Você está na página 1de 512

Prefeitura Municipal de

Ferraz de Vasconcelos/SP
Professor de Educação Básica I

Língua Portuguesa
Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). ....................................................1
Sinônimos e antônimos. Sentido próprio e figurado das palavras. ............................................................................3
Pontuação. ............................................................................................................................................................................4
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. ..............................................................................5
Concordância verbal e nominal. .................................................................................................................................... 31
Regência verbal e nominal. ............................................................................................................................................. 34
Colocação pronominal. .................................................................................................................................................... 38
Crase. .................................................................................................................................................................................. 39

Matemática
Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou
radiciação com números reais, nas suas possíveis representações ...........................................................................1
Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum .......................................................................................................3
Porcentagem ........................................................................................................................................................................4
Razão e proporção ..............................................................................................................................................................5
Regra de três simples ou composta .................................................................................................................................7
Equações do 1.º ou do 2.º graus ..................................................................................................................................... 10
Sistema de equações do 1.º grau ................................................................................................................................... 12
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa .............................. 14
Relação entre grandezas – tabela ou gráfico ............................................................................................................... 16
Tratamento da informação – médias aritméticas ....................................................................................................... 23
Noções de Geometria – forma, ângulos, área, perímetro, volume, Teoremas de Pitágoras ou de Tales ........... 25

Conhecimentos Pedagógicos
Relação entre educação, escola e sociedade: concepções de Educação e Escola; .....................................................1
Função social da escola; ......................................................................................................................................................8
Educação inclusiva e compromisso ético e social do educador. ............................................................................... 11
Gestão democrática: a participação como princípio. .................................................................................................. 15
Organização da escola centrada no processo de desenvolvimento pleno do educando. ..................................... 21
A integração entre educar e cuidar na educação básica. ............................................................................................ 29
Projeto político-pedagógico: fundamentos para a orientação, o planejamento e a implementação das ações
educativas da escola ......................................................................................................................................................... 40
Currículo e cultura: visão interdisciplinar e transversal do conhecimento. ........................................................... 47
Currículo: a valorização das diferenças individuais, de gênero, étnicas e socioculturais e o combate à
desigualdade. ..................................................................................................................................................................... 51
Currículo, conhecimento e processo de aprendizagem: as tendências pedagógicas na escola. .......................... 76
Currículo nas séries iniciais: a ênfase na competência leitora (alfabetização e letramento) e o desenvolvimento
dos saberes escolares da matemática e das diversas áreas de conhecimento. ...................................................... 85

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Currículo em ação: planejamento, seleção, contextualização e organização dos conteúdos; o trabalho por
projetos. .............................................................................................................................................................................. 98
A avaliação diagnóstica ou formadora e os processos de ensino e de aprendizagem. .......................................106
A mediação do professor, dialogal e problematizadora, no processo de aprendizagem e desenvolvimento do
aluno; a inerente formação continuada do educador ...............................................................................................116

Bibliografia
AGUIAR, Márcia Ângela da Silva [et. al.]. Conselho Escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com
igualdade social. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. ....................................1
ARÊAS, Celina Alves. A função social da escola. Conferência Nacional da Educação Básica. AUAD, Daniela.
Educar meninas e meninos – relações de gênero na escola. São Paulo: Editora Contexto, 2016. .........................5
CASTRO, Jane Margareth; REGATTIERI, Marilza. Relações Contemporâneas Escola-Família. p. 28-32. In:
CASTRO, Jane Margareth; REGATTIERI, Marilza. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares.
Brasília: UNESCO, MEC, 2009. ............................................................................................................................................6
COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 1999. (Capítulos 4 e 5). .......................8
CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez Editora, 2002. (Capítulos 3 e 7)................ 10
DE LA TAILLE, Y., OLIVEIRA, M.K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão.
São Paulo: Summus, 1992. ............................................................................................................................................... 12
DELIZOICOV. Demétrio; ANGOTTI, José André. Metodologia do ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994.
(Capítulo II: unidades 2 e 3; Capítulo III: unidades 4 e 5). ......................................................................................... 15
DOWBOR, Ladislau. Educação e apropriação da realidade local. Estud. av. [online].2007, vol.21, nº 60, pp. 75-
90. ......................................................................................................................................................................................... 17
FONTANA, Roseli Ap. Cação. Mediação Pedagógica em sala de aula. Campinas: Editora Autores Associados,
1996 (Primeiro tópico da Parte I – A gênese social da conceitualização). .............................................................. 24
GARCIA, Lenise Aparecida Martins. Transversalidade e Interdisciplinaridade. .................................................... 27
HOFFMAN, Jussara. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento In:
SE/SP/FDE. Revista IDEIAS nº 22, pág. 51 a 59. .......................................................................................................... 28
JÓFOLI, Zélia. A construção do conhecimento: papel do educador, do educando e da sociedade. In: Educação:
Teorias e Práticas, ano 2, nº 2, Recife: Universidade Católica de Pernambuco, p. 191 – 208. ............................. 32
LERNER, Delia. A matemática na escola – aqui e agora. Porto Alegre: Artmed, 1995. ......................................... 36
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. 1ª Edição – Porto Alegre, Artmed,
2002. .................................................................................................................................................................................... 37
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
Cortez, 2003, capítulo III, da 4ª Parte. ........................................................................................................................... 42
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Abrindo as escolas às diferenças, capítulo 5, in: MANTOAN, Maria Teresa Eglér
(org.) Pensando e Fazendo Educação de Qualidade. São Paulo: Moderna, 2001. MORAN, José. A aprendizagem
de ser educador.. ............................................................................................................................................................... 47
MOURA, Daniela Pereira de. Pedagogia de Projetos: contribuições para uma educação transformadora.
Publicado em: 29/10/2010. ............................................................................................................................................ 51
PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia de História e Geografia. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulos 1, 2 e 3)..
.............................................................................................................................................................................................. 54
PIAGET, Jean. Desenvolvimento e aprendizagem. Trad. Paulo Francisco Slomp. UFRGS- PEAD 2009/1. ........ 59
PIMENTA, Selma, G.A. A Construção do Projeto Pedagógico na Escola de 1º Grau. Ideias nº 8. 1.990, p 17-
24. ......................................................................................................................................................................................... 64
QUEIROZ, Cecília T. A. P. de; MOITA, Filomena M. G. da S.C. Fundamentos sócio-filosóficos da educação.
Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007. (MEC/SEB/SEED). ............................................................................. 68
RESENDE, L. M. G. de. A perspectiva multicultural no projeto político-pedagógico. In: VEIGA, Ilma Passos
Alencastro. Escola: espaço do projeto político-pedagógico. Campinas: Papirus, 1998. ....................................... 71
RIOS, Teresinha Azeredo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2001. .............................................................. 77
ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva.
Brasília: Ministério da Educação. SEESP. Universidade Federal do Ceará. 2010. .................................................. 78
VASCONCELLOS, Celso. Construção do conhecimento em sala de aula. Libertad – Centro de Pesquisa, formação
e Assessoria Pedagógica. 14ª ed., 2002. ........................................................................................................................ 89
VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista. Revista do
Cogeime, nº 14, julho/99, pág. 15-38............................................................................................................................. 92
WEIZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática.. ...............................................................132

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Legislação
BRASIL. A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o Ensino Fundamental de nove anos. Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Básica. Brasília, 2009 .............................................................................................1
BRASIL. Constituição Federal/88 - artigos 205 a 214 e artigo 60 das Disposições Constitucionais Transitórias.
Emenda 14/96 ................................................................................................................................................................... 18
BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade.
Brasília, 2007 ..................................................................................................................................................................... 22
BRASIL. Lei Federal nº 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (atualizada): artigos 7º a 24, 53 a
69, 131 a 140 ...................................................................................................................................................................... 27
BRASIL. Lei Federal nº 9394, de 20/12/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada)
.............................................................................................................................................................................................. 33
BRASIL. Resolução CNE/CEB 04/2010 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica.
Brasília: CNE, 2010 ........................................................................................................................................................... 47
BRASIL. Resolução CNE/CEB 07/2010 - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9
(nove) anos. Brasília: CNE, 2010 .................................................................................................................................... 56
BRASIL. Resolução CNE/CEB 4/2009 - Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: CNE, 2009 .................................... 64
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução. Brasília:
MEC/SEF, 2ª ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 1 (Itens: Princípios e Fundamentos dos
Parâmetros Curriculares Nacionais e Orientação Didática) ..................................................................................... 66
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 2ª
ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 6 (1ª Parte) ..................................................................... 76
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física. Brasília:
MEC/SEF, 2ª ed. (1ª a 4ª série), Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Volume 7 (1ª Parte) ............................................. 86

Legislação Municipal
Lei Orgânica do Município de Ferraz de Vasconcelos. ..................................................................................................1
Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Ferraz de Vasconcelos - Lei Complementar n.º
167/2005... ......................................................................................................................................................................... 22
Estatuto do Magistério Municipal - Lei Complementar n.o 227/2009 e alterações introduzidas pela Lei
Complementar n.º 315/2016. ........................................................................................................................................ 41

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
A apostila OPÇÃO não está vinculada a empresa organizadora do concurso público a que se destina,
assim como sua aquisição não garante a inscrição do candidato ou mesmo o seu ingresso na carreira
pública.

O conteúdo dessa apostila almeja abordar os tópicos do edital de forma prática e esquematizada,
porém, isso não impede que se utilize o manuseio de livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios
que ampliem os conhecimentos do candidato, visando sua melhor preparação.

Atualizações legislativas, que não tenham sido colocadas à disposição até a data da elaboração da
apostila, poderão ser encontradas gratuitamente no site das apostilas opção, ou nos sites
governamentais.

Informamos que não são de nossa responsabilidade as alterações e retificações nos editais dos
concursos, assim como a distribuição gratuita do material retificado, na versão impressa, tendo em vista
que nossas apostilas são elaboradas de acordo com o edital inicial. Porém, quando isso ocorrer, inserimos
em nosso site, www.apostilasopcao.com.br, no link “erratas”, a matéria retificada, e disponibilizamos
gratuitamente o conteúdo na versão digital para nossos clientes.

Caso haja dúvidas quanto ao conteúdo desta apostila, o adquirente deve acessar o site
www.apostilasopcao.com.br, e enviar sua dúvida, que será respondida o mais breve possível, assim como
para consultar alterações legislativas e possíveis erratas.

Também ficam à disposição do adquirente o telefone (11) 2856-6066, dentro do horário comercial,
para eventuais consultas.

Eventuais reclamações deverão ser encaminhadas por escrito, respeitando os prazos instituídos no
Código de Defesa do Consumidor.

É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código
Penal.

Apostilas Opção, a opção certa para a sua realização.

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
LÍNGUA PORTUGUESA

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar
inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
Leitura e interpretação de relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
diversos tipos de textos (literários código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
e não literários). interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
dúvidas.
Interpretação de Texto
Uma interpretação de texto competente depende de
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
primeiro, algumas definições importantes:
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
Texto
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
televisão também são formas textuais. Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
Interlocutor conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
É a pessoa a quem o texto se dirige. contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
Texto-modelo do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente. autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando. certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…) praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado, leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
da sua vida.” Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
(Revista Capricho) interpretacao-texto.html
Modelo de Perguntas
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem Questões
é o seu interlocutor preferencial?
Um leitor jovem. O uso da bicicleta no Brasil

2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
a você identificar o interlocutor preferencial do texto? ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes. comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
A linguagem informal típica dos adolescentes. oferecem mais vantagens.
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
assunto; considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a prioridade sobre os automotores.
leitura; Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
menos duas vezes; não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
04) Inferir; e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
autor; favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
compreensão; claro, nos impostos.
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada No Brasil, está sendo implantado o sistema de
questão; compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las; o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a- parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
interpretacao-de-textos-em-provas/ ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a

Língua Portuguesa 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema (C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
espalhadas em pontos estratégicos.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção 04. Considere o cartum de Douglas Vieira.
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não Televisão
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte,
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas,
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes,
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br.
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para Adaptado)
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro,
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com É correto concluir que, de acordo com o cartum,
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos (A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro ou
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo. pela TV são equivalentes.
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) (B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma imaginação
mais ativa.
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de (C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém
locomoção nas metrópoles brasileiras que não sabe se distrair.
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra (D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto assistir
devido à falta de regulamentação. a um programa de televisão.
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido (E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo
incentivado em várias cidades. idêntico, embora ler seja mais prazeroso.
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela
maioria dos moradores. Leia o texto para responder às questões:
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os
demais meios de transporte. Propensão à ira de trânsito
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade
arriscada e pouco salutar. Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente
perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como
objetivos centrais do texto é clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do E com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas
ciclista. não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir, mas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é também se engajam num comportamento de risco – algumas até
mais seguro do que dirigir um carro. agem especificamente para irritar o outro motorista ou impedir
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta que este chegue onde precisa.
no Brasil. Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando um
locomoção se consolidou no Brasil. motorista a tomar decisões irracionais.
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocionante.
dar prioridade ao pedestre. Para muitos de nós, os carros são a extensão de nossa
personalidade e podem ser o bem mais valioso que possuímos.
03. Considere o cartum de Evandro Alves. Dirigir pode ser a expressão de liberdade para alguns, mas
Afogado no Trânsito também é uma atividade que tende a aumentar os níveis de
estresse, mesmo que não tenhamos consciência disso no
momento.
Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez que
entra no trânsito, você se junta a uma comunidade de outros
motoristas, todos com seus objetivos, medos e habilidades ao
volante. Os psicólogos Leon James e Diane Nahl dizem que um
dos fatores da ira de trânsito é a tendência de nos concentrarmos
em nós mesmos, descartando o aspecto comunitário do ato de
dirigir.
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito, o
Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsito não
são os congestionamentos ou mais motoristas nas ruas, e sim
como nossa cultura visualiza a direção agressiva. As crianças
aprendem que as regras normais em relação ao comportamento
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br) e à civilidade não se aplicam quando dirigimos um carro. Elas
podem ver seus pais envolvidos em comportamentos de disputa

Língua Portuguesa 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
ao volante, mudando de faixa continuamente ou dirigindo em - Oposição e antítese.
alta velocidade, sempre com pressa para chegar ao destino. O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia,
Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos palavra que também designa o emprego de sinônimos.
sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era descarregar
a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a descarga de Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos:
frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma situação de ira - Ordem e anarquia.
de trânsito, a descarga de frustrações pode transformar um - Soberba e humildade.
incidente em uma violenta briga. - Louvar e censurar.
Com isso em mente, não é surpresa que brigas violentas - Mal e bem.
aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas está
predisposta a apresentar um comportamento irracional quando A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido
dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a maior parte das oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/
pessoas fica emocionalmente incapacitada quando dirige. O que antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/
deve ser feito, dizem os psicólogos, é estar ciente de seu estado implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/
emocional e fazer as escolhas corretas, mesmo quando estiver anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial.
tentado a agir só com a emoção.
(Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.uol.com.br/ Sentido Próprio e Figurado das Palavras
furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013. Adaptado) Pela própria definição acima destacada podemos perceber
que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
05. Tomando por base as informações contidas no texto, é a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
correto afirmar que outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
(A) os comportamentos de disputa ao volante acontecem à ela traz (denominada significado).
medida que os motoristas se envolvem em decisões conscientes. Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
(B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são causadas assim:
pela constante preocupação dos motoristas com o aspecto - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
comunitário do ato de dirigir. que costumamos dar a uma palavra.
(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas é - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma direção podemos dar a uma palavra.
agressiva. Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de contextos:
experiências e atividades não só individuais como também 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
sociais. 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle das adota condutas pouco apreciáveis)
emoções positivas por parte dos motoristas. 3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
sobre alguma coisa, “expert”)
Respostas No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum
1. (B) / 2. (A) / 3. (D) / 4. (B) / 5. (D) (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido
figurado.
Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
Sinônimos e antônimos. Sentido concreta) pode ter vários significados (conceitos).
próprio e figurado das palavras.
Fonte:
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm-
sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html
Significação das palavras
Questões
Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como 01. McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das
sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente mídias eletrônicas não implica necessariamente harmonia,
com a ideia associada a este conjunto. implica, sim, que cada participante das novas mídias terá um
envolvimento gigantesco na vida dos demais membros, que terá
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. a chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que
Exemplo: quiser das informações que conseguir. A aclamada transparência
- Alfabeto, abecedário. da coisa pública carrega consigo o risco de fim da privacidade
- Brado, grito, clamor. e a superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. participar.
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, apenas
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os em número de atualizações nas páginas e na capacidade dos
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por usuários de distinguir essas variações como relevantes no
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não conjunto virtualmente infinito das possibilidades das redes. Para
pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, achar o fio de Ariadne no labirinto das redes sociais, os usuários
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios precisam ter a habilidade de identificar e estimar parâmetros,
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem aprender a extrair informações relevantes de um conjunto finito
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética de observações e reconhecer a organização geral da rede de que
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). participam.
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, O fluxo de informação que percorre as artérias das redes
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos
- Adversário e antagonista. recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens
- Translúcido e diáfano. a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem
- Semicírculo e hemiciclo. conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
- Contraveneno e antídoto. sentimento de pânico experimentados por um número crescente
- Moral e ética. de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo móvel ou
- Colóquio e diálogo. quando ficam sem conexão com a Internet. Essa informação,
- Transformação e metamorfose. como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir os poros da

Língua Portuguesa 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto um veneno 2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr.
para o espírito.
(Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. Ponto e Vírgula ( ; )
Revista USP, no 92. Adaptado) 1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
importância.
As expressões destacadas nos trechos –  meter o bedelho -  “Os pobres dão pelo pão o  trabalho; os ricos dão pelo pão
/ estimar  parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de
adequados respectivamente em: nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
a) procurar / gostar de / ilustrar
b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer 2- Separa partes de frases que já estão separadas por
c) interferir / propor / embrutecer vírgulas.
d) intrometer-se / prezar / esclarecer - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio
e) contrapor-se / consolidar / iluminar e cobertor.

02. A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam- decreto de lei, etc.
se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante, - Ir ao supermercado;
naquele armistício transitório, uma legião desarmada, - Pegar as crianças na escola;
mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o - Caminhada na praia;
das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela - Reunião com amigos.
gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres
bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os Dois pontos
rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos 1- Antes de uma citação
em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória - Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele
triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente 2- Antes de um aposto
compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de - Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde
milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana – e calor à noite.
do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda,
passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
molambos... - Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender rotina de sempre.
uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, 4- Em frases de estilo direto
moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma  Maria perguntou:
fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris - Por que você não toma uma decisão?
desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos
aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando; Ponto de Exclamação
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de 1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e súplica, etc.
mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante. - Sim! Claro que eu quero me casar com você!

(CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 2- Depois de interjeições ou vocativos


Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.) - Ai! Que susto!
- João! Há quanto tempo!
Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de sinônimos?
a) Armistício – destruição Ponto de Interrogação
b) Claudicante – manco Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
c) Reveses – infortúnios “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
d) Fealdade – feiura Reticências
e) Opilados – desnutridos 1- Indica que palavras foram suprimidas.
- Comprei lápis, canetas, cadernos...
Respostas
01. B\02. A 2- Indica interrupção violenta da frase.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
Pontuação. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Este mal... pega doutor?

Pontuação 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito


- Deixa, depois, o coração falar...
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar Vírgula
especificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais Não se usa vírgula
funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua *separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se
portuguesa. diretamente entre si:

Ponto a) entre sujeito e predicado.


1- Indica o término do discurso ou de parte dele. Todos os alunos da sala    foram advertidos. 
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que Sujeito                            predicado
se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. b) entre o verbo e seus objetos.
O trabalho custou            sacrifício             aos realizadores. 
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.              V.T.D.I.              O.D.                      O.I.

Língua Portuguesa 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
c) entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
adnominal. C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
A surpreendente reação do governo contra os sonegadores D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
despertou reações entre os empresários. E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula.
adj. adnominal nome adj. adn. complemento nominal
03. Os sinais de pontuação estão empregados corretamente
Usa-se a vírgula: em:
A) Duas explicações, do treinamento para consultores
- Para marcar intercalação: iniciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de
vem caindo de preço. vendas associadas aos dois temas.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão B) Duas explicações do treinamento para consultores
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos. iniciantes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias de tabelas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de
não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir vendas associadas aos dois temas.
mão dos lucros altos. C) Duas explicações do treinamento para consultores
iniciantes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para marcar inversão: de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): vendas associadas aos dois temas.
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas. D) Duas explicações do treinamento para consultores
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos iniciantes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. de tabelas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio vendas associadas aos dois temas.
de 1982. E) Duas explicações, do treinamento para consultores
iniciantes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de
em enumeração): vendas associadas aos dois temas.
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. 04. Assinale a alternativa em que o período, adaptado da
revista Pesquisa Fapesp de junho de 2012, está correto quanto à
- Para marcar elipse (omissão) do verbo: regência nominal e à pontuação.
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. (A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais
- Para isolar: notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em
outros.
- o aposto: (B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente
São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais
trânsito caótico. notável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em
outros.
- o vocativo: (C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente
Ora, Thiago, não diga bobagem. seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
notável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em
Questões outros.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
01. Assinale a alternativa em que a pontuação está seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
corretamente empregada, de acordo com a norma-padrão da notável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em
língua portuguesa. outros.
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente,
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em
ajudar a revelar quem era a sua dona. outros.
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora Resposta
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou 1-C 2-C 3-B 4-D
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse
ajudar a revelar quem era a sua dona. Classes de palavras: substantivo,
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora
adjetivo, numeral, pronome,
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse verbo, advérbio, preposição e
ajudar a revelar quem era a sua dona. conjunção: emprego e sentido
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora que imprimem às relações que
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou estabelecem.
a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse
ajudar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, Classes de Palavras
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse Artigo
ajudar a revelar quem era a sua dona.
Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica
02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a se ele está sendo empregado de maneira definida ou indefinida.
ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o
da frase abaixo: número dos substantivos.
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem
ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o trabalho Classificação dos Artigos
oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter. Artigos Definidos: determinam os substantivos de maneira
A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal.

Língua Portuguesa 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Artigos Indefinidos:  determinam os substantivos - Não se deve usar artigo antes das palavras casa (no sentido
de maneira vaga:  um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu de lar, moradia) e terra (no sentido de chão firme), a menos que
matei um animal. venham especificadas.
Eles estavam em casa.
Combinação dos Artigos Eles estavam na casa dos amigos.
É muito presente a combinação dos artigos definidos e Os marinheiros permaneceram em terra.
indefinidos com preposições. Este quadro apresenta a forma Os marinheiros permanecem na terra dos anões.
assumida por essas combinações:
- Não se emprega artigo antes dos pronomes de tratamento,
Preposições Artigos com exceção de senhor(a), senhorita e dona.
- o, os Vossa excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria.
a ao, aos - Não se une com preposição o artigo que faz parte do nome
de do, dos de revistas, jornais, obras literárias.
Li a notícia em O Estado de S. Paulo.
em no, nos
por (per) pelo, pelos Morfossintaxe
a, as um, uns uma, umas Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas relações
à, às - - com o substantivo. Assim, nas orações da língua portuguesa,
o artigo exerce a função de adjunto adnominal do substantivo
da, das dum, duns duma, dumas a que se refere. Tal função independe da função exercida pelo
na, nas num, nuns numa, numas substantivo:
pela, pelas - - A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia.
- As formas à e às indicam a fusão da preposição  a com o
artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhecida Questões
por crase.
01. Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:
Constatemos as circunstâncias em que os artigos se A) Estes são os candidatos que lhe falei.
manifestam: B) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
C) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
- Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do numeral D) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
“ambos”: E) Muito é a procura; pouca é a oferta.
Ambos os garotos decidiram participar das olimpíadas.
02. Em qual dos casos o artigo denota familiaridade?
- Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do A) O Amazonas é um rio imenso.
artigo, outros não: B) D. Manuel, o Venturoso, era bastante esperto.
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... C) O Antônio comunicou-se com o João.
D) O professor João Ribeiro está doente.
- Quando indicado no singular, o artigo definido pode indicar E) Os Lusíadas são um poema épico
toda uma espécie:
O trabalho dignifica o homem. 03.Assinale a alternativa em que o uso do artigo está
substantivando uma palavra.
- No caso de nomes próprios personativos, denotando a ideia A) A liberdade vai marcar a poesia social de Castro Alves.
de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do artigo: B) Leitor perspicaz é aquele que consegue ler as entrelinhas.
O Pedro é o xodó da família. C) A navalha ia e vinha no couro esticado.
D) Haroldo ficou encantado com o andar de bailado de Joana.
- No caso de os nomes próprios personativos estarem no E) Bárbara dirigia os olhos para a lua encantada.
plural, são determinados pelo uso do artigo:
Os Maias, os Incas, Os Astecas... Respostas
1-B / 2-C / 3-D
- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) para
conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o artigo), o Substantivo
pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados. a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam
(qualquer classe) os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos
também nomeiam:
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é facultativo: -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo. -sentimentos: raiva, amor...
- A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia de -estados: alegria, tristeza...
aproximação numérica: -qualidades: honestidade, sinceridade...
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. -ações: corrida, pescaria...
- O artigo também é usado para substantivar palavras Morfossintaxe do substantivo
oriundas de outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua
- Nunca deve ser usado artigo depois do pronome relativo como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto
cujo (e flexões). direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar
Este é o homem cujo amigo desapareceu. como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como
Este é o autor cuja obra conheço. núcleo do predicativo do sujeito ou do objeto ou como núcleo
do vocativo. Também encontramos substantivos como núcleos

Língua Portuguesa 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quando essas (enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie
funções são desempenhadas por grupos de palavras.  (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Classificação dos Substantivos
Substantivo Coletivo:  é o substantivo comum que, mesmo
1-  Substantivos Comuns e Próprios estando no singular, designa um conjunto de seres da mesma
Observe a definição: espécie.
Formação dos Substantivos
s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas casas e edifícios, Substantivos Simples e Compostos
dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a sede de município
é cidade). 2. O centro de uma cidade (em oposição aos bairros). Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra.

Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e O substantivo chuva é formado por um único elemento ou
edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada  cidade. radical. É um substantivo simples.
Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum. Substantivo Simples:  é aquele formado por um único
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de uma elemento.
mesma espécie de forma genérica. Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:
cidade, menino, homem, mulher, país, cachorro. O substantivo guarda-chuva é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Estamos voando para Barcelona. Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou mais
elementos.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
cidade. Esse substantivo é  próprio. Substantivo Próprio:  é  
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de forma Substantivos Primitivos e Derivados
particular. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de
2 - Substantivos Concretos e Abstratos nenhum outro dentro de língua portuguesa.
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
LÂMPADA MALA outra palavra da própria língua portuguesa.
O substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
Os substantivos lâmpada e mala  designam seres com da palavra limão.
existência própria, que são independentes de outros seres. São Substantivo Derivado:  é aquele que se origina de outra
assim, substantivos concretos. palavra.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
independentemente de outros seres. Flexão dos substantivos
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por exemplo,
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo pode sofrer variações para indicar:
real e do mundo imaginário. Plural: meninos
Feminino: menina
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasília, Aumentativo: meninão
etc. Diminutivo: menininho
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc.
  Flexão de Gênero
Observe agora: Gênero  é a propriedade que as palavras têm de indicar
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa,
Beleza exposta há dois gêneros:  masculino  e  feminino. Pertencem ao
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual. gênero masculino os substantivos que podem vir precedidos dos
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes:
O substantivo beleza designa uma qualidade. O velho e o mar
Substantivo Abstrato:  é aquele que designa seres que Um Natal inesquecível
dependem de outros para se manifestar ou existir. Os reis da praia
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser  
observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem
que seja bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
Portanto, a palavra beleza é um substantivo abstrato. A história sem fim
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, Uma cidade sem passado
ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, As tartarugas ninjas
e sem os quais não podem existir.
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(sentimento).  
Substantivos Biformes (= duas formas):  ao indicar nomes
3 - Substantivos Coletivos de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o
abelha, mais outra abelha. masculino e outra para o feminino. Observe: gato – gata, homem
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o
repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra feminino. Classificam-se em:
abelha... - Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos.
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural. a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular fêmea.

Língua Portuguesa 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
- Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas. Outros substantivos sobrecomuns:
a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
o indivíduo. criatura.
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O
- Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por cônjuge de Marcela faleceu
meio do artigo.
o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista. Comuns de Dois Gêneros:
Saiba que:
- Substantivos de origem grega terminados em ema ou oma, Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
são masculinos. Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
o axioma, o fonema, o poema, o sistema, o sintoma, o teorema. É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma vez
- Existem certos substantivos que, variando de gênero, que a palavra motorista é um substantivo uniforme. O restante
variam em seu significado. da notícia informa-nos de que se trata de um homem.
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora) o A distinção de gênero pode ser feita através da análise do
capital (dinheiro) e a capital (cidade) artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substantivo.
o colega - a colega
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes um jovem - uma jovem
a) Regra geral: troca-se a terminação -o por -a. artista famoso - artista famosa
aluno - aluna
- A palavra personagem é usada indistintamente nos dois
b) Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao gêneros.
masculino. a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
freguês - freguesa preferência pelo masculino:
O menino descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
c) Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de três carochinha.
formas: b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino:
- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa O problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã a personagem.
- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona Não cheguei assim, nem era minha intenção, a criar uma
personagem.
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão - sultana - Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte.
d) Substantivos terminados em -or:
- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora Observe o gênero dos substantivos seguintes:
- troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Masculinos
e) Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: o tapa
cônsul - consulesa abade - abadessa poeta - poetisa o eclipse
duque - duquesa conde - condessa profeta - profetisa o lança-perfume
o dó (pena)
f) Substantivos que formam o feminino trocando o -e final o sanduíche
por -a: o clarinete
elefante - elefanta o champanha
o sósia
g) Substantivos que têm radicais diferentes no masculino e o maracajá
no feminino: o clã
bode – cabra boi - vaca o hosana
o herpes
h) Substantivos que formam o feminino de maneira especial, o pijama
isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
czar – czarina réu - ré Femininos
a dinamite
Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes a áspide
a derme
- Epicenos: a hélice
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a alcíone
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre a filoxera
porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar a clâmide
o masculino e o feminino. a omoplata
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para a cataplasma
designar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de a pane
epicenos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade a mascote
de especificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea. a gênese
A cobra macho picou o marinheiro. a entorse
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. a libido

Sobrecomuns: - São geralmente masculinos os substantivos de origem


grega terminados em -ma:
Entregue as crianças à natureza. o grama (peso)
A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo masculino, o quilograma
quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem o artigo nem o plasma
um possível adjetivo permitem identificar o sexo dos seres a que o apostema
se refere a palavra. Veja: o diagrama
A criança chorona chamava-se João. o epigrama
A criança chorona chamava-se Maria. o telefonema

Língua Portuguesa 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
o estratagema o nascente (lado onde nasce o Sol)
o dilema a nascente (a fonte)
o teorema
o apotegma Flexão de Número do Substantivo
o trema
o eczema Em português, há dois números gramaticais: o singular, que
o edema indica um ser ou um grupo de seres, e
o magma o plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A
característica do plural é o “s” final.
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Plural dos Substantivos Simples
Gênero dos Nomes de Cidades:
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n”
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos. fazem o plural pelo acréscimo de “s”.
A histórica Ouro Preto. pai – pais ímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no
A dinâmica São Paulo. plural).
A acolhedora Porto Alegre. Exceção: cânon - cânones.
Uma Londres imensa e triste.
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. “ns”.
homem - homens.
Gênero e Significação:
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
Muitos substantivos têm uma significação no masculino e pelo acréscimo de “es”.
outra no feminino. revólver – revólveres raiz - raízes
Observe: Atenção: O plural de caráter é caracteres.

o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à frente no plural, trocando o “l” por “is”.
de um bloco carnavalesco, manejando um bastão) quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
proibição de trânsito)
e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas
o cabeça (chefe) maneiras:
a cabeça (parte do corpo) - Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
o cisma (separação religiosa, dissidência) Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas
a cisma (ato de cismar, desconfiança) maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).

o cinza (a cor cinzenta) f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas


a cinza (resíduos de combustão) maneiras:
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo
o capital (dinheiro) de “es”: ás – ases / retrós - retroses
a capital (cidade) - Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis:
o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
o coma (perda dos sentidos)
a coma (cabeleira) g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três
maneiras.
o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro) - substituindo o -ão por -ões: ação - ações
a coral (cobra venenosa) - substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
o crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o
de outros sacramentos) látex - os látex.
a crisma (sacramento da confirmação)
Plural dos Substantivos Compostos
o cura (pároco) A formação do plural dos substantivos compostos depende
a cura (ato de curar) da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam
o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que
o estepe (pneu sobressalente) são grafados sem hífen comportam-se como os substantivos
a estepe (vasta planície de vegetação) simples:
aguardente e aguardentes girassol e girassóis
o guia (pessoa que guia outras) pontapé e pontapés malmequer e malmequeres
a guia (documento, pena grande das asas das aves)
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são
o grama (unidade de peso) ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões.
a grama (relva) Algumas orientações são dadas a seguir:

o caixa (funcionário da caixa) a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:


a caixa (recipiente, setor de pagamentos) substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos
o lente (professor) adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
a lente (vidro de aumento) numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras

o moral (ânimo) b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando


a moral (honestidade, bons costumes, ética) formados de:

Língua Portuguesa 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas os jipes os esportes
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto- as toaletes os bibelôs
falantes os garçons os réquiens
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
Observe o exemplo:
c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando Este jogador faz gols toda vez que joga.
formados de: O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-
colônia e águas-de-colônia Plural com Mudança de Timbre
substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-
vapor e cavalos-vapor Certos substantivos formam o plural com mudança de
substantivo + substantivo que funciona como determinante timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético
do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo chamado metafonia (plural metafônico).
anterior.
palavra-chave - palavras-chave
bomba-relógio - bombas-relógio Singular Plural Singular Plural
notícia-bomba - notícias-bomba corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
homem-rã - homens-rã esforço esforços ovo ovos
fogo fogos poço poços
d) Permanecem invariáveis, quando formados de: forno fornos porto portos
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora fosso fossos posto postos
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas imposto impostos rogo rogos
olho olhos tijolo tijolos
e) Casos Especiais
o louva-a-deus e os louva-a-deus
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos,
o bem-te-vi e os bem-te-vis
esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
o bem-me-quer e os bem-me-queres
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
o joão-ninguém e os joões-ninguém.
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
Plural das Palavras Substantivadas
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
a) Há substantivos que só se usam no singular:
gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as
o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
flexões próprias dos substantivos.
Pese bem os prós e os contras.
b) Outros só no plural:
O aluno errou na prova dos noves.
as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
(naipes de baralho), as fezes.
Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não
variam no plural.
c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez.
bem (virtude) e bens (riquezas)
honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem,
Plural dos Diminutivos
títulos)
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
acrescenta-se o sufixo diminutivo.
sentido de plural:
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
Aqui morreu muito negro.
animai(s) + zinhos = animaizinhos
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
improvisadas.
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
Flexão de Grau do Substantivo
tren(s) + zinhos = trenzinhos
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
flore(s) + zinhas = florezinhas
mão(s) + zinhas = mãozinhas
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
normal. Por exemplo: casa
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
pé(s) + zitos = pezitos
Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
Plural dos Nomes Próprios Personativos
indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre
aumento. Por exemplo: casarão.
que a terminação preste-se à flexão.
- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
Os Napoleões também são derrotados.
Pode ser:
As Raquéis e Esteres.
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que
indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Plural dos Substantivos Estrangeiros
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
diminuição. Por exemplo: casinha.
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
como na língua original, acrescentando -se “s” (exceto quando
terminam em “s” ou “z”).
Questões
os shows os shorts os jazz
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com
01. A flexão de número do termo “preços-sombra” também
as regras de nossa língua:
ocorre com o plural de
os clubes os chopes

Língua Portuguesa 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
(A) reco-reco. Espanha hispano- / Por exemplo: Mercado hispano-
(B) guarda-costa. português
(C) guarda-noturno.
(D) célula-tronco. Europa euro- / Por exemplo: Negociações euro-
(E) sem-vergonha. americanas
França franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões
02. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam
franco-italianas
flexionadas de acordo com a norma-padrão.
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo-
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
portuguesas
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos! Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo-
portuguesa
03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está
Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-
errada:
brasileiras
A) Catalães.
B) Cidadãos. Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
C) Vulcães.
D) Corrimões. Flexão dos adjetivos
Respostas
1-D / 2-D / 3-C O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Adjetivo Gênero dos Adjetivos

Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem
característica do ser e se relaciona com o substantivo. (masculino e feminino). De forma semelhante aos substantivos,
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos classificam-se em: 
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa outra para o feminino.
bondosa.
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade, Por exemplo: ativo e ativa, mau e má, judeu e judia.
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
moça bondade, pessoa bondade.  Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo. somente o último elemento.
Por exemplo: o moço norte-americano, a moça norte-
Morfossintaxe do Adjetivo: americana. 
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como adjunto Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como
adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto). para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no
Adjetivo Pátrio feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe político-social.
alguns deles:
Estados e cidades brasileiros: Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples


Alagoas alagoano
Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo com
Amapá amapaense as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos
simples.
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Por exemplo:
Amazonas amazonense ou baré mau e maus
feliz e felizes
Belo Horizonte belo-horizontino
ruim e ruins
Brasília brasiliense boa e boas
Cabo Frio cabo-friense Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função
Campinas campineiro ou campinense de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que estiver
qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo,
Adjetivo Pátrio Composto  ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra  cinza  é
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro originalmente um substantivo; porém, se estiver qualificando
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita. um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável.
Observe alguns exemplos: Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Veja outros exemplos:
África afro- / Por exemplo: Cultura afro-americana Motos vinho (mas: motos verdes)
Alemanha germano- ou teuto- / Por exemplo: Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Competições teuto-inglesas Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
América américo- / Por exemplo: Companhia Adjetivo Composto
américo-africana
Bélgica belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo- É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente,
franceses esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam
China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses na forma masculina, singular. Caso um dos elementos que

Língua Portuguesa 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, Superlativo
todo o adjetivo composto ficará invariável. Por exemplo:  a
palavra rosa é originalmente um substantivo, porém, se estiver O superlativo expressa qualidades num grau muito
qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se elevado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser
ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; absoluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades:
como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro Superlativo Absoluto:  ocorre quando a qualidade de um
ficará invariável. Por exemplo: ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apresenta-se
nas formas:
Camisas rosa-claro. Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de palavras
Ternos rosa-claro. que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo: O
Olhos verde-claros. secretário é muito inteligente.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. Sintética: a intensificação se faz por meio do acréscimo de
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. sufixos.
Por exemplo:
Observe O secretário é inteligentíssimo.
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo
composto iniciado por cor-de-... são sempre invariáveis. Observe alguns superlativos sintéticos: 
- O adjetivo composto pele-vermelha têm os dois elementos
flexionados.
benéfico beneficentíssimo
Grau do Adjetivo bom boníssimo ou ótimo

Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a comum comuníssimo


intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: cruel crudelíssimo
o comparativo e o superlativo.
difícil dificílimo
Comparativo doce dulcíssimo

Nesse grau, comparam-se a mesma característica fácil facílimo


atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais características fiel fidelíssimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igualdade,
de superioridade ou de inferioridade. Observe os exemplos Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser
abaixo: é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação
pode ser:
1) Sou tão alto como você.  = Comparativo de Igualdade De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
No comparativo de igualdade, o segundo termo da De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão.
Note bem:
2) Sou  mais alto  (do) que  você.  = Comparativo de 1)  O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Superioridade Analítico dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc.,
No comparativo de superioridade analítico, entre os dois antepostos ao adjetivo.
substantivos comparados, um tem qualidade superior. A forma é 2)  O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas
analítica porque pedimos auxílio a “mais...do que” ou “mais...que”. formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem
vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo
3) O Sol é  maior (do) que  a Terra.  = Comparativo de latino +  um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por exemplo:
Superioridade Sintético fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.
A forma popular é constituída do radical do adjetivo
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de português + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. 3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo,
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas
São eles: seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável
bom-melhor hiato i-í.
pequeno-menor
mau-pior Questões
alto-superior
grande-maior 01. Leia o texto a seguir.
baixo-inferior
Violência epidêmica
Observe que: 
a) As formas menor e pior são comparativos de superioridade, A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
pois equivalem a mais pequeno e mais mau, respectivamente. possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes
b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas epidêmicas.
entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades
as formas analíticas mais bom, mais mau, mais grande e mais de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes
pequeno. centros urbanos e se dissemina pelo interior.
Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de As estratégias que as sociedades adotam para combater a
dois elementos. violência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito
Pedro é  mais grande  que pequeno -  comparação de duas pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços
qualidades de um mesmo elemento. ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras
enfermidades.
4) Sou  menos alto  (do) que  você.  = Comparativo de A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
Inferioridade nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
Sou menos passivo (do) que tolerante. agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de

Língua Portuguesa 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
seus desejos. Essa moça morava nos meus sonhos!
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que [qualificação do nome]
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao Grande parte dos pronomes não possuem significados
desenvolvimento psicológico pleno. fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de
A revisão de estudos científicos permite identificar três um contexto, o qual nos permite recuperar a referência exata
fatores principais na formação das personalidades com maior daquilo que está sendo colocado por meio dos pronomes no
inclinação ao comportamento violento: ato da comunicação. Com exceção dos pronomes interrogativos
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, e indefinidos, os demais pronomes têm por função principal
humilhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida. apontar para as pessoas do discurso ou a elas se relacionar,
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
transmitiram valores sociais altruísticos, formação moral e não dessa característica, os pronomes apresentam uma forma
lhes impuseram limites de disciplina. específica para cada pessoa do discurso.
3) Associação com grupos de jovens portadores de
comportamento antissocial. Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças [minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala]
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a [tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala]
violência crescente nas cidades.
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
resposta do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o [dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala]
criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver
preso. Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares variáveis  em gênero (masculino ou feminino) e em número
e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através
mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões do pronome seja coerente em termos de gênero e número
mais sólidas com o mundo do crime. (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo quando
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. este se apresenta ausente no enunciado.
Obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa,
aumentaremos o número de prisioneiros. As cadeias continuarão Fala-se de Roberta. Ele  quer participar do desfile
superlotadas. da nossa escola neste ano.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
criminalidade e tratar os que ingressaram nela. adequada]
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. [neste: pronome que determina “ano” = concordância
Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os adequada]
policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que [ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância
acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e inadequada]
construir cadeias novas para substituir as velhas.
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas Existem seis tipos de pronomes:  pessoais, possessivos,
preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los
na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das Pronomes Pessoais
práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento
artístico. São aqueles que substituem os substantivos, indicando
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”,
Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”,
corresponde a – características de epidemias. “eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo quem fala.
em destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada. Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
A) água fluvial – água da chuva. que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso
B) produção aurífera – produção de ouro. oblíquo.
C) vida rupestre – vida do campo.
D) notícias brasileiras – notícias de Brasília. Pronome Reto
E) costela bovina – costela de porco.
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença,
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto: exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito.
A) azul-celeste Nós lhe ofertamos flores.
B) azul-pavão
C) surda-muda Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero
D) branco-gelo (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal
Respostas flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o
1-B / 2-C quadro dos pronomes retos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular: eu
Pronome - 2ª pessoa do singular: tu
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele - 1ª pessoa do plural: nós
se refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de - 2ª pessoa do plural: vós
alguma forma. - 3ª pessoa do plural: eles, elas
A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
[substituição do nome] Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como
complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi
A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita! ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”,
[referência ao nome] comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua
formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os

Língua Portuguesa 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
na praça”, “Trouxeram-me até aqui”. viram + o: viram-no
Obs.: frequentemente observamos a  omissão  do pronome repõe + os = repõe-nos
reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas retém + a: retém-na
verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do tem + as = tem-nas
verbo indicadas pelo pronome reto.
Fizemos boa viagem. (Nós) Pronome Oblíquo Tônico

Pronome Oblíquo Os pronomes oblíquos tônicos são sempre


precedidos por preposições, em geral as preposições a, para, de
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
indireto) ou complemento nominal. O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim
configurado:
Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função - 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
oração. - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico
Pronome Oblíquo Átono são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais
repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são - As preposições essenciais introduzem sempre pronomes
precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica  fraca. pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
Ele me deu um presente. contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os
pronomes costumam ser usados desta forma:
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado: Não há mais nada entre mim e ti.
- 1ª pessoa do singular (eu): me Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
- 2ª pessoa do singular (tu): te Não há nenhuma acusação contra mim.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe Não vá sem mim.
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
- 2ª pessoa do plural (vós): vos Atenção:
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes Há construções em que a preposição, apesar de surgir
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo
Observações: verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito
O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o reto.
pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar
diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
função de objeto indireto na oração. Não vá sem eu mandar.

Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos - A combinação da preposição  “com” e alguns pronomes


diretos como objetos indiretos. originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
objetos diretos. frequentemente exercem a função de  adjunto adverbial de
companhia.
Saiba que: Ele carregava o documento consigo.
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se
com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo, - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com
mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, no- nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados
la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas por palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou
nos exemplos que seguem: algum numeral.

Você terá de viajar com nós todos.


- Trouxeste o pacote? - Não contaram a novidade a Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
vocês? Ele disse que iria com nós três.
- Sim, entreguei-to ainda há - Não, no-la contaram.
pouco. Pronome Reflexivo

No português do Brasil, essas combinações não são usadas; São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem
até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.  como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração.
Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo
Atenção: verbo.
Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z,
-s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo - 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
tempo que a terminação verbal é suprimida. Eu não me vanglorio disso.
Por exemplo: fiz + o = fi-lo Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
fazei + o = fazei-os
dizer + a = dizê-la - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
Assim tu te prejudicas.
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume Conhece a ti mesmo.

Língua Portuguesa 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo
Guilherme já se preparou. na terceira pessoa.
Ela deu a si um presente. Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Antônio conversou consigo mesmo. cabelos. (errado)
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus
- 1ª pessoa do plural (nós): nos. cabelos. (correto)
Lavamo-nos no rio. Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
cabelos. (correto)
- 2ª pessoa do plural (vós): vos.
Vós vos beneficiastes com a esta conquista. Pronomes Possessivos

- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Eles se conheceram. (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa
Elas deram a si um dia de folga. possuída).
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)
A Segunda Pessoa Indireta
Observe o quadro:
A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando
utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso Número Pessoa Pronome
interlocutor ( portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na singular primeira meu(s), minha(s)
terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tratamento,
que podem ser observados no quadro seguinte: singular segunda teu(s), tua(s)
singular terceira seu(s), sua(s)
Pronomes de Tratamento
plural primeira nosso(s), nossa(s)
Vossa Alteza V. A. príncipes, duques plural segunda vosso(s), vossa(s)
Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos plural terceira seu(s), sua(s)
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e
oficiais-generais Note que: A forma do possessivo depende da pessoa
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
universidades o objeto possuído.
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas Ele trouxe  seu  apoio e  sua  contribuição naquele momento
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores difícil.
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento Observações:
cerimonioso
Vossa Onipotência V. O. Deus 1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar da
alteração fonética da palavra senhor.
Também são pronomes de tratamento o senhor, a - Muito obrigado, seu José.
senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados
no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse.
familiar. Você e vocês são largamente empregados no português Podem ter outros empregos, como:
do Brasil; em algumas regiões, a forma  tu  é de uso frequente; a) indicar afetividade.
em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à - Não faça isso, minha filha.
linguagem litúrgica, ultraformal ou literária. b) indicar cálculo aproximado.
Ele já deve ter seus 40 anos.
Observações: c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
a) Vossa Excelência X Sua Excelência:  os pronomes de Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
tratamento que possuem “Vossa (s)”  são empregados em
relação à pessoa com quem falamos. 3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este pronome possessivo fica na 3ª pessoa.
encontro. Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. concorda com o mais próximo.
Trouxe-me seus livros e anotações.
- Os pronomes de tratamento representam uma forma
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao 5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, átonos assumem valor de possessivo.
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
Pronomes Demonstrativos
b)  3ª pessoa:  embora os pronomes de tratamento dirijam-
se à  2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a
pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto.
pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou
na 3ª pessoa. discurso.
Basta que V. Ex.ª  cumpra  a terça parte das  suas  promessas,
para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. No espaço:
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro
c) Uniformidade de Tratamento:  quando escrevemos ou está perto da pessoa que fala.
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do Compro  esse  carro (aí). O pronome  esse  indica que o carro
texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que
por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não fala.

Língua Portuguesa 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro Pronomes Indefinidos
está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo. São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso,
  dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade
Atenção:  em situações de fala direta (tanto ao vivo quanto indeterminada.
por meio de correspondência, que é uma modalidade escrita de Alguém  entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
fala), são particularmente importantes o este e o esse - o primeiro plantadas.
localiza os seres em relação ao emissor; o segundo, em relação Não é difícil perceber que  “alguém”  indica uma pessoa
ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade. de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano
Dirijo-me a  essa  universidade com o objetivo de solicitar que seguramente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade não se quer revelar. 
destinatária).
Reafirmamos a disposição  desta  universidade em participar Classificam-se em:
no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universidade que
envia a mensagem). - Pronomes Indefinidos Substantivos:  assumem o lugar
do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São
No tempo: eles:  algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém,
Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se refere outrem, quem, tudo.
ao ano presente. Algo o incomoda?
Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere a Quem avisa amigo é.
um passado próximo.
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está se - Pronomes Indefinidos Adjetivos:  qualificam um ser
referindo a um passado distante. expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade
  aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou Cada povo tem seus costumes.
invariáveis, observe: Certas pessoas exercem várias profissões.

Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s). Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora
Invariáveis: isto, isso, aquilo. pronomes indefinidos adjetivos:
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que
te indiquei.) Menos palavras e mais ações.
- mesmo(s), mesma(s): Alguns se contentam pouco.
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
- próprio(s), própria(s): Os pronomes indefinidos podem ser divididos
Os próprios alunos resolveram o problema. em variáveis e invariáveis. Observe:

- semelhante(s): Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto,


Não compre semelhante livro. outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, vária,
- tal, tais: tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, nenhuns,
Tal era a solução para o problema. todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, algumas,
nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
Note que: Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo,
cada.
a)  Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em
construções redundantes, com finalidade expressiva, para São  locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
salientar algum termo anterior. Por exemplo: qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afonso. seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou
Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
b)  O pronome demonstrativo neutro  ou  pode representar Cada um escolheu o vinho desejado.
um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que
aparece, geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto. Indefinidos Sistemáticos
O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam.
c)  Para evitar a repetição de um verbo anteriormente Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer, percebemos que existem alguns grupos que criam oposição
chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido
de). afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo;
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse. todo/tudo,  que indicam uma totalidade afirmativa, e  nenhum/
d)  Em frases como a seguinte,  este  se refere à pessoa nada, que indicam uma totalidade negativa; alguém/ninguém,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro que se referem à pessoa, e  algo/nada, que se referem à coisa;
lugar. certo, que particulariza, e qualquer, que generaliza.
O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos íntimos; Essas oposições de sentido são muito importantes na
aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aquele casado] construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica. vezes dependem a solidez e a consistência dos argumentos
A menina foi a tal que ameaçou o professor? expostos. Observe nas frases seguintes a força que os pronomes
f) Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com indefinidos destacados imprimem às afirmações de que fazem
pronome demonstrativo:  àquele, àquela, deste, desta, disso, parte:
nisso, no, etc. Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
prático.
Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo) Certas  pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
pessoas quaisquer.

Língua Portuguesa 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Pronomes Relativos g)  “Onde”, como pronome relativo, sempre possui
São aqueles que representam nomes já mencionados antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar.
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as A casa onde morava foi assaltada.
orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema  que  afirma a superioridade de um h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
grupo racial sobre outros. que.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = Sinto saudades da época  em que  (quando)  morávamos no
oração subordinada adjetiva). exterior.
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e
introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “sistema” i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
é antecedente do pronome relativo que. - como (= pelo qual)
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome Não me parece correto o modo  como  você agiu semana
demonstrativo o, a, os, as. passada.
Não sei o que você está querendo dizer. - quando (= em que)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
expresso.
Quem casa, quer casa. j)  Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
Observe: O futebol é um esporte.
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, O povo gosta muito deste esporte.
cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas. O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
k)  Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
Note que: ocorrer a elipse do relativo “que”.
a)  O pronome  “que”  é o relativo de mais largo emprego, A sala estava cheia de gente que conversava,  (que)  ria,
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído (que) fumava.
por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for
um substantivo. Pronomes Interrogativos

O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).

b)  O qual, os quais, a qual  e  as quais são exclusivamente Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter preferes.
várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quantos
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza passageiros desembarcaram.
ou depois de determinadas preposições:
Sobre os pronomes:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o
qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de
ambiguidade.) sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando
desempenha função de complemento. Vamos entender,
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que
dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.) função exerce. Observe as orações:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-
refere a uma oração. lo.

Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
sua vocação natural. exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto.
Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo
d) O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente, função de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo.
mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais, Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso,
das quais. o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a
segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas. ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
(antecedente) (consequente) Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do
pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo
e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente “ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou
um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo: entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”)
estiver no infinitivo ou gerúndio.
Emprestei tantos quantos foram necessários. Eu desejo lhe perguntar algo.
(antecedente) Eu estou perguntando-lhe algo.

Ele fez tudo quanto havia falado. Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos:
(antecedente) os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente
dos segundos que são sempre precedidos de preposição.
f)  O pronome  “quem” se refere a pessoas e vem sempre - Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu
precedido de preposição. estava fazendo.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que
É um professor a quem muito devemos. eu estava fazendo.
(preposição)

Língua Portuguesa 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Questões (C) Apenas III.
(D) Apenas I e II.
01. Observe as sentenças abaixo. (E) I, II e III.
I. Esta é a professora de cuja aula todos os alunos gostam.
II. Aquela é a garota com cuja atitude discordei - tornamo- 03. Observe a charge a seguir.
nos inimigas desde aquele episódio.
III. A criança cuja a família não compareceu ficou inconsolável.

O pronome ‘cuja’ foi empregado de acordo com a norma


culta da língua portuguesa em:
(A) apenas uma das sentenças
(B) apenas duas das sentenças.
(C) nenhuma das sentenças.
(D) todas as sentenças.

02. Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou


que o que mais se faz no Facebook, depois de interagir com
amigos, é olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer.
Se você gostar do perfil, adicionará aquela pessoa, e estará
formado um vínculo. No final, todo mundo vira amigo de todo
mundo. Mas, não é bem assim. As redes sociais têm o poder de Em relação à charge acima, assinale a afirmativa inadequada.
transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam (A) A fala do personagem é uma modificação intencional de
o mesmo ambiente social, mas não são suas amigas) em elos uma fala de Cristo.
fracos – uma forma superficial de amizade. Pois é, por mais (B) As duas ocorrências do pronome “eles” referem-se a
que existam exceções _______qualquer regra, todos os estudos pessoas distintas.
mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet são (C) A crítica da charge se dirige às autoridades políticas no
mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem poder.
fora dela. (D) A posição dos braços do personagem na charge repete a
Isso não é inteiramente ruim. Os seus amigos do peito de Cristo na cruz.
geralmente são parecidos com você: pertencem ao mesmo (E) Os elementos imagísticos da charge estão distribuídos de
mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, não. Eles forma equilibrada.
transitam por grupos diferentes do seu e, por isso, podem lhe Respostas
apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes – gerando 01. A\02. E\03. B
uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos,
inclusive às amizades antigas. O problema é que a maioria das Verbo
redes na Internet é simétrica: se você quiser ter acesso às
informações de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com Verbo  é a classe de palavras que se flexiona em pessoa,
ela, é obrigado a pedir a amizade dela. Como é meio grosseiro número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
dizer “não” ________ alguém que você conhece, todo mundo acaba processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
adicionando todo mundo. E isso vai levando ________ banalização ocorrência (nascer); desejo (querer).
do conceito de amizade. O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
É verdade. Mas, com a chegada de sítios como o Twitter, ficou possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
diferente. Esse tipo de sítio é uma rede social completamente chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
assimétrica. E isso faz com que as redes de “seguidores” e verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
“seguidos” de alguém possam se comunicar de maneira muito possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
mais fluida. Ao estudar a sua própria rede no Twitter, o sociólogo
Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu Estrutura das Formas Verbais
que seus amigos tinham começado a se comunicar entre si
independentemente da mediação dele. Pessoas cujo único ponto Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
em comum era o próprio Christakis acabaram ficando amigas. apresentar os seguintes elementos:
No Twitter, eu posso me interessar pelo que você tem a dizer e
começar a te seguir. Nós não nos conhecemos. a)  Radical:  é a parte invariável, que expressa o significado
Mas você saberá quando eu o retuitar ou mencionar seu essencial do verbo. Por exemplo:
nome no sítio, e poderá falar comigo. Meus seguidores também fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-)
podem se interessar pelos seus tuítes e começar a seguir você.
Em suma, nós continuaremos não nos conhecendo, mas as b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a
pessoas que estão ________ nossa volta podem virar amigas entre conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
si.
Adaptado de: COSTA, C. C.. Disponível em: São três as conjugações:
<http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet- 1ª - Vogal Temática - A - (falar)
estamudando-amizade-619645.shtml>. 2ª - Vogal Temática - E - (vender)
3ª - Vogal Temática - I - (partir)
Considere as seguintes afirmações sobre a relação que se
estabelece entre algumas palavras do texto e os elementos a que c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o
se referem. tempo e o modo do verbo.
I. No segmento que nascem, a palavra que se refere a Por exemplo:
amizades. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.)
II. O segmento elos fracos retoma o segmento uma forma falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)
superficial de amizade.
III. Na frase Nós não nos conhecemos, o pronome Nós refere- d)  Desinência número-pessoal:  é o elemento que designa
se aos pronomes eu e você. a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou
plural).
Quais estão corretas? falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
(A) Apenas I. falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
(B) Apenas II.

Língua Portuguesa 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Observação:  o verbo pôr, assim como seus derivados Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a pessoais na linguagem figurada:
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver Teu irmão amadureceu bastante.
desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas do Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de
verbo: põe, pões, põem, etc. animais; eis alguns:
bramar: tigre
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas bramir: crocodilo
cacarejar: galinha
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos coaxar: sapo
verbos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com cricrilar: grilo
facilidade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no
radical do verbo: opino, aprendam,  nutro, por exemplo. Nas Os principais verbos unipessoais são:
formas arrizotônicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
na terminação verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos. ser (preciso, necessário, etc.).
Cumpre  trabalharmos bastante. (Sujeito:  trabalharmos
Classificação dos Verbos bastante.)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
Classificam-se em: É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
a) Regulares:  são aqueles que possuem as desinências 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações conjunção que.
no radical.
Faz  dez anos que deixei de fumar. (Sujeito:  que deixei de
Por exemplo: canto     cantei      cantarei     cantava      cantasse fumar.)
b) Irregulares:  são aqueles cuja flexão provoca alterações Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláudia.
no radical ou nas desinências. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Por exemplo: faço     fiz      farei     fizesse Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais. - Pessoais:  não apresentam algumas flexões por motivos
morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do
Normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que
principais verbos impessoais são: provavelmente causaria problemas de interpretação em certos
a)  haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se contextos.
ou fazer (em orações temporais). verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é
o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento e a
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) popularização da informática, tem sido conjugado em todos os
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. tempos, modos e pessoas.
Era primavera quando a conheci.
Estava frio naquele dia. d) Abundantes:  são aqueles que possuem mais de uma
forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares
são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal- curtas (particípio irregular). Observe:
humorado”, usa-se o verbo  “amanhecer”  em sentido figurado.
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, Infinitivo Particípio regular Particípio irregular
deixa de ser impessoal para ser pessoal.
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu) Anexar Anexado Anexo
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu) Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
d) São impessoais, ainda:
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo. Envolver Envolvido Envolto
Ex.: Já passa das seis. Imprimir Imprimido Impresso
2. os verbos  bastar  e  chegar, seguidos da preposição  de,
indicando suficiência. Ex.:  Matar Matado Morto
Basta de tolices. Chega de blasfêmias. Morrer Morrido Morto
3. os verbos  estar  e  ficar  em orações tais como  Está bem,
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal,  sem referência Pegar Pegado Pego
a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso, Soltar Soltado Solto
classificar o sujeito como  hipotético, tornando-se, tais verbos,
então, pessoais. e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser em sua conjugação.
possível”. Por exemplo: Por exemplo: 
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uns trocados? Ir Pôr Ser Saber
vou ponho sou sei
- Unipessoais:  são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se vais pus és sabes
apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. ides pôs fui soube
A fruta amadureceu. fui punha foste saiba
As frutas amadureceram.
foste seja

Língua Portuguesa 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
f) Auxiliares estiveras, ele estivera, nós estivéramos, vós estivéreis, eles
São aqueles que entram na formação dos tempos estiveram.
compostos e das locuções verbais. O verbo principal, quando Pretérito Mais-que-perfeito Composto: tinha estado
acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas Futuro do Presente Simples: eu estarei, tu estarás, ele
nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. estará, nós estaremos, vós estareis, eles estarão.
                         Futuro do Presente Composto: terei estado.
  Vou                       espantar           as          moscas. Futuro do Pretérito Simples: eu estaria, tu estarias, ele
(verbo auxiliar)       (verbo principal no infinitivo) estaria, nós estaríamos, vós estaríeis, eles estariam.
Futuro do Pretérito Composto: teria estado.
Está                    chegando            a         hora     do    debate.
(verbo auxiliar)      (verbo principal no gerúndio)                  ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
                   
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e Presente: que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja, que
haver. nós estejamos, que vós estejais, que eles estejam.
Pretérito Imperfeito: se eu estivesse, se tu estivesses, se
Conjugação dos Verbos Auxiliares ele estivesse, se nós estivéssemos, se vós estivésseis, se eles
estivessem.
SER - Modo Indicativo Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse estado
Futuro Simples: quando eu estiver, quando tu estiveres,
Presente: eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são. quando ele estiver, quando nós estivermos, quando vós
Pretérito Imperfeito: eu era, tu eras, ele era, nós éramos, estiverdes, quando eles estiverem.
vós éreis, eles eram. Futuro Composto: Tiver estado.
Pretérito Perfeito Simples: eu fui, tu foste, ele foi, nós
fomos, vós fostes, eles foram. Imperativo Afirmativo: está tu, esteja ele, estejamos nós,
Pretérito Perfeito Composto: tenho sido. estai vós, estejam eles.
Mais-que-perfeito simples: eu fora, tu foras, ele fora, nós Imperativo Negativo: não estejas tu, não esteja ele, não
fôramos, vós fôreis, eles foram. estejamos nós, não estejais vós, não estejam eles.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha sido. Infinitivo Pessoal: por estar eu, por estares tu, por estar ele,
Futuro do Pretérito simples: eu seria, tu serias, ele seria, por estarmos nós, por estardes vós, por estarem eles.
nós seríamos, vós seríeis, eles seriam.
Futuro do Pretérito Composto: terei sido. Formas Nominais
Futuro do Presente: eu serei, tu serás, ele será, nós seremos, Infinitivo: estar
vós sereis, eles serão. Gerúndio: estando
Futuro do Pretérito Composto: Teria sido. Particípio: estado

SER - Modo Subjuntivo ESTAR - Formas Nominais

Presente: que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós Infinitivo Impessoal: estar
sejamos, que vós sejais, que eles sejam. Infinitivo Pessoal: estar, estares, estar, estarmos, estardes,
Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, estarem.
se nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem. Gerúndio: estando
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse sido. Particípio: estado
Futuro Simples: quando eu for, quando tu fores, quando ele
for, quando nós formos, quando vós fordes, quando eles forem. HAVER - Modo Indicativo
Futuro Composto: tiver sido.
Presente: eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, eles
SER - Modo Imperativo hão.
Pretérito Imperfeito: eu havia, tu havias, ele havia, nós
Imperativo Afirmativo: sê tu, seja ele, sejamos nós, sede havíamos, vós havíeis, eles haviam.
vós, sejam eles. Pretérito Perfeito Simples: eu houve, tu houveste, ele
Imperativo Negativo: não sejas tu, não seja ele, não sejamos houve, nós houvemos, vós houvestes, eles houveram.
nós, não sejais vós, não sejam eles. Pretérito Perfeito Composto: tenho havido.
Infinitivo Pessoal: por ser eu, por seres tu, por ser ele, por Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu houvera, tu
sermos nós, por serdes vós, por serem eles. houveras, ele houvera, nós houvéramos, vós houvéreis, eles
houveram.
SER - Formas Nominais Pretérito Mais-que-Prefeito Composto: tinha havido.
Futuro do Presente Simples: eu haverei, tu haverás, ele
Formas Nominais haverá, nós haveremos, vós havereis, eles haverão.
Infinitivo: ser Futuro do Presente Composto: terei havido.
Gerúndio: sendo Futuro do Pretérito Simples: eu haveria, tu haverias, ele
Particípio: sido haveria, nós haveríamos, vós haveríeis, eles haveriam.
Futuro do Pretérito Composto: teria havido.
Infinitivo Pessoal : ser eu, seres tu, ser ele, sermos
nós, serdes vós, serem eles. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

ESTAR - Modo Indicativo Modo Subjuntivo


Presente: que eu haja, que tu hajas, que ele haja, que nós
Presente: eu estou, tu estás, ele está, nós estamos, vós estais, hajamos, que vós hajais, que eles hajam.
eles estão. Pretérito Imperfeito: se eu houvesse, se tu houvesses, se
Pretérito Imperfeito: eu estava, tu estavas, ele estava, nós ele houvesse, se nós houvéssemos, se vós houvésseis, se eles
estávamos, vós estáveis, eles estavam. houvessem.
Pretérito Perfeito Simples: eu estive, tu estiveste, ele Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse havido.
esteve, nós estivemos, vós estivestes, eles estiveram. Futuro Simples: quando eu houver, quando tu houveres,
Pretérito Perfeito Composto: tenho estado. quando ele houver, quando nós houvermos, quando vós
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu estivera, tu houverdes, quando eles houverem.

Língua Portuguesa 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Futuro Composto: tiver havido. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e
respectivos pronomes): 
Modo Imperativo Eu me arrependo 
Imperativo Afirmativo: haja ele, hajamos nós, havei vós, Tu te arrependes 
hajam eles. Ele se arrepende 
Imperativo Negativo: não hajas tu, não haja ele, não Nós nos arrependemos 
hajamos nós, não hajais vós, não hajam eles. Vós vos arrependeis 
Infinitivo Pessoal: por haver eu, por haveres tu, por haver Eles se arrependem
ele, por havermos nós, por haverdes vós, por haverem eles.
 - 2. Acidentais:  são aqueles verbos transitivos diretos em que
HAVER - Formas Nominais a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por
pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito
Infinitivo Impessoal: haver, haveres, haver, havermos, faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos
haverdes, haverem. transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser
Infinitivo Pessoal: haver conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se
Gerúndio: havendo chama voz reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava.
Particípio: havido A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo:  Maria
TER - Modo Indicativo penteou-me.
 
Presente: eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes, Observações:
eles têm. 1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes
Pretérito Imperfeito: eu tinha, tu tinhas, ele tinha, nós oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
tínhamos, vós tínheis, eles tinham. sintática.
Pretérito Perfeito Simples: eu tive, tu tiveste, ele teve, nós 2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes
tivemos, vós tivestes, eles tiveram. oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais,
Pretérito Perfeito Composto: tenho tido. são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes,
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu tivera, tu tiveras, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito,
ele tivera, nós tivéramos, vós tivéreis, eles tiveram. exercem funções sintáticas.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha tido. Por exemplo:
Futuro do Presente Simples: eu terei, tu terás, ele terá, nós Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto
teremos, vós tereis, eles terão. direto) - 1ª pessoa do singular
Futuro do Presente: terei tido.
Futuro do Pretérito Simples: eu teria, tu terias, ele teria, Modos Verbais
nós teríamos, vós teríeis, eles teriam.
Futuro do Pretérito composto: teria tido. Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo
verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três
TER - Modo Subjuntivo e Imperativo modos: 
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo:
Modo Subjuntivo Eu sempre estudo.
Presente: que eu tenha, que tu tenhas, que ele tenha, que Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por
nós tenhamos, que vós tenhais, que eles tenham. exemplo: Talvez eu estude amanhã.
Pretérito Imperfeito: se eu tivesse, se tu tivesses, se ele Imperativo  - indica uma ordem, um pedido. Por
tivesse, se nós tivéssemos, se vós tivésseis, se eles tivessem. exemplo: Estuda agora, menino.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse tido.
Futuro: quando eu tiver, quando tu tiveres, quando ele tiver, Formas Nominais
quando nós tivermos, quando vós tiverdes, quando eles tiverem.
Futuro Composto: tiver tido. Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas
que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
Modo Imperativo advérbio), sendo por isso denominadas  formas nominais.
Imperativo Afirmativo: tem tu, tenha ele, tenhamos nós, Observe: 
tende vós, tenham eles. - a) Infinitivo Impessoal:  exprime a significação do verbo
Imperativo Negativo: não tenhas tu, não tenha ele, não de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
tenhamos nós, não tenhais vós, não tenham eles. substantivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta)
Infinitivo Pessoal: por ter eu, por teres tu, por ter ele, por É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
termos nós, por terdes vós, por terem eles. O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente
(forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com É preciso ler este livro. Era preciso ter lido este livro.
os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma
pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais b) Infinitivo Pessoal:  é o infinitivo relacionado às três
acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não
sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja: apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal;
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os nas demais, flexiona- -se da seguinte maneira:
pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se,
ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos 2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita 1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.:termos (nós)
no radical do verbo. Por exemplo: 2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.:terdes (vós)
Arrependi-me de ter estado lá. 3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.:terem (eles)
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem
um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma, Por exemplo:
pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do
verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz- - c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou
se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva advérbio. Por exemplo: 
expressa pelo radical do próprio verbo.   Saindo  de casa, encontrei alguns amigos. (função de

Língua Portuguesa 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
advérbio) indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo) levará as encomendas.
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: ao momento atual mas já terminado antes de outro fato
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. futuro. Por exemplo:  Quando ele  tiver saído do hospital, nós o
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. visitaremos.

- d) Particípio:  quando não é empregado na formação dos Presente do Indicativo


tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação / Desinência
grau. Por exemplo: pessoal
Terminados os exames, os candidatos saíram. CANTAR VENDER PARTIR
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma cantO vendO partO O
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo cantaS vendeS parteS S
(adjetivo verbal). Por exemplo: canta vende parte -
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
Tempos Verbais cantaM vendeM parteM M

Tomando-se como referência o momento em que se fala, Pretérito Perfeito do Indicativo


a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
Veja: 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação/Desinência
pessoal
1. Tempos do Indicativo CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
- Presente  - Expressa um fato atual. Por exemplo: cantaSTE vendeSTE partISTE STE
Eu estudo neste colégio. cantoU vendeU partiU U
- Pretérito Imperfeito  - Expressa um fato ocorrido num cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
momento anterior ao atual, mas que não foi completamente cantaSTES vendeSTES partISTES STES
terminado. Por exemplo: Ele  estudava  as lições quando foi cantaRAM vendeRAM partiRAM AM
interrompido.
- Pretérito Perfeito (simples)  -  Expressa um fato ocorrido Pretérito mais-que-perfeito
num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado.
Por exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite. 1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. /Desin. Temp. /Desin. Pess.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve 1ª/2ª e 3ª conj.
início no passado e que pode se prolongar até o momento atual. CANTAR VENDER PARTIR - -
Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames. cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já  tinha cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
estudado  as lições quando os amigos chegaram. (forma cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
(forma simples) cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve
ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual. Pretérito Imperfeito do Indicativo
Por exemplo:  Ele estudará as lições amanhã.
- Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve 1ª conjugação / 2ª conjugação / 3ª conjugação
ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado CANTAR VENDER PARTIR
antes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, cantAVA vendIA partIA
os alunos já terão terminado o teste. cantAVAS vendIAS partAS
- Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode CantAVA vendIA partIA
ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
exemplo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias. cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
- Futuro do Pretérito (composto)  -  Enuncia um fato que cantAVAM vendIAM partIAM
poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato
passado. Por exemplo:  Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria Futuro do Presente do Indicativo
viajado nas férias.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
2. Tempos do Subjuntivo CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento cantar ás vender ás partir ás
atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame. cantar á vender á partir á
- Pretérito Imperfeito  -  Expressa um fato passado, mas cantar emos vender emos partir emos
posterior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que cantar eis vender eis partir eis
ele vencesse o jogo. cantar ão vender ão partir ão

Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções Futuro do Pretérito do Indicativo
em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo:
Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato. 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente CANTAR VENDER PARTIR
terminado num momento passado. Por exemplo: Embora tenha cantarIA venderIA partirIA
estudado bastante, não passou no teste. cantarIAS venderIAS partirIAS
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode cantarIA venderIA partirIA
ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo: cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
Quando ele vier à loja, levará as encomendas. cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que cantarIAM venderIAM partirIAM

Língua Portuguesa 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Presente do Subjuntivo Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo
Que eu cante ---
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a Que tu cantes Não cantes tu
desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do Que ele cante Não cante você
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou Que nós cantemos Não cantemos nós
pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação). Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
1ª conj./2ª conj./3ª conju./Des.Temp./Des.temp./Des. pess
1ª conj. 2ª/3ª conj. Observações:
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø - No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa
cantES vendAS partAS E A S (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
cantE vendA partA E A Ø ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
cantEIS vendAIS partAIS E A IS - O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu),
cantEM vendAM partAM E A M sede (vós).

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo Infinitivo Impessoal

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, CANTAR VENDER PARTIR
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse
tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número Infinitivo Pessoal
e pessoa correspondente.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. Des. temporal Desin. pessoal CANTAR VENDER PARTIR
1ª /2ª e 3ª conj. cantar vender partir
CANTAR VENDER PARTIR cantarES venderES partirES
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantar vender partir
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S cantarMOS venderMOS partirMOS
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantarDES venderDES partirDES
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíssemos SSE MOS cantarEM venderEM partirEM
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSE vendeSSEM partiSSEM SSE M Questões

Futuro do Subjuntivo 01. Considere o trecho a seguir. É comum que objetos


___ esquecidos em locais públicos. Mas muitos transtornos
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência poderiam ser evitados se as pessoas ______ a atenção voltada
-STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo- para seus pertences, conservando-os junto ao corpo. Assinale a
se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas
desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa do texto.
correspondente. (A) sejam … mantesse
(B) sejam … mantivessem
1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. / Des. temp. /Desin. pess. (C) sejam … mantém
1ª /2ª e 3ª conj. (D) seja … mantivessem
CANTAR VENDER PARTIR (E) seja … mantêm
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES 02. Na frase –… os níveis de pessoas sem emprego estão
cantaR vendeR partiR R Ø apresentando quedas sucessivas de 2005 para cá. –, a locução
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS verbal em destaque expressa ação
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES (A) concluída.
cantaREM vendeREM PartiREM R EM (B) atemporal.
(C) contínua.
Imperativo (D) hipotética.
(E) futura.
Imperativo Afirmativo
03. (Escrevente TJ SP Vunesp) Sem querer estereotipar,
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente mas já estereotipando: trata--se de um ser cujas interações sociais
do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.
plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:  (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
Pres. do Indicativo Imperativo Afirm. Pres. do Subjuntivo (C) adotar como referência de qualidade.
Eu canto --- Que eu cante (D) julgar de acordo com normas legais.
Tu cantas CantA tu Que tu cantes (E) classificar segundo ideias preconcebidas.
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos Respostas
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis 1-B / 2-C / 3-E
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
Advérbio
Imperativo Negativo
O  advérbio, assim como muitas outras palavras existentes
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a na Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo,
negação às formas do presente do subjuntivo. tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade,
contiguidade.

Língua Portuguesa 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no Há locuções adverbiais que possuem advérbios
sentido de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias correspondentes.
em que esse processo se desenvolve.  Exemplo:
Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são
é modificador exclusivo desta classe (verbos), pois também flexionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única
modifica o  adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns flexão propriamente dita que existe na categoria dos advérbios
exemplos: é a de grau:
Para quem se diz  distantemente alheio  a esse assunto,
Superlativo:  aumenta a intensidade. Exemplos: longe
você está até bem informado.
- longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente -
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo inconstitucionalissimamente, etc;
alheio, representando uma qualidade, característica. Diminutivo: diminui a intensidade.
Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar -
O artista canta muito mal. devagarinho, 

Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro Questões


advérbio de modo – “mal”. Em ambos os exemplos pudemos
verificar que se tratava de somente uma palavra funcionando 01. Leia os quadrinhos para responder a questão.
como advérbio. No entanto, ele pode estar demarcado por
mais de uma palavra, que mesmo assim não deixará de ocupar
tal função. Temos aí o que chamamos de  locução adverbial,
representada por algumas expressões, tais como: às vezes, sem
dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras.

Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das


circunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em
distintas categorias, uma vez expressas por:    
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado
a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam
em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente,
bondosamente, generosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em
excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão,
tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de
muito, por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim,
afinal, breve, constantemente, entrementes, imediatamente,
primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos,
em breve, hoje em dia (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, Único)
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde,
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois
alhures, nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância, advérbios: AÍ e ainda.
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, Considerando que advérbio é a palavra que modifica
ao lado, em volta um verbo, um outro advérbio ou um adjetivo, expressando
de negação  : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de a circunstância em que determinado fato ocorre, assinale
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, circunstâncias expressas por eles.
provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe A) Lugar e negação.
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, B) Lugar e tempo.
efetivamente, certo, decididamente, realmente, deveras, C) Modo e afirmação.
indubitavelmente D) Tempo e tempo.
de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente, E) Intensidade e dúvida.
simplesmente, só, unicamente
de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também 02. Leia o texto a seguir.
de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
de designação: Eis Impunidade é motor de nova onda de agressões
de interrogação: onde?(lugar), como?(modo),
quando?(tempo), por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade), Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas
para quê?(finalidade) últimas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade
com que foram cometidos, estão gerando ainda uma série de
Locução adverbial  repercussões.
É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio. Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da
Exemplo: estudante de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria
Carlos saiu às pressas. (indicando modo) recusado um beijo. O suposto agressor já responde a uma ação
Maria saiu à tarde. (indicando tempo)

Língua Portuguesa 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
penal, por agressão, movida por sua ex-mulher. A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma especulações cosmológicas da atualidade. Se as equações da
boate em São Paulo também foram atacados por dois jovens mecânica quântica indicam que existem universos paralelos,
que estavam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna isso basta para que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene
fraturada. Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem Wigner, podemos nos perguntar por que a matemática é tão
sucesso, de duas garotas que eram amigas dos rapazes que eficaz para exprimir as leis da física.
saíam da boate. Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não Releia os trechos apresentados a seguir.
passou de um engano e que o rapaz teria fraturado a perna ao - Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
cair no chão. podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz não encontravam muito espaço... (1.º parágrafo)
que R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
quebrou ao cair no chão. ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos parágrafo)
felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão
ajudar a polícia na investigação. Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se respectivamente, circunstâncias de
quebrando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões A) afirmação e de intensidade.
devem ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que B) modo e de tempo.
eles sejam julgados e condenados. C) modo e de lugar.
A impunidade é um dos motores da onda de violência que D) lugar e de tempo.
temos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil E) intensidade e de negação.
impulsivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por
outras substâncias) completa o mecanismo que gera agressões. Respostas
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar. 1-B / 2-C / 3-B
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro,
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle Preposição
sobre os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns
dos caminhos. Preposição  é uma palavra invariável que serve para ligar
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente
há uma subordinação do segundo termo em relação ao
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
circunstância adverbial de modo. da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.
uma série de repercussões.
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em Tipos de Preposição
plena balada…
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem 1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente
sucesso, de duas amigas… como preposições.
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre,
de um engano... para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se
quebrando por aí… 2.  Preposições acidentais: palavras de outras  classes
gramaticais que podem atuar como preposições.
03. Leia o texto a seguir. Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão,
visto.
Cultura matemática
Hélio Schwartsman 3.  Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo
como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas.
SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de
de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
viver sem dominar o básico da matemática? Durante muito graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por
tempo, a resposta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito trás de.
com Pitágoras podiam simplesmente escolher carreiras nas
quais os números não encontravam muito espaço, como direito, A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode
jornalismo, as humanidades e até a medicina de antigamente. unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em
Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela
universitários, é considerado aceitável que um intelectual se
vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá Vale ressaltar que essa concordância não é característica da
da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou preposição, mas das palavras às quais ela se une.
dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele recairão olhares tão
recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na Esse processo de junção de uma preposição com outra
manga da camisa. palavra pode se dar a partir de dois processos:
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida 1. Combinação: A preposição não sofre alteração.
prática. Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma preposição a + artigos definidos o, os
ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental, mesmo a + o = ao
para quem não pretende ser engenheiro ou seguir carreiras preposição a + advérbio onde
técnicas. a + onde = aonde
Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil 2. Contração: Quando a preposição sofre alteração.
até posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem
assimilar toda a numeralha que idealmente as informa. Preposição + Artigos
Conhecimentos rudimentares de estatística são pré-requisito De + o(s) = do(s)
para compreender as novas pesquisas que trazem informações De + a(s) = da(s)
relevantes para nossa saúde e bem-estar. De + um = dum

Língua Portuguesa 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
De + uns = duns tratamento.
De + uma = duma Instrumento = Escreveu a lápis.
De + umas = dumas Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
Em + o(s) = no(s) Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
Em + a(s) = na(s) Companhia = Estarei com ele amanhã.
Em + um = num Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
Em + uma = numa Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
Em + uns = nuns Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Em + umas = numas Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
A + à(s) = à(s) Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Por + o = pelo(s) Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
Por + a = pela(s)
Questões
Preposição + Pronomes
De + ele(s) = dele(s) 01. Leia o texto a seguir.
De + ela(s) = dela(s)
De + este(s) = deste(s) “Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação
De + esta(s) = desta(s)
De + esse(s) = desse(s) João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois
De + essa(s) = dessa(s) meses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos
De + aquele(s) = daquele(s) preso por homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros,
De + aquela(s) = daquela(s) grades, cadeados e detectores de metal, eles têm outros pontos
De + isto = disto em comum: tabuleiros e peças de xadrez.
De + isso = disso O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula
De + aquilo = daquilo de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o
De + aqui = daqui que pretendem fazer quando estiverem em liberdade.
De + aí = daí “Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar
De + ali = dali duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada,
De + outro = doutro(s) pode perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate,
De + outra = doutra(s) instantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça
Em + este(s) = neste(s) errada, eu posso perder uma peça muito importante na minha
Em + esta(s) = nesta(s) vida, como eu perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema
Em + esse(s) = nesse(s) maior é tomar o xeque-mate”, afirma João Carlos.
Em + aquele(s) = naquele(s) O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos
Em + aquela(s) = naquela(s) em 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez
Em + isto = nisto que liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar
Em + isso = nisso a atividade sob a orientação de servidores da Secretaria de
Em + aquilo = naquilo Estado da Justiça (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado
A + aquele(s) = àquele(s) o primeiro torneio fora dos presídios desde que o projeto foi
A + aquela(s) = àquela(s) implantado. Vinte e oito internos de 14 unidades participam da
A + aquilo = àquilo disputa, inclusive João Carlos e Fransley, que diz que a vitória
não é o mais importante.
Dicas sobre preposição “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não
esperava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas
1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal devido ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como
oblíquo e artigo. Como distingui-los? estou sendo olhado de forma diferente aqui no presídio devido
ao bom comportamento”.
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substantivo. Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido
Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular Venturin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças
e feminino. no comportamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo
A dona da casa não quis nos atender. por eles se tornarem uma referência positiva dentro da unidade,
Como posso fazer a Joana concordar comigo? já que cumprem melhor as regras, respeitam o próximo e
pensam melhor nas suas ações, refletem antes de tomar uma
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois atitude”.
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a
Cheguei a sua casa ontem pela manhã. liberdade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar já faz planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também
um tratamento adequado. minha família. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a
minha família: xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar”.
ou a função de um substantivo. “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Temos Maria como parte da família. / A temos como parte egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós
da família não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso
Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / tem data para entrar e data para sair, então ele tem que sair
Creio que a conhecemos melhor que ninguém. sem retornar para o crime”, analisa o presidente do Conselho
Estadual de Direitos Humanos, Bruno Alves de Souza Toledo.
2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das (Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-que-
preposições: liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Adaptado)
Destino = Irei para casa.
Modo = Chegou em casa aos gritos. No trecho –... xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
Lugar = Vou ficar em casa; vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o
Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência. termo em destaque expressa relação de
Tempo = A prova vai começar em dois minutos. A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar
Causa = Ela faleceu de derrame cerebral. do projeto “Xadrez que liberta”.
Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo

Língua Portuguesa 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
de falar. Conjunções coordenativas
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para Dividem-se em:
termos mais chances de vencer o torneio de xadrez.
D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma.
muito feliz, porque eu não esperava. Ex. Gosto de cantar e de dançar.
E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
a revisão da minha pena. não só...como também.

02. Considere o trecho a seguir. - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,


O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio, de compensação.
garante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade Ex. Estudei, mas não entendi nada.
no emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo,
é o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na todavia, no entanto, entretanto.
instituição.
- ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
As preposições que preenchem o trecho, correta, Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
respectivamente e de acordo com a norma-padrão, são: Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
A) a ...com quer, já...já.
B) de ...com
C) de ...a - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
D) com ...a Estudei muito, por isso mereço passar.
E) para ...de Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
(depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
03. Assinale a alternativa cuja preposição em destaque
expressa ideia de finalidade. - EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$ melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
957,70 para R$ 1.915,40. Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes
B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que do verbo), porquanto.
o bafômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para
comprovar o crime. Conjunções subordinativas
C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer - CAUSAIS
o exame clínico”... Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz vez que, como (= porque).
Soares, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
embriagadas ao volante, a mudança “é um avanço”.
E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade - COMPARATIVAS
policial de dizer quem está embriagado... Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
mais...do que, menos...do que.
Respostas Ela fala mais que um papagaio.
1-B / 2-B / 3-B
- CONCESSIVAS
Conjunção Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
mesmo que, apesar de, se bem que.
Conjunção  é a palavra invariável que liga duas orações ou Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as
amiguinhas. Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: cansada)
Apesar de ter chovido fui ao cinema.
1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu as
amiguinhas - CONFORMATIVAS
Principais conjunções conformativas: como, segundo,
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: conforme, consoante
segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: Cada um colhe conforme semeia.
1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e  mostrou Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.
3ª oração: quando viu as amiguinhas.
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a - CONSECUTIVAS
terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As Expressam uma ideia de consequência.
palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações. Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”,
“tão”, “tamanho”).
Observe: Gosto de natação e de futebol. Falou tanto que ficou rouco.
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes
ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra  “e” está - FINAIS
ligando termos de uma mesma oração. Expressam ideia de finalidade, objetivo.
Todos trabalham para que possam sobreviver.
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque
ou dois termos semelhantes de uma mesma oração. (=para que),

Morfossintaxe da Conjunção - PROPORCIONAIS


Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto
As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem mais, ao passo que, à proporção que.
propriamente uma função sintática: são conectivos. À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.

Classificação - Conjunções Coordenativas- Conjunções - TEMPORAIS


Subordinativas Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo

Língua Portuguesa 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
que. elemento grifado pode ser substituído por:
Quando eu sair, vou passar na locadora. A) Porém.
B) Contudo.
Importante: C) Todavia.
D) Entretanto.
Diferença entre orações causais e explicativas E) Conquanto.

Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) 02. Observando as ocorrências da palavra “como” em –
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos Como fomos programados para ver o mundo como um lugar
com a dúvida de como distinguir uma oração causal de uma ameaçador… – é correto afirmar que se trata de conjunção
explicativa. Veja os exemplos: (A) comparativa nas duas ocorrências.
(B) conformativa nas duas ocorrências.
1º) Na frase “Não atravesse a rua,  porque você pode ser (C) comparativa na primeira ocorrência.
atropelado”: (D) causal na segunda ocorrência.
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou (E) causal na primeira ocorrência.
uma explicação do fato expresso na oração anterior.
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes 03. Leia o texto a seguir.
uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que
vêm marcadas por vírgula. Participação
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de
explicativa. nós: a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) junto aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é
simples: costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes”
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade de nós, nas quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos
porque não havia cemitério no local.” da nossa vida precisamos escolher entre o atendimento de um
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada interesse pessoal e o cumprimento de um dever ético? Como poeta
(parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo e militante político, Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê- expressão das paixões mais íntimas quanto pela atuação de um
la é colocá-la no início do período, introduzida pela convicto socialista. Em seu poema, o diálogo entre as duas partes
conjunção como - o que não ocorre com a CS Explicativa. é desenvolvido de modo a nos fazer pensar que são incompatíveis.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os mortos
em outra cidade. Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente estrofe:
dependentes uma da outra. “Traduzir uma parte na outra parte − que é uma questão de
vida ou morte − será arte?”
Questões O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de
01. Leia o texto a seguir. espelhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso verdadeiramente a instância pessoal e os interesses de uma
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em comunidade; quando deixasse de haver contradição entre a razão
disco; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos particular e a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse
de mp3 com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No tipo de integração. Realmente, com muita frequência a arte se
entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou mostra capaz de expressar tanto nossa subjetividade como nossa
até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. identidade social.
Ela se tornou um meio radicalmente virtual, uma arte sem Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria
rosto. Quando caminhamos pela cidade num dia comum, nossos vencer a parcialidade e chegar a uma autêntica participação,
ouvidos registram música em quase todos os momentos − pedaços de sentido altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa
de hip-hop vazando dos fones de ouvido de adolescentes no metrô, hipótese provocadora, formulada com um ar de convicção.
o sinal do celular de um advogado tocando a “Ode à alegria”, de (Belarmino Tavares, inédito)
Beethoven −, mas quase nada disso será resultado imediato de
um trabalho físico de mãos ou vozes humanas, como se dava no Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma
passado. relação de causa e efeito:
Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877, A) ser poeta e militante político / confronto entre
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor subjetividade e atuação social
da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para B) ser poeta e militante político / divisão permanente em
os extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a cada um de nós
tecnologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas
que a tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte
a arte da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos, E) participar ativamente da política / formular hipóteses
as sinfonias de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de com ar de convicção
concerto selecionadas. Agora, as gravações levam a mensagem Respostas
de Beethoven aos confins do planeta, convocando a multidão 1-E / 2-E / 3-A
saudada na “Ode à alegria”: “Abracem-se, milhões!”. Glenn Gould,
depois de afastar-se das apresentações ao vivo em 1964, previu Interjeição
que dentro de um século o concerto público desapareceria no éter
eletrônico, com grande efeito benéfico sobre a cultura musical. Interjeição  é a palavra invariável que exprime emoções,
(Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre o
Soares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77) interlocutor, levando-o a adotar certo comportamento sem que,
para isso, seja necessário fazer uso de estruturas linguísticas
No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, mais elaboradas. Observe o exemplo:
ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. Droga! Preste atenção quando eu estou falando!
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Toda sua
Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o raiva se traduz numa palavra: Droga!

Língua Portuguesa 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Ele poderia ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou - Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, Safa!,
simplesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga! Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, Ora!
As sentenças da língua costumam se organizar de forma - Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá!
lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e os distribui - Desculpa: Perdão!
em posições adequadas a cada um deles. As interjeições, por - Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!, Oh!,
outro lado, são uma espécie de “palavra-frase”, ou seja, há uma Eh!
ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras - - Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!, Epa!,
locução interjetiva) que poderia ser colocada em termos de uma Ora!
sentença. - Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, Quê!,
Veja os exemplos: Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, Hein?, Cruz!, Putz!
Bravo! Bis! - Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, Raios!,
bravo  e  bis: interjeição / sentença (sugestão): «Foi muito Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
bom! Repitam!» - Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade!
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé... - Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!,
ai: interjeição / sentença (sugestão): “Isso está doendo!” ou Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha-me,
“Estou com dor!” Deus!
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio!
A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em que - Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh!
não há uma ideia organizada de maneira lógica, como são as
Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto é,
sentenças da língua, mas sim a manifestação de um suspiro,
não sofrem variação em gênero, número e grau como os nomes,
um estado da alma decorrente de uma situação particular, um
nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz como os
momento ou um contexto específico. Exemplos:
verbos. No entanto, em uso específico, algumas interjeições
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
sofrem variação em grau. Deve-se ter claro, neste caso, que
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
não se trata de um processo natural dessa classe de palavra,
Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
O significado das interjeições está vinculado à maneira Locução Interjetiva
como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que dita
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto de Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
enunciação. Exemplos: expressão com sentido de interjeição. Por exemplo
Psiu! Ora bolas!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão na rua; Quem me dera!
significado da interjeição (sugestão):  “Estou te chamando! Ei, Virgem Maria!
espere!” Meu Deus!
Psiu! Ai de mim!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão em um Valha-me Deus!
hospital; significado da interjeição (sugestão):  “Por favor, faça Graças a Deus!
silêncio!” Alto lá!
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Muito bem!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! Observações:
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. Por
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções: exemplo:
a)  Sintetizar uma frase  exclamativa, exprimindo alegria, Ué! = Eu não esperava por essa!
tristeza, dor, etc. Perdão! = Peço-lhe que me desculpe.
Você faz o que no Brasil?
Eu? Eu negocio com madeiras. 2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o seu
Ah, deve ser muito interessante. tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gramaticais
b) Sintetizar uma frase apelativa podem aparecer como interjeições.
Cuidado! Saia da minha frente. Viva! Basta! (Verbos)
As interjeições podem ser formadas por: Fora! Francamente! (Advérbios)
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
b) palavras: Oba!, Olá!, Claro! 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-frase”
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!, Ora porque sozinha pode constituir uma mensagem.
bolas! Socorro!
A ideia expressa pela interjeição depende muitas vezes Ajudem-me! 
da entonação com que é pronunciada; por isso, pode ocorrer que Silêncio!
uma interjeição tenha mais de um sentido. Por exemplo: Fique quieto!
Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contrariedade)
Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria) 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imitativas,
que exprimem ruídos e vozes.
Classificação das Interjeições
Pum! Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof!
Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc.
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
- Advertência: Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com a sua
Atenção!, Olha!, Alerta!
homônima  “oh!”, que exprime admiração, alegria, tristeza, etc.
- Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo e não a fazemos
- Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
depois do “ó” vocativo.
- Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
- Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!, Eia!,
“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!» (Olavo Bilac) 
Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
Oh! a jornada negra!» (Olavo Bilac)
- Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!, Boa!
- Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!
6) Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas

Língua Portuguesa 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas no primeiros segundos milésimos
diminutivo ou no superlativo. primeiras segundas milésimas
Calminha! Adeusinho! Obrigadinho!
Interjeições, leitura e produção de textos Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam
em funções substantivas:
Usadas com muita frequência na língua falada informal, Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de produção.
quando empregadas na língua escrita, as interjeições costumam Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquialidade. Além flexionam-se em gênero e número:
disso, elas podem muitas vezes indicar traços pessoais do falante Teve de tomar doses triplas do medicamento.
- como a escassez de vocabulário, o temperamento agressivo ou Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número.
dócil, até mesmo a origem geográfica. É nos textos narrativos - Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
particularmente nos diálogos - que comumente se faz uso partes
das interjeições com o objetivo de caracterizar personagens Os numerais coletivos flexionam-se em número. Veja: uma
e, também, graças à sua natureza sintética, agilizar as falas. dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
Natureza sintética e conteúdo mais emocional do que É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos
racional fazem das interjeições presença constante nos textos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sentido.
publicitários. É o que ocorre em frases como:
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ “Me empresta duzentinho...”
morf89.php É artigo de primeiríssima qualidade!
Numeral O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda
divisão de futebol)
Numeral é a palavra que indica os seres em termos
numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa Emprego dos Numerais
em determinada sequência.
Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco. *Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em
[quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”] que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e a
Eu quero café duplo, e você? partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do
[duplo: numeral = atributo numérico de “café”] substantivo:
A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor! Ordinais Cardinais
[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
“fila”] D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando a Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata
de numerais, mas sim de algarismos. *Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a até nono e o cardinal de dez em diante:
ideia expressa pelos números, existem mais algumas palavras Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
consideradas numerais porque denotam quantidade, proporção Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
ou ordenação. São alguns exemplos: década, dúzia, par,
ambos(as), novena. *Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um
e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente
Classificação dos Numerais empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez
referência.
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico: Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância
um, dois, cem mil, etc. da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada: comunitárias de seu bairro.
primeiro, segundo, centésimo, etc.
Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática.
dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.
Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada: Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários
dobro, triplo, quíntuplo, etc. um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
Leitura dos Numerais três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
Separando os números em centenas, de trás para frente, cinco quinto quíntuplo quinto
obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no seis sexto sêxtuplo sexto
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos sete sétimo sétuplo sétimo
usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”. oito oitavo óctuplo oitavo
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte nove nono nônuplo nono
e seis. dez décimo décuplo décimo
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte. onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
Flexão dos numerais treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma, quinze décimo quinto - quinze avos
dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas em dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. dezessete décimo sétimo - dezessete avos
Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número: dezoito décimo oitavo - dezoito avos
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis. dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
Os numerais ordinais variam em gênero e número: trinta trigésimo - trinta avos
primeiro segundo milésimo quarenta quadragésimo - quarenta avos
primeira segunda milésima cinquenta quinquagésimo - cinquenta avos

Língua Portuguesa 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
sessenta sexagésimo - sessenta avos 2) Nos casos referentes a sujeito representado por
setenta septuagésimo - setenta avos substantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do
oitenta octogésimo - oitenta avos singular:  A multidão, apavorada, saiu aos gritos.
noventa nonagésimo - noventa avos Observação:
cem centésimo cêntuplo centésimo - No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal
duzentos ducentésimo - ducentésimo no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o
trezentos trecentésimo - trecentésimo plural: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos.
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo Uma multidão de pessoas saíram aos gritos.
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo 3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas,
setecentos septingentésimo - septingentésimo representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de,
oitocentos octingentésimo - octingentésimo uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar
novecentos nongentésimo com o núcleo dessas expressões quanto com o substantivo
ou noningentésimo - nongentésimo que a segue: A  maioria  dos alunos  resolveu  ficar.   A maioria
mil milésimo - milésimo dos alunos resolveram ficar.
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo 4) No caso de o sujeito ser representado por expressões
aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo
Questões concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de
vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas.
01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais”
temos exemplos de numerais: 5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão
A) ordinais; “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de
B) cardinais; um candidato se inscreveu no concurso de piadas.  
C) fracionários; Observação:
D) romanos; - No caso da referida expressão aparecer repetida ou
E) Nenhuma das alternativas. associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo,
necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais de um
02.Aponte a alternativa em que os numerais estão bem aluno, mais de um professor contribuíram na campanha de
empregados. doação de alimentos. 
A) Ao papa Paulo Seis sucedeu João Paulo Primeiro. Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades
B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo décimo. de formatura. 
C) Depois do capítulo sexto, li o capitulo décimo primeiro.
D) Antes do artigo dez vem o artigo nono. 6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos
E) O artigo vigésimo segundo foi revogado. que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi  um dos
que atuaram na Copa América.
03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90
são, respectivamente 7) Em casos relativos à concordância com locuções
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
nongentésimo quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo atermos a duas questões básicas:
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo - No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural,
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo o verbo poderá com ele concordar, como poderá também
concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos.
Respostas / Alguns de nós o receberão.
1-B / 2-D / 3-B - Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso
no singular, o verbo permanecerá, também, no singular:  Algum
de nós o receberá.  
Concordância verbal e nominal.
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome
“quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular
Concordância Verbal ou poderá concordar com o antecedente desse pronome:   
Fomos nós  quem  contou  toda a verdade para ela. / Fomos
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos nós quem contamos toda a verdade para ela.
referindo à relação de dependência estabelecida entre um termo
e outro mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
principais desse processo são representados pelo sujeito, que no “que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
caso funciona como subordinante; e o verbo, o qual desempenha palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. /
a função de subordinado.  Em casa sou eu que decido tudo.   
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza-
se pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número 10) No caso de o sujeito aparecer representado por
e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará com o
chegou numeral ou com o substantivo a que se refere essa porcentagem:   
Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do 50% dos funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50%
singular, pois faz referência a um sujeito, assim também expresso do eleitorado apoiou a decisão.
(ele).  Como poderíamos também dizer: os alunos chegaram Observações:
atrasados. - Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de
Temos aí o que podemos chamar de princípio básico. porcentagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram
Contudo, a intenção a que se presta o artigo em evidência é a decisão da diretoria 50% dos funcionários.     
eleger as principais ocorrências voltadas para os casos de sujeito - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
simples e para os de sujeito composto. Dessa forma, vejamos:  1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.  
- Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
Casos referentes a sujeito simples determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. 
núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. 

Língua Portuguesa 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por de eles serem tão desinibidos e livres. Parece que eles jogam
pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira com as suas próprias regras, com a sua própria lógica interna.
pessoa do singular ou do plural:  Vossas Majestades gostaram das Eles vivem em um universo paralelo e diferente do nosso - um
homenagens. Vossa Majestade agradeceu o convite.   universo que lhes concede liberdade de espírito e paixão pela
vida enormemente atraentes para nós. Um cachorro latindo ao
12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo vento ou uivando durante a noite faz agitar-se dentro de nós
próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos alguma coisa que também quer se expressar.
que os determinam: Os cachorros são uma constante fonte de diversão para
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser, nós porque não prestam atenção as nossas convenções sociais.
este permanece no singular, contanto que o predicativo também Metem o nariz onde não são convidados, pulam para cima
esteja no singular:  Memórias póstumas de Brás Cubas  é  uma do sofá, devoram alegremente a comida que cai da mesa. Os
criação de Machado de Assis.    cachorros raramente se refreiam quando querem fazer alguma
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também coisa. Eles não compartilham conosco as nossas inibições. Suas
permanece no plural: Os  Estados Unidos  são  uma potência emoções estão ã flor da pele e eles as manifestam sempre que
mundial. as sentem.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem (Adaptado de Matt Weistein e Luke Barber. Cão que
aparece, o verbo permanece no singular:  Estados Unidos é uma late não morde. Trad. de Cristina Cupertino. S.Paulo: Francis,
potência mundial.  2005. p 250)

Casos referentes a sujeito composto A frase em que se respeitam as normas de concordância


verbal é:
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas (A) Deve haver muitas razões pelas quais os cachorros nos
gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando atraem.
relacionado a dois pressupostos básicos: (B) Várias razões haveriam pelas quais os cachorros nos
- Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as atraem.
demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio. (C) Caberiam notar as muitas razões pelas quais os cachorros
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá nos atraem.
flexionar na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. (D) Há de ser diversas as razões pelas quais os cachorros nos
Tu e ele são primos. atraem.
(E) Existe mesmo muitas razões pelas quais os cachorros
2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto nos atraem.
ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois
filhos compareceram ao evento.   03. Uma pergunta

3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este Frequentemente cabe aos detentores de cargos de
poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer responsabilidade tomar decisões difíceis, de graves
no plural: Compareceram  ao evento  o pai e seus dois filhos. consequências. Haveria algum critério básico, essencial, para
Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos. amparar tais escolhas? Antonio Gramsci, notável pensador
e político italiano, propôs que se pergunte, antes de tomar a
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com decisão: - Quem sofrerá?
mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: Para um humanista, a dor humana é sempre prioridade a se
Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do considerar.
mundo. (Salvador Nicola, inédito)

5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no
ou ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá singular para preencher adequadamente a lacuna da frase:
permanecer no singular ou ir para o plural: Minha vitória, (A) A nenhuma de nossas escolhas ...... (poder) deixar de
minha conquista, minha premiação são frutos de meu esforço. corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
/ Minha vitória, minha conquista, minha premiação é fruto de (B) Não se ...... (poupar) os que governam de refletir sobre o
meu esforço. peso de suas mais graves decisões.
(C) Aos governantes mais responsáveis não ...... (ocorrer)
Questões tomar decisões sem medir suas consequências.
(D) A toda decisão tomada precipitadamente ...... (costumar)
01. A concordância realizou-se adequadamente em qual sobrevir consequências imprevistas e injustas.
alternativa? (E) Diante de uma escolha, ...... (ganhar) prioridade,
(A) Os Estados Unidos é considerado, hoje, a maior potência recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
econômica do planeta, mas há quem aposte que a China, em humana.
breve, o ultrapassará.
(B) Em razão das fortes chuvas haverão muitos candidatos 04. Em um belo artigo, o físico Marcelo Gleiser, analisando a
que chegarão atrasados, tenho certeza disso. constatação do satélite Kepler de que existem muitos planetas
(C) Naquela barraca vendem-se tapiocas fresquinhas, pode com características físicas semelhantes ao nosso, reafirmou sua
comê-las sem receio! fé na hipótese da Terra rara, isto é, a tese de que a vida complexa
(D) A multidão gritaram quando a cantora apareceu na (animal) é um fenômeno não tão comum no Universo.
janela do hotel! Gleiser retoma as ideias de Peter Ward expostas de modo
persuasivo em “Terra Rara”. Ali, o autor sugere que a vida
02. “Se os cachorros correm livremente, por que eu não microbiana deve ser um fenômeno trivial, podendo pipocar até
posso fazer isso também?”, pergunta Bob Dylan em “New em mundos inóspitos; já o surgimento de vida multicelular na
Morning”. Bob Dylan verbaliza um anseio sentido por todos Terra dependeu de muitas outras variáveis físicas e históricas,
nós, humanos supersocializados: o anseio de nos livrarmos o que, se não permite estimar o número de civilizações
de todos os constrangimentos artificiais decorrentes do fato extra terráqueas, ao menos faz com que reduzamos nossas
de vivermos em uma sociedade civilizada em que às vezes nos expectativas.
sentimos presos a uma correia. Um conjunto cultural de regras Uma questão análoga só arranhada por Ward é a da
tácitas e inibições está sempre governando as nossas interações inexorabilidade da inteligência. A evolução de organismos
cotidianas com os outros. complexos leva necessariamente à consciência e à inteligência?
Uma das razões pelas quais os cachorros nos atraem é o fato Robert Wright diz que sim, mas seu argumento é mais

Língua Portuguesa 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
matemático do que biológico: complexidade engendra para o plural.
complexidade, levando a uma corrida armamentista entre - O homem e o menino estavam perdidos.
espécies cujo subproduto é a inteligência. - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
Stephen J. Gould e Steven Pinker apostam que não. Para
eles, é apenas devido a uma sucessão de pré-adaptações e b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
coincidências que alguns animais transformaram a capacidade 1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
de resolver problemas em estratégia de sobrevivência. Se próximo.
rebobinássemos o filme da evolução e reencenássemos o Comi delicioso almoço e sobremesa.
processo mudando alguns detalhes do início, seriam grandes as Provei deliciosa fruta e suco.
chances de não chegarmos a nada parecido com a inteligência. 2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
(Adaptado de Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo, concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
28/10/2012) Estavam feridos o pai e os filhos.
Estava ferido o pai e os filhos.
A frase em que as regras de concordância estão plenamente
respeitadas é: c) Um substantivo e mais de um adjetivo
(A) Podem haver estudos que comprovem que, no passado, 1- antecede todos os adjetivos com um artigo.
as formas mais complexas de vida - cujo habitat eram oceanos Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
ricos em nutrientes - se alimentavam por osmose. 2- coloca o substantivo no plural.
(B) Cada um dos organismos simples que vivem na natureza Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.
sobrevivem de forma quase automática, sem se valerem de
criatividade e planejamento. d) Pronomes de tratamento
(C) Desde que observe cuidados básicos, como obter energia 1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
por meio de alimentos, os organismos simples podem preservar Vossa Santidade esteve no Brasil.
a vida ao longo do tempo com relativa facilidade.
(D) Alguns animais tem de se adaptar a um ambiente cheio de e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
dificuldades para obter a energia necessária a sua sobrevivência 1 - Concordam com o substantivo a que se referem.
e nesse processo expõe- se a inúmeras ameaças. As cartas estão anexas.
(E) A maioria dos organismos mais complexos possui um A bebida está inclusa.
sistema nervoso muito desenvolvido, capaz de se adaptar a Precisamos de nomes próprios.
mudanças ambientais, como alterações na temperatura. Obrigado, disse o rapaz.

05. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, a f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
concordância verbal está correta em: 1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no
(A) Ela não pode usar o celular e chamar um taxista, pois singular e o adjetivo no plural.
acabou os créditos. Renato advogou um e outro caso fáceis.
(B) Esta empresa mantêm contato com uma rede de táxis Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
que executa diversos serviços para os clientes.
(C) À porta do aeroporto, havia muitos táxis disponíveis para g) É bom, é necessário, é proibido
os passageiros que chegavam à cidade. 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier
(D) Passou anos, mas a atriz não se esqueceu das calorosas precedido de artigo ou outro determinante.
lembranças que seu tio lhe deixou. Canja é bom. / A canja é boa.
(E) Deve existir passageiros que aproveitam a corrida de táxi É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
para bater um papo com o motorista. É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
é proibida.
Respostas
01. C\02. A\03. C\04. E\05. C h) Muito, pouco, caro
1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
Concordância Nominal Comi muitas frutas durante a viagem.
Pouco arroz é suficiente para mim.
Concordância nominal é que o ajuste que fazemos aos Os sapatos estavam caros.
demais termos da oração para que concordem em gênero e
número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto, o 2- Como advérbios: são invariáveis.
artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso, temos Comi muito durante a viagem.
também o verbo, que se flexionará à sua maneira. Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
Comprei caro os sapatos.
Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome
concordam em gênero e número com o substantivo. i) Mesmo, bastante
- A pequena criança é uma gracinha. 1- Como advérbios: invariáveis
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. Preciso mesmo da sua ajuda.
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.
Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à regra
geral mostrada acima. 2- Como pronomes: seguem a regra geral.
Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
a) Um adjetivo após vários substantivos Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural
ou concorda com o substantivo mais próximo. j) Menos, alerta
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui. 1- Em todas as ocasiões são invariáveis.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui. Preciso de menos comida para perder peso.
Estamos alerta para com suas chamadas.
2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o
plural masculino ou concorda com o substantivo mais próximo. k) Tal Qual
- Ela tem pai e mãe louros. 1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o
- Ela tem pai e mãe loura. consequente.
As garotas são vaidosas tais qual a tia.
3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos.

Língua Portuguesa 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
l) Possível (D) Não será permitido visita de amigos, apenas a de
1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor” parentes.
ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões. Respostas
A mais possível das alternativas é a que você expôs.
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa. 01. D\02. D\03. B
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da
cidade. 04. a) necessária b) alerta c) bastantes d) vazia e) meio

m) Meio 05. C
1- Como advérbio: invariável.
Estou meio (um pouco) insegura.
2- Como numeral: segue a regra geral. Regência verbal e nominal.
Comi meia (metade) laranja pela manhã.

n) Só Regência Verbal e Nominal


1- apenas, somente (advérbio): invariável.
Só consegui comprar uma passagem. Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que
2- sozinho (adjetivo): variável. ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus complementos.
Estiveram sós durante horas. Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando
frases não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido
Questões desejado, que sejam corretas e claras.

01. Indique o uso INCORRETO da concordância verbal ou Regência Verbal


nominal:
(A) Será descontada em folha sua contribuição sindical. Termo Regente:  VERBO
(B) Na última reunião, ficou acordado que se realizariam
encontros semanais com os diversos interessados no assunto. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
(C) Alguma solução é necessária, e logo! os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
(D) Embora tenha ficado demonstrado cabalmente a objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
ocorrência de simulação na transferência do imóvel, o pedido O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa
não pode prosperar. capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de
(E) A liberdade comercial da colônia, somada ao fato de D. conhecermos as diversas significações que um verbo pode
João VI ter também elevado sua colônia americana à condição de assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. 
Reino Unido a Portugal e Algarves, possibilitou ao Brasil obter Observe:
certa autonomia econômica. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou
02. Aponte a alternativa em que NÃO ocorre silepse (de prazer”, satisfazer.
gênero, número ou pessoa):
(A) “A gente é feito daquele tipo de talento capaz de fazer a Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
diferença.” “agradar a alguém”.
(B) Todos sabemos que a solução não é fácil.
(C) Essa gente trabalhadora merecia mais, pois acordam às Saiba que:
cinco horas para chegar ao trabalho às oito da manhã. O conhecimento do uso adequado das preposições é um
(D) Todos os brasileiros sabem que esse problema vem de dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
longe... também nominal). As preposições são capazes de modificar
(E) Senhor diretor, espero que Vossa Senhoria seja mais completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os
compreensivo. exemplos:
Cheguei ao metrô.
03. A concordância nominal está INCORRETA em: Cheguei no metrô.
(A) A mídia julgou desnecessária a campanha e o
envolvimento da empresa. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
(B) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
desnecessária. no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
(C) A mídia julgou desnecessário o envolvimento da empresa vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
e a campanha. muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
(D) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
desnecessárias.
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
04. Complete os espaços com um dos nomes colocados nos acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é
parênteses. um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
(A) Será que é ____ essa confusão toda? (necessário/ formas em frases distintas.
necessária)
(B) Quero que todos fiquem ____. (alerta/ alertas) Verbos Intransitivos
(C) Houve ____ razões para eu não voltar lá. (bastante/ Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
bastantes) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(D) Encontrei ____ a sala e os quartos. (vazia/vazios) aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
(E) A dona do imóvel ficou ____ desiludida com o inquilino. a) Chegar, Ir
(meio/ meia) Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais
de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
05. Quanto à concordância nominal, verifica-se ERRO em: indicar destino ou direção são: a, para.
(A) O texto fala de uma época e de um assunto polêmicos. Fui ao teatro.
(B) Tornou-se clara para o leitor a posição do autor sobre o       Adjunto Adverbial de Lugar
assunto.
(C) Constata-se hoje a existência de homem, mulher e Ricardo foi para a Espanha.
criança viciadas.                   Adjunto Adverbial de Lugar

Língua Portuguesa 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
b) Comparecer de um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido grupo:
por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último Agradecer, Perdoar e Pagar
jogo. São verbos que apresentam objeto direto
relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas.
Verbos Transitivos Diretos Veja os exemplos:
Os verbos transitivos diretos são complementados por Agradeço    aos ouvintes         a audiência.
objetos diretos. Isso significa que  não  exigem preposição  para                    Objeto Indireto      Objeto Direto
o estabelecimento da relação de regência. Ao empregar esses Cristo ensina que é preciso perdoar     o pecado        ao pecador.
verbos, devemos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os,                                                                  Obj. Direto       Objeto Indireto
as atuam como objetos diretos. Esses pronomes podem assumir Paguei      o débito        ao cobrador.
as formas lo, los, la, las (após formas verbais terminadas em -r,                Objeto Direto      Objeto Indireto
-s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas verbais terminadas em
sons nasais), enquanto  lhe e lhes são, quando complementos - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com
verbais, objetos indiretos. particular cuidado. Observe:
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, Agradeci o presente. / Agradeci-o.
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
condenar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar, Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar, Paguei minhas contas. / Paguei-as.
socorrer, suportar, ver, visitar. Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar: Informar
Amo aquele rapaz. / Amo-o. - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
Amo aquela moça. / Amo-a. indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
Amam aquele rapaz. / Amam-no. Informe os novos preços aos clientes.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Informe  os  clientes  dos  novos preços. (ou sobre os novos
preços)
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para
indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais). - Na utilização de pronomes como complementos,  veja as
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) construções:
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira) Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor) Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
eles)
Verbos Transitivos Indiretos Obs.: a mesma regência do verbo  informar é usada  para os
Os verbos transitivos indiretos são complementados por seguintes:  avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma
preposição  para o estabelecimento da relação de regência. Comparar
Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para preposições  “a”  ou  “com” para introduzir o complemento
substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como indireto.
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
indiretos que não representam pessoas, usam-se pronomes
oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos Pedir
pronomes átonos lhe, lhes.  Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: Pedi-lhe                 favores.
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela Objeto Indireto    Objeto Direto
preposição “em”.                                      
A modernidade verdadeira  consiste  em  direitos iguais para Pedi-lhe                     que mantivesse em silêncio.
todos. Objeto Indireto           Oração Subordinada Substantiva
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos                                                            Objetiva Direta
introduzidos pela preposição “a”.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Saiba que:
Eles desobedeceram às leis do trânsito. 1) A construção  “pedir para”,  muito comum na linguagem
c) Responder - Tem complemento introduzido pela cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver
quem” ou “ao que” se responde. subentendida.
Respondi ao meu patrão. Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Respondemos às perguntas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
Respondeu-lhe à altura. oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para
Obs.:  o verbo  responder, apesar de transitivo indireto ir entregar-lhe os catálogos em casa).
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva 2) A construção  “dizer para”,  também muito usada
analítica. Veja: popularmente, é igualmente considerada incorreta.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. Preferir
d) Simpatizar e  Antipatizar - Possuem seus complementos Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
introduzidos pela preposição “com”. indireto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
Antipatizo com aquela apresentadora. Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Simpatizo com  os que condenam os políticos que governam Prefiro trem a ônibus.
para uma minoria privilegiada. Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
termos intensificadores, tais como:  muito, antes, mil vezes, um
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados no próprio verbo (pre).

Língua Portuguesa 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Mudança de Transitividade versus Mudança de 2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou
Significado transitivo indireto.
Muito custa          viver tão longe da família.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade,             Verbo   Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
apresentam mudança de significado. O conhecimento das        Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo
diferentes regências desses verbos é um recurso linguístico
muito importante, pois além de permitir a correta interpretação Custa-me (a mim)  crer que tomou realmente aquela atitude.
de passagens escritas, oferece possibilidades expressivas a         Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:         Indireto                                     Reduzida de Infinitivo

AGRADAR Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que


1) Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa.
acariciar. Observe o exemplo abaixo:
Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada Custei para entender o problema. 
quando o revê. Forma correta: Custou-me entender o problema.
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia
não perde oportunidade de agradá-lo. IMPLICAR
1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado
a, satisfazer, ser agradável a.  Rege complemento introduzido a) dar a entender, fazer supor, pressupor
pela preposição “a”. Suas atitudes implicavam um firme propósito.
O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou. b)  Ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar
ASPIRAR Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um
1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar povo.
(o ar), inalar.
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) 2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer,
envolver
2)  Aspirar  é transitivo indireto no sentido de  desejar, ter Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
como ambição.
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
elas) indireto e rege com preposição “com”.
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe”
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”.  Veja o PROCEDER
exemplo: 1)  Proceder  é intransitivo no sentido de  ser decisivo,
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) ter cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
agir.  Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de
ASSISTIR adjunto adverbial de modo.
1)  Assistir  é transitivo direto no sentido de  ajudar, prestar As afirmações da testemunha procediam, não havia como
assistência a, auxiliar. Por Exemplo: refutá-las.
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. Você procede muito mal.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, de”) e  fazer, executar  (rege complemento introduzido pela
estar presente, caber, pertencer. preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Exemplos: Procedeu-se aos exames.
Assistimos ao documentário. O delegado procederá ao inquérito.
Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino. QUERER
Obs.: no sentido de  morar, residir,  o verbo  “assistir”  é 1)  Querer  é transitivo direto no sentido de  desejar, ter
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar vontade de, cobiçar.
introduzido pela preposição “em”. Querem melhor atendimento.
Assistimos numa conturbada cidade. Queremos um país melhor.

CHAMAR 2)  Querer  é transitivo indireto no sentido de  ter afeição,


1)  Chamar  é transitivo direto no sentido de  convocar, estimar, amar.
solicitar a atenção ou a presença de. Quero muito aos meus amigos.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la. Ele quer bem à linda menina.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Despede-se o filho que muito lhe quer.

2)  Chamar  no sentido de  denominar, apelidar  pode VISAR


apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo 1)  Como transitivo direto, apresenta os sentidos de  mirar,
preposicionado ou não. fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
A torcida chamou o jogador mercenário. O homem visou o alvo.
A torcida chamou ao jogador mercenário. O gerente não quis visar o cheque.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
A torcida chamou ao jogador de mercenário. 2)  No sentido de  ter em vista, ter como meta, ter como
objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
CUSTAR
1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor O ensino deve sempre visar ao progresso social.
ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial. Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
Frutas e verduras não deveriam custar muito. público.

Língua Portuguesa 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Questões Ojeriza a, por
Bacharel em
01. Todas as alternativas estão corretas quanto ao emprego Horror a
correto da regência do verbo, EXCETO: Proeminência sobre
(A) Faço entrega em domicílio. Capacidade de, para
(B) Eles assistem o espetáculo. Impaciência com
(C) João gosta de frutas. Respeito a, com, para com, por
(D) Ana reside em São Paulo.
(E) Pedro aspira ao cargo de chefe. Adjetivos
Acessível a
02. Assinale a opção em que o verbo Diferente de
chamar é empregado com o mesmo sentido que Necessário a
apresenta em __ “No dia em que o chamaram de Ubirajara, Acostumado a, com
Quaresma ficou reservado, taciturno e mudo”: Entendido em
(A) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria; Nocivo a
(B) bateram à porta, chamando Rodrigo; Afável com, para com
(C) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo Diabo; Equivalente a
(D) o chefe chamou-os para um diálogo franco; Paralelo a
(E) mandou chamar o médico com urgência. Agradável a
Escasso de
03. A regência verbal está correta na alternativa: Parco em, de
(A) Ela quer namorar com o meu irmão. Alheio a, de
(B) Perdi a hora da entrevista porque fui à pé. Essencial a, para
(C) Não pude fazer a prova do concurso porque era de menor. Passível de
(D) É preferível ir a pé a ir de carro. Análogo a
Fácil de
04. Em todas as alternativas, o verbo grifado foi empregado Preferível a
com regência certa, exceto em: Ansioso de, para, por
(A) a vista de José Dias lembrou-me o que ele me dissera. Fanático por
(B) estou deserto e noite, e aspiro sociedade e luz. Prejudicial a
(C) custa-me dizer isto, mas antes peque por excesso; Apto a, para
(D) redobrou de intensidade, como se obedecesse a voz do Favorável a
mágico; Prestes a
(E) quando ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos. Ávido de
Generoso com
05. A regência verbal está INCORRETA em: Propício a
(A) Proibiram-no de fumar. Benéfico a
(B) Ana comunicou sua mudança aos parentes mais íntimos. Grato a, por
(C) Prefiro Português a Matemática. Próximo a
(D) A professora esqueceu da chave de sua casa no carro da Capaz de, para
amiga. Hábil em
(E) O jovem aspira à carreira militar. Relacionado com
Compatível com
Respostas Habituado a
01. B\02. A\03. D\04. B\05. D Relativo a
Contemporâneo a, de
Regência Nominal Idêntico a
   
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, Advérbios
adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa Longe de Perto de
relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo
da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes Obs.: os advérbios terminados em  -mente tendem a seguir
apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, paralelamente a; relativa a; relativamente a.
conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Verbo  obedecer  e os nomes correspondentes: todos regem
complementos introduzidos pela preposição «a”.Veja: Questões

Obedecer a algo/ a alguém. 01. Assinale a alternativa em que a preposição “a” não deva


Obediente a algo/ a alguém. ser empregada, de acordo com a regência nominal.
(A) A confiança é necessária ____ qualquer relacionamento.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados (B) Os pais de Pâmela estão alheios ____ qualquer decisão.
da preposição ou preposições que os regem. Observe-os (C) Sirlene tem horror ____ aves.
atentamente e procure, sempre que possível, associar esses (D) O diretor está ávido ____ melhores metas.
nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece. (E) É inegável que a tecnologia ficou acessível ____ toda
população.
Substantivos
Admiração a, por 02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem sinto......
Devoção a, para, com, por simpatia.
Medo a, de (A) a, por, menos
Aversão a, para, por (B) do que, por, menos
Doutor em (C) a, para, menos
Obediência a (D) do que, com, menos
Atentado a, contra (E) do que, para, menos
Dúvida acerca de, em, sobre

Língua Portuguesa 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser - Conjunção subordinativa:
seguidos pela mesma preposição: Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.
(A) ávido, bom, inconsequente
(B) indigno, odioso, perito Ênclise
(C) leal, limpo, oneroso
(D) orgulhoso, rico, sedento A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não
(E) oposto, pálido, sábio aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A
ênclise vai acontecer quando:
04. “As mulheres da noite,......o poeta faz alusão a colorir
Aracaju,........coração bate de noite, no silêncio”. A opção que - O verbo estiver no imperativo afirmativo:
completa corretamente as lacunas da frase acima é: Amem-se uns aos outros.
(A) as quais, de cujo Sigam-me e não terão derrotas.
(B) a que, no qual
(C) de que, o qual - O verbo iniciar a oração:
(D) às quais, cujo Diga-lhe que está tudo bem.
(E) que, em cujo Chamaram-me para ser sócio.

05. Com relação à Regência Nominal, indique a alternativa - O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da preposição
em que esta foi corretamente empregada. “a”:
(A) A colocação de cartazes na rua foi proibida. Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
(B) É bom aspirar ao ar puro do campo. Passaram a cumprimentar-se mutuamente.
(C) Ele foi na Grécia.
(D) Obedeço o Código de Trânsito. - O verbo estiver no gerúndio:
Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de
Respostas despreocupada.
01. D\02. A\03. D\04. D\05. A Despediu-se, beijando-me a face.

- Houver vírgula ou pausa antes do verbo:


Colocação pronominal. Se passar no vestibular em outra cidade, mudo-me no
mesmo instante.
Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.
Colocação dos Pronomes Oblíquos Mesóclise
Átonos
A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no
De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi, a futuro do presente ou no futuro do pretérito:
colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela se
oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se realizará)
referem. Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma
proposta a você)
São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, Fontes:
lhes, nos e vos. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal.
oração em relação ao verbo: htm

1. próclise: pronome antes do verbo Questões


2. ênclise: pronome depois do verbo
3. mesóclise: pronome no meio do verbo 01. Considerada a norma culta escrita, há correta substituição
de estrutura nominal por pronome em:
Próclise (A) Agradeço antecipadamente sua Resposta // Agradeço-
lhes antecipadamente.
A próclise é aplicada antes do verbo quando temos: (B) do verbo fabricar se extraiu o substantivo fábrica. // do
- Palavras com sentido negativo: verbo fabricar se extraiu-lhe.
Nada me faz querer sair dessa cama. (C) não faltam lexicógrafos // não faltam-os.
Não se trata de nenhuma novidade. (D) Gostaria de conhecer suas considerações // Gostaria de
conhecê-las.
- Advérbios: (E) incluindo a palavra ‘aguardo’ // incluindo ela.
Nesta casa se fala alemão.
Naquele dia me falaram que a professora não veio. 02. Caso fosse necessário substituir o termo destacado em
“Basta apresentar um documento” por um pronome, de acordo
- Pronomes relativos: com a norma-padrão, a nova redação deveria ser
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje. (A) Basta apresenta-lo.
Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram. (B) Basta apresentar-lhe.
(C) Basta apresenta-lhe.
- Pronomes indefinidos: (D) Basta apresentá-la.
Quem me disse isso? (E) Basta apresentá-lo.
Todos se comoveram durante o discurso de despedida.
03. Em qual período, o pronome átono que substitui o
- Pronomes demonstrativos: sintagma em destaque tem sua colocação de acordo com a
Isso me deixa muito feliz! norma-padrão?
Aquilo me incentivou a mudar de atitude! (A) O porteiro não conhecia o portador do embrulho –
conhecia-o
- Preposição seguida de gerúndio: (B) Meu pai tinha encontrado um marinheiro na praça Mauá
Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais – tinha encontrado-o.
indicado à pesquisa escolar. (C) As pessoas relatarão as suas histórias para o registro no
Museu – relatá-las-ão.

Língua Portuguesa 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
(D) Quem explicou às crianças as histórias de seus Ela não tem nada a dizer.
antepassados? – explicou-lhes.
(E) Vinham perguntando às pessoas se aceitavam a ideia de Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos
um museu virtual – Lhes vinham perguntando. exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.

04. De acordo com a norma-padrão e as questões gramaticais 3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de
que envolvem o trecho “Frustrei-me por não ver o Escola”, é tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
correto afirmar que Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
(A) “me” poderia ser deslocado para antes do verbo que Entreguei a todos os documentos necessários.
acompanha. Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
(B) “me” deveria obrigatoriamente ser deslocado para antes
do verbo que acompanha. Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes
(C) a ênclise em “Frustrei-me” é facultativa. podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina
(D) a inclusão do advérbio Não, no inı́cio da oração “Frustrei- por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao,
me”, tornaria a próclise obrigatória. ocorrerá crase. Por exemplo:
(E) a ênclise em “Frustrei-me” é obrigatória.
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
05. A substituição do elemento grifado pelo pronome Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
correspondente foi realizada de modo INCORRETO em: Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio
(A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu Cláudio para sair mais cedo.)
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
(C) para fazer a dragagem = para fazê-la 4-) diante de numerais cardinais:
(D) que desviava a água = que lhe desviava Chegou a duzentos o número de feridos
(E) supriam a necessidade = supriam-na Daqui a uma semana começa o campeonato.

Respostas Casos em que a crase SEMPRE ocorre:


01. D/02. E/03. C/04. D/05. D
1-) diante de palavras femininas:
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Crase. Sempre vamos à praia no verão.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Sou grata à população.
Crase Fumar é prejudicial à saúde.
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
A palavra crase é de origem grega e significa «fusão»,
«mistura». Na língua portuguesa, é o nome que se dá à «junção» 2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de”
de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. 
pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também,
para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos 3-) na indicação de horas:
e nomes que exigem a preposição  “a”. Aprender a usar a Acordei às sete horas da manhã.
crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência Elas chegaram às dez horas.
simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome.  Foram dormir à meia-noite.

Observe: 4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de


Vou a + a igreja. que participam palavras femininas. Por exemplo:
Vou à igreja.
à tarde às ocultas às pressas à medida que
No exemplo acima, temos a ocorrência da à noite às claras às escondidas à força
preposição  “a”,  exigida pelo verbo  ir (ir a algum lugar) e a
ocorrência do artigo “a” que está determinando o substantivo à vontade à beça à larga à escuta
feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e às avessas à revelia à exceção de à imitação de
elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe
os outros exemplos: à esquerda às turras às vezes à chave
à direita à procura à deriva à toa
Conheço a aluna.
Refiro-me à aluna. à proporção
à luz à sombra de à frente de
No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer que
algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode à
ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto semelhança às ordens à beira de
(referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição  “a”. de
Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja
feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já Crase diante de Nomes de Lugar
especificados.
Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre: Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do
artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que
1-) diante de substantivos masculinos: diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a
Andamos a cavalo. preposição “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não
Fomos a pé. a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo
regente por um verbo que peça a preposição  “de”  ou  “em”. A
2-) diante de  verbos no infinitivo: ocorrência da contração  “da”  ou  “na”  prova que esse nome de
A criança começou a falar. lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase.

Língua Portuguesa 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
Por exemplo: Seus argumentos são superiores aos dele.
Vou  à  França. (Vim  da [de+a] França. Estou  na [em+a] Sua blusa é idêntica à de minha colega.
França.) Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália) A Palavra Distância
Vou  a  Porto Alegre. (Vim  de Porto Alegre. Estou em Porto
Alegre.)  Se a palavra  distância  estiver especificada, determinada, a
crase deve ocorrer.
- Minha dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A Por exemplo:
volto DE, crase PRA QUÊ?” Sua casa fica  à  distância de 100 Km daqui. (A palavra está
Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. determinada)
Vou à praia. = Volto da praia. Todos devem ficar  à  distância de 50 metros do palco. (A
palavra está especificada.)
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja: Se a palavra  distância  não estiver especificada, a
Retornarei  à  São Paulo dos bandeirantes. = crase não pode ocorrer. 
mesmo que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” Por exemplo:
Irei à Salvador de Jorge Amado. Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Ensinou a distância.
Aquela (s), Aquilo Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo
regente exigir a preposição “a”. Por exemplo: Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade,
pode-se usar a crase.
Refiro-me a + aquele atentado. Veja:
Preposição Pronome Gostava de fotografar à distância.
Ensinou à distância.
Refiro-me àquele atentado. Dizem que aquele médico cura à distância.

O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição,
portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: 1-) diante de nomes próprios femininos:
Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes
Aluguei aquela casa. próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exige A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.
Veja outros exemplos: Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos
Quero agradecer àqueles que me socorreram. escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
Não obedecerei àquele sujeito. Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a
Roberto.
Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao
Roberto.
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as
quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes 2-) diante de pronome possessivo feminino:
exigir a preposição  «a»,  haverá crase. É possível detectar a Observação: é facultativo o uso da crase diante de
ocorrência da crase nesses casos utilizando a substituição do pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do
termo regido feminino por um termo regido masculino.  artigo. Observe:
Por exemplo: Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade. esperando por você.
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está
esperando por você.
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
Veja outros exemplos: Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de
São normas às quais todos os alunos devem obedecer. pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as
Esta foi a conclusão à qual ele chegou. frases abaixo das seguintes formas:
Várias alunas  às quais  ele fez perguntas não souberam
responder nenhuma das questões. Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
A sessão à qual assisti estava vazia. Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.

Crase com o Pronome Demonstrativo “a” 3-) depois da preposição até:


Fui até a praia. ou Fui até à praia.
A ocorrência da crase com o pronome Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta.
demonstrativo “a” também pode ser detectada através da A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou
substituição do termo regente feminino por um termo regido A palestra vai até às cinco horas da tarde.
masculino. 
Veja: Questões
Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país. 01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar-
As orações são semelhantes às de antes. se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas
Os exemplos são semelhantes aos de antes. consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades
Suas perguntas são superiores às dele. e estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo

Língua Portuguesa 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
questões de saúde pública como programas de esclarecimento segmento grifado for substituído por:
e prevenção, de tratamento para dependentes e de reintegração A) leitura apressada e sem profundidade.
desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome de um médico B) cada um de nós neste formigueiro.
ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa C) exemplo de obras publicadas recentemente.
própria família? D) uma comunicação festiva e virtual.
E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo,
17.09.2012. Adaptado) 05. O Instituto Nacional de Administração Prisional
(INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-
respectivamente, com: lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em
(A) aos … à … a … a liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma
(B) aos … a … à … a vida digna.
(C) a … a … à … à (Disponível em:
(D) à … à … à … à www.metropolitana.com.br/blog/qual_e_a_importancia_da_
(E) a … a … a … a ressocializacao_de_presos. Acesso em: 18.08.2012. Adaptado)

02. Leia o texto a seguir. Assinale a alternativa que preenche, correta e


Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu respectivamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do padrão da língua portuguesa.
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu- A) à … à … à
lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o B) a … a … à
que fez. C) a … à … à
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de D) à … à ... a
Janeiro: Globo, 1997, p. 6) E) a … à … a

Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na Respostas


ordem dada: 1-B / 2-A / 3-B / 4-A / 5-D
A) à – a – a
B) a – a – à
C) à – a – à
D) à – à – a
Anotações
E) a – à – à

03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas já


expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
a) à - àqueles - a - há 
b) a - àqueles - a - há 
c) a - aqueles - à - a 
d) à - àqueles - a - a 
e) a - aqueles - à - há

04. Leia o texto a seguir.

Comunicação

O público ledor (existe mesmo!) é sensorial: quer ter um autor


ao vivo, em carne e osso. Quando este morre, há uma queda de
popularidade em termos de venda. Ou, quando teatrólogo, em
termos de espetáculo. Um exemplo: G. B. Shaw. E, entre nós, o
suave fantasma de Cecília Meireles recém está se materializando,
tantos anos depois.
Isto apenas vem provar que a leitura é um remédio para
a solidão em que vive cada um de nós neste formigueiro. Claro
que não me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva e
efervescente.
Porque o autor escreve, antes de tudo, para expressar-se. Sua
comunicação com o leitor decorre unicamente daí. Por afinidades.
É como, na vida, se faz um amigo.
E o sonho do escritor, do poeta, é individualizar cada
formiga num formigueiro, cada ovelha num rebanho − para que
sejamos humanos e não uma infinidade de xerox infinitamente
reproduzidos uns dos outros.
Mas acontece que há também autores xerox, que nos invadem
com aqueles seus best-sellers...
Será tudo isto uma causa ou um efeito?
Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já foi
civilizado.

(Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1.


ed., 2005. p. 654)

Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação


festiva e efervescente.
O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se o

Língua Portuguesa 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Língua Portuguesa 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
MATEMÁTICA

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

parênteses há subtração e multiplicação, vamos resolver a


multiplicação primeiro, em seguida, resolvemos a subtração.
{100 – 413 x (20 – 5 x 4) + 25} : 5
{100 – 413 x (20 – 20) + 25} : 5
{100 – 413 x 0 + 25} : 5
Eliminado os parênteses, vamos resolver as chaves,
efetuando as operações seguindo a ordem.
{100 – 413 x 0 + 25} : 5
{100 – 0 + 25} : 5
Resolução de situações- {100 + 25} : 5
problema, envolvendo: adição, 125 : 5
subtração, multiplicação, 25
divisão, potenciação ou B) – 62 : (– 5 + 3) – [– 2 . (– 1 + 3 – 1)² – 16 : (– 1 + 3)²] →
radiciação com números reais, elimine os parênteses.
nas suas possíveis – 62 : (– 2) – [– 2 . (2 – 1)² – 16 : 2²] → continue eliminando
os parênteses.
representações – 62 : (– 2) – [– 2 . 1 – 16 : 2²] → resolva as potências dentro
do colchetes.
Caro (a) candidato (a), este Tópico refere-se EXPRESSÕES – 62 : (– 2) – [– 2 . 1 – 16 : 4] → resolva as operações de
NUMERICAS. multiplicação e divisão nos colchetes.
– 62 : (– 2) – [– 2 – 4] =
EXPRESSÕES NÚMERICAS – 62 : (– 2) – [– 6] = elimine o colchete.
– 62 : (– 2) + 6 = efetue a potência.
Expressões numéricas são todas sentenças matemáticas 31 + 6 = 37
formadas por números, suas operações (adições, subtrações,
multiplicações, divisões, potenciações e radiciações) e também C) [(5² - 6.2²).3 + (13 – 7)² : 3] : 5
por símbolos chamados de sinais de associação, que podem [(25 – 6.4).3 + 6² : 3] : 5 =
aparecer em uma única expressão. [(25 – 24).3 + 36 : 3 ] : 5 =
[1.3 + 12] : 5 =
Para resolvermos devemos estar atentos a alguns [3 + 12 ] : 5 =
procedimentos: 15 : 5 = 3

1º) Nas expressões que aparecem as operações numéricas, 𝟐


D) [(𝟏𝟎 − 𝟑√𝟏𝟐𝟓) + (𝟑 + 𝟐𝟑 : 𝟒)]𝟐
devemos resolver as potenciações e/ou radiciações
[(10 - 5)2 + (3 + 8 : 4)]2
primeiramente, na ordem que elas aparecem e somente depois
[5² + (3+2)]2
as multiplicações e/ou divisões (na ordem que aparecem) e
[25 + 5]2
por último as adições e subtrações também na ordem que
302
aparecem.
900
Exemplos:
A) 10 + 12 – 6 + 7→ primeiro resolvemos a adição e
Expressões Numéricas com Frações
subtração em qualquer ordem
A ordem das operações para se resolver uma expressão
22 – 6 + 7
numérica com fração, são as mesmas para expressões
16 + 7
numéricas com números reais. Você também precisará
23
dominar as principais operações com frações: adição,
subtração, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação.
B) 15 x 2 – 30 ÷ 3 + 7 → primeiro resolveremos a
Um ponto que deve ser levado em conta é o m.m.c (mínimo
multiplicação e a divisão, em qualquer ordem.
múltiplo comum) entre os denominadores das frações, através
30 – 10 + 7 → Agora resolveremos a adição e subtração,
da fatoração numérica.
também em qualquer ordem.
Exemplos:
27
1) Qual o valor da expressão abaixo?
2º) Quando aparecem os sinais de associações os mesmos 1 3 1 3
( ) + .
tem uma ordem a ser seguida. Primeiro, resolvemos os 2 2 4
parênteses ( ), quando acabarem os cálculos dentro dos
parênteses, resolvemos os colchetes [ ]; e quando não houver A) 7/16
mais o que calcular dentro dos colchetes { }, resolvemos as B) 13/24
chaves. C) 1/2
→ Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, D) 21/24
colchetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o Resolvendo temos:
colchete ou chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os
números internos com o seus sinais originais. 1º passo resolver as operações entre parênteses, depois a
→ Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, multiplicação:
colchetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o
colchete ou chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os 1 3
+ , 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑜 𝑑𝑒𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜𝑟 é 𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜,
números internos com o seus sinais invertidos. 8 8
Exemplos:
4 1
A) {100 – 413 x (20 – 5 x 4) + 25} : 5 → Inicialmente 𝑒𝑓𝑒𝑡𝑢𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑎 𝑎𝑑𝑖çã𝑜: , 𝑝𝑜𝑑𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑠𝑖𝑚𝑝𝑙𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟:
devemos resolver os parênteses, mas como dentro dos 8 2

Resposta: C

Matemática 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

9 2 2 4 Qual é o valor correto de x?


2) O resultado da expressão 3. − {[( ) + 2] : √ }, em (A) 12
4 3 9
sua forma mais simples é: (B) 10
A) 6/37 (C) 1002
B) 37/12 (D) 102
C) 27/4
D) 22/6 04. (UNESP – Assistente Administrativo –
Resolvendo: VUNESP/2017) Considere a seguinte expressão numérica:
Vamos resolver a multiplicação do início, a potenciação (112 – 102 ) ÷ (3·2·5 – 32 ) ÷ 3
que está entre parênteses e a radiciação do final: O resultado correto é
27 4 2 (A) 5/3
− {[ + 2] : }, (B) 4/3
4 9 3
(C) 1
Na sequência vamos resolver a operação entre colchetes: (D) 2/3
(E) 1/3
27 4 + 18 2
− {[ ] : } , 𝑜 𝑚𝑚𝑐 é 9, 05. (UFSCAR – Assistente em Administração –
4 9 3
27 22 2 UFSCAR/2017) Considerando as expressões matemáticas
𝑎𝑔𝑜𝑟𝑎 𝑣𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑓𝑒𝑡𝑢𝑎𝑟 𝑎 𝑠𝑜𝑚𝑎: − {[ ] : } apresentadas a seguir, qual das seguintes igualdades é
4 9 3
verdadeira?
27 22 3 (A) -22 × 3-1 + 1 ÷ 3 = -1
𝑟𝑒𝑠𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑎 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑠ã𝑜, 𝑡𝑒𝑟𝑒𝑚𝑜𝑠: − { . }, (B) 3 - 3 ÷ 3 + 3 × 3 - 3 = 6
4 9 2
(C) 48 ÷ 2 ÷ 2 × 3 = 4
Lembrando que na divisão com frações conservamos a 1ª (D) (-17 + 26) ÷ 9 × 2 = 1/2
fração e multiplicamos pelo inverso da 2ª, podemos também (E) 7 + 2 × 3 - 5 × (-2) = 17
simplificar o resultado:
27 11 Respostas
− { }.
4 3
01. Resposta: A.
27 11 Resolvendo as expressões temos:
− , 𝑓𝑎𝑧𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑜 𝑚𝑚𝑐(4,3) = 12, (a) 2 + [(5 - 3) + 4] x 2 + 3 ⇾ 2 + [2 + 4] x 2 + 3
4 3
2 + [6] x 2 + 3 ⇾ 2 + 12 + 3 = 17
3.27 − 4.11 81 − 44 37 (b) 13 - [5 x (2 - 1) + 4 x 2] ⇾ 13 - [5 x (1) + 8]
= =
12 12 12 13 - [5 + 8] ⇾ 13 -13 = 0
Resposta: B. (c) 6 + 4 x 2 x (5 - 1) – 7 ⇾ 6 + 8 x (4) - 7
6 + 32 – 7 ⇾ 31
Referências Colocando em ordem crescente: 0 < 17 < 31, que é b < a < c
http://quimsigaud.tripod.com/expnumericas

02. Resposta: E.
Questões
Vamos resolver cada expressão separadamente:
1 1 1 1 1 16 + 8 + 4 + 2 + 1 31
01. (Pref. Tramandaí/RS – Auxiliar Administrativo – 𝐴= + + + + = =
OBJETIVA) Dadas as três expressões numéricas abaixo, é 2 4 8 16 32 32 32
CORRETO afirmar que: 1 1 1 1 1
(a) 2 + [(5 - 3) + 4] x 2 + 3 𝐵= + + + +
(b) 13 - [5 x (2 - 1) + 4 x 2] 3 9 27 81 243
(c) 6 + 4 x 2 x (5 - 1) - 7 81 + 27 + 9 + 3 + 1 121
=
243 243
(A) b < a < c
(B) a < b < c 31 121 243.31 + 32.121
(C) c < a < b A+B = + =
32 243 7776
(D) c < b < a
7533 + 3872 11405
02. (MANAUSPREV – Analista Previdenciário – = = 1,466 ≅ 1,5
7776 7776
Administrativa – FCC) Considere as expressões numéricas,
abaixo. 03. Resposta: A.
A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e B = 1/3 Resolvendo cada termo em partes temos:
+ 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243 10010 = 1
O valor, aproximado, da soma entre A e B é 1 3 2 3+3 2
(A) 2 ( + ) =( ) = (1)2 = 1
2 6 6
(B) 3 3
11/3 = √1 = 1
(C) 1
100 = √100 = 10
1/2
(D) 2,5
Montando a expressão temos: 1 + 1 + 1. 10 ⇾ 2 + 10 = 12
(E) 1,5
04. Resposta: E.
Resolvendo por partes temos:
03. (Pref. Tanguá/RJ – Agente Administrativo – MS
(121 – 100) ÷ (30 – 9) ÷ 3 ⇾ (21) ÷ (21) ÷ 3 ⇾ 1 ÷ 3 ou
CONCURSOS/2017) Com base nas operações e propriedades
1/3
dos números reais, resolva a expressão abaixo:

Matemática 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

05. Resposta: A. Decomposição isolada em fatores primos


(a) -4 x 1/3 + 1/3 = -1 ⇾ -4/3 + 1/3 = -1 ⇾ -3/3 = -1 ⇾ -1 Para obter o MMC de dois ou mais números por esse
= -1 (V) processo, procedemos da seguinte maneira:
(b) 3 – 1 + 9 – 3 = 6 ⇾ 2 + 6 = 6 ⇾ 8 = 6 (F) - Decompomos cada número dado em fatores primos.
(c) 24 ÷ 2 x 3 = 4 ⇾ 12 x 3 = 4 ⇾ 36 = 4 (F) - O MMC é o produto dos fatores comuns e não-comuns,
(d) 7 + 6 + 10 = 17 ⇾ 23 = 17 (F) cada um deles elevado ao seu maior expoente.
Exemplo:

Mínimo múltiplo comum


Máximo divisor comum

MDC
O produto do MDC e MMC é dado pela fórmula abaixo:
O máximo divisor comum(MDC) de dois ou mais números MDC(A, B).MMC(A,B)= A.B
é o maior número que é divisor comum de todos os números
dados. Consideremos: Questões
- o número 18 e os seus divisores naturais: 01. Um professor quer guardar 60 provas amarelas, 72
D+ (18) = {1, 2, 3, 6, 9, 18}. provas verdes e 48 provas roxas, entre vários envelopes, de
modo que cada envelope receba a mesma quantidade e o
- o número 24 e os seus divisores naturais: menor número possível de cada prova. Qual a quantidade de
D+ (24) = {1, 2, 3, 4, 6, 8, 12, 24}. envelopes, que o professor precisará, para guardar as provas?
(A) 4;
Podemos descrever, agora, os divisores comuns a 18 e 24: (B) 6;
D+ (18) ∩ D+ (24) = {1, 2, 3, 6}. (C) 12;
(D) 15.
Observando os divisores comuns, podemos identificar o
maior divisor comum dos números 18 e 24, ou seja: MDC (18, 02. O policiamento em uma praça da cidade é realizado por
24) = 6. um grupo de policiais, divididos da seguinte maneira:
Outra técnica para o cálculo do MDC: Grupo Intervalo de passagem
Decomposição em fatores primos
Policiais a pé 40 em 40 minutos
Para obtermos o MDC de dois ou mais números por esse
Policiais de moto 60 em 60 minutos
processo, procedemos da seguinte maneira:
Policiais em viaturas 80 em 80 minutos
- Decompomos cada número dado em fatores primos.
Toda vez que o grupo completo se encontra, troca
- O MDC é o produto dos fatores comuns obtidos, cada um
informações sobre as ocorrências. O tempo mínimo em
deles elevado ao seu menor expoente.
minutos, entre dois encontros desse grupo completo será:
Exemplo:
(A) 160
(B) 200
(C) 240
(D) 150
(E) 180

03. Na linha 1 de um sistema de Metrô, os trens partem 2,4


em 2,4 minutos. Na linha 2 desse mesmo sistema, os trens
MMC partem de 1,8 em 1,8 minutos. Se dois trens partem,
simultaneamente das linhas 1 e 2 às 13 horas, o próximo
O mínimo múltiplo comum(MMC) de dois ou mais horário desse dia em que partirão dois trens simultaneamente
números é o menor número positivo que é múltiplo comum de dessas duas linhas será às 13 horas,
todos os números dados. Consideremos: (A) 10 minutos e 48 segundos.
(B) 7 minutos e 12 segundos.
- O número 6 e os seus múltiplos positivos: (C) 6 minutos e 30 segundos.
M*+ (6) = {6, 12, 18, 24, 30, 36, 42, 48, 54, ...} (D) 7 minutos e 20 segundos.
(E) 6 minutos e 48 segundos.
- O número 8 e os seus múltiplos positivos:
M*+ (8) = {8, 16, 24, 32, 40, 48, 56, 64, ...} Respostas

Podemos descrever, agora, os múltiplos positivos comuns: 01. Resposta: D.


M*+ (6) M*+ (8) = {24, 48, 72, ...} Fazendo o mdc entre os números teremos:
60 = 2².3.5
Observando os múltiplos comuns, podemos identificar o 72 = 2³.3³
mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja: MMC (6, 48 = 24.3
8) = 24 Mdc(60,72,48) = 2².3 = 12
60/12 = 5
Outra técnica para o cálculo do MMC: 72/12 = 6
48/12 = 4

Matemática 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Somando a quantidade de envelopes por provas teremos: Podemos ainda escrever:


5 + 6 + 4 = 15 envelopes ao todo. C + L = V ou L = V - C
P = C – V ou V = C - P
02. Resposta: C.
Devemos achar o mmc (40,60,80) A forma percentual é:

Exemplo:
Um objeto custa R$ 75,00 e é vendido por R$ 100,00.
𝑚𝑚𝑐(40,60,80) = 2 ∙ 2 ∙ 2 ∙ 2 ∙ 3 ∙ 5 = 240
Determinar:
a) a porcentagem de lucro em relação ao preço de custo;
03. Resposta: B.
b) a porcentagem de lucro em relação ao preço de venda.
Como os trens passam de 2,4 e 1,8 minutos, vamos achar o
mmc(18,24) e dividir por 10, assim acharemos os minutos
Resolução:
Preço de custo + lucro = preço de venda → 75 + lucro =100
→ Lucro = R$ 25,00

𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝑎) . 100% ≅ 33,33%
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜
Mmc(18,24)=72
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
Portanto, será 7,2 minutos 𝑏) . 100% = 25%
1 minuto---60s 𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎
0,2--------x
x = 12 segundos - Aumento e Desconto Percentuais
Portanto se encontrarão depois de 7 minutos e 12 A) Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo
𝒑
segundos por (𝟏 + ).V .
𝟏𝟎𝟎
Logo:
𝒑
VA = (𝟏 + ).V
𝟏𝟎𝟎

Porcentagem Exemplo:
1 - Aumentar um valor V de 20% , equivale a multiplicá-
lo por 1,20, pois:
20
(1 + ).V = (1+0,20).V = 1,20.V
Razões de denominador 100 que são chamadas de 100
razões centesimais ou taxas percentuais ou simplesmente de
porcentagem. Servem para representar de uma B) Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo
𝒑
maneira prática o "quanto" de um "todo" se está por (𝟏 − ).V.
𝟏𝟎𝟎
referenciando. Logo:
𝒑
Costumam ser indicadas pelo numerador seguido do V D = (𝟏 − ).V
𝟏𝟎𝟎
símbolo % (Lê-se: “por cento”).

𝒙 Exemplo:
𝒙% = Diminuir um valor V de 40%, equivale a multiplicá-lo por
𝟏𝟎𝟎
0,60, pois:
40
Exemplo: (1 − ). V = (1-0,40). V = 0, 60.V
100
Em uma classe com 30 alunos, 18 são rapazes e 12 são
moças. Qual é a taxa percentual de rapazes na classe? 𝒑 𝒑
A esse valor final de (𝟏 + ) ou (𝟏 − ), é o que
𝟏𝟎𝟎 𝟏𝟎𝟎
Resolução: A razão entre o número de rapazes e o total de
18 chamamos de fator de multiplicação, muito útil para
alunos é . Devemos expressar essa razão na forma resolução de cálculos de porcentagem. O mesmo pode ser um
30
centesimal, isto é, precisamos encontrar x tal que: acréscimo ou decréscimo no valor do produto.

18 𝑥 - Aumentos e Descontos Sucessivos


= ⟹ 𝑥 = 60
30 100 São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente.
Para efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos
E a taxa percentual de rapazes é 60%. Poderíamos ter uso dos fatores de multiplicação.
divido 18 por 30, obtendo:
Vejamos alguns exemplos:
18 1) Dois aumentos sucessivos de 10% equivalem a um
= 0,60(. 100%) = 60%
30 único aumento de...?
𝑝
Utilizando VA = (1 + ).V → V. 1,1 , como são dois de
- Lucro e Prejuízo 100
10% temos → V. 1,1 . 1,1 → V. 1,21 Analisando o fator de
É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo.
multiplicação 1,21; concluímos que esses dois aumentos
Caso a diferença seja positiva, temos o lucro(L), caso seja
significam um único aumento de 21%.
negativa, temos prejuízo(P).
Observe que: esses dois aumentos de 10% equivalem a
21% e não a 20%.
Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).

Matemática 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

2) Dois descontos sucessivos de 20% equivalem a um 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑔𝑖á𝑟𝑖𝑜𝑠 5 1


∗ 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = = =
único desconto de: 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 30 6
𝑝
Utilizando VD = (1 − ).V → V. 0,8 . 0,8 → V. 0,64 . .
100
Analisando o fator de multiplicação 0,64, observamos que
esse percentual não representa o valor do desconto, mas sim 03. Resposta: D.
o valor pago com o desconto. Para sabermos o valor que 15% de 1130 = 1130.0,15 ou 1130.15/100 → 169,50
representa o desconto é só fazermos o seguinte cálculo:
100% - 64% = 36%
Observe que: esses dois descontos de 20% equivalem a
36% e não a 40%. Razão e proporção
Referências
IEZZI, Gelson – Fundamentos da Matemática – Vol. 11 – Financeira e
Estatística Descritiva
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único RAZÃO
http://www.porcentagem.org
http://www.infoescola.com É o quociente entre dois números (quantidades, medidas,
grandezas).
Questões Sendo a e b dois números a sua razão, chama-se razão de a
para b:
01. Marcos comprou um produto e pagou R$ 108,00, já
inclusos 20% de juros. Se tivesse comprado o produto, com 𝑎
25% de desconto, então, Marcos pagaria o valor de: 𝑜𝑢 𝑎: 𝑏 , 𝑐𝑜𝑚 𝑏 ≠ 0
𝑏
(A) R$ 67,50 Onde:
(B) R$ 90,00
(C) R$ 75,00
(D) R$ 72,50

02. O departamento de Contabilidade de uma empresa tem


Exemplo:
20 funcionários, sendo que 15% deles são estagiários. O
Em um vestibular para o curso de marketing, participaram
departamento de Recursos Humanos tem 10 funcionários,
3600 candidatos para 150 vagas. A razão entre o número de
sendo 20% estagiários. Em relação ao total de funcionários
vagas e o número de candidatos, nessa ordem, foi de
desses dois departamentos, a fração de estagiários é igual a
(A) 1/5.
𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑔𝑎𝑠 150 1
(B) 1/6. = =
(C) 2/5. 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎𝑡𝑜𝑠 3600 24
(D) 2/9.
Lemos a fração como: Um vinte e quatro avós.
(E) 3/5.
- Quando a e b forem medidas de uma mesma grandeza,
03. Quando calculamos 15% de 1.130, obtemos, como
essas devem ser expressas na mesma unidade.
resultado
(A) 150
- Razões Especiais
(B) 159,50;
Escala → Muitas vezes precisamos ilustrar distâncias
(C) 165,60;
muito grandes de forma reduzida, então utilizamos a escala,
(D) 169,50.
que é a razão da medida no mapa com a medida real (ambas
Respostas
na mesma unidade).
𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑚𝑎𝑝𝑎
01. Resposta: A. 𝐸=
Como o produto já está acrescido de 20% juros sobre o seu 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑙
preço original, temos que: Velocidade média → É a razão entre a distância percorrida
100% + 20% = 120% e o tempo total de percurso. As unidades utilizadas são km/h,
Precisamos encontrar o preço original (100%) da m/s, entre outras.
mercadoria para podermos aplicarmos o desconto. 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑝𝑒𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑑𝑎
Utilizaremos uma regra de 3 simples para encontrarmos: 𝑉=
𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
R$ %
108 ---- 120
Densidade → É a razão entre a massa de um corpo e o seu
X ----- 100
volume. As unidades utilizadas são g/cm³, kg/m³, entre outras.
120x = 108.100 → 120x = 10800 → x = 10800/120 → x =
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜
90,00 𝐷=
O produto sem o juros, preço original, vale R$ 90,00 e 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜
representa 100%. Logo se receber um desconto de 25%,
significa ele pagará 75% (100 – 25 = 75%) → 90. 0,75 = 67,50
Então Marcos pagou R$ 67,50. PROPORÇÃO

02. Resposta: B. É uma igualdade entre duas razões.


15 30
* Dep. Contabilidade: . 20 = = 3 → 3 (estagiários) 𝑎 𝑐 𝑎 𝑐
100 10 Dada as razões e , à setença de igualdade = chama-
𝑏 𝑑 𝑏 𝑑
20 200 se proporção.
* Dep. R.H.: . 10 = = 2 → 2 (estagiários) Onde:
100 100

Matemática 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

02. Alfredo irá doar seus livros para três bibliotecas da


universidade na qual estudou. Para a biblioteca de
matemática, ele doará três quartos dos livros, para a biblioteca
de física, um terço dos livros restantes, e para a biblioteca de
química, 36 livros. O número de livros doados para a biblioteca
- Propriedades da Proporção de física será
1 - Propriedade Fundamental (A) 16.
O produto dos meios é igual ao produto dos extremos, isto (B) 22.
é, a . d = b . c (C) 20.
Exemplo: (D) 24.
45 9 (E)18.
Na proporção = ,(lê-se: “45 esta para 30 , assim como
30 6
9 esta para 6.), aplicando a propriedade fundamental , temos:
03. Foram construídos dois reservatórios de água. A razão
45.6 = 30.9 = 270
entre os volumes internos do primeiro e do segundo é de 2
para 5, e a soma desses volumes é 14m³. Assim, o valor
2 - A soma dos dois primeiros termos está para o primeiro
absoluto da diferença entre as capacidades desses dois
(ou para o segundo termo), assim como a soma dos dois
reservatórios, em litros, é igual a
últimos está para o terceiro (ou para o quarto termo).
𝑎 𝑐 𝑎+𝑏 𝑐+𝑑 𝑎+𝑏 𝑐+𝑑 (A) 8000.
= → = 𝑜𝑢 = (B) 6000.
𝑏 𝑑 𝑎 𝑐 𝑏 𝑑 (C) 4000.
3 - A diferença entre os dois primeiros termos está para o (D) 6500.
primeiro (ou para o segundo termo), assim como a diferença (E) 9000.
Respostas
entre os dois últimos está para o terceiro (ou para o quarto
termo).
𝑎 𝑐 𝑎−𝑏 𝑐−𝑑 𝑎−𝑏 𝑐−𝑑 01. Resposta: D.
= → = 𝑜𝑢 = Pelo enunciado temos que:
𝑏 𝑑 𝑎 𝑐 𝑏 𝑑
A=3
4 - A soma dos antecedentes está para a soma dos B=C–3
consequentes, assim como cada antecedente está para o seu C
consequente. D = 18
𝑎 𝑐 𝑎+𝑐 𝑎 𝑎+𝑐 𝑐 Como eles são proporcionais podemos dizer que:
= → = 𝑜𝑢 = 𝐴 𝐶 3 𝐶
𝑏 𝑑 𝑏+𝑑 𝑏 𝑏+𝑑 𝑑 = → = → 𝐶 2 − 3𝐶 = 3.18 → 𝐶 2 − 3𝐶 − 54 = 0
𝐵 𝐷 𝐶 − 3 18
5 - A diferença dos antecedentes está para a diferença dos
consequentes, assim como cada antecedente está para o seu Vamos resolver a equação do 2º grau:
consequente.
𝑎 𝑐 𝑎−𝑐 𝑎 𝑎−𝑐 𝑐 −𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐
= → = 𝑜𝑢 = 𝑥=
𝑏 𝑑 𝑏−𝑑 𝑏 𝑏−𝑑 𝑑 2𝑎
- Problema envolvendo razão e proporção −(−3) ± √(−3)2 − 4.1. (−54) 3 ± √225
Em um concurso participaram 3000 pessoas e foram → →
2.1 2
aprovadas 1800. A razão do número de candidatos aprovados
para o total de candidatos participantes do concurso é: 3 ± 15
A) 2/3 →
2
B) 3/5
C) 5/10 3 + 15 18 3 − 15 −12
D) 2/7 𝑥1 = = = 9 ∴ 𝑥2 = = = −6
2 2 2 2
E) 6/7
Como não existe idade negativa, então vamos considerar
Resolução: somente o 9. Logo C = 9
B=C–3=9–3=6
Somando teremos: 3 + 6 + 9 + 18 = 36
Resposta “B”
02. Resposta: E.
Referências X = total de livros
IEZZI, Gelson – Fundamentos da Matemática – Vol. 11 – Financeira e Matemática = ¾ x , restou ¼ de x
Estatística Descritiva
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único Física = 1/3.1/4 = 1/12
http://educacao.globo.com Química = 36 livros
Logo o número de livros é: 3/4x + 1/12x + 36 = x
Questões Fazendo o mmc dos denominadores (4,12) = 12
Logo:
01. André, Bruno, Carlos e Diego são irmãos e suas idades 9𝑥 + 1𝑥 + 432 = 12𝑥
→ 10𝑥 + 432 = 12𝑥
formam, na ordem apresentada, uma proporção. Considere 12
que André tem 3 anos, Diego tem 18 anos e Bruno é 3 anos
mais novo que Carlos. Assim, a soma das idades, destes quatro → 12𝑥 − 10𝑥 = 432 → 2𝑥 = 432 →
irmãos, é igual a 432
𝑥= → 𝑥 = 216
(A) 30 2
(B) 32; Como a Biblioteca de Física ficou com 1/12x, logo teremos:
(C) 34; 1 216
. 216 = = 18
(D) 36. 12 12

Matemática 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

03. Resposta: B. Distância (km) Litros de álcool


Primeiro:2k 180 ---- 15
Segundo:5k 210 ---- x
2k + 5k = 14 → 7k = 14 → k = 2
Primeiro: 2.2 = 4 Na coluna em que aparece a variável x (“litros de álcool”),
Segundo5.2=10 vamos colocar uma flecha:
Diferença: 10 – 4 = 6 m³
1m³------1000L
6--------x
x = 6000 l
Observe que, se duplicarmos a distância, o consumo de
álcool também duplica. Então, as grandezas distância e litros
de álcool são diretamente proporcionais. No esquema que
Regra de três simples ou estamos montando, indicamos esse fato colocando uma flecha
composta na coluna “distância” no mesmo sentido da flecha da coluna
“litros de álcool”:

REGRA DE TRÊS SIMPLES

Os problemas que envolvem duas grandezas diretamente


ou inversamente proporcionais podem ser resolvidos através
de um processo prático, chamado regra de três simples. Armando a proporção pela orientação das flechas, temos:
Vejamos a tabela abaixo:
180 15
=
Grandezas Relação Descrição 210 𝑥
Nº de MAIS funcionários → 𝑜𝑚𝑜 180 𝑒 210 𝑝𝑜𝑑𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑟 𝑠𝑖𝑚𝑝𝑙𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 30, 𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠:
funcionário x Direta contratados demanda MAIS 180: 30 15 1806 15
= =
serviço serviço produzido 210: 30 𝑥 2107 𝑥
Nº de MAIS funcionários
funcionário x Inversa contratados exigem MENOS → 𝑚𝑢𝑙𝑡𝑖𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑐𝑟𝑢𝑧𝑎𝑑𝑜(𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑒𝑚𝑜𝑠)
tempo tempo de trabalho 105
→ 6𝑥 = 7.156𝑥 = 105 → 𝑥 = = 𝟏𝟕, 𝟓
Nº de MAIS eficiência (dos 6
funcionário x Inversa funcionários) exige MENOS Resposta: O carro gastaria 17,5 L de álcool.
eficiência funcionários contratados
Nº de Quanto MAIOR o grau de 2) Viajando de automóvel, à velocidade de 50 km/h, eu
funcionário x dificuldade de um serviço, gastaria 7 h para fazer certo percurso. Aumentando a
Direta velocidade para 80 km/h, em quanto tempo farei esse
grau MAIS funcionários deverão
dificuldade ser contratados percurso?
MAIS serviço a ser produzido
Serviço x Indicando por x o número de horas e colocando as
Direta exige MAIS tempo para
tempo grandezas de mesma espécie em uma mesma coluna e as
realiza-lo
grandezas de espécies diferentes que se correspondem em
Quanto MAIOR for a
Serviço x uma mesma linha, temos:
Direta eficiência dos funcionários,
eficiência
MAIS serviço será produzido
Velocidade (km/h) Tempo (h)
Quanto MAIOR for o grau de
50 ---- 7
Serviço x grau dificuldade de um serviço,
Inversa 80 ---- x
de dificuldade MENOS serviços serão
produzidos
Na coluna em que aparece a variável x (“tempo”), vamos
Quanto MAIOR for a
colocar uma flecha:
eficiência dos funcionários,
Tempo x
Inversa MENOS tempo será
eficiência
necessário para realizar um
determinado serviço
Quanto MAIOR for o grau de Observe que, se duplicarmos a velocidade, o tempo fica
dificuldade de um serviço, reduzido à metade. Isso significa que as grandezas velocidade
Tempo x grau
Direta MAIS tempo será necessário e tempo são inversamente proporcionais. No nosso
de dificuldade
para realizar determinado esquema, esse fato é indicado colocando-se na coluna
serviço “velocidade” uma flecha em sentido contrário ao da flecha da
coluna “tempo”:
Exemplos:
1) Um carro faz 180 km com 15L de álcool. Quantos litros
de álcool esse carro gastaria para percorrer 210 km?
O problema envolve duas grandezas: distância e litros de
álcool. Na montagem da proporção devemos seguir o sentido das
Indiquemos por x o número de litros de álcool a ser flechas. Assim, temos:
consumido. 7 80 7 808
Coloquemos as grandezas de mesma espécie em uma = , 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑟𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑒 𝑙𝑎𝑑𝑜 → = 5 → 7.5 = 8. 𝑥
𝑥 50 𝑥 50
mesma coluna e as grandezas de espécies diferentes que se
correspondem em uma mesma linha: 35
𝑥= → 𝑥 = 4,375 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠
8
Matemática 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Como 0,375 corresponde 22 minutos (0,375 x 60 minutos), 03. (PREF. IMARUÍ – AGENTE EDUCADOR – PREF.
então o percurso será feito em 4 horas e 22 minutos IMARUÍ) Manoel vendeu seu carro por R$27.000,00(vinte e
aproximadamente. sete mil reais) e teve um prejuízo de 10%(dez por cento) sobre
o valor de custo do tal veículo, por quanto Manoel adquiriu o
3) Ao participar de um treino de fórmula Indy, um carro em questão?
competidor, imprimindo a velocidade média de 180 km/h, faz (A) R$24.300,00
o percurso em 20 segundos. Se a sua velocidade fosse de 300 (B) R$29.700,00
km/h, que tempo teria gasto no percurso? (C) R$30.000,00
Vamos representar pela letra x o tempo procurado. (D)R$33.000,00
Estamos relacionando dois valores da grandeza velocidade (E) R$36.000,00
(180 km/h e 300 km/h) com dois valores da grandeza tempo
(20 s e x s). Respostas
Queremos determinar um desses valores, conhecidos os
outros três. 01. Resposta: E.
Utilizaremos uma regra de três simples:
ano %
11442 ------- 100
17136 ------- x
Se duplicarmos a velocidade inicial do carro, o tempo gasto
11442.x = 17136 . 100 x = 1713600 / 11442 = 149,8%
para fazer o percurso cairá para a metade; logo, as grandezas
(aproximado)
são inversamente proporcionais. Assim, os números 180 e 300
149,8% – 100% = 49,8%
são inversamente proporcionais aos números 20 e x.
Aproximando o valor, teremos 50%
Daí temos:
3600
180.20 = 300. 𝑥 → 300𝑥 = 3600 → 𝑥 = 02. Resposta: C.
300
𝑥 = 12 Se R$ 315,00 já está com o desconto de 10%, então R$
Conclui-se, então, que se o competidor tivesse andando em 315,00 equivale a 90% (100% - 10%).
300 km/h, teria gasto 12 segundos para realizar o percurso. Utilizaremos uma regra de três simples:
$ %
Questões 315 ------- 90
x ------- 100
01. (PM/SP – Oficial Administrativo – VUNESP) Em 3 de 90.x = 315 . 100 x = 31500 / 90 = R$ 350,00
maio de 2014, o jornal Folha de S. Paulo publicou a seguinte
informação sobre o número de casos de dengue na cidade de 03. Resposta: C.
Campinas. Como ele teve um prejuízo de 10%, quer dizer 27000 é
90% do valor total.
Valor %
27000 ------ 90
X ------- 100

27000 909 27000 9


= 10 → = → 9.x = 27000.10 → 9x = 270000
𝑥 100 𝑥 10
→ x = 30000.

REGRA DE TRÊS COMPOSTA

O processo usado para resolver problemas que envolvem


mais de duas grandezas, diretamente ou inversamente
proporcionais, é chamado regra de três composta.

Exemplos:
1) Em 4 dias 8 máquinas produziram 160 peças. Em
quanto tempo 6 máquinas iguais às primeiras produziriam
De acordo com essas informações, o número de casos
300 dessas peças?
registrados na cidade de Campinas, até 28 de abril de 2014,
Indiquemos o número de dias por x. Coloquemos as
teve um aumento em relação ao número de casos registrados
grandezas de mesma espécie em uma só coluna e as grandezas
em 2007, aproximadamente, de de espécies diferentes que se correspondem em uma mesma
(A) 70%. linha. Na coluna em que aparece a variável x (“dias”),
(B) 65%. coloquemos uma flecha:
(C) 60%.
(D) 55%.
(E) 50%.

02. (FUNDUNESP – Assistente Administrativo – Comparemos cada grandeza com aquela em que está o x.
VUNESP) Um título foi pago com 10% de desconto sobre o
valor total. Sabendo-se que o valor pago foi de R$ 315,00, é As grandezas peças e dias são diretamente proporcionais.
correto afirmar que o valor total desse título era de No nosso esquema isso será indicado colocando-se na coluna
(A) R$ 345,00. “peças” uma flecha no mesmo sentido da flecha da coluna
(B) R$ 346,50. “dias”:
(C) R$ 350,00.
(D) R$ 358,50.
(E) R$ 360,00.

Matemática 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Questões

01. (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO


ADMINISTRATIVO – FCC) O trabalho de varrição de 6.000 m²
de calçada é feita em um dia de trabalho por 18 varredores
trabalhando 5 horas por dia. Mantendo-se as mesmas
As grandezas máquinas e dias são inversamente
proporções, 15 varredores varrerão 7.500 m² de calçadas, em
proporcionais (duplicando o número de máquinas, o número
um dia, trabalhando por dia, o tempo de
de dias fica reduzido à metade). No nosso esquema isso será
(A) 8 horas e 15 minutos.
indicado colocando-se na coluna (máquinas) uma flecha no
(B) 9 horas.
sentido contrário ao da flecha da coluna “dias”:
(C) 7 horas e 45 minutos.
(D) 7 horas e 30 minutos.
(E) 5 horas e 30 minutos.

02. (PREF. CORBÉLIA/PR – CONTADOR – FAUEL) Uma


equipe constituída por 20 operários, trabalhando 8 horas por
Agora vamos montar a proporção, igualando a razão que dia durante 60 dias, realiza o calçamento de uma área igual a
4 4800 m². Se essa equipe fosse constituída por 15 operários,
contém o x, que é , com o produto das outras razões, obtidas trabalhando 10 horas por dia, durante 80 dias, faria o
x calçamento de uma área igual a:
 6 160  (A) 4500 m²
segundo a orientação das flechas  . : (B) 5000 m²
 8 300  (C) 5200 m²
(D) 6000 m²
(E) 6200 m²

03. (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VUNESP) Dez


Simplificando as proporções obtemos: funcionários de uma repartição trabalham 8 horas por dia,
4 2 4.5 durante 27 dias, para atender certo número de pessoas. Se um
= → 2𝑥 = 4.5 → 𝑥 = → 𝑥 = 10 funcionário doente foi afastado por tempo indeterminado e
𝑥 5 2
outro se aposentou, o total de dias que os funcionários
Resposta: Em 10 dias. restantes levarão para atender o mesmo número de pessoas,
trabalhando uma hora a mais por dia, no mesmo ritmo de
2) Uma empreiteira contratou 210 pessoas para trabalho, será:
pavimentar uma estrada de 300 km em 1 ano. Após 4 meses de (A) 29.
serviço, apenas 75 km estavam pavimentados. Quantos (B) 30.
empregados ainda devem ser contratados para que a obra seja (C) 33.
concluída no tempo previsto? (D) 28.
(E) 31.
Comparemos cada grandeza com aquela em que está o x. Respostas
As grandezas “pessoas” e “tempo” são inversamente
proporcionais (duplicando o número de pessoas, o tempo fica 01. Resposta: D.
reduzido à metade). No nosso esquema isso será indicado Comparando- se cada grandeza com aquela onde esta o x.
colocando-se na coluna “tempo” uma flecha no sentido M² varredores horas
contrário ao da flecha da coluna “pessoas”: 6000--------------18-------------- 5
7500--------------15--------------- x
Quanto mais a área, mais horas (diretamente
proporcionais)
Quanto menos trabalhadores, mais horas (inversamente
proporcionais)
5 6000 15
As grandezas “pessoas” e “estrada” são diretamente = ∙
𝑥 7500 18
proporcionais. No nosso esquema isso será indicado
colocando-se na coluna “estrada” uma flecha no mesmo 6000 ∙ 15 ∙ 𝑥 = 5 ∙ 7500 ∙ 18
sentido da flecha da coluna “pessoas”: 90000𝑥 = 675000
𝑥 = 7,5 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠
Como 0,5 h equivale a 30 minutos, logo o tempo será de 7
horas e 30 minutos.

02. Resposta: D.
Operários horas dias área
20-----------------8-------------60-------4800
Como já haviam 210 pessoas trabalhando, logo 315 – 210 15----------------10------------80-------- x
= 105 pessoas. Todas as grandezas são diretamente proporcionais, logo:
Reposta: Devem ser contratados 105 pessoas. 4800 20 8 60
= ∙ ∙
𝑥 15 10 80
Referências
20 ∙ 8 ∙ 60 ∙ 𝑥 = 4800 ∙ 15 ∙ 10 ∙ 80
MARIANO, Fabrício – Matemática Financeira para Concursos – 3ª Edição –
Rio de Janeiro: Elsevier,2013. 9600𝑥 = 57600000
𝑥 = 6000𝑚²

Matemática 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

03. Resposta: B. 3x = 16 + 2
Temos 10 funcionários inicialmente, com os afastamento 3x = 18
esse número passou para 8. Se eles trabalham 8 horas por dia 18
, passarão a trabalhar uma hora a mais perfazendo um total de x=
9 horas, nesta condições temos: 3
x=6
Funcionários horas dias
10---------------8--------------27
Há também um processo prático, bastante usado, que se
8----------------9-------------- x
baseia nessas ideias e na percepção de um padrão visual.
Quanto menos funcionários, mais dias devem ser
- Se a + b = c, conclui-se que a = c – b.
trabalhados (inversamente proporcionais).
Quanto mais horas por dia, menos dias devem ser
trabalhados (inversamente proporcionais). Na primeira igualdade, a parcela b aparece somando no
lado esquerdo; na segunda, a parcela b aparece subtraindo no
Funcionários horas dias
lado direito da igualdade.
8---------------9-------------- 27
- Se a . b = c, conclui-se que a = c : b, desde que b ≠ 0.
10----------------8----------------x

27 8 9 Na primeira igualdade, o número b aparece multiplicando


= ∙ → x.8.9 = 27.10.8 → 72x = 2160 → x = 30 dias. no lado esquerdo; na segunda, ele aparece dividindo no lado
𝑥 10 8
direito da igualdade.

Questões
Equações do 1.º ou do 2.º
graus 01. O gráfico mostra o número de gols marcados, por jogo,
de um determinado time de futebol, durante um torneio.

EQUAÇÃO DO 1º GRAU OU LINEAR

Equação é toda sentença matemática aberta que exprime


uma relação de igualdade e uma incógnita ou variável (x, y,
z,...).
Exemplos:
2x + 8 = 0
5x – 4 = 6x + 8

- Não são equações: Sabendo que esse time marcou, durante esse torneio, um
4 + 8 = 7 + 5 (Não é uma sentença aberta) total de 28 gols, então, o número de jogos em que foram
x – 5 < 3 (Não é igualdade) marcados 2 gols é:
5 ≠ 7 (não é sentença aberta, nem igualdade) (A) 3.
(B) 4.
Termo Geral da equação do 1º grau (C) 5.
Onde a e b (a≠0) são números conhecidos e a diferença de (D) 6.
0, se resolve de maneira simples: subtraindo b dos dois lados (E) 7.
obtemos:
ax + b – b = 0 – b → ax = -b → x = -b / a 02. Certa quantia em dinheiro foi dividida igualmente
entre três pessoas, cada pessoa gastou a metade do dinheiro
Termos da equação do 1º grau que ganhou e 1/3(um terço) do restante de cada uma foi
3x + 2 = x - 4 colocado em um recipiente totalizando R$900,00(novecentos
Nesta equação cada membro possui dois termos: reais), qual foi a quantia dividida inicialmente?
1º membro composto por 3x e 2 (A) R$900,00
2º membro composto pelo termo x e -4 (B) R$1.800,00
(C) R$2.700,00
Resolução da equação do 1º grau (D) R$5.400,00
O método que usamos para resolver a equação de 1º grau
é isolando a incógnita, isto é, deixar a incógnita sozinha em um 03. Um grupo formado por 16 motoristas organizou um
dos lados da igualdade. O método mais utilizado para isso é churrasco para suas famílias. Na semana do evento, seis deles
invertermos as operações. Vejamos desistiram de participar. Para manter o churrasco, cada um
Resolvendo a equação 2x + 600 = x + 750, passamos os dos motoristas restantes pagou R$ 57,00 a mais.
termos que tem x para um lado e os números para o outro O valor total pago por eles, pelo churrasco, foi:
invertendo as operações. (A) R$ 570,00
2x – x = 750 – 600, com isso eu posso resolver minha (B) R$ 980,50
equação → x = 150 (C) R$ 1.350,00
(D) R$ 1.480,00
Outros exemplo: (E) R$ 1.520,00
Resolução da equação 3x – 2 = 16, invertendo operações. Respostas

Procedimento e justificativa: Se 3x – 2 dá 16, conclui-se 01. Resposta: E.


que 3x dá 16 + 2, isto é, 18 (invertemos a subtração). Se 3x é 0.2 + 1.8 + 2.x + 3.2 = 28
igual a 18, é claro que x é igual a 18 : 3, ou seja, 6 (invertemos 0 + 8 + 2x + 6 = 28 → 2x = 28 – 14 → x = 14 / 2
a multiplicação por 3). x=7
Registro:
3x – 2 = 16
Matemática 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

02. Resposta: D. 2 1 x
 
Quantidade a ser recebida por cada um: x x 2 x4
Se 1/3 de cada um foi colocado em um recipiente e deu
R$900,00, quer dizer que cada uma colocou R$300,00.
𝑥
4.x  4  xx  4 2x 2

𝑥 3
= + 300
2 x x  4  2 x x  4 
3 2 4(x – 4) – x(x – 4) = 2x2
𝑥 𝑥 4x – 16 – x2 + 4x = 2x2
= + 300 – x2 + 8x – 16 = 2x2
3 6 – x2 – 2x2 + 8x – 16 = 0
𝑥 𝑥 – 3x2 + 8x – 16 = 0
− = 300
3 6
Raízes de uma equação do 2º grau
2𝑥 − 𝑥 Raiz é o número real que, ao substituir a incógnita de uma
= 300 equação, transforma-a numa sentença verdadeira. As raízes
6
formam o conjunto verdade ou solução de uma equação.
𝑥
= 300
6 Resolução das equações incompletas do 2º grau com
x = 1800 uma incógnita.
Recebida: 1800.3=5400 Primeiramente devemos saber duas importante
propriedades dos números Reais que é o nosso conjunto
03. Resposta: E. Universo.
Vamos chamar de ( x ) o valor para cada motorista. Assim: 1º) Se x ϵ R, y ϵ R e x.y=0, então x= 0 ou y=0
16 . x = Total 2º) Se x ϵ R, y ϵ R e x2=y, então x= √y ou x=-√y
Total = 10 . (x + 57) (pois 6 desistiram)
Combinando as duas equações, temos: 1º Caso) A equação é da forma ax2 + bx = 0.
16.x = 10.x + 570 → 16.x – 10.x = 570 x2 – 9x = 0  colocamos x em evidência
6.x = 570 → x = 570 / 6 → x = 95 x . (x – 9) = 0 , aplicando a 1º propriedade dos reais temos:
O valor total é: 16 . 95 = R$ 1520,00. x=0 ou x–9=0
x=9
Logo, S = {0, 9} e os números 0 e 9 são as raízes da equação.
EQUAÇÃO DO 2º GRAU
2º Caso) A equação é da forma ax2 + c = 0.
Uma equação é uma expressão matemática que possui em x2 – 16 = 0  Fatoramos o primeiro membro, que é uma
sua composição incógnitas, coeficientes, expoentes e um sinal diferença de dois quadrados.
de igualdade. As equações são caracterizadas de acordo com o (x + 4) . (x – 4) = 0, aplicando a 1º propriedade dos reais
maior expoente de uma das incógnitas. temos:
x+4=0 x–4=0
x=–4 x=4
Em que a, b, c são números reais e a ≠ 0. ou
x2 – 16 = 0 → x2 = 16 → √x2 = √16 → x = ± 4, (aplicando a
Nas equações de 2º grau com uma incógnita, os números segunda propriedade).
reais expressos por a, b, c são chamados coeficientes da Logo, S = {–4, 4}.
equação.
Resolução das equações completas do 2º grau com
Equação completa e incompleta: uma incógnita.
- Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz Para este tipo de equação utilizaremos a Fórmula de
completa. Bháskara. Essa fórmula é chamada fórmula resolutiva ou
Exemplos: fórmula de Bháskara.
x2 - 5x + 6 = 0= 0 é uma equação completa (a = 1, b = – 5, c
= 6).
-3y2 + 2y - 15 = 0 é uma equação completa (a = -3, b = 2, c
= -15).

- Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º grau se Nesta fórmula, o fato de x ser ou não número real vai
diz incompleta. depender do discriminante Δ; temos então, três casos a
Todas essas equações estão escritas na forma ax2 + bx + c estudar.
= 0, que é denominada forma normal ou forma reduzida de Duas raízes reais distintas.
uma equação do 2º grau com uma incógnita. b 
Há, porém, algumas equações do 2º grau que não estão
Δ>0
x' 
escritas na forma ax2 + bx + c = 0; por meio de transformações 1º caso 2.a
convenientes, em que aplicamos o princípio aditivo e o (Positivo)
multiplicativo, podemos reduzi-las a essa forma. b 
Exemplo: Pelo princípio aditivo.
x '' 
2x2 – 7x + 4 = 1 – x2
2.a
2x2 – 7x + 4 – 1 + x2 = 0 Duas raízes reais iguais.
Δ=0 b
2x2 + x2 – 7x + 4 – 1 = 0 2º caso x’ = x” =
(Nulo)
3x2 – 7x + 3 = 0 2a
Exemplo: Pelo princípio multiplicativo.

Matemática 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Respostas
Δ<0 Não temos raízes reais.
3º caso
(Negativo) 01. Resposta: C.
Neste caso o valor de a ≠ 0, 𝑙𝑜𝑔𝑜:
A existência ou não de raízes reais e o fato de elas serem 3m - 9 ≠ 0 → 3m ≠ 9 → m ≠ 3
duas ou uma única dependem, exclusivamente, do
discriminante Δ = b2 – 4.a.c; daí o nome que se dá a essa 02. Resposta: D.
expressão. Como as raízes foram dadas, para saber qual a equação:
x² - Sx +P=0, usando o método da soma e produto; S= duas
Exemplo: raízes somadas resultam no valor numérico de b; e P= duas
1) Resolver a equação 3x2 + 7x + 9 = 0 no conjunto R. raízes multiplicadas resultam no valor de c.
Temos: a = 3, b = 7 e c = 9
3 5
𝑆 =1+ = =𝑏
2 2
3 3
𝑃 =1∙ = = 𝑐 ; 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜
2 2

−7 ± √−59 5 3
𝑥= 𝑥2 − 𝑥 + = 0
6 2 2

Como Δ < 0, a equação não tem raízes reais. 2𝑥 2 − 5𝑥 + 3 = 0


Então: S = ᴓ
03. Resposta: B.
Relação entre os coeficientes e as raízes x²-6x+8=0
As equações do 2º grau possuem duas relações entre suas ∆= (−6)2 − 4.1.8 ⇒ 36 − 32 = 4
raízes, são as chamadas relações de Girard, que são a Soma (S)
e o Produto (P). −(−6)±√4 6±2
𝑥= ⇒𝑥=
2.1 2
𝒃
1) Soma das raízes é dada por: 𝑺 = 𝒙𝟏 + 𝒙𝟐 = − 𝑥1 =
6+2
=4
𝒂
2
𝒄
2) Produto das raízes é dada por: 𝑷 = 𝒙𝟏 . 𝒙𝟐 = 6−2
𝒂 𝑥2 = =2
2

Logo podemos reescrever a equação da seguinte forma:


Dobro da menor raiz: 22=4
x2
– Sx + P=0
Exemplo:
Determine uma equação do 2º grau cujas raízes sejam os Sistema de equações do 1.º
números 2 e 7.
Resolução: grau
Pela relação acima temos:
S = 2+7 = 9 e P = 2.7 = 14 → Com esses valores montamos
a equação: x2 -9x +14 =0 Um sistema de equação do primeiro grau com duas
incógnitas x e y, pode ser definido como um conjunto formado
Referências por duas equações do primeiro grau. Lembrando que equação
www.somatematica.com.br do primeiro grau é aquela que em todas as incógnitas estão
elevadas à potência 1.
Questões
- Observações gerais
01. Para que a equação (3m-9)x²-7x+6=0 seja uma Já estudamos sobre equações do primeiro grau com duas
equação de segundo grau, o valor de m deverá, incógnitas, como exemplo: x + y = 7; x – y = 30 ; x + 2y = 9 x –
necessariamente, ser diferente de: 3y = 15
(A) 1. Foi visto também que as equações do 1º grau com duas
(B) 2. variáveis admitem infinitas soluções:
(C) 3. x+y=6x–y=7
(D) 0.
(E) 9.

02. Qual a equação do 2º grau cujas raízes são 1 e 3/2?


(A) x²-3x+4=0
(B) -3x²-5x+1=0
(C) 3x²+5x+2=0
(D) 2x²-5x+3=0
Vendo a tabela acima de soluções das duas equações, é
03. O dobro da menor raiz da equação de 2º grau dada por possível checar que o par (4;2), isto é, x = 4 e y = 2, é a solução
x²-6x=-8 é: para as duas equações.
(A) 2
(B) 4 Assim, é possível dizer que as equações
(C) 8 x+y=6
(D) 12 x–y=7

Matemática 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

{ Observe este símbolo. A matemática convencionou Ao somarmos os termos acima, temos:


5x + 5y = 5, então para anularmos o “x” e encontramos o
neste caso para indicar que duas ou mais equações formam um valor de “y”, fazemos o seguinte:
sistema. » multiplica-se a 1ª equação por +2
» multiplica-se a 2ª equação por – 3
- Resolução de sistemas
Resolver um sistema significa encontrar um par de valores Vamos calcular então:
das incógnitas x e y que faça verdadeira as equações que fazem 3x + 2y = 4 ( x +2)
parte do sistema. 2x + 3y = 1 ( x -3)
6x +4y = 8
Exemplo: -6x - 9y = -3 +
O par (4,3 ) pode ser a solução do sistema -5y = 5
x–y=2 y = -1
x+y=6
Substituindo:
Para saber se estes valores satisfazem ao sistema, basta 2x + 3y = 1
substituir os valores em ambas as equações: 2x + 3.(-1) = 1
x-y=2 ; x+y=6 2x = 1 + 3
4–3=1 ;4+3=7 x=2
1 ≠ 2 (falso) 7 ≠ 6 (falso)
A resposta então é falsa. O par (4,3) não é a solução do Verificando:
sistema de equações acima. 3x + 2y = 4 → 3.(2) + 2(-1) = 4 → 6 – 2 = 4
2x + 3y = 1 → 2.(2) + 3(-1) = 1 → 4 – 3 = 1
- Métodos para solução de sistemas do 1º grau.
- Gráfico de um sistema do 1º grau
Método de substituição Dispondo de dois pontos, podemos representa-los
Esse método de resolução de um sistema de 1º grau graficamente em um plano cartesiano. A figura formada por
estabelece que “extrair” o valor de uma incógnita é substituir esses pontos é uma reta.
esse valor na outra equação. Exemplo:
Observe: Dado x + y = 4 , vamos traçar o gráfico desta equação.
x–y=2 Vamos atribuir valores a x e a y para acharmos os pontos no
x+y=4 gráfico.
Vamos escolher uma das equações para “extrair” o valor de Unindo os pontos traçamos a reta, que contém todos os
uma das incógnitas, ou seja, estabelecer o valor de acordo com pontos da equação. A essa reta damos o nome de reta suporte.
a outra incógnita, desta forma:
x–y=2→x=2+y
Agora iremos substituir o “x” encontrado acima, na “x” da
segunda equação do sistema:
x+y=4
(2 + y ) + y = 4
2 + 2y = 4 → 2y = 4 – 2 → 2y = 2 → y = 1
Temos que: x = 2 + y, então
x=2+1
x=3
Assim, o par (3, 1) torna-se a solução verdadeira do
sistema.

Método da adição
Este método de resolução de sistema do 1º grau consiste Questões
apenas em somas os termos das equações fornecidas.
Observe: 01. Em uma gincana entre as três equipes de uma escola
x–y=-2 (amarela, vermelha e branca), foram arrecadados 1 040
3x + y = 5 quilogramas de alimentos. A equipe amarela arrecadou 50
Neste caso de resolução, somam-se as equações dadas: quilogramas a mais que a equipe vermelha e esta arrecadou 30
x – y = -2 quilogramas a menos que a equipe branca. A quantidade de
3x + y = 5 + alimentos arrecadada pela equipe vencedora foi, em
4x = 3 quilogramas, igual a
x = 3/4 (A) 310
Veja nos cálculos que quando somamos as duas equações (B) 320
o termo “y” se anula. Isto tem que ocorrer para que possamos (C) 330
achar o valor de “x”. (D) 350
Agora, e quando ocorrer de somarmos as equações e os (E) 370
valores de “x” ou “y” não se anularem para ficar somente uma
incógnita? 02. Os cidadãos que aderem voluntariamente à Campanha
Neste caso, é possível usar uma técnica de cálculo de Nacional de Desarmamento recebem valores de indenização
multiplicação pelo valor excludente negativo. entre R$150,00 e R$450,00 de acordo com o tipo e calibre do
Ex.: armamento. Em uma determinada semana, a campanha
3x + 2y = 4 arrecadou 30 armas e pagou indenizações somente de
2x + 3y = 1 R$150,00 e R$450,00, num total de R$7.500,00.

Matemática 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Determine o total de indenizações pagas no valor de


R$150,00. Grandezas e medidas –
(A) 20
(B) 25
quantidade, tempo,
(C) 22 comprimento, superfície,
(D) 24 capacidade e massa
(E) 18

03. A razão entre a idade de Cláudio e seu irmão Otávio é Sistema de Medidas Decimais
3, e a soma de suas idades é 28. Então, a idade de Marcos que Um sistema de medidas é um conjunto de unidades de
é igual a diferença entre a idade de Cláudio e a idade de Otávio medida que mantém algumas relações entre si. O sistema
é métrico decimal é hoje o mais conhecido e usado no mundo
(A) 12. todo. Na tabela seguinte, listamos as unidades de medida de
(B) 13. comprimento do sistema métrico. A unidade fundamental é o
(C) 14. metro, porque dele derivam as demais.
(D) 15.
(E) 16.
Respostas

01. Resposta: E.
Amarela: x
Vermelha: y
Branca: z Há, de fato, unidades quase sem uso prático, mas elas têm
x = y + 50 uma função. Servem para que o sistema tenha um padrão: cada
y = z - 30 unidade vale sempre 10 vezes a unidade menor seguinte.
z = y + 30 Por isso, o sistema é chamado decimal.
𝑥 + 𝑦 + 𝑧 = 1040
{ 𝑥 = 𝑦 + 50 E há mais um detalhe: embora o decímetro não seja útil na
𝑧 = 𝑦 + 30 prática, o decímetro cúbico é muito usado com o nome popular
Substituindo a II e a III equação na I: de litro.
𝑦 + 50 + 𝑦 + 𝑦 + 30 = 1040 As unidades de área do sistema métrico correspondem às
3𝑦 = 1040 − 80 unidades de comprimento da tabela anterior.
y = 320 São elas: quilômetro quadrado (km2), hectômetro
Substituindo na equação II quadrado (hm2), etc. As mais usadas, na prática, são o
x = 320 + 50 = 370 quilômetro quadrado, o metro quadrado e o hectômetro
z=320+30=350 quadrado, este muito importante nas atividades rurais com o
A equipe que mais arrecadou foi a amarela com 370kg nome de hectare (há): 1 hm2 = 1 há.
No caso das unidades de área, o padrão muda: uma
02. Resposta: A. unidade é 100 vezes a menor seguinte e não 10 vezes, como
Armas de R$150,00: x nos comprimentos. Entretanto, consideramos que o sistema
Armas de R$450,00: y continua decimal, porque 100 = 102.
150𝑥 + 450𝑦 = 7500 Existem outras unidades de medida mas que não
{
𝑥 + 𝑦 = 30 pertencem ao sistema métrico decimal. Vejamos as relações
x = 30 – y entre algumas essas unidades e as do sistema métrico
Substituindo na 1ª equação: decimal (valores aproximados):
150(30 − 𝑦) + 450𝑦 = 7500 1 polegada = 25 milímetros
4500 − 150𝑦 + 450𝑦 = 7500 1 milha = 1 609 metros
300𝑦 = 3000 1 légua = 5 555 metros
𝑦 = 10 1 pé = 30 centímetros
𝑥 = 30 − 10 = 20
O total de indenizações foi de 20.

03. Resposta: C.
Cláudio :x
Otávio: y
𝑥
=3
𝑦
𝑥 = 3𝑦
{
𝑥 + 𝑦 = 28 A nomenclatura é a mesma das unidades de comprimento
𝑥 + 𝑦 = 28 acrescidas de quadrado.
3y + y = 28 Agora, vejamos as unidades de volume. De novo, temos a
4y = 28 lista: quilômetro cúbico (km3), hectômetro cúbico (hm3), etc.
y = 7 x = 21 Na prática, são muitos usados o metro cúbico(m3) e o
Marcos: x – y = 21 – 7 = 14 centímetro cúbico(cm3).
Nas unidades de volume, há um novo padrão: cada unidade
vale 1000 vezes a unidade menor seguinte. Como 1000 = 103,
o sistema continua sendo decimal.

Matemática 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

água que havia no filtro no início da manhã, pode-se concluir


que a água que restou dentro dele, no final do dia, corresponde
a uma porcentagem de
(A) 60%.
(B) 55%.
(C) 50%.
(D) 45%.
A noção de capacidade relaciona-se com a de volume. Se o (E) 40%.
volume da água que enche um tanque é de 7.000 litros,
dizemos que essa é a capacidade do tanque. A unidade 03. Admita que cada pessoa use, semanalmente, 4 bolsas
fundamental para medir capacidade é o litro (l); 1l equivale a plásticas para embrulhar suas compras, e que cada bolsa é
1 dm3. composta de 3 g de plástico. Em um país com 200 milhões de
Cada unidade vale 10 vezes a unidade menor seguinte. pessoas, quanto plástico será utilizado pela população em um
ano, para embrulhar suas compras? Dado: admita que o ano é
formado por 52 semanas. Indique o valor mais próximo do
obtido.
(A) 108 toneladas
(B) 107 toneladas
(C) 106 toneladas
O sistema métrico decimal inclui ainda unidades de (D) 105 toneladas
medidas de massa. A unidade fundamental é o grama(g). (E) 104 toneladas
Respostas
Unidades de Massa e suas Transformações
01. Resposta: B.
Vamos chamar de x a capacidade total da jarra. Assim:
3 1
. 𝑥 − 495 = . 𝑥
4 5

Dessas unidades, só têm uso prático o quilograma, o grama 3 1


.𝑥 − . 𝑥 = 495
e o miligrama. No dia-a-dia, usa-se ainda a tonelada (t). 4 5

Medidas Especiais: 5.3.𝑥 − 4.𝑥=20.495


1 Tonelada(t) = 1000 Kg 20
1 Arroba = 15 Kg
1 Quilate = 0,2 g 15x – 4x = 9900
11x = 9900
Relações entre unidades: x = 9900 / 11
x = 900 mL (capacidade total)
Como havia 1/5 do total (1/5 . 900 = 180 mL), a quantidade
adicionada foi de 900 – 180 = 720 mL

02. Resposta: B.
4 litros = 4000 ml; 1,2 litros = 1200 ml; meio litro = 500
ml
4000 – 800 – 500 + 700 – 1200 = 2200 ml (final do dia)
Temos que: Utilizaremos uma regra de três simples:
1 kg = 1l = 1 dm3 ml %
1 hm2 = 1 ha = 10.000m2 4000 ------- 100
1 m3 = 1000 l 2200 ------- x
4000.x = 2200 . 100 x = 220000 / 4000 = 55%
Questões
03. Resposta: D.
3
01. O suco existente em uma jarra preenchia da sua 4 . 3 . 200000000 . 52 = 1,248 . 1011 g = 1,248 . 105 t
4
capacidade total. Após o consumo de 495 mL, a quantidade de
1 MEDIDAS DE TEMPO
suco restante na jarra passou a preencher da sua capacidade
5
total. Em seguida, foi adicionada certa quantidade de suco na Não Decimais
jarra, que ficou completamente cheia. Nessas condições, é
correto afirmar que a quantidade de suco adicionada foi igual, Medidas de Tempo (Hora) e suas Transformações
em mililitros, a
(A) 580.
(B) 720.
(C) 900.
(D) 660.
(E) 840.
Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mede
02. Em uma casa há um filtro de barro que contém, no intervalos de tempo, é o mais conhecido. A unidade utilizada
início da manhã, 4 litros de água. Desse filtro foram retirados como padrão no Sistema Internacional (SI) é o segundo.
800 mL para o preparo da comida e meio litro para consumo 1h → 60 minutos → 3 600 segundos
próprio. No início da tarde, foram colocados 700 mL de água
dentro desse filtro e, até o final do dia, mais 1,2 litros foram Para passar de uma unidade para a menor seguinte,
utilizados para consumo próprio. Em relação à quantidade de multiplica-se por 60.

Matemática 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Exemplo: O gráfico a seguir mostra o número de questões de


0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos, quantos matemática que ele elaborou.
minutos indica 0,3 horas?

Efetuando temos: 0,3 . 60 = 1. x → x = 18 minutos.


Concluímos que 0,3horas = 18 minutos.

- Adição e Subtração de Medida de tempo


Ao adicionarmos ou subtrairmos medidas de tempo,
precisamos estar atentos as unidades. Vejamos os exemplos:
A) 1 h 50 min + 30 min
O tempo, aproximado, gasto na elaboração dessas questões
foi
(A) 4h e 48min.
(B) 5h e 12min.
(C) 5h e 28min.
Observe que ao somar 50 + 30, obtemos 80 minutos, como (D) 5h e 42min.
sabemos que 1 hora tem 60 minutos, temos, então (E) 6h e 08min.
acrescentamos a hora +1, e subtraímos 80 – 60 = 20 minutos,
é o que resta nos minutos: 03. Para obter um bom acabamento, um pintor precisa dar
duas demãos de tinta em cada parede que pinta. Sr. Luís utiliza
uma tinta de secagem rápida, que permite que a segunda
demão seja aplicada 50 minutos após a primeira. Ao terminar
a aplicação da primeira demão nas paredes de uma sala, Sr.
Luís pensou: “a segunda demão poderá ser aplicada a partir
das 15h 40min.”
Logo o valor encontrado é de 2 h 20 min. Se a aplicação da primeira demão demorou 2 horas e 15
minutos, que horas eram quando Sr. Luís iniciou o serviço?
B) 2 h 20 min – 1 h 30 min (A) 12h 25 min
(B) 12h 35 min
(C) 12h 45 min
(D) 13h 15 min
Observe que não podemos subtrair 20 min de 30 min, (E) 13h 25 min
então devemos passar uma hora (+1) dos 2 para a coluna Respostas
minutos.
01. Resposta: C.

Como 1h tem 60 minutos.


Então a diferença entre as duas é de 60+28=88 minutos.
Então teremos novos valores para fazermos nossa
subtração, 20 + 60 = 80:
02. Resposta: D.
T = 8 . 4 + 10 . 6 + 15 . 10 + 20 . 5 =
= 32 + 60 + 150 + 100 = 342 min
Fazendo: 342 / 60 = 5 h, com 42 min (resto)

Logo o valor encontrado é de 50 min. 03. Resposta: B.


15 h 40 – 2 h 15 – 50 min = 12 h 35min
Questões

01. Joana levou 3 horas e 53 minutos para resolver uma


prova de concurso, já Ana levou 2 horas e 25 minutos para Relação entre grandezas –
resolver a mesma prova. Comparando o tempo das duas tabela ou gráfico
candidatas, qual foi a diferença encontrada?
(A) 67 minutos.
(B) 75 minutos. RELAÇÃO ENTRE GRANDEZAS
(C) 88 minutos.
(D) 91 minutos. Grandeza é tudo aquilo que pode ser contado e medido. Do
(E) 94 minutos. dicionário, tudo o que pode aumentar ou diminuir (medida de
grandeza.).
02. A tabela a seguir mostra o tempo, aproximado, que um As grandezas proporcionais são aquelas que relacionadas
professor leva para elaborar cada questão de matemática. a outras, sofrem variações. Elas podem ser diretamente ou
Questão (dificuldade) Tempo (minutos) inversamente proporcionais.
Fácil 8
Média 10 Exemplo:
Difícil 15 A tabela a seguir mostra a velocidade de um trem ao
Muito difícil 20 percorrer determinado percurso:

Matemática 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Velocidade (km/h) 40 80 120 ... - Grandezas inversamente proporcionais (GIP)


Tempo (horas) 6 3 2 ... São aquelas quando, variando uma delas, a outra varia na
razão inversa da outra. Isto é, duas grandezas são
Se sua velocidade aumentar para 240 km/h, em quantas inversamente proporcionais quando, dobrando uma delas, a
horas ele fará o percurso? outra se reduz pela metade; triplicando uma delas, a outra se
Podemos pegar qualquer velocidade para acharmos o reduz para à terça parte... E assim por diante.
novo tempo: Matematicamente podemos escrever da seguinte forma:
40 km ------ 6 horas 𝒂𝟏. 𝒃𝟏 = 𝒂𝟐. 𝒃𝟐 = 𝒂𝟑. 𝒃𝟑 = ⋯ = 𝒌
240 km ----- x horas
Uma grandeza A ={a1,a2,a3...} será inversamente a outra
40 𝑥 B= {b1,b2,b3...} , se e somente se, os produtos entre os
= → 240𝑥 = 40.6 → 240𝑥 = 240 → 𝑥 = 1 valores de A e B são iguais.
240 6
∴ 𝐿𝑜𝑔𝑜 𝑜 𝑡𝑟𝑒𝑚 𝑓𝑎𝑟á 𝑜 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜 𝑒𝑚 1 ℎ𝑜𝑟𝑎. Exemplo:
1 - Carlos dividirá R$ 8.400,00 de forma inversamente
Observe que invertemos os valores de uma das duas proporcional à idade de seus dois filhos: Marcos, de12 anos, e
proporções (km ou tempo), neste exemplo optamos por Fábio, de 9 anos. O valor que caberá a Fábio será de:
inverter a grandeza tempo. A) R$ 3.600,00
B) R$ 4.800,00
Observe que: C) R$ 7.000,00
Se aumentarmos a velocidade, diminuímos de forma D) R$ 5.600,00
proporcional ao tempo. Logo as grandezas são
inversamente proporcionais. Marcos: a
Fábio: b
- Grandezas diretamente proporcionais (GDP) a + b = 8400
São aquelas em que, uma delas variando, a outra varia na 𝑎 𝑏 𝑎+𝑏
+ =
mesma razão da outra. Isto é, duas grandezas são 1 1 1 1
+
diretamente proporcionais quando, dobrando uma delas, a 12 9 12 9
outra também dobra; triplicando uma delas, a outra também
𝑏 8400
triplica, divididas à terça parte a outra também é dividida à =
terça parte... E assim por diante. 1 3 4
+
Matematicamente podemos escrever da seguinte forma: 9 36 36
8400
𝒂𝟏 𝒂𝟐 𝒂𝟑 7 8400 9 → 𝑏 = 8400 . 36
= = =⋯=𝒌 𝑏= →𝑏=
𝒃𝟏 𝒃𝟐 𝒃𝟑 36 9 7 9 7
36
Onde a grandeza A ={a1,a2,a3...} , a grandeza B= 1200 4
→ 𝑠𝑖𝑚𝑝𝑙𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒: . = 4800
{b1,b2,b3...} e os valores entre suas razões são iguais a k 1 1
(constante de proporcionalidade). Resposta B

Exemplo:
Um mosaico foi construído com triângulos, quadrados e *Se uma grandeza aumenta e a outra diminui
hexágonos. A quantidade de polígonos de cada tipo é
proporcional ao número de lados do próprio polígono. Sabe-se , elas são inversamente proporcionais.
que a quantidade total de polígonos do mosaico é 351. A
*Se uma grandeza diminui e a outra aumenta
quantidade de triângulos e quadrados somada supera a
quantidade de hexágonos em , elas também são inversamente proporcionais.
A) 108.
B) 27.
C) 35. Referências
D) 162. IEZZI, Gelson – Fundamentos da Matemática – Vol. 11 – Financeira e
E) 81. Estatística Descritiva
http://www.brasilescola.com
𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠: 3𝑥 http://www.dicio.com.br
𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑑𝑜: 4𝑥
ℎ𝑒𝑥á𝑔𝑜𝑛𝑜: 6𝑥 Questões
3𝑥 + 4𝑥 + 6𝑥 = 351
13𝑥 = 351 01. Na tabela abaixo, a sequência de números da coluna A
𝑥 = 27 é inversamente proporcional à sequência de números da
3𝑥 + 4𝑥 = 3.27 + 4.27 = 81 + 108 = 189 coluna B.
6𝑥 = 6.27 = 162 → 189-162= 27
Resposta B

*Se uma grandeza aumenta e a outra também

, elas são diretamente proporcionais. A letra X representa o número


(A) 90.
*Se uma grandeza diminui e a outra também (B) 80.
(C) 96.
, elas também são diretamente proporcionais. (D) 84.
(E) 72.

Matemática 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

02. Um pintor gastou duas horas para pintar um quadrado A parte da Matemática que organiza e apresenta dados
com 1,5 m de lado. Quanto tempo ele gastaria, se o mesmo numéricos e a partir deles fornecer conclusões é chamada de
quadrado tivesse 3 m de lado? Estatística.
(A) 4 h
(B) 5 h Tabelas: as informações nela são apresentadas em linhas
(C) 6 h e colunas, possibilitando uma melhor leitura e interpretação.
(D) 8 h Exemplo:
(E) 10 h

03 . A tabela, com dados relativos à cidade de São Paulo,


compara o número de veículos da frota, o número de radares
e o valor total, em reais, arrecadado com multas de trânsito,
relativos aos anos de 2004 e 2013:
Ano Frota Radares Arrecadação
2004 5,8 milhões 260 328 milhões
2013 7,5 milhões 601 850 milhões
(Veja São Paulo, 16.04.2014)
Fonte: SEBRAE
Se o número de radares e o valor da arrecadação tivessem
crescido de forma diretamente proporcional ao crescimento Observação: nas tabelas e nos gráficos podemos notar que
da frota de veículos no período considerado, então em 2013 a a um título e uma fonte. O título é utilizado para evidenciar a
quantidade de radares e o valor aproximado da arrecadação, principal informação apresentada, e a fonte identifica de onde
em milhões de reais (desconsiderando-se correções os dados foram obtidos.
monetárias), seriam, respectivamente,
(A) 336 e 424. Tipos de Gráficos
(B) 336 e 426.
(C) 334 e 428. Gráfico de linhas: são utilizados, em geral, para
(D) 334 e 430. representar a variação de uma grandeza em certo período de
(E) 330 e 432. tempo.
Marcamos os pontos determinados pelos pares
Respostas ordenados (classe, frequência) e os ligados por segmentos de
reta. Nesse tipo de gráfico, apenas os extremos dos
01. Resposta: B. segmentos de reta que compõem a linha oferecem
16 12
1 = 1 informações sobre o comportamento da amostra. Exemplo:
60 𝑋
16 ∙ 60 = 12 ∙ 𝑋
X=80

02. Resposta: D.
Como a medida do lado dobrou (1,5 . 2 = 3), o tempo
também vai dobrar (2 . 2 = 4), mas, como se trata de área, o
valor vai dobrar de novo (2 . 4 = 8h).

03. Resposta: A.
Chamando os radares de 2013 de ( x ), temos que:
5,8 260
=
7,5 𝑥

5,8 . x = 7,5 . 260


x = 1950 / 5,8
x = 336,2 (aproximado)
Por fim, vamos calcular a arrecadação em 2013:
5,8 328
=
7,5 𝑥
Gráfico de barras: também conhecido como gráficos de
5,8 . x = 7,5 . 328 colunas, são utilizados, em geral, quando há uma grande
x = 2460 / 5,8 quantidade de dados. Para facilitar a leitura, em alguns casos,
x = 424,1 (aproximado) os dados numéricos podem ser colocados acima das colunas
correspondentes. Eles podem ser de dois tipos: barras
verticais e horizontais.
TABELAS E GRÁFICOS - Gráfico de barras verticais: as frequências são
indicadas em um eixo vertical. Marcamos os pontos
O nosso cotidiano é permeado das mais diversas determinados pelos pares ordenados (classe, frequência) e os
informações, sendo muito delas expressas em formas de ligamos ao eixo das classes por meio de barras verticais.
tabelas e gráficos, as quais constatamos através do noticiários Exemplo:
televisivos, jornais, revistas, entre outros. Os gráficos e tabelas
fazem parte da linguagem universal da Matemática, e
compreensão desses elementos é fundamental para a leitura
de informações e análise de dados.

Matemática 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

360° 360°
−𝑉ô𝑙𝑒𝑖: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 120 → 𝛼 = 108°
𝐹𝑡 400

360° 360°
−𝐵𝑎𝑠𝑞𝑢𝑒𝑡𝑒: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 60 → 𝛼 = 54°
𝐹𝑡 400

360° 360°
−𝑁𝑎𝑡𝑎çã𝑜: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 20 → 𝛼 = 18°
𝐹𝑡 400

Como o gráfico é de setores, os dados percentuais serão


distribuídos levando-se em conta a proporção da área a ser
representada relacionada aos valores das porcentagens. A
- Gráfico de barras horizontais: as frequências são
área representativa no gráfico será demarcada da seguinte
indicadas em um eixo horizontal. Marcamos os pontos
maneira:
determinados pelo pares ordenados (frequência, classe) e os
ligamos ao eixo das classes por meio de barras horizontais.
Exemplo:

Com as informações, traçamos os ângulos da


circunferência e assim montamos o gráfico:

Observação: em um gráfico de colunas, cada barra deve


ser proporcional à informação por ela representada.

Gráfico de setores: são utilizados, em geral, para


visualizar a relação entre as partes e o todo.
Dividimos um círculo em setores, com ângulos de
medidas diretamente proporcionais às frequências de classes.
A medida α, em grau, do ângulo central que corresponde a Pictograma ou gráficos pictóricos: em alguns casos,
uma classe de frequência F é dada por: certos gráficos, encontrados em jornais, revistas e outros
360° meios de comunicação, apresentam imagens relacionadas ao
𝛼= .𝐹 contexto. Eles são desenhos ilustrativos. Exemplo:
𝐹𝑡
Onde:
Ft = frequência total

Exemplo:

Preferência por modalidades esportivas


Número de Frequência
Esportes
praticantes (F) relativa
Futebol 160 40%
Vôlei 120 30%
Basquete 60 15%
Natação 40 10%
Outros 20 5%
Total (Ft) 400 100%
Dados fictícios

Para acharmos a frequência relativa, podemos fazer uma Histograma: o consiste em retângulos contíguos com base
regra de três simples: nas faixas de valores da variável e com área igual à frequência
400 --- 100% relativa da respectiva faixa. Desta forma, a altura de cada
160 --- x retângulo é denominada densidade de frequência ou
x = 160 .100/ 400 = 40% , e assim sucessivamente. simplesmente densidade definida pelo quociente da área pela
amplitude da faixa. Alguns autores utilizam a frequência
Aplicando a fórmula teremos: absoluta ou a porcentagem na construção do histograma, o que
pode ocasionar distorções (e, consequentemente, más
360° 360° interpretações) quando amplitudes diferentes são utilizadas
−𝐹𝑢𝑡𝑒𝑏𝑜𝑙: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 160 → 𝛼 = 144°
𝐹𝑡 400 nas faixas. Exemplo:

Matemática 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- Fazer a leitura isolada dos pontos.


- Leia com atenção o enunciado e esteja atento ao que
pede o enunciado.

Exemplos:
(Enem 2011) O termo agronegócio não se refere apenas
à agricultura e à pecuária, pois as atividades ligadas a essa
produção incluem fornecedores de equipamentos, serviços
para a zona rural, industrialização e comercialização dos
produtos.
O gráfico seguinte mostra a participação percentual do
agronegócio no PIB brasileiro:
Polígono de Frequência: semelhante ao histograma, mas
construído a partir dos pontos médios das classes. Exemplo:

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).


Almanaque abril 2010. São Paulo: Abril, ano 36 (adaptado)
Esse gráfico foi usado em uma palestra na qual o orador
ressaltou uma queda da participação do agronegócio no PIB
brasileiro e a posterior recuperação dessa participação, em
termos percentuais.
Segundo o gráfico, o período de queda ocorreu entre os
Gráfico de Ogiva: apresenta uma distribuição de anos de
frequências acumuladas, utiliza uma poligonal ascendente A) 1998 e 2001.
utilizando os pontos extremos. B) 2001 e 2003.
C) 2003 e 2006.
D) 2003 e 2007.
E) 2003 e 2008.

Resolução:
Segundo o gráfico apresentado na questão, o período de
queda da participação do agronegócio no PIB brasileiro se
deu no período entre 2003 e 2006. Esta informação é extraída
através de leitura direta do gráfico: em 2003 a participação
era de 28,28%, caiu para 27,79% em 2004, 25,83% em 2005,
chegando a 23,92% em 2006 – depois deste período, a
participação volta a aumentar.
Cartograma: é uma representação sobre uma carta
Resposta: C
geográfica. Este gráfico é empregado quando o objetivo é de
figurar os dados estatísticos diretamente relacionados com
(Enem 2012) O gráfico mostra a variação da extensão
áreas geográficas ou políticas.
média de gelo marítimo, em milhões de quilômetros
quadrados, comparando dados dos anos 1995, 1998, 2000,
2005 e 2007. Os dados correspondem aos meses de junho a
setembro. O Ártico começa a recobrar o gelo quando termina
o verão, em meados de setembro. O gelo do mar atua como o
sistema de resfriamento da Terra, refletindo quase toda a luz
solar de volta ao espaço. Águas de oceanos escuros, por sua
vez, absorvem a luz solar e reforçam o aquecimento do Ártico,
ocasionando derretimento crescente do gelo.

Com base no gráfico e nas informações do texto, é possível


Interpretação de tabelas e gráficos inferir que houve maior aquecimento global em
Para uma melhor interpretação de tabelas e gráficos A)1995.
devemos ter em mente algumas considerações: B)1998.
- Observar primeiramente quais informações/dados estão C) 2000.
presentes nos eixos vertical e horizontal, para então fazer a D)2005.
leitura adequada do gráfico; E)2007.

Matemática 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Resolução: Questões
O enunciado nos traz uma informação bastante importante
e interessante, sendo chave para a resolução da questão. Ele 01. (Pref. Fortaleza/CE – Pedagogia – Pref.
associa a camada de gelo marítimo com a reflexão da luz solar Fortaleza/2016) “Estar alfabetizado, neste final de século,
e consequentemente ao resfriamento da Terra. Logo, quanto supõe saber ler e interpretar dados apresentados de maneira
menor for a extensão de gelo marítimo, menor será o organizada e construir representações, para formular e
resfriamento e portanto maior será o aquecimento global. resolver problemas que impliquem o recolhimento de dados e
O ano que, segundo o gráfico, apresenta a menor extensão a análise de informações. Essa característica da vida
de gelo marítimo, é 2007. contemporânea traz ao currículo de Matemática uma demanda
em abordar elementos da estatística, da combinatória e da
probabilidade, desde os ciclos iniciais” (BRASIL, 1997).
Observe os gráficos e analise as informações.

Resposta: E

Mais alguns exemplos:

1) Todos os objetos estão cheios de água.

Qual deles pode conter exatamente 1 litro de água?


(A) A caneca
(B) A jarra A partir das informações contidas nos gráficos, é correto
(C) O garrafão afirmar que:
(D) O tambor (A) nos dias 03 e 14 choveu a mesma quantidade em
Fortaleza e Florianópolis.
O caminho é identificar grandezas que fazem parte do dia (B) a quantidade de chuva acumulada no mês de março foi
a dia e conhecer unidades de medida, no caso, o litro. Preste maior em Fortaleza.
atenção na palavra exatamente, logo a resposta está na (C) Fortaleza teve mais dias em que choveu do que
alternativa B. Florianópolis.
(D) choveu a mesma quantidade em Fortaleza e
2) No gráfico abaixo, encontra-se representada, em bilhões Florianópolis.
de reais, a arrecadação de impostos federais no período de
2003 a 2006. Nesse período, a arrecadação anual de impostos 02. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal – CESPE)
federais:

(A) nunca ultrapassou os 400 bilhões de reais.


Ministério da Justiça — Departamento Penitenciário Nacional
(B) sempre foi superior a 300 bilhões de reais. — Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen,
(C) manteve-se constante nos quatro anos. Relatório Estatístico Sintético do Sistema Prisional Brasileiro,
(D) foi maior em 2006 que nos outros anos. dez./2013 Internet:<www.justica.gov.br> (com adaptações)
(E) chegou a ser inferior a 200 bilhões de reais.
Analisando cada alternativa temos que a única resposta A tabela mostrada apresenta a quantidade de detentos
correta é a D. no sistema penitenciário brasileiro por região em 2013.
Nesse ano, o déficit relativo de vagas — que se define pela
razão entre o déficit de vagas no sistema penitenciário e a

Matemática 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

quantidade de detentos no sistema penitenciário —


registrado em todo o Brasil foi superior a 38,7%, e, na
média nacional, havia 277,5 detentos por 100 mil
habitantes.
Com base nessas informações e na tabela apresentada,
julgue o item a seguir.
Em 2013, mais de 55% da população carcerária no (E)
Brasil se encontrava na região Sudeste.
( )certo ( ) errado 05. (SEJUS/ES – Agente Penitenciário – VUNESP)
Observe os gráficos e analise as afirmações I, II e III.
03. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP) A
distribuição de salários de uma empresa com 30
funcionários é dada na tabela seguinte.

Salário (em salários mínimos) Funcionários


1,8 10
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
15,0 1
Pode-se concluir que
(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3
salários.
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda
total.
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda
total.
I. Em 2010, o aumento percentual de matrículas em
04. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP) cursos tecnológicos, comparado com 2001, foi maior que
Considere a tabela de distribuição de frequência seguinte, 1000%.
em que x i é a variável estudada e fi é a frequência absoluta II. Em 2010, houve 100,9 mil matrículas a mais em
dos dados. cursos tecnológicos que no ano anterior.
III. Em 2010, a razão entre a distribuição de matrículas
xi fi no curso tecnológico presencial e à distância foi de 2 para
30-35 4 5.
35-40 12 É correto o que se afirma em
40-45 10 (A) I e II, apenas.
45-50 8 (B) II, apenas.
50-55 6 (C) I, apenas.
TOTAL 40 (D) II e III, apenas.
Assinale a alternativa em que o histograma é o que (E) I, II e III.
melhor representa a distribuição de frequência da tabela.
Respostas

01. Resposta: C.
A única alternativa que contém a informação correta com
ao gráficos é a C.
(A)
02. Resposta: CERTO.
555----100%
306----x
(B) X=55,13%

03. Resposta: D.
(A) 1,8*10+2,5*8+3,0*5+5,0*4+8,0*2+15,0*1=104
salários
(B) 60% de 30, seriam 18 funcionários, portanto essa
(C) alternativa é errada, pois seriam 12.
(C)10% são 3 funcionários
(D) 40% de 104 seria 41,6
20% dos funcionários seriam 6, alternativa correta,
pois5*3+8*2+15*1=46, que já é maior.
(E) 6 dos trabalhadores: 18
30% da renda: 31,20, errada pois detêm mais.
(D)
04. Resposta: A.
A menor deve ser a da primeira 30-35

Matemática 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Em seguida, a de 55 representava 2 vezes a média aritmética da idade de seus


Depois de 45-50 na ordem 40-45 e 35-40 filhos, e a razão entre a soma das idades deles e a idade de João
valia
05. Resposta: E. (A) 1,5.
I- 69,8------100% (B) 2,0.
781,6----x (C) 2,5.
X=1119,77 (D) 3,0.
II- 781,6-680,7=100,9 (E) 3,5.
10 2 02. (TJ/SC - Técnico Judiciário - Auxiliar TJ-SC) Os
III- =
25 5
censos populacionais produzem informações que permitem
conhecer a distribuição territorial e as principais
características das pessoas e dos domicílios, acompanhar sua
Tratamento da informação evolução ao longo do tempo, e planejar adequadamente o uso
sustentável dos recursos, sendo imprescindíveis para a
– médias aritméticas definição de políticas públicas e a tomada de decisões de
investimento. Constituem a única fonte de referência sobre a
situação de vida da população nos municípios e em seus
MEDIA ARITMÉTICA
recortes internos – distritos, bairros e localidades, rurais ou
urbanos – cujas realidades socioeconômicas dependem dos
Considere um conjunto numérico A = {x1; x2; x3; ...; xn} e
resultados censitários para serem conhecidas.
efetue uma certa operação com todos os elementos de A. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.sh
Se for possível substituir cada um dos elementos do tm
conjunto A por um número x de modo que o resultado da (Acesso dia 29/08/2011)
operação citada seja o mesmo diz – se, por definição, que x será Um dos resultados possíveis de se conhecer, é a
a média dos elementos de A relativa a essa operação. distribuição entre homens e mulheres no território brasileiro.
A seguir parte da pirâmide etária da população brasileira
MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES disponibilizada pelo IBGE.
A média dos elementos do conjunto numérico A relativa à
adição é chamada média aritmética.

- Cálculo da média aritmética


Se x for a média aritmética dos elementos do conjunto
numérico A = {x1; x2; x3; ...; xn}, então, por definição: http://www.ibge.gov.br/censo2010/piramide_etaria/index.php
(Acesso dia 29/08/2011)
O quadro abaixo, mostra a distribuição da quantidade de
homens e mulheres, por faixa etária de uma determinada
cidade. (Dados aproximados)
A média aritmética(x) dos n elementos do conjunto numérico Considerando somente a população masculina dos 20 aos
A é a soma de todos os seus elementos, dividida pelo número 44 anos e com base no quadro abaixo a frequência relativa, dos
de elementos n. homens, da classe [30, 34] é:
Exemplos:
1) Calcular a média aritmética entre os números 3, 4, 6, 9,
e 13.
Se x for a média aritmética dos elementos do conjunto (3,
4, 6, 9, 13), então x será a soma dos 5 elementos, dividida por
5. Assim:

3 + 4 + 6 + 9 + 13 35
𝑥= ↔𝑥= ↔𝑥=7
5 5
(A) 64%.
A média aritmética é 7. (B) 35%.
(C) 25%.
2) Os gastos (em reais) de 15 turistas em Porto Seguro (D) 29%.
estão indicados a seguir: (E) 30%.
65 – 80 – 45 – 40 – 65 – 80 – 85 – 90
75 – 75 – 70 – 75 – 75 – 90 – 65 03. (EsSA - Sargento - Conhecimentos Gerais - Todas as
Áreas – EB) Em uma turma a média aritmética das notas é 7,5.
Se somarmos todos os valores teremos: Sabe-se que a média aritmética das notas das mulheres é 8 e
das notas dos homens é 6. Se o número de mulheres excede o
65 + 80 + 45 + 40 + 65+, , , +90 + 65 1075 de homens em 8, pode-se afirmar que o número total de alunos
𝑥= = = 71,70
15 15 da turma é
(A) 4.
Assim podemos concluir que o gasto médio do grupo de (B) 8.
turistas foi de R$ 71,70. (C) 12.
(D) 16.
Questões (E) 20.
01. (Câmara Municipal de São José dos Campos/SP –
Analista Técnico Legislativo – Designer Gráfico – VUNESP)
Na festa de seu aniversário em 2014, todos os sete filhos de
João estavam presentes. A idade de João nessa ocasião
Matemática 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Respostas = P1 . x1 + P2 . x2 + P3 . x3 + ... + Pn . xn ↔ (P1 + P2 + P3 + ... +


P n) . x =
01. Resposta: E. = P1 . x1 + P2 . x2 + P3 . x3 + ... + Pn . xn e, portanto,
Foi dado que: J = 2.M

𝑎+𝑏+⋯+𝑔
𝐽= = 2. 𝑀 (I)
7

𝑎+𝑏+⋯+𝑔
Foi pedido: =? Observe que se P1 = P2 = P3 = ... = Pn = 1, então 𝑥 =
𝐽
𝑥1 ; 𝑥2 ; 𝑥3 ; …; 𝑥𝑛
: que é a média aritmética simples.
𝑛
Na equação ( I ), temos que:
A média aritmética ponderada dos n elementos do
𝑎+𝑏+⋯+𝑔
7= conjunto numérico A é a soma dos produtos de cada
𝐽
elemento multiplicado pelo respectivo peso, dividida pela
7 𝑎+𝑏+⋯+𝑔 soma dos pesos.
=
2 𝑀
Exemplos:
𝑎 + 𝑏 + ⋯+ 𝑔 1) Calcular a média aritmética ponderada dos números 35,
= 3,5
𝑀 20 e 10 com pesos 2, 3, e 5, respectivamente.

02. Resposta: E. Se x for a média aritmética ponderada, então:


[30, 34] = 600, somatória de todos os homens é:
300+400+600+500+200= 2000 2 .35 + 3 .20 + 5 .10 70 + 60 + 50 180
𝑥= ↔𝑥= ↔𝑥=
600 600
2+3+5 10 10
= = 0,3 . (100) = 30% ↔ 𝑥 = 18
300+400+600+500+200 2000

A média aritmética ponderada é 18.


03. Resposta: D.
Do enunciado temos m = h + 8 (sendo m = mulheres e h = 2) Em um dia de pesca nos rios do pantanal, uma equipe de
homens). pescadores anotou a quantidade de peixes capturada de cada
espécie e o preço pelo qual eram vendidos a um supermercado
𝑆 em Campo Grande.
A média da turma é 7,5, sendo S a soma das notas: =
𝑚+ℎ
7,5 → 𝑆 = 7,5(𝑚 + ℎ) Tipo de Quilo de peixe Preço por
𝑆1
peixe pescado quilo
A média das mulheres é 8, sendo S1 a soma das notas: = Peixe A 18 R$ 3,00
𝑚
8 → 𝑆1 = 8𝑚 Peixe B 10 R$ 5,00
Peixe C 6 R$ 9,00
𝑆2
A média dos homens é 6, sendo S2 a soma das notas: =6

→ 𝑆2 = 6ℎ Vamos determinar o preço médio do quilograma do peixe
vendido pelos pescadores ao supermercado.
Considerando que a variável em estudo é o preço do quilo
Somando as notas dos homens e das mulheres:
do peixe e fazendo a leitura da tabela, concluímos que foram
S1 + S2 = S
pescados 18 kg de peixe ao valor unitário de R$ 3,00, 10 kg de
8m + 6h = 7,5(m + h)
peixe ao valor unitário de R$ 5,00 e 6 kg de peixe ao valor de
8m + 6h = 7,5m + 7,5h
R$ 9,00.
8m – 7,5m = 7,5h – 6h
Vamos chamar o preço médio de p:
0,5m =1,5h
1,5ℎ
𝑚= 18𝑥3,00 + 10𝑥5,00 + 6𝑥9,00 54 + 50 + 54 158
0,5
𝑚 = 3ℎ 𝑝= = =
18 + 10 + 6 34 34
h + 8 = 3h = 4,65 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠
8 = 3h – h
8 = 2h → h = 4 Neste caso o fator de ponderação foi a quantidade de
m = 4 + 8 = 12 peixes capturadas de cada espécie.
Total de alunos = 12 + 4 = 16
A palavra média, sem especificações (aritmética ou
ponderada), deve ser entendida como média aritmética.
MÉDIA ARITMÉTICA PONDERADA
Questões
A média dos elementos do conjunto numérico A relativa à
adição e na qual cada elemento tem um “determinado peso” é 01. (EPCAR – Cadete – EPCAR) Um líquido L1 de
chamada média aritmética ponderada. densidade 800 g/l será misturado a um líquido L2 de
densidade 900 g/l Tal mistura será homogênea e terá a
- Cálculo da média aritmética ponderada proporção de 3 partes de L1 para cada 5 partes de L2 A
Se x for a média aritmética ponderada dos elementos do densidade da mistura final, em g/l, será
conjunto numérico A = {x1; x2; x3; ...; xn} com “pesos” P1; P2; P3; (A) 861,5.
...; Pn, respectivamente, então, por definição: (B) 862.
(C) 862,5.
P1 . x + P2 . x + P3 . x + ... + Pn . x = (D) 863.

Matemática 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

02. (TJM-SP – Oficial de Justiça – VUNESP) Ao encerrar o


movimento diário, um atacadista, que vende à vista e a prazo,
montou uma tabela relacionando a porcentagem do seu
Noções de Geometria –
faturamento no dia com o respectivo prazo, em dias, para que forma, ângulos, área,
o pagamento seja efetuado. perímetro, volume, Teoremas
PORCENTUAL DO PRAZO PARA
de Pitágoras ou de Tales
FATURAMENTO PAGAMENTO (DIAS)
15% À vista
20% 30 ÂNGULOS
35% 60
20% 90 Ângulo: É uma região limitada por duas semirretas de
10% 120 mesma origem.

O prazo médio, em dias, para pagamento das vendas Elementos de um ângulo:


efetuadas nesse dia, é igual a ⃗⃗⃗⃗⃗ e 𝑂𝐵
- LADOS: são as duas semirretas 𝑂𝐴 ⃗⃗⃗⃗⃗ .
(A) 75. -VÉRTICE: é o ponto de intersecção das duas semirretas,
(B) 67. no exemplo o ponto O.
(C) 60.
(D) 57.
(E) 55.

03. (SEDUC/RJ - Professor – Matemática – CEPERJ) Uma


loja de roupas de malha vende camisetas com malha de três
qualidades. Cada camiseta de malha comum custa R$15,00, de
malha superior custa R$24,00 e de malha especial custa
R$30,00. Certo mês, a loja vendeu 180 camisetas de malha
comum, 150 de malha superior e 70 de malha especial. O preço
médio, em reais, da venda de uma camiseta foi de:
(A) 20. Ângulo Central:
(B) 20,5. - Da circunferência: é o ângulo cujo vértice é o centro da
(C) 21. circunferência;
(D) 21,5. - Do polígono: é o ângulo, cujo vértice é o centro do
(E) 11. polígono regular e cujos lados passam por vértices
consecutivos do polígono.
Respostas

01. Resposta: C.
3.800+5.900 2400+4500 6900
= = = 862,5
3+5 8 8

02. Resposta: D.
Média aritmética ponderada: multiplicamos o porcentual Ângulo Circunscrito: É o ângulo, cujo vértice não
pelo prazo e dividimos pela soma dos porcentuais. pertence à circunferência e os lados são tangentes a ela.

15.0+20.30+35.60+20.90+10.120
=
15+20+35+20+10

600+2100+1800+1200
= =
100

5700
= = 57 Ângulo Inscrito: É o ângulo cujo vértice pertence a uma
100
circunferência.
03. Resposta: C.
Também média aritmética ponderada.

180.15+150.24+70.30
=
180+150+70

2700+3600+2100
= =
400

=
8400
= 21 Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do que
400 90º.

Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que


90º.

Ângulo Raso:
- É o ângulo cuja medida é 180º;
- É aquele, cujos lados são semirretas opostas.

Matemática 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Ângulo Reto:
- É o ângulo cuja medida é 90º;
- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.

̂ B e BO
- Os ângulos AO ̂ C, AO
̂ B e AO
̂ C, BO
̂ C e AO
̂ C são pares
de ângulos consecutivos.
̂ B e BO
- Os ângulos AO ̂ C são ângulos adjacentes.

Ângulos Complementares: Dois ângulos são Unidades de medida de ângulos:


0
complementares se a soma das suas medidas é 90 . Grado: (gr.): dividindo a circunferência em 400 partes
iguais, a cada arco unitário que corresponde a 1/400 da
circunferência denominamos de grado.
Grau: (º): dividindo a circunferência em 360 partes iguais,
cada arco unitário que corresponde a 1/360 da circunferência
denominamos de grau.
- o grau tem dois submúltiplos: minuto e segundo. E temos
que 1° = 60’ (1 grau equivale a 60 minutos) e 1’ = 60” (1 minuto
equivale a 60 segundos).
Ângulos Replementares: Dois ângulos são ditos
replementares se a soma das suas medidas é 360 .
0 Questões

01. As retas f e g são paralelas (f // g). Determine a medida


do ângulo â, nos seguintes casos:

a)

Ângulos Suplementares: Dois ângulos são ditos


suplementares se a soma das suas medidas de dois ângulos é
180º.

b)

Então, se x e y são dois ângulos, temos:


- se x + y = 90° → x e y são Complementares.
- se x + y = 180° → e y são Suplementares.
- se x + y = 360° → x e y são Replementares.

Ângulos Congruentes: São ângulos que possuem a mesma 02. As retas a e b são paralelas. Quanto mede o ângulo î?
medida.

03. Obtenha as medidas dos ângulos assinalados:

Ângulos Opostos pelo Vértice: Dois ângulos são opostos a)


pelo vértice se os lados de um são as respectivas semirretas
opostas aos lados do outro.

b)

Ângulos consecutivos: são ângulos que tem um lado em


comum.

Ângulos adjacentes: são ângulos consecutivos que não


tem ponto interno em comum.

Matemática 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

c)

d)

Um polígono possui os seguintes elementos:

- Lados: cada um dos segmentos de reta que une vértices


consecutivos: ̅̅̅̅
AB, ̅̅̅̅
BC, ̅̅̅̅ DE e ̅̅̅̅
CD, ̅̅̅̅ AE.

- Vértices: ponto de intersecção de dois lados consecutivos:


Respostas A, B, C, D e E.

01. Respostas: - Diagonais: Segmentos que unem dois vértices não


a) 55˚ consecutivos: ̅̅̅̅
AC, ̅̅̅̅ ̅̅̅̅, ̅̅
AD, BD CE̅̅ e ̅̅̅̅
BE.
b) 74˚
- Ângulos internos: ângulos formados por dois lados
02. Resposta: 130.
Imagine uma linha cortando o ângulo î, formando uma consecutivos (assinalados em azul na figura): , , ,
linha paralela às retas "a" e "b".
, .
Fica então decomposto nos ângulos ê e ô.
- Ângulos externos: ângulos formados por um lado e pelo
prolongamento do lado a ele consecutivo (assinalados em

vermelho na figura): , , , , .

Classificação: os polígonos são classificados de acordo


com o número de lados, conforme a tabela abaixo.
N° de lados Nome
3 Triângulo
4 Quadrilátero
Sendo assim, ê = 80° e ô = 50°, pois o ângulo ô é igual ao
complemento de 130° na reta b. 5 Pentágono
Logo, î = 80° + 50° = 130°. 6 Hexágono
7 Heptágono
03. Respostas: 8 Octógono
a) 160° - 3x = x + 100° 9 Eneágono
160° - 100° = x + 3x → 60° = 4x 10 Decágono
x = 60°/4 → x = 15° 11 Undecágono
Então 15°+100° = 115° e 160°-3*15° = 115° 12 Dodecágono
15 Pentadecágono
b) 6x + 15° + 2x + 5º = 180° 20 Icoságono
6x + 2x = 180° -15° - 5° → 8x = 160° → x = 160°/8
x = 20° Fórmulas: na relação de fórmulas abaixo temos a letra n
Então, 6*20°+15° = 135° e 2*20°+5° = 45° que representa o números de lados ou de ângulos ou de
vértices de um polígonos, pois um polígono de 5 lados tem
c) Sabemos que a figura tem 90°. também e vértices e 5 ângulos.
Então x + (x + 10°) + (x + 20°) + (x + 20°) = 90°
4x + 50° = 90° → 4x = 40° → x = 40°/4 → x = 10° 1 – Diagonais de um vértice: dv = n – 3.

d) Sabemos que os ângulos laranja + verde formam 180°, 2 - Total de diagonais: 𝐝 =


(𝐧−𝟑).𝐧
.
pois são exatamente a metade de um círculo. 𝟐
Então, 138° + x = 180° → x = 180° - 138° → x = 42°
Logo, o ângulo x mede 42°. 3 – Soma dos ângulos internos: Si = (n – 2).180°.

4 – Soma dos ângulos externos: para qualquer polígono o


valor da soma dos ângulos externos é uma constante, isto é, Se
= 360°.
POLÍGONOS
Polígonos Regulares: um polígono é chamado de regular
Um polígono é uma figura geométrica fechada, simples,
quando tem todos os lados congruentes (iguais) e todos os
formada por segmentos consecutivos e não colineares.
ângulos congruentes. Exemplo: o quadrado tem os 4 lados
iguais e os 4 ângulos de 90°, por isso é um polígono regular. E
Elementos de um polígono
para polígonos regulares temos as seguintes fórmulas, além
das quatro acima:

Matemática 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO
(𝐧−𝟐).𝟏𝟖𝟎° 𝐒 Respostas
1 – Ângulo interno: 𝐚𝐢 = ou 𝐚𝐢 = 𝐢.
𝐧 𝐧

𝟑𝟔𝟎° 𝐒 01. Resposta: D.


2 - Ângulo externo: 𝐚𝐞 = ou 𝐚𝐞 = 𝐞. Heptágono (7 lados) → n = 7
𝐧 𝐧
Si = (n – 2).180°
Semelhança de Polígonos: Dois polígonos são Si = (7 – 2).180°
semelhantes quando os ângulos correspondentes são Si = 5.180° = 900°
congruentes e os lados correspondentes são proporcionais.
Vejamos: 02. Resposta: D.
Icoságono (20 lados) → n = 20

(𝑛−3).𝑛
𝑑=
2

(20−3).20
𝑑= = 17.10
2

Fonte: http://www.somatematica.com.br d = 170

1) Os ângulos correspondentes são congruentes: 03. Resposta: A.


A soma dos ângulos internos do pentágono é:
Si = (n – 2).180º
2) Os lados correspondentes (homólogos) são Si = (5 – 2).180º
proporcionais: Si = 3.180º → Si = 540º
𝐴𝐵 𝐵𝐶 𝐶𝐷 𝐷𝐴 540º = x + 3x / 2 + x + 15º + 2x – 20º + x + 25º
= = = 𝑜𝑢
𝐴′𝐵′ 𝐵′𝐶′ 𝐶′𝐷′ 𝐷′𝐴′ 540º = 5x + 3x / 2 + 20º
520º = 10x + 3x / 2
3,8 4 2,4 2 1040º = 13x
= = =
5,7 6 3,6 3 X = 1040º / 13 → x = 80º

Podemos dizer que os polígonos são semelhantes. Mas


a semelhança só será válida se ambas condições existirem POLÍGONOS REGULARES
simultaneamente.
Todo polígono regular pode ser inscrito em uma
A razão entre dois lados correspondentes em polígonos circunferência. E temos fórmulas para calcular o lado e o
semelhante denomina-se razão de semelhança, ou seja: apótema desse triângulo em função do raio da circunferência.
𝐴𝐵 𝐵𝐶 𝐶𝐷 𝐷𝐴 2 Apótema e um segmento que sai do centro das figuras
= = = = 𝑘 , 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑘 =
𝐴′𝐵′ 𝐵′𝐶′ 𝐶′𝐷′ 𝐷′𝐴′ 3 regulares e divide o lado em duas partes iguais.

Questões I) Triângulo Equilátero:

01. A soma dos ângulos internos de um heptágono é:


(A) 360°
(B) 540°
(C) 1400°
(D) 900°
(E) 180°

02. Qual é o número de diagonais de um icoságono? II) Quadrado:


(A) 20
(B) 70
(C) 160
(D) 170
(E) 200

03. O valor de x na figura abaixo é:


III) Hexágono Regular

Referências
DOLCE, Osvaldo; POMPEO, José Nicolau – Fundamentos da Matemática – Vol.
(A) 80° 09 – Geometria Plana – 7ª edição – Editora Atual
www.somatematica.com.br
(B) 90°
(C) 100°
(D) 70°
(E) 50°

Matemática 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Questões 𝑏1. ℎ1
𝑆1 𝑏1 ℎ1 𝑆1
= 2 = . = 𝑘. 𝑘 = 𝑘 2 → = 𝑘2
01. O apótema de um hexágono regular inscrito numa 𝑆2 𝑏2. ℎ2 𝑏2 ℎ2 𝑆2
circunferência de raio 8 cm, vale, em centímetros: 2
(A) 4
A razão entre as áreas de dois triângulos semelhantes
(B) 4√3 é igual ao quadrado da razão de semelhança.
(C) 8
(D) 8√2 - Razão entre áreas de dois polígonos semelhantes
(E) 12

02. O apótema de um triângulo equilátero inscrito em uma


circunferência mede 10 cm, o raio dessa circunferência é:
(A) 15 cm
(B) 10 cm
(C) 8 cm
(D) 20 cm
(E) 25 cm Área de ABCDE ... MN = S1 Área de A’B’C’D’ ...
M’N’ = S2
03. O apótema de um quadrado mede 6 dm. A medida do
raio da circunferência em que esse quadrado está inscrito, em ABCDE ... MN = S1 ~ A’B’C’D’ ... M’N’ = S2 → ΔABC ~ ΔA’B’C’
dm, vale: e ΔACD ~ ΔAMN →
(A) 4√2 dm 𝐴𝐵 𝐵𝐶 𝑀𝑁
= ′ ′ = ⋯ = ′ ′ = 𝑘 (𝑟𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑒𝑙ℎ𝑎𝑛ç𝑎)
(B) 5√2 dm 𝐴′𝐵′ 𝐵 𝐶 𝑀𝑁
(C) 6√2 dm
(D) 7√2 dm Fazendo:
(E) 8√2 dm
Área ΔABC = t1, Área ΔACD = t2, ..., Área ΔAMN = tn-2
Respostas
Área ΔA’B’C’ = T1, Área ΔA’C’D’ = T2, ..., Área ΔA’M’N’ = Tn-2
01. Resposta: B.
Basta substituir r = 8 na fórmula do hexágono Anteriormente vimos que:
𝑡𝑖
𝑎=
𝑟√3
→𝑎 =
8√3
= 4√3 cm = 𝑘 2 → 𝑡𝑖 = 𝑘 2 𝑇𝑖 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 = 1,2,3, … , 𝑛 − 2
2 2 𝑇𝑖

02. Resposta: D. Então:


Basta substituir a = 10 na fórmula do triangulo equilátero.
𝑟 𝑟 𝑆1 𝑡1 + 𝑡2 + 𝑡3 + ⋯ + 𝑡𝑛−2 𝑆1
𝑎 = → 10 = → r = 2.10 → r = 20 cm = → = 𝑘2
2 2
𝑆2 𝑇1 + 𝑇2 + 𝑇3 + ⋯ + 𝑇𝑛−2 𝑆2
03. Resposta: C.
Sendo a = 6, temos: A razão entre as áreas de dois polígonos semelhantes é
𝑟√2 igual ao quadrado da razão de semelhança.
𝑎=
2
𝑟√2 Observação: A propriedade acima é extensiva a quaisquer
6= → 𝑟√2 = 2.6 → 𝑟√2 = 12 (√2 passa dividindo)
2
12 superfícies semelhantes e, por isso, vale
r= (temos que racionalizar, multiplicando em cima e
√2
em baixo por √2) A razão entre as áreas de duas superfícies
semelhantes é igual ao quadrado da razão de
𝑟=
12.√2
→𝑟 =
12√2
→ 𝑟 = 6√2 dm semelhança.
√2.√2 2

TRIÂNGULOS
RAZÃO ENTRE ÁREAS
Triângulo é um polígono de três lados. É o polígono que
- Razão entre áreas de dois triângulos semelhantes possui o menor número de lados. É o único polígono que não
tem diagonais. Todo triângulo possui alguns elementos e os
principais são: vértices, lados, ângulos, alturas, medianas e
bissetrizes.

Vamos chamar de S1 a área do triângulo ABC = S1 e de S2


a do triângulo A’B’C’ = S2

𝑏1 ℎ1 1. Vértices: A, B e C.
Δ ABC ~ Δ A’B’C’ → = = 𝑘 (𝑟𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑒𝑙ℎ𝑎𝑛ç𝑎) ̅̅̅̅,BC
2. Lados: AB ̅̅̅̅ e AC
̅̅̅̅.
𝑏2 ℎ2
3. Ângulos internos: a, b e c.
𝑏.ℎ
Sabemos que a área do triângulo é dada por 𝑆 =
2
Altura: É um segmento de reta traçada a partir de um
Aplicando as razões temos que: vértice de forma a encontrar o lado oposto ao vértice
formando um ângulo reto. ̅̅̅̅
BH é uma altura do triângulo.

Matemática 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Triângulo Obtusângulo: Um ângulo interno é obtuso, isto


é, possui um ângulo com medida maior do que 90º.

Mediana: É o segmento que une um vértice ao ponto


̅̅̅̅ é uma mediana.
médio do lado oposto. BM
Triângulo Retângulo: Possui um ângulo interno reto (90°
graus).

Bissetriz: É a semi-reta que divide um ângulo em duas


̂ está dividido ao meio e neste caso Ê
partes iguais. O ângulo B
= Ô.
Propriedade dos ângulos

1- Ângulos Internos: a soma dos três ângulos internos de


qualquer triângulo é igual a 180°.

Ângulo Interno: Todo triângulo possui três ângulos


̂, B
internos, na figura são A ̂ e Ĉ

a + b + c = 180º
2- Ângulos Externos: Consideremos o triângulo ABC onde
as letras minúsculas representam os ângulos internos e as
Ângulo Externo: É formado por um dos lados do triângulo respectivas letras maiúsculas os ângulos externos. Temos que
e pelo prolongamento do lado adjacente a este lado, na figura em todo triângulo cada ângulo externo é igual à soma de dois
̂, E
são D ̂ e F̂ (na cor em destaque). ângulos internos apostos.

Classificação
O triângulo pode ser classificado de duas maneiras:

1- Quanto aos lados:


Triângulo Equilátero: Os três lados têm medidas iguais,
̅̅̅̅) = m(BC
m(AB ̅̅̅̅) = m(AC
̅̅̅̅) e os três ângulos iguais.
̂ = b̂ + ĉ; B
A ̂ = â + ĉ e Ĉ = â + b̂

Semelhança de triângulos
Dois triângulos são semelhantes se tiverem, entre si, os
lados correspondentes proporcionais e os ângulos
congruentes (iguais).
Triângulo Isósceles: Tem dois lados com medidas iguais,
̅̅̅̅) = m(AC
m(AB ̅̅̅̅) e dois ângulos iguais.

Triângulo Escaleno: Todos os três lados têm medidas


̅̅̅̅) ≠ m(AC
diferentes, m(AB ̅̅̅̅) ≠ m(BC
̅̅̅̅) e os três ângulos
diferentes.

2 - Quanto aos ângulos: Critérios de semelhança


Triângulo Acutângulo: Todos os ângulos internos são 1- Dois ângulos congruentes: Se dois triângulos tem,
agudos, isto é, as medidas dos ângulos são menores do que 90º. entre si, dois ângulos correspondentes congruentes iguais,
então os triângulos são semelhantes.

Matemática 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(D) 45°
(E) 30°

̂ C é reto. O valor em
03. Na figura seguinte, o ângulo AD
̂ D é igual a:
graus do ângulo CB

2- Dois lados congruentes: Se dois triângulos tem dois (A) 120°


lados correspondentes proporcionais e os ângulos formados (B) 110°
por esses lados também são congruentes, então os triângulos (C) 105°
são semelhantes. (D) 100°
(E) 95°
Respostas

01. Resposta: B.
Da figura temos que 3x é um ângulo externo do triângulo
e, portanto, é igual à soma dos dois internos opostos, então:
3x = x + 80º
3x – x = 80º
2x = 80°
x = 80° : 2
x = 40°

02. Resposta: C.
3- Três lados proporcionais: Se dois triângulos têm os Na figura dada, temos três triângulos: ABC, ACD e BCD. Do
três lados correspondentes proporcionais, então os triângulos enunciado AB = AC, o triângulo ABC tem dois lados iguais,
são semelhantes. então ele é isósceles e tem dois ângulos iguais:
AĈB = AB ̂ C = x. A soma dos três ângulos é igual a 180°.
36° + x + x = 180°
2x = 180° - 36°
2x = 144
x = 144 : 2
x = 72
Logo: AĈB = AB ̂ C = 72°
Também temos que CB = CD, o triângulo BCD é isósceles:
CB̂ D = CD̂ B = 72°, sendo y o ângulo DĈB, a soma é igual a
180°.
Observação: temos três critérios de semelhança, porém o 72° + 72° + y = 180°
mais utilizado para resolução de exercícios, isto é, para provar 144° + y = 180°
que dois triângulos são semelhantes, basta provar que eles tem y = 180° - 144°
dois ângulos correspondentes congruentes (iguais). y = 36º

Questões 03. Resposta: D.


Na figura temos três triângulos. Do enunciado o ângulo
01. O valor de x na figura abaixo é: ̂ C = 90° (reto).
AD
O ângulo BD ̂ C = 30° → AD
̂ B = 60º.

(A) 30°
(B) 40°
(C) 50°
(D) 60° O ângulo CB̂ D (x) é ângulo externo do triângulo ABD, então:
(E) 70° x = 60º + 40° (propriedade do ângulo externo) → x = 100°

02. Na figura abaixo ̅̅̅̅


AB = ̅̅̅̅
AC, ̅̅̅̅
CB = ̅̅̅̅
CD, a medida do ângulo
DĈB é: PONTOS NOTÁVEIS DO TRIÂNGULO

Em um triângulo qualquer nós temos alguns elementos


chamados de cevianas. Estes elementos são:
- Altura: segmento que sai do vértice e forma um ângulo de
90° com o lado oposto a esse vértice.
- Mediana: segmento que sai do vértice e vai até o ponto
(A) 34° médio do lado oposto a esse vértice, isto é, divide o lado oposto
(B) 72° em duas partes iguais.
(C) 36°

Matemática 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- Bissetriz do ângulo interno: semirreta que divide o ângulo


em duas partes iguais. Um triângulo cujos vértices são os “pés” das alturas de um
- Mediatriz: reta que passa pelo ponto médio do lado outro triângulo chama-se triângulo órtico do primeiro
formando um ângulo de 90° triângulo.

Observações:
1) Num triângulo isósceles (dois lados iguais) os quatro
pontos notáveis são colineares (estão numa alinhados).
2) Num triângulo equilátero (três lados iguais) os quatro
pontos notáveis são coincidentes, isto é, um só ponto já é o
Baricentro, Incentro, Circuncentro e Ortocentro.
3) As iniciais dos quatro pontos formam a palavra BICO.

Questões
E todo triângulo tem três desses elementos, isto é, o
triângulo tem três alturas, três medianas, três bissetrizes e três 01. Assinale a afirmação falsa:
mediatrizes. Os pontos de intersecção desses elementos são (A) Os pontos notáveis de um triângulo equilátero são
chamados de pontos notáveis do triângulo. coincidentes.
(B) O encentro de qualquer triângulo é sempre um ponto
- Baricentro: é o ponto de intersecção das três medianas de interno.
um triângulo. É sempre um ponto interno. E divide as (C) O ortocentro de um triângulo retângulo é o vértice do
medianas na razão de 2:1. É ponto de gravidade do triângulo. ângulo reto.
(D) O circuncentro de um triângulo retângulo é o ponto
médio da hipotenusa.
(E) O baricentro de qualquer triângulo é o ponto médio de
cada mediana.

02. Na figura, o triângulo ABC é equilátero e está


circunscrito ao círculo de centro O e raio 2 cm. ̅̅̅̅
AD é altura do
- Incentro: é o ponto de intersecção das três bissetrizes de ̅̅̅̅, em
triângulo. Sendo E ponto de tangência, a medida de AE
um triângulo. É sempre um ponto interno. É o centro da
centímetros, é:
circunferência circunscrita (está dentro do triângulo
tangenciando seus três lados).

(A) 2√3
(B) 2√5
- Circuncentro: é o ponto de intersecção das três (C) 3
mediatrizes de um triângulo. É o centro da circunferência (D) 5
circunscrita (está por fora do triângulo passando por seus três (E) √26
vértices). No triângulo acutângulo o circuncentro é um ponto
interno, no triângulo obtusângulo é um ponto externo e no 03. Qual das afirmações a seguir é verdadeira?
triângulo retângulo é o ponto médio da hipotenusa. (A) O baricentro pode ser um ponto exterior ao triângulo e
isto ocorre no triângulo acutângulo.
(B) O baricentro pode ser um ponto de um dos lados do
triângulo e isto ocorre no triângulo escaleno.
(C) O baricentro pode ser um ponto exterior ao triângulo e
isto ocorre no triângulo retângulo.
(D) O baricentro pode ser um ponto dos vértices do
triângulo e isto ocorre no triângulo retângulo.
- Ortocentro: é o ponto de intersecção das três alturas de (E) O baricentro sempre será um ponto interior ao
um triângulo. No triângulo acutângulo é um ponto interno, no triângulo.
triângulo retângulo é o vértice do ângulo reto e no triângulo
obtusângulo é um ponto externo. Respostas

01. Resposta: E.
O baricentro divide as medianas na razão de 2 para 1, logo
não é ponto médio.

Matemática 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

02. Resposta: A. 02. Um barco partiu de um ponto A e navegou 10 milhas


Do enunciado temos que O é o circuncentro (centro da para o oeste chegando a um ponto B, depois 5 milhas para o
circunferência inscrita) então O também é baricentro (no sul chegando a um ponto C, depois 13 milhas para o leste
triângulo equilátero os 4 pontos notáveis são coincidentes), chagando a um ponto D e finalmente 9 milhas para o norte
logo pela propriedade do baricentro temos que AO ̅̅̅̅ é o dobro chegando a um ponto E. Onde o barco parou relativamente ao
̅̅̅̅. Se OD
de OD ̅̅̅̅ = 2 (raio da circunferência) → AO
̅̅̅̅ = 4 cm. O ponto ponto de partida?
E é ponto de tangência, logo o raio traçado no ponto de (A) 3 milhas a sudoeste.
tangência forma ângulo reto (90°) e ̅̅̅̅ OE = 2 cm. Portanto o (B) 3 milhas a sudeste.
triângulo AEO é retângulo, basta aplicar o Teorema de (C) 4 milhas ao sul.
Pitágoras e sendo AE ̅̅̅̅ = x: (D) 5 milhas ao norte.
̅̅̅̅)2 = (AE
(AO ̅̅̅̅)2 + (OE̅̅̅̅)2 (E) 5 milhas a nordeste.
4 2 = x 2 + 22
16 − 4 = x 2 03. Em um triângulo retângulo a hipotenusa mede 13 cm e
x 2 = 12 um dos catetos mede 5 cm, qual é a medida do outro cateto?
x = √12 (A) 10
(B) 11
x = 2√3 cm
(C) 12
(D) 13
03. Resposta: E.
(E) 14
O baricentro é sempre interno, pois as 3 medianas de um
Respostas
triângulo são segmentos internos.
01. Resposta: D.
TEOREMA DE PITÁGORAS
02. Resposta: E.
Em todo triângulo retângulo, o maior lado é chamado de
hipotenusa e os outros dois lados são os catetos.

x2 = 32 + 42
x2 = 9 + 16
- “Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa x2 = 25
é igual à soma dos quadrados dos catetos”. x = √25 = 5

a2 = b2 + c2 03. Resposta: C.
132 = x2 + 52
Questões 169 = x2 + 25
169 – 25 = x2
01. Millôr Fernandes, em uma bela homenagem à x2 = 144
Matemática, escreveu um poema do qual extraímos o x = √144 = 12 cm
fragmento abaixo:
Às folhas tantas de um livro de Matemática, um Quociente
apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita. TEOREMA DE TALES
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do Ápice à Base:
uma figura Ímpar; olhos romboides, boca trapezoide, corpo - Feixe de paralelas: é todo conjunto de três ou mais retas
retangular, seios esferoides. e paralelas entre si.
Fez da sua uma vida paralela à dela, até que se - Transversal: é qualquer reta que intercepta todas as retas
encontraram no Infinito. de um feixe de paralelas.
“Quem és tu” – indagou ele em ânsia Radical. - Teorema de Tales: Se duas retas são transversais de um
“Sou a soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me feixe de retas paralelas então a razão entre as medidas de dois
chamar de Hipotenusa.” (Millôr Fernandes – Trinta Anos de segmentos quaisquer de uma delas é igual à razão entre as
Mim Mesmo). medidas dos segmentos correspondentes da outra.
A Incógnita se enganou ao dizer quem era. Para atender ao
Teorema de Pitágoras, deveria dar a seguinte resposta:
(A) “Sou a soma dos catetos. Mas pode me chamar de
Hipotenusa.”
(B) “Sou o quadrado da soma dos catetos. Mas pode me
chamar de Hipotenusa.”
(C) “Sou o quadrado da soma dos catetos. Mas pode me
chamar de quadrado da Hipotenusa.”
(D) “Sou a soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me
chamar de quadrado da Hipotenusa.”
(E) Nenhuma das anteriores. r//s//t//u (// → símbolo de paralelas); a e b são retas
transversais. Então, temos que os segmentos correspondentes
são proporcionais.

Matemática 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

̅̅̅̅ 𝐵𝐶
𝐴𝐵 ̅̅̅̅ 𝐶𝐷
̅̅̅̅ 𝐴𝐷
̅̅̅̅ 02. Resposta: B.
= = = = ⋯. 2𝑥 − 3 5
̅̅̅̅ 𝐹𝐺
𝐸𝐹 ̅̅̅̅ ̅̅̅̅
𝐺𝐻 𝐸𝐻 ̅̅̅̅
=
𝑥+2 6
Teorema da bissetriz interna: 6.(2x – 3) = 5(x + 2)
“Em todo triângulo a bissetriz de um ângulo interno divide 12x – 18 = 5x + 10
o lado oposto em dois segmentos proporcionais ao outros dois 12x – 5x = 10 + 18
lados do triângulo”. 7x = 28
x = 28 : 7 = 4

03. Resposta: 06.


10 𝑥
=
30 18

30x = 10.18
30x = 180
x = 180 : 30 = 6
Referências
SOUZA, Joamir Roberto; PATARO, Patricia Moreno – Vontade de Saber
Matemática 6º Ano – FTD – 2ª edição – São Paulo: 2012
http://www.jcpaiva.net/ PERÍMETRO E ÁREA DAS FIGURAS PLANAS

Questões Perímetro: é a soma de todos os lados de uma figura plana.


Exemplo:
01. Na figura abaixo, o valor de x é:

(A) 1,2 Perímetros de algumas das figuras planas:


(B) 1,4
(C) 1,6
(D) 1,8
(E) 2,0

02. Na figura abaixo, qual é o valor de x?

(A) 3 Área é a medida da superfície de uma figura plana.


(B) 4 A unidade básica de área é o m2 (metro quadrado), isto é,
(C) 5 uma superfície correspondente a um quadrado que tem 1 m de
(D) 6 lado.
(E) 7
03. Calcular o valor de x na figura abaixo.

Fórmulas de área das principais figuras planas:

1) Retângulo
- sendo b a base e h a altura:

Respostas

01. Resposta: C. 2. Paralelogramo


2 𝑥 - sendo b a base e h a altura:
=
5 4
5x = 2.4
5x = 8
x = 8 : 5 = 1,6

Matemática 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

3. Trapézio Questões
- sendo B a base maior, b a base menor e h a altura:
01. A área de um quadrado cuja diagonal mede 2√7 cm é,
em cm2, igual a:
(A) 12
(B) 13
(C) 14
4. Losango (D) 15
- sendo D a diagonal maior e d a diagonal menor: (E) 16

02. Corta-se um arame de 30 metros em duas partes. Com


cada uma das partes constrói-se um quadrado. Se S é a soma
das áreas dos dois quadrados, assim construídos, então o
menor valor possível para S é obtido quando:
5. Quadrado (A) o arame é cortado em duas partes iguais.
- sendo l o lado: (B) uma parte é o dobro da outra.
(C) uma parte é o triplo da outra.
(D) uma parte mede 16 metros de comprimento.

03. Um grande terreno foi dividido em 6 lotes retangulares


6. Triângulo: essa figura tem 6 fórmulas de área, congruentes, conforme mostra a figura, cujas dimensões
dependendo dos dados do problema a ser resolvido. indicadas estão em metros.

I) sendo dados a base b e a altura h:

II) sendo dados as medidas dos três lados a, b e c: Sabendo-se que o perímetro do terreno original, delineado
em negrito na figura, mede x + 285, conclui-se que a área total
desse terreno é, em m2, igual a:
(A) 2 400.
(B) 2 600.
(C) 2 800.
III) sendo dados as medidas de dois lados e o ângulo (D) 3000.
formado entre eles: (E) 3 200.
Respostas

01.Resposta: C.
Sendo l o lado do quadrado e d a diagonal:

IV) triângulo equilátero (tem os três lados iguais):

Utilizando o Teorema de Pitágoras:


d2 = l2 + l2
2
(2√7) = 2l2
4.7 = 2l2
V) circunferência inscrita: 2l2 = 28
28
l2 =
2
A = 14 cm2

02. Resposta: A.
- um quadrado terá perímetro x
x
o lado será l = e o outro quadrado terá perímetro 30 – x
VI) circunferência circunscrita: 4
30−x
o lado será l1 = , sabendo que a área de um quadrado
4
é dada por S = l , temos:
2

S = S1 + S2
S=l²+l1²
x 2 30−x 2
S=( ) +( )
4 4
x2 (30−x)2
S= + , como temos o mesmo denominador 16:
16 16

Matemática 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

x 2 + 302 − 2.30. x + x 2 III- Setor circular:


S= É uma região compreendida entre dois raios distintos de
16
x 2 + 900 − 60x + x 2 um círculo. O setor circular tem como elementos principais o
S= raio r, um ângulo central 𝛼 e o comprimento do arco l, então
16
2x2 60x 900 temos duas fórmulas:
S= − + ,
16 16 16

sendo uma equação do 2º grau onde a = 2/16; b = -60/16


e c = 900/16 e o valor de x será o x do vértice que e dado pela
−b
fórmula: x = , então:
2a

−60 60
−( )
xv = 16 = 16
2 4 IV- Segmento circular:
2. 16
16
60 16 60 É uma região compreendida entre um círculo e uma corda
xv = . = = 15,
16 4 4 (segmento que une dois pontos de uma circunferência) deste
círculo. Para calcular a área de um segmento circular temos
logo l = 15 e l1 = 30 – 15 = 15. que subtrair a área de um triângulo da área de um setor
circular, então temos:
03. Resposta: D.
Observando a figura temos que cada retângulo tem lados
medindo x e 0,8x:
Perímetro = x + 285
8.0,8x + 6x = x + 285
6,4x + 6x – x = 285
11,4x = 285
x = 285:11,4
x = 25
Sendo S a área do retângulo:
S= b.h
Questões
S= 0,8x.x
S = 0,8x2
01. A figura abaixo mostra três círculos, cada um com 10
Sendo St a área total da figura:
cm de raio, tangentes entre si.
St = 6.0,8x2
St = 4,8.252
St = 4,8.625
St = 3000

ÁREA DO CIRCULO E SUAS PARTES Considerando √3 ≅ 1,73 e 𝜋 ≅ 3,14, o valor da área


sombreada, em cm2, é:
I- Círculo: (A) 320.
Quem primeiro descreveu a área de um círculo foi o (B) 330.
matemático grego Arquimedes (287/212 a.C.), de Siracusa, (C) 340.
mais ou menos por volta do século II antes de Cristo. Ele (D) 350.
concluiu que quanto mais lados tem um polígono regular mais (E) 360.
ele se aproxima de uma circunferência e o apótema (a) deste
polígono tende ao raio r. Assim, como a fórmula da área de um 02. A área de um círculo, cuja circunferência tem
polígono regular é dada por A = p.a (onde p é semiperímetro e comprimento 20𝜋 cm, é:
2𝜇𝑟
a é o apótema), temos para a área do círculo 𝐴 = . 𝑟, então (A) 100𝜋 cm2.
2
temos: (B) 80 𝜋 cm2.
(C) 160 𝜋 cm2.
(D) 400 𝜋 cm2.

03. Quatro tanques de armazenamento de óleo, cilíndricos


e iguais, estão instalados em uma área retangular de 24,8 m de
comprimento por 20,0 m de largura, como representados na
II- Coroa circular: figura abaixo.
É uma região compreendida entre dois círculos
concêntricos (tem o mesmo centro). A área da coroa circular é
igual a diferença entre as áreas do círculo maior e do círculo
menor. A = 𝜋R2 – 𝜋r2, como temos o 𝜋 como fator comum,
podemos colocá-lo em evidência, então temos:

2
Se as bases dos quatro tanques ocupam da área
5
retangular, qual é, em metros, o diâmetro da base de cada
tanque?
Dado: use 𝜋=3,1

Matemática 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(A) 2. que dois sólidos com a mesma altura têm volumes iguais se as
(B) 4. secções planas de iguais altura possuírem a mesma área.
(C) 6. Vejamos:
(D) 8. Suponhamos a existência de uma coleção de chapas
(E) 16. retangulares (paralelepípedos retângulos) de mesmas
Respostas dimensões, e consequentemente, de mesmo volume.
Imaginemos ainda a formação de dois sólidos com essa coleção
01. Resposta: B. de chapas.
Unindo os centros das três circunferências temos um
triângulo equilátero de lado 2r ou seja l = 2.10 = 20 cm. Então
a área a ser calculada será:

Tanto em A como em B, a parte do espaço ocupado, ou seja,


𝐴𝑐𝑖𝑟𝑐 o volume ocupado, pela coleção de chapas é o mesmo, isto é, os
𝐴 = 𝐴𝑐𝑖𝑟𝑐 + 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑎𝑛𝑔 +
2 sólidos A e B tem o mesmo volume.
𝐴𝑐𝑖𝑟𝑐 Mas se imaginarmos esses sólidos com base num mesmo
𝐴= + 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑎𝑛𝑔
2 plano α e situados num mesmo semi espaço dos determinados
𝜋𝑟 2 por α.
𝐴= + 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑎𝑛𝑔
2

𝜋𝑟 2 𝑙 2 √3
𝐴= +
2 4
(3,14 ∙ 102 ) 202 ∙ 1,73
𝐴= +
2 4
400 ∙ 1,73
𝐴 = 1,57 ∙ 100 +
4
𝐴 = 157 + 100 ∙ 1,73 = 157 + 173 = 330

02. Resposta: A. Qualquer plano β, secante aos sólidos A e B, paralelo a α,


A fórmula do comprimento de uma circunferência é C = determina em A e em B superfícies de áreas iguais (superfícies
2π.r, Então: equivalentes). A mesma ideia pode ser estendida para duas
C = 20π pilhas com igual número de moedas congruentes.
2π.r = 20π
20π
r=

r = 10 cm
A = π.r2 → A = π.102 → A = 100π cm2

03. Resposta: D.
Primeiro calculamos a área do retângulo (A = b.h)
Aret = 24,8.20
Aret = 496 m2
2 Dois sólidos, nos quais todo plano secante, paralelo a
4.Acirc = .Aret um dado plano, determina superfícies de áreas iguais
5
(superfícies equivalentes), são sólidos de volumes iguais
2
4.πr2 = .496 (sólidos equivalentes).
5
992
4.3,1.r2 =
5
12,4.r2 = 198,4
r2 = 198,4 : 12, 4 → r2 = 16 → r = 4
d = 2r =2.4 = 8

SÓLIDOS GEOMÉTRICOS

Sólidos Geométricos são figuras geométricas que possui


três dimensões. Um sólido é limitado por um ou mais planos. A aplicação do princípio de Cavalieri, em geral, implica na
Os mais conhecidos são: prisma, pirâmide, cilindro, cone e colocação dos sólidos com base num mesmo plano, paralelo ao
esfera. qual estão as secções de áreas iguais (que é possível usando a
congruência)
- Principio de Cavalieri
Bonaventura Cavalieri foi um matemático italiano, - Sólidos geométricos
discípulo de Galileu, que criou um método capaz de determinar
áreas e volumes de sólidos com muita facilidade, denominado I) PRISMA: é um sólido geométrico que possui duas bases
princípio de Cavalieri. Este princípio consiste em estabelecer iguais e paralelas.

Matemática 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Temos três dimensões: a= comprimento, b = largura e c =


altura.

Fórmulas:
- Área Total: At = 2.(ab + ac + bc)

- Volume: V = a.b.c

- Diagonal: D = √a2 + b 2 + c 2
Elementos de um prisma:
a) Base: pode ser qualquer polígono. b) Hexaedro Regular (Cubo): é um prisma que tem as 6
b) Arestas da base: são os segmentos que formam as faces quadradas.
bases.
c) Face Lateral: é sempre um paralelogramo.
d) Arestas Laterais: são os segmentos que formam as
faces laterais.
e) Vértice: ponto de intersecção (encontro) de arestas.
f) Altura: distância entre as duas bases.
As três dimensões de um cubo comprimento, largura e
Classificação: altura são iguais.
Um prisma pode ser classificado de duas maneiras:
Fórmulas:
1- Quanto à base: - Área Total: At = 6.a2
- Prisma triangular...........................................................a base é
um triângulo. - Volume: V = a3
- Prisma quadrangular.....................................................a base é
um quadrilátero. - Diagonal: D = a√3
- Prisma pentagonal........................................................a base é
um pentágono. II) PIRÂMIDE: é um sólido geométrico que tem uma base
- Prisma hexagonal.........................................................a base é e um vértice superior.
um hexágono.
E, assim por diante.

2- Quanta à inclinação:
- Prisma Reto: a aresta lateral forma com a base um
ângulo reto (90°).
- Prisma Obliquo: a aresta lateral forma com a base um
ângulo diferente de 90°.

Elementos de uma pirâmide:


A pirâmide tem os mesmos elementos de um prisma: base,
arestas da base, face lateral, arestas laterais, vértice e altura.
Fórmulas: Além destes, ela também tem um apótema lateral e um
- Área da Base apótema da base.
Como a base pode ser qualquer polígono não existe uma Na figura acima podemos ver que entre a altura, o apótema
fórmula fixa. Se a base é um triângulo calculamos a área desse da base e o apótema lateral forma um triângulo retângulo,
triângulo; se a base é um quadrado calculamos a área desse então pelo Teorema de Pitágoras temos: ap2 = h2 + ab2.
quadrado, e assim por diante.
- Área Lateral: Classificação:
Soma das áreas das faces laterais Uma pirâmide pode ser classificado de duas maneiras:
- Área Total: 1- Quanto à base:
At=Al+2Ab - Pirâmide triangular...........................................................a base é
- Volume: um triângulo.
V = Abh - Pirâmide quadrangular.....................................................a base é
um quadrilátero.
Prismas especiais: temos dois prismas estudados a parte - Pirâmide pentagonal........................................................a base é
e que são chamados de prismas especiais, que são: um pentágono.
- Pirâmide hexagonal.........................................................a base é
a) Hexaedro (Paralelepípedo reto-retângulo): é um um hexágono.
prisma que tem as seis faces retangulares. E, assim por diante.

2- Quanta à inclinação:
- Pirâmide Reta: tem o vértice superior na direção do
centro da base.
- Pirâmide Obliqua: o vértice superior está deslocado em
relação ao centro da base.

Matemática 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SB → é a área da base maior


Sb → é a área da base menor

III) CILINDRO: é um sólido geométrico que tem duas bases


iguais, paralelas e circulares.

Fórmulas:
- Área da Base: 𝐴𝑏 = 𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜, como a base
pode ser qualquer polígono não existe uma fórmula fixa. Se a
base é um triângulo calculamos a área desse triângulo; se a
base é um quadrado calculamos a área desse quadrado, e
assim por diante.
- Área Lateral: 𝐴𝑙 =
𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑎𝑠 á𝑟𝑒𝑎𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑓𝑎𝑐𝑒𝑠 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑖𝑠
Elementos de um cilindro:
- Área Total: At = Al + Ab a) Base: é sempre um círculo.
b) Raio
1
- Volume: 𝑉 = . 𝐴𝑏 . ℎ c) Altura: distância entre as duas bases.
3
d) Geratriz: são os segmentos que formam a face lateral,
- TRONCO DE PIRÂMIDE isto é, a face lateral é formada por infinitas geratrizes.
O tronco de pirâmide é obtido ao se realizar uma secção
transversal numa pirâmide, como mostra a figura: Classificação: como a base de um cilindro é um círculo, ele
só pode ser classificado de acordo com a inclinação:
- Cilindro Reto: a geratriz forma com o plano da base um
ângulo reto (90°).
- Cilindro Obliquo: a geratriz forma com a base um ângulo
diferente de 90°.

O tronco da pirâmide é a parte da figura que apresenta as


arestas destacadas em vermelho.
É interessante observar que no tronco de pirâmide as
arestas laterais são congruentes entre si; as bases são
polígonos regulares semelhantes; as faces laterais são
trapézios isósceles, congruentes entre si; e a altura de Fórmulas:
qualquer face lateral denomina-se apótema do tronco. - Área da Base: Ab = π.r2

→ Cálculo das áreas do tronco de pirâmide. - Área Lateral: Al = 2.π.r.h


Num tronco de pirâmide temos duas bases, base maior e
base menor, e a área da superfície lateral. De acordo com a - Área Total: At = 2.π.r.(h + r) ou At = Al + 2.Ab
base da pirâmide, teremos variações nessas áreas. Mas
observe que na superfície lateral sempre teremos trapézios - Volume: V = π.r2.h ou V = Ab.h
isósceles, independente do formato da base da pirâmide. Por
exemplo, se a base da pirâmide for um hexágono regular, Secção Meridiana de um cilindro: é um “corte” feito pelo
teremos seis trapézios isósceles na superfície lateral. centro do cilindro. O retângulo obtido através desse corte é
A área total do tronco de pirâmide é dada por: chamado de secção meridiana e tem como medidas 2r e h. Logo
St = Sl + SB + Sb a área da secção meridiana é dada pela fórmula: ASM = 2r.h.
Onde:
St → é a área total
Sl → é a área da superfície lateral
SB → é a área da base maior
Sb → é a área da base menor

→ Cálculo do volume do tronco de pirâmide.


A fórmula para o cálculo do volume do tronco de pirâmide
é obtida fazendo a diferença entre o volume de pirâmide maior
e o volume da pirâmide obtida após a secção transversal que
produziu o tronco. Colocando em função de sua altura e das
áreas de suas bases, o modelo matemático para o volume do
tronco é:
Cilindro Equilátero: um cilindro é chamado de equilátero
quando a secção meridiana for um quadrado, para isto temos
que: h = 2r.
Onde,
V → é o volume do tronco IV) CONE: é um sólido geométrico que tem uma base
h → é a altura do tronco circular e vértice superior.

Matemática 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Elementos
Elementos de um cone: - A base do cone é a base maior do tronco, e a seção
a) Base: é sempre um círculo. transversal é a base menor;
b) Raio - A distância entre os planos das bases é a altura do tronco.
c) Altura: distância entre o vértice superior e a base.
d) Geratriz: segmentos que formam a face lateral, isto é, a
face lateral e formada por infinitas geratrizes.

Classificação: como a base de um cone é um círculo, ele só


tem classificação quanto à inclinação.
- Cone Reto: o vértice superior está na direção do centro
da base.
- Cone Obliquo: o vértice superior esta deslocado em
relação ao centro da base. Diferentemente do cone, o tronco de cone possui duas
bases circulares em que uma delas é maior que a outra, dessa
forma, os cálculos envolvendo a área superficial e o volume do
tronco envolverão a medida dos dois raios. A geratriz, que é a
medida da altura lateral do cone, também está presente na
composição do tronco de cone.
Não devemos confundir a medida da altura do tronco de
cone com a medida da altura de sua lateral (geratriz), pois são
elementos distintos. A altura do cone forma com as bases um
ângulo de 90º. No caso da geratriz os ângulos formados são um
Fórmulas: agudo e um obtuso.
- Área da base: Ab = π.r2

- Área Lateral: Al = π.r.g Área da Superfície e


Volume
- Área total: At = π.r.(g + r) ou At = Al + Ab

1 1
- Volume: 𝑉 = . 𝜋. 𝑟 2 . ℎ ou 𝑉 = . 𝐴𝑏 . ℎ
3 3
Onde:
- Entre a geratriz, o raio e a altura temos um triângulo h = altura
retângulo, então: g2 = h2 + r2. g = geratriz
Secção Meridiana: é um “corte” feito pelo centro do cone.
O triângulo obtido através desse corte é chamado de secção V) ESFERA
meridiana e tem como medidas, base é 2r e h. Logo a área da
secção meridiana é dada pela fórmula: ASM = r.h.

Cone Equilátero: um cone é chamado de equilátero


quando a secção meridiana for um triângulo equilátero, para
isto temos que: g = 2r.
Elementos da esfera
- TRONCO DE CONE - Eixo: é um eixo imaginário, passando pelo centro da
Se um cone sofrer a intersecção de um plano paralelo à sua esfera.
base circular, a uma determinada altura, teremos a - Polos: ponto de intersecção do eixo com a superfície da
constituição de uma nova figura geométrica espacial esfera.
denominada Tronco de Cone. - Paralelos: são “cortes” feitos na esfera, determinando
círculos.
- Equador: “corte” feito pelo centro da esfera,
determinando, assim, o maior círculo possível.

Matemática 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Fórmulas Respostas

01. Resposta: B.
Em um cilindro equilátero temos que h = 2r e do enunciado
r = 5 cm.
h = 2r → h = 2.5 = 10 cm
Al = 2.π.r.h
Al = 2.π.5.10
Al = 100π
- na figura acima podemos ver que o raio de um paralelo
(r), a distância do centro ao paralelo ao centro da esfera (d) e
02. Respostas: Al = 12π cm2, At = 20π cm2 e V = 12π cm3
o raio da esfera (R) formam um triângulo retângulo. Então,
Aplicação direta das fórmulas sendo r = 2 cm e h = 3 cm.
podemos aplicar o Teorema de Pitágoras: R2 = r2 + d2.
Al = 2.π.r.h At = 2π.r(h + r) V = π.r2.h
- Área: A = 4.π.R2
Al = 2.π.2.3 At = 2π.2(3 + 2) V = π.22.3
4 Al = 12π cm2 At = 4π.5 V = π.4.3
- Volume: V = . π. R3 At = 20π cm2 V = 12π cm2
3

Fuso Esférico: 03. Resposta: A.


O volume de um prisma é dado pela fórmula V = Ab.h, do
enunciado temos que a aresta da base é a = 4 cm e a altura h =
12 cm.
A área da base desse prisma é igual a área de um hexágono
regular
6.𝑎2 √3
𝐴𝑏 =
4

6.42 √3 6.16√3
Fórmula da área do fuso: 𝐴𝑏 =  𝐴𝑏 =  𝐴𝑏 = 6.4√3  𝐴𝑏 = 24√3
4 4
𝛼. 𝜋. 𝑅 2 cm2
𝐴𝑓𝑢𝑠𝑜 =
90°
V = 24√3.12
V = 288√3 cm3
Cunha Esférica:

Anotações

Fórmula do volume da cunha:


𝛼. 𝜋. 𝑅3
𝑉𝑐𝑢𝑛ℎ𝑎 =
270°
Referências
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único
DOLCE, Osvalo; POMPEO, José Nicolau – Fundamentos da matemática
elementar – Vol 10 – Geometria Espacial, Posição e Métrica – 5ª edição – Atual
Editora
www.brasilescola.com.br

Questões

01. Dado o cilindro equilátero, sabendo que seu raio é igual


a 5 cm, a área lateral desse cilindro, em cm2, é:
(A) 90π
(B) 100π
(C) 80π
(D) 110π
(E) 120π

02. Seja um cilindro reto de raio igual a 2 cm e altura 3 cm.


Calcular a área lateral, área total e o seu volume.

03. Um prisma hexagonal regular tem aresta da base igual


a 4 cm e altura 12 cm. O volume desse prisma é:
(A) 288√3 cm3
(B) 144√3 cm3
(C) 200√3 cm3
(D) 100√3 cm3
(E) 300√3 cm3

Matemática 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Matemática 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Se analisarmos a situação atual da prática educativa em


nossas escolas identificaremos problemas como:
A) A grande ênfase dada a memorização, pouca
preocupação com o desenvolvimento de habilidades para
reflexão crítica e auto crítica dos conhecimentos que aprende;
B) As ações ainda são centradas nos professores que
determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação
entre educação e instrução.

Relação entre educação, A solução para tais problemas está no aprofundamento de


como os educandos aprendem e como o processo de ensinar
escola e sociedade: pode conduzir à aprendizagem, assim o processo de ensino e
concepções de Educação e aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de
Escola; formas diferentes, que vão desde a ênfase no papel do
professor como transmissor de conhecimento, até as
concepções atuais que concebem o processo de ensino e
aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do
PROCESSOS PEDAGÓGICOS – ENSINO E educando.
APRENDIZAGEM Nesse último enfoque, considera-se a integração do
cognitivo e do afetivo, do instrutivo e do educativo como
1. PRESSUPOSTOS PARA O PROCESSO DE ENSINO E requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais.
APRENDIZAGEM A concepção defendida aqui é que o processo de ensino e
Através do seu próprio interesse, o aluno busca nos aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o
conteúdos apresentados pelo professor, fazer relação com sua educativo que tem como propósito essencial contribuir para a
realidade, para assim tornar sua experiência mais rica. Dessa formação integral da personalidade do aluno.
forma, o novo conhecimento se apoia numa construção O instrutivo é um processo de formar homens capazes e
cognitiva que já existe, ou o professor auxilia na construção inteligentes. Entendendo por homem inteligente quando,
conhecimento no qual o discente ainda não dispõe. O nível de diante de uma situação problema ele seja capaz de enfrentar e
envolvimento na aprendizagem depende do interesse e resolver os problemas, de buscar soluções para resolver as
disposição do aluno, além do empenho do professor no situações. Ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só
contexto da sala de aula. será possível se ele for formado mediante a utilização de
A visão da pedagogia dos conteúdos desenvolve nos alunos atividades lógicas.
a capacidade de processar informações e transformar a Já o educativo, se logra com a formação de valores,
realidade em que vive. Assim, o professor precisa sentimentos que identificam o homem como ser social,
compreender seus alunos, o que eles dizem ou pensam e os compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e
alunos precisam fazer o mesmo em relação a ele. Essa outros elementos da esfera volitiva e afetiva que junto com a
transferência de aprendizagem só se realiza no momento da cognitiva permitem falar de um processo de ensino e
operação mental, isto é, quando o aluno supera sua visão aprendizagem que tem pôr fim a formação multilateral da
parcial e confusa e adquire uma visão mais nítida e ampla. personalidade do homem.
Ao fim do processo, o aluno já deve estar preparado para o A eficácia do processo de ensino e aprendizagem está na
mundo adulto de modo a praticar todo o aprendizado resposta em que este dá à apropriação do conhecimento, ao
adquirido com a ajuda do professor, como a democracia, a desenvolvimento intelectual e físico do estudante, à formação
liderança, a iniciativa e a responsabilidade, assim como ter de sentimentos, qualidades e valores, que alcancem os
formação ética no sentido de pensar valores, a saber, objetivos gerais e específicos propostos em cada nível de
competências do pensar no âmbito da educação moral da ensino de diferentes instituições, conduzindo a uma posição
tomada de decisões. transformadora, que promova as ações coletivas, a
solidariedade e o viver em comunidade.
2. O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Todo ato educativo obedece determinados fins e
Para Fernández1, as reflexões sobre o estado atual do propósitos de desenvolvimento social e econômico e em
processo ensino e aprendizagem nos permite identificar um consequência responde a determinados interesses sociais,
movimento de ideias de diferentes correntes teóricas sobre a sustentam-se em uma filosofia da educação, adere a
profundidade do binômio ensino e aprendizagem. concepções epistemológicas específicas, leva em conta os
Entre os fatores que estão provocando esse movimento interesses institucionais e, depende, em grande parte, das
podemos apontar as contribuições da Psicologia atual em características, interesses e possibilidades dos sujeitos
relação à aprendizagem, que nos leva a repensar nossa prática participantes, alunos, professores, comunidades escolares e
educativa, buscando uma conceptualização do processo demais fatores do processo. A visão tradicional do processo
ensino e aprendizagem. ensino e aprendizagem é que ele é um processo neutro,
As contribuições da teoria construtivista de Piaget, sobre a transparente, afastado da conjuntura de poder, história e
construção do conhecimento e os mecanismos de influência contexto social. O processo ensino e aprendizagem deve ser
educativa têm chamado a atenção para os processos compreendido como uma política cultural, isto é, como um
individuais, que têm lugar em um contexto interpessoal e que empreendimento pedagógico que considera com seriedade as
procuram analisar como os alunos aprendem, estabelecendo relações de raça, classe, gênero e poder na produção e
uma estreita relação com os processos de ensino em que estão legitimação do significado e experiência.
conectados. Tradicionalmente, este processo tem reproduzido as
Os mecanismos de influência educativa têm um lugar no relações capitalistas de produção e ideologias legitimadoras
processo de ensino e aprendizagem, como um processo onde dominantes ao ignorarem importantes questões referentes às
não se centra atenção em um dos aspectos que o relações entre conhecimento x poder e cultura x política. O
compreendem, mas em todos os envolvidos. produto do processo ensino e aprendizagem é o

1 Texto adaptado de FERNÁNDEZ. F. A., 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimento. Partindo desse princípio, concebe-se que o extremamente enriquecedores, conferindo à organização um
conhecimento é uma construção social, assim torna-se plus que todos os processos de aprendizagem oferecem.
necessário examinar a constelação de interesses econômicos, B) A análise do desempenho da organização em termos
políticos e sociais que as diferentes formas de conhecer podem produtivos também irá conduzir à aprendizagem, não só em
refletir. Para que o processo ensino e aprendizagem possa função da apreciação do comportamento de determinados
gerar possibilidades de emancipação é necessário que os índices que indicarão a necessidade de manutenção do
professores compreendam a razão de ser dos problemas que processo produtivo ou sua correção, mas também como
enfrentam e assuma um papel de sujeito na organização desse decorrência da necessidade de se buscarem índices de
processo. As influências sócio-político econômicas, exercem desempenho confiáveis e expressivos.
sua ação inclusive nos pequenos atos que ocorrem na sala de
aula, ainda que não sejam conscientes. Ao selecionar algum 4. O CONTEXTO ORGANIZACIONAL ATUAL E O
destes componentes para aprofundar deve-se levar em conta IMPERATIVO DE UMA NOVA DINÂMICA DE
a unidade, os vínculos e os nexos com os outros componentes. APRENDIZAGEM
O componente é uma propriedade ou atributo de um De fato as tendências do mundo atual têm influenciado as
sistema que o caracteriza; não é uma parte do sistema e sim organizações na busca da aprendizagem. A rápida
uma propriedade do mesmo, uma propriedade do processo disseminação de informações e a própria renovação do
docente-educativo como um todo. Identificamos como conhecimento, impulsionadas pelo avanço constante da
componente do processo de ensino e aprendizagem: ciência e da tecnologia, têm forçado as pessoas a renovar e a
adquirir novos conhecimentos, sob pena de se tornarem
A) Aluno - devem responder a pergunta: "quem?" obsoletas.
B) Problema – elemento que é determinado a partir da A necessidade de aquisição e renovação dos
necessidade do aprendiz. conhecimentos é percebida de modo individual e também
C) Objetivo – deve responder a pergunta: "Para que organizacional. As pessoas estão dispostas a desenvolver e
ensinar?" aumentar seus estoques de conhecimento, porque percebem
D) Conteúdo - deve responder a pergunta: "O que as potenciais ameaças do ambiente sobre a passividade
aprender?" intelectual, abalando principalmente questões de segurança
E) Métodos - deve responder a pergunta: "Como profissional.
desenvolver o processo?" As organizações precisam de capacidade criativa e de
F) Recursos - deve responder a pergunta: "Com o quê?" competências para se tornarem mais ágeis. Não só em termos
G) Avaliação - elemento regulador, sua realização oferece de capacidade de resposta às mudanças, mas também em
informação sobre a qualidade do processo de ensino termos de capacidade para estar à frente delas.
aprendizagem, sobre a efetividade dos outros componentes e Baseados na necessidade de transformar as organizações
das necessidades de ajuste, modificações que o sistema deve em organizações de aprendizagem, uma série de autores,
usufruir. recomendam diferentes práticas para a promoção do
aprendizado organizacional, todas destacando o papel da
A integração de todos os componentes forma o sistema, mudança e inovação organizacional.
neste caso o processo de ensino e aprendizagem. As reflexões Esta competência para mudar e inovar implica a
sobre o caráter sistêmico dos componentes do processo de necessidade de a organização possuir maior expertise.
ensino e aprendizagem e suas relações são importantes em Segundo Drucker “as dinâmicas do conhecimento implicam
função do caráter bilateral da comunicação entre professor- num imperativo claro: cada organização precisa embutir o
aluno; aluno-aluno, grupo-professor, professor-professor. gerenciamento das mudanças em sua própria estrutura”. É,
portanto, responsabilidade de cada organização tornar esta
3. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ORGACIONAL expertise disponível. Em outras palavras, além das pessoas
A questão da aprendizagem tem sido amplamente estarem forçosamente motivadas a aprender, é papel das
discutida, ocupando um espaço considerável em discussões organizações contribuir e operacionalizar o aprendizado.
educacionais e profissionais da atualidade; porém não se trata
de algo totalmente novo, nem mesmo em ambientes 5. AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO
organizacionais. O Conhecimento humano, dependendo dos diferentes
As empresas aprendem a operar a produção e vão referencias, é explicado diversamente em sua gênese e
melhorando os seus processos a partir de suas próprias desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de
experiências, alimentadas por informações advindas do homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de
mercado e da concorrência. De acordo com Bell (1984)2, este um mesmo referencial, é possível haver abordagens diversas,
tipo de aprendizado é passivo, automático e não implica tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do
custos adicionais, sendo porém limitado. objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos. Diferentes
Há, entretanto, outras formas de aprendizagem, que posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes
exigem determinação e postura ativa, envolvendo arranjos de situações ensino aprendizagem e diferentes ações
considerável esforço e investimento. São os processos de educativas em sala de aula, partindo-se do pressuposto de que
aprendizagem por meio da mudança, da análise do a ação educativa exercida por professores em situações
desempenho, do treinamento, da contratação e da busca, planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional.
detalhados a seguir: Subjacente a esta ação, estaria presente – implícita ou
explicitamente, de forma articulada ou não – um referencial
A) A introdução de novas tecnologias ou qualquer outro teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo,
elemento que aponte a necessidade de mudança, estrutural ou sociedade, cultura, conhecimento, etc.
processual, impele as organizações à aprendizagem. As O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas,
experiências e conhecimentos, positivos ou negativos, tendências ou abordagens, no ensino brasileiro podem
adquiridos ao longo de processos de mudança são fornecer diretrizes à ação docente, mesmo considerando que a
elaboração que cada professor faz delas é individual e

2 ALPERSTEDT, Cristiane. Universidades corporativas: discussão e proposta

de uma definição. Rev. adm. Contemp. Curitiba, v. 5, n. 3, p. 149-165, Dec. 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

intransferível. De acordo com Mizukami (1986)3, algumas adquirido pelo indivíduo por meio de transmissão, de onde se
abordagens apresentam claro referencial filosófico e supõe o papel importante da educação formal e da instituição
psicológico, ao passo que outras são intuitivas ou escola. Atribui-se ao sujeito um papel insignificante na
fundamentadas na prática, ou na imitação de modelos. A elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que
complexidade da realidade educacional deve ser considerada está "adquirindo" conhecimento compete memorizar
para não ser tratada de forma simplista e reducionista. definições, anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são
Nesse estudo, deve-se ter em mente seu caráter parcial e oferecidos no processo de educação formal.
arbitrário, assim como as limitações e problemas decorrentes
da delimitação e caracterização (necessárias) de cada - Educação: Entendida como instrução, caracterizada
abordagem. A professora assim, não incluiu em seus estudos a como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da
abordagem escola novista, introduzida no Brasil através do escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar,
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (Anísio Teixeira, e em condições favoráveis, há uma confrontação com o
Gustavo Capanema e outros), a partir da década de 1930. Ela modelo, é indispensável uma intervenção do professor, uma
justifica sua opção por considerar que essa abordagem pode orientação do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias
ser tomada como didaticista, por suas atribuições aos aspectos selecionadas e organizadas logicamente.
didáticos, e por possuir diretrizes incluídas em outras
abordagens. Argumenta ainda que, as demais abordagens, - Escola: A escola, é o lugar por excelência onde se realiza
apresentadas por ela, apresentam justificativas teóricas ou a educação, a qual se restringe, a um processo de transmissão
evidências empíricas. Mas reconhece que trata-se de uma de informações em sala de aula e funciona como uma agência
abordagem com possível influência na formação de sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato de
professores no Brasil. aprender como uma cerimônia e acha necessário que o
professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola desse
A) Abordagem Tradicional tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e
Trata-se de uma concepção e uma prática educacionais que programas preestabelecidos. As possibilidades de cooperação
persistem no tempo, em suas diferentes formas, e que entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte
passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual
demais abordagens que a ela se seguiram. Como se sabe, o de cada um deles.
adulto, na concepção tradicional, é considerado como homem
acabado, "pronto" e o aluno um "adulto em miniatura", que - Ensino/Aprendizagem: A ênfase é dada às situações de
precisa ser atualizado. O ensino será centrado no professor. O sala de aula, onde os alunos são "instruídos" e "ensinados" pelo
aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por professor. Os conteúdos e as informações têm de ser
autoridades exteriores. adquiridos, os modelos imitados. Seus elementos
fundamentais são imagens estáticas que progressivamente
- Homem: O homem é considerado como inserido num serão "impressas" nos alunos, cópias de modelos do exterior
mundo que irá conhecer através de informações que lhe serão que serão gravadas nas mentes individuais. Uma das
fornecidas. É um receptor passivo até que, repleto das decorrências do ensino tradicional, já que a aprendizagem
informações necessárias, pode repeti-las a outros que ainda consiste em aquisição de informações e demonstrações
não as possuam, assim como pode ser eficiente em sua transmitidas, é a que propicia a formação de reações
profissão, quando de posse dessas informações e conteúdos. estereotipadas, de automatismos denominados hábitos,
geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase
- Mundo: A realidade é algo que será transmitido ao sempre, somente às situações idênticas em que foram
indivíduo principalmente pelo processo de educação formal, adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu"
além de outras agências, tais como família, Igreja. apresenta, com frequência, compreensão apenas parcial.
Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se
- Sociedade/Cultura: O objetivo educacional preocupa mais com a variedade e quantidade de
normalmente se encontra intimamente relacionado aos noções/conceitos/informações que com a formação do
valores apregoados pela sociedade na qual se realiza. Os pensamento reflexivo.
Programas exprimem os níveis culturais a serem adquiridos
na trajetória da educação formal. A reprovação do aluno passa - Professor/Aluno: O professor/aluno é vertical, sendo
a ser necessária quando o mínimo cultural para aquela faixa que (o professor) detém o poder decisório quanto a
não foi atingido, e as provas e exames são necessários a metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula
constatação de que este mínimo exigido para cada série foi etc. O professor detém os meios coletivos de expressão. A
adquirido pelo aluno. O diploma pode ser tomado como um maior parte dos exercícios de controle e dos de exames se
instrumento de hierarquização. Dessa forma, o diploma iria orienta para a reiteração dos dados e informações
desempenhar um papel mediador entre a formação cultural e anteriormente fornecidos pelos manuais.
o exercício de funções sociais determinadas. Pode-se afirmar
que as tendências englobadas por esse tipo de abordagem - Metodologia: Se baseia na aula expositiva e nas
possuem uma visão individualista do processo educacional, demonstrações do professor a classe, tomada quase como
não possibilitando, na maioria das vezes, trabalhos de auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se
cooperação nos quais o futuro cidadão possa experimentar a limita exclusivamente a escutá-lo a didática profissional quase
convergência de esforços. que poderia ser resumida em dar a lição e tomar a lição. No
método expositivo como atividade normal, está implícito o
- Conhecimento: Parte-se do pressuposto de que a relacionamento professor - aluno, o professor é o agente e o
inteligência seja uma faculdade capaz de acumular/armazenar aluno é o ouvinte. O trabalho continua mesmo sem a
informações. Aos alunos são apresentados somente os compreensão do aluno somente uma verificação a posteriori é
resultados desse processo, para que sejam armazenados. que permitirá o professor tomar consciência deste fato.
Evidencia-se o caráter cumulativo do conhecimento humano,

3 MIZUKAMI, Maria da Graça. Ensino as abordagens do processo. São Paulo:

EPU, 1986.

Conhecimentos Pedagógicos 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Quanto ao atendimento individual há dificuldades pois a classe constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos
fica isolada e a tendência é de se tratar todos igualmente. quando o programa foi conduzido até o final de forma
adequada.
- Avaliação: A avaliação visa a exatidão da reprodução do
conteúdo comunicado em sala de aula. As notas obtidas C) Abordagem Humanista
funcionam na sociedade como níveis de aquisição do Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujeito como
patrimônio cultural. principal elaborador do conhecimento humano. Da ênfase ao
crescimento que dela se resulta, centrado no desenvolvimento
B) Abordagem Comportamentalista da personalidade do indivíduo na sua capacidade de atuar
O conhecimento é uma "descoberta" e é nova para o como uma pessoa integrada. O professor em si não transmite
indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se o conteúdo, dá assistência sendo facilitador da aprendizagem.
encontrava presente na realidade exterior. Os O conteúdo advém das próprias experiências do aluno o
comportamentalistas consideram a experiência ou a professor não ensina: apenas cria condições para que os
experimentação planejada como a base do conhecimento, o alunos aprendam.
conhecimento é o resultado direto da experiência.
- Homem: É considerado como uma pessoa situada no
- Homem: O homem é uma consequência das influências mundo. Não existem modelos prontos nem regras a seguir mas
ou forças existentes no meio ambiente a hipótese de que o um processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a auto
homem não é livre é absolutamente necessária para se poder realização ou uso pleno de suas potencialidades e capacidades
aplicar um método científico no campo das ciências. O homem o homem se apresenta como um projeto permanente e mau
dentro desse referencial é considerado como o produto de um acabado.
processo evolutivo.
- Mundo: O mundo é algo produzido pelo homem diante de
- Mundo: A realidade para Skinner, é um fenômeno si mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias
objetivo; O mundo já é construído e o homem é produto do condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste
meio. O meio pode ser manipulado. O comportamento, por sua no pleno desenvolvimento do seu potencial inerente. A ênfase
vez, pode ser mudado modificando-se as condições das quais é no sujeito mais uma das condições necessárias para o
ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência
ambientais. O meio seleciona. pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decorrer
do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída ao
- Sociedade/Cultura: A sociedade ideal, para Skinner, é sujeito papel central e primordial na elaboração e criação do
aquela que implicarias um planejamento social e cultural. conhecimento. O conhecimento é inerente à atividade humana.
Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado de O ser humano tem curiosidade natural para o conhecimento.
acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultura, é
representada pelos usos e costumes dominantes, pelos - Educação: Trata-se da educação centrada na pessoa, já
comportamentos que se mantém através dos tempos. que nessa abordagem o ensino será centrado no aluno. A
educação tem como finalidade primeira a criação de condições
- Conhecimento: O conhecimento é o resultado direto da que facilitam a aprendizagem de forma que seja possível seu
experiência, o comportamento é estruturado indutivamente, desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a
via experiência. criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se
pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeterminação
- Educação: A educação está intimamente ligada à que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão
transmissão cultural. A educação, pois, deverá transmitir de solução para seus problemas servindo-se da própria
conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser
sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são
e controle do mundo /ambiente. características desse processo.

- Escola: A escola é considerada e aceita como uma agência - Escola: A escola será uma escola que respeite a criança
educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de tal qual é, que ofereça condições para que ela possa
acordo com os comportamentos que pretende instalar e desenvolver-se em seu processo possibilitando a autonomia
manter. do aluno. O princípio básico consiste na ideia da não
interferência com o crescimento da criança e de nenhuma
- Ensino/Aprendizagem: É uma mudança relativamente pressão sobre ela. O ensino numa abordagem como esta
permanente em uma tendência comportamental e ou na vida consiste num produto de personalidades únicas, respondendo
mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada. as circunstâncias únicas num tipo especial de
- Professor/Aluno: Aso educandos caberia o controle do relacionamentos. A aprendizagem tem a qualidade de um
processo de aprendizagem, um controle científico da envolvimento pessoal.
educação, o professor teria a responsabilidade de planejar e
desenvolver o sistema de ensino aprendizagem, de forma tal - Professor/Aluno: Cada professor desenvolverá seu
que o desempenho do aluno seja maximizado, considerando- próprio repertório de uma forma única, decorrente da base
se igualmente fatores tais como economia de tempo, esforços percentual de seu comportamento. O processo de ensino irá
e custos. depender do caráter individual do professor, como ele se
relaciona com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de
- Metodologia: Nessa abordagem, se incluem tanto a facilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em contato
aplicação da tecnologia educacional e estratégias de ensino, com problemas vitais que tenham repercussão na existência
quanto formas de reforço no relacionamento professor-aluno. do estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno
tal como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
- Avaliação: Decorrente do pressuposto de que o aluno aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a
progride em seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do
cometer erros, a avaliação consiste, nesta abordagem, em se

Conhecimentos Pedagógicos 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

professor podem ser sintetizadas em autenticidade - Metodologia: O desenvolvimento humano que traz
compreensão empática, aceitação e confiança no aluno. implicações para o ensino. Uma das implicações fundamentais
é a de que a inteligência se constrói a partir da troca do
- Metodologia: Não se enfatiza técnica ou método para organismo como o meio, por meio das ações do indivíduo. A
facilitar a aprendizagem. Cada educador eficiente deve ação do indivíduo, pois, é centro do processo e o fator social ou
elaborar a sua forma de facilitar a aprendizagem no que se educativo constitui uma condição de desenvolvimento.
refere ao que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a
relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento - Avaliação: A avaliação terá de ser realizada a partir de
das pessoas que possibilite liberdade para aprender. parâmetros extraídos da própria teoria e implicará verificar se
o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações,
- Avaliação: Só o indivíduo pode conhecer realmente sua relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo
experiência, só pode ser julgada a partir de critérios internos como a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida.
do organismo. O aluno deverá assumir formas de controle de
sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até E) Abordagem Sócio Cultural
onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com Pode-se situar Paulo Freire com sua obra, enfatizando
responsabilidade. As relações verticais impostas por relações aspectos sócio-político-cultural, havendo uma grande
EU - TU e nunca EU - ISTO; As avaliações de acordo com preocupação com a cultura popular, sendo que tal
padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos. preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um aumento
Considerando-se pois o fato de que só o indivíduo pode crescente até nossos dias.
conhecer realmente a sua experiência, está só pode ser julgada
a partir de critérios internos do organismo. - Homem/Mundo: O homem está inserido no contexto
histórico. O homem é sujeito da educação, onde a ação
D) Abordagem Cognitivista educativa promove o próprio indivíduo, como sendo único
A organização do conhecimento, processamento de dentro de uma sociedade/ambiente.
informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
comportamentos relativos à tomada de decisões, etc. - Sociedade/Cultura: O homem alienado não se relaciona
com a realidade objetivo, como um verdadeiro sujeito
- Homem/Mundo: O homem e mundo serão analisados pensante: o pensamento é dissociado da ação.
conjuntamente, já que o conhecimento é o produto da
interação entre eles, entre sujeito e objeto. - Conhecimento: A elaboração e o desenvolvimento do
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização.
- Sociedade/Cultura: Os fatos sociológicos, pois, tais
como regras, valores, normas, símbolos etc. De acordo com - Educação: Toda ação educativa, para que seja válida,
este posicionamento, variam de grupo para grupo, de acordo deve, necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão
como o nível mental médio das pessoas que constituem o sobre o homem como de uma análise do meio de vida desse
grupo. homem concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque.

- Conhecimento: O conhecimento é considerado como - Escola: Deve ser um local onde seja possível o
uma construção contínua. A passagem de um estado de crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de
desenvolvimento para o seguinte é sempre caracterizada por conscientização o que indica uma escola diferente de que se
formação de novas estruturas que não existiam anteriormente tem atualmente, coma seus currículos e prioridades.
no indivíduo.
- Ensino/Aprendizagem: Situação de ensino-
- Educação: O processo educacional, consoante a teoria de aprendizagem deverá procurar a superação da relação
desenvolvimento e conhecimento, tem um papel importante, opressor-oprimido. A estrutura de pensar do oprimido está
ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o condicionada pela contradição vivida na situação concreta,
aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível de existencial em que o oprimido se forma. Resultando
desenvolvimento em que a criança vive intensamente consequências tais como:
(intelectual e afetivamente) cada etapa de seu A) Ser ideal é ser mais homem.
desenvolvimento. B) Atitude fatalista
C) Atitude de auto desvalia
- Escola: Segundo Piaget, a escola deveria começar D) O medo da liberdade ou a submissão do oprimido.
ensinando a criança a observar. A verdadeira causa dos
fracassos da educação formal, diz, decorre essencialmente do - Professor/Aluno: A relação entre o professor e o aluno
fato de se principiar pela linguagem (acompanhada de é horizontal. Professor empenhado na prática transformadora
desenhos, de ações fictícias ou narradas etc.) ao invés de o procurará desmitificar e questionar, junto com o aluno.
fazer pela ação real e material.
- Metodologia: Os alunos recebem informações e analisam
- Ensino/Aprendizagem: Um ensino que procura os aspectos de sua própria experiência existencial, utilizando
desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do situações vivenciais de grupo, em forma de debate Paulo Freire
sujeito, considerando-o inserido numa situação social. delineou seu método de alfabetização.
Características:
- Professor/Aluno: Ambos os polos da relação devem ser A) Ser ativa
compreendidos de forma diferente da convencional, no B) Criar um conteúdo pragmático próprio
sentido de um transmissor e um receptor de informação. C) Enfatiza o diálogo crítico
Caberá ao professor criar situações, propiciando condições
onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e 6. AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO,
cooperação ao mesmo tempo moral e racional. APRENDIZAGEM E O PROFESSOR
Segundo Mizukami, a partir de análises feitas sobre as
diferentes abordagens do processo ensino aprendizagem

Conhecimentos Pedagógicos 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

pôde-se constatar que certas linhas teóricas são mais abordagens analisadas obteve-se quase plenamente
explicativas sobre alguns aspectos em relação a outros, preferência dos professores pela abordagem cognitivista por
percebendo-se assim a possibilidade de articulação das que esta abordagem se baseia numa teoria de
diversas propostas de explicação do fenômeno educacional. desenvolvimento em grande parte válida, e também a
Ela procura fazer uma sistematização válida de conceitos do abordagem sociocultural que complementa o
fenômeno estudado. Mesmo com teorias incompletas por desenvolvimento humano e genético com aspectos
estarem ainda em fase de elaboração ou reelaboração, faltando socioculturais e personalistas. Sendo que a abordagem
validação empírica ou confronto com o real. Lembrando ainda sociocultural está impregnada de aspectos humanistas
as teorias não são as únicas fontes de resposta possíveis e característicos das primeiras obras de Paulo Freire. O ideário
incorrigíveis, pois (...) elas são elaboradas para explicar, de pedagógico de alguns professores não segue nenhuma das
forma sistemática, determinados fenômenos, e os dados do abordagens, e são classificados como tendência indefinida
real é que irão fornecer o critério para a sua aceitação ou não, dentre as demais abordagens.
instalando-se, assim, um processo de discussão permanente
entre teoria e prática. 7. A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL
Mizukami ainda critica a formação de professores A educação para além do capital é um texto publicado a
colocando que o aprendido pelos professores nada tinha a ver partir da conferência pronunciada por István Mészáros4, por
com a prática pedagógica e seu posicionamento frente ao ocasião da abertura do Fórum Mundial de Educação, realizado
fenômeno educacional. A experiência pessoal refletiria um em Junho de 2004, em Porto Alegre.
comportamento coerente por parte do educador, pondo fim O texto, partindo de três epígrafes atribuídas pelo autor a
assim ao permanente processo de discussão entre teoria e Paracelso, pensador do Século XVI, a José Martí, político, poeta
prática. Uma possível solução seria repensar os cursos de e pensador cubano, e a Marx, em Teses sobre Feuerbach, traz
formação de professores, voltando as atenções principalmente a análise com vistas à urgente necessidade de se instituir uma
para as disciplinas pedagógicas que analisam as abordagens mudança que nos leve para além do capital, “no sentido
do processo ensino aprendizagem, procurando articulá-los à genuíno e educacionalmente viável do termo”.
prática pedagógica. Também é discutida uma forma de O exame discute as relações íntimas entre processos
aproximar cada vez mais as opções teóricas existentes educacionais e processos sociais amplos de reprodução do
analisando e discutindo as vivências na prática e à partir da capital em quatro aspectos básicos: Primeiro, no embate
prática, se pudesse discutir e criticar as opções teóricas entre os parâmetros estruturais do capital – que se colocam
confrontando com a mesma prática. É tentar criar teorias com uma lógica irreversível e incontestável – e a necessidade
através da prática, analisando o cotidiano e questionando, de romper com essa lógica para a criação de uma alternativa
evitando-se assim a utilização de Receituários pedagógicos, educacional diferente, mediante a natureza irreformável do
que é o que a autora chama de seguir cegamente a teoria capital como totalidade reguladora sistêmica; Segundo, na
ignorando a prática. clareza de que as possíveis soluções não podem ser formais,
Um curso de professores deveria possibilitar confronto apenas como alterações superficiais, mas devem atingir o
entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus patamar de mudança essencial, abarcando a totalidade das
pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste e práticas educacionais da sociedade e seus processos de
convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro internalização dos parâmetros reprodutivos gerais do sistema
professor a análise do próprio fazer pedagógico, de suas do capital; Terceiro, na compreensão de que apenas uma
implicações, pressupostos e determinantes, no sentido de que ampla concepção de educação pode assegurar a luta pelo
ele se conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de objetivo de mudança radical requerida e a aquisição de
interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente. instrumentos de pressão capazes de provocar o rompimento
Alguns dados revelam que são preferidas pelos com a lógica mistificadora do capital; Quarto, na defesa de que
professores as abordagens cognitivista e sociocultural o papel da educação é estratégico tanto para a mudança das
deixando as abordagens tradicional e comportamentalista em condições objetivas de reprodução quanto para a auto
segundo plano. E também que a abordagem que mais faz mudança dos indivíduos envolvidos na luta pela construção de
sucesso neste momento histórico é a cognitivista. Na uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente.
abordagem cognitivista piagetiana e a preferida pelos Na primeira seção do texto, evidencia-se a ideia de que as
professores, desde que o aluno se encontre em um ambiente reformulações que possam acontecer na educação são
que o solicite devidamente, e que tenha sido constatada a inconcebíveis sem a transformação também no quadro social.
ausência de distúrbios biológicos ligados O autor recusa a noção de reforma que se proponha apenas a
preponderantemente à atividade cerebral, ele terá condições correções marginais, mantendo intactas as estruturas
de chegar ao estágio das operações formais. Não se justificam fundamentais da sociedade e conformando-se às exigências da
nem se legitimam, por esta abordagem, desigualdades lógica do capital. Para Mészáros, esta modalidade utiliza-se das
baseadas nas potencialidades de cada um, tal como poderia reformas educacionais para apenas remediar os efeitos
decorrer dos princípios escola novistas. Estaria neste detalhe, desastrosos da ordem produtiva, mas não elimina os
talvez de grande importância, já que o determinismo biológico “fundamentos causais e profundamente enraizados”. Para o
age mais em função de determinar desenvolvimento, do que autor, “limitar uma mudança educacional radical às margens
de determinar máximos de desenvolvimento para cada sujeito, corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma
a ideia que despertaria maior interesse para um trabalho só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma
realizado por um profissional com as idiossincrasias de um transformação social qualitativa”. (MÉSZAROS, 2008).
educador. Exemplificando: Mészáros examina a experiência de Adam
De forma genérica tanto o cognitivismo, humanismo e Smith, economista político, e de Roberto Owen, reformador
comportamentalismo apresentam aspectos escola novistas social educacional utópico. Sobre Smith, atesta que mesmo que
que os colocam contra a escola tradicional. Um outro elemento este ilustre iluminista reconheça o impacto negativo do
a ser considerado é a ligação entre o desenvolvimento sistema sobre a classe trabalhadora, sua análise atribuindo ao
intelectual e os ideais apregoados pelo ensino tradicional “espírito comercial” a causa do problema é incapaz de se
elaborado através dos séculos. Concluindo, de todas as dirigir às causas reais, reduzindo seu esforço de expressar sua

4MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boi Tempo
Editorial, 2006 (Mundo do Trabalho).

Conhecimentos Pedagógicos 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

preocupação humanitária a um círculo vicioso de apontar num espírito orientado para a construção de uma alternativa
apenas “os efeitos condenados”, dando assim prevalência aos hegemônica à ordem existente irá contribuir para romper com
limites objetivos da lógica do capital. Ao tratar da posição de a lógica do capital não somente em seu campo, mas em toda a
Robert Owen, reconhece sua posição de denúncia da sociedade.
exploração e instrumentalização do empregado pelo No quarto tópico, Mészáros trata a educação como uma
empregador, mas condena no seu discurso – com marcas de “transcendência positiva da auto alienação do trabalho”. A
parcialidade, gradualismo e circularidades – sinais de análise atesta as condições desumanizantes da alienação em
conformação aos debilitantes limites do capital. que vivemos e afirma que, para a mudança dessa condição,
Neste caso, Mészáros observa que Owen “não pode escapar exige-se uma intervenção consciente em todos os domínios e
à auto imposta camisa de força das determinações causais do níveis da existência individual e social, “em toda a nossa
capital”. Numa conclusão ao tópico, o autor lembra que “[...] o maneira de ser”. O autor considera que estando na raiz de
sentido da mudança educacional radical não pode ser senão o todos os tipos de alienação a historicamente revelada
rasgar da camisa de força da lógica incorrigível do sistema”. alienação do trabalho, torna-se possível superar a alienação
A persecução de estratégias de rompimento com o com a reestruturação radical de nossas condições de vida
controle exercido pelo capital é explicitada na segunda seção estabelecida até então, já que o processo histórico se constitui
do texto com a defesa de que as soluções devem ser buscadas pelo próprio trabalho. Mas isso não pode ser apenas uma
não apenas na dimensão formal, mas no que é essencial. O questão de negação. Para Mészáros, “a tarefa histórica que
autor reconhece que a educação institucionalizada serviu, nos temos de enfrentar é incomensuravelmente maior que a
últimos 150 anos para fornecer condições técnicas e humanas negação do capitalismo”6. Ir para além do capital significa a
à expansão do capital, ao mesmo tempo em que contribuiu realização de uma ordem social metabólica sem nenhuma
para instalar valores que legitimam os interesses dominantes relação nem ranços com a ordem anteriormente hegemônica.
e que negam alternativas possíveis a esse modelo. Por essa razão,
Distanciando-se de uma posição reprodutivista, Assim advoga O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração
que não basta simplesmente reformar o sistema escolar formal de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as
estabelecido, porque isso traduziria apenas uma mudança condições objetivas de reprodução, como para a auto mudança
institucional isolada. “O que precisa ser confrontado é todo o consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de
sistema de internalização, com todas as suas dimensões, uma ordem social metabólica radicalmente diferente
visíveis e ocultas”. A internalização, entendida como o esforço Para esse fim, a universalização da educação e a
do capital em fazer com que cada indivíduo incorpore como universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as
suas as metas de reprodução do sistema, legitimando sua quais não pode haver solução para a auto alienação do
posição na hierarquia social e conformando suas expectativas trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a
e sua conduta ao estipulado pela ordem estabelecida, insere- igualdade verdadeira – substancial e não apenas formal – de
se como instrumento que conforma a totalidade das práticas todos os seres humanos. Apenas na perspectiva de ir além do
sociais, entre elas, a educação, ao interesse do capital. capital essa universalização e igualdade podem ser vistas,
Romper com a lógica do capital na área de educação porque a educação para além do capital almeja uma ordem
equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e social qualitativamente diferente.
profundamente enraizadas de internalização mistificadora No nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do
por uma alternativa concreta abrangente. (MÉSZAROS, 2008)5. capital global, época onde se evidencia uma condição histórica
A tarefa acima requerida aparece na terceira seção, de transição, define-se também um espaço histórico e social
condicionada ao fortalecimento de uma concepção de aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de
educação ampla e mais profunda, nos moldes de Paracelso, planos estratégicos na direção de uma educação para além do
vendo a “aprendizagem como nossa própria vida”. capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de
Neste rumo, o autor se coloca, a exemplo de Gramsci, transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve
contra a visão tendenciosamente elitista e estreita de educação ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as
que pleiteia o domínio da instituição educacional formal como condições cambiantes e as necessidades da transformação
único espaço de educação e define a educação e a atividade social emancipadora e progressiva em curso.
intelectual como possibilidade apenas dos que são designados
para “educar” e para governar, em detrimento da maioria, à Questões
qual é reservado o papel de objeto de manipulação. Mészáros
assevera a posição profundamente democrática de Gramsci 01. Pode-se afirmar que: “O processo de ensino e
como o caminho mais claro para a concepção ampla de aprendizagem não é uma integração dialética entre o
educação, na qual todo ser humano contribui para a formação instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial
de uma concepção de mundo ao mesmo tempo em que pode contribuir para a formação integral da personalidade do
contribuir para manter ou mudar esta concepção. A educação, aluno”.
reconhecida, no seu entendimento amplo, é um processo ( ) Verdadeiro ( ) Falso
contínuo de aprendizagem. “Temos de reivindicar uma
educação plena para toda a vida, para que seja possível colocar 02. Sobre a abordagem comportamentalista, é correto
em perspectiva a sua parte formal, a fim de instituir, também afirmar que: “A organização do conhecimento, processamento
aí, uma reforma radical”. A reforma significa, segundo o autor, de informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
desafiar as formas atualmente dominantes de internalização comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.”.
existentes no sistema educacional formal, pôr em execução ( ) Verdadeiro ( ) Falso
urgentemente uma atividade de “contra internalização”
coerente e sustentada na direção da criação de uma alternativa 03. (CEFET/RJ – Pedagogo – CESGRANRIO) O trecho
ao que já existe. Significa que a educação formal precisa indica amplos desafios para a prática docente. “Um curso de
desatar-se do revestimento da lógica do capital e mover-se em professores deveria possibilitar confronto entre abordagens,
direção a práticas educacionais mais abrangentes O bem quaisquer que fossem elas, entre seus pressupostos e
sucedido processo de redefinição da tarefa da educação formal implicações, limites, pontos de contraste e convergência. Ao

5 Mészàros –A educação para além do capital, 2ª. ed Boitempo, 2008 6 RABELO, C. D. Educação Para Além do Capital. Revista Resenha: A Eletrônica

Arma da Crítica. N.º 4. 2012.

Conhecimentos Pedagógicos 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro professor a pois em nenhum caso as formas de transmissão e de criação
análise do próprio fazer pedagógico, de suas implicações, do conhecimento serão as mesmas.
pressupostos e determinantes, no sentido de que ele se As mudanças ocorridas no âmbito político, científico e
conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de tecnológico não parecem trazer uma sociedade mais justa e
interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente”. solidária, pelo contrário, introduzimos novas formas de
(MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens desigualdade e de injustiça, que fazem aumentar a pobreza, a
do processo. São Paulo: EPU, 1986. p. 109.) marginalização e a exclusão. Diante de tal fato, devemos
Sobre as diferentes abordagens pedagógicas, aquela que repensar essa frase “a educação para todos durante toda a
considera a relação professor-aluno como não imposta, que vida”, está bem longe de ser realidade num mundo que
permite que o educador se torne educando e a aprendizagem 20%(vinte por cento) das crianças entre 6 a 11 anos estão fora
seja favorecida pela mediação é a: das escolas, mesmos nos países desenvolvidos. Podem refletir
(A) tradicional em fenômenos derivados da negação da diferença, em
(B) humanista forma de guerra, xenofobia e violência, demonstrando que
(C) comportamentalista existe uma importante crise ética e moral. Por tudo isso, é
(D) ambientalista preciso que deixemos de pensar na educação exclusivamente
(E) sócio-histórico-cultural a partir dos parâmetros econômicos e produtivos e passamos
Respostas a uma concepção da educação que cultive, sobretudo em
valores de cidadania democrática, conforme a resolução da
01. Falso. / 02. Falso. / 03. E. Unesco7:

“Aprender a ser, a formação de uma cidadania criativa,


capaz de transformar a informação em conhecimentos
que, a partir da diferença, afirme o respeito e a
Função social da escola; valorização do próximo, para, dessa forma, projetarem
juntos um futuro comum de convivência ativa e
participativa na vida democrática, como lugar
privilegiado para consensuar objetivos que conciliem os
legítimos interesses individuais como os coletivo.”
Introdução Muitos anos, a escola e a família foram as duas instituições
Estamos vivendo um momento de profundas encarregadas da educação e da formação das novas gerações,
transformações. A sociedade atual encontra-se em profunda mas hoje isso é impossível de afirmar. A família está passando
crise, na qual somos remetidos a repensar nossos valores e por grandes transformações e muitas vezes, delega sua função
atitudes frente ao conceito de educação. educativa tradicional para outros agentes, como a televisão ou
A educação faz parte da nossa vida, ninguém está isento a própria escola. Por um lado, a escola não pode enfrentar
dela, estamos envolvidos para aprender e ensinar, e a escola sozinha todos os desafios apresentados pela nova sociedade
surge como instituição formadora de indivíduos. da informação.
Para que essa transformação social ocorra é necessário A crise nas escolas agravam, como também aumentam as
que a escola impõe o conhecimento, nesse caso a educação é e sensações de desvalorizações sociais aos professores. Nos
sempre foi um duplo processo, que significa a atividade dias atuais, a influência educativa é exercida a partir de vários
desempenhada pelos adultos para assegurar a vida e o âmbitos, a tais como a família, trabalho, sociedade, associações
desenvolvimento de gerações futuras, e para despertar e fazer etc., e por diferentes meios, televisão, multimídia e as vezes
crescer as suas habilidades, e nesse caso a escola é vista como que opõem às propostas educativas.
uma instituição, ou seja, um conjunto de normas e Considerando, todas essas mudanças dentro do contexto
procedimentos padronizados, e valorizados pela sociedade, histórico, visando a sua transformação, pois se compreende
cujo objetivo principal é a socialização do indivíduo e a que a realidade não é algo pronto e acabado, não se trata, no
transmissão de determinados aspectos da cultura. entanto, de atribuir à educação e a escola nenhuma função de
salvação e sim de reconhecer seu incontestável papel social no
Reflexões sobre o papel da educação desenvolvimento de processos educativos, na sistematização e
Há muitas reflexões importantes a fazer, quando se fala no socialização da cultura historicamente produzida pelos
conceito de educação para a sociedade. Começa na inserção da homens.
escola na comunidade, com formação de espíritos críticos, o
envolvimento da escola nos projetos de transformação social, A educação e sua função social
a aproximação entre teorias e práticas, entre ideias e Mudanças legais – Uma nova realidade
realidades, entre o conhecimento e a existência real do Ao delimitar a função da educação e da escola como
estudante, entre educação e vida, que evidenciam a urgente complexas, amplas, diversificadas, ampliam a necessidade de
necessidade de repensar várias coisas relacionadas a dedicação exclusivamente por parte do professor, de
educação. acompanhar as mudanças que se processam no campo de
Diante tais situações, são muitas as vozes que reivindicam trabalho, atualizando o seu currículo e sua metodologia.
a importância da educação para enfrentar os desafios. Em todo Para dar sustentação às contínuas evoluções, a educação
mundo, a educação hoje é uma prioridade nos programas de precisa ressaltar um ensino que crie conexão entre o que o
quase todos os partidos políticos. De fato, umas das principais aluno aprende nela e o que ele faz fora dela, há um parâmetro
funções da escola sempre foi a de preparar as novas entre o ensino formal, o trabalho, o conhecimento e a na vida
gerações para as mudanças e garantir uma melhor prática do aluno.
inserção no mundo profissional e no mercado de trabalho. Buscando a solucionar essas lacunas, o Poder Público tem
Devemos perguntar o que significa hoje pedir mais buscado alternativas de reforma do sistema ensino, criando e
educação. Por um lado, essas mudanças introduzidas pela aprovando leis, como: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
sociedade da informação e do conhecimento fazem que – LDB – n. 9.394/96, que institui o Fundo de Manutenção e
tenhamos de rever o significado atual do conceito de educação, Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização

7 UNESCO. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org

Conhecimentos Pedagógicos 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

do Magistério – FUNDEF – Lei n. 9.424/96 e o Plano o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a
Nacional de Educação (PNE). É importante reconhecer o indisciplina e o desinteresse na sala de aula.
papel da legislação tem exercido no cenário brasileiro, seja no É importante que o planejar aconteça de forma
sentido de promover reformas necessárias ou de implantar a sistematizada e contextualizado com o cotidiano do aluno,
profissionalização da educação básica. Mas a reflexão sobre a para desperta seu interesse e participar ativamente no
função social da escola, não pode ser vista somente com base resultado, que será aulas dinâmicas e prazerosas.
na legislação, isto porque nela estão definidos os fins da Para que a escola exerça sua função como local de
educação brasileira. oportunidades, interação e de encontro e o saber, para que
O direito de todos à educação está estabelecido na haja esse paralelo tão importante para o sucesso do aluno o
Constituição Federal no artigo 205 e no artigo 2 da Lei de bom desenvolvimento das atribuições do coordenador
Diretrizes e Bases da Educação – LDB – n. 9.394/96: pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar o
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da tempo na escola para que os professores façam seus
família, será promovida e incentivada com a colaboração da planejamentos e ainda que atue como formador de fato.
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Conforme que ensina Libâneo8, as características positivas
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o eficazes para o bom funcionamento de uma escola:
trabalho. professores preparados, com clareza de seus objetivos e
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos, através
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade de um bom clima de trabalho, em que a direção contribua para
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do conseguir o empenho de todos, em que os professores aceitem
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua aprender com a experiência dos colegas.
qualificação para o trabalho. Os coordenadores por sua vez precisam assumir sua
De acordo como o artigo 12 da LDB, os seguintes responsabilidade pela qualidade do ensino, atuando como
parâmetros: formadores do corpo docente, promovendo momentos de
Artigo 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as trocas de experiências e reflexão sobre a prática pedagógica, o
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a que trará bons resultados na resolução de problemas
incumbência de: cotidianos, e ainda fortalece a qualidade de ensino, contribui
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, para o resgate da auto-estima do professor, pois o mesmo
criando processos de integração da sociedade com a escola; precisa se libertar de práticas não funcionais, e para isso a
Portanto, conforme previsto em lei, o papel da escola é de contribuição do coordenador será imprescindível, o que
promover o pleno desenvolvimento do educando e resultará no crescimento intelectual dos alunos.
preparar para a cidadania, qualificando-o para o trabalho, Essa clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico-
conforme cada características e formas de organização curricular que vá de encontro às reais necessidades da escola,
própria, dependendo de sua localização geográfica e outros para sanar problemas como: falta de professores,
aspectos. cumprimento de horário e atitudes que assegurem a
seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e
A função do professor aprendizagem, com relação a alunos e funcionários e seu
Nos dias atuais levam-nos a refletir sobre a complexidade profissionalismo conquista o respeito e admiração da maioria
das funções entre uma boa ou péssima administração da de seus funcionários e alunos, há um clima de harmonia que
educação e as políticas de formação dos profissionais. predispõe a realização de um trabalho, onde, apesar das
No contexto das transformações que vêm ocorrendo no dificuldades, os professores terão prazer em ensinar e alunos
mundo, os desafios das políticas de formação dos profissionais prazer em aprender.
da educação. O professor, exerce sua função enquanto A escola enquanto espaço de reflexões sobre a
educador, ao estimular o educando a refletir sobre os cuidados comunidade, passa a reconstruir alguns elementos de
com a saúde, natureza, as questões da sociedade, entre outros, desenvolvimento de uma escola para a formação da cidadania,
a consciência do que seja participante dessa sociedade, sendo precisa formar profissionais que conheçam quais as funções
aspecto importante ao exercício da democracia, isso se torna sociais da escola brasileira em diferentes momentos, para que
mais fácil, facilitar a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder em seguida possa discutir a função pedagógica, política e do
de argumentação, conduzir ás aulas de modo questionador, trabalho em relação à escola cidadã.
onde o aluno- sujeito ativo estará também exercendo seu papel
de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu A função social
aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas, Ao se falar em educação devemos estar atentos ao contexto
interagindo com o professor, argumentando, questionando em social ao qual a escola se configura. É uma instituição social
fim trocando ideias que produzem inferências. com objetivo explícito, através do desenvolvimento das
O papel da família nesse contexto, está ligado ao nível potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos,
social e educacional, que a escola oferece através da capacitando-o a tornar um cidadão, participativo na sociedade
socialização. O professor surge como agente de socialização, em que vivem, tendo como função básica de garantir a
significando o elo entre a família e a sociedade. Pois são aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores
construídos a partir do desenvolvimento da moralidade, os necessários à socialização do indivíduo, sendo necessário
hábitos e responsabilidade social, devido uma situação de que a escola propicie o domínio dos conteúdos culturais
mudança e de resultados das convivências familiares, em um básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras,
meio que o estimula ou impede. sem estas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer
Para o sucesso cognitivo do aluno e êxito no seus direitos de cidadania.
desenvolvimento do trabalho do professor, o planejamento é Neste sentido a escola por ser uma instituição que
como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois transmite o saber, essa função de formar cidadãos para atuar
quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a na sociedade, deve contribuir para a mudança de uma
perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja sociedade desigual, injusta. A escola deve dar condições, para
preparar o indivíduo na construção sólida da sua identidade,

8LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA J. F.; TOSCHI M. S.; Educação escolar: políticas


estrutura e organização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. (Coleção Docência em
Formação)

Conhecimentos Pedagógicos 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

inserindo valores e pressupostos que possa fazer com que o (B) A escola tem como função social formar o cidadão,
mesmo conviva em sociedade e na sociedade com autonomia, construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o
solidariedade, capacidade de transformação e ética. estudante solidário, crítico, ético e participativo.
A escola deve oferecer situações que favoreçam o (C) A escola, em sua função social, contribuirá
aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, efetivamente para afirmar os interesses individuais das
entendimento da importância desse aprendizado no futuro do pessoas no processo educativo.
aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que (D) A função social da escola é irrelevante para a
possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que administração civil e os órgãos governamentais.
garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará
conhecer e aprender sempre mais. E para o sociólogo francês 02. (CETAM – Analista Técnico Educacional –
Émile Durkheim, a principal função do professor é formar Psicologia – FCC). Para responder à questão, considere a Lei
cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social. Dessa de Diretrizes e Bases da Educação Nacional − LDB (Lei nº
forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais 9.394/1996). A Lei destaca um entendimento amplo da função
beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é social da educação, quando:
uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E (A) determina que a mesma deve ser organizada em
quanto mais eficiente for o processo, melhor será o período integral.
desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja (B) propõe a reflexão crítica da prática educacional.
inserida. (C) explicita que deverá vincular-se ao mundo do trabalho
Assim, a função social da educação e da escola tem como e à prática social.
objetivo de incluir o indivíduo ao saber histórico, ao (D) destaca o entendimento da função social de uma
conhecimento científico, de forma eficaz e com qualidade, educação preparatória.
também cumpre com sua função social de preparar o sujeito (E) vincula a vida social à vida cultural a partir do ensino
para o trabalho, o pleno exercício da cidadania e seu na escola.
desenvolvimento de pessoas solidárias, cooperativas,
autônomas, capazes de conviver com as diferenças, precisa ser 03. (FUB- Pedagogo – CESPE). A respeito dos
um espaço de socialização, que possibilite a construção do fundamentos da educação e da relação
conhecimento, tendo em vista que esse conhecimento não é educação/sociedade em suas dimensões filosófica,
dado a priori. Pois, trata-se de conhecimento vivo e que se sociocultural e pedagógica, julgue o item subsequente.
caracteriza como processo em construção. A educação, em uma abordagem funcionalista, é,
E o papel da educação num contexto democrático, está essencialmente, um meio de socialização dos indivíduos a
previsto no artigo 3º da LDB: fim de torná-los membros de uma dada estrutura social
Artigo 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes preestabelecida, exercendo, portanto, a função de
princípios: integração social.
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as ( ) CERTO ( ) ERRADO
práticas sociais.
As políticas que fortaleçam laços entre comunidade e 04. (SEDU-ES – Professor –Pedagogo – CESPE).
escola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado, Considerando o desenvolvimento histórico das concepções
para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da pedagógicas e a função social atribuída à escola, julgue o item
escola, é sujeito que aprende, que constrói seu saber, que que se segue.
direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com A perspectiva progressista, sustentando as finalidades
pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa estar sociopolíticas da educação, define que a escola tem a função
preparada para enfrentar tudo isso. social de formar o cidadão mediante um processo de
construção de conhecimento, de atitudes e de valores que o
Ao analisarmos toda esta conjuntura verificamos que, tomem um sujeito solidário, crítico, ético e participativo.
apesar da tendência para limitar a educação ao contexto ( ) CERTO ( ) ERRADO
escolar e familiar, trabalho e as práticas sociais, a educação
assume um sentido muito mais amplo e complexo. Não se 05. (SAP-SP – Analista sociocultural - VUNESP). De
reduz apenas a uma etapa, mas trata-se sim de um processo acordo com Libâneo, a didática trata dos objetivos, condições
gradual e contínuo, vivido ao longo da vida, que promove a e meios de realização do processo de ensino, unindo meios
consciencialização, desenvolvimento e libertação do ser pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Neste
humano. sentido,
Podemos afirmar que a educação assume um papel (A) Os conteúdos devem ser trabalhados de forma acrítica
determinante na formação associada à capacidade de e inflexível para não intervir no produto.
transformação e mudança do indivíduo e consequentemente (B) O ensino deve ser planejado a partir de propósitos
da própria realidade em que este está inserido. claros sobre a sua finalidade, tendo em vista que os alunos
estão sendo preparados para viverem em sociedade.
Questões (C) As questões de ordem social sempre prevalecem sobre
as de ordem pedagógica.
01 . (Minas Gerais Administração e Serviços S.A - MGS (D) Os planejamentos indicam a necessidade de serem
– Pedagogo – IBFC) A escola é uma instituição social, que neutros e escolarizados.
mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores (E) Os estudantes são vistos enquanto seres passivos, daí
e atitudes, contribui para a constituição dos processos porque a facilidade de aprendizagem.
educativos. Assim, a escola, no desempenho de sua função
social de formadora de sujeitos históricos, precisa ser um Respostas
espaço de sociabilidade que possibilite a construção do
conhecimento produzido. Com esse contexto, assinale a 01. B. / 02. C. / 03. Certo. / 04. Certo. / 05. B.
alternativa correta a seguir:
(A) Em nossa sociedade, a escola é um lugar privilegiado
para o exercício da democracia indireta com a escolha dos seus
dirigentes.

Conhecimentos Pedagógicos 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Nosso momento atual10


A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e
cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades
Educação inclusiva e curriculares, burocracia.
compromisso ético e social do Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional,
educador. como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa
fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os
que dela participam.
A inclusão, portanto, implica mudança desse atual
paradigma educacional, para que se encaixe no mapa da
A Inclusão da Pessoa com Deficiência na Sociedade educação escolar que estamos retraçando.
E inegável que os velhos paradigmas da modernidade
Segundo Maciel9, hoje, no Brasil, milhares de pessoas com estão sendo contestados e que o conhecimento, matéria-prima
algum tipo de deficiência estão sendo discriminadas nas da educação escolar, está passando por uma reinterpretação.
comunidades em que vivem ou sendo excluídas do mercado de As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de
trabalho. O processo de exclusão social de pessoas com gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais
deficiência ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto desvelada e destacada e é condição imprescindível para se
a socialização do homem. entender como aprendemos e como compreendemos o mundo
A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, e a nós mesmos.
sempre inabilitou os portadores de deficiência, Nosso modelo educacional mostra há algum tempo sinais
marginalizando-os e privando-os de liberdade. Essas pessoas, de esgotamento, e nesse vazio de ideias, que acompanha a
sem respeito, sem atendimento, sem direitos, sempre foram crise paradigmática, é que surge o momento oportuno das
alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas. transformações.
A literatura clássica e a história do homem refletem esse Um novo paradigma do conhecimento está surgindo das
pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos interfaces e das novas conexões que se formam entre saberes
impedimentos e às aparências do que aos potenciais e outrora isolados e partidos e dos encontros da subjetividade
capacidades de tais pessoas. humana com o cotidiano, o social, o cultural. Redes cada vez
Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais mais complexas de relações, geradas pela velocidade das
têm promovido e implementado a inclusão, nas escolas, de comunicações e informações, estão rompendo as fronteiras
pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade das disciplinas e estabelecendo novos marcos de compreensão
especial, visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no entre as pessoas e do mundo em que vivemos.
sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a Diante dessas novidades, a escola não pode continuar
todos os recursos da sociedade por parte desse segmento. ignorando o que acontece ao seu redor nem anulando e
Movimentos nacionais e internacionais têm buscado o marginalizando as diferenças nos processos pelos quais forma
consenso para a formatação de uma política de integração e de e instrui os alunos. E muito menos desconhecer que aprender
educação inclusiva, sendo que o seu ápice foi a Conferência implica ser capaz de expressar, dos mais variados modos, o
Mundial de Educação Especial, que contou com a participação que sabemos, implica representar o mundo a partir de nossas
de 88 países e 25 organizações internacionais, em assembleia origens, de nossos valores e sentimentos.
geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em junho de 1994. O ensino curricular de nossas escolas, organizado em
Este evento teve como culminância a "Declaração de disciplinas, isola, separa os conhecimentos, em vez de
Salamanca", da qual transcrevem-se, a seguir, pontos reconhecer suas inter-relações. Contrariamente, o
importantes, que devem servir de reflexão e mudanças da conhecimento evolui por recomposição, contextualização e
realidade atual, tão discriminatória. integração de saberes em redes de entendimento, não reduz o
A inclusão escolar, fortalecida pela Declaração de complexo ao multidimensional dos problemas e de suas
Salamanca, no entanto, não resolve todos os problemas de soluções.
marginalização dessas pessoas, pois o processo de exclusão é Os sistemas escolares também estão montados a partir de
anterior ao período de escolarização, iniciando-se no um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir
nascimento ou exatamente no momento em aparece algum os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino
tipo de deficiência física ou mental, adquirida ou hereditária, em regular e especial, os professores em especialistas nesta e
em algum membro da família. Isso ocorre em qualquer tipo de naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa
constituição familiar, sejam as tradicionalmente estruturadas, organização é marcada por uma visão determinista,
sejam as produções independentes e congêneres e em todas as mecanicista, formalista a reducionista, própria do pensamento
classes sociais, com um agravante para as menos favorecidas. científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador,
O nascimento de um bebê com deficiência ou o sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo
aparecimento de qualquer necessidade especial em algum escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe.
membro da família altera consideravelmente a rotina no lar. Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é
Os pais logo se perguntam: por quê? De quem é a culpa? Como urgente que seus planos se redefinam para uma educação
agirei daqui para frente? Como será o futuro de meu filho? voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e
O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou que reconhece e valoriza as diferenças.
responsáveis e a dinâmica familiar fica fragilizada. Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin11, pois,
Imediatamente instalam-se a insegurança, o complexo de para se reformar a instituição, temos de reformar as mentes,
culpa, o medo do futuro, a rejeição e a revolta, uma vez que mas não se pode reformar as mentes sem uma prévia reforma
esses pais percebem que, a partir da deficiência instalada, das instituições.
terão um longo e tortuoso caminho de combate à
discriminação e ao isolamento.

9 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 11MORIN. E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 4.


88392000000200008 ed. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.
10 Adaptado de: MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como

fazer? São Paulo: Moderna, 2006.

Conhecimentos Pedagógicos 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Inclusão Escolar proposições nos permitem inferir que os pilares fundamentais


A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão da LDB podem favorecer a concretização de projetos flexíveis
de uma parte, privações constantes e pela baixa autoestima e inovadores referenciados no ideal de uma escola inclusiva.
resultante da exclusão escolar e da social — alunos que são
vítimas de seus pais, de seus professores e, sobretudo, das Mudanças na escola
condições de pobreza em que vivem, em todos os seus Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem
sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em
escolas, pois repete as suas séries várias vezes, são expulsos, muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de
evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com encontrar soluções próprias para os seus problemas. As
hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por
As soluções sugeridas para se reverter esse quadro Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da
parecem reprisar as mesmas medidas que o criaram. Em escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e
outras palavras, pretende-se resolver a situação a partir de vividas a partir de uma gestão escolar democrática.
ações que não recorrem a outros meios, que não buscam novas É ingenuidade pensar que situações isoladas são
saídas e que não vão a fundo nas causas geradoras do fracasso suficientes para definir a inclusão como opção de todos os
escolar. membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se
Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a escola reluta desconsideram aqui os esforços de pessoas bem-
em admiti-lo como sendo seu. intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das
A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo
para reverter a situação da maioria de nossas escolas, as quais escolar.
atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino A organização de uma sala de aula é atravessada por
ministrado por elas — sempre se avalia o que o aluno decisões da escola que afetam os processos de ensino e de
aprendeu, o que ele não sabe, mas raramente se analisa “o que” aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem
e “como” a escola ensina, de modo que os alunos não sejam apenas de uma única sala de aula, o uso dos espaços da escola
penalizados pela repetência, evasão, discriminação, exclusão, para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser
enfim. combinado e sistematizado para o bom aproveitamento de
E fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola” todos, as horas de estudo dos professores devem coincidir
e é mais fácil ainda encaminhar, para as classes e escolas para que a formação continuada seja uma aprendizagem
especiais, os que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo colaborativa, a organização do Atendimento Educacional
ou não deficientes, para os programas de reforço e aceleração. Especializado (AEE) não pode ser um mero apêndice na vida
Por meio dessas válvulas de escape, continuamos a escolar ou da competência do professor que nele atua.
discriminar os alunos que não damos conta de ensinar. Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais,
Estamos habituados a repassar nossos problemas para outros funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas,
colegas, os “especializados” e, assim, não recai sobre nossos oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema
ombros o peso de nossas limitações profissionais. educacional, constitui o arcabouço pedagógico e
Segundo proclama a Declaração de Salamanca: administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do
que está INSTITUÍDO e do que Libâneo12 e outros autores
"Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às analisaram pormenorizadamente.
necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes
estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação curriculares, as leis, os documentos das políticas, os
de qualidade a todos através de um currículo apropriado, regimentos e demais normas do sistema.
arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem
e parceria com as comunidades. (...) O desafio que confronta a construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma
escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta
pedagogia centrada na criança e capaz de bem sucedidamente e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em
educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam geração. Trata-se do INSTITUINTE.
desvantagem severa. O mérito de tais escolas não reside somente A escola cria, nas possibilidades abertas pelo
no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional
alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu
escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia
desenvolver uma sociedade inclusiva." a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inova-
dor dos que fazem e pensam a educação.
Um dos princípios norteadores da Lei de Diretrizes e Bases
Nacionais da Educação – LDB 9.394/96 é o da igualdade de O Atendimento Educacional Especializado (AEE)
condições para o acesso e a permanência na escola. A LDB Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de
reconhece a educação infantil como direito e prevê a garantia Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é o
de condições adequadas à escolarização de jovens, adultos e Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço da
trabalhadores, a qualidade de ensino em todos os níveis e educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza
modalidades educacionais, além de outros direitos e recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as
obrigações (Título III, Artigo 5 I – IX). barreiras para a plena participação dos alunos, considerando
A reafirmação de identidades étnicas e o desenvolvimento suas necessidades específicas" (SEESP/MEC).13
de educação escolar bilíngue e intelectual aos povos indígenas O AEE complementa e/ou suplementa a formação do
são apontados em diversas proposições. A LDB rompe com o aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela,
modelo assistencial e terapêutico operante, até então, no que constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É
diz respeito ao tratamento dispensado a educandos com realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço
deficiência e necessidades educacionais especiais. Tais

12LIBÂNEO, J. C., OLIVEIRA J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, 13 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Decreto No 6.571, de 17 de setembro de 2008.
estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto, atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdo
é parte integrante do projeto político pedagógico da escola. específico do AEE, para melhor atender a seus alunos.
São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais, A formação de professores consiste em um dos objetivos
alunos público-alvo da educação especial, conforme do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação
estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na com a aprendizagem permanente de professores, demais
Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008. profissionais que atuam na escola e também dos pais e da
comunidade onde a escola se insere. Neste documento,
- Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm apresentam-se as ações de formação, incluindo os aspectos
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, ligados ao estudo das necessidades específicas dos alunos com
intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na habilidades/superdotação. Este estudo perpassa o cotidiano
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas da escola e não é exclusivo dos professores que atuam no AEE.
(ONU)14. À gestão escolar compete implementar ações que
- Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou
aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar por
sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de meio de palestras informativas e formações em nível de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. aperfeiçoamento e especialização para os professores que
Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do atuam ou atuarão no AEE.
espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP). As palestras informativas devem envolver o maior número
- Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que de pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE,
demonstram potencial elevado em qualquer uma das pais, autoridades educacionais. De caráter mais amplo, essas
seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, palestras têm por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele
acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de está sendo realizado e qual a política que o fundamenta, além
apresentar grande criatividade, envolvimento na de tirar dúvidas sobre este serviço e promover ações conjuntas
aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu para fazer encaminhamentos, quando necessários.
interesse (MEC/SEESP). Para a formação em nível de aperfeiçoamento e
especialização, a proposta é que sejam realizadas ações de
A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino formação fundamentadas em metodologias ativas de
regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendizagem
Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning
privada, sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem (PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Trabalhos com
estar de acordo com as orientações da Política Nacional de Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), entre
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e com outras.
as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Essas metodologias trazem novas formas de produção e
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica organização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro
(MEC/SEESP). do processo educativo, dando-lhe autonomia e
Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de responsabilidade pela sua aprendizagem por meio da
reorientação de escolas especiais e centros especializados identificação e análise dos problemas e da capacidade para
requer a construção de uma proposta pedagógica que institua formular questões e buscar informações para responder a
nestes espaços, principalmente, serviços de apoio às escolas estas questões, ampliando conhecimentos.
para a organização das salas de recursos multifuncionais e Tradicionalmente os cursos de formação continuada são
para a formação continuada dos professores do AEE. centrados nos conteúdos, classificados de acordo com o
Os conselhos de educação têm atuação primordial no critério de pertencimento a uma especificidade, tendo sua
credenciamento, autorização de funcionamento e organização organização curricular pautada num perfil "ideal" de aluno que
destes centros de AEE, zelando para que atuem dentro do que se deseja formar. Estes modelos de formação estão sendo cada
a legislação, a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, a vez mais questionados no contexto educacional e algumas
preferência pela escola comum como o local do serviço de AEE, metodologias começam a surgir com a finalidade de romper
já definida no texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela com esta organização e determinismo. Tais metodologias
Política, e existem razões para que esse atendimento ocorra na rompem com o modelo determinista de formação,
escola comum. considerando as diferenças entre os estudantes e
O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola apresentando uma nova perspectiva de organização
do aluno está na possibilidade de que suas necessidades curricular.
educacionais específicas possam ser atendidas e discutidas no Zabala15 defende uma perspectiva de organização
dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino regular curricular globalizadora, na qual os conteúdos de
e/ou na educação especial, aproximando esses alunos dos aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são
ambientes de formação comum a todos. Para os pais, quando o relevantes em função de sua capacidade de compreender uma
AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia-lhes viver uma realidade global. Para Hernandez16, o conceito de
experiência inclusiva de desenvolvimento e de escolarização conhecimento global e relacional permite superar o sentido da
de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos exteriores à mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe
escola. estabelecer um processo no qual o tema ou problema
abordado seja o ponto de referência para onde confluem os
A formação de professores para o AEE conhecimentos.
Para atuar no AEE, os professores devem ter formação É neste contexto que surgem as metodologias ativas de
específica para este exercício, que atenda aos objetivos da aprendizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do
educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos docente. Uma delas refere-se à flexibilidade diante das
cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento ou de questões que surgirão e dos conhecimentos que se construirão
especialização, indicados para essa formação, os professores durante o desenvolvimento dos trabalhos. Este processo

14 Organização das Nações Unidas - ONU. Convenção sobre os Direitos das 16HERNANDEZ, F; VENTURA, M. A Organização do Currículo por Projetos de
Pessoas com Deficiência. Nova Iorque, 2006. Trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.
15 ZABALA, A. A Prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

permite aos professores e aos alunos aprenderem a explicar as de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da
relações estabelecidas a partir de informações obtidas sobre inclusão!
determinado assunto e demonstra respeito às diferentes O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
formas e procedimentos de organização do conhecimento. ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e
Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo convence a todos pela sua lógica e pela ética de seu
aos conteúdos da formação. Os conteúdos não se tornam à posicionamento social.
finalidade, mas os meios de ensino. As metodologias ativas de Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo na
aprendizagem têm como característica o fato de se instituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos
desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem males que o conservadorismo escolar tem espalhado pela
problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo, nossa infância e juventude estudantil.
cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz O futuro da escola inclusiva depende de uma expansão
a desenvolver os trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do
considerar o contexto ao elaborar as propostas das soluções, compromisso de transformar a escola, para se adequar aos
tornando-o consciente do que ele sabe e do que precisa novos tempos.
aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes, Se hoje ainda esses projetos se resumem a experiências
considerando que cada problema é um problema e que não locais, estas estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em
existem receitas para solucioná-los. escolas e redes de ensino brasileiras, porque têm a força do
Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem óbvio e a clareza da simplicidade.
Colaborativa em Redes - ACR, construída a partir da A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido
metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi suficiente para enfrentar, com segurança e otimismo, o poder
desenvolvida para um programa de formação continuada a da velha e enferrujada máquina escolar.
distância de professores de AEE. Seu foco é a aprendizagem A inclusão é um sonho possível.
colaborativa, o trabalho em equipe, contextualizado na
realidade do aprendiz. Questões
A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos
individuais e coletivos. As etapas compreendem a 01. (CESPE - SEDF - Conhecimentos Básicos/2017) Com
apresentação, a descrição e a discussão do problema; relação à educação especial/inclusiva e ao atendimento
pesquisas em fontes bibliográficas para favorecer a especializado, julgue o item que se segue.
compreensão do problema; apresentação de propostas de O termo necessidades educacionais especiais se refere
soluções para o problema em foco; elaboração do plano de também a crianças de rua e minorias étnicas que apresentem
atendimento; socialização; reelaboração da solução do alguma carência material e, portanto, necessitem de
problema e do plano de atendimento; avaliação. atendimento educacional especializado.
A proposta de formação ACR prepara o professor para ( ) Certo ( ) Errado
perceber a singularidade de cada caso e atuar frente a eles.
Nesse sentido, a formação não termina com o curso, visto que 02. (CESPE - SEDF - Conhecimentos Básicos/ 2017) Com
a atuação do professor requer estudo e reflexões diante de relação à educação especial/inclusiva e ao atendimento
cada novo desafio. Finalizada a formação, é importante que os especializado, julgue o item que se segue.
professores constituam redes sociais para dar continuidade A educação especial/inclusiva tem caráter complementar
aos estudos, estudar casos, dirimir dúvidas e socializar os ou suplementar, conforme o caso concreto.
conhecimentos adquiridos a partir da prática cotidiana. Para ( ) Certo ( ) Errado
contribuir com estas ações, a internet disponibiliza várias
ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos 03. (CESPE - SEDF - Conhecimentos Básicos/2017) Com
professores. relação ao planejamento escolar e à educação
As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em especial/inclusiva, julgue o próximo item.
especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o O plano de ensino deve ter coerência quanto a seus
acesso às informações de forma rápida e constante. Elas objetivos e aos meios para alcançá-los.
permitem a participação ativa do usuário na grande rede de ( ) Certo ( ) Errado
computadores e invertem o papel de usuário consumidor para
usuário produtor de conhecimento, de agente passivo para 04. (Big Advice - Prefeitura de Martinópolis - Professor
agente ativo, o que pode ampliar as possibilidades dos PEB I - Educação Especial/2017) A noção de necessidades
programas de formação pautados em metodologias ativas de educacionais especiais entrou em evidência a partir das
aprendizagem. discussões do chamado “movimento pela inclusão” e dos
Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a reflexos provocados pela Conferência Mundial sobre Educação
construção coletiva do conhecimento em torno das práticas de Especial, realizada em Salamanca, na Espanha, em 1994. Nesse
inclusão e, o mais importante, socializar estas práticas e fazer evento, foi elaborado um documento mundialmente
delas um objeto de pesquisa. significativo denominado “Declaração de Salamanca” e na qual
foram levantados aspectos inovadores para a reforma de
Finalizando... políticas e sistemas educacionais.
Embora possa assustar pelo grande número de mudanças De acordo com a declaração:
e pelo teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos a I. O conceito de “necessidades educacionais especiais”
apregoam “um caminho sem volta”. passará a incluir, além das crianças portadoras de deficiências,
Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em que aquelas que estejam experimentando dificuldades
essa inovação acontece, marcando, grifando na nossa temporárias ou permanentes na escola, as que estejam
consciência de educadores o seu valor para que nossas escolas repetindo continuamente os anos escolares, as que sejam
atendam à expectativa dos alunos de nossas escolas, do ensino forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que vivem em
infantil à Universidade. condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as
A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos que sejam vítimas de guerra ou conflitos armados, as que
aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas sofrem de abusos contínuos, ou as que simplesmente estão
salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós que temos fora da escola, por qualquer motivo que seja.”

Conhecimentos Pedagógicos 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

II. A Declaração de Salamanca estabeleceu uma nova envolvimento da comunidade nas escolas produzem os
concepção, extremamente abrangente, de “necessidades seguintes resultados:
educacionais especiais” que provoca a secessão dos dois tipos
de ensino, o regular e o especial, na medida em que esta nova - Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e
definição implica que todos possuem ou podem possuir, de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco,
temporária ou permanentemente, “necessidades educacionais esclarecedor e respeitoso;
especiais”. - Formulações de alternativas, após um período de
III. Dessa forma, orienta para a existência de um sistema discussões onde as divergências são expostas.
único, que seja capaz de prover educação para todos os alunos, - Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados
por mais especial que este possa ser ou estar. por toda a comunidade envolvida
IV. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), - Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em
elaborados com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação um espaço comum de decisões educacionais.
(LDB), de 1996, orientam a respeito de estratégias para a A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas
educação de alunos com necessidades especiais. Para isso, públicas requer a participação coletiva das comunidades
estabeleceu um material didático-pedagógico intitulado escolar e local na administração dos recursos educacionais
“Adaptações Curriculares” que insere-se na concepção da financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na
escola inclusiva defendida na Declaração de Salamanca. implementação dos projetos educacionais.
Mas para promover a participação e deste modo
Assinale a alternativa correta: implementar a gestão democrática da escola, procedimentos
(A) Apenas a I. prévios podem ser observados:
(B) I, II e IV. - Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu
(C) I, III e IV. comprometimento com a alternativa de ação escolhida;
(D) Todas estão corretas. - Responsabilizar pessoas pela implementação das
(E) Nenhuma das alternativas. alternativas acordadas;
- Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as
05. (FCM - IFSudeste/MG - Técnico em Assuntos decisões serão realizados;
Educacionais/2016) A escola inclusiva é aquela que: - Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação
I- atua em coletividade, prezando o indivíduo, de todos os segmentos envolvidos;
reconhecendo sua identidade e subjetividade. - Articular interesses comuns, ideias e alternativas
II- está preparada para receber os alunos, tendo a garantia complementares, de forma a contribuir para organizar
da acessibilidade física, metodológica, comunicacional e propostas mais coletivas.
tecnológica. - Esclarecer como a implementação das ações serão
III- tem o poder de acabar com as mazelas sociais, com a acompanhadas e supervisionadas;
produção das desigualdades sociais. - Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em
IV- defende a inserção de alunos com deficiência com debate como também do processo de decisão.
comprometimentos mais severos para o ato de socialização.
São corretas as afirmativas: Gestão democrática implica compartilhar o poder,
(A) I e II. descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a
(B) I e III. participação e respeitando as pessoas e suas opiniões;
(C) II e III. desenvolvendo um clima de confiança entre os vários
(D) III e IV. segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a
(E) I, II, III e IV. desenvolver competências básicas necessárias à participação
(por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A
Respostas participação proporciona mudanças significativas na vida das
pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se
01. Certo. / 02. Certo. / 03. Certo. / 04. C. / 05. A. sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum.
Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas
formas de relações coletivas faz parte do processo de
participação e trazem possibilidades de mudanças que
atendam a interesses mais coletivos.
Gestão democrática: a A participação social começa no interior da escola, por
participação como princípio. meio da criação de espaços nos quais professores,
funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir
criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da
escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos,
Gestão democrática e a mobilização da equipe com condições de participar criticamente do mundo do
escolar17 trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola,
no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o
E por falar em gestão, como proceder de forma mais processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de
democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas? gestão democrática passa pela construção de mecanismos de
participação da comunidade escolar, como: Conselho Escolar,
A participação é educativa tanto para a equipe gestora Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de
quanto para os demais membros das comunidades escolar e Classes etc.
local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é
argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor necessária a efetivação de vários mecanismos de participação,
novas sugestões e alternativas. Maior participação e tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo
de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos

17 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das

pessoas no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de


Secretários de Educação, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de Articulado ao processo de constituição de mecanismos de


classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio participação colegiada dentro da escola destaca-se também a
da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a necessidade da participação e acompanhamento da aplicação
construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola; dos recursos financeiros, tanto na escola como nos sistemas de
a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e ensino. A responsabilidade de acompanhar e fiscalizar a
mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de aplicação dos recursos para a educação é de toda a sociedade.
se partilhar o poder e a decisão nas instituições. Todos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se
Não existe apenas uma forma ou mecanismo de responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à
participação. Entre os mecanismos de participação que podem educação. Nesse sentido, pais, alunos, professores, servidores
ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o administrativos, associação de bairros, ou seja, as
conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio comunidades escolar e local têm o direito de participar, por
escolar. meio dos diferentes conselhos criados para essa finalidade.
O processo de participação na escola produz, também,
Conselho escolar efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a
O conselho escolar é um órgão de representação da reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas,
comunidade escolar. Trata-se de uma instância colegiada que bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum,
deve ser composta por representantes de todos os segmentos que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual
da comunidade escolar e constitui-se num espaço de discussão oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por
de caráter consultivo e/ou deliberativo. Ele não deve ser o algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de
único órgão de representação, mas aquele que congrega as todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada
diversas representações para se constituir em instrumento conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem
que, por sua natureza, criará as condições para a instauração público comum requerem algumas condições:
de processos mais democráticos dentro da escola. Portanto, o 1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem
conselho escolar deve ser fruto de um processo coerente e gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso,
efetivo de construção coletiva. A configuração do conselho acesso e permanência nas escolas a alunos em condições
escolar varia entre os estados, entre os municípios e até sociais desiguais;
mesmo entre as escolas. Assim, a quantidade de 2. Transparência administrativa e financeira com o
representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao
tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos
ela possui. recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o
registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões;
Conselho de classe 3. Processo participativo de tomada de decisões,
O conselho de classe é mais um dos mecanismos de implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos
participação da comunidade na gestão e no processo de que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência
ensino-aprendizagem desenvolvido na unidade escolar. um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às
Constitui-se numa das instâncias de vital importância num decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos.
processo de gestão democrática, pois "guarda em si a
possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma
tem por objeto de estudo o processo de ensino, que é o eixo maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das
central em torno do qual desenvolve-se o processo de trabalho comunidades local e escolar oportunidades para:
escolar" (DALBEN, 1995). Nesse sentido, entendemos que o - Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação
conselho de classe não deve ser uma instância que tem como real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a
função reunir-se ao final de cada bimestre ou do ano letivo ser).
para definir a aprovação ou reprovação de alunos, mas deve - Identificar possíveis razões para essa discrepância.
atuar em espaço de avaliação permanente, que tenha como - Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar
objetivo avaliar o trabalho pedagógico e as atividades da esses problemas.
escola. Nessa ótica, é fundamental que se reveja a atual
estrutura dessa instância, rediscutindo sua função, sua Envolvendo a comunidade na gestão da escola
natureza e seu papel na unidade escolar. A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e
experiências educativas, atingir objetivos da instituição
Associação de pais e mestres escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas,
A associação de pais e mestres, enquanto instância de planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em
participação, constitui-se em mais um dos mecanismos de síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as
participação da comunidade na escola, tornando-se uma pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na
valiosa forma de aproximação entre os pais e a instituição, construção do projeto pedagógico da escola. A gestão
contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação
muros da escola e a democratização da gestão seja uma da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a
conquista possível. comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula
interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil,
Grêmio estudantil mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver
Numa escola que tem como objetivo formar indivíduos estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar
participativos, críticos e criativos, a organização estudantil na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias,
adquire importância fundamental. desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a
O grêmio estudantil constitui-se em mecanismo de organização do trabalho pedagógico. A mobilização das
participação dos estudantes nas discussões do cotidiano pessoas pode começar quando elas se defrontam com
escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar
laboratório de aprendizagem da função política da educação e novas formas de organização, de participar das decisões para
do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias
aprendam a se organizarem politicamente e a lutar pelos seus divergentes na construção do projeto educativo. Como criar,
direitos. ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação?

Conhecimentos Pedagógicos 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Na construção de ambientes de participação e mobilização de propiciem aos alunos oportunidades concretas para
pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais. aprender;
Vejamos algumas: e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e
- Estar atento às solicitações da comunidade. organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens
- Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e
a dizer. relacionais; modalidades de avaliação formativa;
- Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas. organização do tempo escolar de forma a garantir o máximo
- Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de de tempo para as aprendizagens e o clima para o estudo;
cada um para o bom andamento do processo. acompanhamento de alunos com dificuldades de
- Garantir a palavra a todos. aprendizagem.
- Respeitar as decisões tomadas em grupo. f) Participação dos pais nas atividades da escola;
- Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e investimento em formar uma imagem pública positiva da
reuniões. escola.
-
Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaserespon
Essas características reforçam a ideia de que a qualidade
sabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o de ensino depende de mudanças no âmbito da organização
próximo encontro. escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de
- Tornar a escola um espaço de sociabilidade. funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura
- Valorizar o trabalho participativo. organizacional, as relações entre alunos, professores,
- Destacar a importância da integração entre as pessoas. funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a
- Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações escola como um todo que deve responsabilizar-se pela
da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados. aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos
- Valorizar a presença de cada um e de todos.
problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados
- Desenvolver projetos educativos voltados para a
atualmente.
comunidade em geral, não só para os alunos.
- Ressaltar a importância da comunidade na identidade da
Ampliando o conceito de organização e de gestão de
unidade escolar.
escolas
- Tornar o espaço escolar disponível para comunidade.
Para a perspectiva que compreende a escola apenas como
organização administrativa, também conhecida como
Gestão escolar para o sucesso do ensino e da perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola
aprendizagem18 diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às
Práticas de organização e gestão e escolas bem- formas de coordenação e gestão do trabalho, ao
sucedidas estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e
Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar utilização dos recursos materiais e financeiros, aos
que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que o procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto
modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A
resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam
concepção técnico-racional reduz as formas de organização
iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais
apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática
úteis para compreensão do funcionamento das escolas,
de organização, decisões centralizadas, baixo grau de
considerados os contextos e as situações escolares específicos.
participação, separação entre o administrativo e o pedagógico.
Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas:
Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção
funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os
a) Em relação aos professores: boa formação professores se individualizam, as interações se enfraquecem,
profissional, autonomia profissional, capacidade de assumir regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com
responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, vistas a controlar as estruturas administrativas e
condições de estabilidade profissional, formação profissional pedagógicas”.
em serviço, disposição para aceitar inovações com base nos Na perspectiva da escola como organização social, para
seus conhecimentos e experiências; capacidade de análise além da visão “administrativa”, as organizações escolares são
crítico-reflexiva. abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que
b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares
organização e gestão, plano de trabalho com metas bem de relações interpessoais. A escola é uma organização em
definidas e expectativas elevadas; competência específica e sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que
liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de
pedagógica; integração dos professores e articulação do estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos
trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho da instituição”.
propício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão da
participativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento de
de experiências entre os professores; saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que gera
c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As formas
com possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões de organização e de gestão adquirem dois novos sentidos:
sobre problemas específicos; planejamento compatível com a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão
as realidades locais; decisão e controle sobre uso de recursos educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo
financeiros; planejamento participativo e gestão das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a
participativa, bom relacionamento entre os professores, organização do espaço físico, os processos de tomada de
responsabilidades assumidas em conjunto; decisões, etc., são também práticas educativas;
d) Prédios adequados e disponibilidade de condições b) as escolas são tidas como instituições aprendentes,
materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as

18 LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição,

São Paulo, Heccus Editora, 2013.

Conhecimentos Pedagógicos 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

pessoas mudam com as organizações e as organizações que revelam a identidade, os traços característicos, de uma
mudam com as pessoas. instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das
pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza
A organização escolar como lugar de práticas os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando
educativas e de aprendizagem um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir.
A escola entendida como espaço de compartilhamento de Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a
ideias, práticas socioculturais e institucionais, valores, inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de
atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações, enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não
com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem, de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo
comunidade de práticas, comunidade aprendente, francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem
organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua
outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e
situada em contextos”. de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de
Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a símbolos”.
atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além
meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é, daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais,
depende das práticas sociais anteriores, de modo que a rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural
atividade conjunta acumulada historicamente influencia a que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco
atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre
humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas
fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas,
transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando
lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação
“todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos
duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível corredores, na preparação de alimentos e distribuição da
individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e, merenda, nas formas de tratamento com os pais, na
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse metodologia de aula etc.
princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento
mental individual, especialmente o peso atribuído às As atividades compartilhadas entre direção,
mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais professores e alunos.
e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual A cultura organizacional aparece sob duas formas: como
o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura
sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional
de pensar dessa pessoa. definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular,
A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é
influência das práticas socioculturais e institucionais nas aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas
aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura
práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de
contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem
contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais onde se compartilham significados, criam-se outros modos de
próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-
escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de se com a participação real de seus membros. As ações
relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de
professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o formas de participação real das pessoas nas decisões em
material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento
modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da
espaços da escola são, também, mediações culturais, que aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e
atuam na aprendizagem das pessoas (professores, convivência, etc.
especialistas, funcionários, alunos).
Tais práticas institucionais afetam significativamente o Para uma revisão das práticas de organização e gestão
significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou das escolas
negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já Conclui-se que não é possível à escola atingir seus
que, de alguma forma, eles participam nessas práticas. objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos
O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma sem formas de organização e gestão, tanto como provimento
prática social que se realiza num contexto de cultura, de de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto
relações e de conhecimento, histórica e socialmente como práticas socioculturais e institucionais com caráter
construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão
os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir:
socioculturais, com as interações sociais, com as formas de
organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista a) As práticas de organização e gestão devem estar
como uma organização aprendente, uma comunidade voltadas à aprendizagem dos alunos.
democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos, As práticas de organização e gestão, a participação dos
professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço
contexto institucional e pedagógico preparado para produzir da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se
mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o
aprendizagem. grau em que conseguem melhorar a qualidade da
A noção de cultura organizacional é útil para compreender aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola
melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão. bem organizada e gerida é aquela que cria as condições
Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que
pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula,

Conhecimentos Pedagógicos 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em Já a gestão da participação implica repensar as práticas de
suas aprendizagens. gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas
e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de
b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à
direção e da coordenação pedagógica coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das
Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações
prescindir de ações básicas que garantem o seu interativas e democráticas. Para isso, faz-se necessária uma
funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas bem definida estrutura organizacional, responsabilidades
e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As
físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de exigências de gestão e liderança por parte de diretores e
funcionamento e definição clara de responsabilidades dos coordenadores se justificam cada vez mais em face de
integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas
controlar as atividades de apoio técnico-administrativo; sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina
cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas,
e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas; ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas
organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer se acentuam com a inexperiência ou precária formação
formas de relacionamento entre a escola e a comunidade, profissional de muitos professores que levam a dificuldades no
especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo
currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício com os alunos. Constatar esses problemas implica que não
escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais pensemos apenas em mudanças curriculares ou
didáticos e livros na biblioteca. metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado
Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e
de competências de diretores e coordenadores pedagógicos. colaborativas com uma sólida estrutura organizacional.
Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de
aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem, d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e
gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser eficazmente executado
organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de
objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da
todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente
qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura
estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra
igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é
ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas de que a equipe de dirigentes e professores tenha
conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades
exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se sociais e demandas da comunidade local e do próprio
justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as
que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu
intencionalmente constituídos, visando objetivos de desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da
aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê
origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das respostas a esta pergunta: em que comportamentos
contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos
e professores definam formas de gestão e de convivência que intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no
regulem a organização da vida escolar e as práticas desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?
pedagógicas, precisamente para conter tendências de Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da
discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos
usufruto da escolarização de qualidade. uma base cultural e científica comum e uma base comum de
formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em
c) A organização e a gestão implicam a gestão critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na
participativa e a gestão da participação descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto.
A organização da escola requer atender a duas Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes,
necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito por meio de um currículo comum a todos, na formulação de
democrático, e a gestão da participação, como requisito Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura
técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa
democráticos e colaborativos de trabalho, em função da acolher a diversidade e a experiência particular dos diferentes
convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um
funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes
eficazmente seus objetivos, o que implica a gestão da objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar
participação. A gestão participativa significa alcançar de forma em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são
participação é o principal meio de tomar decisões, de necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto
mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os pedagógico-curricular.
conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de
trabalho desejado para si próprias e para os outros. A e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e
participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, avaliação das atividades de ensino
discussão pública, busca de consensos e de superações de A modalidade mais rica e eficaz de formação docente
conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na
criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino.
troca de ideias e experiências para chegar a ideias e ações É assim porque a formação continuada passa a ser entendida
comuns. como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da
escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o

Conhecimentos Pedagógicos 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de 03. (IF-MT- Auxiliar em Administração- UFMT)
atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam
ações compartilhadas que exigem troca de significados, O novo gestor escolar
possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse Escrito por Roberta Braga
modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver Publicado em 03, Novembro de 2014.
a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que
possibilita o movimento de formação do professor”.

Questões

01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a


administração escolar não é novo, bem como a da organização
do trabalho aí realizado.
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a
existência de duas concepções, que norteiam as análises: a
científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político.
Na primeira delas, que é o modelo mais comum de As mudanças na sociedade, nas famílias e na forma de as
funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita pessoas perceberem a vida são constantes. Ideais autoritários
ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada, ficam cada vez mais enfraquecidos, e ações colaborativas
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices ganham mais força. A escola como ambiente de convívio e
de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se educação é impactada por essas mudanças de comportamento.
embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra, Nesse cenário, o gestor escolar passa a ter papel ainda mais
técnica, que funciona racionalmente". importante, uma vez que a maneira como a escola é
Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece administrada pode refletir um melhor ambiente, tanto de
“basicamente como um sistema que agrega pessoas, trabalho quanto de aprendizagem.
importando bastante a intencionalidade e as interações Apesar de não existir uma receita pronta de administração
sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa que funcione em todas as escolas, alguns princípios ajudam a
construção social a ser construída pelos professores, alunos, nortear o trabalho dos gestores [...]. “A tendência é de uma
pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo gestão em que o poder é distribuído, em que existe incentivo
interesse público. ao trabalho coletivo e às decisões tomadas em conjunto com
os envolvidos", observa Helena Machado de Paula
A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso
viabilização da... de especialização em Gestão Educacional e Escolar da
(A) administração empresarial. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a
(B) administração escolar. especialista, o momento atual pelo qual o sistema de ensino
(C) gestão democrática. passa é o de perceber as novas necessidades e migrar, pouco a
(D) gestão empresarial. pouco, para esse tipo de gestão. “Nós ainda estamos
(E) administração colegiada. engatinhando para perceber a escola como ela está e atender
às necessidades reais do processo educativo", considera [...].
02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB) (Disponível em http://www.gestaoeducacional.com.br/. Acesso em
Dentre os princípios e características da gestão escolar 13/07/2015.)
participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da De acordo com o texto, qual é o modelo de gestão que
concepção democrático-participativa de gestão escolar. Com possibilita a distribuição do poder e incentiva o trabalho
base nessa informação, a autonomia na concepção coletivo e as decisões tomadas em conjunto com os
democrático-participativa de gestão escolar está expressa envolvidos?
em: (A) Gestão participativa
(A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir (B) Gestão autoritária
sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos (C) Gestão por competência
financeiros. (D) Gestão mecanicista
(B) A organização escolar depende exclusivamente de
decisões do poder central. Respostas
(C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado
pelo poder central. 01. C. / 02. A. / 03. A.
(D) A gestão da autonomia não implica
corresponsabilidade dos membros da equipe escolar.
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder
tome as decisões para que os demais membros possam
participar do processo de gestão.

Conhecimentos Pedagógicos 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

que estão relacionados à ação de coordenar todos os


envolvidos no processo educativo, tendo em vista atingir
Organização da escola aos objetivos e preferências a que se propõe.
centrada no processo de
No que se refere à organização escolar, Lima relaciona,
desenvolvimento pleno do apoiado em Ellströn, quatro modelos de organização: modelo
educando. político, modelo de sistema social, modelo
racional/burocrático e o modelo anárquico.
No modelo político sobressai a diversidade de interesses
ideológicos e objetivos não partilhados por todos. O autor
A Escola como Organização Educativa: Gestão destaca neste modelo “a importância do poder, da luta e do
Democrática e Autonomia19 conflito, e um tipo de racionalidade – a racionalidade política”.
Por suas características, e por ser a escola pública controlada
O olhar sociológico sobre o processo de educação, segundo pelo Estado, esta forma de organização tem poucas condições
Gómez, aponta que o ser humano utiliza mecanismos e de ser aplicada, embora em alguns momentos históricos,
sistemas externos de transmissão de suas conquistas sociais, ressalta o autor, os elementos característicos deste modelo
para garantir a sobrevivência das novas gerações. Em grupos sejam importantes para o estudo da escola.
reduzidos e sociedades primitivas, essa aprendizagem das O modelo de sistema social apresenta os processos
conquistas sociais e a educação da geração mais jovem organizacionais mais como fenômenos espontâneos do que a
aconteciam de uma forma direta. A complexidade e intenção de ação organizacional. Para o autor, este modelo
diversificação das tarefas das sociedades contemporâneas privilegia “o consenso, a adaptação ao ambiente, a
concorreram para que, no decorrer da história, surgissem estabilidade”. Tal qual o modelo político, o modelo de sistema
diferentes formas de suprir as deficiências nesse processo de social não é dominante nos estudos sobre a organização
socialização direta às gerações mais jovens, como a figura do escolar.
tutor, preceptor até a escola formalmente instituída. Mesmo a O modelo racional/burocrático apresentado por Lima dá
escola não operando como única instância de reprodução da ênfase ao consenso e a clareza dos objetivos organizacionais e
comunidade social, pois a família, grupos sociais e meios de admite a existência de processos e tecnologias claros e
comunicação também exercem essa influência, o autor conclui transparentes. A ação organizacional é proveniente de
que a escola, por seus conteúdos, por suas formas e por seus decisões bem definidas, isto significa que a escolha é uma ação
sistemas de organização, introduz nos alunos/as, paulatina, de análise racional. Neste modelo, a decisão deve ser
mas progressivamente, as ideias, os conhecimentos, as intencional e direcionada ao alcance das finalidades propostas,
concepções, as disposições e modos de conduta que a tendo como suporte os meios técnicos e de conhecimento.
sociedade adulta requer. A escola como organização, segundo Lima, torna-se
Por prestar-se a essa função social específica, a escola burocrática pela rigidez das leis e dos regulamentos, na
afirma-se como uma instância educativa especializada, que hierarquia, na organização formal, na especialização e em
separa o aprender do fazer, com a relação pedagógica no outros elementos que são comuns às grandes organizações
quadro de classe e uma nova forma de socialização escolar, que consideradas burocráticas.
progressivamente tornou-se hegemônica. Para o autor, a Lima destaca a desconexão entre o que a escola apresenta
“escola é uma forma, é uma organização e é uma instituição”. como modelo de organização e o que de fato ocorre em sua
A dimensão instituição se refere, segundo o autor, a um rotina. A escola em um modelo burocrático apresenta papéis
conjunto de valores estáveis e intrínsecos, com um papel bem definidos, rigidez, hierarquia de cargos e especialização.
central na integração social e preparação para a inserção na Em um universo que o autor denomina como “não oficial”,
divisão social do trabalho. A escola desempenha o papel aparecem “os conflitos organizacionais, a definição
“fundamental de unificação cultural, linguística e política, problemática dos objetivos, as dificuldades impostas por uma
afirmando-se como um instrumento fundamental da tecnologia ambígua e as estruturas informais.” Situa-se assim
construção dos modernos estados-nação”. o modelo anárquico de organização.
Com relação à forma, o autor refere-se a uma nova maneira O modelo anárquico se contrapõe ao modelo racional por
de conceber a aprendizagem, baseada na “revelação, na apresentar objetivos que não são considerados claros e
cumulatividade e na exterioridade” e por possuir autonomia conflitantes e as tecnologias dúbias e incertas.
própria, pode existir “independentemente da organização e da Para Lima, o modelo anárquico apresenta três indicadores
instituição escolar”. Trata-se de uma “escolarização das fundamentais:
atividades educativas não escolares”. A forma refere-se a 1) inconsistência e definição insuficiente dos objetivos e da
conferir à escola quase o domínio da ação educativa, excluindo intencionalidade da organização;
dela os saberes não escolares. 2) falta de clareza dos membros da organização quanto a
No aspecto da organização, o autor destaca a viabilidade processos e tecnologia;
dos sistemas escolares modernos, que transformaram o 3) níveis de participação dos membros oscilante de uma
ensino de uma ação individual, mestre-aluno, para o ensino ocasião para outra.
simultâneo, professor-classe. Essa organização é caracterizada
pelos modos específicos de “organizar espaços, os tempos, os Lima salienta que a imagem de anarquia organizada não
agrupamentos dos alunos e as modalidades de relação com o abrange juízo de valor ou crítica negativa, nem tampouco o
saber”. sentido de indicar má organização, ou mesmo, desorganização,
A escola como organização é objeto de estudo de vários mas o contraste com a organização burocrática. Significa
autores, como Lima, Nóvoa, Canário, entre outros. Sob o olhar desconexão entre estruturas, atividades, objetivos, decisões e
de Lima, a escola é entendida como “organização educativa realizações.
complexa e multifacetada”. A ideia de organização remete O modelo burocrático apresenta um processo definido de
a uma forma ordenada e estruturada de planejar uma ações: identificar o problema, diagnosticar, decidir,
ação e ter condições de efetivá-la. Assim, a escola como implementar e avaliar, porém no cotidiano “...muitos de seus
organização educativa tem princípios e procedimentos

19 SOARES, E. F. A Escola como Organização Educativa: Gestão Democrática e

Autonomia. Pesquisa em Pós-Graduação – Série Educação – N°7. Santos.

Conhecimentos Pedagógicos 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

elementos são desligados, se encontram relativamente planejamento de seu trabalho e articulação das várias
independentes, em termos de intenções e de ações, processos dimensões e dos vários desdobramentos de seu processo de
e tecnologias adaptados e resultados obtidos, administradores implementação.
e professores, professores e professores, professores e alunos Os dispositivos constantes tanto da Constituição Federal,
etc”. como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
A imagem da anarquia organizada também é representada (LDBEN) possibilitaram a institucionalização dos mecanismos
pela metáfora do caixote do lixo, pela “falta de de participação nos sistemas educacionais e na gestão escolar.
intencionalidade de certas ações organizacionais e de Ao dispor desse espaço, cabe à escola organizar- se para
contrapor ao modelo burocrático e ao seu conhecido circuito exercitá-lo.
sequencial – identificação do problema, definição, seleção da Se a educação que defendemos é aquela que contribui para
solução, implementação e avaliação”. O autor explica que, a democracia, a escola deve começar por ela mesma a se
posto desta forma, exclui a ideia de que somente se age organizar como campo de relações democráticas que
mediante a um problema formulado com clareza e que muitas antecipem uma ordem social mais coletiva, mais participativa,
vezes na organização escolar, não se sabe qual é a questão, se mais igualitária, mais comprometida com a construção de uma
não quando se descobre a resposta. sociedade mais justa.
A escola como organização não é exclusivamente Os conselhos de políticas públicas são os mecanismos mais
burocrática, nem exclusivamente anárquica, porém a disseminados de participação. A área educacional conta com
escola está “formalmente organizada e estruturada de órgãos vinculados à gestão dos sistemas de ensino, com a
acordo com o modelo imposto uniformemente em todo denominação de “conselho” com função consultiva e
país”. normativa, como os conselhos de Educação, em esfera
Lima destaca que o termo anarquia não exprime a ideia de municipal, estadual e federal, assim como outros órgãos
má organização, mas outra forma de organização que ligados às organizações escolares, como os conselhos
contrasta com uma organização racional/ burocrática. Ele escolares. Há, por fim, os que dizem respeito à gestão de
salienta que não se trata de ausência de chefia ou direção, mas políticas educacionais específicas, como conselhos FUNDEB,
“desconexão relativa entre elementos da organização”. conselhos de alimentação, entre outros.
A escola não tem um modelo exclusivo de organização, pois A existência desses Conselhos, de acordo com o espírito
ora apresenta um modo de funcionamento denominado por das leis existentes, não é o de serem órgãos burocráticos,
Lima por conjuntivo, ora disjuntivo. Dessa forma, na escola cartoriais e engessadores da dinamicidade dos profissionais e
“...ora se ligam objetivos, estruturas, recursos e atividades e se administradores da educação ou da autonomia dos sistemas.
é fiel às normas burocráticas, ora se promove a sua separação Sua linha de frente é, dentro da relação Estado e Sociedade,
e se reproduzem regras alternativas; ora se respeita a conexão estar a serviço das finalidades maiores da educação e cooperar
normativa, ora se rompe com ela e se promove a desconexão com o zelo pela aprendizagem nas escolas brasileiras.
de facto. A participação da comunidade escolar nos conselhos
Lima ressalta a existência dos dois modelos em uma reforça a gestão democrática. Para Bordignon e Gracindo, a
mesma organização, podendo até haver a preponderância de gestão democrática não deve ser compreendida como um
um deles, mas não a hegemonia total de um. “A escola não será, princípio, mas uma meta a ser alcançada e aperfeiçoada,
exclusivamente, burocrática ou anárquica. Mas não sendo tornando-se uma prática nos ambientes escolares, sendo
exclusivamente uma coisa ou a outra poderá ser necessário para isso, passar de uma visão fragmentada, para
simultaneamente as duas”. uma visão globalizadora, expandir a responsabilidade, ser um
A escola como organização, independentemente se de uma processo contínuo, deixar a hierarquização e burocratização
forma racional ou não, é um espaço onde se tomam decisões. para a coordenação e finalmente, de uma ação individual para
Para Nóvoa, entre uma percepção se privilegiando o nível o coletivo.
meso, a própria escola como espaço de intervenção e para o A ideia de gestão democrática remete que a participação
autor “a identificação das margens da mudança possível do coletivo na tomada de decisão é fator preponderante, mas
implica a contextualização social e política das instituições essa atuação deve ser pautada no acesso e transparência das
escolares, bem como a apropriação ad intra dos seus informações, que, no caso deste estudo, podem ser
mecanismos de tomada de decisão e das suas relações de disponibilizadas pelo Siges. As informações que o Sistema
poder”. oferece podem ser compartilhadas com todos os envolvidos no
processo educativo e a reflexão sobre esses dados pode dar
A escola e a gestão democrática sentido e concretude às ações definidas para se atingir metas
Para Lück, a gestão corresponde à dinâmica de gerir e objetivos.
sistema de ensino como um todo, em seus diversos níveis de Entre a legislação que estabelece a gestão democrática e a
organização, afinando as políticas públicas nacionais, macro sua consecução pelas escolas, faz-se necessário a reflexão
sistema, com o micro sistema, possibilitando um processo de sobre a autonomia que é um componente implícito ao
[...] implementação das políticas educacionais e projetos princípio de gestão democrática.
pedagógicos das escolas, compromissado com os princípios da
democracia e com métodos que organizem e criem condições A escola e sua autonomia
para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, Ao se discutir a autonomia da escola, cabe inicialmente a
no âmbito de suas competências), de participação reflexão sobre o conceito de autonomia. Barroso chama a
compartilhada (tomada conjunta de decisões e efetivação de atenção para a concepção de autonomia como autogoverno, no
resultados), autocontrole (acompanhamento e avaliação com sentido da possibilidade do indivíduo se reger por regras
retorno de informações) e transparência (demonstração próprias. Nessa linha de pensamento, o autor continua
pública de seus processos e resultados). ponderando que se a autonomia pressupõe a liberdade (e
A participação da sociedade deve ocorrer em todos os capacidade) de decidir, ela não se confunde com a
segmentos dos sistemas de ensino, tanto nos órgãos centrais, “independência”. A autonomia é um conceito relacional
como nos respectivos órgãos regionais. A esse respeito, Lück (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa)
afirma que: [...] a lógica da gestão é orientada pelos princípios pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de
democráticos e é caracterizada pelo reconhecimento da interdependências e num sistema de relações. A autonomia é
importância da participação consciente e esclarecida das também um conceito que exprime sempre um certo grau de
pessoas nas decisões sobre a orientação, organização e relatividade: somos mais, ou menos autônomos; podemos ser

Conhecimentos Pedagógicos 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

autónomos em relação a umas coisas e não ser em relação a autonomia só é verdadeira e duradoura quando conquistada.
outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, As leis são, por natureza, conservadoras. Ação é que é
as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se inovadora, criando o ambiente para as leis avançarem.
encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as A autonomia da escola é resultante da ação concreta dos
suas próprias leis. atores que a constituem, mesmo que relativa. Autonomia não
A Constituição Federal do Brasil apresenta dispositivos existe fora da ação organizada dos membros da escola. As
que traduzem a concepção de educação fundamentada no diretrizes emanadas dos órgãos oficiais que se destinam a
exercício efetivo da cidadania, posto que um dos seus reforçar a autonomia das escolas, segundo Barroso, devem:
princípios seja a gestão democrática da escola pública (artigo assentar sobretudo na criação de condições e na montagem de
206). A mesma legislação estabelece a autonomia dos sistemas dispositivos que permitam, simultaneamente, “libertar” as
de ensino (artigo 211). A autonomia de gestão pedagógica, autonomias individuais e dar-lhes um sentido coletivo, na
administrativa e financeira, de acordo com o artigo 15 da prossecução dos objetivos organizadores do serviço público
LDBEN será assegurada de forma progressiva, às unidades de educação nacional, claramente consagrados na lei
escolares públicas de educação básica, pelos sistemas de fundamental, e de que se destacam a equidade do serviço
ensino. prestado e a democraticidade do seu funcionamento.
Assim, para efetivação da gestão democrática é necessário Barroso destaca que se deve ficar atento ao que ele
o reconhecimento da autonomia das unidades escolares. denomina de autonomia decretada e autonomia construída. A
autonomia decretada por normas ou outras formas legais,
...o desenvolvimento de uma política de reforço da se refere à transferência de poderes e funções de caráter
autonomia das escolas, mais do que “regulamentar” o seu nacional e regional, para o nível local, sendo a escola um
exercício, deve criar as condições para que ela seja centro de gestão e a comunidade parceira na tomada de
“construída” em cada escola, de acordo com as suas decisão. Esse tipo de gestão dá abertura à escola a gerir
especificidades locais e no respeito pelos princípios e sobre vários pontos, como materiais, tempo, pessoas,
objetivos que enformam o sistema público nacional de entre outros, porém com a execução controlada por um
ensino. órgão central, com prestação de contas. Além da
autonomia decretada, as escolas desenvolvem a
Antunes aponta que a autonomia tal como a concebe o autonomia construída. “Esta autonomia construída
campo democrático popular, objetiva contribuir com a corresponde ao jogo de dependências e de
capacidade da sociedade civil para gerir políticas públicas, interdependências que os membros de uma organização
avaliar e fiscalizar os serviços prestados à população no estabelecem entre si e com o meio envolvente e que
sentido de tornar público o caráter privativo do Estado. permitem estruturar a sua ação organizada em função de
Segundo Martins, a ideia de autonomia remete que “uma objetivos coletivos próprios”.
escola autônoma é aquela que governa a si própria”. Porém faz A autonomia segundo Barroso é um conceito construído
uma alerta: ao estar atrelada aos regulamentos de um sistema social e politicamente, pela interação dos diferentes atores
de ensino, a autonomia da escola fica restrita a um campo de organizacionais numa determinada escola [...] O que se pode
atuação que abrange a elaboração de projetos pedagógicos, decretar são as normas e regras formais que regulam a
escolha/eleição de alguns cargos da equipe escolar, escolha de partilha de poderes e a distribuição de competências entre os
materiais didáticos, definição de currículo da parte diferentes níveis de administração, incluindo o
diversificada e busca de parcerias no setor privado. A estabelecimento de ensino. Essas normas podem favorecer ou
autonomia para a escola está de alguma forma limitada ao que dificultar a “autonomia da escola”, mas são, só por si (como a
o sistema de ensino estabelece como diretrizes e normas. experiência nos demonstra todos os dias), incapazes de a criar
De outro lado, Nóvoa, ao discorrer sobre a autonomia ou a destruir.
relativa da escola, pondera que a escola como um território A autonomia não se faz por si só, ela é resultante do
intermediário de decisão no domínio educativo, que não se equilíbrio de influências internas e externas, entre governo e
limita a reproduzir as normas e valores do macro sistema, mas seus representantes e a escola com seus gestores, professores,
que também não pode ser exclusivamente investida como um alunos, pais e comunidade, no processo de tomada de decisão.
microuniverso dependente do jogo dos atores sociais em A promoção de uma gestão educacional democrática e
presença. participativa está associada ao compartilhamento de
Se por um lado o conceito de autonomia se conecta à ideia responsabilidades no processo de tomada de decisão entre os
de autogoverno e se por outro é nas escolas que as políticas diversos níveis e segmentos de autoridade do sistema de
educacionais se realizam de fato, “percebe-se que o novo ensino e de escolas. Desse modo, as unidades de ensino
paradigma da gestão precisa resgatar o papel e o lugar da poderiam, em seu interior, praticar a busca de soluções
escola como centro e eixo do processo educativo autônomo”. próprias para seus problemas e, portanto, mais adequadas às
Como contraponto ao espaço de autonomia que a escola suas necessidades e expectativas.
pública dispõe, visto que deve seguir normas e diretrizes
estabelecidas pelo sistema de ensino a que está vinculada, Sendo assim, a escola como organização educativa dispõe
Bordignon e Gracindo assim se manifestam: É bem verdade de autonomia, ainda que relativa, e pode exercê-la, adotando
que a estrutura legal e jurídica e as demandas do sistema práticas de gestão democrática apoiadas em auto avaliação
educacional impõem, muitas vezes, condicionantes que institucional e dados disponíveis em sítios oficiais para melhor
limitam a escola na definição de políticas e diretrizes e no qualificar seu processo de tomada de decisões.
acompanhamento das ações. Mas, mais do que lamentar os
espaços não cedidos pelo sistema, por meio de planejamento, A Gestão Escolar e o Clima Organizacional20
as escolas e os sistemas municipais podem agir pró- O clima de uma escola é o conjunto de efeitos subjetivos
ativamente, explorando os espaços não impedidos por esses percebidos pelas pessoas, quando interagem com a estrutura
condicionantes e criando novos, negociados com o ambiente, formal, bem como o estilo dos administradores escolares,
garantindo sua legitimidade e gerando mecanismos de influenciando nas atitudes, crenças, valores e motivação dos
salvaguardas amortecedoras dos impactos negativos. A professores, alunos e funcionários.

20 SILVA, J. J. C. Gestão escolar participada e clima organizacional. Gestão em

Ação: Salvador,2001.

Conhecimentos Pedagógicos 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O clima exerce uma influência muito grande no A Gestão Participativa educacional pressupõe mudanças
comportamento e nos sentimentos dos professores em relação na estrutura organizacional e novas formas de administração,
à organização escolar, influenciando o seu desempenho. tanto no micro como no macro sistema escolar.
Na verdade, a melhora do clima de ensino depende da A organização escolar não permite uma transformação
melhora do clima organizacional da escola. O atrito abrupta na sua concepção pedagógica, administrativa e
interpessoal excessivo entre professores e administradores, a financeira. Nenhuma mudança organizacional introduz-se
moral baixa, um sentimento de fraqueza por parte dos como se fosse um corpo estranho, que viesse a desalojar as
professores e uma estratégia de submissão coercitiva, não condições anteriores e ocupar plenamente o seu lugar. Por
podem ser removidos, apenas fechando a porta. Eles tem isso, por mais convencidos que estejamos da necessidade de
efeitos poderosos sobre o que os professores fazem, na transformações, no sentido da democratização das relações no
maneira como os professores se relacionam entre si, como interior da escola; é preciso estar consciente de que elas
sobre a realização do estudante e suas aquisições efetivas. devem partir das condições concretas, em que se encontra a
Dessa forma, o clima torna-se um elo entre a estrutura Administração Escolar hoje.
organizacional da escola, a liderança exercida pelos gestores Gento Palacios ao considerar a participação como
escolares e o comportamento e a atitude dos professores. estratégia para melhorar as relações dos membros de um
Suponhamos uma escola onde a participação dos grupo com objetivos comuns, afirma que a participação é um
professores, funcionários, pais e alunos, no processo decisório, processo de grande valor para a eficácia de uma equipe ou
seja permanente. O nível de participação das pessoas nas empresa. A sua contribuição na solução de problemas, que
decisões que lhes dizem respeito, é um dos fatores mais estão na base das relações interpessoais, constituem um
importantes na determinação de um clima favorável à excelente meio para melhorar o funcionamento das
consecução dos objetivos organizacionais e individuais. Em instituições.
contrapartida, numa outra escola, onde a administração A participação deve ser entendida, como a possibilidade e
resolve promover uma atividade inovadora, não envolvendo a capacidade de interagir e, assim, influir nos problemas e
professores e alunos na sua organização, provavelmente soluções considerados numa coletividade, bem como nos
poderá atingir os sentimentos do corpo docente, que se sentirá meios ou modos de decidir a respeito de levar a cabo as
desprestigiado e desconsiderado. decisões tomadas.
Essa atitude do administrador provocará, sem dúvida, A prática na tomada de decisões naturalmente cria a
alterações no clima, podendo, ainda, desarticular as relações consciência de participação e o envolvimento nas relações que
entre professores e alunos, na medida em que os professores, dizem respeito à escola e ao seu clima organizacional.
desinteressando-se dos resultados e das atividades Para uma gestão participativa, é necessário considerar a
inovadoras, não se empenharão no envolvimento dos alunos. participação de todos os grupos e pessoas, que intervêm no
Os alunos, por sua vez, sentindo o desinteresse dos processo de trabalho e no âmbito educacional; é um desafio a
professores, também não se esforçarão na realização de ser superado! Ainda existem obstáculos para se concretizar a
trabalhos e atividades desejáveis para o evento. A democracia no interior da escola e que é necessário uma
consequência final poderá vir sob a forma de atritos crescentes mudança. Para que ocorra esta mudança, é preciso criar
entre professores e alunos, com visíveis prejuízos para os condições para um processo de participação.
resultados finais da organização escolar. Para criar um clima organizacional, que estimule as
Clima organizacional poderíamos dizer que é uma pessoas a trabalhar juntas, cabe aos administradores das
forma constante pela qual as pessoas, à luz de suas escolas, enfatizar o valor do trabalho em equipe. Devem
próprias características, experiências e expectativas, também incentivar a cooperação, colaboração, troca de ideias,
percebem e reagem às características organizacionais. partilha e companheirismo.
O processo de formação do Clima Organizacional torna-o, O Comportamento democrático é um trabalho exaustivo,
obviamente, uma variável organizacional dependente. Mas, na que poderá ter seu exercício em pequenos grupos. Pode
medida em que o clima está caracterizado e passa a influenciar aparecer como uma necessidade de coordenação, de
as pessoas, transforma-se numa variável independente, encaminhamento de ações, estimulando o exercício da
constituindo-se um fator impulsionador de novos democratização.
comportamentos. O Clima Organizacional é dependente, na Entre as instituições envolvidas no processo de
medida em que se forma em função de outras variáveis, tais aprendizagem da democracia, a escola destaca-se como
como os processos de tomada de decisão, de comunicação ou privilegiada para a efetivação do trabalho de estabelecimento
de controle, e é independente, na medida em que pode das regras do jogo. Esta questão vem sendo discutida há algum
influenciar outras variáveis. tempo e chega-se à conclusão de que ainda se encontra uma
Em cada decisão tomada ou comunicação expedida, em grande barreira para este trabalho na escola.
cada norma traçada ou reunião realizada entre dirigentes e O processo para encaminhar uma administração da escola,
dirigidos, o clima está num processo de permanente formação. mais amplamente da educação, numa direção mais
Mas, em cada uma dessas situações, já existe um clima democrática e, possibilitando um melhor clima na
presente nas atividades e a influenciar positiva ou organização, depende da possibilidade e da orientação
negativamente as ações de dirigentes e dirigidos. contraporem- se à gestão tecnocrática. Esta contraposição
A implicação de fundamental importância para os gestores, poderia acontecer nas dimensões interna e externa da
nesse aspecto, é que ele deve estar atento, não só ao processo administração escolar. A dimensão interna diz respeito à
de formação, mas, também, ao clima já existente. organização da escola em si e, a dimensão externa, à sua
incorporação ao Estado e à sua inserção no contexto de uma
Gestão escolar democrática participativa e o clima sociedade capitalista.
organizacional Para Paulo Freire é preciso e até urgente que a escola vá se
A participação favorece a experiência coletiva, ao efetivar tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos
a socialização de divisões e a divisão de responsabilidades. Ela gostos democráticos como o de ouvir os outros, não por favor,
afasta o perigo das soluções centralizadas, efetivando-se como mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do
processo de cogestão e, proporcionando um melhor clima na acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte,
organização. contudo, o direito de quem diverge de exprimir a sua
contrariedade. O gosto da pergunta, da crítica, do debate. O
gosto do respeito à coisa pública, que entre nós vem sendo

Conhecimentos Pedagógicos 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

tratada como coisa privada, mas como coisa privada que se de suas atividades. Por meio de erros e acertos, o aluno toma
despreza. consciência de suas possibilidades e constrói mecanismos de
A democratização da escola é algo que deve ser auto regulação que possibilitam decidir como alocar seu
conquistado, através da participação articulada e organizada tempo.
dos diferentes elementos que direta ou indiretamente a Por essa razão, são importantes as atividades em que o
compõem. É necessário que haja abertura e estímulo à professor seja somente um orientador do trabalho, cabendo
participação, criando mecanismos de atuação dos segmentos aos alunos o planejamento e a execução, o que os levará a
envolvidos no processo escolar. decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões sobre o uso
Para o trabalho da democratização escolar é fundamental do tempo.
que seja estimulada a vivência associativa. Os pais sejam Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum, que
chamados, não apenas para ouvirem sobre o desempenho os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como e
escolar de seus filhos ou para contribuírem nas festas e quando atuar na escola. A vivência do controle do tempo pelos
campanhas. É importante a participação que leva à reflexão e alunos se insere dentro de limites criteriosamente
à tomada de decisão conjunta. Este avanço vai depender do estabelecidos pelo professor, que se tornarão menos
grau de consciência política dos diferentes segmentos e restritivos à medida que o grupo desenvolva sua autonomia.
interesses envolvidos na vida da escola. Assim, é preciso que o professor defina claramente as
Os princípios e práticas democráticas na organização e atividades, estabeleça a organização em grupos, disponibilize
administração educacional, poderão trazer importante recursos materiais adequados e defina o período de execução
contribuição, não só ao clima da escola, mas, também, à previsto, dentro do qual os alunos serão livres para tomar suas
democratização num âmbito global. decisões. Caso contrário, a prática de sala de aula torna-se
No entanto, a busca de novas formas de organização e insustentável pela indisciplina que gera.
gestão da escola parece ser tarefa difícil, devido às raízes Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
históricas da escola, que estão marcadas pela centralização e obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
pelo autoritarismo. O que não se pode é tomar os vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
determinantes estruturais como desculpa, para não se fazer currículo. A partir desse critério, e em função das opções do
nada, esperando que se transforme a sociedade, para depois projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
transformar a escola. É na prática escolar quotidiana, que distribuição horária mais adequada.
precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se
autoritarismo, enquanto manifestação num espaço restrito, organizam por áreas com professores específicos e tempo
dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade. previamente estabelecido, é interessante pensar que uma das
A qualidade da participação na escola existe, quando as maneiras de otimizar o tempo escolar é organizar aulas duplas,
pessoas aprendem a conhecer sua realidade, a refletir, a pois assim o professor tem condições de propor atividades em
superar contradições reais, a identificar o porquê dos conflitos grupo que demandam maior tempo (aulas curtas tendem a ser
existentes. A participação é vivência coletiva de modo que só expositivas).
se pode aprender, na medida em que se conquista os espaços
para a verdadeira participação. Organização do espaço
Neste sentido, a participação na gestão escolar dever ser Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho em
entendida como o poder efetivo de colaborar ativamente na grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados não
planificação, direção, avaliação, controle e desenvolvimento ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como também
do processo educativo. Ou seja, o poder de intervenção não favorecem o aprendizado da preservação do bem coletivo.
legitimamente conferido a todos os elementos da comunidade A organização do espaço reflete a concepção metodológica
educativa, entendendo esta como o conjunto de pessoas e adotada pelo professor e pela escola.
grupos dentro e fora dos estabelecimentos escolares ligados Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
pela ação educativa [...]. Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras
Partindo desta ideia mencionada, para concretizar uma sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais de
gestão participativa educacional, é necessário que em cada uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposição de
escola, a comunidade vá conquistando seu espaço de trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais. Nessa
participação. O processo inicial de formação da consciência organização é preciso considerar a possibilidade de os alunos
crítica e autocrítica na comunidade é ponto relevante, para assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem e
elaborar o conhecimento adequado dos problemas que afetam limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa maneira,
o grupo. passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que somente
A realidade escolar é uma estrutura social e, que não se ocorrerá por meio de investimentos sistemáticos ao longo da
pode estabelecer unicamente sobre os aspectos pedagógicos. escolaridade.
Como em toda parte, existem conflitos que requerem meios É importante salientar que o espaço de aprendizagem não
aceitos por todos para administrá-los. se restringe à escola, sendo necessário propor atividades que
Na perspectiva de uma participação dos diversos grupos ocorram fora dela. A programação deve contar com passeios,
na administração da escola, parece que não se trata de ignorar excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas, marcenarias,
ou minimizar a importância dos conflitos, mas de levar em padarias, enfim, com as possibilidades existentes em cada local
conta a sua existência, bem como as suas causas e as suas e as necessidades de realização do trabalho escolar.
implicações, na busca da democratização da gestão escolar, No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços externos para
como condição necessária, para um melhor clima realizar atividades cotidianas, como ler, contar histórias, fazer
organizacional e, uma efetiva oferta de ensino de boa desenho de observação, buscar materiais para coleções. Dada
qualidade para a população. a pouca infraestrutura de muitas escolas, é preciso contar com
a improvisação de espaços para o desenvolvimento de
Organização do Tempo e Espaço Escolar atividades específicas de laboratório, teatro, artes plásticas,
música, esportes, etc.
Organização do tempo Concluindo, a utilização e a organização do espaço e do
A consideração do tempo como variável que interfere na tempo refletem a concepção pedagógica e interferem
construção da autonomia permite ao professor criar situações diretamente na construção da autonomia.
em que o aluno possa progressivamente controlar a realização

Conhecimentos Pedagógicos 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Seleção de material membros da comunidade escolar - funcionários que trabalham


Todo material é fonte de informação, mas nenhum deve ser na escola, docentes que ocupam cargos diretivos, famílias e
utilizado com exclusividade. É importante haver diversidade integrantes da área de abrangência geográfica onde se localiza
de materiais para que os conteúdos possam ser tratados da a escola.
maneira mais ampla possível. O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo,
O livro didático é um material de forte influência na prática realizado a partir da participação conjunta e integrada dos
de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam membros de todos os segmentos da comunidade escolar.
atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que Portanto, afirmar que sua gestão pressupõe a atuação
apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. participativa representa uma redundância de reforço a essa
Além disso, é importante considerar que o livro didático não importante dimensão da gestão escolar. Assim, o
deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de envolvimento de todos os que fazem parte, direta ou
fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma indiretamente, do processo educacional no estabelecimento
visão ampla do conhecimento. de objetivos, na solução de problemas, na tomada de decisões,
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos de na proposição, implementação, monitoramento e avaliação de
trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem função planos de ação, visando os melhores resultados do processo
social real e se mantêm atualizados sobre o que acontece no educacional, é imprescindível para o sucesso da gestão escolar
mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o que é participativa.
aprendido na escola e o conhecimento extraescolar. A Esta modalidade de gestão se assenta no entendimento de
utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, que o alcance dos objetivos educacionais, em seu sentido
folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, faz amplo, depende da direção e emprego das relações
o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. interpessoais que ocorrem no contexto da escolar, em torno de
É indiscutível a necessidade crescente do uso de objetivos educacionais, entendidos e assumidos por seus
computadores pelos alunos como instrumento de membros com empenho coletivo em torno da sua realização.
aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em A participação dá às pessoas a oportunidade de controlar
relação às novas tecnologias da informação e se o próprio trabalho, sentirem-se autoras e responsáveis pelos
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e seus resultados, construindo, portanto, sua autonomia. Ao
futuras. mesmo tempo, sentem-se parte da realidade escolar e não
A menção ao uso de computadores, dentro de um amplo apenas instrumento para realizar objetivos institucionais.
leque de materiais, pode parecer descabida perante as reais Mediante a prática participativa, é possível superar o exercício
condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz para do poder individual e de referência e promover a construção
trabalhar. Sem dúvida essa é uma preocupação que exige do poder da competência, centrado na unidade social escolar
posicionamento e investimento em alternativas criativas para como um todo.
que as metas sejam atingidas. A participação deve ser estendida como processo
dinâmico e interativo que vai muito além da tomada de
Organização administrativa escolar21 decisão, pois é caracterizado pelo inter-apoio na convivência
do cotidiano da escola, na busca, pelos seus agentes, da
Sabemos que toda escola tem uma estrutura de superação das dificuldades e limitações e do bom
organização interna, normalmente regida por regimentos cumprimento da sua finalidade social.
escolares ou legislações específicas estaduais ou municipais. Registram-se várias formas de participação, com
Nas organizações é comum a inter-relação entre várias significado, abrangência e alcance variados: da simples
funções e serviços. Segue abaixo um exemplo de como está presença física em um contexto, até o assumir
estruturada a maioria das escolas. responsabilidade por eventos, ações e situações. Assim, é
coerente o reconhecimento de que, mesmo na vigência da
SETOR TÉCNICO-ADMINISTRATIVO administração científica, preconiza-se a prática da
- Secretaria escolar participação: em toda e qualquer atividade humana, por mais
- Serviços de zeladoria, limpeza, vigilância limitado que seja seu alcance e finalidade, há a participação do
- Multimeios (biblioteca, laboratório, videoteca, etc) ser humano, seguindo-a, sustentando-a, analisando-a,
revisando-a, criticando-a.
CONSELHO ESCOLAR DIREÇÃO
- Assistente de direção ou coordenador A estrutura organizacional
Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de
PROFESSORES, ALUNOS, PAIS, COMUNIDADE SETOR organização interna, geralmente prevista no Regimento
PEDAGÓGICO Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal. O
termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e
Conselho de classe disposição das funções que asseguram o funcionamento de um
Coordenação todo, no caso a escola. Essa estrutura é comumente
Geralmente as escolas seguem um modelo parecido com o representada graficamente num organograma- um tipo de
que está descrito acima. A estrutura se diferencia conforme a gráfico que mostra a inter-relações entre os vários setores e
legislação dos Estados e Municípios e, obviamente, conforme funções de uma organização ou serviço. Evidentemente a
as concepções de organização e gestão adotada. forma do organograma reflete a concepção de organização e
gestão. A estrutura organizacional de escolas se diferencia
A participação popular na gestão escolar conforme a legislação dos Estados e Municípios e, obviamente,
Na gestão escolar é de extrema relevância a participação conforme as concepções de organização e gestão adotada, mas
da comunidade escolar. Nessa esfera de gestão se estabelecem podemos apresentar a estrutura básica com todas as unidades
trabalhos específicos no cotidiano da escola para alcançar o e funções típicas de uma escola.
desenvolvimento da aprendizagem. De acordo com VIEIRA:
Nesta esfera da gestão, situam-se professores, alunos e outros

21 LIBÂNEO, José Carlos. “O sistema de organização e gestão da escola” In:

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola - teoria e prática. 4ª ed.


Goiânia: Alternativa, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Organograma Básico de Escolas habilidades bastante especiais, recomenda-se que seus


ocupantes sejam formados em cursos de Pedagogia ou
adquiram formação pedagógico-didática específica.
O coordenador pedagógico ou professor coordenador
supervisiona, acompanha, assessora, avalia as atividades
pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar
assistência pedagógico-didática aos professores em suas
respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho ao
trabalho interativo com os alunos. Há lugares em que a
coordenação restringe-se à disciplina em que o coordenador é
especialista; em outros, a coordenação se faz em relação a
todas as disciplinas. Outra atribuição que cabe ao coordenador
pedagógico é o relacionamento com os pais e a comunidade,
especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-
curricular e didático da escola e comunicação e interpretação
da avaliação dos alunos.
O Conselho de Escola tem atribuições consultivas,
O orientador educacional, onde essa função existe, cuida
deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação
do atendimento e do acompanhamento escolar dos alunos e
estadual ou municipal e no Regimento Escolar. Essas questões,
também do relacionamento escola-pais-comunidade.
geralmente, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos
O Conselho de Classe ou Série é um órgão de natureza
e financeiros. Em vários Estados o Conselho é eleito no início
deliberativa quanto à avaliação escolar dos alunos, decidindo
do ano letivo. Sua composição tem uma certa
sobre ações preventivas e corretivas em relação ao
proporcionalidade de participação dos docentes, dos
rendimento dos alunos, ao comportamento discente, às
especialistas em educação, dos funcionários, dos pais e alunos,
promoções e reprovações e a outras medidas concernentes à
observando-se, em princípio, a paridade dos integrantes da
melhoria da qualidade da oferta dos serviços educacionais e ao
escola (50%) e usuários (50%). Em alguns lugares o Conselho
melhor desempenho escolar dos alunos.
de Escola é chamado de “colegiado” e sua função básica é
democratizar as relações de poder.
- Instituições Auxiliares
Paralelamente à estrutura organizacional, muitas escolas
Direção
mantêm Instituições Auxiliares tais como: a APM (Associação
O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades
de Pais e Mestres), o Grêmio Estudantil e outras como Caixa
da escola, auxiliado pelos demais componentes do corpo de
Escolar, vinculadas ao Conselho de Escola (onde este existia)
especialistas e de técnicos-administrativos, atendendo às leis,
ou ao Diretor.
regulamentos e determinações dos órgãos superiores do
A APM reúne os pais de alunos, o pessoal docente e técnico-
sistema de ensino e às decisões no âmbito da escola e pela
administrativo e alunos maiores de 18 anos. Costuma
comunidade. O assistente de diretor desempenha as mesmas
funcionar mediante uma diretoria executiva e um conselho
funções na condição de substituto eventual do diretor.
deliberativo.
- Setor técnico-administrativo
O Grêmio Estudantil é uma entidade representativa dos
O setor técnico-administrativo responde pelas atividades-
alunos criada pela lei federal n.7.398/85, que lhe confere
meio que asseguram o atendimento dos objetivos e funções da
autonomia para se organizarem em torno dos seus interesses,
educação.
com finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais.
A Secretaria cuida da documentação, escrituração e
Ambas as instituições costumam ser regulamentadas no
correspondência da escola, dos docentes, demais funcionários
Regime Escolar, variando sua composição e estrutura
e dos alunos. Responde também pelo atendimento ao público.
organizacional. Todavia, é recomendável que tenham
Para a realização desses serviços, a escola conta com um
autonomia de organização e funcionamento, evitando-se
secretário e escriturários ou auxiliares da secretaria.
qualquer tutelamento por parte da Secretaria da Educação ou
O setor técnico-administrativo responde, também, pelos
da direção da escola.
serviços auxiliares (Zeladoria, Vigilância e Atendimento ao
Em algumas escolas, funciona a Caixa Escolar, em outras
público) e Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca etc.).
um setor de assistência ao estudante, que presta assistência
A Zeladoria, responsável pelos serventes, cuida da
social, econômica, alimentar, médica e odontológica aos alunos
manutenção, conservação e limpeza do prédio; da guarda das
carentes.
dependências, instalações e equipamentos; da cozinha e da
preparação e distribuição da merenda escolar; da execução de
- Corpo Docente
pequenos consertos e outros serviços rotineiros da escola.
O Corpo docente é constituído pelo conjunto dos
A Vigilância cuida do acompanhamento dos alunos em
professores em exercício na escola, que tem como função
todas as dependências do edifício, menos na sala de aula,
básica realizar o objetivo prioritário da escola, o ensino. Os
orientando-os quanto a normas disciplinares, atendendo-os
professores de todas as disciplinas formam, junto com a
em caso de acidente ou enfermidade, como também do
direção e os especialistas, a equipe escolar. Além do seu papel
atendimento às solicitações dos professores quanto a material
específico de docência das disciplinas, os professores também
escolar, assistência e encaminhamento de alunos.
têm responsabilidades de participar na elaboração do plano
O serviço de Multimeios compreende a biblioteca, os
escolar ou projeto pedagógico-curricular, na realização das
laboratórios, os equipamentos audiovisuais, a videoteca e
atividades da escola e nas decisões dos Conselhos de Escola e
outros recursos didáticos.
de classe ou série, das reuniões com os pais (especialmente na
comunicação e interpretação da avaliação), da APM e das
- Setor Pedagógico
demais atividades cívicas, culturais e recreativas da
O setor pedagógico compreende as atividades de
comunidade.
coordenação pedagógica e orientação educacional. As funções
desses especialistas variam confirme a legislação estadual e
municipal, sendo que em muitos lugares suas atribuições ora
são unificadas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas
por professores. Como são funções especializadas, envolvendo

Conhecimentos Pedagógicos 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Os elementos constitutivos do sistema de organização e (B) a compreensão do mundo acadêmico e integração


Gestão da Educação entre os sujeitos aprendentes;
A gestão democrática-participativa valoriza a participação (C) a capacidade de crítica e o desenvolvimento de
da comunidade escolar no processo de tomada de decisão, técnicas;
concebe à docência como trabalho interativo, aposta na (D) o desenvolvimento individual e o contexto social e
construção coletiva dos objetivos e funcionamento da escola, cultural;
por meio da dinâmica intersubjetiva, do diálogo, do consenso.
Nos itens interiores mostramos que o processo de tomada de 03. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –
decisão inclui, também, as ações necessárias para colocá-la em UNIMONTES) Para Libâneo (1994), as práticas educativas
prática. Em razão disso, faz-se necessário o emprego dos podem verdadeiramente determinar as ações da escola e seu
elementos ou processo organizacional, tal como veremos comprometimento social com a transformação. Daí a
adiante. importância da relação entre ensino e aprendizagem no
De fato, a organização e gestão refere-se aos meios de espaço educativo. Com base nas ideias do autor, é INCORRETO
realização do trabalho escolar, isto é, à racionalização do afirmar que:
trabalho e à coordenação do esforço coletivo do pessoal que (A) a aprendizagem é uma relação cognitiva entre os
atua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais, os aprendizes e os objetos de conhecimento.
conhecimentos e qualificações práticas do educador, as (B) a aprendizagem no ambiente escolar é natural e casual.
relações humano-interacionais, o planejamento, a (C) a assimilação de conhecimentos deriva da reflexão
administração, a formação continuada, a avaliação do trabalho proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
escolar. Tudo em função de atingir os objetivos. Ou seja, como mentais.
toda instituição as escolas buscam resultados, o que implica (D) o ato de aprender é um ato de conhecimento.
uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo
tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende apenas das 04. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA –
capacidades e responsabilidades individuais, mas de objetivos BIO/RIO) A interação professor-aluno é um aspecto
comuns e compartilhados e de ações coordenadas e fundamental da organização da situação didática. Segundo
controladas dos agentes do processo. Libâneo, podem-se ressaltar dois aspectos para a realização do
trabalho docente:
Tais elementos ou instrumentos de ação são: (A) o aspecto social, que se refere à integração de cada
Planejamento - processo de explicitação de objetivos e aluno ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se refere à
antecipação de decisões para orientar a instituição, prevendo- aquisição de conhecimentos acadêmicos a serem utilizados na
se o que se deve fazer para atingi-los. vida pessoal de cada aluno;
Organização - Atividade através da qual se dá a (B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao
racionalização dos recursos, criando e viabilizando as desenvolvimento da autonomia e das qualidades morais e o
condições e modos para se realizar o que foi planejado. aspecto intelectual, que se refere a aprendizagem com vistas a
Direção/Coordenação - Atividade de coordenação do orientação de trabalhos independente dos alunos;
esforço coletivo do pessoal da escola. (C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito ao
Formação continuada - Ações de capacitação e sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz respeito
aperfeiçoamento dos profissionais da escola para que realizem aos objetivos do processo de ensino, a transmissão de
com competência suas tarefas e se desenvolvam pessoal e conhecimentos, hábitos e atitudes;
profissionalmente. (D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de
Avaliação - comprovação e avaliação do funcionamento da comunicação dos conteúdos escolares e o aspecto sócio-
educação. emocional, que diz respeito às relações pessoais entre
professor e alunos e às normas disciplinares indispensáveis ao
Questões trabalho educativo;

01. (Prefeitura de Teresópolis/RJ – Pedagogia - 05. (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – PROFESSOR DE


BIORIO) Por gestão participativa entende-se: EDUCAÇÃO INFANTIL E PEB I – FCC) A partir de
I - envolvimento de todos que fazem parte direta ou apresentação dos conteúdos e a organização das atividades
indiretamente no processo educacional; visando uma mudança qualitativa na utilização do tempo
II - compartilhamento na solução de problemas e nas didático, pode-se desenvolver situações didáticas que
tomadas de decisão do diretor escolar; favorecem a apresentação da leitura escolar como uma prática
III - implementação, monitoramento e avaliação dos social complexa e a apropriação progressiva desta prática por
resultados; parte dos alunos. Para isso, Delia Lerner sugere escolher:
IV - estabelecimento de objetivos claros e democráticos; I. Realização de projetos que, além de criar contextos nos
V - visão de conjunto associada a uma posição hierárquica. quais a leitura ganha sentido, permitem uma organização
Estão corretas as afirmativas: muito flexível do tempo.
(A) I, II e III; II. Atividades habituais que se reiteram de forma
(B) I, III e IV; sistemática e previsível uma vez por semana ou por quinzena,
(C) II, III e V; durante vários meses ou ao longo do ano escolar, oferecem a
(D) I, IV e V; oportunidade de interagir intensamente com um gênero
deter- minado.
02. (Prefeitura de Teresópolis/RJ – Pedagogia - III. Situações específicas para o desenvolvimento da
BIORIO) A instituição de ensino, por ser uma instituição social habilidade de leitura oral.
com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso IV. Sequências de atividades direcionadas para se ler com
de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e as crianças diferentes exemplares de um mesmo gênero ou
a socialização de seus alunos. Essa função socializadora subgênero, diferentes obras de um mesmo autor ou diferentes
remete a dois aspectos: textos sobre um mesmo tema.
(A) a intersocialização entre diferentes grupos e a V. Situações de sistematização que irão possibilitar a
aquisição de conhecimentos científicos; sistematização dos conhecimentos linguísticos construídos
através de outras modalidades organizativas.

Conhecimentos Pedagógicos 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

reivindicadas como lugar de educação e cuidados coletivos das


Estão corretas as afirmativas: crianças de zero a seis anos.
(A) I, II e IV, apenas. É necessário considerar que todo o avanço histórico,
(B) II, III e IV, apenas. cultural e político é uma conquista decorrente de dura e árdua
(C) II e V, apenas. luta do povo. A creche não foi um benefício concedido
(D) I, II, III, IV e V. gratuitamente ao povo brasileiro. Foi uma conquista dos
operários que, organizados, passaram a protestar contra as
Respostas precárias condições de vida e de trabalho. Os empresários
procurando enfraquecer os movimentos dos trabalhadores
01. B. / 02. D. / 03. B. / 04. D. / 05. D. / 06. A. começaram a conceder algumas creches e escolas maternais
para os filhos deles.
Segundo Rizzini23, no Estado de São Paulo, em fins de 1920,
a legislação previa a instalação de Escolas Maternais, com a
finalidade de prestar cuidados aos filhos dos operários,
A integração entre educar e preferencialmente junto às fábricas que oferecessem local e
cuidar na educação básica. alimento para as crianças. As poucas empresas que se
propunham a atender aos filhos de suas trabalhadoras o
faziam desde o berçário, ocupando-se também da instalação
de creches.
De acordo com Oliveira et al24, somente a Consolidação das
Aspectos Históricos e Legais Leis de Trabalho (CLT) criada por Getúlio Vargas em 1943, é
Considerando o ponto de vista histórico, a educação da que prevê a organização de berçários pelas empresas com a
criança sempre esteve sob a responsabilidade exclusiva da intenção de cuidar das crianças no período de amamentação.
família durante séculos, uma vez que era no convívio com os O direito da criança brasileira à creche, como instituição
adultos e outras crianças que ela participativa das tradições e educacional, está garantido, restando, de agora em diante,
aprendia as normas e regras da sua cultura. A trajetória de definir, com clareza, seu papel social, a direção educacional,
Educação Infantil sempre esteve ligada ao conceito de infância metodologia de ação pedagógica e até mesmo a adaptação da
que o homem construiu ao longo da história, e criança entregue a essas instituições.
consequentemente as políticas voltadas para esta faixa etária. É grande o desafio a ser enfrentado pelos profissionais das
Na sociedade medieval, segundo Farias22, o sentimento de creches, tanto em termos de definição de objetivos e função
infância não existia, por isso não se considerava a criança com social em relação às crianças pequenas, estratégias de
suas características particulares, próprias da sua idade. Ela trabalho, condições de trabalho, interação criança-professor,
era considerada um adulto em miniatura, e, por essa razão, criança-criança, período de adaptação da criança à nova
assim que tinha condições de viver sem os cuidados constantes realidade (creche), enfim toda uma nova gama de
de sua mãe ou ama, ingressava na sociedade dos adultos e não ressignificações necessárias e urgentes.
se distinguia destes, participando de jogos e situações de
procedência tipicamente adulta. A Educação Infantil na Nova LDB
Até o século XVII, as condições gerais de higiene e saúde A expressão educação infantil e sua concepção com
eram precárias e certamente a mortalidade infantil era muito primeira etapa da educação básica está agora na lei maior da
grande, por causa da fragilidade das crianças pequenas. A educação do país, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
partir do século XVII, houve uma mudança considerável no Nacional (LDB), sancionada em 20 de dezembro de 1996. Se o
modo de ver a criança. Esta deixou de ser misturada aos direito de 0 a 6 anos à educação em creches e pré-escolas já
adultos e de aprender a vida, diretamente, mediante o contato estava assegurado na Constituição de 1988 e reafirmado no
com eles. Anteriormente via-se a criança como um ser Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, a tradução deste
primitivo, irracional, não pensante. Atribuía-se a ela modos de direito em diretrizes e normas, no âmbito da educação
pensar e sentimentos anteriores à lógica e aos bons costumes. nacional, representa um marco histórico de grande
Era preciso educá-la para desenvolver nela o caráter e a razão. importância para a educação infantil em nosso país.
Na realidade, não podendo compreendê-las naquilo que as A inserção da educação infantil na educação básica, como
caracterizavam, instituiu-se um padrão adulto para sua primeira etapa, é o reconhecimento de que a educação
estabelecer julgamentos, ao invés de entender e aceitar as começa nos primeiros anos de vida e é essencial para o
diferenças e semelhanças das crianças, a originalidade do seu cumprimento de sua finalidade, afirmada no Art. 22 da Lei:
pensamento. Pensava-se nelas como páginas em branco a
serem preenchidas, preparadas para a vida adulta. Tratava-se “a educação básica tem por finalidade desenvolver o
de despertar na criança a responsabilidade do adulto, o educando, assegurar – lhe a formação comum indispensável
sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para
adulto, do que preparada para a vida adulta. Essa preparação progredir no trabalho e nos estudos posteriores”.
se fazia em etapas e exigia-se cuidados. Esta foi a concepção da
educação, que trilhou no século XIX. A educação infantil recebeu um destaque na nova LDB,
O fato é que durante um logo período de tempo as inexistente nas legislações anteriores. É tratada na Seção II, do
instituições infantis brasileiras, organizavam seu espaço e sua capítulo II (Da Educação Básica), nos seguintes termos:
rotina diária em função de ideias de assistência, de custódia e
de higiene da criança. A década de 1980 passou por um Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação
momento de ampliação do debate a respeito das funções das básica, tem com finalidade o desenvolvimento integral da
instituições infantis para a sociedade moderna, que teve início criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico,
com os movimentos populares dos anos 1970. A partir desse psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
período, as instituições passaram a ser pensadas e família e da comunidade.

22 FARIAS, M. (2005) Infância e educação no Brasil nascente. In: VASCONCELOS, 24OLIVEIRA, Z. M. et al. (2001). Creches: crianças, faz de conta e Cia. Petrópolis:
V. M. R. (Org.). Educação da infância: história e política. Rio de Janeiro: DP&A. Vozes.
23 RIZZINI, I. (2000). Assistência à infância no Brasil: uma análise de sua

construção. Rio de Janeiro: Ed. Universitária Santa Úrsula.

Conhecimentos Pedagógicos 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 30 A educação infantil será oferecida em: Para Garcia26, o ambiente tem um impacto poderoso na
I – creches ou entidades equivalentes, para crianças de até criação das crianças, isso implica na forma como elas vão se
três anos de idade; socializando e adquirindo conhecimento. Em cada fase do
II – pré-escolas para crianças de quatro a seis anos de relacionamento entre crianças e família, observa-se muitas
idade. características de prazer e de dificuldade que geram
comportamentos desorganizados.
Art. 31 Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante As mudanças que ocorrem durante a infância são mais
acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o amplas e aceleradas do que qualquer outra que venha a
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino ocorrer no futuro. Sendo que dos três aos seis anos as crianças
fundamental. vivem a segunda infância, período que corresponde aos anos
pré-escolares.
Da leitura desses artigos, é importante destacar, além do Nesta fase, segundo Rocha et al27, a aparência das crianças
que já comentamos a respeito da educação infantil como muda, suas habilidades motoras e mentais florescem e sua
primeira etapa da educação básica: personalidade torna-se mais complexa. Todos os aspectos do
- A necessidade de que a educação infantil promova o desenvolvimento físicos, cognitivos e psicossociais continuam
desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos, de interligados. À medida que os músculos passam a ter controle
forma integral e integrada, constituindo-se no alicerce para o mais consistente, as crianças podem atender mais suas
pleno desenvolvimento do educando. O desenvolvimento necessidades pessoais, como a higiene, e o vestir-se, ganhando,
integral da criança na faixa etária de 0 a 6 anos torna-se assim, maior senso de competência e independência. Logo, as
imprescindível e inseparável das funções de educar e cuidar. atividades físicas são importantes.
- Sendo a ação da educação infantil complementar à da A creche além de desenvolver processos educativos
família e à da comunidade, deve estar com essas articuladas, o também precisa oferecer alimentação equilibrada tanto
que envolve a busca constante do diálogo com as mesmas, mas quantitativa como qualitativamente, proporcionando
também implica um papel específico das instituições de educação alimentar e nutricional às crianças, amenizando as
educação infantil no sentido de ampliação das experiências, situações de insegurança alimentar e promovendo o
dos conhecimentos da criança, seu interesse pelo ser humano, desenvolvimento e o crescimento infantil.
pelo processo de transformação da natureza e pela O cuidar e o educar são indissociáveis, são ações
convivência em sociedade. intrínsecas, portanto é de fundamental importância que as
Além da seção específica sobre a educação infantil, a LDB instituições de educação infantil incorporem de maneira
define em outros artigos aspectos relevantes para essa etapa integrada as funções de cuidar e educar, não mais
da educação. Assim, quando trata “Da Organização da diferenciando, nem hierarquizando os profissionais e
Educação Nacional” (capítulo IV), estabelece o regime de instituições que atuam com crianças pequenas ou àqueles que
colaboração entre a União, os Estados e o Municípios na trabalham com as de mais idade.
organização de seus sistemas de ensino. É afirmada a
responsabilidade principal do município na educação infantil, Cuidar e Educar ou Educar e Cuidar?28
com o apoio financeiro e técnico de esferas federal e estadual. As crianças que frequentam creches vivenciam a
Uma das partes mais importantes da LDB é a que trata Dos socialização primária concomitante com a secundária, ou seja,
Profissionais da Educação. São sete artigos que estabelecem o que antes era de responsabilidade exclusiva das famílias
diretrizes sobre a informação e a valorização destes agora é compartilhado e é parte significativa das funções dos
profissionais. Define o Art. 62 que a “formação de docentes professores. O fenômeno, decorrente da crescente inserção da
para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em mulher no mundo do trabalho formal associada à urbanização
curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e e aos novos arranjos familiares, requer que os professores
institutos superiores de educação, admita para formação ampliem suas competências para cuidar-educar nos diversos
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e ciclos de ensino e situações cotidianas.
nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a O cuidar e educar da primeira infância começa pela criação
oferecida em nível médio, na modalidade normal”. de um ambiente facilitador – aqui entendido como um espaço
e as relações nele estabelecidas –, da constituição saudável da
O Papel da Creche na Formação da Criança pessoa. Os bebês humanos nascem com a sensibilidade de
As práticas desenvolvidas entre adultos e crianças de zero olhar, reconhecer e reagir às expressões faciais, gestuais e
a três anos, no contexto das creches, são relações humanas vocais daqueles que cuidam deles. Caso não haja
permeadas por múltiplas influências. Dentre elas, Barreto25, reciprocidade, eles se fecham ao contato, o que significa um
destaca diversos aspectos interligados, tais como: risco para o desenvolvimento saudável.
- os princípios e valores constituídos em uma esfera A relação dialógica entre a pessoa que cuida e a criança
cultural, no interior das famílias e das comunidades locais; constrói relações de apego e o sentido de pertencerem a um
- os movimentos sociais que fortaleceram esta instituição lugar social, processo fundamental para o desenvolvimento da
como um local de referência para mulheres trabalhadoras e identidade que compõe uma fase denominada “socialização
seus filhos; primária”. As crianças que frequentam instituições de
- e, ainda, as contribuições de estudiosos e pesquisadores, educação infantil, desde bebês vivenciam esse processo tanto
que definem tendências teóricas que irão contribuir para a no âmbito da família, seja qual for sua conformação e dinâmica,
construção dos modelos educacionais adotados. como na relação com os professores.
Como decorrência desta determinação diversa, definem-se Embora sejam processos concomitantes, toda criança, por
diferentes funções para as creches no contexto da sociedade mais nova que seja, ao começar a frequentar a creche, traz
brasileira: como recurso que beneficia a mãe trabalhadora, ou consigo uma pré-história (nome, sobrenome, classe social,
como instrumento social para prevenir o fracasso escolar das ocupação e escolaridade dos pais, composição e dinâmica
crianças mais pobres, ou ainda como uma instância educativa, familiar, valores e crenças, histórico de saúde da família), que
que contribuiria para uma sociedade mais justa e um exercício associada às vivências no processo de gestação, nascimento,
de cidadania em prol da população infantil. primeiros cuidados, a torna um ser único, com desejos,

25BARRETO, A. M. R. (2003). A educação infantil no contexto das políticas 27 ROCHA, J. et al. (2011). Educação Infantil: os desafios das creches no equilíbrio
públicas. Revista entre o cuidar e o educar
26 GARCIA, R. L. (2001). Em defesa da educação infantil. Rio de Janeiro: DPLA 28 Texto adaptado disponível em http://portal.mec.gov.br/

Conhecimentos Pedagógicos 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

necessidades, ritmos, habilidades e potenciais de para dormir, ajustam a voz semelhante ao que os adultos
desenvolvimento peculiares. Cada família tem vivências, fazem ao conversar com os bebês, dividem as tarefas.
conhecimentos, crenças e valores que se expressam nos jeitos Com base no conceito de Escola Promotora da Saúde da
de cuidar e educar, que vão sendo percebidos e assimilados Organização Mundial da Saúde e considerando a faixa etária
pelas crianças, constituindo um repertório utilizado por elas atendida em creches e pré-escolas, é preciso refletir nos
para lidarem com outras situações de cuidado, em outros indicadores que contribuem para o crescimento e
espaços sociais. Quando as atitudes e procedimentos de desenvolvimento saudável nesses espaços e, ao mesmo tempo,
cuidado realizados pelas famílias e professores são muito constituem modelos para as crianças aprenderem e
diferentes, é possível o surgimento de conflitos que precisam incorporarem estilos e modos de vida saudáveis. Para isso, é
ser explicitados e negociados, para que as crianças se sintam necessário que o professor apoiado pelo gestor e pelo
seguras e capazes de lidar com os dois ambientes. coordenador de sua unidade educacional:
Muitos professores podem confirmar, como exemplo da - Compartilhe os cuidados com as famílias, ouça suas
prática vivenciada em creches públicas e privadas, que demandas, registre as recomendações relativas à saúde da
algumas crianças têm dificuldade para aceitar a solicitação do criança que requeira observação ou cuidados especiais,
professor para retirar o calçado e participar de brincadeiras durante o período em que está sob seus cuidados;
com água ou areia e resistem porque suas mães recomendam - Interaja com as crianças, identifique e atenda às
que não fiquem descalças para “não se resfriarem”, ou não necessidades delas de conforto, bem-estar e proteção, de
brinquem com areia porque o “médico disse” que poderia acordo com as potencialidades do desenvolvimento infantil e
causar doenças. Outras famílias orientam suas crianças a não contexto de cada grupo, sem tolher sua participação, as
darem descarga no vaso sanitário todas as vezes que fazem brincadeiras e em outras situações de aprendizagem;
xixi, para economizarem água em suas casas, conflitando com - Auxilie e ensine as crianças a cuidar de si, organize
as orientações recebidas nas unidades educacionais. Nestas ambientes adequados ao processo de desenvolvimento das
situações, os professores precisam ouvir as crianças e famílias, crianças de forma que a autonomia seja construída sem risco à
compreenderem a lógica que orienta suas preocupações, integridade física e psíquica;
recomendações e práticas de cuidados, para que possam - Acompanhe e registre o processo de desenvolvimento
negociar e adequar as dinâmicas e diretrizes no contexto infantil e reflita com a coordenadora em conjunto com os
educacional. profissionais de saúde do serviço local, sobre as crianças que
A forma como o professor identifica a necessidade de troca apresentem alguma dificuldade de aprendizagem ou de
de fralda ou de uso do sanitário, por uma criança de seu grupo interação com as demais crianças ou com os adultos,
e cuida dela, contribui para que ela aprenda aos poucos a procurando meios de ajudá-las em suas necessidades
identificar e nomear as próprias sensações corporais, específicas;
possibilita que ela construa a representação mental de seu - Alimente os bebês, atenda às necessidades nutricionais,
corpo, que aprenda rituais e regras sociais para a convivência afetivas e de aprendizagens de novos paladares e
coletiva, como a que determina que eliminemos cocô e xixi em consistências, com base nas recomendações para o processo
um lugar determinado, longe daquele que nos alimentamos ou de desmame e nas normas de higiene para ambientes
brincamos e, um pouco mais tarde, que as meninas usem coletivos;
sanitários diferentes de meninos. - Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições, para
As sensações corporais, como as que nos informam que que elas conciliem aleitamento e trabalho e sigam regras de
estamos com vontade de ir ao banheiro ou com fome, ou higiene para ambientes coletivos;
cansados, são uma importante linguagem que comunica que - Organize as refeições em ambiente higiênico, seguro,
precisamos parar a atividade do momento para recuperar o confortável, belo e que possibilite autonomia, socialização e
bem-estar, como ir ao sanitário, tomar água, alimentar-se ou boa nutrição a todos os grupos etários;
descansar. As crianças, por meio da mediação do adulto, - Ajude as crianças que recusam alimentos ou que
aprendem a identificar e nomear estas sensações e também apresentem dificuldades para se alimentar sozinhas;
como realizar os procedimentos para recuperar o bem-estar - Disponibilize água potável e utensílios limpos
físico e mental alterado por elas. individualizados para que as crianças possam beber água
Pautados na organização da rotina da creche, aprendem quando desejarem e sejam incentivadas a fazê-lo durante todo
que o dia tem um ritmo marcado pelas variações de o dia;
temperatura e claridade, próprios do amanhecer, entardecer, - Organize a rotina contemplando o banho de sol até às 10
anoitecer, mas, também pelos rituais culturais de chegada e horas e após às 15 horas (a considerar o clima de cada região),
partida do domicílio e da creche, de início e término das sobretudo dos bebês que dependem dos adultos para
brincadeiras (ou trabalho), das refeições e momentos de transportá-los para o solário, estando atenta ao acesso das
relaxamento e descanso, alternados com rituais de cuidados crianças e oferta de água para hidratação e à proteção contra a
com o próprio corpo (lavar as mãos antes das refeições sentar- exposição solar excessiva;
se para comer, alimentar-se de boca fechada para não - Esteja atento ao conforto da criança, ensinando-a a
engasgar, limpar os dentes após as refeições, retirar o sapato adequar o vestuário e calçados às brincadeiras, atividades e
para dormir, brincar ao sol ou à sombra). clima;
As crianças aprendem a cuidar de si ao serem cuidadas. O - Mantenha as salas ventiladas e alterne atividades em
crescimento físico e a maturação neurológica associados às espaços internos e externos, evitando confinamento;
interações e às oportunidades oferecidas pelo ambiente - Esteja atento às recomendações sanitárias e legais
possibilitam o desenvolvimento de habilidades, para que o relativas ao espaço versus número de crianças;
bebê adquira autonomia para mudar de postura e se - Troque as fraldas, ensine as crianças a usar o vaso
locomover. sanitário e a fazer a higiene pessoal com atitudes acolhedoras,
Após vivenciar e observar o adulto cuidando dela e de com respeito às peculiaridades do processo de aprendizagem
outras crianças e tornarem-se mais independentes, elas e desenvolvimento de cada criança, empregando precauções
começam a imitá-lo, e a criar novas formas de agir e realizar os padronizadas para evitar transmissão de doenças e acidentes;
procedimentos. Cuidam de bonecas, cozinham, oferecem - Registre e ofereça a medicação oral e tópica prescrita pelo
papinha, mamadeira, às vezes, o peito, como a mãe fazia ou faz médico ou os cuidados especiais orientados por profissionais
com ela. Trocam fraldas, banham, acalantam, colocam no berço de saúde e que não possam ser interrompidos durante o
período em que a criança permanece na instituição educativa;

Conhecimentos Pedagógicos 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- Observe, identifique, informe e procure ajuda nas Porém, os consensos apontam também para algumas
situações em que reconhece que a criança apresenta alteração críticas ao uso do binômio educar e cuidar. Se insistirmos na
no estado de saúde (febre, traumas, dor, diarreia, cansaço ao afirmação das duas palavras, sugerimos que essas ações sejam
respirar, manchas na pele, mal-estar geral, alterações no separadas e possam ser cumpridas por diferentes
crescimento e desenvolvimento), de acordo com as diretrizes profissionais, legitimando a existência de um professor e um
da instituição; auxiliar. Os professores, ocupados com o caráter instrucional:
- Informe o gestor para que ele notifique à Unidade Básica contar histórias, fazer trabalhos, enquanto, no âmbito da
de Saúde, de acordo com a legislação específica, a suspeita de assistência, o auxiliar envolvido com as trocas de roupa, a
crianças ou profissionais da unidade educacional com doenças alimentação e a saúde.
transmissíveis ou aumento do número de crianças com Há, ainda, no debate em torno do binômio educar/cuidar,
problemas de saúde; uma disputa pela obtenção da hegemonia entre os dois termos.
- Certifique-se da segurança e higiene dos brinquedos, A ascendência do termo cuidado sobre o termo educação surge
esteiras, almofadas, lençóis, trocadores, banheiras, objetos e principalmente dos argumentos da filosofia, os quais
materiais de uso pessoal e coletivo, segundo as normas defendem que todas as relações e interações entre os sujeitos
sanitárias especificas para creches e pré-escolas; e pressupõem o cuidado. O cuidado, como modalidade
- Assegure que as áreas interna e externa estejam específica das relações entre os humanos, é necessário para à
organizadas e seguras para as crianças de todos os grupos, sobrevivência. Assim, todas as práticas cotidianas são
evitando acidentes e disseminação de doenças e ensine o cuidados (os cuidados básicos, os cuidados com os ambientes
cuidado com o ambiente coletivos físico, natural e social). Por outro lado, alguns autores
afirmam que os processos educacionais sempre implicam a
Indissociabilidade entre Educar, Cuidar e Brincar29 dimensão do cuidado. Esse debate está apenas começando e as
A reivindicação pela articulação da educação e do cuidado argumentações de ambos os lados são pertinentes e
na educação infantil caracteriza-se como um processo consistentes.
histórico que visou garantir, enquanto afirmação conceitual, Alguns autores sugerem que, talvez, o uso da expressão
um lugar para além da guarda e assistência social. A intenção “cuidados educacionais” ponha sob melhor foco o
foi demarcar o caráter educativo, legalmente legitimado pela entendimento da indissociabilidade dessas dimensões. Ações
Constituição de 1988, a qual consolidou a importância social e como banhar, alimentar, trocar, ler histórias, propor jogos e
política da educação infantil ao determinar o caráter educativo brincadeiras e projetos temáticos para se conhecer o mundo
das instituições voltadas para a atenção às crianças de zero a são proposições de cuidados educacionais, ou ainda significam
seis anos e onze meses. uma educação cuidadosa.
No momento em que a educação infantil passou a ser
considerada a primeira etapa da Educação Básica, integrando- Brincadeira
se aos sistemas, através da LDBEN de 1996, foi necessário O respeito incondicional ao brincar e à brincadeira é uma
interrogar e pensar sua especificidade. Para demarcar sua das mais importantes funções da educação infantil, não
“identidade”, seu lugar nas políticas públicas e na Educação somente por ser no tempo da infância que essa prática social
Básica brasileira, e para retirar a creche da assistência social e se apresenta com maior intensidade mas, justamente, por ser
a pré-escola da “preparação para o ensino fundamental”, foi ela a experiência inaugural de sentir o mundo e experimentar-
necessário sublinhar e insistir na indissociabilidade do se, de aprender a criar e inventar linguagens através do
educar/cuidar, enquanto estratégia política para aproximá- exercício lúdico da liberdade de expressão. Assim, não se trata
los, redimensionando a educação da infância. apenas de um domínio da criança, mas de uma expressão
A recorrente presença desse binômio na educação infantil, cultural que especifica o humano.
ao longo dos últimos vinte anos, promoveu tanto a São as primeiras experiências de cuidado corporal que
consolidação de algumas concepções, quanto constituiu desencadeiam os processos de criação do campo da confiança.
disputas e também problematizações. Podemos apontar Essa confiabilidade se manifesta na presença de cuidados
alguns consensos em relação à indissociabilidade da expressão atentos e seguros, que protegem o bebê, assim como na
educar/cuidar. proposição de um ambiente que favorece o êxito das ações
Em primeiro lugar, o ato de cuidar ultrapassa processos desencadeadas por ele, proporcionado pela constante
ligados à proteção e ao atendimento das necessidades físicas proximidade do adulto que responde às solicitações de
de alimentação, repouso, higiene, conforto e prevenção da dor. interação e segue o ritmo do bebê. O importante é que o bebê
Cuidar exige colocar-se em escuta às necessidades, aos desejos possa conduzir e o adulto se deixe conduzir, estabelecendo seu
e inquietações, supõe encorajar e conter ações no coletivo, direito a uma atitude pessoal desde o começo. É esse o
solicita apoiar a criança em seus devaneios e desafios, requer princípio da autonomia, porém o adulto, ou qualquer outro
interpretação do sentido singular de suas conquistas no grupo, interlocutor, também pode, e deve, oferecer complementos e
implica também aceitar a lógica das crianças em suas opções e desafios. Nessa perspectiva, aprender a “estar só” é uma
tentativas de explorar movimentos no mundo. conquista da criança, baseada na confiabilidade e no ambiente
Em segundo lugar, cuidar e educar significa afirmar na favorável no qual possa se manifestar. Desafiando os limites da
educação infantil a dimensão de defesa dos direitos das segurança, gradualmente ela encontra nessa confiança a
crianças, não somente aqueles vinculados à proteção da vida, necessária sustentação para abandonar o conforto da proteção
à participação social, cultural e política, mas também aos e se lançar em sua aventura com o mundo.
direitos universais de aprender a sonhar, a duvidar, a pensar, Antes de brincar com objetos, o bebê brinca consigo
a fingir, a não saber, a silenciar, a rir e a movimentar-se. mesmo, com a mãe, o pai, os irmãos e outras pessoas. Antes de
E, finalmente, o ato de educar nega propostas educacionais poder segurar algo nas mãos, já brinca de abrir e fechar os
que optam por estabelecer currículos prontos e olhos, fazendo o mundo aparecer e desaparecer. O bebê, desde
estereotipados, visando apenas resultados acadêmicos que suas primeiras experiências lúdicas de explorações e
dificilmente conseguem atender a especificidade dos bebês e experimentações sensoriais e motoras, nos mostra uma das
das crianças bem pequenas como sujeitos sociais, históricos e mais importantes características do brincar e das
culturais, que têm direito à educação e ao bem-estar. brincadeiras: as crianças brincam porque gostam de brincar, e
é precisamente no divertimento que reside sua liberdade e seu

29 Texto adaptado de BARBOSA, M. C. S. Práticas Cotidianas na Educação Infantil

Conhecimentos Pedagógicos 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

caráter profundamente estético. Esse divertimento resiste a disponibilizem materiais lúdicos. Assim é necessária a
toda análise e interpretação lógicas, porque se ancora na presença de brinquedos, de objetos e materialidades que
dinâmica de valorar e significar o vivido através da possam ser transformados, e também áreas externas
imaginação, mostrando que somos mais do que simples seres destinadas a atividades, lugares desafiadores para o
racionais. desenvolvimento de brincadeiras, bem como, de um modo
Brincar, jogar e criar estão intimamente relacionados, pois geral, a preparação de um ambiente físico que convide ao
iniciam juntos. O brincar é sempre uma experiência criativa, lúdico, às descobertas e à diversidade, e que seja ao mesmo
uma experiência que consome um espaço e um tempo, tempo seguro, limpo e confortável, propiciando atividade e o
configurando uma forma básica de viver. Um momento descanso, o movimento e a exploração minuciosa.
significativo no brincar é aquele da admiração, no qual a Nosso país, além de ter um patrimônio histórico e um
criança surpreende a si mesma. patrimônio humano tem também muitas manifestações
Nas práticas culturais que definem a atividade lúdica em culturais que são nosso patrimônio imaterial. A tradição oral
cada grupo social, e em cada brincadeira em particular, a brasileira é rica em lendas, contos, personagens, jogos de rua,
criança pequena apreende brincando, brincando as brinquedos e artefatos feitos com matérias naturais, simples,
complexifica e brincando as utiliza em novos contextos, que se encontram no cotidiano e oferecem traços culturais
sozinha ou com outras crianças. A presença de uma cultura importantes na construção do pertencimento social.
lúdica preexistente torna possível o brincar como uma Porém, não bastam espaços, materiais e repertórios
atividade cultural que supõe aprendizagens de repertórios e adequados, há a necessidade da presença de adultos sensíveis,
vocabulários que a criança opera de modo singular em suas atentos para transformar o ambiente institucional em um local
brincadeiras e jogos. Assim, os repertórios e o vocabulário de onde predomina a ludicidade. É necessário que o profissional
jogo disponíveis para os participantes em um determinado que atua diretamente com a criança pequena tenha
grupo social compõem a cultura lúdica desse grupo e os conhecimento sobre a “cultura lúdica”, um amplo repertório
repertórios e o vocabulário que um indivíduo conhece que possa ser oferecido às crianças nas diversas circunstâncias
compõem sua própria cultura lúdica. e, principalmente, compartilhe a alegria, a beleza e a ficção da
Os artefatos e as brincadeiras ensinadas pelos adultos, e brincadeira. O adulto, ao ser tocado em seu poder de
observadas, imitadas e transformadas pelas crianças, tornam- reaprender a espantar-se e maravilhar-se, torna este momento
se o repertório inicial. Assim como a geração adulta é de aprendizado, um momento de regozijo entre ele e as
importante na transmissão cultural, as crianças mais velhas crianças.
também são importantes agentes de divulgação da cultura Tal compreensão implica abandonar práticas habituais em
lúdica ao apresentarem outros repertórios e outros educação, romper com a concepção de educação como
vocabulários. “fabricação” - dizendo às crianças como devem ser, pensar,
A brincadeira é a cultura da infância, produzida por agir e o que devem saber. É o desafio de abandonar a ideia de
aqueles que dela participam e acionada pelas próprias educação como “formatação”, previamente definindo os
atividades lúdicas. As crianças aprendem a constituir sua caminhos para as crianças. A compreensão de que a dinâmica
cultura lúdica brincando. Toda cultura é processo vivo de do mundo contemporâneo nos propõe muitas incertezas para
relações, interações e transformações. Isso significa que a o futuro, e que estas somente podem ser parcialmente
experiência lúdica não é transferível, não pode ser solucionadas, torna-se importante pensar a ação educativa em
simplesmente adquirida, fornecida através de modelos sua dinâmica contraditória e viva, pois imersa na cultura. Esta
prévios. Tem que ser vivida, interpretada, co-constituída, por situação exige um grupo de adultos – pais, professores,
cada criança e cada grupo de crianças em um contexto cultural gestores e profissionais – atualizados e atentos às suas opções,
dado por suas tradições e sistemas de significações que tem escolhas e decisões.
que ser interpretados, ressignificados, rearranjados,
recriados, incorporados pelas crianças que nesse contexto Rotina30
chegam. É praticamente impossível a reflexão sobre a organização
Para a constituição de contextos lúdicos é necessário do tempo na Educação Infantil sem incluir a rotina pedagógica.
considerar que as crianças ouvem música e cantam, pintam, Entretanto, é importante enfatizar que a rotina é apenas um
desenham, modelam, constroem objetos, vocalizam poemas, dos elementos que compõem o cotidiano, como veremos a
parlendas e quadrinhas, manuseiam livros e revistas, ouvem e seguir. Geralmente, a rotina abrange recepção, roda de
contam histórias, dramatizam e encenam situações, para conversa, calendário e clima, alimentação, higiene, atividades
brincar e não para comunicar “ideias”. Brincando com tintas, de pintura e desenho, descanso, brincadeira livre ou dirigida,
cores, sons, palavras, pincéis, imagens, rolos, água, exploram narração de histórias, entre outras ações. Ao planejar a rotina
não apenas o mundo material e cultural à sua volta, mas de sua sala de aula, o professor deve considerar os elementos:
também expressam e compartilham imaginários, sensações, materiais, espaço e tempo, bem como os sujeitos que estarão
sentimentos, fantasias, sonhos, ideias, através de imagens e envolvidos nas atividades, pois esta deve adequar-se à
palavras. A compreensão do mundo da criança pequena se faz realidade das crianças.
por meio de relações que estabelece com as pessoas, os Segundo Barbosa31 a rotina é “a espinha dorsal, a parte fixa
objetos, as situações que vivencia, pelo uso de diferentes do cotidiano”, um artefato cultural criado para organizar a
linguagens expressivas (o movimento, o gesto, a voz, o traço, a cotidianidade. A partir dessa premissa, é importante definir
mancha colorida). Nesse processo, as escolhas de materiais, rotina e cotidiano: Rotina - É uma categoria pedagógica que os
objetos e ferramentas que o adulto alcança promovem responsáveis pela educação infantil estruturaram para, a
diferenças no repertório e no vocabulário, na cultura material partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições
e imaterial na qual a criança está inserida. de educação infantil.
Garantir contextos que ofereçam e favoreçam
oportunidades para cada criança e o grupo explorarem [...] A importância das rotinas na educação infantil provém
diferentes materiais e instrumentos através de suas da possibilidade de constituir uma visão própria como
brincadeiras exige dos estabelecimentos educacionais concretização paradigmática de uma concepção de educação e
planejamento e organização de espaços e tempos que de cuidado (Barbosa). Cotidiano – [...] refere-se a um espaço-

30Texto adaptado produzido pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito 31BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto
Federal, disponível em http://www.sinprodf.org.br/wp- Alegre: Artmed, 2006.
content/uploads/2014/03/2-educacao-infantil.pdf

Conhecimentos Pedagógicos 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

tempo fundamental para a vida humana, pois tanto é nele que incluir atividades físicas no período da manhã, observando o
acontecem as atividades repetitivas, rotineiras, triviais, como tempo e a intensidade de calor e sol ou frio.
também ele é o lócus onde há a possibilidade de encontrar o Já o período da tarde, em uma jornada de tempo integral,
inesperado, onde há margem para a inovação [...]. geralmente acaba por concentrar atividades como sono ou
repouso, refeições, banho, ou seja, as práticas sociais. O que
José Machado Pais afirma que não se pode reduzir o não significa que as Interações com a Natureza e a Sociedade,
cotidiano ao rotineiro, ao repetitivo e ao a-histórico, pois o as Linguagens Oral e Escrita, Digital, Matemática, Corporal,
cotidiano é o cruzamento de múltiplas dialéticas entre o Artística e o Cuidado Consigo e com o Outro não estejam
rotineiro e o acontecimento (Barbosa). presentes por meio de atividades planejadas para surpreender
Bem elaborada, a rotina é o caminho para evitar a atividade e motivar em uma sequência temporal que corre o risco da
pela atividade, os rituais repetitivos, a reprodução de regras, monotonia ou da “linha de montagem”.
os fazeres automáticos. Para tanto, é fundamental que a rotina Nas jornadas de tempo parcial, por serem mais curtas, as
seja dinâmica, flexível, surpreendente. Barbosa aponta que a práticas sociais aparecem com menor frequência, ainda que
rotina inflexível e desinteressante pode vir a ser “uma também estejam presentes. As Linguagens, as Interações com
tecnologia de alienação”, se não forem levados em a Natureza e a Sociedade e o Cuidado Consigo e com o Outro
consideração o ritmo, a participação, a relação com o mundo, são geralmente o foco do trabalho pedagógico. Também é
a realização, a fruição, a liberdade, a consciência, a imaginação essencial abrir espaço e reservar tempo para as brincadeiras,
e as diversas formas de sociabilidade dos sujeitos nela sejam livres, sejam dirigidas.
envolvidos. Não se pode ignorar o fato de que muitas das ações da
A rotina é uma forma de organizar o coletivo infantil diário rotina estão pautadas nas relações de trabalho do mundo
e, concomitantemente, espelha o projeto político-pedagógico adulto. Os horários de lanche, almoço, limpeza das salas,
da instituição. A rotina é capaz de apresentar quais as funcionamento da cozinha, as atividades das crianças estão
concepções de educação, de criança e de infância se sintonizadas de acordo com a produtividade, a organização e a
materializam no cotidiano escolar. Com o estabelecimento de eficácia que estão implicadas em uma organização capitalista.
objetivos claros e coerentes, a rotina promove aprendizagens Por vezes, as crianças querem ou propõem outros elementos
significativas, desenvolve a autonomia e a identidade, propicia que transgridam as formalidades da rotina, das jornadas
o movimento corporal, a estimulação dos sentidos, a sensação integrais ou parciais, dos momentos instituídos pelos
de segurança e confiança, o suprimento das necessidades profissionais, sejam no sono, na alimentação, na higiene, na
biológicas (alimentação, higiene e repouso). Isto porque a “hora da atividade”, nas brincadeiras, entre outros.
rotina contém elementos que podem (ou não) proporcionar o A partir da observação, é possível detectar como as
bem-estar e o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, crianças vivem o cotidiano da instituição. Esses sinais das
biológico. crianças ajudam a apontar possibilidades que não se limitam
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para às rotinas formalizadas e dão subsídios para trazer à tona a
Educação Infantil (1998), a rotina deve adequar-se às valorização da infância em suas relações e práticas. Os
necessidades infantis e não o inverso. Ao observar e profissionais, em muitos momentos, percebem no contato
documentar uma rotina (diária ou semanal, por exemplo), diário com as crianças que entre elas coexistem necessidades
algumas reflexões emergem: e ritmos diferentes. Mostram-se preocupados em não
- Como as atividades são distribuídas ao longo do dia? E da conseguir atender essa diversidade para que as crianças
semana? possam vivenciá-la. Oscilam entre cumprir a tarefa que é
- Com que frequência, em que momento e por quanto ordenar e impor a sincronia e, ao mesmo tempo, abrir espaço
tempo as crianças brincam? para deixar aparecerem as individualidades, a simultaneidade,
- Quanto do dia é dedicado à leitura de histórias, inclusive a “desordem” (Batista32).
para os bebês? Desta forma, vivem cotidianamente um dilema, que é o de
- A duração e a regularidade das atividades têm assegurado respeitar e partilhar a individualidade, a heterogeneidade, os
a aquisição das aprendizagens planejadas? diferentes modos de ser criança ou seguir a rotina
- A criança passa muito tempo esperando entre uma e estabelecida, cuja tendência é a uniformização, a
outra atividade? homogeneidade, a rigidez que por vezes permeia as práticas
- Como é organizado o horário das refeições? Onde são educativas. Assim, o grande desafio dos profissionais que
feitas? atuam na Educação Infantil é o de preconizar novas formas de
- E os momentos dedicados ao cuidado físico, são previstos intervenção, distinta do modelo de educação fundamental e,
e efetivados com que frequência e envolvem quais materiais? consequentemente, com sentido educativo próprio (Batista).
- Como o horário diário de atividades poderia ser Cresce a relevância do planejamento cuidadoso, flexível,
aperfeiçoado, em favor de uma melhor aprendizagem? reflexivo que minimiza o perigo da rotina “cair na rotina”, no
- Há espaço para o imprevisto, o incidental, a imaginação, o pior sentido da expressão: ser monótona, impessoal, sem
fortuito? graça, vazia, sem sentido para as crianças e até para os
- As crianças são ouvidas e cooperam na seleção e profissionais. Para tanto, conflito e tensão são elementos que
organização das atividades da rotina? estarão presentes e contrapõem-se a uma prática pedagógica
- Como as interações adulto/criança e criança/criança são idealizada. Como diz a poeta Elisa Lucinda: “O enredo a gente
contempladas na organização dos tempos, materiais e sempre todo dia tece, o destino aí acontece (...)”.
ambientes? O campo de aprendizagens que as crianças podem realizar
No caso da jornada em tempo integral, no período da na Educação Infantil é muito grande. As situações cotidianas
manhã devem ser incluídos momentos ativos e calmos, dando criadas nas creches e pré-escolas podem ampliar as
prioridade às atividades cognitivas. As crianças, depois de uma possibilidades das crianças viverem a infância e aprenderem a
noite de sono, estão mais descansadas para ampliar sua conviver, brincar e desenvolver projetos em grupo, expressar-
capacidade de concentração e interesse em atividades que se, comunicar-se, criar e reconhecer novas linguagens, ouvir e
envolvem a resolução de problemas. É interessante, também, recontar histórias lidas, ter iniciativa para escolher uma
atividade, buscar soluções para problemas e conflitos, ouvir

32BATISTA, R. A rotina da creche: entre o proposto e o vivido. In: 24ª Reunião


Anual da Anped, 2001, Caxambu. Programa e resumos da 24º Reunião Anual da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

poemas, conversar sobre o crescimento de algumas plantas Estágio Supervisionado que realizei, quando percebi a falta de
que são por elas cuidadas, colecionar objetos, participar de motivação dos alunos em sala de aula.
brincadeiras de roda, brincar de faz de conta, de casinha ou de Desse modo, um professor, ao estar em seu ambiente de
ir à venda, calcular quantas balas há em uma vasilha para trabalho, deve conhecer suas funções e levar em consideração
distribuí-las pelas crianças presentes, aprender a arremessar a importância de ser simpático, sensível e amigo de seus
uma bola em um cesto, cuidar de sua higiene e de sua alunos. Motivando-os assim, com certeza os conduzirá a
organização pessoal, cuidar dos colegas que necessitam de vencer obstáculos e desafios além de avançar em suas
ajuda e do ambiente, compreender suas emoções e sua forma curiosidades.
de reagir às situações, construir as primeiras hipóteses, por Portanto, um professor deverá não só passar
exemplo, sobre o uso da linguagem escrita, e formular um conhecimentos, mas também conseguir despertar interesses e
sentido de si mesmas (Oliveira33). a atenção das crianças. Para isso acontecer, é preciso que o
O que caracteriza uma instituição de Educação Infantil, que educador pense em algo que estimule e facilite a
se diferencia de outros de locais de convivências, sejam aprendizagem. Conforme Ribeiro, “os alunos aprendem
públicos ou privados, é justamente a intencionalidade do melhor quando são estimulados pelos professores a construir
projeto educativo, a especificidade da escola como agência que seu próprio conhecimento; portanto, lembre-se: aprender é
promove as aprendizagens (Ferreira34). adquirir novas formas de ação, é evoluir”.
Dessa forma, a importância de se trabalhar a afetividade
Dica: Sempre devemos considerar, na montagem das salas reside no fato de que a escola deve ser um espaço onde se
de Educação Infantil, os diferentes conhecimentos e linguagens constroem relações humanas, mesmo sabendo que tem sua
que compõem o currículo, entre eles a leitura, escrita, função apenas de ensinar conteúdos e de ajudar na formação
matemática, artes, música, ciências sociais e naturais, corpo e de cidadãos. É importante que a instituição se preocupe com o
movimento. Ter material adequado, intencionalmente tema da afetividade para que, assim, a relação entre mestre e
selecionado para as atividades, contribui significativamente aprendiz aconteça em um ambiente de harmonia, e para que a
para o aprendizado. É Importante também ter os nomes das aprendizagem, desse modo, possa fluir com mais facilidade,
crianças em destaque como na latinha de lápis de cor ou giz de pensando-se que o desenvolvimento do aluno e a interação
cera, assim como o varal de alfabeto, a tabela numérica e o com os pais e professores podem facilitar no processo de
calendário e sempre, ao longo do ano, utilizar os materiais ensino-aprendizagem. Neste sentido, Dantas, La Taille e
produzidos pelas próprias crianças para colorir e significar o Oliveira afirmam:
espaço da sala de aula. O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida,
que a motivação possa ser despertada por um número cada
Afetividade vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse
Falar sobre a afetividade na relação interpessoal desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a
educador/educando é fundamental para o processo de ensino afetividade é a mola propulsora das ações, e razão está ao seu
aprendizagem e relevante para que o aluno consiga um bom serviço.
desempenho no seu desenvolvimento. Essa investigação realizou-se por meio de uma pesquisa
No dicionário Aurélio, a afetividade é definida como um bibliográfica para a compreensão da importância da
“conjunto de fenômenos psíquicos que manifestam afetividade na relação professor-aluno em seu processo de
sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão ensino. Além do mais, foi elaborado um questionário com cinco
de dor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou de questões objetivas, aplicado a dez educadores de uma escola,
tristeza” (Ferreira35). Alguns autores como Saltini36 definem a da rede pública de ensino de Patos de Minas.
afetividade como “atitudes, valores, comportamentos moral e Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo
ético, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento social, conscientizar os educadores sobre a importância do afeto e do
motivação, interesse e atribuição, ternura, empatia, amor para o ato de educar, considerando-os elementos
sentimentos e emoções”. marcantes na relação pedagógica e na vida do ser humano.
Diante das definições citadas, podemos verificar que a É importante mencionar o quanto o mundo de hoje está
afetividade pode ser demonstrada por meio de manifestações globalizado, o que tem levado as pessoas a enfrentar sérios
que envolvem emoções, sentimentos e paixões da vida afetiva. problemas como a questão cultural, a tecnologia, os problemas
Faz-se necessário, então, que os professores propiciem um financeiros, a separações de pais, e muitos outros, o que acaba
clima de cordialidade e respeito mútuo, para que, desta forma, refletindo nas crianças, causando transtornos e prejudicando-
os alunos tenham autoestima e obtenham resultado positivo as em seu meio escolar.
no aspecto cognitivo na escola e fora dela. Faz-se importante então o conhecimento por parte do
Acredita-se que, ainda hoje, muitos educadores não professor das dificuldades de aprendizagem do aluno,
percebem a importância da afetividade em sua prática podendo elas estar relacionadas ou não com a emoção.
pedagógica, levando em consideração somente a transmissão Acreditamos que a afetividade é o caminho para se obter bons
de conteúdos. Entretanto, sabemos que a educação está além resultados tanto no desenvolvimento emocional quanto social
do aspecto cognitivo. Sabe-se que existem muitas formas de do educando. Para tanto, um professor precisa saber lidar com
ensinar, pois “o ato de educar só se dá com afeto, só se situações imprevisíveis, que poderão surgir com a criança.
completa com amor” (Chalita37). Assim, para exercer sua função, é preciso que o professor
Assim, o interesse em pesquisar sobre o tema da não se preocupe apenas com o conhecimento através de
afetividade surgiu diante da relação de minhas filhas com informação, mas também com as necessidades de cada aluno,
algumas professoras, nos anos iniciais do Ensino Fundamental ou seja, com seus sentimentos, como amor, afeto e motivação,
(muitas vezes percebi a falta de interesse e de prazer delas ao para que assim o aluno sinta desejo de “aprender”. “Um
frequentarem as aulas), e também por intermédio das aulas de professor que faz a experiência de ser acolhido, na sua

33 OLIVEIRA, Z. de M. R. de. O currículo na educação infantil: o que propõem as 35 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. São
novas diretrizes nacionais? In: I Seminário Nacional: Currículo em movimento - Paulo: Nova Fronteira. (fascículos folha de São Paulo), 1994/1995.
Perspectivas atuais, 2010, Belo Horizonte. Anais do I Seminário Nacional: 36 SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade & inteligência. Rio de Janeiro: DPA, 1997.

currículo em movimento. Perspectivas atuais. Belo Horizonte: Universidade 37 CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 8 ed. São Paulo: gente,

Federal de Minas Gerais, 2010. 2001.


34 FERREIRA, B. S. Conteúdos na Educação Infantil: tensões contemporâneas.

Dissertação de mestrado. UFRGS: 2012.

Conhecimentos Pedagógicos 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

integridade, com o que é como ser humano, dará novo brilho influenciando em seu processo de aprender, e assim, em sua
ao seu campo de atuação” (Tissato38). Para Wallon39, “o formação.
desenvolvimento da pessoa é uma construção progressiva em Nesse sentido, o professor deve acolher seu aluno, e isto é
que se sucedem fases com predominância alternadamente uma habilidade fundamental no que se refere às relações
afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio, uma humanas. Para que isso ocorra, é preciso que o professor mude
unidade solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de sua postura no ato de educar, tendo clareza de que ensinar é
atividade”. um gesto que deve ser aplicado através de atos como
Portanto, a maneira que cada um sente suas emoções é direcionar, oportunizar, orientar, motivar e construir
extremamente pessoal, e deve ser levada em conta a conhecimentos. Deve, também, o educador levar em
experiência de vida social e familiar que cada um tem. A escola, consideração o importante desejo do aluno de se
representada pelo professor, deve compreender o aluno em autodescobrir para aprender, fator imprescindível no início de
seu universo, o que é de grande eficácia para seu trabalho sua aprendizagem significativa. Com isso, promoverá o
como educador. desenvolvimento equilibrado dos recursos da inteligência que
Na perspectiva de Wallon, há cinco estágios de o aluno tem e não apenas da memória. Acerca desse assunto,
desenvolvimento do ser humano: Masseto (apud Kullok40) afirma que quando pensamos em
- Impulsivo-emocional, que abrange o primeiro ano de ensinar, as ideias associativas nos levam a instruir, a
vida: a predominância da afetividade orienta as primeiras comunicar conhecimentos ou habilidades, fazer, saber
reações do bebê, as pessoas, as quais intercedem na sua mostrar, guiar, orientar, dirigir ações de um professor que
relação com o mundo físico; aparece como agente principal e responsável pelo ensino.
- Sensório-motor e projetivo, que vai até o terceiro ano: o Assim, sabemos que para ocorrer a aprendizagem, é
interesse da criança se volta para a exploração sensório- preciso que seja em uma relação de amizade, solidariedade e
motora do mundo físico. A aquisição da marcha e da preensão respeito mútuo entre professor e aluno. É preciso que a
possibilita-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e afetividade esteja presente em cada momento, nesse processo,
na exploração de espaços, e outro marco fundamental é o para que possa promover o desenvolvimento integral e
desenvolvimento da função simbólica e da linguagem; harmonioso do educando, para assim, facilitar a aprendizagem
- Personalismo, que ocorre dos três aos seis anos, em que através de seus conhecimentos.
a criança forma sua personalidade: a construção da Além do mais, enfatizando a ideia da importância do
consciência de si dá-se por meio das interações sociais, ambiente escolar no processo ensino aprendizagem é que
reorientando o interesse da criança para as pessoas, definindo Nogueira41, afirma:
o retorno da predominância das relações afetivas; [...] O ambiente escolar na sua forma mais clássica, os
- Categorial: por volta dos seis anos, os progressos métodos por muitos empregados e a leitura que alguns
intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para professores fazem dos alunos como sendo uma “tabula rasa”,
o conhecimento e conquista do mundo exterior. desprovido de origem, histórias, conhecimentos prévios e que,
Dessa forma, é importante a relação entre os atores por consequência, está em sua sala de aula para ouvir
escolares para a formação integral do sujeito, pois muitos passivamente as informações do detentor do conhecimento,
alunos, quando vão à escola, levam problemas que são são as principais fontes geradoras da desmotivação. Com estes
detectados pelo professor, antes mesmo que na própria procedimentos educacionais a possibilidade de o aluno estar
família. Contudo, muitas vezes são constatados, condenados ativo ao meio e a ação é totalmente coibida, e desta forma
ou esquecidos, rapidamente, em função do conhecimento acreditamos que a única motivação intrínseca que o aluno
formal, do currículo escolar, não se determinando tempo para pode ter é a de reagir não aprendendo.
o trabalho com a dimensão afetiva do(a) aluno(a).
Segundo Chalita, “é importante que o professor tenha Entretanto, é importante ressaltar ainda que os
entusiasmo, paixão, que vibre com as conquistas de cada um educadores, como profissionais ligados à educação, atuem
de seus alunos, não discrimine ninguém, não se mostre mais conscientes de seu dever, tendo em vista que sua
próximo de alguns alunos, deixando os outros à deriva”. Para responsabilidade se dá pelo fato de estar lidando com pessoas,
o autor, o professor que se busca construir é aquele que exigindo por isso que o processo de ensino seja ministrado
consegue de verdade ser um educador, que conhece o universo com seriedade, mas também com afetividade, por ser de suma
do educando, que tenha bom senso, que permita e proporcione importância nesse processo. Para Freire42, ensinar é uma
o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. De acordo tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade,
com Silva, a escola comete erros porque desconhece as criatividade e competências. O processo de ensinar, que
características do funcionamento da mente humana em suas implica o de educar e vice-versa, envolve a paixão do conhecer
fases de desenvolvimento; erra por não conhecer conteúdos que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil.
culturais que possam contextualizar concretamente os alunos, Lidamos com gente, com criança, adolescentes ou adultos.
e erra ainda, por desconhecer as histórias de vida de cada um. Participamos de sua formação. Ajudamo-las ou prejudicamos
A partir desses conceitos, é preciso que a educação nessa busca.
brasileira aponte para políticas públicas que tenham como A afetividade é um aspecto no qual se inserem grandes
meta uma escola de qualidade para todos. Contudo, manifestações que devem ser praticadas em todo lugar. No
percebemos que além dos conteúdos ministrados, para uma cotidiano escolar, espaço onde a criança fica maior parte de
educação de qualidade, o professor deve estar consciente do seu tempo com o professor, na maioria das vezes muitos
seu papel na relação professor/aluno, bem como dos aspectos conflitos acontecem, levando tanto o educador quanto o aluno
afetivos para a formação de um cidadão que se relaciona e a desajustes emocionais, como raiva, medo, desespero,
interaja com os outros. A afetividade é um sentimento gerador angústia, insegurança. Portanto, as emoções dos alunos devem
de energia que envolve as crianças desde seu nascimento, ser observadas com mais atenção. Por isso, toda criança, assim
como o adulto, necessita interagir mais fortemente “um com o

38 TISSATO, Nara Lúcia. Educação e afeto: importância das relações interpessoais 41 NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jornada
na orientação pedagógica. Revista do professor. Porto Alegre, 2002. interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo:
39 WALLON, Henrin. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 3 ed. Erica, 2001.
Rio de Janeiro: Vozes, 1995. 42 FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 11 ed. São
40 KULLOH, Maisa Gomes Brandão. Relação professor/aluno: contribuição à Paulo: Olhos D’Água, 2002.
prática pedagógica. Maceió: Edufal, 2002.

Conhecimentos Pedagógicos 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

outro”. Deste modo, é importante entre os seres humanos uma pelo consumismo, pela luta pela sobrevivência, entre outros
troca de afetividade que traz grandes benefícios às pessoas, que têm contribuído para uma humanidade em que há falta de
bem como contribui para que as relações interpessoais afeto.
aconteçam de modo harmonioso. Faz-se necessário, então, que o educador conheça bem seu
Wallon afirma que, nas interações marcadas pela elevação aluno, no que diz respeito a suas inseguranças, dificuldades,
da temperatura emocional, cabe ao professor “tomar a bem como o contexto de vida em que ele se encontra, suas
iniciativa de encontrar meios para reduzi-las, invertendo a relações familiares, sua relação com os colegas, até mesmo
direção de forças que usualmente se configura: ao invés de se com seu professor. “Para educar o ser humano é fundamental
deixar contagiar pelo descontrole emocional das crianças, conhecê-lo profundamente, bem como respeitar seu
deve procurar contagiá-las com sua racionalidade”. desenvolvimento, tendo a percepção correta de como esse ser
Neste viés, a escola, por ser um meio social onde se se desenvolve” (Mendonça45).
constroem diferentes relações, deve propor atividades que Neste sentido, um professor sensato é aquele que tem
promovam oportunidades aos alunos de questionar, fazer plena consciência de sua postura dentro da sala de aula,
opções, relatar seus sentimentos positivos ou negativos. levando em consideração sua relação com o aluno. O educador
Cabe ao professor, em seu âmbito de trabalho, propiciar ao deve proporcionar um ambiente harmonioso, numa relação de
educando situações em que ele participe ativamente das respeito e, assim, o desenvolvimento da criança será melhor
atividades e, assim, elaborar conceitos, construir valores para em todos os aspectos.
que possa aperfeiçoá-los a partir de seus próprios Além do mais é importante também que o profissional na
conhecimentos. Assim, por meio do diálogo do professor com área da educação busque inovar sempre seus conhecimentos a
o aluno, a escola será mais atuante e mais significativa na vida partir dos já adquiridos. Então, o professor na sua prática
da criança. pedagógica deve realizá-la, observando o aspecto afetivo,
É preciso também, neste momento, que a atitude do deixando seu aluno expor suas ideias, como forma de auxiliar
educador seja bastante equilibrada, sem autoritarismo, mas na relação professor aluno e também em sua aprendizagem.
sem o professor perca sua autoridade de professor. Para Assim, Saltini46 diz que “a escola deveria também saber
Silva43, para achar o meio termo entre essas posições, o que em função dessas articulações, a relação que o aluno
professor deverá: estabelece com o professor é fundamental enquanto elemento
- Lembrar-se de que seu papel é transformar outra pessoa, energizante do conhecimento”.
mas sem moldá-la à sua própria imagem; O autor fala também que o hábito de expor o que sentimos
- ter atitudes acolhedoras; respeitar o aluno, estar atento afetivamente nos dá condições de operar constantemente o
ao esforço dele e cultivar sua confiança; mundo interior das fantasias e dos desejos e
- relacionar-se com cada um e ao mesmo tempo com toda consequentemente das configurações interiores. Dessa forma,
a turma; é fundamental que a escola, na figura do educador, esteja
- ser hábil na escolha e apresentação de atividade e consciente da importância do desenvolvimento dos aspectos
envolver-se no trabalho junto com a classe; afetivos e cognitivos da criança para que, assim, seja capaz de
- criar estratégias indiretas de controle; “detectar” se o aluno tem alguma dificuldade no aspecto
- ter boas expectativas em relação à turma toda; cognitivo ou mesmo problemas de ordem afetiva. Assim, o
- discutir com os colegas, com o orientador e com a própria professor pode fazer intervenções adequadas. Sob esse
classe (desde que isso não piore as coisas) os conflitos que enfoque é que Weil47 fala que quando surgem problemas de
você tem com a turma. incompreensão geral ou localizada em certa matéria, o
professor tem de investigar as causas dessas insuficiências,
Desta forma, devemos ressaltar que, no processo da achando caminhos para preencher as lacunas e ajudar os
relação entre sujeitos, é fundamental a busca do alunos.
conhecimento, e isso só será alcançado se houver um processo Desse modo, podemos perceber que a relação afetiva tem
em que haja interação entre professor (ensino) e aluno sua relevância na interação interpessoal das pessoas, bem
(aprendizado), que tem como objetivo produzir mudanças. como do professor/aluno. Vygotsky considera a afetividade de
Segundo Rogers (apud Ribeiro44), mudar o foco do ensino para suma importância no funcionamento psicológico do ser
a facilitação da aprendizagem, ou seja, não se preocupar tanto humano, pois o sentimento pode conduzir à aprendizagem. O
com as coisas que o aluno deve aprender ou com aquilo que vai professor deve ter então uma conduta que conduza seu aluno
ser ensinado, mas sim com o como, por que e quando a um aprendizado que dê prazer à criança, além de despertar
aprendem os alunos, como se ouve e se sente a aprendizagem, sua imaginação e seu gosto pelo aprender.
e quais as suas consequências sobre a vida do aluno. Para Vygotsky, a aprendizagem ocorre: Quando associado
De acordo com o autor, também o professor deve buscar a uma tarefa que é importante para o indivíduo, que de certo
identificar, nos fatores implicados em cada situação, aqueles modo, tem suas raízes no centro da personalidade do
que agem como combustíveis para o agravamento da crise, indivíduo, o pensamento realista da vida, as experiências
tendo em vista a suscetibilidade das manifestações emocionais emocionais, são muito mais significativas do que a imaginação
às reações do meio social. Acredita-se que os ou o devaneio.
encaminhamentos de professor, se adequados, podem influir
decisivamente sobre a redução dos efeitos desagregadores da Alimentação48
emoção. Esta fase é caracterizada pelo amadurecimento da
Contudo, muito se tem discutido hoje sobre a habilidade motora, da linguagem e das habilidades sociais
superficialidade das relações humanas na vida social, em que relacionadas à alimentação, sendo este um grupo vulnerável
as pessoas têm cada vez mais deixado seus sentimentos de que depende dos pais ou responsáveis para receber
lado. O mundo hoje está dominado pelo jogo de interesses, alimentação adequada.

43 SILVA, Adriana Vera. Afetividade: será que sua classe enxerga você assim? 46 SALTINI, Claudio J.P. Afetividade e inteligência: a emoção na educação. 3 ed.
Revista Nova Escola, 1996. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
44 RIBEIRO, José Geraldo Gomes da Cruz. Relação professor/aluno: contribuição à 47 WEIL, Pierre. A criança, o lar e a escola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

prática pedagógica. Maceió: Edufal, 2002. 1969.


45 MENDONÇA, Mônica Marques. A importância da afetividade na relação 48 Manual de orientação para a alimentação escolar na educação infantil, ensino

professor/aluno. 2005, 36p. Monografia (graduação em Pedagogia). Faculdade fundamental, ensino médio e na educação de jovens e adultos / [organizadores
de Filosofia, Ciências e Letras de Patos de Minas, Centro Universitário de Patos de Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos...et al.] – 2. ed. - Brasília: PNAE:
Minas. CECANE-SC, 2012.

Conhecimentos Pedagógicos 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A fase pré-escolar envolve comportamentos e atitudes que armazenados e preparados de forma a não apresentar riscos
persistirão no futuro, podendo determinar uma vida saudável, de contaminação. Devem ser ricos em micronutrientes, em
à medida que um conjunto de ações que envolvem o ambiente quantidade adequada a idade da criança, sendo que os
familiar e escolar forem favoráveis ao estímulo e a garantia de alimentos consumidos pelos adultos devem ser utilizados e
práticas alimentares adequadas. introduzidos gradualmente.
As creches devem proporcionar condições de garantia Não deve ser oferecido as crianças refrigerantes, sucos
para o desenvolvimento do potencial de crescimento industrializados, doces em geral, balas, chocolate, sorvetes,
adequado e a manutenção da saúde integral das crianças, biscoitos recheados, salgadinhos, enlatados, embutidos. Estes
envolvendo aspectos educacionais, sociais, culturais e alimentos possuem excesso de gordura, açúcar, conservantes
psicológicos. ou corantes e podem comprometer o crescimento e
A OMS e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento desenvolvimento, promover a carências de vitaminas e
materno exclusivo por seis meses e complementar até os 2 minerais, além de aumentarem o risco de doenças como
anos ou mais. alergias e obesidade.
Os benefícios e as vantagens da amamentação devem É importante considerar que as práticas alimentares são
estimular profissionais da educação e da saúde a utilizarem adquiridas durante toda a vida, destacando-se os primeiros
seus conhecimentos no sentido de promover e apoiar esta anos como um período muito importante para o
prática. estabelecimento de hábitos alimentares que promovam a
Nas creches, visando contribuir para a manutenção do saúde do indivíduo desde a infância até a idade adulta.
aleitamento materno pelo maior tempo possível, os líquidos A escola por sua vez exerce notável influência na formação
deverão ser oferecidos as crianças em copos ou colheres. de crianças e adolescentes constituindo-se num centro de
Deve-se lembrar que a mãe poderá continuar a amamentar a convivência e ensino-aprendizagem, onde deve haver um
criança em casa, de manhã e à noite e deve-se buscar facilitar envolvimento de toda a comunidade escolar, alunos,
esta prática, evitando-se o desmame total da criança. professores, funcionários, pais e nutricionista, que participem
Na impossibilidade do aleitamento materno em tempo de forma integrada em estratégias e programas de promoção
integral, como no caso de lactentes frequentadores de creches da alimentação saudável, garantindo assim a qualidade das
em período integral a partir dos 4 meses, há necessidade de refeições servidas.
algumas orientações: Higiene e Saúde
O reconhecimento de que as instituições educacionais
A alimentação na creche das crianças de 4 a 12 meses deve devem preocupar-se com a saúde e bem-estar das crianças é
constituir-se de: expresso em vários documentos publicados no País que
- Menores de 4 meses: apenas alimentação láctea; norteiam as políticas públicas de educação, saúde e justiça
- Dos 4 aos 8 meses: leite, papa de frutas e papa salgada; social, bem como a literatura especializada. Contudo o
- Após completar 8 meses: leite, fruta in natura, papa entendimento amplo do que significa essa dimensão e,
salgada ou a refeição oferecida às demais crianças; sobretudo, a organização, as atitudes e os procedimentos
- Após completar 12 meses: leite com frutas, pão, cereal ou necessários para sua efetivação com a participação da criança,
tubérculos, frutas, refeição normal oferecida às demais ainda são controversos.
crianças da creche. A importância de considerarmos a promoção da saúde e
bem-estar das crianças como uma responsabilidade das
Após os seis meses de idade, a criança amamentada deve instituições educativas em parceria com familiares e serviços
receber alimentos, priorizando a inclusão de cereais, de saúde começa pela aceitação do fato de que é impossível
tubérculos, carnes e leguminosas e após completar sete meses cuidar e educar crianças sem influenciar ou ser influenciado
de vida, respeitando-se a evolução da criança, deve-se pelas práticas sociais relativas à manutenção e recuperação da
priorizar alimentos como arroz, feijão, carne, legumes, saúde e bem-estar dos envolvidos neste processo. Mas para
verduras e frutas. O mel não deve ser oferecido para crianças que esta influência seja promotora do crescimento e
menores de um ano pelo risco de contaminação. desenvolvimento saudáveis em cada contexto sociocultural, é
Entre os seis e os 12 meses de vida, a criança necessita se preciso que os professores e gestores em Educação Infantil
adaptar aos novos alimentos, cujos sabores, texturas e reflitam criticamente sobre as informações que possuem do
consistências são muito diferentes do leite materno. processo saúde-doença das crianças brasileiras, das diversas
Os profissionais vinculados à elaboração e administração e, às vezes, controversas mensagens indiretas e diretas que
das refeições das crianças devem ser capacitados quanto ao recebem via mídia, revistas, jornais e outros meios de
preparo e conhecimento adequados relativo ás técnicas informação. Desta forma estarão conscientes de que as
corretas e seguras de elaboração dos alimentos/refeições, bem escolhas individuais e coletivas ao planejarem, organizarem e
como o número e horário das mesmas. operarem a rotina cotidiana relativa às atitudes e aos
Existem creches onde as crianças permanecem em período procedimentos dos cuidados, às brincadeiras e atividades
integral e por isso, devem receber o lanche da manhã, almoço, educativas (stricto sensus), podem influenciar as práticas
lanche da tarde e jantar. O conjunto destas refeições deve culturais de cuidado infantil e a saúde individual e coletiva das
atender, no mínimo, 70% das necessidades nutricionais crianças e da comunidade onde estão inseridas.
diárias das crianças. A importância da dimensão do trabalho dos professores
Existem crianças que permanecem na creche somente neste âmbito, é que as crianças que convivem no espaço de
meio período. As crianças que permanecem pela manhã, uma creche ou pré-escola e interagem com os colegas e
recebem o lanche da manhã e o almoço e as crianças que profissionais da unidade, continuam interagindo diariamente
permanecem à tarde devem receber o lanche da tarde e o com seus familiares nas comunidades onde residem e com as
jantar, sendo que este conjunto de duas refeições deve quais se relacionam. Isto implica reconhecer que todos os
atender, no mínimo, 30% das necessidades nutricionais aspectos dessa diversidade de relações devem ser
diárias das crianças. considerados, incluindo-se as práticas sociais e as políticas
públicas voltadas à prevenção e ao controle dos problemas de
Restrições Alimentares saúde prevalentes na comunidade.
Na alimentação complementar não devem ser oferecidas As instituições de educação infantil que possibilitam que as
preparações contendo sal, açúcar e gordura em excesso. Os crianças interajam e tenham acesso a aprendizagens
alimentos devem ser de fácil preparação, adquiridos, significativas e cuidados profissionais de boa qualidade são

Conhecimentos Pedagógicos 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

possibilidades inegáveis de promoção do desenvolvimento luminosidade pela utilização de veneziana (ou similar) vedada
integral e relações sociais saudáveis. Por outro lado, a com telas de proteção contra insetos, quando necessário;
convivência de bebês e crianças pequenas em ambiente - Portas com visores, largas, que possibilitem a integração
coletivo, associada às vezes, ao desmame precoce, pode entre as salas de repouso e de atividades, facilitando o cuidado
aumentar o risco de adquirirem infecções respiratórias, com as crianças;
gastrointestinais e outras prevalentes em menores de cinco - Paredes pintadas com cores suaves; no caso de
anos, o que requer cuidados e medidas de controle específicos. iluminação artificial, que seja preferencialmente indireta.
Assim, é preciso que os profissionais da educação reconheçam
seu papel na promoção de saúde da criança e que os Proteção, bem-estar e desenvolvimento da criança50
profissionais de saúde ultrapassem o discurso sobre a creche - O programa para as creches prevê educação e cuidado de
como fator de risco e a reconheçam como rede de apoio efetiva forma integrada visando, acima de tudo, o bem-estar e o
para a infância brasileira. desenvolvimento da criança;
Ao perceber o processo saúde-doença como um estado - A melhoria da qualidade dos serviços oferecidos nas
dinâmico e determinado socialmente, não se justifica o creches é um objetivo do programa;
discurso de que na creche e na pré-escola são atendidas - As creches são localizadas em locais de fácil acesso, cujo
apenas crianças saudáveis, pois o limite entre saúde e doença entorno não oferece riscos à saúde e segurança;
é tênue e relativo, sobretudo em uma fase da vida de maior - Os projetos de construção e reforma das creches visam,
vulnerabilidade biológica. Isto não significa que as crianças em primeiro lugar, o bem-estar e o desenvolvimento da
que manifestem eventualmente doenças agudas ou crônicas criança;
em crise, não necessitem, às vezes, serem temporariamente - A política de creche reconhece que os profissionais são
afastadas da unidade educacional até que se recuperem e elementos chave para garantir o bem-estar e o
possam conviver em espaço coletivo. Para isto, é preciso desenvolvimento da criança;
definir e descrever critérios e formar professores para - As creches dispõem de um número de profissionais
identificar as situações e seguir as recomendações técnicas suficiente para educar e cuidar de crianças pequenas;
para inclusão e exclusão temporária daquelas que apresentem - O programa dá importância à formação profissional
alterações no estado de saúde, evitando o afastamento prévia e em serviço do pessoal, bem como à supervisão;
desnecessário ou prolongado que nega o direito de todas as - A formação prévia e em serviço concebe que é função do
crianças à educação infantil. profissional de creche educar e cuidar de forma integrada;
- Os profissionais dispõem de conhecimentos sobre
“A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim desenvolvimento infantil;
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e - A política de creche reconhece que os adultos que
sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da trabalham com as crianças têm direito a condições favoráveis
proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na sua para seu aperfeiçoamento pessoal, educacional e profissional;
dimensão necessariamente humana que coloca homens e - A política de creche reconhece a importância da
mulheres em relações de intimidade e afetividade, é comunicação entre famílias e educadores.
característico não apenas da Educação Infantil, mas de todos A pessoa responsável pelo cuidado diário da criança
os níveis de ensino. Na Educação Infantil, todavia, a precisa de ferramentas para identificar e atender necessidades
especificidade da criança bem pequena que necessita do específicas, ou seja, conhecimento suficiente sobre o
professor até adquirir autonomia para os cuidados de si, expõe desenvolvimento humano, sobre a articulação das práticas
de forma mais evidente a relação indissociável do educar e culturais com procedimentos adequados para ambientes
cuidar nesse contexto” coletivos, sobre os aspectos legais e éticos do processo de
(Parecer CNE/CEB nº 20/09, que aponta as Diretrizes Curriculares cuidar em ambiente educativo.
Nacionais de Educação Infantil).
Outro desafio é o equilíbrio entre cuidado individualizado,
considerando a dinâmica do tempo e do espaço no coletivo e
Repouso
sua articulação com as brincadeiras e atividades diversificadas
Assim como os demais espaços da instituição, o espaço
que têm objetivos educativos específicos. Este desafio é diário
destinado a esta faixa etária deve ser concebido como local
e superado pela constante observação, avaliação e
voltado para cuidar e educar crianças pequenas, incentivando
planejamento, ajustando-se os ritmos e reorganizando-se os
o seu pleno desenvolvimento. As crianças de 0 a 1 ano, com
ambientes.
seus ritmos próprios, necessitam de espaços para engatinhar,
É preciso lembrar que os cuidados com a alimentação,
rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar materiais
conforto, proteção, quando organizados e operacionalizados
diversos, observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se, tomar
no contexto de diversos países, culturas e grupos sociais,
banho, repousar, dormir, satisfazendo, assim, suas
podem diferenciar-se na forma como permitem a participação
necessidades essenciais. Recomenda-se que o espaço a elas
da criança ou o acesso dela aos objetos, alimentos, ambientes,
destinado esteja situado em local silencioso, preservado das
resultando em práticas diversas que influem na forma como
áreas de grande movimentação e proporcione conforto
ela desenvolve habilidades e constrói conhecimentos e como
térmico e acústico.
se mantém mais ou menos dependente dos adultos.
Espaço destinado ao repouso, contendo berços ou
Compartilhar cuidados com as famílias implica em
similares onde as crianças possam dormir com conforto e
acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento
segurança. Recomenda-se que sua área permita o
infantil, ministrar, observar e registrar a evolução de um
espaçamento de no mínimo 50 cm entre os berços para
resfriado, a aceitação dos alimentos complementares por um
facilitar a circulação dos adultos entre estes.
lactente que inicia o desmame ou está em processo de
Sugestões para os aspectos construtivos:49
adaptação na creche; ministrar medicamentos orais ou aplicar
- Piso liso, mas não escorregadio e de fácil limpeza;
pomadas e cremes para tratamentos que a criança necessite,
- Janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso,
identificar sinais de mal-estar ou traumas manifestos pelas
permitindo a ventilação e a iluminação natural, visibilidade
crianças quando sob seus cuidados, acalmando-as e
para o ambiente externo, com possibilidade de redução da
providenciando os primeiros cuidados, até que sejam

49Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros 50Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos
básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil: Encarte 1. fundamentais das crianças / Maria Malta Campos e Fúlvia Rosemberg. – 6.ed.
Brasília: MEC, SEB, 2006. Brasília: MEC, SEB, 2009.

Conhecimentos Pedagógicos 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

encaminhadas ao serviço de saúde e prestar os primeiros PORTANTO


cuidados diante de uma emergência; ensinar os cuidados com II. “Desenvolvimento e socialização definem o papel da
o corpo para propiciar conforto, segurança e bem-estar. educação infantil."
Para isto, o professor precisa contar com apoio dos Assinale a alternativa correta.
gestores e coordenadores que se responsabilizem pelas (A) As duas afirmativas são falsas.
parcerias com os serviços de saúde locais e programas de (B) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda, falsa.
formação continuada. É preciso refletir com os gestores de (C) A segunda afirmativa é uma justificativa correta da
cada região do país, envolvendo as Secretarias de Saúde e primeira.
Educação, a viabilidade de cada creche e pré-escola ter o (D) As duas afirmativas são verdadeiras, mas não
suporte técnico de um enfermeiro e, quando necessário, de estabelecem relação entre si.
outros profissionais de saúde, para compartilhar a formação e
supervisão dos professores. 04. (Prefeitura de Betim/MG - Professor de Educação
Infantil) A Educação Infantil é um direito das crianças
Questões brasileiras. Em relação à função das instituições de ensino
infantil, é CORRETO afirmar que:
01. (UFPR - Prefeitura de Curitiba/PR - Docência I - (A) Se prestam ao cuidado de crianças de 0 a 2 anos,
2016) Em um grupo de berçário, uma das professoras convida substituindo a ação de familiares que não têm disponibilidade
os bebês, que estão envolvidos em situações diversificadas para cuidar de seus filhos, por falta de renda ou por trabalhar
pela sala na companhia das demais professoras, para trocar a fora de casa.
fralda. Todo o processo, desde o momento de retirada do bebê (B) Desenvolvem práticas assistencialistas, reforçando a
da sala para o trocador, é mediado pela fala da professora, que parceria entre Estado, comunidades carentes e grande capital
pede licença para pegar o bebê e trocá-lo, que enuncia cada financeiro.
ação que desenvolve de forma antecipada e procura atribuir (C) Atendem populações de 0 a 6 anos, para oferecer
sentido às expressões e manifestações corporais dos bebês cuidado referente à higiene, à alimentação, à saúde e ao
expressando por palavras a sua interpretação. Todo esse desenvolvimento de atividades psicopedagógicas e lúdicas.
processo de comunicação da professora com o bebê é (D) As creches e pré-escolas existem porque atendem a um
importante porque: direito das famílias, principalmente, das mães trabalhadoras,
(A) No primeiro ano de vida, o bebê utiliza a linguagem não que precisam ser liberadas das tarefas domésticas.
verbal, ou seja, as emoções e intenções são expressas pelo
corpo e interpretadas pelo adulto. O agir do bebê é estimulado 05. (SEARH/RN - Professor - Pedagogia - Anos Iniciais -
pelo adulto, que reage lhe dando uma resposta. IDECAN/2016) Conceber a criança como o ser social que ela é
(B) A incapacidade do bebê de comunicar aquilo que sente significa, EXCETO:
exige que a professora interprete e atribua sentido de acordo (A) Ocupar um espaço somente geográfico.
com aquilo que intenciona. Assim, o que predomina não são as (B) Pertencer a uma classe social determinada.
emoções e intenções do bebê, mas da professora. (C) Considerar que a criança tem uma história.
(C) A linguagem oral tem caráter genético, de modo que o (D) Estabelecer relações definidas segundo seu contexto
trabalho pedagógico com essa linguagem até pode iniciar de origem.
antes dos dois anos de idade, mas é só a partir dessa idade que
as crianças iniciam o processo de enunciação e Respostas
desenvolvimento do pensamento, por meio da função
generalizante. 01. A. / 02. D. / 03. B. / 04. C. / 05. A.
(D) A criança aprende por repetição, tendo em vista que
ela, antes dos dois anos, não capta na linguagem oral uma
intenção presente, bem como o tipo de emoção que Projeto político-pedagógico:
acompanha a fala dirigida a ela.
fundamentos para a orientação, o
02. (Prefeitura de Betim/MG - Professor de Educação planejamento e a implementação das
Infantil) Em relação ao cuidar, é CORRETO afirmar: ações educativas da escola.
(A) Na instituição infantil, o atendente de apoio pedagógico
é o responsável exclusivo pelas trocas de fraldas,
acompanhamento das crianças ao banheiro, organização da
hora do sono e alimentação.
(B) Embora as crianças tenham necessidades diferentes, os Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
horários de sono e repouso devem ser cumpridos por todos, ao Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um
mesmo tempo, a fim de que a instituição se reorganize. projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto
(C) Crianças pequenas gostam de se alimentar sozinhas, Pedagógico).
mas isso não deve ser incentivado porque podem ocorrer No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim
desperdícios; assim o educador não saberá se a criança está projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa
bem alimentada. lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa,
(D) A organização dos momentos em que são previstos empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de
cuidados com o corpo, uso dos sanitários e repouso pode edificação.
variar, segundo os grupos etários atendidos. Segundo Veiga51, ao construirmos os projetos de nossas
escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.
03. (SEARH/RN - Professor - Pedagogia - Anos Iniciais - Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o
IDECAN/2016) Analise as afirmativas correlatas. possível. É antever um futuro diferente do presente.
I. “A criança se desenvolve e se socializa em diferentes
espaços."

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola:


51

uma construção possível. 14ª edição Papirus, 2002.

Conhecimentos Pedagógicos 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Nas palavras de Gadotti52: A principal possibilidade de construção do projeto


Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola,
para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto
confortável para arriscar-se, atravessar um período de significa resgatar a escola como espaço público, lugar de
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o Portanto, é preciso entender que o projeto político-
presente. Um projeto educativo pode ser tomado com a pedagógico da escola dará indicações necessárias à
promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do
visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores professor na dinâmica interna da sala de aula.
e autores. Buscar uma nova organização para a escola constitui uma
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para
Nessa perspectiva, o Projeto Político-Pedagógico vai além enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial
de um simples agrupamento de planos de ensino e de que fundamente a construção do projeto político-pedagógico.
atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em A questão é, pois, saber a qual referencial temos que
seguida arquivado ou encaminhado às autoridades recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica.
educacionais como prova do cumprimento de tarefas Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de
burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática
momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo social e esteja compromissada em solucionar os problemas da
da escola. educação e do ensino de nossa escola.
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e,
intencional, com um sentido explícito, com um compromisso por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se
escola é, também, um projeto político por estar intimamente necessário, também, o domínio das bases teórico-
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses metodológicas indispensáveis à concretização das concepções
reais e coletivos da população majoritária. É político no assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas53
sentido de compromisso com a formação do cidadão para um que:
tipo de sociedade.
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”,
com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola.
efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de
criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho
e as características necessárias às escolas de cumprirem seus pedagógico à administração central, seja o Ministério da
propósitos e sua intencionalidade. Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não
Político e pedagógico têm assim uma significação compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim
indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas
político-pedagógico como um processo permanente de planejadas e organizadas pela própria escola.
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de Em outras palavras, as escolas necessitam receber
alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
“não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”. instâncias superiores do sistema de ensino.
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
para a participação de todos os membros da comunidade organização das instâncias superiores, implicando uma
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mudança substancial na sua prática. Para que a construção do
mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão projeto político-pedagógico seja possível não é necessário
política e a dimensão pedagógica da escola. convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a
trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas
O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
uma forma de organização do trabalho pedagógico que A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima
supere os conflitos, buscando eliminar as relações para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da
rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e
que permeia as relações no interior da escola, diminuindo qualidade.
os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um
as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o
processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
organização da escola num todo e como organização da instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social no seu interior as determinações e contradições dessa
imediato, procurando preservar a visão de totalidade. sociedade.
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade.
político-pedagógico busca a organização do trabalho Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento
pedagógico da escola na sua globalidade. de suas próprias contradições. Não existem duas escolas

52GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais da 53FREITAS Luiz Carlos. "Organização do trabalho pedagógico". Palestra
Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 1994. proferida no 11 Seminário Internacional de Alfabetização e Educação. Novo
Hamburgo, agosto de 1991.

Conhecimentos Pedagógicos 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a
saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A própria comunidade onde a escola se insere.
arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao 2- Quando a atuação ocorre em um planejamento
diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da participativo, as pessoas ressignificam suas experiências,
história da educação da nossa época. Por isso, não deve existir refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam
um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas. valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus
Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento,
estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá- dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos,
lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de
da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática convivência e indicam um horizonte de novos caminhos,
da escola é, portanto uma exigência de seu projeto político- possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa
pedagógico. promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade
mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. política na organização do trabalho pedagógico escolar.
Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de 3- Para que o projeto seja impregnado por uma
que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do intencionalidade significadora, é necessário que as partes
Estado e não uma conquista da comunidade. envolvidas na prática educativa de uma escola estejam
profundamente integradas na constituição e que haja vivencia
A gestão democrática da escola implica que a dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que
comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma
gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros intencionalidade.
receptores dos serviços educacionais. Os pais, alunos,
professores e funcionários assumem sua parte na Processos e Princípios de Construção
responsabilidade pelo projeto da escola. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no
artigo 12, define claramente a incumbência da escola de
Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação elaborar o seu projeto pedagógico.
de um processo de gestão democrática na escola pública: Além disso, explicita uma compreensão de escola para
1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela além da sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta
deve dar o exemplo. estar inserida em um contexto social e que procure atender às
2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é exigências não só dos alunos, mas de toda a sociedade.
específico da escola, isto é, o seu ensino. Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de
professores, supervisores e orientadores a responsabilidade
A participação na gestão da escola proporcionará um de participar da elaboração desse projeto.
melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos A construção do projeto político-pedagógico numa
os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre perspectiva emancipatória se constitui num processo de
professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em vivência democrática à medida que todos os segmentos que
consequência, aproximará também as necessidades dos compõem a comunidade escolar e acadêmica dele devam
alunos dos conteúdos ensinados pelos professores. participar, comprometidos com a integridade do seu
O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua planejamento, de modo que todos assumem o compromisso
própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua com a totalidade do trabalho educativo.
aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem Segundo Veiga54, a abordagem do projeto político-
respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto pedagógico, como organização do trabalho da escola como um
de sua vida. todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola
democrática, pública e gratuita:
A autonomia e a participação - pressupostos do projeto
político-pedagógico da escola, não se limitam à mera Igualdade: de condições para acesso e permanência na
declaração de princípios consignados em alguns documentos. escola. Saviani55 alerta-nos para o fato de que há uma
Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
colegiado, mas também na escolha do livro didático, no de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo
de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
assistir reuniões. democracia com a possibilidade no ponto de partida e
A gestão democrática deve estar impregnada por certa democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de
atmosfera que se respira na escola, na circulação das oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de simultânea manutenção de qualidade.
elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias
dos recursos humanos, etc. econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade
Então não se esqueça: para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões
1- O projeto político pedagógico da escola pode ser indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
entendido como um processo de mudança e definição de um subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas
rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação próprias.
para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades
desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os
política pedagógica pressupõe uma construção participativa métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola:


54 55SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande no 3.
uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. São Paulo, 1982.

Conhecimentos Pedagógicos 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

necessariamente, a conteúdos determinados. Demo56 afirma ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na
que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão.
meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
desafios do desenvolvimento”. Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado
à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto
Política - a qualidade política é condição imprescindível da de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia
participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria
Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia
fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios
humana”. sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
que a qualidade centra-se no desafio de manejar os Para Rios58, a escola tem uma autonomia relativa e a
instrumentos adequados para fazer a história humana. A liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é
qualidade formal está relacionada com a qualidade política e uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a
esta depende da competência dos meios. liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os
maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos na liberdade na
a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. escola, devemos pensá-la na relação entre administradores,
Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte
de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade de responsabilidade na construção do projeto político-
escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência pedagógico e na relação destes com o contexto social mais
dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica amplo.
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar”. A liberdade deve ser considerada, também, como
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e
exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição o saber direcionados para uma intencionalidade definida
clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. coletivamente.
Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de
cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a Valorização do magistério: é um princípio central na
obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
e meios é essencial para a construção do projeto político- ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
pedagógico. cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica,
política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela formação (inicial e continuada), condições de trabalho
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
questões de exclusão e reprovação e da não permanência do profissionalização do magistério.
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização O reforço à valorização dos profissionais da educação,
das classes populares. Esse compromisso implica a construção garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação permanente, significa “valorizar a experiência e o
das classes populares. conhecimento que os professores têm a partir de sua prática
A gestão democrática exige a compreensão em pedagógica”.
profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica.
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, A formação continuada é um direito de todos os
entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela
o controle do processo e do produto do trabalho pelos possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
educadores. qualificação e na competência dos profissionais, mas também
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o A formação continuada deve estar centrada na escola
individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da e fazer parte do projeto político-pedagógico.
solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula Assim, compete à escola:
a dependência de órgãos intermediários que elaboram - proceder ao levantamento de necessidades de formação
políticas educacionais das quais a escola é mera executora. continuada de seus profissionais;
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a - elaborar seu programa de formação, contando com a
ampla participação dos representantes dos diferentes participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques57: A do referido programa.
participação ampla assegura a transparência das decisões, Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o continuada, questões como cidadania, gestão democrática,
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas
contribui para que sejam contempladas questões que de outra tecnologias de ensino, entre outras.
forma não entrariam em cogitação. Inicialmente, convém alertar para o fato de que
Neste sentido, fica claro entender que a gestão essa tomada de consciência, dos princípios do projeto político-
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de pedagógico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar
os braços diante da atual organização da escola, que inibe a

56DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994. 58RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto pedagógico". In: Série
57MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da escola". In: Revista Ideias. São Paulo, FDE,1982.
Educação e Contexto. Projeto pedagógico e identidade da escola no 18. ljuí,
Unijuí, abr./jun. 1990.

Conhecimentos Pedagógicos 43
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

participação de educadores, funcionários e alunos no processo organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico
de gestão. acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer
É preciso ter consciência de que a dominação no interior comparações e estabelecer necessidades para se chegar à
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se intencionalidade do projeto.
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos
diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem O documento produzido sobre o marco referencial deve
como por meio das formas de controle existentes no interior ser lido por todos. Com base neste documento deve-se
da organização escolar. Por outro lado, a escola é local de elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os
desenvolvimento da consciência crítica da realidade. elementos que aparecem no documento com a prática social
vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre
escola e a comunidade, como ela trabalha com os
Estratégia de Planejamento conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social,
Definição de marco/referência: é necessário definir o como os conteúdos são escolhidos, como os professores
conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando
da escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a se avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da
escola está inserida. Para assim definir e explicitar com que escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem
tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas definido a sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se
ela buscará formar e qual a sua intencionalidade político, dão as relações e a participação de alunos, professores,
social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na
critérios de ação para planejar como se deseja a escola no que organização do trabalho pedagógico escolar.
se refere à dimensão pedagógica, comunitária e Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por
administrativa. todos da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do
É um momento que requer estudos, reflexões teóricas, diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade
análise do contexto, trabalho individual, em grupo, debates, pode-se definir um plano de ação e as grandes estratégias que
elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade
todos os segmentos envolvidos com a construção do projeto assumida no marco referencial.
político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do
contexto em que a escola se insere. É necessário partir da Propostas de Ação: este é o momento em que se procura
realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais pensar estratégias, linhas de ação, normas, ações concretas
ampla. Então se deve analisar e discutir como vivem as pessoas permanentes e temporárias para responder às necessidades
da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a apontadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre
compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
deste trabalho, como é a vida no período da infância, constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma
juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta proposta de ação.
comunidade, quais são as formas de organização desta Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes
comunidade, etc. metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes,
A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para
a relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada
perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos
da comunidade. Analisar o que tem de comum e tentar fazer necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e
relação com outros espaços, com a sociedade como um todo. como será feita a avaliação.
Discutir como se vê a sociedade brasileira, quais são os valores Com base nesses três momentos que devem estar
que estão presentes, como estes são manifestados, se as dialeticamente articulados elabora-se o projeto político-
pessoas estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser
organização. executado, avaliado e (re)planejado.

Para delimitar o marco doutrinal do projeto político- Etapas


pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós Devemos analisar e compreender a organização do
queremos construir, com que valores, o que significa ser trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova
sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho,
a formação deste sujeito durante a sua vida. de sua fragmentação e do controle hierárquico.
Nessa perspectiva, a construção do projeto político-
Para definirmos o marco operativo sugere-se que pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de
analisemos a concepção e os princípios para o papel que a contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua
escola pode desempenhar na sociedade. rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder
autoritário e centralizador dos órgãos da administração
Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de central.
cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
seja nossa escola, que tipo de educação precisamos assim ser definidas:
desenvolver para ajudar a construir a sociedade que
idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica Cronograma de trabalho e definição da divisão de
da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a
pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com
escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela, que haja organização e compromisso com o trabalho de
analisando qual a importância desta relação para os sujeitos elaboração.
que dela participam.
É importante reiterar que, quando se busca uma nova
Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
e se constitui num momento importante que permite uma as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
radiografia da situação em que a escola se encontra na calçadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de

Conhecimentos Pedagógicos 44
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

participação coletiva, em contraposição à organização regida “estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções
pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades
controle hierárquico. socioeconômicas e culturais”.
É nesse movimento que se verifica o confronto de Orientar a organização curricular para fins emancipatórios
interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de se implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de
gestar uma nova organização deve levar em conta as condições sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser
concretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e é humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários
nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na
rupturas, propiciando a construção de novas formas de visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a
relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva contestação e a resistência à ideologia veiculada por
que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os intermédio dos currículos escolares.
diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
descentralização do poder. Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas
e metodológicas quanto à educação infantil, ensino
Histórico da instituição: sua criação, ato normativo, fundamental, ensino médio, educação especial, educação de
origem de seu nome, etc. jovens e adultos, educação profissional. Mecanismos de
acompanhamento pedagógico, de recuperação paralela, de
Abrangência da ação educativa referente: avaliação: indicadores de aprendizagem, diretrizes,
- Nível de ensino e suas etapas; procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação.
- Modalidades de educação que irá atender;
- Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da Programa de formação continuada: concepção,
equipe pedagógica e administrativa; objetivos, eixos, política e estratégia.
- À comunidade externa: entorno social.
Formas de relacionamento com a comunidade:
Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e
instituição. estratégias.

Princípios legais e norteadores da ação: a instituição Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma
deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou de atividades.
municipal) de Educação. A partir da identificação dos - diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais.
princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar - estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação
o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação. comunitária.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição.
Currículo: identificar o paradigma curricular em
concordância com sua opção do método, da teoria que orienta O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as
referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os
preciso considerar alguns pontos básicos: feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os
períodos para reuniões técnicas, cursos etc.
1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O O horário escolar, que fixa o número de horas por semana
currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e e que varia em razão das disciplinas constantes na grade
desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar curricular, estipula também o número de aulas por professor.
que a classe dominante utiliza para a manutenção de Tal como afirma Enguita59.
privilégios. A determinação do conhecimento escolar, (...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o
portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo
cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais.
expressa uma cultura.
2º - é o de que o currículo não pode ser separado do A organização do tempo do conhecimento escolar é
contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
culturalmente determinado. consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo
3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a para disciplinas supostamente separadas. O controle
escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do controlado pela administração e pelo professor.
conhecimento escolar. Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo,
4º - refere-se a questão do controle social, já que o mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais,
currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica currículo integração que conduz a um ensino em extensão.
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores
fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
valores dominantes são passados aos alunos no ambiente conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
escolar, no material didático e mais especificamente por aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o
intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto

59ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no


capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989.

Conhecimentos Pedagógicos 45
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos
da sala de aula. os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho
pedagógico.
Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico:
parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa, A análise da estrutura organizacional da escola visa
responsáveis, cronograma. identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
Esses são alguns elementos que devem ser abordados no verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar
projeto pedagógico. claro que a escola é uma organização orientada por
Geralmente encontram-se documentos com a seguinte finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A
organização: apresentação, dados de identificação, análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola
organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e significam indagar sobre suas características, seus polos de
metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de poder, seus conflitos.
avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
de formação continuada, organização e utilização do espaço pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola
físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices, que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a
dentre outros: modificar a realidade social. Para realizar um ensino de
qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que
Finalidades romper com a atual forma de organização burocrática que
Segundo Veiga60, a escola persegue finalidades. É regula o trabalho pedagógico – pela conformidade às regras
importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder
das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se central e pela cisão entre os que pensam e executam, que
refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico
base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a
finalidades da escola referem-se aos efeitos intencionalmente ordem e a disciplina.
pretendidos e almejados. Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
Alves61 afirma que há necessidade de saber se a escola avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a
e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos realidade escolar, estabelecendo relações, definindo
específicos. O autor enfatiza que: interessará reter se as finalidades comuns e configurando novas formas de organizar
finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria
definidas no interior do território social e se são definidas por do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua, Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos
imprecisa ou marginal. disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade
Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo,
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando
de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse consequentemente a construção de uma nova forma de
sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia, organização.
enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
os outros níveis da esfera administrativa educacional. Processo de Decisão
A ideia de autonomia está ligada à concepção Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas
emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não das ações e principalmente das decisões é orientado por
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
definem a política da qual ela não passa de executora. Ela hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e
concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para centralizador.
executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de Uma estrutura administrativa da escola adequada à
liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades realização de objetivos educacionais, de acordo com os
sociopolíticas e culturais da escola. interesses da população, deve prever mecanismos que
estimulem a participação de todos no processo de decisão.
Estrutura Organizacional Isto requer uma revisão das atribuições especificas e
A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de gerais, bem como da distribuição do poder e da
estruturas: administrativas e pedagógicas. descentralização do processo de decisão. Para que isso seja
possível há necessidade de se instalarem mecanismos
Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a institucionais visando à participação política de todos os
gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem envolvidos com o processo educativo da escola.
parte, ainda, das estruturas administrativas todos os
elementos que têm uma forma material como, por exemplo, a Contudo, a participação da coordenação pedagógica
arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a
apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e satisfação do bom atendimento em prol de toda a
materiais didáticos, mobiliário, distribuição das dependências instituição.
escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico
(água, esgoto, lixo e energia elétrica). Avaliação
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
administrativas, “organizam as funções educativas para que a organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas

60VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: 61ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas. Porto
uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. Edições Asa, 1992.

Conhecimentos Pedagógicos 46
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

da existência de problemas bem como suas relações, suas


mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação 04. (IFRN - Professor - Didática) A construção do projeto
coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica. político-pedagógico da escola exige a definição de princípios,
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global, objetivos, estratégias e, acima de tudo, um trabalho coletivo
analisam o projeto político-pedagógico, não como algo para a sua operacionalização. Numa perspectiva crítica e
estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não democrática, o projeto político-pedagógico da escola
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um proporciona:
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia I - melhoria da organização pedagógica, administrativa e
das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar financeira da escola, bem como o estabelecimento de novas
o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da relações pessoais e interpessoais na instituição;
própria organização do trabalho pedagógico. II - redimensionamento da prática pedagógica dos
Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar professores e formação continuada do quadro docente.
dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato III - planejamento a curto prazo para definir aplicação de
dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político- medidas emergenciais na escola, de modo a superar certas
pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos dificuldades, detectar outras e propor novas ações.
educadores e dos educandos. IV - a superação de práticas pedagógicas fragmentadas e a
O processo de avaliação envolve três momentos: a garantia total de um ensino de qualidade.
descrição e a problematização da realidade escolar, a Assinale a opção em que todas as afirmativas estão
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e corretas:
a proposição de alternativas de ação, momento de criação (A) I, II e III.
coletiva. (B) I e IV.
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser (C) I, II e IV.
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes (D) I e II
trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de 05. (Pref. Maceió/AL - Professor - Área 1º ao 5º ano -
conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos COPEVE/UFAL/2017) Não se constrói um Projeto Político
historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo Pedagógico sem norte, sem rumo. Por isso, todo projeto
de avaliação diagnóstica. pedagógico da escola é também político (GADOTTI e ROMÃO,
1997). Dadas as afirmativas,
Questões I. O Projeto Político Pedagógico deve ter como marco
fundamental a participação democrática, o ser multicultural,
01. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB) mantendo o convívio com base em hierarquias fixas.
Quanto ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar II. O Projeto Político Pedagógico deve registrar, orientar,
que ele: estabelecer ações, metas e estratégias que tenham como
(A) deve ser democrático. objetivo o disciplinamento dos corpos e das mentes.
(B) precisa ser construído coletivamente. III. O Projeto Político Pedagógico de uma escola é fruto de
(C) confere identidade à escola. uma ação cotidiana e que precisa tomar decisões para o bem
(D) explicita a intencionalidade da escola. de toda comunidade escolar.
(E) mostra-se abrangente e imutável.
Verifica-se que está(ão) correta(s)
02. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – Área de (A) I, apenas.
Pedagogia CESPE) Julgue o item a seguir, relativo a projeto (B) III, apenas.
político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser (C) I e II, apenas.
considerado processo de permanente reflexão e discussão a (D) II e III, apenas.
respeito dos problemas da organização, com o propósito de (E) I, II e III.
propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos
almejados. Respostas
Os pressupostos que norteiam o projeto político-
pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão 01. E. / 02. Errado. / 03. C. / 04. D. / 05. B.
democrática.
( ) Certo ( ) Errado

03. (Prefeitura de Palmas/TO - Professor - Língua Currículo e cultura: visão


Espanhola – FDC) “O projeto político-pedagógico antecipa um interdisciplinar e transversal
futuro diferente do presente. Não é algo que é construído e do conhecimento.
arquivado como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas.” (Ilma Passos)
Segundo a autora, o projeto político-pedagógico,
comprometido com uma educação democrática e de Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade,
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como: Transdisciplinaridade62
(A) atividades articuladas, com temas selecionados A compreensão dos conceitos de multidisciplinaridade,
semestralmente. interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e sua
(B) planejamento global, com conteúdos selecionados por emergência no campo da educação requer uma atenção ao
série. conceito de disciplina e sua centralidade no universo escolar.
(C) ação intencional, com compromisso definido Uma primeira observação a ser feita sobre o termo
coletivamente. disciplina diz respeito aos significados que evoca, dentre os
(D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores. quais, poderíamos destacar os seguintes: ensino e educação
(E) instrumento técnico, com definição metodológica. que um discípulo recebia do mestre; obediência às regras e aos

62 SOARES, C.C. Disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br/

Conhecimentos Pedagógicos 47
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

superiores; ordem, bom comportamento; obediência a regras interdisciplinaridade e transdisciplinaridade entre outros, a
de cunho interior, firmeza, constância; castigo, penitência, partir de uma crítica à excessiva compartimentalização do
mortificação; ramo do conhecimento, ciência, matéria, conhecimento e à falta de comunicação entre as disciplinas.
disciplinas: cordas, correias e concorrentes com que os frades, Cada uma dessas perspectivas responde à necessidade de
devotos e penitentes se flagelam. Embora algumas dessas interação entre diferentes disciplinas e caracteriza-se pelo
definições pareçam bastantes distintas entre si, a noção de tipo de relação que se vai estabelecer entre elas. Estudiosos do
disciplina está estritamente vinculada às ideias de controle, de tema propõem diferentes modalidades de colaboração entre
organização de algo que é múltiplo ou disperso, de imposição as disciplinas, às vezes, com subdivisões dentro de um mesmo
de uma ordem. Foucault63 denomina disciplinas aos métodos nível de relação (interdisciplinaridade linear, estrutural,
que permitem o controle minucioso das operações de corpo, restritiva), dentre os quais, Piaget, que apresenta o seguinte
que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes modelo: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e
impõem uma relação de docilidade-utilidade. transdisciplinaridade.
É a partir da segunda metade do século XVIII, nos diz
Foucault, que o corpo é descoberto como objeto e alvo de - Multidisciplinaridade: corresponde ao nível mais baixo e
poder: algo que se manipula, se modela, treina, que obedece, integração. Caracteriza-se como uma justaposição de
que se torna ágil ou cujas forças podem ser multiplicadas, um disciplinas com a intenção de esclarecer alguns de seus
corpo máquina, que se submete e se utiliza, um corpo dócil e elementos comuns.
manipulável. Tudo isso a favor de uma nova anatomia política - Interdisciplinaridade: reúne estudos diferenciados de
nascente, que é também uma forma de poder que, por meio da diversos especialistas em um contexto coletivo de pesquisa.
disciplina, fabrica corpos submissos. As prisões, os hospitais, Implica um esforço por elaborar um contexto mais geral, no qual
os quartéis, as fábricas e os colégios são os espaços cada uma das disciplinas é modificada e passa a depender cada
disciplinares por excelência: na forma de distribuir os qual das demais. A interação proporcionará um enriquecimento
indivíduos, de organizar e controlar as atividades, os espaços recíproco, com transformações em diferentes aspectos, como,
e tempos, nos recursos para garantir o bom adestramento, por exemplo, nas suas metodologias de pesquisa, nos seus
dentre os quais ela destaca os exames. O conhecimento, sua conceitos, na formulação dos problemas, nos instrumentos de
produção e sua divulgação não fogem à lógica do poder que se análise, nos modelos teóricos, etc. Os intercâmbios entre as
está constituindo. disciplinas são mútuos. A bioquímica, a sociolinguística, as
No sentido que será aqui abordado – campo de neurociências são áreas do conhecimento resultantes de
conhecimento, ciência – disciplina refere-se a uma maneira de trabalhos interdisciplinares.
organizar e delimitar um território de trabalho de um corpo de - Transdisciplinaridade: caracteriza-se como o nível mais
conhecimentos e de definir a pesquisa e as experiências dentro alto de interação entre as disciplinas. A interação se dá de tal
de um determinado ângulo de visão. Historicamente, a forma que as fronteiras entre as diferentes disciplinas
diferenciação do conhecimento em disciplinas autônomas vem desaparecem e constitui-se um sistema total que ultrapassa o
se concretizando desde o início do século XIX. plano das relações e interações entre as disciplinas, na busca de
Vincula-se ao processo de transformação social que objetivos comuns e de um ideal de unificação epistemológica.
ocorria nos países em desenvolvimento na Europa, naquele Pode-se falar do aparecimento de uma macrodisciplina.
momento, e à necessidade de especialização demandada pelo
processo de produção industrial. Nesse contexto, as técnicas e Morin65 nos lembra que o movimento de migrações
os saberes foram progressivamente se diferenciando, disciplinares faz parte da história das ciências. As rupturas de
configurando campos, com objetos de estudo próprios, marcos fronteiras disciplinares sempre ocorreram paralelamente à
conceituais, métodos e procedimentos específicos. Esse consolidação das disciplinas, gerando novos campos de
movimento na produção do conhecimento se deu sob forte conhecimento. Cita, como exemplo, a biologia molecular,
influência do paradigma positivista, o que acabou por nascida de transferência entre disciplinas à margem da Física,
influenciar a própria definição do tipo de conhecimento que da Química e da Biologia. A antropologia estrutural de Lévi-
poderia se considerar uma disciplina e, ao mesmo tempo, Strauss, fortemente influenciada pela linguística estrutural de
destituindo diversas formas de conhecimento do estatuto de Jakobon. Ou o movimento da École de Annales, que construiu
ciência. As universidades são instituições que têm um papel uma história numa perspectiva transdisciplinar,
decisivo na configuração e legitimação do conhecimento multimensional, em que se acham presentes contribuições da
científico, uma vez que sua estrutura, seus departamentos, Antropologia, da Economia e da Sociologia entre outras
suas associações profissionais definem concretamente os disciplinas. Para Morin, esses projetos inter-poli-
objetos de estudo, as linhas de pesquisa para a construção e transdisciplinares podem constituir-se em processos de
formalização do conhecimento. complexificação das áreas de pesquisa e, ao mesmo tempo,
recorrem à poli competência do pesquisador.
E é nesse espaço institucional que se produz um
acúmulo enorme de conhecimentos, fragmentados e E quanto à escola, como é que todo esse movimento de
compartilhamentalizados em diferentes disciplinas e produção do conhecimento se reflete na instituição
especialidades que ignoram, embora muitas vezes, escolar?
trabalhem com o mesmo objeto de estudo, Santomé.64
A lógica de organização do conhecimento por disciplinas
Esse paradigma científico, que produziu conhecimentos foi incorporada à cultura escolar e passou a ser o critério
extremamente relevantes para a humanidade, está hoje sendo dominante de estruturação curricular, sobretudo, nos níveis
profundamente questionado, por seus limites e distorções, por de ensino mais elevados, reproduzindo a fragmentação e o
seu reducionismo e determinismo, por sua incapacidade de isolamento das diferentes matérias e campos do
abarcar aspectos da realidade que são estranhos aos seus conhecimento. O questionamento a essa perspectiva, no
marcos conceituais e metodológicos. É nesse contexto que entanto, se faz desde o início do século XX, quando diferentes
surgem as noções de multidisciplinaridade, educadores formulam propostas de ensino que têm como

63 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel 65 MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o

Ramalhete, 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. pensamento. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
64 SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo

integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 48
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

objetivo buscar maior unidade no desenvolvimento curricular, mesmo: o fato de os professores evidenciarem as relações
na organização dos conteúdos de ensino. Ainda assim, a entre as disciplinas não garante que os alunos estabeleçam as
perspectiva disciplinar permanece fortemente arraigada à conexões necessárias para a compreensão global do tema.
nossa cultura escolar, tendo chegado ao seu extremo, aqui no Para Hernández, esse enfoque é externo à aprendizagem do
Brasil, nos anos 70, com o tecnicismo. Os anos 80 foram aluno, resulta do esforço e dos conhecimentos do professor e
fecundos em debates, movimentos de renovação pedagógica e mantém a centralidade das disciplinas. Para que a escola
reformas educativas que buscavam novas orientações enfrente as mudanças requeridas no contexto atual, diz ele, a
curriculares, com forte componente político. A noção de reorganização curricular deve acontecer na perspectiva da
interdisciplinaridade incorpora-se ao discurso e à prática transdisciplinaridade.
pedagógica, como expressão de uma busca para superar o As transformações ocorridas nas últimas décadas no
isolamento entre as disciplinas e para construir propostas cenário sociocultural, econômico, político, no campo do
educativas mais adequadas aos anseios dos educadores de conhecimento e das tecnologias, em todo o planeta, e que
trabalharem a formação para a cidadania, a partir da realidade transformaram decisivamente as relações entre as pessoas e
do aluno. destas com o conhecimento, demandam da escola mudanças
Diferentes autores teorizam sobre as perspectivas profundas. Assumir a Transdisciplinaridade como marco para
educativas de integração curricular. Zabala66 faz uma distinção uma organização do currículo escolar integrado significa
entre os métodos globalizados e os enfoques que trabalham repensar o trabalho educativo em termos da complexidade do
diferentes relações entre os conteúdos. Nos primeiros, os conhecimento e de sua produção. Nessa perspectiva, aprender
conteúdos de ensino não se apresentam nem se organizam a significa interpretar a realidade, compreendendo seus
partir de uma estrutura disciplinar, mas de um tema ou fenômenos e explicando essa compreensão. Isso implica que a
problema por meio do qual os conteúdos são estudados. O escola repense os critérios para a organização de seu currículo,
referencial organizador do trabalho pedagógico é o aluno e o porquê de algumas disciplinas serem nele contempladas e
suas necessidades educativas. Os conteúdos estão outras não, o significado de conteúdo escolar, os
condicionados aos objetivos de formação do aluno. Os procedimentos de ensino/aprendizagem, os processos
segundos se caracterizam pelo tipo de relação que se educativos como um todo.
estabelece entre as disciplinas; não se referem a uma
metodologia concreta, mas a uma determinada maneira de Para Hernández, são características do currículo
organizar e apresentar os conteúdos, a partir das disciplinas. transdisciplinar:
A prioridade básica são matérias e sua aprendizagem. Zabala - O trabalho é desenvolvido através de temas ou problemas
observa que as relações entre as disciplinas constituem um vinculados ao mundo real, à comunidade;
problema essencialmente epistemológico e apenas como - O professor é mediador do processo, que é desenvolvido por
consequência, uma questão escolar. Este autor apresenta meio de pesquisas, de projetos de trabalho (ver também verbete
quatro tipos diferentes de relações entre as disciplinas que Projetos de Trabalho, no Dicionário Tempos e Espaços
têm aplicação no campo do ensino: multidisciplinaridade, Escolares).
pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e - O estudo individual cede lugar ao estudo em pequenos
transdisciplinaridade. grupos, nos quais os alunos trabalham por projetos;
- O conhecimento é construído em função da pesquisa que se
- Multidisciplinaridade: os conteúdos escolares se está realizando;
apresentam como matérias independentes, como um somatório - A avaliação é feita através de portfólios, em que os alunos
de disciplinas, sem explicitação de relação entre si. sistematizam o conhecimento construído e refletem sobre o seu
- Pluridisciplinaridade: a organização dos conteúdos processo de aprendizagem.
expressa a existência de relações entre disciplinas mais ou Igualmente importante para se repensar um currículo
menos afins, como, por exemplo, as diferentes ciências integrado, que favoreça a construção de sentido nas
experimentais. aprendizagens, é a noção de conceito estruturador que
- Interdisciplinaridade: é a interação de duas ou mais permite a concretização da interdisciplinaridade na prática
disciplinas, implicando numa troca de conhecimentos de uma escolar.
disciplina à outra (conceitos, leis, etc.), gerando, em alguns
casos, um novo corpo disciplinar. O conhecimento do meio, no Implicações da interdisciplinaridade no processo de
Ensino Fundamental, pode ser um exemplo de ensino-aprendizagem
interdisciplinaridade. A escola, como lugar legítimo de aprendizagem, produção
- Transdisciplinaridade: é o grau máximo de relações entre e reconstrução de conhecimento, cada vez mais precisará
as disciplinas, a busca de uma integração global dentro de um acompanhar as transformações da ciência contemporânea,
sistema totalizador que possibilite uma unidade interpretativa. adotar e simultaneamente apoiar as exigências
interdisciplinares que hoje participam da construção de novos
Segundo Zabala, a transdisciplinaridade constitui-se mais conhecimentos. A escola precisará acompanhar o ritmo das
como um desejo do que como uma realidade. mudanças que se operam em todos os segmentos que
Para Hernández67, a interdisciplinaridade da escola tem compõem a sociedade. O mundo está cada vez mais
como objetivo oferecer uma resposta à necessidade de ensinar interconectado, interdisciplinarizado e complexo.
aos alunos a unidade do saber. Para isso, os professores Embora a temática da interdisciplinaridade esteja em
organizam o trabalho de modo a colocar em comum a visão de debate tanto nas agências formadoras quanto nas escolas,
diferentes disciplinas sobre um determinado tema como, por sobretudo nas discussões sobre projeto político-pedagógico,
exemplo, a Inconfidência Mineira vista numa perspectiva os desafios para a superação do referencial dicotomizador e
histórica, geográfica, das letras e artes. Uma crítica que esse parcelado na reconstrução e socialização do conhecimento
autor tece a essa perspectiva é relativa ao fato de que, de modo que orienta a prática dos educadores ainda são enormes.
geral, não há intercâmbios relacionais reais entre os saberes,
já que cada professor costuma dar a uma visão do tema, o que
não garantirá que o aluno tenha uma visão relacional do

66 ZABALA, Antoni Vidiella. Enfoque globalizador e pensamento 67 HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos

complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.ant de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 49
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Para Luck,68 o estabelecimento de um trabalho de sentido Na organização e gestão do currículo, as abordagens


interdisciplinar provoca, como toda ação a que não se está disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar
habituado, sobrecarga de trabalho, certo medo de errar, de requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque
perder privilégios e direitos estabelecidos. A orientação para o revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas
enfoque interdisciplinar na prática pedagógica implica romper dos educadores e organizam o trabalho do estudante.
hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o
desconhecido. É certamente um grande desafio. planejamento do trabalho pedagógico, a gestão
A ação interdisciplinar é contrária a qualquer administrativo-acadêmica, até a organização do tempo e do
homogeneização e/ou enquadramento conceitual. Faz-se espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos
necessário o desmantelamento das fronteiras artificiais do equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o
conhecimento. Um processo educativo desenvolvido na conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em
perspectiva interdisciplinar possibilita o aprofundamento da seus diferentes âmbitos. As abordagens multidisciplinar,
compreensão da relação entre teoria e prática, contribui para pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-se nas
uma formação mais crítica, criativa e responsável e coloca mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o recorte do
escola e educadores diante de novos desafios tanto no plano conhecimento.
ontológico quanto no plano epistemológico. Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do
Na sala de aula, ou em qualquer outro ambiente de conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda
aprendizagem, são inúmeras as relações que intervêm no um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao
processo de construção e organização do conhecimento. As mesmo tempo. Segundo Nicolescu69, a pesquisa
múltiplas relações entre professores, alunos e objetos de pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas
estudo constroem o contexto de trabalho dentro do qual as restringe-se a ela, está a serviço dela. A transdisciplinaridade
relações de sentido são construídas. Nesse complexo trabalho, refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para
o enfoque interdisciplinar aproxima o sujeito de sua realidade além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas
mais ampla, auxilia os aprendizes na compreensão das diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no
complexas redes conceituais, possibilita maior significado e tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a
sentido aos conteúdos da aprendizagem, permitindo uma parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota atitude de abertura
formação mais consistente e responsável. sobre as culturas do presente e do passado, uma assimilação
De todo modo, o professor precisa tornar-se um da cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de
profissional com visão integrada da realidade, compreender articular diferentes referências de dimensões da pessoa
que um entendimento mais profundo de sua área de formação humana, de seus direitos, e do mundo é fundamento básico da
não é suficiente para dar conta de todo o processo de ensino. transdisciplinaridade. De acordo com Nicolescu, para os
Ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento clássico é o
conceituais que sua área de formação estabelece com as outras seu campo de aplicação, por isso é complementar à pesquisa
ciências. O conhecimento não deixará de ter seu caráter de pluri e interdisciplinar. A interdisciplinaridade pressupõe a
especialidade, sobretudo quando profundo, sistemático, transferência de métodos de uma disciplina para outra.
analítico, meticulosamente reconstruído; todavia, ao educador Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo
caberá o papel de reconstruí-lo dialeticamente na relação com disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a
seus alunos por meio de métodos e processos transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes
verdadeiramente produtivos. disciplinas, por meio da ação didático-pedagógica mediada
A escola é um ambiente de vida e, ao mesmo tempo, um pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a
instrumento de acesso do sujeito à cidadania, à criatividade e organização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico,
à autonomia. Não possui fim em si mesma. Ela deve constituir- embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de
se como processo de vivência, e não de preparação para a vida. modo restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinaridade
Por isso, sua organização curricular, pedagógica e didática é, portanto, entendida aqui como abordagem teórico-
deve considerar a pluralidade de vozes, de concepções, de metodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho de
experiências, de ritmos, de culturas, de interesses. A escola integração das diferentes áreas do conhecimento, um real
deve conter, em si, a expressão da convivialidade humana, trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao
considerando toda a sua complexidade. A escola deve ser, por planejamento. Essa orientação deve ser enriquecida, por meio
sua natureza e função, uma instituição interdisciplinar. de proposta temática trabalhada transversalmente ou em
A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes redes de conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por
manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se para meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático
se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de e integrado e disposição para o diálogo.
heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em A transversalidade é entendida como uma forma de
movimento, no processo tornado possível por meio de organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos
relações intersubjetivas, fundamentada no princípio temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas
emancipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o convencionais de forma a estarem presentes em todas elas. A
papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e
fundamentadas no pressuposto do respeito e da valorização complementam-se; ambas rejeitam a concepção de
das diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto
sócio emocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-
sociocultural, que dão sentido às ações educativas, pedagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos
enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de objetos de conhecimento. A transversalidade orienta para a
natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia
dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados
alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores, (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real
adotando medidas proativas e ações preventivas. (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma

68LUCK, Heloísa. Pedagogia da interdisciplinaridade. Fundamentos teórico- transdisciplinaridade. Tradução de Judite Vero, Maria F. de Mello e Américo
metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2001. Sommerman. Brasília: UNESCO, 2000. (Edições UNESCO).
69NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento –
transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab et al. Educação e

Conhecimentos Pedagógicos 50
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

compreensão interdisciplinar do conhecimento, a dos educadores e organizam o trabalho do estudante.


transversalidade tem significado, sendo uma proposta didática Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o
que possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de planejamento do trabalho pedagógico, a gestão
forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do administrativo‐acadêmica, até a organização do tempo e do
conhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos
agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o
procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em
do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas. seus diferentes âmbitos."
Portanto, a interdisciplinaridade é um movimento (Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, 2013.)
importante de articulação entre o ensinar e o aprender.
Compreendida como formulação teórica e assumida enquanto As abordagens multidisciplinar, pluridisciplinar e
atitude, tem a potencialidade de auxiliar os educadores e as interdisciplinar fundamentam‐se nas mesmas bases, que são
escolas na ressignificação do trabalho pedagógico em termos as disciplinas, ou seja, o recorte do conhecimento.
de currículo, de métodos, de conteúdos, de avaliação e nas Considerando essas abordagens, analise a afirmativa a seguir.
formas de organização dos ambientes para a aprendizagem. “A ______ expressa frações do conhecimento e o hierarquiza,
a ______ estuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de
Questões várias outras ao mesmo tempo. A _____ refere‐se ao
conhecimento próprio da disciplina, mas está para além dela.
01. (FUNECE – CE - Técnico em Assuntos O conhecimento situa‐se na disciplina, nas diferentes
Educacionais/2017) Conforme o grau de integração das disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no tempo. A
diferentes disciplinas reagrupadas em um determinado _____ pressupõe a transferência de métodos de uma disciplina
momento, podemos estabelecer diferentes níveis de para outra. Ultrapassa‐as, mas sua finalidade inscreve‐se no
interdisciplinaridade. Segundo Piaget (1979), os níveis de estudo disciplinar."
colaboração e integração entre disciplinas, são: Assinale a alternativa que completa correta e
(A) Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, sequencialmente a afirmativa anterior.
transdisciplinaridade. (A) Multidisciplinaridade / pluridisciplinaridade /
(B) Pluridisciplinaridade, disciplinaridade cruzada, transdisciplinaridade / interdisciplinaridade
multidisciplinaridade. (B) Transdisciplinaridade / interdisciplinaridade /
(C) Interdisciplinaridade auxiliar, composta e unificadora. multidisciplinaridade / pluridisciplinaridade
(D) Pseudo-interdisciplinaridade, interdisciplinaridade (C) Interdisciplinaridade / multidisciplinaridade /
estrutural e restritiva. pluridisciplinaridade / transdisciplinaridade
(D) Pluridisciplinaridade / transdisciplinaridade /
02. (CESGRANRIO – UNIRIO - Pedagogo/2016) Numa interdisciplinaridade / multidisciplinaridade
reunião pedagógica, os professores devem refletir sobre o
limite de suas disciplinas, a relatividade das mesmas e a 05. (FUNIVERSA - Secretaria da Criança – DF -
necessidade da interdisciplinaridade, que permite: Especialista Socioeducativo – Pedagogia) Assinale a
(A) Ensinar dentro de uma nova metodologia. alternativa que apresenta o termo correspondente à definição
(B) Hierarquizar melhor as disciplinas. a seguir: caracteriza-se como nova concepção de divisão do
(C) Organizar melhor os conteúdos de cada disciplina. saber e visa à interdependência, à interação e à comunicação
(D) Passar de um saber setorizado a um conhecimento existentes entre as áreas do conhecimento. Há a interação e o
integrado. compartilhamento de ideias, opiniões e explicações.
(E) Maior consenso entre os professores. (A) Multidisciplinaridade
(B) Interdisciplinaridade
03. (FUNRIO – IFPA - Pedagogo/2016) A (C) Contextualização
interdisciplinaridade pode ser assim definida: (D) Transdisciplinaridade
(A) Os conteúdos escolares são apresentados por matérias (E) Pluridisciplinaridade
ou disciplinas independentes umas das outras. O conjunto de
matérias é proposto simultaneamente aos estudantes. Trata- Respostas
se de uma organização somativa.
(B) A interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir 01. A / 02. D / 03. B / 04. A / 05. B
desde a simples comunicação entre elas até a integração
recíproca de conceitos fundamentais podendo implicar, em
alguns casos, em um novo corpo disciplinar.
(C) O grau máximo de relações entre as disciplinas, daí que Currículo: a valorização das
supõe uma integração global dentro de um sistema diferenças individuais, de
globalizador, com o propósito de explicar a realidade sem gênero, étnicas e
parcelamento do conhecimento.
(D) Uma multiplicidade de disciplinas e, cada uma delas, socioculturais e o combate à
em sua especialização, cria um corpo diferenciado, desigualdade.
determinado por um campo ou objeto material de referência.
(E) Temas voltados para a compreensão e para a
construção da realidade social, que são assim adjetivados por
não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas por Sexualidade
atravessarem todas elas como se a todas fossem pertinentes.
A sexualidade tem grande importância no
04. (IDECAN – RN - Professor de Ensino Religioso/2016) desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
“Na organização e gestão do currículo, as abordagens independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres
requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo
revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento

Conhecimentos Pedagógicos 51
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

até a morte, de formas diferentes a cada etapa do Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem
desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de
ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade
história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das
sentimentos, expressando-se então com singularidade em descobertas e experimentações em relação à atração e às
cada sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo da fantasias sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação
sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de
Antropologia, História, Economia, Sociologia, Biologia, pares amorosos entre os adolescentes.
Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é
expressão biológica que define um conjunto de É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de
características anatômicas e funcionais (genitais e todos os profissionais da educação a postura a ser adotada,
extragenitais), a sexualidade é, de forma bem mais ampla, dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade
expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos de dos alunos.
regras que constituem parâmetros fundamentais para o
comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido, Como dito anteriormente, sexo também é coisa de
a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade criança71. Tendo sempre em mente que cada criança é uma
nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. criança, vamos pensar o desenvolvimento sexual da criança.
Tomando por base os modos de viver e expressar a
Sexualidade na infância e na adolescência70 dimensão humana, temos seis períodos distintos – primeira
infância, fase pré-escolar, segunda infância, adolescência,
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as maturidade e terceira idade. Aqui vamos nos ater apenas aos
primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências três primeiros: primeira infância (0 a 2 anos), fase pré-escolar
sensuais de vida e de prazer não são essencialmente (2 a 6 anos) e segunda infância (6 a 10 anos).
biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indivíduo,
serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil - Primeira infância (0 a 2 anos):
se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se
manifestando de forma diferente em cada momento da “A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais,
infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em no momento em que decidem ter filhos”.
que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um
dos seres humanos. ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente ríspido e
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no
partir das possibilidades individuais e de sua interação com o desenvolvimento da criança. É “nos primeiros anos de vida que
meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra, se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto
aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em e se inicia a formação de uma sexualidade saudável”.
seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu
recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou mundo através de seu corpo, de suas sensações. Será através
“julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado do gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança
de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer, vai experimentar o prazer. Essa relação com seu corpo e com
o que comporá a sua vida psíquica. os sentidos formará suas atitudes sexuais mais tarde.
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do A relação que essa criança tem com seus cuidadores
corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a também será definidor das suas atitudes relacionais. Esse
criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. primeiro vínculo é um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou
Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre não, no seu desenvolvimento.
os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A
expressões que caracterizam o homem e a mulher. A nossa capacidade de amar e de se relacionar está diretamente
construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo ligada a esse aprendizado na infância.
tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive
nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos - Fase pré-escolar (2 a 6 anos):
padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino.
Esses padrões são oriundos das representações sociais e Essa fase tem quatro momentos importantes:
culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos
sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a 1. Formação da Identidade de gênero:
denominação de relações de gênero. Essas representações
absorvidas são referências fundamentais para a constituição A identidade de gênero é a condição de pertencer a um
da identidade da criança. sexo. Nesta fase a criança começa a definir-se como menino ou
menina. Os pais e educadores(as) devem, neste momento,
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil favorecer o processo de identificação da criança, através da
datam do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas brincadeira. Mostrar as diferenças e semelhanças entre ser
ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de menino e ser menina (evitar ao máximo estereótipos!).
crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são Reforçar a visão de sexo da criança, sem nunca desvalorizar o
seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a sexo oposto. A questão não é superioridade/inferioridade, mas
expressar, e as manifestações da sexualidade infantil possuem sim diferenças.
a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se
deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no 2. Assimilação do papel sexual (social):
entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da
existência e da importância da sexualidade para o O papel sexual diz respeito ao comportamento que a
desenvolvimento de crianças e jovens. criança terá diante sua identidade de gênero. Importante

70 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares 71 Colunista Portal Educação, 2013 em http://www.portaleducacao.com.br.
Nacionais: Orientação Sexual. Portal MEC.

Conhecimentos Pedagógicos 52
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos transmitir informações e valores (confiança, respeito, amor,
tipicamente masculinos e/ou femininos. honestidade, responsabilidade), as crianças estão prestando
atenção.
3. Aprendizagem e controle dos esfíncteres É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e
prepara a criança para o próximo período, a puberdade.
É a primeira oportunidade da criança de aprender e
exercer o autocontrole, através do treinamento do controle O que são jogos sexuais?
dos esfíncteres.
Segundo as considerações de Figueirêdo Netto, a Definição: são brincadeiras que ajudam a satisfazer a
aprendizagem do controle dos esfíncteres, no que se refere ao curiosidade sexual.
desenvolvimento da sexualidade, tem fundamental
importância, pois: Alguns tipos:
a) “As áreas genitais se encontram na mesma zona do - Cócegas;
corpo que intervém na excreção. Os músculos que participam - Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas;
deste ato são exatamente os mesmos que posteriormente - Brincadeiras de médico;
atuarão na resposta sexual. - Brincadeiras de papai e mamãe.
b) O ato de reter e expulsar os excrementos (urina e fezes)
produz prazer sensual, pela tensão e alívio ou relaxamento, Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças
que acompanham estes comportamentos. da mesma idade.
c) O controle voluntário desses músculos, assim como as Ainda sobre os jogos sexuais, Suplicy afirma que “os
sensações prazerosas deles resultantes, são associados à professores constataram que em geral os jogos sexuais são
sexualidade”. realizados na hora do recreio. As crianças escolherem um
Para não adiantar nem atrasar esse processo da criança é lugar protegido, fora da vista do adulto; não tiram a roupa e
preciso ter em mente que ele(a) poderá ter este tipo de brincam de médico e de papai-e-mamãe. Se esses jogos forem
controle entre os dois e três anos de idade. Adiantar ou atrasar observados, mas não atrapalharem nenhuma atividade, não
esse momento pode ser prejudicial ao desenvolvimento da precisam ser interrompidos, pois fazem parte do
criança. Importante, ainda, salientar que pais e educadores desenvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar
devem evitar relacionar questões negativas (como sujo, feio, atento para que não haja coação nessas brincadeiras”.
associar a castigos e chantagens), no decorrer do treinamento
do controle dos esfíncteres. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção72

4. Interesses e curiosidades sexuais: Desde a antiguidade a sexualidade vem gerando polêmicas,


mexendo com a sensação e fantasia das pessoas, associada a
É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as coisas feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução
crianças querem ver e saber. Com tantas perguntas, é um bom sexual, da globalização e dos meios de comunicação terem
momento para ensinar às crianças os nomes corretos das contribuído para uma modificação nas atitudes morais e nas
partes de seu corpo. questões ligadas ao sexo e sexualidade, esse assunto ainda
Como parte de seu desenvolvimento a masturbação assim continua sendo um tabu.
aparece como curiosidade natural da criança de seu corpo e O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do
suas sensações. É um jogo exploratório de sensações. Não tem indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocional e sexual
a mesma conotação da masturbação na adolescência e no propriamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor
adulto. Assim, é um bom momento para ensinar às crianças conversar sobre sexo com seus filhos, ora pela educação
sobre a intimidade. O público e o privado. Não precisa recebida de seus pais, ora pela repressão ou por não saberem
problematizar a situação, apenas orientar. A repressão é como abordar o tema. Assim, os filhos na maioria da vezes,
indesejada. ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou
Além de se tocarem, as crianças exploram também os acidentes inesperados por terem informações errôneas ao
outros. É a fase da conhecida “brincadeira de médico”. Se a consultar variadas fontes impróprias.
brincadeira for entre crianças da mesma idade não há razão A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na
para se preocupar, é conhecimento não abuso. escola onde começam a se sociabilizar, aflorando sua
Nessa fase o pensamento é mágico e fantasioso, por isso sexualidade devido ao desenvolvimento corporal gerado pelos
devem ser evitadas conversas como a da “cegonha” e da hormônios. A escola é o ambiente onde a interação com o
“sementinha”. As respostas devem ser claras e objetivas o mundo ao redor e com as pessoas que o cercam acontece.
suficiente para satisfazer a curiosidade da criança. Ela quer Depois do ambiente familiar é a escola que complementa a
saber do fato, a maldade está na cabeça do(a) adulto(a). Outro educação dada pela família onde são abordados temas mais
cuidado com as histórias fantasiosas é que elas podem gerar complexos que no dia-a-dia não são ensinados e aprendidos,
fantasias negativas, temores e culpas. Desnecessário. tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva
e emocional de seus alunos. E quanto ao assunto sexo e
- Segunda Infância (6 a 10 anos): sexualidade? Qual o papel da escola frente a esse tema? A
escola não deve nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a
Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja, ela possibilitar uma aprendizagem correta, já que essa
entra em adormecimento para ser mais bem elaborada. É um instituição visa o crescimento do indivíduo como um todo.
momento de sensualidade, pois as crianças estão aptas a A educação sexual acontece no seio familiar. É uma
experimentar as sensações. Por isso, há muitos jogos sexuais experiência pessoal contida de valores e condutas
nesta fase. O lúdico aparece na imitação de modelos. É um transmitidos pelos pais e por pessoas que o cercam desde
momento em que pais e educadores(as) devem tomar cuidado bebê. Já a Orientação Sexual é dada pela escola onde são feitas
com o que falam e com o que fazem. A criança está em discussões e reflexões à respeito do tema de uma maneira
constante observação. Assim, é um bom momento para

72 BERALDO, F. N.de M. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção. Psicol.

Esc. Educ. (Impr.) vol.7 no.1 Campinas, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 53
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

formal e sistematizada que constitui em uma proposta objetiva período que compreende a infância e a adolescência apenas
de intervenção por parte dos educadores. pela faixa etária. Quando podemos afirmar que uma criança
O que nos cabe é refletir acerca da importância da deixou de sê-lo e passou a ser adolescente? Quais
Orientação Sexual na Escola para a construção da cidadania, de comportamentos são considerados infantis, juvenis e/ou
uma sociedade livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho adultos? Estes são questionamentos complexos.
de Orientação Sexual tem como objetivo principal as Em todos os questionamentos que formulamos a respeito
mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em dos seres humanos, devemos sempre conceber o homem
conta três aspectos fundamentais: a transmissão de enquanto ser integral, biopsicossocial. Desta forma,
informações de maneira verdadeira; a eliminação do precisamos considerar as dimensões biológica, psicológica e
preconceito e a atuação na área afetivo-emocional. Para se social das pessoas, compreendendo que estas não são
fazer um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola separadas, mas integradas na existência humana.
é importante dar atenção a alguns passos: Em relação à dimensão biológica, percebemos que uma
a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo criança começa a deixar de sê-lo quando ela vivencia o período
do trabalho; do desenvolvimento humano chamado de puberdade. Para
b) fazer uma reunião com os pais e professores para esta discussão, tomaremos como referência o trabalho de
esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo do Gewandsznajder.
trabalho e explicar o papel de ambos junto à escola neste Na puberdade, o corpo do menino ou da menina passa por
projeto; um processo de transformação, deixando de ser um corpo
c) observar a demanda da escola para que se atinja a infantil para se tornar um corpo adulto, ou seja, pronto para
expectativa desta; reprodução.
d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar A faixa etária que corresponde a este período é variável.
em contato com elas para explicar como este será Em geral, a puberdade ocorre nos garotos entre 11 e 13 anos e
administrado; nas garotas entre 10 e 12 anos. É necessário saber que estas
e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos,” dúvidas e idades não são fixas, podendo variar de pessoa para pessoa.
curiosidades de cada aluno garantindo-lhes total sigilo; Tanto em garotos quanto em garotas ocorre o chamado
f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma “estirão”, ou seja, um crescimento do corpo acentuado em um
estruturação do programa a ser cumprido em diferentes séries curto período de tempo. O “estirão” costuma iniciar mais cedo
(conteúdo, horário, encontros, local), para uma maior eficácia; nas meninas que nos meninos, razão pela qual as meninas por
g) estabelecer um contrato (regras sugeridas pelo grupo); volta dos 12 anos de idade são frequentemente mais altas que
h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como os meninos. Também tanto em garotos quanto em garotas
para os professores; ocorre o aparecimento de pêlos pubianos e axilares. A pele se
i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo torna mais oleosa e o corpo, através do suor, passa a ter um
pelas dúvidas de seus colegas, sem monopólio da verdade de cheiro característico de pessoa adulta, diferenciando-se da
ambas as partes. criança.
O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a
diferenciação de sexo e sexualidade e também de Educação Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se
Sexual e Orientação Sexual, que são muito confundidos na alarga provocando a tendência da voz se tornar mais grave.
maioria das vezes. O educador de Orientação Sexual deve ser Também ocorre o aumento da massa muscular, com
uma pessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentes à consequente ampliação da força física, e o aumento do pênis e
sexualidade para melhor ministrar a turma sem causar testículos.
problemas com a instituição, pais, alunos e professores, Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas
podendo abordar os assuntos através de aulas expositivas, e coxas, dando ao corpo o aspecto de mulher em fase adulta. A
dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e outros partir da puberdade a garota passa a menstruar, característica
materiais referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou que sinaliza que seu organismo está pronto para gerar filhos.
reprovação. É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de
Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é adolescência. Puberdade compreende as transformações
necessário ressaltar a importância dos pais nesse processo corporais que tornam o corpo humano adequado para a
para que estes não se acomodem, julgando a escola reprodução, deixando de ser um corpo infantil para tornar-se
responsável pelo processo da educação sexual de seus filhos; um corpo adulto. A adolescência compreende um período mais
não cabe ao professor de Orientação Sexual virar conselheiro extenso e significativo que a puberdade, sendo esta etapa
ou confidente dos alunos. Deve, se necessário, encaminhar constituinte daquela.
para um profissional especializado. O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que
significa “crescer, engrossar, tornar maior”. Em relação à
Os jovens e a sexualidade73 dimensão psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e
Tavares, as crianças que se tornam adolescentes também
Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual passam por transformações. A principal delas é em relação à
com jovens, é necessário que o profissional conheça o público própria identidade. Neste momento, o adolescente necessita
beneficiário de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos se reconhecer num corpo transformado, que não é mais o
na condição de educadores. corpo infantil que ele tinha, e que agora é um corpo adulto,
visivelmente modificado.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei Outro passo importante é a consolidação de si próprio
8.069, de 13 de julho de 1.990 – Art. 2º) “considera-se criança, enquanto pessoa “independente”, sob o ponto de vista da
[...], a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente determinação de suas escolhas pessoais e da responsabilidade
aquela entre doze e dezoito anos de idade” (Brasil, 1990). que elas trazem. É neste momento que pode haver uma
divergência, e até um questionamento, com as regras
Muitos autores que se preocupam com a temática da determinadas pela família e pela sociedade.
infância e juventude afirmam que não é possível definir o

73 BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação Sexual


com Jovens: Construindo um Exercício Responsável da Sexualidade. Simpósio
Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.

Conhecimentos Pedagógicos 54
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito que reproduzem e perpetuam tabus, desinformações e
intensa do jovem com seu grupo de “iguais”, em geral outros atitudes repressivas em relação à sexualidade humana.
jovens. Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar Para Ribeiro, a Orientação Sexual pressupõe uma
um determinado modo de conversar, de se vestir, enfim, de se intervenção institucionalizada, sistematizada e realizada por
comportar. Esta identificação com o grupo é importante na profissionais especialmente preparados para exercer esta
construção da própria identidade (pessoal, sexual, social) do função. Diferencia-se, portanto, da Educação Sexual, que
adolescente. acontece durante toda a vida das pessoas, e que diz respeito ao
Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as processo educacional referente às atitudes em relação à
primeiras manifestações da sexualidade adulta, ou seja, o sexualidade. Desta forma, podemos pensar a Orientação
primeiro beijo, o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências Sexual enquanto prática interventiva na vida das pessoas,
eróticas. Trata-se de uma busca pelo outro para um prática que intervém na Educação Sexual que todas elas
relacionamento afetivo-sexual. “A adolescência é uma fase de receberam em contato com a sociedade em que vivem.
descobertas, de desafios e a sexualidade humana talvez seja,
para a maioria dos jovens, o aspecto mais interessante desta Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de
jornada”. intervenção sistemática na área de sexualidade, realizado
Em relação à dimensão social, precisamos considerar que principalmente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual
a adolescência enquanto processo de desenvolvimento compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais,
humano não é universal, ou seja, não é igual para todos os afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de gênero.
jovens. Cada um vivenciará a sua adolescência de acordo com Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e
suas condições de vida, o seu lugar de moradia, a dinâmica de espirituais da sexualidade, através do desenvolvimento das
sua família de origem, as características de acesso à escola ou áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as
aos serviços de saúde, as modalidades de lazer a que tem habilidades para a comunicação e a tomada responsável de
acesso, dentre outros condicionantes. Todas as decisões”.
transformações vivenciadas pelo jovem são construídas
mediante as relações sociais que eles estabelecem. Não existe Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro
um “padrão”. Cada indivíduo, a partir de sua realidade social, em afirmar que a Orientação Sexual é uma prática
vivenciará sua juventude de forma particular. interventiva sistemática na área da sexualidade. Suplicy et.
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um al., na definição citada, enfatiza que a Orientação Sexual deve
processo do ciclo vital do jovem. Isto quer dizer que devemos ser pensada e executada a partir da consideração do
compreender o jovem não enquanto um “problema” ou um orientando enquanto ser integral, ou seja, devem ser
“fardo”. Deve ser compreendido sempre a partir da sua pessoa consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológicas,
em condição peculiar de desenvolvimento inserida num psicológicas e espirituais no exercício de sua sexualidade.
determinado contexto sociocultural. Além disso, a Orientação Sexual deve contemplar diversos
Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento aspectos do desenvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja,
da juventude. Atualmente vivenciamos uma clara dificuldade saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade,
em delimitar o término deste período. Não é raro imagem corporal, autoestima e relações de gênero.
encontrarmos pessoas que pretendem terminar seus estudos, Compreende-se o ser humano enquanto ser sexuado inserido
incluindo até cursos de mestrado e doutorado, antes de num meio social, que continuamente se relaciona com outros
decidirem morar sozinhos ou casaram-se, e então deixar de seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da
morar com seus pais. Orientação Sexual no Brasil que, no início e meados do século
Partindo da premissa de todas estas transformações XX priorizava a dimensão biológica da sexualidade. No final do
contemporâneas, é interessante tomarmos a definição do século XX e nos dias atuais, deve-se compreender a
Conselho Nacional da Juventude no que diz respeito a estender sexualidade enquanto manifestação humana, com
até os 29 anos a faixa etária das pessoas que são consideradas desdobramentos além da mera reprodução e da possibilidade
jovens. de contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Tais
São estes jovens que constituem o público beneficiário da aspectos não devem ser descartados, mas deve-se somar a eles
prática de Orientação Sexual, no enfoque deste trabalho. outros aspectos como o prazer, as relações afetivas e os papéis
sexuais na (re)definição de gênero.
Orientação Sexual X Educação Sexual Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos
objetivos da Orientação Sexual é levar o indivíduo a valorizar
Os autores que se preocupam atualmente com a temática o prazer, o respeito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência
da Orientação Sexual formulam questionamentos a respeito do mais íntegra e feliz.
termo que deve ser utilizado para definir tais práticas. Quando
falamos em Orientação Sexual e em Educação Sexual, Breve histórico da Orientação Sexual no Brasil
utilizamos a mesma definição para as duas expressões?
De acordo com Ribeiro falamos em Educação Sexual No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do
quando nos referimos aos “processos culturais contínuos [...] cotidiano das pessoas, desde a época da Colônia do século XVI.
que direcionam os indivíduos para diferentes atitudes e O homem brasileiro branco, nos primeiros anos da
comportamentos ligados à manifestação de sua sexualidade”. colonização, mantinha relações sexuais com várias índias,
Nesta definição, podemos pensar que a educação sexual tem tendo com elas muitos filhos, caracterizando um
seu início no nascimento de cada indivíduo, sendo que o comportamento sexual bastante promíscuo.
processo educacional acontece através da relação deste Com o advento da escravatura, os jovens homens filhos dos
indivíduo com seu meio social. Então, as “atitudes e senhores de engenho eram incentivados a se relacionar
comportamentos ligados à manifestação da sexualidade” são sexualmente com as escravas negras, para provar que eram
construídos por cada pessoa em contato com a sociedade, ou “machos”. As mulheres brancas eram dominadas e submetidas
seja, amigos, grupos religiosos e/ou de convivência, meios de às regras de seus pais, inicialmente, e de seus maridos, após o
comunicação e, principalmente, a família. Portanto, a casamento. Em geral, casavam ainda adolescentes com
sociedade pratica ações educativas em sexualidade em relação homens bem mais velhos que elas. Era-lhes exigido um
aos indivíduos que a constituem. Porém, em grande parte das comportamento acanhado e humilde frente à sociedade.
vezes, estas ações se tornam “deseducativas”, na medida em

Conhecimentos Pedagógicos 55
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Tal cenário brasileiro se mantém praticamente o mesmo Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual
durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Neste período da História nas escolas brasileiras, o país vivia seu período histórico e
do Brasil não há registros conhecidos de Orientação Sexual político chamado de ditadura militar. Em 1964, a população
enquanto intervenção sistematizada. assiste à chegada das forças armadas ao poder da República
A preocupação com a Orientação Sexual no Brasil, Federativa do Brasil, através da imposição do Golpe de Estado.
enquanto tema científico e pedagógico, data do início do século A partir daí, o regime militar reprime não só as manifestações
XX. Neste momento da história brasileira registra-se a políticas, mas também as manifestações sexuais e as
organização dos primeiros espaços urbanos, que originaram implicações nos padrões de comportamento delas
as cidades brasileiras. Nestes locais a comunidade científica decorrentes.
brasileira se organizava sofrendo forte influência europeia. Em 1968, a deputada federal do Rio de Janeiro Júlia
Steinbruk apresentou um projeto de lei que previa a
Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX, introdução obrigatória da Educação Sexual nas escolas
esta influência europeia manifesta-se no Brasil através de brasileiras. Tal projeto de lei não foi transformado em
algumas correntes médicas e higienistas de sucesso na Europa. legislação porque o então Ministério da Educação e Cultura,
Tais correntes pregavam a necessidade de uma Educação através de sua Comissão Moral e Civismo, rejeitou o projeto,
Sexual eficaz no combate à masturbação e às doenças venéreas demonstrando o severo receio por parte dos gestores da
(termo utilizado na época para referir-se às doenças educação brasileira da época em relação ao tratamento de
sexualmente transmissíveis – DST´s) e que preparasse a questões sexuais com os estudantes.
mulher para desempenhar adequadamente seu “nobre papel Na década de 70, cresce a censura do governo militar e há
de esposa e de mãe”. Notamos que, logo no início de suas um quase desaparecimento de projetos de Orientação Sexual
atividades no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma nas escolas brasileiras. Apenas em 1978, com a abertura
característica de incitação do medo aos jovens (combate à política trazida pelo presidente Ernesto Geisel, a Prefeitura
masturbação e às doenças sexualmente transmissíveis – Municipal de São Paulo implantou projetos de Orientação
DST´s), além de ser impregnada pela chamada ideologia de Sexual em três escolas, os quais, posteriormente, foram
gênero machista (preparar a mulher para desempenhar ampliados para muitas escolas municipais, envolvendo
adequadamente seu papel de esposa e mãe). orientadores educacionais e professores de Ciências e
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e Biologia. Em 1979, a rede pública estadual paulista iniciou um
manuais que tratam da Orientação Sexual, todos baseados no trabalho de informação aos estudantes sobre os aspectos
modelo médico higienista vigente. Referenciando este período, biológicos da reprodução, por intermédio da disciplina de
Chauí cita uma obra datada de 1938, de autoria de Oswaldo Ciências e Programas de Saúde da Secretaria de Educação do
Brandão da Silva, intitulada Iniciação Sexual-Educacional. Este Estado de São Paulo.
livro, segundo consta, tinha um conteúdo destinado somente Ao fim da década de 70 e durante a década de 80, surgem
aos “meninos de valor”. Segundo esta autora, o autor da obra novas ações no plano da Orientação Sexual, como o
não explica o significado do termo “valor”, mas fica claro que aparecimento de serviços telefônicos, programas de rádio e de
as meninas estavam proibidas de ler tal obra, pois deveriam televisão, enciclopédias e fascículos, congressos e encontros
manter-se inocentes e ser iniciadas na vida sexual apenas por de professores. Proliferam as iniciativas na rede particular de
seus maridos. Interessante ressaltar que, do grupo de meninas ensino. Nasce nessa época a SBRASH – Sociedade Brasileira de
excluídas do acesso ao conteúdo da obra, não fazem parte as Sexualidade Humana.
prostitutas. Estas eram consideradas uma tentação para os
meninos enquanto aquelas eram chamadas de meninas de De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido
“boa família”. um abrangente projeto de Orientação Sexual nas escolas
Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi municipais, com a participação do renomado GTPOS (Grupo de
publicado o manual citado por Chauí, foram publicados vários Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual). Este projeto
outros livros de orientação sexual cientificamente atingiu 30.000 alunos e foram capacitados 1.105 professores
fundamentados, escritos por médicos, professores e até para oferecer ações de orientação sexual nas escolas.
sacerdotes. Assim foi criada a sexologia enquanto campo Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos
oficial do saber médico. de Orientação Sexual na década de 1960, não existiram ações
continuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram
Concomitante à consolidação do conhecimento científico atrelados às vontades político-partidárias de prefeitos ou
da época em relação à sexualidade, a Igreja Católica imprime governadores.
severa repressão às práticas sexuais da população brasileira. Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação
Desta forma, a década de 50 é considerada pobre no sentido de da LDB – Lei de Diretrizes e Bases em 1996 e o
não contar com nenhuma iniciativa no campo da Orientação estabelecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais em
Sexual. 1997 como linhas a serem seguidas para se concretizar a meta
Na década de 60 surgem as primeiras experiências de da educação para o exercício da cidadania, a Orientação Sexual
Orientação Sexual nas escolas dos estados de Minas Gerais teve oficialmente reconhecida sua necessidade e importância
(Belo Horizonte, em 1963, no Grupo Escolar Barão do Rio enquanto ação educativa escolar.
Branco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, em 1964, no Colégio
Pedro Alcântara; em 1968, nos colégios Infante Dom Henrique, Os programas de Orientação Sexual
Orlando Rouças, André Maurois e José Bonifácio) e São Paulo
(São Paulo, de 1963 a 1968, no Colégio de Aplicação Fidelino Podemos constatar na maioria dos programas de
Figueiredo; de 1961 a 1969, nos Ginásios Vocacionais; de 1966 Orientação Sexual executados no Brasil, ainda nos dias atuais,
a 1969, no Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental). uma tendência de mostrar apenas os problemas e possíveis
Estas experiências são realizadas com base na ênfase ao más consequências da sexualidade. Em geral, no conteúdo
aspecto biológico da sexualidade humana, tal qual era o destes programas são enfatizadas (quando não são exclusivas)
tratamento dado a esta questão nos livros que possibilitaram as DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis e as gravidezes
o surgimento da sexologia enquanto área do conhecimento da precoces na adolescência, com maternidade e/ou paternidade
medicina. Além disso, estas experiências foram fortemente indesejadas. Este conteúdo não sensibiliza os jovens para a
carregadas com as marcas da repressão das manifestações da discussão construtiva do tema sexualidade humana. Eles
sexualidade. costumam não se sentir à vontade para receber uma adequada

Conhecimentos Pedagógicos 56
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Orientação Sexual, pois identificam claramente a repressão Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN,
sexual que experimentam em seu meio social, aqui também “propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde
reproduzida pelos profissionais orientadores sexuais. com as crianças e os jovens as repercussões das mensagens
Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que transmitidas pela mídia, pela família e pelas demais instituições
prioriza os problemas advindos de uma vivência inadequada da sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas informações
da sexualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de que a criança e o adolescente já possuem e, principalmente, criar
respeito às relações humanas, os jovens costumam não a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhes é ou foi
perceber uma relação coerente entre o conteúdo abordado e apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do
suas próprias experiências reais concretas. Comenta-se que o ponto de vista científico e ao explicitar e debater os diversos
sexo traz problemas, mas a maioria dos jovens percebe suas valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais
experiências sexuais como prazerosas, surgindo aí um existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver
paradoxo. atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como
Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos seus”.
adequados à realidade dos jovens para que eles possam
realmente tomar atitudes responsáveis na vivência de suas Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação
sexualidades. Assim, um programa efetivo de Orientação Sexual no âmbito escolar na medida em que é sua função a
Sexual deve reconhecer o exercício prazeroso da sexualidade, reflexão contínua sobre as informações constantes recebidas
sem deixar de contemplar as medidas de proteção à saúde e os pelos jovens em suas relações sociais. Daí decorre a
métodos contraceptivos para tornar possível a emergência de necessidade de que os profissionais que executam programas
maternidades e paternidades responsáveis, no momento de de Orientação Sexual tenham conhecimentos científicos
escolha consciente de cada pessoa que deseje ter filhos. suficientes e adequados para abordar as demandas cotidianas
Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de da juventude em relação à sexualidade. É preciso que, pela
alguns pais e educadores diante do número de gestações na Orientação Sexual, os jovens possam formar suas opiniões a
adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa respeito do tema para propiciar um pleno exercício de suas
de fecundidade de mulheres adultas tem caído nas últimas sexualidades.
quatro décadas, entre as mulheres jovens existe uma relação Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a
inversamente proporcional. “Desde os anos 90, a taxa de Orientação Sexual no âmbito escolar enquanto tema
fecundidade entre adolescentes aumentou 26%. transversal extremamente importante para a formação de
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações valores conscientes pelos jovens em relação à sexualidade,
em orientação sexual, o que pode ser intensamente benéfico muitas dificuldades têm permanecido no exercício diário desta
para os jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a prática educacional. Como sexo é um assunto intensamente
programas desta natureza. No entanto, cabe questionar se pais repleto de repressões em nossa sociedade ocidental, muitos
e educadores ainda mantêm seu foco sob uma concepção educadores não manifestam interesse sobre o tema, deixando
repressiva da sexualidade humana, desejando que uma de buscar formação adequada para o trabalho de Orientação
Orientação Sexual possa produzir uma atitude sexualmente Sexual com a juventude.
abstinente dos jovens brasileiros, desejo que se mostra Além dos profissionais diretamente em contato com os
absolutamente inalcançável e indesejável. De outro modo, a jovens, há uma grande parcela de educadores que são
preocupação advinda dos pais e educadores quanto ao número dirigentes de estabelecimentos educacionais e, reproduzem as
de gestações na adolescência pode ser um ponto de partida mesmas repressões sociais em relação à sexualidade, não
para propiciar espaços abertos de discussão, onde o jovem contribuindo positivamente para a execução de bons
possa refletir sobre sua própria sexualidade, no sentido de programas de Orientação Sexual, uma vez que não acreditam
conscientemente poder efetuar escolhas para sua vida, que que este tema seja importante para a comunidade estudantil
incluem ter ou não filhos. Para tal escolha, o jovem, que num ou acreditam que falar sobre sexualidade com jovens
futuro próximo se tornará um adulto, deve ter conhecimento e estudantes pode induzi-los à prática precoce de relações
autonomia sobre o uso de métodos contraceptivos. sexuais.
Outra preocupação de pais e educadores que mobiliza a A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso
execução de programas de Orientação Sexual são as doenças caminho a ser trilhado para que a sexualidade, presente na
sexualmente transmissíveis uma vez que, ao iniciar a vida vida de todas as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos
sexual, muitos jovens, ainda que possuam conhecimento de profissionais da educação e seus respectivos educandos sem
prevenção, não utilizam preservativo. os massacrantes e silenciadores tabus e com respeito e
Infelizmente a maioria dos programas brasileiros de propriedade, para inibir práticas inadequadas e produzir
Orientação Sexual não é contínua. Caracterizam-se muitas práticas saudáveis do exercício da sexualidade.
vezes pelo oferecimento de palestras pontuais sobre
sexualidade. Este tipo de programa não atinge os objetivos de O Educador/Orientador Sexual
propiciar elementos para uma construção adequada do
exercício da sexualidade dos jovens. Para trazer efetivos Retomando a discussão sobre a definição dos termos
benefícios à juventude, o processo de educação precisa de “educação sexual” e “orientação sexual” presente no item
continuidade, de vínculo, de tempo, de reconhecimento. “Orientação Sexual X Educação Sexual” deste trabalho,
encontramos com maior frequência na literatura especializada
Orientação Sexual como tema transversal o termo “educador sexual” referindo-se àquele profissional
que exerce a prática educacional de Orientação Sexual,
O governo federal brasileiro, através do Ministério da enquanto prática institucionalizada e sistematizada. Desta
Educação - MEC, em seus Parâmetros Curriculares Nacionais forma, neste momento, utilizaremos o termo “educador
(1997), estabelece a Orientação Sexual no Ensino sexual” para fazermos referência a este profissional
Fundamental enquanto tema transversal, isto é, um assunto a especializado e não aos membros da família e demais relações
ser trabalhado em todas as disciplinas escolares, por interpessoais dos jovens, que contribuem para a sua educação
quaisquer professores que se sintam mobilizados, sempre que em um sentido mais amplo, conforme Vitiello.
houver espaço na grade curricular ou em horários Segundo Canosa Gonçalves, o desenvolvimento
extraclasses. psicossexual é um processo único e pessoal, que sofre
transformações ao longo do processo por diversos aspectos do

Conhecimentos Pedagógicos 57
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

comportamento sexual humano sendo eles: constituição A relevância do debate crítico ancorado no domínio
biológica do indivíduo (hereditariedade, níveis hormonais), discursivo da heterossexualidade que, pretensiosamente
relações familiares, padrão econômico, características hegemônica e unificada em um modo de ser, desconsidera
culturais, adoção da fé, entre outros. outras formas que não atendem às suas práticas discursivas.
Portanto, o educador sexual, ao realizar sua prática, está Pensamos que essa situação reflete-se diretamente nas
inserido neste complexo contexto do comportamento humano práticas curriculares, prejudicando o entendimento de
e deve intervir nesta realidade. Os jovens com os quais o diversas relações sociais e culturais presentes na escola, e mais
educador sexual trabalhará trazem em suas histórias de vida amplamente, na sociedade. Estamos entendendo como
diversas realidades, variadas construções biopsicossociais em currículos as ações escolares, culturais e tecnológicas
um mesmo grupo de jovens orientandos. Cabe ao educador (arquitetura, livros didáticos, vestimentas, músicas, conteúdos
sexual ter capacidade para perceber tais diferenças e pautar e dizeres científicos, meios midiáticos e outros) que,
suas ações de maneira a privilegiar a diversidade, num significadas na cultura, ensinam e regulam o corpo,
contexto de respeito às escolhas pessoais de cada jovem. Ao produzindo subjetividades e arquitetando formas e
educador sexual é requerida abertura intelectual, moral e configurações de viver na sociedade.
afetiva para tornar possível a realização da Orientação Sexual
com jovens tão diversos. Os equívocos
Recorda-se que, no Brasil, a homossexualidade deixou de
A Orientação Sexual deve ser uma prática ofertada a todos se configurar como doenças nos instrumentos médicos (mais
os jovens, mas não uma prática arbitrária e unidimensional, precisamente como desvio mental e transtorno sexual), em
que reproduz os preconceitos repressivos de nossa sociedade. fevereiro de 1985. Essa alteração foi fruto de uma intensa
Assim, o educador sexual deve ser flexível em relação às campanha, liderada pelo antropólogo Luiz Mott, junto com o
diversas orientações afetivo-sexuais, às religiosidades, enfim, Conselho Federal de Medicina (CFM) que, por resolução,
diversas concepções construídas sobre sexualidade na história retirou a homossexualidade da lista de doença. Sendo
pessoal de cada jovem. Orientação Sexual “se destina à pessoa importante lembrar que, já em 1973, a American Psychiatric
humana, com a prerrogativa de igualdade entre os seres Association, afirmara que a homossexualidade não tinha
humanos, em primeiro lugar”. ligação alguma com qualquer tipo de patologia e propusera a
O educador sexual deve apresentar adequação sexual, isto sua retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de
é, reconhecer-se enquanto pessoa sexuada, com suas Transtornos Mentais (DSM-IV). Já a Organização Mundial de
preferências e limites, e não influenciar as decisões dos jovens Saúde (OMS), somente no dia 17 de maio de 1990, reuniu-se
a partir destas preferências. Diferenciar-se pessoalmente de em Assembleia Geral e retirou a homossexualidade de sua lista
quem orienta é imprescindível para que o educador sexual de doenças mentais, declarando que ela não constituía um
possa propiciar condições para reflexão ao jovem para que distúrbio, uma doença ou perversão. Assim, o que antes tinha
este possa realizar suas próprias escolhas. Segundo Canosa sido classificado, estabelecido e difundido como desvio e
Gonçalves um bom educador sexual é “aquele que convive anormalidade, a partir dessa assembleia, seria considerado
com os jovens no dia-a-dia, que os conhece e é normal.
reconhecido por eles, e que tem em sua prática Se aceitarmos a sexualidade assim como a experiência
profissional os pressupostos da educação”. estão condicionadas pela necessidade humana de se construir
Desafiante para o trabalho do educador sexual com nas interações sociais, culturais e históricas, aceitaremos
jovens é utilizar métodos e técnicas que prendam a também que não há uma única sexualidade. A ausência de
atenção deste público, que provoquem reflexão e que liberdade impede o movimento de busca pela completude, na
sejam capazes de fazer com que o jovem se comprometa qual a sexualidade, como dimensão da humanidade, se
consigo próprio e com suas parcerias. constitui.
É imprescindível que o educador sexual possua Existe um nexo entre a sexualidade, a vida e a curiosidade
conhecimentos científicos adequados sobre desenvolvimento pelo saber. Esse movimento infinito em busca de completude
humano, constituição dos órgãos sexuais, saúde reprodutiva, e em busca de conhecimento é fator que constitui o ser
métodos de prevenção às DST´s e/ou contraceptivos, humano e seu desejo de liberdade.
relacionamentos interpessoais e relações de gênero. Não é No entanto, ainda que pareça contraditório, não confiamos
necessário que o profissional detenha estes conhecimentos em no desejo como princípio, condição e direito de liberdade. Não
nível de especialista em sexualidade humana, mas deve cremos, em absoluto, que haja desejo anterior a um conjunto
continuar buscar atualizar tais saberes, afim de oferecer uma de normas ou acordos sociais que o faça livre. Nós o pensamos
prática de qualidade em relação à Orientação Sexual. como criado singularmente, mas em redes de relações.
Nesta realidade, o desafio proposto ao orientador sexual é Sem dúvidas, a compreensão da sexualidade poderá
que, através de seu trabalho, possa propiciar condições para contribuir, de modo significativo, para novas possibilidades de
que os jovens reflitam a respeito de suas sexualidades e construção de conhecimentos e caminhos de busca do saber.
possam exercê-las de maneira saudável. Segundo Vitiello Não se trata, portanto, de aprisioná-la nos discursos sobre o
educar é dar ao educando condições e meios para que cresça ato sexual, mas de aproveitá-la em seu potencial
interiormente. epistemológico. Essa análise é especialmente oportuna e
necessária à escola.
Mas afinal como é diversidade sexual/de gênero no
ambiente escolar? A discussão na escola
Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais
Gênero e sexualidade: diálogos e conflitos dissidentes são capazes de gerar inúmeras situações de
violências homofóbicas. Algumas, que não se encontram na
Marcas epistemológicas esfera dos números e dados quantitativos, são vivenciadas no
O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de silêncio e ocultadas na invisibilidade.
pensa-la junto com o seu duplo, seu contrário, seu avesso, ou A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a
seja, ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse subalternidade dos que são discriminados. Nesse sentido, ela
modo de compreensão aguça a sensibilidade humana e sua é observada nos espaços-tempos escolares. As identidades
condição de experimentar, de se (auto)inventar. vinculadas às expectativas de gênero e/ou sexo biológico estão
no interior das hierarquizações e classificações sociais, tanto

Conhecimentos Pedagógicos 58
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

quanto nos currículos e, mais amplamente, nas ações e Problematização das relações de gênero: revisão de dados
relações do cotidiano escolar. históricos e conceituais
A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar O entendimento das relações de gênero implica a noção de
tantos discursos na sociedade, na ciência e na cultura. Sua que, no decorrer da vida, por intermédio das mais díspares
estreita relação com o conhecimento amedronta os que se instituições e práticas sociais, os sujeitos se constituem como
nutrem da arrogância, porque fragiliza suas verdades e homens e mulheres, em uma ação que não é unidimensional,
certezas. coerente ou congruente e que também sempre estará
inacabada ou incompleta.
Foucault74 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer, Sendo assim, partindo desse pressuposto de incompletude,
aprofundar e prosseguir contra a dicotomia e lógica binária, encontra-se fundamento para realçar a noção de gênero na
até que as oposições binárias deixem de ter sentido e se educação, já que essa disposição teórica expande socialmente
consolidem convivências solidárias, em contextos sem a própria ideia de educação, podendo-se entender que educar
discriminações e violências. Como estratégia para fazer difuso envolve um conjunto de forçasse de processos, em cuja
o antigo jogo de poder que se instala na relação entre opressor dinâmica os sujeitos aprendem a se aceitar como homens e
e oprimido, a proposta foucaultiana é a “proliferação” de mulheres, na esfera das sociedades e dos grupos que estão
saberes sobre os seres humanos e as relações e de poder que inseridos. Essa é mais uma premissa que contribui para a
os oprimem, de tal modo que o modelo jurídico de poder como desconstrução de estereótipos que limitam e reduzem a
opressão e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse compreensão social, culturalmente contextualizada, de
significado de “proliferação” de saberes, possamos retirar as gênero.
bases para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de
compreender os seres humanos, sem as violências, já tantas Identidades sexuais: revisão de perspectivas de
vezes vivenciadas, e com tantas exterminações em massa, desconstrução de estereótipos
como na Segunda Guerra, devido à não aceitação do “outro”, a É oportuno indagar se é plausível que a manifestação
quem se atribui dessemelhança e desigualdade, aparente de identidades sexuais não normativas na escola
potencializando os efeitos destrutivos da xenofobia que, em colabore para desajustar dispositivo de rejeição ou, ao
todas as suas manifestações, incluindo as homofóbicas, conduz contrário, para realçá-lo, uma vez que a construção da
e justifica a aversão, o domínio ou a eliminação dos heterossexualidade e da homossexualidade tem configurado
“estranhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário por meio de oposição recíproca. No mesmo sentido, é
do poder. apropriado indagar sobre o alcance político de transformação
para uma escolarização radicalmente não heterossexista e
Diversidade e educação: apontamentos sobre excludente, com base na visibilidade dessas identidades.
sexualidade e gênero na escola Dessa forma, enfatiza-se a relevância da efetivação de
Desde as décadas de 1960 e 1970, expressivas mudanças pesquisas sobre a presença de sexualidades não normativas no
socioculturais e históricas ocorreram, no que se refere às espaço escolar como forma de ampliar vetores de análises dos
perspectivas das relações de gênero e sexualidade. Essas processos educacionais possivelmente geradores de
mudanças se acentuaram de modo significativo, a partir, não antagonismos e exclusão que se contrapõem a políticas que
apenas da atuação de movimentos sociais, mas também da realçam o princípio da autonomia na educação inclusiva e,
emergência da discussão da AIDS nos anos 80. nela, o respeito ao significado plural da diversidade, sem
Novas maneiras de entender e discutir as questões foram imposição de uma única identidade central, padrão.
sendo consideradas, com desdobramentos na esfera social e Contudo, o que se espera da escola, no interesse de ensinar
política (por meio de Organizações Não e aprender, mais amplamente, sobre sexualidade, encontra
Governamentais/ONGs, de movimentos sociais e de políticas barreiras em processos de atitudes homofóbicas que ainda
públicas) e, na esfera acadêmica, com a efetivação de estudos permanecem contaminando o seu ambiente.
em vários campos de conhecimento, que têm direcionado seu
foco para a sexualidade e as relações de gênero, como Ninguém pode calar: homossexualidades e homofobia na
fenômenos a serem conhecidos de modo mais fundamentado, escola
expandindo sua discussão para outros aspectos, como os das Recorda-se que, desde os anos 90, a preocupação com a
identidades e seus fundamentos históricos e culturais. prevenção da AIDS e da gravidez na adolescência inseriu-se
Sexo e sexualidade são frequentemente tomados como nas escolas de modo mais evidente e sistematizado. A ideia era
sinônimos; todavia, sexo admite uma compreensão referida ao a de que várias disciplinas agregassem o assunto de modo
aspecto natural, biológico, da distinção física entre o homem e conectado com outros temas. No entanto, o tratamento
a mulher. No senso comum, o sentido de sexo remete ao ato alicerçado em uma ótica biologizante do sexo prosseguiu,
sexual. Já a sexualidade refere-se à esfera mais ampla, dos sendo o debate sobre a diversidade de orientação sexual ainda
sentimentos, das interações entre as pessoas. incipiente ou, na melhor das hipóteses, relegado a segundo
Recorda-se e reafirma-se, portanto, que a sexualidade, plano.
como construção social, tem absorvido, historicamente, em Espera-se que a instituição escolar, como espaço de
seus significados, elementos das relações de gênero, formação, local onde se formam cidadãos e se estudam e
frequentemente submetidas a prescrições de como homens e consolidam direitos, reconheça o problema da discriminação
mulheres devem vivenciá-las. Contudo, apesar da sexualidade gerada pela homofobia em suas salas de aula e perceba a
estar imbricada, implícita ou explicitamente às relações de necessidade de enfrentá-lo, no interesse de que sejam
gênero, essas não são consideradas sinônimas75. A vivência da superadas a intolerância e a violência, que se multiplicam em
sexualidade não é determinada por normas padronizadas às sofrimento, silêncio, invisibilidade, medo e morte física e
quais homens e mulheres devem se adaptar. Esse é um dos existencial.
princípios que motivam e sustentam significados mas amplos
da sexualidade e promovem a sua problematização, que
incorpora aportes como os que são revistos nas relações de
gênero.

74 FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. Rio de Janeiro: 75 LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-

Graal, 1988. estruturalista. 2 ed., Petrópolis: Vozes, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 59
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Para saber mais... DISCRIMINAÇÃO: ação de discriminar, tratar diferente,


excluir, marginalizar.
A seguir alguns termos relevantes a serem considerados
sobre a diversidade de gênero: ESTEREÓTIPO: é uma generalização de julgamentos
subjetivos feitos a um grupo ou a um indivíduo. Pode ser
ASSIMETRIAS DE GÊNERO: desigualdades de atribuindo valor negativo desqualificando-os e impondo-lhes
oportunidades, condições e direitos entre homens e mulheres, um lugar inferior, ou simplesmente, reduzindo determinado
gerando hierarquias. Por exemplo: no mercado de trabalho. grupo ou indivíduo a algumas características e, assim,
definindo lugares específicos a serem ocupados.
BINARISMO: forma de pensamento que separa e opõe
masculino e feminino, apoiando-se numa concepção FEMINILIDADE: se refere às características e
naturalizante dos corpos biológicos. comportamentos considerados por uma determinada cultura
associados ou apropriados às mulheres.
BISSEXUAL: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e Caracterizar os comportamentos como “masculinos” ou
relacionamento afetivo-sexual com pessoas de ambos os “femininos” é basear-se nas noções essencialistas do
sexos; binarismo mulher/homem, isto quer dizer que, atributos que
muitas vezes são considerados femininos podem estar
CORPO: inclui além das potencialidades biológicas, todas baseados no biológico e nas diferenças físicas. Dessa forma, a
as dimensões psicológicas, sociais e culturais do aprendizado feminilidade nos homens, bem como a masculinidade nas
pelo qual as pessoas desenvolvem a percepção da própria mulheres, é considerada negativa por agir contra os papéis
vivência. Não existe um corpo humano universal – mas sim tradicionais da nossa cultura. Um estereótipo comum para
corpos marcados por experiências específicas de classe, de homens homossexuais é de que são efeminados porque
etnia, de raça, de gênero, de idade. Visto que os corpos são utilizam ou exageram comportamentos tidos como femininos,
significados e alterados pelas diferentes culturas, pelos por exemplo.
processos morais, pelos hábitos, pelas distintas opções e
possibilidades de desejo, além das diversas formas de GÊNERO: conceito formulado a partir das discussões
intervenção e produção tecnológica. Por isso, o corpo é uma trazidas do movimento feminista para expressar
produção histórica. contraposição ao sexo biológico e aos termos “sexo” e
Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, “diferença sexual”, distinguindo a dimensão biológica da
hospitais psiquiátricos, fábricas, fala das maneiras como as dimensão sexual e, acentuando através da linguagem, “o
diferentes disciplinas controlam, domesticam, normalizam os caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no
corpos. Sua preocupação é com as práticas sociais, sendo que sexo”. Não com a intenção de negar totalmente a biologia dos
é no corpo que se dá o controle da sociedade sobre os corpos, mas para enfatizar a construção social e histórica
indivíduos. Os corpos apresentam as marcas do processo de produzida sobre as características biológicas. Dessa forma,
passar ou não pela escola como o auto disciplinamento, o gênero seria a construção social do sexo anatômico
investimento continuado e autônomo do sujeito sobre si demarcando que homens e mulheres são produtos da
mesmo. realidade social e não decorrência da anatomia dos seus
Louro parte do pressuposto antropológico de que "os corpos.
corpos são o que são na cultura”, isto é, que os corpos
adquirem seu significado apenas através dos discursos na HETERONORMATIVIDADE: termo utilizado para
cultura e na história. Essa vertente se afasta das discussões expressar que existe uma norma social que está relacionada ao
teóricas nas quais o corpo é tido como “natural”, no qual o comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma, a
biológico determina o gênero. ideia de que apenas o padrão de conduta heterossexual é
válido socialmente, colocando em desvantagem os sujeitos que
DESIGUALDADE: é um fenômeno social que produz uma possuem uma orientação sexual diferente da heterossexual.
hierarquização entre os indivíduos e/ou grupos que não
permite o tratamento igualitário (em termos de mercado de HETEROSSEXISMO: Se refere à ideia de que a
trabalho, de acesso a bens e recursos, para todos e todas. heterossexualidade é a orientação sexual “normal” e “natural”.
Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre Considerar a heterossexualidade como “natural”, aponta para
homens e mulheres. Esse desnível se evidencia em vários algo inato, instintivo e que não necessita de ser ensinado ou
contextos: familiar, social, escolar, religioso, econômico, aprendido. Ao considerar a heterossexualidade “normal”,
político,... Dessa forma, fica claro que existem fronteiras que contrapõe-se a ideia de que as outras orientações sexuais
separam atitudes e comportamentos tidos como apropriados, (homossexualidade e bissexualidade, por exemplo) são um
válidas e legítimas relacionadas ao sexo masculino e ao desvio à norma e reveladoras de perturbação, não sendo
feminino. encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade das
DIFERENÇA: indivíduos e/ou grupos possuem várias expressões da sexualidade humana. O heterossexismo
formas de distinção e de semelhanças (cor, sexo, idade, funciona através de um sistema de negação e discriminação –
nacionalidade). A desigualdade pauta-se por essas diferenças a sociedade tende a negar a existência da homossexualidade,
e semelhanças que constituem os indivíduos e/ou grupos. tornando-a invisível (em quantos manuais escolares existem
referências neutras ou positivas à homossexualidade?) e tende
DIREITOS SEXUAIS: direitos que asseguram aos indivíduos a reprimir e discriminar todos aqueles que se tornam visíveis.
a liberdade e a autonomia nas escolhas sexuais, como a de
exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou HETEROSSEXUAL: quem tem atração sexual por pessoas
violência. Os direitos sexuais englobam múltiplas expressões do sexo oposto ao seu, e relacionamento afetivo-sexual com
legítimas da sexualidade, como por exemplo, o direito à saúde elas. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem
– direito de cada pessoa de ver reconhecidos e respeitados o vivido experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo ou do
seu corpo (autonomia), o seu desejo e o seu direito de amar sexo oposto para se identificarem como tal.
(reconhecimento da diversidade sexual).
HETEROSSEXUALIDADE COMPULSÓRIA: sistema que
acomoda e hierarquiza as relações de gênero, no qual o homem

Conhecimentos Pedagógicos 60
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

é o modelo para todas as relações, inclusive aquelas em que ele IDENTIDADE SEXUAL: Identidades sexuais se constituem
não está presente. através das formas como vivemos nossa sexualidade, e refere-
se a duas questões diferenciadas:
HOMOAFETIVO: é um termo utilizado para descrever 1) é o modo como a pessoa se percebe em termos de
relações entre pessoas do mesmo sexo e tem relação com os orientação sexual;
aspectos emocionais e afetivos envolvidos na relação amorosa 2) é o modo como ela torna pública (ou não) essa
e sexual entre essas pessoas. percepção de si em determinados ambientes ou situações.
Quer dizer, corresponde ao posicionamento (nem sempre
HOMOFOBIA: termo usado para descrever vários permanente) da pessoa como homossexual, heterossexual, ou
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a bissexual, e aos contextos em que essa orientação pode ser
discriminação e à violência contra os homossexuais (ter assumida pela pessoa e/ou reconhecida em seu entorno.
desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação
sexual diferente do padrão heterossexual). O termo, no INTERSEXUAL OU INTERSEX: a palavra intersexual é
entanto, não se refere ao conceito tradicional de fobia, preferível ao termo hermafrodita e é um termo usado para se
facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias referir a uma variedade de condições (genéticas e/ou
e antidepressivos. Atualmente, grupos lésbicos, bissexuais e somáticas) com que uma pessoa nasce, apresentando uma
transgêneros, com o intuito de conferir maior visibilidade anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições
política à suas lutas e criticar normas e valores postos pela de masculino e feminino, tendo parcial ou completamente
dominação masculina, propõem, também, o uso dos termos desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando
lesbofobia, bifobia e transfobia. sobre o outro. A intersexualidade, enquanto transgeneridade é
Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as
desse conceito, não para compreender a origem e o pessoas que se autodenominam intersexuais podem se
funcionamento da homossexualidade, mas para “analisar a identificar como homossexuais, heterossexuais ou bissexuais.
hostilidade provocada por essa forma específica de orientação
sexual”. Segundo este autor quando a homossexualidade LESBOFOBIA: termo usado para descrever vários
requer publicamente sua expressão é que se torna fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem sexual. discriminação e à violência contra as lésbicas (ter desprezo,
Por isso, a tarefa pedagógica deve ser questionar a ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
heterossexualidade compulsória e mostrar que a hierarquia de diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
sexualidades é tão insustentável quanto a de sexos, bem como
incluir a ideia de diversidade sexual em livros e apostilas MACHISMO: é a crença de que os homens são superiores às
escolares. mulheres. É uma construção cultural que definiu que as
características atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se
HOMOSSEXUAL: é a pessoa que tem atração sexual e pensarmos na educação de meninos e meninas, veremos que
afetiva por pessoas do mesmo gênero e relacionamento com há um tratamento diferenciado que reproduz as manifestações
elas. de machismo nos meninos, e às vezes, nas próprias meninas.
Ao incentivar (infidelidade, violência doméstica, esporte,
HOMOSSEXUALIDADE: é a atração sexual e afetiva por diferença de direitos).
pessoas do mesmo sexo. Cabe uma ressalva, não é correto o
uso do termo homossexualismo, porque reveste de conotação MASCULINIDADE: Faz oposição ao termo feminilidade e
negativa, atribuindo-lhe significado de doença e aberração. diz respeito a imagem estereotipada de tudo aquilo que seria
Por isso, devemos preferir a utilização dos termos próprio dos indivíduos homens, ou seja, às características e
homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade, comportamentos considerados por uma determinada cultura
travestilidade, transgeneridade e transexualidade. como associados ou apropriados aos homens. Ver
feminilidade, pois são conceitos relacionais que não passíveis
IDENTIDADE DE GÊNERO: Expressão utilizada de serem entendidos separadamente.
primeiramente no campo médico-psiquiátrico para designar
os “transtornos de identidade de gênero”, isto é, o desconforto MASCULINIDADE HEGEMÔNICA: É um modelo construído
persistente criado pela divergência entre o sexo atribuído ao socialmente que controla, domina e substima as diversas
corpo e a identificação subjetiva com o sexo oposto. formas de expressão de outras masculinidades, tornando-se
Entretanto, atualmente, a identidade de gênero corresponde à um padrão de masculinidade.
experiência de cada um, que pode ou não corresponder ao sexo
do nascimento. Podemos dizer que a identidade de gênero é a MOVIMENTO FEMINISTA: o movimento feminista surgiu
maneira como alguém se sente e se apresenta para si ou para para questionar a organização social, política, econômica,
os outros na condição de homem ou de mulher, ou de ambos, sexual e cultural de uma sociedade profundamente
sem que isso tenha necessariamente uma relação direta com o hierárquica, autoritária, masculina, branca e excludente.
sexo biológico. É composta e definida por relações sociais e Sendo assim, o feminismo pode ser entendido como uma luta
moldadas pelas redes de poder de uma sociedade. Os sujeitos pela transformação da condição das mulheres, que é pública e
têm identidades plurais, múltiplas, identidades que se também privada. E que pode ser entendida, a partir de três
transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem eixos:
até ser contraditórias. Os sujeitos se identificam, social e 1) como movimento social e político;
historicamente, como masculinos e femininos e assim 2) como política social;
constroem suas identidades de gênero. 3) e como ciência, ampliando os debates teóricos e
Cabe enfatizar que a identidade de gênero trata-se da conceituais (derivando a categoria gênero como analítica de
forma que nos vemos e queremos ser vistos, reconhecidos e sexo).
respeitados, como homens ou mulheres, e não pode ser Essas vias se entrecruzam, por diversas vezes, para
confundida com a orientação sexual (atração sexual e afetiva desestabilizar representações, questionar a divisão sexual da
pelo outro sexo, pelo mesmo sexo ou por ambos). sociedade, opor-se à hierarquização dos gêneros e, por isso, as
teorias nem sempre podem dissociar-se de suas ações
políticas, e vice-versa.

Conhecimentos Pedagógicos 61
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

PODER/RELAÇÕES DE PODER: nossas definições, crenças, discriminação e à violência contra transexuais (ter desprezo,
convenções, identidades e comportamentos sexuais têm sido ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
modeladas no interior de relações definidas de poder. Para diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
Michel Foucault, o poder está em toda parte; não porque
englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares. O TRANSGÊNEROS OU TRANS: são termos utilizados para
poder se exerce de diversas formas: poder de produzir os reunir, numa só categoria, travestis e transexuais como
corpos que controla, produz sujeitos, fabrica corpos dóceis, sujeitos que realizam um trânsito entre um gênero e outro.
induz comportamentos. Foucault propõe que observemos o
poder como uma rede que, capilarmente, se distribui por toda TRAVESTI: pessoa que nasce do sexo masculino ou
a sociedade. Nas palavras dele: “lá onde há poder, há feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta a seu
resistência e, no entanto (ou melhor, por si mesmo) esta nunca sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes
se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder”. daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam
seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de
PRECONCEITO: é um pré-conceito uma opinião que se silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso
emite antecipadamente alimentada pelo estereótipo, é um não é regra para todas (Definição adotada pelo Conferência
juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma Nacional LGBT em 2008)
atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições
considerados diferentes ou "estranhos". ORIENTAÇÃO SEXUAL: refere-se ao sexo das pessoas que
elegemos para nos relacionar afetiva e sexualmente.
RACISMO: conjunto de princípios que se baseia na Atualmente temos três tipos de orientação sexual:
superioridade de uma raça sobre a outra. A atitude racista é heterossexual, homossexual e bissexual. Contrapõem a OPÇÃO
aquela que atribui qualidades aos indivíduos conforme seu SEXUAL entendida como escolha deliberada e realizada de
suposto pertencimento biológico a uma determinada raça. Não forma autônoma.
é apenas uma reação ao outro, mas é uma forma de
subordinação do outro. VIOLÊNCIA DE GÊNERO: É aquela oriunda do preconceito
e da desigualdade entre homens e mulheres e apoia-se no
SEXISMO: atitude preconceituosa que difere homens de estigma da virilidade masculina (legítima defesa da honra) e
mulheres definindo características específicas para cada um, da submissão feminina.
subordinando o feminino ao masculino. Quando as vítimas são crianças e adolescentes o Art. 245
do ECA, obriga os profissionais da saúde e educadores e
SEXO BIOLÓGICO: é o conjunto de características educadoras a comunicarem o fato aos órgãos competentes. Na
fisiológicas, informações cromossômicas, órgãos genitais, escola a discriminação é manifestada por meio de apelidos,
potencialidade individual para o exercício de qualquer função exclusões, perseguição, agressão física.
biológica que diferencia machos e fêmeas. Entretanto, o sexo
não é simplesmente algo que lhe foi dado pela biologia. Questões
Foucault analisa o sexo biológico como um efeito discursivo. O
poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua 01. (SEDUC-SP- Conhecimentos Pedagógicos- FGV) Leia
constituição biológica um fator natural que carrega o fragmento a seguir. “Além das novas demandas e dos entraves
características específicas e torna indiscutível a divisão dos do cenário escolar e suas próprias condições de vida e de
humanos em dois blocos distintos (homens e mulheres). Isto trabalho, o professor ainda se depara com outras dificuldades
não significa que o corpo não exista de forma sexuada. O que o que complicam a realização das intenções dos PCNs de ênfase
poder cria é outra coisa: é a importância dada a esse fator em parâmetros curriculares não tradicionais, como sexualidade
corporal (biológico). O sexo produz, interdita, possibilita e e gênero”. (Abramovay et al., 2004)
regula o corpo limitando certos tipos de escolhas para a Assinale a alternativa que apresenta a proposta que tem
produção de um corpo sexuado que seja culturalmente como objetivo mitigar o apresentado no fragmento.
aceitável e inteligível. Assim, o sexo é uma norma através da (A) Suspender a aplicação do tema transversal orientação
qual alguém se torna viável. sexual.
(B) Deixar o tema da sexualidade e da afetividade como
SEXUALIDADE: É aprendida, ou melhor, é construída ao responsabilidade exclusiva dos professores da área de
longo de toda a vida, de muitos e diferentes modos, por todos Biologia, já que configuram o “saber competente”.
os sujeitos por isso, é entendida como um conceito dinâmico (C) Capacitar os professores para lidar com o tema
que se modifica conforme as posições do sujeito e suas sexualidade.
disputas políticas. A sexualidade tem a ver tanto com o corpo, (D) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual aos
como também com os rituais, o desejo, a fantasia, as palavras, movimentos sociais.
as sensações, emoções, imagens e experiências. Ela não tem (E) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual às
ligação somente com a questão do sexo e dos atos sexuais, mas famílias dos alunos.
também com os prazeres e sua relação com o corpo e a cultura
compreendendo o erotismo, o desejo e o afeto; até questões 02. (SEDUC-RJ- Conhecimentos Básicos- Todos os
relativas a reprodução, saúde sexual, utilização de novas cargos- CEPERJ) Uma das questões formativas fundamentais
tecnologias. da vida humana, incorporadas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, é a orientação sexual. Segundo os PCNs, as questões
TRANSEXUAL: pessoa que possui uma identidade de relativas à orientação sexual devem constituir:
gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens e (A) uma nova disciplina com horário específico de aulas na
mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se escola
submeterem a intervenções médico-cirúrgicas para (B) uma nova área de conhecimento a ser desenvolvida em
realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença interface com as agências de educação permanente da
(inclusive genitais) à sua identidade de gênero constituída. sociedade
(C) uma área de conhecimento específica do ensino médio
TRANSFOBIA: termo usado para descrever vários e tratada como disciplina
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a

Conhecimentos Pedagógicos 62
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(D) um tema específico a ser tratado nas aulas de Biologia reconhecimento ou sentimento de pertença positiva ao grupo
e Sociologia social.
(E) um tema transversal que permeia as diferentes
disciplinas e áreas de conhecimento Abordar o tema sobre discriminação e preconceito racial
no ambiente escolar não é só realizar um discurso de
03. (IF-PE- Assistente de alunos- IF-PE/2016) Leia a vitimização, mas enfrentar os desafios, dando visibilidade à
seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e problemática envolvida e promovendo uma ampla discussão,
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais motivando a reflexão individual e coletiva na transformação
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”. de mentalidades e práticas de qualquer tratamento
A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se preconceituoso, através de ações conjuntas no contexto
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas educacional para a reversão da discriminação e das
entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina. desigualdades em nossa sociedade, desenvolvendo nos alunos
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram a autoconsciência que move o saber ser, se revela no saber-
construídas a partir do século XXI. fazer como enfatiza Delors: ...proporciona uma relação
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram dialógica do aluno com o conhecimento, o envolve num processo
construídas exclusivamente depois dos movimentos autoaprendizagem que o conduz a assumir compromissos com
feministas. uma nova prática de vida social. Isto é, uma corresponsabilidade
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram no seu processo de aprendizagem.
construídas no decorrer da história da humanidade por meio
dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela Por isso, é fundamental que os educandos sejam
sociedade. orientados em seu processo de aprendizagem por professores
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas qualificados, com formação para lidarem com as tensas
entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem relações produzidas pelo racismo e preconceito, que sejam
a maturidade sexual. sensíveis e capazes de conduzir a reeducação nas relações
ético-raciais. E isso, requer estratégias pedagógicas, mudança
04. (IF-PE- Assistente de Alunos- IF-PE/2016) Leia a nos discursos, posturas, formas de tratar as pessoas,
seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e reconhecimento dos processos históricos de resistência negra
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”. seus descendentes na contemporaneidade, desconstrução do
A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se mito da democracia racial e envolvimento de todos na
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas construção de um projeto de escola, de educação voltada para
entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina. um trabalho coletivo de articulação entre os processos
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram educativos escolares, políticas públicas e movimentos sociais.
construídas a partir do século XXI.
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram Uma vez que, no âmbito educacional é possível observar as
construídas exclusivamente depois dos movimentos tensas relações étnico-raciais envolvendo a cultura e o padrão
feministas. estético negro estereotipado, embora 45% da população
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram brasileira seja formada por negros, segundo o censo do IBGE,
construídas no decorrer da história da humanidade por meio não têm sido suficientes para eliminar ideologias,
dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela desigualdades e estereótipos racistas e preconceituosos. Não
sociedade. que seja na escola a origem de formas de discriminação,
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas entretanto, o preconceito corrente na sociedade perpassa por
entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem ali. Assim sendo, ele se dá através de apelidos depreciativos,
a maturidade sexual. brincadeiras, piadas sugerindo incapacidade, ridicularizando
seus traços físicos, a textura dos cabelos, fazendo pouco de
Respostas suas tradições, religião e cultura.

01.C. / 02. E. / 03. D. / 04. D. A discriminação e o preconceito reproduzidos na escola


apresentam um quadro de agressões materiais ou simbólicas,
A Desigualdade Racial no Contexto Escolar76 de caráter não apenas físico e/ou moral, mas também psíquico,
sobre o alunado negro, repercutindo sobre sua vida social e
Sendo o espaço escolar privilegiado onde acontece boa intrapsíquica, podendo ser um desencadeador ou um entrave
parte do processo de socialização onde crianças e ao seu pleno desenvolvimento. Por isso, torna-se fundamental
adolescentes, de diferentes núcleos familiares, estabelecem professores capacitados para lidarem com essa situação, afim
relações no convívio com a diversidade. A escola torna-se o de desnaturalizar o discurso preconceituoso e promover o
primeiro contato de vivência das tensões raciais, que podem respeito à diversidade étnico-racial e cultural da sociedade
acontecer de forma natural ou conflituosa, segregando, brasileira. Diante dessa realidade nos deparamos com muitos
excluindo, fazendo com que a criança negra tenha em alguns profissionais ainda despreparados para agirem com
momentos uma postura introvertida. Isso pode acontecer por autonomia em situações de discriminação, como afirma.
medo de ser discriminada ou ridicularizada, iniciando assim
um processo de desvalorização de seus atributos individuais, [...] há uma preocupação com a maneira pela qual o
que vão de alguma forma interferir na construção de sua professor percebe esse aluno. No contexto dessas reflexões, os
identidade, favorecendo a disseminação do preconceito. assuntos que dizem respeito à diversidade étnico-racial em geral
Nesse sentido, a construção da identidade, assim como sua e do alunado, em particular, são praticamente ignorados, a
manutenção, se constituirá dentro do processo social, quando despeito dos estudos que articulam relações raciais e educação,
o olhar do outro poderá ou não proporcionar o já algum tempo virem denunciando o despreparo do professor

76 Texto adaptado de ZEBRAL, D. F. Rompendo barreiras do preconceito racial

no ambiente escolar.

Conhecimentos Pedagógicos 63
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

para lidar com situações que ocorrem em razão dessa sociedade, bem como os problemas sociais vividos e as
diversidade. transformações cabíveis para uma vida melhor para todos que
aqui vivem. Isso porque, considerar a diversidade não significa
Nessa perspectiva, cabe aos professores estarem bem negar a existência de características comuns, nem a
preparados para assumirem o papel de interventores para possibilidade de constituirmos uma nação, ou mesmo a
transformar essa realidade. De acordo com os PCN’s: existência de uma dimensão universal do ser humano.
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma Pluralidade Cultural quer dizer a afirmação da diversidade
reflexão que permita ao professor perceber o papel que como traço fundamental na construção de uma identidade
desempenha nessa questão. É também a capacidade de nacional que se põe e repõe permanentemente, e o fato de que
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o a humanidade de todos se manifesta em formas concretas e
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da diversas de ser humano, PCN. 77
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença Trata-se de uma discussão que, no meio escolar, valoriza
entre o esforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir as questões éticas, na medida em que os alunos conhecem os
novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade. valores de sua cultura e de outras culturas, tão diferentes da
sua e isso promove a necessidade de respeito pelos outros, que
A necessidade de subsidiar o trabalho dos professores só é possível alcançar quando se tem a conscientização da
deve-se a dificuldade que os docentes encontram de como pluralidade cultural que faz parte do cenário brasileiro.
tornar a cultura um eixo central do processo curricular e
introduzir uma abordagem multicultural nas práticas Diferenças e Preconceitos na Escola
pedagógicas. Diante disso, é essencial as iniciativas de
formação de professores no interior das escolas conforme É notável que, embora reconheçamos a diversidade do
afirmam os autores. nosso país, fazemos parte de uma sociedade que, de verdade,
não conhece o Brasil de fato, pois sempre que tentamos definir
...considera-se que a alternativa viável para as mudanças de os povos que fazem parte do território brasileiro nos
postura dos profissionais da Educação, requeridas em favor de utilizamos de estereótipos que descaracterizam a cultura dos
uma Educação de qualidade, são os processos de auto formação mesmos.
conjunta e partilhada, sistemática e continuada, que devem Por não conhecer o país, não entender a sua história e
ocorrer no interior das escolas, concomitantemente ao exercício todos os problemas vividos aqui, ao longo da colonização,
da docência e promovidos pelas equipes gestoras dos sistemas sempre tivemos muito receio de lidar com este tema
de ensino, a partir da responsabilidade das três esferas – publicamente e é por isso que muitos professores se mostram,
municipal, estadual e federal –, e dos gestores das próprias hoje, incapazes de lidar com temáticas como o racismo em sala
escolas. de aula. Contudo, práticas racistas existem diariamente nas
escolas. Consciente ou não, alunos, professores, funcionários
Dessa maneira, possibilitar que professores reflita sobre se vêm em situações preconceituosas.
seus conceitos, amplie seus conhecimentos, analisem e
reconheçam a organização da sociedade da qual os alunos Embora trata-se de uma tarefa difícil é responsabilidade da
fazem parte, tornará o processo educativo democrático e livre sociedade, de uma forma geral, transformar as pessoas,
de atos opressores, preconceituosos e discriminatórios. diminuir as práticas racistas, superar o preconceito, construir
Pressupondo que toda e qualquer proposta de Educação e preservar valores que envolvam o respeito entre as pessoas,
de qualidade e verdadeiramente democrática, que promova a estabelecer as possíveis relações em meio as diferenças e todo
cidadania e diminuição das desigualdades, passa pelos esse processo também passa pela escola, pois como instituição
desafios da formação diferenciada para os professores, devido que faz parte da sociedade, ela vive as práticas de
o importante papel que exercem na efetivação das políticas discriminação e de desigualdade que promovem a exclusão
públicas educacionais, a formação dos mesmos deve abordar das pessoas.
as relações de preconceito e discriminação de modo dinâmico,
participativo e inclusivo. Dessa forma será possível Frequentemente, vemos que a escola, quando trata da
proporcionar aos educadores condições de serem críticos e caracterização do país e do reconhecimento de sua cultura
reflexivos, com potencial para promoverem projetos e ações apresenta uma série de equívocos disseminando ainda mais o
transformadores no ambiente educacional. preconceito. Os conteúdos abordados e apresentados aos
alunos privilegiam uma única forma de cultura, a forma
Nesse contexto, promover oficinas interativas a fim de aceitável de ser no mundo.
proporcionar aos educadores debater a ampliar os
conhecimentos acerca das questões étnico-raciais é O Brasil é um país rico em diversidade cultural, negros,
possibilitar que os mesmos tenham condições de formar brancos, europeus, asiáticos entre outros, vivem numa
cidadãos livres para pensar no nosso país na perspectiva da sociedade heterogênea onde poderia existir um grande
afirmação de sua identidade nacional. intercâmbio cultural. Infelizmente na maioria dos casos isso
O documento intitulado Parâmetros Curriculares acaba não ocorrendo, na verdade o que acontece é uma
Nacionais introduziu a temática denominada Pluralidade segregação daqueles ditos diferentes e isso vai total mente
Cultural para abordar entre outros aspectos, uma crítica às contra os princípios democráticos.
relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam
a sociedade brasileira, provendo assim, uma discussão as Na escola por sua vez, isso não é diferente, a tão sonhada
práticas racistas dentro da sala de aula. igualdade também não ocorre já que desde o início a escola é
considerada uma instituição seletiva que aplica em sua prática
Um trabalho tendo em vista o estudo desta temática tem um caráter totalmente elitista. Isso acaba refletindo em uma
como responsabilidade apresentar aos alunos a caracterização sociedade igualmente seletiva, cheia de preconceitos, seja ela
do Brasil em toda sua diversidade, as relações possíveis nesta

77 Parâmetros Curriculares Nacionais; Pluralidade Cultural e Orientação

Sexual. Ministério da Educação; 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 64
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

entre brancos e negros, heterossexuais e homossexuais, Questões


cristãos e muçulmanos entre outros.
01. (IF/PE - Assistente de Alunos - 2016) Temos, no
Conhecer e valorizar a pluralidade etnocultural brasileira; Brasil, uma grande diversidade cultural e racial. Descendentes
valorizar as várias culturas presentes em nosso país; de povos africanos e de índios brasileiros, de imigrantes
reconhecer as qualidades de cada cultura, valorizando-as europeus, asiáticos e latino-americanos compõem o cenário
criticamente; repudiar todo tipo de discriminação seja ela de brasileiro. Por conta disso, podemos que afirmar que:
ordem religiosa, étnica, sexual, entre outras; valorizar um (A) Atualmente, o termo “pluralidade cultural” não se
convívio pacífico e criativo entre os diferentes; por fim aplica ao Brasil por causa da Globalização.
compreender a desigualdade como um problema social (B) A mistura de todas estas raças e etnias não caracteriza
passível de mudanças, SOUZA, MOTTA.78 a identidade do povo brasileiro.
(C) O Brasil é um país dotado de uma ampla “pluralidade
Também são necessárias algumas mudanças no cenário cultural”, ou seja, diferentes culturas foram e são produzidas
escolar para que se reverta esse perverso quadro de pelos grupos sociais que fazem parte da nossa história.
discriminação racial na escola: (D) A diversidade cultural e racial não interfere nas formas
Uma formação continuada de professores numa com que os habitantes do Brasil organizaram sua vida social e
perspectiva “afro centrada”; a retirada de material de política.
conteúdo racista do acervo das escolas e a criação de um (E) Ações racistas e discriminatórias não existem na
núcleo específico na secretaria da educação a fim de trabalhar sociedade brasileira por causa da grande diversidade cultural
sobre o assunto do ensino de história afro-brasileira, SOUZA, e racial do país.
MOTTA.79
O ensino de história afro-brasileira já é uma realidade 02. (SED/SC - Professor - Conhecimentos Gerais - ACAFE)
segundo a legislação, devendo ser utilizado com o fim de unir A diversidade é entendida como a construção histórica,
todas as raças numa só. cultural e social das diferenças. Com base nesta afirmação,
entende-se por diversidade no contexto escolar:
Ensino e Aprendizagem e a Diversidade Cultural (A) Os negros, homossexuais, meninas e pessoas com
necessidades especiais.
Ao que se refere às práticas pedagógicas deve-se frisar: o (B) Todos que, por sua diversidade, costumam ser tratados
repúdio das práticas racistas e inconstitucionais, a ampliação socialmente de maneira desigual e naturalizada.
dos conhecimentos acerca da origem dos povos valorizando- (C) Os quilombolas, índios e pessoas com necessidades
as e utilizando como meio de aprendizagem. especiais.
Deve-se usar a pluralidade como mecanismo de (D) Os quilombolas, as pessoas com necessidades especiais
aprendizagem e enriquecimento cultural banindo os e os sem terras.
estereótipos e preconceitos: (E) As pessoas com necessidades especiais, negros,
crianças e moradores do campo.
O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da
criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade. Respostas
Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a
constatação de que são todos diferentes traz a consciência de 01. C
que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade, 02. B
insubstituível, PCN.80
Numa sala com grande diversidade de alunos, cada um tem Cultura, Diversidade Cultural e Currículo82
sua história, sua origem até mesmo o professor tem uma
história de vida particular, assim é necessário haver a Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja útil
interação de um aprender com o outro enriquecendo o esclarecermos, inicialmente, como a estamos concebendo, já
conhecimento de todos. que seus sentidos têm variado ao longo dos tempos,
particularmente no período da transição de formações sociais
Cabe ao professor o papel de quebrar o trauma causado tradicionais para a modernidade. Acreditamos que tal
por muitos séculos de preconceito: Aqui se coloca a esclarecimento pode subsidiar a discussão das relações entre
sensibilidade em relação ao outro. Compreender que aquele currículo e cultura83e84.
que é alvo de discriminação sofre de fato, e de maneira O primeiro e mais antigo significado de cultura encontra-
profunda, é condição para que o professor, em sala de aula, se na literatura do século XV, em que a palavra se refere a
poça escutar até o que não foi dito. Como a história do cultivo da terra, de plantações e de animais. É nesse sentido
preconceito é muito antiga, muitos dos grupos vítimas de que entendemos palavras como agricultura, floricultura,
discriminação desenvolveram um medo profundo e uma suinocultura.
cautela permanente como reação. O professor precisa saber O segundo significado emerge no início do século XVI,
que a dor do grito silenciado é mais forte que a dor ampliando a ideia de cultivo da terra e de animais para a mente
pronunciada, PCN.81 humana. Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada,
Podemos perceber então que se vive, ensina-se e aprende- afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, grupos
se a diversidade porque para viver é preciso conhecer o outro, ou classes sociais apresentam mentes e maneiras cultivadas e
suas diferenças, semelhanças e assim existir um maior que somente algumas nações apresentam elevado padrão de
desenvolvimento da aprendizagem. cultura ou civilização. No século XVIII, consolida-se o caráter
classista da ideia de cultura, evidente na ideia de que somente

78 SOUZA, I. S, MOTTA, F. P. C, FONSECA, D; Estudos sociológicos e 82 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf


antropológicos. São Paulo; 2002. 83 BOCOCK, R. The cultural formations of modern society. In: HALL, S. e
79 SOUZA, I. S, MOTTA, F. P. C, FONSECA, D; Estudos sociológicos e GIEBEN, B. (Orgs.). Formations of modernity. Cambridge: Polity Press/The Open
antropológicos. São Paulo; 2002. University, 1995.
80 Parâmetros Curriculares Nacionais; Pluralidade Cultural e Orientação 84 CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. Reflexões obre o multiculturalismo na escola

Sexual. Ministério da Educação; 2001. e na formação docente. In: CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. (Orgs.) Ênfases e omissões
81 Parâmetros Curriculares Nacionais; Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. no currículo. Campinas: Papirus, 2001.
Ministério da Educação; 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 65
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

as classes privilegiadas da sociedade europeia atingiriam o significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas
nível de refinamento que as caracterizaria como cultas. O de utilização da linguagem. A palavra cultura implica,
sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem suas portanto, o conjunto de práticas por meio das quais
origens nessa segunda concepção: cultura, tal como as elites a significados são produzidos e compartilhados em um grupo.
concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que
cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não passam, dominantemente, a despertar a atenção dos que
encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns de analisam a cultura com base nessa quinta perspectiva, passível
nossos atuais currículos como em textos que se escrevem de ser resumida na ideia de que cultura representa um
sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo da literatura, conjunto de práticas significantes. Não será pertinente
por exemplo, ainda tende a se restringir a escritores e livros considerarmos também o currículo como um conjunto de
vistos como clássicos. Para alguns estudiosos da cultura e da práticas em que significados são construídos, disputados,
educação, os grandes autores, as grandes obras e as grandes rejeitados, compartilhados? Como entender, então, as relações
ideias deveriam constituir o núcleo central dos currículos de entre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha uma
nossas escolas. cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos,
Já no século XX, a noção de cultura passa a incluir a cultura ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da
popular, hoje penetrada pelos conteúdos dos meios de linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de
comunicação de massa. Diferenças e tensões entre os práticas por meio das quais significados são produzidos e
significados de cultura elevada e de cultura popular acentuam- compartilhados em um grupo.
se, levando a um uso do termo cultura que se marca por Se entendermos o currículo, como propõe Williams85,
valorizações e avaliações. Será que algumas de nossas escolas como escolhas que se fazem em vasto leque de possibilidades,
não continuam a fechar suas portas para as manifestações ou seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo,
culturais associadas à cultura popular, contribuindo, assim, também, como conjunto de práticas que produzem
para que saberes e valores familiares a muitos (as) estudantes significados. Nesse sentido, considerações de Silva86 podem
sejam desvalorizados e abandonados na entrada da sala de ser úteis. Segundo o autor, o currículo é o espaço em que se
aula? Poderia ser diferente? Como? concentram e se desdobram as lutas em torno dos diferentes
Um terceiro sentido da palavra cultura, originado no significados sobre o social e sobre o político. É por meio do
Iluminismo, a associa a um processo secular geral de currículo que certos grupos sociais, especialmente os
desenvolvimento social. Esse significado é comum nas ciências dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto
sociais, sugerindo a crença em um processo harmônico de social, sua “verdade”. O currículo representa, assim, um
desenvolvimento da humanidade, constituído por etapas conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e
claramente definidas, pelo qual todas as sociedades o consumo de significados no espaço social e que contribuem,
inevitavelmente passam. Tal processo acaba equivalendo, por intensamente, para a construção de identidades sociais e
“coincidência”, aos rumos seguidos pelas sociedades culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
europeias, as únicas a atingirem o grau mais elevado de grande efeito no processo de construção da identidade do(a)
desenvolvimento. estudante.
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos que Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre
sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as referências currículo e cultura? Se, em uma sociedade cindida, a cultura é
se fazem, dominantemente, às histórias dos povos um terreno no qual se processam disputas pela preservação ou
“desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e dos rumos pela superação das divisões sociais, o currículo é um espaço
seguidos na maioria dos países que formam o chamado em que esse mesmo conflito se manifesta. O currículo é um
Terceiro Mundo campo em que se tenta impor tanto a definição particular de
Em um quarto sentido, a palavra “culturas” (no plural) cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O
corresponde aos diversos modos de vida, valores e currículo é um território em que se travam ferozes
significados compartilhados por diferentes grupos (nações, competições em torno dos significados. O currículo não é um
classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracionais, veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
de gênero etc) e períodos históricos. Trata-se de uma visão sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se
antropológica de cultura, em que se enfatizam os significados produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto,
que os grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. a criação, recriação, contestação e transgressão87.
Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida de um Como todos esses processos se “concretizam” no
dado grupo social, com as representações da realidade e as currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam
visões de mundo adotadas por esse grupo. A expressão dessa esforços tanto por consolidar as situações de opressão e
concepção, no currículo, poderá evidenciar-se no respeito e no discriminação a que certos grupos sociais têm sido
acolhimento das manifestações culturais dos (as) estudantes, submetidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que
por mais desprestigiadas que sejam. essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao nos
Finalmente, um quinto significado tem tido considerável lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de práticas,
impacto nas ciências sociais e nas humanidades em geral. em salas de aulas, que contribuem para cristalizar
Deriva da antropologia social e também se refere a significados preconceitos e discriminações, representações estereotipadas
compartilhados. Diferentemente da concepção anterior, e desrespeitosas de certos comportamentos, certos estudantes
porém, ressalta a dimensão simbólica, o que a cultura faz, em e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas
vez de acentuar o que a cultura é. Nessa mudança, efetua- se dessas visões, lamentavelmente, se refletem em frases como:
um movimento do que para o como. Concebe-se, assim, a “vindo de onde vem, ele não podia mesmo dar certo na
cultura como prática social, não como coisa (artes) ou estado escola!”.
de ser (civilização). Ao mesmo tempo, há inúmeros e expressivos relatos de
Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo natural existem, práticas alternativas em que professores (as) desafiam as
mas não apresentam sentidos intrínsecos: os significados são relações de poder que têm justificado e preservado privilégios
atribuídos a partir da linguagem. Quando um grupo e marginalizações, procurando contribuir para elevar a
compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de autoestima de estudantes associados a grupos

85WILLIAMS, R. The long revolution. Harmondsworth: Penguin Books, 1984 87 MOREIRA, A. F. B. e SILVA, T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São
86SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do Paulo: Cortez, 1994
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

Conhecimentos Pedagógicos 66
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

subalternizados. O currículo é um campo em que se tenta determinados grupos cujas identidades se encontram
impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo ameaçadas, para a importância da participação de todos no
quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a
em que se travam ferozes competições em torno dos urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos.
significados. Ou seja, no processo curricular, distintas e O objetivo maior concentra-se, cabe destacar, na
complexas têm sido as respostas dadas à diversidade e à contextualização e na compreensão do processo de construção
pluralidade que marcam de modo tão agudo o panorama das diferenças e das desigualdades. Nosso propósito é que os
cultural contemporâneo. currículos desenvolvidos tornem evidente que elas não são
Cabe também ressaltar a significativa influência exercida, naturais; são, ao contrário, “invenções/construções” históricas
junto às crianças e aos adolescentes que povoam nossas salas de homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem
de aula, pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou seja, o existente
socioeducativos (shoppings, clubes, associações, igrejas, meios nem pode ser aceito sem questionamento nem é imutável;
de comunicação, grupos informais de convivência etc), nos constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e
quais se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos para a formulação e a promoção de novas situações
fenômenos associáveis ao processo de globalização que hoje pedagógicas e novas relações sociais.
vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares, os
currículos tendem a se organizar com objetivos distintos dos O currículo como espaço de reconhecimento de nossas
currículos escolares, o que faz com que valores como identidades culturais
padronização, consumismo, individualismo, sexismo e Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de
etnocentrismo possam entrar em acirrada competição com especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola,
outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale perguntar: promover ocasiões que favoreçam a tomada de consciência da
construção da identidade cultural de cada um de nós, docentes
Como temos, nas salas de aula, reagido a esse “confuso” e gestores, relacionando-a aos processos socioculturais do
panorama em que a diversidade se faz tão presente? contexto em que vivemos e a história de nosso país. O que
Como temos nos esforçado para desestabilizar privilégios e temos constatado é a pouca consciência que, em geral, temos
discriminações? Como temos buscado neutralizar influências desses processos e do cruzamento de culturas neles presente.
“indesejáveis”? Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereotipada de
Como temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a identidade
outros espaços? cultural é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos
Em resumo, o complexo, variado e conflituoso cenário é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida.
cultural em que estamos imersos se reflete no que ocorre em Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica,
nossas salas de aula, afetando sensivelmente o trabalho contextualizada e plural das identidades culturais é
pedagógico que nelas se processa. Voltamos a perguntar: fundamental, articulando- se as dimensões pessoal e coletiva
desses processos. Constitui um exercício fundamental
Como as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos culturais,
classe social, gênero, etnia, sexualidade, cultura e religião têm dos processos em que misturam ou se silenciam determinados
“contaminado” nosso currículo, tanto o currículo formal quanto pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de
o currículo oculto? reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. Constitui um
Como temos considerado, no currículo, essa pluralidade, esse exercício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos
caráter multicultural de nossa sociedade? enraizamentos culturais, dos processos em que misturam ou
Como articular currículo e multiculturalismo? se silenciam determinados pertencimentos culturais, bem
Que estratégias pedagógicas podem ser selecionadas? como sermos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-
Temos, professores e gestores, reservado tempo e espaço los.
suficientes para que essas discussões aconteçam nas escolas? Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
Como nossos projetos político-pedagógicos têm incorporado exercícios podem ser propostos, buscando-se criar
tais preocupações? oportunidades em que o profissional da educação se estimule
Como temos atendido ao que determina a Lei nº a falar sobre como percebe a construção de sua identidade.
10.639/2003, que torna obrigatório, nos estabelecimentos de Como vêm sendo criadas nossas identidades de gênero, raça,
ensino fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura sexualidade, classe social, idade, profissão? Como temos
afro-brasileira? aprendido a ser quem somos, como profissionais da educação,
De que modo os professores se têm inteirado das lutas e brasileiros (as), homens, mulheres, casados (as), solteiros (as),
conquistas dos negros, das mulheres, dos homossexuais e de negros (as), brancos (as), jovens ou idosos (as)? Nesses
outros grupos minoritários oprimidos? momentos, tem sido bastante frequente a afirmação “nunca
pensei na formação da minha identidade cultural”, ou então
Sem pretender oferecer respostas prontas a serem “me considero uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão
aplicadas em quaisquer situações, move-nos a intenção de usada por uma professora jovem, querendo se referir à
apresentar alguns princípios que possam nortear a construção dificuldade de nomear os referentes culturais configuradores
coletiva, em cada escola, de currículos que visem a enfrentar de sua trajetória de vida.
alguns dos desafios que a diversidade cultural nos tem trazido. A socialização em pequenos grupos, entre os (as)
Fundamentamo-nos, nesse propósito, em estudos, pesquisas, educadores (as), dos relatos sobre a construção de suas
práticas e depoimentos de docentes comprometidos com uma identidades culturais pode se revelar uma experiência
escola cada vez mais democrática. Nossa intenção é convidar o profundamente vivida, muitas vezes carregada de emoção, que
profissional da educação a engajar- se no instigante processo dilata tanto a consciência dos próprios processos de formação
de pensar e desenvolver currículos para essa escola. identitária do ponto de vista cultural, quanto a sensibilidade
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, para favorecer esse mesmo dinamismo nas práticas educativas
intensificar a sensibilidade do (a) docente e do gestor para a que organizamos. Nesses processos, podemos nos dar conta da
pluralidade de valores e universos culturais, para a complexidade envolvida na configuração dos distintos traços
necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de identitários que coexistem, por vezes contraditoriamente, na
cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a construção das diferenças de que somos feitos.
conveniência de resgatar manifestações culturais de

Conhecimentos Pedagógicos 67
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O currículo como espaço de questionamento de nossas Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma
representações sobre os “outros” marca cultural, estamos concebendo-o como membro de uma
Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural, dada cultura, vista como uma comunidade homogênea de
outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às crenças e estilos de vida. O outro, ainda que não seja a fonte de
representações que construímos dos outros, daqueles que todo mal, é diferente de nós, tem uma essência claramente
consideramos diferentes. As relações entre nós e os outros definida, distinta da que nos caracteriza. Na área da educação,
estão carregadas de dramaticidade e ambiguidade. Em essa visão se expressa, por exemplo, quando nos limitamos a
sociedades nas quais a consciência das diferenças se faz cada abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em
vez mais forte, reveste-se de especial importância dias especiais, usualmente incluídos na lista dos festejos
aprofundarmos questões como: quem incluímos na categoria escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência
nós? Quem são os outros? Quais as implicações dessas Negra.
questões para o currículo? Como nossas representações dos Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tanto
outros se refletem nos currículos? a admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las. Nessa
Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a admissão, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos, por
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na educação. princípio, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os
Nossa maneira de nos situarmos em relação aos outros tende grupos cujas marcas são comportamentos antissociais ou
a construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os opressivos, como os racistas. Que consequências a adoção
nós? Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas dessa perspectiva pode ter para a prática pedagógica?
pessoas e aqueles grupos sociais que têm referenciais Julgamos que a simples tolerância pode nos situar em uma
semelhantes aos nossos, que têm hábitos de vida, valores, posição débil, evitando que tomemos posição em relação aos
estilos e visões de mundo que se aproximam dos nossos e os valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir
reforçam. Quem são os outros? Tendem a ser os que entram que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como
em choque com nossas maneiras de nos situarmos no mundo, valor último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”,
por sua classe social, etnia, religião, valores, tradições, vendo-a como comportamentos a serem inevitavelmente
sexualidade etc. cultivados.
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar diante
Duschatzky88, principalmente de três formas distintas: o outro dos outros. No entanto, acreditamos que a tipologia proposta
como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de um por Skliar e Duschatzky89 expressa as posições mais presentes
grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. na nossa sociedade hoje, evidenciando a complexidade das
A primeira perspectiva, segundo os autores, marcou questões relacionadas à alteridade e à diferença.
predominantemente as relações sociais durante o século XX e O que desejamos destacar é que o modo como concebemos
pode se revestir de diferentes formas, desde a eliminação física a condição humana pode bloquear nossa compreensão dos
do outro, até a coação interna, mediante a regulação de outros. Portanto, é importante promovermos processos
costumes e moralidades. Nesse modo de nos situarmos diante educacionais nos quais identifiquemos e desconstruamos
do outro, assumimos uma visão binária e dicotômica. Em um nossas suposições, em geral implícitas, que não nos permitem
lado separamos os bons, os verdadeiros, os autênticos, os uma aproximação aberta e empática à realidade dos outros.
civilizados, cultos, defensores da liberdade e da paz. Em outro,
deixamos os outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os O currículo como um espaço de crítica cultural
ignorantes e os terroristas. Se nos identificamos com os Apresentamos agora outro princípio, fortemente
primeiros, o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar relacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
ou subjugar os outros. Caso nos sintamos representados como conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns
integrantes do polo oposto, ou internalizamos a nossa dos artefatos culturais que circundam o (a) aluno (a). A ideia é
maldade e nos deixamos salvar, passando para o lado dos bons, tornar o currículo um espaço de crítica cultural.
ou nos confrontamos violentamente com eles.
Como fazê-lo?
Como essa primeira perspectiva se traduz na escola? Um dos caminhos é abrir as portas, na escola, a diferentes
Mostra-se presente quando: manifestações da cultura popular, além das que compõem a
(a) atribuímos o fracasso escolar dos (as) alunos (as) às chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes,
suas características sociais ou étnicas; programas de televisão, festas populares, anúncios,
(b) diferenciamos os tipos de escolas segundo a origem brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e
social dos (as) estudantes, considerando que alguns têm maior romances precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da
potencial que outros e, para desenvolvermos uma educação de mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar
qualidade, não podemos misturar estudantes de diferentes os horizontes culturais dos (as) estudantes, bem como de
potenciais; promover interações entre diferentes culturas, outras
(c) nos situamos, como professores (as), diante dos (as) manifestações, mais associadas aos grupos dominantes,
alunos (as), com base em estereótipos e expectativas precisam ser incluídas no currículo.
diferenciadas segundo a origem social e as características A intenção é que a cultura dos estudantes e da comunidade
culturais dos grupos de referência; possa interagir com outras manifestações e outros espaços
(d) valorizamos exclusivamente o racional e culturais como museus, exposições, centros culturais, música
desvalorizamos os aspectos afetivos presentes nos processos erudita, clássicos da literatura. Se aceitarmos a inexistência, no
educacionais; mundo contemporâneo, de qualquer “pureza cultural” 90, se
(e) privilegiamos somente a comunicação verbal, pretendermos abrir espaço na escola para a complexa
desconsiderando outras formas de comunicação humana, interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural,
como a corporal, a artística etc. tanto as manifestações culturais hegemônicas como as
subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de

88 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na 89 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na

cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel: cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
90 McCARTHY, C. The uses of culture: education and the lilmits of ethnic

affiliation. New York: Routledge, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 68
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

apreciação e crítica. Talvez fosse útil, para o desenvolvimento Acrescenta-se a essa evidente complexidade o fato de que
do que sugerimos, que discutíssemos, na escola, com que muitos grupos humanos, de que trata o tema Pluralidade
recursos podemos contar em nossa comunidade e como fazer Cultural, têm produzido um saber rico e profundo acerca de si
para que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar- mesmos, particularmente no âmbito de movimentos sociais e
se familiares a nossos (as) alunos (as). Abrir as portas, na de suas organizações comunitárias. Assim, abre-se à escola a
escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das possibilidade de empreender, em seu cotidiano, uma reflexão
que compõem a chamada cultura erudita. que integra, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação.
Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar. A seguir são apresentadas algumas indicações das
Ao intentarmos transformar a escola em um espaço cultural, diferentes contribuições, a título de subsídios chave, a fim de
estamos convidando cada professor (a), como intelectual que balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o
é, a desempenhar o papel de crítico (a) cultural. Estamos esgotem. São pistas que o professor poderá seguir
considerando que a atividade intelectual implica o aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu
questionamento do que parece inscrito na natureza das coisas, planejamento. Visam, sobretudo, explicitar que tratar do povo
do que nos é apresentado como natural, questionamento esse brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no
que visa, fundamentalmente, a mostrar que as coisas não são processo histórico, exige estudo e preparo cuidadoso que não
inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, assim, na crítica se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
da cultura em que estamos imersos. Como se expressa essa
atividade na prática curricular? Fundamentos Éticos
Julgamos que cabe à escola, por meio de suas atividades Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve
pedagógicas, mostrar ao aluno que as coisas não são preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes
inevitáveis e que tudo que passa por natural precisa ser na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os
questionado e pode, consequentemente, ser modificado. Cabe preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da
à escola levá-lo a compreender que a ordem social em que está escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que
inserido define-se por ações sociais cujo poder não é absoluto. visem à superação do preconceito e da discriminação. A
O que existe precisa ser visto como a condição de uma ação contribuição da escola na construção da democracia é a de
futura, não como seu limite. Nossos questionamentos devem, promover os princípios éticos de liberdade, dignidade,
então, provocar tensões e desafiar o existente. Podem não respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no
mudar o mundo, mas podem permitir que o aluno o cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio
compreenda melhor. Como nos diz Bauman91, “para operar no constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a
mundo (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
entender como o mundo opera”. aos problemas gerados pela injustiça social.
A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, A diferença entre o que se tem historicamente pregado
por exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões como sendo fins e valores da democracia republicana e
estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens práticas sociais marcadas pela dominação, exploração e
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas exclusão, torna imperativo o posicionamento ético da escola e
cômicos de televisão; preconceitos contra povos não do educador, ao mesmo tempo em que se coloca a superação
ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens dessa situação, no campo educacional, como um dos maiores
encontradas em revistas para adolescentes do sexo feminino desafios da prática pedagógica.
(e da classe média) que incentivam o uso de drogas, o Num mundo que tende cada vez mais à globalização no
consumismo e o individualismo; estímulos à erotização plano econômico, da qual é ainda desconhecido o conjunto de
precoce das meninas, visíveis em brinquedos e programas efeitos sociais, é importante perceber o incessante processo de
infantis; presença e aceitação da violência em filmes, jogos e reposição das diferenças e o ressurgimento de etnicidades. De
brinquedos. um lado, esse processo ensina que o fato de as culturas
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o viverem dinâmicas que resultam em sua modificação
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta nada constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único,
têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorporam intenções e conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento
de apoiar, preservar ou produzir situações que favorecem dominante. De outro, apresenta com clareza a necessidade da
certos grupos e outros não. Tais artefatos, como se tem construção de valores e novas práticas de relação social que
insistentemente acentuado, desempenham, junto com o permitam o reconhecimento e a valorização da existência das
currículo escolar, importante papel no processo de formação diferenças étnicas e culturais, e a superação da relação de
das identidades de nossas crianças e nossos adolescentes, dominação e exclusão — ao mesmo tempo em que se constitui
devendo constituir- se, portanto, em elementos centrais de a solidariedade.
crítica em processos curriculares culturalmente orientados.
Conhecimentos Jurídicos
Contribuições para o Estudo da Pluralidade Cultural no Explicitada no contexto dramático do pós-guerra, quando
Âmbito da Escola92 se indagou como teria sido possível ao ser humano produzir a
Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e barbárie do Holocausto e o horror de Nagasaki e Hiroshima, a
aprendizagem é importante esclarecer o caráter Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu como a
interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da ponte entre o medo e a esperança. Essa ponte, apenas
Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento projetada ali, seria preciso ser construída.
de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional, Os direitos humanos assumiram, gradativamente, a
conhecimentos acumulados no campo da História e da importância de tema global. Assim como a preservação do
Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da meio ambiente, os Direitos Humanos colocam-se como
Linguística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a assunto de interesse de toda a humanidade. Se o planeta está
Estudos Populacionais, constituem uma base sobre a qual se ameaçado por políticas de desenvolvimento predatórias, da
opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola, mesma maneira a miséria e a intolerância em seus diversos
deve ter cunho eminentemente pedagógico. matizes promovem no final do século a morte pela fome, a

91BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. 92Brasil.


Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual / Secretaria de Educação
Fundamental.

Conhecimentos Pedagógicos 69
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

marginalidade extrema, migrações em massa, desequilíbrios Conhecimentos Históricos e Geográficos


internos e, no limite, guerras entre grupos humanos que O estudo da ocupação do território nacional e da
outrora conviveram em suposta harmonia. A violência em que constituição da população pode ser empreendido por
pode resultar a disputa étnica, religiosa e social, quando a intermédio da trajetória das etnias no Brasil. Tarefa complexa,
intolerância e o desequilíbrio são levados ao extremo, esse estudo traz tanto a compreensão da produção das
expressa-se em números: sabe-se que 80% das guerras que riquezas, da miséria e da injustiça quanto de aspectos que
ocorrem hoje derivam da intolerância étnica e religiosa em tornaram o Brasil internacionalmente reconhecido como
conflitos internos. hospitaleiro.
A ONU, preocupada com a conquista da paz mundial, Os aspectos históricos e geográficos expõem uma
promoveu conferências que buscavam um programa de diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de
consenso que orientasse os países e os indivíduos quanto à vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania, de
questão dos direitos humanos. A Conferência de Viena de valorização desigual de práticas culturais. A formação
1993, de cuja declaração o Brasil é signatário, reafirmou a histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
universalidade dos direitos humanos e apresentou as processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em
condições necessárias para os Estados promoverem, diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se
controlarem e garantirem tais direitos. Sabia-se naquele ao fato de que cada grupo encontrou maneiras de preservar
momento que o tratamento adequado do tema da pluralidade sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma
etnocultural era condição para a democracia e fator primordial clandestina e precária.
do equilíbrio social e internacional. Firma-se nesse contexto a A tendência de abafar e encobrir os problemas vividos pela
responsabilidade do Estado na proteção e promoção das diversidade, enquanto se dá destaque apenas à sua
identidades étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. característica de ser um dos potenciais mais férteis,
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 tipicamente brasileiros, levou por muito tempo a acreditar que
é uma das mais avançadas quanto aos temas do respeito à o racismo era uma mazela social que o Brasil soube evitar. A
diferença e do combate à discriminação. O Brasil teve, por teoria da integração das raças, tradicionalmente divulgada na
outro lado, participação ativa nas reuniões mundiais sobre os maioria das escolas de ensino fundamental, deixou pouco ou
direitos humanos e sobre minorias. Aqui não se trata, é claro, nenhum espaço para que se encarassem as reais dificuldades
de exigir conhecimentos próprios do especialista em Direito, das diferentes etnias no contexto social brasileiro.
mas de saber como se define basicamente a cidadania. Para a compreensão da trajetória das etnias é necessário
Vale lembrar que dispositivos presentes na Seção “Da tratar de temas básicos: ocupação e conquista, escravização,
Educação”, da Constituição Federal, referentes às imigração, migração. Outro aspecto particularmente relevante
comunidades indígenas, também asseguram “a utilização de refere-se à importância do estudo dos continentes de origem
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” dos diversos grupos que compõem a população brasileira.
(art. 210, § 2º), consolidando o reconhecimento de exigências Tratar da presença indígena, desde tempos imemoriais em
historicamente apresentadas em trabalhos desenvolvidos território nacional, é valorizar sua presença e reafirmar seus
pelos povos indígenas, em cooperação notadamente com a direitos como povos nativos, como tratado na Constituição de
sociedade civil. 1988. É preciso explicitar sua ampla e variada diversidade, de
Alguns aspectos pedagógicos decorrem desse dispositivo. forma a corrigir uma visão deturpada que homogeneíza as
O estabelecimento de escolas indígenas, com proposta sociedades indígenas como se fossem de um único grupo, pela
pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias, justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
atende a uma exigência constitucional, traz enriquecimento Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto
pedagógico e introduz exigências adicionais na estruturação pela via da inclusão nos currículos de conteúdos que informem
do sistema nacional de educação. sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a
O ensino religioso nas escolas públicas é assunto que exige sociedade como um todo, quanto pela consolidação das escolas
atenção. Tema vinculado, em termos de direito, à liberdade de indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a
consciência e de crença, a presença plural das religiões no pedagogia que lhes é própria.
Brasil constitui-se fator de possibilidade de escolha. Ao Compreender a formação das sociedades europeias e das
indivíduo é dado o direito de ter religião, quando criança, por relações entre sua história, viagens de conquista,
decisão de seus pais, ou, quando adulto, por escolha pessoal; entrelaçamento de seus processos políticos com os do
de mudar de religião, por determinação voluntária ao longo da continente americano, em particular América do Sul e Brasil,
vida, sem restrições de ordem civil; e de não ter religião, como auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só
opção consciente. O que caracteriza, portanto, a inserção social de conteúdos específicos, como também da estruturação de
do cidadão, desse ponto de vista, é o respeito, a abertura e a processos de influenciação recíproca. Isso é particularmente
liberdade. importante para o momento atual, quando o quadro
De fato, a configuração laica do Estado é propiciadora internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e
dessa pluralidade, no plano social, e se caracteriza por ser variadas formas.
impeditiva de rótulos, no plano do cidadão. Ou seja, não há O estudo histórico do continente africano, com sua
uma predeterminação que vincule compulsoriamente etnias e complexidade milenar, é de extrema relevância como fator de
religiões, origem de nascimento e percursos de vida. informação e de formação voltada para a valorização dos
É nesse sentido que se define a postura laica da escola descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história
pública como imperativo no cumprimento do dever do Estado mais ampla, na qual os processos de mercantilização da
referente ao estabelecimento pleno de uma educação escravidão foram um momento, que não pode ser amplificado
democrática, voltada para o aprimoramento e a consolidação a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O
de liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana. conhecimento desse processo pode significar o
Não se trata, é claro, de mostrar um Brasil perfeito e irreal, dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético,
mas as possibilidades que se abrem com trabalho, embates e da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que
entendimentos, mediante a colocação em prática de os povos africanos enfrentam por isso.
instrumentos jurídicos já disponíveis. Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui
para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no
que se refere às tradições quanto em relação aos processos
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as

Conhecimentos Pedagógicos 70
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes sujeito sociocultural, voltado para mudanças, para a busca de
momentos históricos. É relevante, também, o estudo do caminhos de transformação social.
Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição
da civilização ocidental. Conhecimentos Antropológicos
Esses conhecimentos são subsídios para que se possa Há relações presentes em diferentes grupos e sociedades
compreender o processo de surgimento de tendências, ideias, humanas que não se explicam exclusivamente pelo
crenças, sistemas de pensamento, seu percurso por diversos socioeconômico, nem se reduzem a estados afetivos e
territórios nacionais e continentais, e a ampliação da psicológicos. São exemplos, a relação do ser humano com a
influência cultural; perceber a criação e recriação constante de organização de seu grupo, com o sagrado, o mágico, o
tradições, a complexidade da convivência da diversidade em sobrenatural, a relação com o patrimônio cultural, tudo o que
um mesmo território, nem sempre harmonizada, assim como o precede e sucede. Trata-se de fatos que caracterizam a
processos internacionais de pressão, e desenvolvimento de existência da cultura, especificidade exclusiva da vida humana.
processos regionais de construção da paz. A Antropologia caracteriza-se como o estudo das
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor
conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala inerente a cada cultura, por se tratar daquilo que é
de aula. É claro, contudo, que alguns desenvolvimentos exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo
conceituais mais elaborados poderão ser deixados para as grupo, em certo momento, em certo lugar. Nesse sentido, cada
quintas a oitavas séries, enquanto nas séries iniciais se poderá cultura tem sua história, condicionantes, características, não
veicular informações mais simples e promover aproximações cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em
conceituais que favorecerão uma futura ampliação em detrimento de outra.
abrangência e profundidade. A variabilidade interna presente em cada cultura também
é objeto de estudo da Antropologia, tornando possível
Conhecimentos Sociológicos compreender variáveis formas de organização humana,
Toda seleção curricular é marcada por determinantes e convivendo dentro de visões de mundo semelhantes.
fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados É também nos conhecimentos antropológicos que se
de forma isolada, para efeito de estudo, mas que se encontram encontram subsídios para entender algumas das questões
amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são mais difíceis de nosso tempo, que vai ao encontro do terceiro
indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas milênio. Em particular, a temática étnica, cada vez mais
possibilidades que abrem de compreensão de processos presente em um mundo que se complexifica de maneira
complexos, onde se dão interações entre fenômenos de crescente, sob aparência de homogeneização, assim como o
diferentes naturezas. estudo das mutações culturais, que se apresentam com ritmos
Atuando em campo social marcado historicamente pela distintos, em diferentes grupos.
exclusão de grandes contingentes da população, a escola pode Assim, falar de cultura é tratar de permanências e
fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos mudanças, de manifestações patentes, que expressam, com
problemas presentes na estrutura socioeconômica, de como se frequência, o latente — atuante, embora nem sempre
dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado perceptível em termos objetivos.
pelo universo cultural nesse processo. É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais
Embora tenha sido muito salientado o papel de usual do termo cultura, empregado para definir certo saber,
reprodutora de mecanismos de dominação e exclusão, ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico
atribuído historicamente à escola, cabe lembrar que do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no
potencializar suas possibilidades de resistência e contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura,
transformação depende também, ainda que não mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se se
exclusivamente, das opções e das práticas dos educadores. pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não
Nesse sentido, além das diversas contribuições da Sociologia, sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do
aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm grupo que o gerou.
sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis
da Educação, Sociologia do Currículo. Nesses estudos, os pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da
vínculos entre escola e democracia, escola e cidadania, e sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância,
democracia e currículo são analisados, permitindo uma aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde
reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como
sala de aula, no que se refere a esses assuntos. cada grupo social as concebe.
Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão A cultura, como código simbólico, apresenta-se como
acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo
não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando
classes sociais, assim como das formas como ambas se valores. O grupo social transforma e reformula
retroalimentam. constantemente esses códigos, adaptando seu acervo
A desatenção à questão da diferença cultural tem sido tradicional às novas condições historicamente construídas
instrumento que reforça e mantém a desigualdade social, pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o
levando a escola a atuar, frequentemente, como mera sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o
transmissora de ideologias. Por outro lado, a injustiça estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua
socioeconômica se apoia em preconceitos e discriminações de identidade.
caráter etnocultural de tal forma que, muitas vezes, não é Entretanto, o processo de mudança intrínseco a qualquer
possível saber se a discriminação vem pelo fato étnico, pelo cultura já foi entendido como desfiguração da cultura
socioeconômico, ou por ambos. tradicional, desvio e perda, o que, do ponto de vista aqui
A discussão sociológica colabora para a escola e o colocado, é uma ideia incorreta. É preciso compreender esse
professor enfrentarem o desafio que lhes está colocado, qual caráter intrínseco da mudança, do ponto de vista dos grupos
seja, o de ser parte de certa realidade social injusta, dela sofrer culturais, diferente de intromissões de elementos externos
influências, e, ainda assim, garantir a possibilidade de educar que sugerem ou impõem fatores estranhos à cultura, ou até de
o aluno como cidadão em formação, de forma que atue como transplantes culturais.

Conhecimentos Pedagógicos 71
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A cultura pode assumir um sentido de sobrevivência, Linguagens e Representações


estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como Trata-se, aqui, de trabalhar diferentes linguagens que
parte indispensável das identidades individuais e sociais, ampliam as possibilidades de expressão para além da verbal,
apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida forma predominante de comunicação na maioria das
democrática. Por isso, fortalecer a cultura própria de cada sociedades. Integrada aos conhecimentos antropológicos,
grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade permitirá o entendimento da importância de diferentes
brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e códigos linguísticos, de diferentes manifestações culturais e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a sua compreensão no campo educacional, como fator de
liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. integração e expressão do aluno, respeitando suas origens.
Alguns temas, conceitos e termos da temática da Tratando especificamente da temática das línguas, abrem-
Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de se muitas possibilidades de transversalização com Língua
conhecimentos antropológicos, por referirem-se diretamente Portuguesa, por exemplo, pela valorização de diferentes
à organização humana, na qual se coloca a diversidade. formas de linguagem oral e escrita, pelo respeito às
Assim, o termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no manifestações regionais, pela possibilidade de contato e
cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências integração com a diversidade de línguas e de linguagens
sociais pelos maus usos a que se prestou. presentes na vida de crianças e adolescentes no Brasil.
Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes
cujos membros mostram com frequência um certo número de da Língua Portuguesa, idioma oficial, significa não só
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos ampliação de horizontes, como também compreensão da
cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato complexidade do País. A escola tem a possibilidade de
do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à
transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, existência, estrutura e uso dessas centenas de línguas. Pode,
assenta-se em um conteúdo biológico, e foi utilizado na com isso, promover não só a reflexão metalinguística, como
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de também a compreensão de como se constituem identidades e
superioridade/inferioridade entre grupos humanos. singularidades de diferentes povos e etnias.
A diversidade das sociedades humanas não se explica pela Saber da existência de diferentes formas de bilinguismos e
diferença genética — a variação dos caracteres genéticos multilinguíssimos, presentes em diferentes regiões — assim
internos de qualquer grupo é muito grande —, mas sim pela como ver-se reconhecida e presente neste tema transversal,
cultura. A divisão biológica da espécie humana não implica aberto às suas próprias singularidades regionais, étnicas e
hierarquia, ainda que diferentes visões de mundo expliquem culturais — será extremamente relevante na construção desse
de múltiplas formas a diversidade humana. Do ponto de vista conhecimento e na valorização do que é a pluralidade cultural
de dignidade, de Direitos Universais, há uma só humanidade. brasileira. São exemplos de tais bilinguismos e
Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso multilinguíssimos as vivências de escolas indígenas, escolas de
comum é ainda muito difundido, variando da ideia de regiões de fronteiras geopolíticas do Brasil, escolas vinculadas
reafirmação étnica, de forma a distinguir singularidades de a grupos étnicos, existentes em particular em grandes centros
potencial e demanda, como aquele que é feito comumente por urbanos, regionalismos na fala cotidiana de tantas escolas
movimentos sociais, a usos ostensivamente pejorativos, que espalhadas pelo País.
alimentam racismo e discriminação. Por outro lado, o desenvolvimento de outras linguagens
Cabe, aqui, introduzir o conceito de etnia, que substitui será muito importante, permitindo transversalizar, em
com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural. particular, com Educação Física e Arte. A música, a dança, as
“Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos e a
diferencia de outros por sua especificidade cultural. composições regionais típicas, são manifestações culturais que
Atualmente o conceito de etnia se estende a todas as minorias a criança e o adolescente poderão conhecer e vivenciar. Dessa
que mantêm modos de ser distintos e formações que se forma enriquecerão seu conhecimento sobre a diversidade
distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio
uma etnia partilham de uma mesma visão de mundo, de uma potencial expressivo.
organização social própria, apresentam manifestações
culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição Conhecimentos Populacionais
de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de Embora estejam presentes ao longo da discussão referente
um grupo étnico, que frequentemente se autodenomina à trajetória das etnias no Brasil, os conhecimentos
comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de alguém populacionais precisam ser aqui lembrados, por constituírem
tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de fonte de informação relevante, sobretudo a partir do segundo
pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios ciclo.
valores e categorias — muitas vezes dificulta um diálogo Dados estatísticos sobre a população brasileira conforme
intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado distribuição regional, densidade demográfica, em relação com
que as diversas culturas oferecem. dados como renda per capita, PIB per capita, fornecem um
Por isso, é errado, conceitual e eticamente, sustentar quadro informativo de como se vive no Brasil. Cotejado com
argumentos de ordem racial/étnica para justificar informações provenientes de levantamentos feitos pelos
desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso, próprios alunos (via correspondência, imprensa, etc.),
exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no significarão a possibilidade de um conhecimento mais
Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas adequado sobre o Brasil e oportunidade, nas séries finais, de
contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes, discussão, de debates acerca de políticas públicas alternativas
da barbárie da escravidão a formas contemporâneas de que beneficiem a vida da população.
discriminação e exclusão, desses e outros grupos étnicos e Da mesma forma, História e Geografia, Ciências Naturais,
culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve Orientação Sexual e Saúde possibilitam discutir dados
posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante referentes à mortalidade infantil, abortos e esterilizações, com
informações corretas, cooperando no esforço histórico de as consequências daí advindas. Um tratamento enriquecedor
superação do racismo e da discriminação. da temática dos direitos reprodutivos propicia também a
análise da relação com questões de raça/etnia.

Conhecimentos Pedagógicos 72
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A escolha dos conteúdos e abordagens pode nortear-se por que está em elaboração como parte do processo social de
questões como: quais características são relevantes quanto à conscientização e afirmação de identidades e singularidades.
relação entre composição populacional, aspectos culturais, No polo em que se encontra aquele que é discriminado, o
distribuição de renda, qualidade de vida e o papel da medo se apresenta como ameaça permanente, na qual a
educação? Que relações perversas estabeleceram-se, discriminação se dirige à sua forma extrema, aquela na qual se
historicamente, entre exclusão socioeconômica e busca eliminar fisicamente quem é discriminado. É importante
determinados grupos, que estão exigindo ações específicas? observar que a discriminação reveste-se sempre de conteúdos
Que dados são relevantes para uma compreensão integrada de de violência, ainda que em sua forma simbólica. Tal violência
áreas sociais, como educação e saúde, por exemplo? provoca o medo da eliminação, seja de forma extrema, seja
Esses conhecimentos poderão, assim, oferecer subsídios manifestada como exclusão. Assim, é decisivo propiciar
preliminares que permitam construir a compreensão do elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão
entrelaçamento de componentes sociais, culturais e social, por meio sobretudo da prática cotidiana de
populacionais na definição da qualidade de vida, além de procedimentos voltados para o princípio da equidade.
possíveis formas de ação voltadas para a melhoria dessa
qualidade. Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Pluralidade
Cultural
Conhecimentos Psicológicos e Pedagógicos O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas e
Alguns aspectos presentes na escola, ligados à questão da transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e
expectativa, da estigmatização, da autoestima, da conduta na inconstitucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca
atividade educativa, com a necessária reciprocidade entre das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território
educador e educando, fazem do tema Pluralidade Cultural fim nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a eliminação
e meio. de causas de sofrimento, de constrangimento e, no limite, de
Do ponto de vista psicopedagógico, conhecimentos que exclusão social da criança e do adolescente. Além disso, o tema
tragam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso traz oportunidades pedagogicamente muito interessantes,
que se apresentam como sendo mais da escola e de sua motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e
atividade didática, e não só dos alunos, levam à redefinição de sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito
procedimentos em sala de aula. cosmopolita e vice-versa, colocando-se assim,
Evitar atitudes que “produzam” o fracasso escolar é uma simultaneamente, como objetivo e como meio do processo
possibilidade aberta ao professor. Um dos aspectos mais educacional.
complexos quanto ao atendimento adequado à criança e ao Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece
adolescente refere-se às expectativas de homogeneização. oportunidades de conhecimento de suas origens como
Várias contribuições se apresentam para a conduta brasileiro e como participante de grupos culturais específicos.
pedagógica, sendo, porém, a mais decisiva aquela que Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil,
intervém nas situações de discriminação, seja qual for o propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor,
motivo. promovendo sua autoestima como ser humano pleno de
Com relação à discriminação, sabe-se que um de seus dignidade, cooperando na formação de autodefesas a
fundamentos psicológicos é o medo. Falar sobre isso expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por
explicitamente, como um dos muitos e complexos motivos que meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e
levam à discriminação, permite que se possa tratar o medo vivências que cooperam para que se apure sua percepção de
como o que é de fato: manifestação da insegurança, muitas injustiças e manifestações de preconceito e discriminação que
vezes plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar - e para
revertida apenas quando encarada e trabalhada. que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas.
É preciso esclarecer, também, que a discriminação ocorre No âmbito instrumental, o tema permite a explicitação dos
como uma relação em que há dois polos. No polo que direitos da criança e do adolescente referentes ao respeito e à
discrimina, o medo se apresenta como reação ao valorização de suas origens culturais, sem qualquer
desconhecido, visto como ameaçador. Quem tem a cor da pele discriminação. Exige do professor atitudes compatíveis com
diferente, ou fala de tradições — étnicas, religiosas, culturais uma postura ética que valoriza a dignidade, a justiça, a
— desconhecidas, confronta seu interlocutor com sua própria igualdade e a liberdade. Exige, também, a compreensão de que
ignorância de mundos diferentes do seu. É a figura do o pleno exercício da cidadania envolve direitos e
“estranho”, do “estrangeiro”, que, por escapar da apreensão responsabilidades de cada um para consigo mesmo e para com
comum, pode ser rotulado de “esquisito”. os demais, assim como direitos e deveres coletivos. Traz, para
Esse medo se alimenta de si mesmo, ou seja, quanto mais os conteúdos relevantes no conhecimento do Brasil, aquilo que
medo, mais se busca distância do objeto do medo. Há estudos diz respeito à complexidade da sociedade brasileira: sua
que demonstram que nos conflitos inter-étnicos, quanto maior riqueza cultural e suas contradições sociais.
o medo, maior a violência presente nas reações. Ao mostrar as diversas formas de organização social
Uma forma de trabalhar e superar esse tipo de medo é com desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e
informação. Trata-se, portanto, de buscar conhecer aquele que diferentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de
atemoriza. Esse conhecimento se dá por intermédio de textos, fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido
fitas de vídeo, jornais e boletins informativos de grupos social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo
organizados pelas diferentes comunidades. Contudo, a fonte entrelaçamento das diversas formas de organização social de
mais importante de conhecimento desse “desconhecido que diferentes grupos.
atemoriza” é ele mesmo. Assim, trata-se de, potencializando ao Esse tema necessita, portanto, que a escola, como
máximo a prática da transversalidade, oferecer informações, instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais e ao
nas diversas áreas, que permitam esse conhecimento mútuo, afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em análise
tanto dos alunos entre si, quanto em relação a concidadãos, suas relações, suas práticas, as informações e os valores que
brasileiros de diferentes origens socioculturais. Trata-se veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cultural contribuirá
também de recuperar, de forma não-depreciativa, para a vinculação efetiva da escola a uma sociedade
conhecimentos que os grupos étnicos e sociais têm, democrática.
permitindo, ainda, que se evidencie o saber emergente, aquele

Conhecimentos Pedagógicos 73
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo
Cultural? para partilhar com seus colegas a vivência que tenha fora do
Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como
discriminação manifestada em gestos, comportamentos e contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo,
palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo, ao trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um
mesmo tempo em que não se aceita que permaneça a atual ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio
situação, em que a escola é cúmplice, ainda que só por omissão, à sua expressão; de valorização, pela incorporação das
não se pode esquecer que esses problemas não são contribuições que venha a trazer.
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é idêntico
das relações sociais, e como elas têm história e permanência. ao que se apresenta para o professor e demais funcionários da
O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se constituir escola: uma organização escolar que saiba estar atenta às
um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas singularidades dos profissionais que ali atuam, respeitando
de relação social e interpessoal mediante a interação entre o suas características próprias, entendendo que esse respeito é
trabalho educativo escolar e as questões sociais, a base para a atuação profissional, e tal respeito não é
posicionando-se crítica e responsavelmente perante elas. incompatível com o respeito às normas institucionais, embora
Assim, cabe à escola buscar construir relações de confiança possa, às vezes, exigir flexibilidade em sua aplicação (por
para que a criança possa perceber-se e viver, antes de mais exemplo, os feriados religiosos).
nada, como ser em formação, e para que a manifestação de Tal atuação não é simples e exige por parte do professor a
características culturais que partilhe com seu grupo de origem consciência de que ele mesmo estará aprendendo, uma vez que
possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de nessa área a prática do acobertamento é muito mais frequente
vida, que não seja impeditiva do desenvolvimento de suas que a prática do desvelamento.
potencialidades pessoais. A prática do acobertamento é a mais usual, porque assim
É possível identificar no cotidiano as muitas manifestações se estabeleceu no campo social. Vive-se numa realidade na
que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fatos da qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma
comunidade ou comunidades do entorno escolar, as notícias vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que
de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, estratégias de no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito
intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de da democracia racial”). Mais ainda, muitas vezes a ideia de
diferentes municípios de um mesmo Estado. aceitar que o preconceito existe gera tanto o medo de ser
A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. Assim, acusado de ser preconceituoso como o medo de ser vítima de
quando se fala de alguma comunidade, é preciso ter certeza de preconceito. Essa atitude é o que se chama, popularmente, de
que se referem a conhecimentos reconhecidos por essas “política de avestruz”, na qual, por se fazer de conta que um
comunidades como verdadeiros. Então, como conseguir problema não existe, tem-se a expectativa de que ele deixe, de
informações? Nesse sentido, a prática de intercâmbio escolar fato, de existir.
e da consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se
das próprias comunidades, é instrumento pedagógico procura diluir as evidências de comportamento
privilegiado. Com isso, será possível transformar a discriminatório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um
possibilidade de obter informações das comunidades em fator professor pode ter tratado um aluno mal “porque estava
de corresponsabilização social pelos rumos da discussão, da nervoso”, ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada
formação de crianças e adolescentes. como se fosse um simples descuido, uma distração.
É importante abrir espaço para que a criança e o A prática do desvelamento, que é decisiva na superação da
adolescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é discriminação, exige do professor informação, discernimento
experiência pessoal e intransferível, que permite um oportuno diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sentimento
e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o do outro e intencionalidade definida na direção de colaborar
exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de na superação do preconceito e da discriminação.
informações sobre vivências culturais e esclarecimentos A informação deverá permitir um repertório básico
acerca de eventuais preconceitos e estereótipos é componente referente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar
fortalecedor do convívio democrático. o que é relevante para a situação escolar como para buscar
O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da outras informações que se façam necessárias.
criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade. O discernimento é indispensável, de maneira particular,
Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a quando ocorrem situações de discriminação no cotidiano da
constatação de que são todos diferentes traz a consciência de escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, significa tanto
que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade, não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de
insubstituível. acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de
O simples fato de os alunos serem provenientes de maneira ambígua, estará reforçando o problema social; se
diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressentimento. Assim,
professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a ação
auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual, discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como
diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência de se pratica a solidariedade, buscando alguma atividade que
interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e cada possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus
um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a alunos.
cada momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro.
e o outro, talvez, despreze. Compreender que aquele que é alvo da discriminação sofre de
Aprender a posicionar-se de forma a compreender a fato, e de maneira profunda, é condição para que o professor,
relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é em sala de aula, possa escutar até mesmo o que não foi dito.
aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas, Como a história do preconceito é muito antiga, muitos dos
histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a grupos vítimas de discriminação desenvolveram um medo
conhecer. profundo e uma cautela permanente como reação. O professor
Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas precisa saber que a dor do grito silenciado é mais forte do que
características, ter disponível a abertura para que possa dar- a dor pronunciada. Poder expressar o que sentiu diante da
se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares discriminação significa a chance de ser resgatado da

Conhecimentos Pedagógicos 74
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou 02. (UNIRIO - Pedagogo - CESGRANRIO/2016) Os
seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo, currículos têm uma estreita relação com a história e a
num gesto que pode transformar o significado do sofrimento, sociedade, refletindo questões sociais de um determinado
ao fazer do ocorrido ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, momento. Os currículos são produtores de sujeitos dotados de
aqui, exige a atenção para a reação que a criança esteja classe, etnia e gênero. Nessa perspectiva, o papel do pedagogo
apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar na instituição de ensino deve ser o de:
do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação (A) Premiar os docentes que cumpram o cronograma
posterior. estabelecido.
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma (B) Separar os alunos pelas diferenças no seu ritmo de
reflexão que permita ao professor perceber o papel que aprendizagem.
desempenha nessa questão. É também a capacidade de (C) Treinar os professores segundo aulas-padrão.
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o (D) Incrementar a competição entre as diferentes
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da disciplinas do currículo.
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a (E) Promover a discussão docente sobre o significado dos
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença conteúdos do currículo.
entre o reforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir
novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade. 03. Segundo SILVA (1999), o currículo é o espaço em que
A prática do desvelamento exige perspicácia para os diferentes significados sobre o social e político fazem
responder adequadamente a diferentes situações que serão, sentido. Isso só é possível mediante a um currículo...
na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa (A) que tem como cerne os elementos do processo de
imprevisibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é ensino e aprendizagem, principalmente a didática e a
preparando-se com leituras, buscando informações e avaliação.
vivências, estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando (B) no qual possamos identificar grupos prioritários,
valores, refletindo coletivamente na equipe de professores. evidenciando o potencial de um todo.
Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar entender (C) que determinados grupos sociais, expressam sua visão
a complexidade da vida e do comportamento humano. de mundo, seu projeto social, na qual sua representação se dá
Essa informação deve ser buscada de maneira intencional através de um conjunto de práticas que favorecem a produção,
e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os cantos, as evidenciando a construção de identidades sociais e culturais.
lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma criança (D) onde é possível torná-lo em um espaço de crítica
pode ensinar a outra aquilo que é característico do grupo cultural, abrindo as portas, na escola, às diferentes
humano do qual participa. manifestações da cultura popular.
Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que verbal. (E) cuja organização e gestão, as abordagens disciplinares,
Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como a pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar possuem
possibilidade de o aluno assumir o papel de educador naquilo papel secundário.
que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor deverá
cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o restante da 04. (ESAF - MF – Pedagogo) Do ponto de vista cultural, a
classe. Observe-se que essa vivência, em si, será extremamente diversidade pode ser entendida como a construção histórica,
importante, por trazer para o aluno a possibilidade de cultural e social das diferenças. As diferenças são também
constatar que a sociedade se apresenta, em sua complexidade, construídas pelos sujeitos sociais ao longo do processo
como um constante objeto de estudo e aprendizagem, onde histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e
todos sempre têm a aprender. da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder.
Assim, a problemática que envolve a discriminação étnica, Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que
cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma zona de aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento,
sombra que leva à proliferação da ambiguidade nas falas e nas só passaram a ser percebidos dessa forma, porque nós, seres
atitudes, alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os
à luz, como elemento de aprendizagem e crescimento do grupo nomeamos e identificamos.
escolar como um todo.
Em relação ao conceito de diversidade e sua relação com o
Ensinar a pluralidade ou viver a pluralidade? currículo, assinale a opção incorreta.
Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É (A) A diversidade é permitida na Lei de Diretrizes e Bases
trabalho de construção, no qual o envolvimento de todos se dá da Educação Nacional – LDB n. 9.394/96 em função da
pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro, possibilidade de intervenção das regiões e suas
nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação especificidades na criação do currículo escolar.
fornece. (B) Conviver com as diferenças é construir relações de
respeito e de interpelações que irão contribuir para um espaço
Questões hierarquicamente diferenciado entre os participantes.
(C) A presença da parte diversificada no currículo das
01. (Prefeitura de Itaquitinga - Pedagogo IDHTEC - escolas acaba por ocupar lugar menor na relação hierárquica
2016) A Lei nº 10.639/2003, torna obrigatório o estudo da com os demais conhecimentos.
História e Cultura Afro Brasileira e Africana: (D) A diversidade, presente em boa parte dos currículos,
(A) Nos estabelecimentos oficiais de ensino e nas aparece nos documentos como um tema, deixando de ser um
comunidades indígenas e quilombolas. eixo central de orientação curricular.
(B) Na Educação infantil e ensino fundamental de escolas (E) A forma como a diversidade é colocada na LDB, apesar
públicas. de importante, ainda é insuficiente em relação às necessidades
(C) Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, do tema e sua relevância social.
públicos e privados.
(D) Nas escolas confessionais e de movimentos populares. 05. (IF/PE - Assistente de Alunos -2016) Temos, no Brasil,
(E) Em todos os níveis e modalidades de ensino através da uma grande diversidade cultural e racial. Descendentes de
criação de uma nova disciplina curricular. povos africanos e de índios brasileiros, de imigrantes

Conhecimentos Pedagógicos 75
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

europeus, asiáticos e latino-americanos compõem o cenário isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores
brasileiro. Por conta disso, podemos que afirmar que: e às normas vigentes na sociedade de classes através do
(A) atualmente, o termo “pluralidade cultural” não se desenvolvimento da cultura individual.
aplica ao Brasil por causa da Globalização.
(B) a mistura de todas estas raças e etnias não caracteriza A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das
a identidade do povo brasileiro. diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de
(C) o Brasil é um país dotado de uma ampla “pluralidade igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade
cultural”, ou seja, diferentes culturas foram e são produzidas de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se
pelos grupos sociais que fazem parte da nossa história. com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da
(D) a diversidade cultural e racial não interfere nas formas hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada
com que os habitantes do Brasil organizaram sua vida social e (também denominada Escola Nova ou Ativa), o que não
política. significou a substituição de uma pela outra, pois ambas
(E) ações racistas e discriminatórias não existem na conviveram e convivem na prática escolar.
sociedade brasileira por causa da grande diversidade cultural - Tendência Liberal Tradicional
e racial do país. Na Tendência Liberal Tradicional, a pedagogia liberal se
caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura
Respostas geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio
esforço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os
01. C. / 02. E. / 03. C. / 04. B. / 05. C. procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm
nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com
as realidades sociais. É a predominância da palavra do
Currículo, conhecimento e professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente
intelectual.
processo de aprendizagem: as
tendências pedagógicas na Papel da escola - consiste na preparação intelectual e moral
escola. dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O
compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais
pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao
Tendências Pedagógicas93 saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem.
Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas
Neste texto adaptado de Luckesi94, vamos tratar das dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes.
concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, vamos Caso não consigam, devem procurar o ensino mais
abordar as diversas tendências teóricas que pretenderam dar profissionalizante.
conta da compreensão e da orientação da prática educacional
em diversos momentos e circunstâncias da história humana. Conteúdos de ensino - são os conhecimentos e valores
Genericamente, podemos dizer que a perspectiva sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao
redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o
transformadora pelas pedagogias progressistas. Essa aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e
discussão tem uma importância prática da maior relevância, ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da
pois permite a cada professor situar-se teoricamente sobre experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo
suas opções, articulando-se e autodefinindo-se. valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é
criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica.
Assim vamos organizar o conjunto das pedagogias em dois
grupos: Métodos - baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou
demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são feitas
pelo professor, observados os seguintes passos:
Pedagogia Liberal Pedagogia Progressista - Preparação do aluno (definição do trabalho, recordação
da matéria anterior, despertar interesse);
- Tradicional - Libertadora - Apresentação (realce de pontos-chaves, demonstração);
- Renovada Progressivista - Libertária - Associação (combinação do conhecimento novo com o já
- Renovada Não Diretiva - Crítico-Social dos conhecido por comparação e abstração);
- Tecnicista Conteúdos - Generalização (dos aspectos particulares chega-se ao
conceito geral, é a exposição sistematizada);
- Aplicação (explicação de fatos adicionais e/ou resoluções
É evidente que tanto as tendências quanto suas de exercícios).
manifestações não são puras nem mutuamente exclusivas o
que, aliás, é a limitação principal de qualquer tentativa de A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou
classificação. Em alguns casos as tendências se fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar
complementam, em outros, divergem. De qualquer modo, a hábitos.
classificação e sua descrição poderão funcionar como um
instrumento de análise para o professor avaliar a sua prática Relacionamento professor-aluno - predomina a autoridade
de sala de aula. do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede
qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O
Pedagogia Liberal professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser
A Pedagogia Liberal é voltada para o sistema capitalista e absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio
esconde a realidade das diferenças entre as classes sociais. mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio.
Nessa pedagogia, a escola tem que preparar os indivíduos para
a sociedade, de acordo com as suas aptidões individuais, por

93 LIBÂNEO,José Carlos. Democratização da Escola Pública. A pedagogia 94 LUCKESI C. Tendências Pedagógicas na Prática escolar
crítico-social dos conteúdos. Edições Loyola.

Conhecimentos Pedagógicos 76
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Pressupostos de aprendizagem - a ideia de que o ensino Método de ensino - a ideia de “aprender fazendo” está
consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a
criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o
de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos método de solução de problemas. Embora os métodos variem,
desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly,
progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas à
conta as características próprias de cada idade. A natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. Na
aprendizagem, assim, é receptiva e mecânica, para o que se maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em grupo
recorre frequentemente à coação. A retenção do material não apenas como técnica, mas como condição básica do
ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos desenvolvimento mental. Os passos básicos do método ativo
e recapitulação da matéria. A transferência da aprendizagem são:
depende do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o - Colocar o aluno numa situação de experiência que tenha
aluno possa responder às situações novas de forma um interesse por si mesma;
semelhante às respostas dadas em situações anteriores. - O problema deve ser desafiante, como estímulo à
reflexão;
Avaliação - se dá por verificações de curto prazo - O aluno deve dispor de informações e instruções que lhe
(interrogatórios orais, exercício de casa) e de prazo mais longo permitam pesquisar a descoberta de soluções;
(provas escritas, trabalhos de casa). O esforço é, em geral, - Soluções provisórias devem ser incentivadas e
negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às vezes, é ordenadas, com a ajuda discreta do professor;
positivo (emulação, classificações). - Deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à
prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida.
Manifestações na prática escolar - a pedagogia liberal
tradicional é viva e atuante em nossas escolas, predominante Relacionamento professor-aluno - não há lugar privilegiado
em nossa história educacional. para o professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento
livre e espontâneo da criança; se intervém, é para dar forma ao
- Tendência Liberal Renovada raciocínio dela. A disciplina surge de uma tomada de
A Tendência Liberal Renovada acentua, igualmente, o consciência dos limites da vida grupal; assim, aluno
sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões disciplinado é aquele que é solidário, participante, respeitador
individuais. A educação é a vida presente, é a parte da própria das regras do grupo. Para se garantir um clima harmonioso
experiência humana. A escola renovada propõe um ensino que dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento
valorize a autoeducação (o aluno como sujeito do positivo entre professores e alunos, uma forma de instaurar a
conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela “vivência democrática” tal qual deve ser a vida em sociedade.
atividade; um ensino centrado no aluno e no grupo.
Pressupostos de aprendizagem - a motivação depende da
A Tendência Liberal Renovada apresenta-se, entre nós, em força de estimulação do problema e das disposições internas e
duas versões distintas: interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma atividade
- a Renovada Progressivista, ou Pragmatista, de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente
principalmente na forma difundida pelos pioneiros da apenas o meio estimulador. É retido o que se incorpora à
educação nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira atividade do aluno pela descoberta pessoal; o que é
(deve-se destacar, também a influência de Montessori, Decroly incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser
e, de certa forma, Piaget); empregado em novas situações.

- a Renovada Não Diretiva orientada para os objetivos de Avaliação - é fluida e tenta ser eficaz à medida que os
auto realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações esforços e os êxitos são prontos e explicitamente reconhecidos
interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano pelo professor.
Carl Rogers.
Manifestações na prática escolar - os princípios da
Tendência Liberal Renovada Progressivista pedagogia progressivista vêm sendo difundidos, em larga
Papel da escola - a finalidade da escola é adequar as escala, nos cursos de licenciatura, e muitos professores sofrem
necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não
se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida. somente por falta de condições objetivas como também
Todo ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de porque se choca com uma prática pedagógica basicamente
adaptação progressiva ao meio e de uma consequente tradicional. Alguns métodos são adotados em escolas
integração dessas formas de adaptação no comportamento. particulares, como o método Montessori, o método dos centros
Tal integração se dá por meio de experiências que devem de interesse de Decroly, o método de projetos de Dewey. O
satisfazer, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga
exigências sociais. À escola cabe suprir as experiências que aceitação na educação pré-escolar. Pertencem, também, à
permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de tendência progressivista muitas das escolas denominadas
construção e reconstrução do objeto, numa interação entre “experimentais”, as “escolas comunitárias” e mais
estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente. remotamente (década de 60) a “escola secundária moderna”,
na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima.
Conteúdos de ensino - como o conhecimento resulta da ação
a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino Tendência Liberal Renovada Não Diretiva
são estabelecidos em função de experiências que o sujeito Papel da escola - formação de atitudes, razão pela qual deve
vivencia frente a desafios cognitivos e situações estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que
problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está em
processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do
organizados racionalmente. Trata-se de “aprender a indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal às solicitações do
aprender”, ou seja, é mais importante o processo de aquisição
do saber do que o saber propriamente dito.

Conhecimentos Pedagógicos 77
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

ambiente. Rogers95 considera que o ensino é uma atividade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas
excessivamente valorizada; para ele os procedimentos econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também
didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem cientificamente) nos alunos os comportamentos de
muito pouca importância, face ao propósito de favorecer à ajustamento a essas metas.
pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, No tecnicismo acredita-se que a realidade contém em si
o que implica estar bem consigo próprio e com seus suas próprias leis, bastando aos homens descobri-las e aplicá-
semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade,
semelhante ao de uma boa terapia. mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A
tecnologia (aproveitamento ordenado de recursos, com base
Conteúdos de ensino - a ênfase que esta tendência põe nos no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a
processos de desenvolvimento das relações e da comunicação maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento
torna secundária a transmissão de conteúdos. Os processos de da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por
ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para excelência.
buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, Ela “é encarada como um instrumento capaz de promover,
são dispensáveis. sem contradição, o desenvolvimento econômico pela
qualificação da mão-de-obra, pela redistribuição da renda,
Métodos de ensino - os métodos usuais são dispensados, pela maximização da produção e, ao mesmo tempo, pelo
prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do desenvolvimento da ‘consciência política’ indispensável à
professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a manutenção do Estado autoritário”96. Utiliza-se basicamente
aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das do enfoque sistêmico, da tecnologia educacional e da análise
características do professor “facilitador”: aceitação da pessoa experimental do comportamento.
do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena
convicção na capacidade de autodesenvolvimento do Papel da escola - a escola funciona como modeladora do
estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se comportamento humano, através de técnicas específicas. À
organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os educação escolar compete organizar o processo de aquisição
sentimentos de cada um possam ser expostos, sem ameaças. de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e
Assim, o objetivo do trabalho escolar se esgota nos processos necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do
de melhor relacionamento interpessoal, como condição para o sistema social global. Tal sistema social é regido por leis
crescimento pessoal. naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas
relações funcionais observáveis entre os fenômenos da
Relacionamento professor-aluno - propõe uma educação natureza), cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A
centrada no aluno, visando formar sua personalidade através atividade da “descoberta” é função da educação, mas deve ser
da vivência de experiências significativas que lhe permitam restrita aos especialistas; a “aplicação” é competência do
desenvolver características inerentes à sua natureza. O processo educacional comum.
professor é um especialista em relações humanas, ao garantir A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social
o clima de relacionamento pessoal e autêntico. “Ausentar-se” é vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente
a melhor forma de respeito e aceitação plena do aluno. Toda com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da
intervenção é ameaçadora, inibidora da aprendizagem. mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia
comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir
Pressupostos de aprendizagem - a motivação resulta do indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho,
desejo de adequação pessoal na busca da auto realização; é, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas
portanto um ato interno. A motivação aumenta, quando o e rápidas.
sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de agir em A pesquisa científica, a tecnologia educacional, a análise
termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve a experimental do comportamento garantem a objetividade da
valorização do “eu”. Aprender, portanto, é modificar suas prática escolar, uma vez que os objetivos instrucionais
próprias percepções; daí que apenas se aprende o que estiver (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que
significativamente relacionado com essas percepções. Resulta independem dos que a conhecem ou executam.
que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação
ao “eu”, ou seja, o que não está envolvido com o “eu” não é Conteúdos de ensino - são as informações, princípios
retido e nem transferido. científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa
sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de
Avaliação - perde inteiramente o sentido, privilegiando-se ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e
a autoavaliação. mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência
objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O
Manifestações na prática escolar - o inspirador da material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais,
pedagogia não diretiva é C. Rogers, na verdade mais psicólogo nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos
clínico que educador. Suas ideias influenciam um número audiovisuais etc.
expressivo de educadores e professores, principalmente
orientadores educacionais e psicólogos escolares que se Métodos de ensino - consistem nos procedimentos e
dedicam ao aconselhamento. Menos recentemente, podem-se técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições
citar também tendências inspiradas na escola de Summerhill ambientais que assegurem a transmissão/recepção de
do educador inglês A. Neill. informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar
respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal
- Tendência Liberal Tecnicista é conseguir o comportamento adequado pelo controle do
A tendência Liberal Tecnicista subordina a educação à ensino; daí a importância da tecnologia educacional.
sociedade, tendo como função a preparação de “recursos
humanos” (mão-de-obra para a indústria). A sociedade

95 ROGERS, Carl. Liberdade para aprender. 96 KUENZER, Acácia A; MACHADO, Lucília R. S. “Pedagogia Tecnicista”, in

Guiomar N. de MELLO (org.), Escola nova, tecnicismo e educação compensatória,


p. 34.

Conhecimentos Pedagógicos 78
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A Tecnologia Educacional é a “aplicação sistemática de que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o
princípios científicos comportamentais e tecnológicos a afetam.
problemas educacionais, em função de resultados efetivos, Os componentes da aprendizagem - motivação, retenção,
utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica transferência - decorrem da aplicação do comportamento
abrangente”97. operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é
uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de
Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: “Se a
deles) possui três componentes básicos: objetivos ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela
instrucionais operacionalizados em comportamentos apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de
observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e reforçamento é aumentada”. Entre os autores que contribuem
avaliação. para os estudos de aprendizagem destacam-se: Skinner,
Gagné, Bloon e Mager.
As etapas básicas de um processo de ensino e de
aprendizagem são: Manifestações na prática escolar99 - a influência da
- Estabelecimento de comportamentos terminais, através pedagogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50
de objetivos instrucionais; (PABAEE - Programa Brasileiro-americano de Auxílio ao
- Análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar Ensino Elementar). Entretanto foi introduzida mais
sequencialmente os passos da instrução; efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de adequar o
- Executar o programa, reforçando gradualmente as sistema educacional à orientação político-econômica do
respostas corretas correspondentes aos objetivos. regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização
do sistema de produção capitalista.
O essencial da tecnologia educacional é a programação por Quando a orientação escolanovista cede lugar à tendência
passos sequenciais empregada na instrução programada, nas tecnicista, pelo menos no nível de política oficial; os marcos de
técnicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e
da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas 5.692/71, que reorganizam o ensino superior e o ensino de 1º
formas de: planejamento em moldes sistêmicos, concepção de e 2º graus.
aprendizagem como mudança de comportamento, A despeito da máquina oficial, entretanto, não há indícios
operacionalização de objetivos, uso de procedimentos seguros de que os professores da escola pública tenham
científicos (instrução programada, audiovisuais, avaliação etc., assimilado a pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de
inclusive a programação de livros didáticos). ideário. A aplicação da metodologia tecnicista (planejamento,
livros didáticos programados, procedimentos de avaliação
Relacionamento professor-aluno - são relações etc.) não configura uma postura tecnicista do professor; antes,
estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos: o o exercício profissional continua mais para uma postura
professor administra as condições de transmissão da matéria, eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas
conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em pedagogias tradicional e renovada.
termos de resultados da aprendizagem; o aluno recebe,
aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de Pedagogia Progressista
ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe “Formulação de inspiração marxista que influenciou
empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um diversos pedagogos brasileiros em fins de 1970. Trabalha com
indivíduo responsivo, não participa da elaboração do a educação na perspectiva da luta de classes, ou seja, a escola
programa educacional. Ambos são espectadores frente à pode e deve servir na luta contra o sistema capitalista, visando
verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um a construção do socialismo. Dessa forma, sua metodologia tem
sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia inspiração na teoria do conhecimento marxista, pela dialética
da transmissão do conhecimento. Debates, discussões, materialista, pelo movimento de continuidade e ruptura.
questionamentos são desnecessários, assim como pouco Na sala de aula, parte-se da necessidade e aspirações dos
importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos estudantes, com seu cotidiano, com o objetivo de estimular
envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. rupturas, sair do imediato e chegar ao teórico e abstrato.
Depois desse movimento, espera-se um retorno ao real com
Pressupostos de aprendizagem98 - as teorias de uma nova visão que possibilite uma nova ação sobre ele.
aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem
que aprender é uma questão de modificação do desempenho: Foi proposta pelo educador francês Georges Snyders100 em
o bom ensino depende de organizar eficientemente as pelo menos quatro de suas obras: Pedagogia progressista, Para
condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da onde vão as pedagogias não-diretivas? Alegria na escola e
situação de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja, Alunos felizes.
o ensino é um processo de condicionamento através do uso de
reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os Opõe-se ao ensino tecnicista, de linha autoritária, adotado
sistemas instrucionais visam ao controle do comportamento por volta de 1970, em que professores e alunos executam
individual face objetivos preestabelecidos. projetos elaborados em gabinetes e desvinculados do contexto
Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no social e político. Ou seja, a pedagogia progressista procura
controle das condições que cercam o organismo que se formar cidadãos conscientes e participativos na vida da
comporta. O objetivo da ciência pedagógica, a partir da sociedade, que leve o aluno a refletir, a desenvolver o espírito
psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir crítico e criativo e a relacionar o aprendizado a seu contexto
as leis naturais que presidem as reações físicas do organismo social.”101

97AURICCHIO, Lígia O. Manual de tecnologia educacional, p.25. 100SNYDERS, Georges. Pedagogia progressista. Lisboa, Ed. Almedina.
98AURICHIO, Lígia de. Manual de Tecnologia Educacional; 101 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete
OLIVEIRA, J.G.A. Tecnologia Educacional teorias da instrução. pedagogia progressista. Dicionário Interativo da Educação Brasileira -
99 FREITAG, Barbara. Escola, Estado e Sociedade; GARCIA, Laymert G. S. Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
Desregulagens - Educação, planejamento e tecnologia como ferramenta social; http://www.educabrasil.com.br/pedagogia-progressista/
CUNHA, Luis A. Educação e desenvolvimento social no Brasil.

Conhecimentos Pedagógicos 79
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A pedagogia progressista tem-se manifestado em três próprias palavras, impede que ela seja posta em prática em
tendências: termos sistemáticos, nas instituições oficiais, antes da
- a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo transformação da sociedade. Daí porque sua atuação se dê
Freire; mais a nível da educação extraescolar. O que não tem
- a libertária, que reúne os defensores da autogestão impedido, por outro lado, que seus pressupostos sejam
pedagógica; adotados e aplicados por numerosos professores.
- a crítico-social dos conteúdos que, diferentemente das
anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto Métodos de ensino – “Para ser um ato de conhecimento o
com as realidades sociais. processo de alfabetização de adultos demanda, entre
educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo;
As versões libertadora e libertária têm em comum o aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram
antiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como mediatizados pelo objeto a ser conhecido” (...) “O diálogo
base da relação educativa e a ideia de autogestão pedagógica. engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer:
Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendizagem educador-educando e educando-educador”.
grupal (participação em discussões, assembleias, votações) do Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o “grupo de
que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática discussão a quem cabe autogerir a aprendizagem, definindo o
educativa somente faz sentido numa prática social junto ao conteúdo e a dinâmica das atividades. O professor é um
povo, razão pela qual preferem as modalidades de educação animador que, por princípio, deve descer ao nível dos alunos,
popular “não-formal”. adaptando-se às suas características ao desenvolvimento
próprio de cada grupo. Deve caminhar ‘junto’, intervir o
A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos mínimo indispensável, embora não se furte, quando
propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada.
renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na
prática social concreta. Entende a escola como mediação entre Os passos da aprendizagem - codificação-decodificação, e
o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a problematização da situação - permitirão aos educandos um
transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de esforço de compreensão do “vivido”, até chegar a um nível
um aluno concreto (inserido num contexto de relações mais crítico de conhecimento e sua realidade, sempre através
sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente da troca de experiência em torno da prática social. Se nisso
reelaborado. consiste o conteúdo do trabalho educativo, dispensam um
programa previamente estruturado, trabalhos escritos, aulas
- Tendência Progressista Libertadora102 expositivas assim como qualquer tipo de verificação direta da
Papel da escola - não é próprio da pedagogia libertadora aprendizagem, formas essas próprias da “educação bancária”,
falar em ensino escolar, já que sua marca é a atuação “não- portanto, domesticadoras. Entretanto admite-se a avaliação da
formal”. Entretanto, professores e educadores engajados no prática vivenciada entre educador-educandos no processo de
ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa pedagogia. grupo e, às vezes, a auto avaliação feita em termos dos
Assim, quando se fala na educação em geral, diz-se que ela é compromissos assumidos com a prática social.
uma atividade onde professores e alunos, mediatizados pela
realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo de Relacionamento professor-aluno - no diálogo, como método
aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa mesma básico, a relação é horizontal, onde educador e educandos se
realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. O critério
transformação social. de bom relacionamento é a total identificação com o povo, sem
Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” - que o que a relação pedagógica perde consistência. Elimina-se, por
visa apenas depositar informações sobre o aluno, quanto a pressuposto, toda relação de autoridade, sob pena de esta
educação renovada - que pretenderia uma libertação inviabilizar o trabalho de conscientização, de “aproximação de
psicológica individual - são domesticadoras, pois em nada consciências”. Trata-se de uma “não diretividade”, mas não no
contribuem para desvelar a realidade social de opressão. A sentido do professor que se ausenta (como em Rogers), mas
educação libertadora, ao contrário, questiona concretamente que permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço
a realidade das relações do homem com a natureza e com os humano para “dizer sua palavra” para se exprimir sem se
outros homens, visando a uma transformação - daí ser uma neutralizar.
educação crítica.
Pressupostos de aprendizagem - a própria designação de
Conteúdos de ensino - denominados “temas geradores”, são “educação problematizadora” como correlata de educação
extraídos da problematização da prática de vida dos libertadora revela a força motivadora da aprendizagem. A
educandos. Os conteúdos tradicionais são recusados porque motivação se dá a partir da codificação de uma situação-
cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica dispõe problema, da qual se toma distância para analisá-la
em si próprio, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos criticamente. “Esta análise envolve o exercício da abstração,
necessários dos quais se parte. O importante não é a através da qual procuramos alcançar, por meio de
transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma representações da realidade concreta, a razão de ser dos
nova forma da relação com a experiência vivida. A transmissão fatos”.
de conteúdos estruturados a partir de fora é considerada como Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta,
“invasão cultural” ou “depósito de informação” porque não isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido
emerge do saber popular. Se forem necessários textos de se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. O que é
leitura estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos aprendido não decorre de uma imposição ou memorização,
com a orientação do educador. mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo
Em nenhum momento o inspirador e mentor da pedagogia processo de compreensão, reflexão e crítica. O que o educando
libertadora Paulo Freire, deixa de mencionar o caráter transfere, em termos de conhecimento, é o que foi incorporado
essencialmente político de sua pedagogia, o que, segundo suas

102 FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade; Pedagogia do Oprimido e

Extensão ou Comunicação?

Conhecimentos Pedagógicos 80
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

como resposta às situações de opressão - ou seja, seu o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades
engajamento na militância política. ou das do grupo.

Manifestações na prática escolar - a pedagogia libertadora O progresso da autonomia, excluída qualquer direção de
tem como inspirador e divulgador Paulo Freire, que tem fora do grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente a
aplicado suas ideias pessoalmente em diversos países, oportunidade de contatos, aberturas, relações informais entre
primeiro no Chile, depois na África. Entre nós, tem exercido os alunos. Em seguida, o grupo começa a se organizar, de modo
uma influência expressiva nos movimentos populares e que todos possam participar de discussões, cooperativas,
sindicatos e, praticamente, se confunde com a maior parte das assembleias, isto é, diversas formas de participação e
experiências do que se denomina “educação popular”. Há expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa, ou
diversos grupos desta natureza que vêm atuando não somente entra em acordo com o grupo, ou se retira. No terceiro
no nível da prática popular, mas também por meio de momento, o grupo se organiza de forma mais efetiva e,
publicações, com relativa independência em relação às ideias finalmente, no quarto momento, parte para a execução do
originais da pedagogia libertadora. Embora as formulações trabalho.
teóricas de Paulo Freire se restrinjam à educação de adultos
ou à educação popular em geral, muitos professores vêm Relação professor-aluno - a pedagogia institucional visa
tentando colocá-las em prática em todos os graus de ensino “em primeiro lugar, transformar a relação professor-aluno no
formal. sentido da não diretividade, isto é, considerar desde o início a
ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de
- Tendência Progressista Libertária103 obrigações e ameaças”. Embora professor e aluno sejam
Papel da escola - a pedagogia libertária espera que a escola desiguais e diferentes, nada impede que o professor se ponha
exerça uma transformação na personalidade dos alunos num a serviço do aluno, sem impor suas concepções e ideias, sem
sentido libertário e autogestionário. A ideia básica é introduzir transformar o aluno em “objeto”. O professor é um orientador
modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em
que, em seguida, vão “contaminando” todo o sistema. A escola comum.
instituirá, com base na participação grupal, mecanismos Se os alunos são livres frente ao professor, também este o
institucionais de mudança (assembleias, conselhos, eleições, é em relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar-se a
reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez responder uma pergunta, permanecendo em silêncio).
atuando nas instituições “externas”, leve para lá tudo o que Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido bastante
aprendeu. claro: se um aluno resolve não participar, o faz porque não se
Outra forma de atuação da pedagogia libertária, correlata sente integrado, mas o grupo tem responsabilidade sobre este
a primeira, é - aproveitando a margem de liberdade do sistema fato e vai se colocar a questão; quando o professor se cala
- criar grupos de pessoas com princípios educativos diante de uma pergunta, seu silêncio tem um significado
autogestionários (associações, grupos informais, escolas educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que o
autogestionários). Há, portanto, um sentido expressamente grupo assuma a resposta ou a situação criada. No mais, ao
político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do professor cabe a função de “conselheiro” e, outras vezes, de
social e que o desenvolvimento individual somente se realiza instrutor-monitor à disposição do grupo. Em nenhum
no coletivo. momento esses papéis do professor se confundem com o de
A autogestão é, assim, o conteúdo e o método; resume “modelo”, pois a pedagogia libertária recusa qualquer forma
tanto o objetivo pedagógico quanto o político. A pedagogia de poder ou autoridade.
libertária, na sua modalidade mais conhecida entre nós, a
“pedagogia institucional”, pretende ser uma forma de Pressupostos de aprendizagem - as formas burocráticas das
resistência contra a burocracia como instrumento da ação instituições existentes, por seu traço de impessoalidade,
dominadora do Estado, que tudo controla (professores, comprometem o crescimento pessoal. A ênfase na
programas, provas etc.), retirando a autonomia. aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma
de repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas
Conteúdos de ensino - as matérias são colocadas à mais livres. A motivação está, portanto, no interesse em
disposição do aluno, mas não são exigidas. São um crescer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que o grupo
instrumento a mais, porque importante é o conhecimento que devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas
resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a aspirações e necessidades.
vivência de mecanismos de participação crítica. Somente o vivido, o experimentado é incorporado e
“Conhecimento” aqui não é a investigação cognitiva do real, utilizável em situações novas. Assim, o critério de relevância
para extrair dele um sistema de representações mentais, mas do saber sistematizado é seu possível uso prático. Por isso
a descoberta de respostas às necessidades e às exigências da mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da
vida social. Assim, os conteúdos propriamente ditos são os que aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo.
resultam de necessidades e interesses manifestos pelo grupo e
que não são, necessária nem indispensavelmente, as matérias Outras tendências pedagógicas correlatas - a pedagogia
de estudo. libertária abrange quase todas as tendências antiautoritárias
em educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista, a dos
Método de ensino - é na vivência grupal, na forma de sociólogos, e também a dos professores progressistas. Embora
autogestão, que os alunos buscarão encontrar as bases mais Neill e Rogers não possam ser considerados progressistas
satisfatórias de sua própria “instituição”, graças à sua própria (conforme entendemos aqui), não deixam de influenciar
iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de “colocar alguns libertários, como Lobrot. Entre os estrangeiros
nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da devemos citar Vasquez y Oury entre os mais recentes, Ferrer y
vida, as atividades e a organização do trabalho no interior da Guardia entre os mais antigos. Particularmente significativo é
escola (menos a elaboração dos programas e a decisão dos o trabalho de C. Freinet, que tem sido muito estudado entre
exames que não dependem nem dos docentes, nem dos nós, existindo inclusive algumas escolas aplicando seu método.
alunos)”. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando

103 LOBROT, Michel. Pedagogia instotucional, la escuela hacia la autogestión.

Conhecimentos Pedagógicos 81
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária Dessas considerações resulta claro que se pode ir do saber
pode-se citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus ao engajamento político, mas não o inverso, sob o risco de se
trabalhos não ser propriamente pedagógica, mas de crítica das afetar a própria especificidade do saber e até cair-se numa
instituições em favor de um projeto autogestionário. forma de pedagogia ideológica, que é o que se critica na
pedagogia tradicional e na pedagogia nova.
- Tendência Progressista “Crítico Social dos
Conteúdos”104 Métodos de ensino - a questão dos métodos se subordina à
Papel da escola - a difusão de conteúdos é a tarefa dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber,
primordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e, e de um saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os
portanto, indissociáveis das realidades sociais. A valorização métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os
da escola como instrumento de apropriação do saber é o interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos
melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da
a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade realidade (prática social). Assim, nem se trata dos métodos
social e torná-la democrática. dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia tradicional,
Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro nem da sua substituição pela descoberta, investigação ou livre
dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. expressão das opiniões, como se o saber pudesse ser
Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de seus inventado pela criança, na concepção da pedagogia renovada.
condicionantes histórico-sociais, a função da pedagogia “dos
conteúdos” é dar um passo à frente no papel transformador da Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos
escola, mas a partir das condições existentes. não partem, então, de um saber artificial, depositado a partir
Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta
populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido
apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham de fora. O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos
ressonância na vida dos alunos. Entendida nesse sentido, a alunos com os conteúdos propostos pelo professor, momento
educação é “uma atividade mediadora no seio da prática social em que se dará a “ruptura” em relação à experiência pouco
global”, ou seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela elaborada. Tal ruptura apenas é possível com a introdução
intervenção do professor e por sua própria participação ativa, explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a
passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada serem aplicados criticamente à prática do aluno.
(sincrética) a uma visão sintética, mais organizada e unificada. Em outras palavras, uma aula começa pela constatação da
Em síntese, a atuação da escola consiste na preparação do prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática
aluno para, o mundo adulto e suas contradições, fornecendo- no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na
lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da forma de um confronto entre a experiência e a explicação do
socialização, para uma participação organizada e ativa na professor. Vale dizer: vai-se da ação à compreensão e da
democratização da sociedade. compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa
senão a unidade entre a teoria e a prática.
Conteúdos de ensino - são os conteúdos culturais universais
que se constituíram em domínios de conhecimento Relação professor-aluno – se o conhecimento resulta de
relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, trocas que se estabelecem na interação entre o meio (natural,
mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais. social, cultural) e o sujeito, sendo o professor o mediador,
Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores então a relação pedagógica consiste no provimento das
ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente condições em que professores e alunos possam colaborar para
reinventados eles não são fechados e refratários às realidades fazer progredir essas trocas. O papel do adulto é insubstituível,
sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, mas acentua-se também a participação do aluno no processo.
ainda que bem ensinados, é preciso que se liguem, de forma Ou seja, o aluno, com sua experiência imediata num contexto
indissociável, à sua significação humana e social. cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os
Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não conteúdos e modelos expressos pelo professor.
estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular, ou Mas esse esforço do professor em orientar, em abrir
espontânea, mas uma relação de continuidade em que, perspectivas a partir dos conteúdos, implica um envolvimento
progressivamente, se passa da experiência imediata e com o estilo de vida dos alunos, tendo consciência inclusive
desorganizada ao conhecimento sistematematizado. Não que dos contrastes entre sua própria cultura e a do aluno. Não se
a primeira apreensão da realidade seja errada, mas é contentará, entretanto, em satisfazer apenas as necessidades e
necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior, carências; buscará despertar outras necessidades, acelerar e
conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção do disciplinar os métodos de estudo, exigir o esforço do aluno,
professor. propor conteúdos e modelos compatíveis com suas
experiências vividas, para que o aluno se mobilize para uma
A postura da pedagogia “dos conteúdos” - ao admitir um participação ativa.
conhecimento relativamente autônomo - assume o saber como Evidentemente o papel de mediação exercido em torno da
tendo um conteúdo relativamente objetivo, mas, ao mesmo análise dos conteúdos exclui a não diretividade como forma de
tempo, introduz a possibilidade de uma reavaliação crítica orientação do trabalho escolar, por que o diálogo adulto-aluno
frente a esse conteúdo. Como sintetiza Snyders, ao mencionar é desigual. O adulto tem mais experiência acerca das
o papel do professor, trata-se, de um lado, de obter o acesso do realidades sociais, dispõe de uma formação (ao menos deve
aluno aos conteúdos, ligando-os com a experiência concreta dispor) para ensinar, possui conhecimentos e a ele cabe fazer
dele - a continuidade; mas, de outro, de proporcionar a análise dos conteúdos em confronto com as realidades
elementos de análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar sociais.
a experiência, os estereótipos, as pressões difusas da ideologia A não diretividade abandona os alunos a seus próprios
dominante - é a ruptura. desejos, como se eles tivessem uma tendência espontânea a
alcançar os objetivos esperados da educação. Sabemos que as

104 SAVIANI, Dermeval, Educação: do senso comum à consciência filosófica, MELLO, Guiomar N de, Magistério de 1° grau. p.24;
p.120; CURY, Carlos R. J. Educação e contradição: elementos. p.75.

Conhecimentos Pedagógicos 82
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

tendências espontâneas e naturais não são “naturais”, antes ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação
são tributárias das condições de vida e do meio. Não são de sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa
suficientes o amor, a aceitação, para que os filhos dos abordagem interacionista, o receptor é retirado da sua
trabalhadores adquiram o desejo de estudar mais, de condição de mero objeto do sentido do texto, de alguém que
progredir: é necessária a intervenção do professor para levar estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria,
o aluno a acreditar nas suas possibilidades, a ir mais longe, a tradicionalmente, no ensino da leitura.
prolongar a experiência vivida.
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
Pressupostos de aprendizagem - por um esforço próprio, o encontro da concepção que considera a linguagem como forma
aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais de atuação sobre o homem e o mundo e das modernas teorias
apresentados pelo professor; assim, pode ampliar sua própria sobre os estudos do texto, como a Linguística Textual, a Análise
experiência. O conhecimento novo se apoia numa estrutura do Discurso, a Semântica Argumentativa e a Pragmática, entre
cognitiva já existente, ou o professor provê a estrutura de que outros.
o aluno ainda não dispõe. O grau de envolvimento na
aprendizagem dependa tanto da prontidão e disposição do De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo,
aluno, quanto do professor e do contexto da sala de aula. deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a
Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteúdos, é tradicional, a renovada e a tecnicista, por se declararem
desenvolver a capacidade de processar informações e lidar neutras, nunca assumiram compromisso com as
com os estímulos do ambiente, organizando os dados transformações da sociedade, embora, na prática,
disponíveis da experiência. Em consequência, admite-se o procurassem legitimar a ordem econômica e social do sistema
princípio da aprendizagem significativa que supõe, como capitalista. No ensino da língua, predominaram os métodos de
passo inicial, verificar aquilo que o aluno já sabe. O professor base ora empirista, ora inatista, com ensino da gramática
precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou fazem, tradicional, ou sob algumas as influências teóricas do
o aluno precisa compreender o que o professor procura dizer- estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71, da
lhes. A transferência da aprendizagem se dá a partir do Reforma do Ensino.
momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão
parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às
Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser liberais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista.
avaliado, não como julgamento definitivo e dogmático do De base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e
professor, mas como uma comprovação para o aluno de seu marxista (com as ideias de Gramsci), essas tendências, no
progresso em direção a noções mais sistematizadas. ensino da língua, valorizam o texto produzido pelo aluno, a
partir do seu conhecimento de mundo, assim como a
Manifestações na prática escolar105 - o esforço de possibilidade de negociação de sentido na leitura.
elaboração de uma pedagogia “dos conteúdos” está em propor
modelos de ensino voltados para a interação conteúdos- A partir da LDB 9.394/96, principalmente com a difusão
realidades sociais; portanto, visando avançar em termos de das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva
uma articulação do político e do pedagógico, aquele como sócio histórica, essas teorias buscam uma aproximação com
extensão deste, ou seja, a educação “a serviço da modernas correntes do ensino da língua que consideram a
transformação das relações de produção”. Ainda que a curto linguagem como forma de atuação sobre o homem e o mundo,
prazo se espere do professor maior conhecimento dos ou seja, como processo de interação verbal, que constitui a sua
conteúdos de sua matéria e o domínio de formas de realidade fundamental.
transmissão, a fim de garantir maior competência técnica, sua
contribuição “será tanto mais eficaz quanto mais seja capaz de
QUADRO SÍNTESE DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
compreender os vínculos de sua prática com a prática social
global”, tendo em vista (...) “a democratização da sociedade
Nome
brasileira, o atendimento aos interesses das camadas
da
populares, a transformação estrutural da sociedade Papel Profes Apren Manif
tendê Conte Méto
brasileira”. da sor x dizag estaç
ncia údos dos
escola Aluno em ões
pedag
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96106
ógica
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e Prepar São A
Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é o Expos Nas
ação conhec apren
fato de serem interacionistas, porque concebem o ição e Autori escola
intelec imento dizage
conhecimento como resultado da ação que se passa entre o demo dade s que
tual e se mé
sujeito e um objeto. De acordo com Aranha107, o conhecimento nstraç do adota
Tend moral valore recept
não está, então, no sujeito, como queriam os inatistas, nem no ão profes m
ência dos s iva e
objeto, como diziam os empiristas, mas resulta da interação verbal sor filosof
Liber alunos sociais mecâ
entre ambos. da que ias
al para acumu nica,
matér exige huma
Tradi assum lados sem
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa ia e atitude nistas
cional ir seu atravé se
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a /ou recepti clássi
papel s dos consid
possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O por va do cas ou
na tempo erar
processo de leitura, portanto, não é centrado no texto, meio aluno. científ
socied se as
ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no de icas.
ade. repass caract
receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas, mas

105 SAVIANI, Demerval. Escola e democracia, p.83. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola,
106 SILVA, Delcio Barros da. As Principais Tendências Pedagógicas na Prática 1990.
Escolar Brasileira e seus Pressupostos de Aprendizagem. 107 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo:

Editora Moderna, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 83
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

ados model erístic especí maçõ deve


aos os. as ficas. es. fixá-
alunos própri las.
como as de
verdad cada Não
es idade. atua
absolu em
tas. escola
Valori
s,
zação
Os porém
da
conteú visa
É experi
dos levar
basea Monte ência
são Por profes
da na ssori, vivida
A estabel meio O sores
motiv Decro como
escola ecidos de profes e Temas
Tend ação e ly, base
deve a experi sor é alunos gerado
ência na Dewe A da
adequ partir ências auxilia a res
Liber estim y, Tend relação relaçã
ar as das , dor no atingir retirad
al ulação Piaget ência é de o
necess experi pesqu desenv um os da Grupo
Reno de , Progr igual educa Paulo
idades ências isas e olvime nível proble s de
vada probl Cousi essist para tiva. Freire
indivi vividas métod nto de matiza discus
Progr emas. net, a igual, Codifi .
duais pelos o de livre consci ção do são.
essivi O Lauro Libert horizo cação-
ao alunos soluçã da ência cotidia
sta aluno de adora ntalme decod
meio frente o de criança da no dos
apren Olivei nte. ificaçã
social. às probl . realid educa
de ra o.
situaç emas. ade ndos.
fazen Lima. Resol
ões em
do. ução
proble que
da
ma. vivem
situaç
na
ão
Educaç busca
ão probl
da
central ema.
transf
izada ormaç
no ão
aluno; social.
o
Tend
profes Lobro
ência Baseia Métod
sor Apren Carl Tamb t, C.
Liber -se na o
deve der é Roger ém Frein
al busca basea
garanti modifi s, Transf prima et,
Reno Forma dos do na
r um car as “Sum ormaç pela Migue
vada ção de conhec facilit
clima perce erhill” ão da É não valori l
Não atitud imento ação As
de pções , perso Vivên diretiv zação Gonza
Direti es. s pelos da Tend matéri
relacio da escola nalida cia a, o da les,
va própri apren ência as são
namen realid de A. de grupa profes vivênc Vasqu
(Escol os dizag Progr coloca
to ade. Neill. num l na sor é ia ez,
a alunos. em. essist das,
pessoa sentid forma orienta cotidi Oury,
Nova) a mas
le o de dor e ana. Maurí
Libert não
autênti libertá autog os Apren cio
ária exigid
co, rio e estão. alunos dizage Tragt
as.
basead autoge livres. m enber
o no stioná infor g,
respeit rio. mal Ferre
o. via ry
grupo. Guard
É Relaçã ia.
São Proce
model o Skinn
inform dimen
adora objetiv er, Tend Conteú O Papel Makar
ações tos e Apren Basea
do a em Gagné ência dos métod do enko,
Tend ordena técnic dizage das
compo que o , Progr cultur o aluno B.
ência das as m nas
rtame profes Bloon, essist ais parte como Charl
Liber numa para a basea Difusã estrut
nto sor Mager a univer de partici ot,
al sequê trans da no o dos uras
huma transm . Leis “Críti sais uma pador Sucho
Tecni ncia missã desem conteú cognit
no ite 5.540 co- que relaçã e do dolski
cista lógica oe penho dos. ivas já
atravé inform /68 e social são o profes ,
e recep . estrut
s de ações e 5.692 dos incorp direta sor Mana
psicoló ção de urada
técnic o /71. conte orados da como corda,
gica. infor s nos
as aluno údos pela experi media G.

Conhecimentos Pedagógicos 84
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

ou human ência dor aluno Snyde


histór idade do entre o s. rs Currículo nas séries
ico- frente aluno saber e Deme iniciais: a ênfase na
crític à confr o rval
a” realida ontad aluno. Savia
competência leitora
de a com ni. (alfabetização e letramento) e
social. o o desenvolvimento dos
saber
siste
saberes escolares da
matiz matemática e das diversas
ado. áreas de conhecimento.

Questões
Alfabetização – Letramento
01. (SEDUC/RO – Professor de História – FUNCAB) Na
tendência tradicional, a Pedagogia Liberal se caracteriza por: Alfabetização
(A) subordinar a educação à sociedade, tendo como função
a preparação de recursos humanos por meio da O termo Alfabetização, segundo Soares108,
profissionalização. etimologicamente, significa:
(B) valorizar a autoeducação, a experiência direta sobre o
meio pela atividade e o ensino centrado no aluno e no grupo. Levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a
(C) acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a
através do qual o aluno deve atingir pelo seu próprio esforço, aquisição do código alfabético e ortográfico, através do
sua plena realização. desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.
(D) considerar a educação um processo interno, que parte
das necessidades e dos interesses individuais. Letramento
(E) focar no aprender a aprender, ou seja, é mais
importante o processo de aquisição do saber do que o saber De acordo com Soares, a palavra letramento é de uso ainda
propriamente. recente e significa:

02. (INSS – Analista – Pedagogia – FUNRIO) A ênfase em “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e
um ensino funcional ou ativo, baseado nos interesses naturais escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura
das crianças e no trabalho em grupo ou em comunidade, para tenham sentido e façam parte da vida do aluno.”
criar o hábito da cooperação e incentivar a relação entre a
escola e a vida. Essas são características de uma pedagogia A escola não somente influencia a sociedade, mas também
baseada é por ela influenciada, ou seja, conjuntos de possíveis causas
(A) na teoria crítico-social dos conteúdos. que estão dentro e no entorno da escola, realmente, afetam o
(B) na naturalização das práticas pedagógicas. ensino e a aprendizagem. Há algumas décadas, a principal
(C) nos princípios escolanovistas. causa que apontava para a baixa qualidade da alfabetização
(D) na utilização de técnicas motivacionais. era o ensino fundamentado na Pedagogia Tradicional.
(E) em aprendizagens de abordagem behaviorista.
(...só lembrando as características da Pedagogia
03. (TJ/DF – Analista Judiciário – Pedagogia – CESPE) A Tradicional...: o papel da escola é o de promover uma formação
partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte: As puramente moral e intelectual; os conteúdos de ensino são
experiências de alfabetização de jovens e adultos inspiradas aqueles que foram ao longo do tempo acumulados e, nesse
nas ideias do educador Paulo Freire são exemplo da concepção momento, são passados como verdades absolutas, sem chance de
liberal renovada progressista. questionamentos ou levantamentos de dúvidas; a metodologia
( ) Certo ( ) Errado de ensino é a exposição verbal por parte do professor; a relação
professor-aluno é marcada pelo autoritarismo do primeiro em
04. (TJ/DF – Analista Judiciário – Pedagogia – CESPE) A relação ao segundo; os pressupostos da aprendizagem são
partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte: fundamentados na receptividade dos conteúdos e na
Manacorda é um dos autores que retratam em suas obras os mecanização de sua recepção.)
pressupostos da concepção progressista libertadora.
( ) Certo ( ) Errado Atualmente, entre outros fatores que envolvem um bom
ensino e aprendizagem, as principais causas estão ligadas à
05. (TJ/DF – Analista Judiciário – Pedagogia – CESPE) A perda da especificidade da alfabetização, devido à
partir das concepções pedagógicas, julgue o item seguinte: As compreensão equivocada de novas perspectivas teóricas e
escolas que utilizam o método montessoriano são suas metodologias, que foram surgindo em contraposição ao
consideradas uma manifestação da concepção liberal tradicional, e a grande abrangência que se tem dado ao termo
tradicional. alfabetização.
( ) Certo ( ) Errado
Concordando, com Magda Soares, em seu artigo
Respostas Letramento e Alfabetização: as muitas facetas, a expansão do
significado de alfabetização em direção ao conceito de
01. C. / 02. C. / 03. Errada. / 04. Errada. / 05. Errada letramento, levou à perda de sua especificidade. [...] no Brasil
a discussão do letramento surge sempre enraizada no conceito

108 SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho

apresentado na 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 85
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de alfabetização, o que tem levado, apesar da diferenciação percepção que se começa a ter, de que, se as crianças estão
sempre proposta na produção acadêmica, a uma inadequada e sendo, de certa forma, letradas na escola, não estão sendo
inconveniente fusão dos dois processos, com prevalência do alfabetizadas, parece estar conduzindo à solução de um
conceito de letramento, [...] o que tem conduzido a certo retorno à alfabetização como processo autônomo,
apagamento da alfabetização que, talvez com algum exagero, independente do letramento e anterior a ele.
denomino desinvenção da alfabetização.
Analisando dialeticamente a evolução humana, fica
Essa fusão dos dois processos, que leva à chamada explícito que o homem antes mesmo de aprender à escrita,
“desinvenção da alfabetização”, aliada à interpretação apreende o mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse
equivocada das novas perspectivas teóricas acarretou na imenso mundo material. Por isso, é incorreto dizer que uma
prática a negação de qualquer atividade que visasse à pessoa é iletrada, mesmo que ela ainda não seja alfabetizada,
aquisição do sistema alfabético e ortográfico, como o ensino pois ela desde o princípio da vida reflete sobre as coisas. O
das relações entre letras e sons, o desenvolvimento da letramento está intimamente ligado às práticas sociais,
consciência fonológica e o reconhecimento das partes exigindo do indivíduo, uma visão do contexto social em que
menores das palavras, como as sílabas, pois eram vistos como vive. Isso faz da alfabetização uma prática centrada mais na
tradicionais. Passou-se a acreditar que o aluno aprenderia o individualidade de cada um e do letramento uma prática mais
sistema simplesmente pelo contato com a cultura letrada, ampla e social.
como se ele pudesse aprender sozinho o código, sem ensino Nesse sentido, destacamos o papel do professor dentro
explícito e sistemático. desse processo. Este profissional deve acreditar e promover a
construção de pensamento crítico em si próprio e em seus
Atualmente, se reconhece a importância de se usar alunos. Assim, o letramento se torna uma forma de entender a
algumas práticas da escola tradicional, que são entendidas si e aos outros, desenvolvendo a capacidade de questionar com
como as facetas da alfabetização segundo Soares, assim como fundamento e discernimento, intervindo no mundo e
os equívocos de compreensão do construtivismo foram combatendo situações de opressão.
percebidos e ajustados e muitos aspectos da escola nova tidos
como essenciais. Com tudo isso, não se pode negar uma prática Pronto!! Agora que entendemos a diferença entre os dois
ou outra, só por ela estar fundamentada em uma ou em outra processos... podemos chegar à qualidade, conciliando ambos
concepção, mas, sim, avaliar quais são as suas contribuições e os procedimentos e produzindo uma prática reflexiva de
se convêm serem utilizadas para um processo de alfabetização aliança entre os dois processos.
significativa.
Partindo das reflexões de Brandão110, sobre a metodologia
Dermeval Saviani109, apresenta que aspectos da escola freiriana de se alfabetizar, é possível compreender a
tradicional são importantes para a educação. Ainda argumenta importância da indissociabilidade e simultaneidade destes
que uma pedagogia comprometida com a qualidade dois processos. Em seu método de alfabetização, ele propõe
educacional e voltada para a transformação social, deve que se parta daquilo que é concreto e real para o sujeito,
incorporar aspectos positivos e relevantes da pedagogia tornando a aprendizagem significativa, mas utilizando
tradicional e da pedagogia nova, de modo que o ponto de também os mecanismos de alfabetização.
partida seja a prática social sincrética e o de chegada uma Ele ainda coloca em sua obra Pedagogia da Autonomia, que
prática social transformada. o sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo, mais se
liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado que já possui seus
Assim, se faz necessário resgatar a significação verdadeira conhecimentos prévios, com um determinado ponto de vista,
da alfabetização e delinear corretamente o conceito de quando alfabetizado, pode modificar seus pensamentos,
letramento, de forma que eles não se fundam e nem se ampliando-os de forma que passa a refletir criticamente sobre
confundam, apesar de, como já foi dito, necessitarem a prática social. Freire acreditava ser fundamental que as
acontecer de maneira inter-relacionada. Com uma prática pessoas compreendam o seu lugar no mundo e sua função
educativa que faça uma aliança entre alfabetização e social nele.
letramento, sem perder a especificidade de cada um dos
processos, sempre fazendo relação entre conteúdo e prática e O professor, portanto, tem um papel muito importante a
que, fundamentalmente, tenha por objetivo a melhor formação realizar, para que esse pensamento crítico se desenvolva em
do aluno. seus alunos. Para Freire...

O letramento ganha espaço a partir da constatação de “[...] percebe-se, assim, a importância do papel do educador,
uma problemática na educação, pois através de pesquisas, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua
avaliações e análises realizadas, chegou- se à conclusão de que tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também
nem sempre o ato de ler e escrever garante que o indivíduo ensinar a pensar certo.”
compreenda o que lê e o que escreve. Entretanto, se reconhece
que muito mais que isso, é realizar uma leitura crítica da É fundamental que o educador esclarecido de uma
realidade, respondendo satisfatoriamente as demandas realidade de opressão, não torne o processo de ensino
sociais. bancário e improdutivo, mas uma educação que desvende o
mundo material e liberte as pessoas da opressão, como
Deve-se cuidar para não privilegiar um ou outro defende Freire. Para isso, as práticas de alfabetização e
processo (alfabetização/letramento) e entender que eles letramento são necessárias, cada uma com suas
são processos diferentes, mas, indissociáveis e especificidades, como explicita Tfouni111:
simultâneos.
“Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita
Assim, como descreve Soares: entretanto, o que por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza
lamentavelmente parece estar ocorrendo atualmente é que a

109 SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, 110 BRANDÃO, C.R. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2004.

onze teses sobre a educação política. 40ªed. Campinas: Autores Associados, 2008. 111 TFOUNI, L.V. Letramento e alfabetização. São Paulo, Cortez,1995.

Conhecimentos Pedagógicos 86
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito verificadas as diferentes variações linguísticas, tornando um
por uma sociedade.” poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior número
de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas
Logo, o letramento vai além do ler e escrever, ele tem sua diversas situações a que for submetido.
função social, enquanto a alfabetização encarrega-se em
preparar o indivíduo para a leitura e um desenvolvimento A educação, sendo uma prática social, não pode restringir-
maior do letramento do sujeito. Nessa perspectiva, se a ser puramente livresca, teórica, sem compromisso com a
alfabetização e letramento se completam e enriquecem o realidade local e com o mundo em que vivemos. Educar é
desenvolvimento do aluno. também, um ato político. É preciso resgatar o verdadeiro
Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias sentido da educação. De acordo com Freire113,
atuais, para que se possa atingir a educação de qualidade e
produzir um ensino, em que os educandos não sejam apenas (...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante
uma caixa de depósito de conhecimentos, mas que venham a do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres
ser seres pensantes e transformadores da sociedade. humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores,
transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem.
O papel do educador na formação de indivíduos
alfabetizados e letrados Assim, quando os alunos são o sujeito da própria
aprendizagem, “seres fazedores, transformadores”, no dizer
Numa sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de de Paulo Freire, tomam consciência de que sabem e podem
aprimorar a competência e melhorar o desempenho transformar o já feito, construído. Deixam a passividade e a
linguístico do estudante, tendo em vista a integração e a alienação para se constituírem como seres políticos. Como
mobilidade sociais dos indivíduos, além de colocar o ensino afirma Freire114,
numa perspectiva produtiva.
O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como “O diálogo é fundamental em qualquer prática social. O
prática de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá- diálogo consiste no respeito aos educandos, não somente
lo e, para, através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à enquanto indivíduos, mas também enquanto expressões de uma
alienação. prática social. (...) A grande tarefa do sujeito que pensa certo não
É através da prática que desenvolvemos nossa capacidade é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como
linguística. Conhecer diferentes tipos de textos não é, pois, paciente de seu pensar a inteligibilidade das coisas, dos fatos,
decorar regras gramaticais e listas de palavras. dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é,
exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir,
No rap Estudo Errado, Gabriel, o Pensador, diz com desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica,
propriedade: “Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não
Decoreba: este é o método de ensino. Eles me tratam como há inteligibilidade que não seja comunicação e
ameba e assim eu não raciocino”. intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar
certo por isso é dialógico e não polêmico.”
É lamentável que, no Brasil, a escola, lugar fundamental
para a pessoa desenvolver sua capacidade de linguagem, O aluno não pode ser um simples objeto nas mãos do
continue limitando-se, na maioria das vezes, a um ensino professor. É o que Freire chama de “educação bancária”, isto é,
mecânico. Na perspectiva do letramento, a leitura e a escrita o educando, ao receber passivamente os conhecimentos,
são vistas como práticas sociais. torna-se um depósito do educador. “Ensinar não é transferir
conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção
Vargas112 apresenta uma distinção entre ledores e leitores ou a sua construção”.
muito importante quando se fala de alfabetização e de
letramento. Segundo a autora, Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de
discurso. Trabalhar com diferentes textos possibilita ao
[...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais professor fazer uma abordagem mais consciente das variadas
ledores que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os formas de uso da língua. Assim, o professor pode transformar
dois são decodificadores de discursos? A diferença está na a sua sala de aula num espaço de descobertas e construção de
qualidade da decodificação, no modo de sentir e de perceber o conhecimentos.
que está escrito. O leitor, diferentemente do ledor, compreende o A tarefa de selecionar materiais de leitura para os alunos é
texto na sua relação dialética com o contexto, na sua relação de uma das tarefas mais difíceis. Nessa escolha, são postas em
interação com a forma. O leitor adquire através da observação jogo as diferentes concepções que tem cada professor sobre a
mais detida, da compreensão mais eficaz, uma percepção mais aprendizagem, os processos de leitura, a compreensão, as
crítica do que é lido, isto é, chega à política do texto. A funções dos textos e o universo do discurso. Além disso,
compreensão social da leitura dá-se na medida dessa percepção. coloca-se em jogo a representação que tem cada docente não
Pois bem, na medida em que ajudo meu leitor, meu aluno, a só do desenvolvimento cognitivo e sócio afetivo dos sujeitos a
perceber que a leitura é fonte de conhecimento e de domínio do quem são dirigidos os materiais, mas também dos interesses
real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na decodificação de leitura de tais destinatários. Assim, também intervém como
aprofundada do texto. variável significativa o valor que o docente atribui aos
materiais enquanto recursos didáticos.
O objetivo de se ensinar a ler e escrever deve estar
centrado em propiciar ao estudante a aquisição da língua Trabalhar com gêneros textuais variados nos permite
portuguesa, de maneira que ele possa exprimir-se entender que a escolha de um gênero leva em conta os
corretamente, aconselhado pelo professor por meio de objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes.
estímulos à leitura de variados textos, nos quais serão

112 VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. 4ª ed. Rio de 114 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

Janeiro: José Olympio, 2000. educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
113 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. São Paulo: Autores Associados, 1989.

Conhecimentos Pedagógicos 87
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Daí decorre a detecção do que é adequado ou inadequado em A sequência correta é:


cada uma das práticas sociais. (A) V, V, V, F.
Diante disso, na medida em que o educador tomar (B) F, V, F, V.
consciência de sua posição política, articulando conteúdos (C) F, V, V, V.
significativos a uma prática também significativa, (D) F, F, F, F.
desvinculando-se da função tradicional de mero transmissor
de conteúdos e, consequentemente, de mero repetidor de 2. (EMSERH - 2016) “Para aprender a ler e escrever, a
exercícios do livro didático estará transformando o ensino da criança precisa construir um conhecimento de natureza
leitura e da escrita. Um educador como mediador, partindo da conceitual.” (BRASIL, 2001, vol. 3, p. 122). Com base na citação
observação da realidade para, em seguida, propor respostas significa defender a alfabetização como:
diante dela estará contribuindo para a formação de pessoas I. Função da maturação biológica.
críticas e participativas na sociedade. II. Desenvolvimento de capacidades relacionadas à
Assim, uma prática significativa depende do interesse do percepção, memorização e treino de um conjunto de
professor em planejar as suas aulas com coerência, visando a habilidades sensório-mecânicas.
construção de conhecimentos com os alunos. III. Um processo de construção de conhecimento pelas
É importante destacar que letrar não é apenas função de crianças por meio de práticas que têm como ponto de partida
professor de Língua Portuguesa. Em todas as áreas de e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas
conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem práticas sociais e de escrita.
através de práticas de leitura e de escrita: em História, em IV. Aquisição de um código de transcrição da fala.
Geografia, em Ciências, mesmo em Matemática, enfim, em Está(ão) correto(s) apenas o(s) itens(s):
todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo, interpretando (A) I.
e escrevendo. (B) II.
Letrar é função de todos os professores, mesmo porque, (C) III.
em cada área de conhecimento, a escrita e a leitura têm (D) IV.
peculiaridades, que só os professores que nela atuam é que (E) I e IV.
conhecem e dominam.
O educador reeducando-se e transformando-se, deixará de 3. (SEDUC-RO) Dadas as afirmações abaixo:
vez "suas tarefas e as funções da educação sob a ótica das elites I. Em meados da década de 1980, surgiu no Brasil um novo
econômicas, culturais e políticas das classes dominantes", em conceito: letramento – a palavra letramento está ligada ao
direção a uma prática libertadora. Assim, o ensino deixará de termo literacy, usado nos Estados Unidos e na Inglaterra no
ser um martírio, para se tornar num processo de construção mesmo período.
permanente de conhecimentos. O educador deve estimular no II. O conceito letramento busca situar os aspectos técnicos
aluno o pensamento crítico, de modo que ele possa atuar na da aquisição da escrita, pois compreende que esta ocorre
sociedade como um indivíduo pensante, questionador. através de uma consciência fonológica de correspondência
Enfim, nos dias atuais, o conhecimento é uma das entre sons e palavras.
"ferramentas" para se conquistar oportunidades de trabalho e III. Alfabetizar e letrar são dois processos metodológicos
renda. Assim, aos professores, cabe a responsabilidade de diferentes, mas que devem ser considerados indissociáveis e
fazer com que seus alunos se interessem pela leitura e pela simultâneos.
escrita. IV. Alfabetizar e letrar são sinônimos, ambos responsáveis
pela aquisição do sistema da escrita e pelo desenvolvimento
Questões das práticas sociais de leitura e escrita.
Estão corretas apenas as afirmações:
1. (Prefeitura de Palhoça-SC - 2016) No que diz respeito (A) I e II.
ao conceito de letramento, marque V para as afirmativas (B) I e III.
verdadeiras e F para as falsas: (C) II e III.
( ) Nos últimos anos, um conceito que vem ganhando (D) I e IV.
espaço e nova dimensão no mundo da escrita é o letramento. (E) II e IV.
Ele é um termo que nomeia o conhecimento do sistema
alfabético ortográfico e um dos princípios que norteiam essa 4. (Prefeitura de Brusque-SC) Letramento é palavra e
perspectiva é que para que os alunos leiam e escrevam com conceito recentes, introduzidos na linguagem da educação e
autonomia é necessário que eles desenvolvam muitas das ciências linguísticas há pouco mais de duas décadas. Seu
atividades de escrita, utilizando principalmente o livro surgimento pode ser interpretado como decorrência da
didático e o caderno de caligrafia. necessidade de configurar e nomear comportamentos e
( ) Letramento é um termo relativamente recente, visto práticas sociais na área da:
que surgiu há cerca de 30 anos, e nomeia o conjunto de (A) Leitura e escrita.
práticas sociais de uso da escrita em diversos contextos (B) Leitura e tradução.
socioculturais. (C) Matemática e tecnologia.
( ) O conceito de letramento surgiu para dar conta da (D) Educação e política.
complexidade de eventos que lidam com a escrita. Mais amplo (E) Ciência e didática.
que o conceito restrito de alfabetização, a noção de letramento
inclui não só o domínio das convenções da escrita, mas Respostas
também o impacto social que dele advém.
( ) Um dos princípios que norteiam a perspectiva do 1. C.
letramento é que a aquisição da escrita não se dá desvinculada 2. C.
das práticas sociais em que se inscreve: ninguém lê ou escreve 3. B.
no vazio, sem propósitos comunicativos, sem interlocutores, 4. A.
descolado de uma situação de interação; as pessoas escrevem,
leem e interagem por meio da escrita, guiadas por propósitos
interacionais, desejando alcançar algum objetivo, inseridas em
situações de comunicação.

Conhecimentos Pedagógicos 88
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

a alguma coisa concreta: cinco dedos, cinco ovelhas, cinco


O desenvolvimento dos saberes escolares peixes, cinco animais, e assim por diante. A ideia de contagem
da matemática e das diversas áreas de estava relacionada aos dedos da mão. Assim, ao contar o
rebanho, o pastor separava as pedras em grupos de cinco. Do
conhecimento. mesmo modo os caçadores contavam os animais abatidos,
traçando riscos na madeira ou fazendo nós em uma corda,
Ensino Aprendizagem – Matemática também de cinco em cinco.
Ao agrupar as quantidades em pequenos grupos e registrá-
1. Como o conhecimento sobre esse campo de las a partir dessa lógica, usando marcas, os homens acabaram
experiência foi construído historicamente criando diferentes símbolos que lhes auxiliaram na percepção
das quantidades que representavam. Esses registros
Como construção social, a Matemática possui uma história, contribuíram para o homem compreender e desenvolver as
que está associada à forma como o homem estabeleceu noções de número, pois, ao comparar coleções de objetos
relações com a natureza e com a cultura, numa tentativa de diferentes que possuíam a mesma quantidade, começou a
compreender e intervir no mundo. perceber que os registros dos agrupamentos eram os mesmos
O homem primitivo era nômade, organizava-se em tribos e e que poderia, então, associar o mesmo símbolo a essas várias
vivia do extrativismo. Como os animais e alimentos foram coleções.
ficando raros, as tribos tinham a necessidade de calcular as Da necessidade de estocagem dos alimentos surgiram os
quantidades de animais que atenderiam as necessidades de controles de estoque com registros que possibilitaram o
todo o grupo. Como ainda não havia números convencionados, desenvolvimento do cálculo, os sistemas de medida, a
registravam nas cavernas quantos animais a tribo tinha caçado representação com números e os sistemas de numeração.
ou quantos deveriam caçar de forma a atender a necessidade Centurión115 destaca cinco sistemas de numeração: o
da tribo. Nas cavernas encontramos registros usando egípcio, o babilônio, o romano, o chinês e o indo-arábico.
desenhos e outras marcas que podem ser interpretados como Destes, apenas três são de base 10: o egípcio, o chinês e o indo-
quantificação de animais. A ideia de quantidade e, arábico. O nosso sistema é o indo-arábico que foi construído a
posteriormente, de número surgiu dessa necessidade de partir das necessidades culturais dos hindus (± 300 a.c.) e
contar objetos e coisas. difundido pelos árabes.
Em vez de apenas caçar e coletar frutos e raízes o homem Esse sistema utilizava-se de um princípio posicional de
passou a cultivar algumas plantas e a criar animais, passando base 10, o que significa que, a cada dez símbolos iguais,
do nomadismo para o sedentarismo, o que provocou um trocam-se esses símbolos por outro dez vezes maior. Uma das
aumento na variedade de alimentos dos quais o grupo poderia transformações mais significativas, nesse sistema, foi a criação
dispor. Mas como controlar a quantidade plantada? Como do zero, que não existia nos primeiros registros hindus. A
controlar o rebanho adquirido? como ter certeza de que necessidade de representar o vazio para garantir o valor
nenhum animal havia fugido ou sido devorado por algum posicional dos algarismos dentro de um número levou os
animal selvagem? a descoberta da agricultura e o aumento na homens a criarem o zero.
produção provocaram a necessidade de novos conhecimentos. A criação do zero possibilitou que a humanidade saísse do
O uso de termos, como muitos, poucos, igual a, não se cálculo realizado somente por meio do ábaco para o
adequava às necessidades de comparação entre as várias desenvolvimento de registros das contas, de forma que fosse
coleções que o homem lidava no seu dia a dia, o que provocou possível visualizar as estratégias utilizadas para se chegar aos
a necessidade de ampliação do universo numérico. resultados esperados. Centurión116 destaca algumas
Um dos artifícios desenvolvidos, a partir dessa características desse sistema que o levam a ser aceito e
necessidade humana de contar, de comparar coleções e obter utilizado por quase todo o mundo:
maior exatidão nas quantificações foi a correspondência de um
para um. Uma forma que o homem passou a utilizar para A) Ter apenas 10 símbolos,
controlar o seu rebanho foi contar os animais com pedras. B) Ser de base 10 (agrupamentos feitos de 10 em 10),
Assim, cada animal que saía para pastar correspondia a uma C) Ser posicional (o símbolo assume um valor 10 vezes
pedra dentro de um saquinho. No fim do dia, à medida que os maior ou menor de acordo com a posição que ocupa no
animais entravam no cercado, ele ia retirando as pedras do número),
saquinho. Essa simples estratégia foi um avanço, pois D) Ser aditivo (o número é resultado da adição dos valores
possibilitou ao homem comparar se havia mais ou menos posicionais).
animais no rebanho; se faltavam pedras ao retornarem, havia
mais animais; se sobravam pedras, havia menos. Esse homem Essa construção histórica não se deu apenas em relação ao
jamais poderia imaginar que milhares de anos mais tarde, conceito de número e sistema de numeração, mas pode ser
haveria um ramo da matemática chamado cálculo, que, em observada em todos os eixos da matemática. No que se refere
latim, quer dizer contar com pedras. às grandezas e medidas, Soares117 contribui para nossas
Quando a quantidade de animais e alimentos aumentou reflexões ao nos fazer a seguinte proposta: imaginemos um ser
muito, a correspondência um para um não atendia mais às que descobriu que poderia utilizar um galho de árvore para
necessidades de contagem e comparação, pois, por muitas alcançar uma fruta impossível de ser colhida sem o auxílio do
vezes, quem comparava se perdia nas representações que fazia galho. Ele teria que, primeiro, avaliar a distância que lhe
das quantidades. O homem passou a registrá-las a partir de faltava. Depois, teria de memorizar essa distância e sair em
grupos com pequenas quantidades (de pedras, de traços, de busca do galho apropriado. Essa atitude inteligente estaria na
nós) de forma a auxiliar na visualização e nas comparações. base das primeiras experiências relacionadas ao ato de medir.
Foi contando objetos com outros objetos que a humanidade Para atender à necessidade humana de medir, o homem
começou a construir o conceito de número. Para o homem desenvolveu estratégias para calcular distâncias, para
primitivo, o número cinco, por exemplo, sempre estaria ligado registrar o tempo, o volume, a área, o peso. Os primeiros

115 CENTURIÓN, Marilia. Números e Operações, 2 ed. São Paulo: Scipione, 117 SOARES, Eduardo Sarquis. Múltiplas linguagens e formas de interação da

1995. criança com o mundo natural e social, conhecimentos do mundo social e natural.
116 CENTURIÓN, Marília. Assim nasce a ciência dos números. In: CENTURIÓN, 2007.
Marília. Conteúdo e metodologia da matemática: números e operações. São Paulo:
Scipione, 1994, cap. 1. (Coleção: Série Didática – Classes de Magistério).

Conhecimentos Pedagógicos 89
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

instrumentos de medida usados foram as partes do corpo desenhos arquitetônicos; pessoas utilizam balanças e fitas
como, por exemplo, o dedo polegar (polegada), a mão métricas para diversos fins; enfim, há uma infinidade de
espalmada (palmo), a prancha do pé (pés), da ponta do nariz à informações que se expressam em linguagem matemática.
ponta do polegar com o braço estendido (jarda), a abertura de Assim, a matemática precisa ser vista e trabalhada com as
uma passada (passo), os dois braços estendidos (braça). Por crianças como uma manifestação cultural de vários povos, ao
volta de 3500 a.c., na Mesopotâmia e no Egito começaram a ser longo dos tempos, é importante mostrar que a matemática
construídos os primeiros templos, e os projetistas tiveram de estudada nas escolas é apenas uma das muitas formas
encontrar unidades mais uniformes e precisas. Adotaram a desenvolvidas pela humanidade. Outro ponto a ser discutido
longitude das partes do corpo de um único homem com as crianças é que a matemática é indispensável, em todo o
(geralmente o rei) e com essas medidas construíram réguas de mundo, por consequência do desenvolvimento científico,
madeira e metal, ou cordas com nós, que foram as primeiras tecnológico e econômico que estamos vivendo.
medidas oficiais de comprimento.
Com a evolução do comércio, não era possível uma 2. O que é esse campo de experiência e qual o seu
negociação adequada com tantas e irregulares medidas, uma significado?119
vez que o corpo humano é variável de pessoa a pessoa. Logo,
fazia-se necessária uma uniformidade de pesos e medidas. A palavra matemática é de origem grega e significa aquilo
Para medir com eficiência tornou-se necessário o uso de que se pode aprender, é composta dos termos matema que
unidades padronizadas e universais que foram criadas a partir significa explicar, entender, conhecer, aprender para saber e
da revolução francesa e, até hoje, têm sido discutidas e fazer, e tica ligada à palavra techné, técnica, que se traduz em
refinadas, de acordo com as necessidades atuais. habilidades, artes e técnicas. A Matemática é, então, uma
Portanto, a ação de medir foi sempre praticada pela ciência que busca explicar o mundo por meio da reflexão
humanidade, primitivamente nas trocas de mercadorias, na e da observação, utilizando, para tanto, de uma linguagem
contagem de seus objetos, na astrologia e em todas as específica.
situações da vida onde as variações de grandezas se faziam Quando falamos em matemática, as primeiras imagens que
presentes. vêm à cabeça são: Números e contas. Só em segundo plano
Quanto às formas e orientações espaço-temporais é pensamos em formas geométricas; medidas de distância,
também possível remontarmos a história de como o homem comprimento, valor, capacidade, gráficos, tabelas, entre
foi construindo esses conhecimentos sobre a geometria a outros. Ao associarmos essas imagens à vivência escolar, a
partir de sua ação no mundo. A geometria tem origem lembrança que temos, muitas vezes, é da dificuldade de
provável na agrimensura ou medição de terrenos, segundo o aprendermos esses conceitos, suas relações e procedimentos
historiador grego Heródoto (séc. V a.c.). O termo “geometria” em função da falta de sentido que tinham para nossa vida. Isso
deriva do grego geometrein, que significa medição da terra gerou uma imagem negativa da matemática vista como difícil,
(geo=terra, metrein=medição). As origens da geometria, do abstrata e distante da realidade.
grego medir a terra, parecem coincidir com as necessidades do É considerado um dos campos de conhecimento mais
dia a dia. Partilhar terras férteis às margens dos rios, construir aplicados em nosso cotidiano, basta um simples olhar ao nosso
casas, observar e prever os movimentos dos astros são redor e nos certificaremos da presença da matemática nas
algumas das muitas atividades humanas que sempre formas, nos contornos, nas medidas. As operações básicas são
dependeram de operações geométricas. Documentos sobre as utilizadas constantemente e cálculos complexos estão
antigas civilizações egípcia e babilônica apresentam presentes no nosso dia a dia quando, por exemplo, calculamos
conhecimentos sobre o assunto, geralmente ligados à a área de uma parede para ser azulejada ou quando
astrologia. Apesar desses documentos, é na Grécia que a fracionamos ingredientes em uma receita. Nosso cotidiano
geometria ganha a forma que se aproxima da atualidade. consubstancia, nesse sentido, uma cultura matematizada.
Quanto ao tratamento da informação, desde a antiguidade Desde que nasce, a criança está imersa nessa cultura
vários povos já registravam o número de habitantes, de matematizada na qual, de acordo com Dias; Faria120 vivencia
nascimentos, de óbitos, faziam estimativas das riquezas ou presencia situações em que se torna necessário contar, ler
individuais e sociais, distribuíam equitativamente terras ao números, quantificar, numerar, fazer operações de soma,
povo, cobravam impostos e realizavam inquéritos subtração, multiplicação e divisão, utilizar medidas diversas
quantitativos por meio de processos que, hoje, chamaríamos de tamanho, de peso, de valor, de distância, de tempo, de
de estatística. A palavra estatística foi introduzida no século capacidade, organizar-se ou estruturar-se espacialmente, além
XVIII pelo economista alemão Gottfried Achmmel e deriva do de se utilizar de gráficos e tabelas.
latim statisticum, que significa “negócios do estado”. Pois se Nesse sentido, é fundamental pensar num trabalho com o
colhiam informações geralmente para atividades religiosas, conhecimento matemático que o torne significativo para as
bélicas ou para cobrar impostos. crianças, que considere seu modo de ser, que está intimamente
Entender essa história nos permite perceber que a ligado à sua classe social, origem étnico racial, gênero e
matemática vem se desenvolvendo, se transformando, cultura.
evoluindo e que o conhecimento matemático presente no É importante considerar, nesse contexto de construir
cotidiano é construído por meio de práticas culturais e sociais um trabalho com a matemática que seja significativo para
dos sujeitos. De acordo com Soares118, a matemática está a criança, que o conhecimento matemático não se
presente no nosso cotidiano desde o nascimento. as crianças, constitua num conjunto de fatos a serem memorizados.
em geral, crescem em ambientes onde as pessoas falam de Aprender números, por exemplo, é muito mais do que
números, de medidas, fazem operações, interpretam figuras contar, muito embora a contagem seja importante para a
geométricas que transmitem mensagens, regras de trânsito compreensão desse conceito, assim como saber o nome de
são sinalizadas com desenhos geométricos; telefones e placas figuras geométricas não significa trabalhar com espaço e
de casas e veículos são numerados; notas e moedas contêm forma.
valores impressos; os meios de comunicação mostram preços Especificamente em relação ao conceito de número,
e porcentagens; gráficos e tabelas que apoiam previsões, estudos realizados por Jean Piaget e seus colaboradores

118Idem 120 DIAS, Fátima Regina Teixeira de Salles; FARIA, Vitória Líbia Barreto de.
119Texto adaptado: Contagem. Minas Gerais. Prefeitura Municipal. Secretaria Como a criança constrói o conceito de número? In: Caderno AMAE, nº. 1, p. 18-25,
Municipal de Educação e Cultura. A criança e a matemática/ Prefeitura Municipal 1991.
de Contagem. - Contagem: Prefeitura Municipal de Contagem, 2012.

Conhecimentos Pedagógicos 90
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

afirmam que a criança constrói o conceito e que o fato de Considerando que o processo de aprendizagem da criança
aprender a contar verbalmente não significa apropriação acontece a partir das relações que ela estabelece com o mundo
desse conhecimento. Esse processo envolve o e com a cultura, explorar o espaço envolve organizar
amadurecimento biológico da criança, as interações sociais, a deslocamentos, traçar caminhos, estabelecer referências,
manipulação de objetos, nas várias experiências vividas. identificar posicionamentos e comparar distâncias. Ao fazer
Implica estabelecer relações, pois o conhecimento não provém isso, a criança não lida só com o espaço físico, mas também
simplesmente da manipulação de tampinhas ou botões, mas com o espaço social em que ela está inserida e com o espaço
sim da coordenação de ações em que a criança ordena, reúne, afetivo, representado por todas as relações que ela estabelece
estabelece correspondência, entre outras, possibilitando, com o outro. O conceito de espaço é, então, amplo e tem como
dessa forma, a elaboração das ideias de totalidade, de referencial inicial o corpo do próprio sujeito. As noções de
quantidade e de equivalência. corpo, espaço e tempo estão intimamente ligadas. O corpo
O estabelecimento dessas relações envolve quatro outras coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um
operações mentais básicas: classificação, seriação, espaço determinado, em função do tempo, em relação a um
correspondência biunívoca e conservação, que possuem como sistema de referência. É por essa razão que possibilitar
significado: A classificação é a operação lógica em que a experiências de orientação e estruturação espaço-temporal é
criança agrupa segundo um critério; A seriação significa fundamental para o processo de aprendizagem e
colocar em série, em ordem, materiais diversos; A desenvolvimento da criança.
correspondência biunívoca é a correspondência um a um, ou Para melhor entender as relações envolvidas na
seja, cada elemento de uma coleção deverá corresponder a um construção desses conceitos, é importante trabalhar três
e somente a um elemento de uma segunda coleção; Já a relações espaciais: as relações topológicas, projetivas e
conservação é o processo em que a criança reconhece que o euclidianas.
número de elementos de um agrupamento não varia, Chamamos de relações topológicas as que não
quaisquer que sejam as maneiras como se agrupam esses necessitam de rigor formal para serem representadas.
elementos. Envolvem as noções de dentro e fora, interior e exterior,
No processo de construção do conceito de número, a fronteira e região. Tomemos como exemplo uma sala de
criança realiza também inúmeras operações aritméticas, atividades. Uma criança pede para ir ao banheiro. Para a
apropriando-se de noções de cálculo, ao mesmo tempo em que criança que saiu ela está fora da sala de atividades e, para as
constrói esse conceito. Assim, na busca de resolver problemas outras crianças da turma que permaneceram na sala, ela
de seu cotidiano, ela junta, retira, separa, reparte quantidades, também está fora. As localizações que podemos fazer
estabelecendo várias relações mentais. utilizando estas relações não variam de acordo com o ponto de
Todas essas relações dizem respeito ao que Piaget vista do observador. As relações topológicas envolvem a
denominou de conhecimento lógico matemático. Para que construção de conceitos de vizinhança, ordem, separação,
possamos compreender melhor o que significa esse tipo de contorno e continuidade.
conhecimento, é necessário fazer a distinção entre os três tipos Já as relações projetivas admitem localizações que
de conhecimento, por ele apontados: variam de acordo com o observador. São elas as noções de
direita e esquerda, em cima, em baixo, na frente, atrás e outras.
A) Conhecimento físico: É o conhecimento das Continuando com o exemplo da sala de atividades, para uma
características do objeto. A cor e a forma são exemplos de criança colocada à frente de uma mesa, um objeto (lixeira)
propriedades físicas e podem ser conhecidas pela observação. aparece à esquerda, para uma criança colocada atrás da mesa,
A fonte desse conhecimento é externa ao indivíduo. o mesmo objeto aparece à direita. As relações projetivas são
B) Conhecimento lógico-matemático: É a coordenação uma complexificação das topológicas. Exigem que o sujeito
de relações criada mentalmente por cada indivíduo entre os conserve as posições relativas dos objetos no espaço, uns em
objetos. Por exemplo, quando comparamos duas bolas de relação aos outros e de todos estes com relação a um
tamanhos diferentes, a diferença que existe entre elas não se observador. A exploração das relações projetivas conduz à
encontra nem em uma, nem em outra, mas sim na relação que última categoria de relações: a euclidiana, esta surge a partir
criamos mentalmente entre elas. A fonte do conhecimento da articulação de duas referências: uma horizontal e uma
lógico-matemático é interna. vertical, gerando um eixo de coordenadas. As relações
C) Conhecimento social: É o conhecimento adquirido por euclidianas necessitam de medidas para realizar localizações.
meio das convenções sociais, sendo sua fonte externa ao Por exemplo, as coordenadas geográficas, que nos permitem
indivíduo. localizar um ponto qualquer no planeta, a partir dos paralelos
e dos meridianos.
A notação numérica (representação do número) e o Quanto a grandezas e medidas, uma ideia básica que lhes
sistema de numeração são conhecimentos construídos e dá sustentação é a ideia de comparação. Medir significa
convencionados historicamente pela humanidade e são comparar grandezas da mesma natureza, por exemplo,
transmitidos socialmente. No entanto, para que a criança comparar o tamanho de duas crianças ou utilizar um pedaço
compreenda e signifique o conceito de número, ela necessita de barbante ou uma fita métrica para medir uma criança. A
reconstruir esse conhecimento, pois envolve uma série de construção de noções relativas a grandezas e medidas pelas
relações mentais. crianças envolve o estabelecimento de relações, tais como
Quanto ao trabalho com as formas e as orientações ordenação, estimativa e previsão. É possível salientar três
espaço temporais, diz respeito ao desenvolvimento das aspectos fundamentais do processo de medição: escolher um
relações espaciais e da geometria. De acordo com Araújo121 as objeto para servir de unidade de medida; comparar essa
formas na geometria são todas as possibilidades de unidade com o objeto, verificando quantas unidades de
representação da realidade, seja ela uma realidade concreta, medida “cabem” no objeto; e expressar o resultado da medição
externa, real, seja uma realidade interior ao indivíduo, por meio do número ou de outro tipo de registro.
subjetiva, imaginária. É importante salientar que as Em relação às unidades de medida, as crianças devem, com
experiências das crianças em relação a esses aspectos, o tempo, perceber que a escolha dessa unidade é
ocorrem prioritariamente na atividade exploratória do completamente arbitrária. Podemos comparar o peso de um
espaço e por meio de jogos e brincadeiras. estojo de lápis utilizando borrachas como unidade de medida.

121 ARAUJO, Renato Srbek. Refletindo o Ensino de Geometria. 2008.

Conhecimentos Pedagógicos 91
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Naturalmente, por razões sociais e pela necessidade de 4. A validação do conhecimento em Matemática


comunicação entre as pessoas, no decurso da história, foi
necessário o estabelecimento de um sistema unificado de Outra característica importante do conhecimento
medidas, adotando-se uma unidade padrão. Além desse matemático está relacionada a seu método científico de
padrão, foram criados instrumentos de medida para validação. Os homens recorreram, nas atividades matemáticas,
apresentar o resultado dessas medidas com precisão. a diversos métodos para validar e organizar o conhecimento
Perpassando os eixos desse campo de experiência, temos o nesse campo do saber. Entre esses, o método axiomático-
tratamento da informação, que se refere ao trabalho com dedutivo, em especial, desde a civilização grega, predomina na
estatística, com coleta e organização de dados. Essa forma de Matemática e assume a primazia de ser o único método aceito,
tratar as informações é uma necessidade social, uma vez que na comunidade científica, para a comprovação de um fato
faz parte do nosso cotidiano, aparecendo constantemente em matemático. Os conceitos de axioma, definição, teorema e
jornais, revistas, livros, internet. Desenvolver o tratamento da demonstração são centrais nesse método e, por extensão,
informação em todos os eixos da matemática nos possibilita passaram a ser, para muitos, a face mais visível da Matemática.
coletar, organizar, interpretar e tomar decisões frente aos A esse respeito, no entanto, várias ressalvas se impõem.
dados e às situações, utilizando, para tanto, de gráficos, Primeiramente, o próprio conceito de rigor lógico nas
quadros e tabelas como formas de representar ou interpretar demonstrações mudou, no decorrer da história, mesmo no
as informações matemáticas, sejam elas numéricas, espaciais âmbito da comunidade matemática. Em segundo lugar, trata-
ou de medidas. se de um método de validação do fato matemático, muito mais
Enfim, o trabalho com a matemática na educação infantil é do que um método de descoberta ou de uso do conhecimento
rico de possibilidades, pois ela está presente na arte, na matemático. Na construção efetiva desse conhecimento, faz-se
música, nas histórias, nas brincadeiras, na dança, no mundo uso permanente da imaginação, de raciocínios indutivos,
natural e social. as crianças estão vivendo a matemática plausíveis, de conjecturas, de tentativas, de verificações
quando descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, empíricas, enfim, recorre-se a uma variedade complexa de
classificam e criam coleções, estabelecem relações, observam outros procedimentos.
os tamanhos das coisas, brincam com as formas, ocupam um Além desses aspectos, embora a validação pelo método
espaço. lógico-dedutivo seja privilegiada na Matemática, as questões
de ensino e aprendizagem, associadas a tal método, estão
3. Como a criança aprende, se desenvolve e torna-se longe de terem sido resolvidas. São conhecidas as dificuldades
progressivamente humana, por meio desse campo de didáticas quando se busca, gradualmente, estabelecer a
experiência? diferença entre os vários procedimentos de descoberta,
invenção e validação e, em particular, procura-se fazer o
Entender a forma como as crianças se apropriam dos estudante compreender a distinção entre uma prova lógico-
conhecimentos matemáticos significa discutir como, a partir dedutiva e uma verificação empírica, baseada na visualização
de suas especificidades, elas vão interagindo com essa de desenhos, na construção de modelos materiais ou na
matemática que está no seu cotidiano. Ou seja, como já vimos, medição de grandezas.
a criança já nasce em um mundo repleto de produções
culturais do qual o conhecimento matemático é parte 5. Os campos de conteúdos da Matemática escolar
integrante, enquanto um objeto de uso social.
De acordo com Dias e Faria122, para que a criança se Na cultura escolar, nas duas últimas décadas, os conteúdos
aproprie desse conhecimento é fundamental que ela seja matemáticos a serem ensinados e aprendidos têm sido
incentivada a elaborar hipóteses, a estabelecer relações, a organizados em grandes campos. Embora se observem
dialogar com adultos e com outras crianças em um ambiente algumas variações, há razoável concordância entre as várias
matematizador. Nesse sentido, o trabalho com a matemática propostas de classificação desses conteúdos. Neste texto
deve possibilitar à criança vivenciar e perceber, de forma adotam-se cinco campos: números e operações; geometria;
significativa, os usos e as funções da matemática na álgebra; grandezas e medidas; estatística, probabilidades,
sociedade, por meio da interação, das brincadeiras, da combinatória.
imitação, da experimentação, da exploração que são as Esses agrupamentos têm tido um efeito positivo ao
formas como ela aprende e se desenvolve. facilitarem o trabalho pedagógico, entretanto, é indispensável
Assim, é fundamental que observemos no dia a dia como as que tais campos não sejam vistos como blocos estanques e
crianças brincam e que atividades desenvolvem, pois as autossuficientes. Além disso, é preciso considerar que a
crianças, enquanto brincam, estão experimentando sua força, aprendizagem é mais eficiente quando os conhecimentos são
tomando consciência do espaço que ocupam e das revisitados, de forma progressivamente ampliada e
possibilidades de explorar o ambiente com suas pernas e com aprofundada, durante todo o percurso escolar. Ao mesmo
todo o corpo. Além disso, vão tomando contato com as tempo, é fundamental reconhecer que a elaboração desses
capacidades dos colegas, aprendendo sobre as diferenças. conhecimentos não ocorre de maneira espontânea, mas
Essas aprendizagens vão ajudá-las a compreender os como consequência da mobilização de recursos
processos de comparação, de medição e de representação do metodológicos adequados.
espaço.
Evidentemente a criança não vai aprender o conceito de 6. Matemática e Linguagem
número e suas relações apenas com nomeações e simbologias
(representação numérica), mas por meio das possibilidades Outro aspecto importante da Matemática é a diversidade
proporcionadas pelos seus pares ou pelos adultos de de formas simbólicas presentes em seu corpo de
estabelecer as relações necessárias para construir o conceito. conhecimento: língua natural, linguagem simbólica, desenhos,
Nesse aspecto, tanto o adulto como as crianças mais gráficos, tabelas, diagramas, ícones, entre outros, que
experientes podem ajudar as outras a estabelecerem essas desempenham papel central, não só para representar os
relações, de modo informal, em situações do cotidiano e em conceitos, relações e procedimentos, mas na própria formação
brincadeiras. desses conteúdos. Por exemplo, um mesmo número racional
pode ser representado por símbolos, tais como ¼, 0,25, 25%,

122 Idem

Conhecimentos Pedagógicos 92
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

ou pela área de uma região plana ou, ainda, pela expressão “um inicial e continuada dos educadores, que exercem inegável
quarto”. papel na moldagem de suas concepções.
Uma função pode ser representada, entre outras Convém observar, no entanto, que interdisciplinaridade
possibilidades, por uma tabela, por um gráfico cartesiano ou não deve implicar uma diminuição da importância das áreas
por símbolos matemáticos. específicas do conhecimento. Ao contrário, uma perspectiva
interdisciplinar adequada nutre-se do aprofundamento nas
7. Habilidades matemáticas mais gerais várias áreas do saber.
Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada
Indicar um conjunto de habilidades matemáticas mais área específica contribua com saberes consistentes e
gerais a serem construídas no decorrer da formação escolar é aprofundados, que não sejam meras justaposições de
sempre uma tarefa difícil. Por isso, adverte-se que a relação conhecimentos superficiais, mas que favoreçam conexões
que se indica a seguir deve ser encarada com cautela. Seu significativas entre esses conhecimentos.
caráter abstrato torna indispensável que sua concretização Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um
seja fruto de um trabalho pedagógico para que essas sentido, procurar interligar vários saberes; buscar temas
habilidades sejam incorporadas, em cada situação, levando em comuns a diferentes campos do conhecimento; tentar
conta as características do contexto educacional em questão, a construir modelos para situações complexas presentes na
maturidade cognitiva dos estudantes e seus conhecimentos realidade; em outro, buscar aprofundar o conhecimento
prévios. disciplinar; construir modelos para um recorte específico da
Além disso, tais habilidades não se realizam num vazio, realidade. Encontrar a organização e o tempo pedagógicos
mas apoiadas nos conhecimentos matemáticos a que estão para garantir esse conjunto de ações constitui em um dos
intimamente associadas e sobre os quais serão tecidas maiores desafios para a concretização da perspectiva
considerações mais adiante, neste texto. interdisciplinar na escola atual.
Assim, sem esquecer as interdependências entre elas, Convém mencionar que várias experiências têm sido
pode-se propor a seguinte relação de habilidades gerais para a propostas para incorporar a interdisciplinaridade na escola,
formação matemática do estudante: como a pedagogia de projetos, o trabalho com temas
integradores e com temas transversais.
A) Interpretar matematicamente situações presentes nas
diversas práticas sociais; 9. Metodologias de Ensino e Aprendizagem
B) Estabelecer conexões entre os campos da Matemática e
entre esta e as outras áreas do saber; A) Transformações no saber a ensinar
C) Raciocinar, fazer abstrações com base em situações
concretas, generalizar, organizar e representar; A contextualização não deve ser vista como a simples
D) Comunicar-se utilizando as diversas formas de inserção de elementos das práticas sociais na formação
linguagem empregadas na Matemática; matemática, mas como instrumento que permita ao estudante
E) Resolver problemas, criando estratégias próprias para estabelecer relações entre os diferentes conhecimentos,
sua resolução, que desenvolvam a iniciativa, a imaginação, a construídos historicamente, com os quais ele entrará em
criatividade e a capacidade de avaliar as soluções obtidas; contato. Mesmo tendo sua origem nas práticas e nas
F) Utilizar a argumentação matemática apoiada em vários necessidades sociais, o conjunto de conhecimentos que servirá
tipos de raciocínio: dedutivo, indutivo, probabilístico, por de motor para as aprendizagens escolares precisará passar
analogia, plausível, entre outros; por algumas transformações. Ele deverá ser submetido, pelo
G) Empregar as novas tecnologias de computação e conjunto do sistema educacional, a um processo de
informação (TIC). descontextualização, no qual se afasta das práticas sociais que
H) Desenvolver a sensibilidade para as ligações da lhe deram origem. Tal processo toma corpo nos referenciais
Matemática com as atividades estéticas nas criações culturais curriculares e de avaliação, nos livros didáticos, entre outras
da humanidade; formas. Chegando à escola, esse conjunto de conhecimentos
I) Perceber a beleza das construções matemáticas, deverá sofrer uma nova adaptação, para que possa ser
presente na simplicidade, na harmonia e na organicidade de ensinado pelo professor e aprendido pelo aluno. Nesse
suas construções; momento, dois caminhos são possíveis.
J) Estabelecer conexões da Matemática com a dimensão No primeiro, o professor apresenta para os alunos o objeto
lúdica das atividades humanas. de conhecimento descontextualizado, tal como chegou à porta
da escola. No segundo, ele busca realizar uma contextualização
8. Ligações entre a Matemática e outras disciplinas: A desse objeto de conhecimento. Em qualquer dos casos, supõe-
Interdisciplinaridade se que seu objetivo final é o estudante ser capaz de, ao final do
processo de aprendizagem, reunir um conjunto de
Em anos recentes, têm se multiplicado as análises sobre a conhecimentos que lhe permita desenvolver as habilidades
maneira como as disciplinas escolares estão organizadas e o necessárias à resolução das situações e dos problemas que
papel que desempenham no ensino e na aprendizagem, com enfrentará não somente na continuidade de seus estudos, mas
destaque para a necessária incorporação da perspectiva da também em suas práticas sociais e cotidianas.
interdisciplinaridade. Nesse debate, critica-se a fragmentação
do saber ensinado nas escolas, alimentada pela organização do B) O foco na transmissão do conhecimento
currículo em disciplinas justapostas e estanques, que
competem por seu espaço e seus objetivos particulares, O primeiro dos caminhos acima mencionados, no entanto,
distanciando-se do diálogo com outras disciplinas. reflete a concepção do professor como emissor do
A prática da interdisciplinaridade ainda é rara. Para ser conhecimento e o aluno como receptor. Ou seja, o professor
efetivamente praticada e ampliada, ela requer transformações ensina, geralmente por meio de seu discurso, e o aluno deve
amplas, que se estendam a todo o sistema educacional: os aprender, por meio de uma escuta atenta do discurso do
currículos, as modalidades de avaliação, a organização do professor. Essa escolha metodológica se baseia, geralmente,
tempo e dos espaços na escola, o livro didático, entre outros. em três etapas: a apresentação do objeto de conhecimento, a
Essa prática exige, em especial, mudanças nas formações oferta de exemplos de aplicação e uma extensa bateria de
exercícios de fixação do conteúdo estudado.

Conhecimentos Pedagógicos 93
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A opção por esse caminho demanda estudantes bastante E) Modelagem matemática no ensino e aprendizagem
motivados e com grande capacidade de concentração, o que
não parece ser o caso na maioria de nossas escolas, Em anos recentes, os estudos em Educação Matemática
particularmente com estudantes de menor idade. Na verdade, têm posto em evidência a ideia de modelagem matemática: “a
a predominância desse tipo de ensino em nosso sistema arte de transformar problemas da realidade em problemas
escolar tem sido apontada na literatura educacional como uma matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na
das causas das sérias dificuldades na aprendizagem. linguagem do mundo real”.
A modelagem matemática pode ser entendida como um
C) O estudante como sujeito ativo da aprendizagem método de trabalho científico. Nessa perspectiva, há coerência
desse método com os pontos de vista expostos neste texto
No segundo caso, cabe ao professor promover uma sobre as características da matemática como fonte de modelos
recontextualização do conhecimento em jogo na relação para o conhecimento dos fenômenos da natureza e da cultura.
didática, ou seja, promover uma situação de aprendizagem em No entanto, neste momento, é a modelagem matemática
que o conhecimento que se deseja que o estudante aprenda como estratégia de ensino e aprendizagem que convém
apareça na forma de uma situação a ser enfrentada, a qual se destacar, pela estreita conexão dessa estratégia com ações
apresenta de maneira contextualizada. É como se, em certa envolvidas na resolução de problemas abertos e de situações-
medida, o estudante fosse levado a ‘reconstruir’ ou ‘reinventar’ problema.
o conhecimento didaticamente transposto para a sala de aula. De fato, quando a modelagem matemática propõe uma
Ao adotar esse caminho, os papéis docente e discente situação-problema ligada ao mundo real, com sua inerente
invertem-se de maneira significativa. Enquanto ao professor complexidade, o estudante é chamado a mobilizar um leque
cabe o papel de criar situações que levem os estudantes na variado de conhecimentos e habilidades: selecionar variáveis
direção da aprendizagem, estes devem realizar uma espécie de que serão relevantes para o modelo a construir;
reconstrução do objeto de conhecimento. Essa escolha problematizar, ou seja, formular um problema teórico, na
metodológica caminha no sentido inverso à anterior: nesse linguagem do campo matemático envolvido; formular
caso, o professor não parte da apresentação do conhecimento hipóteses explicativas do fenômeno em causa; recorrer ao
matemático, mas de uma situação previamente elaborada para conhecimento matemático acumulado para a resolução do
que, no processo de resolução, o aluno construa seu próprio problema formulado (o que, muitas vezes, requer um esforço
conhecimento. Resumindo, o estudante assume, nessa de simplificação, pelo fato de que o modelo originalmente
proposta metodológica, um papel essencial e ativo no pensado pode revelar-se matematicamente muito complexo);
processo, que se dará por meio da vivência de situações validar, isto é, confrontar as conclusões teóricas com os dados
preparadas pelo professor. empíricos existentes, o que, quase sempre, leva à necessidade
O segundo caminho tem sido defendido, frequentemente, de modificação do modelo, que é essencial para revelar o
nos estudos em Educação Matemática, que têm colocado em aspecto dinâmico da construção do conhecimento.
evidência três escolhas metodológicas coerentes com essa Evidencia-se, além disso, que a estratégia de modelagem
opção: a resolução de problemas, a utilização da modelagem e matemática no ensino e na aprendizagem tem sido apontada
o trabalho com projetos. como um instrumento de formação de um estudante:
comprometido com problemas relevantes da natureza e da
D) Resolução de problemas cultura de seu meio; crítico e autônomo, na medida em que
toma parte ativa na construção do modelo para a situação
De início, é preciso diferenciar a ideia de problema problema; envolvido com o conhecimento matemático em sua
associada à metodologia em que se enfatiza a transmissão do dupla dimensão de instrumento de resolução de problemas e
conhecimento daquela ligada à metodologia em que o de acervo de teorias abstratas acumuladas ao longo da
estudante é colocado em situação de ator principal no história; que “faz Matemática”, com interesse e prazer.
processo de aprendizagem. Na primeira escolha metodológica,
é privilegiado o problema fechado, que se caracteriza por uma 10. Matemática na Educação Infantil
aplicação de conhecimentos já supostamente aprendidos pelo
estudante. Nesse caso, já de antemão, o estudante é conduzido A manutenção do interesse por matemática entre alunos
a identificar o conhecimento a ser utilizado em sua resolução, de 4 e 5 anos vem do atendimento de suas necessidades atuais,
sem que haja maiores estímulos à construção de e não da preparação para o futuro, assim, como conseguir
conhecimentos e à utilização do raciocínio matemático. despertar e manter o desejo de saber matemática?
O uso exclusivo desse tipo de problema consegue mascarar Um dos princípios de Piaget123 é que ensinar matemática
a efetiva aprendizagem, à medida que, ao antecipar o na educação infantil vai muito além de ensinar a contar, para o
conhecimento em jogo na situação, o estudante atua de forma autor, os fundamentos para o desenvolvimento matemático
mecânica e, muitas vezes, sem construir significado, na das crianças estabelecem-se nos primeiros anos. A
resolução do problema. aprendizagem matemática constrói-se através da curiosidade
Em contraposição ao problema fechado, estudos em e do entusiasmo das crianças e cresce naturalmente a partir
Educação Matemática têm colocado em evidência o trabalho das suas experiências. A vivência de experiências matemáticas
com problemas abertos e situações-problema. Apesar de adequadas desafia as crianças a explorarem ideias
apresentarem objetivos diferentes, estes dois últimos tipos de relacionadas com padrões, formas, número e espaço duma
problemas colocam o estudante, em certo sentido, em situação forma cada vez mais sofisticada.
análoga àquela do matemático no exercício de sua atividade. Consequentemente, com o intuito de proporcionar uma
Diante deles, o estudante deve realizar tentativas de educação infantil que atenda aos princípios de Piaget ligados à
resolução, estabelecer hipóteses, testá-las e validar seus curiosidade, entusiasmo e o desafio das descobertas, O
resultados. planejamento curricular para as creches e pré-escolas busca,
hoje, romper com a histórica tradição de promover o
isolamento e o confinamento das perspectivas infantis dentro
de um campo controlado pelo adulto e com a

123 PIAGET, J. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro. Forense Universitária,


1976.

Conhecimentos Pedagógicos 94
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

descontextualização das atividades que muitas vezes são construindo algumas representações nesse campo, atribuindo
propostas às crianças. O novo contexto educacional para a significado e fazendo uso das expressões que costumam ouvir.
educação infantil requer estruturas curriculares abertas e Esses conhecimentos e experiências adquiridos no âmbito
flexíveis. da convivência social favorecem a proposição de situações que
Neste sentido o Referencial Curricular Nacional para despertem a curiosidade e interesse das crianças para
Educação infantil124 afirma que é preciso ressaltar que esta continuar conhecendo sobre as medidas.
organização possui um caráter instrumental e didático,
devendo os professores ter consciência, em sua prática Espaço e forma:
educativa, que a construção de conhecimentos se processa de
maneira integrada e global e que há inter-relações entre os Este bloco envolve a explicitação e/ou representação da
diferentes âmbitos a serem trabalhados com as crianças. posição de pessoas e objetos, exploração e identificação de
Dessa forma, fazer matemática é expor ideias próprias, propriedades geométricas de objetos e figuras, representações
escutar a dos outros, formular e comunicar procedimentos de bidimensionais e tridimensionais de objetos, identificação de
resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar pontos de referência e descrição de pequenos percursos e
validar seu ponto de vista, antecipar resultados de trajetos.
experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que As primeiras considerações que o homem faz da geometria
faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa parecem ter sua origem em simples observações provenientes
forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como da capacidade humana de reconhecer configurações físicas,
produtoras de conhecimento e não apenas executoras de comparar formas e tamanhos. Inúmeras circunstâncias de vida
instruções. devem ter levado o homem às primeiras elaborações
geométricas como, por exemplo, a noção de distância, a
A) Os conteúdos da Matemática na Educação Infantil necessidade de delimitar a terra, a construção de muros e
moradias e outras. Podemos afirmar que na origem de
No que diz respeito à Matemática, o Referencial problemas geométricos concretos com os quais o homem se
Curricular Nacional para Educação Infantil125 destaca três envolve desde suas atividades práticas, está a necessidade de
blocos de conteúdos a serem trabalhados: controlar as variações de dimensões com as quais se defronta
ao delimitar seu espaço físico para morar e produzir.
Números e sistema de numeração:
11. Matemática no Ensino Fundamental126
Este bloco envolve contagem, notação e escrita numérica e
as operações matemáticas, assim, contar é uma estratégia A) Conteúdos Matemáticos no Ensino Fundamental
fundamental para estabelecer o valor cardinal de conjuntos de
objetos. Isso fica evidenciado quando se busca a propriedade As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
numérica dos conjuntos ou coleções em resposta à pergunta Fundamental, em discussão na comunidade educacional,
“quantos?”. É aplicada também quando se busca a propriedade indicam, enfaticamente, a necessidade de um Ciclo de
numérica dos objetos, respondendo à pergunta “qual?”. alfabetização, destinado a crianças de 6, 7 e 8 anos de idade,
Nesse caso está também em questão o valor ordinal de um sem deixar de lado a defesa do Ensino Fundamental como um
número, na contagem propriamente dita, ou seja, ao contar todo integrado. Nos limites deste texto, opta-se por apresentar
objetos as crianças aprendem a distinguir o que já contaram uma visão de conjunto da Matemática escolar que, se espera,
do que ainda não contaram e a não contar duas (ou mais) vezes seja abordada do 1º ao 9º anos do Ensino Fundamental,
o mesmo objeto, descobrem que tampouco devem repetir as acrescida, em alguns pontos, de comentários sobre o ciclo de
palavras numéricas já ditas e que, se mudarem sua ordem, alfabetização.
obterão resultados finais diferentes daqueles de seus
companheiros, percebem também que não importa a ordem Números e operações:
que estabelecem para contar os objetos, pois obterão sempre
o mesmo resultado. As atividades matemáticas no mundo atual requerem a
Podem-se propor problemas relativos à contagem de capacidade de contar coleções, comparar e medir grandezas e
diversas formas. É desafiante, por exemplo, quando as realizar codificações, que dão significados ao conceito de
crianças contam agrupando os números de dois em dois, de número natural. É também indiscutível saber que ler e
cinco em cinco, de dez em dez, etc. escrever números no sistema de numeração decimal são
habilidades fundamentais, em particular no ciclo de
Grandezas e medidas: alfabetização.
Recomenda-se trabalhar, de maneira gradual e integrada,
Este bloco envolve a exploração de diferentes os diversos significados e propriedades das operações
procedimentos de comparação de grandezas, introdução às fundamentais de adição, subtração, multiplicação e divisão. É
noções de medida de comprimento, peso, volume, marcação importante dar atenção especial à aquisição progressiva e
do tempo e experiências com dinheiro. gradual dos algoritmos formalizados, que se beneficiam do
As medidas estão presentes em grande parte das desenvolvimento do senso numérico, das propriedades das
atividades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm operações e das habilidades de cálculo mental.
contato com certos aspectos das medidas. O fato de que as Após o ciclo de alfabetização, a potenciação pode ser
coisas têm tamanhos, pesos, volumes, temperaturas diferentes gradualmente estudada até seu desenvolvimento mais
e que tais diferenças frequentemente são assinaladas pelos completo nos últimos anos do Ensino Fundamental, com
outros (está longe, está perto, é mais baixo, é mais alto, mais ênfase no significado dessa operação, ou seja, na ideia de
velho, mais novo, pesa meio quilo, mede dois metros, a crescimento exponencial. A radiciação de índice 2 ou 3 (raiz
velocidade é de oitenta quilômetros por hora etc.) permite que quadrada e raiz cúbica), igualmente de forma lenta e
as crianças informalmente estabeleçam esse contato, fazendo significativa, pode ser abordada a partir do 6º ano do Ensino
comparações de tamanhos, estabelecendo relações, Fundamental. Os conceitos de número racional e de número

124 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais Curriculares 125Idem


126Texto adaptado de Marcelo Câmara dos SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F.
Nacionais de Educação Infantil. vol. 3. Brasília: 1998.
Considerações sobre a Matemática no Ensino Fundamental.

Conhecimentos Pedagógicos 95
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

inteiro estão presentes nas atividades matemáticas em quase geométricas, de planificações, do uso de programas
todas as práticas sociais. Para sua aprendizagem eficiente, as tecnológicos ou softwares de geometria dinâmica, de
pesquisas têm indicado a necessidade de se levarem em conta ampliação e de redução de figuras. Por esses caminhos, podem
seus vários significados, suas diversas representações (por ser abordados importantes conceitos e resultados, tais como a
exemplo, as representações decimal e fracionária dos semelhança e os Teoremas de Tales e de Pitágoras.
racionais) e a abordagem significativa de seus algoritmos, na
qual desempenham papéis chave as ideias, bem Grandezas e medidas
contextualizadas, das operações nos naturais e nos inteiros e o
conceito básico de equivalência nos racionais. Os conceitos de grandeza e de medida de grandezas estão
A noção de porcentagem é extremamente importante nas presentes nas múltiplas atividades das pessoas: no dia a dia,
práticas sociais e é um conteúdo a ser abordado nas práticas profissionais, no mundo da tecnologia e da
simultaneamente ao de número racional. No entanto, é preciso ciência. Por isso, a construção desses conceitos é tão
cuidado na progressão desses dois últimos conceitos, que só importante e recomenda-se que seja iniciada desde os
deveriam ser formalizados a partir do 6º ano do Ensino primeiros anos escolares, de maneira bastante informal no
Fundamental. O número irracional tem sua origem ligada a ciclo de alfabetização, sendo ampliada e aprofundada nos anos
problemas no âmbito da própria Matemática, que é a posteriores do Ensino Fundamental. A comparação de
existência de segmentos que não têm uma medida comum. grandezas, que são atributos de objetos ou de fenômenos
Mas, atenção! Nesse caso, trata-se da medição abstrata e não físicos, pode ocorrer de maneira informal e quase
daquela realizada com instrumentos físicos. Também surgem, despercebida. São corriqueiras perguntas como: Quem está
por exemplo, nas raízes quadradas de números inteiros que mais longe? Qual é a marca mais barata? Quanto tempo
não são quadrados perfeitos. As dificuldades conceituais demora? Quanto pesa? Quanto custa? Qual é o mais curto?
associadas aos irracionais indicam que eles só sejam Cabe ao ensino escolar, progressivamente, sistematizar e
estudados nos anos finais do Ensino Fundamental. Em uma aprofundar tais questões, de modo que os estudantes possam
formação matemática sintonizada com os desafios do século construir as noções de medição e de unidade de medida
XXI, não se pode deixar de lado o trabalho com o cálculo mental (padronizada ou não) para um leque amplo de grandezas e
e as estimativas. Também não podemos prescindir do uso da começar a usar instrumentos de medição. No Ensino
calculadora, assunto que será mais aprofundado adiante neste Fundamental, deve-se dar muita atenção às grandezas
texto. A respeito disso, as questões relativas ao ensino e à geométricas: comprimento (perímetro), área, volume
aprendizagem dessas habilidades são numerosas e (capacidade) e abertura de ângulo. Mas, outras grandezas
desafiadoras. podem ser estudadas, sempre em situações com significado:
valor monetário (dinheiro), tempo, massa e temperatura.
Álgebra Grandezas determinadas pela razão de duas outras (Kwh,
velocidade, densidade, etc.) podem ser construídas com
As tendências atuais em Educação Matemática encaram a estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, bem como
Álgebra como uma forma de pensar matematicamente, demandam alguma atenção as unidades de medida da
caracterizada, entre outros aspectos, pela busca de informática: Kb, Mb, Gb, etc.
generalizações e de regularidades. Adotado esse ponto de
vista, é recomendável que o ensino desse conteúdo seja Estatística, probabilidades e combinatória
desenvolvido desde a primeira etapa do Ensino Fundamental.
Mas é importante preservar, cuidadosamente, no ciclo de Muitos afirmam que uma grande inovação do
alfabetização, a informalidade da abordagem, bem como evitar conhecimento na segunda metade do século XX foi o relevo
reduzir, nos anos posteriores, a álgebra a simples manipulação conquistado pelo campo da estatística, probabilidades e
simbólica. Além disso, o trabalho com esse campo da combinatória, cujo desenvolvimento está muito relacionado
Matemática escolar, após o emprego do raciocínio algébrico de ao advento do computador e das ciências da computação e da
maneira informal, realizado nos cinco primeiros anos do informação. Novos conhecimentos tornaram indispensáveis
Ensino Fundamental, deve passar a abordar, mudanças na cultura escolar. As propostas curriculares mais
progressivamente, os conceitos de variável, expressão recentes têm incluído como um novo campo de conteúdos a
algébrica, igualdade algébrica, equações (do 1º e do 2º graus), estatística, por meio da qual se procuram abordar o
proporcionalidade e função. Em particular, o aprofundamento levantamento de dados sobre determinada questão da
desta última noção deve apoiar-se em situações do cotidiano realidade física ou social, o tratamento, a organização, a
do estudante, evitando-se a sistematização precoce. apresentação e a interpretação desses dados (tabelas,
dispositivos gráficos, medidas estatísticas, etc.) e a formulação
Geometria de conclusões de natureza estatística. A teoria das
probabilidades, em sua vertente escolar, serve como base para
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em particular no a estatística e também como modelo teórico para os
ciclo de alfabetização, sugere-se que o trabalho com a fenômenos envolvendo a ideia de incerteza. As mencionadas
Geometria seja centrado na exploração do espaço que envolve propostas curriculares incluem, ainda, a combinatória, que
a criança. As situações em que ela seja levada a se situar no lida, entre outros conteúdos, com a contagem sistemática de
espaço que a cerca devem ser particularmente exploradas. conjuntos discretos. Todos esses conteúdos podem se fazer
Dessa maneira, em momentos iniciais, podem ser propostas presentes no ciclo de alfabetização, mas é preciso cuidado para
atividades que levem o estudante a compreender as ideias de se evitar a sua sistematização nessa fase.
pontos de referência e deslocamentos e, gradualmente, de
direção, sentido, ângulo, paralelismo, perpendicularidade e 12. Matemática e a Formação para a Cidadania
coordenadas cartesianas.
É também no espaço que cerca a criança que ela encontra A convivência na complexa sociedade atual tem sido
as diferentes figuras geométricas, planas e espaciais, e marcada por graves tensões sociais, geradas por persistentes
identifica, de modo progressivo, suas propriedades. Os difíceis desigualdades no acesso a bens e serviços e às esferas de
caminhos didáticos que favorecem a passagem gradual do decisão política, e pela supervalorização das ideias de mercado
mundo concreto para os entes geométricos abstratos passam e de consumo, entre outras razões. Além disso, ainda prevalece
sempre pelo emprego adequado de desenhos, de construções no mundo uma ordem social contrária aos princípios da

Conhecimentos Pedagógicos 96
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

solidariedade e da igualdade de oportunidades para todos. (D) estabelecer conexões entre temas matemáticos de
Essa é uma situação indesejável, que precisa ser superada, e diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de
devemos buscar encontrar o papel da formação matemática outras áreas curriculares.
que contribua para superá-la. (E) sentir-se seguro da própria capacidade de construir
Uma formação que valorize a participação efetiva do conhecimentos matemáticos.
estudante na sua aprendizagem e que incentive a sua
autonomia, certamente, colabora para a construção da 4. (SEE-SP - Professor - Ensino Básico – VUNESP)
cidadania. O estímulo ao diálogo permanente entre todos que Analise as respostas de alguns professores para a pergunta:
atuam na sala de aula ― estudantes e professor ― e o incentivo como ensinam matemática para as crianças?
ao trabalho coletivo são outras ações que favorecem o I. A professora Adriana afirma que primeiro explica, depois
desenvolvimento da capacidade de conviver harmonicamente passa exercícios no caderno, depois faz a revisão para ver se
em sociedade e de respeitar as diferenças entre as pessoas. A entenderam.
sala de aula de Matemática não é só um local para II. A professora Cristiane afirma que usa material concreto
aprendizagem dessa disciplina e para a interação entre os para ensinar matemática e depois propõe aos alunos muitos
estudantes, propiciada e mediada pelo professor; ela deve ser exercícios para que repitam muitas vezes o que ensinou,
sempre uma oportunidade valiosa para o cultivo de condutas depois dá exercícios de fixação.
coletivas importantes para a vida social. III. A professora Vera afirma que ensina os conteúdos com
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e muito reforço e muitos exercícios, curtos, repetidos, cálculos
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais – para que as crianças se exercitem por várias horas seguidas.
que são aptidões prévias relativamente eficientes – sem que se As afirmações dessas professoras parecem revelar que elas
abdique do saber matemático mais universal. compartilham uma conhecida concepção de ensino e
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e aprendizagem. Qual das alternativas revela essa concepção?
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais (A) Ensinar matemática consiste em explicar, aprender
que são aptidões prévias relativamente eficientes. Essa consiste em repetir ou exercitar o ensinado até reproduzi-lo
formação deve-se abdicar do saber matemático mais fielmente.
universal. (B) Ensinar matemática consiste em partir do princípio de
que as crianças são capazes de aprender muitas coisas a partir
Questões de sua experiência cotidiana.
(C) Ensinar matemática de forma compartimentada evita
1. (Prefeitura de Maria Helena/PR - Professor - confusões e permite à criança aprender melhor.
Educação Infantil – FAFIPA) No ensino da matemática, o (D) O ensino de matemática por meio de jogos e materiais
professor pode utilizar diversos jogos para as crianças se concretos garante às crianças aprenderem de forma
apropriarem do conceito de número. São jogos matemáticos significativa.
apropriados a esse ensino, EXCETO: (E) A Matemática não deve ser olhada de forma isolada de
(A) Ábaco. outras áreas, é questão de praticá-la, analisá-la e relacioná-la
(B) Quebra-cabeça. para que os alunos aprendam.
(C) Material Dourado.
(D) Trilha matemática. 5. Dentre as alternativas abaixo, qual não integra os
conteúdos da matemática na Educação Infantil?
2. (SEDUC/AM - Professor de Educação Especial – FGV) (A) Números e sistemas de numeração.
A “resolução de problemas é um caminho para o ensino de (B) Espaço e forma.
Matemática que vem sendo discutido ao longo dos últimos (C) Grandezas e medidas
anos”. (PCN - Matemática, 1997, p. 32). (D) Números e operações
A respeito da resolução de problemas, assinale a afirmativa
incorreta. Respostas
(A) O ponto de partida da atividade matemática não é a
definição, mas o problema. 1. B
(B) O problema certamente não é um exercício em que o 2. E.
aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um 3. C
processo operatório. 4. A
(C) Aproximações sucessivas ao conceito são construídas 5. D.
para resolver um certo tipo de problema.
(D) O aluno não constrói um conceito em resposta a um
problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam
sentido num campo de problemas.
(E) A resolução de problemas é uma atividade a ser
desenvolvida em paralelo ou como aplicação da
aprendizagem, não como uma orientação para esta.

3. (Prefeitura de Patos/PB - Professor de Matemática


– PaqTcPB) Dentre os objetivos gerais para o Ensino
Fundamental que constam nos PCN de Matemática,
encontram-se os seguintes itens, EXCETO
(A) fazer observações sistemáticas de aspectos
quantitativos e qualitativos da realidade.
(B) selecionar, organizar e produzir informações
relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente.
(C) verificar a presença dos conjuntos numéricos, tais
como os números complexos, na realidade da vida do aluno.

Conhecimentos Pedagógicos 97
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Segundo Fusari130, “Apesar de os educadores em geral


utilizarem, no cotidiano do trabalho, os termos “planejamento”
Currículo em ação: e “plano” como sinônimos, estes não o são.”
planejamento, seleção,
contextualização e Outro aspecto importante, segundo Schmitz131 é que “as
denominações variam muito. Basta que fique claro o que se
organização dos conteúdos; o entende por cada um desses planos e como se caracterizam.”
trabalho por projetos. O que se faz necessário é estar consciente que:

“Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser


Planejamento escolar planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos
resultados. E sendo a educação, especialmente a educação
Para Moretto127, planejar é organizar ações (ideias e escolar, uma atividade sistemática, uma organização da
informações). Essa é uma definição simples mas que mostra situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de
uma dimensão da importância do ato de planejar, uma vez que planejamento muito sério. Não se pode improvisar a
o planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto do educação, seja ela qual for o seu nível.”
professor como do aluno.
Conceito de Planejamento
Gandin128 sugere que se pense no planejamento como uma O Planejamento pode ser conceituado como um processo,
ferramenta para dar eficiência à ação humana, ou seja, deve ser considerando os seguintes aspectos: produção, pesquisa,
utilizado para a organização na tomada de decisões. Para finanças, recursos humanos, propósitos, objetivos, estratégias,
melhor entender precisa-se compreender alguns conceitos, políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos,
tais como: planejar, planejamento e planos. tempo, unidades organizacionais etc. Desenvolvido para o
Planejamento: “É um instrumento direcional de todo o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais
processo educacional, pois estabelece e determina as grandes eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de
urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina esforços e recursos.
todos os recursos e meios necessários para a consecução de O Planejamento também pressupõe a necessidade de um
grandes finalidades, metas e objetivos da educação.” processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua
elaboração e implementação na escola. Este processo deve
Plano Nacional de Educação: “Nele se reflete a política conter ao mesmo tempo, os componentes individuais e
educacional de um povo, num determinado momento histórico organizacionais, bem como a ação nesses dois níveis deve ser
do país. É o de maior abrangência porque interfere nos orientada de tal maneira que garanta certa confluência de
planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal.” interesses dos diversos fatores alocados no ambiente escolar.
O processo de planejar envolve, portanto, um modo de
Plano de Curso: “O plano de curso é a sistematização da pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e
proposta geral de trabalho do professor naquela determinada indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer,
disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde.
anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a É um processo de estabelecimento de um estado futuro
disciplina é oferecida.” desejado e um delineamento dos meios efetivos de torna-lo
realidade justifica que ele antecede à decisão e à ação.
Plano de Aula: “É a sequência de tudo o que vai ser
desenvolvido em um dia letivo. (...) É a sistematização de todas Finalidade - Para que Planejar?132
as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que A primeira coisa que nos vem à mente quando
o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino e de perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência.
aprendizagem.” Ela é a execução perfeita de uma tarefa que se realiza. O
carrasco é eficiente quando o condenado morre segundo o
Plano de Ensino: “É a previsão dos objetivos e tarefas do previsto. A telefonista é eficiente quando atende a todos os
trabalho docente para um ano ou um semestre; é um chamados e faz, a tempo, todas as ligações. O digitador, quando
documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos escreve rapidamente (há expectativas fixadas) e não comete
específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico.” erros.
O planejamento e um plano ajudam a alcançar a eficiência,
Projeto Político Pedagógico: “É o planejamento geral que isto é, elaboram-se planos, implanta-se um processo de
envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a planejamento a fim de que seja benfeito aquilo que se faz
organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da dentro dos limites previstos para aquela execução.
instituição. É um processo de organização e coordenação da Mas esta não é a mais importante finalidade do
ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o planejamento. Ele visa também a eficácia. Os dicionários não
contexto social da escola. É o planejamento que define os fins fazem diferença suficiente entre eficácia e eficiência. O melhor
do trabalho pedagógico.” (MEC129) é não se preocupar com palavras e verificar que o
planejamento deve alcançar não só que se faça bem as coisas
Os conceitos apresentados têm por objetivo mostrar para que se fazem (chamaremos isso de eficiência), mas que se
o professor a importância, a funcionalidade e principalmente façam as coisas que realmente importa fazer, porque são
a relação íntima existente entre essas tipologias. socialmente desejáveis (chamaremos isso de eficácia).

127 MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o 130 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas

desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. indagações e tentativas de respostas.


128 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf.
prática educativa. 131 SCHMITZ, Egídio. Fundamentos da Didática. 7ª Ed. São Leopoldo, RS:

www.maxima.art.br/arq_palestras/planejamento_como_ferramenta_(completo). Editora Unisinos, 2000.


doc. 132 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:
129 MEC – Ministério da Educação e Cultura. Trabalhando com a Educação de Edições Loyola, 2013.
Jovens e Adultos – Avaliação e Planejamento – Caderno 4 – SECAD – Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – 2006.

Conhecimentos Pedagógicos 98
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A eficácia é atingida quando se escolhem, entre muitas tarde, levou à expulsão dos mesmos em 1759. A expulsão dos
ações possíveis, aqueles que, executadas, levam à consecução jesuítas criou um vazio escolar. A insuficiência de recursos e
de um fim previamente estabelecido e condizente com aquilo escassez de mestres desarticulou o trabalho educativo no País,
em que se crê. com repercussões que se estenderam até o período imperial.
Além destas finalidades do planejamento, Gandin introduz Com a vinda da Família Imperial, a educação brasileira
a discussão sobre uma outra, tão significativa quanto estas, e toma um novo impulso, principalmente com a criação dos
que dá ao planejamento um status obrigatório em todas as cursos superiores, no entanto a educação popular foi relegada
atividades humanas: é a compreensão do processo de em segundo plano. Com a reforma constitucional de 1834, as
planejamento como um processo educativo. responsabilidades da educação popular foram
É evidente que esta finalidade só é alcançada quando o descentralizadas, deixando-as às províncias e reservando à
processo de planejamento é concebido como uma prática que Corte a competência sobre o ensino médio e superior.
sublime a participação, a democracia, a libertação. Então o Nesse período, a situação continuou a mesma: escassez de
planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica escolas e de professores na educação básica. Com a educação
para o bem-estar do homem e da sociedade. média e superior, prevaleceram às aulas avulsas destinadas
apenas às classes mais abastadas.
Elementos Constitutivos do Planejamento A Proclamação da República, também não alterou
Objetivos e Conteúdos de Ensino: Os objetivos significativamente a ordenação legal da Educação Brasileira,
determinam de antemão os resultados esperados do processo foi preciso esperar até a década de 20 para que, o debate
entre o professor e o aluno, determinam também a gama de educacional ganhasse um espaço social mais amplo. Nesta
habilidades e hábitos a serem adquiridos. Já os conteúdos época, as questões educacionais deixaram de ser temas
formam a base da instrução. isolados para se tornarem um problema nacional. Várias
A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio de tentativas de reforma ocorreram em vários estados; iniciou-se
uma ação intencional e sistemática para oferecer uma efetiva profissionalização do magistério e novos modelos
aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais pedagógicos começaram a ser discutidos e introduzidos na
para determinação de propósitos definidos e explícitos quanto escola.
às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os
objetivos têm pelo menos três referências fundamentais para Surgimento do Plano de Educação
a sua formulação. A primeira experiência de planejamento governamental no
- Os valores e ideias ditos na legislação educacional. Brasil foi executada no governo de Juscelino Kubitschek com
- Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na história seu Plano de Metas (1956/61). Antes, os chamados planos que
da humanidade. se sucederam desde 1940, foram diagnósticos que tentavam
- As necessidades e expectativas da maioria da sociedade. racionalizar o orçamento. Neste processo de planejamento
convém distinguir três fases:
Métodos e Estratégias: O método por sua vez é a forma - a decisão de planejar;
com que estes objetivos e conteúdos serão ministrados na - o plano em si; e
prática ao aluno. Cabe aos métodos dinamizar as condições e - a implantação do plano.
modos de realização do ensino. Refere-se aos meios utilizados
pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo A primeira e a última fase são políticas e a segunda é um
com cada atividade e os resultados esperados. assunto estritamente técnico.
As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto, No caso do Planejamento Educacional, essa distinção é
há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele interessante, pois foi preciso um longo período de maturação
momento com o processo de ensino e de aprendizagem. Por para que se formulasse de forma explícita a necessidade
isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os nacional de uma política de educação e de um plano para
sujeitos envolvidos – professores e alunos. programá-la. A revolução de 30 foi o desfecho das crises
políticas e econômicas que agitaram profundamente a década
Multimídia Educativa: A multimídia educativa é uma de 20, compondo-se assim, um quadro histórico propício à
estratégia de ensino e de aprendizagem que pode ser utilizada transformação da Educação no Brasil.
por estudantes e professores. É imperativa a importância das Em 1932, um grupo de educadores conseguiu captar o
multimídias educativas com uso da informática no processo anseio coletivo e lançou um manifesto ao povo e ao governo
educativo como uma ferramenta auxiliar na educação. que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova”, que extravasava o entusiasmo pela Educação.
Avaliação Educacional: É uma tarefa didática necessária O manifesto era ao mesmo tempo uma denúncia uma exigência
e permanente no trabalho do professor, deve acompanhar de uma política educacional consistente e, um plano científico
todos os passos do processo de ensino e de aprendizagem. É para executá-la, livrando a ação educativa do empirismo e da
através dela que vão sendo comparados os resultados obtidos descontinuidade. O mesmo teve tanta repercussão e motivou
no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, uma campanha que repercutiu na Assembleia Constituinte de
conforme os objetivos propostos, a fim de verificar progressos, 1934.
dificuldades e orientar o trabalho para as correções De acordo com a Constituição de 34, o conselho Nacional
necessárias. de Educação elaborou e enviou, em maio de 37, um
A avaliação insere-se não só nas funções didáticas, mas anteprojeto do Plano de Educação Nacional, mas com a
também na própria dinâmica e estrutura do Processo de chegada do estado Novo, o mesmo nem chegou a ser discutido.
Ensino e de Aprendizagem. Sendo assim, mesmo que a ideia de plano nacional de
Planejamento e Políticas de Educação no Brasil educação fosse um fruto do manifesto e das campanhas que se
A formação da Educação Brasileira inicia-se com a seguiram, o Plano 37 era uma negação das teses defendidas
Companhia de Jesus, em 1549, com o trabalho dos Jesuítas: pelos educadores ligados àqueles movimentos. Totalmente
suas escolas de primeiras letras, colégios e seminários, até os centralizador, o mesmo pretendia ordenar em minúcias toda a
dias atuais. Nesse primeiro momento, a educação não foi um educação nacional. Tudo estava regulamentado ao plano,
problema que emergisse como um assunto Nacional, no desde o ensino pré-primário ao ensino superior; os currículos
entanto, tenha sido um dos aspectos das tensões constantes eram estabelecidos e até mesmo o número de provas e os
entre a Ordem dos Jesuítas e a Coroa Portuguesa, que mais critérios de avaliação.

Conhecimentos Pedagógicos 99
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

No entanto, os dois primeiros artigos dos 504 que Nas escolas ele também era muito utilizado; a princípio, o
compuseram o Plano de 37, chamam atenção, no que se refere planejamento era uma maneira de controlar a ação dos
ao Planejamento Educacional a nível nacional, atualmente: professores de modo a não interferir no regime político da
época. Hoje o planejamento já não tem a função reguladora
Art. 1°- O Plano Nacional de Educação, código da educação dentro das escolas, ele serve como uma ferramenta
nacional, é o conjunto de princípios e normas adotados por importantíssima para organizar e subsidiar o trabalho do
esta lei para servirem de base à organização e funcionamento professor.
das instituições educativas, escolares e extraescolares,
mantidas no território nacional pelos poderes públicos ou por Diretrizes e Bases da Educação Nacional
particulares. Após o anteprojeto de Plano de 37, a ideia de um Plano
Art. 2°- Este Plano só poderá ser revisto após vigência de Nacional de Educação permaneceu sem efeito até 1962,
dez anos. quando foi elaborado e efetivamente instituído o primeiro
Plano Nacional governamental. No entanto, no Plano de Metas
Nesses artigos, há três pontos os quais convém destacar, de Kubitschek, a educação era a meta número 30.
pois repercutiram e persistiram em parte, em iniciativas e leis O setor de educação entrou no conjunto do Plano de metas
posteriores: pressionado pela compreensão de que a falta de recursos
- O Plano de Educação identifica-se com as diretrizes da humanos qualificados poderia ser um dos pontos de
Educação Nacional; estrangulamento do desenvolvimento do país.
- O Plano deve ser fixado por Lei; A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
- O Plano só poderá ser revisto após uma vigência (LDB) acabou surgindo com a Lei n° 4.024 de 1961, no entanto,
prolongada. vale ressaltar a concepção do que deveria ser uma LDB.
Segundo o Relatório Geral da Comissão:
Segundo Kuenzer133 “o planejamento de educação também Diretriz é uma linha de orientação, norma de conduta,
é estabelecido a partir das regras e relações da produção "Base" é a superfície de apoio, fundamento. Aquela indica a
capitalista, herdando, portanto, as formas, os fins, as direção geral a seguir, não às minudências do caminho.
capacidades e os domínios do capitalismo monopolista do Significa também o alicerce do edifício, não o próprio edifício
Estado.” sobre o qual o alicerce está construído. A lei de Diretrizes e
Aqui no Brasil, Padilha134 explica que “Durante o regime Bases conterá somente os preceitos genéricos e fundamentais.
autoritário, eles foram utilizados com um sentido autocrático. No entanto, a LDB de 61, distanciou-se muito da clareza e
Toda decisão política era centralizada e justificada da sensatez do anteprojeto original, e a lei que sucedeu e
tecnicamente por tecnocratas à sombra do poder.” Kuenzer substituiu em parte (Lei n° 5.692/71) agravou a situação.
complementa a citação acima explicando que “A ideologia do Eliminaram substancialmente qualquer possibilidade de
Planejamento então oferecida a todos, no entanto, escondia instituição de políticas e planos de educação como
essas determinações político-econômicas mais abrangentes e instrumentos efetivos de um desenvolvimento ideal da
decididas em restritos centros de poder.” Educação Brasileira, pois novamente foi consagrada a ideia de
O regime autoritário fez com que muitos educadores plano como distribuição de recursos.
criassem uma resistência com relação à elaboração de planos, Após a iniciativa pioneira de 1962 e suas revisões,
uma vez que esses planos eram supervisionados ou sucedem-se, em trinta anos, cerca de dez planos. Em um
elaborados por técnicos que delimitavam o que o professor estudo realizado nessa área até 1989, conclui-se que essa
deveria ensinar, priorizando as necessidades do regime sucessão de planos que são elaboradas, parcialmente
político. “Num regime político de contenção, o planejamento executadas, revista e abandonada, refletem os males gerais da
passa a ser bandeira altamente eficaz para o controle e administração pública brasileira. A educação, realmente não
ordenamento de todo o sistema educativo.” era prioritária para os governos. As coordenadas da ação
governamental no setor ficavam bloqueadas ou dificultadas
Apesar de se ter claro a importância do planejamento na pela falta de uma integração ministerial.
formação, Fusari135 explica que: Em consequência disso e de outras razões, sobretudo
“Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implantava a políticas, o panorama da experiência brasileira de
repressão, impedindo rapidamente que um trabalho mais crítico planejamento educacional é um quadro de descontinuidades
e reflexivo, no qual as relações entre educação e sociedade administrativas, que, fez dessa experiência um conjunto
pudessem ser problematizadas, fosse vivenciada pelos fragmentado de incoerentes iniciativas governamentais que
educadores, criando, assim, um “terreno” propício para o avanço nunca foram mais do que esquemas distributivos de recursos.
daquela que foi denominada ‘tendência tecnicista’ da educação Com esta visão podemos compreender o “porquê” do caos
escolar.” educacional em nosso país. Desde há muito a educação foi
Mas não se pode pensar que o regime político era o único relegada ao final das filas. O povo foi passando de governo em
fator que influenciava no pensamento com relação à governo sem perceber as perdas que lhe trariam o atraso
elaboração dos planos de aulas; as teorias da administração educacional.
também refletiam no ato de planejar do professor, uma vez
que essas teorias traziam conceitos que iriam auxiliar na
definição do tipo de organização educacional que seria
adotado por uma determinada instituição.
No início da história da humanidade, o planejamento era
utilizado sem que as pessoas percebessem sua importância,
porém com a evolução da vida humana, principalmente no
setor industrial e comercial, houve a necessidade de adaptá-lo
para os diversos setores.

133 KUENZER, Acácia Zeneida, CALAZANS, M. Julieta C., GARCIA, Walter. 135 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas

Planejamento e educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. indagações e tentativas de respostas.
134 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf.
projeto político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 100


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Níveis de Planejamento objetivos e dos recursos disponíveis, a análise das


consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a
escolha entre essas possibilidades, a determinação de metas
específicas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o
desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantar a
política escolhida.
O planejamento educacional significa bem mais que a
elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de
operações interdependentes.
O Planejamento do Sistema de Educação é o de maior
abrangência (enquanto um dos níveis de planejamento na
educação escolar), correspondendo ao planejamento que é
feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e
reflete as grandes políticas educacionais. Enfrenta os
problemas de atendimento à demanda, alocação e
gerenciamento de recursos etc.

Características do Planejamento Educacional


Categorias Tipos Características
Na esfera educacional o processo de planejamento ocorre 1- Global ou de
em diversos níveis, segundo a magnitude da ação que se tem Para todo o sistema
conjunto
em vista realizar. O planejamento educacional é o mais amplo, Graus do Sistema
geral e abrangente. Prevê a estruturação e o funcionamento da 2- Por setores
Níveis Escolar
totalidade do sistema educacional. Determina as diretrizes da Por divisões
política nacional de educação. 3- Regional
geográficas
A seguir, temos o planejamento Escolar e depois o 4- Local Por escola
Curricular, que está intimamente relacionado às prioridades
Por utilizar
assentadas no planejamento educacional. Sua função é
metodologia de
traduzir, em termos mais próximos e concretos, as linhas-
1- Técnico análise, previsão,
mestras de ação delineadas no planejamento imediatamente
programação e
superior, através de seus objetivos e metas. Constitui o
Enquanto avaliação.
esquema normativo que serve de base para definir e
Processo Por permitir a tomada
particularizar a linha de ação proposta pela escola. Permite a 2- Político
de decisão.
inter-relação entre a escola e a comunidade.
Por coordenar as
Logo após, temos o planejamento de ensino, que parte 3-
atividades
sempre de pontos referenciais estabelecidos no planejamento Administrativo
administrativas.
curricular. Temos, em essência, neste tipo de planejamento,
dimensões: 1- Curto prazo 1 a 2 anos
Quanto aos
- filosófica, que explicita os objetivos da escola; 2- Médio prazo 2 a 5 anos
Prazos
- psicológica, que indica a fase de desenvolvimento do 3- Longo prazo 5 a 15 anos
aluno, suas possibilidades e interesses; Com base nas
- social, que expressa as características do contexto sócio- 1- Demanda demandas individuais
econômico-cultural do aluno e suas exigências. de educação.
Este detalhamento é feito tendo em vista os processos de Com base nas
ensino e de aprendizagem. Assim, chegamos ao nível mais necessidades do
Enquanto
elementar e próximo da ação educativa. É através dele que, em 2- Mão-de-obra mercado, voltado para
Método
relação ao aluno: o desenvolvimento do
- prevemos mudanças comportamentais e aprendizagem país.
de elementos básicos; Com base nos recursos
3- Custo e
- propomos aprendizagens a partir de experiências disponíveis visando a
Benefício
anteriores e de suas reais possibilidades; maiores benefícios.
- estimulamos a integração das diversas áreas de estudo.
Como vemos, o planejamento tem níveis distintos de Fundamentos do Planejamento Educacional
abrangência; no entanto, cada nível tem bem definido e Concepções Características
delimitado o seu universo. Sabemos que um nível particulariza Divisão pormenorizada,
- um ou vários - aspectos delineados no nível antecedente, hierarquizado verticalmente,
Clássica
especificando com maior precisão as decisões tomadas em com ênfase na organização e
relação a determinados eventos da ação educativa. pragmático.
A linha de relacionamento se evidencia, então, através de Planejamento seguindo
escalões de complexidade decrescente, exigindo sempre um Transitiva procedimentos de trabalho com
alto grau de coerência e subordinação na determinação dos ênfase na liderança.
objetivos almejados. Visão horizontal, com ênfase nas
relações humanas, na dinâmica
Vejamos cada um deles: Mayoista interpessoal e grupal, na
delegação de autoridade e na
Planejamento Educacional autonomia.
Planejamento educacional é aplicar à própria educação Pragmática, racionalidade no
àquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por Neoclássica / por
processo decisório,
inculcar em seus alunos: uma abordagem racional e científica objetivos
participativo, com ênfase nos
dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos

Conhecimentos Pedagógicos 101


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

resultados e estratégia de É condição primordial do processo de planejamento


cooperação. integral da educação que, em nenhum caso, interesses
Tradição Características (do consenso / pessoais ou de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais
Funcionalista positivista / evolucionista) que vão contribuir para a dignificação do homem e para o
Cumprimento de leis e normas. desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
Visa à eficácia institucional do
Burocrático Requisitos do Planejamento Educacional
sistema. Enfatiza a dimensão
institucional ou objetiva. - Aplicação do método científico na investigação da
Enfatiza a eficiência individual realidade educativa, cultural, social e econômica do país;
de todos os que participam do - Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a
Idiossincrático curto, médio e longo prazo;
sistema, portanto, dimensão
subjetiva. - Apreciação realista das possibilidades de recursos
Clima organizacional humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das
pragmático. Visa o equilíbrio soluções propostas;
Integradora entre eficácia institucional e - Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no
eficiência individual, com ênfase desenvolvimento do planejamento;
na dimensão grupal ou holística. - Continuidade que assegure a ação sistemática para
Tradição Características (conflito / alcançar os fins propostos;
Interacionista teorias críticas e libertárias) - Coordenação dos serviços da educação, e destes com os
Ênfase nas condições estruturais demais serviços do Estado, em todos os níveis da
de natureza econômica do administração pública;
Estruturalista sistema. Enfatiza a dimensão - Avaliação periódica dos planos e adaptação constante
institucional ou objetiva. destes mesmos às novas necessidades e circunstâncias;
Orientação determinista. - Flexibilidade que permita a adaptação do plano a
Ênfase na subjetividade e na situações imprevistas ou imprevisíveis;
dimensão individual. O sistema é - Trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços
Interpretativa uma criação do ser humano. A eficazes e coordenados;
gestão é mediadora reflexiva - Formulação e apresentação do plano como iniciativa e
entre o indivíduo e o seu meio. esforço nacionais, e não como esforço de determinadas
Ênfase na dimensão grupal ou pessoas, grupos e setores”.138
holística e nos princípios de
Dialógica totalidade, contradição, práxis e Pressupostos Básicos do Planejamento Educacional
transformação do sistema - O delineamento da filosofia da educação do país,
educacional. evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade;
- A aplicação da análise - sistemática e racional - ao
Enfoques Características
processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo
Práticas normativas e legalistas /
Jurídico mais eficiente e passível de responder com maior precisão às
sistema fechado.
necessidades e objetivos da sociedade.
Predomínio dos quadros
Tecnocrático Podemos, portanto, considerar que o planejamento
técnicos / especialistas.
educacional constitui a abordagem racional e científica dos
Resgate da dimensão humana: problemas da educação, envolvendo o aprimoramento gradual
Comportamental
ênfase psicológica. de conceitos e meios de análise, visando estudar a eficiência e
Ênfase para atingir objetivos a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos
Desenvolvimentista
econômicos e sociais. aspectos.
Ênfase nos valores culturais e
Sociológico políticos, contextualizados. Planejamento Curricular
Visão interdisciplinar. Planejamento curricular é o processo de tomada de
Fonte dos dois quadros: Padilha 136
decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. É o
Objetivos do Planejamento Educacional
instrumento que orienta a educação como um processo
São objetivos do planejamento educacional, segundo
dinâmico e integrado de todos os elementos que interagem
Joanna Coaracy137:
para consecução dos objetivos, tanto os dos alunos como os da
- “relacionar o desenvolvimento do sistema educacional
escola.
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural
O Planejamento curricular, enquanto um dos níveis dos
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular;
planejamentos da educação escolar é a proposta geral das
- “estabelecer as condições necessárias para o
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares.
eficiência do sistema educacional (estrutura, administração,
Enquanto um dos níveis do planejamento na educação
financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e
escolar, o Planejamento curricular é a proposta geral das
instrumentos);
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
- alcançar maior coerência interna na determinação dos
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares
objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;
desde as séries iniciais até as finais.
- conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do
A proposta curricular pode ter como referência os
sistema”.
seguintes elementos:
- Fundamentos da disciplina;
- Área de estudo;

136 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o 138 UNESCO, Seminário Interamericano sobre planejamento integral na

projeto político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. educação. Washington. 1958.
137COARACY, Joanna. O planejamento como processo. Revista Educação, Ano

I, no. 4, Brasília, 1972.

Conhecimentos Pedagógicos 102


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- Desafios Pedagógicos; projetos às circunstâncias e exigências do meio. Considerando


- Encaminhamento Metodológico; que o ensino é o guia das situações de aprendizagem e que
- Propostas de Conteúdos; ajuda os estudantes a alcançarem os resultados desejados, a
- Processos de Avaliação. ação de planejá-lo é predominantemente importante para
incrementar a eficiência da ação a ser desencadeada no âmbito
Objetivos do Planejamento Curricular escolar.
- Ajudar aos membros da comunidade escolar a definir O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo,
seus objetivos; pode organizar três tipos de planos de ensino. Por ordem de
- Obter maior efetividade no ensino; abrangência:
- Coordenar esforços para aperfeiçoar o processo de - Plano de Curso - delinear, globalmente, toda a ação a ser
ensino e de aprendizagem; empreendida;
- Propiciar o estabelecimento de um clima estimulante - Plano de Unidade - disciplinar partes da ação pretendida
para o desenvolvimento das tarefas educativas. no plano global;
- Plano de Aula - especificar as realizações diárias para a
Requisitos do Planejamento Curricular concretização dos planos anteriores.
O planejamento curricular deve refletir os melhores meios Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à
de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo, atividade do professor e alunos, é considerado etapa
sempre, todos os elementos participantes do processo. obrigatória de todo o trabalho docente. O planejamento tende
Seus elaboradores devem estar alertas paras novas a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior
descobertas e para os novos meios postos ao alcance das segurança na consecução dos objetivos previstos, bem como
escolas. Estes devem ser minuciosamente analisados para na verificação da qualidade do ensino que está sendo
verificar sua real validade naquele âmbito escolar. Posto isso, orientado pelo mestre e pela escola.
fica evidente a necessidade dos organizadores explorarem,
aceitarem, adaptarem, enriquecerem ou mesmo rejeitarem Planejamento Escolar
tais inovações. O Planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui
O planejamento curricular é de complexa elaboração. tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua
Requer um contínuo estudo e uma constante investigação da organização e coordenação em face dos objetivos propostos,
realidade imediata e dos avanços técnicos, principalmente na quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de
área educacional. Constitui, por suas características, base vital ensino. É um processo de racionalização, organização e
do trabalho. A dinamização e integração da escola como uma coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar
célula viva da sociedade, que palmilha determinados caminhos e a problemática do contexto social.
conforme a linha filosófica adotada, é o pressuposto inerente a
sua estruturação. Planejamento global da escola é o nível do planejamento
O planejamento curricular constitui, portanto, uma tarefa que corresponde às decisões sobre a organização,
contínua a nível de escola, em função das crescentes exigências funcionamento e proposta pedagógica da escola. É o que o que
de nosso tempo e dos processos que tentam acelerar a mais requer a participação conjunta da comunidade.
aprendizagem. Será sempre um desafio a todos aqueles
envolvidos no processo educacional, para busca dos meios O Planejamento da escola, enquanto outro nível do
mais adequados à obtenção de maiores resultados. planejamento na educação escolar é o que chamamos de
“Projeto Educativo” - sendo o plano global da instituição.
Planejamento de Ensino Compõem-se de Marco Referencial, Diagnóstico e
Planejamento de ensino é o processo que envolve a programação. Envolve as dimensões pedagógicas,
atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho administrativas e comunitárias da escola.
pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações o
tempo todo. Envolve permanentemente as interações entre os O Planejamento anual da escola consiste em elaborar a
educadores e entre os próprios educandos. estratégia de ação para o prazo de um ano - conforme a
realidade específica de cada escola - tomando decisões sobre o
Objetivos do Planejamento de Ensino que, para que, como e com o que se vai fazer o trabalho na
- Racionalizar as atividades educativas; escola o período proposto levando em conta as linhas tiradas
- Assegurar um ensino efetivo e econômico; no plano global.
- Conduzir os alunos ao alcance dos objetivos;
- Verificar a marcha do processo educativo. Planejamento Participativo
O Planejamento Participativo se constitui num processo
Requisitos do Planejamento do Ensino político onde há um propósito contínuo e coletivo onde se tem
Por maior complexidade que envolva a organização da a oportunidade de discutir a construção do futuro da
escola, é indispensável ter sempre bem presente que a comunidade, na qual participe o maior número possível de
interação professor-aluno é o suporte estrutural, cuja membros de todas as categorias que a constituem. Mais do que
dinâmica concretiza ao fenômeno educativo. Portanto, o um significado técnico, o planejamento participativo é um
planejamento de ensino deve ser alicerçado neste pressuposto processo político vinculado à decisão da maioria que será em
básico. benefício da maioria.
O professor, ao planejar o trabalho, deve estar Genericamente o planejamento participativo constitui-se
familiarizado com o que pode pôr em prática, de maneira que em uma estratégia de trabalho que se caracteriza pela
possa selecionar o que é melhor, adaptando tudo isso às integração de todos os setores da atividade humana social,
necessidades e interesses de seus alunos. Na maioria das dentro de um processo global para solucionar problemas
situações, o professor dependerá de seus próprios recursos comuns.
para elaborar seus planos de trabalho. Por isso, deverá estar Planejamento de Aulas
bem informado dos requisitos técnicos para que possa O Planejamento de aula é a tomada de decisões referentes
planejar, independentemente, sem dificuldades. ao trabalho específico da sala de aula:
Ainda temos a considerar que as condições de trabalho - Temas
diferem de escola para escola, tendo sempre que adaptar seus - Conteúdos

Conhecimentos Pedagógicos 103


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- Metodologia injusta da sociedade e a falta quase total do remédio para isso,


- Recursos didáticos a participação.
- Avaliação. Ao propor que o educando seja sujeito de seu
Antes, porém de se planejar a aula propriamente dita deve desenvolvimento, está propondo a existência do grupo, da
ser executado um planejamento de curso para o ano todo. E participação e, como consequência, a conscientização que gera
este deve ser subdividido em semestre para que possa ser a transformação. Basicamente está dando ao pedagógico a
visualizado com mais clareza e objetividade. força que ele realmente pode assumir como contribuinte de
Dentro destes Planos anuais podem ser inseridas as uma transformação social ampla em proveito do homem todo
unidades temáticas, temas transversais que ocorrerão com o e de todos os homens.
desenvolvimento do Plano bimestral ou trimestral. Estes são A partir daí, a aproximação entre educação libertadora e
os marcos para que o professor e toda a equipe da escola não planejamento educacional sublinha as mesmas ideias básicas,
se percam dentro de conteúdos extensos e, deixem de de grupo, de participação, de transformação da realidade.
ministrar em cada momento a essência, o significativo para Tanto que, a partir desta dupla base de Medellín, e pensando
que o aluno possa prosseguir seu conhecimento e transformá- no que lhe é mais característico, a metodologia, pode-se definir
lo em aprendizagem. a educação libertadora assim: um grupo (sujeitos em
O centro do processo educativo não deve ser o conteúdo interação) na dinâmica de ação-reflexão, buscando a verdade
preestabelecido como se tem feito nas escolas ainda hoje. e tendendo ao crescimento pessoal e à transformação social.
Qualquer professor estaria de acordo em dizer que o centro do Projetos Educativos
processo não é o conteúdo, mas em sua prática, a grande É o primeiro grande instrumento de planejamento da ação
maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes, isso acontece educativa da escola, devendo por isso, servir
até contra a sua vontade. É que há uma cultura dentro da permanentemente de ponto de referência e orientação na
escola, junto com os pais dos alunos e em todo senso comum atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em
social, de que se vai para a Escola para memorizar alguma que a escola se insere, em prol da formação de pessoas e
informação, normalmente até consideradas inúteis até pelas cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis,
mesmas pessoas que as exigem. solidários e democraticamente comprometidos na construção
O centro do processo educativo também não pode ser o de um destino comum e de uma sociedade melhor.
aluno. Este desastre é tão conservador como centrar o Um Projeto Educativo é, segundo a definição de Costa140,
trabalho no conteúdo. E que quando centramos o processo um “documento de caráter pedagógico que, elaborado com a
educativo somente no aluno convertemos todo o processo em participação da comunidade educativa, estabelece a
um egoísmo e em um individualismo onde uns dominam os identidade da própria escola através da adequação do quadro
outros. legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo
geral de organização e os objetivos pretendidos pela
Planejamento e Educação Libertadora139 instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de
No planejamento, é fundamental a ideia de transformação referência orientador na coerência da ação educativa”.
da realidade. Isto quer dizer que uma instituição (um grupo) Isto é, um Projeto Educativo é um documento de
se transforma a si mesma tendo em vista influir na orientação pedagógica que, não podendo contrariar a
transformação da realidade global. legislação vigente, explicita os princípios, os valores, as metas
Quer dizer, também, que fez sentido falar em as estratégias através das quais a escola propõe realizar a sua
planejamento, acima e além da administração, como uma função educativa.
tarefa política, no sentido de participar na organização na Barbier141 distingue dois tipos de projeto – o projeto de
mudança das estruturas sociais existentes. Quer dizer, situação (“representações relativas ao estado final do objeto,
finalmente, que planejar não é preencher quadrinhos para dar da identidade, da situação que se procura transformar ou
status de organização séria a um setor qualquer da atividade modificar”) e o projeto do processo (“representações relativas
humana. ao processo que permite chegar a este estado final”).
Isso nos traz à educação libertadora como proposta
educacional apta a inspirar um processo de planejamento. O projeto é, por um lado, uma “antecipação” relativa a
Porque a educação libertadora é uma proposta de mudança. um estado, uma “representação antecipadora do estado
Essa educação libertadora Gandin fala que tem sua base na II final de uma realidade”, uma previsão ou prospectiva, um
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellín, objetivo ou fim a atingir, uma pequena utopia.
Colômbia, 1968).
Seu conteúdo não é um acontecimento ou objeto
Referindo-se a educação: pertencente ao ambiente atual ou passado, mas um fato
- “a que converte o educando em sujeito do seu próprio possível, uma imagem ou representação de uma possibilidade,
desenvolvimento”; uma ideia a se transformar em ato, um futuro a se “fazer”, uma
- “o meio-chave para libertar os povos de toda a escravidão possibilidade a se transformar em realidade. Sua relação é com
e para fazê-los ascender de condições de vida menos humanas um “tempo a vir”, “um futuro de que constitui uma
a condições mais humanas”. antecipação, uma visão prévia” (Barbier).
Há nisto uma dimensão pessoal e uma proposta social Por outro lado, a função do projeto não se reduz a simples
global bem claras, no texto apresentadas de forma não representação do futuro. Barbier atribui-lhe ainda um duplo
separada, mas como um posicionamento apenas. efeito – o operatório ou pragmático e o mobilizador da
Sem entrar na discussão se o termo “meio-chave” é atividade dos atores implicados.
exagerado e aceitando que a educação, mesmo a escolar, tem No entendimento de Boutinet142, o projeto implica um
uma dimensão política realizável, pode-se ver que esta dupla comprometimento com o futuro. A construção de um projeto
proposta leva em conta os dois grandes problemas da América já implica na vontade de fazê-lo acontecer. Daí, seu valor
Latina de então, que perduram ainda hoje: a organização

139 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo: 141 BARBIER, J.-M. (1993). Elaboração de projectos de acção e planificação.

Edições Loyola, 2013. Porto: Porto Editora.


140 COSTA, Adelino Jorge: "Construção de projetos educativos nas escolas: 142 BOUTINET, J. P. (1986). Le concept de projet e ses niveaux. Éducation

traços de um percurso debilmente articulado." - Revista Portuguesa de Educação, Permanente, nº 86.


Volume 17, nº 2.

Conhecimentos Pedagógicos 104


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

pragmático. O projeto não age, pois, dizer não equivale Dimensões do projeto educativo, citadas por Carvalho e
automaticamente a fazer, mas “dizer prepara o fazer”. Diogo:
O projeto expressa a representação da realização da ação, O projeto deve servir a incerteza, ter em conta o
ou seja, a imagem do resultado da ação. “No caso de uma ação indeterminado, ser capaz de infletir de direção como resultado
coletiva[...], escreve Barbier, é o projeto que fornece a de uma avaliação permanente, incorporar o conflito, mas,
representação comum que permite a realização coordenada sobretudo, devolver a cada indivíduo o seu espaço de
das operações de execução”. Na sua função mobilizadora, o criatividade e ação de modo a que ele sinta reconhecida a sua
projeto apresenta, no plano afetivo, efeitos dinamizadores da atividade, compreenda as suas ações e as possa inscrever num
atividade dos atores implicados. todo significativo.
Nossas imagens ou representações constituem um Neste sentido, o projeto educativo deve ser coletivo, mas
elemento dinamizador da mudança e, portanto, um fator de favorecendo a interação; autônomo mas não independente.
concretização do projeto. Uma tal concepção exige do projeto educativo:
- explicitação de valores comuns;
Para Vidal, Cárave e Florencio143, o projeto educativo é: - coerência de atividades;
- Um meio de adequação das intenções educativas da - busca coletiva de recursos e meios para melhorar o
sociedade às características concretas de uma escola; ensino;
- Elemento orientador do conjunto de atividades - definição de ação;
educativas de uma escola; - definição de um sentido para uma ação comum;
- Instrumento integrador das atividades educativas de uma - gestão participativa;
escola; - avaliação permanente, participada e interativa;
- Garantia de coerência e de continuidade nas diferentes - implicação do conjunto dos atores;
atuações dos membros de uma comunidade escolar; - apropriação de saberes e instrumentos de ação por parte
- Critério para avaliar e homologar os processos; dos implicados.
- Documento dinâmico para definir as estruturas e Sobre o que não deve ser e o que deve ser o projeto
estratégias organizacionais da escola; educativo de escola, Vidal, Cárave e Florencio elaboraram um
- Ponto de referência para a solução dos conflitos de quadro-síntese que ajuda a clarificar seu entendimento
convivência. adequado.

O projeto educativo traduz o engajamento da instituição Não deve ser Deve ser
escolar, suas prioridades, seus princípios. Ele define o sentido Uma exposição clara, concisa
de suas ações e fixa as orientações e os meios para colocá-las Uma enumeração
e breve das intenções
em prática. É formulado por um documento escrito que detalhada dos elementos
educativas, estruturas,
estabelece a identidade da escola (diz o que ela é), apresenta que compõem um centro:
regulamentos e organização
seus propósitos gerais (diz o que ela quer) e descreve seu planos, descrições,
curricular de uma
modelo geral de organização (diz como ela se organiza). professores, etc.
comunidade escolar.
Concebido como um projeto de longo prazo, ele visa Uma adequação daqueles
favorecer a continuidade e a coerência da ação da escola. Um manual de psicologia, princípios e estruturas
Embora não seja um documento inalterável, não deverá estar pedagogia, sociologia, de educativas que se
sujeito a profundas e constantes alterações anuais. De modo organização escolar, etc. consideram adequados para
geral, “a sua duração dependerá fundamentalmente da uma comunidade.
permanência em cada instituição das pessoas que o Um documento destinado Um documento orientador e
elaboraram e da estabilidade das suas convicções” (Costa144). ao exercício burocrático guia de todas as atividades
Para Vidal, Cárave e Florencio e para Carvalho e Diogo145, o da educação. educativas.
projeto educativo de escola é um documento de planificação Um projeto dinâmico e
da ação educativa, de amplitude integral, de duração de longo Um produto fechado,
modificável em função da
prazo e de natureza geral e estratégica. Assim, é mais amplo e acabado e inalterável.
prática educativa.
abrangente do que o projeto pedagógico e o plano de Unidade Um “empenho” pessoal de Uma criação coletiva do
Didática que são meios em relação ao projeto educativo e têm algum membro do corpo conjunto de membros da
como objeto converter as finalidades deste em ações, pois são docente ou da Associação comunidade educativa do
documentos de planificação operatória. de Pais de Alunos. centro.
O projeto educativo distingue-se também de outras Uma complicação a mais Um facilitador do trabalho
planificações escolares, como o Plano Trienal escolar, o Plano para o trabalho docente. docente.
anual de Escola, o Projeto curricular de turma e o Regimento Uma fórmula Um conjunto articulado de
interno da Escola, que estão destinados a concretizá-lo paradigmática que resolve princípios, orientações e
relativamente a aspectos mais operacionais e, portanto, têm todos os problemas do sistemas que servem de
um caráter tático, e instrumental. centro. Um regulamento marco às atividades
O projeto educativo é elaborado por toda a comunidade de funcionamento. educativas.
escolar. O projeto educativo da escola é um conjunto de opções Um projeto equilibrado,
ideológicas, políticas, antropológicas, axiológicas e Um “panfleto” que diz
produto das intenções de
pedagógicas resultantes da tensão entre o estabelecido ou coisas muito “atrevidas”
toda a comunidade
imposto pelo Estado (projeto vertical), a prática implícita sobre a educação.
educativa.
interna à escola (projeto ritual) e a postura utópica ou
Um projeto resultante da
intencional da comunidade escolar (projeto intencional). Um documento que só
tensão entre o estabelecido
expressa o que se quer
(imposto), a prática implícita
que se conheça.
(ritual) e o intencional.

143VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. (1992). Madrid: Editorial EOS. 145 CARVALHO, A. E DIOGO, F. (1994). Projecto educativo. Porto: Edições
144 COSTA, J. A. (1992). Gestão escolar: Participação, autonomia, projecto Afrontamento.
educativo da escola. Lisboa: Texto Editora.

Conhecimentos Pedagógicos 105


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Em suma, concebendo-se como uma adaptação do “projeto 03. (SEDF - Professor de Educação Básica - CESPE/2017)
educacional” do país (leis e diretrizes curriculares) ao nível Com relação a planejamento pedagógico,
específico local, como uma programação geral da escola e transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico,
como um instrumento de autonomia didático-pedagógica e julgue o item que se segue.
organizativa da escola, o projeto educativo da escola se
caracteriza por quatro categorias metodológicas (Baldacci146): Os únicos níveis de organização da prática educativa que
- a intencionalidade; influenciam no planejamento docente são o planejamento do
- a contextualização; professor e o planejamento escolar, que devem ser articulados.
- a metodicidade; e ( ) Certo ( ) Errado
- a flexibilidade.
04. (IFB - Professor Pedagogia - IFB/2017) Em relação
Pela intencionalidade, o projeto educativo estabelece aos aspectos do planejamento, assinale a opção que contenha
direção e metas precisas e explícitas, evitando a ação educativa a CORRETA sequência hierárquica do mais amplo ao mais
casual e extemporânea. restrito, em relação ao planejamento:
A contextualização representa a adaptação do projeto (A) planejamento escolar; planejamento educacional;
educacional do país à realidade sociocultural concreta de uma planejamento de ensino; planejamento curricular;
escola. A intencionalidade passa a ser “historicizada”, ou seja, (B) planejamento curricular; planejamento educacional;
contextualizada num ambiente de referência específico, o que planejamento escolar; planejamento de ensino;
permite a passagem de um projeto abstrato para um projeto (C) planejamento de ensino; planejamento curricular;
concreto. planejamento escolar; planejamento educacional;
A metodicidade valoriza o princípio de sistematicidade e (D) planejamento de ensino; planejamento educacional;
organicidade no processo didático, mesmo reconhecendo as planejamento curricular planejamento escolar;
diferenças de estilo de aprender e ensinar de alunos e (E) planejamento educacional; planejamento escolar;
professores, respectivamente. planejamento curricular; planejamento de ensino.
Finalmente, a flexibilidade assegura que o projeto
educativo seja tratado como uma mera hipótese de trabalho e 05. (SEDF - Professor de Educação Básica -
por isso está sujeito a retificações e revisões ao longo de sua Quadrix/2017) Quanto ao planejamento e à organização do
implementação. trabalho pedagógico, julgue o item subsecutivo.
No processo de planejamento e organização do trabalho
PPP – Projeto Político Pedagógico pedagógico, as ações estão circunstanciadas no âmbito dos
O PPP nasce da necessidade de organização do trabalho vários elementos que compõem o universo escolar, devendo
pedagógico para os alunos, a escola é o lugar de concepção, ser dada importância máxima àquelas circunscritas à prática
realização e avaliação dessa ação. Será um elo entre a escola e pedagógica do professor e à sua formação.
a comunidade escolar, bem como com o sistema de ensino que ( ) Certo ( ) Errado
a compõe. Essa construção faz emergir a necessidade de
responsabilização de diversos atores na prática social. Respostas
É projeto porque significa lançar para diante. “Todo 01. Certo. / 02. Errado. / 03. Errado. / 04. E. / 05.
projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o Errado
futuro” (Gadotti).
É político, pois “a dimensão política se cumpre na medida
em que ela se realiza enquanto prática especificamente
pedagógica" (Saviani). A avaliação diagnóstica ou
É pedagógico porque traz a possibilidade de efetivação da formadora e os processos de
intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão
participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo.
ensino e de aprendizagem.
A partir de ações educativas. (Ilma Veiga)

Questões A avaliação147, tal como concebida e vivenciada na maioria


das escolas brasileiras, tem se constituído no principal
01. (ANAC – Analista Administrativo - CESPE) No tocante mecanismo de sustentação da lógica de organização do
a conceitos e dimensões de planejamento, objetivos de ensino trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso,
e avaliação no processo educativo, julgue o item subsecutivo. ocupando mesmo o papel central nas relações que
O planejamento educacional tem como pressuposto a estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e
análise da eficiência do sistema educacional e tem como pais.
requisito a continuidade da ação sistemática para alcançar os Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço
fins propostos. relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao
( ) Certo ( ) Errado processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto,
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; não
02. (SEDF - Professor de Educação Básica - CESPE/2017) é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de
Com relação a planejamento pedagógico, avanço ou retenção em determinadas disciplinas.
transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico, Para Oliveira148, devem representar as avaliações aqueles
julgue o item que se segue. instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado
Os elementos constituintes, os objetivos e os conteúdos de efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que
um planejamento devem, obrigatoriamente, estar interligados, forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o
mas as estratégias, não, pois estas são flexíveis. esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem
( ) Certo ( ) Errado de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o

146 BALDACCI, M. (1996). La scuola dell´autonomia: Il Progetto educativo 148 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipação.

d´Istituto. Bari: Maria Adda Edittore. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.


147 Texto adaptado de KRAEMER, M. E. P.

Conhecimentos Pedagógicos 106


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

mais pertinente método didático adequado à disciplina – mas técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispensáveis
não somente -, à medida que consideram, igualmente, o na classificação de alunos para se determinar seu progresso.
contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as 2 – Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor
condições individuais do aluno, sempre que possível. entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de estudiosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as aluno.
ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por
constantes. parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo
necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade com
Origem da avaliação relação aos objetivos estabelecidos.
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor Neste sentido o avaliador estava muito mais concentrado
e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase que surgiu o
juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a termo “avaliação educacional”.
aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão 3 – Julgamento – a terceira geração questionava os testes
do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem tem padronizados e o reducionismo da noção simplista de
sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocupação
de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos maior o julgamento.
alunos. Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz,
A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e incorporando, contudo, o que se havia preservado de
características no campo da Psicologia, sendo que as duas fundamental das gerações anteriores, em termos de
primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo mensuração e descrição.
desenvolvimento de testes padronizados para medir as Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do
habilidades e aptidões dos alunos. processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever,
A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do
meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e objeto, inclusive sobre os próprios objetivos.
independente face à classificação. De âmbito mais vasto e 4 – Negociação – nesta geração, a avaliação é um processo
conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma
indispensável em qualquer sistema escolar. construtivista. Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de
Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem, enfocar e um modo construtivista de fazer.
um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de A avaliação é responsiva porque, diferentemente das
chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto alternativas anteriores que partem inicialmente de
está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não variáveis, objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e
saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio desenvolve a partir de preocupações, proposições ou
errado. controvérsias em relação ao objetivo da avaliação, seja ele
É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada um programa, projeto, curso ou outro foco de atenção. Ela
um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é é construtivista em substituição ao modelo científico, que
necessária a professores e alunos. tem caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais
A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou prestigiadas neste século.
aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de
ensino já atingiram num determinado ponto de percurso e que acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo
dificuldades estão a revelar relativamente a outros. pedagógico, informações que permitam aos agentes escolares
Esta informação é necessária ao professor para procurar decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se
meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver fizerem necessários em face do projeto educativo, definido
essas dificuldades e é necessária aos alunos para se coletivamente, e comprometido com a garantia da
aperceberem delas (não podem os alunos identificar aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um
claramente as suas próprias dificuldades num campo que instrumento referencial e de apoio às definições de natureza
desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por
professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem meio de relações partilhadas e cooperativas.
uma intenção formativa.
A avaliação proporciona também o apoio a um processo a Funções do processo avaliativo
decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação
resultados de aprendizagem. e de apreciação.
Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo
As avaliações a que o professor procede enquadram-se com Miras e Solé150, contemplada pela avaliação diagnóstica
em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e (ou inicial), é a que proporciona informações acerca das
somativa. capacidades do aluno antes de iniciar um processo de
ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e
Evolução da avaliação Madaus, busca a determinação da presença ou ausência de
A partir do início do século XX, a avaliação vem habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das
atravessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.
Lincoln149 são elas: mensuração, descritiva, julgamento e A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do
negociação. aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e
1 – Mensuração – não distinguia avaliação e medida. Nessa a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no
fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de
instrumentos ou testes para verificação do rendimento resolver situações presentes.
escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente

149 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Avaliação Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994. Artes Médicas, 1996.
150 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo

de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A.

Conhecimentos Pedagógicos 107


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Função formativa - A segunda função á a avaliação Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente
formativa que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos e indissociável enquanto concebida como problematização,
estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando questionamento, reflexão, sobre a ação.
a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz
efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das necessária para que possamos refletir, questionar e
atividades propostas. transformar nossas ações.
Representa o principal meio através do qual o estudante O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada
passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam
para um estudo sistemático dos conteúdos. como forma de controle e de autoritarismo por diversas
Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o
avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de
professor, principalmente através de mecanismos de auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem.
feedback. A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a
Estes mecanismos permitem que o professor detecte e concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos
identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, na
reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo. tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional
Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa de avaliação com uma mais adequada a objetivos
informar o professor e o aluno sobre o rendimento da contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua
aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a adoção.
localização das deficiências na organização do ensino para
possibilitar correção e recuperação. Tabela 1 – Comparação entre a concepção tradicional de
A avaliação formativa pretende determinar a posição do avaliação com uma mais adequada
aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de Modelo tradicional de
Modelo adequado
identificar dificuldades e de lhes dar solução. avaliação
Função somativa – Tem como objetivo, segundo Miras e Foco na promoção – o alvo
Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de Foco na aprendizagem - o
dos alunos é a promoção. Nas
aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que, alvo do aluno deve ser a
primeiras aulas, se discutem
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade aprendizagem e o que de
as regras e os modos pelos
da aprendizagem realizada. proveitoso e prazeroso dela
quais as notas serão obtidas
Pode ser chamada também de função creditativa. Também obtém.
para a promoção de uma
tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período série para outra.
de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento. Implicação - neste contexto,
a avaliação deve ser um
Implicação – as notas vão
A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso auxílio para se saber quais
sendo observadas e
realizado pelo aluno no final de uma unidade de objetivos foram atingidos,
registradas. Não importa
aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos quais ainda faltam e quais as
como elas foram obtidas, nem
por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que interferências do professor
por qual processo o aluno
permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a que podem ajudar o aluno.
passou.
um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a Foco nas provas - são
um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos utilizadas como objeto de
parcelares. pressão psicológica, sob
pretexto de serem um Foco nas competências - o
Objetivos da avaliação 'elemento motivador da desenvolvimento das
Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são aprendizagem', seguindo competências previstas no
traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um ainda a sugestão de projeto educacional devem
juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um Comenius em sua Didática ser a meta em comum dos
objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de Magna criada no século XVII. professores.
informações úteis para tomar alguma decisão”. É comum ver professores
Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento utilizando ameaças como Implicação - a avaliação
maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para "Estudem! Caso contrário, deixa de ser somente um
este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação, vocês poderão se dar mal no objeto de certificação da
julgamento ou valorização do que o educando revelou ter dia da prova!" ou "Fiquem consecução de objetivos, mas
aprendido durante um período de estudo ou de quietos! Prestem atenção! O também se torna necessária
desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem. dia da prova vem aí e vocês como instrumento de
Para outros autores, a avaliação pode ser considerada verão o que vai acontecer..." diagnóstico e
como um método de adquirir e processar evidências acompanhamento do
necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem, Implicação - as provas são processo de aprendizagem.
incluindo uma grande variedade de evidências que vão além utilizadas como um fator Neste ponto, modelos que
do exame usual de ‘papel e lápis’. negativo de motivação. Os indicam passos para a
É ainda um auxílio para classificar os objetivos alunos estudam pela ameaça progressão na aprendizagem,
significativos e as metas educacionais, um processo para da prova, não pelo que a como a Taxionomia dos
determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo aprendizagem pode lhes Objetivos Educacionais de
dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade, trazer de proveitoso e Benjamin Bloom, auxiliam
pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo prazeroso. Estimula o muito a prática da avaliação e
ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em desenvolvimento da a orientação dos alunos.
caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir sua submissão e de hábitos de
efetividade. comportamento físico tenso
(estresse).
Modelo tradicional de avaliação x modelo mais
adequado

Conhecimentos Pedagógicos 108


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Estabelecimentos de ensino Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido


Os estabelecimentos de
centrados na qualidade - os pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se
ensino estão centrados nos
estabelecimentos de ensino uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e
resultados das provas e
devem preocupar-se com o da dinâmica da aprendizagem.
exames - eles se preocupam
presente e o futuro do aluno, Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função
com as notas que
especialmente com relação à diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do
demonstram o quadro global
sua inclusão social processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua
dos alunos, para a promoção
(percepção do mundo, característica pragmática, a fragmentação e a burocratização
ou reprovação.
criatividade, acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do
empregabilidade, interação, processo.
Implicação - o processo
posicionamento, criticidade).
educativo permanece oculto.
Os dados registrados são formais e não representam a
A leitura das médias tende a
Implicação - o foco da escola realidade da aprendizagem, embora apresentem
ser ingênua (não se buscam
passa a ser o resultado de seu consequências importantes para a vida pessoal dos alunos,
os reais motivos para
ensino para o aluno e não para a organização da instituição escolar e para a
discrepâncias em
mais a média do aluno na profissionalização do professor.
determinadas disciplinas).
escola. Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia
O sistema social se revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse
contenta com as notas - as instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de
notas são suficientes para os dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação
quadros estatísticos. prescrita com os resultados.
Resultados dentro da Sistema social preocupado A isenção advinda da necessidade de analisar a
normalidade são bem vistos, com o futuro - Já alertava o aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a
não importando a qualidade e ex-ministro da Educação, constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o
os parâmetros para sua Cristóvam Buarque: "Para professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais
obtenção (salvo nos casos de saber como será um país como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real,
exames como o ENEM que, de daqui há 20 anos, é preciso principalmente discutida coletivamente.
certa forma, avaliam e olhar como está sua escola
"certificam" os diferentes pública no presente". Esse é No entanto, a prática das instituições não encontrou uma
grupos de práticas um sinal de que a sociedade forma de agir que tornasse possível essa isenção: as
educacionais e já começa a se preocupar com prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos
estabelecimentos de ensino). o distanciamento educacional impedem as observações.
do Brasil com o dos demais A consequência mais grave é que essa arrogância não
Implicação - não há garantia países. É esse o caminho para permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e
sobre a qualidade, somente revertermos o quadro de uma aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da
os resultados interessam, educação "domesticadora" aprendizagem.
mas estes são relativos. para "humanizadora". O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos
Sistemas educacionais que ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias
rompem com esse tipo de Implicação - valorização da há décadas, desde que as teorias da educação escolar
procedimento tornam-se educação de resultados recolocaram a questão no âmbito da cognição.
incompatíveis com os demais, efetivos para o indivíduo. Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para
são marginalizados e, por uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de
isso, automaticamente realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da
pressionados a agir da forma aprendizagem.
tradicional.
Avaliação da aprendizagem151
Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a
avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode
no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti, ao ser compreendida em função de determinada concepção de
dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e conhecimento – algo que a filosofia compreende como base ou
esta deverá contribuir no processo de construção do caráter, da matriz epistemológica. A partir de tais concepções, podem ser
consciência e da cidadania, passando pela produção do focalizadas três possibilidades de definição de aprendizagem:
conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo
em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja “Aprendizagem é mudança de comportamento
preparado para transformá-lo. resultante do treino ou da experiência”

A avaliação da aprendizagem como processo Esta seria a definição mais impregnada e dominante no
construtivo de um novo fazer campo psicológico e pedagógico e, certamente, a mais
O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda resistente às proposições alternativas. Funda-se na concepção
não está refletido na avaliação. Para Wachowicz & empirista formulada por Locke e Hume. Realimenta-se do
Romanowski, embora historicamente a questão tenha positivismo de Comte, com seus ideais de objetividade
evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais científica, ao final do século XIX e se encarna como corrente
comum na maioria das instituições de ensino ainda é um behaviorista, comportamentista ou de estímulo–resposta, no
registro em forma de nota, procedimento este que não tem as início do século XX. Valoriza o polo do objeto e não o do sujeito,
condições necessárias para revelar o processo de marcando a influência do meio ou do ambiente através de
aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos estímulos, sensações e associações. Reserva ao sujeito o papel
resultados. de receptáculo e reprodutor de informações, através de
modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e

151 http://crv.educacao.mg.gov.br/

Conhecimentos Pedagógicos 109


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não-
com motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem aprendizagem seria resultante da ausência de congruência
e ensino têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira entre os sistemas envolvidos nos processos de ensino-
é considerada decorrência linear do segundo (em outros aprendizagem.
termos: se algo foi ensinado, dentro de contingências 2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus
ambientais adequadas, certamente foi apreendido...). Na colaboradores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a
perspectiva pedagógica, essa concepção encontra plena articulação fortemente estabelecida entre aprendizagem e
afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e bancárias – desenvolvimento, sendo a primeiro motor do segundo, no
metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia de sentido que apresenta potência para projeta-lo até
passividade do sujeito, depositário de informações, conforme patamares mais avançados. Esta potência da
a lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação. aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de
desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento
“Aprendizagem é apreensão de configurações proximal”: a primeira referindo-se às competências ou
perceptuais através de insights”. domínios já instalados (no campo conceitual,
procedimental ou atitudinal, por exemplo) e a segunda
Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando entendida como campo aberto de possibilidades, em
em torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou transição ou em vias de se consolidar, a partir de
meio. Funda-se em uma base filosófica de natureza intervenções ou mediações de outros – professores ou pares
racionalista ou apriorista, que percebe o conhecimento como mais experientes ou competentes em determinada área,
resultante de estruturas pré-formadas, de variáveis biológicas tarefa ou função.153
ou maturacionais e de organização perceptual de situações
imediatas. A escola psicológica alemã conhecida como Gestalt, Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino-
responsável no início do século XX, por estudos na vertente da aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de
percepção, constitui umas das expressões mais fortes dessa outras concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio
posição, tendo deixado um legado mais associado ao estudo da privilegiado para as mediações em direito a patamares
“boa forma” ou das condições capazes de propiciar soluções de conceituais mais elevados.
problemas por discernimento súbito (insight), em função de Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere
relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste a aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa
modelo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu realidade educacional: um processo marcado por
estatuto de autossuficiência e autorregulação, reducionismo contradições, conflitos, rupturas e, até mesmo, regressões –
que permanece recusando a relação ensino-aprendizagem e se necessitando, por isso mesmo, de mediações que assegurem o
fixando em apenas um de seus polos. espaço do reconhecimento das práticas sociais dos alunos, de
seus conhecimentos prévios, dos significados e sentidos
“Aprendizagem é organização de conhecimentos como pertinentes às situações de aprendizagem de cada sujeito
estruturas, ou rede construídas a partir das interações singular e de suas dimensões compartilhadas.
entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais” As abordagens contemporâneas da Psicologia da
Aprendizagem e dos estudos sobre reorientações curriculares
Esta seria uma concepção de base construtivista ou apoiam-se nessas categorias para a necessária reorientação
interacionista, comprometida com a superação dos das estratégias de aprendizagem.
reducionismos anteriores (experiência advinda dos objetos X Um enfoque superficial: centrado em estratégias
pré-formação de estruturas) e identificada com modelos mais mnemônicas ou de memorização (reprodutoras em
abertos, fundados nas ideias de gênese ou processo. contingências de provas ou exames) ou centrado em
Por esta razão, suas principais vertentes podem ser passividade, isolamento, ausência de reflexão sobre
identificadas como “psicogenéticas” e são representadas pela propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação e no
Epistemologia Genética Piagetiana e pela abordagem sócio- acúmulo de elementos;
histórica dos psicólogos soviéticos (Vygotsky, Luria e Um enfoque profundo: centrado na intenção de
Leontierv, em especial). compreender, na relação das novas ideias e conceitos com o
conhecimento anterior, na relação dos conceitos como
Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas experiência cotidiana, nos componentes significativos dos
vertentes: conteúdos, nas inter-relações e nas condições de
1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se transcendência em relação às situações e aprendizagens do
identifica com adaptação ou equilibração à medida que momento.
supõe a “passagem de um estado de menor conhecimento a As questões mais relevantes, a partir dessas distinções
um estado de conhecimento mais avançado” ou “uma seriam: Por que um aluno se dirige para um outro tipo de
construção sucessiva com elaborações constantes de aprendizagem? O que faz com que mostre maior ou menor
estruturas novas, rumo a equilibrações majorantes”152 disposição para a realização de aprendizagens significativas?
(O motor para tais processos de adaptação e equilibração Por que não aprende em determinadas circunstâncias? Por
seria o conflito cognitivo diante de novos desafios ou que alunos modificam seu enfoque em função da tarefa ou da
necessidades de aprendizagem, em esforços complementares mudança de estratégias dos professores? Quais os fatores de
de assimilação (polo do sujeito responsável por incorporações mediação capazes de produzir novos patamares motivacionais
de elementos do mundo exterior) e acomodação (polo e novas zonas de aprendizagem e competência?
modificado do estado anterior do sujeito em função das atuais Tais questões sinalizam para um projeto educativo
demandas apresentadas pelo objeto de conhecimento). Essa comprometido com novas práticas e relações pedagógicas,
posição sugere a importância de que o meio de aprendizagem uma lógica a serviço das aprendizagens e da Avaliação
seja alargado e pleno de significado, para que se chegue a uma Formativa, uma concepção construtiva e propositiva sobre
congruência entre a parte do sujeito e as pressões externas, erros e correção dos mesmos, uma articulação entre
entre autorregulações e regulações externas, entre sistemas

152 PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad. 153 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins

Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993. Fontes,1984.

Conhecimentos Pedagógicos 110


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressignifiquem o ato para aprendizagem dos alunos. A sua formulação exige rigor
de aprender. técnico e deve estar de acordo com os conteúdos
desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar. A dimensão
Definindo os tipos de avaliação diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de avaliação.
- Avaliação classificatória
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação - Avaliação de conteúdos
vinculada à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível Dimensão Conceitual: A dimensão conceitual do
aferir, matemática, e objetivamente, as aprendizagens conhecimento implica que a pessoa esteja estabelecendo
escolares. A noção de medida supõe a existência de padrões de relações entre fatos para compreendê-los. Os fatos e dados,
rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o segundo COLL, estão num extremo de um contínuo de
desempenho de um aluno será avaliado e hierarquizado. A aprendizagem e a retenção da informação simples, a
Avaliação Classificatória é realizada através de variadas aprendizagem de natureza mnemônica ou “memorística”. São
atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos, informações curtas sobre os fenômenos da vida, da natureza,
trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é da sociedade, que dão uma primeira informação objetiva sobre
estabelecer uma classificação do aluno para fins de o que é, quem fez, quando fez, o que foi. Os conceitos estão no
aprovação ou reprovação. outro extremo (desse contínuo da aprendizagem) e envolvem
A centralidade da aprovação/reprovação na cultura a compreensão e o estabelecimento de relações. Traduzem um
escolar impõe algumas considerações importantes em torno entendimento do porquê daquele fenômeno ser assim como é.
da nota e da ideia de avaliação como medida dos desempenhos As crianças, para aprenderem fatos, apenas os
do aluno. Para se medir objetivamente um fenômeno, é preciso memorizam. Esquecem mais rápido. Para aprenderem
definir uma unidade de medida. Sua operacionalização se dá conceitos precisam estabelecer conexões mais complexas, de
através de um instrumento. No caso da avaliação escolar, este aprendizagem significativa, identificada por autores como os
instrumento é produzido, aplicado e corrigido pelo professor, citados acima. Quando elas constroem os conceitos, os fatos
que acaba sendo, ele próprio, um instrumento de medição do vão tomando outras dimensões, informando o conceito. É
desempenho do aluno, uma vez que é ele quem atribui o valor como se os fatos começassem a ser ordenados, atribuindo
ao trabalho. Portanto, o critério de objetividade, implícito na sentido ao que se tenta entender.
ideia de avaliação como medida, perde sua confiabilidade, já Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância
que o professor é um ser humano e, como tal, impossibilitado da concepção empirista de ensino como transmissão, a
de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de mundo, as memorização era o referencial mais comum para a avaliação.
preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os afetos Nesse sentido, os instrumentos e momentos de avaliação
e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presentes traziam a característica de um espaço em que as pessoas
nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de tentavam recuperar um dado de sua memória. Um meio e
inúmeras pesquisas que apontam desacordos consideráveis realizar essa atividade por evocação (pergunta direta, com
na atribuição de valor a um mesmo trabalho ou exame resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, quando lhe
corrigido por diferentes professores. E esse valor, geralmente oferecemos pistas e apresentamos alternativas para as
registrado de forma numérica, é a referência para a respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação
classificação do aluno e o julgamento do professor ou da escola foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos
quanto à sua aprovação/reprovação. fatos nas memórias. Essa redução do entendimento do que é
No contexto escolar, e no imaginário social também, o avaliar vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos
significado da nota e sua identificação com a própria avaliação conteúdos, principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e
tornaram-se tão fortes que num dos argumentos para a sua a avaliação de conceitos. A construção conceitual demanda
manutenção costuma ser o de que, sem ela, acabou-se a compreensão e estabelecimento de relações, sendo, portanto,
avaliação e o interesse ou a motivação do aluno pelos estudos. mais complexa para ser avaliada.
Estes argumentos refletem, por um lado, a distorção da função Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação,
avaliativa na escola, que não deve confundir-se com a cada escola e cada professor precisam analisar seu alcance.
atribuição de notas: a avaliação deve servir à orientação das Pedir ao aluno que defina um significado (técnica muito
aprendizagens. Por outro lado, revelam uma compreensão do comum nas escolas), nem sempre proporciona boa medida
desempenho do aluno como decorrente exclusivamente de sua para avaliação, é uma técnica com desvantagens, pois pode
responsabilidade ou competência individual. Daí o fato da induzir a falsos erros e falsos acertos. É uma técnica que exige
avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação ou um critério de correção muito minucioso. Ele ainda propõe
punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os que, se a opção for por usar essa técnica, que se valide mais o
privilégios são justificados com base nas diferenças e que o aluno expuser com as próprias palavras do que uma
desigualdades entre os alunos. Fundamentada na meritocracia reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, o
(a ideia de que a posição dos indivíduos na sociedade é reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na
consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória armadilha da mera reprodução de uma definição previamente
passa a servir à discriminação e à injustiça social. estabelecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o
Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de que coloca esse tipo de instrumento e questão na condição de
verificação da aprendizagem. O termo verificar tem origem na insuficiente para conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra
expressão latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte- possibilidade é a da exposição temática na qual o aluno debate
se do princípio de que existe um conhecimento – uma verdade sobre um tema incluindo comparações, estabelecendo
– que dever ser assimilado pelo aluno. A avaliação consistiria relações.
na aferição do grau de aproximação entre as aprendizagens do É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não
aluno e essa verdade. está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim
Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com
qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo isso, a necessidade de se trabalhar com questões abertas.
do programa. É a partir dessa escala que os alunos serão Outra técnica, - a identificação e categorização de exemplos –
classificados, tendo em vista seu rendimento nos instrumentos por evocação (aberta) ou reconhecimento (fechada),
de avaliação, ou seja, o total de pontos adquiridos. De um modo possibilita ao professor conhecer como o aluno está
geral, as provas e os testes são os instrumentos mais utilizados entendendo aquele conceito. Na técnica de reconhecimento o
pelo professor para medir o alcance dos objetivos traçados aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a

Conhecimentos Pedagógicos 111


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza
como a prova objetiva. do planejamento das atividades de sala de aula.
Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem
conceitos seria a técnica de aplicação à solução de problemas, de atitudes são a observação e autoavaliação.
deveriam ser situações abertas, nas quais os alunos fariam Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos,
exposição da compreensão que têm do conceito, tentando procedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o
responder à situação apresentada. Nesse caso, o instrumento momento da avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico
mais adequado seria uma prova operatória, é importante, no que ajudará aos professores e alunos conhecerem o processo
caso da avaliação de conceitos, resgatar sempre os de aprendizagem. O professor deve diversificar os
conhecimentos prévios dos alunos, para analisar o que estiver instrumentos para cobrir toda a tipologia dos conhecimentos:
sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação inicial, o provas, trabalhos e observação, para avaliar fatos e conceitos,
momento inicial da aprendizagem. A avaliação de observação para concluir na avaliação da construção
aprendizagem de conceitos remete o professor, portanto, a conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de
instituir também a observação como uma técnica de procedimentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes
levantamento de dados sobre a aprendizagem dos alunos, e conceitos.
ampliando as informações sobre o que o aluno está sabendo Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial
para além dos momentos formais de avaliação, como em todo o processo de aprendizagem, usando a prática de
momentos de provas ou outros instrumentos de verificação. datar o que está sendo registrado e propiciando ao próprio
aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um conteúdo
- Dimensão Procedimental novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele.
A dimensão procedimental do conhecimento implica no
saber fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal
procedimental. O aluno precisa saber observar, saber ler, Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada
saber registrar, saber procurar dados em várias fontes, saber conteúdo que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode
analisar e concluir a partir dos dados levantados. Nesse caso, fazer uma avaliação do que realmente pode ser considerado
são procedimentos que precisam ser desenvolvidos. Muitas aprendido.
vezes o aluno está com uma dificuldade procedimental e não Como são os alunos individualmente em grupos?
conceitual e, dependendo do instrumento usado, o professor Que grupos sociais representam?
não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a superá-la, Como se comportam e se vestem?
por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros O que apreciam?
exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento: Quais seus interesses?
saber fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um O que valorizam?
texto dissertativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o O que fazem quando não estão na escola?
professor acompanhe de perto essa aprendizagem. O melhor Como suas famílias vivem?
instrumento para isso é a observação sistemática – um O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram?
conjunto de ações que permitem ao professor conhecer até Como se organiza o espaço que compartilham fora da
que ponto seus alunos estão sabendo: dialogar, debater, escola?
trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfica, Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores,
orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades sua adesão/rejeição às normas, suas atitudes?
abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o
aluno transfere o conteúdo para a prática. Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes
importantes para a formação dos alunos na adolescência. Para
- Dimensão Atitudinal mudança de atitudes é que são feitos os projetos.
A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que - Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às
indicará os valores em construção. É mais difícil de ser pessoas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a
trabalhada porque não se desliga da formação mais ampla em solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos
outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus outros...
componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos - Atitudes são tendências relativamente estáveis das
(sentimentos e preferências) e condutais (ações e declaração pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o
de intenção). Manifesta-se mais através do comportamento grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas
referenciado em crenças e normas. Por isso, precisa ser escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados...
amplamente entendida à luz dos valores que a escola - Normas são padrões ou regras de comportamentos que a
considera formadores. A aquisição de valores é alcançada pessoas devem seguir em determinadas situações sociais.
através do desenvolvimento de atitudes de acordo com esse
sistema de valores. Depende de uma autopersuasão que está Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão
sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as dados para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação
pessoas têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em Formativa: a serviço das aprendizagens.
relação ao mundo. As atitudes e valores envolvem também as Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma
normas. reprodutiva: não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de
Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às um estado ou país, data de acontecimentos, tabela de símbolos
pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a químicos. Correspondem a uma informação verbal literal
solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos como vocabulários, nomes ou informação numérica que não
outros. Atitudes são tendências relativamente estáveis das envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso se usa a
pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o repetição, buscando mesmo a automatização da informação.
grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas Esse processo de repetição não se adequa à construção
escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados. conceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um
Normas são padrões ou regras de comportamentos que as conceito, quando o explica com suas próprias palavras. É
pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse
Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos caso, eles estão num início de processo de compreensão do
conceito. Precisam trabalhar mais a situação, o que vai ajudá-

Conhecimentos Pedagógicos 112


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

los a entender melhor, até saberem explicar com as suas educativas. Caracterizando-se como uma prática voltada para
palavras. Esse processo de construção conceitual não é o acompanhamento dos processos dos alunos, este tipo de
estanque, ele está em permanente movimento entre o conceito avaliação não comporta registros de natureza quantitativa
espontâneo, construído nas representações sociais e o (notas ou mesmo conceitos), já que estes são insuficientes para
conceito científico. revelar tais processos. Tampouco pode-se pensar, a partir
Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de desta concepção, na manutenção da aprovação/reprovação.
abstração, subjacentes, à organização conceitual de uma área, Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo
nem sempre explícitos. Atravessam todos os conteúdos das classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e
matérias, devendo ser o objetivo maior da aprendizagem na compreender os seus processos, e promover ações que os
educação básica. Eles orientam a compreensão de noções ajudem a avançar no seu desenvolvimento, nas suas
básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos aprendizagens. Sendo assim, a avaliação a serviço das
como sociedade e cultura são princípios das áreas de humanas, aprendizagens desmistifica a ideia de seleção que está
eles devem referenciar o trabalho nos conceitos específicos. implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma
Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos avaliação que procura administrar, de forma contínua, a
como o de migração, democracia, crescimento populacional, progressão dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão
estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que referenciará o Continuada.
trabalho do professor, será muito importante uma revisão A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de
conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será regulação da ação pedagógica. Sua função é permitir ao
preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos professor identificar os progressos e as dificuldades dos
como objetos de conhecimento. alunos para dar continuidade ao processo, fazendo as
mediações necessárias para que as aprendizagens aconteçam.
- Avaliação formativa Inicialmente, é fundamental conhecer a situação do aluno, o
Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas as
teorias que postulam o caráter diferenciado e singular dos intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial,
processos de formação humana, que é constituída por organiza-se o planejamento do trabalho, de forma
dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural, suficientemente flexível para incorporar, ao longo do
social, simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A processo, as adequações que se fizerem necessárias. Ao
aprendizagem é uma atividade que se insere no processo mesmo tempo, o uso de variados instrumentos e
global de formação humana, envolvendo o procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor
desenvolvimento, a socialização, a construção da compreender o processo do aluno para estabelecer novas
identidade e da subjetividade. propostas de ação.
Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries
Aprendizagem e formação humana são processos de finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos
natureza social e cultural. É nas interações que estabelece com professores. Agrupamentos de professores responsáveis por
seu meio que o ser humano vai se apropriando dos sistemas um determinado número de turmas facilita o planejamento, o
simbólicos, das práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses desenvolvimento das atividades, a relação pessoal com os
processos têm uma base orgânica, mas se efetivam na vida alunos e o trabalho coletivo.
social e cultural, e é através deles que o ser humano elabora Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com
formas de conceber e de se relacionar com o mundo físico e 5 turmas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas,
social. Esses estudos sobre a formação humana e a visando favorecer o trabalho voltado para determinado
aprendizagem trazem implicações profundas para a educação período de formação humana (infância, adolescência, etc.).
e destacam a importância do papel do professor como Este tipo de organização tende a romper com a fragmentação
mediador do processo de construção de conhecimento dos do trabalho pedagógico, facilitando a interdisciplinaridade e o
alunos. Sua ação pedagógica deve estar voltada para a desenvolvimento de uma Avaliação Formativa.
compreensão dos processos sociocognitivos dos alunos e a Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de
busca de uma articulação entre os diversos fatores que aprendizagem dos alunos, um dos aspectos importantes da
constituem esses processos – o desenvolvimento psíquico do ação docente deve ser a organização de atividades cujo nível
aluno, suas experiências sociais, suas vivências culturais, sua de abordagem seja diferenciado. Isso significa criar situações,
história de vida – e as intenções educativas que pretende levar apresentar problemas ou perguntas e propor atividades que
a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-se numa prática demandem diferentes níveis de raciocínio e de realização. A
que permite ao professor aproximar-se dos processos de diversificação das tarefas deve também possibilitar aos alunos
aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno está que realizem escolhas. As atividades devem oferecer graus
elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os variados de compreensão, diferentes níveis de utilização dos
fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao
entender o significado do desempenho: como o aluno conhecimento.
compreendeu o problema apresentado? Que tipo de Outro movimento importante rumo a uma Avaliação
elaboração fez para chegar a determinada resposta? Que Formativa deve acontecer na organização dos tempos e
dificuldades encontrou? Como tentou resolvê-las? espaços escolares. Os tempos de aula (50min, 1h, etc.) os
Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser recortes de cada disciplina, os bimestres, os semestres, as
tomado como uma evidência ou uma dificuldade de séries, os níveis de ensino são formas de estruturar o tempo
aprendizagem. E cabe ao professor interpretar o significado escolar que têm como fundamento a lógica da organização dos
desse desempenho. Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a conteúdos. Os processos de aprender e de construir
serviço das aprendizagens, da forma dos alunos. Trata-se, conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma lógica. A
portanto, de uma avaliação que tem como finalidade não o organização escolar por ciclos é uma experiência que busca
controle, mas a compreensão e a regulação dos processos dos harmonizar os tempos da escola com os tempos de
educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua trajetória escolar. aprendizagem próprios do ser humano. Os ciclos permitem
Isso significa entender que a avaliação, indo além da tomar as progressões das aprendizagens mais fluidas,
constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando evitando rupturas ao longo do processo. A flexibilização do
as necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças tempo e do trabalho pedagógico possibilita o respeito aos
no seu planejamento e no desenvolvimento das ações diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e a organização

Conhecimentos Pedagógicos 113


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de uma prática pedagógica voltada para a construção do Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando
conhecimento, para a pesquisa. as situações escolares necessitarem de um aprofundamento
Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno maior para levantamento de dados.
de projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A
estruturação do tempo é parte do planejamento pedagógico Outra questão relevante ao processo de avaliação do
semanal ou mensal, uma vez que a natureza da atividade e os ensino e aprendizagem é Como avaliar o aluno com
ritmos de aprendizagem irão definir o tempo que será deficiência? 154
utilizado.
O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho
pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma docente do professor. Quando falamos em avaliação de alunos
compreensão do mundo, da realidade social e humana, de nós com deficiência, então, o problema torna-se mais complexo
mesmos e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não ainda. Apesar disso, discutir a avaliação como um processo
se constitui exclusivamente no interior de uma sala de aula. É mais amplo de reflexão sobre o fracasso escolar, dos
preciso alargar o espaço educativo no interior da escola mecanismos que o constituem e das possibilidades de
(pátios, biblioteca, salas de multimídia, laboratórios, etc.) e diminuir o violento processo de exclusão causado por ela,
para além dela, apropriando-se dos múltiplos espaços da torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e a
cidade (parques, praças, centros culturais, livrarias, fábricas, permanência com sucesso dos alunos com deficiência na
outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas de exposição, escola.
universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve adquirir De início, importa deixar claro um ponto: alunos com
diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de deficiência devem ser avaliados da mesma maneira que seus
diversificação das atividades pedagógicas. colegas. Pensar a avaliação de alunos com deficiência de
A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que maneira dissociada das concepções que temos acerca de
pode potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa. aprendizagem, do papel da escola na formação integral dos
Os grupos ou classes móveis – em vez de classes fixas – alunos e das funções da avaliação como instrumento que
possibilitam a organização diferenciada do trabalho permite o replanejamento das atividades do professor, não
pedagógico e uma maior personalização do itinerário escolar leva a nenhum resultado útil.
do aluno, na medida em que atendem melhor às suas Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação
necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao do resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo,
agrupamento interno de uma classe ou entre classes é imprescindível a criação de uma nova cultura sobre
diferentes. Na prática, acontece conforme o objetivo da aprendizagem e avaliação, uma cultura que elimine:
atividade e as necessidades do aluno. - o vínculo a um resultado previamente determinado pelo
Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes professor;
turmas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de - o estabelecimento de parâmetros com os quais as
cinema, de teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de respostas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se
fotografia, de música, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho o ato de aprender não fosse individual;
também permitem que a turma assuma configurações - o caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação
diferentes, em momentos diferentes, de acordo com o desempenha em qualquer nível;
interesse e para atendimento às necessidades de - a lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade
aprendizagem. inexistente;
- a eleição de um determinado ritmo como ideal para a
Instrumentos de avaliação construção da aprendizagem de todos os alunos.
As provas objetivas (mais conhecidas como provas de
múltipla escolha), as provas abertas / operatórias, observação Numa escola onde a avaliação ainda se define pela
e autoavaliação são ferramentas para levantamento de dados presença das características acima certamente não haverá
sobre o processo de aprendizagem. São materiais preparados lugar para a aceitação da diversidade como inerente ao ser
pelo professor levando em conta o que se ensina e o que se humano e da aprendizagem como processo individual de
quer saber sobre a aprendizagem dos alunos. Podem ter construção do conhecimento. Numa educação que parte do
diferentes naturezas. Alguns, como as provas, são falso pressuposto da homogeneidade não há espaço para o
instrumentos que têm uma intenção de testagem, de reconhecimento dos saberes dos alunos, que muitas vezes não
verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele se enquadram na lógica de classificação das respostas
realmente estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser previamente definidas como certas ou erradas.
elaborados em dois formatos: um de questões fechadas, de O que estamos querendo dizer é que todas as questões
múltipla escolha ou de respostas curtas, identificado como referentes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer
prova objetiva; outro com questões abertas. Ambos são aluno e não apenas das pessoas com deficiências. A única
instrumentos que possibilitam tanto a avaliação de diferença que há entre as pessoas ditas normais e as pessoas
aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de conceitos, com deficiências está nos recursos de acessibilidade que
embora, em relação à construção conceitual, o professor devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências
precisará inserir também instrumentos de observação. para que possam aprender e expressar adequadamente suas
Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica aprendizagens. Por recursos de acessibilidade podemos
que coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda entender desde as atividades com letra ampliada, digitalizadas
observação pressupõe registros. É um bom instrumento para em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos da
avaliar a construção conceitual, o desenvolvimento de tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que
procedimentos e as atitudes. é necessário para suprir necessidades impostas pelas
Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito deficiências, sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais.
importante no desenvolvimento das habilidades
metacognitivas e na avaliação de atitudes. Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com
deficiência ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a
finalidade de verificar continuamente os conhecimentos que

154 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010.

Conhecimentos Pedagógicos 114


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

cada aluno possui, no seu tempo, por seus caminhos, com seus - melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o
recursos e que leva em conta uma ferramenta muito pouco portfólio dos alunos para elaborar as atividades:
explorada que é a coaprendizagem. - evitar testes padronizados;
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez - envolver a família no processo de avaliação;
seja o de nos convencermos de que a avaliação usada apenas - não utilizar a avaliação como um instrumento de
para medir o resultado da aprendizagem e não como parte de classificação;
um compromisso com o desenvolvimento de uma prática - incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação;
pedagógica comprometida com a inclusão, e com o respeito às - possibilitar que o erro possa ser visto como um processo
diferenças é de muito pouca utilidade, tanto para os alunos de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo
com deficiências quanto para os alunos em geral. cada aluno está organizando o seu pensamento;
De qualquer modo, a avaliação como processo que Esta maneira de avaliar permite que o professor
contribui para investigação constante da prática pedagógica acompanhe o processo de aprendizagem de seus alunos e
do professor que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a descubra que cada aluno tem o seu método próprio de
partir dos resultados obtidos, não é tarefa simples de ser construir conhecimentos, o que torna absurdo um método de
conseguida. Entender a verdadeira finalidade da avaliação ensinar único e uma prova como recurso para avaliar como se
escolar só será possível quando tivermos professores houvesse homogeneidade de aprendizagem.
dispostos a aceitar novos desafios, capazes de identificar nos Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de
erros pistas que os instiguem a repensar seu planejamento e forma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se
as atividades desenvolvidas em sala de aula e que considerem analisarmos com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação
seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não do aluno com deficiência, na verdade serve para avaliar
se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o qualquer aluno, porque a principal exigência da inclusão
conhecimento à capacidade de identificar respostas escolar é que a escola seja de qualidade – para todos! E uma
previamente definidas como certas ou erradas. escola de qualidade é aquela que sabe tirar partido das
Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação diferenças oportunizando aos alunos a convivência com seus
inclusiva preconiza um ensino em que aprender não é um ato pares, o exemplo dos professores que se traduz na qualidade
linear, continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento
sendo tecida pelos aprendizes, em ambientes escolares que vivenciado por toda a comunidade escolar.
não discriminam, que não rotulam e que oferecem chances de
sucesso para todos, dentro dos interesses, habilidades e Questões
possibilidades de cada um. Por isso, quando apenas avaliamos
o produto e desconsideramos o processo vivido pelos alunos 01. (TSE – Analista Judiciário – Pedagogia –
para chegar ao resultado final realizamos um corte totalmente CONSULPLAN) Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a
artificial no processo de aprendizagem. avaliação é um ato amoroso e dialógico que envolve sujeitos e,
Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que como tal, a primeira fase do processo de avaliação começa
queremos avaliar: produção ou reprodução. Quando com:
avaliamos reprodução, com muita frequência, utilizamos (A) o acolhimento do sujeito avaliado.
provas que geralmente medem respostas memorizadas e (B) a qualificação dos conhecimentos prévios.
comportamentos automatizados. Ao contrário, quando (C) o julgamento das aprendizagens avaliadas.
optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz de produzir, a (D) o diagnóstico do perfil do sujeito.
observação, a atenção às repostas que o aluno dá às atividades
que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que ele é 02. (Prefeitura de Uberlândia/MG – Professor
capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas Educação Básica II – Português – CONSULPLAN) A avaliação
utilizadas para avaliar. da aprendizagem escolar é um elemento do processo de ensino
Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso, e de aprendizagem.
para avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a
seu percurso escolar e a evolução de suas competências e de aprendizagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo
seus conhecimentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o professor. Numa perspectiva emancipatória, que parte dos
professor a organizar a produção dos seus alunos e por isso princípios da autoavaliação e da formação, podemos afirmar
avaliar com eficiência é utilizar um portfólio. que:
A utilização do portfólio permite conhecer a produção (A) os alunos também devem participar dos critérios que
individual do aluno e analisar a eficiência das práticas servirão de base para a avaliação de sua aprendizagem.
pedagógicas do professor. A partir da observação sistemática (B) os professores devem utilizar a avaliação como um
e diária daquilo que os alunos são capazes de produzir, os mecanismo de seleção para o processo de ensino.
professores passam a fazer descobertas a respeito daquilo que (C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos
os motiva a aprenderem, como aprendem e como podem ser critérios que possam classificar as aprendizagens corretas.
efetivamente avaliados. (D) os alunos também devem registrar o processo de
No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem avaliação que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula.
facilitar a tomada de decisão sobre quais os recursos de
acessibilidade que deverão ser oferecidos e qual o grau de 03. (Prefeitura de Montes Claros/MG – PEB I –
sucesso que está sendo obtido com o seu uso. Eles permitem UNIMONTES) De acordo com Luckesi (1999), é importante
que tomemos conhecimento não só das dificuldades, mas estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da
também das habilidades dos alunos, para que, através dos aprendizagem, que é de diagnóstico.
recursos necessários, estas habilidades sejam ampliadas. Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de
Permitem, também, que os professores das classes comuns decisão. Articuladas com essa função básica estão, EXCETO:
possam contar com o auxílio do professor do atendimento (A) a função de motivar o crescimento.
educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam (B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
esta modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam educando quanto da família.
surgir a respeito da produção dos alunos. (C) a função de aprofundamento da aprendizagem.
Quando utilizamos adequadamente o portfólio no (D) a função de auxiliar a aprendizagem.
processo de avaliação podemos:

Conhecimentos Pedagógicos 115


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

04. (IFC-SC-Pedagogia-Educação Infantil-IESES) No que


diz respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é A mediação do professor,
INCORRETO afirmar que:
(A) A avaliação é constituída de instrumentos de dialogal e problematizadora,
diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria no processo de aprendizagem
da aprendizagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos e desenvolvimento do aluno; a
que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem.
(B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz inerente formação continuada
das crianças pode ter algumas consequências e influências do educador
decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento.
Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus
alunos tem grande influência no que diz respeito ao
Mediação de conflitos no ambiente escolar 155
rendimento da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma
visão fragmentada da criança. É aconselhável concentrar
Introdução
esforços no que as crianças não sabem fazer e, não, considerar
as suas potencialidades.
A educação é a construção contínua do ser humano e a
(C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e
integração de todas as dimensões da nossa vida, através dos
contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando
saberes, das aptidões, das habilidades, da capacidade de
pontos que necessitam de maior atenção na busca de
discernimento e de ação. Educar é contribuir para o
reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios
aperfeiçoamento intelectual, profissional e emocional do
para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as
homem.
condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às
A educação é concebida numa visão integral, que vai além
necessidades colocadas pelas crianças.
dos limites da sala de aula e extrapola o processo permanente
(D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade
de enriquecimento dos conhecimentos, numa via privilegiada
básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de
de construção da própria pessoa, das relações entre
decisões educativas e observar a evolução da criança, como
indivíduos, grupos e nações. E nesse sentido a escola é vista
também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou
como local privilegiado de socialização e, portanto, propício ao
modificar determinadas situações, relações ou atividades na
desenvolvimento de sentimentos, afetos e emoções que
sala de aula.
podem em determinado momento gerar conflitos, em que o
diálogo cotidiano não seja capaz de solucionar.
05. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ- Professor de
A princípio, a escola é um local para ensinar e aprender, e
Ensino Fundamental- Artes Plásticas- Prefeitura do Rio de
isso demanda um ambiente estimulante para despertar a
Janeiro/2016).
curiosidade e para provocar o entusiasmo pelo aprendizado.
Leia o fragmento abaixo: Normalmente, quando nos
Com base nesses pilares, a escola precisa ensinar a
referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que
importância do diálogo e da paz, o que pressupõe preparar as
buscamos compreender é até onde a criança já chegou, em
crianças e os jovens para um conjunto de habilidades sociais
termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela.
necessárias ao desenvolvimento de uma personalidade
Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e
equilibrada, relacionado ao aprendizado de boas relações
atividades, como por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe
sociais e dos valores sócio-morais, ao aprimoramento das
amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de
relações interpessoais, sobretudo através de comunicação
diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe
eficiente e com à compreensão das diferenças interculturais e
realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de
à cultura da não violência.
realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança
Quando falamos em cultura da não violência logo
já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe
pensamos em respeito à vida, no fim de qualquer modalidade
amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras
de violência, e na cultura do diálogo e da solução pacífica dos
pessoas.
conflitos, do respeito à dignidade da pessoa humana e no
OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e
compromisso com os direitos humanos. Para tanto, as práticas
desenvolvimento; um processo sócio-histórico. São Paulo:
restaurativas possibilitam mudanças diretas no campo das
Scipione, 1991. Pág. 11
inter-relações, elas levam aos envolvidos uma abordagem
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada
inclusiva e colaborativa, que resgata o diálogo, e a conexão
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
com o próximo e comunicação entre os alunos, escola,
(A) a zona de desenvolvimento real
familiares, comunidades e redes de apoio.
(B) a zona de desenvolvimento proximal
(C) a fase potencial do pensamento formal
Definição de conflito
(D) a fase operatória do pensamento formal
Sabe-se que o conflito pode ser compreendido como uma
resistência de interesses, podendo ser inevitável, mas com
Respostas
uma prática intencional de intervenção pode-se antecipar,
canalizar e manejar, e faz-se necessário ressaltar que a
01. A. / 02. A. / 03. B. / 04. B. / 05. A
mediação não deve ser realizada quando já existe um ato
violento, pois seria forçar as duas pessoas, em situações
.
completamente opostas, vítima e agressor manterem relação
respeitosas, quando ainda há o medo, angustia e as ameaças.

155 Texto adaptado de SOUSA, M. G. M. de; SILVA, V. F. da. Mediação de conflitos

na Escola.

Conhecimentos Pedagógicos 116


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Os conflitos podem ser divididos em duas áreas156: Contexto histórico

 Conflito Social – é de reconhecer que hoje, se vive A ideia de mediação de conflitos como método formal para
numa sociedade altamente evoluída do ponto de vista resolver ou solucionar controvérsias, difundiu-se a partir da
social e tecnológico, mas bastante precária em termos de década de 60 e 70 nos Estados Unidos, no entanto, apresenta-
capacidade para negociações. E a violência tem sido no se como um meio em que há muito tempo o ser humano já
decorrer da história da humanidade, um dos instrumentos utiliza, ou seja, a intervenção de uma terceira pessoa para
mais utilizados para resolver conflitos. ajudar na negociação de interesses. Porém não havia a
 Conflitos tradicionais - são aqueles que reúnem intencionalidade nessa prática, este método é muito comum
indivíduos ao redor dos mesmos interesses, fortalecendo a no Direito, interligado com a arbitragem e a conciliação,
solidariedade. tornou-se uma forma alternativa de resolver impasses, em que
os envolvidos chegam a um acordo mútuo que satisfaça suas
É por motivos tais esse, que é extremamente necessário necessidade.
que profissionais que trabalham diretamente com pessoas O processo de mediação de conflitos possa viabilizar o
precisam ter conhecimentos básicos de como se origina a diálogo construtivo e a negociação de tomada de decisões,
maioria dos conflitos na escola e as condições psicológicas que visando relações interpessoais confortáveis na convivência
fazem o indivíduo sem envolver em convívio social. Tanto na escolar. Assim, essa proposta apresenta-se à escola como uma
família quanto no trabalho ou em qualquer concentração alternativa democrática para prevenir situações em torno dos
social. Então, podemos concluir visivelmente, que os diversos tipos de violência.
profissionais da educação tem a necessidade de estarem
constantemente se atualizando e aprimorando seu Base legal
conhecimentos da psicologia das Relações Humanas e a
operacionalização e gestão de conflitos no ambiente escolar.  Inexistência de uma lei que regule.
A violência tem estado presente na nossa sociedade ao logo  Projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional.
dos tempos, seja de forma direta ou indireta, nos conflitos
interpessoais e através da violência estrutural e cultural que No Brasil, ainda não existe uma legislação que regule a
dão origem as situações de humilhações, discriminação, prática da mediação, mas mesmo assim, é uma técnica muito
exclusão e mesmo de vitimização. Assistimos a uma cultura de utilizada nas escolas.
violência, que destaca nos modos de interagir das pessoas, A mediação de conflitos na escola pretende contribuir para
adultos, jovens ou crianças, é uma realidade a qual as escolas a convivência mais saudável, construção da cidadania e
em geral, que afeta o seu funcionamento harmonioso. enfrentamento da violência, já que são os próprios envolvidos
Quando isso ocorre percebe-se a necessidade de que sejam no conflito que tentam buscar meios de superá-lo, prática que
tomadas providências para que essa situação conflituosa não ao longo do tempo, possibilita a criação da cultura da paz nas
se deteriorize vindo a tornar-se um ato de violência. A esse escolas.
respeito Ortega157, afirma que: O conflito emerge em toda
situação social em que se compartilham espaços, A mediação de conflitos
atividades, normas e sistemas de poder e a escola
obrigatória é um deles. Um conflito não é necessariamente Conceito: é um método que visa a resolução de
um fenômeno da violência, embora, em muitas ocasiões, controvérsias entre duas pessoas ou mais. Em busca da
quando não abordado de forma adequada, pode chegar a conciliação entre os envolvidos no conflito, um mediador deve
deteriorar o clima de convivência pacífica e gerar uma estar preparado para facilitar o diálogo para pacificação. Para
violência multiforme na qual é difícil reconhecer a origem isso é necessário o conhecimento de técnicas especificas que são
e a natureza do problema. aplicáveis durante o processo de conciliação.
Estamos aptos a mediar o conflito dentro da escola. Como
lidamos com os conflitos entre alunos e alunos, alunos e O conflito e a violência estão cada vez mais, presentes nas
professores, professores e professores, professores e gestão escolas, manifestando de várias formas com efeitos
escolar e gestão escolar e alunos. A mediação de conflitos na devastadores para toda a comunidade educativa, até mesmo
escola vai gerar uma convivência mais saudável. É desta mergulhando a escola numa crise de identidade. A mediação
maneira que a cidadania e enfrentamento da violência, tem de conflitos no ambiente escolar é uma construção cultural, se
seus primórdios. Assim é possível em muitas vezes, fazer com caracteriza por possibilitar dentro da escola nova visão acerca
que os indivíduos que estão participando dos conflitos, tentem dos conflitos.
achar modos de solucionar esses problemas, visando que, ao Com base no preceito fundamental que as pessoas não
longo do tempo com esta nova prática, ela vá se tornando um nascem sendo tolerantes, solidárias e respeitosas, elas
hábito, até serem excluídos os conflitos do cotidiano, necessitam ser educadas para agirem assim. Desse modo a
promovendo a cultura e paz nas escolas e também em mediação de conflitos na escola apresenta como uma proposta
qualquer outro ambiente que seja importante a pacificação de pacificação, oferecendo aos envolvidos no conflito a
Diante dos conflitos é necessário que a escola desenvolva possibilidade de solucioná-lo ou ameniza-lo por intermédio de
ações preventivas e curativas no intuito de tornar as relações ajuda especializada, e apresenta como um processo voluntário
e o ambiente escolar harmonioso, por meio da prática do e confidencial em que um terceiro, imparcial, ajuda a duas ou
diálogo e da mediação dos conflitos. Passamos a encarar os mais pessoas em conflito a buscar uma solução mutuamente
conflitos como oportunidades de mudança e de aprendizagem, aceitável ao seu problema. E a escola pode encontrar na
ressaltando os valores da inclusão, do sentimento e da mediação uma abordagem de transformação criativa dos
solidariedade. Portanto, são mudanças de modelos de cultura, conflitos, aproveitando a oportunidade de crescimento
paradigmas e de práticas que permitem uma melhoria nos mudança e de formação pessoal e social para a resolução dos
relacionamentos, contribuindo para a construção de cultura problemas cotidianos.
de paz nas escolas. Acredita-se que a mediação de conflitos escolares seja um
. grande desafio para a instituição de ensino. Porém, há fortes

156 NASCIMENTO, Eunice Maria E SAYED, Kassen Mohamed El, Administração 157ORTEGA, Rosario et al. Estrategias Educativas para Prevenção das Violências;
de conflito, 2006. tradução de Joaquim Ozório – Brasília: UNESCO, UCB, 2002.

Conhecimentos Pedagógicos 117


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

críticas por parte de pedagogos, filósofos e sociólogos, em de comunicar os seus sentimentos e iniciativas. E antes da sua
relação aos métodos e conteúdos pedagógicos utilizados no implantação do processo de mediação nas escolas, é
processo de mediação, se esses conteúdos utilizados estão necessário que seja realizado um diagnóstico para
formando pessoas alienadas ou não, ou ainda formando compreender a dimensão da violência e das formas que são
cidadãos conscientes, críticos ou apenas técnicos, utilizadas para preveni-la. Além disso, também é importante
preocupados somente com conteúdos e exames seletivos e não ter bem delimitado os objetivos da proposta, para saber por
com o real situação de aprendizagem. onde começar e até que ponto haverá êxito.
Com tudo, procura-se com todos estes processos de
mediação de conflitos, proporcionar um diálogo construtivo Papel do mediador
juntamente com a conversa antes de qualquer tomada de Nesse contexto, o papel do mediador se apresenta como
decisões, buscando sempre o bom entendimento, uma ferramenta favorável ao diálogo com discussão bem
pacificamente, onde as relações interpessoais devem estar em planejada e socialização de ideias e critérios agradáveis com às
alta no cotidiano de um bom convívio na escola. partes envolvidas. Assim, o mediador deve ser imparcial e
A mediação pode ser aplicada em qualquer contexto favorecer a comunicação entre os envolvidos do momento de
social em que haja conflito, impasses ou que o diálogo entre as crise, a fim de suavizá-lo. Cabe ressaltar que ele é apenas
partes envolvidas não seja capaz de resolver e requer a facilitador e organizador do processo de tomada de decisões,
intervenção do mediador. Para tanto há a necessidade de um responsabilidade única dos envolvidos no conflito.
local apropriado que garanta sigilo e cordialidade, para que o
trabalho de mediação seja possível e um tempo específico para As características do mediador:
realizá-lo. Portanto, um dos objetivos destas táticas, é fazer
com que a violência seja evitada, fornecendo meios de conter  É fundamental que o mediador seja capaz de separar os
os alunos de uma forma didática e construtiva. fatos reais com da fantasia;
 Ser imparcial;
Objetivos essenciais na mediação  Deve ser um indivíduo preparado psicologicamente e
No processo de mediação apresenta-se quatros objetivos metodologicamente para conduzir as sessões de mediação
essenciais para solução dos conflitos: contribuindo para o desenlace tranquilo da situação
 Solução dos problemas- pela visão positiva do conflito e problemática e para a qualidade das relações interpessoais
da participação ativa das partes via dialogo, configurando a entre os envolvidos.
responsabilidade pela solução.  Deve saber escutar, promover o diálogo, ter equilíbrio
 Prevenção de conflitos; emocional para não se envolver no conflito e conduzir as sessões
 Inclusão social – conscientização de direitos; em um clima de respeito entre as partes.
 Acesso à Justiça e Paz social.
Critérios de escolha do mediador
Requisitos no processo de mediação
 Favorecer e estimular a comunicação entre as partes em Para tornar um mediador não é qualquer pessoa, é
conflitos, o que traz consigo o controle das interações necessário uma seleção entre os candidatos ao cargo,
destrutivas; observados fatores como a aceitação das normas do projeto, a
 Levar a que ambas as partes compreendam o conflito de capacidade de diálogo, disponibilidade de tempo, aceitação
uma forma global e não apenas a partir da sua própria social e autoestima.
perspectiva;
 Ajudar na análise das causas de conflitos, fazendo com São critérios que devem ser levados em consideração na
que as partes separem os interesses dos sentimentos; escolha dos mediadores:
 Favorecer a conversão das diferenças em formas  Deve ser uma atividade voluntária e desejada pelo (a)
criativas de resolução do conflito; candidato (a);
 Reparar sempre que é viável, as feridas emocionais que  Devem ser consideradas as atitudes e habilidades
possam existir entres as partes. sociais;
 São importantes as atitudes de solidariedade e
Normas de implantação do processo de mediação capacidade de diálogo;
Entretanto, mesmo com todo o planejamento da proposta,  É necessária a disponibilidade de tempo, tanto para o
só pode ser implantada na escola se for solicitada pelos treinamento como para o desenvolvimento de mediações
protagonistas dos conflitos e assumida como componente do futuras;
projeto pedagógico da escola, e o processo de mediação ocorra  É interessante que o potencial mediador (a) seja uma
sem grandes oscilações, algumas normas devem ser pessoa bem aceita socialmente;
estabelecidas:  Não se exige a condição de líder, mas ser uma pessoa que
 Confidencialidade; goze de aceitação social;
 Intimidade, liberdade de expressão, imparcialidade e  É muito recomendável um bom nível de autoestima ou o
compromisso com o diálogo. reconhecimento de que é importante lutar por isso;
 É exigível a aceitação das características e normas
A estrutura da mediação básicas do programa institucional de mediação.

Referente as atividades de mediação exigem um espaço Princípios


igualmente idôneo, espaço que preserve a intimidade, cujas
condições não provoquem incômodo e onde os protagonistas Independentemente do tipo de mediação ou do papel do
possam ser escutados entre si, facilitando o contato visual mediador em qualquer situação no processo de mediação deve
direto e real das situações. desenrolar-se de acordo com os princípios:
Entretanto, é difícil estabelecer um limite concreto, mas,  Confidencialidade: o (a) mediador (a) se compromete,
em todo caso, um número de sessões nunca inferior a três e diante das pessoas às quais presta ajuda, a guardar sigilo sobre
não superior a oito ou dez, sempre com um intervalo de tempo o conteúdo das conversas.
entre uma e outra que permita aos envolvidos de ir adaptando
uma possível mudança de atitudes, comportamentos e formas

Conhecimentos Pedagógicos 118


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

 Intimidade: os protagonistas do conflito não serão currículo escolar para que não seja uma ação isolada, mas
forçados a falar mais do que considerem parte de sua incorporada no cotidiano da instituição, que torne possível
intimidade. ensinar e aprender a mediar conflitos, assim como se faz com
 Liberdade de expressão: os protagonistas se outras habilidades. Portanto, para que o processo de mediação
comprometem a expressar-se com liberdade, mas assumindo tenha êxito no ambiente escolar é necessário um currículo que
que, nos diálogos, estão proibidos os insultos e ataques verbais, contemple a cultura da paz. Assim é preciso que seja
físicos ou psicológicos. compreendido como um desejo de toda comunidade interna e
 Imparcialidade: o mediador se compromete a não tomar externa da escola para efetivação do processo de mediação de
partido em nenhuma das partes em conflito... deve ter a conflitos.
liberdade de levar ao conhecimento dos responsáveis pelo
programa a natureza do suposto conflito e, caso necessário, A importância da mediação na aprendizagem
mudar ou abandonar a mediação e propor outra estratégia de
intervenção ou outro (a) mediador (a). A mediação dentro do contexto da aprendizagem, é forma
 Compromisso de diálogo: os protagonistas se do professor conduzir o aluno no ato de pensar em que se
comprometem a falar de suas dificuldades e conflitos nas sessões suscita discussões em torno de uma resposta obtida e, em
de trabalho. seguida, questiona-se sua veracidade, indica-se caminhos que
podem levar à resolução e orienta-se a reformulação de
Esses princípios abrangem o programa de mediação de hipóteses para obtenção de teses e conclusões. Paralelamente,
conflitos como um todo, podendo ser utilizadas na a tarefa de ensinar implica numa relação plena e constante do
sensibilização e divulgação da proposta. professor com o aluno, não só no conhecimento, mas também
na capacidade de questionar a criança que, nas situações de
Da capacitação do mediador aprendizagem, vai desenvolver cada vez mais a habilidade de
fazer perguntas. Portanto, é necessário valorizar a
Após a seleção de escolha do candidato para mediador, faz- curiosidade, o espírito de busca, a imaginação, a autonomia, e
se necessário o treinamento que inclui conhecimentos para que isto aconteça, não se pode desenvolver o ato de
psicológicos e técnicos. É sugerido uma capacitação ensinar só a partir das informações dadas pelo professor, mas
aproximadamente de quarenta horas semanais, através de na busca, na investigação, na procura de soluções das situações
dinâmicas, com uma linguagem clara e objetiva, e a capacitação apresentadas.
deve incluir temas como: Nesse contexto que o professor se torna o mediador entre
o aluno e o conhecimento, a mediação é uma tarefa bem
Etapas e processo de desenvolvimento; complexa que vai exigir do professor a criatividade, o estar
Afetividade; alerta, a preocupação com cada aluno e a percepção da
Empatia; caminhada da turma. Entretanto, todas as pessoas envolvidas
Capacidade de diálogo; nesse processo contribuem com o maior objetivo a ser
Conhecimento da natureza do conflito e a escuta. atingido com a prática didática, que é o educar. Educar é
transformar e, antes de ir em busca dessa transformação em
A capacitação deve ser ministrada por uma equipe de seus alunos, é necessário que o educador/professor
apoio, que pode ser formada por diferentes seguimentos da transforme a sua forma de agir e de pensar. É importante que,
sociedade e da escola, como direção, docentes, alunos, pais e antes de iniciar a abordagem de qualquer tema ou assunto, o
funcionários em geral. professor defina o que é essencial e pesquise fontes variadas,
No entanto, faz-se necessário a presença de profissionais além de utilizar diferentes métodos de trabalho e procurar
como psicólogo, orientador educacional, psicopedagogo e conhecer muito bem os seus educandos.
docentes com algum curso de extensão na área. No processo de mediação, o professor mediador durante
Portanto, esses profissionais serão os responsáveis pelo seu trabalho com o aluno, é necessário e ao mesmo tempo é
treinamento e necessitam ser qualificados para tal com o bom conversar com outros educadores e buscar informações
conhecimento exigido na psicologia e do processo de em sociedades, associações ou órgãos, e como a mediação
mediação, e a equipe de apoio será responsável pela pode ser feita, e quais as situações e práticas educativas
implantação do programa de mediação na escola e de acordo capazes de estimular o ato de refletir incluem:
com as seguintes atribuições:
* Roda de conversas – ver o que o aluno já sabe sobre o
 Acompanhamento dos primeiros passos do projeto; assunto a ser dinamizado;
 A capacitação dos jovens e definição de seus limites de * Cantigas – motivadoras sobre o assunto;
ação; * Histórias – estimuladoras do ato de pensar sobre o assunto;
 Monitorar e apoiar os trabalhos, quando necessário. * Músicas populares – capazes de promover a sintonia entre
o conhecimento e a vida;
Assim, pode-se afirmar que a prática da mediação envolve * Leitura de fatos de jornais e revistas – estimuladoras do ato
mudanças na conjuntura escolar, essas transformações podem de reflexão;
ser inovadoras, no sentido em que buscam modificar as * Cartazes estimulantes do assunto;
estruturas de resolução de conflitos, ou podem ser destrutivas, * Propagandas – coerentes com a situação de aprendizagem;
quando ignoram as práticas desenvolvidas pela escola até * Jogos – estimulantes do raciocínio;
então, para alterá-las radicalmente. No entanto, espera-se que * Reportagens da TV – desenvolvimento da percepção visual,
a mediação escolar, ao invés de eliminar a autoridade dos raciocínio;
métodos empregados pela escola na resolução de conflitos, * Poemas.
possa contribuir para a reflexão de como esses métodos são
utilizados e acrescentar instrumentos que tornem Ao trabalhar quaisquer das situações acima, o papel do
democrática a tomada de decisões. professor é fazer perguntas e, com isso, levantar questões para
Acredita-se que a mediação deve ser apoiada pelas regras discussão que podem orientar o exercício da análise e da
de conduta que a escola dispõe, assim, poderá resguardar e organização do pensamento, sempre introduzindo ou
proteger os que a procura, os mediadores e a equipe de apoio. refletindo sobre o assunto, desencadeando atividades
Ao mesmo tempo, deve ser inserida gradativamente no agradáveis em aula de aula, tornando os materiais atraentes e

Conhecimentos Pedagógicos 119


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

fonte de aprendizagem, e esse tipo de exercício proposto deve (B)Acompanhamento dos primeiros passos do projeto; a
permitir uma reflexão sobre a temática que está sendo capacitação dos jovens e definição de seus limites de ação;
desenvolvida e, ao mesmo tempo, provocar a oralidade, a monitorar e apoiar os trabalhos, quando necessário.
compreensão, o pensamento reflexivo, a organização do (C)Etapas e processo de desenvolvimento; afetividade;
pensamento, a interpretação, a análise, a síntese. Portanto a empatia; capacidade de diálogo e conhecimento da natureza
realidade tanto do professor quanto a do aluno podem ser do conflito e a escuta;
muito exploradas, pois elas são ricas de significados. (D) Confidencialidade; intimidade; liberdade de
expressão; imparcialidade; compromisso de diálogo: os
Questões protagonistas se comprometem a falar de suas dificuldades e
conflitos nas sessões de trabalho.
01. (TRT 12ª Região- Analista Judiciário-Psicologia –
FCC) A mediação integra as ADRs (alternativas de solução ou Comentários
de condução de conflitos e disputas) e pode ser utilizada em
qualquer tipo de conflito se guardadas as condições de 01. Alternativa D
voluntariedade, capacidade de compreensão e 02. Alternativa Errada
(A) desequilíbrio amoroso entre as partes. 03. Alternativa B
(B) desequilíbrio de poder entre as partes. 04. Alternativa D
(C) equilíbrio amoroso entre as partes. 05. Alternativa D
(D) equilíbrio de poder entre as partes.
(E) ausência de labilidade entre as partes.
A inerente formação continuada do
02. (Correios-Analista de correios-Pedagogo – CESPE) educador
Com relação aos aspectos éticos, políticos e administrativos
implicados no trabalho do pedagogo nas organizações, julgue
A educação continuada consiste na prática em que o
os itens que se seguem.
desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores é
O pedagogo deve atuar na mediação de conflitos
fundamental para o aperfeiçoamento das habilidades como a
organizacionais, adotando, em tais circunstâncias, postura
maior visão da realidade em que estão inseridos, buscando
coercitiva.
uma construção de conhecimentos.
( ) Certo ( ) Errado
Eis que a educação continuada surge no final do século
passado, em decorrência do desenvolvimento social e da
03. (IF/PA – Pedagogo- FUNRIO/2016) Um sistema de
classe de trabalhadores, como uma resposta aos obstáculos
avaliação mais coerente com uma perspectiva democrática de
que vinham sendo enfrentados.
instituição escolar implica uma prática avaliativa das
Entre as décadas de 70 e 80, esse assunto ideólogos
aprendizagens que se paute pela lógica da:
referiram-se a esse tipo de educação como programa de
(A) meritocracia, inclusão, dialogicidade.
complementação educacional de profissionais.
(B) inclusão, construção da autonomia, mediação.
Como a sociedade vive em constante mudança, se faz
(C) seleção, participação, investigação.
necessário esse processo que visa renovação do
(D) quantificação, autonomia, construção da
conhecimento.
responsabilidade coletiva.
Para Mariotti158 trata-se de uma abordagem ampla,
(E) autoavaliação, emancipação, classificação.
inserida na organização, onde treinamento e prática se
enquadram como uma proposta e um componente que faz
04. (SEJUS-DF-Atendente de Reintegração social-
parte de uma empresa, passando a ser visto por um sistema
FUNIVERSA) Na perspectiva da mediação de conflitos,
relacionado com outros ambientes dentro de determinada
assinale a alternativa correta.
instituição. Desse modo, o conhecimento e a prática são as
(A) A não violência proposta pela prática da mediação de
áreas monitoradas que deverão passar por constantes
conflitos é sempre confundida com a passividade diante do
especificações e acompanhamentos em benefício de um
mal e da justiça.
desenvolvimento de qualidade.
(B) Ao mediador, cabe conduzir o processo, centralizando
A formação continuada visa anteder a mudanças desejadas
em sua pessoa todos os canais de comunicação.
pela instituição, como também as que desejadas pela
(C) A ação do mediador de conflitos não tem compromisso
sociedade.
com a responsabilização das pessoas pelos atos de violência
cometidos. Assim que encontrar as provas necessárias, o
Formação Continuada do Professor159.
mediador deve encaminhar os culpados à justiça para cumprir
A busca da qualidade de ensino na formação básica voltada
sentença judicial.
para a construção da cidadania, para uma educação
(D) A resolução de conflitos de forma não violenta é um
sedimentada no aprender a conhecer, aprender a fazer,
princípio da mediação de conflitos.
aprender a conviver e aprender a ser e para as novas
(E) Toda a intervenção de mediação precisa ter presente
necessidades do conhecimento, exige necessariamente,
uma autoridade para garantir o encaminhamento da solução
repensar a formação inicial de professores, assim como requer
do problema.
um cuidado especial com a formação continuada desse
profissional com um olhar crítico e criativo. Essa preocupação
05. Quais são as normas do processo de mediação de
é relevante, tendo em vista o atual contexto de reformas
conflitos.
educacionais, que visam a dar respostas à complexa sociedade
(A) Solução dos problemas pela visão positiva do conflito e
contemporânea.
da participação ativa das partes via dialogo, configurando a
Este é um tema de particular atualidade em função da
responsabilidade pela solução; prevenção de conflitos;
recente reforma implementada em todos os níveis da
inclusão social – conscientização de direitos e o acesso à
educação brasileira, Educação Infantil, Ensino Fundamental,
Justiça e Paz social.
Ensino Médio e hoje em discussão a do Ensino Superior.

158 MARIOTTI, Humberto. Organizações de aprendizagem: educação 159 Texto adaptado de COSTA, N. M. L.
continuada e a empresa do futuro. São Paulo: Atlas, 1995.

Conhecimentos Pedagógicos 120


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Uma reforma que merece um domínio profundo por parte Formação Realizada constantemente, visa à
dos atores que de fato conduzem o processo ensino- Permanente formação geral da pessoa sem se
aprendizagem. Pois, as mudanças implementadas são de preocupar apenas com os níveis da
cunho filosófico, metodológico e sociológico implica numa Especialização É a realização de um
educação curso superior
formal.
postura dialética frente ao conhecimento, compreensão de sobre um tema específico.
Tornar mais profundo alguns dos
Aprofundamento
processos cognitivos e metacognitivos, domínio do conceito de conhecimentos que os professores
Adquirir habilidades já têm.
por repetição,
competência e sua construção na escola, entre outras Treinamento utilizado para manipulação de máquinas
exigências. em processos industriais, no caso dos
As referidas mudanças educacionais se baseiam em Re-treinamento Voltar a treinar
professores, o que
estes já havia com
interagem sido
princípios filosóficos inovadores e têm fundamentos treinado.
pessoas.
epistemológicos da pedagogia crítica. Porém, ao mesmo tempo Aprimoramento Melhorar a qualidade do conhecimento
dos professores.
Subir a outros patamares ou níveis,
tem como pilar de sustentação um movimento político-social
de clara hegemonia do projeto neoliberal. Superação por exemplo, de titulação universitária
Na implantação de qualquer proposta pedagógica que ou pós-graduação.
tenha implicações em novas posturas frente ao conhecimento, Desenvolvimento Cursos de curta duração que procuram a
conduzindo a uma renovação das práticas no processo ensino- Profissional “eficiência” do professor.
aprendizagem, a formação continuada de professores assume
Tornar profissional. Conseguir, para
um espaço de grande importância. Profissionalização
quem não tem, um título ou diploma.
A formação continuada de docentes é um tema complexo e
que pode ser abordado a partir de diferentes enfoques e Suprir algo que falta. Atividades que
dimensões. A história mostra a existência do modelo clássico Compensação pretendem subsidiar conhecimentos que
no planejamento e na implementação de programas de faltaram na formação anterior.
formação, bem como o surgimento de novas tendências de No modelo clássico, caracterizado por vários estudiosos, o
educação continuada praticadas na área profissional da professor que já atua profissionalmente com sua formação
educação, como também em outros contextos inicial volta à universidade para renovar seus conhecimentos
profissionalizantes. em programas de atualização, aperfeiçoamento, programas de
Será abordada uma discussão a respeito das características pós- graduação de latu sensu e strictu sensu, ou ainda,
do modelo clássico e das novas tendências na formação participando de cursos, simpósios, congressos e encontros
continuada de professores, suas contribuições para a voltados para seu desenvolvimento profissional. Esses,
profissionalização docente, bem como as implicações na promovidos pelas Secretarias de Educação, onde os docentes
operacionalização das propostas coexistentes e ainda, aponta estão vinculados ou por outras entidades interessadas na área.
caminhos para atender às atuais necessidades na formação de Nesse modelo, permeia uma perspectiva de privilégios aos
professores. espaços considerados tradicionalmente como lócus da
produção do conhecimento, os quais são: a universidade e os
Modelos de educação continuada demais espaços vinculados a ela. Nessa perspectiva, considera-
O modelo clássico de formação continuada para docentes se que a universidade é o local em que circulam as informações
traduz-se no que vem sendo feito historicamente nas mais recentes, as novas tendências e buscas nas mais
iniciativas de renovação pedagógica. A ênfase é dada na diferentes áreas do conhecimento. Embora não se questione
atualização da formação recebida ou numa “reciclagem” que tanto essa realidade, existe um aspecto crítico nessa visão,
significa “refazer o ciclo”. qual seja, a desconsideração das escolas de Ensino
Candau utiliza o termo reciclagem diferentemente de Fundamental e Médio como produtoras de conhecimento e
outros interessados no assunto que discordam da expressão passa-se a considerá-las como espaços meramente destinados
por atribuírem a palavra “reciclar” como um termo próprio do à prática, local onde se aplica conhecimentos científicos e se
processo industrial e aplicado à reutilização de materiais adquire experiência profissional.
recicláveis não condizente com a atual discussão da formação As pesquisas na área têm confirmado que é esse modelo
docente. clássico, que vem sendo praticado nos sistemas educacionais
Na visão de Prada, os termos empregados para nomear os para a formação continuada dos profissionais do magistério,
programas de formação continuada de professores estão tem sido o mais promovido e portanto, o mais aceito.
impregnados da concepção filosófica que orienta o processo, Candau, destaca quatro modalidades em que se
recebendo também influências da região, país e instituições apresentam tais iniciativas numa perspectiva tradicional.
envolvidas, entre outros fatores. O autor apresenta algumas Sob a forma de convênios entre universidades e
das diferentes expressões que são mais utilizadas na secretarias de educação, em que as universidades destinam
denominação dos programas desta formação com o objetivo vagas para formar professores em exercício do ensino
de ampliar essa compreensão: fundamental e médio nos cursos de graduação e licenciatura.
A oferta de cursos de especialização através de convênios
Quadro 01 – Termos empregados para formação entre instituições universitárias e secretarias de educação,
continuada de docentes visando à melhoria da qualidade de ensino tem sido muito
Proporcionar determinada capacidade a praticada. Esses cursos são realizados em regime normal
Capacitação ser adquirida pelos professores, presencial ou na modalidade a distância, lançando mão de
mediante um curso; concepção diferentes estratégias como, correspondência, via fax, vídeos,
Não implica que
mecanicista a ausência de capacidade,
considera os docentes computador, teleconferência, ou outras mídias. Atualmente,
Qualificação mas continua sendo mecanicista, pois
incapacitados. no Brasil, existe um grande interesse na realização de cursos à
visa melhorar apenas algumas distância e várias universidades já estão começando a montar
Aperfeiçoamento Implicaqualidades
tornar os professores perfeitos.
já existentes. cursos de aperfeiçoamento de professores nesta modalidade,
Está associado
Termo próprio de à processos
maioria dos outros
industriais não só para a rede pública, como também para a rede privada
Reciclagem
e, usualmente, termos. à recuperação
referente de ensino.
Ação similar à do jornalismo; Embora tais experiências não estejam restritas à área de
Atualização do lixo.
informar aos professores para manter educação, as possibilidades que as novas tecnologias
nas atualidades dos acontecimentos,
apresentam podem ser muito bem exploradas em prol da
Formação r e c eAlcançar níveis
b e críticas mais elevados
semelhantes na
à educação
educação formal ou aprofundar como formação continuada, rompendo propostas tradicionais,
Continuada bancária.
continuidade dos conhecimentos que os distâncias geográficas e temporais. Mesmo lançando-se mão
professores já possuem.
Conhecimentos Pedagógicos 121
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

dos recursos tecnológicos, tais experiências mantêm ainda, as processo ensino-aprendizagem, conforme afirma Gimeno
características do modelo clássico de formação continuada. Sacristán. O ensino como atividade racional ou reflexiva, como
Uma terceira modalidade de formação continuada, na um fazer em que se mede cada passo dado e cada opção é fruto
perspectiva tradicional, são as ações promovidas por órgãos de um processo de deliberação, é uma prática utópica a que se
responsáveis pelas políticas educacionais como, Secretarias de aspira.
Educação dos estados e municípios e/ou o próprio Ministério Nóvoa apresenta uma síntese dos modelos já discutidos,
de Educação, ofertando cursos de caráter presencial ou à resumindo-os a dois grandes grupos, nomeando-os de
distância. modelos estruturantes e modelos construtivistas.
Além dos cursos promovidos de natureza presencial, Os modelos estruturantes são organizados previamente a
insere-se também nessa modalidade programas de formação partir da lógica de racionalidade científica e técnica e ainda
continuada a distância como os veiculados pela TV Escola, que aplicados a diversos tipos de professores. O autor inclui neste
se constitui numa formação aberta a todas as escolas públicas grupo as formas universitárias e escolares citadas por
que possuam antena parabólica, receptor, TV e vídeo. O Demailly.
programa é vinculado ao Ministério da Educação e coordenado Os modelos construtivistas partem de uma reflexão
em todos os Estados pelas respectivas Secretarias de contextualizada para a montagem dos dispositivos de
Educação. Embora estas iniciativas possuam características do formação continuada, visando a uma regulação permanente
modelo clássico, apresentam condições de ser trabalhada das práticas e do processo de trabalho.
numa perspectiva de práticas inovadoras, onde as escolas se Este é um modelo que pode suscitar verdadeiras mudanças
assumam enquanto lugares de formação como um exemplo na prática, pois parte das necessidades dos educadores e se
vivo desse aspecto da interface. constitui em uma aprendizagem significativa, visto que os
Como quarta modalidade surge mais recentemente, ação estudos teóricos têm ressonância na realidade cotidiana e
de apoio às escolas, em que se incluem componentes de visam a resolver questões anteriormente identificadas pelos
formação continuada de professores em atividade. A partir de envolvidos.
um slogan “adote uma escola”, universidades ou empresas Entretanto, as sistematizações de Demailly e Nóvoa devem
“adotam” uma escola situada em suas proximidades e servir aos educadores como modelos teóricos de análise e não
desenvolvem programas específicos de colaboração em como modelos práticos de intervenção. Pois os próprios
diferentes aspectos, oferecendo bolsas de estudos, teóricos reconhecem que esses modelos não existem de
equipamentos e outras formas de colaboração. No caso das maneira isolada na prática de formação de professores. Para
universidades, oferecem programas de aperfeiçoamento em Nóvoa, “as estratégias de formação continuada são
serviço para os professores. necessariamente híbridas, apelando segundo uma coerência
própria e contextualizada a diferentes contributos teóricos
Na visão de Demailly160, os modelos de formação metodológicos”. Nesse sentido, confirma Demailly, a
continuada de professores, classificam-se em quatro estilos ou inexistência de “formas no estado puro”.
categorias, a saber: É de suma importância o conhecimento desses diferentes
modelos, a compreensão de que eles se materializam na
- A forma universitária, que tem como finalidade a prática da formação docente de maneira mista e criam novas
transmissão dos saberes teóricos. Tem características formas e representações nessa complexa teia de atuações
semelhantes à dos profissionais liberais-clientes, por ter caráter rumo à melhoria da profissionalização docente. Porém, a
voluntário e pela relação constituída entre formador-formando, experiência tem mostrado bons resultados na metodologia
os mestres são produtores do saber e o aluno funciona como ativa, construtivista e que proporcione ação-reflexão-ação.
receptor dos conhecimentos. Nesse contexto, não importa muito a forma em que se dão
- A forma escolar, onde estão organizados todos os cursos os programas de educação continuada. O que prevalece é a
através de um poder legítimo, exigem escolaridade obrigatória concepção filosófica entre teoria e prática, a compreensão do
e existe uma instância organizadora onde os formadores não papel da universidade e das escolas de educação básica no
são responsáveis pelo programa nem por decisões processo de produção de conhecimento e qual o sentimento do
administrativas. Possuem um papel passivo em termos de profissional da educação e o sentido das instituições
planejamento. formadoras, enquanto agente de socialização de
- A forma contratual se caracteriza pela negociação entre os conhecimentos, voltadas para a melhoria do processo ensino-
diferentes parceiros. Estes estão ligados por uma relação de aprendizagem e da profissionalização docente.
troca ou contratual do programa pretendido, modalidades
materiais e ações pedagógicas da aprendizagem. Novas tendências e recursos para um novo caminhar
- A forma interativo-reflexiva, bastante presente nas Em contrapartida à concepção clássica, atualmente vem se
iniciativas de formação voltadas para a resolução de problemas desenvolvendo reflexões, anseios e pesquisas científicas,
reais. Nessa modalidade, está presente uma ajuda mútua entre visando à construção de uma nova concepção e práticas
formandos e uma ligação à situação de trabalho. condizentes com as relevantes necessidades da formação
continuada dos educadores. Esses caminhos estão delineando-
Dentro desta concepção, a autora toma uma posição e se como novas tendências para a formação continuada de
destaca significativa diferença entre as formas universitária e professores. É importante destacar que mesmo existindo
a interativo-reflexiva. A primeira parece ser mais eficiente no modelos distintos como o clássico e as novas tendências,
plano individual. A segunda, é mais eficiente nos planos nenhum deles existe isoladamente em seu estado puro,
individual e coletivo porque suscita menor resistência por sempre apresentam interfaces entre eles. Entretanto, é a partir
parte dos formandos, permite o prazer da construção da perspectiva predominante que se identifica em que modelo
autônoma, trazendo respostas aos problemas vivenciados, e tendência determinada formação está inserida.
aborda a prática de maneira global e permite a criação de As investigações recentes, e que estão conquistando
novos saberes para a profissão. consenso entre profissionais da educação, tratam de uma
Outros autores também defendem a forma interativo- formação voltada para o professor reflexivo e tem como eixo
reflexiva como uma maneira organizada e produtiva no central a própria escola. Desse modo, desloca-se o eixo da

160 DEMAILLY, Lise C. Modelos de formação contínua e estratégias de

mudança. In: NÓVOA, Antonio (org.). Professores e sua formação. Lisboa, Dom
Quixote, 1992.

Conhecimentos Pedagógicos 122


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

formação de professores da universidade para o cotidiano da uma rica construção de conhecimento em que todos se sentem
escola de educação básica. Entretanto, ressalta-se que esse responsáveis por ela.
deslocamento é defendido em termos metodológicos, não que Nóvoa destaca também a necessidade de se criar novas
se queira depreciar a grande contribuição da universidade na condições para o desencadeamento desse ousado processo,
formação docente. em que a escola seja explorada em todas suas dimensões
Tal perspectiva rompe com a concepção clássica de formativas.
formação continuada muitas vezes concebida como um meio Para a escola se constituir enquanto lócus de formação
de acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas. É continuada, se faz necessária a promoção de experiências
entendida como um trabalho reflexivo da prática docente, internas de formação, que esta iniciativa se articule com o
como uma forma de reconstrução permanente de uma cotidiano escolar e não desloque o professor para outros
identidade pessoal e profissional em interação mútua com a espaços formadores.
cultura escolar, com sujeitos do processo e com os Essa compreensão implica na necessidade das instituições
conhecimentos acumulados sobre a área da educação. escolares criarem espaços e tempos institucionalizados que
Para Nóvoa161, todo processo de formação deve ter como favoreçam processos coletivos de reflexão e intervenção na
referencial o saber docente, o reconhecimento e valorização prática pedagógica através de reuniões pedagógicas, dentro da
desse saber. Não é interessante se desenvolver formação carga horária dos profissionais, construção coletiva do projeto
continuada sem levar em consideração as etapas de político-pedagógico da escola, inclusive programa de
desenvolvimento profissional do docente, ou seja, seus formação contínua e avaliação coletiva deste. Cabe, também,
aspectos psicossociais. Existem grandes diferenças de anseios criar uma forma de incentivo à sistematização de práticas
e necessidades entre o docente em fase inicial, o que já pedagógicas a partir da metodologia de pesquisa-ação.
adquiriu uma considerável experiência pedagógica e o que já Outro aspecto relevante dessa compreensão é a mudança
se encaminha para a aposentadoria. de foco da atuação pedagógica nas instituições escolares. Tal
Por esta razão, as novas tendências de formação mudança implica numa nova concepção do trabalho do
continuada consideram estas diferenças e apontam sérias pedagogo nas escolas. Isso somente será possível se estiver
críticas a situações padronizadas e homogêneas, as quais são muito claro qual é o papel desse profissional no atual contexto
amplamente conhecidas como “pacotes de formação” que escolar. E qual o seu compromisso com a formação contínua
ignoram tais diferenças e não consideram o contexto no qual o dos docentes desenvolvida na própria escola. Numa visão
docente está inserido. crítica, Kramer, apresenta dois eixos em que devem ser
Alguns pesquisadores sobre a formação continuada de sedimentados o trabalho do orientador pedagógico ou
professores revelam que, nessas tendências inovadoras, supervisor em uma escola preocupada com a produção
destacam-se três eixos que norteiam a prática docente e coletiva e com a qualidade do processo de formação
buscam adequá-las aos desafios do momento. Candau162, continuada, quais sejam:
sintetiza esses eixos como pontos centrais de referências para “Organizar a ‘formação em serviço’ em torno de temas ou
se repensar a formação de professores adequada aos desafios problemas detectados como relevantes ou diretamente
do atual contexto. São eles: sugeridos pelos professores. Favorecer o acesso dos
professores aos conhecimentos científicos em jogo nos
- a escola deve ser vista como lócus de formação continuada; diferentes temas, ultrapassando o senso comum:
- a valorização dos saberes da experiência docente; a) teorias que analisam o processo educativo de forma
- a consideração do ciclo de vida dos docentes ampla (sociologia, antropologia, história, filosofia);
b) estudos relacionados ao processo de construção do
Primeiramente, a partir dos estudos de Antonio Nóvoa, a conhecimento (psicologia do desenvolvimento);
escola é vista como lócus de formação continuada do c) conhecimentos que tratam diretamente o tema em
educador. É o lugar onde se evidenciam os saberes e a questão”.
experiência dos professores. É nesse cotidiano que o
profissional da educação aprende, desaprende, estrutura No atual contexto educacional estão postos novos desafios
novos aprendizados, realiza descobertas e sistematiza novas para o profissional da pedagogia no cotidiano escolar. Esse
posturas na sua “práxis”. Eis uma relação dialética entre novo fazer ultrapassa os aspectos burocráticos de exigências
desempenho profissional e aprimoramento da sua formação. de planos de aula, de objetivos e avaliação, frequência e notas,
Entretanto, essa perspectiva não é simples nem ocorre os quais necessitam de uma sistematização e de um olhar
espontaneamente. Não basta acreditar que o cotidiano escolar pedagógico, porém tais pontos não podem consumir o fazer do
favorece elementos para essa formação e a partir do seu pedagogo/a na dinâmica do processo. Isto se resumiria ao
trabalho, o professor está se formando continuamente. Nesse puro tarefemos, deixando exposta a lacuna do profissional que
sentido, o pesquisador alerta: “A formação continuada deve conduziria a escola ao espírito inovador e de pesquisa baseado
estar articulada com desempenho profissional dos na ação - reflexão - ação.
professores, tomando as escolas como lugares de referência. Nessa perspectiva dinamizadora das atuais tendências de
Trata-se de um objetivo que só adquire credibilidade se os formação continuada de professores, em que a escola é
programas de formação se estruturarem em torno de compreendida como lugar de formação continuada,
problemas e de projetos de ação e não em torno de conteúdos orientadores pedagógicos ou supervisores e professores
acadêmicos”. necessitam discutir a prática pedagógica, situada num
A fim de que o cotidiano escolar se torne um espaço contexto mais amplo e buscar as necessárias soluções.
significativo de formação profissional é importante que a
prática pedagógica seja reflexiva no sentido de identificar Conforme Mediano163, esse trabalho parte de dois
problemas e resolvê-los e acima de tudo, seja uma prática princípios:
coletiva, construída por grupos de professores ou por todo 1) converter as próprias experiências em situações de
corpo docente de determinada escola. Sendo assim, tem-se aprendizagem e
2) fazer uma reflexão crítica da própria prática pedagógica.

161 NÓVOA. A. Formação contínua de professores: realidades e perspectivas. 163 MEDIANO, Zélia D. A formação em serviço do professor a partir da pesquisa

Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991 e da prática pedagógica. Rio de Janeiro. Tecnologia Educacional. Nº 105/106,
162 CANDAU, Vera Maria (org.). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis: 1992, 31-36.
Vozes,3ª Edição,1999.

Conhecimentos Pedagógicos 123


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

aproximar as etapas do ciclo profissional de professores,


Entretanto, para que a escola redirecione sua prática conhecida na psicologia como ciclo de vida do adulto.
de formação e redimensione o trabalho do pedagogo, é As contribuições de Hubermann, professor da Faculdade
imprescindível que os dirigentes de escolas e os órgãos de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de
gestores da educação em conjunto com essa categoria, revejam Genebra têm sido significativas para aprofundar o sentido da
os aspectos de atuação desse profissional no cotidiano escolar, docência enquanto “carreira” profissional. Para o pesquisador
contribuam para modificar a representação negativa que foi esse conceito apresenta algumas vantagens:
construída nesta profissão ao longo da história, desde a “Em primeiro lugar, permite comparar pessoas no
própria universidade e passem a compreender que este exercício de diferentes profissões. Depois, é mais focalizado
profissional não é um mero assistente ou acessório que o estudo de "vida" de uma série de indivíduos. Por outro
pertencente ao quadro administrativo da escola. lado, e isso é importante, comporta uma abordagem ao mesmo
Nesse sentido, outro fator importante, destaca Mediano, e tempo psicológica e sociológica. Trata-se, com efeito, de
a necessidade de os orientadores pedagógicos se estudar o percurso de uma pessoa em uma organização (ou
desvincularem da insegurança que assola esse profissional em numa série de organizações) e de compreender como as
seu novo campo de atuação, ou seja, na formação de características dessa pessoa exercem influência sobre a
professores em serviço. Para vencer esse desafio, é organização e são, ao mesmo tempo, influenciadas por ela”.
importante a troca de experiências e a necessidade de se criar Hubermann164 correlaciona os estudos clássicos do ciclo
instâncias de trocas e de trabalhos coletivos, bem como se da vida individual trazidos da Psicologia com os estudos de um
instalar um clima de confiança entre os pares. grupo específico de professores. O autor identifica estágios
Tardif destaca o segundo eixo das atuais tendências de durante a carreira docente; passeia pela subjetividade do
formação continuada, como sendo a valorização do saber professor procurando conhecer a imagem que as pessoas têm
docente. O trabalho desenvolvido parte da investigação dos de si como professores ativos, em diferentes momentos de sua
saberes dos professores, sua natureza, sua origem, na carreira; o nível de competência com o decorrer dos anos, bem
capacidade de construção e reconstrução de saberes como procura estabelecer o diferencial entre os professores
específicos dos professores e das relações que estes que chegam ao fim da carreira com sofrimentos e aqueles que
profissionais estabelecem entre os saberes construídos no a finalizam com tranquilidade.
cotidiano escolar e as ciências da educação. Em seus estudos, o autor identifica cinco etapas básicas
Os saberes da experiência são de extrema importância na que não são estáticas nem lineares, a saber: a entrada na
profissão docente, se originam no trabalho cotidiano e no carreira, tempo de sobrevivência e descobertas; a fase de
conhecimento do seu meio. São incorporados à vivência estabilização, etapa de identificação profissional; a fase de
individual e coletiva e se traduzem em habilidades de saber diversificação, momento de buscas plurais e experimentações;
fazer e saber ser. São conhecimentos que surgem da a etapa de distância afetiva, lugar de serenidade e lamentação;
experiência e são por ela validados. É importante destacar que e, finalmente, o momento de desinvestimento, próprio do final
é através desses conhecimentos experienciados que os de carreira profissional.
professores julgam a formação individual, atribuem valores Diante dessas considerações, é possível compreender que
aos planos e reformas implementados e definem o ciclo da vida profissional é deveras complexo, o qual sofre
determinados modelos de excelência profissional. Podemos interferências de múltiplas variáveis, muito embora, no
compreender da seguinte forma: “eles constituem, hoje, a desempenho da profissão muitas vezes, não são consideradas
cultura docente em ação é muito importante que sejamos as mutações e os estágios psicossociais do educador.
capazes de perceber essa cultura docente em ação, que não Contribuições dessa natureza são de grande valia para a
pode ser reduzida ao saber cognitivo”. discussão e prática da formação continuada, visto que é
É de extrema importância ressaltar a práxis reflexiva na imprescindível à compreensão da heterogeneidade desse
cultura da formação, visto que os saberes adquiridos na processo. É importante a tomada de consciência que as
experiência ficam relevados ao “ostracismo” e não são necessidades, os problemas, as buscas dos professores não
canalizados e sistematizados para um saber acadêmico. A são as mesmas nos variados momentos de sua profissão.
própria Universidade não tem essa vivência, em seus cursos de Essa compreensão impede a realização de programas de
formação inicial ou continuada para docentes, parte do zero e formação que padronizem os profissionais em um mesmo
desconsidera um saber construído na experiência que lugar comum ou que desconsidere seus interesses e
necessita ser confrontado com a produção acadêmica. necessidades.
Para ratificar essa compreensão Nóvoa afirma: “A Nesse sentido, podemos refletir a respeito do ciclo de vida
formação continuada deve alicerçar-se numa reflexão na dos educadores articulado às novas tendências de formação
prática e sobre a prática”, através de dinâmicas de centrada numa visão construtivista:
investigação-ação e de investigação-formação, valorizando os “É urgente devolver a experiência ao lugar que merece na
saberes de que os professores são portadores. Essa linha de aprendizagem dos conhecimentos necessários à existência
pesquisa se constitui em uma importante iniciativa de reflexão (pessoal, social e profissional), na certeza que este processo
no âmbito educacional. É um espaço de pesquisa emergente e passa pela constatação que o sujeito constrói o seu saber
pouco explorado, ainda tem muito a contribuir com o saber ativamente ao longo de seu percurso de vida. Ninguém se
sistematizado da prática docente. contenta em receber o saber como se ele fosse trazido do
O terceiro eixo orientador das atuais tendências da exterior pelos que detém os seus segredos formais”.
formação continuada de professores centra-se na Todas essas contribuições teóricas que concebem a escola
consideração do ciclo de vida dos docentes trabalhados por como lócus de formação continuada, valorizam os saberes
Hubermann. É uma visão abrangente e unitária que possui docentes e reconhecem que os ciclos de vida profissional dos
grandes contribuições para a superação da dicotomia teoria - professores se constituem como pilares para a fomentação das
prática presente no modelo clássico novas tendências na formação docente. Os conceitos e
Essa é uma temática recente no meio acadêmico, vem formulações tratados aqui visam à formação do educador
abrindo uma interessante linha de pesquisa que visa reflexivo que tem como prática recorrente a ação-reflexão-
ação enquanto elemento fundamental para se trilhar novos

164 HUBERMAN, M. La vie do enseignants: evolution et bilan de une profession.

Paris: Delachaux et Niestlé, 1989.

Conhecimentos Pedagógicos 124


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

caminhos rumo à consolidação de um modelo construtivista


de formação profissional do educador.

Questões Anotações
01. (CONDER - Pedagogo - FGV) Os profissionais da
educação buscam cursos de formação continuada, sejam eles
presenciais, semipresenciais ou à distância, oferecidos pelas
mais diversas instituições.
Sobre as políticas de formação continuada, assinale a
afirmativa correta.
(A) O alvo das políticas de formação continuada são os
gestores educacionais, já que cada vez mais se faz necessário
que os gestores tenham uma dimensão de gestão democrática
e participativa.
(B) Os cursos de formação continuada devem implementar
o mesmo, pois deste modo tem‐se a garantia de que o ensino
oferecido será homogêneo e de qualidade para todos.
(C) O processo de formação em que o especialista possui
maior domínio do assunto cobre as lacunas que foram
ocasionadas na graduação
(D) O foco está nos conteúdos que foram apropriados (ou
deveriam ter sido apropriados) no processo de formação ao
longo da graduação.
(E) O principal objetivo é aprofundar o conhecimento,
diante do advento das novas tecnologias, da reorganização dos
processos produtivos e seus reflexos na sociedade.

02. (TCE/PI - Pedagogo - FCC). A educação profissional se


organiza de maneira a integrar-se às diferentes formas de
educação, ao trabalho e ao desenvolvimento tecnológico. Pode
ser desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por
meio de estratégias de educação continuada em instituições
especializadas ou no ambiente de trabalho. No caso da
educação continuada,
(A) o acesso ao mercado de trabalho fica vinculado à
conclusão de cursos regulares, mediante comprovação pelo
histórico escolar.
(B) os certificados, mesmo registrados, têm validade
restrita a determinadas empresas e em âmbito regional.
(C) considera-se a experiência do aluno e a certificação do
conhecimento adquirido permite que o trabalhador continue a
estudar e aperfeiçoar-se.
(D) por se tratar de educação de jovens e adultos, a
avaliação no processo deve se restringir à observação das
atividades dos alunos.
(E) há restrições legais, em termos de carga horária,
conteúdo programático e qualificação dos professores
instrutores, bem como da validação de cursos.

03. (MMA - Analista Ambiental - CESPE). Com relação a


recursos humanos, julgue o item seguinte.
O ensino a distância, uma das modalidades de educação
continuada utilizada nos processos de educação corporativa,
não tem proporcionado aos seus participantes melhor
desempenho de seus papéis nas organizações.
( ) Certo ( ) Errado

Respostas

01. E. / 02. C. / 03. Errado.

Conhecimentos Pedagógicos 125


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Conhecimentos Pedagógicos 126


Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
BIBLIOGRAFIA

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

princípio da sustentabilidade”, fica claro que a desigualdade


social e a degradação ambiental têm suas raízes no sistema
capitalista.
Considerando esta última visão, entende-se, neste texto,
que a consolidação de um projeto de desenvolvimento no Brasil
requer:
a) a articulação entre democracia participativa e
democracia representativa;
b) a inclusão social nos processos concernentes à
ampliação das oportunidades produtivas e à melhoria da
qualidade de vida; e
AGUIAR, Márcia Ângela da c) a articulação institucional entre os entes e as diversas
Silva [et. al.]. Conselho Escolar instâncias da Federação que seja expressa nos processos de
e a relação entre a escola e o formulação, implementação e avaliação das políticas públicas.
desenvolvimento com Esta posição apoia-se, de um lado, no pressuposto de que
igualdade social. Brasília: o desenvolvi- mento situa-se num campo de conflitos de
Ministério da Educação, interesse de grupos e classes sociais e, portanto, não é um
fenômeno ou processo neutro; e, de outro lado, que o
Secretaria de Educação Básica, desenvolvimento, por não se constituir em um fenômeno
2006. padronizado, é uma possibilidade aberta de construção de
novas regras e práticas institucionais, a partir do
envolvimento de múltiplos atores sociais.
I - Desenvolvimento com igualdade social: de que Para tanto essas situações somente são viabilizadas quando
estamos falando?1 há o reconhecimento de parte das comunidades envolvidas que
não se trata de uma questão a ser conduzida de forma
Para expandir a compreensão a respeito da temática individual, mas na ação coletiva, abrangendo as dimensões
abordada no primeiro capítulo, ou caderno, como denomina a social política, econômica e cultural. Isso implica o
autora, necessário saber que existem várias concepções ou reconhecimento da necessidade de investimento em processos
perspectivas diferentes para trabalhar o tema. formativos que favoreçam o domínio de conhecimentos para
Uma primeira concepção de desenvolvimento sustentável alargar a compreensão dos processos históricos sociais e
pode ser encontrada no Relatório Brundtland, de 1987, ampliar a capacidade de intervenção na sociedade tendo em
produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e vista a construção da justiça e igualdade social.
Desenvolvimento da ONU. Dessa forma, espera-se da educação e da escola que, além do
Neste relatório, o desenvolvimento sustentável é aquele cumprimento das funções sociais e pedagógicas que lhes são
que “atende às necessidades do presente sem comprometer a próprias, sejam indutoras de novas formas de sociabilidade
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias humana que influenciem o padrão de desenvolvimento e
necessidades”, ou seja, aquele que “garante um crescimento democracia.
econômico vigoroso e, ao mesmo tempo, social e ambientalmente Vale a pena, contudo, enfatizar que debater a
sustentável”. Esta concepção de desenvolvimento sustentável responsabilidade da escola quanto à inclusão social significa,
tem como princípio norteador o crescimento econômico e a no fundo, discutir a possibilidade de uma nova organização
eficiência na lógica do mercado. social capaz de garantir a plena cidadania de todos os
Segunda concepção de desenvolvimento sustentável segmentos que a integram.
entende que a sustentabilidade seria alcançada, por um lado, Muito embora o Brasil, nas últimas décadas, tenha avançado no
com a preservação e construção de comunidades sustentáveis tocante à garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais, há
“que desenvolvem relações tradicionais com o meio físico certamente um longo caminho a percorrer para que sua
natural de que depende sua sobrevivência” e, por outro lado, com aplicabilidade seja universal. É importante reconhecer o fosso que
o fortalecimento dos Estados nacionais, que poderiam existe entre aqueles que gozam plenamente dos direitos de
implementar políticas em oposição aos objetivos do livre cidadania e aqueles que não desfrutam das mínimas condições de
comércio e à erosão das fronteiras nacionais. Esta concepção, sobrevivência. E esses cidadãos, que constituem um grande
como observam os citados autores, muito embora seja contingente da população brasileira, estão a clamar por justiça
portadora de uma crítica ao capitalismo globalizado e seus social e igualdade de oportunidades em todos os campos.
impactos sobre a autonomia dos Estados nacionais, propõe Para diminuir essa distância, é necessário que o poder público,
uma volta ao passado e o homem é visto em posição de nas diversas instâncias, desenvolva políticas públicas em todos os
subserviência em relação à natureza. campos, de modo a garantir a efetivação desses direitos, e que a
Por fim, uma terceira concepção de desenvolvimento população, mediante ação dos setores organiza- dos, participe
sustentável tem como perspectiva a “sustentabilidade ativamenteda formulaçãoe implementaçãodaspolíticasque tenham a
democrática”. Tal concepção supõe uma mudança na igualdade como cerne. Nesse processo, vale destacar, a educação é
orientação do desenvolvimento econômico, contemplando a portadora de uma promessa fundamental: contribuir para dotar a
justiça social, a superação da desigualdade socioeconômica e sociedade de mecanismos e instrumentos que possibilitem acessar
os processos democráticos. Nesta perspectiva, o mercado e a e cobrar legitimamente os direitos da cidadania, os quais, no Brasil,
visão economicista deixam de ter a centralidade e cedem lugar estão inscritos na Constituição Federal.
“a uma perspectiva de desenvolvimento democrático, que se O retrato da escola no Brasil revela com muita nitidez a
realiza na partição da riqueza social e na distribuição do existência desse enorme fosso social e as estatísticas mostram
controle sobre os recursos, inclusive os provenientes da em que medida a desigualdade tem decrescido no país. O
natureza, explicitando o cunho político desta apropriação”. Em conhecimento desses dados e a discussão contextualizada
tal concepção de desenvolvimento, que tem “a equidade como sobre os mesmos constituem requisitos importantes para a

1Disponívelem:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/cad%2010.pdf

Bibliografia 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

construção solidária de caminhos que permitam à escola visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
cumprir a sua função socialem favor da formação cidadã. o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Isso significa que todo cidadão tem direito ao acesso, à


permanência e de ser bem-sucedido na educação escolar básica.A
responsabilidade de assegurar este direito é, sobretudo, do
Estado e, por conseguinte, dos governos nas três esferas jurídico-
administrativas: União, estados e municípios. Sem dúvida, a ação
do Estado, com a colaboração da família e da sociedade, é
imprescindível neste campo, principalmente em um país que
apresenta um quadro de desigualdades sociais como o Brasil,
produzidas que são no âmbito docapitalismo mundial.
O Estado intervém no campo educacional mediante um
conjunto de políticas públicas que são formuladas e
desenvolvidas nessas três instâncias, muitas vezes com a
participação da sociedade civil (comunidades, entidades não-
governamentais, sindicatos, entre outros) e que são traduzidas
O que ocorre com a educação em outros países? em programas, projetos e ações, sejam de abrangência
Com efeito, se nos reportarmos aos objetivos de nacional, estadual ou municipal.
desenvolvimento que os Chefes de Estado e de Governo de 189 A Constituição Federal atribui ao Estado a obrigatoriedade
países se comprometeram a cumprir, para o ano de 2015, de garantir os direitos econômicos, sociais e culturais para
durante a Cúpula do Milênio das Nações Unidas, celebrada em todos os brasileiros. Isso significa que a Constituição brasileira
2000, ficaremos com a sensação de otimismo. Naquela ocasião incorpora a universalidade e a indivisibilidade dos direitos
foram priorizados como Objetivos do Milênio – componentes humanos que se expressam na garantia dos direitos à
da agenda global do século XXI, o que segue: educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à
1. Erradicar a extrema pobreza e a fome; previdência social, à proteção à maternidade e à infância e à
2. Atingir o ensino básico universal; assistência aos desamparados.
3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das Cada governante, ao assumir o cargo, tem, como é de praxe
mulheres; (pelo menos, formalmente), um programa a ser executado e,
4. Reduzir a mortalidade infantil; ao mesmo tempo, é chamado a decidir sobre a continuidade de
5. Melhorar a saúde materna; certas ações iniciadas no governo anterior. Tem ocorrido, com
6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; muita frequência, com a mudança dos governos, uma
7. Garantir a sustentabilidade ambiental; interrupção nas ações pedagógico-administrativas que vêm
8. Estabelecer uma parceria mundial para o dando certo, o que prejudica o atendimento das demandas da
desenvolvimento. população. Constatada tal situação, cabe aos setores
Contudo, o otimismo logo diminui quando se tem em mãos, organizados da sociedade mediar o processo de demandas da
cinco anos depois, os números apresentados pela Organização população junto a essas instâncias, especialmente no que diz
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) respeito à garantia de acesso e permanência bem-sucedida dos
em seu último informe, no qual ressalta que ainda falta muito para estudantes nas redes escolares.
se alcançar um direito básico: aalfabetização. As obrigações do poder público em relação ao campo
A Unesco aponta, neste trabalho, que a quinta parte da educacional estão também definidas na Lei de Diretrizes e Bases
população adulta do planeta não tem acesso à educação e, da Educação Nacional. Em relação ao acesso à escola, a LDB, no
portanto, não sabe ler nem escrever. Destaca que em 12 países art. 5º (incisos I, II, III), é muito clara ao definir as
se reúnem as três quartas partes dos analfabetos do mundo. A responsabilidades das diversas instâncias e dos gestores da
Ásia meridional e ocidental apresenta uma taxa de escola, asaber:
alfabetização de apenas 58,6%, seguida pela África
Subsahariana (59,7%) e os estados árabes (62,7%). Asituação I – recensear a população em idade escolar para o ensino
na América Latina e Caribe também é preocupante. Segundo este fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso;
informe, mais da metade dos países da região investem em II – fazer-lhes a chamada pública;
educação menos de 5% de seu produto interno bruto (PIB), e III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
alguns governos apenas 1% a este setor. escola;
Como podemos verificar, a problemática relativa à
educação dos povos constitui uma preocupação mundial o que Cumprir essas exigências da LDB requer dos sistemas de
se explica pela centralidade que o conhecimento assumiu nos ensino e das escolas capacidade pedagógica e administrativa
processos produtivos e nos desafios para o exercício da cidadania para a instituição de condições favoráveis ao desempenho das
plena no mundo contemporâneo. mencionadas responsabilidades. Isso não constitui, no entanto,
As políticas e a gestão da educação básica no cenário uma tarefa simplesmente técnica, dado que implica tomada de
de desigualdades decisão política de governos nas diversas instâncias.

Considerando essas informações que nos permitem ter II – A garantia do acesso a uma escola de qualidade como uma das
mais clarezasobre diversos aspectos da educação no contexto condiçõesdedesenvolvimentodopaís:
mundial, vamos analisar de modo sucinto o que tem sido feito
pelo poder público nesta seara, no Brasil. Um dos caminhos Os sistemas nacionais de educação, no formato atual
para efetivar tal análise é considerar o que reza a Constituição surgiram no mundo ocidental no momento em que
Federal de 1988 sobre a educação. A educação é definida no despontavam os Estado Nacionais e se firmavam as bases de
artigo 205, transcrito a seguir, como um direito de todos e um moderna sociedade democrática.
dever do Estado: A educação escolar, ao internalizar princípios e valores,
teria como um de seus principais objetivos contribuir a
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, socialização, em sentido amplo, envolvendo todos os aspectos
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, da vida em sociedade. Tendo em vista o cumprimento deste

Bibliografia 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

papel, a escola não deve se descurar da preparação para o Contudo, de modo contraditório, a escola pode contribuir,
exercício da cidadania. sobretudo, com a indução sistemática quanto à necessária
Nessa direção, a história mostra que nos países que articulação entre as ações pedagógicas e políticas para a
investiram na educação, os sistemas nacionais de educação formação de um cidadão crítico e criativo capaz de concorrer para
chegaram, mais rapidamente, à universalização do ensino as mudanças profundas na sociedade. Daí a importância de se
elementar, inclusive como um produto das lutas sociais por buscar a construção coletiva do projeto político-pedagógico que
maior igualdade de oportunidades. se constitua efetivamente o norte das ações pedagógicas e
curriculares desenvolvidas pela escola.
A realidade socioeconômica brasileira traz para o interior
da escola situações e problemas que ultrapassam a sua
capacidade de atuação, a exemplo do desemprego estrutural
que atinge os jovens. Como já referido, os dados do IBGE
mostram que parcela significativa dos jovens não encontra
trabalho.
Os jovens são vítimas desse processo e são atingidos em
sua auto-estima, tomando, muitas vezes, caminhos que
deságuam na violência. Apresenta-se, assim, nesse contexto,
um grande desafio para a escola: contribuir com a for- mação
cidadã dos jovens. O desafio maior é exercer essa função em
De fato, nos países do capitalismo avançado, ainda que a ambientes desfavoráveis. Todavia, em que pese a baixa
universalização do ensino elementar não tenha significado expectativa que reina na sociedade em função da falta de
para todos o mesmo patamar de ascensão social, certamente oportunidades de trabalho, a escola precisa participar no
garantiu a disseminação de princípios e valores relativos ao esforço de favorecer a construção de perspectivas para os
exercício da cidadania, bem como a base de conhecimentos estudantes, bem como para a comunidade em que está
necessária a todos os indivíduos, o que influenciou a inserida.
estruturação de sociedade menos desiguais. De fato, “sem A cidade e o bairro são espaços sociais que compõem,
querer atribuir à escola uma influência maior do que ela possa ter, juntamente com a escola, o ambiente de formação das crianças
pode-se afirmar que, no mundo desenvolvido, a educação escolar e jovens matriculados no sistema público de ensino. A escola
colaborou fortemente para que se estruturassem sociedades precisa nesse território promover o debate do contexto social,
menos desiguais, instrumentalizando os indivíduos para uma das políticas públicas, com a finalidade de contribuir para a
participação mais efetiva tanto no nível sócio-político quanto no ampliação de espaços onde a juventude possa exercitar uma
nível produtivo”. ocupação cidadã. Projeto de vida do estudante, projeto de
Na América Latina, este movimento ocorreu desenvolvimento local e projeto político-pedagógico precisam
diferentemente. Como afirma Fogaço, ao subdesenvolvimento ter estreita relação. A escola precisa saber o que está
econômico correspondeu um “subdesenvolvimento sócio- acontecendo no seu bairro. A escola precisa saber e colaborar
político”, gerando sociedades marcadas pelas desigualdades, com a construção de novas perspectivas para os estudantes.
nas quais CIDADANIA quase sempre é sinônimo de PODER
ECONÔMICO. A educação escolar se implantou com um caráter III – Conselho Escolar: incentivador da articulação
altamente seletivo, transformando-se em importante escola/sociedade.
instrumento de legitimação das desigualdades existentes. O A autora, no presente tópico pretende viabilizar aos
que ocorreu no Brasil não foi diferente. diferentes segmentos que compõe a unidade escolar e a
comunidade local, principalmente aos membros do Conselho
A escola e o desenvolvimento local: a interação Escolar, identificar na sociedade práticas emergentes que
possível. favorecem a construção da cidadania. Práticas sociais as mais
Com as críticas crescentes à globalização neoliberal que diversas, que são traduzidas numa intensa efervescência
aprofunda adesigualdade social e que se expressa na exclusão cultural e social, passam despercebidas ou não são legitimadas
social, o desenvolvimento local passa a ser considerado uma ou apoiadas não só pela escola, como também pelos sistemas de
saída para a questão da pobreza, das desigualdades pessoais e ensino, ou mesmo, pela sociedade.
regionais e da própria questão da sustentabilidade. Mesmo O que mais se evidencia é a existência de um discurso
que o debate sobre esta questão ainda mostre muitas institucional que insiste em ignorar a capacidade de
ambiguidades,importa destacar que o tema desenvolvimento intervenção e as ações que estão em marcha, organizadas pelas
local sustentável está na pauta. comunidades, visando à construção de um mundo mais igual,
Esta proposta, que contempla uma concepção de ético, fraterno e solidário. Perceber, compreender, criticar e, se
desenvolvimento “de baixo para cima”, incorpora uma visão necessário, alterar a sua prática pedagógica constitui um
mais orgânica do desenvolvimento. Tem como característica desafio para a escola, o que pode ser efetivado mediante um
principal a valorização da identidade sociocultural de cada conjunto de ações norteadas pelo projeto político-pedagógico
território, apoiando-se nas associações comunitárias e nas construído coletivamente. Nessa direção, pode-se considerar a
instituições locais. multiplicidade de formas de atuação ao alcance das escolas e
Visa ao fortalecimento e à diversificação da economia local de seus profissionais, tais como:
como condição para alcançar uma verdadeira melhoria na a) mapear as organizações populares existentes no bairro;
qualidade de vida das pessoas. b) promover assembleias externas, em parceria com as
A escola está situada em um determinado espaço e pode entidades da sociedade civil, para analisar ou propor políticas
desempenhar um papel importante no seu entorno visando de desenvolvimento local;
contribuir para o exercíciocoletivo da cidadania. Dependendo c) inventariar a situação do bairro com o objetivo de
do nível de inserção e compromisso com a comunidade, a compreender o contexto social, econômico e político, o que
escola constitui um espaço estratégico para o significa entender o bairro, suas perspectivas, potencialidades,
desenvolvimento de ações coletivas que materializam o projetos do setor público e do setor privado que modificarão a
exercício de sua função social. Esse papel não é fácil de ser vida local.
exercido, haja vista que a escola, no Brasil, está imersa nas Há um razoável consenso entre os educadores que o projeto
relações sociais capitalistas que põem limites à sua ação. político-pedagógico, construído de forma coletiva e

Bibliografia 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

participativa, constitui o norte orientador das práticas


curriculares e pedagógicas na escola. O Conselho Escolar pode
exercer um papel relevante na gestão escolar (pedagógico-
administrativa) contribuindo para a construção e
implementação do projeto político-pedagógico da escola e
para o alargamento do horizonte cultural dos estudantes.
Nesse processo, o Conselho Escolar, ao atuar plenamente,
no sentido de contribuir com a ampliação das oportunidades de
aprendizagens dos estudantes, não só se fortalece como
instância de controle social como também auxilia a escola
pública no cumprimento de sua função social.

Conselho Escolar e a articulação com a comunidade:


Nessa direção, a escola pode propiciar a organização de
situações que favoreçam ao estudante efetivar aprendizagens
que o leve a valorizar a história do seu bairro, dos líderes
populares do seu lugar, da sua raça, do seu gênero e da sua
classe social. Incentivar no corpo discente o desenvolvimento
de posturas solidárias, críticas e criativas e propiciar a Enfim, incentivar a constituição de projetos de vida dos
organização de situações que induzam o estudante a lutar estudantes articula- dos aos movimentos que visam à
pelos seus sonhos são tarefas de uma escola comprometida construção coletiva do projeto de bairro, da cidade e da nação
com a formação cidadã. é um desafio. Projetos de vida que significam crescimento
Nesse sentido, a escola pode realizar atividades que pessoal e profissional, considerando a sociedade complexa e
despertem o senso estético, concorrendo, assim, para a vivência contraditória na qual o estudante se situa. Contribuir para que
mais plena dos estudantes, como seres humanos sensíveis, o estudante se reconheça como ser histórico e que faz a história
mesmo que estes convivam em ambientes pouco em suas ações cotidianas e em interação com o outro é papel da
estimuladores da beleza que a natureza e a produção cultural da escola. Esse reconhecimento do estudante como ser histórico,
humanidade oferecem. capaz de, ao longo do tempo e em processos de lutas coletivas,
Incentivar e desenvolver atividades pedagógicas que mudar as condições de vida e as relações sociais de trabalho
permitam aflorar a sensibilidade e o bom gosto dos estudantes nessa sociedade, valoriza a ação da escola.
pode ser um objetivo relevante da escola. Nessa direção, são variadas as atividades de cunho
É necessário atentar que para possibilitar um ambiente pedagógico que podem ser desenvolvidas na escola e na
favorável às aprendizagens significativas das crianças e jovens comunidade com a participação decisivado Conselho Escolar.
que se encontram em situação de maior vulnerabilidade (como São atividades propostas, discutidas, desenvolvidas e ava-
bem evidenciam as manchetes que apontam para as liadas por docentes em sua relação com os estudantes, bem
estatísticas de violência, desemprego, gravidez indesejada e como por outras instâncias da escola e pelo Conselho Escolar.
precoce e restritas oportunidades culturais e de lazer), a escola
depende, em boa par- te, da ação solidária e colaborativa da Algumas considerações finais:
comunidade local em relação às suas propostas pedagógicas. A autora, durante todo o texto, tenta deixar claro aos
Crianças e jovens, habituados e fascinados pela vida livre das leitores que a escola vive permanentemente contradições
ruas, sem limites e regras, têm dificuldade de adaptação à que resultam da sua própria inserção no mundo capitalista.
“estrutura tradicional” da escola. De fato, as escolas brasileiras atendem um grande
O que pode contribuir para alterar esse quadro de contingente de estudantes oriundos de famílias que vivem
incertezas e de dificuldades de toda ordem é levar todas essas em situação de pobreza e não raro, em ambientes
questões ao debate no coletivo da escola, expor as socialmente degradados.
contradições que afloram permanentemente na prática Contudo, ao mesmo tempo em que reproduz as estruturas
pedagógica, não se deixar intimidar pelo volume dos problemas de dominação da sociedade, a escola é um campo aberto à
e pela precariedade de recursos que poderiam ser acionados possibilidade de questionamento desse padrão de dominação.
visando à sua superação. Debater as situações problemáticas, Quando a escola oferece situações de desafio e de
tomar decisões, desenvolver e avaliar as ações pedagógicas e aprendizagens que levam ao questionamento do senso
administrativas, nos colegiados, parecem ser formas bem- comum, ao desenvolvimento das capacidades de
sucedidas de lidar com as inúmeras questões sociais e argumentação, de crítica e da criatividade, ela possibilita a
pedagógicas que emergem no cotidiano da escola. mudança para patamares superiores. Tudo isso implica
decisões político-pedagógicas.
A participação nos projetos comunitários: Quando há uma decisão política de situar a educação escolar
Nessa perspectiva, a escola pode procurar interagir com os com qualidade social, isso significa optar por um projeto
projetos comunitários, de natureza socioeducativa, que visem educativo que contempla a maioria da população e tem como
promover o ingresso, o regresso, a permanência e o sucesso dos pressupostos a igualdade e o direito à educação. Nessa
estudantes na escola. Estrategicamente, a escola e o sistema de perspectiva, as iniciativas e políticas que apontam para a
ensino podem aproveitar a existência desses projetos para inclusão social não se confundem com ações compensatórias e
discutir, apreciar e avaliar as condições de infra-estrutura e localizadas que pouco alteram as condições de desigualdade da
pedagógicas locais, com o propósito de implantar de forma sociedade. Levam em consideração o local e o agora, mas
progressiva e criativa o tempo integral, já sinalizado na Lei de ultrapassam essa visão restrita projetando-se para o todo
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e, de há muito tempo, social e para o futuro.
uma realidade em países que alcançaram melhores patamares Nessa perspectiva, um projeto educacional que possibilita
na oferta da escolarização às suas populações. a articulação de todos os segmentos, que estimula práticas
coletivas de solidariedade e que proporciona as condições de
desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras é
portador de uma mensagem de mudança da sociedade que se
revela na superação dos preconceitos e de todos os fatores que

Bibliografia 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

têm contribuído historicamente para a negação do direito do d) Devemos trabalhar em defesa da educação pública,
acesso e da permanência na educação escolar. gratuita, democrática, inclusiva e de qualidade social para
Portanto, participar da construção de um projeto educacional todos;
dessa magnitude requer do Conselho Escolar a organização de
situações de debate e de estudos que permita a todos os e) É fundamental a universalização do acesso, a ampliação
segmentos da comunidade escolar avançar na compreensão das da jornada escolar e a garantia da permanência bem-sucedida
vinculações do fazer pedagógico com as demais práticas para crianças, jovens e adultos, em todas as etapas e
sociais. Assim, perceberá que o projeto político-pedagógico da modalidades de educação básica.
escola tem suas bases de sus- tentação num projeto social mais
amplo cujo ponto central é sempre o respeito à dignidade do ser Diante deste contexto, a autora considera indispensável à
humano. escola:
Finaliza a autora afirmando que o Conselho Escolar buscará formas - Socializar o saber sistematizado;
de incentivar a participação de todos os segmentos envolvidos - Fazer com que o saber seja criticamente apropriado pelos
no processo educativo, de modo a assegurar a sua adesão e alunos;
comprometimento com os ideais de renovação democrática dos - Aliar o saber científico ao saber prévio dos alunos (saber
espaços e das práticas escolares. popular);
- Adotar uma gestão participativa no seu interior;
- Contribuir na construção de um Brasil como um país de
todos, com igualdade, humanidade e justiça social.
ARÊAS, Celina Alves. A
função social da escola. Do ponto de vista jurídico e legislativo, a apresentação da
Conferência Nacional da autora na Conferência desta marcos importantes para a
educação previstos no Artigo 205 da Constituição Federal,
Educação Básica. AUAD, que assim determina:
Daniela. Educar meninas e
meninos – relações de gênero “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
na escola. São Paulo: Editora visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
Contexto, 2016. o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


A Função da Escola2 (LDBEN/1996) assegura em seu artigo inaugural:

A referente bibliografia exigida diz respeito sobre Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
apresentação intitulada “A função social da escola” da autora desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
Celina Alves Arêas na Conferência Nacional da Educação trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
Básica, explicando aos ouvintes da Conferência o que é a sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em culturais.
Estabelecimento de Ensino, delimitando os princípios e os
objetivos a serem perseguidos. O texto normativo em comento ainda estabelece em seu
artigo 2º os princípios e fins da Educação:
Os Princípios abordados foram:
Art. 2ºA educação, dever da família e do Estado, inspirada
1 – Defesa da escola pública, gratuita e laica em todos os nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
níveis; humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
2 – Educação como direito de todos e dever do Estado; educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
3 – Regulamentação do ensino privado sob o controle do qualificação para o trabalho.
Estado;
4 – Não inclusão do setor na Educação na OMC; Desenvolve sua apresentação abordando algumas
5 – Não intromissão dos organismos internacionais nos concepções de renomados autores e estudiosos do campo
rumos da educação nacional; educacional como:
6 – Defesa de um Sistema Nacional de Educação (rede
pública e setor privado). Paulo Freire:
a) A formação do sujeito deve contemplar o
Dando prosseguimento, a autora destaca que: desenvolvimento do seu papel dirigente na definição do seu
destino, dos destinos de sua educação e da sua sociedade;
a) Educação é o processo e pratica social constituída e b) Formar o cidadão, construir conhecimentos, atitudes e
constituinte das relações sociais mais amplas; processo valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e
contínuo de formação e direito inalienável do cidadão. participativo;

b) A prática social da Educação deve ocorrer em espaços e José Geraldo Bueno (PUC SP)
tempos pedagógicos diferentes, objetivando atender as a) construção de um sistema de ensino que possa se
diferentes demandas do ambiente escolar; constituir em fator de mudança social
b) responsável pela formação das novas gerações em
c) Como prática social, a educação tem como lócus termos de acesso à cultura, de formação do cidadão e de
privilegiado a escola, entendida como espaço de garantia de constituição do sujeito social.
direitos; c) distinção entre a função da escola em relação à origem
social dos alunos trouxe importantes contribuições para uma

2http://portal.mec.gov.br/arquivos/conferencia/documentos/celina_areas.pdf

Bibliografia 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

melhor compreensão da complexidade dessa instituição, por desdobrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
outro, parece ter desembocado, novamente, numa concepção Lei nº 8.069, de 1990, e na nova Lei de Diretrizes e Bases da
abstrata de escola, em particular em relação à escola pública, Educação Nacional (LDB), promulgada em 19964.
como sendo aquela que, voltada fundamentalmente para a Segundo a LDB, os profissionais da educação devem ser os
educação das crianças das camadas populares, cumpre o papel responsáveis pelos processos de aprendizagem, mas não estão
de reprodutora das relações sociais e de apoio à manutenção sozinhos nesta tarefa. A lei prevê a ação integrada das escolas
do status quo. com as famílias:

Pablo Gentili “Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as


a) Visão neoliberal da função social da escola: “Na normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
perspectiva dos homens de negócios, nesse novo modelo de incumbência de:
sociedade, a escola deve ter por função a transmissão de certas (...) VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando
competências e habilidades necessárias para que as pessoas processos de integração da sociedade com a escola; (...)
atuem competitivamente num mercado de trabalho altamente Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
seletivo e cada vez mais restrito. (...) VI – colaborar com as atividades de articulação da
b) A educação escolar deve garantir as funções de escola com as famílias e a comunidade.
classificação e hierarquização dos postulantes aos futuros Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
empregos (ou aos empregos do futuro). Para os neoliberais, democrática do ensino público na educação básica, de acordo
nisso reside a ‘função social da escola’. Semelhante ‘desafio’ só com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
pode ter êxito num mercado educacional que seja, ele próprio, (...) II – participação das comunidades escolar e local em
uma instância de seleção meritocrática, em suma, um espaço conselhos escolares ou equivalentes”.
altamente competitivo”. Ação integral das
Como a educação básica é dirigida, em princípio, a alunos
E assim conclui a Autora: Função Social da Escola - de zero a 17 anos, o ECA se aplica às escolas e diz
Compromisso com a formação do cidadão e da cidadã com explicitamente:
fortalecimento dos valores de solidariedade, compromisso com
a transformação dessa sociedade. Capítulo IV
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer.

CASTRO, Jane Margareth; “Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
REGATTIERI, Marilza. Relações visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para
o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
Contemporâneas Escola- assegurando-se-lhes:
Família. p. 28-32. In: CASTRO, I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
Jane Margareth; REGATTIERI, escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
Marilza. Interação escola- III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
família: subsídios para recorrer às instâncias escolares superiores;
práticas escolares. Brasília: IV – direito de organização e participação em entidades
estudantis;
UNESCO, MEC, 2009. V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
MARCOS LEGAIS3
ciência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais.
Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo
(...)
deslocada da periferia para o centro da família. Do mesmo
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
modo, ela passou a ser o foco principal do sistema educativo.
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
O deslocamento é fruto de uma longa história de emancipação,
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
na qual as propostas educacionais têm peso importante. Esse
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
movimento alinha-se ao dos direitos humanos e consolida-se
I – maus-tratos envolvendo seus alunos;
na Carta Internacional dos Direitos da Criança, de 1987, que
II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
registra o acesso da criança ao estatuto de sujeito de direitos e
esgotados os recursos escolares;
à dignidade da pessoa. Tais conquistas invertem a concepção
III – elevados níveis de repetência”.
de aluno como página em branco, encerrada no projeto inicial
da escola de massa e que organizava a hierarquia das posições
Tanto no ECA quanto na LDB, a efetividade do direito à
no sistema escolar. Estas mudanças incidem diretamente nas
educação das crianças e dos adolescentes deve contar com a
transformações das relações entre as gerações, tanto de pais e
ação integrada dos agentes escolares e pais ou responsáveis.
filhos quanto entre professores e alunos. Com relações mais
Esse novo ambiente jurídico-institucional inaugura um
horizontais, o exercício da autoridade na família e na escola
período sem precedentes de consolidação de direitos sociais e
como estava configurado até então – adultos mandavam e
individuais dos alunos e suas famílias.
crianças/adolescentes obedeciam – tende a entrar em crise.
De todos os equipamentos do Estado, a escola é o que tem
Na consolidação dos direitos das crianças, as
o mais amplo contato contínuo e frequente com os sujeitos
responsabilidades específicas dos adultos que as cercam vão
destes direitos, daí sua responsabilidade de atuar junto a
sendo modificadas e a relação escola-família passa a ser regida
outros atores da rede de proteção social. Isso não significa
por novas normas e leis. No Brasil, em termos legais, os
mudar o papel da escola e transformá-la em instituição
direitos infanto-juvenis estão amparados pela Constituição e
assistencialista, mas sim dar relevo a seu papel de ator

3http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001877/187729POR.pdf 4Com relação à rede de escolas privadas, o Código de Defesa do Consumidor é


também referência para balizar as relações entre escolas e famílias. INTERAÇÃO
ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares

Bibliografia 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

fundamental – embora não exclusivo – na realização do direito Estado encarregada legalmente de conduzir a educação
da criança e do adolescente à educação. formal, a escola, por meio de seus profissionais, tem a
É comum se ouvir discussões acaloradas entre professores prerrogativa de distribuir os diplomas que certificam o
sobre o ECA, principalmente quando ocorre alguma infração domínio de conteúdos considerados socialmente relevantes.
envolvendo adolescentes que recebem a proteção indicada Esses certificados são pré-requisitos para estudos futuros e
pelo Estatuto. De fato, o respeito deve ser exercido em “mão credenciais importantes no acesso das pessoas às diferentes
dupla”, ou seja, não apenas crianças e adolescentes têm posições de trabalho na sociedade.
direitos a serem respeitados, mas também seus educadores e Essas duas instituições, que deveriam manter um espaço
demais profissionais. As discussões em torno do tema devem de interseção por estarem incumbidas da formação de um
ocorrer a partir de uma compreensão acurada da doutrina da mesmo sujeito, podem, dependendo das circunstâncias, se
proteção integral, que precisa estar incorporada à formação distanciar até chegar a uma cisão. Normalmente, quando o
inicial e continuada de professores, gestores escolares e aluno aprende, tira boas notas e se comporta adequadamente,
educacionais. Com o envolvimento consciente desses mães, pais e professores se sentem como agentes
profissionais, a realização do direito à educação da criança e complementares, corresponsáveis pelo sucesso. Todos
do adolescente certamente será mais facilmente alcançada. compartilham os louros daquela vitória. Mas, quando os
Outra questão é que, para a efetivação do Estatuto, novos alunos ficam indisciplinados ou têm baixo rendimento escolar,
atores, como o Conselho Tutelar5 – órgão permanente e começam as disputas em torno da divisão de
autônomo, não jurisdicional – e o Ministério Público, passam a responsabilidades pelo insucesso. O insucesso escolar deveria
ser interlocutores dos agentes educacionais e das famílias. suscitar a análise de causas dos problemas que interferiram na
Essas mediações afetam o equilíbrio das relações de poder aprendizagem, avaliando o peso das condições escolares,
dentro das escolas, das famílias e entre escolas e famílias. familiares e individuais do aluno. O que se constata é que, em
Conflitos antes tratados na esfera privada ganham os vez disso, o comportamento mais comum diante do fracasso
holofotes e os rigores da esfera pública. escolar é a atribuição de culpas, que geralmente provoca o
Atualizando os marcos existentes, o Plano de Metas afastamento mútuo.
Compromisso Todos pela Educação, do Plano de Para ilustrar essa questão, colocamos lado a lado duas falas
Desenvolvimento da Educação (PDE), formalizado pelo recorrentes nas entrevistas realizadas para este estudo:
Decreto nº 6.094, de 24/4/2007, reforça a importância da – Dos professores, ouvíamos: “os pais dos alunos que mais
participação das famílias e da comunidade na busca da precisam de ajuda são sempre os mais difíceis de trazer até a
melhoria da qualidade da educação básica. O Plano de Metas escola”.
estabelece as seguintes diretrizes para gestores e profissionais – Dos pais desses alunos que mais precisam, ouvíamos:
da Educação: “nós, que mais precisamos de ajuda, somos os mais cobrados
“XIX – divulgar na escola e na comunidade os dados relativos pelas escolas”.
à área da educação, com ênfase no Índice de Desenvolvimento E uns não escutam os outros.
da Educação Básica – Ideb, referido no art. 3º; Neste jogo de busca de culpados, a assimetria de poder
XX – acompanhar e avaliar, com participação da entre profissionais da educação e familiares costuma pesar a
comunidade e do Conselho de Educação, as políticas públicas na favor dos educadores, principalmente quando temos, de um
área de educação e garantir condições, sobretudo institucionais, lado, os detentores de um saber técnico e, de outro, sujeitos de
de continuidade das ações efetivas, preservando a memória uma cultura iletrada.
daquelas realizadas; Novamente, se essas diferenças são convertidas em
XXI – zelar pela transparência da gestão pública na área da desigualdade, a distância entre alguns tipos de famílias e as
educação, garantindo o funcionamento efetivo, autônomo e escolas que seus filhos frequentam se amplia. Podemos dizer
articulado dos conselhos de controle social; (...) que usar a assimetria de poder para transferir da escola para
XXIV – integrar os programas da área da educação com os o aluno e sua família o peso do fracasso transforma pais, mães,
de outras áreas como saúde, esporte, assistência social, cultura, professores, diretores e alunos em antagonistas, afastando
dentre outras, com vista ao fortalecimento da identidade do estes últimos da garantia de seus direitos educacionais. É uma
educando com sua escola; armadilha completa.
XXV – fomentar e apoiar os conselhos escolares, envolvendo Mas seria possível, ou desejável, anular a assimetria entre
as famílias dos educandos, com as atribuições, dentre outras, de os familiares dos alunos e os profissionais da educação?
zelar pela manutenção da escola e pelo monitoramento das Entendemos que por trás da assimetria há diferenças reais. Os
ações e consecução das metas do compromisso; educadores escolares são profissionais especializados que têm
XXVI – transformar a escola num espaço comunitário e autorização formal para ensinar e, conforme já mencionado,
manter ou recuperar aqueles espaços e equipamentos públicos para emitir certificações escolares. Eles formam um coletivo
da cidade que possam ser utilizados pela comunidade escolar”. com interesses profissionais e institucionais a zelar, enquanto
os familiares, geralmente pouco organizados, são movidos por
NOVAS FRONTEIRAS ESCOLA-FAMÍLIA interesses individuais centrados na defesa do próprio filho.
No movimento histórico apresentado anteriormente, Mais recentemente, além de representantes dos filhos, os
vimos que houve transferência de parte das funções familiares têm sido estimulados – inclusive pela legislação
educativas da esfera familiar para a estatal. Nesse educacional – a interagir com os profissionais da educação
deslocamento, ao mesmo tempo em que o saber familiar, também como cidadãos que compõem a esfera pública da
sobretudo das famílias pobres, foi desqualificado, ocorreu a instituição escolar. A participação em conselhos escolares (ou
profissionalização das funções educativas, reorganizando a associações de pais e mestres), em conselhos do Fundeb,
interseção de funções e responsabilidades entre as famílias e conselhos de merenda etc. é parte desta tarefa de
as escolas. representação da sociedade civil e de controle social. Essa
É importante ressaltar que ainda hoje mães, pais e os dupla função – representante do filho e representante da
demais agentes escolares se encontram em condições bastante comunidade – torna mais complexa a delimitação dos lugares
distintas dentro do processo educativo. Como instituição do reservados aos pais e mães na escola, mas abre possibilidades

5 O Conselho Tutelar não possui capacidade legal de interferência em assuntos para a correção das insuficiências (artigo 129, inciso V). O que se percebe na
internos da escola. No entanto, ele pode verificar, por exemplo, frequência e o prática é que em muitas ocasiões basta que os pais sejam orientados com relação
aproveitamento escolar de determinada criança ou adolescente. Não para às suas obrigações para reverter a ausência dos alunos.
interferir na escola, mas para determinar aos pais ou ao responsável as medidas

Bibliografia 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

importantes de exercício democrático de participação que experimentações e conhecimentos prévios. É preciso aprender
podem beneficiar todos. significativamente, ou seja, não apenas acumular
Quando falamos em interação, pensamos em atores conhecimentos, mas construir significados próprios a partir do
distintos que têm algum grau de reciprocidade e de abertura relacionamento entre a experiência pessoal e a realidade. A
para o diálogo. Nessa perspectiva, é importante identificar e pré-existência de conteúdos confere certa peculiaridade à
negociar, em cada contexto, os papéis que vão ser construção do conhecimento, que deve ser entendida como a
desempenhados e as responsabilidades específicas entre atribuição de significado pessoal aos conteúdos concretos,
escolas e famílias. Por exemplo, considera-se que o ensino é produzidos culturalmente.
uma atribuição prioritariamente da escola. Esta, porém, divide Pensando especificamente o trabalho do professor, o
essa responsabilidade com as famílias, quando prescreve construtivismo é uma concepção útil à tomada de decisões
tarefas para casa e espera que os pais as acompanhem. Em um compartilhadas, que pressupõe o trabalho em equipe na
contexto de pais pouco escolarizados, com jornadas de construção de projetos didáticos e rotinas de trabalho. Por fim,
trabalho extensas e com pouco tempo para acompanhar a vida é importante ressaltar que o construtivismo não é um
escolar dos filhos, essa divisão pode mostrar-se ineficaz. Por referencial acabado, fechado a novas contribuições; sua
isso, da mesma forma como procura diagnosticar as construção acontece no âmbito da situação de
dificuldades pedagógicas dos alunos para atendê-los de acordo ensino/aprendizagem e a ela deve servir.
com suas necessidades individuais, a escola deve identificar as
condições de cada família, para então negociar, de acordo com 2. Disponibilidade para a aprendizagem e sentido da
seus limites e possibilidades, a melhor forma de ação conjunta. aprendizagem
Assim como não é produtivo exigir que um aluno com
dificuldades de aprendizagem cumpra o mesmo plano de A aprendizagem é motivada por um interesse, uma
trabalho escolar dos que não têm dificuldades, não se deve necessidade de saber. Mas o que determina esse interesse,
exigir das famílias mais vulneráveis aquilo que elas não têm essa necessidade? Não é possível elaborar uma única resposta
para dar. a essa questão. No entanto, um bom caminho a seguir é
compreender que além dos aspectos cognitivos, a
aprendizagem envolve aspectos afetivo-relacionais. Ao
construir os significados pessoais sobre a realidade, constrói-
COLL, César. O se também o conceito que se tem de você mesmo
construtivismo na sala de (autoconceito) e a estima que se professa (autoestima),
aula. São Paulo: Editora Ática, características relacionadas ao equilíbrio pessoal. O
autoconceito e a autoestima influenciam a forma como o aluno
1999. (Capítulos 4 e 5). constrói sua relação com os outros e com o conhecimento;
reconhecer essa dimensão afetivo-relacional é imprescindível
ao processo educativo.
1. Os professores e a concepção construtivista6 Em relação à motivação para conhecer, é necessário
compreender a maneira como alunos encaram a tarefa de
O construtivismo não é uma teoria, e sim uma referência estudar, que pode ser dividida em dois enfoques: o enfoque
explicativa, composta por diversas contribuições teóricas, que profundo e o enfoque superficial. No enfoque profundo, o
auxilia os professores nas tomadas de decisões durante o aluno se interessa por compreender o significado do que
planejamento, aplicação e a avaliação do ensino. Ou seja, o estuda e relaciona os conteúdos aos conhecimentos prévios e
construtivismo não é uma receita, um manual que deve ser experiências. Já no enfoque superficial, a intenção do aluno
seguido à risca sem se levar em conta as necessidades de cada limita-se a realizar atarefas de forma satisfatória, limitando-se
situação particular. Ao contrário, os profissionais da educação ao que o professor considera como relevante, uma resposta
devem utilizá-lo como auxílio na reflexão sobre a prática desejável e não a real compreensão do conteúdo. Importante
pedagógica; sobre o como se aprende e se ensina, ressaltar que o enfoque com que o aluno aborda a tarefa pode
considerando-se o contexto em que os agentes educativos variar; dessa forma, o enfoque profundo pode ser a abordagem
estão inseridos. Essas afirmações demonstram a necessidade de uma relação a uma tarefa e o enforque superficial em
de se compreender os conteúdos da aprendizagem como relação a outras pelo mesmo aluno. A inclinação dos alunos
produtos sociais e culturais, o professor como agente para um enfoque ou outro vai depender, dentre outros fatores,
mediador entre indivíduo e sociedade, e o aluno como da situação de ensino da qual esse aluno participa.
aprendiz social. Entretanto, o enfoque profundo pode ser trabalhado com
Tendo em vista uma educação de qualidade, entendida os alunos de maneira intencional. Para isso, é preciso conhecer
como aquela que atende a diversidade, o processo educativo as características da tarefa trabalhada, o que se pretende com
não é responsabilidade do professor somente. Desse modo, o determinado conteúdo e a sua necessidade. Tudo isso
trabalho coletivo dos professores, normas e finalidades demanda tempo, esforço e envolvimento pessoal.
compartilhadas, uma direção que tome decisões de forma Outro ponto importante a ser ressaltado é que o professor,
colegiada, materiais didáticos preparados em conjunto, a ao entrar numa sala de aula, carrega consigo certa visão de
formação continuada e a participação dos pais são pontos mundo e imagem de si mesmo, que influenciam seu trabalho e
essenciais para a construção da escola de qualidade. sua relação com os alunos. Da mesma forma, os alunos
A instituição escolar é identificada pelo seu caráter social e constroem representações sobre seus professores.
socializador. É por meio da escola que os seres humanos Reconhecer esses aspectos afetivos e relacionais é
entram em contato com uma cultura determinada. Nesse fundamental para motivação e interesse pela construção de
sentido, a concepção construtivista compreende um espaço conhecimento, tendo em vista que o autoconceito e a
importante à construção do conhecimento individual e autoestima, ligados às representações e expectativas sobre o
interação social, não contrapondo aprendizagem e processo educativo, possuem um papel mediador na
desenvolvimento. Aprender não é copiar ou reproduzir, mas aprendizagem escolar.
elaborar uma representação pessoal da realidade a partir de

6 COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São Paulo. Editora Ática,


1999

Bibliografia 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

As interações, no processo de construção de mesmo. O centro do processo educativo é o aluno, considerado


conhecimento, devem ser caracterizadas pelo respeito mútuo como ser ativo que aprende a aprender. Auxiliar a construção
e o sentimento de confiança. É a partir dessas interações, das dessa competência é o papel do professor.
relações que se estabelecem no contexto escolar, que as
pessoas se educam. Levar isto em consideração é compreender A primeira concepção está ligada às concepções
o papel essencial dos aspectos afetivo-relacionais no processo tradicionais, diferenciada em relação às duas restantes por
de construção pessoal do conhecimento sobre a realidade. enfatizar o papel supremo do professor na elaboração das
perguntas. As outras duas concepções, pelo contrário,
3. Um ponto de partida para a aprendizagem de novos ocupam-se de como os alunos adquirem conhecimentos; no
conteúdos: os conhecimentos prévios entanto, entendem de formas diferentes esse processo.
Compreendendo-se que aprender é construir
Quando se inicia um processo educativo, as mentes dos conhecimentos, identifica-se a natureza ativa dessa
alunos não estão vazias de conteúdo como lousas em branco. construção e a necessidade de conteúdos ligados ao ato de
Ao contrário, quando chegam à sala de aula os alunos já aprender conceitos, procedimentos e atitudes.
possuem conhecimentos prévios advindos da experiência Nesse sentido, é preciso organizar e planejar
pessoal. Na concepção construtivista é a partir desses intencionalmente as atividades didáticas tendo em vista os
conhecimentos que o aluno constrói e reconstrói novos conteúdos das diferentes dimensões do saber: procedimental
significados. Identificam-se alguns aspectos globais como (como a observação de plantas); conceitual (tipos e parte das
elementos básicos que auxiliam na determinação do estado plantas); e atitudinal (de curiosidade, rigor, formalidade, entre
inicial dos alunos: a disposição do aluno para realizar a tarefa outras). O trabalho com esses conteúdos demonstra a
proposta, que conta com elementos pessoais e interpessoais atividade complexa que caracteriza o processo educativo,
com sua autoimagem, autoestima, a representação e trabalho que demanda o envolvimento coletivo na escola.
expectativas em relação à tarefa a ser realizada, seus
professores e colegas; capacidades, instrumentos, estratégias 5. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e
e habilidades compreendidas em certos níveis de inteligência, nelas intervir.
raciocínio e memória que possibilitam a realização da tarefa.
Os conhecimentos prévios podem ser compreendidos O ensino na concepção construtivista deve ser entendido
como esquemas de conhecimento, ou seja, a representação que como uma ajuda ao processo de ensino-aprendizagem, sem a
cada pessoa possui sobre a realidade. É importante ressaltar qual o aluno não poderá compreender a realidade e atuar nela.
que esses esquemas de conhecimento são sempre visões Porém, deve ser apenas ajuda porque não pode substituir a
parciais e particulares da realidade, determinadas pelo atividade construtiva do conhecimento pelo aluno. A análise
contexto e experiências de cada pessoa. Os esquemas de aprofundada do ensino enquanto ajuda leva ao conceito de
conhecimento contêm, ainda, diferentes tipos de “ajuda ajustada” e de zona de desenvolvimento proximal
conhecimentos, que podem ser, por exemplo, de ordem (ZDP). No conceito de “ajuda ajustada” observa-se que o
conceitual (saber que o coletivo de lobos é alcateia), normativa ensino, enquanto ajuda o processo de construção do
(saber que não se deve roubar), procedimental (saber como se conhecimento, deve ajustar-se a esse processo de construção.
planta uma árvore). Esses conhecimentos são diferentes, Para tanto, conjuga duas grandes características:
porém não devem ser considerados melhores ou piores que
outros. Para o ensino coerente, é preciso considerar o estado 1) a de levar em conta os esquemas de conhecimento dos
inicial dos alunos, seus conhecimentos prévios e esquemas de alunos, seus conhecimentos prévios em relação aos conteúdos
conhecimentos construídos. Esse deve ser o início do processo a serem trabalhados;
educativo: conhecer o que se tem para que se possa, sobre essa
base, construir o novo. 2) e, ao mesmo tempo, propor desafios que levem os
alunos a questionarem esses conhecimentos prévios. Ou seja,
4. O que faz com que o aluno e a aluna aprendam os não se ignora aquilo que os alunos já sabem, porém aponta-se
conteúdos escolares? A natureza ativa e construtiva do para aquilo que eles não conhecem, não realizam ou não
conhecimento. dominam suficientemente, incrementando a capacidade de
compreensão e atuação autônoma dos alunos.
Entre as concepções de ensino e aprendizagem
sustentadas pelos professores, destacam-se três, cada uma O conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) foi
considerando que aprender é: proposto pelo psicólogo soviético L. S. Vygotsky, partindo do
entendimento de que as interações e relações com outras
1) Conhecer as respostas corretas: Nessa concepção pessoas são a origem dos processos de aprendizagem e
entende-se que aprender significa responder desenvolvimento humano. Nesse sentido, a ZDP pode ser
satisfatoriamente as perguntas formuladas pelos professores. identificada como o espaço no qual, com a ajuda dos outros,
Reforçam-se positivamente as respostas corretas, uma pessoa realiza tarefas que não seria capaz de realizar
sancionando-as. Os alunos são considerados receptores individualmente. A contribuição do conceito de ZDP está
passivos dos reforços dispensados pelos professores. relacionada à possibilidade de se especificar as formas em
aula, ajudando os alunos no processo de significação pessoal e
2) Adquirir os conhecimentos relevantes: Nessa social da realidade.
concepção, entende-se que o aluno aprende quando apreende
informações necessárias. A principal atividade do professor é Para o trabalho com os conceitos acima arrolados,
possuir essas informações e oferecer múltiplas situações indicam-se os seguintes pontos:
(explicações, leituras, vídeos, conferências, visitas a museus)
nas quais os alunos possam processar essas informações. O 1) Inserir atividades significativas na aula;
conhecimento é produto da cópia e não processo de 2) Possibilitar a participação de todos os alunos nas
significação pessoal. diferentes atividades, mesmo que os níveis de competência,
conhecimento e interesses forem diferenciados;
3) Construir conhecimentos: Os conteúdos escolares são 3) Trabalhar com as relações afetivas e emocionais;
aprendidos a partir do processo de construção pessoal do

Bibliografia 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

4) Introduzir modificações e ajustes ao logo da realização promoção, atribuição de crédito e formatura de alunos. Essas
das atividades; decisões não fazem parte, em sentido estrito, do processo de
5) Promover a utilização e o aprofundamento autônomo avaliação, porém essas decisões devem ser coerentes com as
dos conhecimentos que os alunos estão aprendendo; avaliações realizadas. O desafio é alcançar a máxima coerência
6) Estabelecer relações entre os novos conteúdos e os entre os processos avaliativos e as decisões a serem tomadas.
conhecimentos prévios dos alunos; Todo processo avaliativo deve levar em conta os elementos
7) Utilizar linguagem clara e objetiva evitando mal- afetivos e relacionais da avaliação. Desse modo, o
entendidos ou incompreensões; planejamento das atividades avaliativas parte do
8) Recontextualizar e reconceitualizar a experiência. entendimento de que o aluno atribui certo sentido a essa
atividade, sentido que depende da forma como a avaliação lhe
Trabalhar a partir dessas concepções caracteriza desafios é apresentada e também de suas experiências e significações
à prática educativa que não está isenta de problemas e pessoais e sociais da realidade. É preciso levar em conta
limitações. No entanto, entende-se que esse esforço, mesmo também o caráter sempre parcial dos resultados obtidos por
que acompanhado de lentos avanços, é decisivo para a meio das avaliações, devido à complexidade e diversificação
aprendizagem e o desenvolvimento das escolas e das aulas. das situações de aprendizagem vivenciadas pelos alunos.
Assim, as práticas avaliativas privilegiadas devem ser aquelas
6. Os enfoques didáticos que consideram a dinâmica dos processos de construção de
conhecimentos.
A concepção construtivista considera a complexidade e as Ao contrário das concepções que buscam neutralizar as
distintas variáveis que intervêm nos processos de ensino na influências do contexto nos resultados das avaliações, a
escola. Por isso, não receita formas determinadas de ensino, concepção construtivista ressalta a necessidade de considerar
mas oferece elementos para a análise e reflexão sobre a prática as variáveis proporcionadas pelos diversos contextos
educativa, possibilitando a compreensão de seus processos, particulares. Para isso, recomenda-se a utilização de uma
seu planejamento e avaliação. Um método educacional gama maior possível de atividades de avaliação ao longo do
sustenta-se a partir da função social que atribui ao ensino e em processo educativo.
determinadas ideias sobre como as aprendizagens se Partindo da consideração que é na prática que se utiliza o
produzem. que se aprende, um dos critérios, que devem ser levantados
Nesse sentido, a análise das tarefas que propõem e nas atividades avaliativas, é o menor ou maior valor
conteúdos trabalhados, explícita ou implicitamente (currículo instrumental das aprendizagens realizadas, ou seja, em que
oculto), requer a compreensão do determinante ideológico grau pode-se utilizar o que se aprendeu, o que se construiu na
que embasam as práticas dos professores. A discriminação significação dos saberes. Na medida em que aprender a
tipológica dos conteúdos, ou seja, a análise dos conteúdos aprender significa a capacidade para adquirir, de forma
trabalhados segundo a natureza conceitual, procedimental ou autônoma, novos conhecimentos, avaliar os aspectos
atitudinal, mostra-se como importante instrumento de instrumentais, é de suma importância a qualidade da
entendimento do que acontece na sala de aula. educação. Por fim, ressalta-se a necessidade da abordagem da
Outro instrumento importante para a compreensão do avaliação em estreita ligação com o planejamento didático e o
processo educativo é a concepção construtivista da currículo escolar. Dessa forma, “o quê”, “como” e “quando”
aprendizagem, que estabelece a aprendizagem como uma ensinar e avaliar se unem configurando uma prática educativa
construção pessoal que o aluno realiza com a ajuda de outras global, na qual as atividades avaliativas não estão separadas
pessoas; processo que necessita da contribuição da pessoa que das demais atividades de construção de conhecimento pelos
aprende, implicando o interesse, disponibilidade, alunos.
conhecimentos prévios e experiência; implica também a figura
do outro que auxilia na resolução do conflito entre os novos
saberes e o que já se sabia, tendo em vista a realização
autônoma da atividade de aprender a aprender.
CONTRERAS, José. A
O problema metodológico para o fazer educativo não se autonomia de professores. São
encontra no âmbito do “como fazemos”, mas antes na Paulo: Cortez Editora, 2002.
compreensão do “que fazemos” e “por que”. Na elaboração das
sequências didáticas que devem auxiliar a prática educativa
(Capítulos 3 e 7).
deve-se levar em consideração os objetivos e os meios que se
tem para facilitar o alcance desses objetivos.
A Autonomia Dos Professores7
7. A avaliação da aprendizagem no currículo escola:
uma perspectiva construtivista. José Contreras é professor titular da Universidade de
Barcelona (Catalunha), atua desde 1992, no Departamento de
A questão da avaliação do processo educativo tem sido Didática e Organização Educacional; graduado em Ciências da
muito discutida. Com o desenvolvimento de propostas Educação pela Universidade Complutense de Madri, e Doutor
teóricas, metodológicas e instrumentais, expressões e em Ciências da Educação pela Universidade de Málaga, onde
conceitos como o de avaliação inicial, formativa e somatória foi professor de 1983 a 1992.
povoam o vocabulário educacional. Junto a isso, construiu-se o É autor dos seguintes livros: Ensenanza, Curriculum y
consenso de que não se deve avaliar somente o aluno, mas profesorado. Introduciiíon Crítica a la Didáctica. (Madri, 1990;
também a atuação do professor, o planejamento de atividades 2ª ed. 1994), Models d’investigacció a l’aula ( em coautoria
e também sua aplicação. No entanto, muitas questões ainda se com Angel Pérez Gómez Y Félix Ângulo Rasco). (Barcelona,
encontram sem respostas e se configuram como desafios aos Universitat Oberta da Catalunya, 1996) e La Autonomia Del
envolvidos com o tema. Profesorado (Madri , 1997; 2ª ed. 1999). É autor de diversos
Uma primeira questão a ser levantada é a relação entre a artigos científicos publicados sobre teoria do currículo,
avaliação e uma série de decisões relacionadas a ela, como professores e sobre pesquisa-ação. Atualmente é membro dos

7http://www.espacoeducar.net/2010/08/resumo-do-livro-autonomia-

dos.html

Bibliografia 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conselhos de Redação das revistas Investigación en la Escuela O segundo modelo tenta resgatar a base reflexiva da
(Universidade de Sevilha), Temps d’Educació (Universidade atuação profissional, com formas que abordam as situações
de Barcelona), da revista eletrônica Heuresis (Universidade de problemáticas da prática, ao contrário do modelo de
Cádiz) e da seção em língua espanhola da revista eletrônica racionalidade técnica, na qual a realidade externa fica alheia à
Education Policy Analysis Archives (Arizona State University). ação profissional. No segundo modelo, o profissional reflexivo
O texto traduzido por Sandra Trabucco (2002) oferece a percebe que faz parte da situação e busca desenvolver
oportunidade a estudiosos e profissionais da área da educação soluções por meio de tentativas para superar seus limites
de conhecer uma das obras de José Contreras. É um convite à frente às situações consideradas instáveis.
reflexão sobre os conceitos e contradições generalizados tão Para discutir o modelo do professor reflexivo, o autor
comuns nos discursos pedagógicos modernos que versam apresenta as ideias de vários outros, apontando as
sobre a profissionalização de professores. Propõe uma análise contradições e contribuições de cada um: Schön: reflexão-na-
crítica valendo-se da contribuição de outros teóricos também ação, a forma como os diferentes profissionais efetivamente
professores, profissionais reflexivos e pesquisadores, realizam o seu trabalho.
contemplando e focalizando a suposta autonomia dos Stenhouse: singularidade das situações educativas; o
professores. ensino é uma arte, visto que significa a expressão de certos
O livro está organizado em oito capítulos, divididos em três valores e de determinada busca que se realiza na própria
partes: a primeira delas tem como título “O Profissionalismo prática do ensino. (p. 114)
no ensino” e contempla três capítulos; a segunda, “Modelos de Elliott: mostra o significado da ideia do professor como
professores: em busca da autonomia”, com mais três capítulos, pesquisador enquanto prática reflexiva; a reflexão depende do
e uma terceira parte, “A autonomia e seu contexto”, com os conhecimento acumulado ao longo da sua experiência.
dois últimos capítulos, numa tentativa de diferenciar e O terceiro modelo analisado é do professor como
esclarecer o significado da autonomia de professores através intelectual crítico, no qual se apoiam os fundamentos
das diferentes concepções educativas sobre o papel daqueles filosóficos e os processos de reflexão crítica coerentes com a
que ensinam e a sua relação com a sociedade. visão do exercício profissional, contrapondo-se aos limites do
A primeira parte traz a problemática do profissionalismo professor como artista reflexivo. Na terceira parte “A
no ensino, com questões sobre a proletarização dos autonomia e seu contexto”, o autor se empenha em
professores, ressaltando os aspectos contraditórios e compreender a autonomia profissional dos professores,
ambíguos que a classe docente viveu ao longo da história, apontando o equilíbrio necessário entre as diferentes
sofrendo perda de qualidade, de controle e de sentido do seu necessidades e condições de realização da prática docente, a
próprio trabalho, através de atividades em processos partir das condições pessoais, institucionais e sócio políticas
individuais e rotineiros, desatentos ao processo de nas quais esses profissionais estão inseridos, visando uma
desqualificação intelectual, das habilidades e competências autonomia profissional necessária sob essa ótica.
reduzidas em função da racionalização do seu trabalho em
tarefas e etapas a serem cumpridas, muitas vezes sem [...]a autonomia, no contexto da prática do ensino, deve ser
qualquer orientação ideológica e sentido ético. entendida como um processo de construção permanente no
Segundo o autor, a recuperação de uma concepção de qual devem se conjugar, se equilibrar e fazer sentido muitos
autonomia profissional dos professores requer a transposição elementos. Por isso, pode ser descrita e justificada, mas não
de algumas barreiras e armadilhas, o enfrentamento de reduzida a uma definição autoexplicativa. (CONTRERAS, 2002,
perigos e problemas associados à ideia de profissional, acerca p. 193)
das qualidades que essa prática exige, pois eles não
desempenham somente a arte de ensinar, mas uma incansável O autor reconhece, enfim, que a autonomia requer uma
tentativa de expressar valores e pretensões que almejam reformulação nas relações e construções de vínculos entre os
alcançar e desenvolver nesta profissão. O autor considera três professores e a sociedade que, mesmo parecendo óbvias,
dimensões de profissionalidade na perspectiva educativa, deverão estar claramente definidas nas políticas educacionais,
dispondo das contribuições de alguns autores que inter- propondo a expansão das ideias, pretensões e valores comuns
relacionam o problema da autonomia com a ideia da obrigação à prática docente. Contreras tenta resgatar um programa
moral, do compromisso com a comunidade e da competência ideológico, estabelecendo não somente um programa político,
profissional, de forma que se possa compreender o ensino no mas uma linguagem sócio-educacional, acreditando que todos
seu contexto educacional, no seu propósito e realização. estejam envolvidos, escolas, professores e comunidades, cuja
Na segunda parte, busca analisar as vantagens, os limites e autonomia transforma o contexto em condições mais amplas
as possibilidades dessa profissionalização, focando três para uma análise crítica, buscando formas de avaliação e
concepções tradicionais: os professores técnicos, o ensino adequação para uma potencial democratização dos sistemas
como uma profissão de caráter reflexivo e o professor educacionais.
intelectual crítico. No final desta obra, o autor faz alusão, mesmo que em
O primeiro modelo dominante da prática profissional a ser linhas gerais, às políticas educacionais ocidentais,
discutido, com a contribuição do teórico Schön, é a particularizando como exemplo o caso espanhol, com sua
racionalidade técnica. organização política tendo como chave o “currículo” que
A ideia básica do modelo de racionalidade técnica é que a desenvolveu toda uma reforma, e pretendendo atingir todos os
prática profissional consiste na solução instrumental de níveis do sistema educacional.
problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico Seria de grande valia a discussão dessas análises e críticas
e técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa envolvendo as temáticas e contribuições contidas nas ideias
científica. É instrumental por que supõe a aplicação de técnicas dos teóricos que Contreras reuniu em seu livro, visando uma
e procedimentos que se justificam por sua capacidade para compreensão e uma reflexão quanto às ações que se fazem
conseguir os efeitos ou resultados desejados. necessárias nos contextos educacionais existentes,
Essa concepção de atuação revela um profissional com incentivando e possibilitando a construção de uma autonomia
suas incapacidades para resolver e tratar os imprevistos que no processo educacional, resgatando a autoestima e a
não sejam interpretados como processos de decisão e atuação qualificação profissional de professores, especialistas,
de acordo com o sistema de raciocínio e de resultados diretores e colaboradores, em consonância com a comunidade.
previstos.

Bibliografia 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Vygotsky e o processo de formação de conceitos


DE LA TAILLE, Y., OLIVEIRA, Marta Kohl de Oliveira
M.K.; DANTAS, H. Piaget,
Substratos biológicos e construção cultural no
Vygotsky, Wallon: teorias desenvolvimento humano
psicogenéticas em discussão. A perspectiva de Vygotsky é sempre a da dimensão social
São Paulo: Summus, 1992. do desenvolvimento. Para ele, o ser humano constitui-se como
tal na sua relação com o outro social; a cultura torna-se parte
da natureza humana num processo histórico que molda o
PARTE I – FATORES BIOLÓGICOS E SOCIAIS funcionamento psicológico do homem ao longo do
O lugar da interação na concepção de Jean Piaget desenvolvimento da espécie (filogenética) e do indivíduo
Yves de La Taille (ontogenética). O ser humano tem, assim, uma dupla natureza:
membro de uma espécie biológica que só se desenvolve no
La Taille considera que nada há de mais injusto que a interior de um grupo cultural.
crítica feita a Piaget de desprezar o papel dos fatores sociais no Vygotsky rejeitou a idéia de funções fundamentais fixas e
desenvolvimento humano. O máximo que se pode dizer é que imutáveis, “trabalhando com a noção do cérebro como um
Piaget não se deteve sobre a questão, mas, o pouco que sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos
levantou é de suma importância. de funcionamento são moldados ao longo da história da
espécie e do desenvolvimento individual” (p. 24). Para ele, o
Para o autor, o postulado de Wallon de que o homem é cérebro é formado por sistemas funcionais complexos, isto é,
“geneticamente social” (impossível de ser pensado fora do as funções não se localizam em pontos específicos, mas se
contexto da sociedade) também vale para a teoria de Piaget, organizam a partir da ação de diversos elementos que atuam
pois são suas palavras: “desde o nascimento, o de forma articulada. O cérebro tem uma estrutura básica,
desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da resultante da evolução da espécie, que cada membro traz
sociedade e do indivíduo” (p.12). consigo ao nascer. Essa estrutura pode ser articulada de
Para Piaget, o homem não é social da mesma maneira aos diferentes formas pelo sujeito, isto é, um mesmo problema
seis meses ou aos vinte anos. A socialização da inteligência só pode ser solucionado de diferentes formas e mobilizar
começa a partir da aquisição da linguagem. Assim, no estágio diferentes partes do cérebro.
sensório-motor a inteligência é essencialmente individual, não Há uma forte ligação entre os processos psicológicos e a
há socialização. No estágio pré-operatório, as trocas inserção do indivíduo num contexto sócio-histórico específico.
intelectuais equilibradas ainda são limitadas pelo pensamento Instrumentos e símbolos construídos socialmente é que
egocêntrico (centrado no eu): as crianças não conseguem definem quais possibilidades de funcionamento cerebral serão
seguir uma referência única (falam uma coisa agora e o concretizadas. Vygotsky apresenta a ideia de mediação: a
contrário daí a pouco), colocar-se no ponto de vista do outro e relação do homem com os objetos é mediada pelos sistemas
não são autônomas no agir e no pensar. No estágio operatório- simbólicos (representações dos objetos e situações do mundo
concreto, começam a se efetuar as trocas intelectuais e a real no universo psicológico do indivíduo), que lhe possibilita
criança alcança o que Piaget chama de personalidade – o planejar o futuro, imaginar coisas, etc.
indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de Em resumo: operar com sistemas simbólicos permite o
reciprocidade e universalidade. A personalidade é o ponto desenvolvimento da abstração e da generalização e define o
mais refinado da socialização: o eu renuncia a si mesmo para salto para os processos psicológicos superiores, tipicamente
inserir seu ponto de vista entre os outros, em oposição ao humanos. Estes têm origem social, isto é, é a cultura que
egocentrismo, em que a criança elege o próprio pensamento fornece ao indivíduo o universo de significados
como absoluto. O ser social de mais alto nível é aquele que (representações) da realidade. As funções mentais superiores
consegue relacionar-se com seus semelhantes realizando baseiam-se na operação com sistemas simbólicos e são
trocas em cooperação, o que só é possível quando atingido o construídas de fora para dentro num processo de
estágio das operações formais (adolescência). internalização.

O processo de socialização
A socialização vai do grau zero (recém-nascido) ao grau O processo de formação de conceitos
máximo (personalidade). O indivíduo mais evoluído pode A linguagem é o sistema simbólico fundamental na
usufruir tanto de sua autonomia quanto das contribuições dos mediação entre sujeito e objeto do conhecimento e tem duas
outros. Para Piaget, “autonomia significa ser capaz de se situar funções básicas: interação social (comunicação entre
consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de indivíduos) e pensamento generalizante (significado
vista e conflitos presentes numa sociedade” (p.17). Há uma compartilhado pelos usuários). Nomear um objeto significa
“marcha para o equilíbrio”, com bases biológicas, que começa colocá-lo numa categoria de objetos com atributos comuns.
no período sensório-motor, com a construção de esquemas de Palavras são signos mediadores na relação do homem com o
ação, e chega às ações interiorizadas, isto é, efetuadas mundo.
mentalmente. O desenvolvimento do pensamento conceitual segue um
Embora tudo pareça resumir-se à relação sujeito-objeto, percurso genético que parte da formação de conjuntos
para La Taille, as operações mentais permitem o sincréticos (baseados em nexos vagos e subjetivos), passa pelo
conhecimento objetivo da natureza e da cultura e são, pensamento por complexos (baseado em ligações concretas e
portanto, necessidades decorrentes da vida social. Para ele, factuais) e chega à formação de conceitos (baseados em
Piaget não compartilha do “otimismo social” de que todas as ligações abstratas e lógicas).
relações sociais favorecem o desenvolvimento. Para La Taille, Esse percurso não é linear e refere-se à formação de
a peculiaridade da teoria piagetiana é pensar a interação pela conceitos cotidianos ou espontâneos, isto é, desenvolvidos no
perspectiva da ética (igualdade, respeito mútuo, liberdade, decorrer da atividade prática da criança em suas interações
direitos humanos). Ser coercitivo ou cooperativo depende de sociais imediatas e são, portanto, impregnados de
uma atitude moral, sendo que a democracia é condição para o experiências. Já os conceitos científicos são os transmitidos em
desenvolvimento da personalidade. Diz ele: “A teoria de Piaget situações formais de ensino-aprendizagem e geralmente
é uma grande defesa do ideal democrático” (p. 21). começam por sua definição verbal e vão sendo expandidos no

Bibliografia 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

decorrer das leituras e dos trabalhos escolares. Assim, o 2ª fase: sensório-motor e projetivo (de um a três anos).
desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente (da Aprendendo a andar a criança ganha mais autonomia e volta-
experiência para a abstração) e o de conceitos científicos é se para o conhecimento do mundo. Surge uma nova fase de
descendente (da definição para um nível mais elementar e orientação diversa, voltada para a exploração da realidade
concreto). externa. Com a linguagem, inicia-se o domínio do simbólico.
A partir do exposto, duas conclusões são fundamentais: 3ª fase: personalismo (três a seis anos). Novamente
1ª - diferentes culturas produzem modos diversos de voltada para dentro de si, a preocupação é agora construir-se
funcionamento psicológico; como ser distinto dos demais (individualidade diferenciada).
2ª - a instrução escolar é de enorme importância nas Com o aperfeiçoamento da linguagem, desenvolve-se o
sociedades letradas. pensamento
1 Ideomovimento é expressão peculiar de Wallon e indica
Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência o movimento que contém ideias discursivo. Sucedem-se uma
segundo Wallon etapa de rejeição (atitudes de oposição), outra de sedução do
Heloysa Dantas outro e conciliação (idade da graça) e outra de imitação (toma
o outro como modelo).
Wallon tem uma preocupação permanente com a infra- 4ª fase: categorial (seis a onze anos). Voltada para o
estrutura orgânica de todas as funções psíquicas. Seus estudos cognitivo, é a fase escolar. Ao seu final, há a superação do
partem de pessoas com problemas mentais, portanto, seu sincretismo do pensamento em direção à maior objetividade e
ponto de partida é o patológico, isto é, utiliza a doença para abstração. A criança torna-se capaz de diferenciações
entender a normalidade. Para Wallon, o ser humano é intelectuais (pensamento por categorias) e volta-se para o
organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a conhecimento do mundo.
intervenção da cultura. A metodologia do seu trabalho ancora- 5ª fase: puberdade e adolescência (a partir dos onze anos).
se no materialismo dialético, concebendo a vida dos Nesta fase, caracterizada pela autoafirmação e pela
organismos como uma pulsação permanente, uma alternância ambivalência de atitudes e sentimentos, a criança volta-se
de opostos, um ir e vir permanente, com avanços e recuos. novamente para a construção da pessoa. Há uma reconstrução
do esquema corporal e o jovem tem a tarefa de manter um eu
A motricidade: do ato motor ao ato mental. diferenciado (dos outros) e, ao mesmo tempo, integrado (ao
A questão da motricidade é o grande eixo do trabalho de mundo), o que não é fácil.
Wallon. Para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato
motor. Ao longo do desenvolvimento mental, a motricidade PARTE II – AFETIVIDADE E COGNIÇÃO
cinética (de movimento) tende a se reduzir, dando lugar ao ato Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria
mental. Assim, mesmo imobilizada no esforço mental, a de Jean Piaget
musculatura permanece em atividade tônica (músculo parado, Yves de La Taille
atitude). A tipologia de movimento que Wallon adota parte de
atos reflexos, passa pelos movimentos involuntários e chega A obra “O julgamento moral da criança”(1932) traz
aos voluntários ou praxias, só possíveis graças à influência implícita a relação que existe entre afetividade e cognição para
ambiental aliada ao amadurecimento cerebral. Piaget, bem como a importância que ele atribui à autonomia
Ao nascer, é pela expressividade ou mímica que o ser moral.
humano atua sobre o outro. A motricidade disponível consiste
em reflexos e movimentos impulsivos, incoordenados. A a) As regras do jogo
exploração da realidade exterior só é possível quando surgem Segundo Piaget, toda moral consiste num sistema de
as capacidades de fixar o olhar e pegar. A competência no uso regras, sendo que a essência da moralidade deve ser
das mãos só se completa ao final do primeiro ano de vida, procurada no respeito que o indivíduo tem por elas. Piaget
quando elas chegam a uma ação complementar (mão utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por
dominante e auxiliar). A etapa dominantemente práxica da considerá-lo paradigmático para a moralidade humana
motricidade ocorre paralelamente ao surgimento dos porque: é atividade interindividual regulada por normas que
movimentos simbólicos ou ideativos1. O movimento, a podem ser modificadas e que proveem de acordos mútuos
princípio, desencadeia o pensamento. Por exemplo, uma entre os jogadores, sendo que o respeito às normas tem um
criança de dois anos, que fala e gesticula, tem seu fluxo mental caráter moral (justiça, honestidade..).
atrofiado se imobilizada. O controle do gesto pela ideia Piaget dividiu em três etapas a evolução da prática e da
inverte-se ao longo do desenvolvimento. Há uma transição do consciência de regras:
ato motor para o mental. 1ª - anomia (até 5/6 anos): as crianças não seguem
atividades com regras coletivas;
As fases da inteligência – as etapas de construção do eu 2ª - heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm as
No processo de desenvolvimento da inteligência há regras como algo de origem imutável e não como contrato
preponderância (a cada período mais marcado pelo afetivo firmado entre os jogadores; ao mesmo tempo, quando em jogo,
segue-se outro mais marcado pelo cognitivo) e alternância de introduzem mudanças nas regras sem prévia consulta aos
funções (a criança ora está mais voltada para a realidade das demais; as regras não são elaboradas pela consciência e não
coisas/conhecimento do mundo – fases centrípetas, ora mais são entendidas a partir de sua função social;
voltada para a edificação da pessoa/conhecimento de si – fases 3ª - autonomia: é a concepção adulta de jogo; o respeito às
centrífugas). regras é visto como acordo mútuo em que cada jogador vê-se
1ª fase: impulsivo-emocional (de zero a um ano). Voltada como possível “legislador”.
para o desenvolvimento motor e para a construção do eu. No
recém-nascido, os movimentos impulsivos que exprimem b) O dever moral
desconforto ou bem estar são interpretados pelos adultos e se O ingresso da criança no universo moral se dá pela
transformam em movimentos comunicativos através da aprendizagem dos deveres a ela impostos pelos pais e demais
mediação social; até o final do primeiro ano a relação com o adultos, o que acontece na fase de heteronomia e se traduz
ambiente é de natureza afetiva e a criança estabelece com a pelo “realismo moral” que tem as seguintes características:
mãe um “diálogo tônico” (toques, voz, contatos visuais). - a criança considera que todo ato de obediência às regras
impostas é bom;

Bibliografia 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- as regras são interpretadas ao pé da letra e não segundo interesses e inclinações pessoais (aspectos afetivo-volitivos)
seu espírito; do ser que pensa (aspectos intelectuais).
- há uma concepção objetiva de responsabilidade: o
julgamento é feito pela consequência do ato e pela Consciência
intencionalidade. Vygotsky concebe a consciência como “organização
objetivamente observável do comportamento, que é imposta
c) A justiça aos seres humanos através da participação em práticas sócio-
A noção de justiça engloba todas as outras noções morais e culturais”(p.78). É evidente a fundamentação em postulados
envolve ideias matemáticas (proporção, peso, igualdade). marxistas: a dimensão individual é considerada secundária e
Quanto menor a criança mais forte a noção de justiça imanente derivada da dimensão social, que é a essencial. Carrega ainda
(todo crime será castigado, mesmo que seja por força da um fundamento sócio-histórico, isto é, a consciência humana,
natureza), mais ela opta por sanções expiatórias (o castigo tem resultado de uma atividade complexa, formou-se ao longo da
uma qualidade estranha ao delito) e mais severa ela é (acha história social do homem durante a qual a atividade
que quanto mais duro o castigo, mais justo ele é). A partir dos manipuladora e a linguagem se desenvolveram.
8/9 anos a desobediência já é vista como ato legítimo quando As impressões que chegam ao homem, vindas do mundo
há flagrante injustiça. exterior são analisadas de acordo com categorias que ele
adquiriu na interação social. A consciência seria a própria
As duas morais da criança e os tipos de relações sociais essência da psique humana, o componente mais elevado das
Mesmo concordando que a moral é um ato social, para funções psicológicas humanas e envolve a inter-relação
Piaget o sujeito participa ativamente de seu desenvolvimento dinâmica e em transformação entre: intelecto e afeto,
intelectual e moral e detém uma autonomia possível perante atividade e representação simbólica, subjetividade e interação
os ditames da sociedade. social.
As relações interindividuais são divididas em duas
categorias: Subjetividade e intersubjetividade
- coação: derivada da heteronomia, é uma relação As funções psicológicas superiores, tipicamente humanas,
assimétrica, em que um dos polos impõe suas verdades, sendo referem-se a processos voluntários, ações conscientemente
contraditória com o desenvolvimento intelectual; controladas, mecanismos intencionais.
- cooperação: é uma relação simétrica constituída por Apresentam alto grau de autonomia em relação a fatores
iguais, regida pela reciprocidade; envolve acordos e exige que biológicos, sendo, portanto, o resultado da inserção do homem
o sujeito se descentre para compreender o ponto de vista em determinado contexto sócio-histórico.
alheio; com ela o desenvolvimento moral e intelectual ocorre, O processo de internalização de formas culturais de
pois ele pressupõe autonomia e superação do realismo moral. comportamento, que corresponde à própria formação da
Em resumo: para Piaget, a coerção é inevitável no início da consciência, é um processo de constituição da subjetividade a
educação, mas não pode permanecer exclusiva para não partir de situações de intersubjetividade. Assim, a passagem
encurralar a criança na heteronomia. Assim, para favorecer a do nível interpsicológico para o intrapsicológico envolve
conquista da autonomia, a escola precisa respeitar e relações interpessoais e a construção de sujeitos únicos, com
aproveitar as relações de cooperação que espontaneamente, trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em
nascem das relações entre as crianças. sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras
pessoas.
Afetividade e inteligência na teoria piagetiana do
desenvolvimento do juízo moral Sentido e significado
Para La Taille, o notável na teoria piagetiana é que nela Para Vygotsky, os processos mentais superiores são
“não assistimos a uma luta entre afetividade e moral”(p.70). mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o
Afeto e moral se conjugam em harmonia: o sujeito autônomo sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. O
não é reprimido mas um homem livre, convencido de que o significado é componente essencial da palavra, o filtro através
respeito mútuo é bom e legítimo. A afetividade adere do qual o indivíduo compreende o mundo e age sobre ele. Nele
espontaneamente aos ditames da razão. Ele considera que na se dá a unidade de duas funções básicas da linguagem: a
obra “O juízo moral na criança” intui-se um Piaget movido por interação social e o pensamento generalizante. Na concepção
alguma “emoção”, que sustenta um grande otimismo em sobre o significado há uma conexão entre os aspectos
relação ao ser humano. No entanto, para ele, o estudo sobre o cognitivos e afetivos: significado é núcleo estável de
juízo moral poderia ter sido completado por outros que se compreensão e sentido é o significado da palavra para cada
detivessem mais nos aspectos afetivos do problema. indivíduo, no seu as contexto de uso e relacionado às suas
vivências afetivas.
O problema da afetividade em Vygotsky A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação
Marta Kohl de Oliveira com base em fatores linguísticos e extralinguísticos. Para
entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras,
Vygotsky pode ser considerado um cognitivista mas também seu pensamento e suas motivações.
(investigou processos internos relacionados ao conhecimento
e sua dimensão simbólica), embora nunca tenha usado o termo O discurso interior
cognição, mas função mental e consciência. Para ele há uma O discurso interior corresponde à internalização da
distinção básica entre funções mentais elementares (atenção linguagem. Ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa
involuntária) e superiores (atenção voluntária, memória de uma fala socializada (comunicação e contato social) a uma
lógica). É difícil compreender cada função mental fala internalizada (instrumento de pensamento, sem
isoladamente, pois sua essência é ser inter-relacionada com vocalização), correspondente a um diálogo consigo mesma.
outras funções. Sua abordagem é globalizante. Ele utiliza o
termo consciência para explicar a relação dinâmica
(interfuncionalidade) entre afeto e intelecto e, portanto,
questiona a divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do
funcionamento psicológico. Para ele, não dá para dissociar

Bibliografia 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética as aquisições de uma repercute sobre a outra. A pessoa se
de Wallon constitui por uma sucessão de fases com predomínio, ora do
Heloysa Dantas afetivo, ora do cognitivo. Cada fase incorpora as aquisições do
nível anterior. Para evoluir, a afetividade depende da
A teoria da emoção inteligência e vice-versa. Dessa forma, não é só a inteligência
Para Wallon a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto que evolui, mas também a emoção. Com o desenvolvimento, a
do ponto de vista da construção da pessoa quanto do afetividade incorpora as conquistas da inteligência e tende a
conhecimento. A emoção é instrumento de sobrevivência se racionalizar. Por isso, as formas adultas de afetividade são
típico da espécie humana. O bebê humano, frágil como é, diferentes das infantis. No início a afetividade é somática,
pereceria não fosse sua capacidade de mobilizar tônica, pura emoção. Alarga seu raio de ação com o surgimento
poderosamente o ambiente para atender suas necessidades. A da função simbólica. Na adolescência, exigências racionais são
função biológica do choro, por exemplo, é atuar fortemente colocadas: respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos.
sobre a mãe, fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre
os humanos. Assim, a emoção tem raízes na vida orgânica e Inteligência e pessoa
também a influência. Um estado emocional intenso, por O processo que começa com a simbiose fetal tem por
exemplo, provoca perda de lucidez. horizonte a individualização. Para Wallon, não há nada mais
Segundo Wallon, a atividade emocional é simultaneamente social do que o processo pelo qual o indivíduo se singulariza,
social e biológica. Através da mediação cultural (social), realiza em que o eu se constrói alimentando-se da cultura, sendo que
a transição do estado orgânico para a etapa cognitiva e o destino humano, tanto no plano individual quanto no social,
racional. A consciência afetiva cria no ser humano um vínculo é uma obra sempre inacabada.
com o ambiente social e garante o acesso ao universo
simbólico da cultura – base para a atividade cognitiva –
elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história.
Dessa forma, para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o DELIZOICOV. Demétrio;
orgânico e o social. Daí sua natureza contraditória de ANGOTTI, José André.
participar de dois mundos. Metodologia do ensino de
A opção metodológica adotada por Wallon é o
materialismo dialético. Isso quer dizer que não dá para pensar Ciências. São Paulo: Cortez,
o desenvolvimento como um processo linear, continuísta, que 1994. (Capítulo II: unidades 2
só caminha para a frente. Pelo contrário, é um processo com e 3; Capítulo III: unidades 4 e
idas e vindas, contraditório, paradoxal. Assim, sua teoria da
emoção é genética (para acompanhar as mudanças funcionais) 5).
e dialética.
A origem da conduta emocional depende de centros
subcorticais (de expressão involuntária e incontrolável) e Ensino de Ciências Fundamentos e Métodos
torna-se susceptível de controle voluntário com a maturação
cortical. Para Wallon, as emoções podem ser de natureza Este livro destina-se aos docentes que atuam nos cursos de
hipotônica ou redutora do tônus (como o susto e a depressão) formação de professores de Ciências da Natureza - Física,
e hipertônica ou estimuladora do tônus (como a cólera e a Química, Biologia e afins - e aos que lecionam a disciplina de
ansiedade). Ciências na educação fundamental. Contempla aspectos que
auxiliam no desenvolvimento de um ensino de Ciências que
Características do comportamento emocional contribua para a formação cultural dos estudantes, de tal
A longa fase emocional da infância tem correspondência na modo que a estrutura do conhecimento científico - básico e
história da espécie humana: é a emoção que garante a aplicado - assim como seu potencial explicativo e
solidariedade afetiva e a sobrevivência do indivíduo. transformador possam ser apropriados e compreendidos.
Da função social da emoção resultam seu caráter Pressupõe que os conhecimentos da ciência e da tecnologia
contagioso (a ansiedade infantil pode provocar irritação ou devem ser concebidos como parte da cultura a ser acessada
angústia no adulto, por exemplo) e a tendência para nutrir-se por todos os estudantes. Destaca, ao longo de suas partes, as
com a presença do outro (uma plateia alimenta uma chama várias dimensões envolvidas na produção do conhecimento
emocional entre os participantes, por exemplo). Devido a seus cientifico, a fim de caracterizar a ciência e a tecnologia como
efeitos desorganizadores, anárquicos e explosivos, a emoção atividades humanas sócio-historicamente determinadas.
pode reduzir o funcionamento cognitivo, se a capacidade Defende o uso e a interpretação de situações significativas
cortical da ação mental ou motora para retomar o controle da para os alunos - as quais constituem temas relevantes para
situação for baixa. Se a capacidade cortical for alta, soluções estudo - como pontos de partida que, articulados à
inteligentes poderão ser encontradas. conceituação científica, devem estruturar a programação de
Para Wallon não existe estado não emocional. Até a ensino. Ao fundamentar esta perspectiva, correlacionando-a
serenidade exprime emoção. Assim, a educação da emoção com pesquisas da área de ensino/aprendizagem de Ciências, o
deveria ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica livro apresenta exemplos tanto de programação quanto de
para evitar a formação do “circuito perverso de emoção”: a atividades de sala de aula, para subsidiar o trabalho docente."
emoção surge num momento de incompetência do sujeito e, Existem diversas teorias expressas em forma de receita
não conseguindo transformar-se em atividade racional, para uma prática no ensino de ciências naturais. Essas
provoca mais incompetência. O efeito desorganizador da prometem salvação ao sistema educacional defasado que não
emoção concentra a sensibilidade no próprio corpo e diminui consegue formar seu alunato para compreender e desenvolver
a percepção do exterior. seu papel de cidadão crítico. Ao olharmos os jornais, nos
deparamos com o Brasil, entre os piores índices de educação e
Afetividade e inteligência o mais elevado índice de violência e corrupção. Isso é prova
O ser humano é afetivo por excelência. É da afetividade que viva de que algo na nossa “clássica” educação esta indo mal, de
se diferencia a vida racional. No início da vida, afetividade e que algo precisa ser mudado. Os especialistas em educação
inteligência estão sincreticamente misturadas. Ao longo do alerta que precisamos mudar nossa maneira de pensar à
desenvolvimento, a reciprocidade se mantém de tal forma que educação e oferecem inúmeras contribuições teóricas,

Bibliografia 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

algumas das quais não são eficazes como afirmam. Mas, Desafios do ensino de ciências
existem excelentes teorias que oferecem uma reflexão de um
possível método de aprendizagem, que podem ter êxito no tão O principal desafio da educação é formar cidadãos capazes
complexo processo de ensino de ciências. Nessas bases de enfrentar os problemas do seu tempo, e para atingir esse
guiamos o nosso pensamento acerca dos principais desafios a fim teremos que fazer uma reforma no ensino, que para Edgar
serem enfrentados pelos professores na construção do ensino Morin só é possível concebida como reforma do pensamento.
de ciências, não só no campo teórico, mas, sobretudo na Ao abordar uma Pedagogia Histórico-Crítica, Santos incorpora
prática do ensino, que é onde se dar à ação transformadora. dialeticamente aluno e professor, em contraponto as
Segundo Amorim, é na pratica que o professor se realiza, “ela pedagogias tradicionalistas que só o professor falava e no
é algo que transcende; ela deixa de ser localizada, deixa de ser outro extremo que só o aluno tinha significado, deve-se ouvir
reconhecida como um caso, um episódio, como experiência, e o aluno, mas o professor é quem participa e conduz o processo.
busca ser reconhecida como universalidade.” “O professor é aquele que organiza o processo de ensino,
que constrói síntese e aceita os desafios propostos pela prática
Este artigo pretende dialogar com algumas das mais social. Ele não ensina conteúdo por si mesmo, não vê a escola
recentes construções teóricas da atualidade, para assim tentar como separada da sociedade. Ele sabe que o conhecimento se
responder ou de algum modo contribuir para o torna objetivo quando permite entender o mundo e suas
desenrolamento da problematização dos desafios cotidianos conexões e trabalha para que esse saber seja transferido, pois
enfrentados pelos professores de ciências. Ressaltando a trata de um direito básico do homem. Ele busca os meios mais
grande importância que o conhecimento científico vem eficientes para transmitir o saber ou indica onde ele pode ser
adquirindo no mundo moderno, onde a formação, em qualquer buscado. Sua tarefa é desvela o real usando o conhecimento
que seja a área do conhecimento, é o grande diferencial. Tendo clássico.”
em vista que o trabalho de produção “braçal” vem cada vez Para Delizoicov, dentre os desafios para o ensino das
mais sendo substituída pelo uso da maquina, aqui entendida ciências podemos destacar, a necessidade de os educadores
como as diversas produções tecnológicas; Restando para o superarem o senso comum pedagógico, dificuldade esta que se
homem tão somente o uso da intelectualidade, ou seja, da dá não somente no ensino da ciência, mas em diversas áreas.
razão, para construção do seu conhecimento e da sua prática Esta dificuldade esta relacionada à metodologia de ensino
crítico-reflexiva, o que é inerente a sua própria natureza. Antes aplicada pelos professores que não conseguem desapegarem-
de tratarmos dos principais desafios do ensino da ciência, se das metodologias tradicionais, e utilizar-se de novas formas
questão que temos em vista discutir com maior enfoque, de ensinar, ao fazer isso, não atende ao objetivo do ensino da
fizemos algumas considerações acerca da importância do ciência, desmistificando assim a idéia que se tem do mesmo,
ensino de ciências e por fim, sobre suas bases epistêmicas e contribuindo com a prática da “ciência morta”, que
metodológicas. caracteriza-se como um produto acabado e inquestionável.
“Em oposição consciente à prática da ciência morta, a ação
Conhecimento científico e ensino da ciência sua docente buscará construir o entendimento de que o processo
importância para sociedade moderna de produção do conhecimento que caracteriza a ciência e a
tecnologia constitui uma atividade humana, sócio-
Estamos vivendo novos tempos, uma era planetária, em historicamente determinada, submetida a pressões internas e
que o conhecimento científico, a tecnologia e a globalização externas, como processos e resultado ainda pouco acessíveis á
dos meios de comunicação e de produção estão cada vez mais maioria das pessoas escolarizadas, e por isso passiveis de uso
presentes no nosso cotidiano, tornando se algo quase que e compreensão acríticos ou ingênuos; ou seja, é um processo e
essencial para nossa sobrevivência. Segundo Bunge, o produção que precisa, por essa maioria, ser apropriada e
desenvolvimento de uma nação moderna esta estritamente entendida.” (Delizoicov)
ligada ao desenvolvimento de sua ciência. Não é novidade para ninguém que a qualidade do ensino
“Primeiro, porque a economia do país dele necessita se no Brasil é muito baixa, e isso não se restringe somente aos
aspirar a ser múltipla, dinâmica e independente. Segundo, discentes. A formação do professor é uma das causas desse
porque não há cultura moderna sem uma ciência vigorosa em ensino que temos, e que para termos uma melhor formação
dia: a ciência ocupa hoje o centro da cultura e tanto seu método nos lançamos ao modismo das especializações. “Infelizmente
quanto seus resultados se irradiam a outros campos da grande parte da formação do professor parece mais destinada a
cultura, bem como ao domínio da ação. Terceiro, porque a eliminar a criatividade do que a encoraja - lá; e a formação
ciência pode contribuir para enfornar uma ideologia adequada continua é normalmente dirigida para tarefas especificas.”
ao desenvolvimento: uma ideologia dinâmica, em vez de Assim, temos como resultado, profissionais (professores) não
estática, critica em vez de dogmática, iluminista em vez de conscientes do seu papel, cada vez mais acomodados pelo
obscurantista, e realista em vez de utópica.” sistema. Isso porque ao interferir em sua prática, oferecem
A ciência foi e continua sendo a responsável pelo manuais a serem seguidos e objetivos, tais como a aprovação
desenvolvimento das sociedades. E como causa prioritária de numero x % de alunos, a serem cumpridos. Procedimento
para se ter desenvolvimento científico estar o conhecimento, que ao invés de ajudar desmotiva o profissional, que perde sua
como disse Oliva, na luta humana na busca do conhecimento, autonomia. O que vai de encontro às propostas recentes de
só a explicação científica foi capaz de mudar o mundo, sendo a ensino de ciência, do conceito de professor como prático
partir dela que o homem começou a produzir os saberes reflexivo e de agente ativo no processo de aprendizagem,
aplicados, que tantos benefícios têm proporcionado aos “segundo Schõn (1992) as novas tendências investigativas sobre
indivíduos e as comunidades. Ou seja, é a educação a porta da capacitação de professores, introduz a concepção do professor
frente para o desenvolvimento de um país. E isso exige o reflexivo, o processo de conhecimento profissional esta na ação”.
esforço das autoridades políticas, ao instituir leis que Outro desafio é como transmitir conteúdos da disciplina
defendam esse direito e cumprir seu papal como gesto do aos alunos e quais dos conhecimentos científicos deverão
poder; dos pais, que devem priorizar a educação dos seus abordar, “mudar, por um lado, e manter, por outro, são tarefas
filhos; dos alunos e professores, que são os construtores de precípuas da instituição escola e, consequentemente, dos
uma educação de qualidade, e de toda a sociedade em geral. trabalhos do professor”. (DELIZOICOV). Vemos que somente o
uso do livro didático é insuficiente, e que apesar das tentativas
para aperfeiçoá-lo, precisamos nos utilizar de outros recursos
didáticos. Diferente do que se pensa o ideal é que o professor

Bibliografia 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

trabalhe com materiais alternativos para despertar o interesse homens uma postura ativa de investigação de sua temática,
do aluno e ter uma melhor apropriação dos conceitos tanto mais aprofundam a sua tomada de consciência em torno
científicos. da realidade e, explicitando sua temática significativa, se
“O desafio a ser enfrentado, então, na elaboração de apropriam dela”.
programas das varias disciplinas e das práticas educativas Freire ao propor sua metodologia, inicia seu processo de
desenvolvidas no interior da escola ou por ela organizadas, ensino com o uso de temas referentes à realidade da
compondo o currículo escolar, é a articulação estruturada comunidade, instigando os alunos a se questionarem,
entre temas e conceituação cientifica, além do conhecimento problematizando assim as informações que já dispõem, para
prévio do aluno, o qual precisa ser obtido, problematizado e depois chegar aos conhecimentos científicos, dessa forma
superado.” (DELIZOICOV) imitar a ciências em seu método de sempre partir de
Esta é uma visão defendida pela educação dialógica, que problemas.
tem como seus principais expoentes o pensamento de Paulo Tendo em vista a necessidade de melhorar a qualidade de
Freire e de George Snyders, que vê na interação entre aluno e ensino do país, a fim de se alcançar o desenvolvimento sócio-
professor a construção do conhecimento de ambos. Tendo econômico. Devemos nos atentar para uma nova forma de
como ponto de partida os temas e as situações significativas ensinar e aprender; para que com isso possamos formar
que originam, de um lado, a seleção e organização de cidadãos capacitados ao mercado de trabalho e conscientes do
conteúdos a serem articulados com a estrutura do seu papel na sociedade. Partindo do pressuposto que a
conhecimento científico e do outro, a prática do processo educação muda o homem e que o conhecimento científico é um
dialógico e problematizador, e como ponto de chegada os dos principais responsáveis por essa transformação, podemos
conceitos científicos, que vão servir de base para estruturação perceber a importância dada à metodologia aplicada para o
do conteúdo pragmático da aprendizagem do aluno. ensino de ciências.
Apesar dos vários desafios e problemas a serem
Bases epistêmicas e metodológicas no ensino da ciência enfrentados nesse universo de ensino como os já citados, têm
as políticas educacionais, a dificuldade de encontrar entre as
Atualmente o ensino de ciências, vem sofrendo várias teorias uma que se enquadre ao seu contexto que solucione
transformações metodológicas e epistêmicas para se seus anseios; além da falta de recursos materiais disponíveis
enquadrar às inovações desse século. No cenário de produção para inovar no ensino. Mudanças podem ser feitas afim de que
científica da educação encontramos diversas metodologias os alunos compreendam o verdadeiro sentido do estudo da
que tem como gênese o método construtivista. Quanto à ciência. E com isso, promovendo a superação do senso-comum,
epistemologia, as mais atuais e relevantes tem tratado da que é o entrave maior enfrentado pelos docentes. Estas devem
interação não neutra do sujeito e do objeto, em vez de uma partir dos professores que ao voltarem seus esforços para a
ascensão de um ou de outro – como é o caso das teorias do ação, tornam suas aulas mais interativas e conectadas a
conhecimento que pressupõe a supremacia do sujeito realidade incentivando a curiosidade de seus alunos pelo
(idealista) ou a supremacia do objeto (empirista). Como estudo e que o façam com prazer. No ensino de ciência a função
exemplo dessas teorias tem: a Epistemologia Fenomenológica do professor “é aquela que permite ao aluno se apropriar da
(Husserl); a Construtivista e Estruturalista (Piaget); a estrutura do conhecimento científico e de seu potencial
Histórica (Bachelard); a “Arqueológica” (Foucault) e a explicativo e transformador” (Delizoicov).
“Racionalista-Crítica” (Popper). Visão esta também defendida
por Paulo Freire ao desenvolver sua pedagogia. “Educador e
educandos (liderança e massa), co-intencionados à realidade, se
encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não
DOWBOR, Ladislau.
só de desvelá-la e, assim, criticamente conhecê-la, mas também Educação e apropriação da
no recriar este conhecimento”. realidade local. Estud. av.
O entendimento desse atual paradigma científico, no
ensino de ciência vem ressaltar a relevância tanto do papel do
[online].2007, vol.21, nº 60,
professor, como agente que transmite e controla o processo de pp. 75-90.
construção do conhecimento como do aluno, sujeito cognitivo,
que estabelece relações entre seu meio físico e social.
“Articuladamente, faz-se necessário que a base epistêmica Educação e apropriação da realidade local8
para uma compreensão das relações dos alunos e do professor Ladislau Dowbor
com o conhecimento tenha também como referência às teorias
cuja premissa dispõe que o conhecimento ocorra na interação É essencial uma criança sentir que a sucessão de anos que
não neutra entre sujeito-objeto” (DELIZOICOV). passa na escola lhe permite efetivamente entender o contexto
Quanto à forma de se ensinar ciência assim como muitos onde vive, apropriar-se da realidade que a cerca. A criança,
cientistas produzem, sem preocupar-se com questões básicas mais que o adulto que tem oportunidades de conhecer
acerca da validade das suas próprias investigações, também o diversas regiões, interpreta o mundo pela cidade ou pelo
Conhecimento Científico são transmitidos muitas vezes como bairro onde mora. O seu espaço de referência é o espaço local.
algo fechado e acabado, contrariando assim, a definição de Proibir-lhe que brinque no córrego vizinho da sua casa é
ciência que “visa proporcionar conhecimento cuja veracidade e prudente, mas gera apenas medo. Entender os fluxos dos
objetividade são suscetíveis de teste, confirmação e riachos e as fontes concretas de poluição lhe assegura desde já
corroboração”. É essa visão de ciência que deve ser passada ancorar o conhecimento abstrato em vivências concretas, e lhe
para os nossos alunos, para que eles também se sintam aptos permitirá mais tarde entender a gestão de bacias
a construir e investigar o conhecimento. hidrográficas. Aprender a representação em escala do seu
“A metodologia que defendemos exige, por isto mesmo, próprio bairro, das ruas que conhece, evitará mais tarde a
que, no fluxo da investigação, se façam ambos sujeitos da quantidade de adultos que sabem decorar uma aula de
mesma – os investigadores e os homens do povo que, geografia, mas que são incapazes de interpretar um mapa para
aparentemente, seriam objetos.Quando mais assumem os se orientar. Trata-se de um investimento poderoso, tanto para

8http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

40142007000200006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Bibliografia 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

tornar o ensino mais produtivo, capitalizando a motivação da para não depender de atravessadores, e hoje constituem uma
criança por entender as coisas que a cercam, como por das regiões que mais rapidamente se desenvolvem no país.
permitir que mais tarde seja um adulto que conhece a origem E não estão dependendo de uma grande corporação que de
ou as tradições culturais que constituíram a sua cidade, os seus um dia para outro pode mudar de região: dependem de si
potenciais econômicos, os desafios ambientais, o acerto ou mesmos.
irracionalidade da sua organização territorial, os seus É importante pensar a dimensão educativa desses
desequilíbrios sociais. Pessoas desinformadas não participam, processos. Há tempos, com a recomendação do Banco Mundial,
e sem participação não há desenvolvimento. Trata-se de fechar promoveu-se o que se chamava na época de "educação para o
desde cedo a imensa brecha entre o conhecimento formal desenvolvimento". A visão restringia os currículos, centrando-
curricular e o mundo onde cada pessoa se desenvolve. Estas os na formação de pessoas úteis para as empresas, em
linhas são escritas por um economista, que na era da economia conhecimentos tidos como mais "práticos". Hoje essa
do conhecimento se convenceu de que a economia não se basta tendência se manifesta em grandes instituições privadas,
a si mesma, de que uma articulação com o mundo que ensina e como a Phoenix, nos Estados Unidos, universidade de fins
difunde o conhecimento é essencial. lucrativos, cotada em bolsa, que eliminou visões humanistas e
NO MUNICÍPIO de Pintadas, na Bahia, pequeno município ensina o que caracteriza como marketable skills, ou seja,
distante da modernidade do asfalto, todo ano quase a metade habilidades comercializáveis. É ir contra a corrente, na linha
dos homens viajava para o Sudeste para o corte de cana. A da velha dicotomia entre teoria e prática.
parceria de uma prefeita dinâmica, de alguns produtores e de Essa visão de que podemos ser donos da nossa própria
pessoas com visão das necessidades locais permitiu que os que transformação econômica e social, de que o desenvolvimento
buscavam emprego em lugares distantes se voltassem para a não se espera, mas se faz, constitui uma das mudanças mais
construção do próprio município. Começaram com uma profundas que estão ocorrendo no país. Tira-nos da atitude de
parceria da Secretaria da Educação local com uma espectadores críticos de um governo sempre insuficiente, ou
universidade de Salvador, para elaborar um plano de do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão de
saneamento básico da cidade, o que reduziu os custos de que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja
saúde, liberou terras e verbas para a produção, e assim por uma dinâmica social local que facilite o processo, gerando
diante. A geração de conhecimentos sobre a realidade local e a sinergia entre diversos esforços.
promoção de uma atitude proativa para o desenvolvimento A idéia da educação para o desenvolvimento local está
fazem parte evidente de uma educação que pode se tornar no diretamente vinculada a essa compreensão e à necessidade de
instrumento científico e pedagógico da transformação local. se formarem pessoas que amanhã possam participar de forma
A iniciativa partiu de uma prefeita eleita por uma rede de ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de
organizações sociais, portanto diretamente vinculada às gerar dinâmicas construtivas. Hoje, quando se tenta promover
necessidades das comunidades. Em retribuição, o governador iniciativas desse tipo, constata-se que não só as crianças, mas
mandou fechar a única agência bancária da cidade. A resposta mesmo os adultos desconhecem desde a origem do nome da
da comunidade foi reativar uma cooperativa de crédito local, sua própria rua até os potenciais do subsolo da região onde se
passando a financiar localmente grande parte das iniciativas. criaram. Para termos cidadania ativa, temos de ter uma
E a educação nisso? Os promotores dessas iniciativas deram- cidadania informada, e isso começa cedo. A educação não deve
se conta de que Pintadas fica no semi-árido, e que as crianças servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da
nunca tinham tido uma aula sobre o semi-árido, sobre as sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para
limitações e potencialidades da sua própria realidade. Hoje se ajudar a transformá-la.
ensina o semi-árido nas escolas de Pintadas. É natural que esse Numa região da Itália, visitamos uma cidade onde o chão
ensino, que permite às crianças a compreensão da sua região, da praça central era um grande baixo-relevo da própria cidade
das dificuldades dos seus próprios pais nas diversas esferas e das regiões vizinhas, permitindo às pessoas visualizar os
profissionais, estimule as crianças e prepare cidadãos que prédios, as grandes vias de comunicação, o desenho da bacia
verão a educação como instrumento de transformação da hidrográfica, e assim por diante. Entre outros usos, a praça é
própria realidade. utilizada pelos professores para discutir com as crianças a
Em Santa Catarina, sob orientação do falecido Jacó Anderle, distribuição territorial das principais áreas econômicas,
foi desenvolvido o programa "Minha Escola, Meu Lugar". mostrar-lhes como a poluição num ponto se espalha para o
Trata-se de uma orientação sistemática de inclusão da conjunto da cidade, e assim por diante. Há cidades que
realidade local nos currículos escolares, envolvendo a elaboraram um Atlas local para que as crianças pudessem
formação de professores – que, em geral, pela própria entender o seu espaço, outras estão dinamizando a produção
formação, também desconhecem as suas regiões –, a de indicadores para que os problemas locais se tornem mais
elaboração de material didático, articulação dos currículos de compreensíveis, e mais fáceis de ser incorporados ao currículo
diversas disciplinas, e assim por diante. escolar. Os meios são numerosos e variados, e os detalharemos
A região de São Joaquim, no sul do Estado de Santa no presente texto, mas o essencial é essa atitude de considerar
Catarina, era um local pobre, de pequenos produtores sem que as crianças podem e devem se apropriar, por meio de
perspectiva, e com os indicadores de desenvolvimento conhecimento organizado, do território onde são chamadas a
humano mais baixos do Estado. Como outras regiões do país, viver, e que a educação tem um papel central a desempenhar
São Joaquim e os municípios vizinhos esperavam que o nesse plano.
desenvolvimento "chegasse" de fora, sob forma de Há uma dimensão pedagógica importante nesse enfoque.
investimento de uma grande empresa, ou de um projeto do Ao estudarem de forma científica e organizada a realidade que
governo. Há poucos anos, vários residentes da região conhecem por vivência, mas de forma fragmentada, as crianças
decidiram que não iriam mais esperar, e optaram por uma tendem a assimilar melhor os próprios conceitos científicos,
outra visão de solução dos seus problemas: enfrentá-los eles pois é a realidade delas que passa a adquirir sentido. Ao
mesmos. Identificaram características diferenciadas do clima estudarem, por exemplo, as dinâmicas migratórias que
local, que constataram ser excepcionalmente favorável à constituíram a própria cidade onde vivem, as crianças tendem
fruticultura. a encontrar cada uma a sua origem, segmentos de sua
Organizaram-se, e com os meios de que dispunham identidade, e passam a ver a ciência como instrumento de
fizeram parcerias com instituições de pesquisa, formaram compreensão da sua própria vida, da vida da sua família. A
cooperativas, abriram canais conjuntos de comercialização ciência passa a ser apropriada, e não mais apenas uma
obrigação escolar.

Bibliografia 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Globalização e desenvolvimento local das comunidades, que continuam a ser donas do seu
Quando consultamos a imprensa, ou até revistas técnicas, desenvolvimento.
parece-nos que tudo está globalizado, só se fala em Com o peso crescente das iniciativas locais, é natural que
globalização, no cassino financeiro mundial, nas corporações da educação se esperem não só conhecimentos gerais, mas a
transnacionais. A globalização é um fato indiscutível, compreensão de como os conhecimentos gerais se
diretamente ligado a transformações tecnológicas da materializam em possibilidades de ação no plano local.
atualidade e à concentração mundial do poder econômico. Mas Urbanização e iniciativas sociais
nem tudo foi globalizado. Quando olhamos dinâmicas simples, Boa parte da atitude passiva de "espera" do
mas essenciais para a nossa vida, encontramos o espaço local. desenvolvimento se deve ao fato de a nossa urbanização ainda
Assim, a qualidade de vida no nosso bairro é um problema ser muito recente. Nos anos 1950, éramos, como ordem de
local, envolvendo o asfaltamento, o sistema de drenagem, as grandeza, dois terços de população rural; hoje somos 82% de
infra-estruturas do bairro. população urbana. A urbanização muda profundamente a
forma de organização da sociedade em torno às suas
Esse raciocínio pode ser estendido a inúmeras iniciativas, necessidades. Uma família no campo resolve individualmente
como a de São Joaquim aqui citada, mas também a soluções os seus próprios problemas de abastecimento de água, de lixo,
práticas, como a decisão de Belo Horizonte de tirar os de produção de hortifrutigranjeiros, de transporte.
contratos da merenda escolar da mão de grandes Na cidade, não é viável cada um ter o seu poço, mesmo
intermediários, contratando grupos locais de agricultura porque o adensamento da população provoca a poluição dos
familiar para abastecer as escolas, o que dinamizou o emprego lençóis freáticos pelas águas negras. O transporte é em grande
e o fluxo econômico da cidade, além de melhorar parte coletivo, o abastecimento depende de uma rua
sensivelmente a qualidade da comida – foram incluídas comercial, as casas têm de estar interligadas com redes de
cláusulas sobre agrotóxicos – e de promover a construção da água, esgotos, telefonia, eletricidade, freqüentemente com
capital social. Dependem essencialmente da iniciativa local a cabos de fibras ópticas, sem falar da rede de ruas e calçadas, de
qualidade da água, da saúde, do transporte coletivo, bem como serviços coletivos de limpeza pública e de remoção de lixo, e
a riqueza ou pobreza da vida cultural. Enfim, grande parte do assim por diante. A cidade é um espaço no qual predomina o
que constitui o que hoje chamamos de qualidade de vida não sistema de consumo coletivo em rede.
depende muito – ainda que possa sofrer os seus impactos – da
globalização: depende da iniciativa local. No espaço adensado urbano, as dinâmicas de colaboração
A importância crescente do desenvolvimento local passam a predominar. Não adianta uma residência combater o
encontra-se hoje em inúmeros estudos, do Banco Mundial, das mosquito da dengue se o vizinho não colabora. A poluição de
Nações Unidas, de pesquisadores uni-versitários. Iniciativas um córrego vai afetar toda a população que vive rio abaixo.
como a que mencionamos antes vêm sendo estudadas Assim, enquanto a qualidade de vida da era rural dependia em
regularmente. O Programa Gestão Pública e Cidadania, por grande parte da iniciativa individual, na cidade passa a ser
exemplo, desenvolvido pela Fundação Getulio Vargas de São essencial a iniciativa social, que envolve muitas pessoas e a
Paulo, tem cerca de 7.500 experiências desse tipo cadastradas participação informada de todos.
e estudadas. O Cepam , que estuda a administração local no O próprio entorno rural passa cada vez mais a se articular
Estado de São Paulo, acompanha centenas de experiências. O com a área urbana, tanto por meio do movimento de chácaras
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) do Rio e lazer rural da população urbana como pelas atividades rurais
de Janeiro acompanha experiências no Brasil inteiro, como é o que se complementam com a cidade, como é o caso do
caso de Instituto Pólis, da Fundação Banco do Brasil, que abastecimento alimentar, das famílias rurais que
promoveu a Rede de Tecnologias Sociais, e assim por diante. complementam a renda com trabalho urbano, ou da
É interessante constatar que quanto mais se desenvolve a necessidade de serviços descentralizados de educação e saúde.
globalização, mais as pessoas estão resgatando o espaço local Gera-se assim um espaço articulado de complementaridades
e buscando melhorar as condições de vida no seu entorno entre o campo e a cidade. Onde antes havia a divisão nítida
imediato. Naisbitt, um pesquisador americano, chegou a entre o "rural" e o "urbano" aparece o que tem sido chamado
chamar esse processo de duas vias, de globalização e de de "rurbano".
localização, de "paradoxo global". Na realidade, a nossa No território assim constituído, as pessoas passam a se
cidadania se exerce em diversos níveis, mas é no plano local identificar como comunidade, a administrar conjuntamente
que a participação pode se expressar de forma mais concreta. problemas que são comuns. Esse "aprender a colaborar" se
A grande diferença, para municípios que tomaram as tornou suficientemente importante para ser classificado como
rédeas do próprio desenvolvimento, é que, em vez de serem um capital, uma riqueza de cada comunidade, sob forma de
objetos passivos do processo de globalização, passaram a capital social. Em outros termos, se antigamente o
direcionar a sua inserção segundo os seus interesses. enriquecimento e a qualidade de vida dependiam diretamente,
Promover o desenvolvimento local não significa voltar as por exemplo, numa propriedade rural, do esforço da família,
costas para os processos mais amplos, incluindo os na cidade a qualidade de vida e o desenvolvimento vão
planetários: significa utilizar as diversas dimensões depender cada vez mais da capacidade inteligente de
territoriais segundo os interesses da comunidade. organização das complementaridades, das sinergias no
Há municípios turísticos, por exemplo, onde um gigante do interesse comum.
turismo industrial ocupa uma imensa parte da orla marítima, É nesse plano que desponta a imensa riqueza da iniciativa
joga a população ribeirinha para o interior e obtém lucros a local: como cada localidade é diferenciada, segundo o seu grau
partir da beleza natural da região, na mesma proporção em de desenvolvimento, a região onde se situa, a cultura herdada,
que dela priva os seus habitantes. Outros municípios as atividades predominantes na região, a disponibilidade de
desenvolveram o turismo sustentável e aproveitam a determinados recursos naturais, as soluções terão de ser
tendência crescente da busca de lugares mais sossegados, com diferentes para cada uma. E só as pessoas que vivem na
pousadas simples mas em ambiente agradável, ajudando, e localidade, que a conhecem efetivamente, é que sabem
não desarticulando, as atividades preexistentes, como a pesca realmente quais são as necessidades mais prementes, os
artesanal, que aliás se torna um atrativo. Tanto o turismo principais recursos subutilizados, e assim por diante. Se elas
de resorts como o turismo sustentável participam do processo não tomarem iniciativas, dificilmente alguém o fará para elas.
de globalização, mas na segunda opção há um enriquecimento O Brasil possui quase 5.600 municípios. Não é viável o
governo federal, ou mesmo o governo estadual, conhecer

Bibliografia 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

todos os problemas de tantos lugares diferentes. E tampouco Em outros termos, a coerência sistêmica de numerosas
está na mão de algumas grandes corporações resolver tantos iniciativas de uma cidade, de um território depende
assuntos, ainda que tivessem interesse. De certa forma, os fortemente de uma cidadania informada. A tendência que
municípios formam os "blocos" com os quais se constrói o país, temos hoje é que só alguns políticos ou chefes econômicos
e cada bloco ou componente tem de se organizar de forma locais dispõem da informação, e ditam o seu programa à
adequada segundo as suas necessidades, para que o conjunto cidade. Assim, a democratização do conhecimento do
– o país – funcione. território, das suas dinâmicas mais variadas é uma condição
Assim passamos de uma visão tradicional dicotômica, na central do desenvolvimento. E onde o cidadão vai colher
qual ficava de um lado a iniciativa individual e de outro a conhecimento sobre a sua região se discussões sobre a cidade
grande organização, estatal ou privada, para uma visão de só aparecem uma vez a cada quatro anos nos discursos
iniciativas colaborativas no território. As inúmeras eleitorais?
organizações da sociedade civil organizada, as ONG, as Um relatório recente do Instituto de Estudos Sócio-
organizações comunitárias, os grupos de interesse, fazem Econômicos (Inesc), uma ONG que trabalha sobre o controle
parte dessa construção de uma sociedade que gradualmente do dinheiro público, é nesse sentido interessante:
aprende a articular interesses que são diferenciados, mas nem O fato de termos uma sociedade com baixo nível de
por isso deixam de ter dimensões complementares. escolaridade, constitui um desafio a mais, não só para
A educação não pode se limitar a constituir para cada aluno melhorar a escolaridade, mas para educar para a cidadania,
um tipo de estoque básico de conhecimentos. As pessoas que para que os cidadãos saibam suas responsabilidades e saibam
convivem num território têm de passar a conhecer os cobrar dos seus legisladores e do poder público em geral, a
problemas comuns, as alternativas, os potenciais. A escola transparência, a decomposição dos números que não
passa, assim, a ser uma articuladora entre as necessidades do entendem. Apesar disso, e embora não haja uma cultura
desenvolvimento local e os conhecimentos correspondentes. disseminada do controle social na população, muitos cidadãos
Não se trata de uma diferenciação discriminadora, do tipo exercem o controle social com extrema eficácia porque têm
"escola pobre para pobres": trata-se de uma educação mais noção de prioridade e fazem comparações, em termos de
emancipadora na medida em que assegura à nova geração os resultados das políticas, mesmo sem saber ler, e mesmo
instrumentos de intervenção sobre a realidade que é a sua. quando o próprio poder público tenta desqualificá-los,
principalmente quando se apontam irregularidades nos
Informação, educação e cidadania Conselhos. Quanto mais as informações são monopólio, ou
herméticas e confusas, menor é a capacidade de a sociedade
A pesquisadora americana Hazel Henderson traz uma participar e de influenciar o Estado, o que acaba
imagem interessante. Imaginemos um trânsito atravancado enfraquecendo a noção de democracia, que pode ser medida
numa região da cidade. Uma das soluções é deixar cada um se pelo fluxo, pela qualidade e quantidade das informações que
virar como pode, um tipo de liberalismo exacerbado. O circulam na sociedade. O grande desafio é a transparência no
resultado será, provavelmente, que todos buscarão maximizar sentido do empoderamento, que significa encontrar
as suas vantagens individuais, gerando um engarrafamento- instrumentos para que a população entenda o orçamento e
monstro, pois a tendência é ocupar todos os espaços vazios, e fiscalize o poder público.1
a maioria vai ter um comportamento semelhante. Outra O objetivo da educação não é desenvolver conceitos
solução é colocar guardas que irão direcionar todo o fluxo de tradicionais de "educação cívica" com moralismos que
trânsito, de forma imperativa, a fim de desobstruir a região. A cheiram a mofo, mas permitir que os jovens tenham acesso aos
solução pode ser mais interessante, mas não respeita as dados básicos do contexto que regerá as suas vidas. Entender
diferenças de opção ou mesmo de destino dos diversos o que acontece com o dinheiro público, quais são os
motoristas. indicadores de mortalidade infantil, quem são os maiores
Uma terceira saída é deixar a opção ao cidadão, mas poluidores da sua região, quais são os maiores potenciais de
assegurar, por meio de rádio ou de painéis, ampla informação desenvolvimento – tudo isso é uma questão de elementar
sobre o local onde ocorre o engarrafamento, os tempos transparência social. Não se trata de privilegiar o "prático"
previstos de demora e as opções. Esse tipo de decisão, relativamente ao teórico, trata-se de dar um embasamento
democrática mas informada, permite o comportamento concreto à própria teoria.
inteligente de cada indivíduo, segundo os seus interesses e
situação particular, e ao mesmo tempo o interesse comum. Os parceiros do desenvolvimento local
Sempre haverá, naturalmente, um pouco de cada opção nas
diversas formas de organizar o desenvolvimento, mas o que Uma educação que insira nas suas formas de educar uma
nos interessa particularmente é a terceira opção, pois mostra maior compreensão da realidade local terá de organizar
que além do "vale tudo" individual, ou da disciplina da parcerias com os diversos atores sociais que constroem a
"ordem", pode haver formas organizadas e inteligentes de ação dinâmica local. Em particular, as escolas, ou o sistema
sem que seja preciso mandar nas pessoas, respeitando a sua educacional local de forma geral, terão de articular-se com
liberdade. Em outros termos, um bom conhecimento da universidades locais ou regionais para elaborar o material
realidade, sólidos sistemas de informação, transparência na correspondente, organizar parcerias com ONG que trabalham
sua divulgação podem permitir iniciativas inteligentes por com dados locais, conhecer as diferentes organizações
parte de todos. comunitárias, interagir com diversos setores de atividades
Há algum tempo, a cidade de Porto Alegre colocou em públicas, buscar o apoio de instituições do sistema S como
mapas digitalizados todas as informações sobre unidades Sebrae ou Senac, e assim por diante.
econômicas da cidade, que estão registradas na Secretaria da O processo é de duplo sentido, pois, por um lado, leva a
Fazenda para obter o alvará de funcionamento. Quando, por escola a formar pessoas com maior compreensão das
exemplo, um comerciante quer abrir uma farmácia, mostram- dinâmicas realmente existentes para os futuros profissionais,
lhe o mapa de distribuição das farmácias na cidade. Com isso, e, por outro, leva a que essas dinâmicas penetrem o próprio
o comerciante localiza as áreas onde já há várias farmácias, e sistema educacional, enriquecendo-o. Assim, os professores
onde há falta delas. Assim, com boa informação, o comerciante terão maior contato com as diversas esferas de atividades,
irá localizar a sua farmácia onde há clientela que esteja tornar-se-ão de certa maneira mediadores científicos e
precisando, servindo melhor os seus próprios interesses e pedagógicos de um território, de uma comunidade. A
prestando um serviço socialmente mais útil. requalificação dos professores que isso implica poderá ser

Bibliografia 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

muito rica, pois esses serão naturalmente levados a confrontar O impacto das tecnologias3
o que ensinam com as realidades vividas, sendo de certa
maneira colocados na mesma situação que os alunos, que É impressionante a solidão do professor ante a sua turma,
escutam as aulas e enfrentam a dificuldade em fazer a ponte com os seus cinqüenta minutos e uma fatia de conhecimento
entre o que é ensinado e a realidade concreta do seu cotidiano. predefinida a transmitir. Alguns serão melhores, outros piores,
O impacto em relação à motivação, para uns e outros, para enfrentar esse processo, mas no conjunto esse universo
poderá ser grande, sobretudo para os alunos a quem sempre fatiado corresponde pouco à motivação dos alunos, e tornou-
se explica que "um dia" entenderão por que o que estudam é se muito difícil para o professor, individualmente, modificar os
importante. O aluno que tiver aprendido em termos históricos procedimentos. Isso levou a uma situação interessante, de um
e geográficos como se desenvolveu a sua cidade, o seu bairro, grande número de pessoas na área educacional querendo
terá maior capacidade e interesse em contrastar esse introduzir modificações, ao mesmo tempo que pouco muda.
desenvolvimento com o processo de urbanização de outras É um tipo de impotência institucional, em que uma
regiões, de outros países, e compreenderá melhor os conceitos engrenagem tem dificuldade de alterar algo, na medida em que
teóricos das dinâmicas demográficas em geral. depende de outras engrenagens. A mudança sistêmica é
Envolve ainda mudanças dos procedimentos pedagógicos, sempre difícil. E sobretudo, as soluções individuais não
pois é diferente fazer os alunos anotarem o que o professor diz bastam.
sobre D. Carlota Joaquina, e organizar de maneira científica o Um dos paradoxos que enfrentamos é o contraste entre a
conhecimento prático mas fragmentado que existe na cabeça profundidade das mudanças das tecnologias do conhecimento
dos alunos. Em particular, seria natural organizar de forma e o pouco que mudaram os procedimentos pedagógicos. A
regular e não esporádica discussões que envolvam alunos, maleabilidade dos conhecimentos foi e está sendo
professores e profissionais de diversas áreas de atividades, profundamente revolucionada. Pondo de lado os diversos
desde líderes comunitários a gerentes de banco, de tipos de exageros sobre a "inteligência artificial", ou as
sindicalistas a empresários, de profissionais liberais e desconfianças naturais dos desinformados, a realidade é que a
desempregados, apoiando esses contatos sistemáticos com informática, associada às telecomunicações, permite:
material científico de apoio.
Na sociedade do conhecimento para a qual evoluímos - estocar de forma prática, em disquetes, em discos rígidos
rapidamente, todos – e não só as instituições de ensino – se e em discos laser, ou simplesmente em algum endereço
defrontam com as dificuldades de se lidar com muito mais da rede, gigantescos volumes de informação. Estamos falando
conhecimento e informação. As empresas realizam de centenas de milhões de unidades de informação que cabem
regularmente programas de requalificação dos trabalhadores, no bolso, e do acesso universal a qualquer informação
e hoje trabalham com o conceito de knowledge digitalizada;
organization, ou de learning organizations, na linha da - trabalhar essa informação de forma inteligente,
aprendizagem permanente. permitindo a formação de bancos de dados sociais e
Acabou o tempo em que as pessoas primeiro estudam, individuais de uso simples e prático, e eliminando as rotinas
depois trabalham, e depois se aposentam. A relação com a burocráticas que tanto paralisam o trabalho científico.
informação e o conhecimento acompanha cada vez mais as Pesquisar dezenas de obras para saber quem disse o quê sobre
pessoas durante toda a sua vida. É um deslocamento profundo um assunto particular, "navegando" entre as mais diversas
entre a cronologia da educação formal e a cronologia da vida opiniões, torna-se uma tarefa extremamente simples;
profissional. - transmitir de forma muito flexível a informação por meio
Nesse sentido, todas as organizações, e não só as escolas, da internet, de forma barata e precisa, inaugurando uma nova
se tornaram instituições onde se aprende, reconsideram-se os era de comunicação de conhecimentos. Isso implica que, de
dados da realidade. A escola precisa estar articulada com esses qualquer sala de aula ou residência, podem ser acessados
diversos espaços de aprendizagem para ser uma parceira das dados de qualquer biblioteca do mundo, ou ainda, que um
transformações necessárias. conjunto de escolas pode transmitir informações científicas de
Um exemplo interessante nos vem de Jacksonville, nos uma para outra, ou de um conjunto de instituições regionais
Estados Unidos. A cidade produz anualmente um balanço de em redes educacionais articuladas;
evolução da sua qualidade de vida, avaliando a saúde, a - integrar a imagem fixa ou animada, o som e o texto de
educação, a segurança, o emprego, as atividades econômicas, e maneira muito simples, ultrapassando a tradicional divisão
assim por diante. Esse relatório anual é produzido com a entre a mensagem lida no livro, ouvida no rádio ou vista numa
participação dos mais variados parceiros e permite inserir o tela, envolvendo aliás a possibilidade hoje de qualquer escola
conhecimento científico da realidade no cotidiano dos ter uma rádio comunitária, tornando-se um articulador local
cidadãos. O mundo da educação tem por vocação ensinar a poderoso no plano do conhecimento;
trabalhar de forma organizada o conhecimento. Pode ficar fora - manejar os sistemas sem ser especialista: acabou-se o
de esforços desse tipo?2 tempo em que o usuário tinha de aprender uma "linguagem",
Aparecem como parceiros necessários as universidades ou simplesmente tinha que parar de pensar no problema do
regionais, as empresas, o sistema S, diversos órgãos da seu interesse científico para pensar no como manejar o
prefeitura, as ONG ambientais, as organizações comunitárias, computador. A geração dos programas user-friendly, ou seja
a mídia local, as representações locais do IBGE, da Embrapa e "amigos" do usuário, torna o processo pouco mais complicado
de outros organismos de pesquisa e desenvolvimento. Enfim, que o da aprendizagem do uso da máquina de escrever, mas
há um mundo de conhecimentos dispersos e subutilizados, exige também uma mudança de atitudes ante o conhecimento
que podem se tornar matéria-prima de um ensino de forma geral, mudança cultural que, essa sim, é
diferenciado. freqüentemente complexa.
O que visamos é uma escola um pouco menos lecionadora,
e um pouco mais articuladora dos diversos espaços do Trata-se aqui de dados muito conhecidos, e o que
conhecimento que existem em cada localidade, em cada queremos notar, ao lembrá-los brevemente, é que estamos
região; e educar os alunos de forma a que se sintam perante um universo que se descortina com rapidez
familiarizados e inseridos nessa realidade. vertiginosa, e que será o universo do cotidiano das pessoas que
hoje formamos.
Somente agora, contudo, as pessoas começam a se dar
conta de que o custo total de um equipamento de primeira

Bibliografia 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

linha, com enorme capacidade de estocagem de dados, anacrônica, e a complexidade das diversas cronologias
impressora, modem, escâner para transporte direto de textos aumenta;
ou imagens do papel para a forma magnética, continua caindo - modifica-se profundamente a função do educando, em
regularmente.4 particular do adulto, que deve se tornar sujeito da própria
Há um potencial de democratização radical do apoio aos formação, ante a diferenciação e riqueza dos espaços de
professores, e de nivelamento por cima do conjunto do mundo conhecimento nos quais deverá participar;
educacional no país, que as tecnologias hoje permitem, e a luta - a luta pelo acesso aos espaços de conhecimento vincula-
por essa democratização tornou-se essencial na mudança se ainda mais profundamente ao resgate da cidadania, em
sistêmica, que ultrapassa o nível de iniciativa do educador particular para a maioria pobre da população, como parte
individual ou da escola isoladamente. Não há dúvida de que o integrante das condições de vida e de trabalho;
educador freqüentemente ainda se debate com os problemas - finalmente, longe de tentar ignorar as transformações, ou
mais dramáticos e elementares. Mas a implicação prática que de atuar de forma defensiva ante as novas tecnologias,
vemos, ante a existência paralela desse atraso e da precisamos penetrar as dinâmicas para entender sob que
modernização, é que temos que trabalhar em "dois tempos", forma os seus efeitos podem ser invertidos, levando a um
fazendo o melhor possível no universo preterido que constitui processo reequilibrador da sociedade, quando hoje tendem a
a nossa educação, mas criando rapidamente as condições para reforçar as polarizações e a desigualdade.
uma utilização "nossa" dos novos potenciais que surgem.
No plano da implantação local de tecnologias a serviço da De forma geral, todas essas transformações tendem a nos
educação, o exemplo de Piraí, pequena cidade do Estado do atropelar, gerando freqüentemente resistências fortes,
Rio, é importante. O projeto, de iniciativa municipal, envolveu sentimentos de impotência, reações pouco articuladas. No
convênios com as empresas que administram torres de conjunto, no entanto, há o fato essencial de as novas
retransmissão de sinal de TV e de telefonia celular, para tecnologias representarem uma oportunidade radical de
instalação de equipamento de retransmissão de sinal de democratização do acesso ao conhecimento.
internet por rádio. Assim se assegura a cobertura de todo o A palavra-chave é a conectividade. Uma vez feito o
território municipal. A partir de alguns pontos de recepção, investimento inicial de acesso banda larga de uma escola, ou
fez-se uma distribuição do sinal banda larga por cabo, dando de uma família, é a totalidade do conhecimento digitalizado do
acesso a todas as escolas, instituições públicas, empresas. planeta que se torna acessível, representando uma mudança
Como a gestão do sistema é pública, utilizou-se a radical, particularmente para pequenos municípios, para
diferenciação de tarifas para que o lucro maior das empresas regiões isoladas, e na realidade qualquer segmento
cobrisse uma subvenção ao acesso domiciliar, e hoje qualquer relativamente pouco equipado, mesmo das
família humilde pode ter acesso banda larga em casa por R$ 35 metrópoles.5 Quando se olha o que existe em geral nas
por mês. Convênios de crédito com bancos oficiais permitem a bibliotecas escolares, e a pobreza das livrarias – centradas em
compra de equipamentos particulares com juros baixos. O livros de auto-ajuda, volumes traduzidos sobre como ganhar
resultado prático é que o conjunto do município "banha" no dinheiro e fazer amigos, além de algumas bobagens mais –,
espaço da internet, gerando uma produtividade sistêmica compreende-se a que ponto o aproveitamento adequado da
maior do esforço de todos, além de mudança de atitudes de conectividade pode tornar-se uma forma radical de
jovens, de maior facilidade de trabalho dos professores que democratização do acesso ao conhecimento mais significativo.
têm possibilidade de acesso em casa, e assim por diante. Ao mesmo tempo, essa conectividade permite que mesmo
O que temos hoje é uma rápida penetração das tecnologias, pequenas organizações comunitárias, ONG, pequenas
e uma lenta assimilação das implicações que essas tecnologias empresas, núcleos de pesquisa relativamente isolados, podem
trazem para a educação. Convivem, assim, dois sistemas pouco articular-se em rede. O problema de "ser grande" já está
articulados, e freqüentemente vemos escolas que trancam deixando de ser essencial, quando se é bem conectado, quando
computadores numa sala, o "laboratório", em vez de inserir o se pertence a uma rede interativa.
seu uso em dinâmicas pedagógicas repensadas. Em outros termos, a era do conhecimento exige muito mais
conhecimento atualizado e inserido nos significados locais e
Educação e gestão do conhecimento regionais, e ao mesmo tempo as tecnologias da informação e
Com o risco de dizer o óbvio, mas visando à sistematização, comunicação tornam o acesso a esse conhecimento muito mais
podemos considerar que, em relação à gestão do viável. A educação precisa, de certa forma, organizar essa
conhecimento, os novos pontos de referência, ou transição, e preparar as crianças para o mundo realmente
transformações mais significativas, seriam os seguintes: existente.

- é necessário repensar de forma mais dinâmica e com O desafio educacional local e os conselhos municipais
novos enfoques a questão do universo de conhecimentos a
trabalhar: ninguém mais pode aprender tudo, mesmo de uma Um diretor de escola anda em geral assoberbado por
área especializada; a opção entre "cabeça bem cheia" ou problemas do cotidiano, com muita visão do imediato, e pouco
"cabeça bem-feita" nos deixa poucas opções; tempo para a visão mais ampla. O professor enfrenta a gestão
- nesse universo de conhecimentos, assumem maior da sala de aula, e freqüentemente está muito centrado na
importância relativa as metodologias, o aprender a "navegar", disciplina que ministra. Nesse sentido, o Conselho Municipal
reduzindo-se ainda mais a concepção de "estoque" de de Educação, reunindo pessoas que ao mesmo tempo
conhecimentos a transmitir; conhecem o seu município, o seu bairro e os problemas mais
- torna-se cada vez mais fluida a noção de área amplos do desenvolvimento local, e a rede escolar da região,
especializada de conhecimentos, ou de "carreira", quando do pode se tornar o núcleo irradiador da construção do
engenheiro se exige cada vez mais uma compreensão da enriquecimento científico mais amplo do local e da região.
administração, quando qualquer cientista social precisa de Essas visões implicam, sem dúvida, uma atitude criativa
uma visão dos problemas econômicos, e assim por diante, por parte dos conselheiros de educação. Um documento
devendo-se, aliás, colocar em questão os corporativismos endereçado ao Pró-Conselho ressalta o respaldo formal que
científicos; essas iniciativas podem encontrar:
- aprofunda-se a transformação da cronologia do Importa dizer que o Conselho desempenha importante
conhecimento: a visão do homem que primeiro estuda, depois papel na busca de uma inovação pedagógica que valorize a
trabalha, e depois se aposenta torna-se cada vez mais profissão docente e incentive a criatividade. Por outro lado, ele

Bibliografia 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

pode ser um pólo de audiências, análises e estudos de políticas nova geração de pessoas conhecedoras dos desafios que terão
educacionais do seu sistema de ensino. Finalmente, importa de enfrentar.
não se esquecer da fundamentação ética, legal de suas Não há "cartilha" para esse tipo de procedimentos. Em
atribuições para se ganhar em legitimidade perante a alguns municípios, o problema central é de água; em outros, é
sociedade e os poderes públicos... Sob esses aspectos, o de infra-estruturas; em outros, ainda, é de segurança ou de
conselheiro será visto como um gestor cuja natureza remete desemprego. Alguns podem se apoiar numa empresa de visão
ao verbo gerar e gerar é produzir o novo: um novo desenho aberta, outras se ligarão com universidades regionais. Há
para a educação municipal consoante os mais lídimos cidades com prefeitos dispostos a ajudar no desenvolvimento
princípios democráticos e republicanos. integrado e sustentável; há outras em que a compreensão do
Outro documento, de Eliete Santiago,6 insiste no papel dos valor do conhecimento ainda é incipiente, e onde as
Conselhos Municipais de Educação como "forma de autoridades acham que desenvolver um município consiste
participação da sociedade no controle social do Estado. em inaugurar obras. Cada realidade é diferente, e não há como
Configura-se como um espaço para a discussão efetiva da escapar ao trabalho criativo que cada conselho municipal
política educacional e consequentemente seu controle e deverá desenvolver.
avaliação propositiva. Nesse caso, espera-se a afirmação do Isso dito, apresentamos a seguir algumas sugestões, para
seu caráter deliberativo de modo a avançar cada vez mais em servir de pontos de referência, baseadas que estão no
relação à sua função consultiva". Isso envolve "a organização conhecimento de coisas que deram certo, e de outras que
do espaço e do tempo escolar e do tempo curricular com ênfase deram errado, visando não servir de cartilha, mas de
na sua distribuição, organização e uso, e os resultados de inspiração. Em termos bem práticos, a sugestão é que um
aprendizagens com ênfase no conhecimento de experiências Conselho Municipal de Educação organize essas atividades em
inovadoras". quatro linhas:
No quadro do Ministério do Meio Ambiente, junto com o
Ministério das Cidades, gerou-se o programa "Municípios - Montar um núcleo de apoio e desenvolvimento da
Educadores Sustentáveis", que também permite inserir nas iniciativa de inserção da realidade local nas atividades
escolas uma nova visão tanto do estudo da problemática local escolares.
como da responsabilização e do protagonismo infantil e - Organizar parcerias com os diversos atores locais
juvenil relativamente ao seu meio. Assim, por exemplo, as passíveis de contribuir com o processo.
escolas podem contribuir para elaborar indicadores regionais - Organizar ou desenvolver o conhecimento da realidade
e sistemas de avaliação para o monitoramento e a avaliação da local, aproveitando a contribuição dos atores sociais do local e
situação ambiental. da região.
O Programa Municípios Educadores Sustentáveis propõe - Organizar a inserção desse conhecimento no currículo e
promover o diálogo entre os diversos setores organizados, nas diversas atividades da escola e da comunidade.
colegiados, com os projetos e ações desenvolvidos nos
municípios, bacias hidrográficas e regiões administrativas. Ao Montar um núcleo de apoio é essencial, pois, sem um grupo
mesmo tempo, propõe dar-lhes um enfoque educativo, no qual de pessoas dispostas a assegurar que a iniciativa chegue aos
cidadãs e cidadãos passam a ser editores/educadores de resultados práticos, dificilmente haverá progresso. O Conselho
conhecimento socioambiental, formando outros poderá nomear um grupo de conselheiros mais interessados,
editores/educadores, e multiplicando-se sucessivamente, de traçar uma primeira proposta, ou visão, e associar à iniciativa
modo que o município se transforme em educador para a alguns professores ou diretores de escola que queiram colocá-
sustentabilidade.7 la em prática. É importante que haja um coordenador e um
A responsabilidade escolar nesse processo é essencial, pois cronograma mínimo.
precisamos construir uma geração de pessoas que entendam Quanto aos atores locais, a visão a se trabalhar é de uma
efetivamente o meio onde estão inseridas: o mesmo rede permanente de apoio. Muitas instituições hoje têm na
documento ressalta que todos somos responsáveis pela produção de conhecimento uma dimensão importante das
construção de sociedades sustentáveis. Isso significa suas atividades. Trata-se, evidentemente, das faculdades ou
promover a valorização do território e dos recursos locais universidades locais ou regionais, das empresas, das
(naturais, econômicos, humanos, institucionais e culturais), repartições regionais do IBGE, de instituições como Embrapa,
que constituem o potencial local de melhoria da qualidade de Emater e outras, de ONG que trabalham com dimensões
vida para todos. É preciso conhecer melhor este potencial, particulares da realidade, de organizações comunitárias.
para chegar à modalidade de desenvolvimento sustentável O objetivo da rede não é de simplesmente recolher
adequada à situação local, regional e planetária. informação, na visão de um grande banco de dados, mas de
No município de Vicência, em Pernambuco, encontramos o assegurar que seja disponibilizada, que circule entre os
seguinte relato: "Educação é a principal condição para o diversos atores sociais da região, e sobretudo que permeie o
desenvolvimento local sustentável. Nessa dimensão, a ambiente escolar. Na cidade de Santos, por exemplo, foi criado
Secretaria de Educação do Município implantou o projeto um centro de documentação da cidade, com dotação da
‘Escolas rurais, construindo o desenvolvimento local’, com a prefeitura, mas dirigido por um colegiado que envolveu quatro
perspectiva de melhoria da qualidade do ensino e, reitores, quatro representantes de organizações da sociedade
conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida das civil e quatro representantes da prefeitura. O objetivo era
comunidades rurais". evitar que as informações sobre o município fossem
O projeto permitiu "uma metodologia diferenciada que "apropriadas" e transformadas em informação "chapa branca",
leva a uma contribuição para uma melhor compreensão de um e garantir acesso e circulação.
verdadeiro exercício de cidadania. O projeto tem como A diversidade de soluções aqui é imensa, pois temos desde
objetivo tornar a escola o centro de produção de poderosos centros metropolitanos até pequenos municípios
conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento local".8 rurais. O essencial é ter em conta que todos os atores sociais
São visões que vão se concretizando gradualmente, com locais produzem informação de alguma forma, e que essa
experiências que buscam de forma diferenciada, segundo as informação organizada e disponibilizada torna-se valiosa para
realidades locais e regionais, caminhos práticos que permitam todos. E para o sistema educacional local, em particular, torna-
dar à educação um papel mais amplo de irradiador de se fonte de estudo e aprendizagem.9
conhecimentos para o desenvolvimento local, formando uma Os municípios particularmente desprovidos de infra-
estruturas adequadas poderão fazer parcerias com

Bibliografia 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

instituições científicas regionais e apresentar projetos de


apoio a instâncias de nível mais elevado. Há municípios que
recorrem também a articulações intermunicipais, como é o
FONTANA, Roseli Ap. Cação.
caso dos consórcios, podendo assim racionalizar os seus Mediação Pedagógica em sala
esforços. de aula. Campinas: Editora
Organizar o conhecimento local normalmente não envolve
produzir informações novas. As diversas secretarias
Autores Associados, 1996
produzem informação, bem como as empresas e outras (Primeiro tópico da Parte I – A
entidades mencionadas. gênese social da
Temos hoje também informação básica organizada por
municípios no IBGE, no projeto correspondente do Ipea/Pnud
conceitualização).
e outras instituições, com diversas metodologias, e pouco
articuladas, mas que podem servir de base. Essas informações
hoje dispersas e fragmentadas deverão ser organizadas, e Mediação Pedagógica em Sala de Aula9
servir de ponto de partida para uma série de estudos do
município ou da região. Há muito vem se falando que o ato de ensinar não é mais a
Há igualmente, mesmo para as regiões pouco estudadas, mera transmissão de conhecimento, por parte do professor, e
relatórios antigos de consultoria, monografias nas memorização do conteúdo exposto, por parte do aluno. A
universidades da região, relatos de viagem, estudos discussão agora gira em torno do centro da aprendizagem: o
antropológicos e outros documentos acumulados, hoje aluno. E por que isso? Acredita-se que o ato de ensinar tem que
subaproveitados, mas que podem se tornar preciosos na visão ser voltado para quem aprende e não para quem ensina. Assim,
de se gerar uma compreensão, por parte da nova geração, da a aprendizagem em sala de aula deixa de ser uma construção
realidade em que vivem. bancária e passa a buscar uma nova "roupagem" para que o
Sem recorrer a consultorias caras, é hoje bastante viável ensino se dê de forma concreta: a mediação.
contratar o apoio metodológico para a organização e Na relação presencial, é o professor quem atua como
sistematização dessas informações, a elaboração de material mediador pedagógico entre a informação passada e a
de ensino, de textos de apoio para leitura, e assim por diante. aprendizagem por parte dos alunos, levando-os a reflexão, á
A inserção do conhecimento local no currículo e nas participação e ao relacionamento dos conteúdos com o
atividades escolares implica uma inflexão significativa contexto social dos alunos. Através da mediação, o professor
relativamente à rotina escolar, mais afeita a cartilhas gerais torna-se o facilitador, o incetivador e motivador desse
rodadas no tempo. A dificuldade central é de inserir na escola aprendizado. Perfil bem diferente do professor autoritário,
um conhecimento local que os professores ainda não têm. dono do saber, responsável apenas pela "transmissão" do
Nesse sentido, parece razoável, enquanto se organiza a conhecimento.
produção de material de apoio para os professores e alunos – O conhecimento reflexivo é gerado de forma mais clara
as diversas informações e estudos sobre a realidade local e quando o ensino está entrelaçado ás experiências de quem
regional –, ir gradualmente inserindo o estudo da realidade aprende.
local mediante um contato maior com a comunidade A escola, em seu papel social, deve levar a autonomia á seus
profissional local. alunos, preparando-os para a cidadania. Deve-se levar em
Há escolas hoje que realizam "trabalhos de campo" em que conta o contexto no qual o aluno está inserido e não apenas os
alunos de prancheta vão visitar uma cidade ou um bairro. São conteúdos acadêmicos e o professor deve tornar-se um
atividades úteis, mas formais e pouco produtivas, quando não pesquisador afim de buscar uma melhoria do processo da
são acompanhadas da construção sistemática do prática educativa, desenvolvendo estratégias com
conhecimento da realidade regional. Qualquer cidade tem hoje criatividade. O professor deve incentirvar seus alunos ao
líderes comunitários que podem trazer a história oral do seu debate, á exposição do que eles têm de conhecimento prévio
bairro ou da sua região de origem, empresários ou técnicos de do assunto abordado em sala de aula para que essa possa obter
diversas áreas, gerentes de saúde ou mesmo de escolas que um enriquecimento empírico.
podem explicitar como se dão na realidade as dificuldades de Dar aula agora tornou-se um trabalho á ser desenvolvido
administrar as áreas sociais, agricultores ou agrônomos que em equipe, onde os protagonistas são: professor e aluno, em
conhecem muito do solo local e das suas potencialidades, e um ambiente de troca de experiências. Assim, através dessa
assim por diante, artesãos que podem até atrair os jovens para mediação dialógica, a criança terá melhores condições na
a aprendizagem, e assim por diante. formação de seus conceitos, a partir do que foi dado.
Uma dimensão importante da proposta é a possibilidade A proposta para a elaboração do presente trabalho é a de
de mobilizar os alunos e professores nas pesquisas do local e descrever uma situação observada em sala de aula ? durante o
da região. Esse tipo de atividade assegura tanto a assimilação estágio curricular de docência ? e analisá-la, a partir de um
de conceitos como o cruzamento de conhecimentos entre as aspecto (foco) apresentado por Roseli Fontana em seu no
diversas áreas, rearticulando informações que nas escolas são livro: Mediação Pedagógica na Sala de Aula. E será à luz dos
segmentadas em disciplinas. escritos da autora que buscaremos relatar como se deu nosso
Em outros termos, é preciso "redescobrir" o manancial de percurso até que chegássemos a um consenso sobre a situação
conhecimentos que existe em cada região, valorizá-lo e experienciada da qual partiríamos para a elaboração do
transmiti-lo de forma organizada para as gerações futuras. trabalho, considerando a importância social do professor
Conhecimentos técnicos são importantes, mas têm de ser enquanto mediador pedagógico no processo de
ancorados na realidade que as pessoas vivem, de maneira a elaboração/apropriação de conceitos pelo aluno.
serem apreendidos na sua dimensão mais ampla. Em um primeiro momento, procuramos descrever a cena
presenciada por uma das integrantes do grupo para que seja
conhecida a situação que nomeamos "problema". Em seguida,
apresentaremos uma breve síntese dos escritos de Roseli
Fontana em sua obra, ora citada, destacando os aspectos que
julgamos relevantes para então assim estabelecermos uma

9https://www.webartigos.com/artigos/estudos-sobre-a-sala-de-aula/46488

Bibliografia 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

análise comparativa entre os estudos realizados e o momento A autora enuncia como objetivo de Mediação Pedagógica
da prática registrada. Por fim, buscamos construir, a partir em Sala de Aula (1996) a verificação de como a prática
deste embate, considerações que julgamos pertinentes no educativa escolar mediatiza as elaborações da criança e seu
processo reflexivo aqui proposto e estabelecido. desenvolvimento e a atividade de elaboração conceitual da
criança no contexto escolar tendo como referencial teórico a
Percurso Da Escolha perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano,
apoiando-se principalmente no pensamento de Vygotsky e de
Baseando-nos na obra Mediação Pedagógica em Sala de Bakhtin. Ela discorre, também sobre a metodologia utilizada
Aula, tomamos como foco para discussão a formação de para realização de sua obra: o trabalho empírico no contexto
conceitos elaborada pelos alunos a partir da mediação real da sala de aula, assumindo a ação pedagógica enquanto
dialógica do professor em sala de aula. Para isso citamos a condição da elaboração conceitual da criança na escola, como
definição que a autora dá para a ocorrência do o espaço para o desenvolvimento de uma análise
desenvolvimento de conceitos no contexto escolar: microgenética do processo de conceitualização.
A maturação orgânica, os princípios biológicos gerais, A sala de aula, alvo de sua pesquisa era uma classe de
determinando o desenvolvimento dos processos mentais terceira série de uma escola municipal situada na periferia de
elementares, influem sobre o desenvolvimento da Campinas, onde ? professora e professora-pesquisadora ?
conceitualização na medida em que aqueles são a base a partir procuraram trabalhar conceitos que não foram estabelecidos
da qual se opera o desenvolvimento de todas as funções a priori, delimitando-se apenas uma área de conhecimento:
mentais superiores mediadas semioticamente. Mas a formação Estudos Sociais.
dos conceitos depende fundamentalmente das possibilidades A autora conduziu seu trabalho partindo de atividades que
que os indivíduos têm (ou não) de, nas suas interações se permitissem a expressão da própria experiência da criança,
apropriarem (dos) e objetivarem os conteúdos e formas de trazendo elementos de seu cotidiano e/ou formas elaboração
organização e de elaboração do conhecimento historicamente conceitual espontâneas para a sala de aula. Enquanto, a
desenvolvido. professora participou da configuração da reflexão das
Mediante a apreciação do conceito, houve um encontro, no crianças, explicitando-lhes outras possibilidades de
qual cada integrante relatou uma experiência vivenciada em elaboração da situação vivenciada.
sala de aula, seja como estagiária - observadora, como No decurso da leitura, percebe-se como a reconstituição e
professora, ou como auxiliar de turma. Discutiram-se todas as análise das situações de elaboração conceitual evidenciaram
situações, levando em consideração o princípio norteador que, embora a estrutura semântica e sistêmica das palavras
concedido por Fontana. Após a discussão e análise de todos os marque o processo de desenvolvimento e envolva também a
relatos, o grupo elegeu uma situação que julgamos ter uma aprendizagem, não são esses dois processos, em si mesmos,
relação mais evidente com a proposta já escolhida, qual seja: seus determinantes. A palavra alheia é incorporada pela
uma aula de geografia, em uma classe de 2º ano do 2º ciclo criança como um dizer institucional, e seu sentido é
complementar de alfabetização. estabilizado. Ela é reconhecida e re-elaborada pela criança,
Para análise do acontecimento, optamos? para entrelaçando-se dinamicamente a suas palavras interiores. A
embasamento teórico? o momento em que Fontana afirma que elaboração conceitual é entendida como parte de uma luta
no contexto escolar as atividades que envolvem a elaboração constante pela constituição da identidade social, num processo
de conceitos sistematizados são dispostas para a criança de que é dinâmico e passa pela escola.
maneira discursiva e lógico-verbal, portanto a relação entre a A autora salienta em seu trabalho duas análises distintas e
criança e o conceito é sempre mediada por outro conceito. Ou contrapostas do processo de elaboração conceitual no ideário
seja, o processo de elaboração conceitual efetivava-se por uma pedagógico que permeia as práticas dominantes nas salas de
articulação dialética entre os conceitos espontâneos aula. Numa relação pedagógica tradicional: Professor e criança
(dominados pela criança) e os conceitos sistematizados relacionam-se com os sistemas ideológicos constituídos como
(propostos pela escola). palavras que devem ser apreendidas independentemente de
sua persuasão interior. Enquanto, numa relação pedagógica
Mediação Pedagócia Em Sala De Aula não tradicional: A relação de conhecimento é lida a partir da
criança, sujeito conhecedor ativo. A ela é deixada a tarefa de
Em sua obra, Roseli Fontana - apoiando-se na abordagem construir, com seus próprios recursos, os sentidos e operações
histórico-cultural do desenvolvimento humano - mostra mentais, uma vez que se considera que a escolarização, bem
aspectos da importância social da escola e do trabalho como toda forma de interação com o adulto, não interferem
pedagógico, tendo por base situações vivenciadas no cotidiano diretamente no modo como os conceitos são elaborados por
da sala de aula. Ela centraliza seu foco de interesse sobre o ela. Nestes dois tipos de relação pedagógica descritos em
modo como se desenvolve o processo de Mediação Pedagógica em Sala de Aula, Roseli afirma que a
apropriação/elaboração, pela criança, dos conceitos relação social de conhecimento é fragmentada em seus
sistematizados, na dinâmica contraditória da prática educativa elementos constitutivos e a conceitualização é vivenciada na
escolar. Seu livro é dividido em duas partes, sendo que na escola como um processo estritamente cognitivo.
primeira, a autora aborda as dimensões intersubjetiva e Concluindo sua obra, Roseli Fontana chega a conclusões
discursiva da conceitualização, apresentando e discutindo os relevantes, quais sejam: Qualquer tipo de reflexão só tem
pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural de Vygotsky e condições de chegar a um nível de compreensão mais
da Teoria da Enunciação de Bakhtin. Delineia, também, as profundo quando articulada à experiência cotidiana; O que
opções e fundamentos metodológicos do estudo empírico que uma criança necessita, é de uma oportunidade para apropriar-
foi realizado/compartilhado com a professora e os alunos de se de novos conceitos no fluxo da própria comunicação verbal;
uma 3ª série do 1º grau, no cotidiano da sala de aula. Na Ao possibilitarmos à criança expressar e lançar mão dos
segunda parte, ela retoma vários episódios desse cotidiano e sentidos e experiências de seu grupo social, para elaborar o
busca analisar a emergência e o desenvolvimento das saber escolar, não só, incorporamos ao conhecimento escolar
elaborações inter e intra-psicológicas do conceito de cultura em elaboração um acervo imenso de saberes - nem sempre
na dinâmica das interações e interlocuções produzidas na sala registrados pela história ou reconhecidos pelas ciências -
de aula. Nessa análise destaca-se o papel constitutivo do como também, abrimos a possibilidade de transformar o
trabalho pedagógico nesse processo e a heterogeneidade de "saber escolar" em conhecimento ligado à vida, porque
sentidos e de estratégias como sua característica fundamental.

Bibliografia 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conscientizado de sua existência e do lugar social por ele no processo histórico-social do homem" (LURIA, 1987:203
ocupado. p.13).
Portanto, pode-se dizer que a palavra é o elo de conector
O Confronto: A Situaçao Vivenciada E A Análise Da entre os sujeitos. A fala do outro e a interpretação que se faz
Mediação dessa fala são o ponto de partida para a elaboração da
conceitualização. Ou ainda,
Durante o estágio com foco na docência dos anos iniciais O desenvolvimento da conceitualização na criança
do ensino fundamental realizado no 1º semestre de 2007, no transcorre no processo de incorporação da experiência geral
núcleo formativo V, uma das integrantes do grupo vivenciou a da humanidade, mediada pela prática social, pela palavra
situação que será apresentada a seguir. (também ela uma prática social), na interação com o(s)
Em uma turma de 2º ano de 2º ciclo complementar de outro(s).
alfabetização (o que equivaleria à 4ª série do ensino Diante dessas afirmações pode-se verificar que a
fundamental), em uma escola pública municipal de uma cidade professora citada no relato feito pelo grupo deixou escapar
de médio porte da região metropolitana de Belo Horizonte, a uma rica oportunidade de interação e interlocução, o
professora dá início a uma aula de Geografia. Essa, então pede questionamento feito pelo aluno continha tantas
que as crianças abram o livro de Geografia e leiam o texto: "O interrogações e tantas dúvidas a respeito de um assunto tão
mapa que nunca fica pronto". Esse texto trata em uma presente e tão real, mas ao invés de se apropriar dessa
linguagem simples e didática das modificações que ocorrem no oportunidade através da interlocução, do questionamento e do
mapa-múndi, que realmente nunca está acabado. Aborda estudo, ela simplesmente usou a sua fala para abafar aquele
ainda os fatores pelos quais as fronteiras geográficas estão momento de construção de conceitos mais reais e
constantemente em redefinição: guerras; disputas internas significativos, se apoiando em um posicionamento pobre e em
dentro dos próprios países pela ocupação de territórios; um conceito construído sem embasamento teórico e
fatores econômicos; disputas de cunho religioso, político e desprovido de estudos mais aprofundados. O texto trabalhado
ideológico. pela professora aponta tantas questões importantes,
Após o término da leitura por toda a classe, a professora abarcando inúmeros conceitos a respeito das divisões que
inicia a "explicação", e não uma discussão do conteúdo que o ocorrem no Mundo, contudo ela se limitou apenas a repetir o
autor contempla no texto. Ela fala que as fronteiras mundiais que e texto já dizia a ainda respondeu ao questionamento do
são redefinidas devidas às disputas por território, ou seja, por aluno de forma vazia. Pode ser que naquele momento ela não
mais espaço geográfico ou pela ocupação de um espaço que tivesse conhecimento suficiente a respeito da temática, o que
pode não pertencer a determinado país, estado ou cidade não justifica um desfecho tão esvaziado para a discussão. Seria
registrado no mapa, mas que é almejado por esse, devido aos interessante propor um estudo, um debate a respeito do
diversos fatores que o autor cita no texto. Ela então repete assunto, procurando saber como os alunos vêm a situação do
esses fatores a fim de reforçar porque as fronteiras não são oriente médio hoje e uma pesquisa sobre como essa situação
permanentes. se configurou ao longo da história desses povos. Infelizmente
A certa altura da explanação da professora, um dos alunos o desfecho que a fala da professora deu à aula, demonstra
levanta a mão, solicitando permissão para falar. A professora como o papel do professor de mediador é ponto fundamental
atende à solicitação, o aluno então começa a falar sobre as nas interações sociais na sala de aula. É certo que a maioria dos
reportagens que assiste quase que diariamente nos jornais alunos apreendeu a resposta dada pela professora, ("... essas
televisivos sobre guerras em países como Iraque e os países do pessoas do Oriente Médio que se envolvem nessa guerra são
Oriente Médio (se referindo à guerra entre judeus e loucas.") e a tomou como sendo uma verdade, elaborando
palestinos). Ele, então dá mais ênfase às disputas que ocorrem conceitos a respeito daquelas pessoas baseados na fala da
no Oriente Médio, questionando o porquê do uso de pedras, professora.
paus, ou seja, armas que não são de fogo, por uns e armas de No exercício vivo das trocas de sentido e de modos de
fogo do outro lado. Cita ainda os atentados que ocorrem nessa operar intelectualmente, as crianças não só se apropriam do
região, como exemplo fala dos homens-bomba. Esses aspectos, conceito, iniciando sua elaboração, como também elaboram
como essa riqueza em detalhes, foram trazidos pelo aluno, pois modos de interação, de participação (como perguntar, como
o autor não aborda no texto com tanta profundidade. E para responder, como argumentar) e de negociação... Elas imitaram
finalizar o questionamento pergunta a professora o motivo reproduziram os modos de dizer da professora, dos
dessa guerra que parece nunca ter um fim. companheiros, da pesquisadora, das vozes que foram
Após o questionamento do aluno, o silêncio paira na sala incorporadas à interlocução.
por alguns instantes. Porém, a professora quebra esse O "exercício vivo das trocas" citado pela autora só é
momento de silêncio, que poderia significar tanto para os realmente significativo se o educador se coloca como o
alunos, com uma intervenção infeliz. Ela diz a toda a classe que mediador desta prática, encaminhando no cotidiano da sala de
não consegue compreender o motivo desta "briga" toda, que aula a elaboração de conceitos, respeitando o modo como às
muitas vezes pensa que essas pessoas do Oriente Médio que se crianças se apropriam elaboram e re-elaboram os saberes.
envolvem nessa guerra são loucas. "Loucas", esse foi Considerações Finais
exatamente o termo que ela utilizou. Logo após essa
intervenção pede que as crianças respondam às questões que O relato apresentado acima é um dos inúmeros exemplos
são propostas no livro didático, para que ela corrija após o de como a interação na sala aula é importante na construção
tempo determinado. Então se cessa a discussão. dos saberes e de como a falta dessa interação crítica é
No livro Mediação pedagógica na sala de aula a professora prejudicial para os estudantes. O papel do professor como
se propõe a sair desse lugar de legitimidade para assumir junto mediador-interlocutor dessa construção requer um profundo
com a autora do livro o papel de professora-pesquisadora, conhecimento do educador e um real interesse em ser mais do
procurando através dos estudos teóricos (Vygotsky e Bakhtin) que um simples transmissor de conteúdos, implica se
e da análise do cotidiano, entender como seus alunos transportar para o papel de pesquisador de sua própria
constroem seus conceitos e como a sua postura pedagógica é prática, verificando e construindo novas concepções a respeito
relevante neste processo de construção. A linguagem se das relações que se estabelecem em uma sala de aula.
apresenta então como signo e como instrumento disponível O aluno construirá seus saberes a partir do que o professor
para a elaboração de conceitos pelas crianças, através do uso explicitou em sala de aula relacionado á sua experiência
das palavras, seria "a palavra é o meio de generalização criado cotidiana. A falta e/ ou insuficiência de informações por parte

Bibliografia 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

desse mediador ou até mesmo a falta dessa articulação características é que abrem espaço para saberes extra-
implicará em uma construção insatisfatória e supérflua para o escolares. Na verdade, os temas transversais prestam-se de
aluno modo muito especial para levar à prática a concepção de
formação integral da pessoa.
Considera-se a transversalidade como o modo adequado
para o tratamento destes temas. Eles não devem constituir
GARCIA, Lenise Aparecida uma disciplina, mas permear toda a prática educativa. Exigem
um trabalho sistemático, contínuo, abrangente e integrado no
Martins. Transversalidade e decorrer de toda a educação.
Interdisciplinaridade. Na verdade estes temas sempre estão presentes, pois se
não o estiverem explicitamente estarão implicitamente.
Tomemos como exemplo a ética. Não falar de aspectos éticos,
em muitos casos, é uma omissão que por si só representa uma
postura. Não apenas por palavras, mas por ações, a escola
Transversalidade e Interdisciplinaridade10
sempre fornece aos alunos uma formação (quem sabe uma
deformação?) ética. Podemos dizer o mesmo com relação ao
Dra. Lenise Aparecida Martins Garcia (*)
meio ambiente; o próprio tratamento dado ao ambiente
escolar caracteriza a visão das pessoas que ali trabalham e
A transversalidade e a interdisciplinaridade são modos de
pode ser parte importante na formação dos alunos sobre essa
se trabalhar o conhecimento que buscam uma reintegração de
questão.
aspectos que ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento
Como os temas transversais não constituem uma
disciplinar. Com isso, busca-se conseguir uma visão mais
disciplina, seus objetivos e conteúdos devem estar inseridos
ampla e adequada da realidade, que tantas vezes aparece
em diferentes momentos de cada uma das disciplinas. Vão
fragmentada pelos meios de que dispomos para conhecê-la e
sendo trabalhados em uma e em outra, de diferentes modos.
não porque o seja em si mesma.
Interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se
mutuamente, pois para trabalhar os temas transversais
Vamos exemplificar lançando mão de uma comparação:
adequadamente não se pode ter uma perspectiva disciplinar
rígida. Um modo particularmente eficiente de se elaborar os
Quando a luz branca passa por um prisma, divide-se em
programas de ensino é fazer dos temas transversais um eixo
diferentes cores (as cores do arco-íris). Ao estudarmos alguma
unificador, em torno do qual organizam- se as disciplinas.
realidade a fim de conhecê-la muitas vezes torna-se necessário
Todas se voltam para eles como para um centro, estruturando
fazer um trabalho semelhante. Enfocamos por diferentes
os seus próprios conteúdos sob o prisma dos temas
ângulos, com a metodologia e os objetivos próprios das
transversais.
Ciências Naturais, da História, da Geografia... Podemos assim
aprofundar em diferentes parcelas, fazendo um trabalho de
As disciplinas passam, então, a girar sobre esse eixo. De
análise. Esse aprofundamento é rico e muitas vezes necessário,
certo modo podemos dizer que temos então um fenômeno
mas é preciso ter consciência de que estamos fazendo um
similar ao observado na Física com o disco de Newton: neste,
"recorte" do nosso objeto de estudo. A visão obtida é
a mistura das cores recupera a luz branca; no nosso caso, a
necessariamente fragmentada
total interação entre as disciplinas faz com que possamos
Com a interdisciplinaridade questiona-se essa
recuperar adequadamente a realidade, superando a
segmentação dos diferentes campos de conhecimento.
fragmentação e tendo a visão do todo.
Buscam-se, por isso, os possíveis pontos de convergência entre
as várias áreas e a sua abordagem conjunta, propiciando uma
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
relação epistemológica entre as disciplinas. Com ela
Fundamental prevêem seis Temas Transversais a serem
aproximamo-nos com mais propriedade dos fenômenos
trabalhados durante todo o processo de ensino /
naturais e sociais, que são normalmente complexos e
aprendizagem: ética, meio ambiente, saúde, trabalho e
irredutíveis ao conhecimento obtido quando são estudados
consumo, orientação sexual e pluralidade cultural. Sejam ou
por meio de uma única disciplina. As interconexões que
não trabalhados como um eixo unificador, tal como sugerido
acontecem nas disciplinas são causa e efeito da
acima, é importante ressaltar que:
interdisciplinaridade.
Existem temas cujo estudo exige uma abordagem
Os Temas Transversais não constituem uma disciplina à
particularmente ampla e diversificada. Alguns deles foram
parte.
inseridos nos parâmetros curriculares nacionais, que os
denomina Temas Transversais e os caracteriza como temas
Isso já foi colocado, mas convém salientá-lo. Como estamos
que "tratam de processos que estão sendo intensamente
acostumados a trabalhar em uma perspectiva disciplinar, a
vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias,
tendência muitas vezes será ter essa visão também para os
pelos alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em
Temas Transversais. Entretanto, o próprio destes temas é
diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de
exatamente permear toda a prática educativa.
alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto
Usemos novamente um exemplo: se pensarmos que
em relação a intervenção no âmbito social mais amplo quanto
estamos estudando um bolo, e que cada fatia do bolo
a atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam
corresponde a uma disciplina, o tema transversal irá aparecer
sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo
como um ingrediente totalmente diluído na massa, e não como
construída e que demandam transformações macrossociais e
uma fatia a mais.
também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e
aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas
Devem ser trabalhados de modo coordenado e não como
dimensões". Estes temas envolvem um aprender sobre a
um intruso nas aulas.
realidade, na realidade e da realidade, destinando-se também
a um intervir na realidade para transformá-la. Outra de suas

10http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Forma%C3%A7%C3

%A3o%20Continuada/Artigos%20Diversos/garcia-transversalidade-print.pdf

Bibliografia 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O risco de que um tema transversal apareça como um


"intruso" é grande. Não sendo algo diretamente pertinente às
disciplinas e principalmente não havendo o hábito do
HOFFMAN, Jussara.
professor de ocupar-se dele, pode acontecer que seja visto não Avaliação mediadora: uma
como um enfoque a ser colocado ao longo de toda a relação dialógica na
aprendizagem, mas como algo que aparece esporadicamente,
interrompendo as demais atividades.
construção do conhecimento
Seguindo no exemplo do bolo, o tema transversal não pode In: SE/SP/FDE. Revista IDEIAS
ser um caroço que se encontra repentinamente e no qual nº 22, pág. 51 a 59.
corremos o risco de quebrar um dente... No máximo, pode
aparecer como uma uva passa ou uma fruta cristalizada, algo
que percebemos ser diferente, mas que harmoniza-se com o
restante do bolo. Entretanto, quanto mais diluído ele estiver na Avaliação Mediadora, Uma prática em construção da
massa, melhor. pré-escola à universidade11
Por exemplo, não faz sentido que um professor de História,
ou de Biologia, de repente interrompa o seu assunto para Por uma escola de qualidade
dizer: agora vamos tratar de ética. Mas, sempre que estiver Há a questão da melhoria da qualidade de ensino e da
fazendo uma análise histórica, o professor terá a preocupação avaliação classificatória. Superar a pratica tradicional hoje em
de abordar os aspectos éticos envolvidos; ao dar uma aula dia é uma tarefa difícil de pensar na avaliação classificatória
sobre problemas ambientais ou sobre biotecnologia, haverá como garantia na melhoria de qualidade do ensino.
também um enfoque ético. As escolas demonstram medo quando tratam de inovações
da avaliação, pois essas mudanças acabam gerando as
Não aparecerão "espontaneamente", com facilidade, principais criticadas da sociedade em relação à educação
principalmente no começo. (medo de uma avaliação fraca). A realidade atual das nossas
escolas não pode ser considerada como competente, uma vez
O modo e o momento em que serão tratados os temas que não atende adequadamente os alunos que recebe. Em
transversais deve ser cuidadosamente programado em muitas escolas públicas ocorrem sempre os mesmos casos:
conjunto pelas diversas disciplinas. É preciso lembrar que Muitas turmas, sala superlotada, e ao final de cada ciclo muita
cada um deles tem os seus próprios objetivos educacionais a “evasão e retenção”.
serem atingidos, ou seja, não se trata apenas de tocar um A autora cita o acesso a todas as crianças no ensino
determinado tema, mas também de verificar se será fundamental e critica a reprovação por meio de avaliação
totalmente contemplado ao longo do programa de ensino, classificatória, pois para ela o professor exige critérios rígidos
podendo-se prever o cumprimento dos objetivos. de aprovação. A crítica é ao ensino e as condições
socioeducacionais da rede pública como um todo. O educador
"O que é de todos não é de ninguém." deve ter o comprometimento de manter o aluno na escola,
favorecendo o acesso ao saber, dando continuidade aos
Temos essa experiência, infelizmente, com a maior parte estudos. É necessário perceber que a educação é um direito da
das coisas que são "públicas". Se não se definem encarregados criança e ela precisa reivindicar uma escola com qualidade.
para uma determinada função, porque todos deveriam Pensando de forma saudosista (tradicional), o ensino nos
preocupar-se com aquilo, é muito freqüente que na verdade leva a uma concepção elitista, ou seja, que nega as diferença
aquela necessidade fique a descoberto. Por isso, convém dos alunos e tenta sistematizar a educação. Não podemos
salientar novamente que é necessário um estudo conjunto, por negar o modo multicultural do o “viver” dos alunos, pois
parte da escola, para definir como cada disciplina irá tratar os limitaremos a nossa ação pedagógica.
temas transversais e verificar se eles estão sendo Hoje uma boa escola entende que deve trabalhar pelos
suficientemente abordados. alunos, encaminhando-os para o desenvolvimento e
Isso não exclui, naturalmente, certa flexibilidade com o trabalhando por uma educação igualitária, acolhendo a todos
planejamento. Temas que têm tamanha relação com a vida, em sua realidade concreta. A inovação a respeito da aplicação
com o cotidiano, certamente aparecem nos momentos mais de provas e atribuição de notas é a maior expectativa dos
inesperados e o professor deve estar preparado para não educadores que sentem sua pratica (tradicional) pouco
desperdiçar ocasiões que muitas vezes são preciosas. coerente com a realidade dos alunos.
(*) Lenise Garcia é Professora da Universidade de Brasília. A sociedade reage de forma negativa às mudanças de
Atua em Microbiologia e também na capacitação continuada paradigmas e ao fim do sistema tradicional de avaliação,
de professores e em outras atividades voltadas para o Ensino porque todos estão acostumados a esse modelo de ensino (a
Básico, envolvendo educação ambiental, novas tecnologias na mudança gera insegurança). O projeto de “Progressão
educação, e educação a distância. Coordena, como programa Continuada” surgiu devido aos altos índices de evasão e
permanente de extensão, o site Educação e Ciência On-line retenção de alunos. O objetivo não foi extinguir a avaliação, ao
(http://www.unbvirtual.unb.br/ciencias), do qual foi retirado contrário, o professor deve sim avaliar o rendimento e
o artigo aqui reapresentado. É também orientadora no desenvolvimento escolar de seus alunos, mas não com a
Programa "Sua Escola a 2000 por Hora" do Instituto Ayrton finalidade de reprová-lo.
Senna e da Microsfto, onde, entre outras atividades, coordena A proposta de progressão tira o compromisso de aplicar
o grupo de discussão educ-amb avaliações apenas pela obrigação de ter uma nota no fim do
(http://br.groups.yahoo.com/group/educ-amb/). bimestre, isso traz um grande choque para os professores que
utilizam a avaliação como ferramenta de autoridade
(intimidam o aluno a partir da nota), pois eles sentem que
perdem parte de sua autoridade em sala, já que o aluno sabe
que não vai “repetir de ano”.
Para professores tradicionais as provas e notas são “redes
de segurança” para o trabalho docente, e essa ideologia já está

11 HOFFMAN, Jussara. Avaliação Mediadora, Uma prática em construção da

pré-escola à universidade. Ed. Mediação. 2012.

Bibliografia 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

impregnada no sistema de ensino. Se esse paradigma de professores a pensarem em sua pratica avaliativa em sala de
qualidade escolar a partir de notas classificatórias não mudar aula.
nunca nos focaremos no verdadeiro objetivo da escola, que é De forma tradicional, existem alunos que participam da
“educar”. aula, fazem todas as atividades, são atentos às explicações e
O sucesso do aluno na escola tradicional representa o seu alcançam resultados; outros faltam às aulas, não realizam as
desenvolvimento máximo possível? Não, pois há várias tarefas, são desatentos e não aprendem. Mas o que nos chama
contradições nesse modelo de avaliação, e o maior exemplo a atenção são situações que fogem da explicação tradicional:
disso é quando alunos tachados de “ruins” tornam-se alunos agitados que não apresentam dificuldades sérias e
excelentes profissionais, enquanto outros alunos “excelentes” alunos que fazem as atividades, são atentos as explicações,
não conseguem se encaixar na sociedade e no mercado de “comportados”, e não aprendem. Para esta última situação a
trabalho. culpa é remetida ao professor ou ao aluno, encaminhando o
O que a autora pretende nos mostrar é que o sucesso educando a especialistas ou psicólogos.
alcançado por alguns alunos em escolas tradicionais tem a ver A autora considera importante discutir os entendimentos
a “memorização”, estudar apenas para passar nos exames, sobre os fracassos de aprendizagem, pois as “culpas” sobre tais
depois a maior parte do aprendizado acaba sendo esquecido. fracassos podem significar um dos maiores obstáculos a
Essa memorização não agrega significado algum ao longo da discussão entre professores sobre sua pratica avaliativa.
vida do aluno, por isso é descartada. Muitos professores consideram que qualquer assunto pode ser
As crianças e adolescentes frequentam a escola por ensinado a qualquer aluno se for transmitido com
imposição, seja de pais ou do Estado, e a escola muitas vezes competência (concepção beharovista) e ainda são
acaba sendo insignificante para as suas vidas, pois não responsáveis em elaborar técnicas para motivar o aluno pelo
trabalha com o que eles entendem, não faz sentido na “vida tema de estudo (influência apriorista).
real” do aluno. Nesse contexto o fracasso escolar se torna culpa do
No construtivismo a aprendizagem alcançada pela criança professor, pela sua incompetência em transmitir o conteúdo
se dá a partir da convivência com o meio, e a escola da essa com eficiência e motivar os aluno a aprenderem, o que os torna
oportunidade. O termo tratamento de qualidade é inaptos a perceberem aquela experiência como foi
interpretado, então, de diversas maneiras, uma na qualidade apresentada.
que se confunde com “quantidade”, e outra, na perspectiva Essas posturas conservadoras impedem o diálogo entre os
mediadora, onde se busca desenvolver o máximo possível do professores, e entre professores, alunos e família, não havendo
aluno. uma reflexão conjunta e o aprofundamento teórico para
Sendo assim, o objetivo de uma escola que segue o buscar superar e evoluir nessa situação.
paradigma construtivista é trabalhar por uma educação Uma pesquisa realizada com 30 professores estaduais de
significativa, de qualidade, para todos os alunos do país, e não Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, em Porto
classificá-los e excluí-los, como ocorre no paradigma Alegre, apresenta justificativas para a indagação: “por que um
tradicional. aluno não aprende?”. Com a análise dos resultados foi possível
constatar que todos os professores justificam a não
As charadas da avaliação aprendizagem pela metodologia inadequada do professor. Isso
A autora inicia o segundo capitulo com uma charada mostra a responsabilidade que o professor remete a si sobre o
destinada a um grupo de professores, levantando as possíveis fracasso do aluno, porém, divide essa culpa com os alunos, os
respostas. A saber, a charada é: “Uma pessoa mora no 18º quais não apresentam interesse.
andar de um prédio de apartamentos, todos os dias desce pelo Outras respostas merecem destaque nessa pesquisa:
elevador para ir ao seu local de trabalho, ao final do apenas três professores consideram que falta a relação de
expediente, retornando para casa, vai pelo elevador até o 13º diálogo na escola, necessária para a construção do
andar e sobe os demais andares pela escada. Isso se repete conhecimento: o aluno não tem espaço para se expressar, falar
todos os dias. Você saberia dizer por quê?”. suas opiniões, discutir suas ideias e duvidas, e somente um
Na discussão surgiram várias respostas válidas e lógicas e, professor apresentou a falta de conhecimento do educador
um ou dois professores descobrem qual está no livro. É quanto às questões de aprendizagem como justificativa.
interessante revelar a necessidade dos professores em Os professores, reunidos em Conselho decidiram que essa
descobrir a resposta correta e apresentar dúvidas sobre quem aluna deveria prestar mais atenção nas aulas, realizando todas
descobriu a charada. as tarefas solicitadas e estudar mais em casa. Nesse contexto,
Essa situação objetiva uma reflexão sobre a indagação: pode-se observar que a melhoria do desempenho é de
“por que o aluno não aprende?”, sendo esta uma das questões responsabilidade exclusiva da aluna.
mais complexas que a pratica avaliativa propões. Ao levantar hipóteses sobre essa situação, percebe-se que
A forma tradicional procura respostas certas, uniformes, as disciplinas que a aluna apresenta dificuldades (História,
objetivas e precisas para perguntas, as quais podem ter várias Geografia e Língua Portuguesa) envolvem práticas de leitura,
respostas possíveis e lógicas, semelhantes à charada escrita e interpretação de textos, trabalhadas, talvez, com
mencionada anteriormente. Essa situação pode ser comparada intuito de memorização. Isso resulta uma visão beharovista,
ao processo de aprendizagem, no que diz respeito a respostas que sugere que o aluno não aprende por não fazer as tarefas
muito diferentes dos alunos ou apenas um que acerta todas as propostas, manter-se desatento as explicações do professor,
questões da prova. Usam-se métodos convencionais na não ser um “bom aluno”.
avaliação, deixando de refletir sobre como se constrói o A teoria de Piaget contribui para o avanço de sérias
conhecimento. questões da pratica avaliativa. Leva ao professor a reflexão
Embora atualmente muitos questionem o método sobre suas tradicionais “culpas” e o entendimento de como se
tradicional de avaliação, denunciando suas incoerências, está constrói o conhecimento em cada estágio de desenvolvimento
difícil de acreditar em caminhos possíveis para essa prática da criança, percebendo a aprendizagem como um processo
que tenham significado. Daí surge à necessidade de se adotar contínuo e inacabado (Teoria Construtivista).
a postura construtivista de educação. O aluno constrói seu conhecimento na interação com o
Hoffman nos atenta ao fato de existirem outras razões para meio em que vive, dessa forma depende das condições que o
o aluno não aprender, e não exclusivamente a desatenção as meio oferece, da vivencia de objetos e situações para avançar
explicações do professor. Essa situação leva muitos determinados estágios de desenvolvimento e estabelecer
relações mais complexas e abstratas. A compreensão dos

Bibliografia 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

alunos decorre do seu desenvolvimento próprio em relação às considerando interpretações, apenas “certo ou errado” no
áreas de conhecimento. momento da correção. Já questões subjetivas precisam de
Numa sala de aula não lidamos com pessoas iguais, respostas pessoais, onde o aluno apresenta opiniões e
possuímos alunos de diversos ambientes, desde aqueles que considerações e o professor, ao corrigi-la, necessita de
vivem protegidos pelos pais (crianças que vivem em espaços interpretação para considerá-la certa ou errada.
favoráveis a vivencias variadas), aos que ingressam cedo no A subjetividade é inerente tanto ao processo de elaboração
trabalho, para ajudar nas despesas do lar ou cuidar dos irmãos de tarefas quanto à interpretação da tarefa pelo aluno, e dessa
mais novos. Todos carregam consigo diversas experiências e forma quando um professor elabora questões subjetivas ele
aprendizagens, portanto não se pode esperar que eles tenham seleciona temas que lhe convém, o vocabulário utilizado é de
a mesma compreensão do material de leitura, de atividades suas práticas de vida, a pergunta segue um significado próprio.
dadas em aula. Essas questões revelam seu entendimento sobre o assunto,
Considerando a aprendizagem como um processo em sua visão de conhecimento e a compreensão das
construção, dependente das oportunidades que o meio possibilidades ao aluno. Quanto à interpretação sobre as
oferece, o professor assume o compromisso diante das questões por parte dos educandos, ocorrem diferentes
diferenças individuais dos alunos. A explicação clara do compreensões com relação a termos utilizados, aos temas
educador não desencadeara a mesma compreensão por todos selecionados, a experiência do aluno com determinados
os alunos; esse entendimento ocorre de acordo com as exercícios, sua disposição para fazer o que lhe foi proposto.
vivencias anteriores e experiências de situações de cada aluno. Na concepção tradicional de avaliação, evitar tarefas que
Muitos educadores não fazem perguntas durante as aulas, pois tragam como respostas interpretações dos alunos, ou seja,
construíram entendimentos próprios, ao longo de suas vidas, respostas subjetivas seria o caminho mais viável, pois não se
a respeito de determinados assuntos apresentados pelo cometeria injustiças na correção, visto que questões objetivas
professor. Dessa forma, se a compreensão dos alunos deriva de requerem respostas uniformes e facilita na contagem de
sua experiência de vida, o mesmo acontece com o educador: há acertos e erros a fim de possibilitar a média final do aluno.
diferentes maneiras do professor entender o aluno, pela sua Já na concepção mediadora de avaliação a subjetividade na
maior de menor facilidade em determinada área do elaboração e correção de tarefas é um elemento positivo, pois
conhecimento, expectativas predeterminadas. o “erro” do aluno e as dúvidas do professor em interpretá-los
Diante do exposto, voltaremos à questão inicial: por que levarão a um momento de reflexão e discussão em sala,
um aluno não aprende? Considerando que o conhecimento se analisando os conceitos criados pelos alunos, as considerações
constrói, portanto não acabado, “não aprender” é incoerente, que levaram aquela resposta e, portanto, a correção não é
pois o aluno está permanentemente em processo de definitiva avaliando acertos e erros.
aprendizagem. Nesse contexto a prática avaliativa deve O caráter seletivo ainda presente nas avaliações nos níveis
investigar os desentendimentos e o professor deve traçar esse escolares negam a relação dialógica resultantes de momentos
caminho negando metodologias precisas e generalistas, pois de interação entre professores e alunos, tão fundamentais
cada situação tem suas especificidades. para uma pratica significativa. Investigar e analisar as
Na avaliação do desempenho dos alunos é preciso superar respostas dos alunos, procurarem entender o motivo dessas
as posturas convencionais e isso requer conhecimento em respostas, planejarem novas ações educativas e repensar na
questões de aprendizagem e domínio de diferentes disciplinas. sua pratica em sala de aula é fundamental para que o aluno
Além disso, é necessário acreditar que há várias respostas construa seu conhecimento e veja sentido na aprendizagem.
coerentes e válidas para as charadas possíveis que Hoffman inicia o tópico com uma vivencia que certa aluna
enfrentamos e que devem ser respeitadas. teve suas respostas consideradas erradas numa atividade de
interpretação de texto. A professora justificou que uma das
Uma Visão Construtivista do erro respostas estava errada por não representar uma cópia fiel do
Hoffman, no terceiro capítulo do livro começa comentando texto e outra porque a aluna escrever de fato o que entendeu.
a postura de professores durante suas aulas alertando que Esse tipo de postura deixa claro que as expectativas do
suas próprias ideias influenciam no comportamento de seus professor se sobrepõem a reflexão sobre as possibilidades dos
alunos, mesmo aqueles educadores dóceis e gentis, com jeito alunos no seu processo de construção do conhecimento.
carinhoso, muitas vezes impossibilitam o educando de Portanto os alunos procuram respostas sugeridas pelo
discutir, interagir e apenas no decorrer da aula. professor para contentá-lo, evoluindo qualquer reflexão ou
A interação entre professor e aluno, segundo Kimii, é entendimento próprio ao elaborar suas respostas e assumindo
fundamental para o desenvolvimento da autonomia do posturas passivas diante das posturas autoritárias de correção
educando. Dessa forma é importante o educador refletir sobre dos professores.
suas atitudes autoritárias e sobre sua postura na correção de Para uma ação avaliativa mediadora, Hoffman aponta
tarefas e testes, atentando-se a questão de encontrar alguns princípios importantes, entre eles:
diferentes respostas dos alunos. - Oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar
A preocupação em elaborar anunciados claros e precisos suas ideias: considerando as tarefas como elementos
com a finalidade de respostas uniformes e, durante a correção importantes para observação das hipóteses construídas pelos
encontrar diferentes soluções, leva o professor a revisar a alunos, por meio delas os professores poderão traçar uma
formulação ou anular o exercício. Questões objetivas, de relação dialógica com os estudantes para identificarem o
múltipla escolha ou completar lacunas, requer do aluno momento em que estes se encontram com relação a produção
memorização do conteúdo, sendo uma atividade pouco do conhecimento.
significativa para o educando. A autora sugere muitas tarefas diversificadas em todos os
É preciso refletir sobre as tarefas propostas ao aluno a momentos da escola, respeitando os saberes elaborados pelos
partir das práticas cotidianas, analisando as questões que o alunos e garantindo espontaneidade ao realizá-las.
professor elabora e as diversas respostas dos alunos. É por - O professor deve estar atento a finalidade das tarefas que
essas respostas que se pode compreender o entendimento e o propõe: O motivo de tais perguntas nesse momento, o que se
que o leva a responder daquela maneira. pretende investigar em relação à compreensão do educando,
Entende-se objetividade como objetividade com a forma levantando as dificuldades dos alunos como ponto de partida
de elaboração de um teste e as respostas adquire tais para planejar novas ações educativas.
características pela correção. Questões objetivas são aquelas - Oportunizar discussão entre os alunos a partir de
que apresentam resposta única (alternativas, lacunas), não situações desencadeadoras: Promover tarefas e trabalhos em

Bibliografia 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

que os alunos interajam entre si, discuta situações problemas, A preocupação em atribuir nota as tarefas faz o educador
levantem hipóteses a partir de vários pontos de vista, refletir deixar de lado tais questionamentos.
entre as diversas opiniões e encontrar uma alternativa. O
professor nesse contexto aparece como mediador, que Por que corrigir, professor?
estabelece relações dinâmicas entre o aluno e o objeto do É comum, hoje em dia, se dizer que as “respostas erradas”
conhecimento. têm valor para a continuidade da ação educativa, mas três
Discussões em grupos, debates permitem que os alunos se pontos, levantados por professoras municipais de Porto
expressem de forma espontânea, façam descobertas Alegre, ainda geram dúvidas sobre o assunto.
construam conceitos. Todo esse trabalho deve ser 1. Em que medida corrigir tarefas ajuda o aluno a
acompanhado pelo professor, oportunizando o compreender seus erros?
desenvolvimento de novas questões que façam os alunos 2. Como ajudar o aluno a descobrir novos conceitos a partir
progredirem na aprendizagem, mas nunca como elemento de de suas primeiras hipóteses (certo ou errado)?
avaliação individual. 3. Qual o significado (para professores e alunos) do
- Realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, trabalho, tarefa, realizado?
investigando teoricamente, procurando entender razões para Esse grupo de professoras de Porto Alegre, tentando de
as respostas apresentadas pelos estudantes: Avaliar de forma responder tais perguntas, eliminou a atribuição de notas e
mediadora requer a observação individual de cada aluno, com adotou “relatórios de avaliação bimestral e final” como forma
atenção ao seu momento no processo de construção do de avaliação, modificando também o regimento escolar.
conhecimento. Para isso é necessária uma relação direta, por Acabaram com as “provas datadas”, realizando tarefas
meio de muitas tarefas orais ou escritas para que se possa constantes sem a preocupação com notas, e a análise de
entender os motivos das soluções apresentadas, considerando aprovação e retenção passou a ser feita a partir do benefício
o estágio de pensamento, a área do conhecimento e as que essa decisão trará para a criança, significa o fim dos
experiências de vida dos alunos. parâmetros por nota ou comportamento colaborativo para a
De acordo com a teoria construtivista o erro pode ser visto aprovação, e colocar o que o aluno aprendeu como critério
de forma positiva, mais produtiva e fecunda do que um acerto principal.
imediato, pois o aluno vai criando estratégias de ação para Outra grande questão que aflorou ao longo do trabalho foi:
alcançar um resultado. Porém nem todos os erros são “Como corrigir os alunos?”. A intervenção do professor sobre
passiveis de descoberta, Cartorina (1988) aponta que há erros as tarefas completas ou não dos alunos muitas vezes
sistemáticos que um aluno consegue e não consegue fazer, incomodava, pois eles não entendiam o motivo de “corrigir”.
erros que aparecem em um processo de descoberta onde os Outros questionamentos afloraram, como: “O que a ação de
alunos criam hipóteses, num primeiro momento e corrigir significa para pais, alunos e professores?”, “Como
gradativamente vão sendo reformulado por meio de trabalhar com os registros observados sem adotar as práticas
observação dos fenômenos em suas relações. tradicionais (qualitativa e quantitativa)?” e “É possível, a partir
Essas hipóteses no processo de conhecimento são os erros dessas observações adotar uma ação mediadora que provoque
construtivos. Nesse contexto a intervenção do professor deve o aluno a refletir e descobrir melhores soluções sem a
ser desafiador, propondo perguntas ou novas tarefas a fim de imposição do professor?”.
confrontar o aluno com outras respostas para defenderem Não se pode analisar as expectativas de professores,
suas opiniões pelo momento do educando. alunos e pais com relação as disciplinas e metodologias de
O que acontece em muitas escolas é o fato do professor avaliação de forma separada, excluindo uns e valorizando
corrigir as respostas dos alunos não considerando ou outros pontos de vista, já que as expectativas de ambos devem
impossibilitando que estes reformulem as hipóteses por meio estar inter-relacionadas para o bom andamento das práticas
de suas descobertas. Os estudantes acabam memorizando as educacionais.
soluções sem compreendê-las, não tomando significado Sobre a “correção”, quando se utiliza métodos não
nenhum para sua aprendizagem. tradicionais, os pais têm medo dos filhos receberem
Se o educando não entender o assunto, deixará de “instrução” de baixa qualidade, pois tem a impressão de que a
responder questões, já que a tarefa não apresenta sentido e nova metodologia é menos exigente, já que valoriza mais as
consequentemente não consegue elaborar uma resposta. Essa manifestações cognitivas da criança do que as notas obtidas
situação deve chamar a atenção do professor, exigindo uma em exames.
reflexão com outros educadores e uma revisão de suas A maioria dos pais que não entende esquema de avaliação
propostas pedagógicas. construtivista, que não classifica por notas os alunos, pede pela
- Em vez de certo/errado e da atribuição de pontos, fazer volta do tradicional, e os filhos, que estão entre os “temores
comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a dos pais” e a “postura construtivista da escola”, tem no adulto
localizarem as dificuldades de descobrirem melhores e o modelo de “saber competente” esperado pela educação, e
variadas soluções: A autora critica a atribuição de notas nas preocupam-se muito mais em “acertar” do que “construir”.
atividades realizadas elos alunos. Provas e recuperação Com relação à postura do professor que trabalha com o
repercutem no educando como obrigação, induzindo a construtivismo avaliativo a autora cita dois modelos:
memorização, a reprodução de textos do livro e da fala do 1. Construtivista modinha: Preocupa-se com os rumos da
professor, deixando de lado sua crença verdadeiramente escola e aceita mudanças, mas carece de estudos
espontânea. É necessário respeitar e valorizar a tarefa dos aprofundados. Segue metodologias sugeridas pelos
estudantes, atribuindo significado ao que se observa em suas coordenadores ou imita colegas, mas não acredita plenamente
atividades, superando a ideia tradicional de buscar acertos e no que está fazendo. Desenvolve uma metodologia tradicional
erros. “fantasiada de construtivista”.
- Transformar os registros de avaliação em anotações 2. Construtivista aprofundado: Sofre com grandes
significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu obstáculos entre a “teoria e pratica”, o que gera sentimento de
processo de construção do conhecimento: Os registros de insegurança com o trabalho realizado, resultando no
avaliação visam a responder questões que parecem retrocesso ao tradicional, isso por medo de não saber
esquecidas na escola sobre a aprendizagem dos alunos. Se o mensurar ou atingir os objetivos esperados.
aluno aprendeu, se ainda não aprendeu, o porquê de não ter A prática de avaliação, ainda hoje, segue um modelo
aprendido em encaminhamentos foram feitos ou estão por secular, que segundo a autora é seletivo e excludente, sendo
fazer nesse sentido.

Bibliografia 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

assim são duas posturas opostas, a “classificatória” e a A avaliação torna-se disciplinadora, punitiva e
“mediadora”: discriminatória quando utiliza notas, conceitos e métodos de
1. Avaliação classificatória: Verificar respostas certas e classificação de alunos (os que não tiram notas tão boas
erradas, tomar decisões sobre o aproveitamento, aprovar ou sentem-se excluídos, inferiorizados).
reprovar a partir desse aproveitamento (método tradicional O sistema exige notas, mas não exige que os professores
de “certo/errado”). usem avaliações classificatórias para mensurar o
2. Avaliação mediadora: Analisar as várias manifestações aproveitamento dos alunos. Essa forma de medir pode
dos alunos em situações de aprendizagem de forma a exercer comprometer os progressos escolares dos alunos, pois eles
uma ação educativa que lhe ajude na descoberta de novas comparam entre si suas notas e classificam uns aos outros de
formas de encontrar soluções (acesso gradativo do aluno ao burros ou inteligentes.
saber). A ação mediadora não pode ser uniforme, já que os erros
Tradicionalmente a escola enaltece os procedimentos dos alunos seguem cursos diversos (não existe um padrão para
competitivos e classificatórios de avaliação (certo/errado), e o erro). É necessária a reflexão teórica sobre cada resposta do
nesse modelo dificilmente o professor chama a atenção do aluno. Não dá para desenvolver procedimentos de intervenção
aluno por uma “resposta interessante”, mas sim pelos erros, que sirvam de regras gerais (verdades absolutas).
com as seguintes afirmações, “O que é isso?”, “Não entendi”, A tentativa de inverter a hierarquia tradicional (resposta
como se o erro, ou a forma diferente de pensar do aluno, como certa é valorizada e o erro é punido) não deve seguir extremos,
se o pensar diferente fosse algo absurdo ao seu entendimento pois nenhum extremo é válido, mas é preciso trabalhar para
de resposta certa. que os alunos entendam que o “erro não é um pecado”, pois
A visão “Positivista” vai além do tradicional e trata com os isso fará com que eles fiquem mais confiantes em perguntar e
“absurdamente certos e errados”, isso na visão do professor, o comentar suas tarefas, já que o peso da punição será
que dá um forte tom de autoritarismo na pratica docente, inferiorizado.
mesmo que o professor acredite não ser autoritário. Deve-se aplicar a ação mediadora entre uma tarefa do
Segundo Kamii (1991, p. 23), “Infelizmente, várias escolas aluno e a posterior, analisando o entendimento dele sobre o
tem a tendência de exigir respostas corretas”, pois isso assunto trabalhado e criando métodos que favoreçam a
inferioriza o ponto de vista e a processo de criação de criança na construção de um saber competente, próximo da
hipóteses do aluno. A solicitação de certo/errado faz o aluno “verdade cientifica” vigente.
ter dependência da “palavra final” do adulto, interiorizando Cada tarefa do aluno é uma etapa de sua evolução
seu trabalho e entendendo a escola como um espaço que está cognitiva, e isso não dá pra somar, classificar ou medir por
ali para “classificá-lo”. notas. O grande receio da família e da sociedade, que estão
O professor que segue esse modelo classificatório de acostumadas com o método tradicional é que o método de
conhecimentos dos alunos arma-se de critérios, métodos e registro do professor sobre as avaliações seja superficial, que
padrões avaliativos. A avaliação torna-se um meio de não mostre realmente o desenvolvimento real do aluno.
comprovar o juízo final do professor em aprovar ou reprovar Quando a correção é feita respeitando a criança em suas
o aluno. etapas de desenvolvimento o professor deixa de analisar
Conhecimentos impostos de forma pronta e com a friamente o “certo e errado” e analisa o que o aluno “aprendeu
“resposta correta absoluta” tiram do aluno a possibilidade de e não aprendeu”, reflete sobre o que ele “ainda” não sabe e o
criar sua própria metodologia para chegar à resposta certa, e que pode “vir a ser” aprendido.
fortalece o medo de errar.
Ao refazer alguma atividade professor e aluno devem ter
em mente que esse processo está em busca da compreensão
do erro, refazer sem reflexão é insignificante ao JÓFOLI, Zélia. A construção
desenvolvimento cognitivo do educando. do conhecimento: papel do
Enquanto a perspectiva tradicional das respostas prontas educador, do educando e da
pune o aluno pelos erros, a construtivista o faz pensar,
valorizando o trabalho do aluno. Deve-se considerar a sociedade. In: Educação:
dificuldade do aluno e criar meios de induzi-lo a compreender Teorias e Práticas, ano 2, nº 2,
o erro e corrigi-lo, sem dar a ele a resposta esperada logo de Recife: Universidade Católica
cara.
Considerar, valorizar, não significa observar e deixar como de Pernambuco, p. 191 – 208.
está, mas sim refletir teoricamente e planejar situações
provocativas ao aluno.
Certo/Errado: Visão secular de avaliação. Não é fácil para
As concepções sobre aspectos do mundo natural e o social
os pais, coordenadores e professores abandonarem essa visão,
são construídas num complexo processo de feedback no qual
ainda mais que a visão construtivista de avaliação exige
modelos teóricos e impulsos sensoriais são assimilados e
confiança de todos para dar certo, e para isso é preciso que a
acomodados em uma seqüência automodificante de predições
escola envolva a família nesse processo.
e testagens (Arib e Hesse, 1986). Essa é uma perspectiva que
No construtivismo a avaliação está voltada ao socioafetivo
vê o conhecimento organizado por estruturas explanatórias
e ao cognitivo, e não classificação por notas, isso gera surpresa
que são construídas e, por sua vez, servem como lentes
aos alunos, que precisam mensurar de imediato seu trabalho,
interpretativas para a compreensão dos fenômenos e das
e o método que conhecem é a nota.
experiências (Watzlawick, 1984).
Durante os trabalhos escolares os alunos exigem que o
Como um amplo princípio, o construtivismo pressupõe que
professor preste atenção na sua atividade, comente e escreva
o co- nhecimento é construído ativamente pelo aluno via
algo a respeito. Comentários com caráter de questionamento
interação com os objetos – de acordo com algumas
valorizam e desafiam o aluno a prosseguir na construção da
interpretações do trabalho de Piaget
aprendizagem (método construtivista).
– e através da interação social (Vygotsky, 1988). É minha
Diferente da censura do modelo tradicional, que faz o
intenção, aqui, argumentar sobre o importante papel que o
aluno apagar, mudar suas ideias particulares, o construtivismo
professor desempenha nes- sa construção.
aponta seus avanços e encaminham questões que o auxiliam a
encontrar as respostas adequadas.
Como se dá a construção do conhecimento?

Bibliografia 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Apesar de Piaget e Vygotsky partilharem algumas crenças discutindo com seus pares que com os professores, por
– por exemplo, que o desenvolvimento é um processo dialético aceitarem mais passiva- mente a opinião dos adultos.
e que as cri- anças são cognitivamente ativas no processo de Esse estudo propõe a aquisição de conhecimento integrado
imitar modelos em seu mundo social (Tudge e Winterhoff, atra- vés da discussão em sala de aula e tenta ampliar a
1993) – eles divergem na ênfase sobre outros aspectos. Eu participação do adulto em mais do que simplesmente
gostaria de apontar e analisar três desses aspectos divergentes organizar condições para o traba- lho dos alunos. É sugerido
e mostrar como eles fundamentam minha propos- ta: que os professores deveriam adotar, quando necessário, o
papel de um colega mais experiente, ajudando os alunos a
- desenvolvimento versus aprendizagem superar impasses que surgem durante as discussões, dando
- interação social versus interação com os objetos exem- plos (ou contra-exemplos) que estimulem o
- interação horizontal versus interação vertical. pensamento.
No primeiro aspecto, temos, por um lado, a convicção de Hatano ataca a rígida divisão entre construção individual e
Piaget de que o desenvolvimento precede a aprendizagem e, social do conhecimento ao enfatizar as vantagens da adoção de
por outro, a afir- mação de Vygotsky de que a aprendizagem uma postura mais flexível:
pode (e deve) anteceder o desenvolvimento. Um primeiro
exame dos estudos Vygotskianos nos mostra que os problemas Argüir que o conhecimento é individualmente construído
relacionados com o processo ensino-aprendi- zagem não não é ignorar o papel das outras pes- soas no processo de
podem ser resolvidos sem uma análise da relação aprendi- construção. Similarmente, enfatizar o papel das interações
zagem-desenvolvimento (Rogoff e Wertsch, 1984). Vygotsky sociais e/ou com os objetos na construção do conhecimento,
(1988) diz que, da mesma forma que algumas aprendizagens não desmerece a crucial importância da orientação a ser dada
podem contribuir para a transformação ou organização de pelo professor (Hatano, 1993: 163).
outras áreas de pensamento, podem, também, tanto seguir o
processo de maturação como precedê- lo e mesmo acelerar Dessa forma, reforça a importância do papel do professor
seu progresso. Essa idéia revolucionou a noção de que os e do contexto social na construção do conhecimento pelo
processos de aprendizagem são limitados pelo aluno. No trabalho de Vygotsky, a dialética da mudança é clara:
desenvolvimento biológico que, por sua vez, depende do as atividades na sala de aula são influenciadas pela sociedade,
processo maturacional individu- al e não pode ser acelerado. mas, ao mesmo tempo, podem,também, influenciá-la. Como
Mais ainda, considera que o desenvolvi- mento biológico, conclusão Hatano escreve:
pode ser decisivamente influenciado pelo ambiente, no caso, a Se nós queremos estabelecer uma concepção ou teoria de
escola e o ensino. aquisição de conhecimento geralmente aceita, deveríamos
A convicção de Piaget de que as crianças são como estimular o diálogo (ou o “poliálogo”) entre as teorias ou
cientistas, trabalhando nos materiais de seu mundo físico e programas de pes- quisa. Esta prática pode nos conduzir ao
lógico-matemático para dar sentido à realidade, de forma fortaleci- mento de uma teoria pela incorporação de insights
alguma nega sua preocupação com o papel exercido pelo meio de uma outra o que pode algumas vezes ser con- siderado
social. Existe aqui, em minha opinião, apenas uma questão de problemático. (Hatano, 1993: 163-164).
ênfase. Enquanto Piaget enfatiza a interação com os objetos,
Vygotsky enfatiza a interação social. Esse problema pode, no entanto, ser contornado, se
A idade mental da criança é tradicionalmente definida aqueles insights forem harmoniosamente integrados dentro
pelas tare- fas que elas são capazes de desempenhar de forma da teoria Vygotskiana. Em seguida, eu gostaria de ir mais além,
independente. Vygotsky chama essa capacidade de zona de incluir a pedagogia críti-
desenvolvimento real. Estendendo esse conceito Vygotsky ca de Paulo Freire nesta discussão e mostrar suas
afirma que, mesmo que as crian- ças não possam ainda características com- plementares aos enfoques Piagetiano e
desempenhar tais tarefas sozinhas algumas dessas podem ser Vygotskiano na formulação de um ensino crítico-
realizadas com a ajuda de outras pessoas. Isso iden- tifica sua construtivista.
zona de desenvolvimento potencial. Finalmente, ele sugere A compreensão do papel da educação no desenvolvimento
que entre a zona de desenvolvimento real (funções dominadas dos seres humanos, partilhada por Vygotsky e Freire, é
ou amadurecidas) e a zona de desenvolvimento potencial baseada na preocu- pação de ambos com o desenvolvimento
(funções em pro- cesso de maturação) existe uma outra que ele integral das pessoas, na filo- sofia marxista, no enfoque
chama de zona de de- senvolvimento proximal. construtivista, na importância do contexto social e na firme
Desenvolvendo sua teoria, Vygotsky demons- tra a efetividade crença na natureza dos seres humanos.
da interação social no desenvolvimento de altas fun- ções Tudge (1990: 157) – um forte Vygotskiano escreve:
mentais tais como: memória voluntária, atenção seletiva e A colaboração com outras pessoas seja um adulto ou um
pensa- mento lógico. Sugere, também, que a escola atue na colega mais adiantado, dentro da zona de desenvolvimento
estimulação da zona de desenvolvimento proximal, pondo em proximal, conduz ao desenvolvi- mento dentro de parâmetros
movimento processos de desenvolvimento interno que seriam culturalmente apro- priados. Esta concepção não é teleológica
desencadeados pela interação da criança com outras pessoas no sen- tido de algum ponto final universal de desenvolvi-
de seu meio. Uma vez internalizados, es- ses atos se mento, mas pode ser, em um sentido mais relati- vo, que o
incorporariam ao processo de desenvolvimento da criança. mundo social preexistente, internalizado no adulto ou no
Seguindo essa linha de raciocínio, o aspecto mais relevante colega mais adiantado, é o objeti- vo para o qual o
da aprendi- zagem escolar parece ser o fato de criar zonas de desenvolvimento conduz.
desenvolvimento proximal. A citação acima mostra como eu vejo a convergência das
Inagaki e Hatano (1983) sugerem um modelo que tenta idéias de Freire e Vygotsky acerca de direção. Ambos rejeitam
sintetizar as contribuições de Vygotsky e Piaget, analisando o a idéia de não- diretividade no ensino. Para eles, o processo de
papel das interações sociais entre os alunos (interações aprendizagem deve ser conduzido pelo professor visando a
horizontais) no processo de apren- dizagem. Eles consideram atingir os alvos desejados. Em am- bos os casos, os alvos
que a integração do conhecimento é mais forte quando as devem convergir para o desenvolvimento inte- gral da pessoa,
crianças são instigadas a defender seu ponto de vista. Isto seja num contexto de opressão – adultos analfabetos – ou num
acontece mais naturalmente quando elas tentam convencer contexto de deficiência – crianças surdas. Quando o educador
seus colegas. Elas também tendem a ser mais críticas quando assume que os alunos não podem aprender algum tópico ou
habilidade, seja porque não estão completamente maduros

Bibliografia 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

para essa aprendiza- gem ou porque são deficientes, a Muitos professores, não compreendendo esses diferentes
tendência pode ser negligenciar es- ses alunos. Isso foi níveis de desen- volvimento mental, podem empregar
observado por Schneider (1974), ao estudar o aluno estratégias de ensino totalmente inadequadas que, ao invés de
excepcional ou atrasados especiais, por Cunha (1989), quando facilitar a progressão para um nível mais elevado de
sugere que a deficiência pode ser produzida ou reforçada pela conhecimento, leve o aluno a superpor o conceito espontâ- neo
escola, e por Tudge (1990: 157-158). com o cientificamente aceito, apenas para atender às
Vygotsky (1988:100) menciona que quando crianças exigências formais dos testes escolares. Na vida diária, no
mentalmen- te retardadas não são expostas ao raciocínio entanto, a criança con- tinuará a utilizar os conceitos
abstrato durante sua escolarização (porque se supõe que são espontâneos por melhor traduzirem sua visão de mundo.
capazes apenas de raciocinar concretamente), o resultado Considerando que a responsabilidade final pela própria
pode ser a supressão dos rudimentos de qualquer capacidade aprendi- zagem pertence a cada aluno, a tarefa do professor é
de abstração que tal criança por ventura possua. encorajá-los a verbalizarem suas idéias, ajudá-los a tornarem-
se conscientes de seu próprio processo de aprendizagem e a
Como pode o professor facilitar a construção do relacionarem suas experiências prévias às situações sob
conhecimento? estudo. Uma construção crítica do conheci- mento está
intimamente associada com questionamentos: seja para en-
Dentro de um enfoque construtivista é dever do professor tender o pensamento do aluno, seja para promover uma
asse- gurar um ambiente dentro do qual os alunos possam aprendizagem conceitual.
reconhecer e refle- tir sobre suas próprias idéias; aceitar que
outras pessoas expressem pontos de vista diferentes dos seus, Diferenças entre o ensino tradicional e o ensino
mas igualmente válidos e possam avaliar a utilidade dessas construtivista
idéias em comparação com as teorias apre- sentadas pelo
professor. De fato, desenvolver o respeito pelos outros e a Algumas virtudes, de grande importância para os
capacidade de dialogar é um dos aspectos fundamentais do educadores, estão presentes numa prática de ensino
pensa- mento Freireano (Taylor, 1993). Assim, é importante tradicional. Entretanto, existem outros aspectos a serem
para as crianças discutir idéias em todas as lições. Pensar considerados num enfoque construtivista de ensino. Um deles
sobre as próprias idéias ajuda os alunos a se tornarem é a ênfase atribuída aos conhecimentos prévios dos alunos na
conscientes de suas concepções alternativas (Driver et al., busca de entender seus significados e dar-lhes voz. Por co-
1994) ou idéias informais (Black e Lucas, 1993). nhecimentos prévios eu não me refiro ao conhecimento
Nesse enfoque, os professores deveriam também aprendido em lições anteriores, mas às idéias espontâneas
estimular os alunos a refletirem sobre suas próprias idéias – trazidas pelos alunos que são frutos de suas vivências e que,
encorajando-os a compararem-nas com o conhecimento muitas vezes, diferem dos conceitos científicos. Essas idéias
cientificamente aceito – e procura- rem estabelecer um elo deveriam ser utilizadas como um ponto de par- tida para a
entre esses dois conhecimentos. Essa compa- ração é construção de um novo conhecimento na sala de aula. Natu-
importante por propiciar um conflito cognitivo e, assim, ajudar ralmente, todos nós trazemos uma bagagem de experiências
os alunos a reestruturarem suas idéias o que pode representar vividas e ninguém pode ser considerado um recipiente vazio.
um salto qualitativo na sua compreensão. Essa comparação Por esse motivo, os professores deveriam estar atentos aos
também pode aju- dar o aluno a desenvolver sua capacidade conhecimentos prévios dos alunos, visando a ajudá-los a
de análise. Em outras pala- vras, espera-se que o novo tornar claras para eles próprios (e também para o professor)
conhecimento não seja aprendido mecani- camente mas as crenças que trazem e a forma como interpretam o mundo.
ativamente construído pelo aluno, que deve assumir-se como Seria também útil se os professores se dispusessem a apren-
o sujeito do ato de aprender. Eu gostaria também de sugerir der com as questões colocadas pelos alunos. Isso não significa
que o professor provocasse nos seus alunos o que professor e aluno tenham o mesmo conhecimento
desenvolvimento de uma atitu- de crítica que transcendesse os científico, mas os professores deveriam ser capazes de
muros da escola e refletisse na sua atuação na sociedade. aprender com os alunos como eles podem aprender melhor.
Estar consciente dos conceitos prévios dos alunos – que Essa atitude demanda humildade. Como é possível aprender
estejam em desacordo com o conhecimento científico – com os alunos se estou convencido de que sei o que é melhor
capacita os professores a planejar estratégias para reconstruí- para eles? Os alunos têm muito a nos ensinar se apenas
los, utilizando contra-exemplos ou situações-problema, para pararmos para ouvi-los. E, quanto mais distante, cultural ou
confrontá-los. Esse confronto pode causar uma ruptura no afetivamente, o professor estiver do seu aluno, mais provável
conhecimento dos alunos, provocando desequilíbrios (ou é que ele formule as perguntas erradas (Paley, 1979:xiv). Seria
conflitos cognitivos) que podem impulsioná-los para a frente bem melhor se a vaidade permitisse aos professores fazer
na ten- tativa de recuperar o equilíbrio. Entretanto, existe perguntas aos alunos e se procuras- sem entender que, por
também a possibilida- de de que o processo de identificação estarmos aprendendo o tempo todo com os ou- tros e com a
das concepções espontâneas possa, ao invés de removê-las, vida, somos, todos, eternos aprendizes.
funcionar como um reforço. Solomon (1993) apresenta um Eu estou consciente de que isso não é fácil. É também
exemplo que ilustra como o conhecimento social- mente importan- te que os professores não confundam
construído pode também contribuir, embora construtivismo com falta de disci- plina e de direção. O papel
temporariamente, para reforçar tais conceitos espontâneos do professor é, de fato, ajudar os alunos a perceber as
uma vez que as crianças ten- dem a buscar o consenso e podem incongruências e vazios no seu entendimento. Para fazer isso,
facilmente tender para a opinião da maioria. Nesses casos, a os professores têm que respeitar os alunos e tal respeito tem
orientação do professor é crucial. que ser mútuo. No entanto, respeito não é alguma coisa
Em resumo, para tornar a aprendizagem mais efetiva, os imposta de cima para baixo. Preferivelmente, deveria ser
profes- sores deveriam planejar suas lições levando em alguma coisa construída e ofe- recida ao professor, pelos
consideração tanto a forma como os alunos aprendem como os alunos, que o consideram merecedor dessa consideração.
conceitos prévios que tra- zem. Os estudos de Piaget são de Assim, o papel de um ensino crítico construtivista deveria
fundamental importância ao apontar as diferenças entre o considerar que:
raciocínio da criança, em seus vários estágios, e o raciocínio de - o conhecimento prévio do aluno é importante e altamente
um adulto que atingiu o nível das operações formais. rele- vante para o processo de ensino;

Bibliografia 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- o papel do professor é ajudar o aluno a construir o seu professores devido ao seu efeito multiplicador. Um exemplo de
próprio conhecimento; sua utilidade é evitar os “especialismos estreitos”
- as estratégias de ensino devem ser planejadas para ajudar freqüentemente observados entre experts, que, ao se
o aluno a adotar novas idéias ou integrá-las com seus conceitos aprofundarem num determinado aspecto, perdem a visão do
prévios; todo e, muitas vezes, não percebem as implicações éticas de
- qualquer trabalho prático é planejado para ajudar a suas deci- sões.
constru- ção do conhecimento através da experiência do Em resumo, num ensino para uma construção crítica do
mundo real e da interação social capacitando a ação; conheci- mento, devem estar presentes atitudes como:
- o trabalho prático envolve a construção de elos com os - estar consciente do que está acontecendo ao redor
con- ceitos prévios num processo de geração, checagem e (comuni- dade, sociedade, mundo) e revelar como a
restruturação de idéias; dominação e a opressão são produzidas dentro da escola;
- a aprendizagem envolve não só a aquisição e extensão de - estimular o pensamento crítico dos alunos;
novos conceitos mas também sua reorganização e análise crí- - introduzir o diálogo crítico entre os participantes;
tica; - buscar respostas para os problemas colocados;
- a responsabilidade final com a aprendizagem é dos - colocar novas questões para serem respondidas,
próprios alunos. melhorando assim a prática;
- tornar a aprendizagem significante, crítica,
Outra importante característica que eu sugiro para um emancipatória e comprometida com as mudanças na direção
ensino construtivista é a empatia. Por empatia eu me refiro à do bem-estar coletivo; e
capacidade de ser sensível às necessidades dos alunos ou, em - estar consciente de que todos temos uma parte a cumprir
outras palavras, ser dis- ponível. É também a capacidade de em prol de uma sociedade mais justa.
escutar e entender as mensagens dos alunos. Para fazer isso o
professor deve aprender a ler entre as linhas e decodificar Aprendizagem crítico-construtivista versus ensino crítico-
mensagens que não são percebidas sequer pelos próprios construtivista
alunos. Isso eqüivale a tentar devolver aos alunos, de forma
estruturada, as informações que vêm deles de forma De acordo com Matthews (1992), o construtivismo é, ao
desestruturada. Freqüentemente, uma resposta deixa de ser mesmo tempo, uma teoria da ciência e uma teoria da
dada não porque os alunos não sabem a resposta mas porque aprendizagem e ensino humanos. Mas, enquanto o
eles não entenderam nem mesmo a pergunta. Em tais casos, o construtivismo tem deixado a sua marca com respeito à
professor deve ser suficientemente sensível para perceber aprendizagem em muitas áreas (Driver e Bell, 1986; Fensham,
isso, e aberto (disponível), para aprender com os alunos a fazer Gunstone e White, 1994, etc.), pouco tem sido feito, até ago- ra,
perguntas que sejam entendidas por todos e não só pelos “me- com relação ao ensino e à formação de professores. No
lhores” alunos . O professor deve também ser flexível e estar entanto, ambos (aprendizagem e ensino construtivistas) são
pronto para mudar quando necessário. Comumente a falta de profundamente in- terligados e o último deveria preparar
interesse pelas aulas origina-se do fato de que os tópicos não terreno para o primeiro.
são conectados. Os alu- nos não conseguem entender a razão O que entendo por um ensino crítico-construtivista é um
para determinadas questões; não conseguem perceber as ensino voltado para a contextualização das construções
relações desses tópicos com suas próprias experiências nem conceituais dos alu- nos. Eu associo esse ensino crítico-
como poderão utilizar o novo conhecimento em seu pró- prio construtivista com uma postura de respeito pelos alunos. Tal
benefício. Ensinar não é apenas transmitir o conhecimento postura implica, além do que foi apresentado anteriormente, o
acumu- lado pela humanidade, mas fazê-lo significante para os seguinte:
alunos. - ser receptivo para ouvir e entender a forma como os
Tendo abertura para aprender com os alunos, sendo alunos constroem, articulam e expressam seu conhecimento;
reflexivo e pronto para mudar, o professor pode vir a conhecer - apoiar os alunos na expressão de seus conceitos, na
o suficiente sobre o aluno de forma a favorecer uma tomada de consciência desse processo e na valorização do
aprendizagem significativa. próprio conhecimento e o dos colegas;
- nunca depreciar a informação trazida pelos alunos;
O que é uma construção crítica do conhecimento? - contextualizar o ensino apresentando problemas
relacionados a aspectos-chave da experiência dos alunos, de
Minha preocupação, no entanto, vai além de um ensino forma que esses possam reconhecer seus próprios
construtivista e, naturalmente, de um ensino tradicional. O pensamento e lin- guagem no estudo;
tipo de ensi- no que eu tenho em mente deve ser também - mostrar que o ato de conhecer exige um sujeito ativo que
crítico. Por uma constru- ção crítica do conhecimento eu me ques- tiona e transforma e que aprender “é recriar os
refiro a um ensino cuja preocupação transcenda a transmissão caminhos com que nos enxergamos a nós próprios, nossa
de um conteúdo específico. Sua preocupa- ção deve ser educação e nossa sociedade” (McLaren e Leonard 1993: 26);
também com o pensamento crítico do aluno, sua compre- - encorajar os alunos a colocar problemas e questões;
ensão de que toda pessoa merece dignidade e felicidade e que, - apresentar o assunto não como “exposições teóricas ou
final- mente, é dever de todos lutar para atingir esses como fatos a serem memorizados, mas como problemas
objetivos. Assim, uma construção crítica do conhecimento colocados dentro da experiência e linguagem dos alunos para
implica um compromisso com o pen- samento independente e serem tra- balhados por eles” (McLaren e Leonard, 1993:31);
o bem-estar comum. Tais compromissos de- vem estar - conduzir a classe dentro de um processo democrático de
coerentemente presentes na conduta do professor para apoi- apren- dizagem e de criticidade. “Os professores devem
ar sua análise do contexto da sala de aula e sua capacidade de afirmar-se sem, por outro lado, desafirmar os alunos” (Freire
tomar decisões coerentes. Como Freire (1977) diz, nós e Faundez, 1989:34).
deveríamos não im- portar idéias, mas recriá-las. Dessa forma,
um ensino construtivista crí- tico não poderia ser entendido Essas atitudes não implicam passividade por parte do
como receitas prontas a serem seguidas, mas como sugestões professor. Eles têm o dever de mostrar as contradições, os
a serem examinadas pelos professores. Tal criticismo é crucial vazios e inconsistênci- as no pensamento dos alunos e desafiá-
em todos os níveis de educação e deve estar pre- sente, los a superá-los. Para realizar essa tarefa os professores devem
particularmente, durante programas de formação de ser, antes de tudo, competentes no conteúdo que têm a

Bibliografia 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

responsabilidade de ensinar. Ensinar, nessa abor- dagem, o valor posicional e a subtração, a partir da 3a série é a divisão,
significa planejar todo o processo para facilitar a compreensão na terceira série é a divisão com decimais. Quando as crianças
do novo conteúdo pelos alunos. Como comentado tem dificuldades, são encaminhadas para a repetição, para a
anteriormente (Watts, Jófili e Bezerra, 1997), a dificuldade aula integrada.
para a maioria dos professores é que é deles a Em relação a importância dos pais no processo de
responsabilidade de fazer cumprir as determinações que vêm aprendizagem, pais, professores e crianças tem opiniões
de fora da escola. Os imperativos sociais e o currículo unânimes. No que tange à avaliação, a pesquisa abordou
pretendido são dominantes dentro do sistema educacional em diversos aspectos: as crianças consideram que a avaliação está
todo o mundo. Exis- tem momentos em que os professores associada a aprendizagem e ao comportamento. " Saio bem em
devem, forçosamente, dizer aos alunos o que fazer para atingir matemática, porque me comporto em sala de aulas". Na 3a e 5a
determinados objetivos. As exigências são claras: o professor séries, consideram que a avaliação está relacionada somente a
deve saber o que fazer. Para professores construtivistas, aprendizagem: participação em sala de aula, tarefas de casa,
entretanto, é uma questão de equilíbrio: as estratégias e questionários. Enfim, acreditam que tiram boas notas porque
técnicas de ensino devem variar dentro de um amplo espectro, estudam. Pais e professores afirmam que o ponto de apoio
que vai de uma completa liberdade para permitir a livre para a avaliação são as provas e participação em aula. Os
expressão das concep- ções espontâneas trazidas pelos alunos professores em particular apontam a avaliação como sendo
até uma rigorosa disciplina que caracteriza o trabalho útil para tomarem ciência daquilo que as crianças aprenderam
intelectual. e reorientar os estudos.

Capítulo II

Problemas de contas: dois desafios diferentes. Os


LERNER, Delia. A procedimentos utilizados pelas crianças para resolver as
matemática na escola – aqui e contas são totalmente diferentes dos empregados para
agora. Porto Alegre: Artmed, resolver problemas. A autora observou que nos problemas de
subtração, algumas crianças utilizam-se de estratégias muito
1995. elaboradas: contam com o dedo e com as letras. Contudo,
algumas demoram a entender que "tirar" pode significar
subtrair. Algumas crianças chamam a subtração de soma. As
respostas obtidas pelas crianças frente a um problema
12Esta obra tem a finalidade de verificar a situação atual do proposto foram diferentes, exemplo: um ônibus tem 24
ensino da matemática em nossa escola, a partir de dados passageiros, descera, quantos ficaram? Para fazer com que a
coletados em pesquisas realizadas em seis escolas, com pais, diversidade se constitua em um valor positivo para o
professores e alunos. aprendizado, face a essa situação, Lerner orienta da seguinte
forma: " do ponto de vista didático se expõe também a
Capítulo I necessidade de propor às crianças uma variada gama de
situações correspondentes a cada operação, de tal modo que
Professores, crianças e pais têm a palavra. Numa pesquisa, elas tenham oportunidade de criar estratégias que resultem
todos os professores entrevistados concordam em apontar a oportunas, de comparar as utilizadas pelas outras crianças com
matemática como uma disciplina que causa temor. as próprias, de analisar as semelhanças e diferenças existentes
Questionado sobre a forma como ensinam a matemática e entre diversas situações".
como as crianças aprendem, a maioria respondeu que o ensino Diante da proposta de se inventar enunciado de um
é realizado por meio do trabalho com itens separados, como problema, as crianças em sua maioria conseguem, mas
por exemplo: primeiro a lição, depois subtração para não produzindo escritas onde a resposta está no enunciado.
confundir, e repetição. Não obstante várias professoras Exemplo: inventar um problema cujo resultado seja 5. (tinha
afirmaram ter tido boas experiências com a matemática, 12 canetas, dei 7 e fiquei com 5 ). Outra questão significativa
apenas uma afirmou enfaticamente que gostava de para refletir é, até que ponto os problemas propostos são
matemática. As crianças em sua maioria relacionam o desafios e constroem conhecimentos matemáticos? A autora
aprendizado da matemática, ao ensino escolar. Apenas as observou que as formas como as crianças representam as
crianças de 5ª série responderam que muitas coisas se operações ao resolver os problemas que propôs ou aqueles
aprendem fora da escola. Os pais também acreditam que as que elas mesmos inventaram, nem sempre coincidem com a
crianças também aprendem matemática fora da escola. "conta" convencional. Ao resolver um problema as crianças
Não são poucas as crianças que se referem à matemática apresentaram 5 formas diferentes de organizar as respostas.
como a disciplina que menos gostam, e mesmo aquelas com - colocando apenas o resultado;
bom rendimento em matemática manifestam uma opinião - colocando somente os dados incluídos;
contrária a ela. No que se refere as opiniões sobre a utilidade - colocando os dados do problema e o resultado, mas sem
da matemática, as opiniões dos professores são: a matemática incluir os sinais da operação realizada;
tem importância porque prepara a criança para raciocinar com - colocando de forma não convencional de todos os termos
rapidez; ajuda a compreender a matéria e é uma ciência envolvidos;
completa porque é exata. Os pais também afirmaram que a - colocando a representação convencional.
matemática serve para tudo inclusive para a vida. Algumas
crianças responderam que nunca utilizaram a matemática em No que diz respeito à interpretação dos sinais, todos os
casa, outras disseram que só usam em casa quando a alunos interpretaram com exatidão os sinais (+ e _ ).
professora manda realizar tarefas. Algumas delas Entretanto, com o sinal (=), apenas duas crianças o nominaram
relacionaram a matemática com a atividade de trabalho. e são poucas que atribuem uma interpretação a eles quando
Quanto aos conteúdos a opinião dos professores e dos alunos está isolado.
coincidem: na primeira série os conteúdos mais difíceis são

12 http://simboraestudar.blogspot.com.br/2015/07/resumo-matematica-
na-escola-aqui-e.html

Bibliografia 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

As contas: Na pesquisa foi possível verificar que temos 500 porque tem 4 algarismos. Crianças de 3a e 5a séries
ensinado o procedimento convencional para as crianças respondem de imediato, que o valor do "0" (zero) depende de
resolver somas com números de vários algarismos. Este sua colocação no número (valor posicional). Sabem também
procedimento é que as tem levado a pensar que, quando se faz que não podemos suprimir o zero do número 207, uma vez que
uma conta, cada número de dois algarismos, deixa de ser um mudaria seu valor.
só número, e se transforma em dois números independentes. A primeira série e as unidades de dezena. As crianças
entrevistadas, não obstante, já tivessem recebido explicações
Capítulo III sobre a unidade e dezena, não conseguiam relacionar o valor
posicional, e apesar de saberem o conceito de dezena, não
As estratégias de resolução de problemas. A autora aplicam este conceito em situação operativa. As crianças
verificou que para as crianças de 3a série os problemas de entendiam "dezena" (como dúzia, termo usado no dia-a-dia).
adição são resolvidos facilmente, mas os de subtração são mais Na 3a série não há dificuldades relativas ao valor posicional.
complicados. Algumas crianças usam um indicador exclusivo, As crianças da 3a série sentem dificuldades em entender o
ou seja, palavras chaves para definir a operação que deve ser significado de "elevar-se" ou de "pedir emprestado" com o
realizada. Por exemplo: juntos, comprou... são indicadores valor posicional. No que se refere as crianças de 5a série, a
para a criança que trata da adição. Os problemas de autora assinala que muitas delas tinham dificuldade acerca da
multiplicação e divisão não apresentam dificuldades se forem relação entre centenas e dezenas. Contudo, para algumas essas
bem formulados. " (...) o fato de que uma criança não encontre relações são claras.
qual é a conta que corresponde para resolver determinada Os resultados obtidos na pesquisa com relação aos
situação não significa de modo algum que não possa resolvê- decimais, mostram que as crianças conseguem obter em
la: com base na estrutura lógica do problema ela poderá alguns casos, respostas corretas como é o caso da adição
aproximar um resultado possível". porém, tal como em outras operações, realizam-nas de forma
mecânica, pois, não entendem o que estão fazendo. As
Operando com frações pesquisas realizadas com números decimais somente, não
apresentam dificuldades mas as crianças sentem dificuldades
Ao trabalharem com problemas envolvendo frações, as em realizar operações com números inteiros e fracionários,
crianças chegaram a resposta correta, apesar de não souberem exceção feita aos alunos da 5a série. Essas dificuldades
registrar no papel a notação fracionária convencional. Na referem-se à organização das posições dos números, porque
pesquisa todas as crianças conseguiram estabelecer que 1/2 é um deles não possui a vírgula.
maior que 1/4. Os dados coletados nas pesquisas mostraram As crianças têm aprendido muito na escola, e reconstroem
que a notação fracionária também precisa de um processo de muito cedo algumas regras que regem o sistema posicional.
reconstrução, por isso, é importante ressaltar que as crianças Quando frente às dúvidas, raramente as crianças as
elaboram ideias próprias ao invés de aceitar a notação questionam em aula. Por isso, é necessário criar condições que
convencional. Também é preciso ressaltar no que se refere às permitam às crianças construir e apropriar-se dos princípios
frações, a necessidade de realizar uma discussão sobre as que regem nosso sistema de numeração, como reflexão,
diversas formas de representação formuladas pelos alunos, formulação de hipóteses, confronto de ideias etc.
assim como, sobre as diferentes interpretações das
representações convencionais.
Na 3a e 5a séries a pesquisa demonstrou, que além de
darem respostas, as crianças registravam estas respostas de LERNER, Delia. Ler e
forma convencional. No caso da subtração esta continua a escrever na escola: o real, o
apresentar dificuldades. Com relação a divisão as crianças possível e o necessário. 1ª
comprovam na escola essas contas, logo é possível que saibam
que esta verificação se faz multiplicando o quociente pelo Edição – Porto Alegre, Artmed,
divisor. Os dados demonstraram que todas as crianças são 2002.
capazes de elaborar estratégias para resolver diversos
problemas a elas formulados, inclusive aqueles que envolvem
frações. A proposta da autora consiste não só em resolver
situações problemas diversas, mas também elaborar Ler e escrever na escola: o real, o possível e o
estratégias e compará-las com as outras, formular enunciados necessário
e antecipar resultados, levando-se em conta que as crianças
são seres pensantes. Cap. 1 – Ler e Escrever na escola: o real, o possível e o
necessário.
Capítulo IV
Ensinar13 a ler e escrever é um desafio que transcende
O valor posicional. Nas pesquisas, verificou-se que as amplamente a alfabetização em sentido estrito.
respostas obtidas, mostram em primeiro plano, que todas as Participar na cultura escrita supõe apropriar-se de uma
crianças da 3a série, quando questionadas sobre o valor "0" tradição de leitura e escrita e isso requer que a escola funcione
(zero) responderam que não tinha valor nenhum. Ficou claro como uma micro comunidade de leitores e escritores.
que as crianças já sabem que o zero é elemento neutro nas O necessário é fazer da escola uma comunidade de
operações de soma e subtração. Quando o zero vem escritores que produzem seus próprios textos para mostrar
acompanhado de outro número como por exemplo (0089, suas ideias, para informar sobre fatos que os destinatários
0003 ), responderam que vale se estiver à direita, e à esquerda necessitam ou deve conhecer, para iniciar seus leitores a
não. Na comparação de números com mais de dois algarismos, empreender ações que consideram valiosas, para convencê-
as crianças sabem que um número de mais algarismos los da validade dos pontos de vista ou das propostas que
representa uma quantidade maior que a representada por tentam promover, para reclamar, para compartilhar com os
números de menos algarismos. Exemplo: 5.000 é maior que demais uma bela frase ou um belo escrito, para intrigar ou
fazer rir...

13 http://meucantoeduc.blogspot.com.br/2010/01/delia-lerner-ler-e-
escrever-na-escola-o.html

Bibliografia 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Fazer da escola um âmbito onde leitura e escrita sejam leitura, se lê somente no marco de situações que permitem ao
práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos professor avaliar a compreensão ou a fluência da leitura em
poderosos que permitem repensar o mundo e reorganizar o voz alta.
próprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam
direitos legítimos a exercer e responsabilidades que é O que fazer para preservar na escola o sentido que a leitura
necessário assumir. O necessário é preservar o sentido do e a escrita têm fora dela?
objeto de ensino para o sujeito da aprendizagem.
Pode-se formular como conteúdos do ensino não só os
O real é que levar à prática o necessário é uma tarefa difícil saberes linguísticos como também as tarefas do leitor e do
para a escola porque escritor: fazer antecipações sobre o sentido do texto que se
está lendo e tentar verifica-las recorrendo à informação visual,
1- a escolarização das práticas de leitura e de escrita discutir diversas interpretações acerca de um mesmo
apresenta problemas árduos; material, comentar o que se leu e compará-lo com outras obras
do mesmo ou de outros autores, recomendar livros, contrastar
2- os propósitos que se perseguem na escola ao ler e informações provenientes de diversas fontes sobre um tema
escrever são diferentes dos que orientam a leitura e a escrita de interesse, acompanhar um autor preferido, compartilhar a
fora dela; leitura com outros, atrever-se a ler textos difíceis, tomar notas
para registrar informações...
3- a inevitável distribuição dos conteúdos no tempo pode
levar a parcelar o objeto de ensino; É preciso também articular os propósitos didáticos – cujo
cumprimento é mais mediato – com propósitos comunicativos
4- a necessidade institucional de controlar a aprendizagem que tenham um sentido “atual” para o aluno e tenham
leva a pôr em primeiro plano somente os aspectos mais correspondência com os que habitualmente orientam a leitura
acessíveis à avaliação; fora da escola.

5- a maneira como se distribuem os direitos e obrigações Cap. 2 – Para transformar o Ensino da Leitura e da Escrita
entre o professor e os alunos determina quais são os
conhecimentos e estratégias que as crianças têm ou não têm É importante distinguir as propostas de mudança que são
oportunidade de exercer e, portanto, quais poderão ou não produto da busca rigorosa de soluções para os graves
poderão aprender. problemas educativos que enfrentamos daquelas que
pertencem ao domínio da moda.
Tensões entre os propósitos escolares e extraescolares da
leitura e da escrita A capacitação: condição necessária, mas não suficiente
para a mudança na proposta didática.
Na escola, não são “naturais” os propósitos que nós,
leitores e escritores, perseguimos habitualmente fora dela: A capacitação está longe de ser a panaceia universal que
como estão em primeiro plano os propósitos didáticos que são tanto gostaríamos de descobrir. Não bastará capacitar os
mediatos do ponto de vista dos alunos, porque estão docentes, será imprescindível também estudar quais as
vinculados aos conhecimentos que eles necessitam aprender condições institucionais para a mudança, quais são os aspectos
para utilizá-los em sua vida futura, os propósitos de nossa proposta que têm mais possibilidade de ser acolhidos
comunicativos – tais como escrever para estabelecer ou pela escola e quais requerem a construção de esquemas
manter contato com alguém distante, ou ler para conhecer prévios para serem assimilados.
outro mundo possível e pensar sobre o próprio desde uma
nova perspectiva – costumam ser relegados ou excluídos. Acerca da transposição didática: a leitura e a escrita como
objetos de ensino
Relação saber-duração versus preservação do sentido
O primeiro aspecto que deve ser analisado é o abismo que
No caso da língua escrita, tradicionalmente a distribuição separa a prática escolar da prática social da leitura e da escrita.
de conteúdos no tempo tem acontecido de forma que, no (...) Na sala de aula, espera-se que as crianças produzam textos
primeiro ano de escolaridade, exige-se dominar o “código” e, num só tempo muito breve e escrevam diretamente a versão
somente no segundo, “compreender e produzir textos breves final, enquanto que fora dela produzir um texto é um longo
e simples”; propor, no começo, certas sílabas ou palavras e processo que requer muitos rascunhos e reiteradas revisões.
introduzir outras nas semanas consecutivas, graduando as Ler é uma tarefa orientada por propósitos na nossa vida social.
dificuldades. O ensino se estrutura assim, conforme um eixo No âmbito escolar, se lê somente para aprender a ler e se
temporal único, segundo uma lógica linear, acumulativa e escreve somente para aprender a escrever...
irreversível.
O fenômeno da transposição didática afeta todos aqueles
Tal organização do tempo do ensino entra em contradição saberes que ingressam na escola para serem ensinados e
com o tempo de aprendizagem e com a natureza das práticas aprendidos.
de leitura e escrita. Não é a mesma coisa aprender algo – a ler e escrever, por
exemplo – na instituição escola ou a instituição família. Todo
Tensão entre duas necessidades institucionais: ensinar e saber e toda competência estão modelados pelo aqui e agora
controlar a aprendizagem da situação institucional em que se produzem. Ao se
transformar em objeto de ensino, o saber ou a prática a ensinar
A responsabilidade social assumida pela escola gera uma se modifica: é necessário selecionar-se algumas questões em
forte necessidade de controle: a instituição necessita conhecer vez de outras.
os resultados de seu funcionamento, necessita avaliar as
aprendizagens. Essa necessidade – indubitavelmente legítima Tanto a língua escrita como a prática da leitura e da escrita
– costuma ter consequências indesejadas: como se tenta se tornam fragmentárias, são detalhadas de tal modo que
exercer um controle exaustivo sobre a aprendizagem da perde sua identidade.

Bibliografia 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Fragmentar assim os objetos a ensinar permite alimentar - promover o trabalho em equipe, superando o isolamento
duas ilusões muito arraigadas na tradição escolar: contornar a no qual costumam trabalhar os professores;
complexidade dos objetos de conhecimento reduzindo-os a
seus elementos mais simples e exercer um controle estrito -elaborar projetos institucionais –apelo à participação dos
sobre a aprendizagem lamentavelmente a simplificação faz pais;
desaparecer o objeto que se pretende ensinar.
- definir modificações que desterrem o mito da
A transposição didática é inevitável, mas deve ser homogeneidade e o substituam pela aceitação da diversidade
rigorosamente controlada cultural e individual dos alunos – evitar a formação de “grupos
homogêneos” ou “grupos de recuperação”, que só servem para
Acerca do “contrato didático” incrementar a discriminação escolar.

O “contrato didático” compromete não apenas o professor Cap. 3 – Apontamentos a partir da Perspectiva Curricular
e os alunos como também o saber, já que este último sofre
modificações ao ser comunicado, ao ingressar na relação Algumas ideias essenciais à Perspectiva curricular:
didática. A distribuição de direitos e responsabilidades entre o
professor e os alunos adquire características específicas em 1 – Todos os problemas que se enfrentam na produção
relação a cada conteúdo. curricular são problemas didáticos. Os saberes das outras
disciplinas – em particular os da lingüística, que estuda o
Se, por outro lado, o aluno tem a obrigação de escrever objeto, e os da psicolinguística, que estuda a elaboração do
diretamente a versão final dos poucos textos que elabora, se conhecimento lingüístico por parte do sujeito – estão
não tem direito a apagar, nem a riscar, nem a fazer rascunhos indubitavelmente presentes, mas intervêm apenas
sucessivos; se também não tem direito a revisar e corrigir o articulando-se para compreender melhor os problemas
que escreveu, porque a função de correção é desempenhada didáticos.
exclusivamente pelo professor, então como poderá ser um
praticante autônomo e competente da escrita? 2 – Quando se propõe uma transformação didática, é
necessário levar em conta a natureza da instituição que a
Ferramentas para transformar o ensino realizará e as pressões e restrições que lhe são inerentes,
derivadas da função social que lhe foi atribuída.
Devem ser levadas em conta – as seguintes questões:
3 – O problema didático fundamental que devemos
1 – A necessidade de estabelecer objetivos por ciclo – ao enfrentar é o da preservação do sentido do saber ou das
atenuar a tirania do tempo didático, torna-se possível evitar – práticas que se estão ensinando. Em relação ao projeto
ou pelo menos reduzir ao mínimo – a fragmentação do curricular, preservar o sentido do objeto do ensino – da leitura
conhecimento e abordar então o objeto de conhecimento em e da escrita, neste caso.
toda a sua complexidade.
Construir o objeto de ensino
2 – A importância de atribuir aos objetivos gerais,
prioridade absoluta sobre os objetivos específicos – a ação Decidir quais serão os conteúdos que devem ser ensinados
educativa deve estar permanentemente orientada pelos implica em se fazer uma verdadeira reconstrução do objeto.
propósitos essenciais que lhe dão sentido, é necessário evitar Trata-se de um primeiro nível de transposição didática: a
que estes fiquem ocultos atrás de uma longa lista de objetivos passagem dos saberes cientificamente produzidos ou das
específicos, que, em muitos casos, estão desconectados tanto práticas socialmente realizadas para os objetos ou práticas a
entre si como dos objetivos gerais dos quais deveriam ensinar. Vejamos em que sentido essa passagem supõe uma
depender. construção:

3 – A necessidade de evitar o estabelecimento de uma 1 – selecionar é imprescindível, porque é impossível


correspondência termo a termo entre objetivos e atividades, ensinar tudo; mas, ao selecionar determinados conteúdos, nós
correspondência que leva certamente ao parcelamento da os separamos do contexto da ciência ou da realidade em que
língua escrita e à fragmentação indevida de atos tão complexos estão imersos e, nessa medida, eles são transformados e
como a leitura e a escrita. reelaborados.

4 – A necessidade de superar a tradicional separação entre 2 – por outro lado, toda seleção supõe ao mesmo tempo
“alfabetização em sentido estrito” e “alfabetização em sentido uma hierarquização.
amplo” ou entre “apropriação do sistema de escrita” e
“desenvolvimento da leitura e da escrita”. Essa separação é um Em que se basear para fazer as escolhas dos conteúdos?
dos fatores responsáveis pelo fato da educação no ensino Pode-se afirmar que o grande propósito educativo do ensino
fundamental centrar-se na sonorização desvinculada do da leitura e da escrita no curso da educação obrigatória é o de
significado, e da compreensão do texto ser exigida nos níveis incorporar as crianças à comunidade de leitores e escritores.
posteriores de ensino. Sabemos que o significado não é um O objeto de ensino deve-se então se definir tomando como
subproduto da oralização, mas o guia que orienta a seleção da referência fundamental as práticas sociais de leitura e de
informação visual; sabemos que as crianças reelaboram escrita. Sustentar isso é muito diferente de sustentar que o
simultaneamente o sistema de escrita e a “linguagem que se objeto de ensino é a língua escrita: ao pôr em primeiro plano
escreve”. as práticas, o objeto de ensino inclui a língua, mas não se reduz
a ela.
- reformular a concepção do objeto de ensino em função
das contribuições linguísticas e a concepção do sujeito que O modelo “ensinar a ler para ensinar a língua” se
aprende a ler e a escrever, de acordo com as contribuições expressava fundamentalmente na utilização de “textos
psicolinguísticas desde uma perspectiva construtivista; escolhidos”, que eram utilizados como ponto de partida para
exercícios gramaticais ou ortográficos.

Bibliografia 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Ainda hoje em dia é frequente que se selecionem os quais são os conteúdos que se estão ensinando e aprendendo
aspectos descritivos e normativos como eixo do ensino da ao ler ou ao escrever.
língua. Está sendo dada uma grande ênfase aos textos como
tais ou, melhor dizendo, nas superestruturas textuais como Determinar um lugar importante para o que os leitores
tais, e está se correndo o risco de que esses conteúdos se fazem, supõe conceber como conteúdos fundamentais do
desvinculem da leitura e da escrita, separem-se das ações e ensino os comportamentos do leitor, os comportamentos do
situações em cujo contexto tem sentido. escritor.

A definição dos formatos textuais – características Consideram-se assim duas dimensões: por um lado, a
superestruturais - ocupa um lugar de importância na maioria dimensão social – interpessoal, pública, e, por outro lado, uma
dos livros-texto recentes. Um dos motivos é a tendência da dimensão psicológica – pessoal, privada.
instituição escolar ter grande inclinação para as classificações.
O risco que se corre ao dar tanta importância a essa questão é Entre os comportamentos do leitor, que implicam
o seguinte: embora manejar as características interações com outras pessoas acerca dos textos, encontram-
superestruturais ajude, por exemplo, a fazer antecipações se, por exemplo, as seguintes: comentar ou recomendar o que
ajustadas ao gênero, isso não é suficiente para resolver a leu, compartilhar a leitura, confrontar com outros leitores as
multiplicidade de problemas envolvidos na construção ou na interpretações geradas por um livro ou notícia, discutir sobre
compreensão de cada texto. as intenções implícitas nas manchetes de certo jornal.

Definir como objeto de ensino as práticas sociais de leitura Entre os mais privados, por outro lado, encontram-se
e de escrita supõe dar ênfase aos propósitos da leitura e da comportamentos como antecipar o que segue no texto, reler
escrita em distintas situações – razões que levam as pessoas a um fragmento anterior para verificar o que se compreendeu,
ler e escrever. quando se detecta uma incongruência, saltar o que não se
entende ou não interessa e avançar para compreender melhor,
Sustentar que o objeto de ensino se constrói tomando identificar-se com o autor ou distanciar-se dela assumindo
como referência fundamental a prática social da leitura e da uma posição crítica, adequar a modalidade de leitura –
escrita supõe, então, incluir os textos, mas não reduzir o objeto exploratória, exaustiva, pausada ou rápida, cuidadosa ou
de ensino a eles. descompromissada... – aos propósitos que se perseguem e ao
texto que se está lendo...
Como o mostrou a teoria crítica de currículo – decidir quais
aspectos do objeto são mostrados supõe também decidir quais Planejar, textualizar, revisar mais de uma vez... são os
são ocultados; decidir o que é que se ensina significa, ao grandes comportamentos do escritor, que não são observáveis
mesmo tempo e necessariamente, decidir o que é que não se exteriormente e que acontecem, em geral em particular. É
ensina. necessário ainda que o escritor considere os prováveis
conhecimentos dos destinatários.
Caracterizar o objeto de referência: as práticas de leitura e
escrita Podemos estabelecer que:

As análises históricas revelaram que as práticas de leitura 1 – Os comportamentos do leitor e do escritor são
parecem ter sido em primeiro lugar, intensivas, para depois se conteúdos – e não tarefas, como se poderia acreditar;
transformarem, pouco a pouco, em extensivas. 2 – O conceito de “comportamentos do leitor e do escritor”
não coincide com o de “conteúdos procedimentais”. Enquanto
Isto quer dizer que originalmente se liam uns poucos estes últimos se definem por contraposição com os conteúdos
textos de maneira muito intensa, profunda e reiterada, e “conceituais” e “atitudinais”, pensar em “comportamentos”
depois houve uma mudança para outra maneira de ler, que como instâncias constituintes de práticas de leitura e escrita.
abarca uma enorme quantidade de textos e opera de maneira
mais rápida e superficial. As duas modalidades costumam Preservar o sentido dos conteúdos
existir em uma mesma sociedade.
Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir
Uma pode predominar sobre a outra e podem distribuir-se verbalmente às crianças os conteúdos de comportamento
de maneira diferente em função dos grupos sociais. Nos leitor e escritor. É útil distinguir conteúdos em ação e
setores mais abastados, as práticas tendem a ser mais conteúdos objeto de reflexão. Um conteúdo está em ação cada
extensivas, enquanto que as práticas intensivas perduraram vez que é posto em jogo pelo professor ou pelos alunos ao
por muito tempo nos grupos populares. lerem ou ao escreverem, e é objeto de ensino e de
aprendizagem mesmo quando não seja objeto de nenhuma
Com relação à dimensão público-privado, embora na explicação verbal.
atualidade a leitura tenda a ser mais privada, persistem, no
entanto, muitas situações de leitura pública: políticos leem Exemplo: ler notícias com frequência permitirá às crianças
seus discursos, nos grupos de estudo há a leitura tanto se familiarizarem com esse tipo de texto como adequar
compartilhada, etc. cada vez mais a modalidade de leitura a suas características e,
nessas situações, A necessidade de refletir sobre ele pode
Explicitar conteúdos envolvidos nas práticas apresentar-se quando algum membro do grupo necessite
ajuda para progredir em sua maneira de ler notícias.
A que se deve essa distância entre o que se tenta fazer e o
que efetivamente se faz? Entre as razões que a explicam, há O segundo risco que se corre ao explicitar os
uma que é fundamental considerar ao planejar um currículo: comportamentos do leitor e do escritor é o de produzir um
não é suficiente – da perspectiva do papel docente – novo parcelamento do objeto de ensino. A leitura e a escrita
reconhecer que se aprende a ler, lendo e que se aprende a são atos globais e indivisíveis e que somente é possível se
escrever, escrevendo. É imprescindível, além disso, esclarecer apropriar dos comportamentos que as constituem no quadro
o que é que se aprende quando se lê ou se escreve em aula, de situações semelhantes às que têm lugar fora da escola,

Bibliografia 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

orientadas em direção a propósitos para cuja realização é Duas condições são necessárias: manejar com flexibilidade
relevante ler e escrever. a duração das situações didáticas e tornar possível a retomada
dos próprios conteúdos em diferentes oportunidades e a partir
O terceiro risco: acreditar que é suficiente abrir as portas de perspectivas diversas. Criar essas condições requer pôr em
da escola para que a leitura e a escrita entrem nela e funcionem ação diferentes modalidades organizativas:
tal como fazem em outros ambientes sociais. Na escola a 1 - Os projetos – permitem uma organização muito flexível
leitura e a escrita existem enquanto objetos de ensino. do tempo: segundo o objetivo que se persiga, pode ocupar
somente uns dias, ou se desenvolver ao longo de vários meses.
Cap. 4 – É possível ler na escola? Os projetos de longa duração proporcionam a oportunidade de
compartilhar com os alunos o planejamento da tarefa e sua
Há discrepâncias entre a versão social e a versão escolar da distribuição no tempo: uma vez fixada a data em que o produto
leitura: por que a leitura – tão útil na vida real para cumprir final de vê estar elaborado.
diversos propósitos – aparece na escola como uma atividade 2- As atividades habituais – se reiteram de forma
gratuita, cujo único objetivo é aprender a ler? Por que se sistemática e previsível uma vez por semana ou por quinzena,
ensina uma única maneira de ler – linearmente, palavra por durante vários meses ou ao longo de todo ano escolar,
palavra, desde a primeira até a última que se encontra no oferecem a oportunidade de interagir intensamente com um
texto; por que se enfatiza tanto a leitura oral – que não é muito gênero determinado em cada ano da escolaridade e são
frequente em outros contextos – e tão pouca a leitura para si particularmente apropriadas para comunicar certos aspectos
mesmo? do comportamento leitor.
3 – As sequências de atividades – ao contrário dos projetos,
Por que se usam textos específicos para ensinar, diferentes que se orientam para a elaboração de um produto tangível, as
dos que se leem fora da escola? Por que se espera que a leitura seqüências didáticas incluem situações de leitura cujo único
reproduza com exatidão o que literalmente está escrito, se os propósito explícito – compartilhado com as crianças é ler. Ao
leitores que se concentram na construção de um significado contrário das atividades habituais, essas seqüências têm uma
para o texto evitam perder tempo em identificar cada uma das duração limitada a algumas semanas de aula, o que permite
palavras que nele figuram e costumam substituí-las por realizar várias delas no curso de um ano letivo e se tem, assim,
expressões sinônimas? acesso a diferentes gêneros.
4 – As situações independentes podem classificar-se em
Por que se supõe na escola que existe uma só interpretação dois subgrupos:
correta de cada texto (e consequentemente se avalia), quando
a experiência de todo leitor mostra tantas discussões a) Situações ocasionais – Por exemplo - em algumas
originadas nas diversas interpretações possíveis de um artigo oportunidades, a professora encontra uma texto que considera
ou de um romance? valioso compartilhar com as crianças, embora pertença a um
gênero, ou trate de um tema que não tem correspondência com
A leitura aparece desgarrada dos propósitos que lhe dão as atividades que estão realizando nesse momento;
sentido no uso social, porque a construção do sentido não é
considerada como uma condição necessária para a b) Situações de sistematização – Guardam sempre uma
aprendizagem. relação direta com os propósitos didáticos que estão sendo
trabalhados, porque permitem justamente sistematizar os
Por que se ensina uma única maneira de ler? Esta é, em conhecimentos linguísticos construídos através das outras
primeiro lugar, uma consequência imediata da ausência de modalidades organizativas.
propósitos que orientem a leitura.
Acerca do controle: avaliar a leitura e ensinar a ler
O predomínio da leitura em voz alta deriva
indubitavelmente de uma concepção da aprendizagem que A prioridade da avaliação deve determinar onde começa a
põe em primeiro plano as manifestações externas da atividade prioridade do ensino. Quando a necessidade de avaliar
intelectual, deixando de lado os processos subjacentes que as predomina sobre os objetivos didáticos, quando – como
tornam possíveis. acontece no ensino usual da leitura – a exigência de controlar
a aprendizagem se erige em critério de seleção e
O uso de textos especialmente projetados para o ensino da hierarquização dos conteúdos, produz-se uma redução no
leitura é apenas uma das manifestações de um postulado objeto de ensino.
básico da concepção vigente na escola: o processo de
aprendizagem evolui do “simples” para o “complexo”. Saber que o conhecimento é provisório, que os erros não
se “fixam” e que tudo o que se aprende é objeto de sucessivas
Finalmente, o reconhecimento de uma única interpretação reorganizações permite aceitar, com maior serenidade, a
válida para cada texto é consistente com uma postura segundo impossibilidade de controlar tudo.
a qual o significado está no texto.
É necessário que a avaliação deixe de ser uma função
Gestão do tempo, apresentação dos conteúdos e privativa do professor, porque formar leitores autônomos
organização das atividades. significa, entre outras coisas, capacitar os alunos para decidir
quando sua interpretação é correta e quando não o é, para
O tempo é – todos nós, professores, sabemos muito bem – estar atentos à coerência do sentido que vão construindo.
um fator de peso na instituição escola: sempre é escasso em Para comunicar às crianças os comportamentos que são
relação à quantidade de conteúdos fixados no programa, típicos do leitor, é necessário que o professor os encarne na
nunca é suficiente para comunicar às crianças tudo o que sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de
desejaríamos ensinar em cada ano escolar. Não se trata participar em atos de leitura que ele está realizando, que trave
somente de produzir uma mudança qualitativa na utilização com eles uma relação de “leitor para leitor”.
do tempo didático.
Cap. 5 – O papel do conhecimento didático na formação do
professor

Bibliografia 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O conhecimento didático como eixo do processo de


capacitação
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J.
Coordenar as perspectivas dos participantes de uma F.; TOSCHI, M. S. Educação
situação decapacitação está longe de ser simples. Os Escolar: políticas, estrutura e
professores insistentemente nos faziam perguntas ou pedidos
como estes: “Explique-nos melhor como é a atividade que tem organização. São Paulo:
que ser feita para que as crianças aprendam este conteúdo Cortez, 2003, capítulo III, da 4ª
específico”, “qual destas atividades tem que ser feita primeiro Parte.
e qual depois?”, “qual é a intervenção mais adequada, se as
crianças cometem determinado erro? ... Quando muitos
professores apresentam os mesmos problemas, o mínimo que
tem que fazer o capacitador é se perguntar por que os A história da estrutura e da organização do Sistema de
apresentam e tentar entender quais são e em que consistem os ensino no Brasil14
problemas que estão enfrentando.
A história da estrutura e da organização do ensino no
As situações de “dupla conceitualização” Brasil reflete as condições socioeconômicas do país, mas
revela, sobretudo, o panorama político de deter- minados
Possuem particular interesse as atividades que perseguem períodos históricos.
um duplo objetivo: conseguir, por um lado, que os professores A partir da década de 1980, por exemplo, o pano- rama
construam conhecimentos sobre um objeto de ensino e, por socioeconômico brasileiro indicava uma tendência
outro lado, que elaborem conhecimentos referentes às neoconservadora para a minimização do Estado, que se
condições didáticas necessárias para que seus alunos possam afastava de seu papel de provedor dos serviços públicos, como
apropriar-se desse objeto. saúde e educação. Na década de 1990, esse modelo instalou-se
e, no primeiro decênio do século XXI, ainda não foi superado.
A atividade na aula como objeto de análise Paradoxalmente, as alterações da organização do trabalho,
resultantes, em grande parte, dos avanços tecnológicos,
Centrar-se no conhecimento didático supõe solicitam da escola um trabalhador mais qualificado para as
necessariamente incluir a aula no processo de capacitação, pôr novas funções no processo de produção e de serviços.
em primeiro plano o que ocorre realmente na classe, estudar o Ausentando-se o Estado de suas responsabilidades com
funcionamento do ensino e da aprendizagem escolar da leitura educação pública, como e onde formar, então, o trabalhador?
e da escrita. Para cumprir esse requisito, um instrumento é As constantes críticas ao desempenho do poder público
essencial: o registro de classe. remetem ao setor privado, apontado como o mais competente
para essa tarefa. Apresenta- -se uma questão crucial para o
Sobre o registro de classe podemos apontar: entendimento do papel social da escola: é sua função formar
especificamente para o trabalho ou ela constitui espaço de
3 – Levar em conta as possibilidades e limitações dos formação do cidadão participe da vida social?
registros de classe permite ampliar seu papel no processo de O teórico Hayek (1990), considerado o pai do
capacitação. Os registros não são transparentes, nem são neoliberalismo, contrapõe-se à ingerência estatal na educação.
autossuficientes para pôr em evidência os conteúdos que se Sua referência, porém, são os países em que a educação básica
quer comunicar através da sua análise. É necessário pôr em já foi universalizada e as condições sociais são mais favoráveis,
relevo aquilo que será reproduzível, que pode ser válido para em razão de anterior consolidação do Estado de bem-estar
outras aplicações. É preciso levar em conta que alguns social. Mas como pensar a atuação do Estado no Brasil, país
aspectos fundamentais da situação são invisíveis – por considerado periférico, com grandes desigualdades sociais,
exemplo, as conceitualizações do professor acerca do perversa concentração de renda, baixo índice de escolaridade,
conteúdo que está ensinando, nem as ideias que sustentam as escola básica não universalizada? Certamente, para países com
decisões que toma no transcurso da aula, nem as hipóteses que estas condições socioeconômicas, a receita deveria ser outra.
estão por trás do que as crianças dizem. Organismos financiadores dos países terceiro-mundistas,
como o Banco Internacional de Reconstrução e
Por último, é importante levar em conta que o registro de Desenvolvimento, também chamado Banco Mundial (BM),
classe é realizado em geral por uma pessoa alheia ao grupo e sugerem a garantia de educação básica mantida pelo Estado,
que é comum aparecerem indícios da influência que essa isto é, gratuita, o que não significa, todavia, que ela seja
presença tem no desenvolvimento da situação ministrada em escolas públicas. Os neoliberais criticam o fato
de a escola pública manter o monopólio do ensino gratuito.
Sugerem que o Esta- do dê aos pais vales-escolas ou cheques
com o valor necessário para manter o estudo dos filhos,
cabendo ao mercado de escolas públicas e particulares
disputar esses subsídios. Assim, as escolas públicas não
recebe- riam recursos do Estado, mas manter-se-iam com o
recebimento desses valores em condições iguais às das
particulares, alterando-se, assim, o conceito de instituição
"pública". Trata-se da implementação da política de livre
escolha, uma das propostas mais caras ao ideário neoliberal.
Os defensores de posições neoconservadoras alegam que
países mais pobres, como o Brasil, devem dar primazia à
educação básica (leia-se ensino fundamental), o que significa

14LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira e TOSCHI, Mirza Seabra.

Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 10ª. Ed., São Paulo: Cortez,
2012.

Bibliografia 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

menor aporte de recursos para a educação infantil e para o ministro da Educação, atingiu a estrutura do ensino, levando o
ensino médio e superior. Também, no caso do ensino superior, Estado nacional a exercer ação mais objetiva sobre a educação
o Estado financiaria o aluno que não pudesse pagar seus mediante o oferecimento de uma estrutura mais orgânica aos
estudos, e este devolveria os valores do empréstimo depois de ensinos secundário, comercial e superior.
formado. De 1937 a 1945 vigorou o Estado Novo, período da
O estudo Primary Education, de 1996, patrocinado pelo ditadura de Getúlio Vargas, em que a questão do poder se
BM, diz que a educação escolar básica "é o pilar do crescimento tornou central. Aliás, o poder é categoria essencial para
econômico e do desenvolvimento social e o principal meio de compreender o processo de centralização ou descentralização
promover o bem-estar das pessoas" (Nerz, 1996, p. 41-2). A na problemática da organização do ensino. O chileno Juan
média de escolaridade dos trabalhadores no Brasil é de Casassus, ao escrever sobre o processo de descentralização em
aproximadamente 4 anos, contra 7,5 anos no Chile, 8,7 anos na países da América Latina (incluindo o Brasil), observa que a
Argentina e 11 anos na França. Há a preocupação dos base de todos os enfoques da descentralização ou da
empresários brasileiros em ampliar essa média, não só para centralização se encontra na questão do poder na sociedade.
"promover o bem-estar das pessoas", como diz o documento Diz ele: (IA centralização ou descentralização tratam da forma
do BM, mas também para oferecer ao mercado uma mão de pela qual se encontra organizada a sociedade, como se
obra mais qualificada. Um fabricante de armas gaúcho assegura a coesão social e como se dá o fluxo de poder na
declarou que "os processos de produção estão cada vez mais sociedade civil, na sociedade militar e no Estado, explorando
sofisticados. ( ... ) Não podemos deixar equipamentos de 500 aspectos como os partidos políticos e a administração" 0995,
mil, 1 milhão de dólares, nas mãos de operários sem p. 38). Por tratar-se de um processo de distribuição,
qualificação" (Netz, 1996, p. 44). redistribuição ou reordenamento do poder na sociedade, no
qual uns diminuem o poder em benefício de outros, a questão
Como se pode observar, não é possível discutir educação e reflete o tipo de diálogo social que prevalece e o tipo de
ensino sem fazer referência a questões econômicas, políticas e negociação que se faz para assegurar a estabilidade e a coe- são
sociais. Daí a escolha da década de 1930, começo do processo social- daí sua relação com o processo conflituoso de
de industrialização do país, para iniciarmos o estudo sobre o democratização da educação nacional.
processo de organização do ensino no Brasil. Os anos 1930 a 1945 no Brasil são identificados como um
Os acontecimentos políticos, econômicos e sociais da período centralizador da organização da educação. Com a
década de 1930 imprimiram novo perfil à sociedade brasileira. Reforma Francisco Campos, iniciada em 1931, o Estado
A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, mergulhou o Brasil organizou a educação escolar no plano nacional,
na crise do café, mas em contrapartida encaminhou o país para especialmente nos níveis secundário e universitário e na
o desenvolvi- mento industrial, por meio da adoção do modelo modalidade do ensino comercial, deixando em segundo plano
econômico de substituição das importações, alterando assim o o ensino primário e a formação dos professores. Esta atitude,
comando da nação, que passou da elite agrária aos novos à primeira vista voltada para a descentralização - como definia
industriais. a Constituição de 1891, ao instituir a União como responsável
De 1930 a 1937, motivada pela industrialização emergente pela educação superior e secundária e repassar aos estados a
e pelo fortalecimento do Estado-nação, a educação ganhou responsabilidade da educação elementar e profissional-, na
importância e foram efetuadas ações governamentais com a realidade revelava o desapreço pela educação elementar.
perspectiva de organizar, em plano nacional, a educação Nesse período, educadores católicos e liberais passaram a
escolar. A intensificação do capitalismo industrial alterou as envolver-se na elaboração da proposta educacional da
aspirações sociais em relação à educação, uma vez que nele primeira fase do governo Vargas, sob a alegação de que o
eram exigidas condições mínimas para concorrer no mercado, governo não possuía uma proposta educacional. Tão logo,
diferentemente da estrutura oligárquica rural, na qual a porém, Francisco Campos tomou posse no recém-criado
necessidade de instrução não era sentida nem pela população Ministério da Educação e Saúde Pública, impôs a todo o país as
nem pelos poderes constituídos (Romanelli, 1987). diretrizes traçadas pelo Mesp.
A complexidade do período histórico que abrange desde a Já na Constituição Federal de 1934, em meio a disputas
década de 1930 até o momento atual e sua repercussão na ideológicas entre católicos e liberais, foi incluí- da boa parte da
evolução da educação escolar no país requerem, para proposta educacional destes inscrita no Manifesto dos
apropriada compreensão, a utilização de outras categorias Pioneiros da Educação Nova (1932) por uma escola pública
além das econômicas e políticas. Vamos, pois, a partir de agora, única, laica, obrigatória e gratuita, fortalecendo a mobilização
analisar a história da estrutura e da organização da educação e as iniciativas da sociedade civil em torno da questão da
brasileira com base em pares conceituais que acompanharam educação. Com a Constituição de 1937, que consolidou a
historicamente o debate da democratização do ensino no ditadura de Getúlio Vargas, o debate sobre pedagogia e política
Brasil, permeando os diferentes períodos e alternando-se em educacional passou a ser restrito à sociedade política, em clara
importância, de acordo com o momento histórico. demonstração de que a questão do poder estava mesmo
presente no processo de centralização ou descentralização.
Centralização/descentralização na organização da O escolanovista Anísio Teixeira foi ardoroso defensor da
educação brasileira descentralização por meio do mecanismo de municipalização.
A seu ver, a descentralização educacional contribuiria para a
A Revolução de 1930 representou a consolidação do democracia e para a sociedade industrial, moderna e
capitalismo industrial no Brasil e foi determinante para o plenamente desenvolvida. Assim, a municipalização do ensino
consequente aparecimento de novas exigências educacionais. primário constituiria uma reforma política, e não mera
Nos dez primeiros anos que se seguiram, houve um reforma administrativa ou pedagógica. Enquanto os liberais,
desenvolvimento do ensino jamais registrado no país. Em grupo em que se incluíam os escolanovistas, desejavam
vinte anos, o número de escolas primárias dobrou e o de mudanças qualitativas e quantitativas na rede pública de
secundárias quase quadruplicou. ensino, católicos e integralistas desaprovavam alterações
As escolas técnicas multiplicaram-se - de 1933 a 1945, qualitativas modernizantes e democráticas. Essa situação
passaram de 133 para l.368, e o número de matrículas, de 15 conferia um caráter contraditório à educação escolar. Tinha
mil para 65 mil (Aranha, 1989). início, então, um sistema que - embora sofresse pressão social
Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde por um ensino mais democrático numérica e qualitativamente
Pública (Mesp). A reforma elaborada por Fran- cisco Campos, falando - estava sob o controle das elites no poder, as quais

Bibliografia 43
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

buscavam deter a pressão popular e manter a educação partidos políticos progressistas de pedagogias e políticas
escolar em seu formato elitisra e conservador. O resultado foi educacionais cada vez mais sistematizadas e claras, fizeram
um sistema de ensino que se expandia, mas controlado pelas com que o Estado brasileiro reconhecesse a falência da política
elites, com o Estado agindo mais pelas pressões do momento e educacional, especialmente a profissionalizante, como
de maneira improvisada do que buscando delinear uma evidencia a promulgação da Lei nº 7.044/1982, que acabou
política nacional de educação, em que o objetivo fosse tornar com a profissionalização compulsória em nível de 2º grau
uni- versal e gratuita a escola elementar (Romanelli, 1987). (ensino médio).
Os católicos conservadores opunham-se à política de O debate acerca da qualidade, no Brasil, iniciou-se após a
laicização da escola pública, conseguindo acrescentar à ampliação da cobertura do atendimento escolar. Reconhece-se
Constituição Federal de 1934 o ensino religioso. Por força que, durante o período militar, particularmente com o
dessa mesma Constituição, o Estado passou a fiscalizar e prolongamento da duração da escolaridade obrigatória, se
regulamentar as instituições de ensino público e particular. estendeu o atendimento ao ensino de 1 º grau (ensino
As leis orgânicas editadas entre 1942 e 1946 - a chamada fundamental), embora muito da qualidade do ensino
Reforma Capanema, que recebeu o nome do então ministro da ministrado tenha sido perdido.
Educação - reafirmaram a centralização da década de 1930, Segundo Cunha (1995), a contenção do setor educacional
com o Estado desobrigando- -se de manter e expandir o ensino público constituiu condição de sucesso do setor privado.
público, ao mesmo tempo, porém, que decretava as reformas Apesar disso, foi possível a criação de uma rede de escolas
de ensino industrial, comercial e secundário e criava, em 1942, públicas que atendia, com qualidade variável, parte da
o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). sociedade, o que levou as famílias de classe média a optar pela
A lei orgânica do ensino primário e as do ensino normal e escola particular, mesmo com sacrifícios financeiros, como
agrícola foram promulgadas em 1946, assim como a criação do forma de garantir educação de melhor qualidade aos filhos.
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A partir O descontentamento com a deterioração da gestão das
de então, as esquerdas e os partidos progressistas retomaram redes públicas, o rebaixamento salarial dos professores, a
o debate pedagógico a fim de democratizar e melhorar o elevação das despesas escolares pela ampliação da
ensino, apesar da centralização federal do sistema educacional escolaridade sem aumento dos recursos, os inúmeros casos de
não só na administração, mas também no aspecto pedagógico, desvio de recursos, além de abrirem portas à iniciativa
ao fixar currículos, programas e metodologias de ensino privada, levaram a sociedade civil a propor soluções que se
(Iardim, 1988). tornaram ações políticas concretas por ocasião das eleições de
O debate realizado durante a votação da primeira Lei de 1982. Foi nesse contexto que intelectuais de esquerda
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), exigência da passaram a ocupar cargos na administração pública, em vários
Constituição Federal de 1946, envolveu a sociedade civil, e a estados brasileiros, em virtude da vitória do Partido do Movi-
lei resultante, nQ 4.024, de 20 de dezembro de 1961, instituiu mento Democrático Brasileiro (PMDB), o principal partido de
a descentralização, ao determinar que cada estado organizasse oposição aos militares. Embora a transição democrática tenha
seu sistema de ensino. Porém, o momento democrático que o tido início nos municípios em 1977, neles não se observaram
país vivia não combinava com o centralismo das ditaduras e as mudanças ocorridas nos estados. Esse fato leva Cunha a
durou pouco. Em 1964, o golpe dos militares provocou nova- afirmar que a precedência política da democratização da
mente o fortalecimento do Executivo e a centralização das educação se localiza nos níveis mais elevados do Estado.
decisões no âmbito das políticas educacionais. Assim, as mudanças democráticas, para serem efetivas, devem
Embora a Lei nQ 5.692, de 11 de agosto de 1971 (Brasil, ocorrer dos níveis federal e estadual para o municipal.
1971), prescrevesse a transferência gradativa do ensino de 1 As principais alterações realizadas pelos novos
Q grau (ensino fundamental) para os municípios, a administradores oposicionistas tiveram como meta a
concentração dos recursos no âmbito federal assim como as descentralização da administração, com formas de gestão
medidas administrativas centralizadoras tornaram estados e democrática da escola, com participação de professores,
municípios extremamente dependentes das decisões da União. funcionários, alunos e seus pais e também com eleição direta
A fragilidade do Legislativo, nesse período, impedia mais ainda de diretores. Outro ponto foi a suspensão de taxas escolares, a
a participação da sociedade, uma vez que esse poder era o mais criação de escolas de tempo integral, a organização sindical
próximo da sociedade civil dos professores.
Conforme Casassus (995), o processo de descentralização A retomada da discussão sobre a municipalização do
coincidiu com a universalização da cobertura escolar, isto é, ensino com o apoio dos privatistas, aliada à busca da escola
iniciou-se quando se passou da preocupação quantitativa para privada por pais (em boa parte, para evitar as greves nas
a busca da qualidade na educação. Paradoxalmente, a escolas públicas), reforçou a tese da privatização do ensino e
descentralização adveio quando o Estado se esquivou de sua diminuiu o suporte popular à escola pública.
responsabilidade com o ensino, fato que, segundo esse autor, A modernização educativa e a qualidade do ensino, nos
foi perceptível na América Latina a partir do fim dos anos anos 1990, assumiram conotação distinta ao se vincularem à
1970. Há ainda, na atualidade, um discurso corrente nos meios proposta neoconservadora que inclui a qualidade da formação
oficiais de que a questão quantitativa está resolvida, do trabalhador como exigência do mercado competitivo em
escondendo o fato de que os dados estatísticos são época de globalização econômica. O novo discurso da
frequentemente maquiados, as salas de aula estão modernização e da qualidade, de certa forma, impõe limites ao
superlotadas e a qualidade das aprendizagens deixa a desejar. discurso da universalização, da ampliação quantitativa do
Em contrapartida, a centralização mantém-se no que o autor ensino, pois traz ao debate o tema da eficiência, excluindo os
chama de alma do processo educativo - quer dizer, a ineficientes, e adota o critério da competência.
centralização, especialmente a dos currículos, tem lógica A política educacional adotada com a eleição de Fernando
diferente da administrativa. Com aquela se pretende garantir Henrique Cardoso para a Presidência da República, concebida
a integridade social almejada, o que facilitará a mobilidade dos de acordo com a proposta do neoliberalismo, assumiu
indivíduos, tanto no território nacional como na escala social. dimensões tanto centralizadoras como descentralizadoras. A
No fim da década de 1970 e início da de 1980, esgotava-se descentralização, nesse caso, não apareceu como resultado de
a ditadura militar e iniciava-se um pro- cesso de retomada da maior participação da sociedade, uma vez que as ações
democracia e reconquista dos espaços políticos que a realizadas não foram fruto de consultas aos diversos setores
sociedade civil brasileira havia perdido. A reorganização e o sociais, tais como pesquisadores, professores de ensino
fortalecimento da sociedade civil, aliados à proposta dos superior e da educação básica, sindicatos, associações e outros,

Bibliografia 44
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

mas surgiram das propostas preparadas para campanha tradição política brasileira é de competição, de medição de
eleitoral. forças. As categorias centralização/descentralização estão
No primeiro ano de governo (1995), assumiu-se o ensino vinculadas à questão do exercício do poder político, mesmo
fundamental como prioridade e foram defini- dos cinco pontos porque, desde o final do século XX, a descentralização vem
para as ações: currículo nacional, livros didáticos melhores e atrelada aos interesses neoliberais de diminuir gastos sociais
distribuídos mais cedo, aparte de kits eletrônicos para as do Estado. Isso ficou evidente após a promulgação da Lei nº
escolas, avaliação externa, recursos financeiros enviados 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
diretamente às instituições escolares. Em 1996, considerado o (lDB) -, que centraliza no âmbito federal as decisões sobre
Ano da Educação, a política incluiu a instauração da TV Escola, currículo e avaliação e atribui à sociedade responsabilidades
cursos para os professores de Ciências, formação para os que deveriam ser do Estado, tal como ocorreu, por exemplo,
trabalhadores, reformas no ensino profissionalizante e a com o trabalho voluntário na escola. Os Projetos Família na
convocação da sociedade para contribuir com a educação no Escola e Amigos da Escola e a descentralização de
país. Dessas ações, a única orientada para a descentralização responsabilidades do ensino fundamental em direção aos
foi a destinação dos recursos financeiros diretamente para as municípios são outros exemplos concretos de uma política que
escolas - ressaltando-se que, no primeiro ano, a merenda centraliza o poder e descentraliza as responsabilidades
escolar foi garantida com eles e, em seguida, os reparos nas
instalações físicas das instituições, com recursos do Fundo O debate qualidade/quantidade na educação
Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), advindos brasileira
do salário-educação. As demais ações caracterizaram-se por
certo tipo de centralismo entendido até como o debate qualidade/quantidade na educação brasileira
antidemocrático, uma vez que não ocorreram discussões com começou muito cedo. Ainda no século XIX, na transição do
a sociedade - como as relativas à avaliação da educação básica Império para a República, apareceram dois movimentos
e da superior, à instauração da TV Escola e aos kits eletrônicos sociais os quais Nagle (1974) denominou Entusiasmo pela
nas escolas - e se procurou estabelecer mecanismos de Educação e Otimismo Pedagógico. O movimento Entusiasmo
controle do trabalho do professor. A política de escolha e de pela Educação revelava preocupação de caráter quantitativo,
distribuição do livro didático poderia ter recebido preciosa ao propor a expansão da rede escolar e a alfabetização da
colaboração de professo- res, especialistas e pesquisadores da população que vivia um processo de urbanização decorrente
área. do crescimento econômico. A adoção do trabalho assalariado,
O centralismo apresentou-se mais nitidamente na aliada a outras questões de modernização do país, fez com que
formação dos parâmetros curriculares nacionais (PCN), os a escolarização aparecesse como fator promotor da ascensão
quais, embora tenham contado com a participação da social. Já o Otimismo Pedagógico caracterizou-se pela ênfase
sociedade civil em um dos momentos de sua discussão, nos aspectos qualitativos da educação nacional, pregando a
pecaram por ignorar a universidade e as pesquisas sobre melhoria das condições didáticas e pedagógicas das escolas.
currículo e não contemplaram, desde o início de sua Este movimento surgiu nos anos 1920 e alcançou o apogeu nos
elaboração, o debate com a sociedade educacional. A ampla anos 30 do século XX.
utilização da mídia no processo de adoção dos PCN trouxe Entre 1930 e 1937, o debate político incorporava
aprovação para o governo, apesar da manutenção de uma diferentes projetos educacionais. Os liberais, que
política mais centralizadora, especialmente na alma do preconizavam o desenvolvimento urbano-industrial em bases
processo educativo. democráticas, desejavam mudanças qualitativas e
Paiva (1986) observa que a questão centralização/ quantitativas na rede de ensino público, ao pro- porem a escola
descentralização deve ser remetida à história da própria única fundamentada nos princípios de laicidade, gratuidade,
formação social brasileira e às tendências econômico-sociais obrigatoriedade e coeducação. Alegando que os liberais
presentes em cada período histórico. Assim, descentralização destruíam os princípios da liberdade de ensino e retiravam das
e democratização da educação escolar no Brasil não podem ser famílias a educação dos filhos, os católicos aproximaram-se
discutidas independentemente do modo pelo qual é concebido das teses dos integralistas, defensores do nazismo e do
o exercício do poder político no país. fascismo europeus, e com estes desaprovavam as alterações
Uma das formas de descentralização política é a qualitativas modernizantes e democráticas objetivadas pelos
municipalização, que consiste em atribuir aos municípios a primeiros, além de acusá-los de defender propostas
responsabilidade de oferecimento da educação elementar. comunistas
Conforme já mencionado, a municipalização foi proposta por Durante o Estado Novo, regime ditatorial de Vargas que
Anísio Teixeira, na década de 1930, para o estabelecimento do durou de 1937 a 1945, oficializou-se o dualismo educacional:
ensino primário de quatro anos de duração, não como reforma ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante
administrativa, mas com o caráter de reforma política, uma vez para as classes populares. As leis orgânicas ditadas nesse
que isso significaria reconhecer a maioridade dos municípios período, por meio de exames rígidos e seletivos, tornavam o
e discutir a necessidade de democratização e de ensino antidemocrático, ao dificultarem ou impedirem o
descentralização do exercício do poder político no país. acesso das classes populares não só ao ensino propedêutico,
A Lei nº 5.692/1971, editada durante a ditadura militar, de nível médio, como também ao ensino superior. O processo
repassou arbitrariamente a tarefa da gestão do ensino de 1 º de democratização do país foi retomado com a deposição de
grau (ensino fundamental) aos governos municipais, sem Vargas em 1945. A industrialização crescente, especialmente
oferecer ao menos as condições financeiras e técnicas para tal nos anos 1950 e 1960, levou à adoção da política de educação
e em uma situação constitucional que nem sequer reconhecia para o desenvolvimento, com claro incentivo ao ensino
a existência administrativa dos municípios. Somente com a técnico-profissional. O golpe de 1964 atrelou a educação ao
Constituição Federal de 1988 o município se legitimou como mercado de trabalho, incentivando a profissionalização na
instância administrativa e a responsabilidade do ensino escola média a fim de conter as aspirações ao ensino superior.
fundamental lhe foi repassada prioritariamente. A A Lei n- 5.692, de 11 de agosto de 1971, ampliou a escolaridade
Constituição ou uma lei, porém, não conseguem sozinhas e mínima para oito anos (ensino de 1 º grau) e tornou
rapidamente descentralizar o ensino e fortalecer o município. profissionalizante, obrigatoriamente, o ensino de 2º grau. A
Essa é tarefa política de longo prazo, associada às formas de evolução quantitativa do 1 º grau - 100 na primeira fase do 1 º
fazer política no país e às questões de concepção do poder. grau (1 ª a 4ª séries) e 700 em suas últimas séries em apenas
Descentralização faz- -se com espírito de colaboração, e a dez anos - não foi acompanhada de melhora qualitativa. Ao

Bibliografia 45
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

contrário, a expansão da oferta de vagas, nos diversos níveis Educação Nova, propondo novas bases pedagógicas e a
de ensino, teve como consequência o comprometimento da reformulação da política educacional.
qualidade dos serviços prestados, em razão da crescente A Constituição de 1934 absorveu apenas parte dessas
degradação das condições de exercício do magistério e da propostas, atribuindo papel relevante ao Estado no controle e
desvalorização do professor. na promoção da educação pública. Essa Constituição instituiu
A expansão das oportunidades, nos vinte anos de dita- o ensino primário obrigatório e gratuito, criou o concurso
dura militar, foi feita através de um padrão perverso", sublinha público para o magistério, conferiu ao Estado o poder
Azevedo 0994, p. 461). A ampliação das vagas deu-se pela fiscalizador e regulador de instituições de ensino públicas e
redução da jornada escolar, pelo aumento do número de particulares e fixou percentuais mínimos para a educação.
turnos, pela multiplicação de classes multisseriadas e uni Os católicos, porém, não foram totalmente tirados de cena.
docentes, pelo achatamento dos salários dos professores e A educação religiosa tornou-se obrigatória na escola pública,
pela absorção de professo- res leigos. O trabalho precoce e o contrariando o princípio liberal da laicidade, os
empobrecimento da população, aliados às condições precárias estabelecimentos privados foram reconheci- dos e legitimou-
de ofereci- mento do ensino, levaram à baixa qualidade do se o papel educativo da família e a liberdade de os pais
processo, com altos índices de reprovação. escolherem a melhor escola para seus filhos, o que mais tarde
Atualmente, o país está sendo vítima dessa política. O foi usado como argumento a favor da destinação de recursos
atraso técnico-científico e cultural brasileiro impede sua financeiros públicos também para as escolas privadas.
inserção no novo reordenamento mundial. A escolaridade Imposta pelo Estado Novo, a Carta Constitucional de 1937
básica e a qualidade do ensino são necessidades da produção atenuou o dever do Estado como educador, instituindo-o como
flexível, e a educação básica falha constitui fator que tolhe a subsidiário, para preencher lacunas ou deficiências da
cornpetitividade internacional do Brasil. educação particular. Em vez de consolidar o ensino público e
Para Azevedo (1994), o problema é que as propostas gratuito como tarefa do Estado, a Carta de 1937 reforçou o
neoliberais e os conteúdos da ideia de qualidade esvaziam-se dualismo educacional que provê os ricos com escolas
de condicionamentos políticos e tornam-se questão técnica, particulares e públicas de ensino propedêutico e confere aos
restringindo o conceito de qualidade à eternização do pobres a condição de usufruir da escola pública mediante a
desempenho do sistema e às parcerias com o setor privado no opção pelo ensino profissionalizante.
que tange às estratégias da política educacional. A qualidade Com a promulgação das leis orgânicas - a chamada
do ensino consiste em desenvolver o espírito de iniciativa, a Reforma Capanema - entre 1942 e 1946, foram desenvolvidos
autonomia para tomar decisões, a capacidade de resolver empreendimentos particulares no ensino profissionalizante,
problemas com criatividade e competência crítica - visando, com o objetivo de preparar melhor a mão de obra em uma fase
porém, atender aos interesses dos grandes blocos econômicos de expansão da indústria, por causa das restrições às
internacionais. A questão é, antes, ético-política, uma vez que importações no período da Segunda Guerra Mundial. O Senai
se processa na discussão dos direitos de cidadania para os foi organizado e dirigido pelos industriais, e o Senac, pelos
excluídos. Por isso, ensino de qualidade para todos constitui, comerciantes. Atualmente, essas duas instituições têm peso
mais do que nunca, dever do Estado em uma sociedade que se significativo no ensino profissional oferecido no país, embora
quer mais justa e democrática. em ritmo decrescente a partir do final dos anos 1980, diante
Na reflexão e no debate sobre a qualidade da educação e do do crescimento do atendimento público gratuito. Nos
ensino, os educadores têm caracterizado o termo "qualidade" primeiros anos do século XXI passaram a atuar, também, em
com os adjetivos social e cidadã - isto é, qualidade social, cursos tecnológicos de nível superior e em programas de
qualidade cidadã -, para diferenciar o sentido que as políticas educação a distância.
oficiais dão ao termo. Qualidade social da educação significa Quando o anteprojeto da primeira LDB iniciou sua
não apenas diminuição da evasão e da repetência, como tramitação em 1948, a maioria das escolas particulares de
entendem os neoliberais, mas refere-se à condição de exercício nível secundário estava nas mãos dos católicos, atendendo à
da cidadania que a escola deve promover. Ser cidadão significa classe privilegiada. Alegando que o projeto determinava o
ser partícipe da vida social e política do país, e a escola monopólio estatal da educação, os católicos defendiam a
constitui espaço privilegiado para esse aprendizado, e não liberdade do ensino e o direito da família de escolher o tipo de
apenas para ensinar a ler, escrever e contar, habilidades educação a ser oferecida aos filhos. Na verdade, essa questão
importantes, mas insuficientes para a promoção da cidadania. impedia a democratização da educação pública, ao incorporar
Além disso, a qualidade social da educação precisa considerar no texto legal a cooperação financeira para as escolas privadas
tanto os fatores externos (sociais, econômicos, culturais, em uma sociedade em que mais da metade da população não
institucionais, legais) quanto os fatores interescolares, que tinha acesso à escolarização.
afetam o processo de ensino-aprendizagem, articulados em Opondo-se a essa postura elitista, os liberais, apoiados por
função da universalização de uma educação básica de intelectuais, estudantes e sindicalistas, iniciaram campanha
qualidade para todos. em defesa da escola pública que culminou, em 1959, com o
Manifesto dos Educadores. Este propunha o uso dos recursos
O embate entre defensores da escola pública e públicos unicamente nas escolas públicas e a fiscalização
privatistas na educação brasileira estatal para as escolas privadas.
A expansão da escola privada foi mais intensa após o golpe
Compreender a educação pública no Brasil supõe conhecer militar de 1964, que instaurou a ditadura militar e beneficiou
como se deram, historicamente, os embates entre os grandemente a iniciativa privada, especialmente no ensino
defensores da escola pública e as forças privatistas, presentes superior.
ao longo da história educacional brasileira. Durante o processo de elaboração da Constituição de 1988,
A gênese da educação brasileira ocorreu com a vinda dos verificou-se novamente o confronto entre publicitas e
jesuítas, que iniciaram a instauração, no ideário educacional, privatistas. No entanto, os privatistas apresentavam novas
dos princípios da doutrina religiosa católica, a educação feições, uma vez que passaram a ser compostos não apenas de
diferenciada pelos sexos e a responsabilidade da família com a grupos religiosos católicos, mas também de protestantes e
educação. Esses princípios, a partir da década de 1920, empresários do ensino. Ideologicamente, atacavam o ensino
chocavam-se com os princípios liberais dos escola novistas público, caracterizado como ineficiente e fracassado,
que publicaram, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da contrastando-o com a suposta excelência da iniciativa privada,
mas ocultando os mecanismos de apoio governamental à rede

Bibliografia 46
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

privada, tais como imunidade fiscal sobre bens, serviços e sociedade e nela interfere. Nessa perspectiva, haveria o
rendas, garantia de pagamento das mensalidades escolares e público estatal e o público privado, definindo a gratuidade
bolsas de estudo. Esses mecanismos mantiveram-se mesmo do ensino apenas em estabelecimentos oficiais, como
após a promulgação da Constituição Federal de 1988. assegura o art. 206 da Constituição Federal de 1988.
Como que reforçando as disparidades entre uma e outra Essa concepção deve-se à política neoliberal, que prega
rede, o descompromisso estatal com a educação pública o Estado mínimo, incluindo até mesmo a privatização ou a
deteriorou os salários dos professores e as condições de minimização da oferta de serviços sociais. Na educação
trabalho, o que gerou greves e mobilizações. A preferência pela básica, orientado até mesmo por organismos internacionais
escola particular ampliou-se por sua aparência de melhor como o Banco Mundial, o Estado deveria atender o ensino
organização e eficácia. Muitas famílias fizeram sacrifícios em público, uma vez que esse nível de educação é considerado
muitos gastos para propiciar um ensino supostamente de imprescindível na organização do trabalho. Tal
melhor qualidade em uma escola particular. atendimento, no entanto, deveria ser conduzido por
A análise de que a escola privada é superior à pública não parârnetros de gestão da iniciativa privada e do mercado,
se sustenta, em geral, por não haver homogeneidade em tais como diversificação, competitividade, seletividade,
nenhuma das redes - há boas e más escolas em ambas -, como eficiência e qualidade. Essa orientação aponta, mais uma
demonstram as análises do Sistema de Avaliação da Educação vez, o beneficiamento das forças privatistas na educação.
Básica (Saeb). Além disso, é nas escolas públicas que se Verifica-se, no entanto, considerável esforço de
encontram os segmentos economicamente menos favorecidos segmentos sociais no âmbito oficial e em associações e
da sociedade. Conforme o Censo Escolar da Educação Básica movimentos de educadores, sobretudo a partir da segunda
de 2010 (Tabela 1 e Gráfico 1): metade da década de 2000, em favor da retomada do
Nos 194.939 estabelecimentos-de educação básica do país protagonizo-o do Estado na área educacional. Nesse
estão matriculados 51.549.889 alunos, sendo que 43.989.507 sentido, cumpre destacar a criação do Fundo de
(85,4) estão em escolas públicas e 7.560.382 (14,6) em escolas Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
da rede privada. As redes municipais são responsáveis por Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em
quase metade das matrículas - 46,0 -, o equivalente a 2007; a Emenda Constitucional nº 59, que torna
23.722.411 alunos, seguida pela rede estadual, que atende a obrigatório o ensino de 4 a 17 anos; as iniciativas que
38,9 do total, o equivalente a 20.031.988. A rede federal, com visam ao aumento dos investimentos públicos na
235.108 matrículas, participa com 0,5 do total (Brasil. educação; a expansão da oferta de educação superior por
MEC/lnep, 2010, p. 3-4). meio das universidades federais; a ampliação da educação
Por esses dados, fica clara a importância da educação profissional e tecnológica mediante a criação de institutos
pública no país e para a democratização da sociedade, uma vez federais de educação, ciência e tecnologia
que ela desempenha papel significativo no processo de
inclusão social.
MANTOAN, Maria Teresa
Tabela 1- Número de matrículas na Educação Básica
por Dependência Administrativa - Brasil 2002-2010
Eglér. Abrindo as escolas às
diferenças, capítulo 5, in:
MANTOAN, Maria Teresa Eglér
(org.) Pensando e Fazendo
Educação de Qualidade. São
Paulo: Moderna, 2001.
MORAN, José. A aprendizagem
de ser educador.
Fonte: MEC/Inep/DEED

Notas: Integração X Inclusão: Escola (De Qualidade) para


1) Não inclui matrículas em turmas de atendimento todos15
complementar.
2) O mesmo aluno pode ter mais de uma matrícula. Sabemos que a situação atual do atendimento às
necessidades escolares da criança brasileira é responsável
Gráfico 1 - Evolução do número de matrículas na pelos índices assustadores de repetência e evasão no ensino
Educação Básica por Dependência Administrativa fundamental. Entretanto, no imaginário social, como na
Brasil - 2002 a 2010 cultura escolar, a incompetência de certos alunos - os pobres e
os deficientes - para enfrentar as exigências da escolaridade
Total Geral --Privada –Pública regular é uma crença que aparece na simplicidade das
Fonte: Brasil (2010). afirmações do senso comum e até mesmo em certos
argumentos e interpretações teóricas sobre o tema.
A partir de meados da década de 1980, com a crise Por outro lado, já se conhece o efeito solicitador do meio
econômica internacional e o desemprego estrutural que escolar regular no desenvolvimento de pessoas com
levaram ao arrocho salarial, a classe média, pressionada deficiências (Mantoan,1988) e é mesmo um lugar comum
pelo custo de vida, buscou retirar do orçamento familiar o afirmar-se que é preciso respeitar os educandos em sua
gasto com mensalidades escolares e foi à procura da escola individualidade, para não se condenar uma parte deles ao
pública. A inadimplência cresceu nas escolas particulares e fracasso e às categorias especiais de ensino. Ainda assim, é
nova ofensiva apresentou-se: a ideia do público não estatal. ousado para muitos, ou melhor, para a maioria das pessoas, a
Público passou a ser entendido como tudo o que se faz na ideia de que nós, os humanos, somos seres únicos, singulares

15 Texto adaptado de MANTOAN, M. T. E. Pensando e Fazendo Educação de

Qualidade. São Paulo: Editora Moderna, 2011.

Bibliografia 47
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

e que é injusto e inadequado sermos categorizados, a qualquer deficientes. Por tratar-se de um constructo histórico recente,
pretexto! Todavia, apesar desses e de outros contrassensos, que data dos anos 60, a integração sofreu a influência dos
sabemos que é normal a presença de déficits em nossos movimentos que caracterizaram e reconsideraram outras
comportamentos e em áreas de nossa atuação, pessoal ou ideias, como as de escola, sociedade, educação. O número
grupal, assim como em um ou outro aspecto de nosso crescente de estudos referentes à integração escolar e o
desenvolvimento físico, social, cultural, por sermos seres emprego generalizado do termo têm levado a muita confusão
perfectíveis, que constroem, pouco a pouco e, na medida do a respeito das ideias que cada caso encerra. Os movimentos em
possível, suas condições de adaptação ao meio. A diversidade favor da integração de crianças com deficiência surgiram nos
no meio social e, especialmente no ambiente escolar, é fator países nórdicos (Nirje, 1969), quando se questionaram as
determinante do enriquecimento das trocas, dos intercâmbios práticas sociais e escolares de segregação, assim como as
intelectuais, sociais e culturais que possam ocorrer entre os atitudes sociais em relação às pessoas com deficiência
sujeitos que neles interagem. intelectual. A noção de base em matéria de integração é o
Acreditamos que o aprimoramento da qualidade do ensino princípio de normalização, que não sendo específico da vida
regular e a adição de princípios educacionais válidos para escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades
todos os alunos, resultarão naturalmente na inclusão escolar humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas
dos deficientes. Em consequência, a educação especial afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou
adquirirá uma nova significação. Tornar-se-á uma modalidade inadaptação. A normalização visa tornar accessível às pessoas
de ensino destinada não apenas a um grupo exclusivo de socialmente desvalorizadas condições e modelos de vida
alunos, o dos deficientes, mas especializada no aluno e análogos aos que são disponíveis de um modo geral ao
dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de novas maneiras conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade; implica a
de se ensinar, adequadas à heterogeneidade dos aprendizes e adoção de um novo paradigma de entendimento das relações
compatível com os ideais democráticos de uma educação para entre as pessoas fazendo-se acompanhar de medidas que
todos. objetivam a eliminação de toda e qualquer forma de rotulação.
Nessa perspectiva, os desafios que temos a enfrentar são
inúmeros e toda e qualquer investida no sentido de se Modalidades de inserção
ministrar um ensino especializado no aluno depende de se
ultrapassar as condições atuais de estruturação do ensino Uma das opções de integração escolar denomina-se
escolar para deficientes. Em outras palavras, depende da fusão mainstreaming, ou seja, "corrente principal" e seu sentido é
do ensino regular com o especial. análogo a um canal educativo geral, que em seu fluxo vai
carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou
Ora, fusão não é junção, justaposição, agregação de uma necessidade específica. O aluno com deficiência mental ou com
modalidade à outra. Fundir significa incorporar elementos dificuldades de aprendizagem, pelo conceito referido, deve ter
distintos para se criar uma nova estrutura, na qual acesso à educação, sua formação sendo adaptada às suas
desaparecem os elementos iniciais, tal qual eles são necessidades específicas. Existe um leque de possibilidades e
originariamente. Assim sendo, instalar uma classe especial em de serviços disponíveis aos alunos, que vai da inserção nas
uma escola regular nada mais é do que uma justaposição de classes regulares ao ensino em escolas especiais. Este processo
recursos, assim como o são outros, que se dispõem do mesmo de integração se traduz por uma estrutura intitulada sistema
modo. de cascata, que deve favorecer o "ambiente o menos restritivo
Outros obstáculos à consecução de um ensino possível", dando oportunidade ao aluno, em todas as etapas da
especializado no aluno, implicam a adequação de novos integração, transitar no "sistema", da classe regular ao ensino
conhecimentos oriundos das investigações atuais em especial. Trata-se de uma concepção de integração parcial,
educação e de outras ciências às salas de aula, às intervenções porque a cascata prevê serviços segregados que não ensejam
tipicamente escolares, que têm uma vocação institucional o alcance dos objetivos da normalização.
específica de sistematizar os conhecimentos acadêmicos, as De fato, os alunos que se encontram em serviços
disciplinas curriculares. De fato, nem sempre os estudos e as segregados muito raramente se deslocam para os menos
comprovações científicas são diretamente aplicáveis à segregados e, raramente, às classes regulares. A crítica mais
realidade escolar e as implicações pedagógicas que podemos forte ao sistema de cascata e às políticas de integração do tipo
retirar de um novo conhecimento também precisam de ser mainstreaming afirma que a escola oculta seu fracasso,
testadas, para confirmar sua eficácia no domínio do ensino isolando os alunos e só integrando os que não constituem um
escolar. O paradigma vigente de atendimento especializado e desafio à sua competência (Doré et alii.,1996). Nas situações
segregativo é extremamente forte e enraizado no ideário das de mainstreaming nem todos os alunos cabem e os elegíveis
instituições e na prática dos profissionais que atuam no ensino para a integração são os que foram avaliados por instrumentos
especial. A indiferenciação entre os significados específicos e profissionais supostamente objetivos. O sistema se baseia na
dos processos de integração e inclusão escolar reforça ainda individualização dos programas instrucionais, os quais devem
mais a vigência do paradigma tradicional de serviços e muitos se adaptar às necessidades de cada um dos alunos, com
continuam a mantê-lo, embora estejam defendendo a deficiência ou não.
integração! A outra opção de inserção é a inclusão, que questiona não
somente as políticas e a organização da educação especial e
Ocorre que os dois vocábulos - integração e inclusão - regular, mas também o conceito de integração -
conquanto tenham significados semelhantes, estão sendo mainstreaming. A noção de inclusão não é incompatível com a
empregados para expressar situações de inserção diferentes e de integração, porém institui a inserção de uma forma mais
têm por detrás posicionamentos divergentes para a radical, completa e sistemática. O conceito se refere à vida
consecução de suas metas. A noção de integração tem sido social e educativa e todos os alunos devem ser incluídos nas
compreendida de diversas maneiras, quando aplicada à escola. escolas regulares e não somente colocados na "corrente
Os diversos significados que lhe são atribuídos devem-se ao principal". O vocábulo integração é abandonado, uma vez que
uso do termo para expressar fins diferentes, sejam eles o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de alunos que já
pedagógicos, sociais, filosóficos e outros. O emprego do foram anteriormente excluídos; a meta primordial da inclusão
vocábulo é encontrado até mesmo para designar alunos é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde
agrupados em escolas especiais para deficientes, ou mesmo o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de se
em classes especiais, grupos de lazer, residências para constituir o sistema educacional que considera as

Bibliografia 48
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função contínua. Testemunho impresso nos seus gestos e
dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança de personalidade de que evolui, aprende, se humaniza, se torna
perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente uma pessoa mais aberta, acolhedora, compreensiva.
os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a
todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que Testemunha viva, também, das dificuldades de aprender,
obtenham sucesso na corrente educativa geral. O impacto das dificuldades em mudar, das contradições no cotidiano; de
desta concepção é considerável, porque ela supõe a abolição aprender a compreender-se e a compreender.
completa dos serviços segregados (Doré et alii. 1996). A
metáfora da inclusão é a do caleidoscópio. Esta imagem foi Com o passar do tempo ele vai mostrando uma trajetória
muito bem descrita no que segue: "O caleidoscópio precisa de coerente, de avanços, de sensatez e firmeza. Passa por etapas
todos os pedaços que o compõem. Quando se retira pedaços em que se sente perdido, angustiado, fora de foco. Retoma o
dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. As rumo, depois, revigorado, estimulado por novos desafios, pelo
crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um contato com seus alunos, pela vontade de continuar vivendo,
ambiente rico e variado" (Forest et Lusthaus, 1987). A inclusão aprendendo, realizando-se e frustrando-se, às vezes, mas
propiciou a criação de inúmeras outras maneiras de se realizar mantendo o impulso de avançar.
a educação de alunos com deficiência mental nos sistemas de
ensino regular, como as "escolas heterogêneas" (Falvey et alii., Há momentos em que se sente perdido, desmotivado.
1989), as "escolas acolhedoras" (Purkey et Novak, 1984), os Educar tem muito de rotina, de repetição, de decepção. É um
"currículos centrados na comunidade" (Peterson et alii., campo cada vez mais tomado por investidores, por pessoas
1992). Resumindo, a integração escolar, cuja metáfora é o que buscam lucros fáceis. Ele se sente parte de uma máquina,
sistema de cascata, é uma forma condicional de inserção em de uma engrenagem que cresce desproporcionalmente. Sente-
que vai depender do aluno, ou seja, do nível de sua capacidade se, em alguns momentos, insignificante, impotente, um
de adaptação às opções do sistema escolar, a sua integração, número que pode ser substituído por muitos colegas ansiosos
seja em uma sala regular, uma classe especial, ou mesmo em por encontrar trabalho. Sabe que sua experiência é
instituições especializadas. Trata-se de uma alternativa em importante, mas também que a concorrência é grande e que há
que tudo se mantém, nada se questiona do esquema em vigor. muita gente disposta a ensinar por salários menores.
Já a inclusão institui a inserção de uma forma mais radical,
completa e sistemática, uma vez que o objetivo é incluir um Ensinar tem momentos “glamourosos”, em que os alunos
aluno ou grupo de alunos que não foram anteriormente participam, se envolvem, trazem contribuições significativas.
excluídos. A meta da inclusão é, desde o início não deixar Mas muitos outros momentos são banais; parece que nada
ninguém fora do sistema escolar, que terá de se adaptar às acontece. É um entra e sai de rostos que se revezam no mesmo
particularidades de todos os alunos para concretizar a sua ritmo semanal de aula, exercícios, mais aulas, provas,
metáfora - o caleidoscópio. correções, notas, novas aulas, novas atividades.... A rotina
corrói uma parte do sonho, a engrenagem despersonaliza; a
Considerações finais multiplicação de instituições escolares torna previsíveis as
atividades profissionais. Há um aumento de oferta profissional
De certo que a inclusão se concilia com uma educação para (mais vagas para ser professor), junto com uma diminuição
todos e com um ensino especializado no aluno, mas não se das exigências para a profissão (mais fácil ter diploma, muitos
consegue implantar uma opção de inserção tão revolucionária estudantes em fase final são contratados, aumenta a
sem enfrentar um desafio ainda maior: o que recai sobre o concorrência). A tentação da mediocridade é real. Basta ir
fator humano. Os recursos físicos e os meios materiais para a tocando para ficar anos como docente, ganhar um salário
efetivação de um processo escolar de qualidade cedem sua seguro, razoável. Os anos vão passando e quando o professor
prioridade ao desenvolvimento de novas atitudes e formas de percebe já está na fase madura e se tornou um docente
interação, na escola, exigindo mudanças no relacionamento acomodado.
pessoal e social e na maneira de se efetivar os processos de
ensino e aprendizagem. Nesse contexto, a formação do pessoal As etapas de aprendizagem a ser docente
envolvido com a educação é de fundamental importância, Apesar de que cada docente tem sua trajetória, há pontos
assim como a assistência às famílias, enfim, uma sustentação da evolução profissional coincidentes. Relato a seguir uma
aos que estarão diretamente implicados com as mudanças é síntese de questões que costumam acontecer – com muitas
condição necessária para que estas não sejam impostas, mas variáveis - na trajetória de muitos professores, a partir da
imponham-se como resultado de uma consciência cada vez minha observação e experiência.
mais evoluída de educação e de desenvolvimento humano.
A iniciação
A aprendizagem de ser educador16
Recém formado, o novo professor começa a ser chamado
Pesquisador, Professor, Conferencista e Orientador de para substituir um colega em férias, uma professora em licença
projetos inovadores na educação. maternidade, dá algumas aulas no lugar de professores
Este texto faz parte do meu livro A educação que ausentes. Ele ainda se confunde com o aluno, intimamente se
desejamos: Novos desafios e como chegar lá, p. 74-81 sente aluno, mas percebe que é visto pelos alunos como uma
mistura de professor e aluno. Ele luta para se impor, para
O educador é especialista em conhecimento, em impressionar, para ser reconhecido. Prepara as aulas, traz
aprendizagem. Como especialista, espera-se que ao longo dos atividades novas, se preocupa em cativar os alunos, em ser
anos aprenda a ser um profissional equilibrado, experiente, aceito. Sente medo de ser ridicularizado em público com
evoluído; que construa sua identidade pacientemente, alguma pergunta impertinente ou muito difícil. Tem medo dos
integrando o intelectual, o emocional, o ético, o pedagógico. que o desafiam, dos alunos que não ligam para as suas aulas,
dos que ficam conversando o tempo todo. Procura ser
O educador pode ser testemunha viva da aprendizagem inovador e, ao mesmo tempo, percebe que reproduz algumas

16http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/educacao_inovadora/apr

end.pdf

Bibliografia 49
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

técnicas de lecionar que vivenciou como aluno, algumas até Olha para trás e vê muitos recém formados ansiosos para
criticadas. É uma etapa de aprendizagem, de insegurança, de entrar de qualquer jeito, ganhando menos do que ele. E esses
entusiasmo e de muito medo de fracassar. jovens “petulantes” têm outra linguagem, dominam mais a
Internet, estão cheios de ideias. Embora faça cursos de
O tempo passa, os alunos vão embora, chegam outros em atualização, sente-se em muitos pontos ultrapassado. Sempre
outro semestre e o processo recomeça. Agora já tem uma foi preparado para dar respostas, para ser o centro do saber e
noção mais clara do que o espera; planeja com mais segurança agora descobre que não tem certezas, que cada vez sabe
o novo semestre, repete alguns “macetes” que deram certo até menos, que há muitas variáveis para uma mesma questão e
agora, busca alguns textos diferentes, inova um pouco, arrisca que novas pesquisas questionam verdades que pareciam
mais. Vê que algumas atividades funcionam sempre e outras definitivas. Essa sensação de estar fora do lugar, de
não tanto. Descobre que cada turma tem comportamentos inadequação vai aumentando e um dia explode. A crise se
semelhantes, mas que reage de forma diferente às mesmas generaliza. Nada faz sentido. A depressão toma conta dele. Não
propostas e assim vai, por tentativa e erro, aprendendo a tem mais vontade de levantar, chega atrasado. Justifica cada
diversificar, a desenvolver um “feeling” de como está cada vez mais suas faltas.
classe, de quando vale a pena insistir na aula teórica planejada
e quando tem que introduzir uma nova dinâmica, contar uma Mudanças
história, passar um vídeo, encurtar o fim da aula, etc.
Diante das crises, alguns professores desistem, entregam a
A consolidação toalha. Procuram algumas saídas, fugas e terminam se
acalmando e acomodando. Tornam-se previsíveis, repetitivos.
De semestre em semestre o jovem professor vá
consolidando o seu jeito de ensinar, de lidar com os alunos, as Outros, diante da insatisfação, procuram uma nova
áreas de atuação. Consegue ter maior domínio de todo o atividade profissional mais empolgante e deixam as aulas
processo. Isso lhe dá segurança, tranquilidade. Os colegas e como complemento, como “bico”.
coordenadores vão indicando-o para novas turmas, novas
disciplinas, novas instituições. Multiplica o número de aulas. E encontramos os que nas crises procuram refletir sobre
Aumenta o número de alunos. É frequente, no ensino superior sua vida profissional e pessoal. Tentam encontrar caminhos,
particular, um professor ter entre mais de quinhentos alunos reaprender a aprender. Atualizam-se, observam mais,
por semana. Forma uma família. Vira um “tocador” de aulas. conversam, meditam. Aos poucos buscam uma nova síntese,
Cada vez precisa aumentar mais o número de aulas, para um novo foco. Começam pelo externo, por estabelecer um
manter a renda. relacionamento melhor com os alunos, procuram escutá-los
mais. Preparam melhor as aulas, utilizam novas dinâmicas,
Desenvolve algumas fórmulas para se poupar. Repete o novas tecnologias. Leem novos autores, abrem novos
mesmo texto em várias turmas e, às vezes, em várias horizontes. Refletem mais, ouvem mais. Descobrem que
disciplinas. Utiliza um mesmo vídeo para diversos temas. Dá precisam aceitar-se melhor, ser mais humildes e confiantes. E
trabalhos bem parecidos para turmas diferentes, em grupo. Lê assim, pouco a pouco, redescobrem o prazer de ler, de
cada vez mais rapidamente os trabalhos e as provas. Faz aprender, de ensinar, de viver. Estão mais atentos ao que
comentários genéricos: Continue assim, “insuficiente”, acontece ao seu lado e dentro de si. Procuram simplificar a
“esforce-se mais”, “parabéns”, “interessante”. Prepara as aulas vida, consumir menos, relaxar mais. Veem exemplos de
encima da hora, com poucas mudanças. Repete fórmulas, pessoas que envelhecem motivados para aprender e isso lhes
métodos, técnicas aprendidos por longo tempo. dá estímulo para seguir adiante, para renovar-se todos os dias.
Tornam-se mais humanos, acolhedores, compreensivos,
Crises de identidade tolerantes, abertos. Dialogam mais, ouvem mais, prestam mais
atenção. Com o assar do tempo percebem que, apesar das
Sempre há alguma crise, mas esta é diferente: pega o contradições, evoluíram muito e redescobriram o prazer de
professor de cheio. Aos poucos o dar aula se torna cansativo, ensinar e de viver. “Sinto-me como alguém que envelhece
repetitivo, insuportável. Parece que alguns coordenadores são crescendo”17. Esta é a atitude maravilhosa de quem gosta de
mais “chatos”, “pegam mais no pé”. Algumas turmas de alunos aprender. O aprender dá sentido à vida, a todos os momentos
também “não querem nada com nada”. As reuniões de da vida, mesmo quando ela está no fim.
professores são todas iguais, pura perda de tempo. Os salários
são baixos. Outros colegas mostram que ganham mais em Tem professores que se burocratizam na profissão. Outros
outras profissões. Renova-se a dúvida: vale a pena ficar como se renovam com o tempo, se tornam pessoas mais humanas,
está ou dar uma guinada profissional? ricas e abertas. As chances são as mesmas, os cursos feitos, os
mesmos; os alunos, também são iguais. A diferença é que
Por enquanto “vai tocando”. Torce para que haja muitos uma parte muda de verdade, busca novos caminhos e a outra
feriados, para que os alunos não venham em determinados se acomoda na mediocridade, se esconde nos ritos repetidos.
dias. Qualquer motivo justifica não dar aula. Cria muitas Muitos professores se arrastam pelas salas de aula, enquanto
atividades durante a aula: leituras em grupo, pesquisa na outros, nas mesmas circunstâncias, encontram forças para
biblioteca, na Internet, vídeos longos e isso lhe permite continuar, para melhorar, para realizar-se.
descansar um pouco, ficar na sala dos professores, poupar a
voz. O educador bem sucedido
Muitas vezes essa crise profissional vem acompanhada de
uma crise afetiva. Sente-se intimamente bastante só, apesar Por que, nas mesmas escolas, nas mesmas condições, com
das aparências. E em algum momento a crise bate mais fundo: a mesma formação e os mesmos salários, uns professores são
“o que é que eu faço aqui?” “Qual é o sentido da minha vida?” bem aceitos, conseguem atrair os alunos e realizar um bom
Tem tanta gente que sabe menos e está melhor! Como trabalho profissional e outros, não?
defender uma sociedade mais justa num país onde só os Não há uma única forma ou modelo. Depende muito da
mesmos ficam mais e mais ricos? personalidade, competência, facilidade de aproximar e

17Carl ROGERS. Um jeito de ser, p. 33.

Bibliografia 50
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

gerenciar pessoas e situações. Uma das questões que aproximação mais rápida: valorizar a rapidez, a facilidade com
determina o sucesso profissional maior ou menor do educador que crianças e jovens se expressam tecnologicamente ajuda a
é a capacidade de relacionar-se, de comunicar-se, de motivar o motivar os alunos, a que queiram se envolver mais. Podemos
aluno de forma constante e competente. Alguns professores aproximar nossa linguagem da deles, mas sempre será muito
conseguem uma mobilização afetiva dos alunos pelo seu diferente. O que facilita são as entrelinhas da comunicação
magnetismo, simpatia, capacidade de sinergia, de estabelecer linguística: a entonação, os gestos aproximadores, a gestão de
um “rapport” , uma sintonia interpessoal grande. É uma processos de participação e acolhimento, dentro dos limites
qualidade que pode ser desenvolvida, mas alguns a possuem sociais e acadêmicos possíveis.
em grau superlativo, a exercem intuitivamente, o que facilita o O educador não precisa ser “perfeito” para ser um bom
trabalho pedagógico. profissional. Fará um grande trabalho na medida em que se
Uma das formas de estabelecer vínculos é mostrar genuíno apresente da forma mais próxima ao que ele é naquele
interesse pelos alunos. Os professores de sucesso não se momento, que se “revele” sem máscaras, jogos. Quando se
preparam para o fracasso, mas para o sucesso nos seus cursos. mostre como alguém que está atento a evoluir, a aprender, a
Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com ensinar e a aprender. O bom educador é um otimista, sem ser
os alunos e para isso os aceitam afetivamente antes de os ‘ingênuo”. Consegue “despertar”, estimular, incentivar as
conhecerem, se predispõem a gostar deles antes de começar melhores qualidades de cada pessoa.
um novo curso. Essa atitude positiva é captada consciente e
inconscientemente pelos alunos que reagem da mesma forma,
dando-lhes crédito, confiança, expectativas otimistas. O
contrário também acontece: professores que se preparam MOURA, Daniela Pereira de.
para a aula prevendo conflitos, que estão cansados da rotina, Pedagogia de Projetos:
passam consciente e inconscientemente esse mal-estar que é contribuições para uma
correspondido com a desconfiança dos alunos, com o
distanciamento, com barreiras nas expectativas. educação transformadora.
É muito tênue o que fazemos em aula para facilitar a Publicado em: 29/10/2010.
aceitação ou provocar a rejeição. É um conjunto de intenções,
gestos, palavras, ações que são traduzidos pelos alunos como
positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de
participar de um processo grupal de aprendizagem, de uma Pedagogia de Projetos: Contribuições para Uma
aventura pedagógica (desejo de aprender) ou, pelo contrário, Educação Transformadora18
levantam barreiras, desconfianças, que desmobilizam.
O sucesso pedagógico depende também da capacidade de Daniela Pereira de Moura
expressar competência intelectual, de mostrar que
conhecemos de forma pessoal determinadas áreas do saber, A Educação de hoje precisa atender a uma clientela que
que as relacionamos com os interesses dos alunos, que exige e que também é exigida cada vez mais. Pois, o mundo está
podemos aproximar a teoria da prática e a vivência da reflexão mudando e consequentemente, a educação deve inserir-se
teórica. nessa mudança a fim de não perder sua finalidade. A Pedagogia
A coerência entre o que o professor fala e o que faz, na vida de Projetos busca ressignificar a escola dentro da realidade
é um fator importante para o sucesso pedagógico. Se um contemporânea, transformando-a em um espaço significativo
professor une a competência intelectual, a emocional e a ética de aprendizagem para todos que dela fazem parte, sem perder
causa um profundo impacto nos alunos. Estes estão muito de vista a realidade cultural dos envolvidos no processo. Diz
atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A respeito a uma mudança de postura, o que exige o repensar da
pessoa fala mais que as palavras. A junção da fala competente prática pedagógica. Essa postura em se trabalhar com Projetos
com a pessoa coerente é poderosa didaticamente. contribui de forma efetiva na formação integral do educando,
As técnicas de comunicação também são importantes para criando condições de desenvolvimento cognitivo e social.
o sucesso do professor. Um professor que fala bem, que conta Nessa postura, aprende-se participando, tomando decisões,
histórias interessantes, que tem feeling para sentir o estado de discutindo problemas, trazendo uma nova perspectiva para
ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe entendermos o processo de ensino e aprendizagem e
jogar com as metáforas, o humor, que usa as tecnologias tornando-o mais democrático. Aprender deixa de ser um
adequadamente, sem dúvida consegue bons resultados com os simples ato de memorização e ensinar não significa mais
alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda , repassar simplesmente conteúdos prontos. No trabalho por
que traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de Projetos o sujeito educando constrói seu processo de aquisição
organizar o processo de ensino-aprendizagem. do conhecimento com a mediação do educador, assim,
Ensinar sempre será complicado pela distância profunda educandos e educadores têm a oportunidade de transformar a
que existe entre adultos e jovens. Por outro lado, essa distância ação educativa, tornando-a prazerosa e mais significativa. Essa
nos torna interessantes, justamente porque somos diferentes. postura em se trabalhar com Projetos contribui de forma
Podemos aproveitar a curiosidade que suscita encontrar uma efetiva na formação integral do educando, criando condições
pessoa com mais experiência, realizações e fracassos. Um dos de desenvolvimento cognitivo e social.
caminhos de aproximação ao aluno é pela comunicação
pessoal de vivências, histórias, situações que o aluno ainda não INTRODUÇÃO
conhece em profundidade. Outro é o da comunicação afetiva, O mundo contemporâneo exige cada vez mais que o
da aproximação pelo gostar, pela aceitação do outro como ele indivíduo seja um ser completo para atuar no mundo do
é e encontrar o que nos une, o que nos identifica, o que temos trabalho e na sociedade. Este ser necessita, para isso, de
em comum. conhecimento – visto aqui como as descobertas construídas ao
Um professor que se mostra competente e humano, longo da história humana – e de incorporar valores que irão
afetivo, compreensivo atrai os alunos. Não é a tecnologia que permear suas atitudes de convivência saudável nas suas
resolve esse distanciamento, mas pode ser um caminho para a relações interpessoais.

18http://www.pedagogia.com.br/artigos/pedegogiadeprojetos/index.php?p

agina=0

Bibliografia 51
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Diante dessas aspirações, anseios e necessidades dos a educação brasileira precisa mudar. Ninguém discorda
indivíduos e das exigências do mundo atual, a escola, enquanto desta afirmação. Vivemos, e não é de hoje o que se costuma
instituição de educação tem um papel importante: promover denominar de “crise do ensino”. […] não estamos diante de
uma educação que considere o educando em sua totalidade, uma opção, mas de uma necessidade de mudança. Mudar é
vendo-o não só como aluno, mas como pessoa. questão, agora, de sobrevivência!
Assim, percebemos que os paradigmas que envolvem a No mundo contemporâneo a escola tem lugar importante,
educação precisam ser repensados e revistos de modo que mas é necessário que mudem o seu paradigma e se submetam
atendam as expectativas da sociedade atual. Para isso, é a uma renovação permanente em termos de redefinição de sua
necessária uma nova abordagem na prática educativa que missão e busca constante de sua identidade. Que sejam
contemplem a aquisição não só do conhecimento formalizado, capazes de fazer a autocrítica de suas práticas e deixem de ser
mas também, de atitudes favoráveis como o respeito, a escolas congeladas numa postura autoritária e, por vezes até
responsabilidade, a autonomia, a cooperação, enfim, valores terrorista, de provas, reprovação, repetência e submissão.
éticos tão necessários no mundo de hoje. Modelo tirânico de destruição da auto-estima, da curiosidade,
Assim, o presente Artigo discorre sobre a importância do da cooperação, do respeito mútuo, da responsabilidade, do
trabalho por projetos como um instrumento importante para compromisso, da autonomia, do bom caráter e da alegria de
uma construção significativa e compartilhada do aprender.
conhecimento, contribuindo para uma educação Em meio a essa crise de identidade e função social da
transformadora, mostrando-se como um meio capaz de escola, começam a surgir novas reflexões e concepções de
devolver à escola seu papel de espaço educativo e de educação que devolvam à escola o seu papel de espaço
transformação social. educativo e de transformação social, visando recuperar os
Essa postura de se trabalhar por meio de projetos auxilia laços entre educação escolar significativa e a prática social,
na formação integral dos indivíduos, já que cria diversas conciliando aprendizagem escolar com uma formação mais
oportunidades de aprendizagem conceitual, atitudinal, integral.
procedimental para os mesmos. É nesse contexto e dentro dessa polêmica que a discussão
A discussão deste tema tem o objetivo de contribuir para a sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que
reflexão de um novo olhar sobre o trabalho por projetos no é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre
ambiente escolar, onde a incorporação de novas atitudes e uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos.
valores incentive a construção de uma mentalidade Hoje, muito se tem falado na formação de indivíduos
democrática entre educadores e educandos, bem como capazes de atuarem na sociedade de maneira participativa,
analisar as contribuições do trabalho por projetos para a crítica, reflexiva, autônoma, solidária. Pois bem, o trabalho por
formação integral do educando, objetiva ainda, compreender projetos suscita nos educandos todas essas qualidades e
as novas reflexões e concepções exigidas na muitas outras necessárias a formação integral que contribua
contemporaneidade no que se refere à não só para a vida escolar (preparação para a vida futura)
educação/conhecimento/formação do aluno e também de como também para a vida social do educando (que acontece
identificar as vivências sociais dos alunos para que se possa no momento presente). De acordo com o artigo 1º, parágrafo
valorizá-las e contextualizá-las na prática educativa. 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN
A abordagem deste tema perpassa por uma extensa (1996), a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do
pesquisa bibliográfica apoiada por instrumentos trabalho e à prática social.
bibliográficos diversos como livros, artigos de revistas “A educação é um processo de vida e não uma preparação
especializadas no campo da educação, fitas em VHS, artigos para a vida futura e a escola deve representar a vida presente
encontrados em sites especializados em educação. – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no
O referencial teórico perpassa pelas teorias de Paulo Freire bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).
(1983), Fernando Hernandez (1998), Lúcia Helena Alvarez Com isso, Dewey quis dizer que além das preocupações em
Leite e Verônica Mendez (2000), Antoni Zaballa (1998) e formar o aluno para ser capaz de ler, escrever, interpretar,
tantos outros relacionados na referência bibliográfica, que realizar operações matemáticas, ter conhecimentos sobre as
buscaram em seus estudos sobre o tema, mostrar sua várias áreas do saber como a Física, Biologia, Química, por
importância e relevância para a contribuição de uma prática exemplo – preparando-o para se inserir na vida profissional –
transformadora da educação, tão necessária nos tempos deve também se preocupar em formar os valores morais e
atuais. éticos que são inerentes aos humanos, como a autonomia, a
Nesse trabalho buscaremos discutir sobre a relevância em solidariedade, a coletividade, o respeito ao próximo, a auto-
se apoiar a ação educativa na prática do trabalho por Projetos, estima positiva, para assim se tornarem indivíduos completos.
buscando uma formação globalizada que transforme o O trabalho por projetos contribui de forma significativa
processo de construção do conhecimento, permitindo-o ser para a educação nesse mundo atual, indo de encontro com as
dinâmico, compartilhado, contextualizado, prazeroso e exigências da sociedade moderna, pois o trabalho por projetos
significativo para educandos e educadores. envolve um processo de construção, participação, cooperação,
noções de valor humano, solidariedade, respeito mútuo,
1 PEDAGOGIA DE PROJETOS: PERSPECTIVAS PARA A tolerância e formação da cidadania tão necessários à
EDUCAÇÃO DOS NOVOS TEMPOS sociedade emergente.
Diante das transformações que vêm ocorrendo na Trabalhar com projetos possibilita:
sociedade moderna, a concepção de escola e sua função social O resgate do educando para o processo de ensino-
precisa ser revista, repensada, pois a educação autoritária, aprendizagem (conhecimento) através de um processo
compartimentada, com currículo fragmentado e distanciado significativo;
das transformações sociais e das vidas dos alunos, onde o A recuperação da auto-estima positiva do educando;
sujeito educando não tem autonomia e participação na Que o educando se reconheça como sujeito histórico;
construção de seus saberes, está perdendo seu significado. O desenvolvimento do raciocínio lógico, lingüístico e a
Esse modelo de escola vem sendo questionado o que leva a formação de conceitos;
necessidade de mudança de paradigmas voltados para um O desenvolvimento da capacidade de buscar e interpretar
ensino/aprendizagem que considerem os objetivos dos informações;
indivíduos frente a essa nova sociedade. Segundo ROSA A condução, pelo aluno, do seu próprio processo de
(1994), aprendizagem;

Bibliografia 52
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O desenvolvimento de atitudes favoráveis a uma vida trabalho como Projetos, é que ele permite que o aluno
cooperativa; desenvolva uma atitude ativa e reflexiva diante de suas
A realização do ensino baseado na compreensão e na aprendizagens e do conhecimento, na medida em que percebe
interdisciplinaridade . o sentido e o significado do conhecimento para a sua vida, para
A proposta do trabalho por Projetos deve estar a sua compreensão do mundo.
fundamentada numa concepção do educando como sujeito de
direitos, ser social e histórico, participante ativo no processo 2.1 PEDAGOGIA DE PROJETOS: MÉTODO OU POSTURA
de construção de conhecimentos e deve assegurar: PEDAGÓGICA?
Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da Não podemos entender a prática por projetos como uma
solidariedade e do respeito ao bem comum; atividade meramente funcional, regular, metódica.
Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do A Pedagogia de Projetos não é um método, pois a idéia de
exercício da criticidade e do respeito à democracia; método é de trabalhar com objetivos e conteúdos pré-fixados,
Princípios estéticos e culturais da sensibilidade, da pré-determinados, apresentando uma sequencia regular,
criatividade, da ludicidade e da diversidade das manifestações prevista e segura, refere-se à aplicação de fórmulas ou de uma
artísticas e culturais; série de regras.
O respeito à identidade e particularidades pessoais; Trabalhar por meio de Projetos é exatamente o oposto,
A integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, pois nele, o ensino-aprendizagem se realiza mediante um
cognitivos e sociais. percurso que nunca é fixo, ordenado. O ato de projetar requer
Com essas contribuições significativas do trabalho por abertura para o desconhecido, para o não-determinado e
Projetos o educando se insere de forma efetiva e prática na flexibilidade para reformular as metas e os percursos à medida
sociedade contemporânea. A educação e a prática educativa que as ações projetadas evidenciam novos problemas e
tornam-se fundamental para que o indivíduo alcance todas as dúvidas.
condições necessárias para se tornar cidadão ativo. Com isso, Fernando Hernández (1998) vem discutindo o tema e
a escola resgata e sustenta a sua finalidade que é formar define os projetos de trabalho não como uma metodologia,
cidadãos educados no real sentido que esta palavra implica. mas como uma concepção de ensino, uma maneira diferente
de suscitar a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos
2 CONCEITUANDO “PEDAGOGIA DE PROJETOS” que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir sua
A origem da palavra projeto deriva do latim projectus, que própria identidade.
significa algo lançado para frente é sair de onde se encontra O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de
em busca de novas soluções. O trabalho com projetos constitui ensino e aprendizagem e, conseqüentemente, na postura do
uma das posturas metodológicas de ensino mais dinâmica e professor. Hernández (1988) enfatiza ainda que o trabalho por
eficiente, sobretudo pela sua força motivadora e projeto não deve ser visto como uma opção puramente
aprendizagens em situação real, de atividade globalizada e metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da
trabalho em cooperação. escola. Leite (1996) apresenta os Projetos de Trabalho não
O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, como uma nova técnica, mas como uma pedagogia que traduz
para o não-determinado e flexibilidade para reformular as uma concepção do conhecimento escolar.
metas à medida que as ações projetadas evidenciam novos Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de projetos é
problemas e dúvidas. vista pelo seu caráter de potencializar a interdisciplinaridade.
A Pedagogia de Projetos é a construção de uma prática Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite
pedagógica centrada na formação global dos alunos. romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o
Para que os processos de aprendizagem aconteçam nessa estabelecimento de elos entre as diferentes áreas de
perspectiva, porém, é necessário que haja uma alteração conhecimento numa situação contextualizada da
profunda na forma de compreensão e organizar o aprendizagem.
conhecimento. Essa alteração supõe uma redefinição não A Pedagogia de Projetos é um meio de trabalho pertinente
apenas dos conteúdos escolares, mas também dos tempos, ao processo de ensino-aprendizagem que se insere na
espaços e processos educativos, bem como do agrupamento de Educação promovendo-a de maneira significativa e
alunos, ou seja, daquilo que conhecemos por classe ou turma, compartilhada, auxiliando na formação integral dos indivíduos
e que se constituiu historicamente como a unidade permeado pelas diversas oportunidades de aprendizagem
organizativa do trabalho escolar. conceitual, atitudinal, procedimental para os mesmos. Os
Os Projetos de Trabalho traduzem, portanto, uma visão projetos de trabalho não se inserem apenas numa proposta de
diferente do que seja conhecimento e currículo e representam renovação de atividades, tornando-as criativas, e sim numa
uma outra maneira de organizar o trabalho na escola. mudança de postura que exige o repensar da prática
Caracterizam-se pela forma de abordar um determinado tema pedagógica, quebrando paradigmas já estabelecidos.
ou conhecimento, permitindo uma aproximação da identidade Possibilita que os alunos, ao decidirem, opinarem,
e das experiências dos alunos, e um vínculo dos conteúdos debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com
escolares entre si e com os conhecimentos e saberes o social, formando-se como sujeitos culturais e cidadãos.
produzidos no contexto social e cultural, assim como com Será necessário oportunizar situações em que os alunos
problemas que dele emergem. Dessa forma, eles ultrapassam participem cada vez mais intensamente na resolução das
os limites das áreas e conteúdos curriculares tradicionalmente atividades e no processo de elaboração pessoal, em vez de se
trabalhados pela escola, uma vez que implicam o limitar a copiar e reproduzir automaticamente as instruções
desenvolvimento de atividades práticas, de estratégias de ou explicações dos professores. Por isso, hoje o aluno é
pesquisa, de busca e uso de diferentes fontes de informação, convidado a buscar, descobrir, construir, criticar, comparar,
de sua ordenação, análise, interpretação e representação. dialogar, analisar, vivenciar o próprio processo de construção
Implicam igualmente atividades individuais, de grupos/quipes do conhecimento. (ZABALLA, 1998)
e de turma(s), da escola, tendo em vista os diferentes O fato de a pedagogia de projetos não ser um método para
conteúdos trabalhados (atitudinais, procedimentos, ser aplicado no contexto da escola dá ao professor uma
conceituais), as necessidades e interesses dos alunos. liberdade de ação que habitualmente não acontece no seu
Ao estudá-los, as crianças e os jovens realizam contato com cotidiano escolar. O compromisso educacional do professor é
o conhecimento não como algo pronto e acabado, mas como justamente saber O QUÊ, COMO, QUANDO e POR QUE
algo controverso. Um dos aspectos mais importantes, no desenvolver determinadas ações pedagógicas. E para isto é

Bibliografia 53
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

fundamental conhecer o processo de aprendizagem do aluno e como o uso que eles fazem desse espaço, através das relações
ter clareza da sua intencionalidade pedagógica. que mantêm entre si — campo de preocupações da Geografia
Mais do que uma técnica atraente para transmissão dos Humana. Ao buscar essa compreensão, a Geografia recorre a
conteúdos, como muitos pensam, a proposta da Pedagogia de conhecimentos produzidos por outras Ciências Humanas,
Projetos é promover uma mudança na maneira de pensar e como a Sociologia, a Economia etc., e também a conhecimentos
repensar a escola e o currículo na prática pedagógica. Com a produzidos pelas Ciências da Natureza, ou Ciências Físicas,
re-interpretação atual da metodologia, esse movimento tem Químicas e Biológicas.
fornecido subsídios para uma pedagogia dinâmica, centrada A Sociologia focaliza as relações que os homens travam
na criatividade e na atividade discentes, numa perspectiva de entre si, no seu espaço e no seu tempo. Busca compreender as
construção do conhecimento pelos alunos, mais do que na relações de trabalho, familiares, de lazer, religiosas, de poder,
transmissão dos conhecimentos pelo professor. bem como a inter-relação dessas relações na sua organização
e funcionamento simultâneos. Para isso recorre ao
3 ANALOGIA ENTRE CONSTRUTIVISMO E PEDAGOGIA DE conhecimento produzido por outras Ciências Humanas como
PROJETOS a Economia — que tem como centro de seus estudos as
O Construtivismo e a Pedagogia de Projetos tem em relações de produção e distribuição de bens necessários à
comum a insatisfação com um sistema educacional que teima sobrevivência
em continuar essa forma particular de transmissão que —, a Política — que busca apreender as relações de
consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já dominação, subordinação e resistência desenvolvidas pelos
está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a agrupamentos humanos na sua convivência etc.
partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela A Antropologia centraliza seus estudos nos homens e nos
sociedade. produtos de suas ações. Empenha-se em adquirir
Na Pedagogia de Projetos a relação ensino/aprendizagem conhecimentos sobre o ser humano enquanto uma espécie
é voltada para a construção do conhecimento de maneira animal, dentro da escala zoológica — campo de preocupações
dinâmica, contextualizada, compartilhada, que envolva da chamada Antropologia Física — e também sobre as criações
efetivamente a participação dos educandos e educadores num humanas — campo de preocupações da chamada Antropologia
processo mútuo de troca de experiências. Nessa postura a Cultural. Utiliza tanto
aprendizagem se torna prazerosa, pois ocorre a partir dos conhecimentos produzidos por outras Ciências Humanas,
interesses dos envolvidos no processo, da realidade em que como a Sociologia, a História e a Economia, como
estes estão inseridos, o que ocasiona motivação, satisfação em conhecimentos produzidos pelas Ciências da Natureza ou
aprender. Ciências Físicas, Químicas e Biológicas.
A História procura estudar o homem através dos tempos,
nos diferentes lugares em que tem vivido. Investiga
permanências e mudanças ou transformações de seu modo de
PENTEADO, Heloísa Dupas. vida, no empenho de compreendê-las. Nesse trabalho conta
com o conhecimento produzido por outras Ciências Humanas,
Metodologia de História e como a Sociologia, a Antropologia, a Economia, a Política etc.
Geografia. São Paulo: Cortez, Estes exemplos bastam para mostrar que as Ciências
2011. (Capítulos 1, 2 e 3). Humanas formam uma intrincada teia de conhecimentos. As
divisas de seus campos de trabalho constituem um recurso
didático que viabiliza a abordagem ou o tratamento científico
da realidade. Esta, de fato, é um todo que não se pode
Capítulo l : As Ciências Humanas decompor, que o homem tenta compreender para colocar a
serviço do seu viver e do seu bem-estar.
Iniciamos o nosso estudo de Metodologia do Ensino de O mesmo se pode dizer a respeito da divisão entre Ciências
História e Geografia situando estas disciplinas num quadro Humanas e Ciências da Natureza. Ambas se alimentam
mais geral das Ciências Humanas, ao qual pertencem. mutuamente na tarefa comum de construção do conhecimento
Verificaremos, a seguir, como as Ciências Humanas têm-se científico da realidade. Este se distingue dos diferentes tipos
configurado no ensino de 1º grau e qual a contribuição que têm de conhecimento ou compreensão da realidade por ser
a dar na formação dos alunos. produzido através de um trabalho organizado, segundo
normas observadas precisa e sistematicamente.
Área do conhecimento humano De acordo com essas normas, parte-se sempre da
Para nos situarmos dentro da perspectiva de trabalho observação metódica do objeto que se pretende conhecer, e da
pedagógico aqui proposta, é necessário precisar a natureza e coleta de dados ou informações significativas para a
importância específicas das disciplinas com cuja metodologia compreensão do aspecto que está sendo focalizado. Na etapa
de ensino trabalharemos e examinar a contribuição das seguinte, procede-se à análise das informações coletadas, o
Ciências Humanas na formação do aluno das séries iniciais do que conduz à última etapa do trabalho: a construção de
curso de 1.° grau. conceitos e generalizações. Esses conceitos e generalizações
As Ciências Humanas compreendem uma área do tanto podem reforçar os conhecimentos produzidos
conhecimento humano alimentada pelo saber produzido por anteriormente, como podem ampliar, modificar ou mesmo
várias ciências — Sociologia, Antropologia, História, Geografia, negar os conhecimentos já existentes. Constituem também
Economia e Política, entre outras — todas têm como objeto de pontos de partida para novas investigações.
estudo o homem em suas relações: entre si, com o meio natural A produção do conhecimento compreende, pois, um
em que vive, com os recursos já criados por outros homens processo de trabalho, atualmente organizado por uma "divisão
através dos tempos. Cada uma delas, por sua vez, especializa- do trabalho" entre cientistas de diferentes especialidades. No
se em determinados aspectos desse seu objeto de presente momento da história das ciências, essa divisão tem a
conhecimento, que é muito amplo. função de viabilizar a ação humana de produção do
A Geografia privilegia as relações do homem com o espaço conhecimento científico. Não impede, contudo, e chega mesmo
em que está situado. Busca compreender tanto as a requerer, o recurso aos saberes produzidos em outros
características do espaço natural em que os homens se situam campos, ou a construção de equipes interdisciplinares de
— campo de preocupações da chamada Geografia Física —

Bibliografia 54
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

trabalho. Isso porque a própria indivisibilidade da realidade Disperdiçou-se com esta medida: a importância dos
exige sempre a volta ao todo, à compreensão abrangente. conhecimentos de História e Geografia; a contribuição das
demais Ciências Humanas; a rica ideia de "área
As Ciências Humanas no l? grau interdisciplinar" de estudos.
Tradicionalmente as Ciências Humanas encontram-se Esse desperdício traduziu-se de maneira evidente na
inseridas na educação básica (curso primário e curso ginasial, disciplina Estudos Sociais, que foi então implantada no curso
antes de 1971, e curso de 1º grau após essa data) através das de 1.° grau, ao longo de suas oito séries, com programas tipo
disciplinas História e Geografia. "coquetel cultural".
Essa redução das Ciências Humanas às disciplinas História Nossa realidade, pelo que demonstrou a implantação da
e Geografia é motivo de preocupação. Embora essas duas Lei 5692/71, pelo que conhecemos dela a partir de nossa
ciências tenham grande importância na formação do prática como professores, ainda não permite a realização da
educando, as Ciências Humanas não se reduzem a duas. ideia de uma "área de estudos" interdisciplinar. A própria
Sabemos também que: estrutura e organização da escola oficial é um empecilho, até
— a escola, e principalmente a escola básica, de 1.° grau pelo simples fato, para não citarmos outros, de que os
(direitos de todos e dever do Estado), constitui um canal social professores não se encontram, não têm horários comuns de
do acesso da população ao conhecimento sistematizado, permanência, e suas horas de contratação para trabalhos fora
organizado, já produzido pelas Ciências; da sala de aula são reduzidíssimas, não permitindo, quando
— a oportunidade de acesso da população ao existentes, que dêem conta sequer da tarefa de preparar aulas
conhecimento produzido pelo conjunto das Ciências da ou corrigir trabalhos.
Natureza, através da escola, vem sendo de alguma maneira Os doze anos de vigência da disciplina Estudos Sociais, no
garantida, embora também aqui tenham sido acionados curso de 1º grau, encarregaram-se de demonstrar o que
mecanismos que desqualificam esse ensino. O conhecimento acabamos de considerar.
científico, em si desmistificador pela sua própria natureza e O desagrado com o ensino das Ciências Humanas no curso
modo de produção, é um saber ameaçador. Propicia ou de 1.° grau não data, porém, de 1971. Remonta ao período
provoca, em quem se inicia nele, inquietação, curiosidade. anterior, em que História e Geografia eram trabalhadas de
Pode conduzir ao ato de "indagar"; maneira estanque, desvinculadas entre si e da realidade do
— o acesso da população ao conhecimento produzido aluno que a estudava, não dando conta de uma visão global da
pelas Ciências Humanas vem sendo negligenciado, ao longo de vida do ser humano, de sua existência em sociedade.
nossa educação escolarizada, por razões sociais e históricas. Diante disso, é necessário examinar a contribuição das
Para herdeiros de um passado colonialista, e de regimes Ciências Humanas na formação do aluno dos cursos de 1.°
autoritários de governo, entremeados de regimes populistas, grau, a partir da perspectiva que aqui se propõe, a fim de
entender a realidade sociocultural como um fato "natural" — oferecer uma contribuição real a essa área de ensino, e não
e, portanto, "dado" — propicia, senão mesmo garante, o apenas uma alternativa a mais para confundir este já tão
"fatalismo" com que a população enfrenta as situações de emaranhado campo de trabalho.
injustiça social que compõem o seu cotidiano. (…)
Com a Lei 5692/71 foram introduzidos os "Estudos
Sociais" no curso de l.° grau. Segundo a Lei e o Parecer 853/71, Capítulo 2: Eixos geradores do conhecimento
"Estudos Sociais é uma área de estudos que tem por Neste capítulo são apresentados os fundamentos que dão
objetivo a integração espaço-temporal do educando, servindo- suporte à proposta de ensino de História e Geografia,
se para tanto dos conhecimentos e conceitos da História e desdobrados nos seguintes tópicos:
Geografia como base e das outras ciências humanas — — uma problematização e análise das formas de
Antropologia, Sociologia, Política, Economia — como atuação correntes no ensino destas disciplinas;
instrumentos necessários para a compreensão da História e — uma apresentação da estrutura conceitual básica da
para o ajustamento ao meio social a que pertence o educando." área de Ciências Humanas, instrumento com que atuaremos na
Destacavam-se nessa colocação legal, pela sua construção de um novo ensino;
importância, três aspectos: — uma análise dos conceitos básicos, a partir das
— as Ciências Humanas como instrumento necessário condições internas e externas de aprendizagem, que orientará
para a compreensão da História. Ao que acrescentamos: como a sequência de trabalho com eles ao longo das quatro séries.
instrumentos imprescindíveis à compreensão da realidade do
educando, ou seja, à compreensão de sua realidade social, no História e Geografia no l? grau: formas de atuação nas
momento histórico por ele vivido; séries iniciais
— as Ciências Humanas como instrumento necessário Diferentes formas de atuação com as Ciências Humanas
para o ajustamento ao meio social a que pertence o educando. nas séries iniciais de 1.° grau caracterizam a história desse
Entendemos por "ajustamento" um processo altamente trabalho em nossas escolas.
dinâmico, que se configura em "ação-reação-transformação"; Listas de heróis desvinculados de seu contexto, agindo de
— a ideia de "área de estudos" interdisciplinar, maneira inusitada, surpreendente e benévola, em datas
importante pela possibilidade que criava de trabalho aleatórias, já marcaram os procedimentos de ensino em
integrado entre profissionais de diferente formação, o que História.
introduzia uma probabilidade de superar o corporativismo O apego à ordem cronológica dos acontecimentos,
que caracteriza a organização do trabalho escolar e, também, seqüenciados linearmente, como se a história se
nossa própria formação, marcada pelo corporativismo das desenvolvesse num sentido único, constitui outro filão que
instituições que nos educaram. alimentou esses trabalhos.
O Conselho Federal de Educação, ao desconhecer a Conduta semelhante orientou o ensino de Geografia.
existência dos professores competentes para trabalhar nesta Extensas listas de nomes de acidentes geográficos, bem como
área e aprovar a criação dos cursos de nível superior de extensas listas de números — indicando altura de picos e
Estudos Sociais, transformou uma "área de estudos" em montanhas, altitude de planaltos e planícies, extensão de rios,
"disciplina". Com a pretensão de introduzir elementos das seus volumes de água, graus de temperatura máxima e mínima
Ciência» Humana» — o que náo conseguiu —, descaracterizou de diferentes locais da Terra etc., como se esses dados fossem
a História e a Geografia. todos aleatórios e independentes entre si, eternos, constantes

Bibliografia 55
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

e imutáveis — nortearam a docência dessa disciplina, então carro em São Sebastião. O que mais visível, audível e palpável:
preocupada com procedimentos meramente descritivos. uma cobra ou um carro?
A tendência mais recente parece ser o desenvolvimento de Por ocasião da chegada do homem à Lua, tivemos
temas considerados viabilizadores de abordagens históricas e oportunidade de ouvir de um adulto que testemunhara o fato,
geográficas integradas. De modo geral, esses temas são via televisão, o seguinte comentário, feito com absoluta
dispostos em círculos concêntricos, que se iniciam no estudo seriedade e convicção: "Isso aí não é verdade. É um filme.
da escola e terminam no estudo do mundo, passando Senão, como é que vai fazer com o São Jorge?" "Como assim"
sucessivamente pela família, bairro, município, estado, país. indaguei. "Ué, o São Jorge não é um santo que mora na Lua e é
Pelo menos três princípios norteiam essa forma de tão poderoso que matou até o dragão? Então ele lá ia deixar
organização do trabalho com estas disciplinas. Conforme um ficarem lá os homens com esse foguete? E ele nem apareceu
deles, o processo de aprendizagem do homem ocorre mais aí."
facilmente, com maiores rendimentos, quando se faz do "São Jorge" era personagem absolutamente concreto e
"próximo" para o "distante". Um segundo assegura que o palpável para esse adulto, embora nunca o tivesse encontrado
processo de aprendizagem dá-se de maneira mais fácil e em "carne e osso", espacialmente próximo a si. Já o "foguete
rendosa quando caminha do "concreto" para o "abstrato". Um espacial", por ele conhecido apenas através de fotos, figuras ou
terceiro apóia-se na convicção de que nosso processo de filmes (como o São Jorge), era apenas foto, figura ou filme. Não
aprendizagem realiza-se de maneira mais acessível e eficiente era realidade. Não existia.
quando se caminha da "parte" para o "todo". O que emprestava à figura do santo tanta "factualidade" e
Permeia esses três princípios a ideia de que aprende-se "concreticidade", senão a crença depositada por esse adulto
quando se parte do "simples" para o "complexo". em sua existência?
Embora essa idéia seja procedente, é preciso examiná-la Sobre esse mesmo evento — chegada do homem à Lua —
mais detidamente, a fim de não fazer dela um uso indevido ou presenciamos conversas de crianças que davam a impressão
inadequado. de que haviam participado pessoalmente do fato, tal o grau de
Pode-se considerar como simples um evento composto de veracidade e concreticidade que atribuíam ao acontecimento.
poucas variáveis intervenientes entre si. É preciso então Eram as mesmas crianças que não registraram em suas
identificar o evento que corresponderia a tal critério no campo memórias a ponte por que passavam diariamente em seu
das Ciências Humanas. caminho para a escola.
Submetendo a ele a "Escola", tomada supostamente como O que emprestava ao evento ocorrido tão distante delas, e
o evento mais simples a ser estudado, veríamos que ela por elas testemunhado apenas via televisão, tanta
corresponde, na sequência citada, a uma realidade composta, "factualidade" e "concreticidade", senão a crença que
no mínimo, por variáveis que se situam no âmbito da depositavam na veracidade do fato?
competência política estatal, da competência educacional Finalmente resta indagar se seria mais simples aprender
familiar, da competência cultural da sociedade em que se partindo-se das partes para o todo.
insere e da competência profissional dos professores das áreas É preciso considerar que cada parte, de modo geral, se
de ensino que a integram. Além disso, a escola representa, no subdivide em outras subpartes, bem como pertence a um todo
início da escolaridade, um meio novo pouco conhecido da vida maior do qual recebe influências e a que também influencia.
do educando — se não ameaçador, pelo menos assustador. Seria realmente mais fácil entender a vida das abelhas
Seria o evento "próximo" mais simples do que o "distante"? começando por observar ou estudar uma das inúmeras
Ainda aqui caberia indagar o que é "próximo" e o que é "células" de que se compõe a colméia? Mais do que isso: seria
"distante". Seria "próximo" aquilo que se localiza possível isolar a "célula" do todo da colméia de que faz parte?
espacialmente mais perto do sujeito? E “distante" o contrário E, ainda que possível, esse corte não impediria a compreensão
disto? mais ampla da própria "célula", se não recorrêssemos em
Em termos de aprendizagem, a experiência tem vários momentos ao todo, já que ignoraria as relações dessa
demonstrado com grande frequência que não se pode fazer "parte" com o "todo", bem como a dinâmica global que preside
essa afirmação de maneira tão absoluta e tranquila. Lidando esse conjunto chamado "colméia"?
com crianças de classe média alta da cidade de São Paulo, que Poderíamos fazer as mesmas perguntas partindo de um
diariamente passavam por uma das pontes sobre o rio Tiête outro aspecto do fenômeno considerado. Seria realmente mais
em seu trajeto para a escola, tive a oportunidade de constatar fácil entender a vida das abelhas começando por observar ou
que, de maneira bastante geral, não haviam registrado sua estudar uma abelha? Seria possível isolá-la do conjunto das
existência. No entanto, todas elas tinham gravado em suas demais, partindo, por exemplo, do funcionamento do seu
memórias o mar e a praia, situados no mínimo a 60 organismo? E, se possível, esse corte não impediria a
quilômetros da cidade de São Paulo, e aos quais seu acesso não compreensão se não recorrêssemos em vários momentos ao
era diário. todo, já que ignoraria as relações de cada uma com as demais
Trata-se de um exemplo ilustrativo, ao qual o leitor e com a própria colméia como um todo (e na qual figuram as
certamente poderá acrescentar muitos outros, provenientes células como a menor parte de que se compõe)?
de sua experiência docente. Nas minhas experiências como professora, trabalhando
Pode-se observar o mesmo em relação ao "concreto" e ao com as séries iniciais do 1.° grau, nunca ocorreu, a não ser
"abstrato". excepcionalmente, que as crianças compreendessem que o
Seria mais simples o evento "concreto" do que o evento bairro está dentro do município; este dentro do estado; que o
"abstrato"? E o que seria "concreto"? O visível, o palpável, o estado está dentro de um país e este dentro de um continente.
experienciável? Ainda que seguisse no trabalho os passos preconizados pela
Fazendo um levantamento linguístico junto à população de orientação que recebíamos — que se iniciava com um estudo
uma ilha de difícil acesso, situada no litoral brasileiro, na altura da própria escola, localizando a carteira do aluno em sua sala
de São Sebastião, estado de São Paulo, alguns pesquisadores de aula; a sala de aula em seu respectivo corredor, dentre
constataram que as crianças desta ilha tinham um agudo outras salas; a sala de aula dentro do prédio escolar —, a
sentido de percepção para detectar a presença de cobras, esperada transferência de compreensão, que apoiava a
abundantes no local. Raramente morriam em consequência de recomendação metodológica, não acontecia.
picadas. Porém, quando por qualquer razão iam até o O que explicaria tal situação?
continente, eram vítimas frequentes de atropelamentos por Uma primeira resposta seria que entender que um
município está dentro de um estado, este dentro de um país, e

Bibliografia 56
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

assim sucessivamente, implicava estabelecer uma relação de trabalhado adequadamente para este fim. Isto posto, a
inclusão de uma parte num todo ainda desconhecido pelo passagem para "mapas" e "globo" seria uma questão de grau,
aluno. uma vez que a confecção de tais representações por
O que seria mais fácil: compor o "todo" formado por um profissionais é facilmente compreensível para a criança pelo
pão de formato e tamanho desconhecidos, a partir de recurso do desenho, da fotografia quando experienciados por
diferentes fatias em que estivesse cortado; ou compor o "todo" ela. Bem feito este trabalho, não mais seria necessário recorrer
formado por um pão de: formato e tamanho conhecidos à crença do aluno de que "o mapa do Brasil representa o Brasil
previamente, a partir das diferentes fatias em que estivesse porque a minha professora disse", mas ele passaria a ser um
cortado? canal confiável porque dominado por ele, tanto quanto a
Certamente a segunda situação parece mais acessível. representação televisiva no caso da alunissagem.
Na primeira, a falta de visão do todo exigiria comparar as Em várias situações em que se testou este outro
diferentes fatias para ordenar sua sequência provável, num procedimento, com crianças de diferentes escolas, os
múltiplo fazer e refazer, através mesmo de um processo de resultados foram surpreendentes. E o que se observou deixou
ensaio e erro, até descobrir se o pão apresentava, por exemplo, patente que nem se trata de vir do "todo" para as "partes",
contornos regulares ou contornos irregulares, mas como também não se trata de ir das "partes" para o "todo".
distribuídos com regularidade, para citarmos apenas duas Portanto, simplesmente negar todas as indagações até aqui
possibilidades. colocadas sobre essa questão, e admitir pura e simplesmente
O que não se diria então de compor um "todo" os seus contrários, afirmando que se aprende mais facilmente
desconhecido, pela junção de suas partes também partindo do "todo" para as "partes", significaria incorrer em
desconhecidas, uma vez que bairro, município, etc. são atitude tão mecânica e fragmentada quanto afirmar que se
"pedaços" ou "partes" não domináveis pela criança? Ainda que aprende mais facilmente da "parte" para o "todo".
se possa levá-la a caminhar pela divisa de um bairro, ela é Antes de afirmar ou negar qualquer uma dessas
engolida pelo "pedaço", já que no momento em que está num colocações, é preciso indagar: seria possível, retornando ao
ponto deste limite, não pode mais avistar ou observar o outro. exemplo da colméia, estudá-la como um todo, sem em vários
É possível tentar lidar com o processo de maneira momentos nos determos nos elementos que a •i«impõem, para
diferente e observar os seus resultados. Em vez de começar em seguida recorrermos ao todo e, se necessário, novamente
pelo Bairro, por que não começar pelo mundo? às partes?
Porém, como partir do mundo, se já o espaço do bairro é Seria possível abarcar o "todo" num determinado
não dominável, empiricamente, pela criança? momento, num tratamento sério e cuidadoso de um fenômeno,
Seria necessário recorrer a "mapas" e a "globos", que são, ignorando suas partes e as relações entre elas, que configuram
por sua vez, "espaços" que representam "espaços". Bastaria o todo?
contar às crianças que "isto é a Terra", apontando para o globo E, se possível, essa globalização da observação e estudo do
ou para o mapa-múndi? fenômeno não equivaleria a superficializar sua compreensão,
Seria suficiente proceder a uma leitura do mapa ou do na medida em que se estaria desconsiderando ou mesmo
globo, revelando águas e terras, continentes e oceanos, países desconhecendo a dinâmica que configura esse todo?
etc. até chegarmos ao Município? Ou apenas estaríamos, desta A experiência com os temas dispostos em círculos
forma, acrescentando dificuldades à já complexa relação do concêntricos no ensino História e Geografia; a reflexão sobre
aluno com o espaço? seus resultados que, em termos de aprendizagem, não têm
Antes tratava-se apenas de compor um "todo" correspondido às expectativas; as constatações feitas a partir
desconhecido pela junção de suas "partes", também de novas experiências e, ainda, de estudos e reflexões sobre
desconhecidas, porque não domináveis pela criança, pelo seus processos e resultados nos encaminham para as
tamanho das mesmas (a criança se encontra dentro de uma seguintes conclusões:
parte). Agora seria ainda necessário acreditar que esses • a aprendizagem se faz num movimento constante
espaços, que podiam ser abarcados pelas suas próprias mãos que vai tanto das partes para o todo como do todo para as
(mapas e globos), correspondiam àqueles espaços chamados partes, ao longo de todo o seu processo;
bairros, municípios etc., dentro dos quais ele se encontrava, e • é concreto para o aprendiz aquilo que ele acredita
que agora se encontravam dentro de suas mãos. Além disso, que realmente existe; ignorar esse fato nos faz incorrer em
como um globo e um mapa-múndi, tão diferentes entre si, erros como confundir "concreto" com o que simplesmente
poderiam corresponder a um mesmo espaço real? acontece ao lado das crianças e que é perceptível aos órgãos
Se a parte considerada "menor" (o Bairro) e, portanto, tida dos sentidos;
como mais acessível, já não era um espaço dominável • é "próximo" do aprendiz aquilo que, pela significação
empiricamente pelo aluno, não estaríamos acrescentando e importância por ele atribuída, passa a fazer parte de sua
dificuldades ao apresentar o "todo", o "Mundo", espaço realidade; se isso não fosse verdade, os meios de comunicação
igualmente não dominável empiricamente por ele. de massa não teriam a influência que têm.
Porém, o ponto de partida do trabalho, desenvolvido desta Cabe aqui uma última observação a respeito do trabalho
outra forma, certamente deveria compreender uma etapa com História nas séries iniciais do curso de 1º grau.
anterior, na qual começaríamos a preparar o aluno para a Na prática pedagógica dos trabalhos realizados em sala de
compreensão das novas questões que surgiriam. aula, reproduziu-se o problema das propostas anteriores de
Inicialmente seria importante proporcionar à criança a História e Geografia, a partir do tema Município, não se tendo
oportunidade de lidar com o espaço dominável por ela, alcançado no desenvolvimento dos temas anteriores — Escola,
através, por exemplo, de atividades lúdicas. Família e Bairro — conhecimentos que ultrapassassem os do
A cada experiência realizada seguir-se-ia imediatamente a senso comum.
confecção de um desenho que a representaria. Até chegar à 1ª série, a criança já viveu no mínimo sete
Através destas situações, a criança vivenciaria noções de anos na sua família, tendo portanto dominado os
"dentro" e "fora", "limites" e "fronteiras", experimentaria a conhecimentos necessários para aí sobreviver, bem como os
possibilidade de poder estar simultaneamente dentro de conhecimentos sobre o Bairro em que já se encontra vivendo.
vários espaços concêntricos; a impossibilidade de estar Na pior das hipóteses, porém a mais frequente, a escola
simultaneamente dentro de espaços heterocêntricos etc. Ao desconsidera esse conhecimento e trabalha um modelo de
mesmo tempo, ela estaria sendo iniciada em "representação família, e de lar, estereotipado, que nada tem a ver com a
espacial" por meio do desenho feito após cada experiência e realidade vivida pelo aluno nesse grupo social.

Bibliografia 57
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Na melhor das hipóteses, a escola apenas revê ou retoma Os conceitos de espaço e de tempo são básicos no estudo
esse conhecimento. O que isso acrescenta à criança? da Geografia e da História, respectivamente. É nestas duas
São comuns, nos livros de Estudos Sociais, História e dimensões que as relações sociais humanas se travam,
Geografia, cenas como estas: um casal, de cor branca, sentado transformando a natureza, produzindo cultura, construindo a
em torno de uma mesa farta, numa sala limpa e agradável, História.
acompanhado de duas ou três crianças, para representar a A construção mental desses conceitos por parte do ser
família reunida à hora da refeição; ou então um senhor branco, humano se dá na interação das condições internas de
sentado em uma poltrona confortável, lendo o seu jornal ou aprendizagem com as condições ambientais de que dispõe o
assistindo televisão, enquanto duas ou três crianças brancas, aprendiz.
limpas, quase sempre loiras, brincam pela sala, enquanto num O professor é um profissional que, nesse processo, se
outro cômodo, a cozinha, uma senhora branca de avental lava localiza entre as condições ambientais, ou externas, e que atua
louça. na interação destas com as condições internas do aprendiz,
Acompanha o desenho, de modo geral, um texto lido sem agindo como mediador. Neste papel de mediação que exerce
indagações, que diz: "Esta é a minha família". no processo de aprendizagem, pode vir a ser tanto um agente
Pergunto: à família de quantos de nós, alunos e professores facilitador e catalisador, quanto um agente que o retarda,
de escola pública, corresponde esse modelo? Não seria de dificulta ou inibe.
esperar da escola pelo menos um maior senso de realidade? Para que seja um agente facilitador e catalisador, é
Com relação à própria escola, tão formal e vazio de necessário que se oriente por um duplo critério, definido pelas
significado acaba sendo o trabalho que nela vem sendo condições internas e pelas condições externas.
desenvolvido, que é comum, nos dias atuais, as crianças sequer Considerando as condições internas, o professor precisa
saberem o nome de sua professora, de seus colegas ou mesmo saber: com quais desses conceitos lidar primeiro, com
da diretora. aprendizes em processo de desenvolvimento.
As constatações já feitas, as reflexões sobre elas e nossa Considerando as condições externas, precisa saber: como
compreensão de História e Geografia como disciplinas montar as situações de aprendizagem sugestivas desses
responsáveis pelo acesso do aluno ao conhecimento produzido conceitos para aprendizes em processo de desenvolvimento.
pelas Ciências Humanas nos levam a buscar uma forma de Adotar as condições internas de aprendizagem como
atuação com essas disciplinas que nos permita ultrapassar os critério para seqüenciar os conceitos conduz a algo mais do
problemas até aqui enfrentados. que simplesmente optar por ensinar História antes de
E preciso substituir a apreensão fragmentada da vida Geografia, depois de Geografia ou simultaneamente. Impõe
social, a que os alunos vêm sendo expostos, por uma uma análise das características dos conceitos selecionados.
compreensão globalizada da vida social, no seu funcionamento Como estes, na realidade, são imbricados, entrelaçados uns
e na sua historicidade. nos outros, surge a questão: por onde começar a lidar com eles
Somente assim formaremos sujeitos críticos capazes de na escola?
uma atuação consequente em sua realidade. Iniciando pêlos conceitos básicos da História e da
Os conceitos básicos das Ciências Humanas, que compõem Geografia, encontramo-nos diante do espaço e do tempo.
uma estrutura de eixos geradores de conhecimento, são um O espaço ganha existência concreta, visível, palpável, tátil,
instrumento necessário para a organização do trabalho no chão que pisamos, e que nos rodeia, na terra que habitamos
escolar nesta perspectiva desejada. (espaço geográfico).
Estrutura conceitual básica A existência concreta do espaço é definida:
Toda a vida do homem, em qualquer sociedade, em • por suas características naturais: chão plano, chão
qualquer lugar em qualquer tempo, se passa dentro de um ondulado, chão recoberto de vegetação nativa;
espaço, o qual tem características próprias que não foram • por suas características culturais: chão aplainado
criadas pelo homem. Trata- se, portanto, de um espaço natural pelo homem, chão plantado pelo homem, chão devastado pelo
que é transformado através do tempo por agentes naturais homem.
(responsáveis pela ocorrência das eras geológicas). O tempo ganha existência concreta, visível, tátil, e até
O encontro dos homens entre si e com o meio natural em palpável nos dias e noites que se sucedem, nas condições
que se inserem define, por intermédio de seu trabalho meteorológicas que se alternam de sol a chuva, permeadas de
conjunto para a sobrevivência, o espaço sociocultural de sua ventos e abafamentos. A existência concreta do tempo é
existência, decorrente das transformações e criações que definida:
promove nesse meio. • por suas características naturais: luminosidade do
Esse delineamento nos possibilita selecionar os conceitos sol no dia, ausência da luminosidade do sol à noite,
básicos que formam a estrutura deste campo de precipitação das águas e o fenômeno da chuva, ausência de
conhecimento, e que são, cada um deles, geradores de outros precipitação das águas e o fenómeno da seca etc.
conhecimentos. (…)
Expressando-os numa disposição gráfica teríamos: Além dessa existência concreta, espaço e tempo assumem
dimensões abstratas.
Os conceitos básicos são instrumentos de trabalho, para a O espaço ganha sua dimensão abstrata, não visível, não
análise e compreensão da realidade, provenientes das palpável, mas inferida, concluída através de uma operação
diferentes Ciências Humanas. Permitem perceber a íntima mental, no espaço social em que vivemos e que é distinto do
interligação dos fenômenos, representada no gráfico pelas chão ou espaço geográfico que ocupamos.
setas. Cada um dos conceitos, por si, constitui-se num eixo Essa dimensão abstrata do espaço é definida: pelas
conceitual, que se amplia e desdobra em outros conceitos a ele relações sociais humanas que desenham as "distâncias
relacionados, à medida que o processo de compreensão dos sociais", distintas das distâncias geográficas.
mesmos caminha. Todos mantêm, ao longo de seus Pessoas ou grupos que convivem em proximidade
desdobramentos, relações entre si. A esses conceitos inter- geográfica, no mesmo chão, podem estar muito distantes
relacionados denominamos corpo conceitual. socialmente. Por exemplo: patrões e empregados dentro de
Completando a expressão gráfica desse corpo conceitual, uma fábrica; os governantes e os serviçais dentro do palácio
com os conceitos como eixos que se ampliam e se inter- do governo.
relacionam, temos: Por meio dessas relações, os homens produzem a cultura,
tanto em sua manifestação concreta (objetos, utensílios,

Bibliografia 58
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

instrumentos) como em sua manifestação abstrata (normas e para o ensino produtivo (matérias instrumentais para a
ordenações do comportamento que orientam as suas próprias compreensão da realidade) se realize com sucesso.
relações no trabalho, na família, na recreação etc.). O tempo
ganha sua dimensão abstrata, não visível, não palpável, mas
inferida, concluída através de uma operação mental, no tempo
sócio-histórico de que participamos e que é distinto do tempo PIAGET, Jean.
geográfico em que existimos. Desenvolvimento e
Essa dimensão abstrata do tempo é definida: pelas aprendizagem. Trad. Paulo
relações sociais humanas que constróem modos sociais de
vida e de existência entre os homens. A duração desses modos Francisco Slomp. UFRGS- PEAD
sociais de vida define os tempos históricos, distintos dos 2009/1.
tempos geográficos.
Compõem um modo social de vida tanto o mundo material
criado pelo homem (habitações, vestuário, alimentação,
transporte, utensílios, instrumentos de trabalho), ou seja, a DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
cultura material, como a maneira como os homens organizam Jean Piaget
as relações entre si, para a produção e o uso dessa cultura
material. Primeiramente gostaria de tornar clara a diferença entre
Pessoas ou grupos que vivem em diferentes tempos dois problemas: o problema do desenvolvimento em geral, e o
geográficos podem viver no mesmo tempo histórico. Por problema da aprendizagem. Penso que estes problemas são
exemplo: a população brasileira do século XVII (1601 a 1700) muito diferentes, ainda que algumas pessoas não façam esta
e a do século XVIII (1701 a 1800) não viveram no mesmo distinção.
tempo geográfico, mas viveram num mesmo tempo histórico O desenvolvimento do conhecimento é um processo
— o de Brasil Colônia. Da mesma forma, pessoas ou grupos que espontâneo, ligado ao processo global da embriogênese. A
vivem num nesmo tempo geográfico podem viver em tempos embriogênese diz respeito ao desenvolvimento do corpo, mas
históricos diferentes. Por exemplo: um grupo indígena não- também ao desenvolvimento do sistema nervoso e ao
aculturado e os grupos brasileiros não-indígenas da atualidade desenvolvimento das funções mentais. No caso do
vivem em tempos históricos diferentes, dentro do mesmo desenvolvimento do conhecimento, a embriogênese só
tempo geográfico (final do século XX). termina na vida adulta. É um processo de desenvolvimento
Esta primeira análise dos conceitos que compõem a total que devemos resituar no contexto geral biológico e
estrutura conceitual básica não é exaustiva, mas já se psicológico.
apresenta suficiente para a tomada de decisão que nos ocupa, Em outras palavras, o desenvolvimento é um processo que
e que diz respeito à disposição desses conceitos no trabalho se relaciona com a totalidade de estruturas do conhecimento.
escolar com História e Geografia, nas séries iniciais do 1° grau. A aprendizagem apresenta o caso oposto. Em geral, a
Tanto o espaço quanto o tempo, nas dimensões concretas aprendizagem é provocada por situações - provocada por um
apontadas, abrangem aspectos naturais e culturais, estudados, experimentador psicológico; ou por um professor, com
respectivamente, pela Geografia e pela Antropologia. referência a algum ponto didático; ou por uma situação
Já em suas dimensões abstratas, tanto o espaço quanto o externa. Ela é provocada, em geral, como oposta ao que é
tempo remetem-nos às relações sociais que se manifestam: espontâneo. Além disso, é um processo limitado a um
• através de seus produtos concretos: a cultura problema simples ou uma estrutura simples.
material, estudada pela Antropologia e pela História; Assim, considero que o desenvolvimento explica a
• através de seus produtos abstratos: a cultura não- aprendizagem, e esta opinião é contrária a opinião
material, estudada pela Antropologia, pela Sociologia e pela amplamente sustentada de que o desenvolvimento é uma
História. soma de unidades de experiências de aprendizagem. Para
Considerando-se que: alguns psicólogos o desenvolvimento é reduzido a uma série
— a construção mental do conhecimento parte das de itens específicos aprendidos, e então o desenvolvimento
características concretas do objeto ou fenômeno a conhecer, seria a soma, a acumulação dessa série de itens específicos.
para chegar às abstratas, e da reciprocidade das inter-relações Penso que essa é uma visão atomista que deforma o estado real
das "partes" com o "todo"; das coisas.
— os conceitos básicos formam um todo Na realidade, o desenvolvimento é o processo essencial e
reciprocamente interrelacionados; cada elemento da aprendizagem ocorre como uma função do
— temos já a indicação de que, nas séries iniciais do 1° desenvolvimento total, em lugar de ser um elemento que
grau, o ensino de História e Geografia deverá se orientar por: explica o desenvolvimento. Começarei, então, com uma
— trabalhar, em todas as séries, além dos conhecimento primeira parte tratando do desenvolvimento e falarei sobre
específicos, os conceitos da estrutura conceitual básica, ainda aprendizagem na segunda parte. Para compreender o
que em diferente níveis; desenvolvimento do conhecimento, devemos começar com
— incidir sobre as dimensões de "natureza" e "cultura" uma ideia que me parece central: a ideia de operação. O
(cultura material) assumidas pelo espaço e pelo tempo; conhecimento não é uma cópia da realidade. Conhecer um
— organizar os conceitos específicos na seguinte objeto, conhecer um acontecimento não é simplesmente olhar
sequência: natureza, cultura (material), espaço, tempo e fazer uma cópia mental, ou imagem, do mesmo. Para
histórico. conhecer um objeto é necessário agir sobre ele. Conhecer é
Definido o ponto de partida conceitual e sua sequência, modificar, transformar o objeto, e compreender o processo
impõe-se tomar as decisões que levem à montagem de dessa transformação e, consequentemente, compreender o
situações significativas de aprendizagem. modo como o objeto é construído. Uma operação é, assim, a
Tais situações exigem tanto a definição do conteúdo a ser essência do conhecimento. É uma ação interiorizada que
trabalhado quanto a explicitação dos cuidados necessários ao modifica o objeto do conhecimento. Por exemplo, uma
trabalho com os conceitos — desenvolvido através desse operação consistiria na reunião de objetos em uma classe, para
conteúdo — a fim de que a ultrapassagem do ensino construir uma classificação. Ou uma operação consistiria na
reprodutivo de História e Geografia (matérias decorativas) ordenação ou colocação de coisas em uma série. Ou uma
operação consistiria em contagem ou mensuração.

Bibliografia 59
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Em outras palavras, é um grupo de ações modificando o chamo de operações formais ou hipotético-dedutivas; isto é,
objeto e possibilitando ao sujeito do conhecimento alcançar as ela agora pode raciocinar com hipóteses e não só com objetos.
estruturas da transformação. Uma operação é uma ação Ela constrói novas operações, operações de lógica
interiorizada. Mas, além disso, é uma ação reversível; isto é, proposicional, e não simplesmente as operações de classes,
pode ocorrer em dois sentidos, por exemplo, adição ou relações e números. Ela atinge novas estruturas que são de um
subtração, juntar ou separar. Assim, é um tipo particular de lado combinatórias, correspondentes ao que os matemáticos
ação que constrói estruturas lógicas. Acima de tudo, uma chamam de redes (latt ices); por outro lado atingem grupos
operação nunca é isolada. É sempre ligada a outras operações mais complicados de estruturas. Ao nível de operações
e, como resultado, é sempre parte de uma estrutura total. concretas, as operações aplicam-se a uma circunvizinhança
Por exemplo, uma classe lógica não existe isoladamente; o imediata: por exemplo, a classificação por inclusões
que existe é uma estrutura total de classificação. sucessivas. No nível combinatório, entretanto, os grupos são
Uma relação assimétrica não existe isolada. A seriação é muito mais móveis.
uma estrutura operacional natural, básica. Um número não Estes então são os quatro estágios que identificamos, cuja
existe isolado. O que existe é uma série de números, que formação tentaremos agora explicar.
constituem uma estrutura, uma extraordinariamente rica Que fatores podem ser invocados para explicar o
estrutura cujas propriedades variadas tem sido reveladas desenvolvimento de um conjunto de estruturas para outras?
pelos matemáticos. Parece-me que há quatro fatores principais: o primeiro de
Estas estruturas operacionais são o que me parece todos, maturação, no sentido de Gesell, uma vez que esse
constituir a base do conhecimento, a realidade psicológica desenvolvimento é uma continuação da embriogênese; o
natural, nos termos em que nós compreendemos o segundo, o papel da experiência, dos efeitos do ambiente físico
desenvolvimento do conhecimento. E o problema central do na estrutura da inteligência; o terceiro, a transmissão social
desenvolvimento é compreender a formação, e laboração, em sentido amplo (transmissão por linguagem, educação,
organização e funcionamento dessas estruturas. etc.); e o quarto, um fator que é com frequência negligenciado,
Gostaria de rever os estágios de desenvolvimento dessas mas que me parece fundamental e até o fator principal.
estruturas, não em cada detalhe, mas simplesmente como uma Chamarei a este fator de equilibração ou, se preferirem, de
rememoração. Distinguiria quatro grandes estágios. auto regulação. Comecemos com o primeiro fator, a
•O primeiro é o estágio sensório-motor, pré-verbal, maturação. Pode-se pensar que estes estágios são
durando aproximadamente os 18 primeiros meses de vida. simplesmente um reflexo de uma maturação interna do
Durante este estágio desenvolve-se o conhecimento prático, sistema nervoso, seguindo as hipóteses de Gesell, por exemplo.
que constitui a sub estrutura do conhecimento representativo Bem, a maturação certamente desempenha um papel
posterior. Um exemplo é a construção do esquema do objeto indispensável e não pode ser ignorada. Toma parte certamente
permanente. Para um bebê, durante os primeiros meses, um em cada transformação que ocorre durante o
objeto não tem permanência. desenvolvimento da criança. Entretanto este primeiro fator
Quando ele desaparece do campo perceptivo, não mais por si só é insuficiente.
existe. Não há tentativa de pegá-lo novamente. Antes e tudo, não sabemos praticamente nada acerca da
Mais tarde o bebê buscará achá-lo e achá-lo-á por sua maturação do sistema nervoso além dos primeiros meses da
localização espacial. Consequentemente, junto com a existência da criança. Sabemos alguma coisa acerca disto
construção do objeto permanente surge a construção do durante os dois primeiros anos, mas pouco sabemos nos
espaço prático ou sensório-motor. seguintes. Acima de tudo a maturação não explica tudo, por
Similarmente há a construção da sucessão temporal e da que a idade média na qual este estágio aparece (idade
causalidade sensório-motora elementar. cronológica média) varia grandemente de uma para outra
Em outras palavras, há uma série de estruturas que são sociedade. O ordenamento desses estágios é constante e tem
indispensáveis para o pensamento representativo ulterior. sido encontrado em todas as sociedades estudadas. Foi
Num segundo estágio temos a representação pré- encontrado em vários países onde os psicólogos em
operacional - o início da linguagem, da função simbólica e, universidades refizeram os experimentos, sendo encontrados
assim, do pensamento ou representação. Mas, no nível do em povos africanos, por exemplo, nos povos Buscomanos, no
pensamento representativo, há agora uma reconstrução de Irã, seja em vilarejos como em cidades. Entretanto ainda que a
tudo o que foi desenvolvido no nível sensório-motor. Isto é, as ordem de sucessão se já constante, a idade cronológica desses
ações sensório-motoras não são imediatamente estágios varia bastante. Por exemplo, as idades encontradas
transformadas em operações. em Genebra não são necessariamente as idades que foram
Na verdade, durante todo este segundo período de encontradas nos Estados Unidos. No Irã, na cidade de Teerã,
representações pré-operacionais não há ainda operações acharam-se aproximadamente as mesmas idades de Genebra,
como defini este termo há pouco. m as h á um atraso sistemático d e 2 anos nas crianças
Especificamente ainda não há conservação, que é o critério camponesas. Os psicólogos canadenses que refizeram nossos
psicológico da presença de operações reversíveis. Por experimentos, Monique Laurendeau e Father Adrien Penard,
exemplo, se pusermos o liquido de um copo em um outro de acharam uma vez mais as mesmas idades em
formato diferente, a criança em fase pré-operacional pensará Montreal. Mas quando refizeram os experimentos na
que há mais em um do que em outro. Na ausência da Martinica, encontraram u m atraso de quatro anos em todos os
reversibilidade não há conservação da quantidade. experimentos e isso a despeito de as criança s da Martinica
•Em um terceiro estágio aparecem as primeiras operações, irem a uma escola organizada conforme o sistema francês e
mas as chamo de operações concretas devido ao fato de que com o currículo francês e alcançarem ao fim dessa escola
elas operam com objetos, e ainda não sobre hipóteses elementar um certificado de educação primária mais alto. Há
expressadas verbalmente. Por exemplo, há as operações de então um atraso de quatro anos, isto é, há os m esmos estágios,
classificação, ordenamento, a construção da ideia de número, mas sistematicamente atrasados. Assim vê-se que essas
operações espaciais e temporais e todas as operações variações de idade mostram que a maturação não explica tudo.
fundamentais da lógica elementar de classes e relações, da Continuarei agora a examinar o papel desempenhado pela
matemática elementar, da geometria elementar e até da física experiência. A experiência de objetos, da realidade física, é
elementar. objetivamente u m fator básico no desenvolvimento das
Finalmente, no quarto estágio estas operações são estruturas cognitivas. Mas mais uma vez este fator não explica
ultrapassadas à medida que a criança alcança o nível que tudo. Eu posso dar duas razões para isso. A primeira razão é a

Bibliografia 60
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de que alguns conceitos que aparecem no início d o estágio d maravilhoso, que houvesse dez em um sentido e dez no outro.
as operações concretas são tais que não posso ver como Então colocou-as em círculo e contou-as daquele modo e achou
poderiam ser formados a partir d a experiência. Como u m dez de novo. Voltou a contá-las em sentido contrário e de novo
exemplo tomemos a conservação d e substância no caso de achou dez. Depois colocou-as em outra disposição, contou-as e
mudança da forma de uma bola de m assa de achou dez de novo. Essa foi a descoberta que ele fez. Ora, o que
Modelar (plastilina o u argila). Damos essa bola de massa verdadeiramente ele descobriu? Ele não descobriu uma
de modelar a uma criança que a modifica em uma forma de propriedade das sementes, descobriu uma propriedade a ação
salsicha e a ela perguntamos se há a mesma quantidade d e de ordenar. As sementes não possuem ordem. Foi a sua ação
matéria, isto é, a mesma quantidade de substância de antes. que introduziu um ordenamento em fileira ou circular, ou
Perguntamos também se agora tem o mesmo peso e por fim se algum outro tipo de ordem. Ele descobriu que a soma era
tem o mesmo volume. O volume é medido pelo deslocamento independente da ordem. A ordem era a ação que ele introduzia
de água quando colocamos a bola ou a salsicha e um copo com entre as sementes. O mesmo princípio aplicava-se a soma. As
água. Os achados, que tem sido os m esmos sempre que o sementes não possuem soma; eram simplesmente uma pilha.
experimento tem sido feito, mostram-nos primeiro a Para fazer uma soma, era necessária uma ação -- a operação de
conservação da quantidade de substância. Aproximadamente colocá-las juntas e contá-las. Ele descobriu que a soma era
aos oito anos a criança dirá: "Há a mesma quantidade de independente da ordem, em outras palavras, que a ação de pô-
massinha". Somente mais tarde a criança afirma que o peso é las junto era independente da ação de o drená-las. Descobriu
conservado e ainda mais tarde que o volume é conservado. uma propriedade da ação e não de uma propriedade das
Assim pergunto-lhes de onde vem a ideia da conservação da sementes. Pode ser dito que é da natureza das sementes deixar
substância. O que é uma substância constante e invariante que isso seja feito a elas e isso é verdadeiro.
quando não possui peso ou volume constante? Através da Mas poderiam ter sido gotas de água, e as gotas não
percepção pode-se constatar o peso da bola ou o volume dela, deixariam isso ser feito a elas porque duas gotas mais duas
mas a percepção não pode dar uma ideia da quantidade de gotas não formam quatro gotas de água, como se sabe muito
substância. Nenhum experimento, nenhuma e experiência bem. Gotas de água não deixariam então que isso fosse feito
pode mostrar à criança que h á a mesma quantidade de com elas. Estamos de acordo quanto a isso. Assim, não é a
substância. Ela pode pesar a bola e isso levará a conservação propriedade física das sementes que a experiência demonstra.
do peso. Ela pode mergulhar a bola na água e isso levará à É uma propriedade das ações realizadas fora das sementes e
conservação de volume. Mas a noção de substância é atingida isso resulta em outra forma de experiência. Esse é o ponto de
antes da de peso e de volume. Essa conservação de substância partida d a dedução matemática. A dedução subsequente
é simplesmente uma necessidade lógica. Agora a criança consistirá da interiorização dessas ações e então da
compreende que quando há uma transformação algo deve ser combinação delas sem necessitar qualquer semente. O
conservado pois revertendo a transformação pode-se voltar ao matemático não mais necessita de suas sementes. Pode
ponto de partida e de novo ter a bola. Ela sabe que algo é combinar suas operações simplesmente com símbolos e o
conservado mas não sabe o quê. Ainda não é o peso, nem o ponto de partida dessa dedução matemática é a experiência
volume; é simplesmente a forma lógica -- uma necessidade lógico-matemática e isso não é experiência no sentido dos
lógica. Mas parece-me um exemplo de progresso no empiristas.
conhecimento, uma necessidade lógica de algo a ser É o começo de coordenação das ações, mas essa
conservado ainda que a experiência não pode ter levado à essa coordenação das ações antes do estágio das operações
noção. Minha segunda objeção necessita ser apoiada em materiais concreto s. Mais tarde, essa
Contra a suficiência da experiência como um fator de ordenação das ações leva às
explicação é a de que a noção de experiência é muito equívoca. Estruturas lógico-matemáticas. Creio que a lógica não é um
Há, de fato, duas espécies de experiências que são derivado da linguagem. A fonte da lógica é muito mais
psicologicamente muito diferentes e essa diferença é muito profunda. É a coordenação geral das ações, ações de juntar
importante do ponto de vista pedagógico. É devido à coisas, o u ordená-las, etc. É isso que é experiência lógico-
importância pedagógica que enfatizo essa distinção. Em matemática. É uma experiência das ações do sujeito e não uma
primeiro lugar, há o que chamarei experiência física, e em experiência de objetos em si mesmos. É uma experiência que
segundo, o que chamarei de experiência lógico-matemática. se f az necessária antes que possa haver operações. Uma vez
A experiência física consiste no agir sobre os objetos e que as operações sejam atingidas, essa experiência não é mais
construir algum conhecimento sobre os objetos mediante a necessária e a coordenação das ações pode o correr por si
abstração dos objetos. Por exemplo, para descobrir que este mesma, sob a forma de dedução e construção de estruturas
cachimbo é mais pesado do que este fósforo a criança pesa abstratas. O terceiro fator é a transmissão social -- transmissão
ambos e encontra a diferença nos próprios objetos. Isso é linguística ou transmissão educacional. Este fator, mais uma
experiência no sentido comum do termo -- o sentido usado p vez, é fundamental. Não nego o papel de qualquer desses
elos empiristas. Mas há um segundo tipo de experiência, que fatores; todos desempenham uma parte. Mas este f ator é
chamarei de lógico-matemática, onde o conhecimento não é insuficiente porque a criança pode receber valiosa informação
construído a partir dos objetos, mas mediante as ações via linguagem, ou via educação dirigida por um adulto, apenas
efetuadas sobre os objetos. Isso não é a mesma coisa. Quando se estiver num estado que possa compreender esta
se age sobre os objetos, os objetos continuam aí, mas há informação. Isto é, para receber a informação ela deve ter uma
também uma série de ações que modificam os objetos. Darei estrutura que a capacite a assimilar essa informação. Essa é a
um exemplo deste tipo de experiência. É um lindo exemplo, razão por que não se pode ensinar alta matemática a uma
pois pude verificá-lo muitas vezes em crianças pequenas criança de cinco anos. Ela não tem a estrutura que a capacite a
abaixo de sete anos, mas também um exemplo que um dos entender. Buscarei um exemplo muito mais simples, um
meus amigos matemáticos relatou-me sobre sua própria exemplo de transmissão linguística. Em meu primeiro
infância, e ele data sua carreira de matemático a partir d essa trabalho no campo da psicologia da criança, gastei bastante
experiência. Quando ele tinha quatro ou cinco anos -- não sei tempo estudando a relação entre a parte e o todo na
exatamente que idade, mas era muito pequeno - - estava experiência concreta e na linguagem. Por exemplo, usei o teste
sentado no chão do jardim e contava sementes. Para contá-las de Burt, empregando a sentença, "Algumas de minhas flores
colocou-as em fileira, contando uma, duas, três, até dez. Ao são margaridas".
terminar de contar, começou a contá-las em sentido contrário. As crianças sabem que toda s as margaridas são brancas,
Começou pelo fim e ainda uma vez encontrou dez. Achou isso logo há três possíveis conclusões: todo o buquê é branco, ou

Bibliografia 61
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

parte do buquê é branco, ou nenhuma flor do buquê é branca. está muito fino, então tem menos.". A gora a criança pensa na
Descobri que até nove anos (isto foi i em Paris, de modo que as largura, mas esquece o comprimento. Assim chega-se a um
crianças entendiam a língua francesa) elas respondiam, “Todo segundo nível que se torna mais provável após o primeiro, m
o buquê é branco ou algumas flores são brancas". As duas as que não é o mais provável no ponto de partida. Uma vez que
coisas significavam a mesma coisa. E lãs não entendiam a a criança se alertou para a largura voltará cedo ou tarde a se
expressão "Algumas de minhas flores". Elas não entendiam alertar p ara o comprimento. Aqui tem-se um terceiro nível
este "de" como genitivo partitivo, como uma inclusão de onde ela oscilará entre a largura e comprimento e onde
algumas flores no meu buquê. descobrirá que ambos são
Compreendiam algumas de minhas flores como sendo a s Relacionados. Quando se a longa faz-se ficar m ais fino;
minhas diversas flores, como se diversas flores fossem quando se encurta, faz-se ficar mais grosso. A criança descobre
confundidas com uma mesma classe. Assim as crianças que até que ambas dimensões estão solidamente relacionadas e, ao
nove anos de idade ou vem diariamente uma estrutura descobrir essa relação, ela começará a pensar em termos de
linguística que implica a inclusão de uma subclasse em uma transformação e não somente em termos da configuração final.
classe e no entanto não entendem essa estrutura. É só quando Agora ela dirá que quando fica mais comprido a massa torna-
elas por si mesmas se apoderam com firmeza dessa estrutura se mais fina, logo é a mesma coisa. Há mais da massa no
lógica, quando elas constroem por si mesmas, de acordo com comprimento, porém menos em largura. Quando se faz a
as leis do desenvolvimento que discutiremos, que são bem massa mais curta ela fica mais grossa; há menos no
sucedidas na compreensão correta de expressão linguística. comprimento e mais na largura, logo há uma compensação --
Chego a gora a o quarto fator que se acresce aos três compensação que define o equilíbrio no sentido que eu o defini
precedentes e que parece a mim ser fundamental. É o que eu há pouco. Consequentemente temos operações e conservação.
chamo o fator de equilibração. E m outras palavras, no curso desses desenvolvimentos
Uma vez que já existem três fatores, eles devem de algum encontram-se sempre um processo de auto-regulação que
modo e star equilibrados entre si. Esta é uma razão para trazer chamo de equilibração e que me parece o fator fundamental na
ao foco o fator da equilibração. Há um a segunda razão, aquisição do conhecimento lógico-matemático.
entretanto, que parece-me ser fundamental. É que no ato d e Continuarei agora com a segunda parte de minha
conhecer o sujeito é ativo e, consequentemente, defrontar-se- conferência, isto é, a abordar o tópico da aprendizagem.
á com uma perturbação externa, e reagirá como fim de Classicamente a aprendizagem é baseada no esquema
compensar e consequentemente tenderá para o equilíbrio. O estímulo-resposta. Penso que o esquema estímulo-resposta,
equilíbrio, definido por compensação ativa, leva à embora não diga que lhe seja falso, é de qualquer modo
reversibilidade. A reversibilidade operacional é um modelo de inteiramente incapaz de explicar a aprendizagem cognitiva.
um sistema equilibrado, onde a transformação em um sentido Por quê? Porque quando se pensa no esquema estímulo-
é compensada por uma transformação em outro. A resposta, usualmente se pensa que primeiro há um estímulo e
equilibração, como eu a entendo, é um processo ativo. É um após uma resposta é produzida por este estímulo. De minha
processo de auto regulação. Acho que esta auto-regulação é parte estou convencido de que a resposta estava lá primeiro,
um fator fundamental no desenvolvimento. Uso este termo no se é que posso me expressar assim. Um estímulo é um estímulo
sentido em que ele é usado na cibernética, isto é, no sentido de somente na medida em que é significativo e ele se torna
processos com retro alimentação (feedback e feedforward), de significativo somente na m medida em que há uma estrutura
processos que se regulam a si próprios mediante uma que permite sua assimilação, uma estrutura que pode acolher
compensação progressiva dos sistemas. Este processo de este estímulo, m as que ao mesmo tempo produz a resposta.
equilibração toma a forma de uma sucessão de níveis de Em outras palavras, eu proporia que o esquema estímulo-
equilíbrio, de níveis que tem uma certa probabilidade que resposta fosse escrito em forma circular -- em forma de
chamarei de probabilidade sequencial, isto é, as esquema ou de estrutura que não seja apenas em um sentido.
probabilidades não são estabelecidas a priori. Há uma Eu proporia que a cima de tudo, entre o estímulo e a resposta
sequência de níveis. Não é possível alcançar o segundo nível a haja um organismo, um organismo e sua estrutura. O estímulo
não ser que o equilíbrio tenha sido alcançado no primeiro é realmente um estímulo apenas quando é assimilado por uma
nível, e o equilíbrio do terceiro nível só se torna possível estrutura, e é esta estrutura que produza resposta.
quando o equilíbrio do segundo nível tenha sido alcançado, e Consequentemente, não é um exagero dizer-se que a
assim por diante. Isto é, cada nível é determinado como o mais resposta está lá primeiro, ou se preferirem, que no princípio
provável, dado que o nível precedente tenha sido alcançado. há a estrutura. Naturalmente gostaríamos de compreender
Não é o mais provável no início, mas é o mais provável uma vez como esta estrutura se forma. Tentei fazer isto há pouco,
que o nível precedente tenha sido atingido. Como um exemplo, apresentando um modelo de equilibração ou auto-regulação.
vejamos o desenvolvimento da ideia de conservação na Uma vez que haja uma estrutura, o estímulo produzirá um a
transformação da bola d e plastilina em uma forma de salsicha. resposta, mas somente por intermédio dessa estrutura.
Aqui pode se distinguir quatro níveis. O mais provável no início Gostaria de apresentar alguns fatos. Temos fatos em grande
é a criança pensar em apenas uma dimensão. Suponha-se que número. Escolherei apenas um ou dois e alguns f atos reunidos
haja uma probabilidade de 0,8, por exemplo, de que a criança por nosso colega Smedslund (Smedslund está sediado no
focalizará o comprimento e que a largura tenha uma Centro de Estudos Cognitivos de Harvard). Smedslund chegou
probabilidade de 0 ,2. Isso significaria que de dez crianças, oito a Genebra há alguns anos convencido (havia publicado isso em
focalizariam apenas o comprimento sem prestar atenção para um de seus escritos) que o desenvolvimento das ideias de
a largura, e duas focalizariam a largura sem atenção para o conservação poderia ser indefinidamente acelerado através de
comprimento. Elas focalizariam apenas uma dimensão ou a aprendizagem do tipo e estímulo-resposta. Convidei
outra. Uma vez que as duas dimensões são independentes Smedslund a ficar um ano em Genebra para nos mostrar que
neste estágio, a focalização de ambas ao mesmo tempo tem ele poderia acelerar o desenvolvimento da conservação
uma probabilidade de apenas 0,16. Isto é menos do que seja operacional. Relatarei apenas um de seus experimentos.
uma dentre as duas. Durante o ano que passou em Genebra ele escolheu
Em outras palavras, o mais provável no começo é a Trabalhar com a conservação de peso. A conservação de
focalização em somente uma dimensão e de fato a criança dirá: peso é, de fato, fácil de estudar, uma vez que há um possível
"É mais comprido, logo há m ais na salsicha". Uma vez reforçamento externo, isto é, simplesmente pesando a bola e a
alcançado este primeiro nível, se continuarmos a alongar a salsicha na balança. Logo pode-se estudar as reações das
salsicha, chegará um momento e m que ela dirá: "Não, agora crianças a estes resultados externos. Smedslund estudou a

Bibliografia 62
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conservação de peso, por um lado, e por outro, estudou a com a outra mão e via que havia a mesma quantidade de cada
transitividade de pesos, isto é, a transitividade de igualdades: lado. Então escondia-se um dos copos. Cobria-se com algo. Ele
se A é igual a B e B é igual a C, então A é igual a C, ou a não mais via esse copo, mas continuava a colocar uma conta
transitividade de desigualdades: se A é menos do que B e B é nesse copo e ao m esmo tempo uma conta no que estava vendo.
menos do que C, então A é menos do que C. No que diz respeito Então perguntamos se a igualdade havia sido conservada, se
à conservação, Smedslund foi bem sucedido muito facilmente havia ainda a mesma quantidade em um como no outro copo.
com crianças de cinco e seis anos de idade. Ele conseguiu que Então verificou-se que as crianças bem pequenas, de cerca de
generalizassem que o peso é conservado quando a bola é quatro anos, não queriam fazer qualquer predição. Elas
transformada em formato diferente. diziam: "Antes tinha a mesma quantidade, mas agora não sei.
A criança vê a bola transformada em uma salsicha, ou em Não dá para ver, então não sei".
pequenos pedaços, ou em uma bolacha, ou outra forma; pesa e Elas não queriam generalizar. Mas a generalização foi feita
vê que sempre é a mesma coisa. Ela afirmará que será sempre a partir da idade de cinco anos e meio. Isso está e m contraste
a mesma coisa. Não importa o que se faça com o material; com o caso das fichas azuis e vermelhas, com uma fileira
ficará com o mesmo peso. Assim, Smedslund chegou muito espaçada, onde não antes dos sete ou oito anos é que as
facilmente a conservação d o peso mediante essa espécie de crianças dirão que há o m esmo número d e fichas. Como um
reforço externo. No entanto, em contraste com isto, o mesmo exemplo dessa generalização, lembro-me de um menino de
método não teve sucesso para ensinar a transitividade. As cinco anos e nove meses que esteve colocando as contas no s
crianças resistiam à noção de transitividade. Uma criança copos durante um certo tempo. Quando lhe perguntamos se
predizia corretamente em certos casos, mas fazia suas ele continuasse fazendo isso durante o dia e a noite e no dia
predições como uma possibilidade ou uma probabilidade e seguinte, se haveria sempre a mesma quantia no copo. O
não como uma certeza. Nunca houve essa certeza generalizada menino deu esta admirável resposta: "Quando a gente sabe,
n o caso de transitividade. Assim há o primeiro exemplo, que sabe para sempre". Em outras palavras, este era um raciocínio
me perece muito instrutivo, devido à o f ato de que nesse recorrente. Nesse momento a criança adquire a estrutura
problema de conservação do peso há dois aspectos. Há o neste caso específico. O número é uma síntese de inclusão e
aspecto físico e o aspecto lógico-matemático. Note-se que ordenamento de classe. Essa síntese foi favorecida pelas
Smedeslund começou seu estudo por estabelecer que havia próprias ações da criança. Criou-se uma situação onde há via
uma correlação entre conservação e transitividade. Começou uma interação d e uma mesma ação que continuava e que era
fazendo u m estudo estatístico da relação entre respostas portanto ordenada e ao mesmo tempo inclusiva. Tinha-se, por
espontâneas às questões sobre conservação e respostas assim dizer, uma síntese localizada de inclusão e ordenamento
espontâneas às questões sobre transitividade, e descobriu que que facilitava a construção de ideia de número n esse caso
havia uma correlação muito significativa. Mas na experiência específico, e então pôde-se encontrar, em decorrência, uma
de aprendizagem, ele obteve uma aprendizagem de influência dessa experiência sobre a outra experiência.
conservação e não uma de transitividade. Consequentemente, Entretanto, essa influência não é imediata. Estudamos a
f oi bem sucedido em obter aprendizagem daquilo que chamei generalização a partir dessa situação recorrente para outra
anteriormente de experiência física (isso não é surpreendente; situação em que as fichas eram colocadas na mesa em fileiras
é simplesmente uma questão de observar fatos sobre objetos), e não é uma generalização imediata, mas é tornada possível
mas não obteve sucesso e m obter uma aprendizagem na mediante situações intermediárias. Em outras palavras, pode-
construção da estrutura lógica. Isso tampouco me surpreende, se encontrar alguma aprendizagem dessa estrutura se
uma vez que a estrutura lógica não é o resultado d a basearmos a aprendizagem em estruturas mais simples.
experiência física. Nessa mesma área do desenvolvimento das estruturas
Ela não pode ser obtida por reforço externo. A estrutura numéricas, o psicólogo Joachim Wohlwill, que passou um ano
lógica é alcançada apenas através da equilibração interna, por em nosso Instituto em Genebra, também mostrou que essa
auto-regulação, e o reforço externo de observar a balança não aquisição pode ser acelerada através da introdução de
foi suficiente para estabelecer esta estrutura lógica de operações aditivas, que é o que introduzimos também no
transitividade. Eu poderia dar muitos outros exemplos experimento que descrevi há pouco. Wohlwill introduziu
comparáveis, mas parece-me desnecessário insistir nestes então de um modo diferente, mas também foi capaz de obter
exemplos negativos. Agora gostaria de mostrar que a um certo efeito de aprendizagem. Em outra palavras, a
aprendizagem é possível no caso das estruturas lógico- aprendizagem é possível se basearmos a estrutura mais
matemáticas, mas com uma condição -- isto é, que a estrutura complexa em uma estrutura simples, isto é, quando há uma
que se deseja ensinar aos sujeitos esteja apoiada por relação natural e desenvolvimento de estruturas e não
estruturas lógico-matemáticos mais simples, mais simplesmente um reforço externo. Agora gostaria de tomar
elementares. Dar-lhes-ei um exemplo. É o exemplo da alguns minutos para concluir o que estava dizendo. Minha
conservação do número no caso da correspondência termo a primeira conclusão é a de que as estruturas de aprendizagem
termo. parecem obedecer as mesmas leis que o desenvolvimento
Se dermos a uma criança sete fichas azuis e pedirmos-lhe natural dessas estruturas.
que coloque logo abaixo outras tantas fichas vermelhas, há um Em outras palavras, a aprendizagem está subordinada ao
estágio pré-operacional em que ela colocará uma vermelha desenvolvimento e não vice-versa, como já disse n a
para cada azul. Mas quando se aumenta o espaço entre as introdução. Sem dúvida poderá ser objetado que alguns
vermelhas, fazendo-as formar uma grande fileira, ela dirá: investigadores tiveram sucesso no ensino de estruturas
"Agora há mais vermelhas do que azuis". Como então se p ode operacionais. Mas, quando me deparo com estes fatos, sempre
acelerar, de desejarmos tal, a aquisição dessa conservação de tenho três questões que desejo ter respondidas antes de estar
n úmero? Bem, pode-se imaginar uma estrutura análoga, mas convencido. A primeira questão é: "Isso é uma aprendizagem
em uma situação mais simples, mais elementar. Por exemplo, duradoura? O que permanece duas semanas ou um mês mais
com a senhorita Inhelder, estivemos estudando recentemente tarde?" Se uma estrutura desenvolve-se espontaneamente,
a noção de correspondência termo a termo, dando a criança uma vez alcançado um estado de equilíbrio, ela é duradoura e
dois copos do mesmo formato e uma grande pilha de contas. A continuará através de toda a vida da criança. Quando se atinge
criança punha uma conta com uma mão em um copo e ao a aprendizagem por reforçamento externo, o resultado é
mesmo tempo uma conta em outro copo com a outra mão. Uma duradouro ou não e quais são as condições necessárias para
vez atrás d a outra ela repetia esta ação, uma conta em um copo ser duradouro? A segunda questão é: "Quanto de
com uma mão e, ao mesmo tempo, uma conta no outro copo generalização é possível?"

Bibliografia 63
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O que faz a aprendizagem ser interessante é a ultrapassadas para alcançar um nível mais alto de equilíbrio.
possibilidade de transferir de uma generalização. Quando se Berlyne chama a essa eliminação de incompatibilidades de
desenvolve alguma aprendizagem sempre se pode indagar se reforços internos. Assim vê-se que isso é verdadeiramente
isto é uma peça isolada na né voa da vida mental da criança, uma teoria estímulo-resposta, se desejar-se, mas primeiro
ou se realmente é uma estrutura dinâmica que pode levar à adicionam-se operações e logo acrescenta-se a equilibração. É
generalização. Então há uma terceira questão: "Em caso de tudo o que desejamos.
cada experiência de aprendizagem, qual foi o nível operacional
do sujeito antes d a experiência e que estruturas mais
complexas pôde esta aprendizagem alcançar?" Em outras
palavras, devemos olhar a cada experiência específica de PIMENTA, Selma, G.A. A
aprendizagem do ponto de vista das operações espontâneas
que estiverem presentes no início e o nível operacional que foi
Construção do Projeto
alcançado após a experiência de aprendizagem. Minha Pedagógico na Escola de 1º
segunda conclusão é a de que a relação fundamental envolvida Grau. Ideias nº 8. 1.990, p 17-
em todo de envolvimento e toda aprendizagem não é a relação
de associação. No esquema estímulo-resposta, a relação entre
24.
a resposta e o estímulo é compreendida como sendo uma
associação. Em contraste com isto, julgo que a relação
fundamental é a de assimilação. Assimilação não é o mesmo
que associação. Definirei assimilação como a integração de A construção do projeto pedagógico na escola, a meu ver, é
qualquer espécie de realidade em uma estrutura. É a um trabalho coletivo de professores e pedagogos empenhados
assimilação que me parece fundamental na aprendizagem, e em colocar sua profissão a serviço da democratização do
que me parece a relação fundamental do ponto de vista das ensino em nosso país. Organizei esta exposição em três eixos,
aplicações pedagógicas ou didáticas. iniciando por explicitar o que entendo por democratização do
Todas as minhas afirmações d e hoje representam a ensino e o que entendo por Pedagogia, na tentativa de
criança e o sujeito da aprendizagem como ativos. Uma chegarmos a uma síntese sobre o trabalho pedagógico coletivo
operação é uma atividade. enquanto caminho para a efetiva democratização.
A aprendizagem é possível apenas quando há uma
assimilação ativa. É essa atividade de parte do sujeito que me Democratização do Ensino - Conceito superado?
parece omitida n o esquema estímulo-resposta. A formulação
que proponho coloca ênfase na ideia d a auto-regulação, na Quando iniciamos um tema com o nome "Democratização
assimilação. Toda ênfase é colocada na atividade do próprio do Ensino", corremos o risco de provocar observações do tipo:
sujeito, e penso que sem essa atividade não há possível "este é um conceito superado", 'Já ouvimos falar dele tantas
didática ou pedagogia que transforme significativamente o vezes", como se democracia fosse uma moda passageira.
sujeito. Finalmente, e esta será minha última observação, Entendo que não. A democracia é absolutamente necessária
gostaria de comentar uma excelente publicação do psicólogo para que possamos ter condições sociais justas. Falo, pois, da
Berlyne. Berlyne passou um ano conosco em Genebra, durante necessidade de batalharmos por uma democracia política e
o qual tentou traduzir nossos resultados acerca do social. Como entender aí a democratização do ensino? Existem
desenvolvimento de operações na linguagem estímulo- muitas formas.
resposta, especificamente na teoria da aprendizagem de Hull. Sem entrar em detalhes, abordarei a concepção liberal de
Berlyne publicou em nossa série de estudos de epistemologia democratização do ensino, uma vez que a evolução e os ecos
genética um artigo muito bom sobre esta comparação entre os que nos chegam hoje sobre o tema vêm no bojo da ideologia do
resultados de Genebra e a teoria de Hull. No mesmo volume liberalismo, para a qual democratização deve ser entendida
publiquei um comentário sobre os resultados de Berlyne. Em como ampliação da escola para todos. (A escola para todos foi
essência os resultados de Berlyne são estes: nossos achados desenvolvida em alguns países, adjetivada como pública - o
podem ser muito bem traduzidos para a linguagem Hulliana, que não ocorreu em outros, como o nosso, onde a escola que
mas na condição de que sejam introduzidas duas modificações. se expandiu até a metade do século XX foi a particular.)
O próprio Berlyne achou estas modificações bastante Esta concepção liberal tem sua formulação no bojo das
consideráveis mas elas me pareceram dizer respeito mais a conquistas da humanidade – em consequência da Revolução
conceitualização do que a teoria Hulliana em si. Não estou bem Francesa, da Revolução Industrial -, bem como no início da
certo sobre isso. As duas modificações são as seguintes. constituição do capitalismo.
Primeiramente, Berlyne deseja distinguir duas espécies de Este reclamo de expansão da escolaridade afirma como
resposta no esquema S-R. A primeira resposta no sentido pressuposto que a escola é um direito de todos os cidadãos, e
ordinário e clássico, que chamarei de "resposta cópia”, e a que o Estado deveria oferecê-la e colocá-la ã disposição de
segunda, que Berlyne chamou de "resposta de transformação". todos. No Brasil, a relatividade da democracia está exatamente
As respostas de transformação consistem na na maneira de se compreender este todo e na forma como a
transformação de uma resposta do primeiro tipo em uma evolução da escolaridade se deu no bojo desta concepção
outra resposta de primeiro tipo. Estas transformações de liberal. Se é fato que a escola está ã disposição de todos, isto
respostas são o que chamo de operações e pode-se ver não significa que efetivamente é de direito de todos. A escola
imediatamente que isto é uma modificação muito séria da que se oferece para todas não está desenraizada das condições
conceitualização de Hull, porque está se introduzindo um sociais. Muito ao contrário, é uma escola que está imbricada na
elemento de transformação e assim de assimilação e não mais própria forma como a sociedade está organizada.
a simples associação da teoria estímulo-resposta. A segunda Na medida em que a sociedade capitalista baseia-se na
modificação que Berlyne introduziu na linguagem estímulo- divisão de classes sociais, em que as diferenças são justificadas
resposta é a introdução do que ele chama de reforço interno. O por uma pseudodesigualdade natural, temos ai uma forma
que são estes reforços internos? São o que chamo de ideológica de explicar a desigualdade social.
equilibração ou auto-regulação. Os reforços internos são o que Então, desta forma, a escola "está" oferecida para todos. No
capacita o sujeito a eliminar contradições, incompatibilidades entanto, se as pessoas não têm condições de ter acesso a ela e
e conflitos. Todo desenvolvimento é composto de conflitos e de nela permanecer, isto é interpretado como um problema
incompatibilidades momentâneas que devem ser delas. Ou seja, por esta ótica liberal, as pessoas não conseguem

Bibliografia 64
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

galgar os degraus que a escola oferece, porque nasceram com colocando-os em condições de compreender este mundo no
incapacidade para tal. qual se situam e de perceber, pelos conhecimentos científicos,
Em verdade, esta é uma falsa justificativa da desigualdade os mecanismos de dominação existentes no mundo, estando,
social. A democratização do ensino na ideologia liberal vai com isto, de posse de um instrumento que lhes dê meios de
trazer como conseqüência a organização do aparelho escolar e interferir na sociedade.
da estrutura do ensino, subdividida conforme a divisão das Entendida a democratização do ensino nesta perspectiva
classes sociais: a escola profissionalizante para os filhos das crítica, é importante que situemos, ainda que em breves
trabalhadores e a escola regular para os da elite, instituindo- pinceladas, como esta questão tem-se apresentado na
se um sistema dual de ensino. A finalidade explícita do ensino escolarização brasileira.
profissionalizante é a preparação da mão-de-obra para o Inquestionavelmente, o sistema de escolas no Brasil foi
mercado de trabalho, ou seja, para a manutenção do método ampliado de algumas décadas para cá. Todavia, esta
de produção capitalista. ampliação, sobretudo da escola de 1° Grau, foi calcada no
Podemos concluir daí que a democracia liberal expande conceito liberal de democracia, o que nos permite encontrar
efetivamente a escolaridade; no entanto, não lhe interessa uma explicação para o que ocorre hoje nas nossas escolas. De
equacionar o problema da impossibilidade do acesso e da um lado esta ampliação não foi ainda generalizada na sua
permanência, na medida em que sustenta um modelo de escola totalidade. Mais do que isto, de outro lado a generalização que
incapaz disto e expande um sistema dual de ensino, calcado na ocorreu provocou ou foi trabalhada na perspectiva de manter
desigualdade social, portanto incapaz de ultrapassar essa a escola no limite da sobrevivência, em precárias condições.
mesma desigualdade. A escola brasileira é uma escola que até existe. Contudo,
Neste ponto, indagamos: como entender a questão da está muito distante de responder aos anseios da população
reivindicação da escola para todos, isto é, como entendera que a freqüenta, muito distante de responder às mínimas
democratização do ensino? condições de trabalho dos profissionais que nela exercem a
A reivindicação da escola para todos permanece como sua profissão, muito distante de ser considerada,
princípio necessário, como princípio válido. No entanto, efetivamente, um serviço público.
precisamos ter o cuidado de, no momento que defendermos Neste ponto, abrimos espaço para entender como, nesta
esta tese, qualificar o que significa este para todos, porque se reflexão, é possível e necessário imbricamos na questão
permanecermos numa leitura liberal teremos esta deturpação, pedagógica.
que explica de alguma forma a degeneração da escola no
Brasil, hoje. A Pedagogia é Necessária?
Numa perspectiva crítica, a escola para todos requer que a
definamos como pública, gratuita, de boa qualidade e única - Para situarmos a importância da construção do projeto
ou seja, uma escola mantida pelo Estado enquanto equalizador pedagógico na democratização do ensino, é necessário
das contribuições dos cidadãos, portanto gratuita, organizada explicitarmos o entendimento que temos da Pedagogia.
e funcionando de forma a assegurar que todos tenham acesso
a ela, que nela permaneçam, aprendam; por fim uma escola de O que é Pedagogia no Brasil? O que tem sido? Para que
formação geral, sem a dualidade de classes. serve?
Há que se repensar, portanto, a própria organização, Com a ampliação desregrada dos cursos de Pedagogia no
expansão e funcionamento da Escola Pública. Uma escola que Brasil, na década de 70, bem como com a implantação da Lei
trabalhe o conhecimento de forma a superar a divisão da n° 5.692/71, grande parte das Escolas Públicas passou a
sociedade em classes, bem como a dualidade escola acadêmica contar com o pedagogo -supervisor de ensino e orientador
para a elite/escola profissionalizante para o pobre. Entretanto, educacional - nos seus quadros.
deve ser uma escola de 1o. e 2o. Graus com a finalidade Naquela época, uma reforma nos cursos de Pedagogia
precípua de trabalhar o conhecimento, na perspectiva de incorporou a visão tecnicista da Educação, enfatizando o fazer
socializá-lo, ou seja, de que todos os alunos tenham acesso e pedagógico fragmentado e destituído de uma compreensão
possibilidade efetiva de ter o domínio do conhecimento - o teórica dos problemas da Educação e, em especial, da educação
conhecimento que dê condições de entender, compreender, escolar brasileira, uma vez que estava calcada em modelos
fazer a leitura das condições de dominação existentes no estrangeiros e numa formação aligeirada.
mundo historicamente situado, na sociedade brasileira Assim, os pedagogos, incorporando as mazelas de sua
historicamente situada, de tal maneira que os alunos consigam formação, via de regra, passaram a atuar como burocratas do
cormpreender o quanto e cano a apropriação do conhecimento sistema, vigilantes da ordem estabelecida. Se lembrarmos que
científico tem-se dado contra os interesses da humanidade a ordem vigente era o autoritarismo do regime militar, que no
como um todo e o quanto o conhecimento tem sido apropriado avanço do capitalismo brasileiro manteve e acentuou a escola
como condição dos privilégios dominantes. nos limites da precária sobrevivência, então concluiremos que
O que deixa isto saltar aos nossos olhos é um exemplo a reformulação dos cursos de Pedagogia, bem como das
bastante simples. O avanço que podemos identificar hoje na licenciaturas que formam professores, associada ao descaso
Medicina é um avanço de conhecimento gigantesco, fabuloso, dos governos pela Educação, veio consolidar o
a ponto de realizar um transplante de órgãos, por exemplo. empobrecimento da Escola Pública.
Isto requer um conhecimento altamente sofisticado e Por isso é que fomos tentados a imputar "a culpa" pelo
elaborado. No entanto, ao lado deste avanço do conhecimento fracasso da escola aos pedagogos, colocando-os como
científico na área da Medicina, temos a maioria das crianças e tradutores do modelo fabril e fragmentadores do processo
da população brasileira morrendo de doenças para as quais educativo escolar, responsabilizando-os como expropriadores
essa Ciência já encontrou remédio há muito tempo. Este dos conhecimentos dos professores. Em que pese a
exemplo mostra claramente o uso do conhecimento em favor importância da denúncia contida nestas afirmações, parece-
de interesses dominantes. me que tais teses estão a merecer análises aprofundadas, que
examinem a Pedagogia na totalidade da educação escolar
Entendo que a democratização do ensino é a reivindicação brasileira.
pela expansão da educação escolar pública. Portanto, não
admitindo a privatização nem a diferenciação de escola A Pedagogia entre nós é recente. O primeiro curso foi
conforme interesses dominantes, e julgando que a finalidade instituído legalmente em 1939.
precípua da escola é desenvolver formação geral nos alunos,

Bibliografia 65
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Nestes 50 anos ocorreram muitas idas e vindas. Tivemos funcionamento didático-pedagógico, todas as questões ligadas
uma Pedagogia importada, mal-importada, modelada ora na à discussão do que é necessário na perspectiva de
França, ora nos Estados Unidos, ora na Espanha, e acabamos democratização, à insuficiência existente na formação dos
incorporando-a, sem nos perguntarmos sobre sua validade. O professores, à questão salarial, à administração da educação
que é uma mais ampla, enfim, são questões pedagógicas; são questões
Pedagogia brasileira? O que deve ser'? Em que a Pedagogia, que se traduzem no fazer pedagógico e que requerem
na sua história, na sua vasta história, pode contribuir para a profissionais competentes para isto.
criação de um pensamento pedagógico brasileiro?
Estamos engatinhando nestas questões, podendo, no É evidente que, ao acentuar esta competência, penso que
entanto, constatar avanços. O primeiro refere-se à tenha ficado bem claro que esta é necessariamente uma
conceituação de Pedagogia; o segundo, à já significativa competência política, uma competência que aponta para a
produção pedagógica brasileira. formação e o exercício da profissão em determinadas
condições histórico-sociais da educação escolar. Por isso é que
Hoje podemos dizer que temos alguma compreensão do me parece extremamente importante que se tenha muita
que possa vir a ser a Pedagogia. É possível afirmá-la como uma clareza quando falamos em democratização do ensino.
teoria, uma teoria da Educação.
Entendemos por teoria a constituição de um pensamento Construção do Projeto Pedagógico - Um fazer coletivo
refletido sobre uma prática que se volta para a prática.
Podemos, portanto, assumir com Francisco LARROYO (1944) Admitir um projeto significa ter consciência do que se
que o fato pedagógico é anterior à teoria, como o é, aliás, em quer, ou seja, se falo em projeto pedagógico tenho de ter,
toda ciência. E ainda assumir com KOWARZICK (1974) que, previamente, clareza de que me estou pautando em
para ultrapassarmos a constatação do fato, a teoria pedagógica determinadas concepções de Educação e de ensino. Acredito
deve ser dialética, isto é, ela deve encarar a sua tarefa que o ponto de partida para o projeto real é a explicitação de
conscientemente como a de ser ciência prática - ciência prática que queremos uma Escola Pública democrática - daí a
da e para a práxis educacional, ou seja, temos aqui um importância de firmarmos o que entendemos por democracia.
movimento da teoria à prática e desta à teoria.
Nesta perspectiva, e assumindo o quanto de riqueza isto A escola que se quer democrática precisa definir, a priori,
traz para o avanço do conhecimento da teoria pedagógica uma nova qualidade, que passa, dentre outras, pelas questões
entre nós, podemos identificar um segundo aspecto positivo de organização escolar - uma organização escolar que
na Educação brasileira. É o fato de que desde 1980 temos tido modifique a realidade que aí está, a partir dessa realidade
possibilidade de nos debruçar sobre os fatos da Educação encontrada.
brasileira, orientados por visões teóricas, refletindo sobre eles Um dos requisitos de uma nova qualidade pode ser
e construindo novas teorias. Podemos situar em vários locais definido por professores capacitados, com formação específica
do Brasil profissionais que se debruçam sobre os fatos e a e experiência, selecionados por critérios de competência,
prática, e que estão fazendo teoria, publicando as conclusões conforme um quadro de carreira que impeça influências
dos últimos anos. Esta produção acadêmica é resultante da clientelísticas. A organização administrativa da escola precisa
relação entre as universidades, as secretarias da Educação e os colocar-se a serviço do pedagógico, o que significa:
sistemas públicos, e está-nos possibilitando enxergar com • compor turmas, turnos e horários adequados a critérios
mais clareza os fatos educacionais. pedagógicos que favoreçam a aprendizagem;
Nesta diretriz, um caminho que tem sido apontado é o de • prever capacitação em serviço e assistência didático-
examinarmos o que ocorreu e ocorre na escola de 1° Grau e no pedagógica constante aos professores, de forma a assegurar o
sistema de ensino como um todo. retomo dos benefícios para a escola;
• definir equipes didático-pedagógicas (orientação
Particularmente, tenho-me debruçado sobre o fazer pedagógica e educacional) de assessoria à atividade docente
pedagógico intrínseco à educação escolar de 1° e 2° Graus, na escola;
entendendo-o como campo de estudos dos especialistas. • assegurar horários para reuniões pedagógicas, abrindo
Nestes estudos temos destacado a complexidade dos espaço para a discussão sobre questões do ensino, para a troca
fenômenos da aprendizagem, dos sistemas de organização de experiências, para o estudo sobre temas de Educação que
administrativa do complexo chamado escola e das diferentes e favoreçam a melhoria da qualidade do trabalho docente;
múltiplas formas de organização que apontam para a direção • articular as disciplinas do currículo de modo a assegurar
de uma escola na democratização do ensino. Nesta conteúdos orgânicos;
perspectiva, entendo que a teoria da Educação, como reflexão • acompanhar o rendimento dos alunos e prever formas de
sobre a prática, aponta para a importância de os profissionais suprir possíveis requisitos, sem rebaixar o nível do ensino.
denominados pedagogos atuarem neste complexo chamado A organização escolar que se faz necessária é uma
escola. Assim, a formação destes profissionais precisa estar organização competente pedagogicamente, de forma a alterar
voltada na direção de responder aos reclamos da realidade o atual quadro da escola que aí está.
escolar. A organização escolar é, por assim dizer, o conteúdo do
trabalho coletivo de professores e pedagogos na construção do
Neste sentido, o trabalho dos pedagogos circunda a projeto pedagógico - projeto este com clareza de seus fins, que
atividade mais importante da escola - que é a sala de aula. Mas se efetive no cotidiano; por isso é construção, não está pronto,
o trabalho que determina o fazer pedagógico não se limita à acabado, mas se faz com profissionais
sala de aula; ele a extrapola competentes/comprometidos.
A construção do projeto pedagógico pelo coletivo dos
Assim, todas as questões ligadas à administração da educadores escolares objetiva a democratização do ensino,
organização escolar, todas as questões ligadas à cujo núcleo é a democratização do saber, que passa agora a se
interdisciplinaridade, todas as questões relacionadas ao diferenciar da democratização das relações internas, sem no
trabalho coletivo, às formas de organização escolar que entanto se desvincular delas.
melhor propiciam o trabalho coletivo, todas as questões A democratização das relações internas da escola constitui
vinculadas à articulação da escola com a sua realidade mediação para a democratização da Educação, o que não
imediata, ligadas, portanto, a horário, grade, organização do significa diminuir sua importância; pelo contrário, admitir a

Bibliografia 66
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

democratização das relações internas como mediação para a A organização da escola é competência tanto dos
democratização da educação significa considerá-la condição profissionais docentes como dos não-docentes. Seria ingênuo
sine qua non desta, porém não a única. As relações advogar que o professor de sala de aula deve suprir todas as
democráticas na escola, a participação nas decisões, o funções que estão fora da sala de aula, mas que nela
envolvimento da equipe de professores no trabalho são interferem, quer dizer, interferem no trabalho docente, o que
mediações básicas do objetivo do trabalho docente - ensinar não significa que este só atue na sala de aula.
de modo a que os alunos aprendam -, mas não são suficientes Assim, as tarefas que são objeto do trabalho social coletivo
nem exclusivas. dos profissionais da escola podem ser listadas como segue:
Portanto, opor a democratização do saber à • Seleção, distribuição e organização dos conteúdos a
democratização das relações internas, como se fossem pólos serem ensinados, considerados relevantes na prática social. Os
excludentes, é um falso problema. Cumpre reafirmar que o conteúdos têm objetivos sociopolíticos- por isso devem ser
núcleo de trabalho docente é o ensino-aprendizagem, selecionados a partir da prática social existente, a qual deve
enquanto mediação entre os indivíduos que compõem uma passar pelo crivo da crítica, a fim de que se construa uma
sociedade e os modelos sociais vigentes nessa sociedade prática social transformadora. Desta forma, as fontes para a
- o que se faz pelo ensino crítico dos conteúdos. As relações seleção dos conteúdos são a natureza primária enquanto
democráticas de trabalho na escola favorecem a consecução objeto de conhecimentos; a natureza transformada pela ação
deste núcleo. A participação dos professores na organização da dos homens (natureza secundária); as relações sociais; o
escola, nos conteúdos a serem ensinados, nas suas formas de conhecimento em si. Impõe-se como tarefa necessária, pois, a
administração, será tão mais efetivamente democrática na revisão dos conteúdos, cujos princípios norteadores devem
medida em que estes dominarem os conteúdos e as ser a visão política da educação escolar como prática social
metodologias dos seus campos específicos, bem como o seu situada numa sociedade de classes; o domínio dos conteúdos
significado social, pois só quem domina as suas especificidades específicos pelos diferentes professores; o conhecimento e a
numa perspectiva de totalidade (significado social da prática constante identificação das possibilidades socioculturais
de cada um) é capaz de exercer a autonomia na reorganização individuais dos alunos; a articulação das matérias (conteúdos)
da escola, a fim de melhor propiciar a sua finalidade: do ensino. A revisão dos conteúdos se dá a partir do que é
democratização da sociedade pela democratização do saber. historicamente necessário (a transformação da situação de
Que organização escolar favorece a consecução do objetivo desigualdades sociais), articulado com o que é historicamente
de torná-la um instrumento de emancipação das camadas possível (a situação de desigualdades sociais).
populares? O trabalho de revisão dos conteúdos requer o concurso de
A esta indagação a resposta imediata é que certamente não todos os profissionais da escola. Para cada princípio de seleção
é a escola que aí está, pois esta há anos cumpre a função de e organização dos conteúdos ora expostos é preciso que os
expulsar os alunos provenientes das camadas médias e baixas profissionais da educação escolar, partindo das condições
que têm tido acesso a ela, pela ampliação quantitativa de existentes, tomem decisões e estabeleçam formas de suprir
vagas. Tal escola está organizada a partir do aluno "ideal". aquilo que inexiste: as condições de trabalho para a
Calcada no modelo da classe dominante, ela se estrutura consecução do núcleo do trabalho docente que é o ensino-
segundo o princípio da homogeneidade, que, partindo de uma aprendizagem.
suposta uniformidade das características de ingresso da • A complexidade da organização escolar requer o
população, tem de se conformar com um critério de prioridade concurso de profissionais não-docentes que, tendo
estatística, com base na qual se definiu o aluno médio, isto é, determinadas competências, devem cuidar de tarefas relativas
dotado suficientemente das qualidades necessárias para ã articulação dos conteúdos; à composição de turmas
aprender e só ter de reproduzir na salda a mesma homogêneas, heterogêneas, bem como ao que fazer com cada
variabilidade real das condições de entrada. uma delas; ao acompanhamento didático-pedagógico aos
Este aluno sempre teve o acesso e a permanência na escola professores, em virtude de novos tipos de organização
garantidos. Assim, do ponto de vista dos conteúdos de ensino, curricular - por exemplo, a do Ciclo Básico -, em face das
dosagem, ritmo etc.; das metodologias de ensino; do tipo de questões metodológicas e de articulação de conteúdos-
relação entre professor e aluno, aluno e escola, escola e pais, métodos, em virtude da avaliação que deve ser
professores e técnicos, professores entre si; da grade horária, constantemente diagnosticada, requerendo conhecimentos
distribuição das aulas na semana, horários; da sistemática de técnicos específicos, bem como das dificuldades de
avaliação, aprovação, reforço etc., a Escola aprendizagem que os alunos apresentam. É importante
Pública que aí está tem cumprido a função seletiva e de ressaltar, ainda, que as decisões quanto a horários adequados
evasão que privilegia os já privilegiados. às possibilidades dos alunos, dos períodos escolares - quantos,
No entanto, à indagação feita - que organização escolar como organizá-los, número de alunos em sala, distribuição das
favorece a consecução do objetivo de torná-la um instrumento matérias na semana, combinação dos horários de estudo e de
de emancipação das camadas populares? - é preciso responder trabalho em aula e os horários de merenda e recreação de tal
que é a partir da escola que está aí que se deve construir a forma a possibilitar o aproveitamento máximo dos trabalhos
"nova". escolares; os dias letivos -, sua utilização favorável para
Ou seja, a organização escolar que possibilitará a ampliar as possibilidades de estudo e trabalho escolar, a
consecução do objetivo de emancipação das camadas atribuição de aulas e distribuição dos professores nas turmas
populares será engendrada a partir das condições existentes, de forma a propiciar a melhoria qualitativa do trabalho em
porque, dentre outras razões, é na escola que aí está que aulas são questões administrativas que requerem a
encontramos elementos válidos que mostram possibilidades competência, não exclusiva, do pedagogo, especialista da
para o que deve ser a nova organização escolar. Em outras Educação.
palavras, não se trata de conceber previamente um tipo de Enfim, trata-se de os educadores propiciarem, no interior
organização escolar ideal, mas de garimpar no já existente os da escola, condições as mais favoráveis possíveis para a
elementos que, fortalecidos, apontam para novas práticas, o democratização do ensino, lembrando com B. CHARLOT (A
que requer pesquisas, análises, observações e mistificação pedagógica p. 293) que: "Elaborar um sistema
experimentação, conduzidas a partir da finalidade de colocar a pedagógico é definir um projeto de sociedade e tirar dele as
escola como instância socializadora do saber para as camadas conseqüências pedagógicas".
populares.

Bibliografia 67
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Presente em todos os espaços, de diferentes formas, nos


diferentes contextos, a educação invade nossas vidas. Nessa
QUEIROZ, Cecília T. A. P. de; perspectiva, sempre achamos que temos alguma coisa a dizer
MOITA, Filomena M. G. da S.C. sobre educação.
Fundamentos sócio-filosóficos Assim, iniciamos nossa reflexão com o que alguns índios,
certa vez, escreveram:
da educação. Campina Grande;
Natal: UEPB/UFRN, 2007. Há muitos anos, nos Estados Unidos, os estados da Virgínia e
(MEC/SEB/SEED). Maryland assinaram um tratado de paz com os índios das Seis
Nações. Sabendo que as promessas e os símbolos da educação
sempre foram muito adequados em momentos solenes como
aquele, logo depois dos termos do tratado serem assinados, os
Prezado (a) Candidato (a), o seguinte conteúdo é referente governantes americanos mandaram cartas aos índios
a aula 01 da bibliografia requisitada. Por conta de sua extensão convidando-os para que enviassem alguns dos seus jovens às
ela não aqui inteiramente trabalhada. Nossa equipe de tutores escolas dos brancos. Os chefes indígenas responderam
está à disposição no caso de dúvidas. agradecendo e recusando. Veja, abaixo, alguns trechos da
justificativa.
Apresentação19
““... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores
Seja bem-vindo/a à disciplina Fundamentos Sócio- desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração.
filosóficos da Educação. Assim, tal como na natureza, a água, o Mas daqueles que são sábios reconhecem que diferentes
fogo, a terra e o ar convivem de forma integrada e são energia nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os
essencial à vida. A nossa disciplina Integra a Base Teórica do senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de
Curso de Licenciatura em Geografia a Distância. educação não é a mesma que a nossa.
A disciplina compreenderá uma série de reflexões em
torno de questionamentos acerca da Educação, abordará ... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formandos nas
conteúdos relevantes à formação profissional e, ao mesmo escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas,
tempo, fará articulação com o estudo de outras disciplinas do quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores,
currículo. Iremos identificar e analisar os fundamentos ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio
teóricos e práticos que subsidiam a formação do/a profissional e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e
de educação, em especial, no curso de Geografia, fazendo uma construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles
articulação, também, entre educação e sociedade ao longo da eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como
história. guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
Nesta disciplina usaremos uma metáfora, pois a
compararemos a “uma viagem marítima”, razão por que, Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e,
recorremos a palavras ligadas a esse tema, a saber: zarpando, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão,
porto, mergulhando, mergulho mais profundo, timoneiro, oferecemos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos seus
leme, rotas, porto etc. jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos,
Faremos, durante as 15 aulas, o diário de bordo – um deles, homens.“ (BRANDÃO, 1998, p.18-19)
memorial reflexivo, crítico e descritivo de todo o percurso da Essa carta acabou conhecida porque, alguns anos mais
disciplina. O memorial deverá ser construído ao longo de cada tarde, Benjamim Franklin adotou o costume de divulgá-la. A
aula e servirá como avaliação de seu processo formativo. carta dos índios que vocês acabaram de ler apresenta algumas
Alguns de vocês já são professores, e outros estão se das questões importantes que vêm sendo objeto de estudo,
preparando para isso. Todos juntos vão construir e reconstruir reflexão e discussão de pesquisadores/as e educadores/as.
conceitos, atitudes, habilidades e valores imprescindíveis à
atuação como profissionais de educação, conscientes de seu Benjamin Franklin (1706 - 1790) Franklin tornou-se o
papel pedagógico, político e social. primeiro Postmaster General (ministro dos correios) dos
Ficou claro? Venha para iniciar uma viagem tranqüila e Estados Unidos da América. Foi um jornalista, editor, autor,
produtiva. Conduza seu barco de forma autônoma, crítica e filantropo, abolicionista, funcionário público, cientista,
criativa; aprofunde os estudos, partindo de nossas sugestões diplomata e inventor estadunidense, que foi também um dos
e/ou outras fontes encontradas por iniciativa pessoal, não líderes da Revolução Americana, e é muito conhecido pelas
esqueça das atividades solicitadas. suas muitas citações e pelas experiências com a eletricidade.
Agora que já explicamos como vai decorrer nossa viagem, Um homem religioso, calvinista, é ao mesmo tempo uma figura
acredito que deve estar ansioso/a por iniciar o primeiro representativa do Iluminismo.
trecho. Durante esse percurso, atravessaremos rios e mares Disponível em:
que nos levarão a entender melhor o conceito de educação e http://br.geocities.com/saladefisica9/biografias/franklin.htm Acesso em: 23
maio 2007.
assim perceber que há várias opiniões diferentes sobre a
temática. Está curioso/a? Você vai conhecer alguns
Será que há uma forma única, um único modelo de
pensadores e suas idéias, que lhe indicarão as rotas a seguir.
educação?
Acreditamos que não. Aprende-se e ensina-se em todos os
Zarpando...
lugares. Nesse sentido, a escola não é o único espaço
educacional; o ensino escolar não é a sua única prática e o
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou
professor não é o único praticante.
na escola, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para
aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber,
para fazer ou para conviver com uma ou com várias:
Educação? Educações?

19http://www.ead.uepb.edu.br/ava/arquivos/cursos/geografia/fundame

ntos_socio_filosoficos_da_educacao/Fasciculo_01.pdf

Bibliografia 68
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Parafraseando (MCLUHAN, 1964), estamos vendo que pedagógicas, que veremos mais profundamente em outros
chegará o dia – e talvez este já seja uma realidade – em que trechos do nosso percurso.
nossas crianças aprenderão muito mais e com maior rapidez Vamos começar com Émile Durkheim, para quem
em contato com o mundo exterior do que no recinto da escola. Educação é essencialmente o processo pelo qual aprendemos
Isso nós já podemos observar no cotidiano. Uma vez que já a ser membros da sociedade. Educação é socialização! É uma
assistimos a jovens e adultos que nos perguntam: Por que ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como
retornar à escola e deter minha educação? Este queremos. E, afirma que existem certos costumes, regras que
questionamento é feito por jovens que interrompem precisam e devem ser obrigatoriamente transmitidos no
prematuramente seus estudos. Parece uma pergunta processo educacional, gostemos ou não deles.
arrogante, mas como nos diz o autor acerta no alvo: o meio
urbano poderoso explode de energia e de uma massa de Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês,
informações diversas, insistentes, irreversíveis. positivista, viveu em um rico e conturbado momento histórico:
de um lado, a Revolução Francesa, e de outro, a Revolução
A Educação, entendida como construção coletiva de Industrial. “Bebeu” na fonte do pensamento de Auguste Comte
produção do conhecimento, da ação social, busca intencional (1798- 1857), pai do Positivismo e filho do Iluminismo que
de sentidos e significados, diálogo e interação, perpassa todas enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar o
as práticas sociais. universo.
Em casa, na rua, na igreja, no sindicato, no clube, de um Para Durkheim, a tarefa da educação era buscar “soluções”
modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida para a crise da burguesia do final de século XIX, que lutava para
com ela: para fazer, para saber, para ensinar, para ser ou continuar como detentora do poder político e econômico.
conviver. Mas a educação (o processo educativo) carece de Disponível em:
http://cienciadaeducacao.vilabol.uol.com.br/Pensadores.htm Acesso em: abr.
definições quanto às suas finalidades e caminhos usados na 2007.
sua concretização, conforme as opções que se façam quanto ao
tipo de homem/mulher – ser que se quer formar, que tipo de Seu pensamento refletia diferentes “educações”. Cada
sociedade se deseja e se quer construir. casta, classes ou grupo social deveria ter sua própria educação
Nesse sentido, a educação, conceitualmente e na prática, para adequar cada um a seus meios específicos de vida, ou seja,
passa a sofrer as diversas influências das diferentes forças aqueles que nascessem pobres deveriam adaptar-se à sua
sociais e políticas que a percebem como objeto de poder e realidade, e aqueles que nascessem ricos deveriam adaptar-se
instrumento fundamental no campo das disputas políticas e à sua condição e, assim, cada um desempenharia o seu papel
ideológicas. social de forma harmoniosa.Suas idéias influenciaram
grandemente as correntes pedagógicas até os dias atuais.
E por que essa disputa ideológica e sócio-política
acontece? Outro importante pensador, Karl Marx, dizia que a
educação é diretamente relacionada aos interesses de classe.
Porque, quando homens e mulheres têm acesso à “Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver exposta, ela
educação, a um “tipo” de educação e ao conhecimento podem pode ser uma educação para a alienação ou para a
desvendar os motivos das desigualdades. Bem informados, emancipação”.
podemos reivindicar/exigir nossos direitos em todos os
espaços sociais: na família, na escola, no mercado, no ônibus, KarlHeinrich Marx (1818-1883), intelectual alemão, é
nos serviços de saúde. considerado um dos fundadores da Sociologia, mas, que
Podemos ainda, qualificarmos melhor nossa participação contribuiu com várias outras áreas: filosofia, economia,
nos espaços sociais de decisão: conselhos escolares, história. Elaborou, em parceria com Friedrich Engels (1820-
associação de moradores, sindicatos, partidos políticos, igreja 1895) também filósofo alemão, a Doutrina dos teóricos do
etc. Esse conhecimento não interessa a todos, afinal, quando Socialismo Científico ou Marxismo e escrevem juntos o
não sabemos, podemos ser manipulados. É esse entendimento Manifesto Comunista, “historicamente um dos tratados
que vamos aprofundar ao longo da leitura dos diferentes políticos de maior influência mundial, publicado pela primeira
conceitos e do contexto histórico em que foram elaborados. vez em 21/02/1848, em que os autores partem de uma análise
histórica, distinguindo as várias formas de opressão social
Mergulhando mais profundo... durante os séculos e situa na burguesia moderna como nova
classe opressora, que super-valoriza a liberdade econômica
As diferentes concepções e teorias, ao longo da história, em detrimento das relações pessoais e sociais, assim tratando
têm focado a Educação com ênfase, ora no conhecimento, ora o operário como uma simples peça de trabalho que o deixa
nos métodos de ensino, ora no aluno, ora no educador, ora em completamente desmotivado e contribuindo para a sua
ambos. Essas diferentes formas de “pensar” trouxeram e miserabilidade e coisificação.
trazem conseqüências diversas em cada momento histórico, Disponível em: http://www.comunismo.com.br/biomarx. html Acesso em:
para os grupos hegemônicos de cada sociedade e todas se abr. 2007.
revestem de uma intencionalidade, de objetivos, que exercem
forte influência sobre nosso jeito de fazer Educação e no modo O professor Tosi Rodrigues (2002) coloca que Marx, a
como nos organizamos socialmente. partir de seus estudos sobre as conseqüências da Revolução
Você perceberá que o Conceito de Educação não é Industrial, na vida dos trabalhadores ingleses, concluiu que o
consenso, ao contrário, abrange uma diversidade significativa tipo de educação dado às crianças operárias era tão precário
de concepções e correntes de pensamento, que estão que só poderia servir para perpetuar as relações de opressão
relacionadas diretamente ao período histórico, ao movimento às quais as crianças e seus pais estavam sujeitos.
social, econômico, cultural, político nacional e internacional. Segundo relato citado por Marx, em seu livro sobre a
Quer conhecer o que alguns pensadores e educadores realidade de uma das escolas que visitou, “a sala de aula tinha
dizem sobre o que é educação e qual o seu papel social, político 15 pés de comprimento por 10 pés de largura e continha 75
e cultural? crianças que grunhiam algo ininteligível (...) Além disso, o
Então preste atenção às idéias, que lhe apresentaremos mobiliário escolar era pobre, faltavam livros e material de
logo a seguir, que foram ou são fundamentos para as práticas ensino e uma atmosfera viciada e fétida exercia efeito
deprimente sobre as infelizes crianças. Estive em muitas

Bibliografia 69
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

dessas escolas e nelas vi filas inteiras de crianças que não nesse sentido, o conhecimento, como construção social. Ainda
faziam absolutamente nada, e a isso se dá o atestado de segundo o autor “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
freqüência escolar; e a esses meninos figuram na categoria de mesmo, as pessoas se educam entre si, mediatizadas pelo
instruídos de nossas estatísticas oficiais” (O Capital, 1968, Vol. mundo” (2002 p.68).
1, Livro 1).
Os estudos de Marx tiveram e têm uma forte influência nas Paulo Freire: Biografia resumida - O caminho de um
idéias pedagógicas no mundo e aqui no Brasil. Dessa corrente Educador. Nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. É
de pensamento sociológico, decorre as chamadas pedagogias considerado um dos grandes educadores da atualidade e
críticas, que estudaremos mais adiante. respeitado mundialmente. Publicou várias obras que foram
traduzidas e comentadas em vários países. Suas primeiras
No início do percurso desse trecho, aportamos na França, experiências educacionais foram realizadas em 1962 em
conhecemos Durkheim, depois, na Alemanha onde Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores
encontramos Marx. Agora, seguindo nossa viagem, vamos rurais se alfabetizaram em 45 dias.Participou ativamente do
conhecer outro importante pensador na Suíça e, logo em MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife.
seguida, vamos ao Brasil. Suas atividades são interrompidas com o golpe militar de
Jean-Jaques Rousseau afirmava que “nascemos fracos, 1964, que determinou sua prisão. Exila-se por 14 anos no Chile
precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos e posteriormente vive como cidadão do mundo. Com sua
necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos participação, o Chile, recebe uma distinção da UNESCO, por ser
de juízo. Tudo que não temos ao nascer e de que precisamos, um dos países que mais contribuíram à época, para a
quando adultos, nos é transmitido pela educação”. Seria, para superação do analfabetismo.Em 1970, junto a outros
ele, a educação responsável pela formação do cidadão em brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, cria o IDAC (Instituto
todos os sentidos. Pois acreditava que o homem nasce bom, de Ação Cultural), que assessora diversos movimentos
mas a sociedade o perverte. populares, em vários locais do mundo. Retornando do exílio,
Paulo Freire continua com suas atividades de escritor e
Jean-Jaques Rousseau (1712-1978), filósofo e escritor debatedor, assume cargos em universidades e ocupa, ainda, o
suíço, foi uma das principais inspirações ideológicas da cargo de Secretário Municipal de Educação da Prefeitura de
segunda fase da Revolução Francesa: inspirou fortemente os São Paulo, na gestão da Prefeita Luisa Erundina, do PT.
revolucionários, que defendiam o princípio da soberania Algumas de suas principais obras: Educação como Prática
popular e da igualdade de direitos. Apontava a desigualdade e de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné Bissau,
a injustiça como frutos da competição e da hierarquia mal Vivendo e Aprendendo, A importância do ato de ler, Pedagogia
constituída. Segundo suas idéias, o grande objetivo do governo da Autonomia.
deveria ser assegurar liberdade, igualdade e justiça para todos, Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/paulo.html
Acesso em: abr. 2007.
independentemente da vontade da maioria. Estudioso da
filosofia da educação, enalteceu a “educação natural”,
Freire (1997), também nos ensina que a educação não é
defendendo um acordo livre entre o mestre e o aluno. Seu
neutra, ao contrário, é um dos instrumentos capazes de:
trabalho se tornou a diretriz das correntes pedagógicas nos
garantir aos cidadãos o atendimento às necessidades que
séculos seguintes. Lançou sua filosofia, não somente através de
permitem o seu desenvolvimento integral, que possibilita a
escritos filosóficos formais, mas também de romances, cartas
integração entre o pensar e agir, porque quando o pensar é
e de sua autobiografia.
Disponível em: http://www.culturabrasil.org/rousseau. htm Acesso em: privado de realidade e o agir, de sentido, ambos ficam sem
20 abr. 2007. significado.
Caso contrário, podemos reproduzir uma educação que se
Chegando ao Brasil coloca como mera transmissora de informações
descontextualizadas historicamente, sem autor, sem
Vamos conhecer os liberais e suas idéias sobre a educação, intencionalidade “clara” e privada de sentido, a que o autor
que eram defendidas com um grande otimismo pedagógico: denominou de educação bancária. “Minha presença no mundo
eles queriam reconstruir a sociedade por meio da educação não é a de quem nele se adapta, mas de quem nele se insere. É
(GADOTTI, 1993). a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito
Vocês já ouviram falar dos liberais? Se não, prestem também da história” (FREIRE, 1983, p. 57).
atenção. Era um grupo de intelectuais profundamente Sendo assim, educar é construir, é libertar o homem do
enraizados na classe burguesa, que defendiam e justificavam o determinismo, passando a reconhecer o seu papel na História
modelo econômico da época, que privilegiava alguns, em e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua
detrimento da maioria. Defendiam, apenas, alterações no dimensão individual, como em relação à classe dos educandos
como ensinar, e não, no modelo de educação excludente. é essencial à prática pedagógica libertadora.
Para os Liberais, “o homem é produto do meio”; ele e sua Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar
consciência se formam em suas relações acidentais, que em conta as experiências vividas pelos educandos antes de
podem e devem ser controladas pela educação, a qual deve chegarem à escola, o processo será inoperante, somente meras
trabalhar para a manutenção da ordem vigente, atuando palavras despidas de significação real. Temos que lutar por
diretamente com o sistema produtivo. O objetivo primeiro da uma educação dialógica, pois só assim se pode estabelecer a
educação é produzir “indivíduos competentes para o mercado verdadeira comunicação da aprendizagem entre seres
de trabalho, transmitindo eficientemente informações constituídos de alma, prazer, sentimentos.
precisas, objetivas e rápidas” (LÍBANEO, 1989). Em seus escritos, Freire destaca o ser humano como um ser
Voltando à nossa viagem, segure o leme. Vamos pelo Brasil autônomo, livre, criativo, ativo, capaz de significar e
e nessa rota vamos conhecer uma pequena parte do relatório ressignificar suas ações. Essa autonomia está presente na
da UNESCO de 1996, sobre educação, e seguir, conhecendo definição de vocação ontológica de ‘ser mais’ que está
Educação/Educações. associada à capacidade de transformar o mundo. É exatamente
aí que o homem se diferencia do animal. Afinal, animal não tem
Parafraseando Freire, a educação é o fator mais história.
importante para se alcançar a felicidade. O autor destacava
ainda em seus escritos a educação como ação de
conhecimento, como ato político, como direito de cidadania e,

Bibliografia 70
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Educação? Educações? Educar?


RESENDE, L. M. G. de. A
Segundo Moran, (2000, p. 3), educar:
perspectiva multicultural no
É colaborar para que professores e alunos – nas escolas e projeto político-pedagógico.
organizações – transformem suas vidas em processos In: VEIGA, Ilma Passos
permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na
construção de sua identidade, do seu caminho pessoal e Alencastro. Escola: espaço do
profissional – do seu projeto de vida, no desenvolvimento das projeto político-pedagógico.
habilidades de compreensão, emoção, comunicação que lhes Campinas: Papirus, 1998.
permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e
profissionais e tornarem-se cidadão realizados e produtivos.

No relatório da UNESCO, organizado e escrito pelo francês O projeto político-pedagógico, segundo Veiga20, tem sido
Jacques Delors, intitulado: Educação um tesouro a descobrir, objeto de estudos para professores, pesquisadores e
de 1996, a Educação precisa de uma concepção mais ampla, ou instituições educacionais em nível nacional, estadual e
seja: municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da
Uma concepção ampliada de educação deveria fazer com construção do projeto político-pedagógico, entendido como a
que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu própria organização do trabalho pedagógico da escola como
potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de um todo.
nós. Isso supõe que se ultrapasse a visão puramente A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de
instrumental da educação considerada a via obrigatória para seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu
obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa
diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la em perspectiva, é fundamental que ela assume suas
toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas
totalidade, aprende a ser (DELORS, 2003, p. 90). superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as
condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a importante que se fortaleçam as relações entre escola e
Educação, a Ciência e a Cultura. A UNESCO funciona como um sistema de ensino.
laboratório de idéias e como uma agência de padronização Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando
para formar acordos universais nos assuntos éticos projeto político-pedagógico. Em seguida, na segunda parte,
emergentes. A UNESCO promove a cooperação internacional trataremos de trazer nossas reflexões para a análise dos
entre seus 192 Estados Membros e seis Membros Associados princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os
nas áreas de educação, ciências, cultura e comunicação. elementos básicos, da organização do trabalho pedagógico,
Disponível em: necessários à construção do projeto político-pedagógico.
http://www.unesco.org.br/unesco/sobreaUNESCO/index_html/mostra_docum
ento Acesso em: 12 abr. 2007.
CONCEITUANDO O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
As diferentes concepções de educação têm reflexos
O que é projeto político-pedagógico
profundos em nosso cotidiano. Como você deve ter percebido,
todos nós temos memória, uns mais, outros menos, da
No sentido etimológico, o termo projeto vem
infinidade de informações que recebemos ao longo de nossas
do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que
vidas como estudantes.
significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa,
Muitos de nós estudamos em escolas que reproduziam
empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de
informações e conhecimentos, e nós não sabíamos para que
edificação.
serviriam, nem imaginávamos quem produziu esse
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos
conhecimento, nem em que contexto histórico. Não víamos
o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para
sentido para os conteúdos, que eram apenas para ser
diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever
decorados e para que respondêssemos questões dos
um futuro diferente do presente. Nas palavras de Gadotti:
questionários, das provas, que depois esquecíamos – a
“educação bancária”. Não queremos dizer com isso que
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
informação/conhecimento não é importante, ao contrário, têm
para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado
importância e significam poder.
confortável p ara arriscar-se, atravessar um período de
A esse respeito, o cientista político, americano Emir Sader,
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da
indagou em sua palestra proferida no Fórum Mundial da
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
Educação (2003): “se o conhecimento não serve para inserir
presente. Um projeto educativo pode ser tomado com o
os homens de forma consciente na sociedade, para que serve
promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam
então”? (...) “o excesso de informação existente hoje
visíveis o s campos de ação possível, comprometendo seu s atores
disseminada, porém descontextualizada e sem história, sem o
e autores.
conhecimento de quem a produziu, vem banalizando o
processo educacional e fragmentando o saber, colaborando
Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além
para a produção de um novo tipo de analfabetismo”.
de um simples agrupamento de planos de ensino e de
atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em
seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
educacionais como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os

20 Texto adaptado de VEIGA, Ilma Passos A. (org). Projeto Político

Pedagógico da Escola. Campinas: Papirus.

Bibliografia 71
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo A s novas forma s têm q u e ser pensadas em um contexto
da escola. de luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação desfavoráveis. Terão que nascer no próprio " chã o da escola ",
intencional, com um sentido explícito, com um compromisso com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola.
escola é, também, um projeto político por estar intimamente Isso significa uma enorme mudança na concepção do
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses projeto político-pedagógico e na própria postura da
reais e coletivos da população majoritária. É político no administração central. Se a escola nutre-se da vivência
sentido de compromisso com a formação do cidadão para um cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes de sua
tipo de sociedade. "A dimensão política se cumpre na medida organização do trabalho pedagógico à administração central,
em que ela se realiza enquanto prática especificamente seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação
pedagógica". Na dimensão pedagógica reside a possibilidade Estadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo
da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coordenar as
do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico ações pedagógicas planejadas e organizadas pela própria
e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações escola. Em outras palavras, as escolas necessitam receber
educativas e as características necessárias às escolas de assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. instâncias superiores do sistema de ensino.
Político e pedagógico têm assim uma significação Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto organização das instâncias superiores, implicando uma
político-pedagógico como um processo permanente de mudança substancial na sua prática. Para que a construção do
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de projeto político-pedagógico seja possível não é necessário
alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a
"não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva". Por trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas
outro lado, propicia a vivência democrática necessária para a propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
participação de todos os membros da comunidade escolar e o realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mas trata-se O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem
de uma relação recíproca entre a dimensão política e a mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica
dimensão pedagógica da escola. do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle
O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização
democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma em busca de sua autonomia e qualidade. Do exposto, o projeto
forma de organização do trabalho pedagógico que supere os político-pedagógica não visa simplesmente a um rearranjo
conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, formal da escola, mas a uma qualidade em todo o processo
corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do trabalho
impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as pedagógico da escola tem a ver com a organização da
relações no interior da escola, diminuindo os efeitos sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
e hierarquiza os poderes de decisão. no seu interior as determinações e contradições dessa
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a sociedade.
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como
organização da escola como um todo e como organização da Princípios norteadores do projeto político-pedagógico
sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social
imediato, procurando preservar a visão de totalidade. Nesta A abordagem do projeto político-pedagógico, como
caminhada será importante ressaltar que o projeto político- organização do trabalho da escola como um todo, está fundada
pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico da nos princípios que deverão nortear a escola democrática,
escola na sua globalidade. pública e gratuita:
A principal possibilidade de construção do projeto
político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, a) Igualdade de condições para acesso e permanência na
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma
significa resgatar a escola como espaço público, lugar de desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. Portanto, é de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo
dará indicações necessárias à organização do trabalho educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica democracia com o possibilidade no ponto de partida e
interna da sala de aula, ressaltado anteriormente. democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial simultânea manutenção de qualidade.
que fundamente a construção do projeto político-pedagógico. b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
para a compreensão de nossa prática pedagógica. Nesse político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade
sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões
teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática social e indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
esteja compromissada em solucionar os problemas da subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas
educação e do ensino de nossa escola. Uma teoria que subsidie próprias. A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a
o projeto político-pedagógico e, por sua vez, a prática técnica. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a
pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses conteúdos determinados. Demo afirma que a qualidade
da maioria da população. Faz-se necessário, também, o formal: “(...) significa a habilidade de manejar meios,
domínio das bases teórico-metodológicas indispensáveis à instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
concretização das concepções assumidas coletivamente. Mais desafios do desenvolvimento". A qualidade política é condição
do que isso, afirma Freitas que: imprescindível da participação. Está voltada para os fins,

Bibliografia 72
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

valores e conteúdos. Quer dizer "a competência humana do Para a autora, a liberdade é uma experiência de educadores e
sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins constrói-se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto,
históricos da sociedade humana”. "somos livres com os outros, não, apesar dos outros". Se
Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de pensamos na liberdade na escola, devemos pensá-la na relação
que a qualidade centra-se no desafio de manejar os entre administradores, professores, funcionários e alunos que
instrumentos adequados para fazer a história humana. A aí assumem sua parte de responsabilidade na construção do
qualidade formal está relacionada com a qualidade política e projeto político-pedagógico e na relação destes com o contexto
esta depende da competência dos meios. A escola de qualidade social mais amplo.
tem obrigação de evitar de todas as maneiras possíveis a Heller afirma que:
repetência e a evasão. Tem que garantir a meta qualitativa do A liberdade é sempre liberdade para algo e não a penas
desempenho satisfatório de todos. Qualidade para todos, liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas como o
portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no fato d e sermos livres de alguma coisa, encontramo-nos no
sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. estado de arbítrio, definimo-nos de modo negativo. A liberdade
É preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem. é u m a relação e, com o tal, deve ser continuamente ampliada.
Em síntese, qualidade "implica consciência crítica e O próprio conceito de liberdade contém o conceito d e regra, d e
capacidade de ação, saber e mudar”. reconhecimento, d e intervenção recíproca. C o m efeito,
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que ninguém pode ser livre se, em volta dele, há outros que não o são!
exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição Por isso, a liberdade deve ser considerada, também, como
clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e
Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de o saber direcionados para uma intencionalidade definida
cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a coletivamente.
obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins e) Valorização do magistério é um princípio central na
e meios é essencial para a construção do projeto político- discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
pedagógico. ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica,
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na formação (inicial e continuada), condições de trabalho
prática administrativa da escola, com o enfrentamento das (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
questões de exclusão e reprovação e da não-permanência do integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
das classes populares. Esse compromisso implica a construção profissionalização do magistério.
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação A melhoria da qualidade da formação profissional e a
das classes populares. A gestão democrática exige a valorização do trabalho pedagógico requerem a
compreensão em profundidade dos problemas postos pela articulação entre instituições formadoras, no caso as
prática pedagógica. Ela visa romper com a separação entre instituições de ensino superior e a Escola Normal, e as agências
concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A formação
prática. Busca resgatar o controle do processo e do produto do profissional implica, também, a indissociabilidade entre a
trabalho pelos educadores. formação inicial e a formação continuada.
A gestão democrática implica principalmente o repensar O reforço à valorização dos profissionais
da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua da educação, garantindo-lhes o direito ao
socialização. A socialização do poder propicia a prática da aperfeiçoamento profissional permanente, significa "valorizar
participação coletiva, que atenua o individualismo; da a experiência e o conhecimento que os professores tem a partir
reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que de sua prática pedagógica".
supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de A formação continuada é um direito de todos os
órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela
das quais a escola é mera executora. possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a qualificação e na competência dos profissionais, mas também
ampla participação dos representantes dos diferentes propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: A A formação continuada deve estar centrada na escola
participação ampla assegura a transparência das decisões, e fazer parte do projeto político-pedagógico.
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o Assim, compete à escola:
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, a) proceder ao levantamento de necessidades de
contribui para que sejam contempladas questões que de outra formação continuada de seus profissionais;
forma não entraria m em cogitação. b) elaborar seu programa de formação, contando com a
Neste sentido, fica claro entender que a gestão participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação
ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na do referido programa.
construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. Assim, a formação continuada dos profissionais, da escola
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio compromissada com a construção do projeto político-
da liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. O pedagógico, não deve limitar-se aos conteúdos curriculares,
que é necessário, portanto, como ponto de partida, é o resgate mas se estender à discussão da escola como um todo e suas
do sentido dos conceitos de autonomia e liberdade. A relações com a sociedade.
autonomia e a liberdade fazem parte da própria natureza do Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação
ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos para continuada, questões como cidadania, gestão democrática,
regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas
educativa, sem imposições externas. tecnologias de ensino, entre outras.
Para Rios, a escola tem uma autonomia Veiga e Carvalho afirmam que: O grande desafio da escola
relativa e a liberdade é algo que se experimenta em ao construir sua autonomia, deixando de lado seu papel de mera
situação e esta é uma articulação de limites e possibilidades.

Bibliografia 73
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

“repetidora” de programas de treinamento é ousar assumir o nos objetivos que ela define. As finalidades da escola referem-
papel predominante na formação dos profissionais. se aos efeitos intencionalmente pretendidos e almejados.
Inicialmente, convém alertar para o fato de que - Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, o
essa tomada de consciência, dos princípios norteadores do que a escola persegue, com maior ou menor ênfase?
projeto político-pedagógico, não pode ter o sentido - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de
espontaneísta de se cruzar os braços diante da atual preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor
organização da escola, que inibe a participação de educadores, compreensão da sociedade em que vivem?
funcionários e alunos no processo de gestão. - Como a escola procura atingir sua finalidade política e
É preciso ter consciência de que a dominação no interior social; ao formar o indivíduo para a participação política que
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se implica direitos e deveres da cidadania?
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos - Como a escola atinge sua finalidade de formação
diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem profissional, ou melhor, como ela possibilita a compreensão do
como por meio das formas de controle existentes no interior papel do trabalho na formação profissional do aluno?
da organização escolar. Como resultante dessa organização, a - Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao
escola pode ser descaracterizada como instituição histórica e procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa?
socialmente determinada, instância privilegiada da produção As questões levantadas geram respostas e novas
e da apropriação do saber. As instituições escolares indagações por parte da direção, de professores,
representam "armas de contestação e luta entre grupos funcionários, alunos e pais. O esforço analítico de todos
culturais e econômicos que têm diferentes graus de poder". possibilitará a identificação de quais finalidades precisam ser
Por outro lado, a escola é local de desenvolvimento da reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas poderão
consciência crítica da realidade. ser detalhadas em nível das áreas, das diferentes disciplinas
Acreditamos que os princípios analisados e o curriculares, do conteúdo programático.
aprofundamento dos estudos sobre a organização do trabalho É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar
pedagógico trarão contribuições relevantes para a dentro da escola e como detalhar as finalidades para se atingir
compreensão dos limites e das possibilidades dos projetos a almejada cidadania.
político-pedagógicos voltados para os interesses das camadas Alves afirma que há necessidade de saber se a escola
menos favorecidas. dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades
Veiga acrescenta, ainda que: A importância desses e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos
princípios está em garantir sua operacionalização nas específicos. O autor enfatiza que:
estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na Interessará reter se as finalidades são impostas por
legislação, na proposta, no currículo e outra é estar ocorrendo entidades exteriores ou se são definidas no interior do
na dinâmica interna da escola, no real, no concreto. território social e se são definidas por consenso ou por conflito
ou até se é matéria ambígua, imprecisa ou marginal.
Construindo o projeto político-pedagógico Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho
O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo, de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
como a própria organização do trabalho pedagógico da escola. sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia,
A construção do projeto político-pedagógico parte dos enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão os outros níveis da esfera administrativa educacional. Nóvoa
democrática e valorização do magistério. A escola é concebida nos diz que a autonomia é importante para: "a criação de uma
como espaço social marcado pela manifestação de práticas identidade da escola, de um ethos científico e diferenciador,
contraditórias, que apontam para a luta e/ou acomodação de que facilite a adesão dos diversos atores e a elaboração de um
todos os envolvidos na organização do trabalho pedagógico. projeto próprio".
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e A ideia de autonomia está ligada à concepção
compreender a organização do trabalho pedagógico, no emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
sentido de se gestar uma nova organização que reduza os pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e do definem a política da qual ela não passa de executora. Ela
controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para
projeto político-pedagógico é um instrumento de luta, é uma executá-lo e avaliá-lo ao assumir um nova atitude de liderança,
forma de contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico no sentido de refletir sobre as finalidades sociopolíticas e
e sua rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do culturais da escola.
poder autoritário e centralizador dos órgãos da administração
central. Estrutura organizacional
A construção do projeto político-pedagógico, para gestar
uma nova organização do trabalho pedagógico, passa pela A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos
reflexão anteriormente feita sobre os princípios. Acreditamos básicos de estruturas: administrativas e pedagógicas. As
que a análise dos elementos constitutivos da organização trará primeiras asseguram praticamente, a locação e a gestão de
contribuições relevantes para a construção do projeto recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda,
político-pedagógico. das estruturas administrativas todos os elementos que têm
Pelo menos sete elementos básicos podem ser apontados: uma forma material como, por exemplo, a arquitetura do
as finalidades da escola, a estrutura organizacional, o edifício escolar e a maneira como ele se apresenta do ponto de
currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as relações vista de sua imagem: equipamentos e materiais didáticos,
de trabalho, a avaliação. mobiliário, distribuição das dependências escolares e espaços
livres, cores, limpeza e saneamento básico (água, esgoto, lixo e
Finalidades energia elétrica).
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação das
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que administrativas, "organizam as funções educativas para que a
os educadores precisam ter clareza das finalidades de sua escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades". As
escola. Para tanto há necessidade de se refletir sobre a ação estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às
educativa que a escola desenvolve com base nas finalidades e interações políticas, às questões de ensino-aprendizagem e às

Bibliografia 74
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos os processo de produção do conhecimento escolar, uma vez que
setores necessários ao desenvolvimento do trabalho ele é, ao mesmo tempo, processo e produto. A análise e a
pedagógico. compreensão do processo de produção do conhecimento
A análise da estrutura organizacional da escola visa escolar ampliam a compreensão sobre as questões
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, curriculares.
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar Na organização curricular é preciso considerar alguns
claro que a escola é uma organização orientada por pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um
finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola
análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola precisa identificar e desvelar os componentes ideológicos do
significam indagar sobre suas características, seus polos de conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a
poder, seus conflitos. manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento
escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica,
O que sabemos da estrutura pedagógica? tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular. O
Que tipo de gestão está sendo praticada? currículo expressa uma cultura.
O que queremos e precisamos mudar na nossa escola? O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
Qual é o organograma previsto? separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente
Quem o constitui e qual é a lógica interna? situado e culturalmente determinado.
Quais as funções educativas predominantes? O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização
Como são vistas a constituição e a distribuição do poder? curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas
Quais os fundamentos regimentais? instituições têm sido orientadas para a organização
hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com base
Enfim, caracterizar do modo mais preciso possível a em Bernstein, chamo a atenção para o fato de que a escola deve
estrutura organizacional da escola e os problemas que afetam buscar novas formas de organização curricular, em que o
o processo ensino-aprendizagem, de modo a favorecer a conhecimento escolar (conteúdo) estabeleça um relação
tomada de decisões realistas e exequíveis. aberta e inter-relacione-se em torno de uma ideia integradora.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os A esse tipo de organização curricular, o autor denomina de
pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola currículo integração. O currículo integração, portanto, visa
que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas
modificar a realidade social. Para realizar um ensino de curriculares, procurando agrupá-las num todo mais amplo.
qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que Como alertou Domingos "cada conteúdo deixa de ter
romper com a atual forma de organização burocrática que significado por si só, para assumir uma importância relativa e
regula o trabalho pedagógico – pela conformidade às regras passar a ter uma função bem determinada e explícita dentro
fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder do todo de que faz parte".
central e pela cisão entre os que pensam e executam –, que O quarto ponto refere-se a questão do controle
conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico social, já que o currículo formal (conteúdos curriculares,
que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação
ordem e a disciplina. pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle social
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao é instrumentalizado pelo currículo oculto, entendido este
avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e como as "mensagens transmitidas pela sala de aula e pelo
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a ambiente escolar". Assim, toda a gama de visões do mundo, as
realidade escolar, estabelecendo relações, definindo normas e os valores dominantes são passados aos alunos no
finalidades comuns e configurando novas formas de organizar ambiente escolar, no material didático e mais especificamente
as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria por intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas
do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende. rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos "estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, socioeconômicas e culturais”.
no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando Moreira, ao examinar as teorias de controle social que
consequentemente a construção de uma nova forma de têm permeado as principais tendências do
organização. pensamento curricular, procurou defender o ponto de vista de
que controle social não envolve, necessariamente, orientações
Currículo conservadoras, coercitivas e de conformidade
comportamental. De acordo com o autor, subjacente ao
Currículo é um importante elemento constitutivo discurso curricular crítico encontra-se uma noção de controle
da organização escolar. Currículo implica, social orientada para a emancipação. Faz sentido, então, falar
necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um em controle social comprometido com fins de liberdade que
mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o deem ao estudante uma voz ativa e crítica.
sustente. Currículo é uma construção social do conhecimento, Com base em Aronowitz e Giroux, o autor chama a atenção
pressupondo a sistematização dos meios para que esta para o fato de que a noção crítica de controle social não pode
construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos deixar de discutir:
historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, O contexto apropriado ao desenvolvimento de práticas
portanto, produção, transmissão e assimilação são processos curriculares que favoreçam o bom rendimento e a autonomia
que compõem uma metodologia de construção coletiva do dos seus estudantes e, em particular, que reduzem os elevados
conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. índices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro
Neste sentido, o currículo refere-se à organização do grau.
conhecimento escolar. A noção de controle social na teoria curricular crítica é
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera mais um instrumento de contestação e resistência à ideologia
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria à veiculada por intermédio dos currículos, tanto do formal
faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí, a necessidade de quanto do oculto.
se promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o

Bibliografia 75
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Orientar a organização curricular para fins emancipatórios interesses da população, deve prever mecanismos que
implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de estimulem a participação de todos no processo de decisão.
sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser Isto requer uma revisão das atribuições especificas e
humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários gerais, bem como da distribuição do poder e da
à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na descentralização do processo de decisão. Para que isso seja
visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a possível há necessidade de se instalarem mecanismos
contestação e a resistência à ideologia veiculada por institucionais visando à participação política de todos os
intermédio dos currículos escolares. envolvidos com o processo educativo da escola. Paro, sugere a
instalação de processos eletivos de escolha de dirigentes,
O tempo escolar colegiados com representação de alunos, pais, associação de
pais e professores, grêmio estudantil, processos coletivos de
O tempo é um dos elementos constitutivos da organização avaliação continuada dos serviços escolares etc.
do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as As relações de trabalho
férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os
feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os É importante reiterar que, quando se busca uma nova
períodos para reuniões técnicas, cursos etc. organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
O horário escolar, que fixa o número de horas por semana as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
e que varia em razão das disciplinas constantes na grade calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
curricular, estipula também o número de aulas por professor. participação coletiva, em contraposição à organização regida
Tal como afirma Enguita. pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do
(...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o controle hierárquico. É nesse movimento que se verifica o
mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo confronto de interesses no interior da escola. Por isso todo
menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais. esforço de se gestar uma nova organização deve levar em
A organização do tempo do conhecimento escolar é conta as condições concretas presentes na escola. Há uma
marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, correlação de forças e é nesse embate que se originam os
consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a construção de
para disciplinas supostamente separadas. O controle novas formas de relações de trabalho, com espaços abertos à
hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação
controlado pela administração e pelo professor. horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos com o
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, processo educativo, a descentralização do poder. A esse
mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, respeito, Machado assume a seguinte posição: "O processo de
reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o luta é visto como uma forma de contrapor-se à dominação, o que
currículo integração que conduz a um ensino em extensão. pode contribuir para a articulação de práticas emancipatórias".
Enguita ao discutir a questão de como a escola contribui A partir disso novas relações de poder poderão ser
para a inculcação da precisão temporal nas atividades construídas na dinâmica interna da sala de aula e da escola.
escolares, assim se expressa:
A avaliação
A sucessão de períodos muito breves – sempre de menos
de uma hora- dedicados a matérias muito diferente entre si, Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
sem necessidade de consequência lógica entre elas, sem reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
atender à melhor ou à pior adequação do seu conteúdo a organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
períodos mais longos ou mais curtos sem prestar nenhuma pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
atenção à cadencia do interesse e do trabalho dos estudantes; visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
em suma, a organização habitual do horário escolar ensina ao escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas
estudante que o importante não é a qualidade precisa de seu da existência de problemas bem como suas relações, suas
trabalho a que o dedica, mas sua duração. A escola é o primeiro mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação
cenário em que a criança e o jovem presenciam, aceitam e coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
sofrem a redução de seu trabalho a trabalho abstrato. Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global,
Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
fortalecendo a escola como instância de educação continuada. compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o própria organização do trabalho pedagógico.
projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar
estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
da sala de aula. dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-
pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos
O processo de decisão educadores e dos educandos.
O processo de avaliação envolve três momentos: a
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas descrição e a problematização da realidade escolar, a
das ações e principalmente das decisões é orientado por compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e
procedimentos formalizados, prevalecendo as relações a proposição de alternativas de ação, momento de criação
hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e coletiva.
centralizador. A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
Uma estrutura administrativa da escola adequada à instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes
realização de objetivos educacionais, de acordo com os trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de

Bibliografia 76
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos O mundo apresenta duas realidades, a que se refere ao
historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo mundo da natureza, que independe do homem, mais
de avaliação diagnóstica. especificamente as leis naturais, a outra, a produção da cultura
no mundo.
A cultura é uma construção do homem das necessidades da
natureza humana, formulada pela linguagem. As diferenças do
RIOS, Teresinha Azeredo. mundo natural com mundo artificial ou do mundo da
formulação, sendo o que o último realiza-se pelo ato da
Ética e competência. São construção e da reconstrução.
Paulo: Cortez, 2001. Portanto, a cultura é algo inventado, quase sempre
ideológica quando justificam fins discriminatórios, a cultura
não é apenas o acúmulo dos processos de sínteses, o que se
denomina de erudição, mas o resultado do trabalho humano,
ÉTICA E COMPETÊNCIA. da ação do homem na transformação da natureza, nesse
sentido que nasce o aspecto da ação política para
Terezinha Rios. transformação do mundo.
A cultura é transmitida por diversos meios entre eles a
A formação do professor é muito precária, sem dimensão escola, o que foi acumulado pela sociedade, objetivo do saber
ética no ato de desenvolver a prática pedagógica. Sendo que a científico, contra o saber ideológico e para formar pessoas
mesma cumpre um papel indispensável na educação. como agentes da construção da sociedade, ação que
O professor precisa levar em consideração dois aspectos necessariamente terá que ser política.
fundamentais na pedagogia como método do ato de ensinar: a A escola tradicional tem como objetivo desenvolver uma
questão técnica e o ato político, são diferentes em si, mas educação que sustentam as relações sociais da produção, ou
articulados na prática pedagógica. seja, na defesa ideológica do capitalismo, dividido em classes
Um terceiro aspecto que não pode ser desconsiderado antagônicas: burguesia e o proletariado, sustentado pela
refere-se à Ética que é o elemento mediador por meio da principal contradição capital e trabalho.
Filosofia desenvolve a prática problematizadora. A escola enquanto prática de ensino coloca valores e
Terezinha destaca a necessidade de compreender de crenças ideologias nas formulações de domínios, valores das
forma científica o mundo político, com a finalidade para representações burguesas que sustentam o capitalismo
intervir nas relações na sociedade com a perspectiva de mudar enquanto forma de dominação.
o próprio mundo político, visando o estabelecimento das
relações justas. A escola brasileira é permeada pela ideologia burguesa
Sua prática pedagógica destaca-se em uma educação liberal, a perspectiva não é a construção da Ética, pelo menos
essencialmente entendida na ação da Filosofia Política e da no caminho da transformação justa, não existe uma crítica ao
Ética, na busca da compreensão entre o conhecimento do modelo dominante do desenvolvimento da produção
senso comum e do saber científico, sendo que a Filosofia é o capitalista.
conhecimento do saber complexo total dos objetos em A escola não tem perspectiva de superação das
estudos. contradições, sem uma análise crítica das ideologias, foi
A realização de um saber construído socialmente, na formulada pela escola nova dos anos 30 a 60, uma visão crítica
perspectiva dialética do ser e dever ser, ou seja, do ideal de ingênua da educação, como se a escola fosse o mecanismo de
sociedade que deve ser construída. Portanto, a educação é uma mudança social, se fizesse uma revolução no mundo das ideias,
ação de transformação, uma educação que não transforma não a sociedade política seria transformada.
é educadora. O pressuposto dessa ideologia iluminista como se a escola
As relações estabelecidas do ponto de vista político são fosse uma instituição fora do mundo da produção, a outra
relações de poder, que estabelecem sujeitos distintos uns tendência ingênua pessimista, como se escola apenas
impondo sobre a vontade dos outros por meio do poder produzisse a reprodução das ideologias capitalistas, portanto
político. a escola não seria de nenhum modo um mecanismo de
A capacidade de modificar o comportamento um do outro transformação.
do ponto de vista da política é diferente em relação à Um compromisso autêntico pedagogicamente uma escola
intervenção a natureza. que não defende os compromissos antagônicos, a educação
A educação é uma dimensão da práxis, entendida em voltada para desenvolvimento da consciência crítica com
diferentes componentes: econômico, a questão do trabalho, a objetivo da mudança política da sociedade, a superação dos
produção da vida material, o político, o que rege as práticas modelos de dominação. O educador deve atuar como
institucionais do poder, e ético o que determinam os valores intelectual orgânico no processo da produção da consciência
de tais práticas. crítica.
Uma sociedade dividida em classes em que parte
Para Rios a Filosofia da educação atua como instrumento significativa da sociedade tem o acesso ao saber negado. A
de ajuda as práticas dos sujeitos da educação, na busca da escola qualifica a pessoa de forma errada, com aquele que é
superação das contradições, ligando as demais ciências na proprietário de um saber que não pode ser compartilhado,
mesma prática na defesa do mecanismo da educação, no reforçando as atitudes do individualismo liberal.
caminho do fazer educativo. Educam-se quando transformam.
Fazer educação no Brasil é antes de tudo compreender a Rios acha que é possível mudar a sociedade mudando a
realidade brasileira, sua organização no capitalismo escola numa perspectiva de construção do espaço construindo
entendendo os mecanismos contraditórios da própria uma escola de consenso e persuasão, como explicitação dos
realidade, no processo pedagógico. elementos da competência e da prática docente.
Educação é um fenômeno da história política social dentro O discurso pedagógico dominante oculto nas contradições
do contexto social da cultura produzida, sendo a transmissão na sua forma axiológica, mas por meio da própria axiologia
da mesma pelo caminho da transformação do homem através poderá desocultá-las construindo o significado político da
do trabalho. transformação articulado com a questão técnica do método
usado na construção do saber político.

Bibliografia 77
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Desse modo numa ação da desconstrução e reconstrução, Ambientes escolares inclusivos são fundamentados em
o professor é sempre o mediador entre o aprendiz e a uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações
realidade, atuando também para a transformação de todos, entre ambas não se ordenam em torno de oposições binárias
com objetivo de estabelecer o diálogo entre o aluno e a (normal/especial, branco/negro, masculino/feminino,
realidade. pobre/rico). Neles não se elege uma identidade como norma
Na educação é necessária a existência entre competência privilegiada em relação às demais.
pedagógica e utopia no caminho da superação do passado e na Em ambientes escolares excludentes, a identidade normal
construção da nova sociedade política produtiva. A é tida sempre como natural, generalizada e positiva em relação
competência é construída no dia a dia ao novo ideal a ser às demais, e sua definição provém do processo pelo qual o
atingido. A superação dos antagonismos prejudiciais ao poder se manifesta na escola, elegendo uma identidade
humano. específica através da qual as outras identidades são avaliadas
Por fim Terezinha Rios ressalta a necessidade de o e hierarquizadas.
educador compreender a complexidade da sociedade Esse poder que define a identidade normal, detido por
capitalista naturalmente para a transformação da mesma em professores e gestores mais próximos ou mais distantes das
defesa dos direitos fundamentais da humanidade. escolas, perde a sua força diante dos princípios educacionais
Numa profunda articulação entre técnica, a ética e a inclusivos, nos quais a identidade não é entendida como
política sem perder o sonho de um mundo melhor para todos. natural, estável, permanente, acabada, homogênea,
O que não poderá ser realizado no atual modo capitalista de generalizada, universal. Na perspectiva da inclusão escolar, as
produção das riquezas. identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e, portanto,
os alunos não são categorizáveis, não podem ser reunidos e
Fonte: VASCONCELOS, E. D. de; Ética e Competência. Resenha do livro de fixados em categorias, grupos, conjuntos, que se definem por
RIOS, Terezinha. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.
certas características arbitrariamente escolhidas.
É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identidades
que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos
ROPOLI, Edilene Aparecida. dos alunos especiais, com necessidades educacionais
A Educação Especial na especiais, portadores de deficiências, com problemas de
aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro uma
Perspectiva da Inclusão identidade normal, que não só justifica a exclusão dos demais,
Escolar: a escola comum como igualmente determina alguns privilegiados.
inclusiva. Brasília: Ministério A educação inclusiva questiona a artificialidade das
identidades normais e entende as diferenças como resultantes
da Educação. SEESP. da multiplicidade, e não da diversidade, como comumente se
Universidade Federal do proclama. Trata-se de uma educação que garante o direito à
Ceará. 2010. diferença e não à diversidade, pois assegurar o direito à
diversidade é continuar na mesma, ou seja, é seguir
reafirmando o idêntico.
A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - A A diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal como
Escola Comum Inclusiva ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um processo, uma
operação, uma ação. A diversidade é es- tática, é um estado, é
PARTE I estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo, é produtiva. A
multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças -
1. SOBRE IDENTIDADE E DIFERENÇAS NA ESCOLA diferenças que são ir- redutíveis à identidade. A diversidade
limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multiplica,
A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam o prolifera, dissemina. A diversidade é um dado da natureza ou
conservadorismo das escolas, contestando os sistemas da cultura. A multiplicidade é um movimento. A diversidade
educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixação de reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a diferença que
modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos se recusa a se fundir com o idêntico (SILVA, 2000, p.100-101).
e a seleção dos eleitos para frequentar as escolas, produzindo, De fato, a diversidade na escola comporta a criação de
com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma mesma
O poder institucional que preside a produção das característica, selecionada para reuni-los e separá-los. Ao nos
identidades e das diferenças define como normais e especiais referirmos a uma escola inclusiva como aberta à diversidade,
não apenas os alunos, como também as suas escolas. Os alunos ratificamos o que queremos extinguir com a inclusão escolar,
das escolas comuns são normais e positivamente valorados. Os ou seja, eliminamos a possibilidade de agrupar alunos e de
alunos das escolas especiais são os negativamente concebidos identificá-los por uma de suas características (por exemplo, a
e diferenciados. deficiência), valo- rizando alguns em detrimento de outros e
Os sistemas educacionais constituídos a partir da oposição mantendo escolas comuns e especiais.
- alunos normais e alunos especiais - sentem-se abalados com Atenção, pois ao denominarmos as propostas, programas e
a proposta inclusiva de educação, pois não só criaram espaços iniciativas de toda ordem direcionadas à inclusão, insistimos
educacionais distintos para seus alunos, a partir de uma nesse aspecto, dado que somos nós mesmos quem atribuímos
identidade específica, como também esses espaços estão significado, pela escolha das palavras que utilizamos para
organizados pedagogicamente para manter tal separação, expressá-lo. É por meio da representação que a diferença e a
definindo as atribuições de seus professores, currículos, identidade passam a existir e temos, dessa forma, ao
programas, avaliações e pro- moções dos que fazem parte de representar o poder de definir identidades, currículos e
cada um desses espaços. práticas escolares.
Os que têm o poder de dividir são os que classificam,
formam conjuntos, escolhem os atributos que definem os 2. ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS
alunos e demarcam os espaços, decidem quem fica e quem sai DIFERENÇAS?
destes, quem é incluído ou excluído dos agrupamentos
escolares. A educação inclusiva concebe a escola como um espaço de
todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo

Bibliografia 78
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

suas capacidades, expressam suas ideias livremente, é uma tarefa a ser assumida por todos os que compõem um
participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem sistema educacional. Um ensino de qualidade provém de
como cidadãos, nas suas diferenças. Nas escolas inclusivas, iniciativas que envolvem professores, gestores, especialistas,
ninguém se conforma a padrões que identificam os alunos pais e alunos e outros profissionais que compõem uma rede
como especiais e normais, comuns. Todos se igualam pelas educacional em torno de uma proposta que é comum a todas
suas diferenças! as escolas e que, ao mesmo tempo, é construída por cada uma
A inclusão escolar impõe uma escola em que todos os delas, segundo as suas peculiaridades.
alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas quais O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por
possam ser limitados em seu direito de participar ativamente excelência para melhor desenvolver o plano de trabalho eleito
do processo escolar, segundo suas capacidades, e sem que e definido por um coletivo escolar; ele reflete a singularidade
nenhuma delas possa ser motivo para uma diferenciação que do grupo que o produziu, suas escolhas e especificidades.
os excluirá das suas turmas. Nas escolas inclusivas, a qualidade do ensino não se
Como garantir o direito à diferença nas escolas que ainda confunde com o que é ministra- do nas escolas-padrão,
entendem que as diferenças estão apenas em alguns alunos, consideradas como as que melhor conseguem expressar um
naqueles que são negativamente compreendidos e ideal pedagógico inquestionável, medido e definido
diagnosticados como problemas, doentes, indesejáveis e a objetivamente e que se apresentam como modelo a ser
maioria sem volta? seguido e aplicado em qualquer contexto escolar. As escolas-
O questionamento constante dos processos de padrão cabem na mesma lógica que define as escolas dos
diferenciação entre escolas e alunos, que decorre da oposição diferentes, em que as iniciativas para melhorar o ensino
entre a identidade normal de alguns e especial de outros, é continuam elegendo algumas escolas e valorando-as
uma das garantias permanentes do direito à diferença. Os positivamente, em detrimento de outras. Cada escola é única e
alvos desse questionamento devem recair diretamente sobre precisa ser, como os seus alunos, reconhecida e valorizada nas
as práticas de ensino que as escolas adotam e que servem para suas diferenças.
excluir.
Os encaminhamentos dos alunos às classes e escolas 3.1. MUDANÇAS NA ESCOLA
especiais, os currículos adapta- dos, o ensino diferenciado, a
terminalidade específica dos níveis de ensino e outras Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem
soluções precisam ser indagados em suas razões de adoção, de mudar, e a tarefa de mu- dar a escola exige trabalho em
interrogados em seus benefícios, discutidos em seus fins, e muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de
eliminados por completo e com urgência. São essas medidas encontrar soluções próprias para os seus problemas. As
excludentes que criam a necessidade de existirem escolas para mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por
atender aos alunos que se igualam por uma falsa normalidade Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da
- as escolas comuns - e que instituem as escolas para os alunos escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico - PPP e
que não cabem nesse grupo - as escolas especiais. Ambas são vividas a partir de uma gestão escolar democrática.
escolas dos diferentes, que não se alinham aos propósitos de É ingenuidade pensar que situações isoladas são
uma escola para todos. suficientes para definir a inclusão como opção de todos os
Quando entendemos esses processos de diferenciação pela membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se
deficiência ou por outras características que elegemos para desconsideram aqui os esforços de pessoas bem
excluir, percebemos as discrepâncias que nos faziam defender intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das
as escolas dos diferentes como solução privilegiada para mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo
atender às necessidades dos alunos. Acordamos, então, para o escolar.
sentido includente das escolas das diferenças. Essas escolas A organização de uma sala de aula é atravessada por
reúnem, em seus espaços educacionais, os alunos tais quais decisões da escola que afetam os processos de ensino e de
eles são: únicos, singulares, mutantes, compreendendo-os aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem
como pessoas que diferem umas das outras, que não apenas de uma única sala de aula; o uso dos espaços da escola
conseguimos conter em conjuntos definidos por um único para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser
atributo, o qual elegemos para diferenciá-las. combinado e sistematizado para o bom aproveita- mento de
todos; as horas de estudo dos professores devem coincidir
3. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA para que a formação continuada seja uma aprendizagem
colaborativa; a organização do Atendimento Educacional
A escola das diferenças é a escola na perspectiva inclusiva, Especializado - AEE não pode ser um mero apêndice na vida
e sua pedagogia tem como mote questionar, colocar em escolar ou da competência do professor que nele atua.
dúvida, contrapor-se, discutir e reconstruir as práticas que, até Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais,
então, têm mantido a exclusão por instituírem uma funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas,
organização dos processos de ensino e de aprendizagem oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema
incontestáveis, impostos e firmados sobre a possibilidade de educacional, constitui o arcabouço pedagógico e
exclusão dos diferentes, à medida que estes são direcionados administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do
para ambientes educacionais à parte. que está INSTITUÍDO e do que Libâneo e outros autores (2003)
A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as analisaram pormenorizadamente.
diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes
participação e o progresso de todos, adotando novas práticas curriculares, as leis, os documentos das políticas, os
pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas regimentos e demais normas do sistema.
práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem
e da sala de aula. Para que essa escola possa se concretizar, é construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma
patente a necessidade de atualização e desenvolvimento de instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta
novos conceitos, assim como a redefinição e a aplicação de e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em
alternativas e práticas pedagógicas e educacionais geração. Trata-se do INSTITUINTE.
compatíveis com a inclusão. A escola cria, nas possibilidades abertas pelo
Um ensino para todos os alunos há que se distinguir pela INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional
sua qualidade. O desafio de fazê-lo acontecer nas salas de aulas que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu

Bibliografia 79
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e disposição de participar, porque contribuir é reconhecer a
outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia importância de sua colaboração para que o projeto se execute.
a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inova- A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206,
dor dos que fazem e pensam a educação. explicita, como um dos princípios para a educação no Brasil,
"[...] a gestão democrática do ensino público". Essa
3.2. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, AUTONOMIA E preocupação é reiterada na LDBEN (Lei nº 9394/96), no artigo
GESTÃO DEMOCRÁTICA 3º, ao assinalar que a gestão democrática, além de estar em
conformidade com a Lei, deve estar consoante à legislação dos
A constatação de que a realidade escolar é dinâmica e sistemas de ensino, pois como Lei que detalha a educação
depende de todos dá força e sentido à elaboração do PPP, nacional, acrescenta a característica das variações dos
entendido não apenas como um mero documento exigido pela sistemas nas esferas federal, estadual e municipal. Ainda nesse
burocracia e administração escolar, mas como registro de detalhamento, a LDBEN avança, no seu artigo 14, afirmando
significados a serem outorga- dos ao processo de ensino e de que:
aprendizagem, que demanda tomada de decisões e [...] Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
acompanhamento de ações consequentes. democrática do ensino público na educação básica, de acordo
O PPP não pode ser um documento paralelo que não diz com as suas peculiaridades e conforme os seguintes
respeito, que não atravessa o cotidiano escolar e fica restrito à princípios: participação dos profissionais da educação na
categoria de um arquivo ou de uma alegoria, de caráter elaboração do projeto pedagógico da escola; participação das
residual. Ele altera a estrutura escolar e escrevê-lo e arquivá- comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
lo nos registros da escola só serve para acomodar a equivalentes.
consciência dos que não têm um verdadeiro compromisso com Nos textos legais, fica clara a ênfase dada ao Projeto
uma escola de todos, por todos e para todos. Político Pedagógico de cada escola, bem como a reiteração de
Nossa legislação educacional é clara no que toca à que a proposta seja construída e administrada à luz de uma
exigência de a escola ter o seu PPP; ela não pode se furtar ao gestão democrática.
compromisso assumido com a sociedade de formação e de Outra legislação que vem corroborar nesse sentido é o
desenvolvimento do processo de educação, devidamente Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº. 8.069/90),
planejado. que, no seu artigo 53, enfatiza os objetivos da educação
A exigência legal do PPP está expressa na LDBEN - Lei Nº. nacional, repetindo os princípios constitucionais e os da
9.394/96 que, em seu artigo 12, define, entre as atribuições de LDBEN, mas deixando claro em seu parágrafo único que "[...] é
uma escola, a tarefa de "[...] elaborar e executar sua proposta direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógica", deixando claro que ela precisa pedagógico, bem como participar da definição das propostas
fundamentalmente saber o que quer e colocar em execução educacionais". Evidencia-se na legislação o caráter da
esse querer, não ficando apenas nas promessas ou nas comunidade escolar participativa e ampliada para além dos
intenções expostas no papel. muros escolares, com compromisso conjunto nos rumos da
Ao sistematizar estas escolhas e decisões, o PPP, a partir de educação dos cidadãos.
um estudo da demanda da realidade escolar cria as condições A gestão democrática ampliada nos contornos da
necessárias para a elaboração do planejamento e o comunidade ganha, por meio do texto legal, condições de ser
desenvolvimento do trabalho da sua equipe e da avaliação exercida com autonomia.
processual das etapas e metas propostas. Embora a escola não seja independente de seu sistema de
Para Gadotti e Romão (1997), o Projeto Político ensino, ela pode se articular e interagir com autonomia como
Pedagógico deve ser entendido como um horizonte de parte desse sistema que a sustenta, tomando decisões próprias
possibilidades para a escola. O Projeto imprime uma direção relativas às particularidades de seu estabelecimento de ensino
nos caminhos a serem percorridos pela escola. Ele se propõe a e da sua comunidade. Entretanto, mesmo outorgada por lei, a
responder a um feixe de indagações de seus membros, tais autonomia escolar é construída aos poucos e cotidianamente.
como: qual educação se quer e qual tipo de cidadão se deseja, Do ponto de vista cultural e educacional, encontram-se poucas
para qual projeto de sociedade? O PPP propõe uma experiências de construção da autonomia e do cultivo de
organização que se funda no entendi- mento compartilhado hábitos democráticos.
dos professores, alunos e demais interessados em educação. A democracia, frequentemente proclamada, mas nem
Todas as intenções da escola, reunidas no Projeto Político sempre vivenciada nas redes de ensino, tem no PPP a
Pedagógico, conferem-lhe o caráter POLÍTICO, porque ele oportunidade de ser exercida, e essa oportunidade não pode
representa a escolha de prioridades de cidadania em função ser perdida, para que consiga espalhar-se por toda a
das demandas sociais. O PPP ganha status PEDAGÓGICO ao instituição. Gadotti e Romão (1997) manifestam suas posições
organizar e sistematizar essas intenções em ações educativas sobre a construção da democracia na escola e afirmam que
alinhadas com as prioridades estabelecidas. esse tipo de gestão constitui um passo relevante no
O caráter coletivo e a necessidade de participação de todos aprendizado da democracia.
é inerente ao PPP, pois ele não se resume a um mero plano ou Os professores constroem a democracia no cotidiano
projeto burocrático, que cumpre as exigências da lei ou do escolar por meio de pequenos de- talhes da organização da
sistema de ensino. Trata-se de um documento norteador das prática pedagógica. Nesse sentido, fazem a diferença: o modo
ações da escola que, ao mesmo tempo, oportuniza um exercício de trabalhar os conteúdos com os alunos; a forma de sugerir a
reflexivo do processo para tomada de decisões no seu âmbito. realização de atividades na sala de aula; o controle disciplinar;
O professor, portanto, ao contribuir para a elaboração do a interação dos alunos nas tarefas escolares; a sistematização
PPP, bem como ao participar de sua execução no cotidiano da do AEE no contra turno; a divisão do horário; a forma de
escola, tem a oportunidade de exercitar um ensino planejar com os alunos; a avaliação da execução das atividades
democrático, necessário para garantir acesso e permanência de forma interativa.
dos alunos nas escolas e para assegurar a inclusão, o ensino de Embora já tenhamos uma Constituição, estatutos,
qualidade e a consideração das diferenças dos alunos nas salas legislação, políticas educacionais e decretos que propõem e
de aula. Exercer esse papel como um dos mentores do PPP não viabilizam novas alternativas para a melhoria do ensino nas
é uma obrigação formal, mas o resultado de um envolvimento es- colas, ainda atendemos a alunos em espaços escolares semi
pessoal do professor. Nesse sentido, vem antes a sua ou totalmente segregados, tais como as classes especiais, as

Bibliografia 80
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

turmas de aceleração, as escolas especiais, as aulas de reforço, atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele
entre outros. ensina a todos, indistintamente.
O salto da escola dos diferentes para a escola das O caráter de imprevisibilidade da aprendizagem é
diferenças demanda conhecimento, determinação, decisão. As constatado por professores que aproveitam as ocasiões para
propostas de mudança variam e dependerão de disposição, observar, abertamente e sem ideias préconcebidas, a
discussões, estudos, levantamento de dados e iniciativas a curiosidade do aluno que vai atrás do que quer conhecer, que
serem compartilhadas pelos seus membros, enfim, de gestões questiona, duvida, que se detém diante do que leu, do que lhe
democráticas das escolas, que favoreçam essa mudança. respondemos, procurando resolver e encontrar a solução para
Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas ao o que lhe perturba e desafia com avidez, possuído pelo desejo
elaborarem seus Projetos Político Pedagógicos, entre as quais de chegar ao que pretende.
destacamos algumas, que estão diretamente relacionadas com Ao se deixar levar por uma experiência de ensinar dessa
as mudanças que se alinham aos propósitos da inclusão: fazer natureza, querendo entender o que ela revela e
da aprendizagem o eixo das es- colas, garantindo o tempo compartilhando-a com seus colegas, o professor poderá
necessário para que todos possam aprender; reprovar a deduzir que certas práticas e aparatos pedagógicos, como os
repetência; abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a métodos especiais e o ensino adaptado para alguns alunos, não
solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam correspondem ao que se espera deles. Ambos provêm do
praticados por seus professores, gestores, funcionários e controle externo da aprendizagem, de opiniões que circulam e
alunos, pois essas são habilidades mínimas para o exercício da se firmam entre os professores, que são creditadas pelo
verdadeira cidadania; valorizar e formar continuamente o conhecimento livresco e generalizado e pelas informações
professor, para que ele possa atualizar-se e ministrar um equivocadas que se naturalizam nas escolas e fora delas.
ensino de qualidade. Opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no
É frequente a escola seguir outros caminhos, adotando despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente,
práticas excludentes e paliativas, que as impedem de dar o distancia o professor da possibilidade de se formar e de se
salto qualitativo que a inclusão demanda. Elas se apropriam de transformar pela experiência. Oposições e contraposições à
soluções utilitárias, prontas para o uso, alheias à realidade de inclusão incondicional são frequentes entre os professores e
cada instituição educacional. Essas práticas admitem: ensino adiam projetos do ensino comum e especial focados na
individualizado para os alunos com deficiência e/ou inserção das diferenças nas escolas.
problemas de aprendizagem; currículos adaptados; É nos bancos escolares que se aprende a viver entre os
terminalidade específica; métodos especiais para ensino de nossos pares, a dividir as responsabilidades, a repartir tarefas.
pessoas com deficiência; avaliação diferenciada; categorização Nesses ambientes, desenvolvem-se a cooperação e a produção
e diferenciação dos alunos; formação de turmas escolares em grupo com base nas diferenças e talentos de cada um e na
buscando a homogeneização dos alunos. valorização da contribuição individual para a consecução de
No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a objetivos comuns de um mesmo grupo.
mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar em A interação entre colegas de turma, a aprendizagem
torno de uma mudança educacional como a inclusão não colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o
acontece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo professor devem ser estimuladas. Os professores, quando
havendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos
educativas da escola, há que existir uma entrega, uma diversificados e em grupo, desenvolvem formas de
disposição individual ou grupal de sua equipe de se expor a compartilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de
uma experiência educacional diferente das que estão aula.
habituados a viver. Para que qualquer transformação ou A formação de turmas tidas como homogêneas é um dos
mudança seja ver- dadeira, as pessoas têm de ser tocadas pela argumentos de defesa dos professores, gestores e especialistas
experiência. Precisam ser receptivas, disponíveis e abertas a em favor da qualidade do ensino, que precisa ser refutado,
vivê-la, baixando suas guardas, submetendo-se, entregando-se porque se trata de uma ilusão que compromete o ensino e
à experiência [...] sem resistências, sem segurança, poder, exclui alunos.
firmeza, garantias (BONDÍA, 2002). A avaliação de caráter classificatório, por meio de notas,
As mudanças não ocorrem pela mera adoção de práticas provas e outros instrumentos similares, mantém a repetência
diferentes de ensinar. Elas de- pendem da elaboração dos e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e qualitativa da
professores sobre o que lhes acontece no decorrer da aprendizagem, com a participação do aluno, tendo, inclusive, a
experiência educacional inclusiva que eles se propuseram a intenção de avaliar o ensino oferecido e torná-lo cada vez mais
viver. O que vem dos livros e o que é transmitido aos adequado à aprendizagem de todos os alunos conduz a outros
professores nem sempre penetram em suas práticas. A resultados. A adoção desse modo de avaliar com base na
experiência a que nos referimos não está relacionada com o qualidade do ensino e da aprendizagem já diminuiria
tempo dedicado ao magistério, ao saber acumulado pela substancialmente o número de alunos que são in-
repetição de uma mesma atividade utilitária, instrumental. devidamente avaliados e categorizados como deficientes nas
Estamos nos referindo ao saber da experiência, que é escolas comuns.
subjetivo, pessoal, relativo, adquirido nas ocasiões em que Os professores em geral concordam com novas
entendemos e atribuímos sentidos ao que nos acontece, ao que alternativas de se avaliar os processos de ensino e de
nos passa, ao que nos sucede ao viver a experiência (BONDÍA, aprendizagem e admitem que as turmas são naturalmente
2002). heterogêneas. Sentem-se, contudo, inseguros diante da
O reconhecimento de que os alunos aprendem segundo possibilidade de fazer uso dessas alternativas em sala de aula
suas capacidades não surge de uma hora para a outra, só e inovar as rotinas de trabalho, rompendo com a organização
porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças terá pedagógica pré estabelecida.
sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus Ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas escolares
posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e inclusivas não implicam um ensino adaptado para alguns
homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido alunos, mas sim um ensino diferente para todos, em que os
por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma alunos tenham condições de aprender, segundo suas próprias
experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, capacidades, sem discriminações e adaptações.
desempenhará o seu papel formador, que não se restringe a A ideia do currículo adaptado está associada à exclusão na
ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem inclusão dos alunos que não conseguem acompanhar o

Bibliografia 81
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

progresso dos demais colegas na aprendizagem. Currículos PARTE II


adapta- dos e ensino adaptado negam a aprendizagem
diferenciada e individualizada. O ensino escolar é coletivo e 1. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO -
deve ser o mesmo para todos, a partir de um único currículo. É AEE
o aluno que se adapta ao currículo, quando se admitem e se
valorizam as diversas formas e os diferentes níveis de Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de
conhecimento de cada um. Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
A aprovação e a certificação por terminalidade específica, (2008) é o Atendimento Educacional Especializado - AEE, um
como propõe a LDBEN/1996, não faz sentido, quando se serviço da educação especial que "[...] identifica, elabora e
entende que a aprendizagem é diferenciada de aluno para organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que
aluno, constituindo-se em um processo que não pode obedecer eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos,
a uma terminalidade prefixada com base na condição considerando suas necessidades específicas" (SEESP/MEC,
intelectual de alguns. 2008).
Outra prática usual nas escolas é o ensino dos conteúdos O AEE complementa e/ou suplementa a formação do
das áreas disciplinares (Matemática, Língua Portuguesa, aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela,
Geografia, Ciências, etc.) como fins em si mesmos e trata- dos constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É
de modo fragmentado nas salas de aulas. realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço
A afirmação da interdisciplinaridade é a afirmação, em físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto,
última instância, da disciplinarização: só poderemos é parte integrante do projeto político pedagógico da escola.
desenvolver um trabalho interdisciplinar se fizermos uso de São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais,
várias disciplinas. [...] A interdisciplinaridade contribui para alunos público-alvo da educação especial, conforme
minimizar os efeitos perniciosos da compartimentalização, estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na
mas não significaria, de forma alguma, o avanço para um Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008.
currículo não disciplinar (GALLO, 2002, p. 28-29).
Um currículo não disciplinar implica um ensino sem as - Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm
gavetas das disciplinas, em que se reconhece a multiplicidade impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
das áreas do conhecimento e o trânsito livre entre elas. O intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas
ensino não disciplinar não deve ser confundido com os Temas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas
não superam a disciplinarização, continuando a organizar o (ONU, 2006).
currículo em disciplinas, pelas quais perpassam assuntos de - Alunos com transtornos globais do desenvolvimento:
interesse social, como o meio ambiente, sexualidade, ética e aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações
outros. sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de
Segundo Gallo (2002), transversalidade em educação e interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.
currículo não disciplinar tem a ver com processos de ensino e Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do
de aprendizagem em que o aluno transita pelos saberes es- espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP, 2008).
colares, integrando-os e construindo pontes entre eles, que - Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que
podem parecer caóticas, mas que refletem o modo como demonstram potencial elevado em qualquer uma das
aprendemos e damos sentido ao novo. seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual,
As propostas curriculares, quando contextualizadas, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de
reconhecem e valorizam os alunos em suas peculiaridades de apresentar grande criatividade, envolvimento na
etnia, de gênero, de cultura. Elas partem das vidas e aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu
experiências dos alunos e vão sendo tramadas em redes de interesse (MEC/SEESP, 2008).
conhecimento, que superam a tão decantada sistematização
do saber. O questionamento dessas peculiaridades e a visão A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino
crítica do multiculturalismo trazem uma perspectiva para o regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de
entendimento das diferenças, a qual foge da tolerância e da Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou
aceitação, atitudes estas tão carregadas de preconceito e privada, sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem
desigualdade. estar de acordo com as orientações da Política Nacional de
O multiculturalismo crítico, segundo Hall (2003), um Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
estudioso das questões da pós-modernidade e das diferenças (2008) e com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial
na atualidade, é uma das concepções do multiculturalismo. para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Essa concepção questiona a exclusão social e demais formas de Básica (MEC/SEESP, 2009).
privilégios e de hierarquias das sociedades contemporâneas, Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de
indagando sobre as diferenças e apoiando movimentos de reorientação de escolas especiais e centros especializados
resistência dos dominados. requer a construção de uma proposta pedagógica que institua
O multiculturalismo crítico toma como referência a nestes espaços, principalmente, serviços de apoio às escolas
liberdade e a emancipação e defende que a justiça, a para a organização das salas de recursos multifuncionais e
democracia e a equidade não são dadas, mas conquistadas. para a formação continuada dos professores do AEE.
Difere do multiculturalismo conservador, em que os Os conselhos de educação têm atuação primordial no
dominantes buscam assimilar as minorias aos costumes e credenciamento, autorização de funcionamento e organização
tradições da maioria. destes centros de AEE, zelando para que atuem dentro do que
Outras práticas educacionais inclusivas que derivam dos a legislação, a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, a
propósitos de se ensinar à turma toda, sem discriminações, preferência pela escola comum como o local do serviço de AEE,
por vezes são refutadas pelos professores ou aceitas com já definida no texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela
parcimônia, desconfiança e sob condições. Motivos não faltam Política, e existem razões para que esse atendimento ocorra na
para que eles se compor- tem desse modo. Muitos receberam escola comum.
sua própria formação dentro do modelo conservador, que foi O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola
sendo reforçado dentro das escolas. do aluno está na possibilidade de que suas necessidades
educacionais específicas possam ser atendidas e discuti- das

Bibliografia 82
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

no dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino acompanhamento conjunto da utilização dos recursos e do
regular e/ou na educação especial, aproximando esses alunos progresso do aluno no processo de aprendizagem;
dos ambientes de formação comum a todos. Para os pais, - a formação continuada dos professores e demais
quando o AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia-lhes membros da equipe escolar, entremeando tópicos do ensino
viver uma experiência inclusiva de desenvolvimento e de especial e comum, como condição da melhoria do atendimento
escolarização de seus filhos, sem ter de recorrer a atendi- aos alunos em geral e do conhecimento mais detalhado de
mentos exteriores à escola. alguns alunos em especial, por meio do questionamento das
diferenças e do que pode promover a exclusão escolar.
2. ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLA COMUM E
EDUCAÇÃO ESPECIAL: AÇÕES E RESPONSABILIDADES No caso do atendimento educacional especializado - AEE,
COMPARTILHADAS por exemplo, as dimensões do INSTITUÍDO podem ser
identificadas na existência de leis, políticas, decretos,
Ao se articular com a escola comum, na perspectiva da diretrizes curriculares que chegam à escola definidas nos
inclusão, a Educação Especial muda seu rumo, refazendo documentos oficiais, dando contornos à sistematização da
caminhos que foram abertos tempos atrás, quando se oferta desse serviço na escola comum. Na dimensão do
propunha a substituir a escola comum para alguns alunos que INSTITUINTE, muito pode ser criado nesse sentido: parcerias
não correspondiam às exigências do ensino regular. com setores da comunidade para a implementação de Planos
A mudança de rumos implica uma articulação de de AEE; organização dos horários de oferta do AEE no horário
propósitos entre a escola comum e a Educação Especial, ao oposto ao período escolar do aluno; projetos escolares
contrário do que acontece quando tanto a escola comum como interdisciplinares que incluam a necessidade da tecnologia
a especial constituem escolas dos diferentes, dividindo os assistiva - TA; planejamento para alterações na acessibilidade
alunos em normais e especiais e estabelecendo uma cisão física da escola e assim por diante.
entre esses grupos, que se isolam em ambientes educacionais Do ponto de vista intraescolar, essas articulações mostram
excludentes. o impacto, os efeitos, a pertinência, os limites e mesmo as
A escola das diferenças aproxima a escola comum da distorções dos atendimentos que estão sendo oferecidos aos
Educação Especial, porque, na concepção inclusiva, os alunos alunos nas turmas comuns de ensino regular e nos serviços de
estão juntos, em uma mesma sala de aula. A articulação entre Educação Especial, entre os quais o atendimento educacional
Educação Especial e escola comum, na perspectiva da inclusão, especializado - AEE.
ocorre em todos os níveis e etapas do ensino básico e do No plano extraescolar, quando a escola se articula a outros
superior. Sem substituir nenhum desses níveis, a integração serviços da comunidade, os efeitos dessas articulações se
entre ambas não deverá descaracterizar o que é próprio de irradiam e se fazem sentir junto às famílias e demais pro-
cada uma delas, estabelecendo um espaço de intersecção de fissionais que atendem aos alunos, dando destaque à escola no
competências resguardado pelos limites de atuação que as seu entorno e na rede de ensino, pois fortalece a sua posição e
especificam. representatividade no conjunto das demais unidades e
Para oferecer as melhores condições possíveis de inserção instituições filiadas à educação.
no processo educativo for- mal, o AEE é ofertado Há ainda certa dificuldade de se articular serviços dentro
preferencialmente na mesma escola comum em que o aluno da escola. O que se entende equivocadamente por articulação
estuda. Uma aproximação do ensino comum com a educação entre a Educação Especial e a escola comum tem
especial vai se constituindo à medida que as necessidades de descaracterizado a interlocução entre ambas. Na perspectiva
alguns alunos provocam o encontro, a troca de experiências e da educação inclusiva, os professores itinerantes, o reforço
a busca de condições favoráveis ao desempenho escolar desses escolar e outras ações não constituem formas de articulação,
alunos. mas uma justaposição de serviços, que continua incidindo
Os professores comuns e os da Educação Especial precisam sobre a fragmentação entre a Educação Especial e o ensino
se envolver para que seus objetivos específicos de ensino comum.
sejam alcançados, compartilhando um trabalho A efetivação dessa articulação é ensejada pela inserção do
interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada AEE no Projeto Político Pedagógico das escolas. Uma vez
professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é considerado esse serviço da Educação Especial como parte
atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor constituinte do Projeto, os demais eixos de articulação entre
do AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno ensino comum e especial serão envolvidos e contemplados, e
com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as o ensino comum e especial terão seus propósitos fundidos em
barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com uma visão inclusiva de educação. O PPP já contém em si as
autonomia e independência nas turmas comuns do ensino premissas dessa articulação, que podemos apreciar no que
regular. ocorre quando o AEE torna-se um de seus tópicos.
As funções do professor de Educação Especial são abertas
à articulação com as atividades desenvolvidas por professores, 2.1. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E O AEE
coordenadores pedagógicos, supervisores e gestores das
escolas comuns, tendo em vista o benefício dos alunos e a De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação
melhoria da qualidade de ensino. Especial para o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Básica, publicada pela Secretaria de Educação
São eixos privilegiados de articulação: Especial - SEESP/MEC, em abril de 2009, o Projeto Político
- a elaboração conjunta de planos de trabalho durante a Pedagógico da Escola deve contemplar o AEE como uma das
construção do Projeto Pedagógico, em que a Educação Especial dimensões da escola das diferenças. Nesse sentido, é preciso
não é um tópico à parte da programação escolar; planejar, organizar, executar e acompanhar os objetivos,
- o estudo e a identificação do problema pelo qual um aluno metas e ações traçadas, em articulação com as demais
é encaminhado à Educação Especial; propostas da escola comum.
- a discussão dos planos de AEE com todos os membros da A democracia se exercita e toma forma nas decisões
equipe escolar; conjuntas do coletivo da escola e se reflete nas iniciativas da
- o desenvolvimento em parceria de recursos e materiais equipe escolar. Nessa perspectiva, o AEE integra a gestão
didáticos para o atendimento do aluno em sala de aula e o democrática da escola. No PPP, devem ser previstos a
organização e recursos para o AEE: sala de recursos

Bibliografia 83
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

multifuncionais; matrícula do aluno no AEE; aquisição de ensino para a organização e oferta do AEE, nas salas de
equipamentos; indicação de professor para o AEE; articulação recursos multifuncionais.
entre professores do AEE e os do ensino comum e redes de As Diretrizes Operacionais para o Atendimento
apoio internos e externos à escola. Educacional Especializado (2009) reiteram que, no caso de a
No caso da inexistência de uma sala de recursos oferta do AEE ser realizada fora da escola comum, em centro
multifuncionais na escola, os alunos não podem ficar sem este de atendimento educacional especializado público ou privado
serviço, e o PPP deve prever o atendimento dos alunos em sem fins lucrativos, convenia- do para essa finalidade, a oferta
outra escola mais próxima ou centro de atendimento conste também do PPP do referido centro. Eles devem seguir
educacional especializado, no contraturno do horário escolar. as normativas estabelecidas pelo Conselho de Educação do
O AEE, quando realizado em outra instituição, deve ser respectivo sistema de ensino para autorização de
acordado com a família do aluno, e o transporte, se necessário, funcionamento e seguir as orientações preconizadas nestas
providenciado. Em tal situação, destaca-se, a articulação com Diretrizes, como ocorre com o AEE nas escolas comuns.
os professores e especialistas de ambas as escolas, para Conforme as Diretrizes, para o financiamento do AEE são
assegurar uma efetiva parceria no processo de exigidas as seguintes condições:
desenvolvimento dos alunos. a) matrícula na classe comum e na sala de recursos
O PPP prevê ações de acompanhamento e articulação entre multifuncional da mesma escola pública;
o trabalho do professor do AEE e os professores das salas b) matrícula na classe comum e na sala de recursos
comuns, ações de monitoramento da produção de materiais multifuncional de outra escola pública;
didáticos especializados, bem como recursos necessários para c) matrícula na classe comum e em centro de
a confecção destes. Além das condições para manter, melhorar atendimento educacional especializa- do público;
e ampliar o espaço das salas de recursos multifuncionais, d) matrícula na classe comum e no centro de
inclui-se no PPP a previsão de outros tipos de recursos, atendimento educacional especializa- do privado sem fins
equipamentos e suportes que forem indicados pelo professor lucrativos.
do AEE ao aluno.
O PPP de uma escola considera, no conjunto dos seus A organização do Atendimento Educacional Especializado
alunos, professores, especialistas, funcionários e gestores, as considera as peculiaridades de cada aluno. Alunos com a
necessidades existentes, buscando meios para o atendi- mento mesma deficiência podem necessitar de atendimentos
dessa demanda, a partir dos objetivos e metas a serem diferencia- dos. Por isso, o primeiro passo para se planejar o
atingidas. Ao delimitar os tempos escolares, o PPP insere os Atendimento não é saber as causas, diagnósticos, prognóstico
calendários, os horários de turnos e contraturnos na da suposta deficiência do aluno. Antes da deficiência, vem a
organização pedagógica escolar, atendendo às diferentes pessoa, o aluno, com sua história de vida, sua individualidade,
demandas, de acordo com os es- paços e os recursos físicos, seus desejos e diferenças.
humanos e financeiros de que a escola dispõe. Há alunos que frequentarão o AEE mais vezes na semana e
No caso do AEE, por fazer parte desta organização, o PPP outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de
estipulará o horário dos alunos, oposto ao que frequentam a atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno
escola comum e proporcional às necessidades indicadas no terá um tipo de recurso a ser utilizado, uma duração de
plano de AEE; e o horário do professor, previsto para que atendimento, um plano de ação que garanta sua participação e
possa realizar o atendimento dos alunos, preparar material aprendizagem nas atividades escolares.
didático, receber as famílias dos alunos, os professores da sala Na organização do AEE, é possível atender aos alunos em
comum e os demais profissionais que estejam envolvidos. pequenos grupos, se suas necessidades forem comuns a todos.
Enquanto serviço oferecido pela escola ou em parceria É possível, por exemplo, atender a um grupo de alunos com
com outra escola ou centro de atendimento especializado, o surdez para ensinar-lhes LIBRAS ou para o ensino da Língua
PPP estabelece formas de avaliar o AEE, de alterar práticas, de Portuguesa escrita.
inserir novos objetivos e de definir novas metas visando ao Os planos de AEE resultam das escolhas do professor
aprimoramento desse serviço. Na operacionalização do quanto aos recursos, equipamentos, apoios mais adequados
processo de avaliação institucional, caberá à gestão zelar para para que possam eliminar as barreiras que impedem o aluno
que o AEE não seja descaracterizado das suas funções e para de ter acesso ao que lhe é ensinado na sua turma da escola
que os alunos não sejam categorizados, discriminados e comum, garantindo-lhe a participação no processo escolar e na
excluídos do processo avaliativo utilizado pela escola. vida social em geral, segundo suas capacidades. Esse
O PPP define os fundamentos da estrutura escolar e deve atendimento tem funções próprias do ensino especial, as quais
ser coerente com os propósitos de uma educação que acolhe não se destinam a substituir o ensino comum e nem mesmo a
as diferenças e, sendo assim, não poderá manter seu caráter fazer adaptações aos currículos, às avaliações de desempenho
excludente e próprio das escolas dos diferentes. e a outros. É importante salientar que o AEE não se confunde
com reforço escolar.
2.2 A ORGANIZAÇÃO E A OFERTA DO AEE O professor de AEE acompanha a trajetória acadêmica de
seus alunos, no ensino regular, para atuar com autonomia na
O Decreto Nº. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que escola e em outros espaços de sua vida social. Para tanto, é
dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, imprescindível uma articulação entre o professor de AEE e os
destina recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da do ensino comum.
Edu- cação Básica - FUNDEB ao AEE de alunos com deficiência, Na perspectiva da inclusão escolar, o professor da
transtornos globais do desenvolvimento e altas Educação Especial não é mais um especialista em uma área
habilidades/superdotação, matriculados na rede pública de específica, suas atividades desenvolvem-se,
ensino regular, admitindo o cômputo duplo da matrícula preferencialmente, nas escolas comuns, cabendo-lhes, no
desses alunos em classes comuns de ensino regular público e atendimento educacional especializado aos alunos, público-
no AEE, concomitantemente, conforme registro no Censo alvo da educação especial, as seguintes atribuições:
Escolar. Esse Decreto possibilita às redes de ensino o
investimento na formação continuada de professores, na a) identificar, elaborar, produzir e organizar serviços,
acessibilidade do espaço físico e do mobiliário escolar, na recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias,
aquisição de novos recursos de tecnologia assistiva, entre considerando as necessidades específicas dos alunos de forma
outras ações previstas na manutenção e desenvolvimento do

Bibliografia 84
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

a construir um plano de atuação para eliminá-las (MEC/SEESP,


2009).

Exibe materiais produzidos com papel cartão para o ensino de LIBRAS.


Cada imagem é acompanhada do sinal de Libras e da palavra em Língua
Portuguesa.
Mostra equipamentos e materiais pedagógicos para alunos com deficiência
visual.
d) Elaborar e executar o plano de AEE, avaliando a
funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos educacionais e
b) Reconhecer as necessidades e habilidades do aluno.
de acessibilidade (MEC/SEESP, 2009). Na execução do plano
Ao identificar certas necessidades do aluno, o professor de
de AEE, o professor terá condições de saber se o recurso de
AEE reconhece também as suas habilidades e, a partir de
acessibilidade proposto promove participação do aluno nas
ambas, traça o seu plano de atendimento. Se ele identifica
atividades escolares. O plano, portanto, deverá ser
necessidade de comunicação alternativa para o aluno, indica
constantemente revisado e atualizado, buscando-se sempre o
recursos como a prancha de comunicação, por exemplo; se
melhor para o aluno e considerando que cada um deve ser
observa que o aluno movimenta a cabeça, consegue apontar
atendido em suas particularidades.
com o dedo, pisca, essas habilidades são consideradas por ele
e) Organizar o tipo e o número de atendimentos
para a seleção e organização de recursos educacionais e de
(MEC/SEESP, 2009). O professor seleciona o tipo do
acessibilidade.
atendimento, organizando, quando necessários, materiais e
Com base nesses dados, o professor elaborará o plano de
recursos de modo que o aluno possa aprender a utilizá-los
AEE, definindo o tipo de atendimento para o aluno, os
segundo suas habilidades e funcionalidades. O número de
materiais que deverão ser produzidos, a frequência do aluno
atendimentos semanais/mensais varia de caso para caso. O
ao atendimento, entre outros elementos constituintes desse
professor vai prolongar o tempo ou antecipar o desligamento
plano. Outros dados poderão ser coletados pelo professor em
do aluno do AEE, conforme a evolução do aluno.
articulação com o professor da sala de aula e de- mais colegas
f) Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos
da escola.
recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula
comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da
es- cola (MEC/SEESP, 2009). O professor do AEE observa a
funcionalidade e aplicabilidade dos recursos na sala de aula, as
distorções, a pertinência, os limites desses recursos nesse e em
outros ambientes escolares, orientando, também, as famílias e
os colegas de turma quanto ao uso dos recursos.
O professor de sala de aula informa e avalia juntamente
com o professor do AEE se os serviços e recursos do
Atendimento estão garantindo participação do aluno nas
atividades escolares. Com base nessas informações, são
reformuladas as ações e estabelecidas novas estratégias e
recursos, bem como refeito o plano de AEE para o aluno.
Mostra um aluno com deficiência visual, utilizando os recursos da
g) Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais
informática acessível. como: as tecnologias da informação e comunicação, a
comunicação alternativa e aumentativa, a informática
c) Produzir materiais tais como textos transcritos, acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os
materiais didático-pedagógicos adequados, textos ampliados, softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de
gravados, como, também, poderá indicar a utilização de orientação e mobilidade (MEC/SEESP, 2009).
softwares e outros recursos tecnológicos disponíveis. h) Promover atividades e espaços de participação da
família e a interface com os serviços de saúde, assistência
social e outros (MEC/SEESP, 2009). O papel do professor do
AEE não deve ser confundido com o papel dos profissionais do
atendimento clínico, embora suas atribuições possam ter
articulações com profissionais das áreas da Medicina,
Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e outras afins.
Também estabelece interlocuções com os profissionais da
arquitetura, engenharia, informática.
No decorrer da elaboração e desenvolvimento dos planos
de atendimento para cada aluno, o professor de AEE se
apropria de novos conteúdos e recursos que ampliam seu
conhecimento para a atuação na Sala de Recursos
Multifuncional.
São conteúdos do AEE: Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS
Mostra uma aluna com paralisia cerebral em sala de aula comum, fazendo e LIBRAS tátil; Alfabeto digital; Tadoma; Língua Portuguesa na
uso da prancha de comunicação alternativa.

Bibliografia 85
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

modalidade escrita; Sistema Braille; Orientação e mobilidade; aperfeiçoamento e especialização para os professores que
Informática acessível; Sorobã (ábaco); Estimulação visual; atuam ou atuarão no AEE.
Comunicação alternativa e aumentativa - CAA; As palestras informativas devem envolver o maior número
Desenvolvimento de processos educativos que favoreçam a de pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE,
atividade cognitiva. pais, autoridades educacionais. De caráter mais amplo, essas
São recursos do AEE: Materiais didáticos e pedagógicos palestras têm por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele
acessíveis (livros, desenhos, mapas, gráficos e jogos táteis, em está sendo realizado e qual a política que o fundamenta, além
LIBRAS, em Braille, em caracter ampliado, com contras- te de tirar dúvidas sobre este serviço e pro- mover ações
visual, imagéticos, digitais, entre outros); Tecnologias de conjuntas para fazer encaminhamentos, quando necessários.
informação e de comunicação (TICS) acessíveis (mouses e Para a formação em nível de aperfeiçoamento e
acionadores, teclados com colméias, sintetizadores de voz, especialização, a proposta é que sejam realizadas ações de
linha Braille, entre outros); e Recursos ópticos; pranchas de formação fundamentadas em metodologias ativas de
CAA, engrossadores de lápis, ponteira de cabeça, plano aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendizagem
inclinado, tesouras acessíveis, quadro magnético com letras Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning
imantadas, entre outros. (PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Trabalhos com
O desenvolvimento dos processos de ensino e de Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), entre
aprendizagem é favorecido pela participação da família dos outras.
alunos. Para elaborar e realizar os Planos de AEE, o professor Essas metodologias trazem novas formas de produção e
necessita dessa parceria em todos os momentos. Reuniões, organização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro
visitas e entrevistas fazem parte das etapas pelas quais os do processo educativo, dando-lhe autonomia e
professores de AEE estabelecem contatos com as famílias de responsabilidade pela sua aprendizagem por meio da
seus alunos, colhendo informações, repassando outras e identificação e análise dos problemas e da capacidade para
estabelecendo laços de cooperação e de compromissos. formular questões e buscar informações para responder a
As parcerias intersetoriais e com a comunidade onde a estas questões, ampliando conhecimentos.
escola está inserida estão entre as prioridades do Projeto Tradicionalmente os cursos de formação continuada são
Político Pedagógico, pois a educação não é apenas uma área centrados nos conteúdos, classificados de acordo com o
restrita aos órgãos do sistema educacional. Elas aparecem nas critério de pertencimento a uma especificidade, tendo sua
ações integradas da escola com todos os segmentos da organização curricular pautada num perfil "ideal" de aluno que
sociedade civil e da sociedade política dos Municípios e se deseja formar. Estes modelos de formação estão sendo cada
Estados com as escolas. vez mais questionados no contexto educacional e algumas
Indicadores importantes das parcerias intersetoriais são metodologias começam a surgir com a finalidade de romper
as ações desenvolvidas entre as escolas e as Secretarias de com esta organização e determinismo. Tais metodologias
Educação, de Saúde, Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder rompem com o modelo determinista de formação,
Judiciário, Ministério Público, instituições, empresas e demais considerando as diferenças entre os estudantes e
segmentos sociais. O PPP, ao propor essas parcerias, está apresentando uma nova perspectiva de organização
consubstanciado em uma visão de complementação e de curricular.
alinhamento da educação escolar com outras instituições Zabala (1995) defende uma perspectiva de organização
sociais. curricular globalizadora, na qual os conteúdos de
No caso do AEE, faz parte do seu Plano a previsão, aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são
desenvolvimento e avaliação de ações sincronizadas com a relevantes em função de sua capacidade de compreender uma
Saúde, Assistência Social, Esporte, Cultura e demais realidade global. Para Hernandez (1998), o conceito de
segmentos. As parcerias fortalecem esse Plano, sem correr o conhecimento global e relacional permite superar o sentido da
risco de perder o foco no AEE, na medida em que a participação mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe
de outros atores amplia o caráter interdisciplinar do serviço. estabelecer um processo no qual o tema ou problema
abordado seja o ponto de referência para onde confluem os
2.1.2. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O AEE conhecimentos.
É neste contexto que surgem as metodologias ativas de
Para atuar no AEE, os professores devem ter formação aprendizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do
específica para este exercício, que atenda aos objetivos da docente. Uma delas refere-se à flexibilidade diante das
educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos questões que surgirão e dos conhecimentos que se construirão
cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento ou de durante o desenvolvimento dos trabalhos. Este processo
especialização, indicados para essa formação, os professores permite aos professores e aos alunos aprenderem a explicar as
atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdos relações estabelecidas a partir de informações obtidas sobre
específicos do AEE, para melhor atender a seus alunos. determinado assunto e de- monstra respeito às diferentes
A formação de professores consiste em um dos objetivos formas e procedimentos de organização do conhecimento.
do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do
com a aprendizagem permanente de professores, demais processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo
profissionais que atuam na escola e também dos pais e da aos conteúdos da formação. Os conteúdos não se tornam à
comunidade onde a escola se insere. Neste documento, finalidade, mas os meios de ensino. As metodologias ativas de
apresentam-se as ações de formação, incluindo os aspectos aprendizagem têm como característica o fato de se
liga- dos ao estudo das necessidades específicas dos alunos desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem
com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo,
altas habilidades/superdotação. Este estudo perpassa o cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz
cotidiano da escola e não é exclusivo dos professores que a desenvolver os trabalhos em equipe, ou- vir outras opiniões,
atuam no AEE. a considerar o contexto ao elaborar as propostas das soluções,
À gestão escolar compete implementar ações que tornando-o consciente do que ele sabe e do que precisa
garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou aprender. Motiva-o a buscar as in- formações relevantes,
indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar por considerando que cada problema é um problema e que não
meio de palestras informativas e formações em nível de existem receitas para solucioná-los.

Bibliografia 86
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem jogos pedagógicos acessíveis, software para comunicação
Colaborativa em Redes - ACR, construída a partir da alternativa, lupas manuais e lupa eletrônica, plano inclinado,
metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi mesas, cadeiras, armário, quadro melanínico.
desenvolvida para um programa de formação continuada a
distância de professores de AEE. Seu foco é a aprendizagem
colaborativa, o trabalho em equipe, contextualizado na
realidade do aprendiz.
A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos
individuais e coletivos. As etapas compreendem a
apresentação, a descrição e a discussão do problema;
pesquisas em fontes bibliográficas para favorecer a
compreensão do problema; apresentação de propostas de
soluções para o problema em foco; elaboração do plano de
atendimento; socialização; reelaboração da solução do
problema e do plano de atendimento; avaliação.
A proposta de formação ACR prepara o professor para
perceber a singularidade de cada caso e atuar frente a eles.
Nesse sentido, a formação não termina com o curso, visto que Mostra um aluno com deficiência física utilizando vocalizador em sala de
a atuação do professor requer estudo e reflexões diante de aula comum.
cada novo desafio. Finalizada a formação, é importante que os
professores constituam redes sociais para dar continuidade As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo II são
aos estudos, estudar casos, dirimir dúvidas e socializar os constituídas dos recursos da sala Ti- po I, acrescidos de outros
conhecimentos adquiridos a partir da prática cotidiana. Para recursos específicos para o atendimento de alunos com ceguei-
contribuir com estas ações, a internet disponibiliza várias ra, tais como impressora Braille, máquina de datilografia
ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos Braille, reglete de mesa, punção, soroban, guia de assinatura,
professores. globo terrestre acessível, kit de desenho geométrico acessí-
As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em vel, calculadora sonora, software para produção de desenhos
especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o gráficos e táteis.
acesso às informações de forma rápida e constante. Elas
permitem a participação ativa do usuário na grande rede de
computadores e invertem o papel de usuário consumidor para
usuário produtor de conhecimento, de agente passivo para
agente ativo, o que pode ampliar as possibilidades dos
programas de formação pautados em metodologias ativas de
aprendizagem.
Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a
construção coletiva do conheci- mento em torno das práticas
de inclusão e, o mais importante, socializar estas práticas e
fazer delas um objeto de pesquisa.
Mostra materiais didático-pedagógicos integrantes das salas de recursos
PARTE III multifuncionais.

1. SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 1.1. CONHECENDO ALGUNS RECURSOS ACESSÍVEIS

As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços a) Jogo Cara a Cara: O objetivo do jogo é encontrar a
localizados nas escolas de educação básica, onde se realiza o outra cara igual a que o outro participante tem em mãos.
Atendimento Educacional Especializado - AEE. Essas salas são Crianças com cegueira têm a possibilidade de encontrar os
organizadas com mobiliários, materiais didáticos e pares em função das texturas, e crianças com baixa visão, em
pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos função das cores contrastantes. O jogo foi feito em borracha e
específicos para o atendimento aos alunos público alvo da com retângulos em tamanho grande para permitir que
educação especial, em turno contrário à escolarização. crianças com dificuldades motoras possam jogar. Dessa forma,
O Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar as o jogo permite a participação de todos.
redes públicas de ensino na organização e na oferta do AEE e b)
contribuir com o fortalecimento do processo de inclusão
educacional nas classes comuns de ensino, instituiu o
Programa de Implantação de Salas de Recursos
Multifuncionais, por meio da Portaria Nº. 13, de 24 de abril de
2007.
Nesse processo, o Programa atende a demanda das escolas
públicas que possuem matrículas de alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento ou
superdotados/altas habilidades, disponibilizando as salas de
recursos multifuncionais, Tipo I e Tipo II. Para tanto, é
necessário que o gestor do município, do estado ou do Distrito
Federal garanta professor para o AEE, bem como o espaço para
a sua implantação.
As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo I são
Foto 9 - Mostra o jogo acessível cara a cara, feito de borracha recortada em
constituídas de microcomputadores, monitores, fones de retângulos.
ouvido e microfones, scanner, impressora laser, teclado e
colméia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais e

Bibliografia 87
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

c) Maquete da planta baixa: Uma maquete de planta


baixa pode ser confeccionada com diferentes materiais, como
o papel cartão, o papel camurça e outros. Esse material
proporciona a percepção do ambiente, a orientação espacial e
a mobilidade.

Mostra um teclado com colméia para uso do aluno com dificuldades


motoras.

g) Mouse e acionador de pressão: O acionador de


pressão, conectado ao mouse, é utiliza- do por alunos com
deficiência física. Por exemplo, em casos em que os alunos
apresentam amputação de braços, o acionador poderá ser
Mostra maquete da planta baixa de uma escola da rede pública de ensino. ativado com o queixo ou, se o aluno apresenta dificuldades
A maquete foi feita com material simples, como o papel cartão e o papel
motoras nas mãos, o acionador poderá ser ativado com o movi-
camurça. Ela está sobre uma mesa. Três pessoas estão sentadas e uma delas
tateia a maquete. mento do cotovelo.

d) Máquina Braille

Mostra um mouse com o acionador de pressão conectado.

h) Aranha-mola: O recurso da tecnologia assistiva


denominado Aranha-mola é produzi- do com um arame
Mostra a professora do AEE ensinando o aluno com cegueira a usar a
máquina de datilografia Braille. revestido, onde os dedos e a caneta são encaixados. O objetivo
deste recurso é estabilizar ou auxiliar nos movimentos de
e) Jogo da velha e dominó: Estes jogos são constituídos pessoas com deficiência física nas atividades em que utilizam
de peças e tabuleiro em diferentes materiais, texturas, cores e lápis, caneta ou pincel.
formas geométricas que permitem acessibilidade para alunos
com cegueira ou com baixa visão.

Mostra um aluno escrevendo com caneta encaixada na aranha-mola.

Mostra o jogo da velha e de dominó feito de madeira, em cores Considerações Finais


contrastantes.

A garantia de acesso, participação e aprendizagem de


f) Teclado com colméia: A colméia é um recurso da
todos os alunos nas escolas contribui para a construção de
tecnologia assistiva feita em acrílico transparente com furos
uma nova cultura de valorização das diferenças. Este fascículo
coincidentes às teclas do teclado comum. A colméia facilita a
destacou em seus tópicos a importância de se rever a
digitação do aluno com dificuldade motora.
organização pedagógica e administrativa das escolas para que
estas possam tornar-se espaços inclusivos.
Do ponto de vista da escola comum, ressaltou-se o papel do
Projeto Político Pedagógico como instrumento orientador
desses espaços e a participação e comprometimento dos
professores na elaboração e execução desse Projeto. Quanto à
Educação Especial, reiteramos a necessidade de esta

Bibliografia 88
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

modalidade de ensino ser parte integrante do PPP, para que oferecendo para eles objetos que satisfaçam as suas
seus serviços possam ser implementados na perspectiva da necessidades, as suas curiosidades.
educação inclusiva, como prevê a Política Nacional da Partindo-se do princípio da dialética da
Educação Especial. mobilização, concordamos plenamente que ninguém motiva
O entrelaçamento dos serviços de Educação Especial, entre ninguém, ninguém se motiva sozinho, os sujeitos se motivam
os quais o Atendimento Educacional Especializado, conjuga em comunhão, mediados pela realidade – parafraseado de
igualdade e diferenças como valores indissociáveis e como Paulo Freire.
condição de acolher a todos nas escolas. As ações para Já os professores adeptos da linha pedagógica tradicional
consolidação do AEE exigem firmeza e envolvimento de todos não aplicam a dialética da mobilização em sala de aula. Eles
os que estão se empenhando para que as escolas se tornem têm uma visão equivocada sobre o que é construção do
ambientes educacionais plenamente inclusivos. conhecimento. Para esses professores o caráter reflexivo e
Nessa caminhada em favor de uma escola para todos, a ativo dos alunos em torno do objeto não tem significância, e
educação especial brasileira tem tomado decisões e iniciativas basta que esses alunos estejam em sala de aula, pois sendo
que surpreendem pela ousadia de suas propostas e coerência assim eles acham que os alunos já podem estar motivados.
de seus posicionamentos com o que nossa Constituição de Articulação realidade-Objeto-Mediação
1988 prescreve como direito à educação. Para que o educando, sujeito conhecedor ou
A possibilidade de inventar o cotidiano (CERTEAU, 1994) transformador do objeto, no processo de mobilização para o
tem sido a saída adotada pelos que colocam sua capacidade conhecimento, tenha sucesso na sua empreitada a favor das
criadora para inovar, romper velhos acordos, resistências e descobertas, é necessário que a sua ação seja consciente e
lugares eternizados na educação. É a determinação e um forte voluntária, tão quanto necessária seja a do professor.
compromisso com a melhoria da qualidade da educação É preciso, nesse sentido, que o professor conheça a
brasileira que está subjacente a todas essas mudanças que realidade dos seus alunos, suas necessidades, para assim
estão propostas pela Política atual da Educação Especial. poder traçar a mobilização para o conhecimento e ter
conhecimento de onde quer chegar. Somente assim o trabalho
da metodologia dialética poderá ter sucesso.
VASCONCELLOS, Celso. Conhecer a realidade do aluno é um ponto de partida
Construção do conhecimento muito importante se quisermos realmente buscar a
mobilização. Mas uma realidade concreta e vista pelos olhos da
em sala de aula. Libertad – razão, desprezando a realidade empírica que corresponde a
Centro de Pesquisa, formação somente o superficial das coisas.
e Assessoria Pedagógica. 14ª Portanto, para que isso ocorra, o primeiro passo seria a
prática social comum a professor e aluno.
ed., 2002. Para o educador construtivista é importante ressaltar a
presença da psicogênese durante o processo de
conhecimento, no qual estão interelacionados a infra-
A Construção Do Conhecimento Em Sala De Aula21 estrutura orgânica, o cérebro, o amadurecimento da função e
as relações sociais.
Para que um determinado objeto se torne objeto de O homem é geneticamente social, mas ele também é social
conhecimento é imprescindível que o aluno esteja mobilizado e o seu conhecimento é produto da inteligência.
para conhecê-lo. É preciso que o aluno tenha mobilidade para A forma de conhecer as coisas tem elementos
tal, tendo a intenção de conhecer esse objeto desconhecido. E diferenciados, mesmo apresentando estrutura básica
o ato da mobilização para o conhecimento do objeto exige do semelhantes. Vejamos que em certa fase da vida a criança pode
sujeito uma carga energética física e psíquica durante todo o deixar de entender algo que para o homem na sua fase adulta
processo. É importante ressaltar que durante essa seja tão óbvio, tão comum! Às vezes os adultos não percebem
aprendizagem também estão presentes cargas afetivas em certas coisas, mas nem por isso elas deixam de existir!
torno do objeto a ser conhecido, e que essas cargas não podem Durante o processo de ensino-aprendizagem é muito
ser demasiadas, pois assim poderá ocasionar distúrbios, em comum observarmos educadores que pulam/queimam as
virtude da grande ansiedade de quem quer conhecer o objeto. etapas da aprendizagem – os professores ao invés de se
Para que o sujeito conheça o objeto também é de grande prenderem aos pormenores iniciais sobre o assunto, vão logo,
necessidade aborda-lo, e nesse sentido podemos dizer que para o que eles dizem “ao que interessa”. É o que chamamos
não há possibilidade de conhecimento do objeto se ele estiver de técnica do atalho. Isso bloqueia o raciocínio lógico do aluno,
ausente do sujeito. tendo em vista que a aprendizagem é um processo visto em
Mas para o sujeito construir o seu conhecimento a respeito fazes.
de um objeto qualquer é preciso também que esse objeto tenha Uma característica da mobilidade para o conhecimento é
significado para o sujeito. Mesmo um simples significado no a clareza dos objetivos. Mas não tratamos aqui dos objetivos
primeiro momento já é o suficiente. O que vale é prender o mecânicos que não despertam o sujeito para o conhecimento,
aluno ao objeto, para que no segundo momento ele desperte e sim, de objetivos que satisfaçam realmente as necessidades
mais desejo de conhecê-lo, se este fizer parte das suas dos alunos.
necessidades. Nesse sentido, podemos afirmar que a Infelizmente os objetivos traçados pelas escolas só
mobilização é o caminho e a meta é o significado que o objeto atendem às regras do sistema, tendo como prioridade o
tem para o sujeito. programa conteudista, o que o diretor quer e o que
Em se tratando da mobilização para o conhecimento, possivelmente poderá cair no vestibular. Desse modo fica
podemos dizer que nenhum sujeito se debruçará horas a fio difícil educar para a vida!
sobre um objeto que não satisfaça as suas necessidades num Sendo assim, a intencionalidade do educador, que
sentido bem amplo. E isto é o grande problema que aponta a real definição sobre o seu papel, deixa de existir e,
enfrentamos na sala de aula hoje em dia – não conseguimos conseqüentemente, a intencionalidade do sujeito/aluno
despertar a atenção dos nossos alunos porque não estamos também não tem sentido.

21https://pedagogiaaopedaletra.com/a-construcao-do-conhecimento-em-

sala-de-aula/

Bibliografia 89
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO construção do conhecimento em torno de um objeto não se dá


Consiste em possibilitar que o aluno faça o confronto de uma só vez.
direto com o objeto, de forma a apreendê-lo em suas relações Aos nos aproximarmos de um objeto teremos a
internas e externas. Tal procedimento deve permitir que o oportunidade de conhecê-lo, feito isto é hora de analisá-lo com
aluno estabeleça relações de causa e efeito e compreenda o persistência e demora. Somente depois disso podemos fazer a
essencial. Quanto mais abrangentes essas relações forem, síntese sobre o objeto estudado.
melhor o aluno as compreenderá. Para que o educando tenha conhecimento pleno da
É exatamente o momento em que o aluno, no seu estudo, realidade ele deve analisar o objeto o qual pretende conhecer
passa a conhecer o objeto e tirar conclusões sobre tal, para na sua totalidade.Mas não é isso que as escolas pregam. A
assim poder construir novos conhecimentos sobre o mesmo. escola é organizada em disciplinas e com a função de “vomitar”
É nesse momento que o aluno vai conhecer o objeto a ser conteúdos e mais conteúdos, deixando a desejar na relação
estudado, mas com a ajuda do professor. Nenhum dever toma sujeito e realidade social.
partido de um aprendizado isolado. Os dois, “em comunhão,” Para a práxis pedagógica podemos afirmar que não existe
devem interagir constantemente em torno do objeto e a aprendizagem passiva. Toda prática de aprendizagem exige
realidade. ação ativa por parte de quem quer conhecer o objeto. E nessa
Sendo assim, o professor, ao invés de dar o conhecimento prática ativa não basta somente prestar atenção ao que o
pronto para o aluno, mobiliza-o, estimula-o para que ele professor fala, pois sendo assim o ato de agir, contestar ficaria
mesmo possa buscar o conhecimento e refletir sobre o mesmo, no esquecimento, dando lugar à passividade por parte d aluno.
com o auxilia da ajuda do professor. O aluno deve comparar levantar hipóteses, duvidar,
Processo de conhecimento em sala de aula questionar, julgar, dar solução aos problemas, pois só assim
Apesar da mobilização do sujeito ser uma característica ele estará desenvolvendo o que nós chamamos de operações
para conhecer os objetos, ainda somente isto não é necessário mentais.
para eu haja a construção do conhecimento. A ação do sujeito Na metodologia dialética o que se pretende é uma prática
sobre o objeto a ser conhecido é a necessidade primordial. Isto pedagógica que tenha sentido e que seja de alto grau de
posto, podemos dizer que o importante então não é só motivar, significância. Não bastam somente as tarefas. Fazer as tarefas
mas colocar o sujeito a par da construção do conhecimento. E só pó fazer, quando o aluno está condicionado à notas não é
para isso o aluno deve ter em conta que a contradição é o uma prática educativa decente. A escola deve procurar
núcleo para que isso ocorra. O homem deve ser ativo para uma ação consciente: intencionalidade do sujeito. É preciso
superar as contradições, as dúvidas em torno do objeto. Se não que o aluno queira fazer, tenha intenção de fazer. Nada forçado
houver as contradições não teria sentido algum a construção tem sentido positivo.
do conhecimento. A contradição deve existir para que seja Quanto às tarefas, é ideal que não olhemos para os tipos
superada, em torno da idéia que há entre o objeto e o sujeito. de atividades e sim observemos se elas representam algo de
Diante do exposto, o papel do professor seria estabelecer a concreto. Que seja uma atividade que exija raciocínio, que seja
contradição, tendo em vista as representações mentais que o mais motora, pois sendo assim poderá criar uma ação ativa
aluno tem consigo. Mas essa negação não é o simples fato de mais concreta sobre o aluno, para que ele desenvolva seus
dizer “não” para o vazio, uma negação sem sentido. É uma conhecimentos com mais vontade.
negação/contradição que provoque o aluno a sair do seu Na construção do conhecimento deve existir uma ligação
estado de inércia e se mobilize através da expressão do seu forte entre o sujeito e o objeto, ambos devem estar
pensamento, criticando a realidade dos fatos existenciais. Para interelacionados com o social para que a construção desse
isso o professor tem que ter em mente os conhecimentos já conhecimento não seja restrito. Sujeito e objeto são sempre
adquiridos pelos alunos, afinal o aluno tem um quadro de modificados e dependentemente daprática social, e isso é o
significados e uma gama de conhecimentos anteriores que que chamamos de caráter social do conhecimento.
precisam ser aprimorados. No processo ensino-aprendizagem o professor não pode
A vontade de vencer a contradição sempre existente entre fazer sozinho a tarefa. Não pode fazer pelo aluno, mas também
o sujeito e o objeto é uma luta constante dos homens. Mas essa o aluno não pode realizar suas atividades sozinho. O professor
contradição pode sofrer interferências no estabelecimento. Às deve sim, ser o mediador na construção do conhecimento,
vezes o sujeito não se sente desafiado por uma contradição estimulando o aluno a dar passos mais largos em busca de
porque está mais ligado em outra – deslocamento de novos horizontes. Esta sim, é que deveria ser a forma de
contradição. Em outro momento o sujeito esquece certa trabalho em sala de aula. Além disso, o professor
contradição e vai à busca daquela que mais lhe interessa, deve provocar o aluno a pensar, criticar, estar sempre com o
esquecendo as demais – bloqueio de contradição. pensamento em atividade. Deve dispor de objetos e dar
Para a construção de conhecimentos pautada na visão condições para que o aluno tenha rendimento naquilo que ele
libertadora a criticidade deve fundamentalmente existir. se debruça para conhecer. Deve interagir com o seu aluno em
Como poderia o professor entrar em contradição com o aluno busca de soluções para os problemas propostos.
se este estivesse no senso comum? O aluno, nesse caso, A problematização caracteriza a construção do
permaneceria numa passividade e longe de ser um sujeito conhecimento no momento em que o sujeito vive sendo
crítico e pensante. Mas a criticidade a que me refiro não é desafiado pela natureza para poder transformá-la. O sujeito
aquela que somente fala mal das coisas ao nosso redor, e sim, encontra problemas para conhecer ou transformar o objeto. E
aquela que questiona a realidade, a razão de ser das coisas. são justamente esses problemas o motor principal que faz com
Uma das tarefas mais difíceis para o educador é trazer o que o sujeito seja motivado para o desafio de construir mais
sujeito/aluno do senso comum – estado sincrético – para o conhecimentos em torno do objeto de estudo.
senso crítico – análise e síntese do conhecimento. O problema Estabelecendo a contradição
aqui é denominado de continuidade e ruptura. Estabelecer contradição representa um passo primordial
Mas o certo é que o educador deve partir do ponto onde o para a constante busca da construção do conhecimento. Pela
educando se encontra para então, a partir daí, procurar problematização o professor deve sempre adotar a
estimular o conhecimento do aluno, através de análises sobre contradição, confrontando-a como o conhecimento elementar
o objeto até então desconhecido. E, para isso, é grandiosa a ou parcialmente apropriado que o aluno tem. E isso traz a
importância que teremos de dar às aproximações possibilidade de ganho de conhecimento por parte do aluno,
sucessivas acerca do objeto a ser estudado, afinal a transpondo-lhe do senso comum para o senso crítico. E sendo
assim, ao invés do professor sobrecarregar a memória dos

Bibliografia 90
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

alunos com questões fúteis que não trazem significado algum prévias, problematização, fornecimento de subsídios,
para os alunos, ele devia persistir no levantamento de situação elaboração de hipóteses, …, síntese conclusiva, etc.
problema, para que os alunos sejam estimulados a ELABORAÇÃO E EXPRESSÃO DA SÍNTESE DO
refletir/penar sobre algum tema-problema. Sendo assim, os CONHECIMENTO
alunos tentarão resolver o problema e, caso não consigam, o Aqui o aluno recolhe novos elementos apresentados pelo
professor dá um ajuda e o encaminham novamente para a professor, estabelece novas relações até então não percebidas
continuidade da resolução do problema. O importante é se ou ainda percebidas de maneira diferente. Essa ação permite
ligar no problema. que o aluno construa um conhecimento mais elaborando, a
A respeito do planejamento das aulas, o professor partir da complementação ou da negação do conhecimento
deveria estimular muito mais a criatividade dos alunos, lendo anterior.
textos e pedindo que tirassem a idéia central dos mesmos e É o momento em que o educando, tendo terminado o seu
interrogando sobre dúvidas acerca do conteúdo abordado, ao estudo sobre o objeto, possa fazer um apanhado sintético a
invés de ficar no círculo vicioso da tarefa mecanizada. respeito dele. É neste momento que se espera que esta síntese
No ato do planejamento ou elaboração das aulas, o tenha consistência fidedigna sobre o objeto estudado, do
professor deve estar preocupado com o movimento do contrário, o aluno deverá percorrer todo o caminho de volta,
real,esquecendo, portanto, do movimento do conceito. Uma da síncrese para a análise até chegar à construção de uma nova
coisa é o professor conceituar para os alunos algo que pode síntese.
estar ligado à realidade. Outra coisa é o professor tentar Necessidade de expressão
conceituar para esses mesmos alunos uma expressão química A expressão material do conhecimento auxilia o aluno na
muito distante das experiências vividas por esses alunos. O concretização da sua síntese. Se esta vai ser materializada
professor jamais deverá ser escravo dos programas que só através da fala, tem a vantagem da interação social provocar a
abordam conteúdos fora da realidade. correção de possíveis erros detectados na síntese. Se a síntese
Isto posto, é bom ressaltar que não é fácil estabelecer a for materializada através da escrita isto ajudará para que o
mudança da prática pedagógica por parte do professor, no trabalho sintético seja bem mais elaborado e tenha maior
sentido dadialética da travessia. Muitos problemas de várias perfeição, pois a partir da formatação podem se fazer
ordens são vistos como barreiras para que o professor saia do correções à vontade ( ao contrário da síntese falada).
seu estado de estagnação e mergulhe na prática educacional Na relação do sujeito com o mundo, o professor deve
inovadora. As condições de trabalho, sua condição, econômica, entender que a fala é, sem dúvida, não somente um meio de
etc, são alguns entre tantos fatores que impedem o comunicação, mas um instrumento de pensamento. À
rompimento da barreira da pedagogia tradicional. medida que o sujeito vai conhecendo algo, interagindo com o
Exposição dialogada mundo social à sua volta, ele sente vontade de expressar-se
A prática pedagógica marcada pela exposição dialogada sobre as descobertas advindas desse conhecimento. E, ao
tem certa vantagem sobre a metodologia expositiva, em passo que o objeto é mais estranho para o sujeito ele sente
virtude da primeira favorecer ao aluno a liberdade de poder muito mais vontade de fazer uso da palavra para poder
opinar, levantar hipóteses sobre problemas tratados na sala de conhecer o objeto de estudo.
aula. Um outro lado positivo é a própria interação que há entre No processo de determinação da síntese observamos
o aluno e o professor durante a abordagem do assunto em que, enquanto aquilo que sintetizamos está somente em nossa
pauta. cabeça, podemos expor esse conhecimento de forma mais
De a aula dialogada corresponde a um avanço em relação à generalizada, mas, à medida que formatamos a síntese
expositiva, o que diríamos da exposição provocativa? É materializando-a para o texto escrito, estamos concretizando
justamente nesse tipo de exposição que os problemas são o trabalho, realizando uma síntese conclusiva e restrita ao que
colocados para serem solucionados pelos alunos. Nesta fase os está no papel.
alunos são estimulados para desenvolver uma reflexão de É certo afirmar que jamais poderemos subjulgar a nossa
confronto. O que o professor diz é investigado pelos alunos. síntese material, pois, sendo assim estaríamos confessando a
Aqui, tanto a postura dos alunos quanto a do professor tomam nossa própria impossibilidade de construir o conhecimento.
outro rumo. A interação social entre o educador e o caminho que o
Face ao exposto, perguntamos: diante de tanta liberdade educando está trilhando se concretiza no momento em que há
dada ao aoluno para que ele possa falar à vontade, podemos a expressão contínua das representações sintéticas elaboradas
dizer que o professor não pode mais falar? Claro que não! O pelos educandos. Ao passo que as representações sintéticas
professor sempre deverá ser o mediador na sala de aula e a sua são expostas e comentadas em sala de aula, ocorre uma
presença será muito importante para ajudar o aluno a sair do interação social entre os alunos, como também entre esses e
estágio sincrético da construção do conhecimento. um novo conhecimento que poder ser reconstruído naquele
Certamente o professor contribui para a aceleração da momento.
reconstrução do saber – investigação versus exposição – Para que haja uma interação social dentro da classe é
quando orienta os alunos em meio às dúvidas na solução dos preciso que se crie um ambiente interativo. Esse ambiente só
problemas. O aluno trás o seu conhecimento sincrético e o pode ser construído se houver um clima de respeito mutuo
professor como mediador expões algumas informações e o entre os alunos. O professor, para isso, deverá ajudar para que
aluno, nesse sentido, deverá ser capaz de superar este estágio esse ambiente saudável seja criado. É nesse clima que tudo que
do conhecimento. o aluno fala deverá ter importância. Também ninguém poderá
O professor, quanto à questão das técnicas, deverá ficar tomar o espaço de outro falando demais. Mas falar de menos
atento quando exigir dos alunos apresentação de trabalhos em também prejudica o desenvolvimento do trabalho.
grupo. O que importa aqui não é esperar uma apresentação, São tantas as formas de expressão do conhecimento que
uma exposição espetacular daquilo que foi estudado pelos o educando pode utilizar: oral, gestual, gráfica, escrita, etc. em
alunos, nem sequer poupar as energias do professor. O mais todas elas estão presentes a construção de conhecimento que,
importante mesmo com isso é ajudar para que dessa forma os de certa forma, provocou a mudança da realidade em relação
alunos engrandeçam a sua construção de conhecimento. De a um conhecimento prévio sobre o assunto abordado.
certa forma, esta ou outras técnicas deverão ser submetidas a Elaboração da síntese
um método ideal, onde seja necessária a apresentação Tendo em vista que a própria construção do conhecimento
sincrética do objeto de estudo, expressão das representações pode ser considerada de síntese, e em virtude de que só
podemos fazer análises do problema depois da elaboração de

Bibliografia 91
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

uma síntese precária, fica difícil determinar em qual momento curriculares, que envolva o planejamento dos programas, a
seria oportuno e aconselhável para a elaboração da discussão dos mesmos, a formulação dos planos de trabalho
síntese, isto porque a análise e a síntese estão intimamente dos professores e a sua aplicação, ou seja, toda a ação
muito articuladas. pedagógica; poderá transformar a situação em que se encontra
Em se tratando dos níveis de síntese, podemos entender a situação educacional hoje.
que há uma complexidade específica para cada forma de
expressão dessa síntese. Na ordem crescente de abstração de
conhecimento podemos citar a dramatização, a forma verbal e VINHA, Telma Pileggi. O
por último a forma escrita.
Para qualquer objeto de conhecimento há infinita educador e a moralidade
possibilidade de se realizar a seqüência : síncrese >análise > infantil numa perspectiva
síntese. E para saber se o educando chegou ao grau de síntese construtivista. Revista do
minimamente satisfatória na construção do conhecimento, os
educadores observam a expressão dos educandos em torno da Cogeime, nº 14, julho/99, pág.
problematização abordada, para assim poder verrificar se os 15-38.
alunos atingiram a síntese mínima.
Interação na elaboração
Se o educando assim preferir, ele pode solicitar várias 1 O DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE SEGUNDO
formas de expressão da síntese elaborada pelos alunos – de JEAN PIAGET
uma síntese provisória ele pode solicitar que os alunos
construam uma síntese menos elaborada, uma mais elaborada. Neste capítulo será apresentado o quadro teórico que
E pode ainda pedir uma síntese em grupo, promovendo a fundamentou o projeto, conteúdo este, trabalhado com os
interação durante a elaboração. E pode ainda o professor professores durante o curso. A dinâmica dos trabalhos
exigir que os alunos construam uma síntese pessoal ou desenvolvidos nas aulas foi exposto no capítulo anterior.
individual a partir da síntese grupal. Primeiramente, refletimos com o grupo sobre algumas
É importante saber que existe um limite na elaboração questões básicas, como: os objetivos do professor, a concepção
da síntese. Nem todos os educandos são capazes de chegar ao da autonomia e de disciplina, quais são os princípios
estágio da síntese, ficando paralisados na síncrese. Mesmo norteadores de seu trabalho, o que entende por moralidade e
com a ajuda do educador alguns alunos sentem dificuldades e por desenvolvimento moral, a maneira pela qual os valores
são limitados na elaboração da síntese. O conhecimento morais eram "aprendidos" pelo sujeito e o papel do professor
científico apurado, presente em alguns textos, juntamente com nesse processo, etc. A partir das respostas apresentadas,
o conhecimento filosófico, podem ser um dos motivos que iniciou-se o estudo da teoria de Piaget sobre o
atrapalha certos alunos a chegar na reta final do estágio desenvolvimento moral e das pesquisas de autores afins.
síncrese-análise-síntese, porque sentem dificuldades em Haguette (1986) considera que a moralidade diz respeito
analisar os textos. ao agir humano, pois, para esse autor, o tema central da
Retorno à prática social moralidade é: "como devo agir perante o outro?". É o "como
se a prática da construção do conhecimento é pautada na devo" e não "como ajo". A ação humana é orientada por valores
realidade social, podemos afirmar que o ser humano como e princípios. Nosso agir não é automático. Todo ser humano faz
sujeito detentor e construtor de conhecimento, poderá questionamentos pessoais e corriqueiros do tipo: "Como devo
modificar a sua realidade através da prática social, com vista proceder?", "Fiz bem em fazer o que fiz?", “Será que eu não
na força da sua expressão carregada de significados. Para isso, poderia ter agido de uma outra forma?", "Eu deveria ter agido
o sujeito deverá ser compreendido e ter o dom de envolver as melhor?".
pessoas através do seu conhecimento, articulado com a Nós também fazemos considerações sobre o outro, quando
realidade social. perguntamos por exemplo: "Como minha ação foi vista e
CONCLUSÃO compreendida por ele?", esse tipo de questão mostra que
A função primordial da educação está na construção do temos receio do julgamento de outras pessoas, de como elas
conhecimento. A ação pedagógica na escola deve oportunizar nos veem, do que vão pensar sobre nós. E ainda questionamos
a construção do conhecimento, o que numa instância maior as ações dos outros, julgando de acordo com os nossos valores
resulta na constituição de identidades autônomas, capazes de aquilo que os outros fazem: "Porque fulano fez isto?", "Como
estabelecer relações críticas entre os homens, suas ações e o sicrano pôde agir daquela forma?", "Eu esperava uma outra
mundo. Entretanto sabemos que nem sempre as práticas atitude daquela pessoa!"; "Gostei muito da atitude dele".
pedagógicas atingem, ou procuram atingir a construção do Esses questionamentos demonstram que a ação humana é
conhecimento. Esse é um processo no qual é necessária a orientada por valores e princípios, que representam um
permanente busca de significado, de sentido. julgamento. O desenvolvimento dos sentimentos, crenças,
O conhecimento só acontece através do significado que valores e princípios é o que chamamos de desenvolvimento
adquire aquilo que se estuda, aquilo que se fala e que se faz por moral. O livro de Piaget que relata suas pesquisas sobre moral
quem realiza a ação, seja ele professor ou aluno; e idade é O julgamento moral na criança (1932/1977), e na
principalmente só acontece quando há interação, onde todos introdução o autor afirma que "nessa obra, não se encontrarão,
têm voz para falar e discutir. Caso contrário, só se tem absolutamente, análises diretas da moral infantil, tal como é
informações e sujeitos. Falta a interação entre eles, ou seja, a vivida na escola, na família ou nos grupos infantis. Propusemo-
construção de significados. nos a estudar o julgamento moral, e não os comportamentos
A escola é a referência para a elaboração de uma leitura de ou sentimentos morais" (p. 7). Consideramos importante essa
mundo baseada no conhecimento científico. Logo, o principal afirmação, pois, logo no início autor esclarece que o recorte do
determinante no processo de elaboração dessa leitura, que é estudo está no juízo da criança e não nas ações morais. A moral
construção de conhecimento, está no currículo – formal, em idade pressupõe intenção, dessa forma, se nosso agir não é
ação e oculto – como ação pedagógica. Dessa forma é instintivo, sendo orientado pelos valores e princípios, por
fundamental ao professor e aos profissionais da educação, julgamentos, é necessário estudá-los.
avaliar as questões curriculares, na busca de uma ação O desenvolvimento moral é influenciado pelas "emoções,
pedagógica que contribua efetivamente para a construção do pelos juízos morais, pela capacidade de inibir condutas
conhecimento. Somente uma revisão profunda das questões antissociais e pela capacidade de iniciar condutas valorizadas

Bibliografia 92
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

como morais. Todo esse processo está relacionado a uma etapa honesto, isso lhe dará o direito de ser desonesto para comigo;
evolutiva, a uma cultura e a um processo de socialização a convicção pessoal de que a honestidade é a melhor opção na
(Piferrer, 1992, p. 28). Assim sendo, a moralidade está inserida relação com o outro, pois, do contrário o elo de confiança que
no aspecto social, pois refere-se sempre a uma situação existe entre as pessoas é rompido; etc. Dessa forma, perante o
interativa, isto é, o sujeito com relação ao outro. Se a questão é mesmo valor da honestidade, os motivos pelos quais as
"como de agir perante o outro?", logicamente é preciso haver pessoas o seguem são distintos.
o outro, e, em qualquer relação com outrem necessária a A compreensão desse aspecto da moralidade é muito
existência de regras e normas de condutas que orientem essas importante para os educadores, porque, é preciso considerar
relações. que se os valores morais não estiverem alicerçados numa
Segundo Jean Piaget, "toda moral consiste num sistema de convicção pessoal, as crianças não estarão prontas para seguir
regras, e a essência de todo moralidade deve ser procurada no as regras, especialmente na ausência de uma autoridade.
respeito que o indivíduo adquire por essas regras" Porém o que ocorre frequentemente é que os adultos
(1932/1977, p. 11). Essa afirmação de Piaget é fundamental e utilizam de procedimentos que levam as crianças a
bastante complexa, sendo necessário analisá-Io com cuidado submeterem-se a essas normas porque uma autoridade (pais,
para realmente compreendermos o significado que o autor avós, professores, etc.) assim o quer ou “sabe o que é melhor
atribui a moralidade. Cotidianamente, consideramos "boa", para elas", atuando, por conseguinte, por caminhos que
"justa" ou "correta" aquela pessoa que segue alguns valores ou promovem mais a obediência do que a autonomia. De Vries e
princípios como por exemplo: ser honesto, ser leal, Zan (1995), afirmam que o ambiente sócio moral da maioria
compartilhar, falar a verdade, ajudar ao próximo, s das escolas requer que as crianças sejam submissas,
responsável, etc. Para Piaget, o mais importante não é possuir obedientes e conformadas, em todos os aspectos, tanto os
esse ou aquele valor moral, mas sim o motivo pelo qual relacionados à autonomia e à iniciativa, quanto ao pensamento
aceitamos ou seguimos esses valores. Assim, o "bem", ou o reflexivo.
"valor", ou a "justiça não está na regra ou na lei a que nós Isso fica evidente no dia-a-dia de uma classe quando o
obedecemos ("ser sincero"; "ser fiel", etc.), nem nos nossos professor afirma que quer, a longo prazo, formar crianças que
valores morais; mas, no porquê obedecemos a essas leis, sejam independentes, solidárias, críticas, autônomas, criativas,
normas ou valores, no "princípio e obediência". Dessa forma, a saibam tomar decisões, assumir responsabilidades .... mas, no
moralidade é algo bem mais amplo do que saber quais são as dia-a-dia, utiliza procedimentos que caminham em direção
boas leis, as normas justas ou como se deve agir numa contrária a esses objetivos. Na escola em geral, as crianças não
determinada situação; a moralidade implica em refle, no podem conversar (já que a interação entre elas é vista como
porquê seguir certas regras ou leis e não outras, muito mais do prejudicial à aprendizagem), ficando sentadas uma atrás das
que simplesmente obedecê-lo (Menin, 1996). Já que o que é outras em fileiras; os trabalhos em grupo são dados
"certo" não pertence à regra em si, precisamos refletir esporadicamente e não raro, as atividades propostas nesses
profundamente no motivo pelo qual obedecemos às regras ou trabalhos não exigem cooperação entre os integrantes do
seguimos determinados valores, e é neste motivo q reside a grupo; não se pode auxiliar os colegas numa atividade ("cada
questão moral; diante de uma inovação educacional, por um tem que fazer a sua lição sozinho"); não se pode emprestar
exemplo, refletir: Por que estou me esforçando para modificar o material (“cada um tem que ter o seu"); é o professor quem
minha prática pedagógica? Por que sinto a necessidade de diz o que fazer, quais atividades realizar, quando e como; é ele
mudar melhorando-a, agindo de acordo com a construção do quem toma todas as decisões, determinando até a ida ao
conhecimento? Por que O diretor assim quer? Por que é uma banheiro ou ao bebedouro. É o docente quem resolve os
norma da Secretaria de Educação? Por que "ser construtivista conflitos punindo os infratores ... A autoridade da classe, assim
está muito voga atualmente", somente eu "ficarei de fora "? O como o centro do trabalho pedagógico, é o professor. Ora,
que os outros vão pensar? Mas, será que não melhor ou mais como formar pessoas que saibam decidir se elas nunca têm a
produtivo "mesclar" ("pegar um pouquinho de cada teoria ", oportunidade de tomar pequenas decisões? Se não podem
selecionar atividades consideradas interessantes em diferentes conviver ou conversar com os colegas, como formar sujeitos
metodologias), colocar apenas algumas atividades mais que respeitem os pontos de vista divergentes e que saibam
construtivas, já que, com certeza, os pais não vão aceitar tantas coordená-los? Se o auxílio é visto como "cola", como as
mudanças de uma vez? etc. crianças aprenderão a ser solidárias? Em que situações a
De acordo com essa perspectiva, o mais importante não é cooperação está presente? Como formar pessoas criativas se é
se a criança obedece às ordens do adulto ou cumpre as regras o educador quem ensina com resolver os problemas (técnicas,
da classe, mas o porquê as cumpre. Será que ela as cumpre estratégias) e transmite modelos prontos e já completamente
porque teme ser punida? Não queremos que a criança obedeça elaborados? Como aprender a criticar se a crítica (quando há
às regras apenas quando o adulto está presente, ou para alguma) é dada pronta pelo professor Ter boas intenções e
conseguir a sua aprovação, ou por medo de perder seu amor, nobres objetivos não basta. É imprescindível que os
de ser castigada. Queremos, na verdade, que ela vá se procedimentos pedagógicos adotados sejam coerentes com
conscientizando sobre a necessidade de existir determinadas esses objetivos.
normas nas relações entre as pessoas; queremos que ela Foi visto que para Piaget, "o valor moral de uma ação não
acredite realmente, ou melhor, que esteja pessoalmente está na mera obediência às regras determinadas socialmente,
convicta da importância de seguir certos valores morais, como mas no porquê elas são obedecidas: no princípio inerente a
o respeito por si e pelos outros. cada ação" (Araújo. 1993, p. 8). Mas, será que os valores morais
Essas reflexões também são válidas para os adultos. Vamos são ensinados diretamente? Como fazer para que as crianças
analisar, por exemplo, um princípio pessoal muito valorizado adquiram uma convicção pessoal, isto é, a aceitação interna de
em nossa cultura que é a honestidade. Várias pessoas podem determinados princípios considerado importantes em nossa
ser consideradas 'honestas e procuram agir honestamente. sociedade, e não atuar de maneira a, simplesmente, treiná-Ias
Porém, os motivos que as levam a seguir esse mesmo princípio, a obedecer?
podem ser diferentes. O agir honestamente poder ser devido: Piaget (1932/1977) ensinou-nos que, assim como o
à vaidade pessoal; ao medo de ser flagrado sendo desonesto e desenvolvimento da inteligência, o desenvolvimento moral
ter que assumir as possíveis conseqüências disso; ao orgulho; também é um processo de construção interior (lembrar que
ao fato de que sempre foi ensinado que se deve ser honesto; inteligência, segundo esse autor são estruturas específicas
ao medo do inferno ou por querer ser digno do paraíso celeste; para conhecer, é a forma e não o conteúdo). O conhecimento
ao fato De que se o outro descobrir que não estou sendo não é adquirido por absorção ou acumulação de informações

Bibliografia 93
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

provenientes do mundo exterior, mas por um processo de construída a partir da vivência diária, das interações entre as
construção. Para ele, as regras externas tomam-se próprias da pessoas e das experiências com as situações em que se
criança somente se ela as constrói por sua livre vontade. Não desenvolvem os julgamentos ciência das regras e leis, é preciso
adianta tentarmos ensinar a moralidade, pois ela é construída que o educador proporcione à criança um ambiente adequado
a partir da interação sujeito com o meio em que vive. É para que ela possa fazer as experiências necessárias e construa
constituída por experiências com as pessoas e situações. Os seus próprios valores morais. É " por exemplo, que o adulto
traços de personalidade não podem ser ensinados diga à criança que não se pode dizer mentiras e, em inúmeras
diretamente. Em concordância com esse processo de situações, ele exemplifica o contrário quando: o pai solicita à
construção. Ginott (1974) afirma que ninguém pode ensinar filha que esta diga a um cobrador que ele não se encontra; a
honestidade em palestras, lealdade com histórias, coragem mãe compra algo e fala ao filho para não contar ao pai o quanto
por analogia ou maturidade pelo correio. Para ele, a educação gastou; a criança fala a verdade e é punida por isso; o adulto
do caráter demanda presença que demonstre, o contato que diz que a "injeção não vai doer nada"; a mãe engana a criança
comunique. Assim sendo, não adianta tentarmos ensinar os dizendo que vai levá-Ia a um lugar agradável, sendo que a está
valores simplesmente com lições de moral, sermões, ditados levando ao consultório do dentista; etc. Ao interagir com essas
populares, censuras, e outros, como comumente acredita-se. situações a criança vai percebendo que nem sempre deve-se
Uma criança aprende o que vive e se toma o que experimenta. dizer a verdade, que, às vezes, é melhor mentir. Queremos
Piaget (1967), assevera a todos que" ... os relatos concreto e formar indivíduos que não mintam, não porque isso lhes foi
vivos agem com mais vantagens sobre a vida moral da criança ensinado (pode-se ensinar coisas erradas) ou por medo de
que os comentários mais ou menos teóricos". É somente a serem descobertos, mas porque são conscientes de que a
partir da troca do sujeito com o meio no qual está inserido, que mentira rompe o vínculo de confiança mútua que existe entre
ele vai, aos poucos, construindo os seus próprios valores as pessoas.
morais. Portanto, o sujeito não internaliza passivamente os Sabemos da importância das normas existirem aos nos
valores como creem os empiristas, quando afirmam que a relacionarmos com os outros, e que o importante é o porquê
autonomia moral é conseguida a partir da interiorização de seguimos essas normas e regras (apenas "não furtar" não
regras, normas e valores exteriores. O indivíduo é ativo na basta, pois, não é desejável que uma pessoa não furte somente
construção de seu desenvolvimento. De Ia Taille explica que por medo de ser punida). É comum, nas situações em que a
nós somos aquilo que experimentamos em nossas relações criança mente, agride, furta, desrespeita, não compartilha algo
sociais efetivas. Dessa forma é importante ressaltar que não é ou é mal-educada, que o adulto lhe ensina a importância de não
somente o sujeito, nem simplesmente o ambiente: são os dois cometer tais atos. A questão é como o adulto o faz. Se queremos
fatores que atuarão nesse processo. É a interação do indivíduo que
com o meio em que vive. Os educadores nunca pode se A criança cumpra as normas é preciso nos valermos de
esquecer que o ambiente não é inócuo e nem o sujeito passivo. procedimentos coerentes. É necessário que o adulto associe
Mediante esse processo ativo de interação, os fatores mais uma norma a uma sensação de bem-estar, de satisfação
importantes que promoveriam desenvolvimento moral seriam pessoal ao cumpri-Ia e também reflita com a criança sobre as
o tipo de experiências que vive cada indivíduo, em concreto, e conseqüências do não-cumprimento da mesma, para que ela
a atmosfera moral de seu círculo familiar, escolar e social, em vá compreendendo a necessidade de sua existência. Evitar
geral (Delval e Enesco, 1994). A moralidade seria resultante associar a necessidade de cumprir uma norma à simples
das relações estabelecidas pelo sujeito com esses ambientes. obediência a um adulto (autoridade) ou a algum ganho em
Piaget (1948/1973, p. 71) afirma que se "pretendemos troca desse cumprimento (seja uma recompensa qualquer,
formar indivíduos submetidos à opressão das tradições e das seja para evitar receber alguma punição). Voltando mais uma
gerações anteriores", isto é, a moral da obediência, basta que vez a uma situação em que a criança mentiu: não raro o
para isso utilizemos: a autoridade do educador, as lições de educador, para fazer com que a criança compreenda a
moral, o sistema de encorajamentos (recompensas) e as importância de se dizer a verdade, conta uma história em que
sanções punitivas (castigos). Quer dizer, quase tudo o que a existe uma mentira e o personagem é punido por isso, como a
escola em geral emprega (a autoridade, os prêmios, as história do Pinóquio, que a cada mentira seu nariz crescia, ou
punições os sermões, etc.) é questionado por Piaget, por a do Porquinho que de tanto mentir ninguém acreditou nele
estarem atuando no sentido de formar pessoas obedientes e quando precisou realmente de ajuda. Outras vezes, o adulto
passivas. Todavia, se ao contrário, "pretende-se formar ameaça com ajustiça imanente, dizendo que "a mentira tem
consciências livres e indivíduos 'respeitadores dos direitos e perna curta" ou que Deus castiga quem mente.
das liberdades de outrem, isto é, relações entre indivíduos Frequentemente associam o cumprimento da norma à
fundamentadas na autonomia e reciprocidade, é evidente que obediência às pessoas consideradas autoridade para a criança,
nem a autoridade do professor, nem as melhores lições que ele explicando que a mamãe não gosta de criança mentirosa, que
possa dar sobre o assunto serão o bastante" (ibid.). Se isso fica triste. que ela é feia. Assim, o que está legitimando a norma
fosse suficiente,' a maioria de nós seria mortalmente é a obediência ao adulto, o medo de perder o amor, ser punido,
autônoma (autonomia compreendida como autogovemo, ser descoberto. Quando a criança cresce, ao ter experiências
levando em conta nossas necessidades e as dos outros), pois é com essas situações e perceber que o que temia não ocorreu
desta maneira que, geralmente, fomos educados e educamos (por exemplo: seu "nariz não cresceu" quando mentiu; outras
nossas crianças. Piaget esclarece que somente a "vida social vezes a mentira não foi descoberta e ela não foi castigada; etc.),
entre os próprios alunos e um autogovemo levado tão longe e com a extinção do temor unilateral do adulto, ela pode vir a
quanto possível e paralelo ao trabalho intelectual em comum não mais legitimar a regra, ou seja, não sentirá mais a
poderá conduzir a esse duplo desenvolvimento de necessidade de cumpri-Ia, pois, o que a levava a obedecer não
personalidades donas de si mesmas e de seu respeito mútuo" era uma aceitação interior da mesma, mas exterior,
(ibid.). Nesse autogovemo deve haver responsabilidades heterônoma. Conforme foi dito, é necessária a existência da
livremente assumidas, e não obediência. norma de dizer a verdade pois a mentira rompe o elo de
A partir dessas descobertas, a educação moral ministrada confiança entre as pessoas e é isso que a criança precisa ir
em aulas específicas ou embasada principalmente no ensino descobrindo. Não queremos que a criança deixe de mentir por
verbal, por exemplo transmitindo os ensinamentos da vida por medo de ser punida, porque é "feio", porque a mamãe não
meio de belas historias- infantis, apresentando exemplos de gosta ou pelo temor de ser descoberta, mas sim por perceber
grandes personagens da história e da literatura ou mesmo as conseqüências da mentira nas relações. E para isso, a
Valendo - se de lições verbais, não basta. Se a moral é criança precisa interagir com situações em que vivenciará

Bibliografia 94
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

esses princípios. É preciso associar a regra moral às sensório-motoras. No nível moral, as concepções de Bem e de
conseqüências do não-cumprimento da mesma, explicando à Mal serão abstrações das relações sociais efetivamente vividas.
criança que está mentindo o porquê de não se poder acreditar Por esta razão, uma educação moral que objetiva desenvolver a
no que ela está dizendo e que, na relação entre as pessoas. autonomia da criança não deve acreditar nos plenos poderes de
quando uma delas começa a dizer coisas que não são belos discursos, mas sim levar a criança a viver situações onde
verdadeiras ou que não aconteceram, o outro vai deixar de sua autonomia será fatalmente exigida (grifo nosso).
confiar nela. Deste modo, as crianças vão aprendendo a
necessidade de existirem normas que gerenciem as relações Dessa forma, percebe-se na educação das crianças, uma
entre as pessoas, legitimando-as. certa incoerência entre o que alguns adultos gostariam de
Certa vez, uma garota de 11 anos estava magoada porque ensinar e o que realmente ensinam, por meio de suas condutas,
uma de suas colegas fez uma fofoca sobre ela para uma outra das respostas são dadas diante das situações cotidianas. Será
amiga e as três acabaram se desentendendo. A mãe, com que algum educador quer que as crianças respeitem regra da
intenção de ensinar a filha a não se valer de mexericos ou classe somente por medo de serem punidas? Ou seja, cumpram
maledicências disse-lhe que não gostava de fofoca, que não essas normas para não em sem o recreio ou parque, ou para
queria que a filha o fizesse. Ao invés de respaldá-Ia na não ficarem sentadas "pensando", ou para não "irem para a
autoridade do adulto, a mãe poderia ter aproveitado a própria diretoria", ou ainda por medo dos pais virem a saber? É
conseqüência da fofoca para demonstrar a importância dessa desejável que a criança siga as regras apenas porque se não o
norma. Como a garota se sentiu diante do que aconteceu? E as fizer o professor ficará triste ou chateado? Alguém quer que o
colegas? Como essa situação poderia ser evitada? O que a aluno as cumpra somente para ganhar algo em troca? Na
fofoca gerou no relacionamento entre elas? Assim, a criança verdade queremos que a criança respeite as regras da classe
teria a oportunidade de compreender a necessidade da norma, porque elas são necessárias (ou pelo menos deveriam ser)
interiorizando-a, e não simplesmente seguindo-a por uma para organizar os trabalhos, para que haja justiça. Então, por
obediência exterior ("a mamãe não gosta de pessoa que que quando a criança não as obedece nos valemos de
fofoca"). procedimentos contrários a isso, como castigos, retirada de
Observa-se que muitos procedimentos utilizados por amor, ameaças ou recompensas? Não raro, o adulto prega ou
alguns professores servem apenas para controle da disciplina fala uma coisa e faz outra, porém, a criança não irá aprender
e manipulação sutil do comportamento da criança, não sendo apenas o que ouve, mas, principalmente, aquilo que
apropriados para o favorecimento crescimento da autonomia. experimenta. É comum ver o professor dizer aos gritos para os
Consideramos ser uma meta muito restrita fazer com que as alunos falarem baixo; ou o pai bater no filho para ensiná-Io a
crianças simplesmente apresentem comportamentos não agredir os colegas na escola; ou a mãe dar um tapa no filho
apropriados ou socialmente aceitáveis. A obediência ou um (agressão física) porque ele lhe disse um palavrão (agressão
comportamento heterônomo em geral pode ser muito verbal); ou falar palavrões, mas solicitar à criança que não o
conveniente para alguns professores, mas não atende aos faça; ou ainda, censurar a criança dizendo que ela precisa
princípios e objetivos de uma educação construtivista que aprender a ser mais decidida, não se deixar levar pela ideia dos
pretende formar cidadãos autônomos. DeVries e Zan (1998) outros e ter opinião formada sobre as coisas, mas,
explicam que a criança pode imitar o professor apresentando simultaneamente, estar sempre ensinando-lhe ou explicando-
bons comportamentos como compartilhar, ajudar e consolar, lhe o que deve ou não ser feito, o que é certo ou errado.
apenas para obter aprovação dele. É um comportamento Porém, não desconsiderando o papel do sujeito nesse
socialmente positivo, mas não moral. Obviamente que esses processo, vale ressaltar a importância do meio ambiente em
comportamentos não devem ser desencorajados, mas se deve que as crianças interagem, devido a uma característica muito
ressaltar as intenções morais. As autoras exemplificam importante, que é a imitação. A criança pequena tende a imitar
contando uma situação em que uma criança, imitando o as pessoas que ela admira. A criança, principalmente dos 2 aos
professor, consola com tapinhas nas costas o colega que está 7 anos, aprende muito, constrói novos esquemas e
chorando, e descobre que com essa atitude o colega comportamentos, imitando as ações e as condutas das pessoas
entristecido para de chorar. O professor construtivista não (por isso que a atitude vale mais do que as palavras). Daí a
elogia a personalidade da criança ou o comportamento. Ao importância do modelo do adulto, pois se a criança os valoriza,
invés disso ele pode mostrar que a maneira como a criança tenderá a imitá-Ios; por conseguinte, quanto mais esses
agiu fez com que o outro se sentisse melhor. A partir dessa comportamentos forem adequados, melhor. Pesquisas têm
experiência, a criança pode descentrar-se um pouco, para confirmado o quanto a pessoa imitada é aquela mais
reconhecer os sentimentos da outra criança. O valorizada pela criança, mostrando por exemplo, que, diante
reconhecimento dos sentimentos dos outros é um dos de dois adultos fazendo o mesmo gesto ou expressão para os
objetivos da educação construtivista. bebês imitarem (colocar a língua para fora, fazer "beicinho",
caretas, etc.), concluiu-se que estes repetem muito mais as
O comportamento pró-social sem a intenção moral não é ações das pessoas conhecidas do que as das desconhecidas.
moral. É apenas vantajoso ou obediente. Estamos preocupados Assim, aquele adulto que detém a autoridade ou aquela criança
com o desenvolvimento dos sentimentos ou intenções morais mais velha e admirada, serão imitados pelas crianças da
pela criança, não apenas comportamentos. Portanto, não mesma idade ou mais novas. Entretanto, esse processo não é
ficamos com um objetivo limitado de fazer com que as crianças consciente. As crianças não percebem que estão imitando os
simplesmente ajam de forma socialmente positiva (p. 39). outros. Piaget observou que, em geral, a criança imita
inconscientemente, devido a uma característica típica de seu
Recordamos que há uma enorme diferença entre o bom estágio de desenvolvimento, que é o egocentrismo (esse
comportamento adotado autonomamente e o bom conceito será aprofundado ainda nesse capítulo), que causa
comportamento resultante de uma obediência exterior. um fenômeno de indiferenciação de seus pontos de vista com
De La Taille (1994c, p. 19) discorre sobre uma tese os dos outros. Com efeito, é comum observar que, muitas
importante da teoria de Piaget, que é o papel da ação vezes, ocorre de a criança afirmar não querer copiar os
precedendo a consciência: modelos propostos, pois não demonstra interesse por eles,
entretanto, sem perceber acaba por reproduzir exatamente
Esta é uma "tomada de consciência" da organização efetiva tais modelos (Mantovani de Assis, 1980b).
daquela. Assim, no nível da inteligência, as operações mentais Os docentes que trabalham com crianças pequenas
serão uma abstração do funcionamento efetivo das ações percebem claramente essas manifestações nas crianças, pois,

Bibliografia 95
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

elas imitam o jeito do professor agir, falar, dançar, vestir, etc. disciplina autônoma e uma descentralização fundamental à
Algumas vezes, o professor surpreende-se por reconhecer um atividade própria" (1948/1973, p. 72). Os dois problemas
comportamento dele, até então inconsciente, na imitação da essenciais da educação moral consistem pois em assegurar
criança. As salas de aula apresentam muitas das características essa descentralização (do eu) e estabelecer essa disciplina
dos seus docentes: a organização ou desorganização, a autônoma.
tranquilidade ou o tumulto, etc. Por exemplo, nas salas de aula Todavia, quais são os meios de que dispõe o educador para
em que o professor tem o tom de voz alto, geralmente, os alcançar esses dois objetivos? Para Piaget, esses meios são
alunos falam alto; o contrário também é verdadeiro. É como se proporcionados quer pela natureza psicológica da criança,
o professor imprimisse uma certa "marca pessoal" ao seu quer pelas relações que serão estabeleci das entre a criança e
trabalho. Em uma classe de Jardim, professora era uma moça as diversas pessoas com as quais se relacionará durante a sua
muito dinâmica, cheia de energia, que realizava inúmeras vida.
coisas ao mesmo tempo, brincava, corria, saltava e pulava com Mais uma vez, fica evidente a importância dada, no
as crianças, não parando um minuto. Certa vez, meio processo de construção de sua autonomia, ao ambiente em que
preocupada, ela nos disse que não sabia o que ocorria com suas a criança vive e as trocas sociais que serão estabelecidas
crianças, pois considerava que eram agitadas! Sob esse ponto durante seu desenvolvimento. Porém, para poder propiciar
de vista, a disciplina depende muito do docente, já que as esse meio estimulador, é preciso conhecer a natureza
crianças aprendem novos comportamentos por imitação. psicológica da criança e como esse processo se dá. Mas, em
Ressaltamos entretanto, que mesmo na imitação, na repetição virtude da natureza da criança ser muito ampla e complexa,
dessas condutas, não há cópia ou a interiorização pura do vamos focalizar prioritariamente o desenvolvimento social, no
modelo do adulto, mas um processo de transformação dessa qual se insere a moralidade.
"informação", em que há o predomínio da acomodação. Se, como foi visto, nossos julgamentos, valores e princípios,
Assim sendo, quanto maior for a admiração pelos pais ou não nos são dados prontos, ou seja, se nossa moral idade não é
professores, mais as crianças os transformam em mestres, em inata, mas sim, a construímos interagindo com o ambiente, de
modelos. E, sem que esses adultos se dêem conta, as crianças que forma esse processo principia? Piaget explica que, já no
absorvem suas atitudes psicológicas e gestos corporais. Em bebê, existem três sentimentos que se apresentam
vista disso, o exemplo pessoal é muito importante na inicialmente, que interessam à vida moral. O primeiro
educação. Diante da força do exemplo, é fundamental que os sentimento é o amor, ou urna necessidade de amor, de afeição,
adultos procurem agir de maneira coerente com aquilo que que "desempenha um papel essencial desenvolvendo-se sob
tentam ensinar, apresentem uma postura adequada, porém, diversas formas desde o berço até a adolescência" (ibid.). O
lamentavelmente, estes, não raro, agem de forma contrária às segundo, é um sentimento de medo, em relação às pessoas
normas morais por eles impostas. maiores e mais fortes que a criança. Há ainda um terceiro
A partir desses estudos, as responsabilidades dos sentimento, que é o respeito Esse respeito é na realidade uma
educadores, principalmente os que trabalham com os mistura dos dois anteriores, um misto de amor e temor.
pequenos, amplia-se de maneira significativa. Sabemos que os Ressaltamos que o sentimento de respeito tem uma
primeiros anos da criança são os mais significativos, importância fundamental na formação da consciência moral e
determinantes para o futuro, e que o ambiente educacional essa importância ficará mais evidente no decorrer desse
exerce um papel importante no desenvolvimento infantil. Por capítulo.
conseguinte, a formação do adulto depende muito daquilo que O respeito é "um sentimento de indivíduo para indivíduo,
a criança vivenciou nesse período de vida. O objetivo do e começa com a mistura de afeição e de medo que a criança
professor pré-escolar, portanto, é bem maior do que ensinar experimenta em relação aos pais e em relação aos adultos em
bons hábitos e atitudes ou preparar para o ensino geral (antes que os conflitos e as desilusões venham a alterar
fundamental; o objetivo da educação infantil é o de propiciar o essas atitudes primitivas)" (ibid., p. 73). Tanto consciência
pleno desenvolvimento intelectual, físico e sócio emocional da moral como a consciência intelectual, não são pré-formadas ao
criança para que ela consiga ser tudo o que poderia ser nesse nascer, elaborando-se em estreita conexão com o meio social.
período de sua vida (Mantovani de Assis, 1989). Infelizmente, Por isso, as relações entre a criança e as pessoas que a cercam
constata-se que algumas crianças são vítimas de professores desempenham um papel fundamental na formação dos
despreparados ou mal formados. Pelo fato de trabalhar com sentimentos morais, de acordo com a ênfase colocada em uma
seres humanos em formação, o professor, principalmente dessas "três tendências afetivas" que assinalamos. Por
aquele que trabalha com crianças pequenas, não tem o direito exemplo, o sentimento de temor é encontrado, não raro, nas
de ser incompetente, omisso, autoritário, grosseiro ou condutas de obediência e de conformismo utilizados de
negligente. diferentes formas por vários sistemas de educação moral
Mas quais seriam os objetivos da educação voltada à (ibid.). Assim sendo, para Piaget, o papel do adulto que se
questão da moralidade? Para Jean Piaget (1967), o objetivo relaciona com a criança não irá apenas exercer meras
principal é o de formar personalidades autônomas e aptas a influências naquilo que ela será ao crescer, como é mais fácil
cooperar. Quando o autor refere-se a cooperação, não significa acreditarmos, mas repetindo, será formador, portanto,
uma conduta exterior, como por exemplo, por solicitação decisivo, na construção dos seus sentimentos, valores e
externa, por obediência. Refere-se a uma cooperação princípios.
voluntária, espontânea, que emerge da necessidade interior e O primeiro tipo de relacionamento do adulto com o bebê é
do desejo de cooperar. Assim, Piaget pretende com a educação aquele que gera o sentimento de obrigação, isto é, o bebê já
moral, formar personalidades tão livres quanto responsáveis aceita ordens e considera-se obrigado pelas mesmas. A
(Domingues de Castro, 1996). criancinha sente-as como obrigatórias, independentemente de
Em suas obras de 1932 e 1948, Piaget considera que os as obedecer ou as infringir. Quando desobedece a uma ordem,
dois aspectos da personalidade moral são a autonomia e a ela sente-se culpada ou perturbada diante do adulto. Por
reciprocidade. O indivíduo que ainda não atingiu o "estado de exemplo, quando a mãe diz: "Não! ao filhinho que está prestes
personalidade moral" tem como características o fato de a colocar a mão na tomada, ele sabe que lá não é para mexer.
ignorar qualquer regra e centrar sobre si mesmo as relações Fica evidente na criança o sentimento do dever, de aceitação,
que o prendem ao seu ambiente físico e social. "A pessoa é o pois se ela obedece, é por sentir como obrigatória
indivíduo que situa o seu eu na verdadeira perspectiva em recomendação materna, e caso não obedeça, a criança sabe
relação à dos outros, isto é, que o insere em um sistema de que está fazendo algo "proibido". Mesmo quando a mãe não
reciprocidades que implicam simultaneamente em uma estiver presente o bebê pode não colocar a mão na tomada ou,

Bibliografia 96
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

se ali mexer, sabe que está fazendo "algo errado", tanto que de respeito unilateral. Para a criança o bem, o justo, define-se
aproveita a ausência do adulto para isso. Esse precoce pela obediência à autoridade (no caso o adulto).
sentimento que surge com relação aos adultos é o sentimento O respeito unilateral é, segundo Piaget, "um instrumento
do dever, de aceitação interior das normas e recomendações de submissão a regras preestabelecidas, e a regras cuja origem
dos adultos, de obrigação, que pode ser percebido em diversas permanece exterior ao sujeito que as aceita" (ibid., p. 75). Essa
situações de cotidiano das crianças pequenas. Antes mesmo de forma de respeito de apenas uma das partes, isso é, da criança
a criança falar, o pai pergunta, por exemplo, com um tom de pelo adulto, é, antes de mais nada, fator de heteronomia. Como
voz mais bravo, se ela pegou algo que não devia, e a criança foi dito, todo respeito, para Piaget, é uma mistura de amor e
responde "que não" com um movimento de cabeça, mesmo medo, mas é importante ressaltar que esse temor que a criança
que, na verdade, o tenha pego. Ela responde negativamente sente naturalmente, procedente do respeito unilateral, é
justamente porque sabe que não deveria ter feito isso, que não resultante de uma relação desigual, havendo da parte "mais
podia ter retirado o objeto do lugar. Um outro exemplo quando fraca" o medo de, principalmente, perder o amor do adulto, de
o adulto diz ao pequenino que não mexa na televisão. Se por receber uma punição, censura, desaprovação, etc.
acaso a criança mexer, desobedecendo-o, ela se sente fazendo A moral heterônoma resulta da coação do adulto sobre a
algo "errado". criança, ela surge do respeito unilateral. Assim, essa
Mas, numa idade em que, para os pequeninos, tudo é obrigatoriedade ou aceitação das normas provém das relações
espontaneidade e brincadeira, de onde vem esse sentimento de coação, todavia, essa coação não significa necessariamente
de obrigação, essa aceitação interior da recomendação dos um despotismo, mas sim uma relação assimétrica entre os
adultos? Por que será que criança tem consideração por aquilo adultos e as crianças, já que a criança nunca verá os pais ou
que é recomendado pelos pais, ao invés de simplesmente professores como a um igual havendo, portanto, uma
despreza-los? Piaget (1932, 1948) explica que para que esse desigualdade de fato (De La Taille, 1996a). A heteronomia é a
sentimento de dever ou de obrigação interior apareça, é moral da obediência às pessoas com poder, com autoridade. E
necessário que haja simultaneamente duas condições. para as crianças, quem detém essa autoridade? Os pais,
A primeira é que a criança esteja acostumada a receber professores, parentes, irmão mais velho, etc. São aquelas
ordens e recomendações comuns, como: não atravessar a rua pessoas que a criança admira, que considera como mais fortes,
sozinha, não contar mentiras, não brincar com facas e nem com mais inteligentes, que sabem tudo, que detêm o poder. Além
vidros, não mexer no fogão, e outras mais. Todavia, por que a do que, em geral, o adulto utiliza-se de ameaças de sanções,
criança aceita semelhante regras ao invés de ignorá-Ias? Para punições físicas ou psicológicas, para fazer com que a criança
esse autor, essa aceitação não é apenas o medo do mais forte, aja de maneira a seguir as regras, reforçando essa ideia
como muitos considerariam, pois, “o medo por si só não coage, espontânea de que as leis e a autoridade provêm dele,
mas propicia uma obediência toda exterior e interessada" alimentando as relações de respeito unilateral, e
(Piaget, 1948/1973, p. 74), como, por exemplo, obedecer pelo consequentemente, a heteronômica. No sujeito heterônomo, a
medo de ser punido. Na ausência da pessoa que pode vir puni- fonte da obediência é exterior, pois são os outros que sabem o
lo, não há mais o cumprimento da norma, a criança sente-se que é bom ou mal. Ao conversarmos com uma garota que
livre para agir. Então, a obediência decorrente do medo é estudava na pré-escola, ela nos disse que era feio comer muitos
externa, não bastando para responder à questão acima, já que docinhos numa festa. Perguntamos a ela por que era feio. A
estamos buscando os motivos para a aceitação interna. Para criança nos respondeu: "Foi a minha mãe que falou isso para
surgir essa aceitação interior, que é o sentimento de obrigação, mim. Ela disse que só criança feia, mal-educada, que faz essas
não basta apenas que a criança esteja acostumada a receber coisas". Para essa garota, a principal razão de ser errado
ordens, mas também é necessário que haja uma segunda "comer muitos doces em uma festa" é a recomendação
condição essencial, que consiste no respeito à pessoa que materna, não sendo necessária dar nenhuma justificativa mais
estabelece as normas ou os limites. consistente (para nós), pois, a orientação dada por um adulto
A aceitação interior de uma regra só ocorre, se esta for que ela respeitava, bastava-lhe para considerar uma conduta
formulada por uma pessoa respeitada, isso é, uma pessoa que certa ou errada.
seja objeto, ao mesmo tempo, de afeição e de medo, e não de Em uma classe do Jardim, as crianças, ao planejar o dia de
apenas um desses dois sentimentos. Por exemplo, a criança aula, queriam ir ao parque, mas como havia chovido logo cedo,
pequena ama o irmão, mas não se sente obrigada a obedece-lo. a professora questionou-os se daria para a turma ir, pois
Da mesma maneira que teme um estranho, porém novamente, provavelmente os brinquedos estariam molhados. Um aluno
não surge esse sentimento de obrigação ou aceitação diante de disse que até na hora do parque o "sol seca". A educadora então
suas ordens. Contudo, as recomendações do pai ou da mãe, ou perguntou-lhes: "Como assim o sol seca? Ele pega um pano e
mesmo de um adulto com quem possui vínculos, fazem-na vai lá enxugando tudo?". Uma criança comentou: "Mas ele não
sentir-se obrigada, e, mesmo em caso de desobediência, a tem mão!". O aluno que havia dito que o sol seca, contou que,
criança continua a sentir essa obrigação. um dia, ele havia derrubado a água de um vaso no quintal e a
Esse tipo de relacionamento, em que o respeito é uma mãe lhe disse que não precisava secar porque o "sol seca", e ele
mistura de medo e amor, "é o mais precoce na formação dos ficou olhando e viu que realmente secava depois de um tempo.
sentimentos morais, podendo atuar durante toda a infância e "Mas como?'. perguntou uma outra criança. "Não sei",
prevalecer sobre todos os demais, de acordo com o tipo de respondeu o garoto, "mas que seca, seca. Minha mãe falou que
educação moral adotada" (ibid., grifo nosso). Por isso, essa o sol seca e seca mesmo. Ela sabe das coisas".
primeira forma de relação, que ocorre com todo ser humano é GIL,2 um garoto da pré-escola, estava contando ao colega,
muito importante, mas aos poucos está deve ir sendo GAB, que seu pai havia-lhe dito que o vidro era feito de areia.
substituída por uma outra, mais elaborada, que é o respeito GAB contestou-o com veemência, dizendo que o pai de GIL era
mútuo, respeito esse que prevalece entre os iguais. mentiroso, e para "provar" tal fato, apontou para a vidraça da
Esse respeito que a criança pequena sente pelo adulto, classe e perguntou: "Olha lá, aonde tem areia e vidro? Não tem
fonte de obediência e de submissão, é chamado de respeito areia nenhuma, seu pai te enganou". GIL, inconformado, mas
unilateral. Por que unilateral? Porque se a criança possui esse sem ter compreendido onde entrava a areia no processo de
sentimento de respeito, de obrigação pelo adulto, não feitura dos vidros, respondeu: "Mas, quando fizeram o vidro
podemos dizer que o adulto sente o mesmo por ela. Se o adulto tinha areia em cima dele sim, só que a zeladora já lavou um
respeita a criança, não é da mesma maneira, pois ele jamais se monte de vezes e aí saiu toda a areia. Esse diálogo ilustra uma
sentiria obrigado por recomendações vindas da criança. Aliás, característica da criança heterônoma: percebe-se que, mesmo
ele não as receberia, nem as aceitaria. Por isso que é chamado não compreendendo a norma ou explicação, basta que esta

Bibliografia 97
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

seja proveniente de uma pessoa respeitada que é aceita como Com o respeito mútuo, aos poucos, a criança vai
verdade absoluta, havendo, portanto, a crença na autoridade substituindo suas relações embasadas unicamente na
de quem fala e não naquilo que é dito, assim, a validade das obediência, passando a fundamentá-Ias também na
regras ou ensinamentos não é questionada. Será que não reciprocidade (esse conceito se abordado mais adiante). Esse
conhecemos adultos assim? Pessoas que mantêm esse tipo de respeito é considerado por Piaget como a segunda
relacionamento com alguém que consideram ser uma possibilidade de socialização. Da mesma forma que a
autoridade (para elas), e, por conseguinte, não questionam as heteronomia é característica do respeito unilateral, o respeito
orientações vindas desde? Quem sabe nós não nos incluímos mútuo leva à moral autônoma. A partir dos 7, 8 anos de idade,
nesse quadro? A maioria dos adultos permanece heterônomos, ao tomar-se operatória, a criança já possui as condições
isso fica evidente quando responsabilizamos o outro por intelectuais de tomar-se autônoma, não mais legitimando uma
nossas atitudes, reações, sentimentos ou justificamos o nosso regra pela simples autoridade em si, passando a entendê-Ia
agir pelo fato de que é isso que é esperado de nós. Por exemplo como um contrato entre os iguais. Ou seja, antes o adulto e
quando o professor diz que não se pode realizar trabalhos em visto como alguém superior às regras, portanto, não precisava
grupo porque o diretor não gosta; que tem que ensinar cumpri-Ias e a justiça, ou o que era considerado certo ou
utilizando um livro didático específico pois os pais assim o errado, procedia dele; com o respeito mútuo, o outro passa a
querem; ou quando a pessoa afirma que só teve uma reação ter os mesmo direitos e deveres que a criança, a regra e a
qualquer porque fulano lhe fez algo; ou que tem que fazer justiça passam a ser as mesmas para ambos. Assim, segundo
alguma coisa de determinada maneira porque tal pessoa falou Piager (1944/1958), no respeito mútuo a ação das pessoas é
que assim é o certo; ou ainda que não é responsável por orientada pela legalidade de fato ou de direito, suplantando a
determinada coisa porque está apenas cumprindo ordens. Ora, autoridade. De La Taille (1998) considera que o respeito
diante de uma situação qualquer ou algo alguém nos impinge mútuo da autonomia é superação do respeito unilateral.
sempre é possível ter sentimentos e reações diversas e somos Desse modo, para Piaget, não há apenas uma moral, mas
responsáveis por elas. Uma das diferenças principais entre duas. A heterônoma, oriunda das relações de respeito
uma moral autônoma ou heterônoma residira no porquê de unilateral; e a autônoma, proveniente das relações
seguir certas normas ou leis e não outras, muito mais do que fundamentadas no respeito mútuo. Enquanto na moral
simplesmente obedecê-Ias. O indivíduo heterônomo segue heterônoma as regras são legitimadas por uma autoridade, na
regras morais dadas pelos outros, por obediência a uma moral autônoma "as regras ganham legitimidade sem
autoridade que, geralmente, tem poder coercitivo. nenhuma referência a algo que transcenda os indivíduos: são
"Moralidade heterônoma significa que um indivíduo não legítimas se nasceram de acordos realizados entre pessoas
regula seu comportamento por meio de convicções pessoais. iguais e livres" (De La Taille, 1998, p. 90). A fonte da moral
Em vez disso, sua atividade é regulada por impulso ou autônoma é interna (código de ética interno) e da heterônoma
obediência não pensada" (De Vries, 1997, p. 9). é externa (pessoas que detêm algum tipo de autoridade para o
Mas, voltando à heteronomia característica das crianças sujeito). Diz Piaget (1967):
pequenas, percebe-se que há uma idealização do adulto como ( ... ) Na medida em que a elaboração das realidades
aquele que está acima de qualquer norma e que sabe de todas espirituais depende das relações que o indivíduo tem com seus
as coisas pelo simples fato de ser "grande". A mãe de um garoto semelhantes, não há uma única moral e nem haverá tantos
de 4 anos tentava convencê-Io a frequentar a escola, dizendo- tipos de reações morais quanto as formas de relações sociais
lhe que iria estudar, aprender a desenhar, ler, escrever, etc. O ou interindividuais que ocorrem entre a criança e seu meio
menino refletiu um pouco e disse-lhe: "Eu não preciso ir na ambiente.
escola não, mãe. Quando eu crescer eu vou saber desenhar, ler, Gostaríamos de fazer um parêntese, para voltar a comentar
escrever e saber tudinho essas coisas que você falou aí". Essa sobre a afirmação feita anteriormente de que a formação dos
resposta demonstra uma certa compreensão de que essas sentimentos morais depende da ênfase colocada pelo adulto ao
"aprendizagens" são decorrências naturais do processo de relacionar-se com a criança, em uma das três tendências
"crescimento" de torna-se adulto. afetivas mencionadas: amor, temor ou respeito. Uma educação
Se em um extremo das relações entre as pessoas que tende a fundamentar-se principalmente no temor, causa,
formadoras dos sentimentos morais está o respeito unilateral, como foi visto, a obediência exterior e interessada, e na
no outro extremo está o respeito mútuo. Este respeito ausência deste, a criança não mais obedece, pois, não sente
"constitui-se entre iguais, sendo feita a abstração de qualquer aceitação interna pela norma. O mesmo ocorre com uma
autoridade" (Piaget, 1948/1973, p. 75). Se na moral relação embasada somente no amor. Não raro, ouve-se uma
heterônoma mãe ou professora afirmar que conversa, conversa e conversa
A lei é externa, o adulto detém a autoridade e a criança com a criança, mas que ela não ouve o que é recomendado, não
possui o medo da perda de amor, com o tempo, a partir das a obedece. Analisando as relações entre esse adulto e a criança,
interações sociais estabelecidas, vai ocorrendo a muitas vezes, percebe-se que ao interagir nas situações em que
"desmistificação" do adulto, ela vai aos poucos percebendo havia a necessidade de limites, essa criança foi, como todas as
que ele falha, diminui o temor pela perda do amor do adulto, e outras, verificando ou não a necessidade destes. Sabemos que
ela começa a querer o respeito por si, dando início ao respeito os limites são importantes pois, entre outros objetivos que
mútuo, o qual ainda é uma mistura de afeição e medo. serão abordados no capítulo sobre as regras, situam a criança
Todavia esse medo não é de vir a ser punido, repreendido no espaço social. As regras são necessárias para o convívio
ou admoestado, nem medo de ameaças COII. sanções físicas ou social, desde cedo a criança precisa ir aprendendo as normas
psicológicas e sim um temor de decair aos olhos do outro. Piaget de convivência, já que nenhuma pessoa é livre para fazer o que
(1932/1977, P 331) afirma que: quer. Todavia ninguém gosta de limites, sendo considerado
( ... ) o elemento quase material de medo, que intervém no natural e esperado que a criança tente desobedecê-Ios,
respeito unilateral, desaparece então progressivamente, em verificando a validade dos mesmos. Porém, ao testá-Ios e
favor do medo totalmente moral de decair aos olhos do perceber que nada acontece, ou seja, que o adulto não toma
indivíduo respeitado: a necessidade de ser respeitado nenhuma atitude quando as regras não são respeitadas (para
equilibra, por conseguinte, a de respeitar, e a reciprocidade revalidá-las), os limites dessa criança ampliam-se
que resulta desta nova relação basta para aniquilar qualquer consideravelmente. Ela tenta ampliai-os reagindo, ao ser
elemento de coação. A ordem desaparece no mesmo tempo contrariada, com birras, choro, reclamações, desafios,
para tomar-se acordo mútuo, e as regras livremente consenti ameaças, agressões, chantagens sentimentais, etc. O problema
das perdem seu caráter de obrigação externa. é quando os adultos, acuados, atendem às suas exigências,

Bibliografia 98
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

cedendo aos seus caprichos. A criança que não possui estes educação construtivista encoraja as crianças a esperar a
limites claramente estabelecidos e confirmados imediata satisfação dos desejos?". As autoras respondem que
adequadamente quando necessário, pode tomar-se uma "não", explicando que "embora as crianças tenham realmente
pequena "tirana", que não aceita ser contrariada, pois, desde a satisfação da busca de seus interesses, uma atmosfera de
cedo, impõe a sua vontade. Certa vez, uma mãe contou que cooperação exige um equilíbrio dos próprios desejos com
suas duas filhas decidiram que os dois únicos sofás que havia aqueles dos outros. Em uma palavra, o respeito por si mesmo
na sala de televisão pertenceriam a cada uma delas, portanto, e pelos outros é salientado".
os pais tinham que sentar-se no chão (e o pior é que eles Foi visto também, que a moral idade na criança vai se
realmente passaram a sentar-se no chão). desenvolvendo aos poucos, a partir da sua interação com o
Diante da permissividade do adulto perante tais condutas meio. Lembramos novamente que a consciência moral da
da criança, as normas vão sendo aos poucos desvalidadas. criança não é herdada. não nasce pronta, acabada. Os estudos
Assim, a criança vai, paulatinamente, perdendo o temor realizados por Piaget demonstram a existência de um processo
característico do sentimento respeito (lembrar que qualquer de construção da moralidade, em "estágios" universais e
tipo de respeito, unilateral ou mútuo, é um misto de amor e organizados hierarquicamente. Na realidade não são
medo, e o que os difere, é o tipo do temor presente em um ou propriamente estágios de desenvolvimento moral, mas sim,
outro). Dessa forma, vai-se diminuindo significativamente o atitudes dominantes que foram encontradas em determinadas
medo: da desaprovação do adulto, de ser repreendida, de ser idades (Piaget, 1932). Piaget considera serem três os
punida, ou da perda do amor, característicos do respeito "estágios" de juízo moral nas crianças: a pré-moralidade, em
unilateral; não havendo também, o temor de decair perante os que o indivíduo carece de todo sentido de obrigação prazo com
olhos do outro, decorrente do respeito mútuo. Sem dúvida as regras sociais; a heteronomia ou o realismo moral, em que,
alguma, permaneceu a afeição, mas, com a diminuição do como foi visto, há uma relação de submissão ao poder, ou seja,
temor, reduziu-se também o respeito. Vimos que possuir o certo é obedecer às ordens da pessoa que detém a
somente uma dessas duas tendências afetivas que formam o autoridade; e, por último, a autonomia moral, que é
respeito não é suficiente para causar o sentimento de caracterizada por um novo sentido dado às normas, já que
aceitação interior das regras; portanto, apenas o amor (ou só o sentimento de aceitação ou de obrigação para com estas
temor) não basta para fazer com que apareça o sentimento de normas está fundamentado nas relações de trocas mútuas e de
obrigação às recomendações dadas. Com a ausência do temor, reciprocidade.
não há a aceitação interna pelas recomendações do adulto. Apresentaremos a seguir, algumas características
Contudo, não estamos querendo dizer que somos a favor da principais que a criança apresenta nesse processo de
punição ou do reforço ao sentimento de temor característico construção gradativa da moralidade. Consideramos de
do respeito unilateral. O que está sendo questionado é o fundamental importância o estude desse desenvolvimento a
excesso de autoritarismo (relação embasada principalmente todos aqueles educadores que pretendem formar seres
no medo) ou a permissividade (evidenciada na ausência de humanos autônomos e cooperativos. Esse estudo é importante
qualquer limite), já que nenhuma dessas relações leva à também, para aqueles professores que acreditam que "não
autonomia. O sentimento de temor espontâneo característico trabalham com a moralidade", ou que "ter jeito" e "bom senso"
do respeito unilateral não deve ser extinguido (pois, se isso são suficientes para educar moralmente uma criança
ocorrer, não existe mais respeito algum), mas substituído por (refletindo melhor, acreditamos que os estudos de Piaget e
aquele oriundo das relações entre as pessoas que se respeitam afins sobre esse tema deveriam ser leitura obrigatória
como iguais. Nossas considerações com relação a tais questões principalmente para estes).
serão melhor esclarecidas e aprofundadas nos capítulos
posteriores. • A pré-moralidade e o realismo moral
A criança precisa aprender que seu desejo não é lei, que
não se pode fazer o que quiser na hora que quiser, pois do O estágio da pré-moralidade principia-se no nascimento e
contrário, não saberá conviver com pessoas que têm pontos de vai até os 4, 5 anos aproximadamente. No início, não há
vista, hábitos e culturas diferentes dos seus. Pequenas nenhuma consciência moral. É a anomia, cuja característica é a
frustrações e contrariedades não traumatizam. Nesse sentido, ausência total de normas. O bebê não sabe o que deve ou não
o estabelecimento de limites necessários significa dar a noção ser feito, muito menos as regras da sociedade em que vive,
de realidade à criança Esses limites servem dê parâmetros devido a uma "dificuldade de compreensão causada pela
para os relacionamentos que se estabelecem, garantem a insipiência dos quadros mentais, fugazes e sem coordenação"
justiça, auxiliam a cooperação e convivência, preparando-a (Fortuna e Hom, 1999, p. 15). Ele é movido por necessidades e
para viver em um mundo real. Adultos que, por culpa ou por benefícios próprios. Piaget explica que a anomia intelectual e
medo de contrariar as crianças e vê-Ias tristes, atendem a afetiva perderá terreno progressivamente, sob a pressão das
todos os seus desejos, em nada contribuem para sua educação. regras lógicas e morais coletivas e com o desenvolvimento
As normas, quando legítimas, garantem o bem-estar de si cognitivo. Com o surgimento da função simbólica, e
próprio e o dos outros e situarão a criança no espaço social. consequentemente, o desenvolvimento da imagem mental, o
Zagury afirma que é na família que se começa a exercitar a bebê toma-se capaz de interiorizar as normas. Fortuna e Hom
democracia, isto é, a criança tem direitos. mas os outros (ibid.) explicam que é por isso que uma criança de
também têm. Ela é considerada "tirana" quando possui mais aproximadamente um ano, por exemplo, precisa ser muitas
direitos que os outros membros da família. Na realidade, a vezes advertida que não pode ir a determinados locais ou
criança não deve ter mais, nem menos, porém espaços iguais. mexer em certos objetos, já que essas regras não foram
Ela tem o dever por exemplo, de deixar a mamãe descansar ou interiorizadas. O adulto cumpre aí uma importante função:
o papai falar ao telefone, e depois receberá toda a atenção que auxilia a criança em seu processo de interiorização,
merece. É nessas situações em que vai aprendendo a dividir os funcionando como um evocador externo da norma.
espaços, que a criança vai adquirindo respeito ao outro e a Dessa forma, conforme o egocentrismo característico da
compreensão de que as regras são como contratos feitos de inteligência prática (sensório-motor) vai decrescendo, e ao
forma que todos os envolvidos se beneficiem. relacionar-se com os adultos, percebe-se um certo progresso
Alguns adultos julgam erroneamente que o modelo de no desenvolvimento da criança pequena. Combinando o
educação construtivista tem como uma das metas a satisfação egocentrismo no plano das representações (pré-operatório)
de todos os desejos e voluntariedades da criança. DeVries e com a coação própria das relações entre os adultos e a criança,
Zan (1998, p. 58) fazem seguinte questão: "Será que a observa-se que a criança transfere a fonte da verdade,

Bibliografia 99
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

passando da submissão às suas próprias idéias (anomia) para resume-se às suas impressões, sensações e aos esquemas de
a submissão à palavra adulta (heteronomia), por volta de um ação que possui. Não percebe a existência dos outros, ou uma
ano e meio de idade. Desse modo, conforme vai crescendo, ao vontade diferente da dele, nem o que é certo ou errado
interagir basicamente com a família, a criança começa a (anomia). Quando quer algo, por exemplo, chora e exige ser
perceber a si mesma e aos outros, percebe também que há atendido na hora. Esse egocentrismo está presente na ação do
coisas que podem ou não ser feitas, transformando a anomia bebezinho, porque a inteligência sensório-motora é prática.
em heteronomia, ou seja, se antes não havia regras, agora, a De acordo com Domingues de Castro (1993), a relação do
criança é, de certa forma, governada e dirigida pelos adultos. lactente com os objetos próximos decorre da utilidade que eles
Como foi dito, na heteronomia (ser governado por outrem), a oferecem ao bebê. Assim, os objetos são "sugáveis" ou
criança já sabe que há coisas certas e erradas, mas são os "chacoalháveis". Não possuem a utilidade que lhes é
adultos que as definem, isto é, as regras emanam dos mais característica, por exemplo a chave serve para abrir e para
velhos. Essa passagem da anomia para a o segundo estágio que ligar o carro, mas sim "confundem-se e misturam-se as
é o da heteronomia (ou realismo moral), constitui-se num primeiras coordenações de ações do sujeito sobre objeto" (p.
grande avanço; para Feltran (1995, p. 82) já é "um prenúncio 7), isto é, o bebê aplica seus esquemas de sugar, pegar, puxar e
de controle intelectual que encontra o seu exato chacoalhar, ao objeto chave. Então, os objetos são adaptados
correspondente nos efeitos da coação moral (...) A crença na de acordo com os esquemas da criancinha, e deixam a sua
onisciência do adulto, corresponde à crença no valor absoluto utilidade que lhes é característica para servirem às utilidades
dos imperativos, das ordens recebidas dele". Isso mostra que que o bebê dá a eles.
a criança tomou-se capaz de estabelecer uma primeira forma Para se ter uma ideia melhor, o lactente é tão egocêntrico
de controle normativo e de constituir, também, a consciência, que quando o objeto sai de seu campo visual, ele simplesmente
ainda que rudimentar, do dever. "Contudo, ainda não se pode deixa de existir, isto quer dizer que o seu "universo"
falar em moral idade verdadeira, pois a lei ainda é exterior à corresponde ao seu campo de visão, até que construa a noção
consciência e submetida à palavra do adulto" (ibid.). de objeto permanente, por volta dos 9-12 meses, quando a
criança já se toma capaz de procurar um objeto escondido. É
• o egocentrismo comum observarmos o bebê cobrir sua cabeça com um pano e
julgar que ele está escondido, que ninguém pode vê-lo ou sabe
No parágrafo anterior mencionamos o egocentrismo, onde ele se encontra, já que ele próprio não está se
considerado por Piaget como uma das principais enxergando. Ou quando brinca de esconder-se e só esconde a
características da criança pequena. Via de regra, os cabeça debaixo de um sofá, por exemplo, deixando o restante
professores com os quais trabalhamos afirmam saber que a do corpo para fora, pois se "ele não consegue ver nada,
criança pré-operatória é egocêntrica. Mas o que será ninguém o está vendo também".
egocentrismo para Piaget? Ele é sinônimo de egoísmo? Qual Enquanto o egocentrismo no período sensório-motor
seria a diferença? Ao estudarmos esse conceito com os aparecia no plano da ação, no período pré-operatório (2 aos 7
educadores, foram levantadas inúmeras questões, cujas anos) ele aparece no plano da representação. Em resumo, a
respostas pretendíamos investigar ao longo de nossos estudos criança não diferencia o seu ponto de vista, a sua ideia da dos
sobre o desenvolvimento moral; eis alguns exemplos: É outros. Ela, por exemplo, diz que "mora naquela casa branca"
comum as pessoas acreditarem que o egocentrismo está como se soubéssemos claramente de que casa está falando,
relacionado ao não querer compartilhar, emprestar ou dividir não havendo necessidade de argumentar ou explicar. Um
as coisas; de acordo com essa compreensão egocentrismo e menino contou uma vez que cortou sua perna "naqueles canos
egoísmo teriam o mesmo significado: será que são mesmo lá perto da garagem", como se entendêssemos de que canos ele
sinônimos?; A criança que divide suas coisas, então, não é falava. Essas afirmações mostram que a criança não consegue
egocêntrica?; Todas as crianças são egocêntricas ou algumas perceber que o interlocutor desconhece os acontecimentos ou
não o são?; Por que umas crianças parecem ser mais objeto aos quais ela está se referindo; mas, a criança ainda não
egocêntricas que outras?; A criança nasce egocêntrica ou pode considerar esse fato porque confunde o que pensa ou vê,
toma-se por volta dos 2 anos, ao entrar no período da ou seja, seu próprio ponto de vista, com o do outro, como se o
inteligência representativa?; Será que é uma fase?; Se é uma outro pudesse ver, ouvir, sentir e pensar simultaneamente a
fase, quando esta se inicia e quando se encerra?; Mas se é uma mesma coisa que a criança vê, ouve, sente e pensa. Essa
fase, todas as crianças passam por ela?; O que leva à incapacidade de considerar que o outro vê o mundo de outra
"superação" do egocentrismo?; Aprender a compartilhar é perspectiva, fica evidente quando se pede para a criança
suficiente?; O que leva a criança a se descentrar?; Todas contar algo que exige uma certa descentração. Por exemplo,
descentram-se?; Há como acelerar, ou mesmo atrasar, esse diante de uma maquete de um quarteirão, o professor que se
processo de descentração?; etc. Tentando responder a essas e encontra sentado de um lado qualquer da mesa, de frente para
outras questões, será apresentado, a seguir, um resumo com a criança e com a maquete entre eles, pede a ela que descreva
algumas idéias que consideramos significativas a respeito do o que está vendo. Após a descrição da criança, solicita que
egocentrismo: agora, ela conte o que o professor (que está sentado na frente
Todas as crianças, desde o nascimento, até o período das dela, portanto, vendo o quarteirão de outra perspectiva) está
operações concretas, são egocêntricas. vendo. A criança não descreve o que o professor
Ou seja, incapazes de considerar os sentimentos, desejos, provavelmente vê, mas sim, repete sua descrição anterior,
os pontos de vista do outro. Essa incapacidade de perceber demonstrando que considera que o outro estava tendo a
perspectivas diferentes da dela é porque o egocentrismo causa mesma visão, do mesmo ângulo que ela. Se for pedido que
um fenômeno de indiferenciação entre o seu próprio ponto de descreva o que ela acha que um provável colega que se
vista e o do outro. Durante o seu crescimento, a criança vai, aos encontra numa outra posição, mais afastado, estaria vendo,
poucos, descentrando-se, percebendo que os outros possuem novamente a criança contará o que ela mesma observa. Assim,
pontos de vista distintos; o seu pensamento vai tomando-se a criança egocêntrica vê o mundo de uma única perspectiva, a
reversível, possibilitando-lhe a coordenação das diferentes sua própria.
perspectivas e das ações. O egocentrismo do pensamento aparece claramente na sua
No período sensório-motor, que vai até os 2 anos em linguagem, por exemplo, no "monólogo coletivo", no qual o
média, ocorre o que Piaget chama de egocentrismo radical. No discurso egocêntrico da criança não exige resposta. Não há
bebê, não há uma diferenciação entre o eu e os objetos. O seio realmente a conversação ou diálogo, não existe a troca. A
da mãe, por exemplo, é uma extensão do seu corpo. O mundo comunicação é apenas aparente. Basta observarmos duas

Bibliografia 100
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

crianças de 3, 4 anos brincando que o monólogo coletivo fica brinquedo para a outra. Porém, para a criança egocêntrica, que
evidente. Cada um brinca sozinho e fala daquilo que está ainda não coordena o seu desejo com o do outro, essas simples
fazendo, imita o som do seu brinquedo, mas não há um diálogo, situações constituem numa grande dificuldade. Uma
uma interação entre elas. Quando as crianças estão em grupo professora comentou que, então, era também por isso que as
pensam que estão conversando com seus colegas, entretanto, crianças pequenas brigavam tanto por causa dos materiais e
na verdade, falam consigo mesmas, sem preocupar-se se os brinquedos. Mas diante dessas situações tão comuns na escola,
companheiros estão compreendendo e sem querer que eles o que fazer? Resolver o problema para as crianças, explicando-
respondam. Ihes o que deve ser feito? Não interferir? Ao "olhar a prática"
Há inúmeras situações de egocentrismo que os educadores com as "lentes da teoria" é muito mais fácil para o educador
presenciam constantemente em suas crianças. Conhecê-lo e atuar de maneira adequada e condizente com o
identificá-lo é fundamental para o professor que trabalha com desenvolvimento da criança. Nessa situação, por que será que
as crianças pequenas. Certa vez, MAR, uma aluna da pré- a criança não pediu à colega para que brincassem juntas com a
escola, foi ao cabeleireiro e pediu para que cortassem seu boneca? Ou mesmo, por que a criança que estava com o
cabelo igual ao de sua avó (que era bem curtinho). Porém, ela brinquedo já há algum tempo, não o emprestou, pelo menos
estava referindo-se ao corte que sua avó possuía antigamente, um pouquinho, para a colega? Porque, apesar de a criança ter
quando mais jovem, semelhante ao que estava em uma foto na avançado no seu desenvolvimento, tomando-se capaz de
parede de sua casa, e não o atual. A garota não deu maiores reconhecer que os outros têm idéias e pontos de vista
explicações pois, para ela, estava bem claro o que queria. diferentes do seu (o que não conseguia fazer anteriormente),
Assim, sem saber que a menina se referia a outro tipo de ainda não pôde renunciar a um desejo imediato. Então está-se
penteado, a cabeleireira cortou o cabelo de MAR bem curtinho, diante de um impasse: a criança que possui o brinquedo
que desolada foi à escola chorando no dia seguinte, dizendo reconhece a vontade da outra, o desejo da colega de brincar
que a cabeleireira era uma "burra". Para a criança egocêntrica com a boneca também, mas ainda não consegue coordenar o
não é preciso dar explicações ou justificativas, pois ela crê que seu desejo com o da outra criança. Se o adulto insiste para que
os outros pensam da mesma forma que ela. Por esse motivo, ela divida o brinquedo com a criança, ela não pode "sentir esse
não há necessidade de guardar endereço, telefone, nome pedido senão pela regra externa imposta pelo adulto. Se ela
completo dos pais ou mesmo o seu, porque ela acredita que empresta o brinquedo, não o faz senão ao ponto de vista da
basta dizer: "Eu moro naquela construção que tem dois ação exterior (devido ao respeito unilateral). Psicologicamente,
cachorrões", como nos disse uma criança, que é o suficiente ela está simplesmente desistindo do brinquedo em obediência
para encontrarmos sua casa. O mesmo ocorre quando ao ao adulto" (Mantovani de Assis, 1980a, p. 29). Nessa fase a
perguntarmos quem está falando, quando se telefona para a criança é heterônoma, isto é, governada e dirigi da pelo adulto.
casa de alguém, a criança pequena que o atendeu responde Ele é quem sabe mais, que diz o que deve ou não ser feito. Ele
dizendo: "Sou eu", como se isso fosse suficiente para que a tem o poder. Seria uma atitude bem diferente, se a criança
identifiquemos. Afinal, para ela, quem mais poderia ser? Só espontaneamente emprestasse o brinquedo, pois assim, o
existe um "eu", ela! Às vezes a criança perde-se dos pais, e desejo dela de manter um bom relacionamento com a outra
somente diz em prantos para a pessoa que a encontrou: criança seria maior do que a vontade de possuir o brinquedo.
"Quero minha mãe", não acrescentando mais nenhuma O compartilhar ou emprestar o brinquedo, não por obediência,
informação que possa auxiliar na identificação dos pais dela. mas sim por não querer desagradar o amigo ou para preservar
Outras vezes o pequeno tira o telefone, finge discar e exige o relacionamento, demonstra a presença, mesmo que ainda
falar com a pessoa desejada, brigando com o aparelho por rudimentar, do respeito mútuo, respeito esse que se orienta
"estar quebrado", já que a "intenção" de ligar para em direção oposta ao unilateral, apesar de ainda ser uma
determinada pessoa deveria ser suficiente para tal. Certa vez, mistura de afeição e medo, "só conserva desse último o temor
a mãe ao chegar em casa encontrou um bilhete do filho de 6 de decair aos olhos do parceiro" (Piaget, 1948/1973, p. 75).
anos escrito simplesmente "mãe fui", como se essa informação No momento em que o adulto compreende a maneira da
fosse suficiente para a mãe saber onde o filho estava. criança agir, ele pode atuar no sentido de favorecer a
O egocentrismo aparece nas relações entre as crianças e os descentração de seu pensamento e sentimentos, auxiliando-a
adultos, pela dificuldade dos pequenos em entender o porquê a ver as coisas da perspectiva do outro, para que a criança
das regras e em obedecê-Ias. O pai de GAB, de 5 anos, é consiga ir coordenando seu próprio ponto de vista com o dos
proprietário de uma empresa de ônibus. Após o almoço, um parceiros e suas ações. Porém não há mérito nenhum em
dos veículos da frota passava nas residências de algumas resolver por ela, e sim auxilia-a nessa coordenação. Por
crianças para transportá-Ias até sua escola. Certa vez, a menina exemplo, em uma situação semelhante, o adulto pode solicitar
atrasou-se e perdeu o ônibus e o pai disse que a levaria de que a garota fale sobre sua boneca, conte sua brincadeira,
carro, pois estava saindo para o trabalho. Ela chorou, enquanto ele vai repetindo, de forma resumida, o ponto de
emburrou, recusando-se a ir de carro, pois queria ir de ônibus vista da criança, dizendo que sabe que ela gosta muito do
para a escola e não de carro, exigindo que o pai mandasse um brinquedo, descrevendo-o, relatando as coisas que a criança
ônibus apenas para buscá-Ia. Ela questionava dizendo que, gosta de fazer com ele, que é natural a gente sentir ciúmes
uma vez que ele tinha tantos no estacionamento, por que não quando gostamos muito de alguma coisa, etc. Depois, pode-se
poderia pedir para que um deles viesse buscá-Ia? Afinal seu pai pedir à outra criança que diga como está se sentindo e o que
não era dono de muitos ônibus? deseja, tentando fazer com que a criança perceba o ponto de
Já na relação entre as próprias crianças, esse egocentrismo vista do colega. Da mesma forma que fez com a dona da boneca,
aparece como um obstáculo à coordenação dos diferentes o professor pode repetir de maneira descritiva o ponto de vista
pontos de vista e ações. Por exemplo, a criança vê a colega dessa criança, dizendo, por exemplo, que o seu colega também
brincando com uma boneca. Como ela também quer brincar gostou muito daquele brinquedo, que está com muita vontade
vai até lá, e simplesmente, pega-a, ocasionando, certamente, de brincar com a boneca, etc. Questionar-lhes se elas poderiam
uma briga. Assim, ao estudar as características do pensar em alguma forma de ambas resolverem o problema e
desenvolvimento infantil, percebe-se que a criança não tira o sentirem-se melhor. Normalmente, quando apresentamos o
brinquedo da outra porque é "malvada", "invejosa" ou conflito à criança, mostrando o anseio do outro, mas
"egoísta", mas porque ainda não consegue coordenar os compreendendo o seu próprio desejo;' sem dizer-lhe como
pontos de vista divergentes, no caso ambas querem a mesma solucioná-lo, ela acaba, espontaneamente, buscando uma
boneca. Como resolver? Para nós, adultos, é muito simples, é resolução para o problema.
só as duas brincarem juntas ou uma emprestar um pouco o

Bibliografia 101
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Essa solução pode ser compartilhar o brinquedo, brincar consequentemente, o adulto pode utilizar de procedimentos
mais um pouco e emprestar mais tarde ou mesmo brincar mais adequados à construção da autonomia. Um exemplo
juntas. Também pode ser que ela não queira emprestá-lo, e disso, foi quando estávamos discutindo uma atividade
esta decisão deve ser respeitada. Outras vezes, percebe-se que realizada por pesquisadores, que tinham como objetivo
as crianças não conseguem apresentar nenhuma proposta. O verificar a trajetória que a criança utilizava para levar um
professor deve ter paciência e estar ciente de que o conflito ou carrinho de plástico até uma casinha de madeira, que se
problema não pertence a ele, mas às crianças, cabendo às encontrava a uns cinqüenta centímetros de distância do
mesmas buscarem uma solução. Se a criança comentar que não brinquedo. O carrinho, apesar da distância, estava de frente
quer emprestar o brinquedo porque tem medo da colega não para a casa, numa linha reta, porém, no meio do "caminho"
devolver mais, é importante esclarecer a ambas que emprestar havia uma pequena árvore de madeira, portanto, para levar o
significa ficar com um objeto por determinado tempo e depois automóvel até a casa, a criança precisaria desviar-se da árvore.
restituí-lo ao dono. Os mais velhos assim o fizeram; porém, os pequenos,
Em uma sala de pré-escola, estava havendo problemas com simplesmente, "retiravam" a árvore de onde ela estava ou
os brinquedos que as crianças traziam de casa uma vez por passavam "por cima" dela, demonstrando que estavam
semana, pois não queriam emprestá-los. Devido a isso, a centrados somente no "objetivo" a ser atingido, que era levar
professora colocou o problema ao grupo e juntos decidiram o carrinho até a casa. Ao estudarmos os resultados dessa
que só poderiam levar para a escola um brinquedo mais pesquisa, uma professora comentou: "Talvez agora eu entenda
velhinho, de que a criança não tivesse muito ciúme, para que um pouco mais o fato de que, na hora do recreio, as crianças
os outros também pudessem brincar. saem animadas e correndo para o parque, 'atropelando' o que
É importante salientar que o egocentrismo é bem mais têm pela frente, como se não estivessem vendo. Eu pensava
amplo do que a recusa da criança em emprestar o brinquedo que era por falta de educação e que as maiores já tinham
ou o não querer compartilhar o lanche ou os materiais. Uma aprendido a se comportar".
criança egocêntrica pode muito bem dividir o lanche ou Na criança pré-operatória, devido ao egocentrismo de seu
emprestar o brinquedo simplesmente devido à heteronomia, pensamento, as regras permanecem exteriores à criança,
por obediência exterior, porque sabe que essa atitude é porque ela ainda é incapaz de socializar realmente sua conduta
aprovada pelos adultos. Dessa forma, a criança age assim, não e seu pensamento, não conseguindo situar-se num mesmo
por início de respeito mútuo, que é quando o compartilhar é nível que os demais indivíduos. Essa forma de pensar, de
decorrente do desejo de preservar o relacionamento ou de não interagir com o mundo, é o egocentrismo, que difere do
decair aos olhos do amigo, espontaneamente, mas sim, por ter egoísmo por ser espontâneo e inconsciente (e também bem
ciência de que essa atitude é valorizada e incentivada pelo mais complexo que o egoísmo). A criança pequena adota um
adulto. Não confundir egocentrismo com o "querer apenas ponto de vista muito pessoal sobre as coisas sem saber que
para si", nem mesmo a descentração com o "dividir os esse ponto de vista é apenas o seu e pode diferir do das outras
brinquedos e as coisas". pessoas. Fortuna (1996) esclarece que ela centra a atenção em
DeVries e Zan (1998) enfatizam que não defendem a ideia um aspecto particular da realidade, sendo incapaz de, através
de forçar o compartilhamento em classes construtivistas, de outros aspectos, equilibrar seu raciocínio. Assim sendo, por
principalmente quando envolve algo que pertence a uma não haver descoberto a multiplicidade de perspectivas, a
criança, como por exemplo, um barquinho feito por ela, ou uma criança centra-se na sua como se fosse a única possível.
atividade, brincadeira ou objeto que foi escolhido primeiro por Segundo Parrat-Dayan (1998) o egocentrismo não é a
um dos alunos, como um quebra-cabeças, por exemplo. As exaltação do eu, porquanto implica na ignorância da vida
autoras consideram que o compartilhamento forçado é interna e no desconhecimento das relações objetivas que se
coercivo e desrespeitoso às crianças, pois acreditam que os dão entre as coisas. Por isso não deve ser confundido com a
direitos individuais devem ser respeitados. Entretanto, isso noção de egoísmo, pois de acordo com Piaget, ser consciente
não significa que o professor não irá fazer nada. Suas do egocentrismo é acabar com ele.
intervenções devem ser direcionadas à negociação. Citam Para Piaget (1944/1958), é a atitude natural da mente
algumas questões que ilustram como pode ser feita a quando se depara com realidades que não consegue assimilar.
intervenção: "Você perguntou a DIN se ele quer usar o Da mesma forma que o ser humano, "antes de compreender as
barquinho com você ou se quer usá-Io sozinho?"; "Você pode leis do mundo exterior, começou acreditando que os
perguntar a PAU se ele quer ajuda com o quebra-cabeças. ( ... ) fenômenos se achavam centrados nele mesmo, em vez de
Ele não quer? Bem, talvez você possa montar um sozinho, ou situar-se em um universo objetivo e independente do eu"
encontrar um outro amigo para ajudá-lo". Mesmo que o item (ibid., p. 11), da sua vontade. Como por exemplo, quando, na
da contenda pertença a todos da classe, o professor ainda pode Idade Média, o homem julgava que o Sol girava em tomo da
facilitar o compartilhamento sem precisar ser coercivo. De Terra (geocentrismo), a Terra era o centro do universo. Ou que
Vries e Zan sugerem que o modo de fazer isso é "dar às crianças a peste ou uma forte tempestade era um castigo divino por
a responsabilidade por regularem o uso justo dos materiais" algum pecado que realizara. Por não conseguir ainda
(p. 225). Se por exemplo, na mesa de artes, um único compreender a realidade que o cercava, julgava que os
grampeador está provocando atritos, o professor pode apoiar fenômenos giravam ao redor e por causa dele.
os direitos das crianças e amparar a cooperação por meio da A mesma coisa ocorre do ponto de vista intelectual.
negociação, dizendo "Eu acho que KA T está usando o "Quando os interesses do eu estão em conflito com as normas
grampeador agora. Por que você não pede para ela avisar da verdade, o pensamento começa a preferir a satisfação à
quando terminar?". Caso não haja acordo entre as próprias objetividade" (ibid.). Podemos perceber isso nas brincadeiras
crianças, o professor pode conversar com a que está de posse das crianças, no jogo simbólico que se constitui na assimilação
do objeto da disputa, solicitando que diga ao colega quando egocêntrica do real à atividade própria da criança, ou seja, a
pretende concluir a brincadeira ou acabar de utilizar o criança utiliza uma forma de assimilação deformante
material, procurando fazer um acordo. O professor pode (Mantovani de Assis, 1980b). Ao classificar o mundo, a criança
mostrar onde está o ponteiro grande do relógio, e a criança o faz organizando-o em elementos particulares em relação à
combina que, na hora em que o ponteiro chegar em tal número, sua experiência particular. Para Piaget o jogo simbólico,
ela dará o item em questão. É importante que o educador característico da criança pré-operatória é a forma mais pura
identifique, aceite e respeite os direitos e desejos envolvidos. do pensamento egocêntrico.
Como foi dito, o estudo da teoria permite ao educador A criança transforma o real em função de seus desejos, seja
compreender melhor as atitudes e reações das crianças, e para resolver ou compensar as dificuldades que encontra,

Bibliografia 102
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

corrigindo a realidade, seja para instituir a magia e o mito na O conceito de egocentrismo ontológico permite a Piaget
realidade crua. ( ... ) A criança, como um diretor de cena, explicar as características da representação do mundo pela
constrói uma realidade sua, e deforma o real para servir à sua criança por meio do realismo, artificialismo, finalismo e
vontade (Domingues de Castro, 1993, p. 12). animismo.
Assim, aquela criança que está convivendo com a chegada O realismo pode ser compreendido como uma espécie de
de um novo irmão, "esquece" o boneco-bebê dentro da confusão entre o interno e o externo, pois a criança atribui
banheira de brinquedo, enquanto os outros bonecos (papai, características subjetivas a fenômenos objetivos. As coisas são
mamãe, avós) e o boneco-filho (ela própria) vão passear no aquilo que parecem ser na percepção imediata. A criança
parquinho; o garoto transforma-se num super-herói repleto de acredita, por exemplo, que é ela quem dirige a lua quando
poderes especiais; ou ainda, a criança solitária cria irmãos e caminha ou que os sonhos possuem uma realidade material,
amigos imaginários. Ao contrário da imitação, em que há o estando dentro do quarto, tendo origem fora dela, sendo
predomínio da acomodação mais ou menos pura aos modelos imagens que se podem ver. As figuras de linguagem também
exteriores, no jogo simbólico a criança vai tentar assimilar o são interpretadas ao pé da letra, como se fossem reais, por
real ao eu, aos seus interesses, às suas necessidades e desejos. exemplo quando alguém utiliza a expressão "ele parece um
Isso fica evidente quando a criança "brincando de faz-de- peixe fora d'água" (ou "ela morreu de raiva"; ou ainda "vou até
conta" procura eliminar uma situação desagradável, revi ali voando e já volto") é interpretada pela criança como de fato.
vendo-a ficticiamente. Piaget explica que: O mesmo se dá com as palavras. A palavra "vaca" é considerada
obrigada a adaptar-se, sem cessar, a um mundo social dos maior do que "borboleta", pois a criança ainda está presa
mais velhos, cujos interesses e cujas regras lhe permanecem àquilo que a palavra representa, ao objeto em si, ou seja "a
exteriores, e a um mundo físico que ela ainda mal compreende, vaca" é maior do que a "a borboleta".
a criança não consegue, como nós, satisfazer as necessidades O artificialismo é a tendência que consiste em pensar que a
afetivas e até intelectuais do seu eu nessas adaptações, as natureza é produto da fabricação de alguém, ou seja, para a
quais, para os adultos, são mais ou menos completas, criança tudo que existe foi feito pelo ser humano ou por
entretanto, que permanecem para com ela tanto mais alguma entidade. Para ela é difícil entender que existe o acaso,
inacabadas quanto mais jovem for. É, portanto, indispensável tudo foi planejado e executado por alguém. Alguns exemplos
ao seu equilíbrio afetivo e intelectual que possa dispor de um que ilustram essa ideia aparecem quando a criança explica que
setor de atividade cuja motivação não seja a adaptação ao real "os homens cavaram a terra e colocaram água dentro para
senão, pelo contrário, a assimilação do real ao eu, sem coações fazer o lago"; ou que "o jardineiro colocou corante para que as
nem sanções (apud Mantovani de Assis, 1980b, p. 19). plantas ficassem com as folhas verdes" ou ainda que "todos os
Dessa forma, é muito importante que o professor que dias, no pôr-do-sol, Deus pinta o céu com um montão de cores".
trabalha com a educação infantil e com as séries iniciais do O finalismo é compreendido como todas as coisas existindo
ensino fundamental, propicie às crianças oportunidades ou para cumprirem um determinado fim. As coisas são
espaços para elas jogarem simbolicamente, para brincarem de determinadas pelo uso. Assim, quando a criança diz que "as
faz-de-conta." Pois esse "brincar", é um fator muito valioso montanhas existem para as crianças passearem" ou que "a
para o equilíbrio emocional da criança. Vale ainda lembrar a chuva foi feita para as plantas não morrerem de sede",
afirmação de que "não existe nada mais sério do que uma demonstra a noção de que as coisas foram criadas para alguma
criança brincando". finalidade.
O egocentrismo também evidencia-se na fabulação infantil, O animismo provém da indiferenciação entre a criança e as
na qual, diante de uma situação em que a criança não sabe o coisas, entre o físico e psíquico.
que responder, ela fantasia, conta outros fatos, começa a falar É a tendência de considerar as coisas como estando vivas e
de outras coisas, a dar "asas à imaginação", desviando-se da conscientes. É o animismo que a faz atribuir vida e intencional
situação. É percebido ainda, na pseudomentira, em que a idade a seres inanimados, como o Sol, as nuvens, o mar, as
criança, para satisfazer suas necessidades emocionais, imagina pedras, deformando o objeto de acordo com o seu ponto de
coisas que gostaria de ter ou que gostaria que tivessem vista. Quando a criança diz: "Aquela onda boba derrubou meu
acontecido e as relata como se fossem verdade, dizendo, por castelo", ou que "O céu está chorando", fica evidente que a
exemplo, que ganhou um leão e um gorila de verdade no seu natureza possui um intento. Uma criança contou, chorando,
aniversário.5 que o vento derrubou a pintura dela no chão, de cabeça para
O egocentrismo não se restringe apenas ao aspecto social baixo, de propósito. A natureza dotada de vida possui,
ou moral, mas, por ser um fenômeno característico do portanto, uma vontade, no caso de prejudica-la. Em uma classe
pensamento infantil, está presente também nos aspectos de Jardim, observamos que as crianças despediam-se da classe
intelectual e afetivo. A criança é egocêntrica "como um todo". e dos materiais na hora da saída, dizendo, espontaneamente,
Segundo Parrat-Dayan (1998, p. 7), enquanto abanavam as mãos: "Tchau, classe. Não fica triste
A criança em idade pré-escolar não consegue estabelecer que amanhã a gente volta!". Dos 4 aos 6 anos, em geral, a
com clareza a distinção entre o seu ponto de vista e o de outras criança acredita que tudo é vivo; aos 6 e 7 anos de idade crê
pessoas, nem entre seus pensamentos e a realidade física que que é vivo aquilo que se move. Dos 8 aos 10 anos considera que
interpreta. Em outras palavras, a criança não estabelece uma tem vida tudo aquilo que se move por si mesmo,
clara distinção entre o mundo exterior e o seu mundo interior, voluntariamente; e, aos 11 anos acredita que são vivos os
subjetivo. A criança pequena atribui suas intenções e seus animais e as pessoas (algumas crianças dessa idade já
desejos ao mundo físico, adota somente um ponto de vista englobam as plantas como seres vivos) (Fortuna, 1996).
sobre as coisas, acreditando que é o único, atribuindo um Os adultos comumente sabem dessa característica
caráter de exterioridade e realismo a fenômenos subjetivos e animista da criança, tanto que, ao relacionarem-se no seu dia-
é difícil dar-se conta de que outras pessoas veem, creem e a-dia, fazem uso dela; por exemplo: quando a criança bate a
pensam de modo diferente acerca da mesma realidade. cabeça na quina da mesa e começa a chorar, a mãe finge dar
Segundo a autora, o egocentrismo intelectual ou um tapa na mesa, dizendo: "Sua mesa feia, machucou o IV A.
epistêmico indica que o ponto de vista atual do sujeito é o Nunca mais faça isso!"; ou quando o pequeno tropeça na
predominante e traduz a falta de mobilidade do pensamento cadeira e machuca-se, e a professora, para consolá-lo, coloca a
que impossibilita a coordenação de pontos de vista diferentes "cadeira" de castigo para esta "aprender a não ficar mais no
ou sucessivos. A criança é incapaz de coordenar os estados meio do caminho"; ou ainda, quando a criança está chorando e
com as transformações, sendo necessário, para sair do a educadora leva-a até a janela e mostra-lhe que o céu, o sol e
egocentrismo, conseguir dissociar o objeto do sujeito. os passarinhos não estão chorando e que se estes a virem

Bibliografia 103
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

chorando desse jeito "podem ficar tristes e começar a chorar afirmativa, a criança disse: "E como é o uniforme delas?". Para
também". ele, se quem estuda usa uniforme, então, se nós estudávamos,
Certa vez, a professora percebeu que seu aluno estava com certeza precisaríamos ter uniformes também. O mesmo
inquieto e saía o tempo todo da classe, para observar uma obra raciocínio transdutivo ficou evidente quando, ao realizarmos
que estava sendo feita na frente da escola, onde os compras natalinas num shopping que havia montado a casa do
funcionários da prefeitura retiravam os paralelepípedos da Papai Noel no Polo Norte, encontramos uma criança que nos
rua para, posteriormente, substituí-los por asfalto. A cada disse: "Ah, vocês também vieram ver o Papai Noel para pedir o
"visita" à obra, o garoto percebia que a retirada das pedras presente de Natal, né?", Certa vez, LET passeando de carro com
estava mais adiantada. Ao constatar esse avanço, a criança, sua tia, ouviu-a responder a um "menino de rua" que pedia
preocupada, disse à professora que "eles precisavam fazer "um trocado", que não tinha dinheiro para lhe dar. Passado um
alguma coisa, pois aqueles homens estavam levando a rua tempo, a pequena ler virou-se para ela dizendo: ''Tia ROB, se
embora para morar em outro lugar". acabou o dinheiro, a gente precisa passar na loja para comprar
Com relação ao aspecto cognitivo, o egocentrismo é mais".
decorrente da ausência de reversibilidade do pensamento. Na Por causa do egocentrismo, a criança assimila o mundo de
prova de conservação de quantidades contínuas elaborada por modo deformado, projetando seus sentimentos e desejos aos
Piaget, utilizamos duas bolinhas com o mesmo tanto de massa objetos e pessoas. Uma situação que ocorreu com uma garota,
plástica; após a transformação de uma delas, a criança pré- JUL, ilustra essa afirmação: O ano letivo acabara de ser iniciado
operatória passa a acreditar que a quantidade se modificou e JUL ainda não estava bem adaptada em sua nova escola, nem
devido à nova forma, dizendo que agora tem mais, ou tem com sua nova professora. Certa vez, na saída da aula, JUL disse
menos, massa. Mesmo ao ser questionada se, como antes havia a sua mãe que precisava muito ir visitar sua antiga professora
o mesmo tanto de massinha, será que após a transformação, porque "ela deve estar morrendo de saudade de mim l": sendo
como não foi tirado nem colocado mais massa, deve haver a que, na verdade, era a garota quem estava sentido saudade,
mesma quantidade, a criança responde que não, que antes projetando, portanto, seus próprios sentimentos no outro.
realmente havia o mesmo tanto, mas que agora (depois da Uma outra criança encontrou um cachorro na rua e disse para
transformação) há mais (ou menos) massinha. Esse raciocínio o animal: "Você está triste porque perdeu sua mamãe? Não
utilizado por ela evidencia que, devido ao egocentrismo de seu chora não cachorrinho, a gente vai encontrar sua mamãe ... ".
pensamento, a criança ainda não consegue estabelecer Um garoto de 4 anos estava brincando na classe com um
relações ou coordenar as ações mentais, não existe a cavalo de madeira e após deitá-lo no chão. disse à professora
reversibilidade de pensamento (voltar mentalmente uma ação que o cavalo estava quase morrendo. A professora respondeu
anterior - ou trajetória cognoscitiva - e coordená-la com a que eles precisavam chamar um médico para dar uma injeção
atual; com a reversibilidade, a transformação é anulada pela no cavalo para que ele sarasse, ficasse bom. O menino
ação mental inversa da criança, que lhe permite voltar ao imediatamente respondeu: "Não, não pode dar injeção nele ...
ponto de partida, isto é, considerar, por exemplo, a quantidade ele (o cavalo) não gosta de injeção ... tem agulha!". Nessa
inicial de massa antes da transformação), estando centrada em mesma classe, a professora havia pedido a uma garotinha se
apenas um aspecto, por exemplo na largura, não levando os ela poderia emprestar sua boneca à colega. A menina
outros aspectos, como a altura, em consideração. respondeu que não pois se o fizesse "a boneca iria chorar e
Devido ao egocentrismo a criança é incapaz de estabelecer ficar triste".
relações, não compreendendo a lógica das relações mais Devido ao egocentrismo, a criança "antes de interiorizar as
usuais, porque não coordena diferentes perspectivas. Segundo leis do mundo social, considera que o grupo existe e funciona
Parrat-Dayan (1998, p. 8) "quando se pensa segundo o seu em tomo dela própria, em vez de situar-se entre os outros em
próprio ponto de vista, de maneira absoluta, não se pode um sistema de relações recíprocas e impessoais" (Piaget,
compreender a relatividade das noções". Uma professora 1944/1958, p. 11). Nesse período de sua vida, ela é incapaz de
relatou que certa vez, encontrou seu filho de 3 anos colocar-se no lugar dos outros, e ainda não sabe discutir, nem
observando o irmão de poucos meses dormindo no berço. Ele refletir, pois para haver reflexão é necessário uma discussão
olhava-o com uma expressão desolada e disse: interior em que o indivíduo tem uma ideia e a confronta com
"Coitadinho do meu irmão ... Ele não tem nada". uma possível objeção? que o outro fará, um outro argumento
Procurando compreender melhor o que a criança dizia, a mãe ou uma ideia diferente da sua. O adulto compreende que para
questionou-o: "Como assim 'ele não tem nada'?". O garoto o outro aceitar suas ideias, deve ordená-Ias, prová-Ias e por
respondeu-lhe: "Olha, a roupa dele é minha ... O berço também consequência, verificá-las. Por ser egocêntrico, o pequeno não
é meu ... Até a mãe dele é minha ... Ele não tem nada!". Essa consegue realizar essa reflexão, e ainda pode-se observar
criança ainda não compreende que a mãe dele pode deformações sistemáticas quando a criança tenta
simultaneamente ser mãe do irmão também. O mesmo ocorre compreender o outro ou fazer-se compreender em suas
quando se investiga a compreensão das relações de parentesco conversações. Parrat-Dayan (1998, p. 11) afirma que "é a
mais simples na farru1ia da criança. Ao ser questionada se necessidade de ser compreendido pelos outros, assim como a
tinha algum irmão, uma garota respondeu que tinha apenas necessidade de discutir sem pretender colocar seu 'eu' acima
uma irmã, e que ela chamava-se da verdade, que vão permitir a análise e a dissociação de
RAF. Foi perguntado, em seguida, se a RAF também tinha conceitos. É por isso que o processo de socialização tem um
alguma irmã ou irmão, a criança disse que a RAF não, só ela papel fundamental no pensamento da criança".
que tinha. Como a criança não consegue sair da sua própria Como foi visto, o egocentrismo inconsciente e espontâneo
perspectiva para considerar a mesma situação do ponto de de toda criança está presente nos aspectos morais, intelectuais
vista do outro, ela nega a simetria da relação humana, pois e afetivos, implicando em dificuldades de cooperação e de
falta-lhe a reciprocidade ou a reversibilidade (ibid.). O comunicação, todavia, não se opõe à sociabilidade. Não é que a
pensamento do sujeito pré-operatório é transdutivo, criança esteja voltada para si mesma, pelo contrário, ela tem
caminhando apenas numa direção, suas analogias vão do um grande interesse pelo mundo e pelos outros, entretanto
particular para o particular, o que dificulta a compreensão assimila-o de modo deformado. Para Domingues de Castro
dessas relações. A transdução característica da inteligência (1993) o que falta às crianças menores é a condição de dar
representativa ficou evidente Duma "constatação" feita por atenção ao outro, de constituir um campo comum de interesse,
uma criança quando visitávamos uma escola. Por ver-nos um objeto comum na conversação.
constantemente em sua escola, um garoto perguntou à sua Os estudos de Selman confirmam a incapacidade da
professora se nós também estudávamos. Diante da resposta criança pequena de perceber perspectivas diferentes. Ao

Bibliografia 104
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

realizar entrevista com as crianças, pesquisando como elas estrutura de conservação, por exemplo, o indivíduo não
coordenam a perspectiva social, o autor encontrou cinco níveis considera o que disse anteriormente ao trocar idéias com o
distintos, que vão de 0 a 4 (De Vries & Zan, 1998). Essa outro, pois, ainda não conserva as proposições anteriores. De
pesquisa mostra uma descentração crescente e uma evolução maneira gradual, "a criança pequena constrói um sistema
na capacidade de coordenação dos diferentes pontos de vista. afetivo mais estável de sentimentos e interesses que adquire
Resumidamente, no nível O, que corresponde alguma permanência e conservação" (DeVries & Zan, 1998, p.
aproximadamente ao período que vai dos 3 aos 6 anos, a 52). Somente após a construção das operações reversíveis, há
criança pequena não identifica que as experiências subjetivas a conservação das idéias, sendo que estas são necessárias à
e íntimas dos outros possam ser diferentes das suas (como os cooperação (sem a conservação das proposições ditas, o
sentimentos, as intenções, os pensamentos, as idéias e as sujeito não mantém o seu argumento ou sua ideia inicial em
perspectivas). Os outros são vistos como uma espécie de uma discussão, portanto, não há uma troca efetiva).
objeto, e ela simplesmente não percebe que possuem um O intercâmbio social regulariza a razão e esta regulação
ponto de vista. No nível 1 (aproximadamente dos 5 aos 9 anos), que constitui a lógica. Para chegar à verdade objetiva, a criança
a criança descentra-se e sabe que cada pessoa tem uma terá que aprender a discussão, o controle mútuo e o
experiência subjetiva única, mas, em geral, não consegue intercâmbio de idéias. A verdadeira discussão exige que seja
considerar mais de uma perspectiva de cada vez. O nível 2 foi entre iguais, o que não representa a situação da criança. A esta
encontrado por volta dos 7 aos 12 anos. Nesse nível, a criança última falta-lhe uma estrutura original, uma lógica que implica
descentra-se ainda mais para considerar reciprocamente a necessidade de verificação (Parrat-Dayan, 1998, p. 11).
sentimentos e pensamentos dela própria e dos outros. O nível Piaget (1932/1977) considera que o inverso do
3 ocorre, em geral, no início da adolescência e caracteriza-se egocentrismo na vida social é a reciprocidade e a cooperação, e
pelo fato de o jovem se descentrar ainda mais, sendo capaz de no plano do pensamento é a reversibilidade. Assim, gostaríamos
coordenar simultaneamente essas perspectivas recíprocas em de ressaltar a importância de trabalhar-se conjuntamente o
uma perspectiva mútua. O nível 4 emerge apenas ao final da desenvolvimento intelectual da criança, para que ela não
adolescência ou na idade adulta, não envolvendo a criança apresente atrasos, decorrentes da falta de estímulos
pequena, alvo desse livro (ibid.). adequados do meio, na construção das operações concretas (o
Pelo fato de a criança pequena considerar que o mundo sujeito é ativo no processo de construção, contudo, não se
existe em função dela própria, ainda não conseguindo se situar pode menosprezar a importância da qualidade do ambiente
entre os outros num sistema de relações que são recíprocas, em que o sujeito interage).
Piaget (1998, p. 14) atenta para o fato de que a criança É essa descentração que faz com que a criança operatória
pequena não tem consciência clara do seu eu. Para ele, a concreta comece a substituir o jogo simbólico, característico
consciência do eu é um produto social, visto que, à medida em do pré-operatório, pelo jogo de regras, em que estão
que nos comparamos com o outro é possível nos conhecermos envolvidas as relações sociais. Percebe-se por volta dos 7, 8
a nós mesmos e dizer em que nosso ponto de vista moral e anos de idade que as crianças já não "brincam de faz-de-conta"
intelectual difere dos outros. Ao contrário, na medida em que com a mesma intensidade; com a entrada no período
conhecemos malas outros, consideramos nossa perspectiva operatório concreto, conforme a criança vai descentrando-se,
como comum a todos e ignoramos o que é individual em nós. há uma diminuição na intensidade dos jogos simbólicos
Da mesma forma, por falta de conhecimento de seus limites, a (declínio), ocorrendo um aumento progressivo no interesse
criança considera seu próprio ponto de vista como absoluto: o pelos jogos de regras. O aparecimento mais tardio do jogo de
egocentrismo não é, então, a consciência exclusiva do eu mas, regras, é devido ao fato de que este é uma atividade lúdica que
antes, a falta de consciência do eu. Em outros termos, o implica a socialização (a socialização é ainda superficial
egocentrismo é uma confusão ou, mais precisamente, uma enquanto existir altos níveis de egocentrismo). Para Piaget,
indiferenciação entre o eu e o grupo. tudo o que é normativo no espírito humano se deve à vida
Assim sendo, Piaget utiliza o conceito de egocentrismo em social. Contudo, o jogo de regras subsiste ao longo da vida da
dois sentidos diferentes, para demonstrar a indiferenciação pessoa (Mantovani de Assis, 1980b).
entre o sujeito e o objeto e também para indicar a dificuldade Parrat-Dayan (1998) explica que, para Piaget, o
de cooperação da criança. O processo de descentração supõe o pensamento egocêntrico está entre a inteligência lógica do
descobrimento de pontos de vista diferentes e a coordenação adulto e a inteligência motora do bebê; entre o organismo e a
dos mesmos. Mantovani de Assis (1981, p. 6), refletindo sobre sociedade situa-se o "eu". A autora acrescenta ainda que Piaget
o papel da educação infantil com relação a esse aspecto, acredita que "não é a socialização que leva ao pensamento.
considera que o esperado é que "no final da pré-escola, a Pelo contrário, é o pensamento racional que vai permitir a
criança liberte-se do pensamento egocêntrico que representa socialização". É a reciprocidade que possibilita a oposição
um empecilho às atividades cooperativas. Isso ocorre quando exterior e o desacordo ou a cooperação com o outro. "A
as estruturas do pensamento intuitivo transformam-se em reversibilidade opera a nível cognitivo, não vem da
estruturas operatórias" (grifo nosso). Desse modo, a socialização sendo que encontra seu fundamento cognitivo na
construção das operações concretas é condição para a criança lógica". A cooperação é considerada como cooperação, isto é,
vencer seu egocentrismo, que tende a diminuir, mas não se como uma operação com o outro.
extingue completamente. A partir disso, toma-se mais evidente De acordo com Domingues de Castro (1993), o
que o egocentrismo não pode ser considerado como uma desenvolvimento espontâneo da criança e a descentração
"fase", já que não é totalmente extinto ou superado; e que a podem ser dificultados devido a dois importantes fatores, que
descentração depende também do desenvolvimento da precisam ser considerados pelos educadores:
inteligência (condição necessária, mas não suficiente).
Logicamente, as características do desenvolvimento da 1 º) A falta de inter-relação humana, entre o adulto e a
inteligência da criança vão interferir no modo como esta criança e entre as próprias crianças.
representa e compreende o mundo em que vive. Piaget
mostrou que as crianças pequenas ainda não conservam o A importância de o adulto interagir com a criança é
relacionamento de igualdade. Assim, ele estendeu a noção de fundamental e será novamente abordada, ainda nesse
conservação paras os sentimentos, valores e interesses. Ou capítulo. Todavia, Domingues de Castro recorda um outro
seja, esclareceu que os sentimentos, valores, idéias e ponto essencial da teoria piagetiana, que não é muito
interesses das crianças são instáveis e tendem a não se manter valorizado por alguns educadores, o papel da interação social
ou não ser conservados de uma situação para a outra. Sem a entre as próprias crianças. Piaget demonstrou em seus estudos

Bibliografia 105
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

sobre o desenvolvimento da moralidade que, mesmo que o dificuldades, não permitindo pequenas frustrações e
adulto mantenha com a criança uma relação de respeito contrariedades, dizendo o quê e como fazer. Um outro fator é
mútuo, ela ainda é incapaz de considerá-lo como a um igual, que muitas vezes essa criança convive apenas com adultos ou
por conseguinte, destina-lhe um respeito todo unilateral, com crianças maiores do que ela, e como foi visto, a interação
característico da moral heterônoma. O mesmo tipo de entre pares, assim como, o vivenciar oportunidades para ter
sentimento é nutrido com relação às crianças mais velhas e suas próprias experiências, tomar pequenas decisões, resolver
admiradas pela criança. Se a moral autonôma é oriunda de suas dificuldades, buscar soluções, fazer por si mesmo, é
relações de respeito mútuo, em que os indivíduos consideram- fundamental para a descentração.
se iguais, e a criança jamais vê um adulto ou uma criança mais Consideramos que é importante que os educadores
velha como sendo um igual, pergunta-se: com quem a criança reflitam muito bem sobre esses fatores apresentados por
poderá relacionar-se com base no respeito mútuo, ou seja, de Domingues de Castro, pois muitas vezes, sem perceber,
igual para igual? Naturalmente, que com as crianças da idade julgando estar auxiliando, cuidando ou protegendo, acabam
dela, com os pares. Assim sendo, as únicas "pessoas" com por "atrasar" a descentração e reforçar a heteronomia das
quem a criança poderá estabelecer uma relação de igualdade crianças que estão sob sua responsabilidade.
são seus colegas, que, geralmente, estão na mesma faixa etária
que ela. O problema é que, hoje em dia, as famílias estão cada • A responsabilidade objetiva
vez menores, as casas ou apartamentos reduzidos, as cidades Foi visto que durante o segundo estágio que é o da
violentas, as ruas movimentadas, e as crianças perderam, heteronomia moral ou realismo moral, que vai dos 5 aos 8 anos
ainda, o espaço para brincar nas ruas, praças e quintais, como de idade aproximadamente, a mente da criança é dominada
faziam antigamente. Atualmente, em algumas cidades, a escola pelo egocentrismo. Há uma outra característica importante no
é um dos poucos lugares em que as crianças podem interagir realismo moral que é a responsabilidade objetiva: a criança
com seus pares, interação essa fundamental para descentração julga os atos considerando muito mais as conseqüências dos
de seu pensamento. Nesse sentido, a escola constitui um local mesmos do que as intenções. Foi comentado que as
propício para a vivência social entre as crianças da mesma características da inteligência da criança interferem na
idade, consequentemente, para o favorecimento da maneira como ela interage e compreende o mundo. Como é a
descentração. Porém, lamentavelmente, na maioria das vezes, inteligência da criança pré-operatória? Resumidamente, o seu
o professor quer que a criança fique calada, não troque idéias pensamento é intuitivo, preso ao perceptivo, centrado,
com os colegas, não socialize seus pensamentos, não discuta, transdutivo. Portanto, ela tira conclusões pelo que vê, sente ou
defenda, justifique e contra argumente o seu ponto de vista; percebe; dessa forma, a criança durante o estágio do realismo
pois esse professor acredita, erroneamente, que essa interação moral centra o seu julgamento no ato em si, não considerando
é prejudicial para a aprendizagem. aquilo que não é concreto, material, como a intenção. Uma
menina do primeiro ano esbarrou, sem querer, numa outra da
2º) O cuidado intensivo, o "excesso de intervenção do pré-escola, que caiu e machucou o joelho. A pequena queria de
adulto, impedindo a criança de explorar o mundo, fornecendo- todo jeito que a maior fosse castigada, por mais que se
lhe todas as respostas prontas" (ibid, p. 14), a solução dos explicasse a ela que o esbarrão não havia sido de propósito.
problemas, fazendo pela criança o que ela deveria fazer Para justificar a necessidade do castigo, a garotinha replicava
sozinha. dizendo que não interessava se tinha sido ou não sem querer;
pois, mesmo sendo sem querer, a outra havia derrubado-a,
Toda vez que o adulto age desta maneira, está auxiliando estava doendo muito e "até saiu sangue". Portanto, é o
na manutenção do pensamento egocêntrico. E é muito comum resultado material da ação (a dor e o sangue) que é
que o educador, visando "ajudar" a criança, resolva os considerado pela criança ao julgar uma situação; e a intenção
problemas para ela, mostre o "melhor caminho", transmita as (não ter sido por querer) não é levada em conta. Pode-se
"verdades" prontas e completamente elaboradas, ensine o que afirmar que a intenção tem um lugar ainda periférico nos
fazer e como fazer, etc. Sob esse aspecto, frequentemente, o juízos infantis, sendo que o "ato em si" é que possui um lugar
filho de pais de nível socioeconômico mais alto acaba levando central. Talvez, a responsabilidade objetiva seja uma das
uma certa desvantagem, pois, é comum ver a "babá" despindo explicações ao fato de as crianças estarem sempre querendo
a criança, dando o banho, enxugando-a, escolhendo e revidar, mesmo quando o colega esbarra ou machuca-a sem
colocando a roupa que irá vestir, calçando-lhe as meias e intenção.
sapatos, penteando-lhe os cabelos, colocando a comida no Em uma classe de pré-escola, havia uma regra de respeitar
prato, dando-lhe na boca, escovando os dentes para ela, e em o colega. Um garoto era bem maior e mais forte do que os
seguida, colocando a criança sentada para assistir televisão. outros, por isso, toda vez que jogava futebol, acabava
Entretanto, situações análogas a essas ocorrem, trombando nos amigos, derrubando-os, involuntariamente. Ao
independentemente do nível socioeconômico, com pais muito auto-avaliar-se, ele dizia que não havia cumprido a regra
protetores ou "cuidadosos". Ao agir dessa forma, o adulto é porque trombava nos colegas durante a partida, não
quem toma as decisões, soluciona os problemas, e faz pela compreendendo que, como ele não havia tido a intenção de
criança o que ela poderia estar resolvendo sozinha. Nas salas derrubá-los, não havia desrespeitado a regra.
de aula, frequentemente pode-se observar professores tendo Para demonstrar essa característica da moralidade
atitudes semelhantes, como quando: tiram o casaco da criança, infantil, Piaget (1932/1977), contou às crianças duas
amarram seus sapatos, distribuem e recolhem o material, pequenas histórias, contendo um dilema moral; uma em que
dizem o quê, como e quando fazer as atividades (e se estão um garoto, quando foi jantar, quebrou dez copos que estavam
corretas ou não), e também as recolhem, querem que os alunos atrás da porta da cozinha, sem querer, pois ele não sabia que
peçam sua autorização para realizar as coisas mais simples os copos estavam atrás da porta e, na segunda história, um
(como ir ao banheiro, tomar água, pegar mais tinta, etc.), outro menino, escondido da mãe, foi pegar os doces que
exigem que permaneçam sentados e em silêncio, resolvem os estavam no alto do armário, e, ao tentar alcançá-lo, esbarrou
conflitos, servem a merenda e o suco, dirigem, ordenam, em um copo de vidro que caiu e se quebrou. Perguntava às
decidem, instruem, aconselham, orientam, etc. crianças qual garoto agira mais errado, quem elas castigariam
Um outro exemplo, seria o do filho único, que por si só não mais. As menores de 7,8 anos diziam que se deveria dar um
é problema. O que ocorre é que por ser o único descendente, maior castigo ao menino que quebrara mais copos, que ele
os pais muitas vezes acabam superprotegendo, facilitando estava mais errado porque quebrara dez, e o outro só quebrara
muito as coisas para a criança, resolvendo seus problemas e um. Isso mostra como as crianças pequenas não levam em

Bibliografia 106
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conta à intenção, e sim as conseqüências do ato. Dessa forma, um menino disser que viu "um homem tão grande do tamanho
a pessoa "errou mais" ou é "mais culpada" quando o resultado de um prédio", do que se contar que tirou "uma boa nota na
concreto é grande; quando o resultado é pequeno, menor a prova", quando não tirou. A criança considera a segunda
culpa ou o erro cometido. Já as maiores, disseram que a criança mentira "menos ruim" porque isso poderia ter acontecido, os
que quebrou dez não merecia ser castigada porque ela não pais "poderiam ter acreditado"; ela desconsidera assim, a
sabia que tinha tudo aquilo atrás da porta, mas que o outro intenção deliberada de enganar. Já a outra mentira é "mais
menino estava mais errado, merecendo ser castigado, porque ruim" porque ninguém acreditaria que existe um homem tão
ele foi pegar o doce escondido, desobedecendo à mãe dele. grande assim. Assim sendo, como as crianças julgam pela
No dia-a-dia, constata-se que a responsabilidade objetiva aparência do fato observado, é natural que considerem uma
das crianças é reforçada pelos adultos, pois, geralmente, estes mentira evidente como sendo a pior, a mais condenável, logo,
não levam em conta ou avaliam as intenções ao julgar os é aquela que merece mais castigos; já com relação à mentira
desajeitamentos infantis. Assim, quando a criança quebra algo bem-sucedida ou quando a mentira não é tão evidente
grande, a bronca é maior do que quando quebra algo pequeno. (portanto, aparece menos) é julgada como sendo menos grave,
Lukjanenko (1995, p. 16) explica que os adultos utilizam "de merecendo uma punição menor. As crianças mais velhas
muito rigor contra os desajeitamentos infantis, não consideram mais grave a mentira que consegue enganar, em
compreendem as situações e punem em função da que há a intenção deliberada de mentir.
materialidade do ato, por isso a criança adota essa mesma A criança pequena também julga que mentir é falar
maneira de ver e aplicar as regras ao pé da letra". Para essa "palavrões" ou "palavras feias", e que a própria palavra
autora, a responsabilidade objetiva vai perdendo a "mentira" é um palavrão. Certa vez, a professora explicou a seu
importância, "quando o adulto sabe ser justo e a criança pode aluno que não podia falar mentiras. E ele disse: "Se eu quiser,
colocar seus sentimentos". eu falo mentira sim, quer ver: Mentira! Mentira! Mentira!". A
Assim, a criança elege as conseqüências do ato como criança julgava que, o que não podia ser dito era a palavra
critério de juízo e não a intenção. Não é que a criança não "mentira", como se esta fosse um palavrão. Mais tarde, julga
percebe a intencionalidade, ela entende muito bem o que que uma mentira é afirmar qualquer coisa inverídica, havendo
significa o "foi sem querer", entretanto, ela não o considera ao ou não a intenção de trapacear. Dessa forma, para a criança um
julgar. Trata-se da "força" ou do "lugar ocupado" por esses engano e uma mentira são a mesma coisa porque, como vimos,
sentimentos: ao julgar, o lugar da intencionalidade é periférico ela não percebe a intenção. Para ela está tão errada a pessoa
e o dano material é central. Geralmente a criança percebe a sua que dá uma informação errada sobre um endereço por engano,
intenção ao agir, mas não a de outra criança, pois ainda não como aquela que fez isso de propósito. Só mais tarde, quando
consegue se colocar no lugar dela. Piaget (1932/1977, p. 160) a responsabilidade objetiva vai transformando-se em
afirma que o "realismo moral durará mais tempo no que se subjetiva, é que a criança relaciona a mentira à intenção de
refere à avaliação da conduta alheia do que na avaliação da mentir, o que faz com que as crianças mais velhas julguem a
própria conduta". Somente por volta dos 9 anos de idade, mentira como negativa ou grave independentemente dessa ter
conforme vai se desenvolvendo, é que a criança passará a sido descoberta. Esse progresso no desenvolvimento moral faz
eleger a intencionalidade, e não mais o dano material, como com que as maiores considerem que a mentira é má em si, pois
critério de culpabilidade (responsabilidade subjetiva). esta viola a confiança mútua, sendo ou não punidas. Para elas
Na fase do realismo moral, a regra aplica-se de forma não há mais diferença na gravidade da mentira quando
rígida. Para a criança, o castigo deve ser equivalente ao dano contada aos adultos ou aos companheiros do grupo, ao
causado. Desse modo, "quebrou um prato tem que apanhar contrário das crianças que estão no realismo moral.
uma vez, quebrou dois pratos tem que apanhar duas vezes".
Por isso elas acham injusto quando nós, os adultos, levando em Ressaltando que a consciência da mentira vai sendo
conta a intenção, damos um castigo diferente pelo mesmo construída sob a influência da cooperação, Lukjanenko (1995,
dano causado. Certa vez, uma mãe repreendeu o filho mais p. 17) apresenta um resumo da evolução desse conceito na
velho porque este estava jogando bola na sala de televisão e criança:
acabou quebrando um copo que lá se encontrava. Poucos dias
depois, seu irmão, auxiliando-a a lavar as louças, quebrou um 1. A mentira é grave, porque é objeto de punição. Se
copo também e não foi censurado. O maior achou injusto suprimíssemos as punições, a mentira seria permitida.
dizendo que a mãe protegia o caçula, porque quando ele havia 2. A mentira é grave em si, mesmo que não a puníssemos,
quebrado o copo na sala ela havia lhe dado bronca. É não se deveria mentir.
importante que o adulto explique claramente à criança que a 3. A mentira é grave porque se opõe à confiança e à afeição
reprimenda não foi simplesmente por causa do copo mútua.
quebrado, mas sim, porque ele estava jogando bola na sala, o
que não é permitido justamente porque pode estragar as A partir do estudo da responsabilidade objetiva e da
coisas que lá estão e que o seu irmão quebrou um outro copo evolução da compreensão da verdade e da mentira pela
auxiliando na limpeza da cozinha, são duas situações criança, certamente, modifica-se a conduta do educador ao
diferentes. Para a criança, também é considerado injusto ela interagir com essas situações. Visando ajudar o professor a
ter que arrumar a cozinha uma semana porque tirou uma nota compreender melhor esse objeto (para que possa agir de
baixa e o irmão, que tirou três notas baixas, arrumá-la maneira mais coerente com os seus objetivos) abordaremos
igualmente por apenas uma semana. O "justo" seria três novamente tais questões, porém de forma mais aprofundada,
semanas. no item que se intitula: "Orientações sobre a mentira na
A responsabilidade objetiva aparece da mesma forma na criança"(ver p. 537). Também consideramos importante tal
compreensão da verdade e da mentira pela criança. Desse estudo para auxiliar o educador a sentir-se um pouco mais
modo, é considerado "mais feio" mentir a um adulto do que a seguro ao lidar com essas situações tão cotidianas na escola.
uma outra criança, pois, além de sentir pelo adulto o respeito • A evolução da noção de regra
unilateral, este pode puni-Ia por ter mentido (o colega não). A
gravidade da mentira também é medida pela possível Foi visto no início deste capítulo que a moral idade começa
veracidade da afirmação e não pela intenção de mentir. Ou pelo respeito que o indivíduo adquire pelas regras que o cerca.
seja, se é provável que a pessoa acredite na mentira, ela é A compreensão das regras e a vivência destas apresenta um
considerada menos grave do que se a mentira contada é processo de construção por parte da criança, e Piaget
"absurda". Por exemplo, a criança acha uma mentira maior se

Bibliografia 107
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(1932/1977), visando compreender esse processo, estudou a lado a lado, não uns contra outros". Nessa idade, a consciência
prática e a consciência das regras do jogo. ou a compreensão que possuem da regra é que esta é exterior,
provém dos adultos, portanto é considerada sagrada, não pode
A opção de Piaget por utilizar o estudo dos jogos e de suas ser alterada.
regras, como estratégia de pesquisa, deve-se ao fato de que, Assim, para a criança, as normas são concebidas e impostas
apesar de saber que as regras dos jogos não são em si morais, pelo adulto; então, a regra, ou recomendação tem sempre uma
pode-se perceber uma similaridade ou um certo paralelismo, origem respeitada (Deus, pai, irmão mais velho, a professora,
entre a construção do respeito às regras do jogo e o respeito às etc.), exprimindo autoridade. A legitimidade das regras se dá
normas morais. Efetivamente, vários autores utilizam os jogos pelo prestígio de quem as colocou, ou seja, a autoridade
como forma de trabalhar a autonomia moral das crianças, para legitima a regra. O "não mentir", "não roubar", "não quebrar as
promover na classe relações de cooperação que podem ser coisas dos outros", etc., são normas que só se justificam porque
compreendidas como relações democráticas dentro da escola foram colocadas pelos adultos. Durante uma entrevista que fez
(De La Taille, 1996a). Dessa forma, no livro: O julgamento parte dessa pesquisa, uma criança disse que tem que obedecer
moral da criança (1932/1977), Piaget apresenta os resultados à mãe porque senão Deus castiga (justiça imanente). Uma
de suas pesquisas sobre a evolução da prática e da consciência outra criança falou que não pode fofocar porque é feio. Ao ser
das regras. Ele estudou essa construção num jogo muito questionada sobre por que era feio fofocar, respondeu que é
familiar entre os meninos, que é o jogo de bolinhas de gude ou "porque a professora não gosta". Como se apenas esse motivo
"birosca", como as crianças brasileiras o denominam. A fosse suficiente para justificar o cumprimento da norma de
"prática" refere-se ao modo pelo qual as crianças seguem as "não fofocar". Em nenhum momento a criança coloca o
regras ou como elas fazem ao tentar colocá-Ias na situação de problema de se estar contando um segredo que pertence a
jogo. E a "consciência" diz respeito ao entendimento, à outro, ou delatando, quebrando o elo de confiança, etc. Para as
compreensão que essas crianças têm da regra, ou seja: o que crianças dessa idade, a existência ou a importância da regra é
são, para que servem, por que existem, se são necessárias, de justificada, simplesmente, pela autoridade da qual esta regra
onde vieram, se podem ser mudadas, etc. Piaget percebeu que provém.
as alterações que ocorrem na prática das regras são Portanto, as obrigações são encaradas como externas, elas
acompanhadas por modificações nas atitudes em relação a são impostas de fora, coercivamente, e não como uma
elas. Para ele, as mudanças em prática é que levam a mudanças elaboração da consciência. A criança submete-se a elas sem
em atitudes e não o contrário. "A evolução da prática e da questioná-las. Dessa forma, não compreende o alcance real das
consciência da regra está muito ligada ao desenvolvimento da regras que obedece. Piaget exemplifica essa situação quando
criança e às interações sociais que ela estabelece com seu afirma que muito antes de compreender o valor da verdade, a
mundo" (Lukjanenko, 1995, p. 14). Mas, quais são e como essa criança aceita a regra de não mentir imposta pelo adulto e julga
construção ocorre? Quais são as implicações desses estudos? merecer punições caso minta. Assim, ela passa a aceitar as
Dentro do estágio da pré-moralidade, para a criança (até regras transmitidas pelos adultos como verdade absoluta
os 3 anos de idade) a regra é motora. muito antes de compreendê-las ou ter tido as experiências
Os pequenos não compreendem as regras e nem a necessárias para que houvesse tal compreensão. Dessa forma,
necessidade delas existirem, portanto, jogam como querem, a regra de "falar a verdade" permanece como exterior à
como acham melhor, já que não existe a exigência de jogar de personalidade do sujeito.
um jeito correto e único para todos os participantes. Assim, a Porém, se antes a criança não via a necessidade de haver
criança pequena ainda não possui a noção de regra, não vendo normas, agora, surge a noção de regras, embora ainda
a obrigatoriedade em cumpri-Ias. Por exemplo, o garotinho rudimentar, porém ela é percebida como algo sagrado e
tenta jogar futebol, sem ter contudo a noção do jogo, de suas imutável, tendo validade absoluta. Tem que ser cumprida ao
regras e objetivos. Faz "gol contra" e fica feliz. Percebe-se tal "pé da letra" e não em seu espírito. Em uma classe pré-escolar,
característica quando as crianças menores querem jogar com havia a regra de "não correr na sala". As crianças assim que
as mais velhas. Estas chamam as pequenas de "café-com-leite", colocavam o pé no corredor saíam correndo. Ao serem
isto quer dizer que é para deixar o pequeno jogar, mas para "os questionadas sobre a regra disseram que não podiam correr
maiores" não "ligarem para o que ele faz", ou melhor, na sala, mas que na regra não falava nada sobre o corredor.
desconsiderarem a participação dessa criança no jogo, porque Quando a professora colocou o problema ao grupo para que
sabem que ela é ainda muito nova para compreender as regras formulassem uma nova regra, uma criança considerou: "Mas
de como realmente se joga. E, como as crianças mais velhas por que não pode correr no corredor se ele chama 'corredor' e
sabem que se não deixarem o pequenino participar, ele irá, não 'andador'?". Assim, a criança acredita que uma orientação
com certeza, reclamar para os adultos, elas o permitem, mas passada pelo adulto tem que ser seguida exatamente como ele
combinam que ele é "café-com-leite", portanto, sua falou. Um outro exemplo é quando uma criança vai fazer a lição
participação não é válida. de casa, e alguém, mãe ou pai, quer ensiná-la a fazer de uma
Um pouco mais tarde, num período que vai dos 3 aos 5 maneira diferente daquela ensinada pela professora. A criança
anos de idade em média, a criança observa atentamente e recusa-se terminantemente, dizendo: "Você não sabe. A minha
procura imitar a maneira como as crianças mais velhas jogam, professora mandou fazer assim!". Além da imutabilidade das
mas assimila aquilo que vê a esquemas individuais e instruções, isto demonstra também a autoridade e o poder de
egocêntricos, deformando-os. Assim, ela acredita que está uma simples recomendação feita pelo adulto (que ela
jogando de acordo com as regras dos mais velhos, todavia na respeita).
realidade desconsidera as regras, jogando de uma maneira Em uma classe de crianças de 5 anos, a professora
idiossincrática e isolada socialmente (Menin, 1996). No jogo conversou com seus alunos sobre as crianças desaparecidas,
de bolinhas de gude, as crianças de 5 anos "aplicam a regra explicando-lhes que não deveriam conversar com estranhos e
cada um à sua maneira e inclusive acreditam que podem que avisassem sempre a mamãe antes de sair com alguma
ganhar todos de uma vez" (Piaget, 1944/1958, p. 11), pois são pessoa que não fosse ela. No dia seguinte, a tia de uma das
incapazes de pensar que existem normas que estão acima de alunas veio buscá-Ia no lugar da mãe, mas uma aluna recusou-
seus "desejos" e devem ser cumpridas no jogo social. Percebe- se a ir sem avisá-la. A tia tentou argumentar de todas as
se aqui que a "socialização da criança não é ainda mais do que maneiras dizendo-lhe que não precisava, que sua mãe já sabia,
superficial e as regras não modificam o arbitrário do bom mas foi em vão. A garota só aceitou entrar no cano após
prazer individual" (ibid., p. 12). É o estágio egocêntrico da telefonar para casa e falar com a mamãe e depois recriminou a
prática das regras (3 aos 5 anos), em que as crianças "jogam

Bibliografia 108
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

tia, perguntando-lhe se ela não sabia que "tudo tem que avisar segurar a bola, a criança diz "alerta!" e todas têm que parar de
a mãe!" correr, permanecendo em posição de estátua. A criança
Essa compreensão rígida toma-se muito evidente para os tentará acertar a bola em uma das "estátuas" e se conseguir, a
professores que trabalham com educação infantil. Em certa "criança-estátua" sai do jogo. E assim sucessivamente.
ocasião, numa classe de Jardim, quatro crianças estavam Observamos que quando uma jogava a bola para cima, todas
trabalhando no "canto dos cozinheiros". A professora dirigiu- saíam correndo, para logo em seguida várias crianças
se até o local em que estavam, para orientar sobre a receita que tentarem pegar a bola, demonstrando que quase ninguém
estavam preparando. Porém, o grupo não permitiu que ela seguia as regras do jogo. Por mais que a professora as
permanecesse, pois, uma das regras combinadas era que só lembrasse. Terminada a brincadeira conversamos com
poderiam trabalhar no máximo quatro integrantes por algumas delas, pedindo-lhes que explicassem como se jogava
"cantinho", portanto, a professora era o quinto e, assim, "alerta" e elas conseguiram discorrer com clareza sobre o
conforme explicou uma criança: "A professora tem que funcionamento do jogo e sobre as regras envolvidas. Porém,
procurar um outro 'canto' que tenha 'vaga' para ela 'trabalhar', como nessa idade as regras são exteriores à criança, fica
porque esse aqui já está lotado. Mas quando alguém trocar eu evidente que apesar de as saberem de cor, algumas crianças,
aviso ela que já pode vir". Uma outra exigência feita pelas na prática, não as respeitavam, não vendo necessidade de
crianças, para que a regra fosse cumprida por todos, é que a segui-las (o mesmo ocorre com as regras da classe). Foi
professora também fizesse uma ficha com o nome dela escrito interessante perceber também, a ideia das regras como algo
para colocá-lo no espaço vago do cartaz do "cantinho" (se sagrado e, portanto, imutáveis para essas crianças. Quando nos
houvesse vaga) quando fosse "trabalhar" em algum deles, estavam explicando quais eram as regras do jogo, um garoto
assim como as crianças também faziam. disse-nos que, ao pegar a bola e gritar "Alerta!", o participante
Certa vez, querendo orientar sobre os possíveis abusos tinha que dar três passos e jogar a bola tentando acertar um
sexuais, a mãe disse a sua filha de 4 anos que ela não outro jogador que estaria em posição de "estátua".
permitisse que "ninguém tocasse em sua prexeca" (vulva). Perguntamos, nesse momento, se poderíamos dar quatro
Passados alguns dias, a tia da garota foi lhe dar banho, e a passos ao invés de três, antes de jogar a bola. O garoto
menina, durante todo o período que ele durou, colocou as rapidamente respondeu que não se poderia, e justificou
mãos sobre a vulva, tampando-a, não permitindo de jeito dizendo que com "quatro passos o jogo ficava errado". "Mas",
algum que a tia a lavasse, porque: "minha mãe falou que não é contra-argumentamos, "e se nós todos, antes de começarmos
para deixar ninguém colocar a mão na minha prexeca". a jogar, combinarmos que pode dar quatro passos?". "Também
Foi visto que, por compreender a regra ao "pé da letra" e não pode", disse o garoto. "Por que não pode?", insistimos.
não em seu espírito, a criança tem dificuldade para cumpri-Ia "Porque não é certo. Não é assim que brinca", respondeu em
(prática da regra). O exemplo a seguir ilustra melhor essa definitivo.
afirmação: a mãe deu a seu filho alguns chicletes em forma de Devido a essa característica do pensamento infantil,
bolinhas e recomendou à criança, várias vezes, para que não muitas vezes a criança não generaliza a regra, não conseguindo
desse "as bolinhas" ao cachorro pois ele podia engasgar. Ao perceber que ela também é válida para outras situações
perceber que o chiclete estava acabando rapidamente, a mãe similares. Por exemplo, há crianças que acreditam que as
perguntou ao garoto se ele estava dando "as bolinhas" ao seu regras se restringem à classe, pois foi lá que elas foram
cachorro e ele respondeu que não, que ele mascava "as elaboradas, não tendo a mesma validade no parque, por
bolinhas" e só depois é que as dava ao cão, mas que ela podia exemplo. Daí a necessidade do professor ao cobrá-las não dar
ficar tranquila, porque não havia dado nenhum "chiclete em a regra pronta, mas questionar a criança sobre quando ela tem
bolinha, não". determinada atitude, que regra ela está desrespeitando (para
JUN, de 5 anos, filho de uma professora, adorava passar o que, desta forma, comece a refletir que, em diferentes
dedo indicador na cobertura de bolos e lambê-lo situações, a mesma regra é válida). Em uma escola de educação
prazerosamente. Porém, como essa conduta era reprovada infantil, a coordenadora estava procurando um lugar para
pela maioria das anfitriãs das festas de aniversário, a mãe pregar um cartaz de divulgação de um curso que a escola
proibiu-o de fazer isso, principalmente, quando estivesse fora estava promovendo, que continha bonitas ilustrações,
de casa. Poucos dias depois, estavam numa comemoração de Todavia, distraiu-se ao atender a um telefonema e não se
aniversário. Numa mesa toda enfeitada, encontrava-se um recordava mais aonde tinha colocado o cartaz. Saiu
tentador bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro. O procurando-o pelas classes, mas ninguém o tinha visto. Mais
garoto apoiou o queixo sobre a mesa, olhando fixamente para tarde, uma professora do Jardim percebeu que o bolso da calça
o bolo, mas, lembrando da recomendação, limitou-se apenas a de CLA, seu aluno, estava bem cheio e perguntou o que ele
observá-lo, não ousando desobedecer à regra. Um primo trazia. O garoto retirou então o cartaz, todo dobrado, do bolso
aproximou-se dele e perguntou o que estava fazendo lá. JUN dizendo que o havia encontrado no salão, sobre a mesa em que
explicou-lhe a proibição materna e disse que a mãe havia dito tomavam o lanche. A professora conversou com ele,
que ele não poderia passar o dedo, portanto, não seria relembrando que haviam combinado uma regra de não pegar
desobedece-Ia se o primo o fizesse e colocasse o dedo na sua aquilo que não lhe pertencia, a não ser que o dono o permitisse.
boca. E assim, em paz com suas consciências, resolveram o E CLA, rapidamente, respondeu-lhe dizendo que isso havia
problema: o primo passava o dedo na cobertura de brigadeiro sido combinado na classe, portanto, valia apenas para a sala de
do bolo e colocava-o na boca de JUN para que o lambesse. aula mas que não havia sido combinado nada para as coisas
Piaget mostrou que quando era pedido a crianças dessa que estavam no salão. Devido à compreensão rígida e sagrada
idade que inventassem novas regras, diferentes das que já das regras, é necessário que o professor realize todo um
sabiam, elas eram totalmente contra, opondo-se a qualquer trabalho em sua classe que leve em consideração essas
inovação ou alteração daquelas já conhecidas, que foram características do desenvolvimento da criança e que vá
transmitidas pelos mais velhos. Para essas crianças, as regras auxiliando-a, paulatinamente, a evoluir tanto na prática,
transmitidas por alguém que respeitam, normalmente um quanto na compreensão das mesmas. No capítulo sobre "As
adulto ou uma criança mais velha, são rígidas e não podem ser regras e a autoridade do educador" (p. 229) aprofundaremos
modificadas. "Toda modificação é considerada como agressão" um pouco mais sobre a postura do educador com relação às
(Lukjanenko, 1995, p. 14). Outro dia, assistimos crianças regras da classe.
pequenas jogando "alerta", jogo esse em que a bola é lançada Como foi visto, o egocentrismo apresenta-se como um eixo
ao alto e o jogador diz o nome de uma criança, que deve pegá- primitivo anterior à constituição de regras, colocando
Ia o mais rápido possível, enquanto as outras correm. Ao

Bibliografia 109
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

obstáculos à criação das mesmas. Menin (1996, p. 52) Assim, primeiro as crianças começam a fazer, discutir e
esclarece que, combinar as regras com os companheiros, para
posteriormente compreenderem que estas não são imutáveis,
Coagido socialmente a obedecer, o pequeno imita o mais sagradas, boas em si mesmas e absolutas. As conclusões desses
velho; coagido psiquicamente pelo egocentrismo, o pequeno estudos são fundamentais para os educadores porque
não sabe que imita e age como se tudo sempre tivesse sido mostram que:
assim ... Isso explica a prática imitativa-egocêntrica das regras
e sua consciência heterônoma: as crianças jogam como os mais ... primeiro é preciso fazer regras para então compreendê-
velhos e o que vem deles é sagrado, imutável, sempre existiu; Ias como algo que tem motivos racionais e sociais para existir
mas, por necessidades próprias, elas modificam as regras não ( ... ) Quer dizer que precisamos viver, também, relações de
percebendo o que estão fazendo. O novo transforma-se em igualdade com os outros para que saibamos construir ou
velho no momento em que aparece ... ( ... ) As crianças compreender regras já construí das, mais do que, somente,
pequenas comportam-se como nos governos gerontocráticos: obedecer a regras impostas (Menin, 1996, pp. 94 e 54).
o que vem dos mais velhos, da tradição, é sagrado e deve
conservar-se eternamente! Eis a moral do dever - a A partir desses estudos de Piaget sobre a evolução da
heteronomia. prática e da consciência das regras fica evidente a diferença de
estrutura social entre as crianças de 12 anos e as pequenas.
Mais tarde, aos 7 ou 8 anos de idade, ocorre uma adesão Mas, se para as crianças pequenas o certo é a obediência ao
aparente às regras. A criança começa a jogar com as outras e adulto, as regras são rígidas, não podendo ser modificadas e
apercebe-se de que todos devem jogar da mesma maneira, tendo que ser cumpridas ao "pé da letra", por que,
usando as mesmas regras. Porém, ainda tem dificuldade para frequentemente, não obedecem às regras de cuja elaboração
segui-las, pois esta conformidade é vaga. às vezes elas mesmas participaram?
Já com os maiores, a partir dos 11 anos de idade, as regras Como foi visto, nos indivíduos maiores, já existe o respeito
são codificadas, sendo realmente compreendidas e cumpridas mútuo, respeito esse fundamentado na autonomia entre os
rigorosamente por todos. Essas crianças já admitem iguais, gerando assim a reciprocidade e a obediência profunda
mudanças, alterações às regras, e procuram combinar todas as às regras. Isto é, como a regra é combinada, é aceita pelos
possíveis situações que possam surgir durante o jogo, elementos-do grupo, todos devem cumpri-Ia, sem exceção.
antecipando-as e organizando as exceções. Porém, apenas Piaget (1944/1958, p. 18) observa que "a submissão à lei é,
obedecerão a esse novo regulamento ou regra, quando este é pois, tanto maior, quanto esta lei emana dos grupos de iguais, e
aceito pela maior parte dos integrantes do jogo e aqueles que quanto a personalidade autônoma de cada um, participa de sua
a infringem são sancionados com rigor, pois uma regra elaboração". Assim sendo, quando os indivíduos se respeitam
combinada entre todos tem o mesmo valor que as regras mutuamente e elaboram uma regra, sentem-se obrigados por
"oficiais" ou regulamentares do jogo. "É nesta fase que a regra ela. Já com as crianças menores existe o respeito unilateral,
passa a ser fruto da atividade racional e social: há razões, no que é fundamentado na heteronomia dos pequenos com
jogo, para cada regra e para que uma seja melhor que outra, e relação aos maiores. Por isso, só existe uma obediência
as regras servem a todos e vêm de todos!" (Menin, 1996, p. 45). superficial às regras. A criança não consegue compreender as
Em resumo, as crianças até os 3 anos de idade não normas que lhe são impostas externamente, já que não foram
compreendem as regras, por isso, não têm a necessidade de elaboradas pela sua consciência, cumprindo-as de maneira
jogar do "jeito certo", jogam como querem; a regra é motora. incompleta, distorcida e superficial, justamente por não as
Dos 3 aos 8 anos, a regra é sagrada e obrigatória, tem origem entender realmente. Os pequenos sabem-nas de cor, mas sua
respeitada (autoridade), e portanto não pode ser mudada. A obediência é toda exterior, por isso a dificuldade de cumpri-
partir dos 10, 11 anos, a regra é vista como um acordo, um Ias. Daí a necessidade de as regras serem realmente
combinado do grupo e que é válida pelo fato de que foi elaboradas por todos os integrantes do grupo, e o adulto,
elaborada por todos. É importante que todos considerem a pacientemente, cobrá-Ias sempre que necessário. É preciso que
regra e a cumpram, pois isso garante a igualdade de condições eles pratiquem primeiramente, vivenciando relações de
no jogo. E se o grupo assim o quiser, as regras podem ser igualdade e democracia, para depois vir a consciência (e não
modificadas, bastando para tanto, que os participantes esperar o contrário).
cheguem a um acordo (Menin, 1996).
Em seus estudos sobre a construção do valor das regras, Assim sendo, inicialmente a criança tem um respeito todo
Piaget encontrou que primeiro a criança pratica essas noções exterior e sagrado às regras, mas, esse respeito místico pelas
(conhecer, combinar, tentar cumprir, etc.) e só depois, normas, corresponde a uma aplicação ainda rudimentar de seu
progressivamente, vai conscientizando-se das regras. Dessa conteúdo (por isso que elas ainda não conseguem cumprir as
forma, a razão provém da ação. Menin (1996) comprovou em regras da classe, por exemplo). Em seus estudos, Piaget
uma pesquisa que "a prática das regras nas relações entre as (1932/1977, p. 25) esclarece que:
crianças é condição para a evolução de sua consciência". Essa
autora explica que enquanto a criança considera as regras a insubordinação das crianças em relação a seus pais e
imutáveis, sagradas e oriundas dos mais velhos (consciência), mestres, juntamente com seu respeito sincero pelas
a sua prática é ainda imitativa e egocêntrica. recomendações recebidas e com sua notável docilidade de
consciência ( ... ) são características do egocentrismo
Ou seja, na prática a criança faz o que quer e na fala é rígida (inconsistência prática com a mística da lei).
e "moralista"! Portanto: primeiro é fazer para depois Dessa forma, a regra que corresponde à imposição do
compreender! ( ... ) É como o esquema mostra: a criança respeito unilateral é exterior e heterônoma; e a regra
descobre o verdadeiro sentido das regras - consciência - relacionada ao respeito mútuo provém de aceitação interna.
quando começa a praticá-Ias entre si em situação de Para Piaget somente essa regra interna oriunda das relações
cooperação no grupo. Enquanto apenas imita o mais velho, a de respeito mútuo conduz a uma transformação espontânea.
criança não compreende o que é uma regra; esta compreensão
vem apenas quando a regra passa a ser produto das relações • A evolução da noção de justiça
entre iguais (ibid., p. 46). Piaget (1932/1977) mostrou em seus estudos sobre o
desenvolvimento da moralidade que a noção de justiça
também é construída pelo sujeito. Para ele, a criança pequena

Bibliografia 110
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

acredita na existência de sanções automáticas que emanam acarretando necessariamente uma sanção; a sanção, que pode
das próprias coisas, da natureza física e dos objetos ser expiatória ou por reciprocidade.t é que vai restabelecer
inanimados. Qualquer falta acarreta automaticamente uma esse elo rompido. Assim, todo delito implica necessariamente
sanção (tropeções, acidentes físicos, perdas, desgraças, etc.). numa punição. A justiça distributiva implica na ideia de
Essa é a crença na justiça imanente que, apesar de aparecer igualdade (direitos e deveres), de distribuição. Numa situação
com maior freqüência e intensidade nas crianças pequenas, de conflito a igualdade tem primazia sobre a retribuição.
pode subsistir em muitos adultos, sem que isso possa lhes criar
algum tipo de problema ou dificuldades. Assim, o sujeito Ao estudar o desenvolvimento do conceito de justiça,
acredita que sua desobediência, erro, infração, enfim, suas más Piaget concluiu que são três os períodos principais dessa
ações, são punidas automaticamente por alguém superior ou construção. O primeiro período vai até os 7 ou 8 anos. "No
por outras coisas (Deus, anjos, destino, demônio, espíritos, início há a ausência da noção de justiça distributiva, que
elementos naturais, etc.). É a ideia que está implícita quando implica em autonomia e libertação em relação à autoridade
alguém afirma, "Bem feito!", diante de um acidente qualquer ou adulta" (ibid., p. 246). O que prevalece, nesse período, é
quando a pessoa diz "Não cospe para cima que cai na testa". ajustiça retributiva, compreendida como obediência à
Porém, explicam Delval e Enesco (1994, p. 108), "como para a autoridade adulta. A criança considera como "certo" aquilo
criança os fenômenos naturais são neutros, do ponto de vista que o adulto o afirma; portanto, a atitude correta ou justa é a
moral, o pequeno pode atribuir alguma 'má' intenção à porta obediência à autoridade, mesmo que a regra imposta por esta
com a qual se machucou, confundindo assim, as leis da seja injusta. Não há distinção entre a noção de justo e injusto,
natureza com as normas morais por não ter descoberto ainda pois o que é justo é confundido com a vontade dos adultos. A
que são domínios regidos por normas muito diferentes" professora contou às crianças uma história infantil em que um
(animismo). garoto pegou dinheiro da carteira do pai, sem a permissão
Certa vez, uma professora e seu filho, de 8 anos, estavam dele. Todas as crianças afirmaram que o menino da história
saindo do apartamento para ir à escola, e, enquanto desciam agiu errado, pois, o certo seria o filho pedir o dinheiro ao pai.
pelo elevador, a criança contava-lhe que seu antigo tinha Dias depois, a professora contou uma história semelhante,
pulado dentro do "fosso do elevador". A mãe disse que não porém, com os papéis invertidos: o pai é quem pegava o
acreditava no que ele estava dizendo, porque se isso tivesse dinheiro do filho, sem sua autorização. Conforme o esperado,
realmente ocorrido, provavelmente, o colega teria se a classe inteira julgou que o pai (autoridade) não estava
machucado. A criança explicou que não houve nenhum errado, porque ele podia fazer isso já que era o pai, e "pai
ferimento porque o amigo tinha "pulado apenas do segundo pode". Percebe-se que essa compreensão, característica no
andar". Poucos instantes depois, acabou a energia e o elevador estágio do realismo moral, resulta da coação adulta. Para a
parou de funcionar. O garoto aflito, começou a chorar, dizendo criança heterônoma, a essência da justiça é a punição: quanto
que Deus o estava castigando porque havia mentido, e mais rígida e severa, maior a justiça (mais eficaz).
acrescentou: "Ainda mais mentir para mãe! É muito mais
grave! Agora que eu estou perdido mesmo!". Piaget (1932/1977; 1967) considera que, no segundo
Para Piaget (1932/1977) a crença na justiça imanente período, entre os 8 e 11 anos de idade, a adesão ao grupo e a
provém de uma transferência para as coisas, para os objetos e cooperação vão transformando a obediência em solidariedade,
ou para a natureza, dos sentimentos adquiridos sob influência e a ideia de justiça vai se tomando superior à autoridade. Assim
da coação adulta. E não raro, os pais aproveitam-se da sendo, o igualitarismo surge em tomo do conceito de
ocorrência de pequenos acidentes que coincidem com as cooperação. A punição expiatória não é mais considerada
desobediências dos filhos, para reforçarem essa convicção. justa, dando lugar à reciprocidade, julgada como sendo a mais
Isso ocorre quando, por exemplo, a criança mente dizendo que adequada quando for necessário o uso de uma sanção. Porém,
ficaria em casa, estudando, durante o tempo em que a mãe faz o igualitarismo é estrito, ou seja, pelo fato de as leis serem
compras no mercado; só que, ao chegar, a mãe descobre que o interpretadas como valendo igualmente para todos, sem
filho machucou-se, caindo da bicicleta enquanto estava indo exceção, em caso de desobediência ou infração às regras, todos
para a casa do colega, e o repreende dizendo: "Viu, o que dá devem receber o mesmo tipo de sanção, ou melhor, a punição
mentir. Você foi castigado". Uma outra situação em que a ideia deve ser igual para qualquer um que a desobedecer,
de justiça imanente foi reforçada pelo adulto, ocorreu em uma independentemente da circunstância em que o delito se deu. E
classe de Maternal. A professora avisou as crianças para não a ideia de retribuição também é restrita: paga-se o bem com o
mexerem nas tomadas em que estavam ligados os aparelhos bem, e o mal com o mal. Assim a ênfase nesse período é
de vídeo e televisão. Mais tarde, uma garota "tentando ligar" a colocada na "igualdade" da punição, de tal forma que essa
televisão, mexeu nos fios e levou um choque, começando a igualdade é considerada como mais importante que a sanção
chorar assustada. A professora então, disse-lhe: "Está vendo só em si. Se há a regra na classe de que o aluno que chegar
o que aconteceu? Eu não falei para vocês não mexerem aí? atrasado não pode entrar na primeira aula, as crianças, desse
Quem mandou ser teimosa e desobedecer-me? Bem feito". período, consideram que todos que se atrasarem não poderão
Piaget esclarece que a questão do "como" isso é possível, ainda entrar, independentemente dos motivos que ocasionaram o
não existe para a criança. atraso. A mesma igualdade restrita é válida para outras
situações, por exemplo, quando a mãe compra um tênis novo
Contudo, em função das experiências, do progresso de sua para um filho porque o calçado antigo está pequeno, o irmão
inteligência e da interação estabelecida com o meio esses que não possui a mesma necessidade, considera que é injusto
sentimentos podem ou não se transformar. Lukjanenko (1995, apenas o primeiro ganhá-lo já que, para essa criança, "se os
p. 19) afirma que "aos poucos a criança percebe a insuficiência dois são filhos, nenhum tem mais direito do que o outro".
desse tipo de justiça, e quanto mais se desenvolve No terceiro período, que se inicia por volta dos 11 ou 12
intelectualmente, vai deixando de acreditar nas sanções anos, a reciprocidade ainda permanece como o princípio
emanadas das coisas e nas sanções expiatórias", Além da básico dos julgamentos sobre a punição, todavia, as crianças
justiça imanente, Piaget (1932/1977) analisa as noções de consideram as intenções envolvidas e as variáveis
justiça retributiva e distributiva. situacionais, isto é, levam em conta as circunstâncias
Ajustiça retributiva diz respeito à retribuição, sendo atenuantes, ao formular os julgamentos. Piaget denomina essa
definida pela proporcional idade entre o ato e a sanção (é a "igualdade não homogênea" de eqüidade, que faz com que o
relação entre o que se fez e o preço que vai pagar). A infração sujeito considere a situação particular de cada elemento (as
ou o ato de violação às regras ocasiona a ruptura do elo social, intenções, os objetivos, as necessidades individuais)

Bibliografia 111
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

envolvido, procurando evitar cometer injustiças (Oliveira, impondo-se obrigatoriamente, quaisquer que sejam as
1994). A eqüidade seria uma igualdade levando em conta as circunstâncias às quais o indivíduo está preso". O realismo
diferenças. moral surge do encontro da coação com o egocentrismo, assim,
Assim, por volta dos 11, 12 anos, o igualitarismo simples apoia-se de um lado, sobre a exterioridade da regra, e de outro,
evolui para uma noção mais refinada de justiça, que é a é mantido por todos os realismos próprios à mentalidade
"eqüidade" (igualitarismo relativo), em que a criança não egocêntrica da criança. Piaget ressalta que somente a
concebe mais os direitos iguais dos indivíduos sem considerar cooperação corrige esta atitude, pois exerce, "no domínio
a situação particular de cada um. Piaget (1932/1977, p. 246), moral como nas coisas da inteligência, um papel ao mesmo
esclarece que no campo da justiça retributiva, o tempo libertador e construtivo" (ibid., p. 349). Assim sendo,
desenvolvimento da eqüidade "não significa mais aplicar a para esse autor, a criança entra no mundo da moralidade a
todos a mesma sanção, e sim, considerar as circunstâncias partir da autoridade, legitimando as normas oriundas da
atenuantes de alguns" (sendo contrária à expiação), o que só pessoa que ela admira e, posteriormente, pelo contrato,
ocorre bem tarde nos juízos das crianças. No conceito da justiça proveniente das relações entre os iguais.
distributiva, a eqüidade não se restringe somente em conceber
a lei como igual para todos, mas em considerar as De maneira sucinta, as características do realismo moral,
circunstâncias de idade, serviços anteriores, experiência, etc. estágio em que se encontravam as crianças que fizeram parte
("matizar o igualitarismo"). "Longe de levar ao privilégio, tal dessa pesquisa, são:
atitude conduz a tomar a igualdade mais efetiva do que era
antes" (ibid., p. 273). • O pensamento é egocêntrico;
Nesse processo de construção da noção de justiça, • É considerado como bom, obedecer aos adultos e às
encontra-se de um lado, a moral heterônoma, característica da regras, assim, o dever é essencialmente heterônomo. É visto
criança pequena, em que a justiça se confunde com a como errado qualquer atitude de desobediência às regras. A
obediência; e de outro, a justiça é fundamentada num justiça confunde-se com a autoridade;
sentimento mais autônomo, estando além das ordens • As obrigações são encaradas como externas, elas são
recebidas, numa forma superior de reciprocidade que é a impostas de fora, coercivamente, e não como uma elaboração
"eqüidade", em que as relações não são mais baseadas na da consciência. A regra ou recomendação tem sempre uma
igualdade estrita, mas sobre a situação real de cada indivíduo. origem respeitada, exprimindo autoridade, sendo concebidas
Piaget (1932/1977, p. 237), conclui que "a necessidade de pelos adultos. Não são julgadas ou interpretadas pela
igualdade, longe de se apresentar sob forma idêntica nas consciência, e a criança submete-se a elas sem questioná-Ias;
diferentes idades, parece tomar-se cada vez mais aguda com o • Há uma noção ainda rudimentar de regras, percebidas
desenvolvimento moral". como algo sagrado e imutável tendo validade absoluta. Tem
É importante ressaltar que são as relações sociais entre as que ser cumprida ao "pé da letra" e não em seu espírito;
próprias crianças, entre os iguais, que constituem o meio mais • Há uma concepção objetiva da responsabilidade, a
apropriado ao desenvolvimento da justiça distributiva e as criança julga os atos não em função da intencionalidade, mas
formas mais evoluídas da justiça retributiva, que é a eqüidade. em função de suas conseqüências.
Já as relações dos adultos com as crianças geram as formas
primitivas de justiça retributiva, que são as sanções Ao compreender a maneira da criança ser e agir, o
expiatórias e as reações de vingança, tipo "olho por olho, dente educador pode atuar de maneira mais adequada e condizente
por dente". Para Piaget, na medida em que o adulto pratica a com o desenvolvimento da criança, podendo evitar também
reciprocidade com a criança e prega com o exemplo e não algumas interpretações errôneas acerca dos estudos de Piaget.
apenas com as palavras, ele exerce enorme influência no Por exemplo, a ideia de sanção por reciprocidade,
desenvolvimento da noção de justiça. Porém, só a autoridade compreendida por alguns estudiosos, equivocadamente, como
do adulto não é suficiente para desenvolvê-Ia. O senso de as crianças escolhendo a sanção a ser ministrada ao "infrator".
justiça só desenvolve-se na "proporção dos progressos de Devido às características da criança na fase do realismo moral,
cooperação e do respeito mútuo; de início, cooperação entre as o educador não pode passar sua autoridade na escolha da
crianças, depois entre crianças e adultos, na medida em que a sanção para o grupo, pois, como foi visto, estas ainda não têm
criança caminha para a adolescência e se considera, pelo condições de avaliar a situação em todos os aspectos,
menos em seu íntimo, como igual ao adulto" (ibid., p. 275). centrando-se apenas em um; não conseguem se colocar no
ponto de vista do outro, pois são egocêntricas; veem a regra de
Em resumo, de acordo com a concepção piagetiana, é a uma maneira rígida, avaliam pelas conseqüências dos atos e
partir das relações fundamentadas no respeito mútuo e na não pela intenção, confundem o que é justo com a obediência
cooperação que evoluem as noções de justiça. Nessas três ao adulto e consideram a punição expiatória como a mais
etapas, inicialmente a justiça confunde-se com a autoridade; adequada; sendo portanto, incapazes de fazerem essa escolha
num segundo momento, há o igualitarismo progressivo; e, por de maneira justa. Em uma classe de pré-escola, GUI, um garoto
último, a justiça torna-se igualitária, caminhando para a de 6 anos, estava sempre de boné, e, praticamente, nunca o
autonomia em forma de reciprocidade. tirava da cabeça. Ao perceberem que GUI ficava muito
agastado quando algum colega retirava-o sem sua permissão,
• Resumo do realismo moral as crianças passaram a fazê-lo propositadamente, para
provocá-lo; e, quando isso ocorria, o garoto, zangado, dirigia-
Fazendo uma breve recapitulação do que foi exposto, se à professora querendo que ela tomasse alguma providência
vimos que a moral da criança pequena é heterônorna, e punisse a criança que havia pego o boné. Como essa situação
caracterizada pela egocentricidade e pela dependência a uma estava acontecendo frequentemente, e sem saber qual a
vontade exterior, ou melhor, pela obediência às pessoas com melhor atitude a ser tomada, a professora reuniu a classe e
poder, como os seus pais e professores. A heteronomia moral colocou o problema para o grupo discutir. Uma aluna sugeriu
é resultante das relações de respeito unilateral, e conduz a que a criança que tirasse o boné de GUI, fosse colocada de
uma estrutura de comportamento típica do estágio pré- castigo "trancada num quarto escuro". A professora contra-
operatório: o realismo moral. O realismo moral é definido por argumentou dizendo que a sugestão não daria certo porque
Piaget (1932/1977, p. 97) como "a tendência da criança em não tinha nenhum "quarto escuro" na escola (e ficou aliviada
considerar os deveres e os valores a eles relacionados como porque ninguém lembrou-se da despensa). Apresentaram
subsistentes em si, independentemente da consciência e outras alternativas, mas que não foram aceitas. "Então", disse

Bibliografia 112
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

um garoto, "vamos fazer assim: a gente abaixa a calça do abrigo É necessário ressaltar que a imposição de regras, crenças e
(uniforme) do moleque que tirar o boné do GUI, porque se ele verdades prontas e completamente elaboradas dificulta a
pode tirar o boné, a gente também pode tirar a calça dele". descentração da criança, favorecendo seu egocentrismo
"Mas, e se for menina?", perguntou uma aluna. "A gente abaixa natural, auxiliando a manutenção do pensamento
o abrigo dela também. Quem mandou ela fazer bagunça?", heterônorno, pois a conduz a uma obediência pura e simples,
respondeu o garoto. A professora tentou contestar, mas, como sem a necessária reflexão. Com o respeito mútuo, essa
as crianças endossaram a proposta, julgando ser a melhor imposição desaparece em proveito da cooperação. Para Piaget
solução, ela acabou por concordar. Quando essa educadora, (1932/1977, p. 349) "só a cooperação leva à autonomia", por
alguns dias depois, nos relatou o ocorrido, concluiu sua conseguinte, urge-se favorecê-Ia no ambiente educacional, não
narrativa dizendo: " ... Ainda bem que ninguém teve coragem restringindo as interações sociais apenas aos professores e os
de tirar o boné do GUI depois que ficou combinado tirar a calça alunos, mas propiciando também as trocas entre os pares. Mas,
de quem o fizesse ... Já imaginou se isso ocorresse? Eu não por que é tão enfatizada a relação entre pares? Por que não
poderia fazer nada para evitar, porque todo mundo concordou estabelecer uma "relação de cooperação" entre o adulto e a
... Felizmente, eu não tenho nenhuma criança 'exibida' na criança?
classe!". Essa situação, como inúmeras outras análogas que Foi visto que, devido ao egocentrismo, o pensamento da
ocorrem na escola, convalidam a afirmação de que a escolha da criança está mais preocupado com a satisfação do eu e de seus
sanção diz respeito somente ao educador e à criança que desejos, do que com a verdade objetiva. Piaget (1998)
cometeu a falta, não sendo um problema que deva ser considera que para descentrar-se a criança deveria aprender a
resolvido pelo grupo, devido às características do praticar a discussão, o controle mútuo, a troca de idéias. Ele
desenvolvimento da criança. Todavia, o mesmo não é válido ressalta porém, que só existe discussão verdadeira entre os
para as regras; pois, como têm o objetivo de contribuir para a que se consideram iguais, "quando nenhum prestígio
organização do ambiente de trabalho, devem ser elaboradas obscurece a livre pesquisa da verdade" (p. 11). Na relação da
por todos. criança com o adulto isto não ocorre jamais, pois, por ser
desigual, ou a criança resiste ou se submete. Quando a criança
• Em direção à autonomia se submete há somente a substituição de uma crença interior
e fantasiosa por uma superior e que lhe foi imposta, revelada
Ao crescer, a criança heterônoma, que possui um respeito pelo adulto. Se analisarmos do ponto de vista da lógica, não
todo unilateral pelo adulto, vai descobrindo, paulatinamente, houve um progresso muito grande. "Algumas vezes, tomando
que o próprio adulto se submete, ou, pelo menos, procura o hábito de colocar uma verdade 'verdadeira' acima da
submeter-se, às recomendações que ele mesmo faz às crianças. própria, a criança aprende a fazer uma distinção útil. Mas esta
Então, desse modo, a lei ou a regra é sentida como superior aos verdade superior ainda não é a razão, quando é imposta em
seres respeitados. Pouco a pouco, ela vai percebendo também, vez de descoberta" (ibid.). Para o autor, de nada serve para a
a incoerência dos adultos, que as recomendações dadas por criança repetir fórmulas exatas se estas não correspondem a
eles são, não raro, diferentes e contraditórias: ora permite-se uma verificação livre.
que a criança faça algo, ora já não mais é autorizado; por Assim, durante a primeira infância a cooperação ainda não
exemplo, ela percebe que num dia é repreendida por ter tido aparece "senão em germe" nas relações com os adultos. Ao
uma determinada ação, e no outro repete a ação e não é mais propiciar inúmeras oportunidades para que as crianças
censurada. Assim, a criança é levada a efetuar opções e cooperem umas com as outras o educador está favorecendo
estabelecer hierarquias. Logo, esses sentimentos iniciais muito mais a construção da autonomia do que quando ensina
começam a transformar-se, vai havendo a "desmistificação do "as verdades", demonstra a solução de um problema ou dá
adulto", seguindo em direção à busca do respeito de si, dando respostas prontas, visto que, "só a cooperação entre indivíduos
início ao respeito mútuo. iguais ou que se considerem, de direito, como tais, pode
Com o respeito mútuo, a criança vai substituindo, auxiliar a criança a vencer seu egocentrismo, ao passo que a
progressivamente, suas relações embasadas tão-somente na coerção espiritual, qualquer que seja, encerra o indivíduo em
submissão à autoridade, passando a fundamentá-Ias também seu eu, obtendo dele uma adesão superficial às opiniões e usos
na reciprocidade. De La Taille esclarece que, no respeito exteriores à sua personalidade" (ibid., p. 15). Piaget considera
mútuo, a 'interiorização' das regras corresponde a uma forma que a crítica nasce da discussão e a discussão só é possível
racional destas (portanto crítica) e uma nova exigência moral: numa relação de respeito mútuo, entre iguais: "portanto, só a
a reciprocidade, respeitar e ser respeitado. Para esse autor, a cooperação realizará o que a coação intelectual é incapaz de
exigência de ser respeitado é a exigência de ser reconhecido realizar" (id., 1932/1977, p. 348). A cooperação não conduz o
como pessoa de valor. Para que isso ocorra, são necessárias sujeito a simplesmente obedecer às regras impostas,
duas condições: "exigir do outro que reconheça em mim a quaisquer que elas sejam, mas· sim, "a uma ética de
dignidade inerente ao ser humano (exigência que a criança solidariedade e reciprocidade" (p. 14). Em vista disso, o autor
pequena não faz ou faz pouco) e agir de forma a concretizar e conclui que "a discussão produz assim, a reflexão e a
merecer tal dignidade, portanto merecer ser respeitado". verificação objetiva. Mas pelo mesmo fato, a cooperação é
O respeito mútuo também é fonte de obrigações, mas um fonte de valores construtivos" (p. 351).
novo tipo de obrigação que não mais impõe propriamente Em concordância com essa ideia, Menin (1996) esclarece
regras preestabelecidas, regulamentações externas ao sujeito. que cooperação não significa consenso ou acordo. Muitas
A pessoa vale-se da reciprocidade, que é a mútua coordenação vezes a cooperação quer dizer discussão, "mas uma discussão
dos diferentes pontos de vista e das ações, para elaborar suas equilibrada de forma que cada pessoa possa colocar seus
próprias normas de conduta. Antes, a criança pré-operatória já argumentos, rebater o dos outros, examinar suas posições e as
conseguia perceber que o outro tem idéias e desejos diferentes dos outros, conhecer, considerar, negar ou afirmar outros
dos dela, mas, como já foi dito, ainda não conseguia conciliar o pontos de vista que não só os próprios" (p. 52).
seu ponto de vista com o do outro. Com a reciprocidade isso se As oportunidades de cooperar são necessárias para o
toma possível. A compreensão recíproca é assegurada quando indivíduo ir transformando o sentimento de respeito
a criança já é capaz de pensar considerando as opiniões, os unilateral em respeito mútuo. Com a cooperação entre iguais
desejos e os sentimentos do outro, substituindo o aparecem os sentimentos de justiça, daquilo que é justo e
egocentrismo do seu pensamento e da imposição verbal, por injusto e o sentimento de um bem interior. Todavia, essa
relações baseadas no respeito mútuo. cooperação não deve acontecer apenas externamente, mas sim
originar-se de um desejo interno e voluntário de cooperar.

Bibliografia 113
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Para isso, reafirmamos que a criança precisa vivenciar realizadas pelo sujeito em sua vida real. Assim, por exemplo,
situações de interação com seus pares e com o adulto, as quais será a partir das relações que estabelecem, na prática, entre
suscitam a cooperação espontânea. Essas situações elas, que as crianças chegam a uma moral da cooperação
contribuem para que as crianças saiam do seu egocentrismo e (definida a partir das leis de reciprocidade e respeito mútuo).
comecem a colaborar entre si, submetendo-se a regras A partir dessas reflexões, percebe-se como é importante
comuns, elaboradas por todos os membros do grupo. precisar a natureza do ambiente social em que a criança está
Como afirma Domingues de Castro (1993, p. 19): interagindo, já que a moralidade também é resultante do tipo
Infelizmente, o mais comum no relacionamento adulto- de relações presentes nesses ambientes (Lukjanenko, 1994).
criança é a manutenção, por parte dos mais velhos, de altos De um lado estão as relações de coação, que são
níveis de egocentrismo infantil. Isso é conseguido por meio de caracterizadas pela desigualdade entre as partes, ou seja, um
modalidades de interação que dificultam o despertar da indivíduo possui mais autoridade ou detém um poder maior
autonomia e da responsabilidade da criança, mantendo-a sob de atuação sobre o outro. Há a imposição de um sistema de
determinadas formas de governo heterônomo. regras obrigatórias, normas, valores e verdades prontas e
Segundo essa autora, faz-se necessário introduzir a completamente elaboradas. São fundamentadas na obediência
"cooperação" na relação entre o adulto e a criança (mesmo que à autoridade e no respeito unilateral, e os instrumentos
a criança ainda não consiga cooperar com o adulto), visando geralmente utilizados para fazer com que haja o cumprimento
superar o respeito unilateral, isto é, "a relação primitiva de das normas são as recompensas ou punições (incluindo as
amor-temor que o adulto inspira à criança e assumir a nível do ameaças de sanções físicas ou psicológicas, como a retirada do
respeito mútuo" (ibid., p. 20). Ambos não estão em um mesmo amor). Assim sendo, uma relação de coação pode variar de
nível, "não são iguais, nem intelectualmente, nem na vivência uma imposição arbitrária ou punitiva para uma forma de
e experiência: mas cooperação não significa igualdade forçada controle coberto de açúcar. Nesse tipo de relação não há trocas
que infantiliza o adulto ou espera da criança uma absurda efetivas, reciprocidade e nem cooperação, portanto o sujeito
sisudez". Cooperar é realizar trocas, de pontos de vistas, idéias, não é levado a perceber o ponto de vista do outro, muito menos
informações, opiniões, atitudes, "num clima tal em que as coordenar as diferentes perspectivas, auxiliando na
regras valham democraticamente para ambas as partes, manutenção do egocentrismo. Quando as crianças são
adultos e crianças, e os valores possam ser esclarecidos" governadas continuamente por valores, verdades, opiniões,
(ibid.). crenças e idéias dos outros, elas praticam uma submissão que
Somente quando as obrigações são baseadas na pode conduzir à conformidade prejudicial à vida moral e
reciprocidade e nas trocas cooperativas, e quando a pessoa já intelectual. Segundo De Vries (1997, p. 9), tal indivíduo pode
considera o propósito e as conseqüências da obediência às ser facilmente conduzido por qualquer autoridade. "Piaget
regras, é que o indivíduo encontra-se no terceiro estágio de advertiu que coerção socializa somente a superfície do
raciocínio moral (que pode ter início entre os 8 e 13 anos) que comportamento e na realidade reforça a tendência da criança
é a autonomia moral. A moral da consciência autônoma, para de se apoiar em regulação pelos outros". A coação, portanto,
Piaget (1932/1977, p. 345), não tende a submeter as resulta na heteronomia moral.
personalidades a regras comuns em seu próprio conteúdo: Do outro lado estão as relações de cooperação, que são
"limita-se a obrigar os indivíduos a 'se situarem' uns em definidas pela reciprocidade e pelo respeito mútuo. Não há a
relação aos outros, sem que as leis de perspectiva resultantes imposição de regras prontas, pois estas são construídas por
desta reciprocidade suprimam os pontos de vista acordo mútuo. É a vivência da democracia, cuja prática efetiva
particulares". solicita a descentração, visto que existe a constante
DeVries e Zan (1997, p. 129) também consideram que o necessidade de trocar os pontos de vista e as experiências, na
método pelo qual o relacionamento autônomo opera é o da tentativa de coordenar as diferentes perspectivas e as ações
cooperação. Para as autoras, para estabelecer regras igualitárias. Ao contrário das relações
Cooperar significa empenhar-se em atingir uma meta de coação, as cooperativas levam à autonomia moral.
comum, enquanto se coordena os próprios sentimentos e Em resumo, se o ambiente for coercitivo, em que
perspectiva com uma consciência dos sentimentos e predomina a autoridade do adulto e a submissão da criança,
perspectiva do outro. O professor construtivista considera o enfim, as relações de respeito unilateral, engendra a
ponto de vista da criança e a encoraja a levar em consideração heteronomia. Se cooperativo, em que a autoridade do adulto é
os pontos de vista dos outros. O motivo para cooperar começa minimizada, com o predomínio das relações de respeito mútuo
por um sentimento de afeto e confiança mútuos que se elabora e a reciprocidade, promove a autonomia. Entre os extremos
em sentimentos de simpatia e consciência das intenções representados pelas relações de coação e pela cooperação, há
próprias e dos outros. os níveis intermediários, porém acabam predominando uma
Assim sendo, em resumo, para Piaget, as fontes da ou outra influência. Segundo Feltran (1990, p. 78), "a
autonomia seriam as relações de respeito mútuo, de sociedade, os grupos sociais, as gerações adultas impõem-se
reciprocidade, e de cooperação. Para a criança ter a aos indivíduos, e há uma opção implícita ou explícita por
possibilidade de ir construindo gradualmente sua autonomia determinada espécie de influência".
moral (governar-se a si mesma), faz-se necessário que ela A partir dessas conclusões, Piaget (1967/1995) defende o
conviva com adultos, num ambiente em que exista o respeito "self-govemment" (autogovemo) como a vivência das relações
mútuo, e, portanto, a autoridade do adulto seja mínima. Visto de cooperação e de reciprocidade na escola. Segundo esse
que as raízes da autonomia moral encontram-se nas relações autor:
democráticas, esse ambiente deve propiciar trocas sociais Para aprender a física ou a matemática, não há método
entre pares, oportunidades de crianças assumirem pequenas melhor que descobrir por si, por meio da experiência, ou da
responsabilidades e de tomar decisões, discutir seus pontos de análise de textos, as leis da matéria ou as regras da linguagem;
vista, expressarem livremente seus pensamentos e desejos, do mesmo modo, para adquirir o sentido da disciplina, da
investigar e estabelecer relações. Assim, não há respeito solidariedade e da responsabilidade, a escola "ativa" se esforça
mútuo se a criança não experienciar relações de cooperação; e para colocar a criança numa situação tal que ela experimente
a cooperação ocorre necessariamente a partir da convivência diretamente as realidades espirituais e discuta por si mesma,
da criança com seus pares. De La Taille (1992, p. 50) esclarece pouco a pouco, as leis constitutivas: Ora, posto que a classe
que, segundo Piaget, os sistemas normativos são construídos forma uma sociedade real, uma associação que repousa sobre
através da tomada de consciência (um processo de o trabalho em comum de seus membros, é natural confiar às
conceitualização) das coordenações das ações efetivamente próprias crianças a organização desta sociedade. Elaborando,

Bibliografia 114
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

elas mesmas, as leis que regulamentarão a disciplina escolar, condições intelectuais de conceber ajustiça como uma forma
elegendo, elas mesmas, o governo que encarregar-se-à de superior de reciprocidade que é a "eqüidade", em que as
executar tais leis, e constituindo o poder judiciário que terá relações não são mais baseadas na igualdade estrita, mas sobre
por função a repressão dos delitos, as crianças adquirirão a a situação real de cada indivíduo. Assim, a criança não concebe
possibilidade de aprender, pela experiência, o que é a mais os direitos iguais dos indivíduos sem considerar a
obediência à regra, a adesão ao grupo social e a situação particular de cada um. Essa noção só é possível no
responsabilidade individual. Longe de preparar-se para a estágio das operações formais, pois a proporcionalidade,
autonomia da consciência por meio de procedimentos necessária na eqüidade, envolve o estabelecimento de relações
fundados na heteronomia, o estudante descobre as obrigações entre relações.
morais por uma experimentação verdadeira, envolvendo toda Assim sendo, Piaget (1967) questiona as experiências de
a sua personalidade (p. 22). autogestão pelas crianças pequenas, nesse caso entendida
Contudo, Piaget esclarece que esse autogovemo só como "liberdade quase total", em que é evitado ao máximo
realmente será eficaz a partir dos 11 ou 12 anos, devido às qualquer tipo de coação adulta, e a criança desde o início tem
características de sua consciência moral e intelectual a responsabilidade de decidir e formular suas regras, e
(operações formais). A criança pequena, até os 7 anos de idade, também a maneira de se conduzir (e não raro, escolher as
é pouco susceptível à cooperação, inclusive entre os seus sanções na classe caso determinadas regras sejam
colegas de escola e de brincadeiras. Ela ainda "oscila entre o desrespeitadas). Para ele, os pequeninos ainda não têm
egocentrismo e o respeito pelos maiores" (Piaget, 1944/1958, possibilidade afetiva e cognitiva para se autogerir, embora já
p. 17). Porém, as crianças maiores nunca terão condições de se possuam condições de tomar pequenas decisões em seu dia-a-
"autogovernar" se desde pequenas não estiverem dia. Lino de Macedo (1996) considera que talvez, devido a uma
acostumadas a tomar pequenas decisões, a estabelecerem leitura reducionista dos estudos de Piaget sobre o
trocas sociais, ter suas idéias respeitadas e valorizadas, enfim desenvolvimento moral, algumas pessoas consideram que o
vivenciarem um ambiente cooperativo, cujas características respeito mútuo substitui o respeito unilateral; todavia um
abordaremos no decorrer deste trabalho. A partir dos 7, 8 valor não é simplesmente substituído pelo outro, mas é
anos, aproximadamente, com a construção das estruturas integrado; ou seja, o respeito mútuo integra-se ao unilateral
lógicas operatórias concretas, quando o pensamento se toma (não sendo possível eliminá-lo ou ignorar sua existência).
reversível, já existem condições de cooperação. Conforme as Piaget questiona se não é queimar etapas querer constituir na
intuições "vão se coordenando num sistema de operações criança uma moral do respeito mútuo antes de vivenciar a
reversíveis, a inteligência atinge um estágio de coerência e de moral unilateral.
não-contradição, tomando possível a cooperação no plano É importante esclarecer que, tanto a heteronomia quanto
social, que subordina o eu às leis de reciprocidade" (Mantovani a autonomia, são inevitáveis para o desenvolvimento de uma
de Assis, 1995, p. 65). A cooperação deve ser sempre moral autônoma. Isto é, para o indivíduo ir da anomia (não-
compreendida no sentido piagetiano do termo "co-operar", no regulação pelos outros ou pelo eu) para a autonomia moral
qual os indivíduos que se relacionam já são capazes de operar (auto-regulação), é necessário passar pela heteronomia
com lógica. Piaget utiliza o conceito de "co-operação" como (regulação pelos outros). Não se pode "pular" etapas, tratando
"operar com" (coordenação de operações), resultado de uma a criança como se fosse autônoma, desconsiderando a
operação ou ação conjunta, só possível após a descentração, a heteronomia. A criança pequena é heterônoma, e aos poucos
partir do período operatório concreto. Segundo Lukjanenko vai descentrando-se, num processo de construção, de
(1995, p. 44), "a cooperação constitui o sistema de operações interação dela com o meio em que vive, em que ela descobrirá
individuais, isto é, dos agrupamentos operatórios que os outros, as regras que regem as relações sociais. Piaget
permitem ajustar umas às outras operações individuais". (1967) considera que a verdade parece estar em não
A partir dos 7, 8 anos de idade, devido à construção das negligenciar nem o respeito mútuo, nem o respeito unilateral,
estruturas operatórias concretas, a criança já possui as pois os dois tipos de respeito são as fontes essenciais da vida
condições intelectuais de tomar-se autônoma, "as regras moral infantil. Para De La Taille (1996a) alguns educadores
começam a unificar-se, assim como o controle mútuo para que acreditam ser possível prescindir do respeito unilateral,
reforçar a obediência dos maiores" (Piaget, 1944/1958, p. 17). desconsideram que a "heteronomia é a porta de entrada da
Enquanto a criança pequena quase confunde o que é justo com moral. ( ... ) Talvez se tenha 'pulado' (ou tentado pular) uma
a vontade dos maiores, a criança mais velha começa a ter a fase da educação moral na qual a autoridade adulta cumpre um
idéia de igualdade e de reciprocidade, mas, pelo fato dessa papel estruturante do universo moral e afetivo da criança" (p.
construção da consciência moral ainda estar no início, não é 76). Em concordância com essa ideia do papel estruturante do
conveniente ao docente as associar à administração da classe. respeito unilateral, Lino de Macedo (1996) esclarece que a
Já no período operatório formal, por volta dos 11 a 13 anos criança pequena depende de seus pais e professores, sendo
de idade, "a cooperação gradual e espontânea das crianças contraditório negar essa relação unilateral. Ela "não tem nível
alcança um pleno desenvolvimento e uma obediência refinada cognitivo e nem condição socioafetiva para tomar certas
às leis devido ao respeito mútuo" (ibid.), sendo o período mais decisões, as quais supõem uma estrutura ou compreensão de
favorável ao exercício da prática da autonomia. Há, portanto, nível superior" (p. 197).
uma reação circular: a cooperação supõe inteligência, e esta
anima a cooperação pois "necessita deste instrumento social Para Piaget o sentimento de obrigatoriedade, o respeito,
para constituir-se ela própria" (Piaget, 1932/1977, p. 149). nasce das relações de coação, que não se traduzem
Uma outra característica que dificulta a auto gestão pela necessariamente num despotismo, mas numa relação
criança é a própria concepção de justiça que ela possui. Uma assimétrica entre os adultos e as crianças, já que a
noção mais refinada de justiça, que é a eqüidade, em que os desigualdade existe de fato, ou-seja, uma das partes exerce a
sujeitos, ao formular os julgamentos, consideram as intenções função de autoridade. Dessa forma, se a criança não encontrar
envolvidas e as variáveis situacionais, isto é, levam em conta pessoas que exerçam sobre ela alguma forma de autoridade,
as circunstâncias atenuantes, só é possível no estágio das não desenvolverá o sentimento de obrigação, sentimento esse
operações formais. Enquanto no período operatório concreto necessário à moralidade (De La Taille, 1996a; 1998). A
a criança realiza operações entre os objetos, a justiça é obrigatoriedade significa a conservação dos afetos, portanto, é
compreendida como igualdade estrita. Somente no operatório preciso que a criança aprenda a conservá-los. "Jogá-Ia
formal, com o INRC e a combinatória, quando a criança toma- demasiadamente cedo em relações de reciprocidade (que ela
se capaz de fazer relações entre relações, o sujeito tem as

Bibliografia 115
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

não pode entender) talvez seja privá-Ia dessa capacidade de provoca os conflitos cognitivos ou morais, anima o ambiente,
conservação" (id., 1996a, p. l76). auxilia as descobertas, considera as oportunidades para
feedback, põe em ação, estimula, espicaça ... " (ibid.). Se o
Como a criança é heterônoma por natureza, ainda é professor apresenta essas condutas, significa que detém
necessário o estabelecimento de limites e orientações do autoridade para tanto, assim sendo, ele não é um igual à
adulto, que, de acordo com sua postura, e do relacionamento criança. E, para a criança, o adulto nunca estará num mesmo
estabelecido com a criança (se de respeito mútuo ou plano. Numa relação adulto-criança ou professor aluno existe
unilateral) poderá auxiliá-Ia ou não em sua descentração e sempre uma desigualdade de fato, reflexo de uma relação
construção de uma moralidade autônoma. "Oferecer ampla assimétrica (não confundir com opressiva ou autoritária).
autonomia pode ser sinal de falta de interesse e/ou Porém, isso não significa desconsiderar o respeito mútuo na
preocupação para com a criança" (Cardoso, 1998, p. 46). relação educador-educando; posto que, não é necessário estar
Todavia, muitas vezes em nome dessa desigualdade de fato, os no mesmo plano para conseguir respeitar o outro. Na maioria
adultos utilizam tal argumento como pretexto para serem das vezes, é isso que o professor não faz: o respeitar a criança.
autoritários ou justificarem procedimentos abusivos. Se o A partir do momento em que ele respeita a criança, é que ela
adulto estabelece com a criança uma relação baseada na vai começando a perceber o que é respeitar o outro, ou seja,
autoridade ("Você vai fazer isso porque eu quero", "Eu sei o mediante experiências efetivas. Tratá-Ia como a um igual, é, de
que é melhor para você", "Eu não gosto de criança que faz certa forma, desrespeitar a sua natureza psicológica única e
isso"), ele está reforçando a ideia da criança de achar que as diferente da natureza do adulto. Respeitar a criança, não é
regras emanam dos desejos individuais das pessoas com fingir que ela é um igual, significa respeitá-Ia moralmente,
poder. Para Piaget, "as relações coercitivas, embora respeitar sua inteligência, a formação de sua personalidade, a
necessárias ao despertar da consciência moral, são forma como ela aprende e interage com o mundo. E isso é
insuficientes a seu desenvolvimento" (De La Taille, 1991a, p. muito difícil.
109).
Mas, se por um lado, as relações autoritárias reforçam a
A moralidade não se aprende por ordens, ou regras heteronomia; e por outro, a não-intervenção também é
impostas. Dificilmente a criança irá construir a autonomia prejudicial, então, qual seria o papel do educador na escola? De
moral se os adultos limitarem-se a querer que ela somente acordo com Domingues de Castro (1993, p. 21):
aprenda as regras de comportamento e interiorize conceitos
sobre o que é bom ou mal. Porém, é importante esclarecer que Piaget confia num ambiente que respeite a espontaneidade
a passagem dos "estados de heteronomia aos de autonomia da criança, que permita o seu convívio com outras crianças
existe como possibilidade, e não necessariamente como (fonte da moral autônoma) e estimule tanto o jogo livre,
realidade" (Araújo, 1996, 108). Em seus estudos, Piaget "não quanto a exploração gradual do mundo. Mas não se exclui a
afirma que todas as pessoas desenvolverão intervenção do adulto, acreditando-se que esta deve acentuar
fatores do convívio, justificar ordens e condutas, basear-se na
a autonomia em determinada idade e, como processo honestidade e franqueza, enfim favorecer a descoberta e a
construtivo, o sujeito poderá construir diferentes estados de construção do conhecimento por parte dos jovens.
autonomia que o situarão em níveis diferenciados de juízo
moral" (ibid.). Todavia, constata-se que poucas pessoas conseguem
Gostaríamos de fazer um parêntese para ressaltar que realmente construir a autonomia (no sentido piagetiano).
consideramos enganosa a afirmação tão comum de que "o Piaget (1948/1973) afirma que as personalidades
professor tem que se colocar no mesmo plano que a criança". verdadeiramente lógicas, donas de seus princípios, valores e
O professor nunca está no mesmo plano que o aluno, visto que pensamentos, são tão raras quanto os homens
ele tem uma experiência e um saber maior; há também de sua verdadeiramente morais: homens, estes, que exercem sua
parte a intenção de, no mínimo, influenciar no consciência em toda sua plenitude. O que frequentemente
desenvolvimento, na formação das crianças (mesmo que o acontece é que, por vivenciar um ambiente autoritário, em que
professor afirme não ter tal intenção, evidentemente, esta as relações vivenciadas foram de respeito unilateral, onde a
existe pelo simples fato de estar trabalhando com educação). E coação e a pressão exterior estavam sempre presentes, não
ainda, há de considerar a natureza psicológica da criança, a possibilitando ao sujeito tomar consciência de suas ações,
moral heterônoma, o que torna praticamente impossível foram mantidos altos níveis de heteronomia. Isso ocorreu com
eliminar qualquer tipo de coação. A diferença do educador a maioria dos adultos, que continuam heterônomos,
construtivista é que ele respeita a inteligência do outro, reproduzindo em suas vidas as relações de respeito unilateral
respeita o plano em que está a criança, não a tratando como que experienciaram na infância e juventude, talvez não mais
adulto em miniatura. Não é a presença da autoridade que está com os pais, mas com o cônjuge ou companheiro, com aquele
errada, é o "abuso da autoridade", o exagero, a autoridade profissional hierarquicamente superior, ou seja, com aquelas
desmedida, é o autoritarismo. A autoridade, se legítima, é pessoas que detêm a autoridade, que ainda se valem de
necessária. O professor, por exemplo, possui um saber, um ameaças de sanções físicas ou psicológicas, para fazerem com
conhecimento da maneira de ajudar os alunos a aprender, que que o outro obedeça às regras geralmente feitas por elas
representa um certo poder, considerando que é o responsável mesmas. Nesses relacionamentos, um detém maior "poder" do
pela educação de seus alunos e pela construção de um que o outro. Essas pessoas embasam suas decisões, não no que
ambiente propício à aprendizagem. E essa responsabilidade é legal ou justo, mas no respeito à autoridade ("Você não pode
por si só, já lhe confere autoridade. falar assim comigo porque sou sua mãe"; "Quem você pensa
que é?"; "Com quem você pensa que está falando?"; "Tem que
Para Domingues de Castro (comunicação pessoal), "o não me obedecer porque sou seu pai"; "Deve-se tratar os mais
diretivismo é uma diretividade, porque se o professor não é velhos com respeito"; "Porque eu não quero e pronto";
diretivo, acaba transferindo a diretividade para os alunos". Ao "Mulher minha não pode se portar desse jeito"; etc.).
deixar tudo para as crianças decidirem, ele está abdicando de
sua responsabilidade transferindo-a para os pequenos, que Geralmente, apesar dos belos discursos, muitos adultos
ainda, não possuem condições para assumi-Ia. A autoridade é preferem a moral heterônoma e o respeito unilateral, à moral
considerada legítima, visto que o professor "organiza o autônoma e as relações de respeito mútuo, visto que estas são
ambiente educativo, desafia as crianças, planeja atividades, geradoras de conflitos e inquietações, exigem coerência e

Bibliografia 116
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

reciprocidade ("Não fale assim comigo, pois não falo assim elaborar as regras e a disciplina que o farão se sentir obrigado,
com você"; "As pessoas devem ser tratadas com respeito", isto lhe é imposto" (ibid., p. 75). Essa educação lhe impõe um
etc.). Certa vez, comentávamos com uma professora a resposta sistema preestabelecido daquilo que é certo ou errado, e sem
de uma criança que demonstrava a compreensão heterônoma discussão alguma. E acrescenta:
de justiça. Ao julgar uma história da literatura infantil, essa
criança afirmou que o mais correto seria que a personagem Ora, da mesma forma que existe uma espécie de
obedecesse à mamãe, porque "as mães sempre sabem o que é contradição em aderir a uma verdade intelectual vinda de fora,
o melhor para os filhos". A professora, então, disse-nos: isto é, sem haver redescoberto ou reverificado, podemos
"Enquanto elas são crianças é uma graça, não é? Mas depois também perguntar se não há alguma inconsequência moral,
que crescem, não acreditam em mais nada, ficam todos em reconhecer um dever sem a ele haver chegado por um
revoltados, igual à minha filha. Ela não me obedece mais. Só na método autônomo (ibid.).
base dos castigos. Às vezes, tenho até que ameaçar bater nela.
Ela faz tudo completamente diferente do que ensinei; parece Assim sendo, tanto do ponto de vista moral quanto do
até que não aprendeu nada. Se você soubesse quanta saudade racional, o adulto é considerado como um colaborador e não
que eu tenho de quando era pequenininha. Ela era tão mais como "um mestre"; pois o gosto pela pesquisa ativa e a
boazinha ... " Esse exemplo ilustra apenas uma situação necessidade de cooperação, são suficientes para assegurar o
cotidiana, que evidencia a tentativa de um adulto continuar desenvolvimento da criança. O adulto não é mais visto como
estabelecendo com o filho, já adolescente, relações desiguais, "aquele que vai ensinar" pois é inútil pretender transformar do
ou seja, de respeito unilateral, com o uso do autoritarismo exterior o pensamento da criança. Deste modo, segundo
abusivo do primeiro para fazer com que o segundo o obedeça Piaget, "toda norma moral quanto toda a lógica são produtos
(a coação do mais forte sobre o mais fraco). da cooperação. Então, realizemos na escola um meio tal que a
De La Taille (1994b, p. 19) afirma que: no que tange à experimentação individual e a reflexão em comum se chamem
moralidade, as relações sociais vigentes em nosso mundo uma à outra e se equilibrem" (1932/1977, p. 351).
raramente são baseadas na cooperação; por conseguinte, Uma educação baseada no respeito mútuo possibilita à
grande número de pessoas permanece a vida toda moralmente criança elaborar uma auto-disciplina, 10 pois na própria ação,
heterônomas, procurando inspirar suas ações em "verdades ela descobre a necessidade dessa disciplina. Dessa forma, ela é
reveladas" por deuses variados ou por "doutores" levada a construir interiormente, por si mesma, os
considerados a priori como competentes e "acima de qualquer "instrumentos que a irão transformar". A construção e a
suspeita". O conhecimento da teoria de Piaget sobre a aceitação das regras impostas de fora, externamente, será
construção da moralidade tem inúmeras implicações apenas superficialmente. Já com a descoberta na ação, ocorre
pedagógicas. O educador a partir do conhecimento dessa realmente a construção interna, o que implica' o sentimento de
teoria, tem a responsabilidade de, em sua prática, favorecer o obrigação das normas.
desenvolvimento de uma moral autônoma na criança, A importância da interação social entre pares e adultos, foi
propiciando um ambiente de respeito mútuo, permitindo que muito enfatizada nas pesquisas de Piaget e seus
a criança construa o seu conhecimento, evitando mensagens colaboradores, pois é a partir dessas trocas sociais que a
humilhantes e mensagens de solução, dando a oportunidade criança desenvolve a personalidade e o respeito, percebendo,
para a criança escolher e decidir. Segundo Mantovani de Assis aos poucos, que as pessoas têm diferentes necessidades e
(1979; 1981), em vez de ensinar, o professor deve dar maneiras de pensar. Para ele, a lógica desenvolve-se somente
oportunidade às crianças de elaborar perguntas, de ter por "pressão social", isto é, pela exigência da troca de idéias, da
iniciativa para buscar suas próprias respostas, estimulando a argumentação, do diálogo. A partir da troca entre iguais é que
capacidade de invenção e o interesse em descobrir. Porém, é a criança vai descentrando-se, ampliando seu mundo,
necessário cautela para não cair no outro extremo, que é o de percebendo diferentes pontos de vista, abandonando seu
observar passivamente egocentrismo. Pouco a pouco, passa a valer-se do "método" da
a criança, sem qualquer interferência no processo de reciprocidade, ao coordenar esses pontos de vista divergentes,
construção de seu conhecimento. Devido à má compreensão que antes não coordenava, e suas ações.
da teoria piagetiana, é comum confundir construtivismo com
espontaneismo. Para Piaget (1974) o educador continua Assim, em seus estudos sobre o desenvolvimento moral,
indispensável, a título de animador, sendo que sua intervenção está sempre sendo ressaltada a importância de o educador
é necessária para apresentar problemas úteis à criança, e em propiciar a interação social e a autogestão; pois, é somente a
seguida, organizar contra-exemplos, que a levem a refletir partir da efetiva vivência dessas relações de cooperação que o
sobre suas próprias conclusões (não raro fazendo com que egocentrismo vai transformando-se em personalidade
duvide delas), que a obriguem rever e controlar as soluções autônoma. Piaget considera que nem a autonomia, nem a
mais apressadas. "O que se deseja é que o mestre deixe de ser reciprocidade (direitos e respeito pelas liberdades
apenas um conferencista e estimule a pesquisa e o esforço, em fundamentais a si e aos outros), podem se desenvolver em uma
lugar de contentar-se em transmitir os problemas já atmosfera de autoridade e opressão intelectuais e morais, pois
solucionados" (p. 18). Dessa forma, ele considera fundamental ambas necessitam para sua própria formação da experiência
que o professor não se limite simplesmente à sua ciência, vivida e da liberdade de pesquisa. Sem isso, conclui, a
conhecendo também o desenvolvimento psicológico da "aquisição de qualquer valor humano permanece apenas uma
inteligência da criança ou do adolescente. Assim, "o papel do ilusão" (1948/1973, p. 79).
experimentador psicogenético toma-se então indispensável à
prática eficaz dos métodos ativos" (ibid., p. 19). No livro Para OS ESTACIOS DO JUÍZO MORAL
onde vai a educação?, Piaget (1948/1973, p. 61) diz que há uma
ligação indissolúvel entre a educação moral ou intelectual, Foi visto que muitas vezes as pessoas confundem
constituindo um todo indissociável, e que desenvolvimento moral com os valores pessoais (ser bom,
honesto, fiel, solidário, sincero, caridoso, etc.). Porém, para
Nessa obra, Piaget também chama atenção para os perigos Piaget o importante não são os valores em si, mas o porquê
do autoritarismo quando afirma que "( ... ) a educação baseada estes são seguidos, ou seja, o princípio inerente a cada ação.
na autoridade e no respeito apenas unilateral, apresenta os Tanto Piaget quanto Kohlberg se interessaram em estudar
mesmos inconvenientes, quer do ponto de vista moral, quer do como raciocinam as pessoas ao defrontarem-se com
ponto de vista intelectual. Ao invés de levar o indivíduo a problemas, conflitos de valores ou outros assuntos

Bibliografia 117
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

relacionados à moralidade. Eles queriam conhecer o raciocínio de seus alunos. Sem ele a moralidade não se desenvolve,
que estava envolvido ao julgar situações ou valorar uma porém, priorizar apenas a cognição é insuficiente. Para Piaget,
conduta. Interessaram-se também, em saber se haveria é a harmonia entre a inteligência e a vontade que realmente
mudanças no modo de conceber estes problemas à medida que revela o homem maduro, quando a moral e a inteligência se
as crianças vão crescendo. Kohlberg concentrou seu estudos reúnem. A expressão 'desenvolvimento moral' abrange, então,
principalmente no conflito entre as regras ou normas. "a vida afetiva, as relações interpessoais, a vida moral e a
Relembramos que o processo de construção da moralidade construção de valores" (Feltran, 1990, p. 77). A relação entre
ocorre da mesma forma que o das estruturas cognitivas, ou moralidade e a lógica será novamente abordada ainda nesse
seja, somente se desenvolvem pelas trocas estabelecidas entre capítulo.
o organismo e o meio; essa interação é marcada pela busca do
equilíbrio e da reciprocidade entre a ação do sujeito sobre o A teoria dos estágios de juízo moral de Kohlberg
objeto e da ação do objeto sobre o sujeito. Para Kohlberg, a
moral resulta de um processo evolutivo, visto que as razões Da mesma forma que a inteligência (lógica) desenvolve-se
para as pessoas atuarem moralmente e os tipos de motivações em estágios de raciocínios cada vez mais elaborados, a
requeridos para tanto, mudam com o tempo e com a moralidade, compreendida como forma (e não conteúdo),
experiência de maneira previsível (Stengel, 1982/1994). também apresenta um processo de construção em estágios
Assim, o juízo moral desenvolve-se na medida em que as organizados hierarquicamente. Kohlberg, utilizando o
pessoas se confrontam com os problemas sociais e experiência método-clínico-crítico de Jean Piaget, apresentou aos sujeitos
conflitos morais. Percebemos claramente como um valor dilemas morais hipotéticos envolvendo os personagens em
pessoal se modifica após amadurecermos ou passarmos por uma situação difícil e que para resolver deveriam escolher
determinadas experiências. Ontem julgávamos de entre valores conflitantes. Os dilemas implicavam cada um dos
determinada maneira, hoje julgamos de outra. Isso demonstra dez temas universais. Cada sujeito deveria julgá-los e justificar
que nossos valores, sentimentos e princípios também se seu ponto de vista, e o entrevistador tinha o cuidado de deixar
desenvolvem, se modificam. o indivíduo à vontade para responder livremente, procurando
O desenvolvimento moral, de acordo com essa concepção acompanhar cuidadosamente o raciocínio empregado na
teórica, escolha. Assim, diante de dilemas ou situações que envolviam
é concebido como a construção da capacidade de tomar conflitos de valores, as pessoas deveriam emitir juízos sobre o
decisões conscientes, críticas e transformadoras, o que ocorre que valorizavam, e também apresentar as razões de terem
quando o indivíduo se torna capaz de compreender, além de escolhido esta ou aquela opção como a mais (ou menos)
conhecer, os valores existentes no seu grupo social. Ao adequada. "Algumas pessoas emitem juízos presos a regras de
conhecer e compreender estes valores, o sujeito constrói a condutas tradicionais e externas; outras, por sua vez, seguem
capacidade de discernir as diferenças qualitativas entre os sua consciência ou princípios internos. Há ainda pessoas que
seus valores individuais e os valores sociais, desenvolvendo, julgam visando ao interesse pessoal, ou também por
desta forma, sua autonomia (Oliveira, 1994, p. 6). recompensa ou medo da punição" (Lukjanenko, 1995, p. 24).
Tanto Kohlberg como Piaget ressaltam a importância do Ao avaliar o nível de julgamento moral, a ênfase está no modo
trabalho intelectual em comum, isto porque para haver o como as pessoas raciocinam, não sobre as ações que
desenvolvimento moral é necessário que haja, consideram melhores ou que defendem.
simultaneamente, o desenvolvimento cognitivo. Não pode Desse modo, quando o sujeito, ao ser exposto a esses
haver a construção de uma moral idade autônoma sem o dilemas, expressa juízos sobre o que valoriza e as razões da
desenvolvimento da inteligência. A moral idade está repleta de valoração, distingue-se em suas respostas o conteúdo
racionalidade, pois exige uma reflexão contínua. Porém, normativo do julgamento moral, da organização ou estrutura
apenas o progresso intelectual não basta, não é suficiente para do estágio (Feltran, 1990). Kohlberg analisa portanto, a
que a moral idade se desenvolva. Quando o indivíduo possui as capacidade de assumir papéis, isto é, a capacidade de
estruturas do pensamento formal, ele se toma capaz de raciocinar como o outro, de se colocar na situação e ver sob a
raciocinar abstratamente, realizar operações sobre operações, perspectiva do outro (desempenho de papel) e a coordenação
trabalhar com hipóteses, estabelecer relações complexas entre desses conflitos. Os estágios representam modos sucessivos de
relações não mais somente sobre os objetos, todavia, isto não assumir o papel de alguém numa situação de conflito de
significa que seu juízo moral (nem que suas ações morais) valores e. os fatores que parecem interferir nesses juízos
esteja coerente com esse desenvolvimento. Por exemplo, há morais são: o nível de desenvolvimento cognitivo, o ambiente,
pessoas extremamente intelectualizadas, mas com um nível de as interações sociais (relações), e, conforme foi dito, a
juízo moral mediano, como funcionários que elaboram capacidade de colocar-se numa outra perspectiva, na "pele do
esquemas complexos e sofisticados para desviar dinheiro outro". Dessa forma, os "estágios morais são cognitivos e
público, ou mesmo pessoas altamente intelectualizadas, mas também sociais" (Feltran, 1990, p. 98).
individualistas, manipuladoras ou autoritárias. Essas pessoas Assim, a ideia central da teoria de Kohlberg é a de que, da
usam suas habilidades intelectuais para beneficiarem a si mesma maneira que para a inteligência, existe uma sequência
mesmas. Um outro exemplo seria o de um adulto operatório de estágios invariantes, construídos por processos interativos.
concreto. O juízo moral desse adulto pode demonstrar um Esses estágios que demonstram todo um processo de
rigor em suas avaliações, julgando a partir de suas construção da moral idade, são universais e hierarquicamente
experiências, cultura e valores pessoais; mostrando-se incapaz organizados. Segundo Lukjanenko (1995, p. 24),
de trabalhar com situações dissociadas do concreto, numa a estruturação da consciência moral também ocorre em
perspectiva diferente das que ele conhece, portanto, incapaz patamares cada vez mais elevados e melhor equilibrados,
de emitir juízos distanciados de si mesmo, de situações que decorrentes da interação do organismo com seu meio, cujas
ainda não viveu ou coordenar diferentes possibilidades, visto estruturas, por sua vez, vão se transformando em relação a si
que não tem condições intelectuais para o fazer. mesmo e em relação à sociedade. O equilíbrio resultante das
interações entre o sujeito e o meio representa sempre um nível
Em resumo, o desenvolvimento intelectual é condição de justiça.
necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento moral. Partindo da análise do raciocínio apresentado pelos
Assim, o educador que tem como intenção favorecer a sujeitos diante dos dilemas, Kohlberg propôs uma sucessão de
conquista da autonomia moral da criança, deve, seis estágios de desenvolvimento que representam formas
necessariamente, trabalhar o desenvolvimento da inteligência cada vez mais superiores de raciocinar moralmente

Bibliografia 118
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(progressos). Esses seis estágios estão inclusos em três perspectiva de duas


grandes níveis. Lembramos que Piaget não elaborou pessoas, como também
propriamente estágios de desenvolvimento moral, mas o que a das leis sociais. A
ele encontrou foram atitudes dominantes que foram conduta correta
identificadas em determinados sujeitos (em determinadas consiste em realizar o
idades). Para Piaget são três os "estágios", ou atitudes próprio dever,
dominantes (que foram vistos no "quadro teórico"): a pré- mostrando respeito
moralidade, em que o indivíduo carece de todo sentido de pela autoridade e pela
obrigação para com as regras sociais; a heteronomia ou o ordem social
realismo moral, em que o certo é obedece literalmente às estabelecida para o
ordens da autoridade, havendo uma relação de submissão ao nosso bem. A moral
poder; e a autonomia moral, caracterizada por um novo idade ultrapassa os
sentido das normas em que a obrigação às mesmas es laços pessoais e se
fundamentada nas relações de trocas mútuas e reciprocidade. relaciona com as leis,
Já Kohlberg apresenta três grandes níveis: o pré-convencional; que não devem ser
o convencional; e o pós-convencional; sendo que esses níveis desobedeci das, para
são subdivididos em estágios, totalizando seis. De forma mais poder manter a ordem
simplificada, as características dos níveis e estágios são social.
apresentadas no quadro a seguir. A ação correta tende a
definir-se em termos de
OS NÍVEIS DE JUÍZO MORAL SEGUNDO KOHLBERG direitos gerais; sobre o
que está de acordo na
NIVEIS PERIODO DESCRIÇAO sociedade em seu
A criança tem conjunto. Há uma
dificuldade para ênfase no ponto de vista
considerar dois pontos legal, mas as leis não
5. Orientação
de vista em um assunto são eternas, mas sim
para o
moral; tem dificuldade instrumentos flexíveis
1. Orientação "contrato
para conceber as para aprofundar nos
para o social”
diferenças de valores morais, e que
castigo e a A orientação
interesses. Aceita a podem e devem
obediência legislativa
perspectiva da modificar-se para
Nível I NívellI
autoridade e considera melhorá-Ias. O contrato
as conseqüências físicas social supõe a
Pré- Pós-
da ação, sem levar em participação voluntária
convencional convencional
conta a intenção. em um sistema social
A moralidade A moralidade se
Aparece a consciência aceito, porque é melhor
está governada determina
de que podem existir para cada um e os
por regras mediante
distintos pontos de demais que precisam.
externas, o que princípios e
vista. A ação correta é a A ação correta se baseia
pode acarretar valores
que satisfaz as próprias em princípios éticos
um castigo é universais, que
necessidades e, eleitos por cada um que
considerado permitem
ocasionalmente, as dos são compreensivos,
errado 2. Orientação examinar
outros, mas desde um racionais e
hedonística criticamente a
ponto de vista físico e universalmente
ingênua moral da
pragmático. Aparece aplicáveis. São
própria
também uma princípios morais
sociedade
reciprocidade abstratos, que
6. Orientação
pragmática e concreta transcendem as leis,
para o
de que se faço algo pelo como a igualdade dos
princípio
outro, o outro também seres humanos e o
ético
o fará por mim. respeito pela dignidade
universal
A boa conduta é a que de cada pessoa, não são
3. Orientação agrada ou ajuda aos normas concretas como
para o "bom outros e é aprovada por Os dez mandamentos.
Nível II menina boa eles. Aparece uma forma
menina", ou a Orientação para a abstrata de considerar
Convencional A moralidade conduta "normal", a as perspectivas de
base da da conduta estereotipada. todas as partes e de
moralidade é a concordância As boas intenções são tratar de organizá-Ias
conformidade interpessoal muito importantes e se com princípios gerais.
com as normas procura a aprovação
sociais e dos demais, tratando de Para Kohlberg, o ápice do processo de moralização é
manter a ordem ser uma "boa pessoa", aquele em que a conduta se orienta por padrões ou princípios
4. Orientação
social é algo leal, respeitável, internos, ou seja, apresenta as características de
para a
importante colaboradora e desenvolvimento moral do estágio 6. Para esse autor, todos os
manutenção
agradável. homens, independentemente da cultura em que vivem, podem
da ordem
O indivíduo é capaz de alcançar os níveis mais altos do raciocínio moral, desde que
social
considerar não só a haja ótimas condições para o desenvolvimento sociomoral
(Lukjanenko, 1995), e portanto, um dos objetivos da educação

Bibliografia 119
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

é favorecer o desenvolvimento do julgamento moral, que não se deve mentir em nenhuma situação porque "fui
avançando cada vez mais na evolução dos estágios, de modo a educado para ser honesto, verdadeiro".
ter indivíduos progressivamente mais autônomos. Todavia,
conquistar a autonomia moral, para Kohlberg, consiste em um No nível 3, pós-convencional, o sujeito do estágio 5
julgamento que leva em conta princípios e determinados considera correto aquilo que foi contratado
valores que transcendem a cultura. entre as pessoas, um acordo coletivo, porém, as necessidades
Para ilustrar um pouco mais a construção desse percurso individuais são levadas em consideração,
em direção à autonomia, será comentada superficialmente a mas, não isoladamente, e sim à luz das regras, normas ou leis
maneira de raciocinar característica dos três níveis (baseado coletivamente constituídas, que são
em DelvaJ e Enesco, 1994; Fini, 1979; Lukjanenko, 1995; e compreendidas como resultantes de contratos que podem ser
Menin, 1995). reexaminados e aperfeiçoados. Dessa forma, o cumprimento
No nível 1, pré-convencional, o julgamento é baseado nos das leis é visto como necessário, pois, essas leis são contratos
próprios interesses; é considerado como sendo "o certo" sociais, porém, não são mais interpretadas rigidamente como
aquilo que a pessoa deseja ou quer e também o agir de forma ocorre no estágio 4. Por exemplo, na situação do roubo do
a evitar uma punição. Por exemplo, numa situação em que o remédio, o sujeito pode considerar que roubar é errado
personagem de uma história precisaria roubar um remédio perante a lei, mas nesse caso particular, existem atenuantes
que iria salvar a vida de sua mulher, o sujeito que raciocina de porque a situação do personagem era desesperadora e sua
acordo com o estágio 1, responde que o personagem não mulher corria risco de vida se não o fizesse. Nesse estágio, o
poderia roubar o medicamento porque poderia ir preso (evitar sujeito tenta coordenar a perspectiva individual com a da
um castigo). Nesse estágio o sujeito ainda não considera os sociedade: "Se eu fosse o juiz, ao mesmo tempo que eu teria
interesses e as necessidades dos outros. No próximo estágio que considerar que o sujeito infringiu a lei, também levaria em
(2), o direito é concebido como aquilo que vem em favor dos conta o fato de ele só ter roubado para salvar uma vida,
próprios interesses. A concepção de igualdade é estrita, numa portanto, daria uma pena leve, como a prestação de serviços
espécie de "olho por olho, dente por dente" e o auxílio mútuo comunitários". Com relação à obrigação da veracidade, um
é visto como necessário para satisfazer seus desejos e exemplo de raciocínio empregado pela pessoa desse estágio é
necessidades. Assim, na mesma situação de roubo do remédio, justificar o fato de que não se deve mentir, porque "a mentira
o sujeito diz, por exemplo, que o furto deve ocorrer porque o quebra a confiança que é necessária existir nas relações entre
personagem irá sentir muito a falta da mulher se ela morrer. as pessoas" ou porque "minha consciência não o permite".
Dessa forma, o nível 1 ainda é individualista, o agir é Para Kohlberg, o estágio 6 é o correspondente ao julgamento
interessado, faz-se algo para receber alguma coisa em troca, ou autônomo propriamente dito; a compreensão do que é certo
para evitar uma punição. Um outro exemplo do nível 1 seria o ou justo, ou melhor, os juízos morais, são inspirados em
da pessoa que justifica o fato de não dizer uma mentira porque princípio éticos e universais, mais do que em contratos sociais
"se o outro descobrir, aí as coisas pioram mais ainda para (justiça, igualdade, liberdade e dignidade de toda e qualquer
mim" (receio das conseqüências). vida humana). Nesse estágio, o roubo é visto como uma ação
correta moralmente falando, porque a finalidade era salvar
Para os sujeitos do nível 2, convencional, é tido como "o uma vida, e, como o direito à vida é maior do que o direito à
certo" obedecer às convenções, recomendações ou leis das propriedade, a ação é moralmente correta. Para os sujeitos
pessoas que significam alguma autoridade para o sujeito, ou às desse estágio, não há necessidade de analisar sob a
normas de alguma instituição reconhecida. Nesse nível o perspectiva da sociedade, visto que a ação não é moralmente
terceiro estágio é considerado como o do "bom menino", pois errada.
percebe-se claramente que a preocupação do sujeito está
voltada para ser uma boa pessoa, ser bom; pois isso é Observa-se que cada estágio envolve uma transformação
valorizado pelos outros e, o olhar ou o que o outro vai pensar no modo como o sujeito pensa sobre o que é direito ou correto.
dele é muito importante. A pessoa age, visando aprovação Pode-se dizer em resumo que, conforme se desenvolve e vai
daqueles que são significativos para ela. A regra de "não fazer percorrendo os estágios a perspectiva social do indivíduo
aos outros, o que não quer que façam para si mesmo" é torna-se gradativamente mais ampla. O sujeito avança da
compreendida de um modo concreto, como uma forma de posição de olhar simplesmente para si próprio, até considerar
colocar-se na "pele do outro". Nesse terceiro estágio, o certo é uma outra pessoa; depois, considera um grupo um pouco
fazer aquilo que esperam dele. Por exemplo, na situação maior, tal como sua família, os amigos ou a classe.
anterior do roubo, a pessoa considera ser errado roubar, Posteriormente, passa a levar em consideração um grupo
mesmo para salvar a vida da mulher, porque "meus pais me ainda mais amplo, tal como a sociedade como um todo. Até
ensinaram a vida inteira, que nada justifica o roubo". Já no que, finalmente, a perspectiva toma-se mais abrangente ao
estágio 4, "o certo" é cumprir a lei e manter a ordem. O levar em conta a humanidade em geral (DeVries & Zan, 1998).
raciocínio é o de que as leis foram feitas para serem cumpridas,
para o bem da sociedade como um todo, mesmo que Foi visto que as pesquisas têm comprovado a
apresentem casos particulares de injustiça. É importante que invariabilidade da sequência e a universalidade dos estágios
não haja exceções para não quebrar a regra, lei ou norma de juízo moral, em diferentes condições e culturas. Delval e
social. Por exemplo, "não se pode roubar porque a lei não Enesco (1994) discorrem sobre os resultados encontrados por
permite, mesmo para salvar a mulher, já pensou se todos o Kohlberg e seus colaboradores em uma pesquisa longitudinal
fizessem?"; ou " ... nesse caso, ele pode roubar, porque se não e intercultural. Essa pesquisa avaliou inicialmente o raciocínio
o fizesse sua mulher morreria, portanto, Deus irá perdoá-lo''. moral de jovens nas faixas etárias de 10, 13 e 16 anos de idade.
Fica evidente que nessas duas respostas, tanto Deus quanto a Esses sujeitos eram avaliados a cada 4 anos. No final do estudo,
lei, são as autoridades imperantes. Assim, todos devem se a menor idade dos sujeitos era 30 anos e a maior 36. A ideia
submeter às leis para que haja o bem comum. Os estágios 3 e 4 era observar se, conforme os anos vão passando, as crianças
(convencional) são os mais encontrados no mundo todo, vão avançando para estágios superiores do raciocínio moral
principalmente, no Brasil. É o raciocínio típico da pessoa que ou se, ao contrário, permanecem nos mesmos estágios, ou até
afirma: "Eu agi obedecendo às ordens. Fiz isso só porque mesmo regridem a níveis inferiores. Nesse estudo foi
mandaram". Assim, a consciência, o que é certo ou errado está comprovada a existência de uma evolução de um estágio para
no outro, na autoridade de quem ordena; a pessoa é outro sempre na mesma ordem. Os outros resultados
heterônoma. Um outro exemplo seria o do sujeito que afirma encontrados foram:

Bibliografia 120
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

• o pré-convencional é a forma de raciocinar mais consequentemente, Kohlberg conclui que o raciocínio moral
encontrada entre as crianças de 10 a 12 anos (80) e desse avançado depende do raciocínio lógico avançado. Para fazer
número, 85 situavam-se no estágio 1; julgamentos morais de níveis mais elevados, o sujeito precisa
• os estudos longitudinais mostram que ao tomarem-se "ser capaz de fazer proposições lógicas, classificar, considerar
adultos, a maioria desses sujeitos (90) encontrava-se no nível possibilidades e hipóteses, como também deduzir
convencional, ou seja, conforme foram crescendo, os sujeitos implicações", o que só é possível no estágio das operações
saíram dos estágios 1 e 2, alcançando os estágios 3 e 4 nas formais do desenvolvimento cognitivo (ibid.). Assim, a pessoa
idades de 20 -26 anos. que apresenta um alto nível de raciocínio moral precisa
• essa pesquisa longitudinal mostrou que somente 10 dos possuir, necessariamente, um estágio lógico suficientemente
sujeitos-adultos encontrava-se no estágio 5 (pós- desenvolvido que lhe dê tal suporte cognitivo (Feltran, 1990).
convencional); e não foi encontrado nenhum sujeito no último Por exemplo, o raciocínio moral do sujeito que se encontra no
estágio que é o 6; um outro dado importante é que a maioria estágio das operações concretas não ultrapassa os estágios
dos sujeitos nem sequer alcançou o estágio 5 antes dos 30 anos morais pré-convencionais.
de idade. O quadro apresentado a seguir ilustra o paralelismo entre
os estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget e os do
Ao comparar seus resultados com os de Piaget, Kohlberg desenvolvimento moral da teoria de Kohlberg (citado por
"encontrou elementos da heteronomia piagetiana nos estágios Lukjanenko, 1995, p. 29).
de 1 a 4 e, da autonomia, nos estágios de 2 a 6" (Feltran, 1990,
p. 84). Dessa forma, a heteronomia está presente durante um O PARALELISMO ENTRE OS ESTÁGIOS DE
maior período no processo de desenvolvimento moral. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE JEAN PIAGET E OS
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MORAL DE KOHLBERG
Os estágios morais de Kohlberg apresentam algumas
características principais (Feltran, 1990, pp.85-87): ESTÁGIOS COGNITIVOS ESTÁGIOS MORAIS

Os estágios implicam diferenças qualitativas do modo de Pré-Operacional Estágio I (heteronomia)


pensar (estruturas) ou de resolver os problemas, portanto, são A função simbólica aparece, O certo e o errado são
todos estruturais ou sistemas organizados de pensamento. mas o pensamento é determinados pela
Constatou-se a partir de um estudo longitudinal de 20 anos e marcado pela centração e autoridade e pela
também por meio de pesquisas interculturais, que em média irreversibilidade. conseqüência física das
67 do pensamento de uma pessoa concentra-se em um estágio ações.
dominante e o restante no estágio mais próximo (aquele que o Operações Concretas Estágio 2 (trocas)
sujeito está deixando, ou ao que se dirige). Dessa forma, Surge a classificação, a A interação cooperativa é
observa-se um predomínio ou uma tendência dos sujeitos conservação e a seriação e o baseada em simples trocas,
raciocinarem dentro de um mesmo estágio, ou seja, objetivo é diferenciado do e o certo e errado é definido
encontraram uma maneira predominante de conceber os subjetivo. como o que serve aos
problemas morais e suas possíveis soluções; mas isso não próprios interesses e
significa que essa é a única forma possível. desejos.
Início das Operações Formais Estágio 3 (expectativas)
• Os estágios formam uma sequência invariante, isto é, não Há o desenvolvimento da A ênfase é dada para o
há regressões (a não ser em casos excepcionais de trauma coordenação de estereótipo do bom sujeito
extremo), pois o movimento de um estágio para outro é reciprocidade com inversão e age buscando a aprovação
sempre para frente. e aparece a lógica dos outros.
• Os estágios se integram hierarquicamente, o que significa proposicional.
que o pensamento correspondente a um estágio mais evoluído Operações Formais Básicas Estágio 4 (sistema social)
incorpora e integra o de nível mais baixo. Surge o raciocínio Busca a manutenção da
• A evolução de um estágio para outro se dá através do hipotético-dedutivo, ordem social por meio da
processo de equilibração e auto-regulação. envolvendo habilidades obediência às leis e busca
para estabelecer relações cumprir suas obrigações.
Kohlberg em seu modelo evolutivo fala da construção do entre variáveis e organizar
pensamento moral como uma forma de estruturação do análises experimentais.
significado que o sujeito outorga às regras morais da Operações Formais Estágio 5 (contrato social)
sociedade. Nestas reestruturações de significado, o autor Consolidadas O certo é definido pelos
prioriza a função evolutiva do pensamento lógico no As operações tomam-se acordos mútuos
desenvolvimento intelectual, no qual ele admite completamente exaustivas e estabelecidos por toda a
consideravelmente a importância do pensamento social. sistemáticas. sociedade.
Assim sendo, organizou os estágios lógicos evolutivos
baseados nas estruturas lógico-matemáticas, ou seja, o Obs.: Neste quadro Kohlberg não apresenta o estágio 6. Ele
desenvolvimento cognitivo é usado como modelo referencial não se contenta com este paralelismo quanto' consciência pós-
para explicar o desenvolvimento do raciocínio moral. Dessa convencional orientada pelo princípio de justiça. Há diferença
forma, há um dimensão cognitiva do desenvolvimento da de grau e de qualidade, porque o raciocínio moral é mais rico,
moralidade que não pode ser desconsiderada. Para envolve além de objetos e coordenações, seus pontos de vista,
Lukjanenko (1995, p. 20), "a dimensão cognitiva do as relações entre si e a consideração dos efeitos de uma ação
julgamento moral implica que há mudanças na forma de sobre todos os participantes da situação (Freitag, 1992).
raciocínio ao longo do desenvolvimento, o que independe do
conteúdo do problema moral analisado". A própria definição dos estágios da moral idade como
julgamentos ou raciocínios morais, demonstra que um
Dizer que o julgamento moral é cognitivo, significa que ele raciocínio moral avançado depende de um raciocínio lógico
está submetido às mesmas implicações do pensamento lógico. avançado. Porém, como foi visto, se o desenvolvimento lógico
Portanto, um nível de pensamento lógico-matemático deve é uma condição necessária do raciocínio moral, não é uma
corresponder a um nível ou estágio de pensamento moral; condição suficiente. A maior parte dos indivíduos encontra-se

Bibliografia 121
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

em níveis mais elevados nos estágios lógicos do que nos isoladas; eradas. . Não expiat6ri
morais. Em estudo citado por Kohlberg, mais de 50 dos não há As punição as
adolescentes e dos adultos avaliados eram capazes de cooperaçã criança = não arbitrária
raciocínio formal pleno, mas somente 10 desses adultos (todos o ou s não mentira s são
operatórios formais) exibiam raciocínio fundamentado em interação levam . Mentir considera
princípios morais, ou seja encontravam-se no estágio 5 social. em é como das
(Feltran, 1990). conta ser justas.
os "mau".
Segundo Feltran (ibid., p. 91) pode-se entender que "a pontos Mentira
evolução intelectual oferece suporte e é portanto de não
indispensável ao alcance de níveis morais mais altos, ou, em vista verdad
outras palavras, de relações sociais mais equilibradas". dos e.
Portanto, é fundamental investir em uma pedagogia que outros; Falsida
estimule o desenvolvimento cognitivo, pois todos aqueles que os des são
chegaram a um patamar mais elevado de juízo moral julgam punidas
alcançaram necessariamente o pensamento lógico formal. entos porque
Mas, o inverso não é verdadeiro, visto que a maior parte das são são
pessoas desenvolve-se intelectualmente, mas não moralmente basead mentira
(não é condição suficiente), ou seja, inúmeras pessoas os nos s.
alcançaram o estágio lógico formal, mas, encontram-se nos efeitos
patamares menos elevados do raciocínio moral. Por quantit
conseguinte, atuar somente no sentido de estimular o ativos
desenvolvimento da inteligência não basta; urge criar na das
escola um ambiente sociomoral cooperativo de tal ordem que ações.
também favoreça o desenvolvimento do raciocínio moral. As
Piaget, já em 1932, demonstrava esse parentesco entre as intenç As
normas morais e as normas lógicas, quando afirmava que ões intençõ
compreendia a lógica como sendo uma moral do pensamento, passa es
da mesma forma que a moral era a lógica da ação. Segundo ele, Cooperaçã m a ser decide
"a lógica não é coextensiva à inteligência, mas consiste no o consid m se Justiça
conjunto das regras de controle que usa a própria inteligência incipiente. eradas. uma baseada
para dirigir-se. A moral desempenha um papel análogo quanto Regras As afirmaç na
à vida afetiva" (ibid., p. 345). são criança ão falsa reciproci
O quadro da página seguinte apresenta um resumo do Operações
observada s não é dade.
desenvolvimento cognitivo e da evolução de alguns conceitos Concretas
s, embora começ mentira Igualdade
relacionados à construção da moralidade (apud Wadsworth, (7 -11
haja am a .A é mais
1996, p. 125). anos)
pouco levar verdad importan
Antes de concluirmos esse item, consideramos necessário acordo em e é tida te do que
apresentar algumas considerações sobre o trabalho de sobre o conta como autoridad
Kohlberg feitas por pesquisadores que analisaram sua obra e que são os necessá e.
fazer alguns comentários sobre as novas pesquisas que tentam regras. pontos ria para
explicar o desenvolvimento moral numa perspectiva de a
construtivista. vista coopera
Kohlberg centrou seus estudos principalmente nas obras dos ção.
de Kant, Rawls y Habermas elegendo como objeto da outros.
moralidade ajustiça. Em seus primeiros trabalhos, ele concluiu Codificaçã
que o raciocínio moral das mulheres era de nível inferior aos o de
dos homens. Gilligan, na década de 70, retoma essa questão, regras. As
afirmando que Kohlberg não leva em consideração a ética que regras são
sustenta os vínculos pessoais e afetivos. Assim a autora elege Igualdade
conhecida
um novo objeto da moralidade: a ética do cuidado e da com
s por
responsabilidade. Para Gilligan, no nosso âmbito cultural, as eqüidade.
todos; há
mulheres manifestam maior preferência pela ética do cuidado A
Operações acordo
do que os homens. reciproci
Formais sobre as
dade
(após os regras; as
Desenvolvi O Ato considera
Aciden 11 - 12 regras
mento Regras de Justiça as
tes anos) podem ser
Cognitivo Mentir intenções
mudadas
e as
Estágio por
circunstâ
motor. consenso;
Sensório- ncias.
Regras as regras
Motor (O -
não são são de
2 anos)
observada interesse
s. próprio.
Estágio As O Submissã
Pré- egocêntric intenç critério oà Segundo Sastre (1998, p. 152), as principais diferenças
Operacion o. Os jogos ões para a autoridad entre a ética da justiça e do cuidado são as seguintes:
al são não mentira e do
(2-7 anos) brincadeir são éa adulto. As A ética da justiça proíbe tratar injustamente os demais; a
as consid punição punições ética do cuidado e da responsabilidade proíbe, além disso,

Bibliografia 122
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

abandonar alguém em situação de necessidade; a ética da racionais" (...). Assim sendo, "a educação moral é, pois, um
justiça está centrada na igualdade dos seres humanos, no que terreno privilegiado para trabalhar pensamentos e
estes têm em comum; suas normas são a igualdade formal e a sentimentos em um só ato de conhecimento" (ibid., p. 155).
reciprocidade, e seus sentimentos morais: o respeito, o dever, Considerações sobre o juízo e a ação moral
o mérito e a dignidade. A ética do cuidado, ao contrário, Outro aspecto importante que deve ser abordado é sobre a
considera a todos e cada um dos seres humanos como relação entre juízo e ação moral.
indivíduos concretos, com necessidades, motivações e desejos Foi visto que Piaget refere-se ao julgamento e não à
pessoais. Rege-se pela eqüidade e pela reciprocidade conduta moral. Da mesma maneira que o desenvolvimento
complementar; suas categorias morais são a responsabilidade, cognitivo não leva necessariamente ao desenvolvimento
a vinculação e a colaboração, e os sentimentos que a moral, o julgamento moral elevado não significa que o sujeito
caracterizam são o amor, o cuidado, a simpatia e a terá uma ação moral coerente com seu juízo (DeI vaI & Enesco,
solidariedade. 1994, p. 94). Retomando à obra de Kohlberg, encontra-se a
seguinte afirmação:
Uma das críticas feitas a Gilligan é que, para a autora, as Se o raciocínio lógico é uma condição necessária, porém
mulheres consideram unicamente o cuidado, não afirmando não suficiente para o amadurecimento do juízo moral, o
que as mulheres também levam em conta o cuidado, o que faz amadurecimento do juízo moral é uma condição necessária,
uma grande diferença. porém não suficiente, para o amadurecimento da ação moral.
Não se pode seguir os princípios morais se eles não são
As novas correntes ampliam essa discussão, atentando entendidos (ou não se crê neles). Entretanto, se pode
para a importância das relações interpessoais na construção raciocinar em termos de princípios e não viver de acordo com
da moralidade. "Para B. Benhabid não se trata de opor a justiça esses princípios.
ao cuidado, nem o outro universal ao outro concreto, mas de Portanto, segundo esse autor, apesar da maturidade do
construir uma teoria moral que permita reconhecer a julgamento moral ser condição necessária, somente esta não é
dignidade do outro generalizado mediante o reconhecimento suficiente para a maturidade da ação moral. Feltran (1990, p.
da identidade moral do outro concreto" (ibid.). 93), esclarece que "raciocinar em termos de princípios morais
não garante a expressão dos mesmos na prática". Essa autora
A autora acredita que uma mesma situação, realidade, explica que o raciocínio, ou julgamento moral, e também a
vivência pode ser enfocada de diversos pontos de vista. Cada conduta moral caracterizam-se por terem forma e conteúdo; e
sujeito pode ver soluções, perspectivas ou motivações por "serem inseparáveis, no entanto destacáveis". Ressalte-se
distintas. Há aspectos dos conflitos morais que remetem às ainda que a ação moral é determinada por fatores psicológicos
normas que regulam as relações entre as pessoas; outros internos em interação com o social, manifestando-se como
referem-se a comportamentos que são manifestados por função de normas e processos grupais.
pessoas em litígio e outros ainda dizem respeito a vivências
internas. Piaget (1932/1948) considera essencial para se
compreender a ação moral, o sentimento do bem e a
Assim, por exemplo, as condutas consideradas consciência do dever (mas pode haver deveres imorais). O
moralmente transgressoras constituem a cara visível de um indivíduo heterônomo possui a moral do dever puro, isto é, o
conflito; os pensamentos, emoções e desejos dos protagonistas dever é emanado de alguém superior a ele, de uma autoridade,
são sua cara oculta, e a normativa social é o elemento com o característico do respeito unilateral. Para ele, o ideal deve ser
qual se tenta comparar a transgressão quando se faz urna interno, que obrigue a consciência do indivíduo, que o leve a
avaliação moral (ibid., p. 153). agir de maneira autônoma, de acordo com o bem. Desse modo,
Sastre considera que os primeiros estudiosos do Piaget acredita que a integração entre ação e juízo moral só
desenvolvimento moral (como Kohlberg) preocuparam-se será possível, "quando o sujeito se sentir obrigado
principalmente com a análise de como o sujeito concebe a racionalmente, por uma necessidade interna, a agir
normativa social, enfatizando a vertente externa do conflito, moralmente, de acordo com os princípios universais de justiça
em detrimento da vivência interna. Com seus estudos, Gilligan e de igualdade" (Araújo, 1996, p. 110).
apresenta um nOVO enfoque, colocando em relevo a
importância dos vínculos interpessoais, mudando assim, o É certo também que, ao agir, a "qualidade moral" do
ponto de vista do desenvolvimento moral. Entretanto pode-se ambiente social em que o indivíduo está cercado (ou seja, a
afirmar que, atualmente, está havendo uma outra mudança de atmosfera moral do grupo em que tem lugar a conduta) e a
perspectiva que, segundo a pesquisadora, "promete ser tão educação moral recebida, podem influenciar sua decisão. Para
rica e plena de possibilidades como a anterior, posto que Freitag (1992, p. 13), a ação moral pressupõe "um sujeito de
permitiu desvelar o papel das emoções no desenvolvimento da ação livre, dotado de vontade e razão, capaz de controlar e
moralidade", Os novos estudos nessa área consideram que são orientar os seus atos segundo certos critérios e princípios,
as experiências vividas pelo sujeito que lhe permitem ir disposto a assumir conscientemente as conseqüências desses
elaborando relações cada vez mais estáveis entre fatos e atos, responsabilizando-se por eles".
emoções.
Um passo importante no desenvolvimento moral é a Segundo Kohlberg, algumas condições são necessárias
compreensão de que sob uma mesma categoria de fatos para que os princípios ou valores se traduzam em uma atitude
subjazem emoções similares. A tomada de consciência dessas moral coerente: a situação específica em que o sujeito irá atuar
regularidades facilita a antecipação do estado emocional e suas influências; os motivos e os sentimentos do indivíduo;
subseqüente aos comportamentos. Saber antecipar as as características da própria pessoa (como a capacidade de
emoções que surgem das possíveis regulações entre os desejos autocontrole) e a firmeza de sua vontade para atuar de acordo
próprios e os dos demais, marca outro passo no com esses princípios. Delval e Enesco (1994) consideram que,
desenvolvimento moral (ibid.). para algumas pessoas, o fator "firmeza de vontade" (para atuar
A partir dessas pesquisas recentes que tentam explicar o de acordo com os princípios) pode ser erroneamente
desenvolvimento moral numa perspectiva construtivista, entendido como virtude. Porém, ao analisar melhor,
pode-se concluir que, em seu conjunto esses modelos teóricos encontram-se inúmeras situações em que "a firmeza de
mostram que "a moralidade não é nem o resultado cego de caráter se traduz, na ação real, em condutas absolutamente
emoções irracionais, nem um conjunto feito de princípios indesejáveis para a humanidade" (p. 94). Os autores citam

Bibliografia 123
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

como exemplo os criminosos de guerra, que costumam ter NÍVEL I


grande firmeza de caráter ao colocarem em prática suas
normas, enquanto que se tivessem certa "debilidade" As relações estabelecidas são de coação:
(sensibilidade ao próximo), esta poderia tê-Ios modificado • O professor centraliza, manda e dirige todos os
evitando, com isso, muito sofrimento. Assim sendo, todas as acontecimentos da sala de aula;
variáveis mencionadas são importantes para explicar porque • Ocorrem punições e advertências;
às vezes uma pessoa age coerentemente com seus princípios • Não há regras, a ordem é imposta, a disciplina é "forçada".
morais, e outras vezes não, mas, a única variável, que pode ser Os alunos são dependentes;
considerada como intrinsecamente moral da conduta (ação • Não há diálogos ou trocas de pontos de vista, não há
moral) é o juízo moral. Deste modo, para Kohlberg, quanto respeito mútuo, enfim, não há relações de cooperação;
mais elevado for o raciocínio moral, ou o estágio de • As atividades são rotineiras, como: leitura, cópia, ditado,
consciência moral, mais estes sujeitos tendem a apresentar a exercícios com modelo. Não há desafios;
ação moral coerente com esses juízos, ou seja, tendem a um Frase que se repete: "Cada um deve tomar conta da sua
comportamento democrático, que respeita ao outro, recíproco vida".
e justo. NÍVEL II

Kohlberg, na tentativa de explicar essa complexa relação As relações são poucos coercitivas, mas não são
entre o juízo e a conduta delineia a hipótese de que, para que cooperativas:
"levemos a cabo" uma ação moral, seriam necessários três • O professor centraliza, manda e dirige todos os
passos ou questões (Delval & Enesco, 1994, p. 156): acontecimentos da sala de aula;
• Quase não ocorrem punições e advertências;
1.Que façamos um juízo deontológico sobre a situação (se • Não há regras, não há disciplina. A ordem é solicitada pelo
a situação é justa ou injusta, se é moralmente correta); professor, com chamadas de atenção. Os alunos são
2.Que julguemos nossa própria responsabilidade nessa dependentes;
situação moral (somos responsáveis pelo que acontecer se • Há a tentativa de diálogo, mas voltado a atender às
decidirmos atuar de uma maneira ou de outra?); expectativas do professor. Não há respeito mútuo, o professor
3.Levemos a cabo (concluir). é autoridade e cabe aos alunos obedecer;
• O professor explica, ensina, pergunta e responde, os
As pessoas que raciocinam nos estágios 3 e 4 não se alunos só ouvem;
consideram responsáveis pelo que acontecerá se decidirem • Há um compromisso do professor com o conteúdo, com o
tomar uma ou outra atitude (questão 2); já no nível 3 (estágio tempo e com a produtividade;
5), verificou-se que a pessoa passa a reconhecer sua própria • As atividades não são desafiadoras e não há interesse
responsabilidade em fazer ou não fazer algo. "Portanto, a com os processos de aprendizagem. Frase que se repete:
probabilidade de que os sujeitos convencionais atuem de "Vamos lá gente, senão não vai dar tempo".
acordo com seu juízo deontológico é bem mais escassa que nos
pós-convencionais, posto que faltará esse segundo passo que NÍVEL III
implica em assumir uma responsabilidade nas decisões que se
tomam" (ibid.). Assim sendo, na medida em que o pensamento As relações são quase isentas de coação e há indícios de
do sujeito se aproxima do nível pós-convencional aumenta a cooperação:
coerência entre o juízo e a conduta moral (porém, ainda não é • O professor centraliza tudo, mas como orientador do
possível predizer com certeza a conduta de uma pessoa a trabalho. Não dá tudo pronto e o aluno participa. Professor e
partir de seus juízos morais). aluno falam e ouvem uns aos outros;
Delval e Enesco (1994, p. 160) consideram que os • Há diálogo, há troca;
resultados de inúmeras pesquisas indicam que "o • Não há regras, mas o ambiente é disciplinado. Há um
desenvolvimento social é um desenvolvimento de uma conduta e respeito mútuo nascente;
um pensamento que se estão influenciando mutuamente", • Há sistematização, há transmissão, há compromisso com
portanto não se pode afirmar que constituem compartimentos o conteúdo, mas há preocupação do professor em saber se os
desconexos, havendo uma correlação positiva entre o alunos estão aprendendo;
julgamento e a ação moral. • As atividades são mais interessantes e o material
De La Taille (1998) também apresenta alguns resultados utilizado parece mais adequado.
de estudos recentes sobre o sentimento de obrigatoriedade
que leva o indivíduo a agir coerentemente com seus juízos. Nesse estudo, Lukjanenko estabeleceu uma relação entre o
Essas novas abordagens evidenciam que "as pessoas estágio de jufzo moral do professor e os comportamentos por
altamente morais experimentariam uma forte relação entre eles apresentados na classe. Os resultados dessa relação
moral idade e identidade e, para elas, agir moralmente estágio e comportamento do professor são apresentados a
equivaleria a agir coerentemente com a imagem que têm de si, seguir (pp. 38-41):
agir para preservá-Ia" (p. 84). Mas, acrescenta o autor, "o fato
é que, até hoje, não há o menor sinal de unanimidade a respeito Estágio 1 O professor com raciocínio moral neste estágio,
dessas explicações, e a honestidade intelectual deve nos levar está preso a problemas físicos e soluções físicas. Associa a
à humildade: o mistério persiste". O juízo moral do professor e desobediência ao castigo e imagina castigos desproporcionais
o ambiente sócio-moral da sala de aula às faltas cometidas; acredita, por exemplo, que se o aluno
A correlação positiva entre juízo e conduta exposta acima escrever cem vezes: "não devo conversar na sala de aula",
foi, de certa forma, comprovada por Lukjanenko (1995) em resolverá o problema. O princípio que mantém a ordem na sala
sua pesquisa de mestrado, quando verificou se o julgamento é a obediência ao professor. Ele não reconhece os direitos e os
moral do professor influencia ou não as relações estabelecidas sentimentos dos alunos e acredita que o problema se acaba
em sala de aula. A autora avaliou o julgamento moral de 20 quando se administra o castigo. Estabelece relações de coação;
professores de escolas de ensino fundamental e ensino médio
e observou o ambiente sócio-moral existente nas classes. Estágio 2 Percebe que o ponto de vista dos alunos é
O quadro a seguir apresenta as características encontradas diferente do seu, mas está voltado a seu próprio interesse; faz
no ambiente de sala de aula (ibid., p. 125) o que lhe interessa, não importa o que o diretor ou os outros

Bibliografia 124
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

lhe digam. Por exemplo, se acredita que se aprende a escrever entre a lei e a consciência, a última predomina. Centraliza-se
copiando, continuará dando cópia e pode pensar: "quando eu no princípio de justiça: cada pessoa tem o direito de ser
era aluno meus professores me tratavam assim, agora chegou considerada como igual em qualquer situação, não apenas
a minha vez", e repete o processo porque acha justo. As regras naquelas codificadas pela lei. O professor com as perspectivas
da escola podem ser mudadas só se lhe convier. Se um aluno dos estágios 5 e 6, provavelmente, promoverá um ambiente
causar-lhe algum problema, este professor não verá mal algum cooperativo.
em castigar a classe toda, porque ele não vê que os dois
(professor e aluno) estão inseridos num contexto maior que é A partir dessas análises, cruzando o nível de juízo moral do
o da turma. Estabelece relações igualitárias, pode, professor com a "atmosfera sócio-moral" de sua classe,
aparentemente, tentar tratar o aluno como igual, como amigo, comprovou-se a sua hipótese inicial de que os professores que
mas não aceitará este tipo de troca quando sua autoridade apresentaram um nível de julgamento moral mais elevado
estiver em jogo; proporcionam um ambiente mais" cooperativo" em suas classes
e os professores com um nível menos elevado de juízo moral
Estágio 3 O professor sai da relação professor x aluno e proporcionam um ambiente menos "cooperativo". Esse
muda sua perspectiva. Ele começa a pensar em como o grupo resultado é muito significativo para quem trabalha com a
reagirá diante de seu trato com os outros. Preocupa-se, neste formação de educadores, visto que estes assimilarão os
estágio, com o sentimento do grupo: "O que dirão as crianças e objetos de acordo com seu desenvolvimento cognitivo e moral,
seus pais? Será que o diretor vai aprovar? O que dirão seus e esse fato não pode ser desconsiderado. Assim sendo, durante
colegas?" A relação, aqui, deixa de ser movida por um interesse os cursos de formação ou aperfeiçoamento, faz-se necessário
pessoal e individual do professor para implicar em um favorecer a participação ativa do educador, estimulando a ação
conhecimento mútuo. Para o professor o justo é manter boas do sujeito sobre o objeto e da ação do objeto sobre o sujeito,
relações com o diretor, com os pais e com as crianças. Sua expondo-o a situações-problema e trocas de experiências,
relação já não deverá ser tão coercitiva, mas também não será visto que, o juízo moral desenvolve-se na medida em que as
cooperativa, porque neste estágio o indivíduo ainda está preso pessoas se confrontam com os problemas sociais e
às expectativas dos outros, e o professor, como autoridade, experienciam conflitos morais.
deverá ajustar estas expectativas para manter a ordem no
grupo e não prejudicar ninguém; O AMBIENTE SOCIOMORAL DA SALA DE AULA E O
DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE INFANTIL
Estágio 4 O professor adota a perspectiva da Escola, da
Direção. "Estou cumprindo ordens", ele pode dizer para Araújo (1993) estudou o papel do "ambiente cooperativo"
justificar alguma falta cometida com seus alunos. Obedece às na sala de aula no desenvolvimento da autonomia moral na
regras e leis da escola sem contestar, nem pensa em mudá-Ias. criança. Ele acompanhou durante um ano três salas de pré-
O imperativo neste estágio é manter a lei e a ordem social. escolas, sendo duas municipais e uma particular. Uma das
Ajustiça é a administração regular e uniforme da lei. É um classes municipais era construtivista e trabalhava com o
princípio para a ordem da escola e não para a escolha pessoal. Proepre, Programa de Educação Infantil, há dois anos. A
Acredita que qualquer sociedade está ligada por acordos professora construiu na classe um "ambiente cooperativo", em
sociais e morais e na escola também, deve-se seguir fielmente que as crianças tinham liberdade para decidir, trabalhavam
suas leis, porque qualquer ação que rompa com estas leis com atividades diversificadas e em pequenos grupos,
ameaça a solidariedade e coesão de tal sistema. Às vezes, pode planejavam e avaliavam o dia de trabalho, tinham seus
sentir-se em conflito diante de casos extremos que envolvam interesses respeitados, numa atmosfera livre de pressão e
outras regras sociais fixas, mas a tendência é agir para cumprir coerção. Nessa classe, as regras eram combinadas por todos, a
com suas obrigações, dentro das normas estabelecidas. É um interação social era valorizada, e quando necessário, a
raciocínio equilibrado, mas não é adequado para enfrentar professora empregava apenas as sanções por reciprocidade,
situações nas quais o sistema de leis entra em conflito com os não se valendo de recompensas ou punições. As outras duas
direitos humanos básicos. O professor pode por exemplo, não eram
dar trabalhos em grupo porque aumenta o barulho, e a ordem "tradicionais", com a professora no papel de figura central
da escola é silêncio; ou ele pode, até, dar trabalhos em grupo, da classe, em uma atmosfera mais autoritária. Autoritária, não
seguindo uma proposta pedagógica por obediência ou no sentido tradicional de autoritarismo, mas sim, no sentido
cumprimento de obrigação, o que demonstra falso equilíbrio; de ser a docente quem determinava o que era para ser feito,
tomava as decisões, ensinava, resolvia os problemas pelas
Estágio 5 O professor é consciente de que há diferentes crianças, valia-se de sanções punitivas e prêmios, "dirigia" os
perspectivas e valores, e que os valores são relativos. As leis e trabalhos da classe e não favorecia a interação social entre as
as regras devem ser defendidas para preservar a ordem social, crianças. Enfim, o ambiente não proporcionava muitas
porém elas podem ser mudadas. O professor centra-se na oportunidades para o aluno construir sua autonomia moral e
elaboração de leis e regras novas e que siga a lei de sua intelectual. Na pré-escola proepreana em que as crianças
consciência, luta pela justiça. Para ele não importará se o vivenciaram um ambiente cooperativo, elas apresentaram um
diretor estabelecer, por exemplo, uma sanção expiatória ou nítido progresso no desenvolvimento do juízo moral,
obrigá-Io a agir de determinada maneira. Ele terá argumentos mostrando-se mais autônomas. Esse resultado confirma que o
morais para se justificar com o diretor, pois ele tem, neste nível socioeconômico dos sujeitos não interfere no
estágio, princípios internos. Estabelecerá um ambiente na sala desenvolvimento da moralidade. Segundo Araújo, o fator que
cujas regras sejam feitas junto com os alunos, e que garantirão parece favorecer o desenvolvimento moral é "o tipo das
os direitos e deveres de cada um. A ênfase está no respeito pela relações sociais presentes no ambiente vivenciado pela
escola e no respeito a si próprio; criança, se cooperativo ou autoritário" (1994, p. 4). Tais
resultados estão em conformidade com os encontrados por
Estágio 6 No estágio 5 vê-se que o professor considera o Bzuneck (1975), que em suas pesquisas concluiu que o nível
ponto de vista moral próprio e o legal da escola, no 6 ele vai socioeconômico não tem papel significativo no
pela consciência e considera o ponto de vista moral. Sua desenvolvimento da moralidade; para esse autor o que parece
preocupação é com princípios morais autônomos. Segue o que interferir nesse desenvolvimento também é o tipo das
considera correto. Se as leis da escola estão em conformidade interações estabelecidas e de papéis assumidos nos ambientes
com seus princípios, segue-as; mas se tiver alguma diferença em que a criança vive.

Bibliografia 125
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Araújo vem realizando um estudo longitudinal, cooperativo sócio-moral na escola ao longo da vida, nada
acompanhando as crianças que fizeram parte de sua pesquisa garante que a criança atingirá a autonomia (mesmo porque
em 1993. Essas crianças ingressaram no ensino fundamental depende também da qualidade dos outros ambientes: familiar,
em escolas "tradicionais", em que prevaleciam as relações de amigos, etc., nos quais a criança irá interagir). Além do fato de
coação e respeito unilateral, e a "obediência" às regras era não podermos desconsiderar o papel do sujeito nessa
conseguida a partir do uso sistemático das recompensas e interação, superestimando o meio (empirismo); contudo, se o
punições. Os autores têm investigado se os alunos que saíram professor não propiciar um ambiente estimulador, com
da pré-escola em que o ambiente era cooperativo, certeza essa conquista tornar-se-á mais difícil.
mantiveram-se mais autônomos ou não, após alguns anos É interessante notar que as próprias crianças percebem as
vivenciando um outro tipo de relação na escola. Para isso, está diferenças entre os dois tipos de ambiente escolar, cooperativo
sendo avaliado o desenvolvimento moral dessas crianças e autoritário. Pudemos constatar isso na pesquisa piloto que
depois que saíram da pré-escola; essa avaliação já ocorreu por realizamos com alunos das classes que fizeram parte desse
duas vezes: uma após um ano de ingresso na primeira série e projeto e que ingressaram em escolas tradicionais de ensino
a segunda quando essas crianças estavam na 3" série (1994; fundamental. Falando sobre suas experiências na antiga 1 a
1996a). A partir da análise dos resultados encontrados, série, manifestavam, no mínimo, uma certa decepção,
constatou que as crianças que vivenciaram um ambiente afirmando por exemplo:
cooperativo na pré-escola, mantiveram um nível de
desenvolvimento do juízo moral mais autônomo, quando FEL, terceira semana de aula:
comparadas àquelas que participaram de uma pré-escola Lá a gente não pode fazer nada. Não pode conversar, tem
tradicional, "apesar das mudanças nas características das que ficar sentado quietinho. A gente só pode ficar numa
relações estabelecidas entre elas e os adultos no novo carteira, não pode ficar mudando. Você sabia que a "tia" me
ambiente escolar" (1994, p. 27). Em suas conclusões Araújo pôs de castigo? Não conta para minha mãe, não ... ( ... ) A gente
afirma que a conquista da autonomia pela criança, a partir da não pode nem ir no banheiro sem pedir ( ... ) Meu irmão já tirou
experiência democrática efetivamente vivenciada, subsiste de até "Parabéns", eu ainda não porque eu num faço direito, mas
alguma forma em ambientes escolares mais autoritários. vou fazer uma lição bem bonita para tirar "Parabéns".
Todavia, nessa segunda avaliação (após três anos
frequentando a escola tradicional), Araújo (1996a) chegou P AT, seis meses de aula:
também à conclusão de que todas as crianças apresentaram Na minha classe a professora grita com a gente. Não
um certo desenvolvimento em direção a uma maior autonomia precisa, é só conversar igual nós fazíamos antes. Tem que fazer
no juízo moral, e tal fato "parece confirmar a existência de um tudo do jeito que ela quer. ( ... ) A professora mandou um
fator maturacional influenciando ('ainda que mais bilhete para minha mãe porque não fiz a lição. Ah, ela quer que
lentamente'), mas não determinando, esse desenvolvimento. eu fique fazendo um monte de ba, be, bi... mas, eu não gosto de
Para Piaget, esse fator está relacionado à redução do ficar escrevendo essas coisas.
egocentrismo infantil" (p. 128). FER, dois meses de aula:
Bagat relata uma pesquisa feita em 1984, em que aparece Na primeira série a gente faz lição. A professora falou que
claramente a dependência da autonomia moral não apenas agora acabaram as brincadeiras, que a gente vai ter que
relacionada ao desenvolvimento cognitivo da criança, mas estudar, porque nós não estamos mais no prezinho ... Lá tem
principalmente, segundo a autora, vinculada a uma educação que fazer muita lição com a mão ... E nada de ficar conversando
democrática e isenta do uso incondicionado e acrítico de ou jogando os jogos.
punições físicas. Essa pesquisa confirmou a hipótese de que o Pesq.: "E você acha que aprende mais fazendo 'lição com a
estilo educativo podia favorecer ou inibir na criança a mão'?"
passagem da heteronomia para a autonomia moral. Em seus FER: É mais chato, mas a gente tem que aprender para não
trabalhos, Bagat (1984) comprovou que educadores pouco ficar burro, não é?
dogmáticos (autoritários, centralizadores, donos da verdade) SAM, que chegou a frequentar um mês de aula na I" série,
auxiliam mais efetivamente o desenvolvimento do senso de mas voltou à pré-escola porque a professora julgou que o
responsabilidade nas crianças, demonstrando que um modelo garoto não estava se "adaptando", por ser ainda "imaturo".
educativo aberto e democrático pode desenvolver nestas a Pesq.: "Você acha que no ano que vem, no primeiro ano vai
capacidade de julgar autonomamente. Essa autora conclui, haver regras?"
portanto, que os "modelos educativos podem acelerar, SAM: Não ( ... ) Porque lá quando a gente faz bagunça, eles
diminuir, criar 'espaçamentos' na passagem da heteronomia colocam no castigo direto.
para a autonomia moral" (ibid., p. 56). Por outro lado, nem sempre os professores veem com
De Vries e Zan (1995) afirmam que os resultados das "bons olhos" as crianças egressas de classes de educação
pesquisas que têm realizado indicam que, se comparadas com infantil construtivistas. Alguns acham que essas crianças são
crianças que viveram em ambientes escolares mais desobedientes, falam demais, são mal-educadas.
autoritários, as crianças que interagiram com um ambiente Provavelmente, um dos motivos da "desobediência", seria
escolar "construtivista" (como as autoras o denominam) porque, antes, a criança legitimava a regra por contrato,
apresentam um avanço no desenvolvimento sócio-moral; participava de sua elaboração e conseguia perceber sua
resolvem seus conflitos de maneira mais adequada, e necessidade; depois, quando passa para um ambiente
estabelecem interações mais amigáveis e cooperativas com os educacional autoritário em que as regras e normas de conduta
colegas. são impostas, e nem sempre são claras, elas desobedecem-nas
O docente pré-escolar tem a natural preocupação de saber porque não as legitimam mais (De La Taille, 1995). Porém,
como será a adaptação, no ensino fundamental, da criança que muitas características que são apresentadas como negativas
foi orientada por ele, e se todo o trabalho realizado foi válido, pelos professores, vemos como positivas do ponto de vista
já que depois ela ingressará em uma escola tradicional. Os moral e cognitivo.
resultados encontrados por esses pesquisadores, de certa Sabemos que não é fácil para o educador construir um
forma, diminuem tal preocupação, pois mostram que aquilo ambiente cooperativo em sua sala de aula. Inúmeros fatores
que for investido na criança durante a educação infantil, não dificultam a realização desse trabalho pelo professor, como
será "perdido", muito pelo contrário, mesmo que depois ela por exemplo, o desconhecimento de como o ser humano
passe a frequentar uma escola onde o ambiente seja mais aprende, como a criança desenvolve-se em todos os aspectos e
autoritário. Todavia, por mais que se crie um ambiente de como ele pode auxiliar esse processo. Sem esse

Bibliografia 126
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimento fundamental, o educador não consegue atuar de autoridades. Porém, a grande maioria prefere a abordagem
maneira a favorecer o desenvolvimento. O que acontece muito, tradicional do já experimentado e aprovado".
e gera enorme insegurança no trabalho docente, é que os
especialistas em educação invalidam aquilo que o professor Brooks e Brooks (1997) consideram que ter como
conhece, dizem que tal procedimento não é certo, que principal preocupação a "aprendizagem" do aluno (isto é, o
determinado método é ineficaz, que sua postura deveria ser compromisso com o ensino do currículo e não com a criança)
outra. Porém, ao desqualificar ou questionar o trabalho do é um dos motivos pelo qual alguns professores resistem à
educador, nem sempre apresentam uma outra opção para pedagogia construtivista. Para esses educadores não há razões
substituí-Io, não oferecem alternativas, instrumentos que para mudar pois seus enfoques atuais parecem funcionar bem
auxiliem sua prática pedagógica. Ou estudam teorias, estudo para seus alunos; ou seja, "seus alunos tomam notas
esse fundamental para embasar o trabalho didático, mas não compreensivas e passam em testes importantes; atuam bem
fazem a necessária relação com a prática em sala de aula. Por em gabaritos; completam tarefas caprichadamente e a tempo;
exemplo, o educador sabe que não deve se valer de castigos e escrevem relatórios bem estruturados e pesquisados,
ameaças, mas o que fazer diante de um mau comportamento? individualmente ou em grupo; e recebem notas boas por seus
O docente possui assim, uma carência de procedimentos trabalhos" (p. 113). Os autores compreendem que se tomar um
pedagógicos adequados, refletidos e embasados numa teoria professor que ajuda o aluno muito mais a "buscar" e "pensar"
científica, que o instrumentalizem em seu trabalho diário com do que "seguir" e "obedecer", é desafiador e, de muitos modos,
as crianças. amedrontador.
Professores que resistem à pedagogia construtivista o
Kamii (1982), acredita que a mudança do ensino fazem por razões compreensíveis: a maior parte deles não foi
tradicional para o construtivista levará muito tempo, em parte educada nestes ambientes e nem capacitada para ensinar
porque o ensino construtivista "é o ensino mais difícil jamais dessa maneira. A mudança, portanto, parece enorme. E, se as
inventado". A teoria piagetiana é uma teoria muito extensa e práticas instrutivas correntes são encaradas como
complexa. E não é possível ser construtivista se não a funcionando, há pouco incentivo para experimentar novas
conhecer. E não há como simplificá-Ia ou ensinar receitas. As metodologias - mesmo quando a pedagogia envolvendo as
pessoas consideram-se construtivistas sem sequer conhecer novas metodologias é atraente (ibid.).
parte da teoria epistêmica de Piaget. Talvez, em virtude da Outros professores compreendem, erroneamente, que o
complexidade dessa teoria, alguns educadores restringem o construtivismo como teoria ou aplicado na sala de aula é uma
construtivismo a somente algumas áreas, como por exemplo, grande bagunça. Demonstram a preocupação em não abrir
às pesquisas de Emília Ferreiro. Não raro, são encontrados mão das estratégias disciplinares empregadas e da forma
alguns professores que, somente pelo fato de utilizarem um como ensinam, pois estas funcionam para manter o domínio
material didático que se "autointitula construtivista" julgam- sobre a classe.
se construtivistas. Outros professores demonstram ter uma Estes professores tendem a se preocupar mais com a
compreensão ainda reducionista ou equivocada do questão de administração comportamental do que com a
construtivismo, acreditando que o mesmo se aplica ou "dá aprendizagem dos alunos, e eles estão temerosos de que o
certo" apenas com algumas turmas ou em algumas escolas que enfoque construtivista desgaste em parte seu controle.
apresentam melhores condições para esse trabalho. Alegam Quando uma professora organiza a dinâmica da sala de aula de
que determinada turma não sabe trabalhar em grupo, que forma a que ela seja a única a determinar o que está "certo" na
outra não está acostumada a ter liberdade, que a escola não é mesma, a maioria dos estudantes aprende a se conformar com
favorável, que o espaço físico não é adequado, etc. Com relação as expectativas sem críticas, a abster-se de questionar as
a isso, Fortuna (1996, p. 10) considera que: diretrizes da professora, a pedir permissão da professora para
se movimentar na sala e a olhar para ela em busca de avaliação
A criança não nasce construtivista, o que explica que julgadora. O resto se desobriga. Dar aos alunos o poder de
mesmo os procedimentos em sala de aula - de estudo, construir seus próprios entendimentos, então, é percebido por
participação e troca - são construídos. O professor não pode estes professores como uma quebra ameaçadora do pacto
exigir da criança que saiba organizar-se para um passeio, sem hierárquico não-escrito, mas amplamente entendido, que
que ela tenha oportunidade de aprender como se faz isto. A vincula professores e alunos (ibid.)
frase "com esta turma não é possível ser construtivista" é uma Certos professores argumentam que embora considerem
falácia, pois insinua, aprioristicamente, que algumas turmas interessante o ensino construtivista, estão presos demais à
são de um jeito e outra são de outro, desprezando que mesmo forma tradicional na qual planejam e executam suas aulas,
a postura construtivista, como já foi dito, é construída. enraizados demais em suas carreiras de ensino para rever
tudo que conhecem e reconstruir suas práticas pedagógicas.
Ao deparar-se com o estudo da teoria construtivista, Explanam sobre os anos de experiência que possuem, talvez
alguns educadores afirmam que essa teoria vem de encontro esquecendo que em qualquer processo educativo é necessário
com a forma pela qual acreditavam que as crianças aprendiam. planejar, executar, avaliar, reestruturar, estudar, modificar,
Observa-se que as implicações pedagógicas decorrentes etc. Muitas vezes, o professor teve, na verdade, somente um
desses estudos são recebidas com entusiasmo, pois são ano de experiência, repetida durante muitos anos ... Kamii
coerentes com suas práticas educacionais, ou seja, já faziam (1982) receia que o caminho mais suave para adotar a
parte da elaboração intrínseca de seu fazer em sala de aula. educação construtivista seja esperar que a geração mais velha
Entretanto, é comum observar também que, num primeiro se aposente, abrindo vagas para a geração mais jovem.
momento, muitos professores ficam incógnitos, descrentes, A educação construtivista requer que o professor
querem "ver para crer", tendo uma postura de resistência ao compreenda profundamente como a criança constrói o
novo e de defesa de tudo que já sabem. O que é natural, visto conhecimento e como se desenvolve em todos os seus
que, passam a sentir-se inseguros diante de um novo caminho, aspectos, ele precisa perceber os caminhos do seu raciocínio,
no qual não há receitas prontas, nem "manuais de instruções" o que ela compreende, e apresentar questões que a
a serem seguidos. É muito mais fácil e menos arriscado seguir desequilibrem, que gerem conflitos cognitivos, e que
as instruções de um manual do professor, dar aulas lidas, propiciem objetos adequados para a criança agir na busca do
distribuir apostilas e folhas de exercícios. Kamii (1982, p. 6) equilíbrio. É necessário que o professor compreenda o que a
esclarece que "a autonomia como meta da educação é criança está pensando e como ela é. O autoritarismo do adulto
preferida por alguns pais, alguns professores e algumas terá que ser minimizado, e o uso de sua autoridade precisa ser

Bibliografia 127
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

muito bem administrado, visando auxiliar a criança na O construtivismo é uma filosofia, uma postura perante a
construção de sua autodisciplina. Trabalha-se com o raciocínio vida. Não é possível ser construtivista apenas na sala de aula.
(sistemas lógicos) e não apenas com conteúdos. Seguir uma Como dissemos, o professor deve mudar não apenas o seu
orientação construtivista é muito mais do que simplesmente método de ensino, mas a maneira total de como ele se encara,
encontrar formas prazerosas de "ensinar os conteúdos". Assim compreendendo o ser humano como agente de seu
como as crianças que, por não compreenderem as regras desenvolvimento, construtor de seu conhecimento. "O
impostas externamente e não elaboradas pela consciência respeito pelo raciocínio das crianças inclui raciocinar tanto
(como a noção de verdade e mentira), demonstram uma sobre o mundo das pessoas como sobre o mundo dos objetos"
obediência superficial às regras, os educadores, que ainda não (DeVries & Zan, 1997, p. 135). Para um curso ou estudo ter
conseguem compreender completamente o construtivismo resultados é necessário, primeiramente, que o educador esteja
(que é difícil, complexo e exige muito esforço, estudo e todo um desejoso de mudar, que acredite que sua prática pode ser
processo de reconstrução interior), só conseguem aplicá-lo melhorada. Para Kamii (1982, p. 16), "é extremamente árduo
superficialmente ou de uma maneira distorcida, refletindo para um professor cessar de ser o centro todo-poderoso e
uma assimilação deformada da teoria piagetiana. Se os onisciente da classe". A afirmação de uma professora de pré-
professores compreendessem a aprendizagem ou a escola, que dizia tentar trabalhar de uma maneira
construção do conhecimento e o desenvolvimento construtivista, elucida bem essa ideia. Essa docente disse que
cientificamente, a pedagogia poderia sair do atual estágio com o "construtivismo", ela não podia ensinar mais nada, que
rudimentar do decidir e do agir pedagógico embasados no agora ela não se considerava mais a "professora", a que dirigia
senso comum. a classe, mas sim uma mera monitora, não tendo mais
É fundamental que o professor que pretenda seguir uma autoridade alguma. Essa professora não percebeu que, pelo
orientação construtivista busque adquirir o hábito do estudo fato de conhecer e respeitar o desenvolvimento da criança,
teórico (o que já significa um grande obstáculo para a maioria), permitindo que esta seja agente de sua formação, em nada
procurando fazer a ponte dessas descobertas com sua prática diminui a relevância de seu trabalho, muito pelo contrário. Seu
pedagógica, onde irá confrontar o que encontra nos estudos papel é ainda mais significativo: estimular e criar um ambiente
com aquilo que vive em sala de aula. Ramozzi-Chiarotino, em propício para que as crianças consigam se desenvolver
comunicação pessoal, afirmou que "a teoria piagetiana é difícil plenamente em todos os aspectos de sua personalidade nesse
e não se pode fazer nada com relação a isso. Não podemos período de vida em que se encontram, visto que o meio
caricaturá-Ia ou simplificá-Ia. Nós temos o hábito de constitui a matéria-prima nessa construção, podendo acelerar
abandonar a teoria, priorizando a prática". É um processo ou atrasar esse processo.
desgastante e árduo, visto que, as transformações são internas
e ninguém modifica-se de uma hora para outra. Todavia, é A idéia ainda arraigada em alguns educadores de que
também "um caminho sem volta", como afirmou uma existe uma real dificuldade para acompanhar todas as crianças
professora, "as mudanças são inevitáveis: mudei não somente quando um professor está trabalhando naquele dia mais com
no trabalho com meus alunos, mas com relação a mim mesma, um grupo ou com algumas crianças, enquanto as outras
com minha família, com a sociedade ... ". Para isso, realizam atividades diversificadas, ou ainda quando são as
primeiramente, é necessário que o professor supere a defesa próprias crianças que escolhem as atividades, trabalham em
inicial que se apresenta, geralmente, na forma de descrença ou pequenos grupos, resolvem seus problemas, tomam decisões,
negação, e acredite na teoria, ou melhor, que acredite na etc., demonstra novamente a necessidade de o professor
possibilidade de que aquilo que está sendo estudado possa controlar a tudo e a todos, como se isso fosse possível. Esses
acontecer, para que possa confrontar o estudo com a prática, educadores sentem-se mais seguros e competentes quando
estabelecendo relações, chegando a conclusões por si mesmo. todos fazem as mesmas coisas juntos, quando lê tudo que é
Quanto mais estudo, conhecimento, preparo, mais as decisões escrito, corrige quando há erros, acompanha a execução das
sobre o "fazer" do educador, deixam de fundamentar-se atividades, etc. Assim, possui a falsa impressão de que está
principalmente no senso comum, passando a ser embasadas atento a quase tudo, de ter o processo sob controle. Enquanto
no conhecimento científico de como a criança desenvolve-se e o professor não compreender que mais do que planejar e
como ela aprende. Assim sendo, progressivamente, o educador acompanhar todos os passos, ele precisa saber quando e como
estará ampliando sua autonomia profissional, autonomia esta, intervir (e quando é importante que não intervenha) e qual o
necessária para desenvolver o trabalho pedagógico seu papel em sua classe, dificilmente conseguirá realizar um
construtivo. trabalho pedagógico fundamentado nos princípios
Para Haguette (1986), há um outro fator que dificulta a construtivistas. Muito mais importante do que acompanhar
construção de um ambiente cooperativo na sala de aula, é a quase todos os momentos ou trabalhos das crianças, é saber
própria imaturidade moral dos educadores, "que geralmente fazer boas intervenções em algumas situações ou atividades,
foram vítimas, na sua própria vida, de um processo moral. Sem intervenções estas que podem resultar em conflitos cognitivos
liberdade pessoal, eles desenvolvem práticas autoritárias e e sócio-morais, desencadeando o processo de equilibração.
repressivas e não sabem educar para a prática da liberdade.
Aqui é o caso de dizer que o educador precisa ser reeducado" É difícil e árdua essa mudança. O professor trabalha com
(ibid., p. 40). seres humanos, por isso sua responsabilidade é muito grande,
e, como vimos, ele não apenas exercerá influências na
O "adultocentrismo" ou "cegueira egocêntrica" como formação da criança, mas a sua postura dentro da sala de aula
Domingues de Castro (1993) denomina, que seria o será decisiva para a futura autonomia moral e intelectual dessa
egocentrismo no adulto, quando este não vê outra perspectiva criança. Ele é um "profissional que não exerce poder absoluto
senão a de si próprio, é um outro fator. O adulto considera-se sobre o saber, mas justamente por conhecer como ocorre o
como aquele que sabe mais, que lhe cabe ensinar o que é certo processo de desenvolvimento cognitivo, social e moral toma-
ou errado. Reflete no outro os seus parâmetros pessoais. se um elemento desequilibrador do processo de construção do
"Afinal", questionam-se alguns professores, eu fui educado conhecimento" (Oliveira, 1994, p. 9). Com relação ao "adulto-
desse jeito e tive êxito. Ensino dessa mesma forma há anos, as centrismo" não há muito o que fazer. A mudança de postura,
crianças pareciam aprender, com algumas exceções ... Se eu nesse caso, independe de cursos de formação e
sempre trabalhei assim a vida inteira, porque deveria mudar aperfeiçoamento, pois, assim como a criança, ele é incapaz de
agora?". descentrar-se, de sair do seu ponto de vista. Os estudos de
Lukjanenko (1995) já apresentados neste capítulo,

Bibliografia 128
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

demonstram essa relação entre o desenvolvimento moral do operacionalize, pode gestar uma transformação maior ou
professor e as relações estabeleci das por ele em sala de aula. menor no mundo externo. A queixa, pelo contrário, imobiliza
(p. 107).
Há também a "desculpa verdadeira", isto é, dificuldades
que realmente existem e tomam custoso o trabalho do Assim, a autora considera a queixa "como lubrificante da
professor, como o número excessivo de alunos na classe, máquina inibitória do pensamento", visto que, em vez de
carteiras tipo universitárias, a falta de material, o espaço físico procurarem soluções alternativas para as inúmeras
inadequado, as pressões ou conflitos existentes entre o dificuldades encontradas, alguns professores simplesmente se
professor e o diretor da escola, com os pais e mesmo entre os restringem a "exercer cotidianamente essa forma de contra-
próprios colegas de trabalho. Há escolas onde o ambiente violência" que é a lamentação. Essa "queixa-lamento" funciona
físico e social é excelente, mas, mesmo assim, o professor não muito mais como uma transferência de responsabilidade ou
consegue realizar um bom trabalho na construção da uma acusação dirigida a alguém. A pessoa ao fazer essa
autonomia moral e intelectual das crianças. Mas na maior reclamação espera, daquele que escuta, a entrega de uma
parte das vezes, não existe um ambiente com condições solução, mais do que compartilhar o entendimento do
propícias, favoráveis. A maioria dos educadores enfrentam problema. Femández ressalta que para muitos educadores, a
empecilhos e problemas de toda ordem, uns mais outros queixa constitui uma transação, uma maneira que utilizam
menos. Entretanto, as dificuldades não devem ser justificativas para denunciar o seu mal-estar; só que, ao mesmo tempo, ao
para a não-realização de um bom trabalho. lamentar-se estão fortalecendo e ampliando a situação que o
originou, pois essa postura resignada é garantia de que nada
Dependendo da formação pessoal do educador mudará. Assim sendo, do mesmo modo que a queixa do
(compreendida como história de vida, crenças, idéias, educador pode ser um sintoma de insatisfação, uma maneira
características particulares, valores, concepções, formação de denunciar seu aborrecimento, este instrumento, ao mesmo
profissional, etc.), essas reais dificuldades podem ser tempo, assevera que tudo ficará tal como está.
"contornadas" e, muitas vezes, resultam num benefício para as
próprias crianças. Em uma escola estadual, numa mesma sala Por exemplo, uma das queixas pode ser: "Os governos não
funcionavam, em períodos alternados, uma pré-escola e uma se interessam pela educação". Essa frase, como qualquer
classe de ensino médio profissionalizante. Tudo que as queixa, com uma máscara de aparente questionamento, está
crianças deixavam exposto, os jovens estragavam. Então, a convalidando a situação, ao torná-Ia como irreversível. Do
classe resolveu a dificuldade da seguinte forma: todas as mesmo modo que se diria "depois do dia vem a noite", não há
manhãs, as crianças que chegavam primeiro iam encostando mais remédio (ibid., p. 111).
as carteiras e cadeiras na parede, abrindo espaço para formar
a roda inicial, e assim que terminavam, todos auxiliavam na Aqueles professores que demonstram sempre estar
disposição das mesmas em pequenos grupos, unindo quatro plenamente satisfeitos com seu trabalho, que possuem
carteiras. As que sobravam ficavam encostadas na parede. No respostas prontas para tudo, que têm sempre justificativas
final da aula, as crianças dispunham as carteiras na posição para convalidar as dificuldades que enfrentam, ou ainda que
original, em fileiras. Não se podia deixar cartazes, materiais, colocam as causas dos problemas com que se deparam como
etc. na sala, por isso, eram guardados em caixas, na diretoria. sendo alheias à escola ou ao trabalho pedagógico (a "culpa" é
Algumas crianças, semanalmente, eram responsáveis pela somente da família, da criança, do nível socioeconômico, do
"montagem" do ambiente da sala assim que chegavam (sem governo, são os pais que exigem, etc.), dificilmente, assumirão
esperar pela "autorização" da professora), e pela arrumação, uma postura de profissionais reflexivos, atuantes e
no final da aula, guardando novamente os materiais nas caixas autônomos, pois estão sempre isentando-se da necessária
e levando-as à diretoria. Dessa forma, uns eram responsáveis revisão interna, do refletir nas possibilidades, de buscar
por levar até a sala (e guardar) os materiais da pintura, da alternativas viáveis.
sucata, da escolinha, outros pelas pastas, etc. Cada um tinha
uma responsabilidade. Quando alguém precisava de algum Fernández julga que a queixa é uma maneira de "expulsar
material, que não tinha em sala, dirigia-se espontaneamente à a violência que não se pode engolir"; assevera que é necessário
diretoria para buscá-Io, sem precisar pedir. Assim, todos os dar um basta nesse círculo de lamentações, posto que, "o
dias as crianças iam revezando-se montando e desmontando a problema não está no que os outros fizeram de mim, mas sim no
sala, deixando-a exatamente como tinham encontrado no que eu faço com que os outros fizeram de mim" (ibid., p. 110).
início da aula, cooperando entre si. Com o tempo, as crianças Esse "basta" não ocorre a partir da "negação" do problema, é
acostumaram-se com essa rotina, que passou a fazer parte do preciso que a reclamação seja trabalhada, considerada e
dia de trabalho como as outras atividades, acontecendo refletida (isso não significa que, necessariamente, se chegará a
rapidamente. O que poderia ser uma boa justificativa para a solucioná-lo, muitos problemas não o serão). O mais
não-realização de um trabalho, foi se transformando numa importante é o processo de busca de soluções, ou seja, que a
excelente oportunidade para a aprendizagem da cooperação. situação-problema seja analisada, que gere reflexões,
investigações, análises, discussões, que sejam levantadas
Encontrando-se bem próxima à "desculpa verdadeira", questões e hipóteses entre as pessoas envolvidas. É preciso
observa-se ainda a "queixa", como justificativa para a ausência auxiliar o professor a transformar a "queixa-lamento" em juízo
do ambiente sócio-moral cooperativo na escola. Alícia crítico, em que a certeza enganosa perde terreno para a
Fernández (1994) afirma que nós recorremos à queixa, para dúvida; é preciso abrir e valorizar o espaço para a elaboração
descrever uma "suposta análise da nossa realidade", todavia, de questões necessárias à (re ) construção do conhecimento,
na verdade a "queixa" pode ser considerada como uma da aprendizagem.
armadilha, pois, limita-se a um "lamento impotente que
confirma e reproduz um lugar de dependência". ( ... ) ao sair da queixa inicial, podem começar a exercer um
juízo crítico, podem começar a pensar, a refletir, a dar espaço
A armadilha consiste na crença equivocada de que se está às perguntas, a suportar o vazio momentâneo da ausência de
usando o juízo crítico, de que se está pensando ou analisando respostas, sem cair na facilidade das supostas explicações
uma situação, quando somente se está convalidando. O juízo rápidas que as queixas implicam. ( ... ) (após esse trabalho) as
crítico, o pensar, implicam, necessariamente, uma pessoas descobrem um fato que inicialmente pode parecer
transformação no mundo interno que, segundo como se doloroso, mas cujo descobrimento é, por si, mola para a

Bibliografia 129
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

mudança. Este fato refere-se à tarefa de reprodução ideológica continuidade a esse trabalho, colaborando no processo de
que realizam (às vezes, sem se darem conta) em sua atividade desenvolvimento global, e não priorizando um aspecto, que
docente diária, na qual, simultaneamente, padecem uma geralmente é a leitura e escrita.
submissão e desvalorização, a legalizam e a reproduzem em si Atualmente, a escola não pode mais ignorar as pesquisas
mesmas e em seus alunos. ( ... ) Se as professoras escutassem recentes em psicologia, na área do desenvolvimento da
seus próprios protestos, ou inclusive simplesmente deixassem criança, os novos trabalhos em educação, em aprendizagem e
espaço e valorizassem suas próprias perguntas, isso bastaria continuar a ensinar da mesma maneira. Urge modificar toda
para provocar um estalo na armadura do sistema educativo uma estrutura deficitária em que se encontram a maioria de
(ibid., pp. 111-113). nossas escolas. Inclusive, constata-se que os profissionais que
estão sendo requisitados pelo mercado de trabalho são
Um outro aspecto relevante na construção do ambiente aqueles mais criativos, independentes, com uma formação
cooperativo, é que alguns professores consideram que para global, autodidatas, que saibam tomar decisões, assumir
trabalhar com educação infantil basta "gostar" de crianças. responsabilidades, que se valem do raciocínio para encontrar
"Gostar de crianças" não é, de forma alguma, condição respostas e soluções. As empresas estão procurando
suficiente; mas é condição necessária para se trabalhar com os profissionais versáteis, que saibam criar e pesquisar, e não os
pequenos. Se o professor não aprecia trabalhar com crianças, que decoram fórmulas, obedeçam ordens ou esperem alguém
ele não aprenderá a gostar delas em nenhum curso de dizer-lhes o que fazer; profissionais que tenham interesses em
formação ou aperfeiçoamento; podendo, no máximo, vir a se atualizar, que leiam, informem-se e consigam expressar-se,
aprender a respeitá-las, e isso, se for tomando consciência da falando e escrevendo bem.
importância de o professor ser um profissional preparado, O estudo e o aperfeiçoamento são necessários em qualquer
apto e capaz para auxiliar as crianças na construção do profissão, principalmente nos dias atuais, em que as pesquisas
conhecimento, visto que, desempenhará um importante papel e informações são produzidas numa velocidade espantosa. No
na vida delas. Porém, infelizmente, alguns professores de caso do educador, apenas o curso de magistério ou faculdade
educação infantil afirmam que "não gostam de trabalhar com não são suficientes para uma boa formação, isto sem contar o
crianças de jeito nenhum" ... essas pessoas demonstram não nível dos cursos de graduação existentes. É comum o professor
respeitarem suficientemente as crianças e nem a elas mesmas, achar que já aprendeu o suficiente, ou que "na teoria é uma
a ponto de mudarem de profissão. coisa e na prática é outra". É fundamental o estudo constante
Pelo fato do educador trabalhar com seres humanos, sua
Outros professores consideram que apenas "bom senso e responsabilidade aumenta. É notório que professor, para
instinto naturais" são suficientes para educar a criança garantir orçamento doméstico, possui excesso de trabalho,
moralmente. Mas, apenas isso não é o bastante. Buxarrais além das responsabilidades familiares, sobrando assim, muito
(1992, p. 20), afirma que: pouco tempo para frequentar cursos, quando são oferecidos, e
para o necessário estudo em casa.
Para promover um tipo de educação moral baseada na Uma outra dificuldade são os custos de um curso ou
construção racional e autônoma de valores toma-se congresso, que mesmo quando não elevados, pesam, no já
necessária, uma série de métodos ou técnicas que podem ser minguado salário do docente. Nem sempre o estado ou
usados dentro da sala de aula para desenvolver o julgamento município (ou escola privada) investe na qualificação e
moral da criança e conseguir, ao fim, que ela adquira juízos e aperfeiçoamento do professor, às vezes por falta de condições
ações coerentes, ou melhor, que ela atue de acordo com o que financeiras e outras vezes por desinteresse (ou "outras
pensa e que esse pensamento seja raciocinado moralmente. prioridades"). Tal fato fica evidente na carência de cursos,
oportunidades de estudo e reflexão por parte dos profissionais
Como foi dito anteriormente, sabe-se hoje em dia que a da educação, e na falta de condições básicas de trabalho (o
inteligência e o desenvolvimento afetivo e social de uma ideal seria que o professor recebesse um salário digno, que lhe
pessoa adulta, dependem muitíssimo do que lhe foi oferecido possibilitasse a participação e o custeio de seu
nos primeiros seis anos de vida. As recentes pesquisas da aperfeiçoamento). Há inúmeras cidades (e escolas privadas),
neurociência comprovam que o desenvolvimento intelectual porém, em que está sendo feito um grande investimento nessa
poderá ser rápido ou lento, dependendo do ambiente em que área com a possibilidade do professor frequentar cursos, ir a
a criança vive. Crianças privadas de estímulo intelectual jamais eventos científicos, participar de estudos. Mas, infelizmente,
chegarão a ser o que poderiam ser, atingir, se houvessem sido alguns docentes e profissionais ligados à educação,
estimuladas adequadamente. Por isso não podemos ignorar o simplesmente não participam. Cabe ao docente refletir sobre
papel da educação infantil. É fundamental para o seu suas prioridades, objetivos profissionais e que tipo de seres
desenvolvimento no futuro que a criança curse uma boa pré- humanos pretende formar. A prática em sala de aula reflete os
escola. Ela não deve ser considerada a "escolinha" ou o seus objetivos. O estudo e o aperfeiçoamento por parte de
"parquinho", ser apenas um lugar para a criança brincar, qualquer educador não é apenas necessário, mas fundamental,
aprender hábitos de higiene ou muito menos uma preparação e o docente, por mais empecilhos que possua, tem que fazer
para o ensino fundamental, com atividades mais simplificadas uma reflexão sobre isso, pois, as conseqüências de seu
que aquelas ministradas no primeiro ano do ensino trabalho estarão refletindo-se diretamente sobre aquelas
fundamental. Segundo Mantovani de Assis (1981) seu objetivo crianças que lhe foram confiadas. Em nosso trabalho, temos
é muito maior e mais abrangente: ela deve desenvolver na contato com muitos profissionais-educadores, e percebemos
criança o máximo, isto é tudo aquilo que ela poderá vir a se que grande parte deles demonstram muito interesse em
desenvolver naquele período de vida em que se encontra. crescer, procuram oportunidades de aprender, de melhorar
Como se pode observar, o objetivo da educação infantil é bem sua prática pedagógica, mas alguns afirmam que nem sempre
mais amplo do que preparar a criança para a escola de ensino sabem onde buscar esse aperfeiçoamento.
fundamental. Todavia, na medida em que a criança se
desenvolve, sua capacidade de aprender também aumenta. Acreditamos que apesar de essa mudança ser árdua,
Assim sendo, para a autora, se a escola de educação infantil tomar-se um professor construtivista não é algo tão penoso
oferecer os estímulos necessários para que a criança se como muitos pensam. Segundo Brooks (1997) tomar-se um
desenvolva, consequentemente, suas possibilidades de professor mediador entre alunos e ambientes é uma tarefa
enfrentar com êxito a escola de ensino fundamental serão bem maior e mais desafiadora do que simplesmente ser o
muito maiores. Caberia ao ensino fundamental dar "entregador de informações e administrador de

Bibliografia 130
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

comportamento". O processo de mudança precisa ser uma atividade realizada e solicita sua opinião, e em outras
encarado como contínuo, pois em "educação há pontos de situações mais. Mais importante do que solucionar ou evitar
partida mas nunca de chegada". tais situações, o professor deve preocupar-se com o processo
de que se vale ao intervir, tendo sempre como objetivo auxiliar
Considerando a importância do ambiente cooperativo na as crianças a compreender princípios e razões, mais do que
escola para favorecer o desenvolvimento de uma moralidade ensinar ações especificas, ou como resolver os problemas,
autônoma na criança, e, as inúmeras dificuldades que o porque a ação apropriada dependerá da situação, não havendo
educador encontra para construir esse ambiente sócio-moral receitas.
favorável à conquista da moralidade em suas classes, assim Precisamos construir hoje a educação voltada para o
como o fato de que a educação moral não pode ser aplicada futuro, que segundo Werner Market, é aquela que prepara um
somente em um tempo determinado do horário escolar, pois cidadão competente para atuar de maneira construtiva no
as crianças estão aprendendo a se relacionar durante todo o ambiente em que vive e não aquela que capacita apenas para o
dia, é que sentimos a necessidade de aprofundarmos nossos trabalho em si, ou seja, é uma educação que prepara para a
estudos sobre o desenvolvimento da moral idade infantil e vida, para tomar decisões, integrar conhecimentos; que
auxiliar o educador nesse processo. Esse projeto foi elaborado prepara indivíduos para agir e não apenas para reagir;
a partir da fundamentação teórica exposta principalmente planejar e não apenas para executar; visando que esses futuros
neste capítulo, atividades diversas e específicas, adultos tenham competência no trabalho e na vida como um
procedimentos e técnicas que foram colocados em situações todo.
reais. Todavia, ressaltamos que técnicas, métodos e Objetivando formar cidadãos autônomos e adotando a
procedimentos só devem ser utilizados se houver mudanças concepção de que a moral idade diz respeito às interações
consistentes nas relações professor-aluno e entre as próprias entre as pessoas e, portanto, está presente em qualquer
crianças, e que estas possam vivenciar efetivamente situações relação educativa, os novos Parâmetros Curriculares
de justiça, cooperação, solidariedade e respeito mútuo. Não Nacionais (Brasil, 1997), propõem o trabalho com a moral de
acreditamos na utilidade de técnicas e métodos de educação forma transversal. Os temas transversais são considerados
moral sem a efetiva mudança nas relações. Procuramos como o eixo norteador, isto é, aparecem em todas as matérias
elaborar um programa que nos permitisse inter-relacionar os permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as
diversos fatores que intervêm na otimização do orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a
desenvolvimento dos aspectos pessoais e sociais dos alunos escolaridade obrigatória. O que se pretende é que esses temas
(Piferrer, 1992). Uma de nossas metas era auxiliar no integrem as áreas convencionais de forma a estarem presentes
aperfeiçoamento dos professores preparando-os para ajudar em todas elas, relacionando-as às questões da atualidade. "A
os seus alunos nos seguintes aspectos: a auto-estima positiva; transversal idade pressupõe um tratamento integrado das
as habilidades de relação social; a expressão dos sentimentos; áreas e um compromisso das relações interpessoais e sociais
a redução da expressão física e verbal da agressividade o escolares com as questões que estão envolvidas nos temas, a
auxílio mútuo; o respeito a si próprio e às diferenças fim de que haja uma coerência entre os valores
individuais; a valorização positiva de si e do outro; a experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e
autoconfiança; a empatia; a resolução de conflitos; a o contato intelectual com tais valores" (Introd., p. 51). Nas
cooperação e o compartilhar. séries iniciais do ensino fundamental, os temas sociais
Houve uma grande preocupação de respeitarmos sempre contemporâneos são: a ética, o meio ambiente, a educação
os princípios básicos dos procedimentos ativos da educação para a saúde, a orientação sexual e a pluralidade cultural.
moral propostos por Piaget (1967). São apenas dois, mas
fundamentais: Assim sendo, o trabalho com a ética é abordado
1. Não impor pela autoridade aquilo que a criança pode transversalmente. Mas por que é considerado um tema
descobrir por si mesma; transversal? Primeiramente, para que não seja repetido o erro
2. Consequentemente, criar um meio social cometido com a disciplina "Educação Moral e Cívica" que
especificamente infantil no qual a criança possa fazer as partia do pressuposto que a formação moral corresponde a
experiências desejadas. uma "especialidade", assim sendo, a moralidade era
"ensinada" em uma aula específica, isolada no currículo. Uma
Gordon (1985) considera que para a criança conquistar segunda justificativa reside no fato da moral idade "estar
autonomia: presente em todas as experiências humanas e, portanto, deve
• é necessário não depender do juízo dos outros, ser enfocada em cada uma dessas experiências que ocorrem
• é preciso que haja motivação e valorização interna, tanto durante o convívio na escola como no embate com as
• é preciso desligar-se da pressão e opinião valorativa dos diversas matérias" (p. 23). E, por último, por estar presente e
outros. ser trabalhada no dia-a-dia de sala de aula, no cotidiano de
cada matéria, auxilia o aluno a não dividir a moral num duplo
Assim, ao realizar esse trabalho junto com os professores, sistema de valores, aqueles que se falam e aqueles que, de fato,
pretendemos que eles "aproveitem" as inúmeras inspiram as ações. "Infelizmente, tal duplo sistema existe em
oportunidades que surgem no seu dia-a-dia para, nossa sociedade. Associar a educação moral a discursos sobre
primeiramente, conseguir "enxergar" essas situações como o Bem e Mal nada mais faz do que reforçar o divórcio entre
"valiosas" e, consequentemente, trabalhar os aspectos discurso e prática. Ao ancorar a educação moral na vivência
relacionados acima. Visto que a moral idade não é ensinada social, reatam-se os laços entre falar e agir" (ibid.).
diretamente, mas construída a partir da experiência da criança Para o ensino fundamental, dentro da "ética", foram
com as pessoas e as situações, vemos os atos e as situações, selecionados temas morais ou um "conjunto central" de
principalmente aquelas consideradas "difíceis", como valores, que deverão ser trabalhados transversalmente. Esses
excelentes oportunidades para trabalhar a importância de temas, referenciados no princípio da dignidade do ser
normas e valores nos relacionamentos entre as pessoas. humano, são: o respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a
Situações corriqueiras como, por exemplo, quando surge um solidariedade. Todos esses valores estão interligados:
conflito ou briga entre as crianças na interação entre os pares, trabalhando-se um, necessariamente trabalham-se os outros,
quando um objeto perdido é encontrado, quando um aluno para isso, tanto a prática como a reflexão são essenciais: a
conta uma mentira, algo é furtado, quando se faz escola deve ser um lugar onde os valores morais são pensados,
questionamentos ao aluno, quando a criança lhe apresenta refletidos, e não meramente impostos ou frutos do hábito; e

Bibliografia 131
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

também deve se proporcionar o convívio democrático, autonomia significa ser capaz de obedecer a uma lei por
pautado na justiça e no respeito mútuo, pois esse convívio é entendê-Ia necessária para si e para os outros, muitas vezes
compreendido como a melhor experiência moral que o aluno significa também perder vantagens pessoais, deixar de "levar
pode viver. vantagem", por recusar-se a usar o outro como um simples
A moral (e isto vale para todo domínio intelectual) não é meio para uma finalidade que não lhe diz respeito. Assim, a
uma somatória de regras e valores. Antes, é um sistema dentro motivação para tornar-se autônomo ou para propiciar
do qual os diversos elementos estão inter-relacionados. Ao se educação a outros nesse sentido não pode estar ligada a
enfatizar a dignidade do ser humano, realça-se a necessidade nenhuma promessa de êxito individual ou de um grupo
de se fazer justiça, de se respeitar direitos, o que implica o restrito. Querer autonomia, ( ... ) relaciona-se sobretudo a
respeito mútuo. Ao se falar de justiça, de direitos, fala-se de querer um mundo melhor para todos, não, necessariamente,
igualdade e, portanto, de dignidade. Ao se incentivar o respeito para si.
mútuo, incentiva-se o diálogo. E assim por diante. Não é
diferente para a solidariedade: o ideal de dignidade do ser
humano a move, o respeito mútuo a reforça, o senso de justiça
lhe dá rumos, o diálogo a enriquece (Brasil, 1997b, p. 49). WEIZ, T. O diálogo entre o
De acordo com essa perspectiva, para formar cidadãos
autônomos é necessário construir uma atmosfera sócio-moral
ensino e a aprendizagem. São
cooperativa na escola (ou em casa). Para Piferrer (1992), o Paulo: Ática.
professor deve criar um clima sem ansiedade, nem gritos, e
com uma disciplina indutiva. Para estabelecer um ambiente
em que as crianças se sintam seguras, deve-se acrescentar a
esses fatores ordem e uma boa organização. Com os estudos 22Weisz cursou o Normal no Instituto de Educação, no Rio
sistemáticos e o auxílio de uma orientação pedagógica de Janeiro, possivelmente influenciada pela professora de seu
adequada, espera-se que o educador consiga curso primário de quem gostava muito. Ao longo do curso,
construir um ambiente escolar mais tranquilo e cooperativo. O estando envolvida com outros interesses (artes plásticas) quis
funcionamento da classe e do grupo devem ser organizados sair, mas seus pais a convenceram a continuar. Fez, então, o
seguindo alguns princípios ou regras, elaborados por todos os Instituto de Belas Artes (atual escola de Artes Visuais do
integrantes, de maneira a facilitar a participação democrática Parque Lage). Em 1962, quando cursava o seu último ano do
dos alunos e professores. Com certeza haverá problemas de Curso Normal, constatou que a repetência fabricada pelas
convivência e conflitos gerados pela vivência diária entre as escolas tinha ultrapassado os limites, pelo fato de não haver,
próprias crianças e entre elas e os adultos que trabalham na em consequência, vagas para alunos novos na 1ª série. O
escola, dificuldades estas, que podem ser enfrentadas de governador, então, tomou três providencias: aprovou as
maneira dialógica, mirando sempre a justiça e o respeito crianças por decreto - tendo ido todo mundo para a 2ª série,
mútuo. O professor deve agir de modo a encorajar as crianças sabendo ou não ler; montou escolas de madeira, com telhado
a fazerem por si próprias tudo o que são capazes, a tomarem de zinco, e convocou todas as normalistas do último ano do
pequenas decisões, a resolverem seus problemas, intervindo curso para dar aulas. A partir daí, ela foi dar aula, para um
como mediador, já que quando o adulto faz pela criança o que grupo de crianças que tinham entre 11 e 12 anos e, que depois
ela pode fazer por si própria e resolve as dificuldades que ela de terem repetido várias vezes a 1ª série, tinham passado para
tem condições de resolver sozinha, ele não está contribuindo a 2ª em função do decreto do governador.
em nada para o seu desenvolvimento. Visto que a fonte do Eram 45 alunos, sendo que apenas 3 não eram negros. Não
desenvolvimento da noção de justiça, reciprocidade e eram todos analfabetos, porém não se podia considerá-los
autonomia se encontra nas relações democráticas alfabetizados. Apesar de empregar as técnicas de ensino,
(autogestão), na interação social entre os pares, na ação sobre sentia-se como preenchendo o tempo de aula. Não conseguia
o objeto, nas relações de respeito mútuo e cooperação, não avaliar os resultados do trabalho, nem o que deveria esperar
vemos outro caminho para a escola, a não ser procurar das propostas que colocava em prática, sentindo-se confusa e
realmente embasar e orientar a prática pedagógica, os impotente. Situações da sala revelavam o abismo existente
trabalhos desenvolvidos em sala de aula, nos princípios entre o desempenho de seus alunos na escola e o que a vida
expostos acima. fora da escola exigia deles. Nesse sentido, tinha a sensação de
Vale a pena o educador refletir nas considerações feitas que a escola parecia uma armadilha montada para que esses
por Menin (1995, p. 90). Segundo a autora: meninos não pudessem se sair bem, e também, a convicção de
Aprender a considerar o outro além de nós depende em que esse tipo de situação tinha um papel político muito
muito das relações sociais que vivemos. Relações apenas de importante que devia ser enfrentado durante toda a sua vida
coação, com predomínio do respeito unilateral, levam à profissional. Ficava impressionada quando conversava com
submissão às regras por conformidade, medo, prudência ... algumas mães e essas achavam natural que seus filhos não
Provocam, no máximo, adequação social ou raciocínios morais tivessem sucesso na escola. Diziam que ela poderia 'bater
de nível convencional; não constroem autonomia. Relações de neles' para ver se estudavam.
cooperação, com predomínio do respeito mútuo, possibilitam Esse foi seu batismo de fogo que fez com que se afastasse
a descoberta das regras e leis como construções humanas e por 12 anos da educação. A sensação mais profunda que ficou
não sagradas e imutáveis, que se justificam racional e dessa experiência foi a de ignorância. Ficou claro, para ela, que
socialmente, e que devem perdurar enquanto essas razões se as informações e ideias que circulavam na educação não
mostrarem relevantes. Assim, a autonomia exige que a davam conta do problema do ensino. O professor era um cego.
sacralidade das leis ou, em outro extremos, a arbitrariedade Para ela, o professor continua chegando hoje à escola com as
delas seja substituída pela racionalidade social: razões mesmas insuficiências com a qual ela chegou em 1962, sendo
compartilhadas e coletivas justificam a criação das regras. que a diferença, hoje, está na possibilidade que o professor tem
de, se quiser, tentar resolver essa situação. Hoje, os
( ... ) O sujeito autônomo não é necessariamente um professores têm à sua disposição um corpo de conhecimentos
"vencedor" no sentido daquele que sai ganhando sempre ... Se que, se não dá conta de tudo, pelo menos ilumina os processos

22 http://educacadoresemluta.blogspot.com.br/2009/12/telma-o-dialogo-
entre-o-ensino-e_10.html

Bibliografia 132
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

através dos quais as crianças conseguem ou não aprender mais pobres são as que têm hipóteses mais simples, pois vivem
certos conteúdos. O entendimento que se tem do professor poucas situações desse tipo. Para elas a oportunidade de
hoje é o de alguém com condições de ser sujeito de sua ação pensar e construir ideias sobre a escrita é menor do que para
profissional. as crianças que vivem em famílias típicas de classe média ou
Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes trabalhou alta, nas quais ouvem a leitura de bons textos, ganham livros e
em áreas completamente diferentes, e como nenhuma outra gibis, observam os adultos manusearem jornais para buscar
atividade dava sentido à sua vida profissional, acabou informações, recebem correspondências, fazem anotações, etc.
voltando para a educação. Seu compromisso é com essas Isso não quer dizer, que as crianças pobres não tenham acesso
crianças - que são maioria nas escolas públicas - para que à escrita ou não façam reflexões sobre seu funcionamento fora
superem o fracasso e tenham sucesso na escola. da escola, mas habitualmente tais práticas não fazem parte do
Apesar de ser considerada especialista em alfabetização, cotidiano do seu grupo social de origem e isso faz com que o
sua questão é a aprendizagem, em especial, a aprendizagem início de sua escolarização se dê em condições menos
escolar. favoráveis do que para aquelas crianças que participam de
práticas sociais letradas desde pequenas.
Capítulo 2 - Um novo olhar sobre a aprendizagem. Assim, independente do fato de que as crianças venham de
uma família pobre ou não, o que importe realmente é a ação
Apesar de ter iniciado sua docência em 1962, e de ter na pedagógica do professor, e esta dependerá da sua concepção
época um certo conhecimento significativo quanto ao fato da de aprendizagem (todo o ensino se apoia numa concepção de
criança conseguir escrever, mesmo que não ortograficamente, aprendizagem). É possível enxergar o que o aluno já sabe a
ela não tinha um conhecimento científico acumulado que lhe partir do que ele produz e pensar no que fazer para que
permitisse superar um ponto de vista "adultocêntrico", ou seja, aprenda mais. Nas últimas décadas muitas pesquisas pontuam
a forma como se concebe a aprendizagem das crianças a partir uma concepção de aprendizagem que é resultado da ação do
da própria perspectiva do adulto que já domina o conteúdo aprendiz. Dessa forma, a função do professor é criar condições
que quer ensinar. A partir dessa perspectiva, não é possível para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender
compreender o ponto de vista do aprendiz, pois não se participando de situações que favoreçam a atividade mental,
'enxerga' o objeto de seu conhecimento com os olhos de quem ou seja, o exercício intelectual. Quando o professor entende
ainda não sabe. A partir dessa perspectiva, o professor (do que o aprendiz sempre sabe alguma coisa e pode usar esse
lugar de quem já sabe) define, a priori, o que é mais fácil e o conhecimento para continuar aprendendo ele pode identificar
que é mais difícil para os alunos e quais os caminhos que eles que informação é necessária para que o conhecimento do
devem percorrer para realizar as atividades desejadas. Tal aluno avance. Essa percepção permite ao professor
concepção, por parte do professor, gera um tipo de compreender que a intuição não é mais suficiente para guiar a
procedimento pedagógico que dificulta o processo de sua prática e que ele precisa de um conhecimento que é
aprendizagem para uma parte das crianças, principalmente, produzido no território da ciência. É preciso considerar o
aquelas que mais necessitam da ajuda da escola, por ter menos conhecimento prévio do aprendiz e as contradições que ele
conhecimento construído sobre os conteúdos escolares. enfrenta no processo.
Assim, a adoção de uma postura adultocêntrica não é uma Em uma concepção de aprendizagem construtivista, o
decisão voluntária dos professores, uma vez que, o conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do
conhecimento científico que trazem consigo, não lhes permite aprendiz. Esse aprendiz é compreendido como alguém que
enxergar e acolher uma outra concepção de aprendizagem sabe algumas coisas e que, diante de novas informações que
relacionada à perspectiva do aprendiz. têm para ele sentido, realiza um esforço para assimilá-la, assim
A metodologia embutida nas cartilhas de alfabetização frente a um problema (conflito cognitivo) o aprendiz tem a
contribui para o fracasso escolar. A chamada Psicogênese da necessidade de superá-lo.
Língua Escrita, resultado das pesquisas realizadas por Emília O novo conhecimento aparece como aprofundamento do
Ferreiro e Ana Teberosky (1970), sobre o que pensam as conhecimento anterior que ele já detém. É inerente à própria
crianças quanto ao sistema alfabético de escrita, evidencia os concepção de aprendizagem que o aprendiz busque o
problemas que a metodologia embutida nas cartilhas (que faz conhecimento prévio que ele possui sobre qualquer conteúdo.
uso do método da análise-síntese ou da palavra geradora) traz Através dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky e
para as crianças. Por meio das pesquisas das autoras acima demais colaboradores, sabemos que a criança representa a
mencionadas, em uma sociedade letrada, as crianças escrita de diferentes modos, como a expressão de um
constroem conhecimentos sobre a escrita desde muito cedo, a conhecimento sobre a escrita que precede a compreensão real
partir do que observam na interação com o seu meio físico e do funcionamento do sistema alfabético. No caso da
social e das reflexões que fazem a esse respeito. As pesquisas aprendizagem da escrita, o meio social coloca para as crianças
evidenciaram que quando as crianças ainda não se uma série de contradições e de conflitos que a forçam a buscar
alfabetizaram, buscam uma lógica que explique o que não soluções, superar as hipóteses inadequadas quanto ao sistema
compreendem, elaborando hipóteses muito interessantes de escrita, através da construção de novas teorias explicativas.
sobre o funcionamento da escrita. Nesses momentos, a atuação do professor é fundamental, pois
Esses estudos permitiram compreender que a metodologia a conquista de novos patamares de compreensão pelo aluno é
das cartilhas pode fazer sentido para crianças convencidas de algo que depende também das propostas didáticas e da
que para escrever uma determinada palavra, bastar uma letra intervenção que ele fizer.
para cada sílaba oral emitida (hipótese silábica), mas para Essas teorias explicativas são formas de interpretação não
aquelas que ainda cultivam ideias muito mais simples a necessariamente conscientes, mas que orientam a ação de
respeito da escrita, ou seja, que ainda não estabeleceram quem está aprendendo. Tais teorias são modificadas no
relação entre a escrita e a fala (pré-silábica), o esforço de embate com a realidade com a qual o aluno se depara a todo
demonstrar que uma sílaba, geralmente, se escreve com mais instante e especialmente quando o professor cria contextos
de uma letra não faz nenhum sentido. São essas as crianças que adequados para que isso aconteça. Para aprender, a criança
não conseguem aprender com a cartilha e que ficam repetindo passa por um processo que não tem a lógica do conhecimento
a 1ª série várias vezes, chegando a desistir da escola. final, como é visto pelos adultos.
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus Do ponto de vista do referencial construtivista, nenhum
usos a partir da participação em situações nas quais os textos conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de fora, mas
têm uma função social de fato. Frequentemente as crianças precisa ser construído através da interação do sujeito com o

Bibliografia 133
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

meio (físico, social, cultural); nesse processo de construção, as Capítulo 3 - O que sabe uma criança que parece não
expressões do aprendiz não têm a lógica do conhecimento saber nada
final, concebido pelo adulto. As pesquisas realizadas pelo
psicólogo Jean Piaget quanto à conservação de quantidades Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para poder
(massa/ fichas), demonstram que para crianças com idade de atuar é uma questão complexa. Esse saber não está
5/7 anos, o fato de oito fichas apresentarem-se juntas e oito relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva adulta) e
fichas apresentarem-se espalhadas apresentam quantidades sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o
diferentes, simplesmente pela disposição / configuração conhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que
dessas fichas (pensamento pré-operatório/perceptivo/ ele já sabe para o que não sabe. O que realmente importa são
irreversível). Começa com Piaget, a construção de um novo as construções e ideias que o aprendiz elaborou e que não
olhar sobre a aprendizagem. foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas pelo
Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento aprendiz. Quando uma criança escreve fazendo uso de uma
(Epistemologia e Psicologia Genética) que explica como se concepção silábica de escrita, por exemplo, essa 'escrita' não é
avança de um conhecimento menos elaborado para um reconhecida como um saber, pois do ponto de vista de como se
conhecimento mais elaborado, ressaltando que o escreve em português, essa escrita não existe. Mas, para
conhecimento é resultado da interação do sujeito com o meio chegar a escrever em português (escrita alfabética), o aprendiz
externo, que é um processo no qual o sujeito participa precisa passar por uma concepção de escrita desse tipo
ativamente, modificando o meio no qual está inserido e sendo, (silábica), imaginando que quando se escreve representa-se as
também, modificado por esse mesmo meio. emissões sonoras que ele consegue reconhecer (a sílaba),
Foram os estudos de Piaget que abriram a possibilidade de isolando-as pela via da audição.
se estudar a construção de conhecimentos específicos, como o Tal conhecimento é importante e o professor deve
fez Emília Ferreiro que mostrou que era possível pensar o reconhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário
construtivismo - o modelo geral de construção do contribuirá muito pouco com os avanços do aluno em relação
conhecimento, tal como formulado por Piaget e colaboradores à escrita e, se a criança aprender a ler, provavelmente, será por
da Escola de Genebra - como a moldura de uma investigação conta própria.
sobre a aquisição de um conhecimento particular, no caso de Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode
Emília Ferreiro, o da leitura e escrita. ajudar o professor a descobrir o que ela tentou fazer. Somente
A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psicológico um olhar cuidadoso e despojado do professor sobre a
de aprendizagem específico da escrita que serve de produção do aprendiz (quanto ao saber não reconhecido),
informação ao educador, porém a maneira como essas permitir-lhe-á descobrir o que pensa esse aprendiz,
informações são usadas na ação educativa pode variar muito possibilitando-lhe levantar questões e perguntas sobre tal
porque nenhuma pedagogia responde apenas a um modelo produção. Ao desconsiderar o esforço do seu aluno, dizendo-
psicológico. O modelo geral no qual se apoia a Psicogênese da lhe que sua produção não está correta, acaba desvalorizando
Língua Escrita é de que há um processo de aquisição no qual a sua tentativa e esforço e, consequentemente, o aluno vai
criança vai construindo hipóteses sobre a escrita, testando-as, pensar duas vezes antes de produzir de novo. O conhecimento
descartando umas e reconstruindo outras. Durante a se constrói por caminhos diferentes daqueles que o ensino
alfabetização, aprende-se mais do que escrever supõe. Isso acontece no processo de aquisição da escrita, na
alfabeticamente. Aprendem-se, pelo uso, as funções da escrita, construção dos conceitos matemáticos e na aprendizagem de
as características discursivas dos textos escritos, os gêneros qualquer outro conteúdo e mesmo quando os alunos estão
utilizados para escrever e muito outros conteúdos. submetidos a um tipo de ensino convencional, pois o que
O modelo de ensino atualmente relacionado ao impulsiona a criança é o esforço para acreditar que atrás das
construtivismo chama-se aprendizagem pela resolução de coisas que ela tem de aprender existe uma lógica. Se o
problemas (situações-problema). Aprender a aprender é algo professor não sabe nada sobre o que o aluno pensa ou conhece
possível apenas a quem já aprendeu muita coisa. Para a respeito do conteúdo que quer que ele aprenda, o ensino que
aprender a aprender, o aprendiz precisa dominar ele oferece não tem com quem dialogar. Conhecimentos
conhecimentos de diferentes naturezas, como as linguagens, prévios dos alunos não deve ser confundido com conteúdo já
por exemplo. Nesse processo, a flexibilidade e a capacidade de ensinado pelo professor.
se lançar com autonomia nos desafios da construção do Na perspectiva construtivista - de resolução de problemas
conhecimento são extremamente importantes, pois há todo - o professor não pode considerar como sinônimos o que o
um saber necessário para poder aprender a aprender; e isso só aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois não são
é possível para quem aprendeu muito sobre muita coisa. Deste necessariamente a mesma coisa. Para que isso não aconteça, é
modo, é desejável que o aprendiz saiba buscar informações preciso que o professor desenvolva uma sensibilidade e uma
através do computador, porém é fundamental desenvolver a escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, supondo
capacidade de estabelecer relações inteligentes entre os que o que elas pensam tem sentido e não é fruto de sua
dados, as informações e os conhecimentos já construídos. ignorância. O professor precisa criar um ambiente sócio-
Nesse sentido, para ser capaz de aprender afetivo para que as crianças possam manifestar
permanentemente, a bagagem básica necessária atualmente é livremente/espontaneamente o que pensam; somente assim,
acadêmico-cultural, em que se articulam conhecimentos de poderá favorecer situações de aprendizagem significativas. Tal
origem tradicionalmente escolar e aqueles relacionados aos ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre suas
movimentos culturais da sociedade (formação geral). ideias. Do mesmo modo, cabe ao professor oferecer
Assim, a escola tem uma tripla função: conflitos/situações problemas que possibilitem às crianças
1. levar o aluno a aprender a aprender; exercitarem o pensamento, na busca de soluções possíveis.
2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e; Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e
3. equalizar as enormes diferenças no repertório de investigativa. A psicogênese da língua escrita abriu a
conhecimentos dos aprendizes. possibilidade de o professor olhar para a criança e acreditar
que para aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica
É praticamente impossível a escola realizar sozinha essa e o que o professor não enxerga é porque não tem
terceira função, mas sua contribuição é essencial, pois é instrumentos suficientes para perceber o sentido que está
preciso pensar como agir para democratizar o acesso à sendo manifestado pela criança. Um casamento entre a
informação e às possibilidades e construção de conhecimento. disponibilidade da informação externa e a possibilidade da

Bibliografia 134
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

construção interna. Quando o professor não entende a supressões. Não é possível formular receitas prontas para
produção da criança deve-se perguntar à criança, mesmo que serem aplicadas a qualquer grupo de alunos. Nos anos 1970,
não consiga entender suas explicações, uma atividade indicada uma visão de escola como linha de montagem, denominada de
para isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as tecnicista, voltada para criar máquinas de ensinar, métodos de
crianças dão explicações umas às outras e, então, o professor ensino, sequências de passos programados, dominava a
poderá compreender as hipóteses das crianças. concepção de ensino e aprendizagem. No Brasil, esse modelo
Assim, é importante observar os procedimentos dos chamava-se ensino programado. A função do professor, nesse
alunos diante de uma atividade, para que o professor possa modelo, era simplesmente, a de administrar o ensino
reconhecer esses procedimentos dos alunos, de modo, a saber programado e foi, justamente, esse modelo o responsável por
quais são os menos e os mais avançados e que raciocínio os uma exigência cada vez mais baixa de qualificação dos
alunos mais avançados então realizando. O trabalho em grupo professores.
permite que as crianças observem os procedimentos de O ensino programado permitia o que se chamava de
atuação de seus colegas, inclusive daqueles que utilizam 'ensino na medida do estudante', que embora considerasse os
procedimentos de resolução de problemas mais avançados. Ao vários ritmos de aprendizagem da criança, todos aprendiam,
perceberem a possibilidade de diferentes formas de execução, pois, seguindo os passos programados chegariam todos, de
reconhecem o procedimento do colega como mais produtivo e alguma forma, ao final. O papel do professor dentro de uma
econômico, construindo, assim, a lógica necessária para poder proposta construtivista é bem diferente deste proposto pelo
aprender (a criança aprendeu com outra que sabe mais). modelo tecnicista. Cabe ao professor construir conhecimentos
Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a de diferentes naturezas, que lhe permitam ter claros os seus
disponibilidade da informação externa e a possibilidade da objetivos, assim como selecionar conteúdos adequados,
construção interna - construtivismo: um modelo explicativo da enxergando na produção de seus alunos o que eles já sabem e
aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as construindo estratégias que os levem a conquistar novos
possibilidades do sujeito e as condições do meio. Cabe ao patamares de conhecimento. Não há receitas prontas a serem
professor tomar decisões importantes, seja na formação das aplicadas a grupos de alunos, uma vez que, a prática
parcerias entre alunos, seja nas questões que ele mesmo pedagógica é complexa e contextualizada. O professor precisa
propõe no desenrolar da atividade. ser alguém com autonomia intelectual.
Todas as crianças sabem muitas coisas, só que umas sabem
coisas diferentes das outras. As crianças são provenientes de Capítulo 4 - As ideias, concepções e teorias que
culturas diferentes e isso contribui para que saibam coisas sustentam a prática de qualquer professor, mesmo quando
diferentes, por isso é importante que o professor tenha claro ele não tem consciência delas.
que as crianças provenientes de um nível cultural valorizado
pela escola apresentam enormes vantagens em relação às A prática pedagógica do professor é sempre orientada por
outras crianças. Para tais crianças a escola será muito mais um conjunto de ideias, concepções e teorias, mesmo que nem
fácil, porque está em consonância com a cultura da família e do sempre tenha consciência disso. Para que possamos
seu ambiente. Por outro lado, as crianças provenientes de compreender a ação do professor, é preciso verificar de que
ambientes onde as pessoas possuem menor grau de forma seus atos expressam sua concepção sobre:
escolaridade e distantes dos usos cotidianos dos conteúdos - o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
que a escola valoriza encontrarão dificuldades. - o processo de aprendizagem (os caminhos pelo quais a
Assim, a equalização das oportunidades de aprendizagem aprendizagem acontece);
dessas crianças deve ser uma tarefa da escola que deve - como deve ser o ensino.
repensar sua própria prática, de modo a não prejudicar o
sucesso escolar desses alunos. (...) "É preciso, pois, educar o Historicamente, a teoria empirista é a teoria que mais vem
olhar para enxergar o que sabem as crianças que impregnando as representações sobre o que é ensinar, quem é
aparentemente não sabem nada".(p, 49) o aluno, como ele aprende e o que e como se deve ensinar
A equalização de oportunidades de aprendizagem não (modelo de ensino e aprendizagem conhecido como estímulo-
significa uma pedagogia compensatória. É preciso socializar os resposta). Essa teoria define a aprendizagem como 'a
conteúdos pertencentes ao mundo da cultura: literatura, substituição de respostas erradas por respostas certas',
ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso é uma partindo da concepção de que o aluno precisa memorizar e
questão de inserção social e, portanto, direito de todas as fixar informações, as mais simples e parciais possíveis e ir
crianças. A escola não pode ser instrumento de exclusão social. acumulando com o tempo. A cartilha está fundamentada nesse
Todo professor deve levar todos os seus alunos a participarem modelo (palavras-chaves, famílias silábicas usadas
da cultura. exaustivamente, frases desconectadas, textos com mínimo de
O termo cultura é utilizado não em seu sentido coerência e coesão). Como a metodologia de ensino expressa
antropológico e sim no do senso comum: a cultura erudita e a nas cartilhas concebe os caminhos pelas quais a aprendizagem
de larga difusão, mas produzida para e pela elite. acontece. Na concepção empirista, o conhecimento está 'fora'
Todos os professores, principalmente, aqueles das classes do sujeito (a fonte do conhecimento é externa ao sujeito - é o
iniciais que quiserem contribuir para que todos os alunos de meio físico e social) e, é interiorizado através dos sentidos,
sua classe tenham a mesma oportunidade de aprender, devem ativado pela ação física e perceptual.
estimulá-los a participar da cultura. É papel do professor ler O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘vazio’ na sua
diferentes tipos de assuntos/textos (usar o jornal e outras origem, sendo 'preenchido' pelas experiências que tem com o
fontes de informação e de pesquisa) em classe e levar as mundo (conceito de 'educação bancária' criticada por Paulo
crianças para exposições de artistas importantes. É preciso Freire). O aprendiz é alguém que vai juntando informações. O
oferecer às crianças a oportunidade de navegar na cultura, na processo de ensino fundamentado nessa teoria caracteriza-se
Internet, na arte, em todas as áreas do conhecimento, em todas pela: cópia, ditado, memorização pura e simples, utilização da
as linguagens, em todas as possibilidades. memória de curto prazo para reconhecimentos das famílias
Um exemplo de alguém que sabia como tratar as crianças silábicas, leitura mecânica para posterior leitura
era Monteiro Lobato que escrevia livros contando coisas da compreensiva. Para mudar é preciso reconstruir toda a prática
Antiguidade, falando de astronomia, da história do mundo. a partir de um novo paradigma teórico. Em uma concepção
Porém, o que normalmente se oferece para as crianças lerem construtivista, o conhecimento não é concebido como cópia do
são histórias empobrecidas, versões resumidas e textos com real, incorporado diretamente pelo sujeito. A teoria

Bibliografia 135
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

construtivista pressupõe uma atividade, por parte do situações de aprendizagem: atividades planejadas (propostas
aprendiz, que organiza e integra os novos conhecimentos aos e dirigidas) com a intenção de favorecer a ação do aprendiz
já existentes. Isso acontece com alunos e professores em sobre um determinado objeto de conhecimento, sendo que
processo de transformação. essa ação está na origem de toda e qualquer aprendizagem.
Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito ao fato Tais atividades devem reunir algumas condições e
do professor querer inovar a sua prática, adotando um modelo respeitar alguns princípios:
de construção de conhecimento sem compreender, - os alunos devem por em jogo tudo que sabem e pensam
suficientemente, as questões que lhe dão sustentação, sobre o conteúdo que se quer ensinar;
correndo o risco de se deslocar de um modelo que lhe é - devem ter problemas a resolver e decisões a tomar em
familiar para o outro meio conhecido, mesclando teorias, como função do que se propõe produzir;
se costuma afirmar. Outra preocupação diz respeito ao - a organização da tarefa pelo professor deve garantir a
entendimento destorcido por parte de professores, que máxima circulação de informação possível;
acreditando ser o sujeito sozinho quem constrói o - o conteúdo trabalhado deve manter suas características
conhecimento, veem a intervenção pedagógica como de objeto sociocultural real, sem se transformar em objeto
desnecessária. Tais concepções não fazem nenhum sentido escolar vazio de significado social.
num modelo construtivista. Conteúdos escolares são objetos
de conhecimento complexos, que devem ser dados a conhecer, Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm problemas a
aos alunos, por inteiro. resolver e decisões a tomar:
Para o referencial construtivista, a aprendizagem da O aprendiz precisa testar suas hipóteses e enfrentar
leitura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser contradições, seja entre as próprias hipóteses, seja entre o que
apresentada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma consegue produzir sozinho e a produção de seus pares ou
funcional. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, entre o que pode produzir e o resultado tido como
protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, convencionalmente correto. Partindo-se de uma proposta
alguém que vai produzir a transformação, convertendo construtivista, o conhecimento só avança quando o aluno tem
informação em conhecimento próprio. Essa construção pelo bons problemas sobre os quais pensar. Para isso, o professor
aprendiz não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de deve criar boas situações de aprendizagem para os alunos,
situações nas quais age sobre o que é o objeto do seu atividades que representem possibilidades difíceis, porém
conhecimento, pensa sobre ele, recebendo ajuda, sendo dificuldades possíveis de serem resolvidas.
desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas. A A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a acionar
diferença entre o modelo empirista e o modelo construtivista seus conhecimentos de experiências anteriores, fazendo uso
é que no primeiro a informação é introjetada ou não; enquanto deles nas atividades escolares; é preciso criar atividades para
que no segundo, o aprendiz tem de transformar a informação que isso seja de fato requisitado, sendo útil para qualquer área
para poder assimilá-la. Isso resulta em práticas pedagógicas de conhecimento. A organização da tarefa garante a máxima
muito diferentes. Afirmar que o conhecimento prévio é a base circulação de informação possível.
da aprendizagem não é defender pré-requisitos. Os livros e demais materiais escritos, a intervenção do
No modelo construtivista, o conhecimento não é gerado do professor, a observação de um colega na resolução de um
nada, é uma permanente transformação a partir do problema, as dúvidas, as dificuldades, o próprio objeto de
conhecimento que já existe. Essa afirmação de que conhecimento que o aluno se esforça para aprender são
conhecimentos prévios constituem a base de novas situações que informam.
aprendizagens não significa a crença ou a defesa de pré- Por isso, é importante que se garanta a máxima circulação
requisitos e muito menos significa matéria ensinada de informação possível na classe e o ambiente escolar deve
anteriormente pelo professor. permitir que as perguntas e as respostas circulem. Nesse
Não informar nem corrigir significa abandonar o aluno à processo, as informações que chegam até o aprendiz precisam
própria sorte. A crença espontaneísta de que o aluno constrói ser trabalhadas ou interpretadas por ele de acordo com que
o conhecimento, não sendo necessário ensinar-lhe, faz com lhe é possível naquele momento. O professor precisa estar
que o professor passe a não informar, a não corrigir e a se ciente de que o conhecimento avança quando o aprendiz se
satisfazer com que o aluno faz ' do seu jeito'; isso significa defronta com situações-problema nas quais não havia pensado
abandonar o aluno à sua própria sorte. Cabe ao professor anteriormente. Situações significativas de aprendizagem em
organizar a situação de aprendizagem de forma a oferecer sala de aula acontecem quando o professor abre mão de ser o
informação adequada. A função do professor é observar a ação único informante e quando o clima sócio afetivo se baseia no
da criança, acolher ou problematizar / desestabilizar suas respeito mútuo e não no autoritarismo. É preciso incentivar a
produções, intervindo sempre que achar que pode contribuir cooperação, a solidariedade, o respeito e o tutoramento (um
para que a concepção da criança sobre o objeto de aluno ajudando o outro) em sala de aula.
conhecimento avance. É papel do professor apoiar a A interação entre os alunos é necessária não somente
construção do conhecimento pelo aprendiz. porque o intercâmbio é condição para o convívio social na
escola, mas, também, porque informa a todos os envolvidos e
Capítulo 5 - Como fazer o conhecimento do aluno potencializa quase infinitamente a aprendizagem. O conteúdo
avançar. trabalhado deve manter suas características de objeto
sociocultural real. O ensino da língua portuguesa está cheio de
O processo de ensino deve dialogar com o de criações escolares que em nada coincidem com as práticas
aprendizagem. Isso mostra que não é o processo de sociais de uso da língua, objeto de ensino na escola, baseadas
aprendizagem (aluno) que deve se adaptar ao processo de no senso comum. Isso não acontece somente no ensino da
ensino (professor), mas, sim, o processo de ensino que deve se língua portuguesa, mas em todas as outras áreas. Na escola,
adaptar ao processo de aprendizagem. por exemplo, aprende-se a linguagem matemática escrita, que
Para tanto, o professor precisa compreender o caminho de é pouco usada na rua. Porém, não se pode deixar de lado esta
aprendizagem que o aluno está percorrendo naquele competência que o aluno já traz desenvolvida (devido a sua
momento e, a partir disso, identificar as informações e vivência de 'rua') e sobrepor a escolarização a ela.
atividades que permitirão ao aluno avançar do patamar de Quando se trata de ciência ou prática social convertida em
conhecimento que conquistou para outro que é mais objeto de ensino, estas acabam por sofrer modificações. A arte
avançado. Para isso, é preciso que o professor organize é diferente na Educação Artística, o esporte é diferente da

Bibliografia 136
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Educação Física, a linguagem é diferente do ensino de Língua avaliação de percurso - formativa ou processual - feita durante
Portuguesa, a ciência é diferente do ensino de Ciências. Porém, o processo de aprendizagem. Esse procedimento permitirá ao
não se pode criar invenções pretensamente facilitadoras que professor avaliar se o trabalho que está desenvolvendo com os
acabem tendo existência própria. É papel da escola garantir a alunos está sendo produtivo e se os alunos estão aprendendo
aproximação máxima entre o use social do conhecimento e a com as situações didáticas propostas.
forma de tratá-lo didaticamente. A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do
trabalho do professor. Quando se avalia a aprendizagem do
Capítulo 6 - Quando corrigir, quando não corrigir. aluno, também se avalia a intervenção do professor, pois o
ensino deve ser planejado e replanejado em função das
O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógica: aprendizagens conquistadas ou não. Assim, é importante a
planejamento e intervenção, uma intervenção clássica é a organização de espaços coletivos de discussão do trabalho
correção que não é a única intervenção possível, nem a mais pedagógico na escola, valorizando-se a prática de observação
importante, porém é a que mais tem preocupado os de aula pelo coordenador ou orientador pedagógico - ou
professores. Numa concepção construtivista de aprendizagem, mesmo por um colega que ajude a olhar de fora. O professor
a função da intervenção é atuar de modo que os alunos está sempre tão envolvido que, às vezes, não lhe é possível
transformem seus esquemas interpretativos em outros que enxergar o que salta aos olhos de um observador externo.
deem conta de questões mais complexas que as anteriores. A Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes devem
correção é algo relacionado a qualquer situação de receber ajuda pedagógica. Quando, numa verificação de
aprendizagem, o que varia é como ela é compreendida pelo aprendizagem, grande parte dos alunos apresenta
professor. dificuldades, é certo que o professor precisa rever o seu
A tradição escolar normalmente vê a correção realizada encaminhamento. Porém, quando a verificação aponta que
longe dos alunos na qual os erros são assinalados para que os alguns alunos não estão bem, estes devem ser atendidos
alunos corrijam, como a mais importante (concepção imediatamente através de outras atividades que possibilitem
empirista - exigente com a transmissão). Quando se trata de a superação das dificuldades.
uma redação, o texto tem que ser passado a limpo, corrigido - A escola deve estar comprometida com a aprendizagem de
o erro poderá ficar fixado na memória do aluno (concepção todos e, dessa forma, criar um sistema de apoio para que os
que supõe a percepção e a memória como núcleos na alunos não se percam no caminho. As dificuldades precisam
aprendizagem). Outra visão de correção é a informativa que ser detectadas rapidamente para que sejam sanadas e
carrega a ideia de que a correção deve informar o aluno e ser continuem progredindo, não desenvolvendo bloqueios. Tais
feita dentro da situação de aprendizagem (concepção de erro crianças precisam ser atendidas por meio de realização de
construtivo - que faz parte do processo de aprendizagem de atividades diferenciadas durante a aula, trabalho conjunto
qualquer pessoa). com colegas que possam ajudá-los e intervenções.
Os erros devem ser corrigidos no momento certo. Que nem
sempre é o momento em que foram corrigidos. A ideia do erro
construtivo fascinou muitos educadores, que começaram a ver
de outra forma os textos escritos dentro de um sistema silábico
e mesmo os de escrita alfabética. Porém, depois que a criança Anotações
compreendeu o sistema alfabético de escrita é necessário que
o professor intervenha na questão ortográfica, considerando a
melhor forma de fazer isso. O que deve ser repensado é a
concepção tradicional de correção. Os alunos sabem o que
achamos importantes que eles aprendam, mesmo que não
falemos nada. Muitos professores, por não quererem bloquear
a criatividade do aluno, acabam deixando que ele escreva de
qualquer jeito. Tal procedimento acaba consolidando um
contrato didático implícito, pois de alguma forma o aluno
percebe que o professor não valoriza esse tipo de
conhecimento e acaba por desvalorizá-lo investindo nessas
aprendizagens. É importante que o professor tenha claro que
depois de um tempo de escolaridade, são inaceitáveis.

Capítulo 7 – A necessidade e os bons usos da avaliação.

No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro o que o


aluno já sabe no momento em que lhe é apresentado um
conteúdo novo. O conhecimento prévio é o conjunto de ideias,
representações e informações que servem de sustentação para
a nova aprendizagem, ainda que não tenham,
necessariamente, uma relação direta com o conteúdo que se
quer ensinar. É importante investigar e explorar essas ideias e
representações prévias porque permite saber de onde vai
partir a aprendizagem que se quer que aconteça. Conhecer
essas ideias e representações prévias ajuda muito na hora de
construir uma situação na qual o aluno terá de usar o que já
sabe para aprender o que ainda não sabe.
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conhecimentos
prévios, é preciso que o professor utilize um ou outro
instrumento para verificar como os alunos estão progredindo,
pois o conhecimento não é construído igualmente, ao mesmo
tempo e da mesma forma por todos. Esse instrumento é a

Bibliografia 137
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Bibliografia 138
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
LEGISLAÇÃO

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

orientação teórico-metodológica, que se definam os objetivos


de ensino, a organização do trabalho pedagógico, o tipo de
abordagem que se quer dar ao conhecimento e, por fim, que se
considere a realidade sociocultural dos alunos e o contexto da
escola.
Para mobilizar os processos de aprendizagem das crianças
de modo a ajudá-las no desenvolvimento das capacidades
relacionadas à leitura e à escrita e na construção de
representações sobre esse objeto de estudo, as situações de
aprendizagem precisam ser sequenciadas, articuladas e
BRASIL. A criança de 6 anos, contextualizadas, ou seja, as crianças precisam participar de
a linguagem escrita e o Ensino um conjunto de atividades caracterizado por um ciclo de ações
e procedimentos de ensino-aprendizagem – as chamadas
Fundamental de nove anos. Situações de aprendizagem. Organizar esses ciclos de
Ministério da Situações de aprendizagem fica mais fácil quando as
Educação/Secretaria de professoras têm em mente uma proposta de ensino na qual
possam buscar referências metodológicas para projetar seus
Educação Básica. Brasília, trabalhos junto às crianças.
2009 Vale ressaltar, ainda, que, para uma proposta de ensino
tornar-se um referencial e se materializar em uma prática de
ensino adequada, ela deverá ser validada e reconstruída a
partir do conhecimento que se tem das crianças e também das
A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino interações que se estabelecem entre os participantes do grupo
fundamental de nove anos: orientações para o trabalho escolar e deles com os objetos do conhecimento. Dessa forma,
com a linguagem escrita em turmas de crianças de seis a avaliação e o planejamento são fatores determinantes para a
anos de idade1 consolidação desta prática.
Apresentação A avaliação diagnóstica é um procedi- mento de ensino a
ser adotado com o objetivo de se estabelecerem relações entre
A inclusão das crianças de seis anos no Ensino a proposta de ensino, o perfil pedagógico da turma e as
Fundamental amplia a escolarização para uma parcela necessidades de aprendizagem específicas de cada aluno. O
significativa da população brasileira que se encontrava, até planejamento pedagógico, por sua vez, como projeto de
então, privada da educação escolar ou sem garantia de vagas trabalho do professor, só se torna efetivo se elaborado a partir
nas instituições públicas de ensino. Como único nível de ensino da articulação entre a proposta de ensino e os sujeitos da
de matrícula obrigatória no País, o Ensino Fundamental, ao ter aprendizagem.
sua duração ampliada de oito para nove anos, traz para a Uma prática de ensino consistente tem em sua
escola um grupo de crianças que, ao serem introduzidas nessas conformação esse conjunto de elementos bem definidos e
instituições, entram em contato com uma cultura da qual pressupõe uma construção singular de cada professora com
devem se apropriar. É importante também considerar que, seu grupo de alunos, ao mesmo tempo em que requer um
ainda que algumas das crianças de seis anos já frequentassem trabalho coletivo envolvendo todo o corpo docente e os demais
instituições pré-escolares, a entrada desse segmento no profissionais na sua elaboração. Essa construção cotidiana da
Ensino Fundamental impõe novos desafios, sobretudo prática educativa exige dos seus profissionais a capacidade de
pedagógicos, para a área educacional. Como se sabe, mesmo fazer escolhas, criar, recriar, pesquisar, experimentar e avaliar
admitindo a expansão das vagas como condição fundamental constantemente suas opções. Em outras palavras, somente
para a garantia do direito à educação, é no âmbito das práticas uma prática pedagógica autônoma garante as condições para
pedagógicas que a instituição educativa pode tornar-se ela o exercício profissional competente e para a construção de
mesma expressão ou não desse direito. Para que esse direito uma educação comprometida com a qualidade referenciada
se cumpra, portanto, e para que se configure como promotor socialmente.
de novos direitos, o acesso das crianças às instituições Tomando como eixo o princípio da autonomia docente
educativas e sua permanência nelas devem consolidar-se como condição para a concretização da prática pedagógica que
como direito ao conhecimento, à formação integral do ser acreditamos ser de qualidade, pretendemos, com esta
humano e à participação no processo de construção de novos publicação, não apenas apresentar proposições ou diretrizes
conhecimentos. A construção dessa prática educativa deve ter para a construção do trabalho com a linguagem escrita em
a criança como eixo do processo e levar em conta as diferentes classes de seis anos, mas também articular essas proposições
dimensões de sua formação. e diretrizes às teorias que as informam.
Nesta publicação, sem ignorarmos a relevância das demais O primeiro texto, que constitui a Parte I desta publicação,
dimensões, discutiremos uma delas, que, por seu caráter pretende situar a discussão acerca do ensino e da
complexo, multifacetado e precursor, cumpre um papel aprendizagem da linguagem escrita, destacando o acesso a
fundamental na garantia do direito à educação: o esse objeto do conhecimento como um direito da criança antes
desenvolvimento da linguagem escrita. de completar sete anos de idade.
Uma prática educativa comprometida com o Na Parte II, os textos discutem os fundamentos teóricos e
desenvolvimento da linguagem escrita não se restringe à as propostas pedagógicas, considerando algumas das
elaboração de atividades dirigidas aos alunos. Exige, isto sim, dimensões presentes no processo de alfabetização, a saber:
a superação da fragmentação dessas atividades de ensino em 1. O letramento;
sala de aula. Para se assegurar aos aprendizes o pleno 2 . O desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita
desenvolvimento de suas potencialidades, é fundamental, de palavras, frases e textos em sala de aula;
dentre outros aspectos, que a ação educativa se baseie em uma

1A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos: Sara Mourão Monteiro (orgs.). – Belo Horizonte : UFMG/FaE/CEALE, 2009. 122 p
orientações para o trabalho com a linguagem escrita em turmas de crianças de Disponível em: <https://goo.gl/3PBzuA>
seis anos de idade / Francisca Izabel Pereira Maciel, Mônica Correia Baptista e

Legislação 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

3. A aquisição do sistema de escrita e o desenvolvimento avaliado positivamente e incentivado como uma medida
da consciência fonológica; “compensatória” ou propedêutica com vistas à obtenção de
4. O desenho e a brincadeira - formas de linguagem a serem melhores resultados nas etapas posteriores da educação
exploradas no processo de alfabetização. básica.
Para discutir essas dimensões em seus diferentes aspectos, Qualquer que seja a posição assumida, ambas, ao
abordaremos cada uma delas por meio de quatro tópicos: enfatizarem o objeto, concedem ao sujeito da aprendizagem
- Objetivos gerais: objetivos gerais para o ensino da escrita; um papel secundário e submetido às concepções e avaliações
- Eixos do plano didático: correspondem aos conteúdos da do adulto. As perguntas a serem formuladas e respondidas no
ação pedagógica; sentido de se construir uma prática educativa de qualidade,
- Objetivos de aprendizagem: correspondem ao que se sobretudo considerando-se a complexidade que envolve essa
espera que as crianças desenvolvam em relação às temática, deveriam incidir sobre a criança e suas formas de
habilidades; construam em relação às representações; e se expressão e relação com o mundo: Que significado possui a
apropriem em relação às práticas e aos modos de se linguagem escrita para a criança menor de sete anos? Como ela
relacionarem com a língua escrita; se relaciona com os bens culturais e em específico com esse
- Situações de aprendizagem: situações nas quais crianças objeto do conhecimento? Quais são suas condições psíquicas,
e professoras adotam formas específicas para aprender e sociais, emocionais e cognitivas para se apropriar dessa forma
ensinar no contexto da escola. de linguagem? Seria desejável e possível ensinar a linguagem
Na Parte III, são apresentados e discutidos relatos de escrita a essa criança e, ao mesmo tempo, respeitar seus
trabalhos com a linguagem escrita e situações observadas desejos, aspirações, possibilidades, competências e condições
junto a crianças menores de sete anos. Os dois primeiros textos de aprendizagem? Caso seja possível, que características
enfocam o processo de letramento literário por meio do qual teriam as práticas educativas capazes de respeitar esses
as crianças têm a oportunidade de vivenciar momentos de pressupostos?
elaboração acerca do funcionamento do sistema de escrita e de Nesta publicação, pretendemos demonstrar que o
dar continuidade ao processo de alfabetização. aprendizado da linguagem escrita, desde a mais tenra idade, se
O terceiro texto descreve uma estratégia de ensino voltada constitui numa ferramenta fundamental para assegurar às
para a aquisição do sistema de escrita denominada Jogo crianças, como atores sociais que são, sua inclusão na
Linguístico. O jogo foi criado por uma professora que, ao longo sociedade contemporânea. Antes, porém, de apresentarmos e
da sua trajetória profissional, encontrou formas de discutirmos conceitos, práticas educativas e aspectos
experimentação e registro de sua prática de alfabetização com metodológicos que auxiliem as professoras a construírem
turmas compostas de crianças em níveis diferenciados de autonomamente sua própria prática, estabeleceremos, neste
conceitualização da escrita. primeiro texto, algumas relações possíveis entre os termos
O quarto e último texto é um relato de situações de sala de desta equação: crianças menores de sete anos, aprendizado da
aula nas quais as crianças são motivadas a desenhar e a linguagem escrita e Ensino Fundamental, agora com nove anos
produzir textos orais e escritos. O relato nos mostra como as de duração.
crianças são capazes de expressarem ideias originais por meio Num primeiro momento, ressaltaremos uma característica
de seus desenhos e da escrita. distintiva das sociedades contemporâneas: o fato de se
constituírem em agrupamentos sociais marcados e definidos
Crianças menores de sete anos, aprendizagem da pela cultura escrita. E, em seguida, coerentes com a noção de
linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos. infância como uma construção social, discutiremos como a
criança se relaciona com essa “sociedade mediatizada pela
A discussão acerca do ensino e da aprendizagem da leitura escrita” e como, ao fazê-lo, ressignifica essa sociedade e esse
e da escrita antes dos sete anos tem merecido a atenção de objeto do conhecimento, ao mesmo tempo em que é por eles
educadores e estudiosos da área, em diferentes contextos da ressignificada.
história da educação brasileira. Sobre- tudo nas últimas Em um segundo momento, partindo da noção de que a
décadas do século XX, com a divulgação da psicogênese da cultura infantil se constitui na inter-relação entre sujeitos de
língua escrita (FERREIRO E TEBEROSKY, 1985), muito se diferentes grupos sociais e entre os bens culturais produzidos
discutiu sobre esse tema. Nos últimos anos, um novo impulso por esses sujeitos, discutiremos não apenas o fato de que a
foi dado ao debate, estimulado pela antecipação da apropriação da escrita se constitui em um instrumento de
escolarização obrigatória, concretizada com a entrada das inserção cultural e social, mas também de que maneira,
crianças de seis anos no Ensino Fundamental. Ao se discutirem durante esse processo de apropriação, a criança vai
os conteúdos e as intervenções pedagógicas adequados tanto introduzindo modificações, experimentando e transformando
às crianças que passaram a integrar o Ensino Fundamental, este objeto, imprimindo-lhe sua forma própria de se relacionar
quanto àquelas que continuaram na Educação Infantil, tem-se com o mundo.
problematizado a adequação ou inadequação de se trabalhar a Finalmente, após essa discussão acerca dos significados
aquisição da língua escrita nesse período da educação da que a aquisição do sistema de escrita adquire tanto para o
infância. indivíduo quanto para o grupo social que dele se apropria,
Sob nova perspectiva e diante de novos desafios, o esperamos contribuir com a consolidação de um trabalho
tratamento dado à questão vem revelando sua complexidade e pedagógico com a linguagem escrita, capaz de respeitar as
a necessidade de se explicitarem os diferentes pontos de vista crianças como sujeitos com direitos e membros ativos de uma
quanto aos pressupostos teóricos e práticos nela envolvidos. sociedade grafocêntrica.
Mesmo correndo o risco de uma excessiva simplificação,
pode-se afirmar que, em geral, este debate se circunscreve a Desenvolvimento infantil e aprendizagem da
duas posições hegemônicas e, ao mesmo tempo, antagônicas. linguagem escrita
De um lado, argumenta-se acerca da inadequação do trabalho Tendo como marco conceitual a obra “História social da
com a língua escrita nessa faixa etária por considerá-lo uma criança e da família” (ARIÈS, 1981), as pesquisas no campo da
antecipação indesejável de um modelo escolar típico do Ensino História, da Sociologia e da Antropologia têm demonstrado
Fundamental. De acordo com essa concepção, ensinar a ler e a que a infância, tal como a conhecemos hoje, não é um
escrever equivaleria a “roubar” das crianças a possibilidade de fenômeno natural e universal, mas, sim, o resultado de uma
viver mais plenamente o tempo da infância. De outro lado, o construção paulatina das sociedades moderna e
trabalho com a língua escrita desde a educação infantil é contemporânea. A infância deixou de ser compreendida como

Legislação 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

uma “pré” etapa da fase adulta e passou a ser identificada (2000) destaca, ainda, o fato de se haver tomado como
como um estado diferenciado. Assim, ao mesmo tempo em que referência certa dimensão lúdica para caracterizar a infância,
se reconhece que a definição de infância é tributária do o que acabou por conformar uma representação infantilizada
contexto histórico, social e cultural no qual se desenvolve, da criança. Alguns produtos culturais, tais como: jogos,
admite-se a especificidade que a constitui como uma das fases canções e brincadeiras, transmitidos através de gerações,
da vida humana. foram transformados em um conjunto descontextualizado de
A Psicologia, ao longo das primeiras décadas do século XX, práticas culturais. A cultura infantil se empobreceu e esse
cumpriu um papel de destaque nesse reconhecimento da patrimônio cultural foi transformado em um conjunto de
infância como um tempo específico da vida humana. signos e símbolos organizado a partir da ideia que o adulto
Entretanto, a escassa produção científica sobre a infância, possui da infância e de seu universo simbólico.
desde a perspectiva de outras áreas do conhecimento, tais Assim como Piaget, Vygotsky também deu importância ao
como da Sociologia, da História ou da Antropologia, dificultou papel do sujeito na aprendizagem. Entretanto, se para o
a construção de um saber capaz de percebê-la como um primeiro os suportes biológicos que fundamentam sua teoria
fenômeno sócio histórico. dos estágios universais receberam maior destaque, para o
Sob a forte influência da Psicologia e sem o necessário segundo, a interação entre as condições sociais e a base do
intercâmbio entre os olhares conceituais e metodológicos de comportamento humano foram os elementos fundamentais
outras áreas do saber científico, a infância foi compreendida para sua teoria sobre o desenvolvi- mento. Vejamos, a seguir,
como um fenômeno relacionado à vivência cronológica, cuja por que, para este teórico, as condições sociais são os fatores
lógica e estrutura se pautavam pelos aspectos ligados à determinantes do comportamento considerado tipicamente
natureza. Assim fundamentados, alguns estudos no campo da humano.
Psicologia concederam pouca relevância à cultura na Para Vygotsky, o que distingue o desenvolvimento
constituição da infância. (GOUVEIA, 2000). biológico e psicológico dos animais mais evoluídos do
Inseridas nesse contexto de investigações psicológicas, as desenvolvimento humano é a diferença que se estabelece
chamadas perspectivas psicogenéticas, baseadas na noção de entre as funções psicológicas naturais, que caracterizam os
que a psique infantil é qualitativamente diferente da adulta, primeiros, e as funções psicológicas superiores, que aparecem
enfatizaram o estudo da gênese das funções psíquicas. Piaget, somente com o ser humano4. A passagem dos processos
como um dos eminentes teóricos da psicogênese, afirmava que naturais aos processos superiores, questão perseguida por
suas investigações, ao analisarem os comportamentos infantis, Vygotsky e colaboradores, é o elemento estruturante da
tinham como objetivo principal investigar não a compreensão consciência e do intelecto humanos. E como ocorre essa
do conhecimento no seu estado final, mas, sim, na sua gênese passagem? Segundo os estudos de Vygotsky, ao nascer, os
e no seu processo de construção. De fato, desde a perspectiva seres humanos dão respostas adaptativas por meio de
piagetiana, a tentativa de compreender a gênese do estruturas mentais denominadas “elementares”, tais como: os
pensamento e da inteligência humana, por meio do estudo de reflexos condicionados e incondicionados, as reações
como a criança se desenvolve, enfatiza o papel do indivíduo. automatizadas, os processos de associação simples. Tais
Ainda que Piaget tenha assinalado que os avanços cognitivos estruturas mentais são condicionadas principalmente por
pressupunham adaptações ao meio, seu esforço fundamental determinantes biológicos. O elemento central que faz com que
se orientou em direção à análise de como o indivíduo dá às chamadas estruturas elementares de bases biológicas se
sentido ao mundo compreendido genericamente (ROGOFF, sigam outras chamadas “superiores” é o uso de signos ou de
1993). Com isso, queremos destacar que a centralidade de sua outros instrumentos psicológicos. Tais instrumentos
investigação foi o indivíduo e não os aspectos presentes no psicológicos servem para ordenar e reposicionar
mundo social nem tão pouco a forma como esse mundo exerce externamente a informação.
influência no desenvolvimento mental da criança. O processo Um exemplo clássico que nos ajuda a entender essa
de desenvolvimento é, a partir dessas construções teóricas, proposição é o significado que adquire um barbante amarrado
uma espécie de monólogo. A criança enfrenta solitariamente a no dedo para memorizar algo que não se pode ou não se quer
tarefa de construir uma representação do mundo e o faz graças esquecer. Nesse caso, esse instrumento psicológico
a algumas propriedades lógicas que subjazem o pensamento e empregado permite ampliar uma função mental, a memória, e
que caracterizam seu estágio de desenvolvimento. lhe confere uma abrangência muito mais ampla do que sua
Resumidamente, pode-se afirmar que as investigações condição natural. Nesse exemplo, o barbante é um signo, ou
piagetianas, baseadas no método clínico, jogavam luz sobre o seja, uma marca externa que fornece suporte concreto para a
que as crianças eram capazes de realizar autonomamente e, a ação do homem no mundo (OLIVEIRA, 1997).
partir daí, identificavam o seu estágio de desenvolvimento A partir do exemplo acima, fica fácil compreender que o
psíquico. desenvolvimento das funções psicológicas superiores é fruto
Ainda que pesem as indiscutíveis contribuições de Piaget, do desenvolvimento da cultura e não do desenvolvimento
a centralidade atribuída à análise da interação da criança com biológico. Atribuir sentido a um objeto é uma condição dada
o mundo físico impôs, em certa medida, a ideia de que o culturalmente, assim como também o é a capacidade de
desenvolvimento humano era um desafio a ser alcançado transmitir a outras gerações esses significados. Como veremos
individualmente, a partir de progressos naturais. De outra a seguir, essa capacidade de usar signos foi, ao longo da
parte, implicou uma compreensão da infância como um história da humanidade, sofrendo duas mudanças qualitativas
universo isolado, como se adultos e crianças não funda- mentais. Importante destacar que essas mesmas
compartissem práticas culturais comuns. Gouveia (2000) transformações pelas quais a humanidade passou se verificam
lembra que essas contribuições teóricas estruturaram a escola ao longo da história de cada ser humano.
moderna ocidental, cujas práticas, técnicas e modelos A primeira dessas mudanças é que os signos, as marcas
pedagógicos se erigiram a partir da distinção entre o universo externas, vão se transformando em processos internos de
adulto e o infantil. Ao tratar de estabelecer “o quê” - a que mediação. Vygotsky denomina esse mecanismo de processo de
informação e práticas culturais as crianças poderiam ou internalização. Como explica Oliveira (1997), ao longo do
deveriam ter acesso; “o quando” - a partir de que faixa de processo de desenvolvimento, o indivíduo substitui as marcas
idade; e “o como” - que modelo pedagógico de transmissão externas e passa a utilizar “signos internos”, ou seja,
deveria ser adotado, ocorreu uma “artificialização” da cultura representações mentais que substituem os objetos do mundo
e de seu acesso, em uma relação que, efetivamente, excluiu a real. Por exemplo, a ideia que possuo acerca de um objeto,
criança da cultura mais ampla da qual fazia parte. Gouveia

Legislação 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

como a cadeira, me permite lidar mentalmente com ela, pré-escolares. Vygotsky ressalta, a partir dessa constatação,
mesmo na sua ausência: que esse ensino deve organizar-se de forma que a leitura e a
escrita se tornem necessárias às crianças. O autor se contrapõe
“Essa capacidade de lidar com representações que claramente a um trabalho pedagógico no qual a escrita seja
substituem o real é que possibilita ao homem libertar-se do concebida puramente como uma habilidade motora, mecânica,
espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência pois toma como pressuposto central o fato de que a escrita
das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções (...). deve ser “relevante à vida”, deve ter significado para a criança
Essas possibilidades de operação mental não constituem uma e conclui: “Só então poderemos estar certos de que se
relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação desenvolverá (a escrita) não como uma habilidade que se
é mediada pelos signos internalizados que representam os executa com as mãos e os dedos, mas como uma forma de
elementos do mundo, libertando o homem da necessidade de linguagem realmente nova e complexa.” (VYGOTSKY, 2000,
interação concreta com os objetos de seu pensamento.” p.177).
(OLIVEIRA, 1997: 35) Finalmente, a terceira conclusão prática a que chegou
Vygotsky, a partir da interpretação de estudos acerca do
A segunda transformação é a organização dos símbolos em desenvolvimento da escrita nas crianças, foi quanto à
estruturas complexas e articuladas, denominadas sistemas necessidade de esta ser ensinada naturalmente. Ao referir-se a
simbólicos. Como salientam Cole & Scribner (2000), os Montessori, salienta que essa educadora demonstrou que os
sistemas simbólicos (a linguagem, a escrita, o sistema de aspectos motores podem ser acoplados ao brinquedo infantil
números, dentre outros) são criações das sociedades ao longo e que o escrever pode ser “cultivado” ao invés de “imposto”.
da história humana, que modificaram substancialmente a Por esse método, segundo avalia Vygotsky, as crianças não
forma social e o nível de desenvolvimento cultural dessas aprendem a ler e a escrever, mas, sim, descobrem essas
sociedades. habilidades durante as situações de brincadeiras nas quais
Como tentamos assinalar, a inteligência humana, sentem a necessidade de ler e escrever. Vygotsky sugere que o
diferentemente de outras formas de inteligência, é resultado que Montessori fez com relação a aspectos motores deveria ser
de um processo contínuo de aquisição de controle ativo sobre feito igualmente em relação ao que ele definiu como sendo os
funções inicialmente passivas. Tal controle se desenvolve e aspectos internos da linguagem escrita e de sua assimilação
adquire status de função psíquica superior graças à funcional:
capacidade humana de fazer uso de signos e de outros
instrumentos psicológicos. Ao considerar essa relevância “[…] assim como o trabalho manual e o domínio do desenho
atribuída aos signos e símbolos e, consequentemente, aos são, para Montessori, exercícios preparatórios para o
sistemas simbólicos, Vygotsky ressalta que o acesso a esses desenvolvimento da habilidade da escrita, também o jogo e o
instrumentos ou ferramentas psicológicas e a maneira como as desenho deveriam ser estágios preparatórios para o
crianças os manipulam são fatores determinantes no processo desenvolvimento da linguagem escrita das crianças. Os
de estruturação da sua mente. educadores deveriam organizar todas essas ações e todo o
Chegamos, assim, à discussão central que aqui nos complexo processo de transição de um tipo de linguagem escrita
interessa. A aquisição do sistema de escrita, assim como de para outro. Deveriam seguir todo o processo através de seus
outros sistemas simbólicos, adquire uma relevância estrutural momentos mais críticos até a descoberta de que não somente se
em termos mentais e cognitivos para o indivíduo que passa a podem desenhar objetos, mas que também se pode representar
dominá-lo e não pode ser alcançada de maneira puramente a linguagem. Se quiséssemos resumir todas essas exigências
mecânica e externa, ao contrário, pressupõe o culminar, na práticas e expressá-las em uma só, poderíamos dizer
criança, de um processo de desenvolvimento de funções simplesmente que às crianças dever-se-ia ensinar-lhes a
comportamentais complexas (VYGOTSKY, 2000). Essas linguagem, não a escrita das letras”. (VYGOTSKY, 2000, p. 178)
conclusões a que chega Vygotsky, tornadas públicas nas
primeiras décadas do início do século XX, chamavam a atenção A infância e a aprendizagem da escrita como prática
para aspectos do aprendizado da leitura e da escrita, que sociocultural
demorariam mais de meio século para serem identificados e Se, por um lado, como vimos anteriormente, a escrita
tomados adequadamente como objeto de estudo de pesquisas introduz importantes modificações cognitivas para o
científicas. Além de evidenciar os aspectos cognitivos, indivíduo que a adquire, por outro, ela implica alterações nas
constitutivos da aprendizagem da leitura e da escrita, os práticas sociais que passam a caracterizar o grupo que dela se
estudos sociointeracionistas de Vygotsky e colaboradores apropria. Conforme assinala Britto (2003), participar de uma
advertiam que uma visão geral da história do desenvolvi- cultura escrita significa atuar em uma sociedade constituída
mento da linguagem escrita nas crianças conduziria por um desenho urbano, por formas de interlocução
naturalmente a três conclusões fundamentais de caráter específicas no espaço público, expressões de cultura
prático. particulares, princípios morais, leis, que se apoiam nesse modo
A primeira delas é que o ensino da escrita deveria ser de produção de cultura. Por tudo isso, o autor conclui que
transferido para a pré- escola, sob o argumento de que as pertencer a essa sociedade significa mais do que estar inserido
crianças menores são capazes de descobrir a função simbólica em uma cultura cuja constituição seja a soma dos
da escrita. Baseando-se em pesquisas de autores conhecimentos e capacidades individuais no uso da leitura e
contemporâneos seus, Vygotsky (2000) menciona o fato de da escrita. Significa estar submetido à ordem da cultura
que oitenta por cento das crianças com três anos de idade escrita.
seriam capazes de dominar uma combinação arbitrária de Ao considerarmos as crianças como membros efetivos
sinais e significados, enquanto que, aos seis anos, quase todas dessa sociedade, devemos ter em conta não apenas que a
as crianças seriam capazes de realizar essa operação. Conclui, linguagem escrita está presente no cotidiano desses sujeitos,
ainda, com base nas observações feitas por essas mas também e, sobretudo, que ela confere um significado
investigações, que o desenvolvimento entre três e seis anos distinto a suas práticas sociais. Assim, ao reconhecermos a
envolve não só o domínio de signos arbitrários, como também infância como uma construção social inserida em um contexto
o progresso na atenção e na memória. do qual as crianças participam efetivamente como atores
A segunda conclusão prática a que chega é resultado desse sociais de pleno direito, devemos, igualmente, considerá-las
reconhecimento de que é mais do que possível, mas, sujeitos capazes de interagir com os signos e símbolos
sobretudo, adequado se ensinar leitura e escrita às crianças

Legislação 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

construídos socialmente, bem como de construir novos signos permitir que resolva o impasse entre o seu desejo e a
e símbolos a partir dessa interação. Para Sarmento e Pinto: impossibilidade de satisfazê-lo imediatamente, exigir o
cumprimento de regras, permitir certo distanciamento entre a
As culturas infantis não nascem no universo simbólico percepção imediata dos objetos e a ação6. Além dessas
exclusivo da infância, este universo não está fechado – muito necessidades fundamentais, interessa-nos destacar que,
pelo contrário, é mais que qualquer outro, extremamente segundo Vygotsky (2000), o jogo cria o que ele denomina de
permeável - tão pouco está distante do reflexo social global. A “zona de desenvolvimento próximo”7. Ao brincar, a criança
interpretação das culturas infantis, em síntese, não pode cria uma situação imaginária, experimenta um nível acima da
realizar-se no vazio social, e necessita sustentar-se na análise sua idade cronológica, da sua conduta diária, extrapolando
das condições sociais nas quais as crianças vivem, interagem e suas capacidades imediatas:
dão sentido ao que fazem. (PINTO, SARMENTO: 1997, p. 22).
O jogo cria uma zona de desenvolvimento próximo na
O que importa destacar é que o reconhecimento da criança. Durante o mesmo, a criança está sempre além da sua
especificidade da infância, como esperamos ter assinalado, conduta diária; no jogo, é como se fosse maior do que é na
não pode significar seu isolamento diante dos demais grupos realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o jogo contém
sociais. Se o estatuto de ator social é conferido aos seres todas as tendências evolutivas de forma condensada, sendo em
humanos tendo em conta sua capacidade de interagir em si mesmo uma considerável fonte de desenvolvimento.
sociedade e de atribuir sentido a suas ações, então, (VYGOTSKY, 2000: 156).
reconhecer a infância como uma construção social da qual
participam as crianças como atores sociais de pleno direito Por tudo que argumentamos até aqui, gostaríamos de
implica considerar sua capacidade de produção simbólica, de salientar que o desenvolvimento da linguagem escrita em
representações e crenças em sistemas organizados. crianças menores de sete anos pode e deve ser trabalhado por
É na interrelação com as outras culturas que a cultura meio de estratégias de aprendizagem capazes de respeitar as
infantil se constitui como tal. Nesse sentido, pode-se afirmar características das crianças e seu direito de viver plenamente
que as crianças são sujeitos capazes de interagir com os signos esse momento da vida. Encontrar uma forma de ensinar capaz
e os símbolos construídos socialmente, e de atribuir distintos de respeitar o direito ao conheci- mento e, ao mesmo tempo, a
significados a esses signos e símbolos a partir dessa interação. capacidade, o interesse e o desejo de cada um de aprender se
O esforço que a criança faz de interagir com o mundo e com constitui em um desafio da Pedagogia para qualquer nível de
as ferramentas próprias deste mundo pode ser mais bem ensino ou área de conhecimento. No caso da aprendizagem da
compreendido a partir das contribuições de Leontiev (2001). leitura e da escrita na infância, há que se ter em conta pelo
Para esse teórico, o mundo objetivo do qual a criança é menos três exigências.
consciente está continuamente se expandindo. Tal expansão A primeira é a consolidação de uma prática educativa na
não se refere simplesmente aos objetos que constituem o qual o aprendiz vai se apropriando da tecnologia da escrita, ao
universo infantil próximo, ou seja, aqueles objetos com os mesmo tempo em que vai se tornando um usuário competente
quais a criança opera. Ao contrário, tal expansão se relaciona desse sistema. Uma prática que atenda igualmente a esses dois
aos objetos com os quais os adultos operam, mas que a criança, eixos que constituem o processo de aquisição da linguagem
desejosa de fazê-lo, ainda não é capaz de operar por si só. escrita, trabalhados de forma integrada, sem que o desenvolvi-
Conforme salienta Leontiev (2001), durante o mento de um deles ocorra anteriormente ao do outro.
desenvolvimento da consciência do mundo objetivo, a criança A segunda exigência é considerar a escola como espaço
tenta compreender e apreender não apenas coisas privilegiado para garantir esse aprendizado. A linguagem
diretamente acessíveis a ela, mas também aquilo que tem escrita possui pelo menos duas características que a
relação com o mundo mais amplo. Isto é, a criança se esforça aproximam da ação educativa formal. A primeira característica
para atuar como um adulto. é que se trata de uma linguagem estruturante e, muitas vezes,
O sistema de escrita, a priori percebido como parte pré-requisito para o acesso a outras linguagens. A segunda
constitutiva do universo do mundo adulto, é um objeto do característica é que a linguagem escrita requer,
conhecimento humano que exerce forte influência na cultura diferentemente de outros bens culturais, a sua apropriação
infantil e, ao mesmo tempo, é por ela influenciado. Desde por parte dos sujeitos.
muito precocemente, a língua escrita invade o território das Como adverte Ferreiro (2003), é conveniente falar de
crianças e lhes desperta a atenção. Entretanto, a maneira como “apropriação” da linguagem escrita, de um lado, porque, no
a criança se apropria desse objeto do conhecimento, assim caso desse sistema simbólico, o aprendiz precisa participar
como de outros sistemas simbólicos, revela sua forma de se efetivamente do seu modo de produção ou mesmo de seus
relacionar com o mundo mais amplo. Sua tomada de processos de expansão. Como veremos a seguir, o aprendiz
consciência desse mundo ocorre não por meio da atividade precisa reconstruir as bases do sistema de escrita. Por outro
teórica abstrata, mas, sim, por meio da ação. “Uma criança que lado, é também adequado falar em apropriação do sistema de
domina o mundo que a rodeia é uma criança que se esforça por escrita já que o desafio das sociedades contemporâneas é
atuar nesse mundo.” (LEONTIEV, 2001, p.120). garantir que todos os indivíduos se alfabetizem. E, por fim, e
A contradição entre o desejo da criança de agir sobre as como consequência, espera-se que, ao se apropriarem desse
coisas e a impossibilidade de fazê-lo exatamente por ainda não conhecimento, os sujeitos se convertam em membros da
dominar as operações exigidas pelas condições objetivas reais cultura escrita, tornem-se usuários desse sistema. O emprego
da ação dada só pode ser solucionada pela atividade lúdica. De do temo “apropriação” quer, pois, designar o ato de tornar
acordo com Leontiev (2001), essa atividade lúdica não é uma próprio um conhecimento disponível na cultura (FERREIRO,
atividade produtiva; seu objetivo não é um determinado 2003).
resultado, mas a ação em si mesma. Trata-se de uma atividade A terceira e última exigência a ser considerada na
objetivamente determinada pela percepção que a criança formação dos pequenos usuários da linguagem escrita é o fato
possui do mundo e por seu desejo de apropriar-se dele. de que, por se tratar de um direito, sua aprendizagem deve
As contribuições de Vygotsky (2000) reforçam a respeitar as crianças como cidadãos e atores do seu próprio
importância da atividade lúdica para a aprendizagem e o desenvolvimento. Quer consideremos o ponto de vista da
desenvolvimento infantil. Para este autor, essa atividade não é criança como um ser competente, cognitivamente capaz de
importante por ser uma atividade prazerosa, mas, sim, por formular hipóteses, de interagir com os signos e símbolos
preencher necessidades fundamentais da criança, tais como: veiculados socialmente; quer consideremos as características

Legislação 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

da sociedade contemporânea como sendo um mundo em língua escrita e de decodificar a língua e propriedade”
grafocêntrico, a linguagem escrita deve ser compreendida (SOARES, 1998, p.39).
como um bem cultural com o qual as crianças devem interagir, Trocando em miúdos...
mas, sobretudo, do qual devem se apropriar como forma de
inclusão na sociedade. Alfabetização se refere ao processo por meio do qual o
Como esperamos ter demonstrado, tanto a linguagem sujeito domina o código e as habilidades de utilizá-lo para ler
escrita quanto sua aprendizagem possuem elementos que as e escrever. Trata-se do domínio da tecnologia, do conjunto de
tornam coerentes com o universo infantil, com sua forma de técnicas que o capacita a exercer a arte e a ciência da escrita.
construir significados para o que se faz, para o que se vê e para Letramento, por sua vez, é o exercício efetivo e
aquilo que se experimenta. O direito de ter acesso ao mundo competente da escrita e implica habilidades, tais como a
da linguagem escrita e dele se apropriar não pode descuidar- capacidade de ler e escrever para informar ou informar-se,
se do direito de ser criança, e há muitas maneiras de se para interagir, para ampliar conhecimento, capacidade de
respeitarem ambos os direitos. interpretar e produzir diferentes tipos de texto, de inserir-se
efetivamente no mundo da escrita, entre muitas outras.
Dimensões da proposta pedagógica para o ensino da
Linguagem Escrita em classes de crianças de seis anos A maneira como as pessoas se apropriam da escrita no
contexto social pode ser reconhecida em seus
Os próximos textos que integram esta segunda parte da comportamentos e atitudes diante de situações em que a
publicação tratarão de quatro dimensões ou eixos escrita torna-se um instrumento fundamental para as suas
constitutivos do processo de apropriação da linguagem interações e inserção no mundo. A condição letrada parece ser
escrita. São eles: O letramento; O desenvolvimento das resultado de um conjunto de fatores que se articulam entre si:
habilidades de leitura e escrita de palavras, frases e textos em o convívio com pessoas letradas, a participação efetiva em
sala de aula; A aquisição do sistema de escrita e o eventos de letramento, o desenvolvimento das capacidades de
desenvolvimento da consciência fonológica; e O desenho e a leitura e escrita, o conhecimento de protocolos de uso da
brincadeira – formas de linguagem a serem exploradas no escrita. Esses são alguns dos elementos presentes na formação
processo de alfabetização. Como esperamos conseguir do perfil letrado dos diferentes grupos sociais e culturais que
demonstrar a seguir, esses eixos devem ser analisados na sua compõem uma sociedade.
especificidade, mas, ao mesmo tempo, trabalhados de forma Evidentemente, crianças e adultos participam de
integrada e articulada. Antes de discutirmos cada um desses diferentes eventos de letramento e neles têm a oportunidade
eixos, é importante salientar como concebemos os atos de ler de ampliarem seus conhecimentos acerca da linguagem
e escrever. escrita. Entretanto, a escola desempenha um papel
Nesta publicação, a leitura não é compreendida como uma fundamental na inserção das crianças no mundo letrado, bem
simples ação de decodificação de símbolos gráficos. Ler é um como na sua formação como usuário desse sistema simbólico.
processo de interação entre um leitor e um texto no qual o Em geral, é na escola que as crianças se alfabetizam,
leitor interpreta os conteúdos que o texto apresenta (SOLÉ, desenvolvem capacidades de leitura e produção de textos. Mas
1997). Ler, portanto, significa compreender os propósitos a importância da escola se acentua, sobretudo, para aquelas
explícitos e implícitos da leitura e fazer uso de conhecimentos crianças cujo acesso a materiais escritos é restrito. A escola,
relevantes para interpretar a informação. Por sua vez, escrever para esse segmento, se constitui no espaço privilegiado e, às
não é a imagem de uma transcrição do próprio pensamento. vezes, único para adquirir capacidades e habilidades que lhe
Escrever exige que o sujeito reflita sobre o conteúdo, permitam usufruir da cultura letrada, interagir com ela e
reorganize as ideias, busque a melhor forma de expressar suas ampliar suas oportunidades de se apropriar de bens culturais
intenções, representando os possíveis destinatários e que, pela sua valorização, têm dominado as relações sociais em
controlando todas as variáveis que estão ao seu alcance em um contextos mais amplos.
intento de que o texto que se escreve esteja o mais próximo A formação de novos usuários da língua escrita se faz por
possível do texto que se lê. meio de um longo caminho que exige prática constante e um
olhar atento dos formadores para os interesses, as
O letramento curiosidades, os materiais de acesso, os hábitos e os modos de
Tendo em vista algumas modificações culturais, viver das crianças. À medida que se avança nesse processo de
econômicas e sociais que se processaram nas sociedades formação, conquista-se familiaridade e altera-se a forma de se
contemporâneas, observamos, sobretudo a partir de meados relacionar com o mundo e com as pessoas. Pensar em uma
do século XX, uma mudança no que, durante um bom tempo, proposta pedagógica capaz de assegurar ao aprendiz a
consideramos como sendo alfabetização. Se até o início do tecnologia da escrita e, ao mesmo tempo, a apropriação desse
século XX bastava que o sujeito assinasse o próprio nome para sistema impõe-nos algumas questões: Que tipo de leitores e
ser considerado alfabetizado, com o passar do tempo, esta escritores se quer formar por meio da ação pedagógica na
denominação careceu de maiores especificações. escola? Como despertar o interesse das crianças pequenas
Ler e escrever um bilhete simples também passou a não ser para a leitura e a escrita? Como garantir que a criança se torne
mais capaz de designar os diferentes graus de apreensão da capaz de relacionar símbolos gráficos a sons e vice-versa, ao
linguagem escrita. A insuficiência de conceitos e expressões mesmo tempo desenvolver capacidades e habilidades que lhe
capazes de retratar a situação da população em relação à permitam fazer uso da linguagem escrita nas diferentes
apropriação da linguagem escrita, bem como de designar os formas como ela se apresenta na sociedade? Como assegurar
diferentes aspectos que englobam esse fenômeno levou alguns às crianças a aquisição de capacidades e habilidades que lhes
estudiosos a empregarem o termo “letramento”, inspirados possibilitem compreender e produzir diferentes tipos de texto,
na palavra inglesa “literacy”, como forma de designar o estado de acordo com suas características?
ou a condição que cada indivíduo ou grupos de indivíduos O pequeno trecho que vamos narrar a seguir compõe parte
passam a ter a partir da aquisição da língua escrita. da trajetória escolar do Gustavo. Por meio dessa narrativa,
Os conceitos de alfabetização e letramento ressaltam duas problematizaremos alguns aspectos presentes no processo de
dimensões importantes da aprendizagem da escrita. De um ensino/aprendizagem da leitura e da escrita. A reflexão acerca
lado, as capacidades de ler e escrever propriamente ditas, e, de de alguns dos aspectos presentes nessa trajetória poderá nos
outro, a apropriação efetiva da língua escrita: “[…] aprender a ajudar a superar alguns equívocos e caminhar no sentido da
ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar

Legislação 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

concretização de uma prática educativa consistente e de


qualidade capaz de cumprir o desafio de alfabetizar-letrando.

Aprendendo com a história do Gustavo


A seguir, narraremos uma situação de aprendizagem
vivida por Gustavo, antes de completar seis anos de idade,
numa classe de educação infantil. Vejamos como Gustavo,
mesmo sem possuir as habilidades de decodificação e
codificação do sistema de escrita, dominava diferentes e
importantes conhecimentos acerca desse sistema, o que lhe
conferia um grau de letramento e uma proximidade com a
cultura escrita.
Gustavo, com seus cinco anos recém-concluídos,
demonstrava grande interesse pelos textos escritos e dedicava
um tempo significativo da sua rotina diária à tentativa de
decifrá-los. Era habitual brincadeiras de faz de conta, nas quais
imitava a leitura de livros ou a escrita de bilhetes, cartas,
poemas.
Desde os seis meses de vida, frequentava uma instituição
de educação infantil cujo trabalho pedagógico enfatizava a
formação das crianças como pequenos usuários da linguagem
escrita. Neste contexto educativo, a escrita era empregada
como mediadora das relações entre adultos e crianças. Em
todas as classes, desde o berçário até o chamado Terceiro
Período (turmas de crianças de 6 anos de idade), a escrita era
em- pregada para anotar os acontecimentos considerados
importantes para o grupo, para dar recados, organizar a rotina,
desfrutar um bom texto.
Numa das rodas de conversa, situação de aprendizagem
que ocorria todos os dias, um colega levou uma reportagem
sobre uma cobra que havia engolido um dentista, na região Como destacamos acima, ainda que não houvesse
amazônica. Muitas crianças já tinham conhecimento da notícia desenvolvido a capacidade de identificar o som
que havia sido manchete de jornais televisivos e que havia sido correspondente ao respectivo símbolo gráfico, ou ao contrário,
veiculada pela imprensa escrita durante os dias anteriores. produzir símbolos gráficos a partir da identificação de
Depois da leitura feita pela professora, seguiu-se um debate fonemas, Gustavo realizou um intenso e extenuante trabalho
animado sobre a matéria. Em seguida, a professora provocou de produção escrita. Vejamos, a seguir, como algumas das
uma discussão oral, chamando a atenção sobre a maneira competências necessárias e fundamentais para que um
como o texto estava escrito, as diferenças daquele tipo de texto aprendiz se torne um leitor e um produtor de textos
para outros, tais como: os contos de fada, os bilhetes, etc. proficiente estão presentes nesse processo.
Depois, solicitou que alguns alunos recontassem oralmente a Em primeiro lugar, Gustavo não apenas compreendeu o
reportagem, como se fossem os repórteres dos jornais fala- texto lido pela professora em sala, como também foi capaz de
dos. Durante o reconto, a professora ia interpelando as eleger aquilo que julgou mais importante de ser retomado
crianças, sugerindo a substituição de palavras ou expressões quando assumiu o papel de escritor.
de acordo com a situação imaginária e o tipo de texto. Por fim, Em segundo lugar, demonstrou sua capacidade de
como tarefa para casa, sugeriu que os alunos ditassem para estabelecer uma distinção entre linguagem oral e escrita. Em
uma pessoa que soubesse ler e escrever a reportagem seu texto, emprega poucas expressões típicas do uso oral e
discutida na Roda. Esclareceu, ainda, que deveriam fazê-lo tenta demarcar a diferença entre este texto e outros mais
como se fossem jornalistas e, portanto, destacando a próximos do universo infantil. Talvez a única exceção seja o
necessidade de respeitarem o estilo do texto a ser escrito. desfecho que dá ao seu texto: “E esta não foi uma história feliz!
Em casa, Gustavo cumpriu a tarefa exatamente como lhe Acabou.” Observa-se sua busca por encontrar palavras mais
indicara a professora. Ditou para sua mãe e, enquanto o fazia, apropriadas e formas mais adequadas para o tipo de discurso
de tempos em tempos, pedia para que ela relesse o que havia e para o gênero textual que deveria produzir. É o caso, por
escrito, indicando a troca de palavras, corrigindo expressões, exemplo, das expressões: “Reuniram três”; “O mais inteligente
alterando a ordem das informações, sempre buscando uma pescador”; ou ainda, a situação em que emprega elementos de
adequação em relação à norma culta e ao tipo de texto. coesão textual, do tipo: “Logo depois; “Um dia”; “Quando
amanheceu”; ou quando utiliza o gerúndio ou os pronomes
oblíquos: “Usando um revólver”, “levando-a”, “colocando-a”.
Em terceiro lugar, pode observar sua capacidade de
distinguir o texto jornalístico de outros gêneros ou tipos
textuais, o que se evidencia na sua preocupação de garantir as
informações fundamentais, tais como: onde, quando, além do
cuidado em apresentar dados quantitativos que comprovem a
veracidade do fato ocorrido.
Finalmente, poderíamos ainda mencionar sua
preocupação com a inteligibilidade do texto. Gustavo o faz, por
exemplo, ao buscar um título adequado, assegurar início, meio
e fim, ou, ainda, ao empregar estratégias próprias de um
escritor proficiente, interrompendo o ditado do texto e
solicitando a leitura do que havia sido produzido até então,

Legislação 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

substituindo palavras, refazendo frases, evitando repetições, escrita, pareciam sustentar uma concepção segundo a qual
escolhendo estruturas mais adequadas e outras. interpretar um texto é simplesmente identificar o trecho que
Esses são alguns exemplos que nos permitem concluir que reproduz a informação, e, por sua vez, produzir um texto é
Gustavo possuía um considerável número de informações transcrever a linguagem oral. Assim, a primeira atividade
privilegiadas sobre o sistema de escrita e sabia como empregá- apresentada a seguir, excetuando-se o pequeno texto exposto
las numa situação real de produção textual. Entretanto, como no cabeçalho, revela a apresentação de um material escrito
veremos a seguir, a trajetória escolar do Gustavo continuou em cuja função é a de “ensinar a ler” e cuja utilização e circulação,
uma instituição de ensino menos preocupada com o consequentemente, se restringem ao universo escolar. As
desenvolvimento dessas capa- cidades e habilidades e mais questões sobre o texto, por sua vez, se limitam à localização de
comprometida com o treino de aspectos perceptivos e informações explícitas e à sua cópia, sem que Gustavo fosse
motores. Os exemplos a seguir nos permitem identificar a estimulado a estabelecer relações com outros temas, perceber
concepção de aprendizagem de língua escrita dessa escola, suas emoções, fazer inferências, construir significados
relacionando-a com a noção de que, para aprender a ler e diversos, etc.
escrever, a criança deve percorrer um caminho que vai do Também as atividades de produção textual revelam a
treino de habilidades motrizes, passando pela memorização de estratégia de primeiro aprender a ler e a escrever para, em
letras, sílabas ou fonemas até a escrita de frases curtas e seguida, ser capaz de ler e escrever para aprender. Como neste
destituídas de um significado mais amplo. Abaixo, um exemplo exemplo, a professora sugere que as crianças sigam um breve
do material de leitura e escrita a que Gustavo passou a ter roteiro. O produto final são frases respondendo a esse roteiro.
acesso nessa nova instituição educativa. Uma produção claramente identificada com o que se poderia
chamar de “escolar”, no sentido de que sua circulação e sua
função social apenas se entendem no contexto escolar. O
resultado final se configura, pois, numa produção bastante
distinta daquela que resultou na reescrita da reportagem
sobre a cobra que engolira um dentista.
Essa breve descrição de parte da trajetória escolar do
Gustavo nos ajuda a refletir sobre as práticas de ensino e as
concepções que as fundamentam. Em primeiro lugar, destaca-
se a noção equivocada de que aprender a ler e a escrever é
apropriar-se de um código e não de um sistema de
representação.
A distinção entre sistema de codificação e sistema de
representação não é meramente terminológica. Suas
consequências para a ação alfabetizadora marcam uma linha
divisória clara. Ao se conceber a escrita como um código de
transcrição que converte as unidades sonoras em unidades
gráficas, põe-se em primeiro plano a discriminação perceptiva
nas modalidades envolvidas (visual e auditiva). As práticas
educativas que derivam desta concepção se centram no
exercício destas discriminações, sem questionar a natureza
das unidades utilizadas. O pressuposto que sustenta esta
prática é quase transparente: se não há dificuldades de
discriminação entre duas formas visuais próximas, entre duas
formas auditivas próximas, nem tão pouco para desenhá-las,
ou se não há dificuldades para “manipular” fonemas, não
deveria haver dificuldade para aprender a ler, já que se trata
de uma simples transcrição do sonoro a um código visual.
Por outro lado, ao se conceber a aprendizagem da língua
escrita como a compreensão do modo de construção de um
sistema de representação, o problema se apresenta em termos
completamente diferentes. Ainda que se saiba falar
adequadamente, ainda que se façam todas as discriminações
perceptivas aparentemente necessárias, isso não resolve o
A atividade acima expressa o conjunto de atividades a que problema central: compreender a natureza desse sistema de
Gustavo tinha acesso cotidianamente. Tais atividades representação. Isso significa, por exemplo, compreender por
requeriam a “tradução” de sílabas em sons e de sons em que alguns elementos essenciais da linguagem oral (a
sílabas. O material textual se constituía em um amontoado de entonação, entre outros) não são retidos na representação,
frases, cujo sentido podia ser produzido sem que se seguisse apesar de pertencer a “classes” diferentes. Significa
uma ordem na leitura das frases. Podia-se ler a partir de compreender por que se ignoram as semelhanças no
qualquer direção, invertendo-se a ordem das frases ou fazendo significado e se privilegiam as semelhanças sonoras, por que
a leitura aleatoriamente. No exemplo acima, podia-se ler: se introduzem diferenças na representação ao invés das
“Mamãe ama Mimi. Mimi mia...mia... Mimi é da mamãe. Mimi semelhanças conceituais, etc.
ama...ama...” ou qualquer outra ordenação que se queira dar. O Em suma, conceber a escrita como um código de
trabalho reque- rido de Gustavo consistia, pois, em transcrição implica conceber que sua aprendizagem consiste
“decodificar” o escrito e de “codificar” o que deveria escrever, na aquisição de uma técnica. Conceber a escrita como um
preenchendo as lacunas, utilizando para tanto as palavras do sistema de representação converte sua aprendizagem na
texto, ou seja, exigia-se a habilidade perceptiva de apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em
identificação das grafias corretas e a capacidade motriz para uma aprendizagem conceitual.
realizar a cópia. Em segundo lugar, a reflexão sobre a prática de ensino
As atividades que se seguiram, após esse momento adotada pela segunda escola que Gustavo frequentou e as
considerado inicial de aprendizagem do sistema formal de respectivas concepções que a fundamentavam sugerem uma

Legislação 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

inadequada separação entre alfabetização e letramento. de bordo, por exemplo. É preciso, ainda, criar espaços
Reconhecer que o processo de apropriação da linguagem apropriados e prever tempos na rotina escolar para que as
escrita envolve dois processos distintos, de natureza crianças tenham contato com os materiais de leitura.
essencialmente diferente, não pode desconsiderar o fato de As crianças podem escolher um artigo ou uma reportagem
que são, ao mesmo tempo, processos interdependentes e de revista ou um livro sobre determinado tema, por exemplo,
indissociáveis: e a professora ler em voz alta para elas. Assim, elas podem
decidir se o que está sendo lido é ou não interessante e útil
A alfabetização – a aquisição da tecnologia da escrita – não para elas, e terão oportunidade de aprender modos de leitura
precede nem é pré-requisito para o “letramento”, ou seja, para a que estão relacionados a determinados gêneros. Na escrita de
participação nas práticas sociais de escrita, tanto é assim que os texto, as situações em que as crianças são estimuladas a
analfabetos po- dem ter um certo nível de “letramento”: sem que interagir com as demais turmas e outros profissionais da
hajam adquirido a tecnologia da escrita, utilizam a quem a tem escola, ou ainda, a escrita de registros sobre fatos e atividades
para fazer uso da leitura e da escrita, além disso, na concepção que compõem um ciclo de estudos com a mediação da
psicogenética de alfabetização atualmente em vigor, a professora, por exemplo, tornam-se oportunidades para o
tecnologia da escrita é aprendida não como em concepções esclarecimento sobre as condições de produção (para quem
anteriores com textos construídos artificialmente para a estamos escrevendo, com qual intenção, por meio de que
aquisição das ‘técnicas’ de leitura e escrita, e sim por meio de gênero etc.).
ativida- des de “letramento”, ou seja, de leitura e produção de
textos reais, de práticas sociais de leitura e escrita. (SOARES, O desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita
1998, p. 92). de palavras, frases e textos em sala de aula

Elementos para a construção de uma proposta O processo de compreensão da natureza alfabética do


pedagógica sistema de escrita desenvolve nas crianças mecanismos de
Sabemos que as crianças são muito curiosas e se envolvem leitura e de escrita de palavras. Apesar de muitas delas
com entusiasmo em situações que as desafiam a explorar os aprenderem esses mecanismos com relativa facilidade, o
mais diferentes tipos de material de leitura; a manusear livros, desenvolvimento das habilidades relacionadas à leitura e à
jornais e revistas; a ouvir a leitura de contos, poemas, crônicas, escrita de palavras leva tempo e requer treino por parte das
reportagens; a brincar de ler e de escrever ou mesmo a criar e crianças. Para isso, um conjunto de atividades de leitura e
participar de jogos e brincadeiras nas quais a leitura e a escrita escrita de palavras e frases deve fazer parte do planejamento
são objetos centrais. Todas essas são maneiras de aproximar pedagógico das professoras desde o primeiro ano do Ensino
as crianças da cultura letrada. Fundamental.
Entretanto, além desse contato com o material escrito, as Como foi dito anteriormente, o reconhecimento das
crianças precisam ter oportunidades de observar e reelaborar palavras é muito importante para o desenvolvimento das
suas representações sobre o “para que” e “como” as pessoas crianças como leitoras. Simultaneamente, elas terão ainda que
leem e escrevem em suas atividades diárias. Para isso, é desenvolver a capacidade de ler e interpretar textos com
importante que a ação pedagógica promova a participação das autonomia. As habilidades de leitura e produção de textos
crianças em práticas autênticas de leitura e de escrita, no envolvem o conhecimento de elementos que compõem os
cotidiano da sala de aula, nas quais elas possam sempre textos escritos, os seus estilos, a identificação do autor, da
interagir com esse objeto do conhecimento. finalidade e do contexto de circulação do texto. Esses
Mas o que ler e escrever para e com as crianças? A leitura conhecimentos são construídos na prática cotidiana de leitura
de livros de literatura em voz alta pelas professoras pode ser e escrita. É preciso prática e orientação adequada para
um desses momentos em que se pratica a leitura com a desenvolver uma postura de leitor crítico.
participação dos alunos. A cada livro lido pela professora, as Nos contextos sociais em que os adultos fazem uso da
crianças vão incorporando novas referências sobre como se língua escrita em suas ações cotidianas, desde muito cedo as
configuram os livros de literatura (localização do título, do crianças começam a lidar com textos escritos por meio da
nome do autor, da editora etc.). A leitura em voz alta desperta observação e do acompanhamento dessas situ- ações de
o desejo e a curiosidade das crianças. Quando elas gostam da prática de leitura e escrita. Elas começam, mesmo antes de
história que foi lida em sala de aula, acabam buscando os livros terem domínio do sistema de escrita, a conhecer as
em momentos livres de leitura. Portanto, a leitura em voz alta especificidades dos gêneros textuais, apreendendo não apenas
para as crianças pode despertar o desejo de ser leitor. Vale o sentido das atividades de leitura e escrita, mas também a
ressaltar a importância de se lerem outros materiais de leitura maneira como os textos devem ser interpretados.
e buscar apresentar às crianças variados gêneros textuais. Como vimos na dimensão “O letramento”, as práticas de
Também é importante levar para a sala de aula as leitura e escrita em sala de aula se concretizam de diferentes
experiências de leitura que as professoras têm como adultos. maneiras, dentre as quais, naquelas situações em que as
Trazer materiais que estão sendo lidos ou escritos pelos professoras preparam um texto para ser lido e discutido com
profissionais da escola e relatar para as crianças como são as crianças, ou seja, quando o texto se torna objeto de análise
produzidos os textos e como se caracterizam os momentos de e conhecimento. Por meio de Situações de aprendizagem que
leitura na escola e em outros lugares são atitudes que podem tomam o texto como objeto de ensino, as crianças devem ter
aguçar o interesse das crianças para as práticas de leitura e oportunidade de compartilhar com as professoras suas
escrita. estratégias, seus conhecimentos, suas habilidades de leitura e
Além disso, vale ressaltar a importância das práticas de escrita.
leitura e escrita que se concretizam nos momentos em que a Essa abordagem começa pela seleção dos textos que farão
escrita torna-se mediadora das experiências escolares, parte do repertório do trabalho analítico. É preciso ter cuidado
ampliando as relações e regulando os comportamentos das com o vocabulário e a extensão dos textos trabalhados em sala
crianças e dos adultos no interior da escola. Estamos nos de aula. As professoras devem realizar um reconhecimento
referindo aos eventos de letramento que ocorrem quando as das habilidades já desenvolvidas por seus alunos por meio de
professoras levam livros de literatura, jornais, artigos etc. uma avaliação diagnóstica para traçar as metas de
como recursos de estudo de algum projeto de trabalho das aprendizagem para a turma. Cabe assinalar que não é preciso
crianças ou quando elas são levadas a registrarem suas esperar que as crianças escrevam convencionalmente para
aprendizagens e alguns fatos da aula em um portfólio ou diário realizar atividades que visem desenvolver habilidades,

Legislação 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

estratégias e comportamentos de leitura e de escrita de textos. anos, a professora deve prever formas de fazer com que as
No caso de a turma ou parte dela ainda não escrever crianças fiquem atentas aos aspectos que estarão sendo
convencionalmente, podem ser pensadas diferentes abordados nas propostas de leitura ou de escrita dos textos,
estratégias. Uma delas é a professora exercer o papel de consequentemente, as crianças ficarão atentas também à
escriba da classe, produzindo os textos coletivamente, ou o forma como a atividade será realizada.
papel de leitora, lendo para todos o texto escolhido. Outra
estratégia é permitir e estimular que as escritas espontâneas A aquisição do sistema de escrita e o desenvolvimento
sejam produzidas em sala. Também é possível aproveitar a da consciência fonológica
diversidade da turma e agrupar os alunos de forma que
aqueles que já decodificam e codificam possam servir de Quando as crianças iniciam o processo de alfabetização,
leitores ou de escribas para os colegas. Qualquer que seja a buscam compreender o que a escrita representa, ou seja, o que
estratégia adotada, a professora pode propor às crianças que: aqueles sinais gráficos representam e como eles se organizam
• Reescrevam o texto com palavras mais simples para formando um sistema de representação. Dessa forma, elas
expressar seu conteúdo. começam a lidar com a diferenciação dos dois planos da
• Marquem partes dos textos lidos de acordo com a linguagem: o plano do conteúdo (dos significados), que diz
informação requerida ou com o objetivo da leitura. respeito aos significados e sentidos produzidos quando
• Grifem palavras de acordo com o que se quer ressaltar. usamos a língua oral ou escrita, e o plano da expressão (dos
• Façam resumos do que está escrito. sons) que diz respeito às formas linguísticas. A compreensão
• Façam anotações sobre o texto. da natureza alfabética do sistema de escrita e o
• Realizem leituras individuais ou em duplas (um aluno desenvolvimento da consciência fonológica integram esse
que já se apropriou do funcionamento do sistema de escrita processo e são impulsionados por aprendizagens que
pode ler para outro que ainda não o faz), estimulam o desenvolvi- mento infantil à medida que
• Realizem leituras teatralizadas de textos ou de trechos de promovem a competência simbólica das crianças. Vejamos a
textos. seguir, conforme esclareceu o construtivismo psicogenético,
• Realizem leituras com pausas planejadas e como os aprendizes vão elaborando hipóteses e resolvendo
contextualizadas, com perguntas que orientem a interpretação questões para os problemas que eles mesmos se colocam, num
das crianças. movimento de reconstruções, no qual antigos conhecimentos
• Realizem leituras seguidas de conversas orientadas por vão dando lugar a novas formulações.
questões previamente planejadas pela professora.
• Produzam textos em pequenos grupos ou em duplas Os níveis conceituais da escrita
(também se podem agrupar as crianças de forma que aquelas Desde os primeiros contatos da criança com marcas
que já são capazes de codificar e decodificar se façam de gráficas impressas em livros, cadernos, cartazes, inicia-se um
escribas do grupo). longo processo de construção de esquemas conceituais10 cujo
• Produzam textos com apoio de roteiros definidos pelo primeiro desafio consiste em distinguir o que é desenho do
coletivo. que é escrita. Nesse primeiro momento, ainda sem fazer essa
Há, ainda, as atividades que ampliam o trabalho com o distinção, a criança se propõe a imitar o ato de escrever. Como
conteúdo dos textos. São aquelas atividades planejadas, como num jogo, ela crê que poderia ou deveria escrever certo
ampliação do momento de leitura e de escrita. Em geral, conjunto de palavras imitando a ação de escrever. O resultado
envolvem, dentre muitas possibilidades de trabalho, a dessas primeiras “escritas” infantis pode aparecer, desde o
produção e a apresentação de peças teatrais, pesquisas e ponto de vista figural, como linhas onduladas ou quebradas
estudos de aprofundamento, leitura de livros ou de outros (zig-zag), contínuas ou fragmentadas, ou como uma série de
textos sobre o mesmo assunto. elementos discretos (séries de linhas verticais ou bolinhas).
À medida que se vai trabalhando os textos com as crianças, Conforme salienta Ferreiro (2003), tradicionalmente,
é possível observar como elas passam a considerar as eram considerados, tanto por educadores, quanto por
orientações da professora no momento em que entram em pesquisadores, os aspectos figurativos da escrita infantil, ou
contato com novos textos. Por exemplo, quando vivenciam seja, aqueles aspectos relacionados a elementos formais, tais
situações de aprendizagem em que a professora destaca certos como: a qualidade do traçado, a distribuição espacial das
elementos textuais, estando diante de um novo livro, a criança formas, a orientação predominante (da esquerda para a
busca identificar os mesmos elementos, como, por exemplo, o direita, de cima para baixo), a orientação dos caracteres
sumário do livro, seu autor, seu título. Elas passam a individuais (inversões, rotações), etc. Os chamados aspectos
demonstrar comportamentos e habilidades de leitores e construtivos da escrita costumavam ser ignorados pelas
escritores mesmo quando ainda não dominam o sistema de professoras e pesquisadores interessados em compreender o
escrita. fenômeno da alfabetização. Tais aspectos construtivos têm
relação com o que o sujeito quer representar e os meios que
Para as crianças de seis anos, a mediação das professoras emprega para criar diferenciações entre as representações.
é muito necessária. Não apenas porque elas não conseguem Não são, portanto, os aspectos figurais que designam se houve
ainda escrever e ler textos com autonomia, mas também ou não uma escrita. Quando ocorre essa intencionalidade por
porque para elas a interação por meio da língua escrita é uma parte da criança, ou seja, quando constatamos a presença de
situação que apresenta condições de produção ainda aspectos construtivos, é que consideramos que houve uma
desconhecidas, como, por exemplo, a de ter o interlocutor produção escrita.
ausente no momento da produção. Por isso é importante que a Em relação aos aspectos construtivos, como veremos a
professora sirva de leitor e escriba em diferentes situações em seguir, a escrita infantil segue uma linha regular de evolução
sala de aula, principalmente nas atividades específicas para o que, conforme comprovaram as investigações de Ferreiro e
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de textos. Teberosky (1991), independem da procedência dos sujeitos
Outro aspecto dessa dimensão que merece atenção das quanto a meios culturais, situações educativas, línguas etc.
professoras de crianças de seis anos diz respeito à necessidade
de se deixar claro o objetivo das atividades e como elas
deverão ser realizadas, ou seja, como as crianças devem
proceder para realizá-las. Ao conduzir as Situações de
aprendizagem que abordam o texto escrito em classes de seis

Legislação 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Aspectos centrais da evolução psicogenética da língua 261). É o que se chamou “realismo nominal”. Por exemplo, aos
escrita objetos grandes corresponde uma escrita proporcional a seu
Na linha da evolução psicogenética, identificam-se três tamanho. É que, para a criança, o signo que expressa um objeto
grandes períodos distintos entre si, dentro dos quais cabem não é a escrita de uma forma sonora. Isto é, a escrita, assim
múltiplas subdivisões: como o desenho, expressa simbolicamente o conteúdo de uma
- Primeiro período: Caracteriza-se pela distinção entre o mensagem e não seus elementos linguísticos.
modo de representação icônico e não icônico; A primeira indicação explícita da distinção entre imagem e
- Segundo período: Ocorre a construção de formas de texto consiste em eliminar os artigos. Trata-se da chamada
diferenciação; o aprendiz busca exercer um controle “hipótese do nome”, isto é, o texto retém somente um dos
progressivo das variações sobre os eixos qualitativo e aspectos potencialmente representáveis, o nome do objeto ou
quantitativo; objetos que aparecem na imagem. Ainda que não signifique
- Terceiro período: Marcado pela fonetização da escrita, que a criança já compreendeu a escrita como a expressão
que se inicia com um período silábico e culmina em um gráfica da linguagem, ao representar “os nomes”, ela dá um
período alfabético. passo importante nessa direção.
1. O primeiro período: a distinção entre o modo de Evidentemente, antes de a criança ser capaz de distinguir
representação icônico e não icônico escrita de desenho, ela não pode dedicar-se a considerar as
Neste primeiro período, a criança alcançará duas propriedades do texto. As primeiras propriedades que a
distinções básicas que sustentarão as construções criança começa a observar no texto são exatamente as
subsequentes: de um lado, a diferenciação entre as marcas variações quantitativas, tais como: quantidade de linhas, de
gráficas figurativas e as não figurativas; de outro, a partes ou fragmentos numa mesma linha. Ao atribuir nomes
constituição da escrita como um objeto substituto. Vejamos, a de objetos grandes a trechos maiores, a criança começa a
seguir, cada uma delas. considerar as propriedades do texto.
Em relação à primeira distinção, é importante esclarecer A consideração de propriedades qualitativas, tais como:
que as marcas gráficas figurativas são aquelas que observar tipos e formas de letras, diferenciar números de
reproduzem aproximadamente o contorno ou a figura do letras, sinais de pontuação, etc., aparece muito posteriormente
objeto representado. As não figurativas, por sua vez, são e depende do conhecimento de modelos socialmente
aquelas que não conservam nenhuma semelhança figural com transmitidos, como as letras do próprio nome ou de outras
o objeto representado. De forma simplificada, podemos dizer pessoas. Entretanto, para que se alcance esta possibilidade, é
que, neste período, as crianças serão capazes de distinguir preciso haver superado minimamente a etapa descrita acima,
desenho de escrita e ainda compreender que a escrita substitui na qual qualquer escrita serve para atribuir o significado
e não reproduz algo. desejado.
Se formos capazes de entender que essa distinção requer
da criança um enorme esforço cognitivo, seremos igualmente 2. O segundo período: a construção de formas de
capazes de atribuir à diferenciação entre desenho e escrita um diferenciação
papel central no processo de apropriação do sistema de escrita Resolvida a questão da diferenciação entre escrita e
pelo aprendiz. O desenho está no domínio do icônico e, neste desenho, a criança passa a considerar as características
domínio, as formas dos grafismos importam porque formais específicas do escrito. Sua busca é a de definir “o que
reproduzem a forma dos objetos. Entretanto, a escrita está fora serve para ser lido” e, para tanto, ela estabelece condições
do icônico, ou seja, a forma dos grafismos não guarda nenhuma gráficas que a ajudam a construir formas de diferenciação
relação com a forma dos objetos, nem sua ordenação espacial entre as escritas.
reproduz o contorno destes. Essa é uma das grandes Essas condições gráficas buscam responder à sua
descobertas que a criança deve ser capaz de fazer: indagação: “para que algo possa ser lido, o que é que deve
“Diferenciar a atividade de desenhar da atividade de possuir”. Para ela, para que algo seja lido, deve cumprir dois
escrever é importante porque a escrita, para as crianças critérios: possuir uma quantidade suficiente de letras e
pequenas, recupera o que se pode desenhar: o nome do objeto respeitar uma variedade interna de caracteres. Isso significa
desenhado (‘hipótese do nome’). Esta ideia também lhes serve que, para a criança, não basta que haja letras para que algo
para interpretar os textos que aparecem acompanhados de possa ser lido. Se há poucas letras e algumas se repetem
imagens. A escrita por si mesma não é suficiente para garantir o demasiadamente, tão pouco se pode ler. Ferreiro (1991)
significado e por isso as crianças costumam desenhar antes de denominou esse princípio de “variação interna”: com uma só
escrever. A imagem, por outro lado, é a que permite interpre- tar letra não se obtém algo legível, mas tão pouco se pode obter
a escrita (pelo menos como uma tentativa)” (FERREIRO, 2003). algo legível com uma série composta pela mesma letra
A maioria das crianças, muito antes de completar os seis repetida três ou mais vezes.
anos de idade, já foi capaz de resolver esse primeiro problema: Evidentemente, tais critérios são exigências
a escrita, mais do que uma marca, é um objeto que substitui especificamente infantis, que não encontram respaldo nas
algo, é uma representação de algo externo à escrita como tal. regras do sistema escrito. Como sabemos, a escrita
Apesar de saber que a escrita representa algo, a criança não convencional do português apresenta inúmeras situações nas
necessariamente sabe que se trata de uma representação da quais se pode ler apenas uma letra, bem como existe uma
linguagem e, menos ainda, dos aspectos formais da fala. variedade grande de palavras em que as letras se repetem.
Portanto, as primeiras questões a serem resolvidas são “o que Portanto, tal elaboração infantil não foi fruto de informações
é que a escrita representa” e “qual é a estrutura desse modo de recebidas por usuários do sistema. Trata-se, pois, do resultado
representação”. de uma intensa atividade cognitiva, fruto da tentativa da
Para responder a essas questões, a criança tenta criança de se apropriar deste sistema de representação.
estabelecer a distinção entre desenho e escrita, e formula uma Aqui cabe discutir e analisar a diferença entre o processo
primeira ideia de que ambos formam uma unidade, e que, de elaboração de hipótese, que, como vimos, é fruto de um
juntos, expressam o sentido de uma mensagem gráfica. intenso trabalho cognitivo do aprendiz, e o aprendizado de
Também quando passamos da interpretação de um texto determinadas informações oriundas do meio social. Ambos os
para a produção, deparamos com o mesmo fato: “a criança aspectos estão presentes no processo de apropriação da
espera que a escrita – como representação próxima, ainda que linguagem escrita, entretanto, é importante que a professora
diferente, do desenho – conserve algumas das propriedades do faça essa distinção no processo educativo. O reconhecimento
objeto a que substitui”. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1991, p. da grafia e do nome dos números, letras e sinais de pontuação,

Legislação 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

assim como também o reconhecimento da orientação comprometa com um novo processo de construção. O sistema
convencional da leitura e da escrita (da margem esquerda para de escrita que a criança encontra no mundo circundante não
a margem direita e de cima para baixo) são exemplos de se acomoda a este esquema por ela construído. Apesar de
conhecimentos socialmente transmitidos. Sem que memorize compreender o que faz, a criança não consegue explicar o que
essas informações, a criança não será capaz de aprendê-los. os outros fazem. Também não é capaz de compreender a
Não se trata, portanto, de uma construção ou reconstrução informação que recebe. Toda a informação vinda do meio
cognitiva. Sua aquisição requer condições sociais específicas, ambiente é altamente perturbadora neste momento. Ferreiro
tais como manipular objetos próprios ao universo da escrita, (2003), mencionando Piaget, descreve três tipos possíveis de
interagir com informantes para deles receber informações reação frente a uma perturbação: pode-se deixá-la de lado,
pertinentes e adequadas sobre esses conhecimentos formais. pode-se compensar localmente ou pode-se assimilá-la.
Importa destacar, como já o fizemos anteriormente, que as Assimilar uma perturbação, na concepção piagetiana, requer
crianças não dedicam seus esforços intelectuais a inventar compensá-la inteira- mente, modificando, para tanto,
letras novas. Elas recebem a forma das letras da sociedade e as esquemas assimilatórios prévios, alcançando, assim, um novo
adotam tal e qual. Por isso o uso dessas formas convencionais nível de equilibração. Quando são capazes de fazer isso, as
costuma aparecer muito precocemente. O que lhes ocupa o crianças abandonam a hipótese silábica e começam a
pensamento e lhes exige a formulação de hipóteses são as reconstruir o sistema de escrita sobre bases alfabéticas. Mas
questões: o que a escrita representa e como fazer para antes de fazê-lo, tratarão de toda maneira de conservar os
representar algo por meio da escrita. esquemas assimilatórios que tanto trabalho lhes custou
construir (FERREIRO, 2003).
3. O terceiro período: a fonetização da escrita
Como vimos, nos dois primeiros períodos descritos O período silábico-alfabético marca a transição entre os
anteriormente, para o aprendiz, até esse momento, o que se esquemas prévios em vias de ser abandonados e os esquemas
escreve não se regula por diferenças ou semelhanças entre os futuros em vias de ser construídos. Quando descobre que a
significantes sonoros. É exatamente essa atenção às sílaba não pode ser considerada como uma unidade e sim que
propriedades sonoras do significante o que marca o ingresso ela é realizável em elementos menores, a criança ingressa no
no terceiro grande período desta evolução. último passo da compreensão do sistema socialmente
A criança tenta fazer coincidir a escrita e o enunciado oral. estabelecido. A partir daí, descobre novos problemas. Por um
Essa primeira relação entre fragmentos escritos e unidades lado quantitativo, se não é suficiente uma letra por sílaba, tão
orais se estabelece no nível da sílaba. Sobre o eixo quantitativo, pouco pode estabelecer alguma regularidade duplicando a
isso se expressa na descoberta de que a quantidade de letras quantidade de letras por sílabas (já que há sílabas que se
com que se vai escrever uma palavra pode corresponder à escrevem com uma, duas, três ou mais letras). Pelo lado
quantidade de partes que reconhecem na emissão oral. Essas qualitativo, enfrentará os problemas ortográficos: a
partes da palavra são inicialmente suas sílabas. Desta forma se identidade de som não garante a identidade de letras nem a
inicia o período silábico, que evolui até chegar a uma exigência identidade de letras, a de sons.
rigorosa: uma sílaba por letra, sem omitir sílabas e sem repetir
letras. O desenvolvimento da consciência fonológica
A hipótese silábica é extremamente importante por duas Quando as crianças chegam ao Ensino Fundamental,
razões: permite à criança ter um critério geral para regular as possuem um bom domínio da língua materna: sabem utilizá-la
variações na quantidade de letras que devem ser escritas e para fins de comunicação, sabem sua estrutura sintática e têm
centra sua atenção sobre as variações sonoras entre as um adequado conhecimento do léxico. Sobre a escrita,
palavras. Entretanto, a hipótese silábica cria suas próprias podemos dizer que as crianças chegam à escola sabendo suas
condições de contradição. Uma delas se estabelece entre o funções (para que as pessoas leem e escrevem) e sua estrutura
controle silábico e a quantidade mínima de letras que uma em muitos gêneros textuais, reconhecem os sinais gráficos, são
escrita deve possuir para ser interpretável. Seguindo essa capazes de fazer o reconheci- mento de algumas palavras etc.
lógica, a escrita de um monossílabo deveria possuir apenas O trabalho pedagógico desenvolvido na escola busca ampliar o
uma letra, mas a essa hipótese se sobrepõe a noção da desenvolvimento cognitivo e cultural das crianças.
“quantidade mínima”: um escrito com apenas uma letra “não Uma das capacidades das crianças que são desenvolvidas
pode ser lido”, ou seja, não é interpretável. na escola, ao iniciarem o processo formal de alfabetização, está
Outra contradição se estabelece entre a interpretação relacionada à análise do sistema fonológico da língua que elas
silábica e as escritas produzidas pelos adultos que, quase aprenderam a falar desde muito cedo. Os estudos sobre a
sempre, possuem mais letras do que a hipótese silábica relação entre consciência fonológica e alfabetização vêm
permite antecipar. Neste momento da sua evolução, as demonstrando o importante papel das habilidades
crianças estão resolvendo o problema de quantas letras são metafonológicas no processo de aquisição da leitura e da
necessárias para uma palavra dada. Entretanto, não estão escrita num sistema alfabético. No entanto, pode-se dizer que
aptas a resolver outro problema relacionado, mas diferente: essas habilidades se desenvolvem concomitante- mente a esse
quais letras devem servir para escrever uma palavra dada. processo; e, não, previamente.
Para caminhar no seu processo de apropriação do sistema de Os estudos sobre o desenvolvimento da consciência
escrita, a criança terá que resolver problemas tanto de fonológica das crianças pequenas sugerem a necessidade de
correspondência quantitativa, quanto de correspondência uma abordagem sistemática do sistema fonológico ao longo do
qualitativa. processo de alfabetização. Ao elaborar a proposta de ensino, é
No mesmo período, mas não necessariamente ao mesmo preciso considerar diferentes níveis de abordagem através da
tempo, as letras podem começar a adquirir valores sonoros atividade pedagógica:
(silábicos) relativamente estáveis, estabelecendo-se - Análise das variações linguísticas que constituem a
correspondências sobre o eixo qualitativo. As partes sonoras linguagem oral;
similares entre as palavras começam a expressar-se por letras - Análise das diferentes unidades fonológicas da língua
semelhantes. Como veremos a seguir, essa hipótese gera oral;
também formas particulares de conflito. - Reconhecimento das correspondências entre unidades
Os conflitos antes mencionados, aos quais se agrega às fonológicas e unidades do sistema de escrita.
vezes a ação educativa, vão desestabilizando
progressivamente a hipótese silábica, até que a criança se

Legislação 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O desenho e a brincadeira - formas de linguagem a possibilidades quanto é permitido que as crianças imaginem e
serem exploradas no processo de alfabetização ajam guiadas pela imaginação, pelos significados criados,
combinados e partilhados com os parceiros nos momentos das
A criança vivencia, experimenta e apreende o mundo por brincadeiras, dos desenhos, dos jogos de faz de conta etc.
meio de diferentes formas de interação com o outro e com os Conforme esperamos ter demonstrado, desenho e brincadeira
objetos. O uso de diferentes linguagens é o que lhe permitirá são atividades que levam diretamente à escrita, porque a
comunicar-se e compreender ideias, sentimentos e a organizar divergência entre o campo do significado e o da visão se repete
seu pensamento. O desenho, a brincadeira, a pintura, a no início do processo de alfabetização, quando a criança
linguagem corporal, dentre outras, são formas de linguagem percebe que pode desenhar também a fala.
que lhe permitirão o acesso aos símbolos e signos culturais e a
possibilidade de construção de novos símbolos e signos que Um diálogo com práticas pedagógicas de alfabetização
orientarão seu comportamento, sua maneira de ver, sentir e e letramento de crianças de seis anos
viver.
Como vimos, na visão de Vygotsky (1998), a cultura Ouvir, ver, ler histórias: narrativas verbais e visuais em
impregna nosso modo de pensar, sentir e aprender. práticas de letramento literário na infância
Compreendendo a cultura como os modos de um povo,
comunidade ou grupo fazer, ver, ser, sentir e estar no mundo Duas motivações me levam a tratar da temática deste texto.
e, portanto, como um sistema de significação, não podemos A primeira vem da surpresa com que me deparei com a
percebê-la como algo pronto e estático, e sim como um expressão hoje usada pelo mercado editorial ‘livros para
processo dinâmico construído pelos diferentes grupos bebês’; e a segunda advém dos problemas de natureza
culturais aos quais pertencemos. conceitual gerados pelos gêneros da literatura endereçados a
Esses sistemas de significação ou sistemas simbólicos crianças ainda não alfabetizadas ou a crianças que iniciam o
constituem e são, ao mesmo tempo, os meios pelos quais seu processo de alfabetização, gêneros bem diferentes
transmitimos e comunicamos, uns para os outros e para nós daqueles que tradicionalmente se reconhecem como literários.
mesmos, as ideias e os sentidos compartilhados do mundo Hoje se vê o crescimento da produção para crianças não só dos
cultural no qual estamos inseridos. Assim, as formas anos iniciais do Ensino Fundamental, mas também da
particulares de linguagem (a palavra, o gesto, a arte e o educação infantil, fruto de discussões sobre a necessidade de
desenho, dentre outros) são instrumentos de apropriação da inserção deste segmento na formação docente, com projeções
cultura pelas crianças, permitindo-lhes a decifração do mundo em programas de aquisição de livros pelo governo.
e, consequentemente, orientando suas ações e suas Nos dias atuais, as concepções de alfabetização se
manifestações sobre o meio em que vivem. vinculam a duas fortes tendências. Uma para a qual a
Nesta publicação, elegemos o desenho e a brincadeira aprendizagem da língua escrita e seus usos sociais não se
como foco da proposta de ensino não apenas por sua diferenciam, e, por isso, não se vê a necessidade de empregar
proximidade com o trabalho frequentemente desenvolvido na a palavra “letramento” para designar esses usos; outra que
maioria das escolas de Ensino Fundamental, mas, sobretudo, considera a importância de reconhecer a concomitância de
pela importância que adquire para o desenvolvimento das dois processos: o primeiro destaca especificidades da
habilidades relacionadas à apreensão do sistema de escrita alfabetização ligadas ao domínio da tecnologia da escrita; o
enquanto sistema simbólico. segundo diz respeito ao letramento, ou seja, aos usos sociais
Ambos, desenho e brincadeira, ajudam a criança a da escrita e da leitura. Este texto tem como proposta tratar da
compreender o caráter da representação. O desenho é uma leitura literária na fase em que as crianças estão aprendendo a
manifestação simbólica da criança que tem uma estreita ler e a escrever. Procuro mostrar como a segunda tendência é
relação com o gesto. A representação gráfica tem origem na aquela que fornece melhores respostas quando se busca
fixação do gesto no papel. A criança, ao desenhar ou ao compreender as apropriações da literatura por crianças que
apreciar uma ilustração ou desenho, vai compreendendo que iniciam ou consolidam seu processo de alfabetização.
aquilo que ela vê no mundo exterior pode ser representado. Parte-se, assim, do pressuposto de que a experiência com
Conforme salientamos no primeiro texto desta publicação, textos literários pode anteceder a alfabetização, fazendo valer
ao discutirmos a importância da atividade lúdica, a brincadeira o que ensina Magda Soares: é possível participar de práticas de
ou o jogo de faz de conta, pela reversão do significado dos letramento mesmo sem ter o domínio do sistema da escrita
objetos (uma caixa de papelão pode representar um carro ou (SOARES, 1998).
um avião), é considerada por Vygotsky um simbolismo de Para me aproximar do tema da autonomia e da mediação
segunda ordem. No jogo do faz de conta, a criança destaca o na leitura literária por crianças, o qual proponho com este
objeto de seu significado e da sua função, atuando com ele no texto, lançarei mão de uma estratégia para evitar me perder no
plano imaginário como se fosse outro. Dessa forma, a criança emaranhado de livros que se produzem ano a ano para a faixa
liberta-se do plano imediato de sua percepção, criando um etária que se pretende alcançar. Assumindo uma proposta
novo plano de ação, com novas fronteiras de significação. mais modesta, analisarei três livros de uma escritora de
Assim, a brincadeira é uma atividade propícia ao processo de carreira já consolidada por obras dirigidas a esse público
significação por envolver uma flexibilização na forma de especial, com o objetivo de levantar aspectos sobre elementos
compreender os signos e suas relações. Ela ajuda a criança a relevantes que compõem os gêneros, e que, em grande parte,
passar de ações concretas com objetos para ações com outros se caracterizam pelo equilíbrio entre narrativa visual e
significados. Por meio do jogo de faz de conta, os significados narrativa verbal. A autora é Eva Furnari e foi escolhida por
e as ações relacionadas aos objetos convencionalmente podem trazer, no conjunto de sua obra, muitos exemplos de livros que
ser libertados, possibilitando avançar em direção ao propiciam diferentes modos de interação com as crianças,
pensamento abstrato. cumprindo bem o trânsito entre a leitura autônoma e a leitura
Nesta perspectiva, a brincadeira e o jogo de faz de conta mediada, que, neste texto, denomino: histórias para ler
são considerados como espaços de compreensão do mundo sozinho e histórias para ouvir.
pelas crianças, na medida em que os significados que ali As histórias que ficam da infância não são somente aquelas
transitam são apropriados por elas de forma específica. Essas que lemos por conta própria, mas também aquelas que nos
linguagens devem ser compreendidas, no cotidiano de uma foram contadas. Neste caso, a memória guarda, além da
proposta educativa voltada para a infância, como inerentes ao história e seus personagens, a voz de quem contou, sua
processo de trocas e de experiência de cultura. São tantas entonação, seus gestos, sua emoção. Ao contrário do que se

Legislação 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

imagina, os dois modos de conhecer as histórias são achou por bem escrever a história que as imagens lhe
experiências que prosseguem pela vida afora, mesmo depois contavam.
que se aprende a ler. Quando se pensa na formação do leitor,
ouvir e ler narrativas literárias são atos que mais comumente Esses livros podem apresentar interessantes elementos
localizamos no aprendizado inicial da leitura, embora os para a reflexão sobre o que estamos compreendendo por
encontremos, de modo menos frequente, em outras etapas da leitura autônoma ou leitura mediada, na fase em que a criança
escolaridade. Não vamos refletir, aqui, sobre os atos de ler e inicia ou desenvolve o processo de alfabetização. Estamos
ouvir histó- rias em toda essa abrangência, mas, sim, sobre o entendendo este processo em sua relação com o processo de
que significa a interação com o texto literário quando ainda letramento, tal como o propõe Magda Soares (1998; 2003), em
não se tem o amplo domínio do código alfabético, fase em que recentes trabalhos em que trata da necessidade de
a mediação é necessária e está em relação direta com a “reinventar” a alfabetização, quando sugere a conciliação entre
atividade de ler sozinho, que significa a conquista da alfabetizar e letrar. Supõe-se, assim, um leitor que enfrenta as
autonomia. dificuldades próprias do processo de aquisição do código, mas
A entrada da criança no mundo da escrita é responsável que, simultaneamente a esse enfrentamento, convive com
pela abertura de inúmeras portas, antes acessíveis a ela práticas de letramento, entre as quais as literárias, no contexto
somente pela mediação do outro. Na infância, a presença do escolar e no contexto social mais amplo.
outro – nas interações com a linguagem escrita, ainda não Ressalta-se, ainda, como justificativa desse recorte, terem
totalmente familiar à criança pequena –, faz-se constante. sido os primeiros livros de Eva Furnari as narrativas de
Quando começa a ler, a criança convida o leitor adulto mais imagens, conhecidas como ‘livros de imagens’. Só depois de
experiente a participar com ela nos processos de construção passar por essa experiência, essencialmente imagética, a
de sentidos, em situações de leitura de livros, placas, outdoors, escritora “aprendeu” a escrever textos verbais que
jornais, rótulos e tantos outros textos, que ela passa a ver/ler dialogassem com as imagens visuais. Isso talvez explique o fato
de modo diferente do que até bem pouco tempo via, quando de não haver, nos livros da autora, compostos por texto verbal
não lia. e texto visual, uma predominância de uma linguagem sobre a
É importante reforçar, assim, que, na infância, mais que em outra. O equilíbrio configura-se, assim, perfeito.
outras fases da formação do leitor, ler é atividade partilhada,
na qual se confirmam sentidos e funções da leitura, Algumas considerações finais
construídos pela curiosidade de quem descobre que a letra diz Pavimentar bem o caminho do letramento literário antes e
o mundo. Com a literatura não poderia ser diferente. No início no início do processo de alfabetização pode ser a mais
do processo de alfabetização, pode haver uma convivência importante tarefa à qual as professoras deveriam se lançar, se
harmoniosa entre diferentes maneiras de interagir com o texto descobrirem a tempo o que significa o contato com bons livros
ficcional ou poético – o texto em prosa ou em verso – que se faz da literatura para a vida, para a formação humana. Por mais
ora pela escuta, ora pela leitura individual ou silenciosa. Este fáceis e simples que sejam as histórias, elas sempre requerem
texto pretende mostrar que, embora muitas vezes as crianças algum ensinamento, que vai desde o modo como pegar o livro,
ainda não tenham o domínio da tecnologia que lhe dará passar as páginas; desde as indicações sobre a direção da
suporte para ler textos mais complexos, a alternância entre escrita nos livros, sobre a ordenação sequencial que indica um
textos mais simples e textos mais complexos é importante para fluxo narrativo - seja livro de imagens, seja texto verbal e visual
a construção da progressiva autonomia. - daí a aposta, no que a princípio parece ser um exagero, em se
produzirem livros para bebês.
Do simples ao complexo; do complexo ao simples A autonomia do leitor é uma conquista contínua, que não
Parte-se do pressuposto de que a experiência da narrativa se separa definitiva- mente das mediações. Por mais
ficcional e da poesia deveria anteceder a aquisição do código experientes que sejam os leitores, eles sempre participam de
da escrita. Antes de saber ler, a criança já pode conhecer – se processos mediados, condição movida pelos desafios que os
lhe são contadas histórias, recitados poemas, cantadas textos – e aqui nos interessam de perto os literários – nos
cantigas – alguns gêneros da literatura. Este é um dado colocam. O simples, na literatura infantil, não pode ser
importante quando se pensa na formação de leitores, confundido com o banal, que segue os moldes de uma
sobretudo na faixa que se estende da Educação Infantil aos produção que não respeita a inteligência infantil, em nome do
primeiros anos do Ensino Fundamental, quando se dá o favoreci- mento de leitura autônoma, sem a mediação de um
processo de alfabetização propriamente dito. adulto. Sem repetir fórmulas ou facilitar a linguagem, a
Nesses segmentos da escolaridade, os livros da literatura simplicidade na literatura para crianças pode propor desafios
que chegam até as bibliotecas escolares, e que supostamente em direção a uma travessia para a autonomia, ao produzir
chegam aos leitores, compreendem narrativas e poesias de estímulos que assegurem a continuidade do processo de
diferentes níveis de complexidade. Temos desde livros que formação de leitores apenas iniciado.
preveem um leitor com um nível mais avançado de capacidade
de leitura, mas que já agradam às crianças, até livros cujos Alfabetizar letrando a partir da literatura infantil
textos oferecem menos dificuldade para os aprendizes. Daí a
escolha dos livros de Eva Furnari para tratar desse assunto, As atividades relatadas foram desenvolvidas na Escola
por apresentarem uma variedade no que diz respeito aos Municipal Dona Marucas, da rede municipal da cidade de
níveis de complexidade que queremos focalizar. A escritora foi Lagoa Santa/MG, com crianças de 5/6 anos, ao longo do ano de
escolhida para esta análise também pela qualidade dos textos 2008, em uma turma com 22 alunos, pela professora Juanice
literários que produz, nos quais se manifesta uma visível de Oliveira Vasconcelos, e com o apoio e a colaboração da
aversão a estereótipos temáticos, linguísticos, formais, professora participante do Núcleo de Alfabetização e
imagéticos etc. Tratarei aqui, inicialmente, de três livros que Letramento do município, Eliana Pereira Araújo.
exibem a harmonia entre a visualidade das ilustrações e a Partimos do princípio da importância do trabalho com a
exploração dos aspectos linguísticos da narrativa/ poesia literatura na infância e da contribuição que esse trabalho traz
verbal, propiciando modos diferentes de interação com os para a aquisição da leitura e da escrita. Procuramos, sempre,
pequenos leitores. Em seguida, focalizarei um desses livros – incentivar o manuseio de livros de diferentes gêneros textuais
uma narrativa construída apenas por imagens – que foi lida e o convívio com diferentes portadores de textos, para melhor
por uma criança que se encontrava em fase de alfabetização e compreensão do uso social da escrita.

Legislação 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Em nossa sala de aula, temos um cantinho de leitura com Dourados para confecção de um livrão, com desenhos e texto
diversos porta- dores: convites, calendário, guia comercial da deles, o que foi feito.
cidade, histórias em quadrinhos, livros de receitas, fábulas, A seguir, o carteiro entrega ao Sr. Lobo Mau uma carta do
poesias, contos de fadas, livros de imagem e muitos outros, que advogado de Chapeuzinho Vermelho e dos Três Porquinhos,
os alunos podem manusear, ler, explorar durante o período de comunicando providências que iam ser tomadas contra as
aula. Além desse cantinho, todos os dias as crianças ouvem maldades que ele tinha praticado. Desta vez, votamos em sala
uma história, ora lida, ora contada, ora gravada em CD. qual a pena que o Lobo deveria cumprir por todas as maldades
Observando a turma, percebemos que, mesmo tendo cometidas, e escrevemos uma carta para ser enviada ao Lobo;
contato com uma variedade de material escrito, os alunos desta vez, demos uma atenção especial à escrita do
ainda não conseguiam identificar o objetivo e as endereçamento no envelope.
características de outros gêneros textuais que não fossem A última carta que o carteiro entrega é um cartão de
histórias. Resolvemos, então, trabalhar com o livro O carteiro aniversário que Chapeuzinho Vermelho envia para Cachinhos
chegou, de Janet & Allan Alberg, da editora Companhia das Dourados, que está comemorando mais um ano de vida, e junto
Letrinhas, que proporciona diversas situações de uso de manda uma nota – um “dinheirinho” – como presente. Os
diferentes gêneros aliados aos contos de fadas, o que alunos trouxeram várias notas com as quais trabalhamos
possibilitaria às crianças, de uma forma muito prazerosa, o números e quantidades; além disso, construímos uma receita
contato com uma variedade de textos que circulam na de gelatina que seria uma guloseima a ser servida na festa de
sociedade. aniversário.
A primeira etapa do trabalho foi uma sondagem para saber A segunda etapa do trabalho com o livro O carteiro chegou
se todos os alunos conheciam todas as histórias citadas no foi a pintura das histórias em tecido. Cada história foi dividida
livro; percebemos que nem todas eram conhecidas e que em três partes: o início, o meio e o fim, o que levou as crianças
algumas crianças conheciam finais diferentes para a mesma a perceberem a estrutura de uma narrativa. Votamos cenas
história. para serem desenhadas e pintadas para cada parte. Cada
criança recebeu um quadrado de tecido, desenhou e depois
pintou sua cena com tinta para tecido; levamos os quadrados
Decidimos, então, recontar as histórias, discutindo os para uma costureira que juntou os retalhos na ordem
diferentes finais, à medida que íamos realizando a leitura do adequada, colocou uma borda com uma chita bem colorida e
livro O carteiro chegou; para isso, quando contávamos ou alegre, formando, assim, uma linda colcha para a nossa sala:
relembrávamos uma história, procurávamos fazê-lo usando todas as vezes que buscávamos livros no nosso cantinho de
diferentes versões. Depois de cada história, abríamos o leitura, nós a utilizávamos para forrar o chão e deitávamos
envelope com a correspondência entregue pelo carteiro à sobre ela.
personagem da história. A terceira e última atividade com base no livro O Carteiro
O primeiro envelope é uma carta de Cachinhos Dourados Chegou foi a criação de uma outra versão para a história de
pedindo desculpas à família dos ursos. Analisamos a estrutura Chapeuzinho Vermelho, levando as crianças a participarem da
da carta e sua intencionalidade; logo surgiu a vontade de escrita de um livro. A história começa quando Chapeuzinho
escrevermos nós também uma carta para a turma vizinha, pois Vermelho recebe uma carta da vovó, comunicando que ela não
os alunos, em um outro momento, tinham manifestado o estava muito bem de saúde. A partir daí, surgiu um livro com:
desejo de cantar para aquelas crianças a música “De olhos a lista das guloseimas de que a vovó mais gostava; um cartaz
vermelhos” de que eles gostavam muito, e a carta foi vista informativo que Chapeuzinho encontra no meio do caminho,
como um recurso para comunicar o interesse de apresentar a na floresta; um mapa para chegar à casa da vovó; um bilhete
música, sugerindo o dia e a hora. Assim foi feito. que a vovó deixara na porta de sua casa para Chapeuzinho; a
A próxima história no livro é a de João e Maria; o carteiro lista de telefones que Chapeuzinho consultou para pedir ajuda;
entrega à bruxa um panfleto de propaganda de artigos para a lista de convidados que iriam participar da festa de
bruxa. A partir dele, fizemos uma lista de objetos que uma comemoração da prisão do lobo; a receita do delicioso bolo da
bruxa usa e, ao compararmos a lista com os artigos oferecidos vovó; e, finalizando, uma nova versão da música cantada por
no panfleto, vimos que a loja não oferecia chapéu de bruxa. Chapeuzinho Vermelho. O resultado foi surpreendente! Do
Criamos, então, o nosso panfleto de oferta de chapéus de início ao fim da história, as crianças tinham uma situação a
bruxa, com diversos modelos. resolver e uma nova possibilidade de escrita.
Em relação à história de João e o pé de feijão, o carteiro leva
para o gigante um cartão postal enviado por João, em viagem Em síntese: foi desenvolvido um trabalho com textos
de turismo com o dinheiro fornecido pela galinha de ovos de literários, em que os contos de fadas foram também base para
ouro. Trabalhar com o cartão postal não foi fácil, porque é um o conhecimento e o uso de vários gêneros e portadores de
gênero e portador muito ausente na vida das crianças; levou textos, e as crianças tiveram a oportunidade de vivenciar
algum tempo para que compreendessem seus objetivos e experiências em que desempenharam o papel ora de leitores,
características, mas quando isso aconteceu, foi mágico! ora de escritores, mesmo antes de estarem convencionalmente
Nessa mesma ocasião, estávamos, em outros momentos, alfabetizadas.
trabalhando com o poema “As Borboletas”, de Vinicius de
Morais, e as crianças tinham feito muitas borboletas que foram O Jogo Linguístico: brincando com as hipóteses das
espalhadas pelo jardim da escola; tínhamos tirado algumas crianças
fotos, e quando as crianças contemplaram, em sala, a “obra de
arte” que tinham feito, uma delas propôs fazermos com uma Em meados dos anos 90, tive a oportunidade de estudar
das fotos um cartão postal para enviarmos às crianças de uma Linguística por meio de uma ação de formação continuada
creche da rede, para mostrar a elas como era bonita e legal a desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais.
nossa escola, já que a maioria das crianças dessa creche são Nesse processo de formação, aprofundei meus conhecimentos
direcionadas para a nossa escola. sobre Fonética e Fonologia, o que me levou a pensar na
A personagem seguinte, no livro O carteiro chegou, é possibilidade de elaborar um procedimento de ensino voltado
Cinderela; o carteiro entrega a ela um ofício de uma editora para o processo de alfabetização, apoiado nos estudos sobre
que pretende publicar um livro com a história dela, vindo junto análise fonológica.
o livrinho, para que ela dê sua autorização. A turma propôs Iniciei, então, uma investigação didática, planejando um
escrever também um livro, e escolheu a história de Cachinhos roteiro de perguntas direcionadas a um grupo de crianças que

Legislação 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

apresentavam diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita. junto às crianças diz respeito à necessidade de se promover a
As crianças foram reagrupadas por níveis próximos de acordo interação entre as crianças para que elas tenham
com suas hipóteses e conhecimentos sobre a língua14, oportunidade de socializar e refletir sobre as hipóteses que
formando-se, assim, pequenos grupos: o grupo de crianças que constroem ao longo do processo de aquisição da língua escrita.
revelavam hipótese pré-silábica, o grupo de crianças que Durante a realização do Jogo, a professora faz perguntas sobre
revelavam hipóteses silábicas e o grupo de crianças que a escrita de palavras, considerando o conhecimento que cada
revelavam hipótese alfabética. grupo tem a respeito do funcionamento do sistema de escrita.
Para cada grupo de crianças eram dirigidas perguntas Essas perguntas geram “problemas” a serem resolvidos
sobre sílabas orais (iniciais, finais e mediais) e letras (sons das cooperativamente entre os membros de uma equipe. Desta
letras: iniciais, finais e mediais), dentro de uma determinada forma, elas estimulam as crianças a refletir sobre conflitos que
palavra. Por exemplo, crianças que ainda não faziam relação integram o aprendizado da língua escrita. Ao mesmo tempo, é
entre aliterações, rimas e não percebiam a pauta sonora das importante assegurar que as regras sejam respeitadas e que os
palavras eram questionadas com as seguintes perguntas: integrantes das outras equipes respeitem o processo e a
- Há o som PA ou MA na palavra MALA? capacidade das demais equipes.
- Há o som TÉ ou FÉ na palavra CAFÉ?
- Há o som MI ou LI na palavra COMIDA? A produção de textos e o desenho na sala de aula.
Observe que as perguntas apresentadas às crianças
demandavam uma análise fonológica das sílabas, mediada O relato apresentado a seguir descreve e analisa algumas
pelas atividades de comparação destas. Depois que as crianças situações de aprendizagem propostas pela professora Miriam,
apresentavam suas respostas, as palavras eram registradas no que leciona em uma escola da Rede Municipal de Belo
quadro para que elas pudessem ser analisadas na perspectiva Horizonte. Por meio desse relato, buscaremos refletir sobre as
de suas formas escritas. concepções e as intervenções subjacentes à sua prática em sala
Para as crianças com hipóteses mais avançadas sobre a de aula.
língua escrita, como, por exemplo, as crianças que Para a professora Miriam, uma das ações pedagógicas mais
apresentavam hipóteses silábicas de escrita, o foco das significativas na prática de ensino junto às crianças de seis
perguntas passava a ser a letra (correspondência letra/som) anos é a atividade de desenho. Ao falar sobre a organização do
na mesma sequência de abordagem: letra inicial, final e medial. seu trabalho, no início do ano, a professora afirmou que
- Há a letra F ou L na palavra FOCA? contava com a participação de todas as crianças para compor
- Há a letra I ou U na palavra TATU? os painéis da sala. Na sua forma de ver, o ambiente da sala de
- Há a letra T ou B na palavra CABELO? aula não pode ser organizado exclusivamente pelo professor
Para o grupo de crianças com hipóteses nos níveis silábico- alfabetizador. A professora explicitou essa concepção ao
alfabéticos e alfa- béticos, as perguntas tinham como unidade comentar sobre a organização do espaço escolar no momento
de análise os fonemas surdos e sonoros, as consoantes nasais em que as crianças são recebidas no início do ano letivo:
e algumas regularidades. “No início do ano nós tivemos uma semana antes para
- Há a letra T ou D na palavra TOMATE? decorar, arrumar, que no meu entender, com a minha
- Há a letra M ou N na palavra CANETA? experiência, precisamos sim de uma organização anterior para
- Há ou não há a letra R na palavra CARTA? conhecer pelo menos o que está escrito na ficha do aluno15.
- Há ou não há a letra N na palavra CANTA? Quem são esses alunos, onde eles moram, que experiências eles
têm, mas o acontecimento, a organização da sala, ah..., isso é
Após realizar o Jogo Linguístico com pequenos grupos de com eles. (...) Quando eu recebo os meninos, juntos, nós vamos
crianças, iniciei o processo de aplicação em turmas de crianças compondo esse ambiente que é nosso...”
com agrupamento heterogêneo. Pude, então, observar com No início do ano letivo, para compor o ambiente da sala de
mais cuidado a forma como as crianças lidavam com essa situ- aula, a professora envolveu as crianças em produções de
ação de aprendizagem. Essa observação me permitiu desenhos. Ela orientou as atividades de modo que as crianças
aprimorar os encaminhamentos em sala de aula e a propor um soubessem o que e o para que desenhar, deixando claro para a
jogo por meio do qual as crianças seriam desafiadas a superar turma qual era a função ou o destino dos desenhos que eles
suas hipóteses, cada uma de acordo com seu nível conceitual. produziriam. Os desenhos poderiam compor capas de
trabalhos ou de algum projeto, como também cartões,
Em que consiste o Jogo Linguístico convites; poderiam ser expostos em painéis da escola, tanto na
O Jogo Linguístico é uma atividade didática que tem como sala de aula quanto na área externa da sala, no pátio. Essa
objetivo estimular o processo de compreensão por parte das atitude se constituiu como condição importante que orientava
crianças acerca da língua escrita enquanto sistema de as crianças. Temos, aqui, o sentido da tarefa, o por que, o para
representação. Apesar de ser um procedimento de ensino que que e o para quem desenhar, objetivos que precisam ser
emprega uma estratégia lúdica, não pode ser visto apenas previstos no planejamento pedagógico. A professora ressaltou
como um “jogo de brincar”. O Jogo Linguístico exige um que as crianças pediam constantemente para desenhar:
rigoroso processo de planejamento por parte da professora. A “(...) eles têm pedido muito desenho, eu acho que eles já vêm
organização metodológica do jogo, o roteiro prévio a ser muito com essa cultura de colorir o patinho, o gatinho, assim
elaborado, a rotina com que é proposto em sala de aula, a tudo pronto, e eu não quero... Em hipótese alguma eu dou um
sequência e a progressão que caracterizam o seu desenho para meu aluno colorir a troco de nada”.
encaminhamento junto às crianças, a avaliação e o registro são Havia, também, algumas propostas em que o desenho era
elementos fundamentais que devem fazer parte do livre, embora estas não fossem as situações mais recorrentes
planejamento pedagógico desse jogo. na turma da professora Miriam. Mesmo nestas situações, o
desenho não era visto como uma mera tarefa sem significado.
A proposta baseia-se na ideia de que a tarefa de analisar Desenhar tinha um sentido para as crianças e para a turma
palavras orais e escritas deve propiciar ao aprendiz um naquele momento específico. A professora acreditava que a
trabalho cognitivo que o leve a comparar, identificar e expressão das crianças, por meio do desenho, poderia ser
classificar as unidades sonoras e gráficas que constituem as limitada, caso oferecesse apenas desenhos prontos para
palavras, e compreender as regras de funcionamento do colorir:
sistema de escrita, aplicando-as em suas práticas de escrita. “Dependendo das experiências anteriores, vivenciadas pelas
Outra ideia que orienta o encaminhamento do Jogo Linguístico crianças em outros espaços institucionais, elas podem

Legislação 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

manifestar se interesse ou mesmo dizer que não sabem desenhar professoras, ao assumirem, no Ensino Fundamental, as
e, em alguns casos, é possível perceber também que têm apenas crianças dessa idade, enfrentam desafios e inúmeras
o hábito de colorir as matrizes prontas reproduzidas.” dificuldades.
Um enfoque que caracteriza a forma como a professora Ao pensarmos nesses desafios e dificuldades, não podemos
Miriam incorporava a prática do desenho no cotidiano escolar negligenciar o fato de que esse público pertenceu à educação
das crianças diz respeito ao fato de as atividades de desenho infantil, uma etapa de ensino com concepções de criança,
ocorrerem quase sempre em situações contextualizadas. O aprendizagem, conhecimento, tempos e espaços
trabalho que realizou com o poema “Gato da China”, de José diferenciados. Estamos, pois, dando prosseguimento a algo
Paulo Paes, da editora Ática, é um exemplo de uma situação em que se iniciou há muito tempo e que traz em si uma dimensão
que a atividade de desenhar esteve presente de forma sempre presente na história da educação deste País: a luta pelo
contextualizada. direito a uma educação de qualidade. Nessa perspectiva, as
O trabalho realizado com o poema se configurou como uma experiências, saberes e conhecimentos construídos na
situação voltada para o eixo da leitura. Priorizou-se o aspecto educação infantil acerca dessa criança precisam mais do que
lúdico do texto, o prazer em ler e a sua compreensão. ser considerados, devem, sobretudo, servir de parâmetro para
Outro aspecto importante na exploração do poema “Gato as práticas e as intervenções pedagógicas que se pretende
da China’ pela professora Miriam foi a entonação de sua leitura construir com elas no novo Ensino Fundamental.
para as crianças. Por meio da sua estratégia de leitura oral, a Uma questão a ser considerada refere-se ao respeito a essa
professora fez com que as crianças percebessem as rimas, os criança e a seu tempo de vida. A escolarização obrigatória não
sons finais das palavras no poema. pode dar excessiva centralidade aos conteúdos pedagógicos
Sabemos que, na leitura de textos rimados, é importante em detrimento do sujeito e de suas formas de socialização.
chamar a atenção para a percepção das rimas, pois, por meio Essa proposição ganha especial destaque, principalmente se
delas, as crianças podem identificar os sons semelhantes, consideramos as características das sociedades
evidenciando-se, assim, aspectos sonoros da língua. Como contemporâneas. Quer pelas exigências de uma formação
veremos a seguir, a mediação da professora, assegurando a educacional futura; quer pela escassez ou ausência de espaços
percepção sonora das palavras, foi fundamental para a públicos adequados, tendo em vista a redução e, em alguns
realização da tarefa posterior. casos, o desaparecimento do espaço da rua como local de
A tarefa proposta consistia em identificar as palavras que socialização; quer pela diminuição das situações de troca entre
faltavam no texto, no momento em que a professora lia irmãos e primos acarretada pela redução das taxas de
pausadamente. “Era uma vez, um gato...” Nesse momento, as natalidade, a infância contemporânea encontra na escola um
crianças deveriam completar respondendo: “chinês”. O espaço importante para sua manifestação.
preenchimento dos espaços com as respectivas palavras Por outro lado, não podemos perder de vista o direito
ocorreu após todo o trabalho da percepção sonora. A desse segmento da população ao conhecimento, em particular,
professora destacou as palavras no quadro, promovendo o direito de acesso à linguagem escrita. Como argumentamos,
situação de leitura de cada uma delas, seguindo a ordem do a criança pequena é um sujeito que interage com outros
texto. grupos sociais e com suas produções simbólicas e a linguagem
A proposta de fazer um desenho contextualizado no tema escrita é uma dessas produções com as quais as crianças têm,
do poema foi apresentada às crianças no dia seguinte, como desde muito pequenas, uma familiaridade e uma curiosidade
uma maneira de se ampliar a atividade de leitura do poema. para conhecer e dela se apropriar. Entretanto, as famílias e os
Assim, após uma releitura coletiva do texto, a professora pediu profissionais da educação sabem que assegurar o aprendizado
às crianças que produzissem um desenho que representasse o da leitura e da escrita tem sido um dos maiores desafios para
que elas tinham achado de mais curioso ou o que elas a escola, principalmente considerando as trajetórias de
passaram a imaginar a partir da leitura do poema. fracasso na apropriação desse conhecimento por parte de um
O desenho é uma forma de representação que permite à segmento importante da população.
criança demonstrar os seus conhecimentos e sentimentos. Para que as crianças se apropriem desse objeto do
Assim ela pode representar o modo como percebeu a situação conhecimento humano sem serem desrespeitadas na sua
vivenciada, nesse caso, um poema lido pela professora. condição, é preciso mudar a história da escola. Ainda estamos
Garantir às crianças a apresentação dos desenhos, seja no caminho da construção de uma educação formal que
individualmente ou no coletivo, em situações de interação, respeite os direitos da criança, e essa publicação não é a
torna-se relevante, pois se configura como um momento de resposta para todas as questões. Muito pelo contrário, ela foi
expressão oral. Este é um momento real de interlocução com (esperamos) mais um pequeno passo nessa direção. Nossa
os pares, uma atividade contextualizada e que tem sentido preocupação central foi a de elaborar um instrumento que
para o grupo. Quando as atividades são previamente auxiliasse as professoras a percebem a criança como um
planejadas e acompanhadas, a professora pode reconhecer o sujeito que sabe algo sobre o mundo da escrita e, sobretudo,
processo evolutivo de cada um. Quando as crianças expõem alguém que deseja se apropriar desse objeto do conhecimento.
seus desenhos, na roda de conversa, expressam seus desejos, Buscamos, ainda, elaborar um material que respaldasse
argumentam, discorrem sobre as suas produções, situação que teoricamente as opções metodológicas das professoras.
se configura como um momento de ouvir e falar de modo Finalmente, com essa publicação esperamos ter
organizado. contribuído para a ampliação de importantes conceitos e,
Vale ressaltar que a proposta de desenhos não se vincula sobretudo, ter proporcionado reflexões acerca do processo de
apenas ao trabalho com os gêneros textuais. Ela também pode apropriação da linguagem escrita pela criança de seis anos de
se concretizar e se aliar aos conhecimentos de outras áreas, idade. Esperamos, ainda, que a língua escrita possa a ser
tais como as ciências naturais, a história, a geografia e a compreendida como uma ferramenta que deve interagir com
matemática, trabalhados ao longo do ano letivo. o universo infantil, com a maneira de a criança se apropriar do
mundo e não como um conteúdo escolar a ser aprendido para
Considerações Finais: professoras, crianças de seis ser usado no futuro, nas próximas etapas escolares.
anos e o prazer de ler e escrever para aprender

A tarefa de escrever sobre o trabalho pedagógico com


crianças de seis anos nos possibilitou diferentes
questionamentos e alguns desafios. Sabemos que também as

Legislação 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

escalonada de pré-escola (alínea “a”), ensino fundamental


BRASIL. Constituição (alínea “b”) e ensino médio (alínea “c”). Tal preceito nada mais
Federal/88 – artigos 205 a 214 fez que regulamentar o inciso I, do art. 208, CF, com redação
atual dada pela Emenda Constitucional nº 59/2009;
e artigo 60 das Disposições
Constitucionais Transitórias. b) Progressiva universalização do ensino médio gratuito
Emenda 14/96 (inciso II);
c) Atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino
(inciso III);
III. DA EDUCAÇÃO (arts. 205 a 214, CF).
d) Educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças
até cinco anos de idade (inciso IV);
A educação é direito de todos e dever do Estado e da família,
e) Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (inciso
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
V);
preparo para o exercício e sua qualificação para o trabalho.
f) Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
Há se chamar atenção ao fato de que a Constituição torna a
do educando (inciso VI);
família compromissária para com o direito social à educação.
g) Atendimento ao educando, em todas as etapas da
Nenhuma política governamental que seja estabelecida para
educação básica, por meio de programas suplementares de
diminuir a evasão escolar será proveitosa se não contar com o
material didático-escolar, transporte, alimentação e
auxílio da família e da sociedade.
assistência à saúde (inciso VII).
O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
Princípios que movem o ensino:
subjetivo. Isto significa que pode um cidadão cobrar do Estado
O art. 206 da Constituição dispõe que o ensino será
o direito ao ensino gratuito (inclusive judicialmente), já que se
ministrado com base nos seguintes princípios:
trata de uma garantia que lhe é pré-estabelecida pelo
a) Igualdade de condições para o acesso e permanência na
parágrafo primeiro, do art. 208, da Constituição. Isso tanto é
escola (inciso I);
verdade que o não-oferecimento do ensino obrigatório pelo
b) Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa
pensamento, a arte e o saber (inciso II);
responsabilidade da autoridade competente (art. 208, §2º, CF).
c) Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino
Universidades
(inciso III);
Conforme o art. 207, da CF/88, as universidades gozam de
d) Gratuidade do ensino público em estabelecimentos
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
oficiais (inciso IV);
financeira e patrimonial, e obedecerão ao “Princípio de
e) Valorização dos profissionais da educação escolar,
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso
É facultado às universidades admitir professores, técnicos
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos
e cientistas estrangeiros, na forma da lei.
das redes públicas (inciso V);
Tais disposições também se aplicam às instituições de
f) Gestão democrática do ensino público, na forma da lei
pesquisa científica e tecnológica.
(inciso VI);
g) Garantia de padrão de qualidade (inciso VII);
É importante ressaltar que a União possui competência
h) Piso salarial profissional nacional para os profissionais
para organizar o sistema federal de ensino e dos Territórios, já
da educação escolar pública, nos termos de lei federal (inciso
os Estados e Distrito Federal atuam no ensino fundamental e
VIII).
médio e os Municípios atuarão no ensino fundamental e na
educação básica (art. 211, CF).
Ademais, há se lembrar que o ensino é livre à iniciativa
privada, desde que cumpridas as normas gerais da educação
Dispositivos Constitucionais a respeito do assunto
nacional, sujeitando-se à autorização e avaliação de qualidade
pelo Poder Público.
TÍTULO VIII
Também, o ensino religioso, de matrícula facultativa,
Da Ordem Social
constituirá disciplina dos horários normais das escolas
CAPÍTULO III
públicas de ensino fundamental.
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
Por fim, o ensino fundamental regular será ministrado em
SEÇÃO I
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas
DA EDUCAÇÃO
também a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
Dever do Estado com a educação
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
Conforme o previsto no art. 208, da CF/88, o dever do
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
o trabalho.
a) Educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos
dezessete anos de idade, assegurada inclusive sua oferta
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
princípios:
própria (inciso I).
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
Atenção! Neste diapasão, a Lei nº 12.796/13 alterou a Lei
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -
pensamento, a arte e o saber;
para, dentre outros, fazer constar em seu art. 4º que o dever
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
do Estado com a educação escolar pública será efetivado
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
mediante a garantia de educação básica obrigatória e gratuita
dos quatro aos dezessete anos (inciso I), organizada na forma

Legislação 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos também a utilização de suas línguas maternas e processos
oficiais; próprios de aprendizagem.
V - valorização dos profissionais da educação escolar,
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos Municípios organizarão em regime de colaboração seus
das redes públicas; sistemas de ensino.
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
VII - garantia de padrão de qualidade. Territórios, financiará as instituições de ensino públicas
VIII - piso salarial profissional nacional para os federais e exercerá, em matéria educacional, função
profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de
federal. oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados,
trabalhadores considerados profissionais da educação básica ao Distrito Federal e aos Municípios;
e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do fundamental e na educação infantil.
Distrito Federal e dos Municípios. § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e médio.
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático- § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de
e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino
pesquisa e extensão. obrigatório.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. ao ensino regular.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de
pesquisa científica e tecnológica. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de
mediante a garantia de: impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) manutenção e desenvolvimento do ensino.
aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua § 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
idade própria; ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
III - atendimento educacional especializado aos portadores receita do governo que a transferir.
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; § 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no "caput"
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal,
até 5 (cinco) anos de idade; estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art.
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa 213.
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
condições do educando; obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional
educação básica, por meio de programas suplementares de de educação.
material didático-escolar, transporte, alimentação e § 4º - Os programas suplementares de alimentação e
assistência à saúde. assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito com recursos provenientes de contribuições sociais e outros
público subjetivo. recursos orçamentários.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional
Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da de financiamento a contribuição social do salário-educação,
autoridade competente. recolhida pelas empresas na forma da lei.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos contribuição social do salário-educação serão distribuídas
pais ou responsáveis, pela frequência à escola. proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
seguintes condições: Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
Público. I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus
excedentes financeiros em educação;
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e Público, no caso de encerramento de suas atividades.
regionais. § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e
constituirá disciplina dos horários normais das escolas médio, na forma da lei, para os que demonstrarem
públicas de ensino fundamental. insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em cursos regulares da rede pública na localidade da residência
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.

Legislação 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e (A) Aquisição de conhecimento, formação para a cidadania
fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por e qualificação para o mercado de trabalho
instituições de educação profissional e tecnológica poderão (B) Pleno desenvolvimento da pessoa, exercício da
receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação dada pela cidadania e qualificação para o trabalho
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) (C) Formação intelectual, exercício da cidadania e
preparação para o trabalho
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, (D) Formação humana, formação crítica e formação para o
de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema trabalho
nacional de educação em regime de colaboração e definir
diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação Respostas
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em
seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações 01. A
integradas dos poderes públicos das diferentes esferas 02. C.
federativas que conduzam a: 03. A.
I - erradicação do analfabetismo; 04. B.
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino; Prezado (a) Candidato (a), embora o edital tenha trazido a
IV - formação para o trabalho; Emenda 14/96, o correto é a Emenda 53/2006, conforme segue
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. abaixo:
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
públicos em educação como proporção do produto interno ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
bruto. TRANSITÓRIAS (ART. 60)2
Questões
Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da
01. (Prefeitura de Mogi das Cruzes - Procurador promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
Jurídico – VUNESP/2016) “A União aplicará, anualmente, Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos
nunca menos de ____________, e os Estados, o Distrito Federal e a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
os Municípios ________________, no mínimo, da receita resultante manutenção e desenvolvimento da educação básica e à
de impostos, compreendida a proveniente de transferências, remuneração condigna dos trabalhadores da educação,
na manutenção e desenvolvimento do ensino.” respeitadas as seguintes disposições: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 53, de 2006). (Vide Emenda
Assinale a alternativa que preenche correta e Constitucional nº 53, de 2006)
respectivamente o dispositivo constitucional reproduzido. I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre
(A) dezoito … vinte e cinco por cento o Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada
(B) dezoito … vinte por cento mediante a criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito
(C) vinte … vinte e cinco por cento Federal, de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
(D) vinte … trinta por cento Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
(E) vinte … trinta e cinco por cento Educação - FUNDEB, de natureza contábil; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
02. (IF-PI - Professor – Administração – IF-PI/2016) A II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo
Constituição Federal de 1988, também denominada de serão constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a
Constituição Cidadã, estabeleceu no Capítulo III, que se referem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do
especificamente no Art. 206, os princípios que regem o ensino caput do art. 157; os incisos II, III e IV do caput do art. 158; e
no Brasil. Dentre estes, a gestão do ensino público passou a ser: as alíneas a e b do inciso I e o inciso II do caput do art. 159,
(A) Autônoma e livre de qualquer poder, considerando os todos da Constituição Federal, e distribuídos entre cada Estado
princípios de igualdade e liberdade do ensino. e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos
(B) Democrática em todos estabelecimentos de ensino das diversas etapas e modalidades da educação básica
públicos e privados. presencial, matriculados nas respectivas redes, nos
(C) Democrática do ensino público, na forma da lei. respectivos âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos
(D) Oligárquica em todas as escolas em conformidade com §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; (Incluído pela
o projeto pedagógico de cada escola. Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
(E) Participativa e democrática em todas as instituições de III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II,
ensino, em consonância com o que preconiza o direito público. III e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas
03. (IF-TO - Assistente em Administração – IF- de universalização da educação básica estabelecidas no Plano
TO/2016) De acordo com a Constituição Federal de 1988 são Nacional de Educação, a lei disporá sobre:(Incluído pela
princípios que regem o ensino, exceto: Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
(A) gestão centralizada e autocrática do ensino público. a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional
(B) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o de seus recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao
pensamento, a arte e o saber. valor anual por aluno entre etapas e modalidades da educação
(C) gratuidade do ensino público em estabelecimentos básica e tipos de estabelecimento de ensino;(Incluído pela
oficiais. Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
(D) garantia de padrão de qualidade. b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por
(E) igualdade de condições para o acesso e permanência na aluno;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
escola. c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos
dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educação
04. (TJ/GO - Técnico Judiciário – Pedagogo – UEG). básica, observados os arts. 208 e 214 da Constituição Federal,
Segundo a Constituição Federal, são objetivos da educação:

2http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

Acesso em 09/05/2018 as 19h10min.

Legislação 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

bem como as metas do Plano Nacional de Educação; (Incluído § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a
d) a fiscalização e o controle dos Fundos; (Incluído pela melhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão
Emenda Constitucional nº 53, de 2006). mínimo definido nacionalmente. (Redação dada pela Emenda
e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial Constitucional nº 53, de 2006).
profissional nacional para os profissionais do magistério § 2º O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo de
público da educação básica; (Incluído pela Emenda cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao
Constitucional nº 53, de 2006). praticado no âmbito do Fundo de Manutenção e
IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituídos Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
nos termos do inciso I do caput deste artigo serão aplicados Magistério - FUNDEF, no ano anterior à vigência desta Emenda
pelos Estados e Municípios exclusivamente nos respectivos Constitucional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
âmbitos de atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ 53, de 2006).
2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; (Incluído pela § 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino
Emenda Constitucional nº 53, de 2006). fundamental, no âmbito do Fundo de Manutenção e
V - a União complementará os recursos dos Fundos a que Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
se refere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Profissionais da Educação - FUNDEB, não poderá ser inferior
Distrito Federal e em cada Estado, o valor por aluno não ao valor mínimo fixado nacionalmente no ano anterior ao da
alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado em vigência desta Emenda Constitucional. (Redação dada pela
observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
vedada a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. § 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a
212 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda que se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em
Constitucional nº 53, de 2006). conta a totalidade das matrículas no ensino fundamental e
VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União considerar-se-á para a educação infantil, para o ensino médio
prevista no inciso V do caput deste artigo poderá ser e para a educação de jovens e adultos 1/3 (um terço) das
distribuída para os Fundos por meio de programas matrículas no primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo ano
direcionados para a melhoria da qualidade da educação, na e sua totalidade a partir do terceiro ano. (Redação dada pela
forma da lei a que se refere o inciso III do caput deste artigo; Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). § 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos
VII - a complementação da União de que trata o inciso V do Fundos, conforme o inciso II do caput deste artigo, será
caput deste artigo será de, no mínimo: (Incluído pela Emenda alcançada gradativamente nos primeiros 3 (três) anos de
Constitucional nº 53, de 2006). vigência dos Fundos, da seguinte forma: (Redação dada pela
a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no primeiro Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda I - no caso dos impostos e transferências constantes do
Constitucional nº 53, de 2006). inciso II do caput do art. 155; do inciso IV do caput do art. 158;
b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no segundo e das alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159
ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda da Constituição Federal: (Incluído pela Emenda Constitucional
Constitucional nº 53, de 2006). nº 53, de 2006).
c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos
milhões de reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos; por cento), no primeiro ano; (Incluído pela Emenda
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). Constitucional nº 53, de 2006).
d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por
refere o inciso II do caput deste artigo, a partir do quarto ano cento), no segundo ano; (Incluído pela Emenda Constitucional
de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
nº 53, de 2006). c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro
VIII - a vinculação de recursos à manutenção e ano;n(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
desenvolvimento do ensino estabelecida no art. 212 da II - no caso dos impostos e transferências constantes dos
Constituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do caput do art.
cento) da complementação da União, considerando-se para os 157; e dos incisos II e III do caput do art. 158 da Constituição
fins deste inciso os valores previstos no inciso VII do caput Federal: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
2006). cento), no primeiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional
IX - os valores a que se referem as alíneas a, b, e c do inciso nº 53, de 2006).
VII do caput deste artigo serão atualizados, anualmente, a b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
partir da promulgação desta Emenda Constitucional, de forma cento), no segundo ano. (Incluído pela Emenda Constitucional
a preservar, em caráter permanente, o valor real da nº 53, de 2006).
complementação da União; (Incluído pela Emenda c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano. (Incluído
Constitucional nº 53, de 2006). pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
X - aplica-se à complementação da União o disposto no art. § 6º (Revogado). (Redação dada pela Emenda
160 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
Constitucional nº 53, de 2006). § 7º (Revogado). (Redação dada pela Emenda
XI - o não-cumprimento do disposto nos incisos V e VII do Constitucional nº 53, de 2006).
caput deste artigo importará crime de responsabilidade da
autoridade competente; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006).
XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de
cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será
destinada ao pagamento dos profissionais do magistério da
educação básica em efetivo exercício. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006).

Legislação 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

decorrência, põem-se questões como: quais seriam os critérios


e a sequência dos conteúdos listados?
BRASIL. Ensino - Sobre o tempo escolar – Os currículos e os programas têm
Fundamental de nove anos: sido trabalhados em unidades de tempo e com horários
orientações para a inclusão da definidos, que são interrompidos pelo toque de uma
campainha. Assim, a escola acaba reproduzindo a organização
criança de seis anos de idade. do tempo advinda da organização fabril da sociedade. Uma
Brasília, 2007 situação como essa remete-nos a Rubem Alves, quando afirma
que “a criança tem de parar de pensar o que estava pensando
e passar a pensar o que o programa diz que deve ser pensado
naquele tempo”. Daí que emergem as questões sobre a
EDUCAÇÃO COM QUALIDADE SOCIAL3
necessidade de se repensar a organização do tempo escolar,
acompanhando as mesmas inquietações de Rubem Alves: “o
Os indicadores nacionais apontam que, atualmente, das
pensamento obedece às ordens das campainhas? Por que é
crianças em idade escolar, 3,6% ainda não estão matriculadas.
necessário que todas as crianças pensem as mesmas coisas, na
Entre aquelas que estão na escola, 21,7% estão repetindo a
mesma hora e no mesmo ritmo? As crianças são todas iguais?
mesma série e apenas 51% concluirão o Ensino Fundamental,
O objetivo da escola é fazer com que as crianças sejam todas
fazendo-o em 10,2 anos em média.
iguais?”
Acrescenta-se, ainda, que em torno de 2,8 milhões de
Enfim, o que se tem aprendido com um currículo que
crianças de sete a 14 anos estão trabalhando, o que, por si só,
fragmenta a realidade, seus espaços concretos e seus tempos
já é comprometedor, mais ainda quando cerca de 800 mil
vividos? Trata-se de um modelo disciplinar direcionado para a
dessas crianças estão envolvidas em formas degradantes de
transmissão de conteúdos específicos, organizado em tempos
trabalho, inclusive a prostituição infantil.
rígidos e centrado no trabalho docente individual, muitas
Cabe reconhecer o quanto o Brasil avançou em direção à
vezes solitário por falta de espaços que propiciem uma
democratização do acesso e da permanência dos alunos no
interlocução dialógica entre os professores. É com esse cenário
Ensino Fundamental, pois, hoje, 97% das crianças estão na
que as escolas são convidadas a pensar sob uma outra
escola. Entretanto, avalia-se que o modelo educacional vigente
perspectiva, para provocar mudanças no tradicional modelo
não provocou mudanças efetivas de comportamento para
curricular predominante em grande parte das escolas de nosso
construir uma cidadania solidária, responsável e
país.
comprometida com o País e com seu futuro.
É, assim, imprescindível debater com a sociedade um outro
Daí que algumas perguntas devem ser postas no início de
conceito de currículo e escola, com novos parâmetros de
qualquer debate sobre mudanças na estrutura tradicional de
qualidade. Uma escola que seja um espaço e um tempo de
nossa educação básica: Qual a qualidade do aprendizado? O
aprendizados de socialização, de vivências culturais, de
que estão aprendendo? O que tem garantido a permanência
investimento na autonomia, de desafios, de prazer e de alegria,
das crianças na escola? Como se dão as relações entre os
enfim, do desenvolvimento do ser humano em todas as suas
atores?
dimensões.
Seguindo a linha da reflexão de Rubem Alves, existem
Essa escola deve ser construída a partir do conhecimento
questões sobre a estrutura, seja ela espacial, dos currículos,
da realidade brasileira. Nesse processo, é preciso valorizar os
dos programas e do tempo escolar, que se põem como uma
avanços e superar as lacunas existentes no projeto político-
infinidade de situações e procedimentos cristalizados pela
pedagógico, ou seja, melhorar aquilo que pode ser melhorado.
rotina, pela burocracia, pelas repetições. Raramente se indaga
sobre seu sentido para a educação das crianças e adolescentes.
A Escola com Qualidade Social e os Movimentos de
Daí que a presente discussão toma essas indagações como
Renovação Pedagógica
ponto de partida.
- Sobre a estrutura espacial da escola – a organização
É justamente por tomar como ponto de partida a realidade
espacial das escolas (assim como qualquer espaço social) tem
brasileira que se deve apontar para a existência dos seus
levado a determinadas formas de agrupamento em seu
diversos patamares desiguais e contraditórios. Assim, ao lado
interior, seja de alunos, seja de professores, que mais
da escola com a estrutura curricular tal como foi considerada
dificultam do que favorecem uma ação comunicativa
anteriormente, existe, também, uma nova escola já em
construtiva.
construção em vários lugares do Brasil. Ela resulta de um
Assim, põe-se uma questão de fundo: qual a finalidade
amplo e recente movimento de renovação pedagógica,
dessa organização? Será que esse espaço escolar, da forma
pensando a necessidade de alçar o ensino a um patamar
como usualmente tem sido organizado, promove um
democrático real, uma vez que o direito à educação não se
agrupamento dos alunos favorável à dinamização das ações
restringe ao acesso à escola. Este, sem a garantia de
pedagógicas? ao convívio com a comunidade? à reflexão dos
permanência e de apropriação e produção do conhecimento
professores? Existiriam outros modos de estruturar o espaço
pelo aluno, não significa, necessariamente, o usufruto do
da escola que possibilitassem a interação das crianças e
direito à educação e à inclusão.
adolescentes em conformidade com suas fases de
Desse movimento desencadeado pelos trabalhadores da
socialização?
educação, universidades, sociedade civil organizada e
- Sobre os currículos e programas escolares – Via de regra,
sistemas de ensino emergiu uma consciência da necessidade
os currículos têm sido tratados como um programa,
de construção de uma escola comprometida com a cidadania
considerado, de modo geral, como uma organização de
que caminhe para uma real inclusão do aluno. A construção
conteúdos numa determinada sequência e utilizando um
dessa escola demanda, certamente, mais do que políticas
determinado critério. Seria essa a única possibilidade de se
promotoras do acesso à escola.
conceber o currículo? Será que a abordagem dos saberes parte
O governo atual reafirma essa escola inclusiva. Por isso, o
do conhecimento que os alunos trazem do seu grupo social?
MEC/SEB/DPE/COEF pretende, com estas orientações,
Que usos as pessoas fazem desses saberes em suas vidas? Em
construir políticas indutoras de transformações significativas

3Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações Gerais. Disponível


em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=12624%3Aensinofundamental&Itemid=859

Legislação 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

na estrutura da escola, na reorganização dos tempos e dos Político-Pedagógico, contemplando a ampliação do Ensino
espaços escolares, nas formas de ensinar, de aprender, de Fundamental;
avaliar, implicando a disseminação das novas concepções de - A diversidade metodológica e a avaliação diagnóstica,
currículo, conhecimento, desenvolvimento humano e processual e formativa devem estar comprometidas com uma
aprendizado. aprendizagem inclusiva, em que o aluno, dentro da escola,
aprenda de fato.
Alguns aspectos significativos da construção de uma
Escola com Qualidade Social A AMPLIAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA
NOVE ANOS
Primando pelo cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional e tomando como referência as “A cada idade corresponde uma forma de vida que tem
experiências bem-sucedidas de renovação pedagógica no País, valor, equilíbrio, coerência que merece ser respeitada e levada
aponta-se a necessidade de considerar, entre outros, os a sério; a cada idade correspondem problemas e conflitos reais
seguintes princípios: (…) pois o tempo todo, ela (a criança) teve de enfrentar
a) A escola como polo irradiador de cultura e situações novas (…) Temos de incentivá-la a gostar da sua
conhecimento idade, a desfrutar do seu presente.” Snyders5
A sociedade urbano-industrial levou ao obscurecimento a Constata-se um interesse crescente no Brasil em aumentar
vida da comunidade, entendida como aquele antigo espaço de o número de anos do ensino obrigatório. A Lei nº 4.024, de
relações solidárias entre seus moradores. Assim, hoje, também 1961, estabelecia quatro anos; pelo Acordo de Punta Del Este
a escola está inserida e constituída em um bairro, uma cidade, e Santiago, o governo brasileiro assumiu a obrigação de
com suas histórias, geografias e instituições, com seus estabelecer a duração de seis anos de ensino primário para
movimentos sociais, políticos e culturais. A renovação todos os brasileiros, prevendo cumpri-la até 19706. Em 1971,
pedagógica vivenciada em muitas escolas brasileiras nos a Lei nº 5.692 estendeu a obrigatoriedade para oito anos. Já em
últimos anos tem transformado o entorno da escola também 1996, a LDB sinalizou para um ensino obrigatório de nove
em escola, ou seja, está gestando a reconstrução daquela anos, a iniciar-se aos seis anos de idade. Este se tornou meta
antiga comunidade. Está sendo considerada uma concepção de da educação nacional pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de
educação mais abrangente, posta como primeiro fundamento 2001, que aprovou o PNE.
da Lei de Diretrizes e Bases, em seu artigo 1º: Cabe, ainda, ressaltar que o Ensino Fundamental de nove
A educação abrange os processos formativos que se anos é um movimento mundial e, mesmo na América do Sul,
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no são vários os países que o adotam, fato que chega até a colocar
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos jovens brasileiros em uma situação delicada, uma vez que,
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas para continuar seus estudos nesses países, é colocada a eles a
manifestações culturais. contingência de compensar a defasagem constatada.
Os legisladores, certamente, não tiveram a intenção de
minimizar a função educativa da instituição escolar. Antes, Fundamentação legal
lembraram a todos os agentes sociais – pais, professores,
gestores e especialistas – que o processo educacional não está Conforme o PNE, a determinação legal (Lei nº
restrito àquela instituição. Pelo contrário, justamente pela sua 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental) de implantar
constituição de confluência de diversos saberes é que a escola progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, pela
tem reafirmada a sua vocação de ser polo gerador e irradiador inclusão das crianças de seis anos de idade, tem duas
de conhecimento e cultura, contribuindo para reconstruir a intenções: “oferecer maiores oportunidades de aprendizagem
organização da comunidade pelos seus próprios atores. no período da escolarização obrigatória e assegurar que,
Para tanto, é preciso ressaltar que a formação de uma ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças
cidadania solidária, responsável e comprometida com a prossigam nos estudos, alcançando maior nível de
construção de um projeto nacional de qualidade social, escolaridade”.
assegurando o acesso, a participação e a permanência de todos O PNE estabelece, ainda, que a implantação progressiva do
na escola, é uma responsabilidade de todas as instâncias de Ensino Fundamental de nove anos, com a inclusão das crianças
governo, do Ministério da Educação, das secretarias estaduais de seis anos, deve se dar em consonância com a
e municipais de educação e da sociedade civil. universalização do atendimento na faixa etária de 7 a 14 anos.
b) O desenvolvimento do aluno é a principal referência na Ressalta também que esta ação requer planejamento e
organização do tempo e do espaço da escola. diretrizes norteadoras para o atendimento integral da criança
Após conceber a educação como um processo amplo, a em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, além de
LDB4 estabelece, no art. 2º, que aquele processo visa ao pleno metas para a expansão do atendimento, com garantia de
desenvolvimento do educando. Este, entretanto, desde o início qualidade. Essa qualidade implica assegurar um processo
de sua vida, apresenta ritmos e maneiras diferentes para educativo respeitoso e construído com base nas múltiplas
realizar toda e qualquer aprendizagem – andar, falar, brincar, dimensões e na especificidade do tempo da infância, do qual
comer com autonomia, ler, escrever etc., como apontam as também fazem parte as crianças de sete e oito anos.
contribuições das ciências humanas. Pode-se dizer, então, que O art. 23 da LDB incentiva a criatividade e insiste na
uma educação voltada para tais perspectivas precisa ser flexibilidade da organização da educação básica, portanto, do
pensada também com o foco voltado para essas Ensino Fundamental:
características: “A educação básica poderá organizar-se em séries anuais,
- O ser humano é ser de múltiplas dimensões; períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de
- Todos aprendem em tempos e em ritmos diferentes; estudos, grupos não seriados, com base na idade, na
- O desenvolvimento humano é um processo contínuo; competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
- O conhecimento deve ser construído e reconstruído, organização, sempre que o interesse do processo de
processualmente e continuamente; aprendizagem assim o recomendar.”
- O conhecimento deve ser abordado em uma perspectiva A referida lei, no art. 32, determina como objetivo do
de totalidade; Ensino Fundamental a formação do cidadão, mediante:
- É importante uma gestão participativa, compartilhada e
que tenha como referência a elaboração coletiva do Projeto

Legislação 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo Por que o Ensino Fundamental a partir dos seis anos
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do Conforme recentes pesquisas, 81,7% das crianças de seis
cálculo; anos estão na escola, sendo que 38,9% frequentam a Educação
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema Infantil, 13,6% as classes de alfabetização e 29,6% já estão no
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se Ensino Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000).
fundamenta a sociedade; Esse dado reforça o propósito de ampliação do Ensino
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, Fundamental para nove anos, uma vez que permite aumentar
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a o número de crianças incluídas no sistema educacional. Os
formação de atitudes e valores; setores populares deverão ser os mais beneficiados, uma vez
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de que as crianças de seis anos da classe média e alta já se
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se encontram majoritariamente incorporadas ao sistema de
assenta a vida social. ensino – na pré-escola ou na primeira série do Ensino
Fundamental.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação A opção pela faixa etária dos 6 aos 14 e não dos 7 aos 15
Infantil7 fornecem elementos importantes para a revisão da anos para o Ensino Fundamental de nove anos segue a
Proposta Pedagógica do Ensino Fundamental que incorporará tendência das famílias e dos sistemas de ensino de inserir
as crianças de seis anos, até então pertencentes ao segmento progressivamente as crianças de 6 anos na rede escolar.
da Educação Infantil. Entre eles, destacam-se: A inclusão, mediante a antecipação do acesso, é uma
- As propostas pedagógicas (…) devem promover em suas medida contextualizada nas políticas educacionais focalizadas
práticas de educação e cuidados a integração entre os aspectos no Ensino Fundamental. Assim, observadas as balizas legais
físicos, emocionais, afetivos, cognitivo linguísticos e sociais da constituídas desde outras gestões, como se pode verificar no
criança, entendendo que ela é um ser total, completo e item 1, elas podem ser implementadas positivamente na
indivisível. Dessa forma, sentir, brincar, expressar-se, medida em que podem levar a uma escolarização mais
relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e construtiva. Isto porque a adoção de um ensino obrigatório de
responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo (…). nove anos iniciando aos seis anos de idade pode contribuir
- Ao reconhecer as crianças como seres íntegros que para uma mudança na estrutura e na cultura escolar.
aprendem a ser e a conviver consigo mesmas, com os demais e No entanto, não se trata de transferir para as crianças de
com o meio ambiente de maneira articulada e gradual, as seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira
propostas pedagógicas (…) devem buscar a interação entre as série, mas de conceber uma nova estrutura de organização dos
diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã conteúdos em um Ensino Fundamental de nove anos,
como conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos considerando o perfil de seus alunos.
e valores. Dessa maneira, os conhecimentos sobre espaço, O objetivo de um maior número de anos de ensino
tempo, comunicação, expressão, a natureza e as pessoas obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais
devem estar articulados com os cuidados e a educação para a longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender
saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. É evidente que a
a cultura, as linguagens, o trabalho, o lazer, a ciência e a maior aprendizagem não depende do aumento do tempo de
tecnologia. permanência na escola, mas sim do emprego mais eficaz do
- Tudo isso deve acontecer num contexto em que cuidados tempo. No entanto, a associação de ambos deve contribuir
e educação se realizem de modo prazeroso, lúdico. Nesta significativamente para que os educandos aprendam mais.
perspectiva, as brincadeiras espontâneas, o uso de materiais, Seu ingresso no Ensino Fundamental obrigatório não pode
os jogos, as danças e os cantos, as comidas e as roupas, as constituir-se em medida meramente administrativa. O cuidado
múltiplas formas de comunicação, de expressão, de criação e na sequência do processo de desenvolvimento e aprendizagem
de movimento, o exercício de tarefas rotineiras do cotidiano e das crianças de seis anos de idade implica o conhecimento e a
as experiências dirigidas que exigem que o conhecimento dos atenção às suas características etárias, sociais e psicológicas.
limites e alcances das ações das crianças e dos adultos estejam As orientações pedagógicas, por sua vez, estarão atentas a
contemplados. essas características para que as crianças sejam respeitadas
- (…) as estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, como sujeitos do aprendizado.
o exagero de atividades “acadêmicas” ou de disciplinamento
estéril. A organização de um Ensino Fundamental de nove
- As múltiplas formas de diálogo e interação são o eixo de anos com o acesso de alunos de seis anos
todo o trabalho pedagógico, que deve primar pelo
envolvimento e pelo interesse genuíno dos educadores em A nova organização do Ensino Fundamental deverá incluir
todas as situações, provocando, brincando, rindo, apoiando, os dois elementos:
acolhendo, estabelecendo limites com energia e sensibilidade, - os nove anos de trabalho escolar;
consolando, observando, estimulando e desafiando a - a nova idade que integra esse ensino.
curiosidade e a criatividade, por meio de exercícios de Ambos necessitam ser objeto destas reflexões.
sensibilidade, reconhecendo e alegrando-se com as conquistas
individuais e coletivas das crianças, sobretudo as que Os nove anos de trabalho no Ensino Fundamental
promovam a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade.
- A participação dos educadores é mesmo participação e Como ponto de partida, para garantir uma nomenclatura
não condução absoluta de todas as atividades e centralização comum às múltiplas possibilidades de organização desse nível
dessas em sua pessoa. Por isso, desde a organização do espaço, de ensino (séries, ciclos, outros – conforme art. 23 da LDB nº
móveis, acesso a brinquedos e materiais, aos locais como 9.394/96), sugere-se que o Ensino Fundamental seja assim
banheiros, cantinas e pátios, até a divisão do tempo e do mencionado:
calendário anual de atividades, passando pelas relações e
ações conjuntas com as famílias e os responsáveis, o papel dos
educadores é legitimar os compromissos assumidos por meio
das propostas pedagógicas.

Legislação 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Implantar um Ensino Fundamental, agora de nove anos, Fundamental, seja ela oriunda diretamente da família, seja da
leva necessariamente a repensá-lo no seu conjunto. Assim, pré-escola, a fim de manter os laços sociais e afetivos e as
esta é uma oportunidade preciosa para uma nova práxis dos condições de aprendizagem que lhe darão segurança e
educadores, sendo primordial que ela aborde os saberes e seus confiança. Continuidade e ampliação – em vez de ruptura e
tempos, bem como os métodos de trabalho, na perspectiva das negação do contexto socioafetivo e de aprendizagem anterior
reflexões antes tecidas. Ou seja, os educadores são convidados – garantem à criança de seis anos que ingressa no Ensino
a uma práxis que caminhe na direção de uma escola de Fundamental o ambiente acolhedor para enfrentar os desafios
qualidade social, como foi proposto na parte I deste da nova etapa.
documento. De que forma as crianças interagem com outras crianças e
com os diversos objetos de conhecimento na perspectiva de
A nova idade que integra o Ensino Fundamental conhecer e representar o mundo? Que significado tem a
linguagem escrita para uma criança de seis anos? Que
Em relação ao segundo elemento a se considerar na condições tem ela de se apropriar dessa linguagem?
ampliação do Ensino
Fundamental, surgem algumas questões para os Nessa idade, em contato com diferentes formas de
professores, os gestores, os técnicos e os pais. A primeira representação e sendo desafiada a delas fazer uso, a criança vai
questão relevante se refere à própria criança de seis anos, descobrindo e, progressivamente, aprendendo a usar as
chamada ao Ensino Fundamental. Quem é ela? Que momento múltiplas linguagens: gestual, corporal, plástica, oral, escrita,
ela está vivendo? Quais são os seus direitos, interesses e musical e, sobretudo, aquela que lhe é mais peculiar e
necessidades? Por que ela pode ou deve ingressar no Ensino específica, a linguagem do faz-de-conta, ou seja, do brincar. Sua
Fundamental? Qual é seu ambiente de desenvolvimento e relação com o outro, consigo mesma e com diferentes objetos
aprendizado? O ser humano constitui um tempo de vida que se da natureza e da cultura que a circundam é mediada por essas
encontra em permanente construção social. Assim, também e, formas de expressão e comunicação. O desenvolvimento
mais ainda, a criança. Ao longo dos tempos e em cada momento dessas linguagens não ocorre apenas no interior de uma
histórico, as concepções sobre a infância vêm se modificando. instituição educativa, sendo, muitas vezes, vivenciado no
Além disso, a diversidade e a pluralidade cultural presentes próprio ambiente doméstico. Contudo, no que se refere ao
nas várias regiões brasileiras determinadas pelas diferentes aprendizado da linguagem escrita, a escola possui um papel
etnias, raças, crenças e classes sociais, bem como as lutas fundamental e decisivo, sobretudo para as crianças oriundas
sociais pelas conquistas dos direitos, também contribuem para de famílias de baixa renda e de pouca escolaridade. Do ponto
a transformação dessas concepções. de vista pedagógico, é fundamental que a alfabetização seja
A idade cronológica não é, essencialmente, o aspecto adequadamente trabalhada nessa faixa etária, considerando-
definidor da maneira de ser da criança e de sua entrada no se que esse processo não se inicia somente aos seis ou sete
Ensino Fundamental. Com base em pesquisas e experiências anos de idade, pois, em vários casos, inicia-se bem antes, fato
práticas, construiu-se uma representação envolvendo algumas bastante relacionado à presença e ao uso da língua escrita no
das características das crianças de seis anos que as distinguem ambiente da criança. As crianças não compreendidas nesse
das de outras faixas etárias, sobretudo pela imaginação, a quadro frequentemente levam os professores a preocuparem-
curiosidade, o movimento e o desejo de aprender aliados à sua se com o que eles consideram insuficiência ou inexistência de
forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar. requisitos.
Nessa faixa etária a criança já apresenta grandes A contextualização dessas crianças contribui para uma
possibilidades de simbolizar e compreender o mundo, compreensão que abre caminhos na direção de uma
estruturando seu pensamento e fazendo uso de múltiplas aprendizagem inclusiva. Pelo fato de viverem numa sociedade
linguagens. Esse desenvolvimento possibilita a elas participar cuja cultura dominante é a letrada, desde que nascem as
de jogos que envolvem regras e se apropriar de crianças constroem conhecimentos prévios sobre o sistema de
conhecimentos, valores e práticas sociais construídos na representação e o significado da leitura e da escrita. Esses
cultura. Nessa fase, vivem um momento crucial de suas vidas conhecimentos passam inclusive pela incorporação da
no que se refere à construção de sua autonomia e de sua valorização social que tem a aquisição do ler e escrever.
identidade. A entrada na escola não pode representar uma ruptura
com o processo anterior, vivido pelas crianças em casa ou na
Estabelecem também laços sociais e afetivos e constroem instituição de educação infantil, mas sim uma forma de dar
seus conhecimentos na interação com outras crianças da continuidade às suas experiências anteriores para que elas,
mesma faixa etária, bem como com adultos com os quais se gradativamente, sistematizem os conhecimentos sobre a
relacionam. Além disso, fazem uso pleno de suas língua escrita.
possibilidades de representar o mundo, construindo, a partir Não sendo um objeto de uso meramente escolar, as
de uma lógica própria, explicações mágicas para compreendê- instituições educativas devem, ao trabalhar o processo de
lo. alfabetização das crianças, apresentar a escrita de forma
Especificamente em relação à linguagem escrita, a criança, contextualizada nos seus diversos usos.
nessa idade ou fase de desenvolvimento, que vive numa
sociedade letrada, possui um forte desejo de aprender, Observando essas crianças, podemos constatar que desde
somado ao especial significado que tem para ela frequentar muito cedo elas manifestam um grande interesse pela leitura
uma escola. e pela escrita, ao tentar compreender seus significados e imitar
O desenvolvimento maior ou menor desses aspectos e as o gesto dos adultos escrevendo. Nesse processo, a escola deve
possibilidades de aprendizagem dessas crianças são considerar a curiosidade, o desejo e o interesse das crianças,
determinados pelas experiências e pela qualidade das utilizando a leitura e a escrita em situações significativas para
interações às quais se encontram expostas no meio elas.
sociocultural em que vivem ou que frequentam. Daí o papel Entretanto, possibilitar o acesso aos diversos usos da
decisivo da família, da escola e dos professores, como leitura e da escrita não é suficiente para que elas se
mediadores culturais no processo de formação humana das alfabetizem. É necessário, além disso, um trabalho sistemático,
crianças. centrado tanto nos aspectos funcionais e textuais, quanto no
É necessário que o sistema escolar esteja atento às aprendizado dos aspectos gráficos da linguagem escrita e
situações envolvidas no ingresso da criança no Ensino daqueles referentes ao sistema alfabético de representação. O

Legislação 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

fato de as crianças serem alfabetizadas formalmente a partir Assim, é de suma importância que os sistemas induzam e
dos seis anos não constitui uma novidade no meio educacional estimulem as linhas de ação coletiva nas escolas,
brasileiro. Sabemos que um grande número de crianças das intencionalmente voltadas para a construção de um projeto
camadas populares que têm experiências relacionadas à pedagógico que reflita o desejo e o planejamento de cada
alfabetização na instituição de educação infantil, ou mesmo em comunidade escolar. Nessa perspectiva, caberá ao conjunto da
casa, demonstra condições cognitivas necessárias a este comunidade escolar, impulsionado pelos sistemas, a
aprendizado. sistematização do comprometimento de todos com aquilo que
A despeito das possibilidades já constatadas em crianças se elencou como relevante para orientar as ações da escola em
que nos anos anteriores à escolaridade obrigatória formal busca de um ensino de qualidade, inclusive a ampliação do
tiveram contato com a leitura e com a escrita, fundamental Ensino Fundamental para nove anos.
considerar que uma parcela significativa das crianças Os princípios, objetivos e metas de cada projeto originam-
brasileiras inicia essas experiências somente ao ingressar na se do diagnóstico da escola e são estabelecidos pelo coletivo.
escolaridade formal. Refletem o que este realmente deseja e pode realizar. Para um
Esse fato aumenta a responsabilidade da escola que diagnóstico mais aproximado da realidade, uma primeira ação
receberá as crianças de seis anos, na medida em que será a ser recomendada é a utilização de procedimentos de
necessário, por parte dela, um grande investimento na criação avaliação para conhecer a comunidade, explicitando o grupo
de um ambiente alfabetizador, que possibilite às crianças não constituinte da escola: alunos, pais, comunidade vizinha e
apenas ter acesso ao mundo letrado, como também nele profissionais da educação.
interagir. É importante ressaltar, no entanto, que a Igualmente relevante é que a escola valorize seu percurso
alfabetização não pode ser o aspecto único nem tampouco histórico e sistematize seus resultados, sobretudo sob a ótica
isolado desse momento da escolaridade formal. do sucesso escolar dos alunos. Essa ação implicaria uma
Desse modo, o direito da criança a um maior tempo de pesquisa que poderia ser feita por todos, inclusive com a
escolaridade obrigatória deve ser compreendido como participação dos alunos, evidenciando para a comunidade a
ampliação de suas possibilidades de aprender e de interagir trajetória da escola, bem como os indicadores de rendimento,
com parceiros da mesma idade e com outros mais experientes. de aproveitamento dos alunos e até, numa forma mais
Finalmente, considerar a especificidade da faixa etária das sofisticada, as características dos estudantes egressos.
crianças significa reconhecê-las como cidadãs e, portanto,
como possuidoras de direitos, entre eles educação pública de Esse é o trabalho coletivo posto como uma prática repleta
qualidade, proteção e cuidado por parte do poder público. de desafios a ser vencidos. É um caminho reconhecidamente
importante para uma escola que se quer democrática, para um
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO processo pedagógico eficiente e para uma qualidade de ensino
desejada por todos.
Uma questão essencial é a organização da escola que inclui Cabe, contudo, analisar um aspecto muitas vezes polêmico
as crianças de seis anos no Ensino Fundamental. Para recebê- na relação da escola com a comunidade educativa. António
las, ela necessita reorganizar a sua estrutura, as formas de Nóvoa8 afirma a legitimidade dessa relação por seu caráter
gestão, os ambientes, os espaços, os tempos, os materiais, os social e político: “A escola tem de ser encarada como uma
conteúdos, as metodologias, os objetivos, o planejamento e a comunidade educativa, permitindo mobilizar o conjunto dos
avaliação, de sorte que as crianças se sintam inseridas e atores sociais e dos grupos profissionais em torno de um
acolhidas num ambiente prazeroso e propício à aprendizagem. projeto comum.” O que vai ao encontro da proposta presente
É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil neste documento sobre o papel da escola de ser um polo
para o Ensino Fundamental ocorra da forma mais natural irradiador de cultura e conhecimento (Item I.2).
possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos Ao mesmo tempo, Nóvoa tece as seguintes considerações a
negativos no seu processo de escolarização. respeito dessa condição da escola como comunidade
A partir do exposto, torna-se importante ressaltar alguns educativa: “Para tanto, é preciso realizar um esforço de
aspectos referentes à responsabilidade dos sistemas de demarcação dos espaços próprios de ação, pois só na
ensino, das escolas e dos professores ao proceder à ampliação clarificação desses limites se pode alicerçar uma colaboração
do Ensino Fundamental. efetiva. Na verdade, se é inadmissível defender a exclusão das
Recomenda-se que as escolas organizadas pela estrutura comunidades da vida escolar, é igualmente inadmissível
seriada não transformem esse novo ano em mais uma série, sustentar ambiguidades que ponham em causa a autonomia
com as características e a natureza da primeira é série. Assim, científica e a dignidade do profissional do corpo docente.”
o Ministério da Educação orienta que, nos seus projetos Daí a necessidade de uma legitimidade técnica e científica
políticopedagógicos, sejam previstas estratégias da atividade dos professores e dos outros profissionais da
possibilitadoras de maior flexibilização dos seus tempos, com escola, bem como a delimitação entre ambas as zonas. A
menos cortes e descontinuidades. Estratégias que, de fato, ausência dessa delimitação “é uma das fontes de conflito no
contribuam para o desenvolvimento da criança, seio das instituições escolares, que é possível eliminar através
possibilitando-lhe, efetivamente, uma ampliação qualitativa de um esforço de compreensão mútua”.
do seu tempo na escola.
A formação do professor do aluno de seis anos do
O trabalho coletivo Ensino Fundamental

Tentando ultrapassar as análises comumente feitas sobre Quem é o professor das crianças de seis anos que
a situação existente na maioria das escolas públicas brasileiras ingressam no Ensino Fundamental? Quais os conhecimentos
a respeito da limitação, dificuldade ou mesmo inexistência de necessários ao desenvolvimento desse trabalho? Qual a
um trabalho coletivo organizado, coloca-se, primeiramente, a formação que será exigida desse profissional educador?
necessidade de entender este como um grande desafio posto É essencial que esse professor esteja sintonizado com os
às pessoas interessadas e comprometidas com a aspectos relativos aos cuidados e à educação dessas crianças,
democratização do ensino: diretores, coordenadores, seja portador ou esteja receptivo ao conhecimento das
professores, funcionários, alunos, membros de conselhos diversas dimensões que as constituem no seu aspecto físico,
escolares e representantes da comunidade. cognitivo-linguístico, emocional, social e afetivo. Nessa
perspectiva, é essencial assegurar ao professor programas de

Legislação 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

formação continuada, privilegiando a especificidade do


exercício docente em turmas que atendem a crianças de seis
anos. A natureza do trabalho docente requer um continuado BRASIL. Lei Federal nº
processo de formação dos sujeitos sociais historicamente 8.069/1990 – Estatuto da
envolvidos com a ação pedagógica, sendo indispensável o
desenvolvimento de atitudes investigativas, de alternativas Criança e do Adolescente
pedagógicas e metodológicas na busca de uma qualidade social (atualizada): artigos 7º a 24,
da educação. 53 a 69, 131 a 140
Não há nenhum modelo a ser seguido, nem perfil ou
estereótipo profissional a ser buscado. Entretanto, como
analisa Ilma Passos Alencastro Veiga9, “o projeto pedagógico
da formação, alicerçado na concepção do professor como LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 19904
agente social, deixa claro que é o exercício da profissão do DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
magistério que constitui verdadeiramente a referência central ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
tanto da formação inicial e continuada como da pesquisa em
educação. Por isso, não há formação e prática pedagógica O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso
definitivas: há um processo de criação constante e infindável, Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
necessariamente refletido e questionado, reconfigurado. A
figura 1, a seguir, ilustra essa proposição: [...]
Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à


vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos


programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento
Assegurar essa formação tem sido o desafio de todos os pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema
sistemas. Uma formação sensível aos aspectos da vida diária Único de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
do profissional, especialmente no tocante às capacidades, § 1oO atendimento pré-natal será realizado por profissionais
atitudes, valores, princípios e concepções que norteiam a da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
prática pedagógica. Promover a formação continuada e 2016)
coletiva é uma atitude gerencial indispensável para o § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante
desenvolvimento de um trabalho pedagógico qualitativo que garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
efetivamente promova a aprendizagem dos alunos. estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
A formação oferecida fora da escola, por meio de cursos, é direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
de grande relevância para o aprimoramento profissional, de 2016)
podendo, inclusive, consolidar o processo de § 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
acompanhamento sistemático das redes de ensino estaduais e assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
municipais, mediante discussões com os profissionais hospitalar responsável e contra referência na atenção primária,
docentes. bem como o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à
No entanto, é decisivo o papel que o profissional da amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
educação realiza no dia-a-dia da escola. Esse fazer precisa ser § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
objeto de reflexão, de estudos, de planejamentos e de ações psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
coletivas, no interior da escola, de modo intimamente ligado às inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências
vivências cotidianas. do estado puerperal.
A frequência de encontros sistemáticos e coletivos para § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
estudos e proposições permite uma articulação indissociada prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse
entre teoria e prática. As experiências revelam que essa em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e
estratégia, além de mais bem qualificar o trabalho pedagógico, mães que se encontrem em situação de privação de liberdade.
ainda democratiza as relações intraescolares, na medida em (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
que oferece oportunidades semelhantes ao grupo de § 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
profissionais da escola. acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
A reflexão dos profissionais da educação sobre a sua natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído
prática pedagógica para a construção de um projeto político- pela Lei nº 13.257, de 2016)
pedagógico autônomo, bem como a implementação das § 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento
diretrizes de democracia do acesso, condições para materno, alimentação complementar saudável e crescimento e
permanência e de democracia da gestão, são essenciais para a desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a
qualidade social da educação. criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento
É essa a escola que o governo está construindo com os integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
profissionais da educação.

4http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em:


09/05/2018 às 19h50min.

Legislação 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável § 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, frequente de crianças na primeira infância receberão formação
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções específica e permanente para a detecção de sinais de risco para
cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de o desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento
2016) que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à a permanência em tempo integral de um dos pais ou
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de
Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,
sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra
integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores outras providências legais.
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, § 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em
inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
liberdade. encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, § 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de entrada, os serviços de assistência social em seu componente
ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e especializado, o Centro de Referência Especializado de
à alimentação complementar saudável, de forma contínua. Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na
deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação
de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) de violência de qualquer natureza, formulando projeto
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: 13.257, de 2016)
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua assistência médica e odontológica para a prevenção das
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil,
prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
administrativa competente; alunos.
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica § 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do
prestar orientação aos pais; parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem § 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde
necessariamente as intercorrências do parto e do bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal,
desenvolvimento do neonato; integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257,
a permanência junto à mãe. de 2016)
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, § 3o A atenção odontológica à criança terá função educativa
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer,
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
técnico já existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre
(Vigência) saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4o A criança com necessidade de cuidados odontológicos
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. (Incluído
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do pela Lei nº 13.257, de 2016)
Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus
acesso a ações e serviços para promoção, proteção e primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção,
2016) em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas 13.438, de 2017)
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Capítulo II
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e
outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Legislação 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes Capítulo III


aspectos: Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços Seção I
comunitários, ressalvadas as restrições legais; Disposições Gerais
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso; Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família
V - participar da vida familiar e comunitária, sem substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
discriminação; ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação
VI - participar da vida política, na forma da lei; dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. § 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, a autoridade judiciária competente, com base em relatório
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
pessoais. reintegração familiar ou pela colocação em família substituta,
em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento § 2o A permanência da criança e do adolescente em
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. programa de acolhimento institucional não se prolongará por
mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada
educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento pela autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, 2017)
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos § 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos adolescente à sua família terá preferência em relação a
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá- serviços e programas de proteção, apoio e promoção, nos termos
los ou protegê-los. do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva Lei nº 13.257, de 2016)
aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o § 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente
adolescente que resulte em: com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas
a) sofrimento físico; ou periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de
b) lesão; acolhimento institucional, pela entidade responsável,
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel independentemente de autorização judicial.
de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: § 5o Será garantida a convivência integral da criança com a
a) humilhe; mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
c) ridicularize. § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe
especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os 2017)
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento,
que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer pela Lei nº 13.509, de 2017)
outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo profissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
com a gravidade do caso: apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal.
proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá
psiquiátrico; determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante
III - encaminhamento a cursos ou programas de sua expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência
orientação; social para atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento 13.509, de 2017)
especializado; § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos termos
V - advertência. do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período.
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
providências legais. § 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de
não existir outro representante da família extensa apto a
receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá
decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação
da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a
adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de
acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Legislação 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de


ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
ser manifestada na audiência a que se refere o § 1o do art. 166 constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder
desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei familiar.
nº 13.509, de 2017) § 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a
§ 6o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser
dias para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e
data do término do estágio de convivência. (Incluído pela Lei nº promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
13.509, de 2017) § 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de
em audiência ou perante a equipe inter profissional - da entrega condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra
da criança após o nascimento, a criança será mantida com os o próprio filho ou filha.
genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da
Juventude o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
e oitenta) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (Incluído pela Lei nº descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
13.509, de 2017) alude o art. 22.
§ 10 (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) [...]
Capítulo IV
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
2017) visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à assegurando-se lhes:
instituição para fins de convivência familiar e comunitária e I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, escola;
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído pela II - direito de ser respeitado por seus educadores;
Lei nº 13.509, de 2017) III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) recorrer às instâncias escolares superiores;
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou IV - direito de organização e participação em entidades
adolescente a fim de colaborar para o seu estudantis;
desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado residência.
será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
com prioridade para crianças ou adolescentes com remota ciência do processo pedagógico, bem como participar da
possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família definição das propostas educacionais.
adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados adolescente:
por órgãos públicos ou por organizações da sociedade I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para
civil. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento ensino médio;
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária III - atendimento educacional especializado aos portadores
competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, 2016)
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e
filiação. da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de do adolescente trabalhador;
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a VII - atendimento no ensino fundamental, através de
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em programas suplementares de material didático-escolar,
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária transporte, alimentação e assistência à saúde.
competente para a solução da divergência. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
público subjetivo.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações autoridade competente.
judiciais. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no ou responsável, pela frequência à escola.
cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o
direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Legislação 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, produtivo.
esgotados os recursos escolares; § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
III - elevados níveis de repetência. efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu
trabalho não desfigura o caráter educativo.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e
novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental outros:
obrigatório. I - respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento;
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores II - capacitação profissional adequada ao mercado de
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da trabalho.
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
criação e o acesso às fontes de cultura. [...}

Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, Título V


estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços Do Conselho Tutelar
para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas Capítulo I
para a infância e a juventude. Disposições Gerais

Capítulo V Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e


Do Direito à Profissionalização e à Proteção no autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
Trabalho zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta Lei.
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze
anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Art. 132. Em cada Município e em cada Região
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico- população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
legislação de educação em vigor.
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar,
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos serão exigidos os seguintes requisitos:
seguintes princípios: I - reconhecida idoneidade moral;
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino II - idade superior a vinte e um anos;
regular; III - residir no município.
II - atividade compatível com o desenvolvimento do
adolescente; Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia
III - horário especial para o exercício das atividades. e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive
quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurado o direito a:
assegurada bolsa de aprendizagem. I - cobertura previdenciária;
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, (um terço) do valor da remuneração mensal;
são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade;
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado V - gratificação natalina.
trabalho protegido. Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e
da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em formação continuada dos conselheiros tutelares.
entidade governamental ou não-governamental, é vedado
trabalho: Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
e as cinco horas do dia seguinte; de idoneidade moral.
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu Capítulo II
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; Das Atribuições do Conselho
IV - realizado em horários e locais que não permitam a
frequência à escola. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I
educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou a VII;
não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando
adolescente que dele participe condições de capacitação para o as medidas previstas no art. 129, I a VII;
exercício de atividade regular remunerada.

Legislação 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

III - promover a execução de suas decisões, podendo para Capítulo V


tanto: Dos Impedimentos
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
serviço social, previdência, trabalho e segurança; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora,
descumprimento injustificado de suas deliberações. irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que ou madrasta e enteado.
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro,
criança ou adolescente; na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua representante do Ministério Público com atuação na Justiça da
competência; Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade ou distrital.
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
adolescente autor de ato infracional; Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º
VII - expedir notificações; da República.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
criança ou adolescente quando necessário; Questões
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
proposta orçamentária para planos e programas de 01. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Agente Educativo –
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60,
violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da é proibido qualquer trabalho a menores:
Constituição Federal; (A) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações aprendiz.
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as (B) De quatorze anos de idade, salvo na condição de
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente aprendiz.
junto à família natural. (C) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos aprendiz.
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o (D) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e aprendiz.
adolescentes. (E) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o aprendiz.
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio
familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, 02. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Educador Social –
prestando-lhe informações sobre os motivos de tal ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 69,
apoio e a promoção social da família. o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no
trabalho, observados os seguintes aspectos:
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão I. Respeito à condição peculiar de pessoa em
ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha desenvolvimento.
legítimo interesse. II. Capacitação profissional adequada ao mercado de
Capítulo III trabalho.
Da Competência III. Remuneração do adolescente em relação ao trabalho
prestado.
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de (A) Somente I e III estão corretas.
competência constante do art. 147. (B) Somente I e II estão corretas.
(C) Somente II e III estão corretas.
Capítulo IV (D) Somente I está correta.
Da Escolha dos Conselheiros (E) Todas estão corretas.

Art. 139. O processo para a escolha dos membros do 03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional –
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Os conselhos tutelares das regiões administrativas do DF
Público. são compostos por seis membros indicados pela SEE/DF, com
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar mandatos fixos de quatro anos.
ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada ( ) Certo ( ) Errado
4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano
subsequente ao da eleição presidencial. 04. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional –
§ 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho Situação hipotética: Maurício completou quatorze anos de
Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou idade e deseja trabalhar, mas não quer abandonar seus
entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer estudos. Assertiva: Nesse caso, o direito de proteção especial
natureza, inclusive brindes de pequeno valor. permite que Maurício seja admitido ao trabalho, cabendo ao
Estado garantir seu acesso à escola.
( ) Certo ( ) Errado

Legislação 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

05. (Prefeitura de Alumínio/SP – Auxiliar de IX - garantia de padrão de qualidade;


Desenvolvimento Infantil – VUNESP – 2016) O Conselho X - valorização da experiência extraescolar;
Tutelar do Município, de acordo com o artigo 131 do ECA, é XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
órgão encarregado pela sociedade, de zelar pelo cumprimento práticas sociais.
dos direitos da criança e do adolescente definidos na citada lei. XII - consideração com a diversidade étnico-racial.
Esse órgão tem como uma de suas características XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao
fundamentais ser: longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018)
(A) Partidário.
(B) Jurisdicional. TÍTULO III
(C) Legislativo. Do Direito à Educação e do Dever de Educar
(D) Autônomo.
(E) Provisório Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será
Gabarito efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
01. B. / 02. B. / 03. Errado. / 04. Certo. / 05. D. 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
BRASIL. Lei Federal nº II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
9394, de 20/12/96 – anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos
Estabelece as Diretrizes e educandos com deficiência, transtornos globais do
Bases da Educação Nacional desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
(atualizada) transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso do educando;
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às suas
TÍTULO I necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
Da Educação trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se educação básica, por meio de programas suplementares de
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos à saúde;
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como
culturais. a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em aprendizagem.
instituições próprias. X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
trabalho e à prática social. partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.

TÍTULO II Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito


Dos Princípios e Fins da Educação Nacional público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do § 1o O poder público, na esfera de sua competência
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua federativa, deverá:
qualificação para o trabalho. I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
idade escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes a educação básica;
princípios: II - fazer-lhes a chamada pública;
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
escola; escola.
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
cultura, o pensamento, a arte e o saber; assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; constitucionais e legais.
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo
oficiais; tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
VII - valorização do profissional da educação escolar; hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

Legislação 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional


para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela de Educação, com funções normativas e de supervisão e
ser imputada por crime de responsabilidade. atividade permanente, criado por lei.
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos União terá acesso a todos os dados e informações necessários de
diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
anterior. § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula mantenham instituições de educação superior.
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de
idade. Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
seguintes condições: oficiais dos seus sistemas de ensino;
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
do respectivo sistema de ensino; oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com
pelo Poder Público; a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto em cada uma dessas esferas do Poder Público;
no art. 213 da Constituição Federal. III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
TÍTULO IV integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Da Organização da Educação Nacional Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação
organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
de ensino. V - baixar normas complementares para o seu sistema de
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de ensino;
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
relação às demais instâncias educacionais. respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
nos termos desta Lei. estadual.
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
Art. 9º A União incumbir-se-á de: competências referentes aos Estados e aos Municípios.
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao planos educacionais da União e dos Estados;
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à III - baixar normas complementares para o seu sistema de
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e ensino;
supletiva; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
assegurar formação básica comum; plenamente as necessidades de sua área de competência e com
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
identificação, cadastramento e atendimento, na educação ensino.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) municipal.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se
educação; integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um
VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento sistema único de educação básica.
escolar no ensino fundamental, médio e superior, em
colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós- incumbência de:
graduação; I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
instituições de educação superior, com a cooperação dos financeiros;
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
ensino; estabelecidas;
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação docente;
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
rendimento;

Legislação 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
processos de integração da sociedade com a escola; mantidas e administradas pelo Poder Público;
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas
e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta
pedagógica da escola; Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz nas seguintes categorias: (Regulamento)
competente da Comarca e ao respectivo representante do I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do jurídicas de direito privado que não apresentem as
percentual permitido em lei. características dos incisos abaixo;
II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas,
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que
estabelecimento de ensino; incluam na sua entidade mantenedora representantes da
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a comunidade;
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
de menor rendimento; específicas e ao disposto no inciso anterior;
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além IV - filantrópicas, na forma da lei.
de participar integralmente dos períodos dedicados ao
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; TÍTULO V
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
com as famílias e a comunidade.
CAPÍTULO I
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão Da Composição dos Níveis Escolares
democrática do ensino público na educação básica, de acordo
com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
do projeto pedagógico da escola; fundamental e ensino médio;
II - participação das comunidades escolar e local em II - educação superior.
conselhos escolares ou equivalentes.
CAPÍTULO II
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades DA EDUCAÇÃO BÁSICA
escolares públicas de educação básica que os integram Seção I
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e Das Disposições Gerais
de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
financeiro público. Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
I - as instituições de ensino mantidas pela União; trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas
pela iniciativa privada; Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
III - os órgãos federais de educação. anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
Federal compreendem: organização, sempre que o interesse do processo de
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo aprendizagem assim o recomendar.
Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no
Público municipal; País e no exterior, tendo como base as normas curriculares
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e gerais.
mantidas pela iniciativa privada; § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
respectivamente. critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de número de horas letivas previsto nesta Lei.
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
integram seu sistema de ensino. Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar,
II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
pela iniciativa privada; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - os órgãos municipais de educação. II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis a) por promoção, para alunos que cursaram, com
classificam-se nas seguintes categorias administrativas: aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;

Legislação 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

b) por transferência, para candidatos procedentes de outras § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões
escolas; regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
c) independentemente de escolarização anterior, mediante educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
avaliação feita pela escola, que defina o grau de § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua escola, é componente curricular obrigatório da educação básica,
inscrição na série ou etapa adequada, conforme sendo sua prática facultativa ao aluno:
regulamentação do respectivo sistema de ensino; I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular horas;
por série, o regimento escolar pode admitir formas de II – maior de trinta anos de idade;
progressão parcial, desde que preservada a sequência do III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
ensino; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de de 1969;
séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na V – (Vetado)
matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros VI – que tenha prole.
componentes curriculares; § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
V - a verificação do rendimento escolar observará os contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
seguintes critérios: do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do africana e europeia.
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº
eventuais provas finais; 13.415, de 2017)
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
atraso escolar; linguagens que constituirão o componente curricular de que
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
verificação do aprendizado; 2016).
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo transversais de que trata o caput. (Redação dada pela Lei nº
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de 13.415, de 2017)
ensino em seus regimentos; § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme componente curricular complementar integrado à proposta
o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por mínimo, 2 (duas) horas mensais.
cento do total de horas letivas para aprovação; § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos de todas as formas de violência contra a criança e ao
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
certificados de conclusão de cursos, com as especificações currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
cabíveis. como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do Criança e do Adolescente), observada a produção e distribuição
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino de material didático adequado.
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (Incluído
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de pela Lei nº 13.415, de 2017)
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do art. Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo
da história e cultura afro-brasileira e indígena.
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
responsáveis alcançar relação adequada entre o número de incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do caracterizam a formação da população brasileira, a partir
estabelecimento. desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
vista das condições disponíveis e das características regionais e no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
neste artigo. contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes
à história do Brasil.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no
a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida educação artística e de literatura e história brasileiras.
pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura,
da economia e dos educandos. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
realidade social e política, especialmente do Brasil. ordem democrática;

Legislação 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

II - consideração das condições de escolaridade dos alunos III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
em cada estabelecimento; tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
III - orientação para o trabalho; formação de atitudes e valores;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
desportivas não-formais. solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social.
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações fundamental em ciclos.
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular
de cada região, especialmente: por série podem adotar no ensino fundamental o regime de
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
II - organização escolar própria, incluindo adequação do sistema de ensino.
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
climáticas; língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, aprendizagem.
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que distância utilizado como complementação da aprendizagem ou
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de em situações emergenciais.
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
manifestação da comunidade escolar. obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de
Seção II julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Da Educação Infantil Adolescente, observada a produção e distribuição de material
didático adequado.
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
2013) dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
três anos de idade; procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
anos de idade. admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
as seguintes regras comuns: conteúdos do ensino religioso.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; sendo progressivamente ampliado o período de permanência na
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, escola.
distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas
educacional; alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas § 2º O ensino fundamental será ministrado
diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
integral; ensino.
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-
escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por Seção IV
cento) do total de horas; Do Ensino Médio
V - expedição de documentação que permita atestar os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com
duração mínima de três anos, terá como finalidades:
Seção III I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
Do Ensino Fundamental adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
cidadão, mediante: aperfeiçoamento posteriores;
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
cálculo; intelectual e do pensamento crítico;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
fundamenta a sociedade; no ensino de cada disciplina.

Legislação 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme pela Lei nº 13.415, de 2017)
diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
13.415, de 2017) respectivas competências e habilidades será feita de acordo com
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. (Redação
13.415, de 2017) dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08
nº 13.415, de 2017) § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de
do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular
harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser - BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, V do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº 13.415, de médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput.
2017) (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela Lei
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas nº 13.415, de 2017)
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional;
preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. II - a possibilidade de concessão de certificados
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base formação for estruturada e organizada em etapas com
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
nº 13.415, de 2017) Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a Lei nº 13.415, de 2017)
formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em
formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais. parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) previamente pelo Conselho Estadual de Educação, homologada
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação pelo Secretário Estadual de Educação e certificada pelos
processual e formativa serão organizados nas redes de ensino sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de tal forma validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio
que ao final do ensino médio o educando demonstre: (Incluído ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em outros
pela Lei nº 13.415, de 2017) cursos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, de § 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o
2017) ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o
II - conhecimento das formas contemporâneas de sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído pela
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que reconhecer competências e firmar convênios com instituições de
deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes educação a distância com notório reconhecimento, mediante as
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto seguintes formas de comprovação: (Incluído pela Lei nº 13.415,
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação de 2017)
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº 2017)
13.415, de 2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela
nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
pela Lei nº 13.415, de 2017) instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº 13.415,
de 2017)

Legislação 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

IV - cursos oferecidos por centros ou programas Seção V


ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Da Educação de Jovens e Adultos
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou
estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos
educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela Lei ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá
nº 13.415, de 2017) instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
Seção IV-A consideradas as características do alunado, seus interesses,
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste permanência do trabalhador na escola, mediante ações
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do integradas e complementares entre si.
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
técnicas. preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, regulamento.
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
em cooperação com instituições especializadas em educação supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
profissional. currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter
regular.
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
será desenvolvida nas seguintes formas: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
I - articulada com o ensino médio; maiores de quinze anos;
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
concluído o ensino médio. de dezoito anos.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
médio deverá observar: educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes mediante exames.
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Educação; CAPÍTULO III
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
ensino; Da Educação Profissional e Tecnológica
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos
de seu projeto pedagógico. Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos
Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do
articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, trabalho, da ciência e da tecnologia.
será desenvolvida de forma: § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a
ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível normas do respectivo sistema e nível de ensino.
médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os
única para cada aluno; seguintes cursos:
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio I – de formação inicial e continuada ou qualificação
ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas distintas para profissional;
cada curso, e podendo ocorrer: II – de educação profissional técnica de nível médio;
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as III – de educação profissional tecnológica de graduação e
oportunidades educacionais disponíveis; pós-graduação.
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
oportunidades educacionais disponíveis; graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. Educação.

Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na de educação continuada, em instituições especializadas ou no
educação superior. ambiente de trabalho.
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica
de nível médio, nas formas articulada concomitante e Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas com e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de
terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento
qualificação para o trabalho após a conclusão, com ou conclusão de estudos.
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma Art. 42. As instituições de educação profissional e
qualificação para o trabalho. tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à

Legislação 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei
de escolaridade. nº 13.184, de 2015)
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará as
CAPÍTULO IV competências e as habilidades definidas na Base Nacional
Da Educação Superior Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)

Art. 43. A educação superior tem por finalidade: Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de
espírito científico e do pensamento reflexivo; abrangência ou especialização.
II - formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem
para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, como o credenciamento de instituições de educação superior,
e colaborar na sua formação contínua; terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação processo regular de avaliação.
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este
entendimento do homem e do meio em que vive; artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção na
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da
e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de autonomia, ou em descredenciamento.
outras formas de comunicação; § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento responsável por sua manutenção acompanhará o processo de
cultural e profissional e possibilitar a correspondente saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários,
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo para a superação das deficiências.
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
conhecimento de cada geração; previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação poderá
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo resultar em redução de vagas autorizadas e em suspensão
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços temporária de novos ingressos e de oferta de cursos. (Alterado
especializados à comunidade e estabelecer com esta uma pela Lei 13.530/2017).
relação de reciprocidade; § 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante
VII - promover a extensão, aberta à participação da procedimento específico e com aquiescência da instituição de
população, visando à difusão das conquistas e benefícios ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estudantes,
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o deste artigo por
tecnológica geradas na instituição. outras medidas, desde que adequadas para superação das
VIII - atuar em favor da universalização e do deficiências e irregularidades constatadas. (Alterado pela Lei
aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a 13.530/2017).
capacitação de profissionais, a realização de pesquisas § 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que deverão adotar os critérios definidos pela União para
aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº 13.174, autorização de funcionamento de curso de graduação em
de 2015) Medicina.” (Incluído pela Lei 13.530/2017).

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
e programas: independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos exames finais, quando houver.
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que § 1º As instituições informarão aos interessados, antes de
tenham concluído o ensino médio ou equivalente; cada período letivo, os programas dos cursos e demais
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação,
classificados em processo seletivo; obrigando-se a cumprir as respectivas condições, e a publicação
III - de pós-graduação, compreendendo programas de deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras formas
mestrado e doutorado, cursos de especialização, concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, de 2015).
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em I - em página específica na internet no sítio eletrônico oficial
cursos de graduação e que atendam às exigências das da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte:
instituições de ensino; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de
ensino. 2015)
§ 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso II b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
do caput deste artigo serão tornados públicos pelas instituições como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação da relação forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma
nominal dos classificados, a respectiva ordem de classificação, finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
bem como do cronograma das chamadas para matrícula, de prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
acordo com os critérios para preenchimento das vagas c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
constantes do respectivo edital. eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168,
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao de 2015)
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez d) a página específica deve conter a data completa de sua
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)

Legislação 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso I; como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
III - em local visível da instituição de ensino superior e de desses critérios sobre a orientação do ensino médio, articulando-
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) se com os órgãos normativos dos sistemas de ensino.
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, de formação dos quadros profissionais de nível superior, de
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano,
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração que se caracterizam por: (Regulamento)
diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela lei I - produção intelectual institucionalizada mediante o
nº 13.168, de 2015) estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e
das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) nacional;
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo docente II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação
até o início das aulas, os alunos devem ser comunicados sobre as acadêmica de mestrado ou doutorado;
alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei Parágrafo único. É facultada a criação de universidades
nº 13.168, de 2015) especializadas por campo do saber.
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de
ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular de universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela lei nº I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
13.168, de 2015) programas de educação superior previstos nesta Lei,
c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele respectivo sistema de ensino;
curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma observadas as diretrizes gerais pertinentes;
total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa
de 2015) científica, produção artística e atividades de extensão;
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade
nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros institucional e as exigências do seu meio;
instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos consonância com as normas gerais atinentes;
seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, salvo VII - firmar contratos, acordos e convênios;
nos programas de educação a distância. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral,
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de bem como administrar rendimentos conforme dispositivos
qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a institucionais;
oferta noturna nas instituições públicas, garantida a necessária IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
previsão orçamentária. prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
estatutos;
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
quando registrados, terão validade nacional como prova da cooperação financeira resultante de convênios com entidades
formação recebida por seu titular. públicas e privadas.
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa
não-universitárias serão registrados em universidades decidir, dentro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre:
indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela
respeitando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou Lei nº 13.490, de 2017)
equiparação. III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por pela Lei nº 13.490, de 2017)
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por IV - programação das pesquisas e das atividades de
universidades que possuam cursos de pós-graduação extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada
nível equivalente ou superior. pela Lei nº 13.490, de 2017)
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a 13.490, de 2017)
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese § 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas a
de existência de vagas, e mediante processo seletivo. setores ou projetos específicos, conforme acordo entre doadores
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
forma da lei. § 3º No caso das universidades públicas, os recursos das
doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da destinação garantida às unidades a serem beneficiadas.
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade de
cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.

Legislação 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art.
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições habilidades ou superdotação:
asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
poderão: organização específicos, para atender às suas necessidades;
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
disponíveis; menor tempo o programa escolar para os superdotados;
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade III - professores com especialização adequada em nível
com as normas gerais concernentes; médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de professores do ensino regular capacitados para a integração
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, desses educandos nas classes comuns;
de acordo com os recursos alocados pelo respectivo Poder IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
mantenedor; integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins,
peculiaridades de organização e funcionamento; bem como para aqueles que apresentam uma habilidade
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
aprovação do Poder competente, para aquisição de bens V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
imóveis, instalações e equipamentos; suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras regular.
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial
necessárias ao seu bom desempenho. Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação para na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a
o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação realizada execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento
pelo Poder Público. pleno das potencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei
nº 13.234, de 2015)
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
desenvolvimento das instituições de educação superior por ela estabelecerão critérios de caracterização das instituições
mantidas. privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
Art. 56. As instituições públicas de educação superior financeiro pelo Poder Público.
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
existência de órgãos colegiados deliberativos, de que preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
participarão os segmentos da comunidade institucional, local e deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
regional. habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão ensino, independentemente do apoio às instituições previstas
setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e neste artigo.
comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e
modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha TÍTULO VI
de dirigentes. Dos Profissionais da Educação

Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
aulas. formados em cursos reconhecidos, são:
I – professores habilitados em nível médio ou superior para
CAPÍTULO V a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL médio;
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
habilidades ou superdotação. curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
da clientela de educação especial. áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas atestados por titulação específica ou prática de ensino em
ou serviços especializados, sempre que, em função das condições unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
classes comuns de ensino regular. para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste nº 13.415, de 2017)
artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da

Legislação 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

V - profissionais graduados que tenham feito tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não
complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei
Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) nº 13.478, de 2017)

Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, § 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de
de modo a atender às especificidades do exercício de suas cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios
atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames
modalidades da educação básica, terá como fundamentos: interessados em número superior ao de vagas disponíveis para
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
competências de trabalho; § 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem definidos
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios em regulamento pelas universidades, terão prioridade de
supervisionados e capacitação em serviço; ingresso os professores que optarem por cursos de licenciatura
III – o aproveitamento da formação e experiências em matemática, física, química, biologia e língua portuguesa.
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)

Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, I - cursos formadores de profissionais para a educação
admitida, como formação mínima para o exercício do básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade do ensino fundamental;
normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017) II - programas de formação pedagógica para portadores de
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
em regime de colaboração, deverão promover a formação educação básica;
inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de III - programas de educação continuada para os
magistério. profissionais de educação dos diversos níveis.
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos
profissionais de magistério poderão utilizar recursos e Art. 64. A formação de profissionais de educação para
tecnologias de educação a distância. administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará educacional para a educação básica, será feita em cursos de
preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
de recursos e tecnologias de educação a distância. critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios base comum nacional.
adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência em
cursos de formação de docentes em nível superior para atuar na Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
educação básica pública. superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios horas.
incentivarão a formação de profissionais do magistério para
atuar na educação básica pública mediante programa Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente
matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena, nas em programas de mestrado e doutorado.
instituições de educação superior. Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota universidade com curso de doutorado em área afim, poderá
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino suprir a exigência de título acadêmico.
médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos
Nacional de Educação - CNE. profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos
§ 7o (Vetado). termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes terão público:
por referência a Base Nacional Comum Curricular. (Incluído I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
pela lei nº 13.415, de 2017) títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com
Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o licenciamento periódico remunerado para esse fim;
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo III - piso salarial profissional;
técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo IV - progressão funcional baseada na titulação ou
habilitações tecnológicas. habilitação, e na avaliação do desempenho;
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou incluído na carga de trabalho;
em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos VI - condições adequadas de trabalho.
de educação profissional, cursos superiores de graduação plena § 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício
ou tecnológicos e de pós-graduação. profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
termos das normas de cada sistema de ensino.
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de § 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8o do
educação básica a cursos superiores de pedagogia e licenciatura art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de
será efetivado por meio de processo seletivo diferenciado. magistério as exercidas por professores e especialistas em
(Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) educação no desempenho de atividades educativas, quando
exercidas em estabelecimento de educação básica em seus
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da
deste artigo os professores das redes públicas municipais, docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, e assessoramento pedagógico.

Legislação 43
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao V - realização de atividades-meio necessárias ao


Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos funcionamento dos sistemas de ensino;
públicos para provimento de cargos dos profissionais da VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
educação. públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito
TÍTULO VII destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
Dos Recursos financeiros VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção
de programas de transporte escolar.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
originários de: Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
Distrito Federal e dos Municípios; I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino,
II - receita de transferências constitucionais e outras ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise,
transferências; precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua
III - receita do salário-educação e de outras contribuições expansão;
sociais; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter
IV - receita de incentivos fiscais; assistencial, desportivo ou cultural;
V - outros recursos previstos em lei. III - formação de quadros especiais para a administração
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de IV - programas suplementares de alimentação, assistência
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou formas de assistência social;
Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
compreendidas as transferências constitucionais, na beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
manutenção e desenvolvimento do ensino público. VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela quando em desvio de função ou em atividade alheia à
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos manutenção e desenvolvimento do ensino.
Estados aos respectivos Municípios, não será considerada, para
efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e
transferir. desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se
mencionadas neste artigo as operações de crédito por refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
antecipação de receita orçamentária de impostos. Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, o
mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal,
estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais, com na legislação concernente.
base no eventual excesso de arrecadação.
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito
efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas oportunidades educacionais para o ensino fundamental,
a cada trimestre do exercício financeiro. baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa da assegurar ensino de qualidade.
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo
ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação, será calculado pela União ao final de cada ano, com validade
observados os seguintes prazos: para o ano subsequente, considerando variações regionais no
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
mês, até o vigésimo dia;
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
dia de cada mês, até o trigésimo dia; Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade
de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. de ensino.
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula
monetária e à responsabilização civil e criminal das autoridades de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e a
competentes. medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito
Federal ou do Município em favor da manutenção e do
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino.
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à § 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais definida pela razão entre os recursos de uso
de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a: constitucionalmente obrigatório na manutenção e
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao
demais profissionais da educação; padrão mínimo de qualidade.
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a
instalações e equipamentos necessários ao ensino; União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos que
ensino; efetivamente frequentam a escola.
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
ensino; Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V do

Legislação 44
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de


atendimento. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos § 1º A educação a distância, organizada com abertura e
Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, sem regime especiais, será oferecida por instituições especificamente
prejuízo de outras prescrições legais. credenciadas pela União.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, a distância.
confessionais ou filantrópicas que: § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam programas de educação a distância e a autorização para sua
resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; sistemas.
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra § 4º A educação a distância gozará de tratamento
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder diferenciado, que incluirá:
Público, no caso de encerramento de suas atividades; I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos. radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser comunicação que sejam explorados mediante autorização,
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma concessão ou permissão do poder público;
da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública educativas;
de domicílio do educando, ficando o Poder Público obrigado a III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
investir prioritariamente na expansão da sua rede local. Público, pelos concessionários de canais comerciais.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições
mediante bolsas de estudo. de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições
desta Lei.
TÍTULO VIII
Das Disposições Gerais Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração sobre a matéria.
das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas
povos indígenas, com os seguintes objetivos: fixadas pelos sistemas de ensino.
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a
recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu
às informações, conhecimentos técnicos e científicos da rendimento e seu plano de estudos.
sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às para cargo de docente de instituição pública de ensino que
comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados estiver sendo ocupado por professor não concursado, por mais
de ensino e pesquisa. de seis anos, ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições
comunidades indígenas. Constitucionais Transitórias.
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos: Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição de
de cada comunidade indígena; instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e
II - manter programas de formação de pessoal especializado, Tecnologia, nos termos da legislação específica.
destinado à educação escolar nas comunidades indígenas; TÍTULO IX
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles Das Disposições Transitórias
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas
comunidades; Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático ano a partir da publicação desta Lei.
específico e diferenciado. § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos
nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre
ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à Educação para Todos.
pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. § 2º (Revogado)
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
Art. 79-A. (Vetado) supletivamente, a União, devem:
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de I - (Revogado)
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. a) (Revogado)

Legislação 45
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

b) (Revogado) suplementares de material didático-escolar e alimentação.


c) (Revogado) Transporte e assistência à saúde não estão expressamente
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e previstos na LDB 9394/96, sendo deixados à lei ordinária.
adultos insuficientemente escolarizados; IV. É garantida a vaga na escola pública de educação
III - realizar programas de capacitação para todos os infantil ou de ensino fundamental mais próxima da residência
professores em exercício, utilizando também, para isto, os a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de
recursos da educação a distância; idade.
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino V. É garantido acesso público e gratuito aos ensinos
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação fundamental e médio para todos os que não os concluíram na
do rendimento escolar. idade própria, porém vedado acesso aos níveis mais elevados
§ 4º (Revogado) do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a capacidade de cada um.
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. É correto o que afirma em:
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao (A) I, II e III, apenas.
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos (B) I e IV, apenas.
seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. (C) II, III e V, apenas.
212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes (D) I, IV e V, apenas.
pelos governos beneficiados.
02. (Prefeitura Municipal de Alumínio/SP - Auxiliar de
Art. 87.A- (Vetado). Desenvolvimento Infantil - VUNESP/2016) A Lei Federal nº
9.394, de 20.12.1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Nacional), introduziu uma série de inovações em relação à
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às Educação Básica, dentre as quais,
disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da (A) a construção de identidade das creches e pré-escolas
data de sua publicação. com base nas diferenciações em relação à classe social das
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e crianças.
regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos (B) o atendimento obrigatório e gratuito no ensino
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes fundamental e gratuidade extensiva apenas à Educação
estabelecidos. Infantil das crianças a partir dos 4 anos de idade.
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o disposto (C) o atendimento em creches e pré-escolas pelos órgãos
nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. de assistência social, prioritariamente.
(D) o entendimento da creche e pré-escola como um favor
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a aos socialmente menos favorecidos.
ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da (E) a integração das creches nos sistemas de ensino,
publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da
ensino. Educação Básica.

Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime 03. (TJ/GO- Analista Judiciário- Pedagogia- FGV) A
anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo educação escolar, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, é dever da família
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a e do Estado.
autonomia universitária. Cabe ao Estado garantir, a partir da nova redação do Art.
4º da LDB instituída pela Lei nº 12.796, de 2013:
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (A) educação básica obrigatória e gratuita dos seis aos
quatorze anos de idade;
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de 20 (B) educação infantil e ensino fundamental obrigatórios e
de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não gratuitos;
alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de (C) ensino fundamental e ensino médio obrigatórios e
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs gratuitos;
5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, (D) educação básica obrigatória e gratuita a todos que
e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer desejarem cursá-la;
outras disposições em contrário. (E) educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos
Questões dezessete anos de idade.

01. (SEAP/DF- Professor- IBFC) De acordo com o que 04. (Pref. Mun. de Palhoça/SC – Professor de Educação
disserta a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Infantil – Pref. Mun. de Palhoça/2016) Assinale a
Brasileira (LDB), julgue os itens a seguir: alternativa FALSA:
I. A LDB reconhece que a educação abrange os processos (A) A educação superior somente será ministrada em
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na instituições de ensino superior públicas, com variados graus
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, de abrangência ou especialização.
nos movimentos sociais e nas manifestações culturais. Por (B) Os cursos de pós-graduação serão oferecidos em
isso, a lei disserta, expressamente, que a educação escolar diversas instituições públicas ou privadas.
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. (C) A educação superior será oferecida tanto em
II. A educação básica é obrigatória e gratuita dos 6 anos aos instituições públicas como nas privadas.
17 anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola, (D) A educação superior será ministrada em instituições
ensino fundamental e ensino médio. Sendo a educação infantil de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus
gratuita às crianças de até 6 anos de idade de abrangência ou especialização.
III. O atendimento ao educando é previsto, em todas as
etapas da educação básica, por meio de programas

Legislação 46
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

05. (Pref. Mun. de Nova Friburgo/RJ - Secretário formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos
Escolar - EXATUS/PR) A questão é concernente a Lei de que dão vida ao currículo e à escola;
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº 9394/96)”. II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
Segundo a LDB, a educação escolar compõe-se de: subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto
(A) Educação Básica e Educação Infantil. político-pedagógico da escola de Educação Básica;
(B) Educação Infantil e Ensino Fundamental. III - orientar os cursos de formação inicial e continuada de
(C) Educação Básica e Educação Superior. docentes e demais profissionais da Educação Básica, os sistemas
(D) Educação Básica, Educação Infantil e Educação educativos dos diferentes entes federados e as escolas que os
Superior. integram, indistintamente da rede a que pertençam.

Gabarito Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para


as etapas e modalidades da Educação Básica devem evidenciar
01. B. / 02. E. / 03. E. / 04. A. / 05. C. o seu papel de indicador de opções políticas, sociais, culturais,
educacionais, e a função da educação, na sua relação com um
projeto de Nação, tendo como referência os objetivos
constitucionais, fundamentando-se na cidadania e na dignidade
da pessoa, o que pressupõe igualdade, liberdade, pluralidade,
BRASIL. Resolução CNE/CEB diversidade, respeito, justiça social, solidariedade e
04/2010 – Diretrizes sustentabilidade.
Curriculares Nacionais Gerais
TÍTULO II
para a Educação Básica. REFERÊNCIAS CONCEITUAIS
Brasília: CNE, 2010
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de
educação responsabilizam o poder público, a família, a
sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um
ensino ministrado de acordo com os princípios de:
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 20105 I - igualdade de condições para o acesso, inclusão,
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA A permanência e sucesso na escola;
EDUCAÇÃO BÁSICA II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cultura, o pensamento, a arte e o saber;
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e de IV - respeito à liberdade e aos direitos;
conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40, 41 oficiais;
e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação dada pela Lei nº VII - valorização do profissional da educação escolar;
11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e com VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da
fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, homologado por legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino;
Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado IX - garantia de padrão de qualidade;
no DOU de 9 de julho de 2010. X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
RESOLVE: práticas sociais.
Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce
Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da
articulado das etapas e modalidades da Educação Básica, qual depende a possibilidade de conquistar todos os demais
baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da
desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania e Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas
à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em demais disposições que consagram as prerrogativas do cidadão.
ambiente educativo, e tendo como fundamento a
responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a sociedade Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as
têm de garantir a democratização do acesso, a inclusão, a dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade,
permanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos jovens buscando recuperar, para a função social desse nível da
e adultos na instituição educacional, a aprendizagem para educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em
continuidade dos estudos e a extensão da obrigatoriedade e da formação na sua essência humana.
gratuidade da Educação Básica.
TÍTULO III
TÍTULO I SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
OBJETIVOS
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a
Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a institucionalização do regime de colaboração entre União,
Educação Básica têm por objetivos: Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da estrutura
I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da federativa brasileira, em que convivem sistemas educacionais
Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes e autônomos, para assegurar efetividade ao projeto da educação
Bases da Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos legais, nacional, vencer a fragmentação das políticas públicas e
traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a superar a desarticulação institucional.

5http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf. Acesso em 10/05/2018


às 15h09min.

Legislação 47
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sistema II - à relevância de um projeto político-pedagógico


Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, com suas concebido e assumido colegiadamente pela comunidade
peculiares competências, é chamado a colaborar para educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a
transformar a Educação Básica em um sistema orgânico, pluralidade cultural;
sequencial e articulado. III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade intencional pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
e organicamente concebida, que se justifica pela realização de segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
atividades voltadas para as mesmas finalidades ou para a IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
concretização dos mesmos objetivos. Qualidade Inicial – CAQi);
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados § 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-se um
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência entre as padrão mínimo de insumos, que tem como base um investimento
funções distributiva, supletiva, normativa, de supervisão e com valor calculado a partir das despesas essenciais ao
avaliação da educação nacional, respeitada a autonomia dos desenvolvimento dos processos e procedimentos formativos, que
sistemas e valorizadas as diferenças regionais. levem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de
qualidade social:
TÍTULO IV I - creches e escolas que possuam condições de
ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA infraestrutura e adequados equipamentos;
QUALIDADE SOCIAL II - professores qualificados com remuneração adequada e
compatível com a de outros profissionais com igual nível de
Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) horas em
inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na tempo integral em uma mesma escola;
escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e da III - definição de uma relação adequada entre o número de
distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da alunos por turma e por professor, que assegure aprendizagens
educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do relevantes;
processo educativo. IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que responda
às exigências do que se estabelece no projeto político-
Art. 9º A escola de qualidade social adota como centralidade pedagógico.
o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe atendimento aos
seguintes requisitos: TÍTULO V
I - revisão das referências conceituais quanto aos diferentes ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES,
espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na POSSIBILIDADES
escola e fora dela;
II - consideração sobre a inclusão, a valorização das Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade resignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as
cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes
cada comunidade; próprias das diferentes regiões do País.
III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como superação do rito escolar, desde a construção do currículo até os
instrumento de contínua progressão dos estudantes; critérios que orientam a organização do trabalho escolar em
IV - inter-relação entre organização do currículo, do sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e
trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor, aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes,
tendo como objetivo a aprendizagem do estudante; jovens e adultos, no relacionamento entre todas as pessoas.
V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir o
VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou
infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e contra turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, no
acessibilidade; mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a
VII - integração dos profissionais da educação, dos amplitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto
estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade orgânico da Educação Básica, o que requer outra organização e
interessados na educação; gestão do trabalho pedagógico.
VIII - valorização dos profissionais da educação, com § 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou
programa de formação continuada, critérios de acesso, diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do
permanência, remuneração compatível com a jornada de estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo
trabalho definida no projeto político-pedagógico; diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de
IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de aprendizagens.
assistência social e desenvolvimento humano, cidadania, ciência § 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica a
e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, meio necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, de
ambiente. atividades e estudos pedagogicamente planejados e
acompanhados.
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mínimos de § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem estabelecer
qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer que metodologia adequada às idades, à maturidade e à experiência
a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente, de aprendizagens, para atenderem aos jovens e adultos em
pelos sujeitos da escola. escolarização no tempo regular ou na modalidade de Educação
§ 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela de Jovens e Adultos.
escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
I - aos princípios e às finalidades da educação, além do
reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros
indicadores, que o complementem ou substituam;

Legislação 48
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPÍTULO I superar a distância entre estudantes que aprendem a receber


FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR informação com rapidez utilizando a linguagem digital e
professores que dela ainda não se apropriaram;
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os princípios VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida
educacionais garantidos à educação, assegurados no artigo 4º como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na
desta Resolução, configura-se como o conjunto de valores e aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela
práticas que proporcionam a produção, a socialização de consciência de que o processo de comunicação entre estudantes
significados no espaço social e contribuem intensamente para a e professores é efetivado por meio de práticas e recursos
construção de identidades socioculturais dos educandos. diversos;
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como
interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas de
ao bem comum e à ordem democrática, considerando as formação inicial e continuada de profissionais da educação,
condições de escolaridade dos estudantes em cada sendo que esta opção requer planejamento sistemático
estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de integrado estabelecido entre sistemas educativos ou conjunto de
práticas educativas formais e não-formais. unidades escolares;
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se § 4º A transversalidade é entendida como uma forma de
assegurar o entendimento de currículo como experiências organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas e eixos
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas
permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas.
saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente § 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e
acumulados e contribuindo para construir as identidades dos ambas complementam-se, rejeitando a concepção de
educandos. conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto e
§ 3º A organização do percurso formativo, aberto e acabado.
contextualizado, deve ser construída em função das § 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático-
peculiaridades do meio e das características, interesses e pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem
necessidades dos estudantes, incluindo não só os componentes epistemológica dos objetos de conhecimento.
curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas
normas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e CAPÍTULO II
variável, conforme cada projeto escolar, e assegurando: FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICADA
I - concepção e organização do espaço curricular e físico que
se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica
equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas, constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos
igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas
esportivo recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região; instituições produtoras do conhecimento científico e
II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das
curriculares que pressuponham profissionais da educação linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção
dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social, com artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nos
responsabilidade compartilhada com as demais autoridades movimentos sociais.
que respondem pela gestão dos órgãos do poder público, na § 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua
busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é Portuguesa;
responsabilidade da família, do Estado e da sociedade; b) a Matemática;
III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar, c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade
pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo
que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de pacto da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,
estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos escolares d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo-
e comunidade, subsidiando a organização da matriz curricular, se a música;
a definição de eixos temáticos e a constituição de redes de e) a Educação Física;
aprendizagem; f) o Ensino Religioso.
IV - compreensão da matriz curricular entendida como § 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos
propulsora de movimento, dinamismo curricular e educacional, sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento,
de tal modo que os diferentes campos do conhecimento possam disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos
se coadunar com o conjunto de atividades educativas; diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais se
V - organização da matriz curricular entendida como desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da
alternativa operacional que embase a gestão do currículo cidadania, em ritmo compatível com as etapas do
escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na desenvolvimento integral do cidadão.
organização do tempo e do espaço curricular, distribuição e § 3º A base nacional comum e a parte diversificada não
controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para uma podem se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas
gestão centrada na abordagem interdisciplinar, organizada por específicas para cada uma dessas partes, mas devem ser
eixos temáticos, mediante interlocução entre os diferentes organicamente planejadas e geridas de tal modo que as
campos do conhecimento; tecnologias de informação e comunicação perpassem
VI - entendimento de que eixos temáticos são uma forma de transversalmente a proposta curricular, desde a Educação
organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos
conhecimento, fornecendo o cenário no qual se constroem político-pedagógico.
objetos de estudo, propiciando a concretização da proposta
pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superando o Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa a
isolamento das pessoas e a compartimentalização de conteúdos base nacional comum, prevendo o estudo das características
rígidos; regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços
utilizando-se recursos tecnológicos de informação e curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Ensino
comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de

Legislação 49
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos rupturas, a continuidade de seus processos peculiares de
tenham acesso à escola. aprendizagem e desenvolvimento.
§ 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas
gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus
colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade princípios, objetivos e diretrizes educacionais, fundamentando-
escolar. se na inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e
§ 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua educar, pois esta é uma concepção norteadora do projeto
estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua político-pedagógico elaborado e executado pela comunidade
escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da educacional.
escola, que deve considerar o atendimento das características
locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em vista as Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos mentais,
demandas do mundo do trabalho e da internacionalização de sócioemocionais, culturais e identitários é um princípio
toda ordem de relações. orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005, é dos sistemas a criação de condições para que crianças,
obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora facultativa adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a
para o estudante, bem como possibilitada no Ensino oportunidade de receber a formação que corresponda à idade
Fundamental, do 6º ao 9º ano. própria de percurso escolar.

Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, CAPÍTULO I


determinam que sejam incluídos componentes não disciplinares, ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente e à condição
e direitos do idoso. Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes momentos
constitutivos do desenvolvimento educacional:
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, destinar- I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária anual ao englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança
conjunto de programas e projetos interdisciplinares eletivos até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração
criados pela escola, previsto no projeto pedagógico, de modo que de 2 (dois) anos;
os estudantes do Ensino Fundamental e do Médio possam II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
escolher aquele programa ou projeto com que se identifiquem e duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases:
que lhes permitam melhor lidar com o conhecimento e a a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III - o
experiência. Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos.
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos de Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de idades
modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se atenta
comunidade em que a escola esteja inserida. para sujeitos com características que fogem à norma, como é o
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem caso, entre outros:
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes abandonado os estudos;
campos do conhecimento. III - de portadores de deficiência limitadora;
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
TÍTULO VI incompleta;
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA V - de habitantes de zonas rurais;
VI - de indígenas e quilombolas;
Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou
observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as internação, jovens e adultos em situação de privação de
suas etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas liberdade nos estabelecimentos penais.
as suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam.
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de escolarização Seção I
estruturam-se de modo orgânico, sequencial e articulado, de Educação Infantil
maneira complexa, embora permanecendo individualizadas ao
logo do percurso do estudante, apesar das mudanças por que Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o
passam: desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico,
I - a dimensão orgânica é atendida quando são observadas afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a ação
as especificidades e as diferenças de cada sistema educativo, sem da família e da comunidade.
perder o que lhes é comum: as semelhanças e as identidades que § 1º As crianças provêm de diferentes e singulares contextos
lhe são inerentes; socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso devem ter a
II - a dimensão sequencial compreende os processos oportunidade de ser acolhidas e respeitadas pela escola e pelos
educativos que acompanham as exigências de aprendizagens profissionais da educação, com base nos princípios da
definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e individualidade, igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade.
progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior, § 2º Para as crianças, independentemente das diferentes
constituindo-se em diferentes e insubstituíveis momentos da condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico-
vida dos educandos; raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, entre outras, as
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial das relações sociais e intersubjetivas no espaço escolar requerem a
etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas com a atenção intensiva dos profissionais da educação, durante o
Educação Superior, implica ação coordenada e integradora do tempo de desenvolvimento das atividades que lhes são
seu conjunto. peculiares, pois este é o momento em que a curiosidade deve ser
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e suas estimulada, a partir da brincadeira orientada pelos
fases requer formas de articulação das dimensões orgânica e profissionais da educação.
sequencial que assegurem aos educandos, sem tensões e § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social

Legislação 50
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
ocorrer ao longo da Educação Básica. II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços tomado este como princípio educativo, para continuar
promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições
Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças, em de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
estreita relação com a família, com agentes sociais e com a III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana,
sociedade, prevendo programas e projetos em parceria, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da
formalmente estabelecidos. autonomia intelectual e do pensamento crítico;
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se torna IV - a compreensão dos fundamentos científicos e
necessária a solução de problemas individuais e coletivos pelas tecnológicos presentes na sociedade contemporânea,
crianças devem ser previamente programadas, com foco nas relacionando a teoria com a prática.
motivações estimuladas e orientadas pelos professores e demais § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual
profissionais da educação e outros de áreas pertinentes, podem se assentar possibilidades diversas como preparação
respeitados os limites e as potencialidades de cada criança e os geral para o trabalho ou, facultativamente, para profissões
vínculos desta com a família ou com o seu responsável direto. técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e
tecnológica; na cultura, como ampliação da formação cultural.
Seção II § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma
Ensino Fundamental lógica que se dirige aos jovens, considerando suas
singularidades, que se situam em um tempo determinado.
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens tenham
6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com a oportunidade de escolher o percurso formativo que atenda
características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 seus interesses, necessidades e aspirações, para que se assegure
(cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a a permanência dos jovens na escola, com proveito, até a
10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de conclusão da Educação Básica.
duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher significa CAPÍTULO II
também cuidar e educar, como forma de garantir a MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o estudante
desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permitam usufruir Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode corresponder
dos bens culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou uma ou mais das modalidades de ensino: Educação de Jovens e
na sociedade em geral, e que lhe possibilitem ainda sentir-se Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e
como produtor valorizado desses bens. Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e
Educação a Distância.
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças,
definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os Seção I
anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no Educação de Jovens e Adultos
primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e
intensificando, gradativamente, o processo educativo, mediante: Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se aos
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como que se situam na faixa etária superior à considerada própria, no
meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) § 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de
primeiros anos; cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes
III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as
político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos características do alunado, seus interesses, condições de vida e
valores em que se fundamenta a sociedade; de trabalho, mediante cursos, exames, ações integradas e
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, complementares entre si, estruturados em um projeto
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a pedagógico próprio.
formação de atitudes e valores; § 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação
V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de Profissional articulada com a Educação Básica, devem pautar-
solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e
a vida social. espaço, para que seja(m):
I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e
Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e
estabelecer especial forma de colaboração visando à oferta do conteúdos significativos para os jovens e adultos;
Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a primeira II - providos o suporte e a atenção individuais às diferentes
fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda, pelo Estado, necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem,
para evitar obstáculos ao acesso de estudantes que se mediante atividades diversificadas;
transfiram de uma rede para outra para completar esta III - valorizada a realização de atividades e vivências
escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e a socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de
totalidade do processo formativo do escolar. enriquecimento do percurso formativo dos estudantes;
IV - desenvolvida a agregação de competências para o
Seção III trabalho;
Ensino Médio V - promovida a motivação e a orientação permanente dos
estudantes, visando maior participação nas aulas e seu melhor
Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo da aproveitamento e desempenho;
Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades que VI - realizada, sistematicamente, a formação continuada,
preveem: destinada, especificamente, aos educadores de jovens e adultos.
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no Ensino

Legislação 51
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Seção II III - em instituições de ensino distintas, mediante convênios


Educação Especial de intercomplementaridade, com planejamento e
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal § 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional
a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em
integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto etapas que possibilitem qualificação profissional intermediária.
político-pedagógico da unidade escolar. § 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser
§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes desenvolvida por diferentes estratégias de educação
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem,
e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em
salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede Art. 33. A organização curricular da Educação Profissional e
pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na
filantrópicas sem fins lucrativos. identificação das tecnologias que se encontram na base de uma
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para que dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas
o professor da classe comum possa explorar as potencialidades constituídos.
de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica,
interativa, interdisciplinar e inclusiva e, na interface, o professor Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos tanto
do AEE deve identificar habilidades e necessidades dos nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, como os
estudantes, organizar e orientar sobre os serviços e recursos adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem ser
pedagógicos e de acessibilidade para a participação e objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
aprendizagem dos estudantes. prosseguimento ou conclusão de estudos.
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino
devem observar as seguintes orientações fundamentais: Seção IV
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no Educação Básica do Campo
ensino regular;
II - a oferta do atendimento educacional especializado; Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a
III - a formação de professores para o AEE e para o educação para a população rural está prevista com adequações
desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas; necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada
IV - a participação da comunidade escolar; região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais à
V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e organização da ação pedagógica:
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos transportes; I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais. reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do
Seção III calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
Educação Profissional e Tecnológica climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela
diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com
trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em
regular e com outras modalidades educacionais: Educação de todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos,
Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a Distância. econômicos, de gênero, geração e etnia.
Parágrafo único. Formas de organização e metodologias
Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a
Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico
formação inicial e continuada ou qualificação profissional e nos fundamentado no princípio da sustentabilidade, para assegurar
de Educação Profissional Técnica de nível médio. a preservação da vida das futuras gerações, e a pedagogia da
alternância, na qual o estudante participa, concomitante e
Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é alternadamente, de dois ambientes/situações de aprendizagem:
desenvolvida nas seguintes formas: o escolar e o laboral, supondo parceria educativa, em que ambas
I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a) as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e pela formação
integrada, na mesma instituição; ou do estudante.
b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha Seção V
concluído o Ensino Médio. Educação Escolar Indígena
§ 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, organizados
na forma integrada, são cursos de matrícula única, que Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades
conduzem os educandos à habilitação profissional técnica de educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm
nível médio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em
da Educação Básica. respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou
§ 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, comunidade e formação específica de seu quadro docente,
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla observados os princípios constitucionais, a base nacional
certificação, podem ocorrer: comum e os princípios que orientam a Educação Básica
I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as brasileira.
oportunidades educacionais disponíveis; Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores
oportunidades educacionais disponíveis; de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino
intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das

Legislação 52
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua § 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na
diversidade étnica. busca de sua identidade, que se expressa na construção de seu
projeto pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto
Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova
considerada a participação da comunidade, na definição do e democrática ordenação pedagógica das relações escolares.
modelo de organização e gestão, bem como: § 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus
I - suas estruturas sociais; sujeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico
II - suas práticas socioculturais e religiosas; com os planos de educação – nacional, estadual, municipal –, o
III - suas formas de produção de conhecimento, processos contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e de
próprios e métodos de ensino-aprendizagem; seus estudantes.
IV - suas atividades econômicas; § 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo,
V - edificação de escolas que atendam aos interesses das artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e
comunidades indígenas; diversidade cultural que compõem as ações educativas, a
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de organização e a gestão curricular são componentes integrantes
acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena. do projeto político-pedagógico, devendo ser previstas as
prioridades institucionais que a identificam, definindo o
Seção VI conjunto das ações educativas próprias das etapas da Educação
Educação a Distância Básica assumidas, de acordo com as especificidades que lhes
correspondam, preservando a sua articulação sistêmica.
Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se
pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de
aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendizagens,
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e entendidos como cidadãos com direitos à proteção e à
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou participação social, deve contemplar:
tempos diversos. I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo;
Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da
programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação aprendizagem e mobilidade escolar;
Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos –
Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de vista
estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, como
normas complementares desses sistemas. base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento-cultura-
professor-estudante e instituição escolar;
Seção VII IV - as bases norteadoras da organização do trabalho
Educação Escolar Quilombola pedagógico;
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por
Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, refletem na escola;
requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade VI - os fundamentos da gestão democrática, compartilhada
étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de e participativa (órgãos colegiados e de representação
seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a estudantil);
base nacional comum e os princípios que orientam a Educação VII - o programa de acompanhamento de acesso, de
Básica brasileira. permanência dos estudantes e de superação da retenção
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolar;
escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser VIII - o programa de formação inicial e continuada dos
reconhecida e valorizada a diversidade cultural. profissionais da educação, regentes e não regentes;
IX - as ações de acompanhamento sistemático dos resultados
TÍTULO VII do processo de avaliação interna e externa (Sistema de
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZAÇÃO Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados
DAS estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica),
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA A incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complementem ou
EDUCAÇÃO BÁSICA substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e
outros;
Art. 42. São elementos constitutivos para a X - a concepção da organização do espaço físico da
operacionalização destas Diretrizes o projeto político- instituição escolar de tal modo que este seja compatível com as
pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a características de seus sujeitos, que atenda as normas de
gestão democrática e a organização da escola; o professor e o acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação,
programa de formação docente. deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.

CAPÍTULO I Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela


O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMENTO comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um
ESCOLAR dos instrumentos de execução do projeto político-pedagógico,
com transparência e responsabilidade.
Art. 43. O projeto político-pedagógico, Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e da
interdependentemente da autonomia pedagógica, finalidade da instituição, da relação da gestão democrática com
administrativa e de gestão financeira da instituição os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e sujeitos,
educacional, representa mais do que um documento, sendo um das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios de acesso,
dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de promoção, mobilidade do estudante, dos direitos e deveres dos
qualidade social. seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e funcionários,

Legislação 53
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

gestores, famílias, representação estudantil e função das suas Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudantes com
instâncias colegiadas. atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, encontram-se em
descompasso de idade, por razões como ingresso tardio,
CAPÍTULO II retenção, dificuldades no processo de ensino-aprendizagem ou
AVALIAÇÃO outras.

Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreende 3 Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo que
(três) dimensões básicas: esta deve preservar a sequência do currículo e observar as
I - avaliação da aprendizagem; normas do respectivo sistema de ensino, requerendo o redesenho
II - avaliação institucional interna e externa; da organização das ações pedagógicas, com previsão de horário
III - avaliação de redes de Educação Básica. de trabalho e espaço de atuação para professor e estudante, com
conjunto próprio de recursos didático-pedagógico.
Seção I
Avaliação da aprendizagem Art. 51. As escolas que utilizam organização por série podem
adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da avaliação do
Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na processo ensino-aprendizagem, diversas formas de progressão,
concepção de educação que norteia a relação professor- inclusive a de progressão continuada, jamais entendida como
estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um promoção automática, o que supõe tratar o conhecimento como
ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avaliativa, processo e vivência que não se harmoniza com a ideia de
premissa básica e fundamental para se questionar o educar, interrupção, mas sim de construção, em que o estudante,
transformando a mudança em ato, acima de tudo, político. enquanto sujeito da ação, está em processo contínuo de
§ 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica, liga- formação, construindo significados.
se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar, refazer
o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, aponta para Seção III
uma avaliação global, que vai além do aspecto quantitativo, Avaliação institucional
porque identifica o desenvolvimento da autonomia do
estudante, que é indissociavelmente ético, social, intelectual. Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista
§ 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendizagem no projeto político-pedagógico e detalhada no plano de gestão,
tem, como referência, o conjunto de conhecimentos, habilidades, realizada anualmente, levando em consideração as orientações
atitudes, valores e emoções que os sujeitos do processo educativo contidas na regulamentação vigente, para rever o conjunto de
projetam para si de modo integrado e articulado com aqueles objetivos e metas a serem concretizados, mediante ação dos
princípios definidos para a Educação Básica, redimensionados diversos segmentos da comunidade educativa, o que pressupõe
para cada uma de suas etapas, bem assim no projeto político- delimitação de indicadores compatíveis com a missão da escola,
pedagógico da escola. além de clareza quanto ao que seja qualidade social da
§ 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada mediante aprendizagem e da escola.
acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança,
sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando de acesso ao Seção IV
Ensino Fundamental. Avaliação de redes de Educação Básica
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamental e
no Ensino Médio, de caráter formativo predominando sobre o Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
quantitativo e classificatório, adota uma estratégia de periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e
progresso individual e contínuo que favorece o crescimento do engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que os
educando, preservando a qualidade necessária para a sua resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade se a
formação escolar, sendo organizada de acordo com regras escola apresenta qualidade suficiente para continuar
comuns a essas duas etapas. funcionando como está.

Seção II CAPÍTULO III


Promoção, aceleração de estudos e classificação GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Fundamental Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho
e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qualquer ano, série, pedagógico e da gestão da escola conceber a organização e a
ciclo, módulo ou outra unidade de percurso adotada, exceto na gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedimentos
primeira do Ensino Fundamental, alicerçando-se na orientação que viabilizam o trabalho expresso no projeto político-
de que a avaliação do rendimento escolar observará os seguintes pedagógico e em planos da escola, em que se conformam as
critérios: condições de trabalho definidas pelas instâncias colegiadas.
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as do seu
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os sistema de ensino, têm incumbências complexas e abrangentes,
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de que exigem outra concepção de organização do trabalho
eventuais provas finais; pedagógico, como distribuição da carga horária, remuneração,
II - possibilidade de aceleração de estudos para estudantes estratégias claramente definidas para a ação didático-
com atraso escolar; pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação de novas
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante abordagens e práticas metodológicas, incluindo a produção de
verificação do aprendizado; recursos didáticos adequados às condições da escola e da
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito; comunidade em que esteja ela inserida.
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino público e
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que
estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto no implica decisões coletivas que pressupõem a participação da
regimento escolar. comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos
princípios e finalidades da educação.

Legislação 54
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve se qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética,
empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e da ambiental.
pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado § 1º A valorização do profissional da educação escolar
possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é a de se vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas
fundamentar em princípio educativo emancipador, expresso na se associam à exigência de programas de formação inicial e
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o continuada de docentes e não docentes, no contexto do conjunto
pensamento, a arte e o saber. de múltiplas atribuições definidas para os sistemas educativos,
em que se inscrevem as funções do professor.
Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instrumento § 2º Os programas de formação inicial e continuada dos
de horizontalização das relações, de vivência e convivência profissionais da educação, vinculados às orientações destas
colegiada, superando o autoritarismo no planejamento e na Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho de suas
concepção e organização curricular, educando para a conquista atribuições, considerando necessário:
da cidadania plena e fortalecendo a ação conjunta que busca a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber
criar e recriar o trabalho da e na escola mediante: pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é,
I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convivência b) trabalhar cooperativamente em equipe;
social libertadora fundamentada na ética cidadã; c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
II - a superação dos processos e procedimentos burocráticos, instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica,
assumindo com pertinência e relevância: os planos pedagógicos, econômica e organizativa;
os objetivos institucionais e educacionais, e as atividades de d) desenvolver competências para integração com a
avaliação contínua; comunidade e para relacionamento com as famílias.
III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comunidade
educacional discutam a própria práxis pedagógica Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não
impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a sua esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e
própria comunidade, valorizando-a, situando-a no contexto das habilidades referidas, razão pela qual um programa de
relações sociais e buscando soluções conjuntas; formação continuada dos profissionais da educação será
IV - a construção de relações interpessoais solidárias, contemplado no projeto político-pedagógico.
geridas de tal modo que os professores se sintam estimulados a
conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho, estudantes, Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações
famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as suas dificuldades para que o projeto de formação dos profissionais preveja:
e expectativas pessoais e profissionais; a) a consolidação da identidade dos profissionais da
V - a instauração de relações entre os estudantes, educação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
proporcionando-lhes espaços de convivência e situações de b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se compreender do professor, assim como da autonomia docente tanto individual
e se organizar em equipes de estudos e de práticas esportivas, como coletiva;
artísticas e políticas; c) a definição de indicadores de qualidade social da
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola interage, profissionais da educação revejam os projetos dos cursos de
em busca da qualidade social das aprendizagens que lhe caiba formação inicial e continuada de docentes, de modo que
desenvolver, com transparência e responsabilidade. correspondam às exigências de um projeto de Nação.

CAPÍTULO IV Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua


O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA publicação.

Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamentação da Questões


ação docente e os programas de formação inicial e continuada
dos profissionais da educação instauram, reflete-se na eleição de 01. (SEDF - Conhecimentos Básicos - CESPE/2017).
um ou outro método de aprendizagem, a partir do qual é Julgue o item subsequente, à luz das Diretrizes Curriculares
determinado o perfil de docente para a Educação Básica, em Nacionais Gerais para a Educação Básica.
atendimento às dimensões técnicas, políticas, éticas e estéticas. As diretrizes em questão têm como fundamento o
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de compromisso com a educação integral de todos, atendendo às
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, dimensões orgânica, sequencial e articulada da educação
professores ou especialistas, deverão incluir em seus currículos básica
e programas: ( ) Certo ( ) Errado
a) o conhecimento da escola como organização complexa
que tem a função de promover a educação para e na cidadania; 02. (SEDF - Conhecimentos Básicos - CESPE/2017).
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de Julgue o item subsequente, à luz das Diretrizes Curriculares
investigações de interesse da área educacional; Nacionais Gerais para a Educação Básica.
c) a participação na gestão de processos educativos e na As referidas diretrizes foram elaboradas à luz dos
organização e funcionamento de sistemas e instituições de princípios constitucionais e da Lei de Diretrizes e Bases da
ensino; Educação Nacional e se operacionalizam no princípio da
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à gestão tecnocrática.
construção do projeto político-pedagógico, mediante trabalho ( ) Certo ( ) Errado
coletivo de que todos os que compõem a comunidade escolar são
responsáveis. 03. (IF/TO - Pedagogo - 2017). A Resolução CNE/CEB nº
04/2010 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação a Educação Básica. Conforme esse documento para a
nacional está a valorização do profissional da educação, com a organização da Educação Básica, devem-se observar as
compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas
etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas as

Legislação 55
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. São dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei nº 9.394/96, na Lei
consideradas modalidades da Educação Básica. nº 11.274/2006, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº
(A) Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio 11/2010, homologado por Despacho do Senhor Ministro de
e Educação Especial. Estado da Educação, publicado no DOU de 9 de dezembro de
(B) Educação Especial, Educação Profissional e 2010, resolve:
Tecnológica, Pedagogia da Terra e Educação Escolar Indígena.
(C) Educação de Tempo integral, Educação Tecnológica, Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curriculares
Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a serem
Distância. observadas na organização curricular dos sistemas de ensino e
(D) Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, de suas unidades escolares.
Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo,
Educação Escolar Indígena e Educação a Distância. Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
(E) Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se com as Diretrizes
Tecnológica, Educação do Campo e Educação a Distância e Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer
Educação Religiosa. CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e reúnem
princípios, fundamentos e procedimentos definidos pelo
04. (SEDUC/PI - Professor - Informática - NUCEPE) A Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas
Didática constitui disciplina essencial nos processos de públicas educacionais e a elaboração, implementação e
formação de professores, notadamente articulando o saber, o avaliação das orientações curriculares nacionais, das propostas
saber-ser e o saber-fazer. No contexto dessa análise, pode-se curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, e
afirmar CORRETAMENTE, acerca da concepção tradicional de dos projetos político-pedagógicos das escolas.
Didática que: Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais
(A) refere-se a um conjunto de procedimentos universais aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental
relativos à docência; previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
(B) afirma a neutralidade científica do método, a bem como à Educação do Campo, à Educação Escolar Indígena
preocupação com os meios desvinculados dos fins e do e à Educação Escolar Quilombola.
contexto;
(C) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de FUNDAMENTOS
ensino, buscando articular escola/sociedade;
(D) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito
como um conjunto de normas prescritivas centradas no público subjetivo de cada um e como dever do Estado e da
método; família na sua oferta a todos.
(E) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de
educação desvinculados dos princípios educacionais. Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requisito de
05. (SEE/AL - Todos os Cargos - CESPE) Com relação à seleção.
didática e à sua prática histórico-social, julgue o item a seguir. Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino
O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva, deverão trabalhar considerando essa etapa da educação como
racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o acesso ao
contraposição ao enfoque humanista. conhecimento e aos elementos da cultura imprescindíveis para
( ) Certo ( ) Errado o seu desenvolvimento pessoal e para a vida em sociedade, assim
como os benefícios de uma formação comum,
Gabarito independentemente da grande diversidade da população
escolar e das demandas sociais.
01. Certo. / 02. Errado. / 03. D. / 04. D. / 05. Certa.
Art. 5º O direito à educação, entendido como um direito
inalienável do ser humano, constitui o fundamento maior destas
Diretrizes. A educação, ao proporcionar o desenvolvimento do
BRASIL. Resolução CNE/CEB potencial humano, permite o exercício dos direitos civis,
07/2010 – Diretrizes políticos, sociais e do direito à diferença, sendo ela mesma
também um direito social, e possibilita a formação cidadã e o
Curriculares Nacionais para o usufruto dos bens sociais e culturais.
Ensino Fundamental de 9 § 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma
(nove) anos. Brasília: CNE, educação com qualidade social, igualmente entendida como
direito humano.
2010 § 2º A educação de qualidade, como um direito fundamental,
é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa.
I -A relevância reporta-se à promoção de aprendizagens
significativas do ponto de vista das exigências sociais e de
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRO DE 20106
desenvolvimento pessoal.
II - A pertinência refere-se à possibilidade de atender às
Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
necessidades e às características dos estudantes de diversos
Fundamental de 9 (nove) anos.
contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades e
interesses.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
III - A equidade alude à importância de tratar de forma
Nacional de Educação, de conformidade com o disposto na
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto de
alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação
partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendizagens

6http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alia

s=7246-rceb007-10&category_slug=dezembro-2010-pdf&Itemid=30192. Acesso
em 10/05/2018 às 15h34min.

Legislação 56
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de direito à § 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de


educação. crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da
pobreza e das desigualdades, a equidade requer que sejam Lei e das normas nacionais vigentes.
oferecidos mais recursos e melhores condições às escolas menos § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa
providas e aos alunos que deles mais necessitem. Ao lado das data deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-
políticas universais, dirigidas a todos sem requisito de seleção, é Escola).
preciso também sustentar políticas reparadoras que assegurem § 3º A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental
maior apoio aos diferentes grupos sociais em desvantagem. regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em,
§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualdade do pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar.
acesso de todos ao conhecimento e especialmente empenhada
em garantir esse acesso aos grupos da população em CURRÍCULO
desvantagem na sociedade, será uma educação com qualidade
social e contribuirá para dirimir as desigualdades Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendido,
historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, a nesta Resolução, como constituído pelas experiências escolares
permanência e o sucesso na escola, com a consequente redução que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas
da evasão, da retenção e das distorções de idade/ano/série. relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos
alunos com os conhecimentos historicamente acumulados e
PRINCÍPIOS contribuindo para construir as identidades dos estudantes.
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que as
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão, como orientações e as propostas curriculares que provêm das diversas
norteadores das políticas educativas e das ações pedagógicas, os instâncias só terão concretude por meio das ações educativas
seguintes princípios: que envolvem os alunos.
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; § 2º As experiências escolares abrangem todos os aspectos
de respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso do ambiente escolar, aqueles que compõem a parte explícita do
com a promoção do bem de todos, contribuindo para combater currículo, bem como os que também contribuem, de forma
e eliminar quaisquer manifestações de preconceito de origem, implícita, para a aquisição de conhecimentos socialmente
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade e orientações de
discriminação. conduta são veiculados não só pelos conhecimentos, mas por
II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de meio de rotinas, rituais, normas de convívio social, festividades,
cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime pela distribuição do tempo e organização do espaço educativo,
democrático e dos recursos ambientais; da busca da equidade no pelos materiais utilizados na aprendizagem e pelo recreio,
acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e enfim, pelas vivências proporcionadas pela escola.
outros benefícios; da exigência de diversidade de tratamento § 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as
para assegurar a igualdade de direitos entre os alunos que diferentes instâncias que produzem orientações sobre o
apresentam diferentes necessidades; da redução da pobreza e currículo, as escolas e os professores selecionam e transformam
das desigualdades sociais e regionais. a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, ao mesmo
III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com o tempo em que servem de elementos para a formação ética,
da racionalidade; do enriquecimento das formas de expressão e estética e política do aluno.
do exercício da criatividade; da valorização das diferentes
manifestações culturais, especialmente a da cultura brasileira; BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA:
da construção de identidades plurais e solidárias. COMPLEMENTARIDADE

Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformidade Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma base
com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propostas nacional comum, complementada em cada sistema de ensino e
curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o em cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada.
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para
o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada do
no trabalho e em estudos posteriores, mediante os objetivos currículo do Ensino Fundamental constituem um todo integrado
previstos para esta etapa da escolarização, a saber: e não podem ser consideradas como dois blocos distintos.
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo § 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do diversificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita a
cálculo; sintonia dos interesses mais amplos de formação básica do
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema cidadão com a realidade local, as necessidades dos alunos, as
político, das artes, da tecnologia e dos valores em que se características regionais da sociedade, da cultura e da economia
fundamenta a sociedade; e perpassa todo o currículo.
III– a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a § 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao
formação de atitudes e valores como instrumentos para uma interesse social e à preservação da ordem democrática, os
visão crítica do mundo; conhecimentos que fazem parte da base nacional comum a que
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de todos devem ter acesso, independentemente da região e do lugar
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se em que vivem, asseguram a característica unitária das
assenta a vida social. orientações curriculares nacionais, das propostas curriculares
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, e dos projetos
MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) político-pedagógicos das escolas.
ANOS E CARGA HORÁRIA § 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte
diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enriquecer o
anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 currículo, assegurando a contextualização dos conhecimentos
(quatorze) anos de idade e se estende, também, a todos os que, escolares em face das diferentes realidades.
na idade própria, não tiveram condições de frequentá-lo.

Legislação 57
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional comum parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
e a parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no componente curricular dos horários normais das escolas
desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho, na públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à
cultura e na tecnologia, na produção artística, nas atividades diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer
desportivas e corporais, na área da saúde e ainda incorporam formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei nº 9.394/96.
saberes como os que advêm das formas diversas de exercício da
cidadania, dos movimentos sociais, da cultura escolar, da Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de
experiência docente, do cotidiano e dos alunos. conhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir das
possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem de
Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são constituídos temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida
por componentes curriculares que, por sua vez, se articulam com humana em escala global, regional e local, bem como na esfera
as áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, Matemática, individual. Temas como saúde, sexualidade e gênero, vida
Ciências da Natureza e Ciências Humanas. As áreas de familiar e social, assim como os direitos das crianças e
conhecimento favorecem a comunicação entre diferentes adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do
conhecimentos sistematizados e entre estes e outros saberes, Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambiente,
mas permitem que os referenciais próprios de cada componente nos termos da política nacional de educação ambiental (Lei nº
curricular sejam preservados. 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, trabalho,
ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem permear o
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino desenvolvimento dos conteúdos da base nacional comum e da
Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme o art. parte diversificada do currículo.
26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa e da § 1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº
Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas relativos
realidade social e política, especialmente a do Brasil, bem como à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) e à
o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso. educação para o trânsito.
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino trabalhar os componentes curriculares, as áreas de
Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de conhecimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada,
conhecimento: conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
I – Linguagens: Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução
a) Língua Portuguesa; CNE/CEB nº 4/2010).
b) Língua Materna, para populações indígenas; § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino compete a
c) Língua Estrangeira moderna; produção e a disseminação de materiais subsidiários ao
d) Arte; e trabalho docente, que contribuam para a eliminação de
e) Educação Física; discriminações, racismo, sexismo, homofobia e outros
II – Matemática; preconceitos e que conduzam à adoção de comportamentos
III – Ciências da Natureza; responsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio
IV – Ciências Humanas: ambiente.
a) História;
b) Geografia; Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino
V – Ensino Religioso. Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna,
portuguesa, assegurada também às comunidades indígenas a cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar.
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras modernas, a
aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da Constituição língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da Lei nº
Federal. 11.161/2005.
§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
africana e europeia. Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove)
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, anos de duração exige a estruturação de um projeto educativo
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no coerente, articulado e integrado, de acordo com os modos de ser
âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de e de se desenvolver das crianças e adolescentes nos diferentes
Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a História da contextos sociais.
África, deverão assegurar o conhecimento e o reconhecimento
desses povos para a constituição da nação (conforme art. 26-A Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a que se
da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei nº 11.645/2008). Sua refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos e
inclusão possibilita ampliar o leque de referências culturais de espaços interdependentes e articulados entre si, ao longo dos 9
toda a população escolar e contribui para a mudança das suas (nove) anos de duração do Ensino Fundamental.
concepções de mundo, transformando os conhecimentos comuns
veiculados pelo currículo e contribuindo para a construção de GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO
identidades mais plurais e solidárias. GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo, do componente curricular Arte, o qual compreende Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político-
também as artes visuais, o teatro e a dança, conforme o § 6º do pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo com a
art. 26 da Lei nº 9.394/96. proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio de
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do currículo processos participativos relacionados à gestão democrática.
do Ensino Fundamental, integra a proposta político-pedagógica § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a
da escola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias proposta educativa construída pela comunidade escolar no
previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. exercício de sua autonomia, com base nas características dos
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo como

Legislação 58
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

referência as orientações curriculares nacionais e dos com base em temas geradores formulados a partir de questões
respectivos sistemas de ensino. da comunidade e articulados aos componentes curriculares e às
§ 2º Será assegurada ampla participação dos profissionais áreas de conhecimento, currículos em rede, propostas
da escola, da família, dos alunos e da comunidade local na ordenadas em torno de conceitos-chave ou conceitos nucleares
definição das orientações imprimidas aos processos educativos que permitam trabalhar as questões cognitivas e as questões
e nas formas de implementá-las, tendo como apoio um processo culturais numa perspectiva transversal, e projetos de trabalho
contínuo de avaliação das ações, a fim de garantir a distribuição com diversas acepções.
social do conhecimento e contribuir para a construção de uma § 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, redes e
sociedade democrática e igualitária. sistemas de ensino serão articulados ao desenvolvimento dos
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições componentes curriculares e às áreas de conhecimento,
institucionais adequadas para a execução do projeto político- observadas as disposições contidas nas Diretrizes Curriculares
pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com Nacionais Gerais para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB
qualidade social, igualmente garantida a ampla participação da nº 4/2010, art. 17) e nos termos do Parecer que dá base à
comunidade escolar na sua elaboração. presente Resolução.
§ 4º O projeto político-pedagógico e o regimento escolar, em
conformidade com a legislação e as normas vigentes, conferirão Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade
espaço e tempo para que os profissionais da escola e, em sociocultural da população escolar, as desigualdades de acesso
especial, os professores, possam participar de reuniões de ao consumo de bens culturais e a multiplicidade de interesses e
trabalho coletivo, planejar e executar as ações educativas de necessidades apresentadas pelos alunos no desenvolvimento de
modo articulado, avaliar os trabalhos dos alunos, tomar parte metodologias e estratégias variadas que melhor respondam às
em ações de formação continuada e estabelecer contatos com a diferenças de aprendizagem entre os estudantes e às suas
comunidade. demandas.
§ 5º Na implementação de seu projeto político-pedagógico,
as escolas se articularão com as instituições formadoras com Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão
vistas a assegurar a formação continuada de seus profissionais. adequadas condições de trabalho aos seus profissionais e o
provimento de outros insumos, de acordo com os padrões
Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino mínimos de qualidade referidos no inciso IX do art. 4º da Lei nº
Fundamental e no regimento escolar, o aluno, centro do 9.394/96 e em normas específicas estabelecidas pelo Conselho
planejamento curricular, será considerado como sujeito que Nacional de Educação, com vistas à criação de um ambiente
atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas sociais propício à aprendizagem, com base:
que vivencia, produzindo cultura e construindo sua identidade I – no trabalho compartilhado e no compromisso individual
pessoal e social. e coletivo dos professores e demais profissionais da escola com a
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno tomará aprendizagem dos alunos;
parte ativa na discussão e na implementação das normas que II – no atendimento às necessidades específicas de
regem as formas de relacionamento na escola, fornecerá aprendizagem de cada um mediante abordagens apropriadas;
indicações relevantes a respeito do que deve ser trabalhado no III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e nos
currículo e será incentivado a participar das organizações espaços sociais e culturais do entorno;
estudantis. IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando que a
aprendizagem seja relevante e socialmente significativa;
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental deve V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com as
empenhar-se na promoção de uma cultura escolar acolhedora e famílias.
respeitosa, que reconheça e valorize as experiências dos alunos Parágrafo único. Como protagonistas das ações
atendendo as suas diferenças e necessidades específicas, de pedagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no
modo a contribuir para efetivar a inclusão escolar e o direito de reconhecimento e valorização da experiência do aluno e da
todos à educação. cultura local que contribui para construir identidades
afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos mais
Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagógico, o complexos de análise da realidade que possibilitem o acesso a
cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, resultarão níveis universais de explicação dos fenômenos, propiciando-lhes
em ações integradas que buscam articular-se, os meios para transitar entre a sua e outras realidades e
pedagogicamente, no interior da própria instituição, e também culturas e participar de diferentes esferas da vida social,
externamente, com os serviços de apoio aos sistemas econômica e política.
educacionais e com as políticas de outras áreas, para assegurar Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, com
a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento do aluno em o apoio das famílias e da comunidade, envidarão esforços para
todas as suas dimensões. assegurar o progresso contínuo dos alunos no que se refere ao
seu desenvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E significativas, lançando mão de todos os recursos disponíveis e
ABORDAGENS criando renovadas oportunidades para evitar que a trajetória
escolar discente seja retardada ou indevidamente interrompida.
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos escolares § 1º Devem, portanto, adotar as providências necessárias
no currículo favorece a sua contextualização e aproxima o para que a operacionalização do princípio da continuidade não
processo educativo das experiências dos alunos. seja traduzida como “promoção automática” de alunos de um
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências ano, série ou ciclo para o seguinte, e para que o combate à
assentadas em diversas concepções de currículo integrado e repetência não se transforme em descompromisso com o ensino
interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios para e a aprendizagem.
desenvolver propostas pedagógicas que avancem na direção de § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a
um trabalho colaborativo, capaz de superar a fragmentação dos mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escolares, a
componentes curriculares. diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de integração do artísticas, a diversidade de materiais, os variados suportes
currículo, entre outros, as propostas curriculares ordenadas em literários, as atividades que mobilizem o raciocínio, as atitudes
torno de grandes eixos articuladores, projetos interdisciplinares investigativas, as abordagens complementares e as atividades

Legislação 59
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de reforço, a articulação entre a escola e a comunidade, e o a cargo do professor de referência da turma, aquele com o qual
acesso aos espaços de expressão cultural. os alunos permanecem a maior parte do período escolar, ou de
professores licenciados nos respectivos componentes.
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e conteúdos § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estrangeira
das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento do currículo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor deverá ter
contribui para o importante papel que tem a escola como licenciatura específica no componente curricular.
ambiente de inclusão digital e de utilização crítica das § 2º Nos casos em que esses componentes curriculares sejam
tecnologias da informação e comunicação, requerendo o aporte desenvolvidos por professores com licenciatura específica
dos sistemas de ensino no que se refere à: (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser assegurada a
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em número integração com os demais componentes trabalhados pelo
suficiente para o atendimento aos alunos; professor de referência da turma.
II – adequada formação do professor e demais profissionais
da escola. AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO

ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos
ESCOLAR professores e pela escola como parte integrante da proposta
curricular e da implementação do currículo, é
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um percurso redimensionadora da ação pedagógica e deve:
contínuo de aprendizagens torna imperativa a articulação de I – assumir um caráter processual, formativo e participativo,
todas as etapas da educação, especialmente do Ensino ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
Fundamental com a Educação Infantil, dos anos iniciais e dos a) Identificar potencialidades e dificuldades de
anos finais no interior do Ensino Fundamental, bem como do aprendizagem e detectar problemas de ensino;
Ensino Fundamental com o Ensino Médio, garantindo a b) Subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias e
qualidade da Educação Básica. abordagens de acordo com as necessidades dos alunos, criar
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam antes condições de intervir de modo imediato e a mais longo prazo
da sua entrada no Ensino Fundamental e a recuperação do para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho docente;
caráter lúdico do ensino contribuirão para melhor qualificar a c) Manter a família informada sobre o desempenho dos
ação pedagógica junto às crianças, sobretudo nos anos iniciais alunos;
dessa etapa da escolarização. d) Reconhecer o direito do aluno e da família de discutir os
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais do resultados de avaliação, inclusive em instâncias superiores à
Ensino Fundamental, especial atenção será dada: escola, revendo procedimentos sempre que as reivindicações
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da oferta forem procedentes.
educativa dos alunos transferidos das redes municipais para as II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais como
estaduais; a observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos
II – pelas escolas, à coordenação das demandas específicas individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, provas,
feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de que os questionários, dentre outros, tendo em conta a sua adequação à
estudantes possam melhor organizar as suas atividades diante faixa etária e às características de desenvolvimento do
das solicitações muito diversas que recebem. educando;
III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem aprendizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os
assegurar: resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
I – a alfabetização e o letramento; finais, tal como determina a alínea “a” do inciso V do art. 24 da
II – o desenvolvimento das diversas formas de expressão, Lei nº 9.394/96;
incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os alunos
Música e demais artes, a Educação Física, assim como o com menor rendimento tenham condições de ser devidamente
aprendizado da Matemática, da Ciência, da História e da atendidos ao longo do ano letivo;
Geografia; V – prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação, de
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a preferência paralelos ao período letivo, como determina a Lei nº
complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a 9.394/96;
repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos conteúdos
e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com frequência
ano de escolaridade e deste para o terceiro. insuficiente, evitando, sempre que possível, a retenção por faltas;
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos
de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será com defasagem idade-série.
necessário considerar os três anos iniciais do Ensino
Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos
não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os professores e pela escola serão articulados às avaliações
alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento realizadas em nível nacional e às congêneres nos diferentes
das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o Estados e Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar os
prosseguimento dos estudos. sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da
§ 2º Considerando as características de desenvolvimento dos qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos.
alunos, cabe aos professores adotar formas de trabalho que § 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos
proporcionem maior mobilidade das crianças nas salas de aula indicadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os
e as levem a explorar mais intensamente as diversas linguagens sistemas de ensino e a comunidade escolar a redimensionarem
artísticas, a começar pela literatura, a utilizar materiais que as práticas educativas com vistas ao alcance de melhores
ofereçam oportunidades de raciocinar, manuseando-os e resultados.
explorando as suas características e propriedades. § 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos refere-se
apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas escolas,
Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os de sorte que as referências para o currículo devem continuar
componentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar sendo as contidas nas propostas político-pedagógicas das

Legislação 60
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

escolas, articuladas às orientações e propostas curriculares dos construção de redes sociais e de cidades educadoras.
sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao que é avaliado pelos § 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos
testes de larga escala. sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão que o
atendimento dos alunos na escola de tempo integral possua
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos político- infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além do que, esse
pedagógicos das escolas devem expressar com clareza o que é atendimento terá caráter obrigatório e será passível de
esperado dos alunos em relação à sua aprendizagem. avaliação em cada escola.

Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
aliados à avaliação das escolas e de seus professores, tendo em E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
conta os parâmetros de referência dos insumos básicos
necessários à educação de qualidade para todos nesta etapa da Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação rural
educação e respectivo custo aluno-qualidade inicial (CAQi), na legislação brasileira, incorpora os espaços da floresta, da
consideradas inclusive as suas modalidades e as formas pecuária, das minas e da agricultura e se estende, também, aos
diferenciadas de atendimento como a Educação do Campo, a espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas,
Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar Quilombola e as conforme as Diretrizes para a Educação Básica do Campo.
escolas de tempo integral.
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar
aprendizagem dos alunos e da qualidade da educação obriga: Quilombola são, respectivamente, oferecidas em unidades
I – os sistemas de ensino a incrementarem os dispositivos da educacionais inscritas em suas terras e culturas e, para essas
carreira e de condições de exercício e valorização do magistério populações, estão assegurados direitos específicos na
e dos demais profissionais da educação e a oferecerem os Constituição Federal que lhes permitem valorizar e preservar as
recursos e apoios que demandam as escolas e seus profissionais suas culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico.
para melhorar a sua atuação; § 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das ordenamentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares
oportunidades educativas por elas oferecidas aos educandos, Nacionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue, com
reforçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas vistas à afirmação e à manutenção da diversidade étnica e
oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem. linguística, assegurarão a participação da comunidade no seu
modelo de edificação, organização e gestão, e deverão contar
A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL com materiais didáticos produzidos de acordo com o contexto
cultural de cada povo (Parecer CNE/CEB nº 14/99 e Resolução
Art. 36 Considera-se como de período integral a jornada CNE/CEB nº 3/99).
escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, § 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola
perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos, 1.400 (mil deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação por
e quatrocentas) horas. meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas.
Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sistemas de
ensino, conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento Art. 40 O atendimento escolar às populações do campo,
da carga horária mínima diária e, consequentemente, da carga povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas
horária anual, com vistas à maior qualificação do processo de peculiares condições de vida e a utilização de pedagogias
ensino-aprendizagem, tendo como horizonte o atendimento condizentes com as suas formas próprias de produzir
escolar em período integral. conhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo integral Resolução CNE/CEB nº 4/2010).
promoverá a ampliação de tempos, espaços e oportunidades § 1º As escolas das populações do campo, dos povos
educativas e o compartilhamento da tarefa de educar e cuidar indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação ativa
entre os profissionais da escola e de outras áreas, as famílias e das comunidades locais nas decisões referentes ao currículo,
outros atores sociais, sob a coordenação da escola e de seus estarão ampliando as oportunidades de:
professores, visando alcançar a melhoria da qualidade da I - reconhecimento de seus modos próprios de vida, suas
aprendizagem e da convivência social e diminuir as diferenças culturas, tradições e memórias coletivas, como fundamentais
de acesso ao conhecimento e aos bens culturais, em especial para a constituição da identidade das crianças, adolescentes e
entre as populações socialmente mais vulneráveis. adultos;
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido como II – valorização dos saberes e do papel dessas populações na
um projeto educativo integrado, implica a ampliação da jornada produção de conhecimentos sobre o mundo, seu ambiente
escolar diária mediante o desenvolvimento de atividades como natural e cultural, assim como as práticas ambientalmente
o acompanhamento pedagógico, o reforço e o aprofundamento sustentáveis que utilizam;
da aprendizagem, a experimentação e a pesquisa científica, a III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das
cultura e as artes, o esporte e o lazer, as tecnologias da comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cultivo da
comunicação e informação, a afirmação da cultura dos direitos língua materna na escola para estes últimos, como elementos
humanos, a preservação do meio ambiente, a promoção da importantes de construção da identidade;
saúde, entre outras, articuladas aos componentes curriculares e IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, das
às áreas de conhecimento, a vivências e práticas socioculturais. rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças relativas às
§ 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço atividades econômicas e culturais, mantido o total de horas
escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, em anuais obrigatórias no currículo;
espaços distintos da cidade ou do território em que está situada V – superação das desigualdades sociais e escolares que
a unidade escolar, mediante a utilização de equipamentos afetam essas populações, tendo por garantia o direito à
sociais e culturais aí existentes e o estabelecimento de parcerias educação;
com órgãos ou entidades locais, sempre de acordo com o § 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do campo,
respectivo projeto político-pedagógico. indígenas e quilombolas devem contemplar a diversidade nos
§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à seus aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos, éticos e
comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a estéticos, de gênero, geração e etnia.

Legislação 61
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 3º As escolas que atendem a essas populações deverão ser por docentes licenciados.
devidamente providas pelos sistemas de ensino de materiais
didáticos e educacionais que subsidiem o trabalho com a Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de
diversidade, bem como de recursos que assegurem aos alunos o Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exames de
acesso a outros bens culturais e lhes permitam estreitar o conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Parecer
contato com outros modos de vida e outras formas de CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010).
conhecimento. Parágrafo único. Considerada a prioridade de atendimento
§ 4º A participação das populações locais pode também à escolarização obrigatória, para que haja oferta capaz de
subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino quanto à contemplar o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e
produção e à oferta de materiais escolares e no que diz respeito adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com defasagem
a transporte e a equipamentos que atendam as características idade/série, tanto na sequência do ensino regular, quanto em
ambientais e socioculturais das comunidades e as necessidades Educação de Jovens e Adultos, assim como nos cursos destinados
locais e regionais. à formação profissional, torna-se necessário:
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas as
EDUCAÇÃO ESPECIAL modalidades do Ensino Fundamental;
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelecerem
Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o política própria para o atendimento desses estudantes, que
regimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão considere as suas potencialidades, necessidades, expectativas
contemplar a melhoria das condições de acesso e de em relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho,
permanência dos alunos com deficiência, transtornos globais do inclusive com programas de aceleração da aprendizagem,
desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns do quando necessário;
ensino regular, intensificando o processo de inclusão nas escolas III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos nos
públicas e privadas e buscando a universalização do períodos diurno e noturno, com avaliação em processo.
atendimento.
Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são aqueles Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adultos,
que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial e a sua
deficiência e mobilidade reduzida, por meio da utilização de duração ficará a critério de cada sistema de ensino, nos termos
materiais didáticos, dos espaços, mobiliários e equipamentos, do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como remete o Parecer
dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010. Nos
outros serviços. anos finais, ou seja, do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão ser
presenciais ou a distância, devidamente credenciados, e terão
Art. 42 O atendimento educacional especializado aos alunos 1.600 (mil e seiscentas) horas de duração.
da Educação Especial será promovido e expandido com o apoio Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os perfis e as
dos órgãos competentes. Ele não substitui a escolarização, mas faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto
contribui para ampliar o acesso ao currículo, ao proporcionar político-pedagógico da escola e o regimento escolar viabilizarão
independência aos educandos para a realização de tarefas e um modelo pedagógico próprio para essa modalidade de ensino
favorecer a sua autonomia. que permita a apropriação e a contextualização das Diretrizes
Parágrafo único. O atendimento educacional especializado Curriculares Nacionais, assegurando:
poderá ser oferecido no contra turno, em salas de recursos I – a identificação e o reconhecimento das formas de
multifuncionais na própria escola, em outra escola ou em aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização de
centros especializados e será implementado por professores e seus conhecimentos e experiências;
profissionais com formação especializada, de acordo com plano II – a distribuição dos componentes curriculares de modo a
de atendimento aos alunos que identifique suas necessidades proporcionar um patamar igualitário de formação, bem como a
educacionais específicas, defina os recursos necessários e as sua disposição adequada nos tempos e espaços educativos, em
atividades a serem desenvolvidas. face das necessidades específicas dos estudantes.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no


Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluindo,
Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamente, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição de
aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na indicadores institucionais das redes públicas e privadas,
idade própria, oportunidades educacionais adequadas às suas concorrerá para a universalização e a melhoria da qualidade do
características, interesses, condições de vida e de trabalho processo educativo.
mediante cursos e exames, conforme estabelece o art. 37, § 1º,
da Lei nº 9.394/96. A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES:
COMPROMISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE
Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a ENSINO
garantia de formação integral, da alfabetização às diferentes
etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretrizes,
situação de privação de liberdade, é pautada pela inclusão e cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
pela qualidade social e requer: I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e espaços
I – um processo de gestão e financiamento que lhe assegure dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a distribuição de
isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular; materiais didáticos e escolares adequados;
II – um modelo pedagógico próprio que permita a II – a formação continuada dos professores e demais
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curriculares profissionais da escola em estreita articulação com as
Nacionais; instituições responsáveis pela formação inicial, dispensando
III – a implantação de um sistema de monitoramento e especiais esforços quanto à formação dos docentes das
avaliação; modalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles que
IV – uma política de formação permanente de seus trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilombolas;
professores; III – a coordenação do processo de implementação do
V – maior alocação de recursos para que seja ministrada currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos no

Legislação 62
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

interior de uma mesma realidade educacional; idade completos ou a completar até o dia 31 de março do ano
IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas e em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas
ações educativas nas respectivas redes e escolas e o suprimento nacionais vigentes.
das necessidades detectadas. (C) correto, pois a resolução fixa como facultativa a
matrícula no ensino fundamental a partir dos seis anos de
Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com os idade completos ou a completar até o dia 31 de março do ano
Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá encaminhar em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas
ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta nacionais vigentes.
pública nacional, proposta de expectativas de aprendizagem dos (D) correto, pois a resolução fixa como obrigatória a
conhecimentos escolares que devem ser atingidas pelos alunos matrícula no ensino fundamental a partir dos sete anos de
em diferentes estágios do Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º, idade completos ou a completar até o dia 31 de março do ano
desta Resolução). em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educação nacionais vigentes.
elaborar orientações e oferecer outros subsídios para a
implementação destas Diretrizes. 04. (SECC/PE – Professor I – UPENET/IAUPE) O
currículo do Ensino Fundamental tem uma base nacional
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data de comum e uma parte diversificada, constituindo um todo
sua publicação, revogando- se as disposições em contrário, integrado e não podendo ser consideradas como dois blocos
especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de abril de 1998. distintos, conforme indicado na Resolução CNE/CEB nº 7 de 14
de dezembro de 2010. Nesse sentido, quem complementa a
Questões base nacional comum e quem complementa a parte
diversificada, respectivamente?
01. (Prefeitura de Nilópolis/RJ - Professor I – (A) Cada estabelecimento escolar e cada sistema de ensino.
FUNRIO/2016) Com relação ao currículo do Ensino (B) Cada sistema de ensino e cada estabelecimento escolar.
Fundamental com 9 (nove) anos de duração, a Resolução Nº (C) Cada prefeitura e cada estabelecimento escolar.
07 de 14 de dezembro de 2010/CNE/CEB prevê que: (D) Cada ministro da educação e cada estabelecimento
(A) aos órgãos executivos dos sistemas de ensino compete escolar.
a produção e a disseminação de materiais subsidiários ao (E) Cada presidente da república do Brasil e cada sistema
trabalho docente, que contribuam para a eliminação de de ensino.
discriminações, racismo, sexismo, homofobia e outros
preconceitos. 05. (Prefeitura de Suzano/SP – Diretor de Escola –
(B) em sua parte diversificada será incluído VUNESP) Ao fixar as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
obrigatoriamente, a partir do 6º ano, o ensino de, pelo menos, Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio da Resolução
duas Línguas Estrangeiras modernas. CNE/CEB Nº 7/10, o Conselho Nacional de Educação deixa
(C) o Ensino Religioso é parte integrante da formação claro qual é seu entendimento sobre currículo. Nesse sentido,
básica do cidadão e constitui componente curricular oferecido, o CNE afirma que o currículo do Ensino Fundamental é
preferencialmente, no contra turno das escolas públicas do constituído:
Ensino Fundamental. (A) pelas experiências escolares que se desdobram em
(D) a Música se constitui em conteúdo facultativo do torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais.
componente curricular Arte, assim como o Teatro e a (B) pelo conjunto das disciplinas e atividades organizadas
Literatura. pelas escolas e desenvolvidas pelos professores nos mais
diversos anos
02. (SESC/PE - Professor I – UNENET/IAUPE) Em (C) pelo conhecimento cientificamente elaborado a ser
relação ao Currículo preconizado na Resolução CNE/CEB nº 7, passado aos alunos na forma de conteúdo
de 14 de dezembro de 2010, o foco está nas experiências (D) pelo documento que propõe uma direção política e
escolares, o que significa dizer que as orientações e as pedagógica para o trabalho escolar, formulando metas,
propostas curriculares que provêm das diversas instâncias só prevendo as ações, instituindo procedimentos e instrumentos
terão concretude por meio das ações educativas que de ação.
envolvam: (E) pelo plano de ação da escola, que define o que pretende
(A) os docentes. realizar, o que pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que
(B) os pais. e com quem fazer.
(C) os coordenadores pedagógicos.
(D) os gestores escolares. Respostas
(E) os alunos.
01. Resposta: A
03. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - Professor I – 02. Resposta: E
Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - 2016) Seu Joaquim se 03. Resposta: B
descuidou do prazo de matrícula de seu filho, Rafael, que 04. Resposta: B
completou seis anos em 03/03/2016. Mesmo sendo permitida 05. Resposta: A
a matrícula após o início das aulas, Seu Joaquim não se
preocupou muito, já que acredita que a obrigatoriedade
escolar se inicia aos sete anos de idade. De acordo com a
Resolução nº 07 de 14 de dezembro de 2010, Seu Joaquim está:
(A) equivocado, pois a resolução fixa como obrigatória a
matrícula no ensino fundamental a partir dos quatro anos de
idade completos ou a completar até o dia 31 de março do ano
em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas
nacionais vigentes.
(B) equivocado, pois a resolução fixa como obrigatória a
matrícula no ensino fundamental a partir dos seis anos de

Legislação 63
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras.


Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico,
BRASIL. Resolução CNE/CEB síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno
desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos
4/2009 – Institui Diretrizes sem outra especificação.
Operacionais para o III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles
Atendimento Educacional que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento
com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou
Especializado na Educação combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e
Básica, modalidade Educação criatividade.
Especial. Brasília: CNE, 2009
Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de
recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola
de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 20097 substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também,
em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede
Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria
Educação Especial. de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal
ou dos Municípios.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, de Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Especializado
conformidade com o disposto na alínea “c” do artigo 9º da Lei nº em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada aos alunos,
4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995, bem pelo respectivo sistema de ensino, a Educação Especial de forma
como no artigo 90, no § 1º do artigo 8º e no § 1º do artigo 9º da complementar ou suplementar.
Lei nº 9.394/1996, considerando a Constituição Federal de
1988; a Lei nº 10.098/2000; a Lei nº 10.436/2002; a Lei nº Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação terão
11.494/2007; o Decreto nº 3.956/2001; o Decreto nº suas atividades de enriquecimento curricular desenvolvidas no
5.296/2004; o Decreto nº 5.626/2005; o Decreto nº 6.253/2007; âmbito de escolas públicas de ensino regular em interface com
o Decreto nº 6.571/2008; e o Decreto Legislativo nº 186/2008, e os núcleos de atividades para altas habilidades/superdotação e
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2009, homologado com as instituições de ensino superior e institutos voltados ao
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, desenvolvimento e promoção da pesquisa, das artes e dos
publicado no DOU de 24 de setembro de 2009, resolve: esportes.

Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito do
sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os alunos
transtornos globais do desenvolvimento e altas matriculados em classe comum de ensino regular público que
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular tiverem matrícula concomitante no AEE.
e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em
salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE é
Educacional Especializado da rede pública ou de instituições condicionado à matrícula no ensino regular da rede pública,
comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do ano anterior,
sendo contemplada:
Art. 2º O AEE tem como função complementar ou a) matrícula em classe comum e em sala de recursos
suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização multifuncionais da mesma escola pública;
de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que b) matrícula em classe comum e em sala de recursos
eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade multifuncionais de outra escola pública;
e desenvolvimento de sua aprendizagem. c) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se Educacional
recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram Especializado de instituição de Educação Especial pública;
condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou d) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento
mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais Educacional Especializado de instituições de Educação Especial
didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos
transportes e dos demais serviços. Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de
competência dos professores que atuam na sala de recursos
Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os níveis, multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os
etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte demais professores do ensino regular, com a participação das
integrante do processo educacional. famílias e em interface com os demais serviços setoriais da
saúde, da assistência social, entre outros necessários ao
Art. 4º Para fins destas Diretrizes, considera-se público-alvo atendimento.
do AEE:
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino regular
longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: organização:
aqueles que apresentam um quadro de alterações no
desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas

7http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso em 10/05/2018


às 15h39min.

Legislação 64
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, Questões


mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de
acessibilidade e equipamentos específicos; 01. (Prefeitura de Rio Branco/AC - Cuidador Pessoal –
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino IBADE/2017). As Diretrizes Operacionais para o atendimento
regular da própria escola ou de outra escola; educacional especializado na Educação Básica, orienta que a
III – cronograma de atendimento aos alunos; escola regular deve prever na sua organização, dentre outros,
IV – plano do AEE: identificação das necessidades tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais, guia-
educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos intérprete e outros para atuar em atividades de alimentação,
necessários e das atividades a serem desenvolvidas; higiene e locomoção, como o(s):
V – professores para o exercício da docência do AEE; (A) professor de Braile.
VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete (B) profissionais de apoio.
de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que (C) instrutores de Libras
atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, (D) professores auxiliares.
higiene e locomoção; (E) profissionais de serviços gerais
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da
formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, 02. (IF/ES - Pedagogo – 2016). Com base nas Diretrizes
serviços e equipamentos, entre outros que maximizem o AEE. Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI na Educação Básica, modalidade Educação Especial,
atuam com os alunos público alvo da Educação Especial em estabelecidas pela Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009,
todas as atividades escolares nas quais se fizerem necessários. assinale a alternativa INCORRETA.
(A) O atendimento educacional especializado é ofertado
Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto pedagógico em salas de recursos multifuncionais ou em centros de
do centro de Atendimento Educacional Especializado público ou Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de
privado sem fins lucrativos, conveniado para essa finalidade, instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
deve ser aprovada pela respectiva Secretaria de Educação ou fins lucrativos.
órgão equivalente, contemplando a organização disposta no (B) O atendimento educacional especializado tem como
artigo 10 desta Resolução. função complementar ou suplementar a formação do aluno
por meio da disponibilização de serviços, recursos de
Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacional acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para
Especializado devem cumprir as exigências legais estabelecidas sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua
pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino, aprendizagem.
quanto ao seu credenciamento, autorização de funcionamento e (C) O atendimento educacional especializado é realizado,
organização, em consonância com as orientações preconizadas prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da
nestas Diretrizes Operacionais. própria escola ou em outra escola de ensino regular, no mesmo
turno da escolarização, podendo ser substitutivo às classes
Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter formação comuns.
inicial que o habilite para o exercício da docência e formação (D) Em casos de atendimento educacional especializado
específica para a Educação Especial. em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada aos
alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educação Especial
Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento de forma complementar ou suplementar.
Educacional Especializado: (E) O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve
I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, institucionalizar a oferta do atendimento educacional
recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias especializado prevendo, na sua organização: sala de recursos
considerando as necessidades específicas dos alunos público- multifuncionais, professores para o exercício da docência do
alvo da Educação Especial; atendimento educacional especializado, plano do
II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional atendimento, entre outros serviços.
Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos
recursos pedagógicos e de acessibilidade; 03. (Prefeitura de Suzano/SP - Diretor de Escola –
III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos VUNESP/2015). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
na sala de recursos multifuncionais; assegura o serviço de apoio especializado, ou atendimento
IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos educacional especializado, às pessoas portadoras de
recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum deficiência, sempre que for necessário para atender as suas
do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; necessidades. Nesta direção, a Resolução CNE/CEB N o 4/09
V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na instituiu as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de Educacional Especializado (AEE) na Educação Básica,
acessibilidade; modalidade Educação Especial. Em relação ao AEE, é correto
VI – orientar professores e famílias sobre os recursos afirmar que
pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; (A) constitui em um serviço, totalmente desvinculado do
VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar processo educacional, atrelado à Educação Especial, oferecido
habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e aos portadores de deficiência, como forma de assegurarem
participação; condições de acesso ao currículo escolar
VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de (B) deve ser realizado, prioritariamente, na sala de
aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola
recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que de ensino regular, como substitutivo às classes comuns.
promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. (C) tem o financiamento das matrículas, também para os
alunos da rede particular de ensino, contemplado pelo
Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
publicação, revogadas as disposições em contrário. Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação)
Cesar Callegari

Legislação 65
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

(D) deve ter sua proposta elaborada pelos gestores das bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos
respectivas escolas, com assessoria de profissionais socialmente relevantes.
especialistas na áreas de Educação Especial e executados pelos Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacionais
professores e demais profissionais. podem funcionar como elemento catalisador de ações na
(E) tem como função complementar ou suplementar a busca de uma melhoria da qualidade da educação brasileira,
formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, de modo algum pretendem resolver todos os problemas que
recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no País. A
barreiras para sua plena participação na sociedade e busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos em
desenvolvimento de sua aprendizagem. diferentes frentes, como a formação inicial e continuada de
professores, uma política de salários dignos, um plano de
Gabarito carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivos
e de multimídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas
01. B. / 02. C. / 03. E. esta qualificação almejada implica colocar também, no centro
do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem e
a questão curricular como de inegável importância para a
BRASIL. Secretaria de política educacional da nação brasileira.
Educação Fundamental. [...]
Parâmetros Curriculares PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS
Nacionais: introdução. CURRICULARES NACIONAIS
Brasília: MEC/SEF, 2ª ed. (1ª a Na sociedade democrática, ao contrário do que ocorre nos
4ª série), Rio de Janeiro: regimes autoritários, o processo educacional não pode ser
DP&A, 2000. Volume 1 (Itens: instrumento para a imposição, por parte do governo, de um
projeto de sociedade e de nação. Tal projeto deve resultar do
Princípios e Fundamentos dos próprio processo democrático, nas suas dimensões mais
Parâmetros Curriculares amplas, envolvendo a contraposição de diferentes interesses e
Nacionais e Orientação a negociação política necessária para encontrar soluções para
os conflitos sociais.
Didática). Não se pode deixar de levar em conta que, na atual
realidade brasileira, a profunda estratificação social e a injusta
distribuição de renda têm funcionado como um entrave para
8INTRODUÇÃO AOS PARÂMETROS CURRICULARES que uma parte considerável da população possa fazer valer os
NACIONAIS seus direitos e interesses fundamentais. Cabe ao governo o
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES papel de assegurar que o processo democrático se desenvolva
O que são os Parâmetros de modo a que esses entraves diminuam cada vez mais. É papel
Curriculares Nacionais do Estado democrático investir na escola, para que ela prepare
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um e instrumentalize crianças e jovens para o processo
referencial de qualidade para a educação no Ensino democrático, forçando o acesso à educação de qualidade para
Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir todos e às possibilidades de participação social.
a coerência dos investimentos no sistema educacional, Para isso faz-se necessária uma proposta educacional que
socializando discussões, pesquisas e recomendações, tenha em vista a qualidade da formação a ser oferecida a todos
subsidiando a participação de técnicos e professores os estudantes. O ensino de qualidade que a sociedade demanda
brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais atualmente expressa-se aqui como a possibilidade de o
isolados, com menor contato com a produção pedagógica sistema educacional vir a propor uma prática educativa
atual. adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e
Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível, culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e
a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens
currículos e sobre programas de transformação da realidade essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e
educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e
pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, responsabilidade na sociedade em que vivem.
um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se O exercício da cidadania exige o acesso de todos à
sobreporia à competência político-executiva dos Estados e totalidade dos recursos culturais relevantes para a
Municípios, à diversidade sociocultural das diferentes regiões intervenção e a participação responsável na vida social. O
do País ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas. domínio da língua falada e escrita, os princípios da reflexão
O conjunto das proposições aqui expressas responde à matemática, as coordenadas espaciais e temporais que
necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação
educacional do País se organize, a fim de garantir que, científica, as condições de fruição da arte e das mensagens
respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas
religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, diferentes concepções do papel da educação no mundo
estratificada e complexa, a educação possa atuar, democrático, até outras tantas exigências que se impõem no
decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo mundo contemporâneo.
como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre
entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos. Essa a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa
igualdade implica necessariamente o acesso à totalidade dos categórica de formas de discriminação, a importância da
solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional
propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes

8Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,
primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros 1998. 174 p. <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf>

Legislação 66
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

formas de inserção sociopolítica e cultural. Apresenta-se para Mas, na medida em que o princípio da equidade reconhece
a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas
como espaço social de construção dos significados éticos para o processo educacional, tendo em vista a garantia de uma
necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de formação de qualidade para todos, o que se apresenta é a
cidadania. necessidade de um referencial comum para a formação escolar
No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho e do no Brasil, capaz de indicar aquilo que deve ser garantido a
consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a saúde, todos, numa realidade com características tão diferenciadas,
passando pela educação sexual, e a preservação do meio sem promover uma uniformização que descaracterize e
ambiente são temas que ganham um novo estatuto, num desvalorize peculiaridades culturais e regionais.
universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais É nesse sentido que o estabelecimento de uma referência
eram vistos como questões locais ou individuais, já não dão curricular comum para todo o País, ao mesmo tempo que
conta da dimensão nacional e até mesmo internacional que fortalece a unidade nacional e a responsabilidade do Governo
tais temas assumem, justificando, portanto, sua consideração. Federal com a educação, busca garantir, também, o respeito à
Nesse sentido, é papel preponderante da escola propiciar o diversidade que é marca cultural do País, mediante a
domínio dos recursos capazes de levar à discussão dessas possibilidade de adaptações que integrem as diferentes
formas e sua utilização crítica na perspectiva da participação dimensões da prática educacional.
social e política. Para compreender a natureza dos Parâmetros Curriculares
Desde a construção dos primeiros computadores, na Nacionais, é necessário situá-los em relação a quatro níveis de
metade deste século, novas relações entre conhecimento e concretização curricular considerando a estrutura do sistema
trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus efeitos é a educacional brasileiro. Tais níveis não representam etapas
exigência de um reequacionamento do papel da educação no sequenciais, mas sim amplitudes distintas da elaboração de
mundo contemporâneo, que coloca para a escola um horizonte propostas curriculares, com responsabilidades diferentes, que
mais amplo e diversificado do que aquele que, até poucas devem buscar uma integração e, ao mesmo tempo, autonomia.
décadas atrás, orientava a concepção e construção dos Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o
projetos educacionais. Não basta visar à capacitação dos primeiro nível de concretização curricular. São uma referência
estudantes para futuras habilitações em termos das nacional para o ensino fundamental; estabelecem uma meta
especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista educacional para a qual devem convergir as ações políticas do
a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para Ministério da Educação e do Desporto, tais como os projetos
a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em ligados à sua competência na formação inicial e continuada de
função de novos saberes que se produzem e demandam um professores, à análise e compra de livros e outros materiais
novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com didáticos e à avaliação nacional. Têm como função subsidiar a
novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos elaboração ou a revisão curricular dos Estados e Municípios,
ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento dialogando com as propostas e experiências já existentes,
e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais incentivando a discussão pedagógica interna das escolas e a
do que nunca, “aprender a aprender”. Isso coloca novas elaboração de projetos educativos, assim como servir de
demandas para a escola. A educação básica tem assim a função material de reflexão para a prática de professores.
de garantir condições para que o aluno construa instrumentos Todos os documentos aqui apresentados configuram uma
que o capacitem para um processo de educação permanente. referência nacional em que são apontados conteúdos e
Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e objetivos articulados, critérios de eleição dos primeiros,
aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de questões de ensino e aprendizagem das áreas, que permeiam
metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias a prática educativa de forma explícita ou implícita, propostas
de verificação e comprovação de hipóteses na construção do sobre a avaliação em cada momento da escolaridade e em cada
conhecimento, a construção de argumentação capaz de área, envolvendo questões relativas a o que e como avaliar.
controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do Assim, além de conter uma exposição sobre seus fundamentos,
espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a contém os diferentes elementos curriculares — tais como
compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações Caracterização das Áreas, Objetivos, Organização dos
propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica Conteúdos, Critérios de Avaliação e Orientações Didáticas —,
de ensino que favoreça não só o descobrimento das efetivando uma proposta articuladora dos propósitos mais
potencialidades do trabalho individual, mas também, e gerais de formação de cidadania, com sua operacionalização
sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à no processo de aprendizagem.
autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de Apesar de apresentar uma estrutura curricular completa,
segurança em relação às suas próprias capacidades, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e flexíveis,
interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de uma vez que, por sua natureza, exigem adaptações para a
equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de construção do currículo de uma Secretaria ou mesmo de uma
interlocução mais complexos e diferenciados. escola. Também pela sua natureza, eles não se impõem como
uma diretriz obrigatória: o que se pretende é que ocorram
Natureza e função dos Parâmetros Curriculares adaptações, por meio do diálogo, entre estes documentos e as
Nacionais práticas já existentes, desde as definições dos objetivos até as
orientações didáticas para a manutenção de um todo coerente.
Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados
pouca infraestrutura e condições socioeconômicas historicamente — não são princípios atemporais. Sua validade
desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de conhecimentos depende de estarem em consonância com a realidade social,
socialmente elaborados e reconhecidos como necessários para necessitando, portanto, de um processo periódico de avaliação
o exercício da cidadania para deles poder usufruir. Se existem e revisão, a ser coordenado pelo MEC.
diferenças socioculturais marcantes, que determinam O segundo nível de concretização diz respeito às propostas
diferentes necessidades de aprendizagem, existe também curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâmetros
aquilo que é comum a todos, que um aluno de qualquer lugar Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como recurso
do Brasil, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas
zona rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve Secretarias de Educação, em um processo definido pelos
ser garantido pelo Estado. responsáveis em cada local.

Legislação 67
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

O terceiro nível de concretização refere-se à elaboração da cada período em que são consideradas. Pode-se identificar, na
proposta curricular de cada instituição escolar, tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes
contextualizada na discussão de seu projeto educativo. tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas
Entende-se por projeto educativo a expressão da identidade marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas.
de cada escola em um processo dinâmico de discussão, Tais tendências serão sintetizadas em grandes traços que
reflexão e elaboração contínua. Esse processo deve contar com tentam recuperar os pontos mais significativos de cada uma
a participação de toda equipe pedagógica, buscando um das propostas. Este documento não ignora o risco de uma certa
comprometimento de todos com o trabalho realizado, com os redução das concepções, tendo em vista a própria síntese e os
propósitos discutidos e com a adequação de tal projeto às limites desta apresentação.
características sociais e culturais da realidade em que a escola A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educação
está inserida. É no âmbito do projeto educativo que centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e
professores e equipe pedagógica discutem e organizam os aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria.
objetivos, conteúdos e critérios de avaliação para cada ciclo. A metodologia decorrente de tal concepção baseia-se na
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas das exposição oral dos conteúdos, numa sequência
Secretarias devem ser vistos como materiais que subsidiarão predeterminada e fixa, independentemente do contexto
a escola na constituição de sua proposta educacional mais escolar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos para
geral, num processo de interlocução em que se compartilham garantir a memorização dos conteúdos. A função primordial da
e explicitam os valores e propósitos que orientam o trabalho escola, nesse modelo, é transmitir conhecimentos
educacional que se quer desenvolver e o estabelecimento do disciplinares para a formação geral do aluno, formação esta
currículo capaz de atender às reais necessidades dos alunos. que o levará, ao inserir-se futuramente na sociedade, a optar
O quarto nível de concretização curricular é o momento da por uma profissão valorizada. Os conteúdos do ensino
realização da programação das atividades de ensino e correspondem aos conhecimentos e valores sociais
aprendizagem na sala de aula. É quando o professor, segundo acumulados pelas gerações passadas como verdades
as metas estabelecidas na fase de concretização anterior, faz acabadas, e, embora a escola vise à preparação para a vida, não
sua programação, adequando-a àquele grupo específico de busca estabelecer relação entre os conteúdos que se ensinam
alunos. A programação deve garantir uma distribuição e os interesses dos alunos, tampouco entre esses e os
planejada de aulas, distribuição dos conteúdos segundo um problemas reais que afetam a sociedade. Na maioria das
cronograma referencial, definição das orientações didáticas escolas essa prática pedagógica se caracteriza por sobrecarga
prioritárias, seleção do material a ser utilizado, planejamento de informações que são veiculadas aos alunos, o que torna o
de projetos e sua execução. Apesar de a responsabilidade ser processo de aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas
essencialmente de cada professor, é fundamental que esta seja vezes burocratizado e destituído de significação. No ensino dos
compartilhada com a equipe da escola por meio da conteúdos, o que orienta é a organização lógica das disciplinas,
corresponsabilidade estabelecida no projeto educativo. o aprendizado moral, disciplinado e esforçado.
Tal proposta, no entanto, exige uma política educacional Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura
que contemple a formação inicial e continuada dos conservadora. O professor é visto como a autoridade máxima,
professores, uma decisiva revisão das condições salariais, um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e,
além da organização de uma estrutura de apoio que favoreça o portanto, o guia exclusivo do processo educativo.
desenvolvimento do trabalho (acervo de livros e obras de A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui várias
referência, equipe técnica para supervisão, materiais correntes que, de uma forma ou de outra, estão ligadas ao
didáticos, instalações adequadas para a realização de trabalho movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais correntes,
de qualidade), aspectos que, sem dúvida, implicam a embora admitam divergências, assumem um mesmo princípio
valorização da atividade do professor. norteador de valorização do indivíduo como ser livre, ativo e
social. O centro da atividade escolar não é o professor nem os
Fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e
A TRADIÇÃO PEDAGÓICA BRASILEIRA curioso. O mais importante não é o ensino, mas o processo de
aprendizagem. Em oposição à Escola Tradicional, a Escola
A prática de todo professor, mesmo de forma inconsciente, Nova destaca o princípio da aprendizagem por descoberta e
sempre pressupõe uma concepção de ensino e aprendizagem estabelece que a atitude de aprendizagem parte do interesse
que determina sua compreensão dos papéis de professor e dos alunos, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente
aluno, da metodologia, da função social da escola e dos pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos.
conteúdos a serem trabalhados. A discussão dessas questões é O professor é visto, então, como facilitador no processo de
importante para que se explicitem os pressupostos busca de conhecimento que deve partir do aluno. Cabe ao
pedagógicos que subjazem à atividade de ensino, na busca de professor organizar e coordenar as situações de
coerência entre o que se pensa estar fazendo e o que realmente aprendizagem, adaptando suas ações às características
se faz. Tais práticas se constituem a partir das concepções individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e
educativas e metodologias de ensino que permearam a habilidades intelectuais.
formação educacional e o percurso profissional do professor, A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos
aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de
experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deve ser
social e as tendências pedagógicas que lhe são ensinado e aprendido. Essa tendência, que teve grande
contemporâneas. penetração no Brasil na década de 30, no âmbito do ensino
As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas pré-escolar (jardim de infância), até hoje influencia muitas
brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não práticas pedagógicas.
aparecem em forma pura, mas com características Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicismo
particulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de uma educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da
linha pedagógica. aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que
A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa definiu uma prática pedagógica altamente controlada e
evidente a influência dos grandes movimentos educacionais dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas
internacionais, da mesma forma que expressam as numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente
especificidades de nossa história política, social e cultural, a programada em detalhes. A supervalorização da tecnologia

Legislação 68
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

programada de ensino trouxe consequências: a escola se de se ter preocupações com o domínio de conhecimentos
revestiu de uma grande autossuficiência, reconhecida por ela formais para a participação crítica na sociedade, considera-se
e por toda a comunidade atingida, criando assim a falsa ideia também que é necessária uma adequação pedagógica às
de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que características de um aluno que pensa, de um professor que
depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que sabe e aos conteúdos de valor social e formativo. Esse
é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a momento se caracteriza pelo enfoque centrado no caráter
tecnologia; o professor passa a ser um mero especialista na social do processo de ensino e aprendizagem e é marcado pela
aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites influência da psicologia genética.
possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é O enfoque social dado aos processos de ensino e
reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de
corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter extrema relevância, em particular no que se refere à maneira
êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não como se devem entender as relações entre desenvolvimento e
são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu aprendizagem, à importância da relação interpessoal nesse
ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve processo, à relação entre cultura e educação e ao papel da ação
implementar. Essa orientação foi dada para as escolas pelos educativa ajustada às situações de aprendizagem e às
organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está características da atividade mental construtiva do aluno em
presente em muitos materiais didáticos com caráter cada momento de sua escolaridade.
estritamente técnico e instrumental. A psicologia genética propiciou aprofundar a compreensão
No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política sobre o processo de desenvolvimento na construção do
decorrente do final do regime militar coincidiu com a intensa conhecimento. Compreender os mecanismos pelos quais as
mobilização dos educadores para buscar uma educação crítica crianças constroem representações internas de
a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas, conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva
tendo em vista a superação das desigualdades existentes no psicogenética, traz uma contribuição para além das descrições
interior da sociedade. Ao lado das denominadas teorias crítico- dos grandes estágios de desenvolvimento.
reprodutivistas, firma-se no meio educacional a presença da A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita chegou ao
“pedagogia libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos Brasil em meados dos anos 80 e causou grande impacto,
conteúdos”, assumida por educadores de orientação marxista. revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais e, ao
A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos mesmo tempo, provocando uma revisão do tratamento dado
movimentos de educação popular que ocorreram no final dos ao ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhecimento.
anos 50 e início dos anos 60, quando foram interrompidos pelo Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno
golpe militar de 1964; teve seu desenvolvimento retomado no sobre a língua escrita, objeto de conhecimento
final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa proposta, a reconhecidamente escolar, mostrando a presença importante
atividade escolar pauta-se em discussões de temas sociais e dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança já
políticos e em ações sobre a realidade social imediata; tem, os quais, embora não coincidam com os dos adultos, têm
analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e sentido para ela.
organiza-se uma forma de atuação para que se possa A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas vezes
transformar a realidade social e política. O professor é um interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista
coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente para alfabetização, o que expressa um duplo equívoco:
com os alunos. redução do construtivismo a uma teoria psicogenética de
A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge no aquisição de língua escrita e transformação de uma
final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma reação de investigação acadêmica em método de ensino. Com esses
alguns educadores que não aceitam a pouca relevância que a equívocos, difundiram-se, sob o rótulo de pedagogia
“pedagogia libertadora” dá ao aprendizado do chamado “saber construtivista, as ideias de que não se devem corrigir os erros
elaborado”, historicamente acumulado, que constitui parte do e de que as crianças aprendem fazendo “do seu jeito”. Essa
acervo cultural da humanidade. pedagogia, dita construtivista, trouxe sérios problemas ao
A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura a processo de ensino e aprendizagem, pois desconsidera a
função social e política da escola mediante o trabalho com função primordial da escola que é ensinar, intervindo para que
conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as classes os alunos aprendam o que, sozinhos, não têm condições de
populares em condições de uma efetiva participação nas lutas aprender.
sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares
questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha Nacionais reconhece a importância da participação
domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do
amplas para que os alunos possam interpretar suas professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que
experiências de vida e defender seus interesses de classe. favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias à
As tendências pedagógicas que marcam a tradição formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de
educacional brasileira e aqui foram expostas sinteticamente ensino e aprendizagem como um processo que se desenvolve
trazem, de maneira diferente, contribuições para uma por etapas, em que a cada uma delas o conhecimento é
proposta atual que busque recuperar aspectos positivos das “acabado”, o que se propõe é uma visão da complexidade e da
práticas anteriores em relação ao desenvolvimento e à provisoriedade do conhecimento. De um lado, porque o objeto
aprendizagem, realizando uma releitura dessas práticas à luz de conhecimento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria
dos avanços ocorridos nas produções teóricas, nas falsificá-lo; de outro, porque o processo cognitivo não acontece
investigações e em fatos que se tornaram observáveis nas por justaposição, senão por reorganização do conhecimento. É
experiências educativas mais recentes realizadas em também “provisório”, uma vez que não é possível chegar de
diferentes Estados e Municípios do Brasil. imediato ao conhecimento correto, mas somente por
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Brasil, aproximações sucessivas que permitem sua reconstrução.
entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas que Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objetivos
tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés era mais educacionais que propõem quanto na conceitualização do
sociológico e político; a partir dos anos 80 surge com maior significado das áreas de ensino e dos temas da vida social
evidência um movimento que pretende a integração entre contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o
essas abordagens. Se por um lado não é mais possível deixar desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os

Legislação 69
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos, A escola, na perspectiva de construção de cidadania,
mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas precisa assumir a valorização da cultura de sua própria
capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus
possa ser sujeito de sua própria formação, em um complexo limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes
processo interativo em que também o professor se veja como grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos
sujeito de conhecimento. conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no
âmbito nacional e regional como no que faz parte do
ESCOLA E CONSTITUIÇÃO DA CIDADANIA patrimônio universal da humanidade.
O desenvolvimento de capacidades, como as de relação
A importância dada aos conteúdos revela um compromisso interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, as éticas, as
da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o
elaborados socialmente, pois estes se constituem como processo de construção e reconstrução de conhecimentos.
instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o Essa aprendizagem é exercida com o aporte pessoal de cada
exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de um, o que explica por que, a partir dos mesmos saberes, há
refutar ou reformular as deformações dos conhecimentos, as sempre lugar para a construção de uma infinidade de
imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores. significados, e não a uniformidade destes. Os conhecimentos
Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto, que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido
estar em consonância com as questões sociais que marcam quando são produtos de uma construção dinâmica que se
cada momento histórico. opera na interação constante entre o saber escolar e os demais
Isso requer que a escola seja um espaço de formação e saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz
informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve para a escola, num processo contínuo e permanente de
necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais,
das questões sociais marcantes e em um universo cultural culturais e psicológicos.
maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento As questões relativas à globalização, as transformações
de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético-
intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como valorativa da sociedade apresentam para a escola a imensa
possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais tarefa de instrumentalizar os jovens para participar da cultura,
nacionais e universais. das relações sociais e políticas. A escola, ao posicionar-se dessa
No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam
Nacionais se concebe a educação escolar como uma prática sobre temas normalmente excluídos e atua propositalmente
que tem a possibilidade de criar condições para que todos os na formação de valores e atitudes do sujeito em relação ao
alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os outro, à política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio
conteúdos necessários para construir instrumentos de ambiente, à tecnologia, etc.
compreensão da realidade e de participação em relações Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos
sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais capazes de interferir criticamente na realidade para
amplas, condições estas fundamentais para o exercício da transformá-la, deve também contemplar o desenvolvimento
cidadania na construção de uma sociedade democrática e não de capacidades que possibilitem adaptações às complexas
excludente. condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar
A prática escolar distingue-se de outras práticas com a rapidez na produção e na circulação de novos
educativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na conhecimentos e informações, que têm sido avassaladores e
mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social, por crescentes. A formação escolar deve possibilitar aos alunos
constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e condições para desenvolver competência e consciência
continuada para crianças e jovens durante um período profissional, mas não restringir-se ao ensino de habilidades
contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o imediatamente demandadas pelo mercado de trabalho.
objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com A discussão sobre a função da escola não pode ignorar as
competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como reais condições em que esta se encontra. A situação de
objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com precariedade vivida pelos educadores, expressa nos baixos
as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja salários, na falta de condições de trabalho, de metas a serem
aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais alcançadas, de prestígio social, na inércia de grande parte dos
para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. órgãos responsáveis por alterar esse quadro, provoca, na
Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garanta maioria das pessoas, um descrédito na transformação da
um conjunto de práticas planejadas com o propósito de situação. Essa desvalorização objetiva do magistério acaba por
contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de ser interiorizada, bloqueando as motivações. Outro fator de
maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição desmotivação dos profissionais da rede pública é a mudança
social com propósito explicitamente educativo, tem o de rumo da educação diante da orientação política de cada
compromisso de intervir efetivamente para promover o governante. Às vezes as transformações propostas reafirmam
desenvolvimento e a socialização de seus alunos. certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e volta
Essa função socializadora remete a dois aspectos: o gera, para a maioria dos professores, um desânimo para se
desenvolvimento individual e o contexto social e cultural. É engajar nos projetos de trabalho propostos, mesmo que lhes
nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem pareçam interessantes, pois eles dificilmente terão
como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de continuidade.
todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a função
um conjunto de saberes e formas de conhecimento que, por social aqui proposta, precisam possibilitar o cultivo dos bens
sua vez, só é possível graças ao que individualmente se puder culturais e sociais, considerando as expectativas e as
incorporar. Não há desenvolvimento individual possível à necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da
margem da sociedade, da cultura. Os processos de comunidade, dos professores, enfim, dos envolvidos
diferenciação na construção de uma identidade pessoal e os diretamente no processo educativo. É nesse universo que o
processos de socialização que conduzem a padrões de aluno vivencia situações diversificadas que favorecem o
identidade coletiva constituem, na verdade, as duas faces de aprendizado, para dialogar de maneira competente com a
um mesmo processo. comunidade, aprender a respeitar e a ser respeitado, a ouvir e

Legislação 70
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

a ser ouvido, a reivindicar direitos e a cumprir obrigações, a só é possível em um clima institucional favorável e com
participar ativamente da vida científica, cultural, social e condições objetivas de realização.
política do País e do mundo.
A prender e ensinar, construir e interagir
ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E
PERMANENTE Por muito tempo a pedagogia focou o processo de ensino
no professor, supondo que, como decorrência, estaria
Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola com valorizando o conhecimento. O ensino, então, ganhou
as questões sociais e com os valores democráticos, não só do autonomia em relação à aprendizagem, criou seus próprios
ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos, como métodos e o processo de aprendizagem ficou relegado a
também da própria organização escolar. As normas de segundo plano. Hoje sabe-se que é necessário ressignificar a
funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, em última
a atuação das pessoas na escola são determinantes da instância, sem aprendizagem o ensino não se realiza.
qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa A busca de um marco explicativo que permita essa
sobre a formação dos alunos. ressignificação, além da criação de novos instrumentos de
Com a degradação do sistema educacional brasileiro, pode- análise, planejamento e condução da ação educativa na escola,
se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas um local tem se situado, atualmente, para muitos dos teóricos da
de trabalho individualizado e não uma organização com educação, dentro da perspectiva construtivista.
objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação A perspectiva construtivista na educação é configurada
coordenada de seus diversos profissionais. por uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e
Para ser uma organização eficaz no cumprimento de da aprendizagem humana que se complementam, integrando
propósitos estabelecidos em conjunto por professores, um conjunto orientado a analisar, compreender e explicar os
coordenadores e diretor, e garantir a formação coerente de processos escolares de ensino e aprendizagem.
seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória, é A configuração do marco explicativo construtivista para os
imprescindível que cada escola discuta e construa seu projeto processos de educação escolar deu-se, entre outras
educativo. influências, a partir da psicologia genética, da teoria
Esse projeto deve ser entendido como um processo que sociointeracionista e das explicações da atividade significativa.
inclui a formulação de metas e meios, segundo a Vários autores partiram dessas ideias para desenvolver e
particularidade de cada escola, por meio da criação e da conceitualizar as várias dimensões envolvidas na educação
valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo e da escolar, trazendo inegáveis contribuições à teoria e à prática
corresponsabilidade de todos os membros da comunidade educativa.
escolar, para além do planejamento de início de ano ou dos O núcleo central da integração de todas essas
períodos de “reciclagem”. contribuições refere-se ao reconhecimento da importância da
A experiência acumulada por seus profissionais é atividade mental construtiva nos processos de aquisição de
naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do projeto conhecimento. Daí o termo construtivismo, denominando essa
educativo de uma escola. Além desse repertório, outras fontes convergência. Assim, o conhecimento não é visto como algo
importantes para a definição de um projeto educativo são os situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do
currículos locais, a bibliografia especializada, o contato com real, tampouco como algo que o indivíduo constrói
outras experiências educacionais, assim como os Parâmetros independentemente da realidade exterior, dos demais
Curriculares Nacionais, que formulam questões essenciais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de
sobre o que, como e quando ensinar, constituindo um mais nada, uma construção histórica e social, na qual
referencial significativo e atualizado sobre a função da escola, interferem fatores de ordem cultural e psicológica.
a importância dos conteúdos e o tratamento a ser dado a eles. A atividade construtiva, física ou mental, permite
Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e interpretar a realidade e construir significados, ao mesmo
explicita de forma clara os valores coletivos assumidos. tempo que permite construir novas possibilidades de ação e de
Delimita suas prioridades, define os resultados desejados e conhecimento.
incorpora a autoavaliação ao trabalho do professor. Assim, Nesse processo de interação com o objeto a ser conhecido,
organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe de trabalho, o sujeito constrói representações, que funcionam como
provoca-se o estudo e a reflexão contínuos, dando sentido às verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna
ações cotidianas, reduzindo a improvisação e as condutas que, por mais que possa parecer incoerente aos olhos de um
estereotipadas e rotineiras que, muitas vezes, são outro, faz sentido para o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou
contraditórias com os objetivos educacionais compartilhados. seja, construídas e transformadas ao longo do
A contínua realização do projeto educativo possibilita o desenvolvimento, fruto de aproximações sucessivas, são
conhecimento das ações desenvolvidas pelos diferentes expressão de uma construção inteligente por parte do sujeito
professores, sendo base de diálogo e reflexão para toda a e, portanto, interpretadas como erros construtivos.
equipe escolar. Nesse processo evidencia-se a necessidade da A tradição escolar — que não faz diferença entre erros
participação da comunidade, em especial dos pais, tomando integrantes do processo de aprendizagem e simples enganos
conhecimento e interferindo nas propostas da escola e em suas ou desconhecimentos — trabalha com a ideia de que a
estratégias. O resultado que se espera é a possibilidade de os ausência de erros na tarefa escolar é a manifestação da
alunos terem uma experiência escolar coerente e bem- aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da investigação
sucedida. científica na área da aprendizagem, tornou-se possível
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão coletiva interpretar o erro como algo inerente ao processo de
não é algo que se atinge de uma hora para outra e a escola é aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica para ajudar
uma realidade complexa, não sendo possível tratar as questões a superá-lo. A superação do erro é resultado do processo de
como se fossem simples de serem resolvidas. Cada incorporação de novas ideias e de transformação das
escola encontra uma realidade, uma trama, um conjunto de anteriores, de maneira a dar conta das contradições que se
circunstâncias e de pessoas. É preciso que haja incentivo do apresentarem ao sujeito para, assim, alcançar níveis
poder público local, pois o desenvolvimento do projeto requer superiores de conhecimento.
tempo para análise, discussão e reelaboração contínua, o que O que o aluno pode aprender em determinado momento da
escolaridade depende das possibilidades delineadas pelas

Legislação 71
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

formas de pensamento de que dispõe naquela fase de intervenção educativa escolar propicie um desenvolvimento
desenvolvimento, dos conhecimentos que já construiu em direção à disponibilidade exigida pela aprendizagem
anteriormente e do ensino que recebe. Isto é, a intervenção significativa.
pedagógica deve-se ajustar ao que os alunos conseguem Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno
realizar em cada momento de sua aprendizagem, para se constrói uma representação de si mesmo como alguém capaz.
constituir verdadeira ajuda educativa. O conhecimento é Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de
resultado de um complexo e intrincado processo de aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia
modificação, reorganização e construção, utilizado pelos necessária se transformará em medo, para o qual a defesa
alunos para assimilar e interpretar os conteúdos escolares. possível é a manifestação de desinteresse.
Por mais que o professor, os companheiros de classe e os A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
materiais didáticos possam, e devam, contribuir para que a possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de
aprendizagem se realize, nada pode substituir a atuação do organização do pensamento como os conhecimentos e
próprio aluno na tarefa de construir significados sobre os experiências prévias, e, de outro, pela interação com os outros
conteúdos da aprendizagem. É ele quem modifica, enriquece e, agentes.
portanto, constrói novos e mais potentes instrumentos de ação Para a estruturação da intervenção educativa é
e interpretação. fundamental distinguir o nível de desenvolvimento real do
Mas o desencadeamento da atividade mental construtiva potencial. O nível de desenvolvimento real se determina como
não é suficiente para que a educação escolar alcance os aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma situação
objetivos a que se propõe: que as aprendizagens estejam determinada, sem ajuda de ninguém. O nível de
compatíveis com o que significam socialmente. desenvolvimento potencial é determinado pelo que o aluno
O processo de atribuição de sentido aos conteúdos pode fazer ou aprender mediante a interação com outras
escolares é, portanto, individual; porém, é também cultural na pessoas, conforme as observa, imitando, trocando ideias com
medida em que os significados construídos remetem a formas elas, ouvindo suas explicações, sendo desafiado por elas ou
e saberes socialmente estruturados. contrapondo-se a elas, sejam essas pessoas o professor ou seus
Conceber o processo de aprendizagem como propriedade colegas. Existe uma zona de desenvolvimento próximo, dada
do sujeito não implica desvalorizar o papel determinante da pela diferença existente entre o que um aluno pode fazer
interação com o meio social e, particularmente, com a escola. sozinho e o que pode fazer ou aprender com a ajuda dos
Ao contrário, situações escolares de ensino e aprendizagem outros. De acordo com essa concepção, falar dos mecanismos
são situações comunicativas, nas quais os alunos e professores de intervenção educativa equivale a falar dos mecanismos
atuam como corresponsáveis, ambos com uma influência interativos pelos quais professores e colegas conseguem
decisiva para o êxito do processo. ajustar sua ajuda aos processos de construção de significados
A abordagem construtivista integra, num único esquema realizados pelos alunos no decorrer das atividades escolares
explicativo, questões relativas ao desenvolvimento individual de ensino e aprendizagem.
e à pertinência cultural, à construção de conhecimentos e à Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros
interação social. Considera o desenvolvimento pessoal como o mecanismos de influência educativa, cuja natureza e
processo mediante o qual o ser humano assume a cultura do funcionamento em grande medida são desconhecidos, mas
grupo social a que pertence. Processo no qual o que têm incidência considerável sobre a aprendizagem dos
desenvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o
humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente funcionamento da instituição escolar e os valores implícitos e
produzida e historicamente acumulada, não se excluem nem explícitos que permeiam as relações entre os membros da
se confundem, mas interagem. Daí a importância das escola; são fatores determinantes da qualidade de ensino e
interações entre crianças e destas com parceiros experientes, podem chegar a influir de maneira significativa sobre o que e
dentre os quais destacam-se professores e outros agentes como os alunos aprendem.
educativos. Os alunos não contam exclusivamente com o contexto
O conceito de aprendizagem significativa, central na escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos
perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os amigos,
trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade que se são também fontes de influência educativa que incidem sobre
conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola o processo de construção de significado desses conteúdos.
serão significativas à medida que conseguirem estabelecer Essas influências sociais normalmente somam-se ao processo
relações substantivas e não-arbitrárias entre os conteúdos de aprendizagem escolar, contribuindo para consolidá-lo; por
escolares e os conhecimentos previamente construídos por isso é importante que a escola as considere e as integre ao
eles, num processo de articulação de novos significados. trabalho. Porém, algumas vezes, essa mesma influência pode
Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, apresentar obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma
promover a realização de aprendizagens com o maior grau de direção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no
significado possível, uma vez que esta nunca é absoluta — encaminhamento escolar. É necessário que a escola considere
sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que se tais direções e forneça uma interpretação dessas diferenças,
pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão para que a intervenção pedagógica favoreça a ultrapassagem
e informação que o sujeito já possui. desses obstáculos num processo articulado de interação e
A aprendizagem significativa implica sempre alguma integração.
ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa elaborar Se o projeto educacional exige ressignificar o processo de
hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos afetivos, ensino e aprendizagem, este precisa se preocupar em
motivacionais e relacionais são importantes nesse momento. preservar o desejo de conhecer e de saber com que todas as
Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm crianças chegam à escola. Precisa manter a boa qualidade do
um papel determinante na expectativa que o aluno tem da vínculo com o conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso
escola, do professor e de si mesmo, nas suas motivações e reiterado. Mas garantir experiências de sucesso não significa
interesses, em seu autoconceito e em sua autoestima. Assim omitir ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir
como os significados construídos pelo aluno estão destinados realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, com
a ser substituídos por outros no transcurso das atividades, as propostas e intervenções pedagógicas adequadas.
representações que o aluno tem de si e de seu processo de O professor deve ter propostas claras sobre o que, quando
aprendizagem também. É fundamental, portanto, que a e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o planejamento

Legislação 72
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

de atividades de ensino para a aprendizagem de maneira se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso didática
adequada e coerente com seus objetivos. É a partir dessas é um instrumento de fundamental importância, na medida em
determinações que o professor elabora a programação diária que possibilita e conforma as relações que alunos e
de sala de aula e organiza sua intervenção de maneira a propor educadores estabelecem entre si, com o conhecimento que
situações de aprendizagem ajustadas às capacidades constroem, com a tarefa que realizam e com a instituição
cognitivas dos alunos. escolar. Por exemplo, para que possa refletir, participar e
Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajustar ao assumir responsabilidades, o aluno necessita estar inserido
ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a em um processo educativo que valorize tais ações.
aprendizagem. Este é o sentido da autonomia como princípio didático
geral proposto nos Parâmetros Curriculares
[...] Nacionais: uma opção metodológica que considera a
atuação do aluno na construção de seus próprios
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS conhecimentos, valoriza suas experiências, seus
conhecimentos prévios e a interação professor-aluno e aluno-
A conquista dos objetivos propostos para o ensino aluno, buscando essencialmente a passagem progressiva de
fundamental depende de uma prática educativa que tenha situações em que o aluno é dirigido por outrem a situações
como eixo a formação de um cidadão autônomo e dirigidas pelo próprio aluno.
participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se,
Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsídios à elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e
reflexão sobre como ensinar. cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
Na visão aqui assumida, os alunos constroem significados organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,
a partir de múltiplas e complexas interações. Cada aluno é participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e
sujeito de seu processo de aprendizagem, enquanto o eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma
professor é o mediador na interação dos alunos com os objetos relação emancipada, íntegra com as diferentes dimensões da
de conhecimento; o processo de aprendizagem compreende vida, o que envolve aspectos intelectuais, morais, afetivos e
também a interação dos alunos entre si, essencial à sociopolíticos2. Ainda que na escola se destaque a autonomia
socialização. Assim sendo, as orientações didáticas na relação com o conhecimento — saber o que se quer saber,
apresentadas enfocam fundamentalmente a intervenção do como fazer para buscar informações e possibilidades de
professor na criação de situações de aprendizagem coerentes desenvolvimento de tal conhecimento, manter uma postura
com essa concepção. crítica comparando diferentes visões e reservando para si o
Para cada tema e área de conhecimento corresponde um direito de conclusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o
conjunto de orientações didáticas de caráter mais abrangente desenvolvimento da autonomia moral (capacidade ética) e
— orientações didáticas gerais — que indicam como a emocional que envolvem autorrespeito, respeito mútuo,
concepção de ensino proposta se estabelece no tratamento da segurança, sensibilidade, etc.
área. Para cada bloco de conteúdo correspondem orientações Como no desenvolvimento de outras capacidades, a
didáticas específicas, que expressam como determinados aprendizagem de determinados procedimentos e atitudes —
conteúdos podem ser tratados. Assim, as orientações didáticas tais como planejar a realização de uma tarefa, identificar
permeiam as explicitações sobre o ensinar e o aprender, bem formas de resolver um problema, formular boas perguntas e
como as explicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma boas respostas, levantar hipóteses e buscar meios de verificá-
vez que a opção de recorte de conteúdos para uma situação de las, validar raciocínios, resolver conflitos, cuidar da própria
ensino e aprendizagem é também determinada pelo enfoque saúde e da de outros, colocar-se no lugar do outro para melhor
didático da área. refletir sobre uma determinada situação, considerar as regras
No entanto, há determinadas considerações a fazer a estabelecidas — é o instrumento para a construção da
respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as autonomia. Procedimentos e atitudes dessa natureza são
fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas objeto de aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-
considerações evidenciam que o ensino não pode estar los planejada e sistematicamente criando situações que
limitado ao estabelecimento de um padrão de intervenção auxiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais
homogêneo e idêntico para todos os alunos. A prática autônomos. Por isso é importante que desde as séries iniciais
educativa é bastante complexa, pois o contexto de sala de aula as propostas didáticas busquem, em aproximações sucessivas,
traz questões de ordem afetiva, emocional, cognitiva, física e cada vez mais essa meta.
de relação pessoal. A dinâmica dos acontecimentos em uma O desenvolvimento da autonomia depende de suportes
sala de aula é tal que mesmo uma aula planejada, detalhada e materiais, intelectuais e emocionais. No início da escolaridade,
consistente dificilmente ocorre conforme o imaginado: a intervenção do professor é mais intensa na definição desses
olhares, tons de voz, manifestações de afeto ou desafeto e suportes: tempo e forma de realização das atividades,
diversas outras variáveis interferem diretamente na dinâmica organização dos grupos, materiais a serem utilizados,
prevista. No texto que se segue, são apontados alguns tópicos resolução de conflitos, cuidados físicos, estabelecimentos de
sobre didática considerados essenciais pela maioria dos etapas para a realização das atividades. Também é preciso
profissionais em educação: autonomia; diversidade; interação considerar tanto o trabalho individual como o coletivo-
e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; cooperativo. O individual é potencializado pelas exigências
organização do tempo; organização do espaço; e seleção de feitas aos alunos para se responsabilizarem por suas ações,
material. suas ideias, suas tarefas, pela organização pessoal e coletiva,
pelo envolvimento com o objeto de estudo. O trabalho em
Autonomia grupo, ao valorizar a interação como instrumento de
desenvolvimento pessoal, exige que os alunos considerem
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia é diferenças individuais, tragam contribuições, respeitem as
tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvida regras estabelecidas, proponham outras, atitudes que
pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das propiciam o desenvolvimento da autonomia na dimensão
práticas pedagógicas. grupal.
A realização dos objetivos propostos implica É importante salientar que a autonomia não é um estado
necessariamente que sejam desde sempre praticados, pois não psicológico geral que, uma vez atingido, esteja garantido para

Legislação 73
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

qualquer situação. Por um lado, por envolver a necessidade de dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, aproveitar
conhecimentos e condições específicas, uma pessoa pode ter críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações para
autonomia para atuar em determinados campos e não em obter sucesso em uma tarefa conjunta, etc. É essencial
outros; por outro, por implicar o estabelecimento de relações aprender procedimentos dessa natureza e valorizá-los como
democráticas de poder e autoridade é possível que alguém forma de convívio escolar e social. Trabalhar em grupo de
exerça a capacidade de agir com autonomia em algumas maneira cooperativa é sempre uma tarefa difícil, mesmo para
situações e não noutras, nas quais não pode interferir. É adultos convencidos de sua necessidade.
portanto necessário que a escola busque sua extensão aos A criação de um clima favorável a esse aprendizado
diferentes campos de atuação. Para tanto, é necessário que as depende do compromisso do professor em aceitar
decisões assumidas pelo professor auxiliem os alunos a contribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando
desenvolver essas atitudes e a aprender os procedimentos apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em favorecer o
adequados a uma postura autônoma, que só será efetivamente respeito, por parte do grupo, assegurando a participação de
alcançada mediante investimentos sistemáticos a o longo de todos os alunos.
toda a escolaridade. Assim, a organização de atividades que favoreçam a fala e
É importante ressaltar que a construção da autonomia não a escrita como meios de reorganização e reconstrução das
se confunde com atitudes de independência. O aluno pode ser experiências compartilhadas pelos alunos ocupa papel de
independente para realizar uma série de atividades, enquanto destaque no trabalho em sala de aula. A comunicação
seus recursos internos para se governar são ainda incipientes. propiciada nas atividades em grupo levará os alunos a
A independência é uma manifestação importante para o perceberem a necessidade de dialogar, resolver mal-
desenvolvimento, mas não deve ser confundida com entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, explicar e
autonomia. exemplificar, apropriando-se de conhecimentos.
O estabelecimento de condições adequadas para a
Diversidade interação não pode estar pautado somente em questões
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão
As adaptações curriculares previstas nos níveis de relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os
concretização apontam a necessidade de adequar objetivos, alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não
conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a estejam interessados no que a escola pode oferecer. A
diversidade existente no País. Essas adaptações, porém, não afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a competitividade
dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma sala e o ritmo de produção estabelecidos em um grupo interferem
de aula. diretamente na produção do trabalho.
Para corresponder aos propósitos explicitados nestes A participação de um aluno muitas vezes varia em função
parâmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade do grupo em que está inserido.
dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional dos
melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem. alunos para a aprendizagem é fator essencial para que haja
Atender necessidades singulares de determinados alunos uma interação cooperativa, sem depreciação do colega por sua
é estar atento à diversidade: é atribuição do professor eventual falta de informação ou incompreensão. Aprender a
considerar a especificidade do indivíduo, analisar suas conviver em grupo supõe um domínio progressivo de
possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das procedimentos, valores, normas e atitudes.
medidas adotadas. A organização dos alunos em grupos de trabalho influencia
A atenção à diversidade deve se concretizar em medidas o processo de ensino e aprendizagem, e pode ser otimizada
que levem em conta não só as capacidades intelectuais e os quando o professor interfere na organização dos grupos.
conhecimentos de que o aluno dispõe, mas também seus Organizar por ordem alfabética ou por idade não é a mesma
interesses e motivações. Esse conjunto constitui a capacidade coisa que organizar por gênero ou por capacidades específicas;
geral do aluno para aprendizagem em um determinado por isso é importante que o professor discuta e decida os
momento. critérios de agrupamento dos alunos. Por exemplo:
Desta forma, a atuação do professor em sala de aula deve desempenho diferenciado ou próximo, equilíbrio entre
levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa meninos e meninas, afinidades para o trabalho e afetividade,
de cada aluno, como também características pessoais de déficit possibilidade de cooperação, ritmo de trabalho, etc.
sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação intelectual. Não existe critério melhor ou pior de organização de
Deve-se dar especial atenção ao aluno que demonstrar a grupos para uma atividade. É necessário que o professor
necessidade de resgatar a autoestima. Trata-se de garantir decida a forma de organização social em cada tipo de
condições de aprendizagem a todos os alunos, seja por meio de atividade, em cada momento do processo de ensino e
incrementos na intervenção pedagógica ou de medidas extras aprendizagem, em função daqueles alunos específicos.
que atendam às necessidades individuais. Agrupamentos adequados, que levem em conta a diversidade
A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor dos alunos, tornam-se eficazes na individualização do ensino.
máximo o respeito às diferenças — não o elogio à Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre
desigualdade. As diferenças não são obstáculos para o agrupamentos adquirem especial relevância. É possível reunir
cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto, ser grupos que não sejam estruturados por série e sim por
fator de enriquecimento. objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência
Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio adequada ao desempenho de cada um.
comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de todos O convívio escolar pretendido depende do
os alunos realizarem as aprendizagens fundamentais para seu estabelecimento de regras e normas de funcionamento e de
desenvolvimento e socialização. comportamento que sejam coerentes com os objetivos
definidos no projeto educativo. A comunicação clara dessas
Interação e cooperação normas possibilita a compreensão pelos alunos das atitudes de
disciplina demonstradas pelos professores dentro e fora da
Um dos objetivos da educação escolar é que os alunos classe.
aprendam a assumir a palavra enunciada e a conviver em
grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa forma, são
fundamentais as situações em que possam aprender a

Legislação 74
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Disponibilidade para a aprendizagem atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo em


questão mas também sobre o modo como aprende,
Para que uma aprendizagem significativa possa acontecer, construindo uma imagem de si como estudante. Essa
é necessária a disponibilidade para o envolvimento do aluno autoimagem é também influenciada pelas representações que
na aprendizagem, o empenho em estabelecer relações entre o o professor e seus colegas fazem dele e, de uma forma ou outra,
que já sabe e o que está aprendendo, em usar os instrumentos são explicitadas nas relações interpessoais do convívio
adequados que conhece e dispõe para alcançar a maior escolar. Falta de respeito e forte competitividade, se
compreensão possível. Essa aprendizagem exige uma ousadia estabelecidas na classe, podem reforçar os sentimentos de
para se colocar problemas, buscar soluções e experimentar incompetência de certos alunos e contribuir de forma efetiva
novos caminhos, de maneira totalmente diferente da para consolidar o seu fracasso.
aprendizagem mecânica, na qual o aluno limita seu esforço O aluno com um autoconceito negativo, que se considera
apenas em memorizar ou estabelecer relações diretas e fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua e se convence
superficiais. de que é um incapaz, ou vai buscar ao seu redor outros
A aprendizagem significativa depende de uma motivação culpados: o professor é chato, as lições não servem para nada.
intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a necessidade e Acaba por desenvolver comportamentos problemáticos e de
a vontade de aprender. Aquele que estuda apenas para passar indisciplina.
de ano, ou para tirar notas, não terá motivos suficientes para Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o tempo
empenhar-se em profundidade na aprendizagem. A disposição inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o sucesso da
para a aprendizagem não depende exclusivamente do aluno, empreitada, é fundamental que exista uma relação de
demanda que a prática didática garanta condições para que confiança e respeito mútuo entre professor e aluno, de
essa atitude favorável se manifeste e prevaleça. maneira que a situação escolar possa dar conta de todas as
Primeiramente, a expectativa que o professor tem do tipo de questões de ordem afetiva. Mas isso não fica garantido apenas
aprendizagem de seus alunos fica definida no contrato e exclusivamente pelas ações do professor, embora sejam
didático estabelecido. Se o professor espera uma atitude fundamentais dada a autoridade que ele representa, mas
curiosa e investigativa, deve propor prioritariamente também deve ser conseguido nas relações entre os alunos. O
atividades que exijam essa postura, e não a passividade. Deve trabalho educacional inclui as intervenções para que os alunos
valorizar o processo e a qualidade, e não apenas a rapidez na aprendam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos de
realização. Deve esperar estratégias criativas e originais e não confiança e uma prática cooperativa e solidária.
a mesma resposta de todos. Em geral, os alunos buscam corresponder às expectativas
A intervenção do professor precisa, então, garantir que o de aprendizagem significativa, desde que haja um clima
aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se em relação à favorável de trabalho, no qual a avaliação e a observação do
tarefa, reconheça os problemas que a situação apresenta, e seja caminho por eles percorrido seja, de fato, instrumento de
capaz de resolvê-los. Para tal, é necessário que o professor autorregularão do processo de ensino e aprendizagem.
proponha situações didáticas com objetivos e determinações Quando não se instaura na classe um clima favorável de
claros, para que os alunos possam tomar decisões pensadas confiança, compromisso e responsabilidade, os
sobre o encaminhamento de seu trabalho, além de selecionar encaminhamentos do professor ficam comprometidos.
e tratar ajustadamente os conteúdos. A complexidade da
atividade também interfere no envolvimento do aluno. Um Organização do tempo
nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo, não
contribui para a reflexão e o debate, situação que indica a A consideração do tempo como variável que interfere na
participação ativa e compromissada do aluno no processo de construção da autonomia permite ao professor criar situações
aprendizagem. As atividades propostas precisam garantir em que o aluno possa progressivamente controlar a realização
organização e ajuste às reais possibilidades dos alunos, de de suas atividades. Por meio de erros e acertos, o aluno toma
forma que cada uma não seja nem muito difícil nem demasiado consciência de suas possibilidades e constrói mecanismos de
fácil. Os alunos devem poder realizá-la numa situação autorregularão que possibilitam decidir como alocar seu
desafiadora. tempo.
Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendizagem, Por essa razão, são importantes as atividades em que o
o tempo reservado para a atuação dos alunos é determinante. professor seja somente um orientador do trabalho, cabendo
Se a exigência é de rapidez, a saída mais comum é estudar de aos alunos o planejamento e a execução, o que os levará a
forma superficial. O professor precisa buscar um equilíbrio decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões sobre o uso
entre as necessidades da aprendizagem e o exíguo tempo do tempo.
escolar, coordenando-o para cada proposta que encaminha. Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum, que
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno para os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como e
a aprendizagem é a unidade entre escola, sociedade e cultura, quando atuar na escola. A vivência do controle do tempo pelos
o que exige trabalho com objetos socioculturais do cotidiano alunos se insere dentro de limites criteriosamente
extraescolar, como, por exemplo, jornais, revistas, filmes, estabelecidos pelo professor, que se tornarão menos
instrumentos de medida, etc., sem esvaziá-los de significado, restritivos à medida que o grupo desenvolva sua autonomia.
ou seja, sem que percam sua função social real, contribuindo, Assim, é preciso que o professor defina claramente as
assim, para imprimir sentido às atividades escolares. atividades, estabeleça a organização em grupos, disponibilize
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas essas recursos materiais adequados e defina o período de execução
condições, pode acontecer que a ansiedade presente na previsto, dentro do qual os alunos serão livres para tomar suas
situação de aprendizagem se torne muito intensa e impeça decisões. Caso contrário, a prática de sala de aula torna-se
uma atitude favorável. A ansiedade pode estar ligada ao medo insustentável pela indisciplina que gera.
de fracasso, desencadeado pelo sentimento de incapacidade Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
para realização da tarefa ou de insegurança em relação à ajuda obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
que pode ou não receber de seu professor, ou de seus colegas, vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
e consolidar um bloqueio para aprender. currículo. A partir desse critério, e em função das opções do
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
inteiramente. O processo, assim como seu resultado, distribuição horária mais adequada.
repercutem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as

Legislação 75
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e
organizam por áreas com professores específicos e tempo futuras.
previamente estabelecido, é interessante pensar que uma das A menção ao uso de computadores, dentro de um amplo
maneiras de otimizar o tempo escolar é organizar aulas duplas, leque de materiais, pode parecer descabida perante as reais
pois assim o professor tem condições de propor atividades em condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz para
grupo que demandam maior tempo (aulas curtas tendem a ser trabalhar. Sem dúvida essa é uma preocupação que exige
expositivas). posicionamento e investimento em alternativas criativas para
que as metas sejam atingidas.
Organização do espaço
Considerações finais
Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho em
grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados não A qualidade da atuação da escola não pode depender
ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como também somente da vontade de um ou outro professor. É preciso a
não favorecem o aprendizado da preservação do bem coletivo. participação conjunta dos profissionais (orientadores,
A organização do espaço reflete a concepção metodológica supervisores, professores polivalentes e especialistas) para
adotada pelo professor e pela escola. tomada de decisões sobre aspectos da prática didática, bem
Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos como sua execução. Essas decisões serão necessariamente
Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras diferenciadas de escola para escola, pois dependem do
sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais de ambiente local e da formação dos professores.
uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposição de As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais. Nessa necessário que os profissionais estejam comprometidos,
organização é preciso considerar a possibilidade de os alunos disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condições
assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem e ótimas de recursos, dificuldades e limitações sempre estarão
limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa maneira, presentes, pois na escola se manifestam os conflitos existentes
passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que somente na sociedade.
ocorrerá por meio de investimentos sistemáticos ao longo da As considerações feitas pretendem auxiliar os professores
escolaridade. na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do projeto
É importante salientar que o espaço de aprendizagem não educativo de sua escola. Não são regras a respeito do que
se restringe à escola, sendo necessário propor atividades que devem ou não fazer. No entanto, é necessário estabelecer
ocorram fora dela. A programação deve contar com passeios, acordos nas escolas em relação às estratégias didáticas mais
excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas, marcenarias, adequadas. A qualidade da intervenção do professor sobre o
padarias, enfim, com as possibilidades existentes em cada local aluno ou grupo de alunos, os materiais didáticos, horários,
e as necessidades de realização do trabalho escolar. espaço, organização e estrutura das classes, a seleção de
No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços externos para conteúdos e a proposição de atividades concorrem para que o
realizar atividades cotidianas, como ler, contar histórias, fazer caminho seja percorrido com sucesso.
desenho de observação, buscar materiais para coleções. Dada
a pouca infraestrutura de muitas escolas, é preciso contar com [...]
a improvisação de espaços para o desenvolvimento de
atividades específicas de laboratório, teatro, artes plásticas,
música, esportes, etc.
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e do BRASIL. Secretaria de
tempo refletem a concepção pedagógica e interferem
Educação Fundamental.
diretamente na construção da autonomia.
Parâmetros Curriculares
Seleção de matéria Nacionais: arte. Brasília:
MEC/SEF, 2ª ed. (1ª a 4ª série),
Todo material é fonte de informação, mas nenhum deve ser
utilizado com exclusividade. É importante haver diversidade Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
de materiais para que os conteúdos possam ser tratados da Volume 6 (1ª Parte).
maneira mais ampla possível.
O livro didático é um material de forte influência na prática
de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam
atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. ARTES
Além disso, é importante considerar que o livro didático não
deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de Apresentação
fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma A educação em arte propicia o desenvolvimento do
visão ampla do conhecimento. pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno
trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem função amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.
social real e se mantêm atualizados sobre o que acontece no Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos,
mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o que é apreciar e refletir sobre eles. Envolve, também, conhecer,
aprendido na escola e o conhecimento extraescolar. A apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as
utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, produções artísticas individuais e coletivas de distintas
folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, faz culturas e épocas.
o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. O documento de Arte expõe uma compreensão do
É indiscutível a necessidade crescente do uso de significado da arte na educação, explicitando conteúdos,
computadores pelos alunos como instrumento de objetivos e especificidades, tanto no que se refere ao ensino e
aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em à aprendizagem, quanto no que se refere à arte como
relação às novas tecnologias da informação e se manifestação humana.

Legislação 76
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A primeira parte do documento contém o histórico da área A arte também está presente na sociedade em profissões
no ensino fundamental e suas correlações com a produção em que são exercidas nos mais diferentes ramos de atividades; o
arte no campo educacional; foi elaborada para que o professor conhecimento em artes é necessário no mundo do trabalho e
possa conhecer a área na sua contextualização histórica e ter faz parte do desenvolvimento profissional dos cidadãos.
contato com os conceitos relativos à natureza do O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno
conhecimento artístico. tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética
A segunda parte busca circunscrever as artes no ensino esteja presente: a arte ensina que é possível transformar
fundamental, destacando quatro linguagens: Artes Visuais, continuamente a existência, que é preciso mudar referências a
Dança, Música e Teatro. Nela, o professor encontrará as cada momento, ser flexível.
questões relativas ao ensino e à aprendizagem em arte para as Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a
primeiras quatro séries, objetivos, conteúdos, critérios de flexibilidade é condição fundamental para aprender.
avaliação, orientações didáticas e bibliografia. O ser humano que não conhece arte tem uma experiência
Ambas as partes estão organizadas de modo a oferecer um de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da
material sistematizado para as ações dos educadores, força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade
fornecendo subsídios para que possam trabalhar com a instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas,
mesma competência exigida para todas as disciplinas do dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida.
projeto curricular.
A leitura do documento pode ser feita a partir de qualquer A arte e a educação
das linguagens, em consonância com o trabalho que estiver
sendo desenvolvido. Entretanto, recomenda-se sua leitura Desde o início da história da humanidade a arte sempre
global, a fim de que, no tratamento didático, o professor possa esteve presente em praticamente todas as formações culturais.
respeitar a seleção e a seriação das linguagens. O homem que desenhou um bisão numa caverna pré-histórica
teve que aprender, de algum modo, seu ofício. E, da mesma
1ª PARTE maneira, ensinou para alguém o que aprendeu. Assim, o ensino
e a aprendizagem da arte fazem parte, de acordo com normas
Caracterização da Área de Arte e valores estabelecidos em cada ambiente cultural, do
conhecimento que envolve a produção artística em todos os
Introdução tempos. No entanto, a área que trata da educação escolar em
artes tem um percurso relativamente recente e coincide com
Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacionais, as transformações educacionais que caracterizaram o século
Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros XX em várias partes do mundo.
conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A área A mudança radical que deslocou o foco de atenção da
de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas educação tradicional, centrado apenas na transmissão de
especificidades. conteúdos, para o processo de aprendizagem do aluno
A educação em arte propicia o desenvolvimento do também ocorreu no âmbito do ensino de Arte.
pensamento artístico e da percepção estética, que As pesquisas desenvolvidas a partir do início do século em
caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à vários campos das ciências humanas trouxeram dados
experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, importantes sobre o desenvolvimento da criança, sobre o
percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas processo criador, sobre a arte de outras culturas. Na
quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas confluência da antropologia, da filosofia, da psicologia, da
por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. psicanálise, da crítica de arte, da psicopedagogia e das
Esta área também favorece ao aluno relacionar-se tendências estéticas da modernidade surgiram autores que
criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por formularam os princípios inovadores para o ensino de artes
exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações plásticas, música, teatro e dança . Tais princípios reconheciam
mais amplas quando estuda um determinado período a arte da criança como manifestação espontânea e auto
histórico. Um aluno que exercita continuamente sua expressiva: valorizavam a livre expressão e a sensibilização
imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a para a experimentação artística como orientações que
desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema visavam o desenvolvimento do potencial criador, ou seja, eram
matemático. propostas centradas na questão do desenvolvimento do aluno.
Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poderá É importante salientar que tais orientações trouxeram
compreender a relatividade dos valores que estão enraizados uma contribuição inegável no sentido da valorização da
nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de produção criadora da criança, o que não ocorria na escola
sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer tradicional. Mas o princípio revolucionário que advogava a
abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana. todos, independentemente de talentos especiais, a
Além disso, torna-se capaz de perceber sua realidade cotidiana necessidade e a capacidade da expressão artística foi aos
mais vivamente, reconhecendo objetos e formas que estão à poucos sendo enquadrado em palavras de ordem, como, por
sua volta, no exercício de uma observação crítica do que existe exemplo, “o que importa é o processo criador da criança e não
na sua cultura, podendo criar condições para uma qualidade o produto que realiza” e “aprender a fazer, fazendo”; estes e
de vida melhor. muitos outros lemas foram aplicados mecanicamente nas
Uma função igualmente importante que o ensino da arte escolas, gerando deformações e simplificações na ideia
tem a cumprir diz respeito à dimensão social das original, o que redundou na banalização do “deixar fazer” —
manifestações artísticas. A arte de cada cultura revela o modo ou seja, deixar a criança fazer arte, sem nenhum tipo de
de perceber, sentir e articular significados e valores que intervenção.
governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos Ao professor destinava-se um papel cada vez mais
na sociedade. A arte solicita a visão, a escuta e os demais irrelevante e passivo. A ele não cabia ensinar nada e a arte
sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais adulta deveria ser mantida fora dos muros da escola, pelo
significativa das questões sociais. Essa forma de comunicação perigo da influência que poderia macular a “genuína e
é rápida e eficaz, pois atinge o interlocutor por meio de uma espontânea expressão infantil”.
síntese ausente na explicação dos fatos. O princípio da livre expressão enraizou-se e espalhou-se
pelas escolas, acompanhado pelo “imprescindível” conceito de

Legislação 77
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

criatividade, curioso fenômeno de consenso pedagógico, ocorridas ao longo da história do ensino de Arte em outras
presença obrigatória em qualquer planejamento, sem que partes do mundo.
parecesse necessário definir o que esse termo queria dizer.
O objetivo fundamental era o de facilitar o Histórico do ensino de Arte no Brasil
desenvolvimento criador da criança. No entanto, o que se
desencadeou como resultado da aplicação indiscriminada de Ao recuperar, mesmo que brevemente, a história do ensino
ideias vagas e imprecisas sobre a função da educação artística de Arte no Brasil, pode-se observar a integração de diferentes
foi uma descaracterização progressiva da área. Tal estrutura orientações quanto às suas finalidades, à formação e atuação
conceitual foi perdendo o sentido, principalmente para os dos professores, mas, principalmente, quanto às políticas
alunos. Além disso, muitos dos objetivos arrolados nos educacionais e os enfoques filosóficos, pedagógicos e estéticos.
planejamentos dos professores de Arte poderiam também O ensino de Arte é identificado pela visão humanista e
compor outras disciplinas do currículo, como, por exemplo, filosófica que demarcou as tendências tradicionalista e
desenvolver a criatividade, a sensibilidade, o autocontrole, etc. escolanovista. Embora ambas se contraponham em
Na entrada da década de 60, arte-educadores, proposições, métodos e entendimento dos papéis do professor
principalmente americanos, lançaram as bases para uma nova e do aluno, ficam evidentes as influências que exerceram nas
mudança de foco dentro do ensino de Arte, questionando ações escolares de Arte.
basicamente a ideia do desenvolvimento espontâneo da Essas tendências vigoraram desde o início do século e
expressão artística da criança e procurando definir a ainda hoje participam das escolhas pedagógicas e estéticas de
contribuição específica da arte para a educação do ser professores de Arte.
humano. Na primeira metade do século XX, as disciplinas Desenho,
A reflexão que inaugurou uma nova tendência, cujo Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico faziam parte dos
objetivo era precisar o fenômeno artístico como conteúdo programas das escolas primárias e secundárias, concentrando
curricular, articulou-se num duplo movimento: de um lado, a o conhecimento na transmissão de padrões e modelos das
revisão crítica da livre expressão; de outro, a investigação da culturas predominantes. Na escola tradicional, valorizavam-se
natureza da arte como forma de conhecimento. principalmente as habilidades manuais, os “dons artísticos”, os
Como em todos os momentos históricos, o pensamento hábitos de organização e precisão, mostrando ao mesmo
produzido por esses autores estava estreitamente vinculado tempo uma visão utilitarista e imediatista da arte. Os
às tendências do conhecimento da época, manifestadas professores trabalhavam com exercícios e modelos
principalmente na linguística estrutural, na estética, na convencionais selecionados por eles em manuais e livros
pedagogia, na psicologia cognitivista, na própria produção didáticos. O ensino de Arte era voltado essencialmente para o
artística, entre outras. domínio técnico, mais centrado na figura do professor;
Assim, a crítica à livre expressão questionava a competia a ele “transmitir” aos alunos os códigos, conceitos e
aprendizagem artística como consequência automática do categorias, ligados a padrões estéticos que variavam de
processo de maturação da criança. linguagem para linguagem mas que tinham em comum,
No início da década de 70 autores responsáveis pela sempre, a reprodução de modelos.
mudança de rumo do ensino de Arte nos Estados Unidos A disciplina Desenho, apresentada sob a forma de Desenho
afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de Geométrico, Desenho do Natural e Desenho Pedagógico, era
formas complexas de aprendizagem e, portanto, não ocorre considerada mais por seu aspecto funcional do que uma
automaticamente à medida que a criança cresce; é tarefa do experiência em arte; ou seja, todas as orientações e
professor propiciar essa aprendizagem por meio da instrução. conhecimentos visavam uma aplicação imediata e a
Segundo esses autores, as habilidades artísticas se qualificação para o trabalho.
desenvolvem por meio de questões que se apresentam à As atividades de teatro e dança somente eram
criança no decorrer de suas experiências de buscar meios para reconhecidas quando faziam parte das festividades escolares
transformar ideias, sentimentos e imagens num objeto na celebração de datas como Natal, Páscoa ou Independência,
material. Tal experiência pode ser orientada pelo professor e ou nas festas de final de período escolar. O teatro era tratado
nisso consiste sua contribuição para a educação da criança no com uma única finalidade: a da apresentação. As crianças
campo da arte. decoravam os textos e os movimentos cênicos eram marcados
Atualmente, professores de todos os cantos do mundo se com rigor.
preocupam em responder perguntas básicas que Em Música, a tendência tradicionalista teve seu
fundamentam sua atividade pedagógica: “Que tipo de representante máximo no Canto Orfeônico, projeto preparado
conhecimento caracteriza a arte?”, “Qual a função da arte na pelo compositor Heitor Villa-Lobos, na década de 30. Esse
sociedade?”, “Qual a contribuição específica que a arte traz projeto constitui referência importante por ter pretendido
para a educação do ser humano?”, “Como as contribuições da levar a linguagem musical de maneira consistente e
arte podem ser significativas e vivas dentro da escola?” e sistemática a todo o País. O Canto Orfeônico difundia ideias de
“Como se aprende a criar, experimentar e entender a arte e coletividade e civismo, princípios condizentes com o momento
qual a função do professor nesse processo?”. político de então.
As tendências que se manifestaram no ensino de Arte a Entre outras questões, o projeto Villa-Lobos esbarrou em
partir dessas perguntas geraram as condições para o dificuldades práticas na orientação de professores e acabou
estabelecimento de um quadro de referências conceituais transformando a aula de música numa teoria musical baseada
solidamente fundamentado dentro do currículo escolar, nos aspectos matemáticos e visuais do código musical com a
focalizando a especificidade da área e definindo seus memorização de peças orfeônicas, que, refletindo a época,
contornos com base nas características inerentes ao fenômeno eram de caráter folclórico, cívico e de exaltação.
artístico. Depois de cerca de trinta anos de atividades em todo o
A partir desse novo foco de atenção, desenvolveram-se Brasil, o Canto Orfeônico foi substituído pela Educação
muitas pesquisas, dentre as quais se ressaltaram as que Musical, criada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
investigam o modo de aprender dos artistas. Tais trabalhos Brasileira de 1961, vigorando efetivamente a partir de meados
trouxeram dados importantes para as propostas pedagógicas, da década de 60.
que consideram tanto os conteúdos a serem ensinados quanto Entre os anos 20 e 70, as escolas brasileiras viveram outras
os processos de aprendizagem dos alunos. As escolas experiências no âmbito do ensino e aprendizagem de arte,
brasileiras têm manifestado a influência das tendências fortemente sustentadas pela estética modernista e com base

Legislação 78
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

na tendência escolanovista. O ensino de Arte volta-se para o Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
desenvolvimento natural da criança, centrado no respeito às Nacional, a arte é incluída no currículo escolar com o título de
suas necessidades e aspirações, valorizando suas formas de Educação Artística, mas é considerada “atividade educativa” e
expressão e de compreensão do mundo. As práticas não disciplina.
pedagógicas, que eram diretivas, com ênfase na repetição de A introdução da Educação Artística no currículo escolar foi
modelos e no professor, são redimensionadas, deslocando-se um avanço, principalmente se se considerar que houve um
a ênfase para os processos de desenvolvimento do aluno e sua entendimento em relação à arte na formação dos indivíduos,
criação. seguindo os ditames de um pensamento renovador. No
As aulas de Desenho e Artes Plásticas assumem entanto, o resultado dessa proposição foi contraditório e
concepções de caráter mais expressivo, buscando a paradoxal. Muitos professores não estavam habilitados e,
espontaneidade e valorizando o crescimento ativo e menos ainda, preparados para o domínio de várias linguagens,
progressivo do aluno. As atividades de artes plásticas que deveriam ser incluídas no conjunto das atividades
mostram-se como espaço de invenção, autonomia e artísticas (Artes Plásticas, Educação Musical, Artes Cênicas).
descobertas, baseando-se principalmente na auto expressão Para agravar a situação, durante os anos 70-80, tratou-se
dos alunos. dessa formação de maneira indefinida: “... não é uma matéria,
Os professores da época estudam as novas teorias sobre o mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos,
ensino de Arte divulgadas no Brasil e no exterior, as quais flutuando ao sabor das tendências e dos interesses”. A
favorecem o rompimento com a rigidez estética, Educação Artística de mostrava, em sua concepção e
marcadamente reprodutivista da escola tradicional. desenrolar, que o sistema educacional vigente estava
Com a Educação Musical, incorporaram-se nas escolas enfrentando dificuldades de base na relação entre teoria e
também os novos métodos que estavam sendo disseminados prática.
na Europa. Contrapondo-se ao Canto Orfeônico, passa a existir Os professores de Educação Artística, capacitados
no ensino de música um outro enfoque, quando a música pode inicialmente em cursos de curta duração, tinham como única
ser sentida, tocada, dançada, além de cantada. Utilizando jogos, alternativa seguir documentos oficiais (guias curriculares) e
instrumentos de percussão, rodas e brincadeiras buscava-se livros didáticos em geral, que não explicitavam fundamentos,
um desenvolvimento auditivo, rítmico, a expressão corporal e orientações teórico-metodológicas ou mesmo bibliografias
a socialização das crianças que são estimuladas a específicas. As próprias faculdades de Educação Artística,
experimentar, improvisar e criar. criadas especialmente para cobrir o mercado aberto pela lei,
No período que vai dos anos 20 aos dias de hoje, faixa de não estavam instrumentadas para a formação mais sólida do
tempo concomitante àquela em que se assistiu a várias professor, oferecendo cursos eminentemente técnicos, sem
tentativas de se trabalhar a arte também fora das escolas, vive- bases conceituais. Desprestigiados, isolados e inseguros, os
se o crescimento de movimentos culturais, anunciando a professores tentavam equacionar um elenco de objetivos
modernidade e vanguardas. Foi marcante para a inatingíveis, com atividades múltiplas, envolvendo exercícios
caracterização de um pensamento modernista a “Semana de musicais, plásticos, corporais, sem conhecê-los bem, que eram
Arte Moderna de São Paulo”, em 1922, na qual estiveram justificados e divididos apenas pelas faixas etárias.
envolvidos artistas de várias modalidades: artes plásticas, De maneira geral, entre os anos 70 e 80, os antigos
música, poesia, dança, etc. professores de Artes Plásticas, Desenho, Música, Artes
Em artes plásticas, acompanhou-se uma abertura Industriais, Artes Cênicas e os recém-formados em Educação
crescente para as novas expressões e o surgimento dos Artística viram-se responsabilizados por educar os alunos (em
museus de arte moderna e contemporânea em todo o País. A escolas de ensino médio) em todas as linguagens artísticas,
encenação do “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, configurando-se a formação do professor polivalente em Arte.
introduz o teatro brasileiro na modernidade. Em música, o Com isso, inúmeros professores deixaram as suas áreas
Brasil viveu um progresso excepcional, tanto na criação específicas de formação e estudos, tentando assimilar
musical erudita, como na popular. Na área popular, traça-se a superficialmente as demais, na ilusão de que as dominariam
linha poderosa que vem de Pixinguinha e Noel Rosa e chega, em seu conjunto. A tendência passou a ser a diminuição
hoje, ao movimentado intercâmbio internacional de músicos, qualitativa dos saberes referentes às especificidades de cada
ritmos, sonoridades, técnicas, composição, etc., passando pelo uma das formas de arte e, no lugar destas, desenvolveu-se a
momento de maior penetração da música nacional na cultura crença de que bastavam propostas de atividades expressivas
mundial, com a Bossa Nova. espontâneas para que os alunos conhecessem muito bem
Em fins dos anos 60 e na década de 70 nota-se uma música, artes plásticas, cênicas, dança, etc.
tentativa de aproximação entre as manifestações artísticas Pode-se dizer que nos anos 70, do ponto de vista da arte,
ocorridas fora do espaço escolar e a que se ensina dentro dele: em seu ensino e aprendizagem foram mantidas as decisões
é a época dos festivais da canção e das novas experiências curriculares oriundas do ideário do início a meados do século
teatrais, quando as escolas promovem festivais de música e 20 (marcadamente tradicional e escolanovista), com ênfase,
teatro com grande mobilização dos estudantes. respectivamente, na aprendizagem reprodutiva e no fazer
Esses momentos de aproximação — que já se anunciaram expressivo dos alunos. Os professores passam a atuar em
quando algumas ideias e a estética modernista influenciou o todas as áreas artísticas, independentemente de sua formação
ensino de Arte — são importantes, pois sugerem um caminho e habilitação. Conhecer mais profundamente cada uma das
integrado à realidade artística brasileira, considerada modalidades artísticas, as articulações entre elas e conhecer
mundialmente original e rica. artistas, objetos artísticos e suas histórias não faziam parte de
Mas o lugar da arte na hierarquia das disciplinas escolares decisões curriculares que regiam a prática educativa em Arte
corresponde a um desconhecimento do poder da imagem, do nessa época.
som, do movimento e da percepção estética como fontes de A partir dos anos 80 constitui-se o movimento Arte-
conhecimento. Até os anos 60, existiam pouquíssimos cursos Educação, inicialmente com a finalidade de conscientizar e
de formação de professores nesse campo, e professores de organizar os profissionais, resultando na mobilização de
quaisquer matérias ou pessoas com alguma habilidade na área grupos de professores de arte, tanto da educação formal como
(artistas e estudiosos de cursos de belas-artes, de da informal. O movimento Arte-Educação permitiu que se
conservatórios, etc.) poderiam assumir as disciplinas de ampliassem as discussões sobre a valorização e o
Desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas e Música. aprimoramento do professor, que reconhecia o seu isolamento
dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e

Legislação 79
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

competência na área. As ideias e princípios que fundamentam disciplinas do currículo escolar. Sem uma consciência clara de
a Arte-Educação multiplicam-se no País por meio de encontros sua função e sem uma fundamentação consistente de arte
e eventos promovidos por universidades, associações de arte- como área de conhecimento com conteúdos específicos, os
educadores, entidades públicas e particulares, com o intuito de professores não conseguem formular um quadro de
rever e propor novos andamentos à ação educativa em Arte. referências conceituais e metodológicas para alicerçar sua
Em 1988, com a promulgação da Constituição, iniciam-se ação pedagógica; não há material adequado para as aulas
as discussões sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da práticas, nem material didático de qualidade para dar suporte
Educação Nacional, que seria sancionada apenas em 20 de às aulas teóricas.
dezembro de 1996. Convictos da importância de acesso A partir dessas constatações procurou-se formular
escolar dos alunos de ensino básico também à área de Arte, princípios que orientem os professores na sua reflexão sobre
houve manifestações e protestos de inúmeros educadores a natureza do conhecimento artístico e na delimitação do
contrários a uma das versões da referida lei, que retirava a espaço que a área de
obrigatoriedade da área. Arte pode ocupar no ensino fundamental, a partir de uma
Com a Lei n. 9.394/96, revogam-se as disposições investigação do fenômeno artístico e de como se ensina e como
anteriores e Arte é considerada obrigatória na educação se aprende arte.
básica: “O ensino da arte constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma A arte como objeto de conhecimento
a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (art. 26,
§2o). O universo da arte caracteriza um tipo particular de
Vê-se que da conscientização profissional que predominou conhecimento que o ser humano produz a partir das perguntas
no início do movimento Arte-Educação evoluiu-se para fundamentais que desde sempre se fez com relação ao seu
discussões que geraram concepções e novas metodologias lugar no mundo.
para o ensino e a aprendizagem de arte nas escolas. A manifestação artística tem em comum com o
É com este cenário que se chegou ao final da década de 90, conhecimento científico, técnico ou filosófico seu caráter de
mobilizando novas tendências curriculares em Arte, pensando criação e inovação. Essencialmente, o ato criador, em qualquer
no terceiro milênio. São características desse novo marco dessas formas de conhecimento, estrutura e organiza o
curricular as reivindicações de identificar a área por Arte (e mundo, respondendo aos desafios que dele emanam, num
não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura constante processo de transformação do homem e da
curricular como área, com conteúdos próprios ligados à realidade circundante. O produto da ação criadora, a inovação,
cultura artística e não apenas como atividade. é resultante do acréscimo de novos elementos estruturais ou
Dentre as várias propostas que estão sendo difundidas no da modificação de outros. Regido pela necessidade básica de
Brasil na transição para o século XXI, destacam-se aquelas que ordenação, o espírito humano cria, continuamente, sua
têm se afirmado pela abrangência e por envolver ações que, consciência de existir por meio de manifestações diversas.
sem dúvida, estão interferindo na melhoria do ensino e da O ser humano sempre organizou e classificou os
aprendizagem de arte. Trata-se de estudos sobre a educação fenômenos da natureza, o ciclo das estações, os astros no céu,
estética, a estética do cotidiano, complementando a formação as diferentes plantas e animais, as relações sociais, políticas e
artística dos alunos. econômicas, para compreender seu lugar no universo,
Ressalta-se ainda o encaminhamento pedagógico-artístico buscando a significação da vida.
que tem por premissa básica a integração do fazer artístico, a Tanto a ciência quanto a arte, respondem a essa
apreciação da obra de arte e sua contextualização histórica. necessidade mediante a construção de objetos de
conhecimento que, juntamente com as relações sociais,
Teoria e prática em Arte nas escolas brasileiras políticas e econômicas, sistemas filosóficos e éticos, formam o
conjunto de manifestações simbólicas de uma determinada
A questão central do ensino de Arte no Brasil diz respeito cultura.
a um enorme descompasso entre a produção teórica, que tem Ciência e arte são, assim, produtos que expressam as
um trajeto de constantes perguntas e formulações, e o acesso representações imaginárias das distintas culturas, que se
dos professores a essa produção, que é dificultado pela renovam através dos tempos, construindo o percurso da
fragilidade de sua formação, pela pequena quantidade de história humana. A própria ideia de ciência como disciplina
livros editados sobre o assunto, sem falar nas inúmeras visões autônoma, distinta da arte, é produto recente da cultura
preconcebidas que reduzem a atividade artística na escola a ocidental.
um verniz de superfície, que visa as comemorações de datas Nas antigas sociedades tradicionais não havia essa
cívicas e enfeitar o cotidiano escolar. distinção: a arte integrava a vida dos grupos humanos,
Em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, o desenho impregnada nos ritos, cerimônias e objetos de uso cotidiano; a
mimeografado com formas estereotipadas para as crianças ciência era exercida por curandeiros, sacerdotes, fazendo
colorirem, ou se apresentam “musiquinhas” indicando ações parte de um modo mítico de compreensão da realidade.
para a rotina escolar (hora do lanche, hora da saída). Em Mesmo na cultura moderna, a relação entre arte e ciência
outras, trabalha-se apenas com a auto-expressão; ou, ainda os apresenta-se de diferentes maneiras, do início do mundo
professores estão ávidos por ensinar história da arte e levar os ocidental até os dias de hoje. Nos séculos que se sucederam ao
alunos a museus, teatros e apresentações musicais ou de Renascimento, arte e ciência eram cada vez mais consideradas
dança. Há outras tantas possibilidades em que o professor como áreas de conhecimento totalmente diferentes, gerando
polivalente inventa maneiras originais de trabalhar, munido uma concepção falaciosa, segundo a qual a ciência seria
apenas de sua própria iniciativa e pesquisa autodidata. produto do pensamento racional e a arte, pura sensibilidade.
Essa pluralidade de ações individuais representa Na verdade, nunca foi possível existir ciência sem imaginação,
experiências isoladas que têm pouca oportunidade de troca, o nem arte sem conhecimento. Tanto uma como a outra são
que se realiza nos eventos, congressos regionais, onde cada ações criadoras na construção do devir humano.
vez mais professores se reúnem, mas aos quais a grande O próprio conceito de verdade científica cria mobilidade,
maioria não tem acesso. torna-se verdade provisória, o que muito aproxima
O que se observa, então, é uma espécie de círculo vicioso estruturalmente os produtos da ciência e da arte.
no qual um sistema extremamente precário de formação Os dinamismos do homem que apreende a realidade de
reforça o espaço pouco definido da área com relação às outras forma poética e os do homem que a pensa cientificamente são

Legislação 80
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

vias peculiares e irredutíveis de acesso ao conhecimento, mas, O conhecimento artístico não tem como objetivo
ao mesmo tempo, são dois aspectos da unidade psíquica. Há compreender e definir leis gerais que expliquem por que as
uma tendência cada vez mais acentuada nas investigações coisas são como são.
contemporâneas no sentido de dimensionar a “Tudo certo como dois e dois são cinco” (Caetano Veloso).
complementaridade entre arte e ciência, precisando a As formas artísticas apresentam uma síntese subjetiva de
distinção entre elas e, ao mesmo tempo, integrando-as numa significações construídas por meio de imagens poéticas
nova compreensão do ser humano. Nova, mas nem tanto. (visuais, sonoras, corporais, ou de conjuntos de palavras, como
Existem muitas obras sobre o fenômeno da criatividade que no texto literário ou teatral). Não é um discurso linear sobre
citam exemplos de pessoas que escreveram a respeito do objetos, fatos, questões, ideias e sentimentos. A forma artística
próprio processo criador. Artistas e cientistas relatam é antes uma combinação de imagens que são objetos, fatos,
ocorrências semelhantes, tornando possível a sistematização questões, ideias e sentimentos, ordenados não pelas leis da
de certas invariantes, como por exemplo, o ponto culminante lógica objetiva, mas por uma lógica intrínseca ao domínio do
da ação criadora, a famosa “Eureka!”: o instante súbito do imaginário.
“Achei!” pode ocorrer para o matemático na resolução O artista faz com que dois e dois possam ser cinco, uma
repentina de um problema, num momento em que ele não árvore possa ser azul, uma tartaruga possa voar. A arte não
esteja pensando no assunto. Da mesma forma, um músico representa ou reflete a realidade, ela é realidade percebida de
passeava a pé depois do almoço, quando lhe veio uma sinfonia um outro ponto de vista.
inteira na cabeça; só precisou sentar depois para escrevê-la. O artista desafia as coisas como são, para revelar como
É claro que nos dois casos, tanto o matemático quanto o poderiam ser, segundo um certo modo de significar o mundo
músico estiveram durante um longo tempo anterior que lhe é próprio. O conhecimento artístico se realiza em
maturando questões, a partir de um processo contínuo de momentos singulares, intraduzíveis, do artista ou do
levantamento de dados, investigando possibilidades. espectador com aquela obra particular, num instante
Parece que, em geral, esse caráter de “iluminação súbita” é particular.
comum à arte e à ciência, com algo que se revela à consciência — O que distingue essencialmente a criação artística das
do criador, vindo à tona independentemente de sua vontade, outras modalidades de conhecimento humano é a qualidade de
quer seja naquele ou noutro momento, mas sendo posterior a comunicação entre os seres humanos que a obra de arte
um imprescindível período de trabalho árduo sobre o assunto. propicia, por uma utilização particular das formas de
Malba Tahan, um dos mais importantes educadores linguagem.
brasileiros no campo da matemática, disse, no início da década A corporificação de ideias e sentimentos do artista numa
de trinta, que a solução de um problema matemático é um forma apreensível pelos sentidos caracteriza a obra artística
verdadeiro poema de beleza e simplicidade. como produto da criação humana.
Para um cientista, uma fórmula pode ser “bela”; para um O produto criado pelo artista propicia um tipo de
artista plástico, as relações entre a luz e as formas são comunicação no qual inúmeras formas de significações se
“problemas a serem resolvidos plasticamente”. Parece que há condensam pela combinação de determinados elementos,
muito mais coisas em comum entre estas duas formas de diferentes para cada modalidade artística, como, por exemplo:
conhecimento do que sonha nossa vã filosofia. linhas, formas, cores e texturas, na forma plástica; altura,
Esta discussão interessa particularmente ao campo da timbre, intensidade e ritmo, na forma musical; personagens,
educação, que manifesta uma necessidade urgente de espaço, texto e cenário, na forma teatral; e movimento,
formular novos paradigmas que evitem a oposição entre arte desenho no espaço, ritmo e composição, na forma da dança.
e ciência, para fazer frente às transformações políticas, sociais O que seria essa utilização particular das formas da
e tecnocientíficas que anunciam o ser humano do século XXI. linguagem? Num texto jornalístico, a matéria pode informar
Apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre sobre uma peça teatral de fim de ano ocorrida na escola X, feita
a aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá por um grupo de alunos, descrevendo e relatando o
contribuir para o exercício conjunto complementar da razão e acontecimento. Seu objetivo é informar o leitor sobre o fato.
do sonho, no qual conhecer é também maravilhar-se, divertir- No conto “Pirlimpsiquice”, Guimarães Rosa também fala de
se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, um acontecimento semelhante, de um modo completamente
trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas. diferente. É um texto poético que se inicia com a seguinte frase:
Com o objetivo de relacionar a arte com a formação dos “Aquilo em nosso teatrinho foi de Oh!”. Nessa frase, o texto não
alunos do ensino fundamental, serão apresentadas algumas dá apenas uma informação ao leitor, mas concretiza uma
características do fenômeno artístico. multiplicidade de significações relativas à experiência de um
grupo de alunos que fizeram uma peça de final de ano num
O Conhecimento Artístico como Produção e Fruição colégio de padres. A expressão “foi de Oh!” é uma síntese
poética que ganha sentido para o leitor dentro do conjunto do
— A obra de arte situa-se no ponto de encontro entre o texto e contém tudo o que é relatado a seguir, ao mesmo tempo
particular e o universal da experiência humana. em que lhe propicia conferir a este “Oh!” suas próprias
“Até mesmo asa branca/ Bateu asas do sertão/ Então eu significações. Essa expressão quer dizer o quê? Espanto,
disse adeus Rosinha/ Guarda contigo meu coração” (Luís maravilha, embevecimento, susto, medo e muitas outras coisas
Gonzaga e Humberto Teixeira). para cada leitor. O que importa é que, em vez de descrever
No exemplo da canção “Asa Branca”, o voo do pássaro minuciosamente o que foi a experiência, Guimarães Rosa
(experiência humana universal) retrata a figura do retirante condensa toda essa experiência numa única frase síntese que,
(experiência particular de algumas regiões). como imagem poética, é um modo particular de utilização das
Cada obra de arte é, ao mesmo tempo, um produto cultural possibilidades da linguagem, criando um tipo diferenciado de
de uma determinada época e uma criação singular da comunicação entre as pessoas.
imaginação humana, cujo valor é universal. Assim como cada frase ganha sentido no conjunto do texto,
Por isso, uma obra de arte não é mais avançada, mais realizando o todo da forma literária, cada elemento visual,
evoluída, nem mais correta do que outra qualquer. musical, dramático ou de movimento tem seu lugar e se
— A obra de arte revela para o artista e para o espectador relaciona com os demais daquela forma artística específica.
uma possibilidade de existência e comunicação, além da — A forma artística fala por si mesma, independe e vai além
realidade de fatos e relações habitualmente conhecidos. das intenções do artista.

Legislação 81
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A “Guernica”, de Picasso, contém a ideia do repúdio aos nas águas e começou a mexê-las com uma vareta. Perguntou-
horrores da guerra. Uma pessoa que não conheça as intenções lhe o que fazia e o outro respondeu:
conscientes de Picasso pode ver a “Guernica” e sentir um — Estou fazendo iogurte.
impacto significativo; a significação é o produto revelado — Mas isto é um absurdo — disse o prefeito. — É
quando ocorre a relação entre as imagens da obra de Picasso e impossível fazer iogurte dessa maneira, água não vira iogurte.
os dados de sua experiência pessoal. — Já pensou se fosse possível? — respondeu Nasrudin”.
A forma artística pode significar coisas diferentes, A imaginação criadora permite ao ser humano conceber
resultantes da experiência de apreciação de cada um. Seja na situações, fatos, ideias e sentimentos que se realizam como
forma de alegoria, de formulação crítica, de descoberta de imagens internas, a partir da manipulação da linguagem. É
padrões formais, de propaganda ideológica, de pura poesia, a essa capacidade de formar imagens que torna possível a
obra de arte ganha significado na fruição de cada espectador. evolução do homem e o desenvolvimento da criança;
— A percepção estética é a chave da comunicação artística. visualizar situações que não existem, mas que podem vir a
No processo de conhecimento artístico, do qual faz parte a existir, abre o acesso a possibilidades que estão além da
apreciação estética, o canal privilegiado de compreensão é a experiência imediata.
qualidade da experiência sensível da percepção. Diante de uma A emoção é movimento, a imaginação dá forma e
obra de arte, habilidades de percepção, intuição, raciocínio e densidade à experiência de perceber, sentir e pensar, criando
imaginação atuam tanto no artista quanto no espectador. Mas imagens internas que se combinam para representar essa
é inicialmente pelo canal da sensibilidade que se estabelece o experiência. A faculdade imaginativa está na raiz de qualquer
contato entre a pessoa do artista e a do espectador, mediado processo de conhecimento, seja científico, artístico ou técnico.
pela percepção estética da obra de arte. A flexibilidade é o atributo característico da atividade
O processo de conhecimento advém de relações imaginativa, pois é o que permite exercitar inúmeras
significativas, a partir da percepção das qualidades de linhas, composições entre imagens, para investigar possibilidades e
texturas, cores, sons, movimentos, etc. não apenas reproduzir relações conhecidas.
Quando Guimarães Rosa escreveu: “Nuvens, fiapos de No caso do conhecimento artístico, o domínio do
sorvete de coco”, criou uma forma artística na qual a metáfora, imaginário é o lugar privilegiado de sua atuação: é no terreno
uma maneira especial de utilização da linguagem, reuniu das imagens que a arte realiza sua força comunicativa.
elementos que, na realidade, estavam separados, mas se “Oi, meu patrão, a gente num deve de levá os negoço de
juntaram numa frase poética pela ação criadora do artista. arranco, lá cumo quem diz a ferro e fogo.
Nessa apreciação estética importa não apenas o exercício da Quem num arranja de bons modo, de cum força é que num
habilidade intelectiva mas, principalmente, que o leitor seja vai.
capaz de se deixar tocar sensivelmente para poder perceber, Corda munto esticada rebenta.
por exemplo, as qualidades de peso, luz, textura, densidade e Ancê já viu cumo é que se tempera viola? Pois arrepare.
cor contidas nas imagens de nuvens e fiapos de sorvete de Caboclo pega da viola cum jeito, cumo quem corre a mão
coco; ao mesmo tempo, a experiência que essa pessoa tem ou na crina de burro chocro.
não de observar nuvens, de gostar ou não de sorvete de coco, Puxa pras cavera de devagá.
de saber ou não o que é uma metáfora fazem ressoar as Aperta elas leve leve.
imagens do texto nas suas próprias imagens internas e Passa os dedo nas corda, experimenta.
permitem que crie a significação particular que o texto lhe Bombeia o bordão.
revela. A significação não está, portanto, na obra, mas na Entesa as tripa do meio: ipa! Não vai rebentá.
interação complexa de natureza primordialmente imaginativa Destroce, torna a experimentá.
entre a obra e o espectador. Tempera a prima na afinação, sorta um espiricado e
— A personalidade do artista é ingrediente que se cumeça a ponteá.
transforma em gesto criador, fazendo parte da substância Por daí um poco viola tá chorano cumo gente.
mesma da obra. Magina ancê se o violero de um arranco apertasse as
Van Gogh disse: “Quero pintar em verde e vermelho as cravera numa vezada.
paixões humanas”. Os dados da sensibilidade se convertem em Num ficava uma corda só.
matéria expressiva de tal maneira que configuram o próprio Era um desastre dos diabo.
conteúdo da obra de arte: aquilo que é percebido pelos A gente, meu patrão, decede os negoço cumo quem tá
sentidos se transforma em uma construção feita de relações temperano viola”.
formais por meio da criação artística. O motor que organiza A qualidade imaginativa é um elemento indispensável na
esse conjunto é a sensibilidade: a emoção (emovere quer dizer apreensão dos conteúdos, possibilitando que a aprendizagem
o que se move) desencadeia o dinamismo criador do artista. A se realize por meio de estratégias pessoais de cada aluno.
emoção que provoca o impacto no apreciador faz ressoar,
dentro dele, o movimento que desencadeia novas O conhecimento artístico como reflexão
combinações significativas entre as suas imagens internas em
contato com as imagens da obra de arte. Mas a obra de arte não Além do conhecimento artístico como experiência estética
é resultante apenas da sensibilidade do artista, assim como a direta da obra de arte, o universo da arte contém também
emoção estética do espectador não lhe vem unicamente do outro tipo de conhecimento, gerado pela necessidade de
sentimento que a obra suscita nele. Na produção e apreciação investigar o campo artístico como atividade humana. Tal
da arte estão presentes habilidades de relacionar e solucionar conhecimento delimita o fenômeno artístico:
questões propostas pela organização dos elementos que — como produto das culturas;
compõem as formas artísticas: conhecer arte envolve o — como parte da História;
exercício conjunto do pensamento, da intuição, da — como estrutura formal na qual podem ser identificados
sensibilidade e da imaginação. os elementos que compõem os trabalhos artísticos e os
— A imaginação criadora transforma a existência humana princípios que regem sua combinação.
através da pergunta que dá sentido à aventura de conhecer: “Já É função de a escola instrumentar os alunos na
pensou se fosse possível?”. compreensão que podem ter dessas questões, em cada nível de
“O mestre Nasrudin estava sentado à beira de um lago desenvolvimento, para que sua produção artística ganhe
muito grande. O prefeito da cidade passava por ali naquele sentido e possa se enriquecer também pela reflexão sobre a
momento e viu quando Nasrudin jogou um pouco de iogurte arte como objeto de conhecimento.

Legislação 82
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Em síntese o conhecimento da arte envolve: Nessa perspectiva, a área de Arte tem uma função
- a experiência de fazer formas artísticas e tudo que entra importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico como fato e
em jogo nessa ação criadora: recursos pessoais, habilidades, necessidade de humanizar o homem histórico, brasileiro, que
pesquisa de materiais e técnicas, a relação entre perceber, conhece suas características tanto particulares, tal como se
imaginar e realizar um trabalho de arte; mostram na criação de uma arte brasileira, quanto universais,
- a experiência de fruir formas artísticas, utilizando tal como se revelam no ponto de encontro entre o fazer
informações e qualidades perceptivas e imaginativas para artístico dos alunos e o fazer dos artistas de todos os tempos,
estabelecer um contato, uma conversa em que as formas que sempre inauguram formas de tornar presente o
signifiquem coisas diferentes para cada pessoa; inexplicável.
- a experiência de refletir sobre a arte como objeto de
conhecimento, onde importam dados sobre a cultura em que o Aprender e Ensinar Arte no Ensino Fundamental
trabalho artístico foi realizado, a história da arte e os
elementos e princípios formais que constituem a produção Aprender arte é desenvolver progressivamente um
artística, tanto de artistas quanto dos próprios alunos. percurso de criação pessoal cultivado, ou seja, alimentado
Assim, a partir desse quadro de referências, situa-se a área pelas interações significativas que o aluno realiza com aqueles
de Arte dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais como que trazem informações pertinentes para o processo de
um tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência de aprendizagem (outros alunos, professores, artistas,
apropriação de produtos artísticos (que incluem as obras especialistas), com fontes de informação (obras, trabalhos dos
originais e as produções relativas à arte, tais como textos, colegas, acervos, reproduções, mostras, apresentações) e com
reproduções, vídeos, gravações, entre outros) quanto o o seu próprio percurso de criador.
desenvolvimento da competência de configurar significações Fazer arte e pensar sobre o trabalho artístico que realiza,
por meio da realização de formas artísticas. Ou seja, entende- assim como sobre a arte que é e foi concretizada na história,
se que aprender arte envolve não apenas uma atividade de podem garantir ao aluno uma situação de aprendizagem
produção artística pelos alunos, mas também a conquista da conectada com os valores e os modos de produção artística nos
significação do que fazem, pelo desenvolvimento da percepção meios socioculturais.
estética, alimentada pelo contato com o fenômeno artístico Ensinar arte em consonância com os modos de
visto como objeto de cultura através da história e como aprendizagem do aluno, significa, então, não isolar a escola da
conjunto organizado de relações formais. É importante que os informação sobre a produção histórica e social da arte e, ao
alunos compreendam o sentido do fazer artístico; que suas mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e
experiências de desenhar, cantar, dançar ou dramatizar não edificar propostas artísticas pessoais ou grupais com base em
são atividades que visam distraí-los da “seriedade” das outras intenções próprias. E tudo isso integrado aos aspectos lúdicos
disciplinas. Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos e prazerosos que se apresentam durante a atividade artística.
de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos Assim, aprender com sentido e prazer está associado à
sobre sua relação com o mundo. Além disso, desenvolvem compreensão mais clara daquilo que é ensinado. Para tanto, os
potencialidades (como percepção, observação, imaginação e conteúdos da arte não podem ser banalizados, mas devem ser
sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do seu lugar ensinados por meio de situações e/ou propostas que alcancem
no mundo e também contribuem inegavelmente para sua os modos de aprender do aluno e garantam a participação de
apreensão significativa dos conteúdos das outras disciplinas cada um dentro da sala de aula. Tais orientações favorecem o
do currículo. emergir de formulações pessoais de ideias, hipóteses, teorias
Por meio do convívio com o universo da arte, os alunos e formas artísticas. Progressivamente e por meio de trabalhos
podem conhecer: contínuos essas formulações tendem a se aproximar de modos
- o fazer artístico como experiência poética (a técnica e o mais elaborados de fazer e pensar sobre arte. Introduzir o
fazer como articulação de significados e experimentação de aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental às origens do
materiais e suportes variados); teatro ou aos textos de dramaturgia por meio de histórias
- o fazer artístico como desenvolvimento de narradas pode despertar maior interesse e curiosidade sem
potencialidades: percepção, reflexão, sensibilidade, perder a integridade dos conteúdos e fatos históricos.
imaginação, intuição, curiosidade e flexibilidade; Cabe ao professor escolher os modos e recursos didáticos
- o fazer artístico como experiência de interação adequados para apresentar as informações, observando
(celebração e simbolização de histórias grupais); sempre a necessidade de introduzir formas artísticas, porque
- o objeto artístico como forma (sua estrutura ou leis ensinar arte com arte é o caminho mais eficaz. Em outras
internas de formatividade); palavras, o texto literário, a canção e a imagem trarão mais
- o objeto artístico como produção cultural (documento do conhecimentos ao aluno e serão mais eficazes como
imaginário humano, sua historicidade e sua diversidade). portadores de informação e sentido. O aluno, em situações de
A aprendizagem artística envolve, portanto, um conjunto aprendizagem, precisa ser convidado a se exercitar nas
de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de práticas de aprender a ver, observar, ouvir, atuar, tocar e
significações, exercitando fundamentalmente a constante refletir sobre elas.
possibilidade de transformação do ser humano. Além disso, É papel da escola incluir as informações sobre a arte
encarar a arte como produção de significações que se produzida nos âmbitos regional, nacional e internacional,
transformam no tempo e no espaço permite contextualizar a compreendendo criticamente também aquelas produzidas
época em que se vive na sua relação com as demais. pelas mídias para democratizar o conhecimento e ampliar as
A arte é um modo privilegiado de conhecimento e possibilidades de participação social do aluno.
aproximação entre indivíduos de culturas distintas, pois Ressalta-se que o percurso criador do aluno,
favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças contemplando os aspectos expressivos e construtivos, é o foco
expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, num central da orientação e planejamento da escola.
plano que vai além do discurso verbal: uma criança da cidade, O ensino fundamental configura-se como um momento
ao observar uma dança indígena, estabelece um contato com o escolar especial na vida dos alunos, porque é nesse momento
índio que pode revelar mais sobre o valor e a extensão de seu de seu desenvolvimento que eles tendem a se aproximar mais
universo do que uma explanação sobre a função do rito nas das questões do universo do adulto e tentam compreendê-las
comunidades indígenas. E vice-versa. dentro de suas possibilidades. Ficam curiosos sobre temas

Legislação 83
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

como a dinâmica das relações sociais, as relações de trabalho, sistemático, às do círculo de produção social ao qual tem
como e por quem as coisas são produzidas. acesso. Essa caracterização do aluno tem levado à crença de
No que se refere à arte, o aluno pode tornar-se consciente que nesse período a criança é menos espontânea e menos
da existência de uma produção social concreta e observar que criativa nas atividades artísticas que no período anterior à
essa produção tem história. escolaridade.
O aluno pode observar ainda que os trabalhos artísticos O aluno de primeira a quarta série do ensino fundamental
envolvem a aquisição de códigos e habilidades que passa a busca se aproximar da produção cultural de arte. Entretanto,
querer dominar para incorporar em seus trabalhos. Tal desejo tais interesses não podem ser confundidos com submissão aos
de domínio está correlacionado à nova percepção de que pode padrões adultos de arte. A vivência integral desse momento
assimilar para si formas artísticas elaboradas por pessoas ou autorizará o jovem a estruturar trabalhos próprios, com marca
grupos sociais, ao trilhar um caminho de trabalho artístico individual, inaugurando proposições poéticas autônomas que
pessoal. Esse procedimento diminui a defasagem entre o que o assimilam influências e transformam o trabalho que
aluno projeta e o que quer alcançar. desenvolvem dentro do seu percurso de criação nas diversas
Assim sendo, é no final desse período que o aluno, formas da arte. No período posterior, de quinta a oitava séries,
desenvolvendo práticas de representação mediante um essa vivência propiciará criar poéticas próprias, concretizadas
processo de dedicação contínua, dominará códigos com intencionalidade.
construídos socialmente em arte, sem perder seu modo de A área deve ser incorporada com objetivos amplos que
articular tais informações ou sua originalidade. atendam às características das aprendizagens, combinando o
A aprendizagem em arte acompanha o processo de fazer artístico ao conhecimento e à reflexão em arte. Esses
desenvolvimento geral da criança e do jovem desse período, objetivos devem assegurar a aprendizagem do aluno nos
que observa que sua participação nas atividades do cotidiano planos perceptivo, imaginativo e produtivo.
social estão envoltas nas regularidades, acordos, construções Com relação aos conteúdos, orienta-se o ensino da área de
e leis que reconhece na dinâmica social da comunidade à qual modo a acolher a diversidade do repertório cultural que a
pertence, pelo fato de se perceber como parte constitutiva criança traz para a escola, a trabalhar com os produtos da
desta. comunidade na qual a escola está inserida e também que se
Também cabe à escola orientar seu trabalho com o objetivo introduzam informações da produção social a partir de
de preservar e impulsionar a dinâmica do desenvolvimento e critérios de seleção adequados à participação do estudante na
da aprendizagem, preservando a autonomia do aluno e sociedade como cidadão informado.
favorecendo o contato sistemático com os conteúdos, temas e A formação em arte, que inclui o conhecimento do que é e
atividades que melhor garantirão seu progresso e integração foi produzido em diferentes comunidades, deve favorecer a
como estudante. valorização dos povos pelo reconhecimento de semelhanças e
Tal conjunto de considerações sobre os modos de contrastes, qualidades e especificidades, o que pode abrir o
aprender e ensinar arte possibilitam uma revisão das teorias leque das múltiplas escolhas que o jovem terá que realizar ao
sobre a arte da criança e do adolescente. longo de seu crescimento, na consolidação de sua identidade.
A ação artística também costuma envolver criação grupal: O fenômeno artístico está presente em diferentes
nesse momento a arte contribui para o fortalecimento do manifestações que compõem os acervos da cultura popular,
conceito de grupo como socializador e criador de um universo erudita, modernos meios de comunicação e novas tecnologias.
imaginário, atualizando referências e desenvolvendo sua Além disso, a arte nem sempre se apresenta no cotidiano
própria história. A arte torna presente o grupo para si mesmo, como obra de arte. Mas pode ser observada na forma dos
por meio de suas representações imaginárias. O aspecto lúdico objetos, no arranjo de vitrines, na música dos puxadores de
dessa atividade é fundamental. rede, nas ladainhas entoadas por tapeceiras tradicionais, na
Quando brinca, a criança desenvolve atividades rítmicas, dança de rua executada por meninos e meninas, nos pregões
melódicas, fantasia-se de adulto, produz desenhos, danças, de vendedores, nos jardins, na vestimenta, etc. O incentivo à
inventa histórias. Mas esse lugar da atividade lúdica no início curiosidade pela manifestação artística de diferentes culturas,
da infância é cada vez mais substituído, fora e dentro da escola, por suas crenças, usos e costumes, pode despertar no aluno o
por situações que antes favorecem a reprodução mecânica de interesse por valores diferentes dos seus, promovendo o
valores impostos pela cultura de massas em detrimento da respeito e o reconhecimento dessas distinções; ressalta-se
experiência imaginativa. assim a pertinência intrínseca de cada grupo e de seu conjunto
Embora o jovem tenha sempre grande interesse por de valores, possibilitando ao aluno reconhecer em si e
aprender a fazer formas presentes no entorno, mantém o valorizar no outro a capacidade artística de manifestar-se na
desenvolvimento de seu percurso de criação individual, que diversidade.
não pode se perder. O ensino de Arte é área de conhecimento com conteúdos
O aluno pode e quer criar suas próprias imagens partindo específicos e deve ser consolidada como parte constitutiva dos
de uma experiência pessoal particular, de algo que viveu ou currículos escolares, requerendo, portanto, capacitação dos
aprendeu, da escolha de um tema, de uma técnica, ou de uma professores para orientar a formação do aluno.
influência, ou de um contato com a natureza e assim por
diante. Objetivos Gerais de Arte Para o Ensino Fundamental
Cabe também ao professor tanto alimentar os alunos com
informações e procedimentos de artes que podem e querem No transcorrer do ensino fundamental, o aluno poderá
dominar quanto saber orientar e preservar o desenvolvimento desenvolver sua competência estética e artística nas diversas
do trabalho pessoal, proporcionando ao aluno oportunidade modalidades da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música,
de realizar suas próprias escolhas para concretizar projetos Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais
pessoais e grupais. quanto para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar,
A qualidade da ação pedagógica que considera tanto as valorizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e
competências relativas à percepção estética quanto aquelas culturas produzidos ao longo da história e na
envolvidas no fazer artístico pode contribuir para o contemporaneidade.
fortalecimento da consciência criadora do aluno. Nesse sentido, o ensino de Arte deverá organizar-se de
O aluno fica exigente e muito crítico em relação à própria modo que, ao final do ensino fundamental, os alunos sejam
produção, justamente porque nesse momento de seu capazes de:
desenvolvimento já pode compará-la, de modo mais

Legislação 84
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

- expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma estudo, a análise e a apreciação das formas podem contribuir
atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como
percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão também para o conhecimento progressivo e significativo da
ao realizar e fruir produções artísticas; função que a arte desempenha nas culturas humanas.
- interagir com materiais, instrumentos e procedimentos O conjunto de conteúdos está articulado dentro do
variados em artes (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), contexto de ensino e aprendizagem em três eixos norteadores:
experimentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los nos a produção, a fruição e a reflexão.
trabalhos pessoais; A produção refere-se ao fazer artístico e ao conjunto de
- edificar uma relação de autoconfiança com a produção questões a ele relacionadas, no âmbito do fazer do aluno e dos
artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a produtores sociais de arte.
própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que A fruição refere-se à apreciação significativa de arte e do
abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções; universo a ela relacionado. Tal ação contempla a fruição da
- compreender e saber identificar a arte como fato produção dos alunos e da produção histórico-social em sua
histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo diversidade.
respeitando e podendo observar as produções presentes no A reflexão refere-se à construção de conhecimento sobre o
entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do trabalho artístico pessoal, dos colegas e sobre a arte como
universo natural, identificando a existência de diferenças nos produto da história e da multiplicidade das culturas humanas,
padrões artísticos e estéticos; com ênfase na formação cultivada do cidadão.
- observar as relações entre o homem e a realidade com Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo tempo
interesse e curiosidade, exercitando a discussão, indagando, em que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos poderão
argumentando e apreciando arte de modo sensível; ser trabalhados em qualquer ordem, segundo decisão do
- compreender e saber identificar aspectos da função e dos professor, em conformidade com o desenho curricular de sua
resultados do trabalho do artista, reconhecendo, em sua equipe.
própria experiência de aprendiz, aspectos do processo
percorrido pelo artista; Critérios para a seleção de conteúdos
- buscar e saber organizar informações sobre a arte em
contato com artistas, documentos, acervos nos espaços da Tendo em conta os três eixos como articuladores do
escola e fora dela (livros, revistas, jornais, ilustrações, processo de ensino e aprendizagem acredita-se que, para a
diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos seleção e a ordenação dos conteúdos gerais de Artes Visuais,
(museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, Música,
videotecas, cinematecas), reconhecendo e compreendendo a Teatro e Dança por ciclo, é preciso considerar os seguintes
variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas critérios:
presentes na história das diferentes culturas e etnias. - conteúdos compatíveis com as possibilidades de
aprendizagem do aluno;
Os Conteúdos de Arte no Ensino Fundamental - valorização do ensino de conteúdos básicos de arte
necessários à formação do cidadão, considerando, ao longo
Os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam o ensino dos ciclos de escolaridade, manifestações artísticas de povos e
e a aprendizagem de conteúdos que colaboram para a culturas de diferentes épocas, incluindo a contemporaneidade;
formação do cidadão, buscando igualdade de participação e - especificidades do conhecimento e da ação artística.
compreensão sobre a produção nacional e internacional de
arte. A seleção e a ordenação de conteúdos gerais de Conteúdos gerais de Arte
Arte têm como pressupostos a clarificação de alguns
critérios, que também encaminham a elaboração dos Os conteúdos gerais de Arte estão propostos para serem
conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança e, no trabalhados de primeira a oitava séries, seguindo os critérios
conjunto, procuram promover a formação artística e estética para seleção e ordenação dos conteúdos circunscritos neste
do aprendiz e a sua participação na sociedade. documento. Os conteúdos de primeira a quarta séries serão
Não estão definidas aqui as modalidades artísticas a serem definidos nas modalidades artísticas específicas.
trabalhadas a cada ciclo, mas são oferecidas condições para Assim, os conteúdos gerais do ensino fundamental em Arte
que as diversas equipes possam definir em suas escolas os são:
projetos curriculares (ver em Orientações Didáticas deste - a arte como expressão e comunicação dos indivíduos;
documento a questão da organização do espaço e do tempo de - elementos básicos das formas artísticas, modos de
trabalho). articulação formal, técnicas, materiais e procedimentos na
Sabe-se que, nas escolas e nas comunidades onde elas criação em arte;
estão inseridas, há uma diversidade de recursos humanos e - produtores em arte: vidas, épocas e produtos em
materiais disponíveis; portanto, considerando a realidade conexões;
concreta das escolas, ressaltam-se alguns aspectos - diversidade das formas de arte e concepções estéticas da
fundamentais para os projetos a serem desenvolvidos. cultura regional, nacional e internacional: produções,
É desejável que o aluno, ao longo da escolaridade, tenha reproduções e suas histórias;
oportunidade de vivenciar o maior número de formas de arte; - a arte na sociedade, considerando os produtores em arte,
entretanto, isso precisa ocorrer de modo que cada modalidade as produções e suas formas de documentação, preservação e
artística possa ser desenvolvida e aprofundada. divulgação em diferentes culturas e momentos históricos.
Partindo dessas premissas, os conteúdos da área de Arte O s conteúdos de Arte para primeiro e segundo ciclos, aqui
devem estar relacionados de tal maneira que possam relacionados, estão descritos separadamente para garantir
sedimentar a aprendizagem artística dos alunos do ensino presença e profundidade das formas artísticas nos projetos
fundamental. Tal aprendizagem diz respeito à possibilidade de educacionais.
os alunos desenvolverem um processo contínuo e cada vez No entanto, o professor poderá reconhecer as
mais complexo no domínio do conhecimento artístico e possibilidades de interseção entre elas para o seu trabalho em
estético, seja no exercício do seu próprio processo criador, por sala de aula, assim com o com as demais disciplinas do
meio das formas artísticas, seja no contato com obras de arte e currículo.
com outras formas presentes nas culturas ou na natureza. O

Legislação 85
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Tendo em vista não haver definições para a presença das


diversas formas artísticas no currículo e o professor das séries 1ª PARTE
iniciais não ter vivenciado um a formação m ais acurada nesta CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
área, optou-se por um a proposição de conteúdos sem
diferenciações por ciclos escolares. A critério das escolas e Histórico
respectivos professores, é preciso variar as formas artísticas
propostas ao longo da escolaridade, quando serão trabalhadas Para que se compreenda o momento atual da Educação
Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro. Física é necessário considerar suas origens no contexto
Nas modalidades artísticas específicas buscou-se brasileiro, abordando as principais influências que marcam e
explicitar, para maior clareza do trabalho pedagógico de Arte, caracterizam esta disciplina e os novos rumos que estão se
os conteúdos em dois grupos, o primeiro relativo a cada delineando.
modalidade artística e o segundo relativo a normas, valores e No século passado, a Educação Física esteve estreitamente
atitudes, com um a todas. vinculada às instituições militares e à classe médica. Esses
vínculos foram determinantes, tanto no que diz respeito à
concepção da disciplina e suas finalidades, quanto ao seu
campo de atuação e à forma de ser ensinada.
BRASIL. Secretaria de Visando melhorar a condição de vida, muitos médicos
Educação Fundamental. assumiram uma função higienista e buscaram modificar os
Parâmetros Curriculares hábitos de saúde e higiene da população. A Educação Física,
então, favoreceria a educação do corpo, tendo como meta a
Nacionais: educação física. constituição de um físico saudável e equilibrado
Brasília: MEC/SEF, 2ª ed. (1ª a organicamente, menos suscetível às doenças. Além disso,
4ª série), Rio de Janeiro: havia no pensamento político e intelectual brasileiro da época
uma forte preocupação com a eugenia. Como o contingente de
DP&A, 2000. Volume 7 (1ª escravos negros era muito grande, havia o temor de uma
Parte) “mistura” que “desqualificasse” a raça branca. Dessa forma, a
educação sexual associada à Educação Física deveria incutir
nos homens e mulheres a responsabilidade de manter a
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS “pureza” e a “qualidade” da raça branca.
EDUCAÇÃO FÍSICA Embora a elite imperial estivesse de acordo com os
pressupostos higiênicos, eugênicos e físicos, havia uma forte
Apresentação resistência na realização de atividades físicas por conta da
associação entre o trabalho físico e o trabalho escravo.
Para boa parte das pessoas que frequentaram a escola, a Qualquer ocupação que implicasse esforço físico era vista com
lembrança das aulas de Educação Física é marcante: para maus olhos, considerada “menor”. Essa atitude dificultava que
alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso, de muitas se tornasse obrigatória a prática de atividades físicas nas
vitórias; para outros, uma memória amarga, de sensação de escolas.
incompetência, de falta de jeito, de medo de errar... Dentro dessa conjuntura, as instituições militares
O documento de Educação Física traz uma proposta que sofreram influência da filosofia positivista, o que favoreceu
procura democratizar, humanizar e diversificar a prática que tais instituições também pregassem a educação do físico.
pedagógica da área, buscando ampliar, de uma visão apenas Almejando a ordem e o progresso, era de fundamental
biológica, para um trabalho que incorpore as dimensões importância formar indivíduos fortes e saudáveis, que
afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos. Incorpora, de pudessem defender a pátria e seus ideais.
forma organizada, as principais questões que o professor deve No ano de 1851 foi feita a Reforma Couto Ferraz, a qual
considerar no desenvolvimento de seu trabalho, subsidiando tornou obrigatória a Educação Física nas escolas do município
as discussões, os planejamentos e as avaliações da prática da da Corte. De modo geral, ouve grande contrariedade por parte
Educação Física nas escolas. dos pais em ver seus filhos envolvidos em atividades que não
A primeira parte do documento descreve a trajetória da tinham caráter intelectual. Em relação aos meninos, a
disciplina através do tempo, localizando as principais tolerância era um pouco maior, já que a ideia de ginástica
influências históricas e tendências pedagógicas, e desenvolve associava-se às instituições militares; mas, em relação às
a concepção que se tem da área, situando-a como produção meninas, houve pais que proibiram a participação de suas
cultural. A seguir, aponta suas contribuições para a formação filhas.
da cidadania, discutindo a natureza e as especificidades do Em 1882, Rui Barbosa deu seu parecer sobre o Projeto 224
processo de ensino e aprendizagem e expondo os objetivos — Reforma Leôncio de Carvalho, Decreto n. 7.247, de 19 de
gerais para o ensino fundamental. abril de 1879, da Instrução Pública —, no qual defendeu a
A segunda parte aborda o trabalho das primeiras quatro inclusão da ginástica nas escolas e a equiparação dos
séries, indicando objetivos, conteúdos e critérios de avaliação. professores de ginástica aos das outras disciplinas. Nesse
Os conteúdos estão organizados em blocos inter-relacionados parecer, ele destacou e explicitou sua ideia sobre a
e foram explicitados como possíveis enfoques da ação do importância de se ter um corpo saudável para sustentar a
professor e não como atividades isoladas. Essa parte atividade intelectual.
contempla, também, aspectos didáticos gerais e específicos da No início deste século, a Educação Física, ainda sob o nome
prática pedagógica em Educação Física que podem auxiliar o de ginástica, foi incluída nos currículos dos Estados da Bahia,
professor nas questões do cotidiano das salas de aula e servem Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.
como ponto de partida para discussões. Nessa mesma época a educação brasileira sofria uma forte
O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do ensino influência do movimento escolanovista, que evidenciou a
fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, importância da Educação Física no desenvolvimento integral
desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades do ser humano. Essa conjuntura possibilitou que profissionais
corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, da educação na III Conferência Nacional de Educação, em
esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, 1929, discutissem os métodos, as práticas e os problemas
expressão de sentimentos, afetos e emoções. relativos ao ensino da Educação Física.

Legislação 86
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

A Educação Física que se ensinava nesse período era melhoria da força de trabalho para o “milagre econômico
baseada nos métodos europeus — o sueco, o alemão e, brasileiro”. Nesse período estreitaram-se os vínculos entre
posteriormente, o francês —, que se firmavam em princípios esporte e nacionalismo. Um bom exemplo é o uso que se fez da
biológicos. Faziam parte de um movimento mais amplo, de campanha da seleção brasileira de futebol, na Copa do Mundo
natureza cultural, política e científica, conhecido como de 1970.
Movimento Ginástico Europeu, e foi à primeira sistematização Em relação ao âmbito escolar, a partir do Decreto n.
científica da Educação Física no Ocidente. 69.450, de 1971, considerou-se a Educação Física como “a
Na década de 30, no Brasil, dentro de um contexto histórico atividade que, por seus meios, processos e técnicas,
e político mundial, com a ascensão das ideologias nazistas e desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas
fascistas, ganham força novamente as ideias que associam a e sociais do educando”. A falta de especificidade do decreto
eugenização da raça à Educação Física. O exército passou a ser manteve a ênfase na aptidão física, tanto na organização das
a principal instituição a comandar um movimento em prol do atividades como no seu controle e avaliação. A iniciação
“ideal” da Educação Física que se mesclava aos objetivos esportiva, a partir da quinta série, tornou-se um dos eixos
patrióticos e de preparação pré-militar. O discurso eugênico fundamentais de ensino; buscava-se a descoberta de novos
logo cedeu lugar aos objetivos higiênicos e de prevenção de talentos que pudessem participar de competições
doenças, estes sim, passíveis de serem trabalhados dentro de internacionais, representando a pátria. Nesse período, o
um contexto educacional. chamado “modelo piramidal” norteou as diretrizes políticas
A finalidade higiênica foi duradoura, pois instituições para a Educação Física: a Educação Física escolar, a melhoria
militares, religiosas, educadores da “escola nova” e Estado da aptidão física da população urbana e o empreendimento da
compartilhavam de muitos de seus pressupostos. iniciativa privada na organização desportiva para a
Mas a inclusão da Educação Física nos currículos não havia comunidade comporiam o desporto de massa que se
garantido a sua implementação prática, principalmente nas desenvolveria, tornando-se um desporto de elite, com a
escolas primárias. Embora a legislação visasse tal inclusão, a seleção de indivíduos aptos para competir dentro e fora do
falta de recursos humanos capacitados para o trabalho com país.
Educação Física escolar era muito grande. Na década de 80 os efeitos desse modelo começaram a ser
Apenas em 1937, na elaboração da Constituição, é que se sentidos e contestados: o Brasil não se tornou uma nação
fez a primeira referência explícita à Educação Física em textos olímpica e a competição esportiva da elite não aumentou o
constitucionais federais, incluindo-a no currículo como prática número de praticantes de atividades físicas. Iniciou-se então
educativa obrigatória (e não como disciplina curricular), junto uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no
com o ensino cívico e os trabalhos manuais, em todas as próprio discurso da Educação Física, que originou uma
escolas brasileiras. Também havia um artigo naquela mudança significativa nas políticas educacionais: a Educação
Constituição que citava o adestramento físico como maneira Física escolar, que estava voltada principalmente para a
de preparar a juventude para a defesa da nação e para o escolaridade de quinta a oitava séries do primeiro grau,
cumprimento dos deveres com a economia. passou a priorizar o segmento de primeira a quarta e também
Os anos 30 tiveram ainda por característica uma mudança a pré-escola. O enfoque passou a ser o desenvolvimento
conjuntural bastante significativa no país: o processo de psicomotor do aluno, tirando da escola a função de promover
industrialização e urbanização e o estabelecimento do Estado os esportes de alto rendimento.
Novo. Nesse contexto, a Educação Física ganhou novas O campo de debates se fertilizou e as primeiras produções
atribuições: fortalecer o trabalhador, melhorando sua surgiram apontando o rumo das novas tendências da
capacidade produtiva, e desenvolver o espírito de cooperação Educação Física. A criação dos primeiros cursos de pós-
em benefício da coletividade. graduação em Educação Física, o retorno de professores
Do final do Estado Novo até a promulgação da Lei de doutorados fora do Brasil, as publicações de um número maior
Diretrizes e Bases da Educação de 1961, houve um amplo de livros e revistas, bem como o aumento do número de
debate sobre o sistema de ensino brasileiro. Nessa lei ficou congressos e outros eventos dessa natureza foram fatores que
determinada a obrigatoriedade da Educação Física para o também contribuíram para esse debate.
ensino primário e médio. A partir daí, o esporte passou a As relações entre Educação Física e sociedade passaram a
ocupar cada vez mais espaço nas aulas de Educação Física. O ser discutidas sob a influência das teorias críticas da educação:
processo de esportivização da Educação Física escolar iniciou questionou-se seu papel e sua dimensão política. Ocorreu
com a introdução do Método Desportivo Generalizado, que então uma mudança de enfoque, tanto no que dizia respeito à
significou uma contraposição aos antigos métodos de ginástica natureza da área quanto no que se referia aos seus objetivos,
tradicional e uma tentativa de incorporar esporte, que já era conteúdos e pressupostos pedagógicos de ensino e
uma instituição bastante independente, adequando-o a aprendizagem. No primeiro aspecto, se ampliou a visão de uma
objetivos e práticas pedagógicas. área biológica, reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões
Após 1964, a educação, de modo geral, sofreu as psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas, concebendo o aluno
influências da tendência tecnicista. O ensino era visto como como ser humano integral. No segundo, se abarcaram
uma maneira de se formar mão-de-obra qualificada. Era a objetivos educacionais mais amplos (não apenas voltados para
época da difusão dos cursos técnicos profissionalizantes. a formação de um físico que pudesse sustentar a atividade
Nesse quadro, em 1968, com a Lei n. 5.540, e, em 1971, com a intelectual), conteúdos diversificados (não só exercícios e
5.692, a Educação Física teve seu caráter instrumental esportes) e pressupostos pedagógicos mais humanos (e não
reforçado: era considerada uma atividade prática, voltada para apenas adestramento).
o desempenho técnico e físico do aluno. Atualmente se concebe a existência de algumas
Na década de 70, a Educação Física ganhou, mais uma vez, abordagens para a Educação Física escolar no Brasil que
funções importantes para a manutenção da ordem e do resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas,
progresso. O governo militar investiu na Educação Física em sociológicas e concepções filosóficas. Todas essas correntes
função de diretrizes pautadas no nacionalismo, na integração têm ampliado os campos de ação e reflexão para a área e a
nacional (entre os Estados) e na segurança nacional, tanto na aproximado das ciências humanas, e, embora contenham
formação de um exército composto por uma juventude forte e enfoques científicos diferenciados entre si, com pontos muitas
saudável como na tentativa de desmobilização das forças vezes divergentes, têm em comum a busca de uma Educação
políticas oposicionistas. As atividades esportivas também Física que articule as múltiplas dimensões do ser humano.
foram consideradas como fatores que poderiam colaborar na

Legislação 87
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Nas escolas, embora já seja reconhecida como uma área que faz está inserido num contexto cultural, produzindo e
essencial, a Educação Física ainda é tratada como “marginal”, reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido
que pode, por exemplo, ter seu horário “empurrada” para fora como produto da sociedade, da coletividade à qual os
do período em que os alunos estão na escola ou alocada em indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os.
horários convenientes para outras áreas e não de acordo com “É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido
as necessidades de suas especificidades (algumas aulas, por mais usual do termo cultura, empregado para definir certo
exemplo, são no último horário da manhã, quando o sol está a saber, ilustração, refinamento de maneiras. No sentido
pino). Outra situação em que essa “marginalidade” se antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer
manifesta é no momento de planejamento, discussão e indivíduo nasce no contexto de uma cultura, não existe homem
avaliação do trabalho, no qual raramente a Educação Física é sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas.
integrada. Muitas vezes o professor acaba por se convencer da É como se se pudesse dizer que o homem é biologicamente
“pequena importância” de seu trabalho, distanciando-se da incompleto: não sobreviveria sozinho sem a participação das
equipe pedagógica, trabalhando isoladamente. pessoas e do grupo que o gerou. A cultura é o conjunto de
Paradoxalmente, esse professor é uma referência importante códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o
para seus alunos, pois a Educação Física propicia uma indivíduo é formado desde o momento da sua concepção;
experiência de aprendizagem peculiar ao mobilizar os nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os
aspectos afetivos, sociais, éticos e de sexualidade de forma valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas
intensa e explícita, o que faz com que o professor de Educação obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social
Física tenha um conhecimento abrangente de seus alunos. as concebe”.
Levando essas questões em conta e considerando a A fragilidade de recursos biológicos fez com que os seres
importância da própria área, evidencia-se cada vez mais, a humanos buscassem suprir as insuficiências com criações que
necessidade de integração. tornassem os movimentos mais eficazes, seja por razões
A Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 20 de dezembro “militares”, relativas ao domínio e uso de espaço, seja por
de 1996 busca transformar o caráter que a Educação Física razões econômicas, que dizem respeito às tecnologias de caça,
assumiu nos últimos anos ao explicitar no art. 26, § 3o, que “a pesca e agricultura, seja por razões religiosas, que tangem aos
Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é rituais e festas ou por razões apenas lúdicas. Derivaram daí
componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às inúmeros conhecimentos e representações que se
faixas etárias e às condições da população escolar, sendo transformaram ao longo do tempo, tendo ressignificadas as
facultativa nos cursos noturnos”. Dessa forma, a Educação suas intencionalidades e formas de expressão, e constituem o
Física deve ser exercida em toda a escolaridade de primeira a que se pode chamar de cultura corporal.
oitava séries, não somente de quinta a oitava séries, como era Dentre as produções dessa cultura corporal, algumas
anteriormente. foram incorporadas pela Educação Física em seus conteúdos:
A consideração à particularidade da população de cada o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta. Estes têm em
escola e a integração ao projeto pedagógico evidenciaram a comum a representação corporal, com características lúdicas,
preocupação em tornar a Educação Física uma área não de diversas culturas humanas; todos eles ressignificam a
marginalizada. cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude
lúdica.
Educação Física: concepção e importância social A Educação Física tem uma história de pelo menos um
século e meio no mundo ocidental moderno, possui uma
O trabalho na área da Educação Física tem seus tradição e um saber-fazer e tem buscado a formulação de um
fundamentos nas concepções de corpo e movimento. Ou, dito recorte epistemológico próprio.
de outro modo, a natureza do trabalho desenvolvido nessa Assim, a área de Educação Física, hoje, contempla
área tem íntima relação com a compreensão que se tem desses múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela
dois conceitos. sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se
Por suas origens militares e médicas e por seu atrelamento consideram fundamentais as atividades culturais de
quase servil aos mecanismos de manutenção do status quo movimento com finalidades de lazer, expressão de
vigente na história brasileira, tanto a prática como a reflexão sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de
teórica no campo da Educação Física restringiram os conceitos promoção, recuperação e manutenção da saúde.
de corpo e movimento — fundamentos de seu trabalho — aos Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas
seus aspectos fisiológicos e técnicos. manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus
Atualmente, a análise crítica e a busca de superação dessa benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de
concepção apontam a necessidade de que, além daqueles, se utilização como instrumentos de comunicação, expressão,
considere também as dimensões cultural, social, política e lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a
afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, Educação Física escolar.
que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como A Educação Física escolar pode sistematizar situações de
cidadãos. ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a
Buscando uma compreensão que melhor contemple o conhecimentos práticos e conceituais. Para isso é necessário
complexidade da questão, a proposta dos Parâmetros mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado
Curriculares Nacionais adotou a distinção entre organismo — que caracterizava a Educação Física, para uma concepção mais
um sistema estritamente fisiológico — e corpo — que se abrangente, que contemple todas as dimensões envolvidas em
relaciona dentro de um contexto sociocultural — e aborda os cada prática corporal. É fundamental também que se faça uma
conteúdos da Educação Física como expressão de produções clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e
culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta
socialmente transmitidos. Portanto, a presente proposta profissionais, pois, embora seja uma referência, o
entende a Educação Física como uma cultura corporal. profissionalismo não pode ser a meta almejada pela escola. A
Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os
A Educação Física como Cultura Corporal alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma
democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como
O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos
história é uma história de cultura, na medida em que tudo o

Legislação 88
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

portadores de deficiências físicas não podem ser privados das A formação de hábitos de autocuidado e de construção de
aulas de Educação Física. relações interpessoais colaboram para que a dimensão da
Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os sexualidade seja integrada de maneira prazerosa e segura.
processos de ensino e aprendizagem devem considerar as No que tange à questão do gênero, as aulas mistas de
características dos alunos em todas as suas dimensões Educação Física podem dar oportunidade para que meninos e
(cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação meninas convivam, observem-se, descubram-se e possam
interpessoal e inserção social). Sobre o jogo da amarelinha, o aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender
voleibol ou uma dança, o aluno deve aprender para além das as diferenças, de forma a não reproduzir estereotipadamente
técnicas de execução, a discutir regras e estratégias, apreciá- relações sociais autoritárias.
los criticamente, analisá-los esteticamente, avaliá-los No âmbito da Educação Física, os conhecimentos
eticamente, ressignificá-los e recriá-los. construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores
É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o sociais, tais como os padrões de beleza e saúde, que se
acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir tornaram dominantes na sociedade, seu papel como
para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumento de exclusão e discriminação social e a atuação dos
instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las meios de comunicação em produzi-los, transmiti-los e impô-
criticamente. los; uma discussão sobre a ética do esporte profissional, sobre
a discriminação sexual e racial que existe nele, entre outras
Cultura Corporal e Cidadania coisas, pode favorecer a consideração da estética do ponto de
vista do bem-estar, as posturas não consumistas, não
A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da preconceituosas, não discriminatórias e a consciência dos
Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na valores coerentes com a ética democrática.
medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que Nos jogos, ao interagirem com os adversários, os alunos
se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma podem desenvolver o respeito mútuo, buscando participar de
como direito de todos o acesso a eles. Além disso, adota uma forma leal e não violenta. Confrontar-se com o resultado de um
perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que jogo e com a presença de um árbitro permitem a vivência e o
busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a desenvolvimento da capacidade de julgamento de justiça (e de
participação social e a afirmação de valores e princípios injustiça). Principalmente nos jogos, em que é fundamental
democráticos. O trabalho de Educação Física abre espaço para que se trabalhe em equipe, a solidariedade pode ser exercida e
que se aprofundem discussões importantes sobre aspectos valorizada. Em relação à postura diante do adversário podem-
éticos e sociais, alguns dos quais merecem destaque. se desenvolver atitudes de solidariedade e dignidade, nos
A Educação Física permite que se vivenciem diferentes momentos em que, por exemplo, quem ganha é capaz de não
práticas corporais advindas das mais diversas manifestações provocar e não humilhar, e quem perde pode reconhecer a
culturais e se enxergue como essa variada combinação de vitória dos outros sem se sentir humilhado.
influências está presente na vida cotidiana. As danças, Viver os papéis, tanto de praticante quanto de espectador
esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto e tentar compreender, por exemplo, por que ocorrem brigas
patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e nos estádios que podem levar à morte de torcedores, favorece
desfrutado. Além disso, esse conhecimento contribui para a a construção de uma atitude de repúdio à violência.
adoção de uma postura não preconceituosa e discriminatória Em determinadas realidades, o consumo de álcool, fumo ou
diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos outras drogas já ocorre em idade muito precoce. A aquisição
étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte. de hábitos saudáveis, a conscientização de sua importância,
A prática da Educação Física na escola poderá favorecer a bem como a efetiva possibilidade de estar integrado
autonomia dos alunos para monitorar as próprias atividades, socialmente (o que pode ocorrer mediante a participação em
regulando o esforço, traçando metas, conhecendo as atividades lúdicas e esportivas), são fatores que podem ir
potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de contra o consumo de drogas. Quando o indivíduo preza sua
trabalho corporal que podem ser prejudiciais. saúde e está integrado a um grupo de referência com o qual
A possibilidade de vivência de situações, de socialização e compartilha atividades socioculturais e cujos valores não
de desfrute de atividades lúdicas, sem caráter utilitário, são estimulam o consumo de drogas, terá mais recursos para
essenciais para a saúde e contribuem para o bem-estar evitar esse risco.
coletivo. Sabe-se, por exemplo, que a mortalidade por doenças
cardiovasculares vem aumentando e entre os principais Aprender e Ensinar Educação Física no Ensino
fatores de risco estão a vida sedentária e o estresse. Fundamental
O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades
lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, Embora numa aula de Educação Física os aspectos
direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os corporais sejam mais evidentes, mais facilmente observáveis,
esportes e as demais atividades corporais não devem ser e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o
privilégio apenas dos esportistas ou das pessoas em condições aluno precisa ser considerado como um todo no qual, aspectos
de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em
e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento todas as situações.
que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos Não basta a repetição de gestos estereotipados, com vistas
nas aulas de Educação Física. a automatizá-los e reproduzi-los. É necessário que o aluno se
Os conhecimentos sobre o corpo, seu processo de aproprie do processo de construção de conhecimentos
crescimento e desenvolvimento, que são construídos relativos ao corpo e ao movimento e construa uma
concomitantemente com o desenvolvimento de práticas possibilidade autônoma de utilização de seu potencial gestual.
corporais, ao mesmo tempo em que dão subsídios para o O processo de ensino e aprendizagem em Educação Física,
cultivo de bons hábitos de alimentação, higiene e atividade portanto, não se restringe ao simples exercício de certas
corporal e para o desenvolvimento das potencialidades habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o indivíduo a
corporais do indivíduo, permitem compreendê-los como refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia,
direitos humanos fundamentais. exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e
adequada.

Legislação 89
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Trata-se de compreender como o indivíduo utiliza suas A quantidade de execuções justifica-se pela necessidade de
habilidades e estilos pessoais dentro de linguagens e contextos alimentar funcionalmente os mecanismos de controle dos
sociais, pois um mesmo gesto adquire significados diferentes movimentos, e se num primeiro momento é necessário um
conforme a intenção de quem o realiza e a situação em que isso esforço adaptativo para que a criança consiga executar um
ocorre. Por exemplo, o chutar é diferente no futebol, na determinado movimento ou coordenar uma sequência deles,
capoeira, na dança e na defesa pessoal, na medida em que é em seguida essa realização pode ser exercida e repetida, por
utilizado com intenções diferenciadas e em contextos prazer funcional, de manutenção e de aperfeiçoamento. Além
específicos; é dentro deles que a habilidade de chutar deve ser disso, os efeitos fisiológicos decorrentes do exercício, como a
apreendida e exercitada. É necessário que o indivíduo conheça melhora da condição cardiorrespiratória e o aumento da
a natureza e as características de cada situação de ação massa muscular, são partes do processo da aprendizagem de
corporal, como são socialmente construídas e valorizadas, esquemas motores, e não apenas um aspecto a ser trabalhado
para que possa organizar e utilizar sua motricidade na isoladamente.
expressão de sentimentos e emoções de forma adequada e Em relação à atenção, estão envolvidos complexos
significativa. Dentro de uma mesma linguagem corporal, um processos de ajuste neuromuscular e de equilíbrio, regulações
jogo desportivo, por exemplo, é necessário saber discernir o de tônus muscular, interpretação de informações perceptivas,
caráter mais competitivo ou recreativo de cada situação, que são postos em ação sempre que os automatismos já
conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e construídos forem insuficientes para a execução de
estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a determinado movimento ou sequência deles.
participação em atividades de caráter recreativo, cooperativo, O processo de ensino e aprendizagem deve, portanto,
competitivo, entre outros, para aprender a diferenciá-las. contemplar essas duas variáveis simultaneamente, permitindo
Aprender a movimentar-se implica planejar, que o aluno possa executar cada movimento ou conjunto de
experimentar, avaliar, optar entre alternativas, coordenar movimentos o maior número de vezes e criando solicitações
ações do corpo com objetos no tempo e no espaço, interagir adequadas para que essa realização ocorra da forma mais
com outras pessoas, enfim, uma série de procedimentos atenta possível.
cognitivos que devem ser favorecidos e considerados no Tome-se como exemplo um jogo de amarelinha. Quando
processo de ensino e aprendizagem na área de Educação uma criança depara pela primeira vez com esse jogo, em
Física. E embora a ação e a compreensão sejam um processo princípio já dispõe de alguns esquemas motores solicitados, ou
indissociável, em muitos casos, a ação se processa em frações seja, saltar e aterrissar sobre um ou dois pés e equilibrar-se
de segundo, parecendo imperceptível, ao próprio sujeito, que sobre um dos pés são conhecimentos prévios e sua execução
houve processamento mental. É fundamental que as situações já ocorre de forma mais ou menos automática. No entanto, a
de ensino e aprendizagem incluam instrumentos de registro, coordenação desses movimentos nas circunstâncias espaciais
reflexão e discussão sobre as experiências corporais, propostas pela amarelinha constitui um problema a ser
estratégicas e grupais que as práticas da cultura corporal resolvido, e esse problema solicita toda a atenção da criança
oferecem ao aluno. durante as execuções iniciais. Com a prática atenta, e à medida
que as execuções ocorrerem de forma cada vez mais
Automatismos e atenção satisfatória e eficiente, a criança será capaz de realizá-las de
forma cada vez mais automática. Nesse momento, uma
No ser humano, constata-se uma tendência para a proposta de jogar amarelinha em duplas, com as casas mais
automatização do controle na execução de movimentos, desde distantes umas das outras, ou até de olhos vendados, constitui
os mais básicos e simples até os mais sofisticados. Esse um problema a ser resolvido que “chama a atenção” do aluno
processo se constrói a partir da quantidade e da qualidade do para a reorganização de gestos que já estavam sendo
exercício dos diversos esquemas motores e da atenção nessas realizados de forma automática.
execuções. Quanto mais uma criança tiver a oportunidade de As situações lúdicas, competitivas ou não, são contextos
saltar, girar ou dançar, mais esses movimentos tendem a ser favoráveis de aprendizagem, pois permitem o exercício de
realizados de forma automática. Menos atenção é necessária uma ampla gama de movimentos que solicitam a atenção do
no controle de sua execução e essa demanda atencional pode aluno na tentativa de executá-los de forma satisfatória e
dirigir-se para o aperfeiçoamento desses mesmos movimentos adequada. Elas incluem, simultaneamente, a possibilidade de
e no enfrentamento de outros desafios. Essa tendência para a repetição para manutenção e por prazer funcional e a
automatização é favorável aos processos de aprendizagem das oportunidade de ter diferentes problemas a resolver. Além
práticas da cultura corporal desde que compreendida como disso, pelo fato de o jogo constituir um momento de interação
uma função dinâmica, mutável, como parte integrante e não social bastante significativo, as questões de sociabilidade
como meta do processo de aprendizagem. constituem motivação suficiente para que o interesse pela
Por exemplo, quanto mais automatizados estiverem os atividade seja mantido.
gestos de digitar um texto, mais o autor pode se concentrar no Nesse sentido, uma atividade só se tornará desinteressante
assunto que está escrevendo. No basquetebol, se o aluno já para a criança quando não representar mais nenhum
consegue bater a bola com alguma segurança, sem precisar problema a ser resolvido, nenhuma possibilidade de prazer
olhá-la o tempo todo, pode olhar para os seus companheiros funcional pela repetição e nenhuma motivação relacionada à
de jogo, situar-se melhor no espaço, planejar algumas ações e interação social.
isso o torna um jogador melhor, mais eficiente, capaz de A interação e a complementaridade permanente entre a
adaptar-se a uma variedade maior de situações. atenção e o automatismo no controle da execução de
No entanto, a repetição pura e simples, realizada de forma movimentos poderiam ser ilustradas pela imagem de uma
mecânica e desatenta, além de ser desagradável, pode resultar pessoa andando de bicicleta. Na roda de trás e nos pedais flui
num automatismo estereotipado. Dessa forma, em cada uma dinâmica repetitiva, de caráter automático e constante,
situação, é necessário que o professor analise quais dos gestos responsável pela manutenção do movimento e da impulsão.
envolvidos já podem ser realizados automaticamente sem No guidão e na roda da frente predomina um estado de
prejuízo de qualidade, e quais solicitam a atenção do aluno no atenção, um alerta consciente que opta, decide, direciona,
controle de sua execução. A intervenção do professor se dá a estabelece desafios e metas, resolve problemas de trajetória,
fim de criar situações em que os automatismos sejam enfim, que dá sentido à força pulsional e constante que o
insuficientes para a realização dos movimentos e a atenção pedalar representa.
seja necessária para o seu aperfeiçoamento.

Legislação 90
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Afetividade e estilo pessoal Por isso, as situações de ensino e aprendizagem


contemplam as possibilidades de o aluno arriscar, vacilar,
Neste item pretende-se refletir de que forma os afetos, decidir, simular e errar, sem que isso implique algum tipo de
sentimentos e sensações do aluno interagem com a humilhação ou constrangimento. A valorização no
aprendizagem das práticas da cultura corporal e, ao mesmo investimento que o indivíduo faz contribui para a construção
tempo, de que maneira a aprendizagem dessas práticas de uma postura positiva em relação à pesquisa corporal,
contribui para a construção de um estilo pessoal de atuação e mesmo porque, a rigor, não existe um gesto certo ou errado e
relação interpessoal dentro desses contextos. sim um gesto mais ou menos adequado para cada contexto.
Alguns fatores serão considerados para essa reflexão: os No âmbito das práticas coletivas da cultura corporal com
riscos de segurança física, o grau de excitação somática, as fins de expressão de emoções, sentimentos e sensações, as
características individuais e vivências anteriores do aluno relações de afetividade se configuram, em muitos casos, a
(como vivencia a satisfação e a frustração de seus desejos de partir de regras e valores peculiares a determinado contexto
aprendizagem) e a exposição do indivíduo num contexto estabelecido pelo grupo de participantes. Assim, é a partir do
social. fato de uma atividade se revestir de um caráter competitivo ou
A aprendizagem em Educação Física envolve alguns riscos recreativo, se a eficiência ou a plasticidade estética serão
do ponto de vista físico inerentes ao próprio ato de se valorizadas, ou se as regras serão mais ou menos flexíveis, que
movimentar, como, por exemplo, nas situações em que o serão determinadas as relações de inclusão e exclusão do
equilíbrio corporal é solicitado, a possibilidade de indivíduo no grupo. Na escola, portanto, quem deve
desequilíbrio estará inevitavelmente presente. Dessa forma, determinar o caráter de cada dinâmica coletiva é o professor,
mesmo considerando que escorregões, pequenas trombadas, a fim de viabilizar a inclusão de todos os alunos. Esse é um dos
quedas, impacto de bolas e cordas não possam ser evitados por aspectos que diferencia a prática corporal dentro e fora da
completo, cabe ao professor a tarefa de organizar as situações escola.
de ensino e aprendizagem, de forma a minimizar esses Gradualmente, ao longo do processo de aprendizagem, a
pequenos incidentes. O receio ou a vergonha do aluno em criança concebe as práticas culturais de movimento como
correr riscos de segurança física é motivo suficiente para que instrumentos para o conhecimento e a expressão de
ele se negue a participar de uma atividade, e em hipótese sensações, sentimentos e emoções individuais nas relações
alguma o aluno deve ser obrigado ou constrangido a realizar com o outro.
qualquer atividade. As propostas devem desafiar e não Em paralelo com a construção de uma melhor coordenação
ameaçar o aluno, e como essa medida varia de pessoa para corporal ocorre uma construção de natureza mais sutil, de
pessoa, a organização das atividades tem que contemplar caráter mais subjetivo, que diz respeito ao estilo pessoal de se
individualmente esse aspecto relativo à segurança física. movimentar dentro das práticas corporais cultivadas
Outra característica da maioria das situações de prática socialmente.
corporal é o grau elevado de excitação somática que o próprio Essas práticas corporais permitem ao indivíduo
movimento produz no corpo, particularmente em danças, experimentar e expressar um conjunto de características de
lutas, jogos e brincadeiras. A elevação de batimentos cardíacos sua personalidade, de seu estilo pessoal de jogar, lutar, dançar
e de tônus muscular, a expectativa de prazer e satisfação, e a e brincar. Mais ainda, de sua maneira pessoal de aprender a
possibilidade de gritar e comemorar, configuram um contexto jogar, a lutar, a dançar e a brincar. Pode-se falar em estilo
em que sentimentos de raiva, medo, vergonha, alegria e agressivo, irreverente, obstinado, elegante, cerebral, ousado e
tristeza, entre outros, são vividos e expressos de maneira retraído, entre outros. Nessas práticas o aluno explicita para si
intensa. Os tênues limites entre o controle e o descontrole mesmo e para o outro como é, como se imagina ser, como
dessas emoções são postos à prova, vivenciados gostaria de ser e, portanto, conhece e se permite conhecer pelo
corporalmente e numa intensidade que, em muitos casos, pode outro.
ser inédita para o aluno. A expressão desses sentimentos por Quanto mais domínio sobre os próprios movimentos o
meio de manifestações verbais, de riso, de choro ou de indivíduo conquistar, quanto mais conhecimentos construir
agressividade deve ser reconhecida como objeto de ensino e sobre a especificidade gestual de determinada modalidade
aprendizagem, para que possa ser pautada pelo respeito por si esportiva, de dança ou de luta que exerce, mais pode se utilizar
e pelo outro. dessa mesma linguagem para expressar seus sentimentos,
As características individuais e as vivências anteriores do suas emoções e o seu estilo pessoal de forma intencional e
aluno ao deparar com cada situação constituem o ponto de espontânea. Dito de outra forma, a aprendizagem das práticas
partida para o processo de ensino e aprendizagem das práticas da cultura corporal inclui a reconstrução dessa mesma técnica
da cultura corporal. As formas de compreender e relacionar-se ou modalidade, pelo sujeito, por meio da criação de seu estilo
com o próprio corpo, com o espaço e os objetos, com os outros, pessoal de exercê-las, nas quais a espontaneidade deve ser
a presença de deficiências físicas e perceptivas, configuram um vista como uma construção e não apenas como a ausência de
aluno real e não virtual, um indivíduo com características inibições.
próprias, que pode ter mais facilidade para aprender uma ou
outra coisa, ter medo disso ou vergonha daquilo ou ainda Portadores de deficiências físicas
julgar-se capaz de realizar algo que, na realidade, ainda não é.
Deparar com suas potencialidades e limitações para buscar Por desconhecimento, receio ou mesmo preconceito, a
desenvolvê-las é parte integrante do processo de maioria dos portadores de deficiências físicas foram (e são)
aprendizagem das práticas da cultura corporal e envolve excluídos das aulas de Educação Física. A participação nessa
sempre certo risco para o aluno, pois o êxito gera um aula pode trazer muitos benefícios a essas crianças,
sentimento de satisfação e competência, mas experiências particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das
sucessivas de fracasso e frustração acabam por gerar uma capacidades afetivas, de integração e inserção social.
sensação de impotência que, num limite extremo, inviabiliza a É fundamental, entretanto, que alguns cuidados sejam
aprendizagem. tomados. Em primeiro lugar, deve-se analisar o tipo de
O êxito e o fracasso devem ser dimensionados tendo como necessidade especial que esse aluno tem, pois existem
referência os avanços realizados pelo aluno em relação ao seu diferentes tipos e graus de limitações, que requerem
próprio processo de aprendizagem e não por uma expectativa procedimentos específicos. Para que esses alunos possam
de desempenho predeterminada. frequentar as aulas de Educação Física é necessário que haja
orientação médica e, em alguns casos, a supervisão de um

Legislação 91
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

especialista em fisioterapia, um neurologista, psicomotricista promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as


ou psicólogo, pois as restrições de movimentos, posturas e como uma necessidade básica do ser humano e um direito do
esforço podem implicar riscos graves. cidadão.
Garantidas as condições de segurança, o professor pode
fazer adaptações, criar situações de modo a possibilitar a Os Conteúdos de Educação Física no Ensino
participação dos alunos especiais. Uma criança na cadeira de Fundamental
rodas pode participar de uma corrida se for empurrada por
outra e, mesmo que não desenvolva os músculos ou aumente Critérios de seleção e organização dos conteúdos
a capacidade cardiovascular, estará sentindo as emoções de
uma corrida. Num jogo de futebol, a criança que não deve fazer Com a preocupação de garantir a coerência com a
muito esforço físico pode ficar um tempo no gol, fazer papel de concepção exposta e de efetivar os objetivos, foram eleitos os
técnico, de árbitro ou mesmo torcer. A aula não precisa se seguintes critérios para a seleção dos conteúdos propostos:
estruturar em função desses alunos, mas o professor pode ser - Relevância social
flexível, fazendo as adequações necessárias. Foram selecionadas práticas da cultura corporal que têm
Outro ponto importante é em relação a situações de presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem
vergonha e exposição nas aulas de Educação Física. A maioria favorece a ampliação das capacidades de interação
das pessoas portadoras de deficiências tem traços sociocultural, o usufruto das possibilidades de lazer, a
fisionômicos, alterações morfológicas ou problemas de promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva.
coordenação que as destacam das demais. A atitude dos alunos Considerou-se também de fundamental importância que
diante dessas diferenças é algo que se construirá na os conteúdos da área contemplem as demandas sociais
convivência e dependerá muito da atitude que o professor apresentadas pelos Temas Transversais.
adotar. É possível integrar essa criança ao grupo, respeitando - Características dos alunos
suas limitações, e, ao mesmo tempo, dar oportunidade para A definição dos conteúdos buscou guardar uma amplitude
que desenvolva suas potencialidades. que possibilite a consideração das diferenças entre regiões,
A aula de Educação Física pode favorecer a construção de cidades e localidades brasileiras e suas respectivas
uma atitude digna e de respeito próprio por parte do deficiente populações. Além disso, tomou-se também como referencial a
e a convivência com ele pode possibilitar a construção de necessidade de considerar o crescimento e as possibilidades
atitudes de solidariedade, de respeito, de aceitação, sem de aprendizagem dos alunos nesta etapa da escolaridade.
preconceitos. - Características da própria área
Os conteúdos são um recorte possível da enorme gama de
conhecimentos que vêm sendo produzidos sobre a cultura
Objetivos Gerais de Educação Física no Ensino corporal e estão incorporados pela Educação Física.
Fundamental Blocos de conteúdos

Espera-se que ao final do ensino fundamental os alunos Os conteúdos estão organizados em três blocos, que
sejam capazes de: deverão ser desenvolvidos ao longo de todo o ensino
- participar de atividades corporais, estabelecendo fundamental, embora no presente documento sejam
relações equilibradas e construtivas com os outros, especificados apenas os conteúdos dos dois primeiros ciclos.
reconhecendo e respeitando características físicas e de Essa organização tem a função de evidenciar quais são os
desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por objetos de ensino e aprendizagem que estão sendo
características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; priorizados, servindo como subsídio ao trabalho do professor,
- adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e que deverá distribuir os conteúdos a serem trabalhados de
solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando maneira equilibrada e adequada. Assim, não se trata de uma
qualquer espécie de violência; estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de
- conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade organizar o conjunto de conhecimentos abordado, segundo os
de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, diferentes enfoques que podem ser dados:
percebendo-as como recurso valioso para a integração entre
pessoas e entre diferentes grupos sociais; Esportes, jogos, Atividades rítmicas
- reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, lutas e ginásticas e expressivas
adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e Conhecimentos sobre o corpo
atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a
própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da
saúde coletiva; Os três blocos articulam-se entre si, têm vários conteúdos
- solucionar problemas de ordem corporal em diferentes em comum, mas guardam especificidades. O bloco
contextos, regulando e dosando o esforço em um nível “Conhecimentos sobre o corpo” tem conteúdos que estão
compatível com as possibilidades, considerando que o incluídos nos demais, mas que também podem ser abordados
aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências e tratados em separado. Os outros dois guardam
corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem características próprias e mais específicas, mas também têm
ocorrer de modo saudável e equilibrado; interseções e fazem articulações entre si.
- reconhecer condições de trabalho que comprometam os
processos de crescimento e desenvolvimento, não as Conhecimentos sobre o Corpo
aceitando para si nem para os outros, reivindicando condições
de vida dignas; Este bloco diz respeito aos conhecimentos e conquistas
- conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e individuais que subsidiam as práticas corporais expressas nos
estética corporal que existe nos diferentes grupos sociais, outros dois blocos e dão recursos para o indivíduo gerenciar
compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são sua atividade corporal de forma autônoma. O corpo é
produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados compreendido como um organismo integrado e não como um
pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; amontoado de “partes” e “aparelhos”, como um corpo vivo, que
- conhecer, organizar e interferir no espaço de forma interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer,
autônoma, bem como reivindicar locais adequados para alegria, medo, etc. Para se conhecer o corpo abordam-se os
conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e
Legislação 92
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

bioquímicos que capacitam a análise crítica dos programas de e sistematizar os conteúdos de forma mais abrangente,
atividade física e o estabelecimento de critérios para diversificada e articulada possível.
julgamento, escolha e realização que regulem as próprias Assim, consideram-se esporte as práticas em que são
atividades corporais saudáveis, seja no trabalho ou no lazer. adotadas regras de caráter oficial e competitivo, organizadas
São tratados de maneira simplificada, abordando-se apenas os em federações regionais, nacionais e internacionais que
conhecimentos básicos. No ciclo final da escolaridade regulamentam a atuação amadora e a profissional. Envolvem
obrigatória, podem ser ampliados e aprofundados. É condições espaciais e de equipamentos sofisticados como
importante ressaltar que os conteúdos deste bloco estão campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ginásios, etc. A
contextualizados nas atividades corporais desenvolvidas. divulgação pela mídia favorece a sua apreciação por um
Os conhecimentos de anatomia referem-se principalmente diverso contingente de grupos sociais e culturais. Por exemplo,
à estrutura muscular e óssea e são abordados sob o enfoque da os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de Futebol ou
percepção do próprio corpo, sentindo e compreendendo, por determinadas lutas de boxe profissional são vistos e discutidos
exemplo, os ossos e os músculos envolvidos nos diferentes por um grande número de apreciadores e torcedores.
movimentos e posições, em situações de relaxamento e tensão. Os jogos podem ter uma flexibilidade maior nas
Os conhecimentos de fisiologia são aqueles básicos para regulamentações, que são adaptadas em função das condições
compreender as alterações que ocorrem durante as atividades de espaço e material disponíveis, do número de participantes,
físicas (frequência cardíaca, queima de calorias, perda de água entre outros. São exercidos com um caráter competitivo,
e sais minerais) e aquelas que ocorrem a longo prazo (melhora cooperativo ou recreativo em situações festivas,
da condição cardiorrespiratória, aumento da massa muscular, comemorativas, de confraternização ou ainda no cotidiano,
da força e da flexibilidade e diminuição de tecido adiposo). como simples passatempo e diversão. Assim, incluem-se entre
A bioquímica abordará conteúdos que subsidiam a os jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa,
fisiologia: alguns processos metabólicos de produção de de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral.
energia, eliminação e reposição de nutrientes básicos. Os As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser
conhecimentos de biomecânica são relacionados à anatomia e subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio,
contemplam, principalmente, a adequação dos hábitos contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço
posturais, como, por exemplo, levantar um peso e equilibrar na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se
objetos. por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de
Estes conteúdos são abordados principalmente a partir da violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo
percepção do próprio corpo, isto é, o aluno deverá, por meio de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-
de suas sensações, analisar e compreender as alterações que ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do
ocorrem em seu corpo durante e depois de fazer atividades. caratê.
Poderão ser feitas análises sobre alterações a curto, médio ou As ginásticas são técnicas de trabalho corporal que, de
longo prazos. Também sob a ótica da percepção do próprio modo geral, assumem um caráter individualizado com
corpo, os alunos poderão analisar seus movimentos no tempo finalidades diversas. Por exemplo, pode ser feita como
e no espaço: como são seus deslocamentos, qual é a velocidade preparação para outras modalidades, como relaxamento, para
de seus movimentos, etc. manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma
As habilidades motoras deverão ser aprendidas durante recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não
toda a escolaridade, do ponto de vista prático, e deverão a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em
sempre estar contextualizadas nos conteúdos dos outros espaços fechados, ao ar livre e na água. Cabe ressaltar que são
blocos. Do ponto de vista teórico, podem ser observadas e um conteúdo que tem uma relação privilegiada com
apreciadas principalmente dentro dos esportes, jogos, lutas e “Conhecimentos sobre o corpo”, pois, nas atividades
danças. ginásticas, esses conhecimentos se explicitam com bastante
Também fazem parte deste bloco os conhecimentos sobre clareza. Atualmente, existem várias técnicas de ginástica que
os hábitos posturais e atitudes corporais. A ênfase deste item trabalham o corpo de modo diferente das ginásticas
está na relação entre as possibilidades e as necessidades tradicionais (de exercícios rígidos, mecânicos e repetitivos),
biomecânicas e a construção sociocultural da atitude corporal, visando a percepção do próprio corpo: ter consciência da
dos gestos, da postura. Por que, por exemplo, os orientais respiração, perceber relaxamento e tensão dos músculos,
sentam-se no chão, com as costas eretas? Por que as lavadeiras sentir as articulações da coluna vertebral.
de um determinado lugar lavam a roupa de uma maneira? Por Uma prática pode ser vivida ou classificada em função do
que muitas pessoas do interior sentam-se de cócoras? contexto em que ocorre e das intenções de seus praticantes.
Observar, analisar, compreender essas atitudes corporais são Por exemplo, o futebol pode ser praticado como um esporte,
atividades que podem ser desenvolvidas juntamente com de forma competitiva, considerando as regras oficiais que são
projetos de História, Geografia e Pluralidade Cultural. estabelecidas internacionalmente (que incluem as dimensões
Além da análise dos diferentes hábitos, pode-se incluir a do campo, o número de participantes, o diâmetro e peso da
questão da postura dos alunos em classe: as posturas mais bola, entre outros aspectos), com plateia, técnicos e árbitros.
adequadas para fazer determinadas tarefas, para diferentes Pode ser considerado um jogo, quando ocorre na praia, ao final
situações e por quê. da tarde, com times compostos na hora, sem árbitro, nem
torcida, com fins puramente recreativos. Pode ser vivido
Esportes, Jogos, Lutas e Ginásticas também como uma luta, quando os times são compostos por
meninos de ruas vizinhas e rivais, ou numa final de
Tentar definir critérios para delimitar cada uma destas campeonato, por exemplo, entre times cuja rivalidade é
práticas corporais é tarefa arriscada, pois as sutis interseções, histórica. Em muitos casos, esses aspectos podem estar
semelhanças e diferenças entre uma e outra estão vinculadas presentes simultaneamente.
ao contexto em que são exercidas. Existem inúmeras Os esportes são sempre notícia nos meios de comunicação
tentativas de circunscrever conceitualmente cada uma delas, a e dentro da escola; portanto, podem fazer parte do conteúdo,
partir de diferentes pressupostos teóricos, mas até hoje não principalmente nos dois primeiros ciclos, se for abordado sob
existe consenso. o enfoque da apreciação e da discussão de aspectos técnicos,
As delimitações utilizadas no presente documento têm o táticos e estéticos. Nos ciclos posteriores, existem contextos
intuito de tornar viável ao professor e à escola operacionalizar mais específicos (como torneios e campeonatos) que

Legislação 93
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

possibilitam que os alunos vivenciem uma situação mais Nordeste, que incorporaram os ritmos caribenhos, resultando
caracterizada como esporte. na lambada.
Incluem-se neste bloco as informações históricas das Nas cidades existem danças como o funk, o rap, o hip-hop,
origens e características dos esportes, jogos, lutas e ginásticas, as danças de salão, entre outras, que se caracterizam por
valorização e apreciação dessas práticas. acontecerem em festas, clubes, ou mesmo nas praças e ruas.
A gama de esportes, jogos, lutas e ginásticas existentes no Existem também as danças eruditas como a clássica, a
Brasil é imensa. Cada região, cada cidade, cada escola tem uma contemporânea, a moderna e o jazz, que podem às vezes ser
realidade e uma conjuntura que possibilitam a prática de uma apreciadas na televisão, em apresentações teatrais e são
parcela dessa gama. A lista a seguir contempla uma parcela de geralmente ensinadas em escolas e academias. Nas cidades do
possibilidades e pode ser ampliada ou reduzida: Nordeste e Norte do país, existem danças e coreografias
- jogos pré-desportivos: queimada, pique-bandeira, guerra associadas às manifestações musicais, como a timbalada ou o
das bolas, jogos pré-desportivos do futebol (gol-a-gol, olodum, por exemplo.
controle, chute-em-gol-rebatidadrible, bobinho, dois toques); A presença de imigrantes no país também trouxe uma
- jogos populares: bocha, malha, taco, boliche; gama significativa de danças das mais diversas culturas.
- brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico, bambolê, Quando houver acesso a elas, é importante conhecê-las, situá-
bolinha de gude, pião, pipas, lenço-atrás, corre-cutia, esconde- las, entender o que representam e o que significam para os
esconde, pega-pega, coelho sai-da-toca, duro-ou-mole, agacha- imigrantes que as praticam.
agacha, mãe-da-rua, carrinhos de rolimã, cabo-de-guerra, etc.; Existem casos de danças que estão desaparecendo, pois
- atletismo: corridas de velocidade, de resistência, com não há quem as dance, quem conheça suas origens e
obstáculos, de revezamento; saltos em distância, em altura, significados. Conhecê-las, por intermédio das pessoas mais
triplo, com vara; arremessos de peso, de martelo, de dardo e velhas da comunidade, valorizá-las e revitalizá-las é algo
de disco; possível de ser feito dentro deste bloco de conteúdos.
- esportes coletivos: futebol de campo, futsal, basquete, As lengalengas são geralmente conhecidas das meninas de
vôlei, vôlei de praia, handebol, futvôlei, etc.; todas as regiões do país. Caracterizam-se por combinar gestos
- esportes com bastões e raquetes: beisebol, tênis de mesa, simples, ritmados e expressivos que acompanham uma música
tênis de campo, pingue-pongue; canônica. As brincadeiras de roda e as cirandas também são
- esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in-line, ciclismo; uma boa fonte para atividades rítmicas.
- lutas: judô, capoeira, caratê; Os conteúdos deste bloco são amplos, diversificados e
- ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica e podem variar muito de acordo com o local em que a escola
musculação); de preparação e aperfeiçoamento para a dança; estiver inserida. Sem dúvida alguma, resgatar as
de preparação e aperfeiçoamento para os esportes, jogos e manifestações culturais tradicionais da coletividade, por
lutas; olímpica e rítmica desportiva. intermédio principalmente das pessoas mais velhas é de
fundamental importância. A pesquisa sobre danças e
Atividades Rítmicas e Expressivas brincadeiras cantadas de regiões distantes, com
características diferentes das danças e brincadeiras locais,
Este bloco de conteúdos inclui as manifestações da cultura pode tornar o trabalho mais completo.
corporal que têm como características comuns a intenção de Por meio das danças e brincadeiras os alunos poderão
expressão e comunicação mediante gestos e a presença de conhecer as qualidades do movimento expressivo como
estímulos sonoros como referência para o movimento leve/pesado, forte/fraco, rápido/lento, fluido/interrompido,
corporal. Trata-se das danças e brincadeiras cantadas. intensidade, duração, direção, sendo capaz de analisá-los a
O enfoque aqui priorizado é complementar ao utilizado partir destes referenciais; conhecer algumas técnicas de
pelo bloco de conteúdo “Dança”, que faz parte do documento execução de movimentos e utilizar-se delas; ser capazes de
de Arte. O professor encontrará, naquele documento, mais improvisar, de construir coreografias, e, por fim, de adotar
subsídios para desenvolver um trabalho de dança, no que atitudes de valorização e apreciação dessas manifestações
tange aos aspectos criativos e à concepção da dança como expressivas.
linguagem artística. A lista a seguir é uma sugestão de danças e outras
Num país em que pulsam o samba, o bumba-meu-boi, o atividades rítmicas e/ou expressivas que podem ser
maracatu, o frevo, o afoxé, a catira, o baião, o xote, o xaxado abordadas e deverão ser adaptadas a cada contexto:
entre muitas outras manifestações, é surpreendente o fato de - danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé,
a Educação Física ter promovido apenas a prática de técnicas catira, bumba meu- boi, maracatu, xaxado, etc.;
de ginástica e (eventualmente) danças europeias e - danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão;
americanas. A diversidade cultural que caracteriza o país tem - danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas,
na dança uma de suas expressões mais significativas, jazz;
constituindo um amplo leque de possibilidades de - danças e coreografias associadas a manifestações
aprendizagem. musicais: blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos,
Todas as culturas têm algum tipo de manifestação rítmica escolas de samba;
e/ou expressiva. No Brasil existe uma riqueza muito grande - lengalengas;
dessas manifestações. Danças trazidas pelos africanos na - brincadeiras de roda, cirandas;
colonização, danças relativas aos mais diversos rituais, danças - escravos-de-jó.
que os imigrantes trouxeram em sua bagagem, danças que
foram aprendidas com os vizinhos de fronteira, danças que se Critérios de Avaliação em Educação Física
veem pela televisão. As danças foram e são criadas a todo
tempo: inúmeras influências são incorporadas e as danças Os Parâmetros Curriculares Nacionais consideram que a
transformam-se, multiplicam-se. Algumas preservaram suas avaliação deve ser algo útil, tanto para o aluno como para o
características e pouco se transformaram com o passar do professor, para que ambos possam dimensionar os avanços e
tempo, como os forrós que acontecem no interior de Minas as dificuldades dentro do processo de ensino e aprendizagem
Gerais, sob a luz de um lampião, ao som de uma sanfona. e torná-lo cada vez mais produtivo.
Outras, recebem múltiplas influências, incorporam-nas, Tradicionalmente, as avaliações dentro desta área se
transformando-as em novas manifestações, como os forrós do resumem a alguns testes de força, resistência e flexibilidade,
medindo apenas a aptidão física do aluno. O campo de

Legislação 94
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conhecimento contemplado por esta proposta vai além dos


aspectos biofisiológicos. Embora a aptidão possa ser um dos
aspectos a serem avaliados, deve estar contextualizada dentro
dos conteúdos e objetivos, deve considerar que cada indivíduo
é diferente, que tem motivações e possibilidades pessoais. Não
se trata mais daquela avaliação padronizada que espera o
mesmo resultado de todos. Isso significa dizer que, por
exemplo, se um dos objetivos é que o aluno conheça alguns dos
seus limites e possibilidades, a avaliação dos aspectos físicos
estará relacionada a isso, de forma que o aluno possa
compreender sua função imediata, o contexto a que ela se
refere e, de posse dessa informação, traçar metas e melhorar o
seu desempenho. Além disso, a aptidão física é um dos
aspectos a serem considerados para que esse objetivo seja
alcançado: o conhecimento de jogos, brincadeiras e outras
atividades corporais, suas respectivas regras, estratégias e
habilidades envolvidas, o grau de independência para cuidar
de si mesmo ou para organizar brincadeiras, a forma de se
relacionar com os colegas, entre outros, são aspectos que
permitem uma avaliação abrangente do processo de ensino e
aprendizagem.
Dessa forma, os critérios explicitados para cada um dos
ciclos de escolaridade têm por objetivo auxiliar o professor a
avaliar seus alunos dentro desse processo, abarcando suas
múltiplas dimensões. Também buscam explicitar os conteúdos
fundamentais para que os alunos possam seguir aprendendo.

Anotações

Legislação 95
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Legislação 96
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VIII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da


União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
população;
IX – promover, no que couber, adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano;
X – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural
local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e
Lei Orgânica do Município estadual;
de Ferraz de Vasconcelos. XI – cuidar da limpeza das vias e logradouros públicos e dar
destinação ao lixo e outros resíduos de qualquer natureza;
XII – conceder aos estabelecimentos industriais e
comerciais, licença para sua instalação e horários de
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO1 DE FERRAZ DE funcionamento, observadas as normas federais pertinentes, e
VASCONCELOS revogá-la quando suas atividades se tornarem prejudiciais à
TÍTULO I saúde sossego público e bons costumes;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES XIII – dispor sobre o serviço funerário;
CAPÍTULO I XIV – administrar os cemitérios públicos e fiscalizar os
DO MUNICÍPIO pertencentes a entidades particulares;
XV – autorizar a fixação de cartazes e anúncios, bem como
Artigo 1º - O Município de Ferraz de Vasconcelos, é uma a utilização de quaisquer outros meios de publicidade e
unidade do território do Estado de São Paulo, com propaganda;
personalidade jurídica de direito público interno e autonomia, XVI – dispor sobre a guarda e destino de animais
nos termos assegurados pelas Constituições Federal e apreendidos, assim como sua vacinação, com a finalidade de
Estadual. erradicar moléstias;
XVII – dar destinação às mercadorias apreendidas em
Artigo 2º - São símbolos do Município, a bandeira, o brasão decorrência de transgressão da legislação municipal;
de armas e o hino, representativos de sua cultura e de sua XVIII – constituir guarda municipal destinada a proteção
história, estabelecidos em lei municipal. de seus bens, serviços e instalações;
XIX – estabelecer normas de edificação, de loteamento,
CAPÍTULO II arruamento e de zoneamento urbano e rural, bem como as
DA COMPETÊNCIA limitações urbanísticas convenientes à ordenação do seu
território, observada a Lei Federal;
Artigo 3º - O Município tem como competência privativa XX – promover os seguintes serviços:
legislar sobre assuntos de interesse local, cabendo-lhe entre a) mercados, feiras e matadouros;
outras as seguintes atribuições: b) construção e conservação de estradas e caminhos
I – elaborar o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias municipais;
e os orçamentos anuais; c) transportes coletivos estritamente municipais;
II – instituir e arrecadar os tributos, fixar e cobrar os d) iluminação pública.
preços públicos e outros ingressos, de sua competência, bem XXI – estabelecer e impor penalidades por infração de suas
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de leis e regulamentos;
prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; § 1º - As normas de loteamento e arruamento a que se
III – criar, organizar e suprimir distritos, observada a refere o inciso XIX deste artigo, deverão exigir reserva de áreas
legislação estadual; destinadas a:
IV – organizar e prestar os serviços públicos de forma a) áreas verdes e demais logradouros públicos;
centralizada ou descentralizada, sendo neste caso: b) vias de tráfego e de passagem de canalizações públicas,
a) por outorga, às autarquias ou entidades paraestatais; de esgoto e de águas pluviais nos fundos de vales;
b) por delegação, a particulares, mediante a concessão, c) passagem de canalizações públicas de esgoto e de águas
permissão ou autorização; pluviais;
V – disciplinar a utilização dos logradouros públicos e em § 2º - O Município poderá, no que couber, suplementar a
especial quanto ao trânsito e tráfego, provendo sobre: legislação federal e estadual.
a) transporte coletivo urbano, seu itinerário, os pontos de
parada e as tarifas; Artigo 4º - O Município tem como competência
b) os serviços de taxis, seus pontos de estacionamento e as concorrente com a União, o Estado e o Distrito Federal, entre
tarifas; outras as seguintes atribuições:
c) a sinalização, os limites das “zonas de silêncio”, os I zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
serviços de carga e descarga, a tonelagem máxima permitida instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
aos veículos, assim como os locais de estacionamento; II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e
VI – quanto aos bens: garantia das pessoas portadoras de deficiências;
a) de sua propriedade: dispor sobre administração, III – proteger os documentos, as obras e outros bens de
utilização e alienação; valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
b) de terceiros: adquirir, inclusive através de paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
desapropriação, instituir servidão administrativa ou efetuar IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização
ocupação temporária; de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e
VII – manter, com a cooperação técnica e financeira da cultural;
União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação
ensino fundamental; e à ciência;

http://www.camaraferraz.sp.gov.br/download/lei_organica_atualizada_190515.
pdf Acesso em: 09/05/2018 às 08h:30min

Legislação Municipal 1
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em XIII – dispor, a qualquer título, no todo ou em parte, de
qualquer de suas formas; ações ou capital que tenha subscrito, adquirido, realizado ou
VII – preservar florestas, a fauna e a flora; aumentado;
VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o XIV – autorizar ou aprovar convênios, acordos ou
abastecimento alimentar; contratos de que resultem para o Município, encargos não
IX – promover programas de construção de moradias e a previstos em lei orçamentária;
melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; XV – delimitar o perímetro urbano;
X – combater as causas da pobreza e os fatores de
marginalização, promovendo a integração social dos setores Artigo 7º - Compete a Câmara Municipal, privativamente,
desfavorecidos; as seguintes atribuições entre outras:
XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de I – eleger sua Mesa;
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e II – elaborar o Regimento Interno;
minerais em seu território; III – organizar os serviços administrativos internos e
XII – estabelecer e implantar política de educação para a prover os cargos respectivos, transformá-los ou extinguí-los,
segurança do trânsito; bem como fixar as respectivas remunerações, observados os
XIII – dispensar às microempresas e as empresas de parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
pequeno porte, tratamento jurídico diferenciado, IV – dar posse ao Prefeito e ao Vice-Prefeito eleitos,
XIV – promover e incentivar o turismo como fator de conhecer de suas renúncias e afastá-los definitivamente do
desenvolvimento social e econômico. exercício dos cargos;
V – conceder licença aos Vereadores, ao Prefeito e ao Vice-
TÍTULO II Prefeito para afastamento do cargo;
DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL VI – conceder licença ao Prefeito para ausentar-se do
CAPÍTULO I Município por mais de quinze dias;
DA FUNÇÃO LEGISLATIVA VII – fixar de uma para outra legislatura, antes das eleições:
SEÇÃO I a) subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito;
DA CÂMARA MUNICIPAL b) subsídios dos Vereadores e do Presidente da Câmara, e
c) subsídios dos Secretários Municipais.
Artigo 5º - A função legislativa é exercida pela Câmara VIII – tomar e julgar, anualmente, as contas prestadas pela
Municipal, composta de Vereadores, eleitos através do sistema Mesa da Câmara Municipal e pelo Prefeito e apreciar o
proporcional, dentre cidadãos maiores de dezoito anos, no relatório sobre a execução dos planos de governo;
exercício dos direitos políticos, pelo voto direto e secreto. IX – fiscalizar e controlar os atos do Executivo, inclusive da
§ 1º - Cada legislatura terá a duração de quatro anos. administração indireta;
§ 2º - A Câmara Municipal terá dezessete Vereadores. X – convocar os Secretários Municipais, para prestar
§ 3º - Os Vereadores terão residência fixa e comprovada no informações pessoalmente sobre assuntos previamente
Município de Ferraz de Vasconcelos. determinados, no prazo máximo de quinze dias, o não
atendimento no prazo fixado, importará em crime de
SEÇÃO II responsabilidade, o mesmo ocorrendo com informações falsas.
DAS ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA MUNICIPAL XI – requisitar informações dos Secretários Municipais
sobre assunto relacionado com a Pasta, cujo atendimento
Artigo 6º - Cabe a Câmara Municipal, com a sanção do deverá ser feito no prazo de trinta dias.
Prefeito, dispor sobre todas as matérias de competência do XII – declarar a perda do mandato do Prefeito;
Executivo, e especialmente: XIII – autorizar referendo e convocar plebiscito, na forma
I – legislar sobre assuntos de interesse local, inclusive da Lei;
suplementando a legislação federal e estadual; XIV – zelar pela preservação de sua competência legislativa
II – legislar sobre tributos municipais, bem como autorizar em face da atribuição normativa do Executivo;
isenções, anistias fiscais e remissão de dívidas; XV – criar comissões especiais de inquérito sobre fato
III – votar o plano plurianual, a lei de diretrizes determinado que se inclua na competência municipal, e por
orçamentárias, o orçamento anual, bem como autorizar a prazo certo, sempre que o requerer, pelo menos, um terço de
abertura de créditos suplementares e especiais; seus membros;
IV – deliberar sobre obtenção e concessão de empréstimos XVI – solicitar ao Prefeito, na forma do Regimento Interno,
e operações de créditos, bem como a forma e os meios de informações sobre atos de sua competência privativa, que
pagamento, salvo com suas entidades descentralizadas; serão prestadas no prazo máximo de quinze dias, importando
V – autorizar a concessão de auxílios e subvenções; sua recusa, retardamento sem motivo justificado ou
VI – autorizar a concessão de serviços públicos; informações falsas em crime de responsabilidade;
VII – autorizar, quanto aos bens municipais imóveis: XVII – julgar, em escrutínio secreto, os Vereadores, o
a) o seu uso, mediante a concessão administrativa ou de Prefeito e o Vice-Prefeito;
direito real; XVIII – conceder título de cidadão honorário a pessoas que
b) a sua alienação; reconhecidamente tenham prestado serviços ao Município,
VIII – autorizar a aquisição de bens imóveis salvo quando desde que o Decreto Legislativo, aprovado pelo voto de no
se tratar de doação sem encargos; mínimo, dois terços de seus membros;
IX – dispor sobre a criação, organização e supressão de XIX – dar denominação ou alterar a denominação de
distritos, mediante prévia consulta plebiscitária; próprios, vias e logradouros públicos, sendo vedado emprego
X – criar, transformar e extinguir cargos, empregos e de nome de pessoas vivas;
funções na administração direta, autarquias e fundações Parágrafo único – A Câmara Municipal delibera, mediante
públicas, assim como fixar os respectivos vencimentos; Resolução, sobre assuntos de sua economia interna e nos
XI – criar, dar estrutura e atribuições às Secretarias e demais casos de sua competência, por meio de Decreto
órgãos da administração municipal; Legislativo.
XII – aprovar o Plano Diretor;

Legislação Municipal 2
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SEÇÃO III economia mista ou empresa concessionária de serviço público,


DOS VEREADORES salvo quando obedeça a cláusulas uniformes;
SUBSEÇÃO I b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego
DA POSSE remunerado, incluindo os de que seja demissível “ad nutum”,
nas entidades constantes da alínea anterior, salvo no caso do
Artigo 8º - No primeiro ano de cada legislatura, no dia 1º artigo 133, II;
de janeiro, às dez horas, em sessão solene de instalação, II – desde a posse:
independentemente de número, os Vereadores, sob a a) ser proprietário, controlador ou diretor de empresa que
Presidência do mais votado dentre os presentes, prestarão goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de
compromisso e tomarão posse. direito público, ou nela exercer função remunerada;
§ 1º - O Vereador que não tomar posse, na sessão prevista b) ocupar cargo ou função de que seja demissível “ad
neste artigo, deverá fazê-lo no prazo de quinze dias, salvo nutum”, nas entidades referidas na alínea “a” do inciso I;
motivo justo aceito pela Câmara. c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das
§ 2º - No ato da posse os Vereadores deverão entidades a que se refere a alínea “a”, inciso I.
desincompatibilizar-se na mesma ocasião, bem assim ao
término do mandato fazer declaração de bens, juntando ainda SUBSEÇÃO VI
a declaração do Imposto de Renda, do exercício DA PERDA DO MANDATO
imediatamente anterior.
Artigo 13 – Perderá o mandato o Vereador:
SEÇÃO II I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no
DA REMUNERAÇÃO artigo anterior;
II – cujo procedimento for declarado incompatível com o
Artigo 9º - Os Vereadores farão jus a subsídios mensais, decoro parlamentar;
fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, no final da III – que deixar de comparecer sem que esteja licenciado
legislatura para vigorar na que lhe é subsequente, observados ou autorizado pela Câmara em missão fora do Município ou
os limites estabelecidos pela Constituição Federal. ainda, por motivo de doença devidamente comprovada, a 1/3
§ 1º - Os subsídios serão fixados antes das eleições e não (um terço) ou mais das sessões da Câmara, exceto as solenes,
deverá ser inferior ao maior padrão ou referência de realizadas dentro do ano legislativo.
vencimento pago a servidor do Município, que conte no IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
mínimo com um ano de efetivo exercício no cargo ou função. V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos
§ 2º - No caso de o subsídio tornar-se inferior ao valor da previstos na Constituição Federal;
referência ou padrão pago ao servidor, esta será adequada nos VI – que sofrer condenação criminal em sentença
termos do artigo anterior. transitada em julgado;
§ 1º - É incompatível com o decoro do Legislativo, além dos
SUBSEÇÃO III casos definidos no Regimento Interno, o abuso das
DA LICENÇA prerrogativas asseguradas ao Vereador ou a percepção de
vantagens indevidas.
Artigo 10 – O Vereador poderá licenciar-se somente: § 2º - Nos casos dos incisos I, II, IV deste artigo a perda do
I – para desempenhar missão de caráter transitório; mandato será decidida pela Câmara Municipal, por voto
II – por moléstia devidamente comprovada ou no período secreto e maioria de dois terços, mediante provocação da Mesa
de gestante; ou de partido político representado no Legislativo, assegurada
III – para tratar de assuntos de interesse particular, por ampla defesa.
prazo determinado, podendo reassumir o exercício de seu § 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será
mandato antes do término previsto, mediante comunicação declarada pela Mesa, de ofício ou mediante provocação de
dirigida ao Presidente da Câmara. qualquer dos membros da Câmara Municipal ou de partido
IV – por sete dias consecutivos em caso de falecimento de político nela representada, assegurada ampla defesa.
cônjuge, companheiro, pais, filhos, enteados menores sob a
guarda e irmãos. Artigo 14 – Não perderá o mandato o Vereador:
§ 1º - A licença depende de requerimento fundamentado e I – investido na função de Secretário Municipal;
aprovação do Plenário, na primeira sessão após seu II – licenciado pela Câmara;
recebimento. a) por motivo de doença ou no período de gestante;
§ 2º - O Vereador licenciado nos termos dos incisos I e II, b) para tratar de interesse particular, desde que o
receberá seus subsídios integrais, no caso previsto no inciso afastamento não ultrapasse a cento e vinte dias por sessão
III, nada recebe. legislativa.
§ 1º - O suplente será convocado nos casos de:
SUBSEÇÃO IV a) investidura do titular na função de Secretário Municipal;
DA INVIOLABILIDADE b) licença do titular;
c) vaga.
Artigo 11 – Os Vereadores gozam de inviolabilidade por § 2º - Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á
suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato, na eleição, se faltarem mais de quinze meses para o término do
circunscrição do Município. mandato.
§ 3º - Na hipótese do inciso I, deste artigo, o Vereador
SUBSEÇÃO V poderá optar pela remuneração de seu mandato.
DAS PROIBIÇÕES E INCOMPATIBILIDADES
Artigo 15 – Nos casos previstos no § 1º, do artigo anterior,
Artigo 12 – O Vereador não poderá: o Presidente convocará imediatamente o suplente.
I – desde a expedição do diploma: Parágrafo único – O suplente convocado deverá tomar
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de posse dentro do prazo de dez dias, salvo motivo justo aceito
direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de pela Câmara.

Legislação Municipal 3
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SUBSEÇÃO VII concorrerão a um segundo escrutínio, persistindo o empate,


DA CASSAÇÃO DO MANDATO será decidido por sorteio.

Artigo 16 – A Câmara de Vereadores cassará o mandato do Artigo 22 – Na constituição da Mesa assegurar-se-á tanto
Vereador quando, em processo regular em que é assegurado quanto possível a representação proporcional dos partidos
ao acusado ampla defesa, concluir pela prática de infrações políticos com assento na Câmara Municipal.
político-administrativas.
§ 1º - São infrações político-administrativas aquelas SUBSEÇÃO II
constantes dos artigos 12 e 13 desta Lei. DA RENOVAÇÃO DA MESA
§ 2º - O processo de cassação do mandato do Vereador será
regulado pelo Regimento Interno, observado no que couber o Artigo 23 – A eleição para a renovação dos membros da
estabelecido no artigo 77, desta Lei. Mesa, realizar-se-á às 10:00 horas da terceira sexta-feira do
mês de dezembro que anteceder o término do biênio.
SUBSEÇÃO VIII Parágrafo único – Os eleitos, serão automaticamente
DA EXTINÇÃO DO MANDATO empossados no dia 1º de janeiro, subsequente a eleição.

Artigo 17 – Extingue-se o mandato do Vereador e assim SUBSEÇÃO III


será declarado pelo Presidente da Câmara Municipal, quando: DA DESTITUIÇÃO DE MEMBRO DA MESA
I – ocorrer o falecimento;
II – ocorrer a renúncia expressa do mandato; Artigo 24 – Qualquer componente da Mesa poderá ser
III – for condenado por crime funcional ou eleitoral; destituído, pelo voto de dois terços dos membros da Câmara,
IV – incidir nos impedimentos para o exercício do mandato quando faltoso, omisso ou ineficiente no desempenho de suas
e não se desincompatibilizar-se até a posse e nos casos atribuições regimentais, elegendo-se outro Vereador para
supervenientes no prazo de quinze dias, contados do completar o mandato, assegurando-se ampla defesa.
recebimento de notificação para isso promovida pelo Parágrafo único – O Regimento Interno disporá sobre o
Presidente da Câmara de Vereadores. processo de destituição.
§ 1º - Considera-se formulada a renúncia e por conseguinte
como tendo produzidos todos os seus efeitos para os fins deste SUBSEÇÃO IV
artigo quando protocolado nos serviços administrativos da DA LICENÇA DE CARGOS DA MESA
Câmara de Vereadores.
§ 2º - Ocorrido e comprovado o ato ou fato extintivo, o Artigo 25 – Qualquer componente da Mesa, poderá
Presidente da Câmara de Vereadores, na primeira sessão licenciar-se do cargo, sem prejuízo de exercer as funções de
comunicará ao Plenário, fazendo constar da Ata a declaração Vereador.
da extinção do mandato, e convocará o respectivo suplente. Parágrafo único – O membro da Mesa, para licenciar-se do
SUBSEÇÃO IX cargo, deverá apresentar requerimento fundamentado, lido e
DO TESTEMUNHO aprovado pelo Plenário.

Artigo 18 – Os Vereadores não serão obrigados a SUBSEÇÃO V


testemunharem sobre informações recebidas ou prestadas em DAS ATRIBUIÇÕES DA MESA
razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes
confiarem ou deles receberem informações. Artigo 26 – Compete a Mesa, dentre outras atribuições:
I – baixar, mediante ato, as medidas que digam respeitam
Artigo 19 – No exercício do mandato, o Vereador terá livre aos senhores Vereadores;
acesso as repartições públicas, podendo diligenciar II – baixar, mediante Portaria, as medidas referentes aos
pessoalmente junto aos órgãos da Administração Direta e servidores da Secretaria da Câmara Municipal, como
Indireta, devendo ser atendido pelos responsáveis na forma da provimento de cargos, conceder gratificações, licenças,
lei. aposentadorias e ainda abertura de sindicâncias, processos
SEÇÃO IV administrativos e aplicação de penalidades.
DA MESA DA CÂMARA III – propor Projeto de Resolução que disponha sobre a:
SUBSEÇÃO I a) Secretaria da Câmara e suas alterações;
DA ELEIÇÃO b) polícia da Câmara;
c) criação, transformação ou extinção de cargos, empregos
Artigo 20 – Imediatamente depois da posse, os Vereadores e funções de seus serviços e fixação da respectiva
reunir-se-ão sob a presidência do mais votado dentre os remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei
presentes, e havendo maioria absoluta dos membros da de diretrizes orçamentárias;
Câmara, elegerão os componentes da Mesa, que ficarão IV – elaborar e expedir mediante ato, quadro de
automaticamente empossados. detalhamento das dotações, observado o disposto na lei
Parágrafo único – Não havendo número legal, o Vereador orçamentária e nos créditos adicionais abertos em favor da
mais votado dentre os presentes permanecerá na Presidência Câmara;
e convocará sessões diárias, até que seja eleita a Mesa. V – apresentar projeto de lei, dispondo sobre autorização
para a abertura de créditos adicionais, quando o recurso a ser
Artigo 21 – Os membros da Mesa serão eleitos para um utilizado for proveniente da anulação de dotação da Câmara;
mandato de dois anos. VI – solicitar ao Prefeito, quando houver autorização
§ 1º - A eleição far-se-á, em primeiro escrutínio, pela legislativa, a abertura de créditos adicionais para a Câmara;
maioria absoluta da Câmara Municipal. VII – devolver à Prefeitura, no último dia do ano, o saldo de
§ 2º - É vedada a recondução para o mesmo cargo na caixa existente;
eleição imediatamente subsequente. VIII – enviar ao Prefeito, até o dia primeiro de março, as
§ 3º - Em todas as eleições da Mesa, os candidatos a um contas do exercício anterior;
mesmo cargo que obtiverem igual número de votos, IX – declarar a perda do mandato de Vereador, de ofício ou
por provocação de qualquer de seus membros ou, ainda, de

Legislação Municipal 4
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

partido político representado na Câmara, nas hipóteses Artigo 31 – O voto será público, inclusive no julgamento de
previstas nos incisos III e V do artigo 13, assegurada ampla Vereadores, do Prefeito e do Vice-Prefeito.
defesa;
X – propor ação direta de inconstitucionalidade. SUBSEÇÃO II
§ 1º - Não será admitido aumento da defesa prevista no DA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
projeto de resolução referido no inciso III, deste artigo.
§ 2º - A Mesa da Câmara decide pelo voto da maioria de Artigo 32 – Independentemente de convocação, a sessão
seus membros. legislativa anual desenvolve-se de 02 de fevereiro a 30 de
junho e de 1º de agosto a 21 de dezembro.
SUBSEÇÃO VI Parágrafo único – Recaindo a data da sessão ordinária em
DO PRESIDENTE feriado ou ponto facultativo, a critério da Mesa da Câmara, sua
realização poderá ser adiada ou antecipada, caso as
Artigo 27 – Compete ao Presidente da Câmara, dentre circunstâncias assim o exigir.
outras atribuições: Artigo 33 – A sessão legislativa não será interrompida sem
I – representar a Câmara em juízo ou fora dele; aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias e do
II – dirigir, executar e disciplinar os trabalhos legislativos; projeto de lei do orçamento.
III – interpretar e fazer cumprir o Regimento Interno da
Câmara; SUBSEÇÃO III
IV – promulgar as Resoluções e os Decretos Legislativos, DA SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA
bem como as Leis com sanção tácita ou cujo veto tenha sido
rejeitado em Plenário; Artigo 34 – A convocação extraordinária da Câmara
V – fazer publicar as Portarias e os Atos da Mesa, bem como Municipal, somente possível no período de recesso, far-se-á:
as Resoluções, os Decretos Legislativos e as Leis por ele I – pelo Prefeito, em caso de urgência ou interesse público
promulgadas; relevante;
VI – declarar a perda do mandato de Vereadores, do II – por dois terços da Câmara Municipal.
Prefeito e Vice-Prefeito, nos casos previstos em lei, salvo as § 1º - A convocação será feita mediante ofício ao Presidente
hipóteses dos incisos III a V do artigo 13; da Câmara, para reunir-se no mínimo dentro de dois dias.
VII – requisitar o numerário destinado às despesas da
Câmara e aplicar as disponibilidades financeiras no mercado § 2º - O Presidente da Câmara, dará conhecimento da
de capitais; convocação aos senhores Vereadores em sessão ou fora dela,
VIII – apresentar ao Plenário, até o dia vinte de cada mês, o mediante, neste último caso, comunicação pessoal escrita que
balancete relativo aos recursos recebidos e às despesas do mês lhes será encaminhada no prazo previsto no Regimento
anterior; Interno.
IX – manter a ordem no recinto da Câmara, podendo § 3º - Durante a sessão legislativa extraordinária, a Câmara
solicitar a força necessária para esse fim; deliberará exclusivamente sobre a matéria para a qual foi
X – convocar sessões extraordinárias, quando os trabalhos convocada.
assim o exigirem, ou quando houver matéria urgente a ser
apreciada pela Câmara. SUBSEÇÃO IV
XI – encaminhar ao Poder Executivo até o último dia útil do DAS COMISSÕES
mês de julho, a proposta orçamentária da Câmara Municipal,
para consignação na peça orçamentária municipal. Artigo 35 – A Câmara Municipal terá comissões
Parágrafo único – O Presidente da Câmara ou seu permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as
substituto só terá voto: atribuições previstas em Regimento Interno.
I – na eleição da Mesa; Parágrafo único – Na constituição das Comissões,
II – quando a matéria exigir, para sua aprovação o voto assegurar-se-á, tanto quanto possível, a representação
favorável de dois terços dos membros da Câmara; proporcional dos partidos políticos com assento na Câmara
III – quando houver empate em qualquer votação no Municipal.
Plenário;
IV – quando a deliberação for secreta. Artigo 36 – Cabe às Comissões, em matéria de sua
competência:
SEÇÃO V I – discutir e votar os projetos de lei que dispensarem na
DAS REUNIÕES forma do Regimento Interno, a competência do Plenário salvo
SUBSEÇÃO I se houver, para decisão deste, requerimento de um terço dos
DISPOSIÇÕES GERAIS membros da Câmara.
II – convocar, para prestar pessoalmente, no prazo de
Artigo 28 – As sessões da Câmara, que serão públicas, só quinze dias, informações sobre assunto previamente
poderão ser abertas com a presença de, no mínimo um terço determinado:
dos seus membros. a) Secretário Municipal;
b) dirigentes de autarquias, empresas públicas, sociedade
Artigo 29 – A discussão e a votação da matéria constante de economia mista e fundações instituídas ou mantidas pelo
da ordem do dia, só poderão ser efetuadas com a presença da Município;
maioria absoluta dos membros da Câmara Municipal. c) o Procurador Geral do Município;
Parágrafo único – A aprovação de matéria colocada em III – acompanhar a execução orçamentária;
discussão dependerá do voto favorável da maioria dos IV – realizar audiências públicas;
Vereadores presentes à sessão, ressalvados os casos previstos V – receber petições, reclamações, representações ou
nesta Lei. queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das
autoridades ou entidades públicas, e tomar as providências
Artigo 30 – Não poderá votar o Vereador que tiver cabíveis;
interesse pessoal na deliberação, anulando-se a votação, se o VI – velar pela completa adequação dos atos do Executivo
seu voto for decisivo. que regulamentem dispositivos legais;

Legislação Municipal 5
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VII – tomar o depoimento de autoridade e solicitar o de III – de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada no
cidadão; mínimo por cinco por cento dos eleitores do Município.
VIII – fiscalizar e apreciar programas de obras e planos IV – de entidade sindical, sociedades amigos de bairro e
municipais de desenvolvimento e, sobre eles, emitir parecer. outras entidades representativas de sociedade legalmente
constituídas.
Artigo 37 – As Comissões especiais de Inquérito terão § 1º - A proposta será discutida e votada em dois turnos,
poder de investigação próprios das autoridades judiciais, além considerando-se aprovada quando obtiver, em ambas as
de outros previstos no Regimento Interno, e serão criadas votações, o voto favorável de dois terços dos membros da
mediante requerimento de um terço dos membros da Câmara, Câmara Municipal.
para apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo § 2º - A emenda à Lei Orgânica, será promulgada pela Mesa
suas conclusões, quando for o caso, encaminhadas ao da Câmara Municipal, com o respectivo número de ordem.
Ministério Público para que promova a responsabilidade civil § 3º - A matéria constante de proposta de emenda
e criminal de quem de direito. rejeitada, não poderá ser objeto de nova proposta na mesma
§ 1º - As Comissões Especiais de Inquérito, além das sessão legislativa, salvo quando subscrita pela maioria
atribuições previstas no artigo anterior, poderão: absoluta dos membros da Câmara.
1) proceder vistorias e levantamentos nas repartições
públicas municipais da administração direta e indireta, onde SUBSEÇÃO III
terão livre ingresso e permanência; DAS LEIS COMPLEMENTARES
2) requisitar de seus responsáveis a exibição de
documentos e a prestação dos esclarecimentos necessários; Artigo 41 – As Leis Complementares são as concernentes
3) transportar-se aos lugares onde se fizer mister a sua às seguintes matérias:
presença, ali realizando os atos que lhes competirem; I - Código Tributário;
4) é fixado em trinta dias, prorrogáveis por igual período, II – Código de Obras;
desde que solicitado e devidamente justificado, o prazo para III – Estatuto dos Servidores;
que os responsáveis pelos órgãos da administração direta e IV – Plano Diretor;
indireta prestem e encaminhem os documentos requisitados V – Procuradoria Geral do Município;
pelas Comissões de Inquérito. VI – Criação de cargos e aumento de vencimentos dos
§ 2º - No exercício de suas atribuições poderão, ainda as servidores;
Comissões Especiais de Inquérito, através de seu Presidente: VII – suprimido
a) determinar as diligências que se fizerem necessárias; VIII – Zoneamento Urbano;
b) requerer a convocação de Secretário Municipal; IX – Concessão de Serviços Públicos;
c) tomar depoimentos de quaisquer autoridades, intimar X – Concessão de Direito Real de Uso;
testemunhas e inquiri-las sob compromisso. XI – Alienação de bens imóveis;
§ 3º - O não atendimento às determinações contidas nos §§ XII – Aquisição de bens imóveis por doação com encargos;
anteriores no prazo fixado, faculta ao Presidente da Comissão XIII – Autorização para efetuar empréstimo de instituição
solicitar nos termos da legislação federal, a intervenção do particular;
Poder Judiciário, para fazer cumprir a legislação.
§ 4º - Nos termos da lei federal, as testemunhas serão SUBSEÇÃO IV
intimadas de acordo com as prescrições estabelecidas pela DAS LEIS ORDINÁRIAS
legislação penal e, em caso de não comparecimento sem
motivo justificado, a intimação será solicitada ao Juiz Criminal Artigo 42 – As Leis Ordinárias exigem, para sua aprovação,
da localidade onde reside ou se encontra, na forma do Código o voto favorável da maioria dos Vereadores presentes à sessão.
Penal.
Artigo 38 – Durante o recesso, quando não houver Artigo 43 – A iniciativa dos Projetos de Leis
convocação extraordinária, funcionará uma comissão Complementares e Ordinárias compete:
representativa da Câmara, com atribuições definidas no I – ao Vereador;
Regimento Interno. II – às Comissões da Câmara;
III – ao Prefeito;
SEÇÃO VI IV – aos Cidadãos.
DO PROCESSO LEGISLATIVO
SUBSEÇÃO I Artigo 44 – Compete exclusivamente, ao Prefeito a
DISPOSIÇÃO GERAL iniciativa dos projetos de lei que disponham sobre:
I - criação e extinção de cargos, funções ou empregos na
Artigo 39 – O processo legislativo compreende a administração direta e autárquica, bem como a fixação da
elaboração de: respectiva remuneração;
I – Emendas à Lei Orgânica do Município; II – criação, estruturação e atribuições das Secretarias
II – Leis Complementares: Municipais e órgãos da administração pública;
III – Leis Ordinárias; III – regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
IV – Decretos Legislativos; aposentadoria dos servidores;
V – Resoluções.
Artigo 45 – A iniciativa popular poderá ser exercida pela
SUBSEÇÃO II apresentação à Câmara Municipal de Projeto de Lei subscrito
DAS EMENDAS À LEI ORGÂNICA por, no mínimo cinco por cento do eleitorado do Município.

Artigo 40 – A Lei Orgânica do Município, poderá ser Artigo 46 – Não será admitido o aumento da despesa
emendada mediante proposta: prevista nos projetos de iniciativa exclusiva do Prefeito,
I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara ressalvado o disposto no artigo 149, §§ 1º e 2º.
Municipal;
II – do Prefeito Municipal; Artigo 47 – Nenhum Projeto de Lei que implique a criação
ou aumento de despesa pública será sancionado sem que dele

Legislação Municipal 6
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

conste a indicação dos recursos disponíveis, próprios para SUBSEÇÃO V


atender novos encargos. DOS DECRETOS LEGISLATIVOS E DAS RESOLUÇÕES
Parágrafo único – O disposto neste artigo não se aplica a
créditos extraordinários. Artigo 54 – As proposições destinadas a regular matéria
político-administrativa de competência da Câmara são:
Artigo 48 – O Prefeito poderá solicitar que os projetos de a) Decreto Legislativo, de efeitos externos;
sua iniciativa, salvo os de codificação, encaminhados à Câmara, b) Resolução, de efeito interno;
tramitem em regime de urgência, dentro do prazo de quarenta Parágrafo único – Os Projetos de Decreto Legislativo e de
e cinco dias. Resolução, aprovados pelo Plenário em dois turnos de votação,
§ 1º - Se a Câmara não deliberar naquele prazo, o projeto serão promulgados pelo Presidente da Câmara, dentro de
será incluído na Ordem do Dia, sobrestando-se a deliberação quinze dias úteis.
quanto aos demais assuntos, até que se ultime a sua votação.
§ 2º - Por exceção, não ficará sobrestado o exame do veto Artigo 55 – O Regimento Interno da Câmara disciplinará os
cujo prazo de deliberação tenha se esgotado. casos de Decreto Legislativo e de Resolução, cuja elaboração,
redação, alteração e consolidação serão feitas com
Artigo 49 – O Projeto aprovado em dois turnos de votação, observância das mesmas normas e técnicas relativas às Leis.
será, no prazo de trinta dias úteis, enviado ao Prefeito que
adotará uma das três posições seguintes: SEÇÃO VII
a) sanciona-o e promulga-o, no prazo de quinze dias úteis; DA PROCURADORIA DA CÂMARA MUNICIPAL
b) deixar decorrer aquele prazo, importando o seu silêncio
em sanção, sendo obrigatória, dentro de dez dias, a sua Artigo 56 – Compete a Procuradoria da Câmara Municipal
promulgação pelo Presidente da Câmara; exercer a representação judicial, a consultoria e o
c) veta-o totalmente ou parcialmente. assessoramento técnico-jurídico do Legislativo.
Parágrafo único – A Mesa da Câmara, mediante Resolução,
Artigo 50 – O Prefeito, entendendo ser o Projeto, no todo proporá a organização da Procuradoria, disciplinando sua
ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse competência e forma de lotação.
público, veta-lo-á, total ou parcialmente, dentro de quinze dias
úteis, contados da data do recebimento, comunicando, naquele SEÇÃO VIII
prazo o Presidente da Câmara, o motivo do veto. DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA,
§ 1º - O Veto deverá ser justificado e, quando parcial, ORÇAMENTÁRIA, OPERACIONAL E PATRIMONIAL
abrangendo o texto integral de artigo, parágrafo, inciso, item
ou alínea. Artigo 57 – A fiscalização contábil, financeira,
§ 2º - O Prefeito, sancionando e promulgando a matéria orçamentária, operacional e patrimonial do Município e de
não vetada, deverá encaminhá-la para publicação. todas as entidades da administração direta e indireta, quanto
§ 3º - A Câmara delibera sobre matéria vetada, em um à legalidade, legitimidade, economicidade, finalidade,
único turno de discussão e votação, no prazo de quinze dias de motivação, moralidade, publicidade e interesse público,
seu recebimento, considerando-se aprovada quando obtiver o aplicação de subvenções e renúncia de receitas, será exercida
voto favorável da maioria absoluta de seus membros. pela Câmara Municipal, mediante controle externo e pelos
§ 4º - Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no sistemas de controle interno do Executivo, na forma da
parágrafo anterior, o veto será incluído na Ordem do Dia da respectiva Lei Orgânica, em conformidade com o disposto no
sessão imediata, sobrestadas as demais proposições até sua artigo 31 da Constituição Federal.
votação final. § 1º - O controle externo será exercido com o auxílio do
§ 5º - Se o veto for rejeitado, as disposições aprovadas Tribunal de Contas do Estado.
serão promulgadas pelo Presidente da Câmara, dentro de § 2º - Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, de
quarenta e oito (48) horas, e, se este não o fizer, caberá ao Vice- direito público ou de direito privado que utilize arrecade,
Presidente fazê-lo em igual prazo. guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores
§ 6º - A manutenção do veto não restaura matéria públicos ou pelos quais o Município responda, ou que em nome
suprimida ou modificada pela Câmara. deste, assuma obrigações de natureza pecuniária.
§ 3º - As contas ficarão anualmente nos meses de julho e
Artigo 51 – Os prazos para discussão e votação dos agosto, em local apropriado na Prefeitura e Câmara Municipal,
projetos de lei, assim como para o exame de veto, não correm a disposição de qualquer interessado que poderá questionar-
no período de recesso. lhes na forma da Lei, sobre a legitimidade devendo a
Municipalidade colocar um técnico em contabilidade pública
Artigo 52 – A Lei promulgada pelo Presidente da Câmara para prestar os esclarecimentos necessários.
em decorrência de: § 4º - Nesse período, bem assim, na semana que anteceder
a) sanção tácita pelo Prefeito, ou de rejeição de veto total, a referida publicação, a Municipalidade deverá dar ampla
tomará um número em sequência às existentes; divulgação através da imprensa e outros veículos de difusão
b) veto parcial, tomará o mesmo número já dado à parte sobre a afixação das contas.
não vetada. § 5º - O Executivo Municipal e a Mesa da Câmara, por
ocasião da apresentação dos Balancetes Mensais e do Balanço
Artigo 53 – A matéria constante de Projeto de Lei rejeitada Geral referente ao encerramento do exercício financeiro, farão
somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma acompanhar das peças contábeis exigidas por Lei, relação
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos contendo os nomes dos fornecedores com os respectivos
membros da Câmara, ressalvados os Projetos de iniciativa valores recebidos no período.
exclusiva do Prefeito.
Artigo 58 – A Câmara Municipal e o Executivo manterão de
forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade
de:

Legislação Municipal 7
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano II – aceitar ou exercer cargo, função ou emprego
plurianual, a execução dos programas de governo e dos remunerado, incluindo os de que seja demissível “ad nutum”,
orçamentos do Município; nas entidades constantes do inciso anterior, ressalvada a posse
II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto em virtude de concurso público e observado o disposto no
à eficácia e eficiência da gestão orçamentária, financeira e artigo 133, II;
patrimonial nos órgãos e entidades da administração III – ser titular de mais de um cargo ou mandato público
municipal, bem como da aplicação de recursos públicos por eletivo;
entidades de direito privado. IV – patrocinar causas em que seja interessada qualquer
III – exercer controle sobre o deferimento de vantagens e a das entidades já referidas no inciso I;
forma de calcular qualquer parcela integrante da V – ser proprietário, controlador ou diretor de empresa
remuneração, vencimento ou salário de seus membros ou que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica
servidores. de direito público ou nela exercer função remunerada.
IV – exercer o controle das operações de crédito, avais e
garantias, bem como dos direitos e haveres do Município; SUBSEÇÃO IV
V – apoiar o controle externo, no exercício de sua missão DA INELEGIBILIDADE
institucional.
§ 1º - Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem Artigo 63 – São inelegíveis, o cônjuge e os parentes
conhecimento de qualquer irregularidade, ilegalidade, ou consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção do
ofensa aos princípios do artigo 37 da Constituição Federal, Prefeito ou de quem substituí-lo dentro dos seis meses
dela darão conhecimento ao Tribunal de Contas do Estado, sob anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e
pena de responsabilidade solidária. candidato à reeleição.
§ 2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou Artigo 64 – O Prefeito e quem o houver sucedido ou
entidade sindical é parte legítima para na forma da Lei, substituí-lo no curso do mandato poderá ser reeleito para um
denunciar irregularidades ao Tribunal de Contas do Estado ou único período subsequente.
à Câmara Municipal. Parágrafo único – Para concorrer a outro cargo, o Prefeito
deverá renunciar ao seu mandato até seis meses antes do
CAPÍTULO II pleito.
DA FUNÇÃO EXECUTIVA
SEÇÃO I SUBSEÇÃO V
DO PREFEITO E DO VICE-PREFEITO DA SUBSTITUIÇÃO
SUBSEÇÃO I
DA ELEIÇÃO Artigo 65 – O Prefeito será substituído no caso de
impedimento, e sucedido, no de vaga ocorrido após a
Artigo 59 – A função executiva é exercida pelo Prefeito, diplomação pelo Vice-Prefeito.
eleito para um mandato de quatro anos, na forma estabelecida
pela Constituição Federal. Artigo 66 – Vagando os cargos de Prefeito e de Vice-
Prefeito, nos primeiros três anos do período governamental,
Artigo 60 – A eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizar- far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
se-á nos termos do artigo 77 da Constituição Federal e a posse
ocorrerá no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao pleito Artigo 67 – Em caso de impedimento do Prefeito e do Vice-
eleitoral. Prefeito, ou vacância dos respectivos cargos, no último ano do
período governamental, assumirá o Presidente da Câmara.
SUBSEÇÃO II
DA POSSE Artigo 68 – Em qualquer dos dois casos, seja havendo
eleição, ou ainda, assumindo o Presidente da Câmara, os
Artigo 61 – O Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse sucessores deverão completar o período de governo restante.
perante a Câmara Municipal, prestando compromisso de fazer
cumprir a Constituição Federal, a do Estado e esta Lei SUBSEÇÃO VI
Orgânica, assim como observar a legislação em geral. DA LICENÇA
§ 1º - Se decorridos dez dias da data fixada para a posse, o
Prefeito ou o Vice-Prefeito, salvo motivo de força maior, não Artigo 69 – O Prefeito não poderá, sem licença da Câmara
tiver assumido o cargo, este será declarado vago. Municipal, ausentar-se do Município, por período superior a
§ 2º - O Prefeito e o Vice-Prefeito deverão no ato da posse, quinze dias, sob pena de perda do cargo.
bem assim ao término do mandato, fazer declaração pública de
bens, juntando ainda a declaração do Imposto de Renda do Artigo 70 – O Prefeito poderá licenciar-se:
exercício imediatamente anterior. I – quando a serviço ou em missão de representação do
§ 3º - A declaração de bens será transcrita em livro próprio, Município;
constando-se da Ata seu resumo. II – quando impossibilitado do exercício do cargo por
motivo de doença devidamente comprovada ou no período de
SUBSEÇÃO III gestante.
DA DESINCOMPATIBILIZAÇÃO § 1º - No caso do inciso I, o pedido de licença, amplamente
motivado, indicará, especialmente, as razões da viagem, o
Artigo 62 – O Prefeito, desde a posse, e o Vice-Prefeito, roteiro e a previsão de gastos.
quando no exercício do cargo de Prefeito, deverão § 2º - O Prefeito licenciado nos casos dos incisos I e II,
desincompatibilizar-se, não podendo, sob pena de perder o receberá a remuneração integral.
cargo:
I – firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de
direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou concessionária de serviço público, salvo
quando obedeça a cláusulas uniformes;

Legislação Municipal 8
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SUBSECÃO VII a da Mesa da Câmara, bem como os balanços do exercício


DA REMUNERAÇÃO findo;
XIX – fazer publicar os atos oficiais;
Artigo 71 – Os subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito, XX – colocar numerário à disposição da Câmara nos termos
serão fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal no final do artigo 147;
da legislatura, para a subsequente, antes das eleições. XXI – aprovar projetos de edificação, planos de loteamento,
§ 1º - O subsídio do Vice-Prefeito, não poderá exceder a arruamento e zoneamento urbano;
metade daquela fixada para o Prefeito. XXII – apresentar à Câmara Municipal o projeto do Plano
§ 2º - Não fará jus ao subsídio no período correspondente, Diretor;
o Prefeito que até noventa dias antes do término do mandato XXIII – decretar estado de calamidade pública;
não apresentar ao Presidente da Câmara a competente XXIV – solicitar o auxílio da polícia estadual para garantia
declaração de bens atualizada. de seus atos;
XXV – propor ação direta de inconstitucionalidade;
SUBSEÇÃO VIII Parágrafo único – A representação a que se refere o inciso
DO LOCAL DE RESIDÊNCIA I, poderá ser delegada por lei de iniciativa do Prefeito a outra
autoridade.
Artigo 72 – O Prefeito e o Vice-Prefeito, deverão residir no Artigo 74-A. O Prefeito, eleito ou reeleito, apresentará o
Município de Ferraz de Vasconcelos. Programa de Metas de sua Gestão, até noventa dias após sua
posse, que conterá as prioridades: as ações estratégicas, os
SUBSEÇÃO IX indicadores e metas quantitativas para cada um dos setores da
DO TÉRMINO DO MANDATO Administração Pública Municipal, observando, no mínimo, as
diretrizes de sua campanha eleitoral e os objetivos, as
Artigo 73 – O Prefeito e o Vice-Prefeito deverão fazer diretrizes, as ações estratégicas e as demais normas da lei do
declaração pública de bens no término do mandato. Plano Diretor Estratégico.
§ 1º– O programa de Metas será amplamente divulgado,
SEÇÃO II por meio eletrônico, pela mídia imprensa, radiofônica e
DAS ATRIBUIÇÕES DO PREFEITO televisa e publicado em jornal de grande circulação na Cidade
no dia imediatamente seguinte ao do término do prazo a que
Artigo 74 – Compete ao Prefeito, além de outras se refere o “caput” deste artigo.
atribuições previstas nesta Lei: § 2º- O poder Executivo promoverá, dentro de trinta dias
I – representar o Município nas suas relações jurídicas, após o término do prazo a que se refere este artigo, o debate
políticas e administrativas; público sobre o Programa de Metas mediante audiências
II – exercer, com o auxílio dos Secretários Municipais, a públicas gerais, temáticas e regionais.
direção superior da administração pública; § 3º- O Poder Executivo divulgará semestralmente os
III – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem indicadores de desempenho relativos à execução dos diversos
como expedir decretos para a sua fiel execução; itens do Programa de Metas.
IV – vetar Projetos de Leis, total ou parcialmente; § 4º- O Prefeito poderá proceder às alterações
V – prover os cargos públicos e expedir os demais atos programáticas no Programa de Metas sempre em
referentes à situação funcional dos servidores; conformidade com a lei do Plano Diretor Estratégico,
VI – nomear e exonerar os Secretários Municipais, os justificando-as por escrito e divulgando-as amplamente pelos
dirigentes de autarquias e fundações, assim como indicar os meios de comunicação previstos neste artigo.
diretores de empresas públicas e sociedades de economia § 5º– Os indicadores de desempenho serão elaborados e
mista; fixados conforme os seguintes critérios:
VII – decretar desapropriações; a) promoção do desenvolvimento ambientalmente,
VIII – expedir Decretos, Portarias e outros atos socialmente e economicamente sustentável;
administrativos; b) inclusão social, com redução das desigualdades
IX – prestar contas à Câmara Municipal, da administração regionais e sociais;
do Município; c) atendimento das funções sociais da cidade com melhoria
X – apresentar à Câmara Municipal, na sua sessão da qualidade de vida urbana;
inaugural, mensagem sobre a situação do Município, d) promoção do cumprimento da função social da
solicitando medidas de interesse do Governo; propriedade;
XI – iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos e) promoção e defesa dos direitos fundamentais
previstos nesta Lei; individuais e sociais de toda pessoa humana;
XII – permitir ou autorizar o uso de bens municipais por f) promoção de meio ambiente ecologicamente
terceiros; equilibrado e combate à poluição sob todas as suas formas;
XIII – praticar os demais atos de administração, nos limites g) universalização do atendimento dos serviços públicos
da competência do Executivo; XIV – subscrever ou adquirir municipais com observância das condições de regularidade;
ações, realizar ou aumentar o capital de empresa pública ou de continuidade; eficiência, rapidez e cortesia no atendimento ao
sociedade de economia mista, desde que haja recursos hábeis cidadão; segurança; atualidade com as melhores técnicas,
na lei orçamentária; métodos, processos e equipamentos e modicidade das tarifas
XV – delegar, por Decreto, à autoridade do Executivo, e preços públicos que considerem diferentemente as
funções administrativas que não sejam de sua exclusiva condições econômicas da população.
competência; § 6º– Ao final de cada ano, o Prefeito divulgará o relatório
XVI – enviar à Câmara Municipal Projetos de Lei relativos da execução do Programa de Metas, o qual será disponibilizado
ao plano plurianual, diretrizes orçamentária, orçamento anual, integralmente pelos meios de comunicação previstos neste
dívida pública e operações de crédito; artigo.
XVII – enviar à Câmara Municipal Projeto de Lei sobre o
regime de concessão ou de permissão de serviços públicos;
XVIII – encaminhar ao Tribunal de Contas do Estado, até
trinta e um de março de cada ano, a sua prestação de contas e

Legislação Municipal 9
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SEÇÃO III parecer dentro em cinco dias, opinando pelo prosseguimento


DA RESPONSABILIDADE DO PREFEITO ou arquivamento da denúncia, o qual neste caso, será
SUBSEÇÃO I submetido ao Plenário. Se a Comissão opinar pelo
DA RESPONSABILIDADE PENAL prosseguimento, o Presidente designará, desde logo, o início
da instrução e determinará os atos, diligências e audiências
Artigo 75 – O Prefeito, nos crimes comuns e de que se fizerem necessários, para o depoimento do denunciado
responsabilidade definidos pela Legislação Federal, será e inquirição de testemunhas. Caso o Plenário rejeite o
processado e julgado pelo Tribunal de Justiça. arquivamento da denúncia, será composta nova Comissão
mediante sorteio, excluindo-se a participação dos impedidos e
SUBSEÇÃO II os membros da Comissão anterior.
DA RESPONSABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA IV - o denunciado deverá ser intimado de todos os atos do
processo, pessoalmente, ou na pessoa de seu procurador, com
Artigo 76 – O Prefeito, nas infrações político- antecedência, pelo menos, de vinte e quatro horas, sendo-lhe
administrativas, será julgado pela Câmara nos seguintes casos: permitido assistir as diligências e audiências, bem como
I – impedir o funcionamento regular da Câmara; formular perguntas e reperguntas às testemunhas e requerer
II – impedir o exame de livros, folhas de pagamento e o que for de interesse da defesa;
demais documentos que devam constar dos arquivos da V – concluída a instrução, será aberta vista do processo ao
Prefeitura, bem como a verificação de obras e serviços denunciado, para razões escritas no prazo de cinco dias, e após
municipais, por comissão de investigação da Câmara ou a Comissão emitirá parecer final, pela procedência ou
auditoria, regularmente instituída; improcedência da acusação e solicitará ao Presidente da
III – desatender, sem motivo justo, as convocações ou os Câmara a convocação de sessão para julgamento. Na mesma
pedidos de informações da Câmara, quando feitas a tempo e sessão de julgamento, o processo será lido integralmente, e, a
em forma regular; seguir os Vereadores que o desejarem, poderão manifestar-se
IV – retardar a publicação ou deixar de publicar as Leis e verbalmente pelo tempo máximo de quinze minutos cada um,
atos sujeitos a essa formalidade; e, ao final, o denunciado ou seu procurador terá o prazo
V – deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em máximo de duas horas, para produzir defesa oral;
forma regular a proposta orçamentária; VI – concluída a defesa, proceder-se-á tantas votações
VI – descumprir o orçamento aprovado para o exercício nominais, quantas forem as infrações articuladas na denúncia.
financeiro; Considerar-se-á afastado, definitivamente, do cargo, o
VII – praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua denunciado que for declarado, pelo voto de dois terços, pelo
competência ou omitir-se na sua prática; menos, dos membros da Câmara, incurso em qualquer das
VIII – omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, infrações especificadas na denúncia. Concluído o julgamento,
direitos ou interesses do Município, sujeitos à administração o Presidente da Câmara proclamará imediatamente o
da Prefeitura; resultado e fará lavrar ata que consigne a votação nominal
IX – ausentar-se do Município, por tempo superior ao sobre cada infração, e, se houver condenação, expedirá o
fixado, ou afastar-se da Prefeitura sem autorização da Câmara; competente Decreto Legislativo de cassação do mandato do
X – proceder de modo incompatível com a dignidade e o Prefeito. Se o resultado for absolutório, o Presidente
decoro do cargo; determinará o arquivamento do processo. Em qualquer dos
Artigo 77 – O processo de cassação do Prefeito, pela casos, o Presidente da Câmara comunicará à Justiça Eleitoral o
Câmara, por infrações definidas no artigo anterior, obedecerá resultado.
o seguinte rito: VII – o processo, a que se refere este artigo, deverá estar
I – denúncia escrita da infração poderá ser feita pela concluído dentro em noventa dias, contados da data em que se
Câmara ou qualquer outro partido político com representação efetivar a notificação do acusado. Transcorrido o prazo sem
no legislativo, com a exposição dos fatos e a indicação das julgamento, o processo será arquivado, sem prejuízo de nova
provas. Se o denunciante for Vereador, ficará impedido de denúncia, ainda que sobre os mesmos fatos.
votar sobre a denúncia e de integrar a Comissão Processante,
podendo, todavia, praticar todos os atos de acusação. Se o Artigo 78 – Extingue-se o mandato do Prefeito, e, assim
denunciante for o Presidente da Câmara, passará a Presidência deverá ser declarado pelo Presidente da Câmara, quando:
ao substituto legal, para os atos do processo, e só votará se I – ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos
necessário para completar o “quorum” de julgamento. Será direitos políticos ou condenação por crime funcional ou
convocado o suplente de Vereador impedido de votar, o qual eleitoral;
não poderá integrar a Comissão Processante. II – deixar de tomar posse, sem motivo justo aceito pela
II – de posse da denúncia o Presidente da Câmara, na Câmara, dentro do prazo estabelecido.
primeira sessão após seu recebimento, determinará a sua III – incidir nos impedimentos para o exercício do cargo,
leitura e consultará a Câmara sobre seu recebimento. Decidido estabelecido em lei, e não havendo se desincompatibilizado
o recebimento, pelo voto da maioria dos presentes, na mesma até a posse, e, nos casos supervenientes, no prazo que a lei
sessão será constituída Comissão de Investigação e fixar.
Processante, com três Vereadores, respeitada a Parágrafo único – A extinção do mandato
proporcionalidade partidária, escolhidos entre os independentemente de deliberação do Plenário se tornará
desimpedidos; efetiva desde a declaração do fato ou ato extintivo pelo
III – recebendo o processo, o Presidente da Comissão Presidente e sua inserção em ata.
iniciará os trabalhos dentro em cinco dias, notificando o
denunciado, com a remessa de cópia da denúncia e SEÇÃO IV
documentos que instruírem, para que, no prazo de dez dias DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS
apresente defesa prévia, por escrito, indique provas que
pretende produzir e arrole testemunhas, até o máximo de dez. Artigo 79 – Os Secretários Municipais serão escolhidos
Se tiver ausente do Município, a notificação far-se-á por edital, entre brasileiros maiores de vinte e um anos, e no exercício dos
publicado duas vezes no órgão oficial, com intervenção de três direitos políticos.
dias, pelo menos, contando o prazo da primeira publicação.
Decorrido o prazo de defesa, a Comissão Processante emitirá

Legislação Municipal 10
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Artigo 80 – Os Secretários Municipais, auxiliares diretos e SUBSEÇÃO V


da confiança do Prefeito, serão responsáveis pelos atos que DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA E FUNDAÇÕES
praticarem ou referendarem no exercício do cargo.
Artigo 88 – As autarquias, empresas públicas, sociedades
Artigo 81 – Os Secretários farão declaração pública de de economia mista e fundações controladas pelo Município:
bens, no ato da posse e ao término do exercício do cargo, e I – dependem de lei para a sua criação, transformação,
terão os mesmos impedimentos estabelecidos para os fusão, cisão, incorporação, privatização ou extinção;
Vereadores, enquanto permanecerem em suas funções. II – dependem de lei para serem criadas subsidiárias, assim
como a participação destas em empresas públicas.
SEÇÃO V III – terão um de seus diretores indicado pelo sindicato dos
DA PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO trabalhadores da categoria, cabendo a lei definir os limites de
sua competência e atuação.
Artigo 82 – A Procuradoria Geral do Município é a IV – deverão estabelecer a obrigatoriedade da declaração
instituição responsável pela advocacia do Município, da pública de bens, pelos seus diretores, na posse e no
administração direta e autarquias e pela assessoria e desligamento.
consultoria jurídica do Executivo, sendo orientada pelos
princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse SUBSEÇÃO VI
público. DA CIPA E CCA
Parágrafo único – As funções e a competência da
Procuradoria Geral do Município, bem assim os órgãos que a Artigo 89 – Os órgãos da administração direta e indireta
compõem serão fixadas através de lei. ficam obrigadas a constituir Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes – CIPA e quando assim o exigirem suas
TÍTULO III atividades, Comissão de Controle Ambiental – CCA, visando à
DA ORGANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO proteção da vida, do meio ambiente e das condições de
CAPÍTULO I trabalho dos seus servidores, na forma da lei.
DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
SEÇÃO I SUBSEÇÃO V
DISPOSIÇÕES GERAIS DA PUBLICIDADE
SUBSEÇÃO I
DOS PRINCÍPIOS Artigo 90 – A publicidade dos atos, programas, obras,
serviços e campanhas dos órgãos públicos:
Artigo 83 – A administração municipal direta, indireta ou a) deverá ter caráter educativo, informativo ou de
fundacional, obedecerá aos princípios da legalidade, orientação social;
impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, b) não poderá conter nomes, símbolos ou imagem que
finalidade, motivação e interesse público. caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos.
SUBSEÇÃO II
DAS LEIS E DOS ATOS ADMINISTRATIVOS SUBSEÇÃO VIII
DOS PRAZOS DE PRESCRIÇÃO
Artigo 84 – As Leis e atos administrativos externos deverão
ser publicados no órgão oficial do Município, para que Artigo 91 – Os prazos de prescrição para ilícitos praticados
produzam os seus efeitos regulares. por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
Parágrafo único – A publicação dos atos não normativos erário, serão os fixados em lei federal, ressalvadas as
poderá ser reduzida. respectivas ações de ressarcimento.

Artigo 85 – A Lei deverá fixar prazos para a prática dos atos SUBSEÇÃO IX
administrativos e estabelecer recursos adequados a sua DOS DANOS
revisão, indicando seus efeitos e forma de processamento.
Artigo 92 – As pessoas jurídicas de direito público e as de
SUBSEÇÃO III direito privado, prestadoras de serviços públicos, responderão
DO FORNECIMENTO DE CERTIDÕES pelos danos que seus agentes nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
Artigo 86 – A administração é obrigada a fornecer a responsável nos casos de dolo ou culpa.
qualquer cidadão, para a defesa de seus direitos e
esclarecimentos de situações de seu interesse pessoal, no SEÇÃO II
prazo máximo de dez dias úteis, certidão de atos, contratos, DAS OBRAS, SERVIÇOS PÚBLICOS, AQUISIÇÕES E
decisões ou pareceres sob pena de responsabilidade da ALIENAÇÕES
autoridade ou servidor que negar ou retardar a sua expedição. SUBSEÇÃO I
Parágrafo único – As requisições judiciais deverão ser DISPOSIÇÕES GERAIS
atendidas no mesmo prazo, se outro não for fixado pela
autoridade judiciária. Artigo 93 – Ressalvados os casos especificados na
legislação, as obras, serviços, aquisições e alienações serão
SUBSEÇÃO IV contratados mediante processo de licitação pública que:
DOS AGENTES FISCAIS a) assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes com cláusulas que estabeleçam obrigações de
Artigo 87 – A administração fazendária e seus agentes pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
fiscais, aos quais compete exercer, privativamente, a termos da lei;
fiscalização de tributos municipais, terão, dentro de suas áreas b) permita somente as exigências de qualificação técnica e
de competência e jurisdição, precedência sobre os demais econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
setores administrativos, na forma da lei. obrigações;

Legislação Municipal 11
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º - O Município deverá observar as normas gerais de Artigo 102 – Os serviços públicos serão remunerados por
licitação e contratação editadas pela União, e as específicas tarifa previamente fixada pelo Prefeito, na forma que a lei
constantes de lei estadual. estabelecer.
§ 2º - Deverá ser remetido à Câmara, quando da realização
de obras mediante qualquer tipo de processo licitatório, SUBSEÇÃO IV
promovido pelo Município, a cópia dos seguintes documentos: DAS AQUISIÇÕES
I – edital;
II – relação das empresas participantes do certame Artigo 103 – A aquisição na base de troca, desde que o
licitatório; interesse público seja manifesto, depende de prévia avaliação
III – cronograma físico-financeiro; dos bens móveis a serem permutados.
IV – medições, e
V – pagamentos. Artigo 104 – A aquisição de um bem imóvel, por compra,
recebimento de doação com encargo ou permuta, depende de
SUBSEÇÃO II prévia avaliação e autorização legislativa.
DAS LICITAÇÕES
SUBSEÇÃO V
Artigo 94 – As licitações realizadas no Município, para DAS ALIENAÇÕES
compras, obras e serviços serão formalizadas com estrita
observância da legislação federal pertinente. Artigo 105 – A alienação de um bem imóvel do Município,
mediante doação ou permuta, dependerá do interesse público
Artigo 95 – suprimido manifesto e de prévia avaliação.
§ 1º - No caso de venda, haverá necessidade também de
SUBSEÇÃO III licitação;
DAS OBRAS E SERVIÇOS PÚBLICOS § 2º - No caso de ações, havendo interesse público
manifesto, a negociação far-se-á por intermédio de corretor
Artigo 96 – A administração pública, na realização de obras oficial da Bolsa de Valores.
e serviços, não pode contratar empresas que desatendam as
normas relativas à saúde e a segurança no trabalho. Artigo 106 – A alienação de um bem imóvel do Município
mediante venda, doação com encargo, permuta ou investidura,
Artigo 97 – As licitações de obras e serviços públicos, sob depende de interesse público manifesto, prévia avaliação e
pena de invalidade, deverão ser precedidas da indicação do autorização legislativa.
local onde serão executados e do respectivo projeto técnico § 1º - No caso de venda, haverá necessidade também de
que permita a definição precisa de seu objeto e previsão de licitação.
recursos orçamentários. § 2º - No caso de investidura, dependerá apenas de prévia
Parágrafo único – Na elaboração do projeto, deverão ser avaliação.
atendidas as exigências de proteção do patrimônio histórico
cultural e do meio ambiente. CAPÍTULO II
DOS BENS MUNICIPAIS
Artigo 98 – O Município poderá realizar obras e serviços de
interesse comum mediante: Artigo 107 – A administração dos bens municipais cabe ao
a) convênio com o Estado, a União ou entidades Prefeito, ressalvada a competência da Câmara quanto àqueles
particulares; utilizados em seus serviços e sob sua guarda.
b) consórcio com outros Municípios.
Artigo 108 – O uso de bem imóvel municipal por terceiros,
Artigo 99 – Incumbe ao Poder Público, na forma da lei far-se-á mediante autorização, permissão ou concessão.
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, § 1º - A autorização será dada pelo prazo máximo de
sempre mediante processo licitatório, a prestação de serviços noventa dias, salvo no caso de formação de canteiro de obra
públicos. pública, quando então, corresponderá ao de sua duração.
§ 1º - A permissão de serviço público, estabelecido § 2º - A permissão será facultada a título precário,
mediante decreto, será delegada: mediante decreto.
a) através de licitação § 3º - A concessão administrativa dependerá de prévia
b) a título precário; autorização legislativa e licitação formalizandose mediante
§ 2º - A concessão de serviço público, estabelecida contrato.
mediante contrato, dependerá de: § 4º - A lei estabelecerá o prazo de concessão e a sua
a. suprimida gratuidade ou remuneração, podendo dispensar a licitação no
b. licitação caso de destinatário certo, havendo interesse público
§ 3º - Poderá o Executivo Municipal proceder prorrogação manifesto.
de contratos relativos a concessão e permissão de serviço
público, desde que seja de comprovada relevância. Artigo 109 – A concessão de direito real de uso sobre um
bem imóvel do Município dependerá de prévia avaliação,
Artigo 100 – Os serviços permitidos ou concedidos estão autorização legislativa e licitação.
sujeitos à regulamentação e permanente fiscalização por parte Parágrafo único – A lei municipal poderá dispensar a
do Executivo e podem ser retomados quando não mais licitação quando o uso tiver destinatário certo, havendo
atendam aos seus fins ou as condições do contrato. interesse público manifesto.
Parágrafo único – Os serviços permitidos ou concedidos,
quando prestados por particulares, não serão subsidiados pelo
Município.

Artigo 101 – As reclamações relativas à prestação de


serviços públicos serão disciplinados em lei.

Legislação Municipal 12
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPÍTULO III SUBSEÇÃO IV


DOS SERVIDORES MUNICIPAIS DA REMUNERAÇÃO
SEÇÃO I
DO REGIME JURÍDICO ÚNICO Artigo 114 – A revisão geral da remuneração dos
servidores públicos far-se-á sempre na mesma data.
Artigo 110 – Fica instituído o Estatuto, como forma de § 1º - O vencimento dos cargos da Câmara Municipal, não
regime jurídico único para os servidores da administração poderá ser superior ao pago pelo Executivo.
pública direta, das autarquias e fundações públicas do § 2º - A lei assegurará aos servidores da administração
Município. direta, autarquias e fundações públicas, isonomia de
§ 1º - Será instituído concomitantemente, planos de vencimento para cargos de atribuições iguais ou assemelhados
carreira para os servidores municipais. ou entre servidores do Executivo e Legislativo, ressalvadas as
§ 2º - O plano de carreira, bem assim a tabela de vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao
vencimentos será elaborada pelo Executivo dentro de sessenta local de trabalho.
dias, com a participação ativa de: § 3º - É vedada a vinculação ou equiparação de vencimento,
a. Dois servidores do Executivo, indicados pelo Prefeito; para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público,
b. Dois servidores do Legislativo, indicados pelo ressalvado o disposto nos §§ 1º e 2º.
Presidente da Câmara; § 4º - Os acréscimos pecuniários percebidos por servidor
c. Dois membros da entidade sindical, representantes da público não serão computados nem acumulados para fins de
classe; concessão de acréscimos ulteriores, sob o mesmo título ou
d. Dois Vereadores, escolhidos pelo Plenário. idêntico fundamento.
§ 5º - suprimido
SEÇÃO II § 6º - O vencimento é irredutível.
DOS DIREITOS E DEVERES DOS SERVIDORES § 7º - O vencimento nunca será inferior ao salário mínimo,
SUBSEÇÃO I para os que percebem de forma variável.
DOS CARGOS PÚBLICOS § 8º - O décimo terceiro salário terá por base a
remuneração integral ou o valor da aposentadoria.
Artigo 111 – Os cargos, empregos e funções públicas são § 9º - A retribuição pecuniária do trabalho noturno será
acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos superior à do diurno.
estabelecidos em lei. § 10 – O vencimento terá um adicional para as atividades
§ 1º - Os cargos em comissão e as funções de confiança penosas, insalubres ou perigosas na forma da lei.
serão exercidos preferencialmente, por servidores ocupantes § 11 – O vencimento não poderá ser diferente, no exercício
de cargo de carreira técnica ou profissional, nos casos e de funções e no critério de admissão, por motivo de sexo, cor
condições previstos em lei. ou estado civil.
§ 2º - A lei reservará percentual dos cargos e empregos § 12 – O servidor deverá receber salário-família em razão
públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá de seus dependentes.
os critérios de sua admissão. § 13 – A duração do trabalho normal não poderá ser
superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
SUBSEÇÃO II facultada a compensação de horários e a redução da jornada
DA INVESTIDURA na forma da lei.
§ 14 – O repouso semanal remunerado será concedido
Artigo 112 – A investidura em cargo ou emprego público preferencialmente aos domingos.
depende de aprovação prévia em concurso público de provas § 15 – O serviço extraordinário deverá corresponder a uma
ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo retribuição pecuniária superior, no mínimo em cinquenta por
em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. cento à do normal.
§ 1º - É vedada a estipulação de limite de idade para § 16 – O vencimento, vantagens ou qualquer outra parcela
ingresso por concurso na administração pública. remuneratória, pagos com atraso, deverão ser corrigidos
§ 2º - O prazo de validade do concurso será de dois anos, monetariamente, de acordo com os índices oficiais aplicáveis à
prorrogável, uma única vez, por igual período. espécie.
§ 3º - Durante o prazo improrrogável previsto no edital de § 17 – A lei fixará limite máximo e a relação de valores
convocação, aquele aprovado em concurso público de provas entre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos,
ou de provas e títulos será convocado prioritariamente sobre observado, como limite máximo, os valores percebidos como
novos concursados para assumir o cargo ou emprego na remuneração, em espécie, pelo Prefeito.
carreira. § 18 – suprimido
§ 4º - Terá preferência para nomeação em caso de empate § 19 – Fica extinta a gratificação pela prestação de serviços
na classificação geral, quando da realização de concurso, o em Regime de Tempo Integral, ressalvado o direito daqueles
candidato já pertencente ao serviço público do Município e que a percebem na data desta Lei.
havendo mais de um candidato com esse requisito, o mais
antigo. Artigo 115 – O vencimento do servidor, será fixado através
§ 5º - Para fins de efetivação, o tempo de serviço público de referências, caracterizadas de letras do alfabeto.
municipal será computado como ponto, para cada ano de § 1º - suprimido
efetivo exercício no cargo ou função. § 2º - suprimido

SUBSEÇÃO III SUBSEÇÃO V


DA CONTRATAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO DOS ADICIONAIS POR TEMPO DE SERVIÇO

Artigo 113 – A lei estabelecerá os casos de contratação por Artigo 116 – suprimido
tempo determinado para atender necessidade temporária de
excepcional interesse público.

Legislação Municipal 13
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SUBSEÇÃO VI indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em


DAS FÉRIAS disponibilidade.
§ 3º - Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade, o
Artigo 117 – As férias anuais serão pagas com cinquenta servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração
por cento a mais do que a remuneração normal do servidor. proporcional, até seu adequado aproveitamento em outro
Parágrafo único – O referido pagamento deverá preceder o cargo.
gozo.
SUBSEÇÃO XIII
SUBSEÇÃO VII DA ACUMULAÇÃO
DAS LICENÇAS
Artigo 125 – É vedada a acumulação remunerada de cargos
Artigo 118 – A licença à gestante, sem prejuízo do públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horário:
empregado e da remuneração, terá a duração de cento e vinte I – a de dois cargos de professor;
dias. II – a de um professor com outro técnico ou científico;
Parágrafo único – O prazo da licença paternidade, será III – a de dois cargos privativos de médico.
fixada em lei. Parágrafo único – A proibição de acumular estende-se a
empregos e funções e abrange autarquias, empresas públicas,
Artigo 119 – Será concedida licença especial de cento e sociedades de economia mista e fundações mantidas pela
vinte dias, a servidora municipal, sem prejuízo de sua Administração Pública.
remuneração e demais vantagens de seu cargo, no caso de
adoção de criança com idade máxima de dois anos. SUBSEÇÃO XIV
DO TEMPO DE SERVIÇO
SUBSEÇÃO VIII
DO MERCADO DE TRABALHO Artigo 126 – O tempo de serviço federal, estadual ou
municipal será computado integralmente para os efeitos de
Artigo 120 – A proteção do mercado de trabalho da mulher aposentadoria e disponibilidade.
far-se-á mediante incentivos específicos, nos termos da lei.
SUBSEÇÃO XV
SUBSEÇÃO IX DA APOSENTADORIA
DAS NORMAS DE SEGURANÇA
Artigo 127 – O servidor público municipal, regido pelo
Artigo 121 – A redução dos riscos inerentes ao trabalho Estatuto dos Servidores ou pela CLT, será aposentado:
far-se-á por meio de normas de saúde, higiene e segurança. I – por invalidez permanente, sendo os proventos integrais
quando decorrentes de acidente em serviço, moléstia
SUBSEÇÃO X profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável,
DO DIREITO A GREVE espeficadas em lei, e proporcionais nos demais casos;
II – compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com
Artigo 122 – O direito de greve será exercido nos termos e proventos proporcionais ao tempo de serviço;
nos limites definidos em lei complementar federal. III – voluntariamente:
a. aos trinta e cinco anos de serviços, se homem e aos trinta
SUBSEÇÃO XI anos, se mulher, com proventos integrais;
DA ASSOCIAÇÃO SINDICAL b. aos trinta anos de efetivo exercício em funções de
magistério, se professor, e vinte e cinco, se professora, com
Artigo 123 – O servidor público poderá sindicalizar-se proventos integrais;
livremente. c. aos trinta anos de serviço, se homem, e aos vinte e cinco,
§ 1º – A entidade sindical que congregue mais de cinquenta se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;
associados, garantirá, aos ocupantes de cargos de Direção e d. aos sessenta e cinco anos de idade, se homem, e aos
suplentes, estabilidade no emprego durante seu mandato e até sessenta, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave serviço.
nos termos da lei, e afastamento remunerado, se entender § 1º - Lei Complementar poderá estabelecer exceções ao
conveniente. disposto no inciso III, “a” e “c”, no caso de exercício de
§ 2º - À entidade sindical que preencha os requisitos atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas.
estabelecidos em Lei será assegurado o desconto em folha de § 2º - A Lei disporá sobre a aposentadoria em cargos ou
pagamento das contribuições dos associados, desde que empregos temporários.
autorizado por estes. § 3º - Para efeito de aposentadoria, é assegurada a
contagem recíproca do tempo de contribuição na
SUBSEÇÃO XII administração pública e na atividade particular, rural e
DA ESTABILIDADE urbana, hipótese em que os diversos sistemas de previdência
social se compensarão financeiramente, segundo critérios
Artigo 124 – São estáveis, após dois anos de efetivo estabelecidos em lei.
exercício, os servidores nomeados em virtude de concurso
público. Artigo 128 – Ao servidor que tenha ingressado no serviço
§ 1º - O servidor público estável só perderá o cargo em público municipal até 13 de dezembro de 2005 e que venha se
virtude de sentença judicial transitada em julgado ou mediante aposentar, fará jus a prêmio especial em dinheiro
processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla correspondente a dez (10) remunerações.
defesa. § 1º. Os servidores que ingressarem no serviço público
§ 2º - Invalidada por sentença judicial a demissão do municipal após essa data, fará jus ao prêmio especial de acordo
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da com o tempo de serviço efetivamente prestado ao Município
vaga reconduzido ao cargo de origem, sem direito a na seguinte forma:

Legislação Municipal 14
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

a) a partir de dez (10) anos de serviço público: duas (2) SUBSEÇÃO XIX
remunerações; DOS ATOS DE IMPROBIDADE
b) a partir de quinze (15) anos de serviço público: quatro
(4) remunerações; Artigo 134 – Os atos de improbidade administrativa
c) a partir de vinte (20) anos de serviço público: seis (6) importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
remunerações; função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
d) a partir de vinte e cinco (25) anos de serviço público: ao erário, na forma e graduação previstas em lei, sem prejuízo
oito (8) remunerações; da ação penal cabível.
e) a partir de trinta (30) anos de serviço público: dez (10)
remunerações. TÍTULO IV
§ 2º. A remuneração corresponderá ao valor mensal do DA TRIBUTAÇÃO, DAS FINANÇAS E
servidor à época da concessão de sua aposentadoria. DOS ORÇAMENTOS
CAPÍTULO I
SUBSEÇÃO XVI DO SISTEMA TRIBUTÁRIO MUNICIPAL
DOS PROVENTOS E PENSÕES SEÇÃO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS
Artigo 129 – Os proventos da aposentadoria serão revistos,
na mesma proporção e na mesma data, sempre que se Artigo 135 – A receita pública será constituída por tributos,
modificar a remuneração dos servidores em atividade, e preços e outros ingressos.
estendidos aos inativos quaisquer benefício ou vantagens Parágrafo único – Os preços públicos serão fixados pelo
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, Executivo, observadas as normas gerais de Direito Financeiro
inclusive quando decorrentes da transformação ou e as leis atinentes à espécie.
reclassificação do cargo ou função em que se deu a
aposentadoria, na forma da lei. Artigo 136 – Compete ao Município instituir:
Parágrafo único – O benefício da pensão por morte I – os impostos previstos nesta lei e outros que venham a
corresponderá a totalidade da remuneração ou proventos do ser de sua competência.
servidor falecido, até o limite estabelecido em lei, observado o II – taxas em razão do exercício do Poder de Polícia, ou pela
disposto neste artigo. utilização efetiva ou potencial, de serviços públicos de sua
atribuição, específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte
SUBSEÇÃO XVII ou postos a sua disposição;
DO REGIME PREVIDENCIÁRIO E DA ASSISTÊNCIA III – contribuição de melhoria, decorrente de obras
públicas;
Artigo 130 – O Município estabelecer, por lei o regime IV – contribuição, cobrada de seus servidores para custeio,
previdenciário de seus servidores. em benefício destes, de sistema de previdência e assistência
social.
Artigo 131 – O Município estabelecerá, com instituições § 1º - Os impostos, sempre que possível, terão caráter
prestadoras de serviços médico-hospitalar e odontológico, pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica
convênios destinados a assistir os servidores e dependentes. do contribuinte, facultando à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
Artigo 132 – É assegurado aos servidores municipais da identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da
administração direta e indireta o direito a creches aos filhos e lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas
dependentes, sendo obrigatória sua criação e manutenção. do contribuinte.
§ 2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria de
SUBSEÇÃO XVIII impostos.
DO MANDATO ELETIVO
SEÇÃO II
Artigo 133 – Ao servidor público em exercício de mandato DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
eleito aplicam-se as seguintes disposições:
I – tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou Artigo 137 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
municipal, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; ao contribuinte, é vedado ao Município:
II – investido no mandato de Prefeito, será afastado do I – exigir ou aumentar o tributo sem lei que o estabeleça;
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que
remuneração; se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
III – investido no mandato de Vereador: distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles
a. havendo compatibilidade de horários, perceberá as exercida, independentemente da denominação jurídica dos
vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da rendimentos, títulos ou direitos;
remuneração do cargo eletivo; III – cobrar tributos:
b. não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do a. em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
inciso anterior. vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; no
c. será inamovível; mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei
IV – em qualquer caso que exija o afastamento para o que os institui ou aumentou.
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens,
contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por por meio de tributo, ressalvada a cobrança de pedágio pela
merecimento. utilização de vias conservadas pelo Município;
V – para efeito de benefício previdenciário, no caso de VI – instituir impostos sobre:
afastamento, os valores serão determinados como se no a. o patrimônio, renda ou serviços, da União, do Estado e
exercício estivesse. de outros Municípios;
b. os templos de qualquer culto;
c. o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos

Legislação Municipal 15
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

trabalhadores, das instituições de educação e de assistência sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por ele, suas
social sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; autarquias e fundações que institua e mantenha;
d. os livros, jornais, periódico e o papel destinado a sua II – cinquenta por cento do produto na arrecadação do
impressão. imposto da União sobre a propriedade rural, relativamente aos
§ 1º - A proibição do inciso VI, “a”, é extensiva às autarquias imóveis nele situados;
e às fundações instituídas ou mantidas pelo Município, no que III – cinquenta por cento do produto da arrecadação do
se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados aos imposto do Estado sobre a propriedade de veículos
seus fins essenciais ou deles decorrentes. automotores licenciados em seu território;
§ 2º - As proibições do inciso VI, “a” e do parágrafo anterior, IV – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do
não se aplicam ao patrimônio à renda e aos serviços imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de
relacionados com exploração de atividades econômicas mercadorias e sobre prestação de serviços de transporte
regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados interestadual e intermunicipal e de comunicação.
ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou § 1º - As parcelas da receita pertencente ao Município,
tarifas pelo usuário. mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os
§ 3º - As proibições expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, seguintes critérios:
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços a. três quartos, no mínimo, na proporção do valor
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nela adicionado nas operações relativas à circulação de
mencionadas. mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seu
§ 4º - Qualquer anistia ou remissão que envolva matéria território.
tributária ou previdenciária só poderá ser concedida mediante b. até um quarto, de acordo com o que dispuser a lei
lei específica. estadual.
§ 2º - Para fins do disposto no § 1º, “a”, deste artigo, Lei
Artigo 138 – É vedado ao Município estabelecer diferença Complementar Nacional definirá valor adicionado.
entre bens e serviços de qualquer natureza, em razão de sua
procedência ou destino. Artigo 142 – A União entregará vinte e dois inteiros e cinco
décimos percentuais, do produto da arrecadação dos impostos
Artigo 139 – É vedada a cobrança de taxas: sobre a renda e proventos de qualquer natureza e sobre
a. pelo exercício do direito a petição à administração produtos industrializados ao Fundo de Participação dos
pública em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso Municípios.
de poder.
b. para a obtenção de certidões em repartições públicas, Parágrafo único – As normas de entrega desses recursos,
para defesa de direitos e esclarecimentos de interesse pessoal. serão estabelecidos em Lei Complementar, em obediência ao
disposto no artigo 161, II, da Constituição Federal, com o
SEÇÃO III objetivo de promover o equilíbrio sócio-econômico entre os
DOS IMPOSTOS MUNICIPAIS Municípios.

Artigo 140 – Compete ao Município instituir imposto Artigo 143 – O Estado entregará ao Município vinte e cinco
sobre: por cento dos recursos que receber da União, a título de
I – propriedade predial e territorial urbana; participação no Imposto sobre Produtos Industrializados,
II – transmissão “inter-vivos”, a qualquer título, por ato observados os critérios estabelecidos no artigo 158, parágrafo
oneroso: único, I e II da Constituição Federal.
a. de bens imóveis, por natureza ou acessão física;
b. de direitos reais sobre imóveis exceto os de garantia; Artigo 144 – O Município divulgará, até o último dia do mês
c. cessão de direitos à aquisição de imóveis; subsequente ao da arrecadação, os montantes de cada um dos
III – vendas a varejo de combustíveis líquidos e gasosos, tributos arrecadados, os recursos recebidos, os valores de
exceto óleo diesel; origem tributária entregues e a entregar, e a expressão
IV – serviços de qualquer natureza, não compreendidos na numérica dos critérios de rateio.
competência estadual, definidos em Lei Complementar.
§ 1º - O imposto previsto no inciso I, poderá ser CAPÍTULO II
progressivo, nos termos da lei, de forma a assegurar o DAS FINANÇAS
cumprimento da função social da propriedade.
§ 2º - O imposto previsto no inciso II: Artigo 145 – A despesa de pessoal ativo e inativo ficará
a. não incide sobre a transmissão de bens ou direitos sujeito aos limites estabelecidos em Lei Complementar a que
incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização se refere o artigo 169 da Constituição Federal.
de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos Parágrafo único – A concessão de qualquer vantagem ou
decorrentes da fusão, incorporação, cisão ou extinção de aumento da remuneração, a criação de cargos ou a alteração
pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade da estrutura de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a
preponderante do adquirente for a compra a venda desses qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração
bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento direta ou indireta, inclusive fundações, só poderão ser feitas:
mercantil; I – se houver prévia dotação orçamentária, suficiente para
b. incide sobre imóveis situados no território do Município. atender às projeções de despesa de pessoal e aos critérios dela
decorrentes;
SEÇÃO IV II – se houver autorização específica na Lei de Diretrizes
DA PARTICIPAÇÃO DO MUNICÍPIO NAS RECEITAS Orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
TRIBUTÁRIAS sociedades de economia mista.

Artigo 141 – Pertence ao Município: Artigo 146 – O Executivo publicará e enviará a Câmara
I – o produto da arrecadação do imposto da União sobre Municipal, até trinta dias após o encerramento de cada
renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, bimestre, relatório resumido da execução orçamentária.

Legislação Municipal 16
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º - Até dez dias antes do encerramento do prazo de que remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira,
trata este artigo, as autoridades nele referidas remeterão ao tributária e creditícia.
Executivo as informações necessárias. § 5º - A Lei Orçamentária anual não conterá dispositivo
§ 2º - A Câmara Municipal publicará seu relatório nos estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se
termos deste artigo. incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito, ainda
Artigo 147 – O numerário correspondente às dotações que por antecipação da receita, nos termos da lei.
orçamentárias do Legislativo será entregue em duodécimos, § 6º- As leis orçamentárias a que se refere este artigo
até o dia vinte de cada mês, em cotas estabelecidas na deverão incorporar as prioridades e ações estratégicas do
programação financeira. Programa de Metas e da lei do Plano Diretor Estratégico.
§ 1º - O valor da dotação orçamentária anual do Poder § 7º- As diretrizes do Programa de Metas serão
Legislativo Municipal corresponde ao somatório da receita incorporadas ao projeto de lei que visar à instituição do plano
tributária bruta do Município efetivamente realizada no plurianual dentro do prazo legal definido para a sua
exercício anterior e das transferências previstas no § 5º do apresentação à Câmara Municipal.
artigo 153 e nos artigos 158 e 159 da Constituição Federal e Artigo 150 – Os projetos de lei relativos ao Plano
será calculado com a aplicação da alíquota máxima prevista no Plurianual, às Diretrizes Orçamentárias, ao Orçamento anual e
artigo 29-A da Constituição Federal. aos Créditos Adicionais, bem como suas emendas, serão
§ 2º - Para fins do parágrafo anterior, constitui receita apreciados pela Câmara Municipal.
tributária do Município: § 1º - As emendas ao Projeto de Lei do Orçamento anual ou
I - Impostos de sua competência inclusive multas e juros; aos projetos que o modifiquem serão admitidas desde que:
II - Taxas de sua competência inclusive multas e juros; I – sejam compatíveis com o Plano Plurianual e com a
III - Contribuição de Melhoria instituída pelo Município Lei de Diretrizes Orçamentárias;
inclusive multas e juros; II – indiquem os recursos necessários, aceitos apenas
IV - Contribuição para o custeio do serviço de iluminação ou provenientes de anulação de despesa, excluídas as que
pública inclusive multas e juros; incidam sobre:
V - Dívida ativa tributária inclusive multas e juros; a. dotação para pessoal e seus encargos;
VI - Contribuição dos servidores municipais para o Regime
Próprio de Previdência.”
b. serviço da dívida.
III – Relacionadas:
Artigo 148 – As disponibilidades de caixa do Município, c. com correções de erros ou omissões;
serão depositadas em instituições financeiras oficiais, d. com os dispositivos do texto do Projeto de Lei.
ressalvados os casos previstos em lei. § 2º - As emendas ao Projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias não poderão ser aprovadas quando
CAPÍTULO III incompatíveis com o Plano Plurianual.
DOS ORÇAMENTOS § 3º - O Prefeito poderá enviar mensagem à Câmara
Municipal para propor modificações nos projetos a que se
Artigo 149 – Leis de iniciativa do Executivo estabelecerão, refere este artigo, quando não iniciada, na Comissão
com observância dos preceitos correspondentes da competente, a votação na parte cuja alteração é proposta.
Constituição Federal: § 4º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo,
I – o Plano Plurianual; no que não contrariar o disposto neste Capítulo, as demais
II – as Diretrizes Orçamentárias; normas relativas ao processo legislativo.
III – os Orçamentos anuais. § 5º - Os recursos que, em decorrência do veto, emenda ou
§ 1º - A lei que instituir o Plano Plurianual estabelecerá as rejeição parcial do Projeto de Lei Orçamentária anual,
diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as ficarem sem despesas correspondentes, poderão ser
despesas de capital e outras dela decorrentes e as relativas aos utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou
programas de duração continuada. suplementares, com prévia e específica autorização legislativa.
§ 2º - O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, será
remetida à apreciação da Câmara Municipal até o dia 15 de Artigo 151 – São vedados:
maio e deverá compreender as metas e prioridades da I – o início de programas, projetos e atividades não
administração pública, incluindo as despesas de capital para o incluídos na Lei Orçamentária anual;
exercício financeiro subsequente e orientará a elaboração da II – a realização de despesas ou assunção de obrigações
lei orçamentária anual e disporá sobre as alterações na diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais;
legislação tributária, devendo ser restituída ao Executivo para III – a realização de operações de créditos que excedam o
sanção até o encerramento do primeiro período da sessão montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas
legislativa. mediante créditos suplementares ou especiais com fim
§ 3º - A lei orçamentária anual deverá ser remetida à preciso, aprovados pela Câmara Municipal, por maioria
Câmara, até o dia 30 de setembro, e compreenderá: absoluta;
I – o orçamento fiscal referente aos fundos, órgãos e IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou
entidades da administração direta e indireta, inclusive despesa, ressalvadas a destinação de recursos para
fundações instituídas ou mantidas pelo Município. manutenção e desenvolvimento do ensino, como determinado
II – o orçamento de investimentos das empresas que o pelo artigo 212 da Constituição Federal, e a prestação de
Município, direta ou indiretamente, detenha a maioria do garantias às operações de crédito por antecipação da receita;
capital social com direito a voto; V – a abertura de crédito suplementar ou especial sem
III – o orçamento de seguridade social, abrangendo todas prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos
as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta correspondentes;
e indireta, bem como os fundos e fundações instituídas ou VI – a transposição, o remanejamento ou a transferência de
mantidas pelo Município. recursos de uma categoria de programação para outra ou de
§ 4º - O Projeto de Lei Orçamentária será acompanhado de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa.
demonstrativo dos efeitos decorrentes de isenções, anistias, VII – a concessão ou utilização de créditos ilimitados;

Legislação Municipal 17
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VIII – a utilização, sem autorização legislativa específica, de I – no tocante ao aspecto físico-territorial, o plano deverá
recursos dos orçamentos fiscal e de seguridade social para conter disposições sobre o sistema viário urbano e rural, o
suprir necessidade ou cobrir “déficit” de empresas, fundações zoneamento urbano, o loteamento urbano ou para fins
e fundos; urbanos, a edificação e os serviços públicos locais;
IX – a instituição de fundos de qualquer natureza, sem II – no que se refere ao aspecto econômico, o plano deverá
prévia autorização legislativa. inscrever disposição sobre o desenvolvimento econômico e
§ 1º - Nenhum investimento, cuja execução ultrapasse um integração da economia municipal à regional;
exercício financeiro, poderá ser iniciado sem prévia inclusão III – no referente ao aspecto social, deverá o plano conter
no plano plurianual, ou sem lei que a autorize. normas de promoção social da comunidade e criação de
§ 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência condições de bem-estar da população; e
no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o IV – no que respeita ao aspecto administrativo, deverá o
ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses plano consignar normas de organização institucional que
daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus possibilitem a permanente planificação das atividades
saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício públicas e sua integração nos planos estadual e nacional;
financeiro subsequente. Parágrafo Único – As normas municipais de edificação,
zoneamento e loteamento ou para fins urbanos atenderão às
TÍTULO V peculiaridades locais e à legislação federal e estadual
DA ORDEM ECONÔMICA pertinente.
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA Artigo 157 – A elaboração do Plano Diretor, deverá
compreender as seguintes fases, com extensão e profundidade,
Artigo 152 – O Município dispensará às microempresas, às respeitadas as peculiaridades do Município:
empresas de pequeno porte, aos micro e pequenos produtores I – estudos preliminares abrangendo a avaliação das
rurais, assim definidos em lei, tratamento jurídico condições de desenvolvimento.
diferenciado, visando a incentivá-los pela simplificação de II – diagnosticar:
suas obrigações administrativas, tributárias e creditícias, ou a) o desenvolvimento econômico-social;
pela eliminação ou redução destas, por meio de lei. b) a organização territorial;
c) as atividades financeiras da Prefeitura;
Artigo 153 – A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e d) a organização administrativa e das atividades da
outras formas de associativismo. Prefeitura.
III – definição de diretrizes, compreendendo:
CAPÍTULO II a) política de desenvolvimento;
DO DESENVOLVIMENTO URBANO b) diretrizes de desenvolvimento econômico-social;
c) diretrizes de organização territorial;
Artigo 154 – No estabelecimento de diretrizes e normas IV – instrumentação, incluindo:
relativas ao desenvolvimento urbano, o Município assegurará: a) instrumento legal do plano;
I – o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade b) programas relativos à atividades do Município;
e a garantia do bem-estar de seus habitantes; c) programas dependentes da cooperação de outras
II – a participação das respectivas entidades comunitárias entidades públicas.
no estudo, encaminhamento e solução dos problemas, planos,
programas e projetos que lhe sejam concernentes; Artigo 158 – É facultado ao Município, mediante lei
III – a preservação, proteção e recuperação do meio específica para área incluída no Plano Diretor, exigir, nos
ambiente urbano e cultural; termos da lei federal, do proprietário de solo urbano não
IV – a criação e manutenção de áreas de especial interesse edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
histórico, urbanístico, ambiental, turístico e de utilização adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
pública; I – parcelamento ou edificação compulsória;
V – a observância das normas urbanísticas, de segurança, II – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial
higiene e qualidade de vida; Urbano progressivo no tempo;
VI – os terrenos definidos em projeto de loteamento como III – desapropriação com pagamento mediante títulos da
áreas verdes ou institucionais não poderão, em qualquer dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado
hipótese, ser alterados na destinação, fim e objetivos Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas
originariamente estabelecidos; anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais.
Artigo 155 – O Município estabelecerá, mediante lei, em
conformidade com as diretrizes do Plano Diretor, normas Artigo 159 – Incumbe ao Município promover programas
sobre zoneamento, loteamento, parcelamento, uso e ocupação de construção de moradias populares, de melhoria das
do solo, índices urbanísticos, proteção ambiental e demais condições habitacionais e de saneamento básico.
limitações administrativas pertinentes.
§ 1º - O Plano Diretor deverá considerar a totalidade do Artigo 160 – Compete ao Município, de acordo com as
território municipal. diretrizes de desenvolvimento urbano, a criação e a
§ 2º - O Município estabelecerá critérios para regulamentação de zonas industriais, obedecidos os critérios
regularização e urbanização, assentamentos e loteamentos estabelecidos pelo Estado, mediante lei, e respeitadas as
irregulares. normas relacionadas ao uso e ocupação do solo e ao meio
ambiente urbano e natural.
Artigo 156 – O Município elaborará seu Plano Diretor, nos
limites da competência municipal, das funções da vida coletiva,
abrangendo habitação, trabalho, circulação e recreação, e
considerando em conjunto os aspectos físico, econômico,
social e administrativo nos seguintes termos:

Legislação Municipal 18
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPÍTULO III SEÇÃO II


DA POLÍTICA AGRÍCOLA DOS RECURSOS NATURAIS
SUBSEÇÃO I
Artigo 161 – Caberá ao Município, manter em cooperação DOS RECURSOS HÍDRICOS
com o Estado, as medidas previstas no artigo 184 da
Constituição Estadual. Artigo 171 – O Município, para administrar os serviços de
água de interesse exclusivamente local, poderá celebrar
Artigo 162 – O Município, na forma da lei, organizará o convênio com o Estado.
abastecimento alimentar, assegurando condições para a
produção e distribuição de alimentos básicos. Artigo 172 – O Município deverá receber do Estado, como
compensação, uma contribuição para o seu desenvolvimento,
se tiver localizado em seu território, reservatório hídrico, ou
CAPÍTULO IV dele decorrer algum impacto.
DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS NATURAIS E DO
SANEAMENTO Artigo 173 – O Município, para proteger e conservar as
SEÇÃO I águas e prevenir seus efeitos adversos, adotará medidas no
DO MEIO AMBIENTE sentido:
I – da instituição de áreas de preservação das águas
Artigo 163 – O Município providenciará, com a utilizáveis para abastecimento às populações e da implantação
participação da coletividade, a preservação, conservação, conservação e recuperação de matas ciliares;
defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, II – do zoneamento de áreas inundáveis, com restrições a
artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades locais e em usos incompatíveis naquelas sujeitas a inundações frequentes
harmonia com o desenvolvimento social e econômico. e da manutenção da capacidade de infiltração do solo;
III – da implantação de sistema de alerta e defesa civil, para
Artigo 164 – A execução de obras, atividades, processos garantir a segurança e a saúde pública, quando de eventos
produtivos e empreendimentos, e a exploração de recursos hidrológicos indesejáveis;
naturais de qualquer espécie, quer pelo setor público, quer IV – do condicionamento, à aprovação prévia por
pelo particular, serão admitidas se houver resguardo do meio organismos estaduais de controle ambiental e de gestão de
ambiente ecologicamente equilibrado. recursos hídricos, na forma da lei, dos atos de outorga de
direitos que possam influir na qualidade ou quantidade das
Artigo 165 – Aquele que explorar recursos naturais fica águas superficiais e subterrâneas;
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo V – das instituições de programas permanentes de
com a solução técnica exigida pelo Município, na forma da lei. racionalização do uso das águas destinadas ao abastecimento
Parágrafo único – É obrigatória, na forma da lei, a público industrial e à irrigação, assim como combate às
recuperação pelo responsável, da vegetação adequada nas inundações e a erosão.
áreas protegidas, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. Parágrafo único – O Município receberá incentivos do
Estado se aplicar, prioritariamente, nas ações previstas neste
Artigo 166 – As condutas e atividades lesivas ao meio artigo e no tratamento de águas residuárias, o que vier a
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, receber em decorrência da exploração dos potenciais
a sanções penais e administrativas, com aplicação de multas energéticos, assim como possível compensação financeira.
diárias e progressivas no caso de continuidade da infração ou
reincidência, incluídas a redução do nível de atividade e a SUBSEÇÃO II
interdição, independentemente da obrigação dos infratores de DOS RECURSOS MINERAIS
reparação de danos causados.
Artigo 174 – O Município, nas aplicações do conhecimento
Artigo 167 – O Município estimulará a criação e geológico, poderá contar com o atendimento técnico do
manutenção de unidades particulares de preservação do meio Estado.
ambiente.
SUBSEÇÃO III
Artigo 168 – O Município terá direito a uma compensação DO SANEAMENTO
financeira por parte do Estado sempre que este venha impor-
lhe restrições com a proteção de espaços territoriais. Artigo 175 – O Município, para o desenvolvimento dos
serviços de saneamento básico, contará com a assistência
Artigo 169 – O Município poderá estabelecer consórcio técnica e financeira do Estado.
com outros Municípios objetivando a solução de problemas
comuns, relativos a proteção ambiental, em particular à TÍTULO VI
preservação dos recursos hídricos e ao uso equilibrado dos DA ORDEM SOCIAL
recursos naturais. CAPÍTULO I
DA SEGURIDADE SOCIAL
Artigo 170 – As áreas declaradas de utilidade pública, para SEÇÃO I
fins de desapropriação, objetivando a implantação de DISPOSIÇÃO GERAL
unidades de conservação ambiental, serão consideradas
espaços territoriais especialmente protegidos, não sendo Artigo 176 – O Município deverá contribuir para a
nelas permitidas atividades que degradem o meio ambiente ou seguridade social, atendendo ao disposto nos artigos 194 e
que, por qualquer forma, possam comprometer a integridade 195 da Constituição Federal, visando assegurar os direitos
das condições ambientais que motivarem a expropriação. relacionados com a saúde e a assistência social.

Legislação Municipal 19
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SEÇÃO II SEÇÃO III


DA SAÚDE DA PROMOÇÃO SOCIAL

Artigo 177 – O Município garantirá o direito à saúde Artigo 182 – As ações do Município, por meio de
mediante: programas e projetos na área de promoção social, serão
I – políticas sociais, econômicas e ambientais que visem o organizadas, elaboradas, executadas e acompanhadas com
bem-estar físico, mental e social do indivíduo e da coletividade base nos seguintes princípios:
e a redução do risco de doenças e outros agravos; I – participação da comunidade;
II – acesso universal e igualitário às ações e ao serviço de II– descentralização administrativa, respeitada a legislação
saúde individual e coletiva, assim como as atividades federal, considerando o Município e as comunidades como
desenvolvidas pelo sistema; instâncias básicas para o atendimento e realização dos
III – fornecimento de informações e esclarecimentos de programas;
interesse da saúde individual e coletiva, assim como as III– integração das ações dos órgãos e entidades da
atividades desenvolvidas pelo sistema; administração em geral, compatibilizando programas e
IV – atendimento integral do indivíduo, abrangendo a recursos e evitando a duplicidade de atendimento entre as
promoção, preservação e recuperação de sua saúde. esferas municipal e estadual.

Artigo 178 – As ações e serviços de saúde são de relevância Artigo 183 – Ao Município compete a viabilização de
pública, cabendo ao Município dispor, nos termos da lei, sobre recursos com vistas a criação e manutenção de creches
sua regulamentação, fiscalização e controle. destinadas as crianças de zero a seis anos de idade, filhos de
§ 1º - As ações e os serviços de preservação da saúde mães trabalhadoras.
abrangem o ambiente natural, os locais públicos e de trabalho. Artigo 184 – É vedada a distribuição de recursos públicos
§ 2º - As ações e serviços de saúde serão realizados, na área de assistência social, diretamente ou por indicação e
preferencialmente, de forma direta pelo Município ou através sugestão ao órgão competente, por ocupantes de cargos
de terceiros, e pela iniciativa particular. eletivos.
§ 3º - A assistência à saúde é livre à iniciativa particular.
§ 4º - A participação do setor privado no sistema único de CAPÍTULO II
saúde efetivar-se-á segundo suas diretrizes, mediante DA GUARDA MUNICIPAL
convênio ou contrato de direito público, tendo preferência as
entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Artigo 185 – O Município poderá instituir uma Guarda
§ 5º - As pessoas físicas e as pessoas jurídicas de direito Municipal destinada a proteção de seus bens, serviços e
privado, quando participarem do sistema único de saúde, instalações obedecidos os preceitos da lei federal.
ficam sujeitas às suas diretrizes e às normas administrativas
incidentes sobre o objeto de convênio ou de contrato. CAPÍTULO III
§ 6º - É vedada a destinação de recursos públicos para DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DOS ESPORTES E
auxílio ou subvenções às instituições particulares com fins LAZER
lucrativos.
Artigo 186 – O Município organizará em regime de
Artigo 179 – O Conselho Municipal de Saúde, com sua colaboração com o Estado, seu sistema de ensino.
composição, organização e competência fixada em lei, contará,
na elaboração e controle das políticas de saúde, bem como na Artigo 187 – O Município responsabilizar-se-á,
formulação, fiscalização e acompanhamento do sistema único prioritariamente, pela pré-escola e pelo ensino fundamental,
de saúde, com a participação de representantes da inclusive para os que a ela não tiverem acesso na idade
comunidade, em especial dos trabalhadores, entidades própria.
prestadoras de serviços da área de saúde. Parágrafo único – Cabe ao Município a viabilização de
recursos, visando-se prover e zelar pela manutenção da pré-
Artigo 180 – As ações e os serviços de saúde executados e escola e pelo ensino fundamental, inclusive programas de
desenvolvidos pelo Município, por sua administração direta, alfabetização de adultos.
indireta e fundacional, constituem o sistema único de saúde,
nos termos da Constituição Federal, que se organizará de Artigo 188 – Será criado o Conselho Municipal de
acordo com as seguintes bases: Educação, com sua composição, organização e competência
I – descentralização sob direção de um profissional de fixada em lei, e, contará na elaboração e controle das políticas
saúde; de educação, bem como na formulação, fiscalização e
II – universalização da assistência de igual qualidade com acompanhamento de todas as atividades relativas ao sistema
instalação e acesso a todos os níveis, dos serviços de saúde à educacional, com a participação de representantes da
população urbana e rural; comunidade, em especial, dos trabalhadores, entidades
III – gratuidade dos serviços prestados, vedada a cobrança prestadoras de serviços.
de despesas e taxas, sob qualquer título.
Artigo 189 – O Município aplicará anualmente, vinte e
Artigo 181 – É vedada a nomeação ou designação, para cinco por cento, no mínimo da receita resultante de impostos
cargo ou função de chefia ou assessoramento na área de saúde, compreendida e proveniente de transferências, na
em qualquer nível, de pessoa que participe de direção, manutenção e desenvolvimento do ensino.
gerência ou administração de entidades que mantenham Parágrafo único – A parcela de arrecadação de impostos
contrato, convênios ou sejam credenciados pelo sistema único transferidos pela União ou pelo Estado ao Município não é
de saúde, a nível municipal. considerada, para efeito de cálculo previsto neste artigo,
receita de governo que a transferir.

Artigo 190 – O Município publicará até trinta dias após o


encerramento de cada trimestre, informações completas sobre

Legislação Municipal 20
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

receitas arrecadadas e transferências de recursos destinados VII – por delegação de competência, autuar os infratores,
à educação, nesse período e discriminadas por nível de ensino. aplicando sanções de ordem administrativa e pecuniária,
inclusive, exercendo o Poder de Polícia Municipal e,
Artigo 191 – É vedado o uso de próprios municipais para o encaminhando, quando for o caso, ao representante local do
funcionamento de estabelecimentos de ensino privado de Ministério Público as eventuais provas de crimes ou
qualquer natureza. contravenções penais;
VIII – denunciar, publicamente, através da imprensa, as
SEÇÃO I empresa infratoras;
DA CULTURA IX – buscar integração, por meio de convênios, com os
Municípios vizinhos, visando melhorar a consecução de seus
Artigo 192 – O Município incentivará a livre manifestação objetivos;
cultural mediante: X – orientar e educar os consumidores através de cartilhas,
I – criação, manutenção e abertura de espaços públicos manuais, folhetos ilustrativos, cartazes e de todos os meios de
devidamente equipados e capazes de garantir a produção, comunicação de massa (TV, jornal e rádio);
divulgação e apresentação das manifestações culturais e XI – incentivar a organização comunitária e estimular as
artísticas; entidades existentes;
II – desenvolvimento de intercâmbio cultural e artístico
com outros Municípios e o Estado; Artigo 199 – A CONDECON será vinculada ao Gabinete do
III – acesso aos acervos das bibliotecas, museus, arquivos e Prefeito, executando trabalho de interesse social em harmonia
congêneres; e com pronta colaboração dos demais órgãos municipais.
IV – promoção do aperfeiçoamento e valorização dos
profissionais da cultura. Artigo 200 – A CONDECON será dirigida por um Presidente
designado pelo Prefeito com as seguintes atribuições:
SEÇÃO II I – assessorar o Prefeito na formação e execução da política
DOS ESPORTES E LAZER global relacionada com a defesa do consumidor;
II – submeter ao Prefeito os programas de trabalho,
Artigo 193 – O Município apoiará e incentivará as práticas medidas, proposições e sugestões, objetivando a melhoria das
esportivas, como direito de todos. atividades mencionadas;
III – exercer o poder normativo e a direção superior da
Artigo 194 – O Município apoiará e incentivará o lazer CONDECON, orientando, supervisionando os seus trabalhos e
como forma de integração social. promovendo as medidas necessárias ao fiel cumprimento de
suas finalidades.
SEÇÃO III
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL CAPÍTULO V
DA PROTEÇÃO ESPECIAL
Artigo 195 – A ação do Município, no campo da
comunicação, fundar-se-á sobre os seguintes princípios: Artigo 201 – O Município dará prioridade para a
I – democratização do acesso às informações; assistência pré-natal e à infância, assegurando, ainda
II – pluralismo e multiplicidade das fontes de informação; condições de prevenção de deficiências e integração social de
III – visão pedagógica da comunicação dos órgãos e seus portadores mediante treinamento para o trabalho e para
entidades públicas. a convivência, por meio de:
I – criação de centros profissionalizantes para
CAPÍTULO IV treinamento, habilitação, reabilitação profissional de
DA DEFESA DO CONSUMIDOR portadores de deficiências oferecendo os meios adequados
para esse fim aos que não tenham condições de frequentar a
Artigo 196 – O Município promoverá a defesa do rede regular de ensino;
consumidor mediante a adoção de medidas de orientação e II – implantação do sistema “Braille” em estabelecimentos
fiscalização, definidas em lei. da rede oficial de ensino, de forma a atender as necessidades
educacionais e sociais dos portadores de deficiência visual.
Artigo 197 – Fica criada a Comissão Municipal de Defesa
do Consumidor – CONDECON, visando assegurar os direitos e Artigo 202 – É assegurado, na forma da lei, aos portadores
interesses do consumidor. de deficiência e aos idosos, acesso adequado aos logradouros
e edifícios de uso público, bem como aos veículos de
Artigo 198 – A Comissão Municipal de Defesa do transporte coletivo e urbano.
Consumidor, compete: § 1º – Aos portadores de deficiência física e às pessoas com
I – formular, coordenar e executar programas e atividades mais de sessenta anos de idade, é garantida a gratuidade no
relacionadas com a defesa do consumidor, buscando, quando transporte coletivo do Município.
for o caso, apoio e assessoria nos demais órgãos congêneres § 2º - A forma de comprovação da condição de idoso e de
estadual ou federal; deficiente físico para obter a isenção e demais obrigações
II – fiscalizar os produtos e serviços, inclusive os públicos; tributárias acessórias, será regulamentada pelo Poder
III – zelar pela qualidade, quantidade, preço, apresentação Executivo. (Suspensos os efeitos dos §§ 1º e 2º, pelo Decreto
e distribuição dos produtos e serviços; nº 5.367, de 09 de junho de 2011)
IV – emitir pareceres técnicos sobre os produtos e serviços Parágrafo Único – Aos portadores de deficiência física e às
consumidos no Município; pessoas com mais de sessenta e cinco anos de idade, é
V – receber e apurar reclamações de consumidores garantida a gratuidade no transporte coletivo do Município,
encaminhando-as e acompanhando-as junto aos órgãos devendo o senhor Prefeito regulamentar a matéria dentro de
competentes. dez dias após a publicação desta Lei Orgânica.
VI – propor soluções, melhorias e medidas legislativas de
defesa do consumidor;

Legislação Municipal 21
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

TÍTULO VII Respostas


DISPOSIÇÕES GERAIS
01. Resposta: errado
Artigo 203 – suprimido. 02. Resposta: certo
Artigo 204 – suprimido. 03. Resposta: certo
Artigo 205 – suprimido.
Artigo 206 – suprimido.
Artigo 207 – suprimido. Estatuto dos Servidores
Artigo 208 – Qualquer cidadão é parte legítima para Públicos do Município de
representar sobre a inconstitucionalidade de lei ou ato editado Ferraz de Vasconcelos - Lei
no Município às autoridades e órgãos legitimados a propor Complementar n.° 167/2005.
ação direta de inconstitucionalidade das mesmas.

Artigo 209 – Fica instituída a medalha “Vereador João


LEI COMPLEMENTAR Nº 167, de 13 de dezembro de
Batista Camilo Neto”, que será outorgada pela Câmara,
2005.2
conforme definição em Resolução e destina-se a homenagear
aqueles que tenham reconhecidamente prestado relevantes
Dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos do
serviços ao Município.
Município de Ferraz de Vasconcelos e dá outras providências
correlatas.
Artigo 210 – O Município comemorará anualmente os
feriados definidos em lei.
O PREFEITO DO MUNICÍPIO DE FERRAZ DE
VASCONCELOS, no uso das atribuições que lhe são conferidas
TÍTULO VIII
por Lei;
ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
FAÇO SABER, que a Câmara Municipal DECRETA e eu
Artigo 211 – As Leis Complementares e
PROMULGO a seguinte Lei:
Ordinárias necessárias à complementação da Lei Orgânica,
deverão ser concluídas em cento e oitenta dias após sua
TÍTULO I
publicação.
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO I
TÍTULO IX
DO REGIME JURÍDICO
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 1º. O regime jurídico estatutário, disciplinado por esta
Artigo 212 – Esta Lei Orgânica, aprovada e assinada pelos
Lei, aplica-se aos servidores públicos da Administração direta,
integrantes da Câmara Municipal, será promulgada pela Mesa
das autarquias e das fundações públicas municipais.
da Câmara e entrará em vigor na data de sua publicação,
Parágrafo único. O disposto neste Estatuto não se aplica:
revogadas todas as disposições em contrário.
I – aos servidores investidos em empregos públicos, assim
definidos em lei municipal específica;
Ferraz de Vasconcelos, 05 de abril de 1990.
II – aos empregados de empresas públicas, sociedades de
economia mista e outras entidades da Administração indireta
MESA DA CONSTITUINTE MUNICIPAL
que explorem atividade econômica;
III – aos contratados por prazo determinado, para atender
NATANAEL ALVES GENUINO Presidente
à necessidade temporária de excepcional interesse público;
Questões
Art. 2º. Para os efeitos desta Lei, são servidores aqueles
legalmente investidos em cargos públicos, de provimento
01. Dentre as licenças conferidas ao vereador, julgue o
efetivo ou em comissão.
item abaixo:
O Vereador poderá licenciar-se somente por cinco dias
Art. 3º. Cargo público é o conjunto de atribuições e
consecutivos em caso de falecimento de cônjuge,
responsabilidades cometido a determinado servidor, criado
companheiro, pais, filhos, enteados menores sob a guarda e
por lei, com denominação própria e vencimentos pagos pelos
irmãos.
cofres públicos.
( ) Certo ( ) Errado
Parágrafo único. Os cargos públicos são acessíveis a todos
os brasileiros, e aos estrangeiros na forma da lei, para
02. Os Vereadores não serão obrigados a testemunharem
provimento em caráter efetivo ou em comissão.
sobre informações recebidas ou prestadas em razão do
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes
Art. 4º. Os cargos de provimento efetivo da administração
confiarem ou deles receberem informações.
direta, das fundações públicas serão organizados em carreira,
( ) Certo ( ) Errado
admitindo-se, se necessário, a criação de cargos isolados.
Parágrafo único. As carreiras serão organizadas em classes
03. É fixado em trinta dias, prorrogáveis por igual período,
de cargos observadas a escolaridade e a qualificação
desde que solicitado e devidamente justificado, o prazo para
profissional exigidas, bem como a natureza e a complexidade
que os responsáveis pelos órgãos da administração direta e
das atribuições a serem exercidas por seus ocupantes, na
indireta prestem e encaminhem os documentos requisitados
forma prevista na legislação específica.
pelas Comissões de Inquérito.
( ) Certo ( ) Errado

2 http://www.camaraferraz.sp.gov.br/wp-
content/uploads/downloads/2013/02/estatuto_dos_servidores_novo.pdf,
acessado em: 09/05/2018.

Legislação Municipal 22
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 5º. Quadro de pessoal é o conjunto de carreiras e disponibilidade ou por candidato aprovado em concurso
cargos isolados de uma entidade da Administração Municipal. público anterior com prazo de validade ainda não expirado.
Art. 6º. É vedado cometer ao servidor público atribuições § 3.º A aprovação em concurso público não cria direito à
diversas das de seu cargo, exceto as de cargos de direção, nomeação, mas esta, quando ocorrer, será feita em ordem
chefia ou assessoramento e de comissões legais. rigorosa de classificação dos candidatos, após prévia inspeção
médica oficial.
Art. 7º. É proibido o exercício gratuito de cargos públicos,
salvo nos casos previstos em lei. Art. 14. As normas gerais para a realização do concurso
serão estabelecidas em regulamento.
CAPÍTULO II Parágrafo único. Além das normas gerais, os concursos
DO PROVIMENTO públicos serão regidos por instruções especiais, com ampla
SEÇÃO I publicidade, que farão parte do edital.
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 15. O edital do concurso estabelecerá os requisitos a
Art. 8º. São requisitos básicos para a investidura em cargo serem satisfeitos pelos candidatos.
público: Parágrafo único. Do edital do concurso deverão constar,
I – nacionalidade brasileira; entre outros os seguintes requisitos:
II – gozo dos direitos políticos; I – grau de instrução exigível, a ser comprovado, no
III – regularidade com as obrigações militares e eleitorais; momento da posse, mediante apresentação de documentação
competente.
IV – nível de escolaridade para exercício do cargo; II – número de vagas a serem preenchidas, distribuídas por
V – idade mínima de dezoito (18) anos, e especialização ou disciplina, quando for o caso, com o
VI – condições de saúde física e mental compatíveis com o respectivo vencimento do cargo.
exercício do cargo, emprego ou função, de acordo com prévia
inspeção médica oficial. Art. 16. Ao candidato será assegurado direito de recurso
§ 1.º As atribuições do cargo podem justificar a exigência nas fases de homologação das inscrições, publicação de
de outros requisitos estabelecidos em lei. resultados parciais ou globais, homologação de concurso e
§ 2.º Lei específica, observada a legislação federal, poderá nomeação.
definir critérios para admissão de estrangeiros no serviço
público. Art. 17. O não atendimento de quaisquer das exigências
§ 3.º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o constantes do edital implicará na automática exclusão do
direito de se inscrever em concurso público para provimento candidato do concurso público.
de cargos cujas atribuições sejam compatíveis com a SEÇÃO III
deficiência de que são portadoras, sendo a elas reservado 5% DA NOMEAÇÃO
(cinco por cento) das vagas oferecidas no concurso.
Art. 18. A nomeação far-se-á:
Art. 9º. O provimento dos cargos públicos far-se-á I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado ou
mediante ato da autoridade competente para cada Poder, do de carreira, cujo exercício exija, apenas, conhecimentos
dirigente superior de autarquia ou de fundação pública. profissionais para o bom desempenho de suas atribuições.
II – em comissão, para cargos de livre nomeação e
Art. 10. A investidura em cargo público ocorrerá com a exoneração, cujo exercício exija relação de confiança entre a
posse. autoridade nomeante e o nomeado.

Art. 11. São formas de provimento em cargo público: Art. 19. A nomeação para cargo efetivo depende de prévia
I – nomeação; habilitação em concurso público de provas ou de provas e
II – promoção; títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de
III – readaptação; validade.
IV – reversão; Parágrafo único. Os demais requisitos para ingresso e
V – reintegração, e desenvolvimento dos servidores de carreira, mediante
VI – recondução. promoção, serão obedecidos pela lei que disponha sobre o
sistema de carreira na Administração Pública Municipal e por
SEÇÃO II seus respectivos regulamentos.
DO CONCURSO PÚBLICO
Art. 20. Os cargos em comissão, destinados apenas às
Art. 12. O concurso público para investidura em cargo atribuições de direção, chefia e assessoramento, serão
público de provimento efetivo será de provas escritas, teóricas providos mediante livre escolha da autoridade competente.
ou práticas, podendo ser também exigidos títulos, de acordo Parágrafo único. Os cargos em comissão serão providos,
com a natureza e a complexidade do cargo. preferencialmente e sempre a critério da autoridade
Parágrafo único. A admissão dos profissionais da educação competente, por servidores de cargo de carreira.
far-se-á exclusivamente por concurso público de provas e
títulos. Art. 21. O servidor efetivo, quando ocupar cargo em
comissão, poderá optar pela remuneração deste ou pela de seu
Art. 13. O concurso público terá validade de até dois (2) cargo, acrescida de gratificação de função a ser fixada pelo
anos o qual poderá ser prorrogado por uma vez, por igual Prefeito, no ato de atribuição, em até 30% (trinta por cento).
período, a critério e conveniência da Administração. Parágrafo único. A gratificação prevista no caput será
§ 1.º O prazo de validade do concurso e as condições de sua calculada sobre o valor da referência de vencimento do
realização serão fixados em edital, que será publicado no órgão servidor.
oficial do Município.
§ 2.º Não se abrirá novo concurso público enquanto a
ocupação do cargo puder ser feita por servidor em

Legislação Municipal 23
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 22. As funções gratificadas destinam-se a atender título de estágio probatório, obedecidos os princípios da
encargos previstos na organização administrativa do legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência, do
Município, para os quais se tenha criado cargo em comissão. contraditório e da ampla defesa.
§ 1.º Somente serão designados para o exercício de função § 1.º Aos servidores será dado, previamente, conhecimento
gratificada ocupantes de cargo efetivo do Município. das normas utilizadas para a avaliação de desempenho.
§ 2.º O exercício da função gratificada não constitui § 2.º A avaliação de desempenho dos servidores será
situação permanente. baseada nos seguintes fatores de desempenho que deverão
§ 3.º As funções gratificadas serão especificadas na lei que constar do formulário de avaliação:
instituir a estrutura administrativa. I – Qualidade do trabalho
II – Iniciativa
Art. 23. É vedado o exercício de função gratificada por III – Criatividade
servidor ocupante de cargo em comissão. IV – Produtividade
V – Competência interpessoal
SUBSEÇÃO I VI – Responsabilidade com o trabalho
DA POSSE E DO EXERCÍCIO VII – Zelo por equipamentos e materiais
VIII – Aproveitamento em programas de capacitação
Art. 24. A posse dar-se-á por ato administrativo expedido IX – Planejamento e organização do trabalho
pela autoridade competente e pela posse do servidor lavrado X – Assiduidade e Pontualidade
em termo próprio.
§ 1º A posse ocorrerá no prazo de 15 (quinze) dias, Art. 29. A avaliação anual de desempenho será realizada
contados a partir da publicação do ato convocatório para mediante observância de critérios de julgamento, os quais
provimento, prorrogável por igual período uma única vez, serão objeto de regulamentação especifica.
observada a conveniência da administração. (Alterado pela Lei
Complementar nº 280/13) Art. 30. A avaliação anual de desempenho será realizada
§ 2.º A posse poderá ser concedida mediante a por uma Comissão Especial de Avaliação e Desempenho
apresentação de procuração específica por instrumento composto por três servidores, sendo dois estáveis, todos de
público. nível hierárquico não inferior ao do servidor a ser avaliado,
§ 3.º No ato da posse, o servidor deverá apresentar, sendo um o seu chefe imediato e dois deles pelo menos com
obrigatoriamente: três anos de exercício no órgão ao qual o avaliado esteja
I – declaração de bens e valores que constituem seu vinculado.
patrimônio; § 1.º Caso não seja possível compor a Comissão Especial de
II – declaração de exercício ou não de outro cargo, emprego Avaliação de Desempenho conforme determina caput deste
ou função pública, especificando-o quando for o caso. artigo, poderá ser designado como membro da comissão
§ 4.º Para servidores em cargo em comissão, deverá ser servidor efetivo de outra unidade administrativa em cargo
apresentada declaração de bens por ocasião de seu compatível e superior ao avaliado, ou em face dessa
desligamento. impossibilidade a autoridade competente adotará as
§ 5.º Será tornado sem efeito o ato de provimento se a providências com vistas a se compor essa Comissão.
posse não ocorrer nos prazos previstos nos §§ 1º e 2º deste § 2.º O servidor avaliado será notificado do conceito anual
artigo. que lhe foi atribuído, podendo, no prazo máximo de 10 (dez)
dias, apresentar pedido de reconsideração dirigido à Comissão
Art. 25. A posse em cargo público dependerá de prévia que o avaliou, o qual deverá ser decidido em 10 (dez) dias.
inspeção médica oficial, que conclua pela aptidão para o § 3.º O conceito de avaliação anual será motivado com base
exercício de suas funções. na aferição dos critérios previstos nesta Lei, sendo necessária
a indicação dos fatos, das circunstâncias e dos demais
Art. 26. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições elementos de convicção no termo de avaliação, inclusive o
do cargo. relatório relativo ao colhimento de provas testemunhais e
§ 1.º É de cinco (5) dias úteis o prazo para o servidor entrar documentais, quando for o caso.
em exercício, contados: § 4.º É assegurado ao servidor o direito de acompanhar
I – da posse, e todos os atos de instrução do processo que tenha por objeto a
II – da publicação oficial do ato no caso de reintegração e avaliação de seu desempenho.
reversão.
§ 2.º A promoção, a readaptação e a recondução não Art. 31. Contra a decisão relativa ao pedido de
interrompem o exercício. reconsideração caberá recurso ao Prefeito ou ao Presidente da
§ 3.º Será exonerado o servidor empossado que não entrar Câmara, dependendo do caso, de ofício e voluntário no prazo
em exercício no prazo previsto no § 1º. de 10 (dez) dias na hipótese de confirmação do conceito de
§ 4.º À autoridade competente do órgão ou entidade para desempenho atribuído ao servidor.
onde for designado o servidor compete dar-lhe o exercício. Parágrafo único. É indelegável a decisão dos referidos
recursos.
Art. 27. O início, a suspensão, a interrupção e o reinicio Art. 32. Todo o procedimento de avaliação de servidor em
serão registrados no prontuário individual do servidor. estágio probatório em pasta ou banco de dados individual,
Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor deverá permitida a consulta pelo servidor a qualquer tempo.
apresentar ao órgão competente os documentos exigidos pelo
órgão responsável da administração. Art. 33. Será considerado exonerado o servidor em estágio
probatório que receber:
SUBSEÇÃO II I – um conceito de desempenho insatisfatório, ou
DO ESTÁGIO PROBATÓRIO II – dois conceitos de desempenho regular.
Parágrafo único – Os conceitos de desempenho
Art. 28. O servidor público municipal, para adquirir mencionados nos incisos acima, deverão ser confirmados em
estabilidade no serviço público, submeter-se-á à avaliação decisão final pelo Prefeito Municipal ou pelo Presidente da
anual de desempenho durante o período de 3 (três) anos, a

Legislação Municipal 24
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Câmara, dependendo do caso, para ser efetivada a exoneração Art. 42. A promoção não interrompe nem suspende o
do servidor. tempo de exercício que é contado no novo posicionamento na
carreira.
Art. 34. O Prefeito ou o Presidente da Câmara, dependendo Art. 43. Os critérios de avaliação do servidor para efeito de
do caso, atendendo ao que dispõe o artigo anterior, bem assim promoção serão estabelecidos pela lei que instituir o sistema
após análise do recurso interposto pelo servidor, decidirá em de carreiras.
30 (trinta) dias, pela estabilidade ou não do mesmo no serviço
público, sendo esta decisão irrecorrível administrativamente. SEÇÃO V
DA READAPTAÇÃO
Art. 35. O servidor em estágio probatório não adquirirá
estabilidade no serviço público enquanto não for avaliado, ao Art. 44. Readaptação é a investidura do servidor em cargo
menos uma vez, pela Comissão Especial de Desempenho. de atribuições e responsabilidades compatíveis com a
limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
Art. 36. O ato de desligamento do servidor municipal em mental, verificada em inspeção médica.
estágio probatório será publicado de forma reduzida, no órgão § 1.º Se julgado incapaz para o serviço público, o servidor
oficial do Município. será aposentado.
§ 2.º A readaptação será efetivada em cargo de carreira de
Art. 37. Os prazos previstos nesta subseção começam a atribuições afins ao anteriormente ocupado, respeitada a
correr a partir da data de cientificação ou publicação no órgão habilidade exigida.
oficial. § 3.º Inexistindo cargo vago, o servidor será colocado em
§ 1.º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia disponibilidade, observados os artigos 60 e seguintes,
útil seguinte se o vencimento recair em dia que não houver devendo ser aproveitado tão logo haja vacância de cargo
expediente. compatível com a sua capacidade.
§ 2.º Os prazos previstos nesta subseção contam-se em § 4.º Em qualquer hipótese, a readaptação não poderá
dias corridos. acarretar aumento ou redução dos vencimentos do servidor.

Art. 38. Fica o Executivo Municipal autorizado a SEÇÃO VI


regulamentar, por Decreto, se necessário for, os atos que se DA REVERSÃO
fizerem indispensáveis à execução da avaliação de
desempenho do servidor. Art. 45. Reversão é o retorno à atividade do servidor
aposentado por invalidez quando declarado, por junta médica
SUBSEÇÃO III oficial, insubsistentes os motivos determinantes da
DA ESTABILIDADE aposentadoria.

Art. 39. São estáveis após 3 (três) anos de efetivo exercício Art. 46. Se o servidor não retornar ao serviço público no
os servidores nomeados em virtude de aprovação em concurso prazo previsto no art. 26, § 1º, II, sua ausência será
público. considerada falta injustificada, salvo em caso de doença
Parágrafo único. A aquisição da estabilidade está comprovada em inspeção médica oficial.
condicionada à aprovação em estágio probatório, mediante Parágrafo único. A hipótese prevista neste artigo
avaliação especial de desempenho, na forma prevista no artigo configurará abandono de cargo, apurado mediante processo
28 e seguintes. administrativo, na forma desta Lei.

Art. 40. O servidor estável só perderá o cargo: Art. 47. A reversão far-se-á no mesmo cargo anteriormente
I – em virtude de sentença judicial transitada em julgado; ocupado ou em outro de atribuições análogas e de igual
II – mediante processo administrativo disciplinar, vencimento.
assegurada a ampla defesa;
III – mediante procedimento de avaliação periódica de Art. 48. Para que a reversão possa efetivar-se, é necessário
desempenho, assegurada a ampla defesa, e que o aposentado não haja completado 70 (setenta) anos de
IV – quando houver a necessidade de redução de pessoal, idade.
em cumprimento ao limite de despesa estabelecida em
legislação federal pertinente. SEÇÃO VII
§ 1.º A perda do cargo nos termos do inciso III dar-se-á na DA REINTEGRAÇÃO
forma da legislação federal aplicável ao caso.
§ 2.º A perda do cargo nos termos do inciso IV fará jus à Art. 49. Reintegração é a reinvestidura do servidor
indenização correspondente a um mês de remuneração por concursado no cargo anteriormente ocupado ou no cargo
ano de serviço. resultante de sua transformação, quando invalidada a sua
§ 3.º A perda do cargo nos termos do inciso IV dar-se-á na demissão por decisão administrativa ou judicial, com
forma prevista em legislação federal aplicável ao caso. ressarcimento de todas as vantagens e direitos inerentes ao
cargo.
SEÇÃO IV
DA PROMOÇÃO Art. 50. Se o servidor não entrar em exercício no prazo
previsto no artigo 26, § 1º, II, sua ausência será considerada
Art. 41. Promoção é a elevação do servidor à classe falta injustificada, salvo em caso de doença comprovada
imediatamente superior àquela a que pertence, na mesma mediante inspeção médica oficial.
carreira, desde que comprovada, mediante avaliação prévia, Art. 51. Recondução é o retorno do servidor estável ao
sua capacidade para o exercício das atribuições da classe cargo anteriormente ocupado.
correspondente. § 1.º A recondução ocorrerá em caso de:
I – inabilitação em estágio probatório relativo a outro
cargo;

Legislação Municipal 25
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

II – desalojamento do servidor de cargo em que o e) por motivo de doença em pessoa da família, até 30 dias,
precedente titular tenha sido reintegrado. observado o disposto no art. 128;
§ 2.º Encontrando-se provido o cargo anterior, o servidor f) para o serviço militar;
será aproveitado em outro de atribuições e vencimentos g) para concorrer a cargo eletivo, observado o art. 131, §
compatíveis ou colocado em disponibilidade observado, em 2º;
qualquer das hipóteses, o disposto nos artigos 60 e seguintes. h) para exercício de mandato classista, e
i) prêmio.
CAPÍTULO III Parágrafo único. Nas hipóteses previstas nos incisos II, IV
DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO e VII, alíneas “d”, “e” e “h” deste artigo, o tempo de serviço não
SEÇÃO I será computado para efeito de promoção quando a licença for
DA REMOÇÃO igual ou superior a 3 (três) anos.

Art. 52. Remoção é o ato pelo qual o servidor passa a ter Art. 56. É vedada a contagem cumulativa de tempo de
exercício em outro órgão da administração municipal, no serviço prestado concomitantemente em mais de um cargo ou
âmbito do mesmo quadro de pessoal. função de órgãos ou entidades dos Poderes da União, do
§ 1.º Dar-se-á a remoção: Estado, do Distrito Federal e dos Municípios.
I – de ofício, e
II – a pedido, a critério da administração. CAPÍTULO V
§ 2.º A remoção de ofício ocorrerá para ajustamento de DA VACÂNCIA
lotação e da força de trabalho às necessidades do serviço,
inclusive nos casos de reorganização da estrutura interna da Art. 57. A vacância do cargo público decorre de:
administração municipal. I – exoneração;
§ 3.º A remoção por permuta de servidores será precedida II – demissão;
de requerimento dos interessados. III – promoção;
IV – readaptação;
SEÇÃO II V – aposentadoria;
DA REDISTRIBUIÇÃO VI – posse em outro cargo inacumulável;
VII – falecimento.
Art. 53. Redistribuição é o deslocamento de servidor
efetivo, com o respectivo cargo, para o quadro de pessoal de Art. 58. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do
outra entidade da administração municipal, no âmbito do servidor ou de ofício.
mesmo Poder. § 1.º A exoneração de ofício ocorrerá:
§ 1.º redistribuição ocorrerá de ofício para ajustamento de I - quando não satisfeitas as condições do estágio
quadros de pessoal às necessidades do serviço, inclusive nos probatório;
casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou II – quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em
entidade da administração municipal. exercício no prazo estabelecido;
§ 2.º A redistribuição dar-se-á por meio de ato III – quando o servidor não for aprovado na avaliação
administrativo próprio. periódica de desempenho prevista no art. 40 III
§ 3.º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão ou IV – quando houver a necessidade de redução de pessoal,
entidade, os servidores estáveis que não puderem ser em cumprimento ao limite de despesa estabelecido em lei
redistribuídos serão colocados em disponibilidade, observado federal específica.
o disposto nos art. 60 e seguintes. § 2.º A exoneração do cargo em comissão dar-se-á:
I – a juízo da autoridade competente;
CAPÍTULO IV II – a pedido do próprio servidor.
DO TEMPO DE SERVIÇO
Art. 59. A vaga ocorrerá:
Art. 54. A apuração do tempo de serviço será feita em dias, I – por ocasião do falecimento do ocupante do cargo;
que serão convertidos em anos, considerando o ano de 365 II – imediatamente a data em que o servidor completar 70
(trezentos e sessenta e cinco) dias. (setenta) anos de idade;
III – imediatamente a publicação do ato de aposentadoria,
Art. 55. Além das ausências ao serviço previstas no artigo exoneração, demissão ou concessão de promoção;
176 desta Lei serão considerados como de efetivo exercício os IV – por ocasião de posse em outro cargo de acumulação
afastamentos em virtude de: proibida.
I – férias;
II – exercício de cargo em comissão ou equivalente em CAPÍTULO VI
órgão ou entidade federal, estadual, distrital ou municipal; DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO
III – participação autorizada em programas de
treinamento ou capacitação; Art. 60. Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade,
IV – desempenho de mandato eletivo; o servidor estável ficará em disponibilidade, com
V – júri e outras obrigações legais; remuneração proporcional ao tempo de serviço.
VI – missão ou estudo, quando o afastamento houver sido § 1.º O tempo de serviço público federal, estadual ou
autorizado pela autoridade competente; municipal será contado para efeito da disponibilidade.
VII – participação em provas de competição desportiva, § 2.º O cálculo da remuneração a que se refere o “caput”
quando o afastamento houver sido autorizado pela autoridade deste artigo far-se-á na razão de 1/35 (um inteiro e trinta e
competente, e cinco avos) por ano de serviço, se homem, e de 1/30 (um
VIII – licenças: inteiro e trinta avo) por ano de serviço, se mulher.
a) para tratamento de saúde; § 3.º A proporcionalidade de que trata o parágrafo anterior
b) à gestante; será reduzida em 5 (cinco) anos para professor que comprove
c) à adotante e à paternidade; exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de
d) por acidente em serviço; magistério.

Legislação Municipal 26
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 4.º A remuneração do servidor em disponibilidade não TÍTULO II


poderá ser inferior a 1 (um) salário mínimo vigente. DOS DIREITOS E VANTAGENS
CAPÍTULO I
Art. 61. O retorno à atividade do servidor em DA JORNADA DE TRABALHO
disponibilidade far-se-á, mediante aproveitamento
obrigatório, em caso de vacância de cargo de atribuições e Art. 67. A jornada de trabalho dos servidores municipais
vencimento compatíveis com o anteriormente ocupado. não será superior a 8 (oito) horas diárias e o período normal
§ 1.º O órgão de pessoal determinará o imediato da semana não excederá a 40 (quarenta) horas.
aproveitamento do servidor em disponibilidade em vaga que § 1.º A jornada mínima dos servidores atenderá à
vier a ocorrer em órgão ou entidade da administração conveniência da administração e poderá ser diferenciada de
municipal. acordo com a necessidade do serviço.
§ 2.º No aproveitamento terá preferência o servidor que § 2.º A jornada de trabalho poderá ser fixada de forma
estiver há mais tempo em disponibilidade e, no caso de distinta à do “caput” deste artigo, sempre que for exigido o
empate, o que contar com mais tempo de serviço público regime de escalonamento de trabalho para assegurar o
municipal. funcionamento dos serviços públicos ininterruptos,
respeitado o limite semanal.
Art. 62. O aproveitamento de servidor que se encontre em
disponibilidade dependerá de prévia comprovação de sua Art. 68. O servidor terá direito a repouso remunerado, em
capacidade física e mental, mediante inspeção por junta um dia da semana, preferencialmente aos domingos, bem
médica oficial. como nos dias de feriado civil e religioso, observado o disposto
§ 1.º Se julgado apto, o servidor assumirá o exercício do no § 2º do art 67.
cargo no prazo de 30 (trinta) dias, contados da publicação do § 1.º A remuneração do dia de repouso corresponderá a um
ato de aproveitamento. dia normal de trabalho para cada semana trabalhada.
§ 2.º Verificando-se a redução de sua capacidade física ou § 2.º Perderá a remuneração do repouso de que trata este
mental que inviabilize o exercício das atribuições antes artigo o servidor que durante a semana, não comparecer ao
desempenhadas, observar-se-á o disposto no art.44. serviço sem motivo justificado, observado, ainda o disposto no
§ 3.º Constatada a incapacidade definitiva para o exercício art. 79.
de qualquer atividade no serviço público, o servidor em Art. 69. O período extraordinário não está compreendido
disponibilidade será aposentado. nos limites previstos no art. 67, devendo ser remunerado com
a gratificação prevista no art. 89.
Art. 63. Será tornado sem efeito o aproveitamento e § 1.º O período extraordinário somente será assim
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em considerado quando requisitado justificadamente pela chefia
exercício no prazo estabelecido no § 1º do artigo anterior, imediata, não podendo exceder ao limite máximo de duas (2)
salvo em caso de doença comprova em inspeção médica oficial. horas diárias.
Parágrafo único – A hipótese prevista neste artigo § 2.º Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá o período
configurará abandono de cargo, apurado mediante processo extraordinário exceder ao limite máximo previsto no
administrativo na forma da Lei. parágrafo anterior, para atender à realização de serviços
inadiáveis, ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo
CAPÍTULO VII manifesto à administração, observado o disposto no art. 89.
DA SUBSTITUIÇÃO § 3.º Poderá ser adotado o sistema de compensação de
horários, desde que atendida a conveniência da administração
Art. 64. Os servidores ocupantes de cargos em comissão ou e a necessidade do serviço.
investidos em função gratificada terão substitutos indicados § 4.º A compensação a que se refere o parágrafo anterior
por ato da administração. será em dobro, em se tratando de serviço extraordinário
§ 1.º A substituição por período inferior a 30 (trinta) dias, executado aos domingos e feriados.
será acrescida de 10% (dez por cento) do valor
correspondente a referência de vencimento do servidor e por Art. 70. O horário do expediente nas repartições e o
período igual ou superior a 30 (trinta) dias fará jus a diferença controle da frequência do servidor serão estabelecidos em
de vencimento do titular do cargo. regulamento.
§ 2.º A substituição dar-se-á de forma automática nos
afastamentos ou impedimentos regulamentares do titular. Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração
exceda de 6 (seis) horas, conceder-se-á um intervalo para
Art. 65. Em caso excepcional, atendida a conveniência da repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo de 1 (uma)
administração, o titular do cargo de direção, chefia ou hora, não podendo exceder a 2 (duas) horas.
assessoramento poderá ser nomeado ou designado,
cumulativamente, como substituto para outro cargo da mesma CAPÍTULO II
natureza, até que se verifique a nomeação ou designação do DA REMUNERAÇÃO
titular. SEÇÃO I
Parágrafo único. Na hipótese prevista no “caput”, o DISPOSIÇÕES GERAIS
servidor poderá optar pela remuneração que lhe for mais
vantajosa. Art. 72. Remuneração é o vencimento do cargo, acrescido
das vantagens pecuniárias, permanentes ou temporárias,
Art. 66. Havendo excepcional interesse público, a estabelecidas em Lei.
substituição temporária de servidor efetivo far-se-á mediante
contratação por tempo determinado, na forma que a lei Art. 73. Nenhum servidor poderá receber, mensalmente, a
estabelecer. título de remuneração valores superiores aos limites
estabelecidos pela Constituição Federal.

Art. 74. A revisão geral da remuneração dos servidores


públicos municipais far-se-á anualmente, em data a ser fixada

Legislação Municipal 27
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

por lei especifica, sem distinção de índices, observando-se, Art. 82. São vantagens a serem pagas aos servidores:
sempre, os limites estabelecidos na Constituição Federal. I – gratificação natalina;
II – adicional por tempo de serviço;
Art. 75. Nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou III – adicional pelo exercício de atividades insalubres,
proventos, salvo por imposição legal ou mandado judicial. perigosas ou penosas;
Parágrafo único - Mediante autorização poderá haver IV – gratificação por serviço extraordinário;
consignação em folha de pagamento em favor de terceiros, por V - adicional noturno;
meio de celebração de termo próprio, a critério da VI – abono familiar
administração, até o limite máximo de 50% (cinquenta por VII – auxílio-funeral;
cento) da remuneração do servidor. VIII – gratificação de função;
IX – gratificação por encargos especiais;
Art. 76. A remuneração e os proventos não serão objeto de X – gratificação por condução de ambulância.
arresto, sequestro ou penhora, exceto nos cãs de decisão § 1.º As gratificações previstas neste artigo não se
judicial. incorporam aos vencimentos.
§ 2.º Os adicionais previstos nos incisos II, III e V,
Art. 77. As reposições e indenizações ao Erário, após incorporar-se-ão ao vencimento do servidor após 3 (três) anos
apuradas as causas em procedimento administrativo, poderão ininterrupto na prestação dos serviços.
ser descontadas em parcelas mensais não excedentes a 10%
(dez por cento) da remuneração ou proventos, Art. 82-A. O servidor público que venha a exercer a
independentemente de consentimento do servidor. qualquer título, cargo ou função que lhe proporcione
§ 1.º Quando constatado pagamento indevido ao servidor remuneração superior a do cargo que seja titular, ou a função
por erro no processamento da folha de pagamento, a reposição para a qual foi admitido, incorporará 1/10 (um décimo) dessa
será feita na forma prevista no “caput”. diferença por ano de efetivo exercício, até 10 (dez) décimos.
§ 2.º O servidor que, em débito com o erário, for demitido, (Incluído pela Lei Complementar nº 243/10)
exonerado ou tiver sua aposentadoria ou disponibilidade § 1º. A incorporação de vantagens pecuniárias a qualquer
cassada, sofrerá retenção das verbas a receber o valor título, concedida pela Administração com base na legislação
correspondente ao seu débito e, sendo o seu crédito aplicável à espécie, dar-se-á nas mesmas condições
insuficiente, terá o prazo de 30 (trinta) dias para quitar a estabelecidas no “caput” deste artigo.
diferença. § 2º. Será admitida apenas uma gratificação da mesma
§ 3.º Será inscrito em dívida ativa, para cobrança judicial, o espécie, que se fará pela de maior valor percebida pelo
débito que não for quitado no prazo previsto no parágrafo servidor no lapso temporal fixado no “caput” deste artigo.
anterior.
SUBSEÇÃO I
Art. 78. O recebimento de quantias indevidas poderá DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
ensejar processo administrativo disciplinar, para apuração de
responsabilidades. Art. 83. A gratificação natalina será paga, anualmente, a
todo servidor municipal, independentemente da remuneração
Art. 79. O servidor perderá: a que fizer jus.
I – a remuneração do dia que deixar de comparecer ao § 1.º A gratificação natalina corresponderá a 1/12 (um
serviço, salvo por motivo devidamente justificado ou por doze avos), por mês de efetivo exercício, da remuneração
moléstia devidamente comprovada. devida em dezembro do ano correspondente.
II – 1/3 (um terço) do vencimento diário quando § 2.º A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias de
comparecer ao serviço dentro da hora seguinte à marcada para exercício será tomada como mês integral, para efeito do
o início do expediente ou quando se retirar dentro da última parágrafo anterior.
hora do expediente. § 3.º A gratificação natalina será estendida aos inativos e
III – a remuneração, quando afastado por motivo de prisão pensionistas, com base nos proventos que perceberem na data
em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade do pagamento daquela.
competente, enquanto perdurar a prisão e durante o
afastamento, em virtude de condenação, por sentença Art. 84. Caso o servidor deixe o serviço público municipal,
definitiva, a pena que não determine perda do cargo. a gratificação natalina ser-lhe-á paga proporcionalmente ao
número de meses de exercício do ano, com base na
SEÇÃO II remuneração do mês em que ocorrer a exoneração ou
DO VENCIMENTO demissão.

Art. 80. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo SUBSEÇÃO II


exercício de cargo público com valor fixado em lei, reajustado DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
periodicamente, de modo a garantir-lhe o poder aquisitivo,
sendo vedada a sua vinculação. Art. 85. Por 3 (três) anos de exercício ininterrupto no
§ 1.º O vencimento é irredutível, desde que observados os serviço público municipal, será concedido ao servidor um
limites dispostos na Constituição Federal. adicional correspondente a 5% (cinco por cento) do
§ 2.º O menor vencimento não será inferior a 1 (um) salário vencimento de seu cargo efetivo.
mínimo vigente. Parágrafo único - O adicional é devido a partir do dia
CAPÍTULO III imediato àquele em que o servidor completar o tempo de
DAS VANTAGENS serviço exigido, independentemente de pedido.
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 81. Por vantagem compreende-se todo o estipêndio


diverso do vencimento recebido pelo servidor e que
represente efetivo proveito econômico.

Legislação Municipal 28
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SUBSEÇÃO III § 2.º Para efeito deste artigo, considera-se renda própria
DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, ou atividade remunerada o recebimento de importância igual
PERICULOSIDADE OU PENOSIDADE ou superior ao valor de referência vigente no Município.
§ 3.º Quando o pai e mãe forem servidores municipais,
Art. 86. Os servidores que habitualmente trabalham em ativos ou inativos, o abono familiar será concedido a apenas
locais insalubres ou em contato permanente com substâncias um dos servidores.
tóxicas ou com risco de vida fazem jus a um adicional. § 4.º Ao pai e mãe equiparam-se o padrasto e a madrasta e,
§ 1.º O servidor que fizer jus aos adicionais de na falta destes, os representantes legais dos incapazes.
insalubridade e periculosidade deverá optar por um deles, não
sendo acumuláveis estas vantagens. Art. 92. Ocorrendo falecimento do servidor, o abono
§ 2.º O direito ao adicional de insalubridade ou familiar continuará a ser pago a seus beneficiários, por
periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos intermédio da pessoa em cuja guarda se encontrem, enquanto
riscos que deram causa a sua concessão. fizer jus a concessão.
§ 1.º Com o falecimento do servidor e a falta do responsável
Art. 87. Haverá permanente controle da atividade de pelo recebimento do abono familiar, será assegurado aos
servidor em operações ou locais considerados penosos, beneficiários o direito à sua percepção, enquanto assim
insalubres ou perigosos. fizerem jus.
Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será § 2.º Passará a ser efetuado ao cônjuge sobrevivente o
afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das pagamento do abono familiar correspondente ao beneficiário
operações e locais previstos neste artigo, exercendo suas que vivia sob a guarda e sustento do servidor falecido, desde
atividades em local salubre e em serviço não perigoso. que aquele consiga autorização judicial para mantê-lo e ser seu
responsável.
Art. 88. Na concessão dos adicionais de penosidade, § 3.º Caso o servidor não haja requerido o abono familiar
insalubridade e periculosidade serão observadas as situações relativo a seus dependentes, o requerimento poderá ser feito
específicas das legislações próprias aplicáveis ao caso. após sua morte pela pessoa cuja guarda e sustento se
encontrem, operando seus efeitos a partir da data do pedido.
SUBSEÇÃO IV
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO Art. 93. O valor do abono familiar será igual a 5% (cinco
por cento) do salário mínimo vigente no Município, devendo
Art. 89. O serviço extraordinário será remunerado com ser pago a partir da data em que for protocolado o
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à hora de requerimento.
trabalho. Parágrafo único. O responsável pelo recebimento do abono
§ 1.º O serviço extraordinário realizado no horário familiar deverá apresentar no mês de julho de cada ano,
previsto no art. 90 será acrescido do percentual relativo ao declaração de vida e residência dos dependentes, sob pena de
serviço noturno em função de cada hora extra. ter o pagamento suspenso.
§ 2.º É expressamente proibido o pagamento do adicional
por serviço extraordinário, para servidor ocupante de cargo Art. 94. Nenhum desconto incidirá sobre o abono familiar,
em comissão. nem este servirá de base a qualquer contribuição, ainda que
para fins de previdência social.
SUBSEÇÃO V
DO ADICIONAL NOTURNO Art. 95. Todo aquele que, por ação ou omissão, der causa à
pagamento indevido de abono familiar ficará obrigada à sua
Art. 90. O serviço noturno, prestado em horário restituição, sem prejuízo das demais cominações legais.
compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5
(cinco horas) do dia seguinte, terá o valor/hora acrescido de SUBSEÇÃO VII
mais 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora DO AUXÍLIO FUNERAL
como 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos.
Parágrafo Único - Em se tratando de serviço Art. 96. O auxílio funeral é devido à família do servidor
extraordinário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá falecido, ainda que ao tempo de sua morte estivesse em
sobre o valor da hora normal de trabalho acrescido do disponibilidade, em valor equivalente a 2 (duas) vezes a menor
respectivo percentual extraordinário. referência de vencimento pago pelo Município.
§ 1.º No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será
SUBSEÇÃO VI pago somente em razão de um dos cargos ocupados.
DO ABONO FAMILIAR § 2.º O auxílio-funeral será autorizado à vista da certidão
de óbito, à pessoa da família que haver custeado o funeral.
Art. 91. Será concedido abono familiar ao servidor ativo ou
inativo: SUBSEÇÃO VIII
I - pelo cônjuge ou companheira do servidor que viva DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO
comprovadamente em sua companhia e que não exerça
atividade remunerada e nem tenha renda própria; Art. 97. Ao servidor investido em função gratificada a que
II - por filho menor de 14 (quatorze) anos de idade que não se refere o art. 22, será devida gratificação de função, a ser
exerça atividade remunerada e nem tenha renda própria; fixada em lei própria.
III - por filho inválido ou mentalmente incapaz, sem renda Parágrafo único. A gratificação de função é vantagem
própria. pecuniária de caráter transitório, devendo, ainda, ser
§ 1.º Compreende-se, neste artigo, o filho de qualquer observado o disposto no § 3º, do art. 22.
condição, enteado, o adotivo e o menor que, mediante
autorização judicial, estiver sob a guarda e o sustento do
servidor.

Legislação Municipal 29
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SUBSEÇÃO IX partir do dia imediato aquele em que o servidor atingir a idade


DA GRATIFICAÇÃO POR ENCARGOS ESPECIAIS limite de permanência no serviço ativo.

Art. 98. Será devida a gratificação por encargos especiais, a Art. 104. A aposentadoria voluntária ou por invalidez
ser fixada pelo Executivo, até o limite do vencimento do seu vigorará a partir da data da publicação do respectivo ato.
cargo, ao servidor, que a pedido da Administração, participar
de trabalho técnico ou científico, ou ainda, da implantação de Art. 105. A aposentadoria por invalidez será precedida de
sistema que visem o aprimoramento e a eficácia do serviço licença para tratamento de saúde, por período não excedente
público. a 24 (vinte e quatro) meses.
Parágrafo único. O pagamento da gratificação por encargos § 1.º Expirado o período de licença e não estando em
especiais exclui o direito à gratificação por serviço condições de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o
extraordinário. servidor será aposentado.
§ 2.º O lapso de tempo compreendido entre o término da
SUBSEÇÃO X licença e a publicação do ato de aposentadoria será como de
DA GRATIFICAÇÃO DE CONDUÇÃO DE AMBULÂNCIA prorrogação da licença.

Art. 99. Será devida gratificação de condução de Art. 106. Cessados os motivos da aposentadoria por
ambulância aos servidores que exerçam essa atribuição, à invalidez o servidor deverá retornar á atividade, computando,
razão de 10% (dez por cento) do vencimento de seu cargo. para todos os fins, exceto para promoção e férias o período de
afastamento.
CAPÍTULO V Art. 107. Para efeito de aposentadoria, é assegurada a
DA APOSENTADORIA E DA PENSÃO contagem recíproca de tempo de contribuição na
Administração Pública e na atividade privada, rural e urbana.
Art. 100. Os servidores municipais, titulares de cargo
efetivo, serão aposentados, observados os artigos 239, 240, Art. 108. Os proventos de aposentadoria, por ocasião da
241 e 242, das Disposições Transitórias. sua concessão, serão calculados com base na remuneração do
I – por invalidez permanente, sendo os proventos servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria e
proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente corresponderão à totalidade da remuneração.
de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, Parágrafo único. Não integram os proventos as vantagens
contagiosa ou incurável, observado o disposto nos artigos 102, temporárias ou transitórias.
104 e 105;
II – compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade, com Art. 109. Os proventos de aposentadoria e a pensão, por
proventos proporcionais ao tempo de contribuição; ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remuneração
III – voluntariamente, desde que cumprido o tempo do respectivo servidor no cargo efetivo em que se deu a
mínimo de 10 (dez) anos de efetivo exercício no serviço aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da
público e 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se dará a pensão.
aposentadoria, observadas as seguintes condições:
a) 60 (sessenta) anos de idade e 35 (trinta e cinco) anos de Art. 110. O benefício da pensão será igual aos proventos de
contribuição, se homem e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade aposentadoria percebidos pelo servidor falecido, ou
e 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher; corresponderá ao valor dos proventos a que teria direito o
b) 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 servidor em atividade na data do seu falecimento, observados
(sessenta) anos de idade, se mulher, com proventos os artigos 107 e 108.
proporcionais ao tempo de contribuição.
Parágrafo único. É vedada a adoção de requisitos e Art. 111. Os proventos de aposentadoria e a pensão não
critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos poderão ser inferiores a 1 (um) salário mínimo vigente, nem
servidores a que se refere este artigo, ressalvados os casos de superiores aos limites estabelecidos pela Constituição Federal.
atividades exercidas exclusivamente sob condições especiais
que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidos em Art. 112. Observado o disposto no artigo anterior, os
lei complementar federal. proventos de aposentadoria e a pensão serão revistos na
mesma data e proporção, sempre que se modificar a
Art. 101. O tempo de contribuição federal, estadual ou remuneração dos servidores em atividade, sendo estendidos
municipal será contado para efeito de aposentadoria. aos inativos e aos pensionistas quaisquer benefícios ou
Parágrafo único – Na contagem do tempo de contribuição vantagens posteriormente concedidos aos servidores em
não serão computados: atividade, inclusive quando decorrentes da transformação ou
I – qualquer forma de tempo fictício; reclassificação do cargo ou função em que se deu a
II – o tempo prestado concomitantemente com outro aposentadoria, ou que serviu de referência para a concessão
cargo, emprego ou função; do benefício da pensão.
III – o tempo já computado para a concessão de qualquer
aposentadoria prevista nesta Lei ou por regime de previdência Art. 113. O disposto nesta Seção não se aplica aos
social diverso do municipal. ocupantes de cargo em comissão.
IV – o tempo que ultrapassar o exigido para a obtenção de
aposentadoria. CAPÍTULO VI
DAS LICENÇAS
Art. 102. Entende-se por doença profissional a que SEÇAO I
decorrer das condições do serviço, assim caracterizada, DISPOSIÇÕES GERAIS
expressamente, em laudo da junta medica municipal.
Art. 114. Conceder-se-á ao servidor licença:
Art. 103. A aposentadoria compulsória será automática e I – para tratamento de saúde;
declarada por ato da autoridade competente, com vigência a II – a gestante, a adotante e a paternidade;
III – por acidente em serviço;

Legislação Municipal 30
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

IV – por motivo de doença em pessoa da família; SEÇÃO III


V – para o serviço militar; DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LICENÇA
VI – para concorrer a cargo eletivo; PATERNIDADE
VII – para desempenho de mandato classista;
VIII – para tratar de interesse pessoal; Art. 121. Será concedida licença à servidora gestante, por
IX – por prêmio por assiduidade. 120 (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da
§ 1.º O servidor somente poderá permanecer em licença da remuneração.
mesma espécie por período superior a 24 (vinte e quatro)
meses nos casos dos incisos III, V e VII. Art. 121. Será concedida licença à servidora gestante, por
§ 2.º Findo o período de licença, deverá o servidor retornar 180 (cento e oitenta) dias consecutivos, sem prejuízo da
ao seu cargo no primeiro dia útil subsequente, sob pena de ser remuneração. (Alterado pela Lei Complementar nº 208/08)
considerado como faltoso, salvo justificação prevista em lei. § 1.º A licença poderá ter início a partir do primeiro dia do
§ 3.º Fica vedado o exercício de atividade remunerada nono mês de gestação, salvo antecipação por prescrição
durante o período das licenças previstas nos incisos I a IV. médica.
§ 4.º Ao servidor que se encontrar em estágio probatório, § 2.º No caso de nascimento prematuro a licença terá início
só poderão ser concedidas às licenças previstas nos incisos I, a partir do parto.
II, III e V. § 3.º No caso de natimorto, decorrido 30 (trinta) dias do
§ 5.º Ao ocupante de cargo em comissão só poderão ser evento, a servidora reassumirá o exercício.
concedidas às licenças previstas nos incisos I, II, III e IX deste § 4.º No caso de aborto atestado por médico oficial, à
artigo. servidora terá direito a 30 (trinta) dias de repouso
remunerado, a contar do evento.
Art. 115. A licença concedida dentro de 30 (trinta) dias do § 5.º O direito previsto no “caput” estende-se à servidora
término de outra da mesma espécie será considerada como adotante do recém nascido de até 6 (seis) meses de idade, a
prorrogação. contar da obtenção da guarda judicial do adotado,
devidamente comprovada perante a Administração.
Art. 116. O pedido de prorrogação de qualquer licença
deverá ser apresentado, no mínimo, 3 (três) dias úteis antes de Art. 122. (Revogado pela Lei Complementar nº 208/08)
findo o prazo respectivo.
Parágrafo único. Indeferido o pedido, contar-se-á como Art. 123. A servidora que adotar ou obtiver a guarda
licença o período compreendido entre a data da conclusão judicial de criança que não seja recém nascida e tenha até 4
desta e a do conhecimento do despacho denegatório da (quatro) anos de idade serão concedidos 90 (noventa) dias de
prorrogação pretendida. licença remunerada, para ajustamento do adotado ou tutelado
ao novo lar.
SEÇÃO II Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de
DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE criança com mais de 4 (quatro) e menos de 8 (oito) anos de
idade, o prazo de que trata este artigo será de 60 (sessenta)
Art. 117. Será concedida ao servidor licença para dias, e de 30 (trinta) dias se a idade for superior a 8 (oito) anos.
tratamento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em
perícia médica oficial, sem prejuízo da remuneração a que fizer Art. 124. Pelo nascimento de filhos ou adoção, o servidor
jus. terá direito a licença paternidade de 7 (sete) dias consecutivos.

Art. 118. Toda licença para tratamento de saúde terá que


ser avalizada por médico indicado pela Administração SEÇÃO IV
Municipal, devendo o servidor ser submetido a inspeção DA LICENÇA POR ACIDENTE DE SERVIÇO
médica para homologação do atestado de saúde.
§ 1.º Sempre que necessária, a inspeção medica será Art. 125. Será licenciado, com remuneração integral, o
realizada na residência do servidor ou no estabelecimento servidor acidentado em serviço.
hospitalar que se encontrar internado. § 1.º Configura-se acidente em serviço o dano físico ou
§ 2.º Inexistindo médico do órgão ou entidade no local mental sofrido pelo servidor e que se relacione mediata ou
onde se encontrar o servidor, será aceito atestado emitido por imediatamente com o exercício do cargo.
médico particular, que deverá ser ratificado por médico do § 2.º Equipara-se ao acidente em serviço o dano:
Município. I – decorrente de agressão sofrida, sem provocação, pelo
servidor no exercício do cargo.
Art. 119. Findo o prazo da licença, o servidor poderá ser II – sofrido no percurso da residência para o trabalho ou
submetido a nova inspeção medica, que poderá concluir pela vice-versa.
volta ao serviço, pela prorrogação da licença ou pela
aposentadoria. Art. 126. O servidor que, na hipótese de acidente em
§ 1.º No curso da licença poderá o servidor requerer serviço, necessite de tratamento especializado, inexistindo
inspeção médica, caso se julgue em condições de reassumir o meios e recursos adequados em instituição pública, poderá ser
exercício ou com direito a aposentadoria. tratado em instituição privada, correndo as despesas por conta
§ 2.º O lapso de tempo compreendido entre o término da do Município.
licença e a publicação do ato de aposentadoria será Parágrafo único – O tratamento previsto neste artigo
considerado como de prorrogação de licença. deverá ser recomendado por junta médica oficial.

Art. 120. Caso fique comprovado que o servidor gozou, Art. 127. A prova do acidente será feita no prazo de 10
indevidamente, de licença para tratamento de saúde, o mesmo (dez) dias, prorrogáveis quando as circunstancias o exigirem.
estará sujeito a penalidade de suspensão, pelo período de 60
(sessenta) dias, observado o disposto no artigo 179, § 2o.

Legislação Municipal 31
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

SEÇÃO V § 1.º A licença poderá ser interrompida a qualquer tempo,


DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA a pedido do servidor ou para atender ao interesse da
FAMÍLIA administração.
§ 2.º Não se concederá nova licença antes de decorridos 5
Art. 128. Poderá ser concedida licença ao servidor por (cinco) anos do término da anterior.
motivo de doença do cônjuge ou convivente, pai, mãe, padrasto § 3.º Ao servidor ocupante de cargo em comissão não se
ou madrasta, filhos ou dependente que conste do seu concederá a licença de que trata este artigo.
prontuário funcional, mediante comprovação médica.
§ 1.º A licença somente será deferida se a assistência direta SEÇÃO V
do servidor for indispensável e não puder ser prestado DA LICENÇA-PRÊMIO
simultaneamente com o exercício do cargo, o que deverá ser
apurado através do acompanhamento social. Art. 134. Após 5 (cinco) anos de exercício ininterrupto, o
§ 2.º A licença será concedida sem prejuízo da servidor fará jus a 3 (três) meses de licença, a título de prêmio
remuneração do cargo efetivo, até 30 (trinta) dias, podendo por assiduidade, com remuneração de seu cargo.
ser prorrogada por igual período, mediante parecer da junta § 1.º Para o servidor gozar a licença-prêmio por
médica, e excedendo estes prazos, sem remuneração. assiduidade com as vantagens do cargo que estiver exercendo,
§ 3.º A licença prevista neste artigo só será concedida se deverá ter pelo menos 2 (dois) anos de efetivo exercício no
não houver prejuízo para o serviço público. mesmo.
§ 2.º Somente o tempo de serviço público prestado ao
SEÇÃO VI Município será computado para efeito da licença-prêmio.
DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR § 3.º A licença-prêmio poderá ser gozada de uma só vez ou
fracionada e neste último caso, em períodos não inferiores a
Art. 129. Ao servidor convocado para o serviço militar será 30 (trinta) dias, devendo o servidor para esse fim, declarar
concedida licença à vista de documento oficial. expressamente em requerimento, o número de dias que
pretende gozar.
Art. 130. Ao servidor desincorporado será concedido prazo § 4.º Conforme opção do servidor e conveniência da
não excedente a 7 (sete) dias para reassumir o exercício, sem Administração, a licença-prêmio poderá ser convertida em
perda do cargo. metade do período em pecúnia, com base na remuneração
percebida à época da aquisição do direito, respeitando o
SEÇÃO VII disposto no § 1o, deste artigo.
DA LICENÇA PARA CONCORRER A CARGO ELETIVO § 5.º O pedido de licença-prêmio deverá ser instruído com
certidão de tempo de serviço, expedido pela unidade
Art. 131. O servidor terá direito à licença, sem administrativa competente.
remuneração, durante o período que mediar entre a sua § 6.º O servidor deverá aguardar em exercício a apreciação
escolha, em convenção partidária, como candidato a cargo de seu pedido de gozo de licença-prêmio.
eletivo e a véspera do registro de sua candidatura perante a
Justiça Eleitoral. Art. 135. Não se concederá licença-prêmio ao servidor que
§ 1.º A partir do registro de sua candidatura e até o 3o. no período aquisitivo:
(terceiro) dia seguinte ao da eleição, mediante comunicação I – sofrer penalidade disciplinar administrativa de
por escrito, será concedida ao servidor licença, percebendo, o qualquer natureza;
mesmo, seus vencimentos como se em exercício estivesse. II – afastar-se do cargo em virtude de:
§ 2.º O servidor ocupante de cargo em comissão ou a) licença por motivo de doença em pessoa da família por
investido em função gratificada, para concorrer a cargo eletivo período superior a 30 (trinta) dias;
será desligado de suas funções, a partir da escolha de seu nome b) licença para tratar de interesses particulares;
em convenção partidária. c) licença para exercício de mandato classista;
d) licença para concorrer a cargo eletivo;
SEÇÃO VIII e) condenação à pena privativa de liberdade por sentença
DA LICENÇA PARA DESEMPENHO DE MANDATO definitiva;
CLASSISTA III – afastar-se do cargo em virtude de licença médica por
um período superior a 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não.
Art. 132. É assegurado ao servidor o direito a licença
remunerada para o desempenho de mandato em Art. 136. Cumprirá a autoridade competente tendo em
confederação, federação, associação de classe de âmbito vista o interesse e a conveniência da Administração,
nacional ou sindicato representativo da categoria ou entidade determinar o período de gozo da licença-prêmio, bem como se
fiscalizadora da profissão. a mesma será concedida por inteiro ou parceladamente.
§ 1.º Somente poderá ser licenciado o servidor eleito para Parágrafo único. O número de servidores em gozo
o cargo de Presidente nas referidas entidades. simultâneo de licença-prêmio não será superior a 1/3 (um
§ 2.º A licença terá duração igual à do mandato, podendo terço) da lotação da respectiva unidade administrativa.
ser prorrogada, no caso de reeleição, e por uma única vez.
CAPÍTULO VII
SEÇÃO IV DAS FÉRIAS
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSE
PARTICULAR Art. 137. Todo servidor terá direito, após cada período de
12 (doze) meses de trabalho, ao gozo de 1 (um) período de 30
Art. 133. A critério da Administração poderá ser concedida (trinta) dias de férias remuneradas, de acordo com a escala
ao servidor estável licença para tratar de assuntos organizada pela chefia imediata.
particulares, pelo prazo de até 2 (dois) anos consecutivos, sem § 1.º É vedado levar a conta de férias qualquer falta ao
remuneração. serviço.

Legislação Municipal 32
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

§ 2.º As férias serão reduzidas a 15 (quinze) dias quando o b) casamento, civil, contados da realização do ato.
servidor contar, no período aquisitivo, com mais de 10 (dez) IV – por 2 (dois) dias, em razão do falecimento de avós, tios,
faltas não justificadas ao trabalho. padrasto, madrasta, enteados, menor sob tutela, genro e nora.
§ 3.º Durante as férias o servidor terá direito além do
vencimento a todas as vantagens que percebia no momento Art. 149. Poderá ser concedido horário especial ao
que passou a fruí-las. servidor estudante, quando comprovada a incompatibilidade
§ 4.º Decorrido o prazo de 3 (três) anos contados do entre o horário escolar e o de trabalho, sem prejuízo do
período aquisitivo, as férias não gozadas poderão ser exercício do cargo.
integralmente indenizadas.
Art. 150. O servidor poderá ser cedido, mediante
Art. 138. Perderá o direito de férias o servidor que no requisição, para ter exercício em outro órgão ou entidade dos
período aquisitivo houver gozado das licenças por motivo de Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
doença em pessoa da família por período superior a 30 (trinta) Municípios, nas seguintes hipóteses:
dias, para tratar de interesse particular ou licença para I – para exercício de cargo em comissão;
concorrer a cargo eletivo. II – em casos previstos em leis especificas;
III – em caso de comprimento de convênio ou acordo.
Art. 139. No cálculo de abono pecuniário será considerado Parágrafo único. O ônus da remuneração será do órgão ou
o valor do adicional de férias, previsto no artigo 117 da Lei entidade requisitante, salvo nos casos previstos em lei,
Orgânica do Município. convênio ou acordo.

Art. 140. Independentemente de solicitação, será pago ao CAPÍTULO IX


servidor, por ocasião das férias, um adicional de 50% DO EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO
(cinquenta) por cento de sua remuneração correspondente ao
período de férias. Art. 151. Ao servidor municipal investido em mandato
eletivo aplicam-se as seguintes disposições:
Art. 141. As férias dos servidores do magistério serão I – tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital,
reguladas por normas especificas. ficará afastado do cargo;
II – investido no mandato de Prefeito será afastado do
Art. 142. No caso de exoneração será devida ao servidor a cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
remuneração correspondente ao período de férias cujo direito III – investido no mandato de Vereador:
tenha adquirido. a) havendo compatibilidade de horários, perceberá as
Parágrafo único. O servidor exonerado antes de 12 (doze) vantagens de seu cargo, sem prejuízo do subsidio do cargo
meses de serviço terá direito também a remuneração relativa eletivo;
ao período aquisitivo incompleto, na proporção de 1/12 (um b) não havendo compatibilidade de horários, será afastado
doze avos) por mês de serviço ou fração superior a 14 do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração.
(quatorze) dias. § 1.º Para efeito de benefício previdenciário, no caso de
afastamento, os valores serão determinados como se em
Art. 143. O servidor em regime de acumulação lícita exercício estivesse.
perceberá o adicional de férias calculado sobre a remuneração § 2.º O servidor investido em mandato eletivo municipal é
do cargo cujo período aquisitivo lhe garanta o gozo das férias. inamovível e não poderá ser exonerado de ofício pelo tempo
Parágrafo único – O adicional de férias será devido em de duração de seu mandato.
função de cada cargo exercido pelo servidor.
CAPÍTULO X
Art. 144. As férias somente poderão ser interrompidas por DO DIREITO DE PETIÇÃO
imperiosa necessidade de serviço.
Art. 152. E assegurado ao servidor peticionar a
Art. 145. O servidor casado com servidora do Município ou Administração Municipal em defesa de direito ou de interesse
vice-versa poderá gozar férias no mesmo período, desde que legítimo, com relação a sua vida funcional independentemente
não haja prejuízo para o serviço. de qualquer pagamento.

Art. 146. A pedido do servidor será permitida a conversão Art. 153. O requerimento será dirigido à autoridade
de 50% (cinquenta por cento) de suas férias em pecúnia. competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio
Parágrafo único. O pedido de férias em pecúnia deverá ser daquela a que estiver imediatamente subordinado o
protocolado junto a unidade administrativa competente, pelo requerente.
menos 15 (quinze) dias antes de seu vencimento. § 1.º O chefe imediato do requerente terá o prazo de 2
(dois) dias úteis, após o recebimento do requerimento, para
CAPÍTULO VIII remetê-lo a autoridade competente.
DAS CONCESSÕES § 2.º O requerimento será decidido no prazo máximo de 20
(vinte) dias, salvo em casos que obriguem a realização de
Art. 147. Nenhum servidor poderá faltar ao serviço sem diligência ou estudo especial, quando o prazo máximo será de
causa justificada. 90 (noventa) dias.

Art. 148. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor Art. 154. Cabe pedido de reconsideração a autoridade que
ausentar-se do serviço: houver o ato ou proferido a primeira decisão denegatória.
I – por 1 (um) dia, em cada 6 (seis) meses, para doação de § 1.º O pedido de reconsideração deverá ser decidido no
sangue; prazo máximo de 30 (trinta) dias.
II – por 1(um) dia, para se alistar como eleitor; § 2.º Não se admitirá mais de um pedido de reconsideração
III - por 5 (cinco) dias úteis, em razão de: para o mesmo assunto.
a) falecimento do cônjuge, convivente, pais, filhos ou
adotados e irmãos;

Legislação Municipal 33
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 155. Caberá recurso: VIII – manter conduta compatível com a moralidade
I – do indeferimento do pedido de reconsideração; administrativa;
II – das decisões sobre os recursos sucessivamente IX – ser assíduo e pontual no serviço;
interpostos. X – tratar com urbanidade as pessoas;
§ 1.º O recurso será dirigido à autoridade imediatamente XI – representar contra ilegalidade ou abuso de poder;
superior a que tiver expedido o ato ou proferido a decisão e, XII – apresentar-se ao serviço em boas condições de asseio
sucessivamente, em escala ascendente, as demais autoridades. e convenientemente trajado ou com o uniforme que for
§ 2.º O recurso será encaminhado, de imediato, por determinado;
intermédio da autoridade a que estiver imediatamente XIII – seguir as normas de saúde, higiene e segurança do
subordinado o requerente. trabalho;
XIV – frequentar programas de treinamento ou de
Art. 156. O prazo para interposição de pedido de capacitação instituídos ou financiados pela Administração;
reconsideração ou de recurso e de 15 (quinze) dias a contar da XV – colaborar para o aperfeiçoamento dos serviços,
publicação ou ciência pelo interessado da decisão recorrida. sugerindo a Administração medidas que julgar necessárias;
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, a decisão será XVI – providenciar para que esteja sempre atualizado o seu
afixada em local próprio destinado a publicações de atos assentamento individual, bem como sua declaração de família;
oficias. XVII – submeter-se a inspeção médica determinada por
autoridade competente;
Art. 157. O recurso poderá ser recebido, com efeito § 1.º A representação de que se trata o inciso XI será
suspensivo, mediante fundamentação. apreciada pela autoridade superior àquela contra a qual é
Parágrafo único – Em caso de provimento de pedido de formulada, assegurando-se ao representado o direito de
reconsideração ou recurso, os efeitos da decisão retroagirão à defesa.
data do ato impugnado. § 2.º Será considerado como coautor o superior
hierárquico que, recebendo denúncia ou representação verbal
Art. 158. O direito de requerer prescreve: ou escrita a respeito irregularidade ou de falta cometida por
I – em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão, de seu subordinado, deixar de tomar as providencias necessárias
cassação de aposentadoria, que coloquem o servidor em a sua apuração.
disponibilidade ou que afetem interesse patrimonial e créditos
resultantes das relações de trabalho; CAPÍTULO II
II – em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo DAS PROIBIÇÕES
quando outro prazo for fixado em lei.
Parágrafo único – O prazo de prescrição será contado da Art. 164. Ao servidor é proibido:
data da publicação do ato impugnado ou da data da ciência, I – ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
pelo interessado, quando o ato não for publicado. prévia autorização do chefe imediato;
II – recusar fé a documentos públicos;
Art. 159. O pedido de reconsideração e o recurso, quando III – opor resistência injustificada ao andamento de
cabíveis, suspendem a prescrição. documento e processo ou à execução de serviço;
IV – promover manifestação de apreço ou desapreço no
Art. 160. A prescrição é de ordem pública, não podendo ser recinto da repartição;
relevada pela Administração. V – tratar de assuntos particulares em seu ambiente de
trabalho;
Art. 161. Para o exercício do direito de petição, é VI – referir-se de modo depreciativo ou desrespeitoso às
assegurada vista do processo ou documento, na repartição, ao autoridades públicas ou aos atos do Poder Público, mediante
servidor ou a procurador por ele constituído. manifestação escrita ou oral, podendo, porém, criticar ato do
Poder Público, do ponto de vista doutrinário ou da organização
Art. 162. A Administração deverá rever seus atos, a do serviço, em trabalho assinado;
qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade. VII – cometer à pessoa estranha à repartição, fora dos
casos previstos em lei, o desempenho de atribuições que sejam
TÍTULO III de sua responsabilidade ou de seu subordinado;
DO REGIME DISCIPLINAR VIII – compelir ou aliciar outro servidor no sentido de
CAPÍTULO I filiação à associação profissional, sindical ou partido político;
DOS DEVERES IX – retirar, modificar ou substituir, sem prévia anuência
da autoridade competente, qualquer documento ou objeto da
Art. 163. São deveres do servidor: repartição, com o fim de criar direitos ou obrigações ou de
I – exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; alterar a verdade dos fatos;
II – ser leal as instituições a que servir; X – recusar-se ao uso de equipamento de proteção
III – observar as normas legais e regulamentares; individual destinado à proteção de sua saúde ou integridade
IV – cumprir as ordens superiores, exceto quando física, ou à redução dos riscos inerentes ao trabalho;
manifestadamente ilegais; XI – ingerir bebida alcoólica ou fazer uso de substância
V – atender com presteza: entorpecente durante o horário do trabalho ou apresentar-se
a) ao público em geral, prestando as informações habitualmente sob sua influência ao serviço;
requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; XII – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou
b) a expedição de certidões requeridas para defesa de outrem em detrimento da dignidade da função pública;
direito ou esclarecimento de situação de interesse pessoal; XIII – participar de gerência ou administração de empresa
c) as requisições para a defesa da Fazenda Pública; privada, de sociedade civil, ou comércio e, nessa qualidade,
VI – levar ao conhecimento da autoridade superior as transacionar com o Município, exceto se a transação for
irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo que procedida de licitação;
exerce; XIV – atuar como procurador ou intermediário junto a
VII – zelar pela economia do material e pela conservação repartições públicas municipais, salvo quando se tratar de
do patrimônio público;

Legislação Municipal 34
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

benefícios previdenciários ou assistências de parentes até Parágrafo único. As responsabilidades civil e penal serão
segundo grau, de cônjuge ou conveniente; apuradas e punidas na forma da legislação federal pertinente.
XV – receber propina, comissão, presente ou vantagem de
qualquer espécie, em razão de suas atribuições; Art. 172. A indenização de prejuízo dolosa ou
XVI – praticar usura sob qualquer de suas formas; culposamente causado ao Erário somente será reparada na
XVII – proceder de forma desidiosa; forma prevista no art. 77, na falta de outros bens que
XVIII – utilizar pessoal ou recursos materiais de repartição assegurem a execução do débito pela via judicial.
em serviços ou atividades particulares;
XIX – cometer a outro servidor atribuições de seu cargo, Art. 173. A responsabilidade administrativa resulta de ato
exceto em situações transitórias ou de emergência; omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou
XX – exercer qualquer atividade que seja incompatível com função.
o exercício do cargo ou função e com horário de trabalho;
XXI – praticar atos de sabotagem contra o serviço público. Art. 174. As sanções civis, penais e administrativas
poderão ser aplicadas cumulativamente, sendo independentes
CAPÍTULO III entre si.
DA ACUMULAÇÃO
Art. 175. A responsabilidade administrativa dos servidores
Art. 165. É vedada a acumulação remunerada de cargos será afastada no caso de absolvição criminal que negue a
públicos, exceto: existência do fato ou a sua autoria.
I – a de dois cargos de professor;
II – a de um cargo de professor com outro técnico ou CAPÍTULO V
científico; DAS PENALIDADES
III – a de dois cargos ou empregos privativos de
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. Art. 176. São penalidades disciplinares:
§ 1.º A proibição de acumular estende-se a empregos e I – advertência;
funções em autarquias, fundações, empresas públicas, II – suspensão;
sociedades controladas direta ou indiretamente pela União, III – demissão;
pelo Distrito Federal, pelos Estados e pelos Municípios. IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
§ 2.º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica V – destituição de cargo em comissão.
condicionada à comprovação da compatibilidade de horários,
observados os limites a que se refere o art. 73. Art. 177. Na aplicação das penalidades serão consideradas
a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que
Art. 166. É vedada a percepção simultânea de proventos de dela provirem para o serviço público, as circunstâncias,
aposentadoria no serviço público com a remuneração de agravantes e atenuantes, bem como os antecedentes
cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos funcionais.
acumuláveis na forma do artigo anterior, ressalvados os § 1.º As penas impostas aos servidores serão registradas
direitos dos servidores que ingressaram no serviço público em prontuário.
por concurso público, até a data 16/12/1998, conforme art. § 2.º O ato de imposição da penalidade mencionará sempre
11, da Emenda constitucional nº 20. o fundamento legal da sanção disciplinar.

Art. 167. O servidor não poderá exercer mais de um cargo Art. 178. A advertência será aplicada, por escrito, nos casos
em comissão, salvo na hipótese prevista no art. 65. de violação da proibição constante do art. 163, nos incisos I a
X, e de inobservância de dever funcional previsto no art. 164 e
Art. 168. O servidor que acumular licitamente 2 (dois) em demais leis, regulamentos ou normas internas, desde que
cargos de carreira, quando investido em cargo de provimento não justifique imposição de penalidade mais grave.
em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos.
Parágrafo único. O servidor que se afastar dos 2 (dois) Art. 179. A suspensão será aplicada em caso de
cargos que ocupa poderá optar pela soma da remuneração reincidência das faltas punidas com a advertência e de violação
destes ou pela do cargo em comissão. das demais proibições que não tipificarem infração sujeita à
penalidade de demissão, não podendo exceder 90 (noventa)
Art. 169 Verificada em processo administrativo a dias.
acumulação proibida e não havendo prova de má-fé, o servidor § 1.º Será punido com suspensão pelo prazo de 15 (quinze)
optará pela remuneração de um dos cargos ou funções. dias o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser
Parágrafo único. Provada a má-fé, perderá o cargo ou submetido à inspeção médica determinada pela autoridade
função que exercia há mais tempo e será obrigado a restituir o competente, cessando os efeitos da penalidade, uma vez
que tiver percebido indevidamente, sem prejuízo do cumprida a determinação.
procedimento penal cabível. § 2.º O servidor suspenso perderá durante o período de
suspensão, todas as vantagens e os direitos do exercício do
Art. 170. As autoridades e os chefes de serviço que tiverem cargo.
conhecimento de que qualquer de seus subordinados acumula, § 3.º Quando houver conveniência para o serviço público,
indevidamente, cargos ou funções públicas, comunicarão o a penalidade de suspensão poderá ser convertida em multa,
fato ao órgão de pessoal, para fins indicados no artigo anterior, equivalente 50% (cinquenta por cento), por dia, de
sob pena de co-responsabilidade. remuneração, ficando o servidor obrigado a permanecer em
serviço.
CAPÍTULO IV
DAS RESPONSABILIDADES Art. 180. As penalidades de advertência e de suspensão
terão seus registros cancelados após o decurso de 3 (três) e 5
Art. 171. O servidor responde civil, penal e administrativo (cinco) anos de efetivo exercício, respectivamente, se o
pelo exercício irregular de suas atribuições. servidor não houver, nesse período praticado nova infração
disciplinar.

Legislação Municipal 35
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Parágrafo único. O cancelamento da penalidade não surtirá imediatamente inferior àquelas mencionada no inciso I,
efeito retroativo. quando se tratar de suspensão inferior a 30 (trinta) dias;
IV – pelas chefias e direções competentes na forma dos
Art. 181. A demissão será aplicada nos seguintes casos: respectivos regimentos ou regulamentos, em caso de
I – prática de crime contra a Administração Pública; advertência.
II – abandono do cargo;
III – inassiduidade habitual; Art. 189. Ação disciplinar prescreverá em:
IV – improbidade administrativa; I – 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
V – incontinência pública e conduta escandalosa; demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
VI – insubordinação grave em serviço; destituição do cargo em comissão;
VII – ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, II – 2 (dois) anos quanto a suspensão;
salvo em legítima defesa ou defesa de outrem; III – 180 (cento e oitenta) dias quanto à advertência.
VIII – aplicação irregular de dinheiro público; § 1.º o prazo de prescrição começa a correr da data em que
IX – revelação de segredo apropriado em razão do cargo; o fato se tornou conhecido pela autoridade competente para
X – lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio aplicação da pena.
municipal; § 2.º Os prazos de prescrições previstos na lei penal
XI – acumulação ilegal de cargos, funções ou empregos aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
públicos, inclusive de proventos deles decorrentes, quando como crime.
eivados de má-fé; § 3.º A abertura de sindicância ou a instauração de
XII – transgressões ao art. 163, nos incisos XI a XVII; processo disciplinar suspende a prescrição, até a decisão final
XIII – reincidência das faltas penalizadas com suspensão, proferida por autoridade competente.
observando o disposto no art. 179.
TÍTULO IV
Art. 182. Será cassada a aposentadoria ou disponibilidade DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
do inativo que houver praticado na atividade falta punível com CAPÍTULO I
a demissão. DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 183. A destituição de servidor comissionado, não Art. 190. A autoridade que tiver ciência de irregularidade
ocupante de cargo efetivo, será aplicada nos casos de infração no serviço público é obrigada a promover a sua apuração
sujeita à penalidade de demissão. imediata mediante sindicância ou processo disciplinar,
assegurada ampla defesa ao acusado.
Art. 184. A demissão de cargo efetivo ou a destituição de
cargo em comissão nos casos previstos nos incisos IV, VIII e X Art. 191. As denúncias sobre irregularidades deverão ser
do art. 181, implica o ressarcimento ao Erário, sem prejuízo de feitas por escrito e, sendo fundadas, serão objeto de apuração.
ação penal cabível. Parágrafo único – Quando o fato narrado não configurar
infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada,
Art. 185. A demissão do cargo efetivo ou a destituição de por falta de objeto.
cargo em comissão por infringência ao art. 181, incisos V, IX e
XIII, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em Art. 192. A critério da autoridade competente,
cargo público do Município pelo prazo mínimo de 5 (cinco) considerando a denúncia de irregularidade a ser apurada, a
anos. sindicância poderá ser realizada por um servidor ou uma
§ 1.º O prazo a que se refere o caput deste artigo será de 15 comissão composta de 3 (três) servidores.
(quinze) anos nos casos de infringência ao art. 181, incisos, I,
VIII, X e XI. Art. 193. Da sindicância poderá resultar:
§ 2.º Ainda que haja transcorrido o prazo a que se refere I – arquivamento do processo;
este artigo, a nova investidura somente poderá se dar após o II – aplicação de penalidade, de advertência ou suspensão
ressarcimento, com o valor atualizado, dos danos ou prejuízos de até 30 (trinta) dias.
decorrentes das faltas em razão das quais foram as penas III – instauração de processo disciplinar.
aplicadas.
Art. 194. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor
Art. 186. Configura abandono de cargo a ausência ensejar a imposição de penalidade de suspensão por 30
injustificada do servidor por mais de 30 (trinta) dias (trinta) dias, demissão, cassação de aposentadoria ou
consecutivos. disponibilidade, ou ainda destituição de cargo em comissão,
será obrigatória a instauração de processo disciplinar.
Art. 187. Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao
serviço, sem causa justificada, por 30 (trinta) dias, CAPÍTULO II
intercaladamente, durante o período de 12 (doze) meses. DO AFASTAMENTO PREVENTIVO

Art. 188. As penalidades disciplinares serão aplicadas: Art. 195. Como medida cautelar, e afim de que o servidor
I – pelo Prefeito, pelo Presidente ou Mesa da Câmara não venha a influir na apuração de irregularidade, a
Municipal e pelo dirigente superior de autarquia e fundação, autoridade instauradora do processo disciplinar poderá
quando se tratar de demissão, cassação de aposentadoria ou ordenar o seu afastamento do exercício do cargo pelo prazo de
disponibilidade e suspensão superior a 30 (trinta) dias de até 60 (sessenta) dias sem prejuízo de remuneração.
servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão ou entidade; Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por
II – pela autoridade que houver feito a nomeação, quando até 60 (sessenta) dias, findo os quais cessarão os seus efeitos,
se trata de destituição de cargo em comissão de não ocupante ainda que não concluído processo.
do cargo efetivo;
III – pelas autoridades administrativas mencionadas no
inciso I ou por autoridades administrativas e de hierarquia

Legislação Municipal 36
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPÍTULO III Art. 204. É assegurado ao servidor o direito de


DO PROCESSO DISCIPLINAR acompanhar o processo, pessoalmente ou por intermédio de
SEÇÃO I procurador, arrolar e reinquirir testemunhas produzir provas
DISPOSIÇÕES GERAIS e contra provas e formular quesitos, quando se tratar de prova
pericial.
Art. 196. O processo disciplinar é o instrumento destinado § 1.º O Presidente da Comissão poderá denegar pedidos
a apurar as responsabilidades do servidor por infração considerados impertinentes, meramente protelatórios ou de
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha nenhum interesse para esclarecimento dos fatos.
relação mediata com as atribuições em que se encontre § 2.º Será indeferido o pedido de prova pericial quando a
investido. comprovação do fato independer de conhecimento especial de
perito.
Art. 197. O processo disciplinar será conduzido por
Comissão composta no mínimo por 3 (três) servidores, Art. 205. Após a inquirição das testemunhas, a Comissão
devendo, pelo menos 2 (dois) serem ocupantes de cargos de promoverá o interrogatório do acusado.
carreira, e todos de hierarquia superior à do acusado, sendo § 1.º No caso de mais de um acusado, cada um deles será
um deles designado para exercer a Presidência. ouvido separadamente, e quando divergirem em suas
§ 1.º Os integrantes da comissão serão designados pela declarações sobre fatos ou circunstâncias poderá ser
autoridade competente para a aplicação da pena promovida acareação entre eles.
aparentemente cabível. § 2.º O procurador do acusado poderá assistir ao
§ 2.º O Presidente da comissão designará um de seus interrogatório, sem direito de formular perguntas.
membros para atuar como Secretário. § 3.º O acusado e/ou seu procurador poderão assistir a
§ 3.º Não poderá participar da Comissão de Sindicância ou inquirição das testemunhas, sendo-lhes vedado interferir nas
de Inquérito, cônjuge, companheiro ou companheira, parente perguntas e respostas, facultando-selhes, porém reinquiri-las,
consanguíneo do acusado em linha reta ou colateral, até o 2º por intermédio do Presidente da Comissão.
(segundo) grau.
Art. 206. As testemunhas serão intimadas a depor
Art. 198. A Comissão exercerá suas atividades com mediante mandado expedido pelo Presidente da Comissão,
independência e imparcialidade, assegurado o sigilo devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da anexada aos autos.
Administração. Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público
Art. 199. O processo disciplinar desenvolve-se nas municipal, a expedição do mandado será imediatamente
seguintes fases: comunicada ao chefe da repartição onde serve, e quanto a
I – instauração, com a publicação do ato próprio que servidores públicos federais, distritais e estaduais serão
constitui a Comissão em local destinado a publicações oficiais; notificados por intermédio das repartições ou unidades a
II – inquérito administrativo, que compreende instrução, quem pertencem.
defesa e relatório;
III – julgamento. Art. 207. O depoimento será prestado oralmente e
reduzido a termo.
Art. 200. O prazo para conclusão do processo disciplinar, § 1.º As testemunhas serão inquiridas separadamente, de
não excederá a 60 (sessenta) dias, contados da data da modo a evitar que uma ouça o depoimento da outra.
publicação do ato que constituir a Comissão, admitida a sua § 2.º Serão ouvidas, primeiramente, as testemunhas
prorrogação por até 60 (sessenta) dias, quando as arroladas pela Comissão e, após, aquelas arroladas pelo
circunstâncias o exigirem. servidor ou seu defensor.
§ 1.º Sempre que necessário, a Comissão dedicará tempo § 3.º Na hipótese de depoimento contraditório ou que se
integral aos seus trabalhos. infirmem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes,
§ 2.º As reuniões da Comissão serão registradas em atas quando necessária para o esclarecimento dos fatos.
que deverão detalhar o ocorrido e as deliberações adotadas. Art. 208. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental
do acusado a Comissão proporá à autoridade competente que
SEÇÃO II ele seja submetido a exame, por junta médica oficial, da qual
DO INQUÉRITO participe pelo menos um médico psiquiatra.
Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será
Art. 201. O inquérito administrativo obedecerá ao processado em auto apartado e apenso ao processo principal,
princípio do contraditório, assegurado ao acusado ampla após a expedição do laudo pericial.
defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em
direito. Art. 209. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a
indiciação do servidor com a especificação dos fatos a ele
Art. 202. Os atos da sindicância integraram o processo imputados e das respectivas provas.
disciplinar, como peça informativa da instrução. § 1.º A Comissão determinará dentro de 48 (quarenta e
oito) horas, a citação do indiciado, por mandado expelido pelo
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância Presidente da Comissão, para apresentar defesa escrita, no
concluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se lhe vistas aos autos do
autoridade competente encaminhará cópia dos autos ao processo na repartição.
Ministério Público, independentemente de imediata instrução § 2.º Havendo 2 (dois) ou mais indiciados, o prazo será
do processo disciplinar. comum e de 20 (vinte) dias.
§ 3.º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro
Art. 203. Na fase do inquérito a Comissão promoverá a para diligências reputadas indispensáveis, a critério da
tomada de depoimentos, acareações, investigações e Comissão.
diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo, § 4.º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na
quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data
completa elucidação dos fatos.

Legislação Municipal 37
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

declarada em termo próprio pelo membro da Comissão que fez § 1.º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade
a citação. do processo.
§ 2.º A autoridade que tiver ciência da irregularidade no
Art. 210. O indiciado que mudar de residência fica obrigado serviço público e der causa à prescrição de que trata o art. 188
a comunicar à Comissão o lugar onde poderá ser encontrado, será responsabilizada na forma desta Lei.
sob pena de o processo correr à sua revelia.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o indiciado será Art. 218. Extinta a punibilidade pela prescrição, a
citado via postal, através de correspondência registrada, autoridade julgadora determinará o registro no prontuário do
juntando-se ao processo o competente comprovante e aviso de servidor.
recebimento.
Art. 219. Quando a infração estiver capitulada como crime,
Art. 211. Achando-se o indiciado em local incerto e não o processo disciplinar será remetido ao Ministério Público,
sabido, será citado por edital, publicado por 2 (duas) vezes, para eventual instauração de ação penal, ficando um traslado
com intervalo de 8 (oito) dias, em órgão de imprensa oficial ou na repartição.
em periódico de circulação no Município, para apresentar
defesa. Art. 220. O servidor que responde a processo disciplinar
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para somente poderá ser exonerado a pedido ou aposentado
defesa será de 15 (quinze) dias, a partir da última publicação voluntariamente após a conclusão do processo e o
do edital. cumprimento da penalidade, caso aplicada.

Art. 212. Considerar-se-á revel o indiciado que, Art. 221. Serão assegurados transportes e alimentação:
regularmente citado, não apresentar defesa no prazo legal. I – aos membros da Comissão, quando obrigados a se
§ 1.º A revelia será declarada por termo nos autos do deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de missão
processo e devolverá o prazo para a defesa. essencial para esclarecimento dos fatos;
§ 2.º Para defender o indiciado revel a autoridade II – ao servidor convocado para prestar depoimento fora
instauradora do processo designará um servidor, de cargo da sede de sua repartição, na condição de testemunha,
igual ou superior ao do indiciado, como defensor dativo. denunciado ou indiciado.

Art. 213. Apensada a defesa, a Comissão elaborará SEÇÃO IV


relatório minucioso, onde resumirá as peças principais dos DA REVISÃO DO PROCESSO
autos e mencionará as provas em que se baseou para formar a
sua opinião. Art. 222. O processo disciplinar poderá ser revisto, a
§ 1.º O relatório será conclusivo quanto à inocência ou à qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem
responsabilidade do servidor. fatos novos ou circunstâncias suscetíveis que justificarem a
§ 2.º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a inocência do punido e/ou a inadequação da penalidade
Comissão indicará o dispositivo legal regulamentar aplicada.
transgredido, bem como as circunstâncias agravantes ou § 1.º Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento
atenuantes. do servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a
revisão do processo.
Art. 214. O processo disciplinar, com o relatório da § 2.º Em caso de incapacidade mental do servidor, a revisão
Comissão, será remetido à autoridade que determinou sua será requerida pelo respectivo curador.
instauração, para julgamento.
Art. 223. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao
SEÇÃO III requerente.
DO JULGAMENTO
Art. 224. A simples alegação da injustiça da penalidade não
Art. 215. No prazo de 15 (quinze) dias, prorrogáveis por constitui fundamento para a revisão, que requer elementos
até 15 (quinze) dias, contados do recebimento do processo, a novos que ainda não apreciados no processo originário.
autoridade julgadora proferirá a sua decisão.
§ 1.º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da Art. 225. O requerimento da revisão do processo será
autoridade instauradora do processo, este será encaminhado encaminhado ao dirigente do órgão ou entidade onde se
à autoridade competente, que decidirá em igual prazo. originou o processo disciplinar.
§ 2.º Havendo mais de um indiciado a diversidade de Parágrafo único. Recebida a petição, o dirigente do órgão
sanções, o julgamento caberá à autoridade competente para a ou entidade providenciará a constituição de nova Comissão, na
imposição da pena mais grave. forma do art. 197.
§ 3.º Se a penalidade prevista for a de demissão ou a
cassação da aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento Art. 226. A revisão correrá em apenso ao processo
caberá às autoridades de que trata o inciso I do artigo 188. originário.
Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia
Art. 216. O julgamento será baseado no relatório da e hora para a produção de provas e a inquirição das
Comissão, salvo quando este for contrário às provas dos autos. testemunhas que arrolar.
Parágrafo único – Quando o relatório da Comissão
contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, Art. 227. A Comissão Revisora terá até 30 (trinta) dias para
motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou a conclusão dos trabalhos, prorrogáveis por até 30 (trinta)
isentar o servidor de responsabilidade. dias, quando as circunstâncias o exigirem.

Art. 217. Verificada a existência de vício insanável, a Art. 228. Aplicam-se aos trabalhos da Comissão Revisora,
autoridade julgadora declarará a nulidade total ou parcial do no que couber, as normas e os procedimentos próprios da
processo e ordenará a constituição de outra Comissão para a Comissão do processo disciplinar.
instauração de novo processo.

Legislação Municipal 38
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 229. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a TÍTULO VI


penalidade. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Parágrafo único. O prazo para julgamento será até 10 (dez)
dias contados do recebimento do processo, no curso do qual a Art. 239. É assegurada a concessão de aposentadoria e
autoridade julgadora poderá determinar diligências. pensão, a qualquer tempo aos servidores municipais, bem
Art. 230. Julgada procedente a revisão, será declarada sem como a seus dependentes, que até a data da publicação da
efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os Emenda Constitucional nº. 20/98 tenham cumprido os
direitos do servidor, exceto em relação à destituição de cargo requisitos para obtenção destes benefícios, com base nos
em comissão que será convertida em exoneração. critérios da legislação então vigente.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá § 1.º O servidor de que trata este artigo que tenha
resultar agravamento da penalidade já aplicada. completado as exigências para aposentadoria integral e que
opte por permanecer em atividade fará jus à isenção da
TÍTULO V contribuição previdenciária até completar as exigências para
DISPOSIÇÕES GERAIS aposentadoria contidas no art. 100, III, deste Estatuto.
§ 2.º Os proventos de aposentadoria a serem concedidos
Art. 231. O Prefeito Municipal baixará, por decreto, os aos servidores referidos no “caput”, em termos integrais ou
regulamentos necessários à fiel execução desta Lei proporcionais ao tempo de serviço já exercido até a data de
Complementar. publicação da Emenda Constitucional nº. 20/98, bem como as
§ 1.º Aplica-se este Estatuto aos servidores da Câmara pensões de seus dependentes, serão calculados de acordo com
Municipal, cabendo ao seu Presidente ou a Mesa Diretora, as a legislação em vigor à época em que foram atendidas as
atribuições reservadas ao Prefeito Municipal. prescrições nela estabelecidas, para a concessão destes
§ 2.º Em relação aos servidores de fundações e autarquias benefícios ou nas condições da legislação vigente.
aplicar-se-á o disposto neste Estatuto, cabendo à sua § 3.º São mantidos todos os direitos e garantias
autoridade máxima exercer as atribuições reservadas ao assegurados nas disposições constitucionais vigentes à data da
Prefeito, se isto estiver nas normas instituidoras e publicação da Emenda Constitucional nº 20/98 aos servidores,
organizadoras da entidade. inativos e pensionistas, assim como àqueles que tiverem
cumprido, até aquela data, os requisitos para usufruírem tais
Art. 232. Aos agentes políticos e aos ocupantes de cargo em direitos, observados os limites previstos no artigo 112 deste
comissão alheios aos quadros de pessoal permanente do Estatuto.
Município aplicam-se os direitos e vantagens para eles § 4.º Até que o Regime Próprio de Previdência Municipal
expressamente previstos neste Estatuto. seja instituído, o servidor:
a) Continuará contribuindo, mediante retenção em folha
Art. 233. Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo de pagamento em favor do Regime Geral de Previdência Social.
não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo, b) Será aposentado ou afastado do serviço por mais de
para cargos ou funções assemelhadas. quinze (15) dias para tratamento de saúde, pelo Regime Geral
de Previdência Social.
Art. 234. Para os efeitos das Leis que disponham sobre
servidores públicos, consideram-se dependentes do servidor, Art. 240. O tempo de serviço considerado pela legislação
além cônjuge e dos filhos, quaisquer pessoas que vigente para efeito de aposentadoria, prestado até que a lei
comprovadamente vivam às suas expensas e constem de seu federal discipline a matéria, será computado como tempo de
prontuário. contribuição, vedada a contagem de qualquer forma de tempo
Parágrafo único. Equipara-se ao cônjuge o convivente, que fictício.
comprove união estável como entidade familiar.
Art. 241. Observando o disposto no artigo anterior e
Art. 235. Os instrumentos de procuração utilizados para ressalvado o direito de opção pela aposentadoria segundo as
recebimento de direitos e vantagens de servidores municipais normas estabelecidas no art. 101, é assegurado o direito à
terão validade por 6 (seis) meses, devendo ser renovados após aposentadoria voluntária, com proventos calculados de
findo esse prazo. acordo com o art. 107, àquele que tenha ingressado
regularmente em cargo efetivo na Administração Pública
Art. 236. Para os efeitos previstos neste Estatuto e nas direita, autárquica e fundacional, até a data de publicação da
demais leis municipais, os exames médicos serão Emenda Constitucional nº 20/98, quando o servidor,
obrigatoriamente realizados por médico credenciado pela cumulativamente:
Administração Municipal. I – tiver 53 (cinquenta e três) anos de idade, se homem, e
§ 1.º Em casos especiais, atendendo à natureza da 48 (quarenta e oito) anos de idade, se mulher;
enfermidade, a autoridade municipal poderá designar junta II – tiver 5 (cinco) anos de efetivo exercício no cargo que
médica ao exame. em que se dará a aposentadoria;
§ 2.º Os atestados médicos concedidos aos servidores III – contar tempo de contribuição igual, no mínimo à soma
municipais terão sua validade condicionada à ratificação de:
posterior por médico credenciado pela Administração a) 35 (trinta e cinco) anos, se homem, e 30 (trinta) anos se
Municipal. mulher;
Art. 237. Na contagem dos prazos previstos neste Estatuto, b) um período adicional de contribuição equivalente a
não se computará o dia inicial prorrogando-se para o primeiro 20% (vinte por cento) do tempo que, na data da publicação
dia útil o vencimento que incidir em sábado, domingo, feriado Emenda Constitucional nº 20/98, faltaria para atingir o limite
ou ponto facultativo. de tempo constante alínea anterior;
§ 1º. O servidor de que trata o “caput” deste artigo, desde
Art. 238. O dia 28 de outubro será consagrado ao servidor que atendido ao disposto em seus incisos I e II e observado o
público municipal. disposto no artigo anterior, poderá aposentar-se com
proventos proporcionais ao tempo de contribuição, quando
atendidas as seguintes condições:

Legislação Municipal 39
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

I – contar tempo de contribuição igual, no mínimo à soma Questões


de:
a) 30 (trinta) anos, se homem, e 25 (vinte e cinco), se 01. Julgue o item subsequente:
mulher; O servidor efetivo, quando ocupar cargo em comissão,
b) um período adicional de contribuição equivalente a poderá optar pela remuneração deste ou pela de seu cargo,
40% (quarenta por cento) do tempo que na data da publicação acrescida de gratificação de função a ser fixada pelo Prefeito,
da Emenda Constitucional nº. 20/98, faltaria para atingir o no ato de atribuição, em até 40% (quarenta por cento).
limite de tempo constante da alínea anterior;
II – os proventos da aposentadoria proporcional serão ( ) Certo ( ) Errado
equivalentes a 70% (setenta por cento) do valor máximo que
um servidor poderia obter de acordo com o “caput”, acrescido 02. O servidor avaliado será notificado do conceito anual
de 5% (cinco por cento) de contribuição que supere a soma a que lhe foi atribuído, podendo, no prazo máximo de ________
que se refere o inciso anterior, até o limite de 100% (cem por dias, apresentar pedido de reconsideração dirigido à Comissão
cento). que o avaliou, o qual deverá ser decidido em _________ dias.
§ 2º. O professor municipal que até a data de publicação da (A) 10 / 10;
Emenda Constitucional nº 20/98, tenha ingressado, (B) 20 / 10;
regularmente em caso efetivo de magistério e que opte por (C) 15 / 10;
aposentar-se na forma do disposto no “caput” deste artigo, terá (D) 30 / 10.
o tempo de serviço exercido até aquela data contando com o
acréscimo de 17% (dezessete por cento), se homem, e 20% 03. Reversão é a reinvestidura do servidor concursado no
(vinte por cento), se mulher, desde que se aposente, cargo anteriormente ocupado ou no cargo resultante de sua
exclusivamente com tempo de efetivo exercício nas funções de transformação, quando invalidada a sua demissão por decisão
magistério. administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as
vantagens e direitos inerentes ao cargo.
Art. 242. Aplica-se o disposto no art. 239, § 1o. ao servidor ( ) Certo ( ) Errado
que permanecer em atividade após completar as exigências
para aposentadoria estabelecidas no “caput” deste artigo. 04. A Comissão Revisora terá até 30 (trinta) dias para a
conclusão dos trabalhos, prorrogáveis por até 30 (trinta) dias,
Art. 243. O tempo de serviço prestado ininterruptamente quando as circunstâncias o exigirem.
ao Município será computado a partir da data da admissão do ( ) Certo ( ) Errado
servidor para efeitos de:
I – Adicionais por tempo de serviço; 05. O direito de requerer prescreve:
II – Gratificações ou prêmio de incentivo; (A) em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão, de
III – Licenças ou outras vantagens, previstas em Lei cassação de aposentadoria, que coloquem o servidor em
Municipal; disponibilidade ou que afetem interesse patrimonial e créditos
Parágrafo Único. Nas hipóteses de contratação por prazo resultantes das relações de trabalho;
determinado, o tempo de serviço não será computado para (B) em 180 (cento e oitenta) dias, nos demais casos, salvo
efeito deste artigo. quando outro prazo for fixado em lei;
(C) em 150 (cento e cinquenta) dias, nos demais casos,
Art. 244. As vantagens de caráter permanentes salvo quando outro prazo for fixado em lei;
adquiridas anteriormente à vigência deste Estatuto integrarão (D) em 7 (sete) anos, quanto aos atos de demissão, de
a remuneração dos servidores nos termos das respectivas leis cassação de aposentadoria, que coloquem o servidor em
que as concediam. disponibilidade ou que afetem interesse patrimonial e créditos
resultantes das relações de trabalho.
Art. 245. Os servidores que completarem até 31 de
dezembro de 2006, período aquisitivo, para gozar licença- Respostas
prêmio, poderá optar pela conversão integral do benefício em
pecúnia. 01. Resposta: errado
02. Resposta: A
Art. 246. Para servidores que ingressaram no serviço 03. Resposta: errado
público até 1º de setembro de 2005, fica assegurado o direito 04. Resposta: certo
a percepção da sexta parte de sua remuneração e se 05. Resposta: A
incorporará para todos os fins.
§ 1.º O referido benefício será concedido ao servidor que
completar 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço
público municipal.
§ 2.º A sistemática de cálculo da sexta parte será
regulamentada pelo Executivo Municipal.

Art. 247. Para fazer face às despesas decorrentes da


aplicação desta Lei, correrão à conta de dotações próprias do
orçamento.

Art. 248. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,


revogadas as disposições em contrário, em especial a Lei nº
1903, de 14 de junho de 1991.

Ferraz de Vasconcelos, 13 de outubro de 2005.


JORGE ABISSAMRA
PREFEITO MUNICIPAL

Legislação Municipal 40
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPITULO II
Estatuto do Magistério DOS CONCEITOS ADOTADOS NESTA LEI
Municipal - Lei Complementar Art. 5º. Nesta Lei são adotadas as seguintes definições:
n.o 227/2009 e alterações I - rede municipal de ensino - O conjunto de instituições e
introduzidas pela Lei órgãos que realizam atividades de educação sob a
coordenação da Secretaria Municipal de Educação;
Complementar n.o 315/2016. II - Magistério Público Municipal - o conjunto de
profissionais da educação, titulares dos cargos de Professor
Educação Básica I e Professor de Educação Básica II e os de
LEI COMPLEMENTAR Nº 227, de 15 de dezembro de Funções Gratificadas da Educação - Supervisor de Ensino,
2009.3 Diretor de Escola, Vice-Diretor de Escola, Professor
Atualizada pela lei complementar nº 315/20164 Coordenador Pedagógico em caráter de provimento efetivo.
(Alterado pela lei complementar nº 315/2016)
"Dispõe sobre normas e regulamentações funcionais, e III - cargo público - conjunto de atribuições, deveres e
institui o Plano de Carreira e de Remuneração do Magistério responsabilidades de que é investido o servidor público,
Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos e dá outras criado por Lei, com denominação própria, em número certo e
providências". com vencimento a ser pago pelos cofres públicos;
IV - servidor público - pessoa física legalmente investida
O PREFEITO DA CIDADE DE FERRAZ DE VASCONCELOS, em cargo público de provimento efetivo ou de provimento em
no uso das atribuições que lhe são conferidas Por Lei: comissão;
V - professor - o titular do cargo de Carreira do Magistério
FAÇO SABER, que a Câmara Municipal DECRETA e eu Público Municipal, com atribuições de docência, devidamente
PROMULGO a seguinte Lei: habilitado nos termos da legislação vigente;
VI - quadro de pessoal - conjunto de cargos da mesma
CAPITULO I natureza funcional isolados e funções gratificadas;
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES VII - classe - são graus dos cargos, hierarquizados em
carreira que representam as perspectivas de desenvolvimento
Art. 1º. Fica instituído o Plano de Carreira e Remuneração funcional do servidor;
do Magistério Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos, na VIII - carreira do magistério público - é a estruturação dos
forma dos artigos 205 a 214 e demais da Constituição da cargos em classes;
República Federativa do Brasil de 1988, do art. 67 da Lei IX - interstício - lapso de tempo estabelecido como o
Federal no.9394, de 20 de dezembro de 1996, do art. 40 da Lei mínimo necessário para que o servidor do Magistério se
Federal no 11.494, de 20 de junho de 2007, da Lei Federal habilite à progressão e à promoção, dentro da carreira;
11.738, de 16 de julho de 2008, a Lei Complementar no 167, de X - nível - é o símbolo atribuído ao conjunto de classes
13 de dezembro de 2005, a Lei Municipal n° 3.253, de 23 de equivalentes quanto ao grau de dificuldade, complexidade e
junho de 2015 e o presente Plano de Carreira de Remuneração responsabilidade, visando determinar a faixa salarial a elas
do Magistério Público de Ferraz de Vasconcelos. (Alterado pela correspondente;
lei complementar nº 315/2016) XI - referência ou padrão salarial - letra que identifica o
vencimento atribuído a um determinado nível.
Art. 2º. O regime jurídico dos servidores enquadrados no XII – faixa salarial - é a escala de referência ou padrão
Plano de Carreira e Remuneração instituído nesta Lei é o salarial atribuído a um determinado nível.
estatutário. XIII – função gratificada - é a vantagem pecuniária, de
Parágrafo único. O disposto nesta Lei não se aplica aos caráter transitório,
contratados por tempo determinado, para atender aos casos XIII – fino criada para remunerar funções de Supervisor de
previstos no inciso IX do art. 37 da Constituição Federal. Ensino, Diretor de Escola, Vice-diretor de Escola e Professor
Coordenador Pedagógico.
Art. 3º. O Plano de Carreira e Remuneração, de que trata
esta Lei, tem por objetivo estruturar o Quadro de Pessoal do CAPITULO III
Magistério Público de Ferraz de Vasconcelos, estabelecendo DOS PRINCIPIOS E DIRETRIZES DO MAGISTÉRIO
normas de enquadramento e tabela de vencimentos
construída de forma a incentivar a formação, o Art. 6º. O Magistério Público Municipal de Ferraz de
aperfeiçoamento, a atualização e a especialização de seu Vasconcelos reger-se-á pelos seguintes princípios, diretrizes e
pessoal para propiciar a melhoria do desempenho de suas valores, definidos na Constituição da República Federativa do
funções ao formular e executar as ações estabelecidas pelas Brasil, na Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na
políticas nacionais e pelos planos educacionais do Município. Lei Orgânica do Município:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
Art. 4º. Para os efeitos desta Lei, são servidores do Quadro escola;
de Pessoal do Magistério aqueles legalmente investidos em II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cargo público, de provimento efetivo, criado por Lei e cultura, o pensamento, a arte e o saber;
remunerado pelos cofres públicos, para exercer atividades de III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
docência ou oferecer suporte pedagógico e multidisciplinar IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
direto a tais atividades incluídas aí as de direção, V - coexistência de Instituições públicas e privadas de
administração escolar, planejamento, supervisão e orientação ensino;
educacional ou pedagógica. VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais;

3 4 http://www.camaraferraz.sp.gov.br/wp-
http://www.camaraferraz.sp.gov.br/download/lei_organica_atualizada_190515. content/uploads/downloads/2016/09/Lei-Complementar-315-2016.pdf Acesso
pdf Acesso em: 09/05/2018 em: 09/05/2018

Legislação Municipal 41
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

VII – valorização do profissional da educação escolar; Art. 13. O ingresso no Quadro do Magistério Público
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Municipal dar-se-á por concurso público de provas e títulos.
Lei e da legislação dos sistemas de ensino; § 1º. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos,
IX - garantia de padrão de qualidade; prorrogável uma única vez, por igual período.
X - valorização da experiência extraescolar; § 2º. O prazo de validade do concurso, os requisitos a
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as serem satisfeitos pelos candidatos e as condições de sua
práticas sociais. realização serão estabelecidos em edital com ampla
divulgação.
Art. 7º. A Prefeitura Municipal de Ferraz de Vasconcelos § 3º. Não se abrirá novo concurso público enquanto a
promoverá a permanente valorização dos profissionais da ocupação do cargo puder ser feita por servidor em
educação, assegurando-lhes nos termos desta Lei: disponibilidade ou excedente ou por candidato aprovado em
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas concurso anterior com prazo de validade não expirado.
e títulos; II - aperfeiçoamento profissional continuado; § 4º. A aprovação em concurso não gera direito à
III - remuneração definida de acordo com a complexidade nomeação, mas esta, quando se der, far-se-á em rigorosa
e a responsabilidade das tarefas e compatível com a de outras ordem de classificação dos candidatos, após exame médico
ocupações que requeiram nível equivalente de formação; admissional.
IV - atendimento ao princípio constitucional da § 5º. É assegurado às pessoas portadoras de necessidades
irredutibilidade de vencimentos; especiais, para as quais serão reservadas vagas no percentual
V - desenvolvimento funcional baseado na titulação ou estabelecido em Lei municipal especifica, o direito de inscrição
habilitação, na avaliação de desempenho e no tempo de efetivo em concurso público para o provimento de cargo efetivo do
exercício em funções no magistério, nos termos desta Lei, Quadro do Magistério, desde que as atribuições do referido
VI - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, cargo sejam compatíveis com a necessidade de que são
incluído na carga horária de trabalho; portadores.
VII - aplicação dos processos didáticos e das formas de § 6º. Ao servidor do Quadro do Magistério, nomeado nos
aprendizagem, observadas as diretrizes do sistema municipal termos do parágrafo anterior, não será concedido qualquer
de ensino; direito, vantagem ou benefício em razão de necessidade
VIII – participação no processo de planejamento das especial existente à época da nomeação.
atividades escolares;
IX - participação em reuniões, grupos de trabalho ou Art. 14. Além das normas gerais, os concursos públicos
conselhos vinculados às unidades escolares ou ao sistema serão regidos por instruções especiais que farão parte do
municipal de ensino; edital.
X- condições adequadas de trabalho; Parágrafo único. O edital será publicado, no mínimo, 30
XI - experiência de docência mínima de três anos, como (trinta) dias antes da data prevista para a realização das
pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras provas.
funções de magistério que não a de docência, adquirida em
qualquer nível ou sistema de ensino; Art. 15. Na realização do concurso serão aplicadas provas
de caráter eliminatório e classificatório, conforme as
CAPITULO IV características do cargo e as especificações constantes do
DO PREENCHIMENTO DOS CARGOS edital.
Parágrafo único. As provas para o cargo de Professor serão
Art. 8º. Os cargos do Magistério Público Municipal são de orientadas para as áreas de atuação estabelecidas no Anexo I
provimento efetivo e em comissão, definidos por Lei. desta Lei, de forma a atender às necessidades do Sistema
Municipal de Ensino.
Art. 9º. Os cargos de provimento efetivo do Quadro de
Pessoal do Magistério serão organizados em classes, CAPÍTULO V
observadas a escolaridade e a qualificação profissional DO QUADRO DO MAGISTÉRIO
exigidas, bem como a natureza e a complexidade das
atribuições a serem desempenhadas por seus ocupantes, na Art. 16. Integram o Quadro do Magistério Público
forma prevista nesta Lei. Municipal os profissionais que exercem atividades de docência
na Educação Infantil, no Ensino Fundamental I e II, na
Art. 10. Os cargos de natureza efetiva, constantes do Anexo Educação Especial e nas Funções Gratificadas de Supervisor de
I desta Lei, serão providos: Ensino, Diretor de Escola, Vice-Diretor e Professor
I - pelo enquadramento dos atuais servidores, conforme as Coordenador Pedagógico.
normas estabelecidas no Capítulo XXVI desta Lei;
II – por nomeação, precedida de concurso público de Art. 17.O Quadro de Pessoal do Magistério Público
provas e títulos; III - pelas demais formas previstas em Lei. Municipal de Ferraz de Vasconcelos estrutura-se na Parte
Permanente prevista no Anexo I desta Lei.
Art. 11. Para o provimento dos cargos efetivos serão Parágrafo único. A parte Permanente do Quadro do
rigorosamente observados os requisitos básicos mencionados Magistério Público Municipal é constituída pelos cargos de
no Estatuto do Servidor Público Municipal, os específicos natureza efetiva, constantes do Anexo I desta Lei, que serão
indicados no Anexo III desta Lei, sob pena de ser o ato de preenchidos, na medida das necessidades, por Professores e
nomeação considerado nulo de pleno direito, não gerando por Funções Gratificadas de Supervisor de Escola, Diretor de
qualquer obrigação para o Município nem qualquer direito Escola, Vice Diretor de Escola e Professor Coordenador
para o beneficiário, além de acarretar responsabilidade a Pedagógico, legalmente habilitados e aprovados em concurso
quem lhe der causa. público de provas e títulos, relacionados na Lei de Estrutura da
Secretaria Municipal de Educação.
Art. 12. Os cargos efetivos do Quadro de Pessoal do
Magistério que vagarem, bem como os que forem criados,
somente poderá ser preenchido mediante aprovação em
concurso público.

Legislação Municipal 42
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

CAPÍTULO VI Parágrafo único. A qualificação profissional, para os efeitos


DA ESTRUTURA DA CARREIRA desta Lei, objetiva a formação continuada do servidor efetivo
do Quadro do Magistério Público Municipal e seu
Art. 18. As carreiras do Magistério Público Municipal são desenvolvimento na carreira.
integradas pelos cargos de provimento efetivo de Professor
Educação Básica I e Professor de Educação Básica II Art. 23. São objetivos da qualificação profissional:
estruturadas em classes, com uma faixa de vencimentos para I - estimular o desenvolvimento funcional, criando
cada uma delas. (Alterado pela lei complementar nº condições próprias para aperfeiçoamento constante de seus
315/2016) servidores e a melhoria da Rede Municipal de Ensino;
II - possibilitar o aproveitamento da formação e das
Art. 19. As classes se distinguem pela titulação exigida para experiências anteriores em instituições de ensino e em outras
o cargo e constituem as linhas de progressão e promoção da atividades;
carreira do titular de cargo do magistério. III – propiciar a associação entre teoria e prática;
Parágrafo único. O número de vagas dos cargos de IV - criar condições propícias à efetiva qualificação
Professor Educação Básica I e Professor de Educação Básica II pedagógica de seus servidores, através de cursos, seminários,
serão determinados anualmente por ato do Poder Executivo conferências, oficinas de trabalho, implementação de projetos
em conformidade com os módulos das Unidades que compõem e outros instrumentos, para possibilitar a definição de novos
o Sistema Municipal de Educação, a ser definido em legislação programas, métodos e estratégias de ensino, adequadas às
específica. (Alterado pela lei complementar nº 315/2016) transformações educacionais;
V - integrar os objetivos de cada membro do Quadro do
Art. 20. As classes e os níveis das carreiras do magistério Magistério às finalidades da Rede Municipal de Ensino;
público Municipal de Ferraz de Vasconcelos são: (Alterado VI – criar e desenvolver hábitos e valores adequados ao
pela lei complementar nº 315/2016) digno exercício de atribuições do Quadro do Magistério;
I - Professor Educação Básica I: VII - possibilitar a melhoria do desempenho do servidor no
a) nível 1 - formação em nível superior, em curso de exercício de atribuições específicas, orientando-o no sentido
Licenciatura plena em Pedagogia ou Normal Superior. de obter os resultados esperados pela Secretaria Municipal de
b) nível 2 - formação em nível de pós-graduação "lato- Educação;
sensu", em áreas estritamente ligadas à Educação, a critério da VIII – promover a valorização do profissional da Educação.
Secretaria Municipal.de Educação, curso com duração mínima
de 360 (trezentos e sessenta) horas Art. 24. Compete à Secretaria Municipal de Educação:
c) nível 3 - formação em nível de pós-graduação Stricto- | I - elaborar, anualmente um plano de ações para o Quadro
Sensu em cursos na área da educação. do Magistério Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos,
II - Professor Educação Básica II: identificando as áreas e os servidores que necessitam de
a) nível 1 - formação em nível superior, em curso de qualificação profissional e estabelecendo as ações prioritárias;
licenciatura plena em graduação correspondente a áreas II - adotar no Programa de Qualificação Profissional as
especificas do currículo, com formação pedagógica, nos termos medidas necessárias para que fiquem asseguradas, a todos os
da legislação vigente; servidores do Magistério, iguais oportunidades de
b) nível 2 - formação em nível de pós-graduação "lato- qualificação.
sensu", em áreas estritamente ligadas à Educação, a critério da III - estabelecer no Programa de Qualificação Profissional:
Secretaria Municipal de Educação, curso com duração mínima a) as metas destinadas ao aperfeiçoamento do Magistério
de 360 (trezentos e sessenta) horas; claramente definidas e quantificadas;
c) nível 3 - formação em nível de pós graduação Stricto - b) os programas, ações e áreas de formação ou
Sensu em cursos na área da educação. especialização consideradas prioritárias para a melhoria da
qualidade do ensino municipal;
CAPÍTULO VII c) o quantitativo de vagas ofertadas em cursos e
DA HABILITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO programas patrocinados ou incentivados pela Prefeitura
Municipal;
Art. 21. A formação de docentes para atuar na educação d) a previsão dos recursos humanos, materiais e
básica far-se-á, em nível superior, em curso de licenciatura de financeiros necessários à sua execução, inclusive despesas
graduação plena em pedagoga para o Professor de Educação ocasionadas por necessidade de substituição temporária de
Básica I, e para o Professor de Educação Básica II, em curso de pessoal.
licenciatura plena nas respectivas áreas do conhecimento, IV - planejar, em articulação com as diretorias das escolas,
obtido em instituições de ensino superior, públicas ou a participação dos servidores do Quadro do Magistério nos
privadas, credenciados e reconhecidos pelo órgão executivo cursos e demais atividades voltadas para qualificação
do Poder Público responsável. (Alterado pela lei profissional, adotando as medidas necessárias para que os
complementar nº 315/2016) afastamentos que ocorrem não causem prejuízo às atividades
§ 1º. Para atuar nas classes de Educação Especial, os educacionais;
docentes, além da formação mencionada no caput do artigo V - programar as datas de realização das atividades
deverão possuir habilitação especifica em Educação Especial. constantes dos programas de qualificação, assim como os
§ 2º. Os Professores do Quadro do Magistério da Prefeitura prazos para que os servidores solicitem afastamentos
Municipal de Ferraz de Vasconcelos com atribuições de remunerados ou não para a realização ou não para a realização
exercer as atividades de Educação Física e Arte, ainda que nas de cursos;
turmas de educação infantil e nos anos iniciais do ensino VI - dar ampla divulgação à relação dos cursos que
fundamental, deverão possuir curso superior de graduação receberão patrocínio ou incentivo da Prefeitura Municipal, seu
plena nas respectivas áreas. conteúdo programático, datas de realização, locais e critérios
de avaliação a que o servidor se submeterá;
Art. 22. Fica instituída como atividade permanente da VII - elaborar relatórios sobre as atividades realizadas,
Secretaria Municipal de Educação, a qualificação profissional indicando a clientela alcançada, os resultados obtidos, os
dos servidores efetivos do Quadro do Magistério Público de custos e as medidas que deverão ser adotadas para o constante
Ferraz de Vasconcelos. aprimoramento dos programas de qualificação.

Legislação Municipal 43
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 25. Os cursos de aperfeiçoamento e capacitação o servidor permanecerá na referência ou padrão salarial em
profissional, que integrarão o Programa de Qualificação que se encontra, devendo cumprir o interstício exigido nessa
Profissional, objetivarão a permanente atualização e avaliação referência ou padrão, para efeito de nova apuração de
do servidor, habilitando-o para seu desenvolvimento na merecimento.
carreira.
§ 1º. Os cursos de aperfeiçoamento e capacitação CAPÍTULO X
permanentes serão conduzidos: DA PROMOÇÃO
I - sempre que possível, diretamente pela Secretaria
Municipal de Educação; Art. 33. Promoção na vertical é a passagem do servidor
II - através de contratações de especialistas ou instituições efetivo do Quadro do Magistério de um nível de formação para
especializadas, mediante convênios, observada a legislação outro imediatamente superior aquele que pertence, dentro da
pertinente; mesma carreira, cumprindo as normas deste capítulo e de
III - mediante encaminhamento do servidor a organizações regulamento específico.
especializadas, sediadas ou não no Município;
IV - através da realização de programas de diferentes Art. 34. O processo necessário para o levantamento e
formatos utilizando, inclusive os recursos da educação à definição dos servidores que fazem jus à promoção dar-se-á 1
distância. (uma) vez por ano, no mês de setembro em data a ser marcada
fixado em regulamentação especifica na forma do disposto no
Art. 26. Os resultados obtidos nas avaliações de Capítulo XIII, desta Lei.
desempenho dos servidores nortearão o planejamento e a
definição das novas ações necessárias para seu constante Art. 35. Para fazer jus à promoção, os servidores do Quadro
desenvolvimento e para assegurar a qualidade do ensino de Pessoal do Magistério Público Municipal deverão,
oferecido pela Prefeitura Municipal de Ferraz de Vasconcelos. cumulativamente:
I - cumprir o interstício mínimo de 3 (três) anos de efetivo
Art. 27. Os servidores em estágio probatório poderão exercício na classe em que se encontra;
beneficiar-se de cursos de curta duração, seminários, II - ter sido aprovado no estágio probatório;
palestras, oficinas de trabalho e cursos de diversos formatos. III - obter, na média do resultado das três últimas
avaliações, nota igual ou superior a 70 na Avaliação para fins
Art. 28. Independentemente dos programas de de Desenvolvimento Funcional;
aperfeiçoamento, a Secretaria Municipal de Educação deverá IV – não possuir penalidades nos últimos três anos.
realizar reuniões para estudo e discussão de assuntos
pedagógicos e análise divulgação de leis, de normas legais e de Art. 36. Preenchidos os requisitos estabelecidos no artigo
aspectos técnicos referentes à educação e à orientação anterior, o Professor que possuir, independentemente de sua
educacional, propiciando seu cumprimento e execução. área de atuação, as habilitações ou titulações adiante
relacionadas fará jus aos seguintes percentuais calculados
CAPITULO IX sobre o vencimento-base de seu cargo, conforme o Anexo IV.
DO DESENVOLVIMENTO FUNCIONAL -
PROGRESSÃO E PROMOÇÃO Art. 37. A percepção de qualquer dos percentuais
estabelecidos neste artigo não dá, ao Professor, o direito de
Art. 29. Progressão funcional horizontal é a passagem do atuar em área diferente daquela para a qual foi concursado,
servidor de uma referência ou padrão de vencimento para conforme Anexo I.
outro, imediatamente superior, dentro da faixa de
vencimentos de classe de cargos a que pertence, cumpridas as Art. 38. O comprovante de curso que habilita o Professor a
normas deste capítulo e de regulamento específico conforme receber qualquer dos percentuais a que se refere o Anexo IV,
as tabelas referenciais contidas no Anexo IV, desta Lei. desta Lei é o diploma expedido pela instituição formadora,
Parágrafo único. Preenchidos os requisitos definidos, o registrado na forma da legislação em vigor ou por documento
servidor deverá requerer a progressão funcional junto à que o substitua e o certificado de conclusão do curso expedido
Secretaria Municipal de Educação juntando, para tanto, os por entidade reconhecida pela Secretaria Municipal de
documentos necessários. Educação ou por ela conveniada.

Art. 30. Para fazer jus à progressão funcional, os servidores Art. 39. Os efeitos financeiros decorrentes da promoção
do Quadro de Pessoal do Magistério Público Municipal serão pagos ao servidor no mês subsequente ao da sua
deverão, cumulativamente: concessão.
I - cumprir o interstício mínimo de 3 (três) anos de efetivo
exercício na classe em que se encontra; CAPÍTULO XI
II - ter sido aprovado no estágio probatório; DA AVALIAÇÃO PARA FINS DE DESENVOLVIMENTO
III - não ter sofrido penalidades e não ter advertências em FUNCIONAL
seu prontuário nos últimos três anos.
Art. 40. O Formulário de Avaliação para fins de
Art. 31 - Os efeitos financeiros decorrentes da progressão Desenvolvimento Funcional, ao qual se refere a caput deste
serão pagos ao servidor no mês subsequente ao da sua artigo, deverá contemplar, entre outros fatores a serem
concessão. definidos pela Secretaria Municipal de Educação face a
especificidade dos cargos, os seguintes:
Art. 32 - Incluem-se entre os servidores efetivos que fazem I - assiduidade: presença do servidor no local de trabalho
jus à progressão aqueles que estiverem ocupando as funções dentro do horário estabelecido para o expediente da unidade;
gratificadas de Supervisor de Ensino, Diretor de Escola, Vice- II - disciplina: observa sistematicamente aos regulamentos
Diretor de Escola e Professor Coordenador Pedagógico, e às normas emanadas das autoridades competentes;
referentes, exclusivamente, à área educacional da estrutura III - iniciativa: adota providências em situações não
administrativa da Secretaria Municipal de Educação. definidas pela chefia ou não previstas nos manuais ou normas
Parágrafo Único. Caso não alcance o grau mínimo previsto de serviço;

Legislação Municipal 44
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

IV - pedagógico: apresenta volume e qualidade nas Coordenadores Pedagógicos, será de 40 (quarenta) horas
reuniões estabelecidas pela escola e pelos assuntos semanais, entendendo-se horas com duração de 60 minutos
pertinentes a educação; cada. (Alterado pela lei complementar nº 315/2016)
V - responsabilidade: é comprometido com suas tarefas,
com as metas estabelecidas pelo órgão ou entidade e com o Art. 44. O vencimento-base do Professor de Educação
bom conceito da administração pública do Município. Básica I e Professor de Educação Básica II será proporcional a
VI - comunidade: mantém um relacionamento com os pais sua jornada de trabalho. (Alterado pela lei complementar nº
nas reuniões e eventos da unidade escolar; 315/2016)
VII - formação continuada: é atuante nas propostas
oferecidas de capacitação e o plano de ação da Secretaria Art. 45. - Os docente poderá solicitar mudança da sua
Municipal de E jornada semanal de trabalho, de acordo com seu cargo de
VIII – relação com os alunos: sugere um bom atendimento, provimento efetivo. (Alterado pela lei complementar nº
reconhece e realiza medidas efetivas para sanar as 315/2016)
dificuldades dos alunos em sala de aula; §1º- O atendimento à solicitação de alteração de jornada
XI - planejamento do professor: é atuante dentro das fica condicionado à existência de vagas na rede municipal de
propostas e das ações da unidade escolar e do plano ensino de Ferraz de Vasconcelos na jornada pretendida.
pedagógico; (Incluído pela lei complementar nº 315/2016)
X - inter-relação pessoal: é paciente em relação aos colegas §2º - A mudança de jornada deverá ser solicitada
de trabalho e da chefia imediata perante as ações propostas anualmente no ato de inscrição para remoção e/ou atribuição
para a unidade escolar. de aulas, na forma como dispuser a resolução anual que
disciplina a matéria, conforme as vagas disponíveis. (Incluído
Art. 41. A avaliação de desempenho será feita anualmente pela lei complementar nº 315/2016)
pela chefia imediata, observadas as disposições deste capítulo §3º - Fica mantida a jornada de trabalho em que o servidor
e do Anexo V desta Lei. Não havendo concordância entre está lotado no primeiro ano de vigência desta lei, havendo
avaliador e avaliado quanto à nota obtida, poderá ser alteração de jornada mediante solicitação formal do servidor e
apresentado recurso mediante requerimento dirigido ao anuência do titular da pasta nos termos que dispõe o parágrafo
Secretário da Educação, que decidirá após parecer da 2º do Artigo 45 desta Lei. (Incluído pela lei complementar nº
Comissão de Desenvolvimento Funcional. 315/2016)

CAPÍTULO XII CAPÍTULO XIII DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO


DA JORNADA DE TRABALHO
Art. 46. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
Art. 42. A jornada de trabalho dos docentes da Educação exercício de cargo público, com valor fixado em Lei, não
Básica é constituída de: (Alterado pela lei complementar nº inferior a um vencimento mínimo, com reajustes periódicos
315/2016) que lhe preservem o poder aquisitivo.
I - Horas de atividade com educandos;
II - Horas de atividade dedicadas à preparação de aulas, Art. 47. Remuneração é o vencimento do cargo acrescido
atendimento aos pais ou responsáveis pelos alunos, interação das vantagens pecuniárias, permanentes ou temporárias,
entre docentes, reuniões didáticas, pedagógicas e de estabelecidas em Lei.
participação nos colegiados auxiliares da gestão democrática
do ensino público, bem como atividades de formação Art. 48. O vencimento dos servidores públicos do Quadro
continuada. do Magistério somente poderá ser fixado ou alterado por Lei,
III - Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPC; observada a iniciativa do Poder Executivo, assegurada à
IV - Horas de Trabalho Pedagógico em Local de livre revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
escolha - HTPL; índices.
§1º - As horas que constituem a jornada de trabalho dos § 1º O vencimento dos cargos públicos é irredutível, na
docentes são definidas como horas-aula, e terão duração de 50 forma do disposto no art. 37, XV, da Constituição Federal.
(cinquenta) minutos no período diurno (manhã e tarde), e de § 2º. A fixação dos padrões de vencimentos e demais
45 (quarenta e cinco) minutos no período noturno. componentes do sistema de remuneração dos servidores do
§2º- As jornadas de trabalho dos Integrantes do quadro do Magistério Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos
magistério: de Ferraz de Vasconcelos docentes em trabalho observará:
com alunos em sala de aula são as seguintes: I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade
I - Professor de Educação Básica I e Professor de Educação dos cargos que compõem seu quadro;
Básica II 30 horas-aula semanais: sendo 20 horas-aula em II - os requisitos de escolaridade e experiência para a
trabalhos e atividades pedagógicas com alunos, 3 horas-aula investidura nas classes de cargos;
atividade, 2 horas-aula de trabalho pedagógico coletivo e 5 III - as peculiaridades dos cargos;
horas-aula de trabalho pedagógico em local de livre escolha
pelo docente. Il- Professor de Educação Básica I e Professor de Art. 49. Os cargos de Professor Educação Básica I e II estão
Educação Básica II 40 horas-aula semanais: sendo 25 em estruturados em classes; hierarquizados por níveis de
trabalhos e atividades pedagógicas com alunos, 06 horas-aula vencimentos, conforme a tabela constante do Anexo IV desta
atividade, O2 horas-aula de trabalho pedagógico coletivo e 07 Lei. (Alterado pela lei complementar nº 315/2016)
horas-aula de trabalho pedagógico em local de livre escolha § 1º. A cada nível corresponde uma faixa de vencimentos,
pelo docente. conforme a Tabela de Vencimentos constante do Anexo IV
desta Lei.
Art. 43. As jornadas de trabalho dos profissionais do § 2º. Os aumentos dos vencimentos respeitarão a política
magistério de suporte pedagógico e multidisciplinar direto às de remuneração definida nesta Lei, bem como seu
atividades de docência incluídas as de direção, administração escalonamento e respectivos distanciamentos percentuais
escolar, planejamento, supervisão e orientação educacional ou entre os níveis e padrões.
pedagógica, compreendendo as funções gratificadas de
Supervisores de Ensino, Diretores de Escola, Vice-diretores e

Legislação Municipal 45
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Art. 50. A revisão geral dos vencimentos estabelecidos em que o profissional desenvolverá os trabalhos e ratificado
para os cargos efetivos, bem como para os cargos em comissão, pelo Secretário Municipal de Educação, após atendimento dos
deverá ser efetuada anualmente, por Lei específica, sempre na seguintes critérios:
mesma data e sem distinção de índices, conforme o disposto a) apresentação do certificado de Conclusão de Curso de
no art. 37, inciso X da Constituição Federal. licenciatura plena em Pedagogia ou Normal Superior, ou
Licenciatura Plena nas disciplinas da base curricular comum
Art. 51. Os proventos dos servidores inativos e dos nacional, nos dois últimos casos, com a pós-graduação em
pensionistas observarão o disposto na Constituição Federal e Gestão Escolar ou equivalente, com carga horária mínima de
legislação específica. 360 horas.
b) Comprovação de experiência mínima de 3 (três) anos na
Art. 52. O Poder Executivo publicará anualmente os docência;
valores da remuneração dos cargos públicos da Prefeitura c) apresentação de currículo indicando as ações e projetos
Municipal de Ferraz de Vasconcelos, conforme dispõe o art. 39, já desenvolvidos, experiências no magistério e participação
S 6º da Constituição Federal. em cursos, seminários e outros eventos de interesse da área
educacional;
CAPÍTULO XIV d) apresentação e dissertação de projeto a ser
DAS FUNÇÕES GRATIFICADAS desenvolvido;
III - Vice-Diretor - indicado pelo Diretor de Escola e
Art. 53. Os servidores pertencentes ao Quadro de Pessoal ratificado pelo Conselho de Escola em que o profissional
do Magistério Público Municipal poderão ser designados para desenvolverá os trabalhos, após atendimento dos seguintes
exercício de funções Supervisor de Ensino, Diretor de Escola, critérios:
Vice-Diretor e de Professor Coordenador Pedagógico. a) apresentação do certificado de Conclusão de Curso de
licenciatura plena em Pedagogia ou Normal Superior, ou
Art. 54. Para efeito desta Lei, função gratificada ou função Licenciatura Plena nas disciplinas da base curricular comum
de confiança é a posição exercida, mediante designação nacional, nos dois últimos casos, com a pós-graduação em
específica, por servidor efetivo, com atribuições temporárias Gestão Escolar ou equivalente, com carga horária mínima de
de chefia, direção ou de assessoramento que não constam das 360 horas.
descrições para os cargos de natureza efetiva que ocupam. Comprovação de experiência mínima de 3 (três) anos na
§ 1º. Nos termos do art. 37, V, da Constituição Federal, docência;
serão designados para o exercício de função gratificada c) apresentação de currículo indicando as ações e projetos
servidores do Quadro d Público Municipal de Ferraz de já desenvolvidos, experiências no magistério e participação
Vasconcelos ocupantes de cargo efetivo, mediante Portaria do em cursos, seminários e outros eventos de interesse da área
Executivo. educacional;
§ 2º. É vedada a acumulação de 2 (duas) ou mais funções d) apresentação e dissertação de projeto a ser
gratificadas. desenvolvido;
IV - Professor Coordenador Pedagógico - indicado pelo
Art. 55. As funções gratificadas da Secretaria Municipal de Diretor de Escola e ratificado pelo Conselho de Escola em que
Educação são as relacionadas no Anexo II desta Lei, o profissional desenvolverá os trabalhos, após atendimento
acompanhadas de seus símbolos e valores. dos seguintes critérios:
§ 1º. As descrições de competências atribuídas aos a) apresentação do certificado de Conclusão de Curso de
ocupantes das Funções Gratificadas do Magistério são as licenciatura plena em Pedagogia ou Normal Superior, ou
constantes do Anexo III desta Lei. Licenciatura Plena nas disciplinas da base curricular comum
§ 2º. Além de perceber em seus vencimentos o valor nacional, nos dois últimos casos, com a pós-graduação em
correspondente à função gratificada o professor designado áreas estritamente ligadas à educação.
passará a ter jornada de trabalho de 200 horas mensais ou 40 b) Comprovação de experiência mínima de 3 (três) anos na
horas semanais. docência;
c) apresentação de currículo indicando as ações e projetos
Art. 56. A designação para ocupação das Funções já desenvolvidos, experiências no magistério e participação
Gratificadas será efetuada por Portaria do Prefeito, mediante em cursos, seminários e outros eventos de interesse da área
procedimento de escolha, a seguir discriminado: educacional;
I - Supervisor de Ensino - indicado pelo Secretário d) apresentação e dissertação de projeto a ser
Municipal de unidade de inscrição para todos os profissionais desenvolvido;
da educação da rede municipal em cargo efetivo, após § 1º. A designação a que se referem os incisos III e IV, deste
atendimento dos seguintes critérios: artigo, preferencialmente, recairá entre os docentes da
a) apresentação do certificado de Conclusão de Curso de unidade escolar em que o profissional desenvolverá os
licenciatura plena em Pedagogia ou Normal Superior, ou trabalhos.
Licenciatura Plena nas disciplinas da base curricular comum § 2º Na ausência na unidade escolar de docente
nacional, nos dois últimos casos, com a pós-graduação em interessado ou habilitado em exercer as funções gratificadas
Gestão Escolar ou equivalente, com carga horária mínima de de Vice Diretor e Professor Coordenador Pedagógico, será
360 horas. permitida a indicação de docentes de outra obedecendo a
b) comprovação de experiência mínima de 3 (três) anos forma de escolha prevista neste artigo.
como Supervisor de Ensino e/ou Diretor de Escola, § 3º. O processo de escolha, de que trata o inciso II deste
ininterrupto ou cumulativo; artigo, deverá ser acompanhado e analisado pela Supervisão
c) apresentação de currículo indicando as ações e projetos de Ensino da Secretaria Municipal de Educação.
já desenvolvidos, experiências no magistério e participação § 4° As Funções Gratificadas de Diretor de Escola, Vice
em cursos, seminários e outros eventos de interesse da área Diretor de Escola e Professor Coordenador Pedagógico serão
educacional; avaliadas e ratificadas anualmente pelo Conselho de Escola.
d) apresentação e dissertação de projeto a ser
desenvolvido; Art. 57. Não havendo no quadro do magistério, servidores
II - Diretor de Escola - aprovado pelo Conselho de Escola que preencham os requisitos estabelecidos no artigo 55 desta

Legislação Municipal 46
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Lei, fica o Executivo Municipal autorizado a nomear, a título CAPÍTULO XVII


precário e em caráter de excepcional interesse público. DOS AFASTAMENTOS

Art. 58. Serão assegurados aos ocupantes de Funções Art. 63. O afastamento do servidor do Magistério de seu
Gratificadas os institutos da Progressão e Promoção Funcional, cargo ou função, sem prejuízo de vencimentos e demais
referentes ao seu cargo de origem, observados os mesmos vantagens poderá ocorrer, mediante previa autorização do
critérios estabelecidos para cada função. Secretário Municipal de Educação, nas hipóteses previstas em
lei específica, nos seguintes casos:
CAPÍTULO XV I - para integrar comissão especial ou grupo de trabalho,
DOS ADICIONAIS estudo ou pesquisa para desenvolvimento de projetos
específicos da área educacional;
Art. 59. No caso de trabalho noturno, a partir das 22 horas, II - para participar de congressos, simpósios ou outros
o valor da hora aula será acrescida de uma gratificação de eventos similares, desde que referentes à área educacional;
trabalho noturno da ordem de 25% (vinte e cinco por cento) III - para ministrar cursos que atendem à programação do
sobre o valor da hora aula normal. sistema municipal de educação;
Parágrafo Único. É vedado o pagamento de mais de uma
gratificação de difícil acesso quando o exercício das funções Art. 64. Será concedido afastamento com prejuízo de
ocorrer em uma única unidade escolar. vencimentos e demais vantagens do cargo, após estágio
probatório, para tratar de interesses particulares por um
Art. 60. Para o exercício em unidades classificadas como de período de até 24 meses, mediante ciência do Diretor da
difícil acesso, o docente fará jus a um adicional de 15% (quinze unidade escolar, parecer do Supervisor de Ensino e
por cento) calculado sobre o seu vencimento-base. deferimento do Secretário de Educação.
§1º. Os professores farão jus a apenas um ao adicional de
difícil acesso, calculado sobre as horas correspondentes à sua CAPÍTULO XVIII
jornada de trabalho, independentemente de manter dois DAS CONCESSÕES
vínculos.
§2º. A classificação das unidades escolares de difícil acesso Art. 65. Serão admitidas faltas ao serviço nos casos
ou provimento será fixado anualmente pela Secretaria previstos na Constituição Federal e nas condições que seguem:
Municipal de Educação. I - falta abonada, mediante deferimento formal do superior
§3º. Nos casos de acúmulo, onde o servidor exerça dois imediato, respeitado o limite de 01 (uma) falta ao mês,
cargos em uma mesma Unidade classificada como de difícil totalizando 06 (seis) faltas por ano civil, não acarretando
acesso, terá que optar pelo adicional em apenas um deles. prejuízo de vencimento ou demais vantagens do cargo.
II - falta justificada, mediante apresentação de atestado
CAPÍTULO XVI médico e requerimento fundamentado do profissional do
DAS FÉRIAS magistério respeitado o limite de 1 (uma) falta ao mês,
totalizando 6 (seis) faltas por ano civil, não acarretando
Art. 61. Aos docentes em exercício de regência de classe, prejuízo de vencimento.
ficam assegurados 30 (trinta) dias consecutivos de férias III - falta injustificada, quando não houver requerimento
concedidas no mês de janeiro, e recesso concedido de acordo do Profissional do Magistério, quando não for aceita a
com o calendário escolar da rede municipal. justificativa apresentada pelo servidor ou nos demais casos
§1º. No período de recesso, poderá haver convocação para previstos neste estatuto acarretando prejuízo de vencimento e
participação em cursos, congressos ou simpósios, ocasião em das demais vantagens do cargo e sanções disciplinares
que se respeitará a jornada e o turno de trabalho do professor, cabíveis.
para cumprimento do que dispõe o artigo 24, inciso I, da Lei IV - As faltas parciais ao trabalho serão contadas, e a cada
Federal n. 9394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), se 5 horas aula será consignada uma falta dia.
necessário.
§2º. Os docentes designados para ocupar Funções CAPÍTULO XIX
Gratificadas terão direito a 30 (trinta) dias de férias, que DO DIMENSIONAMENTO DA FORÇA
poderão ser gozadas em dois períodos, sem prejuízo dias DE TRABALHO E DA LOTAÇÃO
atividades escolares e em atendimento ao que dispuser a
Secretaria Municipal de Educação. Art. 66. A lotação representa a força de trabalho, em seus
§3º. O servidor do quadro do magistério público municipal aspectos quantitativos e qualitativos, necessária para o
que ainda não tiver completado o período aquisitivo de férias funcionamento dos diversos órgãos e unidade responsáveis
no mês de janeiro, terá férias proporcionais ao tempo de pelo desempenho das atividades do Magistério Público
serviço. Municipal de Ferraz de Vasconcelos.

Art. 62. Os profissionais de educação poderão ser afastados Art. 67. A lotação das unidades escolares e dos demais
de seus cargos, mediante autorização do Prefeito, por tempo órgãos que compõem a Secretaria Municipal de Educação será
determinado, para prover cargos em comissão ou função estabelecida, anualmente, por portaria emitida pelo titular da
gratificada, ou, ainda, atender necessidade especial de Secretaria, observando-se para a classificação dos docentes,
trabalho, observando-se a legislação vigente. nos seus respectivos campos de atuação, no mínimo os
§1º. Os profissionais da educação poderão, ainda, afastar- seguintes critérios:
se de seus cargos para a prestação de serviços técnico- I - valorização do tempo de serviço, na seguinte ordenação:
educacionais junto à Secretaria Municipal de Educação, a) no magistério público oficial de Ferraz de Vasconcelos,
mediante concordância dos mesmos e autorização do Chefe do observado o campo de atuação de seu cargo:
Executivo. b) na unidade educacional de lotação, inclusive para os
§2º. Ocorrendo a situação prevista no parágrafo anterior, profissionais designados em funções gratificadas, e afastados
o profissional de Educação manterá a remuneração a qual faz nos termos do artigo 62;
jus em seu cargo de origem. c) no magistério público, observado o campo de atuação;
II - A formação inicial e continuada do servidor, referente

Legislação Municipal 47
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

ao campo de atuação de seu cargo. V - exercer toda substituição de cargos da classe a que
III - A participação em cursos de formação oferecidos pela pertence que lhe for atribuída;
Secretaria Municipal da Educação ou entidades oficialmente VI - demais atribuições inerentes à função docente.
reconhecidas. §1º. O servidor excedente deverá cumprir o calendário
IV - A participação em fóruns, congressos, conferências e escolar da Secretaria Municipal de Educação, observando a
conselhos relativos à área da educação. jornada de trabalho na qual está incluído, no horário normal
V - A participação como formador em oficinas pedagógicas das atividades escolares, no turno de classificação de seu
previamente organizadas e autorizadas pela Secretaria cargo.
Municipal de Educação. §2º. Poderá ser cumprido, pelo servidor excedente, com a
VI - certificados de aprovação em concursos públicos no devida anuência da Secretaria Municipal de Educação, horário
Município de Ferraz de Vasconcelos, na área de atuação e de trabalho diferente daquele que exerceria se estivesse no
ainda não utilizados para ingresso. exercício pleno de seu cargo.
Parágrafo único - O tempo de serviço a que se referem as §3º. O tempo em que o servidor permanecer como
alíneas "a" e "b" do inciso I não podem ser concomitantes. excedente, será considerado de efetivo exercício do cargo
original, conservando todos os seus direitos e vantagens.
Art. 68. Caberá aos Diretores de Unidades Escolares
organizar e compatibilizar horários das classes e turnos de CAPÍTULO XXI
funcionamento, visando o cumprimento da proposta DA READAPTAÇÃO
educacional da Secretaria Municipal de Educação, de acordo
com o plano de lotação aprovado. Art. 74. Readaptação é o aproveitamento do servidor
efetivo do Quadro do Magistério em outro cargo, também do
Art. 69. É vedada a designação de servidor efetivo do Magistério, de atribuições afins, dentro do Quadro de Pessoal
Quadro do Magistério Público Municipal para o exercício de da Secretaria Municipal de Educação e responsabilidades
funções alheias à área educacional. compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
capacidade física ou mental, verificada em inspeção médica
Art. 70. Caberá ao titular da secretaria municipal de municipal ou outra indicada pelo Município.
educação baixar normas complementares para o §1º. Se julgado incapaz para o serviço público, o
procedimento de distribuição da força de trabalho nos órgãos readaptando será aposentado por invalidez, nos termos da lei.
e unidades da Rede de Ensino Público Municipal. (Alterado §2º. A readaptação observará a escolaridade exigida para
pela lei complementar nº 315/2016) a nova função, e em nenhuma hipótese acarretará aumento ou
Parágrafo Único - Nenhum ato que defina o local de redução do vencimento do readaptando.
exercício do servidor terá efeito de vinculação permanente §3º. A classe e/ou aulas do servidor readaptado
deste servidor com órgão ou unidade em que for lotado. definitivamente será atribuída a outro servidor.
(Incluído pela lei complementar nº 315/2016)
CAPÍTULO XXII
CAPÍTULO XX DA REMOÇÃO
DO SERVIDOR EM SITUAÇÃO EXCEDENTE
Art. 75. Remoção é a movimentação do ocupante de cargo
Art. 71. Fica caracterizada a excedência do professor do Quadro do Magistério de uma para outra unidade de ensino
quando na sua unidade escolar de lotação ocorrer as seguintes ou unidade organizacional da Secretaria Municipal de
hipóteses: Educação, sem que modifique sua situação funcional.
I - inexistência de classe relativa à sua área de atuação; §1º. Dar-se-á a remoção a pedido do interessado, atendida
II - insuficiência de aulas para compor o bloco de seu a conveniência do serviço e observado a datas da última
componente curricular, ou componente afim, ou ainda de remoção.
outras disciplinas, para as quais esteja legalmente habilitado. §2º. A remoção poderá ocorrer:
I - por classificação; II – por permuta.
Art. 72. Ocorrendo a excedência do Professor, será o
mesmo encaminhando à Secretaria Municipal de Educação que Art. 76. A remoção por permuta nos casos especiais será
lhe atribuirá: analisado pelo Secretário da pasta sem prejuízo da
I - classe ou vaga de titular em impedimento legal; necessidade de serviços e será realizada em período diverso à
II - aulas de seu componente curricular ou de componente remoção por classificação e só será admissível no período
afim, ou ainda de outras disciplinas, para as quais esteja compreendido entre o término de um ano letivo e o início do
legalmente habilitado em outras unidades de ensino que outro.
tenham déficit de profissionais.
§1º. Para atendimento do que dispõe o presente artigo, a Art. 77. Os critérios de pontuação para classificação dos
Secretaria Municipal de Educação incluirá as vagas candidatos à remoção serão estabelecidos em edital específico,
mencionadas nos incisos I e II no concurso de remoção, do qual expedido pela Secretaria Municipal de Educação, anualmente,
deverão participar os servidores excedentes de acordo com a atendidos os seguintes critérios mínimos:
ordem de classificação obtida. I - valorização do tempo de serviço, na seguinte ordenação:
§2º. Quando do retorno do servidor às funções próprias do a) na unidade educacional de lotação; b) no cargo;
cargo de que é titular, cessarão os efeitos da excedência. c) no magistério público oficial de Ferraz de Vasconcelos,
Art. 73. São atribuições do servidor excedente, enquanto observado o campo de atuação de seu cargo;
perdurar esta situação: d) no magistério público.
I - participar do processo de planejamento, execução e II - A formação inicial e continuada do servidor, referente
avaliação das atividades escolares; ao campo de atuação de seu cargo
II - atuar nas atividades de apoio curricular; III - A participação em cursos de formação oferecidos pela
III - participar do processo de avaliação, adaptação e Secretaria Municipal da Educação ou entidades oficialmente
recuperação de alunos de aproveitamento insuficiente; reconhecidas.
IV - colaborar no processo de integração escola- IV - A participação em fóruns, congressos, conferências e
comunidade; conselhos relativos à área da educação.

Legislação Municipal 48
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

V - A participação como formador em oficinas pedagógicas §1º. As substituições de que trata o caput deste artigo não
previamente organizadas e autorizadas pela Secretária deverão ultrapassar o ano letivo para o qual foi elaborada a
Municipal de Educação. escala de classificação e serão sempre por período
VI- certificados de aprovação em concursos públicos no determinado.
Município de Ferraz de Vasconcelos, na área de atuação e §2°. - Havendo excepcional interesse público e para
ainda não utilizados para ingresso. atender à necessidade temporária, a substituição do servidor
§1º O tempo de serviço a que se referem as alíneas "c" e "d" efetivo poderá dar-se mediante contratação por tempo
do inciso I não podem ser concomitantes. determinado, na forma de lei específica, de acordo com o art.
§2°. Haverá desconto na pontuação do profissional de 37, IX da Constituição Federal.
educação que apresentar faltas justificadas, não justificadas e
afastamentos, exceto os previstos na Constituição Federal. Art. 82. A substituição remunerada ocorrerá, também, no
impedimento legal e temporário e nos afastamentos
Art. 78. A remoção por permuta far-se-á a requerimento de superiores a 30 (trinta) dias, do ocupante de função gratificada
ambos os interessados não podendo, todavia, permutar os ou de outros que a lei determinar.
docentes que não estejam no efetivo exercício da regência de §1° O substituto assumirá cumulativamente, sem prejuízo
classe. do cargo que ocupar o exercício das funções de direção, chefia,
ou assessoramento nos afastamentos, impedimentos legais ou
Art. 79. Não será autorizada permuta ao Profissional de regulares do titular e na vacância do cargo, hipóteses em que
Educação que: deverá optar pelo vencimento de um deles, durante o período
I - Já tenha alcançado o tempo de serviço necessário à correspondente.
aposentadoria ou para aquele a quem faltem apenas 03 (três) §2º Caso o servidor opte pelo vencimento do cargo que
anos para completar este prazo; ocupa temporariamente em substituição, será remunerado
II - encontra-se em processo de avaliação médica para proporcionalmente aos dias trabalhados.
readaptação profissional;
III - pretenda permuta para unidade de lotação com quadro CAPÍTULO XXIV
excedente na mesma área de atuação que a sua. DA CESSÃO

Art. 80. O Professor em situação excedente será inscrito Art. 83. Cessão é o ato pelo qual o servidor ocupante de
automaticamente no próximo concurso de remoção, com cargo efetivo do Quadro do Magistério Público de Ferraz de
prioridade de escolha. Vasconcelos é posto, por prazo determinado, à disposição de
Parágrafo único. Havendo mais de um professor em órgão não integrante da estrutura da Prefeitura Municipal de
situação excedente, será estabelecida uma classificação Ferraz de Vasconcelos.
obedecendo aos mesmos critérios do concurso de remoção. Parágrafo único. O servidor cedido terá suspensa a
contagem do interstício necessário para fazer jus à progressão
CAPÍTULO XXIII e promoção, nos termos desta Lei.
DA SUBSTITUIÇÃO
CAPÍTULO XXV
Art. 81. A substituição, durante o impedimento legal e DA ACUMULAÇÃO DE CARGOS
temporário de profissionais de educação, será exercida por
docente, obedecida a seguinte ordem: Art. 84. A acumulação de cargos, na forma da Constituição
I - docente em situação excedente; Federal poderá ser exercida pelos Servidores do Quadro do
II – docente da rede municipal inscrito para substituição e Magistério Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos, desde
classificado pela Secretaria Municipal de Educação ou Unidade que:
Escolar, observada a qualificação mínima a ser definida em I - o somatório das horas semanais não exceda o limite de
regulamento especifico; (Alterado pela lei complementar nº 70 (setenta) horas semanais;
315/2016) II – haja compatibilidade de horários, consideradas, no
III - docente ocupante em cargo de Professor Educação cargo de docente, todas as horas de trabalho pedagógico que
Básica I, em efetivo exercício do cargo, desde que possua integram sua jornada de trabalho, observado o intervalo entre
licenciatura plena, para substituir, a título precário, quando: o exercício dos cargos, e considerado o tempo de locomoção
não houver professor habilitado, ocupante de cargo de necessário entre os locais de exercício;
Professor de Educação Básica II com atuação de 6o ao 9o ano III - seja previamente deferido pela autoridade competente
do ensino fundamental em caráter excepcional; (Alterado pela ato decisório favorável ao acúmulo, nos termos de
lei complementar nº 315/2016) regulamento da Secretaria Municipal da Educação;
IV - docente ocupante do cargo de Professor Educação IV - é de responsabilidade do docente a comunicação
Básica II de 60 ao 9 ano do ensino fundamental, em efetivo imediata à chefia sobre situação de acumulação de cargos ou
exercício do cargo, para substituir, a título precário, quando funções, e o aguardo de publicação de ato decisório para o
não houver professor habilitado, ocupante de cargo de exercício;
Professor de Educação Básica I desde que tenha habilitação V- é de responsabilidade da chefia imediata a legalidade da
especifica; (Alterado pela lei complementar nº 315/2016) situação do docente em regime de acumulação de cargos ou
V - candidato aprovado em concurso público, dentro do funções que permitir o exercício do segundo cargo ou função.
prazo de validade legal, para a rede municipal de ensino, que
se encontre na lista de classificação, desde que esteja ciente de CAPÍTULO XXVI
tratar-se de contratação por tempo determinado e de que DAS NORMAS GERAIS DE ENQUADRAMENTO
retornará à lista de espera findo o período de contratação;
(Alterado pela lei complementar nº 315/2016) Art. 85. Os servidores efetivos ocupantes dos cargos que
VI – candidato aprovado em concurso público, dentro do integram o Quadro do Magistério serão automaticamente
prazo de validade legal, para a rede municipal de ensino, que enquadrados nos cargos previstos no Anexo I desta Lei,
se encontre na lista de classificação, desde que esteja ciente de observadas as disposições deste Capítulo.
tratar-se de contratação por tempo determinado e de que Parágrafo único. São considerados efetivos, os servidores
retornará à lista de espera findo o período de contratação; nomeados para o exercício de cargo público, nas formas

Legislação Municipal 49
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

previstas na Constituição Federal e em Lei específica. Magistério Público de Ferraz de Vasconcelos apenas a partir
Art. 86. No processo de enquadramento serão da publicação dos atos coletivos de enquadramento referidos
considerados os seguintes fatores: nos artigos 84 e 85 desta Lei.
I - o cargo ocupado pelo servidor na estrutura de cargos do
Quadro de Pessoal do Magistério da Prefeitura Municipal de Art. 93. Os ocupantes de cargos efetivos do Quadro de
Ferraz de Vasconcelos, preenchido após sua aprovação em Pessoal do Magistério serão aposentados conforme o disposto
concurso público; na legislação federal e municipal reguladora.
II - vencimento do cargo ocupado pelo servidor;
III - o grau de escolaridade, de acordo com a habilitação Art. 94. Até que os servidores do Quadro do Magistério
mínima exigida para o preenchimento do cargo, constante do Público Municipal tenham sido submetidos anualmente a 3
Anexo I desta Lei; (três) avaliações de desempenho, sendo uma por ano, para fins
IV - situação legal do servidor. de desenvolvimento funcional, a progressão e a promoção
serão concedidas tomando por base o resultado da última
Art. 87. Do enquadramento não poderá resultar redução avaliação de desenvolvimento funcional realizada, na qual o
salarial, ressalvadas as hipóteses previstas no art. 37, inciso XV servidor deverá ter obtido, no mínimo, 70% (setenta por
da Constituição Federal. cento) do total de pontos, obedecidas as demais condições
§1º. Não havendo coincidência de vencimentos, o servidor estabelecidas no Capítulo XI desta Lei.
ocupará a referência ou o padrão imediatamente superior,
dentro da faixa de vencimentos da classe que vier a ocupar. Art. 95. As despesas decorrentes da implantação do
§2º. Nenhum servidor será enquadrado com base em cargo presente Plano de Cargos e Carreiras e Remuneração do
que ocupa em substituição. Magistério Público Municipal de Ferraz de Vasconcelos
correrão a conta de dotação própria do orçamento vigente,
Art. 88. O enquadramento dos servidores do magistério suplementada se necessário. (Alterado pela lei complementar
será efetuado pela Comissão de Desenvolvimento Funcional nº 315/2016)
prevista na Lei que aprova o Plano de Cargos e Carreiras dos
demais servidores da Prefeitura Municipal de Ferraz de Art. 96. São partes Integrantes desta Lei os Anexos I, II, III,
Vasconcelos. IV, V, VI e VII. (Alterado pela lei complementar nº 315/2016)

CAPITULO XXVII Art. 97. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS revogadas as disposições em contrário, em especial a Lei
Complementar no 164/2005.
Art. 89. Os profissionais da carreira do magistério que
ingressaram na Rede Municipal de Ensino anteriormente à Ferraz de Vasconcelos, 15 de dezembro de 2009.
vigência desta Lei, e ainda se encontram no nível I, nos termos JORGE ABISSAMRA
do artigo 18, inciso I, alínea "a" e inciso II, alínea "a" da Lei PREFEITO
Complementar n.º 164, de 03 de outubro de 2005,
permanecerão nessa situação até que obtenham a titulação e ROSELI MORILLA BAPTISTA DOS SANTOS
os requisitos para enquadramento inicial da nova carreira, a SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
que alude o artigo 20, inciso I, alínea "a" desta Lei.
Art. 90. A designação de que trata o artigo 52 desta lei Registrada na Secretaria Municipal de Administração -
poderá recair sobre servidor efetivo do quadro do magistério Departamento de Administração e publicada no de Editais do
público municipal que se encontre em estágio probatório. Paço Municipal na mesma data

Art. 91. Será realizado concurso de acesso de provas ALEXANDRE BALBINO ROSA
títulos, dentre integrantes interessados da carreira do SECRETÁRIO MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO
magistério municipal no cargo de Professor Adjunto Lie
Professor Adjunto II, passado o estágio probatório, para o Anexo I – Cargos da parte permanente.
cargo de professor de Educação Básica I e Professor de Anexo II - Funções gratificadas da prefeitura municipal de
Educação Básica II, de acordo com Formação específica, nos Ferraz de Vasconcelos.
termos do artigo 20 desta Lei Complementar. (Alterado pela Anexo III - Descrição sintética dos cargos do quadro do
lei complementar nº 315/2016) magistério público municipal de Ferraz de Vasconcelos.
§1º - Os Professores de Educação Básica I e Professor de Anexo IV – Tabela de vencimentos.
Educação Básica II: com jornada de trabalho diferente das Anexo V – Avaliação para fins de desenvolvimento
definidas nesta Lei Complementar serão automaticamente funcional.
enquadrados na jornada a que se refere o artigo 42, § 2º, Inciso Anexo VI – tabela de vencimentos.
I, desta Lei Complementar. (Incluído pela lei complementar nº Anexo VII – Refere-se ao artigo 91.
315/2016)
§2º - Ficam declarados em vacância os atuais cargos de Prezado candidato segue o link dos anexos em:
professor adjunto I, professor adjunto II e professor E.I. 24 http://ferrazdevasconcelos.sp.gov.br/web/wp-
horas. (Incluído pela lei complementar nº 315/2016) content/uploads/2017/05/Lei-Complementar-227-2009-
§3º - Os atuais titulares de cargo de Professor Adjunto I e Disp%C3%B5e-sobre-normas-e-
Professor Adjunto II poderão participar do Concurso de regulamenta%C3%A7%C3%B5es-funcionais-e-institui-o-
Acesso de Provas e Títulos para ingresso na carreira do: Plano-de-Carreira-e-de-Remunera%C3%A7%C3%A3o-do-
Magistério, nos termos desta Lei Complementar, ou Magist%C3%A9rio-P%C3%BAblico....pdf
permanecer na situação em que se encontram, até a vacância
total dos cargos de Professor Adjunto existentes. (Incluído Insta salientar que como houve atualizações nos anexos
pela lei complementar nº 315/2016) realizada pela lei complementar nº 315/2016, os mesmo estão
disponíveis em:
Art. 92. Os vencimentos estabelecidos no Anexo IV desta http://ferrazdevasconcelos.sp.gov.br/web/wp-
Lei serão devidos aos servidores do Quadro de Pessoal do content/uploads/2017/04/Lei-Complementar-315-2016-

Legislação Municipal 50
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Altera-dispositivos-sobre-normas-e-reg.-funcionais-do- integrando escola, família e comunidade, objetivando


plano-de-Carreira-e-de-Remunera%C3%A7%C3%A3o-do- solucionar ou suprir dificuldades e deficiências apresentadas
Magist%C3%A9io-P%C3%BAblico-Municipal-LC-227- pelo aluno e possibilitar seu desenvolvimento, com atuação na
2009....pdf Direção administrativa e pedagógica da Unidade Escolar, no
auxílio do Diretor de Escola ou em substituição a ele, nos seus
Devida a importância do anexo III será disponibilizado na impedimentos legais e temporários.
íntegra por dispor da descrição sintética dos cargos do quadro
do magistério público municipal de Ferraz de Vasconcelos. Função Gratificada: Professor Coordenador Pedagógico
Compreende as funções que se destinam a planejar, coordenar,
ANEXO III executar, avaliar e orientar trabalhos pedagógicos para
DESCRIÇÃO SINTÉTICA DOS CARGOS DO QUADRO DO garantir a qualidade do processo educacional; assegurar a
MAGISTÉRIO regularidade da articulação da unidade escolar com os demais
PÚBLICO MUNICIPAL DE FERRAZ DE VASCONCELOS órgãos educacionais; conduzir o aconselhamento vocacional,
integrando escola, família e comunidade, objetivando o auxílio
Cargo: Professor de Educação Básica l Compreende os à docência, visando solucionar ou suprir dificuldades e
cargos que se destinam a regência e aulas em classe na deficiências apresentadas pelo aluno e possibilitar seu
educação infantil e no ensino fundamental - anos iniciais que desenvolvimento, com atuação na implantação do projeto
lhes tenha sido atribuídas, bem como a execução de trabalhos pedagógico no âmbito da Unidade Escolar
relativos a implementação da proposta pedagógica da Unidade
Escolar. (Atualizado pela lei complementar nº 315/2016)

Cargo: Professor de Educação Básica Il Compreende os


cargos que se destinam à regência de aulas no ensino
fundamental - anos finais; e na educação especial, no Anotações
atendimento educacional especializado, que lhes tenha sido
atribuídas, bem como à execução de trabalhos relativos à
implementação da proposta pedagógica da Unidade Escolar.
Cargo: Professor I Compreende os cargos que se destinam a
regência de aulas em classe na educação infantil e no ensino
fundamental - anos iniciais que lhes tenha sido atribuídas, bem
como à execução de trabalhos relativos à implementação da
proposta pedagógica da Unidade Escolar. (Atualizado pela lei
complementar nº 315/2016)

Cargo: Professor II Compreende os cargos que se destinam


á regência de aulas no ensino fundamental- anos finais, e na
educação especial, no atendimento educacional especializado,
que lhes tenha sido atribuídas, bem como à execução de
trabalhos relativos à implementação da proposta pedagógica
da Unidade Escolar.

Função Gratificada: Supervisor de Ensino Compreende as


funções que se destinam a planejar, coordenar, executar,
avaliar e orientar trabalhos pedagógicos para garantir a
qualidade do processo educacional; assegurar a regularidade
da articulação das unidades escolares do município com os
demais órgãos educacionais; conduzir o aconselhamento
vocacional, integrando escola, família e comunidade,
objetivando solucionar ou suprir dificuldades e deficiências
apresentadas pelo aluno e possibilitar seu desenvolvimento,
com atuação em supervisão educacional, no âmbito do Sistema
Municipal de Educação.

Função Gratificada: Diretor de Escola Compreende as


funções que se destinam a planejar, coordenar, executar,
avaliar e orientar trabalhos pedagógicos para garantir a
qualidade do processo educacional; assegurar a regularidade
da articulação da unidade escolar com os demais órgãos
educacionais; conduzir o aconselhamento vocacional,
integrando escola, família e comunidade, objetivando
solucionar ou suprir dificuldades e deficiências apresentadas
pelo aluno e possibilitar seu desenvolvimento, com atuação na
Direção administrativa e pedagógica da Unidade Escolar.

Função Gratificada: Vice-Diretor de Escola Compreende as


funções que se destinam a planejar, coordenar, executar,
avaliar e orientar trabalhos pedagógicos para garantir a
qualidade do processo educacional; assegurar a regularidade
da articulação da unidade escolar do município com os demais
órgãos educacionais; conduzir o aconselhamento Vocacional,

Legislação Municipal 51
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br
APOSTILAS OPÇÃO

Legislação Municipal 52
Apostila Digital Licenciada para ALBANITA CARDOSO FERREIRA - albanitacardoso@bol.com.br (Proibida a Revenda) - www.apostilasopcao.com.br

Você também pode gostar