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REALIDADE HISTÓRICA
2ª Edição
Indaial - 2020
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
P962e
Probst, Melissa
ISBN 978-65-5646-025-3
ISBN Digital 978-65-5646-026-0
1. Historiografia. - Brasil. 2. Pesquisa. – Brasil. 3. Ensino de história.
– Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 370
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO........................................................................... 07
CAPÍTULO 1
Das Possibilidades de Pesquisa em História:
Objeto, Métodos e Fontes............................................................ 7
CAPÍTULO 2
A Pesquisa E A Produção De Conhecimento
Em Sala De Aula............................................................................. 49
CAPÍTULO 3
História E Ensino De História..................................................... 89
APRESENTAÇÃO
Ensino, Pesquisa e Realidade Histórica é a publicação que lhe apresentamos,
desejando que você aceite nosso convite para leitura das páginas que seguem.
Partimos do pressuposto de que as inter-relações entre a história, a sociedade e
a educação são muitas, e que a formação dos estudantes e docentes em História
inclui em “sem fim” de conceitos e abordagens, visando sempre suscitar um olhar
crítico sobre o que se faz quando se pretende fazer história.
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Capítulo 1 DASPOSSIBILIDADESDEPESQUISAEMHISTÓRIA:OBJETO,MÉTODOSEFONTES
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Não raro, ainda na atualidade, somos muitas vezes levados a pensar a que
função do historiador seja a de narrar os fatos, tal qual eles ocorreram. Toda vez
que somos confrontados com tal pensamento, sentimos certo desconforto, que nos
leva a questionar se essa seria uma tarefa verdadeiramente possível. E, motivada
pelo nosso próprio desconforto, iniciamos a apresentação desse primeiro capítulo
com uma série de questões/perguntas... E sim, o fazemos de modo intencional,
buscando incentivar algumas reflexões sobre questões que são aparentemente
simples, mas que dizem respeito ao que somos, enquanto profissionais e/ou
estudantes, enquanto sujeitos que somos, lembrando que somos historicamente
constituídos.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
2 HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
O que é “História”? Quantas vezes você já parou para pensar sobre isso?
É esse convívio tão direto com a palavra história que nos faz criar certa
intimidade com ela, a ponto de parecer que ela não precisa de definição. No
entanto, o que é, afinal, História? Corroborando com Borges (1983), podemos
dizer que ao tentar elaborar uma resposta, provavelmente nenhum de nós teria
uma definição muito precisa para apresentar, porém, estabeleceremos a relação
entre História e Passado, o que remete também ao conceito de Memória e
Historiografia.
Além dessa intimidade cotidiana com a palavra história, que parece dispensar
a necessidade de conceituá-la, podemos associar o fato de que a própria História
está sempre se refazendo e, como campo do conhecimento, o que é produzido
sobre ela nunca está pronto ou acabado. Nem mesmo as formas de compreender
ou registrar a história estão definitivamente delimitadas/demarcadas, tendo
passado por transformações desde os seus primórdios até os dias atuais. Borges
(1983, p. 9) que afirma que, para “compreender satisfatoriamente a história como
hoje ela se configura, é preciso recapitular sua origem e sua evolução”.
Como nos lembra Bloch (2001), a palavra “história” é muito antiga, sua
origem remonta à milênios e, nos lábios dos homens que a pronunciaram, já
trocou de sentido e significado inúmeras vezes. Desse modo, não pretendemos
aqui tratar dos diversos modos de denominá-la, porém, ainda assim, gostaríamos
de, por vezes, “voltar no tempo”, para recapitular alguns dos aspectos históricos
da História, como campo de produção de saberes. E nessa primeira digressão,
gostaríamos de lhe perguntar se você já ouviu falar em Clio? Você sabia que
Clio é considerada, desde a antiguidade clássica (mitologia grega), a “Musa da
História”?
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
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2.2 HISTORIOGRAFIA DA
ABORDAGEM TRADICIONAL ÀS
PERPECTIVAS PÓS-MODERNAS
Para iniciar essa discussão, é preciso ter em mente que toda história é escrita
por alguém e para alguém. Isso significa que a historiografia, ou seja, o conjunto de
concepções, ideias e produções, que dão forma ao discurso histórico, materializa-se
a partir da "ação" e da "interpretação" do historiador sobre os vestígios do passado.
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A terceira geração dos Annales tem o ano de 1968 como marco, quando as
produções historiográficas da revista dos Annales concatenavam uma série de
artigos, organizados em torno dos seguintes eixos temáticos: novos problemas,
novas abordagens e novas temáticas. Entre os historiadores, autores desses
artigos, estão os bastante conhecidos Jaques Revel, Roger Chartier, Paul Veyne,
Michel de Certeau, Marc Ferro, bem como Jacques Le Goff e Pierre Nora.
aquilo que foi chamado de ‘história das mentalidades’, numa inegável a ampliação
dos temas e objetos passíveis de análise por parte do historiador.
Tem-se, portanto uma clara ligação entre tempo e história. O fato, entretanto,
desses conceitos estarem relacionados, não significa que não há, sobre eles,
contradições ou polêmicas.
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a historiografia. Mas nem sempre foi assim! Conforme destaca Prost (2008),
foi necessário aguardar até o século XI para que a chamada “Era cristã”, ou
seja, aquela datada a partir do nascimento de Cristo, se tornasse dominante e,
posteriormente imposta à todos, tendo por referenciais a expansão dos impérios
coloniais, tais como o espanhol, o britânico e o francês, entre outros.
De acordo com Hartog (2013), nessas tramas da sucessão dos tempos, por
muito tempo, na história ocidental, os historiadores operaram com o humanismo,
dividindo os tempos em Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna. Essa
divisão se associa ao estudo das instâncias humanas, como menciona Barros
(2013b). A História, portanto, é compreendida na perspectiva do tempo – passado,
presente ou futuro – e pela narrativa, no sentido de designar/descrever/apresentar
os eventos que constituem a trajetória percorrida, ao longo dos tempos, pela
humanidade.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Temos, assim, até o século XVI, a história ancorada nas experiências vividas,
mas que também repousava na contínua expectativa "do fim dos tempos." Pelo
próprio contexto, a história ocidental e o seu registro são também uma histórica
judaico-cristã. Assim, a periodização do tempo histórico encontra na Bíblia o seu
fundamento. Deste modo, o tempo era compreendido como linear, ou seja, no
entendimento da sequência de acontecimentos que inevitavelmente levaria ao
"fim dos tempos." Como afirma Koselleck (2000, p. 24), nesse contexto, a História
é também, “a história dos repetidos adiamentos desse […] fim do mundo.”
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O que devemos ter sempre em mente é que a medida do tempo como hoje
conhecemos nem sempre foi a mesma e as concepções que temos a respeito das
temporalidades são construções, características derivadas da experimentação
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de conjunto, trazendo à tona uma história das estruturas que abrange desde os
sistemas econômicos até as hegemonias políticas, os estados e sociedades [...]”.
Le Goff (1990), assim como outros historiadores, nos alerta para a relação
que existe entre história e memória. História e memória, entretanto, estão longe
de serem sinônimo. Sobre as diferenças que existem entre elas, Nora (1993, p. 9)
afirma:
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4 OBJETOS E FONTES
Agora que vamos conversar um pouco sobre objetos e fontes, é muito
importante destacar que não podemos saber "tudo" sobre o passado. Mesmo
sobre o passado mais recente há sempre uma infinidade de dados e informações.
Por isso, ser historiador (e professor) é ser também pesquisador. E, para obter
êxito na realização da pesquisa, um dos passos iniciais é identificar e delimitar
o objeto, ou seja, definir “o que” será pesquisado. E, além de o “que”, há outros
aspectos que precisamos considerar, tais como quando, onde, como e por quê.
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acabaram por se deparar com uma variedade de perguntas e áreas que puderam
ser exploradas em suas pesquisas. Assim, as atividades dos historiadores
influenciaram na elaboração de uma “história social”. Nesse âmbito, os
historiadores acabaram por abrir espaço para as expressões populares como
elementos importantes para o processo histórico, ou seja, uma postura que
implica também em reflexões sobre o tempo presente. Isso, sem dúvida, amplia o
rol de fontes a ser utilizada para compreensão da história "vivida" pelos diferentes
grupos e classes sociais, como proposta de investigação.
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a) ( ) Século XI.
b) ( ) Século XIII.
c) ( ) Século XIV.
d) ( ) Século XIX.
I- Historicismo.
II- Materialismo Histórico.
III- Nova Esquerda.
IV- Annales.
( ) Marc Bloch.
( ) Leopold Von Ranke.
( ) Fernand Braudel.
( ) Karl Marx.
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( ) Jacques Le Goff.
( ) Raymond Williams.
( ) Edward P. Thompson.
( ) Peter Burke.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nós iniciamos esse capítulo nos indagando o que é a “História”, bem como
quantas vezes paramos para pensar nesse assunto. Ao chegar ao final desse
capítulo, espero que você possa ter percebido que a história está muito além
do que nos é apresentado pela historiografia. A historiografia, nesse contexto,
consegue ser apenas um recorte, um retrato de parte da História, uma narração de
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Capítulo 1 DASPOSSIBILIDADESDEPESQUISAEMHISTÓRIA:OBJETO,MÉTODOSEFONTES
E foi por isso que optamos, nesse capítulo, recapitular aspectos relacionados
à origem da Histórica como ciência, passando pelas diferentes teorias, sem
esquecer-se de seus sistematizadores, tampouco do contexto no qual a formulação
de tais teorias foi possível. Desde os tempo mitológicos, com Clio e Mnemosine a
humanidade já manifestava interesse pela preservação da memória de seu povo,
pelo registro do passado, assinalando os feitos que deveriam ser lembrados e
celebrados, porém, foi somente no século XIX que temos a sistematização do
trabalho do pesquisador/historiador, e o reconhecimento da História como uma
Ciência.
No que diz respeito a essa primeira vertente, o foco dos estudos e pesquisas
estava nas questões políticas mais abrangentes e relevantes, que permitiam,
a partir do rigor metodológico e das fontes adequadas (documentos oficiais
escritos), estabelecer parâmetros para a escrita “oficial” e “imparcial” da História.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
REFERÊNCIAS
BARROS, José D’Assunção. A história serial e história quantitativa no movimento
dos Annales. História Revista, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 203-222, jan-jun, 2012.
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Capítulo 1 DASPOSSIBILIDADESDEPESQUISAEMHISTÓRIA:OBJETO,MÉTODOSEFONTES
CASTRO, Consuelo de (redatora). Mitologia. Vol. II. 2 ed. São Paulo: Abril
Cultural, 1976.
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HOBSBAWM, Eric. Sobre história: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 3 ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.
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REIS, José Carlos. Teoria & história: tempo histórico, história do pensamento
histórico ocidental e pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 2012.
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C APÍTULO 2
A PESQUISA E A PRODUÇÃO DE
CONHECIMENTO EM SALA DE AULA
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Capítulo 2 APESQUISAEAPRODUÇÃODECONHECIMENTOEMSALADEAULA
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Como profissionais e estudantes que discutem e refletem sobre a História,
não poderíamos deixar de abordar, no presente material de estudo, aspectos
importantes relacionados ao ensino dessa disciplina. E é sobre esse assunto
que nos debruçaremos ao longo do presente capítulo. Assim sendo, o foco inicial
de nosso diálogo é sobre as dinâmicas da historiografia e da História enquanto
disciplina, bem como suas implicações no processo de ensinar e aprender
História.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
a aula. Além disso, podemos nos perguntar qual a noção de verdade emprega
no discurso/texto utilizados, qual o posicionamento epistemológico adotado,
bem como quais as implicações do passado no tempo presente. Concordamos,
portanto, com Avelar (2012, p. 14) que afirma que:
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época. Assim, quando Durkheim (1995; 2007) define a educação como influência
das gerações adultas sobre os mais jovens para prepará-las para a vida social, o
autor fala de uma perspectiva tradicional de ensino.
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Schimidt e Cainelli (2004, p. 11) relembram que até o ano de 1961, “os
principais conteúdos de história do Brasil tinham como objetivo a constituição
e a formação da nacionalidade, com seus heróis e marcos históricos […],” em
consonância com os preceitos da historiografia tradicional, conforme mencionamos
anteriormente. Já a legislação e as políticas públicas na década de 1970 acabaram
por oficializar a disciplina de Estudos Sociais nas escolas brasileiras. Com isso, a
disciplina aglutinou os conteúdos de História e Geografia, reduzindo, portanto, as
especificidades de cada uma dessas áreas de conhecimento. A História, enquanto
disciplina escolar, passou a ser ministrada apenas no segundo grau (atual Ensino
Médio), enquanto que ao primeiro grau (atual Ensino Fundamental), cabia apenas
o ensino dos “Estudos Sociais.”.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Ensinar História nunca foi tarefa fácil, entretanto, já sabemos que a mera
repetição de conteúdos e a memorização apenas dificultam a compreensão dos
conteúdos e a sua relação com o presente e a realidade vivida. A discussão dos
conteúdos, atrelada ao domínio dos conceitos, atribui sentido ao passado. Assim
sendo, como dizem Ferreira e Franco (2013, p. 128),
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Sobre esse mesmo assunto, Nicolazzi Júnior (2018, p. 30) destaca que
Além disso, com destacam Pinsky e Pinsky (2009, p. 23), “o passado deve
ser interrogado a partir de tensões que nos inquietam no presente (caso contrário,
estudá-lo fica sem sentido). Portanto, as aluas de História serão muito melhores se
conseguirem estabelecer um duplo compromisso: com o passado e o presente”.
E é por isso que defendemos a utilização de diferentes fontes e linguagens como
diferenciais no processo de ensinar e aprender História.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
3 PROCURANDO PISTAS,
ELABORANDO CONEXÕES
Conforme já mencionado, atualmente os conceitos de cultura histórica,
consciência histórica e educação histórica têm sido evidenciados quando
pensamos as metodologias do ensino de história. Dessa forma, como aqui nos
propomos a “procurar pistas e elaborar conexões,” sempre considerando a História
e seu ensino, iniciaremos nossa conversa justamente por esses conceitos. Em
seguida, falaremos sobre os recursos que podem ser utilizados em sala de aula.
Não podemos nos esquecer de que o que ocorre nas aulas de História é
apenas uma pequena parte de um todo, que engloba diversas elaborações sobre
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Pensar desse modo é também resgatar o tempo próprio das coisas sobre
as quais se está pensando. Isso significa pensar de forma contextualizada,
considerando os elementos econômicos, sociais, culturais e políticos que
implicam o fazer dos sujeitos em sociedade, sem acreditar que esse tempo
seja um tempo mágico ou místico, no qual as coisas acontecem “porque tem
que acontecer”. Pensar historicamente e a partir da perspectiva de consciência
histórica é perceber que as transformações sociais são uma consequência das
ações de todos, inclusive as nossas, enquanto sujeitos da história. Desse modo,
podemos afirmar que a consciência histórica está atrelada à noção de consciência
que temos de nós mesmos, seres humanos, individual e coletivamente. Sobre
isso, nos diz Cerri (2011, p. 41)
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disponíveis para tanto. Mas também é importante lembrar que para além das
perspectivas tradicionais da História, o professor, ao ensinar, precisa estar ciente
que não há uma reposta única e definitiva, afinal, os estudantes podem encontrar
explicações diferentes ao longo do tempo, bem como elaborar explicações
diversas para um mesmo acontecimento do passado. O importante, entretanto, é
que esses estudantes o façam a partir de argumentos e não de opiniões advindas
do senso comum. A promoção da educação histórica, portanto, só poderá ocorrer
se os professores conseguirem estar conscientes das problemáticas e desafios
e das exigências atuais da “sociedade do conhecimento e da informação” para a
educação.
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Desse modo, podemos concluir que, do mesmo modo que as imagens são
representações de momentos, o cinema também é; e, em sendo assim, não há
neutralidade. Conforme destaca Ciambarella (2014), o filme pode bem ser um
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Buscamos, mais uma vez, em Pesavento (2005, p. 51) uma possível resposta
para a questão que suscitamos:
Muitas das produções literárias, embora não tenham sido escritas por
historiadores, contém representações da cultura, do tempo, das sociedades,
fornecendo, portanto, pistas para a compreensão da História. E, embora ainda
seja polêmica a aproximação entre Literatura e História e existam numerosas
discussões sobre o assunto no âmbito acadêmico, não podemos descartar a
hipótese de que ambas as áreas procuram, a seu modo, representar a sociedade
(e a ação humana) no tempo, utilizando-se da narrativa para que tal objetivo
possa ser alcançado. Sobre isso, Fonseca (1995, p. 54) afirma:
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Como menciona Andrioni (2009, p. 110), “Ao adotar a música como recurso
didático, o professor deve atentar para sai linguagem plural, que inclui letra e
parte instrumental e melódica. Assim, é possível analisar a letra de uma música e
sua construção, e também, a melodia, os instrumentos e até os tipos de acordes
[...]” [grifos do autor]. A respeito das letras, destacamos que estas representam
sentimentos, inquietudes, curiosidades, e tem objetivos que podem ser diversos:
comerciais, culturais ou ideológicos que muito podem nos dizer sobre as pessoas
que as produziram e sobre seu público.
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Destacamos que além de usar o jornal como fonte, é possível ainda produzir
um jornal, como atividade, a partir dos quais os alunos são produtores das
notícias, tendo conteúdo da disciplina de História como base para a sua produção.
Geralmente, pelo fato de ser um “jornal”, ou seja, um veículo que tem a escrita
como material base, muitos de nós acabam associando tal tarefa ao professor de
Língua Portuguesa. Entretanto, o jornal pode ser transformado num instrumento
de trabalho coletivo, do qual todos os docentes e estudantes podem participar
ativamente. Sobre tal possibilidade, Faria e Zanchetta Jr. (2011, p. 141) afirmam:
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
atividade. Destaca-se ainda que nem todas as turmas são iguais e tais recursos
podem despertar a curiosidade e funcionar como propulsores do processo de
aprendizagem e construção do conhecimento, mas podem, também, tornar os
alunos mais dispersos e dificultar o andamento das aulas.
PORQUE
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que tenha ficado claro que a mera repetição dos conteúdos e a memorização é
contraproducente para a construção do conhecimento, elaboração do pensamento
crítico e da consciência histórica. E se, desde a década de 1980, vem sendo
discutidas e implementadas inovações no ensino da disciplina, pretendemos,
nesse tópico, dialogar sobre a pesquisa como metodologia de ensino.
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Thompson (2002, p. 13) afirma que “toda educação que faz jus a esse nome
envolve a relação de mutualidade, uma dialética, e nenhum educador que se
preze pensa no material a seu dispor como uma turma de passivos recipientes de
educação”, o que nos leva a refletir, mais uma vez, sobre o papel desempenhado
pelo docente, pelos estudantes e pelos recursos pedagógicos no processo de
construção de conhecimentos.
É sabido que o saber escolar não se constrói apenas na escola. Ele é também
resultante das experiências e sabres que os estudantes já possuem, e que, na
escola, devem ser experienciados, questionados, desconstruídos e reconstruídos.
A História, nesse contexto, é uma disciplina importante, uma vez que a partir dela
é possível problematizar as “certezas” do tempo presente, com relação à cultura,
sociedade, economia, política, trabalho, entre vários outros aspectos.
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Capítulo 2 APESQUISAEAPRODUÇÃODECONHECIMENTOEMSALADEAULA
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Para o estudo do presente capítulo havíamos proposto, como objetivos, uma
reflexão sobre a importância da pesquisa, na disciplina de história, bem como
avaliar a importância da utilização da pesquisa em sala de aula como ferramenta
para a construção da autonomia e do pensamento crítico. Entretanto, antes de
falar especificamente sobre a pesquisa em sala de aula, foi preciso abordar
alguns outros conceitos, considerando aspectos relacionados à História enquanto
disciplina, as dinâmicas da História e da historiografia e suas implicações no
processo de ensinar e aprender história, passando pela discussão sobre as fontes
e recursos para a ação docente.
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Capítulo 2 APESQUISAEAPRODUÇÃODECONHECIMENTOEMSALADEAULA
recursos são implicados, tanto pelas fontes históricas, quando pelos conceitos
de cultura histórica, consciência história e educação histórica. Relembrando
que a cultura histórica está relacionada à investigação das maneiras pelas quais
certas sociedades relacionam-se com o passado, considerando a sua relação
com a memória. A consciência histórica está relacionada com a consciência
política e a sua aproximação com o ensino e história ocorre na medida de em
que busca romper com a perspectiva da alienação, contribuindo para o pensar
contextualizado, considerando os elementos econômicos, sociais, culturais e
políticos que implicam o fazer dos sujeitos em sociedade.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria; SILVA, André Chaves de Melo; ALVES, Ronaldo Cardoso.
Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
86
Capítulo 2 APESQUISAEAPRODUÇÃODECONHECIMENTOEMSALADEAULA
DURKHEIM, Émile. Fato social e divisão do trabalho. São Paulo: Ática, 2007.
FARIA, Maria Alice de Oliveira. Como usar o jornal na sala de aula. 2 ed. São
Paulo: Contexto, 2009.
FARIA, Maria Alice; ZANCHETTA JR., Juvenal. Para ler e fazer o jornal na sala
de aula. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2011.
87
Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 2 ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005.
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C APÍTULO 3
HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A produção do conhecimento histórico geralmente se inicia no âmbito da
pesquisa, com o árduo trabalho dos historiadores. Todavia, a difusão desses
saberes passa pela sua apropriação pelas pessoas “leigas” e, para tanto, a
instituição escolar, entre outras instituições, é um dos caminhos percorridos
pelo conhecimento a ser compartilhado. Assim, os saberes produzidos,
que representam parte da cultura histórica, chegam até às escolas, e mais
especificamente às salas de aula, para que possam atingir os estudantes e, a
partir deles, alcançar outros espaços da sociedade. O conhecimento chega nas
salas de aula pelos discursos proferidos pelos docentes, mas também pelos livros
didáticos e os demais recursos e estratégias empreendidos pela ação docente.
Assim, o conhecimento é transformado (transposição didática), analisado e
debatido até que seja apreendido pelos estudantes.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
2 DIFERENTES FONTES E
LINGUAGENS NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM
Toda pesquisa histórica de desenvolve levando em consideração as fontes,
que são examinadas e, a partir dos vestígios do passado (fontes), busca-se
confirmar ou refutar hipóteses que respondam ao problema proposto pela pesquisa
para, a partir daí, elaborar a argumentação e as explicações. Assim, os fatos
são descritos a partir dos constructos elaborados pelos historiadores. Fica claro,
portanto, que para construir uma explicação histórica sobre um fato, é necessário
que o historiador tenha uma problemática, uma questão para responder, e para
fazê-lo, as fontes são elementos essenciais.
92
Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
da teoria, do saber científico e acadêmico para o saber que pode ser ensinado
e aprendido. Podemos, portanto, compreender a transposição didática na
perspectiva da inteligibilidade, do saber o que ensinar, como ensinar, além de ser
preciso compreender também como os estudantes (crianças, jovens ou adultos)
aprendem.
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
Assumir essas novas proposições exige que os docentes saiam da sua zona
de conforto, pela qual transitam com domínio e segurança, lembrando que a
mudança exigirá, além de modificações em sua postura, embasamento teórico e
metodológico que “[…] possibilite transformar as aulas de História em um processo
de ensino-aprendizagem que seja, de fato, significativo para todos os estudantes,
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
A esse respeito, Pinsky (2013) afirma que por vezes podemos até pensar que
a educação formal já não é mais tão importante, uma vez que temos acesso a uma
variada gama de fontes de informação, como a televisão e a internet, por exemplo.
Além disso, muitos educadores ainda mantêm sua prática centrada no ensino
tradicional e na memorização, tornando as aulas de História pouco atrativas aos
jovens, que não percebem sentido no conteúdo escolar em relação às exigências
da sociedade no que concerne aos processos formativos e exigências para o
mercado de trabalho.
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
saberes para que ele possa compreender não apenas o conteúdo propriamente
dito, mas também o mundo que o cerca.
3 PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS E PRÁTICAS
INTERDISCIPLINARES
Iniciamos este subtópico lhe fazendo uma pergunta: o que pode fazer
um professor, para ensinar História? Acreditamos que você tem algumas
sugestões, e que poderia contribuir e muito para a discussão que nos
propomos agora. Assim, sugerimos fazermos um trato: caso você seja
professor, ou pretenda ser, que o seja de modo “ousado,” que permita
aos estudantes compreender (ou pelo menos tentar compreender) o
funcionamento da sociedade em que vivemos, das suas contradições e do
quanto tudo isso é historicamente construído.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
3.1 A MÚSICA
Destacamos que fizemos um pequeno recorte e iniciaremos pela música,
visto que muitos profissionais já a utilizam em suas salas de aula com objetivos
diversos. Aliás, ouso perguntar: você já teve alguma experiência com música em
sala de aula? Como docente ou ao longo de sua trajetória como estudante da
educação básica ou ensino superior? Como foi?
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
Com isso, podemos perceber que utilizar a música como recurso didático
e a partir dela suscitar reflexões, construção de saberes, elaborar argumentos
é um dos desafios que se colocam ao professor de História. Aos estudantes, o
desafio é o de não apenas “ouvir” a música, tê-la como fonte de entretimento,
mas sim percebê-la como fonte de informação e conhecimento, e para tanto, será
preciso pensá-la e questioná-la, pois a produção musical pode proporcionar a
compreensão da produção cultural de uma determinada sociedade.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Podemos dizer que a música tem estado entre as fontes preferidas dos
professores porque ela “[…] tem sido, ao menos em boa parte do século XX, a
tradutora dos nossos dilemas nacionais e veículo de nossas utopias sociais”,
conforme afirma Napolitano (2002, p. 7). E no que concerne aos usos mais comuns
da música na sala de aula, Fontoura (2018) afirma que a ilustração dos eventos
políticos tem sido a mais recorrente. Entretanto, consideramos destacar que a
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
do Voto de Cabresto e pode ser utilizada para pensar as eleições (do passado e
do presente), suas permanências e rupturas. Destacamos que esse é apenas um
exemplo entre vários outros possíveis.
Se o conteúdo da aula por acaso for o período do Estado Novo (Getúlio Vargas),
podemos sugerir a “Aquarela do Brasil” (de Ary Barroso), que versa sobre um Brasil
grandioso, e de suas facetas de belezas e riquezas, enaltecendo o país e contribuindo
para a divulgação dos preceitos e ideais do Estado-nação. Outro exemplo de música
que retrata o ideário da época é “É negócio casar!” (de Ataulfo Alves), lembrando
que a letra dessa canção evidencia o modelo de família tradicional, desejada pelo
governo na época para composição da “sociedade brasileira.” Já a música “Se eu
fosse Getúlio” (de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti), de letra cheia de ironia e
cinismo, fala dos graves problemas sociais e econômicos que assolavam a nação e
sugere “dicas” ao presidente sobre como governar a nação.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Ainda com base em Fontoura (2018) podemos dizer que músicas como “Ai
que saudades da Amélia” (de Mario Lago e Ataulfo Alves), “Mulheres de Atenas”
(interpretada por Chico Buarque), “Lôraburra” (de Gabriel o pensador), bem como
“Macho” (gravada pelas Frenéticas) e “Malandro é malandro e mané é mané”,
(de Bezerra da Silva) refletem concepções de gênero vigentes na sociedade,
reforçando ou satirizando ideais de feminino e masculino. Para além das questões
de gênero, canções como “O teu cabelo não nega” (de Lamartine Babo), “Da cor
do pecado” (de Sílvio Caldas), entre outras, podem ser aportes para pensar tanto
as questões raciais, quanto à própria questão da mulher negra na sociedade
de uma época, valores e preconceitos vigentes e que, por vezes, ainda são
encontrados na sociedade atual.
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mas o professor pode buscar músicas para além desses livros. No entanto, como
destaca Ferreira (2012, p. 19),
3.2 CINEMA
Apresentamos agora a segunda linguagem que selecionamos para nossa
conversa: o cinema. Nossa escolha se baseia no que afirma Napolitano (2011,
p. 11-12): “[…] trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a
reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o
campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos
são sintetizados numa mesma obra de arte”.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Não podemos esquecer, entretanto, que todo filme, seja ele um documentário
ou ficção é sempre resultante das seleções, escolhas, recortes. Na produção de um
filme, para além do roteiro, existem interesses comerciais, ideológicos e estético.
Por isso, como diz Napolitano (2009), filmes não são a representação direta da
realidade, tampouco estão desconectados à sociedade que os produziram. Desse
modo, sempre o que o filme for transformado em recurso didático, deve-se ter em
mente que os filmes são produzidos a partir de “representações” e “encenações”.
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ferramenta didática. Desse modo, é importante destacar que o filme não deve ser
levado para a escola como “ilustração’ apenas, mas sim como um “[…] formidável
instrumento de intervenção, de pesquisa, de comunicação, de educação e de
fruição”, como bem destaca Fantin (2007, p. 1).
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
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Tanto Napolitano (2011) quanto Catelli Júnior (2009) sugerem, para o ensino
de História do Brasil Colonial, o filme “Carlota Joaquina, princesa do Brasil”.
Catelli Júnior (2009) afirma que o ideal, nesse caso, é que os estudantes assistam
ao filme na íntegra, portanto, o professor deve reservar pelo menos duas aulas
de 50 minutos para fazê-lo. Sobre esse mesmo período histórico, podemos ainda
sugerir os seguintes filmes: “Xica da Silva”, “Os Inconfidentes” ou “Quilombo”.
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Tema da aula:
Título do filme:
Justificativa:
Objetivos:
Número de aulas:
Desenvolvimento da atividade:
Avaliação:
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
3.3 O JORNAL
A partir de agora, nossa conversa terá o jornal como temática central. No
capítulo anterior apenas o mencionamos como recurso para as aulas de História,
porém agora, nos dedicaremos um pouco mais a falar sobre o assunto.
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Conforme recomendam Abud, Silva e Alves (2010), os jornais podem ser sim
utilizados pelos professores em sala de aula. E acreditamos nisso porque a escola
é considerada ainda espaço privilegiado de acesso à informação, aos saberes
elaborados e da construção de conhecimentos, portanto, a informação pode e
deve ser matéria prima do processo de ensino e aprendizagem. Nesse contexto,
conforme menciona Ferreira (2009), o jornal é uma fonte primária de informação,
ao alcance do professor, na medida em que apresenta um conjunto de conteúdos
variados, ao mesmo tempo em que é um instrumento para que os seus leitores
possam se situar a respeito do que acontece na sociedade. Ainda de acordo com
Ferreira (2009), a riqueza dos jornais está, em grande medida, de acordo com
autora, nos diferentes pontos de vista que são apresentados pelos jornais.
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Capítulo 3 HISTÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA
Ferreira (2012) afirma ainda, que os jornais podem contribuir, para além da
formação geral dos estudantes, também a formação do “cidadão” bem como na
formação para o uso padrão da língua. No que diz respeito à formação geral, os
jornais podem ser contributos para ampliação do universo cultural, bem para o
desenvolvimento das capacidades intelectuais dos estudantes. A autora diz ainda
que “[…] se a leitura do jornal for bem conduzida, ela prepara leitores experientes
e críticos para desempenhar seu papel na sociedade” (FERREIRA, 2012, p. 11),
ou seja, na sua formação para o exercício da cidadania. Já em relação ao uso
do padrão da língua, os bons jornais costumam seguir a norma padrão escrita (e
falada), podendo, portanto, servir de referência para a elaboração e produção de
textos por parte dos estudantes.
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Sobre esse mesmo assunto, Valle, Arriada e Claro (2011) afirmam que os
jornais, assim como outros periódicos, localizam-se numa encruzilhadaentre
sociedade, política e poder, por isso que os textos publicados acabam se
combinando a estes aspectos, endossando o discurso oficial ou, por vezes,
opondo-se a ele. O conteúdo que circula nos jornais é, portanto, resultante
das redes de poder constituídas, por isso, “[…] manipulação da e na imprensa,
portanto, demanda um controle pelo poder, quer seja esse poder do estado, quer
seja dos sujeitos de maior domínio sobre as publicações [...]” (VALLE; ARRIADA;
CLARO, 2011, p. 67). Assim, é preciso sempre considerar a dimensão ideológica
dos conteúdos que circulam no meio jornalístico.
Outro aspecto para o qual Dalla Costa (2012) nos chama a atenção,
diz respeito ao processo de produção da notícia, processo esse que pode ser
comparado, segundo o autor, ao processo de produção de qualquer outra
mercadoria. Assim, as notícias devem seguir a lógica da produção eficiente,
mantendo preferencialmente um baixo custo ou reduzindo-o ao máximo. E, por
fim, o autor comenta ainda sobre o terceiro aspecto a considerar: a relação dos
proprietários dos jornais com o poder político instituído. Sobre isso, Bittencourt
(2004, p. 226) afirma que “sendo um meio de comunicação influente, o jornal tem
sido analisado em seu papel de formador da opinião pública ligado a interesses
variados e, como órgão da denominada “imprensa livre”, faz parte do jogo político
e do poder”. Desse modo, ressaltamos que “Tudo isso deve ser levado em conta
na hora de ler os jornais e também na hora de discutir as notícias desse meio de
comunicação em aulas de História” (DALLA COSTA, 2012, p. 122).
A relação entre quadrinhos e educação nem sempre foi das mais amigáveis,
entretanto, nossa escolha pelos quadrinhos se justifica na medida em que os
estudantes, em sua maioria, já possuem proximidade com essa linguagem.
Conforme menciona Carvalho (2006, p. 31), “seja pela atraente mistura de texto
e desenho, seja pelos diversos tipos de histórias ou, ainda, por heróis (e super-
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Ensino, Pesquisa e Realidade histórica
Isso significa que, para a utilização dos quadrinhos em sala de aula, continua
válida a recomendação já dada anteriormente: assim como as demais linguagens,
os quadrinhos não devem ser utilizados com finalidade apenas ilustrativa apenas.
A utilização dos quadrinhos em sala de aula, necessita, portanto, de planejamento
e de práticas que levem a resultados concretos em relação ao aprendizado. Para
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tanto, acreditamos que o primeiro passo, antes mesmo que o educador leve os
quadrinhos para a sala de aula, é conhecer a linguagem dos quadrinhos. Isso
porque, de acordo com Nicolazzi Júnior (2018, p. 88), “[…] a intenção é que os
estudantes sejam capazes de ler, interpretar e compreender os quadrinhos em
uma perspectiva histórica que implica posicionamento crítico diante da forma
analisada”.
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Diante de tudo o que conversamos até aqui, acredito que você tenha
conseguido perceber a viabilidade da utilização dos quadrinhos em sala de aula.
Aliás, não só os quadrinhos são possibilidades viáveis como recursos didáticos,
e por isso que acabamos por sugerir e incentivar a utilização das diferentes
linguagens no ensino de história: imagens, artes, cinema, propagandas, música,
entre outras. Todas essas linguagens podem ter um papel considerável no
processo educativo, mas, para tanto, é preciso que tanto docentes quanto
estudantes saibam como empregá-las e, mais importante do que isso, que
estejam dispostos a fazê-lo.
a) ( ) V – F – V – V.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) V – V – F – F.
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Para darmos continuidade a nossa conversa, optamos por dividir esse tópico
em duas partes, sendo que a primeira se destina à história oral, como possibilidade
de aprofundar o conteúdo, bem como refletir sobre as possibilidades de trabalho
em sala de aula. Vamos lá?
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História. Desde então, as práticas de ensino têm se aberto a toda uma diversidade
de metodologias que permitem abordar os temas a serem ensinados a partir de
diferentes abordagens, com diferentes linguagens e recursos.
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Na sala de aula, portanto, podemos nos utilizar de fontes orais como recurso
pedagógico. Podemos utilizar, por exemplo, histórias da escola ou de pessoas da
comunidade, mas também podem ser utilizadas entrevistas estruturadas ou não
com pessoas que ocupam algum lugar de destaque na comunidade, grupos de
migrantes, políticos, religiosos etc. Conforme sugerem Scarpin e Trevisan (2018),
na modalidade de história oral, sejam realizadas entrevistas com mais de uma
pessoa, de modo a contemplar um “quadro” de informações sobre um mesmo
evento, tema ou fato. As diferentes falas podem ser semelhantes, ou podem ser
complementares, mas esse cruzamento de informações se mostra interessante
na medida em que pode apresentar diferentes visões sobre um mesmo evento,
por exemplo.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final do terceiro e último capítulo. Gostaríamos de
aproveitar o momento para agradecer pelo caminho trilhado em conjunto, pelos
conhecimentos construídos, pelo diálogo travado com o saber. Foi um longo
trajeto percorrido e tínhamos como objetivos apresentar possibilidades de
encaminhamento metodológico para abordagem e utilização de documentos e das
diferentes linguagens em sala de aula, além analisar as diferentes abordagens
metodológicas, conceitos e conteúdos, visando a sua utilização destes como
ferramentas para o ensino de história.
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Por fim, dialogamos sobre as fontes não escritas e suas possibilidades para
o ensino de história, abordando especificamente a História Oral e os museus
como espaços educativos, sempre na sua relação com as possibilidades práticas
do ensino de história. Embora a oralidade tenha sido alijada pelos historiadores
por longo tempo, passou a ser valorizada a partir da década de 1980, quando
se percebeu seu potencial para “dar voz” às pessoas comuns e assim permitir
que determinados grupos, antes invisíveis, pudessem ser incluídos e valorizados
como “sujeitos da história.” Com a utilização da história oral em sala de aula, o
docente permite aos estudantes o contato com a história de grupos que muitas
vezes têm a sua história esquecida, inclusive com a história do seu próprio grupo
ou comunidade, permitindo a sua identificação com esses grupos, e valorizando
também a história local e regional.
Esperamos que essa leitura tenha sido útil e que todo esse nosso diálogo
tenha sido profícuo, no sentido de termos colaborado para sua formação
acadêmica e profissional.
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REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria; SILVA, André Chaves de Melo; ALVES, Ronaldo Cardoso.
Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
ALBERTI, Verena. Fontes orais: histórias dentro da História. In.: PINSKY, Carla
Bassanezi. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. 7. Ed. São Paulo:
contexto, 2002.
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 8 ed. São Paulo:
Contexto, 2012.
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FONSECA, Selva Guimarães. História local e fontes orais: uma reflexão sobre
saberes e práticas de ensino de História. Revista da Associação Brasileira de
História Oral, vol. 9, n. 1, jan-jun, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
HUBER, José Juan. ¿Como se enseña Historia? In.: ARENAS, Lorena Llanes
(coord.). Didáctica de la Historia para el siglo XXI. Colonia Florida, México:
Palabra de Clio, 2012.
131
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NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 5 ed. São Paulo:
Contexto, 2011.
OLIVEIRA, Maria Alice de. Como usar o jornal na sala de aula. 2 ed. São
Paulo: Contexto, 2009.
PINSKY, Jaime. Por que gostamos de História. São Paulo: Contexto, 2013.
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