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CÓD: SL-101JL-22

7908433224471

SEDUC-GO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
ESTADO DE GOIÁS

Comum a todas as Especialidades de Professor Nível III:


Artes – Artes Visuais, Artes – Dança, Artes – Música, Artes – Teatro, Ciência/Biologia,
Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Intérprete de Libras,
Instrutor de Braile, Instrutor de Libras, Língua Materna Indígena Iny/Karajá,
Língua Materna Indígena Tapuia, Língua Materna Indígena Xavante, Quilombola,
Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia

EDITAL Nº 007 – SEAD/SEDUC, DE 15 DE JULHO DE 2022


DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados. Reconhecimento de tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2. Domínio da ortografia oficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3. Domínio da estrutura morfossintática do período. Emprego das classes de palavras. Emprego de tempos e modos verbais . . . . . 23
4. Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre termos da
oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5. Emprego dos sinais de pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
6. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
7. Regência verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
8. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
9. Colocação dos pronomes átonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
10. Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de conectores e de
outros elementos de sequenciação textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
11. Reescrita de frases e parágrafos do texto. Substituição de palavras ou de trechos de texto. Reorganização da estrutura de orações e de
períodos do texto. Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de formalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
12. Significação das palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
13. Correspondência oficial (conforme Manual de Redação da Presidência da República). Aspectos gerais da redação oficial. Finalidade
dos expedientes oficiais. Adequação da linguagem ao tipo de documento. Adequação do formato do texto ao gênero . . . . . . . . . 36

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e


Econômica do Estado de Goiás e do Brasil
1. Formação econômica de Goiás: a mineração no século XVIII, a agropecuária nos séculos XIX e XX, a estrada de ferro e a modernização
da economia goiana, as transformações econômicas com a construção de Goiânia e Brasília, industrialização, infraestrutura e plane-
jamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2. Modernização da agricultura e urbanização do território goiano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3. A população goiana: povoamento, movimentos migratórios e densidade demográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4. Economia goiana: industrialização e infraestrutura de transportes e comunicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5. As regiões goianas e as desigualdades regionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6. Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, clima e relevo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
7. Aspectos da história política de Goiás: a independência em Goiás, o Coronelismo na República Velha, as oligarquias, a Revolução de
1930, a administração política de 1930 até os dias atuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
8. Aspectos da História Social de Goiás: o povoamento branco, os grupos indígenas, a escravidão e cultura negra, os movimentos sociais
no campo e a cultura popular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
9. Atualidades econômicas, políticas e sociais do Brasil, especialmente do Estado de Goiás. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
10. Constituição do Estado de Goiás de 05 de outubro de 1.989. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Ética
1. Ética e moral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
2. Ética, princípios e valores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
3. Ética e democracia: exercício da cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
4. Ética e função pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
5. Ética no Setor Público. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
ÍNDICE

Temas Educacionais E Pedagógicos


1. Planejamento E Organização Do Trabalho Pedagógico. Processo De Planejamento: Concepção, Importância, Dimensões E Níveis.
Planejamento Participativo: Concepção, Construção, Acompanhamento E Avaliação. Planejamento Escolar: Planos Da Escola, Do Ensi-
no E Da Aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
2. Currículo: Do Proposto À Prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
3. Tecnologias Da Informação E Comunicação Na Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
4. Educação A Distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
5. Educação Para A Diversidade, Cidadania E Educação Em E Para Os Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
6. Educação Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
7. Educação Do Campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
8. Educação Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
9. Fundamentos Legais Da Educação Especial/Inclusiva E O Papel Do Professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
10. Educação/Sociedade E Prática Escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
11. Tendências Pedagógicas Na Prática Escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
12. Didática E Prática Históricocultural. A Didática Na Formação Do Professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
13. Aspectos Pedagógicos E Sociais Da Prática Educativa, Segundo As Tendências Pedagógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
14. Coordenação Pedagógica. Coordenação Pedagógica Como Espaço De Formação Continuada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
15. Processo Ensino-Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
16. Relação Professor/Aluno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
17. Compromisso Social E Ético Do Professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
18. Componentes Do Processo De Ensino: Objetivos; Conteúdos; Métodos; Estratégias Pedagógicas E Meios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
19. Interdisciplinaridade E Transdisciplinaridade Do Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
20. Avaliação Escolar E Suas Implicações Pedagógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
21. O Papel Político Pedagógico E Organicidade Do Ensinar, Aprender E Pesquisar. Função Histórico-Cultural Da Escola. Escola: Comu-
nidade Escolar E Contextos Institucional E Sociocultural. Projeto Político-Pedagógico Da Escola: Concepção, Princípios E Eixos Nor-
teadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
22. 5 Políticas Educacionais E A Construção Da Escola Pública Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
23. Súmulas Vinculantes Do Supremo Tribunal Federal Relativas Ao Direito Processual Do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
24. Documento Curricular Para Goiás – Dcgo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
25. Base Nacional Curricular Comum – Bncc . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
ÍNDICE

Material Digital
Bases Legais da Educação Nacional e Estadual
1. Constituição Federal, Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I Da Educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2. Lei nº 9.394/1996 (Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3. Políticas Públicas para a Educação Básica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4. Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
5. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6. Currículo em Movimento da Educação Básica – Pressupostos Teóricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
7. Lei nº 11.738 de 16 de julho de 2.008 – Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Consti-
tucionais Transitórias, para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação
básica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
8. Lei nº 13.909 de 25 de setembro de 2001: Estatuto e Planos de Cargos e Vencimentos do Quadro do Magistério. . . . . . . . . . . . . . 72
9. Lei nº 18.969 de 22 de julho de 2015: Aprova o Plano Estadual de Educação para o decênio 2015-2025. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
10. Lei nº 20.157 de 27 de junho de 2018: Introduz alterações na Lei nº 13.909, de 25/09/2001 relativo ao Estágio Probatório . . . . 100
11. Lei nº 20.115 de 06 de junho de 2018: Processo de escolha democrática de diretor de unidade escolar da Rede Pública de Educação
Básica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
12. Lei nº 20.422 de 07 de março de 2019: Institui no âmbito da SEDUC o programa auxílio-alimentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
13. Lei nº 20.756 de 28 de janeiro de 2020: Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores civis públicos do Estado de Goiás. (Revoga a Lei
nº 10.460 de 22 de fevereiro de 1988: Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Goiás) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
14. Lei nº 20.757 de 28 janeiro de 2020: Altera a Lei nº 13.909 de 25 de setembro de 09 de 2001: Estatuto e Planos de Cargos e Vencimen-
tos do Quadro do Magistério. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
15. Lei nº 20.917 de 21 de dezembro de 2020: Institui o Programa Educação Plena e Integral e dá outras providências. . . . . . . . . . . 160
16. Lei nº 21.316: Altera a Lei nº 20.917, de 21 de dezembro de 2020, que institui o Programa Educação Plena e Integral e dá outras
providências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
17. Lei nº 20.918 de 21 de dezembro de 2020: Contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcio-
nal interesse público, nos termos do art. 92, inciso X, da Constituição do Estado de Goiás. Alterada pela Lei nº 21.228 de 5 de janeiro
de 2022 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
18. Lei nº 21.239 de 12 de janeiro de 2022 e Lei nº 20.820 de 04 de agosto de 2020: Alteram a Lei nº 20.491 de 25 de junho de 2019 que
estabelece a organização administrativa do Poder Executivo (Reforma Administrativa). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
19. Decreto nº 9.396 de 05 de fevereiro de 2019: Regulamenta a avaliação especial de desempenho do professor em estágio probatório,
do quadro do Magistério Público Estadual, nos termos da Lei nº 13.909 de 25 de setembro de 2001. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
20. Decreto nº 9.423 de 10 de abril de 2019: Institui o Código de Ética e de Conduta Profissional do servidor na administração pública
direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo Estadual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
21. Decreto nº 9.920 de 06 de agosto de 2021: Aprova o Regulamento da Secretaria de Estado da Educação e dá outras providên-
cias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,


COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
GÊNEROS VARIADOS. RECONHECIMENTO DE TIPOS E
GÊNEROS TEXTUAIS

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
ou que faça com que você realize inferências. lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. com a não-verbal.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-


tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti- O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
ca e, por fim, uma leitura interpretativa. principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
É muito importante que você: tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta- você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
do, país e mundo; significativo, que é o texto.
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto- título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
gráficas, gramaticais e interpretativas; o assunto que será tratado no texto.
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos;
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto:
– Leia lentamente o texto todo. pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
– Sublinhe as ideias mais importantes. reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto. CACHORROS
– Separe fatos de opiniões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
tável). zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
– Retorne ao texto sempre que necessário. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
enunciados das questões. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
– Reescreva o conteúdo lido. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- outro e a parceria deu certo.
picos ou esquemas.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa-
sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu-
to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma
falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
distração, mas também um aprendizado.
do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre-
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de As informações que se relacionam com o tema chamamos de
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias capaz de identificar o tema do texto!
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
prova. cundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Identificação de efeitos de ironia ou humor em textos varia- Ironia dramática (ou satírica)
dos A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
Análise e a interpretação do texto segundo o gênero em que
Ironia de situação se inscreve
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que principal. Compreender relações semânticas é uma competência
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
morte. Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
-se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Busca de sentidos O tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo são definidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo)
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na tem um ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto
apreensão do conteúdo exposto. mais curto.
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
citadas ou apresentando novos conceitos. nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici- mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas como horas ou mesmo minutos.
entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
Importância da interpretação imagens.
A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
específicos, aprimora a escrita. que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- vencer o leitor a concordar com ele.
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de de destaque sobre algum assunto de interesse.
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea- crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para berdade para quem recebe a informação.
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que Fato
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
Diferença entre compreensão e interpretação Exemplo de fato:
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do A mãe foi viajar.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O Interpretação
leitor tira conclusões subjetivas do texto. É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
Gêneros Discursivos sas, previmos suas consequências.
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No ças sejam detectáveis.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun-
dárias. Exemplos de interpretação:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente tro país.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única do que com a filha.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
encaminham-se diretamente para um desfecho. Opinião
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferenciado juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a histó- que fazemos do fato.
ria principal, mas também tem várias histórias secundárias.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí-
odo, e o tópico que o antecede.
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
anteriores: ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- para a clareza do texto.
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
do que com a filha. Ela foi egoísta. vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. sem coerência.
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
mos expressando nosso julgamento. trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, mais direto.
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
analisamos um texto dissertativo. NÍVEIS DE LINGUAGEM
Definição de linguagem
Exemplo: Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
com o sofrimento da filha. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e o do leitor. e caem em desuso.
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A Linguagem Culta ou Padrão Exemplo:
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que Era uma casa muito engraçada
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Não tinha teto, não tinha nada
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Ninguém podia entrar nela, não
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Porque na casa não tinha chão
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia dormir na rede
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha parede
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia fazer pipi
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque penico não tinha ali
Gíria Mas era feita com muito esmero
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como Na rua dos bobos, número zero
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam (Vinícius de Moraes)
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode comportamentos, nas leis jurídicas.
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso. Características principais:
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
“mina”, “tipo assim”. bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
Linguagem vulgar • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na Exemplo:
comida”. Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
Linguagem regional na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. perior para formação de oficiais.

Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo


Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

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Tipo textual dissertativo-argumentativo GÊNEROS TEXTUAIS
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
(leitor ou ouvinte). síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
Características principais: apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento ais que neles predominam.
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- Descritivo Diário
gestão/solução). Relatos (viagens, históricos, etc.)
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações Biografia e autobiografia
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente Notícia
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Currículo
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Lista de compras
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Cardápio
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Anúncios de classificados
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Injuntivo Receita culinária
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Bula de remédio
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Manual de instruções
Regulamento
Exemplo: Textos prescritivos
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Expositivo Seminários
administração política (tese), porque a força governamental certa- Palestras
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Conferências
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Entrevistas
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Trabalhos acadêmicos
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Enciclopédia
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Verbetes de dicionários
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Carta de opinião
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Resenha
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Artigo
cobrança efetiva (conclusão). Ensaio
Monografia, dissertação de
Tipo textual narrativo mestrado e tese de doutorado
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta
Narrativo Romance
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
Novela
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
Crônica
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo).
Contos de Fada
Fábula
Características principais:
Lendas
• O tempo verbal predominante é o passado.
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história – Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
onisciente). ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em nitos e mudam de acordo com a demanda social.
prosa, não em verso.
INTERTEXTUALIDADE
Exemplo: A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
Solidão seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- ambos: forma e conteúdo.
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
Nelson S. Oliveira
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/4835684

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ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
provérbios, charges, dentre outros. domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
Tipos de Intertextualidade sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- enunciador está propondo.
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
ticos. demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
significa a “repetição de uma sentença”. mento de premissas e conclusões.
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha A é igual a B.
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- A é igual a C.
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) Então: C é igual a B.
e “graphé” (escrita).
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa que C é igual a A.
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Outro exemplo:
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re- Todo ruminante é um mamífero.
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo A vaca é um ruminante.
“citação” (citare) significa convocar. Logo, a vaca é um mamífero.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). também será verdadeira.
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem. a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ARGUMENTAÇÃO sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
propõe. que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo outro fundado há dois ou três anos.
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de der bem como eles funcionam.
vista defendidos. Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
sos de linguagem. associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
escolher entre duas ou mais coisas”. zado numa dada cultura.

Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-

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Argumento de Autoridade Argumento quase lógico
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
dadeira. Exemplo: Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
cimento. Nunca o inverso. tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Alex José Periscinoto. fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
indevidas.
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, Argumento do Atributo
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
acreditar que é verdade. raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc.
Argumento de Quantidade Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz de.
largo uso do argumento de quantidade. Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
Argumento do Consenso língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o dizer dá confiabilidade ao que se diz.
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases por bem determinar o internamento do governador pelo período
carentes de qualquer base científica. de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
Argumento de Existência guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar tal por três dias.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
do que dois voando”. ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- texto tem sempre uma orientação argumentativa.
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
vios, etc., ganhava credibilidade. dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
outras, etc. Veja:
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
vam abraços afetuosos.”

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O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
injustiça, corrupção). zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ver as seguintes habilidades:
o argumento. - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e mente contrária;
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ria contra a argumentação proposta;
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
outros à sua dependência política e econômica”. ta.

A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
o assunto, etc). não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
dades não se prometem, manifestam-se na ação. verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu da verdade:
comportamento. - evidência;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - divisão ou análise;
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- - ordem ou dedução;
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio - enumeração.
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
mica e até o choro. encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse caracteriza a universalidade.

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Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de lha dos elementos que farão parte do texto.
sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Lógico, concordo. racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Claro que não! por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Dedução partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Todo professor tem um diploma (geral, universal) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Fulano tem um diploma (particular) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
Indução classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
cular) empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
– conclusão falsa) integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.

Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro- canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden- sabiá, torradeira.
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
ados nos sentimentos não ditados pela razão. Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é dida;d
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. diferenças).
(Garcia, 1973, p. 302304.)
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. vra e seus significados.
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
de vista sobre ele. necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a mentação coerente e adequada.
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
- o termo a ser definido; são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
- o gênero ou espécie; expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
- a diferença específica. elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
ma espécie. Exemplo: cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
Elemento especiediferença causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
a ser definidoespecífica que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de

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LÍNGUA PORTUGUESA
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos que gera o controle demográfico”.
que, melhor que, pior que. Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- elaboração de um Plano de Redação.
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer tecnológica
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais ta, justificar, criando um argumento básico;
caráter confirmatório que comprobatório. - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse (rever tipos de argumentação);
caso, incluem-se - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
mortal, aspira à imortalidade); dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- ência);
dos e axiomas); - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- argumento básico;
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
parece absurdo). mento básico;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
menos a seguinte:
cretos, estatísticos ou documentais.
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
Introdução
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
- função social da ciência e da tecnologia;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
- definições de ciência e tecnologia;
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, Desenvolvimento
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na vimento tecnológico;
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- condições de vida no mundo atual;
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
gumentação: mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- desenvolvidos;
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses sado; apontar semelhanças e diferenças;
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
dadeira; banos;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- mais a sociedade.
dade da afirmação;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
ridade que contrariam a afirmação apresentada;
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-

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LÍNGUA PORTUGUESA
Conclusão
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL
ências maléficas;
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos ORTOGRAFIA OFICIAL
apresentados. • Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
troduzidas as letras k, w e y.
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
ção: é um dos possíveis. PQRSTUVWXYZ
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- gui, que, qui.
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções Regras de acentuação
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
é inserida. palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, sílaba)
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume Como era Como fica
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, alcatéia alcateia
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois apóia apoia
textos caracterizada por um citar o outro.
apóio apoio
PONTO DE VISTA
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com-
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se – Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir u tônicos quando vierem depois de um ditongo.
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- Como era Como fica
servador e o narrador-personagem.
baiúca baiuca
Primeira pessoa bocaiúva bocaiuva
Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden- posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e – Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
só descobrimos ao decorrer da história. e ôo(s).

Segunda pessoa
Como era Como fica
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta abençôo abençoo
quase como outro personagem que participa da história. crêem creem
Terceira pessoa
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
Atenção:
guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por.
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
leitura não fique confuso.
palavras forma/fôrma.

Uso de hífen
Regra básica:
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
mem.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Outros casos SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
1. Prefixo terminado em vogal: são formados por outros populacional/formigueiro
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
radicais da língua.
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
semicírculo. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- designa determinado ser /Brasil
mo, antissocial, ultrassom. entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- espécie. São sempre iniciados Liberdade
das. por letra maiúscula.
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
2. Prefixo terminado em consoante:
referem-se qualquer ser de cachorro/prima
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
uma mesma espécie.
-bibliotecário.
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su- SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
persônico. nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. própria. Esses seres podem /lobisomem
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
Observações: reais ou imaginários.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
nomeiam ações, estados, bondade/
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
qualidades e sentimentos que confiança/
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
não tem existência própria, ou lembrança/
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
seja, só existem em função de amor/
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
um ser. alegria
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
rar, cooperação, cooptar, coocupante. SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al- referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
mirante. de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam mesmo quando empregado
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, no singular e constituem um
pontapé, paraquedas, paraquedista. substantivo comum.
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
QUE NÃO ESTÃO AQUI!
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando Flexão dos Substantivos
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
vamos passar para mais um ponto importante. no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
uniformes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
PERÍODO. EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS. presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
CLASSES DE PALAVRAS epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
Substantivo a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- macho/palmeira fêmea.
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
Classificação dos substantivos testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ o/a estudante, o/a colega.
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
sua estrutura. macaco/sabão – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
são formados por mais de um porta-voz/
radical em sua estrutura. pé-de-moleque • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
diminutivo.
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/ – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
são os que dão origem a mundo/ – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
outras palavras, ou seja, ela é população – Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
a primeira. /formiga – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Adjetivo
É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão composta
por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe de
mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona.

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário, vá-
Variáveis
ria, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

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LÍNGUA PORTUGUESA

RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO. RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO


ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de todos tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem
Assumem a função de advérbio de de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organi-
zar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns sinais
gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ...
]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão duplo
[ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de
oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

Ponto de interrogação ( ? )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogativa ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?

Ponto de exclamação ( ! )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa.
Ex: Que bela festa!

Reticências ( ... )
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com breve
espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Ex: Essa festa... não sei não, viu.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Dois-pontos ( : ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. re por alguns motivos:
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. verbo e o adjunto.

Ponto e vírgula ( ; ) Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem


Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, é necessária:
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Ontem, Maria foi à padaria.
ração (frequente em leis), etc. Maria, ontem, foi à padaria.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- À padaria, Maria foi ontem.
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
Travessão ( — ) sário:
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- ção.
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- serem observadas na redação oficial.
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de • Separa aposto.
um diálogo, com ou sem aspas. Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. • Separa vocativo.
Brasileiros, é chegada a hora de votar.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] • Separa termos repetidos.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
Aquele aluno era esforçado, esforçado.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
efeito, digo.
rem uma nova inserção.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
vernador) ou seja, de fácil compreensão.

Aspas ( “ ” ) • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-


As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido tos).
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. • Separa orações coordenadas assindéticas.
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo. Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
ideias na cabeça...
Vírgula
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden- • Isola o nome do lugar nas datas.
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
vírgula: • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
mos” o momento certo de fazer uso dela. conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em mações comprovam, etc.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal, nizar o problema.
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- Concordância Nominal
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
Maria foi à padaria ontem. referem.
Sujeito Verbo Objeto Adjunto Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto-
sa.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Casos Especiais de Concordância Nominal Regência de algumas palavras
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam Esta palavra combina com Esta preposição
alerta.
Acessível a
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma- Apto a, para
ção de palavras compostas:
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. Atencioso com, para com
Coerente com
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de
Conforme a, com
acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. Dúvida acerca de, de, em, sobre
Empenho de, em, por
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- Fácil a, de, para,
do advérbios: Junto a, de
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./
Usou meia dúzia de ovos. Pendente de
Preferível a
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Próximo a, de
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.
Respeito a, com, de, para com, por
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Situado a, em, entre
substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. Ajudar (a fazer algo) a
Aludir (referir-se) a
Concordância Verbal
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Aspirar (desejar, pretender) a
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Assistir (dar assistência) Não usa preposição
mes. Deparar (encontrar) com
Concordância ideológica ou silepse Implicar (consequência) Não usa preposição
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Lembrar Não usa preposição
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
contexto. Pagar (pagar a alguém) a
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Precisar (necessitar) de
Blumenau estava repleta de turistas.
Proceder (realizar) a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Responder a
texto. Visar ( ter como objetivo a
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- pretender)
sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes- NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
soa gramatical que está subentendida no contexto. QUE NÃO ESTÃO AQUI!
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos.
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
• Regência Nominal demonstrativo.
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- • Devemos usar crase:
mento é estabelecida por uma preposição. – Antes palavras femininas:
Iremos à festa amanhã
• Regência Verbal Mediante à situação.
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o O Governo visa à resolução do problema.
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).
Isto pertence a todos. – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Mas... há crase, sim! Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
– Expressões fixas jam reduzidas: Percebia que o observavam.
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
crase: tudo dá.
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às tentos são para nos prejudicarem.
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- Ênclise
didas, à medida que, à proporção que. Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
• NUNCA devemos usar crase:
– Antes de substantivos masculinos: Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a indicativo: Trago-te flores.
pé. Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre-
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou posição em: Saí, deixando-a aflita.
plural) usado em sentido generalizador: Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise:
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- Apressei-me a convidá-los.
mem.
Mesóclise
– Antes de artigo indefinido “uma” Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
Iremos a uma reunião muito importante no domingo.
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no
– Antes de pronomes futuro do pretérito que iniciam a oração.
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. Dir-lhe-ei toda a verdade.
Far-me-ias um favor?
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
A quem vocês se reportaram no Plenário? Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
Eu lhe direi toda a verdade.
– Antes de verbos no infinitivo Tu me farias um favor?
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da Exemplos:
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono- Devo-lhe dizer a verdade.
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma Devo dizer-lhe a verdade.
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise. Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- do auxiliar ou depois do principal.
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- Exemplos:
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Não lhe devo dizer a verdade.
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele. Não devo dizer-lhe a verdade.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- o pronome átono ficará depois do auxiliar.
dique a eufonia da frase. Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
Próclise Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. auxiliar.
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa- Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
cientemente. do infinitivo.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Exemplos:
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Hei de dizer-lhe a verdade.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui. Tenho de dizer-lhe a verdade.

33
LÍNGUA PORTUGUESA
Observação - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções: componentes do texto;
Devo-lhe dizer tudo. - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo.
REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO.
DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL. SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS
EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, DE TEXTO. REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE
SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES E DE ORAÇÕES E DE PERÍODOS DO TEXTO. REESCRITA
OUTROS ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS E NÍVEIS DE
FORMALIDADE
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili- ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada. na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
Coerência nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um proces-
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
outra”). tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
elementos formativos de um texto.
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
elementos textuais. a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante do processo de escrever do aluno.
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, Operações linguísticas de reescrita:
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
imediato a coerência de um discurso. rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
trução do texto escrito.
A coerência: - Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
tual; várias frases.
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
o aspecto global do texto; do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases. mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
- Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
Coesão mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, ma, ou sobre conjuntos generalizados.
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática, dificar sua ordem no processo de encadeamento.
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
tem-se a coesão lexical. Graus de Formalismo
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala- São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por
nentes do texto. construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge- de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir entre membros de uma mesma família ou entre amigos).
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais. As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
A coesão: malismo existente na situação de comunicação; com o modo de
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;

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LÍNGUA PORTUGUESA
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe- SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
cífico de algum campo científico, por exemplo).
Significação de palavras
Expressões que demandam atenção As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
aceito significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
– acendido, aceso (formas similares) – idem que compõem este estudo.
– à custa de – e não às custas de
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- Antônimo e Sinônimo
forme Começaremos por esses dois, que já são famosos.
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
– a meu ver – e não ao meu ver O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
– a ponto de – e não ao ponto de Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
– em termos de – modismo; evitar homem que é antônimo de mulher.
– enquanto que – o que é redundância
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
– implicar em – a regência é direta (sem em) que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
– ir de encontro a – chocar-se com to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
– ir ao encontro de – concordar com que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se- exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
parado; quando não se pode, junto tamento e homem é sinônimo de macho/varão.
– todo mundo – todos
Hipônimos e Hiperônimos
– todo o mundo – o mundo inteiro
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo
uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
for substantivo
mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo
chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte
mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). palavras, beleza?!?!
Expressões não recomendadas Outros conceitos que agem diretamente no sentido das pala-
vras são os seguintes:
– a partir de (a não ser com valor temporal).
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... Conotação e Denotação
Observe as frases:
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Amo pepino na salada.
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se- Tenho um pepino para resolver.
gundo...
As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa
– devido a. palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo,
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja,
– dito. a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionari-
Opção: citado, mencionado. zado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo cono-
– enquanto. tativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do
Opção: ao passo que. contexto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e cono-
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). tativo começa com C de contexto.
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.
Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propa-
– no sentido de, com vistas a. gandas:
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.

– pois (no início da oração).


Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.

– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ambiguidade riedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de
Observe a propaganda abaixo: 1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de anos
transcorridos desde a Independência. Essa prática foi mantida no
período republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade, cla-
reza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se
às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única in-
terpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige
o uso de certo nível de linguagem. Nesse quadro, fica claro também
que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois
há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor
dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de
expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos
cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público).
Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações
oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de
tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos
expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos
para comunicações oficiais, regulados pela Portaria no 1 do Ministro
de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio
século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primei-
ra edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a identificação
https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na- que se buscou fazer das características específicas da forma oficial
-propaganda/ de redigir não deve ensejar o entendimento de que se proponha
a criação – ou se aceite a existência – de uma forma específica de
Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente
Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, se chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser a
por estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês
não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta. do jargão burocrático e de formas arcaicas de construção de frases.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é A redação oficial não é, portanto, necessariamente árida e infensa à
justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar com im-
palavra, frase ou textos inteiros. pessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso
que se faz da língua, de maneira diversa daquele da literatura, do
texto jornalístico, da correspondência particular, etc. Apresentadas
CORRESPONDÊNCIA OFICIAL (CONFORME MANUAL essas características fundamentais da redação oficial, passemos à
DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA). análise pormenorizada de cada uma delas.
ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL. FINALIDADE
DOS EXPEDIENTES OFICIAIS. ADEQUAÇÃO DA
LINGUAGEM AO TIPO DE DOCUMENTO. ADEQUAÇÃO A Impessoalidade
DO FORMATO DO TEXTO AO GÊNERO A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela
escrita. Para que haja comunicação, são necessários:
O que é Redação Oficial1 a) alguém que comunique,
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira b) algo a ser comunicado, e
pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações. c) alguém que receba essa comunicação.
Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do Poder Executivo. A reda-
ção oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço
culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Di-
Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que visão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto
dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa
fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro ór-
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega- gão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União. Perce-
lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. be-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos
Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios fundamentais de assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:
toda administração pública, claro está que devem igualmente nor- a) da ausência de impressões individuais de quem comunica:
tear a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Che-
que um ato normativo de qualquer natureza seja redigido de forma fe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público
obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transpa- que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padro-
rência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibili- nização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes
dade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que setores da Administração guardem entre si certa uniformidade;
um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com
implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. Além de atender duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre
à disposição constitucional, a forma dos atos normativos obedece concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos,
a certa tradição. Há normas para sua elaboração que remontam ao temos um destinatário concebido de forma homogênea e impes-
período de nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigato- soal;
1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm

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LÍNGUA PORTUGUESA
c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o uni- sagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão
verso temático das comunicações oficiais se restringe a questões burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre
que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe sua compreensão limitada. A linguagem técnica deve ser empre-
qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na gada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso
redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exem- indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vo-
plo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de cabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento
jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado,
isenta da interferência da individualidade que a elabora. A concisão, portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros
a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos.
elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologis-
alcançada a necessária impessoalidade. mo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica.

A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais Formalidade e Padronização


A necessidade de empregar determinado nível de linguagem As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é,
nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio ca- obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exi-
ráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalida- gências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é
de. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normati- imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata
vo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou da-
o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em quele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível
sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O mesmo (v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento);
se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade
informar com clareza e objetividade. As comunicações que partem no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.
dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária
qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é
o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo
dúvida que um texto marcado por expressões de circulação restrita, padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Ma-
como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem nual, exige que se atente para todas as características da redação
sua compreensão dificultada. Ressalte-se que há necessariamente oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. A clareza
uma distância entre a língua falada e a escrita. Aquela é extrema- datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a
mente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de correta diagramação do texto são indispensáveis para a padroniza-
costumes, e pode eventualmente contar com outros elementos que ção. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de
auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc. Para normas específicas para cada tipo de expediente.
mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa distân-
cia. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as transforma- Concisão e Clareza
ções, tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas de A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do
si mesma para comunicar. A língua escrita, como a falada, compre- texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo
ende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija com
exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de deter- essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento
minado padrão de linguagem que incorpore expressões extrema- do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar
mente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se há de o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se
estranhar a presença do vocabulário técnico correspondente. Nos percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias
dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se de ideias. O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao
faz da língua, a finalidade com que a empregamos. O mesmo ocorre princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de empre-
com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade gar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de
de informar com o máximo de clareza e concisão, eles requerem o forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é,
uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão cul- não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de
to é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras
e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já
do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do foi dito. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em
padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está aci- todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias
ma das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas de-
modismos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, talhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias
por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior
os cidadãos. relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas. A
Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme
de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de ex- já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como
pressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica empre- claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor.
go de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende
figuras de linguagem próprios da língua literária. Pode-se concluir, estritamente das demais características da redação oficial. Para ela
então, que não existe propriamente um “padrão oficial de lingua- concorrem:
gem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações
oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;
expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das for-
mas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se con-

37
LÍNGUA PORTUGUESA
b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de en- matical (à pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comuni-
tendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação cação), levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo
restrita, como a gíria e o jargão; concorda com o substantivo que integra a locução como seu núcleo
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a impres- sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelên-
cindível uniformidade dos textos; cia conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes possessivos
d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguís- referidos a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes-
ticos que nada lhe acrescentam. soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
so...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero
É pela correta observação dessas características que se redige gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, e
com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso in-
texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros terlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefa-
e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitu- do”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa
ra que torna possível sua correção. Na revisão de um expediente, Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu
destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por Emprego dos Pronomes de Tratamento
terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em de- Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento obedece
corrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com a secular tradição. São de uso consagrado:
que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técni-
cos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos a) do Poder Executivo;
que não possam ser dispensados. A revisão atenta exige, necessa- Presidente da República;
riamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comu- Vice-Presidente da República;
nicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve pro- Ministros de Estado;
ceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Fe-
“Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. deral;
Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir. Oficiais-Generais das Forças Armadas;
Embaixadores;
As comunicações oficiais Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de
A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, se- cargos de natureza especial;
guir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
Redação Oficial. Além disso, há características específicas de cada Prefeitos Municipais.
tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo.
Antes de passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns b) do Poder Legislativo:
a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego Deputados Federais e Senadores;
dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação Ministro do Tribunal de Contas da União;
do signatário. Deputados Estaduais e Distritais;
Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
Pronomes de Tratamento Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
Breve História dos Pronomes de Tratamento
O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem c) do Poder Judiciário:
larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após Ministros dos Tribunais Superiores;
serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos, Membros de Tribunais;
“como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a Juízes;
palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de dis- Auditores da Justiça Militar.
tinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de
pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos
tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a um Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respec-
atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e tivo:
não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei com Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Fede-
eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência, ral.
vossa santidade. ” A partir do final do século XVI, esse modo de
tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor,
de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e de- seguido do cargo respectivo:
pois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em Senhor Senador,
desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de pronomes Senhor Juiz,
de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autorida- Senhor Ministro,
des civis, militares e eclesiásticas. Senhor Governador,

Concordância com os Pronomes de Tratamento No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às


Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indireta) autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma:
apresentam certas peculiaridades quanto à concordância verbal,
nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gra-

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LÍNGUA PORTUGUESA
A Sua Excelência o Senhor Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações
Fulano de Tal dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Se-
Ministro de Estado da Justiça nhoria Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores
70.064-900 – Brasília. DF religiosos. Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos
e demais religiosos.
A Sua Excelência o Senhor
Senador Fulano de Tal Fechos para Comunicações
Senado Federal O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade
70.165-900 – Brasília. DF óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos
para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Por-
A Sua Excelência o Senhor taria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze
Fulano de Tal padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual
Juiz de Direito da 10a Vara Cível estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para to-
Rua ABC, no 123 das as modalidades de comunicação oficial:
01.010-000 – São Paulo. SP a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
pública:
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento Respeitosamente,
digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dig- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia in-
nidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, ferior:
sendo desnecessária sua repetida evocação. Atenciosamente,
Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e
para particulares. O vocativo adequado é: Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a au-
Senhor Fulano de Tal, toridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, de-
(...) vidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das
Relações Exteriores.
No envelope, deve constar do endereçamento:
Ao Senhor Identificação do Signatário
Fulano de Tal Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da Repú-
Rua ABC, nº 123 blica, todas as demais comunicações oficiais devem trazer o nome e
70.123 – Curitiba. PR o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local de sua assina-
tura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o em-
prego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem (espaço para assinatura)
o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o NOME
uso do pronome de tratamento Senhor. Acrescente-se que doutor Chefe da Secretária-geral da Presidência da República
não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo
indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em (espaço para assinatura)
comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem NOME
concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por Ministro de Estado da Justiça
doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em
Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a dese- Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura
jada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a forma em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao me-
Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comu- nos a última frase anterior ao fecho.
nicações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o
vocativo: O Padrão Ofício
Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela fi-
Magnífico Reitor, nalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com
(...) o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única,
que siga o que chamamos de padrão ofício. As peculiaridades de
Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a cada um serão tratadas adiante; por ora busquemos as suas seme-
hierarquia eclesiástica, são: lhanças.

Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O voca- Partes do documento no Padrão Ofício
tivo correspondente é: O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
Santíssimo Padre, partes:
(...) a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que
o expede:
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em co- Exemplos:
municações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo: Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME
Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, b) local e data em que foi assinado, por extenso, com alinha-
(...) mento à direita:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: c) é obrigatória constar a partir da segunda página o número
13 da página;
Brasília, 15 de março de 1991. d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impres-
sos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda
c) assunto: resumo do teor do documento e direta terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem
Exemplos: espelho”);
Assunto: Produtividade do órgão em 2002. e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distân-
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores. cia da margem esquerda;
f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no míni-
d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida mo, 3,0 cm de largura;
a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o en- g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; 5 O
dereço. constante neste item aplica-se também à exposição de motivos e à
mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. Mensagem).
e) texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não
– Introdução, que se confunde com o parágrafo de abertura, comportar tal recurso, de uma linha em branco;
na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado,
uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre- letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer
-me informar que”, empregue a forma direta; outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do
– Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o texto documento;
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel
em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição; branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos
– Conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente reapresen- e ilustrações;
tada a posição recomendada sobre o assunto. l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser
impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. Rich Text nos documentos de texto;
Já quando se tratar de mero encaminhamento de documentos n) dentro do possível, todos os documentos elaborados devem
a estrutura é a seguinte: ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou apro-
– Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que veitamento de trechos para casos análogos;
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem
sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu- ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do
nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: “Of. 123 - relatório
do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e as- produtividade ano 2002”
sunto de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado,
segundo a seguinte fórmula: Aviso e Ofício
“Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991, enca- — Definição e Finalidade
minho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990, do Depar- Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial pratica-
tamento Geral de Administração, que trata da requisição do servi- mente idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expe-
dor Fulano de Tal. ” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento, dido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de
a anexa cópia do telegrama no 12, de 1o de fevereiro de 1991, do mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento de
projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste. ” assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e,
– Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer no caso do ofício, também com particulares.
algum comentário a respeito do documento que encaminha, pode-
rá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso contrário, — Forma e Estrutura
não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do padrão
encaminhamento. ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário (v. 2.1
Pronomes de Tratamento), seguido de vírgula.
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); Exemplos:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República
g) assinatura do autor da comunicação; e Senhora Ministra
Senhor Chefe de Gabinete
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Signa- Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as seguin-
tário). tes informações do remetente:
– Nome do órgão ou setor;
Forma de diagramação – Endereço postal;
Os documentos do Padrão Ofício5 devem obedecer à seguinte – telefone E endereço de correio eletrônico.
forma de apresentação:
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo Memorando
12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé; — Definição e Finalidade
b) para símbolos não existentes na fonte Times New Roman po- O memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
der-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings; administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquica-
mente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto,

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de uma forma de comunicação eminentemente interna. Pode ter Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição
caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a ex- de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte
posição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por modelo previsto no Anexo II do Decreto no 4.176, de 28 de março
determinado setor do serviço público. Sua característica principal é de 2002.
a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do Ministério
pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos buro- ou órgão equivalente) nº de 200.
cráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comuni-
cações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio 1. Síntese do problema ou da situação que reclama providências
documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação. 2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na
Esse procedimento permite formar uma espécie de processo sim- medida proposta
plificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões, 3. Alternativas existentes às medidas propostas
e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no Mencionar:
memorando. - Se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;
- Se há projetos sobre a matéria no Legislativo;
— Forma e Estrutura - Outras possibilidades de resolução do problema.
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do padrão
ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencio- 4. Custos
nado pelo cargo que ocupa. Mencionar:
Exemplos: - Se a despesa decorrente da medida está prevista na lei orça-
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Ao Sr. Subche- mentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;
fe para Assuntos Jurídicos - Se é o caso de solicitar-se abertura de crédito extraordinário,
especial ou suplementar;
Exposição de Motivos - Valor a ser despendido em moeda corrente;
— Definição e Finalidade
Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da 5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente
República ou ao Vice-Presidente para: se o ato proposto for medido provisória ou projeto de lei que deva
a) informá-lo de determinado assunto; tramitar em regime de urgência)
b) propor alguma medida; ou Mencionar:
c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo. - Se o problema configura calamidade pública;
- Por que é indispensável a vigência imediata;
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente da - Se se trata de problema cuja causa ou agravamento não te-
República por um Ministro de Estado. nham sido previstos;
Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um Mi- - Se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação já
nistério, a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os prevista.
Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de intermi-
nisterial. 6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medi-
da proposta possa vir a tê-lo)
— Forma e Estrutura 7. Alterações propostas
Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação do 8. Síntese do parecer do órgão jurídico
padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que acompanha a Com base em avaliação do ato normativo ou da medida pro-
exposição de motivos que proponha alguma medida ou apresente posta à luz das questões levantadas no item 10.4.3.
projeto de ato normativo, segue o modelo descrito adiante. A ex- A falta ou insuficiência das informações prestadas pode acar-
posição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas retar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil,
formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter a devolução do projeto de ato normativo para que se complete o
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma exame ou se reformule a proposta. O preenchimento obrigatório do
medida ou submeta projeto de ato normativo. anexo para as exposições de motivos que proponham a adoção de
No primeiro caso, o da exposição de motivos que simplesmen- alguma medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade:
te leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República, a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se busca
sua estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício. resolver;
Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Pre- b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do pro-
sidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada blema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a edição
ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora sigam do ato, em consonância com as questões que devem ser analisadas
também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentá- na elaboração de proposições normativas no âmbito do Poder Exe-
rios julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente, cutivo (v. 10.4.3.).
apontar: c) conferir perfeita transparência aos atos propostos.
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção da
medida ou do ato normativo proposto; Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo,
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e even- o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se e
tuais alternativas existentes para equacioná-lo; formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação pro-
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou funda e direta de toda a situação que está a reclamar a adoção de
qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema. certa providência ou a edição de um ato normativo; o problema a
ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos
e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de

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motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade da exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição
providência proposta: por que deve ser adotada e como resolverá o de Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem
problema. Nos casos em que o ato proposto for questão de pessoal de encaminhamento ao Congresso.
(nomeação, promoção, ascensão, transferência, readaptação, rever- b) encaminhamento de medida provisória.
são, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção, exoneração, Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição,
demissão, dispensa, disponibilidade, aposentadoria), não é necessário o Presidente da República encaminha mensagem ao Congresso,
o encaminhamento do formulário de anexo à exposição de motivos. dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do
Ressalte-se que: Senado Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada
– A síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico pela Coordenação de Documentação da Presidência da República.
não dispensa o encaminhamento do parecer completo; c) indicação de autoridades.
– O tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos As mensagens que submetem ao Senado Federal a indicação
pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos de pessoas para ocuparem determinados cargos (magistrados dos
comentários a serem ali incluídos. Tribunais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do
Banco Central, Procurador-Geral da República, Chefes de Missão Di-
Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que plomática, etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, inci-
a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza, concisão, sos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
impessoalidade, formalidade, padronização e uso do padrão culto de privativa para aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado,
linguagem) deve ser redobrada. A exposição de motivos é a principal devidamente assinado, acompanha a mensagem.
modalidade de comunicação dirigida ao Presidente da República pelos d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden-
Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser encaminhada cópia te da República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata-
ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário ou, ainda, ser publicada -se de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a
no Diário Oficial da União, no todo ou em parte. autorização é da competência privativa do Congresso Nacional. O
Presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, quando a
Mensagem ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma comunicação a cada
— Definição e Finalidade Casa do Congresso, enviando-lhes mensagens idênticas.
É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo Chefe concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de submeter
do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar sobre fato tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso XII
da Administração Pública; expor o plano de governo por ocasião do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos legais a
da abertura de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional outorga ou renovação da concessão após deliberação do Congresso
matérias que dependem de deliberação de suas Casas; apresentar Nacional (Constituição, art. 223, § 3o). Descabe pedir na mensagem
veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja a urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § 1o do
de interesse dos poderes públicos e da Nação. Minuta de mensa- art. 223 já define o prazo da tramitação. Além do ato de outorga
gem pode ser encaminhada pelos Ministérios à Presidência da Re- ou renovação, acompanha a mensagem o correspondente processo
pública, a cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens administrativo.
mais usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as se- f) encaminhamento das contas referentes ao exercício ante-
guintes finalidades: rior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta dias após a
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, complemen- abertura da sessão legislativa para enviar ao Congresso Nacional as
tar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou complementar são contas referentes ao exercício anterior (Constituição, art. 84, XXIV),
enviados em regime normal (Constituição, art. 61) ou de urgência para exame e parecer da Comissão Mista permanente (Constitui-
(Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe lembrar que o projeto pode ção, art. 166, § 1o), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
ser encaminhado sob o regime normal e mais tarde ser objeto de tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento disci-
nova mensagem, com solicitação de urgência. Em ambos os casos, plinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
a mensagem se dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a situação
República ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para do País e solicitação de providências que julgar necessárias (Cons-
que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). Quan- tituição, art. 84, XI). O portador da mensagem é o Chefe da Casa
to aos projetos de lei financeira (que compreendem plano pluria- Civil da Presidência da República. Esta mensagem difere das demais
nual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e créditos adicio- porque vai encadernada e é distribuída a todos os Congressistas em
nais), as mensagens de encaminhamento dirigem-se aos Membros forma de livro.
do Congresso Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso Nacio-
da Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis fi- nal, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde
nanceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma do se originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou
regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Nacional está a lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos,
o Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 57, § 5o), que co- nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de san-
manda as sessões conjuntas. As mensagens aqui tratadas coroam o ção.
processo desenvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange i) comunicação de veto.
minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das ma- Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 66,
térias objeto das proposições por elas encaminhadas. Tais exames § 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se o veto é
materializam-se em pareceres dos diversos órgãos interessados no parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto
assunto das proposições, entre eles o da Advocacia-Geral da União. vai publicado na íntegra no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e
Mas, na origem das propostas, as análises necessárias constam da Estrutura), ao contrário das demais mensagens, cuja publicação se
restringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto)

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LÍNGUA PORTUGUESA
j) outras mensagens. — Forma e Estrutura
Também são remetidas ao Legislativo com regular frequência Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a estrutura
mensagens com: dos formulários disponíveis nas agências dos Correios e em seu sítio
– Encaminhamento de atos internacionais que acarretam en- na Internet.
cargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
– Pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às opera- Fax
ções e prestações interestaduais e de exportação — Definição e Finalidade
(Constituição, art. 155, § 2o, IV); O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é uma for-
– Proposta de fixação de limites globais para o montante da ma de comunicação que está sendo menos usada devido ao desen-
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI); volvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de mensa-
– Pedido de autorização para operações financeiras externas gens urgentes e para o envio antecipado de documentos, de cujo
(Constituição, art. 52, V); e outros. conhecimento há premência, quando não há condições de envio do
Entre as mensagens menos comuns estão as de: documento por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele
– Convocação extraordinária do Congresso Nacional (Constitui- segue posteriormente pela via e na forma de praxe. Se necessário
ção, art. 57, § 6o); o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com
– Pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral da o próprio fax, cujo papel, em certos modelos, se deteriora rapida-
República (art. 52, XI, e 128, § 2o); mente.
– Pedido de autorização para declarar guerra e decretar mobi-
lização nacional (Constituição, art. 84, XIX); — Forma e Estrutura
– Pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a estrutura
(Constituição, art. 84, XX); que lhes são inerentes. É conveniente o envio, juntamente com o
– Justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua documento principal, de folha de rosto, i. é., de pequeno formulário
prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o); com os dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor-
– Pedido de autorização para decretar o estado de sítio (Cons- me exemplo a seguir:
tituição, art. 137);
– Relato das medidas praticadas na vigência do estado de sítio Correio Eletrônico
ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único);
– Proposta de modificação de projetos de leis financeiras — Definição e finalidade
(Constituição, art. 166, § 5o); Correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e celeridade,
– Pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem sem transformou-se na principal forma de comunicação para transmis-
despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda ou re- são de documentos.
jeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, art. 166,
§ 8o); — Forma e Estrutura
– Pedido de autorização para alienar ou conceder terras públi- Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
cas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, § 1o); etc. flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para sua es-
trutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem incompatí-
— Forma e Estrutura vel com uma comunicação oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e
As mensagens contêm: Comunicações Oficiais). O campo assunto do formulário de correio
a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, horizon- eletrônico mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a or-
talmente, no início da margem esquerda: ganização documental tanto do destinatário quanto do remetente.
Mensagem no Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, prefe-
b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o cargo rencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que encaminha al-
do destinatário, horizontalmente, no início da margem esquerda; gum arquivo deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo.
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o pe-
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e dido de confirmação de recebimento.
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem direita.
A mensagem, como os demais atos assinados pelo Presidente —Valor documental
da República, não traz identificação de seu signatário. Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de
correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que possa ser
Telegrama aceito como documento original, é necessário existir certificação di-
gital que ateste a identidade do remetente, na forma estabelecida
— Definição e Finalidade em lei.
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os proce-
dimentos burocráticos, passa a receber o título de telegrama toda
comunicação oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Por
tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos cofres públicos
e tecnologicamente superada, deve restringir-se o uso do telegra-
ma apenas àquelas situações que não seja possível o uso de correio
eletrônico ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, tam-
bém em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação
deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).

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LÍNGUA PORTUGUESA
3. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ain-
EXERCÍCIOS da suja o Brasil”:
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é no desenvolvimento do assunto.
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
se fundamenta em intertextualidade é: blemas no uso de conjunções e preposições.
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
há muito tempo.” de palavras e da ordem sintática.
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
mete onde não é chamada.” temática e bom uso dos recursos coesivos.
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente Analise as assertivas e responda:
mesmo!” (A) Somente a I é correta.
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, (B) Somente a II é incorreta.
tudo bem.” (C) Somente a III é correta.
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” (D) Somente a IV é correta.

Leia o texto abaixo para responder a questão. Leia o texto abaixo para responder as questões.
A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) UM APÓLOGO
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um Machado de Assis.
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam- — Deixe-me, senhora.
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de der na cabeça.
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos outros.
se tornou uma bomba relógio na região.” — Mas você é orgulhosa.
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris- — Decerto que sou.
cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se- — Mas por quê?
gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições ama, quem é que os cose, senão eu?
de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta que quem os cose sou eu, e muito eu?
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um daço ao outro, dou feição aos babados…
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida- puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju- mando…
diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz — Também os batedores vão adiante do imperador.
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com — Você é imperador?
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
2. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
fato. costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
gênero textual editorial. orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
que se trata de uma reportagem. isto uma cor poética. E dizia a agulha:
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
se trata de um editorial. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
Analise as assertivas e responda: que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(A) Somente a I é correta. e acima…
(B) Somente a II é incorreta. A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
(C) Somente a III é correta agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
(D) A III e IV são corretas. o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que

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LÍNGUA PORTUGUESA
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era 5. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até -vermelho.
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que fra-assinado.
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, trarregra.
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
perguntou-lhe: -mencionado.
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que 6. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
Vamos, diga lá. nhados classificam-se, respectivamente, em
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- 7. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No perí-
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a odo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
muita linha ordinária! governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
história.”, a oração sublinhada é classificada como:
4. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis (A) coordenada assindética;
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- (B) subordinada substantiva completiva nominal;
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os (D) subordinada substantiva apositiva.
elementos dos textos:
8. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode ser
retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma pa-
drão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.

9. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberdades


...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a nossa
Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase aci-
ma, na ordem dada, as expressões:
(A) a que – de que;
(B) de que – com que;
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en- (C) a cujas – de cujos;
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02) (D) à que – em que;
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. (E) em que – aos quais.
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, 10. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor-
e mando...” (L.14-15) reta.
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
abaixo e acima.” (L.25-26) 35% deles fosse despejado em aterros.
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela (D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de (E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. de lixo.
Onde me espetam, fico.” (L.40-41)

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LÍNGUA PORTUGUESA
11. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona-
– 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen- mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase. de desferir os golpes.
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos. INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta. da vírgula em cada frase.
(C) Pretendo viajar a Paraíba. ( ) Para destacar deslocamento de termos.
(D) Ele gosta de bife à cavalo. ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
( ) Para indicar um aposto.
12. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é (A) 1 – 2 – 3.
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque (B) 2 – 1 – 3.
tem como antônimo: (C) 3 – 1 – 2.
(A) fortuna; (D) 3 – 2 – 1.
(B) opulência;
(C) riqueza; GABARITO
(D) escassez;
(E) abundância.
1 E
13. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA –
2019) 2 C
Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto 3 D
afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti-
nado ao presidente do Congresso Nacional é 4 E
(A) Senhor Presidente. 5 D
(B) Excelentíssimo Senhor Presidente.
6 B
(C) Presidente.
(D) Excelentíssimo Presidente. 7 B
(E) Excelentíssimo Senhor. 8 B
14. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 ) 9 A
Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. 10 E
Conforme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor
em 2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras 11 A
grafadas conforme o Acordo. 12 D
I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca-
13 B
pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di- 14 E
retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente. 15 C
III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação,
pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
-Geral.
V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
-ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
-Executiva, tenente-coronel.
Assinale a alternativa CORRETA:
(A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
(B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(C) As afirmações II, III e IV estão corretas.
(D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
(E) As afirmações III, IV e V estão corretas.

15. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)


Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
mentem esses usos.
Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA,
CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE
GOIÁS E DO BRASIL
O segundo elemento catalisador do processo foi a descoberta
FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS: A MINERAÇÃO de novos achados. Esses direcionavam o fluxo da população, desco-
NO SÉCULO XVIII, A AGROPECUÁRIA NOS SÉCULOS bria-se uma nova mina e, pronto, surgia uma nova vila, geralmente
XIX E XX, A ESTRADA DE FERRO E A MODERNIZAÇÃO às margens de um rio.
DA ECONOMIA GOIANA, AS TRANSFORMAÇÕES ECO- “O mineiro extraía o ouro e podia usá-lo como moeda no terri-
NÔMICAS COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA, INDUS- tório das minas, pois, proibida a moeda de ouro, o ouro em pó era a
TRIALIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO única moeda em circulação. No momento em que decidisse retirar
o seu ouro para outras capitanias é que lhe urgia a obrigação de
fundi-lo e pagar o quinto”. (PALACÍN, 1994, p. 44).
A Extração Aurífera Nessa economia onde a descoberta e extração de ouro para o
O elemento que legitimava as ações de controle político e eco- enriquecimento era o sentido dominante na consciência das pes-
nômico da metrópole sobre a colônia era o Pacto Colonial, este soas, o comerciante lucrou enormemente porque havia uma infini-
tornava a segunda uma extensão da primeira e por isso nela vigo- dade de necessidades dos habitantes, que deveriam ser sanadas. A
ravam todos os mandos e desmandos do soberano, inclusive havia escassez da oferta ocasionava valorização dos produtos de primeira
grande esforço da metrópole no sentido de reprimir a dedicação necessidade e assim grande parte do ouro que era extraído das la-
a outras atividades que não fossem a extração aurífera, tais como vras acabava chegando às mãos do comerciante, que era quem na
agricultura e pecuária, que inicialmente existiam estritamente para maioria das vezes o direcionava para as casas de fundição. Inicial-
a subsistência. A explicação para tal intransigência era simples: au- mente, todo ouro para ser quitado deveria ser encaminhado para
mentar a arrecadação pela elevação da extração. a capitania de São Paulo, posteriormente de acordo com Palacin
O ouro era retirado das datas que eram concedidas com pri- (1975, p. 20) foram criadas “duas Casas de Fundição na Capitania
vilégios a quem as encontrassem. De acordo com Salles, ao des- de Goiás: uma em Vila Boa, atendendo à produção do sul e outra
cobridor cabia os “melhores cabedais o direito de socavar vários em S. Félix para atender o norte.”
locais, e escolher com segurança a mina mais lucrativa, assim como
situar outras jazidas sem que outro trabalho lhe fosse reservado, A Produção de Ouro Em Goiás
senão o de reconhecer o achado, legalizá-lo e receber o respectivo A partir do ano de 1725 o território goiano inicia sua produção
tributo, era vantajosa política para a administração portuguesa. Ao aurífera. Os primeiros anos são repletos de achados. Vários arraiais
particular, todas as responsabilidades seduzindo-o com vantagens vão se formando onde ocorrem os novos descobertas, o ouro extra-
indiscriminadas, porém temporárias”. (SALLES, 1992, p.131). ído das datas era fundido na Capitania de São Paulo, para “lá, pois,
À metrópole Portuguesa em contrapartida cabia apenas o deviam ir os mineiros com seu ouro em pó, para fundi -lo, receben-
bônus de receber os tributos respaldados pelo pacto colonial e di- do de volta, depois de descontado o quinto, o ouro em barras de
recionar uma parte para manutenção dos luxos da coroa e do cle- peso e toque contrastados e sigilados com o selo real.” (PALACÍN,
ro e outra, uma boa parte desse numerário, era canalizada para 1994, p. 44).
a Inglaterra com quem a metrópole mantinha alguns tratados co- Os primeiros arraiais vão se formando aos arredores do rio ver-
merciais que serviam apenas para canalizar o ouro para o sistema melho, Anta, Barra, Ferreiro, Ouro Fino e Santa Rita que contribuí-
financeiro inglês. ram para a atração da população. À medida que vão surgindo novos
“Os Quintos Reais, os Tributos de Ofícios e um por cento sobre descobertos os arraiais vão se multiplicando por todo o território.
os contratos pertenciam ao Real Erário e eram remetidos direta- A Serra dos Pirineus em 1731 dará origem à Meia Ponte, importan-
mente a Lisboa, enquanto sob a jurisdição de São Paulo, o exce- te elo de comunicação, devido a sua localização. Na Região Norte,
dente das rendas da Capitania eram enviados à sede do governo foram descobertas outras minas, Maranhão (1730), Água Quente
e muitas vezes redistribuídos para cobrirem as despesas de outras (1732), Natividade (1734), Traíras (1735), São José (1736), São Félix
localidades carentes”. (SALLES, 1992, p.140). (1736), Pontal e Porto Real (1738), Arraias e Cavalcante (1740), Pi-
O um dos fatores que contribuiu para o sucesso da empresa lar (1741), Carmo (1746), Santa Luzia (1746) e Cocal (1749).
mineradora foi sem nenhuma sombra de dúvidas o trabalho com- Toda essa expansão demográfica serviu para disseminar focos
pulsório dos escravos africanos, expostos a condições de degrada- de população em várias partes do território e, dessa forma, estru-
ção, tais como: grande período de exposição ao sol, manutenção turar economicamente e administrativamente várias localidades,
do corpo por longas horas mergulhado parcialmente em água e em mesmo que sobre o domínio da metrópole Portuguesa, onde toda
posições inadequadas. produção que não sofria o descaminho era taxada. “Grande impor-
Além disso, ainda eram submetidos a violências diversas, que tância é conferida ao sistema administrativo e fiscal das Minas; no-
os mutilavam fisicamente e psicologicamente de forma irremedi- ta-se a preocupação de resguardar os descaminhos do ouro, mas
ável. Sob essas condições em média os africanos escravos tinham também a de controlar a distribuição dos gêneros.” (SALLES, 1992,
uma sobrevida de oito anos. Os indígenas também foram submeti- p.133).
dos a tais condições, porém não se adaptaram.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Apesar de todo o empenho que era direcionado para a con- Essa baixa na produtividade era consequência do esgotamento
tenção do contrabando, como a implantação de casas de fundição, do sistema que tinha como base a exploração de veios auríferos
isolamento de minas, proibição de utilização de caminhos não ofi- superficiais, a escassez de qualificação de mão de obra e equipa-
ciais, revistas rigorosas, e aplicação de castigos penosos aos que mentos apropriados, que pudessem proporcionar menor desperdí-
fossem pegos praticando; o contrabando se fazia presente, primei- cio , o não surgimento de novas técnicas capazes de reinventar tal
ro devido à insatisfação do povo em relação a grande parte do seu sistema, além da cobrança descabida de impostos, taxas e contri-
trabalho, que era destinada ao governo, e, em segundo, em razão buições, que desanimavam o mais motivado minerador.
da incapacidade de controle efetivo de uma região enorme. Dessa
forma se todo ouro objeto de contrabando, que seguiu por cami- A Decadência da Mineração
nhos obscuros, florestas e portos, tivesse sido alvo de mensuração A diminuição da produtividade das minas é a característica
a produção desse metal em Goiás seria bem mais expressiva. marcante do início da decadência do sistema, como citado ante-
Os dados oficiais disponíveis sobre a produção aurífera na épo- riormente, esse fenômeno passa a ocorrer já nos primeiros anos
ca são inconsistentes por não serem resultado de trabalho estatís- após a descoberta, porém não é possível afirmar que nessa época
tico, o que contribui para uma certa disparidade de dados obtidos seja consequência do esgotamento do minério, devido a outros fa-
em obras distintas, mesmo assim retratam uma produção tímida tores econômicos e administrativos, como a escassez de mão-de-o-
ao ser comparado a Minas Gerais. A produção do ouro em Goiás de bra e a vinculação à capitania de São Paulo
1730 a 1734 atingiu 1.000 kg, o pico de produção se dá de 1750 a Para efeito de análise pode-se convencionar o ano de 1753, o
1754, sendo um total de 5.880 kg. Há vários relatos de que o ano de de maior produção, como o divisor de águas que dá início à efetiva
maior produção foi o de 1.753, já de 1785 a 1789, a produção fica derrocada da produção que se efetivará no século seguinte
em apenas 1.000 kg, decaindo nos anos seguintes. O fato é que com a exaustão das minas superficiais e o fim dos
A produção do ouro foi “subindo constantemente desde o novos descobertos, fatores dinâmicos da manutenção do processo
descobrimento até 1753, ano mais elevado com uma produção de expansionista da mineração aurífera, a economia entra em estag-
3.060 kg. Depois decaiu lentamente até 1778 (produção: 1.090), nação, o declínio da população ocasionado pelo fim da imigração
a partir desta data a decadência cada vez é mais acentuada (425 reflete claramente a desaceleração de vários setores como o co-
kg em 1800) até quase desaparecer” (20 kg. Em 1822). (PALACÍN, mércio responsável pela manutenção da oferta de gêneros oriun-
1975, p. 21). Foram utilizadas duas formas de recolhimento de tri- dos das importações. A agropecuária que, embora sempre orienta-
butos sobre a produção: o Quinto e a Capitação. E essas formas da para a subsistência, fornecia alguns elementos e o próprio setor
se alternaram à medida que a efetividade de sua arrecadação foi público sofria com a queda da arrecadação.
reduzindo. O fato gerador da cobrança do quinto ocorria no mo- “A falta de experiência, a ambição do governo, e, em parte,
mento em que o ouro era entregue na casa de fundição, para ser o desconhecimento do País, mal organizado e quase despovoado,
fundido, onde era retirada a quinta parte do montante entregue e deram lugar a muitas leis inadequadas, que provocavam a ruína rá-
direcionada ao soberano sem nenhum ônus para o mesmo. A ta- pida desse notável ramo de atividade, importante fonte de renda
bela 2 mostra os rendimentos do Quinto do ouro. Observa-se que para o Estado. De nenhuma dessas leis numerosas que tem apareci-
como citado anteriormente o ano de 1753 foi o de maior arrecada- do até hoje se pode dizer propriamente que tivesse por finalidade a
ção e pode-se ver também que a produção de Minas Gerais foi bem proteção da indústria do ouro. Ao contrário, todas elas apenas visa-
superior a Goiana. vam o aumento a todo custo da produção, com o estabelecimento
A capitação era cobrada percapita de acordo com o quantitati- de medidas que assegurassem a parte devida à Coroa”. (PALACÍN,
vo de escravos, nesse caso se estabelecia uma produtividade média 1994, p.120).
por escravo e cobrava-se o tributo. “Para os escravos e trabalhado- É certo que a grande ambição do soberano em muito preju-
res livres na mineração, fez-se uma tabela baseada na produtivida- dicou a empresa mineradora e o contrabando agiu como medida
de média de uma oitava e meia de ouro por semana, arbitrando-se mitigadora desse apetite voraz, porém com a decadência nem mes-
em 4 oitavas e ¾ o tributo devido anualmente por trabalhador, mo aos comerciantes, que foram os grandes beneficiados economi-
compreendendo a oitava 3.600 gramas de ouro, no valor de 1$200 camente, restaram recursos para prosseguir. O restabelecimento
ou 1$500 conforme a época”. (SALLES, 1992, p.142) Além do quin- da atividade extrativa exigia a criação de novas técnicas e novos
to e da capitação havia outros dispêndios como pagamento do im- processos algo que não se desenvolveu nas décadas em que houve
posto das entradas, os dízimos sobre os produtos agropecuários, prosperidade, não poderia ser desenvolvido de imediato.
passagens nos portos, e subornos de agentes públicos; tudo isso À medida que o ouro de superfície, de fácil extração, vai se
tornava a atividade lícita muito onerosa e o contrabando bastante escasseando ocorre a necessidade de elevação do quantitativo do
atraente, tais cobranças eram realizadas por particulares que obti- elemento motriz minerador, o escravo, desse modo:
nham mediante pagamento antecipado à coroa Portuguesa o direi- “As lavras operavam a custos cada vez mais elevados, ainda
to de receber as rendas, os poderes de aplicar sanções e o risco de mais pelo fato de parte da escravaria estar voltada também para
um eventual prejuízo. A redução da produtividade foi um grande atividades complementares. O adiantamento de capital em escra-
problema para a manutenção da estabilidade das receitas prove- vos, a vida curta deles aliada à baixa produtividade nas minas fa-
nientes das minas. “A diminuição da produtividade iniciou-se já nos talmente conduziram empreendimentos à insolvência e falência”.
primeiros anos, mas começou a tornar-se um problema grave de- (ESTEVAM, 2004, p. 34).
pois de 1750; nos dez primeiros anos (1726-1735), um escravo po- Após verificar o inevitável esgotamento do sistema econômico
dia produzir até perto de 400 gramas de ouro por ano; nos 15 anos baseado na extração do ouro a partir do segundo quartel do século
seguintes (1736-1750) já produzia menos de 300; a partir de 1750 XVIII, o governo Português implanta algumas medidas visando re-
não chegava a 200, e mais tarde, em plena decadência, a produção erguer a economia no território, dentre elas o incentivo à agricul-
era semelhante à dos garimpeiros de hoje: pouco mais de 100 gra- tura e à manufatura, e a navegação dos rios Araguaia, Tocantins,
mas”. (PALACÍN, 1975, p.21). e Paranaíba, que se fizeram indiferentes ao desenvolvimento do
sistema. Ocorre então a falência do sistema e o estabelecimento de
uma economia de subsistência, com ruralização da população e o
consequente empobrecimento cultural.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
“Mas, tão logo os veios auríferos escassearam, numa técni- Desse modo o Estado de Goiás chegou ao século XX como um
ca rudimentar, dificultando novos descobertos, a pobreza, com a território inexpressivo economicamente e sem representatividade
mesma rapidez, substituiu a riqueza, Goiás, apesar de sua aparente política e cultural. Nesse século iria se concretizar a agropecuária
embora curta prosperidade, nunca passou realmente, de um pouso no Estado, como consequência do processo de expansão da fron-
de aventureiros que abandonavam o lugar, logo que as minas co- teira agrícola para a região central do país. Nas primeiras décadas
meçavam a dar sinais de cansaço”. (PALACÍN, 1975, p.44). do século em questão, o Estado permaneceu com baixíssima den-
sidade demográfica, onde a maioria da população se encontrava
A Decadência econômica de Goiás espalhada por áreas remotas do território, modificando-se apenas
Essa conclusão pode ser atribuída ao século XIX devido ao des- na segunda metade do mesmo século.
mantelamento da economia decorrente do esgotamento do produ- O deslocamento da fronteira agrícola para as regiões centrais
to chave e o consequente empobrecimento sócio cultural. Os últi- do país foi resultado da própria dinâmica do desenvolvimento de
mos descobertos de relevância são as minas de Anicuns em 1809, regiões como São Paulo, Minas Gerais e o Sul do País, que ao adap-
que serviram para animar novamente os ânimos. Inicialmente a tarem sua economia com os princípios capitalistas realizaram uma
extração gerou ganhos muito elevados, porém após três anos já inversão de papéis, onde regiões que eram consumidoras de pro-
apresentava uma produção bem inferior, além disso, os constantes dutos de primeira necessidade passaram a produzir tais produtos e
atritos entre os “cotistas” levaram o empreendimento a falência. as regiões centrais, antes produtoras desses produtos passaram a
A característica básica do século em questão foi a transição da produzir os produtos industrializados que antes eram importados.
economia extrativa mineral para a agropecuária, os esforços conti- “Enquanto o Centro-Sul se efetivava como a periferia do capi-
nuados do império em estabelecer tal economia acabaram se es- talismo mundial, outras regiões faziam o papel de periferia do Cen-
barrando, nas restrições legais que foram impostas inicialmente, tro-Sul, ou seja, a periferia da periferia, como já vinha acontecendo
como forma de coibir tais atividades, a exemplo da taxação que no Rio Grande do Sul e o Nordeste, por exemplo”. (FAYAD, 1999,
recaía sobre os agricultores, e também em outros fatores de ordem p.23)
econômica, como a inexistência de um sistema de escoamento Fonte:http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2014-01/
adequado, o que inviabilizava as exportações pelo alto custo ge- amineracao-em-goias-e-o-desenvolvimento-do-estado.pdf
rado, e cultural, onde predominava o preconceito contra as ativi-
dades agropastoris, já que a profissão de minerador gerava status
social na época.
Desse modo a agricultura permaneceu orientada basicamente MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO
para a subsistência em conjunto com as trocas intra regionais, já a DO TERRITÓRIO GOIANO.
pecuária se potencializou devido à capacidade do gado em se mo-
ver até o destino e a existência de grandes pastagens naturais em
certas localidades, favorecendo a pecuária extensiva. Nesse senti- A Ocupação Mineratória – Mineração
do, os pecuaristas passam a atuar de forma efetiva na exportação Enquanto o século XVII representou etapa de investigação das
de gado fornecendo para a Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e possibilidades econômicas das regiões goianas, durante a qual o
Pará. Segundo Bertran: seu território tornou-se conhecido, o século XVIII, em função da ex-
“A pecuária de exportação existia em Goiás como uma exten- pansão da marcha do ouro, foi ele devassado em todos os sentidos,
são dos currais do Vale do São Francisco, mobilizando as regiões estabelecendo -se a sua efetiva ocupação através da mineração. A
da Serra Geral do Nordeste Goiano, (de Arraias a Flores sobretu- primeira região ocupada em Goiás foi a região do Rio Vermelho.
do), com 230 fazendas consagradas à criação. Mais para o interior, Entre 1727 e 1732 surgiram diversos arraiais, além de Santana (pos-
sobre as chapadas do Tocantins, na vasta extensão entre Traíras teriormente Vila Boa de Goiás), em consequência das explorações
e Natividade contavam outras 250. Em todo o restante de Goiás, auríferas ou da localização na rota de Minas para Goiás. Em 1736
não havia senão outras 187 fazendas de criação”. (BERTRAN, 1988, já havia nas minas de Goiás 10.236 escravos. Nas proximidades de
p.43). Santana surgiram os arraiais de Anta e Ouro Fino; mais para o Nor-
A existência de uma pecuária incipiente favoreceu o desenvol- te, Santa Rita, Guarinos e Água Quente. Na porção Sudeste, Nossa
vimento de vários curtumes nos distritos. Conforme Bertran (1988) Senhora do Rosário da Meia Ponte (atual Pirenópolis) e Santa Cruz.
chegou a existir em Goiás 300 curtumes, no final do século XIX. Por Outras povoações surgidas na primeira metade do século XVIII fo-
outro lado, apesar do escasseamento das minas e a ruralização da ram: Jaraguá, Corumbá e o Arraial dos Couros (atual Formosa), na
população, a mineração exercida de modo precário nunca deixou rota de ligações de Santana e Pirenópolis a Minas Gerais.
de existir, o que constituiu em mais um obstáculo para a implanta- Ao longo dos caminhos que demandavam a Bahia, mais ao
ção da agropecuária. Outra dificuldade foi a falta de mão de obra Norte, na bacia do Tocantins, localizaram-se diversos núcleos popu-
para a agropecuária, visto que grande parte da população se des- lacionais, como São José do Tocantins (Niquelândia), Traíras, Cacho-
locou para outras localidades do país, onde poderiam ter outras eira, Flores, São Félix, Arraias (TO), Natividade (TO), Chapada (TO) e
oportunidades. Isto tudo não permitiu o avanço da agricultura nem Muquém. Na década de 1740 a porção mais povoada de Goiás era
uma melhor expansão da pecuária, que poderia ter alcançado ní- o Sul, mas a expansão rumo ao norte prosseguia com a implantação
veis mais elevados. dos arraiais do Carmo (TO), Conceição (TO), São Domingos, São José
Do ponto de vista cultural ocorre uma “aculturação” da popu- do Duro (TO), Amaro Leite, Cavalcante, Vila de Palma (T O), hoje
lação remanescente ruralizada. Segundo Palacin: Paranã, e Pilar de Goiás e Porto Real (TO), atual Porto Nacional, a
“Os viajantes europeus do século XIX aludem a uma regressão povoação mais setentrional de Goiás.
sócio cultural, onde os brancos assimilaram os costumes dos sel-
vagens, habitam choupanas, não usam o sal, não vestem roupas,
não circula moeda... Tão grande era a pobreza das populações que
se duvidou ter havido um período anterior com outras característi-
cas”. (PALACÍN, 1975, p.46).

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O sistema de datas Povoamento irregular
Era através do sistema de datas que se organizava a exploração O povoamento determinado pela mineração do ouro é um
do ouro, conforme o ordenamento jurídico da época. Assim que um povoamento muito irregular e mais instável; sem nenhum plane-
veio de ouro era descoberto em uma região mineradora, imediata- jamento, sem nenhuma ordem. Onde aparece ouro, ali surge uma
mente, o Superintendente das Minas ordenava que a região fosse povoação; quando o ouro se esgota, os mineiros mudam-se para
medida e dividida em lotes para poder ter início o processo de mi- outro lugar e a povoação definha e desaparece, isso porque o ouro
neração. Cada lote tinha a medida de 30 x 30 braças (uma braça tem encontrado em Goiás era o ouro de aluvião, em pequenas partí-
2,20m), ou seja, aproximadamente 66 x 66m. Estes lotes recebiam culas, que ficavam depositadas no leito de rios e córregos ou no
a denominação de datas e, cada data, por sua vez, era equivalente sopé das montanhas, geralmente. Sua extração era rápida e logo as
a uma lavra de mineração. jazidas se esgotavam forçando os mineiros a se mudarem em busca
As datas se distribuíam da seguinte forma: de novas áreas para mineração. A produção de ouro em Goiás foi
- O minerador responsável pelo achado escolhia a primeira maior que a de Mato Grosso, porém muito menor que em Minas
data para si. Um funcionário da Real Fazenda (o ministério respon- Gerais. O declínio da produção foi rápido.
sável pela mineração na época) escolhia a segunda data para o rei. O pico de foi em 1753, mas 50 a nos depois a produção já era
O responsável pelo achado tinha o direito de escolher mais uma. insignificante. Luís Palacín afirma que esses são os dados oficiais
- O rei não tinha interesse em explorar diretamente a sua data disponíveis, porém, o volume de ouro extraído deve ter sido muito
e ordenava que ela fosse leiloada entre os mineradores interessa- maior. De acordo com esse historiador, a maior parte do ouro re-
dos em explorá-la. Quem pagasse mais ficaria com ela. O dinhei- tirada era sonegada para fugir dos pesados impostos e, portanto,
ro do leilão era enviado a Portugal, como renda pessoal do rei. As não sabemos ao certo quanto ouro foi retirado de fato das terras
demais datas eram distribuídas por sorteio aos mineradores que goianas.
possuíssem um mínimo de doze escravos para poder explorá-las.
Cada minerador tinha direito a uma data por vez. Repare que a ati- Declínio da Mineração
vidade mineradora era extremamente intensiva em utilização de A partir da segunda metade do século XVIII, Portugal começou
mão-de-obra. Doze homens trabalhavam junto em um espaço de a entrar em fase de decadência progressiva, que coincidiu com o
apenas uma lavra. decréscimo da produtividade e do volume médio da produção das
minas do Brasil. Então desde 1778, a produção bruta das minas de
O início da mobilidade social Goiás começou a declinar progressivamente, em consequência da
Diferentemente da economia canavieira (cana-de-açúcar) que escassez dos metais das minas conhecidas, da ausência de novas
tinha uma sociedade estamental (no estado em que você nasceu descobertas e do decréscimo progressivo do rendimento por escra-
permanece), a sociedade mineradora não era estática. Havia a pos- vo. O último grande achado mineratório em Goiás deu-se na cidade
sibilidade, mesmo que pequena, de mudança de classe social. Foi o de Anicuns, em 1809, no sul da capitania.
início da mobilidade social no Brasil.
Existiam dois tipos de mineradores, o grande, era o minerador A atividade agropecuária nas regiões mineradoras
de lavra, e o pequeno, o de faiscamento. O minerador de lavra era Assim que foram descobertas grandes jazidas de ouro no Bra-
aquele, dono de pelo menos 12 escravos, que participava do sorteio sil logo se organizou uma hierarquia da produção: os territórios de
das datas e tinha o direito de explorar os veios de ouro em primeiro minas deveriam dedicar-se exclusivamente – ou quase exclusiva-
lugar. Quando uma lavra começava a demonstrar esgotamento e a mente – à produção de ouro, sem desviar esforços na produção de
produtividade caía geralmente ela era abando ada e, a partir deste outros bens, que poderiam ser importados. Isso era resquício da
momento, o faiscador poderia ficar com o que sobrou dela. mentalidade Mercantilista, em voga na época, que, durante muito
O faiscador era o minerador com pequena quantidade de es- tempo, identificou a riqueza com a posse dos metais preciosos. Os
cravos, insuficientes para participar dos sorteios, ou mesmo o tra- alimentos e todas as outras coisas necessárias para a vida vinham
balhador individual, que só tinha a sua bateia para tentar a sorte das capitanias da costa. As minas eram assim, uma espécie de colô-
nas lavras abandonadas. Alguns conseguiram ir juntando ouro su- nia dentro da colônia, no dizer do historiador Luís Palacín. Isso nos
ficiente para adquirir mais escravos e, posteriormente, passaram a explica o pouco desenvolvimento da lavoura e da pecuária em Goi-
ser grandes mineradores. Alguns até fizeram fortuna. ás, durante os cinquenta primeiros anos. Tal sistema não se devia
Existem registro de alguns proprietários de escravos que os exclusivamente aos desejos e à política dos dirigentes; era também
deixavam faiscar nos seus poucos momentos de descanso e alguns decorrente da mentalidade do povo.
até conseguiram comprar a sua carta de alforria, documento que
garantia a liberdade ao escravo. Tropeiros que abasteciam as regi- O Final da Mineração e Tentativa de navegação no Araguaia
ões mineradoras também conseguiram enriquecer. Tome cuidado, e Tocantins
porém, com uma coisa. A mobilidade social era pequena, não foi A partir de 1775, com a mineração em franco declínio, o Pri-
suficiente para desenvolver uma classe média. meiro Ministro de Portugal, Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês
Classe social pressupõe uma grande quantidade de pessoas, de Pombal, toma diversas medidas para diversificar a economia no
e o número daquelas que conseguiam ascender não era suficiente Brasil, sendo que várias delas vão afetar diretamente a capitania
para isso. Só se pode falar em classe média no Brasil, a partir da de Goiás. A primeira, como tentativa de estimular a produção, foi
industrialização. isentar de impostos por um período de 10 anos os lavradores que
fundassem estabelecimentos agrícolas às margens dos rios. Dentre
os produtos beneficiados estavam o algodão, a cana-de-açúcar e o
gado. A segunda medida foi a criação, em 1775 da Companhia de
Comércio do Grão Pará e Maranhão, para explorar a navegação e o
comércio nos rios amazônicos, incluindo os rios Araguaia e Tocan-
tins. O Marquês de Pombal também ordenou a criação dos chama-
dos aldeamentos indígenas. Todas essas medidas fracassaram.

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Novas tentativas de reativação da Economia 6) Não era preciso pagar salário aos vaqueiros, que eram ho-
Na primeira metade dos éculos XIX, era desolador o estado da mens livres e que trabalhavam por produtividade. Recebiam um
capitania de Goiás. Co m a decadência a população não só diminuiu percentual dos bezerros que nasciam nas fazendas (regime de
como se dispersou pelos sertões, os arraiais desapareciam ou se sorte). Um novo tipo de povoamento se estabeleceu a partir do fi-
arruinavam e a agropecuária estava circunscrita à produção de sub- nal do século XVIII, sobretudo no Sul da capitania, onde campos
sistência. Como medidas salvadoras, o príncipe regente D. João VI, de pastagens naturais se transformaram em centros de criatório.
assim que chegou ao Brasil, em 1808, passou a incentivar a agricul- A necessidade de tomar dos silvícolas (índios) áreas sob seu domí-
tura, a pecuária, o comércio e a navegação dos rios. Várias medidas nio, que estrangulavam a marcha do povoamento rumo às porções
foram anunciadas, mas a maioria nunca saiu do papel: setentrionais (norte), propiciou também a expansão da ocupação
1) Foi concedida a isenção de impostos pelo período de 10 neste período.
anos aos lavradores que, nas margens dos rios Tocantins, Araguaia A ocupação de Goiás, quando no Sul e no Norte de Goiás, no
e Maranhão fundassem estabelecimentos agrícolas. início do século XIX, a mineração era de pequena monta, fazendo
2) Ênfase à catequese do índio para aculturá-lo e aproveitá-lo surgir um novo surto econômico e de povoamento representado
como mão-de-obra na agricultura. pela pecuária, estabelecida através de duas grandes vias de pe-
3) Criação de presídios às margens dos rios, com os seguintes netração: a do Nordeste, representada por criadores e rebanhos
objetivos: proteger o comércio, auxiliar a navegação e aproveitar o nordestinos, que pelo São Francisco se espalharam pelo Oeste da
trabalho dos nativos para o cultivo da terra. Presídios eram colônias Bahia, penetrando nas zonas adjacentes de Goiás. O Arraial dos
militares de povoamento, defesa e especialização agrícola. Em Goi- Couros (Formosa) foi o grande centro dessa via.
ás, os mais importantes foram Santa Maria (atual Araguacema-TO), A de São Paulo e Minas Gerais, que através dos antigos cami-
Jurupense, Leopoldina (atual Aruanã-GO), São José dos Martírios. nhos da mineração, penetrou no território goiano, estabilizando-
Na verdade, deram poucos resultados, por causa do isolamento e -se no Sudoeste da capitania. Assim, extensas áreas do território
da inaptidão dos soldados no cultivo da terra. A maioria desses pre- goiano foram ocupadas em função da pecuária, dela derivando a
sídios desapareceu com o tempo. expansão do povoamento e o surgimento de cidades como Itaberaí,
4) D. João VI, atendendo a uma antiga demanda de vários ca- inicialmente uma fazenda de criação, e Anápolis, local de passagem
pitães-generais (governadores) de Goiás que reclamavam do ta- de muitos fazendeiros de gado que iam em demanda à região das
manho gigantesco da área geográfica de Goiás, dividiu o território minas e que, impressionados com seus campos, aí se instalaram.
goiano em duas comarcas: a do sul, compreendendo o s julgados
de Goiás (cabeça ou sede), de Meia Ponte, de Santa Cruz, de Santa A pecuária
Luzia, de Pilar, de Crixás e de Desemboque; a do norte ou Comarca Está se desenvolve melhor no Sul devido ao povoamento oriun-
de São João das Duas Barras, compreendendo os julgados de V ila do da pecuária, entretanto, apresentou numerosos problemas. Não
de São João da Palma (cabeça ou sede), de Conceição, de Nativida- foi, por exemplo, um povoamento uniforme: caracterizou-se pela
de, de Porto Imperial, de São Félix, de Cavalcante e de Traíras. Foi má distribuição e pela heterogeneidade do seu crescimento. Pros-
nessa época que surgiram através da navegação: Araguacema, To- perou mais no Sul, que ficava mais perto do mercado consumidor
cantinópolis, Pedro Afonso, Araguatins e Tocantínia e pela expansão do Sudeste e do litoral. Enquanto algumas áreas permaneceram es-
da criação de gado, Lizarda. tacionárias – principalmente no Norte, outras decaíram (os antigos
centros mineradores), e outras ainda, localizadas principalmente na
A divisão de Goiás em duas comarcas região Centro-Sul, surgiram e se desenvolveram, em decorrência
Esta foi a semente que deu origem ao atual estado do Tocan- sobretudo do surto migratório de paulistas, mineiros e nordestinos.
tins, pois ficou determinado que a divisa das duas comarcas fosse Durante o século XIX a população de Goiás aumentou continua-
mais ou menos à altura do paralelo 13º., atual fronteira entre os mente, não só pelo crescimento vegetativo, como pelas migrações
dois estados. Outro fato importante foi a nomeação de Joaquim Te- dos Estados vizinhos.
otônio Segurado como Ouvidor da Co marca do Norte, que acabou Os índios diminuíram quantitativamente e a contribuição es-
liderando o primeiro movimento separatista. O avanço da Pecuária trangeira foi inexistente. A pecuária tornou-se o setor mais im-
Com a decadência da mineração a pecuária tornou -se uma opção portante da economia. O incremento da pecuária trouxe como
natural, por vários motivos: consequência o crescimento da população. Correntes migratórias
1) O isolamento provocado pela falta de estradas e da precária chegavam em Goiás oriundas do Pará, do Maranhão, da Bahia e de
navegação impediam o desenvolvimento de uma agricultura co- Minas, povoando os inóspitos sertões Povoações surgidas no pe-
mercial. ríodo: no Sul de Goiás: arraial do Bonfim (Silvânia), à margem do
2) O gado não necessita de estradas, auto locomove-se por tri- rio Vermelho, fundado por mineradores que haviam abandonado
lhas e campos até o local de comercialização e/ou abate. as minas de Santa Luzia, em fase de esgotamento. Campo Alegre,
3) Existência de pastagem natural abundante. Especialmente originada de um pouso de tropeiros; primitivamente, chamou-
nos chamados cerrados de campo limpo. -se Arraial do Calaça. Ipameri, fundada por criadores e lavradores
4) O investimento era pequeno e o rebanho se se multiplica procedentes de Minas Gerais. Santo Antônio do Morro do Chapéu
naturalmente. (Monte Alegre de Goiás), na zona Centro-Oriental, na rota do sertão
5) Não necessita de uso de mão-de-obra intensiva, como na baiano. Posse, surgida no início do século XIX, em consequência da
mineração. Aliás, dispensa mão-de-obra escrava. fixação de criadores de gado de origem nordestina.

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O movimento separatista do norte de Goiás (1821-1823) Imigração Árabes: sírios e libaneses (dispersaram pelo estado
Em 1821, houve a primeira tentativa oficial de criação do que de Goiás – Goiânia, Anápolis, Catalão, dentre outras cidades)
hoje é o estado do Tocantins. O movimento iniciou-se na cidade de Alemães (Colônia de Uvá – Cidade de Goiás)
Cavalcante. O mais proeminente líder do movimento separatista foi Italianos (Nova Veneza)
o ouvidor Joaquim Teotônio Segurado, que já manifestara preocu-
pação com o desenvolvimento do norte goiano antes mesmo de se As Colônias Agrícolas
instalar na região. Teotônio Segurado, entre 1804 e 1809, fora ou- A par do estímulo à fundação de Goiânia, centro dinamizador
vidor de toda a Capitania de Goiás e, quando em 1809, o território da região, o Governo Federal prosseguiu a sua política de interiori-
goiano foi dividido em duas comarcas, por D. João VI, ele tornou-se zação através da fundação de várias colônias agrícolas espalhadas
ouvidor da comarca do norte. Teotônio declarou a Comarca do Nor- pelas áreas mais frágeis do País. Em Goiás, esta política foi concreti-
te (o que corresponde ao atual estado do Tocantins) independente zada na criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás e na ação da
da comarca do sul (atual estado de Goiás). É importante destacar Fundação Brasil Central. Estes empreendimentos deram um novo
que Teotônio Segurado não era propriamente um defensor da impulso na expansão rumo ao Oeste. A cidade de Ceres e Carmo
causa da independência brasileira, diferenciando-se, portanto, do do Rio
“grupo de radicais”, liderados pelo Padre Luíz Bartolomeu Marques,
originário de Vila Boa. O ouvidor defendia a manutenção do vínculo A modernização
com as Cortes de Lisboa, sendo inclusive, eleito representante goia- A partir de 1940, Goiás cresce rapidamente: a construção de
no para aquela assembleia, cuja função seria elaborar uma Consti- Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha na-
tuição comum para todos os territórios ligados à Coroa Portuguesa. cional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a
construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso
Estrada de ferro dinamiza povoamento de Goiás de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar
A construção da Estrada de Ferro foi o primeiro dinamismo na um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recen-
urbanização de Goiás. Em 1896 a Estrada de Ferro Mogiana chegou tes, Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agro-
até Araguari (MG). Em 1909, os trilhos da Paulista atingiram Bar- pecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização.
retos (SP). Em 1913 Goiás foi ligado à Minas Gerais pela E.F. Goiás Hoje, está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando
e pela Rede Mineira de Viação. Inaugurava -se uma nova etapa na e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros
ocupação do Estado. comerciais.
O expressivo papel das ferrovias na intensificação do povoa- O processo de modernização agrícola na década de 1970 e o
mento goiano ligou-se a duas ordens principais de fato res: de um posterior desenvolvimento do setor agroindustrial na década de
lado, facilitou o acesso dos produtos goianos aos mercados do li- 1980 representaram uma nova página para o desenvolvimento do
toral; de outro, possibilitou a ocupação de vastas áreas da região estado de Goiás. A expansão desses setores ampliou as exportações
meridional de Goiás, correspondendo à efetiva ocupação agrícola e os elos da cadeia industrial goiana.
de parte do território goiano. Apesar da suposta “vocação natural” do estado para agricul-
Entre 1888 e 1930, o adensamento e a expansão do povoa- tura, o papel interventor do setor público, tanto federal, como es-
mento nas porções meridionais de Goiás ( Sudeste, Sul e Sudoes- tadual, foi vital para o processo de modernização da agricultura e
te) evidenciaram- se através da formação de diversos povoados, desenvolvimento do setor agroindustrial. Os trabalhos de Estevam
como: Santana das Antas (Anápolis), Rio Verde das Abóboras (Rio (2004), Pires e Ramos (2009), e Castro e Fonseca (1995) mostram
Verde), São Sebastião do Alemão (Palmeiras), Nazário, Catingueiro com detalhes como o setor público foi essencial para a estruturação
Grande (Itauçu), Inhumas, Cerrado (Nerópolis), Ribeirão (Guapó), dessas atividades no território goiano. As culturas priorizadas fo-
Santo Antônio das Grimpas (Hidrolândia), Pindaibinha (Leopoldo de ram, principalmente, a soja, o milho e, mais recentemente, a cana-
Bulhões), Vianópolis, Gameleira (Cristianópolis), Urutaí, Goiandira, -de-açúcar. Essas culturas foram selecionadas devido ao seu maior
Ouvidor, Cumari, Nova Aurora, Boa Vista de Marzagão (Marzagão), potencial exportador e maior encadeamento com a indústria.
Cachoeira Alta, São Sebastião das Bananeiras (Goiatuba), Serania Em meio a essas transformações, em 1988, o norte do estado
(Mairipotaba), Água Fria (Caçu), Cachoeira da Fumaça (Cachoeira foi desmembrado, dando origem ao estado do Tocantins.
de Goiás), Santa Rita de Goiás, Bom Jardim (Bom Jardim de Goiás) A partir da década de 1990 houve maior diversificação do setor
e Baliza. industrial por meio do crescimento de
Dez novos municípios surgiram então: Planaltina, Orizona, Bela atividades do setor de fabricação de produtos químicos, farma-
Vista, Corumbaíba, Itumbiara, Mineiros, Anicuns, Trindade, Cristali- cêuticos, veículos automotores e produção de etanol. Um fator res-
na, Pires do Rio, Caldas Novas e Buriti Alegre. ponsável pela atração desse capital foram os programas de incen-
tivos fiscais estaduais implementados a partir da década de 1980.
Economia O dinamismo econômico provocado por todos esses processos
Chegada da Ferrovia Goiás ocasionou também a redistribuição da população no território, por
1913 – Goiandira, Ipameri e Catalão meio de um intenso êxodo rural. As novas formas de produção ado-
1924 – Vianópolis 1930 – Silvânia tadas, intensivas em capital foram as principais responsáveis pela
1931 – Leopoldo de Bulhões mudança da população do campo para a cidade. As cidades que re-
1935 – Anápolis - Aumento da atividade agrícola (arroz, milho e ceberam a maior parte desses migrantes do campo foram a capital,
feijão) - Charqueadas (Catalão, Ipameri e Pires do Rio) Goiânia, as cidades da região do Entorno de Brasília - como Luziânia
Movimentos de Contestação ao coronelismo e Formosa -, e as cidades próximas às regiões que desenvolveram o
- 1919 – Revolta em São José do Duro (Cel. Abílio Wolney) agronegócio como Rio Verde, Jataí, Cristalina e Catalão.
- 1925 – Benedita Cypriana Gomes (Santa Dica)
- 1924-27 - Coluna Prestes (Tenentismo)

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Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas cada é interiorização do crescimento e a formação de novas aglo-
últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com merações urbanas. Essas são algumas das principais conclusões do
maior fluxo migratório líquido do país. As principais razões para mais aprofundado estudo sobre o tema realizado no país nos últi-
esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que inter- mos anos e que está em fase de conclusão, sendo realizado pelo
liga praticamente todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com apoio do IBGE
econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília. e da Unicamp, além de outras instituições, como o Seade (Serviço
Os indicadores que medem as condições de vida da popula- Estadual de Análise de Dados de São Paulo).
ção apresentaram desempenho positivo nas últimas duas décadas.
Houve queda expressiva do número de pobres e extremamente Problemas da Urbanização Desenfreada em Goiás
pobres. Os indicadores de esperança de vida, mortalidade infantil, Na área do entorno do Distrito Federal temos a problemática
saúde, educação apresentaram melhorias significativas. Dentre os da definição de administração nos municípios que a compõem.A
indicadores analisados, o único que não tem evolução desejável é o população destes municípios trabalha no Distrito Federal, mas mo-
de acesso à rede de esgoto sanitário. ram em Goiás, o que gera uma grave falta de infraestrutura nestes
A estratégia de desenvolvimento adotada pelo estado de Goiás municípios.
ao longo das últimas décadas foi baseada, fundamentalmente, no Goiânia e seus municípios conurbados – Conurbação é o nome
estímulo à atração de empreendimentos industriais, concentrando- que se dá para o crescimento de duas ou mais cidades vizinhas, que
-se esforços, basicamente, na dotação de infraestrutura física re- acabam por formar um único aglomerado urbano. Em geral, numa
querida pelas plantas industriais e na oferta de reduções tributárias conurbação existe uma cidade principal e uma (ou mais de uma)
por meio dos incentivos fiscais. Essa estratégia parece ter propicia- cidade-satélite. Goiânia é a maior Metrópole Regional do Centro
do a alavancagem do crescimento econômico de Goiás com melho- Oeste do Brasil.Metrópoles regionais são grandes cidades, porém
ria de alguns indicadores sociais. Contudo, o desafio ainda é pro- menores e menos equipadas que as metrópoles nacionais.
porcionar um desenvolvimento mais homogêneo do território bem
como da sua distribuição funcional da renda. Exemplo disso é que o
PIB de Goiás permanece concentrado em apenas dez municípios do
estado, todos localizados na Metade Sul do território. A POPULAÇÃO GOIANA: POVOAMENTO, MOVIMEN-
Ademais, grandes obras de infraestrutura que estão em anda- TOS MIGRATÓRIOS E DENSIDADE DEMOGRÁFICA
mento no estado como a Ferrovia Norte-Sul, o aeroporto de cargas
de Anápolis e duplicação de rodovias, tanto estaduais como fede- Início do povoamento
rais, devem dar novo fôlego para o seu desenvolvimento.
O início do povoamento em 1726, D. Rodrigo César de Mene-
zes, governador da Capitania de São Vicente, manda o Anhanguera
Filho de volta a Goiás, com o título de Superintendente das Minas,
para iniciar o povoamento, quando foi fundado o Arraial de Santa-
na. Logo depois surgiriam novas povoações no entorno como Anta,
Ferreiro e Ouro Fino.
Em 1739, o Arraial de Santana foi elevado à condição de Vila.
Vila Boa de Goiás. A partir de mo mento em que um arraial atingia o
status d e vila, passava a ter autonomia e o direito a uma espécie de
prefeito, o Intendente, um Senado da Câmara, formado por verea-
dores, escolhidos entre o s “homens bons” da vila. Ser um “homem
bom” era sinônimo de ser rico, católico e branco. A vila também
tinha direito a ter um juiz e a um pelourinho, local onde se adminis-
trava a justiça. O pelourinho tinha, necessariamente, uma cadeia,
uma forca, para executar as penas de morte, muito comuns à época
e um tronco, onde os escravos eram castigados. Goiás permaneceu
ligado à Capitania de São Vicente até 1749, embora, por alvará de
08 de novembro de 1744, de D. Luís de Mascarenhas, governador
da capitania de São Vicente tivesse sido oficializada a separação de
Goiás e de Mato Grosso daquela capitania. Porém, o primeiro go-
vernador de Goiás, D. Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só
chegou a Goiás em 1749 e, portanto, somente aí Goiás passou a ser,
de fato, uma Capitania independente.

Migrações externas
O Brasil foi um país de imigrantes. Primeiramente foi ocupa-
do pelos portugueses, que, por sua vez, trouxeram para a colônia
Uma Tendência da Urbanização no Brasil os africanos escravizados (imigração forçada). Entre 1850 e 1934,
Goiás, nas últimas décadas do século passado e primeiros anos ocorreu a maior entrada de imigrantes no país, os quais vieram es-
deste século, passou a acompanhar a tendência de crescimento po- pontaneamente da Europa, no auge da agricultura cafeeira no Bra-
pulacional e econômico das médias cidades, sendo hoje um Estado sil. Os principais grupos que entraram no Brasil, em toda a história
que atrai imigrantes. Assim, depois de uma urbanização explosiva, da imigração espontânea, foram os portugueses, os italianos, os
que concentrou população nas grandes metrópoles – principalmen- espanhóis, os alemães e os japoneses. Nesse período, o governo
te do Sudeste – ao longo dos anos 70 e 80, o Brasil está passando paulista chegou a estimular o processo imigratório, inclusive com
por mudanças na distribuição de sua população. A marca desta dé- ajuda financeira (subvenção).

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Além dos imigrantes constituírem mão de obra para a lavoura O Centro-Oeste, em razão do crescimento das cidades médias
cafeeira, após a proibição do tráfico de escravizados em 1850 (lei e do desenvolvimento agropecuário e do setor de serviços, havia
Eusébio de Queirós), vários grupos, principalmente alemães e italia- apresentado o mais expressivo saldo migratório líquido positivo.
nos, foram utilizados para a colonização da atual Região Sul do país.
Com a abolição da escravatura (1888), o número de imigrantes mul- Os fatores que influenciam as mudanças nos fluxos migrató-
tiplicou-se e se manteve elevado até as primeiras décadas do século rios
XX. A partir de 1934, foi estabelecida a Lei de Cotas, que restringia a Entre os principais fatores que explicam a mudança nos fluxos
entrada de estrangeiros, com exceção dos portugueses. O declínio migratórios internos estão:
da economia cafeeira, decorrente da crise mundial de 1929, afetou – O desenvolvimento econômico em outras regiões: a partir
o crescimento econômico do Brasil. A nova lei foi justificada como dos anos 1960, começou a ocupação maciça das regiões Centro-O-
uma forma de evitar que o índice de desemprego aumentasse ain- este e Norte. A primeira teve como fator de atração a inauguração
da mais, provocando instabilidade social. A lei de Cotas estabelecia de Brasília e, posteriormente, o avanço do agronegócio. Já a região
que apenas 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade, que Norte passou a atrair migrantes a partir da abertura de estradas
haviam entrado nos cinquenta anos anteriores à promulgação da como a Belém-Brasília e da criação da Zona Franca de Manaus.
lei, podiam fixar residência no país. Embora numa proporção bem – A desconcentração industrial: a partir dos anos 1990, as po-
menor, o Brasil continuou recebendo imigrantes. A partir da década líticas de isenção de impostos e doação de terrenos feitas por esta-
de 1940, a imigração para o país esteve muito ligada à conjuntura dos e municípios acabaram atraindo as empresas para diferentes
da Segunda Guerra Mundial. Os principais grupos de imigrantes à regiões. Consequentemente, a ampliação da oferta de emprego
época foram judeus, poloneses, japoneses e chineses, além de ita- nesses locais impulsionou o recebimento de migrantes.
lianos, alemães e pessoas de outros países europeus. – O avanço da urbanização: nas últimas décadas, a urbaniza-
ção avançou pelo Brasil, o que proporcionou a melhoria na infraes-
Nova onda migratória: outros contextos trutura de transportes, de telecomunicações e de energia elétrica,
Na década de 1970, o Brasil recebeu muitos imigrantes de An- favorecendo a geração de empregos em locais até então menos de-
gola e Moçambique. Tendo perdido privilégios com a descoloniza- senvolvidos. Como a principal motivação para a migração é a busca
ção desses países, vieram para o Brasil diversos descendentes de por melhores condições de vida e de trabalho, à medida que ocorre
portugueses que lá viviam. A partir do final do século XX, sobretudo uma distribuição mais equilibrada das ofertas de trabalho, a busca
nos anos 1990, o país passou a receber maior quantidade de imi- por outros lugares para morar tende a cair.
grantes peruanos, bolivianos, paraguaios, argentinos, coreanos e
chineses. Muitos desses imigrantes estão em situação ilegal. Com Os novos fluxos migratórios
vistos vencidos e vivendo na clandestinidade, não podem trabalhar Entre 1995 e 2000, 3,4 milhões de pessoas trocaram a região
com carteira assinada, adquirir casa própria ou montar seu próprio onde nasceram por outra. Já entre 2005 e 2010, esse número bai-
negócio. xou para 3 milhões. Assim, a migração entre regiões perde força
Na cidade de São Paulo e em outras cidades do interior paulis- frente a outros fluxos, como:
ta, por exemplo, parte desses imigrantes trabalha em confecções – Migração intrarregional: ocorre entre municípios de um
que funcionam ilegalmente. Nelas, submetem-se a regimes de mesmo estado ou ainda entre estados de uma mesma região, so-
semiescravidão, com jornada diária de até 17 horas e rendimen- bretudo em direção a cidades de médio porte. Esse processo é im-
to inferior ao do salário mínimo estabelecido no país. Apesar dos pulsionado, muitas vezes, por Indústrias que migram para cidades
abusos sofridos, esses imigrantes evitam denunciar a situação para menores. A migração entre os estados movimentou 4,6 milhões de
as autoridades brasileiras por terem entrado clandestinamente no pessoas entre 2005 e 2010.
país, o que resultaria na deportação para seu país de origem. Em – Migração pendular: neste caso, trata-se de um arranjo popu-
meados de 2009, o governo federal aprovou uma lei anistiando to- lacional entre dois ou mais municípios onde há grande integração
dos os imigrantes que entraram irregularmente no Brasil até 1o de demográfica. A migração pendular ocorre quando as pessoas estu-
fevereiro de 2009. Desse modo, aproximadamente 50 mil estran- dam ou trabalham em um município diferente de onde mora, sendo
geiros ilegais passaram a contar com a possibilidade de regularizar obrigado a se deslocar diariamente para cumprir essas obrigações.
sua permanência e obter vínculos empregatícios de acordo com a – Migração de retorno: é o deslocamento de pessoas para sua
legislação trabalhista vigente ou ainda denunciar eventuais abusos região de origem, após ter migrado. É o que ocorreu na região Nor-
cometidos por aliciadores e empregadores, sem correr o risco de deste a partir dos anos 1980, com a melhora da economia local. Na
ser deportado. Região Metropolitana de São Paulo, 60% dos que deixaram a região
entre 2000 e 2010, eram migrantes de retorno.
Movimentos atuais
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diver- Demografia
sificadas em todas as regiões. Além disso, a “guerra fiscal” travada A verdadeira evolução de Goiás e de sua história tem como
entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para ponto de partida o final do século XVII, com a descoberta das suas
atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. primeiras minas de ouro, e início do século XVIII. Esta época, inicia-
Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, ca- da com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo em 1727,
racterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo su- foi marcada pela colonização de algumas regiões.
perior ao das metrópoles, particularmente do Sudeste. O Censo de Goiás pertenceu até 1749 à capitania de São Paulo. A partir
2010 apontou uma redução no volume total de migrantes, que caiu desta data tornou-se capitania independente. Ao se evidenciar a
de 3,3 milhões de pessoas no quinquênio 1995-2000 para 2 milhões decadência do ouro, várias medidas administrativas foram tomadas
no quinquênio 2004-2009. O Sudeste apresentou saldo líquido mi- por parte do governo, sem alcançar, no entanto, resultados satisfa-
gratório negativo, apesar de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Ja- tórios.
neiro apresentarem saldo positivo. Outras regiões passaram a atrair
população, e muitos migrantes residentes no Sudeste retornaram à
sua região de origem.

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A economia do ouro, sinônimo de lucro fácil, não encontrou, de imediato, um produto que a substituísse em nível de vantagem eco-
nômica. A decadência do ouro afetou a sociedade goiana, sobretudo na forma de ruralização e regressão a uma economia de subsistência.
É a partir de 1940, que Goiás cresce rapidamente: a construção de Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha
nacional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso
de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recentes,
Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agropecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização. Hoje,
está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros comerciais.
Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com maior
fluxo migratório líquido do país. As principais razões para esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que interliga praticamente
todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília.
A estrutura demográfica do Estado de Goiás passou por intensa transformação nas últimas décadas. Talvez a mais expressiva tenha
sido o deslocamento da população da zona rural para os espaços urbanos. De um Estado eminentemente agrário, a realidade começa a se
alterar na segunda metade do século XX e se intensifica na década de 1970. Atualmente, Goiás conta com mais de 90% de sua população
vivendo em cidades. Esse fenômeno é resultado direto da mudança na base econômica e de produção pela qual nosso território passou. A
expansão do parque industrial, notadamente o da agroindústria, e o fortalecimento do setor de serviços impulsionaram a economia goiana
atraindo leva de imigrantes de outras Unidades da Federação e desencadeando o êxodo rural.

Goiás está no ranking dos Estados brasileiros por residentes não naturais do próprio Estado, Goiás é o sétimo, em termo relativo, e o
quarto, em número absoluto. Não há como negar, portanto, o poder de atração do território goiano cada vez mais dotado de infraestrutu-
ras e equipamentos que agregam vantagens para o dinamismo da economia e para a melhoria da qualidade de vida de sua população, seja
nativo ou imigrante. Derivado das alterações na composição populacional e atrelada às questões culturais, a estrutura etária dos goianos
sofre forte modificação. Se em 1970 as crianças perfaziam mais de 45% da população total, em 2010 essa participação cai para 24%. Nas
projeções para 2020 e 2030 segue a tendência de queda do percentual das crianças e o aumento dos idosos. Persistindo nessa direção,
não tardará para que o número de pessoas com mais de 64 anos supere o total de crianças em Goiás.

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Com a diminuição da fecundidade - em Goiás a média de filhos por mulher em idade fértil caiu de 4,46 em 1970, para 1,86 em 2010,
cifra esta inferior à taxa de reposição (2,1) necessária a manter a população em números estáveis – e a consequente redução da carga
de dependência exercida pelas crianças, somada ao gradativo aumento da população em idade ativa, criam-se condições para o melhor
aproveitamento dos recursos gerados pela parcela produtiva da população. Para tanto, é necessário dimensionar a duração do bônus de-
mográfico, já com a certeza de que a janela de oportunidades começará a se fechar a partir da década de 2030.
Nota-se o quão a razão de dependência – peso da população inativa sobre a ativa – decresceu depois da década de 1970. Percebe-se
que atingirá o menor índice nos anos de 2020, de modo que esse período será o auge das oportunidades do bônus demográfico, e por isso,
é necessário preparar as condições para aproveitá-las. A partir da década de 2030 a razão de dependência crescerá devido ao aumento do
contingente de idosos, exigindo ações para atender às demandas de grupo.

As mudanças na estrutura etária da população goiana exigirão políticas e ações condizentes com a realidade. Para tanto é preciso
saber aproveitar o bônus demográfico, absorvendo a grande mão de obra presente no período, possibilita a geração de mais recursos e
a melhor distribuição de renda na sociedade. Além disso, é necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e
jovens e a consequente diminuição na exigência de matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar
o investimento para a qualidade do ensino e para a qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em
áreas que exigem maior especialidade e rendimento. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da
expansão dos cursos profissionalizantes, visando subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
A ascensão na renda domiciliar per capita, pode-se embasar na dinâmica econômica do Estado que tem se mantido em expansão o
que gera impacto positivo na geração de emprego e renda dos trabalhadores, assim contribuindo sobre a renda domiciliar per capita. Não
se pode deixar de mencionar ainda, os programas federal e estadual de transferência de renda que impactaram positivamente a renda das
famílias mais pobres. É digno de destaque, nesse contexto, o aumento do salário mínimo no decorrer desta década. Tendo este cenário
contribuído para a redução nos números referente à pobreza.
Destacam-se ainda em âmbito estadual as ações tomadas pelo Governo como forma de combater a situação de pobreza, sendo uma
delas o Programa Renda Cidadã que repassa mensalmente benefício para 58 mil famílias em todo o Estado, além de programas como o
Bolsa Futuro, que age na área da profissionalização juvenil, a qual pode-se identificar como uma tentativa de reduzir a vulnerabilidade
social entre os jovens.

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A própria formação histórica econômica e geográfica de Goiás aponta os motivos pelo qual a parte norte do Estado tenha uma situação
de vulnerabilidade maior que o Sul, portanto sugere-se um acompanhamento acurado dessa parte do Estado. No quesito vulnerabilidade
ressalta-se ainda a região do Entorno do Distrito Federal, por esta composição atípica de um ente federado contido em uma região do
Estado do Goiás, portanto há a necessidade de ações em cooperação entres os entes para a redução da extrema pobreza na região.

Estado de Goiás - Proporção de indivíduos extremamente pobres por município e região de planejamento - 2010

Desafios
- É necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e jovens e a consequente diminuição na exigência de
matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar o investimento para a qualidade do ensino e para a
qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em áreas que exigem maior especialidade e rendimen-
to. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da expansão dos cursos profissionalizantes, visando
subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
- Há que se atentar, nesse contexto, para o aumento da participação da população idosa. Esse grupo, como se viu, ultrapassará o con-
tingente das crianças já depois da década de 2030, exigindo atenções específicas e carecendo de ações públicas voltadas, principalmente,
para a saúde, assistência social e lazer. As políticas devem ser gestadas desde já, aproveitando o momento propício em que o peso dos
inativos é bem suportado pela população ativa.
- Fortalecimento das políticas de redução da desigualdade;
- Uma maior integração entre os sistemas de políticas sociais (Federal e Estadual), como por exemplo, o cruzamento de informações
entre os dados do Bolsa Família (Federal) e do Renda Cidadã (Estadual);
- Aumentar o enfoque das políticas sociais nas regiões mais vulneráveis (principalmente região Norte do Estado).
- Segurar os jovens na escola para que completem pelo menos o Ensino Médio.
- Melhorar a qualidade do ensino para que o jovem saia da escola apto a ingressar no mercado formal de trabalho.
- Geração de emprego para atender os jovens aptos a entrarem no mercado de trabalho.
- Capacitação dos jovens goianos para o mercado de trabalho.
- Tirar os jovens da situação de vulnerabilidade

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- Diminuir ao máximo para que chegue próximo de zero a taxa de incidência de gravidez precoce.
- Diminuir a proporção de analfabetismo entre crianças para perto de zero
- Diminuir de maneira efetiva o número de crianças fora da escola
- Alcançar a situação ideal de nenhuma criança inserida no mercado de trabalho.

Educação
A área da educação em Goiás avançou consideravelmente nos últimos anos. O estado praticamente universalizou a participação das
crianças no ensino fundamental. Houve consideráveis melhorias nas taxas de rendimento escolar. Derivando disso, Goiás obteve excelen-
tes resultados nas divulgações recentes das notas do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – tanto no ensino fundamental
quanto no ensino médio.
A taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais em Goiás está situada abaixo da média nacional. Contudo, no analfabetismo
por faixa etária, observa-se o efeito estoque, ou seja, analfabetos de mais longa data. Neste quesito, há necessidade de atenção com os
analfabetos em idades mais avançadas.

Quanto ao ensino superior, o privado merece ser ressaltado já que, nos últimos15 anos, houve uma expansão expressiva. Aliou-se a
isso, no período mais recente, a ampliação da educação superior pública considerando, principalmente: a criação da Universidade Estadual
de Goiás (UEG) em 1999, a criação e novos cursos e vagas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e a criação de Institutos Federais de
Educação (IFE’s).
Ressalta-se que esse processo expansionista, aqui entendido como a ampliação de vagas, cursos e instituições superiores, começa a
partir de meados dos anos de 1990 e foi acompanhado de sua interiorização, fator de consolidação e desenvolvimento de algumas cidades.
Contudo, apesar da expansão do ensino superior, apenas 10% da população possui nível superior, sendo 12% de homens e 8% mulheres
(Pnad Contínua).

IDEB – Anos iniciais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,9


IDEB – Anos finais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,1
Matrículas no ensino fundamental [2018] - 877.593 matrículas
Matrículas no ensino médio [2018] - 233.412 matrículas
Docentes no ensino fundamental [2018] - 42.203 docentes
Docentes no ensino médio [2018] - 15.992 docentes
Número de estabelecimentos de ensino fundamental [2018] - 3.415 escolas
Número de estabelecimentos de ensino médio [2018] - 976 escolas
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) [2010] - 0,735
Fonte: IBGE

Desafios:
- Um dos fatores que podem contribuir para o bom desempenho do ensino-aprendizagem é formação do docente, seja a qualidade
da formação ou mesmo a atuação na disciplina na qual é formado.
- Observa-se o déficit de docentes atuando de acordo com sua formação. Apenas 40% dos professores do ensino fundamental da rede
estadual de Goiás são formados na disciplina em que ministram aula; no ensino médio esse percentual sobe para 43%. No extremo tem-se
a Região Metropolitana de Goiânia com a melhor condição (53% no ensino fundamental e 56% no ensino médio) e a Região Nordeste
Goiano (26% e 29%, respectivamente).
- Percebe-se a inadequação de professores formados por disciplina. Em melhores situações estão as disciplinas de português e biolo-
gia, na ponta oposta encontram-se as de química e de física. Com isso, sabem-se quais profissionais se priorizar e onde se deve concentrar
esforços para a mudança dessa realidade.
- Outra questão necessária para o salto na área da educação diz respeito às pessoas em idade escolar que estão inseridas na educação
formal. Nesta seara, merece destaque a universalidade do ensino fundamental: das crianças entre 6 e 14 anos de Goiás, apenas 2% não
estão matriculadas numa rede de ensino. Por outro lado, daqueles entre 15 e 18 anos, idade em que se estaria no ensino médio, 24,4%
não frequentam a escola. Em situação mais grave, tem-se os de idade pré-escolar (até 5 anos) em que 67% não estão no sistema educa-
cional e os de 19 a 24 anos, faixa etária em que se estaria cursando o ensino superior, mais de 69% não frequentam qualquer modalidade
de ensino.

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ECONOMIA GOIANA: INDUSTRIALIZAÇÃO E INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em tópicos anteriores.

AS REGIÕES GOIANAS E AS DESIGUALDADES REGIONAIS

O estado de Goiás foi dividido em dez regiões para fins de planejamento estratégico governamental:
- A região do Entorno do Distrito Federal
- A região metropolitana de Goiânia
- As regiões Norte Goiano e Nordeste Goiano, delimitadas a partir de características socioeconômicas e espaciais.
As outras seis regiões foram definidas a partir dos principais eixos rodoviários do estado.
O objetivo deste projeto de regionalização foi planejar e gerir investimentos governamentais com o intuito de minimizar os desequi-
líbrios regionais goianos.

De acordo com Salgado, Arrais e Lima (2010, p. 130), a desigualdade regional do território goiano foi provocada pelo modelo de inte-
gração regional à economia nacional. Os grandes projetos nacionais, como a Marcha para o Oeste, amplos projetos expansão rodoviária, a
construção de Goiânia e Brasília, entre outros investimentos em infraestrutura e de modernização agrícola, “atingiram o território goiano
de forma diferenciada e, em pouco tempo, mudaram o perfil de sua economia”.
Na década de 1990, Goiás apresentava importantes desigualdades regionais. Os espaços metropolitanos, compreendidos pela Região
Metropolitana de Goiânia e a região do Entorno do Distrito Federal, apresentavam alta densidade demográfica em relação ao estado,
concentrando a maior parte da população goiana (SALGADO; ARRAIS; LIMA, 2010).

Saúde e Saneamento
Estudos realizados no Brasil mostram que os serviços de atenção primária em saúde podem resolver até 85% das necessidades da po-
pulação, desde que estejam bem estruturados, com profissionais qualificados, infraestrutura adequada, com fluxos definidos e organiza-
dos entre os diferentes níveis de atenção. Através da Estratégia da Saúde da Família busca-se atender essa necessidade. Por essa estratégia
65,3% da população goiana são cobertos.

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A ampliação da Estratégia Saúde da Família (ESF), programa com foco na atenção básica à saúde, tem contribuído também para o
avanço na área. No período de 2000 a 2014, Goiás tem apresentado uma cobertura de equipes da saúde da família superior à do Brasil e
da região Centro-Oeste. O Estado estendeu essa cobertura estimada de equipes da saúde da família de 25,24% da população em 2010 para
66,91% no final do período analisado.

Desafios:
- Fortalecer e ampliar os serviços de saúde pública para que fiquem mais próximos dos usuários, com foco na qualidade, humanização
e excelência da promoção, prevenção, atenção e recuperação das pessoas.
- Ampliar a estratégia de saúde da família e qualificação dos seus profissionais, em todo o Estado, especialmente nos municípios com
cobertura menor que 50%.
- Prover de profissionais médicos os municípios, onde se fizer necessário, mas com condições de trabalho, incluindo equipe, infraes-
trutura e equipamentos médico-hospitalares básicos.
- Garantir que todos os municípios tenham laboratórios de análises clínicas para fazerem exames complementares básicos essenciais.

A importância do saneamento básico está ligada à implantação de sistemas e modelos públicos que promovam o abastecimento de
água, esgoto sanitário e destinação correta de lixo, com o objetivo de prevenção e controle de doenças, promoção de hábitos higiênicos e
saudáveis, melhorias da limpeza pública básica e, consequentemente, da qualidade de vida da população.
Na última década houve aumento considerável no que diz respeito ao abastecimento de água, praticamente universalizada na área
urbana. Observa-se também melhorias que ocorreram no esgotamento sanitário e coleta de lixo adequados. Apesar do crescimento na
prestação desses serviços, o estado de Goiás está abaixo dos níveis do Centro Oeste e do Brasil. O esgotamento sanitário urbano é ainda
muito precário, sendo que pouco mais da metade da população possui o benefício.
No que se refere à coleta de lixo, este serviço tem maior cobertura, sendo que 99,5% da área urbana goiana possuem coleta adequada,
pouco acima do Brasil, 98% e Centro Oeste, 98,8%.

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Desafios:
- O investimento em saneamento resulta em benefícios muito elevados para a população. Assim, ter um saneamento básico adequado
contribui para redução de mortes por doenças infecciosas e parasitais além de aumentar a expectativa de vida da população ao nascer.
- Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) gastar em saneamento básico implica em redução no gasto com a saúde pública na
proporção de um para quatro, ou seja, a cada 1 real investido em saneamento obtém-se redução de 4 reais em saúde.
- O principal desafio de Goiás com relação ao Saneamento é aumentar os baixos índices de esgotamento sanitário de maneira urgente.
É importante também que ocorram melhoras no abastecimento de água e coleta de lixo, principalmente no interior.
- Ampliar os investimentos em saneamento básico a fim de reduzir custos socialmente incalculáveis, como redução da mortalidade
infantil bem como por consequências de mosquitos, como é o caso da dengue a fim de reduzir os gastos públicos em saúde.

Habitação
Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Brasil como um todo houve redução no indicador do déficit
habitacional no período recente. Em 2015, no Centro-Oeste havia um déficit habitacional total de 506.822 mil domicílios, o que representa
8,2% do déficit brasileiro. Entre os estados da região, Goiás tem o maior déficit, pouco mais de 40%.
Em Goiás, com foco no déficit habitacional, o programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida já entregou 219.315 unidades
habitacionais.

Mercado de Trabalho
O fortalecimento do setor industrial e sua maior integração ao setor agropecuário, aliado ao bom momento das políticas macroeconô-
micas que ampliaram o mercado consumidor interno brasileiro, onde Goiás se consolidou como fornecedor de produtos para atender esse
mercado, são fatores que propiciaram ao estado ser um dos principais geradores de empregos formais entre as unidades da Federação. A
partir dos anos 2000, o mercado de trabalho mostrou-se bastante dinâmico e, normalmente, com desempenho acima da média nacional.
Embora o mercado de trabalho goiano tenha tido grandes avanços, muito há de ser feito no que diz respeito à capacitação da mão
de obra, principalmente entre os jovens. O percentual de trabalhadores formais com nível superior em Goiás é um dos mais baixos do
país (20%),menos da metade dos trabalhadores possui nível médio (45%) e 9,5% dos trabalhadores possuem apenas o nível fundamental
completo.

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Segurança Pública
Mesmo com a elevação dos gastos em segurança pública os crimes violentos ainda apresentam índices elevados em Goiás. A sensação
de insegurança crescente está diretamente associada ao fenômeno da violência, que tem nos homicídios uma de suas expressões mais
cruéis. Apesar desse indicador ter diminuído, ainda se encontra acima da maioria dos estados.

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O gasto total ampliou-se, em valores reais, de R$ 879,2 milhões em 2003 para R$ 2,18 bilhões em 2014, o que representa crescimen-
to médio de 7,9% ao ano dessa despesa. Em termos per capita, o crescimento foi de R$ 165,7 em 2003 para R$ 335,2 em 2014, ou seja,
crescimento médio de 6% ao ano.

Desafios:
- Consolidação de uma visão mais integrada dos problemas associados à segurança pública;
- Revisão do modelo de policiamento em prol de maior aproximação entre a polícia e a sociedade;
- Investimento em ações estratégicas e de inteligência com base em informações qualificadas;
- Integração de ações de prevenção da violência e combate de suas causas com ações de repressão e ordenamento social nas áreas
com maior ocorrência de crimes;
- Melhorar a efetividade dos órgãos e programas existentes das distintas polícias.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Centro das águas
ASPECTOS FÍSICOS DO TERRITÓRIO GOIANO: VEGETA- Nascem, em Goiás, rios formadores das três mais importan-
ÇÃO, HIDROGRAFIA, CLIMA E RELEVO tes bacias hidrográficas do país. Todos os cursos d’água no senti-
do Sul-Norte, por exemplo, são coletados pela Bacia Amazônica,
dos quais destacam-se os rios Maranhão, Almas e Paraná que dão
Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, origem ao Rio Tocantins, mais importante afluente econômico do
clima e relevo; Rio Amazonas. No mesmo sentido, corre o Rio Araguaia, de impor-
CLIMA tância ímpar na vida do goiano e que divide Goiás com os Estados
O clima goiano é predominantemente tropical, com a divisão de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando em Tocantins ao
marcante de duas estações bem definidas durante o ano: verão encontro do outro curso que leva o nome daquele Estado, no Bico
úmido, nos meses de dezembro a março, e inverno seco, predo- do Papagaio.
minante no período de junho a agosto. De acordo com o Sistema A Bacia do Rio São Francisco tem entre seus representantes os
de Meteorologia e Hidrologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia rios Entre ribeiro, Paracatu e Preto, os quais nascem próximos ao
(Simehgo/Sectec), a temperatura média varia entre 18ºC e 26ºC, Distrito Federal e seguem em direção ao Nordeste do país.
com amplitude térmica significativa, variando segundo o regime Enquanto que, por outro lado, corre o rio Corumbá, afluente
dominante no Planalto Central. do Paranaíba, formador da Bacia do Paraná que segue rumo ao Sul,
pontilhado dentro de Goiás por hidrelétricas, o que denota seu po-
Estações tencial energético para o Estado.
No mês de setembro, com o início da primavera, as chuvas pas-
sam a ser mais intensas e frequentes, marcando o período de tran- Serra da Mesa
sição entre as duas estações protagonistas. As pancadas de chuva,
Em Goiás também está localizado o lago artificial da Usina de
no final da tarde ou noite, ocorrem em decorrência do aumento
Serra da Mesa, no Noroeste do Estado. Considerado o quinto maior
do calor e da umidade que se intensificam e que podem ocasionar
lago do Brasil (1.784 km² de área inundada), é o primeiro em volu-
raios, ventos fortes e queda de granizo.
me de água (54,4 bilhões de m³) e, formado pelos rios Tocantins,
No verão, coincidente a alta temporada de férias no Brasil, há
a ocorrência de dias mais longos e mudanças rápidas nas condições Traíras e Maranhão, atrai importantes atrativos turísticos para a
diárias do tempo, com chuvas de curta duração e forte intensidade, região, com a realização de torneios esportivos e de pesca, além da
acompanhadas de trovoadas e rajadas de vento. Há ainda o registro geração de energia elétrica.
de veranicos com períodos de estiagem com duração de 7 a 15 dias.
Há registros do índice pluviométrico oscilando entre 1.200 e 2.500 RELEVO
mm entre os meses de setembro a abril. Goiás está situado sobre o Planalto Central Brasileiro e abriga
No outono, assim como na primavera, há o registro de transi- em suas terras um mosaico de formações rochosas distintas quanto
ção entre estações o que representa mudanças rápidas nas condi- à idade e à composição. Resultado de um processo de milhões de
ções de tempo com redução do período chuvoso. As temperaturas anos da evolução de seus substratos, o solo goiano foi favorecido
tornam-se mais amenas devido à entrada de massas de ar frio, com com a distribuição de regiões planas, o que favoreceu a ocupação
temperaturas mínimas variando entre 12ºC e 18ºC e máximas de do território, além da acumulação de metais básicos e de ouro,
18ºC e 28ºC. A umidade relativa do ar é alta com valores alcançan- bem como gemas (esmeraldas, ametistas e diamantes, entre ou-
do até 98% tros) e metais diversos, que contribuíram para a exploração mineral
Já o inverno traz o clima tipicamente seco do Cerrado, com propulsora da colonização e do desenvolvimento dos núcleos urba-
baixos teores de umidade, chegando a valores extremos e níveis nos na primeira metade do século XVIII.
de alerta em algumas partes do Estado. Há o registro da entrada O processo de formação do relevo e de decomposição de ro-
de algumas massas de ar frio que, dependendo da sua trajetória e chas explica, ainda, a formação de solos de fertilidade natural baixa
intensidade, provocam quedas acentuadas de temperatura, espe- e média (latossolos) predominantes na maior parte do Estado, e
cialmente à noite, apesar dos dias serem quentes, propícios à alta de solos podzólicos vermelho-amarelo, terra roxa estruturada, bru-
temporada de férias no Rio Araguaia. nizém avermelhado e latossolo roxo, que apresentam alta fertili-
dade e se concentram nas regiões Sul e Sudoeste do Estado, além
HIDROGRAFIA do Mato Grosso Goiano. A distribuição de ligeiras ondulações e o
Engana-se quem pensa que as características de vegetação de relevo esculpido entre rochas salientaram ainda a caracterização
savana, típicas do Cerrado, são reflexos de escassez de água na re- do curso de rios, formadores de aquíferos importantes das bacias
gião. Pelo contrário, Goiás é rico em recursos hídricos, sendo con-
hidrográficas sul-americanas e que fazem do Estado um dos mais
siderado um dos mais peculiares e abundantes Estados brasileiros
abundantes em recursos hídricos. Associados a esses processos, a
quanto à hidrografia. Graças ao seu histórico geológico constituído
vegetação rala do Cerrado também contribui para o processo de
durante milhões de anos, foram depositadas várias rochas sedi-
erosão e da formação de grutas, cavernas e cachoeiras, que asso-
mentares, entre elas o arenito de alta porosidade e alta permea-
bilidade, que permitiram a formação de grandes cursos d’água e o ciadas às chapadas e poucas serras presentes no Estado, configu-
depósito de parte de grandes aquíferos, como o Bambuí, o Urucuia ram opções de lazer e turismo da região.
e o Guarani, este último um dos maiores do mundo, com área total
de até 1,4 milhão de km². Potencial Mineral do Estado de Goiás
• Água mineral
• Água termal
• Areia e Cascalho
• Argila Ametista Amianto
• Basalto Berilo Calcário
• Agrícola Calcário

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• Dolomítico Cobre, Formação Botucatu: o Cerrado propriamente dito é encon-
• Ouro e Prata trado neste tipo de formação, rico em frutos e animais silvestres.
• Diamante industrial Apresenta baixa fertilidade e boa parte de sua área foi subjugada
• Esmeralda por criadores de gado. É encontrada às margens do Rio Verde, en-
• Filito tre Mineiros e Serranópolis, e do Rio Paraíso, em Jataí;
• Fosfato Formação de Irati: vegetação de solos acidentados, é em geral
• Gnaisse bem fértil, cedendo lugar a matas de peroba-rosa de onde se retira
• Granito calcário para correção de solos. Pode ser encontrada em Montivi-
• Granodiorito diu, Perolândia e Portelândia;
• Granulito Formação Aquidauana: Cerrado ralo de árvores altas, solos ra-
• Manganês sos e arenosos. Era encontrada na Serra do Caiapó e adjacências
• Mecaxisto antes de ser transformado em pastagens;
• Níquel e Cobalto Formação Ponta Grossa: de solos inconstantes, apresenta Cer-
• Quartzito rado diversificado. É encontrado em Caiapônia, Doverlândia e con-
• Titânio fluências;
• Vermiculita Formação Furnas: Cerrado intercalado com matas de aroeira.
• Xisto De solo acidentado, é arenoso e de média fertilidade

VEGETAÇÃO Berço das águas


É praticamente impossível visitar Goiás e não ouvir falar nele. No setor de geração de energia, sete em cada dez litros das
Considerado o segundo maior bioma brasileiro, atrás apenas da águas que passam pelas turbinas da usina de Tucuruí (PA) vêm do
Floresta Amazônica, o Cerrado tem grande representatividade no Cerrado, bem como metade da água que alimenta Itaipu (PR). No
território goiano. Apesar do elevado nível de desmatamento regis- caso da hidrelétrica de Sobradinho (BA), o montante é de quase
trado no Estado desde a criação de Brasília e a abertura de estradas, 100%. De forma geral, nove em cada dez brasileiros consomem ele-
na década de 1960, e da expansão da fronteira agrícola, décadas de tricidade produzida com águas do bioma.
1970 e 1980, Goiás conseguiu manter reservas da mata nativa em
algumas regiões, até hoje alvo de discussões entre fazendeiros e Fauna
ambientalistas. No entanto, o velho argumento utilizado para sua A mesma forma que a vegetação varia na vastidão das paisa-
derrubada de que os troncos retorcidos e pequenos arbustos são gens do Cerrado, a fauna local também impressiona pela diversi-
sinais de pobreza da biodiversidade finalmente caiu por terra. dade de animais que podem ser encontrados dentro do bioma. Se-
Na totalidade, incluindo as zonas de transição com outros bio- gundo relatório da Conservação Internacional, o Cerrado apresenta
mas, o Cerrado abrange 2.036.448 km², o equivalente a 23,92% do uma particularidade quanto à sua distribuição espacial que permite
território brasileiro, ou à soma das áreas de Espanha, França, Ale- o desenvolvimento e a localização de diferentes espécies. Enquan-
manha, Itália e Reino Unido (Fonte: WWF Brasil). E se considerada to a estratificação vertical da Amazônia ou a Mata Atlântica propor-
sua diversidade de ecossistemas, é notório o título de formação ciona oportunidades diversas para o estabelecimento das espécies,
com savanas mais rica em vida a nível mundial, uma vez que sua em uma mesma árvore, por exemplo, no Cerrado a heterogeneida-
área protege 5% de todas as espécies do planeta e três em cada dez de espacial no sentido horizontal seria fator determinante para a
espécies brasileiras, muitas delas só encontradas aqui. ocorrência de um variado número de exemplares, de acordo com
a ocorrência de áreas de campo, floresta ou brejo, em um mesmo
Variedade de paisagens em um só bioma macro ambiente.
Tipicamente, o Cerrado é conhecido por apresentar árvores de De acordo com o Ibama, no Cerrado brasileiro podem ser en-
pequeno porte – até 20 metros –, esparsas em meio a arbustos e contradas cerca de 837 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos,
distribuídas sobre uma vegetação baixa, constituída em geral por os quais abrangem 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espé-
gramíneas. No entanto, dependendo da formação geológica e do cies de anfíbios (45 só encontrados aqui); e 120 espécies de répteis,
solo no qual o Cerrado finca suas raízes profundas, suas caracte- dos quais 45 também endêmicas. Além disso, o Cerrado abriga 90
rísticas podem variar bastante apresentando vasta diversidade de mil espécies de insetos, sendo 13% das borboletas, 35% das abe-
paisagens. São elas: lhas e 23% dos cupins dos trópicos.
Formação do Terciário ou Cachoeirinha: local onde ocorriam Dentre tantos, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a ema
os campos limpos, formados por gramíneas, chamados também de (Rhea americana) aparecem como animais símbolo do bioma. No
chapadão. Localizava-se na região de Jataí, Mineiros e Chapadão do entanto, são famosos também o tamanduá-bandeira (Myrmeco-
Céu e sua vegetação original, hoje, encontra-se totalmente substi- phaga tridactyla), o tatu-canastra (Priodontes giganteusso), a serie-
tuída por campos de soja; ma (Cariama cristata), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestres),
Grupo Bauru: de solo arenoso de média fertilidade, é onde o teiu (Tupinambis sp), entre outros.
aparece o chapadão. De solo relativamente plano, também foi
transformado em lavoura, em geral de cana ou pastagens, e cor- Flora
responde às áreas que vão de Jataí e do canal de São Simão até o A vegetação típica do Cerrado possui troncos retorcidos, de
Aporé; baixo porte, com cascas espessas e folhas grossas. Em geral, as raí-
Formação Serra Geral: aqui o Cerrado dá lugar à mata ciliar, de zes de suas árvores são pivotantes, ligadas ao lençol freático o que
terra fértil, que foi transformada no decorrer do tempo em roças de pode propiciar seu desenvolvimento para até 15 metros de profun-
subsistência. Ocorrem em geral nos valos dos rios e foram substituí- didade.
das por culturas de banana ou café, além das invernadas destinadas
à engorda de bois;

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É comum, assim, ouvir dizer que o Cerrado é uma floresta in- Tradição Aratu
vertida. Isso deve a essa característica subterrânea de boa parte do São os primeiros aldeões conhecidos. Habitavam grandes agru-
corpo das plantas, explicada pela adaptação das espécies às quei- pamentos, em disposição circular ou elíptica ao redor de um espaço
madas naturais verificadas no inverno seco de Goiás. Além disso, vazio, situados em ambientes abertos, geralmente matas, próximos
seus ramos exteriores apresentam um ciclo de dormência, no qual a águas perenes. Cultivavam milho, feijão, algodão e tubérculos.
as folhas se desprendem e também resguardam a planta do fogo Produziam vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, a partir
para depois renascerem, com chuva ou não. da manipulação da argila, confeccionavam rodelas de fusos, utiliza-
Em geral a florescência é registrada nos meses de maio a julho, dos na fiação do algodão, dentre outros artefatos.
com o aparecimento de frutos ou vagens até agosto Tradição Uru
A população da Tradição Uru chegou um pouco mais tarde no
Diversidade território goiano. Os sítios arqueológicos datados do século XII es-
Em todo o Cerrado já foram registradas em torno de 11,6 mil ti- tão localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes.
pos de plantas, com mais de cinco mil espécies endêmicas da área.
Destacam-se no Estado a presença do pequi (Caryocar brasiliense), Tradição Tupi-Guarani
do jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), do buriti (Mauritia É a mais recente das populações com aldeias, datada de 600
flexuosa), do cajueiro-do-campo (Anacardium humile) e da canela- anos atrás. Habitavam aldeias dispersas na bacia do Alto Araguaia
-de-ema (Vellozia flavicans). Também aparecem no rol das espécies e na bacia do Tocantins. Conviviam, às vezes, na mesma aldeia com
características do bioma a cagaita (Eugenia dysenterica), a manga- outros grupos horticultores, de outras tradições.
ba (Hancornia speciosa), o ipê-amarelo (Tabebuia ochracea) e do
baruzeiro (Dipteryx alata), entre várias outras Colonização
Fonte: http://www.goias.gov.br/ Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, durante os
séculos XVI e XVII, o território goiano começou a receber diversas
expedições exploratórias. Vindas de São Paulo, as Bandeiras tinham
como objetivo a captura de índios para o uso como mão de obra es-
crava na agricultura e minas. Outras expedições saíam do Pará, nas
ASPECTOS DA HISTÓRIA POLÍTICA DE GOIÁS: OS BAN- chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos
DEIRANTES E A COLONIZAÇÃO, O CORONELISMO E índios da região. Ambas passavam pelo território, mas não criavam
OLIGARQUIA NA REPÚBLICA VELHA, A REVOLUÇÃO vilas permanentes, nem mantinham uma população em número
DE 1930, ASPECTOS POLÍTICOS E ADMINISTRATIVOS estável na região.
DE 1930 ATÉ OS DIAS ATUAIS A ocupação, propriamente dita, só se tornou mais efetiva com
a descoberta de ouro nessas regiões. Na época, havia sido acha-
A ocupação do território de Goiás teve início há milhares de do ouro em Minas Gerais, próximo a atual cidade de Ouro Preto
anos com registros arqueológicos mais antigos datados de 11 mil (1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Como havia
anos atrás. A região de Serranópolis, Caiapônia e Bacia do Paranã uma crença, vinda do período renascentista, que o ouro era mais
reúne a maior parte dos sítios arqueológicos distribuídos no Estado, abundante quanto mais próximo ao Equador e no sentido leste-o-
abrigados em rochosos de arenito e quatzito e em grutas de maci- este, a busca de ouro no “território dos Goyazes”, passou a ser foco
ços calcários. Também há indícios da ocupação pré-histórica nos de expedições pela região.
municípios de Uruaçu, em um abrigo de micaxisto, e Niquelândia,
cujo grande sítio superficial descoberto por pesquisadores da Uni- Bandeiras
versidade Federal de Goiás (UFG) guarda abundante material lítico O território goiano recebeu bandeiras diversas, sendo que a
do homem Paranaíba de Francisco Bueno foi a primeira a achar ouro na região (1682),
O homem Paranaíba, por sinal, é o primeiro representante mas em pequena quantidade. Essa expedição explorou até as mar-
humano conhecido na área, cujo grupo caçador-coletor possuía gens do Rio Araguaia e junto com Francisco Bueno veio seu filho,
presença constante de artefatos plano-convexos, denominados Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido por Anhanguera (Diabo ve-
“lesmas”, com poucas quantidades de pontas de projéteis líticas. lho). Segundo se registra, Bartolomeu Bueno da Silva teria se inte-
Outro grupo caçador-coletor é o da Fase Serranópolis que influen- ressado sobre o ouro que adornava algumas índias de uma tribo,
ciado por mudanças climáticas passou a se alimentar de moluscos mas não obteve êxito em obter informações sobre a procedência
terrestres e dulcícolas e uma quantidade maior de frutos, além da desse ouro. Para conseguir a localização, resolveu então ameaçar
caça e da pesca. por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para
convencer aos índios de que poderia realmente executar o feito – o
Grupos Ceramistas que lhe conferiu o apelido.
As populações ceramistas passam a ocupar o território de Goi- Seu filho, também chamado de Bartolomeu Bueno da Silva, 40
ás a cerca de dois mil anos, quando supostamente o clima e a ve- anos depois, também tentou retornar aos locais onde seu pai havia
getação eram semelhantes aos atuais. São classificados em quatro passado, indo em busca do mito da “Serra dos Martírios”, um lugar
tradições: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani. fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas seme-
lhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”.
Tradição Uma Chegou, então, as regiões próximas ao rio Vermelho, onde achou
É a tradição ceramista mais antiga do Estado. Habitavam abri- ouro (1722) em maior quantidade do que noutros achados e aca-
gos e grutas naturais, cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbo- bou fixando na região a Vila de Sant’Anna (1727), chamada depois
ra e algodão e desenvolveram a tecnologia da produção de vasilha- Vila Boa de Goyaz.
mes cerâmicos.

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Após retornar para São Paulo para apresentar os achados, foi Durante a república, com a criação do município de Araguaia
nomeado capitão-mor das “minas das terras do povo Goiá”. Entre- (1913) por parte do Mato Grosso e de Mineiros por parte de Goiás,
tanto, seu poder foi sendo diminuído à medida que a administração o conflito se intensificou. A questão ficou em suspenso até 1975,
régia se organizava na região. Em 1733, perdeu direitos obtidos jun- quando uma nova demarcação foi efetuada. Por fim, em 2001, o
to ao rei, sob a alegação de sonegação de rendas, vindo a falecer STF definitivamente demarcou a nascente A do Rio Araguaia como
em 1740, pobre e praticamente sem poder. ponto de partida das linhas demarcatórias entre os estados.
Nessa época, as principais regiões ocupadas no período aurí-
fero foram o Centro-Sul (próximo ao caminho para São Paulo), o Império
Alto Tocantins e Norte da capitania, até próximo a cidade de Porto A partir de 1780, com o esgotamento das jazidas auríferas, a
Nacional (hoje Estado do Tocantins). Grandes áreas como o Sul, o Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão
Sudoeste, o Vale do Araguaia e as terras ao Norte de Porto Nacional a uma economia de subsistência, gerando graves problemas finan-
só foram ocupadas mais intensamente no século XIX e XX, com a ceiros, pela ausência de um produto básico rentável
ampliação da pecuária e da agricultura. Para tentar reverter esta situação, o governo português pas-
O ouro goiano era principalmente de aluvião (retirado na su- sou a incentivar e promover a agricultura em Goiás, sem grandes
perfície dos rios, pela peneiragem do cascalho), e se tornou escasso resultados, já que havia temor dos agricultores ao pagamento de
depois de 1770. Com o enfraquecimento da extração, a região pas- dízimos; desprezo dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco ren-
sou a viver principalmente da pequena agricultura de subsistência tável; a ausência de um mercado consumidor; e dificuldade de ex-
e de alguma pecuária. portação, pela ausência de um sistema viário.
Com a Independência do Brasil, em 1822, a Capitania de Goiás
As primeiras divisões do Estado foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança não alte-
Durante o período colonial e imperial, as divisas entre provín- rou a realidade socioeconômica de Goiás, que continuava vivendo
cias eram difíceis de serem definidas com exatidão, muitas vezes um quadro de pobreza e isolamento. As pequenas mudanças que
sendo definidas de forma a serem coincidentes com os limites das ocorreram foram apenas de ordem política e administrativa
paróquias ou através de deliberações políticas vindas do poder cen- A expansão da pecuária em Goiás, nas três primeiras décadas
tral. No entanto, no decorrer do processo de consolidação do Esta- do século XIX, que alcançou relativo êxito, trouxe como consequ-
do de Goiás, o território sofreu diversas divisões, com três perdas ência o aumento da população. A Província de Goiás recebeu cor-
significativas no período colonial rentes migratórias oriundas, principalmente, dos Estados do Pará,
Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Novas cidades surgiram: no su-
Separação da Capitania de São Paulo doeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (Rio Bonito),
Durante parte do período colonial o território que hoje é o Quirinópolis (Capelinha), entre outras. No norte (hoje Estado do To-
Estado de Goiás foi administrado pela Capitania de São Paulo, na cantins), além do surgimento de novas cidades, as que já existiam,
época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado como Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina
de Rondônia. Seu poder não era tão extenso, ficando distante das e Arraias, ganharam novo impulso
populações e, também, dos rendimentos. Os presidentes de província e outros cargos de importância
A medida que se achava ouro pelas terras do sertão brasileiro, política, no entanto, eram de livre escolha do poder central e conti-
o governo português buscava aproximar-se da região produtora. nuavam sendo de nacionalidade portuguesa, o que descontentava
Isso aconteceu em Goiás depois da descoberta de ouro em 1722. os grupos locais. Com a abdicação de D. Pedro I, ocorreu em Goi-
Como uma forma de controlar melhor a produção de ouro, evitan- ás um movimento nacionalista liderado pelo bispo Dom Fernando
do o contrabando, responder mais rapidamente aos ataques de ín- Ferreira, pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez e pelo coronel Felipe
dios da região e controlar revoltas entre os mineradores, foi criado Antônio, que recebeu o apoio das tropas e conseguiu depor todos
através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, inclusive
Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748, pela chegada do o presidente da província.
primeiro governador a Vila Boa de Goyaz, Dom Marcos de Noronha. Nas últimas décadas do século XIX, os grupos locais insatisfei-
tos fundaram partidos políticos: O Liberal, em 1878, e o Conser-
Triângulo mineiro vador, em 1882. Também fundaram jornais para divulgarem suas
A região que hoje é chamada de “Triângulo Mineiro” perten- ideias: Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio e Folha
ceu à capitania de Goiás desde sua criação em 1744 até 1816. Sua de Goyaz. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câ-
incorporação à província de Minas Gerais é resultado de pressões mara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases
pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região, sendo que para as futuras oligarquias.
em 1861 a Assembleia Geral foi palco de discussões acaloradas en-
tre parlamentares de Minas Gerais, que tentavam ampliar ainda Educação em Goiás no século XIX
mais a incorporação de territórios até o Rio São Marcos e de Goiás. Em 1835, o presidente da província, José Rodrigues Jardim re-
gulamentou o ensino em Goiás. Em 1846 foi criado na então capi-
Leste do Mato Grosso tal, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário.
Em 1753, começaram as discussões entre a administração da Os jovens do interior que tinham um poder aquisitivo maior, ge-
Capitania de Mato Grosso e de Goiás para a definição de divisas ralmente concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso
entre as duas. Nesse período, a divisa entre elas ficou definida a superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminha-
partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo. Em 1838, o Mato Gros- vam-se para a escola militar ou seminários. A maioria da população,
so reiniciou as movimentações de contestação de divisa, criando a no entanto, permanecia analfabeta. A primeira Escola Normal de
vila de Sant’Ana do Paranaíba. Apenas em 1864, a Assembleia Geral Goiás foi criada em 1882, e em 1889 foi fundado pelas irmãs domi-
cria legislação para tentar regular o caso. nicanas um colégio na Cidade de Goiás, que atendia às moças

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O Movimento Abolicionista em Goiás A construção de Goiânia devolveu aos goianos a confiança em
O poeta Antônio Félix de Bulhões (1845-1887) foi um dos si mesmos, após um período de decadência da mineração, de isola-
goianos que mais lutaram pela libertação dos escravos. Fundou o mento e esquecimento nacional. Em vez de pensarem na grandeza
jornal O Libertador (1885), promoveu festas para angariar fundos do passado, começaram a pensar, a partir de então, na grandeza
para alforriar escravos e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com do futuro.
a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram A partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo acelerado
e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Quando também em virtude do desbravamento do Mato Grosso Goiano,
foi promulgada a Lei Áurea, havia aproximadamente quatro mil es- da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” e da construção
cravos em Goiás. de Brasília. A população do Estado se multiplicou, estimulada pela
forte imigração, oriunda principalmente dos Estados do Maranhão,
Período Republicano Bahia e Minas Gerais. A urbanização foi provocada essencialmen-
A proclamação da República (15/11/1889) não alterou os pro- te pelo êxodo rural. Contudo, a urbanização neste período não foi
blemas socioeconômicos enfrentados pela população goiana, em acompanhada de industrialização. A economia continuava predo-
especial pelo isolamento proveniente da carência dos meios de co- minantemente baseada no setor primário (agricultura e pecuária) e
municação, com a ausência de centros urbanos e de um mercado continuava vigente o sistema latifundiário
interno e com uma economia de subsistência. As elites dominantes Com o impulso, na década de 50 foi criado o Banco do Estado
continuaram as mesmas. As mudanças advindas foram apenas ad- e a CELG (Centrais Elétricas de Goiás S.A). O governo Mauro Borges
ministrativas e políticas (1960-1964) propôs como diretriz de ação um “Plano de Desenvol-
A primeira fase da República em Goiás, até 1930, foi marcada vimento Econômico de Goiás” abrangendo as áreas de agricultura
pela disputa das elites oligárquicas goianas pelo poder político: Os e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação
Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado. Até o ano de 1912, prevale- e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos na-
ceu na política goiana a elite oligárquica dos Bulhões, liderada por turais, turismo, etc., e criou as seguintes autarquias e paraestatais:
José Leopoldo de Bulhões, e a partir desta data até 1930, a elite CERNE (Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Es-
oligárquica dominante passa a ser dos Jardim Caiado, liderada por tado), OSEGO (Organização de Saúde do Estado de Goiás), EFOR-
Antônio Ramos Caiado. MAGO (Escola de Formação de Operadores de Máquinas Agrícolas
A partir de 1891, o Estado começou a vivenciar certo desen- e Rodoviárias), CAIXEGO (Caixa Econômica do Estado de Goiás),
volvimento com a instalação do telégrafo em Goiás para a trans- IPASGO (Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado
missão de notícias. Com a chegada da estrada de ferro em territó- de Goiás), SUPLAN, ESEFEGO (Escola Superior de Educação Física
rio goiano, no início do século XX, a urbanização na região sudeste de Goiás), CEPAIGO (Centro Penitenciário de Atividades Industriais
começou a ser incrementada o que facilitou, também, a produção de Goiás), IDAGO (Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás),
de arroz para exportação. Contudo, por falta de recursos financei- DERGO (Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás), DETEL-
ros, a estrada de ferro não se prolongou até a capital e o norte GO, METAGO (Metais de Goiás S/A), CASEGO, IQUEGO (Indústria
goiano, que permanecia praticamente incomunicável. O setor mais Química do Estado de Goiás), entre outras.
dinâmico da economia era a pecuária e predominava no estado o
latifúndio. Redemocratização
Com a revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas na Presi- Nos últimos 30 anos, o Estado de Goiás passou por profundas
dência da República do Brasil, foram registradas mudanças no cam- transformações políticas, econômicas e sociais. O fim da ditadura
po político. Destituídos os governantes, Getúlio Vargas colocou em militar e o retorno da democracia para o cenário político foi repre-
cada estado um governo provisório composto por três membros. sentado pela eleição de Iris Rezende para governador, em 1982,
Em Goiás, um deles foi o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que, dias de- com mais de um milhão de votos. Nesse campo, por sinal, Goiás
pois, foi nomeado interventor sempre ofereceu quadros significativos para sua representação em
Com a revolução, o governo adotou como meta trazer o desen- nível federal, como pode ser observado no decorrer da “Nova Re-
volvimento para o estado, resolver os problemas do transporte, da pública”, na qual diversos governadores acabaram eleitos senado-
educação, da saúde e da exportação. Além disso, a revolução de 30 res ou nomeados ministros de Estado.
em Goiás deu início à construção de Goiânia. No campo econômico, projetos de dinamização econômica ga-
nharam forma, partindo de iniciativas voltadas para o campo, como
A construção de Goiânia e o governo Mauro Borges o projeto de irrigação Rio Formoso, iniciado ainda no período mili-
A mudança da capital de Goiás já havia sido pensada em gover- tar e, hoje, no território do Tocantins, até a construção de grandes
nos anteriores, mas foi viabilizada somente a partir da revolução estruturas logísticas, a exemplo do Porto Seco de Anápolis e a im-
de 30 e seus ideais de “progresso” e “desenvolvimento”. A região plantação da Ferrovia Norte-Sul. É válido, ainda, o registro de estí-
de Campinas foi escolhida para ser o local onde se edificaria a nova mulos especiais para produção e a instalação de grandes indústrias
capital por apresentar melhores condições hidrográficas, topográfi- no estado, a exemplo dos polos farmacêutico e automobilístico.
cas, climáticas, e pela proximidade da estrada de ferro. As modificações econômicas, no entanto, deixaram os proble-
No dia 24 de outubro de 1933 foi lançada a pedra fundamental. mas sociais, que existiam no Estado, ainda mais acentuados, com
Dois anos depois, em 07 de novembro de 1935 foi iniciada a mu- o registro de um grande número de pessoas sem moradia digna e
dança provisória da nova capital. O nome “Goiânia”, sugerido pelo sem emprego. Essa situação mobilizou governantes e população a
professor Alfredo de Castro, foi escolhido em um concurso promo- empreender ações concretas de forma a minimizar essas dificulda-
vido pelo semanário “O Social” des, como programas de transferência de renda, profissionalização
A transferência definitiva da nova capital, da Cidade de Goiás e moradia, além de programas de estímulos para que a população
para Goiânia, se deu no dia 23 de março de 1937, por meio do de- se mantivesse junto ao campo, evitando assim o êxodo rural
creto 1.816. Em 05 de julho de 1942, quando foi realizado o “ba-
tismo cultural”, Goiânia já contava com mais de 15 mil habitantes

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Com as mudanças políticas e a maior participação popular, Comissão Cruls e as décadas seguintes
vinda com o advento da redemocratização da vida política nacio- Depois da Proclamação da República em 1889, o país se encon-
nal, houve também uma maior exigência da sociedade em relação trava imerso em um cenário de euforia com a mudança de regime
às práticas administrativas. O governo de Goiás passou por várias e da crença no progresso e no futuro. Para definir o lugar onde se
“reformas administrativas” e outras iniciativas nesse período, onde efetivaria a determinação da futura capital, em 1892, o presidente
foram buscadas a racionalização, melhoria e moralização da admi- Floriano Peixoto criou uma comissão para concretizar esses estu-
nistração pública. Nesse período, também, Goiás aumentou seu dos, chefiada pelo cientista Luis Cruls, de quem a expedição herdou
destaque quanto a produção no setor cultural, seja com a eleição o nome. A expedição partiu de trem do Rio de Janeiro até Uberaba
da cidade de Goiás como patrimônio da humanidade ou com seus (estação final da Estrada de Ferro Mogiana) e dali a pé e em lombo
talentos artísticos sendo consagrados, como Goiandira de Couto, de animais até o Planalto Central. Com pesquisadores de diversas
Siron Franco e Cora Coralina. áreas, foi feito um levantamento amplo (topográfico, climatológi-
O Césio-137 co, geográfico, hidrológico, zoológico etc.) da região, mapeando-se
Goiás abriga em seu passado um dos episódios mais tristes da a área compreendida pelos municípios goianos de Formosa, Planal-
história brasileira. No ano de 1987, alguns moradores da capital tina e Luziânia. O relatório final permitiu que fosse definida a área
saíram em busca de sucata e encontraram uma cápsula abandona- onde futuramente seria implantada a capital.
da nas ruínas do Instituto Radiológico de Goiânia. Mal sabiam eles Uma segunda missão de estudos foi empreendida nos locais
que naquele vasilhame havia restos de um pó radioativo mortal, onde a implantação de uma cidade seria conveniente dentro do
o Césio-137. Inconsequentemente, a cápsula foi aberta por eles e quadrilátero definido anteriormente. A saída de Floriano Peixoto
manipulada, deixando milhares de vítimas e sequelas do pó azul do governo em 1896 fez com que os trabalhos da Comissão Ex-
brilhante, lacrado hoje, junto aos destroços do maior acidente ra- ploradora do Planalto Central do Brasil fossem interrompidos. No
diológico do mundo, no depósito da Comissão Nacional de Energia entanto, mesmo não contando com a existência de Goiânia, os ma-
Nuclear (Cnen), em Abadia de Goiás. pas nacionais já traziam o “quadrilátero Cruls” e o “Futuro Distrito
Federal”
A criação do DF Apesar do enfraquecimento do ímpeto mudancista, eventos
A construção e a inauguração de Brasília, em 1960, como ca- isolados deixavam claro o interesse de que essa região recebesse
pital federal, foi um dos marcos deixados na história do Brasil pelo a capital da federação. Em 1922, nas comemorações do centenário
governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Essa mudança, visando da Independência nacional, foi lançada a pedra fundamental próxi-
um projeto especifico, buscava ampliar a integração nacional, mas mo à cidade de Planaltina. Na década de 1940, foram retomados os
JK, no entanto, não foi o primeiro a propô-la, assim como Goiás estudos na região pelo governo de Dutra (1945-50) e, no segundo
nem sempre foi o lugar projetado para essa experiência. governo de Getúlio Vargas (1950-1954), o processo se mostrou for-
talecido com o levantamento de cinco sítios para a escolha do local
Desejo de transferência (séc. XVIII e XIX) da nova capital. Mesmo com a morte de Vargas, o projeto avançou,
As primeiras capitais do Brasil, Salvador e Rio de Janeiro, ti- mas a passos lentos, até a posse de Juscelino Kubitschek
veram como característica fundamental o fato de serem cidades
litorâneas, explicado pelo modelo de ocupação e exploração em- Governo JK
preendido pelos portugueses anteriormente no continente africa- Desde seu governo como prefeito de Belo Horizonte (também
no e asiático. À medida que a importância econômica da colônia projetada e implantada em 1897), Juscelino ficou conhecido pela
aumentava para a manutenção do reino português, as incursões quantidade e o ímpeto das obras que tocava, sendo chamado à
para o interior se tornavam mais frequentes. época de “prefeito-furacão”. O projeto de Brasília entrou no plano
A percepção da fragilidade em ter o centro administrativo pró- de governo do então presidente como uma possibilidade de aten-
ximo ao mar, no entanto, fez que muitos intelectuais e políticos der a demanda da época.
portugueses discutissem a transferência da capital da colônia – e Mesmo não constando no plano original, ao ser questionado
até mesmo do império – para regiões mais interiores do território. sobre seu interesse em cumprir a constituição durante um comí-
Um dos mais importantes apoiadores desse projeto foi Sebastião cio em Jataí-GO, Juscelino sentiu-se impelido a criar uma obra que
José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em 1751. A trans- garantisse a obtenção dos objetivos buscados pela sociedade brasi-
ferência também era uma das bandeiras de movimentos que ques- leira na época: desenvolvimento e modernização do país. Entrando
tionavam o domínio português, como a Inconfidência Mineira, ou como a meta 31 – posteriormente sendo chamada de “meta sínte-
de personagens que, após a independência do Brasil, desejavam o se” - Brasília polarizou opiniões. Em Goiás existia interesse na efe-
fortalecimento da unidade do país e o desenvolvimento econômico tivação da transferência, apesar da oposição existente em alguns
das regiões interioranas, como o Triângulo Mineiro ou o Planalto jornais, assim como no Rio de Janeiro, onde ocorria uma campanha
Central. aberta contra os defensores da “NovaCap” (nome da estatal res-
Com a primeira constituição republicana (1891), a mudança ponsável por coordenar as obras de Brasília e que, por extensão,
ganhou maior visibilidade e mais apoiadores, tanto que em seu 3º virou uma alusão a própria cidade). Com o compromisso assumido
artigo havia determinação de posse pela União de 14.400 quilôme- por JK em Jataí, Brasília passou a materializar-se imediatamente,
tros quadrados na região central do país pra a futura instalação do mas a cada passo político ou técnico dado, uma onda de acusações
Distrito Federal. era lançada contra a iniciativa.
Construída em pouco mais de 3 anos (de outubro de 1956 a
abril de 1960), Brasília tornou-se símbolo do espírito da época. Goi-
ás, por outro lado, tornou-se a base para a construção, sendo que
Planaltina, Formosa, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e, principal-
mente, Anápolis tiveram suas dinâmicas modificadas, econômica e
socialmente.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
A criação do TO Nesse contexto, também surge um movimento pela ocupação
Em 1988, foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte dos vazios internos – a Marcha para Oeste – com a abertura de li-
o projeto de divisão territorial que criou o Estado do Tocantins. A nhas telegráficas, pistas de pouso e construção de cidades, a exem-
divisão partia do desmembramento da porção norte do Estado de plo de Goiânia. Apenas na década de 1950 o movimento divisionis-
Goiás, desde aproximadamente o paralelo 13°, até a região do Bico ta ressurge com maior força, a partir da mobilização personagens
do Papagaio, na divisa do Estado com o Pará e o Maranhão. No como o Major Lysias Rodrigues e o Juiz de Direito Feliciano Braga.
entanto, a divisão vinha sendo buscada desde o período colonial É dessa época (1956) a chamada “Carta de Porto Nacional” ou
“Proclamação Autonomista de Porto Nacional”, que norteou esse
Período do ouro esforço. Mas a oposição de lideranças políticas da região e a trans-
Durante o ciclo do ouro, a cobrança de impostos diferenciada ferência do juiz Feliciano Braga para outra comarca, fez com que o
gerou insatisfação junto a muitos garimpeiros e comerciantes da movimento enfraquece-se..
região norte da província de Goiás. As reivindicações eram contra o
chamado “captação”, imposto criado para tentar a sonegação que Décadas de 1970 e 1980
taxava os proprietários pela quantidade de escravos que possuíam Durante o período do regime militar, as modificações na orga-
e não pela quantidade de ouro extraída, o que onerava demais a nização territorial dos estados ficaram a cargo do Governo Central,
produção do norte. Por não conseguirem pagar as quantias presu- e acabaram regidas por orientações políticas. Exemplos fortes disso
midas de imposto, esses proprietários sofriam a “derrama” - im- foram a fusão do Estado da Guanabara, pelo Rio de Janeiro (1975),
posto cobrado para complementar os débitos que os mineradores e o desmembramento do Sul do Mato Grosso (1977). Nesse contex-
acumulavam junto à Coroa Portuguesa. to, o deputado federal Siqueira Campos iniciou uma campanha na
Os garimpeiros viam na província do Maranhão uma alternati- Câmara onde pedia a redivisão territorial da Amazônia Legal (com
va para o recolhimento de impostos menores. O governo da provín- ênfase no norte goiano), uma vez que mesmo com investimentos
cia goiana, com isso, temendo perder os rendimentos oriundos das de projetos como o Polocentro e Polamazônia, o norte do estado
minas do norte, suspende tanto a cobrança do imposto – voltando ainda tinha fraco desempenho econômico.
a cobrar somente o quinto – quanto a execução de dividas (a der- A campanha também foi apoiada por intelectuais, por meio do
rama), o que arrefece a insatisfação das vilas mais distantes de Vila surgimento da Comissão de Estudos do Norte Goiano (Conorte), em
Boa de Goiás. 1981, que promoveu debates públicos sobre o assunto em Goiânia.
A discussão pela divisão foi levada do nível estadual para o nível
A comarca do Norte federal, onde a proposta foi rejeitada duas vezes pelo presidente
A ocupação da porção norte da província de Goiás era feita José Sarney (1985), sob a alegação do Estado ser inviável econo-
a medida em que se descobria ouro. Para estimular o desenvolvi- micamente
mento dessa parte da província e melhorar a ação do governo e da A mobilização popular e política da região norte fizeram com
justiça, foi proposta a criação de uma nova comarca, a “Comarca que o governador eleito de Goiás, em 1986, Henrique Santillo,
do Norte” ou “Comarca de São João das Duas Barras”, por Teotônio apoiasse a proposta de divisão, passando a ser grande articulador
Segurado, ouvidor-geral de Goiás, em 1809. da questão. A efetivação dessas articulações deu-se durante a As-
A proposta foi aceita por D. João VI e, em 1915, Teotônio Se- sembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição Nacional,
gurado se tornou ouvidor na Vila da Palma, criada para ser a sede promulgada em 1988, e que contemplou a criação do Estado do
dessa nova Comarca. Com o retorno da Família Real para Portugal, Tocantins, efetivamente, a partir do dia 1º de janeiro de 1989.
as movimentações pela independência do Brasil e a Revolução do Atualmente
Porto (em Portugal), Teotônio Segurado, junto com outras lideran- Governador de Goiás
ças declaram a separação da Comarca do Norte em relação ao sul Marconi Ferreira Perillo Júnior
da província, criando-se a “Província do Norte”. Em 1823, é pedido
o reconhecimento da divisão junto à corte no Rio de Janeiro, mas A governadoria e o senado
esse reconhecimento foi negado, e houve a determinação para que Em 1998, Marconi Perillo deixou a possibilidade de reeleição
houvesse a “reunificação” do governo da província. à Câmara dos Deputados para enfrentar o pleito ao Governo de
O padre Luiz Gonzaga Camargo Fleury ficou encarregado de Goiás. Pregando um novo tempo para Goiás, foi eleito com quase
desmobilizar com os grupos autonomistas, que já estavam enfra- um milhão de votos, garantindo a maioria das intenções no primei-
quecidos por conflitos internos desde o afastamento de Teotônio ro turno e a vitória em segunda votação, que o colocou no Palácio
Segurado, ainda em 1821, como representante goiano junto as das Esmeraldas, aos 35 anos, o governador mais jovem já eleito no
cortes em Portugal. Durante o período imperial, outras propostas país. Em 2002, foi reeleito com 51,2% dos votos válidos dando con-
de divisão que contemplavam de alguma forma o norte de Goiás tinuidade ao seu governo voltado para a modernização do Estado
ainda foram discutidas, como a do Visconde de Rio Branco e Adolfo e amplitude das questões sociais. Deixou o cargo em 2006, quando
Varnhagen. foi eleito senador da República pelo PSDB com mais de dois milhões
de votos. No Senado, presidiu a Comissão de Serviços de Infraes-
O começo do século XX e a Marcha para Oeste trutura e foi vice-líder do PSDB, atuando em diversas comissões,
Com a Proclamação da República, mudam-se os nomes das uni- chegando inclusive à vice-presidência da Casa. Decidiu-se retornar
dades federativas de “Província” para “Estado”, mas não houveram ao Estado, em 2010, lançando nova candidatura ao Governo do Es-
grandes alterações na delimitação de divisas. As principais altera- tado, da qual saiu vencedor. Em 2014 foi reeleito novamente, se
ções ocorreram no Sul do país (com o conflito do Contestado entre tornando o primeiro a governar Goiás por quatro vezes.
Santa Catarina e Paraná) e no Nordeste. Entretanto, esse cenário
ganha nova dinâmica com o começo da II Grande Guerra (1939),
quando surgem pressões para a criação de territórios fronteiriços
(Ponta Porã, Iguaçu, Amapá, Rio Branco, Guaporé e Fernando de
Noronha), para proteção contra possíveis ataques estrangeiros.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Vice Governador Kayapó
José Eliton de Figuerêdo Júnior Filiados à família linguística Jê, subdividiam-se em Kayapó do
Convidado para o movimento de sucessão estadual para o plei- Sul, ou Kayapó Meridionais, e Kayapó Setentrionais. Os Kayapó do-
to de 2010, assumiu a vice governadoria do Estado de Goiás junto minavam todo o sul da capitania de Goiás. Havia aldeias na região
ao terceiro mandato do governador Marconi Perillo e continua no de rio Claro, na Serra dos Caiapós, em Caiapônia, no alto curso do
quarto mandato, sendo ainda secretário de estado de Desenvolvi- rio Araguaia e a sudeste, próximo ao caminho de Goiás a São Paulo.
mento. Seu território estendia-se além dos limites da capitania de Goiás:
Integrou a Comissão de Juristas do Senado Federal para a ela- a oeste, em Camapuã, no Mato Grosso do Sul; a norte, na região
boração do anteprojeto de reformulação do Código Eleitoral Brasi- entre o Xingu e o Araguaia, em terras do Pará; a leste, na beira do
leiro. Foi membro e tesoureiro do Instituto Goiano de Direito Elei- rio São Francisco, nos distritos de Minas Gerais; e ao sul, entre os
toral (IGDEL) e da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem rios Paranaíba e Pardo, em São Paulo. Dedicavam-se à horticultura,
dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB/GO). Autor do livro à caça e à pesca, além de serem conhecidos como povo guerreiro.
Legislação Eleitoral – Eleições 2008, é ainda membro do Diretório Fizeram ampla resistência à invasão de suas terras e foram regis-
Estadual de Goiás dos Democratas (DEM) e presidente estadual do trados vários conflitos entre eles e os colonos. Vítimas de perse-
Democratas Empreendedor. guições e massacres, foram também extintos no Estado de Goiás.
Fonte: http://www.goias.gov.br
Akwen
Os Akwen pertencem à família Jê e subdividem-se em Akroá,
ASPECTOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE GOIÁS: O POVO- Xacriabá, Xavante e Xerente:
AMENTO BRANCO, OS GRUPOS INDÍGENAS, A ESCRA- - Akroá e Xacriabá: habitavam extenso território entre a Serra
VIDÃO E CULTURA NEGRA, OS MOVIMENTOS SOCIAIS Geral e o rio Tocantins, as margens do rio do Sono e terras banhadas
NO CAMPO E A CULTURA POPULAR pelo rio Manoel Alves Grande. Estabeleceram-se, também, além da
Serra Geral, em solo baiano e nas ribeiras do rio São Francisco, nos
Índios distritos de Minas Gerais. Depois de vários conflitos com os colonos
Quando os bandeirantes chegaram a Goiás, este território, que que se estabeleceram em suas terras, foram levados para o aldea-
atualmente forma os Estados de Goiás e Tocantins, já era habita- mento oficial de São Francisco Xavier do Duro, construído em 1750.
do por diversos grupos indígenas. Naquela época, ao verem suas Os Akroá foram dizimados mais tarde e os Xacriabá encontram-se
terras invadidas, muitos foram os que entraram em conflito com atualmente em Minas Gerais, sob os cuidados da Funai.
os bandeirantes e colonos, em lutas que resultaram no massacre - Xavante: Seu território compreendia regiões do alto e médio
de milhares de indígenas, aldeamentos oficiais ou migração para rio Tocantins e médio rio Araguaia. Tinham suas aldeias distribuí-
outras regiões das nas margens do Tocantins, desde Porto Imperial até depois de
A maioria dos grupos que viviam em Goiás pertencia ao tronco Carolina, e a leste, de Porto Imperial até a Serra Geral, limites das
linguístico Macro-Jê, família Jê (grupos Akuen, Kayapó, Timbira e províncias de Goiás (antes da divisão) e Maranhão. Havia também
Karajá). Outros três grupos pertenciam ao tronco linguístico Tupi, aldeias na bacia do rio Araguaia, na região do rio Tesouras, nos dis-
família Tupi-Guarani (Avá-Canoeiro, Tapirapé e Guajajara). A au- tritos de Crixás e Pilar, e na margem direita do rio Araguaia. Na
sência de documentação confiável, no entanto, dificulta precisar primeira metade do século XIX entraram em conflito com as frentes
com exatidão a classificação linguística dos povos Goyá, Araé, Crixá agropastoris que invadiam seus territórios e, após intensas guerras,
e Araxá. migraram para o Mato Grosso, na região do rio das Mortes, onde
vivem atualmente.
Goyá - Xerente: Este grupo possuía costumes e língua semelhante
Segundo a tradição, os Goyá foram os primeiros índios que a aos Xavantes e há pesquisadores que acreditam que os Xerentes
expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho encontrou ao iniciar são uma subdivisão do grupo Xavante. Os Xerentes habitavam os
a exploração aurífera e foram eles, também, que indicaram o lugar territórios da margem direita do rio Tocantins, ao norte, no territó-
– Arraial do Ferreiro – no qual Bartolomeu Bueno estabeleceu seu rio banhado pelo rio Manoel Alves Grande, e ao sul, nas margens
primeiro arranchamento. Habitavam a região da Serra Dourada, dos rios do Sono e Balsas. Também viviam nas proximidades de La-
próximo a Vila Boa, e quatro décadas após o início do povoamento geado, no rio Tocantins, e no sertão do Duro, nas proximidades dos
desapareceram daquela região. Não se sabe ao certo seu destino e distritos de Natividade, Porto Imperial e Serra Geral. Seus domínios
nem há registros sobre seu modo de vida ou sua língua alcançavam as terras do Maranhão, na região de Carolina até Pas-
tos Bons. Como os Xavante, também entraram em intenso conflito
Krixá com as frentes agropastoris do século XIX e, atualmente, os Xeren-
Seus limites iam da região de Crixás até a área do rio Tesouras. te vivem no Estado de Tocantins.
Como os Goyá, também desapareceram no início da colonização do
Estado e não se sabe ao certo seu destino, sua cultura e sua língua. Karajá
Os grupos indígenas Karajá, Javaé e Xambioá pertencem ao
Araé tronco linguístico Macro-Jê, família Karajá, compartilhando a mes-
Também não há muitos registros a respeito dos Araé. Possivel- ma língua e cultura. Viviam nas margens do rio Araguaia, próximo à
mente teriam habitado a região do rio das Mortes. Ilha do Bananal. Ao longo do século XIX, entraram em conflito com
as guarnições militares sediadas no presídio de Santa Maria, sendo
Araxá que os Karajá de Aruanã são a única aldeia do grupo que atualmen-
Habitavam o local onde se fundou a cidade de Araxá, que per- te vivem no Estado de Goiás.
tencia a Goiás e atualmente faz parte do território de Minas Gerais.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Timbira Cedro: localizado no atual município de Mineiros, tinha cerca
Eram bastante numerosos e habitavam uma vasta região entre de 250 moradores que praticam a agricultura de subsistência. So-
a Caatinga do Nordeste e o Cerrado, abrangendo o sul do Mara- breviveu até hoje.
nhão e o norte de Goiás. Ao longo do século XIX, devido à expansão Forte: localizado no nordeste de Goiás, sobreviveu até hoje,
pecuária, entraram em conflitos com os criadores de gado que in- tornando-se povoado do município de São João d’Aliança.
vadiam suas terras. O grupo Timbira é formado pelas etnias Krahô, Kalunga: localizado no Vão do Paranã, no nordeste de Goiás,
Apinajé, Gavião, Canela, Afotogés, Corretis, Otogés, Porecramec- existe há 250 anos, tendo sido descoberto pela sociedade nacional
rãs, Macamecrãs e Temembus. somente em fins do anos 1960. Tem 5 mil habitantes, distribuídos
em vários núcleos na mesma região.
Tapirapés Mesquita: próximo à atual cidade de Luziânia, estendia sua po-
Pertencem ao tronco linguístico Tupi, família Tupi-Guarani. pulação para diversas localidades no seu entorno.
Este grupo inicialmente habitava a oeste do rio Araguaia e eventu- Muquém: próximo à atual cidade de Niquelândia e junto ao
almente frequentavam a ilha do Bananal. Com o passar do tempo, povoado de mesmo nome, foi notório, mas deixou poucas informa-
se estabeleceram ao longo do rio Tapirapés, onde atualmente ain- ções a seu respeito.
da vivem os remanescentes do grupo.
Papuã: na mesma região do Muquém, foi descoberto em 1741
Avá-Canoeiro e destruído anos depois pelos colonizadores.
Pertencentes ao tronco linguístico Tupi, os Avá-Canoeiro ha- Pilar: próximo à cidade de mesmo nome, foi destruído em lu-
bitavam as margens e ilhas dos rios Maranhão e Tocantins, desde tas. Seus 300 integrantes chegaram a planejar a morte de todos os
Uruaçu até a cidade de Peixe, em Tocantins. Entre meados do sé- brancos do local, mas o plano foi descoberto antes.
culo XVIII e ao longo do século XIX, entraram em graves conflitos Tesouras: no arraial de mesmo nome, tinha até atividades de
com as frentes agropastoris que invadiam suas terras. Atualmente, mineração e um córrego inclusive chamado Quilombo.
os Avá-Canoeiro do Araguaia vivem na Ilha do Bananal, na aldeia Três Barras: tinha 60 integrantes, conhecidos pelos insultos e
Canoanã, dos índios Javaés, e os Avá-Canoeiro do Tocantins vivem provocações ao viajantes.
na Serra da Mesa, município de Minaçu. São Gonçalo: próxima à cidade de Goiás, então capital, seus
integrantes atacavam roças e rebanhos das fazendas vizinhas.
Quilombos
Ligados diretamente à história da ocupação do território brasi- Goianos e Goianienses
leiro, os quilombos surgiram a partir do início do ciclo da mineração A composição inicial da população de Goiás se deu por meio da
no Brasil, quando a mão de obra escrava negra passou a ser utiliza- convivência nem tão pacífica entre os índios que aqui residiam e as
da nas minas, especialmente de ouro, espalhadas pelo interior do levas de paulistas e portugueses que vinham em busca das rique-
Brasil. Em Goiás, esse processo teve início com a chegada de Barto- zas minerais. Estes por sua vez, trouxeram negros africanos à tira
lomeu Bueno da Silva, em 1722, nas minas dos Goyazes. Segundo colo para o trabalho escravista, moldando a costumeira tríade da
relatos dos antigos quilombolas, o trabalho na mineração era difícil miscigenação brasileira entre índios, negros e brancos, e todas as
e a condição de escravidão na qual viviam tornavam a vida ainda suas derivações. Entretanto, a formação do caráter goiano vai além
mais dura. As fugas eram constantes e àqueles recapturados res- dessa visão simplista e adquiriu características especiais à medida
tavam castigos muito severos, o que impelia-os a procurar refúgios que o espaço físico do Estado passou a ser ocupado
em lugares cada vez mais isolados, dando origem aos quilombolos. Até o início do século XIX, a maioria da população em Goiás era
Os Kalungas são os maiores representantes desses grupos em composta por negros. Os índios que habitavam o Estado ou foram
Goiás. Na língua banto, a palavra kalunga significa lugar sagrado, dizimados pelo ímpeto colonizador ou migraram para aldeamen-
de proteção, e foi nesse refúgio, localizado no norte da Chapada tos oficiais. Segundo o recenseamento de 1804, o primeiro oficial,
dos Veadeiros, que os descendentes desses escravos se refugiaram 85,9% dos goianos eram “pardos e pretos” e este perfil continuou
passando a viver em relativo isolamento. Com identidade e cultura constante até a introdução das atividades agropecuárias na agenda
próprias, os quilombolas construíram sua tradição em uma mistura econômica do Estado.
de elementos africanos, europeus e forte presença do catolicismo Havia no imaginário popular da época a ideia de sertão pre-
tradicional do meio rural sente na constituição física do Estado. O termo, no entanto, reme-
A área ocupada pela comunidade Kalunga foi reconhecida pelo teria a duas possibilidades distintas de significação: assim como na
Governo do Estado de Goiás, desde 1991, como sítio histórico que África, representava o vazio, isolado e atrasado, mas que por outro
abriga o Patrimônio Cultural Kalunga. Com mais de 230 mil hecta- lado se apresentava como desafio a ser conquistado pela ocupação
res de Cerrado protegido, abriga cerca de quatro mil pessoas em territorial.
um território que estende pelos municípios de Cavalcante, Monte Essa ocupação viria acompanhada predominantemente pela
Alegre e Teresina de Goiás. Seu patrimônio cultural celebra festas domesticação do sertão segundo um modelo de trabalho familiar,
santas repletas de rituais cerimoniosos, como a Festa do Império e cujo personagem principal, o sertanejo, assumiu para si a respon-
o Levantamento do mastro, que atraem turistas todos os anos para sabilidade da construção do país, da ocupação das fronteiras e, por
a região. seguinte, da Marcha para o Oeste impulsionadora do desenvolvi-
mento brasileiro. Registros da época dão conta de processos migra-
Quilombolos registrados em Goiás tórios ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes
Acaba Vida: na mesma região de Niquelândia, ocupavam terras migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará, resultando
férteis e era conhecido localmente, sendo citado em 1879. em uma ampla mestiçagem na caracterização do personagem ser-
Ambrósio: existiu na região do Triângulo Mineiro, que, até tanejo.
1816, pertencia a Goiás. Teve mais de mil moradores e foi destruí-
do por massacre.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
O sertanejo, aí, habitante do vazio e isolado sertão, tinha uma Festas e festivais
vida social singela e pobre de acontecimentos. O calendário litúrgi- O Estado de Goiás promove, constantemente, manifestações
co e a chegada de tropas e boiadas traziam as únicas novidades pe- artísticas conjuntas de forma a apresentar novos nomes do cená-
las bocas de cristãos e mascates. Nessa época, a significação da vida rio regional. Três festivais têm espaço garantido no calendário de
estava diretamente ligada ao campo e dele resultaram, segundo as eventos estadual, dando repercussão à cultura audiovisual, drama-
atividades registradas nos arraias, o militar, o jagunço, o funcioná- turgia e à música. Na cidade de Goiás, é realizado o Festival Interna-
rio público, o comerciante e o garimpeiro. cional de Cinema e Vídeo Ambiental, o Fica; em Porangatu, a Mos-
Ao longo do século XX, novas levas migratórias, dessa vez do tra de Teatro Nacional de Porangatu, o TeNPo; e o Festival Canto da
sul e de estrangeiros começam a ser registradas no território goia- Primavera, em Pirenópolis.
no, de modo que no Censo do ano 2000, os cinco milhões de ha-
bitantes se declararam como 50,7% de brancos, 43,4% de pardos, Festas religiosas
4,5% de negros e 0,24% de outras etnias. Resultado do processo de formação da chamada gente goiana,
o legado religioso no Estado de Goiás está intimamente ligado ao
Goianos e muitas goianas processo de colonização portuguesa registrado por quase toda a
O último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geogra- extensão do território brasileiro. Reflexo dessa realidade é a forte
fia e Estatística (IBGE) de 2010 confirmou uma população residente presença de elementos cristãos nas manifestações populares, que
em Goiás de 6.003.788 habitantes, com crescimento acima da mé- a exemplo da formação do sertanejo se consolidavam como uma
dia nacional, que foi de 1,17% ao ano das poucas opções de entretenimento da época. Por todo o Estado,
Em termos de gênero, a população feminina sai na frente. São são costumeiras as distribuições das cidades no espaço geográfico
3.022.161 mulheres, contra 2.981.627 homens – em uma propor- partindo de uma igreja católica como ponto central do município,
ção de 98 homens para cada 100 mulheres. Reflexo também sen- o que lhes atribuía também o direcionamento das festas populares
tido na capital, Goiânia, com 681.144 mulheres e 620.857 homens Pirenópolis e cidade de Goiás talvez sejam as maiores expres-
(diferença de 60.287 pessoas). sões desse tradicionalismo cristão imbuído em festejos tradicio-
nais. São famosas as Festas do Divino Espírito Santo, Cavalhadas
Artes e comemorações da Semana Santa, como a Procissão do Fogaréu.
Goiás é pleno em artes. O Estado conjuga sob sua tutela mani- No entanto, de norte a sul, fervilham expressões populares, quer
festações artísticas variadas, que englobam do traço primitivo até o seja em vilarejos, como a tradicional Romaria de Nossa Senhora do
mais moderno desenho. Contemplado com nomes de peso no ce- Muquém, no distrito de Niquelândia, ou próximo a grandes centros
nário regional, Goiás é expressivo quanto aos artistas que contaram urbanos, caso da cidade de Trindade, próximo à Goiânia, e o Santu-
em prosa e verso as belezas do Cerrado ou o ritmo de um Estado ário do Divino Pai Eterno.
em crescimento e mesmo as nuances de ritos cotidianos Mesmo no interior, esses valores persistem e são comuns no
Na escultura, José Joaquim da Veiga Valle é unanimidade. Na- começo do ano as Folias de Reis que dão o tom de festa e oração
tural de Pirenópolis, esculpia imagens, na maioria em cedro, sendo firmes no intuito de retribuir graças recebidas, como uma boa co-
considerado um dos grandes “santeiros” do século XIX. Suas ma- lheita ou recuperação de enfermidades. Na adoração ao menino
donas são as mais representativas e na época eram expressadas Jesus, segundo a saga dos três santos reis magos, os festeiros ar-
conforme a devoção de cada pessoa que a encomendava. Já a pin- recadam alimentos, animais e até dinheiro para cobrir as despesas
tura é honrada pelas técnicas e pincéis de Siron Franco e Antônio da festa popularizando a fé e promovendo a socialização entre co-
Poteiro, artistas renomados e reconhecidos mundialmente em pin- munidades.
turas, monumentos e instalações, que vão do primitivismo de Po- O Divino em Pirenópolis e o Fogaréu da cidade de Goiás É qua-
teiro até o temas atuais na mãos de Siron Franco. Isso sem contar a se um consenso geral a polaridade existente entre as tradições de
arte inigualável de Goiandira do Couto, expressa por seus quadros Pirenópolis e da cidade de Goiás. De um lado, Pirenópolis aposta
pintados não com tinta, mas com areia colorida retirada da Serra nas bênçãos do Divino Espírito Santo para consagrar sua festa em
Dourada. louvor ao Pentecostes. Por outro lado, a cidade de Goiás carrega
A literatura goiana é destaque à parte. Destacam-se os nomes entre o seu legado a tradição medieval do ritual da Procissão do
de Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e Boiadas; Basileu Toledo Fogaréu, durante a Semana Santa, no qual mais de três mil pessoas
França e os romances históricos Pioneiros e Jagunços e Capanguei- acompanham a caçada feita pelos faricocos, personagens centrais
ros; Bernardo Élis e as obras Apenas um Violão, O Tronco e Ermos do cortejo que representam os soldados romanos, a Jesus Cristo.
Gerais; Carmo Bernardes com Jurubatuba e Selva-Bichos e Gente;
Gilberto Mendonça Teles, considerado o escritor goiano mais fa- Gastronomia
moso na Europa, com A Raiz da Fala e Hora Aberta; Yêda Schmaltz Em Goiás, comer é um ato social. A comida carrega traços da
com Baco e Anas Brasileiras; Pio Vargas e Anatomia do Gesto e Os identidade e da memória do povo goiano, tanto que a cozinha típica
Novelos do Acaso; e Leo Lynce, um dos precursores do modernis- goiana é geralmente grande e uma das partes mais importantes da
mo, com seu livro Ontem. casa, por agregar ritos e hábitos do ato de fazer a comida. Historica-
mente, a culinária goiana se desenvolveu carregada de influências e
Cora Coralina misturas que, em virtude da colonização e da escassez de alimentos
Ana Lins Guimarães Peixoto Bretas tinha quase 76 anos quando vindos de outras capitanias, teve que buscar adaptações de acordo
publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias com a realidade local, em especial a do Cerrado. O folclorista Ba-
Mais. Conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina foi poetisa e riani Ortêncio, em seu livro Cozinha goiana: histórico e receituário,
contista, sendo considerada uma das maiores escritoras brasileiras resumiu essa ideia ao ressaltar essas substituições. Se não havia a
do século XX. Também era conhecida por seus dotes culinários, es- batatinha inglesa, havia a mandioca e o inhame nativos, a serralha
pecialmente na feitura dos típicos doces da cidade de Goiás, onde entrava no lugar do almeirão e a taioba substituía a couve.
morava – motivo do qual é evidente a presença do cotidiano inte-
riorano brasileiro, em especial dos becos e ruas de pedras históri-
cas, em sua obra.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
E assim, foram introduzidos na panela goiana, o pequi, a guari- As Congadas dão outro show à parte. Realizadas tradicional-
roba, além dos diversos frutos do Cerrado, como o cajá-manga e a mente no município de Catalão, reúnem milhares de pessoas no
mangaba, consumidos também em sucos, compotas, geleias, doces desenrolar do desfile dos ternos de Congo que homenageiam o es-
e sorvetes. cravo Chico Rei e sua luta pela libertação de seus companheiros,
Do fogão caipira até as mais modernas cozinhas industriais é com o bônus da devoção à Nossa Senhora do Rosário. Ao toque de
costumeiro se ouvir falar no tradicional arroz com pequi, cujo chei- três apitos, os generais dão início às batidas de percussão dos mais
ro característico anuncia de longe o cardápio da próxima refeição. de 20 ternos que se revezam entre Catupés-Cacunda, Vilão, Mo-
O pequi, aliás, é figura tão certa na tradição goiana, quanto os cui- çambiques, Penacho e Congos, cada qual com suas cores em cerca
dados ministrados àqueles que se aventuram a experimentá-lo de dez dias de muita festa.
pela primeira vez. A quem não sabe, não se morde, nem se parte o
pequi. O fruto é roído com os dentes incisivos e qualquer menção A raiz e o sertanejo
no sentido de mordê-lo pode resultar em uma boca recheada de Nem só de manifestações religiosas vive a tradicional cultura
dolorosos espinhos goiana. Uma dança bastante antiga e muito representativa do Es-
Também se inclui no cardápio típico goiano a paçoca de pilão, tado também faz as vezes em apresentar Goiás aos olhos dos visi-
o peixe assado na telha e a galinhada. A galinhada, por sinal, não tantes. A Catira que tem seus primeiros registros desde o tempo
se resume ao frango com arroz. É mais, acompanhada de açafrão, colonial não tem origem certeira. Há relatos de caráter europeu,
milho e cheiro verde, rendendo uma mistura que agrada a ambos, africano e até mesmo indígena, com resquícios do processo ca-
olfato e paladar. Sem contar a infinidade de doces típicos interiora- tequizador como forma de introduzir cantos cristãos na possível
nos, visto na leveza de alfenins, pastelinhos, ambrosias, entre ou- dança indígena. No entanto, seu modo de reprodução compassado
tras guloseimas. entre batidas de mãos e pés, permeados por cantigas de violeiros
perfaz a beleza cadenciada pela dança
A pamonha A viola, aliás, está presente em boa parte do cancioneiro po-
Iguaria feita à base de milho verde, a pamonha está ligada pular goiano, especialmente nos gêneros caipira e sertanejo, que
diretamente à tradição goiana. Encontrada em diversos sabores, em conjunto com sanfonas e gaitas têm sido bastante divulgados,
salgados, doces, apimentados e com os mais diferentes recheios, geralmente por duplas de cantores. Diferenças, no entanto, podem
que incluem até jiló e guariroba, a pamonha é quase unanimidade ser notadas quanto à temática, uma vez que o sertanejo tem se
no prato do goiano, frita, cozida ou assada, especialmente em dias apresentado majoritariamente enquanto produto da indústria cul-
chuvosos. Difícil mesmo encontrar algum goiano que não goste de tural e a música de raiz ou caipira se inspirado nas belezas do cam-
comê-la e, principalmente, de fazê-la. É comum, especialmente no po e do cotidiano do sertanejo.
interior, reunir familiares e amigos para preparar caldeirões imen-
sos da pamonhada, como forma de integração social. Homens, mu- Pluralidade de ritmos
lheres, crianças, jovens e adultos – todos participam. E é, em geral, Nem só de sertanejo vive o Estado de Goiás. Na verdade, rit-
coisa de amigos íntimos, ditos “de dentro de casa”. mos antes considerados característicos de eixos do Sudeste do país
têm demarcado cada vez mais seu espaço dentro do território goia-
Manifestações populares no. Bons exemplos são a cena alternativa e do rock, divulgados em
O desenrolar da história de Goiás propiciou o aparecimento peso por festivais de renome como o Bananada e o Vaca Amarela,
de diversas atividades culturais no Estado, das quais originaram enquanto que, por outro lado, rodas de samba e apresentações
legítimas manifestações do folclore goiano. Apesar de boa parte de chorinho também têm angariado novos adeptos, dentre outros
delas estar relacionada ao legado religioso introduzido pelos por- tantos ritmos encontrados na cultura goiana.
tugueses, o movimento cultural que floresceu no Estado agregou Fonte: http://www.goias.gov.br/
tradições indígenas, africanas e europeias de maneira a abrigar um
sincretismo não apenas religioso, mas de tradições, ritmos e mani-
festações que tornaram a cultura goiana um mix de sensações que ATUALIDADES ECONÔMICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS E
vão da batida do tambor da Congada e dos mantras entoados nas CULTURAIS DO ESTADO DE GOIÁS
orações ao Divino, até a cadência da viola sertaneja ou o samba e o
rock que por aqui também fizeram morada. A importância do estudo de atualidades
As Cavalhadas talvez sejam uma das manifestações populares
mais dinâmicas e expressivas do Estado de Goiás. A encenação épi- Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estu-
ca da luta entre mouros e cristãos na Península Ibérica é apresenta- dantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tor-
da tradicionalmente por diversas cidades goianas, tendo seu ápice nado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemática,
no município de Pirenópolis, quinze dias após a realização da Festa língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmen-
do Divino. Toda a cidade se prepara para a apresentação, traves- te as colocamos em um patamar mais elevado que outras que nos
tida no esforço popular em carregar o estandarte que representa parecem menos importantes, pois de algum modo nos é ensinado a
sua milícia. O azul cristão trava a batalha contra o rubro mouro, hierarquizar a relevância de certos conhecimentos desde os tempos
ornados ambos de luxuosos mantos, plumas, pedras incrustadas e de escola.
elmos metálicos, desenhando, por conseguinte, símbolos da cris- No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo
tandade como o peixe ou a pomba branca – símbolo do Divino – e no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos
do lado muçulmano o dragão e a lua crescente. Paralelamente, os e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de
mascarados quebram a solenidade junto ao público, introduzindo modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur-
o sarcástico e profano, em meio a um dos maiores espetáculos do sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico
Centro-Oeste. e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con- TÍTULO I
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po-
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política, CAPÍTULO I
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se-
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico. SEÇÃO I
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons- DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê Art. 1º - O Estado de Goiás, formado por seus Municípios, é
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se parte integrante e inseparável da República Federativa do Brasil.
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio- § 1º - Goiânia é a Capital do Estado.
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex- § 2º- Constituem símbolos do Estado de Goiás sua bandeira,
trema recorrência na mídia. seu hino e suas armas.
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo. Art. 2º - São Poderes do Estado, independentes e harmônicos
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por § 1º - Ressalvadas as exceções previstas nesta Constituição, é
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.) vedado, a qualquer dos Poderes, delegar atribuições, e quem for
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem investido nas funções de um deles não poderá exercer as de outro.
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades, § 2º - O Estado organiza-se e rege-se por esta Constituição e
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al- pelas leis que adotar, observados os princípios estabelecidos na
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os in- Constituição da República.
teresses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de Art. 3º - São objetivos fundamentais do Estado de Goiás:
modo algum, mas são triviais quanto ao estudo. I - contribuir para uma sociedade livre, justa, produtiva e soli-
Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados dária;
através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto II - promover o desenvolvimento econômico e social, erradi-
de informações veiculados impede que saibamos de fato como es- cando a pobreza e a marginalização e reduzindo as desigualdades
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam regionais e as diferenças de renda;
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma III - promover o bem comum, sem qualquer forma de discrimi-
disciplina que se renova a cada instante. nação quanto à origem, raça, sexo, cor, idade ou crença.
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló- Parágrafo único - O Estado de Goiás buscará a integração eco-
gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham nômica, política, social e cultural com o Distrito Federal e com os
em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara Estados integrantes do Centro-Oeste e da Amazônia.
mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente, SEÇÃO II
jurisdição etc.) na “área do cliente”. DAS COMPETÊNCIAS
Lá, o concurseiro encontrará um material completo com ilus-
trações e imagens, notícias de fontes verificadas e confiáveis, tudo Art. 4º - Compete ao Estado, sem prejuízo de outras competên-
preparado com muito carinho para seu melhor aproveitamento. cias que exerça isoladamente ou em comum com a União ou com
Com o material disponibilizado online, você poderá conferir e che- os Municípios:
car os fatos e fontes de imediato através dos veículos de comunica- I - legislar sobre assuntos de seu interesse e, especialmente,
ção virtuais, tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão sobre:
fluida e a veracidade das informações um caminho certeiro. a) instituição, mediante lei complementar, de regiões metro-
Acesse: https://www.apostilasopcao.com.br/retificacoes politanas, aglomerados urbanos e microrregiões, constituídos por
Bons estudos! agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organiza-
ção, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS DE 05 DE 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
OUTUBRO DE 1.989 b) criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municí-
pios, dentro do período determinado por lei complementar federal,
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS e estabelecimento de critérios para a criação de distritos; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
PREÂMBULO 09-2010)
Sob a proteção de Deus e em nome do povo goiano, nós, Depu- c) organização administrativa de seus poderes, inclusive divisão
tados Estaduais, investidos de Poder Constituinte, fiéis às tradições judiciária;
históricas e aos anseios de nosso povo, comprometidos com os ide- d) organização dos serviços públicos estaduais;
ais democráticos, respeitando os direitos fundamentais da pessoa e) exploração dos serviços locais de gás canalizado, de forma
humana, buscando definir e limitar a ação do Estado em seu papel direta ou mediante concessão, nos termos da lei; (Redação dada
de construir uma sociedade livre, justa e pluralista, aprovamos e pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
promulgamos a presente Constituição do Estado de Goiás. 2010)
f) controle, uso e disposição de seus bens.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II exercer a competência legislativa autorizada pela União me- X - dispensar às microempresas e às empresas de pequeno por-
diante lei complementar, sobre questões específicas das matérias te tratamento jurídico diferenciado;
relacionadas no art. 22 da Constituição da República. (Redação XI - manter a segurança e a ordem públicas;
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- XII - assegurar os direitos da pessoa humana;
09-2010) XIII (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
a) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, II)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) XIV assegurar, pelo tempo em que tiver exercido a Chefia do
b) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- Poder Executivo, desde que por prazo superior a três anos, permi-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) tida a soma de mandatos, em caso de reeleição, medidas de segu-
c) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, rança a ex-governador, a partir do término do respectivo exercício.
D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) (Acrescido pela Ementa Constitucional nº 41, de 04-09-07, D.A. de
d) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- 05-09-07), - Regulamentado pelo Decreto nº 7.198, de 29-12-2010.
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) XV - manter sistema permanente de monitoramento e avalia-
ção de políticas públicas.(Redação dada pela Emenda Constitucio-
e) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- nal nº 63, de 04-12-2019)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) Art. 6º - Compete ao Estado, em comum com a União e os Mu-
f) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, nicípios:
D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
g) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- democráticas e conservar o patrimônio público;
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia
h) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- das pessoas portadoras de deficiência;
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) III - proteger documentos, obras, monumentos, paisagens na-
i) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, turais, sítios arqueológicos e outros bens de valor histórico, artístico
D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) e cultural, impedindo sua evasão, destruição e descaracterização;
j) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, IV - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à
D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) ciência;
l) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, V - proteger o meio ambiente, preservar as florestas, a fauna e
D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) a flora e combater todas as formas de poluição;
m) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- VI - fomentar a produção agropecuária e organizar o abasteci-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) mento alimentar;
n) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- VII - promover programas de construção de moradias e a me-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) lhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
o) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- VIII - combater as causas da pobreza e da marginalização, pro-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, I) movendo a integração das camadas sociais desfavorecidas;
III - exercer a competência legislativa plena, atendidas as suas IX - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
peculiaridades, em caso de inexistência de lei federal, e a compe- de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seu
tência suplementar sobre as matérias relacionadas no art. 24 da território;
Constituição da República.(Redação dada pela Emenda Constitucio- X - estabelecer e implantar política de educação para a segu-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) rança do trânsito.
Art. 5º - Compete ao Estado: Parágrafo único. Ficam referendadas as alterações promovidas
I - manter relações com as demais unidades da Federação e pelo art. 1º da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro
participar de organizações interestaduais; de 2019, no art. 149 da Constituição Federal e as revogações previs-
II - contribuir para a defesa nacional; tas na alínea a do inciso I e nos incisos III e IV do art. 35 da referida
III - decretar intervenção nos Municípios; emenda. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-
IV - elaborar e executar planos estaduais e regionais de ordena- 12-2019, D.O. de 30-12-2019)
ção do território e de desenvolvimento econômico e social;
V - organizar seu governo e sua administração, os serviços pú- SEÇÃO III
blicos essenciais e os de utilidade pública, explorando-os direta- DOS BENS DO ESTADO
mente ou mediante concessão, permissão ou autorização ou em
colaboração com a União, com outros Estados, com o Distrito Fede- Art. 7º - São bens do Estado os que atualmente lhe pertençam,
ral ou com os Municípios; os que lhe vierem a ser atribuídos e:
VI (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
2010, D.A. de 09-09-2010) e em depósito, ressalvadas, neste caso, as decorrentes de obras da
VII - exercer controle sobre áreas e condições para o exercício União;
da atividade de garimpagem, objetivando a proteção e preservação II - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
do meio ambiente; III - as terras devolutas não compreendidas entre as da União;
VIII - firmar acordos e convênios com a União e demais unida- IV - os rios que banhem mais de um Município.
des federadas, com os Municípios e com instituições nacionais e in- Parágrafo único - A lei especificará regras para concessão, ces-
ternacionais, para fins de cooperação econômica, cultural, artística, são, permissão e autorização de uso de bens móveis e imóveis do
científica e tecnológica; Poder Público. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
IX - contrair empréstimos externos e internos, fazer operações 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e celebrar acordos externos visando ao seu desenvolvimento eco-
nômico, científico, tecnológico, cultural e artístico, com prévia auto-
rização legislativa;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
CAPÍTULO II V - limites do território estadual e bens do domínio do Estado;
DO PODER LEGISLATIVO VI criação, incorporação, fusão e desmembramento de Muni-
cípios, nos termos do art. 83; (Redação dada pela Emenda Constitu-
SEÇÃO I cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA VII - transferência temporária da sede do Governo Estadual;
VIII - organização administrativa, judiciária, do Ministério Pú-
Art. 8º O Poder Legislativo é exercido pela Assembleia Legisla- blico, da Procuradoria-Geral do Estado, da Procuradoria-Geral de
tiva, constituída de Deputados Estaduais, representantes do povo, Contas, da Defensoria Pública, do Tribunal de Contas do Estado, do
eleitos pelo sistema proporcional e pelo voto direto e secreto. (Re- Tribunal de Contas dos Municípios, da Polícia Civil, da Polícia Militar,
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. do Corpo de Bombeiros Militar e dos demais órgãos da administra-
de 09-09-2010) ção pública;
§ 1º - A eleição dos Deputados Estaduais coincidirá com a dos IX - criação e extinção das Secretarias de Estado e dos órgãos
Deputados Federais. da administração direta, autárquica e fundacional, observado o que
§ 2º - Cada legislatura terá a duração de quatro anos. estabelece o inciso XVIII, alínea “a”, do art. 37; (Redação dada pela
§ 3º - O número de Deputados Estaduais corresponderá ao tri- Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009,
plo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atin- Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
gido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos X - servidores públicos da administração direta, autárquica e
forem os Deputados Federais acima de doze. fundacional, seu regime jurídico, criação, transformação, provi-
Art. 9º A Assembleia Legislativa ou qualquer de suas Comis- mento e extinção de cargos, empregos e funções públicas, ressal-
sões poderá convocar Secretários de Estado ou autoridades equi- vado o disposto no inciso XVIII, alínea “b”, do art. 37, estabilidade
valentes, bem como dirigentes de entidades da administração in- e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares para
direta para prestarem, pessoalmente, no prazo máximo de trinta a inatividade e, observados os parâmetros estabelecidos na lei de
dias, contados do recebimento da convocação, informações sobre diretrizes orçamentárias, fixação de sua remuneração ou subsídio;
assunto previamente determinado, importando, quanto aos dois (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-2009,
primeiros, em crime de responsabilidade a ausência não justificada. D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, XI - aquisição por doação onerosa e alienação de bens do Esta-
D.A. de 09-09-2010) do e de suas autarquias;
§ 1º - A autoridade convocada enviará, até três dias úteis antes XII matéria de legislação concorrente, nos termos do que dis-
do seu comparecimento, exposição sobre as informações preten- põem o art. 24 e seus parágrafos da Constituição da República; (Re-
didas. dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
§ 2º O Secretário de Estado ou autoridade equivalente poderá de 09-09-2010)
comparecer à Assembleia ou a suas Comissões, por sua iniciativa e XIII - fixação, mediante lei de sua iniciativa, dos subsídios do
mediante entendimento com a Presidência respectiva, para expor Governador, do Vice-Governador do Estado e dos Secretários de Es-
assunto de relevância de sua pasta. (Redação dada pela Emenda tado, observado o que dispõem os arts. 37, inciso XI, 39, § 4º, 150,
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) inciso II, 153, inciso III e 153, § 2º, inciso I, da Constituição da Repú-
§ 3º A Mesa da Assembleia Legislativa poderá encaminhar blica. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
pedidos escritos de informação a Secretários de Estado ou autori- D.A. de 09-09-2010)
dades equivalentes e a qualquer das demais autoridades referidas - Vide Lei nº 19.043, de 08-10-2015.
no caput deste artigo, importando, quanto aos dois primeiros, em Art. 11. Compete exclusivamente à Assembleia Legislativa:(Re-
crime de responsabilidade, e quanto aos últimos, em sujeição às dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
penas da lei, a recusa, ou não atendimento, no prazo de trinta dias, de 09-09-2010)
bem como a prestação de informações falsas.(acrescido pela Emen- I - autorizar o Poder Executivo a contrair empréstimos internos
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) e externos, bem como conceder garantias do Tesouro Estadual em
operações de crédito;
SEÇÃO II II - autorizar o Governador e o Vice-Governador a se ausenta-
DAS ATRIBUIÇÕES DO PODER LEGISLATIVO rem do Estado ou do País por mais de 15 (quinze) dias;
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Art. 10. Cabe à Assembleia Legislativa, com a sanção do Gover- 2010, D.A. de 09-09-2010.
nador do Estado, ressalvadas as especificadas no art. 11, dispor so- III - aprovar a intervenção estadual nos Municípios, bem como
bre todas as matérias de competência do Estado, e especialmente suspendê-la;
sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- IV sustar os atos normativos do Poder Executivo, ou dos Tri-
2010, D.A. de 09-09-2010) bunais de Contas, em desacordo com a lei ou, no primeiro caso,
I sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas do que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
Estado; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- legislativa;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
2010, D.A. de 09-09-2010) 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anu- V - mudar, temporariamente, sua sede;
al, operações de crédito, dívida pública e emissões do Tesouro Es- VI fixar os subsídios dos Deputados, em razão de, no máximo,
tadual; 75% (setenta e cinco por cento) daquele estabelecido, em espécie,
III fixação e modificação do efetivo da Polícia Militar e do Cor- para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 37,
po de Bombeiros Militar; (Redação dada pela Emenda Constitucio- XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emen-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
IV - planos e programas estaduais, regionais e setoriais de de- VII - julgar, anualmente, as contas prestadas pelo Governador
senvolvimento; e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
VIII - fiscalizar e controlar, diretamente, os atos do Poder Execu- XXIX autorizar, por voto de dois terços de seus membros, a ins-
tivo, incluídos os da administração indireta; tauração de processo contra o Governador e o Vice-Governador do
IX - apreciar convênios ou acordos firmados pelo Estado; Estado e Secretários de Estado. (Redação dada pela Emenda Consti-
X escolher quatro membros do Tribunal de Contas do Estado tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e do Tribunal de Contas dos Municípios e aprovar, previamente, por § 1º Resolução disporá sobre as matérias constantes dos inci-
voto secreto, após arguição pública, os indicados pelo Governador sos VI, XIV e XV deste artigo, ressalvada, neste último caso, a fixação
do Estado;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- ou alteração da remuneração ou subsídio dos servidores, que de-
09-2010, D.A. de 09-09-2010) penderá de lei específica.(Redação dada pela Emenda Constitucio-
XI - autorizar referendo e convocar plebiscito, na forma da lei;(- nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Vide Lei nº 20.704, de 13-01-2020 - Regulamento) § 2º - A lei disporá sobre o processo de fiscalização dos atos do
XII - aprovar, previamente, a alienação ou cessão de uso de ter- Poder Executivo, inclusive os da administração indireta.
ras públicas; § 3º À Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa, instituição
XIII - processar e julgar o Governador e o Vice-Governador por permanente, compete exercer a representação judicial, o asses-
crime de responsabilidade e os Secretários de Estado por crime da soramento no controle externo, a consultoria e o assessoramento
mesma natureza, conexo com aquele; técnico-jurídico do Poder Legislativo.(Redação dada pela Emenda
XIV - proceder à tomada de contas do Governador, quando não Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
prestadas dentro de sessenta dias após a abertura da Sessão Legis- § 4º - Resolução, de iniciativa da Mesa Diretora da Assembleia
lativa; Legislativa, organizará a Procuradoria-Geral da Assembleia Legisla-
XV - elaborar seu regimento interno e dispor sobre organiza- tiva, observados os princípios e regras pertinentes à Constituição
ção, funcionamento, polícia legislativa, criação, transformação ou Federal e a esta Constituição, disciplinará sua competência e dispo-
extinção dos cargos, empregos e funções de serviços de sua Se- rá sobre o ingresso na classe inicial, mediante concurso público de
cretaria, provê-los, e, observados os parâmetros estabelecidos na provas e títulos, respeitada a situação jurídico-funcional dos inte-
Constituição da República, na legislação federal pertinente e na Lei grantes da Consultoria Jurídica Legislativa do Poder Legislativo, que
de Diretrizes Orçamentárias, fixar ou alterar sua remuneração ou
passam a integrar a Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa,
subsídio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-
na condição de Procuradores.
12-2019, D.O. de 30-12-2019)
- Acrescido pela Emenda Constitucional nº 14, de 28.6.96, D.A.
XVI - sustar o andamento de ação penal proposta contra Depu-
de 01-07-1996.
tados, por crime ocorrido após a diplomação, nos termos dos §§ 2º
e 3º do art. 12; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, § 5º A remuneração dos Procuradores da Assembleia Legislati-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) va será por subsídio, conforme § 3º do art. 94.(Redação dada pela
XVII - dar posse ao Governador e ao Vice-Governador; Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
XVIII - conhecer da renúncia do Governador e do Vice-Gover- § 6º O Procurador-Geral da Assembleia Legislativa será nome-
nador; ado pelo Presidente da Assembleia Legislativa, em comissão, entre
XIX - conceder licença ao Governador para interromper, por os procuradores estáveis integrantes da carreira.(Acrescido pela
motivo de doença, o exercício de suas funções; Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
XX - destituir, por voto da maioria de seus membros, o Gover- § 7º Nos casos previstos nos incisos VII e XXI, as decisões da As-
nador ou o Vice-Governador, após o trânsito em julgado de senten- sembleia Legislativa de que resulte imputação de débito ou multa
ça condenatória, por crime comum com pena privativa de liberda- terão eficácia de título executivo.(Acrescido pela Emenda Constitu-
de, ou por crime de responsabilidade; cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
XXI - apreciar e julgar as contas anuais do Tribunal de Contas do
Estado; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- SEÇÃO III
2010, D.A. de 09-09-2010) DOS DEPUTADOS
XXII - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a desti-
tuição do Procurador-Geral de Justiça; Art. 12. Os Deputados Estaduais são invioláveis, civil e penal-
XXIII - solicitar a intervenção federal, quando houver coação ou mente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.(Redação
impedimento do Poder; dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
XXIV suspender, no todo ou em parte, a execução de leis esta- 09-2010)
duais ou municipais declaradas inconstitucionais por decisão defi- § 1º Desde a expedição do diploma, os Deputados não poderão
nitiva do Tribunal de Justiça; (Redação dada pela Emenda Constitu- ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Neste caso, os
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Assembleia
XXV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- Legislativa, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resol-
2010, D.A. de 09-09-2010) va sobre a prisão.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
XXVI decidir e declarar a perda de mandato de Deputados, ob-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
servado o que dispõe o art. 14; (Redação dada pela Emenda Consti-
§ 2º Recebida a denúncia contra Deputado, por crime ocorrido
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
após a diplomação, o Tribunal de Justiça dará ciência à Assembleia
XXVII - ordenar, por solicitação do Tribunal de Contas do Esta-
Legislativa, que, por iniciativa de partido político nela representado
do, a sustação de contratos por ele impugnados;
XXVIII - declarar, por maioria absoluta, o impedimento do Go- e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão fi-
vernador ou do Vice-Governador e a consequente vacância do car- nal, sustar o andamento da ação.(Redação dada pela Emenda Cons-
go, em caso de doença grave que afete suas faculdades mentais ou titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
sua vontade; § 3º O pedido de sustação será apreciado pela Assembleia no
prazo improrrogável de 45 (quarenta e cinco) dias do seu recebi-
mento pela Mesa Diretora.(Redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 4º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será
durar o mandato.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, decidida por voto secreto e maioria absoluta, mediante provoca-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ção da Mesa Diretora, de ofício ou mediante provocação de partido
§ 5º Os Deputados, desde a expedição do diploma, serão sub- político representado na Assembleia Legislativa, assegurada ampla
metidos a julgamento perante o Tribunal de Justiça, por crime co- defesa. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
mum, ressalvada a competência das Justiças Eleitoral e Federal. 2010, D.A. de 09-09-2010)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, § 3º - Nos casos previstos nos incisos III, IV e V, a perda será
D.A. de 09-09-2010) declarada pela Mesa Diretora, de ofício, ou mediante provocação
§ 6º Os Deputados não serão obrigados a testemunhar sobre de qualquer de seus membros, ou de partido político representado
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do man- na Assembleia Legislativa, assegurada ampla defesa.
dato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise
informações.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os
§ 7º A incorporação de Deputados, embora militares e ainda §§ 2º e 3º.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
que em tempo de guerra, às Forças Armadas, dependerá de pré- 2010, D.A. de 09-09-2010)
via licença da Assembleia Legislativa.(Redação dada pela Emenda Art. 15 - Não perderá o mandato o Deputado Estadual que es-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) tiver:
§ 8º As imunidades dos Deputados subsistirão durante o es- I - investido no cargo de Ministro de Estado, de Governador de
tado de sítio, só podendo ser suspensas, mediante o voto de dois Território ou de Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Terri-
terços dos membros da Assembleia Legislativa, nos casos de atos tório, de Prefeitura da Capital ou de chefe de missão diplomática
praticados fora do seu recinto, que sejam incompatíveis com a exe- temporária;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
cução da medida.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II - licenciado pela Assembleia Legislativa, por motivo de do-
Art. 13 - O Deputado Estadual não poderá: ença, maternidade, paternidade ou para tratar, sem remuneração,
I - a partir da expedição do diploma: de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.(Redação dada
público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
ou com concessionário de serviço público, salvo quando o contrato 2010)
obedecer a cláusulas uniformes; § 1º - O suplente será convocado no caso de vaga, de investidu-
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, ra em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento
inclusive os de que seja demissível ad nutum , nas entidades cons- e vinte dias.
tantes da alínea anterior; § 2º - Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição
II - desde a posse: para preenchê-la, se faltarem mais de quinze meses para o término
a) ser proprietário, controlador ou diretor de empresa que goze do mandato.
de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito pú- § 3º - Na hipótese do inciso I, o Deputado poderá optar pela
blico, ou nela exercer função remunerada; remuneração do mandato.
b) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das enti-
dades a que se refere o inciso I, alínea a ; SEÇÃO IV
c) ser titular de mais de um cargo ou mandato público eletivo. DAS REUNIÕES
d) ocupar cargo ou função de que seja demissível ad nutum
, nas entidades referidas no inciso I, alínea a.(Redação dada pela Art. 16 - A Assembleia Legislativa reunir-se-á, anualmente, na
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Capital do Estado, de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1º de agos-
Art. 14 - Perderá o mandato o Deputado Estadual: to a 15 de dezembro.
I que infringir qualquer das proibições do art. 13; (Redação § 1º - As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- para o primeiro dia útil subsequente, quando caírem em sábados,
09-2010) domingos ou feriados.
II - que tiver procedimento declarado incompatível com o de- § 2º - A sessão legislativa não será interrompida sem a aprova-
coro parlamentar; ção do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à § 3° A Assembleia Legislativa reunir-se-á em sessões preparató-
terça parte das sessões ordinárias da Assembleia Legislativa, salvo rias, a partir de 1° de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para
licença ou missão por esta autorizada; a posse de seus membros e constituição de sua Mesa Diretora, para
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; mandato de dois anos.(Redação dada pela Emenda Constitucional
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral; nº 60, de 26-06-2019, D.O. de 01-07-2019)
VI - que sofrer condenação criminal por sentença transitada em § 4º - A Assembleia será convocada extraordinariamente:
julgado. I - por seu Presidente, em caso de decretação de intervenção
§ 1º São incompatíveis com o decoro parlamentar, além dos estadual e para o compromisso e a posse do Governador e do Vice-
casos definidos no Código de Ética e Decoro Parlamentar, o abuso -Governador do Estado;
das prerrogativas asseguradas aos Deputados e a percepção de van- II pelo Governador, por seu Presidente ou a requerimento da
tagens indevidas. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, maioria dos Deputados, em caso de urgência ou interesse público
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) relevante e em todas as hipóteses deste inciso com a aprovação da
maioria absoluta dos Deputados.(Redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 5º - Na sessão extraordinária, a Assembleia somente delibe-
rará sobre a matéria para a qual foi convocada.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 6º - Por motivo de conveniência pública e deliberação da § 4º - A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente
maioria dos seus membros, poderá a Assembleia Legislativa reunir- poderá constituir objeto de novo projeto na mesma sessão legislati-
-se, temporariamente, em qualquer cidade do Estado. (Acrescido va, mediante proposta da maioria absoluta dos Deputados.
pela Emenda Constitucional nº 12, de 30.6.95, D.A. de 03-07-1995)
SUBSEÇÃO II
SEÇÃO V DA EMENDA À CONSTITUIÇÃO
DAS COMISSÕES
Art. 19 - A Constituição poderá ser emendada mediante pro-
Art. 17 - A Assembleia Legislativa terá comissões permanentes posta:
e temporárias na forma e com as atribuições previstas no regimento I - de um terço, no mínimo, dos Deputados Estaduais;
interno ou no ato de que resultar sua criação. II - do Governador do Estado;
§ 1º - Na constituição da Mesa Diretora e de cada Comissão, III - de mais da metade das Câmaras Municipais do Estado, ma-
é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional nifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus mem-
dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da As- bros;
sembleia. IV - dos cidadãos, subscrita por, no mínimo, um por cento do
§ 2º - Às comissões, em razão de sua competência, cabe: eleitorado do Estado em vinte Municípios.
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de
regimento, a competência do plenário, salvo se houver recurso de- intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio.
ferido de um décimo dos membros da Casa; § 2º - A proposta será discutida e votada, em dois turnos, con-
II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade ci- siderando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos
vil; dos membros da Casa.
III - receber petições, reclamações, representações ou queixas § 3º - A emenda à Constituição será promulgada pela Mesa da
de qualquer pessoa, contra atos ou omissões das autoridades ou Assembleia com o respectivo número de ordem.
entidades públicas; § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
IV - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão; tendente a abolir:
V - apreciar programas de obras, planos estaduais, regionais e I - a integração do Estado à federação brasileira;
setoriais de desenvolvimento e, sobre eles, emitir parecer. II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão po- III - a separação dos poderes;
deres de investigação próprios das autoridades judiciais, além de IV - os direitos e garantias individuais.
outros previstos no regimento interno, serão criadas pela Assem- § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou
bleia, a requerimento de um terço de seus membros, para a apura- havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na
ção de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, mesma sessão legislativa.
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para promoção
2010, D.A. de 09-09-2010.
da responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
§ 4º - Durante o recesso, haverá uma comissão representativa
SUBSEÇÃO III
da Assembleia, eleita na última sessão ordinária do período legisla-
DAS LEIS
tivo, com atribuições definidas no regimento interno, cuja composi-
ção reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da represen-
Art. 20. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe
tação partidária.
a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao Go-
vernador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Procurador-Geral de
SEÇÃO VI Justiça e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta e na
DO PROCESSO LEGISLATIVO Constituição da República.
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-
SUBSEÇÃO I 2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS § 1º São de iniciativa privativa do Governador as leis que:
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-
Art. 18 - O processo legislativo compreende a elaboração de: 2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011.
I - emendas à Constituição; I - fixem ou modifiquem os efetivos da Polícia Militar e do Cor-
II - leis complementares; po de Bombeiros Militar;
III - leis ordinárias; II - disponham sobre:
IV - leis delegadas; a) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-
V - decretos legislativos; 2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
VI - resoluções. b) Os servidores públicos do Estado, seu regime jurídico, a cria-
§ 1º - Lei complementar regulará a elaboração, redação, alte- ção e o provimento de cargos, empregos e funções na administra-
ração e consolidação das leis.(Vide Lei Complementar nº 33, de 1º- ção direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo, a estabili-
8-2001) dade e aposentadoria, e a fixação e alteração de sua remuneração
§ 2º Salvo disposição constitucional em contrário, as delibera- ou subsídio;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
ções da Assembleia Legislativa e de suas comissões serão tomadas 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-
por maioria de votos, presente a maioria absoluta de seus mem- 01-2011)
bros.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 3º - As leis complementares serão aprovadas por maioria ab-
soluta.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
c) O ingresso, os limites de idade, a estabilidade e outras con- Art. 24 - As leis delegadas serão elaboradas pelo Governador,
dições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os que solicitará a delegação à Assembleia Legislativa.
deveres, a remuneração ou subsídio, as prerrogativas e outras si- § 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência
tuações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de privativa da Assembleia, a matéria reservada à lei complementar
suas atividades;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, nem a legislação sobre:
de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de I - organização do Poder Judiciário, dos Tribunais de Contas do
1º-01-2011) Estado e dos Municípios e do Ministério Público, bem como a car-
d) a organização da Defensoria Pública do Estado, atendidas as reira e a garantia de seus membros; (Redação dada pela Emenda
normas da União; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº Constitucional nº 18, de 28-08-1997, D.A. de 29-08-1997)
45, de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir II nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e
de 1º-01-2011) eleitorais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
e) a criação e a extinção das Secretarias de Estado e dos órgãos 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
da administração pública, observado o disposto no art. 37, inciso III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
XVIII;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11- § 2º - A delegação terá a forma de resolução, que especificará
2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011) seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação § 3º - Se a resolução determinar a apreciação de lei delegada
à Assembleia, de projeto de lei subscrito, no mínimo, por um por pela Assembleia, esta a fará em votação única, vedada qualquer
cento do eleitorado do Estado. emenda.
Art. 21 - Não será admitido aumento da despesa prevista nos
projetos: SEÇÃO VII
I - de iniciativa privativa do Governador, ressalvado o disposto DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
no art. 166, §§ 3º e 4º da Constituição da República;
II - de iniciativa do Tribunal de Justiça e dos demais órgãos a Art. 25 - A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope-
quem for a mesma deferida; racional e patrimonial do Estado e das entidades da administração
III - sobre a organização dos serviços administrativos da Assem- direta e indireta, no que se refere à legalidade, legitimidade, eco-
bleia Legislativa, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. nomicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será
Art. 22 - O Governador poderá solicitar urgência para aprecia- exercida pela Assembleia Legislativa mediante controle externo e
ção de projetos de sua iniciativa. pelo sistema de controle interno de cada Poder.
§ 1º - Se a Assembleia Legislativa não se manifestar no prazo § 1º - O controle externo, a cargo da Assembleia, será exercido
de quarenta e cinco dias sobre o projeto em regime de urgência, com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado.
§ 2º Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública
será este incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestan-
ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre di-
do-se a deliberação quanto aos demais assuntos, até que se ultime
nheiros, bens e valores públicos ou pelos quais o Estado responda,
a votação.
ou que, em nome deste, assuma obrigações de natureza pecuniária.
§ 2º - O prazo do parágrafo anterior não corre nos períodos de
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
recesso da Assembleia nem se aplica aos projetos de codificação.
D.A. de 09-09-2010)
Art. 23 - Concluída a votação, o projeto de lei aprovado será
- Vide Lei nº 16.168, de 11-12-2007, (Lei Orgânica do Tribunal
enviado ao Governador para sanção ou veto.
de Contas do Estado de Goiás)
Art. 26 - Ao Tribunal de Contas do Estado compete:
§ 1º - Se o Governador considerar o projeto, no todo ou em I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Governador
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á, mediante parecer prévio, que deverá ser elaborado no prazo de ses-
total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da senta dias a contar de seu recebimento e publicado no Diário Oficial
data do recebimento e comunicará, dentro de quarenta e oito ho- do Estado;
ras, à Assembleia Legislativa, as razões do veto. II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in-
parágrafo, inciso ou alínea. direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
§ 3º - Decorrido o prazo do § 1º, o silêncio do Governador im- pelo Estado e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
portará sanção. ou outras irregularidades de que resulte prejuízo ao erário;
§ 4º - O veto será apreciado dentro de trinta dias a contar de III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de
seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e
absoluta dos Deputados, em escrutínio secreto. indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo poder
§ 5º - Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no § 4º, público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobresta- comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
das as demais proposições até sua votação final. e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
§ 6º - Se o veto não for mantido, o projeto será enviado ao Go- fundamento legal do ato concessório;
vernador para promulgação. IV - realizar, por iniciativa própria, da Assembleia Legislativa, de
§ 7º - Se a lei não for promulgada, dentro de quarenta e oito comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natu-
horas, pelo Governador, nos casos dos §§ 3º e 6º, o Presidente da reza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
Assembleia promulgá-la-á e, se este não o fizer em igual prazo, ca- nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
berá ao Vice-Presidente da Assembleia fazê-lo. Judiciário e nas demais entidades referidas no inciso II;
§ 8º A publicação da lei, que compete à autoridade que a pro- V - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pelo
mulgou, deve ser feita no prazo máximo de sessenta dias, contados Estado, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
de sua promulgação.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, congêneres, à União, a outros Estados, ao Distrito Federal ou a Mu-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) nicípios;

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
VI - prestar as informações solicitadas pela Assembleia ou por § 2º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão
qualquer de suas comissões sobre a fiscalização contábil, financeira, escolhidos: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de au- 08-1994, D.A. de 19-08-1994)
ditorias e inspeções realizadas; I - quatro pela Assembleia Legislativa;
VII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despe- - Acrescido pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994,
sa, irregularidade de contas ou atraso em sua prestação, as sanções D.A. de 19-08-1994.
previstas em lei que estabelecerá, entre outras cominações, multa II - três pelo Governador, com aprovação da Assembleia Legis-
proporcional ao dano causado ao erário; lativa, o primeiro deles de livre escolha e contemplando as duas
VIII - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro- outras escolhas, alternadamente, auditores e membros do Ministé-
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada rio Público junto ao Tribunal, por este indicados em listas tríplices
ilegalidade e sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, segundo os critérios de antiguidade e merecimento. (Acrescido pela
comunicando a decisão à Assembleia; Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, D.A. de 19-08-1994)
IX - representar ao poder competente sobre irregularidades ou § 3º - Iniciando-se a sequência com a primeira nomeação de-
abusos apurados; cretada na vigência da presente Constituição Estadual, os Conse-
X - fiscalizar as contas de empresas ou consórcios interestadu- lheiros do Tribunal de Contas do Estado serão nomeados: (Acres-
ais, de cujo capital social o Estado participe de forma direta ou indi- cido pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-8-94, D.A de 19-8-94,
reta, nos termos de acordo, convênio ou ato constitutivo; renumerando-se os demais mantendo as suas redações originais)
XI acompanhar, por seu representante, a realização dos con- I - o primeiro e o segundo mediante escolhas da Assembleia
cursos públicos na administração direta e nas autarquias, funda- Legislativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-
ções, empresas públicas e sociedades instituídas ou mantidas pelo 1994, D.A. de 19-08-1994)
Estado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- II - o terceiro por livre escolha do Governador, com aprovação
2010, D.A. de 09-09-2010) da Assembleia Legislativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional
XIII apreciar e julgar as contas anuais do Tribunal de Contas nº 8, de 17-08-1994, D.A. de 19-08-1994)
dos Municípios. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de III - o quarto e o quinto mediante escolhas da Assembleia Legis-
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) lativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994,
§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado dire- D.A. de 19-08-1994)
tamente pela Assembleia Legislativa que, de imediato, solicitará as IV - o sexto e o sétimo por escolha do Governador, com aprova-
medidas cabíveis ao Poder Executivo. ção da Assembleia Legislativa, escolhido o sexto dentre auditores e
§ 2º - Se a Assembleia Legislativa ou o Poder Executivo, no pra- o sétimo dentre membros do Ministério Público junto ao Tribunal,
zo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo por este indicados em listas tríplices segundo os critérios de anti-
anterior, o Tribunal decidirá a respeito. guidade e merecimento.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº
§ 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de dé- 8, de 17-08-1994, D.A. de 19-08-1994)
bito ou multa terão eficácia de título executivo. § 4º Os Conselheiros terão as mesmas garantias, prerrogativas,
§ 4º - O Tribunal encaminhará à Assembleia Legislativa, trimes- impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores
tral e anualmente, relatório de suas atividades. do Tribunal de Justiça aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e
Art. 27 A Comissão permanente a que se refere o art. 111, § pensão, as normas do art. 40 e seus parágrafos da Constituição da
1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a República.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
forma de investimentos não programados, de subsídios não apro- 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
vados, ou de irregularidades de qualquer natureza, poderá solicitar § 5º O Auditor, quando em substituição a conselheiro, terá as
à autoridade responsável que, no prazo de cinco dias úteis, preste mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos e vencimentos do
os esclarecimentos necessários. (Redação dada pela Emenda Cons- titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura,
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) as de juiz de direito de entrância final. (Redação dada pela Emenda
§ 1º - Não prestados os esclarecimentos ou considerados estes Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
insuficientes, a comissão solicitará ao Tribunal de Contas do Esta- § 6º - Compete privativamente ao Tribunal de Contas elaborar
do pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de quinze seu regimento interno e organizar sua secretaria e os serviços au-
dias úteis. xiliares. (Renumerado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-
§ 2º - Se a despesa for considerada irregular pelo Tribunal, a 1994, D.A. de 19-08-1994)
Comissão, se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou § 7º Junto ao Tribunal de Contas do Estado funciona a Procura-
grave lesão à economia pública, proporá à Assembleia sua sustação. doria-Geral de Contas.(Redação dada pela Emenda Constitucional
Art. 28 - O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e ju- § 9º Após o cumprimento da sequência inicial prevista no § 3º,
risdição em todo o território estadual, exercendo, no que couber, as as vagas serão preenchidas visando à manutenção da composição
atribuições previstas no art. 46 desta Constituição. estabelecida nos incisos I e II do § 2º deste artigo, considerando-se
§ 1º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão para tanto a totalidade dos Conselheiros.(Acrescido pela Emenda
nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisi- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
tos: Art. 29 - Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário mante-
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de rão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finali-
idade; dade de:
II - idoneidade moral e reputação ilibada; I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e nual e a execução dos programas de governo e dos orçamentos do
financeiros ou de administração pública; Estado;
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati-
vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no
inciso anterior.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à c) agilizar e facilitar os trabalhos de monitoramento e de avalia-
eficácia e eficiência da gestão orçamentária, financeira e patrimo- ção. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019)
nial nos órgãos e entidades da administração estadual, bem como Parágrafo único. O órgão central do sistema permanente de
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; monitoramento e avaliação de políticas públicas é a Assembleia Le-
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan- gislativa, que contará com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado
tias, bem como dos direitos e haveres do Estado; de Goiás, dos órgãos integrantes do sistema de controle interno de
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti- cada Poder, e outros órgãos que possuam missões similares.(Acres-
tucional. (Vide Lei nº 13.782, de 3-1-2001, I) cido pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019)
§ 1º - Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem co-
nhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão CAPÍTULO III
ciência ao Tribunal de Contas do Estado, sob pena de responsabili- DO PODER EXECUTIVO
dade solidária.
§ 2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindi- SEÇÃO I
cato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidade DO GOVERNADOR E DO VICE-GOVERNADOR DO ESTADO
ou ilegalidade perante o Tribunal de Contas do Estado. (§ 2º Regula-
mentado pela Lei nº 11.575, de 18.10.91, D.O. de 4.11.91) Art. 31 - O Poder Executivo é exercido pelo Governador do Es-
Art. 30 - Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e as en- tado, auxiliado pelos Secretários de Estado.
tidades da administração indireta ou fundacional encaminharão ao Art. 32 A eleição do Governador e do Vice-Governador do Es-
Tribunal de Contas do Estado, sob pena de responsabilidade, no tado realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de ou-
mês seguinte a cada trimestre: tubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em se-
I - o número total dos servidores e empregados públicos nome- gundo turno, se houver, no ano anterior ao do término do mandato
ados e contratados por classe de cargos e empregos, no trimestre de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 1º de janeiro do ano
e até ele; subsequente para mandato de quatro anos, permitida a reeleição
II - a despesa total com o pessoal, confrontada com o valor das para um único período subsequente.(Redação dada pela Emenda
receitas no trimestre e no período vencido do ano; Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
III - a despesa total com noticiário, propaganda ou promoção, § 1º - A eleição do Governador importará a do Vice-Governador
qualquer que tenha sido o veículo de planejamento, estudo e di- com ele registrado.
vulgação. § 2º - Será considerado eleito Governador o candidato que, re-
§ 1º - O Tribunal de Contas do Estado consolidará e divulgará, gistrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos,
em trinta dias, em órgão oficial da imprensa, os dados de que trata não computados os em branco e os nulos.
este artigo. § 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primei-
§ 2º - O Tribunal de Contas do Estado, trimestralmente, enca- ra votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro,
minhará à Assembleia Legislativa o relatório de que tratam os inci- concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se
sos I, II e III deste artigo. eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos. (Redação
Art. 30-A. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário mante- dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
rão, de forma integrada, sistema permanente de monitoramento e 09-2010)
avaliação de políticas públicas, com o objetivo de promover o aper- § 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte,
feiçoamento da gestão pública, na forma da lei, ao qual compete: desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á,
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) dentre os remanescentes, o de maior votação.
I - avaliar a economicidade, a efetividade, a eficácia e a eficiên- § 5º - Na hipótese dos parágrafos anteriores, se mais de um
cia das políticas públicas de responsabilidade estadual; (Acrescido candidato com a mesma votação remanescer em segundo lugar,
pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) qualificar-se-á o mais idoso.
II - fornecer subsídios técnicos para o monitoramento de políti- Art. 33 - O Governador e o Vice-Governador tomarão posse
cas públicas vigentes e para a formulação e para a implementação em sessão da Assembleia Legislativa, prestando o compromisso de
de novas políticas públicas; (Acrescido pela Emenda Constitucional manter, defender e cumprir a Constituição da República e a do Esta-
nº 63, de 04-12-2019) do, observar as leis, promover o bem geral e sustentar a integridade
III - observar o princípio da periodicidade; (Acrescido pela do Estado de Goiás.
Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) Parágrafo único - Se, decorridos dez dias da data fixada para a
IV - disponibilizar informações, relatórios, dados e estudos re- posse, o Governador ou o Vice-Governador não tiver assumido o
lativos às políticas públicas para livre acesso de qualquer cidadão; cargo, salvo por motivo de força maior, esse será declarado vago.
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) Art. 34 - Substituirá o Governador, no caso de impedimento, e
V- ampliar a sistemática articulação entre os órgãos dos Pode- suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Governador.
res que desempenhem as atividades de monitoramento e avaliação § 1º Em caso de impedimento do Governador e do Vice-Gover-
de políticas públicas no âmbito do Estado de Goiás; (Acrescido pela nador, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente
Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) chamados ao exercício da Chefia do Poder Executivo o Presidente
VI -firmar parcerias com universidades, fundações, associações da Assembleia Legislativa e o do Tribunal de Justiça. (Redação dada
sem fins lucrativos, organizações não governamentais e outras ins- pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
tituições, visando: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 63, de 2010)
04-12-2019) § 2º - O Vice-Governador, além de outras atribuições que lhe
a) conceder maior transparência aos dados de responsabilida- forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Governador,
de governamental; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 63, sempre que for por ele convocado para missões especiais.
de 04-12-2019) Art. 35 - Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador,
b) dotar de maior qualidade as análises dos dados; e (Acrescido far-se-á a eleição noventa dias depois de aberta a última vaga, para
pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) completar o período dos antecessores.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
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§ 1º - Ocorrendo a vacância no terceiro ano do período gover- XVI - indicar à Assembleia três Conselheiros do Tribunal de Con-
namental, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias de- tas do Estado e do Tribunal de Contas dos Municípios e nomear
pois da última vaga, pela Assembleia Legislativa, na forma da lei. todos os membros das referidas Cortes, após decorridos dez dias do
§ 2º - Ocorrendo a vacância no último ano do período gover- cumprimento do disposto no inciso X do art. 11 desta Constituição;
namental, serão sucessivamente chamados o Presidente da Assem- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
bleia e o do Tribunal de Justiça para exercer o cargo de Governador. D.A. de 09-09-2010)
Art. 36 O Governador e o Vice-Governador não poderão, sem XVII - solicitar intervenção federal para garantir o livre exercí-
licença da Assembleia Legislativa, ausentar-se do Estado ou do País cio do Poder Executivo, nos termos do art. 36 da Constituição da
por mais de quinze dias, sob pena de perda do cargo. (Redação República;
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- XVIII - dispor, em relação ao Poder Executivo e mediante de-
09-2010) creto, sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
Parágrafo único. Perderá o mandato o Governador que assumir 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-
outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, 01-2011)
ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o a) organização e funcionamento da administração estadual,
disposto nesta Constituição e especialmente no art. 38, incisos I, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extin-
IV e V, da Constituição da República.(Redação dada pela Emenda
ção de órgãos públicos;(Acrescida pela Emenda Constitucional nº
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
45, de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir
de 1º-01-2011)
SEÇÃO II
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;(A-
DAS ATRIBUIÇÕES DO GOVERNADOR
crescida pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-2009, D.A. de
Art. 37 - Compete privativamente ao Governador do Estado: 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
I - exercer, com auxílio dos Secretários de Estado e titulares de XIX - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
órgãos equivalentes, a direção superior do Poder Executivo; (Acrescida pela Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-2009, D.A.
II - nomear e exonerar os Secretários de Estado, o Comandante- de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
-Geral da Polícia Militar, o Comandante Geral do Corpo de Bombei- Parágrafo único. O Governador poderá delegar as atribuições
ros Militar, o Procurador-Geral do Estado e o titular da Defensoria mencionadas nos incisos VI, XII, primeira parte, e XVIII, aos Secre-
Pública; tários de Estado ou ao Procurador-Geral do Estado, que observarão
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos os limites traçados nas respectivas delegações.(Redação dada pela
nesta Constituição; Emenda Constitucional nº 45, de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009,
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como Art. 3º - Vigência a partir de 1º-01-2011)
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; SEÇÃO III
VI - celebrar acordos, convênios e ajustes com a União, outros DA RESPONSABILIDADE DO GOVERNADOR DO ESTADO
Estados, o Distrito Federal, Municípios e entidades de direito públi-
co e firmar contratos com entidades privadas e com particulares, Art. 38 - São crimes de responsabilidade os atos do Governador
na forma da lei: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45 que atentem contra esta Constituição e a da República e, especial-
de 10-11-2009, D.A. de 26-11-2009, Art. 3º - Vigência a partir de mente, contra:
1º-01-2011) I - a existência da União;
VII - decretar e executar a intervenção estadual em Municípios, II - o livre exercício dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Mi-
nos casos e na forma desta Constituição; nistério Público, da Procuradoria-Geral de Contas e dos poderes
constitucionais dos Municípios; (Redação dada pela Emenda Cons-
VIII - remeter mensagem e plano de governo à Assembleia Le- titucional nº 23, de 9-12-98, D.O de 18-12-98)
gislativa por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
situação do Estado e solicitando as providências que julgar neces-
IV - a segurança do Estado;
sárias;
V - a probidade da administração;
IX - nomear o Procurador-Geral de Justiça e o Procurador-Geral
VI - a lei orçamentária;
de Contas, dentre os indicados em lista tríplice, na forma da lei;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-98, D.O
de 18-12-98) Parágrafo único. Os crimes serão definidos em lei federal espe-
X - enviar à Assembleia o plano plurianual, o projeto de lei de cial, que fixará as normas de processo e julgamento.(Acrescido pela
diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstas Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nesta Constituição; (Vide Lei nº 16.553, de 20-05-2009) Art. 39 - Admitida a acusação contra o Governador, por dois
XI - prestar à Assembleia as contas anuais relativas à receita terços da Assembleia Legislativa, será ele submetido a julgamen-
e à despesa públicas, até sessenta dias após a abertura da sessão to, pelo Superior Tribunal de Justiça nas infrações penais comuns
legislativa; e pela Assembleia Legislativa por crimes de responsabilidade. (Re-
XII prover e extinguir os cargos públicos estaduais, na forma dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010) § 1º - O Governador ficará suspenso de suas funções:
XIII - elaborar leis delegadas; I - nas infrações penais comuns, se recebida, pelo Superior Tri-
XIV - solicitar à Assembleia autorização para contrair emprésti- bunal de Justiça, a denúncia ou queixa-crime;
mos externos e internos; II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do pro-
XV - nomear os integrantes do quinto constitucional do Tribu- cesso pela Assembleia. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nal de Justiça e de tribunais que vierem a ser instituídos; nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamen- V os Juizados Especiais e as Turmas Recursais dos Juizados Es-
to não estiver concluído, cessará o afastamento do Governador, peciais;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. 2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 3º (Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de - Vide Leis nºs 12.832, de 15-1-96. (DO. de 22-1-96), e 13.111,
09-09-2010, art. 7º, I) de 16-7-97, (DO. de 22-7-97)
- Declarado Inconstitucional pela ADIN nº 1012.3. Mérito julga- VI - a Justiça de Paz;
do procedente. D.J. de 24.11.95. VII (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 4º (Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, V)
09-09-2010, art. 7º, I) VIII os Tribunais do Júri.(Acrescido pela Emenda Constitucional
- Declarado Inconstitucional pela ADIN nº 1012.3. Mérito julga- nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
do procedente. D.J. de 24.11.95. § 1º - Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administra-
tiva e financeira e aos tribunais que o integram aplicam-se as regras
SEÇÃO IV sobre prestação de contas estabelecidas nesta Constituição para os
DOS SECRETÁRIOS DE ESTADO Tribunais de Contas.
§ 1º-A. O Tribunal de Justiça elaborará sua proposta orçamen-
Art. 40 - Os Secretários de Estado serão escolhidos dentre bra- tária dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais
sileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos po- Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.(Acrescido pela Emenda
líticos. Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - Compete ao Secretário de Estado, além de outras atribui- § 1º-B. Se o Tribunal de Justiça não encaminhar a respectiva
ções estabelecidas nesta Constituição e em lei: proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de di-
I - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem retrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de
outorgadas, às delegadas pelo Governador, exercer a orientação, consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados
coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administra- na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites es-
ção estadual na área de sua competência e referendar os atos e os tipulados na forma do § 1º-A deste artigo.(Acrescido pela Emenda
decretos assinados pelo Governador; Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
II - expedir instruções para a execução de leis, decretos e regu- § 1º-C. Se a proposta orçamentária do Tribunal de Justiça for
lamentos; encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do
III - apresentar ao Governador relatório anual de sua gestão; § 1º-A deste artigo, o Poder Executivo procederá aos ajustes neces-
IV prestar, pessoalmente ou por escrito, à Assembleia ou a sários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
qualquer de suas comissões, quando convocado e na forma da con- (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
vocação, informações sobre assunto previamente determinado, im- de 09-09-2010)
portando em crime de responsabilidade a ausência, a recusa ou o § 1º-D. Durante a execução orçamentária do exercício, não po-
não-atendimento, no prazo de trinta dias, bem como o fornecimen- derá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações
to de informações falsas; (Redação dada pela Emenda Constitucio- que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orça-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) mentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertu-
V - propor ao Governador, anualmente, o orçamento de sua ra de créditos suplementares ou especiais.(Acrescido pela Emenda
pasta; Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
VI - delegar suas próprias atribuições por ato expresso aos seus § 2º Lei de iniciativa do Tribunal de Justiça poderá criar Tribunal
subordinados, observados os limites estabelecidos em lei. de Justiça Militar quando o efetivo militar no Estado superar a vinte
§ 2º A lei disporá sobre a criação e extinção das Secretarias de mil integrantes.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
Estado.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010) § 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 3º - Os Secretários de Estado obrigam-se a fazer declaração 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, IV)
pública de seus bens, no ato da posse e no término do exercício do § 4º - Em cada Comarca haverá, pelo menos, um Tribunal do
cargo, e terão os mesmos impedimentos estabelecidos para os De- Júri.
putados, enquanto permanecerem em suas funções. § 5º Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça pro-
§ 4º - Os Secretários de Estado, por crime comum e por crime porá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva
de responsabilidade, serão julgados pelo Tribunal de Justiça e, por para questões agrárias. (Redação dada pela Emenda Constitucional
crime de responsabilidade conexo com o do Governador, pela As- nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
sembleia. § 6º A atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedadas
férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando,
CAPÍTULO IV nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em
DO PODER JUDICIÁRIO plantão permanente.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
SEÇÃO I § 7º A distribuição de processos será imediata, em todos os
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS graus de jurisdição. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 41 - São órgãos do Poder Judiciário Estadual: § 8º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizada-
I - o Tribunal de Justiça; mente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno
II - os Juízes de Direito; acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
III - o Tribunal de Justiça Militar; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
IV - os Conselhos de Justiça Militar; de 09-09-2010)

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 9º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a re- tórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o paga-
alização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, mento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores
servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.(Acrescido atualizados monetariamente. (Acrescido pela Emenda Constitucio-
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010) § 5º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão
Art. 42 - Todo Município, ao atingir população estimada em seis consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presiden-
mil habitantes, será erigido à condição de sede de comarca, caben- te do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pa-
do ao Tribunal de Justiça promover sua instalação no prazo de dois gamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusiva-
anos. mente para os casos de preterimento de seu direito de precedência
Parágrafo único - Cabe ao Poder Executivo, por meio do órgão ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação
responsável pelas estatísticas estaduais, publicar no Diário Oficial do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. (Acrescido pela
do Estado, no segundo trimestre de cada ano, as estimativas de po- Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 6º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comis-
pulação de todos os Municípios do Estado, relativas ao ano anterior.
sivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de
Art. 43 - Na composição de tribunal togado, um quinto dos lu-
precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e responderá,
gares será composto de membros do Ministério Público, com mais
também, perante o Conselho Nacional de Justiça.(Acrescido pela
de dez anos de carreira e de advogados de notório saber jurídico e
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade pro- § 7º É vedada a expedição de precatórios complementares ou
fissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, reparti-
das respectivas classes. ção ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de
§ 1º - Quando for ímpar o número de vagas destinadas ao quin- parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.(Acrescido pela
to constitucional, uma delas será, alternada e sucessivamente, pre- Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
enchida por advogado e por membro do Ministério Público, de tal § 8º No momento da expedição dos precatórios, independen-
forma que, também sucessiva e alternadamente, os representantes temente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de
de uma das classes superem os da outra em uma unidade. compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos,
§ 2º Recebidas as indicações, o Tribunal formará lista tríplice, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor origi-
enviando-a ao Governador do Estado que, nos vinte dias subse- nal pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de
quentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.(Reda- parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspen-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de sa em virtude de contestação administrativa ou judicial.(Acrescido
09-09-2010) pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
Art. 44. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Es- 2010)
tadual ou Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão § 9º Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos pre- à Fazenda Pública devedora, para resposta em até trinta dias, sob
catórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os dé-
de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos bitos que preencham as condições estabelecidas no § 8º, para os
adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda Cons- fins nele previstos.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles § 10. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus crédi-
decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas tos em precatórios a terceiros, independentemente da concordân-
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por cia do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º
morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em vir- e 3º.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010)
tude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com
§ 11. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após
preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles
comunicação, por meio de petição protocolizada, ao Tribunal de ori-
referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada pela Emenda Consti-
gem e à entidade devedora.(Acrescido pela Emenda Constitucional
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham
60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do pre- SEÇÃO II
catório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos,
até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do Art. 45 O Tribunal de Justiça, com sede na Capital e jurisdição
disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa em todo o Estado, compõe-se de, no mínimo, trinta e dois Desem-
finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de bargadores.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 37, de
apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitu- 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Parágrafo único - Nos crimes comuns e de responsabilidade,
§ 3º O disposto no “caput” deste artigo relativamente à expe- os Desembargadores são processados e julgados, originariamente,
dição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações pelo Superior Tribunal de Justiça.(Redação dada pela Emenda Cons-
definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas titucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. Art. 46 Compete privativamente ao Tribunal de Justiça:(Reda-
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. ção dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O.
de 09-09-2010) de 03-02-2005)
§ 4º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de I - eleger seu Presidente, Vice-Presidente, Corregedor-Geral de
direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, Justiça e outros ocupantes de cargos de direção;(Redação dada pela
oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de preca- Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II elaborar seu regimento interno, com observância das nor- e) os Juízes de primeiro grau e os membros do Ministério Públi-
mas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo co, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade,
sobre as atribuições, competências e funcionamento de seus ór- ressalvada a competência da Justiça Eleitoral, e, nas infrações pe-
gãos jurisdicionais e administrativos;(Redação dada pela Emenda nais comuns, os procuradores do Estado e da Assembleia Legislativa
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) e os defensores públicos, ressalvadas as competências da Justiça
III - organizar sua secretaria e seus serviços auxiliares e os dos Eleitoral e do Tribunal do Júri;
juízos que lhe são subordinados, velando pelo exercício da ativida- - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
de correicional respectiva;(Redação dada pela Emenda Constitucio- 2010, D.A. de 09-09-2010.
nal nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005) f) os prefeitos municipais;(Redação dada pela Emenda Consti-
IV propor ao Poder Legislativo, observado o disposto no art. tucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
169 e parágrafos da Constituição da República:(Redação dada pela g) o habeas-corpus , quando o paciente for qualquer das pes-
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) soas referidas nas alíneas c , d e e , ou quando a coação for atribu-
a) a alteração do número dos seus membros;(Redação dada ída à Mesa Diretora ou ao Presidente da Assembleia Legislativa, ao
pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02- Conselho Superior da Magistratura, ao Corregedor-Geral da Justiça,
2005) ao Procurador-Geral de Justiça, a Juiz de primeiro grau, ao Correge-
b) a alteração da organização e da divisão judiciárias do Es- dor Geral do Ministério Público, ao Conselho Superior do Ministério
tado;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12- Público, a Procurador ou Promotor de Justiça, aos Secretários de
2004, D.O. de 03-02-2005) Estado, ao Comandante Geral da Polícia Militar e ao Comandante
c) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12- Geral do Corpo de Bombeiros Militar;(Redação dada pela Emenda
2004, D.O. de 03-02-2005) Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
d) a criação de novas varas judiciais;(Redação dada pela Emen- h) as ações rescisórias e as revisões criminais em processos de
da Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005) sua competência;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 37,
e) a criação e a extinção de cargos e a fixação da remuneração de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
dos seus auxiliares e dos juízos que lhe são vinculados, bem como i) as reclamações para a preservação de sua competência
a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes;(Redação dada ou garantia da autoridade das suas decisões;(Redação dada pela
pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02- Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
2005) j) as execuções de sentenças nas causas de sua competência
V (Revogado pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, originária e os embargos que lhe forem opostos, facultada a dele-
D.O. de 03-02-2005) gação de competência para a prática de atos processuais;(Redação
VI - promover a indicação dos candidatos ao preenchimento dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-
02-2005)
dos cargos de Desembargador e prover, na forma da lei:(Redação
l) o mandato de injunção, quando a elaboração da norma for
dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-
atribuição do Governador do Estado, da Assembleia Legislativa
02-2005)
ou de sua Mesa Diretora, dos Tribunais de Contas do Estado e dos
a) os cargos de juiz não iniciais de carreira;(Acrescida pela
Municípios ou do próprio Tribunal de Justiça; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
b) os cargos iniciais da carreira da magistratura estadual e os
m) os conflitos de competência entre juízes;(Redação dada pela
demais cargos necessários à administração da Justiça, por concurso
Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
público de provas ou de provas e títulos, exceto os de confiança,
n) a restauração de autos extraviados ou destruídos, quando o
assim definidos em lei, obedecido o disposto no art. 169, § 1º, da processo for de sua competência;(Acrescida pela Emenda Constitu-
Constituição da República;(Acrescida pela Emenda Constitucional cional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005)
nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005) o) o mandado de segurança e o habeas data impetrados con-
VII - conceder licenças, férias e outros afastamentos a seus tra atos do Governador do Estado, da Mesa Diretora, ou do Presi-
membros, aos juízes e servidores que lhe são imediatamente vincu- dente da Assembleia Legislativa, do próprio Tribunal de Justiça, de
lados;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12- seu Presidente ou membro integrante, de juiz de primeiro grau, dos
2004, D.O. de 03-02-2005) Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios, do Procurador-Ge-
VIII - processar e julgar originariamente:(Redação dada pela ral de Justiça, do Procurador-Geral do Estado, dos Secretários de
Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de 03-02-2005) Estado, do Comandante Geral da Polícia Militar e do Comandante
a) a ação direta de inconstitucionalidade e a ação direta de Geral do Corpo de Bombeiros Militar; (Redação dada pela Emenda
constitucionalidade de lei ou ato estadual e municipal, em face da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constituição do Estado, e o pedido de medida cautelar a ela rela- IX julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos órgãos
tivo;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- do primeiro grau, assim como o agravo e os embargos de declara-
2010, D.A. de 09-09-2010) ção contra as suas decisões ou acórdãos. (Redação dada pela Emen-
b) a representação que vise à intervenção do Estado em Muni- da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
cípio para assegurar a observância de princípios constitucionais ou Parágrafo único. Nas infrações penais comuns, a competência
para promover a execução da lei, ordem ou decisão judicial;(Reda- do Tribunal de Justiça, prevista no inciso VIII, alíneas “c” a “f”, alcan-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 37, de 28-12-2004, D.O. de ça a fase de investigação, cuja instauração dependerá, obrigatoria-
03-02-2005) mente, de decisão fundamentada.(Acrescido pela Emenda Consti-
c) o Vice-Governador e os Deputados Estaduais, nas infrações tucional nº 68, de 28-12-2020).
penais comuns;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
d) os Secretários de Estado nos crimes comuns e nos de respon-
sabilidade não conexos com os do Governador;(Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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Art. 47. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário Art. 51 - A promoção dos integrantes da carreira dar-se-á, de
Estadual serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob entrância a entrância, alternadamente, por antiguidade e mereci-
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determi- mento, observando-se os seguintes critérios:
nados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a I - é obrigatória a promoção de Juiz que figure, por três vezes
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do consecutivas ou cinco alternadas, em lista de merecimento;
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informa- II a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exer-
ção.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- cício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte
2010, D.A. de 09-09-2010) da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisi-
§ 1º As decisões administrativas do Tribunal serão motivadas tos, quem aceite o lugar vago;(Redação dada pela Emenda Consti-
e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
maioria absoluta de seus membros. (Redação dada pela Emenda III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, VII)
§ 2º Os atos de remoção, disponibilidade e aposentadoria do IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
magistrado, por interesse público, fundar-se-ão em decisão pelo 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, VII)
voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal ou do Conselho V aferição do merecimento conforme o desempenho e pe-
Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.(Redação dada pela los critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais
ou reconhecidos de aperfeiçoamento;(Redação dada pela Emenda
SEÇÃO III Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
DOS JUÍZES DE DIREITO VI na apuração da antiguidade, o Tribunal somente poderá
recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços
Art. 48 - Os Juízes de Direito, integrando a magistratura de car- de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada
reira, exercem a jurisdição comum de primeiro grau nas comarcas e ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;(Re-
juízos , nos termos da lei de organização e divisão judiciárias. dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
§ 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, VII) VII não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver
§ 2º- Na organização judiciária do Estado, não se admitirá o autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-
funcionamento de varas cujas competências se fixem por razões de -los ao cartório sem o devido despacho ou decisão.(Acrescido pela
capacidade econômica das partes. Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 3º Durante o período não coberto pelo expediente forense Art. 52. O acesso ao Tribunal de Justiça far-se-á por antiguidade
haverá desembargador de plantão no Tribunal de Justiça, e juiz, e merecimento, alternadamente, apurados na última entrância.
em todas as comarcas, inclusive em finais de semana e feriados, - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
com competência plena para todas as causas cíveis e criminais que 2010, D.A. de 09-09-2010.
demandem atendimento de urgência.(Redação dada pela Emenda Art. 53. Os subsídios dos magistrados serão fixados em lei de
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) iniciativa do Tribunal de Justiça e escalonados, em nível estadual,
§ 4º O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autoriza- conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional,
ção do Tribunal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, com diferença, entre uma categoria e outra, não superior a 10%
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) (dez por cento) ou inferior a 5% (cinco por cento), não podendo
§ 5º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- exceder a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5, VI)
cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Art. 49. O ingresso na carreira, cujo cargo inicial é o de juiz de
Tribunal Federal, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts.
direito substituto, dependerá de aprovação em concurso público de
37, inciso XI, e 39, § 4º, da Constituição da República.(Redação dada
provas e títulos, realizado com a participação da Ordem dos Advo-
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
gados do Brasil em todas as suas fases, exigindo-se do bacharel em
2010)
direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-
Art. 54. A aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus
-se, nas nomeações, à ordem de classificação.(Redação dada pela
dependentes observarão o disposto no art. 40 da Constituição da
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
República.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
Parágrafo único. A lei de organização judiciária, nos termos da
lei complementar federal pertinente, conterá previsão de cursos 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistra- Art. 55 - Os juízes gozam das seguintes garantias:
dos, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a I vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após
participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse perío-
formação e aperfeiçoamento de magistrados.(Redação dada pela do, de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
Art. 50 - Antes da nomeação do último classificado no concurso - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
anterior para juiz substituto, o Tribunal de Justiça publicará o edital 2010, D.A. de 09-09-2010.
de chamamento para o próximo concurso destinado ao preenchi- II - inamovibilidade, salvo motivo de interesse público, na for-
mento de vagas do mesmo cargo. ma do art. 93, inciso VIII da Constituição da República; (Redação
§ 1º - Os concursos a que se refere o caput deste artigo deverão dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
ser concluídos em no máximo seis meses, contados da circulação do 09-2010)
edital respectivo. III - irredutibilidade de subsídios, ressalvado o disposto nos
§ 2º - A publicação do edital de remoção ou promoção deverá arts. 37, incisos X e XI, 39, § 4º, 150, inciso II, 153, inciso III, e 153, §
ocorrer em prazo não superior a cinco dias úteis, contados da publi- 2º, inciso I, da Constituição da República.(Redação dada pela Emen-
cação do ato que determinou a vacância. da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 1º - Não atenta contra a garantia de que trata o inciso II o des- SEÇÃO V
locamento de Juiz Substituto para o exercício das funções do cargo DOS JUIZADOS ESPECIAIS E DA JUSTIÇA DE PAZ
em comarca integrante da região a que pertence.
§ 2º - A lei de organização judiciária, de iniciativa do Tribunal de - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Justiça, definirá as Zonas Judiciárias, dentro das quais será limitada 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º.
a inamovibilidade do Juiz Substituto. - Vide Lei Ordinária nº 12.832, de 15-01-1996, e Lei Ordinária
Art. 56 - Aos juízes é vedado: nº 13.111, de 16-07-1997.
I exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
ção, salvo uma de magistério; (Redação dada pela Emenda Consti- Art. 59 - Ficam criados:
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) I juizados especiais, cuja competência e composição, incluí-
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa- das as dos órgãos de julgamento de seus recursos, observada a le-
ção em processo; gislação federal pertinente, serão definidas na lei de organização e
III - dedicar-se à atividade político-partidária. divisão judiciárias, para a conciliação, o julgamento e a execução
IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- de causas cíveis de menor complexidade e de infrações penais de
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas menor potencial danoso, obedecidos os seguintes princípios:(Reda-
as exceções previstas em lei; (Acrescido pela Emenda Constitucio- ção dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
09-09-2010)
V exercer a advocacia no juízo do qual se afastou, ou no Tribu-
a) procedimento oral e sumaríssimo, com oportunidade de
nal de Justiça, quando dele tenha se afastado, antes de decorridos
conciliação no julgamento e na execução;
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exonera-
b) órgão provido por juízes togados, por indicação do Tribunal
ção.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010) de Justiça, e leigos, escolhidos por entidades representativas da
sociedade, com investidura limitada no tempo, podendo a escolha
SEÇÃO IV dar-se por voto direto e secreto;
DA JUSTIÇA MILITAR II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010)
- Vide Lei nº 319, de 29-12-1948. III - justiça de paz, remunerada na forma da lei, composta de
cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato
Art. 57. A Justiça Militar é constituída, em primeiro grau, pelos de quatro anos e com competência para:
juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça Militar e, em segundo, a) celebrar casamentos;
pelo Tribunal de Justiça competente.(Redação dada pela Emenda b) verificar, de ofício ou em face de impugnação, processo de
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) habilitação para casamento;
§ 1º (Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de c) exercer atribuições conciliatórias e outras, definidas em lei,
09-09-2010, art. 7º, II) sem caráter jurisdicional.
- Declarada Inconstitucionalidade pela ADIN nº 471-9, D.O.U. Parágrafo único. As custas e emolumentos serão destinados
de 12.09.2008. exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades espe-
§ 2º (Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de cíficas da Justiça.
09-09-2010, art. 7º, II) - Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
- Declarada Inconstitucionalidade pela ADIN nº 471-9, D.O.U. D.A. de 09-09-2010.
de 12.09.2008.
§ 3º(Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de SEÇÃO VI
09-09-2010, art. 7º, II) DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E DA AÇÃO
- Declarada Inconstitucionalidade pela ADIN nº 471-9, D.O.U. DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
de 12.09.2008.
§ 4º - O Juiz Auditor goza dos mesmos direitos e vantagens e Art. 60. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade
se submete às mesmas restrições cominadas aos juízes de direito.
e a ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos norma-
Art. 58 (Vide Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
tivos estaduais ou municipais, contestados em face desta Consti-
de 09-09-2010, art. 7º, III)
tuição:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
- Declarada Inconstitucionalidade pela ADIN nº 471-9, D.O.U.
2010, D.A. de 09-09-2010)
de 12.09.2008.
Art. 58-A. Compete à Justiça Militar estadual processar e jul- I o Governador do Estado, ou a Mesa da Assembleia Legisla-
gar os militares do Estado, nos crimes militares definidos em lei e tiva; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a D.A. de 09-09-2010)
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal II o Prefeito, ou a Mesa da Câmara Municipal;(Acrescido pela
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e da graduação das praças.(Acrescido pela Emenda Constitucional III o Tribunal de Contas do Estado;(Acrescido pela Emenda
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º) Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Parágrafo único. Compete aos juízes de direito do juízo mili- IV o Tribunal de Contas dos Municípios;(Acrescido pela Emen-
tar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, V o Procurador-Geral de Justiça; (Acrescido pela Emenda
cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
processar e julgar os demais crimes militares.(Acrescido pela Emen- VI a Ordem dos Advogados do Brasil Seção de Goiás;(Acres-
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º) cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
VII as federações sindicais ou entidades de classe de âmbito d) prestação de contas da administração pública, direta e indi-
estadual;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- reta.(Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
2010, D.A. de 09-09-2010) D.A. de 09-09-2010)
VIII os partidos políticos com representação na Assembleia Le- § 1º - A decretação da intervenção dependerá:
gislativa, ou, em se tratando de lei ou ato municipais, na respectiva I de representação da Câmara Municipal competente, nos ca-
Câmara Municipal. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de sos dos incisos I, II e III do caput deste artigo;(Redação dada pela
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - O Procurador-Geral de Justiça deverá ser previamente II de requisição do Tribunal de Justiça, no caso de desobediên-
ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos cia à ordem ou decisão judicial;(Redação dada pela Emenda Consti-
de competência do Tribunal de Justiça. tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 2º - Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medi- III de provimento, pelo Tribunal de Justiça, de representação
da para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao do Procurador-Geral de Justiça para assegurar a observância dos
Poder competente para adoção das providências necessárias e, em princípios especificados nas alíneas do inciso IV do caput deste
se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. artigo e no caso de recusa à execução de lei.(Acrescido pela Emenda
§ 3º Quando o Tribunal de Justiça apreciar a inconstituciona- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
lidade, em tese, de norma legal ou de ato normativo, citará, pre- § 2º O decreto de intervenção especificará a amplitude, o prazo
viamente, o Procurador-Geral do Estado, que defenderá o ato ou e as condições de execução e, se couber, nomeará o interventor e,
texto impugnado, e, no caso de norma legal ou ato municipal, citará
no prazo de vinte e quatro horas, será submetido à apreciação da
ainda o Prefeito e o Presidente da Câmara Municipal, para a mesma
Assembleia Legislativa, que, se não estiver funcionando, será con-
finalidade.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
vocada extraordinariamente pelo seu Presidente no mesmo prazo.
09-2010, D.A. de 09-09-2010)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
§ 4º - Declarada a inconstitucionalidade, a decisão será comu-
nicada à Assembleia ou à Câmara Municipal. D.A. de 09-09-2010)
5º Somente pelo voto da maioria absoluta dos membros do § 3º - No caso do inciso IV do “caput”, dispensada a apreciação
seu órgão especial o Tribunal de Justiça poderá declarar a incons- pela Assembleia, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do
titucionalidade de lei ou ato estadual ou municipal em face desta ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da nor-
Constituição.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de malidade.
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 4º - Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afas-
§ 6º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Tribunal tadas de seus cargos a esses voltarão, salvo impedimento legal.
de Justiça nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações
declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra to- TÍTULO II
dos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder DA ORGANIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS E DAS REGIÕES
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas METROPOLITANAS
estadual e municipal.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) CAPÍTULO I
§ 7º Os legitimados constantes nos incisos II, III, IV e VII do DAS LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS
caput deste artigo deverão demonstrar que a pretensão por eles
aduzida guarda relação de pertinência direta com os seus objetivos SEÇÃO I
institucionais.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 62 - O Município goza de autonomia política, administrati-
CAPÍTULO V va e financeira, nos termos desta e da Constituição da República e
DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NOS MUNICÍPIOS de sua Lei Orgânica, que será votada em dois turnos, com interstício
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos vereadores que
Art. 61 - O Estado não intervirá nos Municípios, exceto quando: compõem a Câmara Municipal, que a promulgará.
I - não havendo motivo de força maior, deixar de ser paga, por Art. 63 - A autonomia municipal será assegurada:
dois anos consecutivos, dívida fundada;
I - pela eleição direta do Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
II - pela administração própria dos assuntos de seu interesse,
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita munici-
especialmente no que se refira:
pal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e ser-
a) instituição e arrecadação dos tributos de sua competência,
viços públicos de saúde;(Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) respeitados os limites impostos pelas Constituições da República e
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para do Estado;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
a execução de lei, ordem ou decisão judicial, ou para assegurar a 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
observância dos seguintes princípios constitucionais:(Redação dada b) à aplicação de suas rendas, sem prejuízo da obrigação de
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- prestar contas e publicar balancetes nos prazos e na forma da lei,
2010) atendidas as normas do art. 30, inciso III e art. 31 da Constituição
a) forma republicana, sistema representativo e regime demo- da República; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
crático;(Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010) c) à organização dos serviços públicos locais.
b) direitos da pessoa humana;(Acrescida pela Emenda Consti- Art. 64 - Compete aos Municípios:
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) I - legislar sobre assuntos de interesse local;
c) autonomia municipal;(Acrescida pela Emenda Constitucional II - suplementar a legislação federal e a estadual, no que cou-
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ber;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
III manter e prestar, com a cooperação técnica e financeira da Art. 66 - Ao Município é terminantemente proibido:
União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fun- I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
damental e os serviços de atendimento à saúde da população;(Re- embaraçar-lhes o funcionamento ou manter, com eles ou seus re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. presentantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na
de 09-09-2010) forma da lei, a colaboração de interesse público;
IV - promover o ordenamento territorial, mediante planeja- II - recusar fé aos documentos públicos;
mento e controle da ocupação e do uso do solo, regular o zonea- III - criar distinções ou preferências entre brasileiros;
mento, estabelecer diretrizes para o parcelamento de áreas e apro- IV - usar ou consentir que se use qualquer dos bens ou serviços
var loteamentos; municipais ou pertencentes à administração indireta ou fundacio-
V - baixar normas reguladoras, autorizar e fiscalizar as edifica- nal sob seu controle, para fins estranhos à administração;
ções, bem como as obras que nelas devam ser executadas, exigin- V - doar bens imóveis de seu patrimônio, ou constituir sobre
do-se normas de segurança, especialmente para a proteção contra eles ônus real, ou conceder isenções fiscais ou remissões de dívidas,
incêndios, sob pena de não licenciamento; a não ser nos casos de manifesto interesse público e em obediência
VI - fixar condições e horário, conceder licença ou autorização aos ditames legais, com expressa autorização da Câmara Municipal,
para abertura e funcionamento de estabelecimentos comerciais, sob pena de nulidade do ato.(Redação dada pela Emenda Constitu-
industriais, prestacionais e similares, respeitada a legislação do tra- cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
balho e sobre eles exercer inspeção, cassando a licença, quando for
o caso; SEÇÃO II
VII - organizar e prestar, diretamente ou sob o regime de con- DO LEGISLATIVO MUNICIPAL
cessão, permissão ou autorização, os serviços públicos de interesse
local, incluído o transporte coletivo de passageiros, definido como Art. 67 - A Câmara Municipal é composta por Vereadores elei-
essencial, estabelecendo as servidões administrativas necessárias à tos por voto direto e secreto, para uma legislatura de quatro anos, a
sua organização e execução; iniciar-se a 1º de janeiro do ano seguinte ao da eleição.
VIII - adquirir bens, inclusive por meio de desapropriação por § 1º O número de vereadores, guardada a proporcionalidade
necessidade ou por utilidade pública, ou por interesse social, nos com a população do Município, será fixado com observância dos
termos da legislação federal; limites mínimo e máximo previstos no inciso IV do art. 29 da Consti-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, tuição da República.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
observadas a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual; 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
X - dispor sobre os serviços funerários e de cemitérios, além de I -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
administrar aqueles que forem públicos e fiscalizar os demais; D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
XI - criar, extinguir e prover cargos, empregos e funções pú- II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
blicos, fixar-lhes a remuneração, respeitadas as regras do art. 37 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
da Constituição da República e instituir o regime jurídico de seus III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
servidores; 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
XII - prover de instalações adequadas a Câmara Municipal, para IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
o exercício das atividades de seus membros e o funcionamento de 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
seus serviços, atendendo à peculiaridade local; V -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
XIII criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
complementar estadual e garantida a participação popular. (Acres- VI (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
09-2010) VII (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Parágrafo único. O orçamento anual dos Municípios deverá 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
prever a aplicação de receitas na manutenção e no desenvolvimen- VIII (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
to do ensino público, preferencialmente na educação infantil e no 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
ensino fundamental, e nas ações e serviços públicos de saúde, nos IX (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
termos da Constituição da República.(Redação dada pela Emenda 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) X (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
Art. 65 - Para a obtenção de seus objetivos, os Municípios po- D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
derão: § 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
I organizar-se em consórcios, cooperativas ou associações;(Re- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, IX)
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. Suspensa a eficácia deste artigo e seus parágrafos pela ADIN
de 09-09-2010) nº 692.4, D.J. de 28.8.92.
II - celebrar convênios, acordos e outros ajustes com a União, Art. 68. Os subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secre-
os Estados, o Distrito Federal, outros Municípios e entidades da ad- tários Municipais serão fixados por lei de iniciativa da Câmara Mu-
ministração direta, indireta ou fundacional e privadas, para realiza- nicipal, observado o que dispõem os arts. 37, inciso XI, 39, § 4º,
ção de suas atividades próprias; 150, inciso II, 153, inciso III, e 153, § 2º, inciso I, da Constituição da
III - constituir Guardas Municipais destinadas à proteção de República. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
seus bens, instalações e serviços, inclusive os de trânsito, conforme 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
dispuser a lei. § 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
IV celebrar consórcios públicos e convênios de cooperação 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X)
com a União, os Estados, o Distrito Federal e outros Municípios para § 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
a gestão associada de serviços públicos, em consonância com as 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X)
normas gerais fixadas pela União.(Acrescido pela Emenda Constitu- § 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X)

91
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 4º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Mu-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X) nicípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um)
§ 5º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- habitantes.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X) 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
§ 6º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- § 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, X) de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o sub-
§ 7º O subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas sídio dos Vereadores.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, em de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
consonância com a Constituição da República, os critérios estabe- § 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Munici-
lecidos na respectiva Lei Orgânica e com os seguintes limites máxi- pal:(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
mos, a serem observados em relação ao subsídio dos Deputados D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
Estaduais: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- I efetuar repasse que supere os limites definidos neste arti-
2010, D.A. de 09-09-2010) go;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
I 20% (vinte por cento), em Municípios de até 10.000 (dez mil) D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
habitantes; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- II não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou (Acres-
2010, D.A. de 09-09-2010) cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
II 30% (trinta por cento), em Municípios de 10.001 (dez mil e 09-2010, art. 3º)
um) a 50.000 (cinquenta mil) habitantes;(Acrescido pela Emenda III enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orça-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) mentária. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
III 40% (quarenta por cento), em Municípios de 50.001 (cin- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
quenta mil e um) a 100.000 (cem mil) habitantes;(Acrescido pela § 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câ-
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) mara Municipal o desrespeito ao § 1º deste artigo. (Acrescido pela
IV 50% (cinquenta por cento), em Municípios de 100.001 Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010,
(cem mil e um) a 300.000 (trezentos mil) habitantes;(Acrescido pela art. 3º)
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Art. 69. À Câmara Municipal, com a sanção do Prefeito, ressal-
V 60% (sessenta por cento), em Municípios de 300.001 (tre- vadas as especificadas no art. 70, cabe dispor sobre todas as ma-
zentos mil e um) a 500.000 (quinhentos mil) habitantes;(Acrescido térias da competência municipal, e especialmente sobre: (Redação
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
2010) 09-2010)
VI 75% (setenta e cinco por cento), em Municípios de mais de I - tributos municipais, seu lançamento e arrecadação e norma-
500.000 (quinhentos mil) habitantes.(Acrescido pela Emenda Cons- tização da receita não tributária;
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II - empréstimos e operações de crédito;
§ 8º O total da despesa com a remuneração dos Vereadores III - diretrizes orçamentárias, plano plurianual, orçamentos
não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita anuais, abertura de créditos suplementares e especiais;
do Município.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- IV - subvenções ou auxílios a serem concedidos pelo Município
09-2010, D.A. de 09-09-2010) e qualquer outra forma de transferência, sendo obrigatória a pres-
Art. 68-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, tação de contas nos termos desta Constituição;
incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com ina- V - criação dos órgãos permanentes necessários à execução dos
tivos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao serviços públicos locais, inclusive autarquias e fundações e consti-
tuição de empresas públicas e sociedades de economia mista;
somatório da receita tributária e das transferências previstas no §
VI regime jurídico dos servidores públicos municipais, criação,
5º do art. 153 e nos arts. 158 e 159 da Constituição da República,
transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicos,
efetivamente realizado no exercício anterior:(Acrescido pela Emen-
estabilidade e aposentadoria e fixação e alteração de remuneração
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
ou subsídio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
100.000 (cem mil) habitantes;(Acrescido pela Emenda Constitucio-
VII - concessão, permissão ou autorização de serviços públicos
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
da competência municipal, respeitadas as normas desta e da Cons-
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre
tituição da República;
100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;(Acrescido
VIII - normas gerais de ordenação urbanística e regulamentos
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- sobre ocupação e uso do espaço urbano, parcelamento do solo e
2010, art. 3º) edificações;
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre IX - concessão e cassação de licença para abertura, localização,
300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitan- funcionamento e inspeção de estabelecimentos comerciais, indus-
tes;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, triais, prestacionais ou similares;
D.A. de 09-09-2010, art. 3º) X - exploração dos serviços municipais de transporte coletivo
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para de passageiros e critérios para fixação de tarifas a serem cobradas;
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) XI - critérios para permissão dos serviços de táxi e fixação de
e 3.000.000 (três milhões) de habitantes;(Acrescido pela Emenda suas tarifas;
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º) XII - autorização para aquisição de bens imóveis, salvo quando
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre houver dotação orçamentária para esse fim destinada ou nos casos
3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de ha- de doação sem encargos;
bitantes;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- XIII - cessão ou permissão de uso de bens municipais e autori-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º) zação para que os mesmos sejam gravados com ônus reais;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
XIV Plano Diretor, obrigatório para Municípios com mais de II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
vinte mil habitantes e facultativo para os demais, e modificações D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XII)
que nele possam ou devam ser introduzidas; (Redação dada pela III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XII)
XV - feriados municipais, nos termos da legislação federal; Parágrafo único - A perda, extinção, cassação ou suspensão de
XVI (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- mandato de vereador dar-se-ão nos casos e na forma estabelecidos
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XI) nesta Constituição e na Legislação Federal.
XVII - alienação de bens da administração direta, indireta e Art. 72 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
fundacional, vedada esta, em qualquer hipótese, nos últimos três 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIII)
meses do mandato do Prefeito. § 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
XVIII - fixação, mediante lei de sua iniciativa, dos subsídios do 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIII)
Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais, com obser- §2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 31, de 18-12-
vância do disposto no incisos V do art. 29 da Constituição da Repú- 2001, D.A de 19-12-2001, art. 5º, XIII)
blica e no art. 68 desta Constituição. (Acrescido pela Emenda Cons- § 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIII)
Art. 70 - Compete privativamente à Câmara Municipal:
I - receber o compromisso dos Vereadores, do Prefeito e do SEÇÃO III
Vice-Prefeito e dar-lhes posse;
DO PREFEITO E DO VICE-PREFEITO
II - dispor sobre sua organização, funcionamento e polícia, res-
peitadas esta, a Constituição da República e a Lei Orgânica respec-
Art. 73. O Poder Executivo do Município é exercido pelo Pre-
tiva, criação e provimento dos cargos e funções de sua estrutura
feito, auxiliado pelos Secretários Municipais.(Redação dada pela
organizacional, respeitadas as regras concernentes a remuneração
ou subsídio e limites de dispêndios com pessoal, expressas no art. Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
37, incisos X e XI, e art. l69 da Constituição da República; §1º O Prefeito e o Vice-Prefeito serão eleitos pelo voto dire-
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- to, universal e secreto, numa só chapa, em pleito simultâneo, no
2010, D.A. de 09-09-2010. primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do man-
III - eleger sua Mesa e constituir suas comissões, nestas assegu- dato dos que devam suceder, dentre cidadãos maiores de vinte e
rando, tanto quanto possível , a representação dos partidos políti- um anos, no gozo dos direitos políticos, observadas as condições de
cos que participem da Câmara; elegibilidade previstas no art. 14 da Constituição da República, para
IV fixar, com observância do disposto nos incisos V e VI do art. um mandato de quatro anos, permitida a reeleição para um único
29 da Constituição da República e § 7º do art. 68 desta Constituição, período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional
o subsídio do Prefeito, do Vice-Prefeito, dos Secretários Municipais nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e dos Vereadores, bem como a verba de representação do Presi- § 2º - Será considerado eleito Prefeito o candidato que, regis-
dente da Câmara Municipal; (Redação dada pela Emenda Constitu- trado por partido político:
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) I - nos Municípios com menos de duzentos mil eleitores, obti-
V - conceder licenças: ver maioria simples de votos, não computados os em branco e os
a) ao Prefeito e ao Vice-Prefeito, para se afastarem temporaria- nulos;
mente dos respectivos cargos; II - nos Municípios com mais de duzentos mil eleitores, obtiver
b) aos Vereadores, nos casos permitidos; maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nu-
c) ao Prefeito, para se ausentar do Município por tempo supe- los, observado o seguinte:
rior a quinze dias. a) se nenhum candidato alcançar a maioria absoluta na primei-
VI - solicitar do Prefeito ou do Secretário Municipal informa- ra votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro,
ções sobre assuntos administrativos, sobre fatos sujeitos a sua fis- concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se
calização ou sobre fatos relacionados com matéria legislativa em eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos; (Redação
tramitação, devendo essas informações serem apresentadas dentro dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
de no máximo quinze dias úteis; 09-2010)
VII exercer, com o auxílio do Tribunal de Contas dos Municí-
b) se, antes da realização do segundo turno, ocorrer morte, de-
pios, o controle externo das contas do Município, observados os
sistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre
termos desta e da Constituição da República; (Redação dada pela
os remanescentes, o de maior votação;
Emenda Constitucional n° 36, de 22-06-04, D.O de 07-07-2004)
c) se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer mais
VIII - requerer a intervenção estadual no Município, nos casos
previstos no art. 61; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais ido-
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) so.
IX - requisitar o numerário destinado a suas despesas. § 3º - O Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse no dia 1º de
Art. 71. Os Vereadores são invioláveis, no exercício do mandato janeiro do ano subsequente ao da eleição, em sessão da Câmara
e na circunscrição do Município, por suas opiniões, palavras e votos, Municipal, prestando o compromisso de manter, defender e cum-
aplicando-se-lhes as proibições e as incompatibilidades, no exercí- prir a Constituição da República, esta Constituição e a Lei Orgânica
cio da vereança, similares, no que couber, ao disposto na Constitui- do Município, observar as leis, promover o bem geral e sustentar a
ção da República para os membros do Congresso Nacional e nesta união, a integridade e o desenvolvimento do Município.
Constituição para os membros da Assembleia Legislativa. (Redação § 4º - Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse e sal-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- vo motivo de força maior, o Prefeito ou o Vice-Prefeito não tiver
09-2010) assumido o cargo, este será declarado vago pela Câmara Municipal.
I (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 5º - Nos dez dias seguintes ao conhecimento do resultado das X - apresentar as contas ao Tribunal de Contas dos Municípios,
eleições municipais, o Prefeito Municipal designará uma comissão sendo os balancetes semestrais em até quarenta e cinco dias con-
de transição de governo que será constituída por 3 (três) membros tados do encerramento do semestre e as contas anuais do Municí-
responsáveis pelo controle interno, finanças e administração, e 3 pio, devidamente consolidadas, em até sessenta dias contados da
(três) membros indicados pelo candidato eleito ao cargo de Prefeito abertura da sessão legislativa, para sobre essas últimas, emissão do
Municipal.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 44, de 10-11- parecer prévio e posterior julgamento pela Câmara Municipal; (Re-
2009) dação dada pela Emenda Constitucional nº 52, de 17-11-2015, D.A.
Art. 74 - Substituirá o Prefeito, no caso de impedimento e suce- de 18-11-2015)
der-lhe-á, no de vaga, o Vice-Prefeito. XI - prestar contas da aplicação dos auxílios federais ou estadu-
§1º O Vice-Prefeito, além de outras atribuições que lhe forem ais entregues ao Município, na forma da lei;
conferidas nesta Constituição e na Lei Orgânica do Município, au- XII - fazer a publicação dos balancetes financeiros municipais e
xiliará o Prefeito, quando for convocado para missões especiais, e das prestações de contas da aplicação de auxílios federais ou esta-
poderá, sem perda de mandato, aceitar e exercer cargo ou função duais recebidos pelo Município, nos prazos e na forma determina-
de confiança municipal, estadual ou federal. (Redação dada pela dos em lei;
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) XIII colocar, à disposição da Câmara, até o dia vinte de cada
§ 2º - Em caso de impedimento do Prefeito e do Vice-Prefeito, mês, o duodécimo de sua dotação orçamentária, nos termos da Lei
serão chamados ao exercício do Poder Executivo, sucessivamente, o Complementar prevista no art. 165, § 9º da Constituição da Repú-
Presidente e o Vice-Presidente da Câmara Municipal. blica, sob pena de responsabilidade, conforme fixa o § 2º do art.
Art. 75. Vagando os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, far-se-á a 68-A desta Constituição;(Redação dada pela Emenda Constitucional
eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.(Redação dada nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- XIV - praticar os atos que visem resguardar os interesses do
2010) Município, desde que não reservados à Câmara Municipal.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos dois últimos anos do período de XV - enviar à Câmara Municipal cópia dos balancetes e dos do-
governo, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois cumentos que os instruem, concomitantemente com a remessa dos
de aberta a última vaga, pela Câmara Municipal, na forma da lei. mesmos ao Tribunal de Contas dos Municípios, na forma prevista
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, no inciso X deste artigo. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº
D.A. de 09-09-2010) 09, de 14.12.1994, D.A. de 19.12.1994)
§ 2º (Vide pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, Parágrafo único - A Lei Orgânica do Município especificará ou-
D.A. de 09-09-2010, art. 7º, IV) tras atribuições do Prefeito municipal.
- declarado inconstitucional, em controle concentrado, pelo Art. 78. São crimes de responsabilidade do Prefeito os previstos
Supremo Tribunal Federal, ADIN nº 3549-5 DOU de 20-11-2007. no § 2º do art. 68-A, os definidos nesta Constituição para o Gover-
§ 3º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o pe- nador, e os estabelecidos em lei federal, aplicando-se, no que cou-
ríodo de seus antecessores.(Acrescido pela Emenda Constitucional ber, ao processo de perda de mandato do Prefeito e do Vice-Prefei-
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) to, as regras desta Constituição para a do Governador do Estado.
Art. 76. Perderá o mandato o Prefeito que assumir outro cargo (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
ou função na administração pública, ressalvada a posse em virtude D.A. de 09-09-2010)
de concurso público e observado o disposto no inciso II do art. 38
da Constituição da República, ou que se ausentar do Município, sem SEÇÃO IV
licença da Câmara Municipal, por período superior a quinze dias. DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA, ORÇAMENTÁRIA,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, PATRIMONIAL E OPERACIONAL
D.A. de 09-09-2010)
Art. 77 - Compete privativamente ao Prefeito: Art. 79 - Observados os princípios e as normas desta e da Cons-
I - exercer a direção superior da administração municipal; tituição da República, no que se refere ao orçamento público, a
II - iniciar o processo legislativo na forma e nos casos previstos fiscalização contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e opera-
nesta Constituição; cional dos Municípios e das entidades de sua administração direta,
III - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, expedir decre- indireta e fundacional será exercida mediante controle externo da
tos e regulamentos para a sua fiel execução; Câmara Municipal e pelos sistemas de controle interno de cada Po-
IV - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; der, na forma da lei.
V - dispor sobre a estruturação, atribuições e funcionamento § 1o O controle externo a cargo da Câmara Municipal será exer-
dos órgãos da administração municipal; cido com o auxílio do Tribunal de Contas dos Municípios, ao qual
VI - prover os cargos e funções públicos municipais, na forma compete emitir o parecer prévio sobre as contas anuais do Municí-
desta Constituição e das leis; pio, no prazo de sessenta dias contados a partir do recebimento das
VII - celebrar convênios, consórcios, acordos, contratos e ou- contas.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 22-06-
tros ajustes do interesse do Município; (Redação dada pela Emenda 2004, D.O de 7-7-2004)
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) - Vide Lei Ordinária nº 15.958, de 18-01-2007, (Lei Orgânica do
VIII - enviar à Câmara Municipal, observado o disposto nesta e Tribunal de Contas dos Municípios)
na Constituição da República, projetos de lei dispondo sobre: § 2o Somente por decisão de dois terços dos membros da Câ-
a) plano plurianual; mara Municipal deixará de prevalecer o parecer prévio, emitido
b) diretrizes orçamentárias; pelo Tribunal de Contas dos Municípios, sobre as contas anuais do
c) orçamento anual; Prefeito. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 22-
d) plano diretor; 06-2004, D.O de 7-7-2004)
IX - remeter mensagem à Câmara Municipal por ocasião da
abertura da sessão legislativa, expondo a situação do Município e
solicitando as providências que julgar necessárias;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 3º - As contas anuais dos Municípios ficarão no recinto da § 3º - Iniciando-se a sequência com a primeira nomeação de-
Câmara Municipal durante sessenta dias, anualmente, à disposição cretada na vigência da presente Constituição Estadual, os Conse-
de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá lheiros do Tribunal de Contas dos Municípios serão nomeados: (Re-
questionar-lhe a legitimidade, nos termos da lei. dação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O
§ 4º - A Câmara Municipal não julgará as contas, antes do pa- de 18-12-1998)
recer do Tribunal de Contas dos Municípios, nem antes de escoado I - o primeiro e o segundo mediante escolha da Assembleia
o prazo para exame pelos contribuintes. (Vide pela Emenda Consti- Legislativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-
tucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-98, art. 2º) - Redação 1998, D.O de 18-12-1998)
dada pela Emenda Constitucional n° 21, de 04-11-1997, D.O. de 06- II - o terceiro por livre escolha do Governador, com aprovação
11-1997. da Assembleia Legislativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional
§ 5o As Contas da Câmara Municipal integram, obrigatoria- nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998)
mente, as contas anuais do Município.(Redação dada pela Emenda III o quarto e o quinto mediante escolha da Assembleia Legis-
Constitucional n° 36, de 22-06-2004, D.O de 7-7-2004) lativa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998,
§ 6o A fiscalização de que trata este artigo será realizada me- D.O de 18-12-1998)
diante prestação de contas de governo, de responsabilidade do IV o sexto e o sétimo por escolha do Governador, com apro-
Chefe do Poder Executivo, ou de gestão, de responsabilidade dos vação da Assembleia Legislativa, escolhido o sexto dentre auditores
ordenadores de despesa. e sétimo dentro membros do Ministério Público junto ao Tribunal,
- Acrescido pela Emenda Constitucional n° 36, de 22-06-2004, por este indicados em listra tríplice, segundo os critérios de antigui-
D.O de 7-7-2004. dade e merecimento. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 23,
Art. 80 O Tribunal de Contas dos Municípios, integrado por de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998)
sete Conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal § 4º Ao Tribunal de Contas dos Municípios, além de outras
e jurisdição em todo o território estadual, exercendo, no que cou- outorgadas por lei, são asseguradas, no que couber, em relação às
ber, as atribuições previstas no art. 96 da Constituição da República, contas municipais, as mesmas atribuições e prerrogativas conferi-
sendo-lhe asseguarada autonomia administrativa. (Redação dada das ao Tribunal de Contas do Estado, inclusive quanto à obrigação
pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12- de publicação de pareceres, aplicando-se-lhes as regras constantes
1998) do art. 26 e dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 28. (Redação dada pela
§ 1º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes re- § 5º Após o cumprimento da sequência inicial prevista no § 3º,
quisitos:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09- as vagas serão preenchidas visando à manutenção da composição
12-1998, D.O de 18-12-1998) estabelecida nos incisos I e II do § 2º deste artigo. (Acrescido pela
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12- Art. 81 - A comissão permanente a que a Câmara Municipal
1998, D.O de 18-12-1998) atribuir competência fiscalizadora, diante de indícios de despesas
II idoneidade moral e reputação ilibada; (Redação dada pela não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não pro-
Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998) gramados ou de subsídios não aprovados, solicitará à autoridade
III notórios conhecimentos jurídicos contábeis, econômicos e municipal responsável que, no prazo de cinco dias úteis, preste os
financeiros ou de administração pública; (Acrescido pela Emenda esclarecimentos necessários.
Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998) § 1º - Esgotados o prazo de que trata este artigo e não pres-
IV mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati- tados os esclarecimentos ou considerados estes insuficientes, a
vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no Comissão solicitará ao Tribunal de Contas dos Municípios pronun-
inciso anterior. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 23, de 09- ciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de quinze dias úteis.
12-1998, D.O de 18-12-1998) (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998,
§ 2º - Os conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios D.O de 18-12-98)
serão escolhidos: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, § 2º - Se o Tribunal considerar irregular a despesa e a Comissão
de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998) entender que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
I - quatro pela Assembleia Legislativa; (Redação dada pela à economia pública, proporá sua sustação ao plenário da Câmara.
Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998) § 3º Se a Câmara Municipal e o Poder Executivo, no prazo de
II - três pelo Governador do Estado, com aprovação da Assem- noventa dias, não efetivarem a medida prevista no § 2º, o Tribunal
bleia Legislativa, sendo primeiro deles de livre escolha e contem- decidirá a respeito. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
plando as duas outras escolhas, alternadamente, auditores e mem- de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
bros do Ministério Público junto ao Tribunal, por este indicados em Art. 82 - Os poderes Executivo e Legislativo do Município man-
lista tríplice, segundo os critérios de antiguidade e merecimento. terão sistema de controle interno, com as finalidades e a forma do
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, art. 29 desta Constituição, sendo constituído e designados os seus
D.O de 18-12-1998) membros pelo Chefe de cada Poder.
III (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-
1998, D.O de 18-12-1998) CAPÍTULO II
IV (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12- DA CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DO DESMEMBRA-
1998, D.O de 18-12-1998) MENTO DE MUNICÍPIOS
IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-
1997, D.O de 18-9-97, art. 2º) - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º.
- Vide Lei Complementar nº 002, de 16-01-1990, alterada pela
Lei Complementar nº 004, de 17.7.90.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 83. A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramen- b) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
to de Municípios far-se-ão por lei estadual, dentro do período de- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV)
terminado por lei complementar federal, e dependerão de consulta Art. 86-A. É facultado ao poder público municipal, mediante lei
prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvi- específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da
dos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apre- lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutili-
sentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda zado ou não utilizado que promova seu adequado aproveitamento,
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) sob pena, sucessivamente, de: (Acrescido pela Emenda Constitucio-
Parágrafo único. Lei complementar estabelecerá os critérios, nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
requisitos e forma para criação, fusão, desmembramento, incorpo- I - parcelamento ou edificação compulsórios; (Acrescido pela
ração e instalação de Municípios, bem como para o exercício, por Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010,
estes, da competência prevista no art. 64, inciso XIII. (Acrescido pela art. 3º)
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº
CAPÍTULO III 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 3º)
DAS QUESTÕES URBANAS III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívi-
da pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal,
Art. 84. A política urbana a ser formulada pelos Municípios com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e
atenderá ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
e a garantia do bem-estar de seus habitantes. (Redação dada pela (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) de 09-09-2010, art. 3º)
Art. 85. O Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obri- Art. 87 - No estabelecimento de normas sobre o desenvolvi-
gatório para as cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instru- mento urbano, serão observadas as seguintes diretrizes:
mento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. I - adequação das políticas de investimento, fiscal e financeira,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, aos objetivos desta Constituição, especialmente quanto ao sistema
D.A. de 09-09-2010) viário, habitação e saneamento, garantida a recuperação, pelo po-
§ 1º - A propriedade urbana cumpre a sua função social quan- der público, dos investimentos de que resulte valorização de imó-
do atende às exigências do Plano Diretor, sua utilização respeita a veis;
legislação urbanística e não provoca danos ao patrimônio cultural II - urbanização, regularização fundiária e titulação das áreas
e ambiental. faveladas e de baixa renda, na forma da lei;
§ 2º - O Plano Diretor, elaborado por órgão técnico municipal, III - preservação, proteção e recuperação do meio ambiente,
com a participação de entidades representativas da comunidade, urbano e cultural;
abrangerá a totalidade do território do Município e deverá conter IV - criação de área de especial interesse urbanístico, social,
diretrizes de uso e ocupação do solo, zoneamento, índices urbanís- ambiental, turístico e de utilização pública.
ticos, áreas de interesse especial e social, diretrizes econômico-fi- V as áreas definidas em projetos de loteamento como áreas
nanceiras, administrativas, de preservação da natureza e controle verdes ou institucionais não poderão ter sua destinação, fim e ob-
ambiental. jetivos originais alterados, exceto quando a alteração da destina-
§ 3º - Na elaboração do Plano Diretor, devem ser consideradas ção tiver como finalidade a regularização de imóveis ocupados por
as condições de riscos geológicos, bem como a localização das jazi- organizações religiosas para suas atividades finalísticas. (Acrescido
das supridoras de materiais de construção e a distribuição, volume pela Emenda Constitucional nº 56, de 25-04-2018)
e qualidade de águas superficiais e subterrâneas na área urbana e Parágrafo único. A exceção prevista no inciso V deste artigo
sua respectiva área de influência. será permitida desde que a situação das áreas públicas objeto de
§ 4º - As áreas urbanas com população inferior a vinte mil habi- alteração da destinação esteja consolidada até dezembro de 2016,
tantes deverão elaborar diretrizes gerais de ocupação do território e mediante a devida compensação ao Poder Executivo Municipal,
que garantam as funções sociais da cidade e da propriedade, defi- conforme diretrizes estabelecidas em lei municipal específica.
nindo áreas preferenciais para urbanização, regras de uso e ocupa- (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 56, de 25-04-2018)
ção do solo, estrutura e perímetro urbanos. Art. 88. Lei municipal regulará o transporte coletivo de passa-
Art. 86 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- geiros, de modo que a população tenha facilidade de locomoção,
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) sendo obrigatório dotar os veículos, integrantes do sistema, de
I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, meios adequados a permitir o acesso das pessoas portadoras de
D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) deficiência ou com mobilidade reduzida. (Redação dada pela Emen-
a) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) Art. 89- Compete aos Municípios o planejamento, a adminis-
b) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- tração e o exercício do poder de polícia sobre o trânsito nas vias
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) urbanas e nas estradas municipais, cabendo-lhes a arrecadação das
c) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- multas decorrentes de infrações.
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV)
d) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- CAPÍTULO IV
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) DAS REGIÕES METROPOLITANAS, DOS AGLOMERADOS URBA-
e) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- NOS E DAS MICRORREGIÕES
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV)
II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) 2010, D.A. de 09-09-2010.
a) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- - Vide Lei Complementar nº 139, de 22-01-2018.
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIV) - Vide Lei Complementar nº 27, de 30-12-1.999.

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Art. 90 - O Estado poderá criar, mediante lei complementar, - Regulamentado pela Lei nº 19.587, de 10-01-2017, art. 1º.
Regiões Metropolitanas, Microrregiões e Aglomerações Urbanas, III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
constituídas por agrupamento de Municípios limítrofes para inte- anos, prorrogável uma vez, por igual período;
grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi- IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
cas de interesse comum. cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas
§ 1º - Os Municípios que integrarem agrupamentos previstos e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados
neste artigo não perderão sua autonomia política, financeira e ad- para assumir cargo ou emprego, na carreira; (Redação dada pela
ministrativa. Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 2º - Para os fins deste artigo, consideram-se funções públicas V - é assegurada a promoção, por antiguidade ou merecimento,
de interesse comum: de servidores investidos em cargos e empregos públicos, na forma
I - transportes e sistema viário; da lei;
II - segurança pública; VI as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser-
III - saneamento básico; vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a se-
IV - ocupação e uso do solo, abertura e conservação de estra- rem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
das vicinais; percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às fun-
V - aproveitamento dos rercursos hídricos; ções de direção, chefia e assessoramento;
VI - distribuição de gás canalizado; - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
VII - cartografia e informações básicas; 2010, D.A. de 09-09-2010.
VIII - aperfeiçoamento administrativo e solução de problemas VII - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
jurídicos comuns; ciação sindical;
IX - outras, definidas em lei complementar. VIII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limi-
§ 3º - As diretrizes do planejamento das funções de interesse tes definidos em lei federal específica; (Redação dada pela Emenda
comum serão objeto do plano diretor metropolitano, microrregio- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nal ou aglomerado. IX - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
Art. 91. Para a instituição de Região Metropolitana ou aglome- para as pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admis-
rado urbano, bem como para a inclusão e exclusão de Municípios são, observado, em relação aos cargos em comissão, o percentual
em ambos, serão considerados, dentre outros, os seguintes fatores: mínimo de 1% (um por cento); (Redação dada pela Emenda Consti-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, tucional nº 55, de 21-09-2017, art. 1º)
D.A. de 09-09-2010) X a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
I - população e crescimento demográfico, com projeção quin- terminado para atender à necessidade temporária de excepcional
quenal; interesse público; (Redação dada pela a Emenda Constitucional nº
II - grau de conurbação e fluxos migratórios; 34, de 10-06-2003)
III - atividade econômica, perspectivas de desenvolvimento e - Vide Lei Ordinária nº 13.196, de 29-12-1997, D.O. de 31-12-97
fatores da polarização; e Lei Ordinária nº 13.664, de 27-07-2000 (D.O. de 01-8-2000).
IV - deficiência dos serviços públicos, em um ou mais Municí- XI a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
pios, com implicação no desenvolvimento da região. trata o § 4º do art. 39 da Constituição da República, somente pode-
§ 1º - A gestão do interesse metropolitano ou aglomerado ca- rão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa
berá ao Estado e aos Municípios da região, na forma de lei comple- privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na
mentar. mesma data e sem distinção de índices;
§ 2º - A instituição de aglomerado urbano requer população - Vide Lei Ordinária n° 14.698, de 19-01-2004.
mínima de cem mil habitantes, em dois ou mais Municípios. XII a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,
funções e empregos públicos da administração pública direta, au-
TÍTULO III tárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes do
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Estado, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
CAPÍTULO I políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pesso-
ais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio
Art. 92. A administração pública direta e indireta de qualquer mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
dos Poderes do Estado e dos Municípios obedecerá aos princípios aplicando-se como limite, no âmbito dos Poderes Executivo, Legis-
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, lativo e Judiciário, inclusive do Ministério Público e dos Tribunais de
razoabilidade, proporcionalidade e motivação e, também, ao se- Contas, o subsídio mensal, em espécie, dos Desembargadores do
guinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centé-
2010, D.A. de 09-09-2010) simos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tri-
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos bunal Federal, não se aplicando este limite único aos subsídios dos
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim Deputados Estaduais, conforme ressalvado na parte final do § 12 do
como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emen- art. 37 da Constituição da Republica; (Redação dada pela Emenda
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Constitucional nº 42, de 16-09-2008, D.A. de 19-09-2008)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de - Regulamentado pela Lei nº 11.793, de 03-09-1992, D.O. de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e 10-09-1992.
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou XIII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera- tivo;
ção; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
XIV - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espé- XXV lei estadual poderá estabelecer a relação entre a maior
cies remuneratórias, para o efeito de remuneração de pessoal do e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em
serviço público; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, qualquer caso, o disposto no inciso XII deste artigo. (Acrescido pela
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
XV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público § 1º A publicidade de atos, programas, obras, serviços e cam-
não serão computados nem acumulados, para fins de concessão de panhas dos órgãos e entidades da administração pública deverá ter
acréscimos ulteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucional caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem,
XVI (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- mesmo indiretamente, promoção pessoal de autoridades ou servi-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XV) ços públicos, sendo que: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº
XVII - os vencimentos e os subsídios dos ocupantes de cargos e 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos inci- I - o Executivo publicará, mensalmente, o demonstrativo das
sos XII e XV deste artigo e nos arts. 39, §4º, 150, inciso II, 153, inciso despesas realizadas com propaganda e publicidade sob qualquer
III, 153, §2.º, inciso I da Constituição da República; (Redação dada título, discriminando beneficiário, valor e finalidade;
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- II o demonstrativo a que se refere o inciso I compreende a ad-
2010) ministração pública direta e indireta do Estado. (Redação dada pela
XVIII - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em § 2º A não-observância do disposto nos incisos II, III e IV, do
qualquer caso o disposto no inciso XII: (Redação dada pela Emenda caput, implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade res-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ponsável, nos termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitu-
a) a de dois cargos de professor; (Redação dada pela Emenda cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010) D.A. de 09-09-2010)
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de I as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
saúde, com profissões regulamentadas; (Redação dada pela Emen- em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
XIX - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções dos serviços; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta II o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
ou indiretamente, pelo Poder Público; (Redação dada pela Emenda mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) XXXIII, da Constituição da República; (Acrescido pela Emenda Cons-
XX - a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência so- III a disciplina da representação contra o exercício negligente
bre os demais setores administrativos, na forma da lei; ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- de 09-09-2010)
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo-
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (Redação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de
obrigações, sendo que, nas alienações, obedecer-se-á, preferencial- 09-09-2010)
mente, à modalidade de leilão público. § 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
XXII somente por lei específica poderá ser criada autarquia e ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco- ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl- § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva-
timo caso, definir as áreas de sua atuação; (Acrescido pela Emenda do prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
XXIII depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso XXII, as- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
sim como a participação de qualquer delas em empresa privada; D.A. de 09-09-2010)
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. § 7º - A administração implantará, progressivamente, o sistema
de 09-09-2010) de informatização em todas as suas unidades.
XXIV as administrações tributárias do Estado e dos Municípios, § 8º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
atividades essenciais ao seu funcionamento, exercidas por servido- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XV)
res de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a rea- I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
lização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XV)
com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
forma da lei ou convênio; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XV)
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 9º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu- CAPÍTULO II
pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que DOS SERVIDORES PÚBLICOS
possibilite o acesso a informações privilegiadas. (Acrescido pela
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 10. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º, III.
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser - Vide Lei nº 20.756, de 28-01-2020, (Regime Jurídico dos Ser-
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- vidores Públicos Civis do Estado de Goiás e de suas Autarquias).
dores e o Poder Público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: Art. 94 - O Estado e os Municípios instituirão, no âmbito de sua
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. competência, conselho de política de administração e remuneração
de 09-09-2010) de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos
I o prazo de duração do contrato; (Acrescido pela Emenda Poderes.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 25, de 27-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 12-1999, D.A. de 27-12-1999)
II os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- § 1º - A fixação dos padrões de vencimentos e dos demais com-
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; (Acrescido pela ponentes do sistema remuneratório observará: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Emenda Constitucional nº 25, de 27-12-1999, D.A. de 27-12-1999)
III a remuneração do pessoal. (Acrescido pela Emenda Consti- I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) dos cargos componentes de cada carreira; (Acrescido pela Emenda
§ 11. O disposto no inciso XII aplica-se às empresas públicas e Constitucional nº 25, de 27-12-1999, D.A. de 27-12-1999)
às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que recebe- II os requisitos para a investidura; (Acrescido pela Emenda
rem recursos do Estado, para pagamento de despesas de pessoal ou Constitucional nº 25, de 27-12-1999, D.A. de 27-12-1999)
de custeio em geral. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, III as peculiaridades dos cargos. (Acrescido pela Emenda Cons-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) titucional nº 25, de 27-12-1999, D.A. de 27-12-1999)
§ 12. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo- § 2º - O Estado manterá escolas de governo para a formação e
sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 da Constitui- o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a parti-
ção da República, com a remuneração de cargo, emprego ou função cipação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira,
pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Consti- podendo, para tanto, firmar convênios ou contratos com a União, o
tuição e da Constituição da República, os cargos eletivos e os cargos Distrito Federal, outros Estados e com Municípios. (Redação dada
em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração. pela Emenda Constitucional nº 25, de 27-12-1999, D.A. de 27-12-
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. 1999)
de 09-09-2010) § 3º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, e
§ 13. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera- os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusi-
tórios de que trata o inciso XII do “caput” deste artigo, as parcelas vamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo
de caráter indenizatório previstas em lei. (Acrescido pela Emenda de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de repre-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) sentação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer
Art. 92-A. (Declarado inconstitucional pela ADI/5215 (8620189- caso, o disposto no art. 92, XI e XII. (Acrescido pela Emenda Consti-
94.2015.1.00.0000). tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 93. Ao servidor da administração direta e indireta, de § 4º A remuneração dos Procuradores do Estado e dos Delega-
qualquer dos Poderes do Estado ou dos Municípios, no exercício dos da Polícia Civil será por subsídio, conforme o § 3º. (Acrescido
de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: (Redação pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- 2010)
09-2010) § 5º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital, ficará anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e
afastado de seu cargo, emprego ou função; empregos públicos. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remune- § 6º Lei do Estado e dos Municípios disciplinará a aplicação de
ração; recursos orçamentários provenientes da economia com despesas
III - investido no mandato de vereador, havendo compatibili- correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, trei-
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não namento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e
havendo, será aplicada a norma do inciso anterior; racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional
IV - exigido o afastamento para o exercício do mandato, seu ou prêmio de produtividade. (Acrescido pela Emenda Constitucio-
tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
para promoção por merecimento; § 7º A remuneração dos servidores públicos organizados em
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdên- carreira poderá ser fixada nos termos do § 3º. (Acrescido pela
cia social, permanecerá filiado a este regime, no ente federativo de Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
origem.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12- Art. 95. São direitos dos servidores públicos do Estado, além
2019, D.O. de 30-12-2019) de outros que visem à melhoria de sua condição social: (Acrescido
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
2010)
I - percepção de vencimento básico nunca inferior ao salário
mínimo fixado em lei, nos termos do art. 7º da Constituição da Re-
pública, mesmo para os que percebem remuneração variável;

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II - irredutibilidade dos vencimentos, proventos ou subsídios, Art. 97. O regime próprio de previdência social dos servidores
observado o inc. XVII, do art. 92; (Acrescido pela Emenda Constitu- titulares de cargos efetivos do Estado e dos Municípios terá caráter
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente
III - décimo terceiro salário com base na remuneração integral federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas,
ou no valor da aposentadoria; observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atu-
IV - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; arial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-
V - salário-família, nos termos da Constituição da República; 2019, D.O. de 30-12-2019)
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- I (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
2010, D.A. de 09-09-2010. D.A. de 09-09-2010)
VI - duração do trabalho normal não superior a oito horas diá- II (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
rias e a quarenta e quatro semanais; 2010, D.A. de 09-09-2010)
VII - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do- III (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
mingos; 2010, D.A. de 09-09-2010)
VIII - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni- a) (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
mo, em cinquenta por cento à do normal; 2010, D.A. de 09-09-2010)
IX - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um b) (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
terço a mais do que a remuneração normal do mês; 2010, D.A. de 09-09-2010)
X - licença à gestante, sem prejuízo do cargo ou do emprego e c) (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
da remuneração ou subsídio, com a duração de 120 (cento e vinte) 2010, D.A. de 09-09-2010)
dias; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, d) (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
D.A. de 09-09-2010) 2010, D.A. de 09-09-2010)
XI - licença-paternidade, sem prejuízo do cargo e da remunera- § 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
ção ou subsídio, com a duração de 20 (vinte) dias; (Redação dada social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12- nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
2019) I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
XII - intervalo diário de uma hora para amamentação do filho que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese
de até 12 (doze) meses de idade, que poderá ser fracionado em em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
2 (dois) períodos de 30 (trinta) minutos cada; (Redação dada pela verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces-
Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federa-
XIII - licença maternidade e paternidade no caso de adoção de tivo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-
criança, na forma da lei; 2019, D.O. de 30-12-2019)
XIV - proteção do mercado de trabalho para a mulher, median- II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo
te a oferta de creches e incentivos específicos, nos termos da lei; de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta
XV - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor- e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; (Redação
mas de saúde, higiene e segurança; dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-
XVI - aposentadoria; 12-2019)
XVII - adicional de remuneração para as atividades penosas, in-
III - voluntariamente, aos sessenta e dois anos de idade, se mu-
salubres ou perigosas, na forma da lei;
lher, e aos sessenta e cinco anos de idade, se homem, observados o
- Vide Lei nº 19.573, de 29-12-2016.
tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei
XVIII - proibição de diferença de remuneração, de exercício de
complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65,
funções e de critério de admissão por motivos de sexo, idade, cor
de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
ou estado civil;
a) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 65, art. 6º, II de
XIX (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, I, de
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
b) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 65, art. 6º, II de
XX - eleito vereador, não poderá ser transferido do Município
onde exerce suas funções, a partir da diplomação; 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
XXI - reciclagem com cursos de formação e profissionalização § 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores
sem discriminação de sexo em qualquer área ou setor. ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 da Constituição
§ 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, I, de Federal ou superiores ao limite máximo estabelecido para o Regime
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) Geral de Previdência Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16
§ 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- deste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XVI) 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
§ 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- § 3º No âmbito do Estado, as regras de cálculo e reajustamen-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XVI) to dos benefícios de aposentadoria e pensão por morte serão as
Art. 96. É obrigatória a quitação da folha de pagamento do pes- mesmas aplicáveis aos servidores da União e seus respectivos de-
soal ativo e inativo da administração direta, autárquica e fundacio- pendentes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de
nal do Estado até o dia 10 do mês posterior ao vencido, sob pena de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
se proceder à atualização monetária da mesma. (Redação dada pela § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so-
- Vide Lei nº 11.128, de 02-03-1990 - Regulamento cial, ressalvado o disposto nos §§ 4°-A, 4°-B, 4°-C, 4º-D, 4º-E e 5°.
§ 1º - Para a atualização da remuneração em atraso, usar-se-ão (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019,
os índices oficiais de correção da moeda. D.O. de 30-12-2019)
§ 2º - A importância apurada, na forma deste artigo, será paga I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, III, de
juntamente com a remuneração do mês subsequente. 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, III, de II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, IV, de
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, III, de § 8° É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser-
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
§ 4º-A No âmbito do Estado, a aposentadoria de servidores estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
com deficiência, previamente submetidos à avaliação biopsicosso- 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
cial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, obser- - Vide Lei nº 12.872, de 16-05-1996, D.O. de 17-05-1996.
vará os requisitos e critérios estabelecidos por lei complementar § 9º O tempo de contribuição federal, distrital, estadual ou
federal, que estabelecerá idade e tempo de contribuição diferencia- municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o
dos. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, disposto nos §§ 9º e § 9º-A do art. 201 da Constituição Federal, e
D.O. de 30-12-2019) o tempo de serviço correspondente será contado para fins de dis-
§ 4º-B A lei complementar federal estabelecerá idade e tem- ponibilidade.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de
po de contribuição diferenciados para aposentadoria de ocupantes
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
dos cargos estaduais de agente penitenciário, de agente socioedu-
§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem
cativo ou de policial civil do Órgão de que trata o inciso I do art. 121.
de tempo de contribuição fictício. (Acrescido pela Emenda Constitu-
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O.
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
de 30-12-2019)
§ 4º-C Os ocupantes dos cargos estaduais de agente peniten- § 11. Aplica-se o limite fixado no art. 92, XII, à soma total dos
ciário, de agente socioeducativo e de policial civil do Órgão de que proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu-
trata o inciso I do art. 121 desta Constituição, que tenham ingressa- lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi-
do na respectiva carreira até a data da publicação da Emenda Cons- dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência
titucional Federal nº 103, de 12 de novembro de 2019, poderão se social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi-
aposentar na forma do art. 5º da referida emenda. (Acrescido pela dade com remuneração ou subsídio de cargo acumulável na forma
Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei de livre no-
§ 4º-D Os ocupantes dos cargos estaduais de agente peniten- meação e exoneração, e de cargo eletivo. (Acrescido pela Emenda
ciário, de agente socioeducativo e de policial civil do Órgão de que Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
trata o inciso I do art. 121 desta Constituição, que tenham ingres- § 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, no regi-
sado na respectiva carreira após a data da publicação da Emenda me próprio de previdência social dos Estados e dos Municípios, no
Constitucional Federal nº 103, de 12 de novembro de 2019, pode- que couber, os requisitos e critérios fixados para o Regime Geral de
rão se aposentar na forma do art. 10, § 2º, inciso I e § 4º da referida Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
emenda, até que entre em vigor Lei federal. (Acrescido pela Emen- 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
da Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de
§ 4º-E Os requisitos e critérios para aposentadoria de servidores cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
estaduais cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a ção, de outro cargo temporário, inclusive aos detentores de manda-
agentes nocivos químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, to eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência
ou associação destes agentes, vedados a caracterização por catego- Social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-
ria profissional ou ocupação e o enquadramento por periculosida- 2019, D.O. de 30-12-2019)
de, serão estabelecidos em lei complementar federal, contemplan- § 14. O Estado e os Municípios instituirão, por lei de iniciativa
do idade e tempo de contribuição diferenciados. (Acrescido pela do respectivo Poder Executivo, regime de previdência complemen-
Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) tar para servidores públicos ocupantes de cargo efetivo, observa-
§ 5º De acordo com o disposto em lei complementar federal, do o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
os ocupantes do cargo estadual de professor terão idade mínima
Social para o valor das aposentadorias e das pensões em regime
reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da
próprio de previdência social, ressalvado o disposto no § 16. (Re-
aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem
dação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O.
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educa-
de 30-12-2019)
ção infantil e no ensino fundamental e médio. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) § 15. O regime de previdência complementar de que trata o §
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contri-
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de buição definida, observará o disposto no art. 202 da Constituição
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- Federal e será efetivado por intermédio de entidade fechada de
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a previdência complementar ou de entidade aberta de previdência
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65,
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
cional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) § 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dis-
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201 da Constituição posto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver
Federal quando se tratar da única fonte de renda formal auferida ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de
pelo dependente, o benefício de pensão por morte será concedi- instituição do correspondente regime de previdência complemen-
do nos termos de lei do Estado e dos Municípios, a qual tratará de tar, sendo-lhe garantido o direito ao Benefício Especial, nos termos
forma diferenciada a hipótese de morte dos servidores referidos no da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-
§ 4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou em razão da 2019, D.O. de 30-12-2019)
função. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12- § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
2019, D.O. de 30-12-2019) culo do benefício previsto no § 3º serão devidamente atualizados,
I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, Art. 6º, IV, de na forma da lei. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

101
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposenta- III mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
doria e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
regime geral de previdência social de que trata o art. 201 da Cons- de 09-09-2010)
tituição da República, com percentual igual ao estabelecido para § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
os servidores titulares de cargos efetivos. (Acrescido pela Emenda estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
§ 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do Es- aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com re-
tado e dos Municípios, o servidor titular de cargo efetivo que tenha muneração proporcional ao tempo de serviço. (Redação dada pela
completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
previdenciária ordinária, até completar a idade para aposentadoria
cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de
outro cargo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora deste
regime no Estado e nos Municípios, abrangidos todos os poderes, tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
os órgãos e as entidades autárquicas e fundacionais, que serão res- para essa finalidade. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
ponsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâ- de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
metros e a natureza jurídica definidos em lei complementar federal.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, CAPÍTULO III
D.O. de 30-12-2019) DOS MILITARES
§ 21. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 65, art. 5º, V,
de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Art. 97-A. O tempo de contribuição e os demais requisitos para 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º, IV.
a concessão de aposentadoria por incapacidade permanente para
o trabalho, aposentadoria compulsória, aposentadoria voluntária, Art. 100. Os membros da Polícia Militar e do Corpo de Bom-
pensão por morte e as regras de transição dos servidores públi- beiros Militar, instituições organizadas com base na hierarquia e na
cos estaduais e seus beneficiários serão os mesmos aplicados pela disciplina, são militares estaduais, regidos por estatutos próprios.
União para seus servidores e respectivos dependentes. (Acrescido (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12- D.A. de 09-09-2010)
2019) § 1º - As patentes, conferidas pelo Governador, na forma da lei,
§ 1º O disposto no caput inclui regras e demais requisitos para com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são assegu-
os servidores com direito a tratamento diferenciado previstos no radas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou aos reforma-
art. 97, §§ 4°-A, 4°-B, 4°-C, 4º-D, 4º-E e 5° desta Constituição Esta- dos, sendo-lhes privativos os títulos, postos e uniformes militares.
dual. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 65, de 21-12-2019, § 2º O militar em atividade que tomar posse em cargo ou em-
D.O. de 30-12-2019) prego público civil permanente será transferido para a reserva, nos
§ 2º O disposto no caput aplica-se para as regras e demais termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
requisitos de acumulação de benefícios. (Acrescido pela Emenda 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constitucional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019) § 3º O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse
Art. 98. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-
em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva,
04-1995, D.A. de 05-04-1995, art. 1º)
ainda que da administração indireta, ficará agregado ao respectivo
§ 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04-
quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação,
1995, D.A. de 05-04-1995, art. 1º)
ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de ser-
§ 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04-
1995, D.A. de 05-04-1995, art. 1º) viço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva,
§ 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04- sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, trans-
1995, D.A. de 05-04-1995, art. 1º) ferido para a reserva, nos termos da lei. (Redação dada pela Emen-
§ 4º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04- da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
1995, D.A. de 05-04-1995, art. 1º) § 4º - Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve e, en-
Art. 99. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- quanto em efetivo serviço, a filiação a partido político.
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de § 5º O oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in-
concurso público. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação especial, em tempo de guerra. (Redação dada pela Emenda Consti-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
09-2010) § 6º O oficial condenado na justiça comum ou militar a pena
I em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Acres- privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada
cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- em julgado, será submetido ao julgamento previsto no § 5º. (Reda-
09-2010) ção dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de
II mediante processo administrativo em que lhe seja assegura- 09-09-2010)
da ampla defesa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

102
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 7º - As praças, com mais de dois anos, após a conclusão de § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal
curso de formação, com aproveitamento, não perderão graduação, e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuin-
nem serão excluídas da corporação, senão mediante comprovação te, sendo facultado à administração tributária, especialmente para
de falta grave, apurada em conselho de disciplina e homologação conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os di-
prévia pelo Conselho de Justiça Militar. reitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos
§ 8º É vedada a instituição de mecanismos que imponham e as atividades econômicas do contribuinte.
quaisquer restrições à admissão e ascensão da mulher nas carreiras § 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de im-
Policial Militar e de Bombeiro Militar por motivos de estado civil, postos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
gestacional ou correlatos. (Redação dada pela Emenda Constitucio- 2010, D.A. de 09-09-2010)
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 3º Aplicam-se ao Estado e aos Municípios as disposições da
§ 9º Aplicam-se aos militares, além do que vier a ser fixado em lei complementar federal que: (Redação dada pela Emenda Consti-
lei, as disposições dos arts. 14, § 8.º; 40, § 9.º; e 142, §§ 2.º e 3º da tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constituição da República; e o disposto no § 9º do art. 97 e os pre- I - regulem conflitos de competência, em matéria tributária, en-
ceitos dos incisos I, II, III, V, IX, X, XI, XIV e XV do art. 95, todos desta tre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de II - regulem as limitações constitucionais ao poder de tributar;
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) III - estabeleçam normas gerais em matéria de legislação tribu-
§ 10 - Vide pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, tária, especialmente sobre:
D.A. de 09-09-2010, art. 7º, V. a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em re-
- Suspensa a eficácia deste parágrafo pela ADIN nº 464-6, D.J. lação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respec-
de 2.5.91. tivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; (Redação
§ 11. A lei estabelecerá os limites de idade, a estabilidade e dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de
outras condições de transferência do militar para a inatividade. (Re- 09-09-2010)
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tri-
de 09-09-2010) butários;
§ 12. O militar da ativa fará jus à promoção ao posto ou gra- c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo pratica-
duação imediatamente superior, nas seguintes condições: (Redação do pelas sociedades cooperativas.
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as
09-2010) microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive
I - contar pelo menos 30 (trinta) anos de serviço, se homem e regimes especiais ou simplificados, nos termos da Constituição da
25 (vinte e cinco) anos de serviço, se mulher. (Redação dada pela República. (Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Emenda Constitucional nº 46, de 04-07-2012, D.O. de 15-08-2012) 2010, D.A. de 09-09-2010)
II - a promoção prevista neste parágrafo independe de vaga, de § 4º O Estado e os Municípios instituirão, por meio de lei, con-
interstício ou de habilitação em cursos e, ainda, de que inexista, no tribuições para custeio de regime próprio de previdência social, co-
quadro ao qual pertença o servidor, posto ou graduação superior bradas dos servidores ativos, aposentados e pensionistas, que po-
à sua; derão ter alíquotas de acordo com o valor da base de contribuição
III - os subtenentes, para os efeitos deste parágrafo, serão pro- ou do benefício recebido. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
movidos a segundo tenente; nal nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
IV - as regras deste parágrafo não se aplicam aos coronéis. § 4º-A A contribuição ordinária dos aposentados e pensionistas
(Vide Lei Ordinária nº 11.347, de 12-11-1990, D.O. de 12-11-1990) do Estado e dos Municípios incidirá sobre o valor dos proventos de
§ 13. Para a obtenção do benefício de que trata o § 12, o mili- aposentadoria e de pensões que superem o salário mínimo, quando
tar requererá simultaneamente a transferência para a inatividade. houver déficit atuarial no RPPS. (Acrescido pela Emenda Constitu-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
cional nº 65, de 21-12-2019, D.O. de 30-12-2019)
D.A. de 09-09-2010)
§ 5º Na hipótese de a lei complementar de que trata o § 3º,
§ 14. Aos pensionistas dos militares aplica-se o que for fixado
inciso III, d , também instituir um regime único de arrecadação dos
em lei estadual específica. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e dos Municípios, observar-se-á que: (Acrescido pela Emenda Cons-
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
TÍTULO IV
I será opcional para o contribuinte; (Acrescido pela Emenda
DA TRIBUTAÇÃO, DAS FINANÇAS E DO ORÇAMENTO
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
II poderão ser estabelecidas condições de enquadramento di-
CAPÍTULO I
DO SISTEMA TRIBUTÁRIO ferenciadas por Estado; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
SEÇÃO I III o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição
DOS PRINCÍPIOS GERAIS da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federa-
dos será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento;
Art. 101 - O Estado e os Municípios poderão instituir os seguin- (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
tes tributos: de 09-09-2010)
I - impostos; IV a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser com-
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela partilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único
utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e de contribuintes. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição; 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
III - contribuição de melhoria decorrente de obras públicas.

103
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 6° O Estado poderá firmar convênios com seus municípios, § 2º - As vedações do inciso VI, alínea a , deste artigo, e do pa-
incumbindo estes de prestar informações e coligir dados, em es- rágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos servi-
pecial os relacionados com o trânsito de mercadorias ou produtos, ços relacionados com exploração de atividades econômicas regidas
com vistas a resguardar o efetivo ingresso de tributos estaduais nos pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que
quais tenham participação. (Acrescido pela Emenda Constitucional haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usu-
nº 61, de 11-09-2019, D.O. de 25-09-2019) ário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
§ 7° O Estado enviará mensalmente aos seus municípios relató- imposto relativamente ao bem imóvel.
rios discriminando as operações realizadas com cartões de crédito § 3º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c , deste
e débito ocorridas em seus respectivos territórios, para fins de fis- artigo, compreendem somente o patrimônio, a renda e os servi-
calização e recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer ços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
Natureza, nos termos do disposto no art. 199 do Código Tributário mencionadas.
Nacional. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 61, de 11-09- § 4º - A lei determinará medidas para que os consumidores se-
2019, D.O. de 25-09-2019) jam esclarecidos acerca dos impostos incidentes sobre mercadorias
§ 8° Os relatórios previstos no § 7° deste artigo deverão explici- e serviços.
tar, para cada administradora de cartões, os valores das operações § 5º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
discriminadas e a razão social dos tomadores creditados. (Acrescido concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativas a im-
pela Emenda Constitucional nº 61, de 11-09-2019, D.O. de 25-09- postos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante
2019) lei específica, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as
matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contri-
SEÇÃO II buição, sem prejuízo do disposto no artigo 104, § 2º, inciso X, alínea
DAS LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010)
Art. 102 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao con- § 6º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tribu-
tribuinte, é vedado ao Estado e aos Municípios: tária a condição de responsável pelo pagamento de impostos ou
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, asse-
II - instituir tratamento desigual entre os contribuintes que se gurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção não se realize o fato gerador presumido. (Redação dada pela Emen-
em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, in- da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
dependentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títu- Art. 103. É vedado ao Estado conceder isenções de tributos da
los ou direitos; competência dos municípios e instituir tributo que não seja unifor-
III - cobrar tributos: me em todo o seu território ou que implique distinção ou preferên-
a) - em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da cia em relação a um Município, em detrimento de outro, admitida a
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões
lei que os instituiu ou aumentou, observadas as exceções previstas do Estado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
no art. 150, §1º da Constituição da República; (Redação dada pela 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido SEÇÃO III
publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto DOS IMPOSTOS DO ESTADO
na alínea b e as exceções previstas no art. 150, §1º da Constituição
da República; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- Art. 104. Compete ao Estado instituir impostos sobre: (Redação
09-2010, D.A. de 09-09-2010) dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
IV - utilizar tributo com efeito de confisco; 09-2010)
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou
meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a co- direitos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
brança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Público; a) (Suprimida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
VI - instituir impostos sobre: 2010, D.A. de 09-09-2010)
a) patrimônio, renda ou serviços da União, dos Estados, do Dis- b) (Suprimida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
trito Federal ou dos Municípios; 2010, D.A. de 09-09-2010)
b) templos de qualquer culto; c) (Suprimida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclu- 2010, D.A. de 09-09-2010)
sive de suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucra- prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
tivos, atendidos os requisitos da lei; e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se ini-
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impres- ciem no exterior; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
são. de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
VII - estabelecer diferença tributária entre bens e serviços de III - propriedade de veículos automotores. (Acrescido pela
qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - A vedação do inciso VI, alínea a , deste artigo é extensiva § 1º O imposto previsto no inciso I: (Redação dada pela Emen-
às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Pú- da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
blico, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vincu- I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete
lados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. ao Estado, quando neste situar-se o bem;

104
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- b) sobre o valor total da operação, quando mercadorias forem
2010, D.A. de 09-09-2010. fornecidas com serviços não compreendidos na competência tribu-
II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao tária dos Municípios;
Estado, quando neste estiver sendo processado o inventário ou ar- VIII - não incidirá sobre: (Redação dada pela Emenda Constitu-
rolamento, ou tiver domicílio o doador; (Redação dada pela Emen- cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) a) operações que destinem mercadorias para o exterior, nem
III poderá ser instituído pelo Estado, na conformidade de lei sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a
complementar federal, quando: (Redação dada pela Emenda Cons- manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) nas operações e prestações anteriores; (Redação dada pela Emenda
a) o doador tiver domicilio ou residência no exterior; (Acrescida Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- b) operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusi-
2010) ve lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e
b) o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou energia elétrica; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
teve o seu inventário processado no exterior; (Acrescida pela Emen- de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) c) o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º da Consti-
IV - terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal. tuição da República; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
D.A. de 09-09-2010) d) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
a) (Suprimida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XVII)
2010, D.A. de 09-09-2010) e) nas prestações de serviço de comunicação nas modalidades
b) (Suprimida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gra-
2010, D.A. de 09-09-2010) tuita; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
§ 2º O imposto previsto no inciso II, atenderá ao seguinte: (Re- D.A. de 09-09-2010)
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. IX - não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante
de 09-09-2010) do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação,
I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à in-
cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de dustrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois
serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo próprio Esta- impostos;
do, por outro ou pelo Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda X - observar-se-á lei complementar federal que: (Redação dada
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
II - a isenção ou não incidência, salvo determinação em contrá- 2010)
rio da legislação: a) definir seus contribuintes; (Redação dada pela Emenda
a) não implicará crédito para compensação com o montante Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
b) dispor sobre substituição tributária; (Redação dada pela
devido nas operações ou prestações seguintes;
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações an-
c) disciplinar o regime de compensação do imposto; (Redação
teriores;
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
III poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mer-
09-2010)
cadorias e dos serviços; (Redação dada pela Emenda Constitucional
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabele-
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
cimento responsável, o local das operações relativas à circulação
IV - terá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações inte-
das mercadorias e das prestações de serviços; (Redação dada pela
restaduais e de exportação estabelecidas por resolução do Senado,
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nos termos do art. 155, § 2º, inciso IV da Constituição da República; e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o ex-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, terior, serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso
D.A. de 09-09-2010) VIII, alínea a; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
V - terá as alíquotas aplicáveis às operações internas fixadas 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
por lei estadual, observando-se os limites mínimo e máximo esta- f) prever casos de manutenção de crédito, relativamente à re-
belecidos em resolução do Senado, nos termos do art. 155, § 2º, messa para outro Estado e exportação para o exterior, de serviços e
inciso V da Constituição da República; (Redação dada pela Emenda de mercadorias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
VI - em relação às operações e prestações que destinem bens e g) regular a forma de concessão e revogação de isenções, in-
serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á: centivos e benefícios fiscais, mediante deliberação dos Estados e do
a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contri- Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
buinte do imposto; de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuin- h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o im-
te dele; posto incidirá uma única vez, qualquer que seja a sua finalidade,
VII - incidirá também: hipótese em que não se aplicará o disposto no inciso VIII, alínea b;
a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do ex- (Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
terior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte de 09-09-2010)
habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto
sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado, a integre, também na importação do exterior de bem, mercadoria
quando nele estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do ou serviço.
destinatário da mercadoria, bem ou serviço; (Redação dada pela - Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) D.A. de 09-09-2010.

105
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 3º À exceção do imposto de que trata o inciso II do caput des- I terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal; (Acres-
te artigo e observado o que dispõe o § 3º do art. 155 da Constitui- cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
ção da República, nenhum outro imposto poderá incidir sobre ope- 09-2010)
rações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, II poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e da
derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País. (Redação utilização. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- 2010, D.A. de 09-09-2010)
09-2010)
§ 4º Na hipótese de operações e prestações interestaduais que SEÇÃO IV
destinem bens e serviços a consumidor final contribuinte do impos- DOS IMPOSTOS DOS MUNICÍPIOS
to sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal Art. 105 - Compete aos Municípios instituir imposto sobre:
e de comunicação localizado no Estado de Goiás, a este caberá o I - propriedade predial e territorial urbana;
imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a II - transmissão inter vivos , a qualquer título, por ato oneroso,
interestadual. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos
§ 5º - As alíquotas internas, nas operações relativas à circula- e sua aquisição;
ção de mercadorias e nas prestações de serviços, não poderão ser III -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
inferiores às previstas para as operações interestaduais, salvo deli- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XVIII)
IV serviços de qualquer natureza não compreendidos no art.
beração em contrário dos Estados e do Distrito Federal, nos termos
104, inciso II, definidos em lei complementar federal. (Redação
do § 2º, inciso X, alínea g , deste artigo.
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
§ 6º Na hipótese do inciso X, alínea h , observar-se-á o seguin-
09-2010)
te: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere
2010, D.A. de 09-09-2010) o art. 86-A, o imposto previsto no inciso I poderá: (Redação dada
I - nas operações com os lubrificantes e combustíveis derivados pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
de petróleo, o imposto caberá ao Estado, quando nele ocorrer o 2010)
consumo; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- I ser progressivo em razão do valor do imóvel; e (Acrescido
2010, D.A. de 09-09-2010) pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
II - nas operações interestaduais, entre contribuintes, com gás 2010)
natural e seus derivados, e lubrificantes e combustíveis não inclu- II ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso
ídos no inciso I deste parágrafo, o imposto será repartido entre os do imóvel. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Estados de origem e de destino, mantendo-se a mesma proporcio- 2010, D.A. de 09-09-2010)
nalidade que ocorre nas operações com as demais mercadorias; § 2º - O imposto de que trata o inciso II:
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorpo-
de 09-09-2010) rados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital,
III - nas operações interestaduais com gás natural e seus deri- nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão,
vados, e lubrificantes e combustíveis não incluídos no inciso I deste incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nes-
parágrafo, destinadas a não contribuinte, o imposto caberá ao Esta- ses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e
do, quando este for o de origem; (Acrescido pela Emenda Constitu- venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arren-
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) damento mercantil;
IV - as alíquotas do imposto serão definidas mediante delibe- II - compete ao Município da situação do bem.
ração dos Estados e Distrito Federal, nos termos do § 2º, inciso X, § 3º Em relação ao imposto previsto no inciso IV do caput
alínea g , observando-se o seguinte: (Acrescido pela Emenda Cons- deste artigo, cabe à lei complementar federal: (Redação dada pela
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
a) serão uniformes em todo o território nacional, podendo ser I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas; (Acrescido pela
diferenciadas por produto; (Acrescida pela Emenda Constitucional Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
b) poderão ser específicas, por unidade de medida adotada, ou
2010, D.A. de 09-09-2010)
ad valorem , incidindo sobre o valor da operação ou sobre o preço
III regular a forma e as condições como isenções, incentivos
que o produto ou seu similar alcançaria em uma venda em condi-
e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. (Acrescido pela
ções de livre concorrência; (Acrescida pela Emenda Constitucional
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 4º Em relação ao imposto sobre propriedade territorial rural,
c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes aplican- nos termos do art. 153, § 4º, III da Constituição da República, será
do o disposto no art. 102, inciso III, alínea b; (Acrescida pela Emen- fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na for-
da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ma da lei federal, desde que não implique redução do imposto ou
§ 7º As regras necessárias à aplicação do disposto no § 6º, in- qualquer outra forma de renúncia fiscal. (Acrescido pela Emenda
clusive as relativas à apuração e à destinação do imposto, serão es- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
tabelecidas mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, Art. 105-A. Os Municípios poderão instituir contribuição, na
nos termos do § 2º, inciso X, alínea g. (Acrescido pela Emenda forma das respectivas leis, para o custeio dos serviços de ilumina-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) ção pública, observado o disposto no art. 150, I e III da Constituição
§ 8º O imposto previsto inciso III do caput deste artigo: (Acres- da República, podendo ser efetuada a sua cobrança na fatura de
cido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- consumo de energia elétrica. (Acrescido pela Emenda Constitucio-
09-2010) nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

106
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
SEÇÃO V VIII sua cota de participação na distribuição do produto da
DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS arrecadação da contribuição de que trata o inciso VI do art. 106, na
forma da lei a que se refere o art. 159, inciso III da Constituição da
Art. 106 - Pertencem ao Estado: República. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda 2010, D.A. de 09-09-2010)
e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre ren- § 1º - As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, men-
dimentos pagos, a qualquer título, por ele, suas autarquias e pelas cionadas nos incisos IV e VI deste artigo, serão creditadas conforme
fundações que instituir e mantiver; os seguintes critérios:
II - vinte por cento do produto da arrecadação do imposto que I - 85% (oitenta e cinco por cento), na proporção do valor adi-
a União instituir, nos termos do art. 154, inciso I, da Constituição da cionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas
República; prestações de serviços, realizadas em seus territórios; (Redação
III sua cota no Fundo de Participação dos Estados e do Distrito dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 30-05-2007)
Federal, nos termos do art. 159, inciso I, alínea a e seu § 1º da II - dez por cento, distribuído em quotas iguais entre todos os
Constituição da República. (Redação dada pela Emenda Constitu- Municípios.
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) III - 5% (cinco por cento), distribuídos na proporção do cumpri-
IV - trinta por cento da arrecadação do imposto a que se refere mento de exigências estabelecidas em lei estadual específica, rela-
o inciso I do § 5º do art. 153 da Constituição da República, quando cionadas com a fiscalização, defesa, recuperação e preservação do
for o Estado o de origem; (Redação dada pela Emenda Constitucio- meio ambiente. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 40, de
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 30-05-2007,D.O. de 06-06-2007 - Suplemento)
V sua cota de participação proporcional ao valor de suas ex- - Regulamentado pela Lei Complementar nº 90, de 22-12-2011,
portações, no produto de arrecadação do imposto sobre produtos D.O. de 22-12-2011 - Suplemento.
industrializados, nos termos do art. 159, inciso II e seu § 2º da Cons- § 2º - A lei assegurará aos Municípios o direito de audiência e
tituição da República; (Redação dada pela Emenda Constitucional de recurso nos atos de fixação dos índices de que trata o § 1º, inciso
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) I, deste artigo.
VI sua cota de participação na distribuição do produto da ar- § 3º - O saldo depositado na conta de participação dos Muni-
recadação da contribuição de intervenção no domínio econômico, cípios no imposto sobre operações relativas à circulação de merca-
conforme disposições constantes do art. 159, inciso III da Constitui- dorias e sobre a prestação de serviços de transporte interestadual
ção da República. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de e intermunicipal e de comunicação, a ser entregue na quinzena se-
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) guinte, deverá ser aplicado no mercado financeiro, em operações
Art. 107 - Pertencem aos Municípios: de curto prazo e em estabelecimento oficial de crédito, sendo o
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda resultado da aplicação incorporado ao principal para repasse aos
e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendi- Municípios.
mentos pagos a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas § 4º - Ao arrecadar o Imposto sobre a propriedade de veículos
fundações que instituírem e mantiverem; automotores, em guias emitidas separadamente conforme a sua
II 50% (cinquenta por cento) do produto de arrecadação do destinação, a rede bancária encarregada repassará, no primeiro dia
imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamen- útil subsequente ao efetivo recolhimento, cinquenta por cento ao
te aos imóveis situados em cada um deles, cabendo a totalidade, na Estado e cinquenta por cento ao Município onde o veículo for licen-
hipótese da opção a que se refere o art. 105, § 4º; (Redação dada ciado, devendo prestar contas, no prazo de dez dias, ao Estado e
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- ao Município titular do respectivo crédito tributário. (Redação dada
2010) pela Emenda Constitucional nº 03, de 20-11-1991, D.A. de 10-12-
III - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto 1991)
estadual sobre a propriedade de veículos automotores licenciados § 5º É vedada ao Estado a retenção ou qualquer restrição à
no território de cada um deles; entrega e ao emprego dos recursos atribuídos aos Municípios, neles
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do im- compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. (Re-
posto do Estado sobre operações relativas à circulação de merca- dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
dorias e sobre prestação de serviços de transporte interestadual e de 09-09-2010)
intermunicipal e de comunicação; § 6º A vedação de que trata o §5º deste artigo não impede o Es-
V sua quota no Fundo de Participação dos Municípios, de que tado de condicionar a entrega de recursos: (Acrescido pela Emenda
trata o art. 159, inciso I, alíneas b e d da Constituição da Repúbli- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
ca, na forma estabelecida em lei complementar federal; (Redação I ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias;
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
09-2010) de 09-09-2010)
VI - 25% (vinte e cinco por cento) dos recursos que o Estado re- II ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, inciso III da
ceber, nos termos do §3º do art. 159 da Constituição da República; Constituição da República. (Acrescido pela Emenda Constitucional
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
D.A. de 09-09-2010) Art. 108 - O Estado e os Municípios divulgarão, até o último
VII 70% (setenta por cento) da arrecadação do imposto a que dia do mês subsequente ao da arrecadação, os montantes de cada
se refere o art. 153, § 5º, inciso II da Constituição da República, um dos tributos arrecadados, bem como os recursos recebidos, os
quando for o Município de origem; (Acrescido pela Emenda Consti- valores de origem tributária entregues e a entregar, e a expressão
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) numérica dos critérios de rateio, sendo os dados divulgados pelo
Estado discriminados por Município.

107
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
CAPÍTULO II § 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de de-
DAS FINANÇAS PÚBLICAS monstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas,
SEÇÃO I decorrentes de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios
NORMAS GERAIS de natureza financeira, tributária e creditícia. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 109 - Lei complementar estadual regulará finanças públi- § 7º Os orçamentos previstos no § 5º, incisos I e II deste artigo,
cas, observados os princípios estabelecidos na Constituição da Re- compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções
pública e em lei complementar federal. (Vide Lei Complementar nº a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério popula-
112, de 18-09-2014) cional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Parágrafo único - As disponibilidades de caixa do Estado, dos 2010, D.A. de 09-09-2010)
Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e de suas § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho
empresas serão depositadas em instituições financeiras oficiais, à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na
ressalvados os casos previstos em lei. proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e
contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de
SEÇÃO II receita, nos termos da lei.
DOS ORÇAMENTOS § 9º Cabe à lei complementar estadual, em conformidade com
as normas gerais de âmbito nacional: (Redação dada pela Emenda
Art. 110 - Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão o Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anu- I - dispor sobre exercício financeiro, vigência, elaboração e or-
ais.
ganização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e
§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de for-
da lei orçamentária anual; (Acrescido pela Emenda Constitucional
ma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
estadual para as despesas de capital e outras delas decorrentes e
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da
para as relativas aos programas de duração continuada. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- administração direta e indireta; (Acrescido pela Emenda Constitu-
09-2010) cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas III - estabelecer condições para instituição e funcionamento
e prioridades da administração pública estadual, incluindo as des- de fundo. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
pesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará 2010, D.A. de 09-09-2010)
a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações IV - dispor sobre critérios para a execução equitativa, além de
na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das procedimentos que serão adotados quando houver impedimentos
agências financeiras oficiais de fomento. legais e técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das
§ 3º - O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o en- programações de caráter obrigatório, para a realização do disposto
cerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução or- no § 10 do art. 111. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 57,
çamentária. de 02-10-2018)
§ 4º - Os planos e programas estaduais, regionais e setoriais, Art. 110-A. Os projetos das leis orçamentárias serão encami-
previstos nesta Constituição, serão elaborados em concordância nhados à Assembleia Legislativa, pelo Governador do Estado, e
com o plano plurianual e apreciados pela Assembleia. devolvidos para sanção, nos seguintes prazos: (Redação dada pela
§ 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes do Estado, seus fun- I - O projeto do plano plurianual será enviado até 31 de agosto
dos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive e devolvido até 15 de dezembro do primeiro ano do mandato do
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, assegurando Governador. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 51, de
dotações, a serem repassadas mensalmente, em duodécimos: (Re- 24-05-2015, D.A. de 28-05-2015)
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. II o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será enviado até
de 09-09-2010) 30 de abril e devolvido até 30-06-cada exercício; (Acrescido pela
a) ao Poder Legislativo, não menos que cinco por cento de sua Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
receita tributária líquida; (Redação dada pela Emenda Constitucio- III o projeto da lei orçamentária anual será enviado até 30 de
nal nº 02, de 20-11-1991, D.A. de 10-12-1991. Suspensa sua eficácia setembro e devolvido até 15-12-cada exercício. (Acrescido pela
pela ADIN nº 659-2. D.J. de 11-09-1992)
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
b) ao Poder Judiciário, não menos que cinco por cento de sua
Art. 111. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às
receita tributária líquida;
diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adi-
c) ao Ministério Público e aos Tribunais de Contas do Estado e
cionais serão elaborados pelo Poder Executivo e apreciados pela
dos Municípios, dotações específicas; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 18, de 28-08-1997, D.A. de 29-08-1997) Assembleia Legislativa, na forma de seu regimento e da lei com-
II o orçamento de investimento das empresas em que o Es- plementar a que se refere o art. 110, § 9º. (Acrescido pela Emenda
tado, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
com direito a voto; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº § 1º Caberá a uma Comissão permanente da Assembleia Legis-
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) lativa: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as 2010, D.A. de 09-09-2010)
entidades e os órgãos a ela vinculados, da administração direta ou I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste
indireta, bem como os fundos e as fundações instituídos e mantidos artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Governa-
pelo Poder Público. dor; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010)

108
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas es- § 9º A execução do montante destinado a ações e serviços
taduais previstos nesta Constituição e exercer o acompanhamento públicos referentes às vinculações constitucionais prevista no § 8°,
e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais inclusive custeio, será computada para fins do cumprimento das
comissões da Assembleia. (Acrescido pela Emenda Constitucional vinculações constitucionais a que se referirem, vedada a destinação
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) para pagamento de pessoal ou encargos sociais. (Acrescido pela
§ 2º As emendas serão apresentadas na Comissão que, sobre Emenda Constitucional nº 57, de 02-10-2018)
elas, emitirá parecer, e serão apreciadas pelo Plenário na forma do § 10. É obrigatória a execução orçamentária e financeira das
seu Regimento Interno e da lei complementar a que se refere o art. programações a que se refere o § 8° deste artigo, em montante cor-
110, § 9º. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- respondente aos respectivos percentuais, por respectivo exercício,
2010, D.A. de 09-09-2010) da receita corrente líquida realizada no exercício anterior, conforme
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos os critérios para a execução equitativa da programação definidos na
projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso: lei complementar prevista no § 9° do art. 110. (Redação dada pela
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de di- Emenda Constitucional nº 58, de 05-12-2018)
retrizes orçamentárias; (Redação dada pela Emenda Constitucional § 11. A execução orçamentária obrigatória de que trata o §10
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) será realizada durante o respectivo exercício financeiro. (Redação
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os pro- dada pela Emenda Constitucional nº 58, de 05-12-2018)
venientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre: § 12. As programações orçamentárias previstas no § 8º deste
a) dotações para pessoal e seus encargos; artigo serão de execução obrigatória independentemente de aná-
b) serviços da dívida; lise técnica.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 63, de
c) transferências tributárias constitucionais para Municípios; 04-12-2019)
ou (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- § 13. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-
2010, D.A. de 09-09-2010) 2019, art. 5º)
III - sejam relacionadas com: I -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019,
a) a correção de erros ou omissões; ou (Redação dada pela art. 5º)
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-
b) os dispositivos do texto do projeto de lei. 2019, art. 5º)
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentá- III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-
rias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano 2019, art. 5º)
plurianual. IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-
§ 5º - O Governador poderá enviar mensagem à Assembleia 2019, art. 5º)
para propor modificações nos projetos a que se refere este artigo, § 14. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-
enquanto não iniciada a votação, na Comissão, da parte cuja alte- 2019, art. 5º)
ração é proposta. § 15.(Revogado pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05-
§ 6º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, no 2019, art. 3º)
que não contrariar o disposto nesta seção, as demais normas relati-
§ 16. Se for verificado que a reestimativa da receita e da des-
vas ao processo legislativo.
pesa poderá resultar no não cumprimento da meta de resultado
§ 7º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou
fiscal estabelecida na lei de diretrizes orçamentárias, o montante
rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despe-
previsto no § 10 deste artigo poderá ser reduzido em até a mesma
sas correspondentes, poderão ser utilizados, conforme o caso, me-
proporção da limitação incidente sobre o conjunto das despesas
diante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica
discricionárias. - Acrescido pela Emenda Constitucional nº 57, de
autorização legislativa.
02-10-2018.
§ 8º As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária
§ 17. Considera-se equitativa a execução das programações de
serão aprovadas nos seguintes limites, calculados sobre a receita
corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Exe- caráter obrigatório que atenda de forma igualitária e impessoal às
cutivo: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 58, de 05-12- emendas apresentadas, independentemente da autoria. (Acrescido
2018) pela Emenda Constitucional nº 57, de 02-10-2018)
I para o exercício de 2019, 0,5% (zero vírgula cinco por cento), § 18. Quando a transferência obrigatória do Estado para a exe-
sendo a totalidade deste valor destinado à saúde; (Acrescido pela cução da programação prevista no §10 deste artigo for destinada
Emenda Constitucional nº 58, de 05-12-2018) aos municípios, independerá da adimplência do ente federativo
II para o exercício de 2020, 0,7% (zero vírgula sete por cento), destinatário.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-
sendo a totalidade deste valor destinado à saúde e à educação;(Re- 05-2019)
dação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05-2019) § 19. A execução orçamentária e financeira das programações
III para o exercício de 2021, 0,9% (zero vírgula nove por cento), a que se refere o § 8° deste artigo será computada para fins de cum-
sendo 70% (setenta por cento) deste valor destinado à saúde e à primento dos percentuais mínimos de vinculações constitucionais.
educação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05-2019)
02-05-2019) Art. 112 - São vedados:
IV para o exercício de 2022 e seguintes, 1,2% (um vírgula dois I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orça-
por cento), sendo 70% (setenta por cento) deste valor destinado à mentária anual;
saúde e à educação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações dire-
59, de 02-05-2019) tas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais;
III - a realização de operações de créditos que excedam o mon-
tante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante
créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, apro-
vados pelo Legislativo por maioria absoluta;

109
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou des- § 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência
pesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação com os no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato
Municípios, a destinação de recursos para as ações e serviços pú- de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele
blicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão
para realização de atividades da administração tributária, como de- incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente.
terminado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII da § 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será ad-
Constituição da República, e a prestação de garantias às operações mitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as
de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, e decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública,
no art. 167, §4º da Constituição da República; (Redação dada pela observado o disposto nesta Constituição.
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Art. 112-A. Os recursos correspondentes às dotações orçamen-
V a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia au- tárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, desti-
torização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; nados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20
D.A. de 09-09-2010) de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de se refere o art. 165, § 9º da Constituição da República. (Acrescido
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; 2010)
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; Art. 113. A despesa com pessoal ativo e inativo do Estado e dos
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de Municípios não poderá exceder os limites globais estabelecidos em
recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir lei complementar federal. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, in- nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
clusive dos mencionados nesta Constituição; § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remu-
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia neração ou subsídio, a criação de cargos, empregos e funções ou
autorização legislativa, bem como de fundos sem destinação espe- alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou con-
cífica ou destinados apenas ao atendimento de despesas generica- tratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e
mente consideradas em razão do valor;(Redação dada pela Emenda
mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas: (Redação dada
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de em-
2010)
préstimos, inclusive por antecipação de receita, pelo Governo Es-
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para aten-
tadual e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas der às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela de-
com pessoal ativo, inativo e pensionista, do Estado e dos Municí- correntes; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
pios; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, 2010, D.A. de 09-09-2010)
D.A. de 09-09-2010) II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orça-
XI a utilização dos recursos provenientes das contribuições so- mentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de
ciais de que trata o §4º do art. 101 para a realização de despesas economia mista. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
distintas do pagamento de benefícios previdenciários de seus se- 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
gurados; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar re-
2010, D.A. de 09-09-2010) ferida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos,
XII a concessão de subvenções sociais ou auxílios do Poder Pú- serão imediatamente suspensos os repasses de verbas estaduais
blico, inclusive por meio de convênio, a entidades de natureza pri- aos Municípios que não observarem os referidos limites. (Acrescido
vada e a pessoas físicas, ressalvadas, mediante lei específica, que pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
mencione o nome da entidade beneficiária e o valor do repasse: 2010)
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base
de 09-09-2010) neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida
a) quanto às pessoas jurídicas de direito privado, aquelas des- no caput , o Estado e os Municípios adotarão as seguintes provi-
tinadas a organizações sociais ou organizações da sociedade civil dências: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
de interesse público, e a entidades sem fins lucrativos declaradas 2010, D.A. de 09-09-2010)
de utilidade pública, no âmbito estadual, cujas atividades sejam de I - redução em pelo menos 20% (vinte por cento) das despesas
natureza continuada e que atuem nas áreas de assistência social com cargos em comissão e funções de confiança; (Acrescido pela
(filantrópica e comunitária), saúde, cultura, educação, obedecidos Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
os incisos I e II do §3º do art. 158, turismo ou esporte amador, nos II - exoneração dos servidores não estáveis. (Acrescido pela
termos dos arts. 165 e 166; (Acrescida pela Emenda Constitucional Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 4º Se as medidas adotadas com base no § 3º não forem sufi-
cientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei com-
b) quanto às pessoas físicas, aquelas que tenham critério de
plementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o
generalidade e que não identifiquem nominalmente o beneficiário.
cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes
(Acrescida pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrati-
de 09-09-2010)
va objeto da redução de pessoal. (Acrescido pela Emenda Constitu-
§ 1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exer- cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
cício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano § 5º O servidor que perder o cargo na forma do § 4º fará jus
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de a indenização correspondente a um mês de remuneração por ano
responsabilidade. de serviço. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos §§ 3º e 4º será Art. 115. Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcio-
considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função nal e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169 da
com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. Constituição da República, propor ao Poder Legislativo a criação e
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por con-
de 09-09-2010) curso público de provas ou de provas e títulos, a política remunera-
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obe- tória e os planos de carreira. (Redação dada pela Emenda Constitu-
decidas na efetivação do disposto no § 4º. (Acrescido pela Emenda cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
§ 8° Na verificação do atendimento pelo Estado dos limites D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIX)
globais estabelecidos na lei complementar federal, mencionado no II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
caput deste artigo, não serão computadas as despesas com pensio- D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIX)
nistas e os valores referentes ao imposto de renda retidos na fonte III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
dos servidores públicos estaduais, com vigência inicial para o perí- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIX)
odo de apuração do Relatório de Gestão Fiscal do 2° Quadrimestre IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
de 2017. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 55, de 21- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIX)
09-2017, art. 4º) V (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
- Suspenso Cautelarmente pela ADI-6129. D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XIX)
Art. 116. Lei complementar, de iniciativa privativa do Procura-
TÍTULO V dor-Geral de Justiça, estabelecerá a organização, atribuições e Esta-
DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA SOCIEDADE tuto do Ministério Público, observados os princípios constantes do
art. 128, § 5º da Constituição da República e os seguintes: (Redação
CAPÍTULO I dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
DO MINISTÉRIO PÚBLICO 09-2010)
I ingresso na carreira mediante concurso público de provas
- Vide Lei Complementar nº 25, de 06-07-1998, D.O 07-07- e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do
1998 - Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Goiás e Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mí-
Lei nº 13.162, de 05-11-1997, D.O. de 13-11-1997, que dispõe nimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomea-
sobre a sua Estrutura Organizacional. ções, a ordem de classificação; (Redação dada pela Emenda Consti-
tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 114 - O Ministério Público é instituição permanente, es- II - promoção voluntária, por antiguidade e merecimento, alter-
sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa nadamente, de uma para outra entrância e de entrância mais eleva-
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e da para o cargo de Procurador de Justiça, observando-se o disposto
individuais indisponíveis. no art. 93, inciso II, da Constituição da República;
III subsídio fixado com diferença não superior a dez por cento
§ 1º São princípios institucionais do Ministério Público a uni-
de uma para outra das categorias da carreira, observado o disposto
dade, a indivisibilidade e a independência funcional. (Renumerado
no art. 94, § 3º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010)
IV aposentadoria e pensão por morte, segundo o disposto no
§ 2° O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária
art. 40 da Constituição da República; (Redação dada pela Emenda
dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e na lei complementar federal a que se refere o art. 169 da Consti-
V - pensão integral por morte, reajustável sempre que forem
tuição da República. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
elevados os vencimentos e proventos dos membros ativos e inati-
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
vos e na mesma base;
§ 3º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva pro- VI - elaboração de lista tríplice dentre integrantes da carreira
posta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de dire- para escolha do Procurador-Geral de Justiça, pelo Governador do
trizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de Estado, para mandato de dois anos, permitida uma recondução;
consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados VII - procedimentos administrativos de sua competência.
na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites es- Art. 117 - São funções institucionais do Ministério Público:
tipulados na forma do § 2º. (Acrescido pela Emenda Constitucional I - promover privativamente a ação penal pública na forma da
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) lei;
§ 4º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi-
encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta e na Cons-
§ 2º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins tituição da República, promovendo as medidas necessárias a sua
de consolidação da proposta orçamentária anual. (Acrescido pela garantia;
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para prote-
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá ção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que interesses difusos e coletivos;
extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamen- IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representa-
tárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de ção para fins de intervenção do Estado, nos casos previstos nesta
créditos suplementares ou especiais. (Acrescido pela Emenda Cons- Constituição;
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) V - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
sua competência, requisitando informações e documentos para ins-
truí-los, na forma da lei complementar respectiva;

111
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
VI - exercer o controle externo da atividade policial, na forma II - Arguida inconstitucionalidade pela ADI 1679-2, decisão final
da lei complementar mencionada no artigo anterior; publicada no DJ de 21-11-2003.
VII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de in- III - Arguida inconstitucionalidade pela ADI 1679-2, decisão fi-
quérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas mani- nal publicada no DJ de 21-11-2003.
festações processuais; IV -- Arguida inconstitucionalidade pela ADI 1679-2, decisão fi-
VIII - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde nal publicada no DJ de 21-11-2003.
que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a represen- Art. 119. Lei complementar disciplinará a organização e o fun-
tação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas; cionamento da Procuradoria-Geral do Estado, bem como a carreira
IX zelar pelo efetivo cumprimento da lei complementar federal e regime jurídico dos Procuradores do Estado, observado o seguin-
a que se refere o art. 169 da Constituição da República, pelo Estado te:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
e pelos Municípios, promovendo as ações cabíveis, cíveis e crimi- 2010, D.A. de 09-09-2010)
nais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- I os cargos de Procurador do Estado serão organizados em car-
2010, D.A. de 09-09-2010) reira, assegurada aos ocupantes diferença não superior a dez por
cento entre os subsídios de cada categoria; (Redação dada pela
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para ações civis pre- Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
vistas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóte- II o ingresso na carreira dar-se-á segundo a ordem de classifica-
ses, segundo o disposto na Constituição da República e na lei. ção em concurso público de provas e títulos, organizado e realizado
§ 2º As funções de Ministério Público só podem ser exercidas pela Procuradoria Geral, com a participação de representantes da
por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da res- Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás, em todas as suas
pectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. (Redação fases; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- 2010, D.A. de 09-09-2010)
09-2010) III promoção, alternadamente, por antiguidade e merecimen-
§ 3º Na proteção de patrimônio público estadual e social, do to, sendo este subordinado a critérios objetivos de produtividade
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, o Ministé- e presteza no exercício das funções e aproveitamento em cursos
rio Público investigará representação ou ocorrência formuladas por reconhecidos de aperfeiçoamento; (Redação dada pela Emenda
associações profissionais, sindicatos, entidades da sociedade civil Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
e cidadão e promoverá a ação cível ou criminal cabível. (Redação IV - promoção obrigatória do Procurador que, por três vezes
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- consecutivas ou cinco alternadas, figurar em lista de merecimento;
09-2010) V inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, me-
§ 4º - Além das funções previstas nesta e na Constituição da diante decisão do órgão colegiado competente da Procuradoria-Ge-
República, cabe ainda ao Ministério Público, nos termos de sua lei ral do Estado, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, as-
complementar, exercer a fiscalização dos estabelecimentos prisio- segurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nais e dos que abriguem idosos, menores, incapazes ou deficientes. nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será ime- VI estabilidade, após três anos de efetivo exercício, mediante
diata. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, avaliação de desempenho, após relatório circunstanciado da Cor-
D.A. de 09-09-2010) regedoria. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
2010, D.A. de 09-09-2010)
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
DA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
DA DEFENSORIA PÚBLICA
- Vide Lei Complementar nº 58, de 04-07-2006.
- Vide Lei Complementar nº 130, de 11-07-2017.
- Vide Lei Complementar nº 51, de 19-04-2005.
Art. 118. À Procuradoria-Geral do Estado, instituição de nature-
za permanente e essencial à Justiça, incumbe a representação judi-
Art. 120. A Defensoria Pública é instituição essencial à função
cial e a consultoria jurídica do Estado. (Redação dada pela Emenda jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe prestar assistência jurídica,
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) judicial e extrajudicial, integral e gratuita, e a defesa, em todos os
§ 1º A chefia da Procuradoria-Geral do Estado compete ao Pro- graus, dos necessitados, na forma das leis complementares estadu-
curador-Geral do Estado, nomeado pelo Governador, em comissão, al e federal, a que se refere o parágrafo único do art. 134 da Consti-
entre os Procuradores do Estado estáveis, tendo prerrogativas e re- tuição da República.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
presentação de Secretário de Estado. (Redação dada pela Emenda 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) § 1º - São princípios institucionais da Defensoria Pública a uni-
§ 2º Os Procuradores do Estado oficiarão nos atos e procedi- dade, a impessoalidade e a independência funcional.
mentos administrativos do Poder Executivo e promoverão a defesa § 2º - Lei complementar organizará a Defensoria Pública.
dos interesses legítimos deste, incluídos os de natureza financeiro- § 3º À Defensoria Pública são asseguradas autonomia funcional
-orçamentária, sem prejuízo das atribuições do Ministério Público e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro
e da Procuradoria Geral de Contas. (Redação dada pela Emenda dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subor-
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) dinação ao disposto no art. 99, § 2º da Constituição da República.
§ 3º Os Procuradores do Estado serão remunerados por subsí- (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
dio, na forma disposta no art. 39, § 4º da Constituição da República. de 09-09-2010)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010)
I -- Arguida inconstitucionalidade pela ADI 1679-2, decisão final
publicada no DJ de 21-11-2003.

112
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 4º O ingresso na carreira de Defensor Público dar-se-á se- IV - na divulgação, pelos órgãos de segurança pública, aos ve-
gundo a ordem de classificação em concurso público de provas e ículos de comunicação social, de fatos referentes à apuração de
títulos, organizado pela Defensoria Pública do Estado, com a partici- infrações penais, será assegurada a preservação da intimidade, da
pação de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção honra e da imagem das pessoas envolvidas, inclusive das testemu-
de Goiás, em todas as suas fases, assegurada a seus integrantes a nhas.(Inciso VI renumerado para IV pela Emenda Constitucional nº
garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora 24, de 01-12-1999, D.O de 20-12-1999)
das atribuições institucionais. (Acrescido pela Emenda Constitucio- V a criação de delegacia da polícia civil far-se-á por lei espe-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) cífica.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 5º A remuneração dos Defensores Públicos será por subsídio, 2010, D.A. de 09-09-2010)
conforme o § 3º do art. 94. (Acrescido pela Emenda Constitucional
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) SEÇÃO II
§ 6º Nas comarcas em que não for instalada e colocada em fun- DA POLÍCIA CIVIL
cionamento a Defensoria Pública, a assistência judiciária continuará
sendo custeada pelo Estado de Goiás, na forma da lei.(Acrescido - Vide Lei Ordinária nº 16.901, de 26-01-2010.
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
2010) Art. 123. À Polícia Civil, dirigida por Delegados de Polícia, cuja
carreira integra, para todos os fins, as carreiras jurídicas do Estado,
CAPÍTULO IV incumbem as funções de polícia judiciária e a apuração das infra-
DA SEGURANÇA PÚBLICA ções penais, exceto as militares e as de competência da União. (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 05-07-2011, D.O
SEÇÃO I de 13-07-2011)
§ 1º O cargo de Delegado de Polícia é privativo de bacharel em
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Direito, com carreira estruturada em quadro próprio, dependendo
o respectivo ingresso, de provimento condicionado à habilitação
Art. 121 - A Segurança Pública, dever do Estado, direito e res-
por concurso público de provas e títulos, realizados pela Academia
ponsabilidade de todos, é exercida para assegurar a preservação
de Polícia Civil do Estado, com participação da Ordem dos Advoga-
da ordem pública, a incolumidade das pessoas, do patrimônio e do dos do Brasil, Seção de Goiás. (Redação dada pela Emenda Consti-
meio ambiente e o pleno e livre exercício dos direitos e garantias tucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
fundamentais, individuais, coletivos, sociais e políticos, estabeleci- § 2º - Os órgãos de atividades técnico-científicas da polícia civil
dos nesta e na Constituição da República, por meio dos seguintes serão dirigidos por profissionais da área.
órgãos: § 3º A receita decorrente de serviços prestados à comunidade
I - Polícia Civil; pelos órgãos técnico-científicos da polícia será aplicada em pesqui-
II - Polícia Militar; sas criminalísticas, médico-legais, de identificação civil e criminal,
III - Corpo de Bombeiros Militar. aparelhamento e manutenção dos referidos órgãos, sendo pelo me-
IV – Policia Penal.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 68, nos cinco por cento do montante destinado a cursos de reciclagem
de 28-12-2020) e especialização do pessoal. (Redação dada pela Emenda Constitu-
Art. 122. As Polícias Civil, Militar, Penal e o Corpo de Bombei- cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
ros Militar subordinam-se ao Governador do Estado, e os direitos,
as garantias, os deveres e as prerrogativas de seus integrantes são SEÇÃO III
definidos em leis específicas, observados os seguintes princípios: DA POLÍCIA MILITAR
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 68, de 28-12-2020)
Art. 122 As Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros - Vide Lei nº 8.125, de 18-06-1976, D.O. de 01-07-1976.
Militar subordinam-se ao Governador do Estado, sendo os direitos
garantias, deveres e prerrogativas de seus integrantes definidos em Art. 124 - A Polícia Militar é instituição permanente, organizada
leis específicas, observados os seguintes princípios: (Redação dada com base na disciplina e na hierarquia, competindo-lhe, entre ou-
pela Emenda Constitucional nº 24, de 01-12-1999, D.O. de 20-12- tras, as seguintes atividades:
1999) I - o policiamento ostensivo de segurança;
I - o exercício da função policial é privativo de membro da res- II - a preservação da ordem pública;
pectiva carreira, recrutado por concurso público de provas, ou de III - a polícia judiciária militar, nos termos da lei federal;
provas e títulos, e submetido a curso de formação policial ou de IV - a orientação e instrução da Guarda Municipal, quando soli-
citadas pelo Poder Executivo municipal;
bombeiro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
V - a garantia do exercício do poder de polícia, dos poderes e
09-2010, D.A. de 09-09-2010)
órgãos públicos estaduais, especialmente os das áreas fazendária,
II - a função policial é considerada perigosa e a de bombeiro
sanitária, de uso e ocupação do solo e do patrimônio cultural.
militar, perigosa e insalubre;
Parágrafo único - A estrutura da Polícia Militar conterá obriga-
III - será adotada política de especialização de policiais e bom- toriamente uma unidade de polícia florestal, incumbida de proteger
beiros que se destacarem em suas atribuições, com a colaboração as nascentes dos mananciais e os parques ecológicos, uma unidade
das universidades e cursos especializados; de polícia rodoviária e uma de trânsito.
IV -(Suprimido pela Emenda Constitucional nº 24, de 01-12-
1999, D.O de 20-12-1999)
V (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 24, de 01-12-
1999, D.O de 20-12-1999)

113
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
SEÇÃO IV Art. 127 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-
dade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
- Vide Lei nº 16.899, de 26-01-2010. de defendê-lo, recuperá-lo e preservá-lo.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, cabe ao Poder
Art. 125 - O Corpo de Bombeiros Militar é instituição perma- Público:
nente, organizada com base na hierarquia e na disciplina, cabendo- I - preservar a diversidade biológica de espécies e ecossistemas
-lhe, entre outras, as seguintes atribuições: existentes no território goiano;
I - a execução de atividades de defesa civil; II - conservar e recuperar o patrimônio geológico, paleontológi-
II - a prevenção e o combate a incêndios e a situações de pâ- co, cultural, arqueológico, paisagístico e espeleológico;
nico, assim como ações de busca e salvamento de pessoas e bens; III - inserir a educação ambiental em todos os níveis de ensi-
III - o desenvolvimento de atividades educativas relacionadas no, promover a conscientização pública para a preservação do meio
com a defesa civil e a prevenção de incêndio e pânico; ambiente e estimular práticas conservacionistas;
IV - a análise de projetos e inspeção de instalações preventivas IV - assegurar o direito à informação veraz e atualizada em tudo
de proteção contra incêndio e pânico nas edificações, para fins de o que disser respeito à qualidade do meio ambiente;
funcionamento, observadas as normas técnicas pertinentes e res- V - controlar e fiscalizar a extração, captura, produção, trans-
porte, comercialização e consumo de animais, vegetais e minerais,
salvada a competência municipal definida no Art. 64, incisos V e VI,
bem como a atividade de pessoas e empresas dedicadas à pesquisa
e no art. 69, inciso VIII, desta Constituição.
e à manipulação de material genético;
VI - controlar e fiscalizar a produção, comercialização, transpor-
SEÇÃO V
te, estocagem e uso de técnicas, métodos e substâncias que com-
DA POLÍTICA PENITENCIÁRIA portem risco para a vida e o meio ambiente;
VII - promover e estimular a pesquisa e a utilização de alterna-
Art. 126 - A Política Penitenciária tem como objetivo a humani- tivas tecnológicas adequadas à solução dos problemas de produção
zação do sentenciado, fundada no trabalho manual, técnico, cien- de energia, controle de pragas e utilização dos recursos naturais.
tífico, cultural e artístico e se subordina aos seguintes princípios: § 2º - O Estado destinará, no orçamento anual, recursos para
manutenção dos parques estaduais, estações ecológicas e áreas de
I - respeito à dignidade e à integridade física e moral dos pre- preservação permanente do meio ambiente e dos ecossistemas.
sos, assegurando-lhes o pleno exercício dos direitos não atingidos
pela condenação; Art. 128 - Para promover, de forma eficaz, a preservação da di-
II - garantia da prestação de assistência médico-odontológica, versidade biológica, cumpre ao Estado:
psicológica e jurídica aos condenados; I - criar unidades de preservação, assegurando a integridade de
III - garantia aos sentenciados, como etapa conclusiva do pro- no mínimo vinte por cento do seu território e a representatividade
cesso de reintegração social, de oportunidades de trabalho produti- de todos os tipos de ecossistemas nele existentes;
vo condignamente remunerado, que possa gerar bens de significati- II - promover a regeneração de áreas degradadas de interesse
vo valor social para as comunidades de onde provenham. ecológico, objetivando especialmente a proteção de terrenos ero-
Parágrafo único - Os presídios femininos deverão ser equipados sivos e de recursos hídricos, bem como a conservação de índices
com lactários, berçários e creches. mínimos de cobertura vegetal;
III - proteger as espécies ameaçadas de extinção, assim caracte-
SEÇAO VI rizadas pelos meios científicos;
DA POLÍCIA PENAL IV - estimular, mediante incentivos creditícios e fiscais, a cria-
ção e a manutenção de unidades privadas de preservação;
Art. 126-A. À Polícia Penal incumbe a segurança dos estabeleci- V - estabelecer, sempre que necessário, áreas sujeitas a restri-
mentos penais, as medidas de segurança da efetiva execução penal ções de uso;
e a política penitenciária, e será dirigida exclusivamente por policial VI - exigir a utilização de práticas conservacionistas que asse-
gurem a potencialidade produtiva do solo e coibir o uso das quei-
penal da ativa do Estado de Goiás, com reputação ilibada e notória
madas como técnica de manejo agrícola ou com outras finalidades
experiência no âmbito da execução penal e, a exclusividade deverá
ecologicamente inadequadas.
ser adotada até 12 (doze) meses da publicação desta Lei.( Acrescido
Parágrafo único - Ficam vedadas, na forma da lei, a pesca e a
pela Emenda Constitucional nº 68, de 28-12-2020).
caça predatória e nos períodos de reprodução, bem como a apre-
Parágrafo único. O conceito de segurança dos estabelecimen- ensão e comercialização de animais silvestres, no território goiano,
tos penais será definido em lei.(Acrescido pela Emenda Constitucio- que não provenham de criatórios autorizados.
nal nº 68, de 28-12-2020). Art. 129 - Os imóveis rurais manterão pelo menos vinte por
cento de sua área total com cobertura vegetal nativa, para preser-
CAPÍTULO V vação da fauna e flora autóctones, obedecido o seguinte:
DA PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS E DA PRESERVAÇÃO I - as reservas legais deverão ser delimitadas e registradas no
DO MEIO AMBIENTE órgão competente do Poder Executivo, podendo ser remanejadas,
na forma da lei, vedada sua redução em qualquer caso. (Redação
- Vide Lei nº 20.694, de 26-12-2019, Lei nº 18.104, de 18-07- dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 11-12-2012)
2013; Lei nº 13.025, de 13-01-1997, D.O. de 17-01-1997; 13.123; II - o Poder Público realizará inventários e mapeamentos neces-
Lei nº 13.123, de 16-07-1997, D.O. de 22-07-1997; e Lei Comple- sários para atender às medidas preconizadas neste artigo.
mentar nº 20, de 10-12-1996, D.O. de 13-12-1996. Art. 130 - O Estado e os Municípios criarão unidades de conser-
vação destinadas a proteger as nascentes e cursos de mananciais
que:

114
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
I - sirvam ao abastecimento público; CAPÍTULO VI
II - tenham parte do seu leito em áreas legalmente protegidas DA DEFESA DO CONSUMIDOR
por unidade de conservação federal, estadual ou municipal;
III - constituam, no todo ou em parte, ecossistemas sensíveis, a Art. 133 - O Estado promoverá a defesa do consumidor, me-
critério do órgão estadual competente. diante:
§ 1º - A lei estabelecerá as condições de uso e ocupação, ou I - política de acesso ao consumo e de promoção de interesses
sua proibição, quando isso implicar impacto ambiental negativo, e direitos dos destinatários e usuários finais de bens e serviços;
das planícies de inundação ou fundos de vales, incluindo as respec- II - proibição de propaganda enganosa e fiscalização da quali-
tivas nascentes e as vertentes com declives superiores a quarenta dade, preços, pesos e medidas de produtos e serviços colocados à
e cinco por cento. venda;
§ 2º - A vegetação das áreas marginais dos cursos d água, nas- III - atendimento, aconselhamento, conciliação e encaminha-
centes e margens de lago e topos de morro, numa extensão que mento do consumidor por órgão de execução especializado;
será definida em lei, é considerada de preservação permanente, IV - estímulo ao associativismo mediante linhas de crédito es-
sendo obrigatória sua recomposição onde for necessário. pecífico e tratamento tributário favorecido às cooperativas de con-
§ 3º - É vedado o desmatamento até a distância de vinte metros sumo;
das margens dos rios, córregos e cursos d água. V - política de educação e prevenção de danos ao consumidor;
Art. 131 - O Estado manterá Sistema de Prevenção e Controle VI - instituição de núcleos de atendimento ao consumidor nos
da Poluição Ambiental, objetivando atingir padrões de qualidade órgãos encarregados da prestação de serviços à população;
admitidos pela Organização Mundial de Saúde. VII -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
§ 1º - Os resíduos radioativos, as embalagens de produtos tó- 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XX)
xicos, o lixo hospitalar e os demais rejeitos perigosos deverão ter
destino definido em lei, respeitados os critérios científicos. TÍTULO VI
§ 2º - Fica proibida a instalação de usinas nucleares, bem como DA ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL
a produção, armazenamento e transporte de armas nucleares de
qualquer tipo no território goiano. CAPÍTULO I
§ 3º - Ficam proibidas a produção, transporte, comercialização, DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO
estocagem e a introdução no meio ambiente de substâncias carci-
nogênicas, mutagênicas e teratogênicas, devendo o Poder Executi- SEÇÃO I
vo divulgar periodicamente a relação dessas substâncias proibidas. DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA POLÍTICA ECONÔMICA ESTADU-
§ 4º - O Estado criará mecanismos para o controle das ativi- AL
dades que utilizem produtos florestais e de fomento ao refloresta-
mento, para minimizar o impacto da exploração dos adensamentos Art. 134 - O Estado e os Municípios, observando os princípios
vegetais nativos. da Constituição da República, buscarão realizar o desenvolvimento
Art. 132 - O Estado criará organismo, com nível de Secretaria de econômico e a justiça social, valorizando o trabalho e as atividades
Estado, para formulação, avaliação periódica e execução da política produtivas, para assegurar a elevação do nível de vida da popula-
ção.
ambiental, cabendo-lhe apreciar:
Art. 135. Ressalvados os casos previstos na Constituição da
I - o zoneamento agro-econômico-ecológico do Estado;
República, a exploração direta da atividade econômica pelo Estado
II - os planos estaduais de saneamento básico, de gerenciamen-
só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
to de recursos hídricos e minerais, de conservação e recuperação
nacional ou de relevante interesse coletivo, na forma da lei federal.
do solo, de áreas de conservação obrigatória;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
III - o Sistema de Prevenção e Controle de Poluição Ambiental.
D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - Constituirão recursos para formação do Fundo Estadual
§ 1º A lei federal estabelecerá o estatuto jurídico da empresa
do Meio Ambiente os previstos no orçamento estadual e a totali-
pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
dade dos oriundos das licenças, taxas, tarifas e multas impostas no
explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
controle ambiental, excetuados os devidos a Municípios. bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação dada
§ 2º - Lei complementar estabelecerá os casos de consulta obri- pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
gatória ao organismo previsto neste artigo, quando da elaboração 2010)
de políticas estaduais que o afetem e as diretrizes para o controle, I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
gestão e fiscalização do Fundo Estadual do Meio Ambiente e para sociedade; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
programas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico orientados 2010, D.A. de 09-09-2010)
para a solução de problemas ambientais. II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
§ 3º - Todo projeto, programa ou obra, público ou privado, bem inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, traba-
como a urbanização de qualquer área, de cuja implantação decor- lhistas e tributários; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
rer significativa alteração do ambiente, está sujeito à aprovação de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
prévia do Relatório de Impacto Ambiental, pelo órgão competente, III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e aliena-
que lhe dará publicidade e o submeterá à audiência pública, nos ções, observados os princípios da administração pública; (Acrescido
termos definidos em lei. pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
§ 4º - É vedada a concessão de incentivos ou isenções tribu- 2010)
tárias a atividades agropecuárias, industriais ou outras, efetiva ou IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de admi-
potencialmente poluidoras, quando não exercidas de acordo com nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
as normas de proteção ambiental. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
de 09-09-2010)

115
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili- § 1º - Os órgãos estaduais de pesquisa buscarão aperfeiçoar sis-
dade dos administradores. (Acrescido pela Emenda Constitucional temas de produção consorciada e integrada segundo as condições
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) e necessidades dos pequenos produtores, bem como recuperar e
§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia mista desenvolver técnicas e métodos alternativos, tanto de produção,
não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor quanto de controle de pragas e doenças, cuidando que não agridam
privado e suas relações com o Estado e a sociedade obedecerão às o ambiente e o homem.
normas fixadas por lei federal. § 2º - A política de desenvolvimento rural desdobrar-se-á con-
§ 3º - O Estado e os Municípios não permitirão o monopólio de forme as diferentes regiões de produção, observando sua diversifi-
setores vitais da economia e reprimirão o abuso do poder econômi- cação e especialização.
co que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrên- § 3º - Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
cia e ao aumento arbitrário dos lucros. agroindustriais, pesqueiras e florestais.
§ 4º - A lei disporá sobre o regime das empresas concessio- § 4º O Estado proporcionará atendimento ao pequeno e médio
nárias, permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, o ca- produtor e à sua família, visando à melhoria das condições de vida
ráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, as condições e à fixação do homem na zona rural, implantando justiça social e
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão, permissão ou garantindo o desenvolvimento econômico e técnico dos produtores
autorização, visando garantir: e trabalhadores rurais. (Redação dada pela Emenda Constitucional
I - o direito dos usuários ao serviço adequado; nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
II - a política tarifária tendo como base o interesse coletivo, a § 5º O Estado favorecerá a efetiva participação do sistema
revisão periódica das tarifas aplicadas e a justa remuneração ou re- cooperativista nas áreas de insumos, produção, armazenamento,
tribuição adequada do capital empregado, de conformidade com agroindustrialização, transporte, crédito, seguro, habitação, eletri-
os parâmetros técnicos de custos preestabelecidos, de modo que ficação, reforma agrária, irrigação, pesquisa e assistência técnica.
sejam atendidas convenientemente as exigências de expansão e (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
melhoramento do serviço prestado. D.A. de 09-09-2010)
Art. 136 - Como agente e regulador da atividade econômica, o § 6º - O Estado, assumindo sua reponsabilidade no fomento e
na organização do abastecimento alimentar, em articulação com os
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incenti-
Municípios, constituirá projetos Cinturões Verdes no entorno das
vo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e
cidades com mais de sessenta mil habitantes, mobilizando os ser-
indicativo para o privado.
viços de assistência técnica, de crédito e infra-estrutura básica das
§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento
entidades, empresas e órgãos públicos específicos.
e do desenvolvimento estadual equilibrado, consideradas as ca- § 7º O Estado incentivará o pequeno produtor rural, especial-
racterísticas e as necessidades de todas as regiões do Estado, para mente mediante a implementação de benefícios tributários aos ma-
romper os desequilíbrios regionais, as desigualdades e as injustiças quinários agrícolas e veículos de tração animal, quando utilizados
sociais. no serviço de sua própria lavoura e no transporte de seus produtos,
§ 2º - O Estado não dará incentivos fiscais ou outras vantagens nos termos de lei específica.(Redação dada pela Emenda Constitu-
correlatas a empresas em cuja atividade se comprove qualquer for- cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
ma de discriminação contra o trabalhador. Art. 138. O Estado destinará suas terras e as edificações nelas
§ 3º - O Estado estimulará e incentivará o cooperativismo e o existentes, prioritariamente, aos projetos de promoção social ou de
associativismo, como formas de desenvolvimento sócio-econômi- utilização ecológica voltada para a saúde comunitária e de proteção
co, assegurando a participação das cooperativas junto aos órgãos e ambiental, conforme definido em lei. (Redação dada pela Emenda
conselhos estaduais que se vinculam com o cooperativismo. Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 4º O Estado e os Municípios darão tratamento favorecido Art. 139 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
para as microempresas e empresas de pequeno porte constituídas 09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXI)
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no § 1º (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- 1996, D.A de 31-10-1996)
2010, D.A. de 09-09-2010) § 2º (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
§ 5º Como agente regulador, o Estado manterá agência regu- 1996, D.A de 31-10-1996)
ladora dos serviços públicos estaduais delegados a terceiros, bem I (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-1996,
como do uso ou exploração de bens e direitos pertencentes ou con- D.A de 31-10-1996)
cedidos ao Estado. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de II (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) 1996, D.A de 31-10-1996)
III (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
SEÇÃO II 1996, D.A de 31-10-1996)
DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA IV (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
1996, D.A de 31-10-1996)
§ 3º (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
1996, D.A de 31-10-1996)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º, I.
§ 4º (Suprimido pela Emenda Constitucional nº 15, de 30-10-
1996, D.A de 31-10-1996)
Art. 137. O Estado adotará política integrada de fomento e estí-
mulo à produção agropastoril, nos termos do art. 187 da Constitui-
ção da República, por meio de assistência tecnológica e de crédito
rural, organizando o abastecimento alimentar, objetivando sobretu-
do o atendimento do mercado interno. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

116
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
SEÇÃO III § 1º O Estado e os Municípios concederão às microempresas e
DOS RECURSOS HÍDRICOS E MINERAIS às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento
jurídico diferenciado, visando o incentivo de sua criação, preserva-
- Vide Lei nº 11.414, de 22-01-1991, D.O. 28-01-1991, e Lei nº ção e desenvolvimento, pela simplificação, eliminação ou redução
13123, de 16-07-1997, D.O. 22-07-1997. de suas obrigações administrativas, tributárias e creditícias, nos ter-
mos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
Art. 140. O Estado elaborará e manterá atualizado Plano Es- 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
tadual de Recursos Hídricos e Minerais, em conformidade com o § 2º O Estado aplicará os recursos destinados à política de in-
Sistema Nacional de Gerenciamento, e instituirá sistema de gestão dústria e comércio, predominantemente, em apoio à pequena e mi-
por organismos estaduais e municipais e pela sociedade civil, bem croempresa. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
como assegurará recursos financeiros e mecanismos institucionais 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
necessários para garantir: (Redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) SEÇÃO V
Vide Lei nº 13.040, de 20-03-1997, D.O. 25-03-1997 - Suple- DO INCENTIVO AO TURISMO
mento, e Decreto nº 4.748, de 28-01-1997, D.O. de 18-02-1997.
I - a utilização racional das águas superficiais e subterrâneas; Art. 143 - O Estado e os Municípios promoverão e incentiva-
II - o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos e rateio rão o turismo como fator de desenvolvimento sócio-econômico,
dos custos das respectivas obras, na forma da lei; cuidando, especialmente, da proteção ao patrimônio ambiental e
III - a proteção das águas contra ações que possam comprome- da responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens de valor
ter o seu uso atual ou futuro; artístico, histórico, cultural, turístico e paisagístico.
IV - a defesa contra eventos críticos que ofereçam riscos à saú-
de e segurança públicas e prejuízos econômicos ou sociais; SEÇÃO VI
V - a proteção dos recursos hídricos, impedindo a degradação DA POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL
dos depósitos aluviais, o emprego de produtos tóxicos por ativida-
des de garimpagem e outras ações que possam comprometer suas Art. 144 - Sem prejuízo das normas a serem obedecidas nas leis
condições físicas, químicas ou biológicas, bem como seu uso no orçamentárias que visem à integração regional, o Estado envidará
abastecimento. esforços especiais para o desenvolvimento da região compreendida
§ 1º - O produto dos recursos financeiros recolhidos ao Estado, entre os paralelos 15 e 13 e os meridianos 46 e 48, bem como para
resultante de sua participação na exploração mineral e de poten- a recuperação de recursos hídricos, controle ambiental e desenvol-
ciais hidroenergéticos executados em Goiás, ou da compensação vimento econômico das regiões auríferas, especialmente nos vales
financeira correspondente, nos termos da lei federal, será aplica- dos rios Crixás, Vermelho, Ferreirão e das Almas.
do, preferencialmente, no desenvolvimento do setor mineral e em Art. 144-A. (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de
atividades de gestão dos recursos hídricos e dos serviços e obras 28-12-2020, art. 1º).
hidráulicas de interesse comum, previstos no Plano Estadual de Re- § 1º (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
cursos Hídricos e Minerais. 2020, art. 1º).
§ 2º - Todo aquele que explorar recursos minerais fica obrigado I (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-2020,
a recuperar o ambiente degradado, de acordo com a solução técni- art. 1º).
ca exigida pelo órgão competente, na forma da lei. II (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-2020,
Art. 141 - O Estado adotará política de fomento à mineração, art. 1º).
através de assistência científica e tecnológica aos pequenos e mé- III (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
dios mineradores e programas especiais para o setor mineral, alo- 2020, art. 1º).
cando recursos continuados, nas leis de diretrizes orçamentárias e IV (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
nos orçamentos anuais e plurianuais, para seu desenvolvimento. 2020, art. 1º).
(Vide Lei nº 13.590, de 17-01-2000, D.O. 20-01-2000) § 2º (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
2020, art. 1º).
Parágrafo único - Os programas para o setor mineral contem- Art. 144-B. (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de
plarão a definição de novas reservas minerais, seu aproveitamento 28-12-2020, art. 1º).
econômico e o aumento gradativo da produção mineral, com ênfa- § 1º (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
se para a integração vertical com a indústria de transformação de 2020, art. 1º).
bens minerais. I (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-2020,
art. 1º).
SEÇÃO IV II (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-2020,
DA POLÍTICA DE INDÚSTRIA E DE COMÉRCIO art. 1º).
III (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
Art. 142. O Estado adotará política de fomento à indústria e ao 2020, art. 1º).
comércio, de incentivo e apoio à empresa de pequeno porte consti- IV (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
tuída sob as leis brasileiras, por meio de planos e programas de de- 2020, art. 1º).
senvolvimento integrado e crédito especializado, visando assegurar § 2º (Revogado Pela Emenda Constitucional nº 67, de 28-12-
a livre concorrência, a defesa do consumidor, a qualidade da vida e 2020, art. 1º).
do meio ambiente e a busca do pleno emprego. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
SEÇÃO VII Art. 149. Cabe ao Estado explorar, diretamente ou mediante
DO SISTEMA FINANCEIRO ESTADUAL concessão, autorização ou permissão, os serviços de transporte
rodoviário intermunicipal de passageiros e instituir tarifas e emo-
Art. 145 - O Sistema Financeiro Estadual é composto pelas ins- lumentos pela administração, fiscalização e controle dos sistemas,
tituições de crédito sob controle do Estado e tem por objetivo in- bem como taxas pelo exercício do poder de polícia sobre os mes-
centivar a produção, a distribuição e a circulação de riquezas, por mos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
meio de política de crédito, da exploração do comércio bancário e 2010, D.A. de 09-09-2010)
das demais atividades que lhes forem autorizadas, e será regulado Parágrafo único. O produto da arrecadação das tarifas, emo-
por lei complementar. lumentos e taxas previstos no caput será investido, preferencial-
§ 1º - Com o objetivo de proteger a economia popular e con- mente, na expansão e melhoramento dos serviços de transporte,
ferir solidez e segurança ao sistema, os créditos, depósitos e apli- visando a garantir o direito dos usuários à boa qualidade de sua
cações com as instituições bancárias integrantes do sistema finan- prestação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
ceiro estadual são garantidas pelo Governo do Estado até o limite e 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nas condições estabelecidas em lei complementar e regulamentos Art. 150. O Estado organizará e regulamentará os serviços de
aplicáveis. transporte coletivo, obedecendo aos princípios da continuidade do
§ 2º - Os dividendos que couberem ao Estado poderão ser in- serviço público, da igualdade dos usuários e da mutabilidade do re-
corporados ao capital social da respectiva instituição, sem prejuízo gime jurídico.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
de dotações orçamentárias destinadas a sua capitalização. 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 146 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, de 12- § 1º A regulamentação incorporará, como características bási-
05-2009, art. 3º) cas dos serviços, em face dos critérios legais do regime das empre-
§ 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, de 12-05- sas concessionárias, permissionárias ou autorizatárias, os requisitos
2009, art. 3º) consubstanciados nos princípios da permanência, da generalidade,
§ 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, de 12-05- da eficiência, da modicidade e da cortesia. (Redação dada pela
2009, art. 3º) Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, de 12-05- § 2º - A regulamentação e a fiscalização dos serviços buscarão
2009, art. 3º) a caracterização precisa e a proteção eficaz do interesse público e
dos direitos dos usuários.
CAPÍTULO II § 3º No caso de a concessão, permissão ou autorização have-
DA POLÍTICA URBANA, DA HABITAÇÃO E DO TRANSPORTE, rem sido dadas a uma ou mais empresas é facultada, em qualquer
DA SAÚDE E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E DA AÇÃO COMUNITÁ- época e em atendimento ao interesse público, a abertura de nova
RIA licitação para a linha já outorgada, permitindo a participação de ou-
tras empresas nessa exploração. (Redação dada pela Emenda Cons-
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º, II. § 4º As empresas prestadoras de serviços de transporte cole-
tivo rodoviário de passageiros de âmbito interestadual e interna-
SEÇÃO I cional, quando utilizarem terminais no Estado, ficarão sujeitas ao
DA POLÍTICA URBANA cumprimento das normas locais. (Redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 147. A política de desenvolvimento urbano, nos termos
da lei de que trata o caput do art. 182 da Constituição da Repúbli- SEÇÃO III
ca, cabe aos Municípios e, de forma suplementar, ao Estado, que DA SAÚDE E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
poderá participar da execução de diretrizes que visem a ordenar - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
o pleno desenvolvimento urbano e das áreas de expansão urbana, 2010, D.A. de 09-09-2010, art. 2º, II.
atendendo-se às suas funções sociais, para garantir o bem-estar de
seus habitantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, SUBSEÇÃO I
de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) DISPOSIÇÕES GERAIS

SEÇÃO II Art. 151 - O Estado e os Municípios formam com a União um


DA HABITAÇÃO E DO TRANSPORTE conjunto integrado de ações destinadas a assegurar os direitos rela-
tivos à saúde, à previdência e à assistência social.
Art. 148. O acesso à moradia é dever do Estado, do Município § 1º - As ações e serviços públicos de saúde do Estado integram
e da sociedade e direito de todos, na forma da lei. (Redação dada uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo sistema unifi-
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- cado e descentralizado de saúde, organizado segundo diretrizes de
2010) descentralização, com direção única em cada esfera de governo e
§ 1º - É responsabilidade do Estado, dos Municípios e da socie- atendimento integral, com prioridade para as atividades preventi-
dade promover e executar programas de construção de moradias vas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.
populares. § 2º - O Conselho Estadual de Saúde, composto paritariamente
§ 2º O Estado criará programas especiais, na área habitacional, entre Governo e sociedade, é o fórum de decisão, gestão e controle
para o atendimento às pessoas idosas. (Redação dada pela Emenda da política estadual de saúde, na forma da lei.
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 3º - O sistema unificado e descentralizado de saúde será fi- IV - controlar, fiscalizar e inspecionar produtos e substâncias
nanciado com recursos dos orçamentos da União, do Estado, dos que compõem medicamentos, alimentos, bebidas e outros de inte-
Municípios, da Seguridade Social e de outras fontes, que serão apli- resse para a saúde;
cados exclusivamente na área de saúde, vedada a concessão de au- V - participar do controle e fiscalização da produção, transpor-
xílios e subvenções, com recursos públicos, a instituições privadas te, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxi-
com fins lucrativos. cos e radioativos;
§ 4º - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada, sendo VI - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
facultado às instituições privadas de saúde participar, de forma bem como as de saúde do trabalhador;
complementar, do sistema unificado e descentralizado de saúde, VII - colaborar para a proteção do meio-ambiente, nele com-
mediante contrato de direito público ou convênio, no qual serão preendida a do trabalho, bem como participar da formação da polí-
resguardados, além da referida faculdade, a manutenção do equilí- tica e execução das ações de saneamento básico;
brio econômico-financeiro inicial do contrato, tendo preferência as VIII - desenvolver, na forma da lei, um sistema estadual regio-
entidades filantrópicas e as sem finalidade lucrativa. nalizado de coleta, processamento e transfusão de sangue e seus
§ 5º - É vedada a experimentação, com homens e mulheres, derivados, vedado todo tipo de comercialização;
de substância, droga ou meio anticoncepcional que atente contra a IX - prestar assistência integral nas áreas médica, odontológica,
saúde, devendo sempre ser previamente autorizada pelo poder pú- fonoaudiológica, farmacêutica, de enfermagem e psicológica aos
blico e pelos órgãos representativos da sociedade, exigido o pleno usuários do sistema, garantindo que sejam realizadas por profissio-
conhecimento do usuário. nais habilitados;
X - divulgar dados de interesse epidemiológico, principalmente
SUBSEÇÃO II aqueles referentes a instalações que utilizem substâncias ionizan-
DA SAÚDE tes;
XI - promover a criação de centros de referência em dermato-
- Vide Lei nº 16.140, de 02-10-2007, que dispõe sobre o Siste- logia sanitária, de prevenção e tratamento de incapacidades físicas,
ma Único de Saúde - SUS. de pesquisas técnico-científicas de terapias alternativas naturais e
regenerativas aplicadas à hanseníase, dentre outras dermatoses, e
Art. 152 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, asse- às demais deficiências físicas;
gurada mediante políticas sociais e econômicas que visem à elimi- XII - atendimento integral à saúde da mulher, em todas as fa-
nação do risco de doenças, à prevenção de deficiências e a outros ses de sua vida, compreendendo o direito à gestação, à assistência
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços pré-natal, ao parto, ao pós-parto e ao aleitamento, dentro dos me-
para a sua promoção, proteção e recuperação. lhores padrões técnicos, éticos e científicos, através de programas
§ 1º - O direito à saúde pressupõe: desenvolvidos, implementados e controlados, com a participação
I - condições dignas de trabalho, saneamento básico compatí- das entidades representativas de mulheres;
vel com necessidades de todos, moradia, alimentação, educação, XIII - prover, segundo os princípios da dignidade humana e da
transporte, lazer, liberdade, renda, segurança individual e coletiva;
paternidade responsável, recursos educacionais e científicos para
II - respeito ao meio ambiente e controle da poluição ambien-
o planejamento familiar feito pelo homem e pela mulher, vedada
tal;
qualquer forma coercitiva por parte de pessoas e de instituições
III - acesso a todas as informações que interessem à sua pre-
oficiais e privadas e oferecer ao homem e à mulher acesso gratuito
servação;
aos meios de concepção e contracepção com acompanhamento e
IV - dignidade e qualidade do atendimento;
orientação médica, sendo garantida a liberdade de escolha do casal;
V - participação de entidades especializadas e comunitárias, na
XIV - garantir à mulher vítima de estupro, ou em risco de vida
forma da lei, na elaboração de políticas, na definição de estratégias
por gravidez de alto risco, assistência médica e psicológica e o di-
de implementação e controle das atividades com impacto sobre a
saúde. reito de interromper a gravidez, na forma da lei, e atendimento por
§ 2º - O dever do Estado, garantido por adequada política social órgãos do sistema;
e econômica não exclui o do indivíduo, da família, da sociedade e o XV - implantar, nas escolas oficiais e creches, programas de con-
de instituições e empresas que produzam riscos e danos à saúde do trole e correção de acuidade visual e auditiva, assegurando recursos
indivíduo e da coletividade. orçamentários para fornecimento de instrumentos corretivos aos
§ 3º - As ações e serviços de saúde terão sua regulamentação, que deles necessitarem;
fiscalização e controle exercidos pelo Estado, na forma da lei, de- XVI - implantar, nas escolas oficiais, programa de educação se-
vendo sua execução ser feita, preferencialmente, por serviços pú- xual aos alunos de 1ª e 2ª graus;
blicos e, complementarmente, por serviços de terceiros. XVII - dispor sobre a fiscalização e normatizar a remoção de
Art. 153 - Ao sistema unificado e descentralizado de saúde órgãos, tecidos e substâncias, para fins de transplantes, pesquisas e
compete, além de outras atribuições: tratamentos, vedado todo tipo de comercialização;
I - elaborar e manter atualizado o Plano Estadual de Saúde, fi- XVIII - implantar, nas escolas oficiais, programas de educação à
xando prioridades e estratégias regionais, em concordância com o saúde, enfocando a saúde bucal em termos de prevenção;
Plano Nacional de Saúde e com as diretrizes ditadas pelos Conse- XIX - implementar programas de estimulação precoce para
lhos Estadual e Municipais de Saúde; crianças portadoras de deficiências..
II - executar as ações de saúde que extrapolem a competência
municipal, mediante implantação e manutenção ou contratação de SUBSEÇÃO III
hospitais, laboratórios e hemocentros regionais, além das estrutu- DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
ras administrativas e técnicas de apoio em âmbito regional;
III - pesquisar e desenvolver novas tecnologias e a produção de - Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
medicamentos, matérias-primas, insumos, imunobiológicos, prefe- D.A. de 09-09-2010, art. 2º, II.
rencialmente, por laboratórios oficiais;

119
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 154 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- CAPÍTULO III
09-2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA, DO DESPORTO E DO LAZER
I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) SEÇÃO I
II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, DA EDUCAÇÃO
D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII)
III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- - Vide Lei Complementar nº 26, de 28-12-1998, D.O. de 12-01-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) 1999, Lei nº 13.118, de 16-07-1997, D.O. de 22-07-1997 e Decreto
§ 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- nº 4.368, de 28-12-1994. D.O. de 02-01-1995
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) Art. 156 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da
§ 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- família, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
§ 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) § 1º - O ensino será ministrado com base nos seguintes prin-
§ 4º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- cípios:
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
§ 5º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- cola;
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
§ 6º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- samento, a arte e o saber;
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) III - pluralismo de idéias e concepções pedagógicas e coexistên-
§ 7º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- cia de instituições públicas e privadas de ensino;
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII)
IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos mantidos pelo
§ 8º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 16, de 12-03-
Poder Público;
1997, D.A. de 17-03-1997)
V valorização dos profissionais da educação escolar, garan-
§ 9º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
tidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusi-
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII)
§ 10 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- vamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
2010, D.A. de 09-09-2010, art. 5º, XXII) públicas;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
09-2010, D.A. de 09-09-2010)
SUBSEÇÃO IV VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E DA AÇÃO COMUNITÁRIA VII - garantia efetiva do padrão de qualidade, das condições de
ensino e da aprendizagem e de trabalho aos profissionais do ma-
Art. 155 - O Estado e os Municípios prestarão assistência social gistério por meio de fornecimento de material pedagógico básico,
e psicológica a quem delas necessitar, com o objetivo de promover ampliação progressiva da permanência do educando na escola, cri-
a integração ao mercado de trabalho, reconhecendo a maternidade térios adequados de utilização da carga horária e da formação dos
e a paternidade como relevantes funções sociais, assegurando aos professores, nos termos da lei;
pais os meios necessários à educação, assistência em creches e pré- VIII - garantia de educação não diferenciada, através da prepa-
-escolas, saúde, alimentação e segurança de seus filhos. ração de seus agentes educacionais e da eliminação, no conteúdo
§ 1º - A lei assegurará a participação da população, por meio do material didático, de todas as alusões discriminatórias à mulher,
de organizações representativas, na formulação das políticas e no ao negro e ao índio.
controle das ações de assistência social. IX piso salarial profissional nacional para os profissionais da
§ 2º - O Estado e os Municípios promoverão a integração comu- educação escolar pública, nos termos de lei federal.(Acrescido pela
nitária, proporcionando a atuação de todas as camadas sociais, por Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
suas entidades representativas, no desenvolvimento econômico, § 2º - O magistério é função social relevante, gozando os que o
social, cultural, desportivo e de lazer. exercem ou exerceram de prerrogativas e distinções especiais, que
§ 3º É facultado ao Estado vincular a programa de apoio à inclu- a lei estabelecerá.
são e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita § 3º Lei complementar disporá sobre as diretrizes e bases da
tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamen- educação pública em Goiás, nos termos daquelas estabelecidas pela
to de: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, União, e, em especial, sobre as condições de organização e opera-
D.A. de 09-09-2010) cionalização em colaboração com a União e os Municípios:(Redação
I despesas com pessoal e encargos sociais;(Acrescido pela
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
09-2010)
II serviço da dívida;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº
- Vide Lei Complementar nº 26, de 28-12-1998, D.A. de 10-11-
46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2000.
III qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen-
te aos investimentos ou ações apoiados.(Acrescido pela Emenda I - do Sistema Estadual de Ensino;
Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) II - dos princípios enunciados neste artigo;
III do regime de colaboração com a União e os Municípios;(Re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
de 09-09-2010)
IV - do Conselho Estadual de Educação.
Art. 157 - O dever do Estado e dos Municípios para com a Edu-
cação será assegurado por meio de:

120
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita comunitária, confessional ou filantrópica, ou ao Poder Público, no
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria e que caso de encerramento de suas atividades. (Acrescido pela Emenda
deverão receber tratamento especial, por meio de cursos e exames Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
adequados ao atendimento das peculiaridades dos educandos;(Re- § 4 (Revogado pela Emenda Constitucional nº 33, de 02-01-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. 2003, D.A de 02-01-2003)
de 09-09-2010) § 5º Para o cumprimento dos percentuais previstos nos incisos I
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do a IV, serão consideradas as despesas com pessoal do corpo docente
ensino pré-escolar e médio; e técnico administrativo ativo e inativo.
III - atendimento educacional especializado aos portadores de Art. 159. Lei estabelecerá o Plano Estadual de Educação, de du-
deficiência, preferencialmente pela rede regular de ensino, garan- ração plurianual, em conformidade com as diretrizes e bases nacio-
tindo-lhes recursos humanos e equipamentos públicos adequa- nais, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus
dos;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09- diversos níveis, bem como à integração das ações do Poder Público
2010, D.A. de 09-09-2010) que conduzam à: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,
IV educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
5 (cinco) anos de idade;(Redação dada pela Emenda Constitucional I erradicação do analfabetismo e universalização do ensino
nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) obrigatório; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
V acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
criação artística, segundo a capacidade de cada um;(Redação dada II - melhoria da qualidade do ensino e formação para o traba-
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09- lho;
2010) III - promoção humanística, científica, tecnológica, esportiva e
VI - currículos voltados para os problemas e realidades do País formação do hábito da educação física.
e das características regionais, elaborados com a participação das Art. 160 - O Conselho Estadual de Educação, composto de edu-
entidades representativas; cadores de comprovada contribuição para o ensino, é o órgão nor-
VII - promoção e incentivo do desenvolvimento e da produção mativo, consultivo e fiscalizador do Sistema Estadual de Ensino.
científica, cultural e artística, da capacitação técnica e da pesquisa § 1º - A nomeação dos membros do Conselho Estadual de Edu-
básica voltada para atender às necessidades e interesses populares, cação dependerá de prévia aprovação pela Assembleia.
ressalvadas as características regionais; § 2º - A autonomia do Conselho Estadual de Educação será as-
VIII - oferta de ensino diurno e noturno regular, suficiente para segurada por sua individualização no orçamento estadual e por sua
atender a demanda e adequada às condições do educando; vinculação direta ao Governador. (Vide Decreto nº 4.368, de 28-12-
IX - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação 1994, D.O. de 02-01-1995, que aprovou o regimento interno)
básica, por meio de programas suplementares de material didáti- Art. 161 - As universidades gozam de autonomia didático-cien-
coescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação tífica, administrativa, financeira e patrimonial e observarão o prin-
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- cípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, asse-
09-2010) gurada a gratuidade do ensino nas instituições de ensino superior
Art. 158. O Estado aplicará, anualmente, no mínimo 25% (vinte mantidas pelo Estado.
e cinco por cento) da receita resultante de impostos, compreendida Parágrafo único - O Estado fiscalizará, no âmbito de sua com-
a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimen- petência, os estabelecimentos de ensino superior mantidos pelos
to do ensino. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de Municípios, por entidades privadas e pelo próprio Estado.
05-12-2019) Art. 162. Serão fixados pelo Conselho Estadual de Educação
I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05-2019, conteúdos mínimos para os ensinos fundamental e médio, para
art. 3º) assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais
II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05-2019, e artísticos, nacionais e regionais, observada a legislação federal.
art. 3º) (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010,
III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05- D.A. de 09-09-2010)
2019, art. 3º) § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá dis-
IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 59, de 02-05- ciplina do horário normal das escolas públicas.(Redação dada pela
2019, art. 3º) Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - A parcela dos impostos estaduais transferida aos Municí- § 2º Serão fixados por Comissão Interconfessional e aprovados
pios não constitui receita do Estado, para efeito deste artigo. pelo Conselho Estadual de Educação os conteúdos mínimos para o
§ 2º Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, ensino religioso fundamental e médio. (Redação dada pela Emenda
visando assegurar a universalização do ensino obrigatório e para Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
lhes garantir padrão de qualidade e equidade. § 3º As aulas de ensino religioso serão remuneradas como
§ 3º Verbas públicas poderão ser destinadas a escolas comu- qualquer outra disciplina dos ensinos fundamental e médio. (Re-
nitárias, confessionais ou filantrópicas, desde que cumpridas as dação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
exigências deste artigo, obedecidas as regras para destinação de de 09-09-2010)
recursos públicos ao setor privado, constantes desta Constituição e § 4º - Os professores de ensino religioso serão credenciados
das leis orçamentárias, e para instituições que: (Redação dada pela pela Comissão referida no § 2º, dentre os já integrantes do quadro
Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) do Magistério da Secretaria de Educação, obedecidos o princípio
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus exce- constitucional da investidura em cargo público e as disposições ge-
dentes financeiros em educação; rais do ensino no País e no Estado.

121
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 5º O ensino fundamental regular será ministrado em língua SEÇÃO III
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utili- DO DESPORTO E DO LAZER
zação de suas línguas maternas e processos próprios de aprendiza-
gem. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, - Vide Lei Ordinária nº 12.820, de 27-12-1995, D.O. de 04-01-
D.A. de 09-09-2010) 1995.

SEÇÃO II Art. 165 - As atividades físicas sistematizadas, os jogos recrea-


DA CULTURA tivos e os desportos, nas suas diferentes manifestações, são direito
de todos e dever do Estado.
Art. 163. O patrimônio cultural goiano é constituído dos bens § 1º - O fomento às práticas desportivas formais e não-formais
de natureza material e imaterial, nos quais se incluem: (Redação será realizado por meio de:
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09- I - respeito à integridade física e mental do desportista;
09-2010) II - autonomia das entidades e associações;
I - as formas de expressão e os modos de criar, fazer e viver; III - destinação de recursos públicos para a promoção prioritá-
II - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; ria do desporto educacional, do portador de deficiência e, em casos
III - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espa- específicos, para a do desportista de alto rendimento, conforme as
ços destinados às manifestações artístico-culturais; regras estabelecidas por esta Constituição e pelas leis orçamentá-
IV - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagísti- rias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
co, artístico, arqueológico, espeleológico, paleontológico, etnológi- 2010, D.A. de 09-09-2010)
co e científico. IV - tratamento diferenciado para o desporto profissional e o
§ 1º - As tradições,usos e costumes dos grupos indígenas do Es- amador;
tado integram o patrimônio cultural e ambiental goiano e receberão V - proteção e incentivo a manifestações desportivas de criação
proteção que será estendida ao controle das atividades econômicas nacional e olímpicas;
que, mesmo fora das áreas indígenas, prejudiquem o ecossistema VI - criação das condições necessárias para garantir acesso dos
ou a sobrevivência física e cultural dos indígenas. portadores de deficiência à prática desportiva terapêutica ou com-
§ 2º São considerados patrimônio da cultura estadual as mani- petitiva. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
09-2010, D.A. de 09-09-2010)
festações artísticas e populares afro-brasileiras, devendo o Estado
§ 2º - A prática do desporto é livre à iniciativa privada.
garantir sua preservação e promover, junto a comunidade negra,
Art. 166. O dever do Estado e dos Municípios, com o incentivo
seu desenvolvimento, como também evitar sua folclorização e mer-
às práticas desportivas, dar-se-á, ainda, por meio de:(Redação dada
cantilização. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de
pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
2010)
Art. 164. É dever do Estado e da comunidade promover, garan-
I - criação e manutenção de espaço próprio à prática desporti-
tir e proteger toda a manifestação cultural, assegurar plena liber-
va nas escolas e logradouros públicos, bem como a elaboração dos
dade de expressão e criação, incentivar e valorizar a produção e a
seus respectivos programas;
difusão cultural por meio de: (Redação dada pela Emenda Constitu- II - incentivos especiais à interiorização da pesquisa no campo
cional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) da educação física, desporto e lazer;
I - aperfeiçoamento dos profissionais da cultura; III - organização de programas esportivos para adultos, idosos
II - criação e manutenção de espaços públicos equipados e e portadores de deficiência, visando otimizar a saúde da população
acessíveis à população para as diversas manifestações culturais; e o aumento de sua produtividade; (Redação dada pela Emenda
III - incentivo ao intercâmbio cultural com os Municípios goia- Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
nos, com outros Estados, com a União e com outros Países; IV - criação de uma comissão permanente para tratar do des-
IV - criação e instalação de bibliotecas em todos os Municípios porto dirigido aos portadores de deficiência, destinando a esse fim
do Estado; recursos humanos e materiais, além de instalações físicas adequa-
V - defesa dos sítios de valor histórico, ecológico, arqueológico, das.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
espeleológico e etnológico; 2010, D.A. de 09-09-2010)
VI - desapropriação, pelo Estado, de edificações de valor histó- Art. 166-A. O Estado e os Municípios incentivarão o lazer, como
rico e arquitetônico, além do uso de outras formas de acautelamen- forma de promoção social. (Acrescido pela Emenda Constitucional
to e preservação do patrimônio cultural goiano. nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
§ 1º - O Conselho Estadual de Cultura, órgão consultivo e da
política cultural, terá sua constituição, competências e forma de CAPÍTULO IV
atuação definidas em lei. | DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA
- Vide Lei nº 6.750, de 10-11-1967, D.O. de 04-12-1967, e Lei
Ordinária nº 13.799, de 18-01-2001. - Vide Lei Complementar nº 01, de 19-12-1989, D.O. de 27-
§ 2º A comunidade poderá propor ao Poder Executivo a desa- 12-1989
propriação prevista no inciso VI.(Redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) Art. 167 - O Estado, visando ao bem-estar da população, pro-
§ 3º - Cabe ao Estado criar e manter arquivo do acervo históri- moverá e incentivará o desenvolvimento e a capacitação científica e
co-cultural de Goiás. tecnológica, com prioridade à pesquisa e à difusão do conhecimen-
§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio histórico-cultural se- to tecno-científico.
rão punidos na forma da lei.
- Vide Lei Ordinária nº 8.915, de 13-10-1980, D.O. de 20-10-
1980, com modificações posteriores.

122
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
§ 1º - A política científica e tecnológica tomará como princípios Art. 169-A. A manifestação do pensamento, a criação, a ex-
o respeito à vida e à saúde humana, o aproveitamento racional e pressão e a informação não sofrerão qualquer restrição, observado
não predatório dos recursos naturais, a preservação e a recupera- o disposto nesta e na Constituição da República. (Acrescido pela
ção do meio ambiente, bem como o respeito aos valores culturais Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
do povo. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir em-
§ 2º - A pesquisa e a capacitação científica e tecnológica voltar- baraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer
-se-ão preponderantemente para o desenvolvimento social e eco- veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV,
nômico do Estado. V, X, XIII e XIV da Constituição da República. (Acrescido pela Emenda
§ 3º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
pesquisa, criação de tecnologia, formação e aperfeiçoamento de § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
seus recursos humanos, e que pratiquem sistemas de remuneração ideológica e artística. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46,
que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participa- de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
ção nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu § 3º Compete à lei federal regular as diversões e espetáculos
trabalho.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09- públicos e estabelecer os meios legais de defesa da pessoa e da
09-2010, D.A. de 09-09-2010) família contra os abusos de programas e programações de rádio e
Art. 168 Para execução da política de desenvolvimento científi- televisão e propaganda. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº
co e tecnológico, o Estado destinará recursos ao Fundo Estadual de 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Ciência e Tecnologia, nos termos do art. 158. (Redação dada pela Art. 169-B. A produção e a programação das emissoras de rádio
Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009) e televisão do Estado atenderão aos seguintes princípios: (Acresci-
Art. 168 - Para execução da política de desenvolvimento cien- do pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-
tífico e tecnológico, o Estado destinará anualmente três por cento 09-2010)
de sua receita tributária, transferidos no exercício, em duodécimos I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
mensais, para o Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia. informativas; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
- Redação original 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à pro-
Parágrafo único - Lei complementar criará organismo constituí- dução independente que objetive sua divulgação; (Acrescido pela
do por representantes do Governo, das instituições de ensino supe- Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
rior e demais setores com interesse na área, para formular a política III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística,
e as diretrizes de ciência e tecnologia do Estado e de aplicação do conforme percentuais estabelecidos em lei federal; (Acrescido pela
Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia. Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
CAPÍTULO V (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A.
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL de 09-09-2010)

CAPÍTULO VI
Art. 169 - A informação é bem público, cabendo ao Estado ga-
DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE,
rantir a manifestação do pensamento, a criação e a expressão.
DO IDOSO E DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA
§ 1º - Como parte integrante da política de comunicação so-
cial, o Estado observará, dentre outros fixados em lei, os seguintes
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
princípios:
2010, D.A. de 09-09-2010.
I - garantia, aos setores organizados da sociedade, especial-
mente aos afins, de participação na formulação da política de co-
Art. 170. A família, base da sociedade, receberá especial pro-
municação; teção do Estado que, isoladamente ou em cooperação, manterá
II - garantia de espaço nos órgãos estatais de comunicação so- programas de assistência à criança, ao adolescente, ao idoso e ao
cial, segundo critérios a serem definidos em lei, aos partidos políti- portador de deficiência, para assegurar: (Redação dada pela Emen-
cos e organizações sindicais, profissionais, comunitárias, culturais, da Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
ambientalistas e outras dedicadas à defesa dos direitos humanos e I - a criação de mecanismos que coíbam a violência no âmbi-
à liberdade de expressão e informação; to da família, com orientação psico-social e criação de serviços de
III - aplicação, de forma disciplinada, das verbas destinadas à apoio integral aos seus membros, quando vítimas de violência do-
propaganda e à publicidade oficiais, compreendendo-se: méstica; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-
a) por publicidade obrigatória, a divulgação oficial de ato jurí- 09-2010, D.A. de 09-09-2010)
dico ou administrativo, para conhecimento público e início de seus II a erradicação da mendicância e a recuperação da criança e
efeitos externos; do adolescente não assistidos, em situação de risco. (Redação dada
b) por propaganda de realizações estatais, a divulgação de efei- pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
tos e ou fatos do Poder Público, tornando-os de conhecimento pú- 2010)
blico, cuja despesa constitui encargo para o erário do Estado; Art. 171. O Estado, os Municípios, a sociedade e a família as-
c) por campanhas de interesse do Poder Público, as notas e os segurarão à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a
avisos oficiais de esclarecimento, as campanhas educativas de saú- efetivação dos direitos à vida, à saúde, à moradia, ao lazer, à pro-
de pública, trânsito, ensino, transporte e outras, e as campanhas teção no trabalho, à cultura, à convivência familiar e comunitária,
de racionalização e racionamento do uso de serviços públicos e de nos termos da Constituição da República, compreendendo: (Reda-
utilidade pública, quando prestados pelo Estado. ção dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de
§ 2º - Lei estadual regulará a criação e o funcionamento do 09-09-2010)
Conselho Estadual de Comunicação Social, órgão auxiliar do Poder I - primazia de receber proteção e socorro em qualquer circuns-
Legislativo. tância;

123
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II - precedência no atendimento por órgão público de qualquer TÍTULO VII
Poder; DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS
III - preferência aos programas de atendimento à criança e ao
adolescente, na formulação e na execução das políticas sociais pú- Art. 175 - O Estado instituirá, na forma da lei, programa de
blicas; apoio jurídico de assessoramento e orientação às entidades repre-
IV - aquinhoamento privilegiado de recursos públicos para os sentativas de trabalhadores e empregadores rurais, bem como às
programas de atendimento de direitos e proteção especial da crian- cooperativas.
ça e do adolescente. Art. 176 - Os serviços notariais e de registro são exercidos em
- Vide Mandado de Segurança nº 10276-0/101 (200101336076) caráter privado, por delegação do Poder Público.
Art. 172 - As ações de proteção à infância e à juventude serão § 1º - A lei regulará as atividades e a responsabilidade civil e
organizadas, na forma da lei, com base nas seguintes diretrizes: criminal dos notários, dos oficiais de registro e seus prepostos e de-
I - descentralização do atendimento; finirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
II - valorização dos vínculos familiares e comunitários; § 2º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de
III - atendimento prioritário em situações de risco definidas em concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qual-
lei, observadas as características culturais e sócio-econômicas lo- quer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento
cais; ou de remoção, por mais de seis meses.
IV - participação da sociedade, por meio de organizações repre- - Vide Lei nº 13.136, de 21-07-1997, D.O. de 25-7-1997.
sentativas, na formulação de políticas e programas, bem como no Art. 177 - A lei estabelecerá estímulos em favor de quem fizer
acompanhamento e fiscalização de sua execução. doação de órgãos para transplante, sob cadastramento e controle
§ 1º - O Estado estimulará, mediante apoio técnico e financeiro, a cargo do Estado.
vinculado ao orçamento, programas sócio-educativos destinados Art. 178 Para atingir o objetivo previsto no art. 3º, inciso II, o
aos carentes, sob a responsabilidade de entidades beneficentes. Estado manterá programas especiais de desenvolvimento das regi-
§ 2º - A participação da sociedade, prevista no inciso IV, dá-se ões mais carentes.
por meio de órgão consultivo, deliberativo e avaliador da política de Parágrafo único - Promoverá ainda, diretamente ou através de
atendimento à criança e ao adolescente, na forma da lei. convênios, pesquisas e planificações sobre a marginalidade, pobre-
Art. 173. O Estado manterá programas de assistência aos porta-
za, criminalidade e analfabetismo, visando indicar as causas, atri-
dores de deficiência, visando assegurar:
buir as tendências e prevenir as consequências.
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-
Art. 179 - Revogado pela Emenda Constitucional nº 14, de 28-
2010, D.A. de 09-09-2010.
06-1996, D.A. de 01-07-1996.
I - sua integração familiar e social;
Parágrafo único.- Revogado pela Emenda Constitucional nº 14,
II - a prevenção, o diagnóstico e a terapêutica de deficiência,
de 28-06-1996, D.A. de 01-07-1996.
bem como o atendimento especializado pelos meios que se fizerem
Art. 180 -- Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-
necessários;
04-1995, D.A. de 05-04-1995.
III - a educação especial e o treinamento para o trabalho e a
facilitação de acesso e uso aos bens e serviços, com a eliminação de § 1º - Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04-
preconceitos e obstáculos arquitetônicos; 1995, D.A. de 05-04-1995.
IV - a proteção especial à criança e ao adolescente portadores § 2º - Revogado pela Emenda Constitucional nº 10, de 04-04-
de deficiências, proporcionando-lhes oportunidades e facilidades, 1995, D.A. de 05-04-1995.
por lei ou por outros meios, de desenvolvimento físico, mental, mo- Art. 181 - A lei regulará o processo administrativo tributário e
ral e social, de forma sadia e em condições de liberdade e dignida- disporá sobre os órgãos de julgamento administrativo de questões
de. de natureza tributária, entre os contribuintes e o Estado, atendendo
§ 1º O Estado e as entidades representativas dos portadores ao seguinte:
de deficiência formularão a política e controlarão as ações corres- I - o órgão de julgamento de segunda instância séra compos-
pondentes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de to de vinte e um conselheiros efetivos, sendo onze representantes
09-09-2010, D.A. de 09-09-2010) do Fisco e dez dos contribuintes, nomeados pelo Governador, para
§ 2º - A promoção da habilitação e reabilitação das pessoas mandato de quatro anos, dentre os brasileiros maiores de vinte e
portadoras de deficiências para sua adequada integração à vida cinco anos que atendam aos requisitos estabelecidos em Lei; (Reda-
comunitária e ao mercado de trabalho constituirá prioridade das ção dada pela Emenda Constitucional nº 38, de 1º-07-2005)
áreas oficiais de saúde, educação e assistência. II - os representantes dos contribuintes serão nomeados por
§ 3º - A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edi- indicações das Federações da Agricultura, do Comércio e da Indus-
fícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo, a fim tria, dos Conselhos Regionais de Economia, Administração e Con-
de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. tabilidade e da Ordem dos Advogados do Brasil, na forma da Lei;
Art. 174 - Para assegurar amparo às pessoas idosas e sua par- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 38, de 1º-07-2005)
ticipação na comunidade, defender sua dignidade, bem-estar e o III - serão nomeados conselheiros suplentes, em número de
direito à vida, será criada, na forma da lei, Comissão Permanente seis para cada representação, obedecendo aos mesmos critérios
de Defesa do Idoso, cabendo-lhe elaborar política de assistência ao estabelecidos para a nomeação dos efetivos.
idoso e, dentre outras, as seguintes atribuições: Parágrafo único - O contribuinte ou responsável por obrigação
I - criação de centros destinados ao trabalho e experimentação fiscal tem capacidade para estar no processo administrativo tribu-
laboral; tário e fiscal, postulando em causa própria, em qualquer fase do
II - criação de centros diurnos e noturnos de amparo e lazer; processo.
III - elaboração de programas de preparação para a aposenta- Art. 181-A. A lei disciplinará o uso de meio eletrônico nas pres-
doria; tações de contas previstas nos arts. 11, VII e XXI, 26, I, II e XIII, 30,
IV - fiscalização das entidades destinadas ao amparo do idoso. 37, XI, e 77, X e XV. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
- Vide Lei nº 13.463, de 31-05-1999. 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 181-B. Nos termos do art. 249 da Constituição da Repúbli- Art. 8º - Os cargos de Procurador de Contas Passam a integrar
ca Federativa do Brasil, com o objetivo de assegurar recursos para quadro próprio do Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios,
o pagamento de proventos de aposentadoria e pensões concedidas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18,
aos respectivos servidores e seus dependentes, em adição aos re- de 28-08-1997, D.A. de 29-08-1997)
cursos dos respectivos tesouros, o Estado e os Municípios poderão Parágrafo único Os Procuradores de Contas junto ao Tribunal
constituir fundos integrados pelos recursos provenientes de contri- de Contas dos Municípios poderão exercer a Procuradoria da Fazen-
buições e por bens, direitos e ativos de qualquer natureza, median- da Pública Municipal nas ações executivas fundadas em imputação
te lei que disporá sobre a natureza e a administração desses fundos. de débito ou de multa, na forma da lei complementar. (Redação
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 66, de 17-12-2020, D.O. dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-
de 22-12-2020) 12-1998)
Parágrafo único. Após a constituição dos fundos a que se refere Art. 9º - Os Procuradores Jurídicos Legislativos passam a deno-
o caput deste artigo, fica vedada a sua extinção sem a autorização minar-se Consultores Jurídicos Legislativos.
do órgão fiscalizador federal competente, sob pena de responsabi- Art. 10 - O Executivo formulará e submeterá à Assembleia Le-
lização do agente público que der causa.(Acrescido pela Emenda gislativa um programa quinquenal destinado a erradicar o analfa-
Constitucional nº 66, de 17-12-2020, D.O. de 22-12-2020) betismo, a ser executado em cooperação com os Municípios e as
entidades de intermediação da sociedade civil.
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS Art. 111 - Até que a lei estabeleça as condições de amparo às
cooperativas e associações de garimpeiros, inclusive visando à recu-
peração do meio ambiente afetado por sua atividade, o Poder Exe-
Art. 1º - O Governador do Estado, o Presidente do Tribunal de
cutivo apoiará as iniciativas dessas entidades no sentido de compa-
Justiça do Estado e os Deputados Estaduais prestarão compromisso
tibilizar seus interesses legítimos com os superiores interesses da
de manter, defender e cumprir esta Constituição, no ato e na data
sociedade.
de sua promulgação. Art. 12 - O Estado e os Municípios promoverão a legalização
Art. 2º - Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08- das posses urbanas consolidadas e efetivamente identificadas até a
1994, D.A. de 19-08-1994, art. 4º. data da instalação da Assembleia Estadual Constituinte, para os que
I -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, não possuem outro imóvel, no prazo de dois anos após a promul-
D.A. de 19-08-1994, art. 4º) gação desta Constituição, adotando medidas para sua urbanização.
II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, Art. 13 - A lei orçamentária do Estado, para o exercício de 1.991,
D.A. de 19-08-1994, art. 4º) consignará subvenção financeira à Centrais Elétricas de Goiás S/A,
III (Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, destinada e suficiente para a encampação da Companhia Hidrelétri-
D.A. de 19-08-1994, art. 4º) ca do São Patrício.
IV (Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, Art. 14 - Os Poderes Executivos do Estado e dos Municípios re-
D.A. de 19-08-1994, art. 4º) avaliarão todos os incentivos fiscais, de qualquer natureza, concedi-
V (Revogado pela Emenda Constitucional nº 8, de 17-08-1994, dos antes da promulgação da Constituição da República e proporão
D.A. de 19-08-1994, art. 4º) aos Legislativos respectivos as medidas cabíveis.
Art. 3º - As Câmaras Municipais votarão a Lei Orgânica respecti- Parágrafo único - Considerar-se-ão revogados, após dois anos,
va até seis meses após a promulgação desta Constituição. contados da promulgação da Constituição da República, os que não
Art. 4º - O Estado de Goiás, no prazo de noventa dias da pro- forem confirmados por lei, sem prejuízo dos direitos já adquiridos
mulgação desta Constituição, criará Comissão de Estudos do seu àquela data em relação a incentivos concedidos sob condição e com
território, composta de dez membros nomeados pelo Governador prazo certo, desde que cumpridas as condições estabelecidas nos
do Estado, sendo quatro indicados pela Assembleia Legislativa, qua- atos concessórios.
tro pelo Poder Executivo, um pela Ordem dos Advogados do Brasil Art. 15 - No prazo de cento e oitenta dias, após a promulga-
e um pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agrono- ção desta Constituição, a Polícia Militar adotará medidas adminis-
mia, para promover estudos e apresentar à Assembleia propostas trativas que resultem na organização e funcionamento da unidade
sobre as linhas divisórias com os outros Estados e o Distrito Federal, florestal especializada e dos batalhões de polícia rodoviária e de
nas zonas em litígio. 19 trânsito.
Art. 16 - Aos remanescentes das comunidades dos quilombos
Parágrafo único - A Comissão referida neste artigo terá compe-
que estejam ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade de-
tência, também, para examinar e propor solução, mediante acordo
finitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos.
ou arbitramento, até o dia 4-10-1.991, para os litígios divisórios en-
§ 1º - Lei complementar criará a reserva Calunga, localizada nos
tre Municípios.
Municípios de Cavalcante e Monte Alegre, nos vãos das Serras da
- Vide Decreto nº 3.650, de 12-06-91, D.O. de 18-06-1991. Contenda, das Almas e do Moleque.
Art. 5º - Os mandatos dos atuais Governador e Vice-Governa- § 2º - A delimitação da reserva será feita, ouvida uma comissão
dor do Estado terminarão no dia 15-03-1991 e os dos atuais Depu- composta de oito autoridades no assunto, sendo uma do movimen-
tados Estaduais em 31-01-1991. to negro, duas da comunidade Calunga, duas do órgão de desenvol-
Art. 6º - Passa denominar-se Tribunal de Contas dos Municípios vimento agrário do Estado, uma da Universidade Católica de Goiás,
o atual Conselho de Contas dos Municípios. (Redação dada pela uma da Universidade Federal de Goiás e uma do Comitê Calunga.
Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O de 18-12-1998) - Vide Lei nº 11.409, de 21-01-1991; Lei Complementar nº 19,
Art. 7º - A indicação e escolha de Conselheiros dos Tribunais de 05-01-1996, D.O. de 10-01-1996; e Decreto nº 4.781, de 11-04-
de Contas do Estado e dos Municípios iniciar-se-ão pela indicação 1997, D.O. de 17-04-1997.
da Assembleia, sendo que a cada duas indicações do Legislativo, Art. 17 - O Estado deve realizar ação discriminatória e demarca-
seguir-se-á uma do Executivo, após atingir-se a proporção estabe- tória sobre todas as terras devolutas em Goiás.
lecida nos arts. 28 e 80 desta Constituição e mantida sempre a pro- - Vide Lei nº 18.826, de 19-05-2015, D.O. de 10 e 22-1-1997; e
porcionalidade das indicações. Decreto nº 4.811, de 17-07-1997, D.O. de 23-07-1997.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 18 -(Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, de 12- - Arguida a inconstitucionalidade pela ADIN nº 1239.8.
05-2009, art. 3º) Art. 25 - Ficam cancelados, arquivando-se os respectivos pro-
Parágrafo único (Revogado pela Emenda Constitucional nº 43, cessos administrativos e judiciais, os débitos fiscais relativos ao Im-
de 12-05-2009, art. 3º) posto sobre a Circulação de Mercadorias:
Art. 19 - No prazo de seis meses, contados da promulgação I - cujo montante, na data da promulgação desta Constituição,
desta Constituição, o Estado apresentará, ao Conselho Federal de somadas as parcelas de imposto, multa, juros e correção monetária,
Educação, processo visando obter autorização de funcionamento não ulltrapasse o valor de quinhentos cruzados novos;
de todas as unidades de ensino superior já criadas por lei e, espe- II - inscritos ou não em Dívida Ativa, ainda que ajuizados, oriun-
cialmente, da Faculdade de Direito, Ciências e Letras de Inhumas. dos de autuações fiscais de operações, cujo fato gerador tenha
Art. 20 - As disposições desta Constituição referentes a pensão ocorrido antes de 31-12-1.976;
e aposentadoria, inclusive fixação e revisão de proventos, previdên- III - quando decorrentes de autos de infração em que a merca-
cia e assistência social aplicam-se: doria tenha sido abandonada, perdida ou perecido, ou expedidos
I - aos beneficiários da Lei Ordinária nº 8974, de 05-01-1981; contra motoristas ou transportadores, autonômos ou não, sem resi-
II - ao contribuinte, inclusive o inativo, da previdência social do dência ou domicílio certo e definido neste Estado ou com endereço
Estado, que contribuiu sobre salários mínimos e teve alterado o sa- em outra unidade da Federação.
lário de contribuição para salário mínimo de referência, o qual po-
Art. 26 - Ao contribuinte em débito com a Fazenda Pública Es-
derá voltar a contribuir sobre aquele valor originário, com reajuste
tadual, referente ao Imposto sobre a Circulação de Mercadorias,
no mesmo índice aplicado ao piso nacional de salários durante sua
por fato gerador ocorrido até a data da instalação da Assembleia
vigência, desde a época da alteração, isento de qualquer penalida-
Estadual Constituinte, serão concedidos os seguintes benefícios,
de, com a consequente repercussão no cálculo do benefício.
§ 1º - O ex-segurado do órgão previdenciário do Estado poderá independentemente de estarem os débitos ajuizados, inscritos em
voltar a contribuir como facultativo, sobre a importância correspon- dívida ativa, levantados em auto de infração ou serem confessados
dente ao vencimento do cargo e classe equivalentes, desde que o espontaneamente:
requeira dentro de noventa dias após a promulgação desta Consti- I - para os que efetivarem o pagamento integral do Imposto,
tuição, restaurando sua condição de segurado no mês seguinte ao até quarenta dias após a promulgação desta Constituição, isenção
do requerimento. de correção monetária e de juros sobre a multa e redução de cin-
Art. 21 - Dentro de cento e oitenta dias, após a promulgação quenta por cento do valor da correção monetária incidente sobre
desta Constituição, serão revistos os direitos dos servidores públi- o imposto;
cos inativos e pensionistas do Estado e atualizados os proventos e II - para os que efetivarem o pagamento integral do Imposto
pensões a eles devidos, para ajustá-los às suas disposições. até setenta dias após a promulgação desta, isenção de correção
monetária sobre a multa e redução de trinta por cento do valor da
§ 1º - Os vencimentos, a remuneração, as vantagens, os adicio- correção monetária incidente sobre o imposto.
nais e os proventos de aposentadoria que estejam sendo percebi- Art. 27 - No prazo de cento e oitenta dias após a promulgação
dos em desacordo com esta Constituição, serão imediatamente re- desta, o Executivo mandará imprimir e distribuir, gratuitamente,
duzidos aos limites dela decorrentes, não se admitindo, neste caso, exemplares desta Constituição às escolas estaduais e municipais,
invocação de direito adquirido, ou percepção de excesso a qualquer universidades, entidades sindicais, bibliotecas, associações de mo-
título. radores e outras entidades da sociedade civil, para facilitar o acesso
§ 2º - Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela do cidadão às normas constitucionais estaduais.
previdência social do Estado, terão seus valores revistos, a fim de Art. 28 - Os Conselheiros, os Procuradores de Contas, os ser-
que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de vidores do Quadro Permanente, ativos e inativos, bem como os
salários mínimos que tinham na data de sua concessão. comissionados e os pensionistas transferidos para o Tribunal de
Vide Lei Ordinária nº 12.362, de 26-05-1994, art.s 3º, I, a , e 6º Contas do Estado, por força do disposto na Emenda Constitucional
D.O. de 31-05-1994 e 07-06-1994, art. 3º, I, a . nº 19/97, bem como os Conselheiros nomeados após a vigência da
§ 3º - As pensões pagas pelo Estado, a qualquer título, serão Emenda Constitucional nº 21/97, continuam a integrar, com os car-
atualizadas na mesma data e pelo percentual com que forem atua-
gos ou situações correspondentes, os respectivos quadros do Tribu-
lizados os vencimentos dos servidores estaduais em atividade.
nal de Contas dos Municípios, respeitada a situação jurídico-funcio-
Art. 22
nal de cada um. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23,
- Declarado inconstitucional pela ADIN nº 690-8, D.J. de
de 09-12-1998, D.O. de 19-12-1998)
03.04.92.
Art. 23 - A atualização monetária e as demais disposições a que Art. 29 (Vide Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O.
se referem o Art. 96 e seus §§ somente serão aplicáveis a partir do de 19-12-1998, art. 2º)
dia 1º-01-1990. - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, de 04-11-
Art. 24 É assegurado ao defensor público em exercício da fun- 1997, D.A. de 05-11-1997.
ção, junto à Procuradoria de Assistência Judiciária até à data da Art. 29 - Mantida a situação jurídico-funcional e respeitados
instalação da Assembleia Estadual Constituinte, o direito de opção os seus direitos adquiridos, os servidores do Quadro permanente e
pela carreira, com a observância das garantias e vedações previstas Comissionados do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de
no art. 134, parágrafo único, da Constituição da República, desde Goiás passam a integrar, com seus respectivos cargos, na categoria
que atendidos os seguintes requisitos: de extintos quando vagarem, o quadro de pessoal dos serviços au-
a) ser advogado; xiliares do Tribunal de Contas do Estado de Goiás.(Acrescido pela
b) contar com pelo menos cinco anos de serviços prestados à Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-1997, D.A de 12-09-1997)
administração direta ou indireta do Estado; Art. 30 (Vide Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O.
c) comprovação do exercício da função até a data prevista no de 19-12-1998, art. 2º)
caput deste artigo pelo ajuizamento de feitos típicos de assistência - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, de 04-11-
judiciária. 1997, D.A. de 05-11-1997.

126
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 30 - Os atuais Procuradores de Contas em atividade do ex- estabelecidas na lei disciplinadora do art. 92, inciso X, da Constitui-
tinto Tribunal de Contas dos Municípios passam a integrar, com os ção Estadual, retroagindo os seus efetivos a 1o-01-2003. (Acrescido
respectivos cargos, a Procuradoria-Geral de Contas do Tribunal de pela Emenda Constitucional nº 35, de 15-12-2003)
Contas do Estado. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de Art. 37 Os percentuais de que tratam os incisos II e III do art.
10-09-1997) 158 da Constituição Estadual serão aplicados observando-se o se-
Parágrafo único - Os cargos de que tratam este artigo passam guinte escalonamento por exercício financeiro: (Acrescido pela
a denominar-se Procurador de Contas do Tribunal de Contas do Es- Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
tado e extinguir-se-ão automaticamente na medida em que forem I - 0,1% (um décimo por cento), em 2009; (Acrescido pela
vagando. Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
- Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-1997. II - 0,2% (dois décimos por cento), em 2010;(Acrescido pela
Art. 31 - Ficam revertidos às respectivas rubricas do orçamento Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
do Tribunal de Contas dos Municípios todos os saldos financeiros III - 0,3% (três décimos por cento), em 2011;(Acrescido pela
e orçamentários transferidos ao Tribunal de Contas do Estado, em Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
decorrência do disposto na Emenda Constitucional nº 19, de 10-09- IV - 0,4% (quatro décimos por cento), em 2012;(Acrescido pela
1997, ora revogada. Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
- Vide Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O. de V - 0,5% (cinco décimos por cento), em 2013.(Acrescido pela
19-12-1998, art. 2º. Emenda Constitucional nº 43, de 12-05-2009)
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, de 04-11- Art. 38. É concedida, nos termos da lei, anistia aos servidores
1997, D.A. de 05-11-1997. públicos estaduais e aos empregados da Administração Pública Es-
Art. 31 - Os servidores inativos do Tribunal de Contas dos Mu- tadual direta, autárquica e fundacional, bem como aos empregados
nicípios do Estado de Goiás, inclusive Conselheiros, Auditores, Pro- de empresas públicas e sociedades de economia mista sob controle
curadores de Contas e Pensionistas, passam a integrar o respectivo do Estado, que, a partir da promulgação desta Constituição, tenham
quadro de inativos do Tribunal de Contas do Estado de Goiás. sido punidos ou demitidos em decorrência de motivação exclusi-
- Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-1997, vamente política.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 46, de
D.A. de 12-09-1997. 09-09-2010, D.A. de 09-09-2010)
Art. 32 (Vide Emenda Constitucional nº 23, de 09-12-1998, D.O. Parágrafo único. O disposto neste artigo somente gerará efeitos
de 19-12-1998, art. 2º) financeiros a partir da vigência da lei de que trata o caput, vedada a
- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, de 04-11- remuneração de qualquer espécie em caráter retroativo. (Acrescido
1997, D.A. de 05-11-1997. pela Emenda Constitucional nº 46, de 09-09-2010, D.A. de 09-09-
Art. 32 - Todo o acervo do Tribunal de Contas dos Municípios 2010)
passa a integrar o patrimônio do Tribunal de Contas do Estado. Art. 39. As receitas vinculadas a órgãos e entidades, fundos ou
- Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-1997, despesa, por força de dispositivo desta Constituição e da legislação
D.A de 12-09-1997. complementar ou ordinária, ficam desvinculadas em 30% (trinta
Art. 33 - Os saldos das dotações orçamentárias do Tribunal de por cento) até 31 de dezembro de 2023. (Redação dada pela Emen-
Contas dos Municípios, existentes à data da promulgação desta da Constitucional nº 53, de 21-12-2016, D.A. de 21-12-2016)
Emenda, passam a compor as respectivas rubricas do orçamento § 1º As prescrições deste artigo: (Acrescido pela Emenda Cons-
do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, ficando a seu cargo o titucional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
cumprimento das obrigações financeiras assumidas. I - aplicam-se às receitas correntes do Tesouro Estadual e às
- Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09-1997, diretamente arrecadadas por autarquias, fundações públicas e fun-
D.A de 12-09-1997. dos especiais do Poder Executivo; (Acrescido pela Emenda Constitu-
Parágrafo único - Ficam transferidos para o Tribunal de Con- cional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
tas do Estado de Goiás e para a Procuradoria-Geral de Contas do II - não reduzirão a base de cálculo:(Acrescido pela Emenda
Tribunal de Contas do Estado os contratos firmados pelo Tribunal Constitucional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
de Contas dos Municípios do Estado de Goiás e pela sua Procurado- a) das transferências a municípios, na forma dos arts. 158, inci-
ria-Geral de Contas, em vigor na data da promulgação da presente sos III e IV, e 159, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal;(Acrescida pela
Emenda. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 10-09- Emenda Constitucional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
1997, D.A de 12-09-1997) b) dos recursos destinados à formação do Fundo de Manuten-
Art. 34 - O Tribunal de Contas do Estado adotará as providên- ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
cias necessárias à assunção das novas atividades, imediatamente Profissionais da Educação -FUNDEB-, de que trata o inciso II do art.
após a promulgação da presente Emenda.(Acrescido pela Emenda 60 do ADCT da Constituição Federal;(Acrescida pela Emenda Cons-
Constitucional nº 19, de 10-09-1997) titucional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
Art. 35 O Poder Executivo poderá, no curso do fluente exercí- § 2º Os recursos desvinculados por força deste artigo serão
cio, efetuar contratações de pessoal docente para atender à neces- aplicados conforme dispuser ato do Chefe do Poder Executivo, em
sidade temporária de excepcional interesse público, até que se dê a conformidade com a Lei Orçamentária Anual -LOA-.(crescido pela
publicação oficial da respectiva lei disciplinadora, reportada no art. Emenda Constitucional nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)
92, inciso X, da Constituição Estadual, com nova redação dada pelo § 3º Excetuam-se da desvinculação de que trata este artigo os
art. 1º da emenda que nela introduziu este artigo, retroagindo os recursos:(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 50, de 11-12-
seus efeitos a 1º-01-2003. (Acrescido pela Emenda Constitucional 2014, D.O. de 22-12-2014)
nº 34, de 10-06-2003) I - destinados a ações e serviços públicos de saúde e aplicação
Art. 36 O Poder Executivo poderá, no curso do exercício de em manutenção e desenvolvimento do ensino na educação básica
2003, efetuar contratações de profissionais da área de saúde, in- de que tratam o § 2º, inciso II, do art. 198, e o art. 212 da Constitui-
clusive técnico-administrativos, para atender à necessidade tem- ção Federal, respectivamente;(Acrescido pela Emenda Constitucio-
porária de excepcional interesse público, obedecidas as prescrições nal nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014)

127
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
II - decorrentes de taxas arrecadadas pelo Estado com regula- III - provisão orçamentária e disponibilidade financeira que ga-
mentação federal;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 50, de rantam o investimento pelo Estado de 10% (dez por cento) da sua
11-12-2014, D.O. de 22-12-2014) RCL.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017,
III - decorrentes de transferências multigovernamentais Fundo D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
a Fundo providas pela União;(Acrescido pela Emenda Constitucio- Art. 43. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 66, de 17-
nal nº 50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014) 12-2020, D.O. de 22-12-2020 art. 3º)
IV arrecadados pelo instituto de Assistência dos Servidores Art. 44. No caso do art. 43, aplicam-se, no exercício seguinte
Públicos do Estado de Goiás (IPASGO) e pela Goiás Previdência ao descumprimento do limite ali previsto, as seguintes vedações
(GOIASPREV); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de ao Poder ou órgão governamental autônomo responsável por ele:
21-12-2016, D.A. de 21-12-2016) (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O.
V - decorrentes de transferências financeiras entre órgãos, en- de 02-06-2017 - Suplemento)
tidades e fundos, efetuadas mediante dedução de receitas no órgão I - concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, rea-
de origem dos recursos. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº juste ou adequação de remuneração ou subsídio de servidor ou
50, de 11-12-2014, D.O. de 22-12-2014) empregado público e militar, inclusive do previsto no inciso XI do
VI fundos instituídos pelo Poder Legislativo, pelo Poder Judiciá- art. 92 desta Constituição, exceto os derivados de sentença judi-
rio, pelos Tribunais de Contas, pelo Ministério Público, pela Defen- cial ou determinação legal decorrente de atos anteriores à entrada
soria Pública e pela Procuradoria-Geral do Estado. (Acrescido pela em vigor da Emenda Constitucional instituidora do referido limite;
Emenda Constitucional nº 53, de 21-12-2016, D.A. de 21-12-2016) (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O.
Art. 40. Fica instituído, com vigência até 31 de dezembro de de 02-06-2017 - Suplemento)
2026, o Novo Regime Fiscal -NRF-, de que tratam os arts. 41 a 46, II - criação de cargo, emprego ou função que implique aumento
ao qual se sujeitam os Poderes Executivo (administração direta, au- de despesa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-
tárquica e fundacional, fundos especiais e empresas estatais depen- 06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
dentes), Legislativo e Judiciário, bem como os órgãos governamen- III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de
tais autônomos (Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios, despesa; (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-
Defensoria Pública do Estado e Ministério Público). (Acrescido pela 2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - IV - admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título,
Suplemento) ressalvadas as reposições de cargo de chefia e de direção que não
Art. 41. Na vigência do NRF, a despesa corrente, em cada exer- acarretem aumento de despesa e aquelas decorrentes de vacâncias
cício, não poderá exceder, no âmbito de cada Poder ou órgão gover- de cargos efetivos:(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de
namental autônomo nominado no art. 40, o respectivo montante 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
da despesa corrente realizada no exercício imediatamente anterior, V - realização de concurso público, exceto no âmbito das Se-
acrescido da variação do índice Nacional de Preço ao Consumidor cretarias de Estado da Saúde, de Educação, Cultura e Esporte e de
Amplo -IPCA- ou da Receita Corrente Líquida - RCL, relativa ao pe- Segurança Pública e Administração Penitenciária ou quando se des-
ríodo de doze meses encerrado em junho do último exercício ante- tinar, exclusivamente, a reposição ou instalação de órgão jurisdicio-
cedente ao do orçamento em vigor. (Acrescido pela Emenda Cons- nal ou ministerial ou da Defensoria Pública;(Acrescido pela Emenda
titucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suple-
§1º. Parágrafo Único. Somente para o exercício de 2018, no âm-
mento)
bito dos Poderes e órgãos governamentais autônomos nominados
VI - as exceções ao descumprimento do limite definido no art.
no art. 40, a despesa corrente, em cada exercício, deduzidas as des-
41 não exime o Poder ou órgão governamental autônomo de cum-
pesas do fundo previdenciário e do fundo financeiro do RPPS, não
prir os limites globais definidos em lei complementar federal para
poderá exceder o respectivo montante da despesa corrente orçada
despesa total com pessoal, observado o que dispõe o art. 113 da
e suplementada no exercício imediatamente anterior, com aquela
Constituição Estadual.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54,
mesma dedução, acrescido da variação do Indice Nacional de Preço
de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
ao Consumidor Amplo -IPCA-, ou da Receita Corrente Líquida -RCL-,
relativa ao período de doze meses encerrado em junho do último Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no caput deste arti-
exercício antecedente ao do orçamento em vigor.(Acrescido pela go, no caso de descumprimento pelo Poder Executivo do limite re-
Emenda Constitucional nº 55, de 21-09-2017, art. 2º) - Constituído ferenciado no art. 41, aplicam-se lhe, no exercício subsequente, as
§1º pela Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019. seguintes restrições:(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54,
§ 2º No cálculo da despesa corrente para fins de cumprimen- de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento)
to do NRF, nos termos do caput, não será considerado o elemento I - a despesa nominal com subsídios e subvenções econômicas
de despesa “Despesas de Exercícios Anteriores”. (Acrescido pela não poderá superar aquela realizada no exercício anterior; (Acres-
Emenda Constitucional nº 63, de 04-12-2019) cido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-
Art. 42. O NRF poderá ser revisto quando da propositura, pelo 06-2017 - Suplemento)
Governador do Estado, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a partir II - fica vedada a ampliação de incentivo ou benefício de natu-
do terceiro exercício de sua vigência, desde que atendidas, pelo me- reza tributária da qual decorra renúncia de receita.(Acrescido pela
nos, duas das seguintes condições:(Acrescido pela Emenda Consti- Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017
tucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento) - Suplemento)
I- redução do comprometimento da receita com despesas de Art. 45. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 66, de 17-
pessoal abaixo do limite de alerta da Lei de Responsabilidade Fiscal; 12-2020, D.O. de 22-12-2020 art. 3º) (Redação dada pela Emenda
(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. Constitucional nº 55, de 21-09-2017, art. 2º)
de 02-06-2017 - Suplemento) I (Revogado pela Emenda Constitucional nº 66, de 17-12-2020,
II - eliminação dos restos a pagar de exercícios anteriores sem D.O. de 22-12-2020 art. 3º)
disponibilidade financeira; (Acrescido pela Emenda Constitucional II (Revogado pela Emenda Constitucional nº 66, de 17-12-2020,
nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento) D.O. de 22-12-2020 art. 3º)

128
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
Art. 46. Além da contenção das despesas correntes nos cor- 3. Na segunda metade do século XIX, como resultado do ritmo
respondentes limites previstos no art. 41, o NRF ainda consiste na de transformação da estrutura econômica produtiva do Centro-Sul
adoção, no âmbito do Poder Executivo, pelo prazo de três anos, das do País a partir do alargamento da fronteira agrícola, ocorreu uma
seguintes medidas: (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, expansão das estradas de ferro, com o prolongamento das ferro-
de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento) vias paulistas para além dos limites do estado de São Paulo. Os tri-
I - só haverá promoção uma vez por ano, limitada às carreiras lhos seguiram em direção a outros estados, como no caso de Goiás,
integrantes da Segurança Pública e Administração Penitenciária, da com a construção da Estrada de Ferro Goiás, ligando-se à Estrada
Saúde e da Educação;(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 54, de Ferro Mogiana, localizada em solo mineiro.
de 02-06-2017, D.O. de 02-06-2017 - Suplemento) Internet: <www.revistas.ufg.br> (com adaptações).
- Vide Lei nº 20.244, de 24-04-2018 (Fixa a data anual de Pro-
moção por Merecimento e Antiguidade). A justificativa da construção da ferrovia goiana estava ancora-
II - fica suspensa a eficácia dos dispositivos legais e infralegais da no(na)
de que decorram progressões funcionais por antiguidade ou mere- (A) posição assumida pelo estado de Goiás como região produ-
cimento e, consequentemente, majorações da despesa com pesso- tora e fornecedora de produtos agrícolas básicos para os mer-
al, devendo a permanência dos mesmos no ordenamento jurídico cados da região Sudeste.
ser avaliada com vistas à sua revogação ou modificação.(Acrescido (B) pensamento, predominante naquele momento, de que a
pela Emenda Constitucional nº 54, de 02-06-2017, D.O. de 02-06- construção da nova capital do estado demandaria ligações fer-
2017 - Suplemento) roviárias com o restante do País.
Art. 46-A. A vigência do disposto no art. 46 fica prorrogada por (C) significativa produção de café no sul goiano, que seria ma-
6 (seis) meses (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 67, de 28- joritariamente encaminhada ao porto de Santos, em São Paulo,
12-2020). por via férrea.
Art. 47. Na execução orçamentária do exercício de 2019, a obri- (D necessidade de escoar a vasta produção de minerais, como
gatoriedade de que trata o § 10 do art. 111 da Constituição Estadual níquel e fosfato, produzidos no norte goiano.
restringe-se às emendas individuais dos parlamentares em exercí- (E) possibilidade de que funcionasse como vetor de transferên-
cio.(Acrescido pela Emenda Constitucional nº 62, de 29-10-2019, cia maciça dos imigrantes que chegavam de Minas Gerais.
D.O. de 05-11-2019).
Art. 48. É assegurada a execução dos convênios municipais 4. O Rio Paranaíba é um dos rios mais importantes do estado
bem como das emendas impositivas de que tratam os §§ 8º e se- de Goiás porque é utilizado para
guintes do art. 111 da Constituição Estadual independentemente (A) a geração de energia elétrica, abrigando grandes barragens.
do ingresso do Estado em regime ou programa de recuperação fis- (B) o abastecimento de mais de trinta cidades, incluindo a ca-
cal, renegociação de dívidas ou similar, inclusive o Regime de Recu- pital.
peração Fiscal de que trata a Lei Complementar federal nº 159, de (C) as atividades de turismo, formando praias no período de
19 de maio de 2017. (Acrescido pela Emenda Constitucional nº 67, estiagem.
de 28-12-2020). (D) o desenvolvimento da aquicultura, diversificando a econo-
mia regional.
EXERCÍCIOS
5. Analisando os aspectos físicos do território goiano, notada-
mente quanto ao relevo e à hidrografia, é correto afirmar que
1. Goiânia foi fundada em 1937 para ser a nova capital de Goi- (A) predominam, em Goiás, rios meândricos e intermitentes,
ás. Antes dela a capital do estado de Goiás era: com pequena influência do clima em suas vazões.
(A) A cidade de Goiás, antiga Vila Boa. (B) as maiores declividades do relevo de Goiás ocorrem no su-
(B) A cidade de Itumbiara, antiga Vila Real. doeste do estado, o que dificulta as práticas agrícolas mecani-
(C) A cidade de Pirinópolis, antiga Vila Nova. zadas.
(D) A cidade de Caldas Novas, antiga Vila Bela. (C) a região em que se inserem o estado de Goiás e o Distrito
Federal é divisora de águas de três grandes bacias hidrográficas
2. Foi somente no início do século XX que o Brasil passou a ter a brasileiras.
configuração atual. Porém, internamente a divisão era diferente. O (D) poucos pontos do território goiano ultrapassam os dois mil
estado de Tocantins foi criado em 1988 após a divisão do seguinte metros de altitude em relação ao nível do mar, resultado da
estado: antiguidade de sua formação e da ação de agentes erosivos ex-
(A) Pará. ternos.
(B) Goiás. (E) diversos corpos hídricos goianos cumprem importante pa-
(C) Amazonas. pel na geração de energia elétrica, a exemplo do rio das Almas
(D) Mato Grosso. e do rio Maranhão, que abastecem, respectivamente, as usinas
de Serra da Mesa e de Corumbá.

6. A Cidade de Goiás, declarada patrimônio histórico, surgiu às


margens do Rio Vermelho, fruto da
(A) fixação dos entrepostos comerciais criados pelos tropeiros.
(B) expansão das lavouras cafeeiras realizada pelos fazendeiros.
(C) atividade de exploração mineradora iniciada pelos bandei-
rantes.
(D) implementação da pecuária extensiva promovida pelos co-
lonizadores.

129
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS E DO BRASIL
7. Sobre aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidro- 10. (IADES - 2019 - AL-GO - Técnico em Enfermagem do Tra-
grafia, clima e relevo. É incorreto afirmar que balho) A consolidação do espaço geográfico da capitania de Goiás,
(A) O Cerrado é considerado o segundo maior bioma brasileiro, localizada na região central do Brasil, foi marcada pela política cen-
atrás apenas da Floresta Amazônica, possui representatividade tralizadora de ocupação colonial portuguesa do século 18.
no território goiano. Mesmo com elevado nível de desmata- Em relação ao exposto, assinale a alternativa que indica o pro-
mento registrado desde a década de 1960, Goiás conseguiu cesso histórico na formação e desenvolvimento econômico da ca-
manter reservas da mata nativa em algumas regiões, o que pitania de Goiás.
gera discussões entre fazendeiros e ambientalistas. (A) A limitação da ocupação portuguesa a Oeste do meridiano
(B) O Estado de Goiás tem apenas duas estações sazonais que de Tordesilhas, conforme acordo entre os governos de Espanha
são a seca e a chuvosa. A “estação seca” tem seu início no mês e Portugal no ano de 1494.
de abril e estende-se até a primeira quinzena de outubro. Já (B) A adoção do sistema de sesmaria e o incentivo às atividades
a “estação chuvosa” tem seu início na segunda quinzena de mineradoras e agropastoris.
outubro e se estende até março do ano seguinte. (Simehgo/ (C) A proibição, por Portugal, da criação de prelazia na capita-
Sectec). nia de Goiás.
(C) O Estado de Goiás possui vegetação de savana, típica do (D) A restrição, pela Coroa portuguesa, da construção de aldea-
cerrado, reflexo da escassez de água na região. Goiás é precário mentos e limitação da entrada de imigrantes na região.
em recursos hídricos. (E) A legitimação e ocupação do território de Goiás com o Tra-
(D) Além da presença marcante dos planaltos, dentro dos limi- tado de Tordesilhas, firmado entre as coroas portuguesa e es-
tes do Estado de Goiás, encontramos também áreas de planí- panhola, em 1750.
cies e depressões.
(E) O Estado de Goiás está localizado no Planalto Central Brasi-
leiro, o que justifica a predominância de planaltos em seu re-
levo. GABARITO

8. Das mesorregiões do Estado de Goiás, a que possui o maior


quantitativo populacional e abriga a capital do Estado é a do 1 A
(A) Sul Goiano.
(B) Centro Goiano. 2 B
(C) Norte Goiano. 3 A
(D) Leste Goiano.
4 A
9. (Quadrix - 2019 - Prefeitura de Cristalina - GO - Assistente 5 C
Social) A porção do Sudeste Goiano denominada “região da Estrada 6 C
de Ferro”, após ter passado por um período de crescimento eco-
nômico no início do século XX, a partir de 1930, enfrentou a estag- 7 C
nação, vindo a recuperar sua primazia apenas a partir dos anos de 8 B
1970. 9 A
Patrícia Francisca de Matos. Estrada de Ferro: o anúncio das 10 B
metamorfoses de modernização do território no Sudeste Goiano.
In: Revista eletrônica Ateliê Geográfico, UFG‐IESA, p. 14.

Com relação à formação econômica de Goiás e às suas trans-


formações ao longo do século XX, assinale a alternativa correta.
(A) A estagnação ocorrida a partir de 1930 tem, entre seus mo-
tivos, a expansão da ferrovia até Anápolis, o que viria a consoli-
dar o domínio comercial por outras regiões do estado.
(B) A construção de Goiânia não impactou na decadência da
região da Estrada de Ferro, visto que sua influência econômica
se deu apenas no campo político.
(C) Liderados por Mauro Borges, grupos que se opunham aos
coronéis da região da Estrada de Ferro investiram na moder-
nização de outras áreas e contribuíram, nos anos 1930, para a
decadência dessa região.
(D) Apesar da estagnação econômica referida, o Sudeste Goia-
no viveu, entre 1930 e 1970, um forte incremento na dinâmica
populacional, tornando‐se a região mais populosa do estado.
(E) Mesmo com menor fluxo de capitais em relação às décadas
anteriores a 1930, a região da Estrada de Ferro continuou sen-
do, até 1970, grande exportadora de produtos da agropecuária.

130
ÉTICA

Nas organizações, é a ética no gerenciamento das informações


ÉTICA E MORAL que vem causando grandes preocupações, devido às consequências
que esse descuido pode gerar nas operações internas e externas.
São duas ciências de conhecimento que se diferenciam, no en- Pelo Código de Ética do Administrador capítulo I, art. 1°, inc. II, um
tanto, tem muitas interligações entre elas. dos deveres é: “manter sigilo sobre tudo o que souber em função
A moral se baseia em regras que fornecem uma certa previ- de sua atividade profissional”, ou seja, a manutenção em segredo
são sobre os atos humanos. A moral estabelece regras que devem de toda e qualquer informação que tenha valor para a organização
ser assumidas pelo homem, como uma maneira de garantia do seu é responsabilidade do profissional que teve acesso à essa informa-
bem viver. A moral garante uma identidade entre pessoas que po- ção, podendo esse profissional que ferir esse sigilo responder até
dem até não se conhecer, mas utilizam uma mesma refêrencia de mesmo criminalmente.
Moral entre elas. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convic-
A Ética já é um estudo amplo do que é bem e do que é mal. ções.
O objetivo da ética é buscar justificativas para o cumprimento das
regras propostas pela Moral. É diferente da Moral, pois não estabe-
lece regras. A reflexão sobre os atos humanos é que caracterizam o ÉTICA, PRINCÍPIOS E VALORES
ser humano ético.
Ter Ética é fazer a coisa certa com base no motivo certo. Princípios, Valores e Virtudes
Ter Ética é ter um comportamento que os outros julgam como Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados uni-
correto. versais que definem as regras pela qual uma sociedade civilizada
A noção de Ética é, portanto, muito ampla e inclui vários princí- deve se orientar.
pios básicos e transversais que são: Em qualquer lugar do mundo, princípios são incontestáveis,
1. O da Integridade – Devemos agir com base em princípios e pois, quando adotados não oferecem resistência alguma. Enten-
valores e não em função do que é mais fácil ou do que nos trás mais de-se que a adoção desses princípios está em consonância com o
benefícios pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração da consti-
2. O da Confiança/Credibilidade – Devemos agir com coerência tuição de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou
e consistência, quer na ação, quer na comunicação. estatutos de condomínio.
3. O da Responsabilidade – Devemos assumir a responsabilida- O princípios se aplicam em todas as esferas, pessoa, profissio-
de pelos nossos atos, o que implica, cumprir com todos os nossos nal e social, eis alguns exemplos: amor, felicidade, liberdade, paz e
deveres profissionais. plenitude são exemplos de princípios considerados universais.
4. O de Justiça – As nossas decisões devem ser suportadas, Como cidadãos – pessoas e profissionais -, esses princípios fa-
transparentes e objetivas, tratando da mesma forma, aquilo que é zem parte da nossa existência e durante uma vida estaremos lutan-
igual ou semelhante. do para torná-los inabaláveis. Temos direito a todos eles, contudo,
5. O da Lealdade – Devemos agir com o mesmo espírito de le- por razões diversas, eles não surgem de graça. A base dos nossos
aldade profissional e de transparência, que esperamos dos outros. princípios é construída no seio da família e, em muitos casos, eles
6. O da Competência – Devemos apenas aceitar as funções se perdem no meio do caminho.
para as quais tenhamos os conhecimentos e a experiência que o De maneira geral, os princípios regem a nossa existência e são
exercício dessas funções requer. comuns a todos os povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou
7. O da Independência – Devemos assegurar, no exercício de não. Quem age diferente ou em desacordo com os princípios uni-
funções de interesse público, que as nossas opiniões, não são in- versais acaba sendo punido pela sociedade e sofre todas as conse-
fluenciadas, por fatores alheios a esse interesse público. quências.
Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou
Abaixo, alguns Desafios Éticos com que nos defrontamos dia- mantidos por determinado indivíduo, classe ou sociedade, portan-
riamente: to, em geral, dependem basicamente da cultura relacionada com o
1. Se não é proibido/ilegal, pode ser feito – É óbvio que, exis- ambiente onde estamos inseridos. É comum existir certa confusão
tem escolhas, que embora, não estando especificamente referidas, entre valores e princípios, todavia, os conceitos e as aplicações são
na lei ou nas normas, como proibidas, não devem ser tomadas. diferentes.
2. Todos os outros fazem isso – Ao longo da história da humani- Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e,
dade, o homem esforçou-se sempre, para legitimar o seu compor- acima de tudo, contestáveis. O que vale para você não vale neces-
tamento, mesmo quando, utiliza técnicas eticamente reprováveis. sariamente para os demais colegas de trabalho. Sua aplicação pode
ou não ser ética e depende muito do caráter ou da personalidade
da pessoa que os adota.

131
ÉTICA
Na prática, é muito mais simples ater-se aos valores do que Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios
aos princípios, pois este último exige muito de nós. Os valores com- de cidadania: respeitar o sinal vermelho no transito, não jogar papel
pletamente equivocados da nossa sociedade – dinheiro, sucesso, na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comporta-
luxo e riqueza – estão na ordem do dia, infelizmente. Todos os dias mento está o respeito ao outro.
somos convidados a negligenciar os princípios e adotar os valores No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra
ditados pela sociedade. civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego
Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do es- na palavra politikos – aquele que habita na cidade.
pírito, as quais, por um esforço da vontade, inclinam à prática do Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “ci-
bem. Aristóteles afirmava que há duas espécies de virtudes: a inte- dadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cida-
lectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e dão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado,
crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao ou no desempenho de seus deveres para com este”.
passo que a virtude moral é adquirida com o resultado do hábito. Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um
Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em estado - nação com certos direitos e obrigações universais em um
nós por natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser específico nível de igualdade (Janoski, 1998). No sentido atenien-
alterado pela força do hábito, portanto, virtudes nada mais são do se do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das
que hábitos profundamente arraigados que se originam do meio decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião dos
onde somos criados e condicionados através de exemplos e com- chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se
portamentos semelhantes. agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro
Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da
exemplo, conhecia os princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar população determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluí-
valores como a supremacia da raça ariana, a aniquilação da oposi- dos os escravos, mulheres e artesãos).
ção e a dominação pela força. Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade
No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
seja, por vezes, insuportável, deparamo-nos com profissionais que se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
atropelam os princípios, como se isso fosse algo natural, um meio divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação
de sobrevivência, e adotam valores que nada tem a ver com duas para o bem estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste
grandes necessidades corporativas: a convivência pacífica e o espí- desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, res-
rito de equipe. Nesse caso, virtude é uma palavra que não faz parte peitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como to-
do seu vocabulário e, apesar da falta de escrúpulo, leva tempo para das às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer
destituí-los do poder. obrigado, desculpe, por favor, e bom dia quando necessário... até
Valores e virtudes baseados em princípios universais são inego- saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas,
ciáveis e, assim como a ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que en-
Entretanto, conceitos como liberdade, felicidade ou riqueza não frentamos em nosso mundo.
podem ser definidos com exatidão. Cada pessoa tem recordações, “A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre bus-
experiências, imagens internas e sentimentos que dão um sentido car, para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais im-
especial e particular a esses conceitos. perioso dos deveres impostos aos cidadãos.” (Juarez Távora - Militar
O importante é que você não perca de vista esses conceitos e político brasileiro)
e tenha em mente que a sua contribuição, no universo pessoal e Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e
profissional, depende da aplicação mais próxima possível do senso sociais estabelecidos na constituição. Os direitos e deveres de um
de justiça. E a justiça é uma virtude tão difícil, e tão negligenciada, cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos
que a própria justiça sente dificuldades em aplicá-la, portanto, lute nossas obrigações permitimos que o outro exerça também seus
pelos princípios que os valores e as virtudes fluirão naturalmente. direitos. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e
obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer
a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais.
ÉTICA E DEMOCRACIA: EXERCÍCIO DA CIDADANIA Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos
da educação de um país.
Ética e democracia: exercício da cidadania. A Constituição da República Federativa do Brasil foi promul-
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores gada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacional Consti-
históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma tuinte, composta por 559 congressistas (deputados e senadores).
ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade A Constituição consolidou a democracia, após os anos da ditadura
e seus grupos. militar no Brasil.
Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos A cidadania está relacionada com a participação social, porque
de ética. remete para o envolvimento em atividades em associações cultu-
Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e rais (como escolas) e esportivas.
deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade.
É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se Deveres do cidadão
de uma palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje - Votar para escolher os governantes;
significa, em essência, o direito de viver decentemente. - Cumprir as leis;
Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. É - Educar e proteger seus semelhantes;
poder votar em quem quiser sem constrangimento. É poder pro- - Proteger a natureza;
cessar um médico que age de negligencia. É devolver um produto - Proteger o patrimônio público e social do País.
estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro,
índio, homossexual, mulher sem ser descriminado. De praticar uma
religião sem se perseguido.

132
ÉTICA
Direitos do cidadão “- Legalidade - A legalidade, como princípio da administração
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência so- (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em
cial, lazer, entre outros; toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, mas pre- exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar,
cisa assinar o que disse e escreveu; sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade dis-
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento e na sua ciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (...)
ação na cidade; - Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício ou mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao admi-
profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso; nistrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim
- Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publicá-la e legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa
tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros; ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse
- Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pes-
herdeiros; soal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações
- Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma cidade administrativas (...)
para outra, ficar ou sair do país, obedecendo à lei feita para isso. - Moralidade – A moralidade administrativa constitui, hoje em
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública
que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. Tradicio- (...). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito –
nalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, cientí- da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como
fica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes “o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da
ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a Administração” (...)
própria vida, quando conforme aos costumes considerados corre- - Publicidade - Publicidade é a divulgação oficial do ato para
tos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode conhecimento público e início de seus efeitos externos. (...) O prin-
ser a própria realização de um tipo de comportamento. cípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de
Enquanto uma reflexão científica, que tipo de ciência seria a assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento
ética? Tratando de normas de comportamentos, deveria chamar-se e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através
uma ciência normativa. Tratando de costumes, pareceria uma ciên- dos meios constitucionais (...)
cia descritiva. Ou seria uma ciência de tipo mais especulativo, que - Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade
tratasse, por exemplo, da questão fundamental da liberdade? administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimen-
Que outra ciência estuda a liberdade humana, enquanto tal, e to funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa,
em suas realizações práticas? Onde se situa o estudo que pergunta que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legali-
se existe a liberdade? E como ele deveria ser definida teoricamente, dade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satis-
a como deveria ser vivida, praticamente? Ora, ligado ao problema fatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus
da liberdade, aparece sempre o problema do bem e do mal, e o membros. (...).”
problema da consciência moral e da lei, e vários outros problemas Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o
deste tipo. exercício de determinada função. Ressalta-se que essa função não
é livre, devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse
público, da coletividade ou da Administração. Segundo Maria Sylvia
ÉTICA E FUNÇÃO PÚBLICA Z. Di Pietro, função “é o conjunto de atribuições às quais não corres-
ponde um cargo ou emprego”.
E na Administração Pública, qual o papel da ética? No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores,
Uma vez que é através das atividades desenvolvidas pela Ad- além das normatizações vigentes nos órgão e entidades públicas
ministração Pública que o Estado alcança seus fins, seus agentes que regulamentam e determinam a forma de agir dos agentes pú-
públicos são os responsáveis pelas decisões governamentais e pela blicos, devem respeitar os valores éticos e morais que a sociedade
execução dessas decisões. impõe para o convívio em grupo. A não observação desses valores
Para que tais atividades não desvirtuem as finalidades estatais acarreta uma série de erros e problemas no atendimento ao públi-
a Administração Pública se submete às normas constitucionais e às co e aos usuários do serviço, o que contribui de forma significativa
leis especiais. Todo esse aparato de normas objetiva a um compor- para uma imagem negativa do órgão e do serviço.
tamento ético e moral por parte de todos os agentes públicos que Um dos fundamentos que precisa ser compreendido é o de que
servem ao Estado. o padrão ético dos servidores públicos no exercício de sua função
pública advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua
Princípios constitucionais que balizam a atividade administra- relação com o público.
tiva: O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no exer-
Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pau- cício de suas funções, mas 24 horas por dia durante toda a sua vida.
tar seus atos pelos princípios elencados na Constituição Federal, em O caráter público do seu serviço deve se incorporar à sua vida priva-
seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta de da, a fim de que os valores morais e a boa-fé, amparados constitu-
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e cionalmente como princípios básicos e essenciais a uma vida equili-
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali- brada, se insiram e seja uma constante em seu relacionamento com
dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. os colegas e com os usuários do serviço.
Quanto aos citados princípios constitucionais, o entendimento O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Po-
do doutrinador pátrio Hely Lopes Meirelles é o seguinte: der Executivo Federal estabelece no primeiro capítulo valores que
vão muito além da legalidade.

133
ÉTICA
II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento – A atitude de serviço e interesse visando ao coletivo deve ser
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o o elemento mais importante da cultura administrativa. A mentali-
legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, dade e o talento se encontram na raiz de todas as considerações
o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e sobre a ética pública e explicam por si mesmos, a importância do
o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e§ 4°, trabalho administrativo;
da Constituição Federal. – Constitui um importante valor deontológico potencializar o
Cumprir as leis e ser ético em sua função pública. Se ele cum- orgulho são que provoca a identificação do funcionário com os fins
prir a lei e for antiético, será considerada uma conduta ilegal, ou do organismo público no qual trabalha. Trata-se da lealdade ins-
seja, para ser irrepreensível tem que ir além da legalidade. titucional, a qual constitui um elemento capital e uma obrigação
central para uma gestão pública que aspira à manutenção de com-
Os princípios constitucionais devem ser observados para que portamentos éticos;
a função pública se integre de forma indissociável ao direito. Esses – A formação em ética deve ser um ingrediente imprescindí-
princípios são: vel nos planos de formação dos funcionários públicos. Ademais se
– Legalidade – todo ato administrativo deve seguir fielmente devem buscar fórmulas educativas que tornem possível que esta
os meandros da lei. disciplina se incorpore nos programas docentes prévios ao acesso à
– Impessoalidade – aqui é aplicado como sinônimo de igualda- função pública. Embora, deva estar presente na formação contínua
de: todos devem ser tratados de forma igualitária e respeitando o do funcionário. No ensino da ética pública deve-se ter presente que
que a lei prevê. os conhecimentos teóricos de nada servem se não se interiorizam
– Moralidade – respeito ao padrão moral para não comprome- na práxis do servidor público;
ter os bons costumes da sociedade. – O comportamento ético deve levar o funcionário público à
– Publicidade – refere-se à transparência de todo ato público, busca das fórmulas mais eficientes e econômicas para levar a cabo
salvo os casos previstos em lei. sua tarefa;
– Eficiência – ser o mais eficiente possível na utilização dos – A atuação pública deve estar guiada pelos princípios da igual-
meios que são postos a sua disposição para a execução do seu tra- dade e não discriminação. Ademais a atuação de acordo com o in-
balho. teresse público deve ser o “normal” sem que seja moral receber
retribuições diferentes da oficial que se recebe no organismo em
A GESTÃO PÚBLICA NA BUSCA DE UMA ATIVIDADE ADMINIS- que se trabalha;
TRATIVA ÉTICA – O funcionário deve atuar sempre como servidor público e
Com a vigência da Carta Constitucional de 1988, a Administra- não deve transmitir informação privilegiada ou confidencial. O fun-
ção Pública em nosso país passou a buscar uma gestão mais eficaz e cionário como qualquer outro profissional, deve guardar o sigilo de
moralmente comprometida com o bem comum, ou seja, uma ges- ofício;
tão ajustada aos princípios constitucionais insculpidos no artigo 37 – O interesse coletivo no Estado social e democrático de Direito
da Carta Magna. existe para ofertar aos cidadãos um conjunto de condições que tor-
Para isso a Administração Pública vem implementando políti- ne possível seu aperfeiçoamento integral e lhes permita um exer-
cas públicas com enfoque em uma gestão mais austera, com revisão cício efetivo de todos os seus direitos fundamentais. Para tanto, os
de métodos e estruturas burocráticas de governabilidade. funcionários devem ser conscientes de sua função promocional dos
Aliado a isto, temos presenciado uma nova gestão preocupada poderes públicos e atuar em consequência disto. (tradução livre).”
com a preparação dos agentes públicos para uma prestação de ser- Por outro lado, a nova gestão pública procura colocar à dis-
viços eficientes que atendam ao interesse público, o que engloba posição do cidadão instrumentos eficientes para possibilitar uma
uma postura governamental com tomada de decisões políticas res- fiscalização dos serviços prestados e das decisões tomadas pelos
ponsáveis e práticas profissionais responsáveis por parte de todo o governantes. As ouvidorias instituídas nos Órgãos da Administração
funcionalismo público. Pública direta e indireta, bem como junto aos Tribunais de Contas
Neste sentido, Cristina Seijo Suárez e Noel Añez Tellería, em ar- e os sistemas de transparência pública que visam a prestar infor-
tigo publicado pela URBE, descrevem os princípios da ética pública, mações aos cidadãos sobre a gestão pública são exemplos desses
que, conforme afirmam, devem ser positivos e capazes de atrair ao instrumentos fiscalizatórios.
serviço público, pessoas capazes de desempenhar uma gestão vol- Tais instrumentos têm possibilitado aos Órgãos Públicos res-
tada ao coletivo. São os seguintes os princípios apresentados pelas ponsáveis pela fiscalização e tutela da ética na Administração
autoras: apresentar resultados positivos no desempenho de suas funções,
– Os processos seletivos para o ingresso na função pública de- cobrando atitudes coadunadas com a moralidade pública por parte
vem estar ancorados no princípio do mérito e da capacidade, e não dos agentes públicos. Ressaltando-se que, no sistema de controle
só o ingresso como carreira no âmbito da função pública; atual, a sociedade tem acesso às informações acerca da má gestão
– A formação continuada que se deve proporcionar aos funcio- por parte de alguns agentes públicos ímprobos.
nários públicos deve ser dirigida, entre outras coisas, para transmi- Entretanto, para que o sistema funcione de forma eficaz é ne-
tir a ideia de que o trabalho a serviço do setor público deve realizar- cessário despertar no cidadão uma consciência política alavancada
-se com perfeição, sobretudo porque se trata de trabalho realizado pelo conhecimento de seus direitos e a busca da ampla democracia.
em benefícios de “outros”; Tal objetivo somente será possível através de uma profunda
– A chamada gestão de pessoal e as relações humanas na Ad- mudança na educação, onde os princípios de democracia e as no-
ministração Pública devem estar presididas pelo bom propósito e ções de ética e de cidadania sejam despertados desde a infância,
uma educação esmerada. O clima e o ambiente laboral devem ser antes mesmo de o cidadão estar apto a assumir qualquer função
positivos e os funcionários devem se esforçar para viver no cotidia- pública ou atingir a plenitude de seus direitos políticos.
no esse espírito de serviço para a coletividade que justifica a própria
existência da Administração Pública;

134
ÉTICA
Pode-se dizer que a atual Administração Pública está desper- • Um atendimento cortês não significa oferecer ao usuário
tando para essa realidade, uma vez que tem investido fortemente aquilo que não se pode cumprir. Para minimizar as diferentes inter-
na preparação e aperfeiçoamento de seus agentes públicos para pretações para esses procedimentos, uma das opções é a utilização
que os mesmos atuem dentro de princípios éticos e condizentes do bom senso:
com o interesse social. • Quanto à presteza, o estabelecimento de prazos para a en-
Além, dos investimentos em aprimoramento dos agentes pú- trega dos serviços tanto para os usuários internos quanto para os
blicos, a Administração Pública passou a instituir códigos de ética externos pode ajudar a resolver algumas questões.
para balizar a atuação de seus agentes. Dessa forma, a cobrança de • Quanto à urbanidade, é conveniente que a organização inclua
um comportamento condizente com a moralidade administrativa é tal valor entre aqueles que devem ser potencializados nos setores
mais eficaz e facilitada. em que os profissionais que ali atuam ainda não se conscientizaram
Outra forma eficiente de moralizar a atividade administrativa sobre a importância desse dever.
tem sido a aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº Não é à toa que as organizações estão exigindo habilidades
8.429/92) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº intelectuais e comportamentais dos seus profissionais, além de
101/00) pelo Poder Judiciário, onde o agente público que desvia sua apurada determinação estratégica. Entre outros requisitos, essas
atividade dos princípios constitucionais a que está obrigado respon- habilidades incluem:
de pelos seus atos, possibilitando à sociedade resgatar uma gestão - atualização constante;
sem vícios e voltada ao seu objetivo maior que é o interesse social. - soluções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças;
Assim sendo, pode-se dizer que a atual Administração Pública - decisões criativas, diferenciadas e rápidas;
está caminhando no rumo de quebrar velhos paradigmas consubs- - flexibilidade para mudar hábitos de trabalho;
tanciados em uma burocracia viciosa eivada de corrupção e desvio - liderança e aptidão para manter relações pessoais e profis-
de finalidade. Atualmente se está avançando para uma gestão pú- sionais;
blica comprometida com a ética e a eficiência. - habilidade para lidar com os usuários internos e externos.
Para isso, deve-se levar em conta os ensinamentos de Andrés Encerramos esse tópico com o trecho de um texto de Andrés
Sanz Mulas que em artigo publicado pela Escuela de Relaciones Sanz Mulas:
Laborales da Espanha, descreve algumas tarefas importantes que “Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário
devem ser desenvolvidas para se possa atingir ética nas Adminis- realizar as seguintes tarefas, entre outras:
trações. - Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra
“Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário a legitimidade social;
realizar as seguintes tarefas, entre outras: - Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e
– Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo;
a legitimidade social; - Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu
– Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va-
quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo; lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta-
– Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu damente em relação à meta eleita;
conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va- - Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que
lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta- se está imerso;
damente em relação à meta eleita; - Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às
– Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que pessoas.”
se está imerso; Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em cor-
– Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às rupção, extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos
pessoas.” ter como ponto de referência em relação ao serviço público, ou na
vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a partir do qual
possamos, em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou
ÉTICA NO SETOR PÚBLICO daqueles que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não
basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse padrão
Dimensões da qualidade nos deveres dos servidores públicos seja ético, acima de tudo .
Os direitos e deveres dos servidores públicos estão descritos na O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões
Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. éticos dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou
Entre os deveres (art. 116), há dois que se encaixamno paradig- seja, de caráter público, e sua relação com o público. A questão da
ma do atendimentoe do relacionamento que tem como foco prin- ética pública está diretamente relacionada aos princípios funda-
cipal o usuário. mentais, sendo estes comparados ao que chamamos no Direito, de
São eles: “Norma Fundamental”, uma norma hipotética com premissas ide-
- “atender com presteza ao público em geral, prestando as in- ológicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado ao
formações requeridas” e comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, podemos
- “tratar com urbanidade as pessoas”. invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da
Presteza e urbanidade nem sempre são fáceis de avaliar, uma boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos e es-
vez que não têm o mesmo sentido para todas as pessoas, como senciais a uma vida equilibrada do cidadão na sociedade, lembran-
demonstram as situações descritas a seguir. do inclusive o tão citado, pelos gregos antigos, “bem viver”.
• Serviços realizados em dois dias úteis, por exemplo, podem
não corresponder às reais necessidades dos usuários quanto ao
prazo.

135
ÉTICA
Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoali-
dade. Ao contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público EXERCÍCIOS
e seus servidores devem primar pela questão da “impessoalidade”,
deixando claro que o termo é sinônimo de “igualdade”, esta sim é a 1. Considerando os conceitos de direito e de moral, assinale a
questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes, opção correta à luz da filosofia do direito.
não se preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e (A) Kant desenvolveu a teoria do mínimo ético, segundo a qual
expresso, “todos são iguais perante a lei”. o direito representa todo o conteúdo moral obrigatório para
E também a ideia de impessoalidade, supõe uma distinção que a sociedade possa sobreviver minimamente.
entre aquilo que é público e aquilo que é privada (no sentido do (B) Hans Kelsen formulou a teoria da bilateralidade atributiva,
interesse pessoal), que gera portanto o grande conflito entre os in- asseverando que a moral não se distingue do direito, mas o
teresses privados acima dos interesses públicos. Podemos verificar complementa por meio da bilateralidade ou intersubjetividade.
abertamente nos meios de comunicação, seja pelo rádio, televisão, (C) Christian Thomasius propôs a distinção entre o direito e a
jornais e revistas, que este é um dos principais problemas que cer- moral, sob a inspiração pufendorfiana, com base na ideia de
cam o setor público, afetando assim, a ética que deveria estar acima coação.
de seus interesses. (D) Thomas Hobbes desenvolveu a teoria da atributividade, se-
Não podemos falar de ética, impessoalidade (sinônimo de gundo a qual direito e moral estão inter-relacionados, tendo
igualdade), sem falar de moralidade. Esta também é um dos prin- ambos origem no direito natural.
cipais valores que define a conduta ética, não só dos servidores (E) Max Scheler preconizava uma espécie de moral pura, condi-
públicos, mas de qualquer indivíduo. Invocando novamente o or- ção para a existência de um comportamento que, guiado pelo
denamento jurídico podemos identificar que a falta de respeito ao direito e pela ética, não muda segundo as circunstâncias
padrão moral, implica, portanto, numa violação dos direitos do ci-
dadão, comprometendo inclusive, a existência dos valores dos bons 2. Considerando as noções de ética e de moral, bem como os
costumes em uma sociedade. princípios e valores que conduzem nossa sociedade, julgue os itens
A falta de ética na Administração Publica encontra terreno fértil seguintes.
para se reproduzir, pois o comportamento de autoridades públicas I- Um indivíduo em situação de miséria que encontrar, caída na
está longe de se basearem em princípios éticos e isto ocorre devido rua, uma carteira e decidir utilizar o cartão de crédito nela guardado
a falta de preparo dos funcionários, cultura equivocada e especial- para adquirir medicamentos ao seu filho terá agido de acordo com
mente, por falta de mecanismos de controle e responsabilização as normas éticas, mas não com os princípios morais.
adequada dos atos antiéticos. II- Os valores morais variam ao longo do tempo.
A sociedade por sua vez, tem sua parcela de responsabilidade III- O campo da filosofia dedicado a estudar os valores e prin-
nesta situação, pois não se mobilizam para exercer os seus direitos cípios que orientam a conduta dos seres humanos em sociedade é
e impedir estes casos vergonhosos de abuso de poder por parte do denominado ética.
Pode Público.
Um dos motivos para esta falta de mobilização social se dá, de- Assinale a opção correta.
vido á falta de uma cultura cidadã, ou seja, a sociedade não exerce (A) Apenas os itens I e II estão certos.
sua cidadania. A cidadania Segundo Milton Santos “é como uma lei”, (B) Apenas os itens I e III estão certos.
isto é, ela existe, mas precisa ser descoberta, aprendida, utilizada e (C) Apenas os itens II e III estão certos.
reclamada e só evolui através de processos de luta. Essa evolução (D) Todos os itens estão certos.
surge quando o cidadão adquire esse status, ou seja, quando passa
a ter direitos sociais. A luta por esses direitos garante um padrão de 3. Acerca da ética, princípios e valores no serviço público, assi-
vida mais decente. O Estado, por sua vez, tenta refrear os impulsos nale a alternativa correta.
sociais e desrespeitar os indivíduos, nessas situações a cidadania “Note-se que a quase totalidade das sociedades ocidentais
deve se valer contra ele, e imperar através de cada pessoa. Porém tem a dignidade humana como princípio ético, muito embora seus
Milton Santos questiona se “há cidadão neste país”? Pois para ele códigos morais (suas práticas habituais) sejam tão diferentes, por
desde o nascimento as pessoas herdam de seus pais e ao longo da que diferentes são os valores por elas eleitos, embora todos eles
vida e também da sociedade, conceitos morais que vão sendo con- tenham a dignidade humana como alicerce” (MULLER, 2018)
testados posteriormente com a formação de ideias de cada um, po- (A) Os valores possuem uma perspectiva ética, orientando o ser
rém a maioria das pessoas não sabe se são ou não cidadãos. humano a direcionar suas ações para o bem
A educação seria o mais forte instrumento na formação de ci- (B) Os princípios são objetos da escolha moral; ou seja, a quali-
dadão consciente para a construção de um futuro melhor. dade de algo preferível ou estimável
No âmbito Administrativo, funcionários mal capacitados e (C) A probidade administrativa é escolha moral que deve ser
sem princípios éticos que convivem todos os dias com mandos e feita por todo servidor público
desmandos, atos desonestos, corrupção e falta de ética tendem a (D) A moralidade administrativa faz parte dos valores morais
assimilar por este rol “cultural” de aproveitamento em beneficio que regem o comportamento dos servidores públicos, condu-
próprio. zindo seu comportamento profissional para o bem comum

136
ÉTICA
4. Acerca de ética, princípios e valores no serviço público, ana- 8. Acerca da ética e função pública, assinale a alternativa in-
lise as afirmativas abaixo. correta.
I. O princípio é um fundamento ético. (A) É dever do servidor público exercer com zelo e dedicação as
II. O valor é uma escolha moral. atribuições do cargo
III. Os princípios são por nós assimilados ao longo de nossa (B) É dever do servidor levar as irregularidades de que tiver
vida, seja por nossas vivências, seja pelos ensinamentos que rece- ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade su-
bemos. São objetos de escolha moral, a qual torna algo preferível perior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao
ou estimável. conhecimento de outra autoridade competente para apuração
(C) O descumprimento dos deveres funcionais do servidor, des-
Assinale a alternativa correta. critos no art. 116 da Lei 8.112/1990, ensejará a aplicação da
(A) Apenas as afirmativas I e II estão corretas pena de advertência (art. 129), sendo que a reincidência impli-
(B) Apenas a afirmativa III está correta cará na pena de suspensão (art. 130)
(C) As afirmativas I, II e III estão corretas (D) É direito do servidor promover manifestação de apreço ou
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas desapreço no recinto da repartição

5. Sobre a ética, democracia e exercício da cidadania, analise as 9. Quanto à ética no Setor Público, assinale a alternativa cor-
afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F). reta.
( ) Exercício da cidadania é o gozo de direitos e desempenho de (A) É desnecessário estabelecer um padrão de comportamento
deveres pelo cidadão. a ser observado pelos servidores, uma vez que o agir ético deve
( ) A democracia constitui forma de governo pautada pelo res- se basear nas decisões e nos conceitos individuais dos servido-
peito à singularidade, pela defesa da transparência e pela garantia res públicos.
da perpetuação do exercício do poder. (B) A promoção da ética no serviço público prescinde da atua-
( ) O exercício da cidadania deve pautar-se por contornos éti- ção permanente de Conselhos ou Comissões de Ética.
cos, de modo que o exercício da cidadania deve materializar-se na (C) A ética, por tratar-se de elemento subjetivo, torna desne-
escolha da melhor conduta, tendo em vista o bem comum, resul- cessário fornecer aos servidores públicos diretrizes que afir-
tando em uma ação moral como expressão do bem. mem o que deve e o que não deve ser feito.
( ) Democracia é o regime político em que a soberania é exer- (D) A gestão de ética no serviço público deve abordar o exercí-
cida pelo povo. cio das seguintes funções: normalização; educação; monitora-
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de mento; e aplicação de sistemas de consequências em caso de
cima para baixo. atividades antiéticas.
(A) V, V, F, V (E) Todo servidor deve ter estabelecido o conceito do que é
(B) V, V, V, F ético ou antiético, motivo que leva a instituição de códigos de
(C) F, F, V, F ética de servidores públicos a ser desnecessária.
(D) V, F, V, V
10. Sobre a ética no setor público, assinale a alternativa correta.
6. Com relação à ética, à democracia e ao exercício da cidada- (A) Princípio da diligência se refere a agir com zelo e escrúpulo
nia, assinale a alternativa correta. em todas funções
(A) O exercício da cidadania, como uso de direitos e desempe- (B) O princípio da conduta ilibada é o de agir da melhor manei-
nho de deveres, deve pautar-se por contornos éticos. ra esperada em sua profissão e fora dela, com técnica, justiça
(B) O exercício da cidadania tem em vista o bem individual, sem e discrição
observar a conduta coletiva. (C) O princípio da correção profissional diz respeito a não acu-
(C) A cidadania é exercida no campo individual. mular funções incompatíveis
(D) As atribuições cívico-políticas do cidadão independem da (D) O princípio da lealdade e da verdade orienta a guardar se-
forma de governo adotada pelo Estado. gredo sobre as informações que acessa no exercício da profis-
(E) A democracia, a transparência e a divergência de ideias não são
podem estar associadas.

7. Acerca da ética e função pública, assinale a alternativa in- GABARITO


correta.
(A) É dever do servidor atender com presteza ao público em 1 C
geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as pro-
tegidas por sigilo 2 C
(B) É dever do servidor exercer com zelo e dedicação as atribui- 3 C
ções do cargo
(C) É dever do servidor participar de gerência ou administração 4 A
de sociedade privada, personificada ou não personificada 5 D
(D) É dever do servidor cumprir as ordens superiores, exceto
6 A
quando manifestamente ilegais
7 C
8 D
9 D
10 A

137
ÉTICA

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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TEMAS EDUCACIONAIS
E PEDAGÓGICOS

“O trabalho docente é uma atividade intencional, planejada


PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PE- conscientemente visando a atingir objetivos de aprendizagem. Por
DAGÓGICO. PROCESSO DE PLANEJAMENTO: CONCEP- isso precisa ser estruturado e ordenado”. LIBÃNEO, 1994, p. 96)
ÇÃO, IMPORTÂNCIA, DIMENSÕES E NÍVEIS. PLANEJA- Neste patamar de como é descrito a organização do traba-
MENTO PARTICIPATIVO: CONCEPÇÃO, CONSTRUÇÃO, lho pedagógico, o planejamento é entendido como instrumento
ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO. PLANEJAMENTO pelo qual se estima o modo de elaborar, executar e avaliar os
ESCOLAR: PLANOS DA ESCOLA, DO ENSINO E DA AULA
planos de ensino que organizam o trabalho docente. Porquanto
o planejamento norteia as possibilidades do processo de ensino
Os regulamentos de ensino existem como ferramentas aprendizagem, constituindo-se assim, em um todo ativo, visto
que confiabilizam o prosseguimento do processo educativo que ao falar de planejamento deve-se inferir como sua caracte-
sistematizado e que, por isso, todas as suas ações têm como rística principal a reflexão. São fatores do sucesso do trabalho
intento aprovar os objetivos que a escola pretendem alcançar, docente a viabilidade das ações dispostas no plano de ensino
isto denota envergadura para ter uma inserção social analítica durante o planejamento, que neste contexto é um documento
e modificadora. Portanto, o propósito da escola é que as crian- que descreve os procedimentos fundamentais do ensino e as
ças obtenham os conhecimentos produzidos pela humanidade, respectivas considerações de controle e projeções indicativas
ampliem as possibilidades para operá-los, transformá-los e re- de intervenções diarias realizadas pelos educadores.
direcioná-los tendo como meta alocar os avanços da civilização A partir da ação docente planejada pode-se problemati-
a serviço da humanização da sociedade. zá-la, ampliar a compreensão teórica sobre esta, elaborando
Diante disso, o projeto político-pedagógico brota da cons- ações estratégicas compartilhadas para transformá-las. Portan-
trução coletiva da Educação Escolar. Ele é a tradução maior da to, a definição da direção política da prática educativa decor-
organização pedagógica que a escola faz de suas finalidades, re da análise crítica da atual prática educativa, desabrochando
a partir das necessidades que lhe estão colocadas diante dos numa perspectiva também crítica para o futuro trabalho.
recursos humanos e materiais. O projeto político-pedagógico A reflexão no ato do planejamento em si incube-se de fixar
ganha coerência e estabilidade à medida que apresenta a rea- parâmetros e requisitos, que se destinará ao cidadão que se
lidade na qual se insere, destacando como são organizadas as quer formar dentro da atual conjuntura da sociedade, preven-
práticas para trabalhar com sujeitos que atenderão, pois seu do quais as aprendizagens realmente significativas e contextu-
enfoque é o eixo principal da organização das práticas pedagó- alizadas com as quais as crianças terão acesso e evidenciando
gicas que serão adotadas pelo educador. propriedades de novos conhecimentos, uma vez que, a ação
No ensino da Educação Infantil, as instituições se aparelha de obtenção do conhecimento deriva da relação sujeito-obje-
de forma incisiva com a necessidade social que está cultural- to-conhecimento, neste sentido os aspectos do planejamento
mente descrita. No âmbito do currículo, há a significação de são articulados na totalidade das reflexões. Tal premissa do pla-
como se dará a organização do trabalho pedagógico como ex- nejamento, ou seja, da organização pedagógica nem sempre é
plicitação do fazer da escola e do professor, mostrando que adotada por todos os educadores, é o que encontra-se muito no
sucedem ações ordenadas e amparadas por uma filosofia edu- contexto geral da educação, onde profissionais necessitam res-
cacional. E é neste sentido que o professor desempenha papel taurar sua compreensão de planificação, ainda tida como mera
fundamental, visto que ele organizará o dia a dia das vivências formalidade sistêmica e burocrática, sem ação coesa, que em
que as crianças terão acesso na Educação Infantil, e bem como linhas gerais restringe-se em um mecanismo nulo.
os procedimentos que as levarão a atingir maiores níveis de de- Em nível pedagógico do sistema educativo o professor é
senvolvimento. responsável pela organização do trabalho docente observan-
Falar de organização remete-se a um acompanhamento e do os tramites da função maior da escola, o de democratizar
controle que objetiva detalhar as metas e prioridades dentro do os conhecimentos construídos pela humanidade ao longo da
trabalho docente, ou seja, a organização é uma peça chave que história. Na Educação Infantil os conteúdos programáticos dos
está intimamente ligada ao objetivo primordial da escola que é eixos oferecem propostas de encaminhamento para alcançar
promover o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. É os objetivos traçados pelo educador, mediando as crianças a
importante pontuar que a organização do trabalho pedagógico aprenderem e a construírem novos conhecimentos. Nesta di-
se dá em dois níveis: no da escola como um todo, com seu pro- reção a organização pedagógica da Educação Infantil dispõe
jeto político pedagógico e no da sala de aula, incluindo as ações de alternativas metodológicas como o trabalho com projetos
do professor na dinâmica com seus alunos, através de seu pla- que ressurge com nova terminologia “Pedagogia de Projetos”
nejamento e planos de aulas. Este trabalho como é mencionado que adota uma visão global e interdisciplinar dos conteúdos. Os
por Libâneo é uma atividade global da organização que requer Temas Geradores formam as crianças na exploração de temas
diligência e preparação. cíclicos ou geradores, e os Centros de Interesse que decorre da
observação, associação e expressão do agrupamento de conte-
údos e atividades em torno de temas centrais.

139
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Outro fator essencial na organização do trabalho docente traduz uma escolha política. A ação de planejar é carregada de
diz respeito a função desempenhada pela avaliação da aprendi- intencionalidades, por isso, o planejamento deve ser uma ação
zagem. Comumente são instrumentos avaliativos encontrados pedagógica comprometida e consciente.
na Educação Infantil os pareceres descritivos, relatórios, fichas Dimensão técnica – o saber técnico é aquele que permite
comportamentais, etc. Esses mecanismos são geralmente uni- viabilizar a execução do ensino, é o saber fazer a atividade profis-
formizados adquirindo assim uma conotação mecânica, onde sional. No caso da prática do planejamento educacional, o saber
acata mais os interesses da família, do que descrevem o real técnico determina a competência para organizar as ações que se-
grau de desenvolvimento infantil. Apreender os elementos que rão desenvolvidas com visando à aprendizagem dos alunos. Cabe
compõem a organização pedagógica, são centrais na organiza- ao professor saber fazer, elaborar, organizar a prática docente.
ção do planejamento de ensino, pois cuida da articulação in-
terna que estes fazem, então, as práticas pedagógicas neces- Momentos ou etapas do planejamento
sitam ser re-significadas, revendo seus paradigmas, conceitos, Por ser uma atividade de natureza prática, o planejamen-
no movimento da ação-consideração. Diante disso, a avaliação to organiza-se em etapas sequenciais, que devem ser rigorosa-
deve ser percebida como estratégia de observação no processo mente respeitadas no ato de planejar:
individual, que declara com mais precisão as reais conquistas 1.Diagnóstico sincero da realidade concreta dos alunos. Es-
nas experiências educativas. E não se pauta em comportamen- tudo real da escola e a sua relação com todo contexto social
tos padronizados, mas em dados relevantes, que encaminham que está inserida.
novas oportunidades de desenvolvimento. 2. Os alunos e os professores possuem uma experiência so-
Em consonância a todo o exposto, o planejamento como cial e cultural que não pode ser ignorada pelo planejamento.
perno que norteia a organização pedagógica do trabalho do- 3.Organização do trabalho pedagógico. Nesta etapa os ele-
cente na Educação Infantil perpassa pelos eixos de conteúdos, mentos da Didática são sistematizados através de escolhas in-
as formas de organização sistêmica seguida pela instituição e tencionais. Definição de objetivos a serem alcançados, escolha
as alternativas de avaliação do ensino-aprendizagem. De modo de conteúdos a serem aprendidos pelos alunos e a seleção das
que para compreender melhor todo esse procedimento da or- atividades, técnicas de ensino, que serão desenvolvidas para
ganização é importante refletir a formação de iniciativas de que a aprendizagem dos alunos se efetive. Esse momento re-
propostas de inovação e criatividade a fim de atingir a operali- presenta a organização da metodologia de ensino.
zação de uma prática pedagógica contextualizada e em confor- 4. Sistematização do processo de avaliação da aprendiza-
midade com a realidade de cada criança. gem. Avaliação entendida como um meio, não um fim em si
Pensar em Educação Infantil implica ponderar que tipo de mesma, mas um meio que acompanha todo processo da me-
trabalho se pretende desenvolver. Neste sentido, a proposta todologia de ensino. A avaliação deve diagnosticar, durante
pedagógica desenvolvida precisa estar voltada à formação inte- a aplicação da metodologia de ensino, como os alunos estão
gral das crianças. Para isso eles devem ser concebidos como se- aprendendo e o que aprenderam, para que a tempo, se for ne-
res históricos e sociais, construtores de conhecimento e cultura cessário, a metodologia mude seus procedimentos didáticos,
e que estão em permanente progresso. Portanto vale lembrar favorecendo a reelaboração do ensino, tendo em vista a efetiva
que as práticas pedagógicas destinadas às crianças devem estar aprendizagem.
sempre em harmonia com a realidade das mesmas. Requisitos para o planejamento do ensino
Por isso o trabalho docente deve considerar as manifesta- Agora que estudamos que o planejamento necessita de um
ções culturais, trazidas pela criança, bem como o meio social rigor de sistematização das atividades, apresentamos alguns re-
em que ela está inserida. Esta postura do planejamento valoriza quisitos essenciais para o professor realizar um planejamento
cada indivíduo em suas peculiaridades e acaba por fomentar justo e coerente com seus alunos. Lembre-se, estes requisitos
nele o respeito e a consideração pelo outro, além de propiciar são saberes adquiridos ao longo da formação de professor, por
uma aprendizagem significativa bem delineada pelo planeja- isso, aproveitem ao máximo cada disciplina, cada conteúdo e
mento/plano da prática docente no cotidiano da instituição cada atividade.
infantil.1 - Conhecer em profundidade os conceitos centrais e leis ge-
rais da disciplina, conteúdos básicos, bem como dos seus pro-
Planejamento e ação pedagógica: dimensões técnicas e cedimentos investigativos (e como surgiram historicamente na
políticas do planejamento atividade científica).
Todo planejamento deve retratar a prática pedagógica da - Saber avançar das leis gerais para a realidade concreta,
escola e do professor. No entanto, a história da educação bra- entender a complexidade do conhecimento para poder orientar
sileira tem demonstrado que o planejamento educacional tem a aprendizagem.
sido uma prática desvinculada da realidade social, marcada por - Escolher exemplos concretos e atividades práticas que de-
uma ação mecânica, repetitiva e burocrática, contribuindo pou- monstrem os conceitos e leis gerais, os conteúdos e os assuntos
co para mudanças na qualidade da educação escolar. Por isso, de maneira que todos os entendam.
caro(a) aluno(a), ao estudar esta unidade, reflita sobre a impor- - Iniciar o ensino do assunto pela realidade concreta (obje-
tância do planejamento como uma prática crítica e transforma- tos, fenômenos, visitas, filmes), para que os alunos formulem re-
dora do pedagogo; por isso, faz-se necessário que você compre- lações entre conceitos, ideias- chave, das leis particulares às leis
enda as duas dimensões que constituem o planejamento: gerais, para chegar aos conceitos científicos mais complexos.
Dimensão política – toda ação humana é eminentemen- - Saber criar problemas e saber orientá-los (situações de
te uma ação política. O planejamento não pode ser uma ação aprendizagem mais complexas, com maior grau de incerteza
docente encarada como uma atividade neutra, descompromis- que propiciam em maior medida a iniciativa e a criatividade do
sada e ingênua. Mesmo quando o docente “não” planeja, ele aluno).
1 Fonte: www.webartigos.com

140
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Objetivo da educação e do ensino do professor. Para permanecer planejando o ensino atualizado,
Toda ação humana tem um propósito orientado e dirigido contemporâneo e coerente com seus alunos, faz-se necessária
em prol daquilo que se quer alcançar. Assim é a ação docente a continuação dos estudos através da formação continuada.
que deve ser realizada em função dos objetivos educacionais. Quando explico sobre o que ensinar, faço referência aos
Objetivos educacionais orientam a tomada de decisão no pla- conteúdos de ensino. A seleção dos conteúdos que farão parte
nejamento, porque são proposições que expressam com clareza do ensino é uma tomada de decisão carregada de intenciona-
e objetividade a aprendizagem que se espera do aluno. São os lidades. É da responsabilidade do professor escolher os conte-
objetivos que norteiam a seleção e organização dos conteúdos, údos que desenvolverão aprendizagens nos alunos para que
a escolha dos procedimentos metodológicos e definem o que estes expliquem a realidade conscientemente. Deve-se ensinar
avaliar. o que é significativo sobre o mundo, a vida, a experiência exis-
Os objetivos são finalidades que pretendemos alcançar. Re- tencial, as possibilidades de mudança, o trabalho, o passado, o
tratam os valores e os ideais educacionais, a aprendizagem dos presente e o futuro do homem (MARTINS, 1995.)
conteúdos das ciências, as expectativas e necessidades de um Veja o que escreve o professor Libâneo sobre os conteú-
grupo social. Para articularmos os valores gerais da educação dos de ensino: Conteúdos de ensino são o conjunto de conhe-
(concepção de educação) com as aprendizagens dos conteúdos cimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais
programáticos e as atividades que o professor pretende desen- de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente,
volver na sua aula, devemos elaborar os objetivos gerais e os tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na
específicos. sua vida prática. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos,
O objetivo geral expressa propósitos mais amplos acerca processos, princípios, leis científicas, regras; habilidades cog-
da função da educação, da escola, do ensino, considerando as noscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e
exigências sociais, do desenvolvimento da personalidade ou do aplicação, hábitos de estudos, de trabalho e de convivência so-
desenvolvimento profissional dos alunos. Podemos pontuar os cial; valores convicções, atitudes. São expressos nos programas
seguintes objetivos gerais que orientam a prática dos profes- oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, nas
sores: atitudes e convicções do professor, nos exercícios nos métodos
- A educação escolar deve possibilitar a compreensão do e forma de organização do ensino. Podemos dizer que os con-
mundo e os conteúdos de ensino; instrumentalizar cultural- teúdos retratam a experiência social da humanidade no que se
mente os professores e os alunos para o exercício consciente refere a conhecimentos e modos de ação, transformando-se em
da cidadania; instrumentos pelos quais os alunos assimilam, compreendem e
- A escola deve garantir o acesso e a qualidade do ensino a enfrentam as exigências teóricas e práticas da vida social. Cons-
todos, garantindo o desenvolvimento das capacidades físicas, tituem o objeto de mediação escolar no processo de ensino,
mentais, emocionais dos professores e alunos; no sentido de que a assimilação e compreensão dos conheci-
- A educação escolar deve formar a capacidade crítica e mentos e modos de ação se convertem em ideias sobre as pro-
criativa dos conteúdos das matérias de ensino. Sob a respon- priedades e relações fundamentais da natureza e da sociedade,
sabilidade do professor os alunos desenvolverão o raciocínio formando convicções e critérios de orientação das opções dos
investigativo e de reflexão; alunos frente às atividades teóricas e práticas postas pela vida
- O percurso de escolarização visa atender à formação da social (1991, p.128-129).
qualidade de vida humana. Professores e alunos deverão de- Desta forma, os conteúdos de ensino junto com a metodo-
senvolver uma atitude ética frente ao trabalho, aos estudos, à logia são responsáveis pela produção e elaboração das aprendi-
natureza etc. zagens e dos saberes na escola. Libâneo (1991) acrescenta que
O objetivo específico expressa as expectativas do professor escolher os conteúdos de ensino não é tarefa fácil; por isso,
sobre o que deseja obter dos alunos no processo de ensino. Ao quanto mais planejado, ordenado e esquematizado estiver mais
iniciar o planejamento, o professor deve analisar e prever quais os alunos entenderão a sua importância social; porém, a sele-
resultados ele pretende obter, com relação à aprendizagem dos ção e a organização dos conteúdos não se confundem com uma
alunos. Esta aprendizagem pode ser da ordem dos conhecimen- mera listagem.
tos, habilidades e hábitos, atitudes e convicções, envolvendo Cabe ao professor selecionar e organizar o conteúdo de-
aspectos cognitivo, afetivo, social e motor. vidamente planejado para atender às necessidades dos seus
Os objetivos específicos devem estar vinculados aos objeti- alunos. Conteúdos de ensino bem selecionados devem atender
vos gerais, e retratar a realidade concreta da escola, do ensino aos critérios de validade, flexibilidade, significação, possibilida-
e dos alunos. Correspondem às aprendizagens de conteúdos, de de elaboração pessoal; sem esses critérios, o professor corre
atitudes e comportamentos. o risco de escolher conteúdos sem relevância para seus alu-
nos. Atendendo aos critérios, o conteúdo terá validade quando
Seleção e organização dos conteúdos escolares apresenta o caráter científico do conhecimento, e faz parte de
Os estudos da Didática contribuem com o professor, ofere- um conhecimento que reflete os conceitos, ideias e métodos de
cendo possibilidades de escolher o que ensinar, para que o alu- uma ciência. O conteúdo será significativo quando expressar de
no aprenda e descubra como aprendeu. Essa é uma habilidade forma coerente os objetivos sociais e pedagógicos da educação,
que requer conhecimento e um compromisso com a realidade atendendo à formação cultural e científica do aluno; eles não
do aluno. Neste sentido, o professor deve ter conhecimento do são rígidos, são flexíveis. O conteúdo de ensino está a serviço
presente e perspectivas de futuro, tanto pessoal como dos alu- da aprendizagem dos alunos, e estes o utilizam para explicar
nos. Em hipótese alguma o professor pode se basear na ideia de a sua realidade. Todo conteúdo de ensino deve ser articulado
que deve somente ensinar o que lhe ensinaram. É neste senti- com a experiência social do aluno. Para que haja a possibilidade
do, que o Curso de Graduação em Licenciatura: Pedagogia, Ma- de elaboração pessoal e o domínio efetivo do conteúdo, conhe-
temática, Geografia etc. é reconhecido como a formação inicial cimento, o ensino não pode se limitar à memorização e repeti-

141
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ção de fórmulas e regras. Deve, fundamentalmente, possibilitar Veja o que é importante planejar, discutir, elaborar e defi-
a compreensão teórica e prática através de conhecimentos e nir nessa primeira semana do ano:
habilidades, obtidas na aula ou obtidas em situações concretas 1. as diretrizes quanto à organização e à administração da
da vida cotidiana (LIBÂNEO, 1991). escola,
Podemos considerar três fontes que o professor deve uti- 2. normas gerais de funcionamento da escola,
lizar para selecionar os conteúdos de ensino e organizar suas 3. atividades coletivas do corpo docente,
aulas: a primeira é a programação oficial, na qual são fixados os 4. o calendário escolar,
conteúdos de cada matéria; a segunda são os próprios conheci- 5. o período de avaliações,
mentos básicos das ciências transformados em matéria de ensi- 6. o conselho de classe,
no; a terceira são as exigências teóricas e práticas que emergem 7. as atividades extraclasse,
da experiência de vida dos alunos, tendo em vista o mundo do 8. o sistema de acompanhamento e aconselhamento dos
trabalho e a participação democrática na sociedade. alunos e o trabalho com os pais,
9. as metas da escola e os passos que precisam ser dados,
Planejamento Educacional durante o ano, para atingi-las,
O Planejamento Educacional, de responsabilidade do esta- 10. os projetos realizados no ano anterior,
do, é o mais amplo, geral e abrangente. Tem a duração de 10 11. os novos projetos que serão desenvolvidos durante o
anos e prevê a estruturação e o funcionamento da totalidade do ano,
sistema educacional. Determina as diretrizes da política nacional 12. os temas transversais que serão trabalhados e distribuí-
de educação. Segundo Sant’anna (1986), o Planejamento Edu- -los nos meses,
cacional “é um processo contínuo que se preocupa com o para 13. revisar o PPP.
onde ir e quais as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em De acordo com uma pesquisa feita por Vasconcellos (2000),
vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o há a descrença na utilidade do planejamento. Ele aponta que
desenvolvimento da educação atenda tanto as necessidades do alguns professores consideram impossível dar conta da tarefa
desenvolvimento da sociedade, quanto as do indivíduo.” É um por diferentes motivos: o trabalho em sala de aula é dinâmico e
processo de abordagem racional e científica dos problemas da imprevisível; faltam condições mínimas, como tempo; e existe
educação, incluindo definição de prioridades e levando em conta o pensamento de que nada vai mudar e, portanto, basta repetir
a relação entre os diversos níveis do contexto educacional. o que já tem sido feito. Há também aqueles que acreditam na
Segundo Coaracy (1972), os objetivos do Planejamento importância do planejamento, mas não concordam com a ma-
Educacional são:
neira como é feito.
1. relacionar o desenvolvimento do sistema educacional
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural
Planejamento Curricular
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular;
O Planejamento Curricular tem por objetivo orientar o
2. estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoa-
trabalho do professor na prática pedagógica da sala de aula.
mento dos fatores que influem diretamente sobre a eficiência
Segundo Coll (2004), definir o currículo a ser desenvolvido em
do sistema educacional (estrutura, administração, financiamen-
um ano letivo é uma das tarefas mais complexas da prática
to, pessoal, conteúdo, procedimentos e instrumentos);
educativa e de todo o corpo pedagógico das instituições. De
3. alcançar maior coerência interna na determinação dos
acordo com Sacristán (2000), “[...] planejar o currículo para seu
objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;
4. conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do desenvolvimento em práticas pedagógicas concretas não só
sistema. exige ordenar seus componentes para serem aprendidos pelos
É condição primordial do processo de planejamento inte- alunos, mas também prever as próprias condições do ensino no
gral da educação que, em nenhum caso, interesses pessoais ou contexto escolar ou fora dele. A função mais imediata que os
de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais que vão con- professores devem realizar é a de planejar ou prever a prática
tribuir para a dignificação do homem e para o desenvolvimento do ensino.”
cultural, social e econômico do país. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados
O PNE - Plano Nacional de Educação é o resultado do Plane- por equipes de especialistas ligadas ao Ministério da Educação
jamento Educacional da União. O novo Plano Nacional de Edu- (MEC), têm por objetivo estabelecer uma referência curricular
cação para a próxima década (2011-2020) foi apresentado no e apoiar a revisão e/ou a elaboração da proposta curricular dos
dia 15 de dezembro de 2010, pelo ministro da Educação Fernan- Estados ou das escolas integrantes dos sistemas de ensino. Os
do Haddad ao presidente Lula. O projeto de lei descreve, dentre PCNs são, portanto, uma proposta do MEC para a eficiência da
outras coisas, as 20 metas para os próximos dez anos. educação escolar brasileira. São referências a todas as escolas
do país para que elas garantam aos estudantes uma educação
Planejamento Escolar básica de qualidade. Seu objetivo é garantir que crianças e
Mais um ano se inicia! Um bom Planejamento Escolar feito jovens tenham acesso aos conhecimentos necessários para a
na primeira semana do ano letivo, certamente, evitará proble- integração na sociedade moderna como cidadãos conscientes,
mas futuros. Esse é o objetivo da Semana Pedagógica: reunir responsáveis e participantes.
gestores, orientadores, supervisores, coordenadores e corpo Todavia, a escola não deve simplesmente executar o que é
docente para planejarem os próximos 200 dias letivos. É o mo- determinado nos PCNs, mas sim, interpretar e operacionalizar
mento de integrar os professores que estão chegando, colocan- essas determinações, adaptando-as de acordo com os objetivos
do-os em contato com o jeito de trabalhar do grupo, e, claro, que quer alcançar, coerentes com a clientela e de forma que a
mostrar os dados da escola para todos os docentes, além de aprendizagem seja favorecida. Portanto, o planejamento curri-
apresentar as informações sobre as turmas para as quais cada cular segundo Turra et al. (1995), “[...] deve ser funcional. Deve
um vai lecionar. promover não só a aprendizagem de conteúdo e habilidades es-

142
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
pecíficas, mas também fornecer condições favoráveis à aplica- Planejamento da ação didática.
ção e integração desses conhecimentos. Isto é viável através da Na prática pedagógica atual o processo de planejamento do
proposição de situações que favoreçam o desenvolvimento das ensino tem sido objeto de constantes indagações quanto à sua
capacidades do aluno para solucionar problemas, muitos dos validade como efetivo instrumento de melhoria qualitativa do
quais comuns no seu dia-a-dia. A previsão global e sistemática trabalho do professor. As razões de tais indagações são múlti-
de toda ação a ser desencadeada pela escola, em consonância plas e se apresentam em níveis diferentes na prática docente.
com os objetivos educacionais, tendo por foco o aluno, cons- A vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado situ-
titui o planejamento curricular. Portanto, este nível de plane- ações bastante questionáveis nesse sentido. Percebeu-se, de
jamento é relativo à escola. Através dele são estabelecidas as início, que os objetivos educacionais propostos nos currículos
linhas-mestras que norteiam todo o trabalho[...]. dos cursos apresentam-se confusos e desvinculados da reali-
dade social. Os conteúdos a serem trabalhados, por sua vez,
Planejamento de Ensino são definidos de forma autoritária, pois os professores, via de
O Planejamento de Ensino é a especificação do planeja- regra, não participam dessa tarefa. Nessas condições, tendem
mento curricular. É desenvolvido, basicamente, a partir da ação a mostrarem-se sem elos significativos com as experiências de
do professor e compete a ele definir os objetivos a serem alcan- vida dos alunos, seus interesses e necessidades.
çados, desde seu programa de trabalho até eventuais e neces- Percebe-se também que os recursos disponíveis para o de-
sárias mudanças de rumo. Cabe ao professor, também, definir senvolvimento do trabalho didático tendem a ser considerados
os objetivos a serem alcançados, o conteúdo da matéria, as es- como simples instrumentos de ilustração das aulas, reduzindo-
tratégias de ensino e de avaliação e agir de forma a obter um -se dessa forma a equipamentos e objetos, muitas vezes até
retorno de seus alunos no sentido de redirecionar sua matéria. inadequados aos objetivos e conteúdos estudados.
O Planejamento de Ensino não pode ser visto como uma Com relação à metodologia utilizada pelo professor, ob-
atividade estanque. Segundo Turra et al. (1995), “[...] o profes- serva-se que esta tem se caracterizado pela predominância de
sor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe que deve atividades transmissoras de conhecimentos, com pouco ou ne-
participar, elaborar e organizar planos em diferentes níveis de nhum espaço para a discussão e a análise crítica dos conteúdos.
complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo envol- O aluno sob esta situação tem se mostrado mais passivo do que
vimento no processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular ativo e, por decorrência, seu pensamento criativo tem sido mais
a participação do aluno, a fim de que este possa, realmente, bloqueado do que estimulado. A avaliação da aprendizagem,
efetuar uma aprendizagem tão significativa quanto o permi- por outro lado, tem sido resumida ao ritual das provas periódi-
tam suas possibilidades e necessidades. O planejamento, neste cas, através das quais é verificada a quantidade de conteúdos
caso, envolve a previsão de resultados desejáveis, assim como assimilada pelo aluno.
também os meios necessários para alcançá-los. A responsabili- Completando esse quadro de desacertos, observa-se ainda
dade do mestre é imensa. Grande parte da eficácia de seu en- que o professor, assumindo sua autoridade institucional, ter-
sino depende da organicidade, coerência e flexibilidade de seu mina por direcionar o processo ensino-aprendizagem de forma
planejamento.” isolada dos condicionantes históricos presentes na experiência
O Planejamento de Ensino deve prever: de vida dos alunos.
1. objetivos específicos estabelecidos a partir dos objetivos No contexto acima descrito, o planejamento do ensino tem
educacionais; se apresentado como desvinculado da realidade social, caracte-
2. conhecimentos a serem aprendidos pelos alunos no sen- rizando-se como uma ação mecânica e burocrática do profes-
tido determinado pelos objetivos; sor, pouco contribuindo para elevar a qualidade da ação peda-
3. procedimentos e recursos de ensino que estimulam, gógica desenvolvida no âmbito escolar.
orientam e promovem as atividades de aprendizagem; No meio escolar, quando se faz referência a planejamento
4. procedimentos de avaliação que possibilitem a verifica- do ensino, a ideia que passa é aquela que identifica o processo
ção, a qualificação e a apreciação qualitativa dos objetivos pro- através do qual são definidos os objetivos, o conteúdo pragmá-
postos, cumprindo pelo menos a função pedagógico-didática, tico, os procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a siste-
de diagnóstico e de controle no processo educacional. mática de avaliação da aprendizagem, bem como a bibliografia
O resultado desse planejamento é o plano de ensino, um básica a ser consultada no decorrer de um curso, série ou disci-
roteiro organizado das unidades didáticas para um ano, um plina de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento
semestre ou um bimestre. Esse plano deve conter: ementa da adotado pela grande maioria dos professores e que, em nome
disciplina, justificativa da disciplina em relação ao objetivos ge- da eficiência do ensino disseminada pela concepção tecnicista
rais da escola e do curso, objetivos gerais, objetivos específicos, de educação, passou a ser valorizado apenas em sua dimensão
conteúdo (com a divisão temática de cada unidade), tempo pro- técnica.
vável (número de aulas do período de abrangência do plano), Ao que parece, essa situação dos componentes do plano de
desenvolvimento metodológico (métodos e técnicas pedagógi- ensino de uma maneira fragmentária e desarticulada do todo
cas específicas da disciplina), recursos tecnológicos, formas de social é que tem gerado a concepção de planejamento incapaz
avaliação e referencial teórico (livros, documentos, sites etc). de dinamizar e facilitar o trabalho didático. Consideramos, con-
Do plano de ensino resultará, ainda, o plano de aula, onde o tudo, que numa perspectiva trasformadora, ou seja, o processo
professor vai especificar as realizações diárias para a concreti- de planejamento visto sob uma perspectiva crítica de educação,
zação dos planos anteriores. passa a extrapolar a simple tarefa de se elaborar um documento
contendo todos os componentes tecnicamente recomendáveis.

143
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Após analisarmos os aspectos do processo de planejamen- nejamento’ nem mesmo há métodos de planejamentos gerais e
to, faremos agora uma síntese do didatismo no planejamento. abstratos que possam ser aplicados a tantas variedades de situ-
Quando falamos em planejar o ensino, ou a ação didática, ações sociais e educacionais principalmente se considerarmos a
estamos prevendo as ações e os procedimentos que o professor natureza política, histórica, cultural, econômica etc. (AZANHA,
vai realizar junto a seus alunos, e a organização das atividades 1993, p. 70-78).
discentes e da experiência de aprendizagem, visando atingir os - Planejamento é um processo de busca de equilíbrio entre
objetivos educacionais estabelecidos. Nesse sentido, o plane- meios e fins, entre recursos e objetivos, na busca da melhoria
jamento de ensino torna-se a operacionalização do currículo do funcionamento do sistema educacional. Como processo o
escolar. planejamento não corre em um momento do ano, mas a cada
Assim, no que se refere ao aspecto didático, segundo HAIDT dia. A realidade educacional é dinâmica. Os problemas, as rei-
(1995), planejar é: vindicações não têm hora nem lugar para se manifestarem. As-
- Analisar as características da clientela (aspirações, neces- sim, decide-se a cada dia a cada hora (SOBRINHO, 1994, p.3).
sidades e possibilidades dos alunos); - Planejamento é um “processo de tomada de decisão so-
- Refletir sobre os recursos disponíveis; bre uma ação. Processo que num planejamento coletivo (que é
- Definir os objetivos educacionais considerados mais ade- nossa meta) envolve busca de informações, elaboração de pro-
quados para a clientela em questão; postas, encontro de discussões, reunião de decisão, avaliação
- Selecionar e estruturar os conteúdos a serem assimilados, permanente” (MST, 1995, p.5).
distribuídos ao longo do tempo disponível para o seu desenvol- - Planejamento é processo de reflexão, de tomada de deci-
vimento; são [...] enquanto processo, ele é permanente (VASCONCELOS,
- Prever e organizar os procedimentos do professor, bem 1995, p.43).
como as atividades e experiências de construção do conheci- Em síntese, o planejamento é uma tomada de decisão sis-
mento consideradas mais adequadas para a consecução dos tematizada, racionalmente organizada sobre a educação, o
objetivos estabelecidos; educando, o ensino, o educador, as matérias, as disciplinas, os
- Prever e escolher os recursos de ensino mais adequa- conteúdos, os métodos e técnicas de ensino, a organização ad-
dos para estimular a participação dos alunos nas atividades de ministrativa da escola e sobre a comunidade escolar.
aprendizagem; O planejamento da educação é composto por diferentes
- E prever os procedimentos de avaliação mais condizentes níveis de organização. Assim, podemos pensar em nível macro
com os objetivos propostos. no Planejamento do Sistema de Educação, que corresponde ao
O planejamento didático também é um processo que envol- planejamento da educação em âmbito nacional, estadual e mu-
ve operações mentais, como: analisar, refletir, definir, selecio- nicipal. Este planejamento elabora, incorpora e reflete as polí-
nar, estruturar, distribuir ao longo do tempo, e prever formas ticas educacionais.
de agir e organizar. O processo de planejamento da ação docen- O planejamento global da escola corresponde às ações so-
te é o plano didático. Em geral, o plano didático assume a forma bre o funcionamento administrativo e pedagógico da escola;
de um documento escrito, pois é o registro das conclusões do para tanto, este planejamento necessita da participação em
processo de previsão das atividades docentes e discentes. conjunto da comunidade escolar. Nos dias atuais, em que o tra-
Outro aspecto a ser lembrado é que o plano é apenas um balho pedagógico tem sido solicitado em forma de projeto, o
roteiro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado, planejamento escolar pode estar contido no Projeto Político Pe-
esquemático, sem colorido e aparentemente sem vida. Compe- dagógico – PPP, ou no Plano de Desenvolvimento Escolar – PDE.
te ao professor que o confeccionou dar-lhe vida, relevo e co- O planejamento curricular é a organização da dinâmica es-
lorido no ato de sua execução, impregnando-o de sua perso- colar. É um instrumento que sistematiza as ações escolares do
nalidade e entusiasmo, enriquecendo-o com sua habilidade e espaço físico às avaliações da aprendizagem.
expressividade. O planejamento de ensino envolve a organização das ações
dos educadores durante o processo de ensino, integrando pro-
Planejamento participativo e organização do trabalho do- fessores, coordenadores e alunos na elaboração de uma pro-
cente posta de ensino, que será projetada para o ano letivo e cons-
O planejamento é um processo de sistematização e orga- tantemente avaliada. O planejamento de aula organiza ações
nização das ações do professor. É um instrumento da raciona- referentes ao trabalho na sala de aula. É o que o professor pre-
lização do trabalho pedagógico que articula a atividade escolar para para o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos
com os conteúdos do contexto social (LIBÂNEO, 1991). O ato de coerentemente articulado com o planejamento curricular, com
planejar está presente em todos os momentos da vida humana. o planejamento escolar e com o planejamento de ensino. 2
A todo o momento as pessoas são obrigadas a planejar, a tomar
decisões que, em alguns momentos, são definidas a partir de
improvisações; em outros, são decididas partindo de ações pre-
viamente organizadas (KENSKI, 1995). CURRÍCULO: DO PROPOSTO À PRÁTICA
- O significado do termo ‘planejamento’ é muito ambíguo,
mas no seu uso trivial ele compreende a ideia de que sem um A palavra currículo deriva do latim curriculum (originada do
mínimo de conhecimento das condições existentes numa de- verbo latino currere, que significa correr) e refere-se ao curso,
terminada situação e sem um esforço de previsões das altera- à rota, ao caminho da vida ou das atividades de uma pessoa ou
ções possíveis desta situação nenhuma ação de mudança será grupo de pessoas (GORDON apud FERRAÇO, 2005, p. 54). Já,
eficaz e eficiente, ainda que haja clareza dos objetivos dessa conforme o Dicionário Aurélio da língua portuguesa, Ferreira
ação. Nesse sentido trivial, qualquer indivíduo razoavelmente 2 Fonte: www.rcolacique.files.wordpress.com/www.educamoc.com.
equilibrado é um planejador [...]. Não há uma ‘ciência do pla- br/www.educador.brasilescola.uol.com.br – Por Eliane da Costa Bruini

144
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
(1986, p. 512), define-se currículo como “a parte de um curso Atualmente, verifica-se que ainda há professores/educa-
literário, as matérias constantes de um curso”. De acordo com dores, que demostram compreender o currículo escolar, como,
Zotti (2008), o termo foi utilizado pela primeira vez, para carac- uma área meramente técnica, passiva/ neutra. Segundo Morei-
terizar um plano estruturado de estudos, em 1963, no Oxford ra e Silva (1994, p. 7), o currículo tem que possuir uma “tradi-
English Dictionary. ção” crítica, pois:
É importante repensar, a função socializadora que o cur- O currículo há muito tempo deixou de ser apenas uma área
rículo escolar deve exercer no âmbito educacional. Analisa-se meramente técnica, voltada para questões relativas a proce-
contemporaneamente, que o currículo escolar não pode ser dimentos, técnicas, métodos. Já se pode falar agora em uma
visto e nem compreendido, como, um “acúmulo” de disciplinas tradição crítica de currículo, guiada por questões sociológicas,
isoladas, fragmentadas, com conteúdos apresentados de modo políticas e epistemológicas. Embora questões relativas ao cur-
tradicional, e transmitidos sem reflexão pelo professor/educa- rículo continuem importantes, elas só adquirem sentido dentro
dor em sala de aula. Verifica-se, que o currículo escolar é histó- de uma perspectiva que as considere em sua relação com ques-
rico, e vai além de conteúdos e disciplinas, sendo que o currí- tões que perguntem pelo “por que” das formas de organização
culo deve que ser elaborado de forma a oportunizar condições do conhecimento escolar.
de conhecimentos para os educandos, na busca de abranger e É interessante recordar, que as definições de currículo até
atender as diversas realidades sociais existentes, de maneira o século XIX, referiam-se restritamente á matéria, conforme in-
ampla, real, significativa, reflexiva, dinâmica, democrática, in- dica Zotti (2008):
clusiva, ética e moral. Inserido no campo pedagógico, o termo passou por diversas
Discutir sobre o currículo escolar na contemporaneidade, é definições ao longo da história da educação. Tradicionalmente
de fato, analisar profundamente o sistema educacional, como o currículo significou uma relação de matérias/disciplinas com
também, o que o ser humano produziu e contínua produzindo seu corpo de conhecimento organizado numa sequência lógica,
ao longo do tempo, tempo esse, chamado história. Portanto, é com o respectivo tempo de cada uma (grade ou matriz curricu-
necessário buscar compreender os conhecimentos elaborados lar). Esta conotação guarda estreita relação com o “plano de
e apropriados por todos os membros da sociedade, assim como, estudos”, tratado como o conjunto das matérias a serem ensi-
as diversas culturas existentes, ampliadas gradativamente ou nadas em cada curso ou série e o tempo reservado a cada uma.
até mesmo modificadas de geração em geração. Após o século XIX, o significado de currículo vai tomado ou-
O currículo é transformação, não apenas no que se refere a tra proporção, o que inclui não apenas o conhecimento escolar,
mudar o sentido, de ir por outro caminho, mas de buscar novas mas também, as experiências de aprendizagem. Sendo assim, o
alternativas, novas soluções, novas metas e novas conquistas. O currículo envolve tanto a construção, quanto o aprimoramento
currículo consiste em transformar o impreciso em conhecido, e necessário para o desenvolvimento do sujeito. Segundo Morei-
tal fato, envolve um ensino-aprendizagem qualitativo. ra e Candau (2008, p. 18).
O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços peda-
de conhecimentos, que de alguma forma aparece nos livros e gógicos desenvolvidos com as intenções educativas. Por esse
nas salas de aula de um país. Sempre parte de uma tradição motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer espaço
seletiva, da seleção feita por alguém, as visões que algum gru- organizado para afetar e educar pessoas, o que explica o uso de
po tem do que seja o conhecimento legítimo. Ele é produzido expressões como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc.
pelos conflitos, tensões e compromissos culturais, políticos e Nós, contudo, estamos empregando a palavra currículo apenas
econômicos que organizam e desorganizam um povo. (APLLE, para nos referirmos ás atividades organizadas por instituições
2000, p. 53) escolares. Ou seja, para nos referirmos á escola.
O currículo representa a caminhada que o sujeito irá fazer Podemos entender, que ao falarmos de currículo, estamos
ao longo de sua vida escolar, tanto em relação aos conteúdos tratando da escola, ou seja, a maneira como os conteúdos são
apropriados, quanto ás atividades realizadas sob a sistematiza- dosados e sequenciados no processo pedagógico. Não existe
ção da escola. Nesse sentido, Sácristán e Gómez (1998, p. 125), um currículo único a ser seguido por todas as instituições bra-
afirmam que “a escolaridade é um percurso para alunos/as, e o sileiras, pois em seu art. 26 a Lei n° 9.394/1996 (Lei de Dire-
currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso trizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN), define discipli-
pela escolaridade”. nas de Base Nacional comum, àquelas que devem ser ensinada
No contexto escolar, o currículo deve ter uma função for- em todo o país, e uma parte diversificada, aquela exigida pelas
mativa, educativa, social e cultural. O currículo escolar, como características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
prática de transformação da realidade e do conhecimento con- economia e da clientela. Dessa forma, a Base Nacional Comum
creto, precisa ser debatido e refletido constantemente, por é o conjunto mínimo de conteúdos articulados a aspectos da
todos aqueles que compõem a equipe escolar, onde, todos os cidadania. Por ser obrigatória nos currículos nacionais, a Base
profissionais da escola devem estar preparados para entende- Nacional Comum deve predominar em relação à parte diversi-
rem, que o currículo é essencial na práxis pedagógica e na vida ficada.
escolar, social e cultural de todos os alunos que chegam até De acordo com o parecer CNE/CEB 4/98, que estabelece
a escola em busca de conhecimentos significativos. De acordo diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental, a parte di-
com Krug (2001, p. 56). versificada “envolve os conteúdos complementares, escolhidos
O currículo surge, então, em uma dimensão ampla que o por cada sistema de ensino e estabelecimentos escolares, inte-
entende em sua função socializadora e cultural, bem como for- grados à Base Nacional Comum, de acordo com as característi-
ma de apropriação da experiência social acumulada e trabalha- cas regionais e locais da sociedade, da cultura e da economia,
da a partir do conhecimento formal que a escola escolhe, orga- refletindo-se, portanto, na Proposta Pedagógica de cada escola,
niza e propõe como centro as atividades escolares. conforme o artigo 26”. (BRASIL, 1992)

145
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Além disso, ela constitui uma ampla faixa do currículo em na escola, pode ser considerado do currículo escolar, isso pelo
que a escola pode exercitar toda a sua criatividade, no sentido fato, que inúmeras vezes, não há uma reflexão intencional so-
de atender às reais necessidades de seus alunos, considerando bre as atividades elaboradas dentro do contexto educacional.
as características culturais e econômicas da comunidade que Saviani (2000), ao tratar sobre os conteúdos que são tra-
atua, construindo-a, essencialmente, mediante o desenvolvi- balhados na escola, afirma que, muitas vezes, os professores
mento de projetos e atividades de interesse. A parte diversi- dedicam bastante tempo ás questões secundárias em detrimen-
ficada pode tanto ser utilizada para aprofundar elementos da to da real necessidade da escola. Perde-se, muito tempo com
Base Nacional Comum, como para introduzir novos elementos, atividades descontextualizadas, como, por exemplo, as diver-
sempre de acordo com as necessidades. No Ensino Médio, é um sas comemorações realizadas durante o ano letivo, que seguem
espaço em que pode ser iniciada a formação profissional, me- desde o carnaval até as festas natalinas. Essas atividades, em
diante o oferecimento de componentes curriculares passíveis sua maioria, partem de ações isoladas, não vinculadas ao pla-
de aproveitamento em curso técnico da área correspondente. nejamento, e com uma concepção de cunho ideológico que re-
Se para a escola é importante poder contar com uma parce- legam para segundo plano as questões históricas que permeiam
la do currículo livremente estabelecida, para o aluno essa pode tais festividades.
ser uma importante oportunidade de participar ativamente da Segundo o mesmo autor, a escola poderia dedicar seu tem-
seleção de um plano de estudos. Isso pode acontecer na esco- po para a apropriação do saber científico. Nas palavras de Sa-
lha de disciplinas optativas ou facultativas, por exemplo. “As viani (2000, p. 1):
disciplinas optativas são aquelas que, sendo obrigatórias, admi- Dou apenas um exemplo: o ano letivo começa em fevereiro
tem que o aluno escolha entre as alternativas disponíveis, não e logo temos a semana do índio, a semana santa, a semana das
podendo, porém, deixar de fazê-las […] A disciplinas facultati- mães, semana do folclore, as festas juninas, em agosto vem à
vas são aquelas que o aluno acrescenta a um plano de estudos semana do soldado, depois a semana da Pátria, a semana da
que já satisfaz os mínimos exigidos pela escola.” (BRASIL, 2006). árvore, os jogos da primavera, semana da criança, festa do pro-
Ou seja, a disciplinas optativas fazem parte da base curricular fessor, do funcionário público, semana da asa, semana da Re-
obrigatória, enquanto as disciplinas facultativas podem ser es- pública, festa da bandeira, e nesse momento já chegamos ao
colhidas livremente para complementar o currículo. final de novembro. O ano letivo se encerra e estamos diante
Contudo, a lei indica que compete á escola elaboração de da seguinte constatação: fez-se tudo na escola; encontrou-se
sua proposta pedagógica. Em continuação, a Lei de Diretrizes e tempo para toda espécie de comemoração, mas muito pouco
Bases da Educação Nacional (LDBEN), identifica os delineamen- tempo foi destinado ao processo de transmissão-assimilação de
tos gerais para a organização do trabalho pedagógico nas es- conhecimentos sistematizados. Mas, pode-se perguntar: qual é
colas. No art. 27 da lei que trata da educação básica, podemos o problema? Se tudo é currículo, se tudo o que a escola faz é
destacar as seguintes diretrizes no que se refere aos conteúdos importante, se tudo concorre para o crescimento e aprendiza-
dos currículos escolares da educação básica. gem dos alunos, então tudo o que faz é válido e a escola não
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica ob- deixou de cumprir sua função educativa. No entanto, o que se
servarão ainda, as seguintes Diretrizes: constata é que, de semana em semana, de comemoração em
I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, comemoração a verdade é que a escola perdeu de vista a sua
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum atividade nuclear que é a de propiciar aos alunos a aquisição
e á ordem democrática: dos instrumentos de acesso ao saber elaborado.
II – consideração das condições de escolaridade dos alunos É imprescindível repensar, a ideia crítica do autor Saviani
em cada estabelecimento: (2000), ideia essa, que permite analisar de fato, que a escola
III – orientação para o trabalho; dispõe sim, de muito tempo para atividades comemorativas,
IV – promoção do desporto educacional e apoio ás práticas fragilizadas e secundárias. É importante acrescentar, que nin-
desportivas não formais. guém está afirmando que essas atividades são desnecessárias
O currículo escolar é um elemento enriquecedor do traba- no contexto escolar, muito pelo contrário, as atividades co-
lho do professor/educador no contexto formal e no contexto memorativas, históricas e culturais, tem que ser realizada, vi-
não formal. O currículo é de suma importância para a vida e venciada, praticada e compreendida verdadeiramente pelos
para o planejamento do docente, pois é o currículo que possi- discentes no ambiente escolar, onde tais atividades devem ser
bilita ao professor uma organização fixa dos conteúdos e das praticadas de uma maneira mais real e reflexiva, e não apenas
atividades de forma clara, crítica, autônoma, reflexiva, ativa e do professor chegar à sala de aula e disser para os alunos, por
democrática no contexto escolar, sendo o currículo, um recurso exemplo: “hoje comemoramos o dia do índio, vamos colorir em
em prol ao ensino-aprendizagem e ao desenvolvimento signifi- folha de papel sulfite, a aldeia, a qual representa a comunida-
cativo dos discentes na sociedade. de dos povos indígenas”. Nota-se, que só dos alunos saber que
É necessário refletir, sobre as diversas atividades elabora- tal data comemora-se o dia do índio, e que a aldeia representa
das em algumas escolas, onde, se observa a carga horária ex- a comunidade dos povos indígenas, não vai contribuir para a
tensa utilizada para a realização de atividades festivas/ come- aprendizagem dos discentes, muito menos para ampliar qual-
morativas no âmbito educacional. Sabe-se, que há muitas datas quer conhecimento ou entendimento, pois, o assunto precisa
comemorativas que as escolas adquirem como uma “tradição ser exemplificado, a história precisa ser contada com valores,
popular”, datas essas, que começam a ser celebradas no início ensinamentos, princípios e principalmente com reflexão e aná-
do ano no mês de fevereiro, no momento em que os alunos lise crítica.
voltam ás aulas, sendo que tais celebrações só se encerram no Não há como negar, que há um distanciamento das ativida-
mês de dezembro, e assim finaliza-se o ano, com um “recheio des escolares com a realidade social dos discentes, a escola e
de festividades, sem reflexão para a vida humana dos alunos”. os professores/educadores, precisam propor metodologias de
É preciso ressaltar, que nem tudo que acontece ou realiza-se ensino mais concreta, como também, estar mais abertos ao diá-

146
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
logo, na busca de obter uma conversa sensibilizada com os pais A escola quando segue passo a passo o calendário tradicio-
e com os educandos que chegam até a escola, na tentativa de nal, e uma grade curricular baseada em conteúdos e disciplinas
conhecer concretamente a realidade dos discentes, para então, isoladas, causa á impressão, que tal escola pouco se preocupa,
poder oferecer uma aprendizagem de qualidade, sendo que ou se quer, reflete sobre a aprendizagem e as dificuldades en-
esta aprendizagem deve atender as necessidades e as diversas contradas no ensino dos alunos, como também, no desenvol-
realidades dos alunos em processo de escolarização. vimento científico, social, cultural, e ativo dos discentes na so-
Contudo, observa-se que tais atividades comemorativas ciedade, pois além de atividades comemorativas, os discentes
devem ter certos limites, pois é muitas comemorações de feve- precisam primeiramente de um ensino-aprendizagem concreto,
reiro á dezembro na escola. Não há como contrariar a opinião significativo, qualitativo, democrático, autônomo e inclusivo
do autor Saviani (2000), quando o mesmo afirma que a escola nos diversos contextos sociais.
desperdiça muito tempo com atividades comemorativas e se- O currículo escolar quando bem elaborado pela comunida-
cundárias. Se pararmos para refletir, e analisar concretamente de escolar, este busca atender há diversidade cultural presente
cada data festiva que a escola comemora, e não consegue se na escola, e ao mesmo, oferece um conjunto significativo de co-
“desligar um pouco”, nem mesmo, deixar de lado nenhuma co- nhecimentos, o qual deve ser compreendido de maneira demo-
memoração, certamente, entenderemos a carga horária esban- crática no contexto escolar, pois quando o currículo apresenta
jada com atividades repetitivas todo ano no contexto escolar, conteúdos passivos, certamente, é porque a escola também
ano após ano, as atividades comemorativas seguem o mesmo é passiva frente ao processo de aprendizagem. A escola deve
padrão, isto é, comemoração de fevereiro há dezembro. Diante lutar incansavelmente pela formação da consciência humana,
desse fato, é possível entender também, as muitas dificuldades científica, e não apenas desempenhar a tarefa de preparar os
de aprendizagem que tantos alunos enfrentam durante o ano discentes para ás necessidades do mercado de trabalho, pois
todo na escola, pois com tantas comemorações e festividades, nessa ênfase do trabalho, a escola não é capaz de formar seus
o tempo para reflexão e para a assimilação concreta do conhe- alunos para a cidadania, nem mesmo, oportuniza aos educan-
cimento, é limitado. dos, o entendimento e a compreensão de seus direitos e deve-
Exemplo: as comemorações de festas juninas parecem ser res enquanto pessoas humanas.
simples, rotineiras, com pouco tempo de ensaio, mas, se vamos Sobre essa questão, Wihby, Favaro e Lima (2007, p. 13) pro-
á qualquer escola, e acompanhamos a turma, o professor/edu- põem:
cador nos ensaios, nas danças, no entendimento por parte dos A luta pela garantia de uma escola pública da melhor qua-
alunos sobre como dançar e entender a música apresentada lidade possível nas condições históricas atuais, que supere os
pelo educador, nesse tempo, pode-se observar quantas horas projetos pedagógicos capitalistas, o paradigma do mercado
e quantas aulas se acabam apenas de explicações que se faz aplicado á educação, indo além da função de preparar para o
necessário para a concretização da dança e para a compreen- mercado de trabalho ou universidade. O objetivo deve ser o de
são da música. Nas festas juninas, é interessante lembrar, que assegurar aos indivíduos a apropriação dos conhecimentos sis-
o ensaio por turma pode levar até um mês, obvio que não é tematizados, ou seja, da ciência, propiciando o desenvolvimen-
ensaiado todo dia na escola, mas é claro, que é ensaiado pelo to de uma concepção mais elaborada de mundo, que possibilite
menos duas vezes por semana. sua compreensão, a apreensão de suas múltiplas e complexas
Obviamente, essa cultura curricular instalada dentro das dimensões, para uma atuação humana mais racional e cons-
escolas, prejudica gradativamente o desenvolvimento cientí- ciente.
fico dos alunos, a qual precisa ser modificada tempo ao tem- Nesse sentido, analisa-se que currículo escolar deve ser
po. É quase “normal” visualizarmos ou lermos em jornais, li- mais bem elaborado na escola, pois o currículo é um conjunto
vros ou revistas, o quanto é constante em algumas escolas, os de conhecimentos em prol ao ensino-aprendizagem dos edu-
alunos não aprenderem nem o básico dos valores humanos e candos, e quando o mesmo é bem planejado, organizado e
educacionais, para então, poderem viver bem em sociedade. elaborado coletivamente por todos no contexto escolar, certa-
Infelizmente, o ensino-aprendizagem está muito fragilizado, mente os conhecimentos serão muito mais abrangentes, quali-
passivo, fragmentado, e precisa sim, de uma reestruturação na tativos e gratificantes para todos que fazem parte do processo
aprendizagem escolar de todos os alunos. A carga horária para do aprender-aprender. O que se analisa muitas vezes são insti-
atividades comemorativas no contexto escolar deve ser levada tuições escolares que não sabem fazer um bom uso do currículo
em conta, isto é, precisa ser diminuída, pois, se refletirmos um escolar, onde acabam desvalorizando o mesmo, ou fragmen-
pouco sobre tantas comemorações o ano todo, chegaremos à tando-o. Contudo, a escola passiva que não valoriza o currículo
conclusão, que a escola não precisa comemorar cada data festi- como fundamental na práxis pedagógica, obviamente não con-
va, como destacada no calendário tradicionalmente. segue formar cidadãos críticos, não humaniza, não sensibiliza
Na estruturação do currículo é importante a apropriada ad- para com o respeito ás diferenças, nem ativa o pensamento crí-
ministração do tempo: da escola, no que diz respeito ao cum- tico/ reflexivo dos discentes, assim como não atende aos inte-
primento do ano letivo, do aluno, otimizando a utilização de sua resses da comunidade, e muito menos, dos alunos em processo
permanência no ambiente escolar; e do professor, para o cor- de aprendizagem e conhecimento.
reto aproveitamento da carga horária de seu contrato de traba- Diante desse fato, pode-se afirmar, que quando há na es-
lho. Além disso, é necessário distribuir, ao longo dos diferentes cola um ensino-aprendizagem sem estratégia, sem estrutura e
anos letivos – seja qual for a organização adotada na escola, em sem reflexão para o desenvolvimento humano, certamente tal
séries semestrais, anuais, por ciclos, etapas ou módulos – os ensino, deve ser excluído totalmente da escola e da vida de to-
conteúdos programáticos, a planejada complexificação de ativi- dos que compõem o espaço formal.
dades e a crescente autonomia dos alunos no desenvolvimento
de tarefas, aquisição de habilidades e demonstração de compe-
tências (BRASIL, 2006).

147
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O currículo escolar como um eixo na concretização de obje- Resumindo a tal reflexão, tantas pessoas não estudaram
tivos educacionais décadas atrás por falta de oportunidades concretas no sistema
O currículo escolar é muito significativo na prática educati- de ensino, da dificuldade de transporte que não existia, da po-
va, no dia-a-dia no âmbito educacional, sendo o currículo, um breza extrema que viviam tais pessoas, sendo que hoje, muitos
eixo para a consecução/realização dos objetivos propostos pela não se dedicam e não estudam por falta de interesse e não de
escola. O currículo escolar faz parte da história da educação oportunidade, essa é uma real e triste situação a qual enfrenta-
brasileira, portanto o currículo é histórico, o qual passou por mos na sociedade contemporânea.
debates, transformações, alterações, e modificações inúmeras É essencial relembrar, que ao final da Primeira República
vezes no contexto educacional. 80% da população brasileira era analfabeta. Como comenta-
Contemporaneamente, o currículo escolar tem um impor- do acima, esses oitenta por cento, pode-se concluir, que eram
tante papel no ambiente formal, pois o currículo é uma ferra- pessoas da classe trabalhadora, do proletariado, as quais não
menta indispensável e essencial ao conhecimento e á trans- tinham acesso á educação, muito menos oportunidade para
formação social, cultural, educacional e no ensino de crianças, concretizar os seus estudos. Desde então, com a maioria da po-
jovens e adultos. O currículo deve ter uma base e uma estrutu- pulação sem saber ler, escrever e fazer cálculos, o espanto e
ra coletiva, inclusiva e jamais neutra. Por vez, o currículo deve preocupação por parte do governo de Getúlio Vargas foi ampla,
propiciar ao aluno o acesso ao conjunto de conhecimentos pois o governo desejava a prosperidade/crescimento do país, e
historicamente produzidos, tanto para a vida escolar do edu- com um povo analfabeto, Getúlio Vargas jamais conseguiria a
cando, quanto para vida social do mesmo. O currículo tem que tão sonhada prosperidade para o Brasil. Portanto, em 1930, o
ser olhado pelos educadores de forma diferenciada, bem mais governo do então Presidente Getúlio Vargas, considerou a edu-
que uma simples grade curricular a ser cumprida, mas um com- cação como fundamental para a qualificação do trabalho e para
promisso ético no ensino-aprendizagem, na busca de investi- a formação da pessoa humana, oferecendo educação pública
gar e refletir sobre questões de natureza teórica e prática que gratuita para todos. Contudo, observa-se que a educação esco-
norteiam a prática pedagógica voltada a atender as demandas lar começou há se desenvolver com mais prioridade, durante o
da atualidade, e principalmente a diversidade cultural presente governo de Getúlio Vargas, onde, ocorreu o processo de urba-
nas instituições de ensino. nização e industrialização do Brasil, sendo que o trabalho e a
O currículo escolar, sempre foi um elemento fundamental educação passaram a ser necessário para o crescimento signi-
para as decisões e reflexões da prática pedagógica no contex- ficativo do país.
to escolar. É imprescindível, relatar um pouco da história da Percebe-se, então, que o currículo escolar tem finalidades
educação, onde se analisa que, o primeiro modelo de educação políticas muito precisas. Zotti (2004), afirma que os currículos
brasileira foi caracterizado pelos jesuítas, os quais chegaram ao oficiais foram elaborados ao longo da história, para atenderem
Brasil no ano de 1549, e trouxeram consigo um programa de ás demandas econômicas. Nesse sentido, todas as mudanças no
educação bem definido, chamado Ratio Studiorum. A educação campo curricular que já foram realizadas seguiram os interesses
jesuítica era baseada num ensino fragmentado, descontextua- políticos do modelo econômico vigente. A autora nos conduz a
lizado da realidade, e ideológico com base no método tradicio- refletir sobre as implicações político-econômicas que subsidia-
nal, sendo que esse método de ensino tradicional valorizava á ram a construção dos currículos oficiais durante toda a história
memorização, a aprovação, o rendimento quantitativo e a de- da educação brasileira. Essa maneira de pensar o currículo dá
coreba dos alunos, onde, apenas o professor/educador “era o origem a questionamentos sobre o que já foi estabelecido no
dono do saber”, ou seja, a pessoa que possuía todo e qualquer campo curricular, as possíveis ideologias ocultas e as contradi-
ensinamento/ conhecimento, sendo o professor o transmissor ções eminentes, quando se compara o discurso pedagógico com
dos conhecimentos fragmentados, sem reflexão nenhuma para a realidade escolar.
com a vida dos discentes. O período jesuítico durou 210 anos Nesse enfoque, a escola, juntamente com os professores/
no Brasil, nessa época, o período foi marcado como educação educadores e a comunidade escolar em geral, deve analisar a
jesuítica, onde as disciplinas e os conteúdos escolares, já eram consecução do currículo na busca de objetivos específicos no
organizados de forma a manter certa distância com realidade âmbito educacional, na intenção de oferecer novas possibi-
dos fatos. É essencial lembrar, que o termo currículo não se lidades, aos alunos, e ao mesmo tempo, criar oportunidades
falava no ensino dos jesuítas, pois o termo apareceu somente para todos através da aprendizagem, sendo que o ensino tem
no ano de 1963, isto é, no tempo jesuítico em 1549, os mes- que ser comprometido com os interesses de toda a sociedade,
mos obtinham uma educação tradicional e moral, baseada em principalmente com os interesses, e as diversas realidades dos
uma grade de disciplinas estabelecidas pelos próprios jesuítas, discentes. O professor educador tem um papel fundamental na
disciplinas essas, que contemporaneamente, entendemos por elaboração do currículo na escola, sendo que o mesmo deve
currículo escolar. sempre se envolver nos assuntos escolares. Para Moreira e Can-
É comum ouvirmos, as pessoas mais de idade falar, que no dau (2007).
século passado ou nos “tempos mais severos”, tudo era mais O currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o
difícil para as pessoas, podemos então pensar no passado, e espaço central em que todos atuamos o que nos torna, nos di-
refletir nitidamente, como por exemplo: como era a oportuni- ferentes níveis do processo educacional, responsáveis por sua
dade de estudo de tantas pessoas há décadas atrás? Ou, como elaboração. O papel do educador no processo curricular é, as-
era a vida das pessoas antigamente era mais benéfica ou mais sim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não,
rigorosa que a nossa hoje? da construção dos currículos construídos que sistematizam nas
Certamente, saberemos as repostas, se um dia questiona- escolas e nas salas de aula. (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 19).
dos, pois, nossos bisavôs, avôs ou qualquer outra pessoa mais O currículo escolar contemporaneamente está muito frag-
de idade, nos acrescentaram fatos, ou contaram algumas histó- mentado, e sem relação nenhuma para com a vida dos discen-
rias sobre o tempo vívido por elas e por sua família. tes que chegam até a escola. Analisa-se em muitas escolas, que

148
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
o currículo não é repensado e utilizado para concretizar o ensi- Compreender as diferenças e contemplar a multiplicidade
no-aprendizagem dos alunos de forma diversificada, ativa, de- de indivíduos que compõem a mesma sala de aula é de fato sa-
mocrática, crítica e social. ber incluir com valores e princípios como manda há legislação
Obviamente, muitas escolas insistem em utilizar o méto- educacional vigente. O currículo deve ser usado para possibi-
do de ensino tradicional no contexto escolar. Observa-se, que litar a transformação social e não para ser guardado em uma
as escolas quando buscam priorizar e oferecer um ensino frag- gaveta e de vez em quando ser olhado, e verificado a grade de
mentado e tradicional aos seus alunos, certamente são escolas disciplina que no currículo contém.
que tem como foco, os conteúdos passivos e as disciplinas a Desde então, como verificado no desenvolvimento do tra-
serem seguidas sem reflexão ativa, e, contudo, se distanciam balho, o currículo escolar deve ser visto como, “o coração da
totalmente da realidade social dos educandos que frequentam escola”, isto é, o currículo tem que ser respeitado, valorizado
a escola, assim como da população em geral. coletivamente e democraticamente no âmbito educacional e so-
Em relação há isso Mantoan declara: cial, pois é o currículo que oportuniza a concretização de ações
O ensino curricular de nossas escolas, organizado em disci- sociais, culturais e educacionais nas instituições de ensino.3
plinas, isola, separa os conhecimentos, em vez de reconhecer
suas inter-relações. Contrariamente, o conhecimento evolui
por recomposição, contextualização e integração de saberes TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA
em rede de entendimento. O conhecimento não reduz o com- EDUCAÇÃO
plexo ao simples, para aumentar a capacidade de reconhecer
o caráter multidimensional dos problemas e de suas soluções. A mídia pode ser inserida em sala de aula através dos Re-
(MANTOAN 2006, p. 15). cursos de Ensino. Estes segundo Gagné (1971, p. 247) “são
As escolas, juntamente com seus educadores, precisam se componentes do ambiente da aprendizagem que dão origem
organizar e verificar de forma diferenciada o currículo escolar, à estimulação para o aluno”. Estes componentes são, além do
focando a realidade social, e não apenas os conteúdos enciclo- professor, todos os tipos de mídias que podem ser utilizadas
pédicos. Os conteúdos de forma geral devem ser trabalhados de em sala de aula, tais como, revistas, livros, mapas, fotografias,
acordo com as diversas realidades encontradas em cada escola, gravações, filmes etc.
em cada sala de aula, pois a escola precisa formar cidadãos de A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abs-
consciência crítica, para o conhecimento humano e científico. tração dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão apren-
Os discentes precisam saber questionar as diversas realidades dendo na escola, e podem relacionar a matéria aprendida com
existentes, como também, compreender as injustiças muitas fatos reais do seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absol-
vezes “mascaradas” em nossa sociedade, caso o ensino curricu- verem os conteúdos escolares.
lar seja passivo, não teremos como desenvolver a consciência Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino
crítica no ensino-aprendizagem, e, portanto, não atenderemos que é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiên-
á diversidade cultural. cias”, que mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras
Sabe-se que a construção curricular é um projeto que deve sem experiência, não deve mais ser usado pelo professor, pois
levar em conta muitos fatores da contemporaneidade, como os alunos aprendem mais quanto mais pratica experiências em
por exemplo, (classe social, econômica, religião, família, raça, torno do que está sendo ensinado.
gênero, valores, dificuldades de aprendizagem, até mesmo o Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de
emocional dos educandos), Zotti (2004, p. 229) defende que: ensino são:
O educador, então, não pode se limitar a desenvolver o que • motivar e despertar o interesse dos alunos;
diversos agentes decidem, mas deve estar atento aos diversos • favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
contextos em que são gestadas as propostas curriculares, pois • aproximar o aluno da realidade;
esse é o instrumento de intervenção e defesa de propostas coe- • visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
rentes com uma educação e uma sociedade mais condizentes • oferecer informações e dados;
com os desejos da maioria da população. • permitir a fixação da aprendizagem;
A escola deve ter uma função socializadora, e o projeto • ilustrar noções mais abstratas;
curricular tem que ser elaborado com base em ações práticas • desenvolver a experimentação concreta.
e educativas, ações essas, voltadas há coletividade, a interati-
vidade, e a intencionalidade no ensino-aprendizagem, na com- Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar aten-
preensão dos fatos históricos do passado, como também, da di- to aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria
versidade cultural presente nos diversos contextos sociais. Em ensinada. Todos esses objetivos podem ser alcançados através
relação ao projeto curricular, Pacheco (2001) afirma: de recursos de ensino, midiáticos, como, por exemplo, compu-
[…] um projeto, cujo processo de construção e desenvolvi- tador, internet, em que o aluno além de conhecer novas tecno-
mento é interativo, que implica unidade, continuidade e inter- logias, faz também interação com o mundo e novas informa-
dependência entre o que se decide ao nível do plano normativo, ções. O aluno busca algo novo, algo atrativo, e a educação deve
ou oficial, e ao nível do plano real, ou do processo de ensino e acompanhar essa busca. Mas não basta apenas usar a tecnolo-
de aprendizagem. Mais ainda, o currículo é uma prática peda- gia, no ambiente de ensino/aprendizagem temos que rever o
gógica que resulta da interação e confluência de várias estru- uso que fazemos de diferentes tecnologias enquanto estraté-
turas (políticas, administrativas, econômicas, culturais, sociais, gias, tendo clareza quanto à função do que estamos utilizando,
escolares…) na base das quais existe interesses concretos e res- não basta trocar o livro por um computador se na prática não
ponsabilidades compartilhadas. (PACHECO, 2001, p. 20) promovemos a inclusão do aluno, no que se refere aos proces-
sos de aprendizagem.
3 Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br

149
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O computador é conhecido como uma tecnologia da infor- É necessário, por exemplo, que a escola contribua para
mação devido a sua grande capacidade na solução de proble- transformar os alunos em consumidores críticos dos produtos
mas relacionados a armazenamento, organização e produção midiáticos (meta número 1), ao mesmo tempo em que passem
de informação de várias áreas do conhecimento. A utilização a usar os recursos tecnológicos como instrumentos relevantes
dessa tecnologia pode ser usada de varias formas, como pro- no processo de aprendizagem (meta número 2). É dessa critici-
gramas de exercício-e-prática, jogos educacionais, programas dade do olhar e da criatividade no uso dos recursos midiáticos
de simulação, linguagem de programação entre outros, desper- que pode surgir uma nova aliança entre o aluno e o professor
tando assim um grande interesse do aluno. (meta número 3), favorecida justamente pelo diálogo que a
Conforme observado por Valente (1993), o computador produção cultural na escola é capaz de propiciar.
não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a fer- No caso do docente, o parecer que justificou o documento
ramenta com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o do CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na si-
aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa tuação de aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas
por intermédio do computador. O processo de interação se tor- para as questões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4:
na mais agradável com a presença da multimídia na aprendiza- reconhecer o aluno como partícipe e corresponsável por sua
gem, pois naquele momento o aluno está descobrindo o novo, própria educação, sujeito que é de um direito muito especial: o
o contemporâneo. de expressar-se numa sociedade plural.
Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no pro-
Educação, Mídia e Tecnologia cesso de ensino e aprendizagem também está em constante
A aplicação de novas tecnologias na educação vem modifi- transformação. Por esse motivo, não é mais possível estar dian-
cando o panorama do sistema educacional e, por isso, pode-se te de uma sala de aula com a expectativa de captar a atenção
falar de um tipo de aula antes e depois da difusão de mídias de toda uma turma de crianças e adolescentes e utilizando uma
integradas e tecnologias avançadas de comunicação digital. linguagem do século passado. Hoje, não é mais possível falar
Os resultados das aplicações de tais tecnologias estão crian- sobre ecologia, sem falar sobre sustentabilidade e tecnologias
do condições objetivas para questionarem a real necessidade limpas. Ou falar sobre linguagens, sem mencionar os memes e
de se preparar para o ensino virtual. Hoje, há a percepção de as fake news. E esses são apenas alguns dos exemplos possíveis.
algumas tendências relativas aos novos modelos de ensino e Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a reali-
aprendizagem de idiomas mediados por computador. Uma des- dade dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino
sas tendências é a aprendizagem por meio de Redes Sociais ou e aprendizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e
Comunidades Virtuais de Aprendizagem. valer-se da tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia
Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como Educacional. Pensada especificamente para trazer inovação e
um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolíti- facilitar o processo de ensino e aprendizagem, ela aparece nas
co e educacional a partir da interface Comunicação/Educação. salas de aula de diversas maneiras: em novos dispositivos ou
Mais do que como uma metodologia, no âmbito da didática, o gadgets, softwares e soluções educacionais.
neologismo tem sido visto como um parâmetro capaz de mo- É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alu-
bilizar consciências em torno de metas a serem alcanças cole- nos em sala de aula que ignore completamente as novas tec-
tivamente nas diferentes esferas da leitura e da construção do nologias. Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipa-
mundo, como propunha Paulo Freire. mentos de última geração, com o professor mais tradicional, a
O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os interação é sempre permeada por ela. E não poderia deixar de
que buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e ser: além dos avanços tecnológicos que conquistaram as gera-
descritas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às ções X e Y (você se lembra como enviava mensagens e fazia pla-
“experiências escolares” inovadoras e multidisciplinares, pre- nos com os amigos antes do smartphone?), os estudantes das
vistas na reforma do ensino novas gerações são nativos digitais. Isso significa que a maioria
Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da deles nunca conheceu um mundo sem internet, celular, Google
informação e o papel da mídia na geração de conteúdos, men- ou redes sociais, dessa forma, o uso de tecnologias educacio-
sagens e apelos comportamentais. nais se tornou fundamental para potencializar o ensino e princi-
Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, palmente, gerar maior interesse e interação dos alunos.
se, de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos mi- A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à
diáticos é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus pro- utilização de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu
pósitos educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valo- objetivo é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala
res — presentes muitas vezes de forma conflituosa no convívio de aula – práticas inovadoras, que facilitem e potencializem o
social e assim reproduzidos pela mídia — sejam identificados e processo de ensino e aprendizagem. O uso da TE tem sido am-
revisitados pela educação. É o caso, por exemplo, do consumis- plamente discutido no meio acadêmico, na mídia e nos círculos
mo e de uma pouco disfarçada indiferença com relação aos de- sociais, espaços onde nem sempre é bem recebido. As maiores
sequilíbrios que ocorrem no mundo; indiferença essa que leva, críticas dizem respeito à sua relação com o papel da escola e do
com certa naturalidade, à banalização dos acontecimentos por professor e à dificuldade de acesso à tecnologia, especialmen-
parte significativa dos meios de informação. te nas escolas da rede pública e entre estudantes com menor
Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/ renda familiar.
CEB nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o en- Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o
sino de nove anos, não permanece, contudo, apenas num de- foco principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dis-
nuncismo inócuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cum- positivos tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente,
pridas. contar com os equipamentos mais modernos para trabalhar a
TE), e sim sobre as práticas que o seu uso possibilita. Em outras

150
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
palavras: ter bem definida a finalidade do uso da tecnologia em 3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e
sala de aula é mais importante que os meios e recursos tecno- contribui para a formação do senso crítico.
lógicos que serão empregados para tal prática. Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia
E é aí que entra o papel fundamental do professor e do digital na educação é a possibilidade de acessar informações
profissional da educação no emprego da Tecnologia Educacio- atualizadas, em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela
nal: definir quais são os recursos e ferramentas mais adequados atualização do livro didático impresso para ter acesso a temas
para a realidade de seus alunos, e também a forma mais rele- contemporâneos, questões recentes de vestibulares, dados
vante de os utilizar em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, atualizados e debates sociais relevantes. Trabalhar com infor-
pode surgir a dúvida: com que objetivo um profissional da edu- mações hiperatualizadas contribui para inserir o estudante no
cação deveria inserir a tecnologia nas práticas pedagógicas e no debate social e desenvolver seu senso crítico e de argumenta-
dia a dia da sua instituição de ensino? ção, preparando-o simultaneamente para os desafios da vida
social e acadêmica.
Tecnologia Educacional: por que usar?
Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas 4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na uti-
da sociedade têm experimentado uma grande evolução tecno- lização da internet e dos recursos digitais.
lógica. Toda evolução compreende uma mudança na comuni- A tecnologia digital está presente na vida das novas gera-
cação, nas relações sociais e, é claro, no processo de ensino ções desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças
e aprendizagem. Mas, como dissemos no tópico acima, a utili- em idade pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por
zação da Tecnologia Educacional nem sempre é bem recebida exemplo. A inserção da tecnologia no ambiente escolar ajuda
– inclusive por educadores. A raiz dessa resistência talvez este- a estabelecer regras de convivência e segurança nos ambien-
ja na desinformação sobre as diferentes possibilidades que ela tes virtuais. Também é uma boa oportunidade para trabalhar
oferece à educação. a responsabilidade no manuseio e na conservação dos equipa-
Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia mentos digitais.
Educacional em sua escola.
- Ampliar o acesso à informação. 5. A tecnologia digital contribui para democratizar o aces-
- Facilitar a comunicação escola – aluno – família. so ao ensino.
- Automatizar processos de gestão escolar. Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desen-
- Estimular a troca de experiências. volvidas com o objetivo de ajudar os profissionais da educação
- Aproximar o diálogo entre professor e aluno. a promover a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar
- Possibilitar novas formas de interação. a favor de uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia di-
- Melhorar o desempenho dos estudantes. gital em sala de aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de
Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia escrita, por exemplo) pode dar mais autonomia aos estudantes
digital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus portadores de deficiência, transtornos ou problemas de apren-
alunos. dizagem, ajudando-os a superar limitações e a desenvolver ao
máximo seu potencial.
1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende
a atenção dos alunos. 6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e cons-
O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme- tante a professores, alunos e responsáveis.
mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendiza-
A mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é im- gem (AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital
portante variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças é uma maneira de gerar dados de desempenho imediatos para
no local e, especialmente, experimentar diferentes ferramentas professores, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno
e recursos tecnológicos. Quando se buscam novas formas de pode corrigir equívocos enquanto o conteúdo continua “fres-
ensinar e aprender, coloca-se uma aura de novidade sobre a co” na memória, em vez de descobrir dias depois (ou apenas no
rotina de estudos, tornando-a mais interessante e prazerosa. final do bimestre) que, durante todo o tempo, seu desempenho
Consequentemente, crescem a atenção e o interesse dos alunos esteve abaixo do esperado. Além disso, professores e responsá-
pelo assunto em pauta. veis acompanham de perto a evolução de cada estudante, inter-
2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolução vindo e direcionando os estudos conforme necessário.
de problemas reais.
Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da 7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino
educação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum adequado a cada aluno.
Curricular) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade
realidade dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático de dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos
à sua disciplina, seja por meio da contextualização da informa- nos quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificul-
ção (aplicação em situações reais, apresentação de casos locais) dade de compreensão, bem como verificar o desempenho da
ou dos meios utilizados para transmiti-la (tecnologias digitais, turma e de cada aluno, individualmente. A análise desses dados
canais frequentemente utilizados pelas novas gerações). Isso dá autonomia para que professores, pais e alunos tracem um
auxilia não apenas na compreensão do conteúdo, mas também plano de ensino personalizado, mais adequado a cada turma e
na visualização e na resolução de problemas reais que se apre- estudante. Também possibilita que o próprio aluno, nas etapas
sentam no dia a dia do estudante. mais avançadas da educação básica, direcione seu aprendiza-
do para suas áreas de interesse e da formação que pretende
seguir.

151
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Exemplos de usos da Tecnologia Educacional Microlearning
A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a
de diversas maneiras, algumas delas são: enorme quantidade de informações com as quais temos conta-
- em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets to diariamente ocasionou uma transformação na forma como
e as mesas educacionais; consumimos conteúdo. Para que a atenção não seja desviada
- em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros de pronto, este conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma
digitais; muito mais fragmentada, em vídeos e mensagens breves. Daí
- e em outras soluções educacionais, como a realidade au- surge a expressão microlearning, que consiste na fragmentação
mentada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as platafor- de conteúdo educacional para que este seja melhor assimilado
mas de vídeo. pelos alunos. O meio digital favorece este tipo de interação,
por meio de vídeos, jogos, animações, apresentações interati-
Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas torna- vas etc.
ram-se realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um
pouco sobre as possibilidades do uso da Tecnologia Educacio- Como inserir a tecnologia na minha escola?
nal e as diferentes formas de como ela vem transformando a Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Edu-
educação. cacional de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de
ensino. Elencamos algumas delas a seguir:
Ensino híbrido
A prática de combinar o estudo on e offline, conhecido Diagnóstico
como ensino híbrido, é uma grande tendência possibilitada pela Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e profes-
Tecnologia Educacional. Ela confere maior autonomia aos estu- sores da sua escola. Em que momentos eles estão conectados?
dantes, para que trilhem seus próprios roteiros de estudo, de- A partir de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que
senvolvam projetos ou atividades de sistematização e de refor- estão presentes e os sites que acessam? Essa investigação é es-
ço. Também é uma prática que incentiva e facilita que o aluno sencial caso sua instituição pretenda estabelecer uma conexão
desenvolva o hábito do estudo diário, fora do ambiente escolar. verdadeira com os seus públicos e propor usos significativos
para a Tecnologia Educacional.
Sala de aula invertida
Na sala de aula invertida, o aluno traz para a aula o conhe- Documentos normativos
cimento prévio sobre o tema que será estudado, adquirido a As possibilidades para o uso da TE, bem como o destaque
partir de textos, vídeos, jogos e outros formatos de conteúdo da sua importância, devem estar previstas dentro do PPP e em
recomendados pelo professor – quase sempre no meio digital. outros documentos normativos da instituição de ensino.
A construção e significação deste conhecimento, no entanto,
acontecem em conjunto, na sala de aula. Assim como o ensino Investimento
híbrido, a proposta da sala de aula invertida tem como objetivo É importante relacionar tudo aquilo que a escola possui de
colocar o estudante no papel de protagonista de seu processo suporte para o uso da tecnologia, para daí desenvolver planos
de aprendizagem e da sua própria evolução, engajando também reais sobre as práticas que podem ser adotadas. Essa relação
os outros membros do seu núcleo familiar. também deixa claro aquilo que é preciso melhorar e o investi-
mento que pode ser feito com esta finalidade.
Gamificação
A gamificação, assunto muito comentado no meio edu- Capacitação
cacional nos últimos anos, consiste em utilizar elementos de De nada adiantam os recursos tecnológicos sem uma equi-
jogos digitais (como avatares, desafios, rankings, prêmios etc.) pe de professores e profissionais capacitados para extrair deles
em contextos que diferem da sua proposta original – como na as melhores práticas pedagógicas. Por isso, a formação dos edu-
educação. A principal vantagem apontada pelos profissionais cadores para a tecnologia é primordial.
da educação no uso da gamificação é o aumento no interesse,
na atenção e no engajamento dos alunos com o conteúdo e as Diálogo
práticas propostas. Uma ação importante é estimular o diálogo e a troca de
experiências entre as equipes. Os professores sentem-se mais
Personalização do ensino seguros, dispostos e motivados a utilizar a tecnologia quando
A geração de dados educacionais é extremamente benefi- compartilham das experiências de seus pares.
ciada pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempe-
nho e dos resultados de avaliações objetivas. A partir desses Segurança
dados, é possível criar modelos de ensino personalizados, que É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos
estejam em sintonia com o momento real de aprendizagem de digitais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos es-
cada estudante. Assim, o professor tem uma noção mais clara tudantes.
do panorama da turma e pode agir individualmente e de forma
personalizada sobre os pontos potenciais e de maior dificulda- Atualização
de de cada estudante. A partir do momento em que o professor identifica uma
prática ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnolo-
gia, também é importante pensar na atualização dos planos de
aula que irão nortear essas práticas.

152
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Plano de Aula X tecnologia o modo como escrevemos, proporcionando a distribuição da
A partir da modernização de espaços, ferramentas e práti- inteligência e cognição. De um lado, diminui a fronteira entre
cas educacionais, profissionais da educação em todo o mundo leitor e escritor, tornando-os parte do mesmo processo; do ou-
estão trabalhando por uma transformação cada vez mais pro- tro, faz com que a escrita seja uma tarefa menos individual para
funda e efetiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa se tornar uma atividade mais coletiva e colaborativa. O poder
transformação é um processo nascido e desenvolvido dentro e a autoridade ficam distribuídos pelas imensas redes digitais,
de cada espaço de aprendizagem, baseado em uma mudança de facilitando a construção social do conhecimento.(MARCUSCHI,
hábitos e paradigmas estabelecidos nas relações diárias entre Luiz A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala
alunos e professores. Não basta esperar que a transformação de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande do Sul, 2001. v.4, n. 1,
chegue até a sala de aula, ela precisa ter um ponto de partida p. 79-111.)
dentro do ambiente escolar. Que tal ser um agente dessa mu-
dança na sua escola, começando pelo plano de aula? A BNCC e os gêneros digitais
A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da
mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro Base Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na
da realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem leitura, interpretação e produção dos novos gêneros digitais,
desenvolver ao longo da Educação Básica a competência para: como:
Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação - Blogs;
e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética - Tweets;
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se - Mensagens instantâneas;
comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produ- - Memes;
zir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos - GIFs;
autorais e coletivos.(BNCC) - Vlogs;
- Fanfics;
A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de - Entre diversos outros.
aula e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada
ao dia a dia da turma. Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais de-
vem ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portugue-
1. Interação em ambientes virtuais sa. O trabalho com esses gêneros pode ser explorado em dife-
Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z es- rentes áreas do conhecimento, valorizando também o trabalho
tão navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com interdisciplinar – como sugere, inclusive, a própria BNCC.
desenvoltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e
professores. Incentivar e orientar a interação nesses espaços 3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo
tem muito a acrescentar à prática pedagógica. Procure identifi- Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula
car as tarefas que podem ser transpostas, facilitadas ou repen- da sua disciplina é torná-los parte da construção do conheci-
sadas para o meio digital. mento. Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule
As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar a interação por meio dos comentários; organize e deixe dispo-
grupos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão nível para consulta um banco de textos e artigos com as produ-
com temáticas específicas relacionadas ao conteúdo que está ções dos alunos; desenvolva projetos interdisciplinares.
sendo estudado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita,
aprendizagem, caso a sua escola ou sistema de ensino disponha que permite construir textos de maneira colaborativa, editan-
de um. do, adicionando comentários e enviando feedback em tempo
real. No entanto, existem diversas outras ferramentas dispo-
2. Textos em formato digital níveis. Procure pelas melhores soluções que conversem com a
O consumo de textos em formato digital é baseado na lin- realidade e as necessidades da turma.
guagem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O
texto em formato digital permite ampliar o conhecimento acer- 4. Apresentações em formatos multimídia
ca de uma temática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano
momentos históricos, esclarecer vocabulários específicos, en- de aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes forma-
tre diversas outras possibilidades. A leitura deixa de ser apenas tos (como vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.)
receptiva para tornar-se um processo interativo. colabora para o engajamento da turma. Além disso, pode servir
Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital para enriquecer tanto a aula do professor quanto as apresenta-
que pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em ções dos próprios alunos.
casa. Explore também as funcionalidades oferecidas por portais Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalida-
de notícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto des são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o
permite adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos Google Slides e o Prezi (apresentação de slides e construção
formatos de conteúdo adicional ao corpo do texto, transfor- de mapas mentais), o PowToon (construção de vídeos e anima-
mando a forma como lemos e aprendemos. Quando se trans- ções – em inglês), entre outras. Busque também compartilhar
forma a forma de ler, modifica-se também a forma de produzir experiências e conhecer as ferramentas utilizadas por outros
conteúdo. professores.
O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear,
afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas
entradas e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta

153
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
5. Diferentes formatos de avaliação
A tecnologia também pode convergir para o plano de aula EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
no modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e cane-
ta – com os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue O desenvolvimento da tecnologia e da internet possibilitou
sendo o método de avaliação mais comum, existem formas dife- um avanço em uma modalidade de ensino: a educação a dis-
rentes de verificar a aprendizagem dos estudantes. tância (EAD), que tem sido apontada como solução para as ca-
Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é rências educacionais, ensejando tais perspectivas, projetos de
verificar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como educação a distância são inseridas em políticas educacionais,
atividades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também
que deve atentar para o contexto cultural em que esteja inse-
pode desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questioná-
rido e as condições reais que se desenvolve, com o objetivo de
rios utilizando ferramentas gratuitas como o Google Forms.
proporcionar ao educando uma autonomia do ato de aprender.
6. Aplicativos e softwares educacionais Vale lembrar que, esse desenvolvimento tecnológico não
Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de apresentou a EAD, e sim, possibilitou um avanço nessa moda-
conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a rea- lidade, tornando-a mais célere, mais democrática e funcional.
lização de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é ne- Ao identificar qual a função da educação, poderemos, as-
nhuma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvi- sim, perceber o seu real papel, pois cabe a educação propiciar
mento tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa ao educando, independente de modalidade de educação a dis-
prática fosse transportada para o meio digital e amplamente di- tância ou presencial:
fundida nas salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pau-
tas mais recentes, esse fenômeno é conhecido como gamificação. I - aquisição de consciência crítica, criativa, participativa,
Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educa- questionadora.
ção”, é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos
deles gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do con- II - formação sólida que assegure:
texto educacional. a. dominar conteúdos;
b. compreender os princípios básicos que fundamentam o
O que inserir em seu pla- ensino numa visão globalizada da cultura;
… e como?
no de aula… c. apresentar referências teóricas para análise, interpreta-
- Grupos e comunidades nas re- ção da realidade.
des sociais;
1. Interação em ambien- - Fóruns de discussão; III - ação educativa capaz de vincular teoria e prática, volta-
tes virtuais - Ambiente virtual de aprendiza- da para a percepção das relações entre os contextos sócio-eco-
gem; nômico-político e cultural.
- Etc.
Dessa forma, a relação entre o educador e o educando de-
- Portais de notícia;
veria ser de trocas e interações tendo como metas o crescimen-
2. Textos em formato di- - E-books;
to em conjunto; porém, de aprendizados individualizados.
gital - PDFs interativos;
- Etc. Sherry apud Tavares (2004) afirma que o professor na Edu-
cação a Distância passa a ser um orientador que apresenta
- Blog/vlog; modelos, faz mediações, explica, redireciona o foco e oferece
3. Métodos colaborativos
- Banco de textos e artigos; opções e como um co-aprendiz que colabora com outros pro-
de produção de conteúdo
- Etc. fessores e profissionais. A maioria dos professores ou instru-
- Vídeos; tores que utilizam atividades de ensino mediadas pelo compu-
4. Apresentações em for- - Slides; tador prefere assumir o papel de moderador ou facilitador da
matos multimídia - Mapas mentais; interação em vez do papel do especialista que despeja conhe-
- Etc. cimento no aluno.
- Avaliações online; O Termo Educação a Distância nos condiciona a ideia ime-
5. Diferentes formatos de - Atividades de fixação e reforço; diata de ausência do professor e aluno em um ambiente con-
avaliação - Simulados; vencional denominado sala de aula.
- Etc. Moore (1990) afirma que “Educação a distância é uma re-
- Jogos lação de diálogo, estrutura e autonomia que requer meios téc-
6. Aplicativos e softwares nicos para mediatizar esta comunicação. Educação a distância
- Aplicativos educacionais;
educacionais é um subconjunto de todos os programas educacionais caracte-
- Etc.
rizados por: grande estrutura, baixo diálogo e grande distância
transacional.”
Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da A Tecnologia contribuiu sobremaneira para o desenvol-
educação é uma missão de todo profissional que atua hoje nes- vimento da Educação a Distância, pois as barreiras até então
sa área. Procure manter-se atualizado sobre as tendências em apontadas que dificultavam os processos de aprendizagem fo-
tecnologia educacional, acompanhando blogs, revistas e por- ram vencidos. As características essenciais da Educação a Dis-
tais de notícia sobre o assunto. Troque experiências com outros tância é a flexibilidade do espaço e do tempo, abertura dos sis-
profissionais e descubra novas práticas, soluções e ferramentas temas e a maior autonomia do aluno.
que estão surgindo a cada dia.4
4 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administra- dores.com.br

154
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O que se pode perceber é que na Educação a Distância o - autenticidade, sinceridade e coerência nas relações pro-
sucesso do aluno depende em grande parte de motivação e de fessor/aluno;
suas condições de estudo. Essas ideias são reforçadas por Mars- - aceitação do outro, o “saber ouvir”, respeitando o outro
den (1996) ao afirmar que as práticas dominantes em Educação como ele é, com suas potencialidades e limitações. O professor
a Distância baseiam-se em uma “antologia empirista” e uma não deve ficar na relação do “sabe tudo” e o aluno na posição
“epistemologia positivista” e que esta compreensão de causa- de “tábua rasa”. Pelo contrário, deve haver o respeito das indi-
lidade e explicação permeia a EaD pela mediação da tradição vidualidades e potencialidades que cada um possua;
behaviourista e da instrução programada. - empatia, compreender o outro e seus sentimentos, sem,
Na Educação a Distância não estamos juntos fisicamente, com isso, envolver-se neles, pois acreditamos que só existe
porém conectados. Saímos do contato físico para o contato vir- aprendizagem com afetividade.
tual, vencendo barreiras de espaço e tempo. Devemos pensar Na Educação a Distância esse papel é desempenhado pelo
uma sociedade educativa e Educar ao longo da vida. Tutor que deve entender que a aprendizagem do aluno não é
A demanda para o aprimoramento profissional é um fato simplesmente transmissão de conhecimento. É, sobretudo, um
hoje e a Educação a Distância apresenta-se neste cenário como processo participativo, onde o aluno é sujeito do seu próprio
uma modalidade capaz de contribuir para este aprimoramento conhecimento. Sua participação, portanto, deve ser ativa e, por
além dos limites de uma sala de aula convencional. isso mesmo, estimulada.
Uma das estratégias fundamentais na Educação a Distância Contudo o aluno deve ser conscientizado de que se trata de
é o aluno vencer o desafio de estudar sozinho, obtendo auto- um processo de construção e reconstrução, pois as modifica-
nomia do seu ato de aprender e para isso precisa desenvolver a ções deverão ser efetuadas a partir da sua prática que sempre
habilidade de ter uma aprendizagem autônoma. está a exigir o saber fazer.
Na aprendizagem autônoma, pode-se reconhecer três
componentes que desempenham importante papel em todo - Componente do Querer
o processo: O Componente do saber, o do saber fazer e o do O desejo, a vontade de aplicar algo é de fundamental im-
querer. portância para que se obtenha sucesso. Esse componente diz
respeito à questão do aluno estar convencido da utilidade e
Componentes para aprendizagem autônoma vantagens dos procedimentos de aprendizagem autônoma e
Os componentes para a aprendizagem autônoma são o sa- querer aplicá-los.
ber, o saber fazer e o querer. O Professor ou Tutor no EAD é gestor do processo didático
sendo o grande responsável pela disposição do aluno querer
- Componentes do Saber desenvolver sua aprendizagem autônoma.
Tanto o professor quanto o aluno possuem um duplo pro- Devemos ter a nítida certeza de que o desafio do aluno e do
blema: o de entender o seu próprio conhecimento construído professor ao conduzirem o ensino para o aprender a aprender
enquanto professor e aluno ao longo de sua vida, devendo di- não irá funcionar de forma consciente como uma vara de con-
mensionar com clareza a forma de se concretizar uma melhor dão, ou com poderes místicos. O que precisa ser direcionado
aprendizagem nas diversas situações. é a ação pela descoberta tanto do professor como dos alunos,
Tem sido demonstrado que as pessoas pouco conhecem a respeitando as especificidades das modalidades de ensino a dis-
si mesmo. E esse conhecimento pode direcionar para diversos tância ou presencial.
graus de profundidade, variando de indivíduo para indivíduo Não basta ao aluno apenas saber da existência do aprender
dependendo das oportunidades para realizá-las. a aprender e da sua proposta pedagógica, o que levanta uma
Não se trata de um saber teórico aprendido, e sim em um falsa ideia sobre a aprendizagem ser considerada um processo
saber relativo a si mesmo, saber sobre o seu próprio processo único, quando na realidade, em cada um, pode ser identificado
de aprendizagem, com suas facilidades e dificuldades, pois o muitos sub-processos, que no dizer de Galeffi é a polilogica, um
aprendizado não ocorre pela razão e sim por excitações e afe- educar pela diferença.
tações. É tarefa primordial do educador buscar a unidade entre o
O “saber” envolve conhecimentos necessários à execução saber, o saber fazer e o querer, ou seja, entre o pedagógico, o
de uma prática. Entretanto, para poder ser capaz de executá-la, técnico, o psicossocial e o político. Essa unidade, tão necessária
é preciso “saber fazer” . Portanto, fica claro que, ao conheci- ao novo “ fazer pedagógico” contextualizado, sem dúvida con-
mento, alia-se a habilidade do indivíduo. tribuirá para que o ensino seja um processo construtivo, agra-
- Componentes do saber fazer dável, desafiador, estimulante e que tenhamos sempre uma
Partindo do pressuposto de que todo conhecimento sobre atitude aprendente e investigativa.
o processo de aprendizagem está naturalmente à disposição de A aprendizagem autônoma facilita e engrandece o processo
uma aplicação prática, o saber sobre o seu processo de apren- de aprendizagem, pois só aprendemos o que desejamos; o que
dizagem, deve ser convertido em um saber fazer. é imposto memorizamos e posteriormente o desprezamos, e no
No dia-a-dia da prática docente a avaliação de aprendiza- Ensino a distância é condição essencial para que essa modalida-
gem é geralmente realizada pelo professor, tomando como re- de possa progredir.
ferência apenas o conteúdo desenvolvido, enquanto na apren- Na aprendizagem autônoma, os erros são contribuições
dizagem autônoma, o aluno não só avalia o seu desempenho preciosas para agregarem novos conhecimentos e, através de
em termos acadêmicos, como também avalia o processo desen- descobertas, os alunos identificarem os seus erros sendo con-
volvido na sua aprendizagem, conforme a sua auto orientação. duzidos de forma prazerosa aos acertos e ao crescimento de
Para que o Ensino possa criar um clima desafiador, pode- novas aprendizagens.
mos citar três condições básicas:

155
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Esse poderia ser um caminho para melhoria do ensino bra- Não é fácil, mas devemos dirigir o olhar para história, re-
sileiro. Trabalhar a autonomia do ato de aprender indepen- pensar valores, reconhecer e romper com muitos preconceitos,
dente de modalidade de ensino, proporcionar na verdade uma velhas opiniões formadas muitas vezes sem o menor contato
formação de indivíduos autônomo, crítico e criativo. Um cida- com o outro, enfim mudar paradigmas.
dão que não pense de forma fragmentada, mas de forma glo-
bal e sistematizada, só assim seremos sujeitos de nossa própria Será que estamos dispostos aceitar este desafio?
aprendizagem.5
As desigualdades (sociais, econômicas, sexuais, raciais, en-
tre outras), exigem de todos, um posicionamento crítico, políti-
EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE, CIDADANIA E EDU- co um olhar mais avançado que envolve reconhecer os direitos
CAÇÃO EM E PARA OS DIREITOS HUMANOS dos grupos (negros, índios, mulheres, portadores de necessida-
des especiais, homossexuais entre outros) numa visão frente a
Vivemos em uma sociedade complexa, plural, diversa e de- frente com a luta de todos pelos direitos, colocando-nos dian-
sigual, em que o tema Educar para a Diversidade e Cidadania te do grande desafio de implementação de políticas públicas,
conduz a uma grande reflexão e a um desafio, pois somos parte ações afirmativas contribuindo para o processo educacional e a
integrante desta sociedade. garantia da cidadania.

Como cidadãos promotores de uma política educacional, Devemos todos nos propor a encontrar a igualdade na di-
reconhecemos que a luta pelos direitos e respeito às diferenças versidade, lembrando sempre que, acima de tudo, somos todos
não pode se dar de maneira isolada, mas sim, como resulta- humanos e como tal temos grande capacidade para a solidarie-
dos de práticas culturais, políticas, sociais e pedagógicas, que dade, a cooperação e o amor.
reconheçam a participação de toda sociedade extrapolando os
muros escolares. A sociedade e o homem se transformam a cada dia. A
educação precisa acompanhar essas mudanças. O processo
Criar de fato condições de conhecimento e compreensão de formação do professor deve ser pensado nessa perspecti-
em diversos espaços como lares, instituições e comunidades, va. Portanto, os projetos pedagógicos dos cursos e suas matri-
reivindicando o respeito às diferenças e garantindo o direito de zes curriculares, devem apresentar disciplinas que favoreçam
todos os grupos sem perder a direção do diálogo, são atitudes acompanhar as vicissitudes da humanidade.
marcantes de combate às desigualdades sociais. Cada instituição escolar é única, se analisarmos e levarmos
em consideração o ambiente em que estes alunos estão inseri-
Sabemos que esta luta pelos direitos contra as diferenças dos, e é justamente pela importância do tema, que a discussão
sempre esteve presente na história da humanidade. A diferença em relação à diversidade cultural vem ganhando uma maior
de tratar o outro sempre teve conotação violenta e excludente. conotação, o que incentivou o estudo desta questão à alguns
(Escravidão, Nazismo, Inquisição). anos, ratificando assim, não se tratar de algo novo, apontando
para a necessidade de aprofundar se nessa construção do dis-
Hoje verificamos que esta diversidade não se evidencia so- curso sobre as diferenças, e de uma educação que seja capaz
mente nas diferentes culturas constituintes da população, mas de produzir um espírito de criticidade e do real significado do
sim na desigualdade social, cultural, econômica e racial, encon- termo cidadania.
trando-se refletida no sistema educacional. Cada escola, cada sala de aula tem a sua história e suas pre-
ocupações que a faz diferente uma das outras, essas diferenças
A escola constitui um dos espaços socioculturais onde as apresentadas pela comunidade escolar, pode ser explicada jus-
diferenças se encontram? tamente pela diversidade cultural/territorial expressas no chão
de cada escola, pois trata se de uma população formada por
Será que as diferenças são tratadas de forma adequada? diversos grupos étnicos, com seus costumes, seus rituais e suas
crenças.
Será que a garantia da educação escolar visa seus direitos Ao analisarmos como se dá o processo de aprendizagem
sociais na inclusão dos ditos diferentes, criando recursos ade- nos dias atuais, e principalmente em nossas escolas, vários fato-
quados à formação integral de cidadão? res influenciadores poderiam ser enumerados tanto enquanto
aspectos positivos, no que se refere à possibilidade de conhecer
Educar para a Diversidade e Cidadania é fazer das diferen- e conviver com novas culturas, tanto nos aspectos negativos,
ças o ponto de arranque para o caminhar em direção ao respei- principalmente na definição de culturas, que com o passar dos
to ao outro. É saber enxergar e aprender com a riqueza que esta anos vieram de outras regiões do país, e essas passaram a ser
relação pode nos propiciar e não apenas reconhecer o outro consideradas como inferiores em relação as que já existiam na-
como diferente, mas reconhecer que esta relação entre eu e o quele chão.
outro pode significar uma troca de crescimento social, político A atual sociedade tem passado por significativas transfor-
e pedagógico. mações em seus vários aspectos, político, econômico, religioso,
familiar e principalmente o aspecto cultural. E é justamente no
5 Fonte e texto adaptado de: www.educor.desenvolvimento.gov.br/
âmbito cultural, que mais tem se divergido as ideias, principal-
www.rhportal.com.br/www.unifia.edu.br/www.gestaopublica.org/
www.sbcoaching.com.br/www.administradores.com.br/www.abed.org.
mente de sua influência na vida de nossos alunos na relação
br/Marisa Eboli/João Carlos Lopes/Julio Cesar S. Santos/Sergio Alfredo ensino aprendizagem.
Macore/Antonio Carlos Ribeiro da Silva/ Jéssica Faria de Carvalho/ Érica
Preto Tamaio Martins/ Laureny Lúcio/ Pedro José Papandréa

156
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nota se claramente que há um distanciamento cultural da própria forma e da relação entre educadores e educandos.
muito grande, o que tem causado sérios danos à formação das Dessa forma a educação era concebida de forma arbitrária e os
crianças, jovens e adultos, seja tanto dentro da sociedade, as- indivíduos foram moldados de acordo com os interesses cultu-
sim como no próprio ambiente escolar, o que tem levado cons- rais e políticos, e o professor era puramente um reprodutor de
tantemente aos professores a trabalharem com alunos que teo- ideias e não um formador de cidadão críticos capazes de trans-
ricamente não lhes trarão problemas, como pontua claramente formar uma sociedade.
Philippe Perrenoud: Assim poderíamos enxergar que a escola possui uma fun-
Diferenciar é trabalhar prioritariamente com os alunos ção política e social que pautada pela razão deve tentar ajudar
que têm dificuldades. Ora, nem sempre eles são cooperativos, na melhora da qualidade do ensino/aprendizagem uma vez que
trabalhadores, simpáticos, bem educados, divertidos, limpos e somos frutos de um sistema que acaba engessando o pensa-
charmosos, ou seja, gratificantes. Diferenciar é enfrentar com mento dos indivíduos com um conhecimento que fora outrora
frequência certa distância cultural, gerar certa tensão com padronizado, criando barreiras que impedem os professores de
quaisquer alunos rebeldes à aprendizagem, superar momentos alcançarem resultados que possam ser visíveis não só na forma-
de desânimo quanto o tédio inerente à repetição das mesmas ção intelectual, mas também na formação pessoal do educan-
explicações, as quais acompanham tarefas elementares, por do, o que exigirá questionamento não só aos conteúdos, mas
mais fundamentais que elas sejam. (PERRENOUD, 2001, p. 46.) à própria forma, ao próprio método da educação e da relação
Daí a proposta de novas formas de se educar, enxergando entre educadores e educandos.
o aluno não somente como uma folha em branco, que está es- A flexibilidade da consciência e a necessidade constan-
perando para ser escrita, mas que, todavia, já traz consigo suas te da participação do individuo nas mudanças necessárias na
histórias, anseios e modos de vida própria e somente a escola sociedade, deve passar por uma mudança educacional no agir
poderá se adequar às necessidades das práticas escolares jus- educativo, que várias vezes pode ter sido reprimida pelo pró-
tamente às características de cada estudante, pois claramente prio sistema educacional através da padronização do ensino,
como afirma o próprio Perrenoud (2001, p.48), “é normal ter priorizando o ensino de conteúdos programáticos que não con-
vontade de trabalhar com os alunos mais gratificantes, mais seguem contemplar realidades vivenciadas por esses alunos e
curiosos, mais rápidos. É inútil sentir-se culpado. O essencial é o que só seria possível, quando os cidadãos estiverem partici-
analisar lucidamente suas escolhas”. pando efetivamente das mudanças que ocorrem na sociedade,
Em uma abordagem de se trabalhar com as diferenças apre- através de uma educação que pudesse enquadrar esse indivi-
sentadas pelos alunos é que Candau e Leite (2006) afirmam a duo nas discussões pertinentes ao seu espaço e tempo.
necessidade da quebra de paradigmas impostos pela escola tra- Agir educativo que, não esquecendo ou desconhecendo as
dicional e a proposta de uma educação que reconheça as dife- condições culturológicas de nossa formação paternalista, ver-
renças individuais dos alunos e, consequentemente, a adequa- tical, por tudo isso antidemocrática, não esquecesse também
ção de práticas pedagógicas que priorizem essas características e, sobretudo as condições novas da atualidade. De resto, con-
individuais desses estudantes. As autoras justificam essa neces- dições propícias ao desenvolvimento de nossa mentalidade
sidade já que a aquisição do conhecimento não se dá da mesma democrática, se não fossem destorcidas pelos irracionalistas.
forma para todos e essas diferenças na aprendizagem acabam (FREIRE, 2003, p.99)
tornando-se manifestações excludentes e discriminatórias.
Freire e Shor (1987) falam sobre enfrentar o medo no co-
Ainda segundo Candau e Leite (2006) foi justamente essa
tidiano de nossas lutas pela transformação da sociedade. Essa
proposta na mudança educacional desenvolvida na década de
transformação seria mais eficaz a partir do momento que pro-
60, que motivou Paulo Freire, no nordeste brasileiro, na implan-
fessores fizessem uso da chamada educação informal, que se-
tação da educação de jovens e adultos. O método implantado
ria justamente o reconhecimento de conhecimentos empíricos
por Paulo Freire tem como proposta uma educação que consi-
adquiridos e vivenciados por esses sujeitos em sua realidade
dera o universo cultural no qual está inserido. Dessa maneira, é
cotidiana, não priorizando apenas a educação formal, que se-
possível considerar também a diferença cultural que influencia
guem um ensino padronizado e institucionalizado. Os autores
diretamente na deficiência da aprendizagem no espaço escolar
afirmam que “se estou seguro do meu sonho político, então
e nas interações sociais.
É comum, na obra de Paulo Freire a crítica à educação e uma das condições para continuar a ter esse sonho é não me
à práticas escolares que carregam uma concepção massifica- imobilizar enquanto caminho para sua realização. E o medo
dora e excludente, induzindo seus alunos a simples repetição pode ser paralisante” (1986, p.35).
de conhecimentos que foram disseminados durante anos, não A abordagem da educação libertadora, não se faz em favor
proporcionando e muito menos possibilitando aos discentes a dos oprimidos; é feita a partir do povo e com ele, é o que jus-
discussão de problemas emergentes do cotidiano. Para o autor tamente é chamado de cultura popular. Nessa globalidade do
é preciso considerarmos uma sociedade que passa constante- processo da cultura popular, a educação ganha sentido originá-
mente por transição e, dessa forma, negarmos uma educação rio de busca do pleno reconhecimento ativo do homem e pelo
que não leva a discussão de ideias, e muito menos a produção homem. Educar-se é participar ativamente do processo total da
de novos conhecimentos. cultura, através da qual o homem se faz e refaz, radicalmente,
Freire (2003, p.98) exorta que “só podíamos compreender é o processo da cultura do povo trabalhador, sendo assim, cul-
uma educação que fizesse do homem um ser cada vez mais tura popular no seu sentido mais profundo e originário. Assim,
consciente de sua transitividade que deve ser usada tanto na luta pela educação popular como objeto de resistência à ide-
quanto possível criticamente, ou com acento cada vez maior da ologia dominante e, como objeto na construção de uma cultura
racionalidade”. geral, todos temos uma parcela de responsabilidade.
Não é mais justificável uma educação estática que não con- É justamente nesse terreno da chamada educação popular
temple a conscientização e a libertação do indivíduo, daí a im- que Arroyo (2009) chama-nos a atenção que desde seu surgi-
portância do questionamento não somente dos conteúdos, mas mento na década de 60, concepções estereotipadas e errôneas

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tem sido construída do que seja esse movimento e consequen- fica por parte dos governos ou representações políticas. Não é
temente a construção de imagens que acabaram padronizando concebível na atual sociedade moderna, luta por direitos sem
as pessoas de classes menos favorecidas como seres inferiores manifestações ou confronto, principalmente o confronto de
ou portadores de uma cultura que fora ocultada por essa classe ideias que contribuirá na formação do senso crítico desses no-
dominante. vos cidadãos.
Segundo Arroyo (2009) a ligação entre a educação popu- Assim é impensável discutir sobre direito à diversidade e
lar e saúde se dá justamente por que determinados setores da educação para cidadania sem antes partirmos de uma aborda-
sociedade criam imagens metafóricas tiradas da patologia: fa- gem antropológica com o intuito de podermos tentar compre-
la-se da ignorância popular como chaga social, não enxergando ender qual o real significado do termo identidade, como uma
nesses grupos qualquer tipo de conhecimento, seja no aspecto construção que se faz com atributos culturais, isto é, ela se ca-
cultural ou intelectual. racteriza pelo conjunto de elementos culturais adquiridos pelo
Estas visões naturalizadas, biologizadas e patológicas dos indivíduo através da herança cultural. E é essa mesma identi-
setores populares ainda estão muito arraigadas e orientam o dade que confere diferenças aos grupos humanos, evidencian-
pensamento, as análises e a ação, as políticas, programas e do-se em termos da consciência da diferença e do contraste do
campanhas de educação, de saúde e de assistência. Estas me- outro.
táforas afirmam que assim como os acidentes naturais e as do- Uma afirmação que muito poderá nos ajudar na reflexão na
enças põem em perigo o corpo social, político, cultural e moral. diversidade das culturas é de Lévi-Strauss (1976, p.328-329), ao
(ARROYO, 2009, p.45) ponderar que;
Ainda de acordo com o autor, foram criadas campanhas [...] resultaria em um esforço vão ter consagrado tanto ta-
que visavam proteger a educação popular que acabava infan- lento e tantos esforços para demonstrar que nada, no estado
tilizando-a ao invés de protegê-la, e que verdadeiramente aca- atual da ciência, permita afirmar que superioridade ou a infe-
bava por desqualificar e desconceituar tal grupo. Dessa forma, rioridade intelectual de uma raça em relação à outra, e que as
em tempos modernos autoimagens foram criadas a respeito da culturas humanas não diferem entre si do mesmo modo nem no
cultura popular e saúde, que exigem uma mudança de postura mesmo plano, mas que a diversidade das culturas é de fato no
de todos os envolvidos nesse processo, possibilitando o apare- presente, e também de direito no passado, muito maior e mais
cimento de uma nova dinâmica político-cultural, que exigirá a rica que tudo o que estamos destinados a dela conhecer.
ressignificação dessas manifestações preconceituosas. O autor pontua que a diversidade cultural faz parte das re-
Com isso Arroyo (2009) qualifica a educação popular e saú- lações estabelecidas no interior de cada sociedade, ou seja, não
de como uma “reação as tentativas conservadoras de despoli- é um problema apenas das relações entre sociedades diferen-
tização de suas ações inventando gestos para chocar a cultura tes, mas acontece em cada subcultura que compõe a sociedade
política e abrem espaços para explorar suas dimensões pedagó- estudada, sendo que cada uma delas atribui importância a suas
gicas” (p.410). diferenças. (LÉVI-STRAUS, 1976)
E esse processo de mudança se dará com a formação e Para Ruben George Oliven
conscientização dos novos educadores, com a configuração de O que se verifica atualmente é um cruzamento das frontei-
novos hábitos, valores éticos, políticos e culturais e com novos ras culturais e simbólicas que faz com que haja uma desterrito-
rumos propostos por uma educação transformadora, quebran- rialização dos fenômenos culturais. Todo esse processo de mun-
do velhos paradigmas e criando novos conceitos de educação dialização da cultura, que dá a impressão de que vivemos numa
popular e saúde, pois a intenção das classes dominantes não é a aldeia global, acaba repondo a questão da tradição, da nação
de educar as classes populares mais simplesmente massificá-la, e da região. A medida em que o mundo se torna mais complexo
dominá-la ou simplesmente aniquilá-la. e se internaliza, a questão das diferenças se recoloca e há um
Os movimentos populares repolitizam e radicalizam a peda- intenso processo de construção de identidades. (OLIVEN, 1992,
gogia popular, na medida em que repõem suas lutas no campo p. 135).
de direito. Ao afirmarem-se sujeitos de direitos, vinculam as po- Historicamente e até pelo pesado fardo que carregamos
líticas sociais com a igualdade, a justiça e a equidade. Não mais em nossos ombros pelo processo de colonização ao qual fomos
com a inclusão excludente. Fazem avançar uma conformação do brutalmente submetidos até os dias atuais, fica evidente que
povo como sujeito de direitos. (ARROYO, 2009, p.411) nossa sociedade ainda não adquiriu uma cultura de aceitar, res-
A legitimidade dos movimentos sociais populares acaba por peitar e trabalhar com o diferente.
resgatar aos cidadãos princípios básicos de igualdade e cida- Como alerta o autor, ao tratar da questão das novas fron-
dania, que reagindo a ideais conservadores acabam por abrir teiras da cultura:
novos caminhos para a aplicação de diferentes e inovadores A tensão entre o global e o local não está restrito ao Velho
dispositivos pedagógicos que poderá em um futuro muito breve Mundo. Os Estados Unidos estão experimentando conflitos de
contribuir na reformulação e reorganização da práxis pedagó- grande violência, por trás dos quais estão diferentes grupos ét-
gica, principalmente na formação político pedagógico e ideo- nicos que afirmam suas diferenças em relação aos outros e não
lógico de uma classe jovem que amanhã possivelmente estará aceitam mais um modelo único de ser dos norte-americanos.
a frente do nosso país, incentivada e sustentada por uma nova (OLIVEN, 1992, p.133).
classe de professores, abertos para uma nova discussão do que Oliven (1992) ainda aponta que, no Brasil, apesar de não
seria, ou deveria ser a aproximação da nova dinâmica educativa termos conflitos étnicos, regionais ou religiosos vivenciamos
provocada pelos novos educadores. debates que apontam para discussões semelhantes pois, ape-
Daí também em se pensar em uma nova proposta na re- sar de não pertencermos ao chamado mundo desenvolvido ou
construção dessas autoimagens, que os referidos movimentos primeiro mundo, não queremos fazer parte do mundo subde-
populares deveriam continuar submissos ao próprio sistema, senvolvido ou terceiro mundo.
esperando uma mudança política e ideológica de forma pací-

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Direito de ser autêntico, de ser diferente, ainda parece uma de os outros, diz palavrões, masca chiclete, cheira mal, destrói
conquista longe de ser alcançada em nossa sociedade, ignoran- disfarçadamente as plantas do professor ou acaba abertamente
do muitas vezes que o que realmente deveria ser posto em com suas profissões de fé ecológicas em nome do “sacrossanto
prática, são a consciência e a razão, e não os aspectos sociais, carrão”. (PERRENOUD, 2001, p. 57)
econômicos, raciais, religiosos e culturais, esquecendo que isso Essa educação elitista, bem como as diferenças culturais
sim, é requisito indispensável para que possamos ter uma equi- são bem claras na sociedade, e na educação isso se evidencia
dade social. ainda mais, pois as diferenças não estão somente fora dos por-
Num país tão rico culturalmente como o Brasil, não se jus- tões das escolas, mas está dentro da própria escola, e muitas
tifica haver tanto preconceito e discriminação, eles se tornaram vezes vem sendo utilizada mesmo de forma camuflada, ou até
uma arma contra a nossa civilização e cabe a nós combatê-lo. inconscientemente como fator de discriminação e preconceito.
A consciência de que ser diferente é algo bom e que deve ser Exemplo maior é o defendido por Vera Candau e Miriam
respeitado, é algo que necessita ser buscado frequentemente Leite (2006, p.2-3), para quem:
em nossa sociedade e principalmente no ambiente escolar. [...] a forma mais básica de aplicação desse processo discri-
Mesmo considerando que no Brasil a diversidade cultural minatório é a forma mais básica de aplicação dessa perspecti-
seja facilmente notada e que a escola é a instituição em que va na prática pedagógica que sobreviveu até os dias atuais: a
mais se convive com as mais diversas formas de manifestações diferenciação tipológica, ou seja, o agrupamento de alunos em
culturais, a mesma mostra-se despreparada para trabalhar com classes homogêneas, em função do que seria a sua “capacidade
manifestações preconceituosas e discriminatórias que ocorrem de aprendizagem” (TITONE, 1966)
no dia a dia. E esses preconceitos perpassam desde a relação A escola acaba rotulando e criando pré-juízos dos alunos
entre educandos e educandos e entre educadores e educandos, pela sua capacidade ou não de aprendizagem, excluindo e
e esse educador até por não ter recebimento formação sufi- discriminando várias vezes esses alunos, fomentando assim a
ciente para lidar com essa diversidade mostrando-se despre- própria exclusão social, o que em diversos casos acaba sendo
parado para lidar com tal situação, acaba por estereotipar o camuflado pela própria intituição de ensino, enquanto a função
aluno contribuindo para que a discriminação possa interferir na primordial da escola além da transmissão do conhecimento ela-
aprendizagem e na aquisição do conhecimento. borado e intelectual seria a socialização do indivíduo, formando
Diante de todas essas situações,a sociedade brasileira tam- o aluno para o exercício pleno da chamada cidadania.
bém tem o desafio de redefinir suas colocações, seus concei- A partir dessa concepção do papel da escola, podemos re-
tos políticos e sociais, para garantir às minorias, o direito de fletir sobre o que aborda os PCNS (1997), afirmando que:
igualdade de oportunidades e respeito às suas diferenças, va- O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como
lorizando as características culturais de todas as partes do país parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a ri-
e principalmente a característica de cada escola em particular, queza representada por essa diversidade etnocultural que com-
promovendo um diálogo cada vez maior entre o verdadeiro põe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na supera-
conceito de cidadania tantas vezes desprezado por nossa socie- ção de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória
dade e também por nossas escolas. particular dos grupos que compõem a sociedade. (PCNS, p. 117)
Sendo de grande relevância, priorizar a cultura específica Dessa forma podemos entender que a mudança desse qua-
de cada cidadão, e consequentemente a diversidade cultural de dro de uma educação elitista poderá ser modificada com a va-
cada região, contribuindo para a preservação da identidade cul- lorização da cultura desses alunos, que consequentemente irá
tural de cada povo. ajudar na melhor absorção dos conteúdos, sem desconsiderar
A existência humana como as diferentes formas que assu- o aspecto pedagógico de cada instituição, partindo do pressu-
mem as sociedades ao longo dos tempos e dos espaços, as re- posto que o convívio com essa diversidade cultural promoverá
lações entre povos, culturas, civilizações, etnias, grupos sociais a compreensão do seu próprio valor, melhorando a autoestima
e indivíduos, configurando-se como desafio central, não só das dos educandos que fora sendo perdido no convívio com a socie-
práticas pedagógicas escolares, mas das possíveis formas de dade. “A escola como instituição voltada para a constituição de
convivência que se queira construir, para humanizar as relações sujeitos sociais deve afirmar um compromisso com a cidadania,
na economia, na política e no saber. colocando em análise suas relações, suas práticas, as informa-
Baseado na ideia de Philippe Perrenoud (2001), podemos ções e os valores que veicula” (PCNS, p. 52) não só na formação
afirmar que existe uma grande distância cultural na relação pe- ética, mas sim também na formação intelectual que acaba sen-
dagógica. Entre professores e alunos, a comunicação, a cumpli- do o objetivo principal da instituição escola.
cidade, a estima mútua dependem muito de gostos e valores E infelizmente a forma como se tem tratado a diferença
comuns, em âmbitos aparentemente estranhos ao programa, vem trazendo sérios prejuízos ao educando, seja nas relações
pois a escola não é feita apenas de saberes intelectuais a serem de aprendizagem, socialização, convívio com professores e co-
estudados, ensinados e exigidos. legas e com a própria sociedade da qual ele faz parte ou está
Com isso se confirma,segundo Perrenoud, que,na interação inserido.
cotidiana, a escola é elitista, mesma que essa não seja sua in- Como afirmam os PCN:
tenção: A criança na escola convive com a diversidade e poderá
Não podemos subestimar o choque cotidiano das culturas. aprender com ela. Singularidades presentes nas características
Ele influência o fracasso escolar: as rejeições, as rupturas na de cultura, de etnias, de regiões, de famílias, são de fato per-
comunicação, os conflitos de valores e as diferenças de costu- cebidas com mais clareza quando colocadas junto a outras. A
mes contam tanto quanto o eventual elitismo dos conteúdos. percepção de cada um, individualmente, elabora-se com maior
Uma criança que rejeita a violência, que respeita os livros, que precisão graças ao outro, que se coloca como limite e possibili-
cumprimenta educadamente e sempre tem as mãos limpas será dade. Limite, de quem efetivamente cada um é. Possibilidade,
mais apreciada do que aquela que, com iguais dificuldades, agri- de vínculos, realizações de “vir-a-ser”. Para tanto, há necessi-

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dade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informa- to cultural deficientes, inadequados ao pensamento lógico e à
ções mais precisas a questões que vêm sendo indevidamente apropriação do que seria o patrimônio cultural da humanidade,
respondidas pelo senso comum, quando não ignoradas por um explicando assim o quadro frequente de fracasso escolar desses
silêncio constrangimento. Essa proposta traz a necessidade im- estudantes. (CANDAU, 2006, p.6)
periosa da formação de professores no tema da Pluralidade cul- O sistema educacional poderia e deveria se sentir privile-
tural. Provocar essa demanda específica na formação docente é giado, pois é este o local ideal para discutir as diferentes cul-
exercício de cidadania. É um investimento importante e precisa turas, como elas se entrelaçam e criam novas culturas, e prin-
ser um compromisso político-pedagógico de qualquer planeja- cipalmente as suas contribuições na formação do nosso povo,
mento educacional/escolar para a formação e/ou desenvolvi- mas sem nunca esquecer a particularidade do sujeito, pois cada
mento profissional dos professores. (PCNS, p. 123) vez mais o diferente aparece, seja na forma de aprender, de se
Cabe aos professores conseguir perceber essas diferenças e comunicar, de se vestir, ou na de refletir, para tanto, é impor-
promover a mediação da tentativa de solucionar esses proble- tante, valorizar o espaço social, ampliar ações e principalmente,
mas e propiciar ao aluno a retomada não somente dos valores reconhecer que as crianças e adolescentes precisam sonhar, ter
educacionais, seja da escola formal ou não, mas a retomada de oportunidades, não importando qual a sua diferença.
valores que foramuita das vezes, esquecidos por ele e pela pró- Em um país cada vez mais globalizado, trabalhar com o di-
pria sociedade, e consequentemente o direito a diversidade e a ferente parece uma tarefa árdua e difícil de ser concluída, mas
educação na construção da cidadania. sem dúvida antes de se trabalhar com a diversidade cultural, é
Assim, podemos entender o verdadeiro sentido da educa- necessário que os professores estejam preparados para assumir
ção e da instituição escola, aquela instituição consciente que tão grandiosa missão.
possa construir e oferecer aos seus, uma educação de equida- Muitas vezes somos encurralados por perguntas, hábitos,
de, voltados para a finalidade de atender as reais necessidades modos e atitudes de nossos alunos, o que quase sempre nos
apresentadas pela comunidade escolar. leva a emitir certos juízos de valores sem termos conhecimen-
Dentro desse contexto torna-se claro a afirmativa de San- to de causa, e os professores quase na sua totalidade, estão
dra Pereira Tosta: trabalhando com a diversidade cultural a partir de forma pa-
De todo modo, é inegável que diferenças e desigualdades dronizada.
fazem parte do cotidiano escolar e tais questões muito impor- Acabam lidando com essas questões, não por terem sido
tam pelos significados que contém e que dizem respeito em- preparados por meio de um conhecimento científico elaborado
piricamente à problemática das culturas presentes na escola, e discutido por estudiosos que dedicam suas pesquisas sobre o
mesmo que, como tais, não sejam consideradas. Remetem, em assunto, mas sim através de suas experiências que aprenderam
termos epistemológicos, à questão fundante da Antropologia ao longo de suas vidas, bem anterior, ou durante a sua forma-
–a relação com o outro. (PEREIRA-TOSTA, 2011, p. 418) ção profissional.
A autora sugere que os educadores possam ser formados a A mudança tão esperada e falada em nossa sociedade só
partir do diálogo interdisciplinar, em que educação e antropo- se dará quando nós professores assumirmos nosso papel nesse
logia, mesmo sendo ciências diferentes, estejam simplesmente processo, fazendo com que nossos alunos entendam que con-
unidas, mas que possa contribuir na interlocução dos sujeitos e viver com as diferenças é possível. Ser diferente não é definiti-
consequentemente na aquisição do conhecimento. vamente ser inferior.
Não é mais possível permanecer com práticas embasadas Assim estaremos dando a real possibilidade da contribuição
por visões nonodisciplinares e descoladas de realidades sociais na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em
diferentes e desiguais que demandam uma visão diferente e que o indivíduo seja respeitado por aquilo que ele é, e não por
mais polissêmica do que sejam os processos educacionais, a es- aquilo que a sociedade queria que ele fosse independente da
cola, o conhecimento, as práticas pedagógicas, os currículos, a diversidade cultural/territorial na qual está inserido. 6
formação e a profissão. (idem, 2011, p.416)
Teoricamente poderíamos afirmar que o objetivo primor-
dial da escola seria um local destinado a aquisição do conheci- EDUCAÇÃO INTEGRAL
mento formal, cientifico e sistematizado, onde diversas cultu-
ras pudessem conviver harmoniosamente entre si, visto que, O século XXI consolidou demandas que foram historica-
temos escola para pobre e para rico, para negros e para bran- mente construídas em todas as esferas sociais, inclusive na edu-
cos, para mulheres e para homens, de boa e de má qualidade, cacional. A organização social atual exige uma escola multifun-
pública e privada, onde a pública esta intrinsicamente ligada à cional, com profissionais mais completos, integrais, que, além
defesa de interesses de uma pequena classe social dominante e de dominar o conteúdo especializado, sejam preparados para
jamais poderá competir em real igualdade com a privada, mas lidar com os desafios da contemporaneidade. Esses profissio-
na prática podemos perceber que a escola se tornou um dos nais devem estar capacitados para atuar na formação integral
lugares mais discriminatórios e excludentes da sociedade. dos discentes, preparando-os para a vida em sociedade e para
E é justamente a partir de meados da década de 60, se- exercerem a cidadania em todas as suas vertentes.
gundo Candau, que aparece a discussão de novas abordagens É nesse novo paradigma social que o discurso de educar
sociológicas, como a Nova Sociologia da Educação (NSE): integralmente, de preparar os educandos, física, afetiva, cultu-
Desenvolvida na Inglaterra, que iniciaram uma discussão ral e cognitivamente ganha força e atinge todos os âmbitos da
que tratavam especificamente das populações recentemente esfera política, concretizando-se nos documentos oficiais que
ingressas nos sistemas de educação formal que opunha se a te- regulamentam a educação no País. Assim, vemos as ideias do
oria do deficit linguístico e cultural, que entendia que os alunos educador brasileiro Anísio Teixeira (1962) serem retomadas de
de camadas populares trariam para a escola uma linguagem e forma contundente, pelo menos no discurso oficial. Para Anísio
um background cultural deficientes, inadequados ao pensamen- 6 Fonte: www.itu.com.br/www.fucamp.edu.br

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Teixeira, a efetivação da educação integral está subordinada à A Educação Integral:
ampliação do tempo, sendo a escola de tempo integral a solu- - é uma proposta contemporânea porque, alinhada as de-
ção para melhorar a qualidade do ensino e atender às deman- mandas do século XXI, tem como foco a formação de sujeitos
das da sociedade atual. críticos, autônomos e responsáveis consigo mesmos e com o
Contemporâneo de Anísio Teixeira, Gadotti (2009) contes- mundo;
ta a premissa de que a educação integral está subordinada ao - é inclusiva porque reconhece a singularidade dos sujeitos,
tempo integral. Para o autor, educar integralmente deve ser o suas múltiplas identidades e se sustenta na construção da per-
objetivo primordial da escola, seja ela de tempo parcial ou inte- tinência do projeto educativo para todos e todas;
gral. Contudo, a expansão do tempo integral no Brasil, na maio- - é uma proposta alinhada com a noção de sustentabilidade
ria das vezes, é uma tentativa de suprir necessidades sociais porque se compromete com processos educativos contextuali-
básicas não abarcadas pelo Estado. zados e com a interação permanente entre o que se aprende e
A educação integral é uma concepção da educação que não o que se pratica;
se confunde com o horário integral, o tempo integral ou a jor- - promove a equidade ao reconhecer o direito de todos e
nada integral. Alguns projetos de escola de tempo integral sur- todas de aprender e acessar oportunidades educativas diferen-
giram, como é o caso dos Cieps, para compensar deficiências ciadas e diversificadas a partir da interação com múltiplas lin-
do meio familiar, da própria sociedade. Os Cieps foram criados, guagens, recursos, espaços, saberes e agentes, condição funda-
tanto no estado quanto no município do Rio de Janeiro, nas dé- mental para o enfrentamento das desigualdades educacionais.
cadas de 1980 e de 1990, como um ‘Programa Especial de Edu- Como concepção, a proposta de Educação Integral deve ser
cação’. [...] O projeto original dos Cieps previa até a construção assumida por todos os agentes envolvidos no processo forma-
de residências, na própria escola, para os alunos mais pobres e tivo das crianças, jovens e adultos. Nesse contexto, a escola se
suas famílias, numa clara confusão entre o papel da escola e as converte em um espaço essencial para assegurar que todos e
políticas sociais. A escola não pode fazer tudo o que a socieda- todas tenham garantida uma formação integral. Ela assume o
de não está fazendo; ela não pode substituir todas as políticas papel de articuladora das diversas experiências educativas que
sociais. A escola precisa cumprir bem a sua função de ensinar os alunos podem viver dentro e fora dela, a partir de uma inten-
(Gadotti, 2009, p. 29-30). cionalidade clara que favoreça as aprendizagens importantes
Retomando os documentos oficiais, o Plano Nacional de para o seu desenvolvimento integral.
Educação (PNE), aprovado pela Lei n. 10.172/2001, estabelece a
obrigatoriedade do ensino fundamental, assegurando o acesso Vantagens da educação integral
e a permanência de todas as crianças na escola até a conclusão Entre as vantagens da educação em tempo integral, desta-
dessa etapa. O documento ainda ratifica que o cumprimento cam-se:
dessa prioridade: - Melhoria no desempenho dos alunos
[...] inclui o necessário esforço dos sistemas de ensino para Nesse regime de ensino há períodos destinados para que o
que todos obtenham a formação mínima para o exercício da aluno estude para as provas e faça os trabalhos do dia, sempre
cidadania e para o usufruto do patrimônio cultural da sociedade com o apoio de profissionais. Isso pode levar à melhoria no de-
moderna. O processo pedagógico deverá ser adequado às ne- sempenho do aluno.
cessidades dos alunos e corresponder a um ensino socialmente - Utilização do tempo ocioso
significativo. Prioridade de tempo integral para as crianças das Muitas vezes o jovem que sai da escola e vai para casa não
camadas sociais mais necessitadas (Brasil - PNE, 2001, p. 35). utiliza o seu tempo para atividades de culturais ou de estudo.
A Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do Nas escolas com educação integral, há melhor aproveitamento
Adolescente (Lei 8.069/1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da desse tempo que seria ocioso, podendo afastá-lo, inclusive, do
Educação Nacional (LDB) (Lei 9.394/1996) são documentos le- envolvimento com atividades que levem a problemas de risco
gais que estabelecem o direito à educação integral a todas as social.
crianças e adolescentes do País. A LDB também preconiza a pro- - Contato com atividades de lazer, esportes e cultura
gressiva implantação do ensino em tempo integral nas institui- Nas escolas com educação em tempo integral há uma sé-
ções nacionais de ensino público: rie de atividades recreativas, esportivas e culturais voltadas aos
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá alunos que, de outro modo, talvez não tivessem acesso a elas
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, e com a vantagem extra de que elas são pensadas pedagogica-
sendo progressivamente ampliado o período de permanência mente.
na escola. [...]§ 2º. O ensino fundamental será ministrado pro- - Melhoria na relação familiar
gressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de Muitas vezes, depois de um dia atribulado no trabalho, os
ensino (Brasil - LDB Lei 9.394/1996). pais chegam em casa e precisam conferir e ajudar os filhos a
fazer seus deveres. Essas cobranças podem levar a conflitos e
Diferenciando educação integral de educação de tempo desgastar a relação familiar. Já quando o jovem já estudou e fez
integral os deveres na escola, esse período poderá ser utilizado apenas
A Educação Integral é uma concepção que compreende que para atividades mais prazerosas junto à família.
a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em - Desenvolvimento da autonomia
todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social Na educação integral há desenvolvimento da autonomia
e cultural e se constituir como projeto coletivo, compartilhado dos jovens, que não dependerão apenas dos pais para estuda-
por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comuni- rem e fazerem suas atividades escolares. O convívio frequente
dades locais. com outros jovens e adultos também colabora para o desenvol-
vimento de habilidades sociais.

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Desafios da educação integral - Oferece educação bilíngue
Como vimos, a educação em tempo integral possui diversas Além de não ter que se deslocar para outra instituição, o
vantagens. Agora, veremos alguns de seus principais desafios. período integral permite inserir atividades durante as aulas de
- Novo papel dos pais idiomas que as tornam mais eficientes. Em vez de aprender
A educação integral valoriza a autonomia do aluno. Entre- apenas gramática, por exemplo, o aluno pode usar o inglês em
tanto, alguns pais ressentem-se de participarem menos da roti- uma aula de ciências. A criança já cresce com um bom conhe-
na de seus filhos. É importante lembrar que a presença dos pais cimento de inglês ou espanhol para que, no futuro, possa estu-
é fundamental para o desenvolvimento dos jovens. Por isso, é dar, se desejar, em uma universidade fora do país.
preciso encontrar outras formas de participar do dia a dia dos - Supre a carência de lazer e cultura
filhos já que a educação integral ocupa-se apenas de uma es- Uma grade curricular estendida e planejada oferece ativi-
fera de seu desenvolvimento. Os pais não devem pensar que a dades artísticas e culturais diversificadas. “Isso amplia a capa-
escola os substituirá. cidade da criança de estabelecer relações que a farão entender
- Falta de um projeto pedagógico específico melhor o mundo”, afirma Tatiana Almendra.
O projeto pedagógico de uma escola com educação integral - Permite mais prática de esportes
precisa ser muito bem definido para que o período estendido Com um número maior de aulas de educação física, o aluno
não seja maçante para o aluno, mas o auxilie em seu desenvol- tem acesso a diversas modalidades de esportes, sempre respei-
vimento completo enquanto cidadão. tando seu desenvolvimento motor e a capacidade de atuar em
Ao contrário do que diz o senso comum, passar mais tempo grupo.
na escola não é sinônimo de educação integral. A educação em - Estimula a criatividade e o pensamento crítico
tempo integral precisa estar baseada em aprendizagens signi- Uma carga horária maior permite a realização de projetos
ficativas que levem a uma educação de qualidade e que forme interdisciplinares mais complexos, que desafiam a criança a re-
integralmente os jovens alunos. solver situações-problema em lugar de decorar conceitos. Os
- Falta de estrutura de algumas escolas alunos podem, por exemplo, aplicar conceitos de física na cons-
Para que a educação integral funcione, é preciso que as es- trução de “engenhocas”. Dessa forma, haverá maior desenvol-
colas tenham estruturas físicas adequadas. Nesse tipo de pro- vimento de sua capacidade criativa.
posta, as escolas precisam ter locais específicos para práticas - Oferece educação digital
esportivas, por exemplo. Assim, é preciso que a escola esteja
A criança aprende a usar o computador não apenas como
bem adaptada para esse modelo antes de lançá-lo. É importan-
mais um instrumento de comunicação e de pesquisa. No currí-
te que os pais conheçam as instalações escolares antes de rea-
culo da Móbile Integral, por exemplo, os estudantes, por meio
lizar a matrícula.
do uso de robôs e de jogos, aprendem a “falar” com o compu-
tador, aproximando-se gradualmente da linguagem de progra-
Educação em Tempo Integral
mação.
O termo Educação em Tempo Integral ou Escola de Tempo
- Oferece educação alimentar
Integral diz respeito àquelas escolas e secretarias de educação
A criança aprende a comer de forma saudável e conhece
que ampliaram a jornada escolar de seus estudantes, trazendo
uma variedade maior de alimentos por ter acesso a uma ali-
ou não novas disciplinas para o currículo escolar. A maioria das
unidades de ensino que adota esse modelo geralmente imple- mentação planejada por uma equipe de especialistas.
mentam a extensão do tempo em turno e contraturno escolar –
durante metade de um dia letivo, os estudantes estudam as dis- Entre os desafios podemos citar:
ciplinas do currículo básico, como português e matemática, e o - Falta estrutura física;
outro período é utilizado para aulas ligadas às artes ou esporte. - Falta integração de disciplinas;
Na perspectiva da educação integral, o conceito de tempo - Falta de profissionais: faltam porteiros, inspetores de alu-
integral suscita várias discussões, uma vez que há algumas cor- nos, merendeiras, pessoal administrativo.
rentes dos movimentos sociais ligados à educação que defen- - Aumentar o número de horas não resolve: é preciso dar
dem que apenas a ampliação do tempo de estudo não garante reforço escolar, atividades esportivas e culturais;
o resultado ambicionado pela educação integral no ensino e - Dificuldades na implementação do ensino integral: se terá
aprendizagem dos estudantes – resultado este que deseja ga- professores suficientes, se o projeto pedagógico está alinhado.
rantir o pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes. Esses são alguns, há muito outros fatores que interferem
na construção de uma proposta de educação integral em tem-
Vantagens da Educação em Tempo Integral po integral, que proporcione aos alunos o direito à formação
- Melhora o aproveitamento do tempo integral, direito que se traduz na possibilidade de percorrer seu
Além das brincadeiras livres, as crianças participam de outras processo educativo, de adquirir e construir conhecimentos e de
que proporcionam aprendizados importantes. “A escola integral desenvolver potencialidades para interpretar a complexa reali-
qualifica a interação e o tempo da criança”, diz Tatiana Almen- dade em que se vive, ao assumir a condição de sujeito interati-
dra, diretora da Móbile Integral, iniciativa que tem como base a vo. A concretização desse direito exige outra compreensão do
experiência de sucesso de mais de 40 anos da instituição e que que seja o processo de ensino-aprendizagem e de como ele se
terá um corpo de professores dedicados exclusivamente ao novo articula com a totalidade da formação humana.
projeto, dialogando com os mesmos princípios educacionais. Apesar dos problemas, consideramos que a implantação
- Favorece o desenvolvimento social do tempo integral, pautado na educação integral, constitui-se
As crianças aprendem, brincam e interagem entre elas. de um avanço na tentativa de melhorar a qualidade do ensino
Estudos mostram que, quando os alunos resolvem desafios de no Brasil. Contudo, os paradigmas impostos para que esta edu-
forma colaborativa, o desenvolvimento social e emocional é cação se realize estão equivocados. Conforme defendido por
mais estimulado, além da criatividade. Borges (2012) e Paro (1988), o papel da escola é prioritariamen-

162
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
te pedagógico. Outras funções podem coexistir desde que não Esse pensamento tem como orientação o cumprimento do
interfiram, prejudiquem ou impossibilitem o cumprimento da direito de acesso universal à educação e a legitimidade dos pro-
função primeira da escola: a pedagógica. Ademais, a escola de cessos didáticos localmente significados, somados à defesa de
tempo integral não deve ser um lugar para deixar a criança por- um projeto de desenvolvimento social, economicamente justo
que a rua é um risco, mas sim porque essa criança precisa ter e ecologicamente sustentável. Neste projeto de desenvolvi-
acesso ao conhecimento científico e cultural acumulado pela mento, a escola do campo tem um papel estratégico.
humanidade, desenvolver suas potencialidades e ser devida- A necessidade de mudança do paradigma da educação rural
mente preparada para atuar na sociedade, ciente dos seus di- para o da educação do campo se dá não só pela análise crítica
reitos, deveres e das regras que permitem a convivência social.7 da escola rural como também das propostas desenvolvimentis-
tas para o campo, em geral centradas no agronegócio e na ex-
ploração indiscriminada dos recursos naturais.
EDUCAÇÃO DO CAMPO Os conceitos relacionados à sustentabilidade e à diversi-
dade complementam a educação do campo ao preconizarem
Educação no campo é uma modalidade da educação que novas relações entre as pessoas e a natureza e entre os seres
ocorre em espaços denominados rurais. Diz respeito a todo es- humanos e os demais seres dos ecossistemas. Levam em conta
paço educativo que se dá em espaços da floresta, agropecuária, a sustentabilidade ambiental, agrícola, agrária, econômica, so-
das minas e da agricultura e ultrapassa, chegando também aos cial, política e cultural, bem como a equidade de gênero, étni-
espaços pesqueiros, a populações ribeirinhas, caiçaras e extra- co-racial, intergeracional e a diversidade sexual.
tivistas. Nesse contexto, as escolas do campo são aquelas que têm
É destinada às populações rurais nas diversas produções de sua sede no espaço geográfico classificado pelo IBGE como ru-
vida já citadas, assim como serve também como denominação ral, assim como as identificadas com o campo, mesmo tendo
da educação para comunidades quilombolas, em assentamento sua sede em áreas consideradas urbanas. Essas últimas são as-
ou indígena. sim consideradas porque atendem a populações de municípios
Na educação no campo, é preciso considerar a diversidade cuja produção econômica, social e cultural está majoritaria-
contida nos espaços rurais, contemplando no currículo escolar mente vinculada ao campo.8
as características de cada local, bem como os saberes ali pre-
sentes. EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Conceitos e princípios envolvidos


A Educação Ambiental corresponde à conscientização am-
Para se conceber uma educação a partir do campo e para
biental para questões que envolvem a valorização do meio am-
o campo, é necessário mobilizar e colocar em cheque ideias e
biente e o comprometimento de atitudes voltadas à sua pre-
conceitos há muito estabelecidos pelo senso comum. Mais do
servação.
que isso, é preciso desconstruir paradigmas, preconceitos e in-
A importância da educação ambiental reside na formação
justiças, a fim de reverter as desigualdades educacionais, histo-
de cidadãos conscientes. Ela visa o aumento de práticas susten-
ricamente construídas, entre campo e cidade. táveis, bem como a redução de danos ambientais.
A visão urbanocêntrica, na qual o campo é encarado como A educação ambiental nasceu com o objetivo de gerar uma
lugar de atraso, meio secundário e provisório, vem direcionando consciência ecológica em cada ser humano, preocupada com
as políticas públicas de educação do Estado brasileiro. Pensadas o ensejar a oportunidade de um conhecimento que permitisse
para suprir as demandas das cidades e das classes dominantes, mudar o comportamento volvido à proteção da natureza.
geralmente instaladas nas áreas urbanas, essas políticas têm se O desenvolvimento sustentável deve estar, também, alia-
baseado em conceitos pedagógicos que colocam a educação do da à educação ambiental, a família e a escola devem ser os
campo prioritariamente a serviço do desenvolvimento urbano- iniciadores da educação para preservar o ambiente natural. A
-industrial. criança, desde cedo, deve aprender cuidar da natureza, no seio
A constituição de núcleos escolares para as populações familiar e na escola é que se deve iniciar a conscientização do
camponesas nos perímetros urbanos, locais onde em geral es- cuidado com o meio ambiente natural.
tão concentrados os bolsões de pobreza das cidades, associada É fundamental essa educação ambiental, pois, responsabili-
à organização de um sistema de transporte de estudantes da zará o educando para o resto de sua vida.
zona rural para esses núcleos, revela a ideia subjacente a essas Segundo Munhoz (2004), uma das formas de levar educa-
políticas de que as crianças e adolescentes do campo possuem ção ambiental à comunidade é pela ação direta do professor na
os mesmos interesses, motivações e necessidades daqueles que sala de aula e em atividades extracurriculares.
vivem nas áreas urbanas e que devem ser educados para uma Através de atividades como leitura, trabalhos escolares,
futura vida na cidade. pesquisas e debates, os alunos poderão entender os problemas
No paradigma da Educação do Campo, para o qual se pre- que afetam a comunidade onde vivem; instados a refletir e cri-
tende migrar, preconiza-se a superação do antagonismo entre ticar as ações de desrespeito à ecologia, a essa riqueza que é
a cidade e o campo, que passam a ser vistos como complemen- patrimônio do planeta, e, de todos os que nele se encontram.
tares e de igual valor. Ao mesmo tempo, considera-se e respei- E ainda diz: Os professores são a peça fundamental no proces-
ta-se a existência de tempos e modos diferentes de ser, viver so de conscientização da sociedade dos problemas ambientais,
e produzir, contrariando a pretensa superioridade do urbano pois, buscarão desenvolver em seus alunos hábitos e atitudes
sobre o rural e admitindo variados modelos de organização da sadias de conservação ambiental e respeito à natureza trans-
educação e da escola. formando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com o
7 Fonte: www.educacaointegral.org.br/ www.seer.ufrgs.br/ www. futuro do país.
scielo.br/www.blog.wpensar.com.br/ vejasp.abril.com.br 8 Fonte: www.portal.mec.gov.br

163
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Apesar da importância fundamental do professor no pro- Investigações científicas realizadas pelo Freiburg State Isti-
cesso de desenvolvimento da nação, ainda, não se dá o devido tute for Chemical Analysis of Food indicaram um aumento as-
valor, por parte de nossas autoridades, ao professor e com isto sustador dos índices de dioxina nas amostras de leite e mantei-
a educação. O Estado, ainda, não se conscientizou que a educa- ga coletadas desde setembro de 1997.
ção é o veículo do bem estar social, mas, sim, de forma oposta, A descoberta levou as autoridades alemãs a conduzirem um
se tem priorizado o interesse político de manter a massa sem estudo abrangente para determinar a fonte da contaminação¨.
uma formação cultural adequada. São alguns exemplos, dos muitos existentes, de referências
Qualquer ação de proteção ambiental deve passar pela a poluição ambiental e de produtos que comprometem a vida
educação ambiental. do ser humano e da terra.
Na carta de Belgrado, de 1975, apud Rebollo (2001), foi O que precisa ser feito é acelerar a conscientização ecoló-
apresentado uma linha de ação onde diz: a) conscientizar os gica na empresa e na comunidade e construir uma cultura am-
cidadãos de todo mundo sobre o problema ambiental; b) dis- biental, que se imponha àquela do consumo.
ponibilizar o acesso a conhecimentos específicos sobre o meio Para melhorar a qualidade ambiental diz Frers (2000): ¨Dar
ambiente; c) promover atitudes para a preservação ambiental; a conhecer a um público cada vez mais amplo as causas princi-
d) desenvolver habilidades específicas para ações ambientais; pais do problema e conseguir nele a compreensão e conscienti-
e) criar uma capacidade de avaliação das ações e programas zação sobre isso, conhecer, compreender, tomar consciência e
implantados; f) promover a participação de todos na solução atuar, essa deve ser a dinâmica e finalmente, formar uma Asso-
dos problemas ambientais. ciação não governamental que congrega a todos os participan-
Lopes de Sá (1999), afirma: ¨há uma consciência mundial tes ativos no processo, com o objetivo de organizar professo-
em marcha, cuja formação se acelera e que condena a especu- res e estudantes do sistema educativo nacional desde os níveis
lação gravosa da riqueza tão como o uso inadequado de utilida- elementares até os pós-graduados, a todos as associações civis
des, como fatores de destruição do planeta e lesão à vida dos não governamentais e em fim a toda pessoa que responsável e
entes eu povoam o mundo¨. organizadamente, baseada em sua própria experiência ou em
Diversos movimentos de massa humana pressionaram os dos demais, deseja atuar para oferecer um projeto alternativo
poderes políticos e catástrofes expressivas (Bhopal em 1984, e fundamentado que possa dar aos governos de mecanismos de
Chernobyl em 1986, afundamentos de petroleiros, destruições ação cuja proposta seja da sociedade civil organizada¨.
de florestas etc.) e em parte terminaram por convencer aos di- Ainda é importante observar o referido sobre o assunto em
rigentes do Estado de que era grave a questão. evento que reuniu Ministros da Educação em Cúpula das Amé-
Caseirão (2000) diz (1997) ¨no pólo norte foi detectado ricas, Cúpula de Brasília (1998): ¨A educação ambiental para
partículas de césio, que é produto radioativo, acumulados nos a sustentabilidade deve permitir que a educação se converta
tecidos das focas da área. em uma experiência vital, alegre, lúdica, atrativa, criadora de
Este fato demonstra que os problemas da poluição não têm sentidos e significados, que estimule a criatividade e permita
incidência meramente local. redirecionar a energia e a rebeldia da juventude para execução
A poluição é transportada para locais muito distantes da- de projetos de atividades com a construção de uma sociedade
queles em que a mesma é produzida; mais justa, mais tolerante, mais eqüitativa, mais solidária de-
¨No Rio Grande do Sul, Brasil (1998) um barco esteve cerca mocrática e mais participativa e na qual seja possível a vida com
de uma semana a descarregar ácido sulfúrico diretamente para qualidade e dignidade¨.
as águas do porto, que se situa perto da reserva ecológica da Na atualidade se impõe a necessidade da educação para o
Lagoa dos Patos¨. desenvolvimento sustentável e do controle, por legislação do
¨Resultado: a pesca teve de ser proibida numa faixa de 18 meio ambiente natural e da gestão ambiental.9
km, cerca de 6,5 mil famílias de pescadores ficaram sem meio
de subsistência e o prazo estimado para a recuperação do ecos-
sistema destruído é de 10 anos¨. FUNDAMENTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/IN-
Minamata, Japão (195?) informou: ¨As descargas contínuas CLUSIVA E O PAPEL DO PROFESSOR
de mercúrio na baía de Minamata, provocaram o nascimento de
vários bebes com graves deformações físicas¨. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS,
Prince William Sound, Alasca (1989), também recrimina: aproximadamente 10% de qualquer população são portadoras
¨Um derramamento causado pelo superpetroleiro Exxon Val- de algum tipo de deficiência. O Brasil possui atualmente cerca
dez destruiu todo o ecossistema da região, liquidou mais de de mais de 180 milhões de habitantes, logo mais de 18 milhões
250.000 aves e matou um número não determinado de mamí- de pessoas possuem algum tipo de deficiência. Desse total, 50%
feros marinhos e peixes. são portadoras de deficiência mental.
¨Passados que estão 10 anos, a vida na região não está
ainda reconstituída e a Exxon já pagou indenizações de valor Quem são?
superior a 2,5 mil milhões de dólares (cerca de 450 milhões de São pessoas que apresentam significativas diferenças físi-
contos)¨; cas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou
Consta no relatório Greenpeace sobre a contaminação do adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades
leite por dioxina na Alemanha. em sua interação com o meio físico, moral e material.
¨Em março de 1998, foram detectados níveis alarmantes da
substância cancerígenos dioxina no leite produzido no estado
alemão de Baden – Wurttemberg (sudeste da Alemanha).
¨O leite foi retirado do mercado.
9 Fonte: www.brasilescola.uol.com.br

164
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O que eles precisam? Classificação e caracterização dos alunos especiais
Eles precisam exatamente das mesmas coisas que qualquer
um de nós: dignidade, respeito, liberdade, educação, saúde, la- São em inúmeras as desvantagens e desvios existentes na
zer, assistência social, trabalho e amparo. Direitos fundamen- classificação de pessoas em categorias, mas acabam tornando-
tais e inalienáveis de todos os seres humanos. -se necessárias principalmente do ponto vista da administração
Maria Tereza Mantoan, coordenadora do LEPED (Laborató- do Sistema Educacional.
rio de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação de Pesso-
as com Deficiência) da UNICAMP, que é responsável pela im- 1. Excepcionais intelectuais
plantação do Ensino Inclusivo em redes municipais e estaduais 1.1. Superdotados
para todo o Brasil, diz que: “o mais difícil é a transformação da 1.2. Deficientes mentais
mentalidade do professor e de muitos pais que acreditam que a) Educáveis
as escolas especiais são a solução ideal, e que o grande receio b) Treináveis
dos professores é de não terem a formação adequada para lidar c) Dependentes
com os deficientes”.
2. Excepcionais psicossociais
O portador de necessidades especiais 2.1. Deficientes físicos não sensoriais
Quando se fala na inclusão de alunos portadores de neces- 2.2. Deficientes físicos sensoriais
sidades especiais em sala de aula, duas constatações se fazem a) Deficientes auditivos
sentir que são expressas pela maioria dos professores: b) Deficientes visuais
– Ignorância: Por não conhecerem adequadamente as ca-
racterísticas desse tipo de clientela, já que antes eram denomi- 3. Excepcionais psicossociais
nados “deficientes”. 3.1. Alunos com distúrbios emocionais
– Preconceito: Por reproduzirem a percepção estereoti- 3.2. Alunos com desajustes sociais
pada de que se trata de “gente diferente”, “doentes”, “inade-
quados”, “defeituosos” e outras expressões igualmente equi- 4. Excepcionalidade múltipla
vocadas, alimentada por mitos ou representações equivocadas 4.1. Alunos com mais de um tipo de desvio
sobre a natureza do problema dos portadores de necessidades
especiais. O papel da escola na inclusão
A escola é um espaço democrático, que deve estar aberto
Convém ressaltar que essa não é uma crítica aos educado- e preparado para receber todos os alunos. A Educação Infantil,
res, pois eles somente expressam a forma como a sociedade fase inicial da formação acadêmica, representa o primeiro con-
em geral sempre encarou o portador de necessidades especiais tato das crianças com esse universo repleto de aprendizados e
– como pessoas esteticamente indesejáveis, cujo contato e con- novas descobertas, e a inclusão neste período é fundamental,
vivência geram constrangimento e como sujeitos incapacitados pois além de todos os desafios que o pequeno terá ao iniciar a
para desempenharem papéis sociais autônomos na comunida- socialização, é preciso levar em conta que esse é um dos pri-
de, ou seja, eternos dependentes. meiros momentos em que o estudante estará longe dos olhares
Nos últimos anos, a preocupação com problema de exclu- de sua família.
são social ganhou impulso, tendo o conceito tomado o lugar de Trabalhar a inclusão na Educação Infantil é muito impor-
muitos outros. A inclusão social tomou impulso primeiro nos tante para que a criança se adapte ao ambiente escolar e pos-
meios acadêmicos e técnicos e depois junto à mídia e, mais es- sa dar sequência aos seus estudos no Ensino Fundamental sem
pecificamente, junto aos setores ligados à educação e a promo- maiores dificuldades. Para isso, gestores, educadores e toda a
ção social. equipe pedagógica precisam estar engajados e preparados para
A partir da lei específica e regulamentada, a inclusão educa- oferecer todo o suporte e atenção que as crianças precisam.
cional como sendo obrigatória caiu como uma bomba na cabeça Na sequência deste artigo, iremos falar mais sobre a inclu-
dos educadores e dos organismos educacionais, pois teriam de são na Educação Infantil e apresentar dicas de como a institui-
incluir a qualquer custo, clientes deficientes em salas de aula ção de ensino pode trabalhar esse conceito na prática.
comuns, dentro de um curto prazo.
Se por um lado à lei traz o benefício, por outro, causa mui- A importância da inclusão nas escolas
tos transtornos, já que a falta de preparo nos cursos de magis- De acordo com o Artigo 205 da Constituição Federal de
tério e licenciatura, aliada a falta de vivência e ao preconceito, 1988, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da
transforma os portadores de necessidades especiais em fantas- família, será promovida e incentivada com a colaboração da
mas, assombrando o cotidiano dos professores. sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
Todo diagnóstico tem duas funções básicas o trabalho.”
– Localizar e analisar as causas das dificuldades dos alunos Todos nós, como cidadãos brasileiros, temos direito a edu-
em todas as áreas das suas atividades, cação, sendo que qualquer tipo de restrição em relação a isso
– Identificar e avaliar as áreas de aprendizagem e ajusta- não é correto e impede que esse direito seja exercido. Por isso,
mento, tanto as positivas, quanto às negativas. o debate sobre a inclusão desde a Educação Infantil vem se for-
talecendo bastante nos últimos anos.
Por muito tempo, a educação inclusiva era realizada de
forma paralela, por instituições de ensino especializadas nesta
área. Porém, muitas escolas estão investindo em ações reais

165
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de inclusão para que todas as crianças aprendam e se desen- Dessa forma, entende-se que todas as crianças aprende-
volvam no mesmo ambiente, sempre respeitando o tempo e as rão com as diferenças, sabendo respeitar mais uns aos outros.
necessidades de cada uma. Essa nova maneira de pensar e agir tem como objetivo mudar a
Nesta proposta, a instituição de ensino se compromete a cultura educacional e assegurar o acesso de todos à educação
oferecer atividades diárias nas quais os alunos da Educação In- tradicional, para que as crianças possam ser valorizadas e se
fantil possam cultivar o respeito, a cidadania, o cuidar de si e do sentirem integradas à sociedade.
outro, a aceitação, o companheirismo e tantos outros valores
necessários para a formação de cidadãos justos, éticos e que Conheça o que trata a legislação sobre inclusão escolar
respeitam as diversidades que tanto contribuem para o nosso No artigo 58, a LDB define que a educação especial deve
desenvolvimento. ser oferecida na rede regular de ensino, para qualquer educan-
Para a criança portadora de necessidades especiais, parti- do com deficiência — seja ela transtorno de desenvolvimento
cipar de um processo de inclusão é essencial para que ela te- ou altas habilidades. Para tanto, cabe à escola oferecer apoio
nha acesso a estratégias multidisciplinares, que irão ajudar no especializado nos casos em que o aluno demandar um atendi-
desenvolvimento da linguagem, das competências e das habili- mento mais personalizado.
dades motoras, cognitivas e emocionais que são fundamentais A lei abrange não apenas as escolas de nível fundamental
para a sua formação. ou médio, ela também obriga o cumprimento da exigência pela
Esse acompanhamento exige muito preparo e conhecimen- educação infantil. Nesse sentido, as escolas precisam aperfei-
to dos gestores e professores, pois a inclusão é uma etapa com- çoar os métodos de ensino e práticas adotadas em sala de aula
plexa e repleta de desafios, mas essencial para que as crianças para que o aluno especial possa desenvolver suas habilidades.
tenham esse estímulo desde a Educação Infantil, as preparando Também é dever na escola de educação infantil criar meto-
para os próximos passos que serão ainda mais desafiadores. dologias diferenciadas de avaliação dos educandos de acordo
com o grau de deficiência ou segundo o alto grau de habilidade.
Trabalhando a inclusão na Educação Infantil Para complementar, em 1999 o Governo Federal aprovou
Como mencionado no tópico anterior, a inclusão na Educa- o Decreto nº 3.298 que apresenta normativas para a integra-
ção Infantil é uma ação social e cidadã muito importante, pois ção das pessoas portadoras com deficiência, seja ela física ou
ajuda diretamente as crianças com necessidades especiais e mental.
também promove um aprendizado valiosíssimo para todos os Desse modo, o aluno que demanda atenção especial tem
alunos, que é o respeito às diferenças. direito a ingressar na educação infantil a partir dos primeiros
Para trabalhar a inclusão na Educação Infantil na prática, é meses de vida. Cabe à escola criar uma equipe especializada
essencial que a equipe pedagógica faça um planejamento das para atender às demandas da criança e oferecer orientações
atividades que são significativas para os alunos e que promo- pedagógicas de acordo com o perfil do aluno.
vam a integração. Também é importante considerar o ritmo de A criança só poderá ser encaminhada para uma instituição
cada estudante e as suas peculiaridades, somente assim a edu- de ensino especializada quando ela não se adaptar aos proces-
cação será realmente inclusiva sos educacionais do ensino regular.

A inclusão escolar vai muito além do pensar em “educação Saiba o que levar em consideração na hora de adotar a
especial”. Ela foi criada com o intuito de reconhecer as diferen- inclusão escolar
ças entre os alunos e valorizar essas características por meio de Agora você já sabe como é importante a participação dos
atividades que favoreçam as potencialidades de cada criança. gestores, professores e dos pais no processo educacional dos
Desse modo, o paradigma de que as crianças que apresen- pequenos com algum grau de deficiência. Então, é hora de com-
tam um desenvolvimento diferenciado precisam frequentar a preender os aspectos que devem ser considerados para ofere-
educação especial é quebrado. Por meio desse entendimento, cer o melhor modelo de educação inclusiva:
educadores e pais precisam se unir para encontrar atividades
pedagógicas que se encaixem no perfil dos alunos. 1. Preparação dos professores
Se educar uma criança que apresenta um desenvolvimento
Compreenda as diferenças entre educação inclusiva e especial dentro do padrão já apresenta alguns desafios, a inclusão dos
O conceito de educação especial partia do princípio de que pequenos com alguma deficiência pode ser um problema para a
crianças com desenvolvimento diferente do “senso comum” escola que não se prepara para a situação.
precisavam frequentar escolas diferenciadas. A partir disso, fo- Por esse motivo, cabe ao gestor da escola cobrar o aper-
ram criadas as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais feiçoamento profissional de seus professores e oferecer cursos
(APAEs), e demais instituições para alunos com autismo ou sur- de capacitação com esse foco. Eles precisam aprender práticas
dez, por exemplo. pedagógicas diferenciadas para que possam atender as especi-
Em 1996 essa metodologia começou a mudar um pouco. O ficidades de cada aluno especial.
Governo Federal aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- O professor precisa compreender as características de cada
ção (LDB), de nº 9.394. Desse modo, foi criada a obrigatorieda- deficiência, para que saiba identificá-las e criar um programa
de de todas as escolas oferecerem atendimento aos alunos com adequado de ensino. Ele também deve estar preparado para
necessidades especiais. buscar ajuda de um psicólogo quando o aluno apresentar difi-
A criação da lei também mudou a maneira como a socieda- culdades de inclusão em sala de aula.
de e a escola devem avaliar a educação de crianças com defi-
ciência. A inclusão escolar tem justamente o intuito de promo-
ver a integração entre os alunos com desenvolvimento padrão e
os que apresentam maneiras diferentes de aprendizado.

166
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
2. Foco nas potencialidades do aluno O princípio de inclusão parte dos direitos de todos à Educa-
A gestão escolar precisa estar preparada para direcionar a ção, independentemente das diferenças individuais – inspirada
atenção aos potenciais de aprendizado da criança especial. Por nos princípios da Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Está
esse motivo, é importante promover encontros entre os pro- presente na Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
fessores para que eles possam trocar experiências e ampliar o tiva de Educação Inclusiva, de 2008. Os gestores devem saber
conhecimento sobre o assunto. o que diz a Constituição, mas principalmente conhecer o Plano
O educador deve compreender que a inclusão escolar se Nacional de Educação (PNE), que estabelece a obrigatoriedade
baseia em entender as dificuldades do educando e ajustar as de pessoas com deficiência e com qualquer necessidade espe-
atividades para que ele possa apresentar o melhor desempenho cial de frequentar ambientes educacionais inclusivos.
possível em sala de aula. “Por ser inovador e diferente em sua concepção da Edu-
Também faz parte desse processo a aproximação da esco- cação Especial, o Atendimento Educacional Especializado (AEE)
la com os pais. É por meio dessa relação que todos poderão tem sido motivo de dúvidas e interpretações”, afirma Maria Te-
identificar as formas de aprendizagem que funcionam melhor resa Eglés Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e
para a criança e como a convivência em grupo pode beneficiar o Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped), na Universidade Esta-
desenvolvimento do aluno. Muitas vezes, é necessário adequar dual de Campinas Unicamp). Segundo ela, com a compreensão
o planejamento a cada mês, de acordo com o desenvolvimento correta do que é o AEEE e o entendimento dos demais docu-
apresentado pela criança. mentos, o gestor tem à sua disposição toda informação neces-
sária para fazer o devido acolhimento ao aluno com deficiência.
3. Espaços adequados “O que não se pode fazer é basear esse acolhimento nos conhe-
A escola de educação infantil precisa estar preparada em cimentos anteriores sobre Educação Especial”, diz ela. “Porque
todos os aspectos para receber o aluno especial. Sendo assim, o aí é como tirar um óculos e colocar outro. É preciso ler com
gestor deve ficar atento à regulamentação sobre acessibilidade rigor e responsabilidade, ou seja, trocar de óculos”.
para pessoas com mobilidade reduzida. A educadora reforça que “ninguém pode tirar o direito à
Mas essa compreensão vai além. As salas de aula devem educação do aluno”. E lamenta que na leitura feita dos docu-
estar preparadas para receber os alunos especiais, bem como o mentos de inclusão, muitas vezes a interpretação dada para o
gestor precisa criar espaços diferenciados para que o educador termo “adaptações razoáveis” seja entendida como adaptações
possa realizar aulas complementares com as crianças. curriculares. “O documento fala em adaptações no meio físico,
A educação é um direito de todos e a escola tem o dever na comunicação, na forma de realizar as provas, por exemplo.
de estar preparada para receber bem as crianças e promover Se um aluno tem deficiência física ou auditiva, ele pode precisar
a inclusão. de um recurso, como uma carteira adaptada ou uma avaliação
em braile. Mas não deve ser confundida com adaptação curricu-
4. Parceria entre pais e educadores lar”, diz. Segundo ela, os docentes não precisam imaginar ativi-
Quando a criança apresenta necessidades especiais, a co- dades completamente diferentes para o aluno com deficiência,
municação eficaz entre a escola e os pais se torna ainda mais nem tentar simplificar a realização para evitar problemas. “Nós
importante. Os professores podem compartilhar as experiên- não temos a capacidade de fazer ninguém aprender. Temos
cias em sala de aula e orientar a família sobre as atividades que que dar liberdade para que o aluno possa aprender e conside-
podem ser desenvolvidas em casa para ampliar o aprendizado rar o que ele consegue e o que não tem interesse em aprender.
dos pequenos. O bom professor considera o ensino igual para todos, mas o
Os pais, por sua vez, podem identificar alguns exercícios aprendizado completamente díspar”.
que apresentam mais resultados com os seus filhos e repassar Outro ponto que consta da política educacional de inclu-
esse conhecimento para os educadores. Desse modo, a parceria são é a criação de salas de recursos multifuncionais, que não
contribuirá para o desenvolvimento das habilidades da criança pode ser confundida com uma sala qualquer de recursos. As
e sua inclusão na sociedade. salas multifuncionais são pensadas para complementar ou su-
A educação inclusiva é uma oportunidade da escola, em plementar a aprendizagem dos estudantes com deficiência,
conjunto com a comunidade, de contribuir para que os peque- transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
nos se tornem cidadãos solidários e conscientes sobre o valor superdotação. Mas o que tem pesado, em algumas escolas, é a
das diferenças.10 interpretação de que é preciso laudo médico para que a escola
receba o Fundeb em dobro. “Está nas notas técnicas do MEC e
Desenvolvimento para crianças portadoras de necessida- Secadi que nenhuma criança precisa de laudo médico para isso.
des especiais Não é o laudo que vai dizer que uma criança precisa de serviço
A escola inclusiva é aquela que abre espaço para todas as de Educação Especial e sim o laudo educacional, que é o estudo
crianças, incluindo as que apresentam necessidades especiais. de caso feito pelo professor AEE. Infelizmente, poucos fazem
As crianças com deficiência têm direito à Educação em escola por desconhecer a política”, diz Maria Teresa.
regular. No convívio com todos os alunos, a criança com defi-
ciência deixa de ser “segregada” e sua acolhida pode contribuir O que diz a lei
muito para a construção de uma visão inclusiva. Garantir que o A Lei nº 7.853 estipula a obrigatoriedade de todas as esco-
processo de inclusão possa fluir da melhor maneira é responsa- las em aceitar matrículas de alunos com deficiência – e trans-
bilidade da equipe diretiva – formada pelo diretor, coordena- forma em crime a recusa a esse direito. Aprovada em 1989 e
dor pedagógico, orientador e vice-diretor, quando houver – e regulamentada em 1999, a lei é clara: todas as crianças têm
para isso é importante que tenham conhecimento e condições o mesmo direito à educação. Os gestores estaduais e munici-
para aplicá-lo no dia a dia da escola. pais devem organizar sistemas de ensino que sejam voltados à
10 Fonte: www.educacaoinfantil.aix.com.br/www.sophia.com.br diversidade, firmando e fiscalizando parcerias com instituições

167
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
especializadas e administram os recursos que vêm do governo e estimular as crianças a apresentar seu melhor desempenho,
federal. Mas é somente um dos documentos que o gestor preci- sem fazer uso de um único nivelador. A avaliação deve ser feita
sa conhecer. Do ponto de vista educacional, o maior conteúdo em relação ao avanço do próprio aluno, sem usar critérios com-
está na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva parativos.11
de Educação Inclusiva.
Princípios e fundamentos da Educação especial
Apoio e recursos do governo Princípios e Conceitos na Educação Inclusiva. Esse é um
O aluno com deficiência tem direito à educação regular na tema muito já discutido pela sociedade, mas muito ainda se
escola, com aulas dadas pelos professores, e atendimento es- tem a refletir sobre esse tema, pois é notória, a necessidade de
pecializado que não é responsabilidade do professor de sala de mudanças profundas na mentalidade da sociedade diante a sua
aula. O estado oferece assistência técnica e financeira. Confor- negação sobre o tema inclusão, dificultando assim o entendi-
me a deficiência, o estado deve oferecer um cuidador, que nada mento que a inclusão é o caminho certo para que pessoas com
mais é do que uma pessoa para ajudar a cuidar do aluno. Esse necessidades especiais tenham o direito a igualdade perante
cuidador deve participar das reuniões sobre acompanhamen- todos, pois assim como qualquer outro ser humano, elas sejam
to de aprendizagem. Conforme a jurisdição da escola, o gestor olhadas e aceitas por aquilo que são hoje, e não por aquilo que
deve procurar a Secretaria estadual ou municipal para suas rei- poderão vir a ser e a produzir.
vindicações, além de buscar informações junto a organizações A pessoa com necessidades especiais tem os mesmos di-
não governamentais, associações e universidades. reitos como qualquer outro cidadão brasileiro, pois conforme a
legislação que nos rege, Art. 5º da CF/88, “Todos são iguais pe-
Adaptação e previsão de recursos em sala rante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
Cabe ao gestor oferecer tempo e espaço para que professo- aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
res, coordenador e especialistas possam conversar e tirar dúvi- bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
das sobre a integração do aluno com deficiência. O coordenador e à propriedade”.
deve estar atento a possíveis alterações no plano político-peda- O preconceito e a falta de informação talvez seja um dos
gógico (PPP) e no currículo para contemplar o atendimento à maiores fatores que justifique a resistência da sociedade em
diversidade e materiais pedagógicos necessários ao atendimen- aceitar a inclusão de pessoas com necessidades especiais em
to, além de prever o uso de projeções, áudio e outros recursos nosso cotidiano.
nas atividades. Através de uma pesquisa qualitativa de várias obras de
autores renomados como: Werneck, Omote, Sassaki, Singer e
Formação da equipe inclusiva Montoan, podemos fundamentar nossa pesquisa sobre os prin-
O ideal é garantir a formação na própria escola, já que o cípios e conceitos na educação inclusiva.
gestor conhece melhor sua equipe e a comunidade. O gestor Para Werneck:
pode formar um grupo para levantar as informações relevantes A sociedade esta sempre em busca de um padrão de norma-
em relação à deficiência dos alunos (junto a organizações e si- lidade, quase sempre baseado em conceitos estáticos culturais,
tes oficiais) e compartilhar em reunião. É essencial abrir o diá- isso justifica a dificuldade de aceitação no processo de inclusão
logo para que professores e funcionários possam tirar dúvidas. de pessoas com necessidades educativas especiais nas escolas
Se ficar claro durante as conversas que é necessário orientar regulares de ensino, pois consideram essas pessoas fora do
melhor algumas pessoas, o gestor pode recorrer a possíveis for- padrão de beleza e de normalidade da sociedade. (WERNECK,
mações oferecidas pela Secretaria de Educação. 1998, p.21)

Conversa e resolução de conflitos em sala Omote (1990) se refere à deficiência não só como um pro-
Os professores podem conversar com suas turmas sobre blema do aluno, mas de nosso próprio comportamento. Singer
a chegada de um aluno com deficiência para reforçar a visão fala de um princípio muito importante, para ele o princípio da
inclusiva. Sendo um estudante com deficiência de locomoção, igualdade relaciona-se com a igual consideração de interesses.
que talvez precise de uma carteira adaptada, pode-se orientar Sassaki fala em adaptação da sociedade para que o processo
os alunos como proceder (evitar correrias, empurra-empurra de inclusão se realize. Montoan destaca o conceito de autono-
etc). Se o aluno apresentar comportamento agressivo, é impor- mia como finalidade da educação de pessoas com necessidades
tante analisar a origem do problema junto a professores, espe- educativas especiais.
cialistas e familiares. Caso ocorra um incidente, é importante Enfim todos os autores citados convergem em um senso
convidar as famílias para uma conversa. E ao menor indicativo comum, a inclusão na vida escolar de pessoas com algum tipo
de bullying, a equipe diretiva e os professores podem conversar de deficiência é fundamental para seu desenvolvimento e a tor-
sobre ações que envolvam todos os alunos para reforçar a for- ne uma pessoa digna de todos os direitos de qualquer cidadão
mação de valores. comum.

Qualidade do ensino e da aprendizagem


Todas as crianças são capazes de aprender: esse processo é
individual e o professor deve estar atento para as necessidades
dos alunos. Crianças com deficiência visual e auditiva desenvol-
vem a linguagem e pensamento conceitual. Alunos com defi-
ciência mental podem enfrentar mais dificuldade no processo
de alfabetização, mas são capazes de desenvolver oralidade e
reconhecer sinais gráficos. É importante valorizar a diversidade 11 Fonte: www.gestaoescolar.org.br

168
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Princípios e conceitos para a inclusão, à maioria dos professores ainda não recebeu
qualificação adequada para trabalharem com aluno com neces-
O princípio da igualdade e a igual consideração de inte- sidades educativas especiais previstas em lei, sem falar no pior
resses dos obstáculos, a resistência de todos nós, família, educadores,
Segundo dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 1986, governo e a sociedade, em aceitar a pessoa com necessidades
p.34) entende-se por igualdade, “Qualidade daquilo que é igual; especiais iguais a quaisquer outras pessoas, com os mesmos di-
uniformidade; identidade de condições entre os membros de reitos.
uma sociedade, em que não há privilégios de classes”. As pessoas com necessidades especiais na maioria das
A história comprova que pessoas muito diferentes da mé- vezes não são vistas como cidadãs, e sim como pessoas que
dia na aparência física ou no modo de pensar e de agir tem sido precisam de atendimento tão especial que acabam sendo dife-
vistas como deslize da natureza. É como se a humanidade tives- renciados ainda mais dos outros, trazendo para ela uma única
se um evidente padrão de qualidade. realidade: a diferença.
As sociedades preferem serem lembradas e referidas mais Segundo Carvalho (1997, p. 18):
por suas identidades do que por suas diferenças. Seres huma- Embora a desigualdade seja estrutural em qualquer socie-
nos tendem a se agrupar com seus semelhantes em bairros, dade, os índices ainda registrados no Brasil são indicadores dos
grupos de adolescentes, de apreciadores de música clássica, baixos níveis de bem estar social, com o que temos convivido. A
etc.. E sempre que possível, até mesmo inconscientemente, produção da deficiência se dá portanto, não apenas sob a ótica
desprezamos ou evitamos o convívio íntimo com quem consi- do aluno que se torna deficiente circunstancial ou tem agravada
deramos diferente. Quando a diferença é uma deficiência, essa sua deficiência real. Pode-se dizer que a produção da deficiência
tendência se agrava. na nossa qualidade de vida é de nossa considerável participa-
A busca do padrão de normalidade, quase sempre baseado ção.
em conceitos estáticos culturais, tem justificado, através dos
séculos, assassinatos de pessoas que se diferenciavam da maio- Essa desigualdade social se reflete nas dificuldades de aces-
ria, apenas por terem pele mais escura ou defenderem crenças so e permanência na escola, de crianças com dificuldades e com
que fugisse da época. necessidades especiais. Com isso nasce um tipo de deficiência
Segundo Werneck (1997), a sociedade para todos, cons- cultural, que é mais comum em nossas escolas, tendo como
cientes da diversidade da raça humana, estaria estruturada para consequência, o fracasso escolar de muitos alunos.
atender às necessidades básicas de cada cidadão, das maiorias Todos são diferentes uns dos outros, temos preferências
às minorias, dos privilegiados aos marginalizados. Crianças, jo- diferentes, necessidades diferentes.
vens e adultos com deficiência seriam naturalmente incorpo- Essas diferenças dependem e são produto da interação das
radas à sociedade inclusiva, definida pelo princípio: “todas as características biológicas com cada um de nós vem equipado
pessoas tem o mesmo valor”. E assim, trabalhariam juntas com (genéticas, hereditárias e adquiridas após o nascimento), do ní-
papéis diferenciados para atingir o bem comum: vel de desenvolvimento real em que cada um de nós se encontra
Na sociedade inclusiva não há lugar para atitudes como e do significado que atribuímos às situações que vivemos em
“abrir espaço para deficientes” ou “aceita-los”, num gesto de nosso cotidiano. (MEC, 1986, p.30)
solidariedade, e depois bater no peito ou mesmo ir dormir com Todos podem se desenvolver, todos podem aprender desde
a sensação de ter sido muito bonzinho. (WERNECK, 1998, p.22) que ensinemos e possamos mediar esse processo. Entretanto,
Ninguém precisa ser caridoso, bonzinho, somos sim todos para que isso acorra, temos que garantir a igualdade de condi-
cidadãos, e é nosso dever privar pela qualidade de vida do nos- ções.
so semelhante, por mais diferente que ele nos pareça ser. Segundo Peter Singer (1994) o princípio da igualdade rela-
Em todas as regiões do planeta, pessoas com necessidades ciona-se diretamente com a igual consideração de interesses.
especiais estão entre os mais excluídos. Excluídos das escolas, O princípio de igual consideração de interesses dos outros
do direito de ir e vir, da sociedade em fim. não dependem das aptidões ou de características destes, exe-
Temos a Política Nacional de Educação, elaborada desde cutando a característica de ter interesse. É verdade que não
1993. E a partir da Declaração de Salamanca (1994) e da nova podemos saber aonde vai nos levar a igual consideração de in-
Lei de Diretrizes e base da Educação, Lei n.º 9.394, muito tem se teresse enquanto não soubermos quais interesses tem as pes-
discutido e se atualizado sobre este tema através de discussões soas, o que pode variar de acordo com suas aptidões, ou outras
de várias ideias com representantes de organizações governa- características.
mentais e não governamentais, abrangendo todos os campos Levar em conta os interesses das pessoas, sejam elas quais
de pessoas com necessidades educativas especiais. forem, devesse aplicar-se a todos, sem levar em consideração
O objetivo dessa política é garantir o atendimento educa- sua raça, sexo ou nível de inteligência, pois ela nada tem a ha-
cional ao aluno portador de necessidades especiais, pois num ver com muitos interesses do ser humano como o interesse de
passado não muito distante as crianças eram segregadas em evitar a dor, desenvolver as próprias aptidões, satisfazer as ne-
instituições especializadas, perdendo a chance de conviver e cessidades básicas de alimentação, abrigo e de manter relações
participar da sociedade em geral. saudáveis com os outros.
Atualmente através de muitas discussões vem se buscando Nossa sociedade, muitas vezes escraviza pessoas ditas defi-
de forma gradual a inclusão de pessoas com necessidades edu- cientes mentais, impedindo-as se satisfazer seus interesses. No
cativas especiais nas classes regulares de ensino, com ótimos entanto, o principio da igual consideração de interesses é forte
resultados. o suficiente para excluir essa sociedade baseada no índice de
No entanto, infelizmente esse caminho é longo e moroso, inteligência. Também exclui a discriminação sob o pretexto de
pois vários obstáculos devem ser vencidos como: a maioria das incapacidade, tanto intelectual como física.
escolas do país ainda não recebeu a infraestrutura adequada

169
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Com o passar dos tempos difundiu-se a constatação de melhor. Porém, muitos adultos parecem esperar que a indepen-
que todas as tentativas de “normalização” das vidas das pes- dência da criança com necessidades especiais irá ocorrer de re-
soas com necessidades especiais se baseavam na modificação pente, depois que ela crescer.
da própria pessoa, como premissa para o seu ingresso na so-
ciedade. Depois foi se generalizando a compreensão de que a Equiparação de Oportunidades
deficiência, qualquer ela seja, tem como referência, “a norma”, Existem várias declarações que amparam a Equiparação de
o ambiente psicossocial ou o espaço físico, para que a pessoa oportunidades das pessoas com necessidades especiais.
possa desenvolver ao máximo suas capacidades. De acordo com Sassaki (1997), uma das primeiras organiza-
Acreditamos que todas as pessoas devem levar em conta o ções foi a Disables International (DPI), uma organização criada
verdadeiro sentido da igualdade, não como discurso, mas como por pessoas portadoras de deficiência (termo usado na época),
princípio de guiar suas vidas. não governamental e sem fins lucrativos. A DPI define “equi-
paração de oportunidades” como processo mediante o qual os
Autonomia sistemas gerais da sociedade são feitos acessíveis para todos.
“Autonomia é a condição de domínio no ambiente físico e Inclui a remoção das barreiras que impedem a plena participa-
social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da ção das pessoas deficientes em todas as áreas, permitindo-lhes
pessoa que a exerce”. (Sassaki, 1997, p.36) alcançar uma qualidade de vida igual à de outras pessoas.
Para o autor citado, ter mais ou menos autonomia significa Uma definição semelhante consta no documento “Progra-
que a pessoa com necessidades especiais tem maior ou menor ma Mundial de Ação às pessoas com Deficiência”, adotado em
controle nos vários ambientes físicos e sociais que ela queira 3/12/1982 pela Assembleia Geral da Organização das Nações
ou necessite frequentar, para atingir seus objetivos. Por exem- Unidas (ONU). Este documento define Equiparação de Oportu-
plo, as rampas de acesso nas calçadas, transporte coletivo com nidades como o processo através do qual os sistemas gerais da
acesso aos cadeirantes enfim adaptação de todas as infraestru- sociedade, tais como o ambiente físico e cultural, a habitação e
turas facilitando o deslocamento o mais autônomo possível no os transportes, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades
espaço físico. educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo
Muitas pessoas com necessidades especiais, na conquista as instalações esportivas e recreativas devem ser acessíveis a
de sua autonomia no meio escolar, possuem uma percepção todos.
negativa delas mesmas. As pessoas creem que o sucesso escolar Dez anos depois, a Assembleia Geral da ONU adotou o do-
está fora de seu alcance, também tendem a um sub desempe- cumento Normas Sobre Equiparação de Oportunidades que traz
nho escolar, porque essa percepção negativa inibe a aquisição outra definição: “Significa o processo através do qual os diver-
do meio para adaptarem-se as exigências da escola. Na maioria sos sistemas da sociedade e do ambiente são tornados disponí-
das vezes, elas percebem o esforço de adaptação como sendo veis para todos”.
não gratificante e tornarem-se dependentes e mesmo subordi- Mais adiante esse documento acrescenta que pessoas com
nadas às outras, escolhas e respostas alheias. Nesse sentido, a deficiência são membros da sociedade e tem o direito de perma-
atitude passiva de aceitação no meio escolar, que é largamente necer em suas comunidades locais. Elas devem receber o apoio
adotada pela escola e pela sociedade com relação às pessoas que necessitam dentro das estruturas comuns de educação,
com necessidades educativas especiais, deve ser substituída saúde, emprego e serviços sociais. (SASSAKI, 1997, p.39)
por atitudes ativas e modificadoras. Em todas estas definições, esta em primeiro lugar a igual-
Elas precisam ser colocadas em situações problemáticas dade de direitos. O princípio de direitos iguais implica nas ne-
para aprender a viver o equilíbrio cognitivo e emocional. Se aos cessidades de cada um e de todos. As comunidades devem ba-
conflitos lhes sã evitados, como poderão chegar a uma tomada sear-se nisso para construção de uma vida melhor e digna para
de consciência dos problemas a resolver e como testarão sua todos os membros de uma sociedade.
capacidade de enfrentá-los? (Montoan, 1997, p.141)
Montoan (1997) comenta que a situação remete a quadros Rejeição zero
conceituais e a paradigmas educacionais mais amplos, que es- De acordo com Sassaki (1997), inicialmente a rejeição zero,
tão sendo apontados como propostas para prover o meio esco- ou exclusão zero, consistia em não rejeitar uma pessoa, par
lar de condições favoráveis ao desenvolvimento da à autonomia qualquer finalidade, com base no fato de que ela possuía uma
de alunos com necessidades educativas especiais. deficiência ou por causa do grau de severidade dessa deficiên-
cia. Mais tarde, o conceito passou a abranger as necessidades
Independência especiais, independente de suas causas.
Segundo Sassaki (1997), independência é a faculdade de Este conceito vem revolucionando a prática das instituições
decidir sem depender de outras pessoas, tais como: membros assistenciais que excluem pessoas cujas deficiências ou necessi-
da família ou profissionais especializados. Uma pessoa com de- dades especiais não possam ser atendidas pelos programas ou
ficiência pode ser mais independente ou menos independente serviços disponíveis.
em decorrência não só da quantidade e qualidade de informa- A luz do princípio da exclusão zero, porém, as instituições
ções que lhes estiverem disponíveis para tomar a melhor deci- são desafiadas a serem capazes de criar programas e serviços
são, mas também da sua autodeterminação e prontidão para internamente ou busca-los em entidades comuns da comunida-
tomar decisões numa determinada situação. Esta situação pode de a fim de melhor atenderem as pessoas com deficiência. As
ser pessoal (quando envolve a pessoa na privacidade), social avaliações (sociais, psicológicas, educacionais, profissionais,
(quando ocorre junto a outras pessoas) e econômica (quando etc.) devem trocar sua finalidade tradicional de diagnosticar e
se refere às finanças dessa pessoa). Tanto a autodeterminação separar pessoas, passando para a moderna finalidade de ofere-
como prontidão pode ser aprendida ou desenvolvida. E quanto cer parâmetros em face dos quais as soluções são buscadas a
mais cedo na vida, a pessoa tiver oportunidade para fazer isso, todos. (SASSAKI, 1997, p.41)

170
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Isso faz com que as instituições tenham que servir às pesso- As teorias do Currículo, entretanto, na busca de compreen-
as e não às pessoas terem que se ajustar às instituições. der o sentido e o significado fazem o seu cruzamento com as-
Para Montoan (1997), as comunidades que rejeitam a ri- pectos que superam os limites de sua configuração prescritiva,
queza da diversidade continuam ultrapassadas, colocando a especialmente as teorias críticas e pós‐críticas. Para Sacristán
sociedade em risco, não permitindo, assim, que todos exerçam (2000):
seus direitos. A prática a que se refere o currículo [...] é uma realidade
prévia muito bem estabelecida através de comportamentos
Verifica-se que os princípios e conceitos essenciais da pro- didáticos, políticos, administrativos, econômicos, etc., através
posta de inclusão envolvem: igualdade e equiparação de opor- dos quais se encobrem muitos pressupostos, teorias parciais,
tunidades, autonomia, independência e rejeição zero. esquemas de racionalidade, crenças, valores, etc., que condi-
Tudo está mudando tão rápido, são novas tecnologias que cionam a teorização sobre o currículo. (SACRISTÁN, 2000, p.13).
muitos de nós nem conseguimos conhece-las direito. As concepções atuais acerca do Currículo são oriundas da
Para os mais jovens, já é quase normal às pessoas não se perspectiva pós-estruturalista, que concebe a ideia do sujeito
cumprimentarem. Tudo é cercado por “interesses” e “aparên- como um ser centrado em sua subjetividade e individualidade.
cias”, o tempo é algo muito importante, quase todos querem Observamos que, ao se tratar deste e do pós-estruturalismo,
ganhar sem pensar naqueles que precisam de uma chance para estes são, interpretados como prática cultural e como produtos
poder “andar” pelas ruas sem olhares preconceituosos. de significações, em que a cultura se configura como um campo
O país e o mundo vivem atravessando crises financeiras, de lutas em torno das significações. Em outras palavras, a cultu-
usando-a como desculpa pela falta de investimento na saúde, ra não é entendida nesta perspectiva como algo concluído, mas
educação etc... Afetando os mais fracos: pobres, idosos e pes- sim, como algo que se manipula em meio a conflitos.
soas com necessidades especiais, isto é, todos que se diferen-
ciam um pouco do que a sociedade impõe que deva ser normal. Currículo na Educação Inclusiva – Especial na Perspectiva
Verificamos também que a sociedade deve se esforçar para Contemporânea
transformar esta situação de rejeição ao que se considera fora A escola é concebida como instituição, capaz e capacitada,
do padrão. Não existe nenhuma fórmula, basta que as pessoas para disseminar o conhecimento, assim sendo, todos os alunos
pensem um pouco naqueles que estão a sua volta como cida- que a frequentam necessitam desenvolver de forma adequa-
dãos que possuem os mesmos direitos e deveres, não impor- da suas potencialidades, independentemente de possuírem ou
tando se possui necessidades especiais ou não, todos viemos não uma necessidade mais específica na aprendizagem.
do mesmo lugar e vamos acabar no mesmo lugar, independente Porém, quando há estudantes que não estão tendo evolu-
se somos ricos ou pobres, brancos ou pretos, enfim de qualquer ção em seu processo de ensino e aprendizagem (no caso aque-
coisa. les com necessidades educacionais especiais), o Currículo em-
A luta pela educação especial no Brasil nunca foi fácil. Te- butido no Projeto Pedagógico construído na escola, pode vim a
mos uma legislação, mas sabemos que ela sozinha não resol- torna-se um mecanismo de exclusão, um estigma da diferença.
ve nada. Ainda são poucas as pessoas que lutam pelos direitos Quanto aos discursos em torno do processo da inclusão da
das pessoas com necessidades especiais e que defendem para pessoa com deficiência, Silva (2010, p.2) destaca que “[...] pare-
todos, uma sociedade inclusiva. Precisamos dar as mãos nesta ce refletir o modo pelo qual são representadas e expressadas,
luta e repensarmos a maneira pela qual lidamos com as dife- historicamente, as principais inquietações das práticas de esco-
renças. larização desses indivíduos, particularmente, àquelas relaciona-
Incluir não é favor, mas uma troca e todos saem ganhan- das à escola e ao Currículo”.
do. E convivendo com as diferenças humanas construiremos um Por isso, entendemos que, é de suma importância reali-
país diferente e melhor.12 zar uma reflexão construtiva sobre a pessoa com deficiência,
nesse contexto educacional inclusivo, aonde cada sujeito apre-
A educação especial e o Currículo. senta uma característica peculiar em que o discurso inclusivo,
Ainda há espaços que compreendem o Currículo como por tendência, massifica. Desta forma, quando se defende a
mero guia de conteúdos a serem administrados aos estudantes. inclusão sem a valorização de fato da alteridade e das especi-
Tem-se hoje a consciência de que a real concepção do mesmo ficidades que a constitui, está se compreendendo o grupo das
está muito além dessa perspectiva. Isto é, compreendemos o, pessoas com deficiência de forma hegemônica, colocando estes
como um caminho a percorrer muito além do caminho mera- sujeitos, como seres que apresentam características e neces-
mente de conteúdos a serem compridos. sidades únicas e comuns. É nessa conjuntura que o Currículo
Ele pode ser compreendido como um contexto de produ- se configura como locus de importância no que diz respeito à
ção de significações, aonde habitam as diversas identidades discussão quanto à questão da diferença e da diversidade.
que são forjadas em meio a um campo de luta e conflitos, pelo A inclusão vem tomando espaço cada vez maior nas políti-
domínio do saber e do poder. Sobre isso, atesta Lunardi (2008), cas públicas, na sociedade e nas escolas, princípios educacio-
citando Silva (1999): nais formulados a partir dos ideais de Educação para Todos ga-
[...] o currículo pode ser entendido como território de pro- nharam mais consistência com as diversas diretrizes, elaboradas
dução, circulação e consolidação de significados. Nesse sentido, para os diferentes níveis de ensino (Diretrizes Curriculares Na-
ele é também um espaço privilegiado de política de identidade. cionais para o Ensino Fundamental, 1996; Diretrizes Curriculares
A cultura, nesse contexto, é um campo de lutas em torno da para a Educação Especial na Educação Básica, 2001; Diretrizes
significação social. É ‘onde se define não apenas a forma que Curriculares Nacionais para a Formação de Professores, 2002).
o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os Esses documentos configuram‐se como um conjunto de
grupos devem ser’. (LUNARDI, 2008 apud SILVA, 1999, p. 44-5). definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e proce-
12Fonte: www.centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com dimentos, com o objetivo de orientar as escolas em suas or-

171
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ganizações, articulações, desenvolvimento e avaliação de suas Porém o que se vê é despreparo na prática para lidar com
propostas pedagógicas. As Diretrizes Curriculares Nacionais toda a situação que permeia a inclusão. Além do mais, não bas-
para a Educação Especial na Educação Básica (CNE/CB, Nº 2, 11 tam somente Leis, Decretos, Portarias, Resoluções em âmbito
de fevereiro de 2001) expressam determinações e orientações federal, estadual e municipal que digam o que fazer, necessita-
voltadas ao processo de inclusão dos alunos com necessidades -se urgentemente articular a legislação com a prática executada
educacionais especiais, no que tange aos aspectos pedagógicos no dia a dia nas escolas.
e formação de professores. No Parecer 17/2001, referente à Tendo em vista que, as dificuldades que emergem do coti-
Resolução 2/2001. diano escolar, nos mostraram que o tema inclusão escolar ainda
A inclusão é definida como a garantia, a todos, do acesso permanece como um problema a ser resolvido pelas escolas e
contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade pela sociedade. Ter acesso à instituição escolar, em si, não ga-
essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à rante que os alunos estão tendo o suporte necessário para o
diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de desenvolvimento do seu processo de ensino e aprendizagem.
esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvol- É corriqueiro observarmos que, em alguns espaços peda-
vimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida (BRA- gógicos, ao receber alunos com necessidades educacionais es-
SIL/CNE, 2001). peciais, em escolas ditas como inclusivas (aonde na proposta
Nesse contexto entendemos que a educação voltada às pedagógica tem-se um relato de que a escola é inclusiva e de
pessoas com necessidades educacionais especiais está funda- que todos os professores participaram das discussões – ges-
mentada nos princípios da preservação da dignidade humana, tão democrática), tenha-se dificuldades para recepciona-los e
na busca da identidade e no exercício da cidadania. orienta-los, apresentando uma à prática que foge da proposta
Práticas durante muito tempo negligenciadas no trato às apresentada no Projeto Pedagógico.
pessoas que apresentassem qualquer tipo de deficiência fosse Por isso, quando há o ingresso de um estudante com neces-
ela física sensorial ou cognitiva. De acordo com o Parecer, os sidades educacionais especiais, por mais que, a professora faça
princípios que orientam a elaboração das diretrizes têm por fi- um trabalho de aceitação dos demais estudantes e isso aconte-
nalidade acabar com qualquer tipo de discriminação e garantir ça com sucesso, à prática diária escolar demonstra o quanto à
o desenvolvimento da cidadania. mesma demonstra dificuldade, em desenvolver os conteúdos
Embasadas na LDB 9394/96 e na Declaração de Salamanca do Currículo junto a esse aluno, e a reconhecer aonde inicia
(1994), podemos dizer que o princípio fundamental da escola
a capacidade de aprendizagem desse estudante e como fazer
inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas.
com que ele se aproprie de tais conteúdos curriculares.
Sendo assim, as escolas devem reconhecer e responder às
No contexto da perspectiva de inclusão da pessoa com de-
necessidades diversas de seus estudantes, acomodando os esti-
ficiência, compreendemos que esta discussão ajude a promover
los e ritmos de aprendizagem, por fim, assegurando uma educa-
o olhar sobre o sujeito com deficiência como o Outro. Somente,
ção de qualidade a todos, por meio de um Currículo apropriado,
a partir daí, a escola será uma real ação onde a diferença será
arranjo organizacional, estratégias de ensino, usa de recursos e
compreendida como algo inerente à humanidade, conforme Sil-
parceria com a comunidade.
va (2010), não mais será entendido como:
De acordo com os Parâmetros Curriculares para a educação
[...] um instrumento pedagógico neutro, ao contrário (o cur-
inclusiva (1998), o Currículo é construído a partir do projeto
pedagógico da escola e deve viabilizar a operacionalização do rículo) é um campo de conflitos, tensões e relações de poder do
mesmo, orientando as atividades educativas, as formas de exe- qual resulta um conjunto de prescrições sobre os conteúdos, as
cutá-las e definindo as suas finalidades. O mesmo documento organizações e as práticas que refletem (e reproduzem) as rela-
usa as palavras “Adequações Curriculares” para referir-se ao ções sociais e políticas existentes em cada momento histórico,
mesmo como sendo um elemento dinâmico da educação para que são negociadas, efetivadas, construídas e reconstruídas na
todos e que a sua viabilização para os alunos com necessidades escola (SILVA, 2010, p. 06).
educacionais especiais, pode ser realizando através da flexibili- Neste momento de mudança de paradigma de uma escola
zação, na prática educacional, com o objetivo de atender todos excludente para uma que inclui, é conciso que se trilhem os re-
os alunos. cursos necessários para efetivar o compromisso de desenvolver
Pensar em adequação curricular significa considerar o co- em cada estudante as suas potencialidades.
tidiano das escolas, levando-se em conta as necessidades e ca- Pois, a educação inclusiva, entendida sob a dinâmica didá-
pacidades dos seus alunos e os valores que orientam a prática tico-curricular, é aquela que proporciona ao aluno com neces-
pedagógica. Para os alunos que apresentam necessidades edu- sidades educacionais especiais, participar das atividades coti-
cacionais especiais essas questões têm um significado particu- dianas da classe regular, aprendendo as mesmas coisas que os
larmente importante (PCNs, 1998, p. 32). demais, mesmo que de modos diferentes, preferencialmente
As Políticas Públicas colocam para os sistemas de ensino, sem defasagem idade-série. Sendo o professor, o agente me-
a responsabilidade de garantir que nenhum aluno seja discri- diador do processo de ensino aprendizagem, cabe a ele o papel
minado, de reestruturar as escolas de ensino regular, de ela- de fazer as adequações necessárias ao currículo (GLAT, 2004).
borar projeto pedagógico inclusivo, de programar propostas e A escola inclusiva precisa ter claro o reconhecimento de
atividades diversificadas, de planejar recursos para promoção que cada estudante tem um potencial, ritmo de trabalho dife-
da acessibilidade nos ambientes e de atender às necessidades renciado, expectativas, estilos de aprendizagens, motivações e
educacionais especiais, de forma que todos os alunos tenham valores culturais, ou seja, reconhecê-los como diferentes. Se-
acesso pleno ao Currículo. gundo a Declaração de Salamanca:
Considerando que os aspectos acima mencionados são de- O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em
terminantes para o sucesso da Política Educacional Inclusiva e todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, inde-
que os resultados do censo escolar em nosso país, indicam o pendentemente das dificuldades e das diferenças que apresen-
crescimento de alunos incluídos no ensino regular. tem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessida-

172
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
des diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos Um Currículo fundamentado na perspectiva da inclusão
e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível precisa ser construído, de fato, pelo sistema educacional bra-
de educação para todos, através de currículos adequados, de sileiro (principalmente na escola), pois passa pela formação
uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de inicial e continuada de professores, pela organização do tra-
utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas balho pedagógico, pelo desvelamento e superação de práticas
comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de culturais e pedagógicas que perpetuam preconceitos reforçam
serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais discriminações.
dentro da escola (UNESCO, 1994, p.11-12). Para tanto, não é possível atribuir apenas a figura do pro-
Podemos assim analisar que, o termo “necessidades edu- fessor em sala de aula a responsabilidade por um Currículo que
cacionais especiais” estar se referindo a todas aquelas crianças se constitua a partir da diversidade e respeite os ritmos diferen-
ou jovens, cujas necessidades educacionais que surgiram em tes de aprendizagem.
função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Mui- O progresso é, sem dúvida, o fator mais importante para se
tas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, alcançar uma educação inclusiva de qualidade, primando pela
portanto, possuem penúrias especiais em algum momento em heterogeneidade de nossos alunos. O grande objetivo para a
seu processo de escolarização. escola inclusiva consiste em planejar a participação de todos
Com esse contexto em que a criança esta inserida espera- os alunos e saber como dar suporte à aprendizagem dos mes-
-se que o professor saiba acolher a diversidade e desenvolver mos, sem lhes fornecer respostas predeterminadas ou fazer do
a aprendizagem em seus alunos, levando em consideração a di- Currículo, um estigma da diferença. É necessário estar atento à
versidade nos ritmos que se encontram presentes em sua sala importância de que não é o aluno que tem que se adaptar aos
de aula. Por isso, é imprescindível que a escola se adapte às moldes da escola, mas a escola que deve adaptar-se a atender
necessidades dos alunos. seus alunos.
Para tal, destaca-se a necessidade de um Currículo flexível, Assim sendo, para a execução de um Currículo inclusivo é
abrangente de uma proposta de conteúdos, a partir da realidade preciso garantir uma educação com atitude abrangente, que
de cada escola com base na sua autonomia, aonde, os elemen- antes de tudo, uma questão de direitos humanos, que se insere
tos curriculares ganhem novas formas, ou seja, os conteúdos na perspectiva de assegurar o direito à educação das crianças,
não serão decorados, mas apreendidos compreensivamente; a jovens e adultos, independentemente de suas características
relação de professor e alunos será de uma parceria mútua; as ou dificuldades. Importa não perder de vista que assegurar o di-
metodologias serão diversificadas e ativas; a avaliação não será reito à educação é ir além do acesso: é prever e redefinir ações
a cobrança da falta ou o reforço do comportamento obediente, verdadeiramente destinadas a estes sujeitos/alunos, em função
mas a análise do processo para reorganizar as ações na rotina das suas necessidades/ou especificidades, tendo em vista sua
escolar. formação humana e educacional.
É de fundamental importância salientar que o currículo não Por fim, de acordo com o que foi apresentado percebemos
deve ser concebido de maneira a ser o aluno quem se adapte então que o Currículo faz diferença sim, no processo de ensi-
aos moldes que a escola oferece, mas como um campo aberto à no e aprendizagem, sendo importante investir estudos para o
diversidade. Essa diversidade não é no sentido de que cada alu- avanço do mesmo no cotidiano escolar, e vale ressaltar que
no poderia aprender conteúdos diferentes, mas sim aprender este deve alcançar todos os sujeitos, independente das carac-
conteúdos de diferentes maneiras. Para efetivar tal aconteci- terísticas apresentadas por estes considerando todos os aspec-
mento, ao planejar, professor precisa estabelecer expectativas tos culturais que fazem parte do meio social onde os sujeitos
altas e criar oportunidades para todos os alunos aprenderem habitam.13
com sucesso, incluídos todos.
Moreira e Baumel (2001) escrevem que, as adaptações cur- Metodologias e estratégias na educação especial
riculares não podem correr o risco de produzirem na mesma As estratégias pedagógicas correspondem aos diversos pro-
sala de aula um Currículo de segunda categoria, que possa de- cedimentos planejados e implementados por educadores com
notar a simplificação ou retirar do contexto referente ao co- a finalidade de atingir seus objetivos de ensino. Elas envolvem
nhecimento. Com isso, não querem dizer que o aluno incluído métodos, técnicas e práticas explorados como meios para aces-
não necessite de adaptações curriculares, mas argumentam em sar, produzir e expressar o conhecimento.
favor de uma inclusão real, que repense o currículo escolar, que No contexto da educação inclusiva, recomenda-se que o
efetive um atendimento de qualidade. ponto de partida seja as singularidades do sujeito, com foco
Para Carvalho (2004, p. 79), a educação inclusiva pode ser em suas potencialidades. Se, por um lado, a proposta curricular
considerada como um “processo que permite colocar valores deve ser uma só para todos os estudantes, por outro, é impres-
em prática, sem pieguismos, caridade, filantropia, pois está ali- cindível que as estratégias pedagógicas sejam diversificadas,
cerçada em princípios que conferem igualdade de valor a todas com base nos interesses, habilidades e necessidades de cada
as pessoas”. Nesse sentido, a reformulação do processo educa- um. Só assim se torna viável a participação efetiva, em igualda-
cional deveria garantir currículos que valorizassem a diferença de de oportunidades, para o pleno desenvolvimento de todos
como constituição da sociedade e não como deformações dian- os alunos, com e sem deficiência.
te de padrões estabelecidos socialmente. Esta página apresenta orientações e exemplos práticos so-
Contudo, superar a lógica de adaptações, pressupõe uma bre como desenvolver estratégias pedagógicas nessa perspecti-
proposta curricular construída na perspectiva de viabilizar a va e como construir um planejamento pedagógico, escolher ou
articulação dos conhecimentos do ensino especial e do ensino até mesmo criar materiais e conceber estratégias de avaliação
comum, ambos devem promover a ampliação dos conhecimen- capazes de garantir a participação e a aprendizagem de todos
tos, das experiências de vida e a valorização dos percursos de os estudantes.
aprendizagem. 13Fonte: www.editorarealize.com.br

173
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Como desenvolver estratégias pedagógicas inclusivas E a colaboração do profissional do atendimento educacio-
O ponto de partida deve ser o próprio estudante. É preci- nal especializado (AEE) nesse processo pode ser determinante,
so empenhar-se em conhecê-lo bem. Partir do seu repertório e considerando que, segundo a Política nacional de educação es-
dos seus eixos de interesse torna o processo de ensino-apren- pecial na perspectiva da educação inclusiva, esse serviço tem
dizagem muito mais espontâneo, prazeroso e significativo. Uma a função de identificar, elaborar e organizar recursos pedagó-
dica é se perguntar com frequência: o que cada um deles sabe gicos e de acessibilidade para a eliminação de barreiras para a
sobre o conceito a ser trabalhado? Como seus interesses podem plena participação dos alunos, levando em conta suas necessi-
ser explorados como facilitadores do ensino de cada conteúdo? dades específicas.
Vale ressaltar a importância de se observar as barreiras
existentes e investir na diversificação de estratégias peda- Planejamento pedagógico
gógicas. O profissional de em o papel de colaborar com esse O planejamento pedagógico tem como finalidade definir os
processo. Professores criativos ou que já tenham experiência objetivos e as estratégias que orientam o processo de ensino-
com inclusão de estudantes com deficiência também podem ser -aprendizagem.
bons parceiros. No contexto da educação inclusiva o planejamento deve ser
Exemplo disso aconteceu na Escola Municipal de Educação contínuo e colaborativo. Ao mesmo tempo, deve valorizar os
Básica Professora Maria Therezinha Besana, em São Bernardo interesses e atender às necessidades de cada estudante. Isso
do Campo (SP). Ao chegar na unidade, Gustavo, um aluno com significa pensar aulas desafiadoras para todos, diversificando
autismo, começou a apresentar dificuldades no processo de al- as formas de apresentar e explorar os conteúdos curriculares.
fabetização. A situação se modificou quando suas educadoras Quem deve planejar as atividades para os alunos com de-
passaram a contextualizar as atividades de acordo com os gos- ficiência?
tos e interesses do garoto. O responsável pelo planejamento – para todos os estudan-
tes – é o professor regente. No entanto, essa não precisa, nem
Atividades para alunos com um mesmo diagnóstico devem deve, ser uma tarefa solitária. Ao contrário, a perspectiva in-
ser iguais? clusiva prevê que o processo de elaboração do planejamento
Durante muito tempo, acreditou-se ser possível generalizar pedagógico inclusivo seja colaborativo, envolvendo a partici-
pação de outros agentes da escola, docentes e não docentes,
as características das pessoas e, assim, padronizar estratégias
das famílias e até mesmo dos alunos, como protagonistas do
pedagógicas a partir de um mesmo quadro diagnóstico. Atual-
próprio processo de ensino e aprendizagem.
mente, sabemos que essa noção é, no mínimo, simplista. Ainda
Assim, outros professores criativos ou que já tenham traba-
que apresentem pareceres diagnósticos absolutamente iguais,
lhado com alunos com deficiência e, particularmente, o profis-
duas pessoas podem reagir às mesmas estratégias de maneiras
sional do atendimento educacional especializado (AEE) podem
totalmente distintas.
contribuir significativamente sugerindo atividades e recursos
Não há, portanto, “receitas prontas” ou manuais de ativi-
– desde que isso se dê numa perspectiva de colaboração, con-
dades ideais, indicando exatamente como ou o que trabalhar
siderando que tais atividades precisam estar contextualizadas
com um aluno com esse ou aquele diagnóstico. E isso não se
no planejamento.
aplica somente a pessoas com alguma deficiência. Posto que a
diferença é inerente à condição humana, o processo de apren- Como o AEE pode contribuir um planejamento pedagógico
dizagem de cada estudante torna-se singular. inclusivo?
O atendimento educacional especializado pode contribuir
Qual a relação entre estratégias pedagógicas e fracasso para um planejamento pedagógico inclusivo tanto na proposi-
escolar? ção de estratégias diversificadas, considerando os interesses
Se partirmos do pressuposto de que toda pessoa aprende, e as necessidades de cada um dos estudantes com deficiência,
quando isso não acontece, pode ser que o problema resida nas transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades/super-
estratégias pedagógicas adotadas em sala de aula. É por meio dotação, quanto na identificação das barreiras a sua aprendi-
delas que o estudante se conecta ao currículo, ou seja, acessa zagem e na escolha ou construção de recursos ou estratégias
o conhecimento. Quando o planejamento não leva em conta para a superá-las e para equiparar oportunidades.
as particularidades de cada aluno, as estratégias pedagógicas Apesar de atender diretamente somente os alunos com de-
podem constituir uma das principais barreiras à inclusão edu- ficiência, o profissional de AEE pode contribuir para que o pla-
cacional de alunos com e sem deficiência. nejamento pedagógico seja de fato inclusivo, ou seja, garanta a
aprendizagem e o pleno desenvolvimento do potencial de todos
O que fazer quando um aluno “não aprende”? os alunos, já que as estratégias pensadas para estudantes com
Na verdade, não são os estudantes que não aprendem. A deficiência podem servir, também, para outras crianças.
escola é que, muitas vezes, não está habituada a lidar com a
diferença e, assim, não oferece estratégias pedagógicas que O que significa dizer que o planejamento é contínuo?
favoreçam a criação de vínculos, as relações de troca e o aces- Um planejamento fechado, “parado no tempo”, baseado
so ao conhecimento. Um dos princípios da educação inclusiva em etapas estanques fundamentadas na expectativa de homo-
é justamente esse: toda pessoa aprende, sejam quais forem geneização é característico de uma pedagogia tradicional, ex-
suas particularidades intelectuais, sensoriais e físicas. O que cludente. A partir da perspectiva inclusiva, sabemos que o pro-
remete a outro princípio: o processo de aprendizagem de cada cesso de aprendizagem e o desenvolvimento de cada estudante
pessoa é singular. Por isso, torna-se fundamental avaliar cada é único, singular. Assim como também é dinâmico, não linear.
situação, a fim de encontrar meios de garantir a inclusão efeti- Não há como prever, por exemplo, o que um determinado
va de qualquer estudante, independentemente do laudo que o aluno será capaz de fazer sozinho em um mês. Por isso o pro-
acompanha. cesso de elaboração do planejamento pedagógico na perspecti-

174
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
va inclusiva é contínuo, isto é, baseado no que cada estudante e expressar o conhecimento. Por essa razão, a avaliação deman-
– e o grupo como um todo – demanda, aqui e agora. O plane- da a adoção de estratégias e ferramentas diversificadas, consi-
jamento deve ser revisto continuadamente a partir da configu- derando as especificidades de cada aluno.
ração dos novos desafios e potencialidades que se apresentam O Plano educacional individualizado (PEI), instrumento
para a garantia de uma educação de qualidade para todos, em cada vez mais utilizado no contexto do atendimento educacio-
igualdade de condições. nal especializado (AEE), pode se tornar um importante recurso
de avaliação para todos os estudantes, com e sem deficiência.
Como o currículo influencia na construção de um planeja-
mento pedagógico inclusivo? Qual a diferença entre a avaliação tradicional e a inclusiva?
A perspectiva inclusiva indica o direito de todos os estudan- A avaliação tradicional tem como referência um padrão con-
tes, com e sem deficiência, acessarem um mesmo currículo. Um siderado “normal” ou estatisticamente mais frequente. É como
currículo flexível, que implica a busca pela coesão da base cur- se todos os estudantes devessem aprender da mesma forma,
ricular comum com a realidade dos estudantes, suas caracterís- no mesmo ritmo e no mesmo espaço de tempo. Os métodos de
ticas sociais, culturais e individuais – incorporando também os medição de conhecimento são padronizados, justamente por-
diferentes modos de aprender presentes em sala de aula. que se espera o mesmo resultado de todos os alunos. Aqueles
Um planejamento pedagógico tradicional, baseado em con- que não alcançam esse parâmetro são excluídos.
teúdos pré-determinados que desconsideram o contexto e as Na perspectiva inclusiva, a avaliação tem como referência
diferenças que compõe o grupo, está fadado à exclusão, parti- o processo individual do estudante. Não há comparação com o
cularmente daqueles que historicamente já vem sendo excluí- outro. O parâmetro do aluno é ele mesmo. Por isso, o objetivo
dos do direito à participação e à aprendizagem. não é classificar nem selecionar.
Para desenvolver uma avaliação inclusiva, o ponto de par-
Como lidar com os diferentes tempos de aprendizagem tida deve ser o próprio estudante. Ou seja, é preciso, antes de
dos alunos? qualquer coisa, “olhar” para ele – porém não pontualmente,
Esperar que todos os alunos de um mesmo grupo realizem nem descontextualizadamente. É preciso acompanhá-lo pro-
uma determinada atividade ou aprendam determinados con- cessualmente para conhecer sua trajetória individual e conhe-
teúdos num mesmo período de tempo corresponde à lógica da cê-lo profundamente para descobrir de que modo é capaz de
expressar melhor o conhecimento.
homogeneização e gera, inevitavelmente, exclusão. A educação
Não há um padrão de avaliação para o grupo como um todo
inclusiva parte do pressuposto de que a diferença é uma carac-
que é adaptado a alguns poucos “diferentes”. Partindo do pres-
terística humana.
suposto de que a diferença é uma característica humana, ou
Assim, os diferentes tempos de aprendizagem devem ser
seja, de que todos são diferentes, é preciso pensar em estra-
não somente respeitados bem como considerados no planeja-
tégias de avaliação diversificadas para todos os alunos, não
mento pedagógico. Ou seja, planejar na perspectiva inclusiva
somente os com deficiência.
implica prever estratégias pedagógicas diversificadas também
Os erros são bem-vindos, produções autorais são valoriza-
em relação ao tempo, considerando o ritmo de cada um. Di-
das e um mesmo problema suscita a oportunidade de explorar
versificando também os modos de interação, proporcionando
múltiplas respostas. Provas, testes ou outras estratégias pon-
oportunidades de realizar atividades individualmente, em dupla tuais de avaliação têm menor valor que os processos de apren-
e em grupos – cujos critérios de formação também devem ser dizagem, a partir dos quais é possível reconhecer a evolução
diversificados. E flexibilizando a rotina, a partir de um planeja- em relação ao que o educando já sabia ou era capaz de fazer
mento que muda constantemente. anteriormente.
A atribuição de nota emerge justamente dos fenômenos
Material pedagógico observados no cotidiano da aprendizagem, em contextos que
Material pedagógico é todo e qualquer recurso utilizado em tornam visíveis os novos conhecimentos e as novas execuções.
sala de aula com uma finalidade específica de ensino e apren- Faz sentido adaptar avaliações para estudantes com defi-
dizagem. ciência?
A educação inclusiva prevê o uso de diferentes materiais As estratégias de avaliação deveriam ser “adaptadas” a to-
pedagógicos para alcançar um mesmo objetivo de ensino. dos os alunos, e a cada um, no sentido de levar em conta suas
Nesse caso, a referência para a escolha ou desenvolvimento especificidades – necessidades, interesses, estilo de aprendiza-
de atividades deve ser o próprio estudante, suas necessida- gem, conhecimentos prévios etc. Ou seja, o objetivo central ao
des (baseadas em características físicas, sensoriais ou outras), se “adaptar” uma avaliação ou qualquer outra estratégia peda-
seus interesses e habilidades, visando sempre a equiparação de gógica deve ser a equiparação de oportunidades. E para isso, é
oportunidades. fundamental avaliar cada situação especificamente.
A rede municipal de Sorriso (MT) criou uma formação entre
professores do atendimento educacional especializado para a Quem deve adaptar uma avaliação para um estudante
troca de soluções criativas e materiais pedagógicos para a in- com deficiência?
clusão. O professor do atendimento educacional especializado
(AEE) deve trabalhar como aliado dos professores das classes
Avaliação comuns e demais profissionais da escola para a elaboração e
A avaliação na perspectiva inclusiva é um processo contí- definição do processo de avaliação. Infelizmente, essa não é a
nuo e contextualizado, no qual a referência deve ser a trajetória realidade de muitas escolas. Alguns professores do ensino regu-
individual do estudante, sem que haja classificações ou compa- lar, por falta de conhecimento ou comodismo, depositam toda
rações. Isso porque a educação inclusiva parte do pressuposto a responsabilidade nos serviços de apoio, como se esses fossem
de que cada pessoa tem um modo singular de acessar, produzir os únicos responsáveis pela aprendizagem e inclusão.

175
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Plano educacional individualizado (PEI) Escola é a principal instituição para a transmissão e aquisi-
O plano educacional individualizado (PEI) é um instrumen- ção de conhecimentos, valores e habilidades, por isso deve ser
to de planejamento e acompanhamento do processo de apren- tida como o bem mais importante de qualquer sociedade.
dizagem e desenvolvimento de estudantes com deficiência, Escola – instituição social que tem o encargo de educar, se-
transtornos do espectro autista (TEA) e altas habilidades/su- gundo planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades
perdotação, cuja referência é a trajetória individual de cada da sua formação, casa ou estabelecimento onde se ministra o
um. O modelo mais comum, adotado por escolas e redes de ensino.
ensino no Brasil e em outros países, baseia-se em seis áreas Escola é uma instituição educativa fundamental onde são
de habilidades: acadêmicas, da vida diária, motoras/atividade organizadas, sistematicamente, atividades práticas de carácter
física, sociais, recreação/lazer e pré-profissionais/profissionais. pedagógico.
Quando aplicado numa perspectiva inclusiva, pode-se tornar Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é verda-
uma importante ferramenta de apoio ao trabalho em sala de deiramente uma instituição de último recurso, após a família,
aula, principalmente na avaliação de estudantes público-alvo comunidade e a igreja terem fracassado.
da educação especial. Comunidade é um conjunto de pessoas que vive num deter-
minado lugar e ligado por um ideal e objetivos comuns.
O PEI pode ser usado na sala de aula regular? Participação – de acordo com a etimologia da palavra, par-
Sim. Usar o plano educacional individualizado na sala de ticipação origina-se do latim “participatio” (pars + in + actio)
aula regular não só recomendável como necessário. que ignifica ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessá-
Primeiro porque, considerando seus objetivos, o trabalho rio ter acesso ao agir e às decisões que orientam o agir. “
do atendimento educacional individualizado (AEE) perde o sen- Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, respon-
tido se não for diretamente articulado com o realizado em sala sabilidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder
de aula. Idealmente, o PEI deveria ser construído de forma co- decidir sobre ela”
laborativa, a partir do estabelecimento de uma parceria efetiva A participação é «um modo de vida» que permite resolver
entre o professor de sala e o de AEE. Além disso, consideran- favoravelmente a tensão sempre existente entre o individual e
do que a educação inclusiva diz respeito a todos os estudan- o coletivo, a pessoa e o grupo, na organização.
tes e que o processo de cada estudante é singular, estratégias A participação deve ser vista como um processo permanen-
de planejamento e acompanhamento individual do processo te de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a autoridade
de aprendizagem e desenvolvimento como o PEI deveriam ser delegada do poder central ou local na escola; as competências
estendidas a todos, ao invés de ficarem restritas somente ao profissionais dos professores (enquanto especialistas do en-
público-alvo da educação especial. sino) e de outros trabalhadores não docentes; os direitos dos
alunos enquanto «autores» do seu próprio crescimento; e a res-
O uso do plano educacional individualizado é obrigatório? ponsabilidade dos pais na educação dos seus filhos.
Em alguns países, como em Portugal e nos Estados Unidos, Considerando que toda criança faz parte de uma família e
a aplicação do instrumento é obrigatória para todos os estudan- que toda família, além de possuir características próprias, está
tes com deficiência. No Brasil, essa obrigatoriedade não existe. inserida em uma comunidade, hoje, ambas, família e comuni-
Entretanto, algumas redes de ensino regulamentam o uso da dade, estão incumbidas, juntamente com a escola, da forma-
ferramenta localmente. ção de um mesmo cidadão, portanto são peças fundamentais
A legislação brasileira garante aos alunos com deficiência no processo educativo e, porque não, na elaboração do projeto
o pleno acesso ao currículo e a participação em todas as ativi- pedagógico da escola e na gestão da mesma.
dades da escola em condições de igualdade. Ou seja, o modelo Quando a escola recebe os educandos, de onde eles vêm?
não precisa necessariamente ser o mesmo, mas estratégias de Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade, de uma fa-
planejamento e acompanhamento individual do processo de mília, e os pais e responsáveis realizam seu encaminhamento.
aprendizagem e desenvolvimento dos alunos público-alvo da Não são os educandos seres viventes em um núcleo fami-
educação especial são, sim, necessários.14 liar e social, onde recebem orientação moral, vivenciam experi-
ências e reforçam seus conhecimentos? Tudo isso é educação.
Para estabelecer uma educação moral, crítica e comprometida
EDUCAÇÃO/SOCIEDADE E PRÁTICA ESCOLAR com o meio social, é primordial a integração entre escola, famí-
lia e sociedade. Pois, o ser humano é um ser social por excelên-
Sendo a escola uma instituição organizada e integrada na cia. Podemos pensar na responsabilidade da escola na vida de
comunidade, ela deve desempenhar uma função pró-ativa de uma pessoa. E ainda, partindo desse princípio, é um equívoco
súbita importância na formação, transformação e desenvolvi- desvincular a família no processo da educação escolar. A escola
mento do capital social. vem reforçar os valores recebidos em casa, além de transmitir
Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas vertentes conhecimentos. Age também na formação humana, salientando
social, económico e pessoal. a autonomia, o equilíbrio e a liberdade - que está condicionada
A relação escola, família e comunidade carece de melhoria, a limites e respeito mútuo. Por que não, a escola trabalhar com
pois constata-se quase que um divórcio entre elas. As escolas, a família e a sociedade em prol de um bem comum?
muitas vezes, não fomentam nem facilitam o intercâmbio de A parceria entre família, sociedade e escola só tem a con-
experiências com outras escolas e com o meio em que estão in- tribuir para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola
seridas, não promovem a procura de soluções inovadoras, nem passa a ser um espaço que se relaciona com a vida e não uma
proporcionam uma participação efetiva dos pais e encarrega- ilha, que se isola da sociedade. Com a participação da família
dos de educação na gestão escolar. no meio escolar, cria-se espaços de escuta, voz e acesso às in-
14Fonte: www.diversa.org.br/www.gestaoescolar.org.br formações que dizem respeito a seus filhos, responsáveis tanto

176
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
pela materialidade da escola, bem como pelo ambiente no qual Por essa razão, dentro das escolas as discussões que pro-
seus filhos estão inseridos. É preciso que os pais se impliquem curam compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes,
nos processos educativos de seus filhos no sentido de motivá- caótico, no qual a educação se encontra mergulhada, são cada
-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a vez mais frequentes. Professores debatem formas de tentar su-
educação escolar, para ser bem sucedida não depende apenas perar todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que
de uma boa escola, de bons professores e bons programas, mas se nada for feito em breve não se conseguirá mais ensinar e
principalmente de como o educando é tratado na sociedade e educar.
em casa e dos estímulos que recebe para aprender. É preciso Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discus-
entender que o aprender é um processo contínuo que não ces- sões vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola,
sa quando ele está em casa. Qualquer gesto, palavra ou ação basicamente envolvendo direções, coordenações e grupos de
positiva de qualquer membro da sociedade ou da família pode professores. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente,
motivá-la, porém, qualquer palavra ou ação que tenha uma co- assumindo a maior parte da responsabilidade pelas situações
notação negativa pode gerar um bloqueio no aprendizado. É de conflito que nela são observadas.
claro que, como qualquer ser humano, ele precisa de limites, Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, mui-
e que não pode fazer tudo que quiser, porém os limites devem tos projetos são lançados e inúmeros recursos também lança-
ser dados de maneira clara, sem o uso de palavras rudes, que dos pelo governo no sentido de não deixar que o aluno deixe de
agridam ou desqualifiquem-no. estudar. Porém, observa-se que se não houver um comprometi-
Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de mento maior dos responsáveis e das instituições escolares isso
aprender a agredir, perde uma boa parte da motivação para pouco adiantará.16
aprender, pois seus sentimentos em relação a si mesma e aos
outros ficam confusos, tornando-a insegura com relação às suas O papel da educação na sociedade brasileira
capacidades, e consequentemente gerando uma baixa autoes- Sempre estamos nos perguntando qual é a finalidade da
tima. Outro aspecto que merece ser lembrado é o que se refere educação? Escolarizamos nossos alunos para a vida ou para a
à comparação com outros irmãos que foram bem sucedidos; os sociedade? Ao longo dos anos, muitos estudiosos e autores, se
pais ou responsáveis devem evitar a comparação, pois cada um compeliram em compreender o real papel da escola, perante a
é único e tem seu próprio ritmo de aprendizado e sua maneira sociedade. A instituição de ensino foi concebida com o principal
singular de ver o mundo e a sociedade em que esta inserido. objetivo de originar grandes transformações que causariam nos
É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o aprendi- indivíduos e na sociedade, a libertação da classe dominadora,
zado não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas é onde todos poderiam, a priori, ter as mesmas oportunidades e
construído pelo contato com o social, dentro da família, e no privilégios que só à burguesia, até então, possuía. Ir a escolar,
mundo ao seu redor. Fazer do aprendizado um prazer é tare- ocupar um lugar nas salas de aula, deixou de ser um lugar pri-
fa não só dos professores, mas também, de pais, da sociedade vilegiado, sacralizado e de acesso restrito ao conhecimento e a
e de qualquer profissional interessado no bem-estar de quem informação, para ser um recinto aberto, amplo, onde todos po-
aprende.15 deriam aprender e desenvolver suas capacidades de inter-rela-
Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em cionar-se, construindo assim, múltiplos saberes. Existem ainda,
mente que a família esteja presente na vida escolar de todos os muitas ideias que estão enraizadas na nossa forma de pensar
alunos em todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação sobre a educação e seu papel junto à sociedade. Em inúmeras
entre escola e família. Nesse sentido, escola e família possuem formas e diversos prismas, conhecemos discursos que definem
uma grande tarefa, pois nelas é que se formam os primeiros o papel da educação, da escola, como sendo, reconstrutores
grupos sociais de uma criança. da sociedade, por meio da homogeneização das desigualdades,
Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagó- com a produção de indivíduos críticos e conscientes, estimula-
gica pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio dos para o desenvolvimento cognitivo e socioeconômico.
no que diz respeito à disciplina de seus educandos. A sociedade O Filósofo e Prof. Dr. Mario Sergio Cortella (1998), diz que,
moderna vive uma crise de valores éticos e morais sem prece- discutir o papel da escola, é procurar uma compreensão política
dentes. Essa é uma constatação que norteia os arredores dos da própria finalidade do trabalho pedagógico. Diante disso, nos
setores educacionais, pois é na escola que essa crise pode aflo- perguntamos mais uma vez, Qual o Papel da Educação para a
rar mais, ficando em maior evidência. Sociedade? Formar indivíduos críticos ou especializar mão de
Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Edu- obra? Em longo prazo, acredita-se que a escolarização, irá me-
cação ( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e institui a lhorar a sociedade brasileira e que o sistema educacional per-
gestão democrática nas escolas e vai além. Dentre algumas con- mitirá que todos, crianças, jovens e adultos, possam ter um en-
quistas destacam-se: sino de qualidade, que lhes garanta a possibilidade de ascensão
A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a social. É estéril debater sobre o tema proposto, sem esquecer-
educação para além da educação escolar, ou seja, comprometi- -se das imensas mazelas que figuram nosso Brasil, as desigual-
mento com a formação do caráter do educando. dades sociais que persistem em existir, nos fazem pensar mais a
Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos fundo, sobre o principal papel da escola para a sociedade, pois,
como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotiva- a educação é vista como forma de nivelar essas desigualdades,
ção dos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados uma vez que, o indivíduo adentrando a instituição de ensino,
e muitas vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sen- teria oportunidades iguais de conhecimento e aprendizagem,
timentos de impotência e frustração estiveram tão marcante- onde poderia assim, desenvolver suas habilidades e conquistar
mente presentes na vida escolar. seu lugar no mercado de trabalhando, sendo valorizado por ser
15 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes um profissional diferenciado, que soube aproveitar as opor-
Anequim / Valéria Cristina P.Alves Bino 16 Fonte: www.portaldoconhecimento.gov.cv

177
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tunidades a ele oferecidas, conquistando, por mérito próprio cipalmente a pública, assumiu diversas tarefas, porque ela é a
seu lugar perante a sociedade. No entanto, fala-se tanto des- parte da rede de proteção social, e por isso desempenha tarefas
sa inclusão, mas infelizmente, a escola está muito longe de ser do Estado, entre elas a proteção à vida, segurança e liberda-
um ambiente seguro e imparcial, que impede que as diferenças de dos indivíduos. De acordo com esses fatos, a proeminência
que existem fora dos seus portões, adentrem o ceio escolar e de que a família não cumpre com seu dever é notório, e por
massacrem vários discentes por serem negros e/ou pobres e/ou conta disso, a escola, teve sua responsabilidade aumentada, e
homossexuais e/ou adolescentes grávidas e/ou usuários de en- a função de propiciar e mediar a construção do saber, do co-
torpecentes, enfim, eles acabam sendo excluídos e humilhados, nhecimento e do exercício da socialização, foi-lhe agregada a
porque a escola não está preparada para evitar o Bulling, pois, responsabilidade de educar e preparar crianças e jovens, para
cabe a escola como instituição de ensino, fazer um trabalho de a vida, e ainda, para enfrentarem as desigualdades, injustiças,
conscientização de respeito, à homofobia, racismo, violência Bulling e etc.
(de todas as formas), gravidez na adolescência, educação para Sobre empreendedorismo e desenvolvimento socioeco-
o trânsito, ética profissional, além, dos conteúdos que fazem nômico, Ivan Luís Tonon (2011), em seu artigo: “O papel da
parte de sua grade curricular. Educação no desenvolvimento Econômico e no surgimento do
“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que empreendedorismo”, defende que, através do desenvolvimen-
será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial já foi to econômico e suas influências, a educação pode ser mediada
para o século XX”. Jeffry Timmons, 1990. contribuindo, assertivamente, com o desenvolvimento econô-
Qual o papel da educação para a sociedade? Segundo di- mico aliado ordenadamente ao desenvolvimento educacional,
versos autores e estudiosos cabe a Educação iniciar um proces- criando condições eficientes para acabar com a desigualdade
so de aprendizagem continuo que possibilite crianças, jovens e social. Ao dar início a leitura de alguns artigos sobre educação e
adultos, alcançarem a excelência em suas habilidades cognitivas empreendedorismo deparei-me, com o artigo de Marival Coanl
e sociais, transformando-se em profissionais dedicados, críticos (2012): “Educação para o Empreendedor com Estratégia para
e especializados em suas áreas de atuação. O papel da escolari- formar um trabalhador de novo tipo”, cita que:
zação é dar condições para o processo de formação contínua e A necessidade de se formar um homem trabalhador para
continuada para todos aqueles que anseiam crescer como pes- o empreendedorismo, por meio da educação, tornou-se evi-
soas e profissionais. O profissional que almeja destacar-se no dente nos últimos tempos como estratégia para combater o
mercado de trabalho, ficará sempre antenado em inúmeras for- desemprego, constituindo-se dessa forma, uma ideologia que,
mas de manter-se atualizado, dando assim, continuidade a sua enaltecendo o modo de produção capitalista, intenta moldar os
formação profissional e com isso qualificando sua mão de obra. indivíduos à ordem social vigente com a promessa de que, com
A ação de ensinar tem como princípio fundamental a formação o desenvolvimento de suas potencialidades empreendedoras,
integral do indivíduo, bem como, o objetivo de prepará-lo para obterão sucesso na vida profissional e pessoal. O discurso sobre
o espírito de liderança, de consciência crítica, ética e moral, o empreendedorismo, embebido de valores liberais, prima por
para que ele possa aprender a viver e conviver em sociedade, ocultar as causas dos problemas sociais, inclusive, apresentan-
de forma consciente, ativa, participativa, discernindo o certo do do-os como desafios a serem superados com iniciativa e proa-
errado, diferenciando bem de mal e assim, transformar-se em tividade individual.
um cidadão integro e de respeito. Percebe-se que a sociedade capitalista estimula a compe-
Ao encetar a leitura de um artigo escrito por Terezinha Sa- titividade e o individualismo, de forma a sobressair-se a todos
raiva, onde ela fala que, competia a família a educação de seus sem preocupar-se com as diferenças sociais. No entanto, com
filhos e à escola o ensinar, percebeu que hoje, em pleno século o surgimento do empreendedorismo, e inúmeros projetos que
XXI, muitos pais inverteram essa ação. Ela cita o seguinte: visam abrandar a pobreza, através da educação, estimula-se
“A educação passou a ser exercida por vários agentes, a competitividade e o individualismo como valor moral, como
meios e espaços, que avultam o papel da escola. Agigantou- também, a sociedade é chamada para a responsabilidade de
-se sua responsabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, forma a contribuir para a solução das diferenças sociais. Mesmo
abrangendo a educação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que, o indivíduo seja estimulado a competitividade e individua-
que as famílias, muitas delas, declinaram do dever de educar lismo, ele torna-se solidário e preocupado com essas tais “dife-
seus filhos. Por esta razão, a par de ser responsável pelo pro- renças”, e acaba por colaborar na diminuição da desventura hu-
cesso de ensino e de aprendizagem de conteúdos cognitivos, mana. O Novo Trabalhador, como é chamado o Empreendedor
sobretudo em se tratando de crianças e adolescentes, a escola do século XXI, utiliza-se de estratégias para difundir o empre-
assumiu a atribuição de formar o cidadão, construindo com ele endedorismo, mas é através da educação, que o ensino sobre
não só conhecimentos, competências e habilidades, mas a esca- empreendedorismo torna-se significativo, dinâmico, atrativo. É
la de valores, onde avultam a moral e a ética, que vai servir de pela educação, através de cursos e/ou capacitações e/ou espe-
farol, iluminando sua caminhada”. Terezinha Saraiva cializações que ele aprende a suprir as demandas num período
Reforçando o que Terezinha Saraiva fala o Filósofo Profes- que, novos modelos de escolas e profissionais estão surgindo.
sor Dr. Mário Sergio Cortella, em entrevista para a Revista Fi- A demanda atualmente, por profissionais proativos, que sabem
losofia, cita que certo dia um pai de aluno lhe perguntou como agir, e tem bem definido as competências, habilidades e atitu-
ou o quê, a família deveria fazer para colaborar com a educação des que todo profissional em excelência almeja ter, saberá ser
dos filhos na escola, e gentilmente, ele responde ao pai que um empreendedor capaz de amenizar as diferenças e a superar
existia um equívoco na formulação da questão, pois, não cabia as individualidades existentes num mundo capitalista. A educa-
a escola educar os filhos, porque a escola colabora na educa- ção para o empreendedorismo faz parte de uma ideologia que
ção, escolarizando e dando oportunidades de desenvolvimento faria a inclusão social por meio de atitudes inovadoras e criati-
das crianças e jovens, e que a função de educar era da família, vas – empreendedoras. Sua origem, está associada a crise do
e, salienta mais, dizendo que a escola nos últimos 20 anos, prin- emprego formal. Para Souza (2009):

178
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O “aprender a empreender” reduz o trabalho educativo à tação presenciais. Muitas pesquisas descrevem a necessidade
produção de mais-valia em contexto de crise estrutural, apro- de se educar os alunos e jovens acadêmicos, para o desenvol-
xima, dessa forma, a educação ao complexo da alienação, “pois vimento de habilidades empreendedoras, onde possam formar
pretende, em vão, adaptar o indivíduo à sociedade capitalista uma mentalidade adequada para atender as mudanças do mun-
de forma a tentar inutilmente harmonizar os conflitos entre ca- do atual.
pital e trabalho, ao desconsiderar o conteúdo desumano que A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem fran-
existe durante a produção de mais-valia” (SOUZA, 2009, p.15). cesa e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo,
É público e de ciência de todos, que a Educação, nem sem- sendo assim, Empreendedorismo é o estudo dedicado ao de-
pre esteve relacionada ao desenvolvimento econômico, destar- senvolvimento de competências e habilidades relacionadas à
te, é através da educação que se qualificam e especializam-se criação, que oportuniza o indivíduo a saber identificar oportuni-
profissionais, os quais são entregues a sociedade com senso crí- dades e transformá-las em realidade. A importância do empre-
tico apurado e mão de obra especializada. A título de exemplo, endedorismo está na geração de riquezas, que promove cresci-
o SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial que mento e desenvolvimento, gerando mudança tanto econômica
tem como Missão: “Educar para o trabalho em atividades de quanto social.
Comércio de Bens, Serviços e Turismo, no contexto nacional, Diniz (2009), em seu artigo: “Empreendedorismo, uma nova
concentra todos os seus esforços no sentido de incrementar visão: enfoque no perfil empreendedor”, fala que:
ações educativas voltadas à formação de profissionais criativos, O empreendedor não é um ser mágico, é uma pessoa como
colaborando assim com as empresas que desejam permanecer qualquer outra, porém, apresenta algumas características que
operando num mercado cada vez mais competitivo”. Sua Visão: o deferem dos demais, por exemplo, o senso de oportunidade,
“É consolidar-se, como referência brasileira em Educação para a capacidade de lidar com as pessoas, a persistência e a criativi-
o trabalho, conciliando ações mercadológicas e de promoção dade. Isso é muito bom, uma vez que todas estas características
social”. Existem muitas Instituições de Ensino como o SENAC, são passivas de se adquirir com a vivência, busca de instituição
que qualificam e especializam inúmeros profissionais ao longo de ensino e com a força de vontade. Diniz, 2009.
dos anos, com uma equipe de professores qualificados, que ao Temos que estimular uma valorização que nunca deveria
contratar, selecionam professores especializados como Mes- ter deixado de existir, teremos avanços e melhorias perceptí-
tres e doutores, para que, o ensino e a qualidade do nome SE- veis em todos os aspectos, do ensino básico ao superior, do pre-
NAC, seja elevada, mantendo-se como referência em qualidade sencial ao virtual, de dentro das nossas casas ao convívio social.
de ensino. A escolha de um profissional, qualificado e especia- Cuidar da educação é uma das ações de maior valor para garan-
lizado conta muito, para a contratação de novos profissionais. tir uma vida melhor em nossas casas, em nossas famílias, em
Os mais qualificados, têm um lugar garantido ao sol, aos que nossa comunidade, em nosso município, enfim, em nosso Brasil
não procuraram ascender em sua formação, infelizmente, con- e no mundo. Ante o exposto, notamos, que o papel da educação
tinuarão reclamando da desigualdade salarial e manter-se-ão para a sociedade, não é só formar e especializar, é preparar
no obscurantismo da profissão, sendo deixados para trás, por um cidadão blindado, para que este possa transpor as barreiras
não oferecerem habilidades e qualificações necessárias para o que encontrará durante sua jornada profissional. Nesse caso, a
cargo/ocupação que o mercado de trabalho oferece/exige, e responsabilidade para o docente aumenta, quando este, terá
que tanto anseiam ocupar. O mercado de trabalho está mui- de exercer sua função, não só de professor, mas de educador,
to exigente, e procura por profissionais qualificados e críticos. pai e conselheiro, mantendo-se atualizado, crítico, conhecedor
Pois ao tornarem-se qualificados e especializados em sua área de uma visão de mundo adequada e justa, tendo uma vida re-
de formação, tornam-se peça chave para o desenvolvimen- grada, ética e digna, para servir de modelo para seus alunos,
to socioeconômico. Acredito que a desigualdade salarial, hoje pois, o professor será uma bússola, que apontará para qual ca-
existente entre diversos profissionais, ocorre pela falta de minho seguir e quais conhecimentos adquirir de valores morais
desenvolvimento educacional. Não adianta querer abraçar o e éticos, além, dos cognitivos que deverá ensinar em sala de
mundo sem ao menos, aprender como abraça-lo! Os indivídu- aula, enfim, caminhos desafiadores, que infelizmente, apenas
os precisam aprender que, singularmente falando, somente a poucos (determinados) seguiram. Não nos aprofundando muito
educação pode melhorar sua formação, somente o profissional nesse assunto, mas diante desse fato, o docente terá de ser a
qualificado tem uma vida financeira saudável, além, é claro, são pessoa mais correta, regrada e empreendedora que possa exis-
valorizados pelos seus gestores, que, sem sombra de dúvida, tir, onde, então, ele poderá fazer os apontamentos adequados,
procuram investir nesse profissional, propiciando a eles, novos sem correr o risco de ser apontado como um infrator de re-
conhecimentos, através de capacitações e treinamentos, ofere- gras e normas, pois sua conduta moral e ética será intocável.
cidos pela empresa que labutam. Destarte, o papel da educação é um caminho abstruso, mas de
Nos dias atuais, a educação vem criando vários projetos extrema importância para a vida de um indivíduo, pois, através
para que o ensino do empreendedorismo seja consolidado na da escola que o futuro profissional fará sua formação e dará
grade curricular, das escolas de ensino fundamental e médio, continuidade a ela. A escola pode ser vista como um realizador
baseados na pedagogia empresarial, como disciplina ou ativida- de sonhos, um tanto filosófico, mas sine qua non. A deman-
des extracurriculares. Projetos como a Empresa Júnior, dentro da por profissionais capacitados e especializados é grande, e
das escolas, tem o apoio do SEBRAE, que participa ativamente somente e exclusivamente, só a Educação pode proporcionar
destas atividades e apoia o desenvolvimento das Micro e Pe- isso. Não há nada mais valoroso e imprescindível para a trans-
quenas empresas. Além desse apoio, o SEBRAE criou o “Desafio formação de realidades, de uma sociedade e de um País, do que
Universitário Empreendedor”, projeto este, que se destina aos a Educação!
acadêmicos de instituições públicas e/ou privadas de qualquer Diante disso, entendo que a educação não conseguirá
curso, que queiram estimular atitudes empreendedoras, atra- transformar a sociedade e a sociedade por sua vez, não conse-
vés de inúmeras atividades, jogos virtuais e cursos de capaci- guirá mudar sem a educação. A pergunta é pertinente: Qual o

179
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Papel da Educação para a Sociedade: Formar um indivíduo cri- Na maioria das vezes, as teorias da aprendizagem são es-
tico ou especializar a mão de obra? O que queremos para uma tudadas de maneira fragmentada, ou seja, trabalhando-se ora
sociedade que está desabrochando para o desenvolvimento um autor, ora outro, e nunca todos juntos de forma a permitir
econômico e que tanto se fala em empreendedorismo? Como comparações entre uma teoria e outra. Visando auxiliar em ta-
definir o papel da educação, se não conseguimos mensurar a refas dessa natureza, este texto pretende justamente abordar
forma pela qual, ela pode contribuir objetivamente e definitiva- num mesmo documento os principais autores que representam
mente no desenvolvimento econômico das famílias e das pesso- os dois grandes grupos teóricos relativos à aprendizagem: o das
as? Enquanto, a sociedade não compreender que deve investir teorias comportamentais e o das teorias cognitivas.
colaborar e corroborar com a melhoria da educação, estará fa- Na medida do possível, foram evitados termos técnicos que
dado a “criar” profissionais frustrados, obsoletos, irresponsá- assustariam qualquer leitor mesmo da área da educação. Não
veis, duvidosos e que não passam de meros expectadores da há necessidade de aprofundar estudos acerca de como ocorre
ruína humana, e mal querem saber de aniquilar as desigualda- ou deixa de ocorrer qualquer aprendizagem, mas conhecer ao
des humanas as quais fazem parte, pois, preferem continuar no menos superficialmente os fundamentos teóricos de cada linha
lamaçal da ignorância a terem que “perder tempo” adquirindo ajuda bastante qualquer profissional que desenvolva processos
a fórmula do crescimento cognitivo, pessoal e social que se cha- de ensino e aprendizagem nos dias de hoje, sobretudo devido à
ma: Educação!17 exigência constante de se ter que improvisar e alterar planos a
todo instante, a fim de poder acompanhar as mudanças.
Na aprendizagem escolar, existem os seguintes elementos
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR centrais para que o desenvolvimento escolar ocorra com suces-
so: o aluno, o professor e a situação de aprendizagem.
Sabe-se que a aprendizagem é um processo contínuo, que As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica
pode ocorrer em qualquer situação. Nesse sentido, podemos envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhe-
dizer que um dos fatores essenciais do aprendizado é a cultura, cimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a
pois ela molda o sujeito por meio de suas relações com o meio. relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conheci-
Muitas pessoas confundem construção de conhecimento mento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e constru-
com aprendizagem. Entretanto, aprender é algo muito mais ção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal
amplo, pois é a forma de o sujeito aumentar seu conhecimento. e relação através da interação entre as pessoas.
Nesse sentido, a aprendizagem faz com que o sujeito se modifi- O conceito de aprendizagem tem vários significados não
que, de acordo com a sua experiência (LA ROSA, 2003). compartilhados. Algumas definições incluem: condicionamen-
Entretanto, o ser humano passa por mudanças que não to, aquisição de informação, mudança comportamental, uso do
se referem à aprendizagem e sim aos processos maturativos, conhecimento na resolução de problemas, construção de novos
tais como: aquisição da linguagem, engatinhar, andar ou até significados e estruturas cognitivas e revisão de modelos men-
mudanças em decorrência de doenças físicas ou psicológicas. tais.
Sendo assim, a aprendizagem é uma mudança significativa que Segue abaixo um resumo das características de cada teoria
ocorre baseada também nas experiências dos indivíduos. To- da aprendizagem, destacando os pontos considerados relevan-
davia, para ser caracterizada como tal, é necessária a solidez, tes pelos pesquisadores responsáveis por cada enunciado:
ou seja, ela deve ser incorporada definitivamente pelo sujeito.
Principais teorias: Inatismo
Principais teorias de aprendizagem Os cientistas e os filósofos criaram abordagens denomina-
Existe uma infinidade de tipos diferentes de aprendizagem. das inatistas que valorizam os fatores endógenos e as aborda-
O que diferencia uma aprendizagem de outra diz respeito ao gens ambientalistas que dão atenção especial à ação do meio e
modo como cada uma se manifesta e ao próprio processo como da cultura sobre a conduta humana.
cada uma é adquirida. Uma aprendizagem é sempre uma aqui- A visão de desenvolvimento enquanto processo de apro-
sição, embora as explicações para essa aquisição sejam variadas priação pelo homem da experiência históricosocial é relativa-
e muitas delas até contraditórias. mente recente. Durante longos anos, o papel da interação de
O fenômeno da aprendizagem é sempre algo concreto, e fatores internos e externos no desenvolvimento não era desta-
acontece mesmo que ninguém tenha interesse em explicá-lo. A cado. Enfatizava-se ora os primeiros, ora os segundos. (DAVIS,
aprendizagem existe independentemente das diversas teorias 1994, p.26)
que procuram entendê-la quer descrevendo suas característi- O inatismo e o ambientalismo são teorias psicológicas for-
cas, quer propondo elementos para que possa vir a ser repetida. muladas acerca da constituição do psiquismo humano. Elas vêm
As teorias da aprendizagem são elaboradas devido à insis- revelar diferentes concepções das dimensões biológicas e cul-
tência de pesquisadores que, observando fatos reais de apren- turais do indivíduo assim como a forma que ele aprende, se de-
dizagens, levantam suas hipóteses e procuram sua verificação senvolve e as possibilidades de ação na educação.
para, então, enunciarem uma teoria que contribua para o pro- A abordagem Inatista traz a concepção de que a prática
gresso científico. Cabe aqui a lembrança de que a função da pedagógica não advém de circunstâncias contextualizadas, ela
ciência, de modo geral, consiste em facilitar e melhorar a vida baseia-se nas capacidades básicas do ser humano. Ou seja, a
do homem. personalidade, a forma de pensar, seus hábitos, seus valores,
as reações emocionais e o comportamento são inatos, isto é,
nascem com o indivíduo e seu destino já vem pré determinado.
17 Fonte: www.todamateria.com.br/www.meuartigo.brasilescola. Os eventos que ocorrem após o nascimento não são essen-
uol.com.br/www.infoescola.com/www.blog.abmes.org.br/ www.pensa- ciais ou importantes para o desenvolvimento.
raeducacao.com.br

180
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Segundo Rousseau, a natureza, dizem-nos, é apenas o hábi- Principais teorias: Construtivismo
to. Que significa isso? Não há hábitos que só se adquirem pela O construtivismo é uma abordagem psicológica desenvolvi-
força e não sufocam nunca a natureza? É o caso, por exemplo, da a partir da teoria da epistemologia genética, elaborada por
do hábito das plantas, cuja direção vertical se perturba. Em se Jean Piaget. Nesta teoria, o indivíduo aprende a partir da inte-
lhe devolvendo a liberdade, a planta conserva a inclinação que ração entre ele e o meio em que ele vive. O professor é visto
a obrigam a tomar; mas a seiva não muda, com isto, sua direção como um mediador do conhecimento.
primitiva; e se a planta continuar a vegetar, seu prolongamento Jean Piaget desenvolveu sua teria a partir de várias outras
voltará a ser vertical. O mesmo acontece com os homens. existentes no período, como a do cognitivismo. Para ele, o de-
Nesta teoria, a prática escolar não importa e nem desafia senvolvimento da aprendizagem em crianças ocorre pelas se-
o aluno, já que está restrito àquilo que o educando já conquis- guintes etapas:
tou. O desenvolvimento biológico é que é determinante para a – Sensório –motor(0 a 2 anos): as ações representam o
aprendizagem. O processo de ensinar e aprender só pode acon- mundo para a criança. Chorar, chupar o dedo, morder.
tecer à medida que o educando estiver maduro para aprender. – Pré-operatório (2 a 7 anos): a criança lida com imagens
A educação terá o papel de aprimorar o educando. concretas
Na concepção inatista, a prática pedagógica não tem ori- – Operações concretas (7 a 11 anos): a criança já é capaz de
gem contextualizada, daí a ênfase no conceito de educando em efetuar operações lógicas.
geral. Os postulados inatistas justificam práticas pedagógicas – Operações formais (11 em diante) a criança já efetua ope-
espontaneístas, do reforço das características inatas, onde o rações lógicas com mais de uma variável.
sucesso escolar está no educando e não na escola.
Principais teorias: interacionismo.
Principais teorias: Humanístico A teoria interacionista foi desenvolvida por Jean Vygotsky.
A ideia que norteia esta teoria está baseada no princípio do Em sua abordagem, o conhecimento é, antes de tudo, impulsio-
ensino centrado no aluno. Este possui liberdade para aprender, nado pelo desenvolvimento da linguagem no ser humano. Sua
e o crescimento pessoal é valorizado. O pensamento, sentimen- teoria também considera que a interação entre o indivíduo e
tos e ações estão integrados. o meio em que ele está inserido são essenciais ao processo de
O autor humanista mais conhecido é Rogers. A teoria hu- aprendizagem e, inclusive, entra em acordo com as etapas do
manista: desenvolvimento propostas por Jean Piaget na teoria constru-
- Vê o ser que aprende primordialmente como pessoa; tivista.
- Valoriza a auto-realização e o crescimento pessoal; Entretanto, para Vygotsky, é o próprio movimento de
- Vê o indivíduo como fonte de seus atos e livre para fazer aprender e buscar conhecimento que irá gerar a aprendizagem
escolhas; efetiva. Este processo deve ocorrer de fora para dentro, ou
- A aprendizagem não se limita a um aumento de conheci- seja, do meio social para o indivíduo.
mentos, ela influi nas escolhas e atitudes do aprendiz; Todas estas teorias exerceram ( e ainda exercem) profun-
- O aprendiz é visto como sujeito, e a auto-realização é en- das influências na maneira como organizamos os processos
fatizada. educacionais em todo o mundo. Ao longo dos anos, cada teoria
foi mais adequada para as necessidades de seu tempo, visto
Principais teorias: Behavorismo ou Comportamental que a escola e o mundo do trabalho também sofreram grandes
O behavorismo, ou teoria comportamental, foi desenvolvi- mudanças.
do nos Estados Unidos da América John Watson (1878-1958) A partir dos anos 90, o conceito de inteligências múltiplas,
e na Rússia por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936). Embora as desenvolvido por Howard Gardner, propunha que o ser humano
bases desta teoria tenham sido desenvolvidas por estes pesqui- era dotado de várias inteligências diferentes e complementa-
sadores, foi Burrhus Frederic Skiiner (1904-1990) que a popula- res entre si. Isto explicaria, por exemplo, porque algumas pes-
rizou, através de experimentos com ratos. Em seus experimen- soas apresentariam maior facilidade para aprender matemáti-
tos, os ratos eram condicionados a determinadas ações, com ca e ciências exatas, enquanto outros seriam mas rápidos para
recompensas boas ou ruins pelos seus atos. Assim, se moldava aprender esportes ou atividades artísticas, como o desenho e
o comportamento destes a partir de um sistema de estímulo, a música.
resposta e recompensa.
Nesta teoria, o comportamento deve ser estudado e siste- Principais teorias: cognitivismo
matizado para que se possa modificá-lo. De acordo com esta As teorias cognitivas tratam da cognição, de como o indiví-
teoria, a maneira como o indivíduo aprende é uma grandeza duo “conhece”; processa a informação, compreende e dá sig-
possível de ser mensurada tal e qual um fenômeno físico. Nesta nificados a ela. Dentre as teorias cognitivas de aprendizagem
teoria, a aprendizagem, independente da pessoa, deverá seguir mais antigas, destacam-se a de Tolman, a da Gestalt e a de
as seguintes etapas: Lewin. As mais recentes e de bastante influência no processo
– Identificação do problema instrucional são as de Bruner, Piaget, Vygotsky e Ausubel. O en-
– Questionamentos acerca dos problemas foque cognitivista:
– Hipóteses Encara a aprendizagem como um processo de armazena-
– Escolha das hipóteses mento de informações;
– Verificação Auxilia na organização do conteúdo e de suas idéias a res-
– Generalização. O cérebro a utilizará ao identificar proble- peito de um assunto, em uma área particular de conhecimento;
mas futuros semelhantes Busca definir e descrever como os indivíduos percebem, di-
recionam a atenção, coordenam as suas interações com o am-
biente;

181
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Como aprendem, compreendem e reutilizam informações 1.2 Renovadora Progressiva - Por razões de recomposi-
integradas em suas memórias a longo prazo; ção da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a
Como os indivíduos efetuam a transferência dos conheci- aparecer no cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por
mentos adquiridos de um contexto para o outro; centralizar no aluno, considerado como ser ativo e curioso. Dis-
Para Vygotsky (1896-1934), o desenvolvimento cognitivo é põe da ideia que ele “só irá aprender fazendo”, valorizam-se as
produzido pelo processo de interiorização da interação social tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do
com materiais fornecidos pela cultura. As potencialidades do meio natural e social. Aprender se torna uma atividade de des-
indivíduo devem ser levadas em conta durante o processo de coberta, é uma autoaprendizagem.O professor é um facilitador.
ensino-aprendizagem;
O sujeito é não apenas ativo, mas interativo, pois forma 1.3 Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixei-
conhecimentos e constitui-se a partir de relações intra e inter- ra foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil.É um método
pessoais; centrado no aluno. A escola tem o papel de formadora de atitu-
Para Piaget (1981), a construção do conhecimento se dá des, preocupando-se mais com a parte psicológica do que com
através da interação da experiência sensorial e da razão; a social ou pedagógica. E para aprender tem que estar significa-
A interação com o meio (pessoas e objetos) são necessários tivamente ligado com suas percepções, modificando-as.
para o desenvolvimento do indivíduo;
Enfatiza o processo de cognição à medida que o ser se situa 1.4 Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa cor-
no mundo e atribui significados à realidade em que se encontra; rente psicológica, também conhecida como behaviorista. Neste
Preocupa-se com o processo de compreensão, transforma- método de ensino o aluno é visto como depositário passivo dos
ção, armazenamento e uso da informação envolvida na cogni- conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através
ção. 18 de associações. O professor é quem deposita os conhecimen-
tos, pois ele é visto como um especialista na aplicação de ma-
Tendências pedagógicas nuais; sendo sua prática extremamente controlada. Articula-se
As tendências pedagógicas brasileiras foram muito influen- diretamente com o sistema produtivo, com o objetivo de aper-
feiçoar a ordem social vigente, que é o capitalismo, formando
ciadas pelo momento cultural e político da sociedade, pois fo-
mão de obra especializada para o mercado de trabalho.
ram levadas à luz graças aos movimentos sociais e filosóficos.
Essas formaram a prática pedagógica do país.
2. Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica das
Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem a
realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopo-
reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mostrando que as
líticas da educação e é uma tendência que não condiz com as ideias
principais tendências pedagógicas usadas na educação brasilei-
implantadas pelo capitalismo. O desenvolvimento e popularização
ra se dividem em duas grandes linhas de pensamento pedagó-
da análise marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da
gico. Elas são: Tendências Liberais e Tendências Progressistas.
tendência progressista, que se ramifica em três correntes:
Os professores devem estudar e se apropriar dessas ten- 2.1 Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de
dências, que servem de apoio para a sua prática pedagógica. Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta e orga-
Não se deve usar uma delas de forma isolada em toda a sua nização de classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais
docência. Mas, deve-se procurar analisar cada uma e ver a que importante é a de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consci-
melhor convém ao seu desempenho acadêmico, com maior efi- ência da realidade em que vive. Além da busca pela transforma-
ciência e qualidade de atuação. De acordo com cada nova situa- ção social, a condição de se libertar através da elaboração da
ção que surge, usa-se a tendência mais adequada. E observa-se consciência crítica passo a passo com sua organização de classe.
que hoje, na prática docente, há uma mistura dessas tendên- Centraliza-se na discussão de temas sociais e políticos; o pro-
cias.Deste modo, seguem as explicações das características de fessor coordena atividades e atua juntamente com os alunos.
cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá-las, deve-
-se ter em mente que uma tendência não substitui totalmente 2.2 Libertária – Procura a transformação da personalidade
a anterior, mas ambas conviveram e convivem com a prática num sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto
escolar. de que somente o vivido pelo educando é incorporado e uti-
lizado em situações novas, por isso o saber sistematizado só
1. Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo terá relevância se for possível seu uso prático. Enfoca a livre
aberto ou democrático, mas com uma instigação da socieda- expressão, o contexto cultural, a educação estética. Os conteú-
de capitalista ou sociedade de classes, que sustenta a ideia de dos, apesar de disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e
que o aluno deve ser preparado para papéis sociais de acordo o professor é tido como um conselheiro à disposição do aluno.
com as suas aptidões, aprendendo a viver em harmonia com as
normas desse tipo de sociedade, tendo uma cultura individual. 2.3 “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” -
Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua
1.1 Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por a prioridade de focar os conteúdos no seu confronto com as
motivos históricos. Nesta tendência o professor é a figura cen- realidades sociais, é necessário enfatizar o conhecimento his-
tral e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos consi- tórico. Prepara o aluno para o mundo adulto, com participação
derados como verdades absolutas. Há repetição de exercícios organizada e ativa na democratização da sociedade; por meio
com exigência de memorização. da aquisição de conteúdos e da socialização. É o mediador entre
conteúdos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro
18 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br/ www.smeduque- o aluno. Os conhecimentos são construídos pela experiência
decaxias.rj.gov.br/Texto adaptado de Ana Lucia Portella Staub pessoal e subjetiva.

182
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB dizagem mediadas por um ato didático, procura compreender
9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram mui- também as relações que o aluno estabelece com os objetos do
to difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são in- conhecimento. Para isso privilegia a análise das condições de
teracionistas, isto é, acreditam que o conhecimento se dá pela ensino e suas relações com os objetivos, conteúdos, métodos e
interação entre o sujeito e um objeto.19 procedimentos de ensino.
Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática
é responsável por produzir conhecimentos sobre modos de
DIDÁTICA E PRÁTICA HISTÓRICOCULTURAL. A DIDÁTI- transmissão de conteúdos curriculares através de métodos e
CA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR conhecimentos não deve reduzir a Didática a visão de estudo
meramente tecnicista. Ao contrário, a produção de conheci-
A organização didática do processo de ensino-aprendiza- mentos sobre as técnicas de ensino oriundos desse campo de
gem passa por três momentos importantes: o planejamento, estudo tem por objetivo tornar a pratica docente reflexiva, para
a execução e a avaliação. Como processo, esses momentos que a ação do professor não seja uma mera reprodução de es-
sempre se apresentam inacabados, incompletos, imperfeitos, tratégias presentes em livros didáticos ou manuais de ensino.
flexíveis e abertos a novas reformulações e contribuições dos Não basta ao professor reproduzir pressupostos teóricos ou
professores e dos próprios alunos, com a finalidade de aper- programas disciplinares pré-estabelecidos, as informações acu-
feiçoá-los de maneira continua e permanente à luz das teorias muladas na prática ao longo do processo ensino-aprendizagem
mais contemporâneas. Como processo, esses momentos tam- devem despertar a capacidade crítica capaz de proporcionar
bém se apresentam interligados uns ao outros, sendo difícil questionamentos e reflexões sobre essas informações a fim de
identificarem onde termina um para dar lugar ao outro e vice- garantir uma transformação na prática. Como um processo em
-versa. Há execução e avaliação enquanto se planeja; há plane- constante transformação, a formação do educador exige esta
jamento e avaliação enquanto se executa; há planejamento e interligação entre a teoria e a prática como forma de desenvol-
execução enquanto se avalia. No texto pretendemos estudar o vimento da capacidade crítica profissional. 20
Planejamento, deixando claro que separar o planejamento dos A didática, o processo de aprendizagem e a organização
demais momentos da organização didática do processo, apenas do processo didático.
responde a uma questão metodológica para seu melhor trata- A didática é uma disciplina técnica e que tem como objeto
mento. específico a técnica de ensino (direção técnica da aprendiza-
No universo da educação, especialmente no ambiente es- gem). A Didática, portanto, estuda a técnica de ensino em to-
colar a palavra didática está presente de forma imperativa, afi- dos os aspectos práticos e operacionais, podendo ser definida
nal são componentes fundamentais do cotidiano escolar os ma- como:
teriais didáticos, livros didáticos, projetos didáticos e a própria “A técnica de estimular, dirigir e encaminhar, no decurso da
didática como um instrumento qualificador do trabalho do pro- aprendizagem, a formação do homem”. (AGUAYO)
fessor em sala de aula. Afinal, a partir do significado atribuído à
didática no campo educacional, é comum ouvir que o professor Didática Geral e Especial
x ou y é um bom professor porque tem didática. A Didática Geral estuda os princípios, as normas e as técni-
Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do cas que devem regular qualquer tipo de ensino, para qualquer
que um termo utilizado para representar a dicotomia entre o tipo de aluno.
bom e o mal professor ou para designar os materiais utilizados A Didática Geral nos dar uma visão geral da atividade do-
no ambiente escolar. Termo de origem grega (didaktiké), a di- cente.
dática foi instituída no século XVI como ciência reguladora do A Didática Especial estuda aspectos científicos de uma de-
ensino. Mais tarde Comenius atribuiu seu caráter pedagógico terminada disciplina ou faixa de escolaridade. A Didática Es-
ao defini-la como a arte de ensinar. pecial analisa os problemas e as dificuldades que o ensino de
Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos cada disciplina apresenta e organiza os meios e as sugestões
mais amplos e deve ser compreendida enquanto um campo de para resolve-los. Assim, temos as didáticas especiais das línguas
estudo que discute as questões que envolvem os processos de (francês, inglês, etc.); as didáticas especiais das ciências (Física,
ensino. Nessa perspectiva a didática pode ser definida como um Química, etc.).
ramo da ciência pedagógica voltada para a formação do aluno
em função de finalidades educativas e que tem como objeto Didática e Metodologia
de estudo os processos de ensino e aprendizagem e as rela- Tanto a Didática como a metodologia estudam os métodos
ções que se estabelecem entre o ato de ensinar (professor) e de ensino. Há, no entanto, diferença quanto ao ponto de vista
o ato de aprender (aluno). Nesta perspectiva a didática passa de cada uma. A Metodologia estuda os métodos de ensino, clas-
a abordar o ensino ou a arte de ensinar como um trabalho de sificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor.
mediação de ações pré-definidas destinadas à aprendizagem, A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica
criando condições e estratégias que assegurem a construção do do valor dos métodos de ensino. Podemos dizer que a metodo-
conhecimento. logia nos dá juízos de realidades, e a Didática nos dá juízos de
Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa valor.
propor princípios, formas e diretrizes que são comuns ao ensino - Juízos de realidade são juízos descritivos e constatativos.
de todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prá- Exemplos:
tica de ensino, mas se propõe a compreender a relação que se Dois mais dois são quatro.
estabelece entre três elementos: professor, aluno e a matéria a Acham-se presentes na sala 50 alunos.
ser ensinada. Ao investigar as relações entre o ensino e a apren-
19 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br 20 Fonte: www.infoescola.com

183
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou nor- ção, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Biologia
mas. da Educação, Economia da educação e outras.
Exemplo: A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela
A democracia é a melhor forma de governo. investiga os fundamentos, condições e modos de realização da
Os velhos merecem nosso respeito. instrução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-po-
líticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar con-
A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser teúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os
metodologistas sem ser didáticos, mas não podemos ser didá- vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desen-
ticos sem ser metodologistas, pois não podemos julgar sem volvimento das capacidades mentais dos alunos. A Didática está
conhecer. Por isso, o estudo da metodologia é importante por intimamente ligada à Teoria da Educação e à Teoria da Organi-
uma razão muito simples: para escolher o método mais adequa- zação Escolar e, de modo muito especial, vincula-se a Teoria do
do de ensino precisamos conhecer os métodos existentes. Conhecimento e à Psicologia da Educação.
A Didática e as metodologias específicas das matérias de
Educação escolar, pedagogia e Didática ensino formam uma unidade, mantendo entre si relações recí-
A educação escolar constitui-se num sistema de instrução procas. A Didática trata da teoria geral do ensino. As metodo-
e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e logias específicas, integrando o campo da Didática, ocupam-se
alto grau de organização, ligado intimamente as demais práti- dos conteúdos e métodos próprios de cada matéria na sua rela-
cas sociais. Pela educação escolar democratizam-se os conhe- ção com fins educacionais. A Didática, com base em seus víncu-
cimentos, sendo na escola que os trabalhadores continuam los com a Pedagogia , generaliza processos e procedimentos ob-
tendo a oportunidade de prover escolarização formal aos seus tidos na investigação das matérias específicas, das ciências que
filhos, adquirindo conhecimentos científicos e formando capa- dão embasamento ao ensino e a aprendizagem e das situações
cidades de pensar criticamente os problemas e desafios postos concretas da prática docente. Com isso, pode generalizar para
pela realidade social. todas as matérias, sem prejuízo das peculiaridades metodoló-
A Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga gicas de cada uma, o que é comum e fundamental no processo
a natureza das finalidades da educação numa determinada so- educativo escolar.
ciedade, bem como os meios apropriados para a formação dos Há uma estreita ligação da Didática com os demais campo
indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida do conhecimento pedagógico. A Filosofia e a História da Edu-
social. cação ajudam a reflexão em torno das teorias educacionais, in-
Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual dagando em que consiste o ato educativo, seus condicionantes
são assimilados conhecimentos e experiências acumulados pela externos e internos, seus fins e objetivos; busca os fundamen-
prática social da humanidade, cabe à Pedagogia assegura-lo, tos da prática docente.
orientando-o para finalidades sociais e políticas, e criando um A Sociologia da Educação estuda a educação com processo
conjunto de condições metodológicas e organizativas para via- social e ajuda os professores a reconhecerem as relações entre
biliza-lo. o trabalho docente e a sociedade. Ensina a ver a realidade so-
O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como cial no seu movimento, a partir da dependência mútua entre
ação consciente, intencional e planejada no processo de for- seus elementos constitutivos, para determinar os nexos consti-
mação humana, através de objetivos e meios estabelecidos tutivos da realidade educacional. A partir disso estuda a escola
por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo como “fenômeno sociológico”, isto é, uma organização social
de homem a formar, para qual sociedade, com que propósitos. que tem a sua estrutura interna de funcionamento interligada
Vincula-se pois a opções sociais. A partir daí a Pedagogia pode ao mesmo tempo com outras organizações sociais(conselhos de
dirigir e orientar a formulação de objetivos e meios do processo pais, associações de bairros, sindicatos, partidos políticos). A
educativo. própria sala de aula é um ambiente social que forma, junto com
Podemos, agora, explicar as relações entre educação esco- a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente
lar. Pedagogia e ensino: a educação escolar, manifestação pe- organizado para cumprir os objetivos de ensino.
culiar do processo educativo global: a Pedagogia como determi- A Psicologia da Educação estuda importantes aspectos do
nação do rumo desse processo em suas finalidades e meios de processo de ensino e da aprendizagem, como as implicações
ação; o ensino como campo específico da instrução e educação das fases de desenvolvimento dos alunos conforme idades e os
escolar. Podemos dizer que o processo de ensino-aprendizagem mecanismos psicológicos presentes na assimilação ativa de co-
é, fundamentalmente, um trabalho pedagógico no qual se con- nhecimentos e habilidades. A psicologia aborda questões como:
jugam fatores externos e internos. De um lado, atuam na for- o funcionamento da atividade mental, a influência do ensino
mação humana como direção consciente e planejada, através no desenvolvimento intelectual, a ativação das potencialidades
de objetivos/conteúdos/métodos e formas de organização pro- mentais para a aprendizagem, organização das relações profes-
postos pela escola e pelos professores; de outro, essa influência sor-alunos e dos alunos entre si, a estimulação e o desperta-
externa depende de fatores internos, tais como as condições mento do gosto pelo estudo etc.
físicas, psíquicas e sócio-culturais do alunos. A Estrutura e Funcionamento do Ensino inclui questões da
A Pedagogia sendo ciência da e para a educação, estuda a organização do sistema escolar nos seus aspectos políticos e le-
educação, a instrução e o ensino. Para tanto compõe-se de ra- gais, administrativos, e aspectos do funcionamento interno da
mos de estudo próprios como a Teoria da Educação, a Didática, escola como a estrutura organizacional e administrativa, planos
a Organização Escolar e a História da Educação e da Pedagogia. e programas, organização do trabalho pedagógico e das ativida-
Ao mesmo tempo, busca em outras ciências os conhecimentos des discentes etc.21
teóricos e práticos que concorrem para o esclarecimento do seu
objeto, o fenômeno educativo. São elas a Filosofia da Educa- 21 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br

184
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O Processo Didático Pedagógico de Ensinar e Aprender racterizam o pensamento (Libâneo, 1994). Entendida como fun-
Didática é considerada como arte e ciência do ensino, o ob- damental no processo de ensino a assimilação ativa desenvolve
jetivo deste artigo é analisar o processo didático educativo e no individuo a capacidade de lógica e raciocínio, facilitando o
suas contribuições positivas para um melhor desempenho no processo de aprendizagem do aluno.
processo de ensino-aprendizagem. Como arte a didática não Sempre estamos aprendendo, seja de maneira sistemática
objetiva apenas o conhecimento por conhecimento, mas pro- ou de forma espontânea, teoricamente podemos dizer que há
cura aplicar os seus próprios princípios com a finalidade de de- dois níveis de aprendizagem humana: o reflexo e o cognitivo. O
senvolver no individuo as habilidades cognoscitivas, tornando- nível reflexo refere-se às nossas sensações pelas quais desenvol-
-os críticos e reflexivos, desenvolvendo assim um pensamento vemos processos de observação e percepção das coisas e nossas
independente. ações físicas no ambiente. Este tipo de aprendizagem é respon-
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das visões de sável pela formação de hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
Libâneo (1994), destacando as relações e os processos didáticos O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de determina-
de ensino e aprendizagem, o caráter educativo e crítico desse dos conhecimentos e operações mentais, caracterizada pela
processo de ensino, levando em consideração o trabalho do- apreensão consciente, compreensão e generalização das pro-
cente além da organização da aula e seus componentes didá- priedades e relações essenciais da realidade, bem como pela
ticos do processo educacional tais como objetivos, conteúdos, aquisição de modos de ação e aplicação referentes a essas pro-
métodos, meios de ensino e avaliação. Concluímos o nosso tra- priedades e relações (Libâneo, 1994). De acordo com esse con-
balho ressaltando a importância da didática no processo educa- texto podemos despertar uma aprendizagem autônoma, seja
tivo de ensino e aprendizagem. no meio escolar ou no ambiente em que estamos.
Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, pois contato com as coisas no ambiente, como pelas palavras que
ela situa-se num conjunto de conhecimentos pedagógicos, in- designam das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portanto
vestiga os fundamentos, as condições e os modos de realização as palavras são importantes condições de aprendizagem, pois
da instrução e do ensino, portanto é considerada a ciência de através delas são formados conceitos pelos quais podemos
ensinar. Nesse contexto, o professor tem como papel princi- pensar.
pal garantir uma relação didática entre ensino e aprendizagem O ensino é o principal meio de progresso intelectual dos
através da arte de ensinar, pois ambos fazem parte de um mes- alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos e habi-
mo processo. Segundo Libâneo (1994), o professor tem o dever lidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o professor
de planejar, dirigir e controlar esse processo de ensino, bem transmite os conteúdos de forma que os alunos assimilem esse
como estimular as atividades e competências próprias do aluno conhecimento, auxiliando no desenvolvimento intelectual, re-
para a sua aprendizagem. flexivo e crítico.
A condição do processo de ensino requer uma clara e segu- Por meio do processo de ensino o professor pode alcançar
ra compreensão do processo de aprendizagem, ou seja, deseja seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de ensino está
entender como as pessoas aprendem e quais as condições que ligada à vida social mais ampla, chamada de prática social, por-
influenciam para esse aprendizado. Sendo assim Libâneo (1994) tanto o papel fundamental do ensino é mediar à relação entre
ressalta que podemos distinguir a aprendizagem em dois tipos: indivíduos, escola e sociedade.
aprendizagem casual e a aprendizagem organizada.
a. Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, sur- O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino Crí-
ge naturalmente da interação entre as pessoas com o ambiente tico.
em que vivem, ou seja, através da convivência social, observa- De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino, ao
ção de objetos e acontecimentos. mesmo tempo em que realiza as tarefas da instrução de crian-
b. Aprendizagem organizada: É aquela que tem por fina- ças e jovens, também é um processo educacional.
lidade específica aprender determinados conhecimentos, ha- No desempenho de sua profissão, o professor deve ter em
bilidades e normas de convivência social. Este tipo de apren- mente a formação da personalidade dos alunos, não apenas no
dizagem é transmitido pela escola, que é uma organização aspecto intelectual, como também nos aspectos morais, afeti-
intencional, planejada e sistemática, as finalidades e condições vos e físicos. Como resultado do trabalho escolar, os alunos vão
da aprendizagem escolar é tarefa específica do ensino (LIBÂ- formando o senso de observação, a capacidade de exame obje-
NEO, 1994. Pág. 82). tivo e crítico de fatos e fenômenos da natureza e das relações
Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na assi- sociais, habilidades de expressão verbal e escrita. A unidade
milação ativa dos indivíduos, favorecendo um conhecimento a instrução-educação se reflete, assim, na formação de atitudes
partir das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo. e convicções frente à realidade, no transcorrer do processo de
O processo de assimilação de determinados conhecimen- ensino.
tos, habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido por meios O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto
atitudinais, motivacionais e intelectuais do aluno, sendo o pro- pelo estudo, mostrando assim a importância do conhecimento
fessor o principal orientador desse processo de assimilação ati- para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994).
va, é através disso que se pode adquirir um melhor entendi- Nesse processo o professor deve criar situações que estimu-
mento, favorecendo um desenvolvimento cognitivo. le o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os aspectos estu-
Através do ensino podemos compreender o ato de apren- dados com a realidade que vive. Essa realização consciente das
der que é o ato no qual assimilamos mentalmente os fatos e as tarefas de ensino e aprendizagem é uma fonte de convicções,
relações da natureza e da sociedade. Esse processo de assimi- princípios e ações que irão relacionar as práticas educativas dos
lação de conhecimentos é resultado da reflexão proporcionada alunos, propondo situações reais que faça com que os individuo
pela percepção prático-sensorial e pelas ações mentais que ca- reflita e analise de acordo com sua realidade (TAVARES, 2011).

185
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos ob- aula têm por finalidade proporcionar um trabalho mais signifi-
jetivos do ensino crítico e é realizado dentro do processo de cativo e bem elaborado para a transmissão dos conteúdos. O
ensino. È através desse processo que acontece a formação da estabelecimento desses caminhos proporciona ao professor um
consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os pensar indepen- maior controle do processo e aos alunos uma orientação mais
dentemente, por isso o ensino crítico, chamado assim por im- eficaz, que vá de acordo com previsto.
plicar diretamente nos objetivos sócio-políticos e pedagógicos, As indicações das etapas para o desenvolvimento da aula,
também os conteúdos, métodos escolhidos e organizados me- não significa que todas elas devam seguir um cronograma rígi-
diante determinada postura frente ao contexto das relações so- do (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende dos objetivos,
ciais vigentes da prática social, (LIBÂNEO, 1994). conteúdos da disciplina, recursos disponíveis e das característi-
È através desse ensino crítico que os processos mentais são cas dos alunos e de cada aluno e situações didáticas especificas.
desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual. Nes- Dentro da organização da aula destacaremos agora seus
se contexto os conteúdos deixam de serem apenas matérias, e Componentes Didáticos, que são também abordados em alguns
passam então a ser transmitidos pelo professor aos seus alunos trabalhos como elementos estruturantes do ensino didático.
formando assim um pensamento independente, para que esses São eles: os objetivos (gerais e específicos), os conteúdos, os
indivíduos busquem resolver os problemas postos pela socieda- métodos, os meios e as avaliações.
de de uma maneira criativa e reflexiva.
Objetivos
A Organização da Aula e seus Componentes Didáticos do São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de diver-
Processo Educacional sos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos educacio-
A aula é a forma predominante pela qual é organizado o nais expressam propósitos definidos, pois o professor quando
processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual o pro- vai ministrar a aula já vai com os objetivos definidos. Eles têm
fessor transmite aos seus alunos conhecimentos adquirido no por finalidade, preparar o docente para determinar o que se
seu processo de formação, experiências de vida, conteúdos requer com o processo de ensino, isto é prepará-lo para estabe-
específicos para a superação de dificuldades e meios para a lecer quais as metas a serem alcançadas, eles constituem uma
construção de seu próprio conhecimento, nesse sentido sendo ação intencional e sistemática.
protagonista de sua formação humana e escolar. Os objetivos são exigências que requerem do professor um
É ainda o espaço de interação entre o professor e o indi- posicionamento reflexivo, que o leve a questionamentos sobre
víduo em formação constituindo um espaço de troca mútua. A a sua própria prática, sobre os conteúdos os materiais e os mé-
aula é o ambiente propício para se pensar, criar, desenvolver e todos pelos quais as práticas educativas se concretizam. Ao ela-
aprimorar conhecimentos, habilidades, atitudes e conceitos, é borar um plano de aula, por exemplo, o professor deve levar em
também onde surgem os questionamentos, indagações e res- conta muitos questionamentos acerca dos objetivos que aspira,
postas, em uma busca ativa pelo esclarecimento e entendimen- como O que? Para que? Como? E Para quem ensinar?, e isso só
to acerca desses questionamentos e investigações. irá melhorar didaticamente as suas ações no planejamento da
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educador aula.
busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e conhe- Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que estes
cimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recursos disponí- integram o ponto de partida, as premissas gerais para o proces-
veis e das habilidades que possui para infundir no aluno o de- so pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122). Os objetivos são um
sejo pelo saber. guia para orientar a prática educativa sem os quais não haveria
Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto de uma lógica para orientar o processo educativo.
meios e condições por meio das quais o professor orienta, guia Para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de
e fornece estímulos ao processo de ensino em função da ativi- modo mais organizado faz-se necessário, classificar os objetivos
dade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e desenvolvi- de acordo com os seus propósitos e abrangência, se são mais
mento de habilidades naturais do aluno na aprendizagem edu- amplos, denominados objetivos gerais e se são destinados a de-
cacional. Sendo a aula um lugar privilegiado da vida pedagógica terminados fins com relação aos alunos, chamados de objetivos
refere-se às dimensões do processo didático preparado pelo específicos.
professor e por seus alunos. a. Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais amplos
Aula é toda situação didática na qual se põem objetivos, acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências
conhecimentos, problemas, desafios com fins instrutivos e for- postas pela realidade social e diante do desenvolvimento da
mativos, que incitam as crianças e jovens a aprender (LIBÂNEO, personalidade dos alunos (LIBANÊO, 1994- pág. 121). Por isso
1994- Pág.178). Cada aula é única, pois ela possui seus próprios ele também afirma que os objetivos educacionais transcendem
objetivos e métodos que devem ir de acordo com a necessidade o espaço da sala de aula atuando na capacitação do indivíduo
observada no educando. para as lutas sociais de transformação da sociedade, e isso fica
A aula é norteada por uma série de componentes, que vão claro, uma vez que os objetivos têm por fim formar cidadãos
conduzir o processo didático facilitando tanto o desenvolvi- que venham a atender os anseios da coletividade.
mento das atividades educacionais pelo educador como a com- b. Objetivos Específicos: compreendem as intencionalida-
preensão e entendimento pelos indivíduos em formação; ela des específicas para a disciplina, os caminhos traçados para que
deve, pois, ter uma estruturação e organização, afim de que se possa alcançar o maior entendimento, desenvolvimento de
sejam alcançados os objetivos do ensino. habilidades por parte dos alunos que só se concretizam no de-
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às correr do processo de transmissão e assimilação dos estudos
quais interesses e necessidades almeja atender, o que preten- propostos pelas disciplinas de ensino e aprendizagem. Expres-
de com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter urgen- sam as expectativas do professor sobre o que deseja obter dos
te naquele momento. A organização e estruturação didática da alunos no decorrer do processo de ensino. Têm sempre um ca-

186
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ráter pedagógico, porque explicitam a direção a ser estabeleci- namentos, propõem problemas, instiga, faz desafios nas ativi-
da ao trabalho escolar, em torno de um programa de formação. dades e o educando é o receptor ativo e atuante, que através
(TAVARES, 2001- Pág. 66). de suas ações responde ao proposto produzindo assim conheci-
mentos. O papel do professor é levar o aluno a desenvolver sua
Conteúdos autonomia de pensamento.
Os conteúdos de ensino são constituídos por um conjun- Métodos de Ensino
to de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor expõem Métodos de ensino são as formas que o professor organiza
os saberes de uma disciplina para ser trabalhado por ele e pe- as suas atividades de ensino e de seus alunos com a finalidade
los seus alunos. Esses saberes são advindos do conjunto social de atingir objetivos do trabalho docente em relação aos con-
formado pela cultura, a ciência, a técnica e a arte. Constituem teúdos específicos que serão aplicados. Os métodos de ensino
ainda o elemento de mediação no processo de ensino, pois per- regulam as formas de interação entre ensino e aprendizagem,
mitem ao discente através da assimilação o conhecimento his- professor e os alunos, na qual os resultados obtidos é assimila-
tórico, cientifico, cultural acerca do mundo e possibilitam ainda ção consciente de conhecimentos e desenvolvimento das capa-
a construção de convicções e conceitos. cidades cognoscitivas e operativas dos alunos.
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos da Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os méto-
matéria para ajudar os alunos a desenvolverem competências e dos de ensino devem corresponder à necessária unidade obje-
habilidades de observar a realidade, perceber as propriedades tivos-conteúdos-métodos e formas de organização do ensino e
e características do objeto de estudo, estabelecer relações en- as condições concretas das situações didáticas. Os métodos de
tre um conhecimento e outro, adquirir métodos de raciocínio, ensino dependem das ações imediatas em sala de aula, dos con-
capacidade de pensar por si próprios, fazer comparações entre teúdos específicos, de métodos peculiares de cada disciplina e
fatos e acontecimentos, formar conceitos para lidar com eles assimilação, além disso, esses métodos implica o conhecimento
no dia-a-dia de modo que sejam instrumentos mentais para das características dos alunos quanto à capacidade de assimi-
aplicá-los em situações da vida prática (LIBÂNEO 2001, pág. lação de conteúdos conforme a idade e o nível de desenvol-
09). Neste contexto pretende-se que os conteúdos aplicados vimento mental e físico e suas características socioculturais e
pelo professor tenham como fundamento não só a transmissão individuais.
das informações de uma disciplina, mas que esses conteúdos A relação objetivo-conteúdo-método procuram mostrar
apresentem relação com a realidade dos discentes e que sir- que essas unidades constituem a linhagem fundamental de
vam para que os mesmos possam enfrentar os desafios impos- compreensão do processo didático: os objetivos, explicitando
tos pela vida cotidiana. Estes devem também proporcionar o os propósitos pedagógicos intencionais e planejados de instru-
desenvolvimento das capacidades intelectuais e cognitivas do ção e educação dos alunos, para a participação na vida social;
aluno, que o levem ao desenvolvimento critico e reflexivo acer- os conteúdos, constituindo a base informativa concreta para al-
ca da sociedade que integram. cançar os objetivos e determinar os métodos; os métodos, for-
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma relação mando a totalidade dos passos, formas didáticas e meios orga-
entre os seus componentes, matéria, ensino e o conhecimento nizativos do ensino que viabilizam a assimilação dos conteúdos,
que cada aluno já traz consigo. Pois não basta apenas a seleção e assim, o atingimento dos objetivos.
e organização lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes os No trabalho docente, os professores selecionam e organi-
conteúdos devem incluir elementos da vivência prática dos alu- zam seus métodos e procedimentos didáticos de acordo com
nos para torná-los mais significativos, mais vivos, mais vitais, de cada matéria. Dessa forma destacamos os principais métodos
modo que eles possam assimilá-los de forma ativa e consciente de ensino utilizado pelo professor em sala de aula: método de
(LIBÂNEO, 1994 pág. 128). Ao proferir estas palavras, o autor exposição pelo professor, método de trabalho independente,
aponta para um elemento de fundamental importância na pre- método de elaboração conjunta, método de trabalho em grupo.
paração da aula, a contextualização dos conteúdos. Nestes métodos, os conhecimentos, habilidades e tarefas são
apresentados, explicadas e demonstradas pelo professor, além
a. Contextualização dos conteúdos dos trabalhos planejados individuais, a elaboração conjunta de
A contextualização consiste em trazer para dentro da sala atividades entre professores e alunos visando à obtenção de
de aula questões presentes no dia a dia do aluno e que vão con- novos conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira
tribuir para melhorar o processo de ensino e aprendizagem do designamos todos os meios e recursos matérias utilizados pelo
mesmo. Valorizando desta forma o contexto social em que ele professor e pelos alunos.22
está inserido e proporcionando a reflexão sobre o meio em que
se encontra, levando-o a agir como construtor e transformador Didática e Organização Do Ensino
deste. Então, pois, ao selecionar e organizar os conteúdos de Um breve resgate histórico da Didática no Brasil é de fun-
ensino de uma aula o professor deve levar em consideração a damental importância para compreender o lugar que essa área
realidade vivenciada pelos alunos. do conhecimento ocupa na formação do professor hoje. Isso
porque entendemos que a organização curricular dos cursos de
b. A relação professor-aluno no processo de ensino e apren- licenciatura nas novas propostas para os cursos de licenciatu-
dizagem: ras expressa a relação social básica do sistema nesse momento
O professor no processo de ensino é o mediador entre o histórico. Data de 1972 o I Encontro Nacional de Professores
indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de uma ma- de Didática realizado na Universidade de Brasília, período pós-
téria. Tem como função planejar, orientar a direção dos con- 64, momento histórico em que o planejamento educacional é
teúdos, visando à assimilação constante pelos alunos e o de- considerado “área prioritária”, integrado ao Plano Nacional de
senvolvimento de suas capacidades e habilidades. É uma ação 22 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Elieide Pereira dos
conjunta em que o educador é o promotor, que faz questio- Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da Silva Souza

187
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Desenvolvimento, e a educação passa a ser vista como fator de Por outro lado, grupos mais radicais se voltam para a alte-
desenvolvimento, investimento individual e social. Nesse mo- ração dos próprios processos de produção do conhecimento;
mento discute-se a necessidade de formar um novo professor das relações sociais. A Pedagogia dos Conflitos Sociais, de Oder
tecnicamente competente e comprometido com o programa José dos Santos (1992), base teórica da Sistematização coletiva
político-econômico do país. E a formação do professor passa a do conhecimento, proposta por Martins (1998), caminha nessa
se fazer por meio de treinamentos, em que são transmitidos os direção.
instrumentos técnicos necessários à aplicação do conhecimen- Passa-se a discutir a importância de se romper com o eixo
to científico, fundado na qualidade dos produtos, eficiência e da transmissão-assimilação dos conteúdos, ainda que críticos,
eficácia. A racionalização do processo aparece como necessi- buscando um processo de ensino que altere, na prática, suas
dade básica para o alcance dos objetivos do ensino e o planeja- relações básicas na direção da sistematização coletiva do co-
mento tem papel central na sua organização. nhecimento. Dirá Martins, (2009, p.175)
Dez anos depois, em 1982, realiza-se no Rio de Janeiro o I Um dos pontos-chave da nova proposta pedagógica encon-
Seminário A Didática em Questão num período marcado pela tra-se na alteração do processo de ensino e não apenas na al-
abertura política do regime militar instalado em 1964 e pelo teração do discurso a respeito dele. (...) não basta transmitir ao
acirramento das lutas de classe no país. futuro professor um conteúdo mais crítico; (...) é preciso rom-
Nesse momento histórico, enfatiza-se a necessidade de for- per com o eixo da transmissão-assimilação em que se distribui
mar educadores críticos e conscientes do papel da educação um saber sistematizado falando sobre ele. Não se trata de falar
na sociedade, e mais, comprometidos com as necessidades das sobre, mas de vivenciar e refletir com.
camadas populares cada vez mais presentes na escola e cedo Desse movimento resultaram alterações na organização
dela excluídos. A dimensão política do ato pedagógico torna-se das escolas, nos cursos de formação de professores, nas produ-
objeto de discussão e análise, e a contextualização da prática ções acadêmicas dos estudiosos da área e fundamentalmente
pedagógica, buscando compreender a íntima relação entre a na prática pedagógica dos professores de todos os níveis de en-
prática escolar e a estrutura social mais ampla, passa a ser fun- sino. Nesse período, os professores intensificaram suas iniciati-
damental. Esses desafios marcaram a década de oitenta como vas para fazer frente às contradições do sistema e produziram
um período de intenso movimento de revisão crítica e recons- saberes pedagógicos nas suas próprias práticas.
trução da Didática no Brasil. Nesse contexto, uma pesquisa-ensino longitudinal reali-
Ao longo da década de oitenta, as produções teóricas dos edu- zada por Martins (1998) acompanhando durante dez anos as
cadores expressam tentativas de dar conta dessa nova situação. iniciativas dos professores de todos os níveis de ensino, além
Tomando como parâmetro a questão da relação teoria-prática, da produção da área, resultou na sistematização de três mo-
podemos identificar processos distintos que procuram ampliar a mentos fundamentais, com ênfases específicas, nas discussões
discussão da Didática, iniciada por Candau (1984), em reação ao e práticas da didática na formação de professores. Esses mo-
modelo pedagógico centrado no campo da instrumentalidade. mentos, que não se anulam, mas se interpenetram, devem ser
A autora propõe uma Didática Fundamental, que, nas pa- entendidos como uma parte de um todo, quais sejam: (i) a Di-
lavras de Freitas (1995, p.22), “(...) mais do que um enfoque mensão política do ato pedagógico (1985/88); (ii) a organização
propriamente dito, foi um amplo movimento de reação a um do trabalho na escola (1989/93); (iii) a produção e sistematiza-
tipo de didática baseada na neutralidade”. ção coletivas de conhecimento (1994/2000).
Desta forma, o movimento que inicialmente incluiu uma O primeiro momento a Dimensão política do ato pedagó-
crítica e uma denúncia ao caráter meramente instrumental da gico é marcado por intensa movimentação social no Brasil, que
Didática avançou em seguida para a busca de alternativas e re- consolida novas formas de organização e mobilização quando
construção do conhecimento da área. E, em oposição ao mode- os grupos sociais se definem como classe. Passa-se, então, a dar
lo pedagógico centrado no campo da instrumentalidade, grupos ênfase à problemática política. Os professores, no seu dia-a-dia,
de educadores passam a discutir a importância de formar uma na sala de aula e na escola reclamam da predeterminação do
consciência crítica nos professores para que estes coloquem em seu trabalho por instâncias superiores, estão querendo parti-
prática as formas mais críticas de ensino, articuladas aos inte- cipar e essa participação tem um caráter eminentemente po-
resses e necessidades práticas das camadas populares, tendo lítico. A centralidade do planejamento passa a ser questionada.
em vista garantir sua permanência na escola pública. Já no final da década de oitenta e início dos anos noventa,
Propostas expressivas como a Pedagogia Históricocrítica, avança-se para as discussões em torno da organização do tra-
de Dermeval Saviani (1983), base teórica da Pedagogia Crítico- balho na escola (1989/93), segundo momento. Ocorre uma in-
-social dos Conteúdos, sistematizada por José Carlos Libâneo tensificação da quebra do sistema organizacional da escola. Os
(1985), caminham nessa direção. Do ponto de vista didático, o professores já se compreendem e se posicionam como trabalha-
ensino orienta-se pelo eixo da transmissão-assimilação ativa de dores, assalariados; organizam-se em sindicatos, participam de
conhecimentos. Dirá Libâneo (1985 p. 127-128): movimentos reivindicatórios. Na escola, vão quebrando normas,
A pedagogia crítico-social dos conteúdos valoriza a instru- tomando iniciativas que consolidem novas formas de organiza-
ção enquanto domínio do saber sistematizado e os meios de en- ção da escola e da relação professor, aluno e conhecimento.
sino, enquanto processo de desenvolvimento das capacidades À medida que se verificam alterações no interior da orga-
cognitivas dos alunos e viabilização da atividade de transmis- nização escolar, por iniciativa de seus agentes, intensifica-se a
são/assimilação ativa de conhecimentos. busca da produção e sistematização coletivas de conhecimento
Nessa proposta, o elemento central está calcado na con- e a ênfase na problemática do aluno como sujeito vai se apro-
cepção segundo a qual a aprendizagem se faz fundamentalmen- fundando. No período 1994/2000, o aluno passa a ser conce-
te a partir do domínio da teoria. A prática decorre da teoria. Daí bido como um ser historicamente situado, pertencente a uma
a importância do racional, do cognitivo, do pensamento. Nessa determinada classe, portador de uma prática social com inte-
concepção, a ação prática é guiada pela teoria. Valoriza-se o resses próprios e um conhecimento que adquire nessa prática,
pensamento sobre a ação. os quais não podem mais ser ignorados pela escola.

188
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Esse período se relaciona com os anteriores através da pro- preparação do futuro professor com recursos técnicos, tendo
blemática da interdisciplinaridade, que passa a ser uma questão em vista posterior aplicação na prática de ensino no espaço es-
importante. colar. Essa lógica se verifica nas disciplinas que compõem o cur-
Com efeito, o movimento histórico do final do século pas- rículo, incluindo as que focalizam o ensino, tais como: Didática
sado provocou uma alteração na concepção de conhecimento Geral, didática específica, metodologias específicas por área de
que deu um passo à frente em relação aos modelos anteriores. conhecimento.
Trata-se de um processo didático pautado numa concepção de Em decorrência, no que tange à articulação da Didática,
conhecimento que tem a prática como elemento básico, fazen- geral e/ou específicas, com as práticas pedagógicas desenvolvi-
do a mediação entre a realidade e o pensamento. Nessa con- das nas escolas de Educação Básica, numa primeira leitura dos
cepção a teoria não é entendida como verdade que vai guiar programas e pela entrevista com professores, verifica-se que
a ação prática, mas como expressão de uma relação, de uma o espaço da escola de Educação Básica são tidos como forma
ação sobre a realidade, que pode indicar caminhos para novas de ilustração, exemplos práticos que reafirmam os conteúdos
práticas; nunca guiá-la. Desse princípio básico, delineia-se um trabalhados nas disciplinas; ou ainda, como espaço de aplica-
modelo aberto de Didática que vai além de compreender o pro- ção dos preceitos teóricos trabalhados na universidade. Com
cesso de ensino em suas múltiplas determinações para intervir efeito, o que se observa é que a formação de professores está
nele e reorientá-lo na direção política pretendida (MARTINS, centrada no aprender a aprender habilidades específicas que
2008, p.176); ela vai expressara ação prática dos professores, garantam competência no fazer. Há uma valorização da prática,
sendo uma forma de abrir caminhos possíveis para novas ações. não mais como campo de problematização, explicação e com-
Acompanhando esse movimento, nesse momento históri- preensão dos processos de ensinar e aprender, tendo em vista a
co, algumas questões se colocam: quais são as prioridades esta- sua transformação, mas sim como espaço de demonstração de
belecidas pelos cursos de licenciaturas para a formação de pro- habilidades e competências técnicas no exercício profissional.
fessores nesse início de século? Que espaço da didática ocupa Isso implica valorização de procedimentos específicos, vincu-
nesse processo de formação? lados às áreas de conteúdo e trabalhadas nas metodologias e
A didática nas propostas curriculares das licenciaturas didáticas específicas. Verifica-se que a didática geral, enquanto
Com relação à didática nesse processo de formação em de- área do conhecimento que tem como objeto de estudo o pro-
senvolvimento nas universidades investigadas, o que se verifica cesso de ensino numa dimensão de totalidade, buscando com-
numa primeira aproximação com a estruturação desses cursos preendê-lo em suas múltiplas determinações para intervir nele
é a perda de espaço dessa área do conhecimento e a mudan- e reorientá-lo na direção pretendida, (MARTINS, 2008, p.176)
ça na sua abordagem. Em outros termos, a didática tende a vem perdendo espaço.23
priorizar aspectos específicos do fazer pedagógico, perdendo a Planejamento da ação didática.
dimensão de totalidade conquistada na década de oitenta do Na prática pedagógica atual o processo de planejamento do
século passado. ensino tem sido objeto de constantes indagações quanto à sua
Os dados coletados nos projetos pedagógicos dos cursos validade como efetivo instrumento de melhoria qualitativa do
de licenciaturas das universidades investigadas mostram que a trabalho do professor. As razões de tais indagações são múlti-
maioria dos cursos deixa de oferecer a disciplina Didática Geral plas e se apresentam em níveis diferentes na prática docente.
e volta a trabalhar o processo de ensino – seu objeto de estudo A vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado situ-
– em disciplinas específicas voltadas para as metodologias das ações bastante questionáveis nesse sentido. Percebeu-se, de
áreas de conhecimento. Essa tendência também se manifesta início, que os objetivos educacionais propostos nos currículos
na produção acadêmica da última década, conforme estudo re- dos cursos apresentam-se confusos e desvinculados da reali-
alizado sobre o estado do conhecimento (MARTINS e ROMA- dade social. Os conteúdos a serem trabalhados, por sua vez,
NOWSkI, 2008). são definidos de forma autoritária, pois os professores, via de
Em uma universidade pública do interior do Estado, por regra, não participam dessa tarefa. Nessas condições, tendem
exemplo, dos 15 (quinze) cursos oferecidos, apenas os cursos a mostrarem-se sem elos significativos com as experiências de
de Física, Química e Música apresentam a disciplina de Didática vida dos alunos, seus interesses e necessidades.
Geral. Ela é encontrada também no curso de Pedagogia com Percebe-se também que os recursos disponíveis para o de-
outras denominações: senvolvimento do trabalho didático tendem a ser considerados
a) Didática: Trabalho Pedagógico Docente; como simples instrumentos de ilustração das aulas, reduzindo-
b) Didática: Organização do Trabalho Pedagógico; -se dessa forma a equipamentos e objetos, muitas vezes até
c) Didática: Avaliação e Ensino. inadequados aos objetivos e conteúdos estudados.
Também no curso de Filosofia encontramos uma disciplina Com relação à metodologia utilizada pelo professor, ob-
denominada Didática e Teoria da Educação. Nos demais cursos, serva-se que esta tem se caracterizado pela predominância de
o processo de ensino – objeto de estudo da didática – é de- atividades transmissoras de conhecimentos, com pouco ou ne-
senvolvido através das didáticas específicas, metodologias es- nhum espaço para a discussão e a análise crítica dos conteúdos.
pecíficas, nas disciplinas de práticas de ensino e nas propostas O aluno sob esta situação tem se mostrado mais passivo do que
de estágio supervisionado. Isso se repete com alguma variação, ativo e, por decorrência, seu pensamento criativo tem sido mais
nas demais universidades investigadas. bloqueado do que estimulado. A avaliação da aprendizagem,
Com relação à articulação da disciplina Didática com as es- por outro lado, tem sido resumida ao ritual das provas periódi-
colas de Educação Básica, observa-se uma variação significativa cas, através das quais é verificada a quantidade de conteúdos
nas iniciativas desses cursos. Há uma busca pela aproximação assimilada pelo aluno.
da universidade com as escolas de Educação Básica em que es-
ses egressos irão atuar. Contudo, pode-se observar que a lógica 23 Fonte: www.webartigos.com – Texto adaptado de Lourival De Oli-
subjacente à organização desses cursos, via de regra, valoriza a veira Santos

189
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Completando esse quadro de desacertos, observa-se ainda Outro aspecto a ser lembrado é que o plano é apenas um
que o professor, assumindo sua autoridade institucional, ter- roteiro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado,
mina por direcionar o processo ensino-aprendizagem de forma esquemático, sem colorido e aparentemente sem vida. Compe-
isolada dos condicionantes históricos presentes na experiência te ao professor que o confeccionou dar-lhe vida, relevo e co-
de vida dos alunos. lorido no ato de sua execução, impregnando-o de sua perso-
No contexto acima descrito, o planejamento do ensino tem nalidade e entusiasmo, enriquecendo-o com sua habilidade e
se apresentado como desvinculado da realidade social, caracte- expressividade.24
rizando-se como uma ação mecânica e burocrática do profes-
sor, pouco contribuindo para elevar a qualidade da ação peda- A didática na formação do professor.
gógica desenvolvida no âmbito escolar. Compreender-se que o educador, é visto como “um sujeito,
No meio escolar, quando se faz referência a planejamento que junto com outros sujeitos, constrói em seu agir” (LUCKESI,
do ensino, a ideia que passa é aquela que identifica o processo 2001), entretanto o educador tem a capacidade de transformar
através do qual são definidos os objetivos, o conteúdo pragmáti- vidas por meio da educação.
co, os procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemá- Portanto sua formação pedagógica reflete em sua prática
tica de avaliação da aprendizagem, bem como a bibliografia bási- de ensino, por isso, a importância da didática, como discipli-
ca a ser consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina na, em sua formação acadêmica dos futuros educadores. Nessa
de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento adotado prerrogativa da importância da didática na formação dos edu-
pela grande maioria dos professores e que, em nome da eficiên- cadores que abordaremos neste artigo, envolvendo o estudo
cia do ensino disseminada pela concepção tecnicista de educa- sintetizado da contribuição da didática na pratica pedagógica e
ção, passou a ser valorizado apenas em sua dimensão técnica. a avaliação das diferentes tendências pedagógicas que influen-
Ao que parece, essa situação dos componentes do plano de cia a didática dos educadores no âmbito escolar.
ensino de uma maneira fragmentária e desarticulada do todo A palavra didática origina-se do grego didaktiké, traduzido
social é que tem gerado a concepção de planejamento incapaz como “arte de ensinar”. Em primeiro momento, este sentido
de dinamizar e facilitar o trabalho didático. Consideramos, con- mais originário correspondia aproximadamente a tudo aquilo
tudo, que numa perspectiva trasformadora, ou seja, o processo que é “próprio para o ensino”.
de planejamento visto sob uma perspectiva crítica de educação, O termo Didática surge das ações de Comênio (1592-1670)
passa a extrapolar a simple tarefa de se elaborar um documento em sua obra Didática Magna, e originalmente significa “a arte
contendo todos os componentes tecnicamente recomendáveis. de ensinar” que tinha como objetivo a reformar a escola e o
Após analisarmos os aspectos do processo de planejamen- ensino. E através da Didática Magna, Comenius pretendia es-
to, faremos agora uma síntese do didatismo no planejamento. tabelecer os fundamentos da “arte universal de ensinar tudo
Quando falamos em planejar o ensino, ou a ação didática, a todos”, privilegiando sobre tudo o educador, o método e o
estamos prevendo as ações e os procedimentos que o professor conteúdo.
vai realizar junto a seus alunos, e a organização das atividades Durantes séculos, a didática foi entendida como técnicas e
discentes e da experiência de aprendizagem, visando atingir os métodos de ensino, sendo uma ramificação da pedagogia que
objetivos educacionais estabelecidos. Nesse sentido, o plane- correspondia somente por “como ensinar”.
jamento de ensino torna-se a operacionalização do currículo Entretanto, a didática pode ser definida como um conjunto
escolar. de atividades organizadas pelo docente visando o favorecimen-
Assim, no que se refere ao aspecto didático, segundo HAIDT to da construção do conhecimento pelos estudantes.
(1995), planejar é: Os elementos da ação da didática constituem tradicional-
- Analisar as características da clientela (aspirações, neces- mente em: professor, aluno, conteúdo, contexto e estratégias
sidades e possibilidades dos alunos); metodológicas (PACIEVITCH, 2012).
- Refletir sobre os recursos disponíveis; Presentemente, a didática é uma ramificação da pedagogia,
- Definir os objetivos educacionais considerados mais ade- sendo uma das disciplinas fundamentais na formação dos pro-
quados para a clientela em questão; fessores, denominada por LIBÂNEO (1990, p.25) como “teoria do
- Selecionar e estruturar os conteúdos a serem assimilados, ensino” por investigar os fundamentos, as condições e as formas
distribuídos ao longo do tempo disponível para o seu desenvol- de realização do ensino.
vimento; Portanto, a didática está inteiramente associada à teoria da
- Prever e organizar os procedimentos do professor, bem educação, as teorias da organização escolar, as teorias do conhe-
como as atividades e experiências de construção do conheci- cimento e à psicologia da educação. Nesse contexto teórico a
mento consideradas mais adequadas para a consecução dos base da pratica educativa, entretanto, a didática tornou-se prin-
objetivos estabelecidos; cipal ramo da pedagogia, sendo necessária a dominação de todas
- Prever e escolher os recursos de ensino mais adequa- as teorias na integração para desenvolver uma boa pratica edu-
dos para estimular a participação dos alunos nas atividades de cativa. Assim, o professor dispõe de recursos teóricos para orga-
aprendizagem; nização e articulação dos processos de ensino e aprendizagem.
- E prever os procedimentos de avaliação mais condizentes Segundo LIBÂNEO (1990) aponta que a didática:
com os objetivos propostos. “A ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógi-
O planejamento didático também é um processo que envol- cos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em
ve operações mentais, como: analisar, refletir, definir, selecio- função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e
nar, estruturar, distribuir ao longo do tempo, e prever formas aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capaci-
de agir e organizar. O processo de planejamento da ação docen- dades mentais dos alunos (...) trata da teoria geral do ensino
te é o plano didático. Em geral, o plano didático assume a forma (1990, p.26).”
de um documento escrito, pois é o registro das conclusões do 24 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br – Por Eliane da
processo de previsão das atividades docentes e discentes. Costa Bruini

190
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
De acordo com PACIEVITCH (2012) afirma que a disciplina Durante a década de 1990, o autor destaca os movimentos
da didática deve desenvolver a capacidade crítica dos docen- da Escola Cidadã, vinculados ao Instituto Paulo Freire; a Escola
tes, no intuito que possam avaliar de forma clara a realidade do Plural em Belo Horizonte, inspirados no Relatório Jacques De-
ensino. Um dos desafios da didática é de articular os conheci- lors, publicado com título “Educação: um tesouro a descobrir”,
mentos adquiridos sobre o como, para quem, “o que” ensinar e que desenvolve propostas na perspectiva do aprender a apren-
o “por que” ensinar. der, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a convi-
Para Luckesi (2001) a função da Didática é de criar condi- ver, aprender a ser.
ções para que o educador se prepare técnica, cientifica, filosó- Além disso, Saviani (2007) escreve que o lema “aprender
fica e efetivamente para qualquer tipo de ação que irar exercer. a aprender” está ligado às ideias escolanovistas, mas na pers-
Por sua vez, existem vários elementos que formarão a didática pectiva da constante atualização para ampliar as possibilidades
do professor, e cada classe turma exigirá uma pratica diferente. de empregabilidade. Com efeito, trata-se da flexibilidade do
Entre os elementos da didática encontramos o planejamen- trabalhador para ocupar vários tipos de trabalho, o que exige
to, a metodologia e a avaliação. Para isso o professor neces- educação ao longo da vida para responder aos desafios das mu-
sitar conhecer cada um deles para desenvolver um trabalho danças constantes da reorganização dos processos produtivos,
de excelência como educador. Em outras palavras o professor com inserção de novas tecnologias e de novos processos de ges-
tem o conhecimento teórico da didática e dos métodos a ser tão das empresas.
aplicados em sala de aula. De acordo com COMENIUS (2001, Refletindo sobre esse momento histórico, Santos (2005)
p.51) expõe que “os educadores são os especialistas que estão aponta um novo modo de exigência da organização do trabalho,
mais bem-dotados para exercer a tarefa educativa, dado que, em que além da força produtiva, do tempo para a produção, há
por um lado, detém o conhecimento e por um lado conhecem o especulação das capacidades cognitivas dos trabalhadores para
método”. Portanto, como a tarefa educativa é responsabilidade a melhoria do processo de produção.
dos educadores, compete aos professores à atualização cons- Tais exigências solicitam capacidades de adaptabilidade,
tantemente, pois a competência de ensinar deve estar unida as flexibilidade, iniciativa e inovação para a melhoria dos resulta-
de aprender. O professor antes de exercer suas atividades de dos da cadeia de produção.
ensinar, deve optar por uma tendência pedagógica que orienta Estas capacidades atrelam-se a um tipo de cognição e
a sua pratica educativa, não se deve usar uma delas de forma aprendizagem para o imprevisível, para a solução de proble-
isolada em toda a sua docência. Entretanto, procurar analisar mas, planejar, tomar decisões, uso estratégico dos recursos,
cada uma e averiguar a melhor que convém ao seu desempe- regulação do processo, relacionados ao aprender a aprender.
nho acadêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação. Nesse sentido, entendemos que a perda de espaço da Di-
Atualmente, na pratica docente, existem uma mistura dessas dática, numa dimensão mais ampla, e a valorização das didá-
tendências. ticas específicas e metodologias específicas das áreas de co-
nhecimento nas atuais propostas de formação de professores
A didática e o docente expressam o novo momento do capitalismo no qual “as novas
Tendência da didática nos processos de formação de pro- formas de exploração e controle da força de trabalho exigem
fessores no momento atual um novo tipo de trabalhador, uma vez que a produtividade re-
Numa primeira aproximação com os dados da pesquisa, pousa cada vez mais na utilização do trabalho complexo” (SAN-
podemos dizer que enquanto no período de 1985 a 1988 a di- TOS, 2005, p.42).
dática trouxe como ênfase a dimensão política do ato pedagó- Ainda que os indicadores sejam desfavoráveis para a área,
gico; no período de 1989 a 1993 a área trouxe para o centro ampliar a compreensão desse momento da didática é o nosso
das discussões a questão da organização do trabalho na escola desafio. Auscultar e sistematizar os processos de formação de
e no período de 1994 a 2000 focalizou a questão da produção professores e o lugar da didática no conjunto dessas ações. 25
e sistematização coletiva de conhecimento (MARTINS, 1998). Quanto a organização do ensino veremos abaixo os entra-
Nesse início de século, esboça-se um quarto momento ca- ves que a educação infantil tem enfrentado em busca de maio-
racterizado pela ênfase na aprendizagem: “aprender a apren- res investimentos e valorização deste nível de ensino, por se
der”, que tem sua centralidade no aluno como sujeito, não mais tratar da primeira etapa que o indivíduo tem com as institui-
como um ser historicamente situado, portador de um conheci- ções de ensino, a educação infantil deveria ser inclusa no ensi-
mento que adquire na prática laboral, mas um sujeito intelectu- no obrigatório previsto na Constituição Federal de 1988. Será
almente ativo, criativo, produtivo, capaz de dominar os proces- abordada também a significativa melhoria ao atendimento do
sos de aprender (MARTINS, 2004). ensino fundamental segunda etapa da educação básica e de
A questão central é que o aluno aprenda a aprender ha- acordo com a Lei 9394/96, em seu artigo nº 32 obrigatório, e
bilidades específicas, definidas como competências, que são gratuito com duração de nove anos e matrícula a partir dos seis
previamente definidas nos programas de aprendizagem em sin- anos de idade, levando em consideração o antigo Fundo de Va-
tonia com as demandas do mercado de trabalho. lorização do Ensino Fundamental (FUNDEF), e veremos também
Assim, verifica-se que a expressão “aprender a aprender” sobre a educação de jovens e adultos (EJA), um programa do
do final do século XIX e início do século XX retorna em outras governo federal destinado a erradicar o analfabetismo no Bra-
bases. Não mais centrada no sujeito psicológico, mas no sujeito sil, pois são inúmeros os esforços nesse sentido, atualmente o
produtivo, na perspectiva neoliberal. Articula-se ao aprender governo tem investido no programa Brasil Alfabetizado (educa-
fazer da segunda metade do século XX. (MARTINS, 2008). ção de jovens e adultos), programa este que pode ser desenvol-
Sobre essa tendência, Saviani (2007), referindo-se ao final vido em parcerias com instituições não governamentais, além,
do século XX, registra que os movimentos em prol da educação das secretarias estaduais e municipais de educação.
popular perderam o vigor. 25 Texto adaptado de Pura Lúcia Oliver Martin; Joana Paulin Ro-
manowski

191
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Prioridades estabelecidas para a formação dos professo- Com relação à proposta de práticas de ensino e de estágio,
res nos cursos de licenciaturas percebemos que a instituição busca manter essa integração, ar-
Para compreender a tendência atual da formação de pro- ticulando teoria e prática entre as disciplinas de fundamentos e
fessores e o lugar da didática nessa formação, trabalhando com a ação do aluno na escola.
a concepção da teoria como expressão de uma determinada Há uma preocupação de estabelecer a estreita relação en-
prática e não de qualquer prática, desenvolvemos uma pesquisa tre as disciplinas teóricas com as didáticas específicas e meto-
tomando como campo de investigação os cursos de licenciatura dologias específicas por área de conhecimento.
de cinco universidades de grande porte do estado do Paraná. Contudo numa perspectiva de aplicação prática: “de que
Por meio de análise documental e entrevistas semiestru- forma a aprendizagem de determinado conteúdo é aplicado na
turadas, numa abordagem qualitativa de pesquisa buscamos prática...”.
analisar as tensões e prioridades dessas universidades nos pro- Já o contato direto com a escola – o estágio – mantém o
cessos de formação de professores. formato usual dessas práticas, qual seja: a observação, a parti-
Assim, nosso estudo apoia-se no entendimento de que a cipação em sala de aula junto ao professor regente e finalmente
prática não é dirigida pela teoria, mas a teoria vai expressar a a regência. Esses estágios ocorrem em escolas conveniadas e
ação prática dos sujeitos. São as formas de agir que vão deter- preferencialmente públicas.
minar as formas de pensar dos homens. Com efeito, a criação de uma coordenação geral das licen-
“A teoria pensa e compreende a prática sobre as coisas, ciaturas, forma encontrada pela instituição A para reorganizar
não a coisa. Daí, a sua única função é indicar caminhos possí- as licenciaturas tendo em vista as novas exigências do CNE,
veis, nunca governar a prática.” (BRUNO 1989, p.18). A base do tem favorecido alguns avanços na busca da articulação teoria
conhecimento é a ação prática que os homens realizam através e prática. Os agentes envolvidos tentam minimizar a dicotomia
de relações sociais, mediante instituições. O pressuposto básico teoria-prática existentes nessa formação. Contudo, observa-se
é que “o homem não reflete sobre o mundo, mas reflete a sua que não se altera a lógica da aplicação prática e a valorização do
prática sobre o mundo” (BERNARDO, 1977, v. 1, p.86). como aplicar esse conhecimento na prática.
Dessa forma, “(...) o conhecimento é sempre o conheci- Já na Universidade B criou-se o espaço do Fórum de Licen-
mento de uma prática, nunca da realidade natural ou social” ciaturas para discutir as novas exigências do CNE, buscando a
(SANTOS 1992, p.29). observância das horas exigidas. Nesse espaço os professores
Desse ponto de vista, buscamos analisar os cursos de for- discutem seus projetos de curso, as disciplinas que integram o
mação de professores procurando entender à tendência da currículo de cada licenciatura e a integração entre elas. Obser-
sua organização. Procedemos a um mapeamento das propos-
va-se uma preocupação de adequar as horas exigidas na nova
tas curriculares dos cursos para, em seguida, buscar junto aos
legislação e também de viabilizar a inserção do aluno nas esco-
agentes envolvidos no planejamento e desenvolvimento dessas
las onde irão atuar desde o primeiro semestre do curso. Essa
propostas as formas e práticas dessa formação.
busca de inserção dos alunos desde o início do curso tem sido
Uma primeira aproximação com os dados revelam que as
a marca dessa instituição. Na fala de um coordenador de curso:
instituições de educação superior estão em processo de alte-
O aluno tem a formação pedagógica desde o primeiro perí-
ração de suas propostas de cursos de licenciaturas, tendo em
odo. Ele sempre vai ter algo relacionado com a formação peda-
vista as determinações legais do Parecer 09/2001 e Resoluções
gógica e a escola. Todo um eixo que é ministrado pelo pessoal
01/2002 e 02/2002, aprovados pelos Conselho Nacional de Edu-
da educação e depois tem outra vertente que é ministrada pelos
cação. Há um movimento que busca atender à nova proposta
para os cursos de formação de professores não atrelada ao ba- próprios professores da área específica com experiência na área
charelado com iniciativas dos seus agentes, que vão desde a da escola e da licenciatura.
criação de uma coordenação geral para os cursos de Licenciatu- Observa-se que essa solução encontrada pelo grupos de
ras, fóruns de Licenciaturas até simples ajustes e redistribuição professores e coordenadores de curso discutidas no Fórum de
de carga horária das disciplinas. Licenciaturas mantido pela instituição constitui um avanço na
Uma das universidades particulares, aqui identificada pela busca de articulação teoria-prática.
letra A, por exemplo, criou uma coordenação geral dos cursos Contudo, a ênfase da formação pedagógica continua no fi-
de Licenciaturas, que tem um papel articulador nas discussões e nal do curso, o estágio a partir do 5º Período. A base epistemo-
proposições para esses cursos. A coordenadora das Licenciaturas lógica da organização desses cursos mantém a concepção da
da universidade A informa que das 800 horas regulamentadas teoria como guia da ação prática.
para estágios, 400 são distribuídas durante o curso, enquanto as Já nas instituições públicas, as alterações ficam a cargo dos
outras 400 horas são destinadas ao estágio supervisionado. departamentos e é mais evidente a manutenção da cisão: peda-
Nas palavras da coordenadora: Em média, 10% de cada gógico e conteúdos específicos, teoria e prática. Uma das uni-
uma das disciplinas devem articular suas disciplinas com práti- versidade públicas, aqui identificada pela letra c, embora tenha
ca. Quando ele aprende morfologia, por exemplo, de que forma criado uma coordenação geral para os cursos de licenciaturas,
essa aprendizagem é aplicada na prática.(...) Também temos manifesta dificuldade de viabilizar a integração almejada. Assim
grupos de estudo interdisciplinar onde nossos alunos são leva- ela se expressa:
dos à reflexão. Convocamos o CEP, convidamos pessoas das licenciaturas,
Observamos uma iniciativa de trabalhar a relação teoria e convidamos coordenadores, convocamos também o pessoal da
prática ao longo do curso e no interior de cada disciplina que educação, o pessoal de métodos, chamamos todas as pessoas e
compõe o currículo. Além disso, o grupo está buscando uma algumas pessoas ficaram.
integração das disciplinas de fundamentos comum a todas as Porém, outras saíram do processo dizendo: “essa lei não vai
licenciaturas, já que tais disciplinas eram trabalhadas de forma pegar”, é o que ocorre sempre por aí.
isolada e em tempos diferentes de acordo com o colegiado de
cada curso.

192
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Não obstante essas dificuldades, observamos que a institui- Aqui na Universidade nós oferecemos duas habilitações: ba-
ção faz um movimento para articular teoria e prática, inserindo, charelado e licenciatura... como uma recomendação da própria
nas disciplinas de conteúdo específico da área, uma articulação estrutura curricular tivemos de pensar nos núcleos de formação
com a prática de ensino daquela área. A coordenadora explica: de base e depois nos núcleos de formação específica. Os dois
Quanto àquele intem, a prática como componente curricu- primeiros anos são comuns para qualquer uma das habilitações
lar, existem mil e uma interpretações de como fazer aqui (...) e na passagem da segunda para a terceira série o aluno faz a
toda disciplina nós sabemos que tem uma dimensão prática, opção pela sua habilitação – bacharelado ou licenciatura.
tudo isso é perfeito, tudo bem, tudo certo. Você vai me con- Não obstante essa lógica dos três mais um, há uma tenta-
vencer que vai criar dentro da disciplina (...) uma ponte com a tiva de distribuir a prática, que antes era concentrada em dois
educação básica. semestres de estágio no final do curso, ao longo do curso. Nas
No entanto, não se pode ter garantia de que o professor in- palavras do coordenador:
dividualmente vá fazer isso, embora seja o desejável. Então, a co- Com o aumento da carga horária, procuramos contemplar
missão achou por bem criar uma disciplina de 1ª a 4ª séries de- às 800 horas e distribuir melhor a prática ao longo do curso.
nominada disciplina articuladora, que contempla 400 horas. Esta Tanto é que a oficina 1 e 2 surge com essa finalidade. Ela tem
deverá estar articulada à escola de educação básica e ficou a cargo um caráter prático que é de criar a identidade do estudante com
da cada colegiado de curso a definição da ementa e sua forma de a área de atuação. (...) Nós dividimos os estágios em estágio I
realização. Cada curso buscou a articulação com a prática das esco- e 2 que é de formação mais conceitual; o estágio 3 que tem a
las, respeitando as peculiaridades de cada área do conhecimento. finalidade da regência de classe, tem a finalidade de integrar
teoria e prática na licenciatura.
A coordenadora explica: Observa-se que a tentativa de tratar da prática ao longo do
Os colegiados foram achando suas peculiaridades. Você tem curso mantém a lógica do esquema três mais um garantindo a
matéria de instrumentação no ensino de matemática, matérias articulação teoria e prática no último estágio do curso.
como laboratório de física e ciências e tem ensino de biologia. O Também a Universidade pública e, para atender as 800 ho-
mais bonito foi que eles foram chegando, sem imposição, a cer- ras de estágio regulamentadas pelo CNE, evidencia que alguns
tos denominadores comuns. Eles estudam toda a legislação per- cursos tendem a aumentar a quantidade de disciplinas que pro-
tinente à educação, os PCNs e fazem uma ligação com a escola movem a prática dos alunos, enquanto outros procuram desen-
básica. Essa disciplina envolve todos os professores da série. (...) volver no interior das disciplinas de conteúdos específicos al-
era sempre o que se quis: que as licenciaturas pensassem sem-
gum tipo de relação com a prática de ensino. Há uma ênfase na
pre em educação básica e em ensino. Não se bacharelassem.
formação teórica sólida para garantir uma prática consequente.
Com relação aos estágios, estes acontecem da metade do
Nas palavras de uma coordenadora:
curso para o final e, segundo a coordenadora, alguns cursos es-
Nós temos 240 horas de estágio de docência e 240 horas de
tão indo muito bem, enquanto outros têm encontrado muitas
estágio na função propriamente dita do pedagogo nas dimen-
dificuldades. Nas palavras dela:
sões de organizações de trabalhos pedagógicos de passes esco-
Isso é um calcanhar de Aquiles. (...) o estágio é da segunda
lares e não escolares e temos outras dimensões que é a questão
metade do curso para frente. Então em alguns cursos está indo
da pesquisa (...) o pedagogo pesquisador. (...) Além desses es-
muito bem e em alguns cursos está indo muito mal. (...) Pelo
tágios que dá um total de 480 horas, nós temos algumas disci-
pouco que eu sei a universidade já tem uma caminhada de con-
quistas com a escola. (...) Primeiro a universidade conquistou as plinas facilmente ligadas à prática... Não abrimos mão de uma
escolas e depois foi para dentro das escolas. sólida formação teórica. Essa lógica está presente na totalidade
Observa-se uma preocupação e um movimento no sentido dos cursos e os estágios concentram-se no final dos cursos. Ob-
de aproximar os professores em formação com as escolas de serva-se que as ações para adequar os cursos às novas normas
educação básica, e cada curso a seu modo vai buscando essa ficam a cargo dos colegiados de cursos e não há um espaço,
aproximação. No entanto a prática ali desenvolvida não avança uma coordenação geral onde essas discussões possam ocorrer,
no sentido de promover uma reflexão a partir das iniciativas tendo em vista uma integração entre os cursos.
dos professores na busca de equacionar os problemas que en- Com efeito, as discussões nesses espaços – fóruns, coor-
frentam nesse espaço escolar. Além disso, a manutenção dos denações de Licenciaturas – indicadas pelos entrevistados, as
estágios no final do curso indica a manutenção da lógica das formas como encaminham a ampliação de tempo de estágio na
escolas como espaço de aplicação dos conteúdos das disciplinas determinação das 800 horas, nos possibilitam perceber a estru-
teóricas. tura do pensamento educacional que está na base da organiza-
Dentre as universidades públicas pesquisadas, a Univer- ção desses cursos e a forma como concebem e encaminham a
sidade D é a que deixa clara a manutenção do esquema três articulação teoria e prática na formação do professor.
mais um. A maioria dos coordenadores de cursos afirmou que Nesse sentido, percebemos que ainda é marcante a con-
para atender a resolução foram criadas disciplinas práticas e cepção de que uma formação teórica sólida garante uma prá-
ampliada a carga horária de estágio nos dois últimos anos. A tica consequente. Os encaminhamentos, com raras exceções,
coordenadora do curso de Letras aponta que a carga horária invariavelmente situam o momento da prática nos anos finais
das disciplinas teóricas foi reduzida em função do aumento das do curso, antecedida pela formação teórica.
horas de estágio. A Didática e a formação profissional do professor
A maioria regista que o currículo foi alterado e as mudanças A formação do professor abrange, pois, duas dimensões:
estão em processo de implantação a partir de 2009. a formação teórico-científica, incluindo a formação acadêmica
Na fala de um coordenador fica clara a preocupação com os específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se
fundamentos teóricos nos anos iniciais para posterior formação e a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos da
pedagógica, implicando opção do aluno após dois anos e meio Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Peda-
de curso. Assim ele se expressa: gogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno edu-

193
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
cativo no contexto histórico-social; a formação técnico-prática • Orientar as tarefas de ensino para objetivo educativo de
visando a preparação profissional específica para a docência, formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolhe-
incluindo a Didática as metodologias específicas das matérias, a rem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções que
Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras. norteiem suas opções diante dos problemas e situações da vida
A organização dos conteúdos da formação do professor em real (LIBÂNEO, 1994, Pág. 71).
aspectos teóricos e práticos de modo algum significa considera- Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é funda-
-los isoladamente. São aspectos que devem ser articulados. As mental que o professor tenha clareza das finalidades que ele
disciplinas teórico-científicas são necessariamente referidas a tem em mente, a atividade docente tem a ver diretamente com
prática escolar, de modo que os estudos específicos realizados “para que educar”, pois a educação se realiza numa sociedade
no âmbito da formação acadêmica sejam relacionados com os que é formada por grupos sociais que tem uma visão diferente
de formação pedagógica que tratam das finalidades da educa- das finalidades educativas.
ção e dos condicionantes históricos, sociais e políticos da esco- Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos, con-
la. Do mesmo modo, os conteúdos das disciplinas específicas dições e meios de realização do processo de ensino, ligando
precisam ligar-se às suas exigências metodológicas. As discipli- meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Não há
nas de formação teórico-prática não se reduzem ao mero domí- técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de socie-
nio de técnicas e regras, mas implicam também os aspectos te- dade, sem uma competência técnica para realiza-la educacio-
óricos, ao mesmo tempo que fornecem à teoria os problemas e nalmente, portanto o ensino deve ser planejado e ter propó-
desafios da prática. A formação profissional do professor impli- sitos claros sobre suas finalidades, preparando os alunos para
ca, pois, uma contínua interpenetração entre teoria e prática, viverem em sociedade.
a teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência É papel de o professor planejar a aula, selecionar, organizar
prática orientada teoricamente. os conteúdos de ensino, programar atividades, criar condições
Nesse entendimento, a Didática se caracteriza como me- favoráveis de estudo dentro da sala de aula, estimular a curio-
diação entre as bases teórico-científicas da educação escolar sidade e criatividade dos alunos, ou seja, o professor dirige as
e a prática docente. Ela opera como que uma ponte entre o atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se
“o que” e o “como” do processo pedagógico escolar. Para isso tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem.
recorre às contribuições das ciências auxiliares da Educação e Entretanto é necessário que haja uma interação mútua en-
das próprias metodologias específicas. É, pois, uma matéria de tre docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos não
estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais.
obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, formação pe- Podemos dizer que o processo didático se baseia no con-
dagógica e formação técnico-prática, provendo o que é comum, junto de atividades do professor e dos alunos, sob a direção
básico e indispensável para o ensino de todas as demais disci- do professor, para que haja uma assimilação ativa de conheci-
plinas de conteúdo. mentos e desenvolvimento das habilidades dos alunos. Como
A formação profissional para o magistério requer, assim, diz Libâneo (1994), é necessário para o planejamento de ensino
uma sólida formação teórico-prática. Muitas pessoas acreditam que o professor compreenda as relações entre educação esco-
que o desempenho satisfatório do professor na sala de aula de- lar, os objetivos pedagógicos e tenha um domínio seguro dos
pende de vocação natural ou somente da experiência prática, conteúdos ao qual ele leciona, sendo assim capaz de conhecer
descartando-se a teoria. É verdade que muitos que muitos pro- os programas oficiais e adequá-los ás necessidades reais da es-
fessores manifestam especial tendência e gosto pela profissão, cola e de seus alunos.
assim como se sabe que mais tempo de experiência ajuda no Um professor que aspira ter uma boa didática necessita
desempenho profissional. Entretanto, o domínio das bases te- aprender a cada dia como lidar com a subjetividade do aluno,
órico-científicas e técnicas, e sua articulação com as exigências sua linguagem, suas percepções e sua prática de ensino. Sem
concretas do ensino, permitem maior segurança profissional, essas condições o professor será incapaz de elaborar proble-
de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e mas, desafios, perguntas relacionadas com os conteúdos, pois
aprimore sempre mais a qualidade do seu trabalho. 26 essas são as condições para que haja uma aprendizagem signi-
ficativa. No entanto para que o professor atinja efetivamente
A Didática e o Trabalho Docente seus objetivos, é preciso que ele saiba realizar vários processos
Como vimos anteriormente à didática estuda o processo de didáticos coordenados entre si, tais como o planejamento, a
ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos fazem direção do ensino da aprendizagem e da avaliação (LIBÂNEO,
parte, de modo a criar condições que garantam uma aprendiza- 1994).
gem significativa dos alunos. Ela ajuda o professor na direção,
orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, dando a A Profissão Docente e sua Repercussão Social
ele uma segurança profissional. Segundo Libâneo (1994), o tra- Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a parte inte-
balho docente também chamado de atividade pedagógica tem grante do processo educativo mais global pelo qual os membros
como objetivos primordiais: da sociedade são preparados para a participação da vida social.
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro Com essas palavras Libâneo deixa bem claro o importante e es-
possível dos conhecimentos científicos; sencial papel do professor na inserção e construção social de
• Criar as condições e os meios para que os alunos desen- cada individuo em formação. O educador deve ter como princi-
volvam capacidades e habilidades intelectuais de modo que do- pal e fundamental compromisso com a sociedade formar alunos
minem métodos de estudo e de trabalho intelectual visando a que se tornem cidadãos ativos, críticos, reflexivos e participati-
sua autonomia no processo de aprendizagem e independência vos na vida social.
de pensamento;
26 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br

194
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O docente no processo de ensino e aprendizagem é a ponte
de mediação entre o aluno em formação e o meio social no qual ASPECTOS PEDAGÓGICOS E SOCIAIS DA PRÁTICA EDU-
está inserido; uma vez que ele vai através de instruções, con- CATIVA, SEGUNDO AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
teúdos e métodos orientar aos seus alunos a viver socialmente.
Sendo a educação um fenômeno social necessário à existência A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ATUALIDADE
e funcionamento de toda a sociedade, exige-se a todo instante O processo educacional sempre foi alvo de constantes dis-
do professor as competências técnicas e teóricas para a trans- cussões e apontamentos que motivaram sua evolução em vá-
missão desses conhecimentos que são essenciais para a manu- rios aspectos, principalmente no que tange a condução de me-
tenção e progresso social. todologias de ensino por nossos educadores e a valorização do
O processo educacional, notadamente os objetivos, conte- contexto escolar formador para nossos alunos. Nesse aspecto
údos do ensino e o trabalho do professor são regidos por uma GADOTTI (2000:4), pesquisador desse processo afirma que,
série de exigências da sociedade, ao passo que a sociedade re- Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade An-
clama da educação a adequação de todos os componentes do tiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicio-
ensino aos seus anseios e necessidades. Porém a prática edu- nal iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela
cativa não se restringe as exigências da vida em sociedade, mas sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade
também ao processo de promover aos indivíduos os saberes e trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de
experiências culturais que o tornem aptos a atuar no meio so- forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se
cial e transformá-lo em função das necessidades econômicas, nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas con-
sociais e políticas da coletividade (LIBÂNEO, 1994 pág.17). O quistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das
professor deve formar para a emancipação, reflexão, criticida- metodologias de ensino. O conceito de “aprender fazendo” de
de e atuação social do indivíduo e não para a submissão ou o John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições
comodismo. definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradi-
Com este conteúdo podemos perceber o importante papel cional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas,
que a didática desempenha no processo de ensino e aprendiza- terão um lugar garantido na educação do futuro. (GADOTTI, M.
gem. Como vimos ela proporciona os meios, as condições pelos Perspectivas atuais da educação, 2000)
quais a prática educacional se concretiza. Ela orienta o traba-
lho do professor fazendo-o significativo para que possa guiar Diante de enumeras transformações sociais, onde informa-
de forma competente, expressiva e coerente as práticas de en- ções e descobertas acontecem em frações de segundo, o pro-
sino. Através dos componentes que constituem o processo de cesso de desenvolvimento da escola entra na pauta como um
ensino, visa propiciar os meios para a atividade própria de cada dos mais importantes aspectos a serem discutidos neste pro-
aluno, busca ainda formá-los para serem indivíduos críticos, re- cesso, pois é nela que são promovidas as mais importantes for-
flexivos capazes de desenvolverem habilidades e capacidades mulações teóricas sobre o desenvolvimento cultural e social de
intelectuais. todas as nações, dessa forma, a pesquisa educacional acaba to-
Para que toda prática educativa seja efetiva, o professor mando um lugar central na busca de perspectivas que possibili-
precisa conhecer a didática enquanto conteúdo específico, isto tem uma nova prática educacional, envolvendo principalmente
ajudara em sua formação no âmbito escolar discernindo as di- os agentes que conduzem o ambiente escolar, transformando
ferentes formas de educar e as diversificadas tendências peda- o ensino em parte integrante ou principal na motivação dessas
gógicas buscando a melhor pratica para desenvolver em cada transformações.
turma estudantil. Mas a prática educativa não pode suceder de Com as constantes modificações sofridas por nossa socie-
forma espontânea, sem um planejamento, metas e instrumen- dade no decorrer do tempo, dentre elas o desenvolvimento de
tos a ser aplicados em sala de aula. Segundo Marinho e Ferrei- tecnologias e o aprimoramento de um modo de pensar menos
ra (2012) o professor tendo posse desses conhecimentos, terá autoritário e menos regrado, os agentes educacionais e a es-
uma variedade de metodologias e concepção que auxiliarão a cola de uma maneira geral, vêm vivenciando um processo de
elaborar seus planejamentos e sua didática em sala de aula. Por mudança que tem refletido principalmente nas ações de seus
isso é fundamental o professor tem uma excelente formação alunos e na materialização destas no contexto escolar, fato
em didática no curso de graduação conhecendo diversos tipos que tem se tornado ponto de dificuldade e insegurança entre
de abordagens de práticas educativas, pois ele exercer a função professores e agentes escolares de forma geral, configurando
de educador e disseminador de conhecimento aos discentes no em forma de comprometimento do processo ensino-aprendiza-
processo de ensino e aprendizagem. gem, sobre isso, GADOTTI (2000:6) afirma que,
Para exercer uma pratica educativa de qualidade, os profis-
sionais da educação precisam ter um pleno “domínio das bases Neste começo de um novo milênio, a educação apresen-
teóricas cientificas e tecnológicas, e sua articulação com as exi- ta- se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do
gências concretas do ensino” (LIBANÊO, 2002, p.28), por meio sistema escolar não tem dado conta da universalização da edu-
desse domínio que ele poderá estar revendo, analisando e apri- cação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas
morando sua prática educativa. não apresentam ainda a consistência global necessária para in-
Essa concepção de didática visa auxiliar na compreensão dicar caminhos realmente seguros numa época de profundas
crítica da arte de ensinar.27 e rápidas transformações.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da
educação, 2000)

27 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Elieide Pereira dos A escola contemporânea sofre com o desenvolvimento ace-
Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da Silva Souza /www.nu- lerado que ocorre a sua volta, onde as informações são atua-
cleodoconhecimento.com.br lizadas em frações de segundos, ocasionando de certa forma,

195
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
o desgaste e o comprometimento das ações voltadas para o de bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as crian-
aprimoramento do ensino, fazendo com que a sala de aula se ças e jovens, na busca de uma informação que os faça crescer e
torne um ambiente de pouca relevância para a consolidação do não embrutecer.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação,
conhecimento, tornando a vivência social o requisito primordial 2000)
para a busca de aprendizado, sobre essa escola, AMÉLIA HAMZE
(2004:1) afirma em seu artigo “O Professor e o Mundo Contem- Segundo Ladislau Dowbor (1998:259), a escola deixará de
porâneo”, que ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Prosse-
Como educadores não devemos identificar o termo infor- gue dizendo que pela primeira vez a educação tem a possibilida-
mação como conhecimento, pois, embora andem juntos, não de de ser determinante sobre o desenvolvimento. A educação
são palavras sinônimas. Informações são fatos, expressão, opi- tornou-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso,
nião, que chegam as pessoas por ilimitados meios sem que se não basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso
saiba os efeitos que acarretam. Conhecimento é a compreen- transformá-la profundamente.
são da procedência da informação, da sua dinâmica própria, e
das conseqüências que dela advem, exigindo para isso um certo O professor nesse contexto deve ter em mente a necessi-
grau de racionalidade. A apropriação do conhecimento, é feita dade de se colocar em uma postura norteadora do processo
através da construção de conceitos, que possibilitam a leitura ensino-aprendizagem, levando em consideração que sua prá-
critica da informação, processo necessário para absorção da li- tica pedagógica em sala de aula tem papel fundamental no de-
berdade e autonomia mental.(HAMZE, A .O professor e o mun- senvolvimento intelectual de seu aluno, podendo ele ser o foco
do contemporâneo, 2004) de crescimento ou de introspecção do mesmo quando da sua
É perceptível que o saber cientifico e a busca pelo conhe- aplicação metodológica na condução da aprendizagem. Sobre
cimento, tem fugido do interesse da sociedade em geral, pois essa prática, GADOTTI (2000:9) afirma que “nesse contexto, o
a atualização das informações tem ocorrido de forma acessível educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno
a todos os segmentos satisfazendo de uma forma geral aos in- que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir
teresses daqueles que as buscam. A escola nesse contexto tem conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa
por opção repensar suas ações e o seu papel no aprimoramento ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sen-
do saber, e para isso, uma reflexão sobre seus conceitos didá- tidos para o que fazer dos seus alunos”.
tico-metodológicos precisa ser feita, de forma a adequar-se ao Ele afirma ainda que,
momento atual e principalmente colocar-se na postura de orga-
nização principal e mais importante na evolução dos princípios Os educadores, numa visão emancipadora, não só transfor-
fundamentais de uma sociedade, DOWBOR (1998:259), sobre mam a informação em conhecimento e em consciência crítica,
essa temática diz que, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da
palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da
...será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do pas- sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem
sado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para superar as con- fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimen-
dições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as condições para to), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para
aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias. a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
(DOWBOR, L. A Reprodução Social, 1998) produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são impres-
cindíveis.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, 2000)
GADOTTI (2000:8), sobre o assunto afirma que seja qual
for à perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma HAMZE (2004:1) em seu artigo “O Professor e o Mundo
educação voltada para o futuro será sempre uma educação con- Contemporâneo” considera que
testadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo Os novos tempos exigem um padrão educacional que esteja
mercado, portanto, uma educação muito mais voltada para a voltado para o desenvolvimento de um conjunto de competên-
transformação social do que para a transmissão cultural. cias e de habilidades essenciais, a fim de que os alunos possam
fundamentalmente compreender e refletir sobre a realidade,
Dessa Forma, a prática pedagógica dos agentes educacio- participando e agindo no contexto de uma sociedade compro-
nais no momento atual, bem como a condução do processo metida com o futuro. (HAMZE, A .O professor e o mundo con-
ensino-aprendizagem na sociedade contemporânea, precisa ter temporâneo, 2004)
como primícia a necessidade de uma reformulação pedagógica
que priorize uma prática formadora para o desenvolvimento, Assim, faz-se necessário à busca de uma nova reflexão no
onde a escola deixe de ser vista como uma obrigação a ser cum- processo educativo, onde o agente escolar passe a vivenciar es-
prida pelo aluno, e se torne uma fonte de efetivação de seu sas transformações de forma a beneficiar suas ações podendo
conhecimento intelectual que o motivará a participar do pro- buscar novas formas didáticas e metodológicas de promoção
cesso de desenvolvimento social, não como mero receptor de do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem com isso
informações, mas como idealizador de práticas que favoreçam ser colocado como mero expectador dos avanços estruturais de
esse processo, nossa sociedade, mas um instrumento de enfoque motivador
desse processo.
Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússo-
la para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão
utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a competiti-
vidade, para obter resultados. Deve oferecer uma formação ge-
ral na direção de uma educação integral. O que significa servir

196
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
De acordo com as tendências pedagógicas temos:

197
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
As tendências libertadora e libertária têm em comum o an- Fazer a ponte de comunicação entre todos os envolvidos no
tiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como base processo educacional
da relação educativa e a ideia de autogestão pedagógica. Dando O papel do coordenador pedagógico na escola também é
mais valor ao processo de aprendizagem grupal (participação fazer a ponte entre todos os agentes envolvidos no processo
em discussões, assembleias, votações) do que aos conteúdos de aprendizagem dos alunos. Ele deve avaliar as necessidades
de ensino. e os interesses de cada um deles, além de atuar de forma a so-
A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos pro- lucionar conflitos e alinhar expectativas em relação ao serviço
põe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e re- oferecido pela escola.
novada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na Dessa maneira, o profissional consegue melhorar o ambien-
prática social concreta. te educacional e potencializar a aprendizagem dos alunos.

Estruturar o projeto político-pedagógico da escola


COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA. COORDENAÇÃO PEDA- O projeto político-pedagógico da escola é o que vai reger
GÓGICA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO CONTINUADA todas as atividades durante o ano letivo. E o papel do coorde-
nador pedagógico na escola é articular um projeto que esteja
Existem diversos atores que fazem parte do processo de o mais alinhado possível com as expectativas dos pais e alunos
aprendizagem dentro de uma escola, como: alunos, família, — sem deixar os valores da instituição de ensino e de seus pro-
professores e direção. Nem sempre os profissionais conseguem fessores de lado.
se comunicar da maneira adequada e alinhar seus esforços em É ele que deve definir o método de avaliação a ser utilizado,
função de um mesmo objetivo. a estrutura das aulas e o currículo exigido.
Além disso, cada um costuma manter como foco principal
suas tarefas diretas, podendo perder a noção do projeto peda- A coordenação pedagógica e a formação continuada
gógico como um todo. E é exatamente aí que entra a figura do É necessário um trabalho em equipe onde a escola possa
coordenador pedagógico. desenvolver projetos que venham envolver família, escola e co-
munidade. Pois sabemos que para uma educação de boa quali-
Esse profissional tem a função de articular e manter todos
dade não depende só do educador, só da formação continuada
os atores do processo de aprendizagem em torno de um úni-
dos mesmos, mas de todo o sistema social.
co objetivo: colocar o projeto político pedagógico proposto em
Dentro dessa proposta pedagógica sabemos a importância
prática.
da formação continuada dos professores.
Ele também é o responsável por diagnosticar os principais
Assim sendo, na relação de ensino estabelecida na sala de
problemas e gargalos do processo proposto na realidade esco-
aula, o professor precisa ter o entendimento de que ensinar
lar. Dessa forma, é possível realizar modificações com a finali-
não é simplesmente transferir conhecimento, mas, ao contrá-
dade de que a escola alcance suas principais metas propostas.
rio, é possibilitar ao aluno momentos de reelaboração do saber
Qual o papel do coordenador pedagógico na escola?
dividido, permitindo o seu acesso critico a esses saberes e con-
tribuindo para sua atuação como ser ativo e crítico no processo
Acompanhar o desempenho dos alunos histórico-cultural da sociedade.
O papel do coordenador pedagógico na realidade escolar é De fato, este é o verdadeiro papel do professor mediador
acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos da insti- que almeja através da sua ação pedagógica ensinar os conhe-
tuição de ensino, tanto individual quanto coletivamente. É esse cimentos construídos e elaborados pela humanidade ao longo
profissional que tem a função de avaliar o rendimento escolar da história e assim contribuir na formação de uma sociedade
dos estudantes e buscar a causa de possíveis problemas. pensante.
Além disso, ele consegue ter uma visão do processo de Como elemento importante nessa postura do professor
aprendizagem na escola como um todo, avaliando o desempe- mediador, temos a questão da contínua preparação desse pro-
nho do conjunto de integrantes de uma turma. fissional, que se dá através da formação continuada.
A formação teórica e a prática poderão contribuir para o
Selecionar os métodos e materiais a serem utilizados melhoramento da qualidade de ensino visto que as mudanças
Esse profissional é o responsável por selecionar as melho- sociais que poderão gerar transformações no que tange ao en-
res estratégias de aprendizagem que serão utilizadas na insti- sino-aprendizagem são decorrentes de um ensino de qualidade,
tuição. Sua missão é levar o que há de mais novo para a escola, onde será necessária uma qualificação profissional e pessoal.
inovando nos métodos e materiais utilizados. Nesse sentido os educadores poderão refletir sobre sua
O papel do coordenador pedagógico na escola é também prática e a partir daí procurar aperfeiçoamentos que poderão
selecionar os livros e demais materiais didáticos que serão utili- ser cursos de graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado
zados, de acordo com o projeto pedagógico do estabelecimen- ou até mesmo palestras, seminários, leituras de livros entre
to. eles os de grandes teóricos da educação. A partir do estudo dos
mesmos confrontar as idéias, experiências vivenciadas pelos
Monitorar o desempenho dos professores mesmos e fazer a associação com os problemas enfrentados
O desempenho dos professores em sala de aula também na prática docente a fim de uma resposta para os problemas
deve ser monitorado, garantindo, assim, que os objetivos edu- enfrentados em sala de aula. Por isso, há a necessidade do edu-
cacionais propostos sejam atingidos. Portanto, é papel do coor- cador fazer um paralelo entre a teoria e a prática, visto que, um
denador pedagógico acompanhar tais educadores. depende do outro. Sabemos que o educador não é valorizado o
O profissional avaliará as aulas ofertadas e as metodologias suficiente pelo trabalho que desenvolve, no entanto, nem por
de ensino utilizadas para, dessa forma, identificar os pontos isso o mesmo deixará de ir em busca de formação para melhor
fortes e fracos em sua equipe docente. desempenhar o seu trabalho.

198
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A formação e o trabalho docente é uma questão importan- Nesse sentido, a educação inicial de professores deve ter
te uma vez que o mesmo deve estar consciente que sua for- como primeiro referencial, normas legais e recomendações
mação deve ser contínua e está relacionada ao seu dia-a-dia, pedagógicas da educação básica, uma vez que esse período de
segundo Nóvoa (2003 p.23) “O aprender contínuo é essencial e formação é definido como uma política pública. O objetivo da
se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e formação inicial é possibilitar aos professores, conhecimentos
a escola como lugar de crescimento profissional permanente”. básicos que lhes propiciem o desempenho da ação docente. No
Para este estudioso a formação continuada se dar de maneira entanto, a formação de um professor está longe de terminar
coletiva e depende de experiência, reflexões como instrumen- na formação inicial, esta é apenas uma etapa fundamental que
tos de análise. possibilita as orientações iniciais sobre o trabalho que o profes-
O docente não pode se privar de estudar, grande são os sor irá desenvolver.
desafios que o profissional enfrenta, mas manter-se atualizado
e desenvolver prática pedagógica é indispensável para que haja Formação Continua – Desenvolvimento de competências
maior mobilização na formação de professores, é necessário profissional, atualização dos saberes e da relação teoria/prática
criar condições favoráveis tanto na formação continuada quan- dos profissionais, de acordo com o contexto de sua atuação.
to na valorização do mesmo. Processo organizado de aprendizagem contínua ao longo
Para Romanowski (2009, p. 138) da vida profissional que fornece meios específicos, com vista
“A formação continuada é uma exigência para os tempos a permitir o desenvolvimento pessoal e profissional do docen-
atuais. Desse modo, pode-se afirmar que a formação docente te, e a melhoria da qualidade do ensino. Este tipo de formação
acontece em continuum, iniciada com a escolarização básica, abrange várias modalidades como:
que de pois se complementa nos cursos de formação inicial, com
instrumentalização do professor para agir na prática social, Formação institucional
para atuar no mundo e no mercado de trabalho”. • Formação em serviço
Os docentes precisam de qualificação tanto na área peda- • Formação em grupo de estudo
gógica como nos campos específicos do conhecimento. A forma- • Auto formação -
ção inicial deve passar por reformulação profundas. Isso implica
em garantir ao profissional um conhecimento básico para a sua Todas essas ações visam o sentido do profissionalismo e da
atuação no âmbito escolar, pois a aprendizagem ocorre quando ação docente, vinculando-as ao desenvolvimento da qualidade
por meio de uma experiência mudamos nosso conhecimento da educação.
anterior sobre uma ideia, comportamento ou conceito. Nesse
sentido procuramos sempre adquirir conhecimentos seja atra- Princípios e Diretrizes da Formação Continuada:
vés de uma graduação, pós-graduação, seminários, palestras, • A formação continuada é exigência da atividade profissio-
encontros pedagógicos em fim todos os cursos que venham nal no mundo atual;
contribuir para a nossa formação pessoal e profissional. Além • A formação continuada deve ter como referência a práti-
disso, colocamos em prática o que aprendemos no exercício da ca docente e o conhecimento teórico;
profissão com o desejo de contribuir para um melhor desempe- • A formação continuada vai além da oferta de cursos de
nho, uma melhor aprendizagem dos alunos. atualização ou treinamento;
Estudos indicam que existe necessidade de que o professor • A formação para ser continuada deve integrar-se no dia-
seja capaz de refletir sobre a sua prática e direcioná-la segundo -a-dia das Instituições (escola);
a realidade em que atua, voltada aos interesses e das neces- • A formação continuada é componente essencial da profis-
sidades dos alunos. Nesse aspecto, Freire, (1996, p.43) afirma sionalização docente
que: “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é
que pode melhorar a próxima prática”. Dessa forma há uma ne- Educação Continuada não é um conceito novo, mas nestes
cessidade de o educador adequar o conteúdo ao nível cognitivo últimos anos vem ganhando especial relevância, tendo em vista
e a experiência das crianças para que os mesmos possam ser as recentes transformações no mundo do trabalho e no conjun-
compreendidos por qualquer aluno. to da sociedade. Educação Continuada é aquela que se realiza
Para maior mobilização de conceito de reflexão na forma- ao longo da vida, continuamente, é inerente ao desenvolvimen-
ção de professores é necessário criar condições de trabalho to da pessoa humana e relaciona-se com a ideia de construção
em equipe entre discente. Sendo assim isso sugere que a escola do ser. Abarca, de um lado, a aquisição de conhecimentos e
deve criar espaço para seu crescimento. Além de bons salários aptidões e, de outro, atitudes e valores, implicando no aumen-
e de formação adequada é preciso garantir uma gestão escolar to da capacidade de discernir e agir. Essa noção de educação
competente, onde acabe com o isolamento da sala de aula. Nes- envolve todos os universos da experiência humana, além dos
se sentido, Shôn (1997, p.87) nos diz que: sistemas escolares ou programas de educação não-formal. Edu-
A formação profissional está relacionada à aquisição de co- cação Continuada implica repetição e imitação, mas também
nhecimentos fundamentais, capacidades práticas, atitudes e for- apropriação, ressignificação e criação. Enfim, a ideia de uma
mas de comportamento que constituem base indispensável para Educação Continuada associa-se à própria característica dis-
o exercício de uma profissão ou grupo de profissões, com vista tintiva dos seres humanos, a capacidade de conhecer e querer
a uma especialização posterior ou à ocupação imediata de um saber mais, ultrapassando o plano puramente instintivo de sua
posto de trabalho para a concretização da práxis profissional. relação com o mundo e com a natureza. 28
A formação inicial é a etapa de preparação formal de fu-
turos professores numa instituição específica, propiciando-lhes
aquisição de conhecimentos pedagógicos e disciplinares especí-
ficos, como também, conceitos teórico-práticos. 28 Texto adaptado de Elicio Gomes Lima

199
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
No ambiente escolar Organização da rotina garante o horário de trabalho cole-
Tempo para que os professores estudem. Um bom plane- tivo
jamento dos horários de trabalho coletivo. A presença de um Todo mundo que trabalha em escola sabe que o ideal seria
formador que tenha a confiança e o respeito da equipe. Todos o coordenador pedagógico poder se dedicar apenas à formação
esses elementos fazem parte do que se chama de formação dos professores. Mas ele acaba assumindo diversas outras fun-
continuada - ou em serviço. Embora algumas redes ofereçam ções. Segundo Ana Archangelo, professora do Departamento de
essa capacitação para os docentes, o melhor espaço para colo- Psicologia da Educação da Universidade Estadual de Campinas
cá-la em prática é na própria escola, sob o comando do coorde- (Unicamp), no interior de São Paulo, o dia a dia dos coordena-
nador pedagógico. dores costuma ser - erroneamente - dividido em três momen-
Bem estruturado, o aprimoramento profissional dentro do tos: resolver problemas já existentes, como questões de indisci-
ambiente de trabalho é um dos mais eficientes instrumentos plina, atacar questões burocráticas e trabalhar com a formação
para a melhoria do ensino. Contudo, um estudo realizado pela continuada. “De 70 a 80% da rotina dos coordenadores é con-
Fundação Victor Civita em 2009 sobre as práticas eficazes de sumida na resolução de problemas. Melhor seria se fosse des-
gestão escolar mostrou que, muitas vezes, a formação em ser- tinada ao estudo de maneiras de aperfeiçoar os procedimentos
viço não passa de ficção. Mesmo nas redes que têm o horário de ensino”, analisa pesquisadores.
de trabalho pedagógico coletivo, ele muitas vezes é desvirtua-
do e acaba servindo para qualquer outra coisa, menos discutir Construindo relações pessoais com tato e generosidade
as questões enfrentadas pelo professor na sala de aula. Das 14 A formação continuada é, por excelência, uma atividade co-
reuniões acompanhadas pelos pesquisadores, apenas quatro
letiva na qual o coordenador ocupa a posição de protagonista.
tinham a pauta baseada em problemas de aprendizagem - e,
Por isso, desenvolver uma boa relação com os professores e
mesmo assim, não se aprofundaram nas didáticas específicas.
compartilhar com competência os conhecimentos são habilida-
Abaixo cinco aspectos essenciais para que a formação con-
des fundamentais para o bom formador. A essa capacidade de
tinuada aconteça e traga um bom resultado:
- Tempo Os horários de trabalho coletivo devem ser pre- se relacionar e se comunicar bem, o educador português Anto-
definidos, com duração suficiente para o desenvolvimento de nio Nóvoa dá o nome de tato pedagógico. «O processo formati-
estratégias formativas. vo envolve o debate e a percepção daquilo que não está funcio-
- Organização da rotina O dia a dia do coordenador deve nando, ou seja, do que pode ser melhorado na prática. Por isso,
priorizar o planejamento das reuniões formativas e as ativida- o desenvolvimento de uma relação de confiança com os pro-
des como observação das aulas, seleção de referências teóricas fessores é fundamental para que eles se sintam à vontade ao
e análise dos registros da prática dos professores para que os expor os problemas didáticos e as dificuldades no ensinar - as
encontros reflitam as necessidades dos docentes. molas propulsoras da formação», teoriza Cecília Hanna Mate,
- Conhecimento Para bem utilizar o horário do trabalho pe- professora de Didática da Universidade de São Paulo (USP). É
dagógico, é preciso que o coordenador cuide da própria forma- preciso estar atento, contudo, para não ser afogado pelas quei-
ção, estudando as novas didáticas e as teorias que embasam a xas. Saber controlar a própria ansiedade e a dos professores faz
prática docente. parte do desenvolvimento do tato pedagógico.
- Tato pedagógico É como se denomina a junção de três
capacidades: a de saber ouvir, se comunicar e se relacionar - O objetivo final é chegar à transformação da prática
fundamentais para estabelecer uma relação de confiança e res- Finalmente, é preciso colocar todos os conhecimentos ci-
peito com a equipe. tados nesta reportagem a serviço do que realmente importa:
- Transformação da prática A formação será tão eficiente fazer com que os professores transformem a prática para trans-
quanto mais ela levar os professores a repensar e transformar formá-la conforme as necessidades dos alunos. “Só quando
sua maneira de ensinar para fazer com que todos os alunos reflete o professor se torna capaz de enxergar como ensina e
aprendam. como introduzir novas ações”, esclarece Vera Placco.
Ler textos e debater teorias é importante para contextua-
Em busca do tempo necessário para acompanhar os pro- lizar e reformular a prática. Pois, se a formação fica na teoria e
fessores o professor não vê a relação daquele conceito com a realidade,
Aprofundar referências teóricas com o grupo, trocar expe-
uma barreira se erguerá entre o coordenador e os professores.
riências, esmiuçar registros de sala de aula... A lista do que pre-
Uma maneira comprovadamente eficaz de fazer essa análise
cisa ser feito nos momentos de formação é extensa e para isso
cuidadosa é acompanhar aulas e ouvir o relato dos professores.
a rede e a escola têm de garantir um tempo para essa atividade.
Helena Meirelles exercita isso regularmente com a equipe do
É importante prever não só a duração de cada encontro como
também a periodicidade deles. Não há uma legislação nacional Colégio Santa Cruz, em São Paulo (leia o depoimento abaixo).
que estipule um mínimo de horas. A lei 11.738, de 2008, que es- Nesse último aspecto do trabalho do coordenador, é preciso
tabeleceu o piso salarial nacional do magistério, tentou tornar a certificar-se de que as aulas estão mudando para melhor e que
formação obrigatória com tempo de duração determinado (um as novidades introduzidas têm impacto na aprendizagem dos
terço da jornada de trabalho dos professores). Porém a medida alunos.
foi suspensa pelo Superior Tribunal Federal. Segundo especia- Levar em conta esses cinco elementos - tempo, organiza-
listas, o ideal é que os encontros sejam realizados pelo menos ção, conhecimento, tato pedagógico e mudança da prática para
durante três horas por semana. garantir o aprendizado - é fundamental para a melhoria do en-
Algumas redes estaduais e municipais, por conta própria, es- sino. E ninguém duvida de que essa é uma tarefa diretamente
tabelecem um mínimo. Mas, mesmo com o horário garantido, ligada à rotina da equipe gestora. Incorporar a formação conti-
esse tempo dificilmente dá conta de todos os procedimentos ne- nuada ao cotidiano da escola significa reconhecer que o tempo
cessários. Uma solução é tratar dos temas gerais nos encontros usado pelos docentes para estudar é tão importante quanto o
coletivos e dar um atendimento individualizado aos docentes. empregado na relação direta com os alunos. Num contexto em

200
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
que os cursos de graduação preparam mal os professores para tais como: aquisição da linguagem, engatinhar, andar ou até
a sala de aula, a formação permanente é o único caminho para mudanças em decorrência de doenças físicas ou psicológicas.
dar o salto de qualidade. Como diz Luiza Helena Christov, “é Sendo assim, a aprendizagem é uma mudança significativa que
possível trocar o pneu com o carro andando, mas, para isso, é ocorre baseada também nas experiências dos indivíduos. To-
necessário o envolvimento do coordenador, como protagonista davia, para ser caracterizada como tal, é necessária a solidez,
desse processo, e também de diretores, professores e gestores ou seja, ela deve ser incorporada definitivamente pelo sujeito.
das redes”.29
PRINCIPAIS TEORIAS DE APRENDIZAGEM
Existe uma infinidade de tipos diferentes de aprendizagem.
O que diferencia uma aprendizagem de outra diz respeito ao
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM modo como cada uma se manifesta e ao próprio processo como
cada uma é adquirida. Uma aprendizagem é sempre uma aqui-
Com base em Heller (2008), o cotidiano é fundamental na sição, embora as explicações para essa aquisição sejam variadas
construção dos papeis sociais e a escola tem papel relevante na e muitas delas até contraditórias.
sociedade. Como esse caráter de relevância se articula frente às O fenômeno da aprendizagem é sempre algo concreto, e
transformações cotidianas? Como esses são percebidos como acontece mesmo que ninguém tenha interesse em explicá-lo. A
elementos de identidade formativa pelos agentes transforma- aprendizagem existe independentemente das diversas teorias
dores e transformados, no caso explicito: os professores? No que procuram entendê-la quer descrevendo suas característi-
cotidiano, a cultura da escola se expressa, e busca dar visibili- cas, quer propondo elementos para que possa vir a ser repetida.
dade ao ethos cultural – sua identidade. A escola constitui um As teorias da aprendizagem são elaboradas devido à insis-
mundo social com ritmos, ritos e linguagem característicos e in- tência de pesquisadores que, observando fatos reais de apren-
terage com os sujeitos. Segundo Forquin (1993), a escola cons- dizagens, levantam suas hipóteses e procuram sua verificação
titui um mundo social com características próprias modos de para, então, enunciarem uma teoria que contribua para o pro-
regulação e transgressão e gestão simbólica. Hoje, ser profes- gresso científico. Cabe aqui a lembrança de que a função da
sor inclui conhecer o cotidiano educacional, sabendo que não ciência, de modo geral, consiste em facilitar e melhorar a vida
se trata de uma receita única, mas de uma a cultura que não do homem.
ignora os sujeitos e seu ambiente de entorno, como enunciado Na maioria das vezes, as teorias da aprendizagem são es-
por Alves (2001). tudadas de maneira fragmentada, ou seja, trabalhando-se ora
As escolas não podem ser analisadas fora do tempo e lu- um autor, ora outro, e nunca todos juntos de forma a permitir
gar que atuam, pois refletem interesses sociais e individuais. comparações entre uma teoria e outra. Visando auxiliar em ta-
Mesmo cumprindo visões determinadas, se modificam, pois são refas dessa natureza, este texto pretende justamente abordar
construídas pela história sociocultural e profissional de seus num mesmo documento os principais autores que representam
personagens – sonhos e possibilidades. os dois grandes grupos teóricos relativos à aprendizagem: o das
Quais são as possibilidades que hoje temos, como profes- teorias comportamentais e o das teorias cognitivas.
sores, e quais os sonhos que nutrimos dentro dos nossos espa- Na medida do possível, foram evitados termos técnicos que
ços escolares? O que estruturam nossas crises e o saber que assustariam qualquer leitor mesmo da área da educação. Não
mediamos? há necessidade de aprofundar estudos acerca de como ocorre
Preparar-se para essa nova concepção de saber é elemen- ou deixa de ocorrer qualquer aprendizagem, mas conhecer ao
to crucial. Isso sem contar com a característica profissional de menos superficialmente os fundamentos teóricos de cada linha
compreensão do que vem a ser o espaço escolar e as demandas ajuda bastante qualquer profissional que desenvolva processos
sociais frente ao conhecimento, bem como as articulações es- de ensino e aprendizagem nos dias de hoje, sobretudo devido à
pecíficas da área para qual atua. “Ao profissional da educação exigência constante de se ter que improvisar e alterar planos a
cabe o processo de humanização da sociedade, pois essa é a todo instante, a fim de poder acompanhar as mudanças.
função primordial da educação, e seu principal desafio a inser- Segue abaixo um resumo das características de cada teoria
ção do homem no convívio social”. (Pimenta,2002). 30 da aprendizagem, destacando os pontos considerados relevan-
tes pelos pesquisadores responsáveis por cada enunciado:
O processo de aprendizagem
Sabe-se que a aprendizagem é um processo contínuo, que Teorias Comportamentais
pode ocorrer em qualquer situação. Nesse sentido, podemos 1. Pavlov
dizer que um dos fatores essenciais do aprendizado é a cultura, 2. Skinner
pois ela molda o sujeito por meio de suas relações com o meio. 3. Bandura
Muitas pessoas confundem construção de conhecimento
com aprendizagem. Entretanto, aprender é algo muito mais Teorias Cognitivas
amplo, pois é a forma de o sujeito aumentar seu conhecimento. 1. Gestalt
Nesse sentido, a aprendizagem faz com que o sujeito se modifi- 2. Jean Piaget
que, de acordo com a sua experiência (LA ROSA, 2003). 3. Jerome Bruner
Entretanto, o ser humano passa por mudanças que não 4. Lev Vygotsky
se referem à aprendizagem e sim aos processos maturativos, 5. Howard Gardner
29 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br / www.gestaoesco-
lar.org.br / Por Gustavo Heidrich / Cinthia Rodrigues/ Vanessa C. Bulgra-
en/www.proesc.com
30 Texto adaptado de Marlei Malinoski

201
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Teorias Comportamentais Como exemplo, podemos citar o caso do rato faminto que,
1. Ivan Pavlov (1849-1936) numa experiência, percebe que o acionar de uma alavanca le-
Médico nascido na Rússia central, foi o descobridor dos vará ao recebimento de comida. Assim, a cada vez que quiser
comportamentos que são reflexos condicionados. Publicou em saciar sua fome, o rato tenderá a repetir o movimento de acio-
1903 os resultados de estudos realizados no campo da fisiolo- nar a alavanca.
gia, com cães de laboratório, provando que o chamado fenôme- A diferença que existe entre o reflexo condicionado e o con-
no “reflexo condicionado” podia ser adquirido por experiência. dicionamento operante se evidencia no fato de que o primeiro
Esse processo passou a ser designado “condicionamento”. diz respeito a um estímulo puramente externo (campainha que
Ao estudar os cães, descobriu casualmente que certos si- alguém aciona); e o segundo, a um hábito gerado por uma ação
nais provocavam a salivação e a secreção estomacal no animal, do indivíduo (a alavanca é acionada pelo próprio animal). No
reação esta que só deveria ocorrer quando houvesse ingestão comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-
de alimento. Teorizou que o comportamento estava condicio- -se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o
nado a esses sinais que habitualmente precediam a chegada do ambiente é modificado, produzindo conseqüências que agem,
alimento, levando o cão a antecipar seus reflexos alimentares. de novo, sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência fu-
Experimentalmente, fazendo soar uma campainha anun- tura semelhante.
ciando o alimento, Pavlov constatou que, em pouco tempo, o O condicionamento operante é um mecanismo de apren-
cão respondia com salivação, ao ouvir esse som. A campainha, dizagem de novo comportamento – um processo que Skinner
então, passou a ser um estímulo e a provocar o reflexo da sa- chamou de “modelagem”, cujo instrumento fundamental é o
livação, mesmo sem a presença da comida. Ficou constatado, “reforço”, ou seja, a conseqüência de uma ação quando per-
também, que não se podia enganar o cão por muito tempo, pois cebida por quem a pratica. Para o behaviorismo em geral, o
a falta de comida fazia com que os sinais (o som da campainha) reforço pode ser tanto positivo (uma recompensa), como ne-
perdessem seu efeito. gativo (ação que evita uma consequência indesejada). Segundo
Tendo avançado a ideia de que o reflexo condicionado po- Skinner, “no condicionamento operante, um mecanismo é for-
deria exercer um papel importante no comportamento humano talecido no sentido de tornar uma resposta mais provável, ou
e na educação, a descoberta de Pavlov não tardou a tornar-se melhor, mais frequente”.
base para uma nova corrente psicológica, o behaviorismo, fun- No campo da educação, os processos de aprendizagem que
utilizam os princípios teóricos de condicionamento operante,
dado por John Watson, em 1913. A partir de então, a aprendi-
levam o aprendiz a ter pouca participação, não necessitando de
zagem foi entendida como uma resposta obtida por estímulos
uma motivação própria, sendo sempre manipulado por alguém
condicionados, diferentemente das respostas naturais que o
que seleciona reforços para conseguir alguma aprendizagem. O
indivíduo viesse a apresentar.
professor deve estar consciente de que trata-se de uma apren-
Porém, apesar da relativa facilidade com que a aquisição da
dizagem dependente de alguém que vai manipular a escolha e o
aprendizagem ocorre pelo condicionamento respondente, isto
fornecimento de reforços (prêmios).
é, a instalação da resposta condicionada modificando o com-
portamento natural do indivíduo, a retenção é fraca (lembre-
3. Albert Bandura (1925...)
mos que não se podia enganar o cão por muito tempo). Assim,
Psicólogo nascido numa pequena cidade do Canadá, desen-
ao planejar cursos, treinamentos e demais processos de ensino volveu estudos sobre a aquisição da aprendizagem, realizando
e aprendizagem, não esqueçamos de questionar devidamente experimentos a partir dos princípios do condicionamento ope-
quais os resultados desejados: de curto ou longo prazo? rante (de Skinner). Observou que o reforço não precisa ser ne-
cessariamente oferecido ao sujeito que emitiu a resposta, isto
2. B.F.Skinner (1904-1990) é, um reforço recebido por um determinado aluno numa classe,
Nascido em Susquehanna, no estado norte-americano da por exemplo, pode ter um efeito sobre os demais que passarão a
Pensilvânia, cursou Psicologia em Harvard, onde tomou contato imitá-lo, com o objetivo de também receberem o mesmo reforço.
com o behaviorismo. Paralelamente à produção de livros, por Reforços deste tipo são chamados de vicariantes, aconte-
vários anos dedicou-se a experiências com ratos e pombos. cendo sobre um indivíduo separadamente, mas tendo o poder
O método que desenvolveu para observar os animais de la- de ação sobre todos os outros. Essa forma de condicionamento
boratório e suas reações aos estímulos, levou-o a criar peque- social consiste num dos tipos de aprendizagem que mais vem
nos ambientes fechados que ficaram conhecidos como “caixas sendo seguido ao longo da história da humanidade.
de Skinner”, posteriormente adotadas pela indústria farmacêu- Autores como Neal Miller y John Dollard (1941) demons-
tica. Quando nasceu sua filha, Skinner criou um berço climatiza- traram que a imitação é, em grande parte, resultado de uma
do, o que originou um boato de que a teria submetido a experi- conduta aprendida. Aprende-se a aprender imitando outros
ências semelhantes às que realizava em laboratório. (modelos). Bandura popularizou a teoria da aprendizagem so-
O “condicionamento operante”, sendo considerado o cial, evidenciando que o processo não se restringe ao ambien-
conceito-chave do pensamento de Skinner, foi acrescentado te escolar, como também envolve a todas as vivências sociais,
à noção de “reflexo condicionado” de Pavlov, pois ambos os uma vez que somos moldados pelo nosso pensamento, regras
conceitos se encontram essencialmente ligados à fisiologia do sociais e por tudo que aprendemos dos nossos modelos.
organismo, seja animal ou humano. O reflexo condicionado é A aprendizagem imitativa ou vicarial consiste num dos pro-
uma reação a um estímulo casual; o condicionamento operante cessos de aquisição da aprendizagem social, acontecendo em
é um mecanismo que “premia” uma determinada resposta de grupos mais homogêneos, principalmente em sala de aula. Po-
um indivíduo, até que ele se torne condicionado a associar a rém, a retenção não é muito grande, uma vez que esse tipo
necessidade à ação. de aprendizagem continua sob a dependência de reforços que
sejam apresentados a um determinado aluno, ou a alguém que
ele possa imitar.

202
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A transferência também costuma ser reduzida, pelo fato de 2. Jean Piaget (1896-1980)
que a ampliação do comportamento adquirido fica limitado e Biólogo nascido em Neuchâtel, Suiça, estudou o processo
restrito a outras situações vicariantes. Mais uma vez, caberá ao de construção do conhecimento e a evolução do pensamento
professor ou treinador, conforme o contexto ou situação, optar até a adolescência, procurando entender os mecanismos men-
ou não por fazer uso de práticas pedagógicas restritas a condi- tais que o indivíduo utiliza para captar o mundo. Centrou seus
cionamentos vicariantes ou de outros tipos. estudos no pensamento lógico-matemático.
Até o início do século XX, a criança era tratada como um
Teorias Cognitivas adulto em miniatura, isto é, como se pensasse e raciocinasse
1. Gestalt da mesma maneira que os adultos. A maior parte da sociedade
Gestalt é o nome genérico que engloba as teorias cogniti- acreditava que qualquer diferença entre os processos cogniti-
vas que resultaram, principalmente, das pesquisas de Werthei- vos entre crianças e adultos era sobretudo de grau, ou seja,
mer (1880-1943), Kofka (1896-1941), Köhler (1887-1947) e Kurt os adultos eram superiores mentalmente, da mesma forma que
Lewin (1890-1947). Trata-se de um movimento visando buscar eram fisicamente maiores, mas os processos cognitivos básicos
respostas científicas para as indagações sobre o processo de seriam os mesmos ao longo da vida.
conhecimento e, ao mesmo tempo, oferecer uma reação às te- A partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos
orias de condicionamento, analisando os efeitos da percepção. e de outras crianças, Piaget concluiu que, em muitas questões
A percepção, então, constitui o conceito básico da Gestalt, cruciais, as crianças não pensam como os adultos, por lhes falta-
correspondendo à capacidade por meio da qual o indivíduo es- rem certas habilidades. Formulou a teoria do desenvolvimento
trutura a realidade, criando uma configuração. Nas leis da Ges- cognitivo como uma teoria de etapas, já que os seres humanos
talt que descrevem e explicam os fenômenos da percepção e passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.
do aparecimento da estrutura, é muito frequente a expressão Os pressupostos básicos da teoria de Piaget são: o inte-
insight, indicando o momento em que a percepção acontece e racionismo, a idéia de construtivismo sequencial e os fatores
o todo se estrutura. que interferem no desenvolvimento. É a teoria que mais vem
Também devemos destacar o estabelecimento de uma fi- oferecendo contribuições em diferentes ambientes de ensino
gura e de um fundo na realidade percebida. Na medida em que e aprendizagem nos dias de hoje, principalmente na educação
uma percepção é personalizada e acontece de forma bastante de adultos.
peculiar, observamos que, no todo, serão destacados pontos A criança é concebida como um ser dinâmico que a todo
diferentes para cada sujeito. momento interage com a realidade, operando ativamente com
A aplicabilidade da Gestalt na educação torna-se importan- objetos e pessoas. Tal interação com o ambiente a leva a cons-
te, à medida que recusa-se o exercício mecânico no processo truir estruturas mentais e adquirir maneiras de fazê-las funcio-
de aprendizagem. Apenas as situações que ocasionam experi- nar.
ências ricas e variadas levam o indivíduo ao amadurecimento O eixo central da teoria de Piaget consiste, portanto, na
e à emergência do insight. Segundo as explicações da Gestalt, interação organismo-meio, sendo que essa interação acontece
os três elementos primordiais da aprendizagem são: aquisição, através de dois processos simultâneos: a organização interna
retenção e transferência. e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao
1) Aquisição: Ocorre exatamente por meio do insight, pos- longo da vida, sendo denominadas “invariáveis funcionais”. A
sibilitando o aparecimento da totalidade organizada. O aluno adaptação ocorre através da assimilação e acomodação. Os
aprende a partir da emergência de uma estrutura que organiza esquemas de assimilação vão se modificando, configurando os
o caos anterior que impossibilita a aprendizagem. A aprendi- estágios de desenvolvimento.
zagem se efetua somente na medida em que se estabelece no As “variáveis funcionais” são representadas pelas estrutu-
campo das relações estruturadas. ras, esquemas e conteúdos. Estruturas são sistemas organiza-
2) Retenção: É observada pela permanência das estruturas dos regidos por leis de conservação, transformação e autorre-
emergentes na memória do aluno e na sua reutilização. Contu- gulação. Surgem da construção realizada pelo próprio sujeito
do, limita-se à contingência das próprias estruturas a determi- e vão se tornando cada vez mais complexas, num processo de
nadas situações. majoração contínua.
3) Transferência: Seria insignificante, caso considerásse- Esquemas são unidades de conhecimento geralmente cons-
mos cada momento estruturado isoladamente. Conforme a Te- truídas numa fase primária, quando a criança ainda não opera
oria do Traço, o isolamento das estruturas fica, em parte, ate- e, portanto, não consegue construir estruturas lógicas.
nuado. A ligação existente entre as estruturas se dá por meio Conteúdos são dados da realidade ou da imaginação que se
de um resíduo proveniente de uma estrutura que permite a co- tornam os elementos do conhecimento. Naturalmente, estão
nexão com o momento seguinte em que outra estrutura deverá sempre mudando.
emergir. Daí a não possibilidade de se considerar cada momen- Segundo a teoria de Piaget, a aprendizagem ocorre por um
to isolado, uma vez que existe comunicação entre as diversas processo contínuo de construção de estruturas, obedecendo a
estruturas anteriormente percebidas e organizadas e as novas uma sequência fixa que pode ser observada na progressão dos
situações a serem agora percebidas e organizadas. períodos cognitivos, os quais são delimitados pelas capacida-
A aprendizagem por Gestalt pode ser exemplificada pela des mais recentemente construídas, tornando-se cada vez mais
aprendizagem que um indivíduo faz do itinerário de sua casa complexos em relação aos outros. Os períodos cognitivos são:
à escola. “O sujeito não saberá dizer nem os nomes das ruas
intermediárias, nem citar pontos do caminho, pois terá uma
estrutura total que engloba o ponto de saída e o de chegada”.

203
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como a maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação
(funcionamento dos esquemas e órgãos, o que implica na formação de hábitos), aprendizagem social (aquisição de valores, lingua-
gem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de autoregulação interna do organismo, que se constitui na
busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).
A teoria de Piaget, portanto, explica o conhecimento por meio da interação do sujeito com o meio ambiente físico e social,
sendo a aprendizagem entendida como a própria adaptação obtida num processo de equilibração e desequilibração constantes.
Na prática, trata-se de uma aprendizagem que o indivíduo busca segundo suas próprias capacidades que, por sua vez, são resul-
tantes das estruturas já construídas.
As capacidades não são inatas, mas resultam da interação do sujeito com seu meio. Dessa forma, além da aprendizagem de
conteúdos, o indivíduo também aprende a aprender.
Na aplicação da teoria à prática nos processos de ensino-aprendizagem, um dos pontos que necessita ser destacado refere-se
à atuação do professor como agente desequilibrador, que proporciona condições para a existência da interação do sujeito. Dessa
forma, em lugar de transmitir simplesmente um conhecimento, vai-se permitir que o aluno, em uma ação interiorizada (pensa-
mento) ou em uma ação efetiva (de acordo com seu grau de desenvolvimento), compare, exclua, ordene, categorize, classifique,
reformule, comprove, formule hipóteses etc.
A transferência de aprendizagem constitui um ponto alto na teoria de Piaget, pois a cada nova situação, o sujeito comparece
munido de todas as suas aprendizagens anteriores. Ao contrário da linearidade que permitiria uma transferência ponto a ponto,
apenas aproximando o novo a ser aprendido de um elemento já existente, a cada nova aquisição, todas as estruturas e conteúdos
já existentes se mobilizam no processo de equilibração.
Uma das implicações do pensamento piagetiano aplicado à aprendizagem diz respeito ao fato de que os conteúdos não são
concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural. Cabe aqui um
alerta aos leitores de textos para autodesenvolvimento de um modo geral, principalmente aqueles que apesar de a uma primeira
vista alegarem estar utilizando um instrumento para crescimento pessoal, com freqüência apercebem-se estar trabalhando inutil-
mente apenas com foco no conteúdo.

3. Jerome Bruner (1915...)


Psicólogo nascido em New York, é um dos mais famosos discípulos de Piaget. Suas idéias são baseadas nos mesmos pressupos-
tos da teoria piagetiana, mas com algumas variações e contribuições próprias, como a intuição e as categorias cognitivas.
Considera a intuição como uma capacidade fundamental de apreensão da realidade em todas as épocas da vida do sujeito, e
não apenas um substituto do pensamento lógico, predominante no período anterior aos 7 anos. Segundo Bruner, a criança pode
aprender qualquer coisa em qualquer momento, desde que esta coisa lhe seja apresentada de forma honesta.
As categorias cognitivas são grupos conceituais que aglutinam aprendizagens com elementos em comum e que permanente-
mente encontram-se à disposição para que novas aprendizagens venham a ser incorporadas. Assim, podemos entender a apren-
dizagem como sendo a categorização de algo novo, ou seja, a introdução de conteúdos que não existiam anteriormente, mas que
se encaixam nas categorias.

Segundo a teoria de Bruner:


- Aquisição: acontece principalmente pela intuição do sujeito em relação ao mundo que o rodeia. Percepção: permite ao indi-
víduo captar informações e dados novos em geral.
- Categorização: corresponde à inserção do novo em categorias já existentes (de forma semelhante à estruturação piagetiana).
- Retenção: acontece na medida em que o conteúdo intuído e incorporado a uma categoria, passa a fazer parte desta, ficando
disponível para ser utilizado posteriormente. A organização da estrutura, também no sentido piagetiano, constitui outro fator de
retenção.
- Transferência: é realizada pela possibilidade de novas intuições provocadas pelas estruturas já existentes que, por sua vez,
já resultaram de outras intuições num sistema altamente integrado.
Bruner difere de Piaget em relação à linguagem. Para ele, o pensamento da criança evolui com a linguagem e dela depende.
Para Piaget, o desenvolvimento da linguagem acontece paralelamente ao do pensamento, caminha em paralelo com a lógica.

204
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
4. Lev Vygotsky (1896-1934) da mobilidade dos conteúdos já construídos na interação que
Psicólogo contemporâneo de Piaget, nasceu e viveu na o sujeito é chamado a realizar em seu meio sociocultural. No
Rússia. Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento contexto total da vida do sujeito, cada elemento já aprendido
do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, encontra sempre significado, o que possibilita a ocorrência da
enfatizando nesse desenvolvimento o papel da linguagem e da transferência da aprendizagem.
aprendizagem. A questão central dessa teoria consiste na aqui-
sição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. 5. Howard Gardner (1943...)
A mediação simbólica consiste no processo de interação Psicólogo nascido na cidade de Scranton, ao nordeste da
que o próprio sujeito realiza com a ajuda de outras pessoas. Pennsylvania, autor da teoria das inteligências múltiplas, é
A ideia de mediação pode ser entendida considerando-se que conhecido como o psicólogo que apresentou a cada indivíduo
o homem, enquanto sujeito do conhecimento, não tem acesso as suas possibilidades numa amplitude maior, relativa à multi-
direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do plicidade de sua inteligência. De acordo com sua teoria, assim
real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. como são diversificadas as inteligências, a aprendizagem tam-
Vygotsky enfatiza, portanto, a construção do conhecimento bém será diversificada, sendo distribuída conforme requisitos
como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o co- especiais, para cada uma das sete modalidades de inteligência
nhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito so- que descreveu.
bre a realidade, mas pela mediação feita por outros sujeitos. O Cada uma dessas formas de inteligência corresponde a uma
“outro social” pode apresentar-se por meio de objetos, da orga- capacidade que se encontra mais aguçada no indivíduo ou a
nização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. uma habilidade mais bem desenvolvida pelo sujeito. A ocorrên-
O conceito de zona de desenvolvimento proximal corres- cia mais evidenciada de determinada inteligência não significa
ponde ao intervalo entre a capacidade potencial de um indiví- a ausência das outras, e isto constitui um aspecto fundamental
duo e a capacidade real por ele demonstrada. Em outras pala- para a prática do professor, que deverá estar sempre atento
vras, é a distância que existe entre o real e o potencial; define às manifestações das capacidades dos alunos, a fim de melhor
aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão aproveitá-las durante o processo de aprendizagem.
em processo de maturação. Gardner concentrou seus estudos no desenvolvimento psi-
A passagem da capacidade potencial para a real exige a in- cológico, devido à atração pela leitura de Jean Piaget e, ain-
da, pelos seus encontros com Jerome Bruner. Dessa maneira,
tervenção de uma outra pessoa. Podemos evidenciar a zona de
contagiou-se pelo desenvolvimento cognitivo, demonstrando
desenvolvimento proximal, por exemplo, quando notamos que
especial interesse na capacidade do simbologismo humano. As
o aluno consegue fazer alguma coisa que antes não conseguia
sete inteligências descritas por Gardner e suas principais carac-
fazer sozinho, mas que agora consegue com a ajuda de outra
terísticas são:
pessoa. Essa idéia de que ele só sabe fazer com a ajuda de al-
guém não é verdadeira, uma vez que a aprendizagem vai se tor-
a) Linguística: maior facilidade no manejo das palavras;
nar real. O que hoje é proximal, amanhã será real.
construção da aprendizagem por associações verbais.
A zona de desenvolvimento real corresponde ao nível das
b) Musical: facilidade de percepção e capacidade de discri-
funções mentais da criança, que se estabelece como resultado
minação de sons.
de ciclos de desenvolvimento já completados. Se numa sala de c) Lógica-Matemática: relativa às operações típicas do pen-
aula, por exemplo, o professor disser para os alunos que “está samento abstrato, é a forma de inteligência mais próxima da
chovendo”, podemos afirmar que esta frase diz respeito a um descrição de Piaget.
conhecimento que o professor tem e que todos os demais tam- d) Espacial: capacidade de organização de si e do ambiente.
bém têm. Todos têm certeza de que sabem que “está choven- e) Corporal-Cinestésica: linguagem própria, sem palavras,
do”. Portanto, dizer que “está chovendo” não acarretará apren- mas que traduz as possibilidades do sujeito; forte poder de ex-
dizagem e, consequentemente, não haverá desenvolvimento, pressão.
pois para Vygotsky, “o indivíduo aprende para se desenvolver” f) Interpessoal: forma de inteligência mais voltada para a
(para Piaget, “o indivíduo se desenvolve para aprender”). socialização; capacidades de liderança.
O raciocínio acima é fundamental para que o professor g) Intrapessoal: inteligência voltada para o autoconheci-
esteja sempre atento à importância de saber o que o aluno já mento.
sabe, a fim de evitar promover ações inúteis que só servirão
para interferir negativamente no grau de motivação e interesse A aquisição da aprendizagem ocorre mediante a forma de
por parte de toda a classe. Isto serve também para treinamen- inteligência mais adequada para cada um dos conteúdos a ser
tos cuja metodologia se baseia na tal analogia de “ficar batendo trabalhado num determinado momento. A retenção se explica
sempre na mesma tecla”. pela validade do uso da inteligência mais adequada no processo
Segundo Vygotsky, o processo de aquisição se faz, então, de aquisição, o que sempre permitirá um domínio maior desse
por meio da mediação simbólica, levando o sujeito a construir conteúdo específico. A transferência é realizada na medida em
sua própria aprendizagem, sendo a linguagem e o pensamento que as múltiplas inteligências se interligam, favorecendo o in-
elementos altamente significativos para que a construção ocor- tercâmbio entre as possibilidades de aprendizagem.31
ra. A retenção é explicada por sua vinculação total ao contexto
histórico-sócio-cultural que confere a cada conteúdo uma signi- OUTRAS ABORDAGENS SOBRE APRENDIZAGEM
ficação profunda. Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou expli-
O indivíduo incorpora cada elemento da aprendizagem car as teorias mais representativas, propondo inclusive novas
de uma forma complexa, pelo significado que deve ter, e não abordagens para compreensão dos processos de desenvolvi-
apenas pela aquisição construída. A transferência, por sua vez, mento cognitivo e aprendizagem. Dentre elas destacam-se:
sendo constante nessa teoria, ocorre principalmente através 31 Fonte: www.eadnaoformal.blogspot.com.br

205
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Maturana e Varela, que não desenvolveram um estudo so- Sequência Didática
bre a cognição especificamente, mas sua teoria sobre o homem Trata-se de sequência didática, uma forma organizada se-
como um sistema autopiético tem influenciado bastante a cons- quencialmente para desenvolver saberes vários no universo in-
trução de modelos computadorizados. Os autores entendem que fantil. A sequência didática tem a intenção de estruturar um
os seres vivos são um tipo particular de máquinas homeostáticas. trabalho mais organizado e mais pertinente a esta criança de
A ideia de autopoiesis é uma expansão da idéia de homeostase, hoje - que tem contato com inúmeras fontes, mas que não tem
no sentido em que ela transforma todas as referências da home- um trabalho estruturado, no sentido de dar organicidade a tudo
ostase em internas ao sistema e, afirma ou produz a identidade que ela vê, consome, sente e faz o dia inteiro.
do sistema. O sistema autopoiético é organizado como uma rede A sequência didática é uma forma de organizar o planeja-
de processos de produção de componentes que se regeneram mento semanal da rotina das crianças, assim como também de
continuamente, pela sua transformação e interação, a rede que organizar o desenvolvimento delas a partir de conhecimentos
os produziu e que constituem o sistema enquanto uma unidade que se ampliam empiricamente, pouco a pouco e vão se tornan-
concreta no espaço onde ele existe, especificando o domínio to- do grandes fontes de percepções múltiplas.
pológico onde ele se realiza como rede (Ramos, 1995). O planejamento por sequência didática consiste em siste-
matizar o trabalho docente na intenção de ajudar a criança a
Robert M. Gagné, que compartilha dos enfoques behavio- desenvolver competências e habilidades que deem significa-
ristas e cognitivistas em sua teoria. Para ele, as fases da apren- do para a efetivação do seu processo de aprendizagem. Numa
dizagem se apresentam associadas aos processos internos que, visão de crescimento pedagógico, a orientação para emprego
por sua vez, podem ser influenciados por processos externos. do termo “sequência didática” nos planejamentos de aulas dos
Para Gagné, a aprendizagem é um processo de mudança nas professores torna-se um ganho, porque tem a premissa de ga-
capacidades do indivíduo, no qual se produz estados persisten- rantir uma efetiva participação dos alunos durante as aulas mi-
tes e é diferente da maturação ou desenvolvimento orgânico. A nistradas pelos professores da Educação Infantil e com isto eles
aprendizagem se produz usualmente mediante interação do in- não perdem conteúdo – sim, conteúdo mesmo. Educação infan-
divíduo com seu meio (físico, social, psicológico) (Galvis,1992). til também é lugar de conteúdo pois o papel da escola, seja ele
As oito fases que constituem o ato de aprendizagem de Gagné, em qual fase ou idade for, é sempre gerenciar a aprendizagem
podem ser vistas na figura abaixo: das crianças.
Sua importância:
A situação didática é formada por atividades que podem
ser definidas como sendo os “meios” usados pelo professor
a fim de que o aluno vivencie as experiências necessárias ao
desenvolvimento de competências e habilidades fazendo com
que a aprendizagem seja significativa. Valoriza a investigação,
a integração, a cooperação e incentiva a ação do aluno. É o es-
tímulo à cooperação entre o grupo (alunos e professor) e busca
o desenvolvimento de habilidades como características básicas
do processo de aprendizagem. A sequência didática deve ser
planejada pelo professor, de forma a tratar cada conteúdo de
maneira específica e singular, oportunizando ao aluno o desen-
volvimento da autonomia para que empregue seus próprios
mecanismos na construção e reconstrução do seu conhecimen-
to e arquitetar formas para a resolução e formulação criativa de
problemas. Criar uma sequência didática é programar situações
e circunstâncias em que o estudante realmente construa seu
conhecimento. A finalidade, portanto, é possibilitar ao aluno
a construção de seu conhecimento por meio da articulação de
diversas teorias didáticas, como a noção de objetivo-obstáculo
a ser desvelada.
Apesar de a sequência didática ser pensada para que o alu-
no construa o saber, cabe ao professor planejar os dispositivos
didáticos que propiciem a evolução intelectual dos alunos. Para
Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, que a sequência didática aconteça é preciso que os conteúdos
mas seus postulados sobre a pedagogia problematizadora e estejam organizados em um sistema que irei nomear passo a
transformadora enfatizam uma visão de mundo e de homem passo, nos capítulos publicados nas próximas edições: serão
não neutro. Assim. o homem é um ser no mundo e com o mun- eles os pontos primordiais de nossa ação agora na Educação
do. A inspiração de seu trabalho nasce de dois conceitos bá- Infantil.
sicos: a noção de consciência dominada mais dois elementos
subjetivos que a compõem e a ideia de que há determinadas Estruturando de maneira correta:
estruturas que conformam o modo de pensar e agir das pesso- Toda vez que o planejamento para Educação Infantil tiver
as. Essas estruturas impregnam o comportamento subjetivo à que ser estruturado sob o prisma da SEQUÊNCIA DIDÁTICA, ele
percepção e à consciência que cada indivíduo ou grupo tem dos terá que seguir cinco passos, que não precisam ser rigorosa-
fenômenos sociais (Fialho, 1998).32 mente na ordem aqui apresentada.
32 Fonte: www.smeduquedecaxias.rj.gov.br

206
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Ressalto a importância de que o primeiro passo seja sem-
pre o passo em que o educador trabalhe EMOÇÃO/RECEPÇÃO, Não é demais dizer que estes passos não possuem ordem
pois é este o momento mais delicado da sala de aula da infân- definida, ou seja, o educador pode realizar uma atividade inter-
cia. Saber receber e acolher uma criança é uma tarefa muito disciplinar antes de realizar uma atividade com formas e assim
importante. A criança não tem experiência profunda em con- sucessivamente. Também vale a pena lembrar que no caso da
vivência nos espaços coletivos hoje, sobretudo aqueles que vi- Educação Infantil as atividades de registro nunca podem ser
vem em pequenos apartamentos, espaços reduzidos, fechados, realizadas nos últimos horários dos períodos letivos. Exemplo:
privados, em função da violência, do convívio com outros seres. fazer raciocínio lógico ou tentativas de escrita nos últimos 30
Desta forma, o educador precisa ter uma forma delicada, minutos do período letivo não é o ideal, pois as crianças já estão
segura e afetiva para receber e acolher diariamente as crianças esgotadas de uma manhã ou de uma tarde de trabalho e isto
pois elas estão em socialização, em construção de autonomia, as deixam com menos condições de vigília – atenção, o que só
em descobertas destes ambientes educativos. Assim, sugiro atrapalha sua concentração na execução formal da atividade.
que a atividade que trabalha e que ouve as questões afetivas
Outro ponto que requer atenção é o fato de que nos últi-
trazidas pelas crianças seja sempre a primeira do dia - assim o
mos horários várias crianças acabam saindo mais cedo em fun-
educador poderá usar, inclusive, estas histórias e estes relatos
ção de os pais apanhá-las. Assim, nos últimos minutos do dia
ao longo da manhã ou da tarde. Situações trazidas pelas crian-
letivo é sempre melhor termos atividades corporais, músicas,
ças ao grupo, na hora da roda, da conversa ou da prática diária
da escuta, são ricas e possibilitam que elas entrem mais rapida- artes e até mesmo roda de conversa pois estas dinâmicas de
mente em contato com os outros – razão maior da socialização. aula não se deixam interferir pelos problemas apresentados.

1º passo da sequência didática: Recepção/emoção


- Emoção RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO
- Sensibilidade
- Interação social
- Simbolização Uma relação extremamente importante para qualquer es-
Para que aconteça então a sequência didática os demais tudante, independentemente da sua idade ou do seu grau de
passos podem ser encaixados nos horários diários da escola formação, é aquela que se estabelece com o educador. Quando
sem nenhuma outra imposição. Temos apenas que lembrar que os professores e os alunos mantêm um bom relacionamento
a sequência aqui apresentada só é composta com atividades em sala de aula, o aprendizado se torna mais eficiente e passa a
que englobem todos os passos abaixo listados. Vejamos: existir um maior engajamento de ambas as partes.
Durante o momento de aprendizagem, todas as partes en-
2º passo: trabalho com a exploração dos Sentidos volvidas trocam experiências, informações e conhecimentos.
- Tato Sendo assim, a dinâmica flui melhor quando se mantém uma
- Visão relação positiva, o que também contribui para se manter a mo-
- Olfato tivação em sala.
- Gustação
- Audição Como é a convivência entre professor e aluno em sala de
aula?
3º passo: trabalho com uma ou mais Linguagens Essa é uma pergunta essencial que educadores de todos os
-Pictórica – desenho níveis de aprendizado devem se fazer. Afinal, ter uma boa con-
- Musical – vocalização, oralidade, rota fonológica e voz vivência com os alunos, em vez de alimentar relações conflitu-
- Sinestésica – movimento/psicomotricidade
osas e de tensão, é uma ótima forma de garantir um ambiente
- Midiática – computador
saudável, muito mais propício ao aprendizado.
- Gráfica – as letras e os números
Salas de aula com brigas constantes, alunos desafiando a
autoridade do professor a todo momento e intimidação de-
4º passo: trabalho explorando uma ou mais Formas
- Aplainar finitivamente não favorecem a convivência adequada entre
- Ampliar professores e alunos. Entretanto, muitas vezes essa tensão é
- Reduzir intensificada pelo fato de que os estudantes estão crescendo
- Juntar em um mundo globalizado, com grande acesso às informações
- Modificar pela internet. Com isso, comumente os alunos assumem uma
- Quadrado posição crítica, com opiniões pré-estabelecidas e dispostos a se
- Triângulo impor em uma argumentação.
- Círculo
-Retângulo Como estabelecer uma relação de confiança?
Para contornar esses desafios de convivência, é preciso es-
5º passo: é quando o educador pode lincar conteúdos (In- tabelecer uma relação de confiança entre alunos e professores.
terdisciplinaridade) Quando existe esse sentimento em sala de aula, os alunos têm
- Natureza e sociedade mais disposição para aprender e os professores se sentem mais
- Identidade e autonomia motivados para aprimorar seu processo didático.
- Movimento Comece pela transparência ao estabelecer critérios ava-
- Música liativos. Assim, seus alunos saberão exatamente o que esperar
- Artes visuais em relação às notas, aos esforços de estudo e ao desempenho
- Literatura Infantil geral. Além disso, procure criar um ambiente em que seja possí-

207
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
vel questionar temas e aprender em conjunto, sem repreender
perguntas e curiosidades, por mais básicas que sejam. Os alunos COMPROMISSO SOCIAL E ÉTICO DO PROFESSOR
devem se sentir confortáveis para expressar suas dúvidas livre-
mente de maneira que o seu desenvolvimento seja garantido. Quando se fala na função social do professor, observa-se
Uma boa alternativa é pensar em atividades interdisciplina- que existe um conjunto de situações relacionadas como atitu-
res e contextualizadas para os alunos. Isso porque o conteúdo des, valores, éticas, que formam itens fundamentais para o seu
passa a fazer muito mais sentido para o estudante quando é desenvolvimento no papel da educação. No primeiro momento
entendido de forma contextualizada, o que contribui com a mo- ira se fazer um análise sobre as atitudes e valores de ensino, e
tivação em sala. em seguida sobre o papel da educação no desenvolvimento de
competências éticas e de valores.
E o que fazer com conflitos de personalidade? Percebe-se que existe uma série de fatores que se relacio-
Uma sala de aula sempre reúne vários tipos de personali- nam com o processo de aprendizagem, que envolvem profes-
dade, incluindo aí até mesmo a do professor. Alguns são mais sor, aluno e escola. Esses fatores são: Atitudes e valores vão
tímidos, outros mais extrovertidos. Há aqueles que gostam de se formando ao longo da vida, através de influências sociais; A
demonstrar conhecimento, os que buscam afirmação, bem escola tem papel fundamental no desenvolvimento das atitudes
como aqueles que são extremamente inseguros ou possuem e valores através de um modelo pedagógico eficiente; O ensino
dificuldades específicas. Sendo assim, como lidar com essa di- e a aprendizagem estão relacionados num processo de desen-
versidade, uma vez que os conflitos são naturais da vivência em volvimento das atitudes e valores de acordo com a diversidade
sociedade? cultural; O Professor como ponte de ligação entre a escola e o
Nesse contexto, é importante que o professor aja como um aluno, proporcionando o desenvolvimento das atitudes no pro-
verdadeiro gestor de conflitos, a fim de estabelecer, da melhor cesso de aprendizagem.
forma possível, um equilíbrio entre todas essas personalidades. Quando se fala em atitude, é comum escutar frases como:
No caso, repreender atitudes desrespeitosas, garantir voz aos ela é uma pessoa de atitude, ou não vejo que ela tenha atitude.
alunos mais tímidos e também estimular o convívio saudável Mas afinal o que é atitude.
entre eles passam a figurar entre as tarefas do educador. De acordo com Trilo (2000, p.26) atitude é algo interno que
Essa ações são imprescindíveis para o crescimento pes- se manifesta através de um estado mental e emocional, e que
soal de cada um, pois dessa maneira, eles poderão aprender não tem como ser realizadas medições para avaliação de de-
como conviver com as opiniões e os pensamentos diferentes sempenho e não esta exposto de forma que possam ser visuali-
dos seus. Todo aprendizado que começa em sala deve ser uma zados de maneira clara.
ponte para o conhecimento, assim como para a sua aplicação [...] Que se trata de uma dimensão ou de um processo in-
na vida de cada aluno. terior das pessoas, uma espécie de substrato que orienta e pre-
dispõe atuar de uma determinada maneira. Caso se trate de um
Pertencimento estado mental e emocional interior, não estará acessível direta-
Outra importante função do professor consiste em fomen- mente (não será visível de fora e nem se poderá medir) se não
tar, dentro da sala de aula, o espírito de grupo e de pertenci- através de suas manifestações internas. [...]
mento dos alunos. Esse sentimento deve estar presente para A atitude é um processo dinâmico que vai se desenvolven-
estimular o engajamento dos estudantes nos estudos e também do no decorrer da vida mediante situações que estão em sua
na vida social escolar como um todo. Isso pode ser feito por volta como escola, família, trabalho. Trillo(2000) relata que
meio de atividades em grupo, discussões em sala e constante “atitude é mas uma condição adaptável as circunstâncias: sur-
estímulo à cooperação. gem e mantém-se interação que individuo tem com os que o
rodeiam”.
Diálogo A escola é fator importante no desenvolvimento da atitude,
Independentemente dos tipos de personalidade dos alu- pois no decorrer de nossa vida se passa boa parte do tempo
nos, é imprescindível que a relação seja permeada por muito numa unidade de ensino, o que proporciona uma inserção de
diálogo. Assim, cada tarefa deve vir acompanhada de explica- conhecimento.
ções sobre sua importância e pertinência, fazendo com que o Segundo Trillo (2000, p.28) a escola através ações educa-
estudante compreenda seu propósito. Se surgirem desenten- tivas, proporciona os estímulos necessários na natureza para a
dimentos, tem-se uma brecha para, mais uma vez, esclarecer construção de valores.
finalidades e papéis. É preciso ter sempre em mente que o diá- [...] Do ponto de vista da teoria das atitudes, pelo nos casos
logo é a melhor reposta para os problemas em sala. em que se acedeu ao seu estudo a partir de casos de delinea-
Assim como é fundamental o bom relacionamento entre mentos vinculados a educação, não surgem controvérsias im-
os alunos e o corpo docente, a relação entre os familiares e a portantes no que se refere ao facto de se tratar ou não nature-
escola também é responsável pelo melhor aproveitamento do za humana susceptíveis de serem estimulados através da ação
ensino. Isso porque o processo de aprendizagem vai muito além educativa. Ou seja, parece existir um acordo geral segundo o
da sala de aula e depende não apenas da escola, mas também qual as atitudes e os valores poderiam se ensinados na escola
da família. Pensando nisso, preparamos um infográfico com di- [...]
cas para melhorar o relacionamento com os pais e responsáveis As ações das atitudes começam a se desenvolver logo na
dos alunos.33 criança quando ela esta rodeada de exemplos de família, amigos
e principalmente pelos ensinamentos da escola. É interessante
que quando se tem um ambiente favorável e principalmente
dos pais, acompanhando e orientando a criança, percebe-se a
33 Fonte: www.somospar.com.br construção de boas atitudes.

208
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
De acordo com Trillo (200, p.35) as crianças imitam os com- Percebe-se a importância da ética no processo de apren-
portamentos em sua volta, de maneira que são estimuladas dizagem, onde alunos professores e escolas, devem selar este
através de exemplos de atitudes positivas, o que proporciona principio na troca de informações para o crescimento do co-
a autoestima. nhecimento.
[...] Nesta perspectiva, os mecanismos básicos da aquisição Os valores a serem desenvolvidos como uma competência
são a imitação e o esforço. As crianças pequenas vão imitando educacional, é um desafio para escolas, professores e alunos
os comportamentos que observam a sua volta e, desta forma, devido a diversidade social, em que tem que ter um alinhamen-
esses comportamentos vão se fixando ou desaparecendo, como to flexível do modelo pedagógico das escolas e da didática do
consequência do reforço positivo ou negativo que recebem (em professor.
forma de aprovação e reconhecimento dos outros ou em forma Segundo Araujo e Puig ( 2007, p.35) os valores mundo edu-
de autogratificação: sentir-se bem, reforçar a própria autoesti- cacional devem ser construídos com base num envolto de fer-
ma, etc [...] ramentas como democracia, cidadania e direitos humanos, de
Um ponto importante no processo de construção das ati- modo que estes valores a todo instante se relacionam com a
tudes esta o papel do professor. Ele tem a função de criar um diversidade social no ambiente interno e externo da escola.
processo de aprendizagem dinâmico entendendo a necessidade [...] Assim o universo educacional em que os sujeitos vi-
e diversidade do aluno, mostrando os caminhos corretos para o vem devem estar permeados por possibilidades de convivência
desenvolvimento das atitudes. cotidiana com valores éticos e instrumentos que facilitem as
Segundo Trillo ( 2000, p.44) o professor tem que ter a habi- relações interpessoais pautadas em valores vinculados a demo-
lidade de estimular os alunos através de trabalhos dinâmicos de cracia, a cidadania e aos direitos humanos. Com isso, fugimos
expressão pessoal, em meio a diversidade e perspectivas dife- de um modelo de educação em valores baseado exclusivamente
rentes, acompanhando e valorizando os pontos dos trabalhos, baseado em aulas de religião, moral ou ética e compreendemos
de modo a enriquecer as atitudes dos aluno. que a construção de valores se da a todo instante, dentro e fora
[...] O professor /a que procura nos trabalhos a expressão da escola. Se a escola e a sociedade propiciarem possibilidades
pessoal dos seus estudantes, e que os adverte valorará a ori- constantes e significativas de convívio com temáticas éticas, ha-
ginalidade como um dos pontos importantes dos seus traba- verá maior probabilidade de que tais valores sejam construídos
lhos, esta a estabelecer as bases de uma atitude de expressão pelo sujeitos [...]
livre. E se isto ampliar, no sentido em que, numa fase posterior Contudo, a função social do professor é um ambiente bem
do processo, cada um deverá ir expondo e justificando as suas complexo de se analisar, visto que ela esta relacionada a situa-
conclusões pessoais, parece provável que a atitude de trabalho ções como atitudes, valores e éticas, estes itens de grande im-
pessoal será enriquecida com a componente de reflexão e a que portância para o desenvolvimento além do professor, mas para
diz respeito a diversidade e as diferentes perspectivas sobre as escolas e alunos, pois a sociedade em que se vive, é cada vez
coisas [...] mais diversificada, exigindo do professor flexibilidade de méto-
As atitudes de valores de ensino é um processo dinâmico dos de ensino, e das escolas modelos pedagógicos mais dinâmi-
e construtivo, e cada vez mais necessita da presença da escola, cos, para satisfazer a necessidade dos alunos diversificados a
professor, aluno e demais ambientes sociais, visto que o pro- fim de construir uma sociedade com conhecimento.34
cesso de aprendizagem se torna eficiente e eficaz, quando to-
dos os envolvidos tenham discernimento de trabalhar o conhe-
cimento tomando atitudes corretas de acordo com os valores COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO: OBJETI-
éticos, morais e sociais. VOS; CONTEÚDOS; MÉTODOS; ESTRATÉGIAS PEDAGÓ-
GICAS E MEIOS
O Papel da Educação no Desenvolvimento de Competências
Éticas e de Valores O planejamento de ensino possui componentes básicos que
Desenvolver a educação alinhada a ferramentas como ética são: os objetivos, o conteúdo, procedimento de ensino, recur-
e valores não é tarefa fácil quando se depara com uma diversi- sos de ensino e avaliação.
dade de situações que se encontra na sociedade do mundo de O objetivo é a descrição clara do que se pretende alcan-
hoje. çar como resultado da atividade e são sempre do aluno e para
A educação não é a única alternativa para todas as dificul- o aluno. Esses objetivos são divididos em educacionais e ins-
dades que se encontra no mundo atual. Mas, a educação signifi- trucionais. Os objetivos educacionais são as metas e os valo-
ca um importante caminho para que o conhecimento, seja uma res mais amplos que a escola procura atingir. Já os objetivos
semente de uma nova era para ser plantada e que cresça para instrucionais são proposições mais específicas referentes às
dar bons frutos para sociedade. mudanças comportamentais esperadas para um determinado
De acordo com Johann (2009, p.19) a ética é um fator pri- grupo-classe.
mordial na educação, pois já é parte do principio da existência Segundo Piletti (1991), para manter a coerência interna do
humana. trabalho de uma escola, o primeiro cuidado que devemos ter
[...] Se a educação inclui a ética como uma condição para é selecionar os objetivos instrucionais que tenham correspon-
que ela se construa de acordo com a sua tarefa primordial, an- dência com os objetivos gerais das áreas de estudo que, por
tes de tudo, buscaremos compreender o que se entende por sua vez, devem estar coerentes com os objetivos educacionais
educar e de que tarefa se trata aqui. Para explicitar o conceito do planejamento de currículo; e os objetivos educacionais, con-
de educação que assumimos ao relacioná-la com a ética, co- sequentemente, devem estar coerentes com a linha de pensa-
meçaremos por contextualizar a existência humana, razão da mento da entidade à qual o plano se destina.
emergência do fenômeno educativo e das exigências éticas [...]
34 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br

209
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O conteúdo refere-se à organização do conhecimento em si No ensino superior nota-se de maneira acentuada que os
com bases nas próprias regras, além de abranger as experiên- universitários, genericamente falando, buscam na formação
cias educativas no campo do conhecimento, devidamente sele- uma oportunidade de ascensão social. Esse fator condiciona a
cionadas e organizadas pela escola. Sendo assim o conteúdo é o postura do aluno para uma conduta de interesse maior, senão
instrumento básico para se atingir os objetivos. quase exclusivo, nas disciplinas de formação específica, não
compreendendo, muitas vezes, a relevância das disciplinas de
Contudo alguns cuidados devem ser tomados em relação formação básica e complementar.
aos conteúdos como: Dessa forma, o discente espera dos professores das discipli-
- o conteúdo selecionado precisa estar relacionado com os nas específicas uma atuação destacada, tendo-o como modelo
objetivos definidos. Devemos escolher os conhecimentos in- profissional, esperando desses profissionais a transmissão dos
dispensáveis para que os alunos adquiram os comportamentos conhecimentos e métodos necessários para um destaque na
fixados; sua futura atuação no mercado de trabalho.
- um bom critério de seleção é a escolha feita em torno de A maneira pela qual o professor planeja suas atividades
conteúdos mais importantes, mais centrais e mais atuais; de sala de aula é determinante para que o grupo de alunos de
- o conteúdo precisa ir do mais simples para o mais comple- sua plateia reaja com maior ou menor interesse e contribua no
xo, do mais concreto para o mais abstrato. modo como a aula transcorre.
O procedimento de ensino são ações, processos ou com- Para Petrucci e Batiston (2006, p. 263), a palavra estratégia
portamentos planejados pelo professor para colocar o aluno esteve, historicamente, vinculada à arte militar no planejamen-
em contato direto com as coisas, fatos ou fenômenos que lhes to das ações a serem executadas nas guerras, e, atualmente, é
possibilitem modificar sua conduta, em função dos objetivos largamente utilizada no ambiente empresarial.
previstos (TURRA, 1982). Porém, os autores admitem que:
O professor, ao planejar sua aula, deve utilizar-se de téc- [...] a palavra ‘estratégia’ possui estreita ligação com o
nicas de ensino, que são maneiras específicas de provocar a ensino. Ensinar requer arte por parte do docente, que precisa
atividade dos alunos durante o processo de aprendizagem. Ao envolver o aluno e fazer com ele se encante com o saber. O pro-
planejar os procedimentos de ensino, não basta fazer uma lista- fessor precisa promover a curiosidade, a segurança e a criativi-
gem de técnicas que serão selecionadas como aula expositiva, dade para que o principal objetivo educacional, a aprendizagem
trabalho dirigido, entre outros, e sim o professor deve prever do aluno, seja alcançada.
como utilizar o conteúdo selecionado com a finalidade de atin- Desse modo, o uso do termo “estratégias de ensino” re-
gir os objetivos propostos. fere-se aos meios utilizados pelos docentes na articulação do
Os procedimentos não são apenas uma coletânea de téc- processo de ensino, de acordo com cada atividade e os resulta-
nicas isoladas. Eles têm uma abrangência mais ampla, pois en- dos esperados. Anastasiou e Alves (2004, p. 71) advertem que:
volvem todos os passos do desenvolvimento da atividade de As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto,
ensino propriamente dita. Os procedimentos de ensino selecio- há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele mo-
nados pelo professor devem ser diversificados; estar coeren- mento com o processo de ensinamento. Por isso, os objetivos
tes com os objetivos propostos e com o tipo de aprendizagem que norteiam devem estar claros para os sujeitos envolvidos –
previsto nos objetivos; adequar-se às necessidades dos alunos; professores e alunos – e estar presentes no contrato didático,
servir de estímulo à participação do aluno no que se refere às registrado no Programa de Aprendizagem correspondente ao
descobertas e apresentar desafios (PILETTI, 1991). módulo, fase, curso, etc.
Os recursos/meio de ensino são os componentes do am- Luckesi (1994) considera que os procedimentos de ensino
biente da aprendizagem que dão origem à estimulação para o geram consequências para a prática docente: para se definir
aluno e se classifica em dois tipos: os recursos humanos e os procedimentos de ensino com certa precisão, é necessário ter
recursos materiais. clara uma proposta pedagógica; é preciso compreender que os
Os recursos humanos são os professores, os alunos que são procedimentos de ensino selecionados ou construídos são me-
os colegas de outras classes, o diretor e outros profissionais que diações da proposta pedagógica e metodológica, devendo estar
trabalham na escola, e a comunidade na qual a escola está in- estreitamente articulados; se a intenção é que efetivamente a
serida. Já os recursos materiais são classificados em materiais proposta pedagógica se traduza em resultados concretos, tem-
do ambiente que são os materiais naturais como água, folha, -se que selecionar ou construir procedimentos que conduzam
e os materiais escolares que são quadro, giz, Datashow. E os a resultados, ainda que parciais, porém complexos com a di-
materiais da comunidade que podem ser a biblioteca, lojas, in- nâmica do tempo e da história; ao lado da proposta pedagógi-
dústrias, entre outros. ca, o educador deve lançar mão dos conhecimentos científicos
A avaliação é o processo pelo qual se determina o grau e a disponíveis; estar permanentemente alerta para o que se está
qualidade de resultados alcançados em relação aos objetivos fazendo, avaliando a atividade e tomando novas e subsequen-
propostos, sempre considerando o contexto no qual o trabalho tes decisões.
de aprendizagem foi desenvolvido. No processo de ensino-aprendizagem, vários são os fatores
que interferem nos resultados esperados: as condições estrutu-
Estratégias e métodos de ensino rais da instituição de ensino, as condições de trabalho dos do-
A atividade docente é caracterizada pelo desafio perma- centes, as condições sociais dos alunos, os recursos disponíveis.
nente dos profissionais da educação em estabelecer relações Outro fator é o de que as estratégias de ensino utilizadas
interpessoais com os educandos, de modo que o processo de pelos docentes devem ser capazes de sensibilizar (motivar) e de
ensino-aprendizagem seja articulado e que os métodos utiliza- envolver os alunos ao ofício do aprendizado, deixando claro o
dos cumpram os objetivos a que se propõem. papel que lhe cabe.

210
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O uso de formas e procedimentos de ensino deve conside- barreiras encontradas para a implantação de um pensamento
rar que o modo pelo qual o aluno aprende não é um ato isola- horizontalizado na construção do conhecimento esta na estru-
do, escolhido ao acaso, sem análise dos conteúdos trabalhados, tura do currículo.
sem considerar as habilidades necessárias para a execução e Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os
dos objetivos a serem alcançados. posicionamentos de autores como Apple e Weis sobre o cur-
A definição do uso de determinada estratégia de ensino- rículo. Para estes o foco central na estruturação do currículo
-apredizagem considera os objetivos que o docente estabelece esta na concretização do monopólio social sobre a sociedade
e as habilidades a serem desenvolvidas em cada série de con- através do campo educacional. Apple prossegue afirmando que
teúdos. No entender de Pimenta e Anastasiou (2002, p. 195) “a esta ferramenta será estruturada através de regras não forma-
respeito do método de ensinar e fazer aprender (ensinagem) lizadas que constituirão o que ele mesmo denominou de “cur-
pode-se dizer que ele depende, inicialmente, da visão de ciên- rículo oculto”.
cia, de conhecimento e de saber escolar do professor”.35 Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva (Moreira e Sil-
va, 1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículo é
um local de “jogos de poder”, de inclusões e exclusões, uma
INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE arena política.
DO CONHECIMENTO Na busca da prática da horizontalização do pensamento e
do estudo a presença do currículo como selecionador de co-
O papel da escola, mais precisamente do ensino e da educa- nhecimentos pré-definidos se constitui como uma ferramenta
ção, sempre foi e sempre será questionado através dos tempos. castratória que limita o docente a mero reprodutor de conhe-
Questionar-se-á não sobre a sua necessidade e importância na cimento. São verdadeiros instrumentos que tolem o processo
vida dos indivíduos, uma vez que estes temas já foram ampla- crítico-criativo necessário ao entendimento contextualizado e
mente discutidos e esgotados por diversos grupos durante a multifacetado das problemáticas presentes na vida real.
história. Questionar-se-á sempre se esta, a escola, tem servido A presença do currículo formal como ferramenta norteado-
ao seu papel sociológico, propósito central, de “cunhar” indiví- ra do processo de ensino-aprendizado institui a fragmentação
duos preparando-os para se posicionarem como seres sociais do conhecimento trazendo ao discente uma visão completa-
integrados e adaptados à convivência em grupo, à sociedade, mente esfacelada do item analisado e desta forma impossibi-
agindo como participantes no desenvolvimento do todo. Ainda, litando uma compreensão maior de mundo, de sociedade e de
não somente como membros destes grupos capazes de se inter- problemática estudada.
relacionarem com seus entes, mas como membros qualitativos Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o aban-
capazes de somar através de suas habilidades e conhecimentos. dono do currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente,
Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como para a adoção do “currículo da sala de aula”. Este, construído
algo focado na “formatação” de indivíduos para serem inse- no trabalho diário do docente e do seu relacionamento com o
ridos em grupos sociais perceberemos, claramente, de que o meio na busca pela compreensão multifacetada da realidade
desafio aqui proposto para a escola é, indubitavelmente, com- vivenciada do aluno. Seria a instituição da relação dialógica real
plexo e dinâmico. Dinâmico pelo fato de se estruturar sobre um entre o professor e o aluno na construção do saber.
conjunto de regras e padrões, os sociais, que se apresentam em Na construção deste currículo informal, mas real, extraído
constante mudança, reflexo do próprio processo evolutivo so- das páginas da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade
cial de cada era na qual se viverá; Complexo pelo fato de exigir da dissolução das barreiras entre as disciplinas buscando uma
de si mesma a necessidade de capacitar o indivíduo a obser- visão interdisciplinar do saber “que respeite a verdade e a re-
var a sociedade, seus problemas, relacionamentos e saberes de latividade de cada disciplina, tendo-se em vista um conhecer
uma forma dinâmica, interligada, completamente dependente melhor” (Fazenda,1992)
de causas e efeitos nas mais diversas áreas, do saber do co- Surge então a necessidade de reformular o modus ope-
nhecimento ao saber do relacionamento, permitindo assim, e rand iestabelecido através da re-análise das atuais temáticas e
somente assim, que estes possam ser formados com as habili- conseqüentemente propondo uma visão horizontalizada para
dades necessários, acima descritas, para ocuparem sua posição a analise e pesquisa dos temas apresentados no dia-a-dia do
dentro desta sociedade. discente surgem a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade
Diante do entendimento da complexidade na qual estamos e a transdisciplinaridade.
inseridos percebe-se a necessidade da implantação de um ra-
ciocínio horizontalizado complementar para o estabelecimento Multidisciplinaridade
do saber. O estudo dos problemas através de uma comunica- A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de
ção horizontalizada se faz necessário no intuito de maximizar o todas as 3 visões. Para este, um elemento pode ser estudado
“produto social final” esperado das escolas, e mais do que isso, por disciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocor-
para a busca da democratização real do conhecimento através rerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento
da libertação do pensamento, da visão e do raciocínio crítico na analisado. Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia
formação do saber individual seja ele de quem for. mais correta para esta visão seria a da justaposição das discipli-
nas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo
Currículo e as disciplinas do elemento em questão. Nesta, cada professor cooperará com
O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual o estudo dentro da sua própria ótica; um estudo sob diversos
na qual estão inseridas as escolas e centros de pensamento crí- ângulos, mas sem existir um rompimento entre as fronteiras
tico-criativo, os centros de ensino superior. Umas das primeiras das disciplinas.
35 Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.siteantigo.portaleduca-
cao.com.br

211
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensa- Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são vi-
mento horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplina- venciados hoje pela humanidade, a necessidade de se repen-
ridade institui o inicio do fim da especialização do conteúdo. sar o processo de ensino-aprendizagem atual se faz necessário.
Para Morin (Morin, 2000) a grande dificuldade nesta linha de Continuar com o processo pedagógico-histórico atualmente
trabalho se encontra na difícil localização da “via de interarti- instituído nas escolas e centros de estudo acadêmico é somente
culação” entre as diferentes ciências.É importante lembrar que comparável com a geração de indivíduos, e consequentemente,
cada uma delas possui uma linguagem própria e conceitos parti- de uma sociedade, intelectualmente analfabeta e limitada. 36
culares que precisam ser traduzidos entre as linguagens.

Interdisciplinaridade AVALIAÇÃO ESCOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓ-


A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é GICAS
indispensável para a implantação de uma processo inteligente
de construção do currículo de sala de aula – informal, realístico A avaliação escolar é um componente do processo de en-
e integrado. Através da interdisciplinaridade o conhecimento sino e aprendizagem que busca comparar o que foi adquirido
passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde com o que se pretende alcançar.
as disciplinas científicas interagem entre si. Podemos dizer que a avaliação tem como objetivo diagnos-
Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinari- ticar como a escola e o professor estão contribuindo para o de-
dade é a forma correta de se superar a fragmentação do sa- senvolvimento dos alunos.
ber instituída no currículo formal. Através desta visão ocorrem - Avaliação processual: é a avaliação continua.
interações recíprocas entre as disciplinas. Estas geram a troca - Avaliação pontual: é a avaliação de resultado.
de dados, resultados, informações e métodos. Esta perspecti- Segundo Libâneo (2017) ao analisar os resultados obtidos,
va transcende a justaposição das disciplinas, é na verdade um por meio da avaliação, percebe-se se os objetivos propostos
“processo de co-participação, reciprocidade, mutualidade, diá- foram alcançados para que o trabalho docente seja reorienta-
logo que caracterizam não somente as disciplinas, mas todos os do, logo a avaliação é uma reflexão do processo educativo que
envolvidos no processo educativo”(idem). abrange aluo e professor. Os dados coletados são mensurados
em quantitativos e qualitativos.
Transdisciplinaridade
A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por Pia- Avaliação quantitativo e qualitativo
get em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo, só recen- - Avaliação quantitativo: é o que pode ser mensurado por
temente é que esta proposta tem sido analisada e pontualmen- meio de nota e informações. Ela é classificatória.
te estudada para implementação como processo de ensino/ - Avaliação qualitativa: é o que não pode ser mensurável,
aprendizado. observa-se o processo de ensino-aprendizagem de forma con-
Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas são tínua e global.
praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é im-
possível identificar onde um começa e onde ela termina. Vamos ver o que a LDB 9.394/96 fala sobre a avaliação?
“a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e Art. 24. V – a verificação do rendimento escolar observará
abordar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada os seguintes critérios:
ciência, praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do alu-
a diversidade e a preservação da vida no planeta, construindo no, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quanti-
um texto contextualizado e personalizado de leitura de fenômi- tativos e dos resultados ao longo do período sobre os de even-
nos”. (Theofilo, 2000) tuais provas finais;
A importância deste novo método de analise das problemá- Perceba que os aspectos abordados na lei não são notas,
ticas sob a ótica da transdisciplinaridade pode ser constatada mas registros de acompanhamento das atividades alunos. A
através da recomendação instituída pela UNESCO em sua con- avaliação contínua e cumulativa demonstra que ela é diária,
ferência mundial para o ensino Superior (UNESCO, 1998). transparente, assim possui uma aparência diagnóstica. Os as-
Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: “A transdisci- pectos qualitativos devem sobrepor os aspectos quantitativos.
plinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas,
através das disciplinas e para além de toda a disciplina”. A esta Princípios da avaliação:
ultima colocação entende-se “zona do espiritual e/ou sagrado”. Integralidade: a avaliação deve perceber o estudante como
O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas um todo, considerando todos os envolvidos no processo.
cada vez mais complexos. Estes podem estar ligados a própria - Funcionalidade: relaciona a avaliação aos objetivos edu-
complexidade do inter-relacionamento dentro da sociedade cacionais.
humana ou através do grau de especialização atingido pelo co- - Orientação: direciona a prática escolar. Ela não pode assu-
nhecimento científico da humanidade. mir um caráter excludente.
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracteriza- - Sistematicidade: a avaliação deve ser muito bem planeja-
do pela era da informação, do avanço tecnológico diuturno, da da, integrando todo o trabalho educativo.
capacidade de interconexão em rede e de outras propriedades
que caracterizam os paradigmas que constituem essa nova era,
precisa encontrar na escola, seu ente social para a formação, o
aparato técnico-científico-social capaz de o “cunhar” para a sua 36 Baseado em “Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamen-
participação social. tal e média” - Por Amélia Domingues de Castro, Anna Maria/
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/www.webartigos

212
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A avaliação é um processo contínuo, por isso deve ser pro- Vejamos como alguns autores abordam sobre a avaliação:
jetada para acompanhar a aprendizagem, identificando as con- O momento de avaliar é também para diagnosticar dificul-
quistas diante do desenvolvimento real do aluno. Uma avalia- dades e mostrar caminhos de superação. (ANDRADE 2014, p.
ção inicial traz para o professor as características e o suporte 21).
necessário para que ele possa desenvolver o planejamento de Nenhuma avaliação dá resultados absolutos, mas informa-
acordo com as características de seus alunos. ções sobre o que e como o aluno aprendeu. E a função da ava-
Segue abaixo, as principais características da avaliação es- liação é diagnosticar o processo de aprendizagem, não a capaci-
colar conforme Libâneo: dade do aluno. (TAVARES, 2011, p. 108)
- Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos O processo de avaliação tem início quando: São levantados
- Possibilita a revisão do plano de ensino os conhecimentos prévios dos alunos. A partir disso é possível
- Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades estabelecer objetivos e metas, escolher conteúdos e aplicar
- Volta-se para a atividade dos alunos métodos. (SANTOS, 2011, p. 106)
- Deve ser objetiva Tendo um ponto de partida, a avaliação torna-se auxilia-
- Ajuda na percepção do professor dora, quantitativamente e principalmente qualitativamente, do
- Reflete valores e expectativas do professor em relação aos processo de ensino-aprendizagem em que progresso ou fracas-
alunos so são importantes para se repensar as estratégias com vistas
Esse autor ainda nos traz como tarefas da avaliação a veri- a auxiliar o desenvolvimento do aluno. (SANTOS, 2011, p. 106)
ficação, a qualificação e a apreciação qualitativa. Assim sendo, a avaliar os alunos representa incluí-la no
- Verificação: coleta de dados por meio de provas, exercí- mundo do conhecimento. Assim caracteriza-se o tipo de ava-
cios e tarefas ou outros meios auxiliares. liação que é preparada para ensinar, reforçar o processo de
- Qualificação: comprovação dos resultados alcançados e aprendizagem, e não apenas para atribuir notas, medindo o que
conforme o caso, atribuição de notas. foi memorizado. (ANDRADE 2014, p. 21).
- Apreciação Qualitativa: avaliação propriamente dita, refe- Agora que já sabemos desses conceitos, vamos analisar as
rindo-se aos padrões de desempenho esperados. funções da avaliação escolar na perspectiva de José Carlos Libâ-
Muita atenção nas funções da avaliação (que mudam de neo que também é muito cobrado.
acordo com alguns autores) e que sempre caem nas provas. O
conceito abaixo é um dos mais cobrados por nossas bancas exa- Libâneo classifica a avaliação em três funções:
minadoras. Pedagógico-didática: está relacionada ao cumprimento dos
Funções da avaliação objetivos educacionais. Essa avaliação ajuda na compreensão
A avaliação apresenta três funções, sendo elas: acerca do alcance dos objetivos educacionais.
- Função diagnóstica: é realizada no início do processo para Diagnóstica: apresenta os avanços e os problemas dos alu-
direcionar o trabalho do professor. Nessa fase é estudado e le- nos junto com a atuação do professor.
vantado os conhecimentos prévios dos alunos para que o pro- Ocorre em três fases:
fessor possa verificar como colocará em prática o seu planeja- - Início: para sondar os conhecimentos.
mento, de forma a atender as características dos alunos. - Durante: para acompanhar o desenvolvimento dos profes-
- Função formativa ou processual: é realizada durante o sores e alunos.
processo para acompanhar o desenvolvimento dos alunos. A - Final: para verificar o resultado do trabalho desenvolvido.
função formativa proporciona ao professor e aos estudantes Com essas informações o professor poderá propor modifi-
as informações necessárias para corrigir as possíveis falhas, es- cações durante o processo de ensino e aprendizagem.
timulando todos a continuarem o trabalho. Nessa fase encon- Controle: está relacionada aos meios e a frequência das ve-
tra-se o famoso feedback que reorienta os envolvidos em suas rificações e de qualificação dos resultados escolares, permitin-
tarefas de forma positiva. do o diagnóstico das situações didáticas.
- Função somativa (classificatória): é realizada no final do pro- Essas três funções atuam de forma interdependentes, não
cesso, classificando os alunos quanto ao nível de desenvolvimento. podendo ser isoladas!
Esta fase oferece também as informações necessárias para o regis-
tro das atividades que foram desempenhadas pelos alunos. Outros conceitos da avaliação escolar
Em resumo, segue simplificação da visão apresentada acima: Vamos conhecer um pouquinho mais sobre alguns fatores
que envolvem a avaliação escolar e que não foram conceitua-
Avaliação Diagnóstica dos:
- Realiza-se no início do curso, do ano letivo, do semestre/ A observação: é muito importante durante o acompanha-
trimestre, da unidade ou de um novo tema. mento dos alunos. Com ela o professor pode modificar as di-
- Verifica pré-requisitos. ficuldades identificadas que influenciam a aprendizagem dos
estudantes.
Avaliação Formativa A entrevista: ajuda e busca conhecer o aluno em seu desem-
- Ocorre ao longo do ano letivo. penho escolar. Contribui com as informações que o professor já
- Localiza deficiências/dificuldades. tem, tratando assim problemas mais específicos, esclarecendo
dúvidas quanto às atitudes e hábitos de determinada criança.
Avaliação Somativa Existem também outras formas de avaliação que já caíram
- Classifica os alunos no fim de um semestre/trimestre, do em concursos, vamos conhecer um pouquinho mais:
curso, do ano letivo, segundo níveis de aproveitamento. - Avaliação informal: faz parte do processo desenvolvido
- Tem a função Classificadora (classificação final). Avaliação pelo professor que consiste em elogios, castigos, ameaças entre
escolar na visão dos principais autores. outros aspectos em que o educador traça sobre o perfil do alu-

213
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
no durante o processo de ensino. Para Freitas, esse tipo de ava- [...]“Não posso ser professor se não percebo cada vez me-
liação consiste na construção, pelo professor, “de juízos gerais lhor que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma
sobre o aluno, cujo processo de constituição está encoberto e é definição... Não posso ser professor a favor simplesmente do
aparentemente assistemático”. Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado
- Avaliação formal: é formada por instrumentos específi- contrastante com a concretude da prática educativa.” (Freire
cos de avaliação como provas, trabalhos e tarefas organizadas. 1996, p. 115).
Compõe-se das práticas “que envolvem o uso de instrumentos
explícitos de avaliação, cujos resultados podem ser examina- Função social da escola
dos objetivamente pelo aluno, à luz de um procedimento claro” A escola tem como função criar uma forte ligação entre o
(Freitas). formal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimen-
tos comprovados pela ciência ao conhecimento que o aluno ad-
O papel da avaliação na prática escolar quire em sua rotina, o chamado senso comum. Já o professor,
Que tal lembrarmos o papel da avaliação que está presente é o agente que possibilita o intermédio entre escola e vida, e o
em cada prática pedagógica? Vamos para elas: seu papel principal é ministrar a vivência do aluno ao meio em
- Função da avaliação tradicional: é exercida de forma clas- que vive.
sificatória com memorização e reprodução através de provas e A escola, principalmente a pública, é espaço democrático
exercícios. dentro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir
- Avaliação – escola nova: há a valorização dos aspectos suas questões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento
afetivos. A auto avaliação está presente priorizando o desenvol- crítico, trazer as informações, contextualizá-las e dar caminhos
vimento individual do aluno. para o aluno buscar mais conhecimento. Além disso, é o lugar
- Avaliação – tecnicista: é analisada através do comporta- de sociabilidade de jovens, adolescentes e também de difusão
mento desejado. Há o apego aos livros didáticos, a produtivida- sóciocultural. Mas é preciso considerar alguns aspectos no que
de do aluno com exercícios programados. se refere a sua função social e a realidade vivida por grande
- Avaliação – libertária: não há uma avaliação dos conteú- parte dos estudantes brasileiros.
dos. Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na
- Avaliação – libertadora: busca a emancipação do grupo. teoria da educação. Estes discursos e teorias, centrados na pro-
- Avaliação – histórico-crítica: existe a tomada de decisão blemática educacional e na contradição existente entre teoria
para a transformação da sociedade. Função diagnóstica. 37 e prática produzem certas conformações e acomodações entre
os educadores.
Muitos atribuem a problemática da educação às situações
associadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura
O PAPEL POLÍTICO PEDAGÓGICO E ORGANICIDADE DO
de valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam
ENSINAR, APRENDER E PESQUISAR. FUNÇÃO HISTÓ-
RICO-CULTURAL DA ESCOLA. ESCOLA: COMUNIDADE despreparo profissional dos educadores, salas de aula superlo-
ESCOLAR E CONTEXTOS INSTITUCIONAL E SOCIOCUL- tadas, cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de
TURAL. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA: recursos, currículos e programas pré-elaborados pelo governo,
CONCEPÇÃO, PRINCÍPIOS E EIXOS NORTEADORES dentre tantos outros fatores, tudo em busca da redução de cus-
tos.
Todas essas questões contribuem de fato para a crise edu-
A escola é um espaço educativo, o seu trabalho não pode cacional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo
ser pensado nem realizado no vazio e na improvisação. O pro- dessa problemática, encontrar a raiz desses fatores, entenden-
jeto pedagógico que possibilita à escola inovar sua prática pe- do de onde eles surgem. A grande questão é: qual a origem
dagógica, na medida em que apresenta novos caminhos para as desses fatores que impedem a qualidade na educação?
situações que precisam ser modificadas. Certamente a resposta para uma discussão tão atual como
Definir o papel político que a escola exerce é de extrema essa surja com o estudo sobre as bases que compõem a socie-
importância quando discutimos sobre o Projeto Político-Peda- dade atual. Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais
gógico. A ação pedagógica é também política, pois visa formar amplas esferas, descobre-se que todas essas problemáticas
cidadãos, e esta ação será assumida no Projeto Político-Pedagó- surgem da forma como a sociedade está organizada com bases
gico, já que o mesmo oferece a identidade da escola. na propriedade privada, lucro, exploração do ser humano e da
Quando se fala do papel da escola frente à sociedade não natureza e se manifestam na ideologia do sistema.
se pode esquecer que a escola cumpre seu papel dentro de uma Um sistema que prega a acumulação privada de bens de
sociedade que está historicamente situada, possuindo ideolo- produção, formando uma concepção de mundo e de poder ba-
gias, relações de poder, divisões de classes sociais, modo de seada no acumular sempre para consumir mais, onde quanto
produção, analisar o papel da escola dentro de uma determi- mais bens possuir, maior será o poder que exercerá sobre a so-
nada sociedade implica reconhecer a educação como um ato ciedade, acaba por provocar diversos problemas para a popula-
político, pois suas ações possuem uma intencionalidade que re- ção, principalmente para as classes menos favorecidas, como:
forçará o modo imposto pela sociedade ou criará um espaço de falta de qualidade na educação, ineficiência na saúde, aumento
construção de uma contra - ideologia. Ao conter em si uma con- da violência, tornando os sistemas públicos, muitas vezes, ca-
cepção de sociedade, de homem, de cultura e conhecimento, a óticos.
educação essencialmente afirma-se intencional, não existindo Independentemente do discurso sobre a educação, ele
uma neutralidade no fazer pedagógico, pois a escola incorpora sempre terá uma base numa determinada visão de homem,
interesses ideológicos e políticos. dentro e em função de uma realidade histórica e social espe-
37 Fonte: www.pedagogiaparaconcurso.com.br cífica. Acredita-se que a educação baseia-se em significações

214
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
políticas, de classe. Freitag (1980) ressalta a frequente aceita- Os espaços educativos, principalmente aqueles de forma-
ção por parte de muitos estudiosos de que toda doutrina pe- ção de educadores devem orientar para a necessidade da rela-
dagógica, de um modo ou de outro, sempre terá como base ção subjetividade-objetividade, buscando compreender as rela-
uma filosofia de vida, uma concepção de homem e, portanto, ções, uma vez que, os homens se constroem na convivência, na
de sociedade. troca de experiências. É função daqueles que educam levar os
Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsá- alunos a romperem com a superficialidade de uma relação onde
vel pela manutenção, integração, preservação da ordem e do muitos se relacionam protegidos por máscaras sociais, rótulos.
equilíbrio, e conservação dos limites do sistema social. E refor- A educação, vista de um outro paradigma, enquanto me-
ça “para que o sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele canismo de socialização e de inserção social aponta-se como o
ingressam precisam assimilar e internalizar os valores e as nor- caminho para construção da ética. Não usando-a para cumprir
mas que regem o seu funcionamento.” funções ou realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar
A educação em geral, designa-se com esse termo a trans- a capacidade de reflexão, de criticidade e de trabalho não-alie-
missão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as téc- nado.
nicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais (...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos
um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, pela exploração, pela exclusão social e pela renovada força da
proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico violência, da competição e do individualismo. Assim, se a edu-
e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado cação e a ética não são as únicas instâncias fundamentais, é
e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, inegável reconhecer que, sem a palavra, a participação, a criati-
uma sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não vidade e apolítica, muito pouco, ou quase nada, podemos fazer
é transmitida de geração para geração; as modalidades ou for- para interferir nos contextos complexos do mundo contempo-
mas de realizar ou garantir essa transmissão chama-se educa- râneo. Esse é o desafio que diz respeito a todos nós. (RIBEIRO;
ção. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306) MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93)
Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agên-
formação do homem para que este possa realizar as transfor- cia produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser
mações sociais necessárias à sua humanização, buscando rom- formar o educando como homem humanizado e não apenas
per com o os sistemas que impedem seu livre desenvolvimento. prepará-lo para o exercício de funções produtivas, para ser con-
A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no sumidor de produtos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos,
seio da sociedade capitalista e no modo como esse modelo fetichizados.38
de produção nega o homem enquanto ser, pois a maioria das
pessoas vive apenas para o trabalho alienado, não se completa A complexidade da educação como prática social não per-
enquanto ser, tem como objetivo atingir a classe mais alta da mite tratá-la como fenômeno abstrato e natural, mas sim, imer-
sociedade ou, ao menos, sair do estado de oprimido, de mise- so num sistema educacional situado em uma dada sociedade e
rável. Perde-se em valores e valorações, não consegue discer- em um tempo histórico determinado. A análise levada a efeito,
nir situações e atitudes, vive para o trabalho e trabalha para neste texto, propõe discutir, ainda que brevemente, sobre a
sobreviver. Sendo levado a esquecer de que é um ser humano, corrente da psicologia soviética autodenominada Históricocul-
um integrante do meio social em que vive, um cidadão capaz de tural e sua contribuição para a educação e busca responder ao
transformar a realidade que o aliena, o exclui. seguinte questionamento: em quais aspectos a teoria histórico-
Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito -cultural, elaborada no início do século XX por estudiosos sovi-
do homem considera “(...) existindo num meio que se define éticos, implica na educação escolar da contemporaneidade no
pelas coordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, Brasil?
determina-o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação A resposta para essa questão se dará mediante a disser-
da escola na formação do homem e na forma como ela repro- tação dos seguintes pontos: os aspectos sociais, históricos e
duz o sistema de classes. culturais da elaboração da teoria de Vigotski; a relação do pen-
Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o traba- samento e da linguagem e sua função social; a formação dos
lho educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando conceitos espontâneos e científicos; e a relação entre trabalho,
sua finalidade quando os indivíduos se apropriam dos elemen- educação e práticas educativas.
tos culturais necessários a sua humanização. Ao afirmarmos que não podemos discutir a educação ali-
O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilida- jada das questões que formam a sociedade, dialogamos com
de do homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de Gasparin (2007, p. 1-2) que enfatiza que “a escola, em cada
concretizar sua humanização. E para issotanto a escola como momento histórico, constitui uma expressão e uma resposta à
as demais esferas sociaisdevem proporcionar a procura, a in- sociedade na qual está inserida. Nesse sentido, ela nunca é neu-
vestigação, a reflexão, buscando razões para a explicação da tra, mas sempre ideológica e politicamente comprometida. Por
realidade, uma vez que é através da reflexão e do diálogo que isso, cumpre uma função específica”, e tem sua função política.
surgem respostas aos problemas. Esta citação nos remete à discussão da função da escola no
Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o ho- processo de formação do homem. Pela Lei de Diretrizes e Bases
mem; na verdade, que sentido terá a educação se ela não esti- da Educação Nacional (LDBEN) Lei nº 9394/96 (BRASIL, 1996,
ver voltada para a promoção do homem?” E continua sua inda- p. 1) a educação tem por finalidade o “pleno desenvolvimento
gação ao refletir “(...) uma visão histórica da educação mostra do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
como esta esteve sempre preocupada em formar determinado qualificação para o trabalho”. Para atingir a formação indicada
tipo de homem. Os tipos variam de acordo com as diferentes pela legislação, partimos da ideia de que a escola tem um pres-
exigências das diferentes épocas. Mas a preocupação com o ho- suposto teórico e filosófico que determina sua dinâmica e seu
mem é uma constante.” 38 Fonte: www.webartigos.com

215
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
desenvolvimento. Isto porque, temos o entendimento defendi- O objetivo da mudança no critério de seleção era de dimi-
do por Duarte (2007) o qual seria impossível analisar histórica e nuir a qualidade dos estudantes judeus nas melhores universi-
criticamente a educação sem a fundamentação em uma teoria dades, já que a cota de três por cento estava mantida. Sobre
que a sustente. Ao nosso ver, essa deve definir a formação do esse dado biográfico Blanck (1996) relata que Vigotski, favoreci-
indivíduo como um processo, em essência, histórico e social. Ao do pela boa sorte, ingressou no curso de medicina. A escolha foi
nos posicionarmos desta forma, justificamos a escolha da base determinada por influência de seus pais. Com um mês de estudos
teórica e anunciamos a importância do aprofundamento nos as- trocou pelo Direito formando-se em 1917, e ainda se formou em
pectos históricos em que se originou e como ela se desenvolve História e Filosofia.
na contemporaneidade educacional do início do século XXI. Vygotsky estava interessado em estudar história ou filologia,
mas estas áreas de estudo o levariam a uma carreira de profes-
Vigotski e a Teoria Histórico-Cultural sor, e como judeu ele não poderia ser um empregado do Estado.
A teoria Histórico-Cultural é uma corrente da psicologia so- Consequentemente, ingressou no curso de medicina, uma opção
viética de base materialista que parte do entendimento de que encorajada por seus pais por garantir uma vida profissional mo-
o homem é um ser histórico e social e que, pelo processo de desta, porém segura. Depois de um mês; todavia, transferiu-se
aprendizagem e desenvolvimento, participa da coletividade. A para a escola de direito, uma opção mais adequada a seus inte-
teoria foi elaborada pelo pensador russo Vigotski com a cola- resses nas humanidades. Ironicamente, anos mais tarde, já como
boração de seus compatriotas Leontiev4 (1904-1979) e Luria5 um psicólogo renomado, Vygotsky entrou uma vez mais na escola
(1902-1977). de medicina como um modesto estudante de primeiro ano. A vida
4 Alexei é uma estrada com muitas curvas (BLANCK, 1996, p. 34).
Lev Semyonovich Vygodsky6 nasceu em 05 de novembro O preconceito que sua origem judaica sofreu esteve pre-
de 1896 em Orsha, cidade provinciana da Bielo-Rússia e faleceu sente em muitos momentos da vida de Vigotski, entre eles: na
em 11 de junho de 1934, em decorrência de complicações cau- obrigatoriedade de viver no Território de Assentamento duran-
sadas pela tuberculose. Sua vida foi muito breve, mas, em seus te o governo czarista; no ingresso à universidade e na escolha
37 anos teve uma singular contribuição para a compreensão da e exercício da profissão. Em relação à formação profissional
natureza humana e seu desenvolvimento. como trazemos no texto supracitado, a opção inicial não era
De acordo com Blanck (1996), a produção intelectual do viável porque na época, professores judeus não tinham permis-
são para serem funcionários públicos, restaria então lecionar
insigne psicólogo apresenta mais de 180 trabalhos e alguns
no Gymnasium judeu particular, o mesmo em que ele tinha se
manuscritos importantes os quais ainda não foram publicados.
formado. Enquanto que o curso de Direito poderia possibilitar
Seus estudos traduzidos e ou interpretados são fontes de con-
sua mudança para fora do Território de Assentamento onde
sultas de pesquisadores das diversas áreas das ciências huma-
morava.
nas, em principal: da psicologia e da educação. É necessário
Conforme Blanck (1996) e Van Der Veer e Valsiner (2006),
evidenciar que não é possível se apropriar da teoria descontex-
Vigotski casou-se em 1924 com Rosa Noevna Smekhova7. Foi
tualizada do tempo em que ele viveu e os fatos históricos que
nesse ano que participou do II Congresso de Psiconeurologia de
vivenciou tais como a revolução popular contra o czar (1905); a
Leningrado, marco importante em sua vida profissional, porque
crise social (1905-1917); a Revolução Russa (1917-1929); a mor-
determina a segunda fase da sua produção biográfica. Nesse
te de Lênin (1924); e, o início da ditadura de Stalin (1929). Vi- mais importante evento da Rússia, estavam presentes Luria
gotski nasceu em uma família judia de boa instrução e situação e Kornilov, diretor do Instituto de Psicologia de Moscou. Em
financeira favorável para uma excelente formação. De acordo pouco tempo, Kornilov, suficientemente impressionado com a
com Van Der Veer e Valsiner (2006) e Blanck (1996) foi o segun- genialidade de Vigotski, convida-lhe para ingressar ao Instituto
do filho de uma família de oito irmãos. Com um ano de idade, como pesquisador. Em algumas semanas, ele e sua família se
mudou-se para Gomel, localizada no sudoeste da Bielo-Rússia. estabelecem em Moscou.
Tinha acesso à boa biblioteca e estudou até 15 anos com tuto- Na literatura, podemos identificar que é nesse momento
res particulares. Blanck (1996) relata que com essa idade ele que Vigotski se associa à Luria e Leontiev para iniciar sua teoria
era chamado de “pequeno professor”, porque realizava deba- revolucionária:
tes e estudos com seus amigos. Foi nessa época que teve conta- [...] Na manhã seguinte de sua chegada, ele se reuniu com
to e interesse pelas ideias de Karl Marx (1812-1883) e Friedrich Luria e Leontiev para planejar um projeto ambicioso que con-
Engels (1820-1895). trastava notavelmente com a posição modesta de assistente de
Após os quinze anos de instrução com professores particu- segunda classe com a qual Vygotsky iniciava sua carreira: a cria-
lares, Vigotski foi um dos melhores alunos do Gymnasium judeu ção de uma nova psicologia. [...] Foi assim que a famosa troika
particular de Gomel. Em 1913, aos 17 anos já tinha concluído Vygotsky – Luria – Leontiev foi formada, com Vygotsky assumin-
os estudos básicos com medalha de ouro. Devido à sua religião, do a liderança natural. Cada um dos principais conceitos de psi-
essa láurea, era o seu acesso ao ensino universitário, já que cologia cognitiva foram revisados radicalmente. No início, eles
apenas três por cento dos estudantes podiam ser judeus. To- reuniram-se duas vezes por semana no quarto de Vygotsky para
davia, Vigotski precisou mais do que capacidade para entrar na organizar as pesquisas necessárias ao desenvolvimento de suas
universidade, precisou de sorte, porque: idéias. Em cerca de dois anos a eles se agregaram estudantes
[...] quando Vygotsky estava fazendo seus exames, o minis- como Alexandre Zaporovhets, Liya Slavina, Lidia Bozhovich, Na-
tro da educação divulgou uma circular declarando que estudan- tália Morova e Rosa Levina. Os ‘oito’, como eles eram chamados
tes judeus deveriam ser matriculados por sorteio. Esse foi um por seus colegas, encontravam-se no apartamento de uma peça
golpe violento para Vygotsky, cuja medalha de ouro tornara-se da rua Bolshaya Serpukhova, onde Vygotsky passara a viver, e
praticamente sem valor. Por sorte, ele foi um dos poucos felizar- onde passaria o resto de sua vida. Mais tarde, eles continuariam
dos e começou a estudar na Universidade de Moscou (VAN DER suas investigações no laboratório da Academia Krupskaya, sob
VEER; VALSINER, 2006, p. 19). a direção de Luria (BLANCK, 1996, p. 38).

216
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O contexto histórico em que estava inserido exigia uma re- pio fundamental do ser social, o trabalho. Essa corrente teórica
volução na forma de entender e desenvolver seu país. A União nega a existência de uma cultura de valor universal e retira da
Soviética apresentava sérios problemas sociais, entre eles, a escola sua função de transmitir e garantir a apropriação da cul-
educação. Havia nesse momento histórico pós-revolução um tura pelos indivíduos e que, por conta de sua ideologia, secun-
alto índice de analfabetismo, e ainda, o descaso com as pessoas dariza o papel do professor nesse processo.
com deficiência. O objetivo de Vigotski e seus colaboradores Isto posto, evidenciamos a importância de se conhecer o
era construir uma psicologia marxista para atender e solucionar contexto da produção de uma teoria; pois assim, entendemos
as contradições sociais. A psicologia burguesa não apresentava o todo maior da qual ela faz parte. Ao percebermos que o mo-
condições de superar e revolucionar o status quo. Aceitá-la se- mento pessoal de elaboração da teoria era de pós-revolução e
ria negar a revolução e o comunismo. Era necessário criar um que para o homem daquela época era imprescindível à apro-
novo conceito de homem para uma nova sociedade. priação do saber, compreendemos a importância que a teoria
De acordo com Tuleski (2008, p. 91) a nova compreensão vigotskiana atribui à apropriação do indivíduo, da experiência
da especificidade humana precisaria ser comprovada cientifi- histórica e social e, dos conhecimentos produzidos e acumula-
camente, pois não se reduzia a noções subjetivistas ou meca- dos historicamente pela humanidade.
nicistas. A nova psicologia deveria tratar a “relação homem e A escola tem papel fundamental na formação dos intelectu-
natureza de uma perspectiva histórica, na qual o homem fosse ais, é nela que se transmite cultura. A classe dominada precisa
produto e produtor de si e da própria natureza”. Em outras pa- desse espaço de formação cultural. Neste caso, com o entendi-
lavras, era necessária a negação das bases filosóficas emprega- mento de cultura como instrumento pela transformação social,
das até então, para a compreensão do indivíduo como um ser formar indivíduos que fazem a distinção entre o senso comum e
histórico, complexo e dinâmico. A presença de Marx é o deter- a “filosofia da práxis”. Cidadãos que consigam, conforme Kosik
minante para a elaboração de uma teoria sobre essa temática, (2002), compreender e destruir o mundo da pseudoconcretici-
em principal, pela visão de totalidade e síntese de homem. Mas, dade.
não intentava utilizar-se do método existente e adaptar às con- Para finalizar, trazemos Saviani (2003, p. 88) que ao anali-
dições da sociedade, o objetivo era empregar a metodologia sar a dimensão política da educação e a dimensão educacional
marxista para desenvolver uma nova psicologia. Os interesses da política, conclui que “[...] a importância política da educação
da troika e de seus colaboradores parece-nos explícitos na se- reside na sua função de socialização do conhecimento. É reali-
guinte passagem das Obras Escogidas, tomo 1: zando-se na especificidade que lhe é própria, que a educação
Não se trata de adaptar o indivíduo ao sábado, mas sim, cumpre sua função política”. Em síntese, ela só poderá desen-
o sábado ao indivíduo; o que necessitamos encontrar em nos- volver sua função política de humanização se fundamentar sua
sos autores é uma teoria que ajude a conhecer a psique, mas prática na sua função pedagógica de promover o ensino e a
em modo algum a solução do problema da psique, a fórmula apropriação dos conhecimentos elaborados e acumulados pela
que fecha e resume a totalidade da verdade científica. [...] O sociedade.
que se pode buscar previamente nos mestres do marxismo não
é a solução da questão, e nem sequer uma hipótese de trabalho Projeto Político-Pedagógico
(porque esta se obtém sobre a base da própria ciência), mas o O Projeto Político-Pedagógico (PPP) é uma ferramenta pri-
método de construção. [...] o que eu quero é aprender a totali- mordial na organização e no direcionamento do ano letivo. Ad-
dade do método de Marx, como a ciência é construída, a forma ministrar uma instituição escolar requer conhecimento, tempo,
de abordar a análise da psique. [...] O que falta não são opiniões colaboração e planejamento de uma série de pessoas envolvi-
pontuais, mas um método: e não o materialismo dialético, mas das com o ambiente educacional.
o materialismo histórico (VYGOTSKI, 1997, p. 390-391, grifo do Tudo isso, porém, tem grandes chances de acabar se voltan-
autor, tradução nossa). do para a figura central da direção: o diretor ou gestor escolar.
É possível estabelecermos, por meio dessa citação, duas O problema é que os diretores já realizam inúmeras tare-
condições essenciais para compreender a complexidade em que fas, como lidar com fornecedores e parceiros da instituição, por
esses pensadores pretendiam estruturar a nova teoria. Sinaliza- exemplo. Além também de lidar com o corpo docente e até com
mos como primeira, a clareza de que não bastava utilizar-se de os responsáveis pelos alunos e interessados na matrícula. Tudo
uma metodologia que adaptasse á ideia, o interesse vogava em isso pode acabar sobrecarregando-o e, na ausência de um pla-
estruturar uma teoria, que obedecesse o conjunto do método nejamento sólido, revelar-se como algo muito prejudicial.
de análise do fenômeno. E para isso, eis aqui a segunda, o ma-
terialismo dialético, por buscar compreender os fenômenos na- O que é o Projeto Político Pedagógico?
turais e sociais em termos da lógica dialética do filósofo alemão Em termos gerais, trata-se de um documento que norteia
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), seria incompleto. as bases de ações da instituição. Ele assumirá as diretrizes da
Faltava a essência da tese marxista, a qual estabelece que a instituição como compromisso de gestão escolar participativa.
história da humanidade é impulsionada pelos avanços tecno- Esse documento tem uma longa história. Simultaneamente,
lógicos (meios para a produção de bens materiais) e pelas mu- tem comprovada importância para o bom desenvolvimento das
danças na organização social, política e econômica. Portanto, diretrizes de educação.
como afirma Duarte (2007, p. 79) “para se compreender o pen- A partir da década de 1980 o Fórum Nacional em Defesa da
samento de Vigotski e sua escola é indispensável o estudo dos Escola Pública iniciou um processo que pudesse instituir uma
fundamentos filosóficos marxistas dessa escola psicológica”. gestão democrática no ensino. Isto proporcionou uma autono-
É inevitável pesquisar sobre Vigotski e não referenciar a mia escolar. Além de ter gerado diversas consequências posi-
questão pontual sobre as apropriações neoliberais e pós-mo- tivas, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
derna da teoria vigotskiana que entre outros aspectos cruciais (LDB), em 1996.
exclui a concepção marxista da teoria, a qual tem como princí-

217
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
De acordo com os artigos 12 a 14 da LDB, a escola tem au- Por que esse documento é necessário?
tonomia para determinar qual será o seu PPP e a estrutura que O PPP vai contemplar todo o trabalho desenvolvido na ins-
será seguida. O documento é encaminhado posteriormente tituição ao longo do ano letivo. Ele é o norte, a direção a seguir,
para a secretaria de ensino e deverá ser revisado pela institui- e, por isso, deve ser elaborado de acordo com a realidade da
ção de ano em ano. escola. Posteriormente é necessário ver a realidade da comuni-
dade na qual ela está inserida. O objetivo é garantir que ele seja
TÍTULO IV útil e possa servir a seu propósito.
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL É fundamental que o PPP seja anualmente atualizado para
que possa ser mantido vivo dentro da instituição, pois é a partir
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as nor- dos indicadores trazidos por ele que a escola terá a consciência
mas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência empresarial da verdadeira necessidade de determinar e execu-
de: tar um plano de ação que lhe traga reais vantagens. Entretanto,
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; infelizmente, é comum vê-lo engavetado e tornando-se um ins-
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e fi- trumento meramente burocrático.
nanceiros; Uma situação comum que merece atenção é que os indicado-
III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula res precisam servir para identificar os problemas e trabalhar em
estabelecidas; soluções. Quer dizer, a escola precisa saber o que fazer com os
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada dados que consegue obter para chegar em melhores resultados.
docente; Uma escola que pretende proporcionar uma educação efi-
V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor ciente e de qualidade deve ter a consciência da importância que
rendimento; o PPP tem. É um caminho flexível e que se adapta às necessi-
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando dades que os alunos e a própria instituição apresentam e pode
processos de integração da sociedade com a escola; ajudar bastante na tomada de decisões estratégicas.
VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e
O que ele deve conter?
o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua
Em princípio, o PPP deve conter as informações gerais que
proposta pedagógica;
identificam a escola. É essencial, também, que descreva a mis-
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
são, caracterização da clientela, informações sobre a aprendiza-
competente da Comarca e ao respectivo representante do Mi-
gem, recursos, composição do corpo administrativo e docente,
nistério Público a relação dos alunos que apresentem quan-
composição do conselho de pais e mestres, e planos de ação
tidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual
estratégicos.
permitido em lei.
Deve reunir, ainda, outras informações igualmente impor-
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
tantes, como a forma de avaliação dos alunos, os projetos que
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do es-
serão desenvolvidos ao longo do ano, temas geradores de de-
tabelecimento de ensino; bates e as aulas ou redes temáticas para serem desenvolvidas
II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a pro- nas aulas ministradas pelos professores.
posta pedagógica do estabelecimento de ensino; Como complemento, deve conter o método de ensino, os
III – zelar pela aprendizagem dos alunos; nomes dos autores em que se baseia o processo de aprendiza-
IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos gem, qual o modelo pedagógico da escola e como esse trabalho
de menor rendimento; será desenvolvido por ela. Ou seja, o PPP vai desenvolver tanto
V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, uma avaliação geral da educação, como as etapas a serem se-
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao guidas durante o ano.
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; Importante lembrar que o Projeto Político-Pedagógico da
VI – colaborar com as atividades de articulação da escola escola é um guia para a execução das atividades e deve man-
com as famílias e a comunidade. ter a flexibilidade necessária para lidar com imprevistos. Além
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da ges- disso, é relevante conter os métodos da escola para gerencia-
tão democrática do ensino público na educação básica, de acor- mento de crises e especificações para lidar com eventuais pro-
do com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princí- blemas que são possíveis de serem previstos.
pios: Basicamente, o Projeto Político Pedagógico vai reunir sete
I – participação dos profissionais da educação na elabora- itens, que podem ser divididos em capítulos da seguinte forma.
ção do projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conse- 1. Identificação da escola
lhos escolares ou equivalentes. Nessa parte inicial, devem constar os dados gerais sobre
O nome se refere aos planos de ações futuros que a escola a escola, tais como CNPJ, endereço, entidade mantenedora,
pretende executar quanto às situações apresentadas, seja em nome do diretor e do coordenador pedagógico, membros da
curto, médio ou longo prazo. Outro ponto são as diretrizes po- equipe de elaboração do PPP, além da caracterização: se a es-
líticas, partindo do princípio que o ambiente forma cidadãos cola atende ao ensino fundamental, médio e/ou técnico, horá-
conscientes de suas responsabilidades. E por fim com a parte rios de atendimento, turnos etc.
acadêmica, mostrando quais serão os recursos necessários para A identificação da escola é essencial, visto que o Projeto
suprir essa demanda. Político-Pedagógico é um documento oficial que deverá ser re-
gistrado na Secretaria de Educação da unidade federativa da
escola. Logo, é parte integrante dos requisitos mínimos para a
validade do documento.

218
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
2. Missão 6. Diretrizes pedagógicas
A missão se refere aos valores e princípios sobre os quais a Aqui são detalhadas as diretrizes da escola, tais como o mo-
escola se baseia. Essa parte do documento pode iniciar com um delo pedagógico: tradicional, democrático, construtivista etc.
histórico da instituição, desde a sua fundação, por quais mu- Deve-se explicar o que está previsto no currículo para cada ní-
danças passou, entre outras informações relevantes que refor- vel ou etapa escolar, o que permite uma construção mais sólida
cem as suas diretrizes. da estrutura pedagógica da instituição.
A missão em si costuma se resumir a uma frase que desig- Cabe lembrar que a base curricular é nacional, porém, de-
na o objetivo primário da instituição, considerando o modelo vido às características regionais, cada instituição também tem
pedagógico utilizado e o que se deseja alcançar em relação aos liberdade para construir sua grade de disciplinas e focar mais
alunos, comunidade e própria equipe. ou menos em determinados temas. Nessa hora, a participação
Como os valores e princípios tendem, ao longo do tempo, dos professores de cada área na elaboração do documento é
a se consolidar, essa é uma parte do PPP que não precisa ser fundamental, com coordenações atuantes.
reajustada anualmente — a não ser que a escola passe por mu-
danças significativas em sua missão naquela comunidade. No 7. Plano de ação
entanto, não se deve engessar a instituição com base no seu Por último, mas não menos importante, entra o plano de
histórico, pois toda escola precisa estar aberta a evolução e me- ação. O PPP deve conter as propostas de ações que serão exe-
lhorias. cutadas para que a instituição alcance seus objetivos e metas.
3. Contexto Qual o caminho que será percorrido para que, no final do ano,
O contexto no qual a escola está inserida influencia dire- haja 100% de aprovação, por exemplo. Ou que índices de quali-
tamente no seu PPP. Conhecer a realidade no seu entorno é dade precisam superados, são exemplos dessa reflexão.
fundamental para definir metas e objetivos do projeto. É pre- O conjunto desses dados é que vai determinar quais são
ciso ter um panorama da comunidade, e isso envolve a análise os caminhos que a instituição pretende seguir e os prazos que
de dados e pesquisa de campo demográfica, assim como colher serão estipulados para isso. O documento deve ficar disponível
informações relevantes entre os próprios alunos. para as pessoas que participaram e na incumbência dos direto-
A equipe de elaboração do PPP pode, por exemplo, fazer res de compilar os dados e concluir essa documentação.
um levantamento de informações básicas, utilizando as fichas
de matrícula dos alunos e, a partir daí, elaborar uma pesquisa Como elaborar o PPP?
para obter informações mais específicas, como a situação so- Para que o Projeto Político-Pedagógico tenha a eficiência
cioeconômica das famílias e da comunidade ao redor. desejada para o desenvolvimento da escola, é preciso saber de
É o momento, também, de firmar compromisso com as fa- que forma deve ser elaborado. Ou seja, quais as melhores prá-
mílias, deixando claro o que a escola tem a oferecer e o que es- ticas que devem ser adotadas.
pera da comunidade escolar. Isso também fornece importantes
informações para eventuais ações de marketing educacional e Conhecimento regional
subsídios para lidar melhor com questões externas. Toda escola nasce com o propósito de instruir e formar ci-
dadãos dentro da comunidade que está sendo inserida. Sendo
4. Indicativos sobre aprendizado assim, é imprescindível que seja feita uma análise dos motivos
Essa parte do documento interessa diretamente aos pais, da existência de uma instituição de ensino naquele ambiente.
que procuram indicativos para saber de que qualidade é o en- A equipe escolar deve verificar se a comunidade é carente
sino na instituição. Portanto, entram nesse tópico o número ou não. Isto é, qual o poder aquisitivo das famílias, assim como
atualizado de alunos na escola (total e por segmento), as taxas os costumes, moradias, enfim! Tudo que indique o contexto so-
de reprovação, a média de notas, o desempenho nas avaliações cioeconômico do entorno da escola.
governamentais, os prêmios recebidos (quando houver) entre Estando isso claro, passa a ser observado qual o contexto
outros. social que aquela instituição pode proporcionar à comunidade
Os indicativos sobre aprendizado são igualmente importan- que se encontra. Os objetivos estratégicos devem ter total cla-
tes para delimitar planos de ação da gestão escolar e pedagógi- reza para que a instituição consiga alcançá-los, considerando
ca da instituição de ensino. Com base neles, é possível verificar ainda prazos de implantação.
o que é passível de melhora, as áreas de risco e os campos de
incentivo, por exemplo. Participação colaborativa
Na teoria, esse documento deveria ser elaborado por todos
5. Recursos que contribuem para o crescimento e desenvolvimento da ins-
Os recursos, nesse caso, não se referem apenas às questões tituição. Ou seja: pais, mestres, coordenação, diretoria etc. Isso
e métricas financeiras. Esses podem estar citados, mas o impor- acontece naturalmente em uma gestão participativa.
tante são os recursos humanos, ou seja, quantos e quem são Infelizmente, é comum muitos gestores optarem pela ela-
os professores e demais funcionários, qual a infraestrutura da boração por meio de consultores externos ou cópias compradas
escola e os recursos tecnológicos para atender à necessidade de outros estabelecimentos estudantis. O ideal seria que sua
de aprendizado dos alunos. execução fosse algo colaborativo. Por mais que a escola tenha a
Isso ajuda no mapeamento de alocação de recursos e nas autonomia de fazer o que acha necessário dentro da construção
formas de otimizar os gastos. É possível, por meio desse tópico, desse documento. Isto é, de responsabilidade de várias pessoas
tornar os gastos e despesas mais eficientes, planejar melhor as e de diferentes competências e atribuições.
compras, ser mais eficaz na construção dos horários de aulas
etc.

219
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Plano de ação a partir da matrícula 5. Estagnar a evolução tecnológica
Vários indicadores podem ser formulados a partir do mo- Escolas que têm um sistema de gestão escolar conseguem
mento em que a matrícula é efetivada. Esses dados, por conse- apurar diversas situações que auxiliam no PPP. Além de ajudar
guinte, serão muito úteis na confecção do Projeto Político-Pe- nas várias áreas nele descritas. Bons exemplos são os aspectos
dagógico da escola. acadêmicos, financeiros, de controle bibliotecário e de integra-
Por meio da matrícula, a escola consegue mapear a loca- ção entre alunos, responsáveis, professores, etc.
lização dos alunos para prever, por exemplo, se pode ou não Muitos gestores se beneficiariam dos resultados obtidos
ocorrer evasão escolar e quais as ferramentas necessárias para e as informações seriam melhor alimentadas e atualizadas no
controlar isso. sistema, tornando o processo bem menos burocrático e enges-
Além disso, o plano de ação pode lidar com a potencial ina- sado.
dimplência escolar, ao já estabelecer meios e táticas para me- Dentre os mais variados planos de ação que uma escola
lhor cobrança. Aqui entram as diversas estratégias usadas para pode executar, a aplicação de simulados é muito eficiente. Por
aumentar a adimplência. meio da utilização de uma tecnologia atual, é possível propor-
cionar índices menores de reprovação. Além de uma prepara-
Quais os erros comuns na elaboração e execução do PPP? ção maior para os alunos em provas futuras.
Infelizmente, muitas escolas não dão o devido valor ao Pro-
jeto Político-Pedagógico e cometem erros repetidamente. A construção do Projeto Político Pedagógico – PPP, pelas
1. Copiar o PPP de outra instituição Instituições Educacionais é uma necessidade sem precedência,
Quando o gestor não tem ideia de como elaborar o PPP, disposto na Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº 9.394/96, especi-
parece fácil usar outro como base. É comum fazer pequenas ficamente nos artigos 12, 13, e 14.
modificações, como a identificação da escola, por exemplo. Pensar no processo de construção de um projeto político-
A elaboração de um Projeto Político-Pedagógico, ainda que -pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado e
possa se valer de um modelo, deve ser específica e construída importância. Vamos verificar como a LDB ressalta a importância
para a escola e sua comunidade. O objetivo é garantir melhores desse instrumento:
resultados. No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o “artigo da
2. Não revisar anualmente o documento escola” a Lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência
Depois de tanta pesquisa e elaboração, o PPP está pronto de elaborar e executar sua proposta pedagógica.
e não há mais no que mexer, certo? Errado. O documento deve O artigo 12, inciso VII define como incumbência da escola
ser revisado anualmente. Inclusive, ao longo do ano. Isto deve informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendi-
ser feito quantas vezes for necessário para melhorar a escola mento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta
para oferecer o melhor serviço educacional. pedagógica.
Ele não é algo engessado, pois o contexto socioeconômi- No artigo 13, chamado o “artigo dos professores”, apare-
co da comunidade pode mudar. Com isso, as avaliações podem cem como incumbências desse segmento, entre outras, as de
apresentar resultados diferentes, problemas e soluções surgem participar da elaboração da proposta pedagógica do estabeleci-
ao longo do tempo. mento de ensino, elaborar e cumprir plano de trabalho, segun-
A instalação de uma indústria no bairro ou mesmo um do a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
desastre natural são exemplos de algo que pode interferir no No artigo 14, em que são definidos os princípios da gestão
contexto. Isto pode mexer com as vidas dos alunos e afetar os democrática, o primeiro deles é a participação dos profissionais
estudos. Enfim, é importante manter o projeto atualizado, pois da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola.
ele deve refletir a realidade local e da própria escola. No artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de auto-
nomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. O que
3. Não ter transparência isso significa? Ter autonomia significa construir um espaço de li-
Algumas escolas mantêm o projeto guardado e dificultam berdade e de responsabilidade para elaborar seu próprio plano
o acesso a ele. Isso é um grande equívoco, pois o seu conhe- de trabalho, definindo seus rumos e planejando suas atividades
cimento pela comunidade escolar é o que vai torná-lo efetivo. de modo a responder às demandas da sociedade, ou seja, aten-
Por exemplo, o ideal é imprimi-lo e fixá-lo nos murais da esco- dendo ao que a sociedade espera dela. A autonomia permite à
la ou deixá-lo disponível no site da escola. Outra boa opção é escola a construção de sua identidade e à equipe escolar uma
compartilhá-lo com todos os professores e funcionários. Além atuação que a torna sujeito histórico de sua própria prática.
também dos familiares dos alunos já no começo do período le- A Resolução nº 17/99/CEE/SC DE 13/04/99, estabelece di-
tivo, junto com a matrícula. retrizes para a elaboração do PPP. No Capítulo IV, art. 8ª, define
o prazo final para as escolas aprovarem o seu projeto político
4. Ignorar conflitos de ideias pedagógico até o dia 31 de dezembro de 1999.
Como dissemos, o PPP deve ser elaborado coletivamen- No parecer nº 405 aprovado em 14/12/2004, o PPP apare-
te — e isso implica em debates. Todas as opiniões devem ser ce como: PPP como direito e dever: o PPP se apresenta como
consideradas e discutidas até que haja consenso majoritário. direito ao permitir a escola consolidar sua autonomia pensan-
Desconsiderar a opinião da comunidade em geral cria um dis- do, executando e avaliando o próprio trabalho, ao mesmo tem-
tanciamento com a realidade. Portanto, não passe por cima dos po que, explicita a intencionalidade de suas ações. O PPP se
conflitos de forma arbitrária. apresenta como dever por se vincular aos aspectos legais que
emanam da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei
do Sistema Estadual de Educação e diretrizes emanadas pelo
Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina. (Proc. PCEE
781/045 fl. 4).

220
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Quando a escola solicita auxílio para elaboração de sua A partir dessas finalidades, é preciso destacar que o pro-
proposta, ela não está se referindo apenas ao documento em jeto políticopedagógico extrapola a dimensão pedagógica, en-
questão, mas também busca subsídios que a ajude a enfrentar globando também a gestão financeira e administrativa, ou seja,
os desafios presentes no seu cotidiano. os recursos necessários à sua implementação e as formas de
Os cursos de formação também poderiam incentivar as gerenciamento. Em suma: construir o projeto político-pedagó-
escolas a reestruturarem o seu PPP, utilizando o curso como gico significa enfrentar o desafio da transformação global da
estratégia de motivação (ou sensibilização) para se repensar a escola, tanto na dimensão pedagógica, administrativa, como na
prática e os objetivos da escola, como também propor mudan- sua dimensão política.
ças necessárias. Segundo Vasconcellos (2006, p169), projeto político-peda-
As escolas já não sabem mais como trabalhar as questões gógico é “a sistematização, nunca definitiva, de um processo de
de violência e falta de ambiente favorável à aprendizagem. Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza
Professores e alunos cada vez mais estressados e desesperan- na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa
çados. Estamos vivendo um momento de conflitos interiores e que se quer realizar. É um importante caminho para a constru-
exteriores. O que fazer? Como fazer? São perguntas que nos ção da identidade da instituição. É um instrumento teórico-me-
atormentam constantemente. (SILVA, 2004, p. 32). “Discutir todológico para a intervenção e mudança da realidade. É um
com os professores assuntos relacionados a esta temática foi elemento de organização e integração da atividade prática da
considerado de grande importância neste período, para efetivar instituição neste processo de transformação.”
melhorias no relacionamento dentro das instituições escolares. Ao concluir este documento coletivamente, a escola terá
Porém, cabe destacar que esses assuntos podem ser resolvidos dado um grande passo, não apenas pela definição do trabalho
dentro da própria escola, buscando os pressupostos filosóficos pedagógico, mas pela vivência de um trabalho onde foi possível
presentes nos PPPs e considerando os problemas apontados no exercitar a cidadania.
cotidiano de cada uma delas.” O projeto político pedagógico faz parte do planejamento e
Pensar no processo de construção de um projeto político- da gestão escolar e sua importância reside no fato de que ele
-pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado passa a ser uma direção, um rumo para as ações da escola. É
e importância. Como vimos anteriormente a LDB ressalta a im- uma ação intencional que precisa ser definida coletivamente,
portância desse instrumento em vários de seus artigos. É bom com consequente compromisso coletivo. O projeto é político
lembrar que, pela primeira vez no Brasil, há uma Lei de Dire- porque reflete as opções e escolhas de caminhos e prioridades
trizes e Bases da Educação Nacional que detalha aspectos pe- na formação do cidadão, como membro ativo e transformador
dagógicos da organização escolar, o que mostra bem o valor da sociedade em que vive. O projeto é pedagógico porque ex-
atribuído a essa questão pela atual legislação educacional. pressa as atividades pedagógicas e didáticas é que levam a es-
Dessa forma, essa é uma exigência legal que precisa ser cola a alcançar seus objetivos educacionais. 39
transformada em realidade por todas as escolas do país. En-
tretanto, não se trata apenas de assegurar o cumprimento da Eixos norteadores do PPP
legislação vigente, mas, sobretudo, de garantir um momento O PPP, contemplando a organização do trabalho da escola
privilegiado de construção, organização, decisão e autonomia como um todo, deve estar embasado em princípios que nor-
da escola. Por isso, é importante evitar que essa exigência se re- teiam a escola democrática, pública e gratuita, dando identi-
duza a mais uma atividade burocrática e formal a ser cumprida. dade à instituição escolar. De acordo com Veiga (1991, p. 82),
Um projeto político-pedagógico voltado para construir e os princípios do PPP são: igualdade, qualidade, gestão demo-
assegurar a gestão democrática se caracteriza por sua elabora- crática, liberdade/autonomia e valorização do magistério. Esses
ção coletiva e não se constitui em um agrupamento de projetos possuem um caráter permanente e fundamentado nas ações
individuais, ou em um plano apenas construído dentro de nor- pedagógicas.
mas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores. Acreditamos que os princípios analisados e o aprofunda-
Mas o que é mesmo projeto político-pedagógico? mento dos estudos sobre a organização do trabalho pedagógico
Segundo Libâneo (2004), é o documento que detalha obje- trarão contribuições relevantes para a compreensão dos limites
tivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvol- e das possibilidades dos PPPs voltados aos interesses das cama-
vido na escola, expressando a síntese das exigências sociais e das menos favorecidas.
legais do sistema de ensino e os propósitos e expectativas da Segundo Veiga (1991, p.82), a importância desses princípios
comunidade escolar. está em garantir sua operacionalização nas estruturas escola-
Na verdade, o projeto político-pedagógico é a expressão da res, pois uma coisa é estar no papel, na legislação, na proposta,
cultura da escola com sua (re)criação e desenvolvimento, pois no currículo pensado, e outra é estar ocorrendo na dinâmica
expressa a cultura da escola, impregnada de crenças, valores, interna da escola, na ação-reflexão-ação, no real, no concreto.
significados, modos de pensar e agir das pessoas que participa- A seguir, serão abordados cada um desses princípios.
ram da sua elaboração.
Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realida- Gestão democrática
de. Para isso, é preciso primeiro conhecer essa realidade. Em É um dos princípios contemplados pela Constituição Fede-
seguida reflete-se sobre ela, para só depois planejar as ações ral, abrange as dimensões pedagógicas, administrativas e finan-
para a construção da realidade desejada. É imprescindível que, ceira. A gestão democrática implica o repensar da estrutura de
nessas ações, estejam contempladas as metodologias mais ade- poder da escola, tendo em vista sua socialização, propiciando a
quadas para atender às necessidades sociais e individuais dos participação coletiva dos diferentes segmentos no processo de
educandos. tomada de decisões.
39 Fonte: www. escolaweb.com.br/www2.senado.leg.br/www.antigo.
fecam.org.br

221
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A gestão democrática é um princípio fundamental para a Quanto aos critérios intrínsecos à prática pedagógica, destaca-
elaboração do PPP, constituindo-se em um importante direcio- mos a organização curricular adotada, tendo em vista garantir
namento, pois a partir dela a integralidade das ações da escola, uma aprendizagem voltada às necessidades e ao sucesso do
sejam elas políticas ou pedagógicas, são definidas por toda a aluno. Os critérios extrínsecos e intrínsecos à prática pedagógi-
comunidade escolar. De acordo com o Módulo 5 - Gestão Es- ca por sua vez estão intimamente relacionados com a qualidade
colar Democrática, verifica-se que o grande desafio da gestão do ensino
democrática é como incentivar a participação da comunidade
nas discussões e tomadas de decisões para que ela se torne cor- Qualidade
responsável pelos objetivos da escola em função do aprendiza- O desafio do PPP é propiciar uma educação de qualidade
do dos estudantes Este direcionamento pressupõe que todos os para todos, não sendo um privilégio de minorias econômicas e
envolvidos no trabalho escolar devem participar das definições sociais, além de assegurar um padrão mínimo de qualidade para
e dos rumos que a escola seguirá para atingir seus objetivos. Ao a instituição de ensino.
adotar este princípio na elaboração do PPP, evidencia-se que a Segundo Veiga (2013, p. 17),
escola não está centralizada nas decisões dos diretores esco- A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
lares ou de uns poucos profissionais, estando aberta à partici- maneiras possíveis a repetência e a evasão. Precisa garantir a
pação de todos os segmentos da comunidade escolar nos seus meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Quali-
processos de discussão e decisões. dade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa de
É por meio dessa participação que as relações entre escola acesso global, no sentido de que as crianças, em idade esco-
e comunidade se estreitam. Segundo Libâneo (2013), lar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência dos que
a participação é o principal meio de assegurar a gestão de- nela ingressarem.
mocrática, possibilitando o envolvimento de todos os integran- O PPP deve definir os fins e o tipo de escola que almeja,
tes da escola no processo de tomada de decisão e no funcio- pressupondo uma concepção de sociedade, de homem/cida-
namento da organização escolar. A participação proporciona dão, de escola e de mundo, as quais são essenciais para a cons-
melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de trução de um projeto de qualidade, pois norteiam as ações es-
sua estrutura organizacional e de sua dinâmica, de suas rela- pecíficas para obtenção dos fins que se pretende.
ções com a comunidade, e propicia um clima de trabalho fa- Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é
vorável a maior aproximação entre professores, alunos e pais. aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o do-
(LIBÂNEO, 2013, p.89). mínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades
Entretanto, para gerar a participação da comunidade no cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de neces-
ambiente escolar faz-se necessário que os diretores escolares sidades individuais e sociais dos alunos. (LIBÂNEO; OLIVEIRA;
compreendam a real importância da participação e permitam TOSCHI, 2010, p.117).
que ela ocorra de maneira efetiva.
Liberdade/autonomia
É importante que os diretores escolares viabilizem espaços O princípio da liberdade está sempre associado à ideia de
e horários para interação dos segmentos com seus pares e com autonomia, a qual nos remete para regras e orientações cria-
outros, por meio de reuniões e assembleias que permitam a das pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições
discussão e a troca de ideias sobre as possibilidades e necessi- externas. A liberdade deve ser considerada, também, como li-
dades da escola, de modo que a comunidade seja ouvida como berdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e
parte integrante dos processos decisórios. o saber direcionados para uma intencionalidade definida cole-
tivamente. Na escola, a liberdade deve ser pensada na relação
Igualdade entre os diferentes segmentos em um contexto participativo,
Segundo Veiga (2013, p.16), a igualdade de oportunidades, em que todos podem influir no processo de tomada dedecisões
mais do que a expansão quantitativa de ofertas, necessita da e, em consequência, terem responsabilidades sobre elas, inclu-
ampliação do atendimento com simultânea manutenção de sive no que diz respeito à elaboração do PPP.
qualidade. Isso quer dizer: acesso, permanência com sucesso De acordo com Medel (2008, p. 54), a autonomia refere-se
escolar. à capacidade de governar e de dirigir-se dentro de certos limi-
A Constituição Federal, a LDBEN n.º 9.394/96 e a Lei nº tes definidos pela legislação e pelos órgãos do sistema educa-
8.069/1990, que trata do Estatuto da Criança e do Adolescente cional, auxiliando os vários atores a estabelecerem os caminhos
(ECA), também citam a igualdade de condições para acesso e que a escola define para percorrer. Faz-se necessário compre-
permanência na escola. Assim, para enfrentar este desafio, é ender que quanto mais a instituição de ensino adquire autono-
imprescindível a previsão de ações e estratégias de acompanha- mia e competência, mais responsabilidade ela assume diante
mento para todos os estudantes, especialmente aqueles que se da comunidade.
encontram em situação de risco de abandono e/ou vulnerabili- A escola tem autonomia para definir em seu PPP as concep-
dade, no sentido de assegurar a permanência na escola. Há que ções e ações a serem desenvolvidas, no entanto deve observar
se prever uma prática pedagógica diferenciada para os estudan- o que compete a ela segundo os preceitos legais.
tes com dificuldades de aprendizagem.
Conforme aponta Cury (2007, p. 490), “não basta o acesso Valorização do magistério
à escola. É preciso entrar e permanecer. A permanência se ga- A qualidade de educação está estreitamente relacionada à
rante com critérios extrínsecos e intrínsecos ao ato pedagógico formação inicial e continuada, condições de trabalho e remune-
próprio do ensino/ aprendizagem”. Os critérios extrínsecos são ração dos profissionais do magistério. A formação continuada é
determinados socialmente, interferem na prática pedagógica, indispensável para a discussão da organização da escola como
mas as possibilidades de resolução estão para além da escola. um todo e de suas relações com a sociedade.

222
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A formação continuada é um direito de todos os profissio- Marco conceitual - o que queremos?
nais que trabalham na escola, uma vez que não só ela possibilita Esta segunda parte do PPP apresenta a conceituação dos
a progressão funcional baseada na titulação, na qualificação e fundamentos teóricos nos quais a escola se pauta para aten-
na competência dos profissionais, mas também propicia, funda- der à sua função social, ou seja, a partir do que foi descrito
mentalmente, o desenvolvimento profissional dos professores no Marco Situacional, a instituição de ensino relaciona o seu
articulado com as escolas e seus projetos. (VEIGA, 2013, p. 20). contexto com concepções e pressupostos teóricos que mais se
Dessa forma, o PPP deve contemplar a formação dos pro- aproximam da realidade de sua comunidade escolar e das ne-
fissionais da escola, sendo necessário que o diretor investigue cessidades da escola pública, a fim de definir as ações a serem
as necessidades destes para a sua formação continuada, ela- desenvolvidas no cotidiano escolar, bem como as projetadas
borando seus programas com apoio da entidade mantenedora. como referência para o futuro.
É importante que o diretor oportunize tempos e espaços para Assim, as concepções e os pressupostos descritos no Marco
a formação continuada em serviço, acompanhando e estimu- Conceitual constituem-se como base para o planejamento do
lando a participação de todos os profissionais da educação nos professor, a fim de que a sua prática pedagógica seja condizen-
eventos previstos no Calendário Escolar. te com as necessidades educativas dos estudantes, possibilitan-
Após conhecer os princípios norteadores do PPP, é preciso do que a escola cumpra sua função social.
organizar este documento. Confira no próximo tópico os ele- Somente com conhecimento das concepções é possível to-
mentos que constituem a (re)construção do PPP. mar decisões condizentes com as necessidades delineadas no
Marco Conceitual. Identificar as concepções em que se pautam
Elementos constitutivos do PPP as práticas pedagógicas realizadas na escola implica em reconhe-
Ao projetar ações e intenções partindo do já existente e das cer quais valores, objetivos e compromissos são priorizados nas
possibilidades concretas, o PPP se apoia em concepções neces- experiências de aprendizagens propiciadas aos estudantes, bem
sariamente ligadas ao caráter social da educação e que definem como quais os princípios que sustentam as práticas dos sujeitos
a opção educativa da escola, a partir da qual, a escola organiza presentes na escola. Assim, sugerimos que os diretores escolares
e registra as ações que serão realizadas pela comunidade esco- incentivem a equipe pedagógica e os docentes a refletirem so-
lar para atingir os objetivos educacionais. bre a função social da escola aliada aos estudos das tendências
O PPP é constituído de três partes que se integram para pedagógicas da educação brasileira, bem como atentar para as
traçar o projeto da escola: Marco Situacional, Marco Conceitual discussões atuais, como a Base Nacional Comum Curricular e as
e Marco Operacional. legislações dos Conselhos Nacional e Estadual de Educação.

Marco situacional - o que somos? Marco operacional - o que faremos?


Esta primeira parte do PPP apresenta o diagnóstico da rea- É a parte do PPP que compreende o planejamento das
lidade escolar e do seu entorno, bem como as necessidades de- ações a serem tomadas pela comunidade escolar para efetivar
tectadas no Plano de Ação da instituição de ensino. É importan- o projeto de escola traçado nos dois primeiros marcos. Tal pla-
te porque a partir do estudo da realidade escolar, delineia-se a nejamento é um processo contínuo de conhecimento e análise
identidade institucional da escola, o que possibilita identificar da realidade escolar em busca da solução de problemas no pro-
e fortalecer práticas pedagógicas coerentes com essa identida- pósito de tomada de decisões.
de, ou seja, a análise dos dados da realidade escolar possibilita Nesse sentido, deve passar periodicamente por avaliação e
definições de permanências e/ou mudanças pautadas em con- revisão, tendo em vista o redirecionamento das ações. Isso por-
cepções condizentes com os princípios da escola pública e que que, o Marco Operacional indica o caminho a seguir antecipan-
visem à aprendizagem de todos os estudantes daquela comuni- do resultados, uma vez que articula objetivos e elementos para
dade específica. atingi-los, como as estratégias, os recursos e os responsáveis.
Chegar a esse diagnóstico exige, além da observação atenta Assim, definem-se ações de curto, médio e longo prazo a serem
e criteriosa da comunidade escolar, o conhecimento das con- realizadas nos âmbitos pedagógico e administrativo, as quais
cepções que subsidiam o entendimento da sua realidade. Além estão correlacionadas com o Plano de Ação da escola.
disso, essa análise deve valorizar a pluralidade cultural, o res- Além disso, o Marco Operacional deve contemplar a des-
peito às diferenças de gêneros, raça, etnia e orientação sexual, crição de quais projetos e/ou programas, sejam eles institucio-
que são elementos constitutivos do território educacional em nais/estaduais/ federais, que a escola desenvolve. No entanto,
que a escola está localizada. deve ter em mente sempre que as ações didático-pedagógicas
Esse território educacional é registrado no Marco Situacio- descritas terão como ponto de partida e de chegada a articula-
nal do PPP, em que se apresenta uma descrição da realidade es- ção com a PPP.
colar com as características mais relevantes da comunidade em Essa parte do PPP é a referência para a sua execução, pois
que a escola está inserida (perfil socioeconômico), incluindo a é um instrumento para guiar as ações da escola. Para tanto,
diversidade dos sujeitos e priorizando os aspectos que implicam o marco operacional deve conter as proposições de ações vol-
no processo de ensino e aprendizagem. tadas às situações identificadas no marco situacional (diagnós-
Para planejar as ações, é preciso saber o que se quer reali- tico) considerando o marco conceitual (fundamentos) em que
zar, o que está dando certo e o que precisa ser mudado. Os di- se estabeleceu a intencionalidade. As ações na prática indicam
retores escolares, como condutores do processo de elaboração como a escola pretende chegar ao projeto de escola político
do PPP, devem ficar atentos ao diagnóstico e tê-lo em mente e pedagógico. Reflete as decisões tomadas pelo grupo e pelas
em todas as decisões da gestão. quais os diretores são responsáveis por mobilizar a efetivação,
As considerações a respeito da realidade da instituição in- ou seja, implementar as ações propostas neste documento.
cluem os aspectos positivos e os desafios que subsidiam o pla-
nejamento, e, essencialmente, definem a identidade da escola.

223
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A implementação do PPP acontece na inter-relação entre Além das esferas de abrangência supramencionadas, há
os três marcos (situacional/conceitual/operacional), por meio ainda a gestão que ocorre no interior dos estabelecimentos de
da efetiva execução das ações assumidas coletivamente. ensino, ou seja, feita no cotidiano de cada escola. Nesse espaço
Uma dica para os diretores organizarem melhor o marco o trabalho escolar conta com a orientação e o acompanhamen-
operacional é dividir as ações em curto prazo, médio prazo e to de gestores escolares, tanto no âmbito administrativo como
longo prazo. Para as ações de curto prazo, pode-se estabelecer na organização do trabalho pedagógico.
um formato semelhante ao Plano de Ação da escola, pois este Portanto, abordar o tema gestão consiste em lançar ques-
é um instrumento de planejamento dinâmico com o intuito de tões, discussões e declarações sobre um processo intencional,
especificar ações imediatas e contínuas. As ações de médio e de caráter político e social. Trata-se de uma ação, que materia-
longo prazo preveem os projetos e programas que a escola pre- lizará o planejamento ideológico e político que a fundamenta.
tende desenvolver ou dar continuidade incorporados às práti- Vale retomar que a partir das reformas educacionais ocorri-
cas escolares. das no Brasil após o período da ditadura civil militar, na década
de 1980, o advento da CF/88 estabeleceu uma lógica de partici-
A gestão educacional a partir do PPP pação federativa na oferta e no desenvolvimento da educação
Abordar o tema Gestão Educacional é uma tarefa complexa escolar. Por meio do estabelecido regime de colaboração entre
em virtude, principalmente, de sua abrangência. Significa te- os entes federativos (sistemas: federal, estaduais, municipais
cer considerações sobre as ações pedagógicas desenvolvidas e do distrito federal), iniciou-se um processo de descentraliza-
no campo educacional, e, por conseguinte, fomentar reflexões ção do planejamento, do financiamento e da administração do
sobre as concepções que motivam o desenvolvimento do todo ensino.
o processo educativo. Anterior à promulgação da CF/88, os encontros, as confe-
Sabemos que a Educação sistematizada não é imparcial e rências internacionais já davam sinais de grande influência so-
que o desenvolvimento de um projeto de educação é permeado bre a educação brasileira. Essa articulação com os organismos
de intenções e de ideologias (FREIRE, 2002). Do mesmo modo, internacionais suscitaram planos, programas, documentos ofi-
quando falamos em Gestão Educacional nos referimos à mate- ciais e dispositivos legais que modificaram concepções e ações
rialização de intenções e de planejamentos repletos de influên- em torno do cenário educacional do país, principalmente a par-
cias ideológicas. tir da década de 1990.
No caso brasileiro, a Gestão Educacional tem fundamenta- Nessa esteira, com a perspectiva de descentralização da
ção nas mais importantes leis que envolvem a educação esco- gestão escolar, a legislação educacional passou a regulamentar
lar: a Constituição Federal de 1988 (CF/88) e a Lei de Diretrizes a ampliação da autonomia da escola quanto à organização do
e Bases para a Educação Nacional (LDB). Com base nesses do- processo educativo, o que culminou na elaboração de Projetos
cumentos podemos compreender a Gestão Educacional como Políticos Pedagógicos (PPP) preconizados em lei. Consoante a
a forma de planejar, organizar, normatizar, regular e executar isso, nos termos da LDB, em seu artigo 12, fica estabelecido
a educação escolar pelos sistemas de ensino, que, por sua vez, que, entre outras atribuições, cabe aos estabelecimentos de
são regulados pelos respectivos entes federados: nacional, es- ensino: “elaborar e executar sua proposta pedagógica, adminis-
tadual, municipal e distrito federal. trar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros, assegu-
Sobre o significado dos termos concernentes à gestão edu- rar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas”,
cacional, vale organizá-los conforme o contexto a que se refe- velar pela aprendizagem dos alunos, assegurando, inclusive
re, a fim de viabilizar a melhor compreensão do leitor. Assim, formas de recuperação da aprendizagem, além de promover a
apresentamos abaixo, de forma breve e à luz de alguns autores articulação com a família e com a comunidade em geral.
da área e de documentos oficiais, concepções sobre o termo Sobre a elaboração do PPP na escola, Libâneo, Oliveira e
gestão nas diversas esferas de sua abrangência no contexto Toschi (2009, p.178) afirmam que o documento/ação é “[...]
educacional. proposto com o objetivo de descentralizar e democratizar a to-
Em linhas gerais, o termo gestão é concebido por Libâneo mada de decisões pedagógicas, jurídicas e organizacionais na
(2008) como a atividade pela qual são mobilizados meios e pro- escola, buscando maior participação dos agentes escolares”.
cedimentos para se atingir determinados objetivos, ou seja, são Podemos notar que a elaboração do PPP vai ao encontro
“os processos intencionais e sistemáticos de se chegar a uma dos princípios constitucionais que agrega à educação o direito
decisão e de fazer a decisão funcionar [...]” (LIBÂNEO, 2008, p. fundamental inalienável e como vistas à formação integral do
101). aluno. Pois, ao produzirem o PPP, as unidades escolares, em
No contexto educacional, a gestão é concebida por Paro consonância com os respectivos órgãos administrativos, devem
(2010) como o ato de administrar ou de mediar todos os re- garantir que sejam priorizadas as necessidades e as realidades
cursos, mobilizando-os para a obtenção de resultados. Ainda dos alunos e da comunidade local/regional.
na concepção do autor, a gestão educacional, com ênfase no Nesse percurso que aponta para a consolidação da educa-
papel desempenhado pelo diretor escolar, pode ser comparada ção participativa, Freire (2003) tece advertências sobre algu-
à administração empresarial, que se curva muito mais aos as- mas características histórico-culturais da educação escolar que
pectos burocráticos do que às ações de natureza diretamente precisam ser superadas. Entre elas, destacam-se: a superposi-
pedagógicas. ção da escola à realidade escolar local/regional, a orientação
No caso dos Sistemas de Ensino, com base na LDB e demais excessivamente centralizadora das instituições escolares; o his-
legislações educacionais, a gestão é dirigida ou administrada tórico autoritarismo e o caráter assistencialista das atividades
por órgãos (Secretarias de Educação, diretorias de ensino), que (BEISIEGEL, 2008).
orientam, instituem normas, acompanham e avaliam o desen- Por outro lado, para que a educação escolar cumpra o pa-
volvimento do trabalho pedagógico nas unidades de ensino. pel de formação integral, torna-se necessário o planejamento
de ações educativas voltadas à educação para e pela cidadania,

224
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
o que significa transformar o ambiente escolar num espaço de Notamos nesse contexto que os termos planejamento, pla-
práticas democráticas e democratizantes. Nessa perspectiva, a no e projetos se tornaram alvos de muitos estudos e passaram
produção de mecanismos e instrumentos de gestão democráti- a ser comumente incorporados nos discursos relacionados aos
ca no espaço intra-escolar se torna condição sine qua non. processos de gestão educacional.
Considerando o exposto, salientamos neste texto a impor- Gandin (2001) aborda a questão concernente ao planeja-
tância das reflexões e das discussões em torno da construção mento e declara que podemos compreendê-lo como as ações a
do PPP escolar, pois compreendemos e defendemos que esse serem executadas com vistas às necessidades de alguém ou de
instrumento/mecanismo de gestão educacional pode viabilizar grupos, tendo por base o que é socialmente desejável.
a educação participativa, a qual concebemos como um dos pila- Entretanto, elucida que,
res para a efetivação da democracia na gestão da escola. É impossível enumerar todos os tipos e níveis de planeja-
Sendo assim, este estudo tem como objetivo central refletir mento necessários à atividade humana. Sobretudo porque,
e lançar a discussão sobre a importante função social do PPP sendo a pessoa humana condenada, por sua racionalidade, a
escolar na organização e no desenvolvimento do projeto educa- realizar algum tipo de planejamento, está sempre ensaiando
tivo voltado à participação popular, na perspectiva de uma edu- processos de transformar suas ideias em realidade. Embora não
cação não apenas participativa, mas, sobretudo, democrática. o faça de maneira consciente e eficaz, a pessoa humana possui
uma estrutura básica que a leva a divisar o futuro, a analisar a
O Projeto Político Pedagógico como mecanismo da gestão realidade e a propor ações e atitudes para transformá-la (GAN-
educacional democrática DIN, 2001, p. 85).
O processo de redemocratização do Brasil na década de No que se refere ao termo projeto, Veiga (2013) esclare-
1980 suscitou mudanças importantes no cenário educacional. ce que está ligado à ideia de lançar para diante, ao futuro. No
Esse período foi marcado pela busca da abertura política, com caso educacional, a autora afirma que se trata de planejar o que
participação popular e a organização da sociedade na luta por se tem a intenção de fazer, de realizar, partindo da realidade
direitos, por gestão democrática do Estado, em prol da constru- constatada, tendo por base os recursos disponíveis e visando a
ção de uma sociedade mais justa e igualitária. Esse cenário fa- alterações do futuro.
voreceu mudanças nas concepções e no planejamento de ações Trata-se da busca de um rumo, uma direção. É intencional
e políticas educacionais voltadas para a abertura à democracia. e, no caso educacional, constitui-se como um compromisso de-
Entre as reformas ocorridas na época, a promulgação da finido coletivamente, a partir dos interesses reais e coletivos
CF/88 consolidou a conquista de direitos sociais, inclusive no da população majoritária e caminha na direção da formação do
que se refere à democratização da educação e abriu possibili- cidadão para um tipo de sociedade, daí a sua dimensão política.
dades de ampliação da participação popular na gestão educa- (VEIGA, 2013).
cional e favoreceu o desenvolvimento da autonomia dos entes Na dimensão pedagógica é caracterizado pela possibilidade
federados e dos sistemas de ensino. Os movimentos sociais em de efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação
prol da democracia alcançaram o interior das unidades escola- do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e
res, fortalecendo a implementação dos órgãos colegiados. criativo. Define as ações educativas e as características neces-
Na década seguinte, anos de 1990, a educação escolar foi sárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencio-
pauta de muitos estudos teóricos e de agendas políticas. Nesse nalidade (VEIGA, 2013).
período, uma das ações de expressiva relevância consiste na Por fim, quanto ao sentido de plano, concebemos neste
promulgação da nova LDB/96, que, apesar de suas limitações texto como as formas escritas de oficialização dos planejamen-
e/ou omissões, vem garantir no texto legal a abertura da ges- tos e dos projetos.
tão educacional, principalmente ao estabelecer a prática da de-
mocracia no planejamento e nas decisões do trabalho escolar Bases legais para a elaboração do Projeto Político Peda-
como um dos princípios fundamentais de desenvolvimento da gógico
educação escolar. Assim, estabeleceu-se a organização do espa- Considerando as abordagens anteriores, é importante sa-
ço e do trabalho pedagógico escolar tendo como participantes lientarmos a necessidade e as formas de materialização dos
dessa gestão pais, alunos, professores e demais educadores, projetos e planejamentos voltados à gestão educacional.
com vistas à articulação efetiva entre a instituição escolar e a Ao longo das décadas, observamos o surgimento de diver-
comunidade. sos documentos oficiais, sendo que alguns contaram com a for-
Diante dessa concepção de gestão participativa e demo- ça da lei e outros foram publicados como diretrizes e propostas
crática surge a necessidade de implementação de ações e de aos sistemas e estabelecimentos de ensino.
mecanismos voltados às perspectivas políticas e educacionais Entre a gama de documentos supramencionados, destaca-
da gestão escolar. mos alguns que permanecem em vigência no contexto atual ou
Vale retomar a CF/88 para não perdermos de vista que o que ampararam a implementação de outros.
texto legal garantiu, por um lado, a autonomia aos sistemas de No âmbito federal, a definição do Plano Nacional de Educa-
ensino em elaborarem as suas propostas pedagógicas e por ou- ção (PNE) pela lei 10.172/01, constituiu-se em um documento
tro lado, por meio da LDB, estabeleceu a participação dos pro- com metas e ações com prazo de cumprimento de dez anos.
fissionais da educação e dos pais de alunos no planejamento e Teve o objetivo combater o analfabetismo, universalizar, priori-
no acompanhamento de seus projetos pedagógicos locais. tariamente, a educação básica e garantir a qualidade do ensino
No desdobramento desse cenário, foram surgindo progres- e a permanência do aluno na escola, estando em conformidade
sivamente necessidades de planejamentos e de elaboração de como o estabelecido na Constituição Federal de 1988.
documentos oficiais que garantissem a consolidação das pers- Na explanação de Gracindo (2009), a aprovação desse PNE
pectivas lançadas nos projetos educacionais. tornou-se a base para os planos decenais das outras instâncias
federativas de poder (estados e municípios), bem como para

225
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a elaboração dos planos plurianuais, que dariam suporte à re- Assim como os documentos citados anteriormente, a BNCC
alização de suas metas. Vale ressaltar que a partir do PNE, os fundamenta a elaboração dos PPP institucionais e escolares.
planos estaduais e municipais passaram a ser encaminhados A primeira versão da BNCC foi apresentada à sociedade en-
aos respectivos poderes legislativos, ganhando força de lei e tre outubro de 2015 e março de 2016. Em 2016 a segunda ver-
representando as decisões da sociedade nos âmbitos regionais são da BNCC foi publicada, após passar por discussões entre as
e locais. Secretarias Estaduais de Educação e redes de educação de todo
Para Gracindo (2009), um dos pontos fortes do PNE se deve país. Esse processo foi coordenado pelo Conselho Nacional de
ao fato da apresentação quantificada e datada de suas metas, Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Di-
o que possibilitou a verificação de seu cumprimento. A autora rigentes Municipais de Educação (Undime). Em 2017, a segunda
ressalta que após o prazo de dez anos da promulgação do pri- versão da BNCC passou por revisões e foi complementada, o
meiro PNE, verificou-se que, apesar do amparo legal, o docu- que deu corpo à terceira versão, disponibilizada para consulta
mento não garantiu impactos que influenciassem diretamente pública no site do Ministério da Educação (MEC).
na concepção de políticas públicas. Gracindo (2009) destaca o Vale ser destacada que o documento oficial da BNCC afirma
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), apresentado à que a segunda versão foi examinada por especialistas do Brasil
sociedade brasileira, em maio de 2007. Trata-se de documento e de outros países e que, em distintos momentos, a terceira
constituído por 28 ações voltadas à educação básica, das quais versão passou por análises de leitores críticos, como especialis-
“todas se voltam para, de alguma maneira, intervir na melho- tas, associações científicas e professores universitários, sendo
ria da qualidade do ensino e somente oito garantem, direta ou que esses emitiram pareceres referentes às especificidades das
indiretamente, a ampliação do acesso e permanência dos estu- etapas da Educação Básica.
dantes na educação básica” (GRACINDO, p. 78). A autora enfati- Destacamos que, conforme o PNE, o levantamento da rea-
za que, assim como o PNE/2001, o PDE não provocou impactos lidade, bem como as ações planejadas e implementadas para o
na realidade educacional. alcance das metas e dos objetivos presentes nos documentos
Na atualidade, o novo PNE (2014-2024) foi definido pela lei oficiais, como as DCNs e a BNCC, são responsabilidades dos es-
13.005/14, representando, por um lado, o final de um processo tados, dos municípios, das instituições de ensino e de educado-
e, de outro, o início de outro momento. Não significa que se res de todos os segmentos do país.
trata de uma ruptura, mas de um marco representativo, sendo Dentro dessa perspectiva, a CF/88 estabelece que cada um
configurado pelo resultado de um longo processo de discussões dos entes federativos, usando da autonomia conferida pela lei,
com a sociedade, a partir das Conferências de Educação (Nacio- elabore e implemente ações e políticas que atendam as neces-
nal, estaduais, intermunicipais e municipais) e de embates no sidades educacionais locais e regionais, bem como garantam a
âmbito do congresso nacional com as emendas e/ou tentativas articulação com os interesses públicos de todo o país. Por isso,
de alterações do texto produzido a partir das aspirações sociais. os documentos oficiais elaborados pelos sistemas de ensino es-
Contudo, a sua aprovação marcou o início de um novo momen- taduais e municipais devem estar em conformidade os da esfe-
to para o cumprimento das metas projetadas para uma década ra federal.
(MILITÃO; PERBONI, 2017). Notamos que os documentos citados acima visam, em tese,
Vale retomar que, assim como mencionou Gracindo (2009) contribuir para a construção de uma educação de melhor quali-
sobre o primeiro PNE, o novo plano resultou na reelaboração dade, considerando as características e peculiaridades de cada
dos planos educacionais dos estados e municípios. região e localidade do país, tendo como foco a garantia das
Outro documento de importância na orientação da educa- aprendizagens fundamentais à formação humana dos alunos.
ção escolar se trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para Conceitos e considerações sobre o Projeto Político e Peda-
a Educação Básica (DCNs), criadas pelo Conselho Nacional de gógico escolar
Educação com o propósito de articularem os princípios, os cri- Os documentos oficiais mencionados na seção anterior
térios e os procedimentos a serem observados nos sistemas de buscam orientar a elaboração dos documentos-base que re-
ensino e nas unidades escolares com vistas aos objetivos da presentam os planos e projetos pedagógicos dos sistemas de
educação básica para o ensino da etapa escolar obrigatória, que ensino e das escolas. Assim, com amparo da LDB e de resolu-
compreende os alunos de 4 a 17 anos de idade. Tal documento ções específicas, cada sistema de ensino regulamenta os seus
visa orientar os estabelecimentos de ensino na elaboração de regimentos e/ou estatutospara estabelecerem as diretrizes e as
seus PPP, tendo como foco a garantia do acesso, da permanên- orientações administrativas e pedagógicas concernentes à or-
cia e da aprendizagem almejada dos alunos em prol da oferta da ganização do trabalho educacional.
educação de qualidade. Da mesma forma, as unidades escolares elaboram os seus
Mais recentemente, foi criada a Base Nacional Comum Cur- regimentos internos, representados pelas suas diretrizes, suas
ricular (BNCC), definindo as habilidades necessárias à apren- orientações e suas normas específicas. Entretanto, vale lem-
dizagem dos alunos, visando o cumprimento dos princípios da brarmos que esses documentos, ou seja, suas normatizações
igualdade, estabelecidos na CF-88 e na LDB e buscando legiti- devem estar alinhadas com as legislações vigentes. Ou seja, a
mar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade escola possui uma autonomia relativa para elaborar os seus do-
do país (BRASIL, 2017). cumentos-base internos.
Diante disso, o documento define um conjunto de conte- Entre os documentos elaborados pelas unidades de ensino,
údos curriculares básicos, que devem estar articulados com as destacamos dos que podem ser considerados peças centrais no
diversas dimensões da vida social/cidadã. E por isso, abrange desenvolvimento da gestão educacional, o regimento escolar e
conteúdos complementares, definidos pelos sistemas de ensino o PPP.
e pelas unidades escolares, conforme as características regio- Com base na legislação educacional, podemos caracterizar
nais e locais (BRASIL, 2017). o regimento escolar como em um instrumento em que se es-
tabelecem as diretrizes administrativas e as orientações para

226
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a vida escolar. Ele estabelece as normas a serem seguidas, ve- A relação entre a construção do PPP e a gestão educacio-
lando pela materialização dos direitos e dos deveres de todos nal passa pela autonomia da escola quanto ao delineamento de
que convivem no ambiente escolar. Esse documento deve ser sua identidade. A relação de poder e com o poder da liderança
produzido mediante reflexões e diálogos entre a comunidade é algo imprescindível. Cabe a orientação Freire (2006) quando
escolar, já que vislumbra a melhor convivência entre todas as salienta que na gestão educacional o poder conferido ao gestor
partes envolvidas. líder deve ser utilizado em favor do bem social e jamais para
O outro documento escrito que representa a vida da escola impor as suas próprias “verdades”.
é o PPP escolar, que se trata de um mecanismo oficializado que, Ressaltamos ainda que é de suma importância que a cons-
em tese, representa e apresenta a realidade e as necessidades trução do PPP passe pela avaliação do trabalho escolar e após
da escola. O seu conteúdo deve ser conhecido, bem como re- a sua elaboração seja acompanhado e avaliado continuamente,
visitado permanentemente pela comunidade escolar (VEIGA, garantindo, assim, a sua dimensão de controle social (VEIGA,
2013). PPP e regimento escolar devem ser produzidos em con- 2013).
formidade um com o outro e com as legislações vigentes. Observamos que a escola sempre foi um espaço social mar-
Ainda sobre o PPP, deve ser um documento revelador da cado, por um lado, por inúmeras contradições, que dão forma
identidade da escola, deve projetar ações e refletir os funda- às relações opressor/oprimido, controlador/controlado, admi-
mentos da organização do trabalho escolar, bem como a sua nistrado/administrados e por outro lado pela luta de uns e aco-
realidade. modação de outros (FREIRE, 1987).
Nas palavras de Veiga (2013), Em oposição às contradições supramencionadas defende-
[...] o projeto político-pedagógico tem a ver com a organi- mos neste estudo a importância do PPP escolar como articula-
zação do trabalho em dois níveis: como organização da escola dor do modelo de gestão educacional pautado na democracia.
como um todo e como organização da sala de aula, incluindo a Entendemos que a educação escolar abrange possiblidades
sua relação como o contexto social imediato, procurando pre- plurais de lançar sua comunidade à evolução do pensamento
servar a visão de totalidade. Nesta caminhada será importante ingênuo para o patamar da consciência crítica. Isso implica pos-
ressaltar que o projeto político-pedagógico busca a organização sibilitar o conhecimento (lúcido e crítico) da importância do seu
do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade (VEIGA,
papel na organização do trabalho pedagógico, de tal forma que
2013, p 14).
cada um assuma as responsabilidades quanto à ingerência da
Reiterando as palavras acima, o PPP deve ser concebido
escola (FREIRE, 2016).
como o instrumento de organização do trabalho escolar na micro
Neves (2005) enfatiza que a nova pedagogia da hegemonia,
e na macro dimensão. Deve ser fundado em princípios que garan-
que busca educar o consenso da sociedade, por meio da as-
tam os direitos e os deveres de sua comunidade e, portanto, pre-
sunção de responsabilidades do Estado, tem velado a histórica
cisa ser um produto social e estar fundado nos princípios cons-
ingenuidade das camadas populares no que se refere aos pro-
titucionais da escola pública e gratuita, conforme vimos acima.
cessos decisórios da gestão educacional. O progressivo incenti-
vo ao trabalho voluntário nas últimas décadas, o fortalecimento
Sobre a construção do PPP na escola, ressalta-se que deve
ser pautada nos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, das parcerias do Estado com o terceiro setor, destacando-se as
gestão democrática e valorização do magistério. Visa à concre- Organizações Não Governamentais – ONGS – voltadas, muitas
tização de um novo jeito de promover a gestão, partindo da vezes, a projetos assistenciais – tem resultado na impressão de
reflexão coletiva sobre os princípios supracitados e projetando participação efetiva da sociedade na gestão das políticas edu-
ações voltadas às necessidades locais. cacionais, pois, de certa forma, a participação existe, porém é,
Ainda sobre a sua construção, alguns elementos básicos de- na maioria das vezes, restrita ao plano da execução e não da
vem contemplados: as finalidades da escola, a estrutura orga- construção/elaboração coletiva.
nizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, Em oposição ao modelo de gestão acima, concordamos
as relações de trabalho, a avaliação. Contudo, a escola deve as- com Freire (2006) na defesa de outro jeito de gerir o trabalho
sumir a tarefa fundamental de refletir sobre os seus objetivos e pedagógico escolar, que é através da participação consciente,
sobre o seu papel na formação humana, política e social (FREI- crítica e reflexiva do público em questão, que busca melhorias
RE, 2006; VEIGA, 2013). em seu projeto educativo, a partir de interesses coletivos, espe-
Por se constituir em um processo democrático de decisões cialmente de sua comunidade.
na gestão educacional, algumas ações são indispensáveis na Para a efetivação do modelo de gestão democrática e par-
elaboração do referido documento. Em consonância com Vas- ticipativa defendida neste artigo, torna-se essencial a incorpo-
concellos (2013), destacamos algumas que consideramos vitais ração de um método fundado na práxis dialógica, que busca
para a sua construção: reduzir a fragmentação na divisão das tarefas e do controle
· Reuniões pedagógicas com a equipe escolar, onde a escu- hierárquico, propondo a reflexão e o diálogo sobre as neces-
ta e o registro do parecer de todos os segmentos do conjunto sidades do coletivo escolar. Nessa direção, o PPP deve ser um
de profissionais devem ser considerados. instrumento pautado nos objetivos e na luta de todas/os e pro-
· Implementação dos órgãos colegiados, partindo da discus- duzido nos anseios e responsabilidades de todas/as.
são de sua finalidade e do estudo de como viabilizá-los. Em termos de conclusão, a gestão da escola não pode mais
· Reuniões pedagógicas ou conferências abertas a toda co- ser dirigida de cima para baixo e, tampouco, ser ditada por nor-
munidade escolar, refletindo e discutindo sobre a questão da mas institucionais descoladas da realidade local. Em oposição
responsabilidade de cada e do coletivo no desenvolvimento da a isso deve ser feita de uma forma mais humana, democrática,
gestão do trabalho educativo. que garanta à organização do trabalho pedagógico o seu ca-
· Ações e atividades pedagógicas que envolvam a comuni- ráter essencialmente social, ou seja, que consolide o projeto
dade, salientando sobre a responsabilidade para com o projeto educativo como um produto social (FREIRE, 2003). 40
escolar. 40 Fonte: www.bdm.unb.br/www.educere.bruc.com.br/www.gestao-

227
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
comprovado pela Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996,
5 POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A CONSTRUÇÃO DA que no seu artigo 35 determina: O ensino médio, etapa final da
ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA educação básica, com duração mínima de três anos, terá como
finalidades:
Supervisão e avaliação do desenvolvimento e do alcance I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
das políticas públicas para a educação básica e de ensino mé- adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prossegui-
dio mento de estudos;
Práticas de Política Pública II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
Política pública são ações sociais coletivas que têm por ob- educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
jetivo à garantia de direitos perante a sociedade, envolvendo se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
compromissos e tomadas de decisões para determinadas finali- aperfeiçoamento posteriores;
dades. É importante saber como são definidas algumas ativida- De acordo Brandão (2004, p.61) ao analisar as finalidades
des que requerem uma avaliação nas etapas de planejamento do ensino médio postas na LDB, explica que estariam divididas
das políticas e instruções governamentais, que geram informa- em três ideias básicas: a formação do cidadão, a preparação
ções que possibilitam novas escolhas na análise para possíveis para o trabalho e a preparação para continuação dos estudos.
necessidades de reorientações de ações para se alcançar os ob- O Ensino Médio poderá formar o educando para o exercí-
jetivos traçados. cio de profissões técnicas, sendo este item facultativo. (BRASIL,
Por isso é preciso compreender que: 1996). Em suma, ao término do Ensino Médio, segundo a LDB
“Programa – é um conjunto de atividades constituídas para nº 9.394/96, de modo geral, o aluno deverá ser capaz de possuir
serem realizadas dentro de um cronograma e orçamento espe- domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem
cíficos disponíveis para a criação de condições que permitam o a produção moderna; conhecimento das formas contemporâ-
alcance de metas políticas desejáveis” (SILVA, 2002, p. 18). neas de linguagem; e domínio dos conhecimentos de Filosofia e
“Projeto – é um instrumento de programação para alcançar de Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
os objetivos de um programa, envolvendo um conjunto de ope- No artigo 36 da LDB 9.394/96, são tratadas as diretrizes do
rações, das quais resulta um produto final que concorre para a currículo do ensino médio, a compreensão do significado da ci-
expansão ou aperfeiçoamento da ação do governo” (GARCIA, ência, das letras e das artes; o processo histórico transforma-
1997, p. 6). ção da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instru-
Ensino Fundamental e Médio mento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da
As medidas tomadas pelo governo brasileiro em relação à cidadania. Este artigo sugere também adotar uma metodologia
educação básica constituem um conjunto de políticas públicas e uma avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes, as-
estabelecidas na tentativa de colocar o país em condições si- sim como, à inclusão de uma língua estrangeira moderna como
milares aos presentes nos demais países, tanto nos resultados disciplina obrigatória escolhida pela escola, e uma segunda, em
alcançados pelos alunos como na duração da escolaridade obri- caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. Ao
gatória. término do curso, o educando terá que demonstrar domínio
Na década de 1990, com a globalização ocorreram várias dos princípios científicos e tecnológi
mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais. Em re-
lação à educação, foi aprovada a proposta do governo em 1996,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394 de cos que presidem a produção moderna; conhecimento das for-
20 de Dezembro de 1996. “[…] pelo seu caráter geral, possibili- mas contemporâneas da linguagem; domínio dos conhecimen-
tou um conjunto de reformas que foi se processando de forma tos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da ci-
isolada, mas que correspondia a um bem elaborado plano de dadania.
governo, que, articulando os projetos para as áreas econômi- O Plano Nacional de Educação foi elaborado com significa-
cas, administrativa, previdenciária e fiscal, foi dando forma ao tiva pressão da sociedade, ocorrida no Fórum Nacional em De-
novo modelo de Estado.” (KÜENZER, 1999, p.10) fesa da Escola Pública, com a população presente, educadores,
Tal legislação ao ser sancionada, ainda não admitia a obri- pais de alunos, estudantes e demais profissionais da educação
gatoriedade da entrada de crianças no ensino fundamental a impediram o governo a dar entrada, na Câmara dos Deputados,
partir dos seis anos. A lei nº 10.172, de 9 de Janeiro de 2001, em 10 de fevereiro de 1998. O plano consolidou no Projeto de
que aprova o Plano Nacional de Educação (2001-2011), com a Lei nº 4.155/98. O PNE foi aprovado pelo Governo Federal em
sinalização na LDB lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, 2000 e regulamentado pela Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de
institui entre outras medidas os objetivos e metas do ensino 2001. Descrevendo metas para a Educação no Brasil e tem tem-
fundamental: Ampliar para nove anos a duração do ensino fun- po determinado de até dez anos para que todas elas sejam rea-
damental obrigatório com início aos seis anos de idade, à medi- lizadas. Entre as principais metas estão à melhoria da qualidade
da que for sendo universalizado o atendimento na faixa de sete do ensino e a erradicação do analfabetismo. Nem todos os itens
a quatorze anos. do plano foram aprovados pelo Governo Federal.
Durante a década de 1990, viu-se construir um aparato te- Dentre os principais objetivos do PDN destaca-se a eleva-
órico em torno da chamada “pedagogia das competências”, na ção do nível de escolaridade da população; a melhoria da quali-
qual garantiu a propagação de um tipo de educação que consi- dade do ensino em todos os níveis; redução das desigualdades
derava o domínio dos “conhecimentos e habilidades necessá- sociais e regionais, na educação pública e a democratização da
rias ao exercício do trabalho em uma sociedade industrializa- gestão do ensino público.
da e urbanizada” (Ramos, 2002, p.19). O nível de ensino mais Como Metas do PNE destacam-se a ampliação das matrí-
atingido por essa pedagogia foi o ensino médio, podendo ser culas no Ensino Médio, de forma a atender, no final da década,
escolar.diaadia.pr.gov.br/www.journal.unoeste.br pelo menos 80% dos concluintes do ensino fundamental; im-

228
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
plantar e consolidar no prazo de cinco anos, a nova concepção esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes;
curricular, estabelecida pela forma de ensino médio proposta cultura digital; promoção da saúde; comunicação e uso de mí-
pelo MEC.; estabelecer e consolidar, em cinco anos, um sistema dias; investigação no campo das ciências da natureza e educa-
nacional de avaliação da Educação Básica (SAEB) e pelos siste- ção econômica.
mas de avaliação que venham a ser implantadas nos estados; Essas atividades tiveram início em 2008, com a participação
e, finalmente, assegurar que em cinco anos, todas as escolas de 1.380 escolas, em 55 municípios nos 26 estados e no Distri-
estejam equipadas, pelo menos, com biblioteca, telefone e re- to Federal, atendendo 386 mil estudantes. Em 2009, houve a
produtor de textos. ampliação para cinco mil escolas, 126 municípios, de todos os
Objetivos da ampliação do Ensino Fundamental estados e no Distrito Federal com o atendimento a 1,5 milhão
A partir de 2009 a matrícula no ensino se tornou obrigató- de estudantes, inscritos pelas escolas e suas respectivas redes
ria a partir dos quatro anos de idade, por meio de uma emenda de ensino. Em 2010, o Programa foi implantado em 389 muni-
constitucional. Antes só era obrigatória a de crianças de seis a cípios, atendendo cerca de 10 mil escolas e beneficiando 2,3
quatorze anos de idade, depois da emenda a matrícula passa a milhões de alunos a partir dos seguintes critérios: escolas con-
ser obrigatória dos quatro aos dezessete anos, incluído pré-es- templadas com PDDE/Integral no ano de 2008 e 2009; escolas
cola, ensino fundamental e médio. com baixo IDEB e/ou localizadas em zonas de vulnerabilidade
Com essa medida o estado estabelece o ensino fundamen- social; escolas situadas nas capitais e nas cidades das nove re-
tal como ensino publico e subjetivo, garantido vagas e infra- giões metropolitanas, bem como naquelas com mais de 90 mil
estruturas satisfatória e adequado para o desenvolvimento do habitantes.
ensino. Metas de maior impacto do Plano Nacional de Educação (a
Principais objetivos: contar de 2001)
– Melhorar as condições e a qualidade da educação básica; Ensino Fundamental
– Estruturar um novo ensino fundamental para que as - Ampliar a duração do ensino fundamental para nove anos,
crianças prossigam nos estudos, alcançando assim um nível com início aos seis anos de idade;
maior de escolaridade; - Assegurar escolas com padrões mínimos de infra-estrutu-
– Assegurar que ingressando mais cedo nas unidades de en- ra, em cinco anos;
sino a criança tenha um tempo mais longo para a aprendizagem - Assegurar o Programa de Garantia de Renda Mínima para
da alfabetização e do letramento. famílias carentes (não define %);
O intuito do Ministério da Educação (MEC) ao estabelecer - Oferecer escolas com dois turnos diurnos e um noturno;
esses objetivos era o de proporcionar às crianças de seis anos de - Ampliar progressivamente a jornada escolar para, pelo
idade o ingresso mais cedo, e conclusão do ensino fundamental menos, sete horas/dia;
aos catorze anos. Vale reafirmar que as políticas de antecipa- - Promover a eliminação gradual da necessidade de oferta
ção do ingresso obrigatório das crianças de seis anos no ensino do ensino noturno.
fundamental e a ampliação deste para nove anos de duração, Ensino Médio
que foram implantadas no Brasil nestes últimos anos, como ob- - Atendimento a 50% da demanda (população de quinze a
jetivo de melhorar as condições do nível escolar das crianças dezessete anos) em cinco anos;
brasileiras. Por tanto, um processo de ensino e aprendizagem - Atendimento a 100% da demanda (população de quinze a
de qualidade requer mais ações, responsabilidade, investimen- dezessete anos) em dez anos;
to e comprometimento, ou seja, um conjunto de medidas que - A formação superior para todos os professores, em cinco
ultrapassem a política de focalização. anos;
- Assegurar escolas com padrões mínimos de infraestrutu-
Objetivo do Governo ra, em cinco anos;
O principal objetivo do governo é erradicar o analfabetismo - Assegurar programa emergencial para a formação de pro-
no país, assim como a desigualdade étnica, melhorar a qualida- fessores, especialmente nas áreas de Ciências e Matemática.
de de ensino para que assim possamos entrar no nível mundial
de educação. Para isso o governo criou muitas alternativas das Principais benefícios para a sociedade
políticas públicas voltadas para a educação: FUNDEB, Piso Sa- A ampliação do ensino fundamental para nove anos se com-
larial Nacional do Magistério, IDEB, REUNI, IFET, entre outras pactua com a prática de vários países que apresentam em mé-
iniciativas. O sentido é colocar esses projetos em prática, com dia 12 anos de escolarização básica, incluindo países da Amé-
os fundamentos do trabalho que vem sendo desenvolvido, vi- rica Latina. Assim, o Brasil busca alinhar-se a tal situação, na
sando ao aprimoramento cada vez maior, e ao intuito de melho- expectativa de melhorar a educação no país, por que historica-
rar cada vez mais o sistema educacional brasileiro. O Ministério mente a educação brasileira enfrenta muitos desafios ainda não
da Educação diz: “A educação, como sempre afirmamos, é um superados: altas taxas de evasão e repetência; analfabetismo;
caminho sólido para o Brasil crescer beneficiando todo o nos- carreira e valorização de professores; infraestrutura inadequa-
so povo. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) é um da e o ingresso nas escolas brasileiras não têm representado a
passo grandioso nesse sentido”. apropriação do processo de alfabetização, sendo este um dos
Com o Programa Mais Educação do MEC com o objetivo de maiores impasses a tão buscada qualidade na educação.
induzir a ampliação do horário escolar e a organização curricu- Percebe-se nas camadas menos privilegiadas que a edu-
lar na perspectiva da Educação Integral. As escolas das redes cação escolar é uma parte predominante na vida das crianças,
públicas de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal sendo esta obrigatória, pública e gratuita. É importante reco-
fazem a adesão ao Programa e, de acordo com o projeto edu- nhecer que nos últimos anos, vários esforços têm sido realiza-
cativo em curso, optam por desenvolver atividades nos macro dos por parte do Estado, no sentido de melhorar a escolariza-
campos de acompanhamento pedagógico; educação ambiental; ção dos brasileiros. Vale ressaltar que as taxas de acesso das

229
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
crianças e jovens à educação é de 98%, segundo a Organização - Distribuição de material didático para a educação espe-
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE/ cial;
PNAD/2006). Os investimentos realizados nos últimos anos, - Distribuição de material especializado e de livros e textos
também são considerados significativos, embora, não sejam no sistema Braille;
suficientes para atender de fato às demandas e prioridades de - Distribuição de uniformes escolares para alunos do ensino
uma educação pública de qualidade. fundamental;
Programas e objetivo para os alunos e o professor - Expansão e melhoria da rede escolar (PROMED);
Programa: Brasil escolarizado - Fortalecimento da Escola – Fundescola II e III;
Objetivo: Garantir, com melhoria de qualidade, o acesso e a - Funcionamento do ensino fundamental e ensino médio na
permanência de todas as crianças, adolescentes, jovens e adul- rede federal;
tos na educação básica. - Funcionamento do Instituto Benjamin Constant e do Insti-
- Apoio à alimentação escolar na educação básica; tuto Nacional de Educação de Surdos;
- Apoio à ampliação da oferta de vagas do ensino funda- - Garantia das condições de aprendizagem com atendimen-
mental a jovens e adultos; to integral;
- Apoio à difusão de metodologias inovadoras de professo- - Implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
res do ensino médio; ensino médio (PROMED);
- Apoio à distribuição de materiais didáticos e pedagógicos - Poupança-Escola para alunos carentes do ensino funda-
para a pré-escola, ensino fundamental, educação de jovens e mental/médio que progredirem nas séries/ciclos sem reprova-
adultos; ção/interrupção;
- Apoio à distribuição de material didático para a promoção - Produção e distribuição de periódicos para a educação in-
de uma cultura de paz nas escolas de ensino fundamental; fantil;
- Apoio à educação ambiental nas escolas públicas de edu- - Promoção da educação especial como fator de inclusão
cação básica; escolar;
- Apoio à educação fundamental no campo; - Promoção e desenvolvimento da saúde do escolar na edu-
- Apoio à educação para a ciência no ensino médio; cação básica;
- Apoio à Educação Profissional com elevação de escolari- - Resgate da cidadania da criança e do adolescente em si-
dade; tuação de risco;
- Apoio a grupos socialmente desfavorecidos para acesso à - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
universidade;
- Apoio à melhoria da qualidade do ensino médio noturno; Programa: Escola básica ideal
- Apoio a projetos de cursos voltados para a diversidade Objetivo: Oferecer atendimento integral e de qualidade em
social e cultural; escolas de educação básica modelares de referência.
- Apoio a projetos especiais para oferta de ensino funda- - Apoio à ampliação da jornada escolar no ensino funda-
mental a jovens e adultos; mental e no ensino médio;
- Apoio ao combate à evasão escolar; - Apoio à implantação de projetos juvenis no ensino médio;
- Apoio ao desenvolvimento da educação infantil, ensino - Apoio à implantação do 4º ano vocacional no ensino mé-
fundamental, ensino médio; dio;
- Apoio ao desenvolvimento de atividades educativas com- - Apoio à implantação da escola básica ideal;
plementares nos municípios; - Apoio à reestruturação da rede pública de ensino para es-
- Apoio ao ensino médio de jovens e adultos trabalhadores; cola básica ideal;
- Apoio ao transporte escolar no ensino fundamental; - Apoio ao transporte escolar no ensino médio;
- Aquisição de vagas na rede particular de ensino funda- - Concessão de bolsa de estudos no ensino médio.
mental;
- Avaliação Internacional de Alunos (PISA); Programa: Gestão da política de educação
- Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB); Objetivo: Coordenar o planejamento e a formulação de po-
- Avaliação Nacional das Condições da Educação Básica líticas setoriais e a avaliação e controle dos programas na área
(ACEB); da educação.
- Avaliação Nacional de Educação de Jovens e Adultos (ANE- - Acompanhamento do Plano Nacional de Educação;
JA); - Capacitação de servidores públicos federais em processo
de qualificação e requalificação;
- Certificação Nacional de Competência do Trabalhador;
- Censo Escolar da Educação Básica; - Controle e inspeção de arrecadação do salário-educação e
- Complementação da União ao Fundo de Manutenção e sua regular aplicação;
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do - Cooperação internacional com países em desenvolvimen-
Magistério (FUNDEF); to;
- Concessão de Bolsa Escola para o ensino fundamental;
- Correção do fluxo escolar; - Desenvolvimento de modelos de gestão escolar para a
- Dinheiro direto na escola para o ensino fundamental e en- educação profissional (PROEP);
sino médio; - Desenvolvimento de parâmetros curriculares nacionais do
- Disseminação de conhecimento sobre educação especial; nível tecnológico (PROEP);
- Distribuição de livro didático para o ensino fundamental - Estudos e pesquisas para a implantação das políticas para
e ensino médio; o ensino médio (PROMED);

230
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- Estudos e pesquisas sócias educativas; - Apoio à capacitação de professores e profissionais para
- Estudos, pesquisas, estatísticas e avaliações educacionais; educação especial;
- Formulação de políticas para educação nacional; - Apoio à capacitação de recursos humanos no ensino mé-
- Fortalecimento da política nacional para formação de pro- dio (PROMEB);
fessor do ensino fundamental; - Apoio à especialização pedagógica de professores do en-
- Fórum Brasil de Educação; sino médio;
- Gerenciamento das políticas de educação a distância, edu- - Capacitação de docentes da educação profissional;
cação especial, erradicação do analfabetismo, inclusão educa- - Capacitação de profissionais para a área de surdez;
cional, ensino fundamental, ensino médio e tecnológico, ensino - Capacitação de recursos humanos para a educação a dis-
superior; tância e para o Programa TV Escola;
- Gestão democrática das instituições da rede federal de - Capacitação de recursos humanos para a educação profis-
educação profissional; sional (PROEP/FAT);
- Implantação do centro de memória e informação do Con- - Capacitação de recursos humanos para o uso de tecnolo-
selho Nacional de Educação; gia na educação pública;
- Implantação do Sistema de Informações da Educação Pro- - Capacitação dos profissionais da educação profissional
fissional (PROED); (PROEP);
- Implantação do Sistema Nacional de Certificação Profis- - Certificação de professores da educação infantil e funda-
sional (PROED); mental;
- Integração das fundações de apoio às instituições federais - Concessão de bolsa de incentivo à formação inicial e conti-
de educação superior e hospitais de ensino; nuada de professores da educação infantil e fundamental;
- Plano estratégico do setor educacional do MERCOSUL. - Fomento à pesquisa e desenvolvimento da educação in-
fantil;
Programa: Democratização da gestão nos sistemas de en- - Fomento à pesquisa e desenvolvimento do ensino funda-
sino mental;
Objetivo: Promover e fortalecer a gestão democrática nos - Formação em serviço e certificação em nível médio de
Estados e municípios, assegurando a implantação de forma con- professores leigos;
tínua e eficaz das políticas educacionais em todos os níveis e - Qualificação de docentes em nível de pós-graduação.
modalidades de ensino com a adoção de novos mecanismos de
participação e controle social. A educação brasileira está longe de chegar ao seu objetivo
- Apoio à capacitação de profissionais atuantes nas institui- de se igualar ao patamar mundial, mas devemos fazer a nossa
ções de educação infantil; parte em ajudar e a lutar para que as leis sejam posta em práti-
- Apoio à capacitação dos trabalhadores atuantes no ensino ca. Muitos programas para escola e professor estão disponíveis
fundamental; pelo governo, para que possamos fazer nossa parte e melhorar
- Apoio à capacitação dos trabalhadores estaduais atuantes o rumo da educação. Ao governo cabe investir cada vez mais na
no ensino médio; educação, pois o investimento feito ate agora não foi o suficien-
- Apoio à capacitação permanente dos trabalhadores esta- te para melhorar a qualidade de educação brasileira.
duais e municipais de ensino fundamental; Se não foi possível afirmar que os problemas da educação
- Apoio à educação fiscal nos Estados e municípios; no país podem ser resolvidos com as mudanças adotadas, en-
- Apoio à melhoria e democratização da gestão escolar das tretanto não se pode afirmar que também nada tem foi e tem
escolas de ensino médio; sido feito para alterar a situação. Com as reformas educacionais
- Apoio à organização de sistemas estaduais de avaliação do destacamos que as crianças têm a oportunidade de estar na es-
ensino fundamental; cola por um período maior de tempo, se socializam melhor com
- Capacitação de gestores para o monitoramento de progra- as outras crianças, criando maiores oportunidades de brincar
mas e projetos educacionais; e inserir-se num contexto cultural novo. O ensino médio tem
- Capacitação para o exercício do controle social; como principal objetivo ser um complemento do ensino funda-
- Fortalecimento da capacidade tecnológica de municípios mental e preparar o jovem para o mercado de trabalho e ensino
beneficiados por programas de inclusão educacional. superior, entretanto muito ainda deve ser feito para que haja
menos evasão escolar nesse período.
Programa: Valorização e formação de professores e traba-
lhadores da educação POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Objetivo: Oferecer oportunidades de capacidade e forma- A educação, por ser um dever do estado, da família e de
ção continuada aos professores, associados aos planos de car- toda a sociedade, deveria ser muito mais democratizada, com
reira, cargos e salários e promover acesso a bens culturais e a acessibilidade assistida e a cobrança, incessante, de sua quali-
meios de trabalho. dade, tanto do poder público quanto da sociedade, tendo em
- Apoio à capacitação de educadores para promoção de vista, que a sua essência depende dos esforços coletivos. É essa
uma cultura de paz nas escolas de ensino fundamental; qualidade, que uma vez levada em conta, promoverá o desen-
- Apoio à capacitação de professores da educação infantil; volvimento individual e social do homem além de propiciar a
- Apoio à capacitação de professores de jovens e adultos; efetivação da perfeita cidadania.
- Apoio à capacitação de professores do ensino fundamen- Admite-se que se refaça uma profunda reflexão sobre as
tal; ações das políticas públicas na área educacional, descartando
- Apoio à capacitação de professores do ensino médio; aspectos de pouca relevância e aprimorando os que possam
gerar os efeitos necessários. Os programas educacionais imple-

231
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mentados pelo governo tendem a ser úteis, desde que a socie- Enfim, as políticas educacionais definem que todos tem o
dade não se debruce no comodismo esquecendo-se de exigir o direito assistido à escola, que deverá ofertar um ensino de qua-
seu íntegro cumprimento, pois o acesso e a permanência a uma lidade. Para Comênio, “o sistema de ensino deve ser articulado,
educação de qualidade é direito de todos. reconhecendo o igual direito de todos os homens ao conheci-
mento, desenvolvido através de uma educação permanente,
Na verdade, todos aqueles que acreditam e reconhecem o durante toda a vida humana”. COMÊNIO (1592-1670)
direito à educação, devem exigir a efetivação de políticas, cujos
almejos estejam voltados para a sua qualidade e não para es- As políticas que regem a educação no Brasil precisam re-
tatísticas numerológicas que só servem para uma amostragem fletir profundamente à respeito do assunto, descartando a im-
ficticiosa. A qualificação da educação brasileira depende dos portância quantitativa mas dando ênfase a qualidade que pos-
programas ofertados pelo governo, da harmonia entre esse, as sibilitará o exercício pleno da cidadania do indivíduo. Os países
entidades formadoras e a sociedade que, por sua vez, deve re- de primeiro mundo sinalizam essa preocupação e não poupam
fletir sobre os resultados. nos investimentos, por terem a certeza que investir no setor
As políticas públicas são ações desenvolvidas pelo Estado educacional é, ao mesmo tempo, apostar no desenvolvimento
com o envolvimento de compromissos e ações que possibilitem sociocultural de seu povo e no futuro promissor de seu país.
o desenvolvimento cultural e social de um povo. É um conjun-
to de ações sociais que dependem, não só do governo, mas de Na concepção de Tedesco,
toda a sociedade e das instituições educacionais, com intenções Democratizar a educação seria a condição necessária para
à garantia dos direitos à cidadania de todos, principalmente dos a democratização social. Depois da Segunda Guerra Mundial,
que encontram-se no declive da pobreza. No entanto, é preciso a expansão educativa foi considerada como uma necessidade
que haja uma relação harmônica entre o Estado, as entidades para o crescimento econômico. Gastar em educação seria in-
formadoras e a população, além da definição de algumas ativi- vestir, tanto ao nível individual quanto social. Dessa forma, a
dades avaliativas do planejamento dessas políticas, para a pos- democratização e o desenvolvimento econômico apareceram
terior busca de novas ações. com os objetivos básicos da política educacional, e foi a partir
É sabido que a educação é uma área que requer atenção es- dessa perspectiva que o funcionamento real dos sistemas edu-
pecial do Estado, com políticas que favoreçam o fortalecimento cacionais existentes foi avaliado. (TEDESCO, 1995, p. 92)
das competências intelectuais, éticas e afetivas do cidadão. Os É inegável que, nas últimas décadas, tenha havido uma
objetivos traçados nas ações dessas políticas só se efetivarão a queda no índice de analfabetismo no Brasil, graças aos inves-
partir do momento em que se permita uma análise para possí- timentos econômicos na área educacional, a preparação de
veis reorientações. São essas análises que, uma vez realizadas, profissionais e a conscientização da própria sociedade que,
indicarão as supostas lacunas das ineficiências, possibilitando, paulatinamente, passou a perceber a imensurável importância
assim, novas estratégias para as suas superações. dos esforços aplicados na educação dos filhos. Mesmo assim,
De modo que há uma urgente necessidade de ajustamento a reflexão sobre a educação que a sociedade brasileira espera,
nas políticas públicas brasileiras em todas as áreas, principal- está sendo posta como desafio.
mente na educacional, por ser essa a orientadora e a responsá-
vel pelas demais. Segundo a UNESCO, A POLÍTICA E ALGUNS DOS INVESTIMENTOS EDUCACIO-
Os problemas educacionais não tem origem exclusivamen- NAIS
te na educação, mas busca-se resolvê-los apenas com refor- O governo federal, através do Ministério de Educação e Cul-
mas educacionais. O tema do abandono precoce da escola é tura – MEC, tem proporcionado programas educacionais que vi-
um exemplo paradigmático desta situação, um alto percentual sam o resgate da qualidade da educação brasileira. Programas,
de fracasso escolar tem sua origem direta nas carências econô- esses, que demonstram as melhores intenções possíveis, mas,
micas, sociais e culturais que sofrem determinados grupos da às vezes, tornam-se ineficientes pela a ausência de interesse do
população. (UNESCO, 2002, p. 102) seu cumprimento, pela falta de fiscalização dos recursos des-
As metas provindas das políticas educacionais devem de- tinados, pela sua má aplicação, além de uma série de fatores.
terminar a implementação de ações que norteiem a redistribui- A implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
ção dos benefícios sociais, visando a diminuição das desigual- Nacional – LDBEN, Lei nº 9.394/96, que objetiva disciplinar e
dades e o desenvolvimento socioeconômico. Nesse contexto estruturar o funcionamento do sistema educacional brasilei-
cabe, prioritariamente, as autoridades responsáveis pelo siste- ro, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
ma educacional, analisar e refletir sobre os investimentos apli- Educação Básica e Valorização dos Profissionais em Educação –
cados e os seus respectivos resultados. O que se tem percebido, FUNDEB, Lei nº 11.494/07, com vigência entre 2007/2020, que
com certa nitidez, é que prioridades educacionais vem sendo orienta a aplicação dos recursos na área, com almejos no de-
substituídas por outros interesses, que não fazem parte do sis- senvolvimento social, a instituição do Piso Salarial Nacional do
tema educativo. Magistério – PSNM, Lei nº 11.738/08, que regulamento o salá-
O nosso país avançou muito com políticas públicas, nos úl- rio nacional dos profissionais em educação básica, a elaboração
timos anos, por entender que a educação é a mola mestra res- do Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 13.005/04, referi-
ponsável pela alavancagem do desenvolvimento. No entanto, do no artigo 214 da Constituição Federal, contendo 20 metas e
fez-se menção anteriormente que, não basta o esforço espe- 254 estratégias, com vigência entre 2014/2024 além de outras,
cífico do governo, é preciso que todos estejam envolvidos na trouxeram fôlego e muita energia para a condução de uma das
luta, com os mesmos objetivos, com as mesmas perspectivas e tarefas mais árduas e mais complexas do seio social.
com mesmos sonhos. É esse conjunto de esforços, sobretudo os Com normativas delicadamente elaboradas, essas leis ob-
educacionais, que proporcionarão a consolidação das equida- jetivam o avanço do desenvolvimento educacional básico do
des e dos valores humanos para todos. Brasil, porém os seus efeitos não tem culminado onde a socie-

232
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
dade almeja. Os seus desnorteios se dão, graças as políticas A ESSÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO
partidárias, a ausência de fiscalização e de cobranças efetivas O Estado brasileiro encontra-se incumbido de implementar
da população. políticas enérgicas que reparem supostas ineficiências e ofere-
A LDB, no seu artigo 2º garante que a educação, dever da fa- çam possibilidades para os avanços norteadores da verdadeira
mília e do estado, tem por finalidade o pleno desenvolvimento cidadania. Acredita-se que o financiamento da educação, ante-
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e qua- cipadamente refletido e previamente consultado a sociedade,
lificação para o trabalho e o artigo 32º, inciso I, faz menção ao seria a causa determinante para que se alcançasse uma educa-
Ensino Fundamental, tendo como objetivo, o desenvolvimento ção de nível qualitativo. Os recursos previstos para a educação,
da capacidade, com pleno domínio da leitura, da escrita e do em especial a dos municípios, são imprescindíveis e significa-
cálculo. Contudo, é preciso que se refaça a seguinte reflexão: tivos para a efetivação dos benefícios comuns que sociedade
Será que os nossos alunos, ao concluir o Ensino Fundamental, necessita.
estão correspondendo com essas perspectivas? E ao consumar Considera-se, portanto, ser missão do Estado, desenvol-
o Ensino Médio, estão realmente preparados para o exercício ver projetos que elenquem metas e estratégias possíveis para
pleno da cidadania? a execução de ações. No entanto, o que se tem percebido são
Em relação ao FUNDEB, os recursos destinados podem até criações de apreciáveis projetos que finalmente tornam-se fictí-
ser suficientes, mas a sua empregabilidade é que talvez não seja cios ou são desprezados pelo meio do caminho. O compromisso
feita de forma legal e dentro das exigências do Fundo. Dentre público deve visar as verdadeiras demandas sociais oferecendo
os recursos federais, a verba da educação é uma das maiores medidas que possibilitem mudanças para uma vida melhor e
destinadas aos municípios que, muitas vezes, a usam para fins mais digna para a sociedade.
que, supostamente, não fazem parte do orçamento, proporcio- É sabido que nenhum país progredirá se a sua educação
nando, de certa forma, um déficit na área. não for prioridade. A precariedade da educação traz prejuízos
O Piso Salarial do Magistério, criado em julho de 2008, é irreversíveis além de contribuir para a formação de uma socie-
um determinante, que veio contemplar os profissionais que de- dade mascarada e acomodada. Todas as pessoas necessitam e
sempenham atividades docentes, pedagogos, diretores, super- devem ter acesso a uma educação de qualidade, que deve ser
visores, orientadores, inspetores ou seja, nenhum desses pro- buscada nas políticas públicas, com base nas normativas das
fissionais devem receber abaixo do piso. O piso passou a ser a leis que lhes garantem.
verdadeira referência dos Planos de Carreira Cargos e Salários,
criados pelos estados e municípios, com o objetivo de valorizar As políticas públicas são necessárias, por fazerem parte da
os profissionais em educação, além de incentivá-los ao aperfei- vida social cotidiana, sendo decisivas ao norteamento de proje-
çoamento e permanência na área. No entanto, a sua normativa tos que, uma vez desenvolvidos, propiciarão resultados satisfa-
não é respeitada nem tampouco considerada como devia, por tórios. Pelo contrário, haveria uma perda de trabalho e de re-
alguns estados e municípios. cursos, tendo como consequências, o descrédito e a nodoação
O novo Plano Nacional de Educação – PNE, reacendeu mui- de sequelas irreparáveis.
tas expectativas da sociedade brasileira, que sempre almejou Investir bem na área educacional, através de projetos que
maiores investimentos no setor e por acreditar na consolidação estejam sintonizados às necessidade da sociedade, significa
de grande parte de suas metas. Suas estratégias estabelecidas economizar gastos futuros em outras áreas como saúde e se-
trouxeram credibilidade e otimismo com a sinalização de mu- gurança. Uma sociedade que tem a educação consolidada nos
danças positivas em tempo breve. Com base no PNE, estados e preceitos constitucionais, está preparada para contribuir com o
municípios criaram os seus Planos Estaduais de Educação – PEE e desenvolvimento de sua Pátria. (Grifo nosso)
Planos Municipais de Educação – PME, ajustados ou condiciona- Sabe-se que investir bem na educação é acreditar em um
dos às suas realidades. futuro melhor, em uma sociedade mais justa e igualitária. A
Muitas são as leis que tem gerado expectativas à população construção da cidadania se dá por meio dos estudos que de-
brasileira, que ainda acredita em melhores dias e aguarda uma pendem da implementação de recursos provindos das políticas
educação que atenda as reais necessidades dos indivíduos, trans- públicas. No entanto, é preciso que se democratize a sua cons-
formando-os em verdadeiros cidadãos. São essas políticas públi- trução, realizando diagnósticos, discutindo os problemas com a
cas educacionais que poderão fazer a diferença, possibilitando sociedade e flexibilizando as suas estratégias conforme as reais
a abolição das desigualdades sociais, da exclusão e do racismo. necessidades.
Todavia, essas expectativas sinalizam a perda de forças me- Em nosso país ainda existe o empecilho da escolarização
diante a uma Proposta de Emenda Constitucional – PEC, de nº e do sucesso acadêmico que permeia por inúmeras variáveis,
241 que tem como objetivo criar um teto para os gastos pú- desde a falta de preparo dos professores, às inadequações dos
blicos e frear o seu crescimento por vinte anos. Diante disso, espaços físicos, recursos mal administrados, condições econô-
e por saber que educação e saúde poderão deixar de receber micas deficitárias, entre outras. Por isso, há a necessidade de
um terço das verbas obrigatórias que injetariam recursos para políticas educacionais que priorize todas essas demandas para
a alavancagem nessas áreas, conclui-se que as políticas públicas o combate à exclusão e o avanço do desenvolvimento social.
educacionais dão sinal de fraquejamento.Ora, se o setor edu- As políticas públicas devem priorizar a qualidade da edu-
cacional necessita da ampliação de investimentos para a reto- cação para que os resultados acadêmicos dos estudantes me-
mada do desenvolvimento, como poderia avançar com recursos lhorem e o nível socioeconômico se estabilize. É percebível que
limitados? Como consolidar as metas e as estratégias do PNE, o financiamento dessas políticas é razão decisiva para que a
que almejam estimular a formação inicial e continuada de pro- educação possa alcançar o melhor nível qualitativo, proporcio-
fessores, oferecer educação integral em 50% das escolas, am- nando ao educando subsídios para a consumação dos objetivos
pliar investimentos do Produto Interno Bruto – PIB, em até 10% almejados.
entre outras, se a PEC limita gastos?

233
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
OS PALIATIVOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA No entanto, é preciso pensar em políticas educacionais
Em meio toda essa turbulência socioeconômica, que o Bra- como essência para o norteamento da cidadania e para a for-
sil vem atravessando, nos últimos anos, tem-se observado polí- mação de uma base nacional igualitária e verdadeiramente
ticas que são utilizadas como meros paliativos na educação. São ativa. Não basta a criação de “Reforma Educacional”, simples-
programas de cunho político que não desenvolvem o espírito mente para atender convicções políticas, o que se espera é por
crítico, nem o pensamento reflexivo, tampouco estimulam a um sistema que possa atender as reais necessidades da nação,
criação cultural do indivíduo. A expansão dos programas edu- atenuando as desigualdades sociais, desmascarando e fortale-
cacionais é vista com nitidez, mas os resultados esperados são cendo o senso crítico dos indivíduos.
nebulosos. As políticas públicas surgiram com o intuito de viabilizar a
A Reforma do Ensino Médio, por exemplo, pode ser inter- construção do bem comum de todos os cidadãos que integram
pretada, por muitos, como uma dessas medidas paliativas no a sociedade. Cabe, pois, o Estado refletir sobre o compromisso
setor educacional, uma vez que, apresenta o aumento progres- que a ação governamental tem com as suas implementações,
sivo da carga horária, a farsa do ensino integral e da formação para que contribuam com a transformação educacional e a efe-
técnica e profissional, tendo como consequências, o encolhi- tivação da cidadania, em virtude dos direitos previstos na Cons-
mento do conhecimento a quem o tem por direito, previsto na tituição Federal.
lei. Para o Coordenador Nacional pelo Direito à Educação, Da- É percebível que as políticas educacionais, no Brasil, avan-
niel Cara, çaram bastante nas últimas décadas, mas é percebível também,
Essa reforma é uma falácia, porque não resolve as ques- que os seus efeitos não atingiram grande parte das metas al-
tões estruturais, como a formação de professores e pontos que mejadas. Com isso, fica a sociedade credenciada a lutar por um
eram demandas dos estudantes que ocuparam as escolas, como ensino de qualidade, que possibilite a melhoria do nível de de-
a redução do número de alunos por classe. De nada adianta ên- senvolvimento do nosso país.
fase em exatas ou humanas, se o professor for mal preparado,
se não houver recurso. (DANIEL CARA, 2017)
Aexemplo de alguns desses programas destaca-se, como SÚMULAS VINCULANTES DO SUPREMO TRIBUNAL
pressuposto, o Ensino Médio com Intermediação Tecnológica FEDERAL RELATIVAS AO DIREITO PROCESSUAL DO
– EMITEC, no estado da Bahia, que originou-se em 2001, com a TRABALHO
justificativa de atender a três vertentes desafiadoras da educa-
ção baiana: a extensão territorial, a carência de docentes habi- Prezado candidato o edital não especifica quais Resoluções
litados e atenuação às desigualdades socioculturais do estado, do Conselho Estadual de Educação de Goiás serão abordadas,
prevendo o encolhimento do êxodo rural e o desenvolvimento portanto, disponibilizaremos o site oficial para consulta e com-
para o campo, além de possibilitar a continuidade das famílias plemento de seus estudos, conforme segue:
em suas terras de origem. A priori, intenções que proporcionam
comodidade à população ruralista, mas a posteriori, o atropela- https://www.cee.go.gov.br/index.php/legislacao/resoluco-
mento dos artigos 22 da LDB e 105 da CF, que preveem o pleno es
desenvolvimento do indivíduo, seu preparo para o exercício da
cidadania, qualificação para o trabalho e estudos posteriores, DOCUMENTO CURRICULAR PARA GOIÁS – DCGO
após concluir o ensino básico.
Essa modalidade, supostamente, deixa de oferecer condi-
ções necessárias a uma aprendizagem que possibilite ao edu- Prezado Candidato, devido ao formato do material disponi-
cando o exercício da cidadania, tendo em vista, muitas carên- bilizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do clien-
cias encontradas, desde a falta de professores capacitados, a te” em nosso site.
ausência de material pedagógico e da inter-relação com outros Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
professores, à oscilação de internet, além de outros fatores. É
um curso que poderia ter como público alvo aqueles que estão
com o currículo em atraso, que não tiveram oportunidade ou
condições de participar de um curso médio normal. BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM – BNCC
Com isso, termina se obstruindo qualquer possibilidade de
uma educação escolar pública qualitativa para a juventude baia- A Base Nacional Comum Curricular é um documento que
na/brasileira, sobretudo para os menos favorecidos e periféri- determina o conjunto de competências gerais que todos os
cos que já vem sofrendo o descaso da sociedade e do estado. alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica — que
inclui a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Mé-
CONSIDERAÇÕES FINAIS dio.
Por se considerar a educação um campo de cunho social, Esse conhecimento pretende assegurar uma formação hu-
responsável pela transformação positiva da sociedade, neces- mana integral com foco na construção de uma sociedade inclu-
sita ser vista e considerada como um direito fundamental do siva, justa e democrática. Para a primeira etapa da Educação
indivíduo e dever do Estado, que tem a responsabilidade de im- Básica, a escola deve garantir seis direitos de desenvolvimento
plementar políticas públicas capazes de garanti-la com qualida- e aprendizagem, de forma que todas as crianças tenham opor-
de. O único e exclusivo caminho que possibilitará as melhores tunidades de aprender e se desenvolver.
condições socioeconômicas de uma nação é a educação que, Após a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular
uma vez valorizada, propiciará oportunidades de igualdade (BNCC), em dezembro de 2017, começaram as discussões visan-
para todas as classes sociais. do a melhor forma de implementar as novas diretrizes da BNCC
na Educação Infantil de todo o país.

234
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nessa etapa da Educação Básica, a BNCC define direitos de Ou seja, só existe prazo para se chegar às mil horas, ou seja,
aprendizagem e os campos de experiências substituem as áreas do uma hora em relação a carga horária atual.
conhecimento do Ensino Fundamental. Em cada campo existem A Lei não faz referência clara como essa expansão irá acon-
objetivos de aprendizado e desenvolvimento do aluno, em vez de tecer no ensino médio noturno. Apenas determina que os siste-
unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades. mas de ensino disporão sobre a oferta de educação de jovens e
É responsabilidade das escolas garantir que seus alunos re- adultos e de ensino noturno regular, adequado às condições do
ceberão, em sala de aula, as competências gerais estabelecidas educando, conforme o inciso VI do art. 4°.”
pelo documento. Dessa forma, o cenário educacional nacional O ensino da arte, especialmente em suas expressões regio-
se torna mais justo e igualitário para todas as crianças. nais, constituirá componente curricular obrigatório da educa-
O primeiro texto sugerido no projeto foi discutido e elabo- ção básica, mas não especifica se atingirá os itinerários formati-
rado em conjunto com 116 especialistas em educação. A pro- vos do ensino médio. É provável que não.
posta foi aberta à consulta pública até março de 2016, quando Obriga a oferta de língua inglesa a partir do sexto ano do
foi revisada. ensino fundamental.
Em maio do mesmo ano, a segunda versão do documento A Lei dispõe que a integralização curricular poderá incluir,
foi divulgada. Quase um ano depois, em abril de 2017, a ter- a critério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envol-
ceira e última versão foi revelada e apresentada ao Conselho vendo os temas transversais. Portanto, não necessitará de ser
Nacional de Educação (CNE). tratado para o conjunto dos estudantes.
No mesmo ano, o CNE preparou audiências públicas em cin- A inclusão de novos componentes curriculares de caráter
co regionais. O objetivo era alcançar colaborações para a elabo- obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de
ração da norma instituidora da BNCC. No dia 15 de dezembro, o aprovação do CNE e de homologação pelo Ministro de Estado
projeto foi homologado e seguiu para a aprovação do Ministé- da Educação.
rio da Educação (MEC). A BNCC definirá direitos e objetivos de aprendizagem do
A resolução que orienta e institui a implementação da BNCC ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
na Educação Infantil e no Ensino Médio foi publicada no dia 22 Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
de dezembro de 2017.
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
Qual é o prazo para implementação nas escolas?
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
Existe um comitê especial responsável por acompanhar a
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
implantação da nova base nas escolas públicas e privadas, que
deverá ocorrer até o dia 31 de dezembro de 2020.
A parte diversificada dos currículos, definida em cada siste-
Até lá, o grupo de especialistas deve propor debates, dis-
ma de ensino, deverá estar harmonizada à BNCC e ser articula-
cussões acerca dos temas referentes aos desafios da implemen-
da a partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental
tação e nortear ações a serem tomadas pelo governo para a
e cultural.
concretização do novo currículo.41
A BNCC referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamen-
A base curricular do ensino brasileiro tem passado por di- te estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e fi-
versas mudanças, dentre elas, temos a lei a seguir. losofia. Portanto, não haverá a obrigatoriedade de disciplinas.
Obrigatoriedade apenas para o ensino da língua portuguesa
Lei nº 13.415/2017 e da matemática nos três anos do ensino médio, assegurada às
- Altera a LDB comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas
- Altera o Fundeb línguas maternas, e de língua inglesa.
- Altera a CLT Outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
- Revoga a Lei 11.161/2005 cialmente o espanhol, poderão ser ofertadas de acordo com a
- Institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sis-
de Ensino Médio em Tempo Integral. temas de ensino.
A carga horária destinada ao cumprimento da BNCC não
poderá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga
Quais as implicações? horária do ensino médio. Ou seja, próximo a 69% do total da
Implicações curriculares, com flexibilização e aligeiramento carga horária.
da formação
- Altera o formato de financiamento público com privati- Itinerários Formativos
zação O currículo do ensino médio será composto pela BNCC e
- Atinge a formação docente por itinerários formativos, que deverão ser organizados por
- Impacta a docência da rede particular de ensino meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a
- Não assegura novos recursos relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas
de ensino, a saber:
Implicações Curriculares I - linguagens e suas tecnologias;
Carga horária do ensino médio será ampliada de forma pro- II - matemática e suas tecnologias;
gressiva (§ 1º, Art. 24 LDB – nova redação) para mil e quatro- III - ciências da natureza e suas tecnologias;
centas horas, devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
máximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de carga V - formação técnica e profissional.
horária, a partir de 2 de março de 2017.
41 Fonte: www.educacaoinfantil.aix.com.br

235
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Poderá ser composto itinerário formativo integrado, que COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
se traduz na composição de componentes curriculares da BNCC 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente
e dos itinerários formativos. construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para
Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e cola-
na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio borar para a construção de uma sociedade justa, democrática
cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput. e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à aborda-
1. INTRODUÇÃO gem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão,
a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
A Base Nacional Comum Curricular causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver proble-
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento mas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos co-
de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progres- nhecimentos das diferentes áreas.
sivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação culturais, das locais às mundiais, e também participar de práti-
Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de cas diversificadas da produção artístico-cultural.
aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-mo-
preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documen- tora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –,
to normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática
como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases e científica, para se expressar e partilhar informações, expe-
da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996),e está orientado riências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produ-
pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à forma- zir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
ção humana integral e à construção de uma sociedade justa, 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de in-
democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes formação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexi-
Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN) va e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares)
Referência nacional para a formulação dos currículos dos
para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
e dos Municípios e das propostas pedagógicas das instituições
autoria na vida pessoal e coletiva.
escolares, a BNCC integra a política nacional da Educação Básica
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais
e vai contribuir para o alinhamento de outras políticas e ações,
e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe pos-
em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação
sibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho
de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos educa-
e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
cionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada
projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica
para o pleno desenvolvimento da educação.
e responsabilidade.
Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a superar a frag-
mentação das políticas educacionais, enseje o fortalecimento 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações
do regime de colaboração entre as três esferas de governo e confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de
seja balizadora da qualidade da educação. Assim, para além vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
da garantia de acesso e permanência na escola, é necessário humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsá-
que sistemas, redes e escolas garantam um patamar comum de vel em âmbito local, regional e global, com posicionamento éti-
aprendizagens a todos os estudantes, tarefa para a qual a BNCC co em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
é instrumento fundamental. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e
Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reco-
definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudan- nhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e ca-
tes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubs- pacidade para lidar com elas.
tanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e
desenvolvimento. Na BNCC, competência é definida como a mo- a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
bilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habili- outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
dades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
exercício da cidadania e do mundo do trabalho. qualquer natureza.
Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsa-
“educação deve afirmar valores e estimular ações que contri- bilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando de-
buam para a transformação da sociedade, tornando-a mais cisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,
humana, socialmente justa e, também, voltada para a preser- sustentáveis e solidários
vação da natureza” (BRASIL, 2013)3, mostrando-se também ali-
nhada à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Os marcos legais que embasam a BNCC
É imprescindível destacar que as competências gerais da A Constituição Federal de 19885, em seu Artigo 205, reco-
Educação Básica, apresentadas a seguir, inter-relacionam-se e nhece a educação como direito fundamental compartilhado en-
desdobram-se no tratamento didático proposto para as três tre Estado, família e sociedade ao determinar que a educação,
etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Funda- direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
mental e Ensino Médio), articulando-se na construção de co- e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao ple-
nhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na forma- no desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
ção de atitudes e valores, nos termos da LDB. da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

236
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para atender a tais finalidades no âmbito da educação Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direi-
escolar, a Carta Constitucional, no Artigo 210, já reconhece a tos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme di-
necessidade de que sejam “fixados conteúdos mínimos para o retrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas
ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica do conhecimento [...]
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o caput e
regionais” (BRASIL, 1988). das respectivas competências e habilidades será feita de acordo
Com base nesses marcos constitucionais, a LDB, no Inciso com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino (BRASIL,
IV de seu Artigo 9º, afirma que cabe à União estabelecer, em 20178; ênfases adicionadas).
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, Trata-se, portanto, de maneiras diferentes e intercambiá-
competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino veis para designar algo comum, ou seja, aquilo que os estudan-
Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e tes devem aprender na Educação Básica, o que inclui tanto os
seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica saberes quanto a capacidade de mobilizá-los e aplicá-los.
comum (BRASIL, 1996; ênfase adicionada).
Nesse artigo, a LDB deixa claros dois conceitos decisivos Os fundamentos pedagógicos da BNCC
para todo o desenvolvimento da questão curricular no Brasil. O
primeiro, já antecipado pela Constituição, estabelece a relação Foco no desenvolvimento de competências
entre o que é básico-comum e o que é diverso em matéria cur- O conceito de competência, adotado pela BNCC, marca a
ricular: as competências e diretrizes são comuns, os currículos discussão pedagógica e social das últimas décadas e pode ser
são diversos. O segundo se refere ao foco do currículo. Ao dizer inferido no texto da LDB, especialmente quando se estabele-
que os conteúdos curriculares estão a serviço do desenvolvi- cem as finalidades gerais do Ensino Fundamental e do Ensino
mento de competências, a LDB orienta a definição das aprendi- Médio (Artigos 32 e 35).
zagens essenciais, e não apenas dos conteúdos mínimos a ser Além disso, desde as décadas finais do século XX e ao lon-
ensinados. Essas são duas noções fundantes da BNCC. go deste início do século XXI9, o foco no desenvolvimento de
A relação entre o que é básico-comum e o que é diverso é competências tem orientado a maioria dos Estados e Municí-
retomada no Artigo 26 da LDB, que determina que os currículos pios brasileiros e diferentes países na construção de seus cur-
da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Mé- rículos10. É esse também o enfoque adotado nas avaliações
dio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvol-
cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por vimento Econômico (OCDE), que coordena o Programa Interna-
uma parte diversificada, exigida pelas características regionais cional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês)11, e da
e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
(BRASIL, 1996; ênfase adicionada). Cultura (Unesco, na sigla em inglês), que instituiu o Laboratório
Essa orientação induziu à concepção do conhecimento cur- Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação para
ricular contextualizado pela realidade local, social e individual a América Latina (LLECE, na sigla em espanhol)12.
da escola e do seu alunado, que foi o norte das diretrizes curri- Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pe-
culares traçadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) ao dagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de
longo da década de 1990, bem como de sua revisão nos anos competências.
2000. Por meio da indicação clara do que os alunos devem “sa-
Em 2010, o CNE promulgou novas DCN, ampliando e orga- ber” (considerando a constituição de conhecimentos, habili-
nizando o conceito de contextualização como “a inclusão, a dades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber
valorização das diferenças e o atendimento à pluralidade e à fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, ha-
diversidade cultural resgatando e respeitando as várias mani- bilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas
festações de cada comunidade”, conforme destaca o Parecer da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo
CNE/CEB nº 7/20106. do trabalho), a explicitação das competências oferece referên-
Em 2014, a Lei nº 13.005/20147 promulgou o Plano Nacio- cias para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendi-
nal de Educação (PNE), que reitera a necessidade de estabele- zagens essenciais definidas na BNCC.
cer e implantar, mediante pactuação interfederativa [União,
Estados, Distrito Federal e Municípios], diretrizes pedagógicas O compromisso com a educação integral
para a educação básica e a base nacional comum dos currícu- A sociedade contemporânea impõe um olhar inovador e in-
los, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvi- clusivo a questões centrais do processo educativo: o que apren-
mento dos(as) alunos(as) para cada ano do Ensino Fundamen- der, para que aprender, como ensinar, como promover redes
tal e Médio, respeitadas as diversidades regional, estadual e de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado.
local (BRASIL, 2014). No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto
Nesse sentido, consoante aos marcos legais anteriores, o histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico,
PNE afirma a importância de uma base nacional comum curri- participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo
cular para o Brasil, com o foco na aprendizagem como estraté- e responsável requer muito mais do que o acúmulo de informa-
gia para fomentar a qualidade da Educação Básica em todas as ções. Requer o desenvolvimento de competências para aprender
etapas e modalidades (meta 7), referindo-se a direitos e objeti- a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponí-
vos de aprendizagem e desenvolvimento. vel, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos
Em 2017, com a alteração da LDB por força da Lei nº das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver pro-
13.415/2017, a legislação brasileira passa a utilizar, concomi- blemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para
tantemente, duas nomenclaturas para se referir às finalidades identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver
da educação: e aprender com as diferenças e as diversidades.

237
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita, o seu De forma particular, um planejamento com foco na equida-
compromisso com a educação integral13. Reconhece, assim, de também exige um claro compromisso de reverter a situação
que a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvi- de exclusão histórica que marginaliza grupos – como os povos
mento humano global, o que implica compreender a comple- indígenas originários e as populações das comunidades rema-
xidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo nescentes de quilombos e demais afrodescendentes – e as pes-
com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão inte- soas que não puderam estudar ou completar sua escolaridade
lectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. na idade própria. Igualmente, requer o compromisso com os
Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e inte- alunos com deficiência, reconhecendo a necessidade de práti-
gral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – consi- cas pedagógicas inclusivas e de diferenciação curricular, con-
derando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma forme estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e de- Deficiência (Lei nº 13.146/2015)14.
senvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades.
Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de de- Base Nacional Comum Curricular e currículos
mocracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de A BNCC e os currículos se identificam na comunhão de prin-
não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e cípios e valores que, como já mencionado, orientam a LDB e as
diversidades. DCN. Dessa maneira, reconhecem que a educação tem um com-
Independentemente da duração da jornada escolar, o con- promisso com a formação e o desenvolvimento humano global,
ceito de educação integral com o qual a BNCC está comprome- em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, mo-
tida se refere à construção intencional de processos educativos ral e simbólica.
que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessida- Além disso, BNCC e currículos têm papéis complementares
des, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, tam- para assegurar as aprendizagens essenciais definidas para cada
bém, com os desafios da sociedade contemporânea. Isso supõe etapa da Educação Básica, uma vez que tais aprendizagens só
considerar as diferentes infâncias e juventudes, as diversas cul- se materializam mediante o conjunto de decisões que caracteri-
turas juvenis e seu potencial de criar novas formas de existir. zam o currículo em ação. São essas decisões que vão adequar as
Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação radi- proposições da BNCC à realidade local, considerando a autono-
calmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplica- mia dos sistemas ou das redes de ensino e das instituições esco-
ção na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao lares, como também o contexto e as características dos alunos.
que se aprende e o protagonismo do estudante em sua apren- Essas decisões, que resultam de um processo de envolvimento
dizagem e na construção de seu projeto de vida. e participação das famílias e da comunidade, referem-se, entre
outras ações, a:
O pacto interfederativo e a implementação da BNCC Base • contextualizar os conteúdos dos componentes curricula-
Nacional Comum Curricular: igualdade, diversidade e equida- res, identificando estratégias para apresentá-los, representá-
de -los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com
No Brasil, um país caracterizado pela autonomia dos entes base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendiza-
federados, acentuada diversidade cultural e profundas desi- gens estão situadas;
gualdades sociais, os sistemas e redes de ensino devem cons- • decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos
truir currículos, e as escolas precisam elaborar propostas pe- componentes curriculares e fortalecer a competência pedagó-
dagógicas que considerem as necessidades, as possibilidades gica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmi-
e os interesses dos estudantes, assim como suas identidades cas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino
linguísticas, étnicas e culturais. e da aprendizagem; selecionar e aplicar metodologias e estra-
Nesse processo, a BNCC desempenha papel fundamental, tégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos
pois explicita as aprendizagens essenciais que todos os estu- diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário,
dantes devem desenvolver e expressa, portanto, a igualdade para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de
educacional sobre a qual as singularidades devem ser conside- alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades,
radas e atendidas. Essa igualdade deve valer também para as seus grupos de socialização etc.;
oportunidades de ingresso e permanência em uma escola de • conceber e pôr em prática situações e procedimentos
Educação Básica, sem o que o direito de aprender não se con- para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens;
cretiza. • construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa
O Brasil, ao longo de sua história, naturalizou desigualda- de processo ou de resultado que levem em conta os contextos
des educacionais em relação ao acesso à escola, à permanência e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como
dos estudantes e ao seu aprendizado. São amplamente conhe- referência para melhorar o desempenho da escola, dos profes-
cidas as enormes desigualdades entre os grupos de estudantes sores e dos alunos;
definidos por raça, sexo e condição socioeconômica de suas fa- • selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos
mílias. e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender;
Diante desse quadro, as decisões curriculares e didático- • criar e disponibilizar materiais de orientação para os pro-
-pedagógicas das Secretarias de Educação, o planejamento fessores, bem como manter processos permanentes de forma-
do trabalho anual das instituições escolares e as rotinas e os ção docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos
eventos do cotidiano escolar devem levar em consideração a processos de ensino e aprendizagem;
necessidade de superação dessas desigualdades. Para isso, os • manter processos contínuos de aprendizagem sobre ges-
sistemas e redes de ensino e as instituições escolares devem tão pedagógica e curricular para os demais educadores, no âm-
se planejar com um claro foco na equidade, que pressupõe re- bito das escolas e sistemas de ensino.
conhecer que as necessidades dos estudantes são diferentes.

238
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Essas decisões precisam, igualmente, ser consideradas na Legitimada pelo pacto interfederativo, nos termos da Lei nº
organização de currículos e propostas adequados às diferentes 13.005/ 2014, que promulgou o PNE, a BNCC depende do ade-
modalidades de ensino (Educação Especial, Educação de Jovens quado funcionamento do regime de colaboração para alcançar
e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, seus objetivos.
Educação Escolar Quilombola, Educação a Distância), aten- Sua formulação, sob coordenação do MEC, contou com a
dendo-se às orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais. participação dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios,
No caso da Educação Escolar Indígena, por exemplo, isso signifi- depois de ampla consulta à comunidade educacional e à socieda-
ca assegurar competências específicas com base nos princípios de, conforme consta da apresentação do presente documento.
da coletividade, reciprocidade, integralidade, espiritualidade Com a homologação da BNCC, as redes de ensino e escolas
e alteridade indígena, a serem desenvolvidas a partir de suas particulares terão diante de si a tarefa de construir currículos,
culturas tradicionais reconhecidas nos currículos dos sistemas com base nas aprendizagens essenciais estabelecidas na BNCC,
de ensino e propostas pedagógicas das instituições escolares. passando, assim, do plano normativo propositivo para o plano
Significa também, em uma perspectiva intercultural, conside- da ação e da gestão curricular que envolve todo o conjunto de
rar seus projetos educativos, suas cosmologias, suas lógicas, decisões e ações definidoras do currículo e de sua dinâmica.
seus valores e princípios pedagógicos próprios (em consonân- Embora a implementação seja prerrogativa dos sistemas e
cia com a Constituição Federal, com as Diretrizes Internacionais das redes de ensino, a dimensão e a complexidade da tarefa vão
da OIT – Convenção 169 e com documentos da ONU e Unesco exigir que União, Estados, Distrito Federal e Municípios somem
sobre os direitos indígenas) e suas referências específicas, tais esforços.
como: construir currículos interculturais, diferenciados e bilín- Nesse regime de colaboração, as responsabilidades dos en-
gues, seus sistemas próprios de ensino e aprendizagem, tanto tes federados serão diferentes e complementares, e a União
dos conteúdos universais quanto dos conhecimentos indígenas, continuará a exercer seu papel de coordenação do processo e
bem como o ensino da língua indígena como primeira língua15. de correção das desigualdades.
É também da alçada dos entes federados responsáveis pela A primeira tarefa de responsabilidade direta da União será
implementação da BNCC o reconhecimento da experiência cur- a revisão da formação inicial e continuada dos professores para
ricular existente em seu âmbito de atuação. Nas duas últimas alinhá-las à BNCC. A ação nacional será crucial nessa iniciativa,
décadas, mais da metade dos Estados e muitos Municípios vêm já que se trata da esfera que responde pela regulação do ensino
elaborando currículos para seus respectivos sistemas de ensino, superior, nível no qual se prepara grande parte desses profis-
inclusive para atender às especificidades das diferentes moda- sionais. Diante das evidências sobre a relevância dos professo-
lidades. Muitas escolas públicas e particulares também acumu- res e demais membros da equipe escolar para o sucesso dos
laram experiências de desenvolvimento curricular e de criação alunos, essa é uma ação fundamental para a implementação
de materiais de apoio ao currículo, assim como instituições de eficaz da BNCC.
ensino superior construíram experiências de consultoria e de
apoio técnico ao desenvolvimento curricular. Inventariar e ava- Compete ainda à União, como anteriormente anunciado,
liar toda essa experiência pode contribuir para aprender com promover e coordenar ações e políticas em âmbito federal,
acertos e erros e incorporar práticas que propiciaram bons re- estadual e municipal, referentes à avaliação, à elaboração de
sultados. materiais pedagógicos e aos critérios para a oferta de infraes-
Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como trutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação.
às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e compe- Por se constituir em uma política nacional, a implementa-
tência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a ção da BNCC requer, ainda, o monitoramento pelo MEC em co-
abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida huma- laboração com os organismos nacionais da área – CNE, Consed
na em escala local, regional e global, preferencialmente de for- e Undime. Em um país com a dimensão e a desigualdade do
ma transversal e integradora. Entre esses temas, destacam-se: Brasil, a permanência e a sustentabilidade de um projeto como
direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), edu- a BNCC dependem da criação e do fortalecimento de instâncias
cação para o trânsito (Lei nº 9.503/199717), educação ambien- técnico-pedagógicas nas redes de ensino, priorizando aqueles
tal (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução com menores recursos, tanto técnicos quanto financeiros. Essa
CNE/CP nº 2/201218), educação alimentar e nutricional (Lei nº função deverá ser exercida pelo MEC, em parceria com o Con-
11.947/200919), processo de envelhecimento, respeito e valo- sed e a Undime, respeitada a autonomia dos entes federados.
rização do idoso (Lei nº 10.741/200320), educação em direitos A atuação do MEC, além do apoio técnico e financeiro, deve
humanos (Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e incluir também o fomento a inovações e a disseminação de ca-
Resolução CNE/CP nº 1/201221), educação das relações étnico- sos de sucesso; o apoio a experiências curriculares inovadoras;
-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e a criação de oportunidades de acesso a conhecimentos e ex-
indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer CNE/CP periências de outros países; e, ainda, o fomento de estudos e
nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/200422), bem como saú- pesquisas sobre currículos e temas afins.
de, vida familiar e social, educação para o consumo, educação
financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade A ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
cultural (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº
7/201023). Na BNCC, essas temáticas são contempladas em ha- A Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular
bilidades dos componentes curriculares, cabendo aos sistemas A expressão educação “pré-escolar”, utilizada no Brasil até
de ensino e escolas, de acordo com suas especificidades, tratá- a década de 1980, expressava o entendimento de que a Educa-
-las de forma contextualizada. Base Nacional Comum Curricular ção Infantil era uma etapa anterior, independente e prepara-
e regime de colaboração tória para a escolarização, que só teria seu começo no Ensino
Fundamental. Situava-se, portanto, fora da educação formal.

239
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento em A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da
creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade tor- infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais
na-se dever do Estado. Posteriormente, com a promulgação da para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as
LDB, em 1996, a Educação Infantil passa a ser parte integrante interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adul-
da Educação Básica, situando-se no mesmo patamar que o En- tos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos,
sino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir da modificação a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regula-
introduzida na LDB em 2006, que antecipou o acesso ao Ensino ção das emoções.
Fundamental para os 6 anos de idade, a Educação Infantil passa Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas peda-
a atender a faixa etária de zero a 5 anos. gógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas
Entretanto, embora reconhecida como direito de todas as pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimen-
crianças e dever do Estado, a Educação Infantil passa a ser obri- to asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as
gatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a Emenda crianças aprendam em situações nas quais possam desempe-
Constitucional nº 59/200926, que determina a obrigatoriedade nhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar
da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa extensão da obriga- desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais
toriedade é incluída na LDB em 2013, consagrando plenamente possam construir significados sobre si, os outros e o mundo so-
a obrigatoriedade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 cial e natural.
anos em instituições de Educação Infantil.
Com a inclusão da Educação Infantil na BNCC, mais um im- DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA
portante passo é dado nesse processo histórico de sua integra- EDUCAÇÃO INFANTIL
ção ao conjunto da Educação Básica. • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e
grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o
A Educação Infantil no contexto da Educação Básica conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura
Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação In- e às diferenças entre as pessoas.
fantil é o início e o fundamento do processo educacional. A en- • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes
trada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes,
espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adul-
a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos fa-
tos), ampliando e diversificando seu acesso a produções cul-
miliares para se incorporarem a uma situação de socialização
turais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade,
estruturada.
suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressi-
Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação In-
vas, cognitivas, sociais e relacionais.
fantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o
• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tan-
cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse
to do planejamento da gestão da escola e das atividades pro-
contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e
postas pelo educador quanto da realização das atividades da
os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da
vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos mate-
família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas
propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo riais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e
de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, co-
de maneira complementar à educação familiar – especialmen- res, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, his-
te quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem tórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela,
pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas mo-
contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia dalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
e a comunicação.
Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o de- • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas
senvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o comparti- necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, des-
lhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação cobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes
Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa linguagens.
conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e
riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade. cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus gru-
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil pos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados,
(DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009)27, em seu Artigo 4º, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição
definem a criança como sujeito histórico e de direitos, que, nas escolar e em seu contexto familiar e comunitário
interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, cons-
trói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fanta- Essa concepção de criança como ser que observa, questio-
sia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e na, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila va-
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo lores e que constrói conhecimentos e se apropria do conheci-
cultura (BRASIL, 2009). mento sistematizado por meio da ação e nas interações com o
Ainda de acordo com as DCNEI, em seu Artigo 9º, os eixos mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas
estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da Educa- aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou
ção Básica são as interações e a brincadeira, experiências nas espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir in-
quais as crianças podem construir e apropriar-se de conheci- tencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação
mentos por meio de suas ações e interações com seus pares Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola.
e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvi-
mento e socialização.

240
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Essa intencionalidade consiste na organização e proposi- Corpo, gestos e movimentos – Com o corpo (por meio dos
ção, pelo educador, de experiências que permitam às crianças sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coor-
conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as rela- denados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o
ções com a natureza, com a cultura e com a produção científica, mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem rela-
que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar- ções, expressam- -se, brincam e produzem conhecimentos sobre
-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimenta- si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se,
ções com materiais variados, na aproximação com a literatura e progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das
no encontro com as pessoas. diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brin-
Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, orga- cadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no
nizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e in- entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças
terações, garantindo a pluralidade de situações que promovam conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e,
o desenvolvimento pleno das crianças. com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades
Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência
aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetó- sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade
ria de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centrali-
possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, dade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas
feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade,
pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa pro-
e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante mover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre
o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, ex-
classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou plorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos,
“não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir ele- olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados
mentos para reorganizar tempos, espaços e situações que garan- modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sen-
tam os direitos de aprendizagem de todas as crianças. tar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoian-
do-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se,
OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.).
Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e Traços, sons, cores e formas – Conviver com diferentes ma-
o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes nifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no
as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os direitos de cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de
conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer- experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão
-se, a organização curricular da Educação Infantil na BNCC está e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem,
estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, en-
quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvi- tre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por
mento. Os campos de experiências constituem um arranjo cur- várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou
ricular que acolhe as situações e as experiências concretas da culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons,
vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos,
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tec-
A definição e a denominação dos campos de experiências nológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito
também se baseiam no que dispõem as DCNEI em relação aos pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o co-
saberes e conhecimentos fundamentais a ser propiciados às nhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca.
crianças e associados às suas experiências. Considerando esses Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das
saberes e conhecimentos, os campos de experiências em que se crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e
organiza a BNCC são: apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da
sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças,
O eu, o outro e o nós – É na interação com os pares e com permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente,
adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertó-
agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros mo- rios e interpretar suas experiências e vivências artísticas.
dos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o nasci-
Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, mento, as crianças participam de situações comunicativas cotidia-
na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções nas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas
e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a
e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que
sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente,
de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e de-
senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência mais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da
com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privile-
oportunidades para que as crianças entrem em contato com ou- giado de interação. Na Educação Infantil, é importante promover
tros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferen- experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencia-
tes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, lizando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histó-
costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas rias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas
podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as
valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como
diferenças que nos constituem como seres humanos. sujeito singular e pertencente a um grupo social.

241
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao
observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua
escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na
cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a litera-
tura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela
leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábu-
las, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e
escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos,
as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão
conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de
representação da língua.
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes
dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em
diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade
sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os
diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e
sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a di-
versidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente,
com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos
e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de nume-
rais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências
nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consul-
tar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportu-
nidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano.

OS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL


Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vi-
vências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando as interações e a brin-
cadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.
Reconhecendo as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem a etapa da Educação Infantil, os objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento estão sequencialmente organizados em três grupos por faixa etária, que correspondem, aproxi-
madamente, às possibilidades de aprendizagem e às características do desenvolvimento das crianças, conforme indicado na figura
a seguir. Todavia, esses grupos não podem ser considerados de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no
desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica.

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES”

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TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O conteúdo na íntegra encontra-se no endereço eletrônico: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_


EF_110518_versaofinal_site.pdf

EXERCÍCIOS

1. (Quadrix/2017 - SEDF)
No que se refere aos aspectos pedagógicos e sociais da prática educativa, julgue o item a seguir.
De acordo com a tendência progressista histórico-crítica, a educação deve estar centralizada no aluno e o professor deve
garantir um relacionamento de respeito, promovendo uma aprendizagem baseada na motivação e na estimulação de problemas.
( ) CERTO
( ) ERRADO

2. (IBFC/2013 - SEAP-DF)
Considerando o papel político pedagógico e organicidade do ensinar, aprender e pesquisar, e de acordo com seus conheci-
mentos sobre essa temática, julgue os itens a seguir:
I. O projeto político-pedagógico contribui na sistematização e organicidade da prática reflexiva dos sujeitos, estes que são
múltiplos e convergem para ações autônomas e compromissadas com a construção do projeto, voltado para crítica, intervenção
social e formação de sujeitos reflexivos.
II. O projeto político-pedagógico pode ser definido como um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diver-
sas, sendo construído e encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas da escola.
III. A construção de um projeto político-pedagógico deve considerar as singularidades e a participação de todos os sujeitos
da escola, potencializando a criatividade e a capacidade reflexiva. Essa perspectiva remete à compreensão das relações entre os
sujeitos que interagem no contexto do pesquisar, ensinar, aprender, de modo a ser coletiva a construção do projeto em questão.
IV. O processo político-pedagógico, embora constituído em processo democrático, não aborda a eliminação de relações com-
petitivas e corporativas, reiterando a rotina do mando racionalizado da burocracia, aumentando efeitos fragmentários da divisão
do trabalho que acaba por hierarquizar os poderes de decisão.

É correto o que se afirma nas sentenças:


(A) I, II e III, apenas
(B) I e III, apenas.
(C) III e IV, apenas.
(D) I, III e IV, apenas.

248
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
3. (TJ-MA - FESAG - Pedagogo - 2005) 7. (CESPE/2018 - ABIN) A questão não é mais discutir a
O projeto político pedagógico é um instrumento que deve inserção ou não de tecnologias da informação e comunicação
ser implementado na perspectiva de uma educação para a cida- na educação, mas a sua apropriação pelos sujeitos pedagógi-
dania. Com esta compreensão é correto afirmar que: cos (alunos e professores), para contribuir com a melhoria da
(A) O projeto político pedagógico precisa ser construído qualidade dos processos educativos e, consequentemente, da
inclusive por interferência política partidária. Um processo aprendizagem. Com relação a esse assunto, julgue o item que
sempre inconcluso e se possível parcial. se segue.
(B) O projeto político pedagógico não nega o instituído co- Iniciativas educacionais e culturais têm procurado mini-
letivamente, que é a sua história, seus atores. O projeto
mizar a discrepância no acesso às tecnologias da informação e
político pedagógico não deve confrontar o instituído com
comunicação por meio da utilização das mídias nos processos
o instituinte.
educacionais.
(C) O projeto político pedagógico precisa ser construído
sem interferência política. Um processo sempre inconcluso ( ) CERTO
e se possível imparcial. ( ) ERRADO
(D) O projeto político pedagógico não nega o instituído co-
letivamente, que é a sua história, seus atores. O projeto 8. (CESPE - 2012 - TJ-RO)
político pedagógico sempre confronta o instituído com o Confrontar a experiência do aluno com o saber sistemati-
instituinte. zado constitui método de ensino-aprendizagem próprio da con-
(E) N.R.A. cepção pedagógica.
(A) liberal tecnicista.
4. “Qual é o papel da avaliação no processo de ensino (B) progressista histórico-crítica.
aprendizagem? É certo que podermos separar o fato de ensinar (C) liberal renovadora progressiva.
do fato de ensinar e avaliar? Antes de ensinar, sempre fazemos (D) progressista libertadora.
uma avaliação inicial?” BASSEDAS, HUGUETE, SOLE, 1999. São (E) progressista libertária.
muitos os questionamentos sobre avaliação. Analise as afirma-
tivas a seguir e marque a alternativa INCORRETA: 9. (Quadrix/2018 - SEDUCE-GO)
(A) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as ati- Na escola, o coordenador pedagógico exerce um papel es-
vidades em função dos conhecimentos e as dificuldades no
tratégico nas diversas instâncias que a permeiam. Consideran-
início de uma sequência de ensino e de aprendizagem.
do essa informação, assinale a alternativa que apresenta corre-
(B) Uma prática de avaliação formativa supõe um domínio
tamente a função do coordenador pedagógico na escola.
do currículo e dos processos de ensino e de aprendizagem.
(C) Ao elaborar uma avaliação, o educador deve observar a (A) motivar os professores a manterem a boa aparência da
contextualização, a interdisciplinaridade e a parametrização. escola, de modo a estimular, na comunidade escolar, a ade-
(D) A avaliação se restringe ao julgamento sobre sucesso ou rência às propostas feitas pela gestão
fracasso do aluno e pode ser compreendida como um con- (B) cuidar da disciplina dos alunos, assumindo a postura de
junto de ações que orientam a intervenção pedagógica. uma personagem apaziguadora da escola
(C) cuidar dos critérios de avaliação em sala de aula, optan-
5. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). do sempre por um sistema mais rígido, mantendo o contro-
A contribuição da escola é a de: le dos professores e assegurando o bom desempenho dos
(A) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da educa- alunos
ção escolar. (D) ser articulador, formador e transformador, possibilitan-
(B) Colocar-se contra valores e práticas sociais. do que novos significados sejam atribuídos à prática educa-
(C) Desenvolver um projeto de educação comprometida com tiva da escola e à prática pedagógica dos professores
o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na (E) cuidar da administração do tempo nas salas de aula,
realidade para transformá-la. controlando principalmente o tempo destinado aos inter-
(D) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com as valos e evitando que haja dispersão dos alunos e dificulda-
perspectivas e decisões que as favoreçam.
des no retorno
(E) Não valorizar conhecimentos que permitam desenvolver
as capacidades necessárias para a participação efetiva.
10. (FURB/2019 - Prefeitura de Blumenau/SC)
6. (IF/GO – 2019 – IF/Goiano) Valorização da diversidade como elemento enriquecedor
A inclusão implica um esforço de modernização e rees- da aprendizagem, atendimento às necessidades coletivas e
truturação das condições de funcionamento e organização da individuais de ensino e aprendizagem, adaptação da escola às
maioria das escolas brasileiras, em especial as de educação bá- necessidades dos alunos e currículo flexível são fundamentos
sica. No entanto, mudar a escola é enfrentar, de acordo com relacionados, corretamente, à/ao:
Mantoan, estudiosa da questão da inclusão, muitas frentes de (A) Educação inclusiva.
trabalho, cuja tarefa fundamental é: (B) Ensino especial.
(A) recriar o modelo educativo da escola, tendo como eixo (C) Educação especial.
o ensino para todos. (D) Ensino integrativo.
(B) reorganizar administrativamente as escolas, tendo (E) Atendimento especializado.
como princípio a normalização.
(C) reestruturar a prática pedagógica dos professores, ten-
do como eixo o ensino especializado.
(D) aprimorar os sistemas educacionais, tendo como prin-
cípio a integração.

249
TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

GABARITO ______________________________________________________

1 ERRADO ______________________________________________________
2 B
______________________________________________________
3 D
4 D ______________________________________________________
5 C
______________________________________________________
6 A
7 CERTO ______________________________________________________
8 E
______________________________________________________
9 D
10 A ______________________________________________________

______________________________________________________

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ANOTAÇÕES
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