Fernanda? — Antonieta


olhou para Eduardo, em seguida para Jorge. —
Onde está, Maria Fernanda? — gritou.

— Lá na porta do colégio me falaram que ela


saiu com o marido.
— Onde está a menina, Eduardo? — Antonieta
se desesperou.

Ele apertou os próprios cabelos em desespero.


— O que você fez com ela? Fala o que você
fez! — Antonieta o sacudiu.
— Não se meta nos meus assuntos! Não se
esqueça... não se esqueça que você... Eu a deixei na
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estrada, Antonieta.

— O que? — Suelen entrou na cozinha e ouviu


a última frase. — Você teve coragem, seu
psicopata? — Suelen avançou, mas Antonieta
segurou a jovem. — Ela não conhece nada nesta
cidade!

— Cala a boca, Suelen! — Ele apertou os


dedos nos olhos.
Ele jamais admitiria o erro.

— Tomara que ela fuja e não volte nunca mais.


Ela não é burra, vai pedir informações e carona.
Vou torcer para que isso aconteça!
Antonieta firmou os braços em volta da jovem.
— Vá buscá-la, Eduardo. — Antonieta pediu.
— Vá buscar sua mulher, meu filho. — Antonieta
era a única que ainda tinha uma faísca de esperança
nele.
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Eduardo era vazio. Desde criança foi


pressionado pelo pai a ser o melhor em tudo. Foi
educado para ser racional, sua vida profissional
deveria ser prioridade. Muitas vezes ele desejou um
abraço no final de uma conquista, mas quando
estava na infância, recebia uma zoada no cabelo; na
adolescência, aquilo foi substituído por três
tapinhas nas costas, agora, bastava um aperto de
mão. “Como alguém ofertaria o que nunca teve?”
Quando era menino, Antonieta era a única que
lhe estendia os braços, pois sua mãe preferia as
futilidades da vida a perceber o filho. Com o tempo
ele foi se afastando da empregada, pois já estava
com o orgulho convertido. Seu coração vazio
cicatrizou-se por fora. Ele criou uma blindagem
contra sentimentos. Jamais perderia o controle de
suas ações. Valia-se da razão e abominava a
emoção.

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— Vá atrás dela, Eduardo. Vá meu filho.

— Não estou me importando com ela,


Antonieta. — Ele saiu da cozinha andando
tranquilamente, mas quando chegou à sala, correu
de volta na direção do jardim, onde tinha deixado o
carro.

Ele dirigiu na mesma velocidade de antes.


Aquilo já era normal, mas quando estava furioso
parecia perder todas as noções de responsabilidade.
Quando chegou próximo ao trecho onde havia
deixado sua mulher, avistou uma caminhonete com
as portas abertas.

Ele desceu do outro lado da pista apenas para


conferir, mas quando ouviu os gritos de Maria
Fernanda, avançou.
O homem forçava a entrada da jovem dentro
do carro e Eduardo o puxou violentamente. Ele

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jogou o ruivo no chão e socou por diversas vezes.


Só o abandonou depois que viu o homem
desfalecer.
Quando levantou, Maria Fernanda estava
abaixada na encosta da pista e vomitava no
gramado.

A blusa do colégio dela estava com rasgos.


— Vamos para casa. — Ele abriu os botões da
camisa e colocou nos ombros dela.

Maria Fernanda tossia muito.


— Eu... eu não... Não vou. — Ela sentou no
chão e cobriu a testa com a mão.
— Vamos pra casa. Vou te dar um banho e
cuidar de você.

— Não toque em mim. — Ela olhou para o


homem próximo à caminhonete e voltou a vomitar.

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O rosto do sujeito estava transfigurado e a


camisa branca que ele usava, ensopada de sangue.
As mãos de Eduardo estavam ensanguentadas e o
denunciavam.
— Venha. Fique calma, já passou.

Eduardo forçou os braços em volta do corpo


dela e a levantou.
Maria Fernanda não teve forças para tentar sair
dali. Estava atordoada. Ela não o via como herói e
sim, culpado.

Ele a colocou deitada no banco traseiro e


dirigiu devagar. Maria Fernanda continuou
chorando. Sentiu-se sem valor diante dos últimos
acontecimentos.
Eduardo a olhava pelo retrovisor. Ele deveria
ter abraçado a mulher e pedido perdão. Seria
pouco, diante de sua atitude hostil, mas

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demonstraria sua capacidade de arrependimento.

Seu orgulho jamais permitiria tal fraqueza.

Quando ele chegou ao jardim da casa e abriu a


porta traseira, Maria Fernanda correu na direção do
quartinho, onde se trancou, pois se envergonhou
dos empregados.
— Abre a porta, Maria Fernanda! — Ele
gritou. — Vamos conversar. — Ele esmurrou a
porta com ignorância.

— Por que não continua até quebrar sua


maldita mão, seu desgraçado! — Suelen se
aproximou.
— É o que?
— Não tenho medo de você, babaca! Sai da
minha frente. — A morena passou por ele com
dificuldade e forçou a fechadura do quarto da
patroa.
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— Se o Sergio quiser, que te leve para limpar a


casa dele. Está na rua!
— Outra vez isso? – A morena encarou o
patrão.

— Você está na rua! Pegue suas coisas e saia


daqui. Antes que eu perca minha cabeça com você!
Diante daquilo, Maria Fernanda abriu a porta.
Estava ofegante e estonteada.

— Eu converso. Mas não demita a Su.


Eduardo olhou para os olhos azuis
amedrontados. Segurou a mão dela e entrou no
quartinho. Trancou a porta e Maria Fernanda se
encolheu próximo à cabeceira da cama.
— O que aquele desgraçado fez com você?

Com lágrimas nos olhos, ela observou os


movimentos dele dentro do quarto.

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— Me responde! Ele abriu sua calça? Tocou


em você? Só não acabei com ele porque você
estava passando mal.
— Você me abandonou em uma rua deserta,
sabia que eu correria riscos por não conhecer nada
aqui.

— Ele fez alguma coisa além de ter rasgado


sua blusa?
— Eu estaria morta se ele tivesse me levado.
Por que fez isso? Que mal eu te fiz? Eu quero
voltar para a fazenda. O Giovane foi um falso
amigo, mas tenho o padrinho e os empregados.

— Tire isso da sua cabeça. Daqui você não sai!


— Vou pedir ajuda ao Thiago e fugir na
primeira oportunidade. Eu não aguento mais viver
aqui.
— Vou acabar com ele também. Vou acabar
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com todos que se meterem com você.

— Monstro, violento! — Maria Fernanda se


engasgou em um choro. Ela estava muito abalada.
— Você não vai ameaçar a vida do Thiago! Não
vai tocar nele!

— Não queira me fazer de idiota, menina!


Eduardo foi até a penteadeira derrubou todos
os vidros de perfume de Maria Fernanda.

Ele sentiu raiva por ter se envolvido com a


beleza e sedução da mulher. E, principalmente, por
estar lutando consigo mesmo em favor dela. Anos
lutando para não se apegar a ninguém exatamente
por aquilo. Nutrir sentimentos que o tornassem
dependente e fraco. Tinha muitos problemas para
resolver na empresa e, no entanto, estava ali
lidando com a pirralha e sentindo-se a pior espécie
de homem por tê-la ferido.

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— Eduardo o que está fazendo? Abre essa


porta! — Antonieta forçou a fechadura.
— Vá cuidar da sua vida, Antonieta!

— Seu desgraçado! Vou acabar com você se


tocar nela. — Suelen espancou a porta.

Maria Fernanda não controlou o choro. Sentiu


pavor daquele Eduardo à sua frente.

Ele a viu chorando e apertou os dedos nos


próprios cabelos. Aquele choro tinha o poder de
desarmá-lo.
— Pare de chorar! Vão pensar que estou te
espancando. — Ele a segurou nos ombros. — Tudo
bem, sou um puto que não merece uma mulher
como você. Não chore. Pare de chorar, Maria
Fernanda!
— Quebrou minhas coisas. Foram presentes.
Minha madrinha me deu todos eles. Quebrou meu
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coração e me humilhou.

— Vou mandar comprar todos novos. Quanto


ao seu coração, eu não mandei você se iludir. Eu
não tenho nada aqui dentro. Sou vazio, não deveria
ter esperado o melhor de mim. Pare de chorar,
mulher. — Ele apertou a cabeça dela em seu peito.
— Por que foi se envolver com aquele moleque,
Maria Fernanda? Tem um homem em casa que te
deseja e pode te oferecer prazer.

— Sai de perto de mim! Sai de perto de mim!


— Ela o empurrou.
Eduardo caiu sentado no chão. Olhou para ela
e foi em direção a porta.

Ele passou direto por Antonieta e Suelen.


— Ele te bateu? — Suelen abraçou a amiga.
Ela apenas balançou o rosto em negação.
— Minha filha, não sabe como me dói vê-la,
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tão novinha, passando por isso. Eduardo não vai


mudar. — Antonieta também abraçou a patroa.
— Não vou aguentar isso. Eu preciso sair
daqui ou não vou aguentar.

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15

Eduardo chegou em casa por volta das oito


horas da noite e foi direto para o seu quarto.
Precisava trabalhar na planta da nova empresa e
finalizar um projeto da J. A. Depois de quase duas
horas estudando, levantou de sua escrivaninha e foi
até a varanda.

Maria Fernanda estava deitada na borda da


piscina. Aquela noite estava ventando bastante,
algo que a fez lembrar das noites na fazenda. Seus
olhos ainda estavam inchados, pois, de tempos em
tempos, ela tinha crises de choro. Preferia pensar na
fazenda do que nos acontecimentos do dia anterior.
Eduardo, da varanda do seu quarto, a espiava

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olhando para o céu. De longe não dava para


perceber, mas ele sabia que ela estava triste e
amargurada pelo ocorrido no dia anterior. Ele se
lembrou dos presentes que tinha comprado e
estavam guardados. Depois de olhá-la secar os
olhos, ele seguiu até o guarda roupa. Pegou a sacola
do urso e abriu a caixa com a lingerie. Ele passou a
mão na peça rendada e desejou vê-la vestida.
Apertou o polegar e o indicador nos olhos e
respirou pesado, pois sentiu seu corpo reagir. Era
nítido que ele a desejava e as outras não estavam
conseguindo tirar a sede de tê-la por completo.

Movido por seus anseios, ele desceu as escadas


rapidamente, vestindo apenas em uma calça de
moletom azul. Não se incomodou ao passar pelas
dondocas, amigas de sua mãe, na sala. Não falou
com ninguém, simplesmente abriu a porta e seguiu
para a piscina.

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Quando chegou ao gramado, diminuiu os


passos e caminhou devagar. Observou-a chorosa,
com o rosto virado para a água.
Ficou inquieto. O peso da palavra que nunca
havia usado estava machucando seu peito, mas seu
orgulho jamais o deixaria reconhecer seus erros,
tampouco, usar a palavra perdão.

Ele chegou até ela e se abaixou ao seu lado.


Aquilo fez Maria Fernanda sentar-se rapidamente.
Assustada, ela pegou impulso para se levantar.
— Espera. — Eduardo a puxou de volta,
fazendo com que caísse sentada em seu colo. —
Para de chorar... — Colocou os cabelos para trás,
descobrindo o pescoço. — Não chora.

— Me solte! Não quero contato com você! —


Ela tentou se livrar, mas Eduardo a abraçou
fortemente e inalou o cheiro dos seus cabelos com

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os olhos fechados. — Você está me machucando,


agora fisicamente. — Ela voltou a sentir as
lágrimas descerem.
— Shhhhhh, não chora, mulher. É que você é
pequena dentro dos meus braços e te aperto para
sentir seu corpo. — Esfregou o nariz nos cabelos
dela. — Seus cabelos são tão lindos. Quero que
prenda-os quando sair por aí. Não quero você
chamando a atenção de nenhum homem, além de
mim. — Alisou o longo cabelo da jovem. — São
lindos.

— Não vou prender meus cabelos! Me solte!

— Não quero nenhum desgraçado admirando


minha menina, por isso, prenda-os. — Continuou
inalando o cheiro do cabelo da jovem como se
fosse um perfume muito raro. — Poderia se divertir
tanto se deixasse de ser tão ingênua.

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— Eu não quero o senhor, por favor, me solta!

— Eduardo. Já disse que para você, sou


Eduardo. E nunca vou te soltar. — Ele liberou uma
mão e afastou o cabelo da jovem para beijar o
ombro desnudo, uma, duas, três vezes... Fazendo-a
paralisar e parar a luta para sair dali. — Você é
minha e ainda não se deu conta disso, pequena.
Será que não vê?

— ANTONIETA! SUELEN! — Maria


Fernanda gritou.
— Para com isso, Maria Fernanda! Fecha os
olhos e sente. — Beijou sensualmente o pescoço
dela. — Volta para nosso quarto e pare de chorar.

— Antonieta!
Ela gritou, pois precisava ser interrompida. Seu
corpo formigou com o abraço firme, acompanhado
dos beijos molhados que recebia no pescoço. Ela

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sentia-se atraída por aqueles braços enormes que


circulavam sua frágil cintura, mas estava
machucada e suas feridas doíam na alma. Foi criada
com normas antiquadas. Tinha valores e queria ser
tratada com respeito. Jamais se entregaria de corpo
e alma a um homem que a desprezava e a tratava
como um negócio de valia financeira.
— Por que faz isso se me despreza e joga na
minha cara que não tenho artifícios femininos?
Meu valor está no papel que te garante milhões. Se
pensa assim, por que testa os meus limites? Faz
isso para depois me desprezar? Acha pouco o que
tem feito comigo? Quer tirar o resto de minha
dignidade com mais humilhações?

— Está na hora de parar de ler esses romances


de época, mulher. Seu linguajar está ultrapassado.
Estou trabalhando no último projeto, ele vai fechar
meu estágio com chave de ouro. Serei o engenheiro

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mais respeitado deste país. É um projeto muito


trabalhoso. Mas eu posso largá-lo esta noite, se
você me deixar sentir seu gosto outra vez. —
Lambeu o pescoço dela. Maria Fernanda tentou
afastá-lo, mas foi impedida. — Só isso basta.
Depois eu me resolvo sozinho. Se você quiser, eu
faço na sua frente. Você quer?
Maria Fernanda concordou com um gesto de
cabeça. Eduardo sorriu, beijou a bochecha dela e a
soltou. Maria Fernanda levantou e Eduardo fez o
mesmo.

— Tenho presentes para você. — Ele pegou a


mão dela. — Mas vou dar depois que você estiver
molinha. — Beijou a mão dela e recebeu a joelhada
no meio das pernas.
— Sua... — Ele se curvou sobre o gramado
apenas para se defender, pois a joelhada não foi tão
precisa. Maria Fernanda se esforçou, mas não
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conseguiu atingir a velocidade desejada.

— Nunca mais toque em mim novamente! A


dor e humilhação que me fez sentir, não podem ser
curadas em vinte e quatro horas. Não pense que
vou ficar presa nessa casa. Agora, mais do que
nunca, eu vou dar um jeito de sair daqui.

— Se tentar fugir novamente, eu te deixo


acorrentada dentro do quarto. Vamos subir. —
Tentou pegá-la, mas Maria Fernanda se
desvencilhou e o empurrou para dentro da piscina.
— Pirralha, desgraçada. — Maria Fernanda
correu em direção à porta dos fundos. — Agora vai
ser do meu jeito!

Ele saiu da piscina e seguiu todo molhado, em


passos largos.
— Maria Fernanda! — Entrou na cozinha
gritando.

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— Pelo amor de Deus, Eduardo! Já vai


atormentar essa menina outra vez?
— Não se meta nos meus assuntos, Antonieta!
Já estou perdendo a paciência com todas vocês! —
Olhou para Jorge que estava na mesa, degustando
uma fatia generosa de bolo. O empregado se
encolheu e abaixou o rosto. — Se eu demitir um,
mudo o quadro completo.

Seguiu pelo corredor do quarto dos


empregados e viu Maria Fernanda abraçada a
Suelen, dentro do quarto da empregada.
— Vamos!

— Saia daqui! — Suelen levantou e o


enfrentou.
Ele empurrou a morena e puxou Maria
Fernanda de sobre a cama.
— Vou te mostrar o modo correto de amansar
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sua selvageria e desobediência! — Falou enquanto


a puxava grosseiramente em direção à sala.
— Meu braço está doendo. Por favor, não me
machuque ainda mais! — Ela implorou tentando se
soltar.

Ele entrou na sala, ainda a puxando, e não se


importou com os olhos arregalados das dondocas.
No quarto, jogou Maria Fernanda na cama e
trancou a porta. Ela tentou andar de costas na cama,
mas ele segurou em seus pés, puxou-a e deitou
sobre seu corpo.

— Quando olho pra você, começa uma briga


aqui dentro, pois nunca fui um babaca romântico na
cama, mas não sei como, você consegue despertar
isso em mim. Sempre pretendo ser carinhoso e
começar pelo básico, quando eu deveria jogá-la de
quatro e segurar firme em seus cabelos enquanto te

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domino.
Alisou os cabelos da mulher, disposto a afastar
tais desejos. Maria Fernanda aproveitou a
displicência e o estapeou. Gritou e tentou sair
debaixo dele.

— Mas você tem o prazer de despertar meu


lado sádico! É assim que você gosta, não é? —
Segurou firme no queixo dela.

Maria Fernanda segurou o choro e esperou


pelo que viria com o nó preso na garganta. Sua
cabeça latejou e soluços escaparam quando ela
sentiu Eduardo mergulhar a mão dentro da saia do
seu vestido para trocá-la.

— Não, por favor, não faça isso.

Eduardo beijou-a, sugando os lábios trêmulos,

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mordendo o queixo e salientando a pele branca do


pescoço com um chupão. Ele fez de propósito para
marcá-la. Sentia-se rígido e pronto para possuí-la,
mas seguia manipulando o frágil e sensível nervo
por sobre a calcinha, a estimulava em busca de
reação; a queria lânguida, assim não seria doloroso.
Já estava a ponto de explodir ali fora, roçando-se na
coxa dela. Não podia esperar mais, aqueles
movimentos nunca tinham sido tão lascivos; a
repetição estava o enlouquecendo.

— Pare de chorar e sinta. — Ele abandonou a


boca dela e Maria Fernanda olhou para o teto
chorando em desespero. Eduardo liberou o membro
duro e úmido de dentro do moletom e moveu-o na
coxa dela. Foi naquele momento que Maria
Fernanda buscou forças onde não tinha e apertou o
início da extensão dele com força entre os dedos.

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— Ahhh! — Eduardo sentou na cama e teve


dificuldade em fazê-la abandoná-lo. — Selvagem
do caralho! — Ele conferiu se tinha deixado
sequelas, foi um forte e doloroso aperto, mas por
algum motivo não atrapalhou a ereção.

— Não... coloque isso em minhas pernas, eu


não quero. — A voz dela ainda estava trêmula, pois
agora era o medo da consequência que a atingia.

— Eu estava quase liberando uma maldita


ejaculação precoce pra te dar prazer, e você quer
arrancar meu pau? — Ele gritou, segurando o
membro com uma das mãos. Maria Fernanda se
encolheu próximo à cabeceira da cama e limpou a
mão no lençol, ainda estava muito trêmula.
— Isso é muito errado...

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— O que é errado? — Ele a interrompeu com


um grito e foi para cima dela.

— Vo-você, me tra-tratando como uma


rameira. — Olhou para o lado, pois ele estava com
o rosto colado ao dela.

— Onça do mato… — Ele falou entredentes e


passou o polegar nos lábios carnudos. Respirou
fundo, maldizendo seus próprios anseios carnais. O
que aquela maldita, pirralha, virgem tinha para
fazê-lo desejá-la daquela maneira brutal e ao
mesmo tempo, doce? Ele grunhiu, segurou o
musculo duro com a outra mão e adentrou o dedo
na boca dela. Passou os três segundos desejando
que ela o sugasse, mas seu bel-prazer não durou
mais que isso, pois logo sentiu os dentes cravados
em seu polegar.

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— Merda! — Ele desceu da cama, guardou o


membro dentro da calça, pegou a chave na porta do
quarto e seguiu para o banheiro, precisava resolver
o problema de sua excitação, mas longe daqueles
dentes afiados.

Maria Fernanda se ajeitou e escorregou para o


chão, onde cruzou as mãos em volta dos joelhos.
Chorou aliviada e constrangida.

***
Quase meia hora depois, Eduardo retornou ao
quarto. Estava de banho tomado e cobria-se com
um roupão preto. Maria Fernanda estava de costas,
do outro lado, e aos pés da cama. Ela levantou o
rosto e retesou o corpo de imediato. Apertou o
pulso, pois sentiu dor quando segurou no chão para
se afastar dos olhos dele.

Eduardo se trocou e retornou ao banheiro.

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Voltou com um spray analgésico e uma toalha.


— Vem, vou limpar suas pernas e cuidar do
seu braço.

Ela levantou e correu para o banheiro. Eduardo


estava com as chaves das duas portas no bolso,
então apenas se jogou na cama.
Já era madrugada e a luz do quarto estava
apagada, por isso ela resolveu voltar. No escuro, ela
buscou uma camisa dele no guarda roupa. Retirou o
vestido molhado e depois de fechar todos os botões,
ela se abaixou no tapete e deitou a cabeça nas
mãos.

Eduardo tinha cochilado antes, mas naquele


momento estava acordado. Ele tinha observando-a
desde que a porta do banheiro foi aberta.
Ainda com a luz apagada, ele seguiu até ela,
pegou-a nos braços e a levou para a cama.

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— Me dê o seu braço.

Aquilo não foi um pedido, pois já estava com o


braço dela em sua posse. Ele destampou o frasco e
aplicou duas vezes.

— Vou tentar ao máximo não ser grosseiro


com você. — Massageou o punho dela. — Deite-se
e tente dormir. — Puxou o edredom e a cobriu. —
A noite está fria — sussurrou e inclinou até ela para
beijar de leve o canto da boca. — Durma bem,
linda menina. Você parece um anjo. Um anjo
selvagem que atormenta um demônio insano como
eu. — Falou após o último beijo no cabelo dela e,
abraçado ao corpo de sua mulher, esperou o sono
voltar.
Maria Fernanda tinha dormido no banheiro e
ainda estava sonolenta, então, não demorou muito
para sentir os olhos pesados de sono.

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16

Eduardo dava o nó na gravata, mas os olhos


estavam em Maria Fernanda, enrolada sobre a
cama. Ainda era muito cedo, ele iria madrugar na
empresa para fazer o trabalho da noite anterior.
Depois de vestido socialmente, ele pegou a mochila
com o notebook e saiu do quarto.

Quando chegou à cozinha, Antonieta já estava


acordada, preparando os alimentos do dia.

— Bom dia, Antonieta.

— Você a maltratou, Eduardo?


— Antonieta, não se meta no meu casamento,
isso já está se tornando maçante e enchendo minha
paciência. Não quero te ofender, então, deixe que
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da minha mulher e do meu casamento, cuido eu.

— Ela dormiu no seu quarto por vontade


própria ou foi obrigada?

Eduardo suspirou, sem paciência.

— Prepare tudo o que Maria Fernanda gosta e


leve até ela. Depois, ajude-a a se arrumar e mande
o Jorge levá-la para a escola. Ela já faltou a escola
ontem, não quero que isso se repita. Ela precisa
terminar logo os estudos. Não me agrada a ideia de
ter aqueles pivetes ao redor dela.

— Vou levar o café dela, não se preocupe.

— Não estou preocupado. — Seguiu em


direção à porta da casa. — Fale com o Jorge que
vou buscá-la na saída.
***

Antonieta colocou a bandeja aos pés da cama e

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alisou os cabelos de Maria Fernanda. Ela já tinha


observado se havia sangue no lençol. Como não
encontrou nenhum sinal de violência, entendeu que
estava com asneiras na cabeça e respirou, aliviada.
Maria Fernanda estava vestida com uma das blusas
do marido, que havia mandado levar o seu café na
cama. O casal poderia estar se entendendo. Ela
ainda tinha esperança na redenção de Eduardo.
Maria Fernanda se assustou e, depois que viu a
cozinheira, se encolheu, sentada na cama.

— Desculpa, Antonieta.
— Por que está falando isso, filha?

— Sinto-me envergonhada e desgastada. —


Ela se referia ao seu apito mudo. Pois reagir
apenas, estava cansando-a, visto que todo dia era a
mesma coisa.
— Eu imagino que esteja desgastada. Eduardo

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mandou eu trazer seu café da manhã. — Antonieta


viu a mancha roxa no lado esquerdo do pescoço
dela e tentou disfarçar, estendendo a mão para
pegar a bandeja. Não se sinta envergonhada, são
casados. A intimidade é normal na relação. Precisa
comer. Agora o Eduardo não te dá mais sossego.
Mas coloque leis, e segure-o em uma rédea curta.
Já descobriu seu poder sobre ele, agora tome o
controle de tudo. Precisa ir à escola. Tome seu café
e corra para o banho.
— Antonieta, você me empresta dez mil reais
e, depois que eu fizer dezoito e pegar meu dinheiro,
eu mando pra... eu te devolvo em mãos?

— Dez mil? Tenho essa quantia, mas para que


está precisando?
Maria Fernanda não era acostumada a mentir,
mas sabia não poderia falar sobre os seus planos de
fuga com ninguém. Não envolveria Suelen,
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Antonieta ou Jorge, pois, quando ela estivesse


longe, eles pagariam. Queria completar dezoito e
no mesmo dia comprar uma passagem para fora do
país. Iria pedir proteção aos amigos da madrinha,
que sempre a paparicaram.

— Para que você quer o dinheiro?

— Quero comprar um presente para o


Eduardo. Um presente caro.
— Não precisa de tudo isso. Quer um
conselho? Não dê nada. Faça ele te agradar.
Eduardo precisa de uma lição na vida e não de ser
paparicado. Esqueça presente e foque na rédea
curta. Vá tomar banho e desça porque o Jorge está
te esperando. Mas antes, tome seu café reforçado.

***
Eduardo e Sergio estavam em uma cafeteria
próxima à empresa. Saíram do escritório depois das

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nove da manhã e, naquele momento, faziam a


primeira refeição do dia.
— Você pode desabafar comigo, Edu. Somos
amigos e nunca houve segredos entre nós.

— Uma coisa é desabafar sobre as vadias que


pego na rua, outra coisa é falar sobre vida com a
minha mulher.
— Ah, eu sei. Intimidade. Essa coisa que vocês
não têm. — Sergio caiu na risada. — Cara, você
está apaixonado? Está louco por ela e ela te rejeita,
é isso, Edu?

Eduardo jogou o garfo de qualquer jeito no


prato.
— Eu poderia apertar seu pescoço até você
retirar o que disse, só que estou cansado demais
para fazer isso hoje. Mas preciso me aproximar de
verdade da Maria Fernanda. Ela não confia em mim

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e isso torna as coisas mais difíceis. Ontem, eu me


esforcei para fazê-la reagir, mas a menina treme de
medo e não relaxa.
— Ela é nova e foi criada por aquela tia, que
parece que a educou como uma princesa em uma
bolha. Ela poderia reagir de dois jeitos: se entregar
de corpo e alma por ser bobinha demais ou fugir do
seu modo sedutor nada lord.

— Ontem, eu quase cometo uma loucura.


Nunca uma mulher me rejeitou. Elas gostam do
meu estilo. Sempre fui bom de cama. No entanto,
aquela pirralha treme, mesmo eu tentando ser
carinhoso.
— Repete o carinhoso, que eu não ouvi direito.

— Eu só insisto nessa pirralha por conta da


empresa e o que posso perder, se ela resolver me
deixar.

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— Se continuar sendo inconsequente, vai


perdê-la mais rápido do que pensa.
— Você é um idiota, Sergio. Não sei por que
eu ainda converso com você sobre essas coisas.

— Serão dez anos, cara. Vai viver desse jeito,


como medo dela fugir e te deixar sem nada? Dá um
jeito nisso, Edu. É uma menina. Só precisa
conquistá-la do jeito certo. E ter cuidado para não
se envolver na conquista. A não ser... que você
queira. — Sergio degustou um bolinho, olhando
para o amigo, que estava aéreo.
— Sem risco. Meu interesse na ferinha é
apenas profissional. Você acha que, se eu levar
alguns bolinhos de bacalhau para ela, é um bom
começo?

— Com a Suelen funcionaria. A morena anja


ama comer. Não sei como consegue manter o

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corpo. Deve ser coisa de metabolismo, não entendo


isso direito. Mas eu não sou você, então acho
desespero da sua parte chegar lá, com uma
sacolinha de bolinho de bacalhau. Cara você é
engraçado, tentando ser cavalheiro.

— Vai para casa do caralho. — Eduardo


levantou e deixou o amigo sozinho na mesa.

***
Maria Fernanda pediu desculpas a Thiago e
depois correu dele durante toda a manhã. Observou
quando ele viu a mancha roxa em seu pescoço.
Estava fugindo das perguntas, não queria responder
e afirmar seu destino.

Quando Eduardo estacionou do outro lado da


rua, ela estava parada na calçada. O olhar estava
vidrado em uma pedra qualquer, mas o pensamento
longe. Pensava em coisas de quando ainda era

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criança e colocava Giovane em algumas enrascadas


por conta de sua curiosidade. Aquele era um tempo
que não voltaria. Aos poucos, ela estava perdendo o
brilho, a vontade de se cuidar e de viver.
Ela escutou a buzina do carro e caminhou.
Abriu a porta traseira e sentou no canto. Seus
pensamentos continuavam longe.

Thiago observou tudo e sabia que aquele


casamento não poderia ser real, pois via sofrimento
na expressão facial dela.
Enquanto dirigia, Eduardo observou os cabelos
uniformes e alvoroçados. Os olhos azuis estavam
sem brilho e focavam o nada.

Ele mudou a rota de casa e foi em direção a


uma praia deserta.
— Está com muita fome?
Ela não respondeu.
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— Vou te levar até a praia. Você vai gostar. Já


almoçou em um restaurante à beira da praia? —
falou, empolgado, mas perdeu o riso quando ela
não respondeu.
Minutos depois, o veículo parou em uma área
restrita de um condomínio de luxo. Eduardo retirou
os sapatos e saiu do carro, deu a volta e abriu a
porta traseira.

— Vai largar meu corpo aqui? — enfim, Maria


Fernanda falou algo e depois saiu do carro.
— Que conversa é essa, mulher? Vamos
almoçar fora, só isso.

— Eu não queria estar aqui. Mas não há nada


que eu faça para ser ouvida. Então pode fazer o que
quiser.
— Tudo bem, se você não quer, vamos pra
casa. — Ele olhou outra vez para os cabelos

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revoltos e não se agradou daquilo. — Entra no


carro. Vamos almoçar em casa. De agora em
diante, vou te ouvir. Se não quiser algo, não faço.
— Não vai me iludir com esse tipo de
ladainha. — Ela voltou para o carro.

— Estou sendo sincero, mulher. Pensei sobre o


que aconteceu ontem...
— Cale-se! Não me maltrate ao lembrar toda
aquela humilhação. Se pretender cumprir suas
falsas palavras, não se aproxime mais de mim. Não
quero que você me pegue na escola, não quero que
fale comigo e, principalmente, não quero que toque
o meu corpo.

Eduardo ligou o carro e dirigiu calado. Ou ele


estava perdendo o jeito com as mulheres ou Maria
Fernanda tinha o coração mais frio do que o seu.
Este foi seu pensamento, quando decidiu dar um

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tempo e tentar conquistá-la da maneira correta.


Restava saber, se ele conseguiria segurar o desejo
insano e a brutalidade.
***

Uma semana tinha se passado e aquele era o


final de semana em Antonieta folgava. Ela não
entendeu o motivo de Maria Fernanda ter voltado
para o quartinho, mas, de qualquer maneira, ficou
aliviada. Se Eduardo tinha se afastado, então era
sinal de que tinham feito tudo de comum acordo e
sem brigas. Depois de mil recomendações a Suelen
para não deixar Maria Fernanda sozinha, ela entrou
no táxi e seguiu para a casa da família.
— Teve uma vez que o “senhor sangue ruim”
brigou com o Jorge e aquele bobalhão pegou
quinze dias de atestado. Ele morre de medo de
qualquer espirro. É um covarde.

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Suelen estava acabando com a vida de Jorge na


cozinha, enquanto lavava a louça com a amiga.
Maria Fernanda estava dando uma gargalhada
gostosa e Suelen percebeu que a tinha feito rir pela
primeira vez na casa.

— Isso que é ser medroso. — Maria Fernanda


se abanou com uma tampa, pois a crise de riso
aqueceu seu corpo. — Ele até aceitou o emprego na
fazenda e ia levar os gatos da mãe dele.

— Você fica melhor sorrindo, não gosto de te


ver chorando pelos cantos. Você não merece sofrer,
amiga.

— Eu sempre fui feliz, Su, mas agora minha


vida aqui é muito triste. Casada com um homem
totalmente infiel, que não me respeita e me trata
como um acordo financeiro.

— Esses dias, eu cheguei a pensar que aquele

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fi da peste estava gostando de você.


Maria Fernanda quase deixou um dos copos de
cristal que lavava cair no chão.

— É só uma observação minha. Ele anda


perguntando sobre você e fica te espiando com cara
de homem besta. O pior é que, se ele estiver mesmo
sentindo alguma coisa, vai negar desse jeito: te
maltratando. Ele parece não ter qualquer
sentimento bom em relação às pessoas, só com a tal
empresa. Vai ficar velho, sem ninguém para cuidar
dele — Suelen divagou uma previsão.
— Você está falando besteira. Quem gosta de
alguém, não maltrata como ele faz comigo. Melhor
parar com essa conversa.

— Esse seria o certo, mas, às vezes, existem


pessoas orgulhosas demais para admitir o que
sentem, aí metem os pés pelas mãos e acabam

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fazendo tudo errado — Suelen falou, pensativa,


lembrando-se do que tinha acontecido na vida dela
meses atrás.
Mais tarde, Maria Fernanda estava
cantarolando uma música de ninar que sua
madrinha cantava quando ela era criança. O
chuveiro estava ligado e ela esfregava as longas
madeixas.

Eduardo estava louco de vontade de tocá-la.


Mas tinha prometido para si mesmo que não se
submeteria à atração que sentia por ela,
conquistaria Maria Fernanda apenas para mantê-la
na casa. Mas aquela voz macia e doce no corredor o
contagiou.
Ela tinha o poder de mexer com seus sentidos
com uma simples música infantil.

Ele rodou a maçaneta da porta do banheiro dos

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funcionários e estancou ao ver o corpo totalmente


nu através do box embaçado.
Observou-a enxaguando os cabelos. Seu corpo
todo ascendeu quase que instantaneamente e logo
sentiu sua calça apertar com o volume crescente. Só
podia ser algum encantamento. Ele esteve com
várias mulheres durante aquela semana, mas, no
auge do seu prazer, era Maria Fernanda quem
estava em seus pensamentos. Sentia-se mal, sujo e
angustiado. Por mais que ele tentasse continuar, a
sensação de erro não o abandonava, então saía, sem
consegui se satisfazer. No dia seguinte, tentava
novamente, mas tudo se repetia.

Precisava de Maria Fernanda, não apenas


como um jogo de negociação, sua jovem esposa
estava influenciando em sua vida sexual e
despertando acusações internas que nunca
existiram. E aquilo era perigoso para o seu modo de

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viver.

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17

Eduardo saiu do banheiro e tentou recuperar o


fôlego. As curvas delicadas e juvenis de Maria
Fernanda agitavam seu corpo, mas era algo além de
desejo desenfreado que sentia. Era forte e ele tinha
medo do que estava acontecendo

Ele ficou no lado de fora até Maria Fernanda


sair com a sua necessaire nas mãos.

— Ahh! — ela gritou e recuperou a bolsa com


os pertences antes que caísse no chão.

— Você está bem? — ele perguntou, olhando


para a parede à frente. — Tem uma semana que não
falo com você e quero saber se está precisando de
alguma...
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Maria Fernanda passou direto para o quartinho


e deixou-o conversando sozinho.
Ele permaneceu por alguns segundos no
mesmo lugar. Buscava entender o que estava
acontecendo com ele, porque toda aquela
necessidade de estar perto dela. Com a respiração
ofegante, ele colocou a mão no peito e sentiu um
pulsar forte que chegava a doer.

A distância entre o banheiro e o quarto de


Maria Fernanda era curta e, em alguns passos,
Eduardo já estava lá. Depois de encostar a cabeça
na porta e respirar por alguns segundos, ele a
chamou:
— Maria Fernanda, abre a porta. Vamos
conversar. Abre a porta — falou, manso.

— O que quer com a minha amiga? — Em um


pulo, Suelen já estava ao lado dele.

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— Minha vida e a da minha mulher não te diz


respeito. Quantas vezes eu preciso repetir? — Ele
voltou a bater na porta — Abre, Maria Fernanda!
— gritou, pois não chamaria baixo na frente da
empregada.

— Ela não tem nada para falar com você. —


Suelen cruzou os braços e encostou-se na parede.

— Suelen, dá para você cuidar do seu trabalho


e me deixar em paz!
— Antonieta me deixou no comando.

— É o quê? Eu estou no comando. Esta casa é


minha e você trabalha para mim, então, saia da
minha frente antes que eu perca minha cabeça com
você.
— Se você gosta dela, porque não faz a coisas
do jeito certo? É tão difícil para vocês, homens, não
serem uns babacas?

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— Suelen, eu não tenho nada a ver com a sua


história mal resolvida com o Sergio. Agora, volte
para o seu serviço e me deixe cuidar da minha
mulher.
— Desse jeito, você só vai afastá-la ainda
mais. Ela não está acostumada com grosserias e
está te odiando, assim como eu.

Maria Fernanda estava ouvindo tudo do outro


lado da porta e já estava apreensiva com o que
pudesse acontecer à amiga.
— Já que todo mundo se acha no direito de se
meter em meu casamento, faça a Maria Fernanda
vestir uma roupa decente. Vou levá-la a uma festa.

— Festa? — Suelen arrebitou as orelhas,


querendo mais informações.
— O que é agora? — Eduardo já estava sem
paciência.

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— Por que vai levá-la em uma festa? A megera


da Viviane não vai com você?
— Não. Ela está indisposta. — Eduardo jamais
apareceria na casa do patrão com a amante. Este era
o motivo.

— Ótimo. Estaremos prontas em quarenta


minutos. — Suelen empurrou Eduardo, tirando-o
da frente da porta e se preparou para chamar Maria
Fernanda.
— Eu não te convidei, Suelen.

— É pegar ou largar. Eu não vou deixar você


sozinho com a minha amiga em uma festa. A
Antonieta me fez prometer que ficaria de olho nela.
— Quero sair sozinho com ela.
— Ela só vai se eu for. Não confio na sua
calmaria.

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— O Sergio vai estar lá. — Eduardo jogou


para Suelen desistir da ideia.
— Quem é Sergio? Eu não conheço nenhum
Sergio.

— Meia hora. E não me envergonhe. Vista


alguma coisa decente, você também.
Eduardo estava encostado no carro, já
impaciente, esperando as duas saírem da casa. Já
estava arrependido de ter feito o convite. Esperou
mais alguns minutos e, sem notícias das duas,
entrou no carro e assumiu o volante. Antes de dar
partida, ele avistou Suelen e Maria Fernanda
caminhando no jardim.

— Não me diga que ia nos deixar para trás? —


Suelen bateu no vidro fumê do carro.
— Se não entrarem logo, eu faço isso. — Ele
abriu a porta.

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— Você é muito grosso, Eduardo, não


deveríamos ter aceitado o seu convite. — Suelen
escorou o quadril na porta do carro.
— Eu não te convidei.

— Isso, Su, vamos desistir. Eu não quero ir. —


Maria Fernanda só havia aceitado porque Suelen se
animou com o convite da festa e ela não queria tirar
a empolgação da amiga, que tanto lhe ajudava.
— Já que estão aqui, entrem logo que já
estamos atrasados. – Eduardo olhou Maria
Fernanda de cima a baixo e virou o rosto depois de
constatar o modelo simples e infantil do vestido.

Minutos depois ele entrou com as meninas na


mansão do seu chefe. Era uma íntima
comemoração do aniversário da esposa do patrão.
Eduardo não poderia perder a oportunidade de
estreitar os laços com um engenheiro tão experiente

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como Alfredo.
Suelen avistou Sergio no meio dos poucos
convidados.

Ele estava com um copo de uísque nas mãos e


estancou quando viu Eduardo entrando
acompanhado pelas duas mulheres.
— Senhor Alfredo, boa noite.

— Boa noite, Eduardo. Alice, aqui está um dos


melhores estagiários que temos. Um jovem
brilhante e que tem ótimas perspectivas — O
empresário, que aparentava ter cinquenta anos,
falou, orgulhoso, com a sua esposa ao lado. Ele
dizia aquilo toda vez que apresentava Eduardo a
alguém. Alice já tinha ouvido a mesma coisa
muitas vezes.
— Não exagere, senhor. Eu apenas faço o meu
trabalho, nada mais do que isso. — Ele sorriu

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vaidoso.

— Então, continue por esse caminho, meu


jovem. Assim você vai longe e tenho certeza de que
será um grande sucesso no ramo.

— Dona Alice... — Eduardo beijou a mão da


senhora.
— Continua o mesmo galante. E quem são
estas belas jovens? — Alice, a esposa do chefe,
tinha um sorriso espontâneo no rosto e estava
analisando as meninas receosas ao lado de
Eduardo.

— Essa é Maria Fernanda, minha mulher e


essa é Suelen, uma amiga da família.
— Oi, tudo bem? Eu sou a amiga da família —
Suelen repetiu as palavras de Eduardo, como se a
mulher não tivesse entendido.
— Mas então aqui está a digníssima senhora
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Moedeiros? É um prazer imenso, conhecê-la. — O


chefe estendeu a mão e apertou assim que Maria
Fernanda imitou-lhe o gesto.
— Fazem um casal lindo. — Os olhos verdes
da senhora brilharam. Ela era uma velha
colecionadora de livros de romances. Vivia em um
casamento feliz e desejava o mesmo para os outros
casais.

Maria Fernanda olhou para Eduardo e recebeu


um sorriso. Não soube identificar se pela
companhia dos patrões ou se era algo verdadeiro.
— Fernanda — alguém perto deles chamou.

Eduardo foi o primeiro a se virar para ver


quem era e Maria Fernanda abriu um largo sorriso
quando viu Thiago vindo em sua direção. Ela tinha
voltado a se aproximar de Thiago, que se
conformou por ela ser casada, mas continuou com o

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sentimento juvenil no peito.


— Oi. O que faz aqui, Thiago? — Ela o
abraçou e Eduardo sentiu o sangue ferver.

Alice se afastou para cumprimentar outros


convidados e Alfredo a acompanhou.

— De onde conhece o Juninho, Fernanda?

— Eu não o conheço. Vim com ele —


Apontou para Eduardo. — Su, esse é o Thiago,
meu amigo da escola.
— Oi, amigo da escola. — Suelen estendeu a
mão para um cumprimento, mas Thiago deixou um
beijo ali. O olhar de Suelen foi diretamente para
Eduardo, observando a reação. — Que bom que
você encontrou um amigo tão cavalheiro, não é,
Nanda? Você também não acha isso, Eduardo? —
Suelen não era boba e já tinha percebido o ciúme
consumindo o seu chefe. Queria ter certeza de que

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ele estava sentindo alguma coisa por sua amiga.

— Eu moro aqui neste condomínio, sou amigo


do Juninho desde que cheguei de Taiwan. Ele é
mais velho, mas temos afinidades. Ele me mostrou
tudo na cidade.

Eduardo tinha a mandíbula contraída e os


punhos cerrados. Naquele momento, estava cheio
de fúria por ver Maria Fernanda segurando a mão
do jovem. Contudo, apesar da enorme vontade de
estragar o belo rosto do taiwanês, ele respirou
fundo e lembrou-se da empresa, então saiu de perto
e foi procurar o amigo.

— Por que você as trouxe, Edu? Você sabe que


essa gente fofoca. E, se alguém que sabe das outras,
comentar com o senhor Alfredo ou a dona Alice?
Eles são todos certinhos, vamos perder o professor
por sua culpa — Sergio reproduziu uma das falas
do amigo. Estava feliz por ser o responsável da vez.
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— Não posso nem pensar nesta possibilidade.


Mas preciso me aproximar da Maria Fernanda. —
Ingeriu a bebida em uma única golada. Seus olhos
estavam no casal próximo à varanda da casa.
Ciúmes o consumiam.

— A Suelen está bonita... está diferente. Onde


ela conseguiu aquele vestido? — Sergio bebericou
sua bebida, sem tirar os olhos da ex.

— E eu vou lá saber de vestido da Suelen! —


Eduardo pegou outro copo de bebida e saiu,
deixando Sergio admirado, olhando para a jovem
sorridente que ele tinha rejeitado por orgulho e
preconceito.
***

Já eram onze horas da noite e Maria Fernanda


varreu a sala com os olhos, procurando por
Eduardo. Suelen estava conversando com Sergio do

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outro lado e, pelo dedo dela no rosto do rapaz,


pareciam estar discutindo.
Thiago tinha acabado de sair da festa, alegando
que era hora de voltar para casa. Mesmo morando
no mesmo condomínio, tinha pais sistemáticos a
respeito de regras.

Maria Fernanda saiu pelo apartamento à


procura de Eduardo porque estava sentindo fortes
dores no estômago e queria voltar para casa. Ela
seguiu pelo longo corredor e abriu as portas.
— Oi, está à procura de algo? — Junior havia
acompanhado seus passos. Na verdade, o rapaz
tinha ido à procura dela. Ele a observou durante a
noite toda. Percebeu de cara que tinha algo errado.
Ela não fazia o tipo de mulheres que andava com o
seu maior rival. O casamento era, no mínimo,
estranho.

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— Estou procurando o Eduardo. Você sabe


quem é?
— Claro que sei. Meu amigo de longa data.
Estudamos juntos na faculdade e trabalhamos
juntos.

— Você o viu?
— Eu o vi entrando na terceira porta.

— Obrigada. — Maria Fernanda seguiu e


Junior voltou para a sala, satisfeito.
Ela abriu a porta e surpreendeu- se com a cena
que viu. Eduardo estava sentado sobre uma cama,
beijando uma morena, que estava ajoelhada aos
seus pés, com as mãos próximas a braguilha dele.
Eduardo ficou indignado por Maria Fernanda
ter ficado à noite toda com Thiago, quando deveria
estar ao lado dele e, por isso, puxou a primeira
mulher que viu pela frente. Percebeu depois que se
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tratava da mulher de um dos funcionários da


empresa, mas já era tarde, pois a mulher o tinha
arrastado para o quarto. Gostou da pegada raivosa e
queria mais.
O corpo de Maria Fernanda travou, mas,
depois de puxar o ar para os pulmões, ela saiu de lá.
Só não conseguiu ser mais rápida porque suas
pernas tremiam.

Quando já estava em outro hall, encostou-se


em uma das paredes e tentou se acalmar.
— Ele é pior do que eu imaginava — falou tão
baixo que nem ela mesma ouviu a sua voz, devido à
música alta.

Sentiu o vômito na garganta e estava com a


mão sobre os lábios, ainda tentando se recuperar do
que tinha visto. A mulher que estava com Eduardo
passou sozinha por ela e não demorou muito ele

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aparecer na sua frente.


— Foi você na porta? — Ele tinha ouvido o
ruído, mas não viu quem foi, por isso largou a
morena.

— Você é muito pior do que eu pensava. Beija


outras mulheres no quarto do seu patrão... O que
era aquilo? Você é um louco depravado. Recuso-
me a pensar que você me tocou. — A voz dela saiu
fraca em uma ameaça de choro.
— Não tenho costume de beijar outras
mulheres. Escolho a dedo as que fazem isso. —
Ajeitou a roupa no corpo. Parecia envergonhado.
— E você foi uma das poucas que teve minha
língua no meio das pernas. — Ele achou que sua
confissão a tornava exclusiva.

Maria Fernanda juntou suas forças e acertou


em cheio a face de Eduardo. Ele segurou o lado do

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rosto com a mão e ficou alguns segundos sem


reação.
— Não deveria ter feito isso. — falou
amargurado.

Ele a puxou pelo braço e destrancou a primeira


porta que encontrou pela frente. Pressionou Maria
Fernanda contra a parede e ela gritou:
— Socor... — Ele cobriu os lábios dela com a
própria boca, mas estava sustentando-a em seus
braços.

— Maria Fernanda! Acorda, mulher. — Ele a


colocou sobre a cama — Eu não iria machucar
você. Acorda, mulher. — Olhou para a porta
temendo alguém entrar. — Acorda. — Beijou o
rosto dela. — Me perdoa, acorda — falou, sem
perceber.
Ele colocou a mão na testa dela e constatou a

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febre. Pegou-a no colo e levou em direção à


cozinha. Passou pelos funcionários do patrão e saiu
pela porta dos fundos.
Dentro do carro, ele a cobriu com sua jaqueta e
saiu o mais rápido possível da garagem.

— Droga!
Esmurrou o volante enquanto um dos sinais de
trânsito estava fechado. Ele já tinha furado dois,
mas aquele havia sido impossível. Olhou para ela e
voltou a testar-lhe a temperatura. Maria Fernanda
se moveu ainda de olhos fechados.

— Onde está doendo? — O sinal abriu e ele


dividiu o olhar entre ela e a estrada. — Onde está
doendo, Maria Fernanda? — Ela não respondeu. —
Eu não posso adivinhar se não me contar.
— Minha cabeça e também o meu estômago
— respondeu, com os olhos fechados.

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— Estou te levando para o hospital. — Fez


uma manobra brusca no carro.
***

Eduardo estava sentado em uma poltrona de


frente para a cama em que Maria Fernanda
repousava e recebia os medicamentos na veia.
Ela estava muito sonolenta devido ao efeito do
remédio, mas podia sentir o toque dele em seus
cabelos. Não demorou muito e aquele afago a fez
adormecer por completo.

Eduardo vigiava o sono de Maria Fernanda e


quando, os próprios olhos começaram a se fechar,
ele ajeitou o cobertor sobre a esposa e deitou a
cabeça próxima ao rosto de Maria Fernanda, no
colchão da cama hospitalar.
Já era tarde quando o médico entrou no quarto
e cutucou-o no ombro.

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— Você vem para olhar sua mulher e dorme?


— o médico de cabelo grisalho brincou.
Eduardo sorriu, esfregou os olhos e levantou
da poltrona.

— O que ela tem, doutor?

— As plaquetas estão baixas, está anêmica,


mas isso não tem relação nenhuma com a infecção
intestinal que teve. Receitei estes remédios.

Entregou os papéis a Eduardo, que voltou a


olhar Maria Fernanda ainda dormindo.
— A anemia deve ser tratada e, se ela não
melhorar com os remédios, traga-a novamente. Ela
já está liberada. Pode levá-la para casa, quando
acordar. São recém-casados?
— Sim, um pouco mais de dois meses...

— Cuide bastante dela e fique de olho na

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alimentação para eliminar essa anemia. É uma


moça muito bonita para não se cuidar.
— Eu vou cuidar bem da minha mulher. Só
estamos nos adaptando ao casamento. Muito
obrigado por cuidar dela hoje.

— Não se preocupe, é o meu dever como


médico.
***

Pela manhã, Eduardo chegou em casa,


segurando Maria Fernanda pela cintura.
— Nanda! — Suelen a abraçou. — Onde
estava? Eu fiquei tão preocupada. Te procurei e não
te encontrei lá. Tive que deixar o sem coração do
Sergio me trazer. Onde a levou? O que fez com
ela? — desafiou Eduardo. — Eu estou com uma
sede de quebrar tua cara que tu não tem noção. —
Suelen fechou os punhos próximos ao rosto de

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Eduardo.

O patrão a distanciou.

— Eu vou contar tudo para a Antonieta. —


Suelen tentou segurar Maria Fernanda, mas
Eduardo a impediu.

— Vamos subir. Você fica no meu quarto.

— Eu não vou ficar perto de você, prefiro


dormir na rua.
— Por favor, Maria Fernanda, é melhor para
você. Nem perto de você eu vou chegar, só fique lá
em cima.

— Senhor Eduardo Moedeiros Neto pedindo,


por favor... O que um amor não correspondido não
faz, hein? — Suelen provocou, cutucando a costela
dele com o cotovelo.

— Suelen, fale para ela que é melhor ficar lá

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em cima comigo. — Tentou aproveitar a breve


aliada.
— Não, mesmo. Nanda, fique bem longe desse
sujeito, ele não vale nada.

— Você vai ficar comigo. — Ele a pegou no


colo e seguiu em direção à sala. — Não esperneie,
você está fraca. Vai perder as forças que recuperou.
— Subiu as escadas rapidamente, Maria Fernanda
realmente ainda estava debilitada.
Ele a colocou sobre a cama e retirou as
sandálias dela.

— Vou precisar sair para trabalhar, mas vou


mandar a Suelen trazer sua alimentação. Não saia
dessa cama. Quando se sentir melhor, chame a
Antonieta ou a Suelen para te ajudar no banho.
Ele começou retirar as próprias roupas ali
mesmo.

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— Não faça isso na minha frente. — Ela


abaixou os olhos.
— Deveria se orgulhar. — Retirou tudo na
frente dela. — Meu corpo agora só quer você.

Maria Fernanda o olhou de relance, mas voltou


a abaixar a vista.
— Quando ficar boa, vou te levar para um
passeio e me desculpar pelas idiotices que andei
fazendo. Também vou acompanhar sua alimentação
de perto. Seu corpo é frágil, precisa eliminar essa
anemia. Isso é grave, pode até perder os cabelos. E
não permito que isso aconteça. Agora, durma. —
Foi até ela e surpreendeu-a com um beijo nos
cabelos. — Não me olhe assim, seus olhos tímidos
me deixam louco e estou tentando me controlar.

Maria Fernanda o empurrou. Eduardo seguiu


para o banheiro. Estava pelado e com certa

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preocupação no rosto.
Seria apenas temor pela perda da empresa?

***
Eduardo voltou para casa às sete horas.
Naquele dia, não ficou na empresa um minuto a
mais além do seu horário de trabalho. Ele tinha
passado em um restaurante chinês e comprado
yakissoba de frango, achou que seria leve e fácil
para Maria Fernanda ingerir.

A atração insana que sentia por ela crescia a


cada dia. Antes daquela noite no hospital, seu plano
era conquistá-la para evitar a fuga, mas, com os
últimos acontecimentos e a fragilidade da mulher,
decidiu não a atormentar com suas investidas. Seria
ausente ao ponto de não a incomodar, assim ela
ficaria por vontade própria.
Estava preocupado com ela e aquilo era novo

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até para ele entender. O melhor seria se afastar o


mais rápido possível. Mas antes, queria vê-la com a
saúde restaurada.
Ele subiu as escadas com a mochila nas costas
e a sacolinha do restaurante. Entrou no quarto e
conteve o riso com uma mordida no lábio inferior,
mas quando abriu a porta, deu de cara com a cama
vazia e suspirou desanimado.

Colocou a mochila e a sacola sobre a poltrona,


retirou a gravata do pescoço e em seguida foi para
o banho.
Maria Fernanda tinha voltado para o quartinho
assim que Eduardo saiu de casa para trabalhar. Não
dormiria no mesmo quarto com o marido que só
queria maltratá-la. Teve medo de ele se aproveitar
de sua saúde debilitada e abusar de seu corpo.

Antonieta tinha saído para o supermercado

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com a velha Carmem e Jorge. Suelen estava no


quarto, sofrendo com cólicas.
Maria Fernanda estava encostada na pia da
cozinha e cortava verduras. Ainda se sentia fraca,
mas ela não aguentava ficar tanto tempo na cama.

Cortou a carne e fez o tempero, estava


planejando um ensopado com verduras. Só queria
passar o tempo.
— Maria Fernanda, o que faz aqui?

Ao ouvir a voz tensa de Eduardo, ela se


assustou. A faca que usava para cortar as batatas
acabou escorregando de suas mãos e caiu a
centímetros do seu pé.
Eduardo rapidamente se abaixou, conferindo se
ela tinha sido atingida.
— Mulher, tenha mais cuidado! — Ele alisou o
tornozelo dela.
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— Por favor, estou doente não toque no meu


copo.
— Só estou conferindo se foi machucada.

— Sim, estou. Estou muito machucada. — Ela


se afastou.

— Está com medo de mim, mulher?

Ela abraçou o próprio corpo e sentiu a tontura


voltar.
— O que faz aqui na cozinha, Maria Fernanda?
— Cortando verduras.

— Você está doente, mulher. Tem quem faça


isso. Vamos para o quarto.
Maria Fernanda pegou a faca na pia e firmou
frente ao corpo.

— Só quero cuidar de você. Já se alimentou?


Vamos comer lá no quarto. — Aproximou-se dela,
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e fez um carinho nas longas mechas. — Não vai


precisar disso. — Ele tomou o objeto cortante das
mãos dela e jogou na pia. Sentiu o aroma bom
vindo dos cabelos limpos e saboreou de longe as
notas do perfume gostoso da mulher. — Fiquei
pensando em você durante o dia. Parece ser tão
frágil e ainda adoece...
— O que pretende agora? Não vou alimentar
seu prazer em me diminuir. — Maria Fernanda
voltou a pegar a panela com as verduras cruas.

— Eu não quero discutir.


— Tampouco eu pretendo, pois não tenho voz
neste casamento. Só quero que saia para algum
lugar e me deixe sozinha, preciso terminar isso
aqui.

Maria Fernanda tinha fortalecido a ideia de


mantê-lo longe porque Eduardo a assustava. Seu

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corpo entrava em pânico com suas grosserias e falta


respeito. Mas vê-lo dócil fazia a ideia dos ogros
rendidos dos romances voltar a sua mente.
Ela olhou para os músculos dos braços
expostos no limite da regata que ele usava e voltou
a se afastar. Precisava banir o pensamento de tê-lo
em volta de seu corpo, dando-lhe o cuidado que ela
necessitava. Não pretendia mergulhar na ilusão de
um falso marido. Sua serventia estava no papel e
seria assim até ela conseguir fugir definitivamente.

— Tomou seus remédios direito?


— Já estou bem. — Ela quis fortalecer a voz,
mas saiu trêmula.

— Maria Fernanda... — Eduardo não suportou


ouvir aquele tom choroso e abraçou as costas dela
— Me deixe fazer uma massagem em suas costas.
Você está doentinha e precisa de cuidados. — Ele

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não perdeu a oportunidade de inalar o perfume dos


cabelos castanhos.
— Preciso aprender a me virar sozinha. Estou
conseguindo, por favor, retire seus braços do meu
corpo. — Ela passou o dorso da mão contra os
olhos para afastar as lágrimas. — Vá para qualquer
lugar e me deixe em paz.

— Não chore, Maria Fernanda. Não vou mais


tentar foder você sem a sua autorização.
— Sai daqui! — Ela o empurrou.

— Você é muita nova para ser tão


conservadora. Não vou mais tentar meter meu...
— Saia!
— Estou tentando dizer que não vou mais tocar
em seu corpo sem a sua autori...

— Entendi. Agora saia!

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— Me deixa cuidar de você? Eu só quero


cuidar, nada mais que isso.
Eduardo se afastou para não piorar a situação
dela.

Ela segurou na pia com as duas mãos, pois


sentiu as náuseas voltarem, seu estômago ainda
estava frágil.
— Eu quero te entregar uma coisa fofa.

— Não quero nada vindo de você.


— É um presente que comprei um dia desses.
— Não quero.

— Trouxe seu jantar.


— Estou de barriga cheia.

— Maria Fernanda, tente esquecer o que andei


aprontando e considere a minha ajuda. Você está
fraca. Não vou te forçar a nada. Larga isso aí e
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vamos subir para o quarto.


— Me deixe... — Ela sentiu a vista escurecer.

— Mulher! — Eduardo a sustentou nos braços.


— Estou bem. Vou me deitar.

— Eu te levo.
— Aonde vai com ela? — Suelen o freou
quando sustentou o corpo da mulher nos braços.
— Traga leite quente. Ela não deveria estar na
cozinha trabalhando no seu lugar.

— Nanda... Eu só me deitei para o remédio


fazer efeito. Ela estava no quarto, lendo livro. —
Suelen se preocupou.
— Traga o leite. Dou cinco segundos para
você — deu a ordem à empregada e seguiu com
Maria Fernanda para o quartinho.

— Pequena e teimosa — ele resmungou


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quando a colocou sobre a cama.


— Te agradeço, mas agora pode sair.

— Largue de teimosia, vou ficar com você até


melhorar.

Maria Fernanda se calou e encarou Eduardo.

— Não vai se aproveitar de mim, enquanto eu


estiver fraca! — Ela sentou na cama e tentou se
levantar, mas voltou ao colchão quando sentiu a
mesma tontura. — Suas atitudes não me enganam.
Você não é gentil. O que quer em troca?
— Deite e pare de falar besteira. — Colocou as
pernas dela sobre a cama e cobriu-a com lençol até
a altura do busto. — Está febril.
Suelen entrou no quarto com o leite e Eduardo
pegou o copo das mãos da morena.

— Vá buscar água fria e uma toalha, um pano,

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alguma coisa para eu fazer uma compressa.


— Já temos a bolsa térmica.

— Quero a água com o pano, Suelen.


O intuito de Eduardo era ele mesmo cuidar de
Maria Fernanda, com a bolsa térmica ela poderia
querer se virar sozinha

— Não vejo sentido para isso, se existe uma


compressa pronta para amenizar a febre dela.
— Não discuta comigo, Suelen. Vá pegar o
que pedi!
Suelen saiu mostrando um soco para ele e foi
atender ao comando.

— Já tomou os remédios?
— Já.

— Tente dormir. A febre vai passar.

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***

Quando Eduardo retirou a toalha da testa dela


pela última vez, Maria Fernanda já estava
dormindo. A temperatura dela tinha voltado
normal.

— Você é uma mulher muito bonita, eu


também sou bonitão. Formaríamos um belo casal.
Ele sorriu e colocou o recipiente com a água
no chão. Ainda sentado na beira da cama, alisou os
cabelos dela.

— Queria ser bom, para poder te fazer feliz.


Sei o que você deseja, mas, nas minhas metas de
futuro, não existe esse tipo de sentimento. Eu só te
faria sofrer.
Ele enrolou o dedo na ponta dos cabelos dela e
levou até as narinas.
— Você não conhece minhas vontades loucas,
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Maria Fernanda. Só faço sexo com mulheres


experientes, pois elas me satisfazem. Nunca
experimentei um beijo tão doce igual o seu. É
diferente de tudo o que já provei nos melhores
momentos de luxúria. Sinto atração por você.
Nunca pensei que algo tão meigo me desse tanto
prazer. Esse rostinho perfeito... — Aproximou a
mão do rosto dela, mas não a tocou. — Toda
rosadinha e deliciosa. Se você soubesse que me
deixou louco desde o dia em que te provei, ficaria
vaidosa. Quando estiver bem, eu paro de te
atormentar com a minha presença. — Ele
aproximou os lábios e beijou a testa dela
levemente. — Boa noite, princesa. Espero que
esteja melhor amanhã.
Ele levantou da cama e olhou para ela por
alguns minutos, depois apagou a luz e saiu do
quarto, deixando a porta encostada.

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Maria Fernanda abriu os olhos e uma lágrima


escorreu na lateral de seu rosto.

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18

Eduardo chegou cedo à empresa, queria


finalizar os ajustes do projeto para comunicar sua
saída definitiva da J.A. Engenharia. Na semana
seguinte, começaria a se dedicar ao seu próprio
negócio. Estava correndo contra o tempo.

— Bom dia, Eduardo Moedeiros. Como vai


sua encantadora esposa? — Junior perguntou em
tom de desdém ao vê-lo passar pela recepção. O pai
estava ao lado.
— Bom dia, senhor Alfredo. — Eduardo
apenas se dirigiu ao patrão.

— Meu pai, por que não convidamos o jovem


casal para jantar em nossa casa hoje, juntamente
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com a família do Augusto? — falou o chefe das


obras públicas e pai de Viviane, amante de
Eduardo. — Garanto que será uma noite proveitosa
e agradável. — O ruivo sorriu cinicamente.
— Isso! Fale com sua mulher, Eduardo. Alice
se encantou por ela. Até comparou nosso início de
casamento ao de vocês.

— Com a diferença que a mamãe não era de


família rica, no entanto me parece que a
encantadora esposa de Eduardo...
— Senhor Alfredo eu preciso ir e terminar o
projeto. Com licença. — Eduardo cortou a fala de
Junior, pois queria evitar quebrar a boca do seu
inimigo frente ao seu chefe. Faria depois.

— Soube que ela tem posses... — Junior falou


antes que Eduardo se virasse para sair. — Me
parece que a fortuna dela não se aproxima do

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patrimônio de sua família, estou certo?


Eduardo fechou o punho e sentiu o furor gritar
em seu interior, bastaria apenas um soco para
colocar o oponente no chão. Ele já tinha feito
aquilo antes, seria um prazer repetir a dose. Junior
estava o desafiando muito depois que descobriu
sobre o casamento, era hora de lembrá-lo que ele
era Eduardo Moedeiros, o mesmo que o mandou
para o pronto socorro três vezes na faculdade, e que
não cederia a nenhum tipo de chantagem.

Sergio entrou na recepção e praticamente


correu os três metros que o separava do amigo.
Segurou firme no braço de Eduardo a tempo de
conter o desastre na frente do chefe.
— Junior, meu filho. O que está insinuando?
— perguntou Alfredo.

— Que o Eduardo é um homem de sorte. O

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senhor também não acha meu pai? — Junior


continuou sorrindo debochadamente.
— De sorte por ter uma esposa encantadora. —
O velho sorriu. — Esperamos vocês hoje à noite,
Eduardo. Estou fechando muitos contratos e será
bom ter você ao meu lado.

— Eu também estou convidado? — Sergio


perguntou ao bater no ombro do amigo, disfarçando
a força que colocava na outra mão.
— Sim, vamos todos. Quero os três
aprendendo.

— Não vou poder aceitar, senhor Alfredo. —


Eduardo puxou o braço que o amigo segurava e
ajeitou a gravata.
— Qual o motivo dessa desfeita, Eduardo
Moedeiros? — Junior continuou provocando.
Sergio pensou em segurar o amigo outra vez, mas

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percebeu um sorriso seguro se formando no rosto


dele.
— Minha mulher está repousando, senhor
Alfredo. Ela está anêmica e com baixa imunidade.
Em outra ocasião aceitarei o convite, mas, agora,
ela precisa ficar em casa sob meus cuidados.

— Junior, um dia eu quero ouvir isso de sua


boca, meu filho. O Eduardo ainda é jovem, mas
sabe exatamente o que é ser um homem de família.
— Alfredo saiu do lado do filho e deu três tapinhas
nas costas de Eduardo. — Continue sendo assim
meu filho. Cuide de sua mulher acima de qualquer
outra coisa.
— Estou fazendo isso, senhor.

— Vamos trabalhar. Precisa terminar suas


atividades para ir vê-la. Eu trabalhava assim no
início do meu casamento.

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Eduardo não olhou para o oponente, mas sorriu


ao acompanhar o patrão até a porta de sua sala.
Sergio detectou a raiva e ciúmes de Junior. Ele
não tinha nada contra o ruivo, mas o fato dele ser
inimigo declarado de Eduardo criava uma aversão
espontânea entre os dois.

— Espero que você consiga. — Foi a vez de


Sergio debochar e seguir na direção da sala que
dividia com o melhor amigo e colega de profissão.
— Edu, irmão. — Sergio entrou na sala e
fechou a porta. — Eu quase acreditei quando falou:
ela está anêmica e precisando dos meus cuidados.
— Sentou na cadeira sorrindo. — Pareceu um
homem de família, de verdade. Quase me
emocionou cara, mas daí eu lembrei, que tu é um
putão. Só deu vontade de rir do otário do Junior.

— Isso, essa porra toda foi encenação. Falar

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nisso, estamos precisando sair e pegar umas


mulheres. Mas, dessa vez, queria experimentar uma
novinha, cara. Mais ou menos da idade da Maria
Fernanda. Só peguei uma mulher da idade dela
quando eu tinha quinze anos. Estou querendo
diversificar e provar algo inexperiente.
— E por que não aproveita e fica com ela, que
já é sua mulher?

— Decidi que não vou mais procurá-la. Esse


negócio de foder a mesma mulher que carrega seu
nome pode causar dependência. Da parte dela,
claro. E eu não tenho paciência de ter que comer a
mesma coisa todo dia. Vou deixá-la viver a vida
dela. Ela não inventando de ir embora é o que
importa. Se ela tentar, acorrento ela na minha cama.
— Tem certeza que é por isso? Você explicou
demais, estou te estranhando.

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— Expliquei porque estou lidando com um


idiota.
— Se é esse o motivo... Saiba que eu estou
aqui, nenhum pouco preocupado de provar a
mesma bocetinha jovem, de manhã, de tarde e de
noite. Ensiná-la a pegar no meu... — Antes de
Sergio terminar a frase, Eduardo apertou as mãos
na garganta dele.

Ele jamais assumiria que a decisão tomada foi


diante da certeza do sofrimento que traria a ela. Ele
estava se privando da mulher que o matava de
desejo, para não a ferir. Seu excesso de orgulho não
admitiria tal admissão.
— O que... — Sergio moveu os lábios e lutou
para respirar. Eduardo estava inclinado por sobre a
mesa com os olhos furiosos.

Quando Eduardo viu o rosto do amigo se

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avermelhar ele voltou a se sentar e pegou a caneta


para rabiscar os papéis do projeto.
— Antes que você me mate de verdade, eu vou
me afastar de você, cara. — Sergio falou com
dificuldade, depois que recuperou o fôlego. — Isso
me magoa. Você tinha parado com isso, agora
começou novamente. Eu não estou mais na
faculdade para perder nas provas. Precisa se conter,
ou daqui a pouco vai me bater na frente das
pessoas. É uma quebra da nossa parceria. Eu vou
me afastar de você, Edu.

— Pegue o projeto e comece a trabalhar. Não


seja infantil. Hoje o trabalho vai render e meu
plano é chegar cedo para trabalhar nos meus
projetos pessoais.
***

Nove horas da noite, Eduardo abriu a porta de

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casa e encontrou seu pai bebendo no sofá da sala. O


homem estava com a gravata frouxa e com o
semblante derrotado.
— Pai? — Cutucou o ombro de Olavo.

— Oi, filho? — o pai falou desanimado.

— Algum problema? Onde está minha mãe?

— Ela foi jantar com uma amiga. Quer respirar


um pouco, eu concordei.
— Andou aprontando? Minha mãe nunca foi
de sair sem você.
— Não. Ela está acertando coisas com as
amigas. Vou... — O homem levantou — Vou tomar
banho e dormir. Amanhã tenho uma audiência
cedo. — Bateu nas costas do filho e subiu a escada.

Eduardo entrou na cozinha e ignorou os


funcionários. Foi direto ao quarto de Maria

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Fernanda. Ele abriu uma pequena abertura na porta


e constatou que ela já dormia. Depois voltou para
seu quarto. Tinha ficado até tarde no escritório,
agora dedicaria parte da madrugada aos projetos de
sua nova empresa.

Uma hora da manhã ele tomou outro banho e


desceu até a cozinha, para comer algo. Ele já estava
no segundo pedaço do bolo, quando Maria
Fernanda entrou na cozinha, esfregando os olhos e
com os cabelos um tanto revoltos.

Ela caminhou até a geladeira, ainda estava


sonolenta e não viu Eduardo sentado à mesa da
cozinha.
Ele a seguiu com os olhos e deixou o pescoço
despencar para o lado, acompanhando o movimento
do bumbum à mostra. A larga camisola estava
suspensa na parte de trás. A calcinha de algodão
também estava desajeitada e cobria apenas uma
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metade das nádegas redondinhas. A cena era um


tanto hilária e, por um momento, Eduardo quase
gargalhou, mas foi impedido pelo desejo em
admirar o corpo que lhe causava uma descomunal
gana.

Ela encheu um copo de água e começou a


beber. Eduardo seguia com os olhos fixos nas
costas da mulher. Estava estático e sentindo-se
tentado a alisar a pele rosada e macia, quem sabe
deixar uma pequena mordida ali. Sim, ele imaginou
muitas possibilidades. De fato, aquele corpo
pequeno, moldado com curvas proporcionais mexia
com sua sanidade.

Maria Fernanda virou-se de frente e, ainda


esfregando os olhos, caminhou até a mesa no
intuito de se sentar.
Ela ainda estava com o copo na boca, quando
percebeu o homem à sua frente. No susto, ela jogou
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a água que preenchia metade do copo no rosto do


marido.
Eduardo não pronunciou nenhuma palavra,
apenas caminhou até ela, que estava com os olhos
azuis arregalados.

— Não se aproxime, — Ela olhou para os dois


lados. Eduardo continuou calado, eles estavam a
centímetros de distância.
Depois de encará-la seriamente, ele desviou
dos olhos azuis hipnotizantes e puxou um fio de lã
preso no cabelo da mulher. Sorriu sonoramente,
bem próximo dela, fazendo-a sentir o cheiro fresco
que exalava de seu corpo recém-banhado.

— O que aconteceu para acordar nesse estado,


mulher? Dormiu o dia todo?
— Eu... eu vou voltar para o quarto.
Ela tentou sair de perto, mas ele não deixou
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que ela passasse. Maria Fernanda não sairia dali,


sem ele dar uma boa apertada no tentador bumbum.
— Estou molhado. Você foi a culpada, agora
preciso que me enxugue.

— Você... você... — Maria Fernanda não


conseguiu encontrar uma palavra exata para rebater
a situação. Seu rosto já tinha ganhado um tom
avermelhado. Vê-lo tão próximo e dócil, sempre a
desestabilizava.
Eduardo, que já estava aprendendo a decifrar
parte de seus trejeitos, identificou a tímida euforia.
Naquele momento ele quis iniciar um jogo de
provocação para vê-la desconcertada ao seu toque.

Com um sorriso nos lábios, ele mergulhou uma


mão por baixo dos cabelos dela e segurou firme.
— Como pretende me secar, ferinha? —
sussurrou e sentiu o corpo de Maria Fernanda

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estremecer.

— Disse que não iria me forçar.

— E não vou fazer isso. Essa pegada tem outro


nome e sentido. Consegue definir? — mergulhou as
narinas no cabelo dela, e depois de sentir o doce
aroma, virou-a bruscamente.
— Não faça isso! — ela falou alterada,
sentindo a pressão do corpo do marido em suas
costas. — Eduardo eu estou fraca, não terei forças
para fugir, por favor, me solta.

— Está insinuando que eu sou capaz de me


aproveitar de sua doença? — ele falou ao inalar o
cheiro dela.
— Me solta... — Os olhos dela estavam
fechados.
— Não sei... Acho que a ferinha não tomou
banho hoje.
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— O que? — Ela abriu os olhos.

— Está muito molambenta para ser você.

— Mas eu tomei banho quando fui para a


escola e quando voltei. Só não tomei antes de
dormir, mas eu lavei o necessário. — Ela afastou o
corpo e foi a vez dele passar o braço em sua
cintura.
— Preciso conferir se lavou direitinho.

— Que conversa constrangedora é essa?


Sempre me cuidei. Se hoje não tomei três banhos
diários, foi por estar com o corpo limpo. Não saí do
quarto a tarde toda e o tempo está frio. Não vejo
necessidade de...
— Pare de tanta conversa mulher. —
interrompeu-a — Estou sentindo seu cheiro doce
exalando de todos os poros excitados.
Eles ouviram um barulho vindo do quarto de
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Antonieta, que era o mais próximo na cozinha. Foi


automático, Maria Fernanda se afastou, levantou
uma das mãos e cobriu a própria boca.
Eduardo, vendo o gesto dela, precisou sufocar
a risada mordendo as bochechas para não serem
pegos. Sua arisca mulher possuía atitudes tão
infantis, que ele não conseguia decifrar de onde
vinha seu poder de sedução sobre ele.

Logo eles viram a sombra da porta se abrindo,


então ele a puxou pela mão e saíram juntos pela
lateral da casa.
Ficaram os dois encostados na parede de fora.
Antonieta levantou, verificou a porta aberta e
imaginou ter sido o vento. Trancou-a, apagou as
luzes, depois voltou para o seu quarto.

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19

— Você tem uma chave reserva, não tem? —


ela perguntou assustada.
—Tenho. Mas está lá em cima, no meu quarto.

— E agora? — Maria Fernanda esfregou os


braços, tentando espantar o frio. Chovia e suas
pernas tinham começando a molhar com a água que
espirrava da grama do jardim.
— Vamos dormir. — ele falou,
despreocupado.

— Eu vou gritar a Antonieta.


— Não. — Eduardo abafou a boca dela antes

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do grito sair. — Ela vai ter certeza que estávamos


aqui fora nos divertindo às escondidas.
— Mas, isso é mentira... — Maria Fernanda
deu um passo para longe.

Eduardo aproximou seu corpo do dela,


desembolou a camisola e com a mesma mão ajeitou
a parte de trás da calcinha. Só então, ela percebeu o
motivo de estar sentindo uma corrente de vento
naquela região. Envergonhou-se.
— Então vá em frente. Admita para seus
defensores que você gosta de pegar seu marido às
escondidas.

— Não consigo dormir de pé e na chuva.


Preciso voltar para o meu quarto. Está com ameaça
de trovão. Eu tenho medo. — Ela falou em um tom
infantilizado. Realmente tinha medo. Sempre
dormia com a madrinha ou Giovane em época de

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chuva.
— Desde quando uma fera selvagem tem medo
de trovão?

Ele sorriu quase em uma gargalhada. Aquilo


estava sendo novo para ela. Era outro Eduardo que
estava a sua frente. Ele não estava com a carranca
intimidadora. Tê-lo leve e brincalhão a tornava
vulnerável.
Eduardo ainda estava sorrindo quando segurou
a mão dela e seguiu puxando-a pela cobertura da
estreita marquise ao lado da casa.

Ele arrombou a porta da casa da piscina com


um empurrão.
— Olha só que confortável a nossa casa.
— Eu não vou dormir com você.

— Eu vou preparar uma confortável cama,

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com toalhas limpinhas e quentes. Se não quiser,


pode dormir em pé.
Ele começou a pegar toalhas de banho no
armário e forrar no chão. Depois deitou e colocou
os punhos cruzados abaixo da nuca, muito à
vontade.

Maria Fernanda não tinha escolha e o


amontoado de pano parecia quente e confortável.
Ela se abaixou devagar e sentou na pontinha,
depois passou os braços sobre os joelhos e fechou
os olhos bem apertados. Precisava esquecer que
estavam sozinhos durante uma ameaça de trovão.

— Maria Fernanda? — Eduardo levantou de


onde estava quando ouviu o barulho do queixo dela
batendo. Ela não respondeu, permaneceu de olhos
fechados. Quando sentiu a proximidade do corpo
dele, tentou se afastar, mas Eduardo firmou os
braços ao redor dela e deixou um beijo em seu
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ombro.

— Calma, só estou te aquecendo.

— Sua roupa está molhada. — Ela estava


lutando para controlar o tremor na voz.

— Você tem razão. — Soltou-a, para o alívio


dela, que sentou mais afastada.

Eduardo retirou a própria camisa. Ela não


escondeu o rosto, apenas ficou ali, olhando
fixamente para ele, admirando-o entre os flashes de
relâmpagos que entravam através das vidraças das
janelas.

— Quer tocar em mim? — Eduardo perguntou


ainda sorrindo.
Só então ela se deu conta de que estava
hipnotizada nos músculos definidos do marido.
Mais uma vez, Eduardo riu. Ela virou-se de costas e
cruzou os braços.
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— Ei, não precisa ficar emburrada. Você está


doente e não posso te deixar com frio. Vem cá. Só
vou te aquecer. A noite está muito fria.
— Me recuso a passar por isso.

Ela o olhou de relance, pensou que deveria


afastá-lo e não sentir a enorme vontade de tê-lo por
perto, tampouco a eletricidade que percorria seu
corpo enquanto ele brincava com a ponta dos seus
cabelos, tentando chamar a sua atenção. Ela não
poderia deixar ser levada pela sedução. Ele não
mudaria.
Depois de uma luta interna, tentou puxar na
memória a maneira como algumas mocinhas dos
romances assumiam o controle da situação em um
casamento. No último livro, a esposa do lorde o
confrontou com privação sexual. Mas em seu
casamento não tinha aquilo, então lembrou a
maneira que sua madrinha, Izabelle, lidava com seu
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esposo durante as poucas brigas que tinham.

Era um pouco difícil no momento fazer aquilo,


pois Eduardo estava distribuindo pequenos beijos
em seu ombro, sem nenhum rastro das gargalhadas
de antes.

— Você vai dormir no sofá. — Afastou-o com


um empurrão.
Eduardo ficou sério, mas, depois de alguns
segundos, assimilando o que ela queria dizer, caiu
na gargalhada outra vez, deixando Maria Fernanda
mais enfurecida do que nunca.

— O que é isso, um castigo? — Eduardo


continuava a sorrir. — Em qual sofá prefere que eu
durma? Maria Fernanda, já está tarde. Venha e
deite-se. Precisa se aquecer, está doente.
— Você não me respeita, Eduardo! — ela
terminou a frase e pulou no colo dele, agarrando-

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lhe o pescoço. O barulho de um forte trovão ecoou


dentro da pequena casa fazendo-a esquecer do
raciocínio anterior.
— Eu não estou te desrespeitando... —
Eduardo falou com dificuldade ao sentir uma
pressão na parte de seu corpo que ele não conseguia
controlar perto dela, a situação estava pior, pois ela
estava sentada sobre.

— Está trovejando. Por sua causa, estou aqui


fora. Sinto-me fraca, com frio, amedrontada e tendo
que passar sobre meus princípios e decisões para
buscar proteção em seus braços. Eu deveria ter
gritado a Antonieta. — Trovejou outra vez e Maria
Fernanda enterrou o rosto no peito nu de Eduardo,
fazendo o marido sofrer com sua remexida brusca.
— Não tenha medo... — A voz dele saiu
arranhada. Ele quase mordeu o ombro dela,
buscando autocontrole que não existia no momento.
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— Estou envergonhada, mas não vou sair


daqui até os trovões pararem. — O tom de voz dela
saiu quase em um choro.
— Maria Fernanda... — ele chamou-a, pois
teve certeza que estava se aproveitando do pânico
dela. Era inacreditável, mas seus instintos de
proteção e desejo se uniam quando se tratava da
jovem trêmula em seu colo. — Mulher... — Retirou
o cabelo dela da frente do rosto, enrolou e jogou
para as costas. — Estou aqui, mulher, não tenha
medo. Não vai cair raio aqui dentro. Olha pra mim.

— Só estou aqui pela fobia. Não pense o


contrário. — falou ainda com os olhos fechados.
— Olha nos meus olhos, quero te acalmar. Só
isso. Precisa perder esse medo bobo. Isso é muito
infantil, para uma mulher casada e cheia de
conservadorismo.

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Ela levantou o rosto e aos poucos olhou para o


rosto dele. Primeiro a boca em seguida os olhos que
brilhavam na penumbra da casinha.
— Por favor, não entenda isso de outra
maneira. — falou olhando nos olhos dele.

— Você tem medo de trovão, por isso está


vulnerável. Essa é a maneira que entendo. Fica
tranquila.
— Isso me constrange, mas posso sentir sua
dureza pulsar abaixo de meu corpo. Peço desculpas,
sei que é algo difícil para o corpo masculino e
vocês reagem a qualquer toque nessa região. Mas
não vou sair daqui, por favor, me entenda.

— É uma inocência bem esclarecida. — Ele


forçou um sorriso enquanto tentava controlar seu
corpo. — Você poderia só subir um pouquinho,
para eu me ajeitar?

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Ela subiu alguns centímetros no corpo dele,


mas antes que Eduardo se ajeitasse de uma maneira
que sentisse menos tentado, outro trovão ecoou na
casinha e Maria Fernanda sentou bruscamente o
pegando mais desprevenido que antes.

— Porra! — Ele foi à beira de um penhasco e


voltou. Chegou a segurar na cintura dela para
movimentá-la novamente, mas recebeu algumas
bofetadas.

— Por que está me xingando, se eu deixei


claro minha fobia?
— Desculpa, mas proteger alguém de trovões
nunca foi tão difícil. — Ele apertou os olhos e
moveu-se ao mesmo tempo em que puxava o corpo
dela de encontro ao seu. — Aquela era a
provocação mais inocente que ele já tinha
enfrentado.

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— Vai trovejar a noite toda. Me desculpa por


isso. Não sou ingênua ao ponto de não saber o que
está sentindo. E vendo sua resistência, chego a
pensar que, se você não fosse o ogro da história, eu
lhe daria um beijo por tamanha bravura.

— Caralho de resistência... Meu pau está


sofrendo com tanta afronta. Ele merece o beijo.

— Não gosto de suas falas vulgares.


— Milady, estou a sofrer com tamanha pressão
sobre meu membro que há dias segue sedento.
Neste momento, sou um ogro rendido a ti.

Maria Fernanda sorriu e antes que se


arrependesse, beijou o rosto dele, fazendo Eduardo
abrir os olhos para encará-la. Os olhos dela estavam
confusos e com indícios de paixão. Eduardo
levantou uma das mãos e acariciou a pele macia do
rosto da mulher. Viu-a fechar levemente os olhos.

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Ela estava um pouco febril, Eduardo amaldiçoou


aquela doença que a deixava vulnerável.
Sem pronunciar nenhuma palavra, ele beijou
os lábios dela de maneira rasa, apenas para medir a
aceitação. Não havendo resistência, ele invadiu a
boca dela sem pudor, fazendo-a delirar de desejo
com o caminho que sua língua seguia dentro dela.
Maria Fernanda estava totalmente entregue ao
desejo e à esperança do amor do marido. Ela sentiu
vontade de tocá-lo, mas achou melhor permanecer
quieta, deixaria ser guiada até obter mais
experiência.

— Maria Fernanda... se quiser participar com


mais vontade, é só usar suas mãos.
— Te amo, Eduardo...

— Que conversa é essa, não fale besteira


mulher. — Ele falou em um tom desaforado.

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— Te amo. — Ela repetiu. Ele voltou a beijá-la


rapidamente, correndo para não ouvir a frase.
Ainda mantendo o contato, ele a fez se
acomodar de maneira que ficassem unidos ao ponto
máximo, um em frente ao outro. Maria Fernanda
passou os braços por baixo dos dele, e alcançou os
ombros do marido pelas costas.

— Eduardo... — Gemeu ainda grudada aos


lábios dele. Ele já tinha sentido a temperatura
elevada do corpo dela e estava preocupado.
— Sua cabeça está doendo? — Ele se afastou e
olhou-a nos olhos.

Ela negou com medo dele encerrar os beijos.


— Fale a verdade.
— Sim.

— Tudo bem. — Ele deitou a cabeça dela em

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seu ombro.
Em seu colo, estava uma ferinha mansa, com a
cabeça inclinada na curva de seu pescoço, exalando
o cheiro mais incrível que ele havia sentido. O
corpo pequeno se encaixava em seus espaçosos
músculos ao ponto de não incomodar e mesmo
assim, trazia muito prazer. Ele desejou cuidar dela
para sempre, mas sabia que não tinha aquela
capacidade. Não suportaria ver aquele coração
inocente sangrando, com o peso de suas metas
desenfreadas para a satisfação profissional. A
viagem que faria em breve poderia machucá-la
profundamente. Ele ainda estava confuso e lutando
entre a renúncia ou aceitação.

— Você está febril, vamos deitar, precisa se


cobrir ou vai pegar um resfriado. — Ele alisou o
rosto dela.
— Quero que seja sempre assim, vai continuar
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quando eu estiver bem?

Eduardo apenas suspirou alto e a fez deitar


sobre as toalhas.

— Tente dormir. — cobriu-a e deitou-se ao


lado.

Ele custou a dormir, ficou ali olhando para os


clarões e sonhando acordado com sua empresa,
seus funcionários e com as enormes obras pelas
quais sua empresa seria responsável.

Pela manhã, acordou sentindo um peso sobre


seu corpo e muitos fios castanhos por todo seu
peito, então sorriu. Maria Fernanda estava
encolhida em seu peito, dormindo um sono pesado.
Ele não se moveu, ficou ali a vendo dormir e
contornando o rosto dela com o dorso das mãos.
Maria Fernanda sentiu todo aquele carinho
enquanto dormia.

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Alguns minutos depois ela abriu os olhos e se


deparou com Eduardo a espiando. Não se assustou,
continuou ali, olhando nos olhos dele e sentindo o
carinho em seu rosto.
— Bom dia. — Eduardo beijou a testa dela.

— Já amanheceu... — Ela foi interrompida por


um beijo.
— Vamos entrar. Você precisa se alimentar.
Vou ligar para o senhor Alfredo e pedir dois dias de
folga. Vamos sair.

— Para onde? — Ela estendeu a mão para ele e


levantou. Estava animada.
— Vai conhecer meu apartamento. Precisa
levar uma bolsa com roupas. Voltamos amanhã. —
Segurou-a pela mão esquerda e abriu a porta. Maria
Fernanda aninhou a cabeça próxima ao corpo do
marido. Estava feliz.

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Eles ainda estavam no jardim, quando Viviane


apareceu na frente do casal. A Loira estava furiosa.

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20

A atmosfera romântica foi quebrada com o


som das palmas e da voz irônica de Viviane,
enfurecida.

— Olha só que bela recepção... A caipira


sonsa, seduzindo o meu homem.
Eduardo soltou a mão de Maria Fernanda e
seguiu até Viviane. Quando virou a cabeça e voltou
os olhos para trás, viu lágrimas inundando os olhos
azuis de sua mulher. Queria fazer o contrário, mas
naquele momento, em sua mente, estavam apenas
os contratos a serem perdidos com o chefe das
obras públicas e a grande viagem de negócios que
lhe garantiria muita experiência e influência

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profissional.

— Vamos conversar, Viviane... — Ele segurou


o braço da loira.

— Eu não quero conversar, me solte! — Ela se


esquivou. — Eu vou matar essa oferecida. —
Viviane partiu para cima de Maria Fernanda,
agarrando-a pelos cabelos.
Eduardo se meteu no meio das duas para
apartar a briga. Viviane puxou o cabelo de Maria
Fernanda, com gosto. O cabelo de Viviane era
curto e liso, o que deixava a jovem em
desvantagem.

Em questão de segundos todos da casa estavam


no jardim, inclusive Suzane, a mãe de Eduardo, e o
pai.
— Vocês querem me ajudar aqui! –— Eduardo
gritou e rapidamente seu pai e Jorge entraram no

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meio da peleja. Depois de muita gritaria, tapas e


puxões, conseguiram separar as duas.
Viviane estava espumando. Sua roupa de grife
estava toda amassada, os cabelos para o alto e o
batom vermelho todo borrado em seu rosto. Maria
Fernanda não estava em melhores condições: seu
rosto estava vermelho, sua camisola estava rasgada
e a vergonha em seu rosto era evidente.

— Viviane, nos perdoe o transtorno, essa


menina só apareceu para complicar a vida do meu
filho. — Suzane era muito amiga da família de
Viviane, a loira também era cliente de seu famoso
salão de beleza.
Maria Fernanda ouviu a voz de Suzane e sentiu
a raiva crescer dentro dela. Raramente a encontrava
e, quando isso acontecia, era completamente
ignorada.

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— É essa sonsa, Suzane. Ela está se


aproveitando desse casamento de conveniência para
se oferecer ao meu homem. — A loira virou na
direção da jovem descabelada, que lutava para
segurar o choro. — Nunca mais chegue perto do
meu homem! Está me ouvindo, sua caipira água
com açúcar?
— Viviane, tente se acalmar. Vamos
conversar. — Eduardo tentou puxar o braço da loira
em direção a casa, mas ela se esquivou outra vez.

— Pelo amor... — A loira revirou os olhos em


ironia. — Você acha que o Eduardo vai nutrir
alguma relação contigo, coisinha sem graça?! Esse
homem é intenso, não se contentaria com um
serzinho como você.
— Viviane! — Eduardo gritou e a loira deu
uma leve encolhida. — Vamos conversar, lá
dentro!
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Suelen estava abraçada a Maria Fernanda,


Antonieta também estava ao lado. As duas ficaram
caladas, afinal eram empregadas. A única coisa que
podiam oferecer era um abraço e proteção. Maria
Fernanda não conseguiu suportar a raiva ao ver
Eduardo segurando o braço de Viviane, propondo
uma explicação. Movida pela raiva, a jovem saiu de
onde estava e Eduardo não teve tempo de desviar
do tapa em cheio que atingiu seu rosto.
— Isso é por ter me acalentado durante a noite,
sabendo que me humilharia ao amanhecer. — Ela
gritou perto do rosto dele sentindo a aflição sufocar
sua garganta.

Eduardo não pôde acreditar que Maria


Fernanda tinha batido em seu rosto, na frente de
seus pais. Enfureceu-se com a afronta, mas contra
sua natureza feroz estava à angústia de vê-la lutar
para prender o choro na garganta. Ele sabia que ela

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era frágil. Aquele evento deve tê-la destroçado por


dentro.
— Depois eu converso com você. — Seu tom
de voz saiu enfurecido, embora uma das mãos
estivesse cuidadosamente empenhada em levantar a
manga da camisola da mulher.

“Depois?” — Por mais que fosse humilhante,


ela ainda esperava ele fazer alguma coisa capaz de
reverter à situação. Mas não, primeiro ele se
explicaria para aquela mulher, para depois deixá-la
com migalhas de suas ardilosas palavras.
Ele segurou o cordão da camisola de Maria
Fernanda para amarrar o tecido e esconder parte do
ombro desnudo, Maria Fernanda estava com o furor
descrito nos olhos. Ela desejava ter forças físicas
para esbofeteá-lo até derrubá-lo no chão.

— Não escutarei uma palavra que sair de sua

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boca. Guarde todas as suas enganações para essa


rameira! — Ela o estapeou no braço e puxou o
tecido da camisola. — Nunca mais serei tola.
— É o quê?! — Viviane outra vez tentou pular
sobre Maria Fernanda, mas Eduardo a segurou pela
cintura. Ele ainda mantinha os olhos na jovem
quando viu Suzane puxá-la pelo ombro e deflagrar
um tapa, retribuindo o que o filho tinha recebido.

— Mãe, para com isso! — Eduardo largou


Viviane e correu para segurar a mãe.
Maria Fernanda já tinha sido muito humilhada,
então, com a mão no rosto, correu para o seu
quarto. Jogou-se na cama, derrotada. Sentiu raiva
de si mesma por ter idealizado um Eduardo que não
existia. Suelen se ajoelhou ao seu lado, mas não
disse nada. Apenas acariciou seus cabelos.
Esperaria o choro da amiga passar, para então
começar a confortá-la.
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Dez minutos depois, seus soluços ainda


estavam sendo abafados pelo travesseiro quando a
porta do quarto foi aberta pelo marido.
— Sai, Suelen! — Ele falou olhando para a
mulher sobre a cama.

— O que está fazendo aqui? Veio debochar da


caipira oferecida? — Maria Fernanda sentou-se na
cama e enxugou o rosto bruscamente com a mão.
— Não seja irônica, Maria Fernanda. Isso soa
tão estranho vindo de você.

— Será que não vê o quanto faz essa menina


sofrer? — Suelen levantou e tentou forçar a saída
do patrão.
— O que quer de mim agora? Veio ver o
estrago que sua amante e sua mãe fizeram em mim?
Estou toda arranhada, a humilhação está estampada
em minha face. Estou sofrendo com pequenas

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doses de sua enganação, mas isso tudo é minha


culpa por acreditar em suas meias palavras gentis.
O que aconteceu com minha vida? — Ela sufocou
outra vez com o choro e abaixou a cabeça
derrotada.

Eduardo analisou os arranhões pelo corpo da


mulher e sentiu o mesmo que uma ferida sendo
cutucada em seu peito.

— Levanta daí, toma um banho e separe suas


coisas! — Ele falou com o rosto tenso e a
expressão dura.
— Me recuso a obedecer a qualquer ordem
sua. Saia do meu quarto!

Eduardo seguiu até o estreito guarda roupa,


pegou a mochila com os cadernos de Maria
Fernanda e jogou o conteúdo em um canto.
Arrastou dois vestidos dos cabides e colocou dentro

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da bolsa. Pegou alguns cremes e perfumes e os


mergulhou no mesmo lugar. Olhou para a mesinha
de canto e pegou todos os remédios. Por último,
procurou a escova de cabelo e o óleo que ele tinha
gravado na memória.

— O que está fazendo com minhas coisas! —


Maria Fernanda ajoelhou-se sobre a cama e assistiu
a rapidez com que o seu marido remexia em seu
guarda roupa.

Depois de fechar o zíper da bolsa, Eduardo


seguiu até a cama e viu Maria Fernanda correr para
o outro canto, ainda de joelhos.

— Vai me colocar para fora de casa? — Ela


pensou que aquela possibilidade seria sua salvação.
“Mas ele lhe daria dinheiro antes da maior
idade?”

— Não pode fazer isso com ela! — Suelen

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agarrou no braço dele e o puxou. Mas a morena não


tinha força alguma comparada ao patrão.
Eduardo rodeou a cama sem falar nenhuma
palavra, agarrou as pernas de Maria Fernanda e a
jogou nas costas.

— Me solte! — A jovem esmurrou a lombar


do marido. — Se vai fazer isso, então eu quero
dinheiro para não morar na rua!
Eduardo passou pela cozinha e Viu Antonieta
arregalar os olhos.

— Fez o que pedi? — Ele perguntou à negra.

— Aqui está. — Antonieta estava assustada


com os gritos de Maria Fernanda, mas tinha ideia
do propósito de Eduardo, então se limitou a
entregar a sacola nas mãos do patrão.
Eduardo seguiu para fora da casa sentindo
muitos murros e até mordidas no músculo de suas
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costas.

— Não pode me colocar assim para fora de


casa. Do que eu viveria antes de chegar meus
dezoito? Me deixe ir, mas me dê aos menos dez mil
reais para uma viagem a Paris.

— Mimada do caralho! — Ele resmungou


quando sentiu outra dentada cortar suas costas.
— Não fale esses nomes vulgares quando se
referir a mim! — Ela passou a esmurrar o traseiro
do marido.

Ele foi até o carro e a colocou de pé,


prensando-a contra seu corpo e a porta. A sacola e a
mochila foram jogadas no chão para que lhe fosse
possível buscar a chave no bolso e abrir a porta do
carro.
— O que vai fazer comigo? — Ela perguntou
olhando o rosto feroz do marido.

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— Antes de qualquer coisa, vou levantar sua


roupa e dá umas boas palmadas em sua bunda
branca por ter usado suas garras em minhas costas.
— Vai me matar e depois desovar meu corpo
em algum lugar?

— Esse é o plano. — Abriu a porta e a fez


sentar no banco ao lado do motorista. Jogou a
mochila e a sacola no colo dela, travou o carro e
arrastou-o em seguida.
— Eu te odeio. Quero dizer enquanto ainda
tenho vida. — Ela puxou a parte rasgada da
camisola e virou-se de costas para o motorista.

— Não foi esse o final da frase que ouvi na


madrugada.
— Eu estava febril e amedronta, não sabia o
que falava. Ogro, ardiloso, infernal.
— Coloque o cinto se não quiser voar pelo
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vidro. — Não tinha sinal de humor na voz dele.

Ele ainda estava indignado pelo tapa que havia


recebido no rosto. Aquela já era a segunda vez que,
a fera em pele de bela ovelha, o atacava
humilhantemente na face, mas o fato do segundo
episódio ter ocorrido na frente de seus pais teve um
agravante.

Ele tinha feito Viviane entrar no carro e sair de


seu jardim. A loira saiu espumando ódio e jurando
impropérios que o prejudicaria. Ele sabia o quanto
sua decisão era arriscada diante de seus projetos,
mas no momento, os olhos chorosos da jovem
irritante ao seu lado afastou qualquer sensatez
profissional de seus pensamentos. Depois
resolveria as consequências. Depois resolveria
tudo. Por hora, apenas cuidaria de amansar aquela
fera de dentes afiados. Desejou ver os livros que ela
andava lendo. Sim, faria aquilo na primeira

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oportunidade. Deveria ser livros sobre mulheres


encapetadas e destinadas a seduzir homens,
utilizando-se de puros e inocentes artifícios.
— Coloque o cinto. — Ele falou quando a viu
perto de bater a testa no vidro frontal do carro. Ela
não colocou.

— Se estou à beira de morrer, qual o problema


adiantar as coisas?
— Coloque o cinto. — ele tornou repetir.

Ela não colocou. Estava determinada a não


seguir as ordens dele.

Eduardo freou o carro bruscamente, puxou o


cinto de segurança e a prendeu no banco do carro.
— Quando eu falar com você me ouça e aja ao
meu comando. — Segurou o rosto dela entre o
indicador e polegar e apertou.

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— Ficarei calada até que me tirem a vida.


Sendo assim, a partir de agora me calarei para
sempre. — Ela falou com os lábios em formato de
boca de peixe. Eduardo mirou a tentação rosada
entre a força de seu dedos e a afastou para o
encosto do banco.
— Pode ter certeza que no momento em que eu
tiver te abatendo, vai sair muitos gemidos de sua
boca. — Ele deixou escapar quando voltou a pegar
no volante.

— Do que está falando, meu senhor? Está se


divertindo com meu triste momento?

— Para de falar como se estivesse na porra de


um romance histórico, mulher irritante! — Ele
gritou fazendo-a encolher os ombros. — Maria
Fernanda, você não queira me ver nervoso! — A
ameaçou.

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Aquilo tinha sua grande parcela de mentira, ele


achava aquela fala ritmada “bonitinha”, esse era o
motivo de sua irritação. Desde quando Eduardo
Medeiros achava algo “bonitinho?”. Era difícil ele
usar aquele termo bobo até em seus pensamentos,
mas muitas vezes já tinha dito "que bonitinha"
depois de frases conservadoras dita pela mulher.
— Não sei por que grita comigo, se você é o
errado. — Ela falou ainda encolhida.

— Vamos continuar nossa viagem. — Ele


pegou o volante e voltou a dirigir.
— Para onde está me levando?

— Não te contei?! Por muitos anos tive um


matadouro clandestino. Depois de cansado da
minha vida irregular, resolvi montar meu próprio
lugar secreto. Você será a primeira e única vítima a
frequentar a torre do ogro sanguinário.

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Ele se divertiu com a própria história montada,


que em parte fazia muito sentido.
— Só espero, que tenha a dignidade de me
oferecer uma anestesia antes de cortar os pedaços...
— Ela começou a tremer a voz e antes que pudesse
se conter, as lágrimas brotaram de seus olhos. —
Por favor, não me mate. Ainda sou nova e tenho
muitos sonhos.

— Jura? Conhecer Paris e mais o quê? — Ele


debochou. — Visitar a Disney?
Se ele soubesse que ela já tinha viajado boa
parte do mundo antes de completar os quinze anos,
mas nunca achou necessário lhe contar.

— Por favor, Eduardo. — Ouvir seu nome na


boca daquela menina sempre o desestabilizava, mas
naquele momento, a excitação auditiva não foi
maior que a dor de vê-la chorando.

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— Não chore. — Falou com a voz branda.

— Estou com os minutos de vida contados e


minha cabeça dói. Não consigo controlar meu
estado emocional.

— Então faça o que sabe melhor... Seja uma


ferinha irritante, só não chore.

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21

Ela parou de falar e Eduardo perguntou-se o


que se passava na mente dela durante aqueles mais
de vinte minutos calada. Mas quando ela fez
menção em abrir a boca ele desejou que ela
voltasse a se calar.

“Não, não, não.” Ele repetiu em pensamento.


— Alguma vez em sua vida, já amou,
Eduardo? — A voz dela ainda estava trêmula. —
Me pergunto o motivo para ser tão vazio de
sentimentos.

— Não me pergunte coisas tão pessoais. — Ele


falou com sua carranca fechada.
— Foi cruelmente traído e ridicularizado por
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alguma mulher? — Ela insistiu.

— Quer saber se eu fui humilhado por uma


mulher na adolescência, quando ainda era um
bobalhão com o rosto repleto de espinhas e os
óculos fundo de garrafa? — Ele parou por alguns
segundos e depois falou em tom de afirmação. —
Ela era a popular da escola, eu era apenas o nerd.

Os olhos dele estavam na estrada, os de Maria


Fernanda estavam fixos no rosto dele. Ela
transbordava compaixão em seu olhar meigo.
— Por isso criou uma couraça de proteção em
torno de sua alma? Eu sinto muito, Eduardo. Isso é
cruel e pode devastar a mente de uma pessoa, ainda
mais em uma idade de tantos conflitos pessoais.
Mas isso pode ser mudado. Hoje você é... — Ela
olhou para o belo perfil do marido. — Tem uma
aparência boa, pode fazer o mesmo com seu
interior.
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Eduardo gargalhou ao volante. Sua risada foi


alta, como se estivesse realmente se divertindo.
— Na minha adolescência eu era o cara mais
inteligente do colégio, nunca reprovei em nenhuma
matéria e tinha a confiança de todos os professores.
Ganhei os melhores prêmios e isso trouxe fama
para a escola. Eu era "o cara", desde muito cedo. —
O carro entrou na garagem de um prédio bem alto.

— E mesmo assim você foi ridicularizado e se


prendeu no seu mundinho racional, por conta de
uma humilhação? — Ela ainda o olhava com
ternura.

Eduardo estacionou o carro em uma vaga e a


olhou. Tocou o rosto dela com a mão direita e
alisou a marca de um arranhão, herdado na briga de
mais cedo. Em troca ele recebeu um sorriso singelo
da jovem.

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— Eu era o mais cobiçado da minha escola e


das redondezas, também. Era o adolescente mais
bonito, charmoso e desejável. O terror das
estagiárias. Por que um nerd tem que ser feio e
traído por uma patricinha fútil para virar o fodão?
— A arrogância peculiar de Eduardo voltou a ativa.
— Eu era o mais gostoso daquela escola. Aprendi
a fazer direito desde os catorze anos. Sou lindo,
inteligente e gostoso desde cedo. Não deixaria
mulher nenhuma me passar para trás!
O sorriso de Maria Fernanda foi substituído
por infladas raivosas de narinas. Ela deflagrou um
tapa na mão do homem que carregava um sorriso
convencido em seu rosto. Enfurecida, por mais uma
vez ter sido traída pela tola paixão, ela virou-se
para frente.

— Às vezes é preciso saber quando dar um


passo atrás, isso também é amor. — Ele ainda a

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olhava de perto. — Você acha que eu não sei o que


é amor? Pois está muito enganada. Eu tenho minhas
próprias teorias. Olhe pra mim!
— Não vou fazer isso. — Ela não obedeceu.

— Na adolescência meu pai me levava com ele


em clubes de Jockey. Sabe por que ele me
carregava?
— Porque você era o mais belo e precisava ser
mostrado ao mundo. — Ela desdenhou.

Eduardo manteve a seriedade, mas a palavra


bonitinha soou em seus pensamentos. Era a
tentativa de ironia mais fofa que ele já tinha visto.
Fofa era outra palavra que não fazia parte de seu
vocabulário, mas agora não saía mais de sua
cabeça.
— Ele me levava, pois eu tinha os melhores
palpites. Apesar de nunca gostar de qualquer tipo

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de jogo de aposta, sabia lidar com aquilo e com


maestria. Sabia calcular estratégias e
possibilidades. Meu pai ganhou muito dinheiro nas
tardes de domingo. Mas tão de repente, ele passou a
perder uma fortuna. — Eduardo sentiu um nó preso
na garganta. — Comecei dar os piores palpites. Eu
sabia que meu pai perderia, fiz apenas para que ele
parasse de usar nossas horas vagas naquele lugar
onde só conversávamos sobre números e apostas.
Maria Fernanda percebeu que aquelas palavras
tinham muitos sentimentos secretos que o feriam e
ela ficou tentada a olhá-lo novamente.

— Meu pai tinha o melhor estrategista ao lado


dele. Eu era cabeça, mas também tinha um coração.
Eu era o coração do meu pai. Ele confiou em mim
e, no entanto, eu burlei as regras para que ele
perdesse. O amor é como um jogo, eu posso entrar
na jogada e ganhar, mas também posso tentar e

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perder. É um grande risco a ser assumido. Não vou


viver minha vida confiando em sentimentos de um
coração traidor. — Ele firmou o indicador ao lado
da cabeça. — Isso aqui me guia. Meu cérebro é o
meu comando. Minha mente tem as melhores
sacadas, sempre foi assim. Não mexer em time que
sempre ganha é uma boa estratégia. Já ouviu falar?
— Já. E você também pensa assim. — Ela
afirmou. Não resistiu e já estava com os olhos fixos
nele.

— Isso é uma babaquice, de gente fraca que


tem medo de arriscar. Gosto de inovação, mas isso
também precisa ser pensado nos mínimos detalhes.
— Você tem boas teorias.

— Sim. Mas daí chegou uma ferinha


selvagem, que só tem cabelo e olho, e resolveu
mexer com minha sanidade.

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— Também tem muito sentimento reprimido.


Não é sobre ser o mais bonito e inteligente. É sobre
o que deixaram de te dar. Quem pouco é amado,
pouco ama. Já li isso em um livro de autoajuda.
— Também lê essas baboseiras? — Ele sorriu.

— Leio qualquer coisa que me transmita


sentimentos e sensações. Inclusive seus olhos. —
Ela tocou o rosto dele.
— O medo de morrer está te fazendo apelar?
— Ele colocou a mão sobre a dela que estava em
seu rosto.

— Talvez eu esteja com muito medo... Ou


talvez seja fome. Ainda não sei discernir. Por favor,
não me mate.
— Vamos subir. Você precisa se alimentar e
tomar seus remédios.
— Qual o sentido de me medicar, se você tem
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planos de me levar a um matadouro feito


exclusivamente para mim?
— Preciso te alimentar e medicar para que
aguente até a terceira rodada de tortura.

— Homem cruel. Vai pagar seus pecados no


mais ardente fogo!
— Ou posso ganhar absolvição por encarar
uma fera de olhos graúdos e pelos sedosos. Vamos
subir. — Ele abriu a porta do carro e sabendo que
ela tentaria correr, se apressou em dar a volta. —
Peguei você!

— Por favor, tenho piedade de mim! Ainda


sou nova para deixar a vida.
— Está na idade apropriada. Mas acho que
você está precisando de um bom banho antes de
qualquer coisa. Também precisa escovar os dentes.
— Sou a mulher mais limpa que pôde colocar
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as mãos. Tenho reservas de limpeza na pele. — Ela


disse com o corpo levemente dobrado. Sua cintura
estava dividida pelo braço dele.
Eduardo pegou a sacola e a mochila no chão e
travou o carro.

— Esse é o preço pago por uma mulher


humilhada pela rameira do marido. — Ela
reclamou aos prantos, sendo carregada na direção
do elevador.
Reclamou e chorou durante todo o percurso até
o vigésimo nono andar do prédio. Quando Eduardo
abriu a porta e a empurrou para dentro, Maria
Fernanda enxugou o rosto e circulou curiosa na
enorme sala. Mexeu em cada móvel coberto e
rasgou algumas embalagens mais discretas.

— Pelo visto, esqueceu-se da cruel morte que


te espera. — Ele falou depois de um tempo,

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observando a agilidade da jovem em remexer em


seus móveis lacrados.
Ele retirou os sapatos dos pés, em seguida
começou despir as duas peças do corpo, quando
estava apenas de cueca Maria Fernanda largou a
curiosidade dos utensílios domésticos e gritou. O
eco fino irritou a audição de Eduardo a ponto de
fazê-lo desejar tapar os ouvidos, mas contentou-se
em apertar os olhos.

— Por que estou vendo um ogro horripilante,


pelado? — Ela puxou uma pequena caixa e colocou
frente ao rosto.

— Vamos tomar banho juntos. Tire esses


trapos rasgados de seu corpo.

— Não faria isso por minha livre vontade. O


que espera? Que eu esfregue o corpo de meu algoz?
— Em especial o músculo mais duro e

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aveludado.

Maria Fernanda poderia fazer o contrário, mas


seus olhos foram direcionados a saliência dentro da
cueca escura do marido.

— Como se atreve a me fazer tal proposta?! —


Ela tampou os olhos com a própria mão e espiou
entre os dedos.
— Vamos, você está fedida e precisando
passar algo nesses arranhões.

— Eu prefiro a morte a ter que me prestar a


esse papel.

— Você vai tomar banho, vai se alimentar e


tomar os remédios. Eu não estou interessado em
dividir a cama com uma mulher fedida, moribunda
e sem forças para mover os quadris.
— Como ousa! — Ela fechou o punho.

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— Que ousa, o que? Vamos logo tomar banho


e deixe de fantasiar histórias.
— Eu juro que cometo um assassinato se tentar
tocar em meus quadris. — Ela o ameaçou com a
caixa de papelão, cujo conteúdo movia-se a cada
sacolejada de sua mão.

— Ah, pode ter certeza que eu nem vou


precisar tocar. — Ele deu alguns passos em direção
a ela.
Ela observou os passos dele, mas quando viu o
sorriso cínico se formar no rosto de Eduardo, ela
correu abraçada a caixinha de papelão.

Eduardo respirou fundo pegou as roupas e


seguiu na direção do quarto. Dali ela não sairia.
Bem, talvez conseguisse, se quebrasse a parede de
vidro por trás do papelão. Mas ela parecia ser
inteligente o suficiente para não cogitar tal tolice.

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22

Alguns móveis de Eduardo já estavam


montados. Água, luz e gás já funcionavam. Ele
tinha ganhado aquele apartamento de presente
quando fez vinte e um anos, mas só agora que
resolveu fazer uma reforma e deixa-lo a seu gosto.
Seria seu refúgio particular, não tinha planos de
levar outra pessoa para morar com ele, a não ser a
sua irmã mais velha que estudava fora do país.

Ele tinha algumas peças de roupas novas nas


gavetas do enorme guarda roupa, material de
limpeza e produtos de higiene foram encontrados
na área de serviço. Já tinha tomado café com o que
Antonieta separou na sacola. Pediu o almoço em
um bom restaurante próximo, era um bairro nobre.
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Maria Fernanda continuava dentro da despensa


vazia do apartamento do marido. Ele já tinha ido
até lá, mas depois da segunda vez que foi mordido,
jurou que não se aproximaria mais daquela porta.
Ela que saísse quando a costela agarrasse na pele
das costas.
Já tinha passado do meio dia quando Eduardo
arrumou o almoço no balcão de pedra preta de
Silestone. O tempo tinha esfriado e sabia que o
chão da dispensa iria adoecer ainda mais a mulher.
Mas ele não iria lá receber outra dentada. Sorriu e
inalou o cheiro que vinha da massa artesanal
salteada na manteiga de ervas, camarões,
cogumelos frescos e brócolis.

— Delícia... — Colocou um bocado no garfo e


aproximou na direção dos lábios.
Estava sorrindo, antes de fechar os olhos e
lembrar-se de Maria Fernanda na despensa. Aquilo
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só durou três segundos. Abriu os olhos outra vez e


sacudiu a cabeça pra afastar a imagem da fera
faminta jogada no chão, abriu a boca para não
desistir e colocou mais quantidade no garfo.
Levantou o talher, e o alimento chegou a roçar em
seus lábios, mas ele não conseguiu lidar com a
comiseração que deu uma bofetada em sua cara.
Ele levantou indignado e empurrou a porta da
dispensa com certa ignorância. Maria Fernanda
estava cochilando e arregalou os olhos graúdos de
imediato.

— Levanta! — A chamou com um gesto


impaciente.
— Vou continuar aqui. — Ela apertou as mãos
em volta dos joelhos.

Ele respirou fundo, se abaixou e a fez levantar-


se contra vontade.

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— Me solte. Que mal eu lhe faço por estar


exilada em um cômodo vazio?
Ela resmungou enquanto era puxada e abaixou
o rosto para morder o braço dele. Eduardo segurou
na raiz dos cabelos castanhos e levantou a cabeça
da mulher.

— Você vai sentar e vai comer. — Puxou uma


banqueta ao lado dele e a fez sentar. — Ou prefere
que eu te amarre?
— Você cozinhou? — Ela perguntou
levemente tentada pelo cheiro e boa aparência dos
alimentos.

— Coma e não me faça perguntas.


— Não sinto fome... — Ela quase passou a
língua nos lábios, mas guardou dentro da boca
quando lembrou que Eduardo estava ao lado.
— Coma logo! Ou eu abro sua boca e forço a
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entrada!

— Colocou algum xarope duvidoso aí dentro?

Eduardo curvou o canto do lábio e sorriu


diante dos próprios pensamentos. Certamente ela
jogaria o prato nele se o ouvisse falar sobre certo
xarope que ele deveria colocar na sua boca.
— Por que está rindo? Colocou droga na
comida!

Eduardo observou o estado desgrenhado da


mulher ao seu lado e lutou para conter o riso mais
aberto.

— Vai precisar de um banho. Está a


personificação de uma fera do mato. Só falta tirar a
roupa e desprender dos pudores. Se quiser andar
pelada pela casa, não reclamarei.
— Descarado! — Ela apertou o punho e
fechou a cara.
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Eduardo levou o garfo até o prato dela, pegou


uma porção de alimento e ingeriu.
— Pronto, não morri, agora coma!

Maria Fernanda pegou o garfo e, esfomeada,


colocou uma grande quantidade de comida na boca.
Rapidamente comeu o conteúdo do prato e serviu-
se de mais.
— O que pretende fazer comigo? — Ela
perguntou de boca cheia.

— Está perdendo a classe, Milady, não quero


ver o alimento dentro de sua boca! Mas
respondendo a sua pergunta, quero te deixar mais
saudável. Tenho motivos para desejar sua saúde.
— Não me esqueço das humilhações que me
faz passar, depois de beijos com promessas.
— Até agora, eu só te prometi que não usaria a
força contra você. No mais, é por sua conta.
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Maria Fernanda abaixou a cabeça e continuou


comendo. Ele estava certo, não tinha feito
promessas. Ela que se enganava a cada beijo que
recebia do marido. Era tão bom ser beijada por ele
em seu estado dócil. Bom e quente. Ela tinha
descoberto parte das sensações de paixões ardentes
que as mocinhas dos romances sentiam dentro das
páginas proibidas, aquelas que ela pulava. Mesmo
sendo extremamente curiosa, ela pulava as páginas
que carregava o conteúdo de prazer a dois e só
fixava no cortejo anterior e posterior do casal.
Muitas vezes desejou ter um príncipe para chamar
de seu e lhe mostrar a felicidade que acontecia
dentro das páginas secretas, queria descobrir tudo
ao lado dele. Mas nos romances os finais eram
felizes. Tinha por certo que o homem experiente e
ambicioso ao seu lado, a abandonaria antes de mear
as páginas ocultas. E as seguintes, descreveria ela
abandonada e arrependida sobre uma cama. Ele não
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se renderia ao amor de uma jovem inocente ao


ponto de inseri-la em suas ideologias racionais.
Eduardo certamente zombava de sua ingenuidade.
Ela não passava de uma jovem tola que se derretia
nos lábios dele ao ponto de transparecer com
palavras, que o amava por tão pouco.
— Por que está chorando? — Ele percebeu o
fungar de nariz, em seguida verificou as lágrimas.

— Não importa.
— Sente dores? — Ele colocou o dorso da mão
na testa dela, mas foi afastado. — Você está com
febre outra vez. Não deveria ter ficado no chão frio.

— Não quero seu olhar de piedade. Continue


sendo grosseiro e desrespeitoso, assim eu não serei
tonta.
— Termine de comer e vá para o último quarto
do corredor. Lá tem tudo montado. Tome seus

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remédios, banho e durma. Faça isso a tarde toda.


Está frio, aproveite para se enterrar nas cobertas.
Maria Fernanda não falou nada. Já estava
saciada, então levantou-se e saiu da cozinha.

— Que droga de piedade, mulher! — Ele


afastou o prato para o meio do balcão. — Será que
não vê que o traíra do meu pau está dependente de
você sem nunca ter te conhecido?
***

Já era noite, Eduardo estava deitado no sofá.


De onde ele estava dava para ver as luzes da
cidade. Ele tinha tirado os papelões que tampava a
grande parede de vidro blindada. O seu
apartamento era diferenciado dos demais, era único
e arquitetado nos mínimos detalhes.
Maria Fernanda apareceu na sala e Eduardo
sentou rapidamente no sofá. A visão dos pontos de

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luz aguçou a curiosidade da jovem. Ela caminhou


até o vidro e passou a mão em sua extensão, em
seguida forçou para frente e sentiu um frio enorme
na barriga ao olhar para baixo e ter noção da altura.
Recuou rapidamente e chocou suas costas em
Eduardo que segurou-a pela cintura.
— Primeiro a curiosidade, depois o medo, não
é mesmo? Já estou conseguindo te traduzir, mulher.

— Isso não estava aqui... Estava coberto? —


Ela se afastou e olhou para as mãos dele que antes
apalpava sua cintura.
— É a primeira vez que retiro o papelão depois
da reforma. Eu que projetei. Gostou?

Ela afirmou, ainda o olhando cismada.


— Daqui dá para visualizar onde quero chegar.
Olha aqueles prédios enormes. — Apontou — Um
dia vou ter construído prédios bem maiores que ele.

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Ela virou novamente para as luzes da cidade.


Maria Fernanda usava um dos vestidos que
Eduardo colocou na mochila. Os cabelos estavam
jogados em um único lado do pescoço.
Eduardo sentiu-se extremamente tentado em
distribuir alguns beijos na parte descoberta do
pescoço e dizer que a visão era linda, mas tê-la no
centro da parede de vidro fazia a cena perder o
sentido, pois passava a ser apenas uma moldura em
volta de seu corpo perfeito. Ele apertou os próprios
olhos lutando contra o pensamento, mas não viu o
afastamento dele. Tolo, ainda não tinha notado que
não era um simples pensamento que o atingia, e
sim o sentir que pulsava no peito.

— Eu... Eu mandei trazer sopa, pão de queijo e


chocolate quente. Vai se alimentar. — Ele voltou
para o sofá e se jogou de costas para onde ela
estava.

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Maria Fernanda ainda ficou no mesmo lugar


por um tempo, depois caminhou até a cozinha.
Eduardo apertou o dedo nos olhos assim que se
viu sozinho na grande sala. Levou-a até ali na
esperança de matar o desejo que percorria em seu
corpo que ansiava pelo dela. E, quem sabe, pensar
em uma remota possibilidade de fazer aquela
loucura dar certo... pelo menos por um tempo.
Estava tão ansioso por ela que sua boca chegava a
salivar com a lembrança dos gemidos fracos e
inocentes da mulher. Estava sendo egoísta, pois ele
nunca seria um Don Juan descrito nos livros e tinha
consciência de que, em algum momento, a faria
sofrer com suas metas de futuro.

Ele cobriu o rosto com um dos braços e por


trás dos olhos desenhou o corpo dela. Ela estava
nua, parada frente à parede transparente. Os cabelos
soltos tomavam as costas até a base do quadril.

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Abaixo estava o bumbum pequeno e redondinho.


As pernas lisas e longas brilhavam com algum de
seus cremes. Ele esvaziou a mente no intuito de ir
além e imaginar suas mãos percorrendo o corpo de
pele macia e cheirosa. Queria dormir e sonhar com
os gemidos que exercia algum tipo de
encantamento sobre ele.
Alguns minutos depois de se alimentar, Maria
Fernanda voltou da cozinha e arregalou os olhos
com a cena a sua frente. Eduardo estava com uma
das mãos enterrada dentro da calça de moletom e
seguia um ritmo sofrido lá dentro. O braço frente
ao rosto apagava o clarão da luz e o direcionava
para a alusão de fantasia particular. O homem
arfava com respiração sofrida.

Dividida entre vergonha e curiosidade, Maria


Fernanda correu para o quarto e se escondeu
debaixo do cobertor. Foi a primeira vez que viu

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algo parecido. Ele fazia sempre aquilo? Qual o


propósito se tinha muitas mulheres aos seus pés?
Chegou a se perguntar, se Giovane fazia o mesmo.
Com que cara ela olharia para ele depois daquilo?
Deveria ser uma arte secreta dos homens.

Ela puxou os próprios cabelos e fez uma venda


em seus olhos. Precisava pensar em alguma coisa
que afastasse a ideia de voltar à sala para espiar o
marido com a mão dentro da calça. Dormiria. Sim,
precisava dormir rápido, antes que ele voltasse.

***
Já era tarde, quando a jovem arregalou os
olhos ao ouvir o estrondo de um trovão. Trêmula,
ela tateou a cama em busca de um corpo musculoso
que deveria estar ali para protegê-la do terrível
barulho. Mas o lado estava vazio. Ela gelou e sentiu
o temor percorrer seu corpo.

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Quando o barulho ecoou pela terceira vez e um


clarão entrou pela vidraça, Eduardo sentou meio
atordoado no sofá.
— Eduardo! — Ele ouviu o grito dela nos dois
segundos de calmaria entre um estrondo e outro. —
Eduardo!

Ele correu até o quarto e empurrou a porta com


rapidez.
— Maria Fernanda! — Não a encontrou. —
Maria Fernanda! — Se jogou sobre a cama e olhou
para o chão. Viu o bolinho encolhido, enrolada no
cobertor e desceu rapidamente. — Calma, mulher.
— Pegou o corpo dela e colocou em sobre suas
pernas. — Por que está no chão?

— O co- co-bertor prendeu mi-nhas pernas...


— Calma. É só uma tempestade, igual à de
ontem.

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— O prédio vai desmoronar. — Ela sussurrou.


— Pre-cisa fazer alguma coisa.
— Não tenho poderes contra as forças da
natureza, mulher. Fique calma. O prédio não vai
cair.

Outro barulho violento voltou a surgir dentro


do quarto e Maria Fernanda afundou o rosto no
peito do marido.
— Por favor, me abrace.

Eduardo percebeu o quanto ela estava trêmula


e atendeu ao pedido de imediato.

— Precisa controlar isso, ou qualquer dia vai


sofrer do coração.
— E... Eu estou com medo. — A voz dela saiu
em início de soluço. — Nã-não me solte.

— Não vou te soltar. — Ele organizou a

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cabeleira que estava em toda parte. — Vamos para


a cama. Não é bom você ficar nesse chão frio.
— Eu estou com medo, não consigo me mexer.

— Você quer colinho? — Eduardo não pôde


acreditar que ele estava se prestando aquele papel
para não a ver chorar. Até sua voz estava levemente
infantil.
— Eu quero. — Ela choramingou com a voz
trêmula.

Ele ficou de joelhos, pegou-a nos braços e


colocou sobre a cama. Depois subiu e ficou ao lado
dela.
— Não se aproveite de meu momento de
fraqueza, você continua sendo um ogro cruel. —
Ela ainda chorava.
— Então, vou voltar para o meu sofá. — Ele
sentou e se preparou para sair da cama.
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Rapidamente ela montou no colo do marido. O


prendendo entre as pernas e o colchão.
— Por favor, por favor. Tenha piedade de
mim. — Ela enlaçou o pescoço dele e chorou
baixinho em seu peito.

Ainda na penumbra do quarto, ele beijou o


rosto dela e afagou os cabelos.
— Você lavou as mãos? — ela perguntou
ainda soluçando.

— Por que isso é importante?


Outro relâmpago e outro grito dela.

— Calma, mulher. — Beijou a bochecha dela.


— Não me Morda. — Beijou outra vez. — Apesar
de que, eu me sinto tentado a te morder de tão linda
que você é.

— Mi-minha pele já está machuca o suficiente.

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— Chorou.
— E eu sei exatamente onde preciso morder e
faria bem de levinho. — Seguiu beijando o rosto
dela.

— Você está se aproveitando de mim...

— Estou te protegendo dos terríveis


relâmpagos. — Beijou o ombro dela ainda coberto.
— Precisa enfrentar essa fobia, ferinha medrosa.
Esquece o barulho lá fora e sente minhas mãos
acalmando seu corpo.

— Estão quentes. — Com o ouvido do peito


dele, ela sentiu o coração do marido pulsar
freneticamente.
— Eu sou quente. Com sua bocetinha colada
ao meu...
— Não... não acabe com um possível momento
falando coisas que não me agradam.
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— Sua... deliciosa pedindo abrigo ao meu


corajoso membro, estoura com qualquer medidor
de temperatura.
— Isso não está acontecendo. Não levante
falso contra minha... Deliciosa?

— Sim, rosadinha e deliciosa. — Ele


sussurrou.
— Estou com medo, só isso. Mas com isso,
você está tentando dizer que me deseja como
mulher?

— Mulher, eu chuparia você...!

— Não! Seja mais gentil e elegante. — Ela


interrompeu a euforia dele.
— Eu me deliciaria com você a noite toda e
agradeceria por me proporcionar a oportunidade.

“Que humilhação do caramba é essa?” Seu

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subconsciente o confrontou.
— Não vai me entristecer tendo outras
mulheres?

— Vou te mostrar a prova visível. — Ele


segurou a mão direita dela, beijou e direcionou por
entre os corpos.
— Eduardo...

Ela tentou recuar, mas ele a calou com um


chiado. Deixou a mão dela sobre o tecido macio e
leve de sua calça, fazendo-a sentir a prova visível
da excitação dele, que começava crescer.

— A mulher que desejo está aqui, tocando o


meu pa... membro e me deixando aceso. —
Procurou os lábios dela.
— Sou nova e não sei discernir as coisas com
malícia, então não minta pra mim. Não me faça
sofrer.
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Para a loucura de Eduardo, ela fechou a mão,


sentindo-se curiosa.
— Quero você mulher. Meu corpo inteiro
anseia pelo seu, não duvide disso. Está sentindo...
Ai caralho!

Ela moveu a mão de cima abaixo.


— Não xingue.

— Não vou...
— Vai usar aliança?
— Não tenho como te negar isso... — a voz
dele saiu sofrida, pois sentiu a mão curiosa da
mulher o torturar com ritmo lento.

— Você faz isso com frequência? O que sente?


— Mulher encapetada, para de fazer perguntas.
— Apertou os olhos.

Ele concordaria com tudo, sem ao menos


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analisar a pergunta.
Ela olhou para o rosto dele, prestes a rebater o
adjetivo, mas o prazer evidente na face do marido a
calou. Ela estava provocando aquilo e a sensação
foi inebriante. Gostando de exercer poder sobre ele,
Maria Fernanda moveu a mão com um ritmo mais
frenético e ouviu um grunhido escapar da boca
dele.

Eduardo estava sentindo a mão pequena


provocar seu membro com pouca agilidade e
mesmo assim, seu sangue corria rapidamente para
aquela região. Aquilo nunca foi tão provocante.

Maria Fernanda perguntou-se se aquele era o


ponto fraco do marido. Se fosse, ela poderia
colocá-lo na linha ao regra-lo. Ela teve aquele
pensamento enquanto seu polegar encontrou o
início

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daquela extensão que lhe dava certo medo.


Eduardo soltou o ar pela boca e gemeu rouco. A
sensação foi enlouquecedora. Não acreditou que
agiria feito um moleque ao se antecipar com apenas
um toque. Não, ele precisava tomar as rédeas, antes
que aquilo ferisse sua honra.
— Por que está me olhando com olhar
travesso? — Ele a tirou dos devaneios.

— Vai chegar em casa todos os dias cedo, não


vai frequentar os lugares que aquela dona estiver,
vai me levar com você nas festas da empresa...
Eduardo a calou com um movimento brusco.
Em um instante ele estava sobre ela, prendendo os
braços da mulher no colchão.

— Então seu plano é me prender com uma


chave de coxa? Acha que possui forças para isso?
— Acredito que não preciso de força para

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conseguir tal façanha. — Ela falou sentindo a


respiração ofegante do marido na pele de seu rosto.
— Olha, quem está colocando as manguinhas
de fora…

— No caso, uma única mão.

— Afrontosa até na inocência… Vou te


mostrar quem manda aqui. — ele mordeu o lábio
tentador que o provocava sem esforços, em seguida
invadiu a boca da mulher com uma avidez faminta.

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23

— Estou com medo de você ser perverso e...


— Maria Fernanda calou-se, pois os beijos em seu
pescoço já estavam surtindo efeito. O corpo de
Eduardo estava sobre o dela, mas ele mantinha um
equilíbrio descomunal para não machucá-la. —
Você sabe que não tenho... — As palavras dela se
perderam entre curtos gemidos. — Estou com
medo...

— Para! — ele firmou as duas mãos no rosto


dela e olhou muito de perto. — Se continuar assim,
seu corpo não vai reagir. Estou disposto a começar
te agradando, então calma. — Ele levantou o
queixo dela. — O que você quer? — Uma das mãos
dele desceu lentamente dos cabelos dela e parou
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sobre os seios. — Isso é bom, não é? — Apertou o


mamilo sobre o vestido e viu Maria Fernanda
fechar as pálpebras dos olhos. — Isso, feche os
olhos.
Eduardo desejava tanto aquela pequena abaixo
de seu corpo que se enterraria nela sem
preliminares. Mas, Maria Fernanda era virgem e
não queria machucá-la além do natural. Lembrou-
se da última vez, quando tentou instigá-la e apenas
viu lágrimas de medo. Primeiro iria estimula-la
com delicadeza. Não suportaria outra desistência
dela.

A boca faminta de Eduardo cobriu cada parte


do pescoço da mulher com beijos possessivos e
molhados. O seio redondo sofria em sua mão, mas
aquele sofrimento nunca tinha sido tão bom para
ela. Eduardo ouviu Maria Fernanda arfar com a
deliciosa tortura. Ele sentiu o bico do seio

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endurecer na ponta de seus dedos. Estava no


caminho certo, àqueles biquinhos ansiavam por sua
boca. Ele já salivava por antecipação. Louco para
senti-los, ele levantou o rosto e procurou por zíper,
botões, colchetes, abertura, qualquer coisa que os
libertasse o mais rápido possível.
— Como esse vestido entrou?— Ele seguiu
procurando. — Não é possível...

Maria Fernanda abriu os olhos quando ele já


estava com as mãos na gola, pronto para rasgar o
tecido. Ela forçou o pescoço e tentou virar de
costas. Eduardo entendeu e a libertou para que
assim o fizesse.
Sentado sobre a cama ele admirou as costas da
mulher, afastou os cabelos do pescoço e depositou
pequenos beijos ali.

— Vou ter cuidado. — Sussurrou e viu os

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pelos do pescoço dela se eriçarem. — Ele abaixou


o zíper invisível com certa dificuldade. Ele não
tinha muita paciência e geralmente rasgava os
impedimentos, mas precisava ir com calma para
não assustá-la a ponto dela querer desistir.

Tendo o zíper aberto até o limite, ele abriu o


tecido florido do vestido. Não havia sutiã no corpo
dela. Ele amou a visão das costas nuas.

— Sua pele é linda...


Quis beijá-la por inteiro e começou pela nuca.
Maria Fernanda soltou um casto murmúrio,
sentindo o delicioso toque. Seu corpo foi inundado
por chamas e uma dor gostosa pairou entre suas
coxas. Eduardo encerrou a trilha de beijos sobre a
pele que iniciava o osso do sacro. Percebeu que não
havia tecido algum por baixo do vestido e
continuou beijando a pele sobre os dois furinhos
entre a curva lombar e sacral.
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Depois de ter adorado aquela região do corpo


da mulher, ele fez o caminho de volta até o pescoço
dela.
— Por que está sem calcinha? — Perguntou no
ouvido dela. — Estava sem nada por baixo o tempo
todo, safadinha...

— Não sou safada, só não... Você não colocou


minhas peças na mochila e a que eu usava está
secando...
— Shii, ele delineou a orelha dela com a ponta
da língua e mordeu o pequeno lóbulo. — Levanta o
bracinho... — Ele puxou as alças do vestido e
arrastou pelos braços, deixando o tecido preso
apenas a cintura dela. — Vira, quero te olhar. —
Outra vez ela estremeceu com a voz quente ao seu
ouvido e atendeu ao comando de imediato.

Ele beijou-a nos lábios, em seguida admirou os

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seios médios e durinhos. Sorriu maravilhado com a


visão.
— Em toda minha vida, nunca vi uma mulher
tão rosada — ele fechou as mãos em volta dos seios
e sussurrou em seu ouvido: — São pequenos, mas
cabem inteirinhos na minha boca. — Desceu e
beijou o bico dos dois seios antes de abocanhá-los
em um árduo revezamento.

Os lábios e língua de Eduardo traziam


encantamento ao corpo da mulher, tanto que ela
começou se movimentar de encontro à perna dele.
Eduardo a ajudou, colocando-se exatamente onde
ela precisava. Maria Fernanda gemeu com aquele
atrito. Naquele momento ele estava muito ligado a
ela sem ao menos ter se despido.
Maria Fernanda desejou tirar a roupa que a
impedia de tocar no corpo musculoso, mas no
momento, senti-lo sobre seus dois pontos sensíveis
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a proibia de se mover. Ela gemeu baixinho, se


descobrindo em mais um chamego quente do
marido. Ela não queria sair dali.
Aquele gemido fervia o sangue de Eduardo.
Seu membro já estava muito rígido e se continuasse
entregando-se a ela naquela dança sensual, ele não
resistiria por muito tempo. De repente, o homem
experiente parecia um adolescente sem controle.

— Eduardo... — ela o chamou.


— Te quero. — Ele abandonou a tortura
maravilhosa que fazia para olhar dentro dos olhos
azuis. Teve medo de ser uma desistência.

— Te... amo. — Ela só queria dizer aquela


frase.
— Shii. — Beijou-a no queixo e desceu pelo
corpo. Estava com fome dela.
“Não confunda prazer com amor, ferinha.”
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Pensou, enquanto lambia a pele macia do abdome


da mulher.
— Se abra para seu marido. — A mão dele
pairou sobre o pico de seu objeto de desejo. —
Faça isso. Quero te admirar.

Maria Fernanda não se sentiu capaz de


tamanha ousadia. Com que cara ela ficaria, em ter
as pernas aberta e Eduardo olhando para sua nudez
tão exposta.
Ela não negou, apenas virou o rosto para o
lado, estava vermelha pela paixão e
constrangimento.

— Só vai fazer isso para mim. Não quero ter


segredos entre nós. — Arrastou o vestido pelas
pernas dela. — Desejo conhecer seu corpo e te dar
prazer de todas as maneiras possíveis. — Beijou o
joelho dela e desceu a carícia sensual nas pernas. A

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palma de uma das mãos movimentou-se nela,


induzindo seu corpo a obedecê-lo, Maria Fernanda
sentiu-se tremer de desejo. — Abra! — falou firme.
A vergonha era o que menos importava, ela
quis obedecer ao comando do marido, pois já havia
sentido o que vinha depois e achou maravilhoso.
Foi por isso mesmo que ela firmou os pés sobre a
cama e de olhos fechados deu a visão privilegiada
que Eduardo tanto desejava. Ele sorriu largo e
alisou as pernas dela sobre o colchão.

— Realmente, não existe outra mais linda. —


Ele circulou o polegar no ponto sensível e a viu dar
um sobressalto na cama. — É deliciosa, linda e
muito rosada... — Ele seguiu o ritmo circular.
Maria Fernanda deu um gritinho, o fazendo sorrir e
puxar as pernas dela com força para próximo ao seu
rosto. — Se segura, pois não vou levantar daqui até
que tenha derramado seu prazer em minha boca.

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Quero te dar tudo antes da dor. — Sem cerimônia,


invadiu-a com um beijo insaciável.
— Eduardo... — O choque quente da boca do
marido a fez arquear as costas.

Aonde ele tinha aprendido a fazer aquilo tão


bem, se uma vez deixou escapar que poucas tinham
aquele privilégio?
Era a mesma corrente elétrica da primeira vez
em que recebeu as carícias, mas daquela vez
Eduardo estava sendo mais ousado. Além de
explorar todas as dobras dela com beijos, brincava
com um dedo na entrada apertada de Maria
Fernanda. Instigava-a, enquanto sua língua
embebedava a mulher de desejo e chamas de
devassidão. Agia lentamente, apenas nos arredores,
mas quando sentiu as pernas dela vibrar, introduziu
um dedo por completo e moveu-se dentro dela com
agilidade. Sugou-a para que o prazer fosse dobrado.
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Iria adorá-la. Desejava matar seu desejo e precisava


deixá-la pronta o mais rápido possível.
— Eduardo... — ela se assustou com as
investidas. Era algo novo.

— Eu sei... Mas apenas estou te preparando.


Quer que eu pare? — Ele ainda movia o dedo na
umidade quente, fazendo o corpo dela se
movimentar para cima e para baixo.
A reposta de Maria Fernanda foi inclinar o
corpo para agarrar os cabelos dele e empurra-lo de
volta contra sua intimidade, ansiando e desejando
por mais.

Quando ele voltou a beijá-la intimamente, o


corpo de Maria Fernanda se moveu no mesmo
ritmo dele. Eduardo colocou o dedo mais fundo e
deslizou para dentro e para fora.
— Não pare! — Ela apertou o dedo dele.

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Eduardo queria, mais que tudo, partir para a


segunda parte, mas aquela voz manhosa o
enlouquecia. Queria ouvir mais um pouco. Afastou
sua boca da pele quente e sentiu as sensíveis mãos
buscá-lo outra vez. As duas mãos dela firmaram-se
atrás da cabeça dele e Eduardo sentiu o prazer a
abraçando naquele exato momento.
Enquanto ela tremia em volta de seu dedo, ele
levantou o olhar. Ela estava com os olhos apertados
e os lábios abertos lutando com os gemidos e
respiração.

— Agora olha pra mim. — Ele levantou o


rosto e Maria Fernanda juntou as pernas em torno
da mão dele. — Quero ver seus olhos. — Ele pediu
com um sorriso maravilhado no rosto. Tê-la
daquela maneira certamente tornaria vício.
Ela o obedeceu. Os olhos azuis de ambos
estavam turvos de desejos. Maria Fernanda mordeu
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o lábio para controlar os gemidos. Ele a tocou ainda


na conexão dos olhares. E o desejo dela estava o
enlouquecendo.
— Gostosa. — Ele afastou os joelhos dela e
voltou a saboreá-la. — Minha ferinha é muito
gostosa. — Mordiscou a virilha levemente e voltou
a mover sua língua no ponto durinho e inchado.

— Não tenho mais... Estou sem forças. — Ela


ainda sentia espasmos sobre a cama. — Preciso que
pare.
Ele se animou e nem insistiu. Beijou o umbigo
ainda sentindo-a vibrar.

— O que eu ainda estou fazendo vestido? —


Ele retirou a camisa muito rápido e puxou a calça
moletom junto com a cueca. Sorriu para ela,
tentando encorajá-la. — Não se assuste.
Como da outra vez, Maria Fernanda teve medo

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daquele tamanho, mas estava totalmente


embebedada pelo desejo, então apenas rogou aos
céus para ele ser um bom marido daquele dia em
diante.
— Por favor, seja gentil. — Pediu com os
olhos turvos de lágrimas.

— O que foi, Maria Fernanda? Quer desistir?


— Ele se aproximou dela.
— Não quero desistir, mas não consigo parar
de temer, não somos compatíveis, Eduardo.

— Vai dar certo, não chore.

— Não vou chorar igual uma criança mimada.


Pode começar, não vou desistir.
— Não, Maria Fernanda, não é assim. —
Beijou os dois olhos dela. — Você quer isso?

“Não desista, não desista, não desista.” Ele

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repetiu um mantra mental. Precisava penetrá-la e


sentir o corpo pequeno tremer ao engoli-lo, nem
que fosse pela metade.
— Se desistir, vou ficar aqui com você do
mesmo jeito. — Por dentro ele seguia: “Não
desista, não desista.”

— Não quero desistir, quero você. Te am... —


Eduardo tomou os lábios dela com desespero e
alegria. Atordoado, lembrou-se do preservativo e
desceu da cama para procurar a carteira. Não
encontrou no quarto, então correu pela casa e
voltou na velocidade do foguete com a cartela na
mão.
O olhar de Maria Fernanda já transparência
desistência. Ele se agoniou e rasgou o pacote.
Precisava ser rápido, mas perdeu alguns segundos,
pois colocou sem precaução e retirou para colocar
outro. Não poderia correr o risco de estourar.
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“Pressão do caralho.” Reclamou em


pensamento.
Ele olhou para Maria Fernanda quase
implorando compreensão. Ela nem olhava mais
para ele. Chegou a pensar na possibilidade de
cantarolar uma música para acalmá-la.

— Ferinha... — Depois de ter conseguido,


voltou a deitar e ganhou a atenção dela novamente.
Beijou-a nos lábios e a tocou por alguns
segundos para conferir se ela ainda estava pronta.

— Linda...

Ele aproximou o membro da carne lânguida e


foi devagarzinho, parando a cada ponto que ela
soltava um suspiro forte. Maria Fernanda era
muitíssimo apertada para comportá-lo. Temeu
machucá-la mais que o necessário. Quando ele
percebeu a barreira da virgindade ser rompida

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beijou-a na testa. Ouviu o grito sufocado e se


recriminou intimamente.
— Linda... — Enlouqueceu com a vontade de
impulsionar fortemente e aprofundar-se todo dentro
dela, mas a beijou e acariciou a bochecha dela para
que ficasse mais tranquila. — Vou precisar me
mover até sua dor diminuir, tudo bem? Ela soluçou
baixinho e abraçou as costas dele. Eduardo moveu-
se devagar ainda incompleto dentro dela. Ela gritou
e deixou escapar uma lágrima.

— Me desculpa. — falou, pois não estava em


condições de parar. Beijou-a com paixão para em
seguida se mover rapidamente.
Ele impulsionou forte e foi fundo. Maria
Fernanda choramingou. Estava dividida entre o
prazer e dor. Ela sentia o marido em toda parte.
Eduardo não soube dizer quanto tempo manteve
suas estocadas. Ele se segurou ao máximo e quando
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seu prazer foi alcançado, sentiu-se completo. Ali


era seu melhor lugar, mas ele ainda podia mais,
então levantou as costas dela, segurou-a firme e seu
corpo vibrou ao alcançar o lugar mais fundo dentro
dela. Foi intenso e o instigou. Ainda não estava
satisfeito, mas sabia dos limites dela. Lutou
bravamente para abandonar o interior apertado e
acolhedor, e quando enfim saiu, só conseguiu
respirar fundo para controlar sua dureza insaciada.
— Maria Fernanda, não quero abusar, mas
você aguentaria... — Ele fechou os olhos e respirou
fundo, lutando bravamente contra seu egoísmo.

— Também está com dor? — Ela perguntou


depois de um curto tempo. Sua voz estava chorosa.
Eduardo estava de bruços ao lado, com a cabeça na
curva do pescoço dela.
— Estou me acalmando, para te beijar. Preciso
te beijar, mas deixa eu me acalmar primeiro.
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Depois de alguns segundos ele levantou o rosto


e beijou a bochecha dela.
— Hoje te machuquei. Mas na próxima vez vai
ser melhor para você.

— Estou bem. — Ela falou com os olhos


cheios de lágrimas.
Eduardo tinha consciência de que mesmo ele
tendo feito com cuidado, ela estava dolorida. O
sangue no lençol era a prova que seu corpo estava
precisando de repouso e cuidado.

— Te amo, Eduar...

Ele calou-a com um beijo molhado.


— Vou te dar banho e depois te alimentar, mas
primeiro, descansa um pouco — Voltou a beijá-la.

— Prefiro... tomar banho primeiro e descansar


depois. — Ela falou entre o beijo. — Vai me

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abraçar?
— Não faça tantas perguntas. — Ele levantou
e a pegou no colo. — Você é muito delicada. —
Falou antes de afundar a bochecha dela com um
beijo. — Isso deve doer pra cara... muito. — Ele
cortou o palavrão. Ainda tentava controlar o
próprio corpo.

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24

Era muito cedo, enquanto Maria Fernanda


dormia, Eduardo estava frente a grande parede de
vidro, vestindo apenas uma de suas confortáveis
calças de moletom.

Ele estava pensando, em como poderia ser sua


vida sem os seus objetivos. Talvez, fosse feliz
como tinha sido durante aquela noite. Foi à
primeira vez, que ele vivenciou a experiência de ir
além da satisfação de seus desejos carnais. Cada
movimento, toque e reações de Maria Fernanda
estavam em sua memória.
Em seu rosto estava um contido sorriso de
admiração, ao lembrar as reações manhosas do

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corpo da mulher se descobrindo. Ele encostou as


duas mãos na parede transparente e ainda estava
sorrindo, mas ao olhar fixamente para os prédios,
teve seu sorriso suavizado. Se não fosse a sua meta
de futuro, planejada desde a adolescência, ele teria
uma bela casa, filhos correndo por ela, enquanto
Maria Fernanda preparava o almoço. Sua vida seria
simples diante da escolha, mas confortável, pois o
dinheiro que ambos já possuíam ajudariam a ter
uma vida farta. Contudo, conforto e felicidade
nunca foram suficientes para ele. Seu grande
projeto era a empresa e, infelizmente, só o dinheiro
não era necessário para fazer crescer um império.
Para que tudo funcionasse, era preciso ter
influência no mundo dos negócios. Precisava jogar
com pessoas ambiciosas, ser frio e sem nada nem
ninguém para cobrá-lo e exigir o que ele não
poderia oferecer.

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Eduardo estava muito confuso, ela estava


causando aquela bagunça. Ele evitaria machucar a
jovem que estava deitada em sua cama, mas sabia
que seus planos levariam a isso. Já estava tudo
programado, inclusive a passagens de avião para a
viagem que traria tristeza ao coração da mulher,
cujo cada pedacinho estava guardado em sua
memória. A solução seria abrir o jogo e convencê-
la a aceitar suas condições. Sim, ela aceitaria, seu
corpo reagiu a seus toques instantaneamente. Seria
fácil.
Maria Fernanda levantou da cama e ficou na
porta do corredor, analisando-o. Estava dolorida,
ainda não conseguia acreditar na mágica que
Eduardo fez para se enterrar por inteiro dentro dela.
Foi doloroso? Foi. Mas de início ele foi tão
cavalheiro e romântico, que compensou o momento
de descontrole, quando ele não conseguiu parar as

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fortes investidas. Talvez com um tempo a dor não


fosse problema, e quem sabe, o impulso forte seria
proveitoso não só para ele.
Ela cobriu o rosto com a mão ao lembrar que
não conseguiu firmar os pés no chão do banheiro.
“Sou uma mulher muito fraca, por não aguentar
uma noite de amor com meu marido.” Pensou ao
esconder o rosto. Deveria ter disfarçado, mas ele
percebeu quando ela segurou nas paredes, não
conseguindo equilibrar as pernas bambas.

Eduardo fez questão de lhe colocar sentada em


uma cadeira enquanto a banhava. Existia um
Romeu, dentro da musculosa casca de ogro
malvado. Ela tinha certeza. Dentro daquele coração
protegido, pulsava uma fagulha de sentimento. Um
pulsar, que ela conseguiu despertar.
Tivera os momentos mais intensos de sua vida
na noite passada. Aquilo tudo não poderia ser
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mentira. Ele a amava, ela sabia o quanto, pelo


carinho que tinha sido tratada. Ele foi quente e
doce, ela nunca imaginou que a alma tosca daquele
ogro, pudesse ser gentil.
— Bom dia, Eduardo. — Ela falou sem sair do
lugar. — Por que acordou tão cedo? — Sorriu,
lutando contra a timidez.

Eduardo virou para olhá-la. E pelos céus, como


aquela boneca de porcelana mexia com ele. Ele a
observou vestida em uma de suas camisas e, mais
uma vez, idealizou a família que ela poderia lhe
dar. Cada vez mais, ela transparecia beleza e
delicadeza. A palavra delicada era um sinônimo de
Maria Fernanda, ele nunca pensou que aquilo lhe
remeteria tanta sedução.
Mas ele precisava lembrá-la de quem ele era.
Não queria enganá-la com o súbito ar romântico
que o atingiu ao vê-la tão linda e inocentemente
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sedutora. Sua empresa falava mais alto do que


qualquer entusiasmo que insistia em querer
arrombar as paredes de seu coração. Eduardo
queria acreditar naquilo, e daquela maneira seria
seu certo.

Ela tinha atitudes tão inocentes, que o seduzia.


Naquele momento, Maria Fernanda estava
passando a pontas dos dedos nos Gominhos de sua
barriga. Como ela era curiosa... lindamente curiosa.
Era uma qualidade promissora. Quem seria ela em
alguns anos? Mulher ambiciosa e jogadora? Não!
Certamente seria professora de jardim de infância.
Com aqueles olhos encantadores, feição meiga e
livro sempre nas mãos, era o que mais se
encaixava. Aquilo lhe lembrava crianças. Pirralhos,
carente de atenção e afeto. Exigindo tempo
precioso e produtivo para eles. Ele jamais teria
filhos. Assim era melhor.

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Mas o que estava acontecendo Ali? Ele estava


sendo fortemente testado por aquelas
possibilidades. O que aquela bela fera ardilosa
estava fazendo com ele?
— Estive analisando suas palavras. — Ela
falou enquanto afundava um dedo no músculo do
peitoral do marido.

— Quais palavras?
— O coração traidor... — Ela fechou a palma
da mão sobre o pulsar do coração do marido. —
Você foi o coração traidor do seu pai, mas você
também tem um, e ele está batendo forte nesse
exato momento.

— Eu morreria se fosse o contrário. — Ele não


gostou daquela conversa.
— O motivo para você fugir tanto do amor é:
você tem medo de perdê-lo. Você é lindo e forte...

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— Eduardo sorriu convencido, isso ele era. — O


que quero dizer, é que você tem muita
autoconfiança, mas no fundo... seu medo é se
entregar e ser abandonado. Também pensei na
fonte disso tudo, mas não é o momento para
tocarmos nesse assunto.
Eduardo estreitou os olhos. Aquela mulher era
perigosa. Deveria ficar maquinando coisas na
mente para confrontá-lo.

Ele levantou a mão dela, retirando de seu peito.


— Quero assumir o controle de minhas ações
sem sentimento nenhum me impulsionando. O
problema não é perder, é ganhar e ficar dependente
dele. Quando alguém ama, se importa mais com o
outro do que consigo mesmo, nada te deixa mais
feliz do que a felicidade do outro. É uma entrega
muito forte. Eu não quero isso, entende?

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Maria Fernanda sentiu uma fraqueza nas


pernas e a sensação de seu coração sendo apertado
com muita força. Ele estava voltando ao estado
normal, frio e insensível.
— Você pensa mesmo isso? É egoísta a esse
ponto? Tem o conceito de não amar, simplesmente
para não renunciar às suas próprias vontades para
cuidar de mim, homem egoísta?

— Minhas ações nunca vão depender de outra


pessoa, Maria Fernanda. — Ele falou com certa
amargura, pois viu os olhos azuis a sua frente
ganharem umidade. — Eu posso conviver a minha
vida toda só com o desejo. Isso sempre foi fácil,
conseguir alguém para suprir.
— Eu não acredito que você vai fazer isso... Se
você pensa assim, por que me levou a entrega? —
Ela piscou forte para secar os olhos. — Por que me
tratou com respeito e me fez sentir desejada? Para
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me machucar ainda mais?

— Você é desejável, muito desejável, nunca


negarei. Meu corpo sempre desejou qualquer outro
feminino, agora só quer você... — Ele puxou a
cabeça dela para seu peito. — Estou sendo
verdadeiro com você. Sempre vou te tratar com
respeito, e contra toda minha racionalidade, vou te
proteger com minha vida.

— Fique com sua vida, apenas me entregue


seu coração. — A voz dela saiu embargada.
— Nossos corpos se desejam. Isso basta, Maria
Fernanda.

— Não existe força que impeça uma traição, se


o amor não estiver presente. — A voz dela estava
embargada. — A Carne é fraca... Isso está nas
escrituras sagradas. Como eu acreditaria que seu
corpo seria forte, se o seu coração não grita meu

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nome? As traições estariam livres de culpa. Não


aceito viver assim.
Maria Fernanda se afastou e caminhou até o
quarto. Eduardo a seguiu.

— Só quero você, Maria Fernanda. Já não


basta?
— Isso não é uma esperança de algo
momentâneo que, futuramente eu poderei te
conquistar. Você não quer e deixa claro. Como eu
viveria ao lado de um homem, sabendo que nunca
seria amada?! — Ela gritou com o dedo apontado
no rosto dele.

Eduardo admirou a firmeza dela e temeu. Era


como se ele tivesse dado poderes a ela depois que a
fez mulher. Estava enxergando uma mulher a sua
frente e não apenas a menina. Ela parecia mais
segura e até gesticulava de uma maneira que nunca

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tinha visto... ou percebido.


— O que está fazendo, mulher?

De costas, ela desabotoava a blusa dele que


estava no corpo.

— Estou pensando em como fui tola. — Ela


pegou o vestido e seguiu para o banheiro.

— Não foi tola, Maria Fernanda. — Ele


encostou a cabeça na porta. — Estou disposto a
renunciar algumas coisas por você. Se você for
minha todas as noites, não procurarei outra mulher.
Aceite minhas condições.

— Pare! — Ela abriu a porta do banheiro ainda


ajustando o tecido no corpo. — Acha que eu não
tenho sentimentos?
— Que porra de sentimento, mulher. Estou
dizendo que quero você.

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— Você grita que apenas deseja meu corpo.


Acha que eu me sentiria bem em ser usada
roboticamente em uma cama, para seu bel prazer e
nada mais? Olha o que você me propõe!
— Não me deseja?

— Convivi muitos anos sem desfrutar do


prazer da vida a dois, isso ainda não me afeta e não
é o suficiente.
Eduardo virou de costas e passou as mãos no
cabelo, estava nervoso. “Droga! Ela é sensata.
Como não tinha percebido antes?” Pensou ao
apertar os cabelos. “O Desejo carnal é suficiente,
preciso mostrá-la.”

Ele virou, caminhou displicente até ela e a


puxou pela cintura. Maria Fernanda sentiu as
pernas bambas. Ele apertou a cintura dela, a outra
mão subiu até os cabelos. A boca apenas sentiu a

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temperatura dos lábios da mulher, mas não


concretizou o toque.
— Diz pra mim... O que sente quando eu te
pego assim? — A mão que estava no quadril,
apertou com ardor o bumbum dela.

O olhar dela quase suplicou, para que ele desse


uma oportunidade a seu próprio coração. Queria
seu marido por inteiro. Antes ela não sabia o que
era a conexão gostosa que a deixava trêmula tendo
ele a segurando daquela maneira, possessiva e ao
mesmo tempo ponderada. Ela desejava o homem
soberbo, que a tentava com um beijo.

— Queira me amar. — Os lábios dela


tremeram.

Eduardo segurou a mão dela que estava inerte


e levou até seu membro.
— Ele te ama.

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— Me leve para casa. — Ela se afastou


enxugando os olhos, mas Eduardo voltou a segurá-
la com mais firmeza. — Me solte. Por que você
tem que ser tão duro, Eduardo?
— Eu não consigo acalmar meu pau perto de
você.

— Você não consegue desenvolver um diálogo


sem pensar nisso! Estou me referindo à essência!
— Ela o estapeou fortemente para sair de dentro
dos braços músculos. — Você é um pervertido
sexual.
— A culpa, está nesses livros velhos que você
anda lendo. — Ele fechou os dois braços em volta
da cintura dela. Maria Fernanda afastou o tronco e
impediu o contato dos rostos com a mão no peito
dele. — Você está educada, pelos tempos antigos.
Vou comprar uns livros contemporâneos cujo tema
principal é sexo. Você vai se reeducar e tirar essa
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baboseira de amor de sua cabeça. Tudo o que


precisa é de um CEO gostoso e bom de cama. Ele
está bem aqui na sua frente, não precisa de mais
nada. Em dois tempos você vai mudar os
pensamentos.

Ela sentiu o nó na garganta sufocá-la ao


mesmo tempo que foi atingida por uma leve
tontura.

— Sou obrigada a ouvi-lo, pois não possuo


forças físicas contra você.
— Vai ser muito difícil convivermos perto,
sem nos tocarmos. Sim, não pense que deixarei
você ir. Te deixarei acorrentada no pé da minha
cama, nem que seja para eu te ver e... — Ele
levantou uma das mãos e fez um gesto sugestivo.

— Descarado! — Ela tentou sair no momento


que apenas uma mão a sustentava. Lembrou-se do

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que o viu fazendo no sofá, na noite anterior.


— Olha, quem está espertinha... ferinha dos
pensamentos impuros. — Ele falou em um amargo
sarcasmo.

— Solte-me, você está me sufocando. Estou


com falta de ar! — Naquele momento ela ficou
pálida e seus olhos demonstraram fraqueza.
— Maria Fernanda... O que sente mulher. Ela a
tirou do aperto e a direcionou até a cama.

— Me leve pra casa. Ou me coloque na


calçada que eu peço carona. Agora sei meu poder
de sedução. Tentarei contra os taxistas para tirar
vantagem. — Ela falou com os lábios sem cor.
— Está delirando, mulher. Ainda está fraca,
suguei, literalmente, você ontem.
— Me arrependo de ter me deitado com você.
— Ela começou a suar frio e chorar ao mesmo
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tempo.

— Não apenas nos deitamos... você amou ser


tocada por mim. Só deixou que parasse quando
estava satisfeita.

— Tem prazer em jogar na minha cara,


canalha?!
— Sim, mas vamos deixar mais pra frente.

— Você joga na minha cara o quanto sou fraca


e ainda premedita fazer isso futuramente. Odeio
você.
— Precisa tomar os remédios. — Ele estendeu
a mão e alcançou os frascos. — Lembra qual é o
matutino?
— Não tomarei.

— Se não tomar eu te forço, então pegue esses


comprimidos e engula. — Ele colocou a vitamina

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na mão e pegou o vaso de água mineral próximo a


cama.
— Pois então, me force, homem de coração
empedrado.

— Você deveria estar feliz, pois sua


"deliciosa" tem o poder de persuadir minha santa
paciência. Mas já que não a verei mais, isso me dá
o direito de ser quem eu realmente sou. E eu não
sou o trouxa que faz carinho nos cabelos de mulher
mimada! Toma esse remédio ou eu abro a sua boca
e coloco goela abaixo! — Ele gritou e Maria
Fernanda recuou o tronco em direção ao colchão.

— Nunca mais possuirá meu corpo.

— O remédio, agora! — Ele estendeu o


comprimido próximo à boca dela.
Maria Fernanda pegou com ignorância,
colocou na boca e ingeriu água.

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— Já que quer voltar para casa, pegue sua


mochila, vista sua calcinha que estarei te esperando
na sala.
— Grosseiro.

— Não pense que seus elogios me afetam.


Mesmo querendo viver enfiado no meio de suas
pernas...
— Estúpido sem coração! Homem sem alma!
Boca suja! Quando vai largar a vulgaridade?

— Quer saber, fique longe de mim. — Ele


pegou uma blusa na gaveta e vestiu com pressa. —
Hoje suas frágeis qualidades me instigam, mas não
sei até quando suportaria. Não me julgue. Belo
homem cuidadoso que fui ontem à noite, mulher.
Maria Fernanda mordeu os lábios trêmulos,
levantou, trombou nele que estava a sua frente e
correu até a sala.

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— Nunca pense que eu correrei atrás de você.


— Ele murmurou e sentou na cama.
Quando ouviu o barulho da porta, ele pegou a
carteira, a chave do carro e correu.

Encontrou Maria Fernanda na recepção do


prédio, frente a Junior, o ruivo que insistia em
desafiá-lo.

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25

— Tire suas mãos de minha mulher... —


Eduardo gritou e andou apressado.

Maria Fernanda olhou para Junior, em seguida


para Eduardo.
— Você é o filho daquele senhor simpático?
Por favor, me dê uma carona até a casa onde moro.
Por favor, serei eternamente grata. — ela falou, já
puxando Junior pelo braço.

Junior sorriu cinicamente, e se apressou em


sair do prédio. Não passaram dois segundos, ele foi
sufocado pelas costas.
— Você pediu a morte encostando sua maldita
mão na minha mulher, desgraçado! — Eduardo
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apertou o pescoço do ruivo com um dos braços.

Maria Fernanda olhou para os lados e viu


algumas mulheres cochichando. Quando voltou o
olhar para Junior, viu a pele do homem em um
vermelho mais intenso que o de costume.

— Vai matar esse homem! — ela gritou e


Eduardo continuou apertando o pescoço do ruivo
que já estava perdendo os sentidos. — Não faça
isso! — Ela começou entrar em pânico e seu corpo
disparou a tremer. — Pare com isso... — Ela sentiu
as pernas fraquejarem e o choro ajudou no
descontrole do corpo.

— Maria Fernanda! — Eduardo empurrou


Junior e correu para pegar a mulher que aos poucos
se abaixava até o chão. — O que foi, mulher? —
Ele a levantou.

— Não mate esse homem, não me faça ver

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isso.
Eduardo a pegou nos braços e seguiu até a
garagem.

Junior ficou para trás, tossindo e tentando


recuperar a respiração. Mais uma vez, o ódio
alimentou sua alma.
— Nunca mais se aproxime do desgraçado do
Junior. Ele quer tudo que eu conquistei. — Eduardo
falou ao retirar o carro da garagem.

— Se eu não pedisse para parar, iria matá-lo.


— Tente se acalmar. Você não está bem.

— Eduardo, me dê dinheiro — Maria Fernanda


falou com a cabeça apoiada no banco do carro.
Estava muito pálida.

— Me fale o que precisa que eu compro.


— Quero uma passagem de avião — ela falou
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com os lábios brancos.

Eduardo ficou sério e nada falou, apenas


dirigiu o carro.

Durante o percurso, ela chorou. Ele


permaneceu calado, mas o choro dela o
incomodava intimamente.
— Se não parar de chorar, vão pensar que te
espanquei ou te forcei a fazer sexo comigo — ele
falou já na entrada do condomínio.

Ela trancou os lábios, mas continuou


soluçando de boca fechada.

— Maria Fernanda! — Ele parou o carro e


retirou o cinto de segurança. — Abre a boca ou vai
morrer sufocada com seu próprio soluço.
— M-me dê dez mil re-ais. — Ela soluçou
descontrolada.

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Eduardo socou o volante do carro.

— Inferno! Eu não vou te dar caralho de


dinheiro para fugir! Não aceitou minha proposta,
beleza. Não te acuso. É querer exigir demais de
uma pirralha. Mas antes de qualquer coisa, temos o
contrato pela nossa herança. Não vou abrir mão de
minha parte da empresa porque você quer
amorzinho batendo no peito.

— Fique com tudo, só me dê a passagem. Não


é o dinheiro que nos une? — ela perguntou —
Então, te dou tudo. — Ela secou os olhos vendo um
fio de esperança.

Ele fechou os olhos e suspirou alto.

— Não vou deixar você ir. Se você for, de


qualquer maneira, perco tudo. Só por isso não
permito, só pela empresa. — Ele voltou a ligar o
carro, escolheu a ação para camuflar a embromação

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das palavras.
Eduardo sabia que tinha uma brecha no
contrato a respeito daquilo, mas ele julgava que ela
nunca iria se atentar. Ele iria manipulá-la com
aquilo até o último minuto, mas não a deixaria ir.

— Saiba que não vou desistir do amor. Nesse


período de tempo, vou encontrar um homem que
queira me amar e fazer feliz.
Eduardo freou o carro bruscamente.

— Está tentando me manipular ou sua intenção


é mexer com minha insanidade e me ver furioso?

— Tenho o direito de ser amada. Você vai


viver sozinho por anos?
— Vivo sozinho a vida toda, Maria Fernanda e
isso nunca foi um problema. Mas tenho uma
agenda de putas casadas, mimadas, loiras,
japonesas, negras...
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— Não quero ouvir. Não preciso ouvir isso! —


Ela tapou os ouvidos com as duas mãos.
Eduardo puxou as mãos dela e segurou-as
frente ao corpo.

— Eu nunca precisei me controlar dentro de


uma mulher, nunca saí cheio de vontade por medo
de machucar! Alguém aqui está pensando em mim?
Eu estava disposto a renunciar fodas casuais para
me dedicar apenas a você. Eu não tenho porra de
amor no meu peito, não exija o que não posso
oferece! — gritou com o dedo no rosto dela.
— J-já entendi... — Ela teve medo do tom de
voz colérico.

Ele voltou a esmurrar o volante com


agressividade depois curvou a cabeça sobre ele.
— Eu não preciso ser o cachorrinho particular
de uma pirralha que não sabe satisfazer o próprio

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marido! — Ele estava falando para ele mesmo.

— Não sirvo para te satisfazer e você não


serve para me amar. Então fique com suas rameiras
e eu vou procurar um amor... — Ela encerrou a
fala, pois ele levantou o rosto com o olhar furioso.
— Está pensando em me b-bater?

— SÓ SE FOR NO FUNDO DA SUA


MALDITA BOCETA! — gritou.
Maria Fernanda deu uma bofetada no rosto
dele. Paralisou por alguns segundos dando-se conta
do que tinha feito e se encolheu perto da porta do
carro.

Foi um tapa débil, pois ela estava fraca e o


interior do carro limitou o impulso, mas Eduardo
sentiu o golpe no orgulho. Ele apertou os dedos no
queixo dela e Maria Fernanda gritou.
— Essa foi a última vez que você bateu na

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porra do meu rosto! Acabou a brincadeira! —


gritou com o rosto colado no dela.
Maria Fernanda sufocou o choro na garganta,
mas as lágrimas estavam desgovernadas. Ele a
observou em um contido desespero e se afastou.
Olhou para sua janela e respirou ofegante,
controlando a raiva que brigava com a vontade
louca de secar as lágrimas dela com beijos.

— Sou um puto, fodido, desgraçado! Me


envergonho quando lembro que fiz proposta de
sexo fiel a uma pirralha fútil como você. — Maria
Fernanda sufocou o choro com a mão. — Você só
pode ter um feitiço desgraçado no meio dessas
pernas para me fazer chegar a esse ponto.
Ao ponto de quase despertar meu coração —
ele completou em pensamento.

— Q-que bom que não aceitei viver da sua

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maneira. — Ela estava de cabeça baixa, lutando


inutilmente para segurar as lágrimas. — Me
humilha porque não aceitei seus caprichos. Queria
que eu vivesse assim? Sendo bem tratada apenas na
cama?

— A verdade é que não fomos feitos pra


ficarmos juntos. Esqueça minha maldita proposta.
Somos de um meio completamente diferente, eu
tenho meus objetivos e eles não vão seguir em
frente se eu estiver me desgastando diariamente
com você. Vamos deixar tudo como antes. Não
podemos ter nada além do que uma convivência,
juntos. Vou mudar para meu apartamento, talvez
isso ajude de alguma maneira. Serão anos pela
frente. Você pode se mudar para meu quarto e sair
daquele depósito minúsculo. Vou conversar com o
advogado e liberar uma mesada para suas
futilidades. Mas se eu sonhar que você tentou fugir,

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contrato seguranças para seguir seus passos.

— Vou lutar para matar o sentimento que criei


sobre minha própria ilusão. — Ela se abraçou com
os próprios braços.

— O erro foi meu, eu não deveria ter me


envolvido. Isso tudo aqui é apenas um negócio e
não um dos seus romances. Vou seguir meu projeto
de vida. — falou, olhando pela janela do caro,
longe dos olhos dela.
— Então realmente não sente absolutamente
nada por mim, ou pelo amor que distribuiu em meu
corpo ontem à noite? — Ela fez a última pergunta.

— Se existe, não é mais importante que minha


carreira de sucesso. Um dia você vai aprender isso.
O mundo é competitivo demais e não há espaço
para sentimentalismo. Ou você renúncia algumas
coisas insustentáveis ou acaba ficando para trás. Eu

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não quero ficar para trás por uma merda de


sentimento que vai me desgastar ao longo dos anos.
— Ele encostou o braço na janela para
disfarçadamente secar a umidade dos olhos.
— Eu posso te ajudar com o seu futuro... —
Com a voz trêmula, ela fez uma tentativa. — Eu
prometo estudar para te ajudar com a empresa.
Poderíamos ficar juntos e fazer a empresa ser um
sucesso. Eu posso fazer isso, posso te ajudar a
crescer. Queira me amar e fortalecer nosso
casamento.

Eduardo sorriu, debochando dela. A jovem que


ele estava vendo ali em sua frente, nunca seria uma
mulher jogadora, capaz de suportar a pressão do
mundo competitivo dos negócios.
— Sim, vai ter momentos que precisarei de
uma mulher para me acompanhar nos jantares. Ela
vai ser corajosa, cheia de ambição e visão de
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futuro. Não se humilhe, pois você nunca será essa


mulher, Maria Fernanda. Você se apega a muita
besteira sem importância, nunca vai chegar tão
longe.
— Você está abrindo uma ferida dentro de
mim e eu vou fazer de tudo pra ela nunca cicatrizar,
nem quando esse negócio aqui acabar. — Ela
enfatizou a palavra negócio.

— Melhor que seja assim. — A voz dele saiu


embargada.
Ele voltou a ligar o carro e dirigiu até entrar no
jardim da casa.

Já dentro de casa, Suelen foi atrás da amiga,


que passou correndo pela cozinha.
Maria Fernanda se jogou na cama e afundou o
rosto no travesseiro.
— O que foi, Nanda? — Suelen sentou à beira
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da cama e acariciou os cabelos dela. — Você caiu


na vara, não foi? Ele foi covarde e usou a força
contra você?
— Quero esquecer o que aconteceu. Não me
pergunte nada agora, Su. — A voz dela saiu
abafada pelo travesseiro.

No turno da tarde, Eduardo foi para o


escritório. Estava furioso e pretendia não falar com
ninguém até esfriar a cabeça, mas Sergio trabalhava
diretamente com ele e estava encarando-o desde
quando sentou à mesa para analisar projetos.
— O que foi? — Eduardo perguntou para dar
uma chance a ele, antes de virar seu saco de
pancadas e alívio do estresse.

— E aí?
— E aí o quê?
— Como foi lá, com a menina? Já era
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inocência? Muito apertada?

— Minha vida com a Maria Fernanda não te


diz respeito.

— Nunca escondeu nada de mim. Mas... —


Sergio se endireitou na cadeira — Estive te
observando. Você está sentado aí por volta de
quarenta minutos e nesse tempo, fez cara de ódio e
sorriu sozinho, depois fez cara de raiva e... Na
sequência, uma coisa muito estranha aconteceu. Eu
pude jurar que foi a expressão de quem fez amor
pela primeira vez. Me comoveu, cara. Você
conseguiu essa realização pessoal, irmão?

— Vá se ferrar seu desgraçado! Saia da minha


frente antes que eu arranque seus malditos dentes!

***
Quatro meses depois...
Maria Fernanda tinha se mudado para o quarto
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que era de Eduardo, assim que ele foi para o


apartamento. Ela tinha terminado os estudos e
agora fazia cursinho preparatório para o vestibular.
Havia entrado em contato com os amigos da
madrinha, que moravam em Paris. Eles deixaram as
portas abertas a ela. Maria Fernanda pretendia se
mudar para lá, mas antes terminaria o curso, pois
tinha levado Suelen com ela aos estudos. Queria
incentivar a amiga a finalizar o cursinho, seu intuito
era deixar Suelen na faculdade.
Naquela noite, ela estava deitada em sua cama.
Estava melancólica devido ao ciclo menstrual.
Apesar de estar completando dezoito anos naquele
dia, sentia-se triste. Em seu pescoço, estava um
singelo pingente de coração, presente de Thiago.

Sentia falta dos padrinhos e de Giovane. Era o


primeiro aniversário que passava sem eles, a única
família que já teve. Tinha esperado até às cinco

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horas no portão da casa com esperança de que


Giovane fizesse uma surpresa, mas nada aconteceu.
— Nanda, me ajude a lavar a louça que já está
quase no teto. — Suelen entrou quarto, toda afoita.

— Eu quero ficar um pouco deitada, Su.


Depois te ajudo.
— Foi Eduardo de novo? Soube que ele esteve
aqui mais cedo.

— Não o vi. Tem muito tempo desde a última


vez. Ele deve estar muito ocupado para lembrar que
eu existo. E me sinto bem. — Maria Fernanda se
levantou e sentou ao lado da amiga.
— Então, o que foi? Por que está tão triste?
— Não é nada, só estou com saudades do
Giovane. Ele nem lembra mais que eu existo. Não
entendo, como ele conseguiu me esquecer se a vida
toda esteve comigo? Ele não sabia fazer nada sem
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mim e agora eu não existo. Sinto-me só, muito só.

— Não fica assim, amiga. Você tem que sorrir,


você fica tão bem sorrindo. Vamos! Levanta daí e
me ajudar a lavar aqueles pratos. Só de pensar em
encarar sozinha, me dá dor de cabeça. Melhor lavar
pratos, que ficar sozinha.

— Tudo bem, se é o que me resta. — Maria


Fernanda falou saindo da cama.
Seguiram juntas até a cozinha e, quando
abriram a porta, Maria Fernanda foi recebida com
uma cantiga típica de aniversário e palmas, vindas
de Jorge, Antonieta, Carmen e Suelen, que tinha
armado tudo para ela não desconfiar.

— Como vocês souberam? — Ela não podia


acreditar que, em pouco mais de uma hora em que
estivera deitada, a cozinha tinha sido ornamentada
com balões e até um cartaz de "Parabéns,

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Nandinha".
— Jorginho viu quando o seu amigo te deu o
colar e os parabéns... Então, como ele é linguarudo,
contou para mim e Antonieta — Suelen explicou.

Jorge estava com seu terno preto, ainda a


serviço. Em sua cabeça, havia um típico chapéu de
papelão com desenhos da bailarina e o gorducho
assoprava uma língua de sogra.
— Feliz aniversário, minha princesa, desejo
toda felicidade do mundo para você. — Antonieta
abraçou-a carinhosamente.

Depois foi a vez de Jorge, Suelen e Carmen.


— Obrigada, meninas e Jorge... Vocês são
tudo que eu tenho agora. Minha família. — Ela
estava emocionada.
— Toma, compramos um presente para você...
Não é nenhum colar igual ao que você ganhou mais
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cedo, mas é com muito amor.

— Antonieta estendeu o pequeno embrulho e


esperou que ela abrisse.

— Que linda, Antonieta! — Era um conjunto


de lápis de cor profissional, que acompanhavam um
caderno grosso para desenhos.
— Não era o que queríamos te dar, mas a
Suelen ficou encarregada de comprar e chegou aqui
com isso.

— É perfeito. Vou te ensinar a desenhar


vestidos. — A morena sacudiu a amiga.

— Eu gostei, Antonieta. Obrigada, Su. Todos


vocês, muito obrigada mesmo. Não precisava de
nada disso, só um abraço me deixaria feliz.
— Podemos comer o bolo agora? — Jorge
interveio na conversa.

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— Claro, é hora de aumentar a barriga do


Jorge comilão, minha gente. — Todos sorriram e
Jorge fechou a cara, mas os olhos não desgrudaram
do bolo de cereja.
Depois que arrumaram a bagunça da cozinha,
Suelen e Maria Fernanda foram conversar no
jardim.

Estavam sentadas na grama baixa quando o


carro de Sergio e o de Eduardo estacionaram.
— Olha lá, amiga, o mau caráter do Sergio. —
Suelen olhou para ele com tristeza e desprezo.

— Dois maus-caracteres juntos. — Suelen riu


da emenda de Maria Fernanda.
— Estão vindo. — Suelen apertou as unhas no
braço da amiga.
— Vou entrar. — Maria Fernanda tentou
levantar, mas foi impedida por Suelen.
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— Não dá mais tempo. — ela sussurrou entre


os dentes. — Eles que saiam se quiserem. Finja
naturalidade. — Suelen balançou uma das pernas e
fez cara de esnobe.
— Anja... — Sergio se dirigiu a Suelen, mas
ela virou o rosto.

Eduardo estava com os olhos em Maria


Fernanda e ela analisava o rosto firme de Suelen,
querendo assimilar a mesma expressão da amiga.
Quando viu que não conseguia imitar, desviou o
olhar para as flores do jardim, sentindo que
Eduardo a encarava.

— O que estão fazendo aqui fora? — Sergio se


sentou ao lado de Suelen.

— Coisas, que não podemos mais, pois uma


dupla de cafajestes está roubando a nossa
privacidade.

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— Que pingente é esse, Maria Fernanda? —


Eduardo sentou ao lado dela, deixando-a nervosa.
— Foi presente. Hoje é o aniversário dela. —
Suelen deixou escapar e recebeu um olhar
atravessado da amiga.

— Hoje é seu aniversário? — Sergio


perguntou e já foi puxando Maria Fernanda para
um abraço. — Parabéns, menina. Olha só, Edu, ela
está crescendo. — Desafiou Eduardo com o olhar.
— Essas datas são sagradas, é uma fase importante
na vida da pessoa.
— Quem te deu o pingente, Maria Fernanda?
— Eduardo perguntou, mas ela não respondeu. —
Quem te deu? — ele insistiu.

— O amigo. — Suelen colocou os indicadores


ao lado dos olhos e esticou. — Como é mesmo o
nome dos olhinhos puxados, amiga? — Suelen já

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sabia do nome, mas queria provocar Eduardo. —


Ah! Lembrei... É Thiago.
— Olha, lindo nome, não, Edu? — Sergio
provocou.

— Moleque desgraçado! Ele está brincando


com fogo e eu estou doido para arrebentar aquele
rosto de boneca. — Eduardo estava de punhos
cerrados e com olhar longe.
— Homem covarde! — Maria Fernanda gritou,
fazendo-o encará-la.

— Você deu alguma coisa para ela? Não venha


com essa conversa fiada! O pingente é lindo,
Nanda. E se ele está achando ruim, que te dê um
presente melhor.
— Foi por causa de seu desaforo que nem o
idiota do Sergio te aguentou. — Eduardo falou sem
muita importância. Seus olhos estavam nas letras

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"T" e "F" gravadas no coração do pingente.

— Ele é um mau-caráter, aproveitador, que se


acha melhor do que eu, só por que tem um carro
para cada dia da semana e anda por aí comprando
tudo que vê pela frente, sem precisar economizar o
salário. Vocês se acham os gostosões, mas não
passam de uns merdinhas. Vamos entrar, Nanda. —
Suelen puxou a amiga e juntas entraram na casa.

— Volte para casa, Sergio, eu não quero passar


a noite olhando pra sua cara. Vou conversar com
meus pais. — Eduardo seguiu na mesma direção.
— Não vai à festa?

— Apareço lá mais tarde.


Eduardo se enfiou no escritório para tratar de
negócios com o pai. Depois conversou um pouco
com a mãe e, perto de meia noite, antes de sair da
casa, resolveu subir as escadas. Foi até o quarto da

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sua irmã, que estava fechado, pegou a sacola com


os presentes, que tinha comprado meses atrás e
guardou ali antes da mudança. Ele aproveitaria
aquilo para ser presente de aniversário.
Maria Fernanda estava dormindo. Eduardo não
acendeu a luz. Ele fechou a porta com cuidado
colocou os presentes sobre a poltrona, tirou os
sapatos e se enfiou debaixo da coberta. Depois de
algum tempo quieto, ele correu a mão para a
cintura de Maria Fernanda. Viu que ela não
acordou, então a abraçou próximo ao seu corpo e
esfregou o nariz nos cabelos dela.

Maria Fernanda abriu os olhos quando viu um


corpo estranho debaixo das cobertas. Não se mexeu
antes, pois teve medo. Não tinha como saber quem
era. Ela ficou paralisada, dosando a respiração.
Quando a mão em sua cintura desceu em direção ao
cós de sua calcinha, ela gritou.

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— Ahhh! — Maria Fernanda sentou


rapidamente e esperneou, trêmula, sobre a cama.
— Calma! Sou eu! — Eduardo correu até a luz
e acendeu. —Voltou com as mãos suspensas.

— O que faz em minha cama, com a mão onde


não deve, homem pervertido? — Ela puxou um
travesseiro e cobriu as pernas.
— Trouxe presentes. — Ele pegou o urso e
levou até ela.

— Veio aqui por isso?


— Sim. Não poderia deixar passar em branco.
Apesar de tudo, estamos ligados em um papel, não
é isso? —Tome! — Aproximou-se dela e a
entregou. — Abra, é seu.
— Fingido!

Maria Fernanda abriu a sacola, tirou as folhas

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decoradas e então descobriu um urso de pelúcia


marrom, segurando uma flor artesanal nas mãos.
Olhou para o urso e acariciou os pelos gostosos e,
como em um gesto involuntário, inalou o cheiro
dos pelos sintéticos.

Os lábios de Eduardo curvaram em um curto


sorriso.

— Abra o outro. — Ele entregou a ela.


Maria Fernanda desamarrou o laço da caixa e
analisou o conteúdo.

Ela levantou uma das peças até a altura do


rosto.
— Eu nunca usei tão transparente.
— Posso trazer mais, se quiser. Não vai...
experimentar?

— Pervertido, acha mesmo que vou vestir e te

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mostrar? — Ela ainda olhava a peça.


— Só para saber se ficou boa em você.

Ele treinou para sentar ao lado dela, na cama.


— Nem pense! — Ela o impediu. Ele ficou de
pé novamente.

— Terminou o colegial? — ele falou ainda


com as mãos para o alto. — Também soube que
está em um curso pré-vestibular.
— O que quer?
Eduardo estava olhando diretamente nos lábios
dela. Desde a última vez em que estiveram juntos,
viviam distantes, mas sempre colhia informações
sobre ela com Jorge. Ele se ocupava com sua vida
de empresário e conseguia esquecê-la, mas quando
estava frente a ela parecia esquecer tudo ao redor.

— Se importa se eu dormir aqui hoje? — ele

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perguntou ainda olhando os lábios dela.


— Sim.

— Sim? Eu posso?
— Sim, para o me importo. O que pretende,
depois de meses me ignorando?

— Saber se você... quem sabe, quer dar uma


rapidinha, sem compromisso, só para comemorar
seu aniversário?
— Sai!
— Tudo bem. Isso aqui não aconteceu.

Ele virou em direção a porta do quarto e


tropeçou no tapete, depois de se equilibrar
rapidamente, saiu e bateu a porta.
***

Depois de quase uma hora de viagem, Eduardo


chegou à festa em outra cidade. Amaldiçoou a si
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mesmo por não ter viajado mais cedo, como Sergio


tinha feito. Já estava amanhecendo, mas a festa
seria estendida até o dia seguinte.
— Pensei que não vinha e já peguei todas antes
de você. — Sergio avistou o amigo no meio da
multidão.

— Então agora elas vão saber o que é um


homem de verdade. — Continuou olhando para as
moças, procurando uma presa.
— A única que me rejeitou foi Samanta Lins.
Lembra-se dela?

— Aquela complicada que desistiu e


engravidou no primeiro semestre? — Eduardo
sorriu malicioso, espiando a jovem em uma roda de
amigos.
— Ela parece bem para quem acabou de
ganhar um filho. — Eduardo percorreu os olhos no

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corpo da mulher.

— Conversei com ela mais cedo, o menino já


está grandinho, parece que já desmamou e tudo. Eu
posso estar enganado, mas ela parecia querer se
afastar de mim. Ficou me cortando o tempo todo.
Não sei porque tanta coisa, se era ela que não
conseguia se decidir se queria você ou eu.

— Você que traumatiza qualquer mulher com


esse seu papo sem sentido, Sergio. Eu deveria estar
muito bêbado para não ter a pegado naquela época.
Eu vou lá agora comprovar que você é um fraco e
que nunca resistem a mim. — Pegou um copo de
bebida e seguiu pela multidão, olhando fixamente
para o corpo definido da mulher.

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26

OITO MESES DEPOIS.

Luíza, a irmã de Eduardo, que fazia


especialização em pediatria fora do país, havia
retornado há pouco mais de três meses. Encontrou
Maria Fernanda na casa e naturalmente sentiu
simpatia por ela. Maria Fernanda se sentia mais
madura, porém machucada na mesma proporção.

Eduardo raramente aparecia na casa dos pais e,


quando isso acontecia, tentava chamar a atenção de
Maria Fernanda, mas ele se valia de discussões e
estupidez, o que acabava afastando-os ainda mais.
Ela fazia de tudo para não estar próxima do
homem. O sentimento ainda ardia em seu peito e

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doía ouvir acusações e rudezas da parte dele.

Ela estava finalizando o curso pré-vestibular


junto com Thiago e Suelen. O laço de amizade
entre os três aumentou com a convivência.

A empresa de Eduardo seria inaugurada em


dois meses. Viviane tinha ganhado um cargo de
diretora administrativa da empresa, tudo por
estratégia de Eduardo para ganhar a confiança do
pai dela, que era um ótimo contato para a
Moedeiros, por isso o homem já tinha fechado
alguns contratos interessantes.
— Este está lindo, Su. Combinou
perfeitamente com você. — Maria Fernanda estava
animada, ajudando a amiga a escolher um vestido
de presente de aniversário.

— Você acha, amiga? Esse é muito caro, é


melhor eu escolher um mais barato.

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— É um presente, Suelen. Quero que escolha o


mais caro da loja. Também vai escolher os sapatos
e a bolsa.
Suelen fez um coração com os dedos e jogou
um beijo para a amiga.

— Um dia juro que vou poder fazer a mesma


coisa por você. — Suelen não perdeu tempo e
partiu em direção aos sapatos.
— Eu vou cobrar! — Maria Fernanda balançou
um par luxuoso em frente aos olhos da amiga.

— Quando isso acontecer, quero estar na


melhor cobertura de Paris. — As duas caíram na
risada e duas vendedoras começaram a pegar os
vestidos mais caros da loja.
— E o nosso amigo Thiaguito, como anda?
Vocês já estão… — Suelen fez um biquinho e
encenou um beijo com as duas mãos unidas.

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— Estive pensando… Não quero sofrer outra


vez. O amor é traiçoeiro e machuca demais.
— Você ainda gosta daquele idiota do
Eduardo, não é?

— Prefiro não confessar. O amor é tão lindo,


mas o que fazem dele é muito cruel. As pessoas
acabam distorcendo a real natureza do amor e
machucando quem se entrega a ele. Eu nunca mais
vou amar ninguém, Su. O Eduardo foi a pior
experiência que eu já tive. Meu coração está
machucado demais para se entregar novamente.
Não sei como vai ser daqui a um ano ou dois, mas
hoje meu peito ainda dói.
— Somos destinadas a sofrer. — Suelen
avistou o sapato dos sonhos e correu para abraçá-lo.
— Sofredoras que compram sapatos são sofredoras
mais felizes! — Ela piscou os olhos repetidas
vezes. — Este será o novo amor de minha vida.
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Pronto, parei de sofrer. — Beijou os bicos do


scarpin.
Maria Fernanda sorriu e deu sinal a vendedora,
que correu para pegar as outras cores do mesmo
modelo.

***
— Nanda, você já providenciou o vestido para
a inauguração da Moedeiros? Está chegando —
perguntou Luíza. Ela e a cunhada estavam
lanchando.

— Até hoje não fui convidada, Luíza.

— Como não? Você também é dona daquilo


lá. O Edu não pode fazer isso.
A irmã de Eduardo estava inconformada com a
situação que Maria Fernanda vivia dentro da casa.
Ela era a única a considerá-la como parte da família
Moedeiros e não achava justo o que acontecia com
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a cunhada.

— Seu irmão só me procura para me agredir


com palavras. Eu não me importo com convite, Lú.
Eduardo deixou bem claro que eu não me encaixo
na vida dele.

— Não deixe isso decidir a sua vida e nem


determinar o que você pode ser. Você não deveria
ter se iludido com o meu irmão. O Edu não é o tipo
de homem que se entrega ao amor. Ele é racional
demais para saber o que é isso.
— Vamos deixar de falar disso e pensar no
nosso passeio do final de semana. — Maria
Fernanda enxugou a lágrima que escorria de seus
olhos azuis e tentou sorrir.

— Já arrumou a sua mala?


— Sim. A Su está animadíssima, já até me
obrigou a comprar cinco biquínis.

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— Onde está ela agora?

— Foi ao supermercado com Antonieta.

— Vão dormir cedo hoje porque amanhã


vamos sair antes do sol nascer.

— Vai ser um pouco difícil. Eu estou ansiosa,


quando estou assim não durmo muito bem.

— É apenas um final de semana no litoral, não


fique tão nervosa. Só vão estar eu, você e Suelen,
então pode relaxar.
— O Thiago também vai estar lá. Os pais dele
têm uma casa perto da sua. Ele quer me apresentar
aos dois — Maria Eduarda falou, com as bochechas
ficando coradas.
— Então por isso está tão afoita?

— O Thiago me roubou um beijo ontem.


— Vocês estão tendo algo? — Luíza sorriu,
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vendo a possibilidade de a amiga parar de sofrer.

As duas ouviram um barulho estranho na


cozinha e não deu tempo do bisbilhoteiro se
esconder. Eduardo foi pego no flagra ouvindo toda
a conversa.

— Não acha que está grande demais para isso,


Edu?
— Estou em minha casa. Isso me dá o direito
de ouvir o que eu quiser.

— Eu vou arrumar a minha mala. — Maria


Fernanda passou por Eduardo e ele analisou a cena
como se estivesse em câmera lenta.
Os cabelos dela estavam soltos, o que foi
suficiente para Eduardo inalar aquele cheiro
delicioso que já estava com saudades. Ele a olhou
até desaparecer de sua visão e se surpreendeu com
o vestido justo que ela usava. Ou Maria Fernanda

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tinha ganhado peso ou tinha escondido aquele


vestido no tempo que conviveram juntos.
— Você já a perdeu. Não adianta ficar aí
olhando com essa cara de bobo. Chega a ser
vergonhoso — repreendeu a irmã.

Ele se aproximou da irmã e beijou sua testa.


— Ela é minha, Luíza.

— As pessoas têm sentimentos, Eduardo. Ela


não é um objeto para ser agredida com suas
grosserias todas as vezes que se encontram. Se você
tem necessidade de ouvir a voz dela, tente fazer do
jeito certo.
— Vocês vão para a casa da praia?
Luíza ergueu um dedo.

— Nem pense em fazer isso. É um passeio de


amigas. Nós vamos nos divertir. Maria Fernanda

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precisa disso.
— Não se preocupe, pois tenho um jantar com
a família da Viviane. Nunca deixaria o meu futuro
por um final de semana de diversão.

— Vai mesmo morar com aquela mulher, Edu?


Pretende casar com ela quando se divorciar? Você
está percebendo as escolhas que está fazendo para
sua vida?
Ele riu.

— Eu só fiz isso uma vez na minha vida,


Luíza. É muito desgastante. Melhor ser amante dos
meus negócios e usufruir da clandestinidade casual.
— Esse seu lado racional ainda vai te deixar de
lado e eu sinto que, quando isso acontecer, já será
tarde demais para reparar tanto erro.
***

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Eduardo deu uma desculpa qualquer para


Viviane e, depois do meio-dia, pegou a estrada com
Sergio rumo ao litoral. Estava temeroso, pois faria
uma grande viagem e temia ter que deixá-la longe
de seus olhos.

Ele chegou à casa de sua família, encontrando


apenas o caseiro e a mulher dele. Depois de tomar
um banho, desceu e viu que Sergio já estava na
piscina esperando-o.

— O caseiro disse que elas saíram para uma


trilha próxima à praia do lado norte.
— Minha Suelen deve estar tomando sol de
biquíni. — Sergio fez uma pequena dança e
Eduardo o olhou de um jeito sério, tentando
decifrar a idade mental do amigo.

— Idiota. — Passou por Sergio e seguiu em


direção ao carro.

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Percorreram alguns quilômetros de carro até


chegar ao destino.
Já no destino, Sergio olhou para todos os lados
em busca de Suelen.

— Elas não estão aqui, Edu. Tem certeza de


que a Suelen veio para cá?
— Não. Ela pode ter ido ao rio, a tirolesa ou
para qualquer outro lugar longe de você.

— E a belezinha da Maria Fernanda está louca


para te ver. — Sergio foi naturalmente irônico.
— Olha a Lú. Elas devem estar por perto.

Sergio seguiu na frente em busca de


informação e Eduardo continuou andando
calmamente pela praia.

— Estão no rio, Edu, vamos lá! — Sergio


gritou a informação.

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Eduardo chegou até a irmã e recebeu dela um


olhar contrariado.
— E o jantar com a vaca loira? — perguntou
Luíza.

— Onde ela está, Lú? — Ele só queria saber de


Maria Fernanda.
— Se divertindo com uns amigos no rio.

Eduardo não disse uma palavra. Sabia quem


deveria estar entre "os amigos", então apressou os
passos até lá, com Sergio andando ao seu lado.
— Acho que alguém deu viagem perdida —
Sergio falou quando viu Maria Fernanda boiando
com Thiago no rio.
— Droga! Você precisa me ajudar, Sergio.
Distraia o moleque desgraçado que eu vou tirá-la
de lá.

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— Como eu vou fazer isso, Edu? Eu ainda não


encontrei a Suelen. Você já está vendo a Maria
Fernanda. Se vira, cara. A mulher é tua.
— Belo amigo você é. — Eduardo andou pela
margem do rio, seguindo o caminho de pedras.

— Maria Fernanda — chamou em tom baixo.


Ela se assustou e apoiou em Thiago. Juntos, os
dois mergulharam para o outro lado e saíram na
margem do rio. Eduardo fez todo o caminho de
volta e os alcançou na trilha. Ele a olhou de cima a
baixo e observou que ela estava com um biquíni
azul da mesma cor dos seus olhos. Maria Fernanda
estava linda e atraente. Eduardo perdeu um bom
tempo apenas a admirando.

— O que veio fazer aqui? Estragar meu final


de semana? — ela perguntou.
— Vamos, Fernanda. — Thiago a abraçou e

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Eduardo fechou os dedos, pronto para atacá-lo. Ver


Thiago abraçado a ela, ainda mais naqueles poucos
trajes, mortificava-o.
— Nem pense em fazer isso! — Maria
Fernanda o advertiu, vendo-o de punhos cerrados.

— Eu tenho um assunto para conversar com


você, por isso vim até aqui.
— Não quero saber de nada que venha de
você.

— É sobre o divórcio. Bem, não podemos nos


divorciar, mas tem uma maneira de ficar livre sem
precisar quebrar o contrato. Quero conversar sobre
isso.
— Isso é verdade? — Maria Fernanda sentiu
uma esperança e Thiago sorriu de um jeito contido.
— Trouxe o contrato para você ver. Não existe
cláusula que proíba isso. Meu pai me alertou.
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— Thiago, eu preciso resolver isso — ela falou


animada, olhando diretamente para o amigo.
Eduardo já estava possesso de raiva e ciúme.

— Eu vou te esperar na praia. Preciso voltar


ainda hoje. — Eduardo seguiu a passos largos,
tentando controlar sua fúria.
Maria Fernanda pegou a blusa sobre a pedra e
vestiu, abotoando todos os botões da frente até a
base da coxa. Olhou para Thiago e seguiu até a
praia, indo na direção do conversível de Eduardo,
que estava com a porta aberta e com o teto
totalmente removido.

— Então… — ela falou do lado de fora.


— O contrato está lá na casa. Vamos. — Ele
estava com a cara fechada, mas os olhos nas pernas
dela.
Ela deu a volta e entrou. Precisava resolver a
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situação, pois iria viajar para Paris e não queria


lidar com uma possível atormentação da parte dele.
— Sempre soube disso? — ela perguntou
depois de uma leve sacudida quando o carro saiu da
areia e tomou o asfalto.

— O quê?
— Sobre a cláusula escondida do contrato.

— Meu pai me alertou outro dia.


Eduardo sabia desde muito antes do
casamento. De início, não pretendia apresentar a
possibilidade a Maria Fernanda com medo de ela se
afastar e ser influenciada por alguém a pedir o
divórcio. Aquilo arruinaria os seus planos. Depois,
surgiu outro motivo. Por mais que negasse para si
mesmo, ele não a queria longe dele. Ele tinha usado
o argumento do contrato de última hora para levá-la
dali, pois precisava chamar a atenção dela, mas já

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estava muito arrependido do que tinha feito.

— Fale!

— Eu… não posso te dar o divórcio, mas


posso te dar a liberdade, no sentido de você morar
onde quiser. Mesmo à distância, estaremos
legalmente amarrados pelo casamento. Vai precisar
assinar uma procuração me deixando encarregado
de resolver tudo na empresa em seu nome. Os seus
cinquenta por cento vão continuar sendo seus, mas
não precisará decidir nada em conjunto comigo —
falou sem ânimo nenhum.
— Eu aceito. Não tenho interesse nenhum
naquela empresa. Por que não me falou isso antes?
Você estaria longe de mim há mais tempo.

Eduardo fechou os olhos por alguns segundos


e respirou pesado, dando-se conta da besteira que
tinha feito.

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— O que está fazendo? — Ela ficou ereta no


banco quando ele virou o carro em direção a uma
estrada de chão. — Para onde está me levando? O
que vai fazer comigo, Eduardo? — Ele ficou calado
e seguiu com o veículo, que balançava nos buracos
da estrada de areia. — Para o carro!
Maria Fernanda começou a entrar em pânico e
se levantou dentro do conversível. Eduardo a puxou
com uma mão, temendo que ela pulasse.

— Senta e para de loucura!


— Vai tentar contra minha vida? — perguntou
desesperada. — Eu prometo não te incomodar
nunca. Também te dou tudo que tenho. — Ela já
estava trêmula. Colocou as mãos no rosto e curvou
sobre os joelhos.

O carro entrou na areia de uma praia deserta.


Eduardo desligou o motor e esperou que ela parasse

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de gritar. Quando Maria Fernanda percebeu que


estavam parados, levantou o rosto e o encarou,
tentando decifrar o que estava acontecendo.
— O que pretende fazer agora que descobriu?
— Ele sorriu amargurado.

— Ir para longe.
Ele curvou a cabeça, deixando-a próxima ao
volante.

Maria Fernanda tentou rapidamente abrir a


porta, mas não conseguiu, então pulou por cima e
correu. Eduardo saiu dos seus turbulentos
pensamentos, abriu a porta e correu atrás dela.
— Socorro! — ela gritou, enquanto corria na
areia molhada pelas leves correntezas.
— Volta aqui, mulher! — Ele estava a poucos
metros atrás.

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— Não! Não chegue perto! Socorro! Alguém


me ajude!
— Maria Fernanda! — Ele continuou
correndo.

— Na fazenda eu corria léguas, não tente… —


ela gritou com a voz ofegante e continuou
correndo.
— Eu vou te pegar!

— Não vai! — Ela olhou para trás e


desacelerou, pois pisou sobre um casco de marisco
e manquejou.

— Maria Fernanda. — Ele se ajoelhou


próximo a ela. — Se machucou?
— Não se aproxime. — A moça começou a se
arrastar sobre a areia.

— Furou seu pé por causa de sua

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impertinência.
— Me solta! Me solta! — gritou quando ele
segurou o pé dela, impedindo-a de fugir.

— Para de escândalo! Eu nunca machucaria


você. Só vou olhar se entrou alguma coisa. — Ele
limpou a areia e viu o machucado na sola do pé. —
Não foi um corte grave, só um corte profundo em
sua pele. — Olhou para ela e beijou o lugar ferido.
— Melhorou? — A resposta dele foi uma pesada
no rosto.
— Me solta! — Ela tornou a gritar quando ele
a segurou pela cintura e a impediu de levantar.

— Somos casados. Estou cuidado para você


não ficar doente, mulher. — Beijou o cabelo dela
sob protestos.
Ela tentou sair do aperto, mas ele a imobilizou,
sentando-a sobre seu colo.

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— Já se esqueceu do que me disse? O que está


querendo agora? — Ela ainda tentou um último
movimento, mas estava completamente imobilizada
e cansada dentro dos braços dele.
— Estou com saudades e não consigo resistir
te vendo assim... tão linda.

— Estou com medo.


— De quê? — Ele iniciou uma trilha de beijos
do pescoço dela até a orelha. — Como consegue
ficar mais linda, mulher?

Maria Fernanda fechou os olhos, ligeiramente


seduzida. Aquele homem mexia com ela mais do
que queria. Seja forte, seja forte, seja forte. Ela
insistia em pensamento.
— Não vamos chegar a lugar nenhum, então
me solte. — Juntou as forças e falou firme. — Me
solta!

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Ele afagou os braços dela e a libertou. Estava


perdendo-a, de agora em diante seria difícil prendê-
la. Eduardo tinha usado seu trunfo contra si mesmo.
Maria Fernanda levantou e deu as costas para ele.
O homem ficou sentado no mesmo lugar, mas
quando ela estava em uma distância de cem metros,
ele correu e segurou no braço dela.
— Espera... não precisa fugir assim de mim.

Ele percebeu que ela chorava e odiou ser o


motivo. Estava na corda bamba. Maria Fernanda
sempre o desarmava com suas lágrimas.
— Odeio você, só quero que fique ciente —
ela falou com a voz embargada e cruzou os braços
em volta do corpo.

— Não, isso não é verdade, Maria Fernanda.


Um sentimento tão odioso não combina com você.
Você é bela, altruísta, atraente, elegantemente

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arisca. Você fica vulnerável toda vez que chego


perto. — Ele a segurou pela cintura e aproximou os
lábios do ouvido dela. — Eu também não consigo
resistir a você — sussurrou. Eduardo não esperou a
reação dela, sugou um dos lábios rosados para em
seguida beijá-la.
Foi um beijo carregado de saudade e paixão.
Nem ele mesmo entendia a sua reação quando
chegava perto dela. Era muito forte o que os unia.
Maria Fernanda estava tremendo nos braços dele.
Odiava amar aquele homem. Sim, ela o amava. Era
intensa e dolorosa a conexão entre eles. Quando o
beijo foi encerrado, ela já estava chorando muito,
não de medo, mas porque sabia que suas forças se
tornavam pequenas perto de Eduardo. Como queria
que fosse diferente, mas não. Eduardo era o mesmo
homem soberbo e agora era a hora de ele deixá-la
para trás e seguir com a sua vida. Maria Fernanda

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não se encaixava nela.

— Agora você pode ir. Já está satisfeito?


Agora vá e não me machuque mais. — Ela estava
chorando e ele se recriminou por dentro.

— Maria Fernanda, fica comigo. — Ele puxou


uma das mãos dela e a beijou.
— Você sempre faz tudo errado! — Ela
esmurrou o peito do marido.

— Eu não sei fazer certo.


— Dirija até chegar a casa. Quero assinar esses
papéis. — Seguiu até o carro.

Eduardo seguiu logo atrás, desanimado.

— Dirija rápido! — falou quando ele entrou no


carro, totalmente enfezado.
— É impossível, mas eu posso não ter feito
direito. — Ele virou de repente e a beijou outra vez.
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No começo foi seco, pois ela lutava contra a


força dele, mas aos poucos ele foi conduzindo-a
com paixão e movimentos sedutores. Seduzir era
uma das matérias que ele domava, mas com ela
nunca dava para saber quando iria funcionar.
Quando acontecia, a harmonia dos lábios era uma
explosão instigante que comandava os corpos ao
ponto de querer torná-los apenas um, o mais breve
possível.
Separaram-se por alguns segundos e, enquanto
tentavam recuperar a respiração, eles se olharam.

— Maria Fernanda…

— Cale a sua boca. — Ela apontou o dedo no


rosto dele. — Nunca mais tente me beijar
novamente.

Eduardo a beijou outra vez e trouxe o corpo


dela para ficar sobre o seu.

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Montada sobre o corpo dele, ela apertou os


cabelos do marido com força. Aquilo inflamou
luxúria no corpo de Eduardo, que começou a
desabotoar a blusa de viscose que ela usava.
Quando todos os botões estavam abertos, eles
afastaram os lábios apenas alguns centímetros, pois
por mais que não conseguissem se desgrudar,
necessitavam de oxigênio.
— Eu estava com tanta saudade dos seus
cabelos, do seu cheiro. — Ele esfregou o nariz nos
cabelos dela, sem se importar com a areia molhada
impregnada nos fios castanhos. Era os cabelos dela,
nada mais importava.

Eduardo arrancou rapidamente a camisa do


corpo e voltou a beijá-la. Temia perder a conexão e
deixá-la escapar. Estava com tanta saudade daquele
corpo que seu sexo já doía de desejo, pronto para
ela. Ainda a alimentando com seus beijos quentes,

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ele a fez subir o tronco para facilitar a saída do


restante de sua roupa. Era incrível a agilidade que
Eduardo tinha quando temia uma desistência dela.
Maria Fernanda voltou a sentar no colo já nu
dele. Seu rosto pousou sobre o peito largo que
ofegava. Ela ficou um pouco ali, ouvindo as batidas
do coração do marido e constatando que ambos se
desejavam na mesma proporção.

Eduardo estava com certa pressa, já tinha


desamarrado os dois lados do biquíni que ela usava
e começado a dedilhá-la intimamente. Maria
Fernanda distribuiu beijos molhados no peito
musculoso e arrancou gemidos dos lábios do
marido, que parecia nunca ter tido sexo na vida. Ele
se lembrou de fechar o teto do carro e se ajeitou
para invadi-la, mas antes pincelou seu membro
lascivamente nela, espalhando prazer no corpo
desejado.

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— Só vá até onde aguentar. — Segurou a


cintura dela com as duas mãos e foi fazendo-a
sentar devagar. — Já passou… — sussurrou
quando estava dentro dela. — Não dói mais. —
Ajudou-a com os movimentos até que ela pegasse o
ritmo.
Quase uma hora depois, Maria Fernanda estava
descansando com a cabeça no peito dele. Eduardo
acariciava os cabelos da mulher carinhosamente e
tirava um pouco da areia impregnada nos fios.
Naquela tarde, não houve desejo contido, eles
extrapolaram o prazer até se cansarem.

— Está bem mesmo? — Ele desceu as pontas


dos dedos nas costas dela, repetindo a mesma
pergunta pela quarta vez.
— Isso não foi muito ajuizado — ela falou
depois de beijar o peito dele em resposta.

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— Eu vivi para levar uma surra da deliciosa da


minha ferinha. — Ele gargalhou e olhou para o teto
do carro.
— Não me constranja.

Ele procurou os lábios dela e os beijou sem


aprofundar.
— Mas você tem razão. Vamos precisar passar
em uma farmácia e comprar a pílula. Não posso
correr o risco de te engravidar.

— Não quer ter filhos? — Ela levantou o rosto


para olhá-lo.

— Sob hipótese nenhuma. Estávamos tão


ligados que não deu tempo de pensar em precaução,
mas graças aos céus inventaram a bendita pílula.
Veste a blusa. Vamos passar em uma farmácia. Foi
a primeira vez que esqueci o preservativo na vida.
Isso foi muito imprudente da minha parte.

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Maria Fernanda sentou ao lado dele, estava


meditando nas palavras do marido.
— E se por um acaso…

— Não vão existir acasos. — Ele a


interrompeu com uma bitoca. — Existem pílulas
para não deixar esquecimentos virarem acasos.
— Mas se vier algum dia…

— Não vai existir esse dia. Esqueça isso.


— Não gosta de crianças?
— Não. — Ele foi franco.

— Qual o motivo?
— Sem crianças, Maria Fernanda. Não estou
preparado para ser pai. Nem quero me preparar.
Nunca serei pai. Vamos encerrar essa conversa para
não acabar a nossa harmonia — ele falou sério.

***
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Eduardo estacionou o carro em um posto de


gasolina e seguiu de mãos dadas com Maria
Fernanda até a farmácia.
— Quero uma pílula do dia seguinte — pediu à
jovenzinha que estava sentada detrás do balcão,
concentrada em um livro. — Quero uma pílula do
dia seguinte! — Tornou a pedir, já alterado. A
jovem apenas levantou uma das mãos pedindo para
ele esperar e seguiu centrada nas linhas de um livro
de capa envelhecida. — Quero uma pílula do dia
seguinte! —Eduardo tomou o livro da mão da
jovem e colocou sem nenhuma delicadeza sobre o
balcão.

— Axí, credo! Tu és leso, é? — A mocinha de


cabelos longos se assustou.
— Quero uma pílula do dia seguinte. Rápido!
— falou apressado.

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— Vingança de amor? — Maria Fernanda


pegou o livro sobre o balcão. — Já li umas dez
vezes. — Ela sorriu como se tivesse encontrado
algo precioso.
— Úlha, tu também lê romances históricos? —
A jovem paraense sorriu.

— Leio. Uma das minhas autoras preferidas é


a Hannah Howell. — Maria Fernanda folheou as
páginas.
Eduardo revirou os olhos sem paciência e
soltou o ar pela boca.

— Já leu os outros da série Terras Altas da


família Murray? — A jovem de cabelos longos e
negros perguntou à companheira de leitura.
— Você pode pegar a pílula antes que a Maria
Fernanda esteja com as dores de parto? — Eduardo
bateu três vezes no balcão.

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— Eu hein! Parece que é besta! — a jovem


reclamou antes de levantar do banco e subir em
uma escadinha para pegar o medicamento. — Vai
te lascar… Até parece que sou responsável de
irresponsabilidade alheia. — Ela desceu e bipou o
produto no escâner.
— Passe o cartão e seja rápida! — Ele
entregou o cartão nas mãos dela e recebeu um olhar
de reprovação de Maria Fernanda.

— Seja gentil — Maria Fernanda sussurrou.


— Aqui! — A jovem entregou a maquineta
para ele.

Depois que ele digitou a senha, ela entregou o


cartão e o pacotinho com a pílula, mas não soltou.
— Solta! — Eduardo puxou. — É o quê? Não
vai soltar? — Puxou novamente.
— Te orienta ou vai escangalhar sua vida, filho
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duma égua! — ela falou, olhando nos olhos dele.

Eduardo puxou o pacote e segurou a mão de


Maria Fernanda.

— Foi um prazer! Meu nome é Maria


Fernanda. Boa leitura! — Maria Fernanda deu
tchau, já saindo na porta.
— O prazer foi meu! Crys Carvalho, balconista
e futura escritora.

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27
Eduardo subiu as escadas da casa de praia,
beijando Maria Fernanda, que subia de costas
sendo sustentada pela cintura.
Ela estava esperançosa e amedrontada. Seu
subconsciente questionava como eles ficariam
depois daquela tarde, o coração se apegava ao amor
e a paixão que estavam vivenciando e a consciência
insistia na realidade dos fatos. Ele temia as frases
que saíam da boca dela e por isso não parava de
beijá-la. Tudo desmoronaria em breve. Eduardo
queria prolongar o máximo aqueles momentos a
dois.

— Eu vou tomar banho. Você toma a pílula e


depois me encontra no chuveiro. — Já dentro do

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quarto, ele deu um último beijo na testa dela. —


Não demora.
Ele entrou no banheiro e Maria Fernanda
sentou sobre a cama. Por dentro, seguia uma
batalha entre felicidade e tristeza. Estavam casados
há quase dois anos e viveram poucos dias em
harmonia de casal. Ela amava Eduardo o suficiente
para ter esperanças e o conhecia na mesma medida
para sentir o peso da frustração.

No fundo, Maria Fernanda também queria


estender aquele momento que estavam vivendo, por
isso levantou para entrar no banheiro. O aparelho
celular estava vibrando sobre o móvel de madeira e
Maria desviou os passos para pegá-lo. A ligação foi
encerrada antes que ela atendesse, mas no visor
mostrou a mensagem:
"Você recebeu ligações de Viviane"

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Com o coração absorvido pela tristeza e com o


semblante inepto, ela sentou na cama novamente. O
celular vibrou de novo, mas dessa vez avisando
uma nova mensagem. Maria Fernanda clicou e leu
o conteúdo, que dizia:

"Gato, por que você não atendeu minhas


ligações? Queria ter ido com você. Encontrei com
sua mãe e ela me contou o que foi fazer. Fiquei
até aliviada, pensei que tramava desistir da nossa
viagem. Desejo que a caipira assine os
documentos. Papai preparou tudo, então tenta
chegar a tempo para o nosso jantar. Eu sei que
você consegue. Traz logo suas malas. Dorme aqui
hoje e amanhã iremos direto para o aeroporto."

Maria Fernanda viu a luz do visor se apagar e


levar com ela a última esperança de seu casamento
dar certo. Sim, seria a última ou se tornaria um
círculo vicioso e autodestrutivo.

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— Você não vem? — Eduardo apareceu na


porta do banheiro com uma toalha em volta da
cintura. — Quem ligou? — Ele viu o telefone nas
mãos dela.
Ela estava olhando para um ponto qualquer,
mas não prestava atenção em nada, pois sua mente
estava longe. Eduardo pegou o celular da mão dela
e leu a mensagem, sentindo de imediato uma
agonia no peito.

— Tem uma caneta? Entregue-me os papéis —


falou rapidamente.
— A viagem já estava marcada antes de você
aparecer — disse, tentando dar uma explicação.

— Suponho que seja muito importante para


tanta antecedência. — Ela lutou para não fraquejar
a voz, até então estava conseguindo.
— Vou a Dubai. Serão dois meses. É

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importante para minha empresa.

— Você desistiria de tudo pelo nosso


casamento? — perguntou, sentindo um angustiante
nó na garganta.

— Não. — Ele foi claro.

— Me levaria no lugar da sua rameira? — Ela


abaixou o rosto e não sustentou as lágrimas.

— Foi o pai da Viviane que me apresentou aos


contatos fortes lá fora.
— Me leve no lugar dela. — A voz dela saiu
embargada. Estava de cabeça baixa, pois sentia
vergonha da própria humilhação.
— Não existe essa possibilidade. — As
palavras dele saíram rasgadas.

— Um beijo seu e me torno aquela que se


contenta em passar a noite com o marido fedendo a

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prostitutas. Como sou tola… — Ela se analisou em


voz alta.
— Não vou desistir da viagem, não posso. —
Ele sentou ao lado dela e, quando tocou o rosto de
Maria Fernanda, ela levantou.

— Esteve com muitas mulheres durante esses


meses? — perguntou com a voz firme. — Tenho
certeza, mas quero ouvir da sua boca. Estou
fechando as contas, qualquer coisa vale para coibir
os meus desvios de esperanças.
— Você criou sentimentos sobre minhas
verdades. Não menti sobre a vida que levo. Fui
claro desde o início. Você montou uma ilusão e me
cobra por algo… — Ele encerrou a frase e respirou
pesado.

— Continue. — Ela fez um gesto impaciente


com as mãos. — Eu me iludo facilmente…

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Continue, pois preciso ouvir.


Ele levantou, tocando o rosto e os cabelos dela.

— Não vou deixar que as histórias cheguem


até você. O que acontecer na viagem, ou fora dela,
fica na rua. — Aproximou os lábios dos dela, mas
não os tocou. — Nenhuma das outras se compara a
você.
— Isso nunca será suficiente pra você.

— Essa cobrança toda me esgota, Maria


Fernanda. — Ele se afastou e caminhou dentro do
quarto. — Fiz projetos de vida antes de saber da
sua existência. Quantas vezes teremos que discutir
sobre o mesmo assunto?
— Onde está a procuração, Eduardo? Não vou
mais mendigar seu afeto. Eu ainda não sei onde
quero chegar, mas os caminhos existem e tenho
pernas. Farei planos na estrada. Me entregue os

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papéis.

— Não é isso que eu quero, mas por hora é a


melhor solução. Quando eu chegar de viagem,
conversaremos direito. Quem sabe você esteja mais
adulta para viver de mente aberta.

— Os papéis, Eduardo. — Ela tornou a pedir.


Ele foi até a mochila, retirou os papéis e
entregou a caneta a ela. Maria Fernanda passou os
olhos nas linhas, em seguida assinou as duas vias
da folha. Eduardo andou de um lado para outro no
quarto.

— Por que veio até aqui? Sente prazer em me


dar esperança para em seguida ferir meu coração?
— Não tenho a intenção de te ferir com minhas
vontades, mas eu precisava estar com você mais
uma vez. Sou muito apegado ao seu corpo.
— Superficialmente… — Ela secou o rosto na
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manga da camisa.

— Não vou desistir de uma viagem tão


importante. Não posso abrir mão da companhia por
razões importantes para minha empresa — ele falou
com frieza.

— Isso está ferindo tanto meu coração. Você


não sabe o que é sentir isso. É um covarde, egoísta
e prepotente. Pode ter certeza de que eu não vou
esquecer essas palavras. Se quiser pode repetir para
eu absorver melhor.
— Não torne as coisas mais difíceis, mulher.

— Depois que seu império for construído, o


que vai sobrar pra você? Como pensa que vai ser
feliz só por possuir algo material? Como vai se
sentir?
— Realizado. — Aquele realmente era seu
pensamento, mas a angústia afligia o órgão

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pulsante dentro de seu peito.

— Isso aqui é o fim. Não haverá mais as


recaídas e reconciliações. Hoje está morrendo a
menina tola que você conheceu. De hoje em diante
eu nunca mais serei a mesma. Não tenho por que
ficar presa a você por mais oito anos. Vou sair do
país — anunciou e se virou para sair.

— Como? Você não pode sair do país. Você


nem conhece nada lá fora! É só uma menina. —
Eduardo sorriu nervoso. Não esperava aquele surto
de impetuosidade. A ideia de vê-la tão longe feria
de alguma maneira o seu coração.

— O seu maior erro foi me subestimar,


Eduardo — disse ela ao entrar em outro quarto e
sair com as sandálias nas mãos. — Eu já estive fora
do país muitas vezes, também sei falar três idiomas,
sabia disso? Posso ser ingênua, mas não sou burra!
Minha madrinha tem amigos na Europa que me
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querem muito bem. Eu me sinto forte para assumir


o controle de agora em diante. — Maria Fernanda
saiu apressada.
— Maria Fernanda! — Eduardo desceu as
escadas correndo para alcançá-la e conseguiu,
porém a moça continuou caminhando, mesmo com
os lábios tremendo em um choro contido, que ela se
recusava em deixar escapar na frente dele. Ele não
veria mais suas fraquezas.

— Eu vou para a casa do Thiago, Lú. — Maria


Fernanda encontrou a amiga entrando na casa.
— O que aconteceu? — Luíza analisou o
irmão só de toalha e presumiu o que teria
acontecido. Eduardo deveria ter aprontado feio. —
Por que não troca de roupa primeiro? — Luíza
praticamente fuzilou o irmão com os olhos.

— Eu vou assim mesmo, mais tarde leva uma

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roupa para mim. — Não olhou para trás, apenas


seguiu em frente em direção à saída da casa.
Eduardo olhou para a irmã.

— Lú…

— Não! Eu me recuso a te ouvir, meu irmão.


Se for para me dar uma de suas explicações
egoístas, fica calado. — Luíza passou direto.

Ela amava o irmão, mas não tolerava as suas


atitudes com a amiga. Havia preparado aquele final
de semana com a intenção de proporcionar um
pouco de diversão para a pobre Maria Fernanda,
pois no fundo, sentia-se responsabilizada pela falta
de amor com que aquela família tratava a jovem.
A mente de Maria Fernanda estava agitada.
Internamente, culpava-se por ter construído sonhos
em um terreno instável. Pensou nas razões de
Eduardo. Ele era frio, talvez Eduardo fosse assim

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para nunca sentir a dor que ela estava sentindo


naquele momento.
Eduardo voltou para casa naquela tarde e se
arrependeu de ter ido até a praia. Acabou mexendo
em algo que estava adormecendo e deixando Maria
Fernanda ainda mais ferida.

***
Naquela noite, as jovens jantaram na casa da
família de Thiago. Os pais do jovem eram muito
simpáticos e paparicaram Maria Fernanda, já
oferecendo a ela o cargo de nora. Thiago ofereceu o
ombro amigo e se dispôs a ouvi-la chorar. Porém,
Maria Fernanda passou todo o jantar sendo forte, às
vezes até sorria para esconder a dor.

Quando voltou para a casa de praia da família


de Eduardo, os soluços foram soltos e o choro
reprimido durante a noite veio forte.

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— Você precisa parar, amiga. Ele não merece


tudo isso. — Suelen sabia que aquela noite seria
difícil para Maria Fernanda e estava disposta a ficar
acordada ao lado dela.
— Su, você vai comigo para a Europa?

— O quê? Europa? Eu? — Suelen não


escondeu a alegria em escutar aquele convite.
— Sim, Su, eu não tenho mais ninguém. Só
tenho você, Antonieta, Jorginho e Carmem. A
Luíza é minha amiga, mas ela é irmã do Eduardo.
Não quero envolvê-la em nada. — Ela ainda estava
chorando.

— Mas eu nem sei falar francês, nem inglês!


Eu nunca saí da cidade, Nanda. Não vou saber me
comportar e vou acabar te envergonhando. Paris…
— A morena juntou as duas mãos em uma prece e
olhou para o alto. — Obrigada, paizinho.

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— Eu te ensino tudo, Su. Também não sabia,


mas madrinha me proporcionou ótimos professores
particulares. Posso passar tudo para você. Só não
me deixa ficar sozinha no mundo.
— Amiga, não chora. Eu quero muito ir. É
meu sonho, mas não acho que meus pais deixariam.
Eles quase não permitiram que eu trabalhasse fora.

— Olha… — Maria Fernanda se aproximou e


segurou as mãos da amiga. — Conversa com eles.
Vamos estudar fora! Isso vai acabar sendo motivo
de orgulho para eles.
— Meu pai é um lampião, amiga. Eu não
acredito que falar isso funcione.

— Vai funcionar. — Maria Fernanda foi


confiante. — Vamos crescer juntas. Uma apoiando
a outra. Você tem sonhos?
— Sim… Quero ser uma grande estilista.

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— Então você vai ser uma grande estilista.


Também vai me apoiar no que serei. Ainda não
tenho uma escolha, mas vou atrás do meu futuro.
Chega de tanto chorar! — Maria Fernanda secou os
olhos. Vamos finalizar o curso e seguir rumo à
França.
***

Um mês e meio se passou desde a última vez


em que Maria Fernanda havia visto Eduardo. A
distância amenizava a dor, porém a ferida ainda
estava aberta. Ela estava sentindo algumas tonturas
e chegou a desmaiar uma vez no cursinho.
Antonieta decidiu levá-la ao médico. Os exames
ficaram prontos e a mulher confirmou a sua
desconfiança.
— Grávida, Antonieta! Eu estou grávida do
Eduardo! Ele… ele não vai aceitar isso. Vai me
acusar! Eu não me lembrei de tomar aquela pílula.
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— Ela, pela falta de experiência, entrou em


desespero — Eduardo não me quis. Como vai
querer o bebê? — Estava muito emotiva e o choro
foi inevitável.
— Minha filha, agora não tem mais o que
fazer. Você já está grávida. Ele é o pai e vai ter que
assumir.

— Eduardo vai me obrigar a tirar e eu não vou


permitir. Não posso deixá-lo saber… Preciso viajar
logo! Ele… — A jovem começou a soluçar e
Antonieta a abraçou.
— Ele não seria capaz, minha filha. Isso já é
muita crueldade.

— Aquele Sergio fez isso com a Su. Eles dois


andam juntos. Eu não vou matar o meu filho.
— Calma, querida, tudo vai se resolver. Não se
desespere. Olha as suas condições. Não fique

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nervosa, precisa se acalmar para proteger o seu


bebê. Ele precisa muito de você agora.
— Eu não vou matá-lo, Antonieta. Eduardo
não vai saber que ele está aqui.

— Não vai acontecer nada disso, filha. Se


acalme. — Antonieta sabia que se tratando de
Eduardo, tudo seria possível, mas jamais deixaria
transparecer para Maria Fernanda, ainda mais ela
estando tão desesperada.
***

Em algumas semanas, já estavam prontas para


a viagem à Europa. Suelen recebeu a permissão dos
pais, por isso não parava de falar as poucas frases
em francês que Maria Fernanda vinha ensinando-
lhe.
— Merci, madame.
— Merciu…
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— Não, Jorge! Merci! Você tem que aprender


a agradecer. E quando for nos visitar em Paris? Eu
não quero você me fazendo passar vergonha, seu
barrigudo.
Suelen estava aprendendo poucas palavras em
francês e já se achava apta suficientemente para ter
um aluno. Jorge, segundo ela, era a cobaia perfeita.

— Eu nunca vou conseguir aprender, Suelen.


Isso é muito difícil.
— Você que está colocando dificuldades! Eu
já aprendi quase tudo em uma semana.

Maria Fernanda estava fazendo um carinho no


minúsculo bolinho em sua barriga. Já amava mais
aquele pequeno ser do que a própria vida. Estava
assistindo à batalha da professora Suelen com seu
aluno Jorge e sorria pensando na divertida amiga
deslumbrada com as vitrines da Avenida

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Montaigne em Paris.
Naquela tarde de domingo, Antonieta estava de
folga e Luíza tinha viajado com o novo namorado.
Suzane, a mãe de Eduardo, estava na sala com seu
marido, discutindo a aquisição de uma nova casa de
praia. A conversa na cozinha estava alta, mas Maria
Fernanda ouviu a voz de Eduardo na sala.
Automaticamente, sentiu as pernas estremecerem.
Já havia se passado dois meses, mas ela ainda
estava muito abalada com as últimas palavras
egoístas de Eduardo. O seu maior medo era que ele
descobrisse sobre a sua gravidez.

— Amiga, é ele. — Suelen já estava ao lado


dela enquanto Jorge espiava pela porta.
— Está com a megera a tiracolo — Jorge
completou.

— Eu vou para o meu quarto. — Ela se

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levantou da cadeira e depois de uma leve tontura,


vestiu a máscara da indiferença e seguiu o seu
caminho.
Entrou pela sala e logo sentiu o cheiro do
perfume de Eduardo. Chegou a sentir o olhar dele
queimando em sua pele. A ferida parecia cada vez
mais aberta.

— Olha só se não é a caipira oferecida! —


Viviane não a deixaria passar sem jogar um
veneno. — O que vai fazer lá em cima? Errou o
caminho do seu quartinho dos fundos?
Maria Fernanda nada falou e começou a subir
as escadas.

— Suzane, tenha cuidado com essa aí. Ela tem


uma queda por homens comprometidos.
Maria Fernanda estava aguentando a
provocação, mas ao ouvir aquelas palavras se

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sentiu desafiada a descer os degraus da escada e


seguir até a sua ofensora. Viviane a viu
aproximando-se com tanta fúria no olhar, que se
ajeitou para perto de Eduardo, mas nada impediu
Maria Fernanda de mostrar que o seu lado
selvagem sobrepujava o caipira. O tapa foi em
cheio no rosto pálido de Viviane. Maria Fernanda
não parou por aí. Sem intervalo de tempo, puxou o
cabelo dela, tentando trazê-la para o chão da sala.
— Maria Fernanda, solta o cabelo dela. —
Eduardo não estava ajudando Viviane, que se
contorcia com os cabelos presos aos dedos de
Maria Fernanda.

— Nunca mais se refira a mim dessa maneira


ou de qualquer outra que seja — falou
pausadamente, puxando os cabelos da loira com
toda sua força e, logo depois, soltou os fios, dando
um empurrão para o sofá. Viviane não parou para

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recuperar o fôlego e, no mesmo lugar em que


estava, levantou e empurrou Maria Fernanda, que
caiu sobre a mesinha coberta por vidro.
Um grito agudo foi ouvido, mas não foi de
Maria Fernanda e sim de Suelen, que rapidamente
se ajoelhou perto da amiga, tentando estancar com
as mãos o sangue que escorria do enorme corte no
braço.

— Como você permite isso, Eduardo? Seu


miserável. Você e essa vaca se merecem! —
Viviane tomou certo susto ao ser chamada daquela
maneira pela empregada.

Eduardo se ajoelhou perto de Maria Fernanda


e, com os olhos assustados, analisou o corte no
braço dela.

— Eu não queria isso. — Retirou sua camiseta


e apertou contra o corte, na tentativa de conter o

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sangramento.
Maria Fernanda tremia. Sua dor não era pelo
corte profundo em seu braço, mas pela forte fisgada
em seu útero. Quando sentiu o sangue escorrer por
seus joelhos, teve a certeza. A queda tinha atingido
a criança.

— Meu bebê… — Essas foram as últimas


palavra ditas por ela antes de tudo escurecer e a sua
mente ficar vazia.
Depois de muitas horas dormindo devido aos
medicamentos, Maria Fernanda abriu os olhos,
sentindo um leve enjoo. Antonieta estava na
poltrona do quarto do hospital, lendo um livro, já
Suelen estava dormindo encolhida no minúsculo
sofá.

— Antonieta…
— Oi, filha. Está sentindo alguma dor?

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— O meu bebê? — A preocupação dela era


apenas com a sua criança.
— Ele está bem. Agora descansa.

— Ele não se machucou? Coloquei a vida dele


em risco. Eu estava com raiva dela e não me
controlei. Fui irresponsável com meu bebê. — Já
estava aos prantos.
— Você precisa manter a calma. Ainda está
muito fraca. Seu filho está bem. Os médicos
conseguiram conter a hemorragia. De agora em
diante, é preciso que tenha repouso dobrado.
Precisa manter a calma para proteger a saúde de seu
bebê.

— O Eduardo sabe sobre ele?


— Ficou sabendo quando te deixou aqui.
— O que ele falou, Antonieta?

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— Melhor vocês dois conversarem. Ele disse


que virá quando o dia amanhecer.
Eram nove e quinze da manhã quando Eduardo
entrou no quarto do hospital onde estava Maria
Fernanda.

— Eu vou deixar vocês conversarem. Vamos,


Suelen.
— Não vou deixar a Nanda sozinha com ele.
— Suelen estava enfurecida com Eduardo.

—Vamos, Suelen, a porta vai ficar aberta. Ele


não seria louco de aprontar alguma coisa aqui.

— Não se preocupe, Antonieta, vou ser rápido.


— Eduardo ignorou Suelen, que treinou voar em
seu pescoço, só não fez em respeito à amiga ferida.
Assim que as duas saíram do quarto, Eduardo
puxou a poltrona e se sentou em frente à cama
hospitalar.
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— Você está bem? — Analisou as agulhas no


punho dela e o grande curativo no braço.
— Eu pareço bem? — Sentindo muita dor, ela
conseguiu se ajeitar sentada na cama.

— Você perdeu a criança? — perguntou de


uma vez o que o afligia.
— Isso importa para você?

— Não muito. Eu não tenho tempo para ser


pai, então se a criança vingar — apontou a barriga
dela com um dedo —, eu não quero ter nenhum
tipo de apego. A escolha é sua, você decide o que
fazer. Só não quero me sentir responsável por nada
disso.
Maria Fernanda fechou os olhos, pensando
rapidamente na melhor solução. Nunca abortaria.
Seu bebê já era amado sem mesmo ver o seu
rostinho. Eduardo o rejeitava claramente, seria

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muito triste ter um filho rejeitado pelo pai, mas ela


amaria aquela criança e cuidaria para que nunca
chegasse perto do egoísmo do pai.
— Então, você perdeu a criança? — Ele tornou
a perguntar.

— Estou com muita dor. — Ela estava


ganhando tempo para tomar a melhor decisão.
— Vai ficar uma cicatriz enorme. — Olhou
para o corte no braço da dela.

— Não maior do que a do meu coração.


— Tente esquecer tudo isso. Será melhor para
você. A criança… você a perdeu ou não?
— Não tem mais por que se preocupar, você
não será pai. — Maria Fernanda usou toda sua
frieza para esconder a verdade.

Tomou uma decisão que não traria influência a

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ele. Eduardo odiava a possibilidade de ter uma


responsabilidade que não fosse sua empresa, então
ela assumiria tudo sozinha. Longe dele.
— Melhor que seja assim. Isso só iria
atrapalhar. — Eduardo levantou da poltrona e se
aproximou da porta.

Maria Fernanda estava com o olhar vazio e as


lágrimas escorriam pelos cantos dos olhos.
— Daqui a cinco dias é a inauguração da
empresa. Se você estiver melhor, aparece por lá.
Afinal, aquilo também é seu. — Ele parecia lutar
internamente. A presença dela o afetava muito.

— Adeus, Eduardo. — Ela preferiu não dizer


que naquele mesmo dia estaria viajando para a
Europa.
— Se cuida. Toma os remédios direito. — Ele
não conseguiu controlar a lágrima que escorreu de

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seu olho e, para não mostrar, deu as costas para ela


e saiu do quarto, deixando Maria Fernanda aos
prantos.
***

O dia da viagem chegou. O avião sairia às


vinte e três horas. Jorge estava dividido entre o
choro e a saudade. Depois de passar na casa de
Suelen para pegar as duas jovens, todos partiram
para o aeroporto. Ainda faltavam três horas para o
embarque e Maria Fernanda pediu a Jorge que
mudassem ligeiramente a rota e passassem na festa
da empresa.

Lá estavam Jorge, Antonieta, Carmem e


Suelen esperando Maria Fernanda que, há cinco
minutos, tinha entrado pela recepção da festa. Ela
encontrou com Luíza e, depois de um longo abraço
de despedida, viu Eduardo sorrindo para os
fotógrafos, abraçado com Viviane, que vestia um
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traje de gala extremamente luxuoso. Ele estava


feliz, cercado de pessoas influentes do mundo dos
negócios, paparicado pela mídia e ao lado da filha
do ministro das obras públicas.
— Era para você estar ali. — Luíza apontou
para a roda de fotógrafos que distribuía flashes para
o casal.

— Estou bem com isso. Passei aqui porque não


te vi e não poderia viajar sem te agradecer por toda
a sua ajuda. Vou sentir sua falta, Lú.
— Não se esqueça de mim. — Luíza beijou o
rosto da amiga. — Eu queria que meu sobrinho
estivesse aqui. — Luíza levou a mão para tocar na
barriga de Maria Fernanda, lamentando a perda.

— Eu preciso ir agora. Meu voo é daqui a


pouco. — Ela se afastou com medo de que Luíza
identificasse por baixo do casaco o seu abdómen

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com uma pequena forma avantajada.


Ela deu um último abraço em Luíza e tentou
controlar a tristeza em ter que esconder a verdade
de sua amiga. Deu uma última olhada para Eduardo
e sentiu os olhares cruzando-se através da multidão.
Eduardo a olhou intensamente e viu quando Maria
Fernanda se dirigiu para a porta de saída, então
atravessou a multidão para confirmar se realmente
era ela.

— Tarde demais. — Luíza segurou a manga do


traje de gala.
Ele apenas olhou para a porta, ajeitou o seu
terno e saiu o mais depressa possível. Quando
chegou à rua, viu apenas o carro conhecido virando
a esquina.

Maria Fernanda seguiu para o aeroporto com o


coração estraçalhado e a verdade sobre sua criança,

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segura. Pelo menos por algum tempo.

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Segunda fase

“A verdade liberta, pois você pode fazer o que


quiser com ela, inclusive negá-la, mas a
responsabilidade é sua quando ela aparecer.”
Pry Olivier.

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1
Maria Fernanda teve uma gestação turbulenta.
Ela passou praticamente a gravidez toda deitada em
uma cama, com uma gravidez de risco.
Dudinha nasceu prematura e passou dois meses
internada em uma unidade intensiva. Nesse
período, foi diagnosticada com uma osteomielite[2]e
foi cuidada com todo amor e proteção de Maria
Fernanda.
Quando Giovane soube que Maria Fernanda
estava passando por problemas de saúde em Paris,
entrou em um avião e foi encontrá-la. Foi ele que a
auxiliou durante o período tumultuoso da gravidez.
Ele também registrou a bebê como sua filha e,
quando Dudinha já estava mais forte, voltou para o
Brasil. Giovane tinha assumido compromisso com
a jovem filha de um fazendeiro vizinho.
Maria Fernanda se dedicou aos estudos e a sua
pequena. Ela só abriu seu coração para tentar um
novo amor depois de quatro anos que estava na
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França. Manteve um relacionamento com um


colega de faculdade, mas foi algo superficial e não
sustentou por mais de seis meses. Nesse período,
Thiago viajou à França a negócios e a reencontrou.
Desde então, Paris passou a ser o destino preferido
do taiwanês.
Ela não era mais a menina indefesa que saiu do
Brasil com o coração estraçalhado. Passou a ser
uma mulher forte, inteligente, corajosa e sábia. Na
França, estudou economia, fez mestrado em
técnicas financeiras, estagiou e foi contratada por
uma das maiores empresas de auditoria daquele
país.
Na cidade capital da moda, aprendeu o gosto
pela elegância e requinte das vitrines, então aliou os
estudos da amiga Suelen — em moda — com a sua
experiência profissional e colocou em prática um
projeto. Iriam abrir uma grande loja de moda
feminina. Com muita experiência em finanças, ela
sabia que em Paris o mercado seria acirrado pela
concorrência. Por isso mesmo, resolveu encarar os
fatos, verificar cicatrizes e pensar em voltar para o
Brasil.
Ela e Suelen conheceram o prazer pelas obras
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de caridade. Juntas, visitavam orfanatos,


promoviam eventos para arrecadar alimentos e
utensílios para os menos favorecidos e doavam de
seu próprio bolso. Além disso, Maria Fernanda
incentivava a filha a seguir pelo mesmo caminho. A
mulher escolheu não seguir pelo caminho da
arrogância e orgulho, assim se tornou uma mulher
fatalmente linda, notada por muitos, segura e com
uma ousadia inabalável.
Eduardo, com o passar dos anos, tornou-se
muito competitivo e arrogante. Sua ambição pelos
negócios se multiplicou e, com o poder, vieram os
inimigos e na mesma proporção, as mulheres. Ele
nunca assumiu compromisso oficial com nenhuma
delas, pois a jovem de cabelos longos e olhos azuis
com quem ele casou, mesmo estando longe por oito
anos, nunca foi esquecida.

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PARIS — FRANÇA
OITO ANOS DEPOIS.
— Me ofereceram o dobro do meu salário para
que eu desistisse do pedido de demissão. — Maria
Fernanda se sentou em uma das aconchegantes
poltronas em sua casa. — Não há mais o que fazer.
Aprendi muito como auditora fiscal, mas está na
hora de abrir meu próprio negócio.
— Tem certeza de que não vai se arrepender,
gatona? Você fica tão poderosa descobrindo os
podres das empresas e deixando todos aqueles
golpistas temendo por sua chegada.
Suelen sabia que seu maior sonho estava
prestes a se realizar, mas queria ter certeza de que a
amiga estava realmente feliz com o novo projeto.
Através da influência de Maria Fernanda, a
visão de futuro de Suelen foi aguçada e a morena
estudou muito para conseguir seu diploma de
design de moda. Abrir uma grande loja tendo Maria
Fernanda como sócia era onde ela queria chegar,
aquilo finalmente estava prestes a acontecer.
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— Amo a experiência que a profissão me


trouxe, mas às vezes é preciso assumir riscos para
alcançar excelência. Meu primeiro passo é sair da
zona de conforto.
— Eu só estou me certificando de que você
está certa disso, porque eu estou muito feliz! —
Suelen pulou do sofá onde estava sentada e abraçou
a amiga, toda empolgada. — Vamos ser sócias,
gatona! Quando eu poderia imaginar que eu
voltaria ao Brasil empresária?
— Maman… — Dudinha correu e se jogou
entre as duas, que ainda se abraçavam.
— Cuidado, petit, olha sua perna!
Dudinha tinha finalizado mais um tratamento
para conter as dores que sentia na perna.
— Já estou quase curada. Esses remédios são
bem fortes. — A voz de Dudinha soava com
bastante firmeza e convicção. Quem não a conhecia
fazia outra ideia dela, pois seu corpo miúdo
escondia uma mente carregada de esperteza.
— Maman tem muita fé, ma princesse[3].
Brevemente essa dor nunca mais vai voltar. Agora
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só falta a última cirurgia.


A pequena, com sete anos, já tinha sido
submetida a quatro grandes cirurgias. A doença já
tinha sido eliminada, porém deixou suas sequelas.
Dudinha ficou com três centímetros a menos em
um dos joelhos, algo perceptível e doloroso. Uma
simples caminhada no parque ocasionava fortes
dores e às vezes febre emocional.
— Vem cá no colo da tante[4], minha
bonequinha.
A menina se jogou no colo de Suelen e
começou a trançar os cabelos da tia.
— Você já falou a ela? — Suelen sussurrou
sobre a cabeça da pequena para que apenas Maria
Fernanda ouvisse.
— Não — a mãe sussurrou no mesmo tom.
— Por que não fala logo? — Suelen continuou
sussurrando.
— É um segredo de dois? — Dudinha
perguntou no mesmo tom das duas.
Nanda e Suelen se olharam e não conseguiram
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segurar a risada. Suelen abraçou e beijou a


bochecha da menina várias vezes, ainda sorrindo.
— Você é uma petit muito esperta. É mais
esperta que sua mãe quando a conheci. — A
morena deu sua típica e contagiante gargalhada.
Nanda jogou uma das almofadas na amiga e
puxou Dudinha para seu colo.
— Nos próximos dias, vamos para outro país,
petit. Maman e sua tante vão abrir uma loja
enorme, cheia de vestidos e muitos espelhos. — A
mãe preferiu usar as palavras, pois uma das
brincadeiras preferidas de Dudinha era vestir seus
vestidos, desfilar pela casa e parar em frente ao
espelho, onde para ela era o final da passarela.
— Eu vou poder trabalhar com vocês?
— É justamente por isso que a maman está
mudando de trabalho. Agora vamos trabalhar todas
juntas. Eu, você e a tante.
— Sabe para onde vamos? Para pertinho de
seu papa[5] — Suelen falou despreocupada e Maria
Fernanda olhou seriamente para ela.
Suelen logo tratou de consertar.
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— Seu papa, Thiago. Ele está te esperando


para te encher de presentes.
Quando Dudinha completou quatro anos e seis
meses, chamou Thiago de papa pela primeira vez.
Apesar de ter se sentido muito importante, Thiago
conversou com ela em uma linguagem infantil e
confirmou a explicação da mãe da pequena, que ele
a protegeria como pai, mas que o seu pai de sangue
era outra pessoa, que um dia ela poderia encontrá-
lo. A menina, muito esperta, insistiu que ele era seu
papa, então não houve mais nada a fazer.
Existia uma amizade verdadeira entre Thiago e
Nanda, embora o taiwanês nunca escondesse sua
real intenção. Quando Dudinha estava com um
pouco mais de seis anos, Nanda aceitou o pedido de
namoro de Thiago. Ansioso, ele passou a contar os
dias para o final do contrato de casamento que
prendia a sua namorada ao ex-marido.
— Ele me prometeu um chiot quando casasse
com você, maman.
— Então teremos que procurar uma casa com
quintal para seu cachorrinho. — Maria Fernanda
beijou os cabelinhos loiros da filha.
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— Agora é só arrumar as malas! — Suelen fez


cócegas no abdômen da menina, fazendo-a se
contorcer no colo da mãe.

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BRASIL
Dudinha foi a primeira a avistar Thiago no
portão de desembarque. Ele sorriu com os olhos
cheios de lágrimas, pois estava muito feliz. Não
conseguia esconder a alegria de ter a mulher amada
e seu presentinho por perto.
De agora em diante, as veria com mais
frequência e não apenas nos feriados prolongados,
onde era possível fugir da administração da
joalheria.
— Papa! — Dudinha gritou em francês,
desprendeu-se de Nanda e correu para os braços de
Thiago, que a abraçou com ternura.
— Meu presentinho lindo.
— Je t'aime, papa[6].
— Eu também te amo muito, francesinha.
A mãe analisou a cena fofa a sua frente com
lágrimas de felicidade nos olhos.
— Ele é lindo, não? — Maria Fernanda
perguntou orgulhosa.
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— Eu não vejo nada de mais — Suelen


provocou a amiga.
— Olha só se não é a mulher mais linda do
mundo. Me deixa ver. — Thiago girou a namorada
pelo braço, enquanto Dudinha estava agarrada em
seu pescoço. — Está ainda mais linda.
— Vamos acabar com essa melação, pois estou
muito cansada e meus pés merecem descanso —
Suelen reclamou.
— Você também está muito bonita Suelen,
mas vejo que continua a mesma reclamona de
sempre.
— O problema é que agora sou rica, querido
amigo. — Suelen rodou o indicador que destacava
a unha de gel. — Sou rica e futura empresária. Por
isso, sou praticamente obrigada a andar com esses
saltos quilométricos.
— Você poderia usar uma sapatilha. — Thiago
tentou achar uma solução para a amiga dramática a
sua frente.
— Se existiu sapatilhas um dia, eu não soube
da existência. — Suelen deu a risada contagiante.
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Ela usava os saltos porque gostava e era


dependente deles. — Vamos! Vamos indo porque
preciso visitar meus veinhos mais tarde. — A
morena bateu no ombro do taiwanês, que estava em
um elegante terno.
Juntos, seguiram para a cobertura de Maria
Fernanda em um dos prédios requintados da cidade.
***
Todos já estavam na cobertura. Naquele
momento, as mulheres estavam na sala
descansando da viagem e Thiago estava
massageando os pés da namorada.
— Separei dois pontos no shopping para vocês
darem uma olhada. Um é imenso, com dois pisos, o
outro é menor, porém está pronto sem precisar de
reforma — falou Thiago.
— Vamos ver isso amanhã, Su. Quanto antes
fecharmos, melhor. Você vai conosco, Thiago?
— Vou ter uma reunião mais cedo, então
encontro vocês lá depois.
— Eu também vou, maman? — perguntou a
menina, quase dormindo.
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— Mas é claro, petit! Não falei que iríamos


trabalhar juntas? Então, você é minha secretária
particular e precisa estar sempre comigo para fazer
as anotações de tudo que a maman falar.
— Não vai contratar uma babá, Fernanda? —
Thiago sabia que a vida da namorada seria corrida,
assim como a de Suelen. Dudinha precisaria ter
alguém com ela o tempo todo.
— Não! Da minha filha cuido eu. Depois de
mim só a Su. Não quero ter uma filha criada por
babá e longe dos meus olhos. Onde eu for minha
filha vai. — Maria Fernanda não teve a companhia
de sua mãe, por isso era rigorosa naquela
determinação.
— Escolhi a mulher certa para ser a mãe dos
meus filhos. —Thiago estava com um sorriso
travesso no rosto e Maria Fernanda sorriu
convencida.
— Já vão começar novamente? — reclamou
Suelen, que estava folheando uma revista em um
dos sofás. — Ou estou implicando demais com os
romances alheios ou estou carente por não ter um.
Vou me preparar para ir ver minha família, só
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espero que o traficante da rua de baixo não esteja


mais por lá. Ele falava cantadas quando eu subia a
ladeira e me dava um frio na espinha. — Suelen se
levantou e foi em direção ao quarto.
— Não vá com joias. O Brasil não é mais o
mesmo — Thiago alertou a amiga espevitada.
— A Suelen sabe o que faz. Ela é assim, mas
tem muito juízo — Nanda falou ao namorado.
— Não vejo a hora desse divórcio sair. —
Thiago estava alisando o cabelo de Dudinha, que já
estava cochilando em seu colo.
— Está perto. Agora só faltam mais três meses.
Maria Fernanda ficou pensativa. Ela tinha
desejado muito que chegasse o dia da quebra do
contrato que possibilitaria o divórcio. Pensar em
rever Eduardo a fazia sentir uma fisgada na cicatriz
já fechada. Com toda certeza, ele estaria ainda pior
que há oito anos. Deveria estar tão louco pelo
trabalho que não se lembraria de assinar os papéis,
talvez usasse uma secretária ou cópias
digitalizadas. Várias coisas passavam pela mente
dela. Qualquer possibilidade para não precisar olhar
para a face dele seria ideal.
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— Eu quero me casar o mais rápido possível,


Thiago. Os papeis do divórcio serão assinados em
um dia e no outro já quero assinar as proclamas do
nosso casamento.
— Seu pedido é uma ordem, minha princesa.
Uma ordem que será cumprida. Meu desejo é que
isso aqui seja minha família. — Thiago se referiu
aos três no grande sofá.
— Isso é tudo que eu mais quero. Eu mereço
essa felicidade toda depois da minha caminhada.
***
Maria Fernanda estava em um grande espaço
do shopping mais visitado da cidade. Em sua
companhia estavam Suelen, Dudinha e uma
corretora. Ela tinha se encantado com o ponto
comercial com dois pisos. Era uma loja imensa,
ideal para seu tipo de negócio. Porém, seria preciso
uma grande reforma para ficar ao seu modo.
— Vocês fizeram um ótimo negócio. Este é
um dos melhores pontos de loja neste shopping. A
visão aqui é privilegiada de todos os pontos. — A
corretora estava feliz.

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— Também é o mais caro, não é danadinha?


— Suelen comentou, deixando a mulher sem graça.
— Dudinha! — Maria Fernanda percebeu a
ausência da menina no grande salão. — Onde está a
Dudinha, Suelen?
— Ela estava aqui agora mesmo, Nanda…
As duas partiram para o corredor central à
procura da menina.
— Ela não conhece nada aqui! Onde está
minha filha? — Maria Fernanda estava apavorada,
pois olhava para todos os lados e não avistava
nenhum sinal.
Dudinha tinha se distraído com um grupo de
palhaços que passou na porta da loja e saiu atrás da
trupe por curiosidade, mas logo percebeu estar
longe da mãe e da tia, então sentou em um banco
no meio do shopping e começou chorar.
A mãe estava desesperada, assim como Suelen,
à procura da menina e foi um grande alívio quando
viu os cabelinhos dourados de longe.
— Petit! — Maria Fernanda gritou, avistando a
cabecinha da menina pelas costas.
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Tinha um casal e uma criança conversando


com a menina, certamente oferecendo ajuda. Nanda
afastou as pessoas, ajoelhou-se e abraçou a
pequena, beijando toda extensão do seu rosto.
— Por que fez isso, petit? Você não conhece
nada aqui. Nunca mais faça isso. Você está bem,
meu amor?
— Eu só queria ver os palhaços. Sou curiosa e
teimosa, maman. — Dudinha estava recuperando-
se do choro, já nos braços protetores da mãe.
Mais atrás, Suelen estava paralisada vendo a
cena à sua frente. Sim, era ele, só podia ser ele.
aquele olhar frio era o mesmo e a companhia
também. Viviane olhava para Suelen, tentando
decifrar de onde a conhecia.
Eduardo reconheceu Suelen de primeira, mas
ainda não tinha visto o rosto da mulher ajoelhada,
abraçando a filha, embora já tivesse a certeza de
quem se tratava.
Suelen sentiu suas pernas tremerem e foi
preciso segurar o salto no piso para não cair.
Eduardo estava com o olhar confuso, fiscalizando
Maria Fernanda e Dudinha, tentando descobrir se
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ali era mesmo a jovem que, há anos atrás, ele


deixou partir para longe dele.
— Maria Fernanda?
Eduardo estava atordoado e seu coração
parecia desgovernado dentro do peito. Era uma
sensação que ele há muito não sentia. Aquela
sensação que só sentiu pela menina que anos atrás
deixou ir para longe de sua vida. Suas mãos
começaram a soar frias. Ele abriu a boca duas vezes
e nas duas vezes não conseguiu pronunciar nada.
Quem era aquela mulher? Por que ela tinha
mudado tanto? Várias perguntas giravam em sua
mente e todas as respostas apontavam para ele
como um soco na cara.
Maria Fernanda, ainda com os joelhos no chão,
estava estática. Ela ouviu a voz de Eduardo e sua
única reação foi abraçar a filha fortemente. Sabia
que aquele dia ia chegar, mas não imaginou que
fosse tão rápido.
Ela pegou Dudinha no colo e se virou para
encará-lo. Ele tinha mudado muito, estava mais
maduro e muito bem-posto. Maria Fernanda sentiu
um nó formando-se em sua garganta, pois já estava
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abalada pelo sumiço de Dudinha e aquilo


contribuiu para seu estado.
— Maman, você está me apertando. — Maria
Fernanda só se deu conta de que estava
pressionando o corpo da filha demais contra o seu
quando ouviu a reclamação.
— Você teve uma filha, Maria Fernanda?
Quando teve uma filha? — A expressão de
Eduardo estava totalmente confusa.
— Esse homem ranzinza ia me ajudar a te
procurar, maman.
Maria Fernanda olhou para Suelen, que estava
com os olhos assustados, e desceu as pálpebras dos
olhos, mostrando tranquilidade para a amiga.
— Vamos, ma princesse. — A mãe beijou o
rosto da filha e segurou em sua mão. — Vamos,
Suelen. — Caminhou deixando Eduardo para trás.
— Você teve uma filha? — Eduardo deu a
volta e parou em sua frente. — Quando voltou?
— Excuse moi.[7] — Nanda tentou ignorar
outra vez o homem. Seu nariz estava naturalmente
elevado.
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— Como pode ser tão irresponsável, mulher?


— Eduardo a confrontou, ainda perdido. — A
menina estava perdida. Isso aqui é enorme. Tem
pessoas de todo tipo! E se eu não tivesse a
encontrado?
Nanda continuou andando. Suelen estava do
lado e Dudinha agarrada a uma de suas mãos.
— Vamos conversar um pouco. Onde está
hospedada? — Eduardo seguiu atrás dela, ainda
querendo olhá-la.
Naquele momento, ele estava abalado ao ver
Maria Fernanda forte e extremamente atraente.
Longe do seu poder.
— Está passando certa vergonha, mon chéri[8]
— Suelen falou com o seu costumeiro deboche.
— Mas o que… — Eduardo olhou Suelen dos
pés à cabeça e constatou que o vestido que ela
usava era muito elegante. Depois desviou o olhar
para Maria Fernanda, caminhando sobre saltos,
segurando a mão da pequena.
— Maria Fernanda! — Ele correu atrás dela.
Nanda estava abalada com o reencontro, mas
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aquilo jamais seria demonstrado ali.


— Vamos, meu gato. Ainda temos muitas lojas
para procurar o presente da sua irmã. — Viviane
seguiu atrás deles, evidentemente ameaçada.
Eduardo mantinha as aparências com ela.
Viviane sabia que o homem não era fiel, pois ele
nunca escondeu, mas ela tinha possessão por
Eduardo e não se importava.
— Viviane, vá passear em alguma loja. Depois
eu pego você.
— Eduardo, não faça isso! — Viviane gritou
com sua voz infantilizada. — Nem pense em fazer
isso comigo! — A loira olhou para os dois lados,
pois estava envergonhada.
Maria Fernanda voltou o olhar para o
menininho loiro, que aparentava ter seis anos,
segurando a mão de Viviane, então identificou nele
os mesmos olhos de Eduardo.
— Eu preciso resolver uma situação aqui,
Viviane. Deixe o Lipe comigo e volte para
empresa. — Eduardo continuou encarando Maria
Fernanda, analisando-a minuciosamente sem
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nenhum pudor.
— Você vai comigo agora, Eduardo!
Maria Fernanda pegou Dudinha no colo e
continuou andando. Eduardo estava com os olhos
bem fixos nela e seguiu atrás.
— Aonde vai? — Ele deu a volta mais uma
vez e ficou na frente de Nanda. — Quero
conversar, mulher. Nossa, como você mudou…
— Fique longe dela! — Suelen gritou próximo
a Eduardo.
— Você está mais atrevida que antes, Suelen!
Isso continua não me dizendo nada! — ele falou
com sua pose de arrogância.
Dudinha entendeu que Eduardo estava
brigando com sua tia Suelen, então do colo da mãe
começou a estapear o homem de terno.
Entre os tapas fraquíssimos que recebia, ele
analisou a pequena no colo de Maria Fernanda e
procurou semelhanças com a mãe. Apenas
encontrou os olhos e a cor do cabelo loiro.
Loiro?

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— Por que pintou o cabelo? Por que cortou?


— Eduardo olhou para os cabelos da mulher,
totalmente descontente. Como se tivesse algum
poder de decisão sobre ela. — Eu não acredito
nisso. — Soltou o ar de vez e balançou a cabeça,
alterado. — Por que fez isso?
Maria Fernanda pensou em qualquer pergunta
vindo dele, menos aquela.
— Vamos, Nanda! — Suelen chamou.
— Você já almoçou? — Ele continuou no
rastro da mulher. — Temos assuntos pendentes,
Maria Fernanda.
Ele lembrou que não tinha muito tempo.
Talvez chegasse atrasado à reunião, isso nunca
tinha acontecido antes, mas Eduardo estava abrindo
uma pequena exceção. Assumiria os riscos depois.
— Em breve, um advogado irá procurá-lo com
os papéis do divórcio. Vamos resolver de uma vez
por todas os nossos assuntos pendentes. — Maria
Fernanda continuou andando.
Ele recebeu um choque interno ao ouvir a voz
firme e decidida da mulher. Aquela não era a jovem
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que ele viu pela última vez, chorando. Não,


definitivamente não era. Eduardo estava totalmente
perdido na beleza daquela mulher, que ele mesmo
rejeitou por egoísmo. Estava sendo um débil de
trinta e três anos.
Que porra eu estou fazendo, rastejando atrás
dela? Pensou, indignado com seu próprio
comportamento.
— Não se preocupe, querida esposa. Eu
mesmo cuidarei disso! — Tentou ser frio. Isso
sempre foi fácil para ele. — Apenas queria acertar
logo esse grande problema, já que te encontrei por
aqui. Foi por isso que andei atrás de você. Tenho
pressa em resolver essa situação. — Consertou a
gola do blazer grafite que usava.
— Isso é tudo o que eu tenho desejado,
Eduardo.
Ele chegou sentir faltar o ar ao ouvi-la
pronunciar seu nome.
Como essa mulher conseguiu ficar ainda mais
linda? Perguntou-se e sentiu um arrepio.
— Papa chegou. — Dudinha, ainda no colo
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de Nanda, viu Thiago se aproximar.


Thiago olhou seriamente para Eduardo, pegou
Dudinha e beijou rapidamente sua namorada.
Eduardo contraiu a mandíbula de raiva por ver
a cena. Ele encontrava Thiago nas festas de
empresários da cidade, mas sempre ignorava.
Nunca poderia imaginar que o taiwanês estava se
relacionando com sua mulher.
— Então sempre estiveram juntos! — Ele se
indignou.
— Gato, não faça isso! — Viviane implorou
para não ser humilhada em público com uma cena
de ciúmes de Eduardo por outra mulher.
— Eu fugi da maman, papa… — a pequena
confessou, alisando o rosto de Thiago.
— Isso é verdade? — Thiago perguntou a
Maria Fernanda.
— Foi em segundos que me distrair com a
corretora. Quando olhamos, ela não estava mais lá.
— Irresponsável! — Eduardo ainda estava lá e
tornou a atacar, reivindicando atenção.

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— Você falou o que, cara? Você tem mesmo a


coragem de chamar minha Fernanda de
irresponsável? — Thiago o confrontou. — Essa
mulher é a melhor mãe do mundo! Ela é a mãe da
minha filha. Não se atreva a ofendê-la, pois eu não
sou mais o moleque de dezessete anos que você
conheceu.
Thiago se enfureceu. Ele jamais admitiria que
Eduardo acusasse Maria Fernanda, que sofreu tudo
sozinha para cuidar da filha.
— Você teve essa menina com ele ou com
outro? — Eduardo exigiu uma explicação que
amenizasse a sensação de soco no estômago que
tinha levado.
— Thiago, vamos agora! — Maria Fernanda
pegou na mão do namorado e Eduardo estremeceu
por dentro.
— Fique longe de minha família! — Thiago
ordenou, antes de virar as costas e sair carregando
Dudinha no colo e segurando a mão Nanda.
Suelen apenas levantou a mão e deu um tchau
irônico para Viviane. Eduardo ficou para trás vendo
a família distanciando-se dele e sentindo seu
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coração esmigalhado.
Dudinha estava com a cabeça encostada no
ombro de Thiago e os olhos graúdos na direção de
Eduardo. Ela levantou uma das mãozinhas e deu
um curto tchau para ele. Por alguma razão, Eduardo
sentiu um aperto diferente no peito ao receber
aquele olhar. Ele brigou com lágrimas insistentes,
pois aconteceu algo em seu coração que ainda não
tinha vivenciado.

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2
Eduardo saiu transtornado do elevador de sua
empresa. Ele avistou as secretárias do quinto andar
com sorrisos forçados, mas estava tão alterado que
não as cumprimentou. Devido a sua personalidade
metódica e exigente, elas o temiam, embora se
divertissem em conversas secretas sobre o quanto
ele era desejável.
Ele bateu a porta de sua sala com toda força,
pegou o primeiro objeto de sua prateleira e atirou
na enorme janela de vidro. Os estilhaços foram
parar em toda parte. Sua raiva ainda era grande,
então pegou outro objeto e jogou em uma das
paredes, pegou outro e jogou novamente. Em dez
minutos, ele já tinha quebrado toda a sala e estava
jogado no chão com uma garrafa de uísque quase
vazia nas mãos.
Ele imaginou que ela voltaria a mesma jovem
de olhos amedrontados e atitudes vulneráveis.
Como foi tolo. Ao ver aquela mulher forte e

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destemida, feliz com Thiago e com uma filha,


Eduardo se sentiu desestabilizado.
Quinze minutos depois, Sergio entrou na sala e
levou um susto com a desordem. Não tinha sobrado
nada além da mesa e das três poltronas de couro
italiano.
— Você está ficando louco? Primeiro falta em
uma reunião, agora vandaliza sua própria sala. O
que está acontecendo com você, Edu?
— Me deixe sozinho! — Eduardo bebeu o
último gole da garrafa.
— O que aconteceu, irmão? — Sergio abaixou
ao lado do amigo.
— Ela voltou! — Eduardo conferiu se
realmente tinha acabado a bebida da garrafa.
— Quem? A japonesa ninfomaníaca?
— A minha ferinha! Foi ela que voltou.
— Quem é essa, Edu? Desde quando fica
assim por mulher?
— Você é um idiota. Saia daqui! — Eduardo
tentou se levantar, mas não conseguiu.
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— Cara, que mau humor é esse? Sou seu


amigo. Só não estou acompanhando seu raciocínio.
— Você está ocupando o lugar dela na vice-
presidência agora mesmo.
— É a menina do contrato?
Eduardo sorriu sem humor, tentou levantar
mais uma vez e, como não conseguiu, jogou-se
para trás, encostando a cabeça na lateral da mesa de
escritório.
— Ela não é nenhuma menina. — Eduardo
olhou para o teto, tentando recuperar a vista
embaçada. — A filha da mãe virou um mulherão de
deixar qualquer um rastejando por ela.
— Eu sempre apostei que isso aconteceria,
Edu.
— Ela teve uma filha e talvez seja daquele
pivete que andava com ela. Eu deveria ter dado um
fim nele naquela época.
— Filha? — Sergio não estava reconhecendo
seu amigo de longos anos, ele estava visivelmente
desestabilizado.

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— Uma menina loirinha desse tamanho aqui.


— Eduardo mediu a altura de Dudinha com as
mãos.
— Ela veio pedir o divórcio, pode ter certeza.
— Eu sou um otário. Tive consideração de
deixá-la ir para não a ver sofrer e a ordinária dando
pra outro desde aquela época. Preciso beber até ter
uma overdose. Vou acabar com a porra da minha
vida. — Ele deitou o corpo no chão.
— Você já bebeu demais, irmão. Está com
tantos problemas e agora descobre que é corno.
Precisa descansar.
— Ela teve uma filha com ele. Deveriam estar
de caso antes.
— Essa filha é loirinha, não é?
— Sim. Tem os olhos graúdos como a mãe. —
Eduardo deu um pequeno sorriso lembrando-se do
rosto de Dudinha.
— Bem, sua mãe é loira e sua irmã também.
Quem sabe…
— Já pensei nisso, mas não há chances. Ela

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pode ter traído o taiwanês. A menina é muito


pequena para ter sete anos, deve ter uns cinco.
— Veio assinar o divórcio, pode ter certeza,
Edu.
— Mas ela está muito enganada se acha que eu
vou facilitar as coisas.
— É só uma mulher, Edu. No mundo tem o
quê? Milhões delas?
— Chame a Irene, Sergio!
Sergio levantou, conferiu se o telefone ainda
estava funcionando e discou o ramal da secretária
de Eduardo.
— Irene, venha até aqui imediatamente!
Em menos de trinta segundos, a moça de
óculos modelo gatinho e coque no cabelo entrou na
sala.
— Jesus! O que aconteceu aqui? — A
secretária se assustou.
— Eu quebrei tudo! Estou muito nervoso e
quis quebrar minha sala. Alguma objeção quanto a
isso, Irene? — perguntou o patrão.
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— Sim! Quer dizer… Não, senhor.


— Ache Maria Fernanda Moedeiros. Ela está
nesta cidade e eu quero saber o endereço em vinte
minutos — ordenou à empregada.
— Ela tem seu sobrenome, senhor. — Irene era
uma solteirona que se escondia atrás dos estudos e
do visual anos sessenta. Eduardo a achou ideal
quando fez as entrevistas para o cargo.
Inteligentíssima e estranha. Absorvia rapidamente o
seu raciocínio e era totalmente o oposto de mulher
que ele se interessaria.
— É ela, Irene. Ache Maria Fernanda o mais
rápido possível. Ela está em algum lugar desta
cidade, eu só não sei onde.
— Eu vou tentar, mas saiba que é como
procurar uma agulha no palheiro.
— Sei que você vai conseguir. Agora pode ir.
Só volte aqui com o endereço.
— Vou com você, irmão. Estou morrendo de
curiosidade para ver aquela belezinha de mulher —
Sergio provocou o amigo.
— A Suelen veio com ela.
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— Suelen? A minha Suelen? — Sergio, que


ajudava Eduardo a se levantar, soltou o amigo no
chão.
— O que você está fazendo seu idiota?
— Como ela está, Edu?
— Uma gata.
— Cara, eu vou ajudar a Irene a procurar o
endereço e já volto pra te levar pra casa.
***
Maria Fernanda tinha acabado de fazer
Dudinha dormir. Ela olhava sua pequena deitada na
cama e só conseguia enxugar a lágrima silenciosa
que escorria pelo seu rosto. Lembrou-se dos
momentos infelizes que passou nas mãos do pai da
menina. As humilhações, as dores, as traições e por
fim a rejeição.
— Maman promete te proteger, petit. Você
nunca vai precisar passar pelas tristezas que eu
passei. Ele não queria você, mas teve um filho com
aquela mulher. O problema não estava em um filho,
mas sim na indiferença que sentia por mim.

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A campainha da cobertura tocou e ela lembrou


que Suelen tinha saído em busca de um salão de
beleza, certamente tinha esquecido as chaves.
— Sua tia desmemoriada não levou a chave —
sussurrou para não acordar a menina. Depois de dar
um beijo leve nos cabelinhos dourados, foi até a
sala atender a porta.
Mal deu tempo de abrir para Eduardo entrar
enfurecido, deixando-a perplexa.
— Se você pensa que vou te dar o divórcio está
muito enganada! — gritou, andando de um lado
para outro da grande sala. — Você já estava com
aquele cara enquanto eu te fazia feliz.
— Que invasão é essa?
— Você passou esse tempo todo me traindo
com ele. Até uma filha teve! — Ele sorriu irônico e
passou as mãos pelos cabelos, demonstrando
descontrole.
— Saia da minha casa — Maria Fernanda
falou calmamente ainda segurando a porta.
— Eu pensando que você era uma mulher pura
e inocente. Você é igual todas as outras! —
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Eduardo aumentou ainda mais o tom de voz.


— Não me compare às mulheres que você
sempre achou na rua! Não pense que sou aquela
menina que sofria, mas acabava se submetendo as
suas invertidas!
— Eu… eu não… — Ele a olhou de cima a
baixo e chegou a estremecer diante de tanta beleza
e segurança.
Aquela beleza sempre o afetou. Depois de
anos, não existiam mais aqueles traços infantis.
Aqueles olhos pareciam mais azuis, contrastando
com a leve maquiagem que ela usava. Ele pensou
nos motivos para tê-la deixado ir. Estava
vergonhosamente desesperado.
— Tudo valeu a pena para você ou só está aqui
pra conhecer minha cobertura? — Ela o tirou das
observações.
— Você está bonita, mulher. — Ele sentiu uma
forte dor no peito e uma vontade louca de abraçá-
la. Como é possível? Essa mulher está me afetando
ainda mais, mesmo depois de anos. Ele estava em
guerra com os próprios pensamentos. — O destino
foi muito cruel conosco, Maria Fernanda.
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— Você fez seu próprio destino, Eduardo.


Cruel foi o meu passado. Meu futuro é felicidade.
Agora se apresse e saia.
Ele caminhou na direção da porta e, antes de
sair, não conseguiu se controlar, estendendo a mão
para tocar a mecha do cabelo que amava acariciar.
— Não faça isso! — repreendeu Maria
Fernanda. Ele a olhou mais uma vez e sua
expressão mudou para raiva. Eduardo estava
assustado com tamanha força e autoconfiança. Ela
não era mais a mesma, definitivamente. — Saia
agora da minha casa. Minha filha está dormindo e
você não tem o direito de acordá-la.
— Não vou facilitar as coisas só porque está
com outro. Não vou assinar esse divórcio! — Ele
deixou claro.
— O contrato está para encerrar. Você só
temia perder a empresa, ela é sua. Eu posso até te
vender minha parte quando o divórcio sair, não
tenho interesse nela.
— Eu não vou assinar porra nenhuma.
— Então vou decidir se peço o litigioso agora,
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antes de acabar o contrato, e te deixo sem nada, ou


se faço isso depois.
— Não pense em atingir minha empresa!
Construí aquilo tudo sozinho. Eu posso te pagar
cada centavo que tirei desse maldito casamento,
mas não cogite tocar na minha empresa! Eu não
vou assinar papel nenhum de divórcio e quero ver
quem me obriga a fazer o contrário.
Ele passou por Maria Fernanda e chutou a
porta de outro apartamento no caminho.
***
Maria Fernanda e Suelen tinham marcado de
se encontrar com Jorge e Antonieta na confeitaria
que ela tinha aberto no centro da cidade. Seria a
primeira vez que Dudinha veria Antonieta, elas se
conheciam apenas através de chamadas de vídeo.
As três desceram de um táxi, frente a um
estabelecimento com fachada em traços vintage,
com um enorme nome no topo. “Quitutes by
Antonieta”.
Dudinha ajeitou seu vestido de princesa e
alisou as mechas do seu cabelo.
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— Eu estou bonita, maman?


— Uma verdadeira princesa, petit! Olha como
é bonita a loja da Antonieta. — A mãe apontou
para a vitrine, que lembrava as docerias de Paris.
— Ela conseguiu. — Suelen empurrou a porta
de vidro e admirou a loja da amiga.
— Água de doce maman! — Dudinha afoita
apontou para a cascata de chocolates e caramelo
sobre o balcão.
— Menina patroa! — O homem de meia-idade,
vestido em um terno preto, levantou da mesa
repleta de doces e, depois de devorar a empada que
estava em suas mãos, caminhou até a porta onde as
três estavam.
— Olha o Jorginho, Su. — Maria Fernanda
estava sorrindo. — Que saudade, Jorginho. —
Maria Fernanda o abraçou e acariciou a cabeça do
homem.
— Você está tão bonita! Eu fico até sem jeito
perto de você. — Fungou o nariz no meio do choro.
— Olha só! Ele conseguiu aumentar ainda
mais a pança. — Suelen abriu os braços, dando sua
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típica gargalhada.
— Suelen, sua danada! — Jorge analisou a
amiga, enquanto enxugava os olhos com a manga
do paletó. — O que aconteceu com você, menina?
Que roupas são essas?
— Vai me dar um abraço ou vai ficar me
admirando? — Suelen também estava com
lágrimas nos olhos, embora sorrisse.
— Você mudou tanto, Suelen.
— Eu sei, Jorginho. Você também! Sua barriga
dobrou de tamanho. — Ela tentou abraçar Jorge até
onde sua circunferência permitia.
— Tentei fazer uma dieta há uma semana, mas
é muito difícil com tanta tentação de doces na
minha frente.
Dudinha se achegou para perto da mãe, pois
estava curiosa com a presença de Jorge.
— Dudinha, esse é o Jorginho, um amigo
muito querido da maman.
— Comment allez-vous, Jorginho?[9] —
Dudinha cumprimentou Jorge espontaneamente.
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— Olha que bonitinha. Me-u no-me é Jor-ge.


Eu sou a-mi-go de sua ma-mãe. — Jorge se
inclinou, acreditando ser mais fácil a comunicação
com a menina.
— Você fala engraçado, Jorge. — Dudinha
sorriu, vendo o homem esforçando-se para manter
uma comunicação.
— Você é uma menina muito esperta. Como
nessa cabecinha cabem dois idiomas? Na minha
quase não entra o português.
— Antonieta! — Suelen gritou assim que viu a
mulher saindo de uma das portas, indo de encontro
a elas.
— Como estão lindas, minhas meninas! —
Antonieta abraçou as duas e todos estavam com
lágrimas nos olhos. — Abraço da tia Antonieta? —
Dudinha correu e se jogou nos braços de Antonieta.
Ela já conhecia a mulher, pois sempre conversava
nos finais das ligações da mãe para o Brasil.
— Aquela água de doce é sua, Tony? — A
menina apontou para a cascata de chocolate sobre o
balcão e se conteve ao máximo para não brincar
com seus dedinhos no chocolate derretido.
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— Sim! Eu fiz um bolo especial pra você,


cheio de nutrientes bem saudáveis.
— Nutrientes é ruim, Tony, eu só gosto de
doce. — Dudinha apontou para os brigadeiros de
duzentas gramas expostos no balcão.
Dudinha tinha a fisionomia de uma criança de
cinco anos devido ao seu nascimento precoce. Ela
sofria com refluxo e fortes dores com as sequelas
da infecção no osso da perna. Não era uma criança
saudável, embora sua disposição falasse o
contrário.
— Você tem que comer para crescer rápido,
princesinha. Vamos para a mesa. Vou preparar algo
bem gostoso para você. — Antonieta as direcionou.
Estavam todos sentados em uma mesa distante
dos clientes, que com o final da tarde começavam a
ocupar todas as mesas vazias.
— E a Carmem? — perguntou Maria
Fernanda.
— Está na casa de repouso — falou Jorge. —
Ela fez amizade com minha mãezinha e as duas
estão no mesmo quarto. Eu tenho que te agradecer,
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patroa, se não fosse você pagando a hospedagem


dela todos esses anos… não sei o que seria das
duas. — Jorge já terminava a segunda rodada do
bolo de cenoura.
— Coincidência ou caso pensa… — Suelen se
calou quando viu Sergio entrando na doceria, logo
atrás de Eduardo.
— O senhor Eduardo veio me buscar! — Jorge
tentou se esconder com a mão. — Mas eu avisei
que vinha na Antonieta encontrar umas amigas…
Por que ele veio me buscar? Eu disse que pagaria
minhas horas depois.
— Não se esconda, monsieur [10]Jorge, seu
tamanho é muito grande para não ser notado —
Dudinha alertou o homem.
— Você continua o mesmo linguarudo, Jorge.
— Suelen segurou o talher e comeu um pedaço de
bolo, fingindo indiferença ao olhar de Sergio.
— Eu vou lá falar com eles. — Antonieta se
apressou e seguiu até a mesa, onde os dois já
estavam acomodando-se.
— O que veio fazer aqui, Edu? — a dona do
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estabelecimento o questionou.
— Apenas traga o meu bolo. — Ele não
desviou o olhar da mesa de Nanda.
— Eu não vou deixar você chegar perto dela.
— O que é isso, Antonieta? Está revivendo o
passado? Apenas vim comer meu bolo de banana,
não tenho qualquer ligação com aquela mulher!
— É melhor você se retirar e voltar outra hora!
Estou sem seu bolo no momento.
— Então traga água.
— Eduardo, volte depois! — Antonieta o
advertiu outra vez.
— Vá logo, mulher!
— Eu vou, mas vou deixar meus seguranças de
olho em você!
Eduardo sorriu, sem vestígio de humor, quando
Antonieta deu as costas.
— Ela deixou crescer o cabelo… — Sergio
estava paralisado olhando Suelen do outro lado do
salão.

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— E a outra cortou! Se estivesse comigo eu


não a deixaria fazer uma burrada dessas — falou
frio, mostrando seu grau de contrariedade com o
novo corte de cabelo da mulher.
— Eu não sei você, mas vou lá agora, Edu! —
Sergio foi o primeiro a levantar e Eduardo o
acompanhou em seguida.
Nanda, com um impulso, puxou Dudinha para
seu colo e Jorge juntou as mãos, começando uma
prece em pensamento para não ser notado ali.
— Boa tarde, Maria Fernanda! — Eduardo
cumprimentou.
— Anja… — Sergio sorriu atordoado ao olhar
Suelen de perto.
— Vamos, gatona, já está tarde. Dudinha
precisa dormir cedo hoje. — Suelen levantou e
pegou sua bolsa da cadeira. O olhar de Sergio foi
em direção aos seus pés e, em seguida, lentamente
na direção resto do corpo.
— Dudinha? — Eduardo encarou a pequena
nos olhos por um tempo e Nanda sentiu um
estremecimento no corpo. — Dudinha? — Eduardo
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estava com os olhos confusos. — Qual o nome


dessa menina, Maria Fernanda?
A mãe se sentiu encurralada. Suas mãos
agarraram a filha pela cintura e as pernas se
recusaram a levantar.
— Maria Eduarda — Dudinha respondeu com
a voz infantil.
Nanda lutou com suas pernas e levantou com a
menina no colo.
— Depois marcamos outra hora. —
Direcionou o olhar para Antonieta.
— Por que deu meu nome para a filha de
outro? — Eduardo já estava na sua melhor forma:
possessivo, arrogante e agressivo. Ele não se
conteve e segurou o braço de Maria Fernanda
exigindo uma explicação.
— Me solte agora! — Tendo Dudinha no colo,
ela olhou para a mão dele apertando seu braço. Ele
a soltou enfurecido.
— Fez isso pra me afrontar, não foi? — O
olhar dele emanava puro ódio, a mandíbula estava
contraída e os punhos cerrados. — Fala! — gritou.
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— Eu não te devo explicações sobre minha


vida!
Ela não se sentiu no direito de explicar que era
o nome da mãe dela. Maria Fernanda até ficou
aliviada por ele pensar que Dudinha fosse de outro.
— Não pode gritar com a maman. — Dudinha
começou a estapeá-lo
Suelen tomou a menina do colo de Nanda e a
levou para onde Antonieta tinha a direcionado, no
intuito de protegê-la do conflito.
Os clientes da confeitaria notaram a voz
alterada dos dois e começaram a bisbilhotar a
discussão.
Maria Fernanda saiu do estabelecimento e se
encostou a um corolla branco que estava
estacionado em frente à confeitaria. Ela já sabia que
não seria fácil reencontrar Eduardo e estava
constatando que tudo nele tinha ganhado mais
intensidade com o passar dos oito anos.
— Você pensou que me atingiria com isso? —
Eduardo gritou, já perto dela, do lado de fora —
Deu meu nome a uma bastardinha!
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Nanda não imaginava sair de seu controle tão


rápido, mas ouvir aquelas palavras foram o
suficiente para ela atingir Eduardo em cheio com
uma bofetada no rosto.
— Não ouse atingir minha filha com sua falta
de caráter! Nunca mais chegue perto dela
novamente! Vejo que além de arrogante e
egocêntrico, você se tornou um ser asqueroso. Nem
agora com um filho você mudou. Eu lamento
aquela pobre criança viver com um pai como você
e uma mãe como a Viviane!
Eduardo ficou cego pela raiva e não assimilou
as palavras de Nanda. Sua mente só conseguia
lembrar de que aquela mulher foi a única a se
atrever a esbofetear seu rosto.
— Quem você pensa que é pra ter tanto
atrevimento? — Ele encarou Nanda de perto,
tentando conter a própria raiva. Ele estava de
punhos cerrados quando Sergio, que tinha levado
um passa fora de Suelen lá dentro, saiu e segurou
em seus braços.
— O que é isso, Edu? Está ficando louco,
cara?
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— Se você tocar em mim outra vez, eu vou até


a delegacia prestar queixa contra você — Maria
Fernanda falou firme. olhando para ele.
— Está ficando louco, amigo? O que está
acontecendo com você? — Sergio ainda estava o
segurando.
— Isso não vai ficar assim, mulher! Você não
perde por esperar! — Enfurecido, ele se soltou de
Sergio, caminhou até o carro e saiu cantando pneu
no asfalto. Não tinha largado aquele velho hábito.
— Como vai? — Sergio deu um sorriso sem
graça. Maria Fernanda simplesmente o ignorou e
adentrou novamente o estabelecimento.

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3
Eduardo entrou no seu apartamento com o
semblante triste, diferente de minutos atrás. Jogou-
se no sofá e cobriu o rosto com o braço esquerdo,
parecia querer esconder a sua fraqueza ao chorar.
Sentiu o seu coração traidor vibrar de agonia ao
pensar em Maria Fernanda sendo feliz e tendo uma
família com outro homem. Ele sentiu o grunhido
perto do seu rosto e acariciou a cabeça do golden
retriever.
— Ei, amigão, encontrei com ela novamente e
não foi nada fácil. — O cachorro latiu, parecendo
entender o que Eduardo falava.
Thor, como se chamava o cachorro, estava
com Eduardo há quatro anos. Eles se conheceram
numa madrugada fria. Thor tinha sido atropelado
por um inconsequente que dirigia em alta
velocidade. A sorte do cachorro — que na época
era apenas um filhote — foi não ter ficado com
sequelas. O inconsequente responsável pelo

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atropelamento acabou adotando-o.


— Isso não vai ficar assim, Thor. Ela colocou
o meu nome naquela menina para me atingir. Deu
meu nome a filha de outro.
O golden retriever latiu outra vez. Era Thor
que ouvia Eduardo nos momentos de bebedeira.
— Ela está tão diferente. A minha ferinha…
Ela não é mais a minha ferinha. — Eduardo
colocou o braço novamente nos olhos, escondendo
as lágrimas de raiva.
A campainha tocou, mas ele não precisou abrir
a porta, pois Sergio a destrancou por fora.
— Está melhor, irmão?
— Vá embora daqui. Não quero olhar para a
sua cara.
— Agora eu sou o culpado? Você faz a merda
toda e eu sou o culpado? — Sergio alisou a cabeça
de Thor e se jogou no outro sofá. — Ela está linda.
Eu nunca teria a deixado ir.
— Cala a porra da sua boca, seu puto
desgraçado! A Suelen também está uma gata e bem

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o meu tipo.
— Eu te deixaria sem dentes antes disso!
— Preciso fazer alguma coisa, Sergio. —
Eduardo levantou, pegou duas garrafas de vodka e
voltou para o sofá.
— O que tem em mente? — Sergio recebeu
uma garrafa.
— Por enquanto, vou esfriar a cabeça. — Ele
virou a garrafa na boca.
Em pouco mais de uma hora, depois de tomar
todas, Eduardo estava no chão da sala, encostado
ao sofá, e Sergio jogado no sofá à frente.
— Somos dois desgraçados, Edu. Eu tenho
vergonha da gente. Elas estão dançando na nossa
cara e nós aqui, idiotas babando por elas. — A voz
de Sergio saiu débil pela quantidade de bebida
alcoólica ingerida, mas ele ainda estava em melhor
condição em comparação ao amigo.
— Você é o único idiota que está babando
aqui. Eu sou Eduardo Moedeiros Neto. Tenho a
mulher que eu quero, na hora que quero. Nunca vou
me rebaixar para uma mulher. — Eduardo tentou
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alcançar uma garrafa no meio do tapete, mas teve


preguiça e voltou a encostar-se ao sofá. — Você
viu a menina que ela teve com aquele cara?
— Edu, aquele cara é o dono da Império,
certo?
— Aquele imbecil mesmo. Um moleque de
vinte e poucos anos querendo me enfrentar. Vou…
vou acabar com ele. Só preciso pegar o carro.
— A Império veio de uma ilha na China, não
foi? — Sergio, que estava deitado, sentou-se no
sofá.
— Eu não sou obrigado a saber disso.
— Aquele cara é taiwanês, não é isso?
— Se me fizer outra pergunta, eu acabo com
você, seu desgraçado.
— Olha só, Edu. Aquela menina é loirinha. O
dono da Império é chinês de Taiwan. Ele não pode
ter uma filha loira dos olhos azuis. A não ser que,
por uma mínima possibilidade genética, a mãe
também fosse loira. Eu não entendo muito dessas
coisas, mas acho que deve ser por aí…

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— Mas a Maria Fernanda não é loira. —


Eduardo ligou as coisas — Ela pintou o cabelo por
isso. Safada, desgraçada, gostosa e linda. —
Embalado pela bebedeira, Eduardo começou a
chorar.
— Consegue me entender, Edu? A menina
pode ser sua. Se eu fosse você, corria atrás das
possibilidades.
— Eu preciso de uma prova. Aquela menina é
muito pequena pra ser minha filha, mas preciso de
um teste de DNA. — Eduardo continuou chorando
no meio da embriaguez.
— Sim, mas como vai fazer para tirar a prova?
Vai chegar lá e pedir um pouquinho de sangue dela
ou vai colocar a justiça na frente?
— Por que fui conhecer um amigo tão idiota
na infância e hoje ele ainda está na minha frente?
— Continuou chorando, muito tonto.
— Então fale sua maneira inteligente!
— Vamos entrar na casa dela à surdina e
roubar algum material para o teste. Você vai me
ajudar.
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***
Na noite do dia seguinte, Eduardo estava no
carro juntamente com Sergio e Thor. Eles
esperavam a hora em que Maria Fernanda e Suelen
saíssem do prédio para subir e entrar na casa as
escondidas. Sergio já tinha subornado o porteiro do
luxuoso prédio. O homem se vendeu ao ver
algumas notas de cem reais em mãos.
— Porteiro ladrão, desgraçado. Eu deveria ter
quebrado a cara dele e depois arrombado a porta.
Iria conseguir do mesmo jeito — Eduardo
resmungou.
— Quem é aquele cara com a Suelen? —
perguntou Sergio, enciumado.
— Deve ser namorado ou marido…
— Não, a Suelen não está casada, Edu.
— Por que não? Quer dizer que a Maria
Fernanda se juntou com um homem e a Suelen não
pode?
— Não, não pode. Ela ainda me ama. Eu vi nos
olhos dela.

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— Você acredita mesmo que a Suelen ainda


está solteira? E que ela te ama? — Eduardo sorriu
irônico, mas assim que viu Maria Fernanda
beijando Thiago e entrando no carro dele com
Dudinha, seu sorriso irônico se transformou em um
olhar seco de ódio.
— Não estou vendo ninguém beijando a
morena, mas a loira… — Sergio o provocou.
— Thor, você vai ficar aqui. Qualquer coisa
você avisa, garotão. Eu conto com você. —
Eduardo fez um carinho no pelo do cachorro. — Se
algum deles voltar, você dá três latidas. Vou deixar
o celular ligado aqui no banco. — Colocou o
celular, que estava com ligação ativa em viva-voz
para Sergio, perto do cachorro, que grunhiu
parecendo entender o plano.
— Vamos lá, Edu. Operação DNA a caminho.
— Sergio pegou uma caixa de ferramentas no
banco traseiro do carro e os dois caminharam para
dentro do prédio.
Foram exatos quinze minutos até os homens
conseguirem passar pela porta sem nenhum
vestígio de arrombamento. Eduardo pegou uma
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foto de Nanda sobre um dos móveis e analisou com


o olhar seco.
— Eu gostei do cabelo dela assim! — Sergio o
provocou. — Está moderno.
— Cale a boca!
— Nada mal aqui, hein, Edu?
— Procure o quarto. Não está aqui pra olhar a
decoração. — Eduardo seguiu na direção do
corredor.
Eduardo abriu a porta de um quarto totalmente
rosa e repleto de ursos, mas ali não tinha escova
alguma, então continuou à procura. Logo depois,
encontrou o quarto que julgou ser de Maria
Fernanda, por achar algumas roupas de criança
espalhada sobre a cama e fotos das duas por toda a
parte. O que mais chamou sua atenção foi encontrar
sobre uma poltrona um velho conhecido seu, o
ursinho que tinha dado a mulher anos atrás.
— Ela guardou isso? — falou sozinho,
sorrindo e cheirando o urso.
— Encontrou alguma coisa, cara? — Sergio
entrou no quarto comendo uma maçã.
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— Você… você está louco? Está comendo!


Quando eu te falei que podia comer aqui?
— Encontrou ou não? — Sergio mordeu a
maçã, despreocupado.
— Sabe esse urso? Eu dei para a Maria
Fernanda uns nove anos atrás.
— Olha que fofo! Uma prova de amor que
resistiu ao tempo — Sergio desdenhou e deu mais
uma mordida na maçã.
— Da próxima vez, eu deixo você no carro e
trago o Thor. — Entrou no banheiro do quarto e
saiu antes de Sergio terminar de devorar a maçã. —
Encontrei. Vamos! — Estava com a pequena
escova rosa nas mãos.
Os dois chegaram ao carro e encontraram Thor
olhando fixamente pela janela.
— Bom garoto! — Sergio alisou a cabeça do
cachorro.
***
Dezoito dias foi o tempo para o resultado ficar
pronto. Eduardo estava encerrando uma reunião

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quando Irene, sua secretária de confiança, chegou


com o envelope.
— Aqui, senhor.
— Eu posso saber do que se trata? — Viviane,
que era diretora administrativa da empresa, puxou o
envelope das mãos de Irene antes que Eduardo o
alcançasse.
— Assunto particular. — Eduardo puxou o
envelope de volta.
— Desde quando tem assuntos particulares que
eu não sei?
— Vivi, minha linda, vai pra sua casa, coloque
o melhor vestido que tiver no seu armário, pois eu
vou te levar pra jantar hoje. — Eduardo sabia como
dobrar Viviane.
— Tem alguma relação com esse negócio
particular aí? — A loira apontou para o envelope.
— Vou te fazer uma surpresa.
— Você sabe que eu amo surpresas, meu gato.
— A mulher grudou no colarinho da camisa de
Eduardo e o agarrou. Logo em seguida saiu

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serpenteando os quadris.
— Irene, vá até uma joalheria e compre um
colar e brincos.
— Vou sair de novo? Tenho muito trabalho a
fazer, senhor. Por que não manda o Jorge?
— O Jorge não é mais de confiança, querida
Irene. Você deveria se sentir orgulhosa de ter a
minha confiança.
— Eu sei, doutor, já vou indo.
Eduardo esperou Irene entrar no elevador,
então correu para a sala de Sergio.
— O exame, Sergio. — Jogou o envelope
sobre a mesa do amigo. — Abra. — Afrouxou o nó
da gravata e sentou na poltrona.
Sergio rasgou o envelope, analisou os papéis e
então começou a gargalhar.
— E aí? Sou o pai ou não?
— Parabéns, Eduardo Moedeiros, você acaba
de se tornar o papai de uma garotinha. Olha que
lindo! — Sergio debochou

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— É o quê? — Eduardo puxou o exame das


mãos do amigo e correu os olhos até comprovar
que Sergio estava certo. — Ela já saiu daqui
grávida e mentiu naquele hospital. — Eduardo
ficou atônito, andando de um lado para outro na
sala.
— Se entrar na justiça sairá perdendo. Um pai
dificilmente ganha a guarda de uma filha. — Sergio
pegou o exame de volta e deu outra olhada.
— Maria Fernanda não deveria ter mentido
para mim! Vou fazê-la se arrepender amargamente
disso! Vou dar um jeito de tirar a menina dela. Isso
não vai ficar assim.
***
Naquela mesma noite, Maria Fernanda estava
jantando com Thiago em um restaurante italiano
muito conhecido na cidade. Estavam felizes. Suelen
tinha ficado com a pequena para assim dar mais
privacidade ao casal.
Thiago já tinha avistado Eduardo em uma das
mesas distantes. Eduardo e Viviane tinham
escolhido justamente aquele restaurante. Realmente
parecia que por algum propósito eles sempre
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acabavam se esbarrando pela cidade.


— O que foi, Thiago? Algum problema? —
Maria Fernanda percebeu a contrariedade no rosto
do namorado.
— Aquele cara está ali à frente com a mulher.
Estão olhando para cá. Eu não estou gostando nada
disso! Não suporto ter ele te olhando com essa
possessividade.
Maria Fernanda olhou por cima de seu ombro e
se arrependeu em seguida. Seu olhar se encontrou
com o de Eduardo e foi estranho. Ele estava seco e
vazio, não estava emanando ódio.
— Vou ao toilette, depois vamos a outro
restaurante, Thiago.
— Eu vou retirando o carro.
Nanda entrou no banheiro e, em cinco
segundos, Eduardo entrou atrás.
— Meninas, vocês podem nos dar licença por
alguns minutos? — Eduardo deu o seu melhor
sorriso para as duas senhoras que aparentavam ser
da alta sociedade.

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— Sim, meu jovem. — Uma das senhoras


lançou um olhar insinuante.
— Ele está no toilette errado, portanto ele sai.
Saia daqui! — Maria Fernanda ordenou.
— Não, bobinha! Eu já fui jovem e cometi
muitas loucuras naquela época, inclusive nos
banheiros de restaurantes. É tudo muito excitante.
— A velhinha simulou garras de tigresa com as
unhas. — Entendo perfeitamente vocês dois.
Podem brincar à vontade. — Deu um tapa na bunda
de Eduardo e as duas saíram com risinhos abafados
com as mãos.
Eduardo aproveitou para trancar a porta,
certificando-se de que ninguém entraria.
— Agora somos você e eu, querida esposa.
— Abra essa porta! — Maria Fernanda usou
um tom de voz calmo e frio. Ela realmente
pretendia usar o banheiro.
— Eu não vou abrir até você ouvir tudo que
estou guardando desde que descobri que aquela
menina é minha filha — falou sem rodeios.
Maria Fernanda sentiu o chão sumir debaixo
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de seus pés. Ela encostou as costas na larga pia e


assimilou o peso das palavras de Eduardo.
— Você não vai se aproximar da minha filha.
— A voz dela saiu arrastada.
— Você pensou que esconderia isso de mim
até quando? A menina não tem nada de você. É
uma cópia perfeita minha! — gritou, sentindo-se
com a razão.
Nanda temia a possibilidade de Eduardo querer
usar Dudinha para atingi-la, mas quando ouviu as
palavras dele, sua raiva formou um sorriso irônico.
— Então minha filha é uma cópia perfeita sua
e por isso acredita ser o pai? Desde quando
começou a confiar tão fácil em mim? — Ela tentou
confundi-lo, não sabendo ela que as certezas da
paternidade estavam sendo baseadas em um exame
e não na aparência de Dudinha.
— Não tente me confundir, porque eu sinto
que ela é minha. — Eduardo camuflou a verdade
sobre o exame e percebeu Nanda ficar furiosa.
— Fique longe dela! — Ela percebeu não ter
mais jeito — Você nunca foi pai. Nunca quis ser
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pai! Você lembra o que me falou naquele dia no


hospital? Eu lembro perfeitamente da frase “não
querer ter responsabilidade de pai e que a escolha
seria apenas minha.” Então eu escolhi. Ela é
apenas minha filha!
Eduardo lembrava perfeitamente de suas
palavras e, mesmo tendo consciência, jamais daria
razão para a mulher à sua frente.
— Eu me lembro muito bem de você dizendo
que eu não seria pai, que não tinha do que me
preocupar. Você mentiu pra mim! Mentiu e
permitiu que uma filha minha fosse criada por
outro homem. — Ele estava transtornado. — Me
acusa das piores coisas, mas você é ainda pior.
Você negou a um pai o direito de cuidar de sua
filha!
— Isso já é demais. — Ela sorriu, tomada pela
raiva. — Você se acha no direito de jogar isso na
minha cara? Queria saber que era pai? — O grito
dela o fez dar um passo atrás. — E isso seria o
suficiente? Acha mesmo que deixaria minha filha
saber que tem um pai que a despreza, que acha a
condição social e os negócios superiores a ela?

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Maria Fernanda sentiu que sua voz


demonstraria fraqueza quando se lembrou do
episódio do hospital. Ela se virou na pia e respirou
fundo. Eduardo não falou nada. Afinal o que ele
poderia falar naquele momento?
— Só eu e a Suelen sabemos tudo o que
passamos durante o período da gravidez. A
Dudinha nasceu prematura, os médicos falaram que
ela não sobreviveria. Eu acordava todos os dias
durante aquele primeiro ano acreditando no
milagre, que ela conseguiria sair daquele hospital.
Eu só tive a ajuda dos meus amigos. Eles foram os
únicos que estavam comigo no pior momento. O
pai estava construindo um império e não queria
responsabilidade com uma filha.
Eduardo empurrou o nó que se formou em sua
garganta e enxugou rápido uma lágrima que
desceu, pois seu coração insistiu em chamá-lo de
egoísta e inconsequente.
— Eu não poderia imaginar que tudo isso
aconteceria, Maria Fernanda.
— Eu também não poderia imaginar que com
seis meses ela fosse diagnosticada com osteomielite
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e tivesse o osso de sua perninha infeccionado, eu


não poderia imaginar que ela sofreria várias
paradas cardíacas. — A voz de Maria Fernanda
estava embargada e algumas lágrimas escorreram
de seus olhos ao lembrar de todo sofrimento que
sua filha tinha passado antes de completar um ano
de vida. — Eu também não poderia imaginar nada
disso, mas escolhi pela vida dela.
— Isso não te dava o direito de dar minha filha
pra outro homem ser o pai! — Eduardo estava
derrotado ante as armas que a mulher possuía.
— Você assumiria? — Ela virou para encará-
lo e ele recuou outro passo com o grito. — A
escolha foi dela. Isso aconteceu porque sentia falta
da figura do pai. Eu agradeço muito aos céus por
ter colocado o Thiago e o Giovane na vida dela. O
pai a rejeitou, mas ela ganhou dois pais
maravilhosos que a amam como verdadeira filha.
Eduardo virou para a porta. Seu intuito era não
encará-la. Ele fechou os olhos e esperou outra
lágrima cair. Negou-se a fazer aquilo na frente dela.
— Eu quero minha filha de volta — falou
firme.
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— Você quer o quê?


— Eu quero me apresentar como pai e ter
contato com ela. — Voltou a olhá-la e Maria
Fernanda viu os olhos molhados.
— Quero seu ego nocivo bem longe da minha
cria. Não vou permitir você iludindo minha
menina…
— Ela é minha e tenho direitos. — Ele a
interrompeu.
— Eu conheço perfeitamente o sujeito vazio
que você é. Você só iludiria a Dudinha com
promessas e depois a largaria, abandonada com o
coração destruído.
— Nunca te prometi nada. Você se iludiu. Eu
sempre deixei as coisas bem claras pra você. Não
queria compromisso com ninguém. Você que
morria de amores pelo sujeito vazio e tentava
colocar essa porra na minha cabeça.
— Abre essa porta! — Nanda teve um lapso de
constrangimento. — Rejeitou minha filha, mas teve
um filho com a Viviane. Deve ter planejado essa
criança para abocanhar a parte da herança daquela
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mulher! Você usa as pessoas para benefício próprio


e não pensa nas consequências que causa.
— De que filho está falando? Eu não tenho
filho nenhum com a Viviane.
— Com quem quer que seja. Você deve ter
usado muitas mulheres depois de mim.
Ele lembrou o dia do reencontro, também
recordou de estar com Viviane e o sobrinho. Sorriu
nervoso ao entender o pensamento de Nanda.
— Você está falando do Lipe? O Luiz Felipe é
filho da Luíza. Eu nunca teria um filho com a
Viviane. Se eu não quero ter um filho, ela jamais
agiria pelas minhas costas. Estou com ela até hoje
justamente por isso. — Eduardo nem sabia o que
estava falando.
— Então sejam felizes juntos com os
propósitos vazios de vocês. Abra essa porta agora,
porque eu tenho um noivo me esperando lá fora.
— Noivo?
— Abra a porta.
— Maria Fernanda, você não pode ter um

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noivo sendo casada. — Ele passou as mãos nos


cabelos, nervoso.
— Me dê a chave agora!
Eduardo se contraiu com a firmeza da mulher e
pegou de volta a chave do bolso, colocando-a na
fechadura.
Três moças curiosas, que estavam com o
ouvido na porta, quase caíram para dentro do
banheiro.
— Me desculpem. Estava trancada contra
minha vontade — Maria Fernanda se explicou.
— Seu nome é Maria Fernanda, não é? —
Uma das moças perguntou, pois tinha ouvido
durante todo o tempo em que esteve com o ouvido
na porta.
— Só Nanda.
— Então, Nanda. Ouvimos tudo atrás da porta!
Estamos indignadas.
— Era só o que me faltava! Um bando de
enxeridas cuidando da vida dos outros! — Eduardo
confrontou as meninas afoitas a sua frente.

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Elas, com posse de suas bolsas, começaram a


atacar o homem, que tentou se esquivar de todas as
formas.
— Com licença, meninas, fiquem à vontade.
— Maria Fernanda se retirou.
Ainda no final do corredor, ela ouviu os gritos
de Eduardo, que levava bolsadas das moças
enfurecidas. Maria Fernanda encontrou com Thiago
no meio do restaurante. Depois de retirar o carro,
ele estranhou a demora e cogitou a possibilidade de
Eduardo estar envolvido.
— O que aconteceu, Fernanda?
— Ele descobriu da Dudinha e agora quer
minha filha. — A namorada não conseguiu
controlar o choro quando estava nos braços de
quem a acolhia. Thiago a abraçou e encaminhou
para fora do restaurante.
Viviane estava por perto e acabou ouvindo
tudo. Aquilo a deixou indignada.
Thiago encostou a namorada na porta de seu
carro e enxugou as lágrimas dos olhos dela. Ele
estava beijando Nanda quando Eduardo, indignado,
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puxou-o pelo ombro. O homem estava todo


desalinhado por consequência da surra que tinha
tomado minutos antes.
— Se você pensa que vai ficar com minha filha
está muito enganado! Eu sou o pai e tenho meus
direitos. — Não esperou terminar sua fala e
deflagrou um soco em cheio no rosto de Thiago,
que se bateu em Maria Fernanda.
— Você está bem? — Embora Thiago
estivesse com o nariz sangrando, preocupou-se
com a namorada.
— Você está sangrando, Thiago.
O taiwanês conferiu o sangue, sorriu, beijou a
testa de Nanda, olhou para trás e devolveu o soco
em Eduardo, que estava distraído vendo o cuidado
dele com Maria Fernanda.
— Chega, Thiago. Vamos. — Ela entrou no
carro puxando Thiago. Saíram dali antes que
fossem expulsos pelos seguranças do restaurante
que já vinham se aproximando.
Eduardo limpou o sangue da boca e olhou para
uma gritaria que vinha se aproximando.
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— Isso só pode ser brincadeira — murmurou.


As três moças que tinham o atacado estavam
correndo em sua direção com as bolsas nas mãos.
Encurralado, ele correu pelo estacionamento, sendo
seguido por elas até encontrar seu carro e sair dali o
mais rápido possível.

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— Nossa... foi assaltado, Edu? — Sergio,


que estava jogado no sofá do apartamento de
Eduardo, desdenhou ao ver o amigo entrando, todo
desalinhado e com um forte cheiro de álcool.
— Você não tem mais casa, Sergio? —
Eduardo jogou as chaves sobre o móvel da sala e
despencou na poltrona.
— Estava fazendo companhia para o Thor,
não é amigão? — Sergio alisou a cabeça do
cachorro, que passou direto e foi cheirar Eduardo.
— Foi a Vivi que te deixou nesse estado?
— Que Viviane? Eu nem me lembro de ter
visto ela quando saí do restaurante.
— Mas e o jantar?

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— A filha da mãe é perfeita. — Eduardo


estava pensando nas feições de Maria Fernanda
discutindo com ele no banheiro do restaurante. Era
como se ele estivesse vendo toda a cena
novamente, cada jogada de cabelo, cada gesto com
as mãos, o olhar decidido, a postura confiante e a
beleza inconfundível. — Está tão mudada.
— Edu?
Eduardo ouviu o som dos dedos estalar na
sua frente e despertou dos pensamentos.
— Eu me tranquei com a Maria Fernanda
no banheiro de um restaurante.
— E aí, ela está mais experiente? Esse
tempo todo com aquele cara, algum benefício isso
tem que te trazer. — Sergio tirou suas conclusões.
Eduardo levantou do sofá, foi até a varanda
do apartamento e respirou fundo. Sergio encostou-
se em seguida.
— Vá embora! — Eduardo estava com o
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olhar confuso e transtornado ao mesmo tempo.


— Foi porque eu perguntei da experiência?
— Sergio, eu estou me controlando aqui
para não quebrar sua cara dentro do meu
apartamento e ver seu sangue no meu porcelanato.
Eduardo saiu da varanda, foi até o bar,
encheu o copo de uísque, bebeu tudo em uma só
golada, depois pegou o copo já vazio e atirou na
direção de Sergio, que por sorte se esquivou. O
copo se chocou em um abajur, por pouco não
quebrou a parede de vidro que compunha a
arquitetura luxuosa e vazia do apartamento.
— Você está louco? — Sergio não
conseguiu entender a fúria de Eduardo. — Eu só
queria saber... tudo bem, se não quiser contar, não
conta.
— Eu sei que aquele verme está com ela,
não preciso de você me lembrando disso!
— Então, não rolou nada? — Sergio se
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aproximou mais uma vez.


— Eu joguei na cara dela que já sabia da
menina. — Eduardo sentou no sofá.
— E ela? — Sergio sentou ao lado e Thor
sentou-se no chão para observar os dois.
— Ela me acusou de não querer a menina,
quando eu estava todo armado para acusá-la pela
mentira... porque isso não se faz com um pai.
— Não mesmo! Esconder uma filha de um
pai é um erro muito grave. Ainda mais quando esse
pai deixa claro que não quer essa filha.
— Vá embora que eu converso com o Thor!
— Eduardo levantou, encheu outro copo e bebeu de
uma vez. — Eu vou dar um jeito de tirar minha
filha dela. — Virou outro copo.
— Você sabe que a justiça não te daria a
guarda, Edu. Não adianta nem insistir.
— Pensei na loucura de sequestrá-la e levar
para um colégio interno. Assim eu vou poder visitá-
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la e recuperar o tempo perdido. — Bebeu outro


copo.
— Eu quase acreditei no “recuperar o
tempo perdido”. — Sergio deu ênfase à frase.
— Maria Fernanda falou que a menina
nasceu prematura e doentinha. Quase não
sobreviveu, depois teve outras complicações. Eu
fiquei com o coração partido, Sergio.
— O Thor é minha testemunha que você
falou isso — Sergio debochou, mas logo caiu na
real. Eduardo estava sendo sincero. — É sério isso,
Edu?
— Por isso ela é miúda daquele jeito. Eu
descobri o motivo dela manquejar de uma perninha.
A mãe disse que foi uma infecção, quando ela tinha
poucos meses de vida.
— Se a Suelen tivesse o bebê, ele teria uns
nove anos agora. Se ela chegasse com ele e me
desse a notícia que não o perdeu com aqueles
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remédios, cara, eu ia fazer de tudo para ter o amor


do filho dela, mesmo não sendo meu.
— É o quê?! — Eduardo olhou diretamente
para o amigo, estava incrédulo. — Você é um
desgraçado! Acusou a bocuda da Suelen e agora
vem com essa conversinha de bom moço!
— Estamos só nós dois aqui, Edu. Se você
pode falar de sua menina, eu também posso me
abrir e falar do bebê da Suelen. Eu ia criar o
moleque, você viu o quanto que eu corri naquele
dia para chegar a tempo.
— Não venha pagar de bonzinho e me
deixar sozinho na fila de pai filho da puta. —
Eduardo já estava sentindo o efeito álcool. — Você
acha que eu conseguiria ser um bom pai, Sergio?
— Acho difícil. Mas se eu fosse você,
tentaria e ainda pegava minha mulher de volta.
— Eu vi o jeito que a Maria Fernanda olha
para aquele verme. Ele tem cuidado com ela, até da
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menina ele cuida. Ela o chama de pai.


— Só um idiota deixaria passar uma mulher
daquelas — Sergio completou o raciocínio de
Eduardo, mas ele estava pensando em Suelen
naquele momento.
— Você acha que eu tenho chances com
minha ex-ferinha?
— Não! Esqueça isso. Você não tem chance
nenhuma com ela. — Sergio abraçou o amigo, em
conforto.
— Eu só quero conhecer a pequena de
perto, ela nem precisa saber que eu sou o pai. —
Eduardo já estava zonzo e iniciou seu choro de
bêbado. — Ou... pegá-la e levar para longe da
Maria Fernanda. — Estancou o choro e cochilou.
— Você está confuso irmão. Está falando
besteira. — Sergio deu um tapa de leve no rosto do
amigo para despertá-lo.
— Não me bata. — Eduardo levantou o
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indicador. — Seu... seu desgraçado...


— Somos dois idiotas, Edu.
— Você é o único idiota aqui, Sergio.
Nunca se esqueça disso. — Eduardo abraçou o
pescoço do amigo.
— Você tem razão, parceiro. Pelo menos
você tem uma filha. E eu?
— Você é um homem muito ruim, Sergio
— Eduardo falou depois de outro cochilo, sob o
efeito do álcool. — Você vai me ajudar a pegar
minha filha de volta? — Despertou — Você... Você
é meu melhor amigo, precisa me ajudar. Eu te amo,
cara. — Começou a chorar outra vez.
— Vou sim, Edu! Também vou pegar a
minha Suelen de volta. — Sergio ajeitou o amigo
no sofá e Thor lambeu a mão do dono.
***
No final da tarde do dia seguinte, Eduardo,
Sergio e Thor foram até a rua do condomínio onde
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ficava a cobertura de Maria Fernanda. Eles ficaram


à espreita e, como não viram sinal de nenhuma das
mulheres, subornou outra vez o porteiro e entraram.
Descobriram que Dudinha estava no parquinho do
condomínio e seguiram naquela direção.
— São elas? — Sergio sorriu ao ver Suelen
deitada em uma das espreguiçadeiras frente à
piscina. — Maria Fernanda está do lado. Que
corpão, hein? — Sergio provocou Eduardo.
Maria Fernanda e Suelen estavam de saída
de banho. Apenas estavam ali para vigiar Dudinha,
que brincava no parquinho ao lado com algumas
crianças da vizinhança.
— Eu vou ver a menina. Fica com o Thor e
de olho nelas. Se você olhar o corpo da minha
mulher, eu te mato. — Eduardo entregou a coleira
do cachorro e seguiu sorrateiramente pela lateral
das redes de proteção do parquinho.
Entrou com o corpo um pouco encolhido e
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levou uma bolada no rosto.


— Salut![11] — Dudinha se abaixou no
momento exato que Eduardo fez o mesmo para
pegar a bola. — Você é o homem ranzinza e
bondoso do shopping? — Ela perguntou com sua
vozinha infantil. Ainda estava de cócoras na frente
do pai.
— Bondoso? — Eduardo sentiu uma leve
emoção. — Bondoso, eu?
— Você fica bonito com esses ternos,
senhor ranzinza. Poderia me entregar a bola?
Nossa, sua mão é grande. — A menina demonstrou
um pequeno espanto. — Você deve trabalhar muito
nas construções e lavouras... olha minha mão como
é pequenina. — Dudinha estendeu a mãozinha e
Eduardo admirou os dedinhos gordinhos. Ele
estendeu a mão, ainda receoso e viu a filha deitar a
palma na sua.
Enquanto sentia a textura da pele lisinha,
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ele analisou o rostinho de Dudinha. Ela tinha os


olhos graúdos de Maria Fernanda, mas as feições
do rosto eram suas e os cabelos, de sua mãe. Ele
sentiu uma vontade enorme de abraçá-la e acariciar
os cabelinhos feitos fios de ouro. Sentiu o coração
bater forte no peito, estava rendido pela emoção.
Ele tinha uma filha, uma menina linda e esperta.
Tinha feito algo de bom na vida. Sentiu desejo de
lutar por sua família. Ali, na sua frente, estava seu
melhor projeto, um projeto lindo, uma luz para
iluminar o final do maldito túnel que ele construiu.
— Você está bem? — Dudinha perguntou já
de pé, apertando o indicador na testa dele.
— Estou, estou bem pequena.
— Meu nome não é pequena. Meu nome é
Maria Eduarda e Dudinha.
— Dudinha, claro, claro Dudinha. Meu
nome é Eduardo. É um prazer revê-la — Eduardo
apertou levemente a mão sobre a sua, ainda de
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joelhos.
— Eu sou Maria Eduarda e Dudinha, você é
Eduardo e... — A menina batucou o dedo no
queixo. — É estranho um homem ser chamado de
Dudinho. Então vou te chamar de... Dudu.
— Dudu? Olha só, já é um belo começo. —
Eduardo sorriu. — Seus olhos são lindos,
pequena... Dudinha — Eduardo corrigiu.
— Eu busco entender algumas coisas da
vida, mas permaneço sem compreensão. —
Dudinha enrolou uma mecha dos cabelos. — Por
que as pessoas têm olhos coloridos? Minha maman
disse- que os meus saíram aos dela. Eu queria
encontrar meu papá de sangue. Talvez os olhos dele
sejam rosa. Quero ter olhos rosinhas, Dudu.
Eduardo sentiu a lágrima descer dos olhos e
levantou. Virou as costas para Dudinha para
empurrar o choro, mas não conseguiu, precisava
fugir, não estava sabendo lidar.
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— Com licença, pequena... Dudinha. Eu...


eu vou ali. — Ele saiu apressado, abaixou na
portinha de saída do parquinho, cercado de redes de
proteção e caminhou até onde Sergio estava com
Thor.
— E aí? Como foi Edu? — Sergio segurou
firme a cólera do cachorro, pois ele estava agitado.
— Quero convidá-la para um jantar.
— Jantar? Convidar a criança para um
jantar?
— Sim, é minha filha e eu quero jantar com
ela, mulher gosta dessas coisas.
— Sim, e então, a chamou para seu jantar?
— Eu me perdi nas palavras. Ela... ela é tão
fofa e bonitinha.
— Fofa? Você está chorando, parceiro?
— Quando você me viu chorar? Isso... Foi
uma corrente de ar que passou e me pegou
desprevenido, foi isso. Vai lá você. Leve o Thor. O
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Thor sempre impressiona as mulheres.


— Mas você é pai, Edu. Precisa se
aproximar primeiro.
— Não seja covarde, Sergio. Olha seu
tamanho. A menina tem meio metro de altura. Vá lá
e faça o convite. Precisamos aproveitar que a Maria
Fernanda não está por perto. Do jeito que a minha
ex-ferinha é rancorosa, é bem capaz de chamar os
seguranças e piorar tudo. Vá logo e se apresse.
Sergio puxou a coleira de Thor que, por
alguma razão, grudou os dentes na barra da calça
de Eduardo e o puxou junto.
— Calma, amigão. — Sergio puxou o
Golden retriever outra vez. — Vamos lá fazer o
convite para o jantar do Edu.
Sergio seguiu pelo mesmo caminho que o
amigo tinha feito antes. Já dentro do cercado do
parquinho, ele procurou Dudinha.
— Aquela é a anjinha, filha do Edu, Thor.
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Vamos lá, ajudar nosso parceiro.


— Un chien![12] — Dudinha colocou as duas
mãozinhas sobre as bochechas e abriu a boca em
um fofo "O" de admiração.
— Já falei que você arrasa corações,
garotão? — Sergio acariciou a cabeça do cachorro,
enquanto chegava mais próximo da menina.
— É seu esse cachorro, Mon seigneur[13]?
— Dudinha acariciou os pelos de Thor sem medo.
Thor se assanhou.
— O Thor é um parceiro geral, bicho solto.
Parece que ele gostou de você.
Thor estava com a cabeça no ombro de
Dudinha, enquanto ela o abraçava.
— Ele é cheiroso e grande. É um Golden
retriever. Il est beau[14]!
— Meu Deus, que menina esperta. —
Sergio olhou para onde o amigo estava. — Você

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gosta de jantar, anjinha?


— Jantar não é questão de gosto, é
necessidade humana. Doces não podem faltar em
jantares. Eles ajudam na reprodução de serotonina,
que regula o humor das pessoas. Por isso os adultos
são tão ranzinzas, eles têm o costume de evitar
doces. Por isso, vivem fraquinhos, sem energia para
fazer uma simples caminhada.
Sergio olhou o pingo de gente na altura de
suas coxas e se deu conta que sua própria boca
estava aberta, sem reação.
— Hã... É uma ótima razão para comer
doces. Doce faz bem para saúde, não é? — Sergio
levantou os ombros e mostrou os dentes em um
sorriso pouco assustado.
— Seria bom eu encontrar um adulto
masculino de terno cinza, camisa com minúsculas
florzinhas e sapato gigantesco e ele fosse capaz de
falar isso para a minha maman. — Sergio se olhou
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e ele estava com aquelas características. — Venho


tentando convencê-la sobre os benefícios do açúcar
há um bom tempo, mas ela está irredutível. Pessoas
adultas são teimosas. — Dudinha esclareceu.
— Então... você aceitaria um convite para
um jantar repleto de doces? — Sergio olhou para
Thor ainda com os dentes amostra, Thor também
mostrou os dentes, depois os dois olharam para
Dudinha.
— Se a minha maman me levar, eu aceito.
Doces não podem ser rejeitados. Qual o seu nome,
homem elegante?
— Sergio. Tio Sergio.
— Vou avisar a minha maman do seu
convite, tio Sergio. Espere-me aqui, volto com a
resposta. — Dudinha deu um abraço em Thor e
beijou os dois lados do rosto do cachorro, como se
ele fosse um humano.
Sergio ainda ficou parado alguns segundos
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absorvendo a desenvoltura da filha do amigo, mas


em seguida saiu disparado do parquinho. De longe
ele viu Maria Fernanda e Suelen de pé, olhando
para Eduardo. Os homens correram até o carro.
— Sem dúvida nenhuma, aquela menina é
sua filha, cara. — Sergio ainda estava meio
assustado.
— Claro que é, a Dudinha é minha cara e
tem meu nome. Maria Fernanda se lembrou de mim
e fez essa homenagem. Você acha que eu tenho
chances?
— Não. Já falei isso — Sergio respondeu de
imediato e Eduardo perdeu o riso nos lábios.
***
No dia seguinte era domingo, Maria
Fernanda tinha aprontado Dudinha desde cedo para
ir pela primeira vez a uma reunião na igreja que
Antonieta e Jorge frequentavam. A igreja era ligada
a um projeto que abraçava uma comunidade carente
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da cidade. Ela queria continuar suas obras de ajuda


ao próximo no Brasil.
Dudinha estava linda sentada no sofá da
sala, a mãe ainda se arrumava no quarto. Suelen
tinha passado aquele dia com sua família.
A campainha da cobertura tocou e Dudinha
se levantou do sofá com cuidado para não amassar
o vestido. Esperta, rodou a chave e abriu a porta. A
primeira coisa que viu foi um ursinho branco com
um enorme laço no pescoço.
— Oi... Lembra-se de mim? Ontem, lá
embaixo... — Eduardo sorriu ainda receoso.
— Ma mère était inquiète pour une raison
quelconque[15]. — Dudinha apontou o dedo para
Eduardo, demonstrando uma fúria infantil.
— Droga! Por que eu não aprendi francês!?
— Eduardo reclamou baixo, mas isso não passou
despercebido aos ouvidos de Dudinha.
— Falou nome feio na minha frente. A
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maman vai saber disso! — Dudinha estava brava,


pois a mãe tinha ficado assim quando soube de
Eduardo e Sergio no parquinho.
— Droga não é nome feio. É apenas uma
expressão quando algo dá errado.
— É uma expressão feia. — Eduardo sorriu
com a firmeza da menina.
— Eu posso entrar? — Eduardo tentou soar
tranquilo.
— Só quando a maman autorizar. — A
menina cruzou os braços, em frente à porta aberta.
— E onde ela está?
— Ficando bonita para meu papa.
— Jura? — Eduardo arqueou uma das
sobrancelhas se divertindo com a ideia.
Dudinha mudou as vistas para o urso de
pelúcia, Eduardo aproveitou e entrou na sala.
— Olha o que eu trouxe pra você. — A
menina abriu um sorriso de canto a canto e Eduardo
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se deu conta de que ela não tinha puxado apenas os


olhos da mãe.
— Il est beau[16].
— Dudinha, vamos combinar só uma coisa.
— Ele se abaixou na altura da filha. — Eu não sei
seu idioma muito bem, então, você pode falar em
português comigo?
— Sua maman não te ensinou francês?
— Ela acabou esquecendo. — Eduardo
coçou a cabeça, envergonhado por estar na frente
de uma criança esperta, que sabia algo a mais que
ele. — Seu nome é lindo Dudinha, você sabe por
quê sua mãe o colocou? — Ele estava tentando
entrar no assunto da paternidade com a menina,
aproveitando que estavam a sós. — O meu é
Eduardo, isso tem um significado especial para nós.
— Maria Eduarda era o nome da minha
vovó camponesa, que foi para o céu e deixou minha
maman com minha vovó fazendeira. — A pequena
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falou.
— Que safada! — Eduardo pensou alto. —
Sua mãe te falou isso?
— Se falar isso na frente da maman ela te
coloca no banquinho da desobediência, Dudu. Eu
vou deixar.
— Melhor eu ter cuidado então. — Eduardo
brincou. Ele estava caindo de amores pela pequena
ousadia e segurança da menina que parecia ter
puxado a ele nesse aspecto.
— Pode ser nosso segredo. — Dudinha
olhou diretamente para o urso e se a mãe estivesse
na sala, teria deduzido que ela estava propondo
uma troca de favores.
— Claro! Toma, é seu. — A menina pegou
o urso e alisou o felpudo.
Eduardo se lembrou de quando, anos atrás,
presenteou Nanda com o urso marrom.
— Dudinha! — Maria Fernanda gritou
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perto do sofá — O que está fazendo aqui?! —


Olhou seriamente para Eduardo, mas internamente
assustou-se. Ela conheceu aquele homem o
suficiente para saber que a racionalidade dele era
suficiente para tramar algum sequestro.
Eduardo perdeu um pouco o ar quando viu a
mulher toda produzida e mais elegante ainda que os
outros dias. Sua vontade era ir até ela e abraçá-la
fortemente para acabar com toda a saudade que ele
sentia.
— Eu ganhei um presente maman —
mostrou o urso para a mãe.
— Devolve, Dudinha! — ela falou fria e
tentou entender a desaprovação na feição de
Eduardo. Achou um desaforo.
— Mas eu quero, maman. — Dudinha,
mimada, choramingou.
— Amanhã compramos outro igual, agora
devolve.
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— Maman!
— Dudinha!
— Não precisa devolver, Dudinha, eu te
dei, é seu. — Eduardo se abaixou perto da menina,
que já estava com os olhos cheios de lágrimas. —
Não chora.
— Não queira comprar minha filha! —
Nanda sussurrou firme, pois não queria discussões
na frente da filha. — Ela não precisa de nada que
venha de você!
— Ele é bonito, mas eu não posso ficar com
ele, Dudu. — Ela estendeu o urso.
— Dudu? — Nanda questionou, vendo
Eduardo enxugando com os dedos as lágrimas da
filha.
— Não chora, princesinha, o urso é seu. —
Eduardo terminou de enxugar os olhos de Dudinha,
depois voltou a olhar para Maria Fernanda. —
Precisamos conversar e rever esse assunto.
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— Vou inspecionar seus interesses com


essa aproximação, mas agora, saia da minha casa.
— Eu vim ver como a menina está e... —
Eduardo perdeu a fala, pois perdeu o rumo dentro
da beleza de Maria Fernanda. — Quando ficou tão
bonita, mulher? — Eduardo olhou diretamente para
os seios de Nanda. Ela colocou a bolsa frente ao
busto.
— Eu vou fazer uma ligação para a polícia
se não sair em cinco segundos.
— Ela já te mandou sair duas vezes, Dudu,
não seja teimoso com minha maman. — Dudinha
mostrou a quantidade com os dedos e correu para o
lado da mãe.
— Aonde está indo, assim? — Ele
perguntou ainda a observando sem nenhum pudor.
— Se não sair eu vou chamar algum
segurança do prédio. Como entrou aqui?
— Eu sou um homem influente, entro em
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qualquer lugar. — Ele negou a parte do suborno


que vinha fazendo ao porteiro do prédio.
— Ele te chamou de safada, maman. —
Dudinha revelou, desaforada.
— Isso pode não ser verdade. — Eduardo
sorriu sem graça, passando as mãos no cabelo.
— Minha filha não mente.
— Acabei de descobrir isso. Vai me colocar
no banquinho da desobediência? — Eduardo tentou
quebrar o gelo.
— Coloca sim, maman! Ele merece mais
que eu.
— Saia agora! — Maria Fernanda foi até a
porta e segurou intencionalmente.
— Você sempre tem a pior escolha, Maria
Fernanda. — Ele a fitou diretamente nos olhos,
depois saiu em sua melhor forma.
— Ele não é legal, maman? — A pequena
curiosa perguntou, formulando suas teorias.
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— Esquece isso filha, vamos, o táxi já está


nos esperando. Preciso escolher logo nosso carro.
Quando chegou na frente do condomínio,
Maria Fernanda viu de longe o táxi se distanciando
e estranhou ele não ter esperado, já que ela tinha
descido na hora marcada.
Ela não sabia, mas Eduardo dispensou o
táxi quando deduziu que seria para ela.
— E agora filha? Seu pai não atende. — Ela
estava ligando para Thiago quando ouviu a buzina
no outro lado da rua e Eduardo acenou com as
mãos.
Maria Fernanda fingiu não perceber, virou-
se de costas e continuou a discar o número de
Thiago. Tentou várias vezes, mas só dava na caixa
de mensagem.
— Eu só vou levá-las, nada mais que isso!
A mulher se assustou com a voz grossa
perto e deixou o aparelho celular cair.
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— O que pretende? — Nanda segurou a


mão da filha e colocou perto de seu corpo. Dudinha
abraçou as pernas da mãe.
— Não sei. Mas quero conversar com você,
ou com seus advogados. Surgiu um... — Ele olhou
para Dudinha — Surgiu uma questão nova e quero
rever meus direitos. — Ele arrumou a gravata no
pescoço e firmou a postura.

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— Não sei o que pode estar passando na sua


cabeça para acreditar que eu vou permitir esse
contato. — Maria Fernanda estava muito alterada.
— Você pode até ter suas razões, mas eu
tenho meus direitos e ninguém tira os meus
direitos! — Ele gritou.
— Você continua o mesmo louco,
possessivo. Nunca vai persuadi-la. O que você
quer? Iludir a menina e depois abandoná-la? — A
mãe se deu conta dos olhos curiosos voltados para
ela, certamente tentando assimilar as palavras,
então buscou um autocontrole. — Venha, Dudinha,
vamos procurar um táxi e ligar para seu pai. —
Maria Fernanda andou apressada sobre o salto

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quinze, a filha estava presa a sua mão.


— Ele não é o pai dela, isso que é iludir. —
Eduardo caminhou atrás.
— Minha perna está doendo — Dudinha
reclamou em uma pequena corrida.
Maria Fernanda parou e se abaixou para
pegar a menina no colo, mas Eduardo deu a volta
nas duas e a sustentou primeiro, depois saiu
apressado, carregando a filha na direção da sua
caminhonete de luxo.
Quando Maria Fernanda o alcançou, ele já
estava encaixando o cinto em Dudinha, no banco
traseiro de sua l200 Triton.
— Sai da minha frente! — Ela o empurrou e
soltou o cinto de segurança da filha. Eduardo não
se conformou e se emaranhou com ela na porta do
carro. Ele tentou fechar o cinto novamente.
— Se afaste da minha filha! — O grito de
desespero da mãe fez Dudinha se encolher no outro
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lado do banco. — Venha, Maria Eduarda! — A


mãe estendeu a mão, Dudinha se achegou para
perto da porta e Nanda a colocou no chão.
— Apenas ofereci uma carona, não
pretendo roubar a menina hoje. — Maria Fernanda
agarrou a filha e Eduardo se deu conta de ter falado
demais. — Eu jamais faria isso, só quero conversar.
— Ele sentiu o desejo de esmurrar o próprio rosto.
— Estão brigando por mim? — Dudinha
perguntou.
— Sei suas artimanhas, elas não funcionam
mais comigo. Vou à polícia, você não vai chegar
perto da minha filha.
Maria Fernanda pegou a filha no colo e se
afastou para o outro lado da rua.
Eduardo estava ciente da veracidade
daquelas palavras, pois nunca a viu tão decidida e
firme. Anos atrás ela o enfrentava, mas ele a
desmanchava quando olhava dentro dos seus olhos
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e oferecia um beijo quente. A sua raiva era


exatamente por aquele motivo. Agora ela tinha o
controle dos próprios sentimentos, ele não
conseguiria mais manipulá-la.
— Não pense que vou facilitar as coisas! —
gritou do outro lado, entrou em sua caminhonete e
saiu disparado. Na estrada, deu vários socos no
volante para tentar de alguma maneira liberar a
raiva que sentia.
***
O táxi parou frente ao salão da igreja, Maria
Fernanda estava trêmula, Dudinha permanecia
calada, mas sua mente de criança trabalhava para
compreender tudo. Do outro lado da rua estava
estacionada a caminhonete de luxo. Eduardo tinha
parado em um lugar estratégico e seguido o táxi.
Assim que viu Thiago na roda de pessoas,
Maria Fernanda apressou os passos e o abraçou.
Lutou para ser forte, mas Thiago a conhecia o
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suficiente para saber que algo estava errado.


Eduardo sentiu sua raiva aumentar assim
que viu a família entrar no salão. Ele saiu disparado
na pista. O destino? Um famoso bar da alta
sociedade. Iria tentar acalmar a raiva que sentia
com bebida e mulheres.
***
— Como você está? — Suelen e Maria
Fernanda sentaram no sofá assim que Dudinha
dormiu.
— Ele disse que vai pegar minha filha. —
Maria Fernanda não conseguia apagar as palavras
de Eduardo dos pensamentos. — Amanhã vou à
polícia.
— Dudinha viu tudo?
— Tudo. Ela já estava sorrindo. Ele tem um
jeito próprio de persuadir. Quer iludir minha filha.
Trouxe um urso. Ele acha que pode chegar depois
de sete anos, dar um urso de pelúcia para a menina
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e apagar tudo o que ele me fez e que afetou ela?!


— E ela já está lá, dormindo abraçada ao
urso. Disse que é o amigo do pimpão — completou
Suelen.
— Eu sei as táticas que ele usa, Dudinha é
prova disso. Ele vai encher o coração da minha
filha de promessas vazias, para em seguida, fazer
minha pequena sofrer com sua falta de amor.
— Ele está fazendo isso para se aproximar
de você.
— É evidente, ele quer me atingir e está
usando a Dudinha para isso.
— Ele também estar vendo a mulher que
perdeu. Deve estar louco de desgosto.
— Isso não me interessa, Suelen. Ele pode
tentar o que quiser e só vai ter o meu desprezo. Vou
dormir. — Maria Fernanda levantou e seguiu em
direção ao quarto.
***
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Na segunda feira, Maria Fernanda foi visitar


as obras de perto. Ela, Dudinha e Suelen estavam
perto das vitrines, quando avistaram a irmã de
Eduardo caminhando com o filho.
— Luíza! — Suelen gritou.
A loira procurou a dona da voz e quando
encontrou de onde vinha, analisou bastante as
mulheres, mas logo lembrou o sorriso contagiante
de Suelen, que não tinha mudado em nada.
Luíza se aproximou com um sorriso
estampado nos lábios. — Vocês estão ótimas. —
Abraçou as duas.
— É um prazer revê-la, minha amiga. —
Maria Fernanda segurou a mão da ex-cunhada.
— Por que não me avisaram que viriam?
Como conseguiram ficar ainda mais bonitas?
— Estamos sob efeito de Paris! — Suelen
sorriu. — Mas o coração, garanto que permanece o
mesmo. Vamos abrir uma loja de moda feminina na
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rua principal do shopping.


— Que notícia maravilhosa, meninas. Fico
feliz em vê-las tão bem-sucedidas e lindas. Quando
voltaram? O Edu já sabe disso?
— Já, e começou a me confrontar. — Maria
Fernanda fez uma careta descontente.
— Ele não aprende. — Luíza observou
Dudinha e a semelhança familiar chamou sua
atenção. Maria Fernanda acabou percebendo. —
Por que ela parece tanto com o... — A mãe deu
sinal para Luíza parar. Ela se calou e abaixou-se
frente à menina, analisando o rostinho e finalizando
suas conclusões. — Qual o seu nome princesinha?
— Alisou o cabelo de Dudinha.
— Maria Eduarda, mas pode me chamar de
Dudinha. — A voz infantil de criança saiu firme —
Ela lembrava Eduardo até na maneira de gesticular.
— Vem dar um abraço na tia. — A mulher
abriu os braços e Dudinha olhou para a mãe
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esperando uma permissão.


— Abraça, filha, é a tia Lú, ela é uma amiga
da maman.
Dudinha abraçou o pescoço da mulher, que
não desmanchou o contato por um longo período.
— A tia está muito feliz em te conhecer,
meu amor. — Luíza alisou mais uma vez o rosto de
Dudinha.
— Você é bonita, Tia Lu. Esse menino é
seu filho? — Olhou a outra criança ao lado de
Luíza.
— Esse é o Luiz Felipe. — Luíza enxugou
as lágrimas que formou em seus olhos. — Olha
como ele é lindo. Vocês dois se parecem muito.
— Oi! — O menino correu para uma vitrine
da loja de brinquedos mais próxima.
— Meus olhos são mais azuis que os dele.
— Dudinha gesticulou balançando o pescoço.
— Meu amor, vamos ali tomar um sorvete.
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— Suelen segurou a mão de Dudinha. Precisava dar


espaço para as duas amigas conversarem. —
Encontro vocês daqui a pouco. — A morena
carregou Dudinha que não tirou os olhos das duas.
— Ele já sabe que tem uma filha? —
perguntou Luíza.
— Sabe e já me confrontou. Seu irmão está
ainda pior, Luíza. Não me arrependo de ter criado a
Dudinha longe dele. Você viu como ela é pequena?
Minha filha quase não sobreviveu, tive uma
gestação difícil, não consegui segurar por nove
meses. Se eu estivesse perto dele seria ainda pior.
— Eu não vou te acusar de nada, não se
preocupe. Eu só gostaria de ter ajudado. Quanto ao
Edu, talvez tenha sido melhor assim. Não o vejo na
pele de um pai, apesar de amar o Lipe
incondicionalmente, não é a mesma coisa de ter a
responsabilidade de um filho.
— Ele vai querer usar a Dudinha para me
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atingir de alguma maneira.


— Não se preocupe com isso. Eduardo está
passando por uma turbulência com a empresa e
acredito que ele não vá se importar com mais nada
além disso.
— A empresa está em crise? — Maria
Fernanda sentiu sua curiosidade falar mais alto.
— Eduardo tem muitos inimigos, ele não
me contou nada precisamente, mas disse que ia dar
um jeito em tudo. Aquele jeito orgulhoso dele que
nunca mudou.
— Ele deixou claro que não me dará o
divórcio quando o contrato terminar e ameaçou
pegar minha filha.
— Ele fez isso? — Luíza estranhou. — Será
que o Edu ainda tem alguma esperança em você?
Porque, não me parece uma coisa normal dele se
preocupar com outra questão, tendo a empresa em
crise.
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— A esperança dele é atormentar minha


vida. Fui a uma delegacia, pois não vou correr o
risco de ele levar minha filha como ameaçou.
— Eu sinto muito, minha amiga. Desculpe-
me pelas grosserias do meu irmão. Mas quem sabe
essa criança arranque o orgulho e o faça um homem
mais amável? Talvez fosse o caso dele conviver em
uma guarda...
— Não o quero próximo a ela. — Maria
Fernanda a interrompeu.
— Vou conversar com ele. Eu ainda tenho
fé e esperança, quem sabe a doçura da filha o
mude. Uma guarda compartilhada, ou um acordo
para os finais de semana...
— Não confio. — Maria Fernanda a
interrompeu outra vez. — Estou presa, Luíza. Foi
bom rever você. — Beijou a amiga no rosto e saiu
em direção a praça de alimentação.

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***

DIAS DEPOIS...

Eduardo estava andando de um lado a outro


na sala de reuniões. Estava apavorado. Tinha
acabado de perder outro grande cliente para a J.A
Engenharia. A situação financeira de sua empresa
estava crítica.
— Eu só quero saber o que está
acontecendo dentro da minha empresa! Quando eu
contratei incompetentes para minha equipe? Eu dei
meu sangue para levantar esse patrimônio! Tenho
um nome respeitado nesse país! Será que vai ser
preciso eu demitir todos, para saber quem é o peixe
podre da minha equipe?
Ele estava descontrolado, tentando
encontrar o culpado pelo grande abalo. Os homens,
sentados à mesa, tremiam a cada pancada que a
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madeira recebia.
— A Moedeiros Engenharia tem um nome.
Eu sou o responsável por manter esse nome na
praça! Quando eu encontrar esse peixe podre que
está sentado aqui nessa mesa, recebendo o salário
do meu bolso, eu vou acabar com ele com minhas
próprias mãos. — Apertou os punhos. — Agora
saiam! Acabou a reunião!
Os engenheiros, arquitetos e chefes de
departamento, estavam apreensivos. Eduardo
analisava a reação de todos em busca do
responsável pelo desvio de informações para sua
concorrente.
— Você precisa ter calma, amor. Foram
dois clientes! O que são dois clientes para a
Moedeiros Engenharia? — Viviane agarrou o
pescoço de Eduardo.
— Dois clientes são números, são contados
na praça, é a sobrevivência da Moedeiros, E SÃO
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ELES QUE PAGAM SEU SALÁRIO! — Gritou,


afastando a amante do seu pescoço.
— Está desconfiado de alguém? — Sergio
perguntou após uma pequena análise.
— De todos. Eu desconfio de todos!
— Eu nunca te trairia. Você sabe disso, não
é? — Viviane perguntou com a voz mansa. Ela
sabia que, para tirar Eduardo do sério, era preciso
apenas uma estremecida na base dos seus negócios.
Por isso mesmo estava sendo cautelosa ao falar.
— Você é muito inteligente para pensar
duas vezes, antes de cogitar a possibilidade de me
trair, Viviane.
— Apenas perguntei, amor. Lógico que
nunca trairia você. — A loira voltou a se pendurar
no pescoço dele, que se esquivou.
— Eu jamais faria isso, Edu. Somos irmãos;
isso aqui também faz parte da minha vida. —
Sergio se resguardou, explicando.
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— Sergio, você é o último na minha lista de


peixes podres.
— Então me colocou em sua lista? Desde
quando me considera um traidor? Construímos isso
aqui. Acha mesmo que eu te trairia? Em troca de
que?
— Já estava esquecendo a minha hora no
cabeleireiro. — Viviane deu um beijo curto em
Eduardo.
— No meio do horário de trabalho,
Viviane? — Eduardo arfou.
Ele levava o trabalho a sério e tomava
medidas drásticas quando qualquer outra coisa
paralela atrapalhava o bom funcionamento.
— Só encontrei horário agora, gato. Estou
precisando de uma hidratação. Eu te recompenso
mais tarde essa horinha. — A loira sorriu
maliciosamente.
— Vai pagar uma hora a mais amanhã na
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saída, para compensar a de hoje. — Eduardo


devolveu. — Trabalho acima de tudo Viviane,
nunca se esqueça disso.
— Não seja tão severo comigo, gato.
Apenas vou ficar mais atraente para você. Estarei
na sua casa às oito e vou dormir lá essa noite.
— Outro dia, Viviane. Hoje vou trabalhar
em um projeto. Preciso dedicar total atenção a ele.
Vá logo a seu cabeleireiro, ou vou arrumar alguma
coisa pra você fazer. Amanhã vou olhar seu horário
de saída.
Assim que Viviane saiu, Eduardo trancou a
sala de reuniões e observou Sergio cabisbaixo,
olhando fixamente para uma caneta sobre a mesa.
— Você sabe que nunca te trairia, estou
contigo nessa empresa desde quando era apenas um
projeto de vida. Somos parceiros desde o jardim de
infância. Agora você desconfia assim de mim e me
coloca em uma lista de filho da puta. — Sergio
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esclareceu o que estava em seus pensamentos.


— Seja mais homem, Sergio. Você está
muito dramático ultimamente. É bom para você
permanecer não sendo o culpado. Se for diferente,
acabo com sua carreira profissional e não deixo um
dente em sua boca. Desconfio de todos, menos de
você. — Eduardo retirou o blazer e afrouxou o nó
da gravata. — Temos que levantar um plano de
ação e descobrir esse traidor ou traidora, se meu
faro estiver correto.
— Está desconfiando da Vivi?
— Todos aqui nessa empresa são
duvidosos. Mas ela parece uma boa suspeita. Quero
que observe a vida de todos os estagiários desta
empresa. Deixe o restante comigo.
— Isso vai passar, Edu, vamos sair dessa.
— Sergio bateu no ombro do amigo em um
conforto.
— Agora estou com uma ordem de
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restrição. Estou proibido de chegar perto de minha


filha. Eu nem conheço a menina direito e já estou
proibido de chegar perto dela. Estou cansado,
Sergio. Muito cansado. Estou perdido no meio de
tanto problema e agora tenho que enfrentar isso.
***
As obras da loja estavam adiantadas. Maria
Fernanda era responsável por fiscalizar as obras,
enquanto Suelen tomava conta do ateliê de costura
em outro ponto da cidade.
Eduardo manteve distância por aqueles dias,
mas quando terminava o expediente na empresa,
ele sempre passava de carro frente ao condomínio
na esperança de ver a filha. Ele sentia uma vontade
louca de estar perto de Maria Fernanda, nem que
fosse para acusá-la de algo. A medida preventiva
não foi o motivo pra ele ter se afastado, eram as
investigações da empresa que preenchia o seu
tempo.
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Ele, Sergio e Irene estavam virando as


noites sobre os inúmeros relatórios. Além dos
desvios de informações internas, também tinham
descoberto um rombo no Patrimônio Líquido da
empresa. Ele só iria descansar quando encontrasse
o culpado e recuperasse suas finanças.
Na manhã de segunda feira, na hora do
almoço, ele estava sentado juntamente com Irene e
Sergio em uma das mesas da praça de alimentação.
Maria Fernanda tinha sentado com Dudinha
devidamente uniformizada em sua roupinha
colegial, em outra mesa da mesma praça de
alimentação. Ela já tinha avistados os homens e a
mulher desde que o almoço chegou na mesa. Como
nunca tinha largado o faro para a curiosidade,
procurava respostas para os três notebooks abertos
sobre a mesa, enquanto as comidas estavam
completamente intocáveis.
— Ela disse que eu posso escolher o ballet
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ou o maytii, maman.
— Muay thai, petit. O nome certo é muay
thai. O que você prefere? — A mãe estava com o
olho na mesa do outro lado e os ouvidos presentes
na conversa da filha sobre a escola nova.
— Sou uma menina. Eu gosto de ballet.
— Como foi o primeiro dia com as novas
coleguinhas? Me conte tudo. — O olhar da mãe
permanecia longe.
Dudinha olhou na mesma direção e avistou
Eduardo, vestido em um terno azul
— Está olhando o Dudu, maman?
— Não, claro que não. Onde ele está? —
Maria Fernanda pegou o copo de suco.
— Na mesma direção onde você estava
olhando. — A pequena cruzou os braços e arqueou
uma das sobrancelhas.
— Ah, ele está ali mesmo. Deve estar
trabalhando. Mas, por que trabalharia em uma
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praça de alimentação? Dudinha, você não quer ir


até lá falar com ele? Eu fico próximo, você só o
distrai enquanto eu olho o que ele está fazendo. —
Dudinha olhou fixamente para a mesa de Eduardo e
negou com um gesto de cabeça. — Vamos filha, a
maman vai permitir. — Nanda acusou-se
internamente, mas ela precisava saciar sua
curiosidade.
— Você fica irritada quando o Dudu grita.
— Maria Fernanda voltou sua atenção para a
pequena, que mexia com uma batata frita dentro do
copo de suco de laranja.
— Você tem razão meu amor. Vamos
comer na loja. Pega sua mochila.
Maria Fernanda juntou rapidamente os
lanches em uma sacola, pegou sua bolsa e seguiu
em direção a sua loja.
Ambas passaram rente à mesa de Eduardo e
não foram notadas pelo homem que estava
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concentrado em seu notebook.


Mas Dudinha estava ali, aquele encontro
não seria tão simples.
— Dudu.
Ouvir a voz de Dudinha fez Eduardo
rapidamente levantar as vistas da tela e, com os
olhos ainda indecifráveis, analisar a pequena ao seu
lado na mesa.
— Vamos, Dudinha! — Maria Fernanda
passou a mão livre sobre o ombro da filha.
— De onde você saiu, pequena? — Eduardo
levantou os olhos e deu uma analisada no corpo de
Maria Fernanda. Ele não perdia a chance de fazer
aquilo.
— Da barriga da minha maman.
Sergio e Irene levantaram os olhos e
também deram atenção para as duas.
— Me dê um abraço, eu estava com
saudades de você. — Eduardo abriu os braços e
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Dudinha não hesitou em aceitar o aconchego.


Era um laço forte existindo ali, uma ligação
de sangue que os unia e revirava os sentimentos de
Eduardo. Maria Fernanda observou a cena e não
teve frieza para puxar a menina, embora sua mente
falasse o contrário.
— Vamos Dudinha, temos que ir. Você
ainda não almoçou. — Maria Fernanda fugiu do
olhar de Eduardo, que voltou novamente a espiá-la.
— A maman também sentiu sua falta,
Dudu. Ela queria vir te ver, mas eu não deixei. —
Dudinha, sentada em uma das pernas de Eduardo,
denunciou a mãe, que ficou levemente
avermelhada.
Sergio gargalhou e fechou o seu notebook.
Irene estava tentando compreender o assunto, mas
manteve sua discrição.
Eduardo curvou o canto dos lábios em um
sorriso sagaz.
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— Isso não é verdade. Não da maneira que


está interpretando — afirmou Maria Fernanda.
— Minha filha não mente! — Quando
Eduardo percebeu, as palavras já tinham saído.
Chamou Dudinha de filha sem antes ter tido uma
conversa esclarecedora com ela.
A criança juntou as informações em sua
cabeça esperta. Não demorou muito, levantou os
olhos, até o rosto de Eduardo, que estava tenso. Ela
analisou cuidadosamente os traços do homem, para
em seguida descer do colo do pai com as lágrimas
prestes a escorrer dos olhos azuis.
— Preciso do seu colo, maman. —
Ofereceu os braços para a mãe.

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Maria Fernanda segurou Dudinha e encarou


Eduardo, enfurecida. Sua criança estava chorosa,
com o rosto enterrado em seus cabelos.
— Agora ferrou de vez! — Sergio deixou
escapar, ainda sentado à mesa.
— Ela não entendeu... — Eduardo tentou
diminuir o peso de suas palavras, subestimando a
esperteza de Dudinha.
— O papa do pimpão é bem grande, maman?
— A voz da pequena saiu chorosa e abafada pelos
cabelos da mãe.
— Sim, Dudinha. — A mãe respondeu,
olhando seriamente para Eduardo.
— Pimpão? — Sergio deixou escapar enquanto
observava o amigo em saia justa.
— Ele também usa um terno azul? — A
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menina tornou a perguntar.


— Filha... — Eduardo acariciou as costas de
Dudinha e sentiu lágrimas encherem os seus olhos.
— O Dudu é o papa do pimpão? — Dudinha
fez a pergunta de uma só vez.
Nanda saiu carregando Dudinha, ela tentou
andar rápido, mas o seu peso estava grande e o
salto que usava dificultava a caminhada.
— Maria Fernanda! Eu quero conversar com
ela. Eu fiz a burrada, tenho que consertar. —
Eduardo não precisou fazer muito esforço para
acompanhá-las.
— Você não tinha o direito de confundir a
cabeça de minha filha, sem antes ter uma conversa
esclarecedora.
Maria Fernanda continuou andando com
dificuldade, em poucos metros ela não suportou o
peso, e suas sacolas e bolsa caíram no chão.
Eduardo pegou tudo e continuou no encalço
delas.
— Dudinha... — Ele tentou chamar a atenção

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da menina.
— NÃO FAÇA ISSO! — Maria Fernanda
gritou mais alto que o normal, o que atraiu os
olhares das pessoas que estavam por perto.
— EU TENHO O DIREITO DE
CONSERTAR AS COISAS! — Ele também gritou,
mas ela não parou e entrou na loja. Ele a seguiu.
Era hora do almoço e apenas um pedreiro
estava vigiando a obra. O homem levantou
rapidamente, em defesa da patroa.
— Algum problema, senhora? — Perguntou o
trabalhador. — Está precisando de ajuda?
— Não. Obrigada, pode ir almoçar.
— Tem certeza? — O homem mirou Eduardo.
— O que está insinuando, desgraçado?! —
Eduardo gritou e o homem foi para cima dele.
— Não façam isso! — Maria Fernanda gritou,
já sem forças nos braços. Dudinha ainda estava
chorosa em seu colo. — Pode ir almoçar. Eu
resolvo aqui. Obrigada pela ajuda.
O homem atendeu ao pedido da patroa e
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caminhou até a porta jurando Eduardo com os


olhos.
— Vai se explicar para ela? — Maria Fernanda
colocou Dudinha no chão.
— Tenho muito trabalho a fazer agora, mas eu
vou voltar. Eu quero conversar com você pequena.
— Ele olhou para a menina, abraçada às pernas da
mãe.
— Eu posso te ouvir agora, Dudu. — Dudinha
passou o dorso da mão no rosto e enxugou as
lágrimas que tinham caído minutos antes.
— Você tem problemas para resolver e talvez
volte daqui a sete anos para limpar a bagunça. —
Maria Fernanda passou a mão sobre o ombro da
criança e tentou confortá-la. — Por que foi mexer
na história se iria ferir minha menina?
— Estou com um problemão nas costas e
preciso resolver, Maria Fernanda.
— Então vá resolver seu problema. E não volte
para estimular uma felicidade que você não é capaz
de oferecer.
— Eu vou procurar minha filha, caramba!
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Agora não posso, mas vou voltar! — Ele se alterou.


— Está tudo acontecendo ao mesmo tempo... —
Respirou fundo e apertou os cabelos, precisava
manter a calma para não piorar sua situação.
— Dudinha nunca precisou de você... — A voz
de Maria Fernanda saiu embargada. — Agora, saia!
Vou dar comida pra minha filha.
— Lanche na hora do almoço? — Eduardo
analisou as caixas de fast food.— Isso não faz mal
para a saúde dela?
— Quer me ensinar a cuidar da Dudinha,
depois de sete anos fazendo isso?
— Eu gosto de lanche no almoço. — Dudinha
esclareceu sua situação.
— Você não sabe o esforço que eu tenho para
alimentá-la, todos os dias.
— Eu quero saber tudo sobre ela. — Estarei
presente de agora em diante.
— O pimpão gostou do Rudolf. — Dudinha
sorriu, puxando conversa, demonstrando que ela
não queria a saída de Eduardo da loja.

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— Quem é Rudolf? Pimpão? — Eduardo


perguntou.
— O Rudolf que você me deu, Dudu. Foi um
bom presente para curar a saudade.
— Ôh, minha filha... — Eduardo se emocionou
com as palavras de Dudinha. — Aquilo foi apenas
uma simples lembrança.
— Eu sonhava muito com você, mas era
acordada. — Dudinha juntou as duas mãos em
frente ao corpo.
Eduardo soltou o ar de vez pela boca, tentando
lutar contra o choro. Ele sentiu o coração bater
forte no peito e seu corpo tremer diante da emoção
recente. Como era possível um ser tão pequeno
conseguir desestabilizá-lo com curtas palavras?
— Você já está grande para chorar, Dudu.
— Vem cá, eu quero te dar um abraço. —
Eduardo se abaixou para recebê-la. Dudinha
automaticamente olhou para a mãe, esperando uma
permissão. — Por favor, Maria Fernanda, não me
negue isso. — Ele pediu após perder a batalha com
as lágrimas.
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— Não acredito em lágrimas, quando conheço


as intenções. — Dudinha encarou a mãe e Maria
Fernanda sentiu uma dor aguda transpassar seu
peito. Ela não suportava a ideia de ter Eduardo
perto de sua filha, pois tinha medo dele fazer a
pequena sofrer com a falta de afeto, mas o olhar
que Dudinha lançava sobre ela era quase uma
súplica. Sua razão dizia não, mas seu coração de
mãe não suportava ver aquele olhar suplicante por
muito tempo. — Abrace logo ele Dudinha, você
precisa terminar seu almoço.
Dudinha se aproximou do pai e Eduardo
abaixou o rosto, pois a emoção que sentia era
grande e o deixou receoso. Ele não conseguiria
lutar contra aqueles sentimentos. Eram muito
fortes.
— Dudu... — A menina passou as mãos em
volta do pescoço dele e aquilo foi o suficiente para
Eduardo abraçá-la, vencendo sua racionalidade.
— Você é tão linda, filha... Não fiz muito para
merecer uma filha linda como você.
— Os pais sempre acham os filhos bonitos.
Mesmo quando eles têm as pernas diferentes.
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Eduardo beijou os cabelos da filha algumas


vezes. Ainda não sabia lidar com o assunto, mas
acalentou-a com o abraço afetuoso.
Maria Fernanda não suportou ver a cena e
virou-se de costas, colocou a mão sobre a boca
sufocando as lágrimas e o nó na garganta.
— Acho que tem bolinhas de sabão na minha
barriga. — Dudinha revelou não sabendo definir a
emoção que sentia.
Eduardo, muito emocionado, ficou de pé, com
ela no colo. Ele ainda não conseguia descrever a
emoção que sentia naquele abraço. Era um carinho
enorme e um sentimento de proteção que estava
brotando no seu coração.
Dudinha estava tocando cada ponto do rosto do
pai. Era uma nova descoberta, ela também sentia a
força do que estava acontecendo ali.
— Por que colocou esse nome no urso? —
Eduardo alisou os cabelos da menina e arriscou
uma olhada para as costas da mulher.
— Ele tem cara de Rudolf. — Ela respondeu e
Eduardo sorriu.
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Maria Fernanda enxugou o rosto e se


aproximou.
— Precisa comer agora, filha. — Ela pegou a
menina do colo do pai.
— Por que me deu o Rudolf? — Dudinha não
queria acabar a conversa.
— Te dei, porque gosto desses seus olhinhos,
desses seus cabelinhos loiros, dessa bochechinha
fofa. Eu quero me aproximar mais de você. —
Eduardo alisou os cabelos da menina mais uma vez.
O problema todo era que Dudinha estava no
colo de Maria Fernanda e mesmo tudo apontando
contra, algo aconteceu em torno dos três.
— Então me deu o Rudolf porque gosta de
mim? — Dudinha enrolou uma mecha do cabelo da
mãe, que permanecia estática com Eduardo a
olhando tão perto.
— Sim, o papai já te ama muito filha.
— Ama? — Maria Fernanda questionou em
voz alta e recebeu o olhar de Eduardo.
— Você também ama minha maman. Por isso

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deu o pimpão pra ela. — Aquilo não foi uma


pergunta, Dudinha fez uma afirmação baseada em
suas próprias conclusões.
Eduardo ficou sem reação ante a afirmação da
menina. A mãe ficou totalmente desconsertada e
colocou a filha no chão.
— Você pode sair agora. — Ela se aproximou
da porta, incentivando a saída de Eduardo.
— Precisamos marcar um jantar. — Ele se
aproximou dela com o mesmo olhar de desejo que
só aumentou com o passar dos anos. — Precisamos
acertar algumas coisas sobre nossa filha. — O olhar
entrou no decote de Maria Fernanda.
— Não deveria me olhar desse jeito, tenho
compromisso e exijo respeito. — A mulher, se
esforçou para ser fria e conseguiu, pois Eduardo
sentiu a sensação de rejeição.
— Temos uma filha e precisamos conversar
sobre ela. É uma situação que não podemos fugir.
— O ego de Eduardo falou mais alto e aquilo foi
suficiente para ele olhar uma última vez para
Dudinha, dar um meio sorriso e sair da loja.

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— Tchau, Dudu! — Dudinha gritou, encostada


à porta, mas Eduardo já estava longe para ouvir.
— Dudinha, você lembra quando a maman
conversou com você sobre ele? — A mãe
perguntou e a menina esperta meneou a cabeça em
concordância. — Então, esse homem que acabou de
sair...
— O Dudu?
— Sim, esse mesmo! Ele é o seu primeiro
papa. O que morou comigo aqui no Brasil. Você
lembra o que a mamãe falou dele?
— Que ele era forte, cheiroso e bem bonito,
assim como eu.
— Não, isso não! Por que você tem que se
lembrar dessas coisas? Esqueça isso. Nunca fale
isso a ele. Eu não devia ter te contado essas coisas.
— Que o meu papa do pimpão trabalhava
muito e por isso não tinha tempo para um
bebezinho?
— Sim, isso. Então não se iluda, vamos ver o
que ele vai decidir. Não quero que você sofra,
minha filha.
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***
Já era tarde e Eduardo estava em um bar da
cidade com Sergio e várias mulheres.
Era um lugar praticamente sagrado para eles
durante os finais de semana. Ele já tinha ingerido
uma grande quantidade de álcool. A cada copo que
ficava vazio, ele pedia mais e mais. Já tinha bebido
de tudo e ainda não se dava por satisfeito.
— Edu, não acha que está exagerando demais
hoje? — Sergio se assustou ao perceber que
Eduardo estava acabando com o estoque de Stoli
Elit do bar.
— Vou sair... vou sair dessa vida... por minha
filha. A mãe dela já era... Arrumou outro, mas eu
tenho uma filha — depositou o último copo sobre a
mesa. — Vou ser o melhor pai do mundo. —
Empurrou a morena que estava sentada em seu
colo. — Como veio parar aqui? — Questionou a
mulher. — Sou um homem casado. — Cambaleou.
— Chame um táxi, parceiro, desse jeito você
não acerta nem a chave na porta do carro.
— Isso... eu vou ver um táxi. — Grogue, ele
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recolheu seus pertences e saiu trocando as pernas,


Sergio ficou rodeado por mulheres.
Eduardo saiu em direção ao seu carro e
esbarrou em um casal. Não foi algo proposital, mas
suas mãos foram diretamente para os seios da
mulher e aquilo inflamou o homem que a
acompanhava ao ponto de deflagrar um soco em
cheio, na lateral do olho de Eduardo. O bêbado caiu
sem conseguir forças para revidar.
Depois de alguns minutos tentando chegar até
o carro, Eduardo destravou e entrou. Saiu dali
completamente embriagado, com a visão turva e
em velocidade acelerada.
Suelen estava passando uns dias com sua
família, Maria Fernanda estava sozinha com a filha
no apartamento. Já passava das onze horas da noite,
mãe e filha estavam deitadas esperando o sono
chegar, mas a insistência da campainha já estava
atrapalhando.
— Fica aqui, eu vou lá ver quem é e já volto.
— A mãe só levantou porque o barulho estava sem
trégua.
Maria Fernanda observou através do olho
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mágico e não acreditou. Era Eduardo que mantinha


o dedo pressionado no botão da campainha. Ela
abriu a porta furiosa.
— Você é louco, seu irresponsável?! Quer
traumatizar minha filha?! — empurrou-o e se
assustou com o tombo que Eduardo tomou,
chocando-se contra a parede do corredor.
Percebeu a sobrancelha do homem cortada e o
inchaço no olho esquerdo. O estado dele era
deplorável.
— Eu vim pra você... você precisa cuidar de
mim. — Tentou se levantar, em vão.
Dudinha não resistiu à curiosidade e levantou.
Ela já estava esfregando os olhos detrás da mãe.
— O que está acontecendo? — A menina
perguntou.
— Nada, filha? — A mãe fechou a porta
bruscamente.
— Por que o Dudu está no chão?
— Que Dudu?
— O Dudu, está caído lá fora da porta, eu vi.
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— A menina insistiu.
— Vamos voltar para cama, isso deve ser sono
filha.
A campainha voltou a tocar sem descanso e,
logo após, Eduardo começou a gritar o nome de
Maria Fernanda, para o prédio todo ouvir.
— O Dudu está aí, maman. — Dudinha cruzou
os braços.
— Ele não pode entrar aqui, vamos voltar para
o quarto.
— Maria Fernanda, eu quero ver minha filha!
Isso é alienação parental, eu tenho meus direitos!
— Eduardo gritou do outro lado. — Maria
Fernanda!
— Ele vai continuar gritando e os vizinhos vão
acordar. — Dudinha colocou o ouvido na porta e
sussurrou para a mãe.
What's going on in that beautiful mind
I'm on your magical mystery ride
And I'm so dizzy, don't know what hit me, but
I'll be alright…
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Eduardo estava cantando do outro lado, com sua


voz chorosa e lesada pela bebida.
— Era só que me faltava. — Maria Fernanda
sentou no braço do sofá.
— Ele canta bem, maman, mas acho que está
passando mal. — Dudinha permanecia com o
ouvido na porta.
…'Cause all of me
Loves all of you
Love your curves and all your edges
All your perfect imperfections...
Maria Fernanda, com vergonha do show de
Eduardo, girou a chave e abriu a porta, recebendo o
peso do homem, que quase a derrubou no chão.
— Love your curves and all your edges. All
your perfect imperfections.[17] — Ele cantou
olhando para ela.
— Cala essa boca! — Maria Fernanda soltou o
peso no chão.

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— Dudu! — Dudinha correu para ajudar o pai.


— Eu te amo filha... — falou com os olhos
fechados.
— Dudinha, fique longe, eu vou chamar a
polícia. — Maria Fernanda pegou o aparelho
telefônico da sala e discou o número.
— O Dudu vai ser preso?
— Sim, vai. Enquanto isso, fique perto de
mim.
Dudinha olhou para o pai, apreensiva.
— E se baterem nele?
— Vai ser bom, filha, ele está precisando. — O
telefone só chamava e ninguém atendia, mas Maria
Fernanda continuou tentando.
— Ele está precisando de ajuda! — Dudinha
ainda olhava na direção do pai.
A mãe olhou para a filha que estava com os
olhos assustados e desligou o telefone para pegá-la
no colo.
— Filha, vai para o quarto, quando a polícia

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chegar, eu não quero que veja.


— Filha... eu te amo! — Eduardo tentou
levantar e acabou caindo novamente no chão.
— Eu quero ajudá-lo, maman.
Eduardo estava caído no chão da sala, bêbado,
e a mãe sabia que aquilo não faria bem à filha.
— Vá ao banheiro e pegue a caixinha. —
Colocou a menina no chão.
Maria Fernanda esperou Dudinha entrar no
corredor dos quartos e com o pé, empurrou
Eduardo.
— É desse jeito que quer se aproximar de sua
filha?
— Eu não consigo. Me ajude aqui. Mulher,
estou... estou decep... decepcionado com você.
Maria Fernanda arfou e permaneceu no mesmo
lugar e ele, por conta própria, engatinhou e apoiou-
se no sofá até conseguir se sentar.
— Aqui a caixinha, maman.
— Dê a ele filha.

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Dudinha entregou a caixa de primeiros


socorros a Eduardo e sentou ao lado dele.
— O que faço com isso? — Ele abriu a caixa.
— Um curativo, Dudu. Você deveria pentear
seus cabelos e não brigar na rua.
Dudinha alisou os cabelos do pai e ele cochilou
sob o efeito do álcool.
— Acorde! — Maria Fernanda o sacudiu, mas
ele continuou com os olhos fechados.
— Ele está com dodói, maman.
— Sim, eu estou dodói. — Eduardo repetiu as
palavras de Dudinha com os olhos ainda fechados.
— Eu deveria te deixar lá embaixo, jogado na
calçada. A sua sorte é que eu não consigo te descer.
— Não a deixe fazer isso, Dudinha. —
Eduardo encarou a filha que já havia começado a
limpar o corte em sua sobrancelha.
— Me dê, Dudinha, esse odor vai te fazer mal.
Maria Fernanda empurrou o homem mais uma
vez no sofá, entupiu o algodão de antisséptico e

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apertou contra o corte. Sob o olhar apreensivo de


Dudinha e os gritos de Eduardo.
— Como chegou até aqui? — Ensopou o
algodão com mais líquido escuro e apertou contra o
machucado.
— Em meu carro. Ai! Mulher desalmada! —
Gritou recebendo a aspereza da mão de Maria
Fernanda.
— Irresponsável, colocando a vida de pessoas
em perigo. — Apertou com mais força.
— Você está muito atraente neste baby doll. —
Ele apalpou a coxa desnuda de Maria Fernanda.
Ela não precisou respirar fundo para manter o
controle na frente de Dudinha, pois já tinha
atingido o rosto de Eduardo e os seus dedos
estavam doloridos.
Dudinha colocou as duas mãos na boca
assustada.
— Mulher sem alma. — Além do corte na
sobrancelha e do olho inchado, o rosto também
estava vermelho com a força da bofetada.

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— Levante daí e saia da minha casa agora.


Eduardo não possuía forças físicas para
levantar do sofá e aproveitou para analisar mais
uma vez a mulher furiosa à sua frente.
— Não deveria atender a porta assim, tão
gostosa. Poderia ser outra pessoa. — Tentou se
escorar nas almofadas. — Você é minha mulher e
eu exijo... que sempre me receba dessa maneira e
que cuide de mim com carinho.
A mulher foi em direção ao telefone outra vez,
mas a menina se antecipou e abraçou o aparelho.
— Não vou deixar o Dudu apanhar da polícia.
Ele está confuso da cabeça. Vai apanhar e perder o
tantinho de juízo.
Maria Fernanda sabia que Dudinha estava
crescendo em entendimento antes do tempo. As
atitudes dela eram formadas mediante a observação
ao seu redor. E ali naquele momento, ela queria a
todo custo, conhecer o pai e saber seus motivos.
— Vá deitar, petit. Vá que a maman já está
indo também.
Eduardo iniciou outra crise de choro e Maria
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Fernanda quase terminou de fazer o serviço no


pescoço dele, ali mesmo.
— Venha com a maman. — A mãe carregou a
filha para o quarto e deixou o homem, grogue, na
sala.
***
— O Dudu precisa de ajuda, maman —
Dudinha sussurrou depois de meia hora em que
estava enrolada com a mãe. Ela estava o tempo
todo de olhos fechados, mas analisava a situação do
pai.
— Dorme meu amor, dorme.
— Ele não tem pessoas para cuidar dele?
— Tem. Ele tem muitos amigos. Agora dorme,
filha.
— Sem polícia?
— Dorme, Dudinha.
Uma hora se passou no período entre Dudinha
ter dormido e Nanda ter coragem para levantar.
Ela vestiu um pijama fechado, foi para a sala,

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mas não encontrou Eduardo no sofá.


— Onde esse homem foi parar? — Ela saiu
procurando nos cômodos e o encontrou sentado à
mesa da cozinha, com os braços sobre a mesa e a
cabeça curvada.
Maria Fernanda ficou observando-o, encostada
no vão da porta. Antes, ela já tinha presenciado ele
bêbado, mas agora, parecia que aquilo tinha se
tornando uma dependência. O que Eduardo tinha
feito da vida durante aqueles anos? Tanta
racionalidade e frieza tinha valido a pena?
Ela colocou a mão entre a parede e sua cabeça
e continuou observando, mas ficou pálida quando
ele levantou a postura e a surpreendeu de repente.
— Pelo que vejo, conseguiu levantar sozinho.
— Ela firmou a postura.
— Só estou esperando passar a tontura para
pegar o carro. — Seus olhos passearam sobre o
pijama que a cobria por inteiro. Continuou
achando-a sexy.
— Se tornou um alcoólatra? — Maria
Fernanda sentiu um leve abalo nas pernas, mas não
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soube identificar o motivo.


— Tenho muitos problemas e no final do dia
preciso beber para esquecê-los.
— E a Viviane, por que não foi atrás dela? Por
que não foi à casa de seus pais? Onde está o
Sergio? Não deveria ter vindo à minha casa, tem
uma ordem que te proíbe disso.
— Eu não sei porque peguei esse caminho, só
estou me dando conta agora. — Eduardo colocou o
braço sobre a mesa e curvou a cabeça. Estava
sentindo dores e tontura. Talvez porque aqui está o
que eu preciso. — Ele pensou.
Maria Fernanda passou direto para o balcão
onde estava a cafeteira. E Eduardo levantou a
cabeça para espiá-la.
— Tome isso. — Ela estendeu a xícara de café,
de longe. — Vai ajudar com a tontura.
— E como sabe disso? Já teve ressacas? — Ele
sorriu após uma golada de café. — Não deveria
seguir esse caminho.
— Eu tenho uma filha. Nunca fui irresponsável
para fazer isso. E me mantenho longe de qualquer
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tipo de vício. Quero criar minha filha no caminho


certo e cercada de boas influências, pois o mundo
aí fora é mau. — Maria Fernanda encostou na pia
da cozinha, mantendo distância dele.
— Nossa filha, ela é nossa filha.
— Como você tem tanta certeza que a Dudinha
é sua filha?
— Sério? Maria Eduarda... Eduardo... ela tem
o meu rosto praticamente copiado. Sou pai, sinto
isso. — Ele nunca acreditaria na palavra de Maria
Fernanda vendo a pouca estatura de Dudinha, mas
já tinha o exame de DNA o que dava-lhe certezas.
— Maria Eduarda era o nome de minha mãe.
Mas isso nunca foi algo importante para você
lembrar. Você alguma vez se interessou em saber
algo sobre mim? Maria Eduarda era minha mãe!
Tenho alguns documentos para te provar isso, mas
não sou obrigada.
— Então é uma boa coincidência. Obrigado
por não ter tomado aquela pílula. — Colocou a
xícara sobre a mesa. — Quando eu estiver sóbrio
quero saber de tudo. Como foi que tudo aconteceu
e todas essas coisas de gravidez.
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Ele levantou-se da mesa e foi em direção à pia.


Maria Fernanda se manteve imóvel com a
proximidade. Depois que depositou o copo dentro
da pia, ele olhou para ela e percebeu seu rosto em
chamas. O coração dele estava batendo em um
ritmo acelerado. Ele levou a mão até os cabelos de
Maria Fernanda e, antes dela fugir, puxou-a pela
cintura em um abraço apertado.
— Eduardo, não faço isso.
— Ainda existe tesão entre nós. — Inspirou o
cheiro dela. — Quis te abraçar desde o dia que te vi
naquele shopping. — Beijou os cabelos dela. —
Você ainda tem o mesmo cheiro bom, isso me traz
tantas lembranças...
— Esse cheiro de álcool está me causando
ânsia. Para com isso! — Ela o empurrou de vez. —
Se quiser conviver com sua filha, vai precisar largar
essa vida. Já pensou em buscar um tratamento? —
Ela cruzou os braços, já do outro lado da cozinha.
— Não sou viciado, bebo para aliviar o
estresse e buscar um pouco de alegria.
— O que você fez de sua vida? E depois que o
álcool sai de seu corpo, a alegria permanece? —
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Ela esperou a resposta.


— Eu bebo mais.
— Se quiser conviver com a Dudinha, vai
precisar rever seus maus hábitos.
— Quando se tornou religiosa? — Eduardo
perguntou com os olhos baixos, ainda recobrando o
senso de vergonha. — Vi você entrando em uma
dessas igrejas outro dia.
— Tenho projetos de caridade e quero passar
tudo para minha filha. Direcioná-la a ajudar o
próximo e se desprender do orgulho. Tenho
motivos para ter esse cuidado.
— Eu não deveria ter vindo aqui bêbado.
— Não! Não deveria!
Eduardo caminhou na direção dela outra vez.
Maria Fernanda levou as mãos até os cabelos
para prender no alto da cabeça e foi nesse momento
que ele a puxou contra o corpo.
— Estou com muita saudade. Por que não
cuida de mim? — Ele tentou beijar o pescoço dela
e levou um empurrão.
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Nanda correu para o outro lado da cozinha e


sentiu sua respiração pesada.
— Não tente fazer isso novamente. — Ela
falou pausadamente. — Estarei casada com o
Thiago em alguns meses e você não deveria estar
na minha cozinha.
— Que conversa é essa? Nós somos os únicos
casados aqui, mulher.
— Logo não teremos mais esse maldito
contrato que nos une. E de qualquer maneira, nosso
divórcio vai sair.
— Esqueça isso, casamento é pra vida toda. —
Ele falou, grogue — Esqueça! Não vai ter divórcio.
— Eduardo, vai pra casa, para qualquer lugar,
mas saia logo daqui.
— Não estou em condições de dirigir, vou
ficar esta noite aqui. Agora tenho uma filha
pequena, não posso dirigir embriagado.
— Desde quando? — Maria Fernanda
balançou o rosto sem paciência.
— Não me lembro quando decidi isso.

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— Vou chamar um táxi pra você.


— Por que fez isso com seu cabelo, mulher?
Quero que tire essa cor e deixe crescer novamente.
— Eduardo a segurou pela cintura, antes que ela
alcançasse o objeto que, certamente, o levaria até a
emergência do pronto socorro. — Eu queria ter te
ensinado... tudo. — Ele fechou os olhos, quase
caindo de sono. — Eu não acredito que você anda
sentando em outro...
— Olha suas palavras!
— Eu vou matar aquele chinês, filho da puta.
— Se não me soltar agora, eu vou fazer meus
vizinhos chamarem a polícia e pode ter certeza que
você não receberá nenhuma visita de sua filha em
uma cadeia.
— É tudo culpa da bebida! — Ele a soltou. —
Eu estou muito bem em minha vida de solteiro. E
não vou sair daqui até que o sol tenha nascido.
— Tudo bem. — Maria Fernanda arfou,
dando-se por vencida. — Saia antes da minha filha
acordar. — Você é pai dela, mas não pense que vai
ter intimidade dentro da minha casa, tampouco vai
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criar rotina.
Maria Fernanda saiu da cozinha e seguiu para
o quarto da filha.
Pela manhã, ao entrar em seu quarto, Maria
Fernanda percebeu o homem esparramado em sua
cama em um sono pesado. Ele estava de cabelos
molhados, sinal que tinha usado o banheiro do
quarto há poucas horas.
— Vamos! Levante daí! — Ela puxou o
travesseiro de debaixo da cabeça de Eduardo.
— Merda de dor de cabeça. — Eduardo
sentou-se na cama. — Só vou usar o banheiro.
— Bom dia, Dudu. — A filha apareceu na
porta do quarto.
— Vamos para a mesa, Dudinha. — A mãe
segurou a mão da filha. — Você! — Olhou para
Eduardo. — Se apresse.
Dudinha correu para a mesa do café da manhã
e Maria Fernanda desviou o caminho para atender a
porta.
— Bom dia, minha princesa. Thiago calou

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Maria Fernanda com um beijo quente.

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Em outro cômodo, Eduardo estava sorrindo


com uma das camisolas rendadas de Maria
Fernanda nas mãos. Ele encontrou a peça dobrada
próxima à banheira e naquele momento, inalava o
cheiro do tecido. Lembrou-se de momentos do
passado, quando a desejava mesmo com as largas
camisolas e palavras antiquadas.
Na sala, Thiago ainda beijava a namorada, ela
já tinha perdido o raciocínio e recuperado, mas
Thiago ainda não tinha a liberado.
— Thiago... — Ela colocou a mão no peito do
namorado e se afastou, ainda de olhos fechados.
— Você está ainda mais linda essa manhã. —
A beijou rapidamente. — Também está pálida,
sente alguma coisa? Quer que eu te leve ao
médico?
— Estou bem...
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— É minha filha? — Thiago a interrompeu.


— Estou bem, Dudinha está bem, estamos as
duas muito bem. Ela está na mesa tomando café da
manhã.
— Vou dar um beijo nela. — Thiago largou
Maria Fernanda e seguiu para cozinha.
— Thiago... — Maria Fernanda seguiu atrás.
— Bom dia, princesinha... — O Taiwanês
beijou os cabelos de Dudinha e sentou à mesa.
Eduardo parou no corredor quando ouviu a voz
de um homem e presumiu ser Thiago. Rapidamente
retirou a camisa, jogou no canto e respirou fundo.
— Bom dia, mulheres da minha vida. — Ele
deu o seu melhor sorriso e ainda arriscou jogar um
beijo para Maria Fernanda, que sentiu certo tremor.
Ela não esconderia nada de Thiago, mas queria
evitar um conflito.
— O que é isso, Fernanda! — Thiago levantou
e encarou Eduardo de frente — O que você faz
aqui?
— Thiago, por favor, se acalme. — Maria

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Fernanda respirou fundo, para controlar a


repelência.
— O que esse homem está fazendo aqui,
praticamente nu?
Eduardo sorriu vendo que seu plano de última
hora estava dando certo.
— O Dudu dormiu aqui papa. — Dudinha
respondeu.
— Sim, dormi aqui. Esta é minha família. —
Eduardo beijou a cabeça de Dudinha, pegou uma
maçã sobre a mesa e deu uma dentada. Mastigou
lentamente com o olhar vitorioso.
— Mas a maman bateu no rosto dele e até
ligou para a polícia. — A fala de Dudinha
desmanchou o sorriso vitorioso que pairava no
rosto de Eduardo.
Thiago olhou para a namorada e então sentou
novamente à mesa. Maria Fernanda não perdeu
tempo, sentou ao lado dele, puxou sua mão e
beijou.
— O que? Não vai acusá-la de traição? —
Eduardo ficou desorientado com a reação de
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Thiago. Se fosse ele, já teria quebrado toda a


cozinha e talvez o resto da casa.
— Confio na Fernanda. Existe respeito mútuo
em nossa relação. — Thiago respondeu um pouco
sem paciência.
Eduardo jogou a maçã sobre a mesa e soltou o
ar pela boca, inconformado por não conseguir
estremecer a relação do casal.
— Eu durmo na cama da Maria Fernanda e
você simplesmente aceita tudo isso? Estou sem
camisa; você já viu meu corpo? Acha mesmo que
ela desperdiçaria isso aqui por uma noite? —
Tapou os ouvidos de Dudinha — Sou gostoso pra
caralho.
— Ele dormiu na cama de minha maman,
papa. Isso foi verdade. — Dudinha completou a
fala de Eduardo.
— Você está ouvindo? — Eduardo se
recuperou. — Minha filha não mente. — Insistiu.
— Mas a maman dormiu na minha cama o
tempo todo.
Eduardo deu uma olhada para Dudinha. Ela
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apenas mostrou os dentes em um sorriso levado.


— Você... você tem que ficar do meu lado,
Dudinha. — Eduardo tentou recuperar a aliada.
— Chega, Eduardo! — Maria Fernanda falou
autoritária.
— Sou seu pai de sangue, filha. Tem que
torcer por mim agora. — Ele continuou insistindo.
— Já chega! Pegue sua camisa e saia daqui
agora. — Thiago levantou — E nunca mais queira
fazer joguinhos dentro do meu relacionamento!
— Seu relacionamento?! — Eduardo achou um
desaforo.
— Eu não sou nenhum louco para acreditar
que tudo que idealizamos é mentira, porque um
imbecil que bagunçou com ela no passado resolveu
aparecer e tirar a camisa. Como se isso fosse o
suficiente para apagar o que você a fez passar.
— Você não sabe de nada da minha vida! —
Eduardo enfrentou Thiago. — Você não deveria
contar nossa vida para esse desgraçado! —
Apontou para Maria Fernanda.

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— Eduardo, saia. Olha sua filha. — Maria


Fernanda tentou ser calma, Dudinha observava
tudo.
— ISSO AQUI ME PERTENCE. VOCÊ NÃO
VAI USUFRUIR O QUE COMEÇOU COMIGO,
VERME DESGRAÇADO! —Eduardo continuou
gritando.
— O QUE COMEÇOU COM VOCÊ, MAS
EU ESTOU CUIDANDO DESDE ENTÃO.
QUEM É VOCÊ PARA EXIGIR ALGUMA
COISA? DURANTE ESSES ANOS VOCÊ
PODERIA TÊ-LA PROCURADO. FEZ ISSO? O
QUE VOCÊ ESTÁ EXIGINDO AQUI? — Thiago
usou o mesmo tom de voz de Eduardo.
— Você deveria temer me desafiar. Eu não
sabia que tinha uma filha! — Olhou para Maria
Fernanda. — Você escondeu isso de mim. Talvez
eu tivesse tido a chance ... — Ele se calou para não
ofender seu próprio orgulho. Intimamente ele foi
atingido pela sensação de insulamento. — Eu vou
acabar com você. — Ele apontou para Thiago, mas
seu olhar estava em completo ermo.
— Já chega! Saia daqui! — Maria Fernanda
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levantou da cadeira.
— Meus dois papas estão brigando...
Nanda olhou para a menina e a pegou
rapidamente no colo.
— Thiago, ele dormiu aqui, pois esse
irresponsável não estava aguentando dirigir, eu
jamais faria isso com a gente. Você é meu porto
seguro.
— Não precisa fazer isso Fernanda. — Thiago
calou a namorada. — Leva minha filha para o
quarto.
Eduardo estava olhando a cena dos três à sua
frente e aquela forte pancada no peito chegou a
doer. Aquele intruso tinha invadido tudo. Estava
com sua mulher, filha... Ele estava cuidando de sua
família e aparentemente muito bem. Ele não
deveria estar com aquele vazio no peito, tampouco
reconhecendo que o oponente era o melhor para
elas. Não! Ele não iria ser um fraco. Aquela era sua
família, iria atropelar os invasores.
— Só volte aqui para ver sua filha quanto
aprender a respeitar a presença dela e distinguir que
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seu papel aqui é apenas de pai. — Maria Fernanda


carregou Dudinha.
Eduardo acompanhou os olhos da menina no
colo da mãe.
Thiago só esperou a namorada virar a divisa da
porta e deflagrou um soco na boca de Eduardo.
— Agora sim, você está sem condições de
andar sozinho. — Thiago era paciente até certo
limite.
Eduardo nunca deixaria barato, então, um soco
certeiro também atingiu Thiago.
— Ela é minha mulher, seu moleque! E outra
coisa, a Dudinha não é sua filha! — Eduardo
completou.
— Você realmente acredita que tem alguma
chance? — Thiago tocou o lugar atingido. — Não
vou permitir que desordene a estrutura delas. — O
taiwanês estava enfurecido. — Ela conta os dias
para o fim desse maldito contrato. Vamos nos casar
o quanto antes e eu quero você bem longe daqui!
— NUNCA TENTE ME IMPEDIR DE VER
MINHA FILHA. EU SOU CAPAZ DE FAZER
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UMA DESGRAÇA SE VOCÊ PENSAR EM


VETAR MINHA APROXIMAÇÃO! — Eduardo
gritou, furioso.
— Então está me ameaçando? Acha que vou
aceitar um sujeito assim, perto da Dudinha?
— Ela é minha filha! A Maria Fernanda é
minha mulher, você é o intruso! Não pense que eu
vou deixar esse casamento acontecer! Eu acabo
com você antes disso! — Eduardo limpou o sangue
da boca. Seu corte no lábio tinha aberto novamente
e agora expelia uma maior quantidade de sangue.
— Sou empresário...
— Um caralho pra isso! — Eduardo
interrompeu Thiago.
— Sou empresário e acompanho sua vida nas
mesmas revistas de negócios que em tempos
compartilhamos a capa. Sei sua fama de
mulherengo, sua mente perturbada e violenta.
— É bom que fique ciente para não se meter
no meu caminho. Eu vou fazer de tudo pra acabar
com essa sua autoconfiança. Bom moço... Bom
moço um caralho. — Eduardo deu um chute em
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uma das cadeiras e saiu da cozinha. Pegou a


camisa, as chaves que ainda estava sobre o sofá e
bateu a porta do apartamento com toda sua força.
***
Sergio se aproximou do lugar estratégico, que
por sinal, era atrás de um dos quadros da parede do
hall de entrada do apartamento de Eduardo, pegou a
chave reserva — que ele mesmo tinha feito — e
abriu a porta.
Foi recebido por lambidas de Thor, que
choramingou em uma chantagem, por receber
apenas um cafuné.
— Desculpa amigão, estou com fome e meu
destino agora é a cozinha.
Sergio foi diretamente para a geladeira e não se
agradou da quantidade de comida congelada. Não
tendo muita escolha, lutou com uma caixa de
lasanha congelada até conseguir com sucesso não
perfurar o fundo do congelador.
— O Edu precisa trocar essa porra. —
Reclamou ao fechar a geladeira.
Ele colocou a lasanha no micro-ondas e em
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quinze minutos já estava saboreando o prato. Thor


tinha ganhado sua porção.
Eduardo entrou na cozinha com uma arma na
mão e Sergio deu um pulo da cadeira onde estava.
Uma das mãos pressionou o coração.
— Qualquer dia desses eu ainda te mato por
arrombar minha casa. — Jogou a arma de forma
desleixada sobre o balcão da cozinha.
— Não arrombei, peguei a reserva. — Sergio
respirou pesado.
— O que quer aqui, em pleno domingo?
— Saber como está depois da noite de ontem.
Você exagerou um pouco na bebida irmão, eu não
quero perder um amigo para a cirrose. Não
podemos esquecer que somos seres humanos.
Eduardo arrastou a lasanha de Sergio e comeu.
— Eu dormi na casa da Maria Fernanda,
ontem. Cheguei agora a pouco.
— Mas... ela caiu na sua? — Sergio jogou a
faca sobre a mesa. — Por que a Suelen é tão durona
comigo? Eu sou mais bonzinho que você, isso não

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pode ser justo.


— Não rolou nada, a não ser um aperto de
coxa. — Eduardo assoprou uma garfada de lasanha
e engoliu. — Aquela mulher colocou uma pedra no
coração. — falou de boca cheia. — Eu estava
doente, precisando de cuidados e o que recebo é um
tapa na cara.
— Bêbado amigo, você estava bêbado. Viu a
anjinha? Como anda o plano de pegá-la?
—Você é um sem coração, Sergio. Quem
roubaria uma filha de sua mãe?
— Mas o que? — Sergio desacreditou. —
Você, você roubaria! Que conversa é essa agora?
— Você será um péssimo pai, Sergio. —
Eduardo continuou ingerindo o alimento.
— Eu seria um bom pai, se eu fosse um pai.
Você não pode jogar isso na minha cara. É praga,
cara. — Sergio se ofendeu. — Estou querendo
entrar nessa onda. Quero um moleque correndo no
apartamento, jogando bola, lutando... Assim que a
Suelen me aceitar de volta vou engravidá-la.
— A Suelen não vai te querer. — Eduardo
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esclareceu.
— Eu posso dar um golpe da barriga. — O
olhar de Sergio parecia planejar algo. Eduardo
gargalhou. — Não vou perder tempo. Na primeira
oportunidade vou fazer um filho nela. Quem sabe o
bebê nos aproxime. Vou ser pai, cara. — Sergio
sorriu empolgado.
— Tá certo, pai... — Eduardo ingeriu outro
bocado da lasanha. — Eu vou acabar com o
sorrisinho daquele joalheiro, destruidor de famílias.
Odeio aquele cara e me odeio mais ainda por não
ter acabado com ele quando ainda era um
adolescente. Se eu soubesse o tamanho do
problema que me daria, teria dado um fim nele
antes.
— E como pretende fazer isso?
— Ainda não sei de uma maneira melhor, sem
usar meu brinquedinho ali. — Olhou para a arma
sobre o balcão. — Mas eu vou pensar em algo.
***
Quase uma semana passou, as investigações na
Moedeiros Engenharia estavam avançadas, mas
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Eduardo estava com certa dificuldade nos livros


contábeis e por não confiar em mais ninguém,
apenas Irene e Sergio estavam envolvidos na
investigação.
Na hora do almoço, ele seguiu para o
shopping, pois há uma semana não via a filha e a
saudade castigava seu peito. Não precisou chegar à
porta da loja, pois avistou Thiago com Dudinha no
colo e segurando a mão de Maria Fernanda.
Realmente parecia uma família feliz. Ele saiu dali
com fúria nos olhos, orgulho aguçado e a mente
arquitetando planos para dar um basta na situação.
Ele chegou em casa desanimado e encontrou
sua diarista de confiança preparando alimentos na
cozinha. A mulher visitava a casa dele três vezes
por semana para deixar tudo em ordem.
— Boa Tarde, Sônia. — Ele buscou água na
geladeira.
— Sr. Edu, por que não está se alimentando
direito? Deixei comida pronta na quarta e ainda não
foi tocada.
— Estou muito ocupado, Sônia. Surgiram
muitos problemas e não tenho tempo para comer
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em casa. Mas deixa aí, o Sergio vai passar mais


tarde. Ele dá um fim em tudo.
— Desse jeito o Senhor não vai aguentar. Eu
sei que é um homem muito ocupado, mas se não se
alimentar, vai acabar definhando. — Sônia tratava
Eduardo como patrão, mas o cuidado, às vezes,
parecia fraterno.
— Se fosse só trabalho, Sônia, mas surgiram
problemas de todos os lados.
— Eu também estou cheia de problemas, mas
não deixo de me alimentar. Isso nunca.
Eduardo olhou a mulher rechonchuda e não
teve dúvidas de que ela falava a verdade.
— Você já casou, Sônia? — perguntou por
curiosidade.
— Que nada, senhor Edu, ainda estou
esperando o divórcio do meu noivo sair. Ele se
casou quando era jovem, não deu certo e se
separaram. Agora a bendita está dificultando o
divórcio.
— Mas porque vocês não vão morar juntos?
Quem hoje em dia liga para casamento? Isso é só
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um papel, nada mais que isso. — Eduardo tentou


mostrar interesse na conversa. Não custava nada se
esforçar para dar atenção à mulher, que cuidava de
sua alimentação com tanto zelo.
— É que eu frequento a igreja. Temos ideias
fundamentais e queremos seguir.
— Então, vocês que são da igreja não podem
morar juntos sem casamento? — Eduardo passou a
aplicar interesse pessoal a conversa.
— Quero casar de papel, com tudo que tenho
direito. E só posso quando meu noivo estiver
divorciado. Me sinto ilegal sabendo que ele tem
outra mulher no papel.
— Então, uma mulher que é casada e
praticamente vive com outro homem, está
cometendo uma violação no seu meio, não é isso?
— Eduardo sorriu e confundiu Sônia.
— É bom fazer tudo direito. Quero começar de
maneira correta.
— E fala com quem para denunciar essa porra?
— Eduardo estava mais animado, iria se agarrar a
qualquer ponta de esperança.
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— O Senhor vai fazer isso comigo?


— Não, claro que não. E só uma curiosidade
que surgiu aqui, Sônia. Nada que envolva você,
minha querida.
— Bem, se o líder da igreja ficar sabendo, ele
vai conversar com a pessoa.
— Só isso! Ela comete adultério e só acontece
isso?
— Cada um sabe de si, senhor Edu. Mas ele
aconselha o casal a se afastar até legitimar a
relação. Isso foi o que aconteceu comigo e meu
noivo. O líder conversou conosco e depois
conversamos eu e ele e decidimos assim. Há seis
meses só pegamos na mão um do outro e nada mais
que isso. Estamos indo muito bem. É um voto para
o divórcio desenrolar mais rápido.
Eduardo gargalhou à vontade. Sônia ficou
desconcertada.
— Que viagem do caralho. — Eduardo
gargalhou.
Sônia estava vermelha, Eduardo levantou foi
até ela, beijou sua bochecha e apertou a espaçosa
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cintura em cócegas.
— Foi um voto que fizemos... — Sônia repetiu
constrangida.
— Soninha minha linda, quando seu
casamento sair, vou pagar a melhor festa para você.
Escolha o orçamento mais caro. — Ele caminhou
na cozinha, bebeu o último gole da água do copo e
voltou a olhar para a mulher — Seis meses, Sônia?
— Sim senhor, seis meses. — Sônia chegou a
tocar suas bochechas para sentir o calor que
certamente fumegava em seu rosto.
— Esse homem é um guerreiro, dê meus
parabéns a ele.
Ainda sorrindo, Eduardo balançou a cabeça de
um lado a outro e saiu do apartamento.
O destino? O salão da igreja, que viu Maria
Fernanda entrar, na noite que a seguiu.
***
Eduardo parou a sua caminhonete frente à
igreja. Ele já estava há alguns minutos, olhando na
mesma direção que semanas atrás tinha visto

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Thiago abraçado a sua família. Ele estava sedento


para dar um basta, nos planos de casamento
planejado.
A igreja estava vazia, mas foi informado por
um homem que estava reparando o jardim, que o
líder atendia em seu gabinete ao lado. Ele seguiu
para o gabinete e chamou na porta. Um senhor de
meia idade usando óculos o atendeu.
— Bom dia, eu sou Eduardo Moedeiros.
— Bom dia meu jovem, vamos entrar? — O
homem deu passagem. Eduardo entrou na sala,
observando — sem muito interesse — o interior. —
No que posso te ajudar meu filho?
— Eu quero fazer uma denúncia.
— Denúncia? Do que se trata? — O homem
mostrou à poltrona onde Eduardo deveria se sentar.
— Minha mulher tem me traído
descaradamente há muitos anos. É muito triste ver
minha mulher... a mulher que eu casei em
prevaricação com outro homem.
— Sim, isso é muito triste. Suponho que você
veio em busca de conselhos?
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— Claro que não! Eu quero que você acabe


com essa palhaçada! — Eduardo elevou o tom de
voz.
— Meu jovem! — o velho repreendeu o tom
de voz de Eduardo.
— Desculpa senhor, eu estou muito abalado
com essa situação. Não é nada fácil viver sendo
corno.
— Eu vou me lembrar de você nas minhas
preces. Se sua mulher fosse uma entre os meus eu
ofereceria conselhos, quem sabe um encontro de
casal...
— E se eu disser que aquela safada...
— Meu jovem! Cuidado com suas palavras. —
O homem o repreendeu.
— Se eu disser que ela faz parte dessa igreja
aqui e o infeliz também. Você resolve?
— Sua esposa faz parte dessa congregação? —
O velho pareceu ter certa urgência, pois ainda não
conhecia o relato dentre os seus.
— E o cafajeste também. Já mantém esse caso

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há anos.
O líder da igreja levantou de sua poltrona e
andou pensativo pelo gabinete. Eduardo observou
cada passo que o velho dava no interior da sala.
— Qual o nome da sua esposa? — A pergunta
saiu quando Eduardo limpou a garganta e olhou
para o seu rolex propositalmente para apressar o
homem.
— Maria Fernanda Moedeiros, o nome do
sujeito é Thiago Fernandes Gao Lin. Ele é dono da
joalheria Império. Para melhorar sua mente, ele
deve ser um desses que dá o dízimo bem gordo.
— Nunca construa um conceito estabelecido
em algo, sem ter o total entendimento, Eduardo. A
contribuição é um mandamento. Posso te explicar
quais as finalidades.
— E pelo visto, esse ele cumpre, agora o não
cobiçarás a mulher do próximo está sendo deixado
de lado. — Eduardo olhou outra vez para o relógio.
— Pelo que vejo, você aprendeu alguma coisa
das escrituras.
— É sempre bom aprender a parte que nos
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interessa! — Eduardo alargou a gravata no


pescoço. — Existe uma ordem de importância
desses mandamentos quando é relacionado ao
dinheiro? O Dízimo é mais importante que os
outros ensinamentos?
O homem observou a inquietação de Eduardo
olhando o relógio. Em sua testa já tinha acentuado
as três linhas de expressão, denunciando que
tentava compreender os verdadeiros motivos para o
jovem estar ali.
— Você tem tempo para ir a um lugar
Eduardo? — O homem perguntou
— Não. Tempo é uma coisa escassa em minha
vida. — Eduardo esclareceu.
— Mas eu insisto. Venha comigo a um lugar.
— O velho pegou os óculos e seguiu até a porta. —
Está de carro?
— Estou. Mas não tenho tempo. Só quero
saber se vai separá-los.
— Venha. — O homem abriu a porta. —
Vamos conversando no caminho.
Eduardo suspirou pesado e levantou.
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***
Eduardo esperou que seu novo aliado contasse
seus planos de separação do casal durante a viagem
de carro, mas durante o percurso que durou uma
hora, o velho só falou sobre o clima e infância.
— É aqui mesmo? — Eduardo perguntou
quando sua caminhonete entrou em uma vila,
próximo a uma encosta. — Não sei se é seguro
colocar minha caminhonete importada aí dentro.
— Fique tranquilo. Pode estacionar aqui.
Eduardo olhou para os homens que estavam
sentados em bancos improvisados.
— Não se preocupe, são pessoas de bem.
Vamos descer. — O velho abriu a porta e saiu.
Eduardo abriu o compartimento secreto do
carro, pegou uma pistola e colocou na parte de trás
do cós da calça. Ele desceu do carro e ativou o
alarme, fez isso encarando os moradores.
O velho pegou na mão dos homens e depois
voltou para onde Eduardo estava esperando.
— Há trinta dias, essa comunidade sofreu uma

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enchente de água e lama. A tempestade foi


devastadora e vitimou cinco pessoas, três delas,
crianças. As famílias perderam tudo o que tinham
conseguido. O governo do estado ficou de ajudá-
los, a administração do município também, mas até
o momento nenhum sinal. Minha equipe os ajudava
mensalmente com cestas básicas, trezentas todo
mês. Hoje a Vila da paz precisa não só alimento,
ela precisa ser reconstruída.
— Não adianta reconstruir sem planejar um
sistema de infraestrutura e controle da água da
chuva no solo da encosta. — Eduardo olhou para o
relevo não muito distante. — A drenagem pode
captar a água da chuva antes mesmo de invadir o
solo. Mas esse terreno é instável, o ideal seria
deslocar os moradores para outro local.
— Eles não têm para onde ir. — O assimilou a
precisão das palavras do homem à sua frente.
— Um sistema de drenagem como esse é caro,
certamente está fora do orçamento público. —
Eduardo ironizou.
— Sou aposentado há muitos anos pelo Estado
e a metade vai para essas famílias. Usamos as
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contribuições dos membros para comprar os


materiais de construção. Fazemos campanha e
acabamos de receber uma quantia considerada, dá
para começar a levantar a estrutura das cento e
sessenta casas, mas não sei o que pode acontecer se
outra devassidão de lama os atingir.
— Não adianta construir uma casa sobre
terreno solúvel, pois a qualquer momento ela
desaba. — Eduardo usou mais uma vez o raciocínio
que acentuou sua experiência profissional, mas suas
palavras expressaram algo a mais em seu interior.
O velho observou o semblante dele mudar e
chegou a ver os olhos brilharem com vestígios de
lágrimas.
— Você trabalha com engenharia? — O
homem tinha ideia do que estava acontecendo e
queria deixá-lo à vontade, por isso desviou a
conversa.
Eduardo olhou para o lado e apertou os olhos
se recuperando.
— Sou engenheiro. Tenho uma empresa de
engenharia, Moedeiros Engenharia.

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— Você é o dono da empresa líder em


engenharia do país? — O homem continuou
analisando Eduardo. — Estive lá há uns quinze
dias, mas não consegui um horário.
— Não estou recebendo ninguém. Surgiram
muitos problemas e certamente serei o mais
fracassado engenheiro do país em alguns meses...
ou antes disso. — Falou passivo. — Olha... Estou
com pressa, o senhor vai ficar ou vai querer uma
carona?
— Eu conheço o casal em questão. — Eduardo
olhou para o velho. — O Thiago é muito amigo do
meu neto. Então, aquela moça que chegou de fora
do país é sua mulher?
— Sim, ela mesma. E aquela criança loirinha é
minha filha. Ela engravidou e foi embora,
carregando minha filha.
— Por que uma esposa fugiria do próprio
marido com um filho no ventre? — Seguiu
analisando a reação de Eduardo.
— Ela era muito arisca e menina.
— Eu quero a verdade. — O velho mostrou
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firmeza e Eduardo se sentiu coagido.


— Ela exigia o que eu não podia dar. —
Eduardo soprou o ar pela boca.
— O quê, precisamente, ela exigia? — O velho
continuou com a mesma firmeza.
— Amor. — Eduardo respondeu constrangido.
— Então, sua esposa queria amor e você não
podia dar?
— Olha... eu não faço parte da sua igreja e o
senhor não pode me julgar dessa maneira! —
Eduardo virou de costas e esfregou os cabelos,
nervoso.
— Não estou aqui para julgar ninguém, apenas
ofereço orientação.
— O senhor vai dar um jeito nisso ou não vai?
— Eduardo perguntou alterado.
— Eu vou chamar os dois para uma conversa.
Ainda não tinha conhecimento desse fato. Com
orientação, vou cuidar disso.
— Mas vai fazer a separação dos dois?

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— Você quer sua mulher de volta? — aquela


pergunta acabou pegando Eduardo desprevenido.
— Aquela mulher tem poder sobre mim. Eu
tenho certeza que é obra de feitiçaria. — Eduardo
arrancou a gravata do pescoço e abriu um botão da
camisa. — Fico louco perto dela, desde quando era
uma pirralha e só tinha olho e cabelo.
— Então, sua mulher fez encantamento para
prender o próprio marido e fugiu em seguida? — O
sábio continuou analisando Eduardo e percebeu-o
nervoso.
— Ela não queria viver da minha maneira. —
Eduardo passou a se arrepender de ter ido procurar
aquele homem. Aquela conversa estava fugindo do
seu controle e ele odiava o fato daquilo acontecer.
— E hoje, o que aconteceu? Por que está aqui
querendo sua mulher de volta?
— Porque a desejo, da porra do meu coração
até a cabeça do meu pau.
— Acalme-se! Vamos ter cuidado com suas
palavras... — O homem visualizou as mulheres que
olhavam na direção de Eduardo. — Então você ama
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sua mulher, por isso quer restituir seu casamento.


— Ela é minha, fui tolo quando deixei que ela
fosse. Agora quero de volta o que me pertence.
O velho poderia dar uma lição em Eduardo
acerca de sentimentos de posse, mas preferiu seguir
por outro caminho, um caminho mais sábio.
— Eu perguntei se você a ama.
— Não me faça esse tipo de pergunta.
— Você ama sua mulher? — O velho
aumentou o tom de voz
— SIM! — Eduardo gritou. — AMO
AQUELA SAFADA! QUANDO CHEGO PERTO
DELA, MEU CORAÇÃO FICA DISPARADO E
A SAUDADE QUEIMA AQUI DENTRO DO
PEITO. FICO COM UMA VONTADE LOUCA
DE ABRAÇÁ-LA. QUERO TOMA-LA COM
FOME, ESTOU COM SAUDADE, QUERO
FAZER TUDO! AQUELA ORDINÁRIA ME FAZ
DE FANTOCHE SEM SABER DO PRÓPRIO
PODER! — Ele gritou e todos os moradores que
estavam ao redor, ouviram aquela declaração.
— E porque permitiu tudo isso? Por que
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permitiu que seu casamento virasse um fracasso,


meu filho?
— Nosso casamento começou todo errado, e se
ela ficasse, sofreria. Sou um puto sem coração, mas
deixei-a ir, pois me doeria vê-la sofrer. Mas agora
tem minha filha. Posso tentar mudar. Se eu fiz algo
de bom na vida eu consigo fazer mais.
— Você tem noção de quantos casos do tipo eu
já auxiliei, Eduardo?
— Pelo jeito tem muita mulher safada na
igreja. — Ele respondeu com o pensamento longe.
— A maioria dos casos que auxiliei nos
encontros de casais, foram mulheres. Você precisa
se acalmar, procurar a mãe criança e resolver sua
posição de pai. Vamos até a casa de uns amigos,
tomar um café. — O velho convidou. — Você
precisa de mudança de atitude, meu jovem.
— Eu preciso ir agora. Sou um homem muito
ocupado e tenho muitos problemas para resolver.
Vai querer uma carona ou não?
— Vou ficar mais um pouco.
— Ótimo, assim me poupa tempo. Vou fazer
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muita coisa hoje, para amanhã conseguir ver minha


menina.
— Vai precisar mudar seu comportamento se a
intenção for conquistá-la. Somos feitos de muitos
erros e poucos acertos, mas o primeiro passo, para
mudança vem de dentro.
— Espero muito que nossa conversa resulte em
alguma solução amigável para esse caso. —
Eduardo entrou no carro e saiu em alta velocidade.

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Thiago entrou na cobertura da namorada com


Dudinha sonolenta em seu colo. Os três estavam
chegando de uma das reuniões da igreja.
Maria Fernanda contou toda a história para o
líder e deixou bem claro que não voltaria para
Eduardo. O velhinho sábio, ofereceu seus
conselhos e orientou que o casal oficializasse o
romance depois do divórcio, mas mantivessem um
relacionamento ponderado até o casamento.
— Vou colocá-la na cama e já volto. — Thiago
não estava satisfeito com os últimos
acontecimentos.
Ele entrou no quarto da pequena, a colocou
sobre a cama, tirou as sapatilhas e enrolou-a com o
grosso cobertor. Depois de um beijo nos cabelos
loirinhos, aproximou os ursos dos bracinhos e saiu
do quarto.

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Dudinha abriu os olhos assim que Thiago


encostou a porta. Ela ainda não sabia o que estava
acontecendo, mas tinha pegado pontas de conversas
dentro do carro e seguia curiosa.
Maria Fernanda já tinha chorado, pois teve
raiva da situação. Planejou dar um ultimato em
Eduardo quando o dia amanhecesse.
— Já estou indo. — Thiago parou frente à
namorada que estava no sofá da sala.
— Você está engasgado, Thiago. Vamos
conversar, eu também estou. Eduardo não tinha o
direito de expor nossa vida.
— Eu não quero aquele sujeito perto de você e
da minha filha. Ele é uma má influência na criação
da Dudinha. Hoje ele foi tentar nos jogar contra o
líder da igreja, mas eu já soube de coisas bem
pesadas partindo dele. Não quero, Fernanda. Não o
quero aqui, colocando a vida de vocês em risco.
— Dudinha já se apegou. Com ela ele age
diferente ou pelo menos demostra. Eu não queria a
aproximação dos dois, mas não posso impedir.
— Você pode proibir, Fernanda. A Dudinha é
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pequena e da mesma maneira que ela se apegou em


dois ou três encontros, pode esquecer. Criança não
sabe decifrar o certo do errado e aquele cara
carrega uma bagagem de inimigos, por isso temo
pela vida de minha filha.
— Ela não é uma criança comum, Thiago. Ela
sente e sofre. Você sabe que apesar das limitações
físicas, ela tem uma grande inteligência e
perspicácia. Minha filha já está sofrendo. Aquele
irresponsável não aparece há uma semana e todo
santo dia ela pergunta por ele. Ela já o ama. Ele não
vale nada, mas eles têm uma ligação. Eu não vou
conseguir ver minha filha sofrer por conta disso.
Dudinha estava na divisa da porta, agarrada ao
urso presenteado por Eduardo. Os olhos estavam
tristes. Os conflitos recentes estavam bagunçando
sua mente.
— Um pai que não está se importando com ela.
Que vive metido em confusão e pancadarias. Que
carrega um mau exemplo... Alguns meses atrás
tentaram matá-lo. Eu não quero imaginar minha
filha estar com ele em um momento como esse. Ele
tem muitos inimigos, porque ele faz inimigo por
onde passa. — Thiago caminhou frente à
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namorada, estava nervoso. — Eu não vou deixar


minha filha correndo risco de vida ao lado daquele
sujeito asqueroso. Amo-a como parte de mim e me
sinto no direito de querer vê-la segura.
— Tentaram matar o Eduardo? — Maria
Fernanda perguntou.
Dudinha colocou a mão sobre o coração e
apertou o urso de pelúcia em um abraço.
— Sim. Você entende minha preocupação?
Mas não vamos brigar. Foi isso o que ele planejou.
— Thiago ajoelhou frente à namorada. — Vamos
amanhã, escolher seu carro, de preferência
blindado. Não posso te buscar e levar nos lugares
quando precisa e não me agrada a ideia de táxis
desconhecidos.
— Ainda não consigo dirigir, mas vou procurar
um motorista. A Suelen ficou de providenciar o
dela essa semana.
Maria Fernanda tinha capotado o carro quatro
meses antes, e mesmo tendo poucas escoriações,
ela não tinha superado o impacto do trauma.
— Vou cuidar disso pra você. — Thiago
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beijou os lábios dela. Ela estava com o olhar


distante, absorvendo a informação.
Dudinha voltou para o quarto, estava triste e
preocupada.
***
— Está melhor agora? — Suelen juntou-se a
Maria Fernanda e Dudinha na mesa do café da
manhã.
— Como eu poderia estar? Aquele homem já
extrapolou todos os limites.
— O Dudu, maman? — Dudinha estava
lutando contra a salada de fruta.
— Coma tudo, meu amor. — Nanda tentou
despistar a conversa.
— O Dudu te fez chorar? — Ela insistiu. —
Você chorou ontem no carro do papa.
— Dudinha, você está mudando de assunto
para não comer. — Suelen colocou suco no copo da
sobrinha. — Beba seu suco, princesinha.
— O Dudu vem me ver hoje? — A menina
insistiu em falar do pai.
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— Eu que vou vê-lo, daqui a pouco. — A mãe


respondeu largando a colher ao lado do recipiente
vazio.
— O Dudu? Eu também posso ir? — Dudinha
deu dois pulinhos na cadeira denunciando sua
alegria.
— Você vai vê-lo, Nanda? — Suelen
perguntou surpresa.
— Vou e você vai pra escola, Dudinha. A
maman tem uma conversa de gente grande para
tratar com seu pai.
— Eu só queria levar o Rudolf para visitar o
Dudu. — A menina fez um biquinho dengoso. — O
Rudolf está com tanta saudade dele. — Dudinha
falou com os olhos tristes.
— Fala para o Rudolf comer a salada de frutas
todinha. — A mãe procurou os olhos da filha, mas
a pequena abaixou o rosto. — Dudinha... O que foi,
filha?
— Nada não. — A menina permaneceu de
olhos baixos. — Acho que estou crescendo e
ficando com dores no coração.
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Maria Fernanda olhou assustada para Suelen.


— Eu vou trazer um presente pra você minha
petit! — Suelen enfatizou a empolgação. — Vou
passar no shopping e comprar outro urso para sua
coleção.
— Seria bom se os corações dos adultos
também curassem com presentes. Assim eu daria a
metade dos meus ursos para curar o Dudu. — Ela
desceu da cadeira e permaneceu com os olhos
baixos. — Vou escovar meus dentes.
— Meu amorzinho... — Maria Fernanda
abraçou a filha. — Maman jamais permitiria ver
você sofrendo. Se você não estiver bem, meu
coração também dói. — A mãe beijou os cabelos
da menina e deixou uma lágrima cair.
— Se o Dudu for bonzinho com você, fala para
ele que o Rudolf está com saudade. E se ele tiver
um tempo sobrando, pede para passar aqui. —
Maria Fernanda viu uma lágrima descendo dos
olhos da menina e a abraçou. — Ando tão
preocupada com o Dudu. Ele não está bem. Meu
coração é pequeno, mas eu sinto.
Maria Fernanda olhou novamente para Suelen,
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as duas estavam com lágrimas nos olhos.


— A Maman vai dar um jeito nisso, petit. Não
fique triste. — Maria Fernanda beijou os olhinhos
graúdos. — Vai escovar seus dentes, não quero que
se atrase para escola.
Dudinha seguiu para o quarto com os olhos
baixos.
— Se apresse, Suelen. Você vai comigo.
***
As duas amigas desceram do táxi frente ao
prédio da Moedeiros engenharia. Maria Fernanda
sentiu seu coração apertar ao lembrar que tinha sido
trocada por aquela empresa. Tudo que Eduardo
tinha idealizado estava ali. Lembrou-se de quando
o viu na inauguração frente a fotógrafos, ele estava
feliz, realizado e abraçando a outra mulher.
— Ele conseguiu. — Ela mirou os cinco
andares do prédio, que era de uma arquitetura
inovadora.
Entraram pela luxuosa recepção e estavam
fatalmente lindas e seguras.

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— Bom dia. Por favor, me conceda dois


crachás de acesso para visitantes. — Maria
Fernanda solicitou.
As atendentes, que estavam alinhadas em
terninhos impecáveis, analisaram as mulheres com
atenção.
— Bom dia. Marcaram hora? — Uma delas
tomou a iniciativa de perguntar.
— Preciso falar com o presidente da empresa.
Sou Maria Fernanda Moedeiros.
Uma das jovens que teclava um texto qualquer
no Word acabou se engasgando com a própria
saliva.
— A rádio corredor aqui é forte, não é danada?
— Suelen pegou um catálogo sobre o balcão e
passou a ventilar a mulher.
— Podemos subir agora? — Maria Fernanda
tinha pressa.
— Me desculpe senhoras, mas o presidente
está em uma reunião e não autorizou a visita de
ninguém. — A mulher parou depois de receber uma
olhada naturalmente desafiadora de Maria Fernanda
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— Mas podem subir. — A atendente saiu de onde


estava e passou à frente das duas. — É por aqui. A
sala de reuniões fica no quinto andar, as meninas
levarão vocês até lá, vou fazer uma ligação para
elas.
— Obrigada. — Maria Fernanda entrou no
elevador e Suelen ao lado.
No último andar, elas encontraram um grupo
de secretárias executivas, que aproveitavam às
reuniões para colocar os assuntos paralelos ao
trabalho em dia.
— Bom dia. Onde fica a sala de reuniões?
Quero falar com o presidente. — Maria Fernanda
pronunciou.
As mulheres consertaram seus terninhos e
assumiram postura ereta.
— Já estão com a liberação? — perguntou
Irene, à secretária de Eduardo.
Suelen mudou sua bolsa de lado demonstrando
total falta de paciência.
— Acredito que não preciso de liberação para
entrar em minha própria empresa, estou certa?
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Irene ajeitou os óculos e encarou Maria


Fernanda com precisão. Já a tinha visto no
shopping, em uma das reuniões com Eduardo e
Sergio.
— Desculpe senhora, é logo ali à frente.
Vamos. — Irene deu uma curta olhada para as
colegas e então seguiu a frente para indicar o
caminho.
— Mulher estranha. — Suelen sussurrou ao
ouvido de amiga.
— Essa é a sala. Vou anunciar vocês. — Irene
colocou a mão na maçaneta de aço.
— Eu assumo daqui. — A patroa a impediu
com a mão sobre a dela e deu um sorriso simpático.
— Claro. Com licença. — Irene se apressou
em se distanciar da sala.
— ISSO É INADMISSÍVEL! ESTOU
LIDANDO COM CRIANÇAS IMATURAS! — Os
gritos de Eduardo eram ouvidos do lado de fora.
Maria Fernanda levantou a mão e deu sinal
para Suelen continuar onde estava.

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— SERÁ QUE VAI SER PRECISO EU


DEMITIR TODOS E FAZER O SERVIÇO DE
CADA UM DE VOCÊS? — O som das pancadas
na mesa estrondava no lado de fora. —
PERDEMOS TRÊS. DESSA VEZ FORAM TRÊS
CLIENTES. MEU PROJETO DE VIDA ESTÁ
SENDO ARRUÍNADO PORQUE EU RECRUTEI
INCOMPETENTES! VOU PASSAR OUTRO
PENTE FINO NOS DEPARTAMENTOS, DESSA
VEZ NÃO VOU POUPAR NINGUÉM! NÃO
VENHAM CHORAR...
Eduardo se calou quando viu as duas entrando
na sala.
A mesa de reuniões acomodava dezoito
pessoas e alguns lugares estavam vazios. Elas se
sentaram na lateral e Maria Fernanda sorriu
educadamente para os homens da mesa.
— Bem, então... Vamos trabalhar corretamente
pessoal. — Eduardo falou manso. — Não quero
mais ouvir queixas de vocês. Estamos indo muito
bem, continuem assim. Vamos ainda mais longe.
— Olhou para Maria Fernanda. — Agora podem ir,
a reunião está encerrada.

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— Pode continuar. Não se prenda por minha


presença. — Maria Fernanda falou olhando
diretamente para ele.
Sergio colocou a mão sobre a mesa e escondeu
o rosto entre os dedos, se recusando a olhar para a
feição do amigo.
— Amanhã no mesmo horário, pessoal. —
Eduardo arrumou uma papelada que estava sobre a
mesa, mas ele nem sabia do que se tratavam os
papéis — Vão, podem ir. — Continuou arrumando
a mesa.
— Gato... — Viviane passou as mãos sobre os
ombros de Eduardo, mas ele a empurrou e
disfarçou a postura. Viviane se chocou com uma
planta e quase caiu de sobre o salto.
— A reunião acabou, Viviane. Pode voltar
para o seu setor. — Ele limpou a garganta e
continuou mexendo na papelada.
— Você precisa se acalmar, depois de uma
reunião estressante como essa. — A voz da loira
era infantilizada, típica de uma de mulher velha e
mimada.

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— Saia! — Maria Fernanda mandou.


— É o que? — Viviane tentou desafiá-la.
— Saia logo antes que eu te mostre o caminho
por aquela janela. — Suelen a ameaçou.
— Quem você pensa que é, empregadinha?
Estar com um Louis Vuitton não quer dizer que
deixou o cheiro de pano de chão! Você é a mesma
sem graça e aposto que já abortou muitas vezes
durante esses anos.
— Viviane! — Sergio saiu de onde estava e
apertou a mão no braço da mulher. Ele nunca tinha
agido daquela maneira contra a colega de trabalho.
Viviane se assustou com o impacto. — Melhor
pedir desculpas a Suelen.
— O que é isso? Quem te deu o direito de
tocar em mim dessa maneira? Agora vai defender a
empregadinha que engravidou de outro quando
estava com você?!
Sergio olhou para Suelen e viu a tristeza nos
olhos verdes. Mas o estado de espírito só durou
alguns segundos, pois Suelen soube camuflar.
— Não precisamos mais de seus serviços, você
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está desligada da Moedeiros engenharia. Pegue


suas coisas e saia. — Maria Fernanda ordenou.
— Eduardo! — Viviane olhou para o chefe.
Eduardo estava com os lábios abertos e os
olhos sobre a mulher loira de pernas cruzadas e
nariz naturalmente elevado. Ele contornava o rosto
de Maria Fernanda, anelando tocar na pele macia e
bem cuidada. Sentiu uma queimação no peito. Ele
queria aquela mulher. Desejava senti-la dentro dos
seus braços outra vez.
— Eduardo, faça alguma coisa! — Viviane
gritou exigente. — Ela está me humilhando!
— Não se esqueça de... passar no RH. — Ele
falou, mas os olhos estavam sobre Maria Fernanda.
— O que? — Viviane soltou um grito agudo.
— Vejo que seu cabelo cresceu três
centímetros. — Suelen se aproximou de Viviane.
— Agora está mais fácil para fazer isso. — A
morena enfiou os dedos dentro dos cabelos de
Viviane e a arrastou em direção à porta. — Vamos
ali fora resolver umas questões.
— Eduardo! Você está vendo isso? — Viviane
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gritou com o corpo curvado — Eduardo!


Sergio acompanhou Suelen sem interrompê-la.
Antes de deixar a sala, deu uma curta olhada para o
amigo e fechou a porta.
— Acabou de demitir minha gerente
administrativa, deveríamos ter conversado sobre
essa decisão antes. Eu não poderia imaginar que te
encontraria aqui. — O homem estava sorridente. —
Aceita um café, uma água? Ou quem sabe um... —
Ele sorriu, mas não terminou de falar, pois foi
empurrado sobre a mesa por uma Maria Fernanda
enfurecida.

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— Saia definitivamente da minha vida ou eu


vou tomar tudo o que é seu! — Ela apontou o dedo
diretamente no rosto dele e sentiu o corpo tremer de
raiva.
— O que é isso? — Eduardo sorriu sem
nenhum humor.
— Onde você encontrou moral para me acusar
de adultério, denegrir a minha imagem e bagunçar
o relacionamento que me cobre de amor? —
Eduardo odiou mais as palavras que o fato de estar
sendo encolhido pela autoridade dela.
— Somos casados, Maria Fernanda... — ele
tentou se explicar, mas recebeu um tapa forte no
rosto. — Agora pegou gosto por isso! Nunca mais
repita...— Recebeu outro.
— O que você quer? — Ela o estapeou. — O
que pretende fazer? Fala! Seu egocêntrico,
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destruidor! — Maria Fernanda continuou o


atacando. — Acabou com meu equilíbrio
emocional no passado e agora quer acabar com
minha felicidade? — Eduardo segurou os dois
braços dela. Ele ainda estava encurralado na mesa.
— O que vai fazer, temido senhor Eduardo, me
espancar? — As palavras dela saíram em um misto
de ironia, raiva e embargo.
— Estou pensando seriamente nisso, agora
mesmo. — Ele falou hipnotizado pelos olhos azuis
à sua frente, apesar do rosto estar ardendo.
— Não tenho medo de você! — Ela o acertou
no meio das pernas e se afastou, sentindo os braços
queimarem pelo aperto das mãos dele.
— O que está acontecendo com você? — Ele
se curvou em busca de alívio para a dor que atingiu
suas partes íntimas. — Eu jamais levantaria a mão
pra você.
— Se recupere. Ainda não dei o recado. — Ela
ajeitou os cabelos e jogou para trás.
— Apenas fui fazer um alerta àquele homem.
Ele não poderia ficar sendo enganado. Você só
pode se relacionar com outro homem depois de
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estar divorciada, e casada com ele? — Maria


Fernanda já estava em certa distância da mesa e
apenas o olhou enfurecida. — Eu não vou permitir
essa palhaçada, Maria Fernanda. — Ele puxou uma
cadeira e sentou. — Preciso de um médico, você
machucou quem mais te ama. Não venha reclamar
no futuro se meu pau estiver torto.
— Continua o mesmo boca suja. Suponho que
planeja investir contra minha felicidade por
capricho? Você não vai conseguir tirar minha paz!
Nunca planejei vingança contra você, pois viver as
alegrias do meu futuro não tem preço. Mas eu
quero que grave minhas palavras: se você se meter
no meu relacionamento outra vez, não vou medir
esforços e mexer no que você mais ama. E começo
te demitindo da minha empresa.
— Você está nervosa, mulher. Vamos até
minha sala. — Já se recuperando, ele tocou a testa
verificando o suor herdado pelos segundos de dor.
— Então, está separada do Taiwanês? — Ainda
evidenciava uma careta de sofrimento.
— Asqueroso, odioso, sujo! — Ela voltou a
atacá-lo. — Esse é o seu plano, mas você não vai
conseguir destruir a minha felicidade. — A voz
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dela tremeu. — Vou pedir o litigioso. — Ela se


afastou e pegou a bolsa.
— Maria Fernanda... — Eduardo afrouxou o
nó da gravata e levantou. — Não brinque com isso.
Ninguém vai tocar em minha empresa. Vou te
devolver o dinheiro do investimento. Há muito
tempo deixei esses milhões separados. Mas não
cogite a possibilidade de tirar isso aqui de mim.
Construí tudo sozinho. Sacrifiquei uma parte de
mim por esse empreendimento. Não quero travar
uma briga, mas não pense em tocar na minha
empresa, pois serão dois pesos e duas medidas.
— Você está ameaçando pegar minha filha?
Depois de tudo o que eu passei sozinha? — Maria
Fernanda sentiu um nó amargurado arranhar sua
garganta. — Você não poderia nem pensar na
possibilidade. Dudinha não é um objeto para você
me atingir. Ela é muito fácil de se apegar, já está
iludida com você. Toda essa proteção que eu tenho
é para resguardá-la disso aí, do seu egoísmo. Você
pensa unicamente em você!
Eduardo observou a mulher um pouco
vulnerável à sua frente e sentiu mais uma vez a
agonia no peito. Ele levou a mão até lá. Aquilo era
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algo inusitado que ele só sentia quando estava ao


lado dela.
— Você teve seus motivos para esconder a
gravidez, mas toda vez que você fala que passou
tudo sozinha, sinto-me na obrigação de te lembrar
que você escolheu dessa maneira. Somos um
conjunto de erros. Muitos meus, apenas um seu,
mas essa menininha está mudando minha vida, eu
tenho certeza que ela teria esse poder antes.
Eduardo não se deu conta, mas as lágrimas
encheram seus olhos. Maria Fernanda chegou se
assustar com a cena, mas ela também se
emocionou, pois pensou nas palavras da filha.
— Você faria nós duas sofrermos. Esse é um
erro que tenho orgulho de assumir. — A voz dela
saiu engasgada. — Não sei se a Dudinha estaria
viva se eu não tivesse tomado a decisão de tê-la
longe de você.
— Não fala isso, mulher.
— Eu era tão ingênua, me apeguei aos seus
momentos; aos raros momentos que me persuadia
com as sobras do que você vivia na rua. Passei a
gravidez toda deprimida, dolorida por
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complicações e sem poder sair da cama... Eu não


gosto de lembrar. — Ela tocou o lado dos
indicadores abaixo dos olhos com cuidado para não
manchar a maquiagem. — Já entreguei o recado.
Tenho certeza que por sua empresa você me
deixará em paz.
— Vou transferir o dinheiro para sua conta. —
Eduardo estava cabisbaixo, sentindo o peso das
suas atitudes do passado.
— Não se trata de dinheiro, Eduardo! Eu
nunca me importei com dinheiro. Tudo o que eu
tenho, consegui com meu trabalho. Só toquei no
que recebi da madrinha, pois precisava pagar o
tratamento da minha filha e depois meus estudos. O
que aconteceu conosco vai muito além do dinheiro
e da má ideia em aceitar fazer parte deste contrato.
— Eu sei... Eu aprontei feio com você e nunca
me arrependi disso.
— Eu sempre soube que você não seria um ser
humano capaz de arrependimento. Você faz tudo
friamente e é isso que te traz prazer.
— Agora estou arrependido.

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— Você nunca passaria sobre seu orgulho. —


Maria Fernanda continuou falando, tentando afastar
a ideia do que Eduardo tinha acabado de dizer.
— Você me ouviu? — Ele gritou — Eu não
sei... eu não sei uma maneira correta de dizer isso.
Mesmo eu esclarecendo minha situação desde o
início, não alivia o peso do desastre que eu fui para
você.
— Não gaste suas palavras persuasivas! — Ela
sustentou a bolsa e andou rápido na direção da
porta, fugindo da conversa.
— Por que faz isso comigo? — Eduardo se
colocou na frente da porta, impedindo-a de ser
aberta.
— Saia da minha frente. — Ela respirou fundo.
— Vamos conversar. — Eduardo reivindicou o
olhar dela só para ele.
— Não me olhe dessa maneira, você não tem
esse direito.
Eduardo puxou uma mecha do cabelo dela e
começou a enrolar nos dedos.

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— Já falei que não gostei desse corte?


— O que pensa que está fazendo? — Maria
Fernanda estapeou a mão do homem. — Não toque
em mim com intimidade. — Afastou-se, esperando
ele sair da porta.
— Quero você de volta. Como vamos fazer?
— Ele se aproximou dela novamente.
— Eduardo, me respeite, pois eu tenho
compromisso. — Ela tentou abrir a porta, mas foi
encurralada.
— Se não tiver outro jeito, podemos voltar na
condição de amantes. — Falou com os olhos
baixos.
— Continua me desrespeitando. — Ela se
livrou do aperto entre ele e a porta.
— Eu quero você, Maria Fernanda — Ele
seguiu atrás dela. —Por que é tão difícil de
entender isso?
— Estou prestes a me casar. Tenho uma vida
ao lado do Thiago. Se não consegue respeitar
minhas escolhas, faça isso por eu ser mãe da sua
filha.
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— Você tem uma vida, mas é comigo! A


Dudinha é a nossa vida, será que não entende isso?!
— Não grite comigo. Sei sua fama de
agressividades. Não ultrapasse meus limites ou eu
tomo minhas providências.
— Eu nunca vou te agredir, mas não me bata
outra vez. O que você faz comigo, mulher nenhuma
ousou fazer. Quando você sair, vou precisar
quebrar algumas coisas, mas nunca vou tocar
minhas mãos em você. Hoje vou ver minha filha.
Estes últimos dias só consegui sair daqui no meio
da madrugada e logo cedo tinha que voltar.
— Por ela sou capaz de tudo. Se você preferir,
eu pago as suas horas produtivas para que a visite
uma vez por semana, sob meus olhos.
— Que conversa é essa agora? — Eduardo se
ofendeu.
— Separe o desastre que tivemos da relação
com sua filha. Passe por cima de seu orgulho e vá
vê-la. Estou passando sobre o meu ao te pedir isso.
— Já fiz isso hoje, mas você não me deu
ouvidos. Se eu te quero é porque eu sinto meu
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coração acelerar toda vez que estou perto de você.


Não é fácil dizer isso. Errei muito com você e vou
demorar um tempo até eu parar, pois não sou capaz
de mudar da água para o vinho, mas eu quero tentar
e peço sua ajuda.
— O que o medo de perder a empresa não te
obriga a fazer, hein? Aquela adolescente que você
iludia não existe mais. Hoje sou forte para lutar
contra suas falsas investidas.
— Forte, linda, irresistível, gostosa, o mesmo
nariz empinado e um pouco mais de volume em
partes tentadoras... — Eduardo completou,
analisando a mulher em todos os centímetros do
corpo. — Você está me deixando ainda mais doido,
mulher.
— Você nunca deixou de ser um descarado,
pervertido.
— Sim! Sempre fui, mas agora quero ter isso
só com você. — Eduardo pegou a mulher pela
cintura e a puxou para mais perto — Vamos sair
daqui. — sussurrou em seu ouvido. Ele era
experiente o suficiente para ter noção da reação que
o corpo dela teve.
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— Me larga!
— Estou a mais de uma semana sem sexo.
— Não quero saber da sua vida pessoal. — Ela
tentou se soltar, mas Eduardo não permitiu.
— Estou mudando. Bati meu recorde de três
dias. — Ele falou orgulhoso. Não perdeu tempo e
arriscou um beijo, próximo à orelha dela. — Estou
com uma abstinência do caralho, mas prometo ir
devagar como da primeira vez. — Ele entrelaçou os
dedos por baixo do cabelo de Maria Fernanda. —
Você está mais madura para aguentar meu
porradão.
Ela o empurrou.
— Nunca. Mais. Faça. Isso. Novamente. —
Maria Fernanda falou pausadamente tentando
recuperar o fôlego.
— Eu quero você, Maria Fernanda, e já estou
ficando louco.
— Pois mande trazer uma camisa de força! —
Maria Fernanda puxou a porta e saiu da sala.
— Eu vou te reconquistar, ferinha... Vou fazer

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você esquecer de todo mal que eu já te fiz. — Ele


abaixou os olhos e abriu o zíper da calça para
constatar se estava tudo bem com — segundo ele
— sua preciosidade.
Maria Fernanda encontrou Suelen no corredor
discutindo com Sergio e as coisas entre eles
também não pareciam estar nada bem.
— Maria Fernanda, eu quero falar com você.
— Sergio falou, alisando um dos lados do rosto.
— Vamos, Su. — Maria Fernanda não deu
importância para o homem.
— Espera, Maria Fernanda. — Sergio correu
atrás das duas no corredor.
— O que quer agora, psicopata? — Suelen
encarou Sergio.
— Se for para pedir ajuda com a Su, saiba que
a resposta é não! Você também é outro que não
vale muita coisa. — Maria Fernanda continuou
andando.
— Não, não é nada disso. Apesar de que, se
você quiser me ajudar, eu aceito de bom grado. —
As mulheres não pararam. — Espera, é outro
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assunto. É muito importante.


— Pode falar! — Maria Fernanda parou com a
feição séria, mas por dentro curiosa.
— Vamos à minha sala. É meio sigiloso. —
Sergio se aproximou para um sussurro, mas Suelen
o ameaçou apenas com um olhar e ele se
endireitou, puxando o terno.
— Cinco minutos não vão interferir muito. —
Maria Fernanda olhou para Suelen. A mulher já
estava muito curiosa.
Dentro da sala, Sergio correu para sua mesa.
— Sentem-se as duas. — Ele ofereceu as
cadeiras e as duas mulheres se sentaram, olhando
uma para a outra, em desconfiança.
— Minha Suelen deixou escapar...
— Já falei que não sou nada sua! Quer apanhar
outra vez para recordar? — A morena de pavio
curto levantou da cadeira e se debruçou na mesa
para chegar até Sergio, mas a amiga segurou em
seu braço e a faz sentar na cadeira.
— A Suelen falou que você tem mestrado em

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Técnicas Financeiras.
— Sim, conclui na França logo após meu
bacharelado em economia.
— Uau! O Edu vai gostar em saber disso... Já
contou a ele?
— Por que eu deveria prestar um relatório da
minha vida ao Eduardo, Sergio? Fale logo o que
quer.
Sergio limpou a garganta. Ele ainda não estava
acostumado com a segurança de Maria Fernanda.
— Olha só, há pouco tempo descobrimos um
rombo no balanço patrimonial da empresa, fora os
vazamentos de informações internas para nossa
concorrente e perda dos clientes de maior peso
financeiro.
— Já descobriram alguma solução? — Maria
Fernanda se interessou, afinal, o patrimônio
também era herança de Dudinha.
— Nem eu, muito menos o Edu entendemos
sobre finanças. Ele não confia em mais ninguém,
não estamos conseguindo sair do lugar.

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— Empresários que não sabem nada de


finanças, o fim é esse, o buraco. — Suelen jogou na
cara de Sergio intencionalmente.
— Eu sou engenheiro, o Edu é engenheiro, eu
não tenho tempo para estudar outra coisa. Você não
sabe do que está falando, Suelen. Carregamos isso
aqui nas costas e nunca...
— Continua sem saber gerir finanças. —
Suelen o interrompeu.
— Você sabe o tamanho do problema que
estamos passando? — Sergio passou a se explicar.
— Sergio, não quero saber suas aptidões
profissionais ou a falta delas. — Maria Fernanda
estava com sua curiosidade a mil e ouvir uma velha
ladainha, não seria mais importante do que saciar
seu apetite pelo saber. — Quem cuida do
financeiro?
— Tínhamos um diretor financeiro que jura
não saber o que aconteceu, mas já está sendo
processado. As investigações estão em sigilo, mas
parece que o peixe podre fez o trabalho bem feito.
— E o que, precisamente, está sugerindo com
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esta conversa? — Maria Fernanda perguntou.


— Quero que nos auxilie com as investigações
internas.
— Você quer que eu organize a incompetência
dos dois?
— Não precisa usar essa palavra. Isso é muito
forte. Eu quero uma ajuda.
— Vou pegar minha empresa de volta, eu só
quero que saiba disso. — Maria Fernanda deixou
claro.
— Está enlouquecendo, Maria Fernanda? Quer
matar o Edu de vez?
— Mande o que puder para esse e-mail. — Ela
pegou uma caneta sobre a mesa e escreveu seu
endereço eletrônico. — Vou limpar a bagunça e
depois vou providenciar demissões de funcionários
incompetentes.
— Você falando assim... — O sorriso de
Sergio saiu nervoso — Faz parecer uma ameaça.
Vou mandar agora mesmo. E os livros?
— Me mande quando puder. Mas quero saber

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onde estou me metendo primeiro.

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10

Dudinha estava na escola quando avistou uma


ratazana doméstica comendo farelos de lanches no
jardim. O bicho tinha fugido da casa dos donos há
uma semana e, desde então, perambulava pelas
ruas. De longe, ela colocou as mãozinhas nas
bochechas em admiração e caminhou devagar
parando frente ao bicho, que olhou para os lados
procurando uma escapadela.
— Não tenha medo ratinho. Sou a Dudinha,
qual o seu nome? — Ela se abaixou e o rato
arregalou os olhos. — Claro, que pergunta boba!
Ratos nunca descobriram as palavras. Você não
deveria comer os restos de pipocas do chão. —
Colocou as mãos na boca e sussurrou em um
segredo: — Podem estar contaminadas. — Por
alguma razão, o grão que estava nas mãos do rato
despencou no chão. — Você tem cara de... hum...
— batucou os dedinhos no queixo. — Julien. Vou

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te chamar de Julien. Você está precisando de um


bom banho, Julien, e também de uma dieta. Andou
revirando os lixos, não foi? O que a necessidade
não faz... fome é tão triste. Há pessoas que morrem
por não conseguir alimento. Ainda mais um rapaz
robusto como você, que precisa fazer várias
refeições durante o dia. — Olhou para o bicho que
a encarava. — Não chore, Julien, vou te oferecer
um teto até as coisas melhorarem na sua vida. —
Abriu a lancheira. — Venha. Você não vai precisar
sentir frio e fome.
***
Era noite e Maria Fernanda estava na mesa de
jantar com o notebook ligado. Ela estudava o
histórico privado da Moedeiros através das senhas
que Sergio tinha fornecido.
— E então, gatona, já desvendou? — Suelen
depositou duas xícaras de chá sobre a mesa. A
morena estava esperando o táxi, pois naquela noite
dormiria na casa dos pais.
— Estão desviando dinheiro da Moedeiros há
três anos. Certamente o responsável pelo financeiro
está envolvido, foi manipulado ou trapacearam até
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ele. Só as investigações vão dizer. — Maria


Fernanda falou sem desviar os olhos da tela do
notebook. — Um empresário que não entende
sobre finanças está sujeito a isso. Infelizmente o
mundo dos negócios não é confiável, sobretudo
quando se tem inimigos. Ou você se capacita para
ser o doutor de sua empresa ou fecha sociedade
com alguém capacitado. Não dá mais para confiar
apenas em bons currículos.
— Então, quer dizer que o Eduardo fodão
Moedeiros Neto, pode falir a qualquer momento?
— Suelen perguntou.
— A empresa foi o que ele sempre quis.
Rejeitou tudo por ela. E hoje, o que restou desse
império? — Maria Fernanda olhou para a amiga. —
Dívidas com a receita federal, fornecedores e um
furo horrendo no prévio balanço patrimonial que
fiz. Vou estudar os livros da empresa, mas não vejo
muita coisa a fazer. Cheguei tarde minha amiga. As
multas não estavam sendo pagas e o dinheiro
aparentemente, desapareceu. Resta saber, quem fez
esse trabalho tão bem elaborado no intuito de
afundar a Moedeiros.
— Ele vai soltar fogo pelas ventas quando
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receber a notícia, gatona.


— Eduardo já deve fazer ideia do que está
acontecendo. Mas vou investigar a fundo. Parte da
Moedeiros é minha e mesmo não me interessando
com o ramo do empreendimento, estou com o meu
instinto aguçado para pegar esse ladrão. Houve
desvio no fundo fixo da empresa recentemente,
ainda estão sugando. Também vou analisar o que
resta do ativo e se cobrem as dívidas adquiridas
pelo nome da empresa. Se ainda for possível, evitar
o pior que é declarar falência.
— Por isso a preocupação do Sergio. Se a
Moedeiros falir por conta das dívidas, perderão o
nome da empresa. — Suelen completou.
— É uma série de etapas, anos de desgaste
para requerer a recuperação judicial. Uma empresa
desse porte dificilmente consegue se reerguer, os
processos trabalhistas seriam muitos e a
credibilidade no mercado seria abalada. Isso é uma
grande ironia, Suelen. Muito tempo atrás, em um
momento de insistência e até humilhação de minha
parte, pedi para continuarmos com o casamento,
que eu o ajudaria na empresa. Ele riu das minhas
palavras. Eu estava sofrendo, pedindo uma chance
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para nosso casamento e ele, coberto pelo ego e


discurso racional, zombou de mim. Eu nunca quis
vingança, preferi não olhar para trás, mas vendo o
que está acontecendo, sinto um forte desejo de
esfregar na face dele todas as palavras que ele me
falou e que agora martelam em minha mente.
— No seu lugar, eu esfregaria palavras,
diplomas e em seguida, muita porrada. — Suelen
observou os olhos graúdos de sua amiga brilharem
com lágrimas relutantes. — Eu sei que você é fina,
gatona, mas é preciso descer do salto de vez em
quando. Se possível, pegue o tamanco e dê na cara
para valer a pena ter pisado no chão. Desculpa
amiga, sou nordestina, não tem elegância e
amabilidade que segure meu sangue quando ele
esquenta.
Maria Fernanda sorriu, lembrou-se dos tapas
estalados que Eduardo tinha levado no rosto.
— Meu sangue esquentou hoje e ataquei o
Eduardo. Queria ter batido mais, foi libertador. —
Maria Fernanda juntou as mãos e escorou o rosto.
— Gatona arretada! — Suelen sacudiu o
ombro da amiga. — Foi quando eu estava tendo
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uma conversa amigável com a Viviane lá fora? —


Maria Fernanda confirmou com o rosto, sorrindo
desleixadamente. — Aposto que até para descer a
porrada você fez na classe. Coisa que eu não
consigo. Se o mau-caráter do Sergio não tivesse me
segurado, eu tinha acabado com a vaca.
— Descemos do salto hoje... — Maria
Fernanda fechou o Notebook. — Mas vamos evitar.
Somos adultas e essa não é a melhor saída, embora
tenha sido prazeroso meter minha mão na cara do
pai da Dudinha.
— Eles estão visualmente diferentes, não é? —
Suelen levou a xícara até boca e olhou para a amiga
ainda com os lábios presos na porcelana.
— Estão mais velhos, Suelen. O Eduardo está
com trinta e três, a fisionomia muda com o tempo.
— Maria Fernanda também pegou sua xícara e
provou o chá.
— O mau-caráter do Sergio teve a cara de pau
de me convidar para sair. — Suelen contou como
desaforo.
— E você? — Maria Fernanda passou a
analisar as reações da amiga.
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— Eu o que?
— Suelen, Suelen... não me diga que está
balançada com aquele homem novamente?
— Nunca! Minha mão demonstrou isso no
rosto dele.
— Eu não quero ver você machucada outra
vez. — Maria Fernanda largou a xícara sobre a
mesa.
— E não vai! — Suelen bebeu mais um pouco
de chá. — Você viu como aquele fi da peste está
forte? O cabelo também está diferente, fez um corte
charmoso...
— Suelen! — O grito de Maria Fernanda
acordou a amiga, que pensava alto, inalando a
fumaça do chá como se fosse uma droga alucinante.
— Foram apenas algumas observações, gatona.
Já esqueci essa coisa de músculo no corpo de um
homem sem coração. Vou sair novamente com o
amigo do Thiago. Ele é romântico e estou
apostando que dessa vez dará certo. Quero um anel
neste dedo de rainha. — Suelen bateu os cílios e em
seguida beijou carinhosamente o próprio dedo
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anelar.
— A tante vai casar? — Dudinha chegou
vestida em seu pijaminha e com o urso denominado
Rudolf em uma das mãos.
— Ma princesse, vem cá no meu colo. —
Suelen ergueu a menina e a colocou sentada em seu
colo. — Eu quero que me prometa uma coisa. Me
prometa que não irá se iludir com nenhum homem
deste mundo... Nem de outro. — Suelen emendou
antes de Dudinha inventasse a pergunta.
— O que é iludir, maman? — A menina
buscou resposta na mãe.
— É não deixar se enganar com palavras e
atitudes que aparentam ser boas. — Maria
Fernanda respondeu.
— Me prometa que só vai cair nas garras de
um homem, quando estiver com um anel bem
grosso e cravado de diamantes em seu dedo. —
Suelen levantou o dedo mindinho
— Iludir tendo um anel de diamantes pode,
tante? — Dudinha tentou entender.
Maria Fernanda olhou para Suelen com um
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leve desespero no olhar. Ambas sabiam que


precisavam escolher às palavras certas com
Dudinha. Ela não deixava passar nada
despercebido, estava sempre curiosa e fazendo
perguntas.
— Não, Dudinha, também não pode se iludir
só porque recebeu um anel. Você tem que amá-lo e
saber que é correspondida, com respeito e carinho.
— Suelen explicou. — Me prometa que só vai se
entregar a um homem que te respeite, ame e
proteja. E... depois de casada com um anel que
sustente uma pedra de diamantes em seu dedo.
Promete?
— Diamante é caro, tante. E se ele for pobre,
sem dinheiro... Eu fico sem casar igual você?
Maria Fernanda prendeu o riso e beijou o
cabelo da filha.
— Estou me sentindo fofamente ofendida. —
Suelen continuou com o mindinho suspenso. — Se
ele for pobre, vai dar um jeito. Dá pra dividir em
cinco anos de prestação, fazer alguns serviços por
fora. Mas seu anel é sagrado e o amor vem antes
dele.
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— Eu prometo, tante! — Dudinha passou o


mindinho por entre o dedo da tia e depois beijou
para selar um acordo.
— Coisa linda. — Suelen ventilou os olhos. —
Só de pensar neste evento, fico emocionada.
— O Rudolf continua com saudade do Dudu,
maman. — A menina entregou o urso para a mãe.
— Já anoiteceu e ele não veio.
A mãe sentiu a dor da filha ferir o seu coração.
— O Rudolf pode se machucar muito com essa
saudade. Então vamos pensar em outras coisas.
Está me ouvindo, Rudolf? — Maria Fernanda usou
uma voz infantilizada.
— Eu já avisei a ele, maman, mas o Rudolf é
teimoso.
— Estou com dó. — Suelen sussurrou por
sobre a cabeça de Dudinha.
Dudinha era muito esperta. As duas sabiam
que a menina usava o teatro para ver o pai. E o fato
dela criar aquela dinâmica comovia quem assistia.
— Amanhã eu vou à empresa dele e levo o

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Rudolf comigo, está bem? — Maria Fernanda


beijou o rosto da filha.
— O Rudolf não sabe andar por aí sem mim,
maman, ele quer que eu vá com ele. — Dudinha
abaixou a cabeça e apertou a barra da camisa do
pijama. — Eu não vou atrapalhar o trabalho do
Dudu, só preciso olhar ele de longe.
A mãe levantou da cadeira e virou de costas
para esconder que o abalo daquelas palavras estava
ferindo seu coração a ponto de deixar lágrimas
escaparem. Sua criança já amava o pai. Eduardo
estava sendo desumano ao fazê-la sofrer com
aquela rejeição.
— Vamos amanhã, depois de sua aula. —
Maria Fernanda olhou para Suelen. — Ele não vai
fazer isso com minha filha. Por ela eu faço tudo. —
sussurrou para a amiga.
Dudinha agarrou as pernas da mãe, vibrando
de felicidade.
***
Maria Fernanda estava com a filha no sofá da
sala, assistindo vídeos infantis em seu notebook. A
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campainha da cobertura tocou, Dudinha ficou


deitada e a mãe seguiu até a porta.
A mulher espiou pelo olho mágico e viu
Eduardo sorrindo do outro lado. Parecia sóbrio e
não estava desalinhado como das outras vezes. A
mãe olhou para a criança entretida no sofá e apenas
quis acabar com aquela agonia que afligia o
pequeno coração. Abriu a porta e avistou o homem
com um pequeno buquê de rosas cor de rosas nas
mãos.
— Eu sei que está tarde, mas não consegui sair
da empresa no horário previsto. Só passei em casa
para tomar banho e trocar...
— Ela está te esperando. — Maria Fernanda o
interrompeu e deu passagem.
— Boa noite para você. — Eduardo entrou e
mirou os lábios da mulher de perto.
— Boa noite. — Ela falou séria, mas inspirou
em frações, inibindo-se de sentir as notas aquáticas
do perfume de Eduardo. O mesmo que ele sempre
usou.
— As flores não são pra você. — Eduardo
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continuou apreciando os lábios rosados e carnudos.


— Eu não esperava que fosse. — Ela
continuou séria, mas passou a tentar controlar
mentalmente as coceiras atrevidas nos lábios,
certamente causadas pelo olhar fixo do homem à
sua frente. Ela quase foi obrigada a se aliviar com
uma leve mordida ou o passar a ponta da língua.
Maria Fernanda seria tomada por comichão, mas
jamais faria aquilo na frente dele. — Ela está logo
ali, pode entrar.
— Eu... resolvi não trazer suas flores de última
hora. Não é certo cortejar uma mulher que namora
um taiwanês filho da pu... — Eduardo se alterou,
mas apertou os dedos buscando autocontrole.
— Vá ver sua filha. — Maria Fernanda se
afastou e respirou fundo.
Eduardo olhou Dudinha, que balançava uma
das pernas sobre o sofá e tinha os olhos vidrados na
tela do Notebook. O pai firmou o buquê frente ao
corpo e seguiu os metros que os distanciavam.
Estava com tanta saudade da filha que seu peito
queimava de emoção profunda. “Como eu consegui
fazer essa criança tão amável?”, perguntou-se ao
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sentir o cheirinho de colônia infantil.


— Dudu! — Dudinha saltou do sofá e se jogou
nos braços do pai, que se abaixou na altura dela. —
Já terminou todo o seu trabalho? Eu não queria
atrapalhar você, mas tive saudades.
— Eu também, filha. Mas eu não estava legal
para vir aqui. Não vou mais demorar tanto tempo
para te ver. — Eduardo beijou os cabelos loirinhos
e respirou fundo para afastar as lágrimas que
tinham brotado no embalo da emoção. — Como
você está? O que estava fazendo? — Desmanchou
o abraço e acariciou as bochechas da filha. O
homem estava sorrindo bobamente.
— Estava assistindo com a maman. A tante foi
para a casa da família dela e eu só caso com um
anel de diamantes no meu dedo de casado! —
Dudinha balançou o pescoço e mostrou o indicador.
— Que conversa é essa? — Eduardo olhou
para Maria Fernanda e voltou para a filha. — Não
fala mais isso não, filha.
— Mas eu vou casar quando for uma mulher
adulta! — Dudinha insistiu.

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Eduardo colocou a mão sobre o peito, pois teve


a nítida impressão de ter sido apunhalado.
— Eu mato qualquer filho da puta, desgraçado,
que um dia tentar comprar esse anel! — Eduardo se
irou e amassou parte do buquê que estava nas
mãos.
Maria Fernanda pegou a mão de Dudinha e
manteve a filha colada às suas pernas.
— SAIA DAQUI COM SUA
BRUTALIDADE! — A mãe gritou, agarrada a
filha.
— Perdi o controle. — Eduardo levantou. —
Não vou mais desejar matar o pivete desgraçado na
frente dela.
— SAIA DA MINHA CASA! AGORA! —
ordenou.
— Mulher, não grite comigo na frente da
menina! Me excedi, mas não vou matar ninguém,
se ele não chegar perto da minha filha.
— É dessa maneira que você quer conviver
com sua filha? Pois eu prefiro vê-la sofrer por estar
longe do que vê-la formar um caráter violento e
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imoral igual o seu.


— Me empresta seu celular, Dudu? —
Dudinha pediu e se aproximou do pai.
— Eu falei para você que vou tentar mudar,
mas esse caralho não acontece do dia para a noite...
— ele apertou os olhos e mordeu os dedos
fechados. — Eu realmente preciso dar um jeito
nisso.
— Preciso do seu telefone, Dudu.
— Me dê um pouco de tempo, eu vou mudar.
— Eduardo pegou o aparelho do bolso e entregou à
filha.
— Você acha que isso faz bem a ela, seu
irresponsável?! Vulgar! Boca suja!
— Então sou um desgraçado que não mereço a
porra de uma chance?
— Sai da minha casa, Eduardo! — Maria
Fernanda apontou a porta.
— Eu não vou sair. Vim ver minha filha, vou
conversar com ela.
— Vai ensinar seus palavrões. Dudinha
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aprende tudo rapidamente... Sai, pois já estou muito


contrariada. — Maria Fernanda andou na sala, sem
paciência.
— Estou sentindo que estou deixando de falar,
você não convive comigo por isso não sabe. — O
homem tentou se explicar.
— Ahhhhh!
Os dois ouviram o grito de Dudinha e
procuraram a menina sala.
— Ahh! — Dudinha gritou novamente e os
pais correram na direção do barulho.
Maria Fernanda escorou as duas mãos na
guarnição da porta do banheiro de seu quarto e
tentou recuperar o fôlego que perdeu na pequena
corrida.
— Dudinha... O que aconteceu, filha? —
perguntou aliviada por ver a menina bem, ao lado
da banheira.
— O Julien... Tem um ratinho aqui. — A
menina apontou para o box, mas permaneceu
olhando os pais na porta.

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Maria Fernanda achou impossível e foi


verificar. A mulher deu um grito fino antes de
passar na porta da parede de blindex. O bicho
estava acuado no cantinho.
— Para de escândalo, mulher. — Eduardo
apertou a cintura de Maria Fernanda pelas costas e
levou tabefes. — Eu vou pegar o rato. — Eduardo a
largou. — Ah, filho da desgraça... — Eduardo
fuzilou o bicho com olhar destruidor. Julien
escorregou os minúsculos pés, desejando espaço no
lugar da parede às suas costas. — Eu vou te matar...
— Eduardo ameaçou o bicho e entrou no box.
— Você não vai matar esse bicho! É esse
ensinamento que... — Maria Fernanda olhou a
porta do banheiro fechada. — Dudinha! Abre essa
porta, Dudinha! — A mãe forçou a fechadura.
— Vocês precisam virar amigos. O Julien me
ajudou, ele também não acha certo os pais adultos
brigarem. — Dudinha confessou do outro lado.
— Que Julien, Dudinha? Abre essa porta! — A
mãe continuou forçando a fechadura.
— Era para o Julian sair comigo, mas ele
comeu demais e não conseguiu correr.
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— Abre essa porta... Dudinha, quando eu sair


daqui vou te dar uns tapas... — Maria Fernanda
nunca tinha falado aquelas palavras, tampouco feito
tal ação.
— Você bate na minha filha? — Eduardo a
questionou.
— Você, fique longe de mim. — Ela apontou o
dedo. — Ou eu meto a mão na sua cara.
— Ela pegou meu celular. Menina astuta... —
Eduardo sorriu orgulhoso. — De quem será que ela
puxou isso? — Eduardo abriu os braços e sentou no
vaso sanitário.
— Que Deus a livre, que Deus a livre, que
Deus a livre! — Maria Fernanda encostou a testa na
porta e repetiu.
— Seu banheiro é bonito. Contratou um bom
designer de interiores. Mas estou vendo algumas
imperfeições no piso. — Maria Fernanda virou para
o homem com fúria nos olhos. — Eu estava com
saudades desse seu olhar, ferinha. — Eduardo
provocou e Maria Fernanda o esmurrou como pôde.
— Mulher Violenta! Faz isso porque eu não tenho a
frieza de revidar. Bate mais, acaba com minha
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dignidade.
De repente, o monitor foi ligado e iniciou uma
música suave.
— Isso não está acontecendo. — Maria
Fernanda apertou os braços em torno do próprio
corpo e sentou no canto da borda da banheira.
— Gostaram dessa música ou preferem outra?
— Dudinha gritou do outro lado com o controle na
mão.
— Essa está boa, filha! — Eduardo respondeu
e mais uma vez recebeu o olhar raivoso da mulher.
— Já que estamos aqui, por que não aproveitamos?
— Ele tornou a provocar e suspendeu as
sobrancelhas algumas vezes.
— Você, fique longe de mim! — Maria
Fernanda gritou e o bicho que vinha saindo na porta
do box voltou correndo.
— Cause all of me… Loves all of you... Love
your curves and all your edges... All your perfect
imperfections.
— Pare de cantar! — Maria Fernanda falou
enraivecida, com os braços em volta do corpo.
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— Eu gosto dessa música. Já cantei muito


pensando em você. O Thor é minha testemunha.
— Moleque!
— Senti sua falta quando esteve fora, mulher.
Eu trabalhava o dia todo satisfeito, mas quando
chegava ao apartamento, sentia um grande vazio. O
vazio só passava quando eu enchia a cara até cair.
Por isso bebia cada vez mais quando saia da
empresa. Não fazia sentido ficar sóbrio se eu
estivesse no trabalho. — Eduardo olhou para Maria
Fernanda, quis observar se sua confissão não estava
sendo à toa. Aparentemente ela não estava dando
bola. — Está me ouvindo?
— Não me interesso. Daqui a pouco vai
começar a dizer que pensava em mim quando
estava com as rameiras de rua. Faça o favor de se
calar, não quero ouvir suas vagabundagens, que
nem sonham em me manipular.
— Eu não pensava em você quando estava
com outra mulher. Não sujaria você dessa maneira.
— Faça algo louvável e abra aquela porta. —
Maria Fernanda balançou o rosto, contrariada.

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— Está com frio?


— Não, eu não estou com frio. Quero que você
abra a porta.
— Falei com minha mãe sobre a Dudinha. Ela
quer conhecer a pequena.
Maria Fernanda manifestou um sorriso de
desgosto com as palavras que tinha acabado de
ouvir.
— Não pense que minha filha vai andar na
casa daquela mulher. A única pessoa da sua família
que tem algo de bom para oferecer é a Luiza.
— Minha mãe também quer ver você. No
momento ela não pode sair de casa, mas se você
puder ir até ela e levar a Dudinha, ajudará muito.
— O que a impede de sair de casa? — Maria
Fernanda perguntou, curiosa.
— Ela está se recuperando de um momento
turbulento que passou, mas deixou suas sequelas.
— Suzane esteve doente?
— C.A na mama. Mas já passou.

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Maria Fernanda se calou. Pensou nas


dificuldades da doença. Ela já tinha presenciado
muita dor nos hospitais, enquanto cuidava da filha,
depois nas instituições que ajudava. Era uma
doença cruel, que mesmo depois da cura deixava
duras sequelas, psicológicas e físicas.
— Te quero, Maria Fernanda. — Eduardo a
tirou dos pensamentos.
— Eduardo, por favor, cale-se!
— Você ficou ainda mais bonita. Tornou-se
uma mulher tão forte e doce ao mesmo tempo...
isso me faz lembrar certo gosto de lugares rosinhas.
— Cale sua boca! — Ela o interrompeu. —
Que atrevimento! Desrespeitoso. — Ela ajeitou o
cabelo na frente do rosto para esconder a
ruborização.
— Eu não ia falar isso, mas a condição de
abstinência me trouxe esses pensamentos. —
Eduardo se calou por um tempo, mas depois de
alguns segundos se envolveu na letra da outra
música. — I'll give my all to you... You're my end
and my beginning... Even when I lose I'm winning.
[18]
Pode passar o tempo que for, mas não vou ter
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outra mulher se não for você.


— Tem muitas mulheres boas no mundo. Você
precisa mudar para enxergar isso.
— Eu não precisei mudar quem sou para te
enxergar, mas necessito fazer isso, pois quero você
de volta.
— Por que você não tenta abrir a porta? —
Maria Fernanda quis se sabotar para afastar
qualquer pensamento adormecido. — Arrombe se
preciso, mas tente abrir.
— Olha mulher... — Ele se ajoelhou na frente
dela para olhá-la de perto.
— O que está fazendo? — Ela se afastou para
o outro lado da borda da banheira. Eduardo a
seguiu.
— Eu... sempre fui um egoísta. Coloquei meus
projetos materiais acima da minha família e o fato
de eu não querer uma, só me fez errar. Eu só errei
nessa droga de vida. Esses anos longe de você não
foram fáceis. Apesar de me sentir realizado
profissionalmente, não fui feliz. Isso é até um
pouco vergonhoso, mas eu... eu te peço perdão. Eu
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quero seu perdão, preciso muito.


Maria Fernanda ouviu as palavras de Eduardo
e foi envolvida pela inquietação de sentimentos.
Não era algo que ela pudesse comandar. Era uma
ferida que estava lá e naquele momento estava
sendo mexida.
Eduardo estava com a cabeça baixa e seus
olhos estavam envergonhados. Não era apenas a
sua condição de submissão aos pés dela que o
atingia, o peso do passado o cobria de culpa e
vergonha.
— Por favor, me perdoa por ter... Por ter sido
um canalha com você e todo o resto que te fiz
sofrer.
Maria Fernanda subiu os olhos para o teto
querendo lutar contra as lembranças. Ela não tinha
como fugir do tremor que se instalou em seu corpo
ao lembrar as cruéis palavras de Eduardo, que
atingiam sua alma com mais ardor que uma forte
bofetada.
— Eu preciso do seu perdão exatamente em
tudo. Porque sinto minha alma no fundo de um
maldito abismo. Tento lutar para sair e não tenho
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forças. — Ele continuou com a cabeça baixa,


estava completamente submisso, aos pés da mulher
que ele feriu a alma.
Naquele momento, Maria Fernanda não deu
mais conta de frear as lembranças que se
transformavam em lágrimas.
— Eu odiava a ideia de te amar, pois se eu
fizesse isso mudaria a rota dos meus projetos. Seria
tudo diferente, eu enfraqueceria se cedesse a
sentimentos que exigiam muito e que eu não tinha
para oferecer; eu teria que largar tudo para supri-lo
e isso me limitava.
Maria Fernanda abaixou os olhos e não
conseguiu tirar o olhar de sobre ele. Era estranho
ver Eduardo naquela posição, o orgulho nunca o fez
descer tanto. Mas naquele momento ele estava ali,
aos seus pés, e cutucava sua alma ferida,
destacando o quanto ela ainda se sentia machucada
e ressentida pelo passado.
— Levante. — Ela murmurou quando ele
segurou as duas mãos dela.
— Só me ouve, pois não sei se vou conseguir
falar isso outra vez. — Ele juntou as duas mãos
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dela. — Eu fiquei louco por você desde que te vi


sentada naquela cerca de madeira da fazenda da
minha tia. Eu me odiei por sentir aquilo. Mas ali eu
te quis, te quis por inteiro, não só desejei, mas você
tomou conta do meu coração. Não é fácil te ver
com outro homem, sendo que te sinto totalmente
minha. Eu não tenho moral para dizer isso, mas
odeio a ideia de ter outro homem tocando em
você... eu sinto ódio e vontade de matar. — Ele
confessou e estava chorando.
— Você vai se arrepender de ter confessado
essas coisas. — Maria Fernanda já tinha pensado
em muitas frases para serem ditas quando ele se
calasse. Aquela era neutra no momento de confusão
em que estavam seus pensamentos. — Precisa parar
de pensar em matar as pessoas.
— Se você ignorar essas secretas confissões,
vou me arrepender, xingar, quebrar algumas coisas
ou quem aparecer na minha frente, mas depois vou
voltar e confirmar tudo outra vez e tentar
novamente. — Ele levou a mão até o rosto dela e
enxugou as lágrimas. — Só preciso que me perdoe.
Não espero que seja agora, ainda é cedo pra você,
mas queira.
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— O que você fez comigo, ronda minhas


preocupações com a Dudinha. Temo que ela
encontre um homem que a faça sofrer, da maneira
que você me fez.
— Não! — O azul dos olhos de Eduardo
estava profundo e turvo. — Eu não vou deixar
nenhum cara bagunçar com minha filha. Não fale
um negócio desses, porque eu me sinto pior ainda.
Maria Fernanda sentiu desejo de abraçar a filha
naquele momento e... também quis abraçar o
homem à sua frente, ele estava se esforçando.
Eduardo ainda secava o vestígio de lágrimas no
rosto dela. Ela sentia uma quietude na alma. Ele
estava se libertando de parte de seus erros e ela
estava sendo abraçada pela felicidade em nome da
filha. Sua menina merecia um pai menos orgulhoso.
— Se esforce para ser um bom pai para sua
filha. Eu nunca vou te exigir nada, além disso.
Agora, levante, Eduardo.
— Posso me ajoelhar todos os dias se você
quiser, mas escondido dentro do nosso quarto.
Quem sabe eu também não seja retribuído!
— O que está falando, seu descarado?! —
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Maria Fernanda o empurrou, mas ele não saiu do


lugar.
— Desculpa, mas eu estou mais confiante,
querida.
— Querida? — Maria Fernanda nunca tinha
ouvido nada parecido da boca dele.
— O seu cabelo já está maior. — Puxou uma
mecha grossa dos cabelos da mulher e cheirou. —
O mesmo cheiro bom. — Uma de suas mãos
segurou-a por baixo dos cabelos.
Ela olhou assustada para o braço de Eduardo
saindo de seus cabelos e sentiu a mão forte
prendendo os fios em uma grosseira carícia. Ele iria
beijá-la, Maria Fernanda sentiu. Mas aquilo já era
fora de cogitação para o dois.
— O que pensa que está fazendo? — Ela viu
um sorriso se formar nos lábios do homem. — Não
confunda as coisas! — O empurrou, mas Eduardo
apenas sorriu. — Não se atreva... — O estapeou
violentamente. Eduardo tentou conter a fúria dela,
mas ganhou uma forte mordida no bíceps.
Maria Fernanda correu e encostou-se à porta.
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— Está sangrando... — Eduardo conferiu os


buracos feitos pelos dentes. — Isso está ficando
mais perigoso com o tempo. Olha sua classe
europeia, mulher! Não deveria se comportar feito
uma selvagem.
— Dudinha, abra a porta! — Maria Fernanda
gritou forçando a porta. — Filha... — espancou a
porta. — Fala com a maman... abre, filha.
— Sua mãe quer me comer vivo! Ainda
estamos brigando! — Eduardo gritou.
— Não confunda as coisas, Eduardo. — Ela
apontou o dedo para ele. — Você é o pai da minha
filha e estou em paz por te ver reconhecendo os
erros, mas não existe mais “eu e você”. — Ela
estava agitada.
Eduardo a olhou de cima abaixo e passou o
polegar nos próprios lábios. Ele se aproximou dela,
podendo sentir a respiração pesada da mulher. O
homem queria eternizar aquele momento e agia
lentamente, visualizando todos os centímetros do
rosto dela cuidadosamente.
— Você está muito próximo, estamos
separados e você não pode fazer isso. — Ela virou
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o rosto para o lado.


— Você está me devendo um abraço. — ele
sussurrou, fazendo-a sentir sua respiração.
— Não estou. Sem abraço.
— Então eu me derramo vergonhosamente te
pedindo perdão e não tenho direito a um abraço?
Você deveria ser menos orgulhosa, mulher. Eu sei
que ainda não consegue me perdoar, mas eu dei um
passo, você pode dar outro. Faça esse esforço pela
Dudinha. Não podemos viver brigando, temos uma
filha pequena.
— Tudo bem. — Maria Fernanda respirou
fundo. — Um rápido abraço, pois você se esforçou
e somos pais adultos.
— Isso, pela nossa filha. — Eduardo se afastou
e suspendeu as mãos.
Maria Fernanda deu um passo à frente, travou
a respiração e passou os braços na cintura do
homem, afastou o rosto o máximo que conseguiu.
Eduardo sorriu satisfeito e esparramou uma das
mãos nos cabelos dela forçando-a contra seu peito.
A segunda mão a prendeu mais próximo a ele.
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— Não precisa apertar tanto. — Ela tentou


afastar o rosto outra vez.
— Quero aprender a cuidar de você e apagar
meu maldito erro do passado. Saiba que a partir de
hoje vou começar a lutar. Você está sentindo meu
coração acelerado? É por você. — Eduardo sentiu
seu desejo por ela aumentar em outro órgão além
do coração. Em seu íntimo havia uma briga entre o
desejo e sentimento.
— Estou sentindo outra coisa! — Maria
Fernanda o empurrou e voltou para perto da porta.
— Descarado! — Ela ofegou. Não se sabe se foi
pelo alívio ou pela tensão que os envolvia no
momento.
Eduardo apertou os olhos e soltou o ar de vez
pela boca. Ele estava agonizando de desejo, mas no
momento precisava lutar contra aquilo.
— Preciso urinar. — Ele falou e viu Maria
Fernanda virar de costas.
— Pai Celeste, me tira daqui. — A mulher fez
uma prece enquanto tombava a testa na parede.
Ela ouviu o barulho e apertou as mãos no
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ouvido. Eduardo estava mesmo urinando.


— I'm still learning to love... Just starting to
crawl...[19] — Eduardo cantarolou no embalo da
música.
— Dudinha... — a voz da mãe saiu
desanimada. — Abre, filha.
Maria Fernanda ouviu o barulho da descarga e
se deu conta que o homem tinha finalizado.
Virou.
— Ahhh! — Encostou o rosto na parede
novamente. — Seu pervertido, libidinoso,
depravado!
— Apenas estava balançando, homens fazem
isso.
— Você estava se tocando, seu impudico.
— Não fantasie coisas. — Eduardo lavou as
mãos. — Aquele rato é testemunha da minha
inocência. — O rato caminhava pelos cantos da
parede e voltou correndo para o box.
— Vocês já são amigos? — Dudinha
perguntou no meio de um bocejo.
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— Sim, filha! Somos melhores amigos. — A


mãe não viu alternativa.
Logo a porta foi aberta. Dudinha estava
sonolenta, com o urso debaixo do braço.

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11

Eduardo estava folheando alguns relatórios em


sua mesa. Ele queria desabafar sobre os
acontecimentos da noite anterior, mas estava com
dificuldade em admitir para o amigo que tinha
pedido perdão de joelhos. Sergio estava sentado à
sua frente e já o observava.
— O que foi, parceiro? — Sergio perguntou
quando Eduardo abandonou a papelada e pegou
outra.
— Muito trabalho e pouco tempo. —
respondeu seriamente.
— Como foi na casa da Maria Fernanda?
— Tudo normal. Vi minha filha e voltei pra
casa. — Continuou folheando os documentos.
— E porque está folheando os relatórios sem
analisar? De onde apareceu aquele rato? — Sergio

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apontou para a gaiolinha vermelha ao lado da mesa.


O bicho estava lá dentro com as duas mãos
apoiadas na grade.
— É o rato da minha filha. Levei na médica do
Thor, hoje cedo. O sacana está saudável. —
Eduardo respirou fundo e abandonou os papéis. —
Dudinha me trancou no banheiro e a mãe dela
estava comigo. Surgiu uma oportunidade e vieram
umas palavras na minha boca, então, pedi perdão.
— falou rápido.
— Não creio. Quando você aprendeu a ser tão
humano? — Sergio perguntou abismado. —
Perdão, cara?
— Perdão. E... nem é tão difícil assim falar
essas coisas. — Eduardo deixou o corpo desleixado
na cadeira e se balançou de um lado a outro. —
Difícil é vê-la com um desgraçado, certinho,
medindo forças com um sujeito errado como eu.
— Eu apanhei da minha anja só porque a
convidei para sair. Certo que meu propósito era
seduzi-la da maneira mais descarada, mas não
tenho alternativa, preciso engravidá-la de qualquer
jeito. Quero um filho da minha morena, o bebê vai
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nos unir. Eu tenho certeza disso.


— Você está parecendo um adolescente idiota,
Sergio. Isso é vergonhoso.
— Agora eu sou o único desesperado aqui?
Pode falar, irmão, coloca os sentimentos para fora.
Eu quero a Suelen e não vou negar isso.
— Eu não quero parecer um idiota como você,
mas sinto coisas pela Maria Fernanda. Não só
fisicamente. — Eduardo se endireitou na cadeira —
É querer olhar para ela todos os dias e vê-la feliz,
mesmo longe de mim. Isso é uma idiotice do
caralho, mas estou sentindo.
— E você sente o coração pulsar rápido
demais? — Sergio aproximou o tronco da mesa.
— Sinto, cara, queima tudo aqui dentro, eu
fico até nervoso com o cheiro dela. É uma coisa
louca isso. A mulher fez algum encantamento. —
Eduardo confessou. — Até me desafiei. Estou há
muito tempo sem qualquer tipo de sexo. Não
consigo mais me imaginar com outra mulher.
— Quantos dias?
— Onze.
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— Você sabe que isso é sintoma de amor, não


é?
— Por isso que eu não queria deixar essa
merda acordar. Isso dói para caramba. — Eduardo
esfregou a mão no peito tentando aliviar a
queimação.
— Elas agora são religiosas. Poderíamos ver
algo para passar boa impressão.
— Isso pode ser o caminho. — Eduardo se
empolgou com a ideia. — Mas como se pega uma
mulher religiosa?
— Sei lá... O Jorge não anda nessas reuniões
de caridade? — Sergio se lembrou do almoxarife
da empresa, que, por sinal, era o antigo motorista
da casa dos pais de Eduardo, o rechonchudo Jorge.
— Ele anda? — Eduardo ainda não tinha
aquela informação.
— Sim, anda. Isso, Edu! — Sergio comemorou
como se estivesse encontrado uma grande solução
— O Jorge vai nos ajudar. Ele deve conhecer
alguma maneira para capturar o coração delas.
— Eu duvido.
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— Eu estou dizendo, Edu, o cara é do meio,


deve saber alguma coisa. Não estamos fazendo
certo e eu quero a Suelen.
— Então, o que está esperando? Vá buscá-lo.
— Ele deve estar na cantina. Vou mandar
chamá-lo. — Sergio saiu apressado.
Minutos depois, Jorge entrou na sala de
Eduardo, apreensivo. Como sempre, estava com
medo de perder o emprego.
— Me chamou, senhor Edu?
— Sim, Jorge. Sente aí. Quer um café?
— O senhor está bem? Eu sou o Jorge do
almoxarifado, seu antigo motorista.
— Eu te conheço, homem. O que há com
você? — Eduardo falou impaciente.
— Vai me demitir?
— Dependendo do seu desempenho, posso até
te promover a chefe do almoxarifado. O que você
acha? — Eduardo levantou e ajeitou a cadeira para
Jorge sentar.

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— Bem... aquele cafezinho ainda está de pé?


— Jorge ficou mais despreocupado e aceitou a
cortesia.
— Vou mandar trazer agora mesmo. —
Eduardo sorriu e voltou para a mesa.
— Não se esqueça dos biscoitos, senhor Edu.
— Vai querer bolo, pão e um porco também?
— Eduardo percebeu empolgação demais no
homem.
— Sim. Aceito o bolo, se tiver pão de queijo...
O café sem açúcar porque eu estou de dieta.
Eduardo fechou a cara, pegou o telefone e deu
a ordem à sua secretária:
— Irene, encontre o Sergio e o mande trazer
tudo o que encontrar na cantina. Ele vai entender o
motivo. — Largou o telefone e sentou de frente
para o homem. — Soube que você se tornou um
sujeito religioso.
— Vai me punir por isso? Bem que eu estava
desconfiado dessa conversinha aqui. — Jorge
aumentou o tom de voz, mas diminuiu na sequência
devido ao olhar severo de Eduardo. — Olha, senhor
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Edu, eu tenho uma mãe para cuidar, estou com três


hérnias na coluna que os médicos insistem em dizer
que é apenas um desvio. Eu preciso muito desse
emprego, senhor Edu. Logo agora que eu estou
querendo me casar, o que eu vou fazer
desempregado? Já estou velho e não consigo mais
emprego por aí.
— Você quer calar a boca?! — Eduardo gritou.
— Desculpe, senhor Edu. O senhor manda. —
O homem se encolheu.
— Quero que me ajude a conquistar uma
mulher religiosa.
— E agora vai colocar uma mulher da igreja a
perder?! — Jorge se alterou. — O senhor deveria se
envergonhar de querer desvirtuá-las. Elas não
merecem ser um de seus passatempos.
Eduardo apertou os relatórios entre os dedos e
tentou colocar na mente que no momento precisava
daquele homem.
— Eu estou sabendo. — O patrão respirou
fundo. — Por isso você está aqui. Quero que me
fale tudo.
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— Olha só o pequeno lanchinho que está


chegando. — Sergio entrou empurrando um
carrinho com tudo que Jorge tinha direito, no
intuito de agradar o homem.
— Eu nem posso estar comendo isso antes do
almoço. Eu fico sem apetite. — Jorge sussurrou em
segredo.
— Eu acredito em você, Jorge. — Eduardo
olhou diretamente para a barriga do homem e sabia
que não era verdade.
— Jorge, amigão, estamos precisando de sua
ajuda. — Sergio começou a colocar os alimentos
próximos ao empregado.
— Você também?
— Sim. Minha Suelen anda na igreja também,
não é isso?
— Espera aí! As mulheres que vocês estão
querendo desviar são a Suelen e a patroa? — Jorge
já estava com a boca cheia.
— Alguma objeção? — Eduardo perguntou.
— Isso não vai dar certo, senhor.

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— Se não der certo, aquela promoção pode


virar demissão, você que escolhe. — Eduardo sabia
que Jorge morria de medo do desemprego, então
manipulá-lo não seria tarefa tão difícil.
— O que precisam saber? — Jorge se ajeitou
na cadeira limpando seu terno sujo com farelos de
pão.
— Ótima escolha, amigão. Agora nos conte
tudo! — Sergio também se sentou ao lado de Jorge.
— Primeiro, vocês têm que começar a
frequentar o mesmo ambiente, elas gostam de
ajudar entidades. — Jorge molhou o pãozinho de
queijo dentro do café, como se estivesse dentro de
sua casa.
— Isso é o de menos. E depois? — Sergio
estava anotando tudo em um caderninho.
— Tem que ser cordial e respeitador.
— O que você quer dizer com respeitador? —
Eduardo se manifestou.
— Olha senhor, Edu, no seu caso eu já ia
desistindo antes de começar, pois não é só
conquistar a patroa, também precisa ser melhor que
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o senhor Thiago e isso... — Jorge limpou a


garganta — no seu caso, é um pouco difícil. Só
estou avisando, estou aqui para ajudar. — O
gorducho levantou as mãos se defendendo.
Eduardo espancou a mesa.
— Edu, amigão, é o Jorge! — Sergio lembrou
que eles precisavam do homem.
— Continue, Jorge. Sou Eduardo Moedeiros e
me garanto. — Eduardo arrancou a gravata do
pescoço.
— Elas são independentes, mas sonham em
casar e ter uma família feliz. Então vocês precisam
desejar ter uma base familiar estabelecida. — Jorge
continuou.
— Está tudo beleza então, eu já sou casado. —
Eduardo sorriu.
— Você ouviu a parte da família feliz, Edu? —
Sergio fez questão de tirar o sorriso de Eduardo.
— Tem que demonstrar o amor com gestos e
boas ações.
— Eu estava pensando em comprar um carro

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para Maria Fernanda. Ainda não a vi dirigindo. O


que você acha Jorge? — perguntou o patrão.
— O senhor quer uma mulher pelo o que pode
pagar? O amor tem que ser demonstrado sem
precisar falar aos quatro cantos. Faça uma coisa
pela qual ela se orgulhe do senhor.
Eduardo analisou as palavras do empregado.
— A que ponto nós chegamos... o Jorge, nos
ensinando a pegar mulher... — Sergio reclamou
enquanto anotava em seu caderninho o título:
“Operação: Pegar nossas mulheres de volta.”
— Só um conselho... Leiam sempre o primeiro
livro de Coríntios, capítulo treze. Lá tem
basicamente tudo o que vocês precisam saber sobre
o amor.
— Onde compramos esse livro? — Sergio
estava com a caneta pronta para escrever.
— Pelo amor de Deus! Vocês já leram as
escrituras, não é? — Jorge perguntou e os dois
amigos se olharam sem querer responder. — Já
estou vendo tudo. Vou ficar desempregado às
vésperas do meu casamento. — O homem suspirou
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desanimado.
— Vamos providenciar exemplares. E você
está proibido de desistir, ou então, será demitido
por justa causa! — Eduardo esclareceu a situação.
— Isso! Justa causa. E o Edu não está
brincando. — Sergio firmou a ameaça.
— Tudo bem. Eu não vou desistir. Não posso
perder o emprego.
— Mas isso funciona mesmo, Jorge? —
Perguntou Eduardo. — Quantas mulheres de lá
você já pegou?
— Bem... — O homem limpou a garganta. —
Vamos focar na missão. Até porque, fazemos isso
quando queremos apenas uma mulher e não várias.
***
Maria Fernanda, Suelen e Dudinha estavam
subindo para o quinto andar da Moedeiros
Engenharia.
— O Dudu trabalha aqui, maman? — Dudinha
estava no elevador com a sua roupinha colegial e
pulava igual uma pipoquinha.

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— Sim, Dudinha, isso aqui é dele. — A mãe


respondeu. — Não pule assim, vai machucar sua
perna.
— Estou animada. — A menina continuou
pulando.
— Mas não pule, princesse, para não doer sua
perninha. — Suelen falou, na saída do elevador.
— Bom dia, senhoras. — As secretarias
falaram em uma única voz.
— O presidente está em sua sala? — Maria
Fernanda perguntou diretamente à Irene.
— Está sim, senhora. O senhor Sergio também.
Irene tocou três vezes na porta e abriu. Jorge,
Sergio e Eduardo se assustaram ao ver as mulheres.
— Dudu! — Dudinha correu e deu a volta na
mesa para abraçar o pai.
Eduardo beijou inúmeras vezes seus
cabelinhos loiros e apertou de leve as maçãs
rosadas do rosto.
— Venha, maman, venha abraçar o Dudu
também!
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Maria Fernanda olhou para Suelen, fechou os


olhos por alguns segundos e respirou fundo. Tinha
esclarecido sua situação com Eduardo para a filha
na noite passada e, no entanto, a menina insistia.
— Jorge, como vai, meu amigo? — Maria
Fernanda abraçou o homem, que ainda estava
sentado. Sergio tentou fazer o mesmo com Suelen,
porém, ela se esquivou.
— Patroa Maria Fernanda, lembre-se que eu
sou obrigado a cumprir ordens. — Jorge ficou
nervoso e saiu apressado da sala.
— Estavam torturando o Jorge com comida?
— Suelen mexeu no carinho com alimentos.
— O Jorge é nosso amigão. Sente aqui, Suelen,
suas pernas devem estar doendo com esses saltos.
— Sergio levantou e ofereceu sua poltrona.
— Estaria cansada se estivesse sem eles, mon
chéri. — Suelen levantou o nariz e ignorou o
homem.
— Desse jeito fica difícil ser cordial. — Sergio
reclamou e Eduardo limpou a garganta.
— Seu rato está saudável. Vai mesmo ficar
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com ele? — Eduardo perguntou à filha.


— Os céus me trouxeram ele para ser cuidado.
— Dudinha olhou Julien na gaiola. — Não fiquei
no banquinho da desobediência, Dudu. — A
menina sussurrou no ouvido do pai. Eduardo beijou
a testa da filha e olhou para a postura de Maria
Fernanda à sua frente.
— Sergio, andei analisando os documentos que
me enviou e já cheguei perto de onde queria. —
Maria Fernanda não perdeu tempo e começou a
tratar do assunto que a tinha levado até ali.
— Como assim, analisou? Quais documentos?
O que está acontecendo aqui? — Eduardo
questionou o amigo.
— Edu, a Maria Fernanda é um tipo de agente
da área contábil, então pedi ajuda para a empresa.
— Por que você sabe de detalhes da vida da
minha mulher e eu não? Que direito você tinha de
passar isso adiante? — Eduardo se alterou. Não
queria demonstrar suas fraquezas frente à mulher.
— Edu, ouve o que ela tem a falar, depois
conversamos, cara.
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— Depois uma... — Eduardo não terminou a


frase, pois Dudinha estava em seu colo observando
cada palavra que saia de sua boca.
— Você ia falar nome feio, Dudu?
— Venha aqui, Dudinha! — A mãe chamou a
menina.
— Não, princesa, eu só ia dizer ao tio Sergio,
que ele tem toda razão em conversarmos depois. —
Alisou os cabelinhos da filha, enquanto
praticamente fuzilava Sergio com o olhar.
— Então, Sergio, descobri que o rombo no
patrimônio não é recente. Estão a mais ou menos
três anos desviando dinheiro das contas da
empresa. E sinto informar que essa empresa está
basicamente falida.
— É o que? — Eduardo gritou, assustando
Dudinha, mas abraçou a menina na sequência. —
Fica com sua tia. — Levantou e entregou-a para
Suelen.
— Podemos conversar em um lugar sem esse
homem irritante gritando o tempo todo, Sergio? —
perguntou Maria Fernanda.
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— Eu não vou gritar. Mas entenda que esse é


um assunto meu. Devo solucionar meus problemas.
Quando você assinou aquela procuração, me deu
total liberdade de assumir tudo em seu nome, esse é
um assunto meu e vou resolver.
— Então, Sergio, eu posso fazer uma auditoria
interna e buscar um caminho para reverter esse
quadro em longo prazo. — Maria Fernanda ignorou
totalmente Eduardo.
— Já estou no caminho para resolver isso. —
Eduardo enfiou os dedos entre os cabelos e andou
dentro da sala. — Não preciso de ajuda.
— Você permitiu isso acontecer, estão te
roubando na sua cara e com toda certeza é alguém
da sua confiança. Eu não me interesso por esse
empreendimento, homem orgulhoso. Se falir, não
vai me faltar. E outra, vamos embora, Suelen.
— Não! Você não pode fazer isso. — Sergio se
desesperou. — Faça isso pelos funcionários que
precisam do emprego.
— No caso, você. — Suelen falou ao lado.
— Eu tenho grana, as pessoas que trabalham
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aqui, não. — Sergio se explicou.


— Vamos, Suelen. — Maria Fernanda abriu a
porta, mas Eduardo a alcançou.
— Vamos conversar, mulher, estou nervoso.
Se você tem uma solução, eu aceito, não posso
perder anos de trabalho e nem o futuro que eu
posso dar à minha filha.
— Por favor, Maria Fernanda. — Sergio
arrastou a cadeira.
— Por favor, maman. — Dudinha juntou as
duas mãozinhas próximas ao rosto.
— Em casa conversaremos, Maria Eduarda. —
Maria Fernanda olhou séria para a filha.
— O que é, mulher, agora a menina é culpada?
— Eduardo interferiu.
— Você é o culpado. Você é o culpado de
tudo! Não venha querer me confrontar.
— Cordial... — Sergio falou no meio de um
pigarro, próximo a Eduardo.
— Senta, mulher, vamos conversar. Você tem
uma solução e eu quero ouvir. — Eduardo arrastou
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a poltrona. — Pela nossa filha, isso aqui é o futuro


dela.
Maria Fernanda se sentou e cruzou as pernas.
Eduardo sorriu abobalhado.
— Estou nervoso com a situação. — Ele ainda
estava sorrindo.
— Aproveito para informar que o litigioso está
a caminho. — Ela falou apenas para tirar a
empolgação dele.
— Que conversa é essa, mulher? Está me
estendendo a mão ou empurrando para o fundo do
poço?
— A Moedeiros tem três meses até o nome ser
negativado.
— Três meses? — Eduardo sentou anestesiado
em sua cadeira. — Contava com mais tempo.
— Há pendências com banco, fornecedores e
governo. As contas caixas estão zeradas. Eu preciso
dos recibos de todos os patrimônios ligados a
empresa, pois todos eles deverão ser vendidos para
quitar as dívidas. Como está a situação da
companhia em relação a clientes?
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— Perdemos muitos e outros que estavam em


negociação, desistiram. — Sergio informou.
— Então o caso é mais sério do que eu
imaginava. Como vocês conseguiram chegar a esse
ponto?
— Contratei um pessoal de confiança. Eram os
melhores. — Eduardo respondeu cabisbaixo.
— Certamente tinha um ladrão especialista no
meio. Será preciso cortar todos os gastos
desnecessários. E alguns necessários, também. De
imediato, é preciso demitir a maior parte dos
funcionários. — Maria Fernanda estava observando
a feição fracassada de Eduardo.
— Isso vai gerar mais dívida. Muitos foram
contratados na fundação.
— Eduardo... — Maria Fernanda esperou que
ele a olhasse. — Não trago uma solução para
reerguer a empresa instantaneamente. Estamos
falando de limpar o nome, fechar as portas e reabrir
futuramente. Se declarar falência será pior.
Acredito que você saiba disso. Estou precisando de
moças na loja que vou abrir. Faço uma seletiva e
me responsabilizo em contratar as secretarias e o
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Jorge.
Os olhos de Eduardo brilharam. Naquela
fração de segundos o problema do seu patrimônio
não fez tanto sentido. Foi inevitável sua admiração
ao ouvir a voz decidida e acolhedora da mulher. A
solução dela era óbvia no momento crítico em que
se encontrava, ele mesmo já tinha pensado na
possibilidade, mas relutava em abrir mão do que
construiu. Mas ali, olhando para ela, tudo perdia a
importância. Ele tinha deixado aquela mulher ir
embora. “Por que eu não acreditei no que sentia
antes? Por que coloquei minhas ambições à frente
de um futuro ao lado dela?”
— Está passando mal, Dudu? — Dudinha o
tirou dos questionamentos. A menina estava com a
pequena gaiola na mão.
— Retire primeiro os que trazem desconfiança
para a empresa. Quem está fazendo isso tem o
propósito de te derrubar.
— Cuide disso agora mesmo, Sergio. —
Eduardo olhou para o amigo e ele apenas
concordou. — Sergio, cuide disso, agora! —
Tornou a falar e Sergio acabou entendendo.
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— Ah, claro. Vou cuidar, sim. Vamos Suelen,


essa é uma decisão muito difícil eu preciso de seu
apoio.
— Vai continuar precisando. — Suelen
desviou o olhar de Sergio.
— Eu posso conhecer a empresa antes do
Dudu perder, maman? — Dudinha pediu outra vez
com as duas mãozinhas juntas.
— Outro dia, filha. Agora precisamos almoçar
e voltar para a loja.
— Vocês podem almoçar comigo, depois eu
deixo as três no shopping. Ainda posso pagar um
almoço.
— Vamos, Suelen — Sergio viu um momento
ideal para deixar a sala. — Traga a menina para
conhecer a empresa. Eu levo vocês e prometo não
encostar um dedo sequer em seu belo corpo. —
Sergio abriu a porta em um incentivo.
Suelen passou com Dudinha. A morena seguiu
com o rosto elevado.
— Quer alguma coisa? — Eduardo perguntou
quando a porta foi fechada.
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— Não. Eu vou acompanhar a Dudinha e


Suelen. — Maria Fernanda levantou. Eduardo saiu
de sua cadeira e parou frente a ela. — O que foi?
— Esse perfume é novo? — Os olhos dele
passearam no pescoço dela.
— Sempre usei variados. Excuse moi[20]. —
Ela abaixou o corpo ao lado dele para pegar a
bolsa, Eduardo levantou novamente. — Eduardo...
Já deixei claro sua condição. — Ela estava séria.
Eduardo mirou os lábios dela.
— Sou tomado por chamas quando sua boca
linda fala meu nome.
— Não me fala essas coisas. Estamos
separados e prestes a assinar o divórcio. — Ela
disfarçou e deu um passo para trás. Eduardo a
acompanhou.
— Eu deveria ter te beijado mais, admirado
seus cabelos mais vezes e me prolongado ao sentir
suas extremidades. — Ele firmou as duas mãos ao
lado do rosto dela e inalou o perfume feminino com
incitamento.
— Homem, o que é isso? — Maria Fernanda
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deu outro salto para trás, pois a crescente ereção de


Eduardo a tocou. — Pelos céus, eu tratando um
assunto sério e você pensando em safadeza. —
Continuou se afastando.
— Esquece isso. — Ele acompanhou os passos
dela e a pressionou contra a porta. — Estou falando
coisas bonitas para você, salienta minhas palavras.
— Precisa dar um jeito nisso. E não pode me
encurralar dessa maneira.
— Não posso me ajudar. Fiz promessa para
você voltar.
— Vous devez vous soigne![21]
— Não, francês não. — Ele fechou os olhos e
acariciou os cabelos dela. — Quer me deixar
insano, mulher?
— Existe limite para tudo. Você é mais forte
que eu. — Maria Fernanda lutou para empurrá-lo
sem sucesso. — Então se afaste de mim!
— Apertando meus músculos dessa maneira
não está ajudando, ferinha. — Ele falou em uma
respiração custosa. Maria Fernanda retirou as mãos
dele. Eduardo abriu os olhos e a encarou. — O que
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eu estava dizendo era isso. Eu deveria ter cuidado


melhor de você. Perdi muito tempo lutando contra
mim, quando eu deveria estar te amando.
— Você... está sendo inconveniente. Afasta
isso de mim. — Maria Fernanda não se conformou
com o próprio tom de voz.
— Desculpa por isso. Estou tentando ser
romântico. — Ele não se afastou. —Volta pra mim,
prometo fazer diferente.
— Não faça isso! — Ela ordenou quando os
lábios dele se aproximaram dos seus.
— Não vou te beijar sem permissão, fique
tranquila. — Ele respirou perto dela. Maria
Fernanda sentiu as pernas moles e não se agradou
daquilo. Eduardo seguia lutando contra os próprios
impulsos.
— Preciso ir. Me solta agora. — Ela sentiu o
corpo tremer após um arrepio percorrer suas
entranhas.
Eduardo aproximou a boca do queixo dela e
subiu roçando nos lábios carnudos, nariz e por fim,
beijou a testa.
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— Já te soltei. — Ele afastou as mãos, mas o


corpo continuou no mesmo lugar, recusando-se a
deixá-la.
Maria Fernanda saiu pela lateral e seguiu no
intuito de pegar a bolsa, mas ela acabou
escorregando e caiu de joelhos no chão. O
momento se tornou mais constrangedor quando ele
se abaixou para pegá-la.
— Você está bem?
— Estou muito bem. — Ela levantou
rapidamente.
— Vamos conversar mais um pouco. Me
conta, como conseguiu encontrar tudo tão
rapidamente? — Ele sorriu, nervoso.
— Outra hora. Eu preciso cuidar da minha loja.
Faltam poucos... — Os olhos dela desviaram
acidentalmente para a calça de Eduardo. — Faltam
poucos dias para a inauguração. Eu vou procurar a
minha filha — falou rapidamente e fugiu da sala.
Antes de procurar a filha no prédio, passou no
banheiro, trancou a porta e olhou seu reflexo no
espelho.
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— O que... o que foi isso, Maria Fernanda? —


Ela indagou, olhando para sua imagem atordoada.
— Você não tem o direito de sentir isso. —
Acusou-se.
Dez minutos depois, Suelen encontrou a amiga
sentada em um dos sofás da recepção e percebeu
que alguma coisa estava acontecendo.
— Gatona?
— Vamos, Suelen, estou te esperando já faz
um tempo.
— Tudo grande, maman, e isso tudo também é
meu. — Dudinha falou convicta. — O namorado da
tante me falou.
Maria Fernanda deu uma olhada para Suelen e
antes de questionamento, ela já foi se defendendo:
— Não olha assim pra mim não, hein. Foi ele
que colocou isso na cabeça dela. Aliás, estão de
segredinhos.
— Me conte tudo, Dudinha. Qual é o segredo?
— A mãe se abaixou na altura da menina.
— Segredo não se conta.

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— Para a maman e a tante, você pode contar,


meu amor. — Maria Fernanda insistiu.
— Segredo é só de dois. Eu, o tio Sergio, dois.
— A menina contou nos dedos — Você e a tante,
quatro.
— Espera, Maria Fernanda. — Eduardo e
Sergio chegaram praticamente correndo na
recepção. — Vou levar vocês até o shopping.
— Não precisa, já estamos de saída. — Ela
fugiu do homem e Suelen estreitou os olhos.
— Eu vou levar vocês. — Eduardo pegou
Dudinha do colo. — O Sergio vai levar a Suelen.
— É o quê? Não mesmo. Eu não vou a lugar
nenhum com você e tire esse sorrisinho do rosto. —
Suelen respondeu desaforada e empurrou Sergio
com o dedo indicador.
— Ele é bonzinho, tante, não briga com ele. —
Dudinha defendeu Sergio.
— Agora você é bonzinho? O que andou
inventando para minha sobrinha, seu dissimulado!
— Suelen, para de fazer escândalo e vamos

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conversar em outro lugar. — Sergio falou baixinho


tentando conter a morena.
— Sou escandalosa mesmo fi, literalmente, da
peste! Não precisa se envergonhar da minha voz.
Não temos qualquer ligação que lhe permita isso.
— Meu amor... — Sergio se aproximou de
Suelen e tentou segurar em sua mão.
— E não me chame de meu amor! — A
morena começou a estapear Sergio, que permanecia
pacífico.
— Vamos, Suelen, já chega! — A amiga
interveio.
— Suelen, o Sergio só quer cinco minutos com
você. Ele é um idiota, mas são apenas cinco
minutos de conversa. Então, vão adiantando logo
porque ele está no horário de trabalho e cinco
minutos valem ouro. Vamos, Maria Fernanda.
Preciso ser cordial com minha família e não tente
me impedir.
— Cordial?
— O que é cordial, maman?

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— Algo que seu pai nunca soube o que é.


— Vamos logo, mulher.
Eduardo saiu à frente carregando Dudinha e
Maria Fernanda respirou impaciente, antes de
seguir na mesma direção.
Minutos depois, ela estava ao lado da
caminhonete. Eduardo encaixava o cinto de
segurança em Dudinha que dava pulinhos no banco
traseiro do carro de luxo.
— Suelen não pode sair por aí com aquele
homem. Muito menos eu com você.
— O Sergio não é tão idiota para colocar tudo
a perder. — Eduardo falou tão baixo que foi quase
imperceptível.
— Colocar o que a perder, Eduardo? — A
mulher perguntou.
— O quê? — Ele se fez de desentendido.
— Você acabou de dizer que o Sergio não
seria idiota para colocar tudo a perder.
— Você ouviu errado.

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— Não falou, Dudinha? — A mãe buscou uma


aliada esperta de ouvidos apurados para confirmar.
— Eu não sei... eu estava distraída olhando
como o carro do Dudu é bonito e acabei não
ouvindo nada. — A menina mostrou os dentes para
a mãe em um sorriso forçado.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas
eu vou descobrir.
— Entra logo nesse carro, mulher, ainda temos
que trabalhar hoje.
— Estou atrasada, você já me ocupou muito, o
mínimo que deve fazer é me levar até a loja. Não
pense que pode me dar ordens.
Eduardo sorriu com seus próprios pensamentos
e assumiu o volante.
O percurso de carro já tinha iniciado há alguns
minutos, Maria Fernanda estava ao lado de
Eduardo e permanecia olhando para a janela do
carro. Em sua mente, estavam os acontecimentos de
minutos atrás. Ainda era difícil assimilar que
aquele homem estava se esforçando — mesmo que
do jeito torto dele — para ser um homem melhor.
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De qualquer maneira, ela precisava evitar certos


pensamentos que não faziam mais parte de suas
realidades.
Dudinha estava no banco de trás da
caminhonete, cantarolando uma típica música
infantil. Eduardo sorria, olhando fixamente para a
pista. Estava com as duas em seu carro e aquilo
trazia grande força protetora sobre sua
responsabilidade. Era bom sentir-se um leão
defensor.
— Na sexta haverá um grande jantar no Hotel
Paraíso. É um encontro de empresários do ramo da
engenharia e arquitetura. Vamos expor algumas de
nossas grandes obras já realizadas. Será um evento
importante, podemos conseguir muitos clientes
com a vitrine.
— Não entendo nada de engenharia, tampouco
de arquitetura! — Maria Fernanda falou, ajeitando-
se no banco do carro.
— Doutora dos números. — Eduardo sorriu.
— Você me surpreendeu muito hoje, mulher. Saiu
daqui uma menina... eu não poderia imaginar que
viraria essa mulher forte, destemida, inteligente e
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com esse corpo todo.


— Comentário desnecessário.
— Mas é verdade! Você era muito franzina
naquela época, eu não sei como conseguiu se
desenvolver tanto e ficar uma gostosa ao quadrado.
— Eduardo sussurrou o final da frase, sorriu e
segurou o volante de forma displicente.
— A minha maman é muito bonita, Dudu. Eu
sabia que você também era. Ela me falou: seu papa
é bonito, forte e cheiroso. — Dudinha balançou as
pernas e Eduardo sorriu convencido.
— Dudinha não pode sair por aí falando nossos
assuntos, eu já te ensinei isso. — Maria Fernanda
enrubesceu.
— Perdão, maman. — A menina cruzou os
braços ao redor do corpo.
— Sua mãe sempre foi linda. Os olhos azuis
graúdos e tinha os cabelos bem compridos.
— Grandão igual da Rapunzel, Dudu?
— Mais bonitos e cheirosos. Seu pai amava
aqueles fios longos.

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— Para de deboche e só dirija o carro.


Eduardo, não esqueça que sou comprometida, não
fique me falando essas coisas.
— E você não fale daquele cara quando temos
nossa família reunida falando coisas particulares do
nosso casamento.
O carro sofreu um impacto na pista. Eduardo
se enfureceu, pois se deu conta do que se tratava.
— O que foi isso? — Maria Fernanda correu
os olhos até o banco de trás, onde estava a filha.
Eduardo abriu o porta luvas, pegou uma arma
de fogo e colocou em ponto de disparo.
— Se abaixem.
— O que está acontecendo? — Ela gritou com
outro impacto no carro.
Eduardo viu pelo reflexo o quanto a mulher
estava assustada. Se fosse antes, ele agiria de outra
maneira, mas tendo uma família, era diferente. Ele
abandonou a pistola sobre o colo e acelerou o carro
o mais rápido que conseguiu. Mais à frente, tomou
outro percurso quando percebeu estar fora de
perigo, seguindo o caminho do prédio de Maria
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Fernanda.
— Droga! — ele esmurrou o volante assim que
parou a caminhonete. — Eu vou matar esses
desgraçados!
— Dudinha, não ouça esse homem? — Maria
Fernanda saiu do carro, abriu a porta traseira e
retirou a filha.
— Maria Fernanda... — ele a seguiu para
dentro do prédio.
— Não venha atrás de mim. O que andou
aprontando? Por que tem uma arma em seu carro?
Melhor ficar longe da minha filha.
— Não saia mais sozinha. — Eduardo
encerrou os passos. Ele sabia do perigo que elas
estavam correndo daquele momento em diante.

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12

Era noite, Maria Fernanda estava aninhada


com a cabeça apoiada no peito do namorado, ele
afagava seus cabelos em um carinho protetor.
Ambos estavam no sofá da grande sala.
— Então não vai pedir o litigioso? —
perguntou Thiago.
— Vou esperar o fim do contrato, se ele não
ceder, não terei alternativa. Mas agora não faz
diferença. Ele está perdendo a empresa.
— Está triste por isso?
Thiago já tinha notado o quanto a namorada
estava calada aquela noite
— Não estou triste, é uma consequência dos
erros semeados, mas não consigo me alegrar com o
fato dele estar se acabando aos poucos. — Ela
levantou os olhos para ele. — Ser vingativa só me

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faria regredir. Eu não cresci para mostrar a ele o


que perdeu, fiz isso porque sou capaz, fiz por mim
e por minha filha.
— Tenho a mulher mais nobre, admirável e
linda ao meu lado. — Thiago beijou a testa dela. —
Não esperava diferente da pessoa que você é.
— Conversei com o pai da Dudinha ontem.
— O Giovane? E como ele está? Há muito
tempo não o vejo, ele está muito focado naquela
fazenda e não sai de lá por nada.
— Ainda estou falando do Eduardo, Thiago.
— Ele quer você de volta. — Thiago suspirou
insatisfeito.
— Só estou estancando a sangria do
patrimônio da Dudinha... esse foi o assunto que me
levou até ele. Tem alguém roubando a empresa há
anos, e o sujeito é tão esperto que não deixou
pistas. Isso te incomoda?
— Eu confio em você, Fernanda. Mas quero
que tenha cuidado com ele. Resolva a situação,
depois largue tudo e se case comigo.

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— Agora já está muito perto, já esperamos


mais tempo que isso. — Ela acariciou o rosto do
namorado. — Ele falou sobre uma festa. É algo
importante para a empresa. A Suelen vai comigo,
mas quero que você me acompanhe e fique ao meu
lado.
— Você sabe o que penso desse sujeito te
cercando, mas apesar de tudo, ele é pai da minha
filha e não é bom para ela conviver com brigas o
tempo todo. Mesmo com tudo isso, vou te
acompanhar.
— Você definitivamente é um homem difícil
de encontrar, Thiago.
— E você é a mulher mais linda, inteligente,
cheirosa. É a mulher da minha vida. — Para cada
elogio, Maria Fernanda recebia um beijo.
— Olha só esse vestido, papa. Não é o mais
lindo de todo o mundo? — Dudinha apareceu na
sala segurando um vestido azul de festa. Suelen
estava ao lado.
— Lindo, meu presentinho.
— É o vestido que vou usar na festa do Dudu.
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A Tante me ajudou escolher.


— Você será a princesa mais linda da festa.
— E você o meu príncipe de olhinhos puxados,
papa. — Dudinha ganhou um abraço de Thiago.
— E você, Su, já escolheu seu vestido? —
Maria Fernanda estranhou o olhar distante de
Suelen.
— Já.
— O papa agora precisa ir. Eu volto amanhã
— Thiago girou Dudinha no ar e ouviu a
gargalhada contagiante da pequena. — Tchau, meu
amor. — Beijou os lábios de Maria Fernanda antes
de sair.
— Por que está assim, Su? Seu olhar está tão
triste... — A amiga puxou Suelen para o Sofá e
Dudinha voltou para seu quarto.
— Aquele manipulador está tirando meu juízo
mais uma vez. O problema é esse.
Maria Fernanda pensou em enumerar os
motivos para Suelen ficar longe de Sergio, mas o
olhar da morena estava quase expulsando lágrimas,

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então ela desistiu.


— Venha cá. — Suelen deitou a cabeça no
colo da amiga. — Você tem certeza disso? Você
pode estar confusa e deslumbrada.
— Ontem ele me pediu perdão mais uma vez e
discutimos muito. Eu nunca o traí, mas ele acredita
fielmente e insiste em dizer que me perdoa pela
traição e que cuidaria do filho do traficante, se eu
não tivesse abortado. Eu nunca tive nada com
aquele traficante, ele que vivia me cercando na
estrada.
— Su, essa história está estranha. Por que não
conversam direito?
— Não quero, toda vez lembro o crime que
cometi no momento de desespero. Dói. Sinto raiva
de mim e dele por mandar trazer os remédios e
ainda me acusar de traição para tirar o peso das
costas. O que eu fiz machuca muito, por isso não
quero tê-lo perto, ele me faz lembrar. — Suelen
enxugou os olhos e fortaleceu a postura. — Vou
colocar nossa pequena para dormir. Hoje vou
dormir com ela, estou muito carente de afeto e só o
cheirinho doce dela pode acalmar meu coração.
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Suelen seguiu para o quarto e Maria Fernanda


deitou no sofá, analisando a situação da amiga. Ela
se lembraria de conversar com Sergio depois.
Eduardo tinha observado o momento em que o
carro de Thiago saiu do prédio. Naquele momento,
ele estava na frente da porta da cobertura. Não
tocou a campainha. Deu leves batidas, pois não
pretendia acordar Dudinha.
Maria Fernanda o viu através do olho mágico e
abriu uma brecha na porta.
— Está tarde para visitar sua filha.
— Vim porque preciso conversar uma coisa
séria. Se não quiser me deixar entrar, por favor,
desça comigo até o carro. A Dudinha é muito
esperta, não é um assunto para ela.
— É sobre você andar armado?
— Vai me deixar entrar?
— Não fale alto e nem faça barulho. — Ela
abriu a porta, Eduardo entrou e se sentou no sofá.
— Uso uma arma para me defender.
— O que mais andou aprontando?
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— Trabalho duro para conseguir minhas


coisas, isso desperta inveja. Também nunca fiz
questão de viver em falsa paz com inimigos. Bateu,
levou. Sempre foi assim. Estagiei na J.A.
Engenharia quando estava na faculdade. Terminei
meus estudos e continuei lá. Foi nessa época que eu
conheci você e aconteceu a loucura do nosso
casamento.
Eduardo olhou em direção ao corredor do
quarto.
— Ela já está dormindo. Continue. — Maria
Fernanda sentou em uma distância considerável.
— É melhor conversarmos em seu quarto, lá é
mais seguro.
— Dudinha está segura no quarto e nós
estamos seguros aqui, na sala. Termine o que
começou a me falar. — Maria Fernanda cortou a
ideia.
— O senhor Alfredo sempre foi um homem
íntegro. Ele me ensinou tudo. A J.A. Engenharia
era a número um do mercado, mas a Moedeiros
derrubou esse reinado. Eu sabia que isso iria
acontecer, trabalhei para isso. Sempre quis ter a
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J.A. como concorrente porque no dia em que isso


acontecesse, eu estaria no topo.
— Então, passou a perna no dono da J.A.?
— Eu nunca faria isso com ele. Mas não
poderia ficar para trás. Há alguns anos o senhor
Alfredo sofreu um acidente e ficou em uma cadeira
de rodas. O Junior, filho dele, assumiu o lugar do
pai e, desde então, a coisa ficou pesada. Fugiu
totalmente do âmbito dos negócios.
— Me lembro do ruivo e também do seu
antigo patrão. — Mais relaxada, Maria Fernanda
colocou as pernas sobre o sofá.
— Quando ele assumiu os negócios da família,
quis recuperar a ascensão de qualquer jeito e eu
jamais permitiria. Lutei tanto para conseguir a
liderança, nunca iria perder para um demente que
disputa comigo desde a faculdade. Muitos clientes
da J.A. Engenharia preferiram fechar negócio
comigo e, por mais que ele tentasse, não conseguia
ter a mesma credibilidade que a minha no mercado,
então ele foi caindo cada vez mais. Foi aí que
Junior passou a me confrontar diretamente, e eu fui
pra cima todas as vezes.
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— Ele é o responsável pelo rombo na


Moedeiros? Se for isso, ele não é tão demente. O
trabalho foi bem feito.
— Eu sei que ele está por trás de tudo, mas tem
aliados perto de mim. Não é apenas nos roubos que
ele está envolvido. Vou te mostrar uma coisa... —
Eduardo segurou a barra da camisa.
— Não faça isso, ou eu te coloco para fora
imediatamente. — Ela tentou impedi-lo.
— No que está pensando, mulher? Eu só vou te
mostrar cicatrizes. — Ele puxou a camisa e virou as
costas. — Final da região lombar.
— São marcas de tiros? — Maria Fernanda
tocou as duas marcas profundas.
— Eu sofri alguns atentados. Em um deles me
acertaram. O Sergio escapou de um tiro, por pouco.
Sorte dele que conseguiu entrar no carro antes dos
disparos. O mandante queria me deixar deficiente,
eu presumi, pelo local específico em que acertaram.
Mas felizmente não atingiu nenhuma vértebra.
— Procurou a polícia? Isso é muito grave.
Ele ainda estava de costas. Maria Fernanda não
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estava se dando conta, mas seus dedos começaram


a passear fora das cicatrizes e percorria as costas de
Eduardo.
— Procurei. — Ele fechou os olhos. — Mas
não resolveram nada. Falaram que tudo não passou
de um assalto.
— E ficou por isso mesmo?
— Eu fui tirar satisfação com ele depois que
sai do tratamento, mas me compadeci e não o
matei, vi os três filhos dele, um ainda está de colo
e... Maria Fernanda, você está querendo?
Ela se afastou abruptamente para a ponta do
sofá.
— Eu só estava conferindo, para ver se era de
verdade ou uma de suas enganações. Pode vestir
sua camisa agora.
— Eu estou com saudades de suas unhas nas
minhas costas.
— Eu não deveria ter aberto aquela porta.
— Veja como meu coração está. — Eduardo
aproximou o corpo do dela. — Quero que sinta

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como ele fica, quando estou perto de você.


— Eu não tenho motivos para fazer isso,
Eduardo. Veste a camisa.
— Me dê sua mão.
— Não vou fazer isso! Está na hora de você
retornar para sua casa... ou para qualquer outro
lugar que preferir.
— Tenho tentado fazer a coisa certa. Mas, a
cada dia nos distanciamos ainda mais. Eu não sei
mais o que fazer. Você quer me ver rastejando aos
seus pés? — Eduardo se ajoelhou a sua frente.
— Não, não faça isso. — Ela tentou impedi-lo.
— Você gosta de me ver assim? — Ele
abaixou a cabeça. Eu não me importo. Quer que eu
beije seus pés? — Ele se aproximou dos pés dela
sobre o sofá e beijou.
— O que há com você? — Ela puxou os pés e
afastou o corpo para o canto do sofá. Os olhos
estavam graúdos e um pouco assustados com o
surto do homem.
— Sei que não posso usar nossas lembranças

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para te convencer. Mas tenho guardado os melhores


momentos da minha vida. Foram poucos, e em
todos, você estava ao meu lado. Você me trouxe o
que eu tenho de melhor. Agora, me fala o que
preciso fazer para te impressionar?
— Não quero ser impressionada. Você está
equivocado em se fixar nisso.
— Um dia eu consigo provar que mudei.
— Mude por você e não queira provar nada.
Seu caráter foi formado de maneira errada. Quando
não está sendo orgulhoso, está sendo o moleque
crescido, querendo impressionar, sendo o melhor
no que faz. Você queria provar isso aos seus pais
em troca de carinho e cresceu dessa maneira.
Aprenda que afeto não é a recompensa de um
trabalho bem feito. Quando parar de querer
impressionar os outros, vai encontrar uma mulher
que valha a pena.
— Você é a única mulher que quero. — ele
falou desanimado.
— Se convença que eu vou casar com o
Thiago e que você é apenas o pai da minha filha,
Eduardo.
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— Não fale isso. — ele abraçou-a e enterrou o


rosto no pescoço dela. — Eu preciso de você.
— Você deve ter uma fila de mulheres para
facilitar sua vida. — Ela tentou empurrá-lo e
recebeu beijos na região do pescoço.
— Eu te amo.
O assunto tinha feito Maria Fernanda ficar
emotiva e, naquele exato momento, ela sentiu uma
lágrima tímida despencar, pois aquela frase
acompanhada da voz chorosa a pegou
desprevenida.
— Já está se excedendo, Eduardo. — Ela
fechou os olhos. — Esta é a última... é a última vez
que eu te falo que acabou e não tem mais volta.
Suelen chegou à sala, viu Eduardo com o rosto
enterrado e movendo-se no pescoço da amiga que
estava de olhos fechados. A morena pegou uma
penca de chaves sobre um dos móveis e derrubou
propositalmente no chão. Maria Fernanda abriu os
olhos, encarou a amiga e o afastou abruptamente.
— Hã... vou pegar minha água. — Suelen fez
cara de paisagem e passou para a cozinha.
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— A Suelen estragou nosso clima. Vamos


começar novamente no quarto. — Eduardo
enxugou os olhos e se animou com a possível
reconciliação.
— Saia daqui, agora! Para de me sufocar!
Quando eu falo "não" só existe um significado.
— Não quero sair da sua casa, tampouco da
sua vida.
— Mas você vai sair! — Ela o puxou do sofá e
empurrou na direção da saída. Eduardo se deixou
levar, mas a imprensou contra a porta.
— Quero falar mais uma vez que te quero. —
falou com os lábios roçando os dela e as mãos
dentro dos cabelos loiros. — Meu coração e o resto
do meu corpo estão queimando. E não é porque
quero seu corpo. — Aproximou os lábios do
ouvido dela. — Queimo de paixão, pois você é
minha mulher, te desejo e a quero de volta. —
Maria Fernanda sentiu a tentação da volúpia
andarilhar em seu corpo ao sentir os dentes roçando
sua pele. — Mas se é isso o que você quer...
seguirei seus conselhos e não darei mais murro em
ponta de faca. — Ele se afastou. — Não se esqueça
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da nossa festa amanhã à noite. Preciso da sua ajuda


com a Moedeiros.
— Eu... eu vou... — Ela se afastou da porta e
limpou a garganta para, em seguida, firmar a
postura. — Eu vou com o Thiago.
Eduardo voltou até o sofá e pegou a camisa.
— Mas venho mesmo assim, não posso
permitir que vocês corram algum risco. — Ele
abriu a porta. — Beije minha filha por mim. —
falou e saiu.
Maria Fernanda fechou a porta, ajeitou os
cabelos assanhados, e ainda estava com a sensação
de ter os dedos de Eduardo enroscados neles.
— Effroi[22]! — Colocou a mão no peito
quando virou e viu a amiga com um copo de água
nas mãos. — Ufa! Acho que agora ele me deixa em
paz. Boa noite amiga, eu vou dormir. — Andou
apressada na direção do quarto.
***
Thiago e Dudinha estavam sentados há uma
hora no sofá da sala, esperando as duas mulheres
terminarem de se arrumar.
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— Elas já estão terminando, vai ser rapidinho.


— Dudinha sorriu e juntou as mãozinhas na frente
do colo. Aquela já era a quinta vez que ela tentava
tranquilizar Thiago diante da demora.
— Eu espero, princesinha, eu espero.
A campainha tocou e Thiago foi atender. Eram
Eduardo e Sergio vestidos em seus ternos de gala.
— Como vai? — Sergio falou com um sorriso
forçado nos lábios.
— Vocês podem deixar os convites comigo,
vou levá-las. — Thiago tentou segurar a porta, mas
Eduardo invadiu o apartamento e foi recebido por
um abraço bem apertado de Dudinha.
— Olha só que linda princesinha! — Sergio
admirou a roupinha de Dudinha.
— Ela é a minha cara, não é Sergio? —
Eduardo olhou diretamente para Thiago.
— É sim, Edu, mas esses olhos graúdos são da
mãe. — Sergio completou alisando os cabelos
loirinhos de Dudinha.
— E o coração do meu papa, Thiago, e o

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espírito de aventura do meu papa, Giovane. A


maman fala isso o tempo todo. — Dudinha abraçou
as pernas de Thiago.
— Você parece mais comigo, Dudinha. Seus
cabelos loirinhos são iguais aos da sua avó e de sua
tia Luiza. Eu vou levar você para conhecê-las, em
breve.
— Só se a maman deixar, eu não faço nada
sem ela saber.
— Até atingir a adolescência, aí eu quero ver.
— Sergio provocou Eduardo em um sussurro.
Eduardo pegou Dudinha no colo, no intuito de
afastá-la de Thiago
— Eu tenho muita sorte na vida, tenho três
papas e um tio Sergio.
— Não esqueça que, de todos, sou o mais
importante, Dudinha. — Eduardo sentou no sofá
com a menina e Sergio o acompanhou.
Meia hora depois, só Dudinha e Sergio
conversavam na sala. As mulheres ainda não
tinham aparecido.

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— Gente, isso já é demais! Como podem


demorar tanto? — Eduardo levantou impaciente e
chegou até a ponta do corredor.
— Pode voltar. Elas só estão lá há uma hora e
meia, eu já esperei mais que isso! — Thiago brecou
a passagem de Eduardo.
— Uma hora e meia? Uma hora e meia,
Sergio! Você ouviu isso?
Naquele momento, Maria Fernanda e Suelen
apareceram deslumbrantes na sala.
Eduardo sorriu e analisou a loira, do salto ao
cabelo bem penteado — diferente do que tinha
deixado na noite anterior. — Chegou a pensar em
tê-la ao seu lado durante a festa para mostrar a
todos que ele tinha uma mulher linda ao lado. O
deslumbre de seus pensamentos foi roubado
quando Thiago a pegou pela mão e a levou em
direção à porta.
— Seu vestido é bonito, Suelen. — Sergio
tentou beijar a mão da morena.
— Você terá tempo de sobra durante a noite,
Sergio. Adiante os passos porque já estamos
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atrasados. — Eduardo segurou a mão da filha e saiu


antes de todos do apartamento.

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13

Dentro do salão de festas do hotel Paraíso,


empresários, construtores, engenheiros, estudantes
e jornalistas desfilavam com suas famílias. Aquela
era a maior festa anual do ramo. Eduardo tinha
apresentando Maria Fernanda como sócia e não
abriu mão do: "mãe de sua filha". Thiago estava ao
lado, vetando-o de ir além.
Naquele momento, Eduardo estava com alguns
clientes, mas seus olhos vigiavam Maria Fernanda
e Dudinha. Ele queria, mas não conseguia controlar
os ciúmes. Estava possesso, já tinha bebido
algumas doses alcoólicas, mas se afastou dos
garçons quando os olhos de Maria Fernanda o
questionaram do outro lado do salão.
— Ouvi um burburinho por aí de que, agora,
você é um homem de família — falou um dos
velhos clientes da empresa.

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— Sempre fui um homem de família. —


Naquele momento, os olhos de Maria Fernanda se
encontraram com os de Eduardo. — Ela também é
minha sócia e vai cuidar do financeiro da
Moedeiros.
Mesmo sem esperanças, Eduardo chamou
Maria Fernanda com um gesto. Ele sorriu e os
olhos brilharam quando ela caminhou em sua
direção.
“Por que você tinha que ser tão linda,
mulher?”
— Você a escondeu muito bem. — O homem
chamou a atenção dele. — Nunca poderia imaginar
que um sujeito boêmio como você fosse pai de uma
garotinha.
— É uma longa história. Me casei muito
jovem.
— Olá! — Maria Fernanda parou ao lado de
Eduardo.
— João, essa é a Maria Fernanda — Eduardo
apresentou, orgulhoso.
— Em que área você vai atuar,
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especificamente? — o homem perguntou curioso.


— No momento, perícia contábil — ela
respondeu e estranhou a mão de Eduardo pressionar
a curva das suas costas.
— Eu já tinha ouvido boatos de crise na
Moedeiros. Poderia dividir conosco um pouco das
suas análises? — perguntou o velho, segurando um
copo com uísque.
— A perícia é interna e sigilosa, monsieur! —
Maria Fernanda não gostou da curiosidade do
homem.
Eduardo arqueou o canto da boca em um
sorriso contido.
— Menos, ferinha, é um cliente — ele
sussurrou no ouvido dela, que estava coberto pelos
cabelos. — Cabelo cheiroso da porra... — Esfregou
o nariz, mas logo sentiu a dor aguda de uma
disfarçada unhada nas costas.
Maria Fernanda sorriu e ajeitou o cabelo na
sequência.
— Então, ela é mãe da sua filha, mas vocês...
— A mulher que acompanhava o homem, mirou
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Maria Fernanda de cima abaixo.


— Somos casados, Joaquina — Eduardo
respondeu, com a mão alisando as próprias costas.
— Um homem casado é ainda mais instigante.
Não tinha me contado este detalhe antes, Eduardo.
— A mulher passou a se insinuar descaradamente.
Maria Fernanda olhou para o lado oposto,
arrependida por ter atendido ao chamado. Foi, pois,
pensou que se tratava de alguma negociação.
— Com licença, senhores. — Ela seguiu para
onde Thiago estava com Suelen e Dudinha.
As duas tinham sido paradas por fotógrafos,
fizeram caras e bocas glamorosas, mas em seguida,
começaram a imitar poses de luta e ballet.
Thiago estava ao lado, divertindo-se com a
cena.
— Voltei. — Maria Fernanda selou os lábios
do taiwanês.
— Maman, posso brincar com aquelas
crianças? — Dudinha apontou para um grupo de
meninas.

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— Pode, petit. — A mãe ajustou o laço no


cabelo da filha.
— Onde a princesinha vai? — Eduardo parou
em frente à filha.
— Brincar com crianças. A maman permitiu.
— Então não saia de lá. Vou ficar de olho.
Dudinha caminhou com sua bolsinha
pendurada no punho.
— Vou tirar fotos para a revista, vem comigo
— Eduardo pediu a Maria Fernanda.
— Vi alguns conhecidos, meu amor. Quero te
apresentar. — Thiago direcionou a namorada para
um grupo de pessoas.
Eduardo soltou uma lufada de ar pelo nariz.
— Você esperava o quê? — Suelen o
perguntou, desaforada. — Não tem que ficar com
raivinha, não, mon chéri. Pensa que uma fungada
no cangote vai te redimir?
— Já estou com a mente cheia, Suelen, não me
provoque. Você é outra onça — Eduardo falou
displicentemente, olhando na direção do casal.
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— É preciso ser muito arretada mesmo, para


suportar des canailles, comme vous[23].
— Esse sotaque nordestino-francês, te deixa
ainda mais linda. — Sergio chegou ao lado e deu
um leve susto na morena.
— Ah, seu filho de aratanha! — Suelen usou
um tom de voz alto, chamando a atenção de
algumas pessoas e Sergio sorriu forçado para os
fotógrafos.
— Boa sorte, Sergio. — Eduardo abandonou o
casal e seguiu para beirar a mulher.
Na roda de meninas, Dudinha estava
espontaneamente tentando se enturmar.
— Tenho três papas e uma maman, isso é uma
grande sorte para uma criança pequena. Muitos não
têm um papa para trazer carinho ou brigar com a
nossa maman.
— E sua perna, ficou assim por quê? Seus três
“papas” — fez aspas com os dedos — estavam
ocupados e te deixaram cair da cama? — falou uma
menina ruiva.
— Minha perninha é assim, pois eu fui
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escolhida para ser especial — Dudinha respondeu


cheia de segurança. A mãe tinha falado aquilo para
ela.
— Você foi escolhida para ser esquisita,
garota. — A menina tirou o sorriso dos lábios da
pequena. — Uma aberração de três papas. —
Gargalhou.
— Crianças brincam e não fazem as outras se
entristecerem. — Dudinha continuou tentando, mas
os olhos azuis brilharam com um vestígio de choro.
Ela nunca tinha enfrentado o bullying antes. —
Vamos brincar um pouco? — Sorriu. — Tenho um
amiguinho aqui comigo. — Levantou o fecho da
bolsinha Chanel e ouviu as meninas gritarem,
apavoradas.
— Isso é um rato de esgoto! — a ruiva falou
histérica.
— O Julien não vivia no esgoto, apenas morou
alguns dias no lixo da minha escola. — Dudinha
defendeu o bicho, que tinha uma gravata borboleta
no pescoço.
— De onde apareceu essa garota, Alicia? —
perguntou a loirinha de cabelos longos.
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— Ela deve ser filha de três empregados,


Andrezinha.
— Alicia! — Um garoto de aproximadamente
doze anos chegou no momento exato que Julien
pulou no chão e Dudinha saiu por entre as pessoas
para recuperá-lo.
— Aquela garota manca trouxe um rato de
esgoto para a festa do nosso pai, Luiz Miguel.
O menino de olhos castanhos viu de longe a
criança gordinha, de joelhos, passando por entre as
pernas das pessoas e mostrando o shortinho de
pompom que ficava sob o vestido.
— Você viu a bolsa dela, Alicia? Não deve ser
filha de empregados.
Luiz Miguel olhou para a irmã e, em seguida,
seguiu os passos da pequena.
— Désolé, excuse moi[24]! — Dudinha tentava
seguir os passos rápidos do bicho.
Julien subiu na escadinha que fazia parte de
uma maquete e entrou na miniatura de parque.
Dudinha levantou e arrumou o vestido.

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— Julien, desce daí. Elas não vão te levar para


os esgotos da cidade. — Dudinha apontou o dedo
para o rato, que subiu em uma pequena roda
gigante. — Eu não sou tão grande para te pegar. —
Ela levantou os pezinhos, mas a mão que segurou o
bicho foi outra.
— Esse rato é seu? — perguntou Luiz Miguel.
— Salut[25]... — Ela estendeu a mão para
alcançar o bicho. — Ele se assustou com as
meninas maiores. — Dudinha estendeu a bolsinha e
o rato entrou.
Naquele momento, o menino visualizou os
olhos azuis de Dudinha e ficou encantado.
— Seus olhos são tão diferentes. — Ele ainda a
olhava nos olhos.
— As pessoas que têm olhos coloridos. É
assim mesmo.
— Mas os seus são idênticos às águas
cristalinas do mar de Weddell.
— Mar de onde? — Dudinha quis mais
informações.

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— Mar de Weddell, meu pai me levou para


conhecer nas férias. Faz parte do oceano Antártico.
Ele tem as águas mais claras do que qualquer outro
do mundo.
— Minha perna também é diferente. As
crianças maiores me chamaram de aberração de três
papas. O que é aberração? Não é uma coisa tão
legal, senti lágrimas nos meus olhos. — Dudinha
colocou uma mecha dos cabelos para trás da orelha,
descobrindo as bochechas gordinhas.
Luiz Miguel estendeu a mão e passou os
polegares nas pestanas molhadas de Dudinha.
— A temperatura do Mar Weddell também é
diferente, as águas ficam geladas permanentemente,
esse é o defeito dele para nós seres humanos. Não
podemos tirar as roupas e dar um mergulho. Mas
ele é tão lindo e puro, que a frieza se perde nesses
detalhes, é um paraíso visual muito bonito e
admirado. — Ele alisou a bochecha gordinha. —
Não chore, Mar.
— Não vou chorar. Podemos brincar? —
Dudinha sorriu.
— Eu não sou mais criança, sou adolescente.
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Mas podemos olhar o parque que meu pai vai


construir. — Luiz Miguel tocou uma das árvores
internas da maquete.
— Uau... esse parque de papel foi o seu papa
que fez? — Dudinha ficou novamente na ponta do
pé.
— Meu nome é Luiz Miguel, qual o seu Mar?
— Maria Eduarda e Dudinha.
— Dudinha! — Eduardo gritou de longe.
— Olha, Dudu, o papa do Luiz Miguel que fez
essa construção de papel. — Eduardo viu que o
garoto segurava a mão de sua filha.
— Mas o quê? — Eduardo fez Dudinha se
separar do menino. — Um pai não pode mais virar
as costas que os gaviões mirins começam a rondar.
Essa aqui é proibida, moleque.
— O que é isso, Eduardo? — Maria Fernanda
tinha visto o homem saindo furioso de onde estava
e acompanhou-o.
— O pai desse menino é o Junior, Maria
Fernanda. Não quero nenhum deles perto do meu

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bem mais precioso. Eu não deveria ter trazido a


minha filha.
— O que essa criança pode fazer a Dudinha?
Controla-se, homem.
— Não gosto de você. — O garoto falou
olhando diretamente nos olhos de Eduardo e os
punhos foram cerrados. — Você não é melhor do
que o meu pai em nada. E se você chegar perto da
minha mãe outra vez, vou resolver.
— Você está vendo, Maria Fernanda. Isso já é
a cópia perfeita do pai. Por que você não foi puxar
ao seu avô? Pivete!
— Eduardo! — Maria Fernanda o estapeou e
segurou a mão da filha.
— Você não pode ser ranzinza com o Dudu,
Luiz Miguel. Ele é o meu papa. — Dudinha tomou
partido.
— Meu pai disse que vai acabar com você — o
menino tornou a enfrentar Eduardo.
— Ele pode até tentar ser melhor do que eu,
mas ele nunca vai conseguir! — Eduardo passou a
mão nos cabelos.
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— Agora vai discutir com uma criança? —


Maria Fernanda o repreendeu.
— Ele estava chegando junto da Dudinha, sou
homem, conheço essas coisas. Tenho certeza que
falou dos olhos... Moleque, nunca mais se aproxime
de minha filha. Não olhe para ela, não pense nela,
muito menos respire perto dela.
— Eu não vou ser adolescente o tempo todo.
— O menino convivia com brigas diárias dentro de
casa, nelas sempre escutava o nome Eduardo
Moedeiros, então começou a pesquisar sobre o pivô
das brigas entre os pais.
— Adolescente... — Eduardo sorriu. — Cresça
primeiro, filho, depois venha me encarar. —
Eduardo achou um desaforo.
— Por que você não procura alguém do seu
tamanho, Eduardo Moedeiros? — O homem ruivo
colocou a mão sobre o ombro do filho.
— Talvez porque aqui não haja ninguém à
minha altura, Junior Alvares Azevedo — Eduardo
falou o nome do homem amargamente.
— Soube que a Moedeiros está em crise. A
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coisa está feia para o seu lado, meu caro colega.


Até está demitindo o seu pessoal. — O homem
sorriu, irônico.
— Eu não poderia estar em uma fase melhor
na minha empresa! Agora estou trabalhando com a
Maria Fernanda. Ela estudou na França e veio
especialmente para cuidar das nossas finanças.
— Olha... quem está de volta! — Junior
fiscalizou Maria Fernanda de cima abaixo.
— Seu desgraçado!
— Vamos sair daqui. — Maria Fernanda
empurrou o peito de Eduardo.
— Sua anjinha é uma linda Moedeiros —
Junior provocou e Maria Fernanda precisou se
equilibrar para sustentar a fúria de Eduardo.
Dudinha segurou uma das pernas do pai.
— Você me trouxe aqui para ver sua
brutalidade de perto? — Maria Fernanda o encarou.
— Faça isso sozinho. Vou pra casa. — Ela o soltou.
— Junior. — Thiago se aproximou, pois estava
procurando a namorada.

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— Desde quando se interessa por engenharia e


arquitetura? — Júnior cumprimentou Thiago com
um abraço, demonstrando a intimidade de velhos
amigos.
— Vim apenas acompanhar minha noiva e
minha filha — Thiago respondeu e abraçou Maria
Fernanda
— Então você roubou a mulher de Eduardo
Moedeiros? — O homem gargalhou. — Você é o
cara e merece o meu respeito, meu amigo. —
Junior continuou gargalhando.
Eduardo sentiu um furor percorrer sua espinha
e só parou para respirar quando Junior estava sobre
a maquete. Os fotógrafos imediatamente se
aproximaram e Maria Fernanda segurou a filha no
colo.
— Não me provoque, seu desgraçado! —
Eduardo esmurrou Junior outra vez quando ele
levantou. — Então são amigos? Duas desgraças
juntas tramando contra mim! — Eduardo ficou
transtornado.
— Eduardo Moedeiros, esse homem roubou
sua mulher? — perguntou um estudante de
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jornalismo com o celular na mão. Eduardo


respondeu com um soco.

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14

Os fotógrafos fecharam uma roda em torno de


Eduardo. Maria Fernanda segurou Dudinha nos
braços e saiu o mais rápido possível.
— Maria Fernanda! — Eduardo correu atrás
dela.
— Não venha atrás de mim. Era isso o que
você queria? — Ela continuou caminhando entre as
pessoas. — Conseguiu findar o resto de
credibilidade da sua empresa, brutamontes.
— Não resisti à provocação... Para de andar
um minuto, mulher. — Ele parou frente a ela. —
Me dê a Dudinha, vou tirar vocês daqui.
Dudinha estava com a cabeça no ombro da
mãe.
— Não vou te entregar minha filha nessas
condições.

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— Você vai mandar esse cara ir pra casa do


caralho, hoje mesmo!
— Não grite comigo! — ela o repreendeu.
— Mesmo eu sendo um sujeito todo errado,
não saio mais de perto de minha família. Você
querendo ou não.
Ela desviou dele, e os jornalistas já estavam
em cima de Eduardo outra vez. Ele empurrou
alguns fotógrafos e seguiu escoltando os passos da
mulher.
— Sergio! — gritou ao amigo, que simulava
um aviãozinho de doce para Suelen. A morena se
recompôs rapidamente. Eles nem tinham se dado
conta da confusão do outro lado do salão.
— O que foi, Edu?
— O Junior e o verme do joalheiro impostor
são amigos. Agora estou compreendo as coisas. —
Eduardo passou a mão no cabelo e bagunçou o
penteado.
— Vou tirar o carro, Fernanda. — Thiago
apareceu só para levar um soco.

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— Ne pas se battre . — Dudinha pediu


chorando.
— PARE COM ISSO! — Maria Fernanda
gritou transtornada, pois a filha estava ali, vendo
tudo.
— Filha, me perdoa, meu amor. Não chora. —
Eduardo beijou os cabelos da criança. — Maria
Fernanda, me escuta uma vez nessa vida! —
Eduardo firmou as duas mãos ao lado do rosto da
mulher. — Está tudo evidente. Quero proteger
vocês duas.
— O Junior é meu amigo há anos. — Sergio
segurou Eduardo, que avançou outra vez sobre o
Taiwanês. — VOCÊ PRECISA SE TRATAR! —
Thiago gritou enraivecido.
Suelen pegou Dudinha do colo da mãe e se
afastou.
— Sergio, leve a Maria Fernanda para casa —
Eduardo ordenou.
— Eu vou levá-la — Thiago deixou claro.
— Você ainda não entendeu, porra?! —
Eduardo foi segurado por Sergio outra vez.
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— Edu, se acalma parceiro.


— O Junior é inimigo declarado seu, isso todos
sabem! Com quem nessa cidade Você não tem
rixa? — O taiwanês não estava calmo.
— Me leve pra casa Thiago, precisamos
conversar.
— Você não vai sair daqui com ele. Se for,
minha filha vai para minha casa. — Eduardo
continuou alterado. — Não importa meus erros, é a
proteção dela que está em jogo. A proteção das
duas!
— Esse homem é meu porto seguro desde a
adolescência. Confio nele e tenho motivos. Quando
estiver sóbrio vá pedir desculpas a sua filha pelo
vexame que a fez passar.
A mãe pegou a criança e caminhou em direção
à saída, Thiago a acompanhou e Eduardo fez o
mesmo.
Pouco tempo depois, já dentro da cobertura, a
mãe esperou a menina seguir na direção do quarto e
sentou no sofá.
— Conheço o Junior há anos, Fernanda,
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moramos no mesmo condomínio e raramente nos


encontramos, mas somos amigos. Esse assunto é
isolado dele com o Eduardo. Eu posso garantir que
meu amigo é uma ótima pessoa. Não acredite em
todos os absurdos que esse homem te conta. Eu
tenho certeza que ele já tentou me jogar contra
você.
— O Junior é perigoso, Thiago. Ele já tentou
contra a vida do Eduardo.
— Seu ex-marido possui muitos inimigos. Se o
Junior é um, não me envolvo em brigas de
terceiros. O propósito dele é acabar com nossa
relação com desconfianças, pense mais um pouco
sobre isso.
— O pai da Dudinha tem muitos defeitos, mas
tem tentado mudar pela filha.
— Já tinha aceitado viajar amanhã com a
família do Junior, fui convidado hoje cedo pelos
pais dele; ia levar você e minha filha para
conhecerem a estância, mas acredito que será
impossível, agora que as desconfianças foram
lançadas.
— Não vou deixar a Dudinha ir e, por favor,
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não vá, Thiago. — Maria Fernanda usou um tom


— Preciso esfriar minha cabeça ou eu vou
procurar aquele cara e fazer uma besteira. Ele já
está me tirando a razão. O pior é saber que vai ser
assim para resto de nossas vidas. — Thiago
levantou do sofá. — Se você não quiser ir, tudo
bem, mas não tenho nada contra a família Álvares
Azevedo. Já está tarde... vou acordar bem cedo para
pegar a estrada.
— Não estou brigando com você. Apenas não
quero que vá.
— Estou cansado, Maria Fernanda. —Thiago
interrompeu. — Vou dar um beijo em minha filha.
— Thiago foi em direção ao quarto de Dudinha.
Não demorou e voltou.
— Vai mesmo fazer isso? Fique mais um
pouco, vou fazer um chocolate quente.
— Quando eu voltar, Fernanda. Me deixa
respirar um pouco.
— Me perdoa, Thiago.
— Não estou cobrando nada de você, só me
irrita saber que ele sempre estará aqui.
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Compartilhamos os mesmos amores, mas a maneira


dele é suja e sempre vai interferir em nossa relação.
— Thiago beijou a testa dela e saiu do apartamento.
Maria Fernanda desmanchou o penteado do
cabelo e deitou no sofá, mas passou pouco mais de
um minuto ali. Quando ela levantou para cuidar da
filha, ouviu batidas na porta.
— Você ainda está transtornado — falou por
entre uma fresta da porta. Eduardo estava do outro
lado.
— Eu não vou entrar, apenas quero saber se
estão bem.
— Estamos. Agora vá.
— Tranque a porta. Não pense que eu sou um
psicopata por me preocupar. Faço isso pois tenho
todos os motivos. Boa noite.
Ele seguiu em direção ao elevador e Suelen
passou por ele.
— Beijei o Sergio — A morena falou assim
que viu a amiga.
— Entre. — Maria Fernanda olhou para os

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dois lados do corredor e fechou a porta.


— Beijei e agora estou... ainda não tive tempo
de me arrepender, mas vou, assim que der —
Suelen confessou, nervosa. — Estou perdida.
— No momento, não sou a melhor conselheira,
mas pense bem no que está fazendo. Não aprovo,
até ele provar o contrário. Essa é minha opinião,
amiga.
— Fui eu que o puxei e beijei... Nunca pensei
que me prestaria a esse papel depois de anos de
sofrimento. — Suelen estava sentada no sofá com
os olhos arregalados. — Será que tem uma mínima
possibilidade dele mudar? — Ela estava muito
confusa.
— Seu problema com o Sergio, foi o
preconceito e a canalhice de um moleque
inconsequente. É pessoal e só você pode medir a
gravidade. Meu problema com o pai da Dudinha é
sobre a confiança que nunca existiu. Não posso
depositar confiança em um homem que trai.
Eduardo também é grosso e violento. Nunca foi
comigo, mas é com todo mundo ao redor. Ele
nunca largou aquela mania de viver gritando; ainda
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deve quebrar as coisas. Eu sei o que eu passei nas


mãos dele, por isso, não consigo me imaginar na
sua situação. Mas coloque seus pesos na balança e
converse com o Sergio.
— Estou medindo tudo nesse momento, minha
mente está trabalhando aqui. Quando a mãe do
Sergio trouxe aqueles remédios que ele mandou,
uma parte minha morreu. Eu estava tão perturbada
naquele dia, que nem lembro o momento que
ingeri. Quando acordei, já estava muito
ensanguentada e com a embalagem sobre a cama.
Éramos dois irresponsáveis, mas esperei que me
apoiasse. Ele preferiu me acusar de ter engravidado
de outro. Eu não consigo diminuir essa mágoa, pesa
muito, por isso, já estou arrependida... foi bom
conversar com você, gatona. Vou esquecer esse
maldito beijo. Boa noite.
— Só não se martirize com as lembranças.
Tente dormir. — Maria Fernanda deu o último
conselho.
***
Na noite seguinte, Suelen estava pronta para
jantar com um amigo de Thiago. Ela tinha aceitado
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o convite há três dias, então a morena resolveu não


desmarcar o encontro.Naquele momento, ela estava
na sala à espera do pretendente.
— Eu atendo... — Dudinha levantou apressada
quando a campainha tocou.
— Boa noite, princesa. — falou o moreno
sorridente do lado de fora.
— Você veio buscar a tante?
— Se tante for a Suelen, sim.
— Meu tio Sergio não vai gostar disso —
Dudinha falou enciumada.
— Dudinha, meu amor, esse é o tio Juliano. —
Suelen colocou a mão no ombro da pequena.
— Você já me falou, mas eu prefiro o tio
Sergio.
— Nanda, me ajude aqui. — Suelen, sem graça
diante de Juliano, buscou auxílio.
— Dudinha, a Suelen só vai sair um
pouquinho, depois ela vai voltar para dormir com
você.

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— Mas o tio Sergio me deixou de olho nela, e


a tante não pode ter dois namorados.
— Dudinha... — Suelen sorriu sem graça. —
Eu ainda não tenho namorado nenhum —
esclareceu para o homem. — E o tio Juliano ainda é
um amigo.
— Ele não é meu tio. Só o tio Sergio é. —
Dudinha cruzou os braços e estava brava.
— Dudinha, vá sentar no sofá, já estou indo
conversar com você. Desculpe-me Juliano, a
Dudinha é um pouco espontânea. — A mãe firmou
os olhos nos da filha.
— Não se preocupe, ela é linda, e amo a
sinceridade das crianças. — O homem apenas
sorriu.
— Dudinha, eu volto antes de você dormir
para te contar uma história bem bonita. — Suelen
beijou as bochechas da menina.
— Não precisa, não vou esperar. Você me
decepcionou muito hoje, S-u-e-l-e-n. — A menina
balançou o pescoço, ainda com os braços em torno
da barriga.
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— Dudinha! — A mãe percebeu Suelen quase


desistir de seu encontro. — Vão logo. Eu vou
conversar com essa pequena chantagista.
— Eu prometo trazer sua tia antes das dez para
ver você dormir. — Juliano tentou ganhar a
confiança de Dudinha.
— O problema não é você seigneur[26] Juliano,
o problema é que a tante já tem um namorado, e o
nome dele é tio Sergio.
— Vão e divirtam-se, que eu cuido dessa
pequena atrevida. — Maria Fernanda praticamente
empurrou os dois para fora da casa e fechou a
porta.
— A tante e o tio Sergio... — A menina ainda
tentou argumentar com a mãe.
— Para seu banquinho. Sete minutos.
— Mas eu gosto do tio Sergio, ele é amigo
do...
— Vou aumentar um minuto antes do seu
aniversário se não caminhar até seu banquinho
agora. — A mãe apontou.

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A menina seguiu emburrada até o canto da


sala, onde havia um pequeno banquinho rosa de
veludo.
— Me fale por que está aí.
— Eu dei opinião na conversa de adultos. —
Dudinha falou com a voz embargada e gesticulou
com as mãos.
— Você não quer ver a Suelen feliz, Dudinha?
— Mas eu gosto do tio Sergio, ele pode fazer
minha tante feliz. Mas as pessoas adultas não
escutam minha opinião.
— O tio Sergio teve a chance dele de fazê-la
feliz. Outra pessoa também merece essa chance.
Vamos fazer assim, a Suelen escolhe e nós ficamos
responsáveis por fiscalizar os dois.
A campainha tocou e Maria Fernanda pensou
ser Suelen que teria dispensado Juliano. Tratando-
se de Suelen, ela sabia que tudo poderia acontecer.
Ela abriu a porta, pronta para dar um sermão,
mas foi surpreendida por Eduardo, Sergio e Irene
na porta.

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— Boa noite, Maria Fernanda — Sergio


cumprimentou. — Dona Irene, secretária do Edu.
— Boa noite, Irene.
— Boa noite senhora, peguei uma carona até
próximo ao meu bairro, vão me deixar lá depois.
— Esqueça a “senhora”, Irene. Ainda tenho
vinte sete anos. — Maria Fernanda usou sua
cordialidade para receber a mulher. — Entre.
— Viemos direto da empresa. Decidi não
esperar mais. Quero pagar tudo o que devo e fechar
as portas com dignidade. — Eduardo estava
desanimado. — Perdemos os últimos clientes de
peso, se continuar com as atividades nessa situação,
vamos gerar mais dividas.
— Onde está Suelen? — Sergio estava
sorridente.
— Ela saiu com um homem masculino, tio
Sergio. — Dudinha gritou de onde estava.
— Dudinha? — Eduardo correu os olhos na
sala.
— Quem é esse homem? — Sergio se alterou.

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— Foram para um encontro de pessoas adultas


— Dudinha não guardou segredos. Eduardo seguiu
até onde a filha estava.
— Eu pensei que estivéssemos bem. Eu
planejei comprar um anel. Estou tentando fazer a
coisa certa dessa vez. Ela me deu esperanças
ontem, a noite toda. — Sergio sentou no sofá com o
olhar triste.
— E onde foi esse encontro? — Eduardo
perguntou e pegou a filha no colo.
— O Juliano é um amigo nosso. Saíram para se
divertir. São livres, desimpedidos e jovens. Qual o
problema? — Maria Fernanda ofereceu assento
para Irene.
— O problema é que o tio Sergio é namorado
da minha tante! — Dudinha falou desaforada.
— E o seu, é a desobediência e insistência em
conversas de adultos. Ainda não passaram os sete
minutos, coloque-a novamente no castigo. — Maria
Fernanda ordenou a Eduardo.
Os olhos de Dudinha se encheram de lágrimas
outra vez.
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— Dudu, minha boca é pequenininha, mas eu


não consigo fechar. A maman não entende isso. —
Uma lágrima desceu do olho da menina
Eduardo viu aquilo. Todos na sala viram
aquilo. Dudinha começou a chorar dengosa e
Eduardo sentou no banquinho com ela no colo. Ele
sentiu seu coração apertar, mas se conteve para não
tirar a autoridade da mãe. Então apenas beijou os
cabelos da menina e a abraçou em seu peito.
— Não briga com ela por isso. — Sergio pediu
em defesa de Dudinha.
O coração da mãe sempre dizia não na hora de
ser mais firme, mas fazia isso, pois era preciso
corrigi-la para o futuro.
— O Senhor Eduardo quer pagar as dívidas.
Não apenas as urgentes, mas todas. — Irene
começou o assunto.
— Se esse dinheiro estiver disponível, é o
melhor a se fazer. O rombo está muito grande. —
Maria Fernanda voltou seu olhar para a visita.
— Já passou o tempo, Maria Fernanda? —
Eduardo perguntou, enquanto ameigava a filha.
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— Já. —Olhou para a filha. — Vá para seu


quarto, Dudinha! Pense em tudo, depois venha
conversar com a maman.
— Você quer conhecer meu quarto, Dudu? —
Dudinha estava com a voz chorosa.
— Quero sim, princesinha. — O pai beijou os
olhinhos da pequena e adentrou o corredor da casa
com ela no colo.
Passaram mais de dez minutos e Irene, Sergio
e Maria Fernanda ainda discutiam sobre o assunto
da empresa.
— Esse empreendimento foi um projeto
desejado e bem projetado. Eu e o Edu, perdemos
noites para cuidar do projeto e da construção, mas
escolhemos mal o nosso pessoal. O desgraçado
acabou com tudo.
— O meu emprego é muito importante. —
Irene ingeriu o líquido da xícara. — Eu preciso
muito do meu salário de secretária para pagar a
casa dos meus pais. Eu não sei o que vou fazer se
ficar desempregada novamente. O financiamento
foi grande, os juros são altíssimos. Mais do que
nunca preciso desse emprego.
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— Acalme-se Irene, tudo vai se resolver. Vou


conversar com o Eduardo para tentar outro
caminho. Com licença, volto com soluções.
Ainda do corredor, Maria Fernanda ouviu a
voz de Eduardo grosseiramente infantilizada.
Dudinha dava uma doce gargalhada. Quando ela
chegou na porta do quarto, avistou Eduardo
simulando uma discussão, entre o urso Pimpão e
Rudolf. Ela preferiu ficar observando aonde aquilo
iria dar. Queria ver o propósito do pai de sua
criança. No final da dinâmica, tudo acabou em um
abraço de urso e uma enorme gargalhada infantil de
Dudinha.
Maria Fernanda também sorriu, vendo a
alegria estampada no rosto da menina. A mãe
simulou uma tosse para ser notada e entrou no
quarto, surpreendendo Eduardo que acabou caindo
da beira da caminha rosa.
— Eu não tinha percebido você aí, mulher. —
Ele fingiu ter se sentado de propósito no chão.
— Acabei de chegar. — A mãe pigarreou mais
uma vez ao receber a olhada de Dudinha, que tinha
visto o momento que ela chegou.
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— Eu tenho uma solução para estancar o


problema da Moedeiros.
— Já sei, conversa de adultos — Dudinha
balançou a cabeça, levantou e passou por Maria
Fernanda.
— Dudinha... — Antes de cruzar a porta,
Eduardo a chamou. — O que combinamos?
Dudinha voltou e estava aparentemente
lutando contra um pequeno orgulho.
— Maman... eu não vou mais te entristecer
nem um... pouquinho, com meus atrevimentos
repentinos. — Simulou o tamanho com a pontas
dos dedos e apertou os olhos para enfatizar. — Mas
também não vou deixar de ser atlética.
— Não filha, autêntica. — Eduardo sussurrou.
— Isso, autêntica. Autêntica quer dizer
verdadeira. Você sabia?
— Ah, é? Eu não sabia. — Maria Fernanda
lutou para manter a seriedade.
— O Dudu gosta quando sou assim.
— Você é a alegria da maman, petit. Mas
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precisa escolher as palavras que saem da sua boca,


já conversamos muitas vezes sobre isso. Pensar e
analisar, antes de falar — As duas repetiram a
última frase juntas.
— Mas eu vou ser atlética.
— Autêntica. — Eduardo mais uma vez
sussurrou.
— Eu te amo. Agora fica lá com seu tio. A
maman precisa conversar com o seu pai.
Dudinha saiu e Maria Fernanda a seguiu com
os olhos até sumir no corredor. Quando voltou seu
olhar para Eduardo, ele a observava.
— Eu não saberia educar um bebê com a
maturidade que eu tinha naquela época, mas você
fez isso muito bem sozinha.
— Você continua com a mesma maturidade,
não se iluda. — Maria Fernanda andou até a
pequena poltrona rosa de Dudinha e sentou. — Mas
está lutando para ser um bom pai, isso vai
amadurecer sua pessoa.
— Eu quero assumir a Dudinha na certidão e te
ajudar de agora em diante na criação dela. Se você
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me perdoasse poderíamos formar uma família de


verdade.
— Vamos precisar voltar à Europa em breve.
O médico da Dudinha marcou a próxima cirurgia.
— Ela mudou o rumo da conversa.
— É mesmo preciso? Ela está tão bem.
— Ela sente dores horríveis quando fica sem
os remédios, e eu não quero minha pequena
dependente de remédios pelo resto da vida.
— Então a cirurgia é para conter as dores, não
por estética?
— Os três centímetros a menos da perninha
serão para a vida toda. Os tratamentos são para
livrá-la do sofrimento das dores físicas.
— Como aconteceu? Eu quero saber, me
conta.
— Tive uma gravidez de risco, porque me
estressei muito nos primeiros meses.
Eduardo abaixou a cabeça, envergonhado
diante do peso do passado.
— Eu sou o culpado.
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— Sim, você é o culpado. — A voz de Maria


Fernanda chegou a tremer. Eduardo já tinha
consciência, mas aquelas palavras, ditas com a voz
embargada da mulher, fez dobrar seu fardo de
culpa. — Minha Dudinha quase não sobreviveu.
Ela ficou meses em um hospital. Foi lá que contraiu
a infecção no osso da perna.
— Você está certa em não me perdoar. —
Eduardo encarou o urso em sua mão e não enxugou
os olhos
— Sim, estou muito certa — confirmou.
— Eu fui um desastre de marido.
— O pior de todos. — Ela fez questão de
completar.
— Mas eu quero ser um bom pai, quero
protegê-la de tudo. Uma deficiência não vai limitar
a capacidade da minha filha. Está na hora de
assumir meu papel, embora eu não esteja
merecendo, né?
— É bom saber que reconhece isso. — Ela
seguiu firme.
— Mas quem sabe um dia a mãe da Dudinha
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me perdoe... — Eduardo jogou e a espiou na


esperança da resposta.
— Sobre a empresa — Maria Fernanda mudou
o rumo — ,estive pensando em uma coisa que pode
te ajudar a pagar as dívidas e, quem sabe, reergue-
la mais rapidamente. — Ela pareceu não tão certa
da decisão de última hora.
— Você descobriu o traidor que invadiu o
sistema para Junior? Se for isso, temos provas para
processá-lo e pegar a indenização. — Eduardo
levantou de onde estava e colocou os joelhos no
chão, frente a ela.
— Não sou uma agente da polícia e tampouco
hacker. Como eu poderia saber disso? Descobri
datas e contas, mas sempre estão em nome de
laranjas que geralmente são inocentes. Investigo as
contas e quem as movimentou, mas pegar ladrão, é
só com a polícia mesmo. — Ela levantou da
poltrona para se distanciar de Eduardo e sentou na
cama de Dudinha.
— É que eu já te vejo como heroína. E você
fica linda em uma fantasia de mulher maravilha. —
Eduardo sorriu, safado, e se aproximou de onde ela
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estava.
— Largue seu cinismo depravado e preste
atenção nas minhas palavras. Você precisa tratar
essa sua perversão!
— Tudo bem, fale. Eu estou te ouvindo. Nem
eu mesmo me entendo quando estou assim, perto...
Estivemos poucas vezes juntos, mas sou alucinado
por você... minha mulher. Ele fez questão de sentar
bem próximo a ela. — Agora mesmo, estou
lembrando: a praia, o carro fechado e da sua
deliciosa surra de...
— Calado! — Maria Fernanda sacudiu a gola
da blusa, pois sentiu um repentino calor com o
lapso de memória. — Respeite meu relacionamento
e não fique tão... assim, se esfregando. Estamos
separados.
— Então fale, não vou te interromper. — Ele
olhos os cabelos dela.
— Pago as dívidas com o dinheiro que você
me devolveu e com a outra parte que minha
madrinha me deixou, e você me dará tudo de volta
daqui a um ano. Estou pensando nos funcionários.
O Jorginho está pensando em se casar; a Irene está
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com financiamento alto para pagar, fora os outros


que eu ainda não conheço. O negócio também é
meu e não vou deixar uma herança de minha filha
afundar. O que foi? Estou falando sobre um assunto
sério, por que está sorrindo? — Ela se afastou.
— Você é muito maravilhosa e nem de longe
mereço que volte pra mim. Mas sigo confiante.
— Ouviu o que eu disse?
— Não posso aceitar seu dinheiro.
— Como não, homem orgulhoso? É a sua
empresa, sua vida, seu tudo.
— É melhor você guardar esse dinheiro para as
despesas da Dudinha, ela é mais importante que a
empresa.
— A Dudinha é mais importante que a
empresa? Você está se sentindo bem, homem?
— Minha filha é mais importante que qualquer
outra coisa. Foi isso que eu falei. Minha vida agora
tem outro sentido. A Dudinha é minha própria vida.
Sou capaz de tudo para proteger minha família.
Maria Fernanda apenas o encarou e não

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encontrou uma frase de efeito para mandá-lo parar


de forçar a enganação, pois as certezas das
palavras estavam sendo justificadas por uma
ameaça de lágrimas. Aliás, aquele homem ficava
muito fofo quando não escondia o choro. — Não
era bom ver aquilo em um momento de TPM
emocional!
— Eu não vou poder te ajudar a pagar as
despesas médicas, Maria Fernanda. Um tratamento
desses na Europa deve ter um custo muito alto. Use
o dinheiro para cuidar dela. Ele foi responsável por
tudo entre nós. O mais justo é que fique para a
Dudinha. Guarde para o futuro dela. Eu vou
conseguir passar por essa crise financeira.
Maria Fernanda não entendeu ao certo o que
aconteceu ali, mas pingou uma lágrima em suas
bochechas. Foi inevitável se lembrar dos incidentes
que aconteceram anos atrás, por falta de uma
atitude como aquela.
— Minha filha é tudo — Eduardo prosseguiu.
— Isso é tão bom de dizer! Minha filha é mais
importante que minha vida. — O que foi? —
Eduardo viu aquela lágrima antes que ela virasse o
rosto. — Não chora mulher, você quer acabar com
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meu coração?
— Eu só lembrei de uma história, nem estava
ouvindo você conversar direito. — Ela tentou
disfarçar. — Já está tarde...
— Eu estou sem dinheiro e é você quem
chora? — Eduardo acariciou os cabelos loiros até
as pontas, depois beijou a cabeça da mulher.
— Se afaste, Eduardo. Eu fui na delegacia e
retirei a queixa contra você, pois agora você deve
conviver com a sua filha, mas apenas próximo a
ela. Se afaste, estou muito sensível para isso. — Ela
o empurrou com o cotovelo.
— Está no período, mulher? — Eduardo
aproveitou para cheirar-lhe os cabelos.
— Não temos intimidade para esse tipo de
assunto. Em dez dias estaremos separados para
sempre.
— E quem te disse que eu vou permitir isso?
— Eduardo recostou os lábios na ponta do nariz da
mulher. — Nenhuma outra tem essa pele, esse
cheiro, esse cabelo... eu já te falei que amo os seus
cabelos?
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— Eu não vou desistir do divórcio. Estou


sensível, mas isso não significa que estou te dando
brechas.
— Me dê permissão para um beijo. — Eduardo
roçou-lhe a boca. — Só uma pequena sungada na
sua língua... Deixe, mulher — Eduardo implorou.
— O divórcio... — ela sussurrou. — Só quero
o divórcio...
— Você repete tanto isso para se convencer,
mas é isso mesmo o que realmente quer? Só um
beijinho, ferinha...
— Nunca. — Ela estava com os olhos
fechados, sentindo-se levemente tentada. — Se
tentar eu sou capaz de tirar um pedaço de você no
dente.
Sergio tossiu perto da porta.
— O que você está fazendo aqui, desgraça? —
Eduardo arremessou o urso Rudolf em Sergio.
— Eu só estava curioso para saber a solução da
Maria Fernanda, eu não sabia que estavam aí de
chamego. — Sergio arqueou o canto do lábio
insinuando algo. Maria Fernanda sentiu vontade de
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afundar o rosto no travesseiro de florzinha que


estava próximo, mas a atitude só aumentaria seu
nível de constrangimento.
— Só estávamos conversando sobre a empresa,
Sergio. — Ela saiu de perto de Eduardo e sentou do
outro lado da cama.
— É o novo nome para isso? — Sergio
levantou uma das sobrancelhas. — Eu também
estou doido pra conversar sobre a empresa com a
Suelen.
— Respeita a mãe da minha filha... vou tirar
seus dentes da frente com um soco, seu desgraçado!
— Eduardo empurrou o amigo.
— Eu fiz a proposta de ceder minha herança
para pagar as dívidas da empresa, mas o Eduardo
não aceitou.
Sergio sentou ao lado de Maria Fernanda na
cama, sem acreditar.
— Levante! — Eduardo puxou o homem pela
camisa.
— Como não aceitou o dinheiro? Você só pode
estar louco. Não é hora para orgulho, Edu.
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— Vou dar um jeito sem precisar tocar nesse


dinheiro.
— Ela é sócia, cara, só estará investindo no
próprio negócio. É dinheiro, Eduardo! Tudo o que
precisa no momento.
— Vou dar outro jeito — Eduardo falou entre
os dentes.
Sergio encarou o amigo e em seguida curvou o
lábio em um curto sorriso.
— Claro! Você está certo, Edu. Você vai dar
um jeito em tudo. É uma atitude muito bonita,
irmão. Você, Edu — Olhou para Nanda —, mudou
muito, meu amigo. Agora é um homem de família.
— Por que você tinha que entrar aqui? Eu vou
acabar com você agora, seu idiota! — Eduardo
começou a estrangular Sergio no canto da parede
do quarto.
— Acredita nele, Maria Fernanda. — Sergio
ainda tentou ajudar o amigo.
— Qual a idade mental dos dois? A da
Dudinha é mais avançada. Saiam daqui!

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— Eu quero mudar, mas toda hora aparece um


para tirar minha paz. — Eduardo largou Sergio.
— Obrigada por vir até aqui, Sergio. Agora,
vão pra casa, pois já está tarde e a dona Irene
precisa ir embora.
— Mas o nosso beijo, mulher? — Eduardo
ainda tentou.
— Saiam!
Sergio saiu imediatamente. Passou pela sala,
pegou Irene pelo braço e correu para o elevador.
Sairia antes que o amigo o alcançasse. Eduardo se
despediu de Dudinha e foi embora contrariado,
desejando matar a saudade dos lábios da mulher.
No outro dia bem cedo, Sergio bateu na porta
de Eduardo. Ele estava mal por ter estragado a
noite do amigo, precisava se desculpar. Eduardo era
seu único apoio.
— O que está fazendo aqui? — Eduardo
atendeu a porta com o cabelo pirado e o rosto
inchado do sono.
— Desculpe por ontem. Você não estava
aceitando o dinheiro, eu só consegui imaginar que
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fosse parte do plano.


Eduardo não esperou Sergio se explicar e o
atacou com um soco na boca.
Depois que os ânimos se acalmaram, os dois
homens fizeram as pazes e juntos voltaram ao
plano de conquistar as mulheres. O próximo passo
seria visitar um dos encontros de caridade.

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15

Era final de tarde de domingo, Suelen, Maria


Fernanda, Dudinha e a noiva de Jorge estavam em
um táxi, próximo à comunidade carente. Elas
levavam alimentos prontos para os moradores e
voluntários, pois durante o dia houve mutirão de
reconstrução das casas.
— Então, agora sai o casamento? — Suelen
perguntou abraçada a um recipiente de plástico. —
Quem diria, até o Jorge desencalhando antes de
mim. — Ela gargalhou.
— Faço questão de doar toda a festa de
casamento. — Maria Fernanda ofereceu a cortesia
— Agradeço a gentileza, mas um de meus
patrões prometeu pagar as despesas do bufê — a
mulher rechonchuda falou contente com bondade
do patrão.
— Você deve ser uma funcionária muito
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eficiente, Sônia. Aproveite. Eu mesma vou te


ajudar a escolher uma festa deslumbrante. —
Suelen fez planos de aproveitar a gentileza do
homem desconhecido e emendar o enxoval e
utensílios domésticos na conta do bufê.
O táxi parou, a noiva de Jorge pegou uma
vasilha e seguiu para uma das casas.
Dudinha estava com seu macacão rosa e um
chapéu da mesma cor na cabeça. A mãe estava com
um modelo idêntico ao da filha. Suelen estava de
jeans e camiseta.
As mulheres retiraram as grandes vasilhas de
dentro do carro e as empilhou sobre a grama.
Maria Fernanda retirou o último cesto de pão e
quando virou com o peso, deu de cara com o ex-
marido.
— Jesus! — Ela soltou o que segurava, mas ele
foi mais rápido. — O que... o que faz aqui? —
Olhou-o de cima abaixo. O homem estava com
roupas normais e sujas de tintas.
Eduardo colocou o cesto no chão e voltou para
falar com a filha. Maria Fernanda e Suelen se
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olharam.
— É o Sergio. — Maria Fernanda reconheceu
o homem que empurrava um carrinho carregado de
ferramentas.
— Sim, é ele. — Suelen colocou as duas mãos
sobre os olhos para fugir do reflexo do sol, que
sumia nas montanhas. — Que cena mais bonita de
se ver.
Eduardo, que estava abaixado perto de
Dudinha, levantou-se segurando a mão da menina.
— O que estão aprontando em pleno domingo?
— Maria Fernanda aproveitou para passar os olhos
nele e sua mente atrevida teve a ousadia de fazer a
comparação entre o visual de engenheiro e as
roupas de pedreiro.
— O que foi? — Eduardo perguntou sem usar
o seu costumeiro sorriso sacana. Outra vez ela fez
comparação entre o homem sério e o safado. — O
que foi, mulher?
Maria Fernanda estava enrolando uma mecha
do cabelo entre os dedos e recobrou o juízo.
— Eu não vejo motivos para você usar essa
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camiseta tão apertada, homem exibido. Ela colocou


a mochila que carregava na frente do abdômen.
Dentro estavam os pertences básicos de Dudinha.
— Não posso pintar casas de terno e gravata.
— O Dudu é muito forte, as mãos dele são
grandes para o trabalho. Olha os braços dele,
maman, são grandes.
Maria Fernanda olhou atravessado.
— São alimentos? — perguntou Eduardo.
—Sim, o café dos moradores. Está aqui desde
quando?
— Viemos dar uma força na pintura das
casinhas. Chegamos antes das oito da manhã. O
Jorge também veio.
Ela procurou por Suelen, mas a morena já
estava longe, caminhando na direção de Sergio.
— Me ajude a levar os alimentos. — Pegou a
primeira vasilha e entregou a ele.
— Eu já estava indo para casa. O Sergio está
guardando as ferramentas. — Eduardo pegou outro
cesto e Dudinha caminhou ao lado deles. — Fazia
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tempo que eu não entrava em uma obra, fiz muito


isso nos primeiros meses de estágio.
— Você está muito estranho, espero que não
esteja aprontando nada contra essas pessoas. —
Maria Fernanda colocou a vasilha sobre uma mesa
de madeira.
— Mulher, você é muito desconfiada. O líder
da igreja é meu amigo, me deu a maior força. Ele
acredita em nós dois. Olha que família linda! Tem
como alguém não incentivar? — Eduardo colocou a
mão sobre o ombro de Dudinha.
— Tentar te ajudar a pensar diferente, não
significa que ele apoia seus planos. O homem
bondoso é sábio e aconselha a todos, aprenda isso.
— Queria que os meus três papas morassem na
nossa casa, maman — Dudinha completou
sorridente. — Maria Fernanda e Eduardo olharam
ao mesmo tempo para a filha. Precisavam ter
cuidado para não agitar a mente da criança. —
Porquinhos rosa! — Dudinha colocou as mãos nas
bochechas quando alguns filhotes passaram
correndo atrás da mãe.
— Você está proibida de chegar perto daqueles
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porcos! — Maria Fernanda ajeitou o chapéu da


filha. — Esqueça os porquinhos, estão muitos sujos
e você já arriscou sua saúde pegando o Julien do
lixo.
— Mas eu posso banhá-los naquele poço. —
Dudinha apontou. — Coloco no balde, desço na
corda, depois puxo com minha grande força. Eu
não vou cair lá dentro. Sou forte igual o Dudu.
Eduardo esfregou a mão no peito, pois sentiu
um pequeno ataque do coração.
— Preciso marcar um cardiologista. — Ele
ainda esfregava o peito. — Também preciso me
preparar para a adolescência.
Maria Fernanda tirou um casaco da mochila e
colocou no corpo da filha.
— Esse é motivo para eu não ter uma babá! —
A mãe falou disfarçadamente. — Ajude a maman a
arrumar o alimento, petite.
— Vocês duas estão charmosinhas com a
mesma roupa. — Eduardo levou um tempo
admirando-as — E você, mulher... a cor rosa
sempre me lembrou você. — Eduardo arqueou um
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canto dos lábios, observando a roupa definindo as


pernas de Maria Fernanda.
— Estava demorando para o assanhamento.
Você não estava voltando para casa? Então vá.
— Só saio daqui com as duas. — Eduardo
cheirou a própria camiseta. — As mulheres da
comunidade me ofereceram a casa para um banho,
acho que vou aceitar.
— Homem oferecido, vai entrar em problema
com os maridos por ser tão exibido. — Maria
Fernanda segurou a mão de Dudinha, elevou o
rosto e se juntou com as outras mulheres na
distribuição do alimento.
Eduardo foi atrás de Sergio.
Poucos minutos depois, Maria Fernanda viu
Eduardo de pé dentro do pequeno coreto. Boa parte
dos moradores e voluntários responsáveis pela ação
estavam a sua frente. Curiosa, ela não poderia
deixar de conferir o que estava acontecendo.
— Eu não sei fazer isso direito. Estou nervoso.
— Ele sacudiu o pó da calça.
Dudinha soltou a mão da mãe e se juntou ao
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pai.
— O que está acontecendo? — Maria
Fernanda perguntou a Suelen sem tirar os olhos do
coreto.
— O líder da igreja convidou o Eduardo para
se expressar. Pense, disse que vai falar sobre o rei
de Israel. — Suelen estava com os braços cruzados
e Sergio ao lado.
— Jesus! — Maria Fernanda observou a
quantidade de pessoas que ouviriam o homem, e
seriam muitas.
— Ele andou pesquisando na internet e lemos
juntos. — Sergio estava orgulhoso do amigo.
— Ainda dá tempo de você tirar seu amigo de
lá. Faça alguma coisa, Sergio. — Maria Fernanda
pediu.
— Edu é o cara, vou até gravar esse momento.
— Sergio pegou o celular e Suelen deu uma de suas
gargalhadas.
— Começo dizendo que Davi era um
desgraçado, sortudo do caralho! — Eduardo
começou, e um som de "OH" coletivo foi ouvido.
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Maria Fernanda colocou a mão frente ao rosto. —


O sujeito aprontava, mas sabia agradar a Deus. Os
reis costumavam sair para a guerra, mas teve um
dia que ele estava cansado pra cacete... — Outro
"OH" foi ouvido — Então resolveu ficar no
palácio. Estava curtindo na varanda, mas para sua
tentação virou o rosto e viu uma mulher peladinha
no quintal do soldado. A mulher pelada esfregava
seus cabelos, e nessa parte eu compreendo o
parceiro. Minha mulher é a prova viva da tentação.
— Não estou acreditando nisso. — Maria
Fernanda apertou a cabeça no ombro de Suelen. A
morena só ria e Sergio gravava.
— Então ele viu um negocinho diferente e
pensou: vou pegar essa mulher dos cabelos longos
para mim! — continuou. — Chamou a mulher para
um particular e naquela época não existia proteção,
então fez logo um filho. Eu também não posso falar
do parceiro, pois a Dudinha está aqui.
— Tira aquele homem de lá, Sergio — Maria
Fernanda implorou.
Suelen estava gargalhando, Sergio só não
aplaudia, pois estava registrando o momento.
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— Ele pegou um grande problema, pois a


mulher era casada, estava grávida e o corno na
guerra. Davi, na malandragem, mandou buscar o
marido corno para se deitar com a mulher e assumir
a criança. Mas o parceiro, Urias, que também era
corno, não foi para casa, pois não queria conforto
enquanto os irmãos estavam na guerra. Era corno,
mas era um bom sujeito! Davi precisou mudar tudo
e tomar outra decisão. Ele mandou o cara de volta
para a guerra e jogou na linha de frente, no lugar
mais perigoso da batalha, onde seria morto
facilmente. E foi exatamente isso que aconteceu.
Depois do marido morto, ele fez da mulher sua
rainha. Mas o que plantamos colhemos, eu sou a
prova disso e estou correndo atrás antes que seja
tarde. Mesmo ele pedindo perdão, tinha feito algo
sujo, "matado" um homem para ficar com a mulher.
O bebezinho não vingou por consequência da
maldade do pai. Tempos depois, seus outros filhos
caíram na desgraça da violência, uns matando os
outros, e um deles até quis matá-lo para tomar o
trono. Tenho aprendido na pele que tudo tem um
preço a ser pago. Então, não deixe que as suas
escolhas erradas tragam consequências trágicas
para sua família.
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— Obrigado, meu filho. — O líder da igreja


apertou a mão de Eduardo.
— Eu só aprendi essa parte — justificou-se e
pegou Dudinha no colo.
— Foi uma boa reflexão, continue estudando.
Dudinha abraçou o pescoço do pai e Eduardo
desceu do coreto. De qualquer maneira, a
mensagem foi passada e os moradores aplaudiram.
— Andei estudando — explicou para Maria
Fernanda quando chegou perto dela.
— Você é o cara, parceiro. — Sergio guardou
o celular.
— Sônia? O que está fazendo aqui, mulher? —
Eduardo viu a mulher rechonchuda do lado de
Maria Fernanda.
— Sou voluntária! Nunca imaginei encontrar o
senhor por aqui!
— A Sônia trabalha na minha casa, Maria
Fernanda.
— Então sua mulher é a Soninha? Olha que
mundo pequeno! — Sergio sorriu em deboche, pois
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aquela característica já era normal dele. Eduardo


também estranhou a coincidência. Jorge estava ao
lado da mulher.
— Ela não é linda? — Jorge apertou as
bochechas da mulher. Foi fofo quando as barrigas
de ambos se encontraram.
— Então você é o santo que está há seis meses
andando de mãos dadas? — Eduardo perguntou,
deixando Sônia constrangida.
— Vamos analisar uma situação aqui... —
Suelen chamou atenção — Este homem é o seu
patrão? O que te prometeu o dinheiro? Eduardo
Moedeiros?
— Ele mesmo.
— Então, já era festa de casamento e tudo
mais. Pobrezinho da silva é o novo sobrenome de
Eduardo Moedeiros. Melhor você aceitar a
gentileza da Nanda, querida. — Suelen bateu no
ombro de Sônia em um conforto.
Sônia desanimou.
— Eu prometi te dar a festa, Sônia. Você vai
ter sua festa, não se preocupe. Agora, vou levar
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minha família, pois ainda tenho um compromisso.


— Não precisa, vá ao seu compromisso, eu
chamo o táxi. — Maria Fernanda procurou o
número nos contatos.
— É uma reunião com meu pai. Vou amanhã.
Não vou permitir que saiam daqui sozinhas. Jorge,
pegue uma carona com o líder da igreja. Suelen,
bocuda, vá com o Sergio ou pegue uma carona com
quem achar melhor. — Eduardo seguiu com a filha
na direção da caminhonete.
— Aproveitem e conversem, mas tenha juízo,
Suelen. — Maria Fernanda segurou nas alças da
mochila e seguiu na mesma direção.
— Onde está o joalheiro. Já sumiu no mundo?
— Eduardo perguntou. O veículo já estava na pista.
— Thiago está na Serra com uns amigos.
— Sem você? Grande prova de relacionamento
estabilizado.
— Acha mesmo que pode jogar com isso?
Você nunca me levou em suas viagens. Não que eu
guarde rancor disso, apenas estou te colocando em
seu lugar. — Eles estavam conversando baixo
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enquanto Dudinha cantarolava uma música no


banco de trás.
— Sei o quanto errei. Por isso, você deveria
desconfiar do joalheiro.
Maria Fernanda se calou para pensar na vida e
sentiu o vento fresco no rosto durante o percurso.
Duas horas depois os três chegaram à
cobertura. Dudinha seguiu para ver Julien no quarto
e deixou os pais na sala.
— Você precisa de um banho, melhor ir agora.
— Maria Fernanda colocou a mochila sobre um
móvel perto da porta.
— Posso usar o banheiro do seu quarto?
— Não. Mas use o social. Você foi gentil hoje
com aquelas pessoas, não posso negar um banho.
Eduardo puxou a camisa pelo pescoço ali
mesmo, ainda olhando para ela.
— Vou ficar pelado depois, não tenho o que
vestir e me recuso a usar uma cueca suada. —
Eduardo deixou claro e entrou no corredor da casa.
— Descarado... — Maria Fernanda falou
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sozinha na sala e seguiu para procurar uma roupa


de Thiago que servisse no homem.
Cinco minutos depois, ela estava quietinha
pendurando uma camisa e calça na fechadura
quando Eduardo abriu a porta.
— Trouxe uma roupa pra você — ela falou
com a mão nos olhos.
— Não sei o motivo do constrangimento. —
Eduardo terminou de prender a toalha na cintura.
— Se o seu medo ainda for o mesmo, continua do
mesmo tamanho. Se eu não estivesse ganhando
uma nova postura, poderia lembrar que você já
sentou e sobreviveu.
— Você não me respeita. — Maria Fernanda
virou as costas e seguiu para o quarto da filha.
Ela tomou banho com a filha e Dudinha já saiu
do banheiro sonolenta.
A mãe ajeitou o cobertor da filha e Eduardo
abriu uma fresta da porta naquele momento.
— Já estou indo, mulher. Ela dormiu? —falou
baixo. — Maria Fernanda beijou os cabelos da
filha, levantou e saiu do quarto. — Você é a melhor
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mãe do mundo.
— Faço o que posso para criá-la de uma
maneira que não se machuque quando crescer. Hoje
você também fez uma boa ação, e a Dudinha ficou
orgulhosa. Isso é bom pra ela.
Eduardo olhou diretamente nos lábios da
mulher, e seu sorriso sedutor foi natural. Ele não
sabia lidar com a mistura de sentimentos e
sensações quando se aproximava dela.
— Já está tarde. Vamos, ande até a porta. —
Ela seguiu para a sala, ele foi atrás.
— Daria tudo, se me deixasse te beijar.
— E ainda te resta alguma coisa? — Maria
Fernanda apressou os passos.
— Eu tenho meu apartamento e restou minha
caminhonete preferida. Ela é muito cara... Posso
dormir na rua e andar a pé por um beijo seu.
— Não tinha um lugar para ir ainda hoje?
Então, já trouxe a Dudinha, agora pode ir.
— Mulher, você não cede nunca. — Ele
segurou nos dois lados da cintura dela e percebia-se

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que ele buscava autocontrole pela falta de intervalo


na respiração. — Meus desejos estão guardados
para você, mas está sendo muito difícil manter o
controle. — Eduardo mordeu os próprios lábios. —
Faltam nove dias para o contrato terminar e estou
entrando em desespero, Maria Fernanda. O que
impede de estarmos juntos? Eu te quero e desejo.
Largo tudo, não consigo mais imaginar minha vida
sem você. Não é apenas a falta de sexo, é sobre
querer você, só você. — Ele levou os cabelos dela
para trás da orelha.
— Entre nós há um homem maravilhoso, um
relacionamento seguro e a minha falta de confiança
em você.
— Desde que assumi meus sentimentos, eu não
penso em outra além de você. Durmo e acordo te
desejando, sem poder me tocar, pois decidi só
liberar prazer com você. Eu não sei como vai ser se
realmente casar com aquele cara. Talvez, com um
tempo eu consiga outro relacionamento seguro, mas
você sempre esteve aqui e de verdade não sei como
vai ser.
Maria Fernanda passou os polegares nos olhos
dele, secando as lágrimas.
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— Você passou oito anos com centenas de


mulheres diferentes na sua cama e agora me diz que
eu sempre estive no seu coração?
— Já te expliquei — ele a interrompeu —, eu
não sabia te amar da forma que você merecia, mas
inconscientemente você já tinha tomado lugar
dentro de mim.
— Calado, Eduardo. Era um homem casado e
independente de qualquer coisa, você me traia
estando longe ou perto. Isso é uma questão de
caráter.
— Tenho uma vida sexual muito ativa desde a
adolescência, mulher. Não tinha um conceito
formado sobre firmar uma família, eu não queria.
— Antes do Thiago, eu namorei outro rapaz.
— Teve outro?
— Calado! Ele era um homem, charmoso e
tinha um bom caráter, tínhamos uma boa relação.
— Não estou gostando dessa conversa, mulher.
— Estudamos juntos na faculdade e nos
aproximamos.

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— Para com essa conversa, mulher.


— Considera isso uma traição?
— Não tenho o direito de te julgar, mas você
está machucando o coração de seu marido
revelando isso. Teve mais quantos?
— Minha vida era muito corrida antes da
última cirurgia da Dudinha, eu mal dormia cinco
horas por dia.
Eduardo abraçou Maria Fernanda e colocou a
cabeça dela em seu peito.
— Não existe aconchego melhor... — Eduardo
beijou os cabelos dela.
— Nunca me senti à vontade para aprofundar
meu relacionamento íntimo com meu antigo colega
de faculdade. Foi por isso que terminamos. Seis
meses atrás, eu e o Thiago começamos o nosso
namoro. Sempre tivemos uma boa cumplicidade e
acredito que disso nasceu o amor, mas eu continuei
sem conseguir aprofundar a relação da maneira
mais íntima.
— Você está...

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— Continue calado! — Ela o impediu de falar


— Não é algo sobre querer apenas você, é sobre
mim. Pois, por mais que seja um crápula, traidor,
homem depravado... meu nome está ali na certidão
de casamento. Não chore e não se sinta especial por
isso! — Ela desmanchou o abraço e o repreendeu.
— Eu me acusei de idiota por isso, principalmente
com o Thiago, pois ele desperta meus desejos. Mas
não fiz, pois sou apegada aos meus valores
pessoais, e me casei com a pior espécie de homem,
do tipo que nunca teve valores diante do
matrimônio. Por mais que tentasse, não podia
abandonar minhas convicções. E não se iluda, tudo
o que eu mais desejava era o divórcio, pois assim,
poderia me dar completamente ao meu Thiago.
— Pobre do Taiwanês. — Eduardo estava
tentando controlar o choro. — Eu daria um abraço
nele, se você não estivesse querendo se livrar de
mim para dar a ele.
— Pare de chorar. — Ela secou os olhos dele
outra vez.
— Você é uma mulher de ferro... Eu não te
mereço, Maria Fernanda. Nenhum homem merece.
O desgraçado que terminou contigo só queria te
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comer. Talvez o Taiwanês te mereça por ser tão


paciente...
— Engole o choro e vá para casa. Quero viver
em paz, Eduardo. Temos uma filha, mas ainda não
consigo confiar em você da maneira que um
relacionamento exige.
— A última vez foi na praia... Como é possível
isso? Você é minha, só foi minha e de mais
ninguém. Ferinha, linda e fiel.
— Pare de chorar.
— Só eu te provei, sou um desgraçado sortudo.
Deveria viver me rastejando aos seus pés dia e
noite. — Eduardo segurou o queixo dela
impedindo-a de movimentar o rosto. — Olhe em
meus olhos...
— Pare de conversa. — Ela o interrompeu e
tentou tirar a mão dele de seu queixo.
— Estou sem cueca e meu corpo está brigando
feio com a emoção. Estou de pau duro, não olhe e
me desculpa por isso. Estou mudando, eu posso
garantir.
— Vá pra casa, Eduardo.
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— Meus quinze dias não se comparam aos


seus oito anos, mas agora que assumi que te amo,
fico no celibato por dezoito, se disser que me
espera. Melhor eu ir, não quero forçar uma
situação... — Eduardo estava todo atrapalhado,
ainda absorvendo a informação. — Mais do que
nunca preciso ter você de volta para honrar minhas
palavras. — disse passando as mãos sobre os dois
seios dela.
— O que está fazendo? — Ela se sobressaltou.
— Desculpe por isso, estou impulsivo.
— Tente se acalmar. Somos amigos agora, não
toque em meus seios, homem atrevido. — Maria
Fernanda sentiu um lampejo de sensibilidade com o
toque malicioso. Ela estava muito firme
externamente, mas intimamente, organizava os
pensamentos sobre o desejo que ainda sentia por
aquele homem que chorava em meio a safadeza. —
Controle-se. — Ela tocou o próprio pescoço para
constar se descia suor.
— Espero merecer você, dentro desses dias
que nos restam. Agora eu vou, preciso tomar um
banho gelado ou não cumpro meus propósitos.
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Muito obrigado.
Ele saiu atordoado. Maria Fernanda fechou a
porta e despencou no sofá com a respiração muito
pesada. Já estava com a sensação de
arrependimento por ter confidenciado seus segredos
a Eduardo.
— Seremos pais amigos e foi bom me libertar.
— Ela lembrou de algo sólido que tinha visto
minutos antes e deu dois tapinhas na própria face
para recobrar o juízo. — Amigos e pais, apenas
isso.

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16

No dia seguinte, Eduardo e Sergio foram até


um café muito conhecido na cidade. Os dois
homens estavam felizes.
Eduardo não falou detalhes sobre a conversa
da noite anterior, mas ele estava tão alucinado que
soltou a parte da informação enquanto pensava na
mulher.
— Você fica sabendo de um negócio desses, e
sai do apartamento dela? Não te reconheço, Edu.
Cadê aquela malandragem que ganhava todas as
competições de conquistas
— Nunca precisei conquistar, por isso ganhava
de você. — Eduardo falou com o olhar longe. —
Em toda minha vida, a única mulher por quem me
esforcei foi a ferinha, mesmo quando ainda não
entendia a proporção dos meus sentimentos.
Sempre foi ela.

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— Você já está virando um típico homem de


família, Edu. Controlando os impulsos, sendo pai e
até sorrindo sozinho. Vivi para ver isso.
— Quando sai de lá, eu a deixei com as
bochechas vermelhas, uma coisa linda. Ela sempre
teve aquele nariz fininho e naturalmente empinado,
mas o coração é muito nobre. Os anos passaram e o
poder feminino daquela mulher ficou ainda mais
aguçado. Você sabe que os cabelos dela são únicos,
não é?
— Os cabelos da Suelen eram crespinhos, mas
eu amava acariciar e...
— Ah, por favor, Sergio. O cabelo da Maria
Fernanda tem um cheiro especial, não venha com
comparações. A mulher mais linda do mundo foi só
minha e de mais ninguém. Vou precisar ir com
calma quando fizermos as pazes.
— E você acha que a Suelen também continua
virgem pra mim?
Eduardo encarou o amigo.
— Sergio, é realmente um idiota ou só finge?
Venho tentando compreender isso há anos. Ou não
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foi você que amansou a onça pela primeira vez?


— Virgem de outros caras, além de mim e
daquele marginal. Estou bastante incomodado, Edu.
Sempre que estamos próximos, eu e minha Anja
nos confrontamos com acusações. Ela sofre quando
toco no assunto da gravidez, e se culpa de ter
abortado. Ela esperava que eu assumisse a criança
de imediato, mas ela era virgem e sempre me
preveni, e se ela engravidou de outro, foi quando
estava comigo, por isso rejeitei no primeiro
momento.
— Te avisei naquela época, as fotos poderiam
ter sido adulteradas. É uma história bem enrolada
essa sua.
— Eu vi, ela estava em uma cama com aquele
cara perigoso. Não acreditaria apenas nas fotos.
Entrei naquele quarto e vi.
— Aprontei tanto nessa vida e estou buscando
perdão. Você deveria esquecer essa história e
superar isso. Todo mundo é corno uma vez na vida.
Eu sou um meio corno, mas não deixo de ser.
— Não por mim, eu faço de tudo, quero
recomeçar, mas ela não consegue. Foi a perda
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trágica da criança, isso a feriu e nos fere até hoje.


Ontem saímos, evitei a troca de acusações e ela não
me bateu dessa vez.
— Já é alguma coisa.
— Minha mãe virá o Brasil daqui a três meses.
Vou ajustar as pontas soltas da história. Eu não
sabia que havia se encontrado com a Suelen antes
do aborto. Liguei hoje para o Canadá, mas ela
estava ocupada e desligou o telefone.
— Depois de anos, estamos lutando para
conquistar aquelas duas pirralhas, magricelas.
Minha ferinha de dentes afiados, ela vai precisar
aprender a morder mais devagar. — Eduardo sorriu
e bebeu o conteúdo da xícara.
— A Viviane é amiga da mulher do Junior? —
Sergio fez sinal com os olhos em direção a uma
mesa distante.
— Descobri que ela está trabalhando na J.A.
Certamente é uma das cobaias no Junior.
— Então, ela está se aproximando da Samanta
propositalmente. Elas duas nunca foram próximas.
— Já perdi tempo demais esperando pela
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justiça, Sergio. Contratei um detetive particular


para seguir os passos do Junior. Quero pegar o
traidor no pulo. A Viviane não é tão inteligente
para ter agido sozinha lá dentro.
— Se já está com a polícia, não deveria
envolver mais ninguém. Você está muito na linha
de frente. Não faça nada por conta própria.
— Quando sofremos os atentados, você
sempre estava dentro do carro blindado, enquanto
eu a vista dos atiradores.
— Eu fico puto com essa sua desconfiança.
Estou preocupado com sua vida, será que não vê?
— Sergio atirou o guardanapo sobre a mesa.
— Foi apenas uma observação, pare de drama.
— Vou adiantar as coisas na empresa. —
Sergio levantou e saiu chateado.
Eduardo pagou a conta e também saiu. Tinha
uma reunião com seu pai e o detetive.

QUATRO DIAS DEPOIS...

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A divulgação tinha sido feita e os funcionários


contratados. Tudo estava pronto. Restava abrir as
cortinas vermelhas que impediam a visão das
mulheres curiosas, com cartões de créditos nas
mãos, esperando por novidades. A grande loja de
moda feminina seria inaugurada.
— Vamos lá, Suelen! Vai dar tudo certo. —
Maria Fernanda abraçou a amiga, logo após
agradecer aos céus pelo sucesso do novo negócio.
— Vamos, meninas! Doem os seus melhores
sorrisos. Vamos vender muito, e a comissão de
vocês será gordinha. — Suelen beijou os rostos de
algumas das ex-funcionárias de Eduardo. As moças
estavam animadíssimas sendo vendedoras de luxo,
ao invés de desempregadas.
Quase no final do dia, Eduardo fechou a
empresa e foi até a loja. Quando entrou, ele avistou
a filha desfilando entre os sofás de veludo,
enquanto duas clientes aplaudiam o desempenho da
pequena.
— Dudu! — Ela correu e se jogou no colo do
pai. — Isso aqui está uma loucura. — A menina
repetiu uma das frases que ouviu de Suelen.
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— Onde está sua mãe?


— Cuidando do dinheiro. — A pequena
cochichou no ouvido do pai.
— Olha quem veio prestigiar o nosso sucesso,
Dudinha? — Suelen se aproximou segurando
diversos cabides nas mãos.
— Isso aqui vai dar muito certo, Suelen. —
Eduardo observou a estrutura da loja montada.
— Sim, muitíssimo. — A morena pegou a
menina e retornou ao chão. — Agora tome esses
cabides, e vá lá dentro repor roupas para deixar
tudo pronto para o novo dia. — Jogou os cabides
nos braços de Eduardo. — Vá e distraia as clientes
com suas dicas de moda, petite. O Dudu agora vai
ajudar a Tante e a maman.
— Eu não sei fazer isso, Suelen! Não entendo
nada sobre moda feminina.
— Mas vai ficar por aqui, ajudando. Sua
aparência não é grande coisa, mas está chamando a
atenção daquelas últimas clientes. Nem pense em
sair daqui. Já estamos fechando e elas ainda não
compraram nada. — Suelen saiu carregando
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Dudinha.
Perdido, ele procurou o lugar onde poderia
repor os cabides, mas abandonou no quarto de
roupas e seguiu para procurar Maria Fernanda.
— Dia cansativo, hein? — Ele sentou ao lado
dela no pequeno escritório, que ficava nos fundos
da loja.
— O movimento foi maior do que eu imaginei.
— Onde está o joalheiro? Agora toda vez que
te vejo está sem ele.
— Está ocupado, ele também tem uma
empresa. Mas veio mais cedo. — Maria Fernanda
não quis expor que Thiago raramente estava indo
vê-la. O homem alegava estar ocupado, mas nunca
explicava do que se tratava.
— Isso aqui vai ser um sucesso. Você é muito
boa com os negócios, mulher.
— Se acreditasse nisso antes, as coisas teriam
sido diferentes — ela falou sem encará-lo. — O seu
maior erro foi pagar pra ver.
— Me arrependo de tudo de ruim que fiz, mas

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a melhor coisa que te aconteceu foi ter ido. Você


cresceu longe de mim.
— O segredo para isso foi não investir nos
desgastes. Eu não tinha tempo para lutar, então
segurei a mão da minha filha e passei direto pelas
dificuldades. Com isso ganhei prazo para vencer
primeiro. Estudei e logo consegui um bom trabalho.
E não penso em parar, vou voltar a estudar em
breve. Algumas pessoas querem provar ao mundo
que tem o poder e com isso travam uma verdadeira
guerra. Mas qual o sentido de provar se o
importante é ser? O segredo é seguir em frente.
Quem segue chorando e sofrendo, vence antes de
quem está lá atrás se desgastando em conflitos.
— Poderia ser menos maravilhosa? Só para
ficarmos compatíveis. — Os olhos de Eduardo
estavam brilhando. — Aprendi a te amar ainda
mais com a tua falta, mulher.
— Vamos evitar esses assuntos. Isso já foi
enterrado, não adianta mais ser lembrado. — Maria
Fernanda fechou os malotes de dinheiro e colocou
no cofre. A transportadora de valores faria a coleta
no dia seguinte.

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— Eu nunca vou desistir de tocar nesse


assunto, meu plano é vencer pelo cansaço. —
Eduardo sorriu, mas seu olhar estava em uma
tristeza profunda.
— Suelen está muito animada com a loja. Eu
fico muito feliz por ter alimentado o sonho dela.
Ela esteve comigo em todos os momentos difíceis.
Minha amiga merece ser feliz.
— O Sergio está lá fora, chegou quando entrei
aqui. Estamos brigados.
— Vocês são amigos e adultos, isso não pode
acontecer.
— É, mas sempre brigamos. Até já perdi as
contas.
Maria Fernanda não tinha a convivência de
anos com o Eduardo, mas identificou preocupação
nos traços cansados.
— Vai pra casa descansar, Eduardo. Quando
eu terminar aqui, chamo um táxi. Ainda vamos
demorar um pouco.
— Por que não dirige seu próprio carro?

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— Fui fechada por um caminhão, meses atrás.


Ainda não consigo pegar no volante.
— Foi grave, Mulher?
— Muito. O carro capotou algumas vezes,
porém eu estava com o cinto de segurança, só tive
escoriações no corpo, mas ainda não superei o
trauma. Entrevistarei um motorista quando acalmar
minha correria aqui. Suelen tem carteira, mas
sempre bate o carro. Ela só precisa praticar longe
de pessoas, carros e animais. Vá descansar, já tenho
um taxista de confiança.
— Vou esperar você fechar. Não quero vocês
por aí sozinhas.
— Está acontecendo mais alguma coisa?
— Hoje vendi tudo que estava em meu nome
para pagar as dívidas. Meu império está indo
embora. Estou perdendo tudo, inclusive você. É
como se eu estivesse regredindo para antes do
nosso casamento, quando nada existia.
Maria Fernanda sentiu uma sensação
agonizante no peito. Rapidamente acelerou o seu
trabalho. Por alguma razão queria chegar logo em
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casa.
— Vou ajudar a fechar. — Ele levantou e
beijou os cabelos dela, em seguida foi para o salão
da loja.
Mais tarde, Maria Fernanda, Eduardo e
Dudinha estavam caminhando no estacionamento.
Suelen tinha aceitado o convite de Sergio para um
jantar.
Dudinha estava segurando a mão dos pais. As
luzes estavam sendo apagadas, Maria Fernanda não
conseguia afastar a angústia do peito. Ela sabia que
alguma coisa estava errada, então rogou proteção
aos céus.
— Onde está seu carro, Eduardo? — Ela
estava apavorada.
— Já estamos chegando. — Ele percebeu que
os olhos azuis estavam assombrados.
Em dez segundos, Eduardo olhou para trás e
arrastou uma pistola do cós da calça. O coração da
mulher acelerou. Um carro de cor prata os vinha
acompanhando de longe com os faróis baixos.
Eduardo agarrou Dudinha no colo e sustentou
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a arma na outra mão. Maria Fernanda sentiu o


sangue congelar em seu corpo, impedindo-a de
reagir.
— Vamos. — Eduardo abraçou o pescoço dela
e a incentivou a caminhar. Ela reagiu e aumentou
os passos ao seu lado.
O som do salto batendo no piso era ouvido por
todo estacionamento interno. Maria Fernanda olhou
para trás e viu dois homens saindo do veículo.
Nesse momento, ela abandonou os sapatos no
caminho.
Ela ,Eduardo e Dudinha andaram abaixados
entre os carros.
— Maman...
— Fecha os olhinhos bem apertados e segura
firme no pescoço do papai. — Eduardo sussurrou
no ouvido da pequena. — Os três estavam atrás de
uma caminhonete. Eduardo estava vendo seu carro
a alguns metros, mas nunca teve tanto medo na
vida; medo de ferir as duas.
— É um homem mau, maman? — A voz
infantil saiu sonolenta.
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— Não solte seu pai por nada — Maria


Fernanda sussurrou e colocou o indicador frente
aos lábios.
— Por que não aparecem e facilitam as coisas,
família Moedeiros? — Um homem avançou alguns
passos.
— Ande abaixada, na minha frente. —
Eduardo moveu os lábios e Maria Fernanda fez o
que ele pediu.
Quando estavam na porta de um carro popular,
foram percebidos e um dos homens atirou. Eduardo
empurrou Maria Fernanda para o outro lado,
colocou Dudinha no chão e também apertou o
gatilho na direção dos homens. Ele retirou a chave
do bolso e abriu a porta do motorista,.Dudinha e
Maria Fernanda entraram em seguida ele ocupou o
assento.
Foram seguidos, mas Eduardo era um piloto
em fuga protegendo a família,e não permitiria que
fossem alcançados.
Maria Fernanda tentou prender o choro com a
mão. Estava trêmula.

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Eduardo diminuiu a velocidade e analisou o


pânico da mulher.
— Fique calma.
— Estou calma. — A voz dela saiu trêmula.
Ela estava agarrada a Dudinha.
— Me perdoa por isso. Eu não quero ver vocês
em perigo.
— Está tudo bem, tudo bem. — Ela não se
importou e no desespero beijou rapidamente os
lábios de Eduardo. — Roubou esse carro?
— Ainda não cheguei a esse ponto de
desespero. — Eduardo tinha ganhado um pequeno
prêmio e estava feliz, seus lábios formigavam em
comemoração. — Comprei hoje mais cedo.
— Aqueles homens estavam com pistolas.
Você estava com uma pistola...
— Já está tudo bem, maman, não chora! —
Dudinha consolou a mãe.
— Sim, meu amor. Tente cochilar, já passou.
— A mãe acariciou nervosamente os cabelos da
filha.

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— Seu prédio não é seguro. Aquele seu


porteiro tem a cara que se vende por qualquer nota
de cem. — Eduardo tinha convicção daquilo, por
isso estava em outra rota. — Vou levar as duas para
meu apartamento. Lá eu tenho controle.
— A Suelen. Ela está indo pra lá, ela não sabe
de nada.
Eduardo procurou seu aparelho celular e
discou o número de Sergio.
— Onde estão? — falou no telefone
" Ah, lembrou do amigo traíra, Edu?"
— Leve a Suelen para a casa dos pais dela.
Não chegue perto do apartamento da Maria
Fernanda com ela hoje!
“Noite a dois? Onde vai deixar a Dudinha?"
— Não é nada disso, seu pervertido! Estou
com ela e a Dudinha! Faça o que eu mandei. Será
que é difícil para você cuidar de uma mulher que
diz amar? — Eduardo se alterou.
— Me passa o telefone, Eduardo! — Maria
Fernanda pediu.

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" O que aconteceu?"


Eduardo também ouviu a voz da morena.
— Ela está bem, Suelen, Dudinha também. Vá
para casa dos seus pais e tenha cuidado com o
Sergio, não facilite as coisas. — Eduardo encerrou
a ligação.
— Vou ligar pra ela. — Maria Fernanda pegou
o celular.
— Ela está bem, mulher. O Sergio vai cuidar
dela. Ele ama sua amiga. A única coisa que eu
quero é levar vocês para nossa casa em segurança.
Em alguns minutos, Eduardo abriu a porta de
seu apartamento carregando Dudinha no colo e deu
passagem para Maria Fernanda.
Thor rapidamente levantou do tapete e foi de
encontro ao homem, mas logo abaixou o nariz e
chorou vergonhoso ao ver Maria Fernanda e
Dudinha.
— O chiote do Dudu.
— Thor, não precisa ficar com vergonha. Vem
cá! — Eduardo chamou o cachorro, que de

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mansinho se achegou.
Dudinha abaixou perto de Thor em seguida
começou alisar os pelos do cachorro.
— Fofinho e cheiroso — Dudinha abraçou o
pescoço do cachorro e afundou o rosto nos pelos.
— O Thor é limpinho. — Eduardo pegou a
mão de Maria Fernanda e a fez acariciar os pelos
do cachorro.
— É um animal lindo, como o conseguiu? —
ela perguntou.
— Eu o atropelei em uma madrugada há algum
tempo atrás, desde então somos amigos.
— Meu Deus, até o cachorro já sofreu com
você.
— Mas eu reparei meu erro. Ofereci moradia,
veterinários e os melhores alimentos. O Thor tem
um probleminha de saúde e vem se tratando como
um guerreiro.
— Ele parece ser tão saudável.
— Ele é forte, vai ficar bem. Vá lá cuidar da
Dudinha e se cuidar também.
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Maria Fernanda deu banho na pequena e vestiu


nela uma das camisetas do pai, que a cobriu até os
pezinhos.
— Está um pouquinho de nada grande,
maman, mas é bem fresquinha. — Dudinha estava
pulando na cama de Eduardo.
Eduardo deixou propositalmente uma de suas
camisas com botões na frente sobre a cama. Maria
Fernanda vestiu, mas resolveu procurar uma peça
menos sugestiva dentro das inúmeras roupas do
closet.
— Ela comeu e dormiu. — Maria Fernanda se
aproximou de Eduardo, e ele analisou-a dos pés à
cabeça.
— Por que não usou a camisa que deixei na
cama?
— Estou com frio e esse pijama é mais quente.
— Frio?
— Sim, frio. E você também deveria colocar
uma roupa. Não tem necessidade nenhuma para
estar assim. — Ela virou o rosto. Eduardo estava
sentado no sofá e vestia apenas um roupão.
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— Vem, senta aqui mulher, eu preciso te


contar umas coisas.
Ela sentou na ponta do sofá, bem distante dele.
Estava tensa e Eduardo sorriu ao ver aquilo.
— Você está com medo de mim ou de você?
— Continuou sorrindo, mas ele não estava em
melhores condições.
— Somos adultos e a nossa filha está logo ali.
Estou usando suas roupas, sentada no seu sofá a
centímetros de você, apenas de roupão, isso não
quer dizer nada.
— Sua teoria não é convincente. Você sabe
disso, não é? — Ele se aproximou da ponta do sofá,
onde ela estava.
— Estou bem, você não causa mais nenhum
efeito sobre mim... — Ela forçou um sorriso e
transpareceu mais nervosismo.
— Nem quando eu estou assim tão perto de
você? — Com a mão esquerda, Eduardo acariciou o
que mais gostava nela, os cabelos. — E quando
sente novamente essa conexão que só existe entre
nós? Você nasceu para ser minha, Maria Fernanda.
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17

— Sobre a empresa, precisamos montar um


plano de ação. Você pagando as dívidas, manterá o
nome limpo e poderá conseguir financiamento...
Vai se reerguer mais rápido... Ai, socorro! — Maria
Fernanda gritou quando recebeu uma sucção
certeira no pescoço.
— Não negue isso a você... Ainda somos
casados. — Eduardo continuou sua tortura.
— Não posso... para, Eduardo. Eu tenho um
compromisso... — Ela estava de olhos fechados, só
recebendo as carícias.
— Seu único compromisso é comigo, pai de
sua filha. Somos casados. Está tudo certo.
— Vou casar com o Thiago, precisamos parar
com isso.
De repente, Eduardo se afastou. Ela abriu

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primeiro um dos olhos, em seguida olhou para o


lado. O homem estava calado.
— Eu sinto uma dor tão grande quando ouço
isso, me dá vontade de abandonar tudo e viajar para
bem longe daqui.
— Você... você agora tem uma filha que te
ama. Eu... eu te proíbo de sumir. Está me ouvindo?
— Ela empurrou o ombro dele, pois Eduardo estava
com os olhos vidrados na parede de vidro da sala.
— Você quis assumir seu lugar de pai, agora não
volte atrás. Seremos sempre os pais da Dudinha.
— Se não me quer, porque me beijou no carro?
— Não te beijei... — Ela continuou encarando
o perfil dele, Eduardo estava com os olhos fixos no
nada.
— Beijou sim. Sua boca grudou na minha.
— Foi o desespero e... foi rápido demais...
aquilo não foi um beijo. Está passando mal? — Ela
passou os dedos por entre os fios de cabelos dele.
— Você me iludiu, Maria Fernanda. Me
beijou, cheia de promessas e agora diz que vai
casar com outro. Você é uma mulher muito má.
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Não sei como consegue ser assim.


— Não seja dramático. Você é um homem de
trinta e três anos.
— Eu vou dormir. — Eduardo levantou, deitou
no outro sofá e cobriu o rosto com uma almofada.
— Vai dormir aí?
— Você pode apagar a luz, por favor? — falou
ainda com o rosto coberto pela almofada.
— Por que não dorme no outro quarto? — Ela
tentou puxar a almofada do rosto do homem —
Vamos, não seja infantil!
— Estou com sono, quero dormir. — Ele
voltou a se sentar no sofá.
— Até quando será esse moleque? — Ela
sentou ao lado e ajeitou os cabelos dele.
— Então podemos voltar? — Ele roçou os
lábios nos dela.
— Esqueça isso. — Ela abriu a boca e Eduardo
mordiscou um de seus lábios.
— Não estamos fazendo nada errado. Você é

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minha mulher. — Ele segurou a nuca dela. — Não


sinta culpa.
— Mas eu sinto. — Ela estava sem forças para
reagir contra as chamas de desejo que corria em seu
corpo, inundando-a de prazer, mesmo sem ser
tocada.
— Então, deixa comigo. Eu faço tudo, assim
você não sente remorso. Quer sentar na minha
cara?
— Quero... Não! Não quero. Não me fale essas
coisas, estou com dificuldades.
— Eu te admiro muito. — Ele beijou o
cantinho da boca dela. — Vai terminar com ele?
Ela moveu o rosto positivamente e Eduardo
beijou as lágrimas que desciam dos olhos dela e
também sentiu os olhos inundados. Ele amava
aquela mulher e venerava a sua personalidade
dócil, decidida e leal.
— Agora eu estou com calor... — ela
confessou sorrindo e Eduardo beijou a testa dela.
— Sou o próprio vulcão, ferinha. Mas vou
aguardar você resolver tudo com o Taiwanês.
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Quando vai deixar seu cabelo crescer novamente?


— Minha idade não condiz com aquele
cabelão.
— Mas veja se não é uma senhora de idade. —
Eduardo sorriu. — Você é naturalmente linda. Não
precisamos de maquiagem, pintar os cabelos, usar
roupas na minha casa... — Eduardo mergulhou a
mão por baixo da blusa do pijama que ela usava. —
Tira, vai.
— Você acabou de concordar em esperar. —
Maria Fernanda sorriu e empurrou o ombro de
Eduardo.
— Você sabe, é uma briga constante aqui.
Tudo em mim quer você. Você está muito atraente
nesse meu pijama. Não são apenas meus olhos que
estão inundados, amada esposa. E aposto que tem
uma deliciosa chorando, neste exato momento. Ela
é outra guerreira, está merecendo um beijinho.
Eduardo olhou na direção da virilha da mulher
e Maria Fernanda colocou uma almofada no colo.
— Ainda estamos proibidos de tratar desses
assuntos.
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— Meu pensamento já viajou por teu corpo


todo nu. Eu não tenho nada preso a ninguém. —
Eduardo despencou as costas no sofá. — Coloquei
um detetive na cola do Junior.
— Aqueles malfeitores vão continuar nos
seguindo? Precisamos fazer um B.O.
— Não conte a ninguém, ainda é sigilo, mas o
Júnior foi indiciado e terá que me pagar uma gorda
indenização. Talvez ele vá à falência por isso!
— Ficou comprovado então? Foi mesmo ele?
— Sim, soube mais cedo. Agora eu só quero
descobrir quem ajudou ele a ter acesso às contas da
Moedeiros para desviar nosso dinheiro e impedir
que as contas fossem pagas.
— Como a polícia conseguiu descobrir?
— A J.A Engenharia recebeu um montante no
mesmo valor do nosso último roubo e esse dinheiro
não teve comprovação nenhuma de onde veio. Eles
começaram a investigação por aí. Pegaram o
contador dele e colocaram contra parede.
Pressionado pelos federais, ele soltou o verbo. O
ladrão do Junior já foi indiciado e já sabe que
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descobri tudo. Agora quer se vingar de mim


atingindo o que eu mais amo.
— Vamos precisar contratar seguranças,
Eduardo. São perigosos.
— Não se preocupe, não vou permitir que
vocês fiquem em perigo. Tenho uns amigos que
vão ficar com as duas quando eu não estiver.
Alguém muito próximo entregou tudo para meu
maior inimigo.
— Eu preciso avisar ao Thiago sobre isso.
Tenho certeza que ele não sabe que o amigo está
envolvido. Agora temos a prova.
— Ele já deve estar sabendo de tudo, porque o
Junior já foi intimado. Mas o bandido nunca vai
deixar isso barato, vai perder muito dinheiro.
Talvez ele nunca consiga se reerguer.
— Não me conformo que uma inveja
mesquinha leve pessoas a se odiarem a ponto de
roubar e tentar matar, isso é muito pesado.
— Quando isso começou éramos jovens. Ele já
era invejoso, mas tudo piorou quando se interessou
por uma colega nossa de faculdade, que era um
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antigo... — Eduardo limpou a garganta — Ela era


um caso do Sergio.
— Do Sergio? — Maria Fernanda desconfiou
da veracidade.
— Nos dois a pegávamos, mas o Sergio ficou
um tempo com ela. Na época eu nunca passei de
beijos, ela era virgem, nunca gostei de virgem, só
da minha ferinha. — Eduardo se aproximou para
um chamego.
— Na época, Eduardo?
— É, mulher desconfiada. Na época, foram
apenas beijos, depois de uns anos, teve um
negocinho, mas coisa do passado.
— Sua cara é muito sínica. — Maria Fernanda
assumiu a feição séria. — Então essa briga toda é
por mulher?
— A Samanta estudava arquitetura, eu o
Sergio e Junior, engenharia. O Sergio usufruía, mas
eu levava a culpa e amava provocar o Junior com
isso. Os padrinhos dela moravam na Argentina,
mas possuíam imóveis no Brasil, um cliente muito
forte. Anos depois, fiquei com ela. Saí algumas
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vezes para persuadi-la a estreitar minha relação


com o padrinho. O velho largou a J.A e fechou
contrato comigo.
— Por que eu não me surpreendo com você?
— Estou sendo verdadeiro aqui, estou te
contando tudo, porque quero ser sincero em tudo
com você. O Junior e a Samanta se casaram há
cinco anos.
— Então o Junior vive nesse pé de guerra por
uma mulher e se casou com sua ex amante.
— Que amante, o quê? Quando voltamos a nos
encontrar, ela já tinha arrumado um filho, era
problema, e eu pulei fora assim que o contrato foi
assinado.
— Então, aquele menino na festa sabia o que
estava falando. Eu fiquei pensando nas palavras
dele, sobre você não chegar perto da mãe. Então o
Junior tem ciúmes até hoje de você com a mulher
dele?
— Eu tenho culpa de ser irresistível, Maria
Fernanda?
— Você é um insuportável.
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— Você fica ainda mais linda assim,


irritadinha. — Eduardo acariciou os cabelos de
Maria Fernanda. — Ferinha gostosa. — Em um
único impulso, a fez sentar em seu colo.
— Pare de me atiçar! — Maria Fernanda falou
entre os dentes, puxou os cabelos dele para trás e
mordeu o queixo tentador a sua frente.
— Mulher, sei que também está pegando fogo.
— Maria Fernanda continuou puxando o cabelo
dele e depois de mordê-lo, umedeceu os lábios e
espalhou beijos no pescoço de Eduardo. — Se me
marcar... vai ter que renovar a mancha a cada duas
horas... — Eduardo falou com dificuldade e apertou
os braços ao redor do corpo encaixado no seu. —
Vou fazer uma tatuagem dos seus dentes.
— Vai dormir no outro quarto ou aqui? — Ela
levantou a cabeça e olhou o rosto de Eduardo, que
estava de olhos apertados e comprimia o corpo dela
com força contra o seu. — Onde vai dormir? — Ela
o sacudiu.
— Debaixo de você, pode ser em qualquer
lugar.
— Vamos parar por aqui. Boa noite. — Ela
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forçou o corpo para levantar, mas Eduardo


despencou a cabeça no colo dela e respirou pela
boca. — O que está fazendo?
— Prestes... a... regredir para a merda de um
adolescente. Não pode levantar agora.
— Não, não, não! — Ela o estapeou e tentou
sair do lugar, mas sentiu ainda mais a pressão do
homem. — Não, Eduardo. — ela falou desanimada,
gemendo e buscando firmeza contra as faíscas de
prazer.
— Não... se sinta culpada. — Ele permanecia
com o rosto no peito dela e respirava com
dificuldade. — Eu tenho muita fé em nosso amor.
— Você consegue... respira, homem.
— Eu quero explodir. Sou um vulcão em busca
de erupção.
— Se acalme, tudo vai se resolver. — Ela
beijou a cabeça dele.
— Pode fazer isso na outra?
— Chega. Vamos dormir e resolver nossas
vidas amanhã. Estou tonta de sono ou de outras

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coisas... melhor irmos dormir. Preciso pensar e


chorar um pouco.
— Tudo bem... Não está tudo bem, mas vamos
tentar dormir.
— Me ajude levar a Dudinha para o outro
quarto. Aliás, pensando bem ... não quero dormir
em uma cama frequentada.
— Minha cama é só sua. A do outro quarto que
é a errada. Vou doar amanhã e pintar o terceiro
quarto de rosa.
Eduardo folgou os braços e Maria Fernanda
levantou zonza. Ela cambaleou alguns passos com
as pernas trêmulas.
— Socorro! — Virou o rosto assim que firmou
os pés. O roupão de Eduardo estava aberto e o
homem não usava nada por baixo. — Eu vou... eu
vou... — Ele cobriu os olhos com o braço e
despencou a cabeça no encosto do sofá. Ela deu
uma longa olhada e percebeu que salivava além do
necessário. — Eu realmente preciso sentar... —
Balançou a cabeça — sair daqui. Tome outro
banho... fique um pouco parado na água... Boa
noite, Eduardo.
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Ela correu para o quarto e só respirou depois


da porta trancada, com todas as voltas da chave.

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18

Quando Maria Fernanda entrou na cozinha,


Eduardo estava a um metro de distância do fogão.
Seu braço esticado manipulava algo que estourava
na frigideira.
— Bom dia. — Ele olhou para ela, sorriu e
voltou a prestar atenção ao alimento, enquanto
lutava para desgrudá-lo do fundo a panela. — Estou
cozinhando para vocês. Gosta de omeletes.
— Sabe fazer isso? — Maria Fernanda
perguntou, analisando de longe.
— Sei. — Eduardo deu um pulo quando a
gordura quente voou. — Fique aí mulher, já está
quase pronto.
— A Dudinha não pode perder aula. Ainda vou
passar em casa para ela vestir o uniforme e pegar a
mochila.

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— Ai, merda! — Eduardo largou a espátula e


correu até a pia.
— Se queimou? — Maria Fernanda desligou o
fogo.
— Está tudo certo, foi apenas uma pequena
queimadura.
Ela caminhou até a pia, viu a vermelhidão no
braço de Eduardo e constatou que não demoraria
para criar uma generosa bolha.
— Você nunca chegou perto do fogão, não é?
— Isso não é tão difícil, mulher. Projeto
prédios de trinta andares, o que é fazer uma
omelete para minha filha?
— Você queimou tudo, até seu braço. — Ela
fechou a torneira. — Precisa passar uma pomada na
queimadura. A Dudinha está manhosa na cama.
Vou acordá-la para você nos levar até meu
condomínio. Ela precisa do remédio matutino.
— Minha filha está sentindo dores? —
Eduardo sentou-se em uma banqueta em frente ao
balcão e segurou o braço que começava a arder.

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— Não, mas ela tem horários certos para cada


dose.
Eduardo olhou para seu ferimento e suspirou
compassadamente; escolheu aquele ponto de
observação apenas para apurar seus pensamentos,
longe dos olhos da mulher. Sabia que tinha fardos
nas costas, e que nunca o abandonariam. Tinha
ciência de que as complicações do parto foram
heranças de suas covardes escolhas. Ele já tinha
aceitado aquela culpa, e sofria, desejando roubar a
dor da filha. Seria assim para sempre. De agora em
diante, faria de tudo para protegê-la e ensiná-la que
suas limitações físicas jamais atingiriam sua
capacidade. Dudinha teria uma vida amorosa
completamente oposta à que ele ofereceu a Maria
Fernanda há dez anos. Homem nenhum faria sua
filha sofrer.
— Está doendo tanto assim? — ela perguntou
ao notar as lágrimas nos seus olhos.
— Hoje vou trazer uma parte das coisas da
Dudinha e o básico para você. Mas vou
providenciar uma transportadora para a mudança.
— Se acalme, Eduardo. Antes de tudo, existe
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um homem maravilhoso que também é pai da sua


filha e merece todo o meu respeito.
— Pai da minha filha... — Eduardo
resmungou. — Se ficar comprovado que o joalheiro
está envolvido com o Junior, eu vou dar uma coça
nele, antes de mandar para a cadeia. Estou te
avisando antecipadamente.
— O Thiago não está envolvido nisso, tenho
certeza absoluta. Conheço o homem de honra que
ele sempre foi. Pare de pensar isso.
— Você confia nele sem reservas... E quanto a
mim? Eu venho te pedindo perdão há tempos, mas
até hoje você não me deu nenhuma certeza se me
perdoa. Não confia em mim, não é? Ainda duvida
de que posso fazer diferente.
— Há um problema com confiança entre nós.
Você tinha uma mulher para cada dia, sem contar
na rameira fixa. Não confio em você e viver assim
nunca daria certo, isso me afeta toda vez que
estamos próximos.
Eduardo segurou as duas mãos dela e beijou.
— Eu prometo — beijou outra vez — que
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nunca mais vou desejar outra mulher que não seja


você.
— Não é tão fácil acreditar em promessas de
alguém que nos fez sofrer.
— Estou sendo praticamente um santo desde
que você resolveu iluminar meus dias novamente.
Não consigo imaginar ter outra mulher. Quero só
você.
Maria Fernanda ficava mole toda vez que
ouvia aquele "te quero". O desejo por Eduardo era
incontestável. Seu corpo queimava por ele desde
muito cedo e sempre se sentiu desejada. Mas,
mesmo anos antes, ela não tinha aceitado apenas o
desejo carnal, por que o faria agora? Era inevitável
continuar colocando os pesos na balança. Não
aceitaria passar pelas mesmas situações.
— Você é violento, grita, xinga e tem um jeito
possessivo...
— Você me controla de agora em diante. —
ele a interrompeu. — Agora eu tenho uma filha
para dar exemplo. A responsabilidade pesou e
prometo que vou tentar.

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— Bares, bebidas, festas regadas às


depravações que você está acostumado... — Ela
continuou enumerando.
— Nada disso me importa mais. Eu não tenho
motivos para encher a cara se, quando chegar
cansado, encontrar a mulher que eu amo, cheia de
sensatez para me ajudar com os problemas e fazer
um amorzinho gostoso, que me revigore para o dia
seguinte. Estou sonhando acordado. Sinto até o frio
da ansiedade. Agora sou um homem de família. Eu
até comprei uma bíblia.
Maria Fernanda achou as palavras dele
graciosas. Eduardo estava se revelando um sujeito
agradável nos últimos dias. Ela também viajou para
a idealização das palavras que ouviu. Mas os
contras ainda pesavam. E se tudo desmoronasse
outra vez?
— E você já leu alguma coisa, Eduardo?
— Vou ler em breve, mas fiz pesquisas na
internet. Pretendo ir à igreja com você e Dudinha.
— Ele sorriu esperançoso.
— É um compromisso sério, Eduardo, não
encare como um meio para chegar até mim.
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— Você está me afastando das coisas sem


importância. Estou aprendendo com você e nem
está percebendo isso. Já sou amigo do líder da
igreja e acredito que Deus apoia famílias.
— A cada palavra sua, me sinto perdida. — ela
confessou.
— É a nossa família. Eu não mereço, mas
quero te fazer feliz. Não desiste. Eu te amo. — ele
suplicou, pois teve certeza que ela estava insegura.
— Pensa bem Eduardo, você tem a sua vida...
— Minha vida é você. — ele a interrompeu. —
Me perdoa e acredita que eu vou ser diferente. É a
nossa última chance, Maria Fernanda. Preciso que
me dê esse voto de confiança. — Ele estava
sentado e levou a mão até os olhos dela. — Não
chore, mulher. Vai ser ruim ouvir seu não, mas se
for a sua vontade, deixarei você ir. Mas agora, vai
com todo o meu amor declarado.
— Tinha esperança em você, mesmo quando
era um crápula declarado. Mas sempre sofri com
suas escolhas e modo de viver. Não aceito me
decepcionar outra vez. Não admito.

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— Eu era um moleque de vinte e três anos.


Perdi a chance de te mostrar o que realmente sentia,
e por várias vezes fui egoísta. Mas estou
arrependido e te quero de volta. Eu prometo não só
te respeitar e proteger, mas te amar como nunca
amei; como nunca alguém te amou.
— O Thiago...
— Mas que droga, Maria Fernanda! —
Eduardo levantou exaltado. — Por que é tão difícil
para você entender, que eu te amo? Eu te amo,
mulher! — Eduardo segurou o rosto dela com as
duas mãos, ele estava desesperado. — Eu Te amo.
Te amo e te quero. Eu não tenho dúvidas disso. Eu
te amo! — disse tudo segurando o rosto dela.
Maria Fernanda poderia continuar sendo firme
em seu propósito e medo. Mas naquele momento
seu coração foi traidor — ou aliado. — Ela sentiu
um impacto muito grande ao ouvir as palavras
desesperadas de Eduardo. Foi diferente, verdadeiro
e rompeu as barreiras que protegiam o seu coração.
Durante os dois anos que passaram juntos ela
desejou, esperou e quis tudo dele. Por mais que
lutasse, sabia que não só o desejava, mas que o
amava e seguia lutando contra. Agia da mesma
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maneira que ele fez no passado.


— Eu te amo, te amo, Maria Fernanda. —
Naquele último te amo, Maria Fernanda esqueceu
todas as oposições e tocou o rosto do homem que a
encarava diretamente nos olhos. — Eu te amo... te
amo. — Eduardo continuou falando de olhos
fechados, sentindo o toque dela em sua pele.
Maria Fernanda não conseguiu resistir por
muito tempo, grudou os lábios nos dele e, depois de
senti-lo, ainda pensou em desistir, mas Eduardo a
segurou pela cintura, impedindo-a.
Ele sorriu, chorou e tentou ser calmo. Ela
também chorou, mas, ao sentir os braços dele
presos ao seu corpo, quis acelerar, ditando um
ritmo desesperado, querendo mais e mais daqueles
lábios.
— Eu te amo. — seguiu falando entre o beijo,
quando ela o deixava respirar. — Eu te amo, meu
amor. — Nunca mais perderia a chance de dizer
aquela frase que, por muito tempo, esteve
aprisionada pelo seu orgulho e ganância.
As lágrimas que desciam dos olhos dele
expressavam toda a verdade e emoção vinda do seu
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coração.
Ali era o amor. Esse era o sentimento que os
guiava. Era tão forte que dava medo de ser vetado
outra vez.
Ele experimentava, mas ainda era difícil de
acreditar no que seus olhos viam, no que sua pele
sentia, no rosto delicado que suas mãos tocavam.
Agora a saudade era maior, aquela sequidão nunca
teria fim. Como ele suportou ficar tanto tempo sem
aquele beijo?
— Eduardo... — Ela encerrou o beijo, mas
continuou com os lábios nos dele.
— Sim, meu amor?
— Você não pode chegar depois de anos e
dizer que me ama...
— Quero você morando comigo... — Eduardo
completou.
— Quer me trazer pra morar com você e me
beijar...
— E eu quero mais. — Ele a beijou outra vez.
Abandonar os lábios dela deu certo trabalho.
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— Eu preciso... recuperar meu raciocínio. —


Ela tentou respirar.
— Você estava dizendo que aceita vir morar
comigo e ser feliz, juntamente com nossa filha.
Parou nessa parte.
— Não! Eu preciso me organizar... O Thiago!
Se apresse, preciso conversar com ele.
— Eu não. Preciso saciar a saudade que ainda
tenho de você. — Ele beijou o pescoço dela.
— Eduardo! Me leve agora! Preciso esclarecer
tudo ao Thiago.
— Não!
— Eu vou pegar um táxi, então. — Ela se
afastou.
— Maria Fernanda, acabamos de voltar. Você
já quer brigar?
— Vou cuidar da Dudinha e chamar um táxi.
— Meu amor, por favor! Não vamos brigar no
primeiro dia que voltamos.
— Você não entende, mas devo tudo a ele,

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inclusive explicações. O Thiago esteve comigo


quando a Dudinha quase se foi, também ficou
comigo todas as vezes que ela entrou em uma sala
de cirurgia. Me abraçou quando tive medo, me deu
a mão quando precisei. Aquele homem respeitou
meu tempo, porque sabia que eu queria a coisa
certa. Acha que isso é fácil?
— Não, claro que não! Eu daria um beijo nele,
se ele não quisesse roubar você de mim.
— Eu não posso fazer isso com o Thiago.
— E comigo? Eu disse que te amo. Isso não
conta? — Eduardo se ofendeu.
— Você tem tudo de mim. Mas eu também
amo o Thiago.
— Não fale isso, mulher. Eu senti até uma
pontada aqui no coração. Isso é muito difícil para
seu marido ouvir.
— Mas eu o amo, Eduardo. Amo o Thiago.
— Amizade, gratidão... Amor e paixão, só
comigo. Ou você acredita que suportaria meses sem
se aproveitar do meu corpo, se fosse eu no lugar
dele? Vamos fazer um amorzinho leve para matar a
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saudade. — Ele a segurou na cintura e distribuiu


beijos inflamados na extensão do rosto. — Ainda
está cedo. Nunca tivemos um amorzinho antes do
café. — Ele apertou a mão em uma das nádegas
dela e segurou.
— Me ajude a fazer a coisa certa... — Ela já
estava sem forças outra vez. — Até você deve isso
a ele.
— Tudo bem! — Ele selou os lábios dela
várias vezes. — Eu te levo lá, você fala que acabou
e não dá mais, fico te esperando, aperto a mão dele
e depois voltamos.
— Não é simples assim. Vou conversar, sem
pressão e sem você por perto.
— Então vamos logo resolver isso. Cuida da
nossa menina e depois eu te levo e espero de longe.
Minha situação não está para brincadeira. Já basta a
noite que tive, mordendo o travesseiro.
— Precisa passar algo no braço. — Ela
segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou
levemente, envolvendo apenas os lábios.
— Somos tão perfeitos juntos que tenho medo
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disso ser quebrado... outra vez. — ele sussurrou. —


Nunca esqueça que eu te amo e sempre amei.
Eduardo estava sorrindo no banco da frente de
seu carro. Os três já estavam próximos à escola de
Dudinha. A menina estava animada no banco de
trás. Maria Fernanda estava ao lado de Eduardo,
mas pensava na conversa que teria com Thiago.
Preferiu não olhar o telefone, conversaria
pessoalmente.
— Este carro também é bonito, mas eu gostava
mais do outro, Dudu! — a garotinha revelou.
— Eu também gostava mais dos outros, filha, e
a caminhonete sempre foi minha preferida.
— Você também a vendeu? O dinheiro dos
imóveis não foi suficiente? — perguntou Maria
Fernanda
— Foi, mas precisei do dinheiro para outra
coisa. Vendi os três importados. Só minha
caminhonete valia trinta carros desses aqui,
comprei esse e mandei blindar, não quero vocês
correndo perigo.
— Por causa dos homens maus, Dudu?
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— É preocupação do pai, filha, mas está tudo


bem. Ninguém vai tocar em vocês, dou minha vida
pelas duas. — Eduardo chegou a sentir lágrimas
nos olhos com aquela terrível possibilidade. Maria
Fernanda viu aquilo e o coração acelerou.
— Por isso, agora vamos morar na sua casa,
Dudu?
— Sim. Vão morar comigo de agora em
diante! — Eduardo afirmou.
— Eu quero morar com meus três papas. A
casa do seu prédio é grande, cabe todo mundo. O
meu papá fazendeiro, o de olhinhos puxados e
você.
— Não minha filha. O Dudu, seu pai, eu, não
vou dividir você e sua mãe com ninguém. — Ele
olhou para Maria Fernanda e constatou certa
tristeza nos olhos azuis. — É aqui mesmo?
— Sim.
Eduardo estacionou o carro do outro lado da
rua da escola de Dudinha e viu Thiago parado em
frente ao portão.
— Liguei para uns parceiros, vão ficar aqui
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vigiando a escola até eu vir buscá-la. — Ele


sussurrou para que a filha não ouvisse e fez sinal
para Maria Fernanda. Ela também viu Thiago.
— Você fica aqui. — Ela destravou o cinto de
segurança.
— Eu não confio nele, você sabe. — Eduardo
falou baixo.
Dudinha tentou compreender a conversa.
— Não saia daqui. Eu vou e você nos segue.
Não interfira. — Ela abriu a porta, saiu do carro e
pegou Dudinha no banco traseiro.
Eduardo abriu o porta-luvas do carro e deixou
sua pistola ao alcance. Ele viu Maria Fernanda falar
com Thiago, entrar com Dudinha na escola e depois
de cinco minutos, saíram apenas os dois e entraram
no carro de Thiago.
Ele seguiu o carro que estava indo em direção
à estrada da praia.
Trinta minutos depois, o carro de Thiago parou
no alto da serra e próximo ao farol. Ele tirou o cinto
de segurança e esperou as palavras de Maria
Fernanda. Ambos tinham ficado calados durante
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aquela viagem.
Thiago já presumia a conversa, pois foi cedo à
casa da namorada e não encontrou ninguém, ligou
inúmeras vezes e deu caixa de mensagem. E Suelen
tinha desligado rápido depois de falar que estava
tudo bem.
— Pode contar, já está calada há muito tempo.
Vou te ouvir. — Ele a incentivou.
— O pai da Dudinha disse que me ama e eu o
beijei. — Ela olhou para o rosto dele, ela estava
muito triste, mas o encararia. Seria verdadeira.
— Pode continuar.
— Eu te amo, Thiago, você sempre foi tudo...
meu melhor amigo... — Ela sentiu as lágrimas
descerem. — Mas, eu não consigo... tudo em mim
chama pelo Eduardo.
Thiago virou a cabeça para o alto e suspirou
forte.
— Dormiu com ele?
— Não faria isso com você antes dessa
conversa.

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— Ele é um marginal, viciado e violento. Está


pronta para outra decepção? Eu devo te lembrar
que ele tratou você como um nada e negligenciou
sua gravidez sem saber as condições de vida da
minha filha.
— Me perdoe... — Ela secou os olhos. As
palavras de Thiago a envergonharam. Ela estava
dando um voto de confiança ao homem que a tinha
ferido e deixando o que sempre esteve do seu lado.
No fundo, ela ainda temia.
— Te quero desde a adolescência. Meses atrás,
consegui sonhar com mais firmeza sobre a nossa
família. Fiquei meses respeitando seu tempo e
rejeitando todas as mulheres que praticamente se
jogavam em meu colo... elas foram mais
persuasivas e investiram mais desde que
começamos a namorar, mas eu renunciei tudo por
você.
— Eu também te amo. Eu não sei se consigo
viver sem você. E isso é muito verdadeiro. — Ela
levou a mão até o rosto dele, mas Thiago sacudiu,
afastando-a e firmou o olhar no vidro a frente.
— Você nunca quis, de fato, fazer amor
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comigo, pois era apenas ele que você queria.


— Eu te quis muito quando estávamos juntos,
Thiago. Sempre te demonstrei isso.
— Não! Você fingia, pois outra mulher no seu
lugar não resistiria. Eu sou mais homem que o
marginal que você sempre quis. Mas foi bom isso
acontecer agora. Eu viveria frustrado, casado com
uma mulher que sempre desejou um cafajeste,
bandido, que é inimigo da metade da cidade e só
tem como amigo, outro igual a ele!
— Não me deixes por isso. — Ela deixou ele
desabafar, mas as palavras estavam-na ferindo e
fazendo-a se lembrar dos episódios de anos atrás.
— Sempre estivemos juntos, mesmo antes do
namoro.
— Vá atrás do marginal. Se for isso que você
quer pra sua vida, vá!
— Não me trate assim, você nunca fez isso.
— Já perdi muito tempo da minha vida, Maria
Fernanda.
— Por favor... — Ela o abraçou. — Estou
angustiada e perdida em minha decisão.
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— Quer meu apoio? — Ele sorriu insatisfeito.


— Estou com muita raiva para te desejar boa sorte.
Mas por minha filha, eu espero que você não
quebre a cara. Agora vai. — Thiago olhou através
do espelho frontal e viu Eduardo encostado ao
carro branco. — Eu não vou te dar meus braços
quando ele te magoar, estarei aqui apenas para
minha filha. Você está fazendo suas escolhas e vai
assumir.
— Não vou te soltar assim. — Ela o abraçou
com mais força.
— Vai, não se preocupe comigo, estarei bem.
— Ele tirou as mãos dela de sua cintura e beijou-a
na testa, com os lábios trancados. — Vai. — Ele
ergueu o braço sobre o corpo dela e abriu a porta.
— Vai logo, está começando a chover.
— Eu te amo. — A voz dela saiu falha.
Maria Fernanda olhou dentro dos olhos
apertados de Thiago. Seu olhar temeroso. Thiago a
tinha lembrado que seus pés estavam no solo, mas,
agora, testaria as mesmas águas que foram
turbulentas.
— Não abaixe sua cabeça, você já ergueu uma
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vez e me encheu de orgulho. — Thiago falou sem


olhá-la.
Maria Fernanda desceu do carro e caminhou na
direção de Eduardo.
Ela estava aérea.
O vento espalhava seus cabelos em toda parte.
Seu rosto estava banhado de lágrimas, que se
misturavam com as finas gotas de chuva que
começava a cair.
Ela parou na frente do Eduardo e quando olhou
para trás, o marido abraçou-a bem apertado.
— Ele te tratou mal? Ameaçou? Ofendeu? —
Eduardo perguntou, segurando o rosto dela.
Maria Fernanda apenas moveu o rosto
negando.
— Ele te deixou mais confusa?
Ela confirmou e Eduardo secou os olhos dela.
— Não fique, meu amor. — Ele voltou a
abraçá-la. Ela estava emotiva e era compreensível.
— Vou te provar que tudo o que mais quero é você.

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Thiago parou o carro ao lado do de Eduardo e


desceu. Eduardo largou Maria Fernanda e
caminhou até ele.
— Eu quero te agradecer por ter cuidado da
Dudinha e da minha...
Eduardo não terminou a frase, pois levou um
soco.
— O que você está passando, nem se aproxima
da consequência dos seus atos. — Thiago falou
diretamente para o concorrente.
Eduardo cambaleou, mas não caiu.
— Eu não confio em você, mas estava
decidido a apertar sua mão. — Eduardo apertou os
olhos e sacudiu a cabeça. — Agora eu quero que
você vá pra casa da porra!
Eduardo também avançou sobre Thiago. Mas
Maria Fernanda o segurou pela cintura. Ele só não
prosseguiu porque temeu machucá-la.
— Não faça isso! Vai piorar tudo. — Ela
diminuiu a força quando ele parou de arrastá-la.
— Isso ainda foi muito pouco. — Thiago deu a

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volta, entrou no carro e saiu em alta velocidade.


Maria Fernanda olhou para o lado oposto de
Eduardo e chorou com os braços em volta do
corpo.
— Eu poderia deixar você chorando até passar
o que está sentindo, mas está começando a chover e
não quero te ver doente. Vamos para o carro. —
Eduardo segurou a mão dela e a levou para o carro.
Maria Fernanda encostou a cabeça no banco do
carro e virou para o lado oposto de Eduardo.
— Vai para a loja ou pra sua casa? — Eduardo
sentiu o clima pesado entre eles. — Vai para a loja?
Não vai falar comigo?
— Me deixa. — A voz dela saiu no meio de
um soluço.
— Merda! — Eduardo socou o volante. —
Está sofrendo com medo de ter tomado a decisão
errada?
— Eu preciso ficar sozinha. Me leve pra casa.
— Vamos viver assim? Ou você pretende
pensar mais um pouco e correr o risco de me

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deixar?
— Estou sofrendo, Eduardo, não vê?
— Não sei ser sensível.
— Pois aprenda, e dirija logo esse carro.
— Está pensando em me deixar? Só me fala
isso, mulher. Seu medo me machuca. Eu não vou te
decepcionar. Para de medir meu amor com seu
sofrer.
Ele afastou os cabelos do ombro dela e beijou
a região.
Maria Fernanda virou para ele, empurrou-o e
na sequência deu um tapa forte no rosto de
Eduardo.
Ele ficou sem reação e alisou o rosto, mas logo
foi puxado pela camisa.
Maria Fernanda grudou os lábios nos dele e
invadiu.

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19

Maria Fernanda possuía a boca de Eduardo


com imoderação. Tinha tomado sua decisão.
Amava aquele homem cheio de defeitos, que lutava
em busca de redenção. Agora, o certo era acreditar
que seria diferente. Não seria instantâneo, mas ele
queria mudança de atitude e estava no caminho.
Tinha total certeza que além de desejá-lo, o amava.
Ela sugava a língua dele com volúpia, quando
percebeu o homem suspirar com os lábios abertos.
Ele ainda não havia retribuído o gesto, atormentado
com o medo de ser irreal.
Ela diminuiu o ritmo e levou as mãos até o
rosto dele.
— Está chorando porque te bati? — perguntou,
respirando com dificuldade, ansiando por tudo.
— Eu não estou chorando. — Ele fechou os
braços em volta dela. — Vem aqui. — Colocou-a
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montada sobre ele.


— Você não é sensível, mas anda chorando
muito nos últimos dias. — Ela correu os dedos nos
cabelos dele. — Um ogro chorão.
— Tenho medo de alguma coisa, mas não sei o
que é. Eu não era acostumado com felicidade, mas
você me trouxe a Dudinha e tenho medo de sermos
interferidos.
— Ficaremos bem. — Ela selou os lábios dele.
— Você é obrigado a permanecer ao meu lado,
nem pense em me deixar! — Ela também sentiu a
angústia. — Agora somos nós, sem separação.
— Vou tentar ser um bom pai de família.
— Pare de chorar. Estou ficando angustiada.
— Não estou chorando. Já falei.
— Certo, não está. — Ela secou os olhos dele
com o dorso da mão. — Você tem algum vício e
não me falou? — Maria Fernanda lembrou que
tinha ouvido isso na conversa que teve com Thiago.
Eduardo usava algum tipo de droga e queria
confessar? Seria outra luta para enfrentar. Ela teria

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forças?
— É isso, Eduardo? Você é um viciado?
— Sexo. — Ele fungou o nariz. — Mas não
me deixe por isso, vou viver os seus limites.
Maria Fernanda sentiu alívio.
— Shhhhh! — Ela deu três tapinhas
reconfortantes na cabeça dele. — Esse eu sempre
tive noção.
— Você ainda tem medo de trovão, ferinha?
Está caindo um temporal lá fora.
— Acredito que não. Depois que ganhei a
Dudinha, os medos pequenos perderam a força.
Agora sou mãe de uma princesinha e de um homem
adulto. Mas saberei educá-lo na rédea curta.
Maria Fernanda beijou o maxilar do marido e
desceu em direção à garganta.
— Quero peitinho.
Maria Fernanda abafou o riso e voltou a
acariciá-lo com os lábios.
Eduardo voltou a cabeça para o alto,

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oferecendo acesso e mais conforto a ela. Ela beijou


com os lábios abertos e espalhou pequenas
mordidas em todo o pescoço do marido. Eduardo
arfou, sentindo a forte excitação crescer em seu
membro. Ambos tinham sede, fome, mas não
agiam com pressa.
Alguns segundos depois, eles permaneciam
com as bocas sincronizadas em um só ritmo. Eram
movimentos apaixonados e sensuais. A mão dela já
tinha aberto a calça do marido e seguia
friccionando o grande volume coberto pelo tecido
da cueca. Ela o torturava de cima a baixo e sentia
prazer com as reações e gemidos que saiam por
entre seus lábios.
— Sou o pobre mais rico do mundo — ele
sussurrou no meio do beijo, quando ela mergulhou
a mão no tecido de malha que o impedia de tocá-lo.
— Eu diria pretensioso, se não fosse verdade.
— Ela sentiu as fisgadas íntimas se intensificarem
ao deslizar a mão sobre a pele da espessura firme e
pulsante do marido.
Eduardo aprisionou um dos lábios de Maria
Fernanda entre os dentes e segurou firme nos
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cabelos próximos a nuca.


— Ferinha, estou querendo fazer amor, então
colabora. — Ele espremeu os olhos, sentindo uma
nuvem de prazer próxima a empurrá-lo do
penhasco. — Chega!
Eduardo freou a mão dela, desabotoou os cinco
botões que o impedia de vê-la e espalhou as duas
mãos sobre o sutiã rendado. Ele queria matar a
saudade de tudo. Lembrou-se dos antigos sutiãs de
florzinhas. Ele a achava atraente de qualquer
maneira.
Abriu o fecho frontal e admirou os seios
redondos, agora estavam um pouco mais robustos
que anos atrás.
— Sou sortudo. — Procurou o zíper da saia
lápis que ela usava e desceu com dificuldade, pois
o tecido estava encolhido até o final das coxas
claras.
Ela o largou e tentou tirar os braços da camisa,
mas ele a impediu.
— Só a saia. — A voz dele saiu rouca.
Ela se ajoelhou desajeitadamente sobre ele e
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esticou o tecido justo por baixo. Aproveitou para


descer uma pequena peça no tom mais fraco de
rosa.
Eduardo encheu os olhos com a visão a sua
frente, salivou e desejou estar ali. Ela sorriu sentada
sobre as pernas dele e foi beijada.
— Como pode ser tão linda? Mulher, você é
perfeita. Eu juro que não encontro defeito em você.
Um conjunto de corpo e essência que me ilumina.
— Não sou perfeita, meu amor. Ninguém é
perfeito. — Ela se moveu totalmente exposta sobre
ele.
— Aos olhos do homem que te ama, você
sempre vai ser. E falo sem exagero.
— Você está romântico, preciso me aproveitar.
Mas esse carro é tão apertado.
— É tudo o que precisamos. — Ele a girou e
colocou no outro banco.
— Ai! — Ela bateu a cabeça no vidro da janela
e alisou o local.
— Desculpa, machucou? Sim, esse carro é

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realmente apertado.
— Na riqueza ou na pobreza... no carro
importado ou no Uno. — Ela gargalhou, mas
perdeu o foco é fechou os olhos quando Eduardo
apertou levemente seu nervo sensível.
— Você também está mais gordinha... — Ele
passou dois dedos, lambuzando-se. — Eu também
estava com saudades. Chore, pequenina, eu estou
aqui para secar suas lágrimas...
— Melhor parar com isso! — Ela falou com os
olhos fechados com resquícios de vergonha. Aquele
homem era um moleque. Um moleque de trinta e
três anos que sabia ser maduro em momentos
importantes. Precisava se acostumar com as
loucuras dele.
— Tão gostosa, iluminada, linda e apenas
minha.
Ele soprou e começou a trabalhar lentamente
ali, não tinha pressa em abandonar a carne rosada,
muito úmida e desejada. Beijava-a lascivamente,
experimentando tudo dela.
Maria Fernanda não sabia se sorria pelo
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malabarismo dos dois ou apertava com mais força


os cabelos de Eduardo, que trabalhava com
maestria. Ele estava caprichando nos beijos.
Sempre caprichou.
Quase uma hora depois ela estava sentada no
colo dele e Eduardo acariciava o finalzinho do
ventre da mulher. Ambos estavam exaustos e
descansavam, mas ele ainda estava dentro dela.
— É linda. — Ele deslizou a ponta dos dedos
sobre a quase imperceptível marca cesariana.
— Você se apega a tudo em mim. — Ela
moveu-se sensualmente sobre ele, os olhos estavam
fechados. Mesmo cansada ela não queria pausa.
— Eu quero outro filho...
— O que? — Ela pensou não ter ouvido direito
com o descuido das chamas de prazer.
— Um menino se arrastando pela casa, de
fraldas descartáveis.
— Não estou ouvindo nada. — Ela nem
cogitou parar os movimentos.
— Delícia de aperto! Mulher, você não para!

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— Eduardo sentiu as paredes internas dela se


estreitarem ainda mais.
— Preciso... me acostumar...com você. — Ela
o instigou outra vez. Estava totalmente preenchida.
Não sobrava nada dele. A dor inicial tinha sumido
minutos atrás.
— Pode acabar comigo, ferinha. Você... tem
esse direito. Vamos aproveitar e fazer o bebê. Você
até hoje foi a única que me experimentou sem
proteção. Deixa eu tirar...
Ela não o deu ouvidos e continuou. Depois
explicaria os motivos, mas agora, era prazer que ela
queria.
Ele segurou o corpo dela com força, suspendeu
alguns centímetros e investiu muito rápido, forte e
duro. Tocou o lugar mais profundo dela. Só
pararam quando ambos estavam sem forças.
— Quem vê essa sua cara de princesa até
pensa... — Eduardo abandonou um dos seios dela e
encostou a cabeça no estofado. — A Dama e o
Vagabundo.
Ela distribuiu beijinhos no rosto dele, estava
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feliz e exausta.
— Eu te amo. — Ela declarou e encostou a
cabeça no peito dele.
— Estava com muita saudade de seu gosto.
Quando vai me retribuir?
— Teremos muitas oportunidades. — Ela
estava totalmente mole, aninhada no colo dele. —
Vamos nos recuperar. Preciso trabalhar. Vou nos
sustentar até você voltar a trabalhar.
— Não se preocupe com isso, vou dar um
jeito. O dinheiro da indenização deve sair em um
ano ou dois. É o meu dinheiro que foi roubado. Já
paguei as dívidas e começarei novamente. Agora
tenho você me ajudando. Vou encarar a obra, se for
possível. Vou entrar no meio do concreto para
reerguer nossa empresa.
— Hum... terei prazer em fazer sua marmita.
— Ela gargalhou sem forças. — Vou te ajudar.
Levantaremos em alguns anos, mas eu vou seguir
meu negócio e você o seu. Não me interesso pela
empresa e não tenho planos de exercer a profissão.
Entrei no ramo da moda e quero crescer.

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— Você vai crescer muito, tenho certeza,


mulher. Eu agradeço por tudo.
— Precisamos contar à Dudinha. — Ela
percorreu o contorno do braço dele com a ponta do
dedo.
— Sobre o irmão? — Ele jogou.
— Não vou engravidar outra vez, Eduardo.
— Por que? — Friccionou os dedos por entre o
couro cabeludo da mulher.
— Tenho medo. Não suporto outra. — Ela
levou os pensamentos para longe, quando quase
não resistiu ao parto. — Pior é sentir a dor de ver
meu bebê partir.
— Não fale isso mulher. — Eduardo voltou a
sentir as sensações de perda e arrepiou-se por
inteiro.
— Fui alertada pelos médicos. — Ela levantou
a cabeça do peito dele e o olhou. — Temos uma
que vale por duas, vamos nos contentar.
— Vou mimá-la e manter debaixo dos meus
olhos. Dudinha vai crescer bonita, assim como você

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é. Vou precisar manter os olhos abertos e me vestir


de espantalho para afastar os gaviões.
— Está chovendo muito. Ajeite-se e vamos pra
casa. Preciso trabalhar.
— Eu tenho reunião com meu pai e o detetive.
— Por favor, tenha cuidado. Tudo já está se
resolvendo, esqueça isso. — Ela pediu.
— Preciso saber quem é o cúmplice, a polícia
não identificou ainda. Quero saber quem me traiu.
Se fez uma vez, vai repetir. Não se preocupe, vai
ficar tudo bem. A propósito, você vai precisar
conviver com minha família. Minha mãe quer
conhecer a Dudinha.
— Não gosto dessa ideia.
— Vamos marcar algo depois. Não pense nisso
agora.
***
Maria Fernanda entrou em sua loja com os
cabelos molhados e um vestido soltinho. Estava
sorridente.
Suelen atendia as clientes e Sergio estava por
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perto.
— Bom dia, Suelen. — Ela apertou as
bochechas da amiga.
— Você está transpirando felicidade. Caiu na
vara novamente, não foi?
— O que é isso? — Sergio repreendeu a
morena.
— Eu estou dirigindo minha palavra à sua
pessoa, Mon cherri? — Suelen o olhou atravessado.
— O que faz aqui, Sergio? — perguntou Maria
Fernanda.
— Estou desempregado e com tempo livre
para a Suelen.
— Voltaram? — Maria Fernanda perguntou à
amiga.
— Voltamos. Eu dormi na casa dos pais dela.
— Sergio falou empolgado.
— Mas terminamos vinte minutos depois. E
você dormiu no sofá, pois minha mãe insistiu. —
Suelen tirou o sorriso de Sergio, olhou-o de cima a
baixo e elevou o rosto, pois sempre amolecia com o
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belo porte.
— Eu a pedi em casamento, Maria Fernanda.
— Cabra safado! Peguei anotações no carro
dele, onde citava melhores maneiras e posições
para engravidar uma mulher.
— Eu quero te fazer um filho, Anja. Já
expliquei. — Sergio tentou um chamego nos
cabelos da morena e Suelen quase se derreteu, mas
resistiu.
— Eu preciso ser muito tola, para encarar essa
cama de gato outra vez. Não aceito, mas também
não vou devolver o anel. — Suelen balançou os
dedos frente ao rosto. Maria Fernanda se espantou
com o tamanho da pedra de diamante.
— Suelen... Sergio, precisam resolver os mal
entendidos. E se você não quer, devolva o anel. —
Maria Fernanda aconselhou à amiga, ainda
admirando a joia.
— Não posso, Nanda. Eu me afeiçoei a ele.
Olha só que lindo! — Suelen estendeu a mão.
Maria Fernanda identificou tristeza no rosto de
Sergio.
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— Se não vai aceitar, devolve isso amiga. Mas


é lindo. — Maria Fernanda olhou de perto. — Mas
precisa devolver... é realmente uma bela joia,
Sergio.
— É exclusivo. Mandei fazer para ela.
Maria Fernanda quase abraçou Sergio em um
conforto, mas quando olhou para Suelen viu a
amiga segurando o orgulho, doida para agarrar o
homem ao lado. Ela curvou um sorriso, pois sabia
que era questão de tempo. Suelen deixaria de fazer
charme em breve e seria um lindo casamento.
— Ele se parece realmente comigo. — Suelen
acariciou a pedra de diamante.
— Voltei com o Eduardo, vamos morar juntos
e firmar nossa família. — Maria Fernanda
anunciou.
— Então sua felicidade é por conta disso? —
Suelen abraçou a amiga.
— Isso é um bom sinal para nós, Anja. Se o
Edu conseguiu, eu consigo. Vou ligar para ele. Ele
só não me contou até agora porque estamos
afastados. — Sergio pegou o celular e saiu
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deixando as duas.
***
Eduardo estava no endereço que o detetive
passara. Segundo ele, Junior comparecia
eventualmente ao local, mas nos últimos dias a
visita era frequente. Ele já estava do outro lado da
rua, em frente ao prédio suspeito. Vigiava há cerca
de meia hora e nenhum suspeito tinha sido visto,
mas bastou desviar o olhar um segundo para avistar
o carro do taiwanês estacionado do outro lado da
rua.
Thiago observava as redondezas do prédio.
Eduardo puxou sua pistola, conferiu a munição
que possuía e saiu sorrateiramente do carro. Ele
atravessou a rua cuidadosamente e surpreendeu
Thiago, que se assustou tendo uma pistola na
direção de sua cabeça.
— O que é isso? — Thiago levantou as duas
mãos ainda dentro do carro.
Com a mão livre, Eduardo abriu a porta do
carro e fez com que Thiago passasse para o banco
carona, assumindo ele o assento do motorista.
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— Pode começar a revelar todo o esquema,


desgraçado! Fale antes que eu cometa uma besteira
e decida estourar seus miolos antes de te ouvir.
— Eu não sei o que você está fazendo aqui,
mas se for pelo mesmo motivo que eu, pode estar
enganado ao meu respeito. — Thiago falou,
pausadamente.
— A verdade! – Eduardo gritou muito próximo
a Thiago.
— Tudo bem.
— Porque fez isso? Você tem ideia de tudo
que eu já passei para levantar a Moedeiros? Eu
renunciei minha vida, meu amor... Foram noites
sem dormir projetando tudo para alcançar o
sucesso! Eu fiz tudo! O Junior sempre teve tudo nas
mãos, tinha um legado pronto; eu comecei tudo do
zero e consegui! — Eduardo estava espumando de
raiva e seu autocontrole estava no limite.
— O que te faz pensar que eu estou envolvido
no roubo da empresa? — A voz de Thiago estava
pesada.
— Sem rodeios, porra! — Eduardo apertou a
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pistola próxima à cabeça de Thiago. — Tentaram


contra a vida da minha família!
— Eu nunca gostei de você e depois que a
Fernanda me contou a maneira como a tratava, tudo
piorou.
— Então se juntou ao Junior pra me roubar?
— Eu tinha todos os argumentos e armas para
acabar com o resto de sua empresa.
— Como? Você não tem acesso a nada meu!
Como conseguiu ter participação?
— Eu tinha todos os motivos para...
— Sim, isso eu já sei! Quero saber como
ajudou o Junior?
— O Junior me procurou depois da festa.
Percebeu que havia uma peleja entre nós, ele me
quis como aliado.
— Você está me dizendo que só se aliou a ele
depois daquela festa? — Eduardo por um descuido
desencostou a arma do rosto de Thiago, mas logo
voltou à mesma firmeza de antes.
— Eu não sabia de nada! Eu moro no mesmo
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condomínio que o Junior há anos, mas acabamos


perdendo o contato por causa da correria do
trabalho. Ele me procurou, fez a proposta logo após
que soube da Fernanda e da Dudinha. Ele não
queria você se reerguendo do golpe, tampouco com
a possibilidade de montar uma família.
— Covardes! Invejosos! Colocou a vida das
duas em risco se aliando ao homem que sempre
quis ser o que me tornei. Eu não sei o que ainda
estou fazendo que não acabo logo com você! —
Eduardo gritou junto ao rosto de Thiago.
— Eu não o ajudei! — Thiago falou sobre o
grito. — Fiquei sabendo de tudo quando o roubo já
tinha sido feito. Como eu poderia ter roubado
senhas de suas contas bancárias? Que lógica tem
isso? Não sujaria minha alma, muito menos meu
nome com isso! Eu estava sempre com o Junior nos
últimos dias, pois precisava levantar provas para
colocá-lo na cadeia e longe da Fernanda e da
Dudinha. Entreguei tudo na Polícia. Gravações,
imagens, confissões que ele me fez. Ele ameaçou a
Fernanda e minha filha; eu precisava agir.
— Por que eu acreditaria nisso?

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— Porque eu amo muito a Fernanda e a


Dudinha e não consigo nem imaginar a ideia delas
estarem correndo perigo e por isso eu passei por
cima do meu orgulho. E não preciso te dar
explicações sobre meu caráter. Certamente serei
chamado para depor ao seu favor.
Eduardo escutou as palavras de Thiago e sua
mente analisava o peso de cada frase. Se Thiago
amasse tanto Maria Fernanda quanto falava na mira
daquela pistola, sua mulher realmente seria feliz ao
lado de outro homem... se por um acaso ele
faltasse.
Eduardo afrouxou a mão e segurou a pistola
sobre uma das pernas.
— Ele vai cobrar vingança de você e pode
atingir as duas. —Thiago continuou explicando. —
Eu não podia ficar parado. Minha investigação foi
paralela, mas tive orientação de um agente Federal,
amigo e cliente da joalheria. O Junior, solto, é uma
ameaça. Ele está aí, não sei se é a casa de uma
amante, só sei que eu o segui e em cinco minutos a
Polícia estará aqui, então, se você também não
quiser ser preso, é melhor esconder essa arma. —
Thiago falou em um tom de voz calmo e respirou
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mais aliviado quando viu Eduardo esconder a


pistola dentro do cós da calça.
— Cuidaria da Maria Fernanda e... seria um
bom pai para a Dudinha, mesmo depois de hoje? —
Eduardo olhou através do vidro frontal do carro.
— Tenho amor pelas duas, mas ela escolheu
você.
— Cuidaria dela? — Eduardo gritou.
— Sempre farei isso.
Eduardo não falou mais nenhuma palavra, saiu
do carro e caminhou pela rua, na direção do prédio.
— Eduardo! — Thiago se aproximou. — Você
não pode ir lá em cima agora.
— Ele ameaçou minha família. Eu vou acertar
minhas contas com ele, antes da Polícia. — Falou
firme.
— Junior só anda armado. Ele está com muito
ódio de você. Vi a Samanta toda machucada, ele
agride a mulher. Condena a pobre coitada por ter se
envolvido com você no passado. Ele te odeia em
tudo.

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— Então é melhor você voltar. Já basta um pai


da Dudinha correndo risco. — Eduardo adentrou a
portaria do prédio e nem sequer observou se havia
porteiro ali. Thiago seguiu com ele.
Subiram as escadas apressados. Eduardo tinha
o número do apartamento cedido pelo detetive.
— Vamos ver o que você esconde aqui, rato
covarde — falou antes de espancar a porta,
ignorando o botão da campainha.
Demorou quase vinte segundos e Eduardo já
estava pronto para meter o pé, mas a porta se abriu
e uma senhora apareceu enxugando as mãos em um
pano.
— Boa tarde. — A velha analisou Eduardo por
completo.
— Quem é você? — A figura daquela senhora
não passou perto de quem Eduardo esperava ver.
— Você vem até minha casa e pergunta quem
sou eu?
— Qual sua relação com a desgraça do Junior?
— Eduardo passou pela senhora e entrou com tudo
no apartamento. — Onde está aquele covarde e o
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resto da corja?
— Isso só pode ser um engano... essa casa é
minha. Moro aqui sozinha com minha filha há
muitos anos.
— Minha senhora, eu sei que o Junior está aqui
e se você não colaborar, eu vou revirar toda sua
casa até encontrar aquele desgraçado covarde!
Ladrão...
Eduardo não terminou os adjetivos, pois Junior
apareceu, vindo de um dos corredores da casa.
O olhar de Eduardo não estava sobre o ruivo e
sim, na moça ao lado dele, que lembrava alguém
muito familiar a quem ele confiava sem cogitar
dúvidas.
— Dona Irene!

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20

Por aquela, Eduardo não esperava. A Irene que


ele estava vendo não era a mesma que batia o ponto
todos os dias no relógio da sua empresa. A mulher
estava totalmente transformada em uma bela
morena. Os cabelos estavam soltos e não usava os
óculos modelo gatinho, que não saia do rosto.
— Dona Irene! É você mesma, sua safada?! —
Eduardo se alterou, Thiago o segurou e a mulher
correu para trás de Junior. — Então era você o
tempo todo, bandida?! Eu cheguei a desconfiar do
meu melhor amigo e nem cogitei a ideia de ser
você! Claro! Como eu fui burro! Você está a pouco
mais de três anos na empresa, ganhou minha
confiança, passou a ter tudo nas mãos, para
entregar para seu amante!
Com o sangue quente demais para manter o
controle, Eduardo puxou a pistola da cintura.

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A velha gritou e correu para ficar ao lado de


Irene.
Junior gargalhou frente à pistola.
— Você já perdeu tudo, Eduardo Moedeiro. É
tão prazeroso ver o seu fracasso. Pensou que eu não
conseguiria, não é mesmo? — Junior deu uma seca
gargalhada. — Estou quase completo com sua
derrota, mas ainda sinto que falta o último golpe.
Quero você em uma penitenciária. Olha como sou
bonzinho, não quero mais sua morte. Agora, quero
vê-lo sofrer, longe do que te restou, sua linda
anjinha.
— Desgraçado! — Thiago avançou, mas
Eduardo o impediu de passar por ele.
— E você, corno... — Junior virou o pescoço
ironicamente de lado. — Desejo que a loira gostosa
fique com ele, só para ver aquela belezinha
visitando o marido na cadeia. Sou tão egoísta. —
Gargalhou outra vez. — Acho que um assassinato
te daria alguns anos de sofrimento na prisão, mas
ainda é pouco, quero que termine seus dias por lá.
Acusação de tráfico de drogas... quem sabe,
estupro. Irene, esse canalha te estuprou? — Olhou
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para a mulher e estalou a língua nos dentes. A velha


abraçou Irene. — E não foi uma única vez,
pobrezinha...
O ruivo continuou zombando, mas a realidade
era outra, Junior estava suando frio, pois conhecia
quão louco era seu oponente.
Eduardo caminhou para perto dos três, ainda
apontando a arma.
— Vou me aproximar para você repetir tudo o
que falou, coladinho na minha pistola. — Eduardo
colocou a arma na testa de Junior e viu o medo na
face do ruivo. — Eu tento puxar na memória o
momento exato que você se apaixonou por mim,
mas não consigo lembrar. Quem vai para a cadeia é
você, invejoso infeliz! Vai, por ter me roubado e,
principalmente, por ameaçar a minha família. E
olha como agora sou bonzinho, se fosse antes,
acabaria com você neste exato momento, mas agora
tenho tudo a perder. Você me tirou apenas dinheiro,
mas fiquei com tudo o que preciso. E você, dona
Irene, não vai poder visitar seu amante, pois
também estará repousando em uma cela feminina,
do outro lado da cidade!

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Eduardo se afastou de Junior e viu a urina


descendo pelo tecido da calça creme que o homem
usava.
Irene estava trêmula. Ela era uma jovem muito
inteligente e hacker de sistema profissional desde a
adolescência. Entrou na jogada para ajudar Junior,
mas ainda não era uma vilã consagrada. Mas ali,
vendo o ruivo sendo ameaçado, quis fazer Eduardo
pagar ainda mais caro.
— Ela não é minha amante. — Junior pegou a
mão da mulher. — A Irene é minha irmã. Ela é
filha do meu pai com a Dona Sofia. Ela entrou na
Moedeiros a meu pedido. Esperta e inteligente
como é, conseguiu te enganar e roubar milhões sem
que você soubesse.
— Você é filha do Sr. Alfredo, dona Irene?
Como vocês dois podem ser filho do Sr. Alfredo e
sair o oposto dele? Ele sabe o que estão fazendo?
Sabe dos ladrões que criou? Claro que não, aquele
bom homem nunca aprovaria isso.
— Você foi roubado debaixo do seu nariz. E
por mais que você tenha me processado, nunca
encontrarão uma prova que foi ela a executar o
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roubo. — Junior abraçou Irene. Era nítida, a


cumplicidade que eles tinham um pelo outro.
— Eu só sinto por ele ter que ir visitar os
filhos, ou melhor... nem poderá visitar vocês na
cadeia, o pobre homem, naquela condição.
— Cale a boca! — Junior colocou a cabeça de
Irene em seu peito. Ela tinha começado uma crise
de choro. — Calma, Irene — sussurrou para a irmã,
que estava aos prantos.
— De uma coisa eu te dou certeza, o dinheiro
que você me roubou vai sair mais caro que o valor
inicial. Quando isso tudo acabar, você não vai ter
nada em sua conta bancária. Vai viver o resto dos
seus dias em uma cadeia sem um centavo na conta.
Sinto muito pela Samanta e seus meninos. Aquela
pobre coitada merecia o melhor, sempre foi
decente.
— E você comeu a puta decente e fez um... —
Junior não terminou a frase, pois seus olhos foram
presos na porta aberta do apartamento.
— Coloque a arma no chão. — Eduardo sentiu
o cano do revólver próxima a sua nuca e o calafrio
percorreu seu corpo por completo. — Abaixe, eu
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estou mandando! — Eduardo se abaixou


lentamente, colocou a arma sobre o carpete, em
seguida levantou com as mãos na cabeça. —
Algeme-o!
— O que? — Eduardo se virou no impulso e
deu de cara com alguns homens. Percebeu serem
policiais pelos distintivos que estavam à mostra em
volta do pescoço de dois deles.
Um dos homens algemou Eduardo e outro
analisou a pistola que ele tinha posse.
— Aquele homem é o ladrão que estão
procurando, não eu! — Se defendeu. — Foi ele que
me roubou.
— Alfredo Junior Álvares Azevedo, você está
preso sobre as acusações de tentativa de
assassinato;[27] — O policial Civil algemou Junior,
deixando Irene desesperada ao lado.
— Eu fui a vítima. — Eduardo interrompeu e
levantou o braço algemado.
— Pelos crimes de furto qualificado, artigo
155 do Código Penal; — O agente continuou.
— Fora as contas da minhas empresa e
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arquivos internos. — Eduardo tornou interromper.


— Formação de quadrilha[28], e violação do
sigilo bancário[29].
— Continuo sendo a vítima. — Eduardo falou
sem paciência.
A velha foi algemada junto com a filha.
— Todo mundo para a delegacia. — O agente
falou calmamente, já acostumado com a situação
tensa.
— Eu não tenho motivos para estar algemado,
sou a vítima! — Eduardo viu Thiago livre e
conversando com um dos policiais.
— Você tem posse de arma? — O policial
perguntou ainda analisando a pistola.
— Tenho uma filha e eu preciso garantir a
segurança dela. Olhe na carteira em meu bolso. —
Eduardo suspirou forte, com total falta de
paciência. — Preciso buscar minha filha na escola
em duas horas, me solta, caramba!
— Se gritar comigo outra vez, vai aprender a
respeitar um agente federal com o nariz quebrado.
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— O policial analisou o documento que garantia a


posse de arma a Eduardo. — Eu fico com a pistola.
Você primeiro vai passar na delegacia, depois vai
pegar sua filha. — O homem abriu as algemas. —
Agora, todo mundo para viatura! — Ordenou.
Do lado de fora do prédio, Irene e a mãe foram
colocadas na viatura. Junior ainda relutava para
entrar no carro e mirava Eduardo com ódio.
— Você ainda vai me pagar muito caro,
Eduardo Moedeiros! De algum jeito, você vai me
pagar. E não importa, pode levar anos, eu vou
cobrar tudo com sangue no olho!
— Passa a mão no que é meu, ameaça minha
família e transfere a culpa para mim. — Eduardo
achou um desaforo e reclamou olhando para
Thiago. — Espero que aprenda sobre as suas
recompensas, faça isso por seus três filhos. E
esqueça que eu existo.
— Não ficarei lá para sempre. Nos veremos
em breve.
— Entre logo e largue de conversa! — O
policial empurrou o ruivo para o fundo da viatura.

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— Agora é a hora que eu tiro meu time de


campo. — Thiago deixou escapar ao ver Eduardo
parado no meio da rua.
— Você me deu um soco, eu poderia revidar
agora. — Eduardo olhou para as folhas de uma
árvore.
— Eu só espero que você a faça feliz e cuide
da minha filha. — Thiago falou, também sem
encará-lo.
— Por Deus, homem. Elas são minha vida,
como eu não cuidaria. Serei um bom pai e esposo.
Thiago estendeu a mão para Eduardo, que
analisou aquele gesto por cinco segundos, e depois
apertou a mão do taiwanês o mais firme que pôde.
— Fazê-las felizes é o seu papel de agora em
diante. — Thiago olhou dentro dos olhos de
Eduardo.
— Você está chorando, cara? — Eduardo
perguntou.
— Não. Hoje está ventando muito e eu acabo
de lembrar da Dudinha... — Thiago limpou a
garganta.
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— Essa coisa de ser pai da mesma filha mexe


com a gente, não é? — Eduardo passou o braço nos
próprios olhos. — Só não pense em chegar perto de
minha mulher, aí vamos brigar feio.
— Se você der lugar, eu me achego, só quero
que saiba. — Thiago falou com seriedade.
Eduardo abraçou Thiago, de repente, deu dois
tapinhas nas costas, desajeitadamente, e se afastou.
— Espero que você volte para Taiwan logo.
Nunca desejei tanto seu bem. Cresça lá fora. O
mercado lá é mais lucrativo, pense nisso, meu
amigo.
— Amigo? — Thiago firmou a postura, para
evitar intimidade.
Aquela conversa estava sendo estranha.
— Não tão amigo, só de aparências... pela
Dudinha, sabe? Boa sorte, joalheiro. Agora estou
indo. Não vou à delegacia, passo lá depois. Agora,
preciso resolver uma situação com um amigo meu e
depois, buscar minha filha na escola. — Eduardo
caminhou até o carro. — E não esqueça, você
prometeu que cuidaria delas na minha ausência! —
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gritou de longe.
Duas horas depois, Eduardo dispensou os
seguranças que faziam a guarda em frente ao
colégio de Dudinha e ficou no portão junto com os
outros pais esperando os filhos.
— Dudu. — Dudinha correu com sua roupinha
colegial e se jogou nos braços dele.
— Oi, princesinha!
Eduardo envolveu a menina nos braços. Sentiu
uma sensação angustiante. Questionou o motivo,
enquanto olhava ao redor e carregava a menina até
o carro. Se agora o perigo estava indo para longe,
qual o motivo de ter aquela sensação de que algo
estava errado?
— Hoje conheci um tantinho mais sobre os
animais aquáticos. — Dudinha falou assim que foi
presa ao cinto do banco de trás do carro. — Muito
lixo, muito animal preso e sofrendo nos mares.
Tinha uma tartaruguinha com um cinto grosso na
cintura, toda sufocada. Meu peito doeu. Quero
cuidar de todos os animais, Dudu.
— Você é a princesa, protetora dos animais.
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Coisa linda do pai. — Eduardo sorriu muito


orgulhoso ao ouvir a voz infantil e delicada falar
coisas tão sérias. — Vou te levar ao zoológico
amanhã.
Eduardo dirigiu, tendo em mente o destino do
shopping. Ele ia pegar Maria Fernanda para o
almoço. Os pais conversariam com Dudinha na
sequência.
— Posso levar o Julien e o senhor Thor? —
Dudinha se animou.
— Quero a família toda.
— Então preciso banhar o Julien, ele andou
trapaceando e fugindo do último banho. — A
menina bocejou e colocou as perninhas sobre o
banco.
— Está com sono? — Eduardo perguntou ao
vê-la esfregar os olhos.
— Chorei vendo o sofrimento dos
animaizinhos marítimos e meus olhos estão
pesados.
— Então dorme um pouco. O papai te chama
quando chegarmos.
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— Você me conta uma história?


— História?
— Sim, a maman e a Tante contam histórias
antes de me colocarem para dormir.
— Eu não sou muito bom nisso, mas acho que
sei a história de uma princesa que morava em um
castelo bem distante...
— Não, Dudu! Eu quero de Davi.
— Que Davi?
— Davi um menino pequenininho igual a mim,
mas que derrubou um gigante bem grandão.
— Não pode ser da princesa? É uma história
bem legal e tem o final feliz.
Eduardo já tinha formulado o começo, meio e
o final da história, que terminaria com um "viveram
felizes para sempre".
— Não, do Davi da Bíblia.
— O mesmo Davi que foi rei?
— Ele também foi criança pequena, Dudu.

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— Esse cara foi rodado.


Eduardo já sabia — segundo as informações de
Dudinha — que Davi quando era criança tinha
derrotado um gigante. Aquilo já era alguma coisa.
Depois de sair de um dos sinais de trânsito da
cidade, ele arriscou um começo.
— Tudo bem... vamos lá! Era uma vez um
menino bem pequenininho que morava em um
reino bem distante...
— Em Belém, no território de Judá. —
Dudinha completou.
— O que?
— Em Belém, onde o Davi nasceu.
— Sim, o reino ficava em Belém. — Eduardo
consertou. — Lá existia um feiticeiro...
— Desde quando? — Dudinha questionou.
— Desde que começamos a história. Vamos
continuar. — O pai batucou seus dedos no volante.
— Existiam muitas pessoas más que odiavam o
pequeno Davi, porque ele possuía uma arma muito
poderosa. Era uma pistola Colt co2 que fazia o

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maior estrago.
— Mas ele gostava mais da funda e das
pedrinhas, não era?
— Quem trocaria uma Colt por um
bodoque[30], filha?
— Eu não sei, mas ele gostava da funda.
— Na verdade, ele não gostava muito do
barulho que a pistola fazia, então preferia o
bodoque... era isso. Um dia, os homens maus o
prenderam em uma emboscada.
— Mas Deus o livrou! — Dudinha tornou a
completar.
— Quando o gigante apareceu, Davi mirou sua
pistola carregada, bem no meio da testa dele...
— Nesse dia ele estava com a funda, Dudu.
— Você não estava com sono, pequena? Pois
então, começa a dormir. Eu já estou no final da
história, vai dormindo que eu já termino.
— Eu te amo, Dudu.
Dudinha confessou, fora do contexto da

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conversa. Naquele momento, a pequena sentiu


necessidade de declarar seu amor ao pai.
Eduardo passou o dorso da mão nos próprios
olhos, limpando o excesso de lágrimas.
— Meu coração era vermelhinho de amor, mas
agora ele está lotado de amor, bem gordinho igual o
Julien.
— Meu amorzinho, assim, com tanta fofura,
você deixa seu pai muito chorão.
— E não importa se o colorido dos seus olhos
não são rosinhas. Quero continuar com os azuis,
assim fico igual você e a maman.
— Você está amolecendo ainda mais meu
coração. Já estou querendo parar o carro e te
abraçar, filha.
— Você me abraça quando chegar.
Eduardo olhou para o lado e viu um carro rente
ao seu. Dentro, um homem apontava a pistola em
sua direção, exigindo que ele parasse.
“Deus, é isso mesmo?” — Ele perguntou em
pensamento.

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— Coloca a sua cabecinha perto do joelho


filha.
Curiosa, Dudinha segurou na janela e viu o
carro ao lado.
— Os homens maus.
— Abaixa, filha. — Eduardo acelerou o carro e
fechou os vidros.
Estavam muito próximos. Aquele carro de
Eduardo não era tão potente, mas ele tentou
despistar e jogou o Uno em uma ruela. O carro
seguiu atrás.
Com o coração agonizando no peito e a
preocupação o tornando ainda mais nervoso, sua
reação foi buscar o celular no bolso. Com muita
dificuldade, selecionou o número de Sergio.
— Sergio... — O celular caiu de sua mão e
quando ele buscou, perdeu um pouco de equilíbrio
do carro.
“Edu?”
— Sergio, liga o aplicativo, coloca a senha e
busca minha localização. Estão me seguindo e

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estou com a Dudinha no carro.


"Vou ligar pra polícia."
Eduardo manobrou o carro em uma curva e
entrou em outra ruela.
— Sergio! — Gritou.
" A Suelen já está ligando."
— Maria Fernanda está aí?
"Eduardo! Minha filha?!" — Maria Fernanda
gritou na linha.
— Uma coisa eu te prometo, meu amor. Eles
não vão fazer mal à nossa menina. Te amo.
Eduardo deixou o aparelho celular cair, pois
precisava dar tudo de si para despistá-los até o
socorro chegar.
Dudinha estava encolhida no banco do carro,
mas a curiosidade fez a menina levantar o tronco e
espiar através do vidro traseiro.
— Eles estão muito perto, Dudu. — A menina
voltou a se encolher no banco e juntou as
mãozinhas em uma prece silenciosa.

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— Não, não, não! — Eduardo esmurrou o


volante, pois precisou parar o carro.
A rua era sem saída, não tinha escapatória.
— Filha, quero que deite no carpete. Tira o
cinto.
Eduardo voltou o corpo para trás e auxiliou a
filha. O carro abaixou alguns centímetros, pois
atiraram nos pneus.
O automóvel era blindado, mas dependendo da
potência da arma inimiga, cederia facilmente.
— Meu coração está apertado aqui no peito,
Dudu.
Eduardo segurou a mãozinha da filha e beijou
incansáveis vezes.
— Seja forte, corajosa, e nunca deixe sua mãe
sozinha. Quando ela estiver frágil, fale que tudo vai
ficar bem. E acredite, vai ficar. — Eduardo pegou
uma caixinha do bolso e entregou a filha. —
Entregue a ela... se eu não tiver condições para
fazer isso. Te amo filha! Amo sua mãe. Amo com a
minha vida.

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— Deus livrou Davi dos homens maus... —


Dudinha piscou os olhos e desceram lágrimas de
seus olhinhos.
Eduardo olhou através do vidro e viu três
homens caminhando com galões e ele supôs ser
gasolina.
— Segura esse controle. Assim que o papai
sair do carro, você trava.
— Não vai, Dudu. — Ela fechou a mãozinha
em volta do pescoço do pai.
— Aperta o botão e não abre o carro. A polícia
vai chegar e te tirar daqui.
— Não quero que você vá...
— O papai vai por um amor maior. Te amo.
— Eu te amo para todo sempre. — Dudinha se
engasgou no choro.
Eduardo sabia que ele era o alvo e não tinha
certeza desde quando estava sendo seguido ou se
perceberam Dudinha no carro, ela era baixinha para
ser notada. Ele daria sua vida pela dela.
Eduardo olhou outra vez para a menina
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encolhida, sentiu uma lágrima descer e abriu a


porta.
— Tranque, meu amor. — falou antes de sair.
Ele ouviu o barulho do carro sendo travado,
então caminhou poucos passos para longe do
veículo. Foi nesse momento que ele foi atingido por
dois tiros no abdômen.
***
Maria Fernanda entrou correndo na sala de
observação do hospital. A mãe passou os olhos pelo
lugar e seu coração doeu quando avistou lá no
fundo, sobre uma grande poltrona, sua filha, com o
uniforme parcialmente ensanguentado, as
mãozinhas unidas no colo e a lancheira do lado.
— Dudinha, minha filha!
A mãe ajoelhou junto à menina e agarrou-a
com força dentro de seus braços.
— O Dudu me mandou travar o carro e os
homens maus o feriram lá fora.
— Shhhhh... — Maria Fernanda friccionou os
dedos nos cabelos da filha. Ela estava muito

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abalada e aquele abraço era tudo o que ela


precisava para ter fé.
— Os homens maus entraram no carro deles,
então eu sai e tinha muito sangue no Dudu. Ele
apertou minha mão e disse que me amava. Eu
chorei e esperei até os olhos dele fecharem. Fiquei
pertinho para ele não sentir tanto frio, mas ele
estava gelado. Eu não consegui deixar meu papa
quentinho.
— Sim, meu amorzinho. Ele agora está na
cirurgia. Você foi muito corajosa. O papa vai se
recuperar.
— O médico disse para o outro que não, eu
ouvi. Mas ele não sabe de nada.

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21

Maria Fernanda começou arrancar o uniforme


sujo do corpo da filha. Dentro de sua bolsa sempre
estava o essencial para as necessidades da pequena,
isso incluía um vestidinho e uma peça íntima de
babadinhos.
Com o vestidinho limpo no corpo, Dudinha
secou as lágrimas da mãe, que naquele momento
não segurou a crise de choro.
— Papa du ciel[31]... não leva o Dudu para o
céu agora. — A menina iniciou uma prece e a mãe
colocou a cabeça sobre as perninhas dela. —
Ficamos juntos só um tantinho, foi tão pouquinho.
Por favor, não leva meu papa Dudu.
Maria Fernanda levantou a cabeça de olhos
fechados. A mãe não conseguiu falar nada, só
soluçar. Precisava afastar o choro, como sempre

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fez, mas ali, naquele momento, ela estava vivendo


o mesmo episódio que passou com Dudinha anos
atrás, estava recente e sua força ainda estava
pequena.
Ela se viu sendo consolada por sua criança, de
uma maneira que nunca tinha acontecido antes.
— Iniciaram a cirurgia. — Sergio entrou na
sala, muito triste. Suelen estava com os braços ao
redor da cintura dele. — O Edu vai aguentar. —
Ele sentou ao lado de Dudinha e Suelen o
acompanhou. — Ele foi meu pai e mãe, cara. Não
sei como vai ser sem ele aqui...
Suelen beijou o rosto de Sergio e afastou as
lágrimas dos olhos dele.
— Ele vai voltar, tio Sergio. Se todo mundo
acreditar é mais forte pra acontecer.
Suelen estava se segurando, mas a vozinha
firme de Dudinha desprendeu seu choro.
— Vocês levam a Dudinha e cuidam dela até
eu chegar em casa. Vou esperar terminar a cirurgia.
— Já chamei os seguranças que o Edu
contratou. Melhor eu levá-la para minha casa. No
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momento, é mais seguro. Os policiais ficarão aqui


no hospital. Pegaram os sujeitos nas proximidades
da rua. Já confessaram, foi a mando do Junior, por
intermédio de Viviane. Essa escapou, já deve estar
longe do Brasil.
— Vai ficar tudo bem, maman. Acredite. —
Dudinha falou ao sentir o beijo demorado da mãe.
— Vai, meu amor. Vai ficar. Tente descansar.
Mais tarde eu vou ficar com você.
Quando Sergio e Suelen saíram carregando
Dudinha, Maria Fernanda seguiu até a sala próxima
à unidade intensiva, onde esperou as longas oito
horas de cirurgia.
Quando o processo terminou, ela teve o direito
de ver o marido através de um minúsculo vidro.
Eduardo estava com um cateter venoso no
pescoço, sonda nasogástrica, eletrodo e o tubo do
ventilador mecânico ligado diretamente ao pulmão.
Segundo os médicos, suas chances eram mínimas.
Ele tinha perdido 60% do fígado. O projétil que se
alojou em seu intestino, foi removido através da
cirurgia.

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Ela ficou observando a situação do marido,


praticamente sem vida, sendo sustentado aos olhos
humanos por aparelhos. Ela se desesperou com a
mão no vidro de proteção que os separavam.
Desejou, implorou pela vida dele. Mesmo com
poucas chances, ela se agarrava ao minúsculo fio de
esperança.
CINCO DIAS DEPOIS...
Maria Fernanda só foi permitida a entrar no
quarto do marido uma única vez, mas logo as
visitas foram suspensas, pois ele teve uma grande
piora. Mesmo sendo liberada para vê-lo através de
um vidro, ela só saia do hospital para dormir com
Dudinha e nos momentos de refeição, pois
precisava estar com ela. Nas manhãs e algumas
horas da tarde, ela corria para o hospital. Temia que
ele partisse sem que estivesse por perto.
— Como tens passado, filha? — O líder da
igreja encontrou Maria Fernanda no corredor do
hospital. — Das outras vezes que estive aqui, você
tinha ido ver sua filha.
— Estou seguindo. — A voz dela saiu
embargada. — Obrigada pelas visitas. — Ela se
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abraçou com os braços e sorriu com o rosto


choroso.
As olheiras dela estavam enormes, também
estava mais magra e abatida.
— O dinheiro já foi entregue ao Jorge para a
festa de casamento.
— Que dinheiro? — Maria Fernanda
perguntou.
— O Jovem Eduardo esteve comigo pouco
antes do triste episódio. Ele me contou da
reconciliação do casal e pediu conselhos. Depois
ele me levou até o banco e lá ele pediu o número da
conta da campanha, pois já tinha acertado tudo com
o gerente. Ele doou novecentos e oito mil reais,
para iniciar as obras do sistema de infraestrutura e
controle da água da chuva, na encosta da
comunidade Vila da paz. Também deixou comigo o
dinheiro para entregar ao Jorge e a noiva.
— Mas, como? — Ela estava trêmula. —
Como isso? Ele estava sem dinheiro, só tinha para
o básico.
— Eu o questionei, pois ele me contou a
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situação de seus negócios. Foi então que ele me


mostrou recibos da venda dos três carros
importados. Ele vendeu os carros e doou tudo para
a comunidade.
Maria Fernanda olhou na direção da UTI e
tremeu os lábios. A pele branca de seu rosto estava
muito vermelha, os olhos encharcados e o coração
ansioso por abraçar o marido. Se não fosse
arriscado para a gota de vida que ele ainda possuía,
ela entraria lá e o beijaria naquele momento.
Agradeceria silenciosamente pelo gesto de amor.
— Ele me falou que vendeu, mas não
imaginava que seria para esse fim. Foi o que
sobrou, além do apartamento. Eu... queria abraçá-lo
por isso. Ele doou o que tinha...
— Ele me pediu discrição. Mas achei que teria
dividido com você.
— Obrigada. — Maria Fernanda beijou a mão
do homem. — Obrigada por trazer mais certezas ao
meu coração.
— O perdão só chega para quem se arrepende.
Não adianta você pedir perdão para se sentir bem se
as suas atitudes e coração insistem em dizer que
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você não errou, ou melhor, que errou porque


alguém deu passagem para isso. O Pai é rico em
perdoar, mas ele só perdoa quem abre o coração
para o arrependimento, assim, são os casais,
amigos, família... Há perdão para o erro, mas só é
aceito se houver arrependimento e confissão de
coração aberto.
— O-obrigada pela esperança. — Maria
Fernanda estava mais controlada.
— Não voltarei mais aqui, pois encontrarei os
dois em breve. — O homem deu um singelo sorriso
encorajador e caminhou em direção a saída daquele
corredor.
Maria Fernanda caminhou apressada até a sala
de espera, pegou um copo descartável, encheu no
bebedouro e bebeu. Quando ela olhou para o lado
viu sua sogra com um longo lenço colorido
amarrado na cabeça, a sobrancelha permanente bem
arqueada e roupas elegantes, porém, neutras. A
mulher estava totalmente diferente da Suzane
exagerada de anos atrás. Ao seu lado estava
Dudinha em um papo íntimo e desenvolto.
À frente, estavam Thiago e Giovane. O
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fazendeiro estava com a mulher no Texas e voltou


quando soube que Maria Fernanda e Dudinha
estavam precisando de apoio.
— Maman, é a vovó Suzi! — Dudinha gritou.
A menina segurava a mão de Suzane. — Venha,
vovó, venha ver minha maman.
A menina levantou, puxando Suzane — que
estava muito fraca — pela mão e levou até a mãe.
Quando as duas mulheres ficaram frente a
frente, não houve palavras, acusações ou desculpas.
Suzane levantou a mão e tocou os cabelos de Maria
Fernanda em um conforto. Depois, as duas se
abraçaram e choraram juntas.
Suzane ainda estava se recuperando, pois há
poucos meses tinha feito a última cirurgia que a
livrou de um Câncer na mama.
A mãe de Eduardo estava saindo da depressão.
— Me perdoe por tudo. — Ela beijou o rosto
de Maria Fernanda.
— Não precisa, Suzane, já passou. Como você
está? Eduardo me falou que você conseguiu vencer
a doença.
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— Ganhei mais uma chance de fazer a vida


valer a pena. — Dudinha ficou na frente da avó e
olhou curiosa para as duas. — Ela é linda. —
Suzane sussurrou.
— Obrigada. Ela é uma mistura minha com o
seu filho. Seu marido não veio? Ele tem vindo
todos os dias ver Eduardo.
Maria Fernanda já tinha conversado com
Olavo, ele sempre estava presente no hospital.
— Olavo me deixou aqui e precisou voltar ao
escritório. Tinha uma reunião. O negócio está
crescendo. Agora que eu fechei o salão, precisamos
correr atrás.
Dudinha voltou correndo para onde Thiago e
Giovane estavam sentados.
— Seu filho não piorou, mas também não teve
melhoras. Tem sido dias difíceis. Fiquei muitos
anos sem sair do hospital com a Dudinha, mas tinha
pedido aos céus que nunca permitisse que eu
passasse pela mesma coisa. É muito difícil ver
quem a gente ama sofrendo e não poder fazer nada.
— Nem sempre é como a gente quer. Me feri
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muito no processo da minha doença, mas aprendi


dobrado. — Suzane segurou a mão de Maria
Fernanda. — Às vezes, é necessário passar por
certas situações para fortalecer laços e dar valor às
coisas que realmente importam na vida. Meu filho
está lutando, já estive no lugar dele e mesmo sem a
garra que ele tem, eu fui agraciada. Ele vai
conseguir.
***
QUINZE DIAS DEPOIS.
Eu continuo lutando contra vozes que dizem
que eu não sou o suficiente, que nunca vou me
nivelar. Sim, sou altos e baixos. E, por favor,
lembre-me só mais uma vez quem eu sou, pois sinto
que minha mente está sendo apagada. Preciso
saber, por favor, me lembre.
Na última vez, falastes que sou amado, quando
eu não sentia nada; disse que eu sou forte, quando
pensava ser fraco. Falas que estou amparado,
quando estou caindo, e quando eu não pertenço a
lugar nenhum, você diz que eu sou seu. E eu
acredito em tudo, hoje eu acredito no que você diz
de mim.
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E o que importa agora, são suas palavras.


Porque em você eu acho meu valor, em você, eu
acho minha identidade. Estou deitado perto de seus
pés, e tenho receio de te oferecer tão pouco, mas
pode ficar com tudo o que tenho agora, deixo aqui
os meus fracassos e recebo as suas vitórias.
Obrigado por outra chance, eu prometo fazer
valer a pena.
Eduardo estava deitado em um dos quartos do
hospital. Tinha chegado ali na manhã passada,
quando começou a respirar sem a ajuda dos
aparelhos, mas ele ainda dormia em um coma
profundo. Onde lutava pela vida.
Seus olhos semiabertos estavam muito
embaçados e via o borrão da mulher sentada em um
sofá de couro branco, que ficava de frente para a
cama, e a criança deitada ao seu lado. Ele não tinha
forças para se mexer, mas uma lágrima desceu de
seus olhos, sem precisar de esforços. Ele tentou
falar algo, mas o barulho que saiu em sua boca não
era tão audível.
Ele ficou ali por alguns segundos, olhando as
duas, sentindo desejo em levantar e abraçá-las, mas
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seus músculos ainda não mexiam. Tinha lutado


muito para abrir os olhos e agora estava exausto.
Ainda sentia a força profunda da morte brigando
contra sua vida.
Logo voltou a pegar no sono. Um sono
profundo. Estava pronto para mais uma batalha.
Quinze minutos depois, ele sentiu um tapa
forte no rosto e acordou com um grito rouco. Ele
virou os olhos e não tinha ninguém tão próximo
para atingi-lo com tanta força. Ele queria agradecer
pelo impulso, ele iria agradecer.
Maria Fernanda se assustou do cochilo, fixou
os olhos na cama do marido e sentiu um choque
interno ao ver uma quase imperceptível curva de
sorriso.
Talvez ela ainda estivesse dormindo e sonhava
com aquele curto sorriso, mas não, logo Eduardo
abriu os olhos e o azul intenso fez o pequeno
espaço que os separava, longe demais.
— Eduardo... — A voz dela saiu em um sopro.
— Eduardo. — Falou mais alto e correu até a cama.
— Você acordou, meu amor. — Beijou o rosto dele
e acariciou os curtos cabelos. — Dudinha... Filha...
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Seu pai acordou.


Dudinha levantou sonolenta, sorriu e também
correu até a cama hospitalar.
— Dudu, você voltou. — A menina esticou os
pezinhos e secou os olhos do pai. — Eu sabia,
maman... O médico não queria me deixar entrar,
Dudu, mas eu implorei, pois hoje você abriria os
olhos no quarto.
— Quantos... dias eu estive... sem vocês? —
ele perguntou vagarosamente.
— Vinte dias. — Maria Fernanda estava muito
emocionada e sorria ao mesmo tempo. — Não
aguento esse sofrimento outra vez. Por favor, nunca
mais me deixe.
— Você está abatida...
— Eu sofri tanto, pensando que não voltaria...
— Não chore... mulher. Deixa... eu sentir
seus... cabelos.
Maria Fernanda sorriu e chorou ao mesmo
tempo, levando a ponta dos cabelos até o rosto de
Eduardo.

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— Perdão, amor. Prometo... nunca... mais... te


fazer... sofrer. Não chora.
— Senti tanto a sua falta. — As lágrimas de
Maria Fernanda caíram no rosto dele. Ela enxugou
com cuidado para que a sua felicidade não o
machucasse.
Dudinha voltou para o sofá e pegou sua
bolsinha.
— Dudu, eu guardei a caixinha até você voltar,
fui curiosa, mas não abri. Suportei a vontade e
consegui. — Dudinha entregou a caixinha preta
para a mãe.
— É um anel? — Maria Fernanda secou os
olhos.
— Mandei fazer antes da falência total. —
Eduardo sussurrou.
Maria Fernanda abriu a caixinha e visualizou o
anel de ouro com uma suntuosa esmeralda. A
aliança masculina ao lado era toda cravada por
pequenas esmeraldas. Ao redor das joias maiores
estava uma correntinha com um singelo pingente da
mesma joia.
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— Gastou uma fortuna aqui... — Maria


Fernanda colocou o anel no dedo observando cada
ponto de elegância. — Me deixa colocar o seu. —
Ela colocou a aliança até certo ponto no anelar do
marido, pois ele estava inchado.
— Me ajude, maman... — Dudinha virou de
costas e levantou o cabelo.
A mãe prendeu a correntinha do pingente em
volta do seu pescoço. E beijou a nuca infantil.
— Quero te ver de noiva... mulher — ele
sussurrou.
— Vestido de noiva? Isso é certo? — Maria
Fernanda beijou a aliança no dedo do marido.
— Agora... é proibido, é? Não... tivemos isso
antes... nasci... outra vez... Voltei virgem... Vai
precisar me dar certo carinho na lua de mel.
— Shhhhhhh, olha sua filha, homem. Nem
bem acordou e já premedita essas coisas... — Ela
beijou a testa dele.
— Quero cheirar esse cabelo todas as noites.
Aceita... ou não?

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— Aceito muito. — Selou os lábios com muito


cuidado e ouviu as palminhas de Dudinha que
achou tudo natural, sem questionar a nova posição
de Eduardo. —Vamos começar tudo do zero e fazer
nossa família unida todos os dias.
— Meu coração está feliz. — Dudinha se
aproximou da cama e colocou a mãozinha sobre a
do pai. Maria Fernanda protegeu a mão da filha
com a sua.
Suelen abriu a porta do quarto. Ela estava de
mãos dadas com Sergio, que começou a chorar
igual um menino ao ver o amigo de olhos abertos.
***
Existe um grande conflito entre amar e ser
amado. O amado é admirado, paparicado e
reverenciado.
Ser amado é estar no mais alto pedestal e
saber que é querido, independente das
circunstâncias.
Ser amado é ter reservas, e saber que essas
reservas acalmarão brigas e discussões
posteriores.
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Mas, e amar?
O que é amar?
Amar é apenas amar e pronto!
Amar é não querer nada em troca, é não
depender do outro para se doar, é ver amor dentro
do ódio.
Amar, é perseguir o ódio até que ele se renda.
Porque o amor não precisa de nada em troca
para existir. O amor é uma força maior,
independente e impulsionadora, ama sem a
necessidade da troca.
É capaz de acalmar guerras e se instalar no
mais vil coração.
Palmas para o autor do amor: DEUS!!!
FIM.

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Epílogo
Dez meses depois...
Por muito tempo eu estive com meu coração
preenchido, embora lutasse para mantê-lo estável.
Foi uma peleja dolorosa. O amor queria sobressair
a qualquer custo, mas o meu orgulho, ambição e
extrema racionalidade sufocaram-no.
O medo da entrega venceu aquele combate,
mas o resultado não foi o esperado. Eu sempre fui
só, porém, a solidão não me castigava com tanta
violência desde a adolescência. Senti a dor de
possuir algo que não pude segurar em minhas
mãos. Sofri calado outra vez e continuei
procurando alegrias momentâneas em distrações
sem afeto. Meus dias passaram a seguir de modo
automático: manhã, tarde e noite já faziam o
mesmo sentido.
Meu exterior estava em movimento, mas aqui
dentro era ermo.

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Eu estava tão perdido e isolado que os meus


próprios pés cambalearam por um túnel sombrio.
Um maldito caminho escuro que eu mesmo
construí.
Hoje, aqui, em frente ao espelho, vendo a
cicatriz do último atentado, agradeço aos céus por
tudo o que passei para conseguir recuperar minha
família e ter o privilégio de abraçá-la. Ganhei uma
oportunidade de fazer diferente e vou fazer valer a
pena.
Não sei se suporto outro baque desses, espero
não ter que passar por isso, mas se for por minha
família, eu enfrento tudo.
Vejo a porta do quarto sendo aberta e pelo
reflexo do espelho, observo Thor entrando de
mansinho. Foi assim que esse sacana entrou na
minha vida.
Naquele dia, eu caminhava de encontro à
morte e usava meus próprios pés. Eu tinha bebido,
mas não o suficiente para perder a sobriedade. Eu
queria chegar ao destino, pois aquele seria o meu
ponto final.
Eu tinha acabado de fechar um negócio de
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rentabilidade alta para empresa. Era um grande


empreendimento, traria milhões para a Moedeiros,
e eu deveria estar feliz e realizado, mas isso nunca
acontecia. Sempre havia uma sensação de estar
com a água na altura do pescoço. Isso era muito,
mas não era uma grandeza que me compensava.
E eu sabia exatamente qual era o motivo da
minha frustração. Antes de Maria Fernanda, a vida
não me entregava verdades tão dolorosas, eu não
sentia o peso da frustração sufocar a minha
garganta, não havia opção de destino, nem a
obrigação de ser diferente. Foi uma estadia rápida,
mas ela chegou e me deu tudo.
Ela, tão nova, tirou minhas máscaras escuras e
me apresentou alternativas. Eu tive tudo na minha
frente e recuei por medo. Eu sabia que me tornaria
dependente daquilo que eu nunca tive, por isso
renunciei, por pânico de não saber lidar e fazê-la
sofrer em minhas mãos. Lembro que cheguei a
propor que ela ficasse mesmo sabendo que não era
o melhor. Mas eu já a amava, por isso não usei a
força para impedir que ela fosse. Hoje eu reconheço
o quanto fui covarde, eu poderia ter feito diferente
naquela época.
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Chovia bastante, e eu estava na pista, louco e


bêbado. Já tinha ligado para casa, mas o meu pai
falou de negócios, minha mãe estava viajando, e, na
época, ela escondia a doença de todos. A Luiza
estava em um plantão no hospital e o Sérgio tinha
me dado um soco na boca. Eu ia acabar com tudo
sem fazer as pazes com ele. Ao menos alguém
choraria sobre meu caixão, se não fosse pela falta,
seria por remorso. Afinal, ele me bateu por nada.
Sergio nunca havia interferido em minhas
bebedeiras e, naquela noite, ele queria me obrigar a
deixar o copo, na porrada. Ele sempre esteve
comigo e eu sempre fui o seu irmão mais velho, de
que ele precisava, mesmo tendo a mesma idade que
eu.
Lembro que o carro deslizou várias vezes na
pista, mas se manteve em curso. Meu destino era a
Serra. Lá do alto, eu acabaria com tudo. Estava
decidido.
Mas, para um infeliz que já está na merda
atrair mais desgraça, basta piscar os olhos. Foi isso
que aconteceu. Minha cabeça pendeu para o lado e
acabei sendo tomado por um cochilo, que não
durou mais do que cinco segundos. Quando me
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assustei, senti o impacto no carro.


Eu ainda não estava morto, mas talvez alguém
naquele asfalto estivesse. Saí do carro, trocando as
pernas, sem enxergar normalmente e avistei o
bolinho marrom deitado, dentro de uma poça de
água. Era um Golden Retrivier, ainda filhote.
Ali estavam dois infelizes solitários, um
inibindo a morte do outro.
Ouvi os seus gemidos, olhei para os dois lados
na expectativa de esconder mais uma merda e
voltei para o carro. Aquela noite meu propósito era
a morte. Mas naquele momento, debruçado sobre o
volante, esperando a tontura passar e ouvindo os
sons de buzinas, veio à minha mente lembranças de
minha infância, quando eu tinha um cachorrinho
chamado Salsicha, o meu companheiro fiel.
Meu pai trouxe Salsicha para casa depois que
uma profissional lhe explicou que o motivo para eu
ser uma criança violenta era a falta de companhia e
afeto.
Naquela época, depois da Luiza, Salsicha era o
único que me dava atenção. Ele morreu atropelado
pelo vizinho e o preço da sua morte foi o incêndio
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no veículo daquele infeliz.


Naquela noite, quando conheci Thor, algo bom
dentro de mim estava desperto em meio à bebedeira
e eu quis ajudar o filhote que agonizava. Esmurrei
o volante e lutei ferozmente contra aquela
cordialidade, mas foi impossível. Saí do carro,
acolhi-o e cuidei dele. Daquele dia em diante, Thor
se tornou meu fiel confidente.
Ele soube antes da Maria Fernanda que eu a
amava, mas ninguém nunca soube o quanto, isso eu
só descobri quando estive a ponto de perdê-la.
E hoje, finalmente, será o dia do nosso
casamento. Ela queria ter casado antes, entretanto,
eu escolhi oficializar os votos apenas quando eu
estivesse inteiro para ela. Ser casado com uma
mulher daquela é estar impotente, é estar à beira o
declínio. Foram quase dez meses vendo o meu
gigante abatido e inibido por medicamentos e
traumas físicos.
Esmoreci, deixei transparecer e recebi apoio da
Maria Fernanda. Sou muito sortudo por ela ser
minha.
— E aí, garotão? — Thor cheira minha perna.
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— Viu como eu estou gostoso de noivo? — Ele


está todo penteado com uma gravata borboleta no
pescoço. O rato Julien está sobre suas costas, com
os mesmos trajes. Coisa da Dudinha.
Ajeito a minha gravata no pescoço e ouço
barulhos no corredor da casa. Estamos na fazenda.
Maria Fernanda quis casar no mesmo lugar. Sua
explicação foi sobre consertar o nosso início torto.
Daqui, vamos para Paris, pois ganhamos uma
viagem do padrinho dela. Antes, eu tinha comprado
cinco diárias em um hotel fazenda charmoso com
um orçamento do tamanho do meu bolso. Não
aceitei que ela pagasse a viagem, era desnecessário
tanto gasto no momento.
Mas, com a cortesia de presente de casamento,
vou aproveitar e resolver a questão da paternidade
de Dudinha no registro de nascimento. Vamos os
cinco. Isso inclui os dois salafrários ao meu lado.
Somos uma grande família.
Dudinha fez a última cirurgia cinco meses
atrás, eu ainda estava na cadeira de rodas. Maria
Fernanda e Thiago foram levá-la. Hoje ela está bem
e não depende de analgésico.

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Ela estava mais "ativa" com o passar dos dias.


Ontem, ela pegou cinco filhotes de porco e levou
um a um para o banheiro. Eu só descobri porque
uma funcionária da fazenda percebeu a água
alagando o corredor da casa. A baixinha usou a
banheira do quarto em que Sérgio e Suelen estavam
hospedados. Ela e os cinco porquinhos detonaram
tudo, inclusive o vestido de madrinha da tia.
Maria Fernanda colocou minha menina de
castigo, e eu a admirava muito pela capacidade,
pois me derreto todo quando vejo aqueles olhinhos
marejados e os lábios trêmulos, segurando o choro.
Dudinha veio para derreter de vez o meu coração.
Coloco o blazer e ajeito a fivela do cinto. Dou
uma última olhada no meu visual e constato que
minha ferinha é muito boa no que faz. Ela escolheu
meu terno. É Slim e no mesmo tom dos nossos
olhos.
Ganhei alguns quilos durante minha
recuperação, pois Dudinha queria sempre brincar
de princesa cozinheira e as comidinhas eram
sempre calóricas e saborosas.
Eu, no papel de Rei, Thor no de cavalo branco
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e Julien de conselheiro real éramos os responsáveis


por provar os alimentos feitos pela princesa
cozinheira. O resultado não poderia ser diferente:
ficamos os três mais robustos.
No momento, não tenho dinheiro sobrando,
mas vou servir minha mulher com o que eu tenho
de melhor: amor e muito tesão.
Meu apetite sexual voltou semana passada. Era
um final de tarde, e eu estava no chuveiro tomando
banho para ir buscar a Dudinha na casa da minha
mãe e pegar a Maria Fernanda no shopping.
Eu ensaboava meus cabelos e o corpo, quando
ouvi um barulho no quarto. Não deu tempo de
fechar o registro, pois minha ferinha abriu a porta e
entrou no banheiro, cantarolando algum de seus
encantos. Ela tinha saído mais cedo da loja e estava
perigosa. Não tinha nada em seu corpo, apenas uma
escova de cabelo nas mãos. Fiquei paralisado
diante de tanta beleza. Ela estava fazendo de caso
pensado.
Limpei o embaçado do vidro com o braço e a
água continuou caindo no chão. Meus olhos,
seduzidos, seguiram os contornos da fera domadora
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de Ogros.
Eu já a tinha feito virar os lindos olhinhos nas
noites do último mês, mas agora era a vez dela. Ela
sabia o que estava fazendo e eu ansiava por aquilo.
Ferinha poderosa.
Ela estava em frente ao espelho, tentando-me
com um leve rebolado, enquanto exibia o ondulado
lindo dos seus cabelos, minha paixão. Ver aquela
pele branquinha, ainda com as marcas da roupa
social, estava me deixando vesgo. No auge do
incentivo, escancarei a porta de vidro, igual a um
louco. O shampoo estava entrando no olho, a água
no ouvido, mas o pau seguia na direção dela.
Saí escorregando e me bati na parede,
completamente louco. E ela só sorria da minha
aflição. Grudei em minha fêmea, pegando-a pelos
cabelos e cintura e arrastei-a para dentro do box.
Ela tinha me assanhado e ia levar chumbo grosso.
Mas a ferinha era tão traiçoeira que se ajoelhou
na minha frente e me desarmou com seus lábios
carnudos e rosto de princesa levada. Fiquei
totalmente rendido, apreciando aquele momento
inédito. Foi a coisa mais linda e excitante, vê-la
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toda poderosa e sensual, provando-me com gana


pela primeira vez. Levei algumas mordidas
desnecessárias, mas era algo já esperado.
Minha princesa branquinha, linda, amorosa,
forte e perfeita. Fomos selvagens naquele banheiro
e depois de tê-la deixado exaurida, carreguei minha
ferinha manhosa para a cama.
Senti pontadas nas cicatrizes, mas dar aquele
porradão tinha valido muito a pena. Eu estava ativo
outra vez e totalmente pronto para qualquer hora
que ela me solicitasse.
— Vamos, parceiro. — Desperto dos meus
pensamentos com a voz do Sérgio. — O Jorge e a
Soninha estão dando o bagaço no buffet. Cheguei a
pensar que eles apareceriam na cerimônia com um
espeto de carne, mas ainda estão se contentando
com os docinhos. Seja rápido! O que é isso, cara?!
— Sérgio aponta para a minha calça. — Vai
aparecer assim na frente do líder da igreja?
— Eu não tenho culpa. Esse é meu estado
permanente de agora em diante. — Ajeito minha
esculhambação e estico o blazer. — Vamos, pois
tenho pressa! — Saio do quarto e Thor me segue
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com Julien.
Subo correndo no coreto de arco ornamentado
com rosas azuis e cor de rosa.
O sol está se pondo, e o ambiente ao ar livre na
fazenda é muito romântico. Sérgio e Suelen estão
ao meu lado. Eles se casaram há dois meses, mas
dona Margaret, mãe do Sérgio, vem lutando contra
essa união desde que voltou ao Brasil. Eles estão
em pé de guerra e tudo piorou depois de uma briga
feia, quando Suelen acabou perdendo um bebê de
semanas de gestação.
“Mas essa é outra história para ser contada.”
Os músicos começam a tocar e vejo a Dudinha
entrando com as nossas alianças. Minha
princesinha linda, pivô da queda do meu orgulho,
responsável por derreter o gelo do meu coração.
Por ela eu faço tudo.
Logo atrás, está ela, a mãe da minha família,
ferinha delicada, domadora de ogro e rainha do
meu coração. Ela usa um vestido lindo, branco e
sexy. Ainda não vi as costas, mas soube por fonte
segura — e fofinha —, que tem pra mais de
duzentos botões de impedimento.
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“Vou arrancar um a um no dente.”


Ao seu lado esquerdo está o taiwanês. Ele não
me engana, sinto que espera um vacilo meu para
marcar em cima, mas me faz bem saber que ele
voltará para Taiwan e deixará os negócios aqui no
Brasil sob os cuidados de um tio.
No lado direito dela, está o fazendeiro,
Giovane, e ele é outro que também não me engana.
Ele está casado, contudo, algo me diz que também
espera um erro meu. Só se eu fosse louco a ponto
de querer perder essa mulher. Que eles sejam
felizes bem longe de minha ferinha.
Desço do coreto, beijo o cabelo de Dudinha no
caminho e tomo a posse do braço da minha mulher.
Não me agrada a ideia de dois marmanjos estarem
com as mãos nela.
— O que é isso, Eduardo? — ela reclama.
— Ela é minha mulher. — Encaro os dois e
passo o recado. — E não fiquem esperando um
descuido para urubuzar o meu solo. Quem planta
aqui sou eu — deixo claro.
— Para com isso, Eduardo! Estão nos olhando!
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— Maria Fernanda fala entre os dentes.


— Não esqueça que eu cuidei dela e te
entreguei em perfeito estado. — O taiwanês me
encara.
“Raiva por ele ter razão.”
— E eu sou casado. Minha mulher está ali,
grávida de quatro meses. — O fazendeiro cruza os
braços.
Esse ao menos nunca tocou em nada.
— São bons argumentos, porém, fiquem
metros... dois metros de distância dessa ferin...
dessa mulher.
Estufo meu peito, seguro Maria Fernanda e
conduzo-a até o coreto de flores.
— Vamos resolver esse ciúme e eu já sei uma
maneira eficaz para começarmos. — Maria
Fernanda sorri para as pessoas, mas sua mente está
maquinando algo. Espero que não seja algo
relacionado à privação sexual. “Tudo menos isso.”
— Eu te amo, mulher. Só estava com pressa
em dizer, por isso vim te buscar. Esqueça qualquer

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planejamento errado. Isso é obra do maligno para


destruir a deliciosa harmonia dos casais. Esqueça
isso.
— Você tem todo o meu amor. — Ela beija
nossas mãos entrelaçadas. — Mas não deixe de se
policiar, mon cher.
— Perdão, amor. Eu prometo que serei o
policiamento em pessoa. De hoje em diante,
teremos o dobro de felicidade. Foram dez anos
casados e longe um do outro, mas agora, os Céus
serão testemunha da força do meu amor por nossa
família. — Pego a Dudinha no colo.
— Você está muito bonito, Dudu. Meus olhos
combinam com o seu terno.
“Essa vozinha dela me derrete todo.”
— Seus olhos são os mais lindos do mundo,
meu amor. São os mesmos da sua mãe. — Beijo a
bochecha gordinha da minha pequena. — Seremos
uma base unida e vamos enfrentar todas as
dificuldades que vierem. Os dias serão difíceis, mas
vamos lutar juntos e espalhar o amor e a força do
perdão.

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— Amo vocês, meu pai e maman. — Dudinha


acaricia meu rosto e o da mãe.
Dizem que o tempo cura tudo, mas não
acredito nisso. O perdão e o amor podem curar,
mas o tempo não. O tempo cura o superficial, mas
o fato real ele não atinge. Se te ferem, machucam,
não espere que o tempo cure, pois, o seu tempo
acaba e você morre com a dor. Por isso, o perdão
não deve chegar atrasado. Que muitos corações
sejam alcançados com a nossa história de vida.

***
Em frente à porteira da fazenda, uma loira
andava tombando no salto. Ela estava saindo da
fazenda, mais precisamente, do local da cerimônia.
Tinha entrado para espreitar, ficado cinco minutos
e agora voltava para o carro. Dali, ia direto para o
aeroporto. Seu destino era distante, mas sua certeza
era local. Não importava o tempo, Eduardo
Moedeiros pagaria por tê-la usado.

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Bônus final

Três anos depois...


A J.A Engenharia se afundou aos poucos
depois da prisão de Junior. Senhor Alfredo e Dona
Alice se mudaram para uma estância e vivem bem,
porém, sem as mesmas regalias. Um dia, eu
encontrei Samanta no supermercado, e perguntei se
estava precisando de alguma coisa, mas ela me
disse que estava se refazendo e estava bem. Ela e os
filhos haviam se mudado para um bairro periférico
da cidade. Estavam vivendo com pouco, mas ela
parecia feliz e mais saudável longe do Junior. Outro
dia, eu vi o filho mais velho dela em uma
motocicleta próximo a minha casa e tive a nítida
impressão de que ele vigiava a minha porta. Espero
que não esteja seguindo o mesmo caminho do
Junior. Não me esqueço da ameaça que ele me fez
no dia do julgamento do pai. A Irene fugiu no
induto de natal do ano passado. Certamente, já está

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longe, aplicando os mesmos golpes.


Minha empresa está de pé novamente e hoje é
dia de festa. Dudinha completa dez anos amanhã e
já me comunicou, com todo o seu atrevimento pré-
adolescente, que já basta a sua condição de
baixinha e de, agora em diante, não quer mais ser
chamada no diminutivo. Eu acho um desaforo um
pai ter que ouvir isso. Ela sempre será minha
pequena e conversadeira Dudinha. Ela escolheu
comemorar o aniversário apenas com um
piquenique no parque. Então, amanhã a festa
continua.
Apresso meus passos, subo no palco e recebo o
microfone de um dos promotores contratados para
o evento. É a vez de declarar a Moedeiros reaberta.
— Estamos comemorando a reinauguração da
Moedeiros Engenharia. Foram dias de lutas
travadas. Eu agradeço à minha mulher, Maria
Fernanda, pelo total apoio e cumplicidade. Sem ela,
eu não conseguiria reerguer nossa empresa. Maria
Fernanda, obrigada por ser uma ótima profissional,
competente e excelente mulher e mãe. Te amo,
minha vida. — Ouço as palmas e vejo a minha
ferinha secar os olhos, elegantemente, com os lados
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dos indicadores. Ela é emotiva. “Darei seu carinho


mais tarde.” — Também agradeço ao meu sócio e
amigo, Sérgio, por ter segurado os pilares de
sustentação comigo. Obrigado aos amigos por
estarem sempre torcendo por nosso sucesso e aos
clientes por confiarem em nosso nome. Pai, mãe e
Luiza, obrigado pelo abraço coletivo. Declaro
reaberto os trabalhos na Moedeiros Engenharia!
Desço do palco, cumprimento alguns clientes
no caminho e procuro por minha rainha. Ela beija
meus lábios cuidadosamente para não corromper a
perfeita maquiagem.
— Você foi perfeito. — Ela sela meus lábios
outra vez.
— Não seria nada sem você. Onde está a
Dudinha?
— Duda. Lembre-se que agora ela quer ser
chamada de Duda.
— Duda... Ela vai se a Dudinha até quando
estiver gagá. Onde ela está?
— Passou aqui com a Nicole, não tem trinta
segundos. Estão passeando no salão.
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Sérgio e Suelen não estão conseguindo segurar


uma gravidez, então há alguns meses eles adotaram
a garotinha Nicole. Ela é um ano mais nova que a
Duda. As duas parecem que frequentaram o mesmo
berço na infância, não se desgrudam, mas eu vou
ficar de olho nas duas. São mocinhas muito bonitas,
em breve os gaviões pré-adolescentes começarão a
rodear.
— Vou procurá-las. Vamos tirar uma foto em
família para a revista. Chame a Suelen.
— Edu! — Sérgio se aproxima. Ele parece
exaltado. — Acabei de saber que teve uma rebelião
no presidio e o Junior foi assassinado, cara.
Começou no final da tarde, mas só conseguiram
conter agora. Um colega de cela deu cinco facadas
dele. O sujeito também morreu. É uma notícia
trágica. Eu só penso nos filhos e na Samanta.
Continua em Herança Familiar...

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PRÓXIMO
LANÇAMENTO
Herança Familiar
Era uma vez um Bad boy vingativo e uma
mocinha de nariz empinado. Ele a julgou ser uma
presa fácil, achando-a mimada e por ela possuir
dismetria em consequência de uma osteomielite na
infância. Ele planejou sua vingança e até tatuou a
ordem nas costas, mas não contava que ela seria
tinhosa e estaria obstinada a frustrar seus planos.
De repente, o que seria apenas uma vingança, virou
vingança de amor, mas o único problema era que
ele tinha uma tia má, disposta a tudo para levar a
vingança até o fim. O bad boy, então, travou uma
luta com seu próprio sangue para reverter os fatos e

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proteger a mocinha chamada por ele de seu próprio


de “Mar”. O destino foi cruel, mas talvez ele
soubesse o que estava fazendo. Separou-os por sete
anos. Quando se reencontraram, ela não mais
existia em sua memória, embora seu coração
fervesse de uma emoção pulsante que ele
desconhecia. Essa é a história de um furacão que se
apaixonou por um lugar seguro.
Se não houver furacão, não há sentido em
existir lugar seguro, pois a sobrevivência de um é a
existência do outro.

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AGRADECIMENTOS.

À Deus, por ser o dono do meu talento, da


minha força e das palavras que vieram ao meu
coração para compor o enredo de “Perdão, amor.”

Aos meus pais, por sempre torcerem pelo


meu sucesso, mesmo em projetos impossíveis. —
Velhos, vocês são os melhores do mundo.

Aos meus 51 mil seguidores na plataforma


Wattpad — melhores betas reais — onde tudo
começou, há três anos. Tenho prazer em dizer que
“Perdão, amor.” esteve por 90 dias consecutivos
no top três desta plataforma. Meu carinho é muito

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especial por cada um de vocês, seguidores.


Através do Wattpad, pude conhecer leitores
do outro lado do mundo.

Às minhas Anjas queridas, meu grupo de


leitoras e seguidoras em todas as redes sociais...
Meninas, isso aqui é fruto nosso. Sem o incentivo e
feedback diário, eu teria deixado todos os meus
livros na gaveta. Obrigada meus amores, vocês são
verdadeiras anjas, divulgadoras do amor e amigas
para todas as horas. Meu coração é todinho de
vocês!

À Lary Lemos e Jessy, por formarem um


fã clube lindo no Instagram. Meninas, todo
agradecimento é pouco. Sou feliz por ter vocês.

À Crys Carvalho, por ser minha primeira


amiga e conselheira no mundo literário. — Crys,
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você foi enviada pelos céus. É tão importante para


este livro e na minha vida, que ganhou um papel (a
mocinha paraense da farmácia, que vendeu a pílula
a Eduardo na primeira fase). Sou eternamente grata
a você, minha irmã.

À Christine King, por ser uma parceira,


amiga, conselheira e irmã.— Christine, você foi
enviada como anja, tenho certeza. Os seus
conselhos e ensinamentos estão sendo bem
guardados, minha irmã. Obrigada por segurar
minha mãe em tantos momentos.

Às profissionais que fizeram um excelente


trabalho para que meu filho ficasse pronto; Carol
Capia, Vanessa Batista e Mari Sales. —
Obrigada, meninas.

À Mônica Kimi (Mellody Ryu), pelas artes


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lindas de divulgação e por ser conselheira e amiga


no meu processo de escrita.

Às minhas amigas que foram luz em um


momento importante:
Wânia Araújo, Letti Oliver (minha irmã gêmea),
TM kechichian, Fabi Dias, Victoria Gomes,
Natalia Dias, Mari Sales e Eveline Knychala.
Sem vocês eu não conseguiria!

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SOBRE A AUTORA :

Desde criança, Pry Olivier escrevia


pequenos textos e sonhava em vê-los ganharem
vida nos cinemas. No ano de 2016, decidiu publicar
o conteúdo de seus caderninhos em uma plataforma
digital onde hoje possui 51 mil seguidores e mais
de 8 milhões de visualizações em seus originais.
Seu principal objetivo é levar mensagens positivas
para os corações e mostrar que o remédio para
qualquer ferida é o amor.

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REDES SOCIAIS DA
AUTORA.
Grupo no facebook: Anjas da Pry
Instagram: @pryolivier_
Fã Clube no Instagram: @mar_de_livros

[1]
Pintado por Leonardo Da Vince, entre 1494 e 1498 a pedido de
Ludovico il Moro .
[2]
Inflamação do osso causada por infecção, geralmente nas
pernas, no braço ou na coluna.
[3]
Minha princesa
[4]
Tia
[5]
Papai
[6]
Eu te amo, papai.
[7]
Com licença
[8]
Querido
[9]
Como vai você, Jorginho?
[10]
senhor

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[11]
Oi
[12]
Um cachorro!
[13]
Senhor
[14]
Ele é lindo
[15]
Minha mãe estava preocupada, por algum
motivo.
[16]
Ele é bonito
[17]
Amo suas curvas, suas extremidades e todas as
suas perfeitas imperfeições.
[18]
All of Me — John Legend — “... Eu vou me entregar a você
por inteiro... Você é meu fim e meu começo... Mesmo quando eu perco, estou
vencendo...”
[19]
“ ... Eu ainda estou aprendendo a amar... Apenas começando a
engatinhar...”
[20]
Com licença
[21]
Você precisa se tratar!
[22]
Que susto!
[23]
Canalhas como você.
[24]
Desculpe-me, com licença!
[25]
Oi...
[26]
Senhor
[27]
Artigo 121 da Lei 2848/40 do código penal.
[28]
Artigo 288 do Código Penal
[29]
A rtigo 10 da Lei Complementar 105 /2001.
[30]
Também conhecido por: estilingue.
[31]
Papai do céu...

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