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Concurso Nacional Unificado

CNU
Bloco 8 - Nível Intermediário

NV-012JN-24-CNU-BLOCO-8-NIV-INTERM
Cód.: 7908428807337
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
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Obra

CNU - Concurso Nacional Unificado


Bloco 8 - Nível Intermediário

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA • Ana Cátia Collares, Giselli Neves, Isabella Ramiro e Monalisa Costa

REDAÇÃO DISCURSIVA • Nelson Sartori

NOÇÕES DE DIREITO • Aline Costa, Caroline Matos, Ana Philippini, Fernando Zantedeschi, Isadora
Terra e Ricardo Reis

MATEMÁTICA • Edson Júnior, Kairton Batista (Prof. Kaká) e Sérgio Mendes

REALIDADE BRASILEIRA • Bianca Capizzani, Camila Cury, Ednilson Silva, Jean Talvani, Juliana Azola,
Lucas Afonso, Maria Clara Iunes, Otávio Massaro, Vinícius Bernardo, Vitor Augusto Grimaldi, Yago
Junho e Zé Soares

ISBN: 978-65-5451-290-9

Edição: Janeiro/2024

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Esta obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
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PIRATARIA
É CRIME!
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ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por
escrito da Nova Concursos.

Pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal,


com pena de até quatro anos de prisão, além do pagamento
de multa. Já para aquele que compra o produto pirateado
sabendo desta qualidade, pratica o delito de receptação, punido
com pena de até um ano de prisão, além de multa (art. 180 do CP).

Não seja prejudicado com essa prática.


Denuncie aqui: sac@novaconcursos.com.br
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APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, este livro
foi organizado de acordo com o Edital de 10 de janeiro de 2024
focado somente em Conhecimentos Gerais para o Bloco 8 - Nível
Intermediário do Concurso Nacional Unificado – CNU.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário,


facilitando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sem-
pre a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em
uma sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abor-
dando os principais itens do edital e reorganizando-os quando
necessário, de uma maneira didática para que você realmente
consiga aprender e otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas, e seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gaba-
ritados da banca CESGRANRIO, organizadora responsável pelo
certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensan-
do no seu sonho de ser aprovado em um concurso público.

Agora é com você!

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SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................11
COMPREENSÃO DE TEXTOS.............................................................................................................. 11

A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DOS VÁRIOS MODOS DE ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA................. 13

COERÊNCIA E COESÃO....................................................................................................................... 17

ORTOGRAFIA....................................................................................................................................... 21

CLASSE, ESTRUTURA, FORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DE VOCÁBULOS....................................... 24

DERIVAÇÃO........................................................................................................................................................26

COMPOSIÇÃO....................................................................................................................................................27

Linguagem Figurada......................................................................................................................................28

A ORAÇÃO E SEUS TERMOS.............................................................................................................. 28

A ESTRUTURAÇÃO DO PERÍODO...................................................................................................... 34

AS CLASSES DE PALAVRAS: ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E


ESTILÍSTICOS...................................................................................................................................... 36

PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 56

REDAÇÃO DISCURSIVA...................................................................................................69
INTRODUÇÃO À REDAÇÃO DISCURSIVA.......................................................................................... 69

NOÇÕES DE DIREITO........................................................................................................97
DIREITO E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS
E COLETIVOS....................................................................................................................................... 97

DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIEDADE....................................97

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS E GARANTIAS DOS DIREITOS COLETIVOS,


SOCIAIS E POLÍTICOS.....................................................................................................................................108

DIREITOS SOCIAIS ..........................................................................................................................................111

NACIONALIDADE.............................................................................................................................................120

Cidadania......................................................................................................................................................123

A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTIGOS DE 37 A 41,


DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988) .........................................................................................125

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DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS ...............................................139

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO...............................................................................140

ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA..........................................................................................................144

AGENTES PÚBLICOS ........................................................................................................................152

REGIME JURÍDICO ÚNICO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERAÇÕES).......................................................153

PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO.............................................154

PODERES, DEVERES E PRERROGATIVAS......................................................................................................156

REGIME DISCIPLINAR ....................................................................................................................................161

Direitos e Vantagens....................................................................................................................................161

CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICOS.....................................................................................................162

RESPONSABILIDADE CIVIL, CRIMINAL E ADMINISTRATIVA .....................................................................163

PODERES ADMINISTRATIVOS ........................................................................................................166

USO E ABUSO DO PODER................................................................................................................................166

PODER REGULAMENTAR................................................................................................................................167

PODER HIERÁRQUICO ....................................................................................................................................167

PODER DISCIPLINAR ......................................................................................................................................168

PODER DE POLÍCIA .........................................................................................................................................169

ATO ADMINISTRATIVO ....................................................................................................................170

VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE.........................................................................................................172

ATRIBUTOS .....................................................................................................................................................174

EXTINÇÃO, DESFAZIMENTO E SANATÓRIA ..................................................................................................176

CLASSIFICAÇÃO .............................................................................................................................................176

Eficácia e Validade.......................................................................................................................................177

ESPÉCIES E EXTERIORIZAÇÃO ......................................................................................................................178

SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO E CONTROLE .......179

DELEGAÇÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO, AUTORIZAÇÃO ..........................................................................185

CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO .......................................................188

CONTROLE ADMINISTRATIVO ......................................................................................................................191

CONTROLE LEGISLATIVO ..............................................................................................................................193

CONTROLE JUDICIAL......................................................................................................................................195
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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO .......................................................................................................195

SANÇÕES APLICÁVEIS AOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


(LEI Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERAÇÕES) ...................................................................................201

LEI DO PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI Nº 9.784/1999 E SUAS ALTERAÇÕES) ..................217

MATEMÁTICA.................................................................................................................... 231
CONJUNTOS NUMÉRICOS: NATURAIS, INTEIROS, RACIONAIS E REAIS...................................231

NÚMEROS NATURAIS.....................................................................................................................................231

MÚLTIPLOS E DIVISORES...............................................................................................................................234

POTÊNCIAS E RAÍZES.......................................................................................................................234

SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDAS..........................................................................................238

COMPRIMENTO...............................................................................................................................................238

MASSA.............................................................................................................................................................239

ÁREA.................................................................................................................................................................239

VOLUME...........................................................................................................................................................239

TEMPO..............................................................................................................................................................239

RAZÃO E PROPORÇÃO.....................................................................................................................239

REGRA DE TRÊS SIMPLES E REGRA DE TRÊS COMPOSTA..........................................................................243

PORCENTAGEM...............................................................................................................................................247

JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS......................................................................................................249

EQUAÇÃO DO 1º GRAU.....................................................................................................................252

EQUAÇÃO DO 2º GRAU.....................................................................................................................252

SISTEMAS DE EQUAÇÕES................................................................................................................253

EQUAÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS.............................................................................255

FUNÇÕES...........................................................................................................................................255

AFINS................................................................................................................................................................258

QUADRÁTICAS.................................................................................................................................................260

EXPONENCIAIS................................................................................................................................................262

LOGARÍTMICAS...............................................................................................................................................262

PROGRESSÕES ARITMÉTICAS E GEOMÉTRICAS.........................................................................263


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ANÁLISE COMBINATÓRIA...............................................................................................................266

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM.................................................................................................267

PERMUTAÇÃO.................................................................................................................................................267

ARRANJO.........................................................................................................................................................268

COMBINAÇÃO..................................................................................................................................................268

PROBABILIDADE...............................................................................................................................269

ESTATÍSTICA BÁSICA......................................................................................................................272

LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS REPRESENTADOS EM TABELAS E GRÁFICOS..........................272

MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL..............................................................................................................274

Média............................................................................................................................................................274
Mediana........................................................................................................................................................274
Moda.............................................................................................................................................................275

GEOMETRIA PLANA.........................................................................................................................275

POLÍGONOS E ÁREAS......................................................................................................................................275

PERÍMETROS...................................................................................................................................................278

CIRCUNFERÊNCIA E CÍRCULO........................................................................................................................278

TEOREMA DE PITÁGORAS..............................................................................................................................279

TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO..........................................................................................279

GEOMETRIA ESPACIAL: ÁREAS E VOLUMES.................................................................................280

PRISMA............................................................................................................................................................280

PIRÂMIDE.........................................................................................................................................................280

CILINDRO..........................................................................................................................................................281

CONE.................................................................................................................................................................281

ESFERA.............................................................................................................................................................281

REALIDADE BRASILEIRA.............................................................................................. 289


FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO.................................................................................289

DA INDEPENDÊNCIA À REPÚBLICA...............................................................................................................289

PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A POLÍTICA DA ECONOMIA CAFEEIRA...................................292

O ESTADO GETULISTA....................................................................................................................................292

DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX............................294


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A Redemocratização e a Busca Pela Estabilidade Econômica..................................................................296

HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: LUTA ANTIRRACISTA, CONQUISTAS LEGAIS


E DESAFIOS ATUAIS.........................................................................................................................300

HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA POR DIREITOS E


DESAFIOS ATUAIS............................................................................................................................301

DINÂMICA SOCIAL NO BRASIL: ESTRATIFICAÇÃO, DESIGUALDADE E


EXCLUSÃO SOCIAL...........................................................................................................................303

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, MOVIMENTOS SOCIAIS E GARANTIA DE DIRETOS DAS


MINORIAS..........................................................................................................................................304

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CONCENTRAÇÃO DA RENDA E RIQUEZA..........................310

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE.............................................................311

BIOMAS BRASILEIROS: USO RACIONAL, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO............................312

MATRIZ ENERGÉTICA......................................................................................................................312

FONTES RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS..................................................................................................312

MUDANÇA CLIMÁTICA...................................................................................................................................313

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA..............................................................................................................................318

POPULAÇÃO: ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E DINÂMICA.............................................................319

DESENVOLVIMENTO URBANO BRASILEIRO: REDES URBANAS..................................................322

METROPOLIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA URBANA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL..............................323

CRESCIMENTO DAS CIDADES E PROBLEMAS URBANOS............................................................................324

DESENVOLVIMENTO RURAL BRASILEIRO: ESTRUTURA E CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA -


RELAÇÃO DE TRABALHO NO CAMPO............................................................................................325

SISTEMAS PRODUTIVOS.................................................................................................................326

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Dica
Interpretar é buscar ideias e pistas do autor do
texto nas linhas apresentadas.

LÍNGUA PORTUGUESA Apesar de parecer algo subjetivo, existem “regras”


para se buscar essas pistas.
A primeira e mais importante delas é identificar a
orientação do pensamento do autor do texto, que fica
perceptível quando identificamos como o raciocínio dele
COMPREENSÃO DE TEXTOS foi exposto, se de maneira mais racional, a partir da aná-
lise de dados, informações com fontes confiáveis ou se de
A interpretação e a compreensão textual são aspectos maneira mais empirista, partindo dos efeitos, das conse-
essenciais a serem dominados por aqueles candidatos quências, a fim de se identificar as causas.
que buscam a aprovação em seleções e concursos públi- Por isso, é preciso compreender como podemos inter-
cos. Trata-se de um assunto que abrange questões especí- pretar um texto mediante estratégias de leitura. Muitos
ficas e de conteúdo geral nas provas; conhecer e dominar pesquisadores já se debruçaram sobre o tema, que é
estratégias que facilitem a apreensão desse assunto pode intrigante e de grande profundidade acadêmica; neste
ser o grande diferencial entre o quase e a aprovação. material, selecionamos as estratégias mais eficazes que
Além disso, seja a compreensão textual, seja a inter- podem contribuir para sua aprovação em seleções que
pretação textual, ambas guardam uma relação de proxi- avaliam a competência leitora dos candidatos.
midade com um assunto pouco explorado pelos cursos A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
de português: a semântica, que incide suas relações de que focam nas formas de inferência sobre um texto.
estudo sobre as relações de sentido que a forma linguís- Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre o
tica pode assumir. processo de inferência, que se dá por dedução ou por
Portanto, neste material você encontrará recursos indução. Para entender melhor, veja este exemplo:
para solidificar seus conhecimentos em interpretação O marido da minha chefe parou de beber.
e compreensão textual, associando a essas temáticas as Observe que é possível inferir várias informa-
relações semânticas que permeiam o sentido de todo ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
amontoado de palavras, tendo em vista que qualquer enunciador é casada (informação comprovada pela
aglomeração textual é, atualmente, considerada texto e, expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
dessa forma, deve ter um sentido que precisa ser reco- dor está trabalhando (informação comprovada pela
nhecido por quem o lê. expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
Assim, vamos começar nosso estudo fazendo uma da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
breve diferença entre os termos compreensão e inter- pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
pretação textual. contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
Para muitos, essas palavras expressam o mesmo interpretar essas informações.
sentido, mas, como pretendemos deixar claro neste Tratando-se de interpretação textual, os processos
material, ainda que existam relações de sinonímia entre de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
palavras do nosso vocabulário, a opção do autor por um tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
termo ao invés de outro reflete um sentido que deve ser interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
interpretado no texto, uma vez que a interpretação rea- texto junto da articulação com as informações acessa-
liza ligações com o texto a partir das ideias que o leitor das pelo leitor do texto.
pode concluir com a leitura. A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
Já a compreensão busca a análise de algo exposto senta como ocorre a relação desses processos:
no texto, e, geralmente, é marcada por uma palavra ou
uma expressão, e apresenta mais relações semânticas DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR
e sintáticas. A compreensão textual estipula aspectos
INFERÊNCIA
linguísticos essencialmente relacionados à significação
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA
das palavras e, por isso, envolve uma forte ligação com
a semântica.
Sabendo disso, é importante separarmos os con- A partir desse esquema, conseguimos visualizar
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou melhor como o processo de interpretação ocorre. Agora,
compreensivo. iremos detalhar esse processo, reconhecendo as estra-
Esses assuntos completam o estudo basilar de semân- tégias que compõem cada maneira de inferir informa-
tica com foco em provas e concursos, sempre de olho na ções de um texto. Por isso, vamos apresentar nos tópicos
LÍNGUA PORTUGUESA

sua aprovação. Por isso, convidamos você a estudar com seguintes como usar estratégias de cunho dedutivo, indu-
afinco e dedicação, sem esquecer de praticar seus conhe- tivo e, ainda, como articular a isso o nosso conhecimento
cimentos realizando a seleção de exercícios finais, sele- de mundo na interpretação de textos.
cionados especialmente para que este material cumpra o
propósito de alcançar sua aprovação. A Indução

INFERÊNCIA – ESTRATÉGIAS DE As estratégias de interpretação que observam


INTERPRETAÇÃO métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto
oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe-
A inferência é uma relação de sentido conhecida za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus-
desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no
interpretação de texto. texto e que variam conforme o tipo textual. 11
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Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura ini-
identificar uma organização cronológica e espacial no cial, o leitor deve buscar identificar o gênero textual
desenvolvimento das ações marcadas, por exemplo, ao qual o texto pertence, a fonte da leitura, o ano,
pelo uso do pretérito imperfeito; na descrição, pode- entre outras informações que podem vir como “aces-
mos organizar as ideias do texto a partir da marcação sórios” do texto e, então, formular hipóteses sobre a
de adjetivos e demais sintagmas nominais; na argu- leitura que deverá se seguir. Uma outra dica impor-
mentação, esse encadeamento de ideias fica marcado tante é ler as questões da prova antes de ler o texto,
pelo uso de conjunções e elementos que expõem uma pois, assim, suas hipóteses já estarão agindo conforme
ideia/ponto de vista. um objetivo mais definido.
No processo interpretativo indutivo, as ideias são O processo de interpretação por estratégias
organizadas a partir de uma especificação para uma de dedução envolve a articulação de três tipos de
generalização. Vejamos um exemplo: conhecimento:

Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa „ conhecimento linguístico;
espécie de animal. O que observei neles, no tempo „ conhecimento textual;
em que estive na redação do O Globo, foi o bastan- „ conhecimento de mundo.
te para não os amar, nem os imitar. São em geral
de uma lastimável limitação de ideias, cheios de O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
detalhados e impotentes para generalizar, cur-
Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.
vados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas,
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guia-
dos por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo z Conhecimento Linguístico
critério de beleza. (Barreto, 2010, p. 21)
Esse é o conhecimento basilar para compreensão
O trecho em destaque na citação do escritor Lima e decodificação do texto, envolve o reconhecimento
Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
indutivo compõe a interpretação e decodificação de nhecimento das regras de uma língua.
um texto. Para deixar ainda mais evidentes as estraté- É importante salientar que as regras de reconhe-
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, cimento sobre o funcionamento da língua não são,
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- necessariamente, as regras gramaticais, mas as regras
ção cronológica de um texto. que estabelecem, por exemplo, no caso da língua por-
tuguesa, que o feminino é marcado pela desinência -a,
que a ordem de escrita respeita o sistema sujeito-ver-
A propriedade vocabular leva bo-objeto (SVO) etc.
o cérebro a aproximar as pa- Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimento
PROCURE SINÔNIMOS
lavras que têm maior asso- linguístico é aquele que “abrange desde o conhecimento
ciação com o tema do texto sobre como pronunciar português, passando pelo conhe-
Os conectivos (conjunções, cimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o
preposições, pronomes) conhecimento sobre o uso da língua” (2016, p. 15).
ATENÇÃO AOS Um exemplo em que a interpretação textual é preju-
são marcadores claros de
CONECTIVOS dicada pelo conhecimento linguístico é o texto a seguir:
opiniões, espaços físicos e
localizadores textuais

A Dedução

A leitura de um texto envolve a análise de diversos


aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou
de maneira implícita no enunciado.
Em questões de concurso, as bancas costumam
procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
para abordar em suas provas.
No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
forme Kleiman (2016, p. 47):

Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo


temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o tema;
ele estará também postulando uma possível estrutura
textual; na predição ele estará ativando seu conheci-
mento prévio, e na testagem ele estará enriquecendo,
refinando, checando esse conhecimento.

Fique atento a essa informação, pois é uma das


primeiras estratégias de leitura para uma boa inter- Fonte: https://bit.ly/3kCyWoI. Acesso em: 22/09/2020.
pretação textual: formular hipóteses, a partir da
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Como é possível notar, o texto é uma peça publici-
tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DOS
proficientes nessa língua serão capazes de decodificar
e entender o que está escrito; assim, o conhecimento
VÁRIOS MODOS DE ORGANIZAÇÃO
linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas DISCURSIVA
são algumas estratégias de interpretação em que
podemos usar métodos dedutivos. CONHECENDO OS TIPOS TEXTUAIS

z Conhecimento Textual Tipos ou sequências textuais são unidades que estru-


turam o texto. Para Bronckart1, “são unidades estruturais,
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- relativamente autônomas, organizadas em frases”.
mento linguístico e se desenvolve pela experiência Os tipos textuais marcam uma forma de organiza-
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de ção da estrutura do texto, que se molda a depender
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe- do gênero discursivo e da necessidade comunicativa.
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque Por exemplo, há gêneros que apresentam a predomi-
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que nância de narrações (contos, fábulas, romances, his-
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê tória em quadrinhos etc.). Já em outros, predomina a
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma argumentação (redação do Enem, teses, dissertações,
reportagem como se lê um poema. artigos de opinião etc.).
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona- No intuito de conceituar melhor os tipos textuais,
-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de inspiramo-nos em Cavalcante (2013) e apresentamos a
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais.
seguinte figura, que demonstra como podemos identi-
ficar os tipos textuais e suas principais características,
z Conhecimento de Mundo
tendo em vista que cada sequência textual apresenta
características próprias que pouco ou nada sofrem em
O uso dos conhecimentos prévios é fundamental alterações, mantendo uma estrutura linguística quase
para a boa interpretação textual, por isso, é sempre
rígida que nos permite classificar os tipos textuais em
importante que o candidato a cargos públicos reserve
cinco categorias (narrativo, descritivo, expositivo,
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes
instrucional e argumentativo).
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen-
tar seu conhecimento de mundo.
Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso GÊNERO TEXTUAL
conhecimento de mundo que é relevante para a com-
preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso
cérebro associar informações, a fim de compreender
o novo texto que está em processo de interpretação. FRASES TIPO TEXTUAL TEXTO
A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer-
cício para atestarmos a importância da ativação do
conhecimento de mundo em um processo de interpre- A partir dessa imagem, podemos identificar que a
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede: orientação gramatical mantida pelas frases apresenta
marcas linguísticas, assinalando o tipo textual predo-
Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa- minante que o texto deve manter, organizado pelas
fiou valentemente todos os risos desdenhosos que
marcas do gênero textual ao qual o texto pertence.
tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga-
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
TIPO TEXTUAL
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de Classifica-se conforme as marcas linguísticas apresentadas no
texto. Também é chamado de sequência textual
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen-
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e GÊNERO TEXTUAL
vales turbulentos. (KLEIMAN, 2016, p. 24) Classifica-se conforme a função do texto, atribuída socialmente

Agora tente responder às seguintes perguntas Uma última informação muito importante sobre tipos
sobre o texto: textuais que devemos considerar é que nenhum texto é
Quem é o herói de que trata o texto? composto apenas por um tipo textual; o que ocorre é a
Quem são as três irmãs? existência de predominância de algumas sequências em
Qual é o planeta inexplorado? detrimento de outras, de acordo com o texto.
Certamente, você não conseguiu responder nenhu- A seguir, aprenderemos a diferenciar cada classe
LÍNGUA PORTUGUESA

ma dessas questões, porém, ao descobrir o título des- de tipos textuais, reconhecendo suas principais carac-
se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será terísticas e marcas linguísticas.
afetada. O texto se chama “A descoberta da América
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS
responder às questões; certamente você não terá mais PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
as mesmas dificuldades.
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao vol- Narrativo
tar seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo
do que se trata, seu cérebro ativou um conhecimen- Os textos compostos predominantemente por
to prévio que é essencial para a interpretação de sequências narrativas cumprem o objetivo de contar
questões. uma história, narrar um fato. Por isso, precisam manter

1 BRONCKART, 1999 apud CAVALCANTE, 2013. 13


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a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão de
algumas estratégias, como a organização dos fatos a par- Importante!
tir de marcadores temporais e espaciais, a inclusão de
Os gêneros textuais que são predominantemen-
um momento de tensão (chamado de clímax) e um des-
te narrativos apresentam outras tipologias tex-
fecho que poderá ou não apresentar uma moral.
Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati-
tuais em sua composição, tendo em vista que
vo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles: nenhum texto é composto exclusivamente por
uma sequência textual. Por isso, devemos sem-
z Situação inicial: envolve a “quebra” de um equilí- pre identificar as marcas linguísticas que são pre-
brio, o que demanda uma situação conflituosa; dominantes em um texto, a fim de classificá-lo.
z Complicação: desenvolvimento da tensão apre-
sentada inicialmente;
Para sua compreensão, também é necessário saber
z Ações (para o clímax): acontecimentos que am-
o que são marcadores temporais e espaciais. São
pliam a tensão;
formas linguísticas como advérbios, pronomes, locu-
z Resolução: momento de solução da tensão;
ções etc. utilizadas para demarcar um espaço físico
z Situação final: retorno da situação equilibrada;
ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos,
z Avaliação: apresentação de uma “opinião” sobre esses elementos são essenciais para marcar o equi-
a resolução; líbrio e a tensão da história, além de garantirem a
z Moral: apresentação de valores morais que a his- coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais
tória possa ter apresentado. e espaciais: atualmente, naquele dia, nesse momento,
aqui, ali, então...
Esses sete passos podem ser encontrados no Outro indicador do texto narrativo é a presença do
seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como narrador da história. Por isso, é importante apren-
eu...” Vamos lê-la e identificar essas características, dermos a identificar os principais tipos de narrador
bem como aprender a identificar outros pontos do de um texto:
tipo textual narrativo.
Narrador: também conhecido como foco narrativo, é o
Era um garoto que como eu Amava os responsável por contar os fatos que compõem o texto
Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar Narrador personagem: verbos flexionados em 1ª pes-
As coisas lindas da América Situação inicial: soa. O narrador participa dos fatos
Não era belo, mas mesmo assim predomínio de
Havia mil garotas a fim equilíbrio
Narrador observador: verbos flexionados em 3ª pessoa.
Cantava Help and Ticket to Ride O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém,
Oh Lady Jane e Yesterday não participa das ações
Cantava viva à liberdade Narrador onisciente: os fatos podem ser contados na
Mas uma carta sem esperar 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e
Da sua guitarra, o separou não participa das ações, porém, o fluxo de consciência
Complicação: início
Fora chamado na América do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª
da tensão
Stop! Com Rolling Stones pessoa
Stop! Com Beatles songs
Mandado foi ao Vietnã
Clímax Alguns gêneros conhecidos por suas marcas pre-
Lutar com vietcongs
dominantemente narrativas são notícia, diário, conto,
Era um garoto que como eu
fábula, entre outros. É importante reafirmar que o
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Resolução fato de esses gêneros serem essencialmente narrati-
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã vos não significa que não possam apresentar outras
sequências em sua composição.
Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim
Para diferenciar os tipos textuais e proceder na
Um instrumento que sempre dá classificação correta, é sempre essencial atentar-se às
A mesma nota, marcas que predominam no texto.
Situação final /
ra-tá-tá-tá Após demarcarmos as principais características do
Avaliação
Não tem amigos, não vê garotas tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as mar-
Só gente morta caindo ao chão cas mais importantes da sequência textual classifica-
Ao seu país não voltará da como descritiva.
Pois está morto no Vietnã [...]
No peito, um coração não há Descritivo
Moral
Mas duas medalhas sim
O tipo textual descritivo é marcado pelas formas
Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do- nominais que dominam o texto. Os gêneros que uti-
hawaii/12886/. Acesso em: 30 ago. 2021. lizam esse tipo textual geralmente utilizam a sequên-
cia descritiva como suporte para um propósito maior.
Essas sete marcas que definem o tipo textual nar- São exemplos de textos cujo tipo textual predominan-
rativo podem ser resumidas em marcas de organiza- te é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio,
ção linguística que são caracterizadas por: classificados, lista de compras.
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha,
z presença de marcadores temporais e espaciais; que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito
z verbos, predominantemente, utilizados no passado; de alguns aspectos do território que viria a ser chama-
14 z presença de narrador e personagens. do de Brasil.
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Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e etc.) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de
quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele
que, certo, assim pareciam bem. Também andavam está organizado de forma esquematizada em seções
entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a
assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava facilitar a leitura (o pedido, no caso) do cliente.
uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a
nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo
Expositivo
o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os
joelhos com as curvas assim tintas, e também os
colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias
tanta inocência assim descobertas, que não havia a fim de deixar claro o tema principal do texto. Nes-
nisso desvergonha nenhuma. se tipo textual, é muito comum a presença de dados,
informações científicas, citações diretas e indiretas,
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-
de-caminha/. Acesso em: 30 ago. 2021. que servem para embasar o assunto do qual o texto
trata. Para ilustrar essa explicação, veja o exemplo a
Note que apesar da presença pontual da sequência seguir:
narrativa, há predominância da descrição do cenário
e dos personagens, evidenciada pela presença de adje-
tivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, desco-
bertas etc.). A carta de Pero Vaz constitui uma espécie
de relato descritivo utilizado para manter a comuni-
cação entre a Corte Portuguesa e os navegadores.
Considerando as emergências comunicativas do
mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos
usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros,
como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar
de forma esquemática em alguns gêneros, como pode-
mos ver no cardápio a seguir:

Fonte: https://www.boavontade.com/pt/ecologia/infografico-dados-
mostram-panorama-mundial-da-situacao-da-agua

O infográfico acima apresenta as informações perti-


nentes sobre o panorama mundial da situação da água
no ano de 2016. O gênero foi construído com o objetivo
de deixar o leitor informado a respeito do tema tratado, e
para isso, o autor dispõe, além da linguagem clara e obje-
tiva, de recursos visuais para atingir esse objetivo.
Assim como os tipos textuais apresentados ante-
riormente, os textos expositivos também apresentam
uma estrutura que mistura elementos tipológicos de
LÍNGUA PORTUGUESA

outras sequências textuais, tendo em vista que, para


apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti-
vos, narrativos e, por vezes, injuntivos.
É importante destacar que os textos expositivos
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/
noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-
podem, muitas vezes, serem confundidos com textos
divulgar-cardapio-e-ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml.Acessoem: argumentativos, uma vez que existem textos argu-
30 ago. 2021. mentativos que são classificados como expositivos,
pois utilizam exemplos e fatos para fundamentar uma
Note que há a presença de muitos adjetivos, locu- argumentação.
ções, substantivos, que buscam levar o leitor a ima- Outra importante diferença entre a sequência
ginar o objeto descrito. O gênero mostrado apresenta expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma
a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem 15
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para a argumentação, uma vez que o fato exposto Como faço para criar uma conta do Instagram?
é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo:
sobre uma questão não é posto em debate. 1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone)
Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte- ou Google Play Store (Android).
rísticas desse conceito sem espaço para opiniões. 2. Depois de instalar o aplicativo, toque no ícone
Marcas linguísticas do texto expositivo: para abri-lo.
3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de
z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre-
telefone (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira
sença de verbos de estado;
seu endereço de e-mail ou número de telefone (que exigi-
z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que
rá um código de confirmação), toque em Avançar. Tam-
organizam a informação;
bém é possível tocar em Entrar com o Facebook para se
z Desenvolve-se mediante uso de recursos
cadastrar com sua conta do Facebook.
enumerativos;
4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de te-
z Presença de figuras de linguagem como metáfora
lefone, crie um nome de usuário e uma senha, preencha
e comparação;
as informações do perfil e toque em Avançar. Se você
z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao
se cadastrar com o Facebook, será necessário entrar na
final do texto.
conta do Facebook, caso tenha saído dela.
Os textos expositivos são comuns em gêneros cien- Fonte: https://www.facebook.com/help/instagram/. Acessado em:
tíficos ou que desencadeiam algum aspecto de curiosi- 07/09/2020.
dade nos leitores, como o exemplo a seguir:
No exemplo acima, podemos destacar a presença de
VEJA 10 MULHERES INVENTORAS QUE REVOLUCIO- verbos conjugados no modo imperativo, como: baixe,
NARAM O MUNDO toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo, como:
08/03/2015 07h43 - Atualizado em 08/03/2015 07h43 instalar, cadastrar, avançar. Outra característica dos
textos injuntivos é a enumeração de passos a serem
Hedy Lamarr - conexão wireless cumpridos para a realização correta da tarefa ensinada
e também a fim de tornar a leitura mais didática.
Além de atriz de Hollywood, famosa pelo longa “Ecstasy” É importante lembrar que a principal marca linguís-
(1933), a austríaca naturalizada norte-americana Hedy tica dessa tipologia é a presença de verbos conjugados
Lamarr foi a inventora de uma tecnologia que permitia no modo imperativo e em sua forma infinitiva. Isso se
controlar torpedos à distância, durante a Segunda Guer- deve ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e
ra Mundial, alterando rapidamente os canais de frequên- levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero.
cia de rádio para que não fossem interceptados pelo ini-
migo. Esse conceito de transmissão acabou, mais tarde, Argumentativo
permitindo o desenvolvimento de tecnologias como o
Wi-Fi e o Bluetooth. O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais
Fonte: https://glo.bo/2Jgh4Cj Acessado em: 07/09/2020. Adaptado. complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificul-
dade na identificação, bem como em sua análise.
Instrucional ou Injuntivo O texto argumentativo tem por objetivo a defesa
de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa
O tipo textual instrucional, ou injuntivo, é carac- de uma tese e a apresentação de argumentos que
terizado por estabelecer um “propósito autônomo” visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de tex-
(Cavalcante, 2013, p. 73) que busca convencer o leitor tos argumentativos são artigos, monografias, ensaios
a realizar alguma tarefa. Esse tipo textual é predomi- científicos e filosóficos, dentre outros.
nante em gêneros como: bula de remédio, tutoriais Outro aspecto importante dos textos argumentati-
na internet, horóscopos e também nos manuais de vos é que eles são compostos por estruturas linguís-
instrução. ticas conhecidas como operadores argumentativos,
A principal marca linguística dessa tipologia é a que organizam as orações subordinadas, estruturas
presença de verbos conjugados no modo imperati- mais comuns nesse tipo textual.
vo e também em sua forma infinitiva. Isso se deve A seguir, apresentamos um quadro sintético com
ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e algumas estruturas linguísticas que funcionam como
levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero. operadores argumentativos e que facilitam a escrita e
Para que possamos identificar corretamente essa a leitura de textos argumentativos:
tipologia textual, faz-se necessário observar um gêne-
ro textual que apresente esse tipo de texto, como o OPERADORES ARGUMENTATIVOS
exemplo a seguir:
É incontestável que...
Tal atitude é louvável / repudiável / notável...
É mister / é fundamental / é essencial...

Observe o exemplo a seguir:

“O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no


tratamento das mais diversas doenças relacionadas
ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de
longe compensam o dinheiro gasto com essas doen-
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos
16
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por causa de afastamentos de trabalhadores devido coletivamente, não por acaso, o grande linguista e
aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis- estudioso da língua portuguesa, Luis Antônio Marcus-
ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico
cigarros em todos os meios de comunicação.” que se encontra mais na mente que no texto”.
Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013)
Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/
para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e
texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021.
Adaptado. passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe-
são. A autora afirma que a coerência:
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen-
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor, [...] Não está no texto em si; não nos é possível apon-
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- tá-la, destacá-la ou sublinhá-la.. Ela se constrói [...]
numa dada situação comunicativa, na qual o leitor,
do a estrutura argumentativa desse tipo textual.
com base em seus conhecimentos sociocognitivos e
interacionais e na materialidade linguística, confe-
re sentido ao que lê (2013, p. 31).

COERÊNCIA E COESÃO A seguir iremos nos deter aos processos de coesão


importantes para uma boa compreensão e elaboração
Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi- textual. É importante destacar que esses processos
zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e de coesão não podem ser dissociados da construção
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza- de sentidos implícita no processo de organização da
ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro coerência. No entanto, como nossa finalidade é tornar
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência seu aprendizado mais fácil, separamos esses conceitos
e por que buscar esse padrão é importante. com fins estritamente didáticos.
Os textos não são somente um aglomerado de pala-
vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula- COESÃO REFERENCIAL
das e organizadas harmoniosamente de maneira que
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela- A coesão é marcada por processos referenciais
ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se relacionados a ideias a partir de mecanismos que
chama de coesão textual. Os articuladores responsá- inserem ou retomam uma porção textual. Os pro-
veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto cessos marcados pela referenciação caracterizam-se
são conhecidos como recursos coesivos que devem ser pela construção de referentes em um texto, os quais
articulados de forma que garanta uma relação lógica se relacionam com as ideias defendidas no texto. Esse
entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli- processo é marcado por vocábulos gramaticais e pode
gível e faça sentido em determinado contexto. A res- ser reconhecido pelo uso de algumas classes de pala-
peito disso, temos a coerência textual, que está ligada vras, das quais falaremos a seguir.
diretamente à significação do texto, aos sentidos que Antes, porém, faz-se mister reconhecer os proces-
ele produz para o leitor. sos referenciais que envolvem o uso de expressões
anafóricas e catafóricas. Conforme Cavalcante (2013),
COESÃO COERÊNCIA “as expressões que retomam referentes já apresentados
no texto por outras expressões são chamadas de anáfo-
Utiliza-se de elementos Subjacente ao texto, ras”. Vejamos o exemplo a seguir:
superficiais, dando-se enfatiza-se o conteúdo e
ênfase na forma e na arti- a produção de sentido/
culação entre as ideias relação lógica O Rocky Balboa era um humilde lutador de bairro, que
vivia de suas discretas lutas, no início de sua carreira.
Segundo seu treinador Mickey, Rocky era um jovem pro-
Podemos usar uma metáfora muito interessante missor, mas nunca se interessou realmente em evoluir,
quando se trata de compreender os processos de coe- preferiu trabalhar para um agiota italiano chamado Tony
são e coerência. Gazzo, com quem manteve uma certa amizade. Gazzo
Essa metáfora nos leva a comparar um texto com gostava de Rocky por ele ser descendente de italiano e
um prédio. Tal qual uma boa construção precisa de o ajudou dando US$ 500,00 para o seu treinamento, na
um bom alicerce para manter-se em pé, um texto bem primeira luta que fez com Apollo Creed.
construído depende da organização das nossas ideias,
da forma como elas estão dispostas no texto. Isso sig- Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocky_Balboa. Acessado em:
nifica que precisamos utilizar adequadamente os pro- 30/09/2020. Adaptado.
LÍNGUA PORTUGUESA

cessos coesivos, a fim de defendermos nossas ideias


adequadamente. A partir da leitura, podemos perceber que todos
Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin- os termos destacados fazem referência a um mesmo
cipais formas de marcação, em um texto, de processos referente: Rocky Balboa. O processo de referenciação
que buscam organizar as ideias em um texto, princi- utilizado foi o uso de anáforas que assumem variadas
palmente, os processos de coesão que, como dissemos, formas gramaticais e buscam conectar as ideias do
apresentam um apelo mais forte às formas linguísti- texto.
cas que os processos envolvendo a coerência. Já os processos referenciais catafóricos apontam
Antes, porém, faz-se mister indicar mais algumas para porções textuais que ainda não foram mencio-
características da coerência em um texto e como esse nadas anteriormente no texto, conforme o exemplo
processo liga-se não apenas às formas gramaticais, a seguir: “Os documentos requeridos para os candi-
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em datos são estes: Identidade, CPF, Título de eleitor e
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido, reservista” 17
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Dica Não é possível saber qual dos homens estava
acompanhado.
Em provas de concursos e seleções, ainda se Por fim, destacamos que as classes de palavras
encontra a terminologia “expressões referen- relacionadas neste capítulo com os processos de coe-
ciais catafóricas”, remetendo ao uso já indicado são não podem ser vistas apenas sob a ótica descriti-
no material. No entanto, é importante salientar va-normativa, amplamente estudada nas gramáticas
que, para linguistas e estudiosos, as anáforas escolares. O interesse das principais bancas de con-
são os processos referenciais que recuperam e/ cursos públicos é avaliar a capacidade interpreta-
ou apontam para porções textuais. tiva e racional dos candidatos, dessa feita, a análise
de processos coesivos visa analisar a capacidade do
Uso de Pronomes ou Pronominalização candidato de reconhecer a que e qual elemento está
construindo as referências textuais.
Utilizar pronomes para manter a coesão de um
texto é essencial, evitando-se repetições desnecessá- Uso de Numerais
rias que tornam o texto cansativo para o leitor. Como
a classe de pronomes é vasta, vamos enfatizar neste Conforme mencionamos anteriormente, o uso de
estudo os principais pronomes utilizados em recursos categorias gramaticais concorre para a progressão
textuais para manter a coesão. textual; uma das classes gramaticais que auxilia esse
A pronominalização é a base de recursos anafó- processo é o uso de numerais.
ricos que recuperam porções textuais ou ainda um Neste subtópico, iremos focar no valor coesivo que
nome específico a que o autor faz referência no texto. essa classe promove, auxiliando na ligação de ideias
Vejamos dois exemplos: em um texto. Dessa forma, as expressões quantitati-
vas, em algumas circunstâncias, retomam dados ante-
riores numa relação de coesão.
O primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden Ex.: Foram deixados dois avisos sobre a mesa: o
foi quente, com diversas interrupções e acusações primeiro era para os professores, o segundo para os
pesadas. […] O primeiro ponto discutido foi a indicação alunos.
de Trump da juíza conservadora Amy Barrett para a As formas destacadas são numerais ordinais que
Suprema Corte, depois da morte de Ruth Bader Gins- recuperam informação no texto, evitando a repetição
burg. O presidente defendeu que tem esse direito, pois de termos e auxiliando no desenvolvimento textual.
os republicanos têm maioria no Senado [Casa que rati-
fica essa escolha] e criticou os democratas, dizendo Uso de Advérbios
“que eles ainda não aceitaram que perderam a eleição”.
[…].
Muitos advérbios auxiliam no processo de recu-
O segundo ponto discutido foi a covid-19. Os EUA
peração e instauração de ideias no texto, auxiliando
são o país mais atingido pela pandemia - são 7 milhões
o processo de coesão. As formas adverbiais que mar-
de casos e mais de 200 mil mortos. O âncora Chris
cam tempo e espaço podem também ser denominadas
Wallace perguntou aos dois o que eles fariam até que
de marcadores dêiticos, caso dos seguintes elementos:
uma vacina aparecesse. Biden atacou o republicano
Hoje, aqui, acolá, amanhã, ontem...
dizendo que Trump “não tem um plano para essa tra-
Perceba que esses advérbios só podem ser associa-
gédia”. Já Trump começou sua resposta atacando a
dos a um referente se forem instaurados no discurso,
China - “deveriam ter fechado suas fronteiras no come-
isto é, se mantiverem associação com as pessoas que
ço” -, colocou em dúvida as estatísticas da Rússia e da
produzem as falas. Assim, uma pessoa que lê “hoje
própria China e, com pouca modéstia, disse que fez um
não haverá aula” em um cartaz na porta de uma sala
“excelente trabalho” nesse momento dos EUA.
compreenderá que a marcação temporal refere-se
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/eleicoes-eua- ao momento em que a leitura foi realizada. Por isso,
debate-025314998.html. Acessado em: 30/09/2020. Adaptado. esses elementos são conhecidos como dêiticos.
Independentemente de como são chamados, esses
Após a leitura do texto, é possível notar que a recu- elementos colaboram para a ligação de ideias no tex-
peração da informação apresentada é feita a partir de to, auxiliando também a construção da coesão textual.
muitos processos de coesão, porém, o uso dos prono-
mes destacados recupera o assunto informado e ajuda Uso de Nominalização
o leitor a construir seu posicionamento. É importante
buscar sempre o elemento a que o pronome faz refe- As expressões que retomam ideias e nomes, já
rência; por exemplo, o primeiro pronome pessoal apresentados no texto, mediante outras formas de
destacado no texto refere-se ao termo “democratas”, expressão, podem ser analisadas como processos
já o segundo, faz referência aos presidenciáveis que nominalizadores, incluindo substantivos, adjetivos e
participavam do debate. Nota-se, com isso, que esses outras classes nominais.
pronomes apontam para uma parcela objetiva do tex- Essas expressões recuperam informações median-
to, diferente do pronome “essa”, associado ao subs- te novos nomes inseridos no texto, ou ainda, com o
tantivo “tragédia”, que recupera uma parcela textual uso de pronomes, conforme vimos anteriormente.
maior, fazendo referência ao momento de pandemia Vejamos um exemplo:
pelo qual o mundo passa.
O uso de pronomes pode ser um aliado na constru-
ção da coesão, porém, o uso inadequado pode gerar
ambiguidades, ocasionando o efeito oposto e prejudi-
cando a coesão. Ex.: Encontrei Matheus, Pedro e sua
18 mulher.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
sequência maior (uma frase inteira, por exemplo) já
Antonio Carlos Belchior, mais conhecido como Bel- introduzidos anteriormente em outro segmento do
chior foi um cantor, compositor, músico, produtor, artista texto, mas recuperável por marcas do próprio contex-
plástico e professor brasileiro. Um dos membros do to verbal”. Vejamos como ocorre, a partir do segmento
chamado Pessoal do Ceará, que inclui Fagner, Ednardo, abaixo:
Amelinha e outros. Bel foi um dos primeiros cantores de
MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso internacional,
em meados da década de 1970. “O Brasil evoluiu bastante desde o início do
século XXI. O país proporcionou a inclusão
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior. Acessado em:
social de muitas pessoas. A nação obteve Sem
30/09/2020. Adaptado.
notoriedade internacional por causa dis- Elipse
so. A pátria, porém, ainda enfrenta certas
Todas as marcações em negrito fazem referência
adversidades...”
ao nome inicial Antônio Carlos Belchior; os termos
que se referem a esse nome inicial são expressões “O Brasil evoluiu bastante desde o início do
nominalizadoras que servem para ligar ideias e cons- século XXI e proporcionou a inclusão social
truir o texto. Com
de muitas pessoas, por causa disso obteve
Elipse
notoriedade internacional, porém ainda enfrenta
Uso de Adjetivos certas adversidades...”

Os adjetivos também são considerados expres- COESÃO SEQUENCIAL


sões nominalizadoras que fazem referência a uma
porção textual ou a uma ideia referida no texto. No A coesão sequencial é responsável por organizar a
exemplo acima, a oração “Belchior foi um cantor, progressão temática do texto, isto é, garantir a manu-
compositor, músico, produtor, artista plástico tenção do tema tratado pelo texto de maneira a pro-
e professor” apresenta seis nomes que funcionam mover a evolução do debate assumido pelo autor.
como adjetivos de Belchior e, ao mesmo tempo, acres- Essa coesão pode ser garantida, em um texto, a
centam informações sobre essa personalidade, referi- partir de locuções que marcam tempo, conjunções,
da anteriormente. desinências e modos verbais. Neste material, iremos
É importante recordar que não podemos identifi- nos deter, sobretudo, aos processos de conjunções que
car uma classe de palavra sem avaliar o contexto em são utilizadas para garantir a progressão textual.
que ela está inserida. No exemplo mencionado, as
palavras cantor, compositor, músico, produtor, artis- Conjunções Coordenativas
ta, professor são substantivos que funcionam como
adjetivos e colaboram na construção textual.
As conjunções coordenativas são aquelas que
ligam orações coordenadas, ou seja, orações de valor
Uso de Verbos Vicários semântico independente. Na construção textual, elas
são importantes, pois, com seus valores, adicionam
O vocábulo vicário é oriundo do latim vicarius e informações relevantes ao texto.
significa “fazer as vezes”; assim, os verbos vicários Exemplos de conjunções coordenativas atuando
são verbos usados em substituição de outros que já na coesão:
foram muito utilizados no texto.
Ex.: A disputa aconteceu, mas não foi como nós
esperávamos. Não apenas conversava com
O verbo “acontecer” foi substituído na segunda ADITIVA os demais alunos como tam-
oração pelo verbo “foi”. bém atrapalhava o professor

Eram ideias interessantes,


ALGUNS VERBOS VICÁRIOS IMPORTANTES ADVERSATIVA porém ninguém concordou
Ser: “Ele trabalha, porém não é tanto assim” com elas
Fazer: “Poderíamos concordar plenamente, mas não o
Superou o estigma que pregava
fizemos”
ALTERNATIVAS “ou estuda, ou trabalha” e con-
Aceitar: “Se ele não acatar a promoção não aceita por
seguiu ser aprovada
falta de interesse”
Foi: “Se desistiu da vaga, foi por motivos pessoais” Ao final, faça os exercícios,
EXPLICATIVA pois é uma forma de praticar
Uso de Elipse o que aprendeu
LÍNGUA PORTUGUESA

A elipse é uma forma de omissão de uma informa- O candidato não cumpriu sua
ção já mencionada no texto. Geralmente, estudamos CONCLUSIVA promessa. Ficamos, portan-
a elipse mais detalhadamente na seção de figuras de to, desapontados com ele
linguagem de uma gramática. Neste material, iremos
nos deter a maiores aspectos da elipse também nes- Perceba que as ideias ligadas pelas conjunções
sa seção. Aqui é importante salientar as propriedades precisam manter uma relação contextual, estabeleci-
recategorizadoras e referenciais da elipse, com o pro- da pela coerência e demonstrada pela coesão. Por isso,
pósito de manter a coesão textual. orações como esta: “Não gosto de festas de aniversá-
Conforme Antunes (2005, p. 118), a elipse como rio, mas não vou à sua” estão equivocadas, pois as
recurso coesivo “corresponde à estratégia de se omi- ideias ligadas não estabelecem uma relação de adver-
tir um termo, uma expressão ou até mesmo uma sidade, como demonstra a conjunção “mas”. 19
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Conjunções Subordinativas
Sempre haverá con-
junção integrante em Perguntei se ele estava
Tais quais as conjunções coordenativas, as subor-
orações substantivas e, em casa.
dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
consequentemente, em Perguntei. O quê? Isso
apresentadas num texto, porém, diferentemente
períodos compostos
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações
subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra
para terem o sentido apreendido. COESÃO RECORRENCIAL
Exemplos de conjunções subordinativas atuando
na coesão: Uso de Repetições

As recorrências de repetições em textos são comu-


Como não havia estudado su- mente recusadas pelos mestres da língua portuguesa.
CAUSAL ficiente, resolvi não fazer essa Sobretudo, quando o assunto é redação, muitos pro-
prova fessores recomendam em uníssono: evite repetir pala-
Falaram tão mal do filme que ele vras e expressões!
CONSECUTIVA No entanto, a repetição é um recurso coesivo
nem entrou em cartaz
essencial para manter a progressão temática do texto,
COMPARATIVA Trabalhou como um escravo isto é, para que o tema debatido no texto não seja per-
dido, levando o escritor a fugir da temática.
Conforme o Ministro da Eco- Embora também não recomendemos as repetições
CONFORMATIVA nomia, os concursos não irão exageradas no texto, sabemos valorizar seu uso ade-
acabar quado em um texto; por isso, apresentamos, a seguir,
Ainda que vivamos um período alguns usos comuns dessa estratégia coesiva.
CONCESSIVA de poucos concursos, não pode-
mos desanimar CONTEXTOS DE USO ADEQUADO DE REPETIÇÕES
Se estudarmos, conseguiremos O candidato foi encontrado com
CONDICIONAL
ser aprovados! Marcar ênfase duzentos milhões de reais na
mala, duzentos milhões!
À proporção que aumentava
PROPORCIONAL seus horários de estudo, mais Marcar contraste Existem Políticos e políticos
forte o candidato se tornava
“Agora que sentei na minha cadeira
Estudava sempre com afinco, a de madeira, junto à minha mesa de
FINAL
fim de ser aprovado madeira, colocada em cima deste
Marcar a assoalho de madeira, olho minhas
Quando o edital for publicado, já
TEMPORAL continuidade estantes de madeira e procuro
estarei adiantado nos estudos
temática um livro feito de polpa de madeira
para escrever um artigo contra o
desmatamento florestal” Millôr
Importante! Fernandes
Não confundir:
Afim de – Relativo à afinidade, semelhança: Uso de Paráfrase
“Física e Química são disciplinas afins”.
A fim de – Relativo a ter finalidade, ter como A paráfrase é um recurso de reiteração que propor-
objetivo, com desejo de: “Estou a fim de comer ciona maior esclarecimento sobre o assunto tratado no
pastel”. texto. A paráfrase é utilizada para voltar a falar sobre
algo utilizando-se de outras palavras. Conforme Antunes
(2005, p. 63), “alguma coisa é dita outra vez, em outro pon-
Conjunções Integrantes to do texto, embora com palavras diferentes”.
Vejamos o seguinte exemplo:
As conjunções integrantes fazem parte das orações
subordinadas, na realidade, elas apenas integram, Ceará goleia Fortaleza no Fortaleza é goleado pelo
ligam uma oração principal a outra, subordinada. Castelão. Ceará no Castelão.
Como podemos notar, o papel dessas conjunções é
essencialmente coesivo, tendo em vista que elas são Os textos acima poderiam ser manchetes de jornais
“peças” que unem as orações. Existem apenas dois da capital cearense. A forma como o texto se apresen-
tipos de conjunções integrantes: que e se. ta indica que a ênfase dada ao nome dos times, em
posições diferentes, cumpre um papel importante na
progressão temática do texto.
Quando é possível subs-
Quero que a prova esteja
tituir o que pelo pronome Além dessa função, a paráfrase pode ser marcada
fácil.
isso, estamos diante de pelo uso de expressões textuais bem características,
Quero. O quê? Isso
uma conjunção integrante como: em outras palavras, em outros termos, isto é,
quer dizer, em resumo, em suma, em síntese etc. Essas
expressões indicam que algo foi dito e passará a ser
ressignificado, garantindo a informatividade do texto.
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Uso de Paralelismo Em relação à acentuação, por outro lado, a maior
parte das regras não são efêmeras, porém, são em
As ideias similares devem fazer a correspondência grande número.
entre si; a essa organização de ideias no texto, dá-se o Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu-
nome de paralelismo. Quando as construções de frases guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras
e orações são semelhantes, ocorre o paralelismo sintá- cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto
tico. Quando há sequência de expressões simétricas no à escrita correta. Veja:
plano das ideias e coerência entre as informações, ocorre
o paralelismo semântico ou paralelismo de sentido. z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos.
Ex.: ameixa, frouxo, trouxe.
ESTRUTURAS QUE SEMPRE DEVEM SER USADAS USAMOS X: USAMOS CH:
JUNTAS
� Depois da sílaba en, se � Depois da sílaba en,
Não só..., mas também; não apenas..., mas ainda; não a palavra não for deri- se a palavra for deri-
tanto...quanto; ora...ora; seja...seja etc. vada de palavras inicia- vada de palavras ini-
das por CH: enxerido, ciadas por CH: encher,
Além disso, é preciso respeitar a estrutura sintáti- enxada encharcar
ca a qual a frase está inserida; vejamos um exemplo � Depois de ditongo: cai- � Em palavras derivadas
em que houve quebra de paralelismo: xa, faixa de vocábulos que são
“É necessário estudar e que vocês se ajudem” � Depois da sílaba inicial grafados com CH: re-
— Errado. me, se a palavra não for cauchutar, fechadura
“É necessário que vocês se ajudem e que estudem” derivada de vocábulo
— Correto. iniciado por CH: mexer,
Devemos manter a organização das orações, pois mexilhão
não podemos coordenar orações reduzidas com ora-
ções desenvolvidas, é preciso manter o paralelismo Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10 out. 2020.
e deixá-las ou somente desenvolvida ou somente
reduzidas. z É com G ou com J?
No tocante ao paralelismo semântico, a ideia é
a mesma, porém deixamos de analisar os pares no Usamos G em:
âmbito sintático e passamos ao plano das ideias. Veja-
mos o seguinte exemplo: „ Substantivos terminados em: -agem; -igem;
“Por um lado, os manifestantes agiram corre- -ugem. Ex.: viagem, ferrugem;
tamente, por outro podem não ter agido errado” „ Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio,
— Incorreto.
-úgio. Ex.: sacrilégio; pedágio;
“Por um lado, os manifestantes agiram correta-
„ Verbos terminados em: -ger e -gir. Ex.: proteger;
mente, por outro podem ter causado prejuízo à popu-
fugir.
lação” — Correto.
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma
Usamos J em:
foi sua irmã e a outra estava bem” — Incorreto.
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma
foi sua irmã e a outra foi minha prima” — Correto. „ Formas verbais terminadas: em -jar ou -jer. Ex.:
viajar; lisonjear;
REFERÊNCIAS „ Termos derivados do latim escritos com j. Ex.:
majestade; jejum.
CAVALCANTE, M. Os sentidos do texto. São Paulo:
Contexto, 2016. z É com Ç ou S?
KAUFMAN, A. M.; RODRIGUEZ, M. H. Escola, lei-
tura e produção de textos. Tradução de Inajara „ Após ditongos, usamos, geralmente, Ç quando
Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1995. houver som de S. Ex.: eleição;
OHUSCHI, M. C. G.; BARBOSA, F. de S. O gênero arti- „ Escrevemos S quando houver som de Z. Ex.:
go de opinião: da teoria à prática em sala de aula. Neusa; coisa.
Acta Scientiarum. Language and Culture, 33(2),
2011, 303-314. z É com S ou com Z?
LÍNGUA PORTUGUESA

„ Palavras que designam nacionalidade ou títu-


los de nobreza e terminam em -ês e -esa devem
ORTOGRAFIA ser grafadas com S. Ex.: norueguesa; inglês;
marquesa; duquesa;
As regras de ortografia são muitas e, na maioria dos „ Palavras que designam qualidade, cuja ter-
casos, contraproducentes, tendo em vista que a lógica da minação seja -ez ou -eza, são grafadas com Z:
grafia e da acentuação das palavras, muitas vezes, é deri- embriaguez; lucidez; acidez.
vada de processos históricos de evolução da língua.
Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno cra- Essas regras para correção ortográfica das pala-
que em ortografia: leia sempre! Somente a prática de vras, em geral, apresentam muitas exceções; por isso é
leitura irá lhe garantir segurança no processo de gra- importante ficar atento e manter uma rotina de leitu-
fia das palavras. ra, pois esse aprendizado é consolidado com a prática. 21
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Sua capacidade ortográfica ficará melhor a partir da leitura e da escrita de textos, por isso, recomendamos que
se mantenha atualizado e leia fontes confiáveis de informação, pois, além de contribuir para seu conhecimento
geral, sua habilidade em língua portuguesa também aumentará.

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

O novo acordo ortográfico é um documento que normaliza diversas mudanças na língua portuguesa. Ele foi
assinado em 1990, mas seu uso só passou a ser obrigatório a partir de 2016. Esse documento foi elaborado com
base nas mudanças práticas da língua e nos estudos desenvolvidos por linguistas. Além disso, tem o objetivo de
padronizar a ortografia em diversos países nos quais se fala e escreve a língua portuguesa.
É importante estudar essas mudanças na língua, pois a ortografia é um aspecto responsável por “tirar” pontos
na avaliação da redação, logo, pode ser essencial para prejudicar sua nota.

ALFABETO

z Como era:

A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T U V X Z;

z Como está:

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z.
Antes do acordo, tínhamos 23 letras em nosso alfabeto; agora, contamos com o acréscimo das letras K, W e
Y, totalizando 26 letras no alfabeto do português brasileiro. Essa mudança ocorreu com a intenção de oficializar
letras que, na prática, já faziam parte de diversas palavras em português. Ou seja, as letras não estavam no alfa-
beto, mas já eram utilizadas no cotidiano em nomes de pessoas, marcas, ou abreviações como: km, Yago, Kamila,
Wilson, Olympikus, entre outros.
Pensando nisso, o acordo procurou tornar oficial as letras que já eram utilizadas pelos falantes do português.

Importante!
Ter tornado essas letras oficiais não muda a escrita de palavras que já existem, ou seja, palavras como “quilo”
e “quilômetro” não passarão a ser escritas como “kilo” e “kilômetro”. A oficialização significa, sim, que a partir
de agora novas palavras podem usar essas letras.

Além do alfabeto, as principais mudanças trazidas pelo novo acordo ortográfico foram: o fim do uso do trema,
mudanças na acentuação e mudanças no uso do hífen, que detalharemos a seguir:

Fim Do Uso Do Trema

O trema já estava caindo em desuso, visto que não é necessário ter o acento para identificar a pronúncia.
Com o novo acordo ortográfico, de forma oficial, o trema não é mais utilizado, seja em palavras portuguesas ou
aportuguesadas.
Muitos não lembram, mas o trema era representado por dois pontinhos em cima do “u” que indicavam hiato.

z Antes do acordo: freqüência; cinqüenta; conseqüência; tranqüilo;


z Depois do acordo: frequência; cinquenta; consequência; tranquilo.

Atenção: o trema ainda é usado em nomes próprios estrangeiros como Bündchen e Müller, por exemplo.

Acentuação

O acento diferencial não é mais usado em palavras paroxítonas com vogal tônica aberta ou fechada que
possuem a mesma escrita.

z Antes do acordo: pára (verbo); pólo (substantivo); pêlo (substantivo);


z Depois do acordo: para (verbo); polo (substantivo); pelo (substantivo).

Nos casos em que o acento marca a diferença entre verbos no singular e plural, como em vem (singular) e vêm
(plural) e tem (singular) e têm (plural), o acento foi mantido.
O acento circunflexo não é mais usado com e e o aberto e fechado (mêdo: medo, almôço: almoço), nem em
letras repetidas, como em palavras paroxítonas terminadas em “êem” nem em palavras com o hiato “oo”.

z Antes do acordo: lêem, vôo, abençôo;


z Depois do acordo: leem, voo, abençoo.
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O acento agudo não é mais usado em palavras paroxítonas com ditongo aberto ei e oi.

z Antes do acordo: andróide, alcatéia, idéia, diarréia, estóico;


z Depois do acordo: androide, alcateia, ideia, diarreia, estoico.

É comum confundir com as paroxítonas com as oxítonas terminadas em ditongo aberto. As oxítonas com
ditongos abertos continuam com acento: herói e dói.
O acento em palavras paroxítonas com i e u tônico depois de ditongo não é mais utilizado.

z Antes do acordo: feiúra, bocaiúva;


z Depois do acordo: feiura, bocaiuva.

PRINCIPAIS MUDANÇAS
Assunto Mudança Como era Como ficou
ACENTUAÇÃO
Só aparece em palavras estrangeiras.
Conseqüência Consequência
Trema Deixou de ser utilizado em palavras da
Agüentar Aguentar
língua portuguesa
Ditongo em palavras Idéia Ideia
Não recebem mais acento
paroxítonas Assembléia Assembleia
Hiatos com paroxítonas com “i”
Não recebem mais acento Feiúra Feiura
ou “u”
Enjôo Enjoo
Letras repetidas: ee/oo Não recebem mais acento
Lêem Leem
Pára Para
Acento diferencial Deixou de ser utilizado
Pêlo Pelo
Acento diferencial em conjuga- Ele tem. Ele tem.
Mantido
ções verbais Eles têm. Eles têm.

Hífen

z Não se usa hífen nos casos em que o primeiro termo acaba em vogal e o segundo termo começa com vogal
inicial diferente.
Ex.: semiárido, autoestima, contraindicação;
z Exceção: em palavras com prefixo com o segundo elemento começando em -h, utiliza-se hífen.
Exemplos: anti-herói, anti-higiênico, extra-humano;
z Usa-se hífen nas palavras com o primeiro terminado em vogal e que o segundo elemento começa com vogal
igual.
Ex.: anti-inflamatório, micro-ondas, arqui-inimigo;
z Exceção: nos prefixos átonos (sem acento) co-, pre-, re-, e pro-, o hífen não é usado.
Exemplos: reenviar, preestabelecer, coordenação;
z Não se usa hífen em palavras compostas, quando, pelo uso, se perde a noção de composição.
Exemplos: paraquedas, paraquedista, mandachuva;
z Exceção: o hífen permanece em palavras compostas que não têm um elemento de ligação e que formam uma
unidade, como as que definem animais e plantas.
Exemplos: erva-doce, quinta-feira, cavalo-marinho.

A seguir, há um quadro comparativo com algumas palavras mais comuns em relação ao uso do hífen:

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Microondas Micro-ondas
LÍNGUA PORTUGUESA

Semi-analfabeto Semianalfabeto

Co-autor Coautor

Infra-estrutura Infraestrutura

Extra-escolar Extraescolar

Dia-a-dia Dia a dia

Ultra-som Ultrassom

Re-eleição Reeleição
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Uso Das Letras Maiúsculas nosso cérebro, que identifica os prefixos, sufixos e pala-
vras novas que podem ser criadas a partir da estrutura
De acordo com o novo acordo ortográfico da língua da língua; não é à toa que, muitas vezes, somos surpreen-
portuguesa, as letras maiúsculas são usadas em didos com o uso inédito de algum termo.
Porém, precisamos ter consciência de que nem todo
z nomes próprios de pessoas, animais, lugares (cida- contexto é apropriado para o uso de novas estruturas
des, países, continentes...), acidentes geográficos, vocabulares; por isso, neste capítulo, iremos estudar os
rios, instituições e entidades; processos de formação de palavras e as consequências
z marcas; dessas novas constituições, focando nesse conteúdo;
z nomes de festas e festividades; sempre cobrado pelas bancas mais exigentes.
z nomes astronômicos;
z títulos de periódicos e em siglas; ESTRUTURA DAS PALAVRAS
z símbolos ou abreviaturas.
Radical e Morfema Lexical
Exemplos: Luiza, IBGE, Espanha, Riachuelo, Ala-
goas, Jogos Olímpicos, Revista Veja. As palavras são formadas por estruturas que, unidas,
As letras minúsculas são usadas em todas as outras podem se modificar e criar novos sentidos em contextos
situações, como: dias da semana, meses e estações do diversos. Os morfemas são as menores unidades grama-
ano e pontos cardeais. Exemplo: terça-feira, janeiro, ticais com sentido da língua. Para identificá-los é preciso
verão, sul, nordeste. notar que uma palavra é formada por pequenas estru-
O uso da letra maiúscula ou minúscula é opcional turas. Para isso, podemos imaginar que uma palavra é
para títulos de livros (totalmente em maiúsculas ou uma peça de um quebra-cabeça no qual podemos juntar
apenas com maiúscula inicial), palavras de catego- outra peça para formar uma estrutura maior; porém, se
rizações (rio, rua, igreja…), nomes de áreas do saber você já montou um quebra-cabeça, deve se lembrar que
(biologia), matérias e disciplinas (português, matemá- não podemos unir as peças arbitrariamente, é preciso
tica), versos que não iniciam o período e palavras liga- buscar aquelas que se encaixam.
das a uma religião. Assim, como falantes da língua, reconhecemos essas
estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois, a todo
Uso Do Acento Grave momento estamos aptos a criar novas palavras a partir
das regras que o sistema linguístico nos oferece.
Apesar da dificuldade de muitos com as regras do Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o sur-
uso de crase, o novo acordo prevê que o acento grave gimento de novos vocábulos a partir de “peças” existentes
continue a ser utilizado apenas para marcar a ocor- na língua, algumas misturando termos de outras línguas
rência de crase, nos casos já previstos nas normas gra- com morfemas da língua portuguesa para a formação de
maticais. Não há alteração quanto a novas formas de novas palavras, como: blogueiro (blogger), deletar (dele-
uso ou proibição da crase. te); já algumas palavras ganham novos morfemas e, con-
Exemplos: à, às, àquele, àquela, àquilo. sequentemente, novas acepções nas redes sociais como,
por exemplo, biscoiteiro, termo usado para se referir a
Divisão Silábica pessoas que buscam receber elogios nesse ambiente.
As peças do quebra-cabeças que formam as palavras
O novo acordo mantém as regras de divisão silá- da língua portuguesa possuem os seguintes nomes:
bica já existentes; no entanto, faz uma especificação
sobre a separação das palavras em linhas diferentes. Radical, Desinência, Vogal Temática, Afixos,
Quando é necessário separar as palavras que já Consoantes e Vogais de Ligação
têm hífen, a nova regra prevê que o hífen seja repeti-
do em cima e em baixo. O radical, também chamado de semantema, é o
Exemplo: Naquela cidade, a festa repetia- núcleo da palavra, pois é o detentor do sentido ao qual
-se todos os anos. se anexam os demais morfemas, criando as palavras
derivadas. Devido a essa importante característica, o
radical é também conhecido como morfema lexical,
pois se trata da significação própria dos vocábulos,
designando a sua natureza lexical, ou seja, o seu senti-
CLASSE, ESTRUTURA, FORMAÇÃO E do propriamente dito.
SIGNIFICAÇÃO DE VOCÁBULOS Alguns exemplos de radicais:
Ex.: pastel — pastelaria — pasteleiro;
No dia a dia, usamos unidades comunicativas para pedra — pedreiro — pedregulho;
estabelecer diálogos e contatos, formando enunciados. Terra — aterrado — enterrado — terreiro.
Essas unidades comunicativas chamamos de palavras.
Elas surgem da necessidade de comunicação e os pro-
cessos de formação para sua construção são conhecidos Importante!
da nossa competência linguística, pois como falantes da
língua, ainda que não saibamos o significado de antever, Palavras da mesma família etimológica, ou seja,
podemos inferir que esse termo tem relação com o ato que apresentam o mesmo radical e guardam o
de ver antecipadamente, dado o uso do prefixo diante do mesmo valor semântico no radical, são conheci-
verbo ver. das como cognatas.
Reconhecer os processos que auxiliam na formação
de novas palavras é essencial para o estudante da lín-
gua. Esse assunto, como dissemos, já é reconhecido pelo
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Afixos ou Morfemas Derivacionais Não confunda:
Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos);
A partir dos morfemas lexicais, a língua ganha Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos;
outras formas e sentidos pelos morfemas derivacio- Morfema lexical: radical.
nais, que são assim chamados pois auxiliam no pro- Morfema gramatical: significado interno à estrutu-
cesso de criação de palavras a partir da derivação, ou ra gramatical, como artigos, preposições, conjunções
seja, a inclusão de prefixos e sufixos no radical dos etc.
vocábulos.
Vale notar que algumas bancas denominam os afi- Vogais Temáticas
xos de infixos.
São morfemas derivacionais os afixos, estruturas A vogal temática liga o radical a uma desinência,
morfológicas que se anexam ao radical das palavras e que estabelece o modo e o tempo da conjugação ver-
auxiliam o processo de formação de novos vocábulos. bal, no caso de verbos, e, nos substantivos, junta-se ao
Os afixos da língua portuguesa são de duas categorias: radical para a união de outras desinências.
Ex.: Amar e Amor.
z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante- Nos verbos, a vogal temática marca ainda a conju-
rior do radical. gação verbal, indicando se o verbo pertence à 1º, 2º ou
Exs.: 3º conjugação:
In: infeliz. Exs.:
Anti: antipatia. Amar — 1ª conjugação;
Pós: posterior. Comer — 2ª conjugação;
Bi: bisavô. Partir — 3ª conjugação.
Contra: contradizer. É importante não se confundir: a vogal temática
z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste- não existe em palavras que apresentam flexão de
rior do radical. gênero. Logo, as palavras gato/gata possuem uma
Exs.: desinência e não uma vogal temática!
mente: felizmente. Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja
dade: lealdade. (essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis-
eiro: blogueiro. te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá
ista: dentista. ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s.
gudo: narigudo. Note que as palavras terminadas em vogais tônicas
não apresentam vogal temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó.
É importante destacar que essa pequena amostra,
listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue- Tema
sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que
você tenha consciência do quão rico é o processo de O tema é a união do radical com a vogal temática.
formação de palavras por afixos. A partir do exposto no tópico sobre vogal temática,
Além disso, não é interessante que você decore esses esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá
morfemas derivacionais, mas que você compreenda o apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras
valor semântico que cada um deles estabelece na língua, que não apresentem vogal temática também não irão
como os sufixos -eiro e -ista que são usados, comumente, possuir tema.
para criar uma relação com o ambiente profissional de Exs.:
alguma área, como: padeiro, costureiro, blogueiro, den- Vendesse — tema: vende;
tista, escafandrista, equilibrista etc. Mares — tema: mare.
Os sufixos costumam mudar mais as classes das
palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos Vogais e Consoantes de Ligação
vocábulos.
As consoantes e vogais de ligação têm uma função
Desinências ou Morfemas Flexionais eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de
palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais
Os morfemas flexionais, mais conhecidos como de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên-
desinências, são os mais estudados na língua portu- cias, aquelas facilitam a pronúncia.
guesa, pois são esses os morfemas que organizam as Exs.:
estruturas no singular e no plural, os verbos em tem- Gas - ô - metro;
pos e conjugações e as relações de gênero em femini- Alv - i - negro;
no e masculino. Tecn - o - cracia;
LÍNGUA PORTUGUESA

Para facilitar a compreensão, podemos dividir os Pe - z - inho;


morfemas flexionais em: Cafe - t- eira;
Pau - l - ada;
z Aditivos: Adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro- Cha - l - eira;
fessor/professora; livro/livros; Inset - i - cida;
z Subtrativos: Elimina-se um elemento do morfema Pobre - t- ão;
lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã; Paris - i - ense;
z Nulos: Quando a ausência de uma letra indica Gira - s - sol;
uma flexão. Ex.: o singular dos substantivos é mar- Legal - i - dade.
cado por essa ausência, como em: mesa (0)2 /mesas.

2 O morfema flexional nulo é mais conhecido como morfema zero nas gramáticas; sua marcação é feita com a presença do numeral 0 (zero). 25
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PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS Inquietude: sufixo -tude;
Sofrimento: sufixo -mento;
A partir do conhecimento dos morfemas que auxi- Harmonizar: sufixo -izar;
liam o processo de ampliação das palavras da língua, Gentileza: sufixo -eza;
podemos iniciar o estudo sobre os processos de for- Lotação: sufixo -ção;
mação de palavras. Assessoria: sufixo -ria.
As palavras na língua portuguesa são criadas a
partir de dois processos básicos que apresentam clas- Derivação Prefixal e Sufixal
ses específicas. O quadro a seguir organiza bem os
processos de formação de palavras: Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto
um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos:
Inquietude (prefiro in- com sufixo -tude); infeliz-
FORMAÇÃO DE PALAVRAS mente (prefixo in- com sufixo -mente); ultrapassagem
DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO (prefixo ultra- com sufixo -agem); reconsideração
(prefixo -re com sufixo -ção).
� Prefixal � Justaposição
� Sufixal � Aglutinação
Derivação Parassintética
� Prefixal e sufixal
� Parassintética
Na derivação parassintética, um acréscimo simul-
� Regressiva
tâneo de afixos, prefixos e sufixos é realizado a uma
� Imprópria ou conversão
estrutura primitiva. É importante não confundir, con-
tudo, com o processo de derivação por sufixação e
Como é possível notar, os dois processos de formação
prefixação. Veja:
de palavras são a derivação e a composição. As palavras
Se, ao retirar os afixos, a palavra perder o senti-
formadas por processos derivativos apresentam mais
do, como em “emagrecer” (sem um dos afixos: “ema-
classes a serem estudadas. Vamos conhecê-las agora!
gro-” não existe), basta fazer o seguinte exercício para
estabelecer por qual processo a palavra foi formada:
DERIVAÇÃO retirar o prefixo ou o sufixo da palavra em que paira
dúvida. Caso a palavra que restou exista, estaremos
As palavras formadas por processos de derivação diante de um processo por derivação sufixal e prefi-
são classificadas a partir de seis categorias: xal; caso contrário, a palavra terá sido formada por
derivação parassintética.
z prefixal ou prefixação; Ex.: Entristecer, desalmado, espairecer, desgelar,
z sufixal ou sufixação; entediar etc.
z prefixal e sufixal;
z parassintética ou parassíntese; Derivação Regressiva
z regressiva;
z imprópria ou conversão. Já na derivação regressiva, a nova palavra será
formada pela subtração de um elemento da estrutura
A seguir, iremos estudar a diferença entre cada primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos:
uma dessas classes e identificar as peculiaridades de Almoço (almoçar);
cada uma. Ataque (atacar);
Amasso (amassar).
Derivação Prefixal A derivação regressiva, geralmente, forma substanti-
vos abstratos derivados de verbos. É possível que alguns
Como o próprio nome indica, as palavras forma- autores reconheçam esse processo como redução.
das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci-
mo de um prefixo à estrutura primitiva, como: Derivação Imprópria
Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho-
mem; infeliz; refazer. A derivação imprópria, a partir de seu processo de
Pré-vestibular: prefixo pré-; formação de palavras, provoca a conversão de uma
Disposição: prefixo dis-; classe gramatical, que pode passar de verbo a subs-
Deslealdade: prefixo des-; tantivo, por exemplo.
Super-homem: prefixo super; A seguir, apresentamos alguns processos de con-
Infeliz: prefixo in-; versão das palavras por derivação imprópria:
Refazer: prefixo re-.
z Particípio do verbo — substantivo: teria passado
Derivação Sufixal — o passado;
z Verbos — substantivos: almoçar — o almoço;
De maneira comparativa, podemos afirmar que z Substantivos — adjetivos: o gato - mulher gato;
a formação de palavras por derivação sufixal refere- z Substantivos comuns — substantivos próprios:
-se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva, leão — Nara Leão;
como em: z Substantivos próprios — comuns: Gillete — gile-
Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri- te; Judas — ele é o judas do programa.
mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria.
Lealdade: sufixo -dade; Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos
Francesa: sufixo -esa; são mais comuns no processo de formação de deter-
26 Belíssimo: sufixo -íssimo; minadas classes gramaticais, vejamos:
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z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti- z Composição por aglutinação: na formação de
vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço; palavras por aglutinação, há mudanças na toni-
z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer, cidade dos termos envolvidos, que passam a ser
-izar, -ar; subordinados a uma única tonicidade. Ex.: petró-
z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.: leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente);
-mente. vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê).

LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS Palavras Compostas e Derivadas

Apresentamos alguns radicais e prefixos na lista a Agora que já conhecemos os processos de forma-
seguir que podem auxiliar na compreensão do proces- ção de palavras, precisamos identificar as palavras
so de formação de palavras. Novamente, alertamos que que são compostas e as palavras que são derivadas.
essa lista não deve ser encarada como uma “tabuada” a
ser decorada, mas como um método para apreender o z São compostas: planalto, couve-flor, aguardente
sentido de alguns desses radicais e prefixos. etc.;
z São derivadas: pedreiro, floricultura, pedal etc.
RADICAIS E PREFIXOS GREGOS
Palavras derivadas são aquelas formadas a partir
RADICAL/ de palavras primitivas, ou seja, a partir de palavras
SENTIDO EXEMPLO
PREFIXO
que detêm a raiz com sentido lexical independente.
Acro Alto Acrofobia/acrobata São palavras primitivas: porta, livro, pedra etc.
Agro Campo Agropecuária A partir das palavras primitivas, o falante pode
anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala-
Algia Dor Nevralgia vras derivadas, assim chamadas pois derivam de um
Bio Vida Biologia dos seis processos derivacionais.
Biblio Livro Biblioteca Já as palavras compostas guardam a independên-
cia semântica e ortográfica, unindo-se a outras pala-
Crono Tempo Cronologia vras para a formação de um novo sentido.
Caco Mau cacofonia
Cali Belo Caligrafia USO DO HÍFEN CONFORME O NOVO ACORDO
ORTOGRÁFICO
Dromo Local Autódromo
O hífen é um sinal diacrítico cujo uso foi reformu-
Além dos radicais e prefixos gregos, as palavras da lado com a reforma ortográfica da língua que entrou
língua portuguesa também se aglutinam a radicais e em vigor em 2009 no Brasil.
prefixos latinos. A reforma uniformizou o uso do hífen em muitos
contextos, o que podemos ver como uma facilitação
RADICAIS E PREFIXO LATINOS do aprendizado de quando usá-lo ou não.
RADICAL/PREFIXO SENTIDO EXEMPLO A regra básica para o aprendizado do uso do hífen,
conforme o novo acordo ortográfico, é esta:
Arbori Árvore Arborizar
Beli Guerra Belicoso z Palavras com final em vogais iguais: usa-se hífen.
Cida Que mata Homicida Ex.: micro-ondas, anti-inflamatório.

Des- dis Separação Discordar Porém, é preciso ficar atento às exceções a essa
Equi Igual Equivalente regra geral. Por isso, iremos apresentar alguns exem-
Ex- Para fora Exonerar plos para organizar o uso desse diacrítico e facilitar
seu aprendizado.
Fide Fé Fidelidade
Mater Mãe Materno z Exceções: os prefixos Pre, Pro, Co, Re não serão
unidos por hífen quando o segundo termo apre-
COMPOSIÇÃO sentar vogal, seja igual seja diferente. Ex.: coo-
rientador, coautor, preenchimento, reeleição,
As palavras formadas por processos de composi- reeducação, preestabelecer;
ção podem ser classificadas em duas categorias: justa- z Nos prefixos Sub, Hiper, Inter, Super, o hífen
LÍNGUA PORTUGUESA

posição e aglutinação. deve permanecer caso a palavra seguinte seja ini-


As palavras formadas por qualquer um desses pro- ciada pelas consoantes H ou R. Ex.: sub-hepático,
cessos estabelecem um sentido novo na língua, uma hiper-requintado, inter-racial, super-racional;
vez que nesse processo há a junção de duas palavras z Hífen com os dígrafos RR e SS: o hífen não é mais
que já existem para a formação de um novo termo, utilizado em palavras formadas de prefixo termi-
com um novo sentido. nado em vogal seguido de palavra iniciada por R
ou S. Ex.: antessala, autorretrato, contrarregra,
z Composição por justaposição: nesse processo, antirrugas etc.;
as palavras envolvidas conservam sua autonomia z É importante esclarecer que em prefixos termina-
morfológica, permanecendo a tonicidade original dos em vogais, aplicados a palavras cuja primei-
de cada palavra. Ex.: pé de moleque, dia a dia, faz ra letra seja H, o hífen permanece. Ex.: anti-herói;
de conta, navio-escola, malmequer; anti-higiênico; extra-humano; semi-herbáceo; 27
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z Já os prefixos Pré, Pró, Pós (quando acentuados),
Ex, Vice, Soto, Além, Aquém, Recém, Sem devem A ORAÇÃO E SEUS TERMOS
ser empregados sempre com hífen. Ex.: pré-natal;
pró-democrata; pós-graduação; ex-prefeito; vice- CONCEITOS BÁSICOS DA SINTAXE
-governador; soto-mestre; além-mar; aquém-ocea-
no; recém-nascido; sem-teto; Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre
z Palavras formadas por Circum e Pan, adicionadas os grandes grupos de palavras existentes na língua,
a palavras iniciadas por vogal, H, M ou N, usam como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru-
hífen. Ex.: circum-navegação; pan-americano; pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases,
z Também devemos empregar hífen em palavras nós construímos um painel morfológico.
formadas pelos sufixos de origem tupi-guara- As palavras normalmente recebem uma dupla
ni, como Açu, Guaçu, Mirim. Ex.: amoré-guaçu; classificação: a morfológica, que está relacionada à
capim-açu. classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
cionada à função específica que assumem em deter-
minada frase.
Importante!
Frase
A reforma ortográfica de 2009 eliminou o hífen
das palavras compostas por justaposição com Frase é todo enunciado com sentido completo.
um termo de ligação. Assim, palavras como Pé Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um
de moleque, que antes contavam com o hífen, conjunto de palavras.
agora já não utilizam mais. Porém, não foram Ex.: Fogo!
todas as palavras justapostas que foram atin- Silêncio!
gidas pela reforma; palavras justapostas que “A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano
designam plantas ou bichos ainda são escritas Ramos).
com hífen. Ex.: cana-de-açúcar; pimenta-do-rei-
no; castanha-do-Pará; João-de-barro; bem-te-vi; Oração
porco-da-Índia.
Enunciado que se estrutura em torno de um verbo
(explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu-
SEMÂNTICA ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen-
tá-lo completo ou incompleto.
Denotação Ex.: Você é um dos que se preocupam com a
poluição.
O sentido denotativo da linguagem compreende “A roda de samba acabou” (Chico Buarque).
o significado literal da palavra independente do seu
contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais Período
objetivo e literal associado ao significado que aparece
nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar Período é o enunciado constituído de uma ou mais
ênfase à informação que se quer passar para o recep- orações.
tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por Classifica-se em:
isso, é muito utilizada em textos informativos, como
notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá- � Simples: possui apenas uma oração.
ticos, entre outros. Ex.: O sol surgiu radiante.
Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo: Ninguém viu o acidente.
chamas) � Composto: possui duas ou mais orações.
O coração é um músculo que bombeia sangue para Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.”
o corpo. (coração: parte do corpo) (Chico Buarque)
Chegou em casa e tomou banho.
Linguagem Figurada
PERÍODO SIMPLES — TERMOS DA ORAÇÃO
O sentido conotativo compreende o significado
figurado e depende do contexto em que está inserido. Os termos que formam o período simples são dis-
A conotação põe em evidência os recursos estilísticos tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte-
dos quais a língua dispõe para expressar diferen- grantes (complemento verbal, complemento nominal
tes sentidos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal,
poética. A conotação tem como finalidade dar ênfase adjunto adverbial e aposto).
à expressividade da mensagem de maneira que ela
possa provocar sentimentos ou diferentes sensações TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO
no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe-
sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios São aqueles indispensáveis para a estrutura básica
publicitários e outros. da oração. Costuma-se associar esses termos a situa-
Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”. ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
Você mora no meu coração. leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por
exemplo. São eles: sujeito e predicado. Veremos a
28 seguir cada um deles.
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Sujeito
Com verbos flexionados na 3ª
pessoa do plural
É o elemento que faz ou sofre a ação determinada
pelo verbo. INDETERMINADO Com verbos acompanhados do
O sujeito pode ser: se (índice de indeterminação do
sujeito)
� o termo sobre o qual o restante da oração diz algo;
� o elemento que pratica ou recebe a ação expressa Usado para fenômenos da
pelo verbo; INEXISTENTE natureza ou com verbos
� o termo que pode ser substituído por um pronome impessoais
do caso reto;
� o termo com o qual o verbo concorda.
Ex.: A população implorou pela compra da vacina z Determinado: quando se identifica a pessoa, o
da covid-19. lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em:

No exemplo anterior a população é: „ Simples: quando há apenas um núcleo.


Ex.: O [aluguel] da casa é caro.
z o elemento sobre o qual se declarou algo (implo- Núcleo: aluguel
rou pela compra da vacina); Sujeito simples: O aluguel da casa;
z o elemento que pratica a ação de implorar; „ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
z o termo com o qual o verbo concorda (o verbo Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular); Núcleos: sons, cores.
z o termo que pode ser substituído por um pronome Sujeito composto: Os sons e as cores;
do caso reto. „ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não
(Ela implorou pela compra da vacina da covid-19.) aparece na oração, mas é possível de ser identi-
ficado devido à flexão do verbo ao qual se refe-
Núcleo do Sujeito re.Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito:
(Eu)
O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal por-
que é a respeito dela que o predicado diz algo. O núcleo z Indeterminado: quando não é possível identificar
indica a palavra que realmente está exercendo determi- o sujeito na oração, mas ainda sim está presente.
nada função sintática, que atua ou sofre a ação. O núcleo Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa-
do sujeito apresentará um substantivo, ou uma palavra do por um índice de indeterminação do sujeito, a
com valor de substantivo, ou pronome. partícula “se”.

z O sujeito simples contém apenas um núcleo. „ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural,


Ex.: O povo pediu providências ao governador. não se referindo a nenhuma palavra determi-
Sujeito: O povo nada no contexto.
Núcleo do sujeito: povo Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
z Já no sujeito composto, o núcleo será constituído Entende-se que alguém passou cedo;
de dois ou mais termos. „ Colocando-se verbos (intransitivos, transitivos
As luzes e as cores são bem visíveis.
diretos ou de ligação) sem complemento dire-
Sujeito: As luzes e as cores
to na 3ª pessoa do singular acompanhados do
Núcleo do sujeito: luzes/cores
pronome se, pronome que atua como índice de
indeterminação do sujeito.
Dica Ex.: Não se vê com a neblina.
Para determinar o sujeito da oração, colocam-se Entende-se que ninguém consegue ver nessa
condição.
as expressões interrogativas quem? ou o quê?
antes do verbo.
Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito
Ex.: A população pediu uma providência ao
governador.
Esse tipo de situação ocorre quando uma oração
Quem pediu uma providência ao governador? não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos
Resposta: A população (sujeito). são impessoais e normalmente representam fenôme-
Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer
outro. ou haver no sentido de existir.
LÍNGUA PORTUGUESA

O que iria de um lado para o outro? Geia no Paraná.


Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito). Fazia um mês que tinha sumido.
Basta de confusão.
Tipos de Sujeito Há dois anos esse restaurante abriu.

Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em: Classificação do Sujeito Quanto à Voz

Simples z Voz ativa (sujeito agente)


Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado.
DETERMINADO Composto Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer-
ce a ação na frase;
Elíptico
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z Voz passiva sintética (sujeito paciente) É importante não confundir:
Ex.: Corta-se cabelo.
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação,
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do mas um estado momentâneo ou permanente que
item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é
oração. o predicativo do sujeito;
z Predicativo do sujeito: função exercida por subs-
Importante notar que não há preposição entre tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri-
o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo, buem uma condição ou qualidade ao sujeito.
“de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais Ex.: O garoto está bastante feliz.
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal. Verbo de ligação: está.
Precisa-se de cabelo. Predicativo do sujeito: bastante feliz.
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal, Ex.: Seu batom é muito forte.
e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é Verbo de ligação: é.
indeterminado, marcado pelo índice de indetermina- Predicativo do sujeito: muito forte.
ção “-se”.

z Voz passiva analítica (sujeito paciente) Predicado Verbal


Ex.: A minha saia azul está rasgada.
O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen- Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
ça da partícula -se. verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi-
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do
Predicado objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os
demais termos do predicado.
É o termo que contém o verbo e informa algo sobre O verbo do predicado pode ser classificado em
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter- transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi-
mos essenciais na oração, há casos em que a oração tivo direto e indireto ou verbo intransitivo.
não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
torno de um verbo e ele está contido no predicado, é z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi-
impossível existir uma oração sem sujeito. ge um complemento não preposicionado, o objeto
O predicado pode ser: direto.
Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.”
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito. Noel Rosa
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.” Verbo Transitivo Direto: Fazer.
(José de Alencar); Ex.: Ele trouxe os livros ontem.
Predicado: seguem sua marcha; Verbo Transitivo Direto: trouxe;
z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei- z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti-
to (oração sem sujeito): vo indireto tem como necessidade o complemen-
Ex.: Chove pouco nesta época do ano; to acompanhado de uma preposição para fazer
Predicado: Chove pouco nesta época do ano. sentido.
Ex.: Nós acreditamos em você.
Para determinar o predicado, basta separar o Verbo transitivo indireto: acreditamos
sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica- Preposição: em
do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo Ex.: Frida obedeceu aos seus pais.
é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita: Verbo transitivo indireto: obedeceu
Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves Preposição: a (a + os)
Dias) Ex.: Os professores concordaram com isso.
Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida. Verbo transitivo indireto: concordaram
Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias) Preposição: com;
Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores. z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o
verbo de sentido incompleto que exige dois com-
Classificação do Predicado plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto
indireto (com preposição).
A classificação do predicado depende do significa- Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou-
do e do tipo de verbo que apresenta. tras.” (Machado de Assis)
Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- Objeto direto 1: anedotas
nificativo se concentra em um nome (corresponde Objeto indireto 1: lhe
a um predicativo do sujeito). Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação. Objeto direto 2: outras
O predicado nominal tem por núcleo um nome Objeto indireto 2: lhe;
(substantivo, adjetivo ou pronome). z Verbo intransitivo (VI): é aquele capaz de cons-
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo truir sozinho o predicado, que não precisa de com-
Mendes) plementos verbais, sem prejudicar o sentido da
Predicado: são mais bonitas. oração.
Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
Bilac) Verbo intransitivo: adormeciam.
30 Predicado: estão cheias de calafrios.
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Predicado Verbo-Nominal Pronomes e sua Relação com o Objeto Direto

Ocorre quando há dois núcleos significativos: Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas
um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um variações lo(s), la(s), no(s), na(s), que quase sempre
nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo exercem função de objeto direto, os pronomes oblí-
transitivo, predicativo do objeto). quos me, te, se, nos, vos também podem exercer essa
Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes) função sintática.
Verbo intransitivo: parou Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram
Predicativo do sujeito: atento quem? A minha pessoa”)
Repare que no primeiro exemplo o termo “atento” Nunca vos tomeis como grandes personalidades.
está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é (= “Nunca tomeis quem? Vós”)
considerado predicativo do sujeito. Convidaram-na para o almoço de despedida. (=
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo “Convidaram quem? Ela”)
Bilac) Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (=
Verbo intransitivo: marchou “Receberam quem? Nós”)
Predicativo do sujeito: desorientado Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem
No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi- ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do
ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei- pronome relativo que.
to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito. Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha- esse algo é o objeto direto)
do de Assis) Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome
Verbo transitivo direto: achou feminino definido)
Objeto direto: o raciocínio
Predicativo do objeto: exato z Objeto direto preposicionado
No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza
um julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, Mesmo que o verbo transitivo direto não exija
que é o objeto direto dessa oração. Com isso, podemos preposição no seu complemento, algumas palavras
concluir que temos um caso de predicativo do obje- requerem o uso da preposição para não perder o sen-
to, visto que “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é tido de “alvo” do sujeito.
o sujeito. Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros
O que é o predicativo do objeto? facultativos.
É o termo que confere uma característica, uma
qualidade, ao que se refere. Exemplos com Ocorrência Obrigatória de
A formação do predicativo do objeto se dá por um Preposição:
adjetivo ou por um substantivo.
Ex.: Consideramos o filme proveitoso. Não entendo nem a ele nem a ti.
Predicativo do objeto: proveitoso Respeitava-se aos mais antigos.
Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas. Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
Predicativo do objeto: vitoriosa Amavam-se um ao outro.
Para facilitar a identificação do predicativo do “Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres- feita.” (Ciro dos Anjos).
centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí-
fica é relacionar o predicativo ao nome. Exemplos com Ocorrência Facultativa de Preposição:
O filme foi proveitoso.
Ela era vitoriosa. Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque-
Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre- le templo.
dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de A escultura atrai a todos os visitantes.
ligação (foi e era, respectivamente). Não admito que coloquem a Sua Excelência num
pedestal.
TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO Ao povo ninguém engana.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles.
São vocábulos que se agregam a determinadas No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des-
estruturas para torná-las completas. De acordo com sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
a gramática da língua portuguesa, esses termos são sente para indicar parte de um todo, quando assim
divididos em: for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa
LÍNGUA PORTUGUESA

bebeu uma porção da água, e não ela toda.


Complementos Verbais
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
São termos que completam o sentido de verbos dessa função sintática na mesma oração, a fim de
transitivos diretos e transitivos indiretos. enfatizar um único significado.
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de
z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom- Andrade)
panhado de preposição. z Objeto direto interno: Representado por palavra
Ex.: Examinei o relógio de pulso. que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta
Gostaria de vê-lo no topo do mundo. mesmo significado.
O técnico convocou somente os do Brasil. (os = Ex.: Riu um riso aterrador.
aqueles). Dormiu o sono dos justos. 31
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Como diferenciar objeto direto de sujeito? Adjunto Adnominal
Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto) São termos que acompanham o substantivo,
O objeto direto pode ser passado para a voz passi- núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
va analítica e se transforma em sujeito. especificar o elemento representado pelo substantivo.
Os jogos da seleção foram ignorados. Categorias morfológicas que podem funcionar
como adjunto adnominal:
z Objeto indireto: É complemento verbal regido de
preposição obrigatória, que se liga diretamente a z artigos;
verbos transitivos indiretos e diretos. Representa z adjetivos;
o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. z numerais;
Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da z pronomes;
casa 260. z locuções adjetivas.
Gosto de ti, meu nobre.
Não troque o certo pelo duvidoso. Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo
Vamos insistir em promover o novo romance de ficaram esquecidos no quarto.
ficção. Iam cheios de si.
Estava conquistando o respeito dos seus.
z Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais O novo regulamento originou a revolta dos
funcionários.
Pode ser representado pelos seguintes pronomes O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro-
nomes o, a, os, as não exercerão essa função.
z Pronomes oblíquos átonos e a função de adjun-
Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
to adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos,
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
lhes exercem essa função sintática quando assu-
comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
indireto, já que sempre ocorrem com preposição. mem valor de pronomes possessivos.
Ex.: Você escreveu esta carta para mim? Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo).
z Como diferenciar adjunto adnominal de com-
plemento nominal?
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
Quando o adjunto adnominal for representado
uma mensagem.
por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda.
com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga
a dica:
Complemento Nominal

Completa o sentido de substantivos, adjetivos e „ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao


advérbios. É uma função sintática regida de preposição e qual se liga for concreto.
com objetivo de completar o sentido de nomes. A presen- Ex.: A casa da idosa desapareceu.
ça de um complemento nominal nos contextos de uso é Se indicar posse ou o agente daquilo que
fundamental para o esclarecimento do sentido do nome. expressa o substantivo abstrato.
Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado. Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada;
Estou longe de casa e tão perto do paraíso. „ Será complemento nominal: se indicar o alvo
Para melhor identificar um complemento nomi- daquilo que expressa o substantivo.
nal, siga a instrução: Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não
Nome + preposição + quem ou quê foi respeitada.
Como diferenciar complemento nominal de com- Notava-se o amor pelo seu trabalho.
plemento verbal? Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio:
Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração. Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos.
(complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se
diretamente ao verbo “obedecia”) Adjunto Adverbial
Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora- Termo representado por advérbios, locuções
ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”). adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas
Agente da Passiva circunstâncias.

É o complemento de um verbo na voz passiva ana- z Tempo: Quero que ele venha logo;
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
raramente, da preposição de. z Modo: O dia começou alegremente;
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares z Intensidade: Almoçou pouco;
ser, estar, viver, andar, ficar. z Causa: Ela tremia de frio;
z Companhia: Venha jantar comigo;
TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as
roupas;
Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo;
ra básica da oração, são importantes para compreen- z Finalidade: Vivia para o trabalho;
são do enunciado porque trazem informações novas. z Meio: Viajou de avião devido à rapidez;
32 Esses termos são chamados acessórios da oração. z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
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z Negação: Não permitirei que permaneça aqui; O noticiário disse que amanhã fará muito calor —
z Afirmação: Sairia sim naquela manhã; ideia que não me agrada;
z Origem: Descendia de nobres. � Distributivo: dispõe os elementos equitativamente.
Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
Não confunda! para as perguntas.
Para conseguir distinguir adjunto adverbial de Sua presença era inesperada, o que causou
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio- surpresa.
nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que
o sentido seja parecido. Dica
Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui
é um adjunto adnominal) � O aposto pode aparecer antes do termo a que
Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um se refere, normalmente antes do sujeito.
adjunto adverbial) Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen-
na marcou uma geração.
Aposto � Segundo o gramático Cegalla, quando o apos-
to se refere a um termo preposicionado, pode ele
Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes vir igualmente preposicionado.
ou orações. O aposto tem como propósito explicar, Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de
identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon- tudo ele tinha medo.
tar algo, alguém ou um fato. � O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial.
Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas.
bicicleta.
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito)
Aposto: filha de D. Raimunda
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa-
Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial
des obras.
Aposto: Machado de Assis. de modo).
Classifica-se nas seguintes categorias:
z Diferença de aposto especificativo e adjunto
z Explicativo: usado para explicar o termo anterior. adnominal: Normalmente, é possível retirar a
Separa-se do substantivo a que se refere por uma preposição que precede o aposto. Caso seja um
pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura
ou dois-pontos. fica prejudicada.
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram Ex.: A cidade Fortaleza é quente.
ontem, acabaram de voltar de férias. (aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade)
Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de O clima de Fortaleza é quente.
todos; (adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?);
� Enumerativo: usado para desenvolver ideias que z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
foram resumidas ou abreviadas em um termo ante- aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo
rior. Mostra os elementos contidos em um só termo. adjetivo.
Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle.
riachos. (predicativo do sujeito; núcleo: desesperado — ad-
Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber, pre- jetivo)
conceito, antipatia e arrogância; Homem desesperado, João sempre perde o con-
z Recapitulativo ou resumidor: é o termo usado para trole.
resumir termos anteriores. É expresso, normalmen- (aposto; núcleo: homem — substantivo).
te, por um pronome indefinido.
Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos Vocativo
estavam empolgados com a feira.
Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné-Bis- O vocativo é um termo que não mantém relação
sau, países africanos onde se fala português; sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
� Comparativo: estabelece uma comparação tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
implícita. chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem rumo; ja se comunicar. É um termo independente, pois
� Circunstancial: exprime uma característica não faz parte da estrutura da oração.
circunstancial. Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
consulta.
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas


apropriadas; Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
� Especificativo: é o aposto que aparece junto a um
substantivo de sentido genérico, sem pausa, para z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
substantivos próprios. outro termo da oração.
Exs.: O mês de abril. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
O rio Amazonas. O aposto se relaciona sintaticamente com outro
Meu primo José; termo da oração.
z Aposto da oração: é um comentário sobre o fato A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é im-
expresso pela oração, ou uma palavra que condensa. pecável.
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua Sujeito: a cozinha de Lufe.
preocupação. Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao sujeito). 33
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PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
A ESTRUTURAÇÃO DO PERÍODO
Formado por orações sintaticamente dependentes,
PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO considerando a função sintática em relação a um ver-
bo, nome ou pronome de outra oração.
As orações são sintaticamente independentes. Isso Tipos de orações subordinadas:
significa que uma não possui relação sintática com
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no z substantivas;
período. z adjetivas;
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” z adverbiais.
(Fernando Pessoa)
Oração coordenada 1: Deus quer Orações Subordinadas Substantivas
Oração coordenada 2: o homem sonha
Oração coordenada 3: a obra nasce. São classificadas nas seguintes categorias:
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis) z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho são introduzidas pelas conjunções subordinativas
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à integrantes que e se.
porta da sala de Damasceno Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de impostos.
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi Não sei se poderei sair hoje à noite;
Conjunção adversativa: mas nada z Orações subordinadas substantivas justapostas:
introduzidas por advérbios ou pronomes interrogati-
Orações Coordenadas Sindéticas vos (onde, como, quando, quanto, quem etc.);
z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias
As orações coordenadas podem aparecer ligadas roubadas.
às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra- Não sei quem lhe disse tamanha mentira;
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
sindética. Veremos agora cada uma delas: não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica no
infinitivo.
z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras;
simultaneidade. z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- exercem a função de sujeito. O verbo da oração prin-
bém, mas ainda, bem como, como também, se- cipal deve vir na voz ativa, passiva analítica ou sintéti-
não também, que (= e). ca. Em 3ª pessoa do singular, sem se referir a nenhum
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. termo na oração.
Os convidados não compareceram nem explica- Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito)
ram o motivo; Foi importante que você regressasse. (sujeito oracio-
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- nal) (or. sub. subst. subje.);
traste ou ressalva em relação ao fato anterior. z Orações subordinadas substantivas objetivas dire-
tas: exercem a função de objeto direto de um verbo
Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia,
transitivo direto ou transitivo direto e indireto da ora-
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs-
ção principal.
tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso.
Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas.
Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
“A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a
subst. obj. dir.);
morte.” (Laurindo Rabelo);
z Orações subordinadas substantivas completivas
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou
nominais: exercem a função de complemento nomi-
se excluem.
nal de um substantivo, adjetivo ou advérbio da ora-
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ... ção principal.
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (complemento
... talvez). nominal)
Ex.: Ora responde, ora fica calado. Tenho necessidade de que você me apoie. (com-
Você quer suco de laranja ou refrigerante? plemento nominal oracional) (or. sub. subst. compl.
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica nom.);
sobre um raciocínio. z Orações subordinadas substantivas predicativas:
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- funcionam como predicativos do sujeito da oração
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início principal. Sempre figuram após o verbo de ligação
de frase). ser.
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do
semana. sujeito)
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do su-
Mendes Campos); jeito oracional) (or. sub. subst. predic.);
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem z Orações subordinadas substantivas apositivas:
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque, funcionam como aposto. Geralmente vêm depois de
porquanto, pois. dois-pontos ou entre vírgulas.
Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (apos-
a “pois”) to)
Vamos almoçar de novo porque ainda estamos Só quero uma coisa: que você volte imediatamente.
34 com fome. (aposto oracional) (or. sub. aposi.);
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Orações Subordinadas Adjetivas � Orações subordinadas adverbiais consecutivas:
são introduzidas por: que (precedido na oração ante-
Desempenham função de adjetivo (adjunto adno- rior de termos intensivos como tão, tanto, tamanho
minal ou, mais raramente, aposto explicativo). São etc.) de sorte que, de modo que, de forma que, sem
introduzidas por pronomes relativos (que, o qual, a que.
qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) Ex.: A garota riu tanto, que se engasgou;
. As orações subordinadas adjetivas classificam-se em: “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão perfu-
explicativas e restritivas. madas que me estontearam.” (Cecília Meireles);
� Orações subordinadas adverbiais finais: indicam
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: não um objetivo a ser alcançado. São introduzidas por:
limitam o termo antecedente, e sim acrescentam para que, a fim de que, porque e que (= para que)
uma explicação sobre o termo antecedente. São con- Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos tives-
sideradas termo acessório no período, podendo ser sem bom estudo;
suprimidas. Sempre aparecem isoladas por vírgulas. � Orações subordinadas adverbiais proporcionais:
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos, são introduzidas por: à medida que, à proporção que,
cria trinta gatos; quanto mais, quanto menos etc.
z Orações subordinadas adjetivas restritivas: Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a aprecio;
especificam ou limitam a significação do termo � Orações subordinadas adverbiais temporais: são
antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis- introduzidas por: quando, enquanto, logo que, depois
pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas. que, assim que, sempre que, cada vez que, agora que
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é etc.
incurável; Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.

Dica Para separar as orações de um período composto, é


necessário atentar-se para dois elementos fundamentais:
Como diferenciar as orações subordinadas adje- os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos (conjun-
tivas restritivas das orações subordinadas adje- ções ou pronomes relativos). Após assinalar esses ele-
tivas explicativas? mentos, deve-se contar quantas orações ele representa, a
Ele visitará o irmão que mora em Recife. partir da quantidade de verbos ou locuções verbais. Exs.:
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai [“A recordação de uns simples olhos basta] — 1ª
visitar apenas o que mora em Recife) oração
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. [para fixar outros] — 2ª oração
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que [que os rodeiam] — 3ª oração
mora em Recife) [e se deleitem com a imaginação deles]. — 4ª ora-
ção (M. de Assis)
Orações Subordinadas Adverbiais Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
basta, pertencente à 1ª (oração principal).
Exprimem uma circunstância relativa a um fato A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
expresso em outra oração. Têm função de adjunto ambas são dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
adverbial. São introduzidas por conjunções subor-
dinativas (exceto as integrantes) e se enquadram nos Orações Reduzidas
seguintes grupos:
z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas
� Orações subordinadas adverbiais causais: são nominais (gerúndio, particípio e infinitivo);
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por- z As que são substantivas e adverbiais: nunca são
que, visto que etc. iniciadas por conjunções;
Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por- z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas
que ficamos sem gasolina; por pronomes relativos;
� Orações subordinadas adverbiais comparati- z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses
vas: são introduzidas por: como, assim como, tal conectivos;
qual, como, mais etc. z Podem ser iniciadas por preposição ou locução
Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do) prepositiva.
que a importada; Ex.: Terminada a prova, fomos ao restaurante.
� Orações subordinadas adverbiais concessivas: O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com
indica certo obstáculo em relação ao fato expres- conjunção.
Ex.: Quando terminou a prova, fomos ao restau-
LÍNGUA PORTUGUESA

so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São


introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que, rante. (desenvolvida).
por mais que, se bem que etc. O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção.
Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã;
� Orações subordinadas adverbiais condicionais: Orações Reduzidas de Infinitivo
são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
contanto que, a menos que etc. Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais.
Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente.
tal;
� Orações subordinadas adverbiais conformati- z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O.
vas: são introduzidas por: como, conforme, segun- S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)
do, consoante. Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva
Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos; direta reduzida de infinitivo) 35
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A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva 1ª oração: oração coordenada assindética.
predicativa reduzida de infinitivo) 2ª oração: oração coordenada sindética aditiva em
Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva relação à 1ª oração e principal em relação à 3ª oração.
completiva nominal reduzida de infinitivo) 3ª oração: coordenada substantiva objetiva direta
Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S. em relação à 2ª oração.
substantiva apositiva reduzida de infinitivo); Resumindo: período composto por coordenação e
z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés subordinação.
pelas mãos. As orações subordinadas são coordenadas entre si,
O meu manual para fazer bolos certamente vai ligadas ou não por conjunção.
agradar a todos;
z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado, z Orações subordinadas substantivas coordena-
continua jogando bola. das entre si
Sem estudar, não passarão. Ex.: Espero que você não me culpe, que não culpe
Ele passou mal, de tanto comer doces. meus pais, nem que culpe meus parentes.
Oração principal: Espero.
Orações Reduzidas de Gerúndio Oração coordenada 1: que você não me culpe.
Oração coordenada 2: que não culpe meus pais.
Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo- Oração coordenada 3: nem que culpe meus
sitivas, adjetivas, adverbiais. parentes.

z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando


livre dos juros; Importante!
z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo
O segredo para classificar as orações é per-
ajudando um ao outro. (subjetiva)
z Agora ouvimos artistas cantando no shopping.
ceber os conectivos (conjunções e pronomes
(objetiva direta); relativos).
z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
coração;
� Orações subordinadas adjetivas coordenadas
z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não
entre si
contou a verdade.
Ex.: A mulher que é compreensiva, mas que é
cautelosa, não faz tudo sozinha.
Orações Reduzidas de Particípio Oração subordinada adjetiva 1: que é compreensiva
Oração subordinada adjetiva 2: mas que é
Podem ser adjetivas ou adverbiais. cautelosa;

� Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era � Orações subordinadas adverbiais coordenadas
falsa. entre si
Nosso planeta, ameaçado constantemente por Ex.: Não só quando estou presente, mas também
nós mesmos, ainda resiste; quando não estou, sou discriminado.
� Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have- Oração subordinada adverbial 1: quando estou
ria problemas. (condicional) presente
Dada a notícia da herança, as brigas começaram. Oração subordinada adverbial 2: quando não
(causal/temporal) estou;
Comprada a casa, a família se mudou logo. � Orações coordenadas ou subordinadas no mes-
(temporal). mo período
Ex.: Presume-se que as penitenciárias cumpram
O particípio concorda em gênero e número com os seu papel, no entanto a realidade não é assim.
termos referentes. Oração principal: Presume-se
Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre- Oração subordinada subjetiva da principal: as
quentes em provas de concurso. penitenciárias cumpram seu papel
Oração coordenada sindética adversativa da ante-
Períodos Mistos rior: no entanto a realidade não é assim.

São períodos que apresentam estruturas oracio-


nais de coordenação e subordinação.
Assim, às vezes aparecem orações coordenadas AS CLASSES DE PALAVRAS:
dentro de um conjunto de orações que são subordina-
das a uma oração principal.
ASPECTOS MORFOLÓGICOS,
SINTÁTICOS E ESTILÍSTICOS
1ª oração 2ª oração 3ª oração A palavra morfologia refere-se ao estudo das for-
mas. Por isso, o termo é utilizado por linguistas e tam-
O homem entrou na que todos
e pediu bém por médicos, que estudam as formas dos órgãos
sala calassem.
e suas funções.
verbo verbo verbo Analogamente, para compreender bem as funções
de uma forma, seja ela uma palavra, seja um órgão,
precisamos conhecer como essa forma se classifica e
36 como se organiza.
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Por isso, em língua portuguesa, estudamos as for- Um: Numeral ou Artigo?
mas das palavras na morfologia, que organiza as classes
das palavras em dez categorias. A seguir, estudaremos A forma um pode assumir na língua a função de
detalhadamente cada uma delas e também veremos um artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como
“bônus” para seus estudos: as palavras denotativas, podemos reconhecer cada função? É preciso observar
atualmente, muito cobradas por bancas exigentes. o contexto em uso. Observe:

ARTIGOS z Durante a votação, houve um deputado que se


posicionou contra o projeto;
Os artigos devem concordar em gênero e número z Durante a votação, apenas um deputado se posi-
com os substantivos. São, por isso, considerados deter- cionou contra o projeto.
minantes dos substantivos.
Essa classe está dividida em artigos definidos e Na primeira frase, podemos substituir o termo um
artigos indefinidos. Os definidos funcionam como por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e
determinantes objetivos, individualizando a palavra, o sentido será mantido, pois o que se pretende defen-
já os indefinidos funcionam como determinantes der é que a espécie do indivíduo que se posicionou con-
imprecisos. tra o projeto é um deputado e não uma deputada, por
O artigo definido — o — e o artigo indefinido — exemplo.
um — variam em gênero e número, tornando-se “os, Já na segunda oração, a alteração do gênero não
a, as”, para os definidos, e “uns, uma, umas”, para os implicaria em mudanças no sentido, pois o que se pre-
indefinidos. Assim, temos: tende indicar é que o projeto foi rejeitado por um depu-
tado, marcando a quantidade.
z Artigos definidos: o, os; a, as; Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos
z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas. atentos com a aparição das expressões adverbiais, o que
sempre fará com que a palavra “um” seja numeral.
Os artigos podem ser combinados às preposições. Ainda sobre os numerais, atente-se às dicas a seguir:
São as chamadas contrações. Algumas contrações
comuns na língua são: z Sobre o numeral milhão/milhares, é importante
destacar que sua forma é masculina. Logo, a con-
z em + a = na; cordância com palavras femininas é inaceitável
z a + o = ao; pela gramática.
z a + a = à; Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje.
z de + a = da. Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje.

Dica z A forma 14 por extenso apresenta duas formas


aceitas pela norma gramatical: catorze e quatorze.
Toda palavra determinada por um artigo torna-
-se um substantivo. Ex.: o não, o porquê, o cuidar SUBSTANTIVOS
etc.
Os substantivos classificam os seres em geral. Uma
NUMERAIS característica básica dessa classe é admitir um deter-
minante — artigo, pronome etc. Os substantivos fle-
São palavras que se relacionam diretamente ao xionam-se em gênero, número e grau.
substantivo, inferindo ideia de quantidade ou posi-
ção. Os numerais podem ser: Tipos de Substantivos

z Cardinais: indicam quantidade em si. Ex.: Dois A classificação dos substantivos admite nove tipos
potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os diferentes. São eles:
meninos eram bons em português;
z Ordinais: indicam a ordem de sucessão de uma série. z Simples: formados a partir de um único radical.
Ex.: Foi o segundo colocado do concurso; chegou em Ex.: vento, escola;
último/penúltimo/antepenúltimo lugar; z Compostos: formados pelo processo de justaposi-
z Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo ção. Ex.: couve-flor, aguardente;
qual determinada quantidade é multiplicada. Ex.: z Primitivos: possibilitam a formação de um novo
Ele ganha o triplo no novo emprego; substantivo. Ex.: pedra, dente;
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z Fracionários: indicam frações, divisões ou dimi- z Derivados: são formados a partir de substantivos
nuições proporcionais em quantidade. Ex.: Tomou primitivos. Ex.: pedreiro (pedra), dentista (dente),
um terço de vinho; o copo estava meio cheio; ele florista (flor);
recebeu metade do pagamento. z Concretos: designam seres com independência
ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde-
Podemos encontrar ainda os numerais coletivos, pendentemente de sua conotação espiritual ou
isto é, designam um conjunto, porém expressam uma real. Ex.: Maria, gato, Deus, fada, carro;
quantidade exata de seres/conceitos. Veja: z Abstratos: indicam estado, sentimento, ação, qua-
Dúzia: conjunto de doze unidades; lidade. Os substantivos abstratos existem apenas
Novena: período de nove dias; em função de outros seres. A feiura, por exemplo,
Década: período de dez anos; depende de uma pessoa, um substantivo concreto
Século: período de cem anos; a quem esteja associada. Ex.: chute, amor, cora-
Bimestre: período de dois meses. gem, liberalismo, feiura; 37
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z Comuns: designam todos os seres de uma espécie. Além disso, algumas palavras na língua causam
Ex.: homem, cidade; dificuldade na identificação do gênero, pois são usa-
z Próprios: designam uma determinada espécie. das em contextos informais com gêneros diferentes.
Ex.: Pedro, Fortaleza; Alguns exemplos são: a alface; a cal; a derme; a libido;
z Coletivos: usados no singular, designam um con- a gênese; a omoplata / o guaraná; o formicida; o tele-
junto de uma mesma espécie. Ex.: pinacoteca, fonema; o trema.
manada. Algumas formas que não apresentam, necessaria-
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no
É importante destacar que a classificação de um masculino quanto no feminino: o personagem / a per-
substantivo depende do contexto em que ele está inse- sonagem; o laringe / a laringe; o xerox / a xerox.
rido. Vejamos:
Judas foi um apóstolo. (Judas como nome de uma Flexão de Número
pessoa = Próprio);
O amigo mostrou-se um judas (judas significando Os substantivos flexionam-se em número, de
traidor = comum). maneira geral, pelo acréscimo do morfema -s. Ex.:
casa / casas.
Flexão de Gênero Porém, podem apresentar outras terminações:
males, reais, animais, projéteis etc.
Os gêneros do substantivo são masculino e Geralmente, devemos acrescentar -es ao singular
feminino. das formas terminadas em R ou Z, como: flor / flores;
Porém, alguns deles admitem apenas uma forma paz / pazes. Porém, há exceções, como a palavra mal,
para os dois gêneros. São, por isso, chamados de uni- terminada em L e que tem como plural “males”.
formes. Os substantivos uniformes podem ser: Já os substantivos terminados em al, el, ol, ul fazem
plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral / corais;
z Comuns-de-dois-gêneros: designam seres huma- papel / papéis; anzol / anzóis.
nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: o Entretanto, também há exceções. Ex.: a forma
pianista / a pianista; o gerente / a gerente; o cliente mel apresenta duas formas de plural aceitas: meles
/ a cliente; o líder / a líder; e méis.
z Epicenos: designam geralmente animais que apre- Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem
sentam distinção entre masculino e feminino, mas plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es.
a diferença é marcada pelo uso do adjetivo macho Ex.: capelães, capitães, escrivães.
ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea; onça Contudo, há substantivos que admitem até três
macho / onça fêmea; gambá macho / gambá fêmea; formas de plural, como os seguintes:
girafa macho / girafa fêmea;
z Sobrecomuns: designam seres de forma geral e z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães;
não são distinguidos por artigo ou adjetivo; o gêne- z Ancião: anciãos, anciões, anciães;
ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.: z Vilão: vilãos, vilões, vilães.
a criança; o monstro; a testemunha; o indivíduo.
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas
Já os substantivos biformes designam os substan- que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão /
tivos que apresentam duas formas para os gêneros órgãos; órfão / órfãos.
masculino ou feminino. Ex.: professor/professora.
Destacamos que alguns substantivos apresentam Plural dos Substantivos Compostos
formas diferentes nas terminações para designar for-
mas diferentes no masculino e no feminino: Os substantivos compostos são aqueles formados
Ex.: ator/atriz; ateu/ ateia; réu/ré. por justaposição. O plural dessas formas obedece às
Outros substantivos modificam o radical para seguintes regras:
designar formas diferentes no masculino e no femini-
no. Estes são chamados de substantivos heteroformes: z Variam os dois elementos:
Ex.: pai/mãe; boi/vaca; genro/nora.
Substantivo + substantivo. Ex.: mestre-sala / mes-
Gênero e Significação tres -salas;
Substantivo + adjetivo. Ex.: guarda-noturno / guar-
Alguns substantivos uniformes podem aparecer das -noturnos;
com marcação de gênero diferente, ocasionando uma Adjetivo + substantivo. Ex.: boas-vindas;
modificação no sentido. Veja, por exemplo: Numeral + substantivo. Ex.: terça-feira / terças
-feiras.
z A testemunha: pessoa que presenciou um crime;
z O testemunho: relato de experiência, associado a z Varia apenas um elemento:
religiões.
Substantivo + preposição + substantivo. Ex.:
Algumas formas substantivas mantêm o radical e canas-de-açúcar;
a pequena alteração no gênero do artigo interfere no Substantivo + substantivo com função adjetiva.
significado: Ex.: navios-escola.
Palavra invariável + palavra invariável. Ex.:
z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo; abaixo-assinados.
z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais; Verbo + substantivo. Ex.: guarda-roupas.
38 z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão. Redução + substantivo. Ex.: bel-prazeres.
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Destacamos, ainda, que os substantivos compostos Atente-se: em palavras com hífen, pode-se optar
formados por pelo uso de maiúsculas ou minúsculas. Portanto, são
verbo + advérbio aceitas as formas Vice-Presidente, Vice-presidente e
verbo + substantivo plural vice-presidente; porém, é preciso manter a mesma
ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os saca-rolha. forma em todo o texto. Já nomes próprios compostos
por hífen devem ser escritos com as iniciais maiúscu-
Variação de Grau las, como em Grã-Bretanha e Timor-Leste.

A flexão de grau dos substantivos exprime a varia- ADJETIVOS


ção de tamanho dos seres, indicando um aumento ou
uma diminuição. Os adjetivos associam-se aos substantivos, garan-
tindo a estes um significado mais preciso. Os adjetivos
z Grau aumentativo: quando o acréscimo de sufixos podem indicar:
aos substantivos indicar um aumento de tamanho.
Ex.: bocarra, homenzarrão, gatarrão, cabeçorra, z Qualidade: professor chato;
fogaréu, boqueirão, poetastro; z Estado: aluno triste;
z Grau diminutivo: exprime, ao contrário do z Aspecto, aparência: estrada esburacada.
aumentativo, a diminuição do tamanho/proporção
do ser. Locuções Adjetivas
Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta,
pequenina, papelucho. As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor
dos adjetivos, indicando as mesmas características
Dica deles.
Elas são formadas por preposição + substantivo,
O emprego do grau aumentativo ou diminutivo referindo-se a outro substantivo ou expressão subs-
dos substantivos pode alterar o sentido das pala- tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo.
vras, podendo assumir um valor: A seguir, colocamos diferentes locuções adjeti-
Afetivo: filhinha / mãezona; vas ao lado da forma adjetiva, importantes para seu
Pejorativo: mulherzinha / porcalhão. estudo:

O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas z voo de águia / aquilino;


z poder de aluno / discente;
O novo acordo ortográfico estabelece novas regras z conselho de professores / docente;
para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso da z cor de chumbo / plúmbea;
inicial maiúscula. z luz da lua / lunar;
Dessa forma, devemos usar com letra maiúscula as z sangue de baço / esplênico;
iniciais das palavras que designam: z nervo do intestino / celíaco ou entérico;
z noite de inverno / hibernal ou invernal.
z Nomes, sobrenomes e apelidos de pessoas
reais ou imaginárias. Ex.: Gabriela, Silva, Xuxa, É importante destacar que, mais do que “decorar”
Cinderela; formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun-
z Nomes de cidades, países, estados, continentes damental reconhecer as principais características de
etc., reais ou imaginários. Ex.: Belo Horizonte, uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e
Ceará, Nárnia, Londres; apresentar valor de posse.
z Nomes de festividades. Ex.: Carnaval, Natal, Dia Ex.: Viu o crime pela abertura da porta;
das Crianças; A abertura de conta pode ser realizada on-line.
z Nomes de instituições e entidades. Ex.: Embai- Quando a locução adjetiva é composta pela prepo-
xada do Brasil, Ministério das Relações Exteriores, sição “de”, pode ser confundida com a locução adver-
Gabinete da Vice-Presidência, Organização das bial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importante
Nações Unidas; perceber que a locução adjetiva apresenta valor de
z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para
Cubas. Caso a obra apresente em seu título um ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da
nome próprio, como no exemplo dado, este tam- porta. Além disso, a locução destacada está caracteri-
bém deverá ser escrito com inicial maiúscula; zando o substantivo “abertura”.
z Nomenclatura legislativa especificada. Ex.: Lei Já na segunda frase, a locução destacada é adver-
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB); bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con-
LÍNGUA PORTUGUESA

z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da ta”, o que indica o valor de passividade da locução,
Vacina, Guerra Fria, Segunda Guerra Mundial; demonstrando seu caráter adverbial.
z Nome dos pontos cardeais e equivalentes. Ex.: As locuções adjetivas também desempenham fun-
Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Sudeste, Oriente, ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes,
Ocidente. Importante: os pontos cardeais são gra- numerais e orações substantivas.
fados com maiúsculas apenas quando utilizados Ex.: Amor de mãe; Café com açúcar.
indicando uma região. Ex.: Este ano vou conhecer Subst. — loc. adj. / subst. — loc. adj.
o Sul (O Sul do Brasil); quando utilizados indican- Já as locuções adverbiais desempenham função de
do uma direção, devem ser escritos com minúscu- advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos e
las. Ex.: Correu a América de norte a sul; orações adjetivas com esses valores.
z Siglas, símbolos ou abreviaturas. Ex.: ONU, INSS, Ex.: Morreu de fome; Agiu com rapidez.
Unesco, Sr., S (Sul), K (Potássio). Verbo — loc. adv. / verbo — loc. adv. 39
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Adjetivo de Relação Ex.: O candidato é o mais humilde dos concor-
rentes? (Superlativo relativo de superioridade).
No estudo dos adjetivos, é fundamental conhecer O candidato é o menos preparado entre os con-
o aspecto morfológico designado como “adjetivo de correntes à prefeitura (Superlativo relativo de
relação”, muito cobrado por bancas de concursos. inferioridade).
Para identificar um adjetivo de relação, observe as
seguintes características: Importante! Ao compararmos duas qualidades de
um mesmo ser, devemos empregar a forma analítica
z Seu valor é objetivo, não podendo, portanto, apre- (mais alta, mais magra, mais bonito etc.).
sentar meios de subjetividade. Ex.: Em “Menino
bonito”, o adjetivo não é de relação, já que é sub- Ex.: A modelo é mais alta que magra.
jetivo, pois a beleza do menino depende dos olhos
de quem o descreve; Porém, se uma mesma característica referir-se
z Posição posterior ao substantivo: os adjetivos de
a seres diferentes, empregamos a forma sintética
relação sempre são posicionados após o substanti-
(melhor, pior, menor etc.).
vo. Ex.: Casa paterna, mapa mundial;
z Derivado do substantivo: derivam-se do substan-
Ex.: Nossa sala é menor que a sala da diretoria.
tivo por derivação prefixal ou sufixal. Ex.: paternal
— pai; mundial — mundo;
z Não admitem variação de grau: os graus compara- Formação dos Adjetivos
tivo e superlativo não são admitidos. Ex.: Não pode
ser mapa “mundialíssimo” ou “pouco mundial”. Os adjetivos podem ser primitivos, derivados,
simples ou compostos.
Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presidente
americano (não é subjetivo; posicionado após o substan- z Primitivos: adjetivos que não derivam de outras
tivo; derivado de substantivo; não existe a forma variada palavras. A partir deles, é possível formar novos
em grau “americaníssimo”); plataforma petrolífera; eco- termos. Ex.: útil, forte, bom, triste, mau etc.;
nomia mundial; vinho francês; roteiro carnavalesco. z Derivados: são palavras que derivam de verbos
ou substantivos. Ex.: bondade, lealdade, mulhe-
Variação de Grau rengo etc.;
z Simples: apresentam um único radical. Ex.: portu-
O adjetivo pode variar em dois graus: compara- guês, escuro, honesto etc.;
tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas z Compostos: formados a partir da união de dois ou
respectivas categorias. mais radicais. Ex.: verde-escuro, luso-brasileiro,
amarelo-ouro etc.
z Grau comparativo: exprime a característica de
um ser, comparando-o com outro da mesma classe Dica
nos seguintes sentidos:
O plural dos adjetivos simples é realizado da
„ Igualdade: compara elementos colocando-os mesma forma que o plural dos substantivos.
em um mesmo patamar. Igual a, como, tanto
quanto, tão quanto. Ex.: Somos tão complexos Plural dos Adjetivos Compostos
quanto simplórios;
„ Superioridade: compara, evidenciando um O plural dos adjetivos compostos segue as seguin-
elemento como superior ao outro. Mais do que, tes regras:
melhor do que. Ex.: O amor é mais suficiente
do que o dinheiro; z Invariável:
„ Inferioridade: compara, evidenciando um ele-
mento como inferior ao outro. Menos do que, „ os adjetivos compostos azul-marinho, azul-ce-
pior do que. Ex.: Homens são menos engajados
leste, azul-ferrete;
do que mulheres.
„ locuções formadas de cor + de + substantivo,
como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui;
z Grau superlativo: em relação ao grau superlati-
„ adjetivo + substantivo, como tapetes azul-tur-
vo, é importante considerar que o valor semântico
quesa, camisas amarelo-ouro.
desse grau apresenta variações, podendo indicar:
z Varia o último elemento:
„ Característica de um ser elevada ao último
grau: superlativo absoluto, que pode ser analí-
tico (associado ao advérbio) ou sintético (asso- „ primeiro elemento é palavra invariável, como
ciação de prefixo ou sufixo ao adjetivo). em mal-educados, recém-formados;
Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo „ adjetivo + adjetivo, como em lençóis verde-cla-
absoluto analítico). ros, cabelos castanho-escuros.
O candidato é humílimo (Superlativo absoluto
sintético); Adjetivos Pátrios
„ Característica de um ser relacionada com
outros indivíduos da mesma classe: superla- Os adjetivos pátrios, também conhecidos como
tivo relativo, que pode ser de superioridade (o gentílicos, designam a naturalidade ou nacionalidade
40 mais) ou de inferioridade (o menos). de seres e objetos.
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O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense,
fluminense, cearense.

z Curiosidade: o adjetivo pátrio “brasileiro” é formado com o sufixo -eiro, que é costumeiramente usado para
designar profissões. O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercia-
lizavam o pau-brasil; esse ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos
em nosso país.

Veja a seguir alguns dos adjetivos pátrios de nosso país:

ADVÉRBIOS

Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, adjetivo ou outro advérbio. Em alguns casos, os
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advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância.


As gramáticas da língua portuguesa apresentam listas extensas com as funções dos advérbios. Porém, decorar as
funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na resolução de questões de concurso.
Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas aos advérbios para, a partir
delas, conseguir interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras.
Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio:

z Dúvida: talvez, caso, porventura, quiçá etc.;


z Intensidade: bastante, bem, mais, pouco etc.;
z Lugar: ali, aqui, atrás, lá etc.;
z Tempo: jamais, nunca, agora etc.;
z Modo: assim, depressa, devagar etc. 41
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Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos,
essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio, por isso, para identificar com mais pro-
priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Por quê?
As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou
orações adverbiais.
Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios:

z O homem morreu... de fome (causa) com sua família (companhia) em casa (lugar) envergonhado (modo);
z A criança comeu... demais (intensidade) ontem (tempo) com garfo e faca (instrumento) às claras (modo).

Locuções Adverbiais

Conjunto de duas ou mais palavras que pode desempenhar a função de advérbio, alterando o sentido de um
verbo, adjetivo ou advérbio.
A maioria das locuções adverbiais é formada por uma preposição e um substantivo. Há também as que são
formadas por preposição + adjetivos ou advérbios. Veja alguns exemplos:

z Preposição + substantivo: de novo. Ex.: Você poderia me explicar de novo? (de novo = novamente);
z Preposição + adjetivo: em breve. Ex.: Em breve, o filme estará em cartaz (em breve = brevemente);
z Preposição + advérbio: por ali. Ex.: Acho que ele foi por ali.

As locuções adverbiais são bem semelhantes às locuções adjetivas. É importante saber que as locuções adver-
biais apresentam um valor passivo.
Ex.: Ameaça de colapso.
Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passividade, ou seja, se inver-
temos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Veja:
Ex.: Colapso foi ameaçado.
Essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destacada anteriormente é
adverbial.
Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado
não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função:
Nação foi característica*. Essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz
passiva em termos com função de posse (caso das locuções adjetivas). Isso torna tal estrutura agramatical; por
isso, inserimos um asterisco para indicar essa característica.

Dica
Locuções adverbiais apresentam valor passivo.
Locuções adjetivas apresentam valor de posse.

Com essas dicas, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões. Buscamos desen-
volver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu tempo decorando listas de locuções adverbiais.
Lembre-se: o sentido está no texto.

Advérbios Interrogativos

Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa
confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo,
modo ou causa.
Ex.: Como foi a prova?
Quando será a prova?
Onde será realizada a prova?
Por que a prova não foi realizada?
De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi-
tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa.

Grau do Advérbio

Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo.
Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau:

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NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE
Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem
GRAU Mal Pior (mais mal*) - Tão mal
COMPARATIVO
Muito Mais - -
Pouco Menos - -

Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal.

ABSOLUTO ABSOLUTO
NORMAL RELATIVO
SINTÉTICO ANALÍTICO
Inferioridade
Bem Otimamente Muito bem
-
GRAU
SUPERLATIVO Superioridade
Mal Pessimamente Muito mal
-
Muito Muitíssimo - Superioridade: o mais
Superioridade: o
Pouco Pouquíssimo -
menos

Advérbios e Adjetivos

O adjetivo é uma classe de palavras variável. Porém, quando se refere a um verbo, ele fica invariável, confun-
dindo-se com o advérbio.
Nesses casos, para ter certeza de qual é a classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural;
caso a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo.
Ex.: O homem respondeu feliz à esposa.
Os homens responderam felizes às esposas.
Como “feliz” aceitou a flexão para o plural, trata-se de um adjetivo.
Agora, acompanhe o seguinte exemplo:
Ex.: A cerveja que desce redondo.
As cervejas que descem redondo.
Nesse caso, como a palavra continua invariável, trata-se de um advérbio.

Palavras Denotativas

São termos que apresentam semelhança com os advérbios; em alguns casos, são até classificados como tal, mas
não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio.
Sobre as palavras denotativas, é fundamental saber identificar o sentido a elas atribuído, pois, geralmente, é
isso que as bancas de concurso cobram.

z Eis: sentido de designação;


z Isto é, por exemplo, ou seja: sentido de explicação;
z Ou melhor, aliás, ou antes: sentido de ratificação;
z Somente, só, salvo, exceto: sentido de exclusão;
z Além disso, inclusive: sentido de inclusão.

Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma
ser + que (é que). A principal característica dessas palavras é que elas podem ser retiradas sem causar prejuízo
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sintático ou semântico à frase.


Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras.
Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá, não, é porque etc.

Algumas Observações Interessantes

z O adjunto adverbial sempre deve vir posicionado após o verbo ou complemento verbal. Caso venha deslocado,
em geral, separamos por vírgulas. Ex.: Na reunião de ontem, o pedido foi aprovado (O pedido foi aprovado
na reunião de ontem);
z Em uma sequência de advérbios terminados com o sufixo -mente, apenas o último elemento recebe a termi-
nação destacada. Ex.: A questão precisa ser pensada política e socialmente. 43
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PRONOMES Não devemos usar pronomes do caso reto como
objeto ou complemento verbal, como em “mate ele”.
Pronomes são palavras que representam ou acom- Contudo, o gramático Celso Cunha destaca que é pos-
panham um termo substantivo. Dessa forma, a função sível usar os pronomes do caso reto como comple-
dos pronomes é substituir ou determinar uma pala- mento verbal, desde que antecedidos pelos vocábulos
vra. Eles indicam pessoas, relações de posse, indefini- “todos”, “só”, “apenas” ou “numeral”.
ção, quantidade, localização no tempo, no espaço e no Ex.: Encontrei todos eles na festa. Encontrei ape-
meio textual, entre outras funções. nas ela na festa.
Os pronomes exercem papel importante na análi- Após a preposição “entre”, em estrutura de recipro-
se sintática e também na interpretação textual, pois cidade, devemos usar os pronomes oblíquos tônicos.
colaboram para a complementação de sentido de ter- Ex.: Entre mim e ele não há segredos.
mos essenciais da oração, além de estruturar a orga-
nização textual, contribuindo para a coesão e também Pronomes de Tratamento
para a coerência de um texto.
Os pronomes de tratamento são formas que expres-
Pronomes Pessoais sam uma hierarquia social institucionalizada linguis-
ticamente. As formas de pronomes de tratamento
Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- apresentam algumas peculiaridades importantes:
curso. Acompanhe a tabela a seguir, com mais infor-
mações sobre eles: z Vossa: designa a pessoa a quem se fala (relativo à
2ª pessoa). Apesar disso, os verbos relacionados a
PRONOMES DO PRONOMES DO esse pronome devem ser flexionados na 3ª pessoa
PESSOAS do singular.
CASO RETO CASO OBLÍQUO
Ex.: Vossa Excelência deve conhecer a Constituição;
1ª pessoa do Me, mim, z Sua: designa a pessoa de quem se fala (relativo à
Eu
singular comigo 3ª pessoa).
2ª pessoa do Ex.: Sua Excelência, o presidente do Supremo Tri-
Tu Te, ti, contigo bunal, fará um pronunciamento hoje à noite.
singular
3ª pessoa do Se, si, consigo
Ele/Ela Os pronomes de tratamento estabelecem uma hie-
singular o, a, lhe
rarquia social na linguagem, ou seja, a partir das for-
1ª pessoa do mas usadas, podemos reconhecer o nível de discurso
Nós Nos, conosco
plural e o tipo de poder instituídos pelos falantes.
2ª pessoa do Por isso, alguns pronomes de tratamento só devem
Vós Vos, convosco ser utilizados em contextos cujos interlocutores sejam
plural
reconhecidos socialmente por suas funções, como juí-
3ª pessoa do Se, si, consigo zes, reis, clérigos, entre outras.
Eles/Elas
plural os, as, lhes Dessa forma, apresentamos alguns pronomes de
tratamento, seguidos de sua abreviatura e das funções
sociais que designam:
Os pronomes pessoais do caso reto costumam
substituir o sujeito.
z Vossa Alteza (V. A.): príncipes, duques, arquidu-
Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito.
ques e seus respectivos femininos;
Já os pronomes pessoais oblíquos costumam fun-
z Vossa Eminência (V. Ema.): cardeais;
cionar como complemento verbal ou adjunto.
z Vossa Excelência (V. Exa.): autoridades do gover-
Ex.: Eu a vi com o namorado; Maura saiu comigo.
no e das Forças Armadas membros do alto escalão;
z Vossa Majestade (V. M.): reis, imperadores e seus
z Os pronomes que estarão relacionados ao obje- respectivos femininos;
to direto são: o, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.: z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): sacerdotes;
Informei-o sobre todas as questões; z Vossa Senhoria (V. Sa.): funcionários públicos gra-
z Já os que se relacionam com o objeto indireto são: duados, oficiais até o posto de coronel, tratamento
lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos — complementados cerimonioso a comerciantes importantes;
por preposição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo z Vossa Santidade (V. S.): papa;
a ele). z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Rev-
ma.): bispos.
Lembre-se de que todos os pronomes pessoais são
pronomes substantivos. Os exemplos apresentados fazem referência a pro-
Além disso, é importante saber que “eu” e “tu” não nomes de tratamento e suas respectivas designações
podem ser regidos por preposição e que os pronomes sociais conforme indica o Manual de Redação oficial
“ele(s)”, “ela(s)”, “nós” e “vós” podem ser retos ou oblí- da Presidência da República. Portanto, essas designa-
quos, dependendo da função que exercem. ções devem ser seguidas com atenção quando o gêne-
Os pronomes oblíquos tônicos são precedidos de ro textual abordado for um gênero oficial.
preposição e costumam ter função de complemento: Ainda sobre o assunto, veja algumas observações:

z 1ª pessoa: mim, comigo (singular); nós, conosco z Sobre o uso das abreviaturas das formas de tra-
(plural); tamento é importante destacar que o plural de
z 2ª pessoa: ti, contigo (singular); vós, convosco (plural); algumas abreviaturas é feito com letras dobradas,
z 3ª pessoa: si, consigo (singular ou plural); ele(s), como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. Porém, na
ela(s). maioria das abreviaturas terminadas com a letra
44
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a, o plural é feito com o acréscimo do s: V. Exa. / V. z 1ª pessoa: este, estes / esta, estas;
Exas.; V. Ema. / V.Emas.; z 2ª pessoa: esse, esses / essa, essas;
z O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri- z 3ª pessoa: aquele, aqueles / aquela, aquelas;
tíssimo Juiz; z Invariáveis: isto, isso, aquilo.
z O tratamento dispensado ao Presidente da Repú-
blica nunca deve ser abreviado. Usamos este, esta, isto para indicar:

Pronomes Indefinidos � Referência ao espaço físico, indicando a proximi-


dade de algo ao falante.
Os pronomes indefinidos indicam quantidade de Ex.: Esta caneta aqui é minha. Entreguei-lhe isto
maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª pes- como prova;
soa do discurso. Os pronomes indefinidos podem variar � Referência ao tempo presente.
e podem ser invariáveis. Observe a seguinte tabela: Ex.: Esta semana começarei a dieta. Neste mês,
pagarei a última prestação da casa;
� Referência ao espaço textual.
PRONOMES INDEFINIDOS3
Ex.: Encontrei Joana e Carla no shopping; esta pro-
Variáveis Invariáveis curava um presente para o marido (o pronome
Algum, alguma, alguns, algumas Alguém refere-se ao último termo mencionado).

Nenhum, nenhuma, nenhuns, Este artigo científico pretende analisar... (o prono-


Ninguém
nenhumas me “este” refere-se ao próprio texto).
Todo, toda, todos, todas Quem Usamos esse, essa, isso para indicar:
Outro, outra, outros, outras Outrem
z Referência ao espaço físico, indicando o afasta-
Muito, muita, muitos, muitas Algo mento de algo de quem fala.
Pouco, pouca, poucos, poucas Tudo Ex.: Essa sua gravata combinou muito com você;
z Indicar distância que se deseja manter.
Certo, certa, certos, certas Nada Ex.: Não me fale mais nisso. A população não con-
Vários, várias Cada fia nesses políticos;
z Referência ao tempo passado.
Quanto, quanta, quantos, quantas Que Ex.: Nessa semana, eu estava doente. Esses dias
Tanto, tanta, tantos, tantas - estive em São Paulo;
Qualquer, quaisquer - z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala.
Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter
Qual, quais - falado sobre isso. Sinto uma energia negativa nes-
Um, uma, uns, umas - sa expressão utilizada.

Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar:


As palavras certo e bastante serão pronomes
indefinidos quando vierem antes do substantivo, e � Referência ao espaço físico, indicando afastamen-
serão adjetivos quando vierem depois. to de quem fala e de quem ouve.
Ex.: Busco certo modelo de carro (pronome Ex.: Margarete, quem é aquele ali perto da porta?
indefinido). � Referência a um tempo muito remoto, um passa-
Busco o modelo de carro certo (adjetivo). do muito distante.
A palavra bastante frequentemente gera dúvida Ex.: Naquele tempo, podíamos dormir com as por-
quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini- tas abertas. Bons tempos aqueles!
do. Por isso, atente-se ao seguinte: � Referência a um afastamento afetivo.
Ex.: Não conheço mais aquela mulher;
z Bastante (advérbio): será invariável e equivalen- � Referência ao espaço textual, indicando o pri-
te ao termo “muito”. meiro termo de uma relação expositiva.
Ex.: Elas são bastante famosas; Ex.: Saí para lanchar com Ana e Beatriz. Esta prefe-
z Bastante (adjetivo): será variável e equivalente riu beber chá; aquela, refrigerante.
ao termo “suficiente”.
Ex.: A comida e a bebida não foram bastantes para Dica
a festa;
z Bastante (pronome indefinido): concorda com O pronome “mesmo” não pode ser usado em fun-
o substantivo, indicando grande, porém incerta, ção demonstrativa referencial. Veja:
LÍNGUA PORTUGUESA

quantidade de algo. Errado: O candidato fez a prova, porém o mesmo


Ex.: Bastantes bancos aumentaram os juros. esqueceu de preencher o gabarito.
Correto: O candidato fez a prova, porém esque-
Pronomes Demonstrativos ceu de preencher o gabarito.

Os pronomes demonstrativos indicam a posição e Pronomes Relativos


apontam elementos a que se referem as pessoas do
discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa- Uma das classes de pronomes mais complexas, os
da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço pronomes relativos têm função muito importante na
textual. língua, refletida em assuntos de grande relevância

3 Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/pronomes-indefinidos-e-interrogativos-nenhum-outro-qualquer-quem-


quanto-qual.htm. Acesso em: 14 jul. 2020. 45
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em concursos, como a análise sintática. Dessa forma, usado em substituição a outros pronomes relati-
é essencial conhecer adequadamente a função desses vos, sobretudo o “que”, a fim de evitar fenômenos
elementos, a fim de saber utilizá-los corretamente. linguísticos, como o “queísmo”.
Os pronomes relativos referem-se a um substantivo Ex.: O Brasil tem um passado do qual (que) nin-
ou a um pronome substantivo mencionado anterior- guém se lembra.
mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio-
nado anteriormente) chamamos de antecedente. O pronome “o qual” pode auxiliar na compreensão
São pronomes relativos: textual, desfazendo estruturas ambíguas.

z Variáveis: o qual, os quais, cujo, cujos, quan- Pronomes Interrogativos


to, quantos / a qual, as quais, cuja, cujas, quanta,
quantas; São utilizados para introduzir uma pergunta ao texto.
z Invariáveis: que, quem, onde, como; Apresentam-se de formas variáveis (Que? Quais?
z Emprego do pronome relativo que: pode ser asso- Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?).
ciado a pessoas, coisas ou objetos. Ex.: O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade?
Ex.: Encontrei o homem que desapareceu. O Quantos anos tem seu pai?
cachorro que estava doente morreu. A caneta que O ponto de interrogação só é usado nas interroga-
emprestei nunca recebi de volta. tivas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção
� Em alguns casos, há a omissão do antecedente do interrogativa, indicada por verbos como perguntar,
relativo “que”. indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela.
Ex.: Não teve que dizer (não teve nada que dizer). Atenção: Os pronomes interrogativos que e quem
� Emprego do relativo quem: seu antecedente deve são pronomes substantivos, pois substituem os subs-
ser uma pessoa ou objeto personificado. tantivos, dando fluidez à leitura.
Ex.: Fomos nós quem fizemos o bolo. Ex.: O tempo, que estava instável, não permitiu a
� O pronome relativo quem pode fazer referência realização da atividade (O tempo não permitiu a reali-
a algo subentendido: quem cala consente (aquele zação da atividade. O tempo estava instável)4.
que cala).
� Emprego do relativo quanto: seu antecedente Pronomes Possessivos
deve ser um pronome indefinido ou demonstrati-
vo; pode sofrer flexões. Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do
Ex.: Esqueci-me de tudo quanto foi me ensinado. discurso e indicam posse. Observe a tabela a seguir:
Perdi tudo quanto poupei a vida inteira.
� Emprego do relativo cujo: deve ser empregado 1ª pessoa Meu, minha / meus, minhas
para indicar posse e aparecer relacionando dois SINGULAR 2ª pessoa Teu, tua / teus, tuas
termos que devem ser um possuidor e uma coisa 3ª pessoa Seu, sua / seus, suas
possuída.
Ex.: A matéria cuja aula faltei foi língua portugue- 1ª pessoa Nosso, nossa / nossos, nossas
sa — o relativo cuja está ligando aula (possuidor) à PLURAL 2ª pessoa Vosso, vossa / vossos, vossas
matéria (coisa possuída). 3ª pessoa Seu, sua / seus, suas

O relativo cujo deve concordar em gênero e núme- Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o,
ro com a coisa possuída. a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo
Jamais devemos inserir um artigo após o pronome a uma coisa.
cujo: Cujo o, cuja a Ex.: Apertou-lhe a mão (a sua mão). Ainda que o
Não podemos substituir cujo por outro pronome pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a relação
relativo. do pronome é com o objeto da posse.
O pronome relativo cujo pode ser preposicionado. Outras funções dos pronomes possessivos:
Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri.
Para encontrar o possuidor, faça-se a seguinte per- z delimitam o substantivo a que se referem;
gunta: “de quem/do que?” z concordam com o substantivo que vem depois
Ex.: Vi o filme cujo diretor ganhou o Óscar (Diretor dele;
do que? Do filme). z não concordam com o referente;
Vi o rapaz cujas pernas você se referiu (Pernas de z o pronome possessivo que acompanha o substan-
quem? Do rapaz). tivo exerce função sintática de adjunto adnominal.

� Emprego do pronome relativo onde: empregado Colocação Pronominal


para indicar locais físicos.
Ex.: Conheci a cidade onde meu pai nasceu. Estudo da posição dos pronomes na oração.
� Em alguns casos, pode ser preposicionado, assu-
mindo as formas aonde e donde. z Próclise: pronome posicionado antes do verbo.
Ex.: Irei aonde você for. Casos que atraem o pronome para próclise:
� O relativo “onde” pode ser empregado sem
antecedente. „ Palavras negativas: nunca, jamais, não. Ex.:
Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém. Não me submeto a essas condições.
� Emprego de o qual: o pronome relativo “o qual” „ Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela-
e suas variações (os quais, a qual, as quais) é tivos. Ex.: Foi ela que me colocou nesse papel.

46 4 Exemplo disponível em: https://www.todamateria.com.br/pronomes-substantivos/. Acesso em: 30. jul. 2021.


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„ Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se z Subjuntivo: o modo subjuntivo exprime atitude
apresente como um rico investidor, ele nada tem. de dúvida, desejo ou possibilidade.
„ Gerúndio, precedido da preposição em. Ex.: Em Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado.
se tratando de futebol, Maradona foi um ídolo. z Imperativo: o modo imperativo designa ordem,
„ Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.: Na espe- convite, conselho, súplica ou pedido.
rança de sermos ouvidos, muito lhe agradecemos. Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado.
„ Orações interrogativas, exclamativas, optati-
vas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes! Tempos

z Mesóclise: pronome posicionado no meio do verbo. O tempo designa o recorte temporal em que a ação
Casos que atraem o pronome para mesóclise: verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar
o tempo dessa ação no passado, presente ou futuro.
„ os pronomes devem ficar no meio dos verbos Existem, entretanto, ramificações específicas. Observe
que estejam conjugados no futuro, caso não haja a seguir:
nenhum motivo para uso da próclise. Ex.: Dar-te-
-ei meus beijos agora... / Orgulhar-me-ei dos nos-
z Presente:
sos estudantes.

z Ênclise: pronome posicionado após o verbo. Casos Pode expressar não apenas um fato atual, como
que atraem o pronome para ênclise: também uma ação habitual. Ex.: Estudo todos os dias
no mesmo horário.
„ Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me muito Uma ação passada. Ex.: Vargas assume o cargo e
honrada com esse título. instala uma ditadura.
„ Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por favor. Uma ação futura. Ex.: Amanhã, estudo mais!
„ Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o quan- (equivalente a estudarei).
to sou importante.
z Passado:
Casos proibidos:
„ Pretérito perfeito: ação realizada plenamente
„ Início de frase: Me dá esse caderno! (errado) / no passado.
Dá-me esse caderno! (certo). Ex.: Estudei até ser aprovado.
„ Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lem- „ Pretérito imperfeito: ação inacabada, que
brou de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-se pode indicar uma ação frequentativa, vaga ou
de nada (correto). durativa.
„ Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato Ex.: Estudava todos os dias.
(errado) / Tinha se lembrado do fato (correto). „ Pretérito mais-que-perfeito: ação anterior à
outra mais antiga.
VERBOS Ex.: Quando notei (passado), a água já trans-
bordara (ação anterior) da banheira.
Certamente, a classe de palavras mais complexa e
importante dentre as palavras da língua portuguesa é o z Futuro:
verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações e
os agentes desses atos, além de ser uma importante clas- „ Futuro do presente: indica um fato que deve
se sempre abordada nos editais de concursos; por isso, ser realizado em um momento vindouro.
atente-se às nossas dicas. Ex.: Estudarei bastante ano que vem.
Os verbos são palavras variáveis que se flexionam „ Futuro do pretérito: expressa um fato poste-
em número, pessoa, modo e tempo, além da designação rior em relação a outro fato já passado.
da voz que exprime uma ação, um estado ou um fato.
Ex.: Estudaria muito, se tivesse me planejado.
As flexões verbais são marcadas por desinências, que
podem ser:
A partir dessas informações, podemos também
identificar os verbos conjugados nos tempos simples
z Número-pessoal: indicando se o verbo está no sin-
gular ou plural, bem como em qual pessoa verbal foi e nos tempos compostos. Os tempos verbais simples
flexionado (1ª, 2ª ou 3ª); são formados por uma única palavra, ou verbo, conju-
z Modo-temporal: indica em qual modo e tempo ver- gado no presente, passado ou futuro.
bais a ação foi realizada. Já os tempos compostos são formados por dois
verbos, um auxiliar e um principal; nesse caso, o ver-
bo auxiliar é o único a sofrer flexões.
LÍNGUA PORTUGUESA

Iremos apresentar essas desinências a seguir. Antes,


porém, de abordarmos as desinências modo-temporais, Agora, vamos conhecer as desinências modo-tem-
precisamos explicar o que são modo e tempo verbais. porais dos tempos simples e compostos, respectiva-
mente:
Modos
Flexões Modo-Temporais — Tempos Simples
Indica a atitude da ação/do sujeito frente a uma
relação enunciada pelo verbo. MODO MODO
TEMPO
INDICATIVO SUBJUNTIVO
z Indicativo: o modo indicativo exprime atitude de -e (1ª conjuga-
certeza. Presente * ção) e -a (2ª e 3ª
Ex.: Estudei muito para ser aprovado. conjugações)
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Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses.
MODO MODO
TEMPO Quando cheguei, ela já tinha partido.
INDICATIVO SUBJUNTIVO
Ele tinha aberto a janela.
-ra (3ª pessoa Ela tinha pago a conta.
Pretérito perfeito *
do plural) z Infinitivo: forma verbal que indica a própria ação
-va (1ª conjuga- do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno desig-
Pretérito nado. Pode ser pessoal ou impessoal:
ção) -ia (2ª e 3ª -sse
imperfeito
conjugações)
„ Pessoal: o infinitivo pessoal é passível de con-
Pretérito mais-
-ra * jugação, pois está ligado às pessoas do discurso.
-que-perfeito
É usado na formação de orações reduzidas. Ex.:
Futuro -rá e -re -r comer eu. Comermos nós. É para aprenderem
Futuro do que ele ensina;
-ria * „ Impessoal: não é passível de flexão. É o nome
pretérito
do verbo, servindo para indicar apenas a con-
jugação. Ex.: estudar — 1ª conjugação; comer
*Nem todas as formas verbais apresentam desi- — 2ª conjugação; partir — 3ª conjugação.
nências modo-temporais.
O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou
Flexões Modo-Temporais — Tempos Compostos orações reduzidas.
(Indicativo) Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver-
bos que funcionam como um verbo.
z Pretérito perfeito composto: verbo auxiliar: ter Ex.: Ter de + verbo principal no infinitivo: Ter de
(presente do indicativo) + verbo principal particípio. trabalhar para pagar as contas.
Ex.: Tenho estudado. Haver de + verbo principal no infinitivo: Havemos
� Pretérito mais-que-perfeito composto: verbo de encontrar uma solução.
auxiliar: ter (pretérito imperfeito do indicativo) +
verbo principal no particípio.
Ex.: Tinha passado.
Dica
� Futuro composto: verbo auxiliar: ter (futuro do Não confunda locuções verbais com tempos
indicativo) + verbo principal no particípio. compostos. O particípio formador de tempo
Ex.: Terei saído. composto na voz ativa não se flexiona. Ex.: O
� Futuro do pretérito composto: verbo auxiliar: homem teria realizado sua missão.
ter (futuro do pretérito simples) + verbo principal
no particípio. Classificação dos Verbos
Ex.: Teria estudado.
Os verbos são classificados quanto a sua forma
Flexões Modo-Temporais — Tempos Compostos de conjugação e podem ser divididos em: regulares,
(Subjuntivo) irregulares, anômalos, abundantes, defectivos, prono-
minais, reflexivos, impessoais e auxiliares, além das
� Pretérito perfeito composto: verbo auxiliar: ter formas nominais. Vamos conhecer as particularida-
(presente do subjuntivo) + verbo principal particípio. des de cada um a seguir:
Ex.: (que eu) Tenha estudado.
� Pretérito mais-que-perfeito composto: verbo z Regulares: os verbos regulares são os mais fáceis
auxiliar: ter (pretérito imperfeito do subjuntivo) + de compreender, pois apresentam regularidade no
verbo principal no particípio. uso das desinências, ou seja, das terminações ver-
Ex.: (se eu) Tivesse estudado. bais. Da mesma forma, os verbos regulares man-
� Futuro composto: verbo auxiliar: ter (futuro sim- têm o paradigma morfológico com o radical, que
ples do subjuntivo) + verbo principal no particípio. permanece inalterado. Ex.: verbo cantar:
Ex.: (quando eu) Tiver estudado.
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais — INDICATIVO — INDICATIVO

As formas nominais do verbo são as formas no Eu canto Cantei


infinitivo, particípio e gerúndio que eles assumem em Tu cantas Cantaste
determinados contextos. São chamadas nominais pois Ele/ você canta Cantou
funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios.
Nós cantamos Cantamos
z Gerúndio: marcado pela terminação -ndo. Seu Vós cantais Cantastes
valor indica duração de uma ação e, por vezes,
Eles/ vocês cantam Cantaram
pode funcionar como um advérbio ou um adjetivo.
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se
compadeceu. z Irregulares: os verbos irregulares apresentam
z Particípio: marcado pelas terminações mais alteração no radical e nas desinências verbais.
comuns -ado, -ido, podendo terminar também em Por isso, recebem esse nome, pois sua conjugação
-do, -to, -go, -so, -gue. Corresponde nominalmente ocorre irregularmente, seguindo um paradigma
ao adjetivo; pode flexionar-se, em alguns casos, em próprio para cada grupo verbal.
número e gênero.
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Perceba a seguir como ocorre uma sutil diferença
PARTICÍPIO PARTICÍPIO
na conjugação do verbo estar, que utilizamos como INFINITIVO
REGULAR IRREGULAR
exemplo. Isso é importante para não confundir os ver-
bos irregulares com os verbos anômalos. Ex.: verbo Eleger Elegido Eleito
estar: Encher Enchido Cheio
Entregar Entregado Entregue
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
— INDICATIVO — INDICATIVO Morrer Morrido Morto
Eu estou Estive Expelir Expelido Expulso
Tu estás Estiveste Enxugar Enxugado Enxuto
Ele/ você está Esteve Findar Findado Findo
Nós estamos Estivemos Fritar Fritado Frito
Vós estais Estivestes Ganhar Ganhado Ganho
Eles/ vocês estão Estiveram Gastar Gastado Gasto
Imprimir Imprimido Impresso
z Anômalos: esses verbos apresentam profundas Inserir Inserido Inserto
alterações no radical e nas desinências verbais,
Isentar Isentado Isento
consideradas anomalias morfológicas; por isso,
recebem essa classificação. Um exemplo bem Juntar Juntado Junto
usual de verbo dessa categoria é o verbo “ser”. Na Limpar Limpado Limpo
língua portuguesa, apenas dois verbos são classifi-
Matar Matado Morto
cados dessa forma: os verbos ser e ir.
Omitir Omitido Omisso
Vejamos a conjugação o verbo “ser”: Pagar Pagado Pago
Prender Prendido Preso
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
— INDICATIVO — INDICATIVO Romper Rompido Roto
Eu sou Fui Salvar Salvado Salvo
Tu és Foste Secar Secado Seco
Ele / você é Foi Submergir Submergido Submerso
Nós somos Fomos Suspender Suspendido Suspenso
Vós sois Fostes Tingir Tingido Tinto
Eles / vocês são Foram Torcer Torcido Torto

Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresen- PARTICÍPIO PARTICÍPIO


INFINITIVO
tam uma forma específica de irregularidade que oca- REGULAR IRREGULAR
siona uma anomalia em sua conjugação. Por isso, são Eu já tinha aceitado
classificados como anômalos. Aceitar O convite foi aceito
o convite

z Abundantes: são formas verbais abundantes os Aviso quando


verbos que apresentam mais de uma forma de Entregar tiver entregado a Está entregue!
particípio aceitas pela norma culta gramatical. encomenda
Geralmente, apresentam uma forma de particípio Quando chegou,
Havia morrido há
regular e outra irregular. Vejamos alguns verbos Morrer encontrou o animal
dias
abundantes: morto
A bala foi expelida Esta é a bala
PARTICÍPIO PARTICÍPIO Expelir
INFINITIVO por aquela arma expulsa
REGULAR IRREGULAR
Tinha enxugado a
Absolver Absolvido Absolto Enxugar louça quando o pro- A roupa está enxuta
Abstrair Abstraído Abstrato grama começou
LÍNGUA PORTUGUESA

Aceitar Aceitado Aceito Depois de ter fin-


Findar dado o trabalho, Trabalho findo!
Benzer Benzido Bento
descansou
Cobrir Cobrido Coberto
Se tivesse imprimi-
Completar Completado Completo Onde está o docu-
Imprimir do tínhamos como
mento impresso?
Confundir Confundido Confuso provar
Demitir Demitido Demisso Eu tinha limpado a
Limpar Que casa tão limpa!
casa
Despertar Despertado Desperto
Dispersar Dispersado Disperso
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climático. Ex.: Faz anos que estudo pintura.
PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO Aqui faz muito calor;
REGULAR IRREGULAR
„ Os verbos impessoais não apresentam sujei-
Dados importantes to; sintaticamente, classifica-se como sujeito
Informações esta-
Omitir tinham sido omiti- inexistente;
vam omissas
dos por ela „ O verbo ser será impessoal quando o espa-
Após ter submer- Deixe os legumes ço sintático ocupado pelo sujeito não estiver
Submergir gido os legumes, submersos por preenchido: “Já é natal”. Segue o mesmo para-
reparou no amigo alguns minutos digma do verbo fazer, podendo ser impessoal,
também, o verbo ir: “Vai uns bons anos que
Nunca tinha sus- Você está
Suspender não vejo Mariana”.
pendido ninguém suspenso!
z Auxiliares: os verbos auxiliares são empregados
z Defectivos: são verbos que não apresentam algu- nas formas compostas dos verbos e também nas
mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando locuções verbais. Os principais verbos auxiliares
um “defeito” na conjugação (por isso, o nome). dos tempos compostos são ter e haver.
Alguns exemplos de defectivos são os verbos colo-
rir, precaver, reaver etc. Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a
concordância verbal; porém, o verbo principal deter-
Esses verbos não são conjugados na primeira pes- mina a regência estabelecida na oração.
soa do singular do presente do indicativo, bem como: Apresentam forte carga semântica que indica
aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder, modo e aspecto da oração. São importantes na forma-
fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo- ção da voz passiva analítica.
rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer.
Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme- z Formas Nominais: na língua portuguesa, usamos
nos temporais também apresentam essa característi- três formas nominais dos verbos:
ca, como latir, bramir, chover.
„ Gerúndio: terminação -ndo. Apresenta valor
z Pronominais: esses verbos apresentam um prono- durativo da ação e equivale a um advérbio ou
me oblíquo átono integrando sua forma verbal. É adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando;
importante lembrar que esses pronomes não apre- „ Particípio: terminações -ado, -ido, -do, -to, -go,
sentam função sintática. Predominantemente, os -so. Apresenta valor adjetivo e pode ser classi-
verbos pronominais apresentam transitividade ficado em particípio regular e irregular, sendo
indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se. as formas regulares finalizadas em -ado e -ido.

PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO A norma culta gramatical recomenda o uso do par-


— INDICATIVO — INDICATIVO ticípio regular com os verbos “ter” e “haver”. Já com
Eu me sento Sentei-me os verbos “ser” e “estar”, recomenda-se o uso do par-
ticípio irregular.
Tu te sentas Sentaste-te Ex.: Os policiais haviam expulsado os bandidos /
Ele/ você se senta Sentou-se Os traficantes foram expulsos pelos policiais.
Nós nos sentamos Sentamo-nos
„ Infinitivo: marca as conjugações verbais.
Vós vos sentais Sentastes-vos
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se AR: verbos que compõem a 1ª conjugação (amar,
passear);
ER: verbos que compõem a 2ª conjugação (comer,
z Reflexivos: verbos que apresentam pronome oblí-
pôr);
quo átono reflexivo, funcionando sintaticamen-
IR: verbos que compõem a 3ª conjugação (partir,
te como objeto direto ou indireto. Nesses verbos,
sair).
o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao mesmo
tempo. Ex.: Ela se veste mal. Nós nos cumprimen-
tamos friamente; Dica
z Impessoais: verbos que designam fenômenos da O verbo “pôr” corresponde à segunda conjuga-
natureza, como chover, trovejar, nevar etc. ção, pois origina-se do verbo “poer”.
O mesmo acontece com verbos que deste
„ O verbo haver, com sentido de existir ou marcan-
derivam.
do tempo decorrido, também será impessoal. Ex.:
Havia muitos candidatos e poucas vagas. Há dois
Vozes Verbais
anos, fui aprovado em concurso público;
„ Os verbos ser e estar também são verbos
As vozes verbais definem o papel do sujeito na
impessoais quando designam fenômeno climá-
oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação
tico ou tempo. Ex.: Está muito quente! / Era tar-
verbal ou se ele recebe a ação verbal. Dividem-se em:
de quando chegamos;
„ O verbo ser para indicar hora, distância ou
data concorda com esses elementos; � Ativa: o sujeito é o agente, praticando a ação
„ O verbo fazer também poderá ser impessoal, verbal.
quando indicar tempo decorrido ou tempo Ex.: O policial deteve os bandidos;
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� Passiva: o sujeito é paciente, ou seja, sofre a ação z Pronome reflexivo: na função de pronome refle-
verbal. xivo, a partícula “se” indicará reflexão ou reciproci-
Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial — dade, auxiliando a construção dessas vozes verbais,
passiva analítica; respectivamente. Nessa função, suas principais
� Detiveram-se os criminosos — passiva sintética. características são:
� Reflexiva: o sujeito é agente e paciente ao mesmo
tempo, pois pratica e recebe a ação verbal. „ sujeito recebe e pratica a ação;
Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. / O „ funcionará, sintaticamente, como objeto direto ou
menino se agrediu; indireto;
� Recíproca: o sujeito é agente e paciente ao mes- „ o sujeito da frase poderá estar explícito ou
mo tempo, porém há uma ação compartilhada implícito.
entre dois indivíduos. A ação pode ser comparti-
lhada entre dois ou mais indivíduos que praticam Ex.: Ele se via no espelho (explícito). Deu-se um pre-
e sofrem a ação. sente de aniversário (implícito).
Ex.: Os bandidos se olharam antes do julga-
mento. / Apesar do ódio mútuo, os candidatos se z Parte integrante do verbo: nesses casos, o “se” será
cumprimentaram. parte integrante dos verbos pronominais, acompa-
nhando-o em todas as suas flexões. Quando o “se”
A voz passiva é realizada a partir da troca de funções exerce essa função, jamais terá uma função sintática.
entre sujeito e objeto da voz ativa. Só podemos transfor- Além disso, o sujeito da frase poderá estar explícito
mar uma frase da voz ativa para a voz passiva se o verbo ou implícito.
for transitivo direto ou transitivo direto e indireto. Logo, Ex.: (Ele/a) Lembrou-se da mãe, quando olhou a filha;
só há voz passiva com a presença do objeto direto. z Partícula de realce: será partícula de realce o “se”
Importante! Não confunda os verbos pronomi- que puder ser retirado do contexto sem prejuízo no
nais com as vozes verbais. Os verbos pronominais sentido e na compreensão global do texto. A par-
que indicam sentimentos, como arrepender-se, quei- tícula de realce não exerce função sintática, pois é
xar-se, dignar-se, entre outros, acompanham um desnecessária.
pronome que faz parte integrante do seu significado, Ex.: Vão-se os anéis, ficam-se os dedos;
diferentemente das vozes verbais, que acompanham z Conjunção: o “se” será conjunção condicional quan-
o pronome “se” com função sintática própria. do sugerir a ideia de condição. A conjunção “se” exer-
ce função de conjunção integrante, apenas ligando
Outras Funções do “Se” as orações, e poderá ser substituído pela conjunção
“caso”.
Como vimos, o “se” pode funcionar como item Ex.: Se ele estudar, será aprovado. (Caso ele estudar,
essencial na voz passiva. Além dessa função, esse ele- será aprovado).
mento também acumula outras atribuições:
Conjugação de Verbos Derivados
z Partícula apassivadora: a voz passiva sintética
é feita com verbos transitivos direto (TD) ou tran- Verbo derivado é aquele que deriva de um verbo
sitivos direto indireto (TDI). Nessa voz, incluímos primitivo; para trabalhar a conjugação desses verbos, é
o “se” junto ao verbo, por isso, o elemento “se” é importante ter clara a conjugação de seus “originários”.
designado partícula apassivadora, nesse contexto. Atente-se à lista de verbos irregulares e de algumas
Ex.: Busca-se a felicidade (voz passiva sintética) — de suas derivações a seguir, pois são assuntos relevantes
“Se” (partícula apassivadora). em provas diversas:

O “se” exercerá essa função apenas: z Pôr: repor, propor, supor, depor, compor, expor;
z Ter: manter, conter, reter, deter, obter, abster-se;
„ com verbos cuja transitividade seja TD ou TDI; z Ver: antever, rever, prever;
„ com verbos que concordam com o sujeito; z Vir: intervir, provir, convir, advir, sobrevir.
„ com a voz passiva sintética.
Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga-
Atenção: na voz passiva nunca haverá objeto dire- ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com-
to (OD), pois ele se transforma em sujeito paciente. preensão dessas conjugações verbais.
O verbo criar é conjugado da mesma forma que os
z Índice de indeterminação do sujeito: o “se” fun- verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais que
cionará nessa condição quando não for possível terminam em -iar. Os verbos com essa terminação são,
LÍNGUA PORTUGUESA

identificar o sujeito explícito ou subentendido. predominantemente, regulares.


Além disso, não podemos confundir essa função
do “se” com a de apassivador, já que, para ser índi- PRESENTE — INDICATIVO
ce de indeterminação do sujeito, a oração precisa Eu Crio
estar na voz ativa.
Tu Crias
Outra importante característica do “se” como índi- Ele/Você Cria
ce de indeterminação do sujeito é que isso ocorre em
Nós Criamos
verbos transitivos indiretos, verbos intransitivos ou
verbos de ligação. Além disso, o verbo sempre deverá Vós Criais
estar na 3ª pessoa do singular. Eles/Vocês Criam
Ex.: Acredita-se em Deus. 51
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Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral- Existem, ainda, as preposições acidentais, assim
mente são irregulares e apresentam alguma modifi- chamadas pois pertencem a outras classes grama-
cação no radical ou nas desinências. Acompanhe a ticais, mas funcionam, ocasionalmente, como pre-
conjugação do verbo “passear”: posições. Eis algumas: afora, conforme (quando
equivaler a “de acordo com”), consoante, durante,
PRESENTE — INDICATIVO exceto, salvo, segundo, senão, mediante, que, visto
(quando equivaler a “por causa de”).
Eu Passeio
Acompanhe a seguir algumas preposições e exem-
Tu Passeias plos de uso em diferentes situações:
Ele/Você Passeia
“A”
Nós Passeamos
Vós Passeais z Causa ou motivo: Acordar aos gritos das crianças;
Eles/Vocês Passeiam z Conformidade: Escrever ao modo clássico;
z Destino (em correlação com a preposição de): De
Santos à Bahia;
Conjugação de Alguns Verbos z Meio: Voltarei a andar a cavalo;
z Preço: Vendemos o armário a R$ 300,00;
Vamos agora conhecer algumas conjugações de z Direção: Levantar as mãos aos céus;
verbos irregulares importantes, que sempre são obje- z Distância: Cair a poucos metros da namorada;
to de questões em concursos. z Exposição: Ficar ao sol por um longo tempo;
Observe o verbo “aderir” no presente do indicativo: z Lugar: Ir a Santa Catarina;
z Modo: Falar aos gritos;
PRESENTE — INDICATIVO z Sucessão: Dia a dia;
Eu Adiro z Tempo: Nasci a três de maio;
z Proximidade: Estar à janela.
Tu Aderes
Ele/Você Adere “Após”
Nós Aderimos
z Lugar: Permaneça na fila após o décimo lugar;
Vós Aderis
z Tempo: Logo após o almoço descansamos.
Eles/Vocês Aderem
“Com”
A seguir, acompanhe a conjugação do verbo “por”. São
conjugados da mesma forma os verbos dispor, interpor, z Causa: Ficar pobre com a inflação;
sobrepor, compor, opor, repor, transpor, entrepor, supor. z Companhia: Ir ao cinema com os amigos;
z Concessão: Com mais de 80 anos, ainda tem pla-
PRESENTE — INDICATIVO nos para o futuro;
z Instrumento: Abrir a porta com a chave;
Eu Ponho z Matéria: Vinho se faz com uva;
Tu Pões z Modo: Andar com elegância;
z Referência: Com sua irmã aconteceu diferente;
Ele/Você Põe
comigo sempre é assim.
Nós Pomos
Vós Pondes “Contra”
Eles/Vocês Põem
z Oposição: Jogar contra a seleção brasileira;
z Direção: Olhar contra o sol;
PREPOSIÇÕES z Proximidade ou contiguidade: Apertou o filho
contra o peito.
Conceito
“De”
São palavras invariáveis que ligam orações ou
outras palavras. As preposições apresentam funções z Causa: Chorar de saudade;
importantes tanto no aspecto semântico quanto no z Assunto: Falar de religião;
aspecto sintático, pois complementam o sentido de z Matéria: Material feito de plástico;
verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado z Conteúdo: Maço de cigarro;
sem a presença da preposição, modificando a transiti- z Origem: Você descende de família humilde;
vidade verbal e colaborando para o preenchimento de z Posse: Este é o carro de João;
sentido de palavras deverbais5. z Autoria: Esta música é de Chopin;
As preposições essenciais são: a, ante, até, após, z Tempo: Ela dorme de dia;
com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran- z Lugar: Veio de São Paulo;
te, por, sem, sob, trás. z Definição: Pessoa de coragem;
z Dimensão: Sala de vinte metros quadrados;

5 Palavras deverbais são substantivos que expressam, de forma nominal e abstrata, o sentido de um verbo com o qual mantêm relação. Exemplo:
a filmagem, o pagamento, a falência etc. Geralmente, os nomes deverbais são acompanhados por preposições e, sintaticamente, o termo que
52 completa o sentido desses nomes é conhecido como complemento nominal.
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z Fim ou finalidade: Carro de passeio; z Meio: Ir por terra;
z Instrumento: Comer de garfo e faca; z Modo: Saber por alto o que ocorreu;
z Meio: Viver de ilusões; z Preço: Comprar um livro por vinte reais;
z Medida ou extensão: Régua de 30 cm; z Quantidade: Chocar por três vezes;
z Modo: Olhar alguém de frente; z Substituição: Comprar gato por lebre;
z Preço: Caderno de 10 reais; z Tempo: Viver por muitos anos.
z Qualidade: Vender artigo de primeira;
z Semelhança ou comparação: Atitudes de pessoa “Sem”
corajosa.
z Ausência ou desacompanhamento: Estava sem
“Desde” dinheiro.

z Distância: Dormiu desde o acampamento até aqui; “Sob”


z Tempo: Desde ontem ele não aparece.
z Tempo: Houve muito progresso no Brasil sob D.
“Em” Pedro II;
z Lugar: Ficar sob o viaduto;
z Preço: Avaliou a propriedade em milhares de z Modo: Saiu da reunião sob pretexto não
dólares; convincente.
z Meio: Pagou a dívida em cheque;
z Limitação: Aquele aluno em Química nunca foi “Sobre”
bom;
z Forma ou semelhança: As crianças juntaram as z Assunto: Não gosto de falar sobre política;
mãos em concha; z Direção: Ir sobre o adversário;
z Transformação ou alteração: Transformou dóla- z Lugar: Cair sobre o inimigo.
res em reais;
z Estado ou qualidade: Foto em preto e branco; Locuções Prepositivas
z Fim: Pedir em casamento;
z Lugar: Ficou muito tempo em Sorocaba; São grupos de palavras que equivalem a uma
z Modo: Escrever em francês; preposição.
z Sucessão: De grão em grão; Ex.: Falei sobre o tema da prova. (preposição) /
z Tempo: O fogo destruiu o edifício em minutos; Falei acerca do tema da prova. (locução prepositiva)
z Especialidade: João formou-se em Engenharia. A locução prepositiva na segunda frase substitui
perfeitamente a preposição “sobre”. As locuções pre-
“Entre” positivas sempre terminam em uma preposição (há
apenas uma exceção: a locução prepositiva com senti-
z Lugar: Ele ficou entre os aprovados; do concessivo “não obstante”).
z Meio social: Entre as elites, este é o comportamento; Veja alguns exemplos:
z Reciprocidade: Entre mim e ele sempre houve
discórdia. z Apesar de. Ex.: Apesar de terem sumido, volta-
ram logo;
“Para” z A respeito de. Ex.: Nossa reunião foi a respeito
de finanças;
z Consequência: Você deve ser muito esperto para z Graças a. Ex.: Graças ao bom Deus, não aconteceu
não cair em armadilhas; nada grave;
z Fim ou finalidade: Chegou cedo para a conferên- z De acordo com. Ex.: De acordo com W. Hamboldt,
cia; a língua é indispensável para que possamos pen-
z Lugar: Em 2011, ele foi para Portugal; sar, mesmo que estivéssemos sempre sozinhos;
z Proporção: As baleias estão para os peixes assim z Por causa de. Ex.: Por causa de poucos pontos,
como nós estamos para as galinhas; não passei no exame;
z Referência: Para mim, ela está mentindo; z Para com. Ex.: Minha mãe me ensinou ter respeito
z Tempo: Para o ano irei à praia; para com os mais velhos;
z Destino ou direção: Olhe para frente! z Por baixo de. Ex.: Por baixo do vestido, ela usa
um short.
“Perante”
Outros exemplos de locuções prepositivas: abai-
LÍNGUA PORTUGUESA

z Lugar: Ele negou o crime perante o júri. xo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito de;
adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de;
“Por” junto de; perto de; por entre; por trás de; quanto a; a
fim de; por meio de; em virtude de.
z Modo ou conformidade: Vamos escolher por
sorteio; Algumas locuções prepositivas apresentam seme-
z Causa: Encontrar alguém por coincidência; lhanças morfológicas, mas significados completamen-
z Conformidade: Copiar por original; te diferentes. Observe estes exemplos6:
z Favor: Lutar por seus ideais; A opinião dos diretores vai ao encontro do plane-
z Medida: Vendia banana por quilo; jamento inicial = Concordância.

6 Disponível em: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 20 nov. 2020. 53


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As decisões do público foram de encontro à pro- z Preposição “em”:
posta do programa = Discordância.
Em vez de comer lanches gordurosos, coma frutas „ Com artigo definido:
= Substituição. em + a(s)= na, nas
Ao invés de chegar molhado, chegou cedo = em + o(s)= no, nos
Oposição. � Com pronome demonstrativo:
em + esse(s)= nesse, nesses
Combinações e Contrações em + essa(s)= nessa, nessas
em + isso = nisso
As preposições podem se ligar a outras palavras de em + este(s) = neste, nestes
outras classes gramaticais por meio de dois processos: em + esta(s) = nesta, nestas
combinação e contração. em + isto = nisto
em + aquele(s) = naquele, naqueles
z Combinação: quando se ligam sem sofrer nenhu- em + aquela(s) = naquelas
ma redução. em + aquilo = naquilo
a + o = ao � Com pronome pessoal:
a + os = aos em + ele(s) = nele, neles
z Contração: quando, ao se ligarem, sofrem redução. em + ela(s) = nela, nelas

Veja a lista a seguir7, que apresenta as preposições z Preposição “per”:


que se contraem e suas devidas formas:
„ Com as formas antigas do artigo definido (lo,
z Preposição “a”: la):
per + lo(s) = pelo, pelos
„ Com o artigo definido ou pronome demonstra- per + la(s) = pela, pelas
tivo feminino:
a + a= à z Preposição “para” (pra):
a + as= às
„ Com o pronome demonstrativo: „ Com artigo definido:
a + aquele = àquele para (pra) + o(s) = pro, pros
a + aqueles = àqueles para (pra) + a(s)= pra, pras
a + aquela = àquela
a + aquelas = àquelas Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por
a + aquilo = àquilo Preposições

Antes de entrarmos neste assunto, vale relembrar o


z Preposição “de”:
que significa Semântica. Semântica é a área do conhe-
cimento que relaciona o significado da palavra ao seu
„ Com artigo definido masculino e feminino: contexto.
de + o/os = do/dos É importante ressaltar que as preposições podem
de + a/as = da/das apresentar valor relacional ou podem atribuir um valor
� Com artigo indefinido: nocional.
de + um= dum As preposições que apresentam um valor relacional
de + uns = duns cumprem uma relação sintática com verbos ou subs-
de + uma = duma tantivos, que, em alguns casos, são chamados deverbais,
de + umas = dumas conforme já mencionamos. Essa mesma relação sintática
� Com pronome demonstrativo: pode ocorrer com adjetivos e advérbios, os quais também
de + este(s)= deste, destes apresentarão função deverbal.
de + esta(s)= desta, destas Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida
de + isto= disto pela regência do verbo concordar).
de + esse(s) = desse, desses Tenho medo da queda (preposição exigida pelo com-
de + essa(s)= dessa, dessas plemento nominal).
de + isso = disso Estou desconfiado do funcionário (preposição exigida
de + aquele(s) = daquele, daqueles pelo adjetivo).
Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo
de + aquela(s) = daquela, daquelas
advérbio).
de + aquilo= daquilo
Em todos esses casos, a preposição mantém uma rela-
� Com o pronome pessoal:
ção sintática com a classe de palavras a qual se liga, sen-
de + ele(s) = dele, deles do, portanto, obrigatória a sua presença na sentença.
de + ela(s) = dela, delas De modo oposto, as preposições cujo valor nocional
� Com o pronome indefinido: é preponderante apresentam uma modificação no sen-
de + outro(s)= doutro, doutros tido da palavra à qual se liga. Elas não são componentes
de + outra(s) = doutra, doutras obrigatórios na construção da sentença, divergindo das
� Com advérbio: preposições de valor relacional. As preposições de valor
de + aqui= daqui nocional estabelecem uma noção de posse, causa, instru-
de + aí= daí mento, matéria, modo etc. Vejamos algumas na tabela a
de + ali= dali seguir:
54 7 Disponível em: https://www.preparaenem.com/portugues/combinacao-contracao-das-preposicoes.htm. Acesso em: 20 nov. 2020.
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Importante! “Pois” com sentido explicativo ini-
VALOR NOCIONAL DAS
SENTIDO cia uma oração e justifica outra. Ex.: Volte, pois sinto
PREPOSIÇÕES
saudades.
Posse Carro de Marcelo “Pois” conclusivo fica após o verbo, deslocado
O cachorro está sob a entre vírgulas: Nessa instabilidade, o dólar voltará,
Lugar pois, a subir.
mesa
Votar em branco / Chegar
Modo z Conclusivas: ligam duas ideias, de forma que a
aos gritos
segunda conclui o que foi dito na primeira. Logo,
Causa Preso por agressão portanto, então, por isso, assim, por conseguinte,
Assunto Falar sobre política destarte, pois (deslocado na frase).
Ex.: Estava despreparado, por isso, não fui
Descende de família aprovado.
Origem
simples Está na hora da decolagem; deve, então, apressar-
Olhe para frente! / Iremos -se.
Destino
a Paris
Dica
CONJUNÇÕES As conjunções “e”, “nem” não devem ser empre-
gadas juntas (“e nem”). Tendo em vista que
Assim como as preposições, as conjunções também
ambas indicam a mesma relação aditiva, o uso
são invariáveis e também auxiliam na organização
concomitante acarreta em redundância.
das orações, ligando termos e, em alguns casos, ora-
ções. Por manterem relação direta com a organização
Conjunções Subordinativas
das orações nas sentenças, as conjunções podem ser
coordenativas ou subordinativas.
Tais quais as conjunções coordenativas, as subor-
dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
Conjunções Coordenativas
apresentadas em um texto. Porém, diferentemente
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações
As conjunções coordenativas são aquelas que
subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra
ligam orações coordenadas, ou seja, orações que não
para terem o sentido apreendido.
fazem parte de uma outra; em alguns casos, ainda,
essas conjunções ligam núcleos de um mesmo termo
� Causal: iniciam a oração dando ideia de causa.
da oração. As conjunções coordenadas podem ser:
Haja vista, que, porque, pois, porquanto, visto que,
uma vez que, como (equivale a porque) etc.
z Aditivas: somam informações. E, nem, bem como, Ex.: Como não choveu, a represa secou.
não só, mas também, não apenas, como ainda, � Consecutiva: iniciam a oração expressando ideia
senão (após não só). de consequência. Que (depois de tal, tanto, tão), de
Ex.: Não fiz os exercícios nem revisei. modo que, de forma que, de sorte que etc.
O gato era o preferido, não só da filha, senão de Ex.: Estudei tanto que fiquei com dor de cabeça.
toda família. � Comparativa: iniciam orações comparando ações
z Adversativas: colocam informações em oposição, e, em geral, o verbo fica subtendido. Como, que
contradição. Mas, porém, contudo, todavia, entre- nem, que (depois de mais, menos, melhor, pior,
tanto, não obstante, senão (equivalente a mas). maior), tanto... quanto etc.
Ex.: Não tenho um filho, mas dois. Ex.: Corria como um touro.
A culpa não foi da população, senão dos vereado- Ela dança tanto quanto Carlos.
res (equivale a “mas sim”). � Conformativa: expressam a conformidade de
uma ideia com a da oração principal. Conforme,
Importante! A conjunção “e” pode apresentar valor como, segundo, de acordo com, consoante etc.
adversativo, principalmente quando é antecedida por vír- Ex.: Tudo ocorreu conforme o planejado.
gula: Estava querendo dormir, e o barulho não deixava. Amanhã chove, segundo informa a previsão do
tempo.
z Alternativas: ligam orações com ideias que não � Concessiva: iniciam uma oração com uma ideia
acontecem simultaneamente, que se excluem. Ou, contrária à da oração principal. Embora, conquan-
ou...ou, quer...quer, seja...seja, ora...ora, já...já. to, ainda que, mesmo que, em que pese, posto que
Ex.: Estude ou vá para a festa.
LÍNGUA PORTUGUESA

etc.
Seja por bem, seja por mal, vou convencê-la. Ex.: Teve que aceitar a crítica, conquanto não
tivesse gostado.
Importante! A palavra “senão” pode funcionar Trabalhava, por mais que a perna doesse.
como conjunção alternativa: Saia agora, senão cha- � Condicional: iniciam uma oração com ideia de
marei os guardas! (pode-se trocá-la por “ou”). hipótese, condição. Se, caso, desde que, contanto
que, a menos que, somente se etc.
z Explicativas: ligam orações, de forma que em uma Ex.: Se eu quisesse falar com você, teria respondi-
delas explica-se o que a outra afirma. Que, porque, do sua mensagem.
pois, (se vier no início da oração), porquanto. Posso lhe ajudar, caso necessite.
Ex.: Estude, porque a caneta é mais leve que a � Proporcional: ideia de proporcionalidade. À pro-
enxada! porção que, à medida que, quanto mais...mais,
Viva bem, pois isso é o mais importante. quanto menos...menos etc. 55
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Ex.: Quanto mais estudo, mais chances tenho de
VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO
ser aprovado.
Ia aprendendo, à medida que convivia com ela. Alegria/Satisfação Eba! Oba! Viva!
� Final: expressam ideia de finalidade. Final, para Desejo Oh! Tomara! Oxalá!
que, a fim de que etc.
Repulsa Irra! Fora! Abaixo!
Ex.: A professora dá exemplos para que você
aprenda! Dor/Tristeza Ai! Ui! Que pena!
Comprou um computador a fim de que pudesse Espanto Oh! Ah! Opa! Putz!
trabalhar tranquilamente.
Saudação Salve! Viva! Adeus! Tchau!
� Temporal: iniciam a oração expressando ideia de
tempo. Quando, enquanto, assim que, até que, mal, Medo Credo! Cruzes! Uh! Oh!
logo que, desde que etc.
Ex.: Quando viajei para Fortaleza, estive na Praia É salutar lembrar que o sentido exato de cada
do Futuro. interjeição só poderá ser apreendido diante do con-
Mal cheguei à cidade, fui assaltado. texto. Por isso, em questões que abordem essa classe
de palavras, o candidato deve reler o trecho em que a
Importante! Os valores semânticos das conjun- interjeição aparece, a fim de se certificar do sentido
ções não se prendem às formas morfológicas desses expresso no texto.
elementos. O valor das conjunções é construído con- Isso acontece pois qualquer expressão exclamati-
textualmente, por isso, é fundamental estar atento aos va que expresse sentimento ou emoção pode funcio-
sentidos estabelecidos no texto. nar como uma interjeição. Lembre-se dos palavrões,
Ex.: Se Mariana gosta de você, por que você não a por exemplo, que são interjeições por excelência, mas
procura? (Se = causal = já que) que, dependendo do contexto, podem ter seu sentido
Por que ficar preso na cidade, quando existe tanto alterado.
ar puro no campo? (Quando = causal = já que). Antes de concluirmos, é importante ressaltar o
papel das locuções interjetivas, conjunto de palavras
Conjunções Integrantes que funciona como uma interjeição, como: Meu Deus!
Ora bolas! Valha-me Deus!
As conjunções integrantes fazem parte das orações
subordinadas; na realidade, elas apenas integram
uma oração principal à outra, subordinada. Existem
apenas dois tipos de conjunções integrantes: “que” e
“se”.
PONTUAÇÃO
Um tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere-
� Quando é possível substituir o “que” pelo pro-
mos a seguir as regras sobre seus usos.
nome “isso”, estamos diante de uma conjunção
integrante.
Ex.: Quero que a prova esteja fácil. (Quero. O quê? USO DE VÍRGULA
Isso).
� Sempre haverá conjunção integrante em orações A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três
substantivas e, consequentemente, em períodos funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da
compostos. voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e
Ex.: Perguntei se ele estava em casa. (Perguntei. O orações; e esclarecer o significado da frase, afastando
quê? Isso). qualquer ambiguidade.
� Nunca devemos inserir uma vírgula entre um ver- Quando se trata de separar termos de uma mesma
bo e uma conjunção integrante. oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos:
Ex.: Sabe-se, que o Brasil é um país desigual
(errado). � Para separar os termos de mesma função:
Sabe-se que o Brasil é um país desigual (certo). Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta;
z Usa-se a vírgula para separar os elementos de
INTERJEIÇÕES enumeração:
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi
As interjeições também fazem parte do grupo de arrastado pelo tsunami;
palavras invariáveis, tal como as preposições e as � Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que
conjunções. Sua função é expressar estado de espíri- já apareceu na frase) do verbo:
to e emoções; por isso, apresentam forte conotação Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate.
semântica. Uma interjeição sozinha pode equivaler a Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado,
uma frase. Ex.: Tchau! filmes de terror;
As interjeições indicam relações de sentido diver- � Para separar palavras ou locuções explicativas,
sas. A seguir, apresentamos um quadro com os sen- retificativas:
timentos e sensações mais expressos pelo uso de Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15
interjeições: anos;
� Para separar datas e nomes de lugar:
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985;
VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO
Advertência Cuidado! Devagar! Calma! � Para separar as conjunções coordenativas, exceto
e, nem, ou:
56 Alívio Arre! Ufa! Ah!
Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem.
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A vírgula também é facultativa quando o termo � Introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
que exprime ideia de tempo, modo e lugar não for distributivo ou uma oração subordinada substan-
uma locução adverbial, mas um advérbio. Exemplos: tiva apositiva:
Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar. Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes-
Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço sores, jornalistas, médicos;
em casa. � Introduzir uma explicação ou enumeração após
Ontem choveu o esperado para o mês todo. / expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a
Ontem, choveu o esperado para o mês todo. saber, como:
Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens,
Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações Filosofia, Ciências...;
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas
� Entre o sujeito e o verbo: (relação semântica de oposição, explicação/causa
Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende- ou consequência):
ram a explicação. (errado) Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um
Muitas coisas que quebraram meu coração, con- homem culto.
sertaram minha visão. (errado); Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com
� Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre- cautela;
dicativo do sujeito: � Marcar invocação em correspondências:
Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica- Ex.: Prezados senhores:
ção. (errado) Comunico, por meio deste, que...
Os alunos precisam de, que os professores os aju-
dem. (errado) TRAVESSÃO
Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
(errado); � Usado em discursos diretos, indica a mudança de
� Entre um substantivo e seu complemento nominal discurso de interlocutor: Ex.:
ou adjunto adnominal: — Bom dia, Maria!
Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida — Bom dia, Pedro!;
pelos alunos. (errado); � Serve também para colocar em relevo certas
� Entre locução verbal de voz passiva e agente da expressões, orações ou termos. Pode ser subs-
passiva: tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou
Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele colchetes:
professor para a feira. (errado); Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario-
� Entre o objeto e o predicativo do objeto: ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado) Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que
Considero interessantes, as suas aulas. (errado). vamos jantar. (oração intercalada)
Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui-
USO DE PONTO E VÍRGULA na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.

É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto PARÊNTESES


e vírgula (;):
Têm função semelhante a dos travessões e das
� Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas: vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-
Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu, mos, expressões ou orações.
ficou triste; Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca)
� No lugar das conjunções coordenativas deslocadas: vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan- Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos
to, exausto; jantar. (oração intercalada)
� No lugar do e seguido de elipse do verbo (=
zeugma): PONTO-FINAL
Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o
ouvinte. É o sinal que denota maior pausa. Usa-se:
Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai,
sorvete; � Para indicar o fim de oração absoluta ou de
� Em enumerações, portarias, sequências: período.
Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal: Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.”
O Procurador-Geral da República;
LÍNGUA PORTUGUESA

Carlos Drummond de Andrade;


O Colégio de Procuradores da República; � Nas abreviaturas
O Conselho Superior do Ministério Público Federal. Ex.: apart. ou apto. = apartamento.
sec. = secretário.
DOIS-PONTOS a.C. = antes de Cristo.

Marcam uma supressão de voz em frase que ainda Dica


não foi concluída. Servem para:
Símbolos do sistema métrico decimal e elemen-
� Introduzir uma citação (discurso direto): tos químicos não vêm com ponto final:
Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um Exemplos: km, m, cm, He, K, C.
homem mais pelas suas perguntas que pelas suas
respostas”; 57
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PONTO DE INTERROGAÇÃO � Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaísmos,
gírias e expressões populares ou vulgares, conotativas:
Marca uma entonação ascendente (elevação da Ex.: O homem, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
voz) em tom questionador. Usa-se: que desejava.
Não gosto de “pavonismos”.
� Em frase interrogativa direta: Dê um “up” no seu visual;
Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia?; � Para realçar uma palavra ou expressão imprópria,
� Entre parênteses para indicar incerteza: às vezes com ironia ou malícia:
Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão.
que havia palavra melhor no contexto; Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não”
� Junto com o ponto de exclamação, para denotar sonoro;
surpresa: � Para citar nomes de mídias, livros etc.:
Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”.
!?);
� E interrogações retóricas: COLCHETES
Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
que não jogaremos comida fora à toa”). Representam uma variante dos parênteses, porém
têm uso mais restrito.
PONTO DE EXCLAMAÇÃO Usam-se nos seguintes casos:

� É empregado para marcar o fim de uma frase com � Para incluir num texto uma observação de nature-
entonação exclamativa: za elucidativa:
Ex.: Que linda mulher! Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de
Coitada dessa criança!; Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”;
� Aparece após uma interjeição: � Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”),
Ex.: Nossa! Isso é fantástico; a fim de indicar que, por mais estranho ou errado
� Usado para substituir vírgulas em vocativos que pareça, o texto original é assim mesmo:
enfáticos: Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga-
Ex.: “Fernando José! Onde estava até esta hora?”; do.” (Machado de Assis);
� É repetido duas ou mais vezes quando se quer � Para indicar os sons da fala, quando se estuda
marcar uma ênfase: Fonologia:
Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50 Ex.: mel: [mɛw]; bem: [bẽy];
metros em 20 segundos!!! � Para suprimir parte de um texto (assim como
parênteses):
RETICÊNCIAS Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois
desceu as escadas apressadamente.
São usadas para: ou
Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
� Assinalar interrupção do pensamento: ceu as escadas apressadamente (caso não preferí-
Ex.: ― Estou ciente de que... vel segundo as normas da ABNT).
― Pode dizer...;
� Indicar partes suprimidas de um texto: ASTERISCO
Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois
desceu as escadas apressadamente. (Também pode � É colocado à direita e no canto superior de uma
ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e palavra do trecho para se fazer uma citação ou
depois desceu as escadas apressadamente.); comentário qualquer sobre o termo em uma nota
� Para sugerir prolongamento da fala: de rodapé:
Ex.: ― O que vocês vão fazer nas férias? Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar...; triste acrescido do sufixo -eza*.
� Para indicar hesitação: *-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti-
Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha vo, o que origina um novo substantivo;
vergonha; � Quando repetido três vezes, indica uma omissão
� Para realçar uma palavra ou expressão, normal- ou lacuna em um texto, principalmente em substi-
mente com outras intenções: tuição a um substantivo próprio:
Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...! Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami-
nhado aos responsáveis;
USO DAS ASPAS � Quando colocado antes e no alto da palavra, repre-
senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto
São usadas em citações ou em algum termo que é, cuja existência é provável, mas não comprovada:
precisa ser destacado no texto. Podem ser substituí- Ex.: Parecer, do latim *parescere;
das por itálico ou negrito, que têm a mesma função � Antes de uma frase para indicar que ela é agrama-
de destaque. tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras
Usam-se nos seguintes casos: da gramática.
* Edifício elaborou projeto o engenheiro.
� Antes e depois de citações:
Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”,
58 afirma Dad Squarisi, 64;
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USO DA BARRA a) águas e vêm
b) última e vêm
A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado: c) reúne e águas
d) reúne e países
� Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser e) países e última
substituída pela conjunção “ou”:
Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta. 3. (CESGRANRIO — 2023)
Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta;
� Para indicar inclusão, quando utilizada na separa- Floresta amazônica vai virar savana
ção das conjunções e/ou:
Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais Pesquisadores afirmam que mudança no ecossiste-
e/ou escritos; ma da Amazônia é iminente
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
ção entre si: Se a Amazônia perder mais de 20% de sua área para
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número o desmatamento, ela pode se descaracterizar de tal
(plural/singular). forma que deixaria de ser uma floresta e se transfor-
O carro atingiu os 220 km/h; maria em área de savana, alertam dois conceitua-
� Para separar os versos de poesias, quando escritos dos pesquisadores da área, em um artigo publicado
seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas recentemente. Hoje, o desmatamento acumulado está
barras para indicar a separação das estrofes: em 17%.
Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- Os cientistas acreditam que as sinergias negativas
te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi- entre desmatamento, mudanças climáticas e uso
te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles; indiscriminado de incêndios florestais indicam um
� Na escrita abreviada, para indicar que a palavra tipping point (ponto crítico), um ponto sem volta, para
não foi escrita na sua totalidade: transformar as partes Sul, Leste e central da Amazô-
Ex.: a/c = aos cuidados de; nia em um ecossistema não florestal se o desmata-
s/ = sem; mento chegar a entre 20% e 25%.
� Para separar o numerador do denominador nos
números fracionários, substituindo a barra da Os pesquisadores partiram do conceito da “savaniza-
fração: ção” da Amazônia, que surgiu após a descoberta de
Ex.: 1/3 = um terço; que as florestas interferem no regime de chuvas. Na
� Nas datas: Amazônia, por exemplo, estima-se que metade das
Ex.: 31/03/1983 chuvas na região é resultado da umidade produzida
� Nos números de telefone: pela evapotranspiração (a transpiração das árvores),
Ex.: 225 03 50/51/52; que “recicla” as correntes de ar úmido provenientes
� Nos endereços: do Oceano Atlântico.
Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232;
� Na indicação de dois anos consecutivos: Caso perca uma quantidade grande de árvores, a flo-
Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso; resta recicla menos chuva, ficando mais suscetível a
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua: incêndios. O fogo altera a vegetação, favorecendo o
Ex.: /s/. avanço de gramíneas onde antes havia espécies flo-
restais. O resultado desse processo ecológico é que
Embora não existam regras muito definidas sobre grandes fragmentos de florestas se transformam em
a existência de espaços antes e depois da barra oblí- savanas ou cerrados, descaracterizando a Amazônia
qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu- como a conhecemos hoje.
lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo.
A primeira estimativa de qual seria o tipping point para
a Amazônia virar savana foi feita em um estudo em
2007, e chegou à conclusão de que esse valor era de
HORA DE PRATICAR! 40% de florestas derrubadas. Só que esse estudo ava-
liou apenas uma variável, o desmatamento. Segundo
1. (CESGRANRIO — 2018) A seguinte frase está escrita um dos autores, quando se consideram outros fato-
de acordo com as normas da ortografia vigente: res, como os incêndios florestais e o aquecimento
global, essa margem diminui consideravelmente. Os
a) Eu me sinto mais vunerável quando viajo à noite. focos de incêndio têm aumentado. O aquecimento
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Preciso que vocês viagem para o Perú imediatamente. global já está acontecendo, com um aumento de 1
c) Alguns roteiros tem um acúmulo grande de grau Celsius na temperatura média da Amazônia.
deslocamentos.
d) Fiz um voo gratuito porque ganhei uma passagem De acordo com uma especialista em ciência e Amazô-
num sorteio. nia, a hipótese de savanização precisa ser encarada
e) Fizemos um multirão para arrumar as malas, mas com seriedade, porque a floresta amazônica tem resi-
conseguimos. liência, ela consegue resistir a algum desmatamen-
to. Mas essa possibilidade não é infinita, chega a um
2. (CESGRANRIO — 2016) Das palavras acentuadas reú- ponto que não tem retorno. Além disso, é preciso con-
ne, países, águas, última e vêm, as duas que recebem siderar a população da região, investindo na produção
acento por seguirem a mesma norma ortográfica são: com sustentabilidade.
59
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Uma das propostas para que se possa evitar o tipping
point é o reflorestamento. Com esse objetivo, o Brasil Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas
se comprometeu, na Conferência da ONU sobre Clima sondagens antes de chegar até onde queria, os tais
em Paris, em 2015, a reflorestar 12 milhões de hecta- rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquan-
res até 2030. to enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época
esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe
CALIXTO, B. O Globo. Sociedade. Rio de Janeiro, 22 fev. 2018. e ele não tinham viajado para o exterior.
Adaptado.
Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo
No trecho “metade das chuvas na região é resulta- Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas
do da umidade produzida pela evapotranspiração viagens de navio, Portugal, França, Itália... Não esque-
(a transpiração das árvores)” (parágrafo 3), a pala- cer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele
vra destacada é derivada do verbo transpirar, com o acrescentou. Mas por que essa curiosidade?
acréscimo do sufixo “ção”.
Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a
O grupo em que todos os verbos também formam gaguejar, é que seria tão bom se ambos tivessem
substantivos pelo acréscimo do sufixo “ção” é: nascido lá longe e assim eu estaria hoje escreven-
do em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o
a) ceder, conservar, repercutir livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu
b) conceder, transgredir, poluir
com todas as letras, nossa língua é sepultura mes-
c) evaporar, inserir, preservar
mo, tudo o que a gente fizer vai para debaixo da terra,
d) renovar, devastar, admitir
e) transmitir, permitir, introduzir desaparece!

4. (CESGRANRIO — 2018) As palavras juiz, suor e vár- Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado.
zea, ao serem passadas para o plural, apresentam a Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me
seguinte grafia: encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso
de querer renegar a própria língua. Se você chegar a
a) juízes; suores; várzeas escrever bem, não precisa ser em italiano ou espa-
b) juizes; suores; varzeas nhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo,
c) juízes; suóres; várzeas está me compreendendo? E as traduções? Renegar
d) juizes; suórs; varzeas a língua é renegar o país, guarde isso E depois (ele
e) juízeis; suóreis; várzeeis voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta
escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e
5. (CESGRANRIO — 2016) A frase em que a palavra des- obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa
tacada está flexionada de acordo com a norma-pa- língua! Tem mais, ele precisava da rima para sepultu-
drão da língua portuguesa é: ra e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora?
– acrescentou e levantou- se. Deu alguns passos e
a) Se você ver águas paradas, tome uma providência ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já
para evitar a proliferação do mosquito. fez a sua lição de casa?
b) Para comunicar a seus acionistas o resultado finan-
ceiro semestral, o relatório abrangeu os aspectos Fechei o livro e recuei. Sempre que meu pai queria
principais relacionados à produção da empresa. mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da pol-
c) Se os moradores obterem lâmpadas modernas para
trona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de
iluminar suas casas, farão economia de eletricidade.
vime e ia para a rede ou simplesmente começava a
d) Quando o Congresso propor que as lâmpadas incan-
descentes não sejam mais vendidas no país, a popu- andar. Era o sinal, Não quero falar nisso, chega. Então
lação terá de se acostumar ao novo padrão. a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.
e) O governo interviu na fabricação de lâmpadas quando
decidiu que novos modelos deveriam tornar-se obri- Tantos anos depois, quando me avisaram lá do peque-
gatórios no nosso país. no hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pen-
sando nisso, ah! se quando a morte entrou, se nesse
6. (CESGRANRIO — 2023) instante ele tivesse mudado de lugar. Mudar depressa
de lugar e de assunto. Depressa, pai, saia da cama e
À moda brasileira fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta!

TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e


Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a
achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p.109-111. Fragmento adaptado
pequena história da literatura brasileira.
Considerando-se a correlação adequada entre tem-
Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei
pos e modos verbais, a alternativa que, respeitando a
quase num susto depois que li os primeiros versos
norma-padrão, completa o período iniciado pelo tre-
do soneto à língua portuguesa: Última flor do Lácio,
cho “A autora também teria sido lida se...” é
inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.

Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal a) escrever seus contos em outra língua.
de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultu- b) escrevera seus contos em outra língua.
ra eu entendia bem, disso eu entendia, repensei bai- c) tiver escrito seus contos em outra língua.
xando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) d) teria escrito seus contos em outra língua.
pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a e) tivesse escrito seus contos em outra língua.
60 sepultura que esperava por esses meus escritos?
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
7. (CESGRANRIO — 2022) O emprego do pronome oblí- Em “No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais
quo em destaque respeita a norma-padrão da língua quente deste verão que inaugura o século e o milê-
em: nio.”, o pronome destacado

a) Quando perguntaram sobre as grades, fiquei sem a) torna ambíguo o termo referido.
saber o que lhes dizer. b) marca a temporalidade do enunciado.
b) O sol oblíquo nasce atrás dos prédios, mas ainda não c) afasta o leitor da narração.
conseguiu vencer-lhes. d) descentraliza o foco narrativo.
c) A velha senhora está sempre lá. Já espero lhe ver e) introduz um caráter irônico ao texto.
quando saio todas as manhãs.
d) Ainda demora para o sol nascer, mas, mesmo assim, a 9. (CESGRANRIO — 2018) O pronome relativo tem a fun-
velha senhora já está lá a lhe esperar. ção de substituir um termo da oração anterior e esta-
e) Quando as pessoas passam na calçada, aquela belecer relação entre duas orações.
senhora tem o sorriso pronto para lhes cumprimentar.
Considerando-se o emprego dos diferentes prono-
8. (CESGRANRIO — 2016) mes relativos, a frase que está em DESACORDO com
os ditames da norma-padrão é:
O suor e a lágrima
a) É um autor sobre cujo passado pouco se sabe.
Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase b) A ficção é a ferramenta onde os escritores trabalham.
41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais c) Já entrei em muitas livrarias, em todas por quantas
quente deste verão que inaugura o século e o milênio. passei.
Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, d) O autor de quem sempre falei vai autografar seus
decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, livros na Bienal.
são raros esses engraxates, só existem nos aeropor- e) Os poemas por que os leitores mais se interessam
tos e em poucos lugares avulsos. estarão na coletânea.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de 10. (CESGRANRIO — 2021)


coro de abadia pobre, que também pode parecer o
trono de um rei desolado de um reino desolante. A palavra salário vem mesmo de “sal”?

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me Vem. A explicação mais popular diz que os soldados
pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, da Roma Antiga recebiam seu ordenado na forma de
fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte sal. Faz sentido. O dinheiro como o conhecemos sur-
para poupá-lo, em parte porque quando posso estou giu no século 7 a.C., na forma de discos de metal pre-
sempre de tênis. cioso (moedas), e só foi adotado em Roma 300 anos
depois.
Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou
seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa Antes disso, o que fazia o papel de dinheiro eram
e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final itens não perecíveis e que tinham demanda garanti-
nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que da: barras de cobre (fundamentais para a fabricação
era abundante. de armas), sacas de grãos, pepitas de ouro (metal
favorito para ostentar como enfeite), prata (o ouro de
Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles segunda divisão) e, sim, o sal.
movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo
instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o Num mundo sem geladeiras, o cloreto de sódio era o
suor inundaria o meu cromo italiano. que garantia a preservação da carne. A demanda por
ele, então, tendia ao infinito. Ter barras de sal em casa
E foi assim que a testa e a calva do valente filho do funcionava como poupança. Você poderia trocá-las
povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato pelo que quisesse, a qualquer momento.
adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio.
Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente As moedas, bem mais portáteis, acabariam se tornan-
suados. do o grande meio universal de troca – seja em Roma,
seja em qualquer outro lugar. Mas a palavra “salário”
Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, dei- segue viva, como um fóssil etimológico.
xei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado,
LÍNGUA PORTUGUESA

retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que Só há um detalhe: não há evidência de que soldados
eu viesse a precisar nos restos dos meus dias. romanos recebiam mesmo um ordenado na forma
de sal. Roma não tinha um exército profissional no
Saí daquela cadeira com um baita sentimento de cul- século 4 a.C. A força militar da época era formada
pa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos por cidadãos comuns, que abandonavam seus afaze-
assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo res voluntariamente para lutar em tempos de guerra
suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e (questão de sobrevivência).
tive vergonha daquele brilho humano, salgado como
lágrima. A ideia de que havia pagamentos na forma de sal
vem do historiador Plínio, o Velho (um contemporâ-
CONY, C. H. In: NESTROVSKI, A. (Org.). Figuras do Brasil – 80 neo de Jesus Cristo). Ele escreveu o seguinte: “Sal era
autores em 80 anos de Folha. São Paulo: Publifolha. 2001. p. 319
uma das honrarias que os soldados recebiam após 61
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batalhas bem-sucedidas. Daí vem nossa palavra a) causa
salarium.” Ou seja: o sal era um bônus para voluntá- b) instrumento
rios, não um salário para valer. Quando Roma passou c) consequência
a ter uma força militar profissional e permanente, no d) conformidade
século 3 a.C., o soldo já era mesmo pago na forma de e) proporcionalidade
moedas.
12. (CESGRANRIO — 2022) Considerando-se o emprego
VERSIGNASSI, A. A palavra salário vem mesmo de “sal” VC S/A, São da vírgula, a frase que está de acordo com o padrão
Paulo: Abril, p. 67, Jun. 2021. Adaptado. formal escrito da língua é

A palavra destacada em “bem mais portáteis” (pará- a) Eu que era frágil, sentia-me seguro, em sua presença.
grafo 4) traz para o trecho uma ideia de b) Todos os dias, Maria José lia poemas para seu filho.
c) Seu desejo, era sempre, estar por perto para me
a) adição proteger.
b) adversidade d) Maria José era uma mulher terna e, ao mesmo tempo
c) comparação firme.
d) extensão e) Nem ela, nem o médico, nem eu, esperávamos aquele
e) soma desfecho, triste.

11. (CESGRANRIO — 2016) Texto I 13. (CESGRANRIO — 2015)

“Quando eu for bem velhinho / A sociedade da informação e seus desafios

Bem velhinho, que [precise] usar um bastão / Eu hei Dificilmente alguém discordaria de que a sociedade da
de ter um netinho, ah... / Pra me levar pela mão / No informação é o principal traço característico do deba-
carnaval, eu não fico em casa / Eu não fico, eu vou te público sobre desenvolvimento, seja em nível local
brincar! / Nem que eu vá me sentar na calçada / Pra ou global, neste alvorecer do século XXI. Das propos-
ver meu bloco passar...” tas políticas oriundas dos países industrializados e
das discussões acadêmicas, a expressão “sociedade
Lupicínio Rodrigues — autor de elaboradas e densas de informação” transformou-se rapidamente em jar-
canções de amor — surpreende escrevendo, em 1936, gão nos meios de comunicação, alcançando, de for-
ano em que nasci, essa singela e comovente marchi- ma conceitualmente imprecisa, o universo vocabular
nha carnavalesca. Uma raridade que constrói e, ao do cidadão.
mesmo tempo, define um carnaval. O carnaval como
um ritual — como um encontro necessário, como as A expressão “sociedade da informação” passou a
festas religiosas e algumas cerimônias cívicas — e ser utilizada como substituta para o conceito com-
não como uma brincadeira da qual se escolhe, livre plexo de “sociedade pós-industrial”, como forma de
e individualmente, participar. O carnaval faz parte do transmitir o conteúdo específico do “novo paradigma
calendário religioso católico romano que, mesmo no técnico-econômico”. A realidade que os conceitos
Brasil republicano, burguês e pós-moderno, continua das ciências sociais procuram expressar refere-se
a ser observado. Hoje, ao lado da Semana Santa e da às transformações técnicas, organizacionais e admi-
Semana da Pátria, ele talvez seja mais um feriado fes- nistrativas que têm como “fator-chave” não mais os
tivo do que uma ocasião que coage o nosso compor- insumos baratos de energia — como na sociedade
tamento, obrigando à participação, como deixa claro industrial — mas os insumos baratos de informação
a marchinha de Lupicínio. propiciados pelos avanços tecnológicos na microele-
trônica e nas telecomunicações.
Ouvi a música pelo piano de mamãe quando era um
menino: supunha-me o netinho que levava o avô pela Nesta sociedade pós-industrial, ou “informacional”,
mão até o seu bloco de carnaval. Hoje, sendo um avô as transformações em direção à sociedade da infor-
feliz e orgulhoso de cinco lindas moças e três belos mação, em estágio avançado nos países industriali-
rapazes, tenho nada mais nada menos do que 16 zados, constituem uma tendência dominante mesmo
mãos dispostas a, amorosamente, me conduzirem ao para economias menos industrializadas e definem
meu bloco que passa todo ano pela minha calçada. um novo paradigma, o da tecnologia da informação,
que expressa a essência da presente transformação
Leitor querido: se você tiver alguma recordação dessa tecnológica(a) em suas relações com a economia e
música, ouça-a. Se você não souber manipular algum a sociedade. Esse novo paradigma tem as seguintes
aparelho eletrônico, seu netinho o ajuda. E ouvindo a características fundamentais: a informação é sua
simplicidade dessa tocante canção, você vai ler esta matéria-prima (no passado, o objetivo dominante era
crônica como eu a escrevo: com os olhos molhados utilizar informação para agir sobre as tecnologias); os
dos antigos carnavais. efeitos das novas tecnologias têm alta penetrabilida-
de (a informação é parte integrante de toda ativida-
DAMATTA, R. O Globo, Rio de Janeiro, 10 fev. 2016. Primeiro de humana, individual ou coletiva e, portanto, todas
Caderno, p. 13. Adaptado
essas atividades tendem a ser afetadas diretamente
pela nova tecnologia); a tecnologia favorece proces-
A conjunção que empregada na primeira linha do Tex- sos reversíveis devido a sua flexibilidade; trajetórias
to I tem o seguinte valor: de desenvolvimento tecnológico em diversas áreas
do saber tornam-se interligadas e transformam-se
as categorias segundo as quais pensamos todos
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os processos (microeletrônica, telecomunicações, O emprego de duas vírgulas tem, entre outras, a fun-
optoeletrônica, por exemplo). ção de isolar expressões que detalham uma informa-
ção anterior, como em “o principal traço característico
O foco sobre a tecnologia pode alimentar a visão ingê- do debate público sobre desenvolvimento, seja em
nua de determinismo tecnológico segundo o qual as nível local ou global, neste alvorecer do século XXI”.
transformações em direção à sociedade da informa- As vírgulas foram utilizadas com a mesma função em:
ção resultam da tecnologia, seguem uma lógica téc-
nica e, portanto, neutra e estão fora da interferência a) “definem um novo paradigma, o da tecnologia da
de fatores sociais e políticos(b). Nada mais equivo- informação, que expressa a essência da presente
cado: processos sociais e transformação tecnológica transformação tecnológica”
resultam de uma interação complexa em que fatores b) “seguem uma lógica técnica e, portanto, neutra e estão
sociais preexistentes como a criatividade, o espírito fora da interferência de fatores sociais e políticos”
empreendedor, as condições da pesquisa científica c) “fatores sociais preexistentes como a criatividade,
afetam o avanço tecnológico(c) e suas aplicações o espírito empreendedor, as condições da pesquisa
sociais. científica afetam o avanço tecnológico”
d) “identificar o papel que essas novas tecnologias
No campo educacional dos países em desenvolvi- podem desempenhar no processo de desenvolvimen-
mento, decisões sobre investimentos para a incor- to educacional e, isso posto, resolver como utilizá-las”
poração da informática e da telemática implicam e) “aceleração do processo em direção à educação para
também riscos e desafios. Será essencial identificar todos, ao longo da vida, com qualidade e garantia de
o papel que essas novas tecnologias podem desem- diversidade”
penhar no processo de desenvolvimento educacional
e, isso posto, resolver como utilizá-las(d) de forma a 14. (CESGRANRIO — 2023) A frase em que a concordân-
facilitar uma efetiva aceleração do processo em dire- cia nominal do elemento em destaque se dá de acor-
ção à educação para todos, ao longo da vida, com do com as regras da norma-padrão é:
qualidade e garantia de diversidade(e). As novas tec-
nologias de informação e comunicação tornam-se, a) As mulheres da vila eram bastantes sérias e
hoje, parte de um vasto instrumental historicamente silenciosas.
mobilizado para a educação e a aprendizagem. Cabe b) As lembranças e o sentimento novas causaram muita
a cada sociedade decidir que composição do conjun- surpresa.
to de tecnologias educacionais mobilizar para atingir c) Foi solicitado muita dedicação para preparar os cor-
suas metas de desenvolvimento. pos para a sepultura.
d) O morto está quite com a vila: pagou o sepultamento
A Unesco tem atuado de forma sistemática no sen- com a ressurreição.
tido de apoiar as iniciativas dos Estados Membros e) Os olhos do morto eram azuis-celeste e de uma pro-
na definição de políticas de integração das novas fundidade impressionante.
tecnologias aos seus objetivos de desenvolvimento.
No Programa Informação para Todos, as ações des- 15. (CESGRANRIO — 2016) Texto
se organismo internacional estão concentradas em
duas áreas principais: conteúdo para a sociedade da Biodiversidade queimada
informação e “infoestrutura” para esta sociedade em
evolução, por meio da cooperação para treinamento, A Mata Atlântica tornou-se o ecossistema mais
apoio ao estabelecimento de políticas de informação ameaçado do Brasil. O desmatamento tem-se
e promoção de conexões em rede. ampliado excessivamente, principalmente no tre-
cho mais ao norte dessa floresta, em áreas costeiras
No espírito da Declaração Universal dos Direitos do dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio
Homem, que constitui a base dos direitos à infor- Grande do Norte, onde restam apenas cerca de 10%
mação na sociedade da informação, e levando em da vegetação nativa original. O risco é maior nessa
consideração os valores e a visão delineados ante- parcela da mata porque a região apresenta uma das
riormente, o novo Programa Informação para Todos maiores densidades populacionais do Brasil.
deverá prover uma plataforma para a discussão glo-
bal sobre acesso à informação, participação de todos O censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geogra-
na sociedade da informação global e as consequên- fia e Estatística (IBGE.), registrou pouco mais de 12
cias éticas, legais e societárias do uso das tecnolo- milhões de pessoas nos 271 municípios na área de
gias de informação e comunicação. Deverá prover ocorrência da Mata Atlântica ao norte do rio São
também a estrutura para colaboração internacional Francisco. Desse total, cerca de 2 milhões foram clas-
LÍNGUA PORTUGUESA

e parcerias nessas áreas e apoiar o desenvolvimento sificados como população rural. Na região, portanto,
de ferramentas comuns, métodos e estratégias para a Mata Atlântica está cercada de gente por todos os
a construção de uma sociedade de informação global lados e, infelizmente, uma parcela importante dessas
e justa. pessoas está em situação de pobreza. Imersas nes-
sa combinação indesejável de pobreza e degradação
WERTHEIN, J. Ciência da Informação. Brasília, v. 29, n. 2, p. 71- 77,
ambiental estão dezenas de espécies de aves, anfí-
maio/ago. 2000. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.
php/ciinf/article/view/254> bios, répteis e plantas, muitas já criticamente amea-
çadas de extinção.
Acesso em: 10 maio 2015. Adaptado
É nesse cenário que, ao longo de mais de uma década,
pesquisadores têm feito estudos para entender como
a perturbação extrema da paisagem altera a dinâmica 63
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vital dos remanescentes da Mata Atlântica, causan- d) Os anos de 2009 a 2011 correspondem ao período
do perda de espécies, colapso da estrutura florestal onde a pesquisa foi realizada por meio de entrevistas
e redução de serviços ambientais importantes para o em vários estados do Nordeste.
bem-estar humano. e) Esses estudos devem ser complementados por estra-
tégias onde possa ser evitado o desmatamento pro-
Esses são os efeitos em grande escala, resultantes vocado pelo uso doméstico da madeira.
de modificações severas na estrutura da paisagem.
Há, porém, outras perturbações de origem humana e 16. (CESGRANRIO — 2016) Texto
de menor escala, mas contínuas e generalizadas, que
podem ser descritas como crônicas: a caça, a reti- Homem no mar
rada ocasional de madeira (a maior parte da madei-
ra nobre já desapareceu) e a coleta de lenha, entre De minha varanda vejo, entre árvores e telhados,
outros. Um desses estudos, recentemente concluído, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao
buscou quantificar esse ‘efeito formiguinha’ e trouxe sol(a). O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali,
dados inéditos sobre o impacto da retirada de lenha no belo azul das águas, pequenas espumas que mar-
para consumo doméstico sobre a Mata Atlântica cham alguns segundos e morrem(b), como bichos
nordestina. alegres e humildes; perto da terra a onda é verde.

A madeira foi o primeiro combustível usado pela Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é
humanidade para cozinhar alimentos. Estima-se que, um homem nadando. Ele nada a uma certa distância
hoje, no mundo, mais de 2 bilhões de pessoas ainda da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor
precisem de lenha e/ou carvão para uso doméstico. das águas e do vento, e as pequenas espumas que
Como a dependência de biomassa para fins energé- nascem e somem parecem ir mais depressa do que
ticos está diretamente associada à pobreza, o sim- ele. Justo: espumas são leves, não são feitas de nada,
ples ato de acender um fogão a gás para preparar as toda a sua substância é água e vento e luz, e o homem
refeições é uma realidade distante para mais de 700 tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo o seu
mil habitantes da região da Mata Atlântica do Nor- corpo a transportar na água.
deste, a porção de floresta mais ameaçada do Bra-
sil. Essas pessoas dependem ainda, para cozinhar, Ele usa os músculos com uma calma energia; avança.
de lenha retirada dos remanescentes de floresta. Já Certamente não suspeita de que um desconhecido
que, em média, cada indivíduo queima anualmente o vê(c) e o admira porque ele está nadando na praia
meia tonelada de lenha, a Mata Atlântica perde 350 deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas
mil toneladas de madeira por ano, em séria ameaça encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me
à conservação dos fragmentos florestais que ainda solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário
resistem nessa parte do país. como se ele estivesse cumprindo uma bela missão.
Já nadou em minha presença uns trezentos metros;
Os dados da pesquisa foram coletados de 2009 a antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele
2011, a partir de entrevistas sistematizadas com 270 passou atrás das árvores, mas esperei com toda con-
chefes de família e medição do uso de lenha em cada fiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento
casa. Foram investigadas áreas rurais, assentamen- alternado de seus braços. Mais uns cinquenta metros,
tos e vilas agrícolas de usinas de açúcar em Pernam- e o perderei de vista, pois um telhado o esconderá.
buco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte. O estudo Que ele nade bem esses cinquenta ou sessenta
registrou o consumo de lenha de 67 espécies de árvo- metros(d), isto me parece importante, é preciso que
res (apenas sete exóticas) e, do total da lenha utiliza- conserve a mesma batida de sua braçada, que eu o
da, 79% vieram diretamente da Mata Atlântica. veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mes-
mo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será
SPECHT, M. J.; TABARELLI, M.; MELO, F. Revista Ciência Hoje, n.308. perfeito; a imagem desse homem me faz bem.
Rio de Janeiro: Instituto Ciência Hoje, out. 2013. p. 18-20. Adaptado

É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia


No trecho do Texto “onde restam apenas cerca de saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua
10% da vegetação nativa original”, a palavra desta- cara. Estou solitário com ele, e espero que ele esteja
cada foi empregada de acordo com as exigências da comigo.(e) [...]
norma-padrão da Língua Portuguesa.
Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o
Do mesmo modo, o emprego de onde atende a essas meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consi-
exigências em: go saber em que reside, para mim, a grandeza de sua
tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor
a) Alguns estudos parecem atender a uma preocupação de alguém, nem construindo algo de útil; mas certa-
bastante pertinente onde se podem traçar estratégias mente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo
de proteção ambiental. puro e viril.
b) A dependência de biomassa ocorre porque não há
oferta de fontes industriais de energia nas regiões Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a
onde as populações mais pobres vivem. mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e
c) É preciso combater o desmatamento, onde fica evi- minha estima a esse desconhecido, a esse nobre ani-
dente o processo de destruição da natureza para a mal, a esse homem, a esse correto irmão.
criação de gado.
Janeiro, 1953 BRAGA, Rubem. A cidade e a Roça. Rio de Janeiro:
Editora do Autor, 1964. p. 11
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No Texto, ao descrever o mar, o narrador-personagem
o percebe tão vivo, que acaba por atribuir a ele carac- Mas vamos sobreviver: o meu amor é imenso para
terísticas humanas. resistir ao teste da diferença de idade e de geração.
Espero vocês do outro lado da ternura, quando tive-
A oração que exemplifica essa afirmativa é rem a minha idade.

a) “que resplende ao sol.”


b) “que marcham alguns segundos e morrem,” CARPINEJAR, F. Carta aos meus filhos adolescentes. Disponível em:
<https://blogs.oglobo.globo.com/fabricio-carpinejar/post/carta-
c) “que um desconhecido o vê”
aos-meus-fi lhos-adolescentes.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.
d) “Que ele nade bem esses cinquenta ou sessenta Adaptado.
metros,”
e) “que ele esteja comigo” O trecho “Nem alcanço alguma ideia de como, para
mim também é uma experiência nova, tampouco sei
17. (CESGRANRIO — 2018) agir” evidencia um(a)

Carta aos meus filhos adolescentes a) rompimento com os compromissos familiares


b) despreparo para a iminente paternidade
Nossa relação mudará, não se assustem, continuo c) decepção em relação a esperanças nutridas
amando absurdamente cada um de vocês. Estarei d) procrastinação na tomada de decisões
sempre de plantão, para o que der e vier. Do mesmo e) mudança comportamental súbita
jeito, com a mesma vontade de ajudar.
18. (CESGRANRIO — 2016) Texto I
É uma fase necessária: uma aparência de indiferença
recairá em nossos laços, uma casca de tédio gruda- Banhos de mar
rá em nossos olhares. Mas não durará a vida inteira,
posso garantir. Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer
Nossa comunicação não será tão fácil como antes. A uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz
adolescência altera a percepção dos pais, tornei-me o quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda,
chato daqui por diante. Recife.
Eu me preparei para a desimportância, guardei esto- Meu pai também acreditava que o banho de mar salu-
que de cartõezinhos e cartas de vocês pequenos, tar era o tomado antes de o sol nascer. Como expli-
colecionei na memória as declarações de “eu te amo” car o que eu sentia de presente prodigioso em sair de
da última década, ciente de que não ouvirei nenhuma casa de madrugada e pegar o bonde vazio que nos
jura por um longo tempo. levaria para Olinda ainda na escuridão?
A vida será mais árida, mais constrangedora, mais De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha
lacônica. É um período de estranheza, porém essen- acordado, em expectativa. E de puro alvoroço, eu
cial e corajoso. Todos experimentam isso, em qual- acordava às quatro e pouco da madrugada e desper-
quer família, não tem como adiar ou fugir. tava o resto da família. Nós nos vestíamos depressa
e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava que
Serei obrigado agora a bater no quarto de vocês e assim devia ser: em jejum.
aguardar uma licença. Existe uma casa chaveada no
interior de nossa casa. Não desfruto de chave, senha, Saímos para uma rua toda escura, recebendo a brisa
passaporte. Não posso aparecer abrindo a porta de da pré-madrugada. E esperávamos o bonde. Até que
repente. Às vezes mandarei um WhatsApp apenas lá de longe ouvíamos o seu barulho se aproximan-
para saber onde estão, mesmo quando estiverem do. Eu me sentava bem na ponta do banco, e minha
dentro do apartamento. Passarei essa vergonha. felicidade começava. Atravessar a cidade escura me
dava algo que jamais tive de novo. No bonde mesmo
Perguntarei como estão e ganharei monossílabos de o tempo começava a clarear, e uma luz trêmula de sol
presente. Talvez um ok. Talvez a sorte de um tudo escondido nos banhava e banhava o mundo.
bem. As confissões não acontecerão espontanea-
mente. “Me deixe em paz” despontará como refrão Eu olhava tudo: as poucas pessoas na rua, a pas-
diante de qualquer cobrança. sagem pelo campo com os bichos-de-pé: “Olhe, um
porco de verdade!” gritei uma vez, e a frase de des-
Precisarei ser mais persuasivo. Nem alcanço alguma
LÍNGUA PORTUGUESA

lumbramento ficou sendo uma das brincadeiras da


ideia de como, para mim também é uma experiência minha família, que de vez em quando me dizia rindo:
nova, tampouco sei agir. Os namoros e os amigos “Olhe, um porco de verdade.”
assumirão as suas prioridades.
Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diá-
Verei vocês somente saindo ou chegando, desprovido ria me tornava uma criança completa de alegria. E
de convergência para um abraço demorado. me serviu como promessa de felicidade para o futu-
ro. Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me
Já não me acharão um máximo, já não sou grande agarrava, dentro de uma infância muito infeliz, a essa
coisa. Perceberam os meus pontos fracos, decora- ilha encantada que era a viagem diária.
ram os meus defeitos, não acreditam mais em minhas
histórias, não sou a única versão de vocês. Qualquer LISPECTOR, C. A Descoberta do Mundo. São Paulo: Rocco, 1999, p.
informação que digo, vão checar no Google. 175. Adaptado. 65
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Texto II Feliz por nada, nada mesmo? Talvez passe pela total
despreocupação com essa busca(d).
Festival reúne caravelas em barcos
Particularmente, gosto de quem tem compromis-
Dizem que o passado não volta, mas a cada cinco so com a alegria, que procura relativizar as chatices
anos boa parte da história marítima da Europa se reú- diárias(e) e se concentrar no que importa pra valer, e
ne para navegar junto entre o Mar do Norte e o canal assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos
de Amsterdã. Caravelas e barcos a vapor do século outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz
passado se juntam a veleiros e lanchas contemporâ- também. Não estando “realizado”, também. Estando
neas que vêm de vários países para um dos maiores triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma.
encontros náuticos gratuitos do mundo. Durante o Consciência. É ter talento para aturar o inevitável(c), é
Amsterdam Sail, entre os dias 19 e 23 de agosto, cer- tirar algum proveito do imprevisto(e), é ficar debocha-
ca de 600 embarcações celebram a arte de deslizar damente assombrado consigo próprio(c): como é que
sobre as águas. eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo?
Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.
Desde 1975 o grande encontro aquático junta apai- Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que
xonados pelo mar e curiosos às margens dos canais não se cobram por não terem cumprido suas resolu-
para ver barcos históricos e gente fazendo festa ao ções, que não se culpam por terem falhado, não se
longo de cinco dias – na última edição, o público esti- torturam por terem sido contraditórios, não se punem
mado foi de 1,7milhão de pessoas. Há aulas de vela por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor
e de remo para adultos e crianças, além de atrações que podem.
musicais. [...]
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que
Você pode até achar que é coisa de criança, mas o sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pen-
jogo em que cada um leva o próprio balde e simula samento(a). De querer se adequar à sociedade e ao
as tarefas a bordo de um navio é instrutivo e divertido mesmo tempo ser livre. Adequação à sociedade(a) e
para todas as idades. liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição.
Demanda a energia de uma usina. Para que se con-
MORTARA, F. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 ago. 2015, Caderno sumir tanto?
D, p. 10. Adaptado.
A vida não é um questionário. Você não precisa ter
Comparando-se o conteúdo e a tipologia do Texto I e que responder ao mundo quais são suas qualidades,
do Texto II, tem-se que sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria.
Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoco-
a) há uma conexão temática entre os dois textos, já que nhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencio-
ambos fazem menção ao mar. nado e que muda de opinião sem a menor culpa.
b) ambos combinam o domínio literário com o domínio
jornalístico. Ser feliz por nada talvez seja isso.
c) predomina no Texto I a informatividade e no Texto II a
narratividade. MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. Porto Alegre: L&PM, jul. 2011
d) é natural haver bondes e canais em textos que enalte-
cem as belezas do mar. O Texto estabelece uma oposição entre as seguintes
e) a infância é o tempo mais adequado para conhecer ideias:
embarcações e tomar banhos de mar.
a) “patrulha do pensamento” e “adequação à sociedade”
19. (CESGRANRIO — 2016) Texto b) “conseguir uma promoção” e “ganhar uma bolsa de
estudos”
Feliz por nada c) “ficar assombrado consigo próprio” e “aturar o
inevitável”
Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão d) “atingimento de metas” e “despreocupação com essa
feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu busca”
uma promoção(b), ganhou uma bolsa de estudos(b), e) “relativizar as chatices diárias” e “tirar proveito do
perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há imprevisto”
sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa
felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novi- 20. (CESGRANRIO — 2016)
dades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz
apenas por atingimento de metas(d). Muito melhor é Do fogo às lâmpadas de LED
ser feliz por nada.
Ao longo de nossa evolução, desenvolvemos uma
Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque forma muito eficiente de detectar a luz: nosso olho.
alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspecti- Esse órgão nos permite enxergar formas e cores de
va de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você maneira ímpar. O que denominamos luz no cotidiano
não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pou- é, de fato, uma onda eletromagnética que não é muito
co será hora de dormir e não há lugar no mundo mais diferente, por exemplo, das ondas de rádio ou micro-
acolhedor do que sua cama. Mesmo sendo motivos -ondas, usadas em comunicação via celular, ou dos
prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito. raios X, empregados em exames médicos.

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Para que pudesse enxergar seu caminho à noite, o
homem buscou o desenvolvimento de fontes de ilu- 7 A
minação artificial. Os primeiros humanos recolhiam 8 B
restos de queimadas naturais, mantendo as chamas
em fogueiras. Posteriormente, descobriu-se que o 9 B
fogo poderia ser produzido ao se atritarem pedras ou
madeiras, dando o primeiro passo rumo à tecnologia 10 C
de iluminação artificial. 11 C

A necessidade de transporte e manutenção do fogo 12 B


levou ao desenvolvimento de dispositivos de ilumina-
ção mais compactos e de maior durabilidade. Assim, 13 A
há cerca de 50 mil anos, surgiram as primeiras lâm- 14 D
padas a óleo, feitas a partir de rochas e conchas, ten-
do, como pavio, fibras vegetais que queimavam em 15 B
óleo animal ou vegetal. Mais tarde, a eficiência des-
ses dispositivos foi aumentada, com o uso de óleo 16 B
de tecidos gordurosos de animais marinhos, como 17 E
baleias e focas.
18 A
As lâmpadas a óleo não eram adequadas para que
áreas maiores (ruas, praças etc.) fossem iluminadas, 19 D
o que motivou o surgimento das lâmpadas a gás obti- 20 E
do por meio da destilação do carvão mineral. Esse
gás poderia ser transportado por tubulações ao local
de consumo e inflamado para produzir luz.

O domínio da tecnologia de geração de energia elétri- ANOTAÇÕES


ca e o entendimento de efeitos associados à passa-
gem de corrente elétrica em materiais viabilizaram o
desenvolvimento de novas tecnologias de iluminação:
lâmpadas incandescentes, com filamentos de bambu
carbonizado, que garantem durabilidade de cerca de
1,2 mil horas à sua lâmpada; e as lâmpadas halóge-
nas, com maior vida útil e luz com maior intensidade
e mais parecida com a luz solar.

AZEVEDO, E. R.; NUNES, L. A. O. Revista Ciência Hoje. Rio de Janeiro:


Instituto Ciência Hoje. n. 327, jul. 2015, p. 38-40. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2015/327/ do-fogo-as-
lampadas-led>. Acesso em: 4 ago. 2015. Adaptado.

O objetivo do Texto é

a) convencer o leitor de que o homem moderno é mais


feliz do que seus antepassados.
b) descrever com detalhes a vida das pessoas antes da
criação da iluminação artificial.
c) divulgar que o fogo foi muito importante para a sobre-
vivência do ser humano.
d) expor as vantagens da substituição da lâmpada a
óleo pela lâmpada a gás.
e) explicar as características das etapas de evolução da
iluminação artificial.

9 GABARITO
LÍNGUA PORTUGUESA

1 D

2 D

3 C

4 A

5 B

6 E

67
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ANOTAÇÕES

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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Depois disso, inicia-se a identificação dessas partes
e de como elaborá-las separadamente: como se cons-
trói um parágrafo; quais são as fases de sua elabora-
ção; quais são os diferentes tipos de parágrafos.
Também é mostrado como podem ser os parágrafos
REDAÇÃO DISCURSIVA que introduzem, desenvolvem e concluem um texto dis-
sertativo. E só depois de exercitar esses primeiros pro-
cedimentos é que se passa à produção de um trabalho
completo, buscando a eficiência do todo por intermédio
do agrupamento de cada uma das partes estudadas até a
INTRODUÇÃO À REDAÇÃO DISCURSIVA formação de um bloco contínuo e completo.
O truncamento desse trabalho ocorrerá certamen-
Neste material, vamos trabalhar a redação discur- te se o aprendiz não se dispuser a praticar esses con-
siva. Você estudará algumas características inovado- ceitos. É aí que começa a frustração dos potenciais
ras no conceito de produção de textos para quem quer autores, pois muitas vezes só vão tentar praticar a
atingir um melhor resultado em provas que exijam do escritura da sua redação após terem terminado o estu-
candidato a habilidade de produzir um texto. do do livro didático e sentem muita dificuldade no
momento do agrupamento, isto é, de fazer virar o todo
Aqui, serão apresentados os aspectos gerais da
aquilo que aprendeu a fazer por partes. Se o resultado
redação discursiva em sua estrutura textual, bem
não for satisfatório, eles simplesmente assumirão a
como todos os passos para a sua produção com efi- dificuldade como uma inabilidade pessoal.
ciência. Porém, antes de iniciarmos, é importante dar Como proposta de solução para essa dificulda-
atenção às dúvidas que geralmente são apresentadas de, vamos partir de um princípio inverso em que se
pelos alunos para que se possa dar solução aos princi- começa da materialização do texto eficiente, satisfa-
pais problemas que eles relatam. zendo os anseios dos nossos alunos: começamos pelo
todo para depois estudarmos as partes.
DÚVIDAS FREQUENTES QUANTO À REDAÇÃO PARA Esse trabalho consiste na elaboração de máscaras
CONCURSOS PÚBLICOS de redação, o que proporciona um ponto de partida
concreto na produção de redações eficientes a partir
Por que é tão difícil produzir um texto eficiente? de modelos prontos e que poderão ser reproduzidos
e adaptados para qualquer tema proposto pela banca
organizadora do concurso, respeitando ainda o cará-
Sempre se ouvem os temores de alunos quanto
ter da originalidade e da criatividade de cada autor.
às provas que cobram dos candidatos habilidades na As máscaras de redação garantem a eficácia sobre
produção de questões discursivas. Alguns dizem se os principais quesitos exigidos pelas bancas organiza-
sentirem tão despreparados que terminam por desis- doras dos critérios de correção dos textos, tais como
tir dos concursos que trazem a redação como critério progressão textual e sequencialização, coesão e, con-
de classificação. sequentemente, coerência, além de atender natural-
Tem de se reconhecer que o hábito de escrever não mente à estrutura própria dos textos dissertativos.
está na prática do cotidiano da maioria das pessoas e Outro ponto importante é o de permitir ao candi-
que, hoje em dia, quando se dispõem a fazê-lo, exer- dato uma projeção bem aproximada da extensão do
citam essa habilidade normalmente em ambientes seu texto em número de linhas.
virtuais, como sites de comunicação e elaboração de Essa proposta também tem a finalidade de desen-
e-mails. Nesses expedientes, ocorre o que chamam de volver uma maior agilidade na projeção e na constru-
ção da redação, otimizando o tempo de sua elaboração
“pacto da mediocridade” (sem intenção ofensiva), que
durante a prova.
caracteriza a postura displicente de como se escreve e
a aceitação mútua de erros e desvios da norma culta
Qual o peso ou a importância da redação em um
escrita: “ele escreve errado, mas eu aceito para não concurso público?
ser cobrado por ele da mesma forma quando errar”.
Usam-se imagens, símbolos gráficos, abreviações que O peso da redação é muito grande, por isso, ela
mais se assemelham a códigos criptografados do que faz a diferença na aprovação. Nos concursos atuais,
à própria língua portuguesa. a redação tornou-se o passaporte para o ingresso em
O maior problema é que isso gera um reforço nega- grande parte das carreiras públicas, pois de nada vale
tivo: treina-se uma escrita que não promove a prática um resultado positivo na prova objetiva se não obti-
ideal da comunicação verbal normatizada. O resul- ver sucesso em sua redação.
tado é que, quando ocorre a exigência da produção Os candidatos costumam dedicar seu tempo de
REDAÇÃO DISCURSIVA

escrita, a prática que se tem não promove a eficiência estudos à prova objetiva e deixar a redação por últi-
nessa categoria de comunicação. mo. Na maioria das vezes, passam naquela e repro-
vam nesta. Não dá para subestimar a redação, é
preciso exercitar sempre.
Como, em pouco tempo, desenvolver a habilidade da
escrita em quem tem dificuldade de passar para o
O que conta mais para um bom resultado: ter bons
papel o que tem na sua cabeça? conhecimentos sobre o assunto apresentado na
proposta ou ter bons conhecimentos em língua
Inicialmente, em um procedimento tradicional de portuguesa?
produção de textos, começa-se pela apresentação de
exemplos de textos bem escritos, mostra-se sua estru- Em verdade, os dois aspectos são equivalentes em
tura, apresentam-se as partes que o compõem. importância. No que diz respeito aos conhecimentos de
língua portuguesa, estamos referindo-nos à estrutura e 69
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à linguagem do texto dissertativo. Subentende-se que O que é texto em prosa?
quem domina esses dois aspectos não tenha dificulda-
des com a ortografia e outros aspectos gramaticais que, Texto em prosa é aquele que naturalmente usa-
em prova, inclusive, pouco peso têm. mos para escrever um bilhete, uma carta, nos comu-
nicarmos em e-mail etc. Ele se constrói em estrutura
linear (linha cheia) por meio de parágrafos. É a forma
Qual é a diferença entre tema e título?
comum de escrever.
É contrária ao verso, que exige uma elaboração estru-
z Tema é o assunto proposto pela instituição. Tem cará- tural e demonstra preocupação com rimas e arranjos
ter geral e abrangente e propõe questões que devem vocabulares alheios à sintaxe. Veja um exemplo de texto
ser abordadas obrigatoriamente com objetividade pelo em verso:
candidato. Essa objetividade é um fator determinante
para que sua composição fique delimitada àquilo que é
A rosa de Hiroxima
possível desenvolver em sua redação.
Pensem nas crianças
E o que é a delimitação do tema? É simples. É a Mudas telepáticas
elaboração de sua tese que, por sua vez, é seu posi- Pensem nas meninas
cionamento sobre esse tema. Na maioria das vezes, o Cegas inexatas
número de linhas que é proposto para se desenvolver Pensem nas mulheres
o tema é limitado. Geralmente, não passa de 30 linhas, Rotas alteradas
por isso, é preciso ser claro e direto no desenvolvi- Pensem nas feridas
mento da argumentação; Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
z Título é o nome que você dá à sua redação. Ele tem Da rosa da rosa
a função de apresentar e chamar a atenção sobre Da rosa de Hiroxima
o assunto desenvolvido. Porém, é importante lem- A rosa hereditária
brar que são poucas as instituições que solicitam A rosa radioativa
que o candidato dê um título ao texto. Se ele não Estúpida e inválida
for pedido, não é para colocá-lo. A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Se tiver de pôr título, qual palavra dele deve-se pôr Sem cor sem perfume
em maiúscula? Sem rosa sem nada. 1

Há duas possibilidades: Agora um exemplo de texto em prosa:

z A primeira forma convencionada diz que só a pri- Hiroshima ou Hiroxima (広島市 'Hiroshima-shi')
meira palavra do título deve ser iniciada por letra é a capital da prefeitura de Hiroshima, no Japão. É
maiúscula, como em: cortada pelo rio Ota (Ota-gawa), cujos seis canais
dividem a cidade em ilhas. Cresceu em torno de um
É bom fazer redação com o Nélson! castelo feudal do século XVI. Recebeu o estatuto de
cidade em 1589. Serviu de quartel-general durante
a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–95).
z A segunda forma permite que você coloque todas
Em 6 de agosto de 1945, foi a primeira cidade do
as palavras com iniciais maiúsculas, com exceção
mundo arrasada pela bomba atômica de fissão deno-
dos vocábulos monossilábicos e átonos (sem senti- minada Little Boy, lançada pelo governo dos Estados
do próprio), como preposições e artigos: Unidos, resultando em 250 000 mortos e feridos.2

É Bom Fazer Redação com o Nélson! É importante notar que redação para concurso é
em prosa.

Importante! O que eu faço se errar uma palavra quando estiver


Nomes próprios são sempre com iniciais maiúsculas. passando a limpo minha redação?
Use pontuação significativa se for necessário,
como interrogação e exclamação. O ponto final Erro é erro, não dá para voltar no tempo. Porém,
é dispensável. muitas instituições orientam os candidatos a passar um
traço simples sobre a palavra e continuar escrevendo
como se nada houvesse acontecido. Geralmente, nesses
É preciso usar letra cursiva ou pode ser de forma? casos, o erro não é considerado. Sendo assim, não perca
tempo sofrendo e faça como no exemplo a seguir:
A letra cursiva (letra de mão) só será necessária se Vamos começar nossa redassão redação agora.
for uma exigência do edital. De uma maneira geral, o Entendeu?
que se pede é a legibilidade.
É importante sempre se lembrar de respeitar as TIPOLOGIA TEXTUAL
regras de caixa alta e caixa baixa, ou seja, maiúscula e
minúscula devem ser diferenciadas: Em geral, os textos são classificados em três moda-
Caixa alta <CALIGRAFIA>, caixa baixa <caligrafia>. lidades distintas quanto à tipologia textual. Dessa
forma, o texto pode ser descritivo, narrativo ou disser-
tativo. É comum que um texto se apresente com tipos
1 Disponível em: https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/rosa-de-hiroxima. Acesso: 21 jun. 2022.
70 2 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiroshima. Acesso em: 21 jun. 2022. Adaptado.
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mistos de modalidades, mas a intencionalidade estru- Narração
tural do texto deve ser preservada para garantir uma
tipologia predominante, isto é, o que importa é qual Vamos agora à narração. Assim como fizemos com
a intenção do autor que predomina no todo do texto. a descrição, podemos também ilustrar como um fil-
Podemos, então, pensar o seguinte: me a elaboração do texto narrativo, pois aqui ocorre
Se na leitura do texto predomina a imagem de a passagem do tempo registrando a ação apresenta-
alguém ou de algo, assim como acontece quando olha- da no texto, por isso, sempre apresentará progressão
mos uma foto, é porque o texto é descritivo. temporal, pois sempre haverá uma mudança, uma
Se predomina a revelação de um fato, o autor con- transformação do fato apresentado inicialmente.
ta uma história, como uma fofoca, por exemplo, é por- A progressão temporal, como já vimos, trata-se de
que esse texto é narrativo. uma sucessão de fatos, e é essa sucessão que nos reve-
Se, na leitura, predomina o desenvolvimento de la o fato principal, ao que damos o nome de ação.
uma ideia, principalmente se o autor quiser conven- Por essa razão é que dissemos, também, que a nar-
cer-nos de algo, como uma propaganda, o texto é dis- ração apresenta a revelação de um fato, nesse caso, o
sertativo. Para simplificar: fato principal, que, para acontecer, depende de fatos
de menor importância que ele.
Descrição  imagem Na narração, as informações importantes, portan-
Narração  fato to, estão associadas aos verbos, sempre submissos a
Dissertação  ideia palavras substantivas.
É bom lembrar ainda que a narração apresenta
Vamos aprofundar o reconhecimento de cada tipo. também elementos que a diferenciam dos demais
Para isso, vamos ver quais são as características de tipos de texto. Esses elementos são:
cada modalidade para que você saiba diferenciá-los.
z Personagem ou personagens: com quem acontece
algo, um fato;
Descrição
z Narrador: aquele que conta o que aconteceu, narra
o fato;
Podemos ilustrar essa modalidade como uma
z Tempo: quando aconteceu o fato;
espécie de fotografia textual, em que o observador
z Lugar: cenário, onde o fato aconteceu;
absorve as informações por intermédio dos sentidos.
z Ação: o que aconteceu.
Esse desenho feito com as palavras representa o que
o observador vê paralisado no tempo, por isso, nada
Note que nem todos aparecem obrigatoriamente
muda no desenvolvimento do texto.
em um único texto, mas o que nunca falta à narra-
Dessa forma, não ocorre na representação do
ção é o personagem.
cenário (ou objeto) progressão temporal (sucessão de
Ex.: Um jovem leiteiro foi confundido com um
fatos), portanto, não há passagem do tempo.
assaltante e morto nesta madrugada com um tiro no
Na descrição, as principais informações são pas- coração. Um morador de nossa cidade, assustado com
sadas por intermédio de palavras adjetivas, sempre o barulho feito pelo trabalhador da madrugada, eli-
submissas a palavras substantivas. minou o suposto marginal em nome da segurança dos
Ex.: Na mistura do sangue com o leite das garra- que dormiam inocentes.
fas quebradas, viam-se os fios castanhos do cabelo do Vejamos como fica nosso esquema narrativo:
jovem embebidos naquele grosso líquido. Não devia
ter mais de 20 anos, mas mostrava nas mãos calos que z Um jovem leiteiro foi confundido com um assaltante;
foram cultivados parece que há muito mais tempo. z Um jovem leiteiro foi morto com um tiro no
O que vemos nesse texto? Observe: coração;
z Um morador eliminou o suposto marginal;
z Sangue e leite estão misturados; z Os inocentes dormiam.
z As garrafas estão quebradas;
z Os cabelos são castanhos; Os verbos garantem o dinamismo do texto, registran-
z O jovem tem aproximadamente 20 anos; do o agente da ocorrência. Assim, entendemos bem a
z Os cabelos estão embebidos; diferença entre a descrição, que não apresenta movimen-
z O líquido é grosso; to, pois nela não há sucessão de fatos, e, por isso, o tempo
z As mãos eram calejadas; não passa: sem progressão temporal; e a narração, que
z Os calos foram cultivados. apresenta sucessão de fatos: com progressão temporal.
Importante é perceber que o traço de diferença
REDAÇÃO DISCURSIVA

Por causa desses elementos descritivos, somos leva- marcante entre os dois tipos de texto é a progressão do
dos a imaginar o cenário estático. Observe que o todo do tempo. Para confirmar a progressão nesse texto, basta
texto compõe uma imagem que nós, leitores, consegui- percebermos a mudança apresentada no contexto: o
mos criar em nosso raciocínio, como se fosse uma foto. leiteiro estava vivo, trabalhando, e agora está morto.
Note ainda que isso ocorre porque não há passa- Para completar a análise desse texto, a partir do
gem do tempo, isto é, não houve sucessão de fatos, tan- levantamento das características da narração, vamos
to que o cenário é único e nada se altera, nada muda reconhecer seus elementos:
do começo ao fim, logo, é um texto que não apresenta
progressão temporal. Por isso, o que predomina na z Personagens: o leiteiro e o morador da cidade;
leitura desse texto realmente é a imagem; trata-se, z Narrador: aquele que nos conta o fato;
então, de uma descrição. z Tempo: nesta madrugada;
z Lugar: nossa cidade;
z Ação: assassinato. 71
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Atenção: o que realmente diferencia a narração desenvolvimento da ideia apresentada no início do texto
dos outros tipos de texto é a progressão temporal. em relação à vida humana, ao que chamamos de progres-
são dissertativa, afinal, a ideia “progrediu”, a ideia inicial
Dissertação foi ficando sólida à medida que o texto se desenrolou.
O que caracteriza definitivamente o texto disserta-
A dissertação é o tipo de texto mais comum de ser tivo, então, é a existência de uma ideia base apresen-
cobrado em provas de concurso, tanto na argumenta- tada, a tese e o seu desenvolvimento, culminando
ção geral sobre temas diversos, quanto na exposição de em seu fortalecimento por meio dos argumentos.
seus conhecimentos em questões discursivas. Esse fortalecimento chama-se fundamentação.
Na dissertação, propõe-se uma tese sobre uma No texto bem elaborado, a tese é tida como verda-
suposta verdade. Tal verdade deve ter existência de pela fundamentação, portanto, podemos reconhe-
substancial, por isso, é representada por uma pala- cer nele a progressão discursiva.
vra substantiva. A sustentação dessa verdade, por sua Por ora, vamos retomar o esquema anterior e
vez, pode ser ilustrada por outras palavras substanti- aprofundá-lo para que não se esqueça de como dife-
vas. Veja o texto a seguir: renciar os três tipos de texto:

Dissertação é um trabalho baseado em estu- descrição  imagem — não há progressão temporal


do teórico de natureza reflexiva, que consiste na narração  fato — há progressão temporal
ordenação de ideias sobre um determinado tema. dissertação  ideia — progressão discursiva
A característica básica da dissertação é o cunho
reflexivo-teórico. Dissertar é debater, discutir, ques- ESTRUTURA DISSERTATIVA E PROGRESSÃO
tionar, expressar ponto de vista, qualquer que seja.
DISCURSIVA
É desenvolver um raciocínio, desenvolver argu-
mentos que fundamentem posições. É polemizar,
inclusive, com opiniões e com argumentos contrá- Neste assunto, trabalharemos alguns elementos
rios aos nossos. É estabelecer relações de causa e importantes para iniciarmos nossa produção de textos.
consequência, é dar exemplos, é tirar conclusões, A dissertação é um tipo de texto que se caracteriza
é apresentar um texto com organização lógica das pela exposição e defesa de uma ideia que será anali-
ideias. Basicamente um texto em que o autor mos- sada e discutida a partir de um ponto de vista. Para
tra as suas ideias. tal defesa, o autor do texto dissertativo trabalha com
argumentos, fatos, dados, os quais utiliza para refor-
Assim, podemos entender a dissertação, diferen- çar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias.
ciando-a dos dois tipos anteriores, como um texto que Para atender a esse propósito, a dissertação deve
apresenta a análise do autor sobre algo, revelando um apresentar uma organização estrutural que conduza
entendimento lógico sobre o assunto que ele analisou. as informações ao leitor de forma a seduzi-lo quanto
Por isso, dissemos inicialmente que é um texto que ao reconhecimento da verdade proposta como tese.
apresenta uma ideia, ao que chamamos de tese, isto é, Compreende-se como estrutura básica de uma disser-
esse tipo de texto revela a ideia que o autor desenvol- tação a divisão da exposição da argumentação em três
veu sobre um determinado assunto. partes distintas: a introdução, o desenvolvimento e a con-
Além disso, todas as informações que forem apre- clusão. Acompanhe cada uma dessas partes a seguir.
sentadas sobre o assunto analisado serão os argu-
mentos que representarão a análise feita pelo autor. Introdução
Note que os argumentos são os motivos que levaram
o autor a ter um posicionamento, uma ideia, uma tese A introdução do texto dissertativo é a apresenta-
sobre o assunto. ção de seu projeto. Ela deve conter a tese de sua dis-
Ex.: Não se pode mais tratar a vida humana como sertação, ou seja, deve apresentar seu posicionamento
um simples exemplo de existência biológica. Já está na sobre o tema proposto pela banca.
hora de se entender que é preciso ter respeito à vida Esse momento é muito importante para o leitor,
como uma atitude existencial que deve ser encarada pois é aí que será mostrada a identificação de suas
como essência de nossa natureza, o que vai além das ideias com o tema. É um bom momento para apresen-
próprias leis de um país. tá-lo aos argumentos sequencialmente ordenados de
Atente-se para o que se pode destacar agora: acordo com a progressão que você dará à sua redação
(progressão textual).
z A verdade geral defendida, o nome do assunto = A introdução deve ser clara e chamar a atenção para
vida, especificamente a humana; dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do
z Argumentos que sustentam essa verdade: respei- desenvolvimento. Sem ter medo de apresentar alguma
to e essência. previsibilidade de seu projeto, você, autor, deve expor
os caminhos por que percorrerá em sua explanação.
O substantivo vida representa a palavra-chave Lembre-se de que o leitor, corretor de seu traba-
quanto à verdade defendida na tese do autor de que lho, é um professor experiente e é a organização que
“Não se pode mais tratar a vida humana como um sim-
mais o impressionará nesse momento. Por isso, não
ples exemplo de existência biológica”. Essa verdade é
tenha medo de ser objetivo e previamente ilustrativo
sustentada por dois argumentos positivos na defesa
quanto aos seus propósitos de trabalho.
dessa tese: o respeito à vida e a vida como essência
Ex.: Parágrafo de introdução
de nossa natureza.
Todos sabem o quanto à tecnologia vem imple-
Observe que, nesse texto, não há progressão tempo-
mentando novos valores à vida do homem moder-
ral, pois não há mudança alguma, já que não existe uma
no principalmente no que diz respeito a sua vida
sequência de fatos; não há também a criação de uma
em sociedade (1). É notório o desenvolvimento da
imagem de alguém ou de algo; mas há uma evolução, um
72 tecnologia em campos como o da educação (2) e o
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dos serviços sociais (3). Essas inovações vão ainda sem nenhum custo além dos já dispensados com seus
muito além disso, atingindo vários outros espaços provedores residenciais. Uma mãe que mora longe dos
do cotidiano (4) da maioria das pessoas. filhos já pode vê-los, ou aos netos, pela tela de um note-
book ou celular, sempre que sentir saudade.
z (1) A tese: a tecnologia vem implementando novos
valores à vida do homem moderno principalmente Conclusão
no que diz respeito a sua vida em sociedade;
z (2), (3), (4) Argumentos levantados a fim de sus- A conclusão é a retomada da ideia principal, que
tentar a tese: o desenvolvimento da tecnologia agora deve aparecer de forma muito mais convin-
em campos como o da educação (2) / o dos serviços cente, uma vez que já foi fundamentada durante o
sociais (3) / inovações atingindo vários outros espa- desenvolvimento da dissertação. Deve, pois, conter,
ços do cotidiano (4). de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a
confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argu-
Desenvolvimento mentação básica empregada no desenvolvimento.
Ex.: considerações finais:
O desenvolvimento é a parte em que você deve Tendo em vista os aspectos observados sobre esse
expor os elementos que vão fundamentar sua tese, admirável mundo de facilidades técnicas, só nos res-
que pode vir especificada por intermédio de argu- ta comentar que não foi só o computador que tor-
mentos, pormenores, exemplos, citações, dados esta- nou a vida do cidadão mais simples e confortável,
tísticos, explicações, definições, confrontos de ideias e mas outros campos da tecnologia também contri-
contra-argumentações. buíram para isso. Os aparelhos de GPS, que nos
Você poderá usar tantos parágrafos quanto achar orientam a qualquer direção, ou ainda diversos
necessário para desenvolver suas teorias; porém, em dispositivos médicos portáteis, garantem a melho-
redações de curta extensão, o ideal é que cada pará- ra da qualidade de vida de todos os homens do nos-
grafo apresente objetivamente apenas um dos argu- so tempo.
mentos a serem desenvolvidos ou, ainda, que esses
argumentos sejam agrupados caso vários deles devam ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
ser apresentados para sustentar sua tese.
Ex.: apresentação do primeiro argumento sobre “o Coesão
desenvolvimento da tecnologia em campos como o
da educação”: Coesão pode ser considerada a “costura” textual,
Alguns argumentam que é importante reconhecer a “amarração” na estrutura das frases, dos períodos
o papel das redes mundiais de informação para e dos parágrafos que fazemos com palavras. Para
o favorecimento da construção do conhecimen- garantir uma boa coesão no seu texto, você deve pres-
to. Hoje é possível visitar um museu, consultar uma tar atenção a alguns mecanismos.
biblioteca e até mesmo estudar sem sair de casa. Por
A seguir, em negrito, há exemplos de períodos que
meio da internet, saberes de nível mundial podem ser
podem ser melhorados utilizando os mecanismos de
alcançados por qualquer pessoa que os deseje. Basta
coesão:
estar diante de um computador, ou de posse de um
desses modernos aparelhos celulares, para se ligar a
z Elementos anafóricos: esse, essa, isso, aquilo, ele...
qualquer momento ao universo virtual. Hoje é pos-
sível ler qualquer livro a qualquer momento em um
São palavras referentes a outras que apareceram
desses dispositivos.
no texto, a fim de retomá-las.
Ex.: apresentação do segundo argumento sobre “o
desenvolvimento da tecnologia em campos como o
dos serviços sociais”: Ela = Dolores seu = Ela
Outro aspecto que merece destaque especial é
quanto ao atendimento oferecido ao cidadão pelos
órgãos do serviço público. Já é possível registrar Ex.: Dolores era beleza única. Ela sabia do seu
um boletim de ocorrência via computador ou ainda poder de seduzir e o usava
agendar a emissão de passaportes junto às agências
da Polícia Federal em qualquer lugar do Brasil. Con-
sultas médicas podem ser marcadas em hospitais o = poder
públicos ou privados e os exames realizados podem
ser consultados diretamente do banco de dados des-
REDAÇÃO DISCURSIVA

sas entidades. z Elementos catafóricos: este, esta, isto, tal como,


Ex.: apresentação do terceiro argumento sobre “as a saber...
inovações em vários outros espaços do cotidiano”:
E isso não para por aí. Ainda convém lembrar que São palavras referentes a outras que irão aparecer
de muitas outras formas a tecnologia interfere posi- no texto:
tivamente em nossas vidas. As relações sociais inten-
sificaram-se depois do surgimento das várias redes de
relacionamento, tendo início com o Orkut e o Face-
book, permitindo que as pessoas se reencontrem em Ex.: Este novo produto a deixará maravilhosa, é o
ambientes virtuais, o que antigamente exigiria muito xampu Ela. Use-o e você não vai se arrepender!
esforço coletivo para tais eventos. Programas como o
Zoom e o Google Meet possibilitam que as pessoas con- O pronome demonstrativo este apresenta um ele-
versem e interajam em diferentes partes do mundo mento do qual ainda não se falou = o xampu. 73
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z Coesão Lexical “A felicidade, para cuja obtenção não existem
técnicas científicas, faz-se de pequenos fragmentos...”
São palavras ou expressões equivalentes. A repe- Como leitor do texto, você deve entender que o
tição de palavras compromete a qualidade do texto, pronome cuja foi empregado para estabelecer posse
mostrando falta de vocabulário do redator. Assim, é entre obtenção e felicidade.
aconselhável a utilização de sinônimos: É nesse caso que entra o estudo da coesão com o
Ex.: Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase — emprego dos conectivos.
êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha
vida por umas poucas horas dessa alegria. z Coerência Estilística
Nesse caso, a palavra alegria aparece como sinôni-
mo semântico da palavra amor, representando-a. Refere-se ao estilo do autor, à linguagem que ele
emprega para redigir. O leitor atento a isso consegue
z Coesão por Elipse ou Zeugma (Omissão) facilmente entender a estrutura do texto e relacionar
bem as informações textuais.
É a omissão de um termo facilmente identificável. Além disso, percebendo se a linguagem do texto é
Podemos ocultar o sujeito da frase e fazer o leitor pro- figurada ou não, seu raciocínio interpretativo deverá
curar no contexto quem é o agente, fazendo correla- funcionar de uma determinada maneira, como pode-
ções entre as partes. mos ver neste texto de Ricardo Reis, heterônimo de Fer-
Ex.: O marechal marchava rumo ao leste. Não nando Pessoa:
tinha medo, (?) sabia que ao seu lado a sorte também
galopava. Já sobre a fronte vã se me acinzenta
A interrogação representa a omissão do sujeito O cabelo do jovem que perdi.
marechal que fica subentendido na oração. Meus olhos brilham menos.
Já não tem jus a beijos minha boca.
z Conectivos Principais Se me ainda amas por amor, não ames:
Traíras-me comigo.
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa)
„ Preposições e suas locuções: em, para, de,
por, sem, com...
Elementos Importantes de Coesão e Coerência
„ Conjunções e suas locuções: e, que, quando,
para que, mas...
„ Pronomes relativos, demonstrativos, pos- Para continuarmos o estudo de coesão e coerên-
sessivos, pessoais: onde, que, cujo, seu, este, cia, devemos relembrar alguns elementos gramaticais
esse, ele... importantes. Acompanhe a seguir.

Ex.: Os programas de TV, em que nós podemos ver z Pronomes Demonstrativos


muitas mulheres nuas, são imorais. Desde seu iní-
cio, a televisão foi usada para facilitar o domínio da Indicam posição dos seres em relação às pessoas
sociedade. Como exemplo, podemos citar a chegada do discurso, situando-os no tempo e/ou no espaço
do homem à Lua, quando os EUA conseguiram, com (função dêitica destes pronomes). Podem também ser
sua propaganda capitalista frente a uma Guerra Fria, empregados fazendo referência aos elementos do tex-
a simpatia de grande parte da população do planeta. to (função anafórica ou catafórica). São eles:

Coerência ESTE (A/S), ESSE (A/S), Têm função de pronome


AQUELE (A/S) adjetivo
Coerência textual é uma relação harmônica que se
ISSO, ISTO, AQUILO, O Têm função de pronome
estabelece entre as partes de um texto, em um contex-
(A/S) substantivo
to específico, e que é responsável pela percepção de
uma unidade de sentido. Sendo assim, os principais MESMO, PRÓPRIO, Quando são demons-
aspectos envolvidos nessa questão são: SEMELHANTE, TAL (E trativos, são pronomes
FLEXÕES) adjetivos
z Coerência Semântica
Empregos do pronome demonstrativo:
Refere-se à relação entre significados dos elementos
da frase (local) ou entre os elementos do texto como um „ Indicando localização no espaço:
todo:
Ex.: Paulo e Maria queriam chegar ao centro da Este (aqui): pronome de 1ª pessoa: o falante o empre-
questão. ga para referir-se ao ser que está junto dele. Ex.: Este é
Não caberia aqui pensar em centro como bairro meu casaco! — a moça avisou, enquanto o segurava.
de uma cidade. É nesse caso que entra o estudo da Esse (aí): pronome de 2ª pessoa: o falante o empre-
coesão por meio do vocabulário. ga para referir-se ao ser que está junto do seu ouvinte.
Ex.: Passe-me essa jarra de suco, por favor. — pediu
z Coerência Sintática ela ao rapaz que sentara à sua frente.
Aquele (lá): pronome de 3ª pessoa: a referência
Refere-se aos meios sintáticos que o autor utiliza será ao ser que está distante do falante e do ouvinte.
para expressar a coerência semântica: Ex.: As duas no portão não aguentavam de curiosida-
74 de, quem seria aquele moço na esquina?
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
„ Indicando localização temporal:

Este (presente): Neste ano, haverá Copa do Mundo.


Esse (passado próximo): Nesse ano que passou, não tivemos Copa do Mundo.
Esse (passado futuro): A próxima copa será em 2014. Nesse ano, poderemos ver todos os jogos acontecerem
aqui em nosso país.
Aquele (passado distante ou bastante vago): Naquela época, não havia iluminação elétrica.

„ Fazendo referências contextuais (funções anafórica e catafórica):

Este: refere-se a um elemento sobre o qual ainda se vai falar no texto (referência catafórica). Ex.: Este é o proble-
ma: estou dura. Pode também fazer uma referência de especificação a um elemento já expresso (referência anafórica).
Ex.: Ana e Bia saíram, esta foi ao cinema.
Esse: refere-se a um elemento já mencionado no texto (referência anafórica). Ex.: Comprei aspirina. Esse
remédio é ótimo.
Este: refere-se à última informação antecedente a ele no texto;
Aquele: refere-se à informação mais distante dele no texto. Ex.: Ana, João e Cris são irmãos; esta é quieta, esse
fala pouco e aquela fala muito.

z Período Composto

„ Que, o/a (s) qual (s): referem-se à coisa ou pessoa. Ex.: O livro que li é ótimo. / O livro o qual li é ótimo;
„ Quem: refere-se à pessoa, sempre preposicionado. Ex.: Esta é a aluna de quem falei;
„ Cujo (parecido com o possessivo): estabelece posse. Ex.: Este é o autor com cujas ideias concordo;
„ Onde (= em que): refere-se a lugar. Ex.: A rua onde (em que) moro é movimentada.

Atenção!

„ Observar a palavra a que se refere o pronome relativo para evitar erros de concordância verbal. Ex.: Lemos
os livros que foram indicados pelo professor (que = os quais → livros);
„ Respeitar a regência do verbo ou do nome, usando a preposição exigida quando necessário. Ex.: Este é o
livro a que me refiro.

O verbo “referir-se” pede a preposição “a”; por isso, ela aparece antes do “que”. Ex.: Esta é a obra por que
tenho admiração. A preposição “por” foi exigida pelo substantivo “admiração”;

„ Os pronomes como, quando e quanto também podem ser relativos;


„ Os relativos compõem as orações subordinadas adjetivas;
„ As orações adjetivas podem ser explicativas (cujo conteúdo é explicativo, genérico, uma informação a
mais) ou restritivas (cujo conteúdo é de restrição, especificação, informação importante no contexto).

z As Orações Subordinadas Adjetivas e a Semântica

As orações adjetivas são iniciadas sempre por pronomes relativos e podem ser de dois tipos:

„ Explicativa: O homem, que é racional, mata.  A oração adjetiva deste caso não tem sentido restritivo,
pois todos os homens são racionais;
„ Restritiva: O homem que fuma morre mais cedo.  A oração adjetiva deste caso reporta-se apenas ao
homem fumante.

z Emprego de Cujo e Onde

ONDE Lugares. Este é o prédio onde fica o 1º cartório.


REDAÇÃO DISCURSIVA

Esta é a jovem de
CUJO cujo pai eu lhe falei.
Concorda com o substantivo posterior e indica
SUBS . CUJO SUBS. que esse substantivo pertence a outro termo
substantivo anterior ao cujo. Este é o pai de cuja
POSSE jovem eu lhe falei.

Conjunções Coordenativas, Locuções Conjuntivas, Preposições e Locuções Prepositivas

„ Adição: e, nem, (não só...) mas também, mas ainda, tampouco, (não só...) como também. Ex.: A água crista-
lina brota da terra e busca seu caminho por entre as pedras; 75
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„ Adversidade/oposição: mas, porém, contudo, Veja, como exemplo, o que diz o professor Othon
todavia, entretanto, no entanto, não obstante. Marques Garcia em seu livro Comunicação em Prosa
Ex.: Este candidato não estudou muito, mas foi Moderna:
aprovado;
„ Alternância: ou... ou, ora... ora, quer... quer, Se coordenação é, como vimos, um processo de
seja... seja. Ex.: Ou estude, ou aguente a reprova; encadeamento de valores sintáticos idênticos, é
„ Conclusão: logo, portanto, pois (depois de ver- justo presumir que quaisquer elementos da frase —
bo), por isso, então. Ex.: Bebida alcoólica pode sejam orações, sejam termos dela —, coordenados
causar vício, portanto sua venda deve ser con- entre si, devam — em princípio, pelo menos — apre-
siderada ilícita; sentar estrutura gramatical idêntica, pois — como,
„ Explicação: que, porque, pois (antes do verbo), aliás, ensina a gramática de Chomsky — não se
podem coordenar frases que não comportem cons-
porquanto. Ex.: Não se preocupe, que eu arru-
tituintes do mesmo tipo. Em outras palavras: as
marei toda esta bagunça.
ideias similares devem corresponder forma verbal
similar. Isso é o que se costuma chamar paralelis-
z Conjunções Subordinativas Adverbiais mo ou simetria de construção3A

„ Causa: porque, como (somente no início do Vejamos agora alguns exemplos de construções
período), que, já que, visto que, por (+ infinitivo), que apresentam erros de paralelismo:
graças a, na medida em que, em virtude de (+ infi-
nitivo), em face de, desde que, uma vez que. Ex.: „ Paralelismo semântico: Em sua última via-
Como estava muito doente, foi ao médico; gem pela América Latina como representan-
„ Comparação: mais... que, menos... que, tão/ te do governo brasileiro, o presidente visitou
tanto... como, assim como, como. Ex.: Ele sem- Havana, a República Dominicana, Washington
pre se posicionou como um líder; e o Presidente Barack Obama.
„ Concessão: embora, conquanto, ainda que,
mesmo que, se bem que, apesar de (+ infini-
Observe que nesse caso o verbo “visitou” está sen-
tivo), em que pese a (+ infinitivo), posto que,
do empregado de maneira a sugerir que se pode visitar
malgrado. Ex.: Embora não esteja me sentindo
uma cidade da mesma forma como se visita uma pessoa,
bem, assistirei à aula até o final;
ou seja, está empregado de forma errada, já que ocorre
„ Condição: se (às vezes prevalece a ideia de cau-
um duplo sentido a esse verbo com essa construção.
sa, outras vezes, de tempo, ou, ainda, de oposi-
Uma forma correta de representar a ideia pretendida
ção), caso, desde que, a não ser que, a menos
pelo texto é: Em sua última viagem pela América Latina
que (a ideia pode ser desdobrada em de conces-
como representante do governo brasileiro, o presidente
são), contanto que, uma vez que. Ex.: Eles não
visitou Havana, a República Dominicana, Washington e
conseguirão vaga para este ano letivo, a menos
nesta última cidade foi ver o Presidente Barack Obama.
que haja alguma desistência;
„ Conformidade: conforme, como, segundo,
„ Paralelismo sintático: Nosso time se esforçou
consoante. Ex.: Tudo aconteceu como eles
bastante em todos os jogos, mas conseguiram
imaginaram;
se tornar os campeões este ano.
„ Consequência: (tão/tanto...) que, de modo que,
de maneira que, de sorte que. Ex.: Tanto lutou,
Veja como a conjunção adversativa “mas” foi inde-
que progrediu muito na vida;
vidamente empregada, dando uma ideia de que ser
„ Finalidade: a fim de que, a fim de (+ infinitivo),
campeão é oposto ao fato de se esforçar para vencer.
que, porque, para que, para (+ infinitivo). Ex.:
O correto nesse caso seria empregar uma conjunção
Faça bem a sua parte do projeto para que não
que conduzisse logicamente a primeira oração à ideia
haja reclamações;
da vitória apresentada na segunda oração, como em:
„ Proporcionalidade: à proporção que, à medi-
Nosso time se esforçou bastante em todos os jogos, por
da que, na medida em que, quanto mais, quanto
isso (e, dessa forma, logo, consequentemente...) conse-
menos, conforme. Ex.: À medida que o progres-
guiu se tornar o campeão este ano.
so avança, o romantismo diminui;
„ Tempo: quando (a ideia pode ser desdobrada
Progressão Textual
em ideia de condição), enquanto, mal, logo que,
assim que, sempre que, desde que, conforme.
Ex.: Mal ele chegou, todas o rodearam. A progressão textual é o processo pelo qual o texto
se constrói a partir de elementos semânticos e grama-
ticais. Novas informações devem ser somadas e liga-
Paralelismo
das às informações anteriores e não apenas repetidas.
Deve haver a continuidade e a evolução dos concei-
Paralelismo pode ser entendido como equilíbrio da
tos já apresentados que podem ser conquistadas por
organização textual, promovendo no texto coerência
intermédio dos elementos de coesão.
em sua elaboração e, portanto, em seu sentido. Esse
Veja uma simulação do projeto de máscaras de
mesmo equilíbrio deve assim ser entendido nos perío-
redação e observe na prática como a progressão tex-
dos, pois sua redação também deve apresentar uma
tual ocorre:
sequência lógica para que ele tenha sentido claro e
realmente dê a informação pretendida pelo seu autor.

76 3 GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro, Editora FGV: 2010, p. 52-53.
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Muito se tem discutido ultimamente sobre (blá, 4° Parágrafo
blá, blá) por causa de (blá, blá, blá). Sabe-se que
alguns fatores como (blá, blá, blá), (blá, blá, blá) e Ainda convém lembrarmos outro hábito que
(blá, blá, blá) são a base do desenvolvimento desse contribui para o sucesso do nosso bem elaborado
problema. As consequências imediatas de (blá, blá, cardápio (que é): o de tomarmos um cafezinho após
blá) só poderão ser avaliadas quando (blá, blá, blá). as refeições. Esse conjunto da cafeína mais o açúcar
O primeiro passo a se tomar é o de (blá, blá, blá). reabastece nosso cérebro de energia desviada para
Além de (blá, blá, blá), também se pode especular os órgãos processadores da digestão no momento em
que (blá, blá, blá). que comemos. Essas substâncias reprimem a sonolên-
Ainda convém chamar a atenção para mais um cia típica da hora do almoço, mantendo-nos despertos.
ponto determinante sobre (blá, blá, blá), que é (blá, blá,
blá). 5° Parágrafo
O resultado de todo esse esforço é (blá, blá, blá) e
é em busca de (blá, blá, blá) que se deve (blá, blá, blá). Levando-se em consideração esses aspectos prá-
Sendo assim, (blá, blá, blá). ticos do prato do brasileiro, somos levados a acreditar
Você pode perceber que, mesmo não abordando que não é apenas por prazer que somos seduzidos
assunto algum, há um encadeamento lógico da estru- pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela
tura do texto que conduz a uma eficiência argumen- nos oferece para a manutenção de nossa saúde. Sendo
tativa que admite a idealização de uma vasta margem assim, a falta de qualquer um desses ingredientes nos
de desenvolvimentos sobre variados temas. causará debilidade, além de insatisfação.
Observe o texto apresentado e sua estrutura.
TEORIA DAS MÁSCARAS Imaginemos que o tema proposto a nós fosse “A ali-
mentação do brasileiro” e que, a partir desse tema,
Depois de observar as dificuldades que as pessoas tivéssemos que produzir uma dissertação sobre ele.
têm de se expressarem por meio da escrita, colocamos A primeira coisa a fazer seria a delimitação do
aqui soluções definitivas para esses problemas, sem a
tema, ou seja, deveríamos buscar com objetividade
pretensão de criar fórmulas mágicas, mas sim de criar
uma tese, dentro desse tema, sobre a qual fôssemos
um referencial mais concreto e imediato.
capazes de argumentar, como esta:
Leia inicialmente o texto piloto de nosso projeto:
“A comida dos brasileiros é muito saudável e tem tudo
z Projeto de dissertação: Exemplos arroz com feijão; de que ele necessita para seu longo dia de trabalho”.
z Tema: A alimentação do brasileiro; O próximo passo seria o de levantar alguns argu-
z Tese: A comida dos brasileiros é muito saudável e mentos que sustentassem a tese proposta com valor
tem tudo de que ele necessita para seu longo dia de verdade. Veja como fizemos:
de trabalho; Já que estávamos falando da alimentação dos
z Argumentos: carboidratos no arroz com feijão; brasileiros, nada melhor do que falarmos sobre seus
proteínas no bife com salada; glicose e cafeína do pontos positivos, pontos estes reconhecidos até por
cafezinho preto com açúcar. especialistas em alimentação mundial: o valor nutri-
cional que compõe o nosso prato mais popular — isso
1° Parágrafo mesmo, o “PF”, “prato feito”, que encontramos em
bares, pequenos restaurantes e, principalmente, na
Todos sabem o quanto, em nosso país, a comida maioria das mesas do povo brasileiro: o arroz com fei-
é saudável e tem tudo de que os brasileiros necessi- jão, bife e salada, finalizado com um cafezinho preto.
tam para seu longo dia de trabalho. Verifica-se que Decompomos esse prato e identificamos seus prin-
os carboidratos no arroz com feijão, as proteínas no cipais ingredientes, aqueles merecedores de destaque
bife com salada, além da glicose no cafezinho preto
como boa argumentação a favor de nossa tese. Marcamos
com açúcar, fornecem um completo abastecimento de
o “carboidrato”, presente no arroz e no feijão, como nosso
energia somada ao prazer.
primeiro ponto positivo. Depois foi a vez das “proteínas”
2° Parágrafo presentes no bife com salada e chegamos, finalmente, à
“cafeína” e ao “açúcar” presentes no cafezinho. Pronto, já
É de fundamental importância o consumo de temos a primeira parte de nosso projeto organizado.
alimentos ricos no fornecimento de energia para a O próximo passo é juntar tudo no primeiro pará-
movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar, grafo, de maneira organizada, de forma que as ideias
por exemplo, o arroz com feijão que diariamente sejam apresentadas em uma sequência que deixe cla-
abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em ro ao leitor sobre o que será falado e também qual
carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe será a sequência de argumentos que será apresentada
REDAÇÃO DISCURSIVA

da energia própria consumida durante o dia. para dar credibilidade a nossa tese.
Veja o modelo do primeiro parágrafo:
3° Parágrafo

Além disso, as proteínas da carne no bife que come- Todos sabem o quanto, em nosso país, _____
mos servem para repor a massa muscular perdida ____________________________________. Verifica-se que
durante o trabalho. E, somando-se a isso, há as fibras ________________________, __________________________,
das verduras e folhas, que ajudam no processamento dos além de ______________________, fornecem (ou: resul-
alimentos pelos órgãos digestivos. Daí a possibilidade de tam, culminam, têm como consequência...) ________.
reafirmarmos o valor nutricional do conjunto de alimen-
tos de nosso prato mais tradicional e de justificarmos os
hábitos desenvolvidos em nossa cultura culinária. Compare agora com o parágrafo preenchido com
a tese e com os argumentos e veja a amarração que
conseguimos: 77
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Todos sabem o quanto, em nosso país, a comida Veja as estruturas vazias e seus respectivos pará-
é saudável e tem tudo de que os brasileiros necessi- grafos completos:
tam para o seu longo dia de trabalho. Verifica-se que
os carboidratos no arroz com feijão, as proteínas no 3º Parágrafo
bife com salada, além da glicose no cafezinho preto
com açúcar, fornecem um completo abastecimento Além disso, _____________________________________
de energia somada ao prazer. _________. E, somando-se a isso, ________________ que
A partir daí, fizemos o mesmo para os parágrafos _________________________________________________.
seguintes, impondo a eles estruturas programadas Daí _______________________ e de ____________________
__________________.
com relação lógica de coerência e coesão. Você perce-
berá que a continuidade e a progressão textual foram
sendo procuradas e construídas para dar evolução ao Além disso, as proteínas da carne no bife que come-
texto e aos argumentos. mos servem para repor a massa muscular perdida
No segundo parágrafo, iniciamos com uma frase durante o trabalho. E, somando-se a isso, há as fibras
de apresentação que valoriza o primeiro argumento, das verduras e folhas que ajudam no processamento dos
alimentos pelos órgãos digestivos. Daí a possibilidade de
depois fomos completando os espaços em branco que
reafirmarmos o valor nutricional do conjunto de alimen-
ligavam os argumentos entre si com relações preesta- tos de nosso prato mais tradicional e de justificarmos os
belecidas de: finalidade ― com a conjunção “para” ―; hábitos desenvolvidos em nossa cultura culinária.
explicação ― com o “que” ― causa ― com a locução
“por causa de”. 4º Parágrafo
Veja que, para manter a continuidade textual
recuperando sempre a ideia central do parágrafo,
Ainda convém lembrarmos ____________
preocupamo-nos em acrescentar o pronome demons- ___________________, (que é): _______________.
trativo “Esse”, fechando com uma conclusão sobre Esse ____________________________________ para
esse argumento. ____________________________. Essa(s) _______________
___________________________.
É de fundamental importância o _________________
________________ para _______________. Podemos men- Ainda convém lembrarmos outro hábito que
cionar, por exemplo, ___________ que _______________, contribui para o sucesso do nosso bem elaborado
por causa de ____________. Esse _____________________
cardápio, que é o de tomarmos um cafezinho após
____________________________________.
as refeições. Esse conjunto da cafeína mais o açúcar
reabastece nosso cérebro de energia desviada para
Observe como ficou a sequência completa do os órgãos processadores da digestão no momento em
segundo parágrafo: que comemos. Essas substâncias reprimem a sonolên-
cia típica da hora do almoço, mantendo-nos despertos.
É de fundamental importância o consumo de
Para os parágrafos de desenvolvimento, também
alimentos ricos no fornecimento de energia para a podemos relacionar frases que você poderá escolher
movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar, para dar originalidade ao seu texto:
por exemplo, o arroz com feijão que diariamente
abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em z Ao se examinarem alguns..., verifica-se que...
carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe z Pode-se mencionar, por exemplo, ...
da energia própria consumida durante o dia. z Em consequência disso, vê-se, a todo instante, ...
Veja agora uma coletânea de frases que podem z Alguns argumentam que...
auxiliá-lo na introdução de seus parágrafos iniciais: z Além disso...
z Outro fator existente...
z Outra preocupação constante...
z É de conhecimento geral que...
z Ainda convém lembrar...
z Todos sabem que, em nosso país, há tempos,
z Por outro lado...
observa-se... z Porém, mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto...
z Cogita-se, com muita frequência, que...
z Muito se tem discutido, recentemente, acerca de... Lembramos que esses exemplos são apenas suges-
z É de fundamental importância o (a).... tões e que você poderá desenvolver construções que
z Ao fazer uma análise da sociedade, busca-se desco- atendam sua necessidade a partir de quando for
brir as causas de.... adquirindo experiência com a produção de textos.
z Talvez seja difícil dizer o motivo pelo qual... Tanto quanto podemos criar padrões para a introdu-
ção e para o desenvolvimento de nossas redações, também
Assim como no segundo parágrafo, o terceiro e o podemos criá-los para a conclusão de nossa dissertação.
Acompanhe a organização de nosso último parágrafo:
quarto também seguiram o mesmo princípio quanto
às relações de coesão. As conjunções foram posicio-
nadas para dar coerência a quase qualquer tipo de Levando-se em consideração esses aspectos
argumentação. _________________, somos levados a acreditar que
_________________, mas também _____________________.
Sendo assim, _________________________________.
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Teremos, após preencher o modelo:

Levando-se em consideração esses aspectos práticos do prato do brasileiro, somos levados a acreditar que não
é apenas por prazer que somos seduzidos pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela nos oferece para
a manutenção de nossa saúde. Sendo assim, a falta de qualquer um desses ingredientes nos causará debilidade além
de insatisfação.
Os aspectos conclusivos presentes nesse último parágrafo garantem ao leitor a clareza de que se chegou ao
final do desenvolvimento da tese inicial.
As frases em destaque dão força conclusiva ao parágrafo, conduzindo a sequência textual a uma possível solução
para os problemas propostos, ou, ainda, podem gerar simples constatações das verdades idealizadas.
Você também pode contar com uma pequena lista de frases que podem auxiliá-lo nessa tarefa:

z Em virtude dos fatos mencionados...


z Por isso tudo...
z Levando-se em consideração esses aspectos...
z Dessa forma...
z Em vista dos argumentos apresentados...
z Dado o exposto...
z Por todos esses aspectos...
z Pela observação dos aspectos analisados...
z Portanto... / logo... / então...

Após a frase inicial, pode-se continuar a conclusão com as seguintes frases:

z ...somos levados a acreditar que...


z ...é-se levado a acreditar que...
z ...entendemos que...
z ...entende-se que...
z ...concluímos que...
z ...conclui-se que...
z ...é necessário que...
z ...faz-se necessário que...

Observe como fica, então, a soma dos parágrafos e como se deu a criação da primeira máscara:

MÁSCARA 1

1º Parágrafo

Todos sabem o quanto, em nosso país, _____________________________. Verifica-se que _____________________,


_____________________________ além de ______________________________ fornecem (ou: resultam, culminam, têm como
consequência...) _______________________.

2º Parágrafo

É de fundamental importância o ____________________________________ para ____________________. Podemos men-


cionar, por exemplo, ________________ que ___________________, por causa de ___________. Esse ____________________.

3º Parágrafo

Além disso, _________________________________________. E, somando-se a isso, __________________ que ___________


_____________________________. Daí ________________________ e de ______________________.

4º Parágrafo
REDAÇÃO DISCURSIVA

Ainda convém lembrarmos ____________ (que é): _______________. Esse ________________ para __________________.
Essa(s) __________________________.

5o Parágrafo

Levando-se em consideração esses aspectos ________________, somos levados a acreditar que _____________,
mas também _______________. Sendo assim, ___________________.

Agora que vimos o processo de criação das máscaras, você poderá começar também seu trabalho de produção.
Antes, porém, vamos apresentar mais dois outros modelos de máscaras de redação que você poderá usar como
base para suas próprias criações.

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Observe como as máscaras garantem o encadea-
mento das ideias, a coesão entre as orações e a coe- Faça o mesmo esquema no 3º e 4º parágrafos
rência com as várias possibilidades argumentativas. A para os argumentos “b” e “c”
seguir, temos mais um exemplo de máscara: ____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
MÁSCARA 2
____________________________________________________
1º Parágrafo ___________________________________________________.

Entre os aspectos referentes a _________________, ____________________________________________________


três pontos merecem destaque especial. O primeiro ____________________________________________________
é _____________________; o segundo ________________ e, ___________________________________________________
por fim, ______________. ____________________________________________________
___________________________________________________.
2º Parágrafo
Elabore sua conclusão: (confirme sua tese dizen-
Alguns argumentam que ______________ para do que, se algum dos argumentos não for conside-
_________________. Isso porque _____________________. rado, a ideia inicial não poderá ser sustentada, ou
Dessa forma, _______________. que os resultados propostos não serão atingidos)

3º Parágrafo ____________________________________________________
____________________________________________________
Outra preocupação constante é _______________, ____________________________________________________
pois _______________. Como se isso não bastasse, ____________________________________________________
____________ que ________________. Daí ______________ _______________________________________________.
que _____________ e que ________________________.

4º Parágrafo APROFUNDAMENTO DA ELABORAÇÃO DO


PARÁGRAFO DISSERTATIVO
Também merece destaque __________ o (a) qual
_____________________. Diante disso, ________________ Vamos agora aprofundar o nosso trabalho com a estru-
para que __________________________. tura dos textos dissertativos. Para isso, trabalharemos as
várias modalidades de parágrafos que podem ser utiliza-
5º Parágrafo dos para a elaboração de uma boa dissertação. Mostrare-
mos aqui a continuidade de nosso projeto de máscaras e
Tendo em vista os aspectos observados _________, os vários arranjos que são possíveis ao construí-las.
só nos resta esperar que __________________, ou
quem saiba _________________. Consequentemente, Parágrafo de Introdução
_____________.
O parágrafo de introdução tem como uma de suas
Sugerimos a você que faça suas primeiras reda- funções mais importantes a de apresentar a tese que
ções com base em uma das máscaras prontas. Confor- será defendida no decorrer da redação.
me for avançando nos estudos, você poderá construir É também possível e bastante didático que você faça
suas próprias máscaras personalizadas. uma prévia dos argumentos que serão trabalhados na
Por fim, preparamos uma máscara de organização sustentação dessa tese. Assim, o leitor poderá ser orien-
sequencial para seu projeto de redação. Use-a para se tado, logo de saída, a acompanhar o ritmo do seu pensa-
organizar. mento e a sequência das suas argumentações.

PROJETO DE TEXTO (monte sua dissertação) z Tipos Diferentes de Parágrafos de Introdução


1º TEMA: ________________________________________________.
„ Declaração Inicial
2º TESE: _________________________________________________.
3º ARGUMENTOS a) ______________________________. Na declaração, afirma-se ou nega-se algo de iní-
cio para, em seguida, justificar-se e comprovar-se a
b) ______________________________.
assertiva com exemplos, comparações, testemunhos
c) ________________________________. de autores etc.
(1º parágrafo) Tese + argumentos Vejamos um exemplo desse tipo de parágrafo apli-
cado à nossa proposta básica, que é o projeto arroz
___________________________________________________________
com feijão. Mais uma vez, colocamos a disposição
___________________________________________________________.
vazia do parágrafo, que poderá ser utilizada por você
(2º parágrafo) Justificativas (por que isso ocorre?): argu- sempre que desejar, seguida de um exemplo.
mento “a” + provas e exemplos (mostre casos conhecidos
ou dê exemplos semelhantes ao seu argumento) Modelo nº 1:
Construa o parágrafo unindo as informações anterio-
res ao argumento “a” . É fato notório que ______________________________.
___________________________________________________________ Sabe-se que ________________________, além da _______
___________________________________________________________. _________________________________________________.
80
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Preenchendo o modelo, teremos: vem precedida por uma definição, ambas no mesmo
parágrafo ou em parágrafos distintos).
É fato notório que a alimentação do brasileiro é Usamos aqui como representação desse modelo o
boa e tem tudo de que necessitamos para suprir os conceito de silogismo. Silogismo é um termo filosófi-
desgastes de um dia de trabalho. Sabe-se que os car- co com o qual Aristóteles designou a argumentação
boidratos do arroz e do feijão, as proteínas do bife e da lógica perfeita, constituída de três proposições decla-
salada, além da glicose do cafezinho preto com açú- rativas que se conectam de tal modo que, a partir das
car fornecem um completo abastecimento de energia primeiras duas, chamadas premissas, é possível dedu-
somada ao prazer. zir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta
por Aristóteles em sua obra Analíticos anteriores.
„ Definição
Modelo nº 3:
O parágrafo por definição é entendido como um
método preferencialmente didático, pois busca, por inter- _________ pode ser representado de duas maneiras
médio de uma explicação clara e breve, a exposição do diferentes: ________, que é ___________, e _____________,
significado de uma ideia, palavra ou de uma expressão. que é _______________. Enquanto a primeira ______
É a forma de exposição dos diversos lados pelos se apresenta ____________________, esta, por sua vez,
quais se pode encarar um assunto. Pode apresentar realiza-se por intermédio de _____________________.
tanto o significado que o termo carrega no uso geral
quanto aquele que o falante pretende determinar
Preenchendo o modelo, teremos:
para o propósito do seu discurso.
Uma definição é um enunciado que descreve um
O silogismo pode ser representado de duas
conceito, permitindo diferenciá-lo de outros conceitos
maneiras diferentes: silogismo simples, que é for-
associados.
mado por um único núcleo argumentativo, e silogis-
Veja como, em nosso parágrafo de exemplo, explo-
mo composto, que é formado por diversos núcleos
ramos o conceito global e generalizado sobre o assun-
argumentativos de elaboração complexa. Enquanto a
to. Você perceberá como o modelo vazio traz a indução
primeira teoria se apresenta pela estrutura filosófi-
do assunto a ser definido. ca básica consagrada pela antiguidade, esta, por sua
Vale lembrar que, como se trata de uma definição, vez, realiza-se por intermédio de vários silogismos
a base dessa informação deve sustentar-se em uma desenvolvidos para atender às novas perspectivas de
verdade consagrada, diferentemente do que vimos sedução e convencimento.
no exemplo anterior, já que a declaração inicial pode
basear-se em uma posição pessoal a ser defendida. „ Alusão Histórica

Modelo nº 2: A elaboração de um parágrafo por alusão histórica


é um recurso que desperta sempre a curiosidade do
___________ é a denominação dada a _____________. leitor por meio de fatos históricos, lendas, tradições,
Essa _____________________, mas a hipótese mais acei- crendices, anedotas ou acontecimentos de que o autor
ta é a de que _______________________. Outra versão tenha sido participante ou testemunha (desenvolve-se
afirma que esse ___________________, que tem origem geralmente por meio da comparação com o presente
________________. O que se sabe é que _________________. ou retorno a ele).
A vantagem desse método é o de podermos mos-
trar o desenvolvimento cronológico de um assunto,
Preenchendo o modelo, teremos: expondo sua evolução no tempo.
Ao utilizar um fato histórico para sustentar uma
Arroz com feijão é a denominação dada a um pra- tese, lembre-se de que a história é a ciência que estuda
to típico da América Latina. Essa receita não tem uma o homem e sua ação no tempo e no espaço, concomi-
origem certa, mas a hipótese mais aceita é a de que tantemente à análise de processos e eventos ocorridos
seria fruto de uma combinação do arroz (de origem no passado, e, como ela é uma ciência, tem, por conse-
oriental) trazido pelos portugueses ao Brasil com o guinte, um grande valor argumentativo.
feijão, que já seria consumido no Brasil pelos indíge- Observe como é simples:
nas. Outra versão afirma que esse prato foi a união
do arroz com a feijoada, que tem origem africana ou Modelo nº 4:
portuguesa. O que se sabe é que, ao longo dos sécu-
REDAÇÃO DISCURSIVA

los, esse prato foi se popularizando por todo o país,


passando a ser uma parte quase que indispensável da Desde a época da _______, sabe-se que ____________
refeição dos brasileiros. para _______________. Principalmente hoje em dia,
reconhece-se que ___________________________.
„ Divisão
Preenchendo o modelo, temos:
O parágrafo de divisão, processo também qua-
se que exclusivamente didático, por causa das suas Desde a época da escravidão no Brasil, sabia-se
características de objetividade e clareza, consiste em que a alimentação dada a esses novos brasileiros
apresentar o tópico frasal (frase que introduz o pará- era boa e tinha tudo de que eles necessitavam para
grafo) sob a forma de divisão ou discriminação das suprir os desgastes de um longo dia de trabalho.
ideias a serem desenvolvidas (normalmente, a divisão Hoje em dia, principalmente, já se reconhece que 81
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
os carboidratos do arroz e do feijão, as proteínas da Preenchendo o modelo, teremos:
carne e das verduras fornecem um completo abaste-
cimento de energia somada ao prazer, justificando os A cidade em destaque é Pindaíba da Serra, que fica
hábitos do passado como responsáveis pela tradição ali- localizada em Monte Mole, região nobre de Pindora-
mentar que preservamos. ma. É aí onde se localiza uma das mais belas reservas
naturais de paioca-rija, um cipó medicinal e afrodisíaco
muito cobiçado pelos moradores dessa região. Cerca-
„ Interrogação
da por uma densa floresta de mambutis gigantes, foi
bem no centro desse santuário tropical que a próspera
A ideia núcleo do parágrafo por interrogação é cidadezinha se tornou uma espécie de centro cultural da
colocada por intermédio de uma pergunta a qual ser- região por preservar até hoje um dos mais tradicionais
ve mais como recurso retórico, uma vez que a questão rituais de nossa história: a sagração da taioba-plus, enti-
levantada deve ser respondida pelo próprio autor. dade sagrada e reverenciada pelos devotos naobilicos.
Seu desenvolvimento é feito por intermédio da
confecção de uma resposta à pergunta. „ Desenvolvimento por Exploração Temporal

Modelo nº 5: Nesse modelo, o leitor é informado do momento


em que os fatos ocorreram com a indicação de datas
e outros aspectos temporais. Pode-se recorrer nesse
Será possível determinar qual é _________________ momento aos artifícios empregados no próprio pará-
para ___________________? (Resposta) _______________ grafo de alusão histórica, já que este também se serve
____________________________________________________ de referências cronológicas.
______________.
Modelo nº 2:
Preenchendo o modelo, teremos:
No passado, quando pensávamos em __________,
Será possível determinar qual é a melhor com- notávamos que ______________ era ______________
binação de alimentos para atender às necessidades comparada à que vemos recentemente. Hoje, por
diárias de nossa população? Qualquer nutricionista outro lado, _____________________________ tornaram-se
dirá que sim, pois alimentos ricos em carboidratos e _______________. O resultado disso é que _____________,
proteínas devem compor essa alimentação e não há na atualidade, tornou-se _______________.
quase nada mais apropriado do que nosso tradicional
prato de todos os dias. O arroz com feijão tem as pro-
porções perfeitas para satisfazer essa necessidade que Preenchendo o modelo, teremos:
todos têm de recomposição de força e de energia.
No passado, quando pensávamos em alimentação,
Parágrafos de Desenvolvimento notávamos que sua relação com a sobrevivência era mui-
to maior comparada à que vemos nos nossos atuais.
Hoje, por outro lado, a qualidade desses alimentos e a
Após o primeiro parágrafo, que, como já vimos,
qualidade da saúde que eles proporcionam tornaram-se
pode apresentar a tese e também os argumentos prin-
o foco desse pensamento. O resultado disso é que comer,
cipais que serão desenvolvidos, chega a hora de abor-
na atualidade, tornou-se um ritual de bem viver.
dar os elementos que sustentarão essas afirmações
iniciais. Os parágrafos seguintes deverão conter os
„ Desenvolvimento por Exploração de Porme-
recursos argumentativos que articularão o convenci-
nores ou de Enumerações
mento do leitor quanto à tese apresentada.
Nesse modelo de parágrafo, tem-se por objetivo enu-
z Tipos Diferentes de Parágrafos de Desenvolvimento
merar características, relacionar aspectos importantes
sobre algum assunto. A apresentação das ideias pode ser
As possibilidades de ordenação do parágrafo são
ou não ordenada segundo uma ordem de importância.
várias: exploração de aspectos espaciais e temporais,
A ordem depende do que se pretende enfatizar.
enumeração de pormenores, apresentação de analo-
gia ou contraste, citação de exemplos e apresentação
Modelo nº 3:
de causas e consequências. Acompanhe a seguir.

„ Desenvolvimento por Exploração Espacial Entre os aspectos referentes a _________________,


três pontos merecem destaque especial. O primeiro
Ao argumentar, você pode se servir da exposição de
é _______________________________; o segundo diz res-
informações relativas ao lugar em que os fatos ocorreram.
peito __________________ e, por fim, __________________
Modelo nº 1: _______________.

A cidade (ou região) em destaque é ______, que Ao preenchermos o modelo, teremos:


fica localizada em _________________, região ______ de
_________. É aí onde se localiza ________________________ Entre os aspectos referentes à alimentação dos bra-
dessa região. Cercada por ________________________, foi sileiros, três pontos merecem destaque especial. O pri-
bem no centro desse __________________________________ meiro é quanto aos carboidratos presentes no arroz com
_____________. feijão; o segundo diz respeito às proteínas presentes no
bife com salada e, por fim, a glicose somada à cafeína no
cafezinho preto com açúcar, que fornecem um completo
82 abastecimento de energia somada ao prazer.
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„ Desenvolvimento por exploração de contraste Dentro de uma perspectiva lógica e simples, deve-
de ideias mos compreender causa como um fator gerador de
problemas e consequência como os problemas gera-
Na ordenação do parágrafo por exposição de con- dos pela causa. Trabalhar com causas e consequências
trastes entre si, você pode se servir de comparações, é apresentar os aspectos que levaram ao problema
ideias paralelas, ideias diferentes e ideias opostas. discutido e às suas decorrências.

Modelo nº 4: Modelo nº 6:

Muitos acreditam que _________________________, por


É de fundamental importância o __________________
causa da _____________________. Por outro lado, sabe-se
para ___________________. Podemos mencionar, por
também que ______________________________________, quan-
exemplo, ________________ que ________________, por
do muitas vezes _________________________________.
causa _____________.

Ao preenchermos o modelo, teremos:


Ao preenchermos o modelo, teremos:
Muitos acreditam que o cafezinho preto com açúcar
pode causar excitação e ansiedade quando consumido em É de fundamental importância o consumo de
excesso, por causa da cafeína e da glicose presentes nele. alimentos ricos no fornecimento de energia para a
Por outro lado, sabe-se também que essas substâncias movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar,
fornecem uma carga suplementar de energia nos deixan-
por exemplo, o arroz com feijão que diariamente
do despertos logo após o almoço, quando muitas vezes
abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em
somos acometidos por uma sonolência indesejada.
carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe
da energia própria consumida durante o dia.
„ Desenvolvimento por Exploração de Ideias
Analógicas e Comparação
Parágrafo de Conclusão
Para organização das ideias, nossos redatores utilizam
A conclusão de uma dissertação é o momento de
expressões que indicam confronto, valendo-se do artifí-
cio de contrapor ideias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. se mostrar que o objetivo proposto na introdução foi
Tal confronto tanto pode ser tanto de contrastes atingido. É de fundamental importância que não ocor-
como de semelhanças. Analogia e comparação são ra contradição com a tese proposta no início de sua
também espécies de confronto: redação, o que descaracterizaria toda a argumentação.
Nesse momento, deve-se fazer uma síntese geral ou
A analogia é uma semelhança parcial que sugere retomar a ideia inicial, reforçando os pontos de par-
uma semelhança oculta, mais completa. Na com- tida do raciocínio. Pode-se também demonstrar que
paração, as semelhanças são reais, sensíveis numa uma solução a um problema foi encontrada ou que
forma verbal própria, em que entram normalmente uma proposta de solução pode ser alcançada, ou, ain-
os chamados conectivos de comparação (quanto, da, que uma resposta a uma pergunta foi encontrada.
como, do que, tal qual) [...]4. Esse momento pode também gerar um questio-
namento final, desde que não concorra com suas
Por exemplo: exposições anteriores. A satisfação do leitor deve ser
contemplada na conclusão para que ele não se sinta
Modelo nº 5: frustrado pela expectativa criada quanto ao tema.
A volta ao início do texto que a conclusão faz é algo
No caso das _______________, porque cada qual que chamamos de circularidade. Esse caráter finaliza-
tem seus próprios valores ________________. Enquan- dor da conclusão também colabora para a progressão
to a _________________, as ________, por sua vez, e continuidade textual.
_____________________.
z Tipos Diferentes de Parágrafos de Conclusão
Ao preenchermos o modelo, teremos:
Podemos enumerar alguns exemplos de conclu-
REDAÇÃO DISCURSIVA

No caso das proteínas do bife e da salada que sões satisfatórias que todos poderão usar em seus tex-
comemos, seria melhor não generalizar, porque cada tos dissertativos.
qual tem seus próprios valores para a alimentação.
Enquanto a carne é rica em proteínas que repõem „ Conclusão por Síntese ou Resumo
as perdas musculares pelo desgaste do dia a dia, as
verduras, por sua vez, oferecem as fibras que nos O primeiro recurso com que trabalharemos será
auxiliam no processamento dos alimentos pelo nosso o do resumo ou da síntese geral. Nesse caso, retoma-
organismo ajudando na absorção dos nutrientes. -se, resumidamente, aquilo que se explorou durante
o texto:
„ Desenvolvimento por Exploração de Causa e
Consequência
4 Ibidem, p. 232. 83
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Modelo nº 1: Preenchendo o modelo, teremos:

Tendo em vista os aspectos observados sobre


Levando-se em consideração esses aspectos nossa alimentação, só nos resta esperar que se
__________ somos levados a acreditar que não é apenas garanta a todo brasileiro o acesso a esse rico cardápio.
por _______________, mas também ________________. Ou quem saiba ainda que se divulgue o sucesso de
Sendo assim, ______________. nossa combinação alimentar para que o mundo saiba
que no Brasil se come bem. Consequentemente, será
Ao preenchermos o modelo, teremos: possível a qualquer um balancear com eficiência e bai-
xo custo do que se põe na mesa de sua casa.
Agora, comece a criar seus próprios arranjos e uti-
Levando-se em consideração esses aspectos prá-
lizar essas técnicas para compor redações eficientes
ticos do prato do brasileiro, somos levados a acredi- que garantam seu sucesso em qualquer tipo de con-
tar que não é apenas por prazer que somos seduzidos curso que peça a você um posicionamento específico
pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela sobre qualquer tema.
nos oferece para a manutenção de nossa saúde. Sen-
do assim, a falta de qualquer um desses ingredientes CONSTRUINDO AS MÁSCARAS DE REDAÇÃO
nos causará debilidade, além de insatisfação.
Vamos agora montar nosso quebra-cabeças? Veja
„ Conclusão por Questionamento como arranjamos os modelos de maneiras diferentes.

Modelo nº 1 — Introdução (Declaração Inicial)


Nesse modelo, parte-se de um questionamento
para encerrar seu raciocínio. Mas não se esqueça de
que você não deve colocar em dúvida os argumentos É fato notório que __________________________.
Sabe-se que ______________________, além da _________
desenvolvidos em sua redação.
_____________________________.
Modelo nº 2:
Modelo nº 2 — Desenvolvimento (Pormenores
ou de Enumerações)
O que mais há para ser tomado como ____________
(?) ___________ acreditar que ____________, mas
também ___________ (?). Certamente que sim, pois Entre os aspectos referentes a __________________,
_________________. três pontos merecem destaque especial. O primeiro é
_____________________; o segundo _____________________
e por fim _________________________.
Preenchendo o modelo, teremos:

O que mais há para ser tomado como positivo e Modelo nº 3 — Desenvolvimento (Temporal)
prático no prato dos brasileiros? O que sabemos nos
leva a acreditar que não é apenas por prazer que No passado, quando pensávamos em ____________,
somos seduzidos pela nossa culinária, mas também notávamos que ________________ era _________________
por tudo o que ela nos oferece para a manutenção comparada à que vemos recentemente. Hoje, por
de nossa saúde. E a falta desses ingredientes mudará outro lado, _____________________________ tornaram-
a saúde de nossa população? Certamente que sim, -se ____________. O resultado disso é que __________,
na atualidade, tornou-se _____________________.
pois a carência de tais ingredientes nos causará debi-
lidade, além de insatisfação.
Modelo nº 4 — Desenvolvimento (Contraste de
Ideias)
„ Conclusão por Resposta, Solução ou Proposta

Levanta-se uma (ou mais) hipóteses ou sugestões Muitos acreditam que _____________________, por
do que se deve fazer para transformar a história mos- causa da _________________. Por outro lado, sabe-se
também que ________________, quando muitas vezes
trada durante o desenrolar do texto.
_______________.

Modelo nº 3:
Modelo nº 5 — Conclusão (Síntese ou Resumo)

Tendo em vista os aspectos observados sobre


______________, só nos resta esperar que ___________. Levando-se em consideração esses aspectos
Ou quem saiba ainda que _______________ para _______________, somos levados a acreditar que não
que ______________________. Consequentemente, é apenas por _____________________, mas também
___________________________. __________. Sendo assim, _________________.

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Nova máscara

É fato notório que ______________________________.


Sabe-se que ____________________________, além da
__________________.
Entre os aspectos referentes a
_____________________________, três pontos merecem
destaque especial. O primeiro é ___________________
____________; o segundo __________________________ e,
por fim, _____________________________________.
No passado, quando pensávamos em
_____________, notávamos que ___________________
era ________________ comparada à que
vemos recentemente. Hoje, por outro lado,
__________________________ tornaram-se
_________________. O resultado disso é que _________,
na atualidade, tornou-se _________________.
Muitos acreditam que __________________________,
por causa da ______________________. Por outro lado,
sabe-se também que ___________________, quando
muitas vezes ______________.
Levando-se em consideração esses aspectos
_____________________, somos levados a acreditar
que não é apenas por ________________________,
mas também ______________________. Sendo assim,
________________________.

Observe que fizemos a opção por abrir nossa redação com uma declaração inicial. Como abordamos um tema
geral, sem uma relevância científica notória e que representa na verdade um conhecimento cultural somado às
observações de médicos e nutricionistas, a declaração foi a melhor alternativa, já que não se compromete com a
obrigatoriedade de recorrência a uma fonte de conhecimento referencial.
Em seguida, arranjamos os parágrafos de desenvolvimento mesclando os vários modelos apresentados
anteriormente.
Ao mesmo tempo em que eles nos ofereciam diversas alternativas para a estruturação de nosso projeto,
também nos orientavam dando caminhos a seguir na argumentação. É como se montássemos realmente um
quebra-cabeça.
Escolhemos três modelos diferentes de parágrafos de desenvolvimento para esse projeto: por enumerações, o
temporal e o por contraste. Forçamos um pouco a barra, primeiro criando a máscara para, só depois, completar
nossa redação. Afinal de contas, essa é a vantagem do projeto de máscaras. Veja como ficou:

É fato notório que a comida dos brasileiros é muito boa e tem tudo de que eles necessitam para o seu longo
dia de trabalho. Sabe-se que o arroz com feijão nos fornece um completo abastecimento de energia somado ao
prazer.
Entre os aspectos referentes a esse par considerado completo que é o arroz com feijão, três pontos mere-
cem destaque especial. O primeiro está na riqueza de carboidratos presentes nele e que nos reabastece repondo
a energia consumida durante o dia; o segundo nos reporta ao sabor exótico e marcante que o alimento oferece,
tornando-o sempre uma escolha positiva quanto ao prazer e, por fim, deve-se levar em conta a vantagem do
baixo custo dessa combinação se comparado a outros alimentos também computados como importantes para a
composição de uma alimentação rica.
No passado, quando pensávamos em alimentação, notávamos que sua relação com sobrevivência era
muito maior comparada à que vemos recentemente. Hoje, por outro lado, a qualidade desses alimentos e
a qualidade da saúde que eles proporcionam tornaram-se o foco desse pensamento. O resultado disso é que
comer, na atualidade, tornou-se um ritual de bem viver.
Muitos acreditam que a comida presente em nossas mesas é uma das mais saudáveis do mundo, por causa
REDAÇÃO DISCURSIVA

da sua variedade e equilíbrio. Por outro lado, sabe-se também que poderá engordar, quando muitas vezes
for consumida sem medida, com inspiração apenas no sabor e no prazer que oferece.
Levando-se em consideração esses aspectos práticos do prato do brasileiro, somos levados a acreditar que
não é apenas por prazer que somos seduzidos pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela nos oferece para
a manutenção de nossa saúde. Sendo assim, concluímos que a falta desse ingrediente em nossa mesa nos causará
debilidade, além de insatisfação.

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Com esses modelos apresentados, desejamos mos- Dessa forma, os candidatos perdem a oportunidade
trar como é possível programar e treinar nossos tra- de disputar a vaga para esse concurso, pois são desclas-
balhos de redação se exercitarmos essas habilidades. sificados como se não houvessem feito sua redação.
Porém, é de fundamental importância que você busque Como falam sobre um lugar apropriado para a
ou crie um modelo de máscara com o qual você mais se transcrição do texto e declaram que não considera-
identifique. Isso para que, no momento de produção de rão fragmentos de textos escritos em lugar indevido,
sua redação, principalmente se ocorrer durante uma os candidatos deverão ficar atentos às margens e ao
prova de concurso, você já esteja organizado. número de linhas disponibilizado. Ou seja, se ultrapas-
Com isso, espera-se que você tenha a vantagem de sadas as trinta linhas da folha, certamente a conclusão
partir direto para a elaboração de seu texto sem ter ficará fragmentada. Se a margem for ultrapassada,
de ficar parado buscando inspiração em um momento aquela parte da palavra não será lida. O resultado des-
em que todo segundo é importante. sas desatenções prejudicará toda a coerência do texto,
além de comprometer a estrutura dissertativa.
PROJETO DE TEXTO — ANÁLISE DE PROPOSTAS E Por fim, vêm as orientações quanto ao erro de gra-
RESPECTIVOS PROJETOS POSSÍVEIS fia, que nem sempre aparecem nesse quadro inicial,
mas que sempre servem como referência para todas
Neste tópico, trabalharemos com a análise de uma as provas. Lembre-se sempre de que o corretor não
proposta de redação para observar como vêm sendo é um perito do serviço de inteligência nacional, que
apresentados os temas e como agir diante das diferentes busca meios científicos e investigativos para decodifi-
exigências feitas em provas de concursos. car informações relevantes de uma mensagem secre-
Depois passaremos ao trabalho de orientação de ta. Por isso, se seu texto tiver problemas quanto à
como evitar erros comuns e como buscar soluções para legibilidade, mais pontos serão perdidos, ou pior, será
alguns problemas que venhamos a enfrentar quando desclassificado caso não se possa ler o que foi escrito.
estivermos escrevendo a nossa redação durante a prova. Veja como as bancas costumam trabalhar com
Veja a proposta a seguir: o possível erro na transcrição de uma palavra. Você
deve apenas passar um traço sobre a palavra, a frase,
o trecho ou o sinal gráfico e escrever em seguida o res-
PROVA DISCURSIVA pectivo substituto.
� Nesta folha, faça o que se pede, usando, caso dese- Exemplo:
je, o espaço para rascunho indicado no presente ca-
Errou?
derno. Em seguida, transcreva o texto para a folha de
texto definitivo da prova discursiva, no local apropria- Depois de hoje, iremos para nossas caz casas muito
do, pois não será avaliado fragmento de texto escrito felizes.
em local indevido Corrigiu!
� Qualquer fragmento de texto além da extensão má-
xima de linhas disponibilizadas será desconsiderado
Como informação extra, eles alertam para que não
� Na Folha de Texto Definitivo, a presença de qualquer
se usem parênteses com essa finalidade. Os parênte-
marca identificadora no espaço destinado à transição
ses são elementos gramaticais de pontuação e, como
do texto definitivo acarretará a anulação da sua prova
tais, devem ser usados em sua indicação correta, iso-
discursiva
lando termos pertinentes ao texto, e é dessa forma
� Ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 13,00
que será avaliado seu uso.
pontos, dos quais até 0,60 ponto será atribuído ao
Observe agora os seguintes textos motivadores e o
quesito apresentação (legibilidade, respeito às mar-
tema que deve ser abordado obrigatoriamente:
gens e indicação de parágrafos) e estrutura textual
(organização das ideias em texto estruturado) Direito à Saúde
O direito à saúde é parte do conjunto de direitos cha-
Inicialmente, o candidato é orientado a usar a mados de direitos sociais, que têm como inspiração
folha de rascunho e depois transcrevê-la para a folha o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil, esse
definitiva. Por quê? Porque muitos candidatos deixam direito apenas foi reconhecido na CF; antes disso, o Esta-
para fazer suas redações ao término da prova objeti- do apenas oferecia atendimento à saúde para trabalha-
va, quando a prova discursiva ocorre concomitante- dores com carteira assinada e suas famílias; as outras
pessoas tinham acesso a esses serviços como um favor
mente a esta, e acabam administrando mal o tempo.
e não como um direito. Na Constituinte de 1988, as res-
Quando isso ocorre, acabam fazendo suas redações
ponsabilidades do Estado foram repensadas, e promo-
diretamente na folha definitiva e têm de assumir os ver a saúde de todos passou a ser seu dever: “A saúde é
riscos de cometer erros que não podem ser revertidos. direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
Ou, ainda, não conseguem passar o texto “a limpo” e políticas sociais e econômicas que visem à redução do
esperam que seja corrigido assim mesmo. risco de doença e de outros agravos e ao acesso univer-
sal e igualitário às ações e serviços para a promoção,
proteção e recuperação” (CF, art. 196).
Importante! A saúde é um direito de todos porque sem ela não há
condições de uma vida digna, e é um dever do Estado
Por determinação apresentada geralmente nos porque é financiada pelos impostos que são pagos pela
editais, os rascunhos não serão lidos. população. Dessa forma, para que o direito à saúde seja
uma realidade, é preciso que o Estado crie condições
de atendimento em postos de saúde, hospitais, progra-
mas de prevenção, medicamentos etc., e, além disso, é
preciso que esse atendimento seja universal (atingindo
a todos os que precisam) e integral (garantindo tudo de
86 que a pessoa precise).
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A criação do SUS está diretamente relacionada à „ Para garantir a todos o direito à saúde, já que se
tomada de responsabilidade por parte do Esta- trata de uma determinação de nossa Constituição,
do. Organizado com o objetivo de proteger, o SUS prestando serviços de atendimento ao público;
deve promover e recuperar a saúde de todos os „ Para destacar que a humanização dos serviços
brasileiros, independentemente de onde morem, públicos não é apenas uma aspiração de perfeição
de trabalharem ou não e de quais sintomas apre- moral, mas, antes de tudo, um programa de melho-
sentem. Infelizmente, esse sistema ainda não está ria nas relações de convívio com os agentes de
completamente organizado e ainda existem muitas saúde, promovendo o desenvolvimento de novos
falhas, no entanto seus direitos estão garantidos procedimentos de atendimento aos pacientes;
e devem ser cobrados para que sejam cumpridos. „ Para poder denunciar as especulações e a mer-
cantilização dos serviços médicos e criticar a
Internet: nev.incubadora.fapesp.br (com adaptações). instituição em sua totalidade e rejeitar proposi-
ções que não atendam às aspirações populares.
A humanização é um movimento com crescente e
disseminada presença, assumindo diferentes sentidos Agora, vamos criar uma tese que se encaixe com
segundo a proposta de intervenção eleita. Aparece, à essas respostas, como, por exemplo:
primeira vista, como a busca de um ideal, pois, surgin- Já passou da hora de reconhecer no povo brasilei-
do em distintas frentes de atividades e com significados ro o valor de homem vivente e não apenas de ver esse
variados, segundo os seus proponentes, tem represen- povo como se fosse um coletivo impessoal; como se
tado uma síntese de aspirações genéricas por uma não respirassem, nem pensassem; como se fossem um
perfeição moral das ações e relações entre os sujeitos
número em um gráfico de estatística e não existissem.
humanos envolvidos. Cada uma dessas frentes arrola
Em seguida, vamos buscar, nas respostas que
e classifica um conjunto de questões práticas, teóricas,
comportamentais e afetivas que teriam uma resultante elaboramos, ações que promovam essa proposta de
humanizadora. humanização, como, por exemplo:
Nos serviços de saúde, essa intenção humanizadora se
traduz em diferentes proposições: melhorar a relação „ Treinar os profissionais de saúde para que
médico-paciente; organizar atividades de convívio, recepcionem os pacientes com um atendimen-
amenizadas e lúdicas, como as brinquedotecas e outras to mais atencioso nesse momento de carência;
ligadas às artes plásticas, à música e ao teatro; garantir „ Unificar as informações sobre o oferecimen-
acompanhante na internação da criança; implementar to de serviços apropriados aos pacientes, bem
novos procedimentos na atenção psiquiátrica, na rea- como oferecer meios de locomoção contínua
lização do parto — parto humanizado — e na atenção aos que necessitam buscar outras unidades que
ao recém-nascido de baixo peso — programa da mãe- possam atendê-los;
-canguru —; amenizar as condições do atendimento „ Fiscalizar e avaliar continuamente a qua-
aos pacientes em regime de terapia intensiva; denun- lidade dos serviços oferecidos, expondo
ciar a “mercantilização” da medicina; criticar a “insti- os resultados à população, além de apresen-
tuição total” e tantas outras proposições.
tar cronogramas dos projetos de evolução de
desenvolvimento científico e tecnológico a
Internet: www.scielo.br
serem implementados em prol da saúde.
A Necessidade de Humanização dos Serviços
Feito isso, vamos usar o processo inverso com as pala-
Públicos de Saúde
vras-chave e organizar nosso projeto de texto. Observe:
Já passou da hora de reconhecer no povo brasi-
z Compreendendo a Proposta
leiro o valor de homem vivente e não apenas de ver
esse povo como se fosse um coletivo impessoal; como
O primeiro passo, ao analisar os textos propostos, se não respirassem, nem pensassem; como se fossem
é buscar os principais pontos de maior destaque por um número em um gráfico de estatística e não existis-
eles abordados. Destacamos as palavras-chave de cada sem. Para que o homem prevaleça com sua dignidade,
parágrafo para construir uma síntese sobre as princi- deve-se procurar treinar melhor os profissionais
pais ideias. Essa é uma atitude que também pode ser de saúde, unificar as informações sobre o ofereci-
tomada durante a análise das propostas, pois é assim mento de serviços, além de fiscalizar e avaliar con-
que poderá se construir a tese em sintonia com o tema. tinuamente a qualidade dos serviços oferecidos.
O próximo passo é organizar essas informações, rela- Daqui para frente, você já sabe: é o arroz com fei-
cionando-as ao tema, como se elas pudessem responder a jão, ou seja, os modelos que apresentamos extensa-
uma pergunta feita a partir dele. Veja uma possibilidade: mente ao longo do material.
Demonstramos aqui algumas formas diferentes de
z Como Humanizar os Serviços Públicos de Saúde? análise de propostas, mas que compreendem pratica-
REDAÇÃO DISCURSIVA

mente a forma básica de trabalho com todas as dife-


Vamos agora produzir algumas possíveis respostas rentes instituições e diferentes propostas, assim como
com as palavras que destacamos no texto: dissemos que faríamos.

„ Cobrar dos governantes condições dignas de TEMAS GERAIS DE REDAÇÃO


atendimento por se tratar de um dever do Esta-
do reverter em benefícios à população os valo- Tema 1: PRF (CEBRASPE-CESPE — 2019)
res arrecadados em impostos;
„ Responsabilizar o governo pela proteção e A Lei n.º 11.705/2008, conhecida como Lei Seca, por
recuperação da saúde de todos. reduzir a tolerância com motoristas que dirigem
embriagados, colocou o Brasil entre os países com
z Por que é Necessário Humanizar os Serviços legislação mais severa sobre o tema. No entanto,
Públicos? a atitude dos motoristas pouco mudou nesses dez 87
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
anos. Um levantamento, por meio da Lei de Aces- direitos humanos, negligenciados até então, porquan-
so à Informação, indicou mais de 1,7 milhão de to, desde 1948, havia-se erigido a Declaração Interna-
autuações, com crescimento contínuo desde 2008. cional dos Direitos Humanos no mundo.
O avanço das infrações nos últimos cinco anos Já no art. 1.º da CF, afirma-se a condição de Estado
ficou acima do aumento da frota de veículos e de democrático de direito fundamentado em cidada-
pessoas habilitadas: o número de motoristas fla- nia e dignidade da pessoa humana. O Brasil, por
grados bêbados continua crescendo, em vez de ser signatário de tratados internacionais de direi-
diminuir com o endurecimento das punições ao tos humanos, tem como princípio, em suas relações
longo desses anos. internacionais, a prevalência dos direitos humanos.
Internet: g1.globo.com (com adaptações).
Yara Gonçalves Emerik Borges. A atividade policial e os direitos
humanos. Internet: www.ambitojuridico.com.br (com adaptações).
Nas estradas federais que cortam o estado de
Pernambuco, durante o feriadão de Natal, a A partir das ideias dos textos precedentes, que têm
PRF registrou cento e três acidentes de trânsito, caráter unicamente motivador, redija um texto dis-
com cinquenta e dois feridos e sete mortos. Segun- sertativo acerca do seguinte tema:
do a corporação, seis motoristas foram presos por O papel da Polícia Federal no aprimoramento
dirigir bêbados e houve oitenta e sete autuações da democracia brasileira
pela Lei Seca. Os números são parte da Operação Em seu texto:
Integrada Rodovia, deflagrada pela PRF. Em 2017,
foram registrados noventa acidentes. No ano pas-
z Discorra sobre o papel constitucional e social da
sado, a ação da polícia teve um dia a menos.
Polícia Federal e sua relação com os direitos huma-
nos; [valor: 4,00 pontos]
Internet: g1.globo.com (com adaptações).
z Cite contribuições da Polícia Federal relevantes
para a manutenção do Estado democrático de
Considerando que os fragmentos de texto acima direito, especialmente relacionadas aos direitos
têm caráter unicamente motivador, redija um texto humanos; [valor: 4,00 pontos]
dissertativo acerca do seguinte tema: z Apresente sugestões de implantação de ações e(ou)
O combate às infrações de trânsito nas rodovias projetos que possam contribuir futuramente para
federais brasileiras o aprimoramento da democracia brasileira. [valor:
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos: 4,40 pontos]

z Medidas adotadas pela PRF no combate às infra- Tema 3: PF — Papiloscopista (CEBRASPE-CESPE


ções; [valor: 7,00 pontos] — 2018)
z Ações da sociedade que auxiliem no combate às
infrações; [valor: 6,00 pontos] Sem abrigos, grupos de imigrantes venezuela-
z Atitudes individuais para a diminuição das infrações. nos voltaram a acampar na rodoviária e a ficar
[valor: 6,00 pontos] nas ruas de Manaus. A crise política, econômica
e social na Venezuela, que desencadeou um fluxo
migratório para o Brasil, continua atraindo milha-
Tema 2: PF — Agente (CEBRASPE-CESPE — 2018)
res de imigrantes para o país.
Em busca de sobrevivência, indígenas venezuelanos
O Preâmbulo da Constituição Federal de 1988 (CF) da etnia Warao começaram a migrar para Manaus
dispõe que o Estado democrático se destina a asse- desde o início de 2017. Adultos, idosos e crianças se
gurar o exercício dos direitos sociais e individuais, abrigaram na rodoviária de Manaus e debaixo de
a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvi- um viaduto na Zona Centro-Sul. Enquanto o maior
mento, a igualdade e a justiça como valores supre- abrigo foi desativado no Amazonas, a chegada dos
mos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem venezuelanos não indígenas só aumentou.
preconceitos, fundada na harmonia social e com- As condições precárias de vida em solo brasileiro
prometida, na ordem interna e internacional, com podem favorecer a ocorrência de situações degra-
a solução pacífica das controvérsias. dantes. Órgãos federais e entidades religiosas anun-
A missão das forças policiais é garantir ao cidadão ciaram medidas para cobrar ações concretas da
o exercício dos direitos e das garantias fundamen- prefeitura da cidade e dos governos federal e estadual.
tais previstos na CF e nos instrumentos internacio-
nais subscritos pelo Brasil (art. 5.º, § 2.º, da CF). Internet: https://g1.globo.com/ (com adaptações).
O cumprimento dessa missão exige preparo dos
integrantes das corporações policiais, que devem Lei nº 13.445/2017
perseguir incansavelmente a verdade dos fatos sem Art. 3º A política migratória brasileira rege-se
se afastar da estrita observância ao ordenamento pelos seguintes princípios e diretrizes:
jurídico vigente, que deve ser observado por todos, I - universalidade, indivisibilidade e interdependên-
cia dos direitos humanos;
em respeito ao Estado democrático de direito.
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a
quaisquer formas de discriminação;
Wlamir Leandro Motta Campos. Polícia Federal e o Estado
III - não criminalização da migração; […]
democrático. Internet: www.direitonet.com.br (com adaptações).
VI - acolhida humanitária; […]
IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao
O Brasil se efetivou como um país democrático de migrante e a seus familiares;
direito após a promulgação da CF — também chama- X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante
da de Constituição Cidadã, por contar com garantias por meio de políticas públicas;
e direitos fundamentais que reforçam a ideia de um XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços,
país livre e pautado na valorização do ser humano. programas e benefícios sociais, bens públicos, educa-
Com a ruptura do antigo sistema ditatorial, o Esta- ção, assistência jurídica integral pública, trabalho,
88 do tinha a necessidade de resgatar a importância dos moradia, serviço bancário e seguridade social;
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, Preservação do ecossistema: responsabilidade
garantias e obrigações do migrante; do estado, da sociedade e de cada cidadão
XVII - proteção integral e atenção ao superior inte- Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
resse da criança e do adolescente migrante;

(Internet – www.planalto.gov.br) z Relação entre os cuidados com o meio ambiente e a


preservação das condições sanitárias; [valor: 12,00
Considerando que os fragmentos de texto apresen- pontos]
tados têm caráter unicamente motivador, redija um z Atitudes individuais que podem reduzir os efeitos da
texto dissertativo acerca da entrada de imigrantes ação humana sobre o planeta; [valor: 13,00 pontos]
no Brasil, discutindo estratégias para a prevenção de z Formas de atuação da sociedade para que os
crimes e de violências envolvendo imigrantes no país, governos cumpram compromissos relacionados à
tanto na condição de agentes quanto na de vítimas. preservação ambiental. [valor: 13,00 pontos]

Tema 4: ABIN — Agente de Inteligência (CEBRASPE- Tema 6: Polícia Civil do Maranhão — Escrivão
CESPE — 2018)
(CEBRASPE-CESPE — 2018)
Denominamos “cooperação descentralizada” as
Discorra sobre os princípios penais da reserva
iniciativas de cooperação protagonizadas pelas
administrações locais e regionais, especialmente legal; da anterioridade da lei penal e da intranscen-
governos municipais e estaduais. Essa cooperação dência da pena, abordando o conceito de cada um, sua
descentralizada expressa o surgimento, na Améri- natureza jurídica e seus objetivos.
ca, de uma nova forma de cooperação, a partir do
envolvimento da sociedade fronteiriça e de atores Tema 7: Superior Tribunal de Justiça — Técnico
políticos locais. Nesse tipo de cooperação, vê-se Administrativo (CEBRASPE-CESPE — 2018)
alto nível de articulação da comunidade fronteiriça
em detrimento do governo central. Declaração Universal dos Direitos Humanos
(…)
Renata Furtado. 35 anos da lei da faixa de fronteira: avanços e
Art. 19 Todo ser humano tem direito à liberdade de
desafios à integração sul-americana. In: Revista Brasileira de
Inteligência, n.º 9. ABIN, 2015 (com adaptações). opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade
de, sem interferência, ter opiniões e de procurar,
Tendo o fragmento de texto apresentado como receber e transmitir informações e ideias por quais-
referência inicial, redija um texto dissertativo a res- quer meios e independentemente de fronteiras.
peito do papel dos governos municipal, estadual e
Internet: www.unicef.org
federal nas relações políticas e sociais nas áreas de
fronteira do Brasil.
Em seu texto, aborde os seguintes tópicos: Código Civil
(…)
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um
z A fronteira como espaço geopolítico e espaço de
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
relações sociais; [valor: 10,00 pontos]
limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
z Distintas relações do Brasil com os países vizinhos
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
e principais problemas presentes nas regiões fron-
Internet: www.planalto.gov.br
teiriças; [valor: 18,00 pontos]
z Papel da área de inteligência na análise das ques-
“Não podemos confundir liberdade de expressão
tões relacionadas às fronteiras. [valor: 10,00 pontos]
nas redes sociais com irresponsabilidade, senão o
exercício dessa liberdade torna-se abuso de direi-
Tema 5: ANVISA — Técnico Administrativo
to”, alerta a advogada Patrícia Peck Pinheiro, espe-
(CEBRASPE-CESPE — 2016)
cialista em direito digital. “O que mais prejudica
a liberdade de todos é o abuso de alguns, a ofensa
Historicamente, instruir os que não sabem, alimentar
covarde e anônima, isso não é democracia”.
os famintos e cuidar dos doentes têm sido algumas
Os chamados crimes contra a honra na Internet —
das missões diárias indicadas aos devotos de dife-
que envolvem ameaça, calúnia, difamação, injúria
rentes religiões. Em tempos modernos, a essas mis-
sões foi acrescentado um novo item: zelar pelo meio e falsa identidade — têm gerado cada vez mais pro-
ambiente, como revela, por exemplo, uma mensagem cessos judiciais. Um levantamento divulgado pelo
escrita pelo Papa Francisco, exortando as sociedades, Superior Tribunal de Justiça lista sessenta e cinco
REDAÇÃO DISCURSIVA

independentemente de suas crenças, a tomar medidas julgamentos recentes que resultaram em pagamen-
urgentes para frear as mudanças climáticas. Para o to de indenizações, retirada de páginas do ar, res-
representante máximo do catolicismo, “o cuidado da ponsabilização de agressores e outras condenações
casa comum requer simples gestos cotidianos, pelos em favor das vítimas.
quais quebramos a lógica da violência, da explora- Na opinião de Patrícia Peck, a falta de educação e a
ção, do egoísmo, e manifestamos o amor em todas as impunidade contribuem para os excessos na Inter-
ações que procuram construir um mundo melhor”. net. Segundo ela, “Sem educação em ética e leis,
corremos o risco de a liberdade de expressão e o
O Globo, 2/9/2016, p. 29 (com adaptações). anonimato digital se converterem em verdadeiros
entraves à evolução da sociedade digital, pois tor-
Considerando que o fragmento de texto acima tem narão o ambiente da Internet selvagem e inseguro”.
caráter unicamente motivador, redija um texto dis-
sertativo acerca do seguinte tema: Internet: www.cartacapital.com.br (com adaptações) 89
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Considerando as ideias precedentes nos fragmen- z Propósito de cada um desses modelos; [valor: 9,00
tos textuais apresentados anteriormente, redija um pontos]
texto dissertativo a respeito do seguinte tema: z Princípios e práticas norteadores (apresente, ao
O anonimato digital e o abuso do direito à liber- menos, três para cada modelo). [valor: 20,00 pontos]
dade de expressão
Ao construir seu texto, apresente um exemplo de Tema 11: Tribunal Regional Eleitoral Piauí – Analista
situação em que emissão de opinião no meio digital Judiciário – Área Judiciária (CEBRASPE-CESPE — 2016)
pode significar abuso de direito e discuta maneiras de
prevenir ou coibir esse tipo de comportamento. No Brasil, a legislação sobre compras públicas
foi inovada com a introdução da Lei n.º 12.462/2011,
Tema 8: Tribunal Regional do Trabalho (8ª Região) conhecida como Lei do Regime Diferenciado de Con-
— Técnico Judiciário — Área Administrativa tratações Públicas (RDC), que foi regulamentada pelo
(CEBRASPE-CESPE — 2016) Decreto n.º 7.581/2011.
Considerando essas informações, redija um texto
Considerando a integração da gestão da qualidade dissertativo sobre a introdução do RDC no ordena-
no cotidiano das organizações, redija um texto disser- mento jurídico brasileiro, abordando, fundamentada-
tativo acerca do seguinte tema: mente, os seguintes aspectos:
1. A motivação para sua criação; [valor: 2,00 pontos]
CICLO PDCA 2. Exigências aplicáveis ao objeto da licitação; [valor:
2,00 pontos]
3. Objetivos expressos na Lei do RDC; [valor: 2,50
Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir:
pontos]
4. Diretrizes relativas às licitações e aos contratos
z Conceitue o ciclo PDCA; [valor: 10,00 pontos] administrativos. [valor: 3,00 pontos]
z Cite e defina as quatro fases do ciclo PDCA; [valor:
15,00 pontos] Tema 12: Câmara de Vereadores de Piracicaba/SP —
z Apresente o detalhamento das etapas da primeira Técnico em Contabilidade (VUNESP — 2021)
fase do ciclo PDCA. [valor: 13,00 pontos]
Texto 1
Tema 9: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Quem viaja para os Estados Unidos ou Europa e
dos Territórios (TJDF) — Analista Judiciário — Área aluga um carro geralmente não sabe muito o que
Judiciária (CEBRASPE-CESPE — 2015) fazer ao parar para reabastecer pela primeira vez.
Sem a figura dos frentistas, o próprio motoris-
Toda conduta dolosa ou culposa pressupõe uma ta manuseia a bomba e realiza o pagamento pelo
finalidade. A diferença entre elas reside no fato cartão, diferentemente do que ocorre no Brasil,
de que, em se tratando de conduta dolosa, como onde a profissão de frentista é protegida pela Lei
regra, existe uma finalidade ilícita, ao passo que, nº 9.956/00, que proíbe o funcionamento de bombas
tratando-se de conduta culposa, a finalidade é qua- de autosserviço em todo território nacional e aplica
se sempre lícita. Nesse caso, os meios escolhidos e multas caso seja descumprida.
empregados pelo agente para atingir a finalidade “Pensando só em números, o preço do combustível
lícita é que são inadequados ou mal utilizados. poderia baixar com a automação, mas não é pos-
sível avaliar quanto”, diz o tributarista João Paulo
Rogério Greco. Curso de direito penal – parte geral. p. 196 (com Muntada, que afirma que a mão de obra e os encar-
adaptações). gos relacionados representam o segundo custo que
mais onera a operação de empreendimentos em
Considerando que o fragmento de texto acima tem geral no país, atrás apenas do produto em si e dos
caráter unicamente motivador, redija um texto dis- impostos que incidem sobre ele.
sertativo acerca dos crimes culposos.
Seu texto deve conter, necessariamente: (Isadora Carvalho e Leo Nishihata. “Todo posto de combustível é
obrigado a ter frentistas no Brasil”. https://quatrorodas.abril.com.br,
14.09.2018. Adaptado)
z Os elementos do crime culposo e a descrição de pelo
menos dois desses elementos; [valor: 12,00 pontos] Texto 2
z Os conceitos de culpa inconsciente, culpa cons- O Projeto de Lei nº 2.302/19 permite o funciona-
ciente e dolo eventual e suas diferenças; [valor: mento de bombas de autosserviço – operadas pelo
12,00 pontos] próprio consumidor – nos postos de abastecimento
z Os conceitos de culpa imprópria e tentativa. [valor: de combustíveis. Em análise na Câmara dos Depu-
14,00 pontos] tados, o projeto revoga a Lei nº 9.956/00, que hoje
proíbe essas bombas. O deputado Vinicius Poit,
Tema 10: STM — Analista Judiciário — Área autor da proposta, diz que a permissão de postos
Administrativa (CEBRASPE-CESPE — 2018) com autosserviço é uma das sugestões constantes
em estudo do Conselho Administrativo de Defesa
Na trajetória da administração pública brasileira, Econômica (Cade) de 2018 para aumentar a con-
corrência no setor de combustíveis e reduzir os pre-
destacam-se o modelo burocrático, associado ao poder
ços dos combustíveis. O parlamentar ressalta que o
racional-legal, e o modelo gerencialista, representado
modelo existe nos Estados Unidos desde a década
pela nova administração pública. Discorra sobre os de 50 e permite a venda por um preço mais barato,
seguintes tópicos, relacionados a esses dois modelos: já que reduz o custo trabalhista do empresário.

z Contextos em que esses modelos surgiram; [valor: (Lara Haje. “Projeto permite bombas de autosserviço em postos de
90 9,00 pontos] combustíveis”. www2.camara.leg.br, 06.06.2019. Adaptado)
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Texto 3 Eles influenciam a pauta de conversas tanto com
Em 2014, o senador Blairo Maggi apresentou Pro- material que gera engajamento entre os telespec-
jeto de Lei do Senado nº 407/14, que previa a ins- tadores, como com publicidades criativas. O levan-
talação de bombas de autosserviço nos postos de tamento da Kantar IBOPE Media aponta que 51%
abastecimento de combustíveis. Representantes das pessoas acham que a propaganda na TV é inte-
dos frentistas, à época, estimaram que cerca de 500 ressante e proporciona assunto para conversar. E,
mil frentistas seriam demitidos caso a proposta se entre os que acessam a internet enquanto veem TV,
tornasse lei. 23% comentam nas redes sociais o que assistem –
O presidente da Federação dos Empregados em mostrando que a televisão segue marcando presen-
Postos de Combustíveis do Estado de São Paulo ça no dia a dia do brasileiro.
(Fepospetro), Luiz de Souza Arraes, afirmou que a
medida visava “única e exclusivamente aumentar o (João Paulo Reis. “Televisão: a abrangência e a influência do
lucro de quem já lucra muito”. O secretário de Rela- meio mais presente na vida dos brasileiros”, 24.12.2018. https://
ções Institucionais da União Geral dos Trabalhado- observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br. Adaptado)
res (UGT), Miguel Salaberry Filho, pediu a imediata
retirada do projeto. “Para que mudar uma lei e Com base nas informações dos textos e em seus
desempregar 500 mil trabalhadores?”, questionou. próprios conhecimentos, escreva um texto dissertati-
vo, de acordo com a norma-padrão da língua portu-
(Rodrigo Baptista. “Frentistas pedem arquivamento de projeto que guesa, sobre o tema:
libera bombas de autosserviço nos postos”. www12.senado.leg.br, A popularização da internet ameaça o poder de
07.12.2015. Adaptado)
influência da televisão?
Com base nos textos apresentados e em seus pró-
Tema 14: PRF — Policial Rodoviário Federal
prios conhecimentos, escreva um texto dissertati-
(CEBRASPE-CESPE — 2019)
vo-argumentativo, empregando a norma-padrão da
língua portuguesa, sobre o tema: A Lei n.º 11.705/2008, conhecida como Lei Seca, por
Bombas de autosserviço: entre a redução do reduzir a tolerância com motoristas que dirigem
preço do combustível e o risco de desempregar embriagados, colocou o Brasil entre os países com
frentistas. legislação mais severa sobre o tema. No entanto, a
atitude dos motoristas pouco mudou nesses dez anos.
Tema 13: PM-SP — Soldado PM de 2ª Classe Um levantamento, por meio da Lei de Acesso à Infor-
(VUNESP — 2019) mação, indicou mais de 1,7 milhão de autuações, com
crescimento contínuo desde 2008. O avanço das infra-
Texto 01 ções nos últimos cinco anos ficou acima do aumento
Pela primeira vez, a população deve consumir mais da frota de veículos e de pessoas habilitadas: o núme-
conteúdo midiático na internet do que pela TV, de ro de motoristas flagrados bêbados continua cres-
acordo com relatório da agência de mídia Zenith. cendo, em vez de diminuir com o endurecimento das
Conforme a previsão, já em 2019 as pessoas devem punições ao longo desses anos.
passar mais horas navegando pela internet, fazen-
do compras, assistindo a filmes, séries e vídeos, Internet: (com adaptações).
conversando ou ouvindo música, do que assistindo
à televisão. Nas estradas federais que cortam o estado de
Pernambuco, durante o feriadão de Natal, a PRF
(“Internet irá ultrapassar TV já em 2019, indica relatório”, registrou cento e três acidentes de trânsito, com
18.06.2018. https://epocanegocios.globo.com. Adaptado) cinquenta e dois feridos e sete mortos. Segundo
a corporação, seis motoristas foram presos por
Texto 02 dirigir bêbados e houve oitenta e sete autuações
De acordo com estudo divulgado pela empresa pela Lei Seca. Os números são parte da Operação
Morrison Foster, as pessoas passam, em média, Integrada Rodovia, deflagrada pela PRF. Em 2017,
sete horas por dia nas redes sociais. E é exatamen- foram registrados noventa acidentes. No ano pas-
te esse o local ocupado pelos influenciadores, que sado, a ação da polícia teve um dia a menos.
também estão conectados e produzindo conteúdos
para seus seguidores a todo tempo. Segundo uma Internet: (com adaptações).
outra pesquisa, publicada pela Sprout Social, 74%
dos consumidores guiam suas decisões de compra Considerando que os fragmentos de texto acima
com base nas redes sociais. Ou seja, o público está têm caráter unicamente motivador, redija um texto
atento às opiniões da internet e, principalmente, aos
REDAÇÃO DISCURSIVA

dissertativo acerca do seguinte tema:


depoimentos de canais influentes e de credibilidade. O combate às infrações de trânsito nas rodovias
federais brasileiras.
(“A contribuição dos influenciadores digitais para a decisão de
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
compra”. 02.02.2018. https://franpress.com.br. Adaptado)

z Medidas adotadas pela PRF no combate às infra-


Texto 03
Nos últimos 10 anos, o tempo médio de consumo ções; [valor: 7,00 pontos]
domiciliar de televisão passou de 8h18 para 9h17. z Ações da sociedade que auxiliem no combate às
Um crescimento de 12%. Vale ressaltar que esse foi infrações; [valor: 6,00 pontos]
um período de forte ascensão da internet como pla- z Atitudes individuais para a diminuição das infrações.
taforma de distribuição de conteúdo. Os conteúdos [valor: 6,00 pontos]
da TV, além de entreter e informar, também exer-
cem um papel importante na dinâmica social. 91
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Tema 15: DETRAN/SP — Agente Estadual de Trânsito Considerando os textos acima, escreva uma dissertação
(FCC — 2019) argumentativa em que você discuta a seguinte questão:

1 A realização individual fomentaria maior igual-


Cidades ativas são aquelas em que a população dade social?
pode fazer escolhas mais saudáveis e sustentáveis.
Para que isso seja possível, as cidades devem pro- Tema 17: DETRAN/SP — Oficial Estadual de Trânsito
porcionar acesso a espaços públicos e serviços de (FCC — 2019)
qualidade a todas as pessoas, garantindo que pos-
sam passear, descansar, brincar e se exercitar em 1
O trânsito é um local onde a educação precisa estar
praças, parques e equipamentos.
presente o tempo todo, inclusive, pensando na manu-
tenção da segurança das vidas que estão envolvidas
(Disponível em: www.archdaily.com.br) nele. Portanto, a educação destinada ao trânsito é o
desenvolvimento das capacidades intelectuais, morais
2 e físicas das pessoas [...]. Não se trata apenas de circu-
O planejamento da rede de mobilidade não apenas lação de pessoas e veículos, mas de questões de cidada-
enfrenta desafios, como, por exemplo, a conexão nia, meio ambiente e cultura de maneira geral.
entre espaços públicos e principais destinos, mas
(Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br. Adaptado)
também questões como a integração social de uma
comunidade. 2
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) define os
Considerando as ideias expostas em 1 e 2, redija um direitos e deveres de toda a população nas vias de
texto dissertativo-argumentativo a respeito do tema: circulação e estradas. A regra geral é sempre a mes-
Espaço urbano e qualidade de vida. ma: o maior cuida do menor.

(Disponível em: www.brasil.gov.br)


Tema 16: SPPREV — Analista em Gestão
Previdenciária (FCC — 2019) Considerando as ideias expostas em 1 e 2, redija um
texto dissertativo-argumentativo a respeito do tema:
I Educação para o trânsito — fortalecimento da
Em visita aos Estados Unidos, em 1970, Margaret cidadania.
Thatcher fez o seguinte pronunciamento:
“Uma das razões por que valorizamos indivíduos não é Tema 18: TRF 3ª — Técnico Judiciário — Área
porque sejam todos iguais, mas porque são todos dife- Administrativa (FCC — 2019)
rentes. Permitamos que nossos filhos cresçam, alguns
mais altos que outros, se tiverem neles a capacidade Foi recentemente publicado no American Journal of Pre-
de fazê-lo. Pois devemos construir uma sociedade na ventive Medicine um estudo com adultos jovens, de 19 a
qual cada cidadão possa desenvolver plenamente seu 32 anos de idade, apontando que quanto maior o tempo
potencial, tanto para seu próprio benefício quanto dispendido em mídias sociais de relacionamento, maior
a sensação de solidão das pessoas. Além disso, esse estu-
para o da comunidade como um todo.”
do demonstrou também que quanto maior a frequência
A premissa crucial que leva a afirmação de Thatcher
de uso, maior a sensação de isolamento social.
a parecer quase evidente em si mesma — a suposição
de que a “comunidade como um todo” seria adequa- (Adaptado de: ESCOBAR, Ana. Disponível em: http://g1.globo.com)
damente servida por todo cidadão dedicado a seu
“próprio benefício” — acabou por ser admitida como Com base nas ideias do texto acima, redija uma
ponto pacífico. Assim, no fim do século passado, tor- dissertação de caráter argumentativo sobre o tema:
nou-se aceita a noção de que, ao agir egoisticamente, Isolamento social na era da comunicação virtual.
de algum modo as pessoas beneficiariam as outras.
Tema 19: Banco do Brasil S/A — Escriturário —
(Adaptado de: ZYGMUNT, Bauman. A riqueza de poucos beneficia Agente de Tecnologia (CESGRANRIO — 2021)
todos nós? Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 30)
Utilize o texto a seguir apenas como motivador
II para a produção de sua redação. Nenhum texto des-
Segundo a ortodoxia econômica, uma boa dose de ta prova poderá ser copiado.
desigualdade leva a economias mais eficientes e
crescimento mais rápido. Isso se dá porque retornos O grave efeito colateral da Covid na educação
mais altos e impostos menores no topo da escala —
segundo afirmam — fomentariam o empreendedo- Há um ano e meio, a pandemia do novo corona-
rismo e engendrariam um bolo econômico maior. vírus deixa seu rastro na vida de todos nós. Tam-
Assim, terá dado certo a experiência de fomento da bém nos rouba o futuro, ao empurrar milhões de
desigualdade? Os indícios sugerem que não. A dis- crianças e jovens para um prolongado compasso de
paridade de riqueza atingiu dimensões extraordi- espera. Esse é o efeito mais perverso de longo prazo
da Covid-19, que ceifa o direito ao desenvolvimento
nárias, mas sem o progresso econômico prometido.
pleno e à educação de uma geração inteira.
O retorno das atividades presenciais tem se dado de
(Adaptado de: LANSEY, Stewart apud ZYGMUNT, Bauman. A riqueza forma arrastada e desigual. Nesse cenário, o ensi-
de poucos beneficia todos nós? Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. no remoto ainda é a única chance para que muitos
24-25) alunos continuem estudando. No entanto, é preciso
avançar em ritmo acelerado para garantir às escolas
92 a conectividade que permita o acesso de qualidade
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às atividades. Sem aulas presenciais e sem conexão do brasileiro, que sem saber dos seus direitos, não
adequada, a aprendizagem dos estudantes poderá exerce a devida cobrança e, quando lesado, não
retroceder até quatro anos, segundo pesquisa. sabe a quem recorrer.
As nossas crianças e jovens não podem esperar
mais. É o futuro de cada um deles que está em risco. O Estado de Minas, 20/01/2015.
É o futuro do país que está em jogo.
Texto III
MIZNE, Denis e SAAD, David. O grave efeito colateral da Covid na
Contrariando a consagrada frase “faça uma lei ape-
educação. Disponível em: https://www.cpp.org.br/informacao/
ponto-vista/item/17096-o-grave-efeito-colateral-da-covid- nas se estiver disposto a morrer por ela”, o Brasil
naeducacao. Acesso em: 20 jul. 2021. Adaptado. tem incríveis mais de 200 mil leis. No entanto, a
aplicabilidade delas é reduzida, estimulando a cria-
No texto, discutem-se as dificuldades do ensino ção de novas legislações: um levantamento apon-
remoto no Brasil e a sua relação com a pandemia de tou que, em média, são criadas 18 novas leis por dia
Covid-19, pontuando que há um “efeito perverso de no país. Muitas são inconstitucionais, outras “não
longo prazo da Covid-19, que ceifa o direito ao desen- pegam” e parcela considerável gera consequências
volvimento pleno e à educação de uma geração inteira.” perversas e destoantes das intenções iniciais. Mas,
Considerando as informações veiculadas no texto afinal, por que tantas leis e por que elas são tão
motivador, elabore um texto dissertativo-argumenta- ruins e “doidas”?
tivo em que você discuta o seguinte tema:
Efeitos negativos da pandemia no futuro da Instituto Mercado Popular, 22/08/2016.
educação no Brasil.
Produza um texto argumentativo, sobre o tema:
Tema 20: IMBEL — Analista Especializado — Analista O que fazer para as leis funcionarem?
Administrativo (FGV — 2021)
Com base em argumentos convincentes, seu texto
Leia os textos motivadores a seguir, que exploram deve ser formulado em língua culta e ter entre 20 e
a existência e a aplicação de leis no Brasil. 30 linhas.

Texto I — Lei mais que seca 20 DICAS COM SÍNTESE DE ALGUNS ASPECTOS DE
Um cidadão honesto e decente, que não mete a mão
GRANDE RELEVÂNCIA
no dinheiro alheio, não bate na mulher nem cospe no
chão, pode, de repente, transformar-se num perigo
para a comunidade e para si mesmo? Todo mundo Vamos passar agora para o acabamento de nossa
sabe a resposta: pode sim, quando enche a cara e se redação, pois alguns aspectos devem ser observados
arrisca a voltar para casa pilotando um automóvel. antes que fechemos a nossa redação.
No Brasil, dirigir embriagado é crime, mas há um Reunimos aqui algumas informações importantes
problema que reduz consideravelmente a eficácia da para a organização e revisão de seu trabalho. Algumas
legislação: a prova do pileque é atestada pelo bafôme-
já foram trabalhadas anteriormente, mas as retomare-
tro. E ninguém pode ser obrigado a produzir prova
contra si mesmo. O que é compreensível em muitos
mos para criar um procedimento de observação geral.
outros casos, mas complica um bocado a eficácia da
legislação que visa a impedir acidentes nas estradas. 1º Estética: Grafia / Alinhamento / Paragrafação /
O problema é sério, como mostram os números sobre Respeito às Margens
a situação nas estradas do Estado do Rio. Nos últimos
três anos, mais de 600 mil motoristas foram aborda- Essa serve para qualquer prova de concurso. A
dos em blitzes da polícia e 47 mil deles se recusaram maioria das bancas exige que os candidatos apresen-
a passar pelo bafômetro – e não há punição para isso.
tem uma escrita que permita a leitura clara do texto
A situação pode melhorar com um projeto que está
sendo discutido pelo governo e o Congresso. A ideia sem a preocupação com o tipo de letra, respeitando
é não limitar a prova do pileque ao teste do bafôme- apenas questões de caixa alta (letra grande marcan-
tro: o estado do motorista seria atestado por filma- do o início de frases e nomes próprios) e caixa baixa
gens, fotos ou depoimentos de testemunhas. Nada (letra pequena compondo o restante da palavra).
demais: é o que acontece com muitos outros crimes. A segunda parte deste item aborda o respeito às
E o castigo será consideravelmente mais pesado, margens. É de fundamental importância a disposição
com multa maior, mais tempo com a carteira sus- do texto na folha definitiva. O texto deverá respeitar
pensa e até três anos de cadeia. Em suma, é uma lei
consideravelmente muito mais seca.
os limites impostos pelas margens direita e esquerda,
nunca ultrapassando seus limites nem se distancian-
REDAÇÃO DISCURSIVA

Luiz Garcia, O Globo, 03/02/2013. do demasiadamente delas:

Texto II
Quinze minutos para ser atendido no banco e um margens
para cancelar o contrato com a operadora de tele-
fone. Não ter que ligar para reclamar daquele segu-
ro de perda e roubo do cartão de crédito que você Na margem esquerda da folha definitiva de reda-
nunca pediu e completar 65 anos com a tranquili- ção, deve-se iniciar a escrita imediatamente ao lado
dade de ser atendido preferencialmente no caixa do da linha, sem deixar folga alguma entre a primeira
supermercado. O cenário parece impossível, mas letra e a demarcação da margem.
cada uma das situações acima é amparada por
uma lei específica no país. O que não acontece por
aqui é o cumprimento da legislação. Vezes porque margens
não há fiscalização e outras por desconhecimento 93
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Na margem direita, a preocupação do candidato aumenta, pois além de se preocupar com as questões de divi-
são silábica e o correto emprego do hífen para essa função, ele também deverá se preocupar em não ultrapassar
a linha demarcatória da margem.

2 cm Parágrafo

margens

O último item deste quesito trata da paragrafação, ou seja, a disposição dos parágrafos dentro da redação.
O candidato deverá deixar bem clara a distância em que se iniciará a escritura do parágrafo para que se faça a
diferença com a escrita iniciada junto à margem. Um afastamento de aproximadamente 2 cm já é suficiente.

Dica
Para marcar o recuo de parágrafo, recorra à velha dica da escola e deixe o espaço de dois dedos antes de
começar a escrever.

2º O Erro

Insira apenas uma linha sobre as palavras erradas. Você deve apenas passar um traço sobre a palavra, a frase,
o trecho ou o sinal gráfico e escrever em seguida o respectivo substituto.
Exemplo: Depois de hoje, iremos para nossas caz casas muito felizes.

3º Faça Períodos Curtos

Componha parágrafos de aproximadamente três períodos cada.


Com os modelos que apresentamos, foi possível observar que, para cada parágrafo de aproximadamente 5
linhas, usamos pelo menos 3 períodos. Com isso, conseguimos algumas vantagens, como a de ser mais objetivos e
diretos ao abordar uma ideia e a de isolar um possível erro dentro de um período sem projetá-lo para o resto do
parágrafo.

(1) É de fundamental importância o ___________ para_____________. / (2) Podemos mencionar, por exemplo,
_______________________ que ____________________, por causa ______________________. / (3) Esse __________________ do
que _______________________.

4º A Ordem Direta Facilita na Correta Pontuação

Uma das importantes regras de pontuação que determina o correto emprego da vírgula orienta que, se a ora-
ção estiver em ordem direta (sujeito + verbo + complementos), não se deve usar vírgula para separar termos que
se complementam sintaticamente.
Ou seja, se estiver com alguma dúvida quanto ao uso de vírgula, reorganize a oração para ver se fica mais fácil
a compreensão da estrutura. Exemplo:

z Ordem com termo deslocado:

Termo
deslocado
(Complemento
adverbial)
Sujeito Complemento verbal

Hoje pela manhã, eu comprei um belo carro novo.

Verbo

z Ordem direta:

Eu comprei um belo carro novo hoje pela manhã.

5º Colocação Pronominal

Os pronomes pessoais oblíquos átonos podem ocupar três posições distintas na oração: anteposto ao verbo (prócli-
se), posposto ao verbo (ênclise) e entremeio ao verbo (mesóclise). Em regra, a posição que esses pronomes vão ocupar
em determinada oração é estabelecida perante a presença ou ausência de palavras atrativas.
Advérbios, conjunções subordinativas, termos que exprimem sentido negativo, pronomes relativos, indefini-
dos e demonstrativos são exemplos de palavras capazes de atrair o pronome pessoal oblíquo átono para antes do
verbo. Assim, não havendo nenhuma palavra atrativa antes do verbo da oração, subentende-se que a colocação
94 pronominal dar-se-á pela ênclise ou mesóclise, a depender da construção sintática.
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Falaria-se muito sobre este assunto naquele dia. (errado)
Falar-se-ia muito sobre este assunto naquele dia. (certo)
Ou
Muito se falaria sobre este assunto naquele dia. (sempre certo)

6º Impessoalidade

As verdades gerais sempre têm maior valor. As opiniões pessoais pouco contribuem para a sustentação de uma ideia.
Por isso, as afirmações apresentadas terão melhor aceitação se trouxerem representações gerais de valor coletivo:
Acredita-se em vez de Acredito
Sabe-se em vez de Sei
E outras expressões generalizantes como:
É de conhecimento geral... / Muitos entendem que... / Muito se tem discutido sobre...

7º Tese

É importante que seja bem fundamentada, pois é quando você apresenta seu ponto de vista, seu posiciona-
mento diante do tema.

8º Argumentos para seu Texto

É comum a cobrança de temas próprios às funções dos cargos disputados, por isso, preste sempre atenção nos
assuntos recorrentes dos textos da prova.

9º Título

Não se põe título nas redações para concursos, a menos que isso seja uma exigência do edital.

10º Evite a Repetição de Palavras

Use sinônimos e outros termos de recuperação.

z que = o qual / a qual;


z onde= em que, no qual / na qual.

11º Vocabulário

Procure sempre a clareza na apropriação vocabular. A linguagem simples torna o texto mais fluente: pense em
explicar seus argumentos como se falasse a uma criança de 10 anos. Não use erudições do tipo “hodiernamente”;
diga: atualmente ou hoje em dia.

12º Interferência Positiva

Se possível, apresente propostas que deem solução aos problemas levantados na redação. Não fique apenas
fazendo constatações óbvias.

13º Não Faça Críticas ao Governo

Essa postura é pobre e pouco criativa — é o que se chama de lugar comum. É como pedir emprego em uma
empresa e criticar o patrão durante a entrevista. Isso é ser muito ingênuo.

14º O Rascunho é Importante

É a sua garantia de poder fazer uma revisão eliminando erros. Vale sempre a pena caprichar. Lembre-se de que é
função de quem escreve seduzir o leitor e o estímulo visual contribui para que haja uma boa impressão.
REDAÇÃO DISCURSIVA

15º Evite Expressões Vagas

Atente-se para as expressões vagas ou de significado amplo e sua adequada contextualização. Exemplos: con-
ceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.

16º Atenção aos Adjetivos

Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”, “pobre”, “rico” etc., pois são juízos de valor
sem carga informativa, imprecisos e subjetivos.

95
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17º Evite o Senso Comum a) 1 — Descrição. Nesse fragmento, não há progres-
são temporal; note que, ao final da leitura do texto,
Fuja do lugar-comum, de frases feitas e expressões temos a formação da imagem da paisagem.
cristalizadas, como “a pureza das crianças”, “a sabe- b) 3 — Dissertação. Nesse fragmento, não há pro-
doria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da gressão temporal, tanto que não há fatos que se
linguagem oral devem ser evitados, bem como o uso sucedem, tampouco a elaboração de uma imagem.
de “etc.” e as abreviações. O que percebemos pela leitura é a análise do com-
portamento da mulher diante de um novo perfil seu
18º Uso de Aspas “que emerge da ruptura de sua antiga identidade”.
c) 2 — Narração. A leitura desse trecho revela uma
Não se usam entre aspas palavras estrangeiras sucessão de fatos do Presidente da República. Esse
sem correspondência na língua portuguesa: hippie, fragmento mostra bem o que se diz sobre a narra-
status, dark, punk, chips etc. ção ser uma “fofoca”.
d) 1 — Descrição. Sem progressão discursiva ou
19º Atenção às Repetições e Fugas ao Tema temporal, o trecho revela a criação da imagem das
roupas dos velhinhos interioranos; note como os
Observe se não há repetição de ideias, falta de cla- adjetivos se destacam.
reza, construções sem nexo (conjunções mal-empre- e) 2 — Narração. Novamente, temos um trecho que
gadas), falta de concatenação (coesão) de ideias nas mostra uma sucessão de fatos que nada mais são do
frases e nos parágrafos entre si, divagação ou fuga ao que as ações de um homem que caminha pela rua
tema proposto. com seu chefe e vê um amigo seu do outro lado da
rua, “uma fofoca”.
20º Cumpra o Proposto no Texto f) 3 — Dissertação. Encontramos outra vez um
exemplo de fragmento dissertativo, pois apresenta
Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no
progressão discursiva em relação à proibição da
corpo do texto, verifique se a argumentação responde à
caça no Brasil. Note que o argumento que se desta-
pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com
ca nessa passagem para o fortalecimento da ideia
uma interrogação, esta pode estar corretamente empre-
é a citação da Constituição Brasileira. Resposta:
gada desde que a argumentação responda à questão. Se
1-3-2-1-2-3.
o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.
Apresentamos a seguir um exercício comentado
de reconhecimento de tipologia textual.

1. (NOVA CONCURSOS — 2021) Classifique os textos ANOTAÇÕES


quanto à sua tipologia:
( 1 ) Descrição ( 2 ) Narração ( 3 ) Dissertação.

a) Era uma noite muito bonita: parecia com o mundo. O


espaço escuro estava todo estrelado, o céu em eterna
e muda vigília. E a terra embaixo com suas montanhas
e seus mares. ( )
b) No esforço de se ajustarem ao novo perfil de mulher
que emerge da ruptura de sua antiga identidade, as
mulheres se veem obrigadas a compatibilizar dois
estilos de vida, dois registros intelectuais e afetivos,
dois modelos de conduta cotidiana. ( )
c) “Após a reunião, o Presidente da República dirigiu-se
para a Esplanada dos Ministérios. No percurso, parou
para cumprimentar algumas pessoas que lhe acena-
vam. Neste momento, escorregou e foi auxiliado por
alguns seguranças da comitiva.” ( )
d) Vejam-se as roupas dos velhinhos interioranos: aquele
chapéu de feltro manchado, aquelas largas calças de
brim cáqui, incontavelmente lavadas, aquele puído dos
punhos de camisas já sem cor tudo combina admira-
velmente com a enorme jaqueira do quintal, com a
generosa figueira da praça, com as teias do campaná-
rio da igreja. ( )
e) E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua
México. Já distraído de seus passados tropeços, mas,
tropeçando obstinadamente no inglês com que se
entendiam - quando vê do outro lado da rua um preto
agitar a mão para ele. Era o sambista seu amigo. ( )
f) “Na medida que (sic) a caça é proibida no Brasil, não
se pode admitir a existência de uma Associação Brasi-
leira de Caça nem de lojas de caça e pesca. Um novo
capítulo da Constituição Brasileira proíbe essas ativi-
96 dades”. ( )
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DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Os direitos e deveres individuais e coletivos encon-


tram-se elencados no art. 5º, da Constituição:

NOÇÕES DE DIREITO Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
DIREITO E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS: DIREITOS E DEVERES Conforme prevê o art. 5º, da CF, de 1988, todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
INDIVIDUAIS E COLETIVOS
za, garantindo aos brasileiros direito à vida, à liberda-
de, à igualdade, à segurança e à propriedade.
DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À
SEGURANÇA E À PROPRIEDADE
Princípio da Igualdade entre Homens e Mulheres
Com forte expressão no pós-guerra, os direitos e
Art. 5º […]
garantias fundamentais, apesar de seu teor sensivelmen-
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
te constitucional, são interdisciplinares e se relacionam obrigações, nos termos desta Constituição;
a todos os ramos do direito. Diz-se isso, pois, pautados
na busca de justiça e paz social, aqueles refletem um Como o próprio nome diz, o princípio prega a igual-
compromisso geral do direito e da justiça de proteção e dade de direitos e deveres entre homens e mulheres.
garantia de uma vida digna a todos os cidadãos. O princípio da igualdade, previsto também no
Além disso, toda a legislação infraconstitucional caput, do art. 5º, da CF, é muito importante, e, deste
também reflete, de forma geral, a preocupação com princípio, inúmeros outros decorrem diretamente,
políticas adequadas que possam conciliar o desen- conforme veremos a seguir.
volvimento econômico, social e cultural. De todas as
circunstâncias acima citadas, parte a interdiscipli- z Igualdade na Lei x Igualdade Perante a Lei
naridade entre os direitos e garantias fundamentais
e outros ramos do direito, tais como o direito penal, A igualdade na lei vincula o legislador a tratar todos
civil, trabalhista e processual. da mesma forma ao criar as normas, já a igualdade
A amplitude temática dos direitos e garantias fun- perante a lei significa que quem administra o Estado
damentais é uma questão de toda a seara jurídica, também deve observar o princípio da igualdade — por
visto que a consolidação e efetivação dos direitos fun- exemplo, o Poder Executivo ao administrar e o Poder
damentais encontram-se diretamente relacionadas à Judiciário ao julgar. Importante frisar que o princípio
própria condição da vida humana. da igualdade também tem efeitos aos particulares.
Os direitos fundamentais, portanto, estão localiza-
dos no Título II, da CF, de 1988, do art. 5º ao art. 17, e z Igualdade Formal x Igualdade Material
estão classificados em cinco grupos: direitos individuais
e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, A igualdade formal, ou também chamada de
direitos políticos e direitos relacionados à existência, igualdade jurídica, significa que todos devem ser
organização e participação em partidos políticos. Tam- tratados da mesma forma. Já a igualdade material
bém são classificados em três dimensões de direito, significa tratar igual os iguais e os desiguais com desi-
pois surgiram em épocas diferentes. Vejamos: gualdade, na medida de suas desigualdades, ou seja, é
uma forma de proteção a certos grupos sociais, certos
DIREITOS DIREITOS DIREITOS grupos de pessoas que foram discriminadas ao longo
FUNDAMEN- FUNDAMEN- FUNDAMEN- da história do Brasil. Isso ocorre por meio das chama-
TAIS DE 1ª TAIS DE 2ª TAIS DE 3ª das ações afirmativas, que visam, por meio da políti-
DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ca pública, reduzir os prejuízos. Por exemplo, temos o
sistema de cotas para os afrodescendentes nas univer-
Direitos sociais, sidades públicas. Sobre o tema, o STF (Supremo Tribu-
Direitos civis e
econômicos e Fraternidade nal Federal) já se posicionou pela constitucionalidade,
políticos
culturais e a decisão foi tomada no julgamento do Recurso
Extraordinário (RE 597285), com repercussão geral,
NOÇÕES DE DIREITO

Dito isso, é importante reafirmarmos que estes em que um estudante questionava os critérios adota-
direitos e garantias não estão taxativamente expres- dos pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande
sos na Constituição Federal. Trata-se de uma matéria do Sul) para reserva de vagas1.
esparsa, consubstanciada em toda legislação nacio-
nal, inclusive infraconstitucional. Entretanto, apesar z Igualdade nos Concursos Públicos
de não se tratar de uma matéria exaustiva e taxati-
va, numerus clausus, o rol dos direitos fundamentais Tem como base o também chamado princípio da
previstos na Constituição Federal, de 1988, é exempli- isonomia, o qual deve ser rigorosamente observado
ficativo. Por isso, é importante estudarmos alguns dis- sob pena de nulidade da prova a ser realizada pelo
positivos da Carta Magna. respectivo concurso público.
1 RE 597285, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 09.05.2012, DJe 21.05.2012. 97
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Entretanto, alguns concursos exigem, por exem- dispuser obrigação alguma, é dado ao particular fazer
plo, idade, altura etc. Note que todas as exigências o que bem entender, ou seja, não havendo qualquer
contidas no edital que façam distinção entre as pes- proibição disposta em lei, o particular está livre para
soas somente serão lícitas e constitucionais desde agir, vigorando nesse ponto o princípio da autonomia
que preencham dois requisitos: da vontade.
Referente ao poder público, o conteúdo do prin-
„ deve estar previsto em lei — igualdade formal; cípio da legalidade é outro: esse tem a ideia de que
„ deve ser necessário ao cargo. o Estado se sujeita às leis e, ao mesmo tempo, de que
governar é atividade a qual a realização exige a edição
Por exemplo: concurso para contratação de agen- de leis, sendo que o poder público não pode atuar,
te penitenciário para presídio feminino com o edital nem contrário às leis, nem na ausência da lei.
constando que é permitido somente mulheres para
investidura do cargo. Vedação de Práticas de Tortura Física e Moral,
Exemplo muito comentado também é sobre a proi- Tratamento Desumano e Degradante
bição de tatuagem contida nos editais de concurso
público; sobre o tema, o STF assim entendeu (abaixo, Art. 5º […]
a tese de repercussão geral fixada): III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-
mento desumano ou degradante;
Editais de concurso público não podem estabelecer
restrição a pessoas com tatuagem, salvo situa- São vedados a prática de tortura física e moral e
ções excepcionais, em razão de conteúdo que vio-
qualquer tipo de tratamento desumano, degradante
le valores constitucionais2.
ou contrário à dignidade humana realizados por qual-
quer autoridade ou até mesmo entre os próprios cida-
Entenda: tatuagem que viole os princípios cons-
dãos. A proibição à tortura, cláusula pétrea de nossa
titucionais e os princípios do Estado brasileiros. Ex.:
Constituição, visa resguardar o direito de uma vida
tatuagem de suástica nazista.
digna. A prática da tortura é, ainda, crime inafiançá-
vel na legislação penal brasileira.
z União Estável Homoafetiva
Liberdade de Manifestação do Pensamento e
Tema muito comentado, e, em 2011, o STF se posi-
Vedação do Anonimato, Visando Coibir Abusos e
cionou sobre o reconhecimento da união estável para
Não Responsabilização pela Veiculação de Ideias e
casais do mesmo sexo, decisão tomada sob o argu-
mento que o inciso IV, art. 3º, da CF, veda qualquer Práticas Prejudiciais
discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que,
Art. 5º […]
nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou dis-
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
criminado em função de sua orientação sexual.
vedado o anonimato;
“O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não
se presta para desigualação jurídica”, conclui-se, por-
tanto, que qualquer depreciação da união estável Aqui, temos consubstanciada a liberdade de
homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV, do art. expressão. A Constituição Federal pôs fim à censura,
3º, da CF3. tornando livre a manifestação do pensamento. Entre-
tanto, esta liberdade não é absoluta, uma vez que
Princípio da Legalidade e Liberdade de Ação deve se pautar nos princípios da justiça e do direito.
Nesse sentido, é vedada a liberdade abusiva, prejudi-
Art. 5º […] cial aos direitos de outrem, e, também, o anonimato,
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de de forma a coibir práticas prejudiciais sem identifica-
fazer alguma coisa senão em virtude de lei; ção de autoria.
A vedação constitucional ao anonimato, contudo,
Todo ser humano é livre e só está obrigado a fazer não impede que uma autoridade pública, ao receber
ou não algo que esteja previsto em lei. Deste princípio, uma denúncia anônima, proceda com as investiga-
decorre a ideia de que “não há crime sem lei anterior ções preliminares, de forma a apurar os indícios de
que o defina”, ou seja, a concepção de que “crime” é materialidade narrados na denúncia.
aquilo que está expressamente previsto na lei penal. Cumpre ainda ressaltar que, no Brasil, a denúncia
O princípio da legalidade está previsto no inciso II, anônima é permitida. Contudo, o poder público não
art. 5º, da CF, e preceitua que “ninguém será obrigado pode iniciar o procedimento formal tendo como base
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em vir- única uma denúncia anônima.
tude de lei”. Note que, quando se fala em princípio da
legalidade, se está falando no âmbito particular, e não
da administração pública. Importante!
No que tange aos particulares, o princípio da lega-
lidade quer dizer que apenas a lei possui a legitimida- O STF considerou desnecessária a utilização de
de de criar obrigações de fazer, comumente chamadas diploma de jornalismo e registro profissional no
de obrigações positivas e, também, as chamadas obri- Ministério do Trabalho como condição para o
gações de não fazer, conhecidas como obrigações exercício da profissão de jornalista, pois tem na
negativas. Sendo assim, nos casos em que a lei não sua essência a manifestação do pensamento.
2 Recurso Extraordinário 898450. Tema de Repercussão Geral. STF. Min. Luiz Fux, julgado em 17.08.2016.
98 3 STF. ADI 4277 e ADPF 132, rel. Min. Ayres Britto, julgado em 05.05.2011, DJe 06.05.2011.
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Direito de Resposta e Indenização aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
imperativo de consciência decorrente de crença
Art. 5º […] religiosa ou de convicção filosófica ou política, para
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional se eximirem de atividades de caráter essencialmen-
ao agravo, além da indenização por dano material, te militar.
moral ou à imagem; § 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de
atividades de caráter administrativo, assistencial,
De acordo com o inciso acima, o direito de respos- filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição
ta, associado à indenização por dano material, moral às atividades de caráter essencialmente militar.
ou à imagem, é assegurado às pessoas físicas e jurídi- § 3º O Serviço Alternativo será prestado em
cas quando estas, por meio dos canais midiáticos de organizações militares da ativa e em órgãos de
formação de reservas das Forças Armadas ou
comunicação, recebem ofensas a:
em órgãos subordinados aos Ministérios Civis,
mediante convênios entre estes e os Ministérios
z sua honra;
Militares, desde que haja interesse recíproco e,
z sua reputação; também, sejam atendidas as aptidões do convocado.
z seu conceito; § 4º O Serviço Alternativo incluirá o treinamento
z seu nome; para atuação em áreas atingidas por desastre, em
z sua marca; situação de emergência e estado de calamidade,
z sua imagem etc. executado de forma integrada com o órgão federal
responsável pela implantação das ações de prote-
Liberdade Religiosa e de Consciência ção e defesa civil. (Incluído pela Lei nº 12.608, de
2012)
Art. 5º […] § 5º A União articular-se-á com os Estados e o
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de Distrito Federal para a execução do treinamento a
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cul- que se refere o § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei
tos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote- nº 12.608, de 2012)
ção aos locais de culto e a suas liturgias; Art. 4º Ao final do período de atividade previsto no
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de § 2º do art. 3º desta lei, será conferido Certificado
assistência religiosa nas entidades civis e militares de Prestação Alternativa ao Serviço Militar Obriga-
de internação coletiva; tório, com os mesmos efeitos jurídicos do Certifica-
VIII - ninguém será privado de direitos por moti- do de Reservista.
vo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou § 1º A recusa ou cumprimento incompleto do Ser-
política, salvo se as invocar para eximir-se de obri- viço Alternativo, sob qualquer pretexto, por motivo
gação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir de responsabilidade pessoal do convocado, implica-
prestação alternativa, fixada em lei; rá o não-fornecimento do certificado corresponden-
te, pelo prazo de dois anos após o vencimento do
O Estado brasileiro é laico, ou seja, não se apoia período estabelecido.
nem se opõe a nenhuma religião. Por isso, a liber- § 2º Findo o prazo previsto no parágrafo anterior,
dade de crença e de consciência são direitos fun- o certificado só será emitido após a decretação,
damentais previstos na Magna Carta. A Constituição pela autoridade competente, da suspensão dos
assegura, ainda, a liberdade de cultos, a proteção dos direitos políticos do inadimplente, que poderá, a
locais religiosos e a não privação de direitos em razão qualquer tempo, regularizar sua situação mediante
da crença pessoal. cumprimento das obrigações devidas.
A escusa de consciência consiste no direito indi-
vidual de se recusar a cumprir determinada obriga- Liberdade de Expressão e Proibição de Censura
ção ou a praticar determinado ato comum por este ser
contrário às suas crenças religiosas ou à sua convic- Art. 5º […]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
ção filosófica ou política. Nesses casos, de acordo com
artística, científica e de comunicação, independen-
a lei, a pessoa deve cumprir uma prestação alternati-
temente de censura ou licença;
va, fixada em lei. Serve como exemplo desse direito o
cidadão que deixa de prestar serviço militar obrigató-
Aqui, mais uma vez, é consubstanciada a liberdade
rio por motivo de crença.
de expressão. Além disso, de acordo com o inciso, é
Se o cidadão que invocar a escusa de consciência
vedada a censura às atividades intelectuais, artísticas,
em seu benefício deixar de cumprir a prestação alter-
científicas e de comunicação.
nativa imposta, poderá incorrer na perda dos direitos
políticos, segundo a doutrina majoritária, ou na sus-
pensão destes, a teor do que se estabelece no § 2º, art. Proteção à Imagem, Honra e Intimidade da Pessoa
NOÇÕES DE DIREITO

4º, da Lei nº 8.239, de 1991: Humana

§ 2º [...] suspensão dos direitos políticos do Art. 5º […]


inadimplente, que poderá, a qualquer tempo, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
regularizar sua situação mediante cumprimento a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
das obrigações devidas. direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
Art. 3º O Serviço Militar inicial é obrigatório a
todos os brasileiros, nos termos da lei. Com intuito da proteção, a Constituição Federal
§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas tornou inviolável a imagem, a honra e a intimidade
compete, na forma da lei e em coordenação com os da pessoa humana, assegurando o direito à reparação
Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo material ou moral em caso de violação. 99
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Proteção do Domicílio do Indivíduo de interceptar carta de presidiário, pois a inviolabi-
lidade de correspondência não pode ser usada como
Art. 5º […] defesa para atividades ilícitas4.
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, nin- Possibilidade de interceptação telefônica: inter-
guém nela podendo penetrar sem consentimento ceptação telefônica é a captação e gravação de conver-
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou sa telefônica, no momento em que ela se realiza, por
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o terceira pessoa, sem o conhecimento de qualquer um
dia, por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, dos interlocutores, conforme prevê exceção do inciso
de 2015) (Vigência). XII, do art. 5º, da CF, acima mencionado, que, para ser
lícita, deve obedecer a três requisitos:
A proteção do domicílio é direito fundamental.
A casa do indivíduo, portanto, é inviolável. De outro INTERCEP- Ordem judicial
modo, não se tratando de casos excepcionais de fla- TAÇÃO Para fins de investigação criminal
grante delito, prestação de socorro ou ordem judicial, TELEFÔNICA Hipóteses e formas que a lei estabelecer
só podem adentrar, nesta, aqueles que possuem con-
sentimento do morador.
Essa proteção se refere às pessoas físicas ou jurí- Ainda, a interceptação telefônica dependerá de
dicas, abrangendo, inclusive, a proteção necessária à ordem judicial, conforme art. 1º, da Lei nº 9.926, de
própria imagem frente aos meios de comunicação em 1996.
massa (televisão, jornais etc.).
Art. 1º A interceptação de comunicações telefôni-
Note que existem exceções à inviolabilidade: fla-
cas, de qualquer natureza, para prova em investi-
grante delito, desastre, prestação de socorro e deter-
gação criminal e em instrução processual penal,
minação judicial. Convém lembrar também que, de observará o disposto nesta Lei e dependerá de
acordo com o magistério jurisprudencial do STF, o ordem do juiz competente da ação principal, sob
conceito de “casa” é amplo, abarcando qualquer com- segredo de justiça.
partimento habitado (casa, apartamento, trailer ou Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à
barraca); qualquer aposento ocupado de habitação interceptação do fluxo de comunicações em siste-
coletiva (hotel, apart-hotel ou pensão), bem como mas de informática e telemática.
qualquer compartimento privado onde alguém exerce
profissão ou atividade, incluindo as pessoas jurídicas. O segundo requisito necessário exige que a pro-
O STF, em relevante julgamento com repercussão dução desse meio de prova seja dirigida para fins de
geral (§ 3º, art. 102, da CF), firmou compreensão no investigação criminal ou instrução processual penal,
sentido de que pode ocorrer a inviolabilidade mes- assim, não é possível a autorização da interceptação
mo no período noturno — fundamentada e devi- telefônica em processos civis, administrativos, disci-
damente justificada, se indicado que no interior da plinares etc.
casa se está praticando algum crime, ou seja, em esta- Já o último requisito refere-se a uma lei que deve
do de flagrante delito. prever as hipóteses e a forma em que pode ocorrer a
É importante frisar que, se o agente policial entrar interceptação telefônica, obrigatoriamente no âmbi-
na residência e não constatar a ocorrência de crime to de investigação criminal ou instrução processual
em flagrante, não haverá ilicitude na conduta dos penal.
agentes policiais se forem apresentadas fundadas A regulamentação deste dispositivo veio com a Lei
razões que os levaram a invadir aquela casa, o que, nº 9.296, de 1996, que legitimou a interceptação das
sem dúvida, deve ser objeto de controle — mesmo que comunicações como meio de prova, estendendo tam-
posterior — por parte da própria polícia e, claro, pelo bém a sua regulamentação à interceptação de fluxo
Ministério Público (a quem compete exercer o contro- de comunicações em sistemas de informática e tele-
le externo da atividade policial, nos termos do inci- mática (combinação de meios eletrônicos de comuni-
so VII, art. 129, da CF) ou mesmo pelo Judiciário, ao cação com informática, e-mail e outros).
analisar-se a legitimidade de eventual prova colhida
durante essa entrada à residência. Liberdade de Profissão

Proteção do Sigilo das Comunicações Art. 5º […]


XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
Art. 5º […] ou profissão, atendidas as qualificações profissio-
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das nais que a lei estabelecer;
comunicações telegráficas, de dados e das comuni-
cações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem A liberdade descrita acima não é absoluta, pois se
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabele- limita às qualificações profissionais que a lei estabe-
cer para fins de investigação criminal ou instrução lece. Assim, a pessoa é livre para escolher o seu ofí-
processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996). cio profissional, desde que atendidas as qualificações
legais que cada profissão demanda.
De acordo com a lei básica, o sigilo das comuni-
cações é direito fundamental e, portanto, inviolável, Acesso à Informação
salvo em casos de ordem judicial.
As correspondências são invioláveis, com exce- Art. 5º […]
ção nos casos de decretação de estado de defesa XIV - é assegurado a todos o acesso à informação
e de sítio (art. 136 e seguintes, da CF). É importante e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
mencionar que o STF já reconheceu a possibilidade ao exercício profissional;

100 4 STF. HC 70.814-5/SP, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24.06.1994.


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O direito à informação é assegurado constitu- z o Governo Federal já pode determinar quais medi-
cionalmente, garantido o sigilo da fonte, quando das de apoio serão tomadas. Com base na Lei Com-
necessário. plementar nº 101, de 2020.
z o Governo Federal poderá:
Liberdade de Locomoção, Direito de Ir e Vir
„ liberar recursos; enviar defesa civil militar;
Art. 5º […] enviar kits emergenciais;
XV - é livre a locomoção no território nacional em „ Estados podem: parcelar dívidas; atrasar exe-
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter- cução de gastos; não precisam fazer licitações.
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens; Agora que entendemos como funciona o estado
de calamidade pública, vamos à análise do direito de
Esse inciso consagra o direito de ir e vir e a liber- locomoção que foi restringido.
dade de locomoção. Nesse sentido, todos são livres Primeiramente, é importante mencionar que
para entrar, circular, permanecer ou sair do território nenhum direito fundamental pode ser considerado
nacional em tempos de paz. absoluto (quando dizemos isso, significa que esse
direito pode ser violado, desde que cumpra alguns
z Direito de Ir e Vir x Coronavírus (Covid-19) requisitos), e a proporcionalidade de cada situação
deve ser observada.
Aqui temos um tema muito comentado — o isola- O interesse da coletividade deve ser sempre
mento, ou seja, a proibição das pessoas de abrirem observado e ter preferência em relação ao direito do
suas próprias empresas, de permanecerem em praças particular, com o objetivo de aplicar o denominado
e em outros lugares públicos, isto é, seu direito de ir e princípio da supremacia do interesse público sobre
vir é limitado. Entenda: o particular, que, inclusive, é um dos principais prin-
cípios do direito administrativo.
Somente grupo de risco Aqui, cabe mencionar também o art. 196, da CF,
Vertical deve ficar isolado em casa que prevê o direito à saúde como sendo um dever do
(idosos e pessoas com pro- Estado (no sentido de nação politicamente organiza-
ISOLAMENTO blemas de saúde) da, ou seja, é um dever do país/Governo Federal).
Toda população deve ficar
isolada em casa e empresas Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do
Horizontal
fechadas Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e
Se o direito à liberdade de locomoção é um direito igualitário às ações e serviços para sua promoção,
fundamental de ir e vir, pode-se proibir que as pes- proteção e recuperação.
soas se locomovam? Mas e a constituição?
No caso da covid-19, em 18 de março de 2020, foi Ainda, cabe mencionar o princípio da proporcio-
aprovado pelo Congresso Nacional o decreto que colo- nalidade, o qual tem como finalidade equilibrar os
ca o país em estado de calamidade pública, tendo em direitos individuais com os da sociedade, exatamente
vista a situação excepcional de emergência de saúde. como no caso que aqui estamos analisando.
Para entendermos melhor, vamos estudar por etapas. Ou seja, no caso em tela, pode-se proibir, confor-
O que é calamidade pública? O dicionário Auré- me os requisitos demonstrados na situação atual, para
lio assim define calamidade: “desgraça pública; grande provas, que o direito de ir e vir é um direito fun-
infortúnio; catástrofe”, ou seja, é um estado anormal damental, mas fique atento: o direito fundamental
resultante de um desastre de natureza, pandemia de ir e vir não é um direito absoluto! No caso da
ou até financeiro, situações em que o Governo violação desse direito em face da covid-19, foram
Federal deve intervir nos outros entes federati- observados o princípio da proporcionalidade e
vos (entenda entes: estados, DF e municípios) para o princípio da supremacia do interesse público
auxiliar no combate à situação. sobre o particular.
Ainda, conforme o Governo Federal, o reconheci- Lembrando que o desrespeito a qualquer medida
mento do estado de calamidade pública fora previsto imposta configura como crime contra a saúde pública,
para durar até 31 de dezembro de 2020, sendo que foi previsto no art. 268, do Código Penal, que pune cri-
necessário: minalmente a conduta de “infringir determinação do
poder público, destinada a impedir introdução ou pro-
[...] em virtude do monitoramento permanente da pagação de doença contagiosa”.
NOÇÕES DE DIREITO

pandemia covid-19, da necessidade de elevação dos


gastos públicos para proteger a saúde e os empre- Direito de Reunião
gos dos brasileiros e da perspectiva de queda de
arrecadação.
Art. 5º […]
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem
Entenda a explicação sobre calamidade pública: armas, em locais abertos ao público, independen-
temente de autorização, desde que não frustrem
z decretado estado de calamidade pública, através outra reunião anteriormente convocada para o
de aprovação das duas casas: Senado Federal e mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
Câmara dos Deputados. Permite que o Executivo autoridade competente;
gaste mais do que o previsto e desobedeça às metas
fiscais para custear ações de combate à pandemia. 101
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O direito de reunião pacífica em locais públicos é O direito de propriedade assegurado na constitui-
assegurado constitucionalmente, independentemente ção como direito constitucional abrange tanto os bens
de autorização. Assim, os cidadãos podem se reunir corpóreos quanto os incorpóreos. Vejamos o art. 170,
livremente em praças e locais de uso comum do povo, da Constituição Federal:
desde que não venham a interferir ou atrapalhar outra
reunião designada anteriormente para o mesmo local. Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza-
A liberdade de reunião, prevista no inciso XVI, ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
do art. 5º, da CF, deve ser pacífica e sem armas, bem por fim assegurar a todos existência digna, con-
como não deve frustrar outra reunião anteriormente forme os ditames da justiça social, observados os
convocada para aquele local, tendo preferência quem seguintes princípios:
avisar primeiro, chamado o aviso prévio a autorida- II - propriedade privada;
de competente, sendo diferente de autorização, pois a
reunião não depende de autorização. Dica
Liberdade de Associação Bens corpóreos são os bens possuidores de
existência física, são concretos e visíveis, como,
Art. 5º […] por exemplo, uma casa, um automóvel etc. Já
XVII - é plena a liberdade de associação para fins os bens incorpóreos são bens abstratos que
lícitos, vedada a de caráter paramilitar; não possuem existência física, ou seja, não são
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a concretos, mas possuem um valor econômico,
de cooperativas independem de autorização, sendo como, por exemplo, propriedade intelectual,
vedada a interferência estatal em seu funcionamento; direitos do autor etc.
XIX - as associações só poderão ser compulsoria-
mente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso,
Em relação à propriedade de bens incorpóreos,
o trânsito em julgado; refere-se à específica proteção constitucional a deno-
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se minada propriedade intelectual, a qual abrange os
ou a permanecer associado; direitos de autor e os direitos relativos à propriedade
XXI - as entidades associativas, quando expressa- industrial, como a proteção de marcas e patentes.
mente autorizadas, têm legitimidade para repre-
sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; z Desapropriação

No Brasil, são plenas a liberdade de associação e a Como característica dos direitos fundamentais, o
criação de associações e cooperativas para fins lícitos. direito de propriedade também não é um direito abso-
Por isso, estas não podem sofrer intervenção do Estado. luto. Apesar da exigência de que a propriedade aten-
A expressão utilizada como “plena” no dispositivo da uma função social, há outras hipóteses em que
é no mesmo sentido de ser considerada livre a liber- o interesse público pode justificar a imposição de
dade de associação, desde que para fins lícitos. limitações.
Por conseguinte, o Texto Constitucional prevê a Ao elaborar a Constituição, o legislador se preo-
possibilidade de criação de associações e cooperati- cupou em atribuir tratamento especial à política de
vas, independentemente de autorização. Ainda, só desenvolvimento urbano. Referente à desapropria-
poderão ser dissolvidas ou suspensas as atividades ção de imóvel rural, somente é lícita a desapropria-
por decisão judicial. Além disso, ninguém pode ser ção para fins de interesse social, ou seja, imóvel
obrigado a associar-se ou permanecer associado. rural que não estiver cumprindo sua função social
Por fim, o Texto Constitucional autoriza, desde que é desapropriado.
expressamente autorizada, a representação dos asso- Nesse sentido, é importante verificar a importân-
ciados pelas entidades associativas. cia do inciso XXIV, do art. 5°, que determina o poder
Forças paramilitares, também conhecidas como geral de desapropriação por interesse social. Ora,
milícias, são grupos ou associações civis armadas, desde que seja paga a indenização mencionada neste
normalmente com fins político-partidários, religiosos artigo, qualquer imóvel poderá ser desapropriado por
ou ideológicos, e com estrutura semelhante à militar, interesse social para fins de reforma agrária.
mas que não fazem parte das Forças Armadas oficiais.
No Brasil, a Segurança Nacional e Defesa Social é atri- Intervenção do Estado na Propriedade
buição exclusiva do Estado, por isso as associações
paramilitares são vedadas. Art. 5º […]
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desa-
Direito de Propriedade e sua Função Social propriação por necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, mediante justa e prévia
Art. 5º […] indenização em dinheiro, ressalvados os casos pre-
XXII - é garantido o direito de propriedade; vistos nesta Constituição;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXV - no caso de iminente perigo público, a auto-
ridade competente poderá usar de propriedade
Uma importante garantia constitucional é o direito particular, assegurada ao proprietário indenização
de propriedade. Entretanto, este direito não é absolu- ulterior, se houver dano;
to, pois está limitado ao atendimento de sua função
social, ou seja, além da ideia de pertença, toda pro- O direito de propriedade não é absoluto. Dada a
priedade deve atender a interesses de ordem pública supremacia do interesse público sobre o particular,
e privada, não sendo nociva à coletividade em seu uso nas hipóteses legais, é permitida a intervenção do
102 e fruição. Estado na propriedade.
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Pequena Propriedade Rural Direito de Sucessão e Herança

Art. 5º […] Art. 5º […]


XXVI - a pequena propriedade rural, assim defi- XXX - é garantido o direito de herança;
nida em lei, desde que trabalhada pela família, XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados
não será objeto de penhora para pagamento de no País será regulada pela lei brasileira em bene-
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, fício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do
desenvolvimento; “de cujus”;

A pequena propriedade rural é impenhorável e O direito de herança ou direito sucessório é o


não responde por dívidas decorrentes de sua ativida- ramo específico do direito civil que visa regular as
de produtiva. relações jurídicas decorrentes do falecimento do indi-
víduo, o de cujus e a transferência de bens e direitos
Direito Autoral e Propriedade Industrial aos seus sucessores.

Com a edição da Constituição, de 1988, os direitos Direito do Consumidor


autorais encontraram ampla guarida. Além da Lei de
Direitos Autorais, a Constituição prevê, assim, uma Art. 5º […]
ampla proteção às obras intelectuais. XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defe-
sa do consumidor;
Art. 5º […]
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo O direito do consumidor é o ramo do direito que
de utilização, publicação ou reprodução de suas disciplina as relações entre fornecedores/prestadores
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que de bens e serviços e o consumidor final, parte hipos-
a lei fixar; suficiente econômica da relação jurídica. As relações
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: de consumo, além do amparo constitucional, encon-
a) a proteção às participações individuais em obras tram proteção no Código de Defesa do Consumidor e
coletivas e à reprodução da imagem e voz huma- na Legislação Civil.
nas, inclusive nas atividades desportivas; Além de toda legislação consumerista, o Progra-
b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco- ma Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor —
nômico das obras que criarem ou de que participa-
Procon, órgão do Ministério Público de cada estado,
rem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
é responsável por coordenar a política dos órgãos e
representações sindicais e associativas;
entidades que atuam na proteção do consumidor, de
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utiliza-
forma a equilibrar as relações de consumo.
ção, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e Direito de Informação, Petição e Obtenção de
a outros signos distintivos, tendo em vista o inte- Certidão Junto aos Órgãos Públicos
resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco-
nômico do País; Art. 5º […]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos
A Constituição Federal protege, ainda, a proprie- públicos informações de seu interesse particular,
dade industrial. Nesse sentido, é importante mencio- ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta-
narmos que esta se difere da propriedade intelectual das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível
e, por isso, não é objeto de proteção da Lei de Direitos
à segurança da sociedade e do Estado; (Regulamen-
Autorais, mas, sim, da Lei da Propriedade Industrial.
to) (Vide Lei nº 12.527, de 2011).
O direito autoral volta-se às criações artísticas,
XXXIV - são a todos assegurados, independente-
científicas, musicais, literárias, entre outras. Desse mente do pagamento de taxas:
modo, bem como o direito das empresas de radiofu- a) o direito de petição aos Poderes Públicos em
são e cinematográficas, este protege obras literárias defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso
(escritas ou orais), musicais, artísticas, científicas, de poder;
obras de escultura, pintura e fotografia. b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
Pelo direito de exclusividade, o autor é o úni- para defesa de direitos e esclarecimento de situa-
co que pode explorar sua obra, gozar dos benefícios ções de interesse pessoal;
morais e econômicos resultantes dela ou ceder os
direitos de exploração a terceiros. Todo cidadão, independentemente de pagamen-
NOÇÕES DE DIREITO

Por sua vez, a propriedade industrial é o ramo da to de taxa, tem direito à obtenção de informações, a
propriedade intelectual que resguarda os trabalhos protocolo de petição e à obtenção de certidões junto
intelectuais, também chamados de obras utilitárias, aos órgãos públicos de acordo com suas necessidades,
voltados às atividades industriais, abrangendo, por salvo a imprescindibilidade do sigilo de determinadas
exemplo, o autor de determinado processo, invenção, informações para segurança jurídica das partes.
modelo, desenho ou produto. Estas criações são pro- Assim, quanto ao direito de certidão, o Estado é
tegidas por meio de patentes e registros (CNJ, 2016). obrigado a fornecer as informações solicitadas, com
Atenção! Enquanto a proteção ao direito autoral exceção nas hipóteses de proteção por sigilo. Caso
busca reprimir o plágio, a proteção à propriedade haja uma violação desse direito, que é líquido e cer-
industrial busca conter a concorrência desleal. to, o remédio constitucional cabível é o mandado de
segurança, tema também abordado no título “Garan-
tias Constitucionais”. 103
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Direito adquirido é aquele que cumpriu todos O juízo ou tribunal de exceção determina-se como
os requisitos previstos em lei, como, por exemplo, aquele criado exclusivamente para o julgamento de
o homem que cumpriu todos os requisitos exigidos um fato específico já acontecido, no qual os julgadores
para concessão da aposentadoria por idade, confor- são escolhidos arbitrariamente. A Constituição veda
me determina o inciso I, § 7º, do art. 201, da CF, tem o tal prática, pois todos os casos devem se submeter a
direito adquirido para requerer seu benefício. julgamento dos juízos e tribunais já existentes confor-
me suas competências prefixadas.
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral
de previdência social, nos termos da lei, obedecidas Tribunal do Júri
as seguintes condições:
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e Art. 5º […]
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, obser- XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
vado tempo mínimo de contribuição; organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
z Ato jurídico perfeito é o ato já realizado, conforme b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
a lei vigente ao tempo que se realizou, pois, neste
d) a competência para o julgamento dos crimes
caso, já cumpriu todos os requisitos conforme a lei
dolosos contra a vida;
vigente na época, tornando-se, portanto, completo;
z Coisa julgada ocorre no âmbito do processo judi- O Tribunal do Júri é o instituto jurisdicional desti-
cial, decisão judicial à qual não cabe mais recurso, nado exclusivamente para o julgamento da prática de
tornando-a imutável e indiscutível. crimes dolosos contra a vida. Mais do que ampla, a
defesa no âmbito do Tribunal do Júri é plena e a deci-
Princípio da Proteção Judiciária ou da são dos jurados, cidadãos comuns do povo previamen-
Inafastabilidade do Controle Jurisdicional te alistados e selecionados por sorteio, é soberana.

Art. 5º […] Princípio da Legalidade, da Anterioridade e da


XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Retroatividade da Lei Penal
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Art. 5º […]
O princípio da inafastabilidade do controle juris- XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,
dicional possibilita que o cidadão ingresse em juízo nem pena sem prévia cominação legal;
para assegurar seus direitos ameaçados. Este consubs- XL - a lei penal não retroagirá, salvo para benefi-
tancia-se no direito de ação e no dever do magistrado ciar o réu;
do Judiciário de apreciar a demanda, solucionando o
caso concreto com a aplicação da lei na busca da paci- De acordo com o inciso acima, para que determi-
ficação social. nada ação se configure como crime, esta deve encon-
trar-se expressamente prevista na lei penal. Portanto,
Segurança Jurídica se a conduta não está prescrita no Código Penal, não é
crime e, consequentemente, não há pena.
Art. 5º […] Nesse sentido, crime será a conduta delituosa pre-
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o vista exclusivamente em lei, da mesma forma que a
ato jurídico perfeito e a coisa julgada; cominação da pena, a qual não é admissível à configu-
ração de crime baseado nos costumes.
Para que entendamos o inciso acima, é importante Ademais, uma nova lei penal não retroage, isto é,
conhecermos alguns conceitos. Vejamos abaixo. não pode ser aplicada a condutas praticadas antes de
sua entrada em vigor, mas, se a nova lei for mais bené-
fica, esta poderá retroagir para beneficiar o réu.
z Direito adquirido: incorporado ao patrimônio
Trata-se do princípio da retroatividade da lei; tem
jurídico de seu titular, cujo começo do exercício
previsão no inciso XL, do art. 5º, da CF, o qual consiste
tenha termo prefixado ou condição preestabele-
em analisar um fato passado à luz de um direito pre-
cida inalterável, a arbítrio de outrem, nos termos
sente, estabelece que os fatos sejam apreciados com
do § 2º, art. 6º, da lei de introdução às normas do base na lei em vigor no tempo do crime. Assim, a lei
direito brasileiro; aplicável é a lei do tempo do crime, ou seja, na regra
z Ato jurídico perfeito: situação ou direito consu- geral, as normas penais não retroagem, salvo se trou-
mado e definitivamente exercido, sem quaisquer xerem algum tipo de benefício para o réu.
vícios ou nulidades, segundo a lei vigente ao tem- Cuidado, aqui há um exemplo de exceção da exce-
po em que se efetuou; ção: crimes praticados durante a vigência de lei tem-
z Coisa julgada: matéria submetida a julgamento porária ou excepcional não podem ser beneficiados
cuja sentença proferida transitou em julgado e pela retroatividade da lei mais benéfica. Entenda:
não cabe mais recurso, não podendo, portanto, ser
modificada. z lei excepcional é a lei criada para regular fatos
ocorridos dentro de uma situação irregular, a qual
Tribunal de Exceção perde seus efeitos após findar situação irregular
que a motivou;
Art. 5º […] z a lei temporária vigorou até se extinguir o prazo
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; de duração fixado pelo legislador, por exemplo,
uma lei que fixa a tabela de preços de artigos de
104 consumo.
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Princípio da Não Discriminação
ANISTIA GRAÇA
Art. 5º […]
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentató- Crimes Crimes políticos Crimes comuns
ria dos direitos e liberdades fundamentais;
Exclui o crime,
O princípio da não discriminação garante trata- rescinde a
mento igualitário a todas as pessoas em situações Extingue
condenação
iguais e envolve a existência de normas que estabele- Efeitos somente a
e extingue
punibilidade
çam tal igualdade, com punição aos atos que resultem totalmente a
em discriminação atentatória dos direitos e garantias punibilidade
fundamentais.
Exclusiva do
Crimes Inafiançáveis, Imprescritíveis e Insuscetíveis Competência Poder Legislativo presidente da
de Graça e Anistia República

Antes da Apenas após


Art. 5º […] sentença final o trânsito
XLII - a prática do racismo constitui crime inafian- Concessão ou depois da em julgado
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, condenação da sentença
nos termos da lei;
irrecorrível condenatória
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortu-
ra, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, Princípio da Intranscendência da Pena
o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
dos, por eles respondendo os mandantes, os exe- Art. 5º […]
cutores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLV - nenhuma pena passará da pessoa do conde-
(Regulamento). nado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
a ação de grupos armados, civis ou militares, con- lei, estendidas aos sucessores e contra eles executa-
tra a ordem constitucional e o Estado Democrático. das, até o limite do valor do patrimônio transferido;

A tabela abaixo sintetiza o conteúdo dos inci- Pelo princípio da intranscendência da pena, a
sos. Por isso, a título de compreensão destes, vamos aplicação desta será sempre pessoal e não poderá ser
estudá-la. cumprida ou imputada a outro indivíduo. Em caso de
reparação de dano, pode a obrigação ser estendida
aos sucessores do responsável até o limite do valor do
CRIMES patrimônio sucedido.
CRIMES
INAFIANÇÁVEIS E
INAFIANÇÁVEIS E
INSUSCETÍVEIS DE
IMPRESCRITÍVEIS Individualização da Pena
GRAÇA E ANISTIA

Racismo Prática de Tortura Art. 5º […]


XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
Tráfico de drogas e adotará, entre outras, as seguintes:
Ação de grupos entorpecentes a) privação ou restrição da liberdade;
armados contra a ordem b) perda de bens;
constitucional e o Estado Terrorismo c) multa;
Democrático d) prestação social alternativa;
Crimes hediondos
e) suspensão ou interdição de direitos;

Atenção: Pelo princípio da individualização da pena, fica


garantido que, na fixação das penas dos condenados,
z crimes inafiançáveis são aqueles que não admi- sejam levados em consideração o histórico pessoal de
tem fiança, ou seja, que não dão, ao acusado, o cada indivíduo e a sua atuação individual, de forma
direito de responder seu processo em liberdade que aquelas não sejam igualadas, mesmo que estes
até a sentença condenatória mediante pagamento tenham praticado crimes idênticos. Assim, indepen-
de determinada quantia pecuniária ou cumpri- dentemente da prática de mesma conduta, cada indi-
mento de determinadas obrigações; víduo pode receber apenas a punição que lhe é devida.
NOÇÕES DE DIREITO

z crimes imprescritíveis são aqueles que não pres-


crevem e que podem ser julgados e punidos em Proibição de Penas
qualquer tempo, independentemente da data em
que foram cometidos; Art. 5º […]
z crimes insuscetíveis de graça e anistia são aque- XLVII - não haverá penas:
les que não permitem a exclusão do crime com a a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
rescisão da condenação e extinção total da puni- termos do art. 84,
bilidade (anistia), nem a extinção da punibilida- XIX;
de, ainda que parcial (graça). A graça e a anistia, b) de caráter perpétuo;
são, portanto, em linhas gerais, formas de extin- c) de trabalhos forçados;
ção da punibilidade. Estas possuem as seguintes d) de banimento;
características: e) cruéis. 105
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Como afirmativa dos direitos e da dignidade da z Passiva: quando qualquer Estado estrangeiro
pessoa humana, a Constituição Federal, de 1988, veda: solicita, ao Brasil, a entrega de um indivíduo que
tenha cometido crime no exterior e se encontra em
z pena de morte; território brasileiro.
z pena perpétua;
z banimento; Vale mencionar que a Constituição Federal trata
z trabalhos forçados e cruéis. apenas dos casos de extradição passiva.
Nesse sentido, o dispositivo determina que não
Estabelecimentos para Cumprimento de Pena haverá extradição de brasileiro nato em nenhuma
hipótese. Quanto aos brasileiros naturalizados, a
Art. 5º […] regra é que também não sejam extraditados, salvo em
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos caso de crime comum, praticado antes do processo de
distintos, de acordo com a natureza do delito, a ida- naturalização e comprovado envolvimento em tráfico
de e o sexo do apenado; ilícito de entorpecentes e drogas afins em qualquer
tempo. Também não será concedida extradição de
Também em atenção à dignidade da pessoa huma- estrangeiro por crime político ou de opinião.
na, a Constituição Federal, de 1988, determina que as Para o direito internacional, nenhum Estado é
penas sejam cumpridas em diferentes tipos de estabe- obrigado a extraditar uma pessoa presente em seu
lecimento, de acordo com a gravidade e natureza do território, dada a sua soberania.
delito, a idade e o sexo do apenado.
Direito ao Julgamento pela Autoridade Competente
Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos
Art. 5º […]
Art. 5º […] LIII - ninguém será processado nem sentenciado
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integri senão pela autoridade competente;
dade física e moral;
Devido Processo Legal
É direito do apenado o respeito à sua integridade
física e moral. É dever do Estado, por sua vez, garantir Art. 5º […]
a sua segurança e proteção. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal;
Direito de Permanência e Amamentação dos Filhos
pela Presidiária Mulher Contraditório e a Ampla Defesa

Art. 5º […] Art. 5º […]


L - às presidiárias serão asseguradas condições LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
para que possam permanecer com seus filhos trativo, e aos acusados em geral são assegurados o
durante o período de amamentação; contraditório e ampla defesa, com os meios e recur-
sos a ela inerentes;
É direito da apenada permanecer com os filhos e
ter condições de amamentá-los no estabelecimento Ninguém poderá ser punido ou condenado sem o
onde cumprir a sua pena. devido processo legal, onde deverá ser assegurado,
sob pena de nulidade absoluta, o direito de resposta
Extradição e ampla defesa, com sentença transitada em julgado
(que não cabe mais recurso) prolatada pelo juízo ou
Art. 5º […] autoridade judiciária competente.
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado Provas Ilícitas
antes da naturalização, ou de comprovado envolvi-
mento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas Art. 5º […]
afins, na forma da lei; LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obti-
LII - não será concedida extradição de estrangeiro das por meios ilícitos;
por crime político ou de opinião;
Provas ilícitas são aquelas obtidas por meio ilegal,
Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Públi- fraudulento, ou que infrinja as normas e princípios
ca (2020), a extradição é um ato oficial de cooperação básicos de direito, motivo pelo qual não são aceitas no
internacional que consiste na entrega de uma pessoa, processo judicial. São, em regra, vedadas pela Consti-
o extraditando, acusado ou condenado, pela prática tuição e inadmissíveis dentro de um processo, ainda
de um ou mais crimes em território estrangeiro, ao que comprovem fato de direito ou cooperem para o
país que o reclama. julgamento do feito processual.
A extradição pode ser:
Presunção de Inocência
z Ativa: quando o Brasil solicita, a outro país, a
entrega de um indivíduo para julgá-lo e condená- Art. 5º […]
-lo pela prática de um crime praticado em territó- LVII - ninguém será considerado culpado até o trân-
106 rio brasileiro; sito em julgado de sentença penal condenatória;
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Todo cidadão é considerado inocente até que se Comunicabilidade da Prisão
prove o contrário com o trânsito em julgado da sen-
tença condenatória. Art. 5º […]
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
Identificação Criminal
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
Art. 5º […]
LVIII - o civilmente identificado não será submetido Informação ao Preso
a identificação criminal, salvo nas hipóteses previs-
tas em lei; (Regulamento). Art. 5º […]
LXIII - o preso será informado de seus direitos,
A identificação criminal será feita diante de fun- entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
dada suspeita da validade e veracidade dos documen- assegurada a assistência da família e de advogado;
tos cíveis apresentados ou quando já se tem notícias
reputadas a pessoa civilmente identificada sobre uso Identificação dos Responsáveis pela Prisão
de diversos nomes e fraude em registros policiais.
Art. 5º […]
LXIV - o preso tem direito à identificação dos res-
Ação Privada Subsidiária da Pública ponsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
Art. 5º […]
LIX - será admitida ação privada nos crimes de Na ocasião de prisão, são direitos do preso a comu-
ação pública, se esta não for intentada no prazo nicação (à sua família e ao juízo competente) de sua
legal; prisão e do local onde se encontra, bem como o conhe-
cimento das autoridades policiais responsáveis por
A ação penal privada subsidiária da pública é sua prisão e interrogatório.
admitida nos casos em que a lei não prevê a ação
como privada, mas, sim, como pública (condicionada Relaxamento da Prisão Ilegal
ou incondicionada). Entretanto, o Ministério Público,
titular da ação penal, permanece inerte e não apre- Art. 5º […]
senta a denúncia no prazo legal, abrindo-se a possibi- LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada
lidade para que o ofendido, seu representante legal ou pela autoridade judiciária;
seus sucessores ingressem com a ação penal privada O relaxamento da prisão ocorre quando o acusado
subsidiária da pública.
é posto em liberdade pela incidência de alguma ilega-
lidade no ato de sua prisão.
A Publicidade dos Atos Processuais e o Segredo de
Justiça Garantia da Liberdade Provisória

Art. 5º […] Art. 5º […]


LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela man-
atos processuais quando a defesa da intimidade ou tido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
o interesse social o exigirem; com ou sem fiança;

Em regra, todos os atos processuais são públicos, A liberdade provisória é o instituto processual que
salvo o segredo de justiça, que pode ser determinado garante ao acusado o direito de aguardar em liber-
de ofício pelo juiz da causa para: dade o transcorrer do processo criminal até o trân-
sito em julgado de sua sentença penal condenatória,
z segurança jurídica das partes; mediante o estabelecimento ou não de determinadas
z proteção dos interesses de indivíduos menores de condições, podendo ser revogado a qualquer tempo,
idade; diante do descumprimento das condições impostas,
z interesse social ou demanda de grande da não colaboração com as investigações ou se a auto-
repercussão; ridade entender que a liberdade pode colocar em ris-
z a requerimento justificado das partes do processo. co o julgamento do processo.

Prisão Civil
Legalidade da Prisão
Art. 5º […]
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 5º […] LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito do responsável pelo inadimplemento voluntário e
ou por ordem escrita e fundamentada de autorida- inescusável de obrigação alimentícia e a do depo-
de judiciária competente, salvo nos casos de trans- sitário infiel;
gressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei; A Constituição Federal, de 1988, extinguiu, em
regra, a prisão civil por dívidas. Logo, após a promul-
Salvo flagrante delito, o cidadão só pode ser levado gação da Carta Magna, a prisão não se caracteriza
preso por autoridade policial mediante ordem judi- mais como medida punitiva ao devedor, salvo nos
cial escrita e devidamente fundamentada. casos de não pagamento de pensão alimentícia e do
depositário infiel.
107
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Lembre-se: o depositário infiel, de acordo com a GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS E
Constituição, é o indivíduo que ficou responsável pela GARANTIAS DOS DIREITOS COLETIVOS, SOCIAIS E
guarda de um bem que não lhe pertence e deixou que POLÍTICOS
este bem perecesse, desaparecesse ou fosse roubado.
É importante ressaltar que os direitos e garantias É importante não confundir direitos fundamentais
previstos em nossa Constituição não excluem outros com garantias fundamentais. Os direitos fundamentais
decorrentes do regime e dos princípios por ela ado- são vantagens, proteção em favor das pessoas, como,
por exemplo, o direito de informação. Já as garantias
tados, bem como de tratados internacionais em que o
fundamentais são instrumentos processuais para
Brasil seja signatário.
defesa daqueles direitos, conhecidos como ações ou
remédios constitucionais, como, por exemplo: habeas
data, habeas corpus, mandado de segurança, manda-
Importante! do de injunção e a ação popular, conforme veremos
Súmula Vinculante nº 25 É ilícita a prisão a seguir.
civil de depositário infiel, qualquer que seja a
Habeas Corpus
modalidade do depósito.
Art. 5º […]
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer vio-
(PIDCP) aduz, em seu art. 11, que “ninguém poderá ser
lência ou coação em sua liberdade de locomoção,
preso apenas por não poder cumprir com uma obriga- por ilegalidade ou abuso de poder;
ção contratual”. A Convenção Americana sobre Direi-
tos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), por sua O habeas corpus é um remédio constitucional que
vez, em seu § 7º, art. 7º, assevera: consiste na ação judicial cabível, com o objetivo de
proteger o direito de liberdade de locomoção ao lesa-
Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio do ou ameaçado por ato ilegal ou abusivo.
não limita os mandados de autoridade judiciária Tem como objetivo proteger o direito de ir e vir,
competente expedidos em virtude de inadimple- ou seja, sempre que alguém sofrer ou se achar amea-
mento de obrigação alimentar. çado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, está
Ainda assim, vale mencionar que restou mantida a fundamentado no inciso LXVIII, art. 5º, da CF, e art.
jurisprudência pela constitucionalidade da prisão do 647 ao art. 667, do CPP (Código de Processo Penal).
depositário infiel, uma vez que o pacto ingressou no Pode ser habeas corpus preventivo para evitar uma
ordenamento jurídico na qualidade de norma infra- futura violação à liberdade, ou habeas corpus repres-
constitucional. Após a Emenda Constitucional nº 45, sivo, o qual busca o fim de uma coação já cometida.
de 2004, que acrescentou o inciso LXXVIII, § 3º, do art. Importante frisar também que não existe a necessida-
de de um advogado para entrar com a ação.
5º, os tratados e convenções internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil for signatário e que forem
z Sujeito ativo (impetrante): qualquer pessoa;
aprovados pelo Congresso Nacional, em votação de
z Vítima (paciente): qualquer pessoa, brasileiro ou
dois turnos, por três quintos de seus membros, passam
estrangeiro;
a ter status equivalente às emendas constitucionais. z Sujeito passivo (coator): autoridade ou agen-
Contudo, o Pacto de São José da Costa Rica foi apro- te público que cometeu ilegalidade ou abuso de
vado por maioria simples. Tal questão acerca do sta- poder contra particular;
tus dos tratados de direitos humanos gerou profundas
discussões nos tribunais e o STF decidiu que os trata- Habeas corpus também pode ser impetrado por
dos internacionais sobre direitos humanos ratificados estrangeiro (desde que na língua portuguesa) contra
pelo Brasil antes das alterações trazidas pela Emen- particular.
da Constitucional nº 45, de 2004, ou seja, sem passar Não cabe habeas corpus contra punição disciplinar
pelo processo de aprovação previsto no § 3º, do art. militar, salvo se imposta pela autoridade competente.
5º, deveriam ter status supralegal, hierarquicamente Destacamos a seguir algumas súmulas importan-
inferior às normas constitucionais, mas superior às tes do STF sobre o tema:
normas infraconstitucionais.
Súmula nº 395 Não se conhece de recurso de
Assim, a prisão do depositário infiel não foi con-
habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o
siderada inconstitucional, pois sua previsão segue ônus das custas, por não estar mais em causa à
na Constituição, mas, na prática, passou a ser ilegal, liberdade de locomoção.
uma vez que as leis que regulam tal medida coercitiva
estão abaixo dos tratados internacionais de direitos Súmula nº 431 É nulo o julgamento de recurso
humanos. Esse entendimento do caráter supralegal criminal, na segunda instância, sem prévia
dos tratados devidamente ratificados e internalizados intimação, ou publicação da pauta, salvo em
na ordem jurídica brasileira, sem submeter-se ao pro- habeas corpus.
cesso legislativo estipulado pelo § 3º, art. 5º, da CF, de
Súmula nº 692 Não se conhece de habeas corpus
1988, foi reafirmado pela edição da Súmula Vinculan- contra omissão de relator de extradição, se
te nº 25, STF, em 2009. fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova
não constava dos autos, nem foi ele provocado a
108 respeito.
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Súmula nº 693 Não cabe habeas corpus contra z ato judicial em fase recursal.
decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a
processo em curso por infração penal a que a pena Cuidado! Referente aos atos que transitaram em
pecuniária seja a única cominada. julgado hoje, a jurisprudência entende por uma possí-
vel mitigação da Súmula nº 268, do STF. Vejamos:
Súmula nº 694 Não cabe habeas corpus contra
a imposição da pena de exclusão de militar ou de No entanto, sendo a impetração do mandado de
perda de patente ou de função pública. segurança anterior ao trânsito em julgado da
decisão questionada, mesmo que venha a aconte-
Súmula nº 695 Não cabe habeas corpus quando já cer, posteriormente, não poderá ser invocado o
extinta a pena privativa de liberdade. seu não cabimento ou a sua perda de objeto, mas
preenchidas as demais exigências jurídico-proces-
Mandado de Segurança suais, deverá ter seu mérito apreciado. (EDcl no MS
22.157/DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Rel. p/
Agora, passaremos à análise do mandado de segu- Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em
rança, sendo que este pode ser individual ou coletivo. 14.03.2019, DJe 11.06.2019)
Vejamos:
z Agente ativo: pessoa física ou jurídica. Agentes
Art. 5º […] políticos podem ser sujeitos ativo ou passivo;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para z Agente passivo: autoridade, pessoa física revestida
proteger direito líquido e certo, não amparado por de poder público. União, estados e DF ingressarão
habeas corpus ou habeas data, quando o responsá- como litisconsortes necessários, por meio de seus
vel pela ilegalidade ou abuso de poder for autorida- procuradores — no caso do município, através de
de pública ou agente de pessoa jurídica no exercício seu prefeito;
de atribuições do Poder Público;
z Liminar: cabimento conforme inciso III, art. 7°, da
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
Lei nº 12.016, de 2009, o juiz poderá determinar a
impetrado por:
suspensão do ato (que causou a violação do direi-
a) partido político com representação no Congresso
Nacional; to), desde que exista motivo relevante. Vejamos:
b) organização sindical, entidade de classe ou asso-
ciação legalmente constituída e em funcionamento Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de [...]
seus membros ou associados; III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedi-
do, quando houver fundamento relevante e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida,
O mandado de segurança é uma ação constitucional
caso seja finalmente deferida, sendo facultado exi-
que visa tutelar direito líquido e certo ameaçado ou
gir do impetrante caução, fiança ou depósito, com
violado por autoridade pública ou por aquele que o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa
estiver no exercício de funções desta natureza. Esta jurídica.
ação tem caráter residual e só é aplicável quando não
for cabível outro remédio constitucional, tal como o Mandado de Segurança Coletivo
habeas corpus ou habeas data.
Atenção! Por direito líquido e certo entende-se O mandado de segurança coletivo, que está previs-
aquele claro e inequívoco, com prova pré-constituí- to no inciso LXX, art. 5º, da CF, e no art. 21, da Lei nº
da, que não dependa de instrução probatória ou de 12.016, de 2009, tem o objetivo de proteger certo gru-
declaração por juízo competente em processo de po de pessoas (corporativo). Os requisitos e o prazo
conhecimento. decadencial são os mesmos do mandado de segurança
individual.
Mandado de Segurança Individual
z Agente ativo: partido político com representação
Previsto no inciso LXIX, art. 5º, da CF, e Lei nº no Congresso Nacional; ou organização sindical,
12.016, de 2009, tem o objetivo de proteger direito entidade de classe ou associação legalmente cons-
líquido e certo (requerido no prazo de 120 dias do tituída e em funcionamento há pelo menos um
conhecimento da lesão), devidamente comprovado ano, em defesa de seus membros ou associados,
com provas documentais, não há prova testemunhal deve demonstrar pertinência temática;
nem pericial. Tem caráter subsidiário, ou seja, quando z Agente passivo: autoridade coatora;
não for caso de habeas corpus nem habeas data. z Liminar: cabimento conforme inciso III, § 2º, art.
Cabível quando existe abuso ou ilegalidade de 7º, e art. 22, da Lei nº 12.016, de 2009. Basta repre-
NOÇÕES DE DIREITO

autoridade pública. A Súmula nº 625, do STF, dispõe sentar os requisitos “fumus boni iuris” e “periculum
que, “Controvérsia sobre matéria de direito não impe- in mora”.
de concessão de mandado de segurança”, ou seja, caso
houver dúvida a respeito de interpretação da lei, não Súmulas importantes do STF sobre o tema:
impede o deferimento do mandado de segurança.
Atenção! Não cabe mandado de segurança nos Súmula nº 629 (STF) A impetração de mandado de
seguintes casos: segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes.
z atos meramente informativos; Súmula nº 630 (STF) A entidade de classe tem legi-
z atos que transitaram em julgado; timação para o mandado de segurança ainda quan-
z ato administrativo que comporte recurso com efei- do a pretensão veiculada interesse apenas a uma
to suspensivo; parte da respectiva categoria. 109
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Mandado de Injunção A ação popular é o instrumento constitucional
adequado por meio do qual qualquer cidadão pode vir
Art. 5º […] a questionar a validade de atos que considera lesivos
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre ao patrimônio público, à moralidade administrativa,
que a falta de norma regulamentadora torne inviá- ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
vel o exercício dos direitos e liberdades constitucio- A ação popular pode ter duas formas: a preventi-
nais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
va, que é ajuizada antes da consumação dos efeitos do
à soberania e à cidadania;
ato, e a repressiva, que visa corrigir os atos danosos
consumados.
O mandado de injunção é ação constitucional pró-
pria a reivindicar a regularização de um direito cons-
titucional que necessite de norma regulamentadora. z Agente ativo: qualquer cidadão brasileiro. Se este
Tem previsão no inciso LXXI, art. 5º, da CF, e Lei abandonar a ação, outro cidadão poderá assumir.
nº 13.300, de 2016 (Lei do MS), não tem lei específica
própria, devem ser observadas as normas da Lei do Atenção! O Ministério Público não pode propor,
mandado de segurança, conforme prevê o parágrafo mas pode assumir andamento e dar execução a deci-
único, art. 24, da Lei nº 8.038, de 1990. são da ação popular (legitimidade extraordinária ou
superveniente).
Art. 24 [...]
No mandado de injunção e no habeas data, serão z Agente passivo: administrador da entidade que
observadas, no que couber, as normas do manda- lesionou.
do de segurança, enquanto não editada legislação z Liminar: basta representar os requisitos “fumus
específica. boni iuris” e “periculum in mora”.

z Aplicabilidade: falta de uma norma regulamenta- Súmula nº 101 (STF) O mandado de segurança
dora de direito, liberdade constitucional e das prer- não substitui a ação popular.
rogativas inerentes à nacionalidade, soberania e
cidadania. Buscar o exercício do direito para uma Súmula nº 365 (STF) Pessoa jurídica não tem legi-
pessoa ou certo grupo de pessoas. Exemplo: conse- timidade para propor ação popular.
guir se aposentar ou exercer o direito de greve;
z Agente ativo: qualquer pessoa; Atenção! A ação popular é isenta de custas judi-
z Liminar: mandado de injunção não tem liminar. ciais e do ônus de sucumbência.
Sobre o tema, vejamos também o § 4º, art. 5º, da
Habeas Data Lei nº 4.717, de 1965:
Art. 5º […]
Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é
LXXII - conceder-se-á habeas data:
competente para conhecer da ação, processá-la e
a) para assegurar o conhecimento de informações
julgá-la o juiz que, de acordo com a organização
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
judiciária de cada Estado, o for para as causas que
registros ou bancos de dados de entidades governa-
interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado
mentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se ou ao Município.
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou [...]
administrativo; § 4º Na defesa do patrimônio público caberá à
suspensão liminar do ato lesivo impugnado.
O habeas data é um remédio constitucional que
consiste na ação judicial cabível, com o objetivo de Ainda, é possível requerer a condenação por per-
conhecer ou retificar informações constantes nos das e danos dos responsáveis pela lesão, sendo que
registros e bancos de dados de entidades governa- cabe a todos os cidadãos a fiscalização da vida públi-
mentais ou de caráter público. ca, auxiliando o Estado na boa gestão desta.

Assistência Judiciária
Importante!
Art. 5º […]
A doutrina e jurisprudência admitem que cônju- LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica inte-
ge, ascendente, descendente ou irmão podem gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
impetrar habeas data em favor de terceiro, caso de recursos;
este esteja incapacitado ou ausente.
Todos aqueles que não podem arcar com as custas
judiciárias sem prejuízo de seu sustento pessoal e de
Ação Popular
sua família, para se ter o acesso à justiça, têm direito à
assistência judiciária gratuita.
Art. 5º […]
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesi- Indenização por Erro Judiciário
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao Art. 5º […]
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de judiciário, assim como o que ficar preso além do
110 custas judiciais e do ônus da sucumbência; tempo fixado na sentença;
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Os erros do Poder Judiciário são passíveis de O rol dos direitos elencados no art. 5º, da CF, de
indenização. 1988, não é taxativo, mas, sim, exemplificativo. Os
direitos e garantias ali expressos não excluem outros
Gratuidade de Serviços Públicos de caráter constitucional ou infraconstitucional
decorrentes de princípios constitucionais, do regime
Art. 5º […]
democrático, da legislação esparsa ou de tratados
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente
pobres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989) internacionais.
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e Importante!
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários
� Rol taxativo ou numerus clausus: somente o
ao exercício da cidadania (Regulamento).
que está escrito na lei. É determinado e não per-
A Constituição Federal traz, como direito funda- mite interpretações extensivas;
mental, a gratuidade dos seguintes serviços públicos � Rol exemplificativo: trata-se de uma lista de
aos economicamente hipossuficientes: exemplos, como uma amostra, podendo se
estender e permitir novas interpretações.
z registro civil;
z obtenção de certidão de óbito;
z ações de habeas corpus e habeas data. Tratados e Convenções Internacionais de Direitos
Humanos
Princípio da Celeridade Processual
Art. 5º […]
Art. 5º […] § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administra- direitos humanos que forem aprovados, em cada
tivo, são assegurados a razoável duração do pro- Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua três quintos dos votos dos respectivos membros,
tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional serão equivalentes às emendas constitucionais.
nº 45, de 2004).

Ruy Barbosa (1921), jurisconsulto brasileiro, já Sanando discussões sobre a hierarquia desses dis-
dizia que a “justiça tardia não é justiça, senão injus- positivos, com a Emenda Constitucional nº 45, de 2004,
tiça qualificada e manifesta”. Assim, é fundamental a as normas de tratados internacionais sobre direitos
garantia da razoável duração do processo, de forma a humanos passaram a ser reconhecidas como normas
evitar que direitos se percam no transcorrer proces- de hierarquia constitucional — porém, somente se
sual pela demora do Judiciário. aprovadas pelas duas casas do Congresso, por 3/5 de
seus membros em dois turnos de votação.
Proteção de Dados Pessoais
Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal
Art. 5º […] Internacional
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito
à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios Art. 5º […]
digitais. § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifes-
A Emenda Constitucional nº 115, de 10 de fevereiro tado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional
de 2022, adicionou o inciso LXXIX, ao art. 5º, da Cons- nº 45, de 2004).
tituição Cidadã. A partir deste, a proteção de dados
pessoais passou a incluir os direitos e garantias fun- O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição
damentais. Quanto a esse tema, cabe ressaltar que a do Tribunal Penal Internacional (TPI), também conhe-
competência para legislar sobre a proteção e o trata- cido por Corte ou Tribunal de Haia, instituído pelo
mento de dados pessoais é privativa da União. Estatuto de Roma e ratificado em 20 de junho de 2002
pelo Brasil. A Emenda Constitucional nº 45, de 2004,
Aplicabilidade das Normas de Direitos e Garantias
deu a esta adesão força constitucional. O objetivo do
Fundamentais
TPI é identificar e punir autores de crimes contra
Art. 5º […]
a humanidade.
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata. DIREITOS SOCIAIS
NOÇÕES DE DIREITO

Assim, todas as normas relativas aos direitos e Os direitos sociais têm previsão do art. 6º ao art.
garantias fundamentais são autoaplicáveis. 11, da Constituição, e também podem ser encontrados
no Título VIII, da Constituição Federal, que trata da
z Rol Exemplificativo ordem social.
São direitos que pertencem à segunda geração dos
Art. 5º […] direitos fundamentais, ou seja, da dimensão que tra-
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Cons- ta dos direitos da democracia e informação, e alguns
tituição não excluem outros decorrentes do regime doutrinadores também os chamam de liberdades
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados positivas, quando o Estado precisa deixar de ser omis-
internacionais em que a República Federativa do so com o objetivo de assegurar uma compensação
Brasil seja parte. resultante da desigualdade entre as pessoas. 111
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Os direitos sociais exigem uma atuação do Estado trabalhador — este, parte hipossuficiente da relação
em face da desigualdade social e têm aplicabilidade trabalhista.
imediata. Nesse sentido, com o objetivo de garantir a Após longo período de exploração do trabalho
igualdade formal (ou também chamada de igualdade escravo e a posterior propagação do trabalho livre,
jurídica, conforme prevê a CF, de 1988, significa que passou-se, cada vez mais, de acordo com as circuns-
todos devem ser tratados da mesma forma). tâncias dos novos modelos econômicos, a surgir uma
Ainda, a Constituição dividiu os direitos sociais em certa preocupação com a proteção do trabalho. Nesse
três espécies: ínterim, desenvolveram-se movimentos classistas que
culminaram, por exemplo, na luta pela liberdade de
z direitos sociais destinados a toda sociedade (art. associação e criação de algumas normas trabalhistas.
6º, da CF); À vista disso, em 1930, Getúlio Vargas criou o
z direitos sociais para os trabalhadores (art. 7º, da Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, promo-
CF); vendo, nos anos seguintes, a edição de vários decretos
z direitos sociais coletivos dos trabalhadores (art. 8º de caráter trabalhista que, dentre outros, deram início
ao art. 11, da CF). ao chamado “constitucionalismo social”. Atualmente,
em nossa Constituição, são contemplados todos os
Direitos Sociais Destinados a Toda Sociedade principais direitos e garantias trabalhistas que, dada
a sua importância, não podem ser abolidos nem por
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saú- meio de emendas constitucionais.
de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o É através do trabalho que o homem pode contri-
transporte, o lazer, a segurança, a previdência buir para com a sociedade. O direito ao trabalho é,
social, a proteção à maternidade e à infância, portanto, o maior mecanismo de inclusão social da
a assistência aos desamparados, na forma des- pessoa humana, inserindo o homem na vida social de
ta Constituição. maneira participativa. O trabalho faz com que a pes-
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vul- soa seja vista pelo que produz e tem sido a forma mais
nerabilidade social terá direito a uma renda básica eficaz de assegurar à pessoa humana não apenas a
familiar, garantida pelo poder público em programa sua subsistência, mas, também, a manutenção de sua
permanente de transferência de renda, cujas normas
dignidade. Daí a importância da proteção dos direitos
e requisitos de acesso serão determinados em lei,
trabalhistas.
observada a legislação fiscal e orçamentária. (Incluí-
do pela Emenda Constitucional nº 114, de 2021)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de
É importante destacar que o parágrafo único, do
sua condição social:
art. 6º, foi incluído recentemente pela EC nº 114, de [...]
2021, estabelecendo que todo brasileiro em situação
de vulnerabilidade social terá direito a uma renda Proteção Contra Despedida Arbitrária ou Sem Justa
básica familiar. O trecho “cujas normas e requisitos Causa
de acesso serão determinados em lei”, estabelece que
esta é uma norma de eficácia limitada, pois depende
Art. 7º [...]
de regulamentação posterior. I - relação de emprego protegida contra despedida
Trata-se, portanto, de direitos garantidos para toda arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
a sociedade brasileira, com exceção, por exemplo, da complementar, que preverá indenização compensa-
previdência social — neste caso, só terá benefício tória, dentre outros direitos;
quem for contribuinte e preencher todos os requisitos
legais exigidos. Pelos princípios da proteção e da continuidade das
relações laborais, os contratos de trabalho, em regra,
z Direito à Propriedade x Direito à Moradia são feitos por prazo indeterminado e protegidos con-
tra despedida arbitrária ou sem justa causa. Assim,
Durante a prova, cuidado! Direito de propriedade este inciso estabelece a indenização para dispensa
é um direito individual, conforme já estudado neste arbitrária. Destarte, na hipótese de dispensa arbi-
material; já o direito à moradia é um direito social, trária, haverá uma indenização compensatória que,
localizado no caput, do art. 6º, da CF, de 1988. de acordo com o entendimento majoritário, diz res-
peito à multa complementar de 40% sobre o saldo do
z Direito à Segurança, Localizado no Art. 5º fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS).
(Direito Individual) e Art. 6º (Direito Social) —
Entenda a Diferença Seguro-Desemprego

A segurança mencionada no art. 5º, da CF, se refere Art. 7º [...]


à segurança jurídica; já a segurança mencionada no II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
art. 6º, da CF, refere-se ao direito à segurança pública. involuntário;

Direitos Sociais para os Trabalhadores O seguro-desemprego é o direito à assistência


financeira temporária a todo trabalhador que, tendo
Os direitos individuais dos trabalhadores desti- prestado serviços laborais ao empregador, foi demiti-
nam-se a proteger a relação de trabalho contra uma do sem justa causa. É importante destacar que, para
profunda desigualdade, resultante da não observân- que este direito seja efetivado, é necessário que sejam
cia de preceitos mínimos destinados à compatibilizar atendidos os demais requisitos previstos no art. 3º, da
112 da função laboral com a dignidade e o bem-estar do Lei nº 7.998, de 1990.
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Art. 3º Terá direito à percepção do seguro-desem-
prego o trabalhador dispensado sem justa causa SEGURO-DESEMPREGO
que comprove: 1ª Solicitação
I - ter recebido salários de pessoa jurídica ou de
pessoa física a ela equiparada, relativos a:(Redação Parcelas Tempo de trabalho
dada pela Lei nº 13.134, de 2015)
a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 Quatro 12 a 23 meses
(dezoito) meses imediatamente anteriores à data de
Cinco 24 meses ou mais
dispensa, quando da primeira solicitação; (Incluído
pela Lei nº 13.134, de 2015) 2ª Solicitação
b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze)
meses imediatamente anteriores à data de dispen- Parcelas Tempo de trabalho
sa, quando da segunda solicitação; e (Incluído pela
Lei nº 13.134, de 2015) Três Nove a 11 meses
c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente ante-
Quatro 12 a 23 meses
riores à data de dispensa, quando das demais solici-
tações;(Incluído pela Lei nº 13.134, de 2015) Cinco 24 meses ou mais
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.134,
de 2015) 3ª Solicitação
III - não estar em gozo de qualquer benefício pre-
videnciário de prestação continuada, previsto no Parcelas Tempo de trabalho
Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, Três Seis a 11 meses
excetuado o auxílio-acidente e o auxílio suplemen-
tar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de Quatro 12 a 23 meses
1976, bem como o abono de permanência em servi-
ço previsto na Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973; Cinco 24 meses ou mais
IV - não estar em gozo do auxílio-desemprego;
V - não possuir renda própria de qualquer natureza Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
suficiente à sua manutenção e de sua família;
VI - matrícula e frequência, quando aplicável, nos Art. 7º […]
termos do regulamento, em curso de formação ini- III - fundo de garantia do tempo de serviço;
cial e continuada ou de qualificação profissional
habilitado pelo Ministério da Educação, nos ter- O fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS)
mos do art. 18 da Lei nº 12.513, de 26 de outubro foi criado com o objetivo de proteger o trabalhador
de 2011, ofertado por meio da Bolsa-Formação
demitido sem justa causa, mediante a abertura de
Trabalhador concedida no âmbito do Programa
uma conta vinculada ao contrato de trabalho. No
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec), instituído pela Lei nº 12.513, de 26 de
início de cada mês, os empregadores depositam, nas
outubro de 2011, ou de vagas gratuitas na rede de contas vinculadas de seus funcionários, o valor cor-
educação profissional e tecnológica (Incluído pela respondente a 8% do salário de cada trabalhador. O
Lei nº 13.134, de 2015). FGTS é gerido pela Caixa Econômica Federal e cons-
tituído pelo total desses depósitos mensais. Os valo-
O seguro-desemprego é regido pela Lei nº 7.998, de res pertencem aos empregados, que podem sacá-los
1990, alterada pela Lei nº 13.134, de 2015. Também há mediante o cumprimento de alguns requisitos legais.
regulamentação sobre o assunto na Lei nº 10.779, de É importante ressaltar que:
2003, e na Lei Complementar nº 150, de 2015.
Nos termos do art. 4º da lei do seguro-desemprego, Todo trabalhador brasileiro com contrato de tra-
o benefício será “concedido ao trabalhador desem- balho formal, regido pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), e, também, trabalhadores domés-
pregado, por período máximo variável de 3 (três) a
ticos, rurais, temporários, intermitentes, avulsos,
5 (cinco) meses”, de forma contínua ou alternada, a
safreiros (operários rurais que trabalham ape-
cada período aquisitivo, contados da data de dispen-
nas no período de colheita) e atletas profissionais
sa que deu origem à última habilitação, cuja duração têm direito ao FGTS. O diretor não empregado
será definida pelo Conselho Deliberativo do Fundo de pode ser incluído no regime do FGTS, a critério do
Amparo ao Trabalhador (Codefat). empregador.
A determinação do período máximo mencionado
no caput observará a relação entre o número de par- À vista disso, podemos dizer que o FGTS é uma
celas mensais do benefício do seguro-desemprego e espécie de conta poupança compulsória do trabalha-
NOÇÕES DE DIREITO

o tempo de serviço do trabalhador nos 36 meses que dor, regida pela Lei nº 8.036, de 1990.
antecederam a data de dispensa que originou o reque-
rimento do seguro-desemprego, vedado o cômputo de Salário Mínimo
vínculos empregatícios utilizados em períodos aquisi-
tivos anteriores. Art. 7º [...]
Assim, o número de parcelas a receber será deter- IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente
minado de acordo com o tempo de serviço efetivo do unificado, capaz de atender a suas necessidades
trabalhador, não só do último vínculo empregatício, vitais básicas e às de sua família com moradia, ali-
mas de todos os vínculos dos últimos 36 meses que mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie-
antecederam o requerimento e que não tenham sido ne, transporte e previdência social, com reajustes
utilizados ou computados para solicitações anterio- periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,
res, conforme a tabela a seguir: sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; 113
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O salário mínimo é uma importante garantia Assim, é garantida, ao trabalhador, a remuneração do
constitucional. Seu valor, em 2020, correspondia a R$ trabalho noturno superior à do diurno.
1.045. Importante mencionar que esse valor mínimo é Para tais fins, considera-se trabalho noturno:
o estabelecido para jornada padrão de 44 horas sema-
nais, podendo ser proporcional, em caso de jornada z o desempenhado entre as 22h de um dia até as 5h
inferior. do dia seguinte para trabalhadores urbanos;
z o desempenhado entre as 21h de um dia até as 5h
Piso Salarial do dia seguinte, para os trabalhadores rurais, das
atividades de plantio e colheita;
Art. 7º [...] z o desempenhado entre as 20h de um dia até as 4h
V - piso salarial proporcional à extensão e à com- do dia seguinte, para os trabalhadores rurais da
plexidade do trabalho; atividade pecuária.

O piso salarial corresponde ao menor salário que Nos termos da CLT, o adicional noturno correspon-
determinada categoria profissional pode receber pela de a 20% a mais sobre a hora diurna trabalhada para
sua jornada de trabalho, considerando a extensão e
os trabalhadores urbanos e 25% para os trabalhado-
complexidade do trabalho desenvolvido e devendo
res rurais.
ser sempre superior ao salário mínimo nacional.
Proteção do Salário Contra Retenção Dolosa
Irredutibilidade do Salário
Art. 7º [...]
Art. 7º [...]
X - proteção do salário na forma da lei, constituin-
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
do crime sua retenção dolosa;
convenção ou acordo coletivo;

É vedada a retenção salarial dolosa. Assim, só são


A irredutibilidade salarial garante que o empre-
permitidos descontos salariais autorizados em lei.
gado não venha a ter o seu salário reduzido arbitra-
riamente pelo empregador durante todo o período do
contrato de trabalho. É, portanto, uma garantia à esta- Participação nos Lucros
bilidade econômica do trabalhador.
Art. 7º [...]
Proteção aos que Percebem Remuneração Variável XI - participação nos lucros, ou resultados, desvin-
culada da remuneração, e, excepcionalmente, par-
ticipação na gestão da empresa, conforme definido
Art. 7º [...]
em lei;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
para os que percebem remuneração variável;
A participação nos lucros e resultados da empresa
Os empregados que recebem salários com valores corresponde a uma recompensa pelo reconhecimento
variáveis, tais como comissões sobre vendas etc., nun- do bom desempenho e produtividade paga a todos os
ca devem receber salário inferior ao mínimo. Como o funcionários de determinada empresa sobre o lucro
salário mínimo mensal estipulado em lei corresponde excedente de determinado período de suas atividades.
a uma jornada laboral mensal de 220 horas, a garantia
mínima aqui estipulada terá como parâmetro o salá- Salário-Família
rio mínimo-hora.
Art. 7º [...]
Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina XII - salário-família pago em razão do dependente
do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
Art. 7º [...] (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20,
VIII - décimo terceiro salário com base na remune- de 1998).
ração integral ou no valor da aposentadoria;
O salário-família é um benefício da previdência
O 13º salário é a garantia do recebimento de um social correspondente ao valor pago ao empregado
salário integral (ou proporcional ao período trabalha- de baixa renda que receba salário no valor de até
do, se for o caso) por ocasião das comemorações de R$ 1.425,56, inclusive ao doméstico e ao trabalhador
final de ano a todos os trabalhadores, aposentados e avulso, e que possua filhos menores de 14 anos de ida-
pensionistas do INSS. de ou com deficiência, sem limite de idade.

Remuneração Superior por Trabalho Noturno Jornada de Trabalho

Art. 7º [...] Art. 7º [...]


IX - remuneração do trabalho noturno superior à XIII - duração do trabalho normal não superior a
do diurno; oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução
Por questões biológicas, sabe-se que o desempe- da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva
nho do corpo humano para atividades laborais pode de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
ser reduzido no período noturno, bem como que a
114 redução do sono regular pode comprometer a saúde.
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A Constituição Federal garante ao trabalhador jor- Após um ano de trabalho efetivo (período aquisiti-
nada de trabalho não superior a oito horas diárias vo), todo trabalhador passa a ter direito a um período
ou 44 horas semanais, facultada a compensação e a de até 30 dias para descanso e lazer, com percebimen-
redução. to de salário integral, acrescido de 1/3 constitucional.
As férias são concedidas a critério do empregador
Jornada Especial para Turnos Ininterruptos de que, após o término do período aquisitivo, tem até um
Revezamento ano para concedê-las (período concessivo).

Art. 7º [...] Licença à Gestante


XIV - jornada de seis horas para o trabalho realiza-
do em turnos ininterruptos de revezamento, salvo Art. 7º [...]
negociação coletiva; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego
e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
Caracteriza-se trabalho em turno ininterrupto de
revezamento aquele prestado por trabalhadores que Também chamada de licença-maternidade, corres-
se revezam nos postos de trabalho nos horários diur- ponde ao período em que a mulher está prestes a ter
no e noturno. Esse tipo de jornada trabalhista é bas- um filho, acabou de ganhar um bebê ou adotou uma
tante comum em empresas que funcionam em tempo criança. Nesse contexto, a mulher tem direito a per-
integral, sem pausas. A jornada do trabalhador de tur- manecer afastada do seu trabalho e receber o salário-
nos ininterruptos deve ser de seis horas diárias. -maternidade, benefício previdenciário pago à pessoa
nessas condições. Em regra, a licença-maternidade é
Repouso (ou Descanso) Semanal Remunerado (DSR) de 120 dias, podendo ser ampliado para 180 dias, nos
casos em que a empregadora for aderente ao Progra-
Art. 7º [...] ma Empresa Cidadã, instituído pela Lei nº 11.770, de
XV - repouso semanal remunerado, preferencial- 2008, e regulamentado pelo Decreto nº 7.052, de 2009.
mente aos domingos;
Licença-Paternidade
O descanso ou repouso semanal remunerado cor-
responde a um dia de folga semanal remunerado ao Art. 7º [...]
trabalhador. Deve ser concedido preferencialmen- XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em
te aos domingos, dado seu objetivo social e de lazer lei;
e recreação, mas nada impede que seja gozado nos
outros dias da semana. No caso de empresas que fun- A licença-paternidade tem o período de cinco dias,
cionam aos domingos e feriados, devem ser adotadas que se inicia no primeiro dia útil após o nascimento
regras de escala para seus funcionários, de forma que da criança em que o pai tem direito a afastar-se de
o trabalhador tenha ao menos um domingo livre no suas atividades laborais, sem prejuízo de seu salário.
mês como descanso semanal remunerado e usufrua Nos casos em que a empresa esteja cadastrada no pro-
os demais em outro dia da semana. grama Empresa Cidadã, o prazo poderá ser estendido
por mais 15 dias, totalizando 20 dias.
Pagamentos de Horas Extras
Proteção da Mulher no Mercado de Trabalho
Art. 7º [...]
XVI - remuneração do serviço extraordinário supe- Art. 7º [...]
rior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do nor- XX - proteção do mercado de trabalho da mulher,
mal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º). mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

O pagamento de horas extras caracteriza-se pela Com vias a garantir a isonomia de condições labo-
remuneração superior em, no mínimo, 50% das horas rais, a proteção ao trabalho da mulher é questão de
trabalhadas, além da jornada diária — lembrando ordem pública. Assim, são vedadas diferenciações
que a legislação trabalhista permite o excedente em arbitrárias, salvo quando a natureza da atividade,
apenas duas horas extraordinárias diárias, totali- pública ou notoriamente, o exigir.
zando 10 horas diárias trabalhadas, salvo condições Ademais, são vedadas as diferenciações em razão
excepcionais. É lícita também a compensação de jor- do gênero para fins de remuneração, formação profis-
nada (banco de horas), quando, ao invés de receber sional e possibilidades de ascensão. A proteção à gra-
o acréscimo salarial que lhe é devido, o trabalhador videz e a proibição de revistas íntimas ou de práticas
NOÇÕES DE DIREITO

passa a ter direito a usufruir a compensação das que venham a ferir a dignidade feminina são alguns
horas excedentes em períodos de folga para descanso dos exemplos de medidas de proteção do mercado de
e lazer, mediante o cumprimento de alguns requisitos trabalho da mulher.
legais pela empregadora.
Aviso Prévio
Férias Remuneradas
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de servi-
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo ço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da
menos, um terço a mais do que o salário normal; lei;

115
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Nas relações de emprego, o aviso prévio consiste z inflamáveis;
na comunicação da rescisão do contrato de trabalho z explosivos;
por uma das partes, empregador ou empregado, com z energia elétrica;
a antecedência mínima de 30 dias. O aviso prévio z segurança pessoal ou patrimonial com o uso de
pode ser trabalhado ou indenizado quando concedido motocicleta, entre outros.
por qualquer uma das partes.
O adicional de periculosidade é correspondente a
Redução dos Riscos do Trabalho 30% do salário-base.
Atenção! A insalubridade é diferente da peri-
Art. 7º [...] culosidade e os adicionais não são cumulativos. Em
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por síntese, na insalubridade, a saúde do trabalhador é
meio de normas de saúde, higiene e segurança; constantemente afetada por agentes físicos, químicos
ou biológicos. Na periculosidade, por sua vez, o ris-
É dever da empregadora a redução dos riscos ine- co à vida é acentuado em virtude da exposição per-
rentes às atividades desempenhadas por seus colabo- manente do trabalhador a situações de perigo. Em
radores, através do cumprimento de todas as normas alguns casos, a insalubridade e a periculosidade
regulamentadoras de saúde, higiene e segurança, bem podem ser eliminadas ou parcialmente afastadas pelo
como do fornecimento de equipamentos de proteção uso de equipamentos de proteção adequados
individual e da exigência da execução de todas as nor-
mas da empresa por seus funcionários, sob pena de Aposentadoria
justa causa.
Art. 7º [...]
Adicional por Atividades Penosas, Insalubres ou XXIV - aposentadoria;
Perigosas
Mais do que o sonho da maioria dos brasileiros,
Art. 7º [...] a aposentadoria é um benefício garantido constitu-
XXIII - adicional de remuneração para as ativida- cionalmente e concedido pela previdência social ao
des penosas, insalubres ou perigosas, na forma da trabalhador segurado da previdência que preencher
lei; os requisitos legais para sua concessão. De forma bre-
ve, a aposentadoria consiste na prestação pecuniária
O trabalho penoso é aquele considerado extrema- recebida mensalmente pelo aposentado, calculada
mente desgastante para a pessoa humana, pois o tra- conforme suas contribuições à previdência ao longo
balhador depreende um esforço além do normal para de toda a sua vida laboral.
o desempenho de suas atividades, as quais, por sua
própria natureza ou em razão de fatores ambientais, Assistência aos Filhos Pequenos
provocam acentuado desgaste, com sobrecarga física
e psíquica para o trabalhador. São exemplos de ativi- Art. 7º [...]
dades penosas: XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda
z cortar cana;
Constitucional nº 53, de 2006).
z colher café;
z carregar e descarregar objetos;
A Constituição Federal, com vistas à proteção do
z esforços repetitivos etc.
trabalho dos genitores de filhos e dependentes peque-
nos, garante assistência gratuita para o cuidado com
Apesar de sua previsão na Constituição Federal, a os últimos. Entretanto, tal dispositivo ainda depende
percepção de um adicional pelo trabalho penoso não de regulamentação para o seu pleno exercício.
está regulamentada e quase não ocorre na prática
laboral, podendo ser reconhecida em caso de deman- Reconhecimento das Convenções e Acordos
da judicial. Coletivos de Trabalho
O trabalho insalubre, por sua vez, define-se como
aquele no qual o empregado, no exercício de suas ati- Art. 7º [...]
vidades, expõe-se a qualquer agente físico, químico XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
ou biológico, nocivo à saúde, e que, com o passar do coletivos de trabalho;
tempo, pode ocasionar uma doença ocupacional.
O adicional de insalubridade pode variar entre: Por este inciso, a Constituição Federal reconheceu
as convenções e acordos coletivos feitos conforme o
z 10% em grau mínimo; texto constitucional como instrumentos com força de
z 20% em grau médio; lei entre as partes. A reforma trabalhista reforçou a
z 40% em grau máximo de exposição, calculado regra do “negociado sobre o legislado”, isto é, a con-
sobre o salário mínimo, nos termos da lei. cepção de que a negociação pode estar acima da lei
em determinadas situações.
São exemplos de atividades insalubres as exerci-
das por profissionais da saúde, radiologistas, minera- Proteção em Face da Automação
dores, entre outros.
Por fim, o trabalho perigoso é aquele que envol- Art. 7º [...]
ve constante risco à integridade física do trabalhador. XXVII - proteção em face da automação, na forma
116 São exemplos as atividades profissionais com: da lei;
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A proteção em face da automação consiste na sal- Trabalho do Menor
vaguarda da classe trabalhadora do desemprego pela
automação abusiva, bem como da garantia efetiva à Art. 7º [...]
saúde e à segurança no meio ambiente de trabalho XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou
automatizado. insalubre a menores de dezoito e de qualquer traba-
lho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
Seguro Contra Acidentes de Trabalho de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
Art. 7º [...]
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a Com vias a combater a exploração infantil e pro-
cargo do empregador, sem excluir a indenização a mover o acesso à educação, é vedado o exercício de
que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou atividade laboral ao menor de 14 anos.
culpa;

O seguro contra acidentes de trabalho é uma DE 14 A 16 Só pode trabalhar na condição de


garantia ao empregado, às expensas do empregador, ANOS aprendiz
que assume os riscos da atividade laboral mediante
pagamento de um adicional sobre folha de salários de DE 16 A 18 É vedado o exercício de trabalho no-
seus empregados, com administração atribuída à pre- ANOS turno, perigoso ou insalubre
vidência social. Tal seguro tem função de seguridade A PARTIR
por ser destinado a beneficiários atingidos por doença Trabalho normal
DE 18 ANOS
ou acidente que estejam associados ao sistema previ-
denciário. O seguro contra acidentes de trabalho está
Igualdade ao Trabalhador Avulso
regulamentado pela Lei nº 8.212, de 1991.

Ação Trabalhista nos Prazos Prescricionais Art. 7º [...]


XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador
com vínculo empregatício permanente e o trabalha-
Art. 7º [...]
dor avulso.
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das
relações de trabalho, com prazo prescricional de
cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, Pela não discriminação, proibição de distinção do
até o limite de dois anos após a extinção do contra- trabalho e igualdade ao trabalhador avulso, são veda-
to de trabalho; (Redação dada pela Emenda Consti- das quaisquer discriminações arbitrárias entre tra-
tucional nº 28, de 2000). balhadores por motivo de sexo, idade, cor ou estado
civil, bem como entre o exercício de trabalho manual,
A todo trabalhador é garantido o direito de pro- técnico e intelectual, avulso ou permanente, consubs-
por reclamatória (ou reclamação) trabalhista dentro tanciado na isonomia de todos os trabalhadores urba-
dos prazos processuais legais para reaver os créditos nos e rurais.
resultantes da relação laboral.
Atenção! O prazo prescricional de uma reclama- Empregados Domésticos
ção trabalhista é de dois anos, a partir da rescisão do
contrato de trabalho! Esse é o prazo para que o tra- Art. 7º (CF) [...]
balhador possa ingressar com a ação trabalhista. O XXXIV - [...]
prazo prescricional de cinco anos, previsto no mes- Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
mo inciso da Constituição, refere-se ao período cujos trabalhadores domésticos os direitos previstos
direitos podem ser questionados, ou seja, o funcioná- nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII,
rio pode reclamar apenas dos direitos corresponden- XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
tes aos últimos cinco anos trabalhados. XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento
Não Discriminação das obrigações tributárias, principais e acessórias,
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari-
Art. 7º [...] dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV
XXX - proibição de diferença de salários, de exercí- e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
cio de funções e de critério de admissão por motivo social (Redação dada pela Emenda Constitucional
de sexo, idade, cor ou estado civil; nº 72, de 2013).
XXXI - proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário e critérios de admissão do traba-
O trabalho doméstico, predominantemente rea-
NOÇÕES DE DIREITO

lhador portador de deficiência;


lizado por mulheres, é uma das ocupações mais anti-
gas do mundo. Além disso, a diferenciação entre o
Proibição de Distinção do Trabalho
trabalhador doméstico e os demais tem raízes na
Art. 7º [...] cultura escravocrata. No caso do Brasil, consideran-
XXXII - proibição de distinção entre trabalho do uma série de problemáticas históricas profunda-
manual, técnico e intelectual ou entre os profissio- mente enraizadas em nossa sociedade, mesmo com
nais respectivos; a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, e
com a consequente criação de uma série de direitos
para a classe trabalhista, havia, ainda, uma imensa
lacuna entre os direitos dos domésticos e dos demais
trabalhadores. 117
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À vista disso, foi a Emenda Constitucional nº 72, a conservação da segurança e da paz social deve estar
de 2013, que, mesmo fruto de calorosas discussões acima dos interesses de determinadas categorias de
no Congresso Nacional, buscou igualar os direitos servidores públicos.
dos trabalhadores domésticos aos dos demais
trabalhadores, diminuindo, então, a lacuna entre z Direito de participação laboral: assegura a par-
ambos. ticipação dos trabalhadores e empregadores nos
Além desta, a Lei Complementar nº 150, de 1º de colegiados dos órgãos públicos em que interesses
junho de 2015, apresentou uma proposta de igualdade profissionais ou previdenciários sejam objeto de
jurídica, positivando direitos e garantias dos domés- discussão;
ticos que, até então, dependiam de regulamentação. z Direito de representação na empresa: nos ter-
Tais mudanças apresentaram grandes reflexos sociais mos do art. 11, CF, de 1988.
à classe trabalhadora. O reconhecimento e equipara-
ção desses direitos foi uma grande conquista legis- Os direitos sindicais encontram-se disciplinados
lativa, pautada na igualdade e dignidade da pessoa nos arts. 8º a 11. Vejamos separadamente cada um
humana.
deles:
Assim, após a EC nº 72, de 2013, e a LC nº 150, de
2015, restaram assegurados e devidamente regula-
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical,
mentados aos domésticos os seguintes direitos: observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
z salário mínimo; para a fundação de sindicato, ressalvado o regis-
z irredutibilidade do salário; tro no órgão competente, vedadas ao Poder Públi-
z garantia de salário nunca inferior ao mínimo; co a interferência e a intervenção na organização
z décimo terceiro salário com base na remuneração sindical;
integral;
z proteção do salário na forma da lei; O inciso I, do art. 8º, traz o princípio da liberdade
z duração normal do trabalho, não superior a oito sindical ou também chamado de princípio da auto-
horas diárias e 44 horas semanais; nomia sindical, o qual dispõe que não será exigida
z repouso semanal remunerado;
nenhuma autorização para a criação do sindicato,
z horas extras;
como também não será admitida qualquer a inter-
z férias anuais remuneradas acrescidas de 1/3;
ferência ou até mesmo intervenção estatal no seu
z licenças maternidade e paternidade;
funcionamento.
z aviso prévio proporcional ao tempo de serviço;
Assim, pelo dispositivo, é possível observar duas
z redução dos riscos inerentes ao trabalho;
situações distintas. A primeira refere-se à relação
z aposentadoria;
z reconhecimento das convenções e acordos coleti- entre o Estado e o sindicato. Já a segunda, entre o sin-
vos de trabalho; dicato e o sindicalizado. Portanto, essa liberdade de
z proibição de diferença de salários, de exercício de associação sindical possui dupla dimensão, de modo
funções e de critério de admissão por motivo de a assegurar o direito dos trabalhadores em geral de
sexo, idade, cor ou estado civil; criarem entidades sindicais, como também a liberda-
z proibição de qualquer discriminação no tocante a de de aderirem ou não ao sindicato, assim como se
salário e critérios de admissão do trabalhador com desfiliarem conforme sua vontade.
deficiência; De acordo com o STF, para que um sindicato possa
z proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalu- defender a categoria, não é preciso estar registrado
bre aos menores de 18 anos e de qualquer traba- no órgão competente (Ministério do Trabalho), bas-
lho aos menores de 16 anos, salvo na condição de tando o registro no Cartório de Registro das Pessoas
aprendiz, a partir de 14 anos. Jurídicas.

Direitos Sociais Coletivos dos Trabalhadores Art. 8º [...]


II - é vedada a criação de mais de uma organização
Os direitos coletivos dos trabalhadores “são sindical, em qualquer grau, representativa de cate-
aqueles exercidos por estes, coletivamente ou no inte- goria profissional ou econômica, na mesma base
resse de uma coletividade” (Lenza, 2019, p. 2.038) e territorial, que será definida pelos trabalhadores
compreendem: ou empregadores interessados, não podendo ser
inferior à área de um Município;
z Liberdade de associação profissional sindical:
prerrogativa dos trabalhadores para defesa de O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
seus interesses profissionais e econômicos; ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais
z Direito de greve: direito de abstenção coletiva e de uma organização sindical na mesma base territo-
simultânea do trabalho, de modo organizado para rial. Por essa razão, a Constituição Federal, de 1988,
defesa de interesses dos trabalhadores; definiu a base territorial mínima, ou seja, o Municí-
pio. No entanto, não especificou a base máxima, de
Serviços considerados essenciais e inadiáveis modo que pode haver um sindicato para a defesa da
à sociedade não podem ser totalmente paralisados categoria no âmbito estadual ou nacional. Portanto,
para o exercício do direito de greve. Ademais, o STF para cada categoria profissional será criado um único
(2017) entende que servidores que atuam diretamente sindicato em uma determinada base territorial, a qual
na área de segurança pública não podem entrar nunca poderá ser inferior a um município.
em greve em nenhuma hipótese, pois desempe-
118 nham atividade essencial à manutenção da ordem e
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Art. 8º [...] Art. 8º [...]
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes- VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser
ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive votado nas organizações sindicais;
em questões judiciais ou administrativas;
O inciso VII cuida do direito de votar e ser vota-
A representação e substituição do sindicato na do do aposentado filiado à entidade sindical, dispon-
defesa dos direitos e interesses de seus membros está do que para que o trabalhador aposentado continue
disciplinada no inciso III. Atente-se ao fato de o sindi- mantendo o seu direito de votar e também de ser
cato poder atuar não somente em questões judiciais, votado nas organizações sindicais é necessário que
mas também em questões administrativas. permaneça filiado.
Vejamos que apenas a permanência no sindicato
é vista como facultativa. Já nos casos do trabalhador
Art. 8º [...] que deseja manter seu direito ao voto e também de
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que,
ser votado é necessário a permanência na filiação sin-
em se tratando de categoria profissional, será des-
dical. Portanto, o dispositivo tem como escopo evitar
contada em folha, para custeio do sistema con-
federativo da representação sindical respectiva, que a aposentadoria retire do trabalhador o poder de
independentemente da contribuição prevista em lei; decisão nas organizações sindicais.

O inciso IV trata da contribuição confederativa sin- Art. 8º [...]


dical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhuma VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali-
das contribuições relativas à atividade sindical é obri- zado a partir do registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda
gatória, de modo a depender de autorização expressa
que suplente, até um ano após o final do mandato,
e prévia do destinatário. Portanto, somente quem é
salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
filiado ao respectivo sindicato deve pagar a contribui-
ção confederativa prevista nesse dispositivo.
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se
Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que
está condicionado à autorização prévia e expressa seus dirigentes atuem sem medo de represálias, ou
dos que participem de uma determinada categoria seja, de serem desligados do emprego devido à atua-
econômica ou profissional, ou de uma profissão ção. Trata-se, portanto, da regra que proíbe a dispen-
liberal, em favor do sindicato representativo da sa do empregado sindicalizado a partir do registro da
mesma categoria. candidatura a cargo de direção ou representação sin-
Súmula Vinculante nº 40 A contribuição con- dical. No caso dos eleitos, mesmo que na condição de
federativa de que trata o art. 8º, IV, da Constitui- suplentes, a estabilidade perdura até um ano após o
ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato final do mandato.
respectivo. Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é
absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
Continuamos com o inciso V, do art. 8º, da Consti- de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar
tuição Federal: que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art.
10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para
Art. 8º [...]
Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha-
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
dores também possuem estabilidade; já os indicados
filiado a sindicato;
pelo empregador não a possuem.
O inciso V é um desdobramento do direito à liber- A estabilidade conferida pelo inciso VIII já foi obje-
dade de associação prevista no art. 5º, da Constitui- to de prova no que tange a sua destinação. Cumpre
ção Federal, de 1988. Assim, vejamos que o dispositivo ressaltar que esse benefício não é destinado à pessoa
supracitado consagra a liberdade sindical, assegugan- do empregado (intuitu personae), mas sim à represen-
do que tanto a filiação como também a permanência tação sindical.
dos trabalhadores ou até mesmo dos empregadores é
facultativa e não obrigatória. Art. 8º [...]
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli-
Art. 8º [...] cam-se à organização de sindicatos rurais e de
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas colônias de pescadores, atendidas as condições a
negociações coletivas de trabalho; lei estabelecer.
NOÇÕES DE DIREITO

As entidades sindicais possuem a denominada Por fim, o parágrafo único estabelece que essas
função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e
melhores condições e direitos aos trabalhadores, o de pescadores.
inciso IV estabelece como obrigatória a participação Passaremos então a estudar o artigo 9º da Consti-
dos sindicatos nas negociações coletivas. tuição Federal, o qual irá dispor acerca do direito de
Assim, o referido dispositivo consagra o princípio greve. Assim, Preliminarmente cumpre trazermos o
chamado de interveniência sindical na normatização conceito de greve, que nada mais é que a uma forma
coletiva, segundo o qual elenca que para que tenha de suspensão do contrato de trabalho, em que os tra-
validade jurídica a negociação coletiva de trabalho é balhadores pressionam o empregador para a obten-
imprescindível (obrigatória) a participação das enti- ção de melhorias em suas condições trabalhistas.
dades sindicais, de forma a garantir segurança jurídi-
ca para as partes. 119
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Neste sentido, vejamos o dispositivo: O direito de associação sindical tem relação com
o princípio da liberdade de associação. O direito de
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo greve, citado no art. 9º, não é o mesmo direito de gre-
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de ve assegurado ao servidor público no art. 37, da CF,
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio ou seja, a greve mencionada no art. 9º é autoaplicável
dele defender. (norma de eficácia contida) — não precisa de lei para
[…]
regulamentar o direito de greve. Já sobre o direito de
representação, fique atento com os números também,
Inicialmente, há de se esclarecer que a expressão
como, por exemplo, no art. 11, da CF.
“trabalhadores” se refere aos empregados da iniciati-
va privada, geralmente regidos pela CLT. Em síntese,
NACIONALIDADE
greve é a suspensão temporária das atividades labo-
rais desenvolvidas e tem como causa o interesse dos
trabalhadores. A nacionalidade é a condição de sujeito que, por
Ademais, salienta-se, conforme já cobrado em ser natural do Estado, pode participar dos atos perti-
prova, que a greve, apesar de ser um direito social nentes à nação.
conferido ao trabalhador, não depende de específica A atribuição da nacionalidade se dá por dois
prestação estatal para que seja exercida. critérios:

Art. 9º [...] z Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em


§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen- território nacional;
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida- z Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacio-
des inadiáveis da comunidade. nal, mesmo nascido no exterior.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis
às penas da lei.
O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis,
entretanto, mitigado por critérios do jus sanguinis. O
No que se refere aos serviços essenciais, tais como
art. 12, da Constituição Federal, elenca os direitos da
transporte público, serviços de fornecimento de luz,
nacionalidade dividindo os brasileiros em dois gran-
água, entre outros, o direito de greve é assegurado,
des grupos: os brasileiros natos e os naturalizados.
mas sofre restrições. A lei que disciplina a greve dos
Vejamos.
trabalhadores dos serviços essenciais é a Lei nº 7.783,
de 1989.
Agora, vejamos o art. 10, da Constituição Federal: Art. 12 São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
Art. 10 É assegurada a participação dos trabalha-
dores e empregadores nos colegiados dos órgãos ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
públicos em que seus interesses profissionais estejam a serviço de seu país;
ou previdenciários sejam objeto de discussão e b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou
deliberação. mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a
serviço da República Federativa do Brasil;
O art. 10 decorre do direito a uma gestão demo- c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou
crática, ou seja, de participação junto aos cole- de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a resi-
giados dos órgãos públicos que gerenciam os
dir na República Federativa do Brasil e optem, em
interesses profissionais ou os valores aplicados nos
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
fundos previdenciários.
pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela
Portanto, pode-se dizer que o dispositivo é decor-
Emenda Constitucional nº 54, de 2007).
rente do comando de que “todo poder emana do
II - naturalizados:
povo”, o qual assegura a participação de todos os
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali-
trabalhadores e empregadores nos colegiados dos
dade brasileira, exigidas aos originários de países
órgãos públicos, para que seus interesses profissio-
de língua portuguesa apenas residência por um ano
nais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
ininterrupto e idoneidade moral;
deliberação.
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi-
dentes na República Federativa do Brasil há mais
Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos empre-
de quinze anos ininterruptos e sem condenação
gados, é assegurada a eleição de um representante
penal, desde que requeiram a nacionalidade brasi-
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes
leira (Redação dada pela Emenda Constitucional de
o entendimento direto com os empregadores.
Revisão nº 3, de 1994).
Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de
promover o entendimento e facilitar o diálogo entre Dica
empregados e empregador em empresas maiores
Filho de brasileiro (ainda que naturalizado) nas-
(com mais de 200 funcionários), a formação de uma
cido no exterior e que venha a optar pela nacio-
comissão de representação.
Atenção! Os representantes não se confundem nalidade brasileira será brasileiro nato, pois a
com os dirigentes sindicais. legislação não diferencia brasileiros natos de
Por fim, podemos dizer que ass garantias deste naturalizados, e, assim, não os especifica, nos
último grupo de direitos sociais estão divididas em: termos da alínea “c”, inciso I, art. 12, da CF.
direito de associação sindical, direito de greve e direi-
120 to de representação.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Conforme prevê o inciso I, art. 12, da CF, é conside- Por fim, é vedada a diferenciação arbitrária entre
rado brasileiro nato os nascidos no Brasil, ainda que brasileiros natos e naturalizados.
de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a Nos termos da lei:
serviço de seu país.
Atenção! No que diz respeito à necessidade de Art. 12 […]
ambos os genitores estrangeiros estarem a serviço do § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre
país, entende-se que deve haver a verificação do fato brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos
de o deslocamento desse Estado (país) ao Brasil ter previstos nesta Constituição.
ocorrido em virtude de interesse do seu país, ainda
que um deles não exerça função governamental, por Portugueses
exemplo:
Aos portugueses com residência permanente no
z pais argentinos, a serviço da Argentina — neste país serão atribuídos os mesmos direitos dos brasilei-
caso, o filho nascido no Brasil não será brasileiro
ros, desde que haja reciprocidade. Vejamos.
nato5;
z pais argentinos, a serviço do Uruguai — neste caso,
Art. 12 […]
o filho nascido no Brasil será brasileiro nato, pois
§ 1º Aos portugueses com residência permanente
os pais não estão a serviço de seu país (no exemplo,
no País, se houver reciprocidade em favor de
Argentina).
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes
ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasilei-
Constituição (Redação dada pela Emenda
ra, desde que qualquer um deles esteja a serviço
Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
do Brasil; neste caso, o termo a “serviço da Repúbli-
ca Federativa do Brasil” engloba “a serviço da admi-
nistração direta e indireta da União, estados, Distrito
Federal e municípios”.
Importante!
Nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe O Supremo Tribunal Federal entende que a
brasileira, desde que sejam registrados em reparti- naturalização extraordinária é ato declaratório
ção brasileira competente (embaixada ou consu- do Brasil. Estrangeiro que provar os requisitos
lado) ou venham a residir no Brasil e optem, em
necessários, ou seja, possuir 15 anos de residên-
qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
Atenção! O filho poderá optar pela nacionalidade cia ininterrupta e ausência de condenação penal,
brasileira observando três requisitos cumulativos: tem o direito subjetivo7 à naturalização. Negado
este pedido, caberá mandado de segurança.
z idade mínima: 18 anos;
z residência no Brasil;
z obedecendo aos dois requisitos acima, deve- Importante mencionar também a leitura do Esta-
-se optar a qualquer tempo pela nacionalidade tuto do Estrangeiro, a Lei nº 6.815, de 1980.
brasileira.
Perda da Nacionalidade
Cargos Privativos do Brasileiro Nato
Art. 12 […]
Nos termos do § 3º, art. 12, da Constituição Federal, § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do
de 1988, são privativos de brasileiro nato os cargos: brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por senten-
§ 3º [...] ça judicial, em virtude de fraude relacionada ao
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; processo de naturalização ou de atentado contra
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; a ordem constitucional e o Estado Democrático;
III - de Presidente do Senado Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131,
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; de 2023)
V - da carreira diplomática; II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade
VI - de oficial das Forças Armadas; brasileira perante autoridade brasileira competen-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. te, ressalvadas situações que acarretem apatridia.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131,
Naturalização de 2023)
a) revogada; (Redação dada pela Emenda Constitu-
A naturalização é um meio de aquisição da nacio- cional nº 131, de 2023)
NOÇÕES DE DIREITO

nalidade derivado. Com outras palavras, trata-se de b) revogada. (Redação dada pela Emenda Constitu-
uma forma de aquisição secundária da nacionalidade cional nº 131, de 2023)
brasileira permitida ao estrangeiro ou apátrida6 que § 5º A renúncia da nacionalidade, nos termos
preencher os requisitos necessários. do inciso II do § 4º deste artigo, não impede o
A Lei nº 13.445, de 2017, que institui a Lei de Migra- interessado de readquirir sua nacionalidade bra-
ção, trata de diversas questões acerca da nacionalida- sileira originária, nos termos da lei. (Incluído pela
de e do processo de naturalização. Emenda Constitucional nº 131, de 2023)

5 Observe nos exemplos como pode ser cobrada a matéria na prova.


6 Também chamado de heimatlos, o apátrida configura-se como o indivíduo que, por múltiplos motivos, não possui nenhuma nacionalidade. O
polipátrida, por sua vez, define-se como o sujeito que possui mais de uma nacionalidade.
7 O direito subjetivo se refere aos direitos que são efetivamente garantidos ao indivíduo pela lei. 121
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Temos, no § 4º, uma alteração recente trazida pela Além disso, no inciso LII: “não será concedida extra-
Emenda Constitucional nº 131, de 2023, que extinguiu dição de estrangeiro por crime político ou de opinião”.
a perda da nacionalidade brasileira para aqueles que Ainda, o inciso I-g, art. 102, da CF, dispõe que o Supre-
adquirem outra cidadania, o que até então era possí- mo Tribunal Federal será o responsável por processar
vel acontecer. e julgar a extradição solicitada pelo Estado estrangeiro.
Com o escopo de garantir uma maior isonomia, De forma específica, pode-se dizer que a extradi-
de acordo com a Emenda Constitucional nº 131, de ção é:
2023, o cidadão só perderá a sua nacionalidade bra-
sileira caso seja pedido expressamente por escrito, [...] um ato de cooperação internacional que consis-
ou seja, tenha o cidadão manifestado sua vontade de te na entrega de uma pessoa, acusada ou condena-
da por um ou mais crimes, ao país que a reclama.
forma expressa em não mais possuir a nacionalidade
(Governo Federal, 2023, n.p.)
brasileira.
Além disso, o outro caso de possível extinção da
Atenção! Não haverá extradição de brasileiro
nacionalidade brasileira será nos casos de pedido
nato. Também não será concedida extradição de
judicial, julgando que tal processo de naturalização
estrangeiro por crime político ou de opinião.
é uma fraude ou poderá ser capaz de atentar contra
A deportação, por sua vez:
a ordem constitucional e ao Estado Democrático de
Direito. [...] será aplicada nas hipóteses de entrada ou esta-
Por fim, o § 5º prevê a possibilidade do cidadão da irregular de estrangeiros no território nacional.
que perdeu sua nacionalidade requerê-la, desde que É de competência do Departamento de Polícia Fede-
sejam observados os requisitos legais a serem impos- ral e consiste na retirada do estrangeiro que desa-
tos diante da situação. tender à notificação prévia de deixar o País.

Extradição, Repatriação, Deportação e Expulsão O art. 50, da Lei nº 13.455, de 2017 (Lei de Migra-
ção), aduz que a deportação é medida decorrente de
Extradição, repatriação, deportação e expulsão procedimento administrativo que consiste na retirada
são medidas, instrumentos do Estado soberano, para compulsória de pessoa que se encontre em situação
enviar uma pessoa que se encontra refugiada em seu migratória irregular em território nacional.
território a outro Estado estrangeiro. A repatriação, por último:
Importante frisar que o brasileiro nato não pode
ser extraditado. Se for o caso, deve ser entregue ao Ocorre quando o clandestino é impedido de ingres-
TPI, sendo que podem ser entregues a este tribunal os sar em território nacional pela fiscalização fron-
teiriça e aeroportuária brasileira. A repatriação
brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros.
ocorre a expensas da transportadora ou da pessoa
Ainda, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Inter-
responsável pelo transporte do estrangeiro para o
nacional, em seu art. 102, Decreto-Lei nº 4.388, de Brasil. É repatriado o estrangeiro indocumentado
2002, define a diferença entre a entrega e a extradi- ou que não possui visto para ingressar no País ou
ção. Vejamos: aquele que apresenta visto divergente da finalidade
para a qual veio ao Brasil.
z por “entrega” entende-se a entrega de uma pessoa
por um Estado ao tribunal nos termos do presente O art. 49, da Lei nº 13.455, de 2017 (Lei de Migração),
estatuto; aduz que a repatriação consiste em medida adminis-
z por “extradição” entende-se a entrega de uma trativa de devolução de pessoa em situação de impe-
pessoa por um Estado a outro Estado, conforme dimento ao país de procedência ou de nacionalidade.
previsto em um tratado, em uma convenção ou no Atenção! A diferença essencial entre as duas medi-
direito interno. das de retirada compulsória do estrangeiro, deporta-
ção e repatriação, dá-se com relação ao momento em
Extradição que ocorrem. A repatriação ocorre no momento da
chegada do estrangeiro que, impedido de ingressar
Entrega de um Estado (país) a outro Estado (país) em território nacional, deve retornar ao país de ori-
de pessoa acusada de delito ou já condenada. Note gem ou nacionalidade. Na deportação, por sua vez, o
que, conforme a Súmula nº 421, do STF, não há impe- estrangeiro já se encontra em território nacional.
dimento à extradição o fato de o extraditado ser casa-
do com brasileiro ou ter filho brasileiro. Expulsão
Conforme prevê o inciso XV, art. 22, da CF, compete
à União legislar sobre extradição. Modo de tirar o estrangeiro do Brasil de modo
A Constituição brasileira também dispõe, no inciso coativo, por infração ou ato que o torne inconveniente
LI, do art. 5º, que à defesa e à conservação da ordem interna do Estado.
Neste caso, a União é responsável por legislar
Art. 5º […] sobre expulsão, inciso XV, art. 22, da CF.
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o Não ocorrerá a expulsão em duas hipóteses: dife-
naturalizado, em caso de crime comum, praticado rente da extradição, a expulsão não será admitida
antes da naturalização, ou de comprovado envolvi- quando o indivíduo tiver cônjuge brasileiro (desde
mento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas que não esteja divorciado ou separado de fato) e o
afins, na forma da lei; casamento tiver sido celebrado há mais de cinco anos,
ou que tenha filho brasileiro, desde que este esteja sob
122 sua guarda e dependência econômica.
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A expulsão define-se enquanto medida administra- I - plebiscito;
tiva de retirada compulsória de migrante ou visitante II - referendo;
do território nacional, conjugada com o impedimento III - iniciativa popular
de reingresso por prazo determinado. Este, configura-
do pela prática de crimes em território brasileiro. A seguir, apresentam-se as definições de alguns
O banimento, entrega de um brasileiro para julga- conceitos muito importantes para as provas. Vejamos.
mento no exterior, prática comum na época da dita-
dura militar, é vedado pela Constituição. z Sufrágio universal: direito subjetivo, instrumen-
talizado e exteriorizado por intermédio do voto
Deportação ou pela capacidade de ser votado. Desta maneira,
tem-se que o sufrágio é a capacidade eleitoral ativa
Nesse caso, se refere ao estrangeiro que ingres- somada à capacidade eleitoral passiva;
sou ou permaneceu de forma irregular no território z Plebiscito: forma de consulta ao povo acerca de
nacional, ou seja, é a devolução do estrangeiro por determinado tema de grande relevância. Difere-
entrar no Brasil de forma irregular. Assim, não há -se do referendo quanto ao momento da consulta.
deportação de brasileiros no Brasil (inciso XV, art. 5º, Aqui, a consulta se dá previamente à expedição de
da CF). determinado ato legislativo ou administrativo;
Note que a deportação não tem relação com a prá- z Referendo: assim como o plebiscito, o referendo é
tica do estrangeiro em território brasileiro, mas, sim, uma consulta, porém é realizado posteriormente à
do não cumprimento dos requisitos legais para sua
edição do ato legislativo ou administrativo. Assim,
entrada.
o povo tem o condão de aprovar ou desaprovar o
Além disso, não existe mais o instituto do banimen-
ato;
to, que era o envio compulsório de brasileiros para o
z Iniciativa popular: direito de uma parcela da
exterior. Observe, também, que há vedação constitu-
população (1% do eleitorado) apresentar, ao Poder
cional de seu restabelecimento no inciso XLVII-d, art.
5º, da CF. Legislativo, um projeto de lei que deverá ser exa-
minado e votado. Os eleitores também podem usar
Idioma e Símbolos Nacionais deste instrumento em nível estadual e municipal.
Para que um projeto de lei de iniciativa popular
Art. 13 A língua portuguesa é o idioma oficial da possa tramitar no Legislativo, este precisa atender
República Federativa do Brasil. aos seguintes requisitos:
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil
a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. „ assinatura de 1% do eleitorado brasileiro;
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios „ possuir o apoio de pelo menos cinco estados
poderão ter símbolos próprios. brasileiros, manifestando cada um deles no
mínimo por 0,3% dos eleitores;
DIREITOS POLÍTICOS „ ser referente a apenas um assunto, nos termos
do art. 13, da Lei n º 9.709, de 1998, que regula-
Os direitos políticos são medidas assecuratórias da menta os instrumentos de democracia semidi-
participação do indivíduo na vida política e estrutural reta previstos no art. 14, CF.
de seu próprio Estado, garantindo-lhe a possibilidade
de acesso à condução da coisa pública e à participação
na vida política. Assim, estes abrangem o poder que
Dica
qualquer cidadão tem na condução dos destinos de Muitas pessoas confundem o plebiscito com o
sua coletividade de uma forma direta ou indireta, ou referendo. Se este for o seu caso, tenha a ordem
seja, sendo eleitos ou elegendo representantes junto alfabética como referência — sabendo qual vem
aos poderes públicos.
antes, você saberá o momento da consulta em
relação à expedição do ato:
Cidadania
� Plebiscito: antes;
z Cidadania e Nacionalidade � Referendo: depois.

Atenção! O termo “nacional” difere-se do ter- Direitos Políticos Ativos: Alistamento Eleitoral
mo “cidadão”. Logo, “cidadania” é diferente de
“nacionalidade”. Os direitos políticos ativos consistem na capacida-
A condição de nacional é um pressuposto para a de de de votar, participar de plebiscito e referendo, subs-
NOÇÕES DE DIREITO

cidadão. A cidadania, em sentido estrito, é o status de crever projeto de lei de iniciativa popular e de propor
nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, poder ação popular. Dá-se através do alistamento eleitoral.
participar do processo governamental, sobretudo Vejamos o que os §§ 1º e 2º, do art. 14, informam acer-
pelo voto. Assim, a nacionalidade é condição necessá- ca da temática:
ria, mas não suficiente, da cidadania.
Vejamos o que dispõe o art. 14 acerca do exercício § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
da cidadania: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
Art. 14 A soberania popular será exercida pelo a) os analfabetos;
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, b) os maiores de setenta anos;
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito
mediante: anos. 123
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§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estran- Art. 14 (CF) […]
geiros e, durante o período do serviço militar obri- § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do
gatório, os conscritos. titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou
afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pre-
A tabela abaixo apresenta, de forma clara e conci- sidente da República, de Governador de Estado ou
sa, o conteúdo do dispositivo. Observemos: Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de
quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
ALISTAMENTO ELEITORAL eletivo e candidato à reeleição.

Obrigatório Facultativo Proibido


Portanto, tenha em mente que a cônjuge de um
� Analfabeto � Estrangeiros prefeito não poderá se candidatar ao cargo de verea-
� Maiores de 70 � Conscritos dora, mas poderá se candidatar ao cargo de deputada
� Maiores estadual, por exemplo. Em relação ao tema, observe-
anos durante o
de 18 anos mos o que dispõe Súmula Vinculante nº 18:
� Maiores de 16 e serviço militar
menores de 18 anos obrigatório
Súmula Vinculante nº 18 A dissolução da socie-
dade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato,
Direitos Políticos Passivos: Elegibilidade Eleitoral não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do arti-
go 14 da Constituição Federal.
Os direitos políticos passivos consistem na possi-
bilidade de ser votado, ou seja, na elegibilidade. Além Atenção! Todo inalistável é inelegível, mas nem
de cumprir os requisitos para ser elegível, o indivíduo todo inelegível é inalistável.
deverá observar as proibições, ou seja, as hipóteses de Quanto à reeleição e desincompatibilização, a
inelegibilidade. Emenda Constitucional nº 16 trouxe a possibilidade
de reeleição para o chefe dos Poderes Executivos fede-
Art. 14 (CF) […] ral, estadual, distrital e municipal. Ao contrário do sis-
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
tema americano de reeleição, que permite apenas a
I - a nacionalidade brasileira;
recondução por um período, somente, no Brasil, após
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral; o período de um mandato, o governante pode voltar a
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; se candidatar para o posto.
V - a filiação partidária; Atente-se ao prazo disposto no § 6º, pois ele é extre-
VI - a idade mínima de: mamente cobrado em provas.
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presi-
dente da República e Senador; Art. 14 (CF) […]
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador § 5º O Presidente da República, os Governadores de
de Estado e do Distrito Federal; Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Depu- houver sucedido, ou substituído no curso dos man-
tado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e datos poderão ser reeleitos para um único período
juiz de paz; subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitu-
d) dezoito anos para Vereador. cional nº 16, de 1997).
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente
Para facilitar sua memorização, lembre-se do Disk da República, os Governadores de Estado e do
Constituição — telefone 3530-2118: Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do
pleito.
z 35: presidente, vice-presidente e senador;
z 30: governador, vice-governador;
z 21: deputado: federal, estadual ou distrital; prefei- Por sua vez, o militar é elegível se cumpridos
to, vice-prefeito e juiz de paz; alguns requisitos:
z 18: vereador.
Art. 14 (CF) […]
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as
Inelegibilidades
seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
A Constituição não menciona, exaustivamente, afastar-se da atividade;
todas as hipóteses de inelegibilidade, apenas fixa II - se contar mais de dez anos de serviço, será agre-
algumas, deixando à lei complementar o desdobra- gado pela autoridade superior e, se eleito, passará
mento dos casos. automaticamente, no ato da diplomação, para a
Em regra: inatividade.

Art. 14 (CF) […] A Constituição Federal estabelece ainda que pode-


§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. rá haver outros casos de inelegibilidade bem como os
prazos para sua cessação, a serem definidos por Lei
Há, também, a inelegibilidade derivada do casa- Complementar, vejamos:
mento ou do parentesco com o presidente da Repú-
blica, com os governadores de estado e do Distrito Art. 14 (CF) […]
Federal e com os prefeitos, ou com quem os substituir § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de
dentro dos seis meses anteriores ao pleito. inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim
de proteger a probidade administrativa, a morali-
124 dade para exercício de mandato considerada vida
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pregressa do candidato, e a normalidade e legitimi- Readquirindo-a, alcançará novamente o status de
dade das eleições contra a influência do poder eco- cidadão. Também são passíveis de suspensão os con-
nômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou denados criminalmente (com sentença transitada em
emprego na administração direta ou indireta. julgado). Cumprida a pena, readquirem-se os direitos
políticos. No caso de improbidade administrativa, a
O mandato eletivo pode ser impugnado: suspensão será da mesma forma (temporária).

Art. 14 (CF) […]


§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante Importante!
a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados
da diplomação, instruída a ação com provas de � Perda dos direitos políticos: definitiva;
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude; � Suspensão dos direitos políticos: temporária;
� Cassação de direitos políticos: vedada.
A fim de uma melhor compreensão do conteúdo,
observe o fluxograma abaixo.
Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos,
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença
REQUISITOS PARA A
IMPUGNAÇÃO

Prazo de 15 dias da transitada em julgado;


diplomação abuso de poder II - incapacidade civil absoluta;
econômico III - condenação criminal transitada em julgado,
Ação instruída com
corrupção enquanto durarem seus efeitos;
provas de:
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
fraude ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art.
37, § 4º
Art. 14 (CF) […]
§ 11 A ação de impugnação de mandato tramitará
Cancelamento da naturalização
em segredo de justiça, respondendo o autor, na por sentença transitada em
forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. julgado
Perda

Tenha em mente que, aqui, temos uma exceção Recusa de cumprir obrigação a
DIREITOS todos imposta ou prestação
quanto ao princípio da publicidade. Veja que as ações POLÍTICOS
de impugnação de mandato correrão em segredo de Incapacidade civil absoluta
justiça e, em caso de má-fé ou com o intuito temerário,
Condenação criminal transitada
o autor da ação responderá conforme a lei. Suspensão
em julgado
Recentemente, a Emenda Constitucional nº 111, de
2021, incluiu os §§ 12 e 13. Vejamos: Improbidade administrativa

Art. 14 (CF) […] Ademais, vejamos o que dispõe o art. 16, bastante
§ 12 Serão realizadas concomitantemente às eleições
discutido quando da propositura do projeto de lei que
municipais as consultas populares sobre questões
dispunha sobre o voto impresso. A discussão girava
locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e enca-
minhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias em torno da aplicação ou não das disposições em caso
antes da data das eleições, observados os limites ope- de aprovação.
racionais relativos ao número de quesitos. (Incluído Caso fosse aprovado antes de um ano das eleições,
pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) seriam aplicadas às eleições de 2022; do contrário,
§ 13 As manifestações favoráveis e contrárias às não poderiam ser utilizadas, mesmo que aprovado.
questões submetidas às consultas populares nos
termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral entra-
eleitorais, sem a utilização de propaganda gratui- rá em vigor na data de sua publicação, não se apli-
ta no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda cando à eleição que ocorra até um ano da data de
Constitucional nº 111, de 2021) sua vigência.

Perda e Suspensão dos Direitos Políticos


A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO:
A perda e a suspensão dos direitos políticos se dão,
respectivamente, de forma definitiva e temporária. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTIGOS
DE 37 A 41, DA CONSTITUIÇÃO
NOÇÕES DE DIREITO

Ocorrerá a perda quando:


FEDERAL DE 1988)
z houver cancelamento da naturalização por sen-
tença transitada em julgado; A administração pública tem suas regras discipli-
z no caso de recusa de cumprir obrigação a todos nadas nos arts. 37 a 41, da CF, de 1988.
imposta ou prestação alternativa (é o caso do ser-
viço militar obrigatório). Art. 37 A administração pública direta e indi-
reta de qualquer dos Poderes da União, dos Esta-
Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos se dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
dá enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, aos princípios de legalidade, impessoalidade,
enquanto não for retomada sua capacidade civil, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
o indivíduo terá seus direitos políticos suspensos. ao seguinte: 125
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Conforme se observa do caput, do art. 37, a Art. 37 […]
administração pública divide-se em administração I - os cargos, empregos e funções públicas são
pública direta, que é composta pelos quatro entes acessíveis aos brasileiros que preencham os
federativos (União, estados, municípios e Distrito requisitos estabelecidos em lei, assim como aos
estrangeiros, na forma da lei;
Federal), e administração pública indireta, compos-
ta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de
No que se refere à forma de acesso por brasileiro
economia mista e empresas públicas.
naturalizado, há de se esclarecer, inicialmente, que se
Via de regra, a administração pública submete-se
trata dos cargos não privativos de brasileiros natos,
a um regime jurídico de direito público, ou seja, a sua
uma vez que os cargos privativos de brasileiro nato
atuação independe da concordância dos administra-
constam expressamente no § 3º, art. 12, da CF, de 1988.
dos, pois se funda na própria soberania estatal.
Observa-se que os cargos não privativos de bra-
O regime jurídico de direito público faz com que a sileiros natos podem ser preenchidos por brasileiros
administração se sujeite a limites, que, por vezes, são (natos ou naturalizados) de forma ampla. Vale frisar
mais estritos do que aqueles a que estão submetidos que pode a lei estabelecer requisitos limitadores,
os particulares. Como exemplo, se pode citar o dever tais como formação escolar, idade, entre outros. Em
de observância da finalidade pública. contrapartida, para que o estrangeiro possa ter aces-
Esse regime de prerrogativas e sujeições para a so a tais cargos, a lei deve especificar as hipóteses de
administração pública encontra-se expresso em for- admissibilidade.
ma de princípios. De acordo com o dispositivo, são Há que se fazer, aqui, duas observações quanto à
princípios que regem a administração pública direta aplicabilidade da norma. Com relação aos brasileiros,
e indireta: legalidade, impessoalidade, moralidade, a norma constitucional é de eficácia contida, ou seja,
publicidade e eficiência. todos os brasileiros têm acesso aos cargos, empregos
O princípio da legalidade estabelece a sujeição e funções públicas. A norma infraconstitucional pode
da administração pública aos mandamentos da lei. conter tais efeitos, estabelecendo critérios diferencia-
A legalidade traduz o sentido de que a administra- dos. Portanto, todos os brasileiros têm acesso a todos
ção pública somente pode fazer o que a lei manda ou os cargos, empregos e funções desde que a norma não
permite, bem como somente pode proibir o que a lei se restrinja.
expressamente proíbe. Já para os estrangeiros, a norma constitucional é
O princípio da impessoalidade traz a neutrali- de eficácia limitada, ou seja, para que o estrangeiro
dade necessária para o exercício da atividade admi- tenha acesso, faz-se necessária norma infraconstitu-
nistrativa. Destinado tanto ao administrador como ao cional regulando a hipótese. Deste modo, os estran-
administrado, esse princípio impõe a objetividade e a geiros têm acesso somente aos cargos, empregos e
isonomia da conduta administrativa. funções públicos que a lei autorizar.
O princípio da moralidade diz respeito à moral
Art. 37 […]
administrativa. Segundo ele, os atos da administra-
II - a investidura em cargo ou emprego públi-
ção pública devem ser balizados nas matrizes éticas co depende de aprovação prévia em concurso
dominantes. A finalidade do princípio é fixar limites público de provas ou de provas e títulos, de
à atuação da administração, evitando, por exemplo, o acordo com a natureza e a complexidade do cargo
excesso de poder ou desvio de finalidade. ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
O princípio da publicidade exige a divulgação as nomeações para cargo em comissão declarado
dos atos da administração pública com o objetivo em lei de livre nomeação e exoneração;
de permitir o conhecimento e o controle por toda a
sociedade, pois ao administrador compete agir com O inciso II estabelece a necessidade de procedi-
transparência. mento administrativo destinado à seleção das pessoas
Por fim, o princípio da eficiência impõe à admi- que irão ocupar empregos públicos ou cargos públicos
nistração a obrigação de realizar suas atribuições com de provimento efetivo ou vitalício. Trata-se, portanto,
rapidez, perfeição e rendimento, pois quem adminis- de uma forma de escolha para atender aos princípios
tra gere algo que pertence à sociedade. Assim, cabe da igualdade e da moralidade administrativa, evitan-
ao administrador zelar pelos interesses públicos com do-se, com isso, que o ingresso no serviço público se dê
plena satisfação do administrado e com o menor custo por critérios de favorecimento pessoal ou nepotismo.
Os concursos públicos devem ser abertos a todos
para a sociedade.
os interessados. Portanto, não se admite que a seleção
ocorra de forma interna (concursos internos).
Cabe consignar que os concursos públicos podem
ser de provas ou de provas e títulos. Deste modo,
não se admite concurso apenas de títulos nem admis-
Dica são sem concurso público. Observa-se, no entanto,
que existem exceções à regra relativa aos concur-
Para memorizar os princípios, utilize o mnemô-
sos públicos para os seguintes casos:
nico LIMPE:
� Legalidade; z cargos de mandato eletivo;
� Impessoalidade; z cargo comissionado;
� Moralidade; z contratação temporária por excepcional interesse
� Publicidade; público;
� Eficiência. z ex-combatente que tenha efetivamente participa-
do de operações bélicas durante a Segunda Guerra
126 Mundial (inciso I, art. 53, ADCT);
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z outras hipóteses: por servidores de carreira nos casos, condições
e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-
„ ministros ou conselheiros dos Tribunais de -se apenas às atribuições de direção, chefia e
Contas; assessoramento;
„ ministros do STF (Supremo Tribunal Federal),
do STJ (Superior Tribunal de Justiça), do TSE O inciso V trata de duas situações distintas: a fun-
(Tribunal Superior Eleitoral), do TST (Tribunal ção de confiança e o cargo de confiança (em comissão).
Superior do Trabalho) e do STM (Superior Tri- O cargo público é a unidade estrutural e funcional em
bunal Militar); que o servidor exerce suas atribuições e responsabili-
„ integrantes do quinto constitucional dos Tribu- dades, ou seja, é o local dentro da estrutura organiza-
nais Judiciários. cional que deve ser atribuída a um servidor. Já função
pública é a própria atribuição e responsabilidade.
Art. 37 […] Em regra, os cargos públicos somente podem ser
III - o prazo de validade do concurso público será criados, transformados ou extintos por lei. Assim,
de até dois anos, prorrogável uma vez, por
cabe ao Poder Legislativo, com a sanção do chefe do
igual período;
Poder Executivo, dispor sobre a criação, transforma-
ção e extinção de cargos, empregos e funções públicas.
O inciso III traz o prazo de validade do concurso
A iniciativa da lei que cria, extingue ou transforma
público, que é de até dois anos. Assim sendo, cabe ao
cargos, varia conforme o caso. Por exemplo, no caso
edital definir qual o prazo do concurso, não podendo,
no entanto, ser superior a dois anos. dos cargos do Poder Judiciário, dos Tribunais de Con-
Além disso, é possível a prorrogação do prazo de tas e do Ministério Público, a lei será de iniciativa dos
validade por uma única vez e por igual período, ou respectivos Tribunais ou procuradores-gerais.
seja, se o prazo de validade do edital é de um ano, ele Excepciona a regra quando os cargos ou funções se
somente poderá ser prorrogado por um ano. Aqui, encontrarem vagos, uma vez que a Emenda Constitu-
cabe uma observação importante: a prorrogação só cional nº 32, de 2001, possibilitou a extinção por meio
é possível ser feita enquanto não expirado o prazo de decreto do presidente da República. Com relação
inicial. aos governadores e prefeitos, a extinção do cargo
O candidato que for aprovado em concurso públi- vago é possível se houver semelhante previsão nas
co dentro do número de vagas previstas no edital, respectivas constituições estaduais ou leis orgânicas
estando tal concurso dentro do prazo de validade, (princípio da simetria).
possui o direito subjetivo de ser nomeado, assim como No que se refere às garantias e características
a prioridade na nomeação. Em contrapartida, o candi- especiais, os cargos podem ser classificados em vitalí-
dato aprovado fora do número de vagas possui mera cios, efetivos e comissionados:
expectativa de direito à nomeação, devendo subme-
ter-se ao juízo de conveniência e oportunidade da z cargo vitalício é aquele com a maior garantia em
administração. relação à permanência. Trata-se daquele destina-
do a receber o ocupante em caráter permanente,
Art. 37 […] como no caso dos magistrados (inciso I, art. 95, CF,
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edi- de 1988), os de membros do Ministério Público (alí-
tal de convocação, aquele aprovado em concurso
nea “a”, inciso I, § 5º, art. 128, da CF, de 1988) e os
público de provas ou de provas e títulos será con-
vocado com prioridade sobre novos concursa-
de ministros do Tribunal de Contas (§ 3º, art. 73,
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; CF, de 1988). A vitaliciedade é adquirida após dois
anos de efetivo exercício no cargo, e tais servido-
O inciso IV regula a hipótese de novo concurso res só poderão ser demitidos por sentença judicial
para o mesmo cargo enquanto os candidatos aprova- transitada em julgado;
dos em certame anterior e com prazo de validade não z cargo efetivo é aquele provido por concurso públi-
expirado ainda não foram convocados. Assim, estabe- co, cujos integrantes possuem a estabilidade, ou
lece a prioridade de convocação destes em face dos seja, após três anos de efetivo exercício, só pode-
novos aprovados. rão ser demitidos por decisão judicial transitada
em julgado, processo administrativo disciplinar ou
processo de avaliação periódica de desempenho;
Importante! z cargo em comissão é aquele preenchido de acor-
do com a confiança. Como regra, ele deve ser
Segundo entendimento do STF, para gozar da
preenchido preferencialmente por servidores de
prioridade na nomeação, não basta ao candida-
carreira. Portanto, para os demais casos (pessoal
NOÇÕES DE DIREITO

to a mera aprovação, sendo necessário que ele


de fora da administração), a nomeação deve ser
tenha sido classificado dentro do número de exceção.
vagas disponibilizadas no concurso, ou seja, se
o edital previu uma vaga e foram aprovados dois Além disso, é importante frisar que a nomeação
candidatos, somente o primeiro tem prioridade aos cargos em comissão somente é possível para os
de nomeação. cargos de chefia, direção ou assessoramento. Portan-
to, para as atribuições de execução e, não, para as atri-
Art. 37 […] buições técnicas e operacionais.
V - as funções de confiança, exercidas exclusiva- Exemplo: cabe a nomeação para cargo em comis-
mente por servidores ocupantes de cargo efeti- são de secretário de Transportes, por demandar
vo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos conhecimento específico e confiança. 127
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Já para o motorista, isso não é cabível, pois, dife- Para tanto, a norma constitucional prevê que os ter-
rentemente do secretário, sua atribuição é meramen- mos e limites devem ser estabelecidos em lei.
te operacional e não demanda a relação de confiança. Ainda não foi elaborada lei para dar aplicabilidade
Como regra, os cargos em comissão são de livre ao inciso VII. Por essa razão, o STF proferiu a seguinte
nomeação e exoneração (ad nutum). A exceção a essa decisão nos autos do Mandado de Injunção 670-ES:
regra é o que se intitula nepotismo (favorecimento de
parentes em detrimento de pessoas mais qualifica- STF, MI 670-ES Mandado de injunção. Garantia
das). É importante salientar que essa prática também fundamental (CF, Art. 5º, inciso LXXI). Direito de
pode ocorrer de forma cruzada. greve dos servidores públicos civis (CF, Art. 37,
Por exemplo: quando autoridades, a fim de omi- inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência
tir o nepotismo, nomeiam para determinado cargo do Supremo Tribunal Federal (STF). Definição dos
parentes um do outro de maneira recíproca. parâmetros de competência constitucional para
apreciação no âmbito da justiça federal e da jus-
Vejamos, a seguir, o texto da Súmula Vinculante nº
tiça estadual até a edição da legislação específica
13, do STF, relativa ao tema:
pertinente, nos termos do art. 37, VII, da CF. Em
observância aos ditames da segurança jurídica e à
Súmula Vinculante nº 13 (STF) A nomeação de evolução jurisprudencial na interpretação da omis-
cônjuge, companheiro, ou parente, em linha reta, são legislativa sobre o direito de greve dos servido-
colateral ou por afinidade, até o 3º grau, inclusive, res públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta)
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a
pessoa jurídica, investido em cargo de direção, che- matéria. Mandado de injunção deferido para deter-
fia ou assessoramento, para o exercício de cargo em minar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989.
comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gra-
tificada na administração pública direta e indireta,
Seguimos com os incisos do art. 37, da CF, de 1988:
em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o
ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF. Art. 37 […]
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e
empregos públicos para as pessoas portado-
A Súmula Vinculante nº 13 aplica-se apenas aos
ras de deficiência e definirá os critérios de sua
cargos de natureza administrativa, estando de admissão;
fora do seu âmbito as nomeações para cargos políti-
cos. Exemplo: o STF considerou válida a nomeação O inciso VIII estabelece a reserva de vagas para
para o cargo de secretário estadual de Transportes pessoas com deficiência. Trata-se de uma norma
de irmão de governador de estado sob a alegação de constitucional de eficácia limitada, ou seja, que depen-
que o cargo em questão possuía natureza política (Rcl de da edição de lei infraconstitucional para poder
6.650-MC-AgR). gerar os efeitos.
Por fim, para o exercício da função de confiança, Com relação à reserva, cumpre salientar que as
o pressuposto é que o nomeado já exerça cargo na atribuições do cargo devem ser compatíveis com a
administração. Exemplo: um escrevente técnico é deficiência. Ainda, a reserva é de até 20% das vagas
nomeado para a função de assessor do juiz. oferecidas no concurso, isto é, a CF, de 1988, fixou ape-
nas o limite máximo (teto) do número a ser reservado.
Atenção! O § 1º, art. 37, do Decreto nº 3.298, de 1999, esta-
belece o percentual mínimo de 5% das vagas e, no
z Função de confiança: deve ser agente público; caso de o número obtido ser fracionado, o número de
z Cargo em confiança: pode ou não ser agente vagas será elevado até o primeiro número inteiro sub-
público. sequente, ou seja, arredondado para cima.

Art. 37 […] Art. 37 […]


VI - é garantido ao servidor público civil o direito à IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por
livre associação sindical; tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público;
O inciso VI decorre do direito à liberdade do art.
5º, da CF, de 1988. Lembre-se: ninguém é obrigado a se O servidor temporário se encontra disciplinado
associar ou a se manter associado. no inciso IX. Trata-se de uma categoria à parte, uma
vez que não titulariza cargo público nem possui
Art. 37 […] qualquer vínculo trabalhista regido pela CLT, sendo
VII - o direito de greve será exercido nos termos e regida por regime especial veiculado por meio de lei
nos limites definidos em lei específica; específica de cada ente da federação.
O servidor público exerce funções públicas sem
O direito de greve dos servidores públicos é dife- ocupar cargos ou empregos públicos e sua contra-
rente do direito dos demais trabalhadores da inicia- tação é por tempo determinado e para atender a
tiva privada. Enquanto estes podem interromper necessidade temporária de excepcional interesse
completamente suas atividades, o servidor público público. Por exemplo: agente sanitário em caso de
precisa garantir que os serviços sejam mantidos e em surto de dengue.
percentual que possa atender à população.
Trata-se da aplicação do princípio da continuida- Art. 37 […]
de, uma vez que não é possível a interrupção total das X - a remuneração dos servidores públicos e
atividades prestadas pela administração à população o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somen-
128 por serem estas essenciais e necessárias à coletividade. te poderão ser fixados ou alterados por lei
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específica, observada a iniciativa privativa em Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito
cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre do Poder Judiciário, aplicável este limite aos mem-
na mesma data e sem distinção de índices; bros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
Defensores Públicos;
O inciso X trata da remuneração dos servidores
públicos. Cumpre esclarecer, no entanto, que remu- Com relação ao teto do funcionalismo público, a
neração é o gênero, do qual salário, vencimentos e CF, de 1988, estabeleceu duas regras. A primeira é a
subsídios são espécies. Salário é a contraprestação do teto geral, ou seja, o limite máximo de remune-
pecuniária paga aos empregados públicos, regidos ração, que é o valor dos subsídios dos ministros do
pela CLT. Vencimento é a modalidade remunerató- Supremo Tribunal Federal. Já a segunda regra trata
ria da maioria dos servidores submetidos a regime do denominado subteto, ou seja, o teto para os esta-
jurídico estatutário, englobando o vencimento-base e dos, municípios e Distrito Federal.
as vantagens pecuniárias. Já subsídio é uma parcela Vale destacar que o dispositivo previu duas hipóte-
única, sem qualquer acréscimo, obrigatória para as ses de subtetos: o teto único e o teto por Poder. O teto
seguintes categorias: único tem, como base, a fixação de um valor máximo
estabelecido para fins remuneratórios. Já o teto por
z membros de Poder (chefes dos Poderes Executivos, Poderes faz com que cada ente político adote um sub-
senadores, deputados, vereadores, magistrados), teto próprio para a fixação dos subsídios.
detentores de mandato eletivo, ministros de Esta- O Executivo tem, como subteto, os subsídios do
do e secretários estaduais e municipais; governador. O Legislativo tem, como subteto, os sub-
z ministros ou conselheiros dos Tribunais de Contas; sídios dos deputados estaduais, que, por sua vez, não
z membros do Ministério Público; poderão exceder 75% dos subsídios dos deputados
z integrantes das carreiras pertencentes à Advo- federais. Por fim, o Judiciário adota, como subteto, o
cacia-Geral da União, à Procuradoria-Geral da valor de 90,25% dos subsídios do Supremo Tribunal
Fazenda Nacional, às Procuradorias dos Estados Federal, ressaltando que esse subteto se aplica tão
e do Distrito Federal e às Defensorias Públicas somente aos seus servidores, e não aos membros da
da União, DF e Territórios e Defensorias Públicas Magistratura, pois a estes é aplicado o teto do Supre-
Estaduais (art. 135, CF); mo Tribunal Federal.
z servidores policiais integrantes da Polícia Fede-
ral, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Art. 37 […]
Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legis-
de Bombeiros Militares. lativo e do Poder Judiciário não poderão ser
superiores aos pagos pelo Poder Executivo;
Vejamos, a seguir, o texto da Súmula nº 679, do STF:
A isonomia dos vencimentos dos servidores dos
Súmula nº 679 (STF) A fixação de vencimentos dos três poderes está disciplinada no inciso XII. Sua finali-
servidores públicos não pode ser objeto de conven- dade é manter a paridade.
ção coletiva. É importante o texto da Súmula Vinculante nº 37,
do STF:
No que se refere à revisão, o dispositivo trata ape-
nas da revisão geral, ou seja, do reajuste anual genéri- Súmula Vinculante nº 37 (STF) Não cabe ao
co, que tem por objetivo repor as perdas inflacionárias Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
do período, sendo aplicável a todos os servidores. aumentar vencimentos de servidores públicos sob
Portanto, não a confunda com reajuste específico, fundamento de isonomia.
que é aquele aplicado apenas a alguns cargos ou car-
reiras funcionais, com a finalidade de evitar a defasa- Art. 37 […]
gem remuneratória. XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
Art. 37 […] de remuneração de pessoal do serviço público;
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de
cargos, funções e empregos públicos da administra- A vedação à vinculação e à equiparação de
ção direta, autárquica e fundacional, dos membros remunerações encontra-se prevista no inciso XIII.
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Sobre isso, vejamos o texto da Súmula nº 681:
Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos Súmula nº 681 (STF) É inconstitucional a
e os proventos, pensões ou outra espécie remu- vinculação do reajuste de vencimentos de servidores
neratória, percebidos cumulativamente ou não,
NOÇÕES DE DIREITO

estaduais ou municipais a índices federais de


incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer correção monetária.
outra natureza, não poderão exceder o subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Vale-se de atenção que há duas exceções à regra de
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos
não vinculação, quais sejam:
Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Esta-
dos e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
Governador no âmbito do Poder Executivo, o z a equiparação de vencimentos e vantagens entre
subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais os ministros do TCU (Tribunal de Contas da União)
no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio e do STJ (§ 3º, art. 73, CF, de 1988);
dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, z a vinculação entre o subsídio dos ministros dos
limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centési- Tribunais Superiores e o subsídio mensal fixado
mos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos para os ministros do STF (inciso V, art. 93, da CF). 129
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Art. 37 […] Importante!
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por
servidor público não serão computados nem Cargos burocráticos não são considerados como
acumulados para fins de concessão de acréscimos técnicos. Para ser enquadrado como cargo téc-
ulteriores; nico passível de acumulação, é necessária for-
mação específica na área de atuação. Portanto,
O inciso XIV trata da vedação ao efeito repicão cargo técnico é aquele que requer conhecimento
ou efeito cascata, ou seja, veda-se que a mesma van- específico na área de atuação do profissional,
tagem seja repetidamente computada para o cálculo com habilitação específica de grau universitário
das demais vantagens. A finalidade do dispositivo ou profissionalizante (ensino médio).
é evitar que, na base de cálculo de uma vantagem
remuneratória, seja acrescida outra vantagem.
Por exemplo: se o servidor faz jus e recebe um Em síntese:
adicional por tempo de serviço, não é possível inse-
ri-lo na base de cálculo para a concessão de outra z Regra: não acumulação de cargos públicos
remunerados;
gratificação, como, por exemplo, uma gratificação de
z Exceção: acumulação de cargos públicos remune-
produtividade.
rados, quando há compatibilidade de horários e
nas seguintes hipóteses:
Art. 37 […]
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes
„ dois cargos de professor;
de cargos e empregos públicos são irredutíveis,
ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste
„ um cargo de professor com outro técnico ou
artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § científico;
2º, I; „ dois cargos privativos de profissionais de saú-
de, com profissões regulamentadas.
A irredutibilidade dos subsídios e dos venci-
XVII - a proibição de acumular estende-se a
mentos dos ocupantes de cargos, funções e empregos
empregos e funções e abrange autarquias, fun-
públicos encontra-se estabelecida no inciso XV. Trata- dações, empresas públicas, sociedades de eco-
-se da impossibilidade de redução do valor nominal, nomia mista, suas subsidiárias, e sociedades
ou seja, se a remuneração é de R$ 5.000, não poderá controladas, direta ou indiretamente, pelo poder
reduzi-lo para valor inferior. No entanto, é possível público;
que ocorra a redução real, ou seja, que o poder aquisi-
tivo desse valor seja atingido pela inflação. O inciso XVII estende a regra da não acumulação
para a administração indireta. Portanto, a proibição
Art. 37 […] aplica-se às autarquias, fundações e empresas públi-
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cas, sociedades de economia mista, bem como às suas
cargos públicos, exceto, quando houver compa- subsidiárias, além das sociedades controladas direta
tibilidade de horários, observado em qualquer ou indiretamente pelo poder público.
caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor; Art. 37 […]
b) a de um cargo de professor com outro técni- XVIII - a administração fazendária e seus servi-
co ou científico; dores fiscais terão, dentro de suas áreas de com-
c) a de dois cargos ou empregos privativos petência e jurisdição, precedência sobre os demais
de profissionais de saúde, com profissões setores administrativos, na forma da lei;
regulamentadas;
O inciso XVIII trata da precedência da administra-
O inciso XVI trata da vedação de acumulação de ção fazendária e seus servidores fiscais aos demais
cargos. Como regra, é vedada a acumulação remu- setores administrativos. Isso significa dizer que, den-
nerada de cargos públicos. No entanto, é possível a tro da estrutura da administração pública, esta deverá
acumulação se houver compatibilidade de horários dar prioridade para os serviços atinentes à arrecada-
entre os cargos e somente em três hipóteses. ção dos tributos, por se tratar dos recursos essenciais
A primeira se refere ao magistério e traz a pos- ao seu funcionamento.
sibilidade de acumular dois cargos de professor
(ex.: cargo de professor da rede municipal no perío- Art. 37 […]
XIX - somente por lei específica poderá ser criada
do matutino e cargo de professor da rede estadual no
autarquia e autorizada a instituição de empre-
período noturno).
sa pública, de sociedade de economia mista e
A segunda hipótese é a acumulação de um cargo de fundação, cabendo à lei complementar, neste
de professor com outro técnico ou científico (ex.: último caso, definir as áreas de sua atuação;
cargo técnico em enfermagem em hospital estadual
com carga horária compatível com cargo de professor Para que uma autarquia seja criada, faz-se neces-
de ensino médio estadual). sária a autorização legislativa (lei específica), de modo
Por fim, é possível a acumulação de dois cargos a adquirir a personalidade jurídica com a própria lei.
privativos de profissionais da saúde, com profissões Em contrapartida, é preciso lei que autorize a criação
regulamentadas (ex.: cargo de dentista, em um muni- das empresas públicas, sociedades de economia mista
cípio, durante o período matutino, com outro cargo de e fundações, devendo, posteriormente, ser registra-
130 dentista, em outro município, no período vespertino). das, a fim de adquirirem a personalidade jurídica.
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Ressalta-se, por fim, que, para as fundações, uma O inciso XXII traz mais uma regra de prioridade
lei complementar deve definir as áreas de sua atuação. da parte fiscal e de arrecadação. Assim, a adminis-
tração tributária de qualquer dos entes da federação
possui recurso prioritário para a realização de suas
LEI ESPECÍFICA LEI COMPLEMENTAR
atividades.

� Cria as autarquias e às Art. 37 […]


fundações públicas de di- § 1º A publicidade dos atos, programas, obras,
reito público (já que estas serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
últimas são equiparadas ter caráter educativo, informativo ou de orien-
a autarquias); tação social, dela não podendo constar nomes,
� Autoriza a criação das Especifica a área de atua- símbolos ou imagens que caracterizem promoção
demais entidades (em- ção das fundações pessoal de autoridades ou servidores públicos.
presa pública, sociedade
de economia mista e O § 1º trata das regras de publicidade dos atos,
fundações públicas de programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
direito privado) públicos. Esse dispositivo é consequência direta do
princípio da impessoalidade, pois tal publicidade deve
Art. 37 […] ser de caráter informativo, educativo ou de orienta-
XX - depende de autorização legislativa, em ção social, ou seja, a propaganda pública não pode ser
cada caso, a criação de subsidiárias das enti- um meio para promoção pessoal.
dades mencionadas no inciso anterior, assim É por esse motivo que não é permitido ao governa-
como a participação de qualquer delas em empresa dor ou ao prefeito, por exemplo, continuar a utilizar
privada;
o slogan de campanha após ser eleito, uma vez que
vincularia aquela atividade pública à sua pessoa.
Veja-se que em relação às subsidiárias e à par-
ticipação em empresa privada há a necessidade de Art. 37 […]
autorização legislativa, independentemente da vincu- § 2º A não observância do disposto nos incisos II
lação, ou seja, não importa se é vinculada à entidade e III implicará a nulidade do ato e a punição da
que é criada por lei. Para exemplificar, imaginemos autoridade responsável, nos termos da lei.
uma subsidiária XY da autarquia X. A autarquia foi
criada por lei, e sua subsidiária foi criada por autori- O § 2º traz a responsabilidade do agente público
zação legislativa. pela não observância da regra de que, para contrata-
ção de pessoal, o concurso público é indispensável.
Art. 37 […] Consequentemente, se houver ingresso de pessoal
XXI - ressalvados os casos especificados na legisla- sem o devido processo de seleção, haverá nulidade da
ção, as obras, serviços, compras e alienações nomeação, devendo a autoridade sofrer as punições
serão contratados mediante processo de licitação em conformidade com a norma infraconstitucional.
pública que assegure igualdade de condições a Além disso, o prazo de validade do concurso também
todos os concorrentes, com cláusulas que esta-
implica em nulidade da nomeação e responsabilidade
beleçam obrigações de pagamento, mantidas as
do agente.
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o
qual somente permitirá as exigências de qualifica-
Art. 37 […]
ção técnica e econômica indispensáveis à garantia
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação
do cumprimento das obrigações.
do usuário na administração pública direta e
indireta, regulando especialmente:
Outra regra contida na Constituição é a exigência I - as reclamações relativas à prestação dos servi-
de licitação pública para contratação de obras, ser- ços públicos em geral, asseguradas a manutenção
viços, compras e alienações, ressalvados os casos de serviços de atendimento ao usuário e a avalia-
de dispensa e inexigibilidade previstos em lei. ção periódica, externa e interna, da qualidade dos
Vale frisar, aqui, que é assegurada a todos a igual- serviços;
dade de condições, com cláusulas que estabeleçam II - o acesso dos usuários a registros administrati-
obrigações de pagamento, mantidas as condições efe- vos e a informações sobre atos de governo, obser-
tivas da proposta, nos termos da lei, a qual somente vado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;
permitirá as exigências de qualificação técnica e eco- III - a disciplina da representação contra o exercí-
nômica indispensáveis à garantia do cumprimento cio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou fun-
das obrigações. ção na administração pública.
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 37 […] O § 3º remete à preocupação do legislador para que


XXII - as administrações tributárias da União, haja um controle social, de modo a estabelecer meios
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para que qualquer pessoa comunique as irregularida-
atividades essenciais ao funcionamento do Estado, des ou ilegalidades praticadas pelos agentes públicos.
exercidas por servidores de carreiras específicas, Trata-se, portanto, da possibilidade de controle para
terão recursos prioritários para a realização evitar os atos de improbidade administrativa, ou seja,
de suas atividades e atuarão de forma integrada, de condutas ilegais, desonestas, abusivas e incorretas.
inclusive com o compartilhamento de cadastros e
de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. Art. 37 […]
§ 4º Os atos de improbidade administrativa
importarão a suspensão dos direitos políticos, 131
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a perda da função pública, a indisponibilidade
dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma Agente causa dano a
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação um terceiro por dolo ou
penal cabível. culpa

De acordo com o § 4º, as penalidades para os atos


de improbidade são as seguintes: suspensão dos Estado pleiteia o
direitos políticos; perda de função pública; indispo- ressarcimento em Terceiro entra com ação
nibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem decorrência do fato contra o Estado
prejuízo da ação penal cabível, ou seja, se aplica a praticado pelo terceiro
penalidade administrativa cumulativamente com a
sanção penal (se o fato constituir crime).
Estado indeniza o
Dica terceiro lesado

Para decorar os atos de improbidade administra-


tiva, será necessário a memorização do mnemô-
Entende-se por pessoa jurídica de direito privado
nico PARIS: prestadora de serviços públicos as empresas públicas,
� Perda de função pública; sociedades de economia mista e as concessionárias e
� Ação penal cabível (se for o caso); permissionárias, isto é, aquelas empresas seleciona-
� Ressarcimento ao erário; das por procedimento licitatório para desempenhar
� Indisponibilidade de bens; serviço público. Por exemplo: serviço de transporte
� Suspensão dos direitos políticos. público urbano.

Art. 37 […]
Art. 37 […] § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restri-
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição ções ao ocupante de cargo ou emprego da adminis-
para ilícitos praticados por qualquer agente, tração direta e indireta que possibilite o acesso a
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, informações privilegiadas.
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
O § 7º pressupõe a existência de regras éticas de
conduta das autoridades da administração pública, de
Nos termos do § 5º, os prazos prescricionais e as
modo a tentar minimizar a possibilidade de conflito
ações de ressarcimento serão disciplinadas em lei. entre o interesse privado e o dever funcional. Ainda,
Vale lembrar que a lei que disciplina as regras apli- se objetiva a criação de mecanismos, a fim de regula-
cáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade mentar o acesso às informações.
administrativa é a Lei nº 8.429, de 1992.
Art. 37 […]
Art. 37 […] § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e
financeira dos órgãos e entidades da admi-
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e
nistração direta e indireta poderá ser amplia-
as de direito privado prestadoras de serviços
da mediante contrato, a ser firmado entre seus
públicos responderão pelos danos que seus administradores e o poder público, que tenha por
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, objeto a fixação de metas de desempenho para o
assegurado o direito de regresso contra o respon- órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
sável nos casos de dolo ou culpa. I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desem-
O § 6º trata da responsabilidade civil objetiva penho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
dirigentes;
do Estado, o que significa que o Estado é responsável
III - a remuneração do pessoal.
civilmente pelos atos praticados por seus agentes ou
pelos prestadores de serviço público de forma obje- O § 8º busca alcançar melhores resultados na
tiva, isto é, independentemente de culpa. Trata-se da administração pública por meio da criação de novos
chamada teoria do risco administrativo. instrumentos no âmbito do direito público, de modo
Portanto, o Estado é responsável quando um de seus a conferir maior autonomia ou estabelecer parcerias
agentes, no desempenho da função, gera dano a um ter- com entidades privadas sem fins lucrativos. Dessas
ceiro, independentemente da comprovação de dolo medidas, atente-se para o contrato de gestão.
Entende-se por contrato de gestão o contrato admi-
ou culpa, sendo necessário, apenas, demonstrar o nexo
nistrativo firmado pelo poder público na condição de
causal da atividade do agente e o dano de terceiro. contratante e entidade privada ou da administração
Cumpre mencionar, por necessário, que é possível indireta, no qual é instrumentalizada parceria.
ao Estado ingressar com ação regressiva para cobrar
do agente o valor que pagou a esse terceiro. No entanto, Art. 37 […]
ao contrário do que ocorre com o Estado, a responsabi- § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empre-
sas públicas e às sociedades de economia mis-
lidade do agente é subjetiva, ou seja, para que ele seja
ta, e suas subsidiárias, que receberem recursos
responsabilizado civilmente, é preciso demonstrar que da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
houve dolo ou culpa. Em relação a isso, vejamos, de for- Municípios para pagamento de despesas de pes-
132 ma simples o exposto no fluxograma a seguir: soal ou de custeio em geral.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
As regras com relação ao teto e subteto de remu- O § 11 traz uma regra com relação ao teto e subte-
neração são estendidas aos empregados das empresas to do funcionalismo público. Trata-se do não cômputo
públicas e sociedades de economia mista, bem como das verbas indenizatórias, tais como diárias, ajuda de
às suas subsidiárias. No entanto, conforme o dispos- custo, entre outras, no limite remuneratório.
to no § 9º, incidirá sobre as remunerações de direto-
res de empresas estatais que receberem recursos dos Art. 37 […]
entes da federação para pagamento de despesas de § 12 Para os fins do disposto no inciso XI do caput
pessoal ou de custeio em geral, como, por exemplo, deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito
nos casos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesqui- Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às
sa Agropecuária) e da Radiobras. respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
O modo pelo qual a Lei Complementar nº 101, de limite único, o subsídio mensal dos Desembarga-
2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), denomina as dores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
empresas públicas e sociedades de economia mista se
cento do subsídio mensal dos Ministros do Supre-
encaixa como “empresa estatal dependente”, expres-
mo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto
são disposta no § 9º.
neste parágrafo aos subsídios dos Deputados
Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
Art. 37 […]
§ 10 É vedada a percepção simultânea de pro-
O dispositivo regulamenta a possibilidade de fixa-
ventos de aposentadoria decorrentes do art. 40
ção do subteto de forma única. Nesse caso, o valor
ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de car-
go, emprego ou função pública, ressalvados os máximo da remuneração para todo e qualquer servi-
cargos acumuláveis na forma desta Constitui- dor corresponderá ao subsídio dos desembargadores
ção, os cargos eletivos e os cargos em comissão do Tribunal de Justiça, ficando de fora desse subteto
declarados em lei de livre nomeação e exoneração. apenas o subsídio dos deputados e dos vereadores.
Vejamos a decisão do STF no julgamento da ADI
O § 10 veda a percepção simultânea de proventos 6.221 MC:
de aposentadoria com remuneração de cargo, empre-
go ou função pública, ressalvada a hipótese de cargos A faculdade conferida aos Estados para a regulação
acumuláveis, na forma da Constituição, cargos eleti- do teto aplicável a seus servidores (art. 37, § 12, da
vos e cargos em comissão. CF) não permite que a regulamentação editada com
fundamento nesse permissivo inove no tratamento
Esse dispositivo foi acrescentado pela Emenda
do teto dos servidores municipais, para quem o art.
Constitucional nº 20, de 1998, que também resguar-
37, XI, da CF, já estabelece um teto único.
dou o direito daqueles servidores aposentados que,
até a data da promulgação da emenda, retornaram à Art. 37 […]
atividade antes da proibição. § 13 O servidor público titular de cargo efetivo
poderá ser readaptado para exercício de cargo
cujas atribuições e responsabilidades sejam compa-
Importante! tíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
capacidade física ou mental, enquanto permanecer
A proibição aplica-se aos servidores públicos
nesta condição, desde que possua a habilitação
efetivos e aos militares, tanto das Forças Arma- e o nível de escolaridade exigidos para o cargo
das como das Polícias Militares e Corpos de de destino, mantida a remuneração do cargo de
Bombeiros Militares. origem.

O § 13 trata da possibilidade de readaptação do


Vejamos a repercussão geral reconhecida com
servidor público. A readaptação é o provimento deri-
mérito julgado pelo STF:
vado que consiste na investidura do servidor em cargo
de atribuições e responsabilidades compatíveis com
Há remansosa jurisprudência desta Corte nesse
a limitação que tenha sofrido em sua capacida-
sentido, afirmando a impossibilidade da acumula-
de física ou mental verificada em inspeção médica.
ção tríplice de cargos públicos, ainda que os provi-
mentos nestes tenham ocorrido antes da vigência Deste modo, o servidor será efetivado em cargo com
da EC 20/1998. [...] o art. 11 da EC 20/1998 possi- atribuições semelhantes, respeitando-se a habilitação
bilita a acumulação, apenas, de um provento de exigida, assim como o nível de escolaridade e a equi-
aposentadoria com a remuneração de um cargo valência de vencimentos.
na ativa, no qual se tenha ingressado por concurso No caso de inexistir cargo vago, o servidor exer-
público antes da edição da referida emenda, ainda cerá suas atribuições como excedente, permanecen-
NOÇÕES DE DIREITO

que inacumuláveis os cargos. Em qualquer hipóte- do nessa situação até a ocorrência de vaga no cargo
se, é vedada a acumulação tríplice de remunera- compatível.
ções, sejam proventos, sejam vencimentos. (ARE
848.993 RG) Art. 37 […]
§ 14 A aposentadoria concedida com a utiliza-
Art. 37 […] ção de tempo de contribuição decorrente de
§ 11 Não serão computadas, para efeito dos limi- cargo, emprego ou função pública, inclusive do
tes remuneratórios de que trata o inciso XI do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o
caput deste artigo, as parcelas de caráter inde- rompimento do vínculo que gerou o referido
nizatório previstas em lei. tempo de contribuição.

133
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O § 14 disciplina o rompimento do vínculo quando o agente público solicita aposentadoria e se utiliza do tem-
po de contribuição decorrente daquele cargo, emprego ou função pública. Assim, o servidor será desligado da
administração pública.
Neste sentido, o agente público que pretende se aposentar não poderá mais continuar a trabalhar no local em
que utilizou o tempo para comprovação de contribuição.

Art. 37 […]
§ 15 É vedada a complementação de aposentadorias de servidores públicos e de pensões por morte a seus
dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em lei que extinga
regime próprio de previdência social.

O § 15 proíbe toda espécie de complementação que não seja aquela decorrente de Regime de Previdência Com-
plementar, como, por exemplo, as complementações com base na Lei Estadual (São Paulo) nº 200, de 1974, pagas
a ex-empregados e a seus dependentes da Nossa Caixa, BANESPA, SABESP, VASP e FEPASA.

Art. 37 […]
§ 16 Os órgãos e entidades da administração pública, individual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das
políticas públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados alcançados, na forma da lei.

O § 16 foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021, e tem como objetivo aprimorar o mecanismo
de participação da sociedade na administração pública.

Art. 38 Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo,
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua
remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo,
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada
a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será conta-
do para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente
federativo de origem.

O art. 38 estabelece regras relativas ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional que
passar a desempenhar cargo eletivo, ou seja, for eleito para o Poder Executivo ou Legislativo.
Ao servidor público estadual, quando eleito para cargo eletivo federal, estadual e distrital, aplica-se a
seguinte regra: afastamento do cargo público estadual para se dedicar exclusivamente ao mandato, receben-
do obrigatoriamente a remuneração do cargo para o qual foi eleito.
Em contrapartida, quando o servidor público estadual é eleito para cargo eletivo municipal, podem ocorrer
duas situações distintas. Se o cargo é de prefeito, ele será afastado para dedicação exclusiva do cargo e pode
escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo.
Já se o cargo é de vereador, é necessário saber se há ou não compatibilidade de horário. Se houver compati-
bilidade de horários, ele não precisa se afastar, podendo exercer as duas atividades ao mesmo tempo, receben-
do pelos dois. Se não houver compatibilidade, aplica-se a mesma regra do prefeito, ou seja, será afastado para
dedicação exclusiva do cargo, podendo escolher entre a remuneração do cargo público ou do cargo eletivo.

SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL

Eleito para cargo federal, estadual ou distrital Eleito para cargo municipal

Prefeito Vereador

Afastamento do cargo público e remuneração � Com compatibilidade de horário: não


do cargo eletivo Afastamento do cargo e opção entre se afasta do cargo
a remuneração eletiva ou do cargo � Sem compatibilidade de horário: apli-
ca-se a mesma regra do prefeito

Para que a administração pública possa desempenhar suas atividades, ela necessita de pessoas que exerçam
as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de agentes públicos. A expressão agente público é utilizada como
gênero, designando toda e qualquer pessoa que exerça uma função pública, quer de forma remunerada ou gra-
tuita, quer de natureza política ou administrativa, quer com investidura definitiva ou transitória.
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Os agentes públicos dividem-se em quatro catego- § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos
rias, quais sejam: demais componentes do sistema remuneratório
observará:
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a
Agentes políticos complexidade dos cargos componentes de cada
carreira;
II - os requisitos para a investidura;
Servidores públicos III - as peculiaridades dos cargos.
AGENTES § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal
PÚBLICOS manterão escolas de governo para a formação
Particulares em
e o aperfeiçoamento dos servidores públicos,
público
constituindo-se a participação nos cursos um
dos requisitos para a promoção na carreira,
Militares facultada, para isso, a celebração de convênios ou
contratos entre os entes federados.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de car-
Os agentes políticos são aqueles que exercem as go público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX,
típicas atividades de governo, ou seja, são responsá- XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
veis por fixar as metas e diretrizes políticas do Estado, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
tais como os chefes do Poder Executivo (presidente, de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
governador e prefeito e seus vices) e seus auxiliares § 4º O membro de Poder, o detentor de manda-
diretos (ministros e secretários) e os membros do to eletivo, os Ministros de Estado e os Secretá-
Poder Legislativo (senadores, deputados federais, rios Estaduais e Municipais serão remunerados
exclusivamente por subsídio fixado em parcela
deputados estaduais e vereadores).
única, vedado o acréscimo de qualquer gratifica-
Os particulares em colaboração com o poder
ção, adicional, abono, prêmio, verba de representa-
público são aqueles que prestam serviços ao Estado,
ção ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
porém sem vínculo estatutário ou celetista de tra- qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
balho, podendo ou não ter remuneração. Exemplo: § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal
jurados, mesários, notários e registradores (serviços e dos Municípios poderá estabelecer a relação
notariais). entre a maior e a menor remuneração dos ser-
Os servidores públicos civis dividem-se em: vidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o
disposto no art. 37, XI.
z Servidores públicos estatutários: exercem cargo § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
público (vitalício, efetivo ou comissionado) e estão publicarão anualmente os valores do subsí-
vinculados a um estatuto; dio e da remuneração dos cargos e empregos
z Empregados públicos: possuem emprego público públicos.
e vinculam-se às regras da Consolidação das Leis § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal
do Trabalho; e dos Municípios disciplinará a aplicação de
z Servidores temporários: categoria à parte, por- recursos orçamentários provenientes da eco-
que não titularizam cargo público nem possuem nomia com despesas correntes em cada órgão,
autarquia e fundação, para aplicação no desenvol-
qualquer vínculo trabalhista regido pela CLT, como
vimento de programas de qualidade e produtivida-
os empregados públicos. São contratados por tem-
de, treinamento e desenvolvimento, modernização,
po determinado para atender à necessidade tem-
reaparelhamento e racionalização do serviço públi-
porária de excepcional interesse público por meio co, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de
de um processo de seleção simplificado. Exercem produtividade.
funções públicas sem ocupar cargos ou empregos § 8º A remuneração dos servidores públicos
públicos e são regidos por regime especial, veicu- organizados em carreira poderá ser fixada nos
lado por meio de lei específica. termos do § 4º.
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de
Os servidores da administração pública direta, das caráter temporário ou vinculadas ao exercício
autarquias e das fundações públicas estão sujeitos ao de função de confiança ou de cargo em comis-
regime jurídico de direito público administrativo, são à remuneração do cargo efetivo.
instituído em lei, a qual também instituirá planos de
carreira. No que tange ao art. 39, a primeira observação a
O regime adotado é o estatutário. Não obstante, a ser feita é que o caput foi alterado pela Emenda Cons-
lei assegurará aos servidores isonomia de vencimen- titucional nº 19, de 1998. No entanto, como sua eficá-
tos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas cia se encontra suspensa devido à decisão do STF na
NOÇÕES DE DIREITO

do mesmo poder ou entre servidores dos Poderes Exe- ADI nº 2.135-4, é a redação original que se encontra
cutivo, Legislativo e Judiciário, excetuadas as vanta- em vigor. Vejamos:
gens de caráter individual e as relativas à natureza ou
ao local de trabalho. Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
A partir do art. 39, da CF, de 1988, inicia-se o tema Municípios instituirão, no âmbito de sua competên-
quanto às regras aplicadas aos servidores públicos. cia, regime jurídico único e planos de carreira para
Vejamos o que dispõem esses artigos: os servidores da administração pública direta, das
autarquias e das fundações públicas.
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão conselho de política de admi- A CF, de 1988, estabelece regras para a fixação dos
nistração e remuneração de pessoal, integrado por padrões de vencimento e dos demais componen-
servidores designados pelos respectivos Poderes. tes do sistema remuneratório, que deverá observar: 135
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a natureza, o grau de responsabilidade e a comple- observados o tempo de contribuição e os demais
xidade dos cargos que compõem cada carreira; os requisitos estabelecidos em lei complementar do
requisitos para a investidura nos cargos e as demais respectivo ente federativo.
peculiaridades dos cargos.
Tais requisitos poderão influenciar na fixação dos O art. 40, da CF, de 1988, regulamenta o Regime
vencimentos e dependem de aprovação de lei espe- Previdenciário Próprio de Previdência Social
cífica, assim como para o seu aumento, alteração ou (RPPS). Em síntese, o sistema previdenciário do ser-
criação de nova vantagem pecuniária. vidor público foi alterado com a EC nº 103, de 2019, da
Por lei, também serão estabelecidos os reajustes seguinte forma:
diferenciados para corrigir equívocos, como no caso
de servidores que desempenham atividades seme- z Desconstitucionalização das regras de previdência,
lhantes, mas percebem valores muito diferentes. de modo que vários regramentos sobre aposenta-
Salienta-se que a revisão geral da remuneração dos doria e pensão passaram a ser de competência de
servidores públicos, sem distinção de índices entre lei infraconstitucional;
civis e militares, será feita. z Nova mudança no cálculo da pensão;
Com objetivo de garantir o aperfeiçoamento do z Maior aproximação do RGPS (Regime Geral de Pre-
profissional, o dispositivo estabelece a realização de vidência Social) e RPPS;
cursos oficiais como requisito obrigatório para promo- z Modificações no abono de permanência;
ção na carreira, sendo facultada, para tanto, a celebra- z Previsão de readaptação antes de aposentadoria
ção de convênios com os demais entes da federação. por incapacidade permanente;
Outra regra de extrema importância é a que z Inclusão dos agentes políticos ocupantes de man-
assegura ao servidor público civil da administração dato eletivo nas regras do RGPS;
pública direta, autárquica e fundacional os direitos z Exclusão da aposentadoria apenas por tempo de
previstos nos incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, contribuição;
XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, art. 7º, da CF, z Regras especiais para carreiras policiais previstas
de 1988, e aos direitos que, nos termos da lei, visem à na CF.
melhoria de sua condição social e da produtividade
e da eficiência no serviço público, em especial o prê- Art. 40 […]
mio por produtividade e o adicional de desempenho. § 2º Os proventos de aposentadoria não pode-
Atente-se aos limites de remuneração de rão ser inferiores ao valor mínimo a que se refe-
servidores: re o § 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo
estabelecido para o Regime Geral de Previdência
z Mínimo: salário mínimo; Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16.
z Máximo: vide inciso XI, art. 37, da CF (EC nº 41, de § 3º As regras para cálculo de proventos de
2003). aposentadoria serão disciplinadas em lei do res-
pectivo ente federativo.
É importante conhecer o texto da Súmula Vincu- § 4º É vedada a adoção de requisitos ou crité-
lante nº 6, do STF: rios diferenciados para concessão de benefícios
em regime próprio de previdência social, ressalva-
Súmula Vinculante nº 6 Não viola a Constituição do o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º.
o estabelecimento de remuneração inferior ao salá- § 4º-A Poderão ser estabelecidos por lei comple-
rio mínimo para as praças prestadoras de serviço mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
militar inicial. de contribuição diferenciados para aposentadoria
de servidores com deficiência, previamente sub-
Art. 40 O regime próprio de previdência social metidos a avaliação biopsicossocial realizada por
dos servidores titulares de cargos efetivos terá equipe multiprofissional e interdisciplinar.
caráter contributivo e solidário, mediante contri- § 4º-B Poderão ser estabelecidos por lei comple-
buição do respectivo ente federativo, de servidores mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
ativos, de aposentados e de pensionistas, observa- de contribuição diferenciados para aposentadoria
dos critérios que preservem o equilíbrio financeiro de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de
e atuarial. agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de
§ 1º O servidor abrangido por regime próprio de que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso
previdência social será aposentado: XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput
I - por incapacidade permanente para o tra- do art. 144.
balho, no cargo em que estiver investido, quando § 4º-C Poderão ser estabelecidos por lei comple-
insuscetível de readaptação, hipótese em que será mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
obrigatória a realização de avaliações periódicas de contribuição diferenciados para aposentadoria
para verificação da continuidade das condições que de servidores cujas atividades sejam exercidas com
ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio-
de lei do respectivo ente federativo; lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
II - compulsoriamente, com proventos propor- agentes, vedada a caracterização por categoria
cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) profissional ou ocupação.
anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de § 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade
idade, na forma de lei complementar; mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação às
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) idades decorrentes da aplicação do disposto no
anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo
cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito de efetivo exercício das funções de magistério na
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, educação infantil e no ensino fundamental e médio
na idade mínima estabelecida mediante emen- fixado em lei complementar do respectivo ente
136 da às respectivas Constituições e Leis Orgânicas, federativo.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos § 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é total dos proventos de inatividade, inclusive quando
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria decorrentes da acumulação de cargos ou empregos
à conta de regime próprio de previdência social, públicos, bem como de outras atividades sujeitas
aplicando-se outras vedações, regras e condições a contribuição para o regime geral de previdência
para a acumulação de benefícios previdenciários social, e ao montante resultante da adição de pro-
estabelecidas no Regime Geral de Previdência ventos de inatividade com remuneração de cargo
Social. acumulável na forma desta Constituição, cargo em
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, comissão declarado em lei de livre nomeação e exo-
quando se tratar da única fonte de renda formal neração, e de cargo eletivo.
auferida pelo dependente, o benefício de pensão § 12 Além do disposto neste artigo, serão
por morte será concedido nos termos de lei do observados, em regime próprio de previdência
respectivo ente federativo, a qual tratará de forma social, no que couber, os requisitos e critérios
diferenciada a hipótese de morte dos servidores de fixados para o Regime Geral de Previdência Social.
que trata o § 4º-B decorrente de agressão sofrida no § 13 Aplica-se ao agente público ocupante, exclusi-
exercício ou em razão da função. vamente, de cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração, de outro cargo tem-
porário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego
No que tange à aposentadoria, suas modalidades
público, o Regime Geral de Previdência Social.
são:
§ 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão, por lei de iniciativa do res-
z Voluntária: quando se dá por livre e espontânea pectivo Poder Executivo, regime de previdência
vontade, desde que cumpridos os requisitos dis- complementar para servidores públicos ocupantes
postos a seguir: de cargo efetivo, observado o limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social
para o valor das aposentadorias e das pensões em
HOMEM MULHER regime próprio de previdência social, ressalvado o
IDADE 65 anos 62 anos disposto no § 16.
§ 15 O regime de previdência complementar de que
TEMPO DE 25 anos 25 anos trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente
CONTRIBUIÇÃO na modalidade contribuição definida, observará o
disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio
TEMPO NO SERVIÇO 10 anos 10 anos de entidade fechada de previdência complementar
PÚBLICO ou de entidade aberta de previdência complementar.

TEMPO NA 5 anos 5 anos A CF, de 1988, estabelece, ainda, o direito de uti-


CARREIRA lizar, para fins de aposentadoria, o tempo de serviço
desempenhado em outro ente da Federação ou na
No caso dos professores dos ensinos infantil, fun- iniciativa privada. Por exemplo: uma pessoa que tra-
damental e médio, conta-se com a redução de cin- balhou oito anos em uma empresa antes de ser apro-
co anos do requisito etário, ou seja, 60 anos para os vada em concurso público estadual pode considerar
homens e 57 anos para as mulheres. Vale salientar esse tempo no cálculo final do tempo de serviço.
que essa regra não se aplica aos professores do ensino
superior. z Regra: veda-se a aposentadoria especial;
Vejamos o texto da Súmula nº 726, do STF: z Exceção: consulte os seguintes parágrafos: 4º-A,
4º-B, 4º-C e 5º, art. 40. Em síntese:
Súmula nº 726 (STF) Para efeito de aposentadoria
especial de professores, não se computa o tempo de
„ Servidores com deficiência;
serviço prestado fora da sala de aula.
„ Agente penitenciário;
„ Agente socioeducativo;
z Involuntária: quando se dá independentemente
„ Policial das carreiras do art. 144 (Segurança
da vontade do servidor, em virtude de:
Pública) e policiais da Câmara e do Senado
Federal;
„ Incapacidade permanente, sendo necessário „ Atividades que prejudiquem à saúde (aquelas
que se proceda à readaptação do servidor antes exercidas com efetiva exposição a agentes quí-
do procedimento para a aposentadoria; micos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde,
„ Adimplemento de idade limite (aposentadoria ou associação desses agentes).
compulsória aos 70 ou aos 75 anos de idade, na
forma da Lei Complementar nº 152, de 2015).
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 40 [...]
§ 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção,
Art. 40 […] o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefí- servidor que tiver ingressado no serviço público até
cios para preservar-lhes, em caráter permanente, o a data da publicação do ato de instituição do cor-
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. respondente regime de previdência complementar.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, § 17 Todos os valores de remuneração considerados
distrital ou municipal será contado para fins para o cálculo do benefício previsto no § 3º serão
de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º devidamente atualizados, na forma da lei.
e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço correspon- § 18 Incidirá contribuição sobre os proventos de
dente será contado para fins de disponibilidade. aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma de que trata este artigo que superem o limite
de contagem de tempo de contribuição fictício. máximo estabelecido para os benefícios do regime 137
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geral de previdência social de que trata o art. 201, I - em virtude de sentença judicial transitada
com percentual igual ao estabelecido para os servi- em julgado;
dores titulares de cargos efetivos. II - mediante processo administrativo em que lhe
§ 19 Observados critérios a serem estabelecidos em seja assegurada ampla defesa;
lei do respectivo ente federativo, o servidor titular III - mediante procedimento de avaliação perió-
de cargo efetivo que tenha completado as exigên- dica de desempenho, na forma de lei complemen-
cias para a aposentadoria voluntária e que opte tar, assegurada ampla defesa.
por permanecer em atividade poderá fazer jus a um § 2º Invalidada por sentença judicial a demis-
abono de permanência equivalente, no máximo, ao são do servidor estável, será ele reintegrado, e o
valor da sua contribuição previdenciária, até com- eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzi-
pletar a idade para aposentadoria compulsória. do ao cargo de origem, sem direito a indenização,
aproveitado em outro cargo ou posto em disponi-
Além disso, a constituição federal estabelece que bilidade com remuneração proporcional ao tempo
de serviço.
será vedado mais de um regime próprio de previdên-
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desne-
cia, vejamos as disposições pertinentes:
cessidade, o servidor estável ficará em disponi-
bilidade, com remuneração proporcional ao
Art. 40 [...] tempo de serviço, até seu adequado aproveita-
§ 20 É vedada a existência de mais de um regime mento em outro cargo.
próprio de previdência social e de mais de um órgão § 4º Como condição para a aquisição da esta-
ou entidade gestora desse regime em cada ente bilidade, é obrigatória a avaliação especial de
federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e desempenho por comissão instituída para essa
entidades autárquicas e fundacionais, que serão finalidade.
responsáveis pelo seu financiamento, observados
os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica Por fim, o art. 41, da CF, de 1988, trata da estabi-
definidos na lei complementar de que trata o § 22. lidade, que prevê a regra de que a estabilidade é
§ 21 (Revogado).
adquirida após três anos de efetivo exercício. Tra-
§ 22 Vedada a instituição de novos regimes pró-
ta-se de uma garantia constitucional de permanência
prios de previdência social, lei complementar
no serviço público outorgada ao servidor aprovado
federal estabelecerá, para os que já existam, nor-
em concurso público e nomeado a cargo de provimen-
mas gerais de organização, de funcionamento e de
responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre to efetivo que tenha transposto o período de estágio
outros aspectos, sobre: probatório e sido aprovado na avaliação especial de
I - requisitos para sua extinção e consequente desempenho. Uma vez efetivo, o servidor só perderá
migração para o Regime Geral de Previdência o cargo em três hipóteses: sentença judicial transi-
Social; tada em julgado; processo administrativo e procedi-
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utili- mento de avaliação periódica de desempenho.
zação dos recursos; Assim, para a contratação de pessoal na admi-
III - fiscalização pela União e controle externo e nistração pública, é realizado concurso público para
social; preenchimento de cargos públicos. Com isso, a pessoa
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; que foi aprovada dentro do número de vagas previs-
V - condições para instituição do fundo com finali- tas no certame tem o direito de ser nomeada para o
dade previdenciária de que trata o art. 249 e para cargo público. Com a nomeação, essa pessoa assina o
vinculação a ele dos recursos provenientes de con- termo de posse e pode, a partir de então, exercer efeti-
tribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer vamente o cargo público.
natureza; Nos primeiros três anos de exercício, esse servi-
VI - mecanismos de equacionamento do deficit dor passa por um período de avaliação. Trata-se do
atuarial; estágio probatório, ou seja, um período durante o qual
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do será analisado seu desempenho funcional. Completa-
regime, observados os princípios relacionados com dos três anos de serviço público e tendo sido aprovado
governança, controle interno e transparência; no estágio probatório, o servidor adquire a denomina-
VIII - condições e hipóteses para responsabilização da estabilidade.
daqueles que desempenhem atribuições relacio- O dispositivo estabelece, ainda, a possibilidade de
nadas, direta ou indiretamente, com a gestão do
reintegração, ou seja, o retorno, por meio de decisão
regime;
judicial, do servidor público ilegalmente desligado
IX - condições para adesão a consórcio público;
ao cargo de origem ou ao cargo resultante de sua
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e
transformação. Salienta-se que ele fará jus ao rece-
definição de alíquota de contribuições ordinárias e
extraordinárias.
bimento de todas as vantagens que teria auferido no
período em que ficou desligado, inclusive das promo-
ções por antiguidade que teria conquistado.
Assim, nota-se a preocupação do constituinte em
definir parâmetros e diretrizes para assegurar o regi-
me de previdência aos servidores públicos. Ademais, é
também garantido pela constituição federal a estabili-
Importante!
dade aos concursados, após três anos do exercício efe- É possível, também, que decisão administrativa
tivo do cargo, conforme elenca o artigo 41, vejamos: invalide a demissão.

Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo


exercício os servidores nomeados para cargo de No caso de o cargo anteriormente ocupado pelo
provimento efetivo em virtude de concurso público. servidor ter sido extinto, ele será reintegrado ao
138 § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: serviço público, porém ficará em disponibilidade
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remunerada até seu adequado aproveitamento em Embora haja essa diferença de posições na doutri-
outro cargo. Já no caso de o cargo provido ter sido na, não há exatamente uma corrente predominante.
ocupado por outro servidor, o ocupante será recondu- Todos os elementos apontados fazem parte do direito
zido ao cargo de origem, sem direito à indenização, ou administrativo. Por isso, vamos conceituá-lo utilizan-
aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em dis- do todos esses aspectos em comum.
ponibilidade enquanto o servidor reintegrado voltará Podemos definir direito administrativo como o
a exercer o seu cargo. conjunto de princípios e regras que regulam o exercí-
cio da função administrativa exercida pelos órgãos e
agentes estatais, bem como as relações jurídicas entre
eles e os demais cidadãos.
Não devemos confundir direito administrativo
DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO,
com ciência da administração. Apesar de a nomencla-
FONTES E PRINCÍPIOS tura ser parecida, são dois campos bastante distintos.
A administração, como ciência propriamente dita,
CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO não é ramo jurídico. Consiste no estudo de técnicas e
estratégias de controle da gestão governamental. Suas
Administração vem do latim administrare, que regras não são independentes, estão subordinadas às
significa direcionar ou gerenciar negócios, pessoas e normas de direito administrativo.
recursos, tendo sempre como objetivo alcançar metas Os concursos públicos não costumam exigir que o
específicas. A noção de gestão de negócios está intima- candidato tenha conhecimentos de técnicas adminis-
mente ligada com o ramo de direito administrativo. trativas para responder questões de direito adminis-
Estudar direito administrativo não é uma tarefa trativo, mas requerem que conheçam a administração
fácil. Isso porque o direito administrativo brasileiro como entidade governamental, com suas prerrogati-
apresenta dois pontos específicos que demonstram vas e prestando serviços para a sociedade.
certa dificuldade no seu estudo. No momento, estamos referindo-nos ao direi-
O primeiro ponto diz respeito à falta de codificação to administrativo, que é o ramo jurídico que regula
do direito administrativo. No Brasil, não existe um as relações entre a Administração Pública e os seus
“Código de Direito Administrativo”. Os ramos jurídicos cidadãos ou “administrados”. Administração Pública
codificados possuem um conjunto de normas apresen- é uma noção totalmente distinta, podendo ter uma
tados/ordenados em uma linha lógica, o que facilita o acepção subjetiva e orgânica, ou objetiva e material.
seu estudo. Todavia, existem leis, decretos, instruções Na sua acepção subjetiva, orgânica e formal,
normativas, portarias, enfim, existem uma multiplici- a Administração Pública confunde-se com a própria
dade de instrumentos legais, e é tarefa do profissional pessoa de seus agentes, órgãos, e entidades públicas
do direito conhecer e buscar esses instrumentos dentro que exercem a função administrativa, o que signifi-
de todo o ordenamento jurídico do país. ca que somente algumas pessoas e entes podem ser
considerados como Administração Pública. É, por isso,
Outro ponto que dificulta o estudo desse ramo jurí-
uma acepção que tende a restringir sua definição.
dico é o fato de que há uma enorme quantidade de
Já na sua acepção objetiva e material da pala-
legislação com conteúdo de direito administrativo.
vra, podemos definir a administração pública (alguns
Isso se deve à própria lógica do sistema federalista, doutrinadores preferem colocar a palavra em letras
uma vez que os estados possuem autonomia para minúsculas para distinguir melhor suas concepções),
criar as próprias leis. Assim, as normas de direito como a atividade estatal de promover concretamente
administrativo podem apresentar-se em vários âmbi- o interesse público. O caráter subjetivo da administra-
tos da Federação, o que a torna ainda mais difícil de ção é irrelevante, pois o que realmente importa não
ser compreendida. é a pessoa, e sim a atividade que tal pessoa executa.
Esses são os principais pontos de dificuldade de É, por isso, uma acepção mais abrangente, pois qual-
estudar esse ramo do direito. Todavia, isso não signi- quer pessoa que venha a exercer uma função típica
fica que é uma tarefa impossível. O ramo de direito da Administração será considerada uma pessoa que
administrativo, no Brasil, conta com um ponto posi- a integra.
tivo: a doutrina e a jurisprudência são, também, bas-
tante vastas e muito bem detalhadas. É por isso que FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
os estudos de direito administrativo e as questões de
concurso público, a princípio, buscam dar maior enfo- As fontes do direito são os elementos que dão ori-
que em conceitos, teorias, enfim, enfocam bastante o gem ao próprio direito. O direito administrativo tem
aspecto teórico, muito mais do que o prático. algumas peculiaridades em relação a suas fontes que
Assim, precisamos compreender as noções básicas são importantes para nossos estudos.
de direito administrativo, o que significa definir a ele O direito administrativo não é ramo jurídico codi-
NOÇÕES DE DIREITO

um conceito, determinar sua natureza, estabelecer ficado. A matéria encontra-se de um modo muito mais
seu objeto, e também as fontes de onde se origina. amplo. É possível verificar normas administrativas
A doutrina possui divergências quanto ao concei- presentes, como exemplos, na Constituição Federal
to de direito administrativo. Enquanto uma corrente de 1988, em seu art. 37, que estabelece os membros
doutrinária define direito administrativo tendo como da Administração Pública e seus princípios; na Lei nº
base a ideia de função administrativa, outros prefe- 8.666, de 1993, que dispõe sobre normas de licitações
rem destacar o objeto desse ramo jurídico, isto é, o e contratos administrativos; na Lei nº 8.987, de 1995,
Estado, a figura pública composta por seus órgãos e que regulamenta as concessões e permissões de ser-
agentes. Há também uma terceira corrente de dou- viços públicos para entidades privadas; entre outros.
trinadores que, ao conceituar direito administrativo, É costume dividir as fontes de direito administrati-
destacam as relações jurídicas estabelecidas entre as vo em fontes primárias e fontes secundárias. As fontes
pessoas e os órgãos do Estado. primárias são aquelas de caráter principal, capazes de 139
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originar normas jurídicas por si só. Já as fontes secun- Assim, esquematicamente, temos os princípios
dárias são derivadas das primeiras, por isso possuem constitucionais da:
caráter acessório. Elas ajudam na compreensão, inter- Legalidade: fruto da própria noção de Estado de
pretação e aplicação das fontes de direito primárias. Direito, as atividades do gestor público estão submis-
São fontes de direito administrativo: sas à forma da lei. A legalidade promove maior segu-
rança jurídica para os administrados, na medida em
z Legislação: em sentido amplo, seja na constitui- que proíbe que a Administração Pública pratique atos
ção, seja nas leis esparsas, nos princípios, em qual- abusivos. Ao contrário dos particulares, que podem
quer veículo normativo. fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, a Administra-
z Doutrina: todo o trabalho científico realizado por ção só pode realizar o que lhe é expressamente auto-
um renomado autor, seja uma obra, ou um parecer rizado por lei.
jurídico, com o objetivo de divulgar conhecimento; Impessoalidade: a atividade da Administração
z Jurisprudência: o conjunto de diversos julgados Pública deve ser imparcial, de modo que é vedado
num mesmo sentido; haver qualquer forma de tratamento diferenciado
z Costumes jurídicos: tudo que for considerado entre os administrados. Há uma forte relação entre a
uma conduta que se repete no tempo. impessoalidade e a finalidade pública, pois quem age
por interesse próprio não condiz com a finalidade do
Importante frisar que, das fontes mencionadas, interesse público.
apenas a lei é fonte primária do direito administrati- Moralidade: a Administração impõe a seus agen-
vo, sendo o único veículo habilitado para criar direta- tes o dever de zelar por uma “boa-administração”,
mente obrigações de fazer e não fazer. A doutrina, a buscando atuar com base nos valores da moral
jurisprudência e os costumes jurídicos são considera- comum, isso é, pela ética, decoro, boa-fé e lealdade. A
das fontes secundárias. moralidade não é somente um princípio, mas também
requisito de validade dos atos administrativos.
Publicidade: a publicação dos atos da Administra-
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ção promove maior transparência e garante eficácia
erga omnes. Além disso, também diz respeito ao direi-
Os princípios gerais de Direito Administrativo são
to fundamental que toda pessoa tem de obter acesso
os princípios basilares desse ramo jurídico, sendo
a informações de seu interesse pelos órgãos estatais,
aplicáveis ante o fato de a Administração Pública ser
salvo as hipóteses em que esse direito ponha em risco
considerada pessoa jurídica de direito público.
a vida dos particulares ou o próprio Estado, ou ainda
O princípio da supremacia do interesse públi-
que ponha em risco a vida íntima dos envolvidos.
co é o princípio que dá os poderes e prerrogativas à
Eficiência: implementado pela reforma adminis-
Administração Pública. A supremacia do interesse
trativa promovida pela Emenda Constitucional nº 19
público sobre o privado é um aspecto fundamental
de 1988, a eficiência se traduz na tarefa da Adminis-
para o exercício da função administrativa. Podemos tração de alcançar os seus resultados de uma forma
citar como exemplo a desapropriação de um imóvel célere, promovendo melhor produtividade e rendi-
pertencente a um particular: o particular pode ter mento, evitando gastos desnecessários no exercício
interesse em não ter seu bem desapropriado, ou achar de suas funções. A eficiência fez com que a Adminis-
o valor da indenização injusto, mas ele não pode ter tração brasileira adquirisse caráter gerencial, tendo
interesse em extinguir o instituto da expropriação maior preocupação na execução de serviços com per-
administrativa. Trata-se de um instituto que deve feição ao invés de se preocupar com procedimentos
existir, independentemente da sua vontade. e outras burocracias. A adoção da eficiência, todavia,
Mas se o Estado apenas tivesse prerrogativas, com não permite à Administração agir fora da lei, ou seja,
certeza ele agiria com abuso de autoridade. É por isso não se sobrepõe ao princípio da legalidade.
que ao Estado também lhe incumbe uma série de deve- Um método que facilita a memorização desses
res, fundados pelo princípio da indisponibilidade princípios é a palavra “limpe”, pois temos os princí-
do interesse público. Tal princípio pressupõe que o pios da:
Poder Público não é dono do interesse público, ele deve Legalidade
manuseá-lo segundo o que a norma lhe impõe. É por Impessoalidade
isso que ele não pode se desfazer de patrimônio públi- Moralidade
co, contratar quem ele quiser, realizar gastos sem pres- Publicidade
tar contas a seu superior, etc. Tais atos configuram em Eficiência
desvio de finalidade, uma vez que o objetivo principal
deles não é de interesse público, mas apenas do pró-
prio agente, ou de algum terceiro beneficiário.

Princípios Constitucionais
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA
UNIÃO
São os princípios previstos no Texto Constitucio-
nal, mais especificamente no caput do art. 37. Segundo ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO
o referido dispositivo: BRASILEIRO E O DECRETO-LEI Nº 200, DE 1967

Art. 37 A administração pública direta e indireta Neste tópico estudaremos a organização adminis-
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do trativa do Estado brasileiro. Serão apresentadas as
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos principais características da Administração direta e
princípios de legalidade, impessoalidade, moralida- indireta, bem como os institutos da centralização, des-
140 de, publicidade e eficiência [...]. centralização, concentração e desconcentração.
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A organização administrativa envolve o estudo da Na centralização/descentralização, costuma-se uti-
estrutura interna da Administração Pública, ou seja, lizar com frequência o termo entidade. Nos termos
os órgãos e pessoas jurídicas (PJs) que a compõem. do inciso II, § 2º, do art. 1º, da Lei nº 9.784, de 1999:
Trata-se de assunto relevante para a compreensão da “Para os fins desta Lei, consideram-se: [...] II - entidade
“máquina pública” e seus possíveis mecanismos de - a unidade de atuação dotada de personalidade jurí-
planejamento, gestão e controle. dica”. Entidade da Administração, assim, é qualquer
Esse tema é visto com maior profundidade na dis- pessoa jurídica autônoma cujo serviço público foi
ciplina de direito administrativo. Sabendo disso, nos- outorgado pela entidade federativa, isto é, pelas pes-
so objetivo não é esgotar todo o assunto, e sim trazer soas jurídicas de direito público interno (União, esta-
os principais pontos que são cobrados pelos examina- dos, municípios, Distrito Federal etc.). Os membros
dores na disciplina de Administração Pública. federais, nesses casos, realizam apenas uma tarefa de
O tema em tela é positivado na Constituição Fede- controle e fiscalização do serviço prestado pela enti-
ral, de 1988, mais especificamente no famoso art. 37, dade outorgada.
o qual nos informa os princípios da Administração Outra característica importante para a sua prova
Pública que todos os entes públicos (de todas as esfe- é que essas entidades (descentralizadas) respondem
judicialmente pelos prejuízos causados por seus agen-
ras) devem seguir: legalidade, impessoalidade, mora-
tes públicos.
lidade, publicidade e eficiência.
Exemplificando: se um cidadão se sentiu lesado
por alguma decisão do Ibama — Instituto Brasileiro
Art. 37 A administração pública direta e indireta
do Meio Ambiente (autarquia), na ação judicial o polo
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
passivo vai ser o próprio Ibama (e não a União).
princípios de legalidade, impessoalidade, moralida- Atenção! A descentralização pressupõe a criação
de, publicidade e eficiência. de pessoas jurídicas autônomas.
A descentralização pode ocorrer de duas manei-
ras: mediante outorga ou delegação. Vejamos a seguir.
Dica
As iniciais dos princípios da Administração z Descentralização Mediante Outorga
Pública formam o famoso mnemônico: LIMPE.
O Estado, mediante lei, cria ou autoriza a criação
Na esfera federal, esse assunto é disciplinado pelo de uma entidade e atribui a ela determinado servi-
Decreto nº 200, de 1967, que dispõe sobre a organi- ço público por prazo indeterminado. Neste caso,
zação da Administração federal trazendo conceitos transfere-se a titularidade e a execução do serviço
inerentes à ciência da administração, além de estabe- público.
lecer diretrizes para a reforma administrativa. A descentralização mediante outorga decorre do
princípio da especialidade, de modo que se criam
Vamos, agora, conhecer como é realizada essa
entidades para o desempenho de finalidades espe-
estruturação da Administração Pública brasileira!
cíficas. Como exemplo, tem-se a criação da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em 1969; à
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
época (vigente a Constituição, de 1967), era de compe-
tência da União manter os serviços postais e o Correio
A centralização se dá quando o Estado executa
Aéreo Nacional. Neste caso, ocorreu a descentraliza-
diretamente suas tarefas por intermédio de órgãos
ção mediante outorga, instituindo a ECT, na forma
e agentes administrativos subordinados a uma única de empresa pública, com a competência de executar
pessoa política (Carvalho Filho, 2014). Na prática, é o e controlar os serviços postais em todo o território
que ocorre com as atribuições exercidas diretamente nacional.
pela União, estados, Distrito Federal e municípios. Cabe ressaltar que não há que se falar em vín-
Dessa maneira, quando dissemos que as compe- culo de hierarquia e subordinação entre o poder
tências estão centralizadas no governo federal, isso outorgante e o outorgado. Apenas ocorre uma forma
indica que a personalidade jurídica da União é res- de vinculação, na qual impera o controle finalístico
ponsável pelas atribuições impostas pelo ordenamen- (supervisão ou tutela administrativa), que busca fis-
to jurídico. calizar e apurar se os fins objetivados estão sendo
Por outro lado, a descentralização é a técnica por alcançados.
meio da qual a Administração Pública atribui suas
competências a pessoas jurídicas autônomas, criadas z Descentralização por Delegação
por ela própria para esse fim. Na descentralização
NOÇÕES DE DIREITO

administrativa, o Estado executa indiretamente suas O Estado, mediante ato ou contrato, transfere a
tarefas, que são delegadas a outras entidades (Admi- execução de determinado serviço público por prazo
nistração indireta ou particulares prestadores de ser- determinado. Podemos citar como exemplo a dele-
viços públicos). gação da União à empresa de telefonia fixa XPTO,
A descentralização corresponde a um princípio mediante contrato, da prestação de serviços públicos
fundamental da própria Administração, nos termos de telefonia fixa.
do inciso III, art. 6º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967: Na descentralização por delegação, também não
existe vínculo de hierarquia e subordinação, mas
Art. 6º As atividades da Administração Federal o controle é mais amplo e rígido, podendo ser exer-
obedecerão aos seguintes princípios fundamentais: cido pelo poder concedente ao particular de diversas
[…] formas.
III - Descentralização. 141
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Para facilitar seu estudo, veja a tabela a seguir:

DESCENTRALIZAÇÃO

Entidades com personalidade jurídica própria

Não existe vínculo de hierarquia e subordinação

Descentralização mediante outorga Descentralização por delegação

Mediante lei Mediante ato ou contrato

Transfere a titularidade e a execução Transfere apenas a execução

Prazo indeterminado Prazo determinado

Vamos entender como a descentralização funciona na prática.


Vejamos alguns exemplos em frases: “a União criou a autarquia Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com
o objetivo de operacionalizar o reconhecimento dos direitos dos segurados do regime geral de previdência social”
ou “a União criou a empresa pública Caixa Econômica Federal (CEF) com o propósito de incentivar a poupança
e conceder empréstimos sob penhor” ou, ainda, “ a União criou a Sociedade de Economia Mista Petrobras com o
principal objetivo sendo a exploração petrolífera no Brasil em prol da União”.
Em todos os exemplos acima, ocorreu a descentralização, ou melhor, ocorreu a transferência das compe-
tências para outra pessoa jurídica.
Na figura abaixo, resta claro o instituto da descentralização. Podemos observar a União (governo federal)
transferindo competências para outras pessoas jurídicas autônomas, criadas para atividades específicas.

Administração direta
(centralizada)

União

Ministério da Ministério da Ministério da Ministério da


Economia Defesa Educação Cidadania

Descentralização
Administração indireta
(descentralizada)

INSS (Instituto CEF (Caixa Petrobras


Nacional do Econômica (Petróleo
Seguro Social) Federal) Brasileiro S.A.)

Pessoas Jurídicas autônomas

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO

Concentração é o fenômeno em que temos uma absorção ou avocação de competências de um órgão sobre
outro. Difere-se da descentralização justamente neste aspecto: os órgãos públicos, ao contrário das autarquias,
fundações etc., não têm personalidade jurídica própria e, por isso, não possuem a mesma autonomia dos entes
descentralizados, permanecendo vinculados hierarquicamente ao Estado.
Em outras palavras, a concentração é quando o cumprimento das competências administrativas acontece por
meio de órgãos públicos despersonalizados e sem nenhuma divisão interna.
Esta técnica existe na teoria, mas, na prática, é muito difícil de acontecer — pois, em regra, os órgãos públicos
são repartidos (secretarias, departamentos) para facilitar a gestão e a divisão de tarefas.

Importante!
Na concentração, pressupõe-se a ausência completa de divisão de tarefas internamente: é como se fosse um
142 órgão público sem nenhum departamento e sem nenhuma hierarquia.
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Desconcentração é a técnica utilizada para o exercício de competências administrativas, mediante órgãos
públicos despersonalizados e vinculados hierarquicamente aos entes da Federação. Há a repartição das atribui-
ções entre os órgãos públicos pertencentes a uma mesma pessoa jurídica, por isto a sua vinculação hierárquica.
Cabe ressaltar que a desconcentração pode ocorrer tanto na Administração direta (criação de órgãos) quanto na
Administração indireta (distribuição e subdivisão da entidade em órgãos, departamentos etc.). Veja os pontos
mais importantes quanto à desconcentração:

z atribuição de competência a órgãos sem personalidade jurídica própria;


z órgãos vinculados hierarquicamente (subordinação);
z pode ocorrer na Administração direta e indireta;
z segmentação de competências, dentro de uma mesma pessoa jurídica, destinadas a um órgão.

Dica
Lembre-se do jogo de palavras a seguir para diferenciar a descentralização da desconcentração:
� desCEntralização: Cria Entidade;
� desCOncentração: Cria Órgão.

Assim, na desconcentração as atribuições são alocadas entre os órgãos públicos pertencentes à mesma pessoa
jurídica, mantendo a vinculação hierárquica; não há a criação de outras pessoas jurídicas: simplesmente as com-
petências são distribuídas dentro de uma única PJ.
São exemplos clássicos de desconcentração a transferência de competência e atribuições do governo federal
para os seus ministérios (exemplos: Justiça, Economia, Cidadania). Portanto, percebemos, nos exemplos, que se
trata de uma divisão das atividades internamente, permanecendo na mesma pessoa jurídica.

Administração direta

Desconcentração
União

Ministério da Ministério da Ministério da Ministério da


Economia Defesa Educação Justiça

Receita Polícia
Federal Federal

Mesma pessoa jurídica


(no caso, União)

Por fim, quanto aos assuntos acima abordados, as bancas examinadoras tendem a explorar as diferenças entre
a descentralização e a desconcentração. Desse modo, o quadro abaixo é de suma importância para sua aprovação:

DESCONCENTRAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO

Competências atribuídas a órgão públicos sem persona- Competências atribuídas a entidades com personalidade
lidade própria jurídica autônoma

Administração direta (ou centralizada) Administração Pública indireta (ou descentralizada)

Em regra, os órgãos não podem ser acionados direta-


Podem responder judicialmente pelos seus atos
mente perante o Poder Judiciário

Exemplos: ministérios da União, secretarias estaduais e Exemplos: autarquias, fundações públicas, empresas
municipais, Polícia Federal, Receita Federal públicas e sociedade de economia mista
NOÇÕES DE DIREITO

Órgãos Administrativos

Muito importante para a desconcentração é a noção de órgão público ou órgão administrativo. Nos termos
do inciso I, § 2º, do art. 1º, da Lei nº 9.784, de 1999, órgão público é “a unidade de atuação integrante da estrutura
da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”.
Assim, podemos definir órgão administrativo (ou órgão público) como um núcleo de competências do Esta-
do sem personalidade jurídica própria. Por ser órgão despersonalizado, não pode integrar os polos ativo ou
passivo das ações que objetivam a reparação de danos causados pelo exercício da Administração, devendo a pes-
soa jurídica à qual o órgão pertence ser acionada em tais hipóteses.
Atenção! Os órgãos públicos pertencem às pessoas jurídicas, mas não são pessoas jurídicas. 143
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Outro ponto bastante cobrado nas provas é a z Quanto à composição:
impossibilidade, em regra, de órgãos públicos figura-
rem no passivo de ações judiciais, ou seja, eles não são „ Órgãos simples: são aqueles que possuem um
acionados diretamente perante o Poder Judiciário. único centro de competência. Sua característi-
Dica: a teoria do órgão (também pode aparecer ca fundamental é a ausência de outro órgão em
como princípio da imputação volitiva) é uma inven- sua estrutura para auxiliá-lo no desempenho
ção doutrinária que procura imputar as ações come- de suas funções;
tidas pelos agentes e servidores públicos à pessoa „ Órgãos compostos: possuem em sua estrutu-
jurídica à qual ele esteja ligado. Pela teoria do órgão, ra outros órgãos menores, seja com o desem-
os agentes públicos não podem responder pessoal-
penho de função principal ou com o auxílio
mente pelos atos que praticam no exercício de suas
nas atividades. As funções são distribuídas em
funções, uma vez que a responsabilidade pela execu-
vários centros de competência, sob a supervi-
ção de tais tarefas é do Estado, sendo representado
são do órgão de chefia.
por seus órgãos e entes com personalidade jurídica
própria.
A criação e a extinção dos órgãos públicos se z Quanto à forma de atuação funcional:
dão sempre mediante lei, igual ao que ocorre com as
autarquias e demais entidades da Administração indi- „ Órgãos singulares: são aqueles que decidem e
reta, com personalidade jurídica de direito público. atuam por meio de um único agente, o chefe.
Entretanto, as regras quanto ao seu funcionamen- Possuem agentes auxiliares, mas sua caracte-
to, a sua estruturação e outros aspectos secundários rística de singularidade é desenvolvida pela
são regulamentadas pelo Poder Executivo, mediante função de um único agente, em geral, o titular;
decreto. „ Órgãos coletivos: aqueles que decidem pela
Outra característica interessante dos órgãos públi- manifestação de muitos membros, de forma
cos diz respeito à sua capacidade processual. Em conjunta e por maioria, sem manifestação de
regra, órgãos públicos não podem ingressar em juízo, vontade de um único chefe. A vontade da maio-
porque eles não têm personalidade jurídica própria. ria é imposta de forma legal, regimental ou
Entretanto, existem algumas exceções. São os estatutária.
casos dos órgãos públicos independentes. Por serem
independentes (e não autônomos), eles não estão vin- Em relação às modalidades de desconcentra-
culados a outro órgão ou entidade, possuindo prerro- ção, a doutrina tende a classificá-la em três espécies
gativas de ordem constitucional e sendo titulares de
distintas:
direitos subjetivos. É o caso da Câmara dos Deputados,
da presidência da República, do Senado, do Supremo
z Desconcentração territorial ou geográfica: é
Tribunal Federal (STF) etc. Todos esses órgãos inde-
aquela em que todos os órgãos recebem as mes-
pendentes possuem capacidade postulatória para
ingressar em juízo, a fim de defender os seus pró- mas competências em relação à matéria, a diferen-
prios interesses. ça encontra-se apenas nas regiões em que devem
Há, inclusive, uma classificação quanto às diferen- atuar. É o caso das delegacias de polícia;
tes espécies de órgãos, podendo ser: z Desconcentração material ou temática: distribui
as competências administrativas tendo em vista a
z Quanto à posição estatal: especialização de cada órgão em um assunto espe-
cífico. Exemplo: Ministério da Cultura da União;
„ Órgãos independentes: como vimos, são os z Desconcentração hierárquica ou funcional:
que representam o Estado em seus Três Pode- o elemento diferenciador é a relação de subor-
res, não havendo uma relação de hierarquia dinação e hierarquia entre os órgãos públicos.
entre eles (Congresso Nacional, Câmara dos Exemplo: os tribunais administrativos possuem
Deputados, tribunais, varas judiciais etc.); subordinação em relação aos órgãos de primeira
„ Órgãos autônomos: órgãos subordinados instância.
diretamente à cúpula da Administração. Têm
grande autonomia administrativa, financeira ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
e técnica, caracterizando-se como órgãos dire-
tivos (ministério público, defensoria pública, A administração (organização administrativa) é
Advocacia-Geral da União, Procuradoria-Geral o instrumento disponibilizado ao Estado que permi-
da República etc.);
te a divisão das competências para pôr em prática
„ Órgãos superiores: possuem poder de dire-
as opções do governo, isto é, buscar a satisfação dos
ção, controle, decisão e comando dos assuntos
interesses essenciais da coletividade. Nesse sentido,
de sua competência específica. Representam as
a Administração Pública tem o poder de criar órgãos
primeiras divisões dos órgãos independentes e
autônomos (gabinetes, coordenadorias, depar- e entidades públicas para execução de suas políticas
tamentos, divisões etc.); governamentais.
„ Órgãos subalternos: destinam-se à execução Afinal, qual a diferença entre órgãos e entidades
dos trabalhos de rotina e cumprem ordens públicas? Órgão é uma unidade de atuação consti-
superiores (portarias, seções de expediente tuída na estrutura interna de determinada entidade
etc.). política ou administrativa, e, por isso, não possui per-
sonalidade jurídica própria. Em regra, faz parte da
144 Administração direta do Estado.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Dica Importante!
O órgão é um elemento despersonalizado por A criação de entidades da Administração indire-
não possuir personalidade jurídica própria. ta é em respeito ao princípio da especialidade,
ou seja, são criadas para servir uma finalidade
Por outro lado, a entidade é uma unidade de atua- específica.
ção dotada de personalidade jurídica, ou seja, uma
pessoa jurídica, pública ou privada, abrangendo tan-
to as entidades políticas (autonomia política) como as DOS ENTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
entidades administrativas (capacidade de gerir seus INDIRETA: AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES,
próprios negócios). EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE
Desse modo, percebemos que a principal diferença ECONOMIA MISTA
entre o órgão e a entidade é em relação à sua persona-
lidade jurídica: As entidades da Administração indireta podem
ter personalidade jurídica de direito público ou de
Órgão Entidade direito privado. Tal diferença é relevante no que diz
respeito ao procedimento de criação dessas entidades
autônomas.
As pessoas jurídicas de direito público são cria-
Elemento das por lei (inciso XIX, art. 37, da CF, de 1988) e a sua
despersonalizado (sem Personalidade jurídica personalidade jurídica advém no momento em que
personalidade jurídica própria
a legislação entra em vigor no âmbito jurídico, não
própria)
havendo necessidade de registro em cartório. As pes-
soas jurídicas de direito privado, todavia, são auto-
rizadas pela lei (inciso XX, art. 37, da CF, de 1988), ou
Assim, a divisão da Administração se dá por meio
seja, a legislação deve permitir que ela exista para que
da Administração direta e indireta, conforme vere-
o Poder Executivo regulamente suas funções median-
mos no art. 4º, do Decreto-Lei nº 200, de 1976:
te a expedição de decretos. Sua personalidade jurídi-
Art. 4º A Administração Federal compreende: ca, dessa forma, está condicionada ao seu registro em
I - A Administração Direta, que se constitui dos ser- cartório. Assim, acompanhemos os tópicos a seguir.
viços integrados na estrutura administrativa da
Presidência da República e dos Ministérios. z São pessoas jurídicas de direito público: mem-
II - A Administração Indireta, que compreende as bros da Administração indireta — autarquias,
seguintes categorias de entidades, dotadas de per- fundações públicas, agências reguladoras e asso-
sonalidade jurídica própria: ciações públicas;
a) Autarquias; z São pessoas jurídicas de direito privado: empre-
b) Empresas Públicas;
sas públicas, sociedades de economia mista, fun-
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas. dações governamentais com estrutura de pessoa
jurídica de direito privado, subsidiárias e consór-
Administração direta, ou centralizada, é a parte cios públicos de direito privado.
da Administração Pública que compreende as pessoas
jurídicas de direito público interno (União, estados, Em relação à natureza jurídica das entidades da
municípios e Distrito Federal), somados a todos os Administração indireta, as autarquias e as fundações
seus ministérios, ouvidorias, secretarias e outros tan- públicas possuem o regime jurídico público; já as esta-
tos órgãos despersonalizados. tais, isto é, empresas públicas e sociedades de econo-
Já a Administração indireta ou descentraliza- mia mista, são regidas pelo direito privado.
da é a expressão utilizada para designar o conjunto
de pessoas jurídicas autônomas criadas pelo próprio
Estado para atingir determinada finalidade pública. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Se as entidades são dotadas de personalidade jurídi- Direito público Direito privado
ca própria, elas têm patrimônio próprio, que não se
confunde com o patrimônio pessoal de seus agentes, Autarquias Empresas públicas
e também têm responsabilidade pelos danos e prejuí-
zos causados por seus agentes públicos, podendo res- Sociedades de economia
Fundações públicas
mista
NOÇÕES DE DIREITO

ponder judicialmente pela prática desses atos.


Vejamos o fluxograma abaixo para facilitar o
entendimento: Na tabela abaixo, recapitulamos as principais dife-
renças entre a Administração direta e a Administra-
EXECUTIVO FEDERAL ção indireta:

Administração direta Administração indireta


ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO
z Autarquias
z Presidência da República DIRETA INDIRETA
z Fundações públicas
z Ministérios da União z Empresas públicas
Administração Administração
z Sociedades de
economia mista centralizada descentralizada
z 145
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Afinal, o que é uma lei específica? Lei específica
ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO é aquela que versa sobre temas específicos — neste
DIRETA INDIRETA caso, trata exclusivamente da criação da autarquia.
Conjunto de órgãos liga-
dos diretamente às pes- Entidades administrativas CRIAÇÃO DE Lei específica
Autarquia
ENTIDADES DA cria e extingue
soas políticas
ADMINISTRAÇÃO Lei específica
INDIRETA Outras entidades
Personalidade jurídica autoriza
Despersonalizados
própria

Exemplos: ministérios Exemplos: autarquias, O regime de pessoal das autarquias é o estatu-


do governo federal, se- fundações públicas, em- tário. Significa que a autarquia não pode contratar
cretarias estaduais e presas públicas e socie- quem ela quiser, como se fosse um empregador: seus
municipais dades de economia mista funcionários devem ser servidores públicos, previa-
mente aprovados em prova de concurso público.
Assim, todas as questões referentes ao regime
Atenção! Para facilitar a memorização das entida-
laboral desses servidores devem ser resolvidas tendo
des administrativas da Administração indireta, pode- como base a Lei nº 8.112, de 1990, conhecida também
mos utilizar o mnemônico FASE (Fundação pública, como Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União.
Autarquia, Sociedade de economia mista e Empresa O patrimônio das autarquias consiste em bens
pública). públicos, que gozam da garantia de serem inalie-
Agora que já conhecemos como é dividida a orga- náveis e impenhoráveis. Se o patrimônio é público,
nização administrativa da Administração federal, significa que ele é utilizado de forma a atender uma
vamos nos aprofundar nas características e peculiari- finalidade pública. Logo, a autarquia não pode abrir
dades de cada uma delas: mão desses bens nem os dar em garantia.
As autarquias, por estarem submetidas ao regime
Autarquias de direito público, praticam, por meio de seus agen-
tes, atos administrativos (declarações unilaterais de
As autarquias são pessoas jurídicas de direito vontade) e somente podem celebrar contratos públi-
público interno, criadas por legislação própria, que cos (contratos administrativos). Isto é, são contra-
têm por escopo exercer as funções típicas da Adminis- tos típicos da Administração Pública, que a colocam
tração Pública. Trata-se da prestação descentralizada em posição mais vantajosa em relação ao particular
interessado.
de serviços públicos.
As autarquias possuem imunidade tributária,
As autarquias possuem um conceito definido em
com fundamento no § 2º, do art. 150, da CF, que dispõe
lei, mais especificamente no inciso I, art. 5º, do Decre- vedada a cobrança de impostos de autarquias no que
to-Lei nº 200, de 1967: se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vin-
culados a suas finalidades essenciais ou às delas
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: decorrentes.
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por Pode-se afirmar que vigora o princípio da espe-
lei, com personalidade jurídica, patrimônio e cialidade no regime das autarquias. Isso significa que
receita próprios, para executar atividades típicas cada entidade é criada para atender a uma finalidade
da Administração Pública, que requeiram, para seu individual e específica. Exemplificando: para tratar
melhor funcionamento, gestão administrativa e de questões do regime de previdência social, temos o
financeira descentralizada. (inciso I, art. 5°) INSS, que é a única autarquia responsável pela con-
cessão de benefícios previdenciários. É o próprio INSS
Podemos fazer alguns comentários sobre o concei- que responde em juízo, havendo uma ação previden-
to apresentado. Ao dizer que as autarquias são cria- ciária pleiteada por particular, e não a União/Estado.
das “para executar atividades típicas da Administração O juízo competente para julgar causas comuns
Pública”, o texto legal faz referência àquelas ativida- que envolvem as autarquias federais é a Justiça
des características do poder público e que só podem federal. Já no que tange aos processos que envolvem
ser executadas por ele, em regra. São atividades em as autarquias estaduais e municipais, a competên-
que deve haver a prevalência do interesse público cia será da Justiça estadual.
sobre o privado; por isso mesmo, as autarquias gozam A responsabilidade civil das autarquias é objeti-
de diversas prerrogativas para executar tais tarefas. É va; elas respondem pelos prejuízos que seus agentes,
por isso que as autarquias são pessoas jurídicas de nessa qualidade, causarem a terceiros, nos termos do
direito público. § 6º, do art. 37, da CF.
Para facilitar seu estudo, veja as principais infor-
Com isso, essas entidades são proibidas de exercer
mações e características das autarquias:
qualquer atividade econômica, o que lhes proporcio-
na uma grande vantagem: não pode ser decretada sua
z prestação de serviços e atividades típicas do
falência — além disso, também gozam de imunidade Estado;
tributária. Destarte, a sua criação depende de lei espe- z não se destinam à exploração de atividade
cífica. Isso significa que a sua existência é condiciona- econômica;
da apenas pelo trabalho realizado pelo legislador; não z regime jurídico público;
há outros atos subsequentes que condicionam sua z criadas por lei, com personalidade jurídica, patri-
existência, como acontece com as pessoas jurídicas de mônio e receita próprios;
direito privado. De igual modo, a extinção de autar- z possuem imunidade tributária;
146 quias somente pode se dar por lei específica. z celebram contratos administrativos;
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z responsabilidade civil objetiva. z Fundacionais: são as fundações públicas, enti-
dades que arrecadam patrimônio para o cumpri-
Para facilitar a compreensão, vejamos um rápido mento de um objetivo específico. Exemplos: FUNAI
resumo para fixação dos principais tópicos abordados (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Procon
referentes às autarquias: (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor),
Funasa (Fundação Nacional de Saúde);
z São pessoas jurídicas de direito público: o regi- z Territoriais: autarquias de controle da União,
me jurídico aplicável é o público (e não as regras também denominadas territórios federais (art. 33,
do direito privado); da CF, de 1988). A atual Constituição aboliu os ter-
z São criadas e extintas por lei específica: é o que ritórios federais remanescentes;
estabelece o inciso XIX, art. 37, da Constituição z Associativas: são as autarquias criadas pelo
Federal. Assim, a personalidade jurídica de uma resultado de uma celebração de consórcio públi-
autarquia surge com a publicação da lei específica, co, também denominadas associações públicas.
sendo que sua extinção também só poderá ser feita Se o contrato de consórcio público envolver múl-
por lei específica; tiplos entes da Federação, tais autarquias podem
ser transfederativas. Exemplo: associação criada
z Possuem autonomia gerencial, orçamentária e
entre União, estados e municípios para a constru-
patrimonial: este ponto é de grande incidência nas
ção de um teatro.
provas de concurso. As autarquias possuem capaci-
dade de autogestão e não estão subordinadas hie-
rarquicamente à Administração Pública direta. Mas
Importante!
atenção, esse grau de liberdade não significa uma
independência total, pois elas sofrem um controle Curioso é o caso da Ordem dos Advogados do
finalístico chamado de supervisão ministerial; Brasil (OAB). A OAB sempre foi considerada uma
z Em regra, o regime de contratação é estatutá- autarquia de regime comum. Todavia, durante o
rio: as contratações de pessoal seguem o rito da julgamento da ADI nº 3.026, o STF decidiu mudar
Administração Pública, ou seja, a necessidade de seu entendimento, ao decidir que a OAB é um
realizar concurso público para a escolha de seu serviço independente e de natureza especial e
quadro funcional; que, por isso mesmo, não pode sofrer controle
z Controle pelos tribunais de contas: devem específico das autarquias. Assim, a OAB seria
observar as regras da contabilidade pública e con- considerada uma entidade própria sui generis,
sequentemente sofrem fiscalização pelos tribunais não sendo mais uma autarquia.
de contas;
z Obrigatoriedade de licitar: como decorrência da
natureza pública, devem seguir as regras da Lei nº Fundações Públicas
8.666, de 1993 (Lei Geral de Licitações e Contratos);
z São imunes a impostos: o legislador originário As fundações públicas são consideradas espécies
optou pela não cobrança de impostos perante as de autarquias, possuindo diversas características
similares. São instituídas por lei específica median-
autarquias — esse é o teor do § 2º, art. 150, da
te a afetação de um acervo patrimonial do Estado a
Constituição Federal.
uma dada finalidade pública. Fundação pública é, nos
termos do inciso IV, art. 5º, do Decreto-Lei nº 200, de
Neste contexto, devido à multiplicidade de assun-
1967:
tos, temos, consequentemente, uma multiplicidade de
autarquias. A doutrina tende a classificar as autar-
Art. 5º […]
quias nos seguintes grupos: IV - Fundação Pública - a entidade dotada de per-
sonalidade jurídica de direito privado, sem fins
z Administrativas: são as autarquias comuns, apre- lucrativos, criada em virtude de autorização
sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti- legislativa, para o desenvolvimento de atividades
tuto Nacional do Seguro Social; que não exijam execução por órgãos ou entidades
z Especiais: possuem maior autonomia em relação de direito público, com autonomia administrativa,
às autarquias administrativas devido à presença patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos
de certas características, como de dirigentes com de direção, e funcionamento custeado por recursos
mandato fixo. Podem subdividir-se em: da União e de outras fontes.
NOÇÕES DE DIREITO

„ especiais stricto sensu (Banco Central); Já de acordo com o entendimento da doutrinadora


„ agências reguladoras (Anatel — Agência Maria Sylvia Di Pietro (1995), fundação pública é:
Nacional de Telecomunicações, Anvisa — Agên-
[...] instituída pelo poder público com o patrimônio,
cia Nacional de Vigilância Sanitária).
total ou parcialmente público, dotado de perso-
nalidade jurídica, de direito público ou privado, e
z Corporativas: corporações profissionais, que pro- destinado, por lei, ao desempenho de atividades do
movem o controle e a fiscalização de categorias Estado na ordem social, com capacidade de autoad-
profissionais. Exemplos: CREA (Conselho Regio- ministração e mediante controle da Administração
nal de Engenharia e Agronomia), CRO (Conselho Pública, nos limites da lei. (Di Pietro, 1995, p. 320)
Regional de Odontologia), CRM (Conselho Regional
de Medicina; 147
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Pelo conceito disposto na legislação, vemos que as
FUNDAÇÕES PÚBLICAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS
fundações públicas podem exercer todas as ativida-
DE DIREITO PÚBLICO DE DIREITO PRIVADO
des típicas do Estado, como prestar serviços públicos
e exercer o poder de polícia. Pessoal regido pelo regi-
Pessoal regido pela CLT
Dessa forma, conclui-se que as fundações podem me estatutário
ser tanto de direito público como de direito priva-
do, dependendo do que a lei instituidora da fundação Competência para jul-
Competência para julgar:
delimitar quanto às suas competências. Todavia, é gar: Justiça estadual
Justiça federal
(comum)
importante frisar que mesmo as fundações de regi-
me jurídico privado devem obediência às normas Responsabilidade civil Responsabilidade civil
públicas, e não à legislação civil. Como exemplo de objetiva objetiva
fundações públicas temos a FUNAI, a Funasa e o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Bens públicos Bens privados
Sobre esse tema, cabe diferenciar o regime pes-
soal das fundações públicas de direito público e pri- Agências Reguladoras: Características e
vado. No âmbito das fundações públicas de direito Classificação
privado, o regime trabalhista será regido pela CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho). Já nos casos de O surgimento das agências reguladoras possui for-
fundações de direito público, deverá ser aplicado o tes relações com a época das privatizações na segun-
regime jurídico único (estatutário). da metade dos anos 1990. Nesse contexto, as agências
reguladoras foram introduzidas, sobretudo, pelas
As fundações de direito privado, para sua cria-
Emendas Constitucionais (ECs) nº 8 e 9, ambas de 1995,
ção, precisam de autorização por lei. São diferentes
para atuar como órgãos reguladores, fiscalizadores e
de uma autarquia, criada por lei. Aqui, a fundação
controladores da iniciativa privada, passando a desen-
já existe, mas, para atuar no mercado privado, deve,
volver as tarefas originalmente atribuídas ao Estado.
além de possuir autorização legislativa, obter registro
Alguns exemplos de agências reguladoras: ANEEL
dos atos constitutivos em cartório para adquirir sua
(Agência Nacional de Energia Elétrica), Anatel (Agên-
personalidade jurídica, como se fosse uma empresa.
cia Nacional de Telecomunicações), ANCINE (Agência
Quanto ao patrimônio, quando se tratar de funda-
Nacional do Cinema), ANP (Agência Nacional do Petró-
ções públicas de direito público, os bens serão caracte-
leo, Gás Natural e Biocombustíveis), entre outras.
rizados como bens públicos. Por conseguinte, quanto
As agências reguladoras também são autarquias
às fundações públicas de direito privado, seu patrimô-
sob um regime especial, diferenciando-se das autar-
nio consiste em bens privados, que não gozam das
quias comuns em dois aspectos:
garantias de inalienabilidade e impenhorabilidade
presentes nos bens públicos.
z Estabilidade: os dirigentes das agências regula-
Como o patrimônio se destaca do seu instituidor, o
doras não podem ser exonerados por qualquer
controle desse referido patrimônio é feito por órgão
motivo, ao contrário do que acontece nas autar-
especial, denominado curadoria das fundações. No
quias, nas quais seus dirigentes atuam em cargos
caso das fundações de direito público, o controle fiscal de comissão. Assim, os dirigentes das agências têm
é exercido pelo ministério público. maior proteção contra o desligamento forçado, o
Importante, também, destacar que as fundações que promove maior estabilidade no exercício de
privadas podem celebrar contratos privados, os ins- seu cargo;
trumentos contratuais típicos da esfera privada, como z Mandato fixo: os dirigentes não possuem cargo
compra e venda, locação de imóvel etc. vitalício. Entretanto, a existência de mandato fixo
Quanto à competência para julgar as causas que garante também maior estabilidade no seu car-
envolvem as fundações, devemos ter ciência de que go, visto que ele tem prazo determinado para se
as fundações públicas de direito público, quando na encerrar. A duração dos mandatos pode variar
esfera federal, submetem-se à Justiça federal. Por dependendo de cada agência, podendo ser de três
outro lado, embora isso seja alvo de controvérsia anos, como na Anvisa, de quatro anos, como na
na doutrina, entende-se que as fundações públicas ANEEL, ou de até cinco anos, como na Anatel.
de direito privado, nas causas comuns (inclusive de
âmbito federal), submetem-se à Justiça estadual. Em As agências reguladoras podem ser classificadas
suma, a responsabilidade civil das fundações públicas de diversas formas. Vejamos a seguir.
é de ordem objetiva. Respondem objetivamente pelos
prejuízos causados por seus agentes a terceiros. z Quanto à sua origem:
Para facilitar seus estudos, veja na tabela a seguir
as principais informações e características das „ agências federais;
fundações: „ estaduais;
„ municipais;
FUNDAÇÕES PÚBLICAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS „ distritais.
DE DIREITO PÚBLICO DE DIREITO PRIVADO
z Quanto à atividade preponderante:
Lei específica autoriza a Lei específica autoriza a
sua criação sua criação „ agências de serviço, que exercem as funções
típicas;
Necessário obter registro Necessário obter registro
„ agências de polícia, que exercem fiscalização
dos atos constitutivos dos atos constitutivos
148 das atividades econômicas;
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„ agências de fomento, que ajudam a desenvol- Muitas das características apresentadas pelas
ver o setor privado; fundações privadas aplicam-se às empresas estatais,
„ agências de uso de bens públicos. isto é, sua criação depende de autorização legislati-
va além do registro em cartório; seu patrimônio se
z Quanto à previsão constitucional: constitui de bens privados; sua atividade principal
consiste em exercer uma atividade econômica; e há
„ agências com referência constitucional (a Ana- a aptidão para celebrar contratos privados.
tel tem previsão no inciso XI, art. 21, da CF, de As empresas públicas e as sociedades de economia
1988); mista apresentam características em comum:
„ agências sem referência constitucional — são a
grande maioria. z Atuação na prestação de serviços públicos ou
no desenvolvimento de atividade econômica:
z Quanto ao momento de sua criação: as empresas exploradoras de atividade econômica
geralmente recebem menor controle pela Admi-
„ agências de primeira geração (1996 a 1999), na nistração, embora também contem com certas
época das privatizações; desvantagens, como não ter imunidade a impostos
„ de segunda geração, de 2000 a 2004; e o fato de seus bens não terem natureza pública,
„ de terceira geração, que adveio com as agên- podendo ser penhorados;
cias pluripotenciárias (2005 em diante), exer- z Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da
cendo múltiplas funções simultaneamente. União: também podem sofrer controle pelo Poder
Judiciário, no que couber;
Associações Públicas: a Criação de Consórcio z Contratação de bens e serviços mediante pré-
via licitação: a licitação é o processo utilizado a
A União, os Estados, o Distrito Federal e os muni- fim de promover uma competição justa com as
cípios são os entes responsáveis pela regulamentação empresas privadas do mesmo setor. Tal imposição
dos consórcios públicos e dos convênios de coope- não é exigida para as empresas públicas e socieda-
ração, autorizando a gestão associada de serviços des de economia mista exploradoras de atividade
públicos, bem como a transferência total ou parcial econômica;
de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à con- z Obrigatoriedade de realização de concurso
tinuidade dos serviços transferidos (art. 241, da CF, de público: trata-se de uma forma de avaliar os
1988). melhores funcionários dentro de um grupo seleto
Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas de candidatos;
pelos entes federados e que têm por objeto medidas z Contratação de pessoal pelo regime celetis-
de mútua cooperação, denominam-se consórcios ta: seus membros são denominados empregados
públicos. públicos, salvo nas hipóteses de contratação para
Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei cargo comissionado. Todas as controvérsias envol-
nº 11.107, de 2005. Uma das características mais dis- vendo o regime laboral dos empregados públicos
tintas dos consórcios é a possibilidade de eles possuí- devem ser resolvidas com base na CLT. Apesar
rem natureza de direito público ou de direito privado. disso, a vedação de acumular dois cargos públicos
Consórcios de direito privado obedecem às normas também se estende aos empregos públicos;
da legislação civil. Possuem regime celetista, embora z Impossibilidade de decretar sua falência: no
não possam ter fins lucrativos. Por isso, não integram caso das estatais prestadoras de serviços públicos,
a Administração Pública. Já os consórcios de direi- nos termos do inciso I, art. 2º, da Lei nº 11.101, de
to público são as associações públicas propriamente 2005.
ditas, podendo ser transfederativas, se integrarem
todas as esferas das pessoas consorciadas (federal, As empresas públicas são pessoas jurídicas de
estadual, municipal). direito privado cuja criação depende de autorização
legal. Sua personalidade é concedida pelo registro de
Empresas do Estado: as Empresas Públicas e seus atos constitutivos em cartório, com a totalida-
Sociedades de Economia Mista de de seu capital público e regime organizacional
livre, conforme dispõe o Decreto nº 200, de 1967:
Passemos a analisar o grupo de pessoas jurídi-
cas denominado empresas do Estado (ou empresas Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
estatais). São as pessoas jurídicas de direito privado […]
pertencentes à Administração indireta e comportam II - Emprêsa Pública - a entidade dotada de perso-
duas espécies: as empresas públicas e as sociedades nalidade jurídica de direito privado, com patrimô-
NOÇÕES DE DIREITO

nio próprio e capital exclusivo da União, criado por


de economia mista.
lei para a exploração de atividade econômica que o
Preliminarmente, não se pode confundir o con-
Govêrno seja levado a exercer por fôrça de contin-
ceito de empresa estatal com o conceito de empresa
gência ou de conveniência administrativa podendo
pública. Empresa estatal é o gênero que comporta as revestir-se de qualquer das formas admitidas em
espécies: empresa pública e sociedade de economia direito.
mista. […]

EMPRESA ESTATAL Assim, são empresas públicas: o Banco Nacional


de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a
Empresa Pública
Sociedade de Caixa Econômica Federal e a Empresa Brasileira de
Economia Mista
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). 149
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Dica
O capital das empresas públicas é inteiramente público (100%), ou seja, não existe dinheiro privado integran-
do o capital social.

Pela razão de ser 100% capital público, então a empresa pública terá somente um único dono? A resposta é
não! Não existe a obrigatoriedade de ser de um único ente público. É possível a criação de empresa pública com
a integração do capital entre dois ou mais entes públicos.
Nesse sentido, a empresa pública pode ser classificada como unipessoal se o capital pertencer a uma única
entidade pública. Nas situações em que duas ou mais pessoas políticas ou administrativas detiverem o seu capital,
estaremos diante de uma empresa pública pluripessoal.

EMPRESA
PÚBLICA Capital: uma única entidade pública

Unipessoal
Exemplo: ECT (Correios) = 100% (União)

Capital: duas ou mais entidades públicas

Pluripessoal
Exemplos: Terracap — Companhia Imobiliária de Brasília
(51% de recursos do Distrito Federal e 49% de recursos
da União)

Em relação às demandas judiciais, o foro competente para julgar as causas em que seja parte a empresa públi-
ca federal é a Justiça federal.
Atenção! As empresas públicas podem assumir qualquer forma empresarial admitida em direito, tais como:
sociedade civil, sociedade comercial, sociedade anônima ou qualquer outra forma empresarial.
Já as sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado cuja criação também depende
de autorização legal e de registro em cartório. Possuem a maioria de seu capital público e devem ser obriga-
toriamente organizadas como sociedades anônimas. São sociedades de economia mista: Petrobras, Banco do
Brasil, Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.).
Vejamos o conceito trazido pelo Decreto-Lei nº 200, de 1967:

Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:


[…]
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei
para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto per-
tençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta.
[…]

Percebemos algumas diferenças entre as empresas públicas e as sociedades de economia mista. A primeira diz
respeito ao capital constitutivo: enquanto nas empresas públicas todo o seu capital deve ser público (o Decre-
to-Lei nº 200, de 1967, dispõe que seu capital deve advir totalmente “da União”, mas se admite também o capital
de origem estadual e municipal), as sociedades de economia mista admitem a presença do capital de origem
privada, mas pelo menos 50% mais uma de suas ações com direito a voto devem pertencer ao Estado.
Além disso, outra diferença relevante é em relação à forma de sua organização: as sociedades de economia
mista devem obrigatoriamente ter a estrutura de sociedade anônima; trata-se de disposição legal do próprio
Decreto-Lei nº 200, de 1967. As empresas públicas, por sua vez, não sofrem essa imposição, podendo adotar a
estrutura que desejarem.
No quadro abaixo, sintetizamos as diferenças mais importantes entre a empresa pública e a sociedade de
economia mista:

EMPRESA PÚBLICA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

Personalidade jurídica de direito privado, Personalidade jurídica de direito privado, cuja


Aspectos gerais cuja autorização para criação se dá por autorização para criação se dá por meio de
meio de lei lei

Capital público e privado (maioria do capital


Composição do capital 100% capital público
votante é do poder público)

Qualquer forma de organização empre-


Obrigatoriamente devem ter a estrutura de
Formação societária sarial admitida pelo direito empresarial
sociedade anônima (S.A.)
(forma de organização livre)

Foro de julgamento Justiça federal Justiça comum estadual


150
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EMPRESA PÚBLICA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

Caixa Econômica Federal Banco do Brasil


Infraero Petrobras
Exemplos
Casa da Moeda Eletrobras
Correios Banco do Nordeste

Outro ponto importante a ser levantado diz respeito às empresas subsidiárias de empresa pública e socieda-
de de economia mista. Isso ocorre quando as EPs ou SEMs, visando melhorar a organização das suas operações,
criam outras empresas, conhecidas como subsidiárias.
As empresas subsidiárias integram a Administração indireta e possuem personalidade jurídica própria. De
acordo com o Decreto nº 8.945, de 2016, as subsidiárias possuem a maioria das ações com direito a voto perten-
cente direta ou indiretamente à EP ou SEM.
Cabe destacar também a diferença entre as empresas subsidiárias e as sociedades empresárias que possuem
participação do Estado. A primeira diferença está no fato de que as empresas subsidiárias de EP e SEM integram a
Administração indireta, diferentemente das sociedades por participação. Outro ponto importante é que o Estado
não possui controle da entidade que tem participação. Por fim, lembre-se: é possível a participação estatal em
sociedades privadas, com o capital minoritário e sob o regime de direito privado.
Quanto ao regime jurídico aplicável às EPs e SEMs, é necessário ter uma atenção especial. Em regra, o regi-
me aplicável é o de direito privado, porém esse regime mudará a depender da atividade a ser desenvolvida. Para
tanto, quando a EP ou SEM exercer atividade econômica em sentido estrito, estará sujeita a normas do direito
privado. Já se prestar serviços públicos, aplicará o regime jurídico de direito público. Para facilitar seu estudo,
veja o esquema a seguir:

Atuando em atividade Regime jurídico de


EMPRESA PÚBLICA econômica direito privado
OU SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA Prestando serviços Regime jurídico de
públicos direito público

Quanto à imunidade tributária, cabe ressaltar que, quando a EP ou a SEM explorarem atividade econômica
em sentido estrito, não farão jus à imunidade tributária recíproca ou a privilégios fiscais. Por outro lado, caso
prestem serviços públicos, sem cunho econômico, farão jus às imunidades e aos privilégios mencionados.
Outro ponto importantíssimo diz respeito à responsabilidade civil por danos que seus agentes, nessa quali-
dade, causarem a terceiros. A responsabilidade será objetiva quando a EM ou a SEM forem prestadoras de ser-
viços públicos. Já caso a estatal seja exploradora de atividade econômica, a responsabilidade será subjetiva,
ou seja, ela só será obrigada a indenizar os danos causados por culpa ou dolo.
O juízo competente será a Justiça estadual quando se tratar de EP ou SEM de níveis estadual ou municipal.
Em contrapartida, quando se tratar de estatais da esfera federal, devemos separá-las: EPs federais serão julgadas
pela Justiça federal; SEMs federais serão julgadas pela Justiça estadual.
Para sistematizar as informações vistas, acompanhe os esquemas a seguir:

Pode adotar qualquer


forma admitida
Capital Social
integralmente público
Objetiva, quando
prestadora de serviço
público
Responsabilidade civil
EMPRESA PÚBLICA Subjetiva, quando
explorar atividade
econômica

EP Federal: Justiça
Federal
Juízo competente
EP Estadual ou
Municipal: Justiça
NOÇÕES DE DIREITO

Estadual

151
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Somente poderá ser
constituída na forma
de Sociedade Anônima
(S.A.)

Capital Social misto

Objetiva, quando
prestadora de serviço
público
Responsabilidade civil
SOCIEDADE DE Subjetiva, quando
ECONOMIA MISTA explorar atividade
econômica

SEM Federal: Justiça


Estadual
Juízo competente
SEM Estadual ou
Municipal: Justiça
Estadual

AGENTES PÚBLICOS
ESPÉCIES E DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS

Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, são agentes públicos as pessoas que exercem uma função públi-
ca, ainda que em caráter temporário ou sem remuneração. Trata-se de uma expressão ampla e genérica, uma vez
que engloba todos aqueles que, dentro da organização da Administração Pública, exercem determinada função
pública.
Importante mencionar ainda que, para que a Administração Pública Direta ou Indireta possa desempenhar
suas atividades, ela necessita de pessoas que exerçam as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de agentes
públicos.
A expressão agente público é utilizada como gênero, designando toda e qualquer pessoa que exerça uma
função pública, quer de forma remunerada ou gratuita, quer de natureza política ou administrativa, quer com
investidura definitiva ou transitória.
Os agentes públicos dividem-se em quatro categorias:

Agentes
políticos
Servidores
Agentes públicos
públicos
Particulares em
colaboração
Militares

Os agentes políticos são aqueles que exercem as típicas atividades de governo, ou seja, os responsáveis por
fixar as metas e diretrizes políticas do Estado, tais como os chefes do Poder Executivo (presidente, governador e
prefeito e seus vices) e seus auxiliares diretos (ministros e secretários), e os membros do Poder Legislativo (sena-
dores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores).
Os particulares em colaboração com o poder público são aqueles que prestam serviços ao Estado, porém
sem vínculo estatutário ou celetista de trabalho, podendo ou não ter remuneração. Exemplo: jurados, mesários,
notários e registradores (serviços notariais).
Os servidores públicos civis dividem-se em:

z Servidores públicos estatutários: exercem cargo público (vitalício, efetivo ou comissionado) e estão vincu-
lados a um estatuto;
z Empregados públicos: possuem emprego público e vinculam-se às regras da Consolidação das Leis do Traba-
lho (CLT);
z Servidores temporários: categoria à parte, porque não titularizam cargo público nem possuem qualquer
vínculo trabalhista regido pela CLT, como os empregados públicos. São contratados por tempo determinado
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público por meio de um processo de seleção
simplificado. Exercem funções públicas sem ocupar cargos ou empregos públicos e são regidos por regime
especial, veiculado por meio de lei específica.

Assim, podemos dizer que agente público é gênero, o qual comporta diversas espécies, como os agentes polí-
ticos, os agentes militares, os servidores públicos estatutários, os empregados públicos, os agentes honoríficos,
152 entre outros. Por isso, vamos especificar cada um deles com maiores detalhes.
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Agentes Políticos Além da estabilidade, são também assegurados aos
servidores estatutários alguns direitos trabalhistas.
Os agentes políticos possuem como característica Vejamos aqui os mais importantes, de acordo com o §
principal o fato de exercerem uma função pública de 3º, art. 39, da CF, de 1988:
alta direção do Estado. Seu ingresso é feito mediante
eleições, e atuam em mandatos fixos, os quais têm o z salário mínimo;
condão de extinguir a relação destes com o Estado de z remuneração de trabalho noturno superior ao
modo automático pelo simples decurso do tempo. Per- diurno;
cebe-se, dessa forma, que a sua vinculação com o Esta- z repouso semanal remunerado;
do não é profissional, mas estatutária ou institucional. z férias trabalhadas;
São agentes políticos os parlamentares, o presidente da z licença à gestante.
República, os prefeitos, os governadores, bem como seus
respectivos vices, ministros de Estado e secretários. Empregado Público

Agentes Militares De modo diferente da contratação dos servidores,


os empregados públicos são contratados mediante
Os agentes militares constituem uma categoria à regime celetista, isto é, com aplicação das regras pre-
parte dos demais agentes políticos, uma vez que as vistas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
instituições militares possuem fortes bases funda- Trata-se de uma vinculação contratual. A contratação
mentadas na hierarquia e na disciplina. Apesar de de empregados públicos dá-se, em regra, pelas pes-
também apresentarem vinculação estatutária, seu soas jurídicas de direito privado integrantes da Admi-
regime jurídico é disciplinado por legislação especial, nistração Indireta (empresas públicas, sociedades de
e não aquela aplicável aos servidores civis. São agen- economia mista, consórcios etc.). Além disso, o ingres-
tes militares os membros das polícias militares e dos so de tais pessoas também depende da sua aprovação
corpos de bombeiros militares dos estados, Distrito em concurso público.
Federal e territórios, bem como os demais militares O regime dos empregados públicos é menos prote-
ligados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Algumas tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de
características que merecem destaque são: a proibi- que os empregados públicos não gozam da estabilida-
ção de sindicalização dos militares, a proibição do de que os servidores possuem. Ao serem empossados,
direito de greve e a proibição à filiação partidária. os empregados passam por um período de experiên-
cia de 90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os
Servidores Públicos empregados públicos podem ser dispensados.
A diferença dos empregados públicos para com os
De modo geral, podemos dizer que a Constituição demais consiste no fato de que a sua demissão será
Federal, de 1988, apresenta dois tipos de regimes para sempre motivada, após regular processo administra-
os agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos tivo, mediante contraditório e ampla defesa. Impor-
públicos, e o regime celetista ou de empregos públicos. tante lembrar que, para a Administração Pública,
Os servidores públicos são contratados pelo regi- a motivação de seus atos, bem como o tratamento
me estatutário, enquanto os empregados públicos são impessoal e a finalidade pública, são princípios nor-
contratados pelo regime celetista, que muito se asse- teadores de sua atuação. Uma demissão imotivada de
melha às regras contidas na CLT. um empregado público seria absolutamente inadmis-
Atente-se a este conceito: servidor público é o sível nessas condições.
agente contratado pela Administração Pública, direta
ou indireta, sob o regime estatutário, sendo selecio- REGIME JURÍDICO ÚNICO (LEI Nº 8.112/1990 E
nado mediante concurso público, para ocupar cargos SUAS ALTERAÇÕES)
públicos, possuindo vinculação com o Estado de natu-
reza estatutária e não contratual. O regime dos servidores públicos possui ampla
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela previsão normativa. Além do renomado art. 37, da
Lei Federal nº 8.112, de 1990, também conhecida como Constituição Federal, no âmbito infraconstitucional
Estatuto do Servidor Público. temos a Lei nº 8.112, de 1990 (Estatuto dos Servido-
Frente a isso, um ponto relevante a ser ressalta- res Públicos Federais), isto é, a legislação que institui
do desse regime é o alcance da estabilidade mediante o regime jurídico dos servidores públicos da União,
o fim do período de estágio probatório. Tal alcance autarquias, fundações, agências reguladoras e asso-
permite que o servidor não seja desligado de suas ciações, todas em âmbito federal. Bastante exigida em
funções, salvo pelas hipóteses previstas em lei, como concursos públicos, convém salientar as principais
a sentença judicial transitada em julgado, processo características a respeito do regime dos servidores
NOÇÕES DE DIREITO

administrativo disciplinar, ou a não aprovação em públicos:


avaliação periódica de desempenho (§ 1º, art. 41, da
CF, de 1988). Dos Cargos Públicos: Conceito, Investidura na
Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que Função Pública, Provimento, Vacância
são vitalícios, que se apresentam de forma mais van-
tajosa, uma vez que o estágio probatório possui um z Conceito
tempo menor (dois anos, sendo de três anos para os
cargos não vitalícios), bem como possui a característi- Para todos os efeitos legais, o servidor público
ca de o desligamento ocorrer apenas mediante senten- está intrinsecamente ligado à noção de cargo público.
ça condenatória transitada em julgado. São vitalícios Conforme dispõe o art. 3º, do Estatuto dos Servidores,
os cargos de: magistratura, do Tribunal de Contas, e os “cargo público é o conjunto de atribuições e respon-
cargos dos membros do ministério público. sabilidades previstas na estrutura organizacional que 153
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devem ser cometidas a um servidor”. A expressão O art. 8º, da Lei nº 8.112, de 1990, dispõe sobre as
“cometida” no contexto do artigo de lei refere-se às formas de provimento em cargos públicos:
atribuições e responsabilidades que são atribuídas
ao servidor público em decorrência do cargo público „ Nomeação: trata-se da única forma de provi-
ocupado. Os cargos públicos — acessíveis a todos os mento originário, uma vez que não exige uma
brasileiros — são criados por lei, com denominação relação jurídica prévia do servidor para com o
própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para Estado. A nomeação depende sempre “de pré-
provimento em caráter efetivo ou em comissão. via habilitação em concurso público de provas,
A criação, transformação e extinção de cargos, ou de provas e títulos”. Além disso, a nomeação
empregos ou funções públicas depende sempre de poderá ser promovida não somente em caráter
uma lei instituidora (inciso X, art. 48, CF, de 1988). efetivo, como também para os cargos de con-
Porém, havendo um cargo ou função vago, a sua fiança ou em comissão (incisos I e II, dos arts.
extinção pode se dar mediante expedição de decreto 9º e 10, da Lei nº 8.112, de 1990);
pelo Poder Executivo. „ Promoção: é uma forma de provimento deri-
vado, haja vista que ela beneficia somente os
PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, servidores que já ingressaram em cargos públi-
REDISTRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO cos em caráter efetivo. De acordo com o pará-
grafo único, art. 10, da Lei nº 8.112, de 1990;
z Investidura na Função Art. 10 [...]
Parágrafo único. Os demais requisitos para o
Para ocupar um cargo público, é necessário haver ingresso e o desenvolvimento do servidor na car-
o seu devido provimento, ou seja, deve haver um ato reira, mediante promoção, serão estabelecidos
administrativo constitutivo e hábil para a investidu- pela lei que fixar as diretrizes do sistema de car-
ra do servidor no respectivo cargo. Com relação aos reira na Administração Pública Federal e seus
requisitos para a investidura em cargo público, dis- regulamentos.
põe o art. 5º, da Lei nº 8.112, de 1990:
„ Readaptação: é, também, uma forma de pro-
Art. 5º São requisitos básicos para investidura em
vimento derivado, pois trata-se de hipótese
cargo público: de atribuição ao servidor para um cargo com
I - a nacionalidade brasileira; funções e responsabilidades distintas e com-
II - o gozo dos direitos políticos; patíveis com a limitação que tenha sofrido em
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; sua capacidade física ou mental, verificada
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício em inspeção médica. Assim, por exemplo, um
do cargo; motorista de ônibus que sofre acidente e acaba
V - a idade mínima de dezoito anos; perdendo algum membro essencial para diri-
VI - aptidão física e mental. gir poderá ser readaptado para executar uma
função similar, mas não idêntica à anterior.
O rol apresentado no art. 5º é meramente exem- Na hipótese do servidor readaptado se mostrar
plificativo, pois a depender das atribuições do cargo completamente inválido para exercer qualquer
almejado, podem existir outros requisitos exigidos cargo, ele será compulsoriamente aposentado;
para ocupação e posse. Observe, ainda, que tais requi- „ Reversão: outra forma de provimento deriva-
sitos que forem exigidos devem ser comprovados do, em que temos o retorno à atividade de um
somente no momento da posse. servidor aposentado por invalidez, ou por puro
Conforme aludido no art. 7º, da Lei nº 8.112, de e simples interesse da administração, desde que
1990, a investidura em cargo público ocorrerá com a (art. 25, do Estatuto dos Servidores Públicos):
posse. Art. 25 [...]
II - [...]
z Provimento a) tenha solicitado a reversão;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária;
Há diversas formas de provimento dos cargos c) estável quando na atividade;
públicos, podendo ser classificado em dois grupos: d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos
anteriores à solicitação;
„ Quanto à durabilidade: o provimento pode e) haja cargo vago
ser de caráter efetivo, capaz de garantir esta-
A reversão far-se-á para o mesmo cargo ou para o
bilidade e até mesmo vitaliciedade para o ocu-
cargo resultante de sua transformação. Em termos de
pante; ou em comissão, quando o referido
remuneração, o servidor que retornar à atividade por
cargo não goza de estabilidade, podendo o ser-
interesse da Administração perceberá a remuneração
vidor ser destituído ad nutum, isto é, de forma
do cargo que voltar a exercer, em substituição da apo-
unilateral, sem a anuência do servidor; sentadoria que recebia (§ 4º, art. 25, idem);
„ Quanto à preexistência de vínculo: temos
o provimento originário, que não depende „ Aproveitamento: mais uma forma de provi-
de vinculação jurídica anterior com o Estado mento derivado, consistente no retorno de ser-
(nomeação); ou derivado, se o referido ser- vidor em disponibilidade, sendo seu regresso
vidor já possuía algum vínculo com o Estado obrigatório para cargo de atribuições e venci-
(promoção, remoção, readaptação). mentos compatíveis com os do anteriormente
ocupados (art. 30, da Lei nº 8.112, de 1990). O
154 art. 32, do mesmo texto legal, dispõe:
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Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassa- É o caso do servidor Márcio, já mencionado duran-
da a disponibilidade se o servidor não entrar em te a reintegração do servidor Carlos. A recondução
exercício no prazo legal, salvo comprovada doença tem prioridade em relação a pôr o servidor em dis-
por junta médica oficial. ponibilidade. Colocar o servidor em disponibilidade
é considerada uma última medida, pois o correto é a
„ Reintegração: é a forma de provimento deri- administração fazer com que todos os servidores que
vado que ocorre pela reinvestidura do servidor contratou estejam efetivamente no exercício de suas
estável no cargo anteriormente ocupado, ou atividades, de modo a evitar a oneração dos cofres
no cargo resultante de sua transformação, na públicos com servidores inativos que continuam a
hipótese de sua demissão ser invalidada por receber remuneração e outros benefícios.
decisão judicial ou administrativa, tendo direi-
to, também, ao ressarcimento de todas as van- z Vacância
tagens (caput, art. 28, Lei nº 8.112, de 1990).
A Lei nº 8.112, de 1990, também faz menção às
Suponha que, em uma situação anterior, o servi- hipóteses de vacância, isto é, são hipóteses em que o
dor Carlos foi demitido por um motivo injusto. Esse servidor deixa o cargo ocupado anteriormente. Essas
motivo injusto pode advir de qualquer evento, como situações podem ser de caráter definitivo, como, por
ter sido erroneamente acusado de ter praticado exemplo, a extinção do cargo público, ou quando
uma transgressão (falaremos das transgressões em ocorre a troca do cargo ocupado pelo servidor.
momento posterior). Carlos, então, resolveu ingres-
sar com ação em juízo e, por meio de decisão judi- Art. 33 São formas de vacância dos cargos públicos:
cial (ou administrativa), conseguiu comprovar que a I - exoneração;
sua demissão foi injusta, ficando determinada a sua II - demissão;
invalidação. Com isso, ele pode ser reintegrado ao seu III - promoção;
cargo a fim de voltar a desempenhar suas funções na IV (REVOGADO);
repartição pública. V (REVOGADO);
É proibida a criação de cargos excessivos pela VI - readaptação;
Administração Pública, tendo em vista que em toda VII - aposentadoria;
VIII - posse em outro cargo inacumulável;
repartição existe um número exato de cargos a serem
IX - falecimento.
ocupados pelos servidores.
Logo, no exemplo apresentado, o cargo perten-
Observe que algumas das hipóteses de vacância
ce originalmente a Carlos. Assim, o servidor Márcio,
são as mesmas das hipóteses de provimento. Isso
que estava ocupando o lugar de Carlos durante sua
ocorre porque, como mencionamos, o provimento
ausência, deverá ser reconduzido para o seu cargo de
derivado dos cargos públicos pressupõe uma relação
origem ou, não sendo possível, devido à extinção do
jurídica anterior entre o servidor e a Administração
cargo nesse período, poderá ser aproveitado em outro
Pública. Nessas hipóteses (readaptação, promoção), o
cargo similar.
poder público necessita extinguir um cargo público
Não havendo outro cargo similar, Márcio será pos-
(uma relação jurídica anterior) para criar um cargo
to em disponibilidade.
novo.
Dessas hipóteses, a que merece maiores escla-
Art. 28 [...]
recimentos é a exoneração. Nas linhas do art. 35, a
§ 2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual
ocupante será reconduzido ao cargo de origem, exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do ser-
sem direito à indenização ou aproveitado em outro vidor, ou de ofício. Quando de ofício, a exoneração
cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade. será realizada “quando não satisfeitas as condições
do estágio probatório; ou ainda quando, tendo toma-
A disponibilidade é uma garantia de caráter pro- do posse, o servidor não entrar em exercício no prazo
tecionista atribuída pela Constituição Federal ao ser- estabelecido”.
vidor público estável, cuja finalidade é resguardar o A remoção é elencada no art. 36, da Lei nº 8.112, de
vínculo do servidor com a Administração Pública, de 1990. Pelo disposto no caput do referido artigo, “remo-
maneira a não ser excluído dos quadros de pessoal ção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício,
quando seu cargo for declarado desnecessário ou no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de
extinto. Durante o período em que o servidor perma- sede.” A remoção não é uma forma de provimento em
necer disponível, sua remuneração é mantida. cargo público.
O artigo ainda apresenta algumas modalidades de
remoção, que podem ser:
NOÇÕES DE DIREITO

„ Recondução: por fim, a recondução é a forma


de provimento derivado consistente no retorno
Art. 36 [...]
do servidor público estável ao cargo anterior-
Parágrafo único. [...]
mente ocupado, e decorrerá de inabilitação em
I - de ofício, no interesse da Administração;
estágio probatório relativo a outro cargo, ou,
II - a pedido, a critério da Administração;
ainda, pela reintegração do anterior ocupante III - a pedido, para outra localidade, independente-
(I e II, art. 29, da Lei nº 8.112, de 1990). Uma mente do interesse da Administração:
situação excepcional é a da extinção do cargo a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, tam-
durante o período de estágio probatório. Nes- bém servidor público civil ou militar, de qualquer
sas condições, segundo a Súmula nº 22, do STF, dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
inexiste direito à recondução, e o servidor será Federal e dos Municípios, que foi deslocado no inte-
exonerado. resse da Administração; 155
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b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, com- A estabilidade é a condição que o servidor público
panheiro ou dependente que viva às suas expensas atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
e conste do seu assentamento funcional, condicio- pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
nada à comprovação por junta médica oficial; público não pode ser demitido por razões de conve-
c) em virtude de processo seletivo promovido, na
niência ou oportunidade pela administração. Ela não
hipótese em que o número de interessados for supe-
pode demitir o servidor estável “porque não quer
rior ao número de vagas, de acordo com normas
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que mais” trabalhar com ele.
aqueles estejam lotados. Segundo o art. 21, do Estatuto dos Servidores Públi-
cos Civis da União, uma vez que o servidor seja
A redistribuição é o deslocamento de cargo para
provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do [...] habilitado em concurso público e empossado
quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entida- em cargo de provimento efetivo adquirirá estabili-
de do mesmo poder, com prévia apreciação do órgão dade no serviço público ao completar 2 (dois) anos
central do SIPEC, segundo o que dispõe o art. 37, do de efetivo exercício.
referido estatuto, desde que sejam observados os
seguintes preceitos: Interessante observar que a Constituição Federal,
de 1988, também prevê a prerrogativa de estabilida-
Art. 37 [...] de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distin-
I - interesse da administração; tos: para o Texto Constitucional, o servidor público
II - equivalência de vencimentos; só adquire estabilidade após completar três anos de
III - manutenção da essência das atribuições do cargo; efetivo exercício.
IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e Isso não significa que, uma vez o servidor estando
complexidade das atividades; estável no seu cargo, ele pode fazer o que quiser e não
V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou
sofrerá nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
habilitação profissional;
“carta branca” para agir como bem entender. Por isso,
VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e
as finalidades institucionais do órgão ou entidade. o conteúdo do art. 22, da Lei nº 8.112, de 1990:

A substituição encontra-se disposta no art. 38 do O servidor estável só perderá o cargo em virtude de


sentença judicial transitada em julgado ou de pro-
estatuto. Segundo o caput desse dispositivo:
cesso administrativo disciplinar no qual lhe seja
assegurada ampla defesa.
Art. 38 Os servidores investidos em cargo ou fun-
ção de direção ou chefia e os ocupantes de cargo de
Natureza Especial terão substitutos indicados no O Texto Constitucional vai um pouco além: ele pre-
regimento interno ou, no caso de omissão, previa- vê, ao todo, quatro modalidades de demissão de servi-
mente designados pelo dirigente máximo do órgão dor estável. São elas:
ou entidade.
z Por sentença judicial transitada em julgado: é
A substituição é uma troca de um servidor por a forma mais demorada para se demitir um servi-
outro, aplicável somente para os cargos de comis- dor, considerando todo o aspecto burocrático exis-
são ou função de direção e chefia, bem como cargos tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
de Natureza Especial. O servidor substituto indica- sentença somente ocorre quando esgotados todos
do assume, automaticamente, o exercício do cargo, os recursos cabíveis;
nos casos de afastamentos, impedimentos legais ou z Mediante processo administrativo em que lhe
regulamentares do titular, bem como na hipótese de seja assegurada ampla defesa. As regras referentes
vacância do cargo. ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD)
Um direito muito importante do servidor substitu- serão vistas mais adiante;
to é que ele pode optar, entre o cargo que ocupava z Mediante procedimento de avaliação periódica
antes e o cargo que passa a ocupar pela substituição,
de desempenho, na forma de lei complementar,
pela remuneração mais vantajosa (§ 2º, art. 38). Seria
assegurada ampla defesa: quem não for aprova-
injusto o substituto ganhar menos do que recebia
do na avaliação periódica de desempenho pode
antes da substituição.
ser exonerado de seu cargo público, independen-
temente de ter completado o período de efetivo
PODERES, DEVERES E PRERROGATIVAS
exercício;
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses
A prerrogativa é qualquer situação de vantagem
obtida pela natureza de um cargo ou de uma função. um a três estão previstas nos incisos do art. 41.
No caso dos agentes públicos, existem algumas prer- Todavia, essa última hipótese encontra-se dispos-
rogativas que são comuns para todo e qualquer car- ta no inciso II, § 3º, art. 169, da CF, de 1988. Sob
go público, e existem algumas prerrogativas que são o aspecto orçamentário e financeiro, não pode a
mais restritas, exclusivas apenas para alguns cargos. Administração Pública realizar gastos superiores
Geralmente essas prerrogativas mais exclusivas são àqueles previstos em seu orçamento anual. Com
aplicáveis para os cargos militares e para os cargos de isso, havendo a necessidade, é possível, sim, que
natureza política. um servidor estável seja exonerado de seu car-
No momento, é importante focar nas prerrogativas go apenas por motivos de “balancear” as contas
que se aplicam para todos os servidores públicos, que públicas.
ocupam cargos públicos em geral. A primeira grande
156 prerrogativa diz respeito à estabilidade.
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Outra prerrogativa que merece maior destaque os Chefes do Poder Executivo, parlamentares,
é a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido magistrados, ministros de Estado, secretários esta-
com a estabilidade, mas não pode ser confundido com duais, membros do ministério público e da advoca-
esta. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer cia pública, entre outros.
servidor: ela é somente concedida para alguns cargos
públicos especiais. Das Vantagens
São considerados cargos vitalícios, segundo a
própria Constituição Federal: os cargos de magis- À luz do disposto no art. 49, do estatuto, além dos
tratura (inciso I, art. 95), os membros do ministério vencimentos, aos funcionários públicos serão pagas
público (“a”, § 5º, art. 128) e os cargos ocupados pelos as seguintes vantagens: as indenizações, as gratifica-
membros do Tribunal de Contas da União ou TCU (§ ções e os adicionais.
3º, art. 73).
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte do z Das Indenizações
que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupa um
desses cargos vitalícios, ela somente pode ser exone- As indenizações são valores pagos aos servi-
rada mediante sentença judicial transitada em julga- dores, mas que não integram seus vencimentos. O
do. Essa é a única hipótese de exoneração, motivo pelo estatuto prevê algumas hipóteses de recebimento de
qual ela garante uma prerrogativa maior do que ape- indenizações:
nas a estabilidade.
Das hipóteses de exoneração, apesar de ser um „ Ajuda de custo por mudança (art. 53): devida
aspecto relativo ao Regime de Previdência, é também como forma de compensar as despesas de ins-
considerada como uma forma de exoneração a apo- talação de servidor que tiver exercício em nova
sentadoria compulsória, isto é, a concessão do referi- sede, ocorrendo mudança de seu domicílio;
do benefício previdenciário quando o servidor estável „ Ajuda de custo por falecimento (§ 2º, art. 53):
ou vitalício completar 75 anos de idade. A diferença é devida à família do servidor que vier a fale-
que, no caso da aposentadoria compulsória, o servi- cer na nova sede, sendo devido para custear o
dor para de trabalhar, mas continua recebendo uma transporte para a localidade de origem;
“remuneração”, chamada de provento. „ Diárias por deslocamento (art. 58): devida ao
A Lei nº 8.112, de 1990, em seus arts. 40 e 41, elen- servidor que se afastar, por motivos de serviço,
ca diversos direitos e gratificações aos servidores da sede em caráter transitório, para outro local
públicos, os quais são de grande importância conhe- dentro ou fora do país; receberá tal indenização
cer. Vejamos os principais direitos: como forma de ajuda no custeio de passagens
e diárias destinadas a indenizar as parcelas
z Vencimentos: vencimentos está para o servidor de despesas extraordinárias com pousada, ali-
assim como o salário está para o empregado. Con- mentação e locomoção urbana. O § 3º, do art.
siste na retribuição pecuniária pelo exercício do 59, prevê que o servidor que receber diárias e
cargo público, cujo valor é previamente fixado não se afastar da sede, por qualquer motivo,
em lei. Os vencimentos de cargos efetivos são, em fica obrigado a restituí-las integralmente, no
regra, irredutíveis; prazo de cinco dias;
z Remuneração: é mais abrangente. É o vencimen- „ Transporte (art. 60): será concedida inde-
to do cargo, somado a todas as outras vantagens nização ao funcionário público que realizar
pecuniárias estabelecidas em lei. O menor valor despesas com a utilização de meio próprio de
pago ao servidor público, independentemente de locomoção para a execução de serviços exter-
sua vinculação, é o valor do salário mínimo vigen- nos, por força das atribuições próprias do car-
te (§ 3º, art. 39, da CF, de 1988). go, conforme disposto em regulamento;
„ Auxílio-moradia (art. 60-A): trata-se de ressar-
cimento das despesas comprovadamente rea-
Importante! lizadas pelo servidor com aluguel de moradia
ou com hospedagem realizado por algum hotel,
O art. 39, da Constituição Federal, apresenta algu-
dependendo do preenchimento de alguns
mas regras gerais sobre o regime dos servidores
requisitos, como não ter um imóvel funcional
públicos. Dentre as regras constitucionais, o § 1º disponível para uso, seu cônjuge não ser ocu-
do referido dispositivo prevê que a “fixação dos pante de imóvel funcional, ou que nenhuma
padrões de vencimento e dos demais compo- outra pessoa que resida com o servidor receba
nentes do sistema remuneratório observará três a mesma indenização etc.
aspectos: a natureza, o grau de responsabilida-
NOÇÕES DE DIREITO

de e a complexidade dos cargos componentes z Gratificações, Adicionais e Retribuições


de cada carreira; os requisitos para a investidu-
ra; e também as peculiaridades dos cargos.” O art. 61, do Estatuto dos Servidores Públicos, tam-
bém prevê o pagamento das seguintes gratificações:

z Regime de subsídios: trata-se de uma forma espe- I - retribuição pelo exercício de função de direção,
cial de remuneração, feita em uma única parcela. chefia e assessoramento;
O regime de subsídios, previsto no § 4º, art. 39, da II - gratificação natalina;
CF, de 1988, foi introduzido com a finalidade de III – revogado;
coibir os “supersalários” comumente existentes no IV - adicional pelo exercício de atividades insalu-
regime de servidores públicos brasileiros. Impor- bres, perigosas ou penosas;
tante ressaltar que recebem por subsídios somente V - adicional pela prestação de serviço extraordinário; 157
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VI - adicional noturno; Segundo o art. 86, da Lei nº 8.112, de 1990, o servi-
VII - adicional de férias; dor terá direito à licença, sem remuneração, durante
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do o período que mediar entre a sua escolha em con-
trabalho; venção partidária, como candidato a cargo eletivo, e
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. a véspera do registro de sua candidatura perante a
Justiça Eleitoral, e a partir do registro da candidatura
Gratificação por encargo de curso ou concurso é e até o décimo dia seguinte ao da eleição, o servidor
devida ao servidor que (art. 76-A): fará jus à licença, assegurados os vencimentos do car-
go efetivo, somente pelo período de três meses (§ 2º,
I - atuar como instrutor em curso de formação, de do mesmo artigo).
desenvolvimento ou de treinamento regularmen-
te instituído no âmbito da administração pública
V - para capacitação;
federal;
II - participar de banca examinadora ou de comis-
são para exames orais, para análise curricular, Após cada quinquênio do efetivo exercício público,
para correção de provas discursivas, para elabora- sendo do interesse da administração, o servidor pode-
ção de questões de provas ou para julgamento de rá se afastar do cargo com a efetiva remuneração por
recursos intentados por candidatos; até três meses, para fazer curso de capacitação profis-
III - participar da logística de preparação e de sional (art. 87, da Lei nº 8.112, de 1990).
realização de concurso público envolvendo ativi-
dades de planejamento, coordenação, supervisão, VI - para tratar de interesses particulares;
execução e avaliação de resultado, quando tais
atividade não tiverem incluídas em suas funções A critério da Administração Pública, poderá ser
permanentes; concedida, somente ao servidor público que ocupe
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar
cargo efetivo (desde que não esteja em estágio proba-
provas de exames de vestibular ou de concurso
tório), licença para cuidar de interesse particulares
público ou supervisionar essas atividades.
por até três anos consecutivos, sem o recebimento de
remuneração (art. 91, da Lei nº 8.112, de 1990).
O servidor, em relação às férias, fará jus a 30 dias
de licença para cada 12 meses de serviço, “que podem
VII - para desempenho de mandato classista.
ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso
de necessidade do serviço [...]” (art. 77, Lei nº 8.112, de
1990). Poderão ser parceladas em até três períodos, Nessa situação será concedida licença sem remu-
desde que assim requeridas pelo servidor, e no inte- neração ao servidor que for desempenhar mandato
resse da administração pública, na forma do § 3º, do em confederação, federação, associação de classe de
mesmo dispositivo legal. âmbito nacional, sindicato representativo de catego-
ria ou entidade fiscalizadora de profissão (art.92, da
Das Licenças Lei nº 8.112, de 1990).
Apesar de haver previsão para concessão de licen-
As licenças são uma espécie de afastamento com ça por prêmio em virtude de assiduidade, tal hipótese
algumas características próprias. Ou seja, os casos de acabou sendo revogada pela Lei nº 9.527, de 1997.
licença ocorrem, via de regra, por interesse e a pedido As licenças, como se depreende, são hipóteses de
do particular. Estão dispostas nos arts. 81 e seguintes, desligamento temporário do servidor com o seu res-
da Lei dos Servidores Públicos Federais. De acordo pectivo cargo, havendo uma expectativa para o seu
com o art. 81, conceder-se-á licença ao servidor: retorno. As licenças poderão ser concedidas com ou
sem remuneração, a depender de cada situação.
I - por motivo de doença em pessoa da família;
Dos Afastamentos
Essa licença somente poderá ser concedida se for
indispensável assistência direta do servidor, de forma Os afastamentos propriamente ditos não se con-
que não possa ser prestada simultaneamente com o fundem com as licenças já estudadas. Tratam-se de
exercício das funções públicas, pelo que dispõe o § 1º, hipóteses em que ocorre o afastamento do servidor
do art. 83, da Lei nº 8.112, de 1990. de suas funções por determinação da Administração
Pública, e, em regra, o servidor receberá sua remu-
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou neração integral. A previsão legal está elencada nos
companheiro; arts. 93 e seguintes, da Lei nº 8.666, de 1990. São qua-
tro hipóteses:
Trata-se de licença que poderá ser deferida ao ser-
vidor para acompanhar cônjuge que foi deslocado z para servir a outro órgão ou entidade;
para outro ponto do território nacional, para o exte- z para exercício de mandato eletivo;
rior ou para exercer mandato eletivo dos poderes z para estudos ou missões no exterior;
executivo e legislativo. Nesse caso, a licença será por z para participação em programa de pós-graduação
prazo indeterminado e sem remuneração, nos temos stricto sensu dentro do país.
do caput e § 1º, do art. 84, da Lei nº 8.112, de 1990.
A hipótese arrolada no inciso I tem sua regulamen-
Lei nº 8.112, de 1990 tação no art. 93, e será cedida ao servidor nas seguin-
Art. 85 [...] tes condições: para exercício de cargo em comissão
III - para o serviço militar; ou função de confiança e em casos previstos em leis
158 IV - para atividade política; específicas.
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O art. 94, da Lei nº 8.112, de 1990, traz as especifi-
LICENÇA AFASTAMENTO
cações necessárias para o afastamento para exercício
de mandato eletivo: Finalidade é de interes- Finalidade é de interesse
se exclusivo do agente do agente e da Adminis-
Art. 94 Ao servidor investido em mandato eletivo público tração Pública
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou dis-
Ex: doença do cônjuge/ Ex: realização de espe-
membro da família; para cialização; realização
trital, ficará afastado do cargo;
exercer atividade política; de missão no exterior;
II - investido no mandato de Prefeito, será afasta-
para tratar de interesses para servir a outro órgão/
do do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua
particulares entidade
remuneração;
III - investido no mandato de vereador: Possui prazos mais cur- Possui prazos mais lon-
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá tos (dias, semanas) gos (meses, anos)
as vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remu-
neração do cargo eletivo; Uma questão que costuma cair com bastante fre-
b) não havendo compatibilidade de horário, será quência nas provas de concurso público é sobre a
afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela remuneração de servidor afastado para exercício
sua remuneração. de mandato eletivo (art. 94, Lei nº 8.112, de 1990). A
§ 1º No caso de afastamento do cargo, o servidor regra geral é que, para exercer um mandato eletivo,
contribuirá para a seguridade social como se em
o servidor deve se afastar do cargo e deixar de rece-
exercício estivesse.
ber sua remuneração. Porém, tratando-se de exercício
§ 2º O servidor investido em mandato eletivo ou
de mandato de prefeito, o servidor afastado poderá
classista não poderá ser removido ou redistribuí-
optar, dentre as duas remunerações, por aquela que
do de ofício para localidade diversa daquela onde
lhe for mais vantajosa (valores maiores, mais benefí-
exerce o mandato.
cios etc.).
Outro aspecto importante: no caso de mandato
Para que o servidor público possa afastar-se de
de vereador, o servidor poderá exercer os dois car-
suas funções para o estudo ou missão no exterior, a
gos e receber ambas as remunerações, desde que
Lei nº 8.112, de 1990, também apresenta algumas
comprovada a compatibilidade de horários (atua
regras a serem observadas com disposição nos arts.
como vereador de dia e como agente público de noite,
95 e 96: e vice-versa). Sendo incompatível o horário dos dois
cargos, o vereador pode optar pela remuneração mais
Art. 95 O servidor não poderá ausentar-se do País
vantajosa, igual ao prefeito. Isso é assim porque, mui-
para estudo ou missão oficial, sem autorização do
tas vezes, a remuneração dos prefeitos e vereadores
Presidente da República, Presidente dos Órgãos do
de pequenos municípios costuma ser menor do que
Poder Legislativo e Presidente do Supremo Tribu-
a remuneração do cargo público anterior, e ele pode
nal Federal.
facilmente se locomover de um ambiente de trabalho
§ 1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e
para outro nesse município de porte menor.
finda a missão ou estudo, somente decorrido igual
período, será permitida nova ausência.
§ 2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste
Das Concessões
artigo não será concedida exoneração ou licença
para tratar de interesse particular antes de decor- Diz respeito às ocasiões em que o servidor poderá
rido período igual ao do afastamento, ressalvada a se ausentar do serviço e não deixará de receber remu-
hipótese de ressarcimento da despesa havida com neração, de acordo com o art. 97, da Lei nº 8.112, de
seu afastamento. 1990.
§ 3º O disposto neste artigo não se aplica aos servi-
dores da carreira diplomática. Art. 97 Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor
[...] ausentar-se do serviço:
Art. 96 O afastamento de servidor para servir em I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;
II - pelo período comprovadamente necessário para
organismo internacional de que o Brasil participe
alistamento ou recadastramento eleitoral, limita-
ou com o qual coopere dar-se-á com perda total da
do, em qualquer caso, a 2 (dois) dias;
remuneração.
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de:
a) casamento;
NOÇÕES DE DIREITO

O afastamento do servidor com a finalidade de


b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais,
participação em programa de pós-graduação stricto madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob
sensu no país, no interesse da Administração Pública, guarda ou tutela e irmãos.
acontecerá desde que a participação não possa ocor-
rer simultaneamente com o exercício do cargo ou Do Direito de Petição
mediante compensação de horário, art. 96-A, da Lei
nº 8.112, de 1990. O servidor continuará a receber sua É importante ressaltar que ao servidor é conferido
remuneração no período em que estiver cursando sua direito de petição, na forma do art. 104 e seguintes,
especialização. da Lei nº 8.112, de 1990, para requerer direitos e inte-
Para compreender melhor a diferença entre licen- resses próprios em face do poder público.
ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa. 159
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O requerimento será dirigido à autoridade com- z compulsoriamente, com proventos proporcionais
petente para decidi-lo e, na sequência, encaminhado ao tempo de contribuição, aos 70 anos de idade, ou
por intermédio daquela à qual o servidor estiver ime- aos 75 anos de idade, na forma da lei complemen-
diatamente subordinado, nos termos do art. 105, da tar nº 152, de 2015. Essa lei complementar dispõe
referida legislação. sobre a aposentadoria compulsória com proven-
Deve ser respeitado o princípio do contraditório e tos proporcionais, sendo aplicável aos servidores
da ampla defesa, dando espaço para que tanto o servi- ocupantes de cargos públicos da União, estados,
dor público como o Estado possam impugnar todos os municípios, Distrito Federal e suas autarquias e
pontos do requerimento, apresentar sua defesa técni- fundações; aos membros do Poder Judiciário; aos
ca escrita e interpor recursos (art. 107, Lei nº 8.666, de membros do ministério público; e aos membros da
1990) das decisões que lhe prejudicarem. Defensoria Pública;
O direito de requerer decai em cinco anos, quanto z voluntariamente, no âmbito da União, aos 62
aos atos de demissão e de cassação de aposentadoria anos de idade, se mulher, e aos 65 anos de idade, se
ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimo- homem, e, no âmbito dos estados, do Distrito Fede-
nial e créditos resultantes das relações de trabalho; ral e dos municípios, na idade mínima estabeleci-
ou em 120 dias, nos demais casos, salvo quando outro da mediante emenda às respectivas constituições
prazo for fixado em lei. e leis orgânicas, observados o tempo de contri-
buição e os demais requisitos estabelecidos em lei
Do Regime Previdenciário (RPPS) complementar do respectivo ente federativo.

Servidor público não é empregado. Por isso, não se Com base na Lei nº 8.112, de 1990 (art. 186), ao
aplica a ele o Regime Geral de Previdência, conhecido servidor federal poderá ser concedida aposentadoria:
também como RGPS. Os servidores possuem um regi-
me próprio denominado Regime Próprio de Previdên- z por invalidez permanente, sendo os proven-
cia dos Servidores (ou RPPS). tos integrais quando decorrente de acidente em
O regime em questão tem suas políticas elaboradas serviço, moléstia profissional ou doença grave,
e executadas pela Secretaria de Previdência do Minis- contagiosa ou incurável, especificada em lei, e pro-
tério da Fazenda. Esse regime é compulsório para o porcionais nos demais casos (inciso I, do art. 186);
servidor público do ente federativo que o tenha ins- z compulsória, aos 70 anos de idade, com proven-
tituído, com teto e subtetos definidos pela Emenda tos proporcionais ao tempo de serviço (inciso II, do
Constitucional nº 41, de 2003. art. 186);
Mas o Regime de Previdência dos Servidores tam- z voluntária, de acordo com os seguintes critérios
bém possui dispositivos previstos na Lei nº 8.112, de de idade e de contribuições: aos 35 anos de servi-
1990. Segundo o art. 184, da referida lei: ço, se homem, e aos 30, se mulher, com proventos
integrais; aos 30 anos de efetivo exercício em fun-
Art. 184 O Plano de Seguridade Social visa a dar ções de magistério se professor, e 25 se professora,
cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor com proventos integrais; aos 30 anos de serviço,
e sua família, e compreende um conjunto de benefí- se homem, e aos 25 se mulher, com proventos pro-
cios e ações que atendam às seguintes finalidades: porcionais a esse tempo; aos 65 anos de idade, se
I - garantir meios de subsistência nos eventos de homem, e aos 60, se mulher, com proventos pro-
doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, ina- porcionais ao tempo de serviço (alíneas a, b e c,
tividade, falecimento e reclusão; inciso III, do art. 186).
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade;
III - assistência à saúde.
Importante!
De modo geral, pode-se dizer que ao servidor é
garantido os seguintes benefícios previdenciários: Com a entrada em vigor da Emenda Constitucio-
nal nº 103, de 2019, as regras para a aposenta-
z Aposentadoria: possui previsão tanto na Cons- doria voluntária dos agentes públicos sofreram
tituição Federal quanto na Lei nº 8.112, de 1990. algumas alterações. As chances de uma ques-
O Regime Próprio de Previdência dos Servidores tão sobre essas novas regras caírem em uma
(RPPS) também sofreu alterações na chamada prova no momento são pequenas, mas é impor-
“reforma da previdência”, promulgada pela Emen- tante se prevenir. Existem, também, regras de
da Constitucional nº 103, de 2019. Com isso, temos transição mais específicas, as quais devem ser
dois textos normativos que, até o presente momen- conhecidas pelo candidato, ao menos um pou-
to, dispõem sobre a aposentadoria. co. Por isso, uma leitura da Emenda Constitu-
cional nº 103, de 2019, na íntegra, é altamente
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor recomendada.
será aposentado:

z por incapacidade permanente para o trabalho, z Auxílio-Natalidade (art. 196): o auxílio-natalida-


no cargo em que estiver investido, quando insus- de é devido à servidora por motivo de nascimento
cetível de readaptação. O Texto Constitucional de filho, em quantia equivalente ao menor ven-
explicita que será obrigatória a realização de ava- cimento do serviço público, inclusive no caso de
liações periódicas para verificação da continuida- natimorto;
de das condições que ensejaram a concessão da z Salário-Família (caput e parágrafo único, do art.
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente 197): o salário-família é devido ao servidor segun-
160 federativo; do o número de dependentes econômicos deste.
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Para todos os efeitos, são considerados dependen- REGIME DISCIPLINAR
tes econômicos:
Direitos e Vantagens
Art. 197 [...]
Parágrafo único. [...] Apesar da grande quantidade de direitos e van-
I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive tagens, o Estatuto dos Servidores Públicos também
os enteados até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se atribui diversos deveres, com base no regime discipli-
estudante, até 24 (vinte e quatro) anos ou, se inváli- nar, o qual, se não for atendido, enseja a instauração
do, de qualquer idade; de processo disciplinar para a apuração de infrações
II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, median- funcionais.
te autorização judicial, viver na companhia e às Os deveres disciplinados pelo Estatuto Federal
expensas do servidor, ou do inativo; podem ser divididos de duas formas, quais sejam:
III - a mãe e o pai sem economia própria. deveres que são relacionados ao comportamento fun-
cional (obrigações que devem ser cumpridas pelos
z Licença para tratamento de saúde (art. 202): servidores; trata-se do inciso I; das alíneas “a”, “b” e
essa licença é dependente de perícia médica, sem “c”, do inciso V, e dos incisos VI, VIII e XII, do art. 116)
prejuízo da remuneração a que fizer jus. O servi- e deveres relativos ao comportamento profissional
dor precisa comprovar que realmente está doente (são aqueles comportamentos inerentes às atividades
e não pode trabalhar; profissionais desempenhadas pelos particulares; são
z Licença à gestante, à adotante e licença-pater- os incisos II, III, IV, VII, IX, X e XI, do art. 116).
nidade (art. 207): a licença à gestante/adotante/ Nos termos do art. 116, da Lei nº 8.112, de 1990:
paternidade será concedida por prazo não supe- Art. 116 São deveres do servidor:
rior a 120 dias, sem prejuízo da remuneração. I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do
Todavia, a servidora gestante poderá prorrogar cargo
esse prazo, desde que o requeira, até o final do II - ser leal às instituições a que servir;
primeiro mês após o parto, e terá duração de 60 III - observar as normas legais e regulamentares;
dias. Trata-se de uma inovação trazida pelo Decre- IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando
to nº 6.690, de 2008. Pelo nascimento ou adoção de manifestamente ilegais;
V - atender com presteza;
filhos, o servidor terá direito à licença-paternidade
a) ao público em geral, prestando as informações
de cinco dias consecutivos; requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
z Licença por acidente em serviço (art. 212): o esta- b) à expedição de certidões requeridas para defesa
tuto considera como acidente em serviço o dano físi- de direito ou esclarecimento de situações de inte-
co ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, resse pessoal;
mediata ou imediatamente, com as atribuições do c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
cargo exercido. O servidor que sofrer acidente em VI - levar as irregularidades de que tiver ciência
serviço receberá remuneração integral; em razão do cargo ao conhecimento da autoridade
z Pensão por morte (art. 215): esse é um dos raros superior ou, quando houver suspeita de envolvi-
mento desta, ao conhecimento de outra autoridade
benefícios que não é devido ao servidor (por moti-
competente para apuração;
vos óbvios), mas a seus dependentes, incluindo VII - zelar pela economia do material e a conserva-
nesse grupo o cônjuge, o cônjuge divorciado ou ção do patrimônio público;
separado judicialmente ou de fato; o companhei- VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
ro ou companheira que comprove união estável IX - manter conduta compatível com a moralidade
como entidade familiar; ou ainda o filho de qual- administrativa;
quer condição, ou seja, todos os entes equipara- X - ser assíduo e pontual ao serviço;
dos a filho (enteado, menor tutelado), desde que XI - tratar com urbanidade as pessoas;
preencha as seguintes condições: seja menor de XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abu-
so de poder.
21 anos; seja inválido; tenha deficiência grave; ou,
ainda, tenha deficiência intelectual ou mental; Das Proibições
z Auxílio-funeral: trata-se de benefício devido à
família do servidor falecido na atividade ou apo- O art. 117 da mesma lei impõe aos servidores públi-
sentado, em valor equivalente a um mês da remu- cos diversas proibições. Trata-se de uma matéria que
neração ou provento, que será pago à pessoa da exige grande capacidade de memorização, ainda que
família que tiver custeado o funeral, segundo o não necessite de um alongamento muito detalhado.
que dispõe o caput, § 3º, do art. 226, da Lei nº 8.112,
Art. 117 Ao servidor é proibido:
NOÇÕES DE DIREITO

de 1990; I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem


z Auxílio-reclusão (art. 229): outro benefício tam- prévia autorização do chefe imediato;
bém devido aos dependentes do servidor, cujo II - retirar, sem prévia anuência da autoridade com-
valor poderá ser: petente, qualquer documento ou objeto da repartição;
III - recusar fé a documentos públicos;
I - dois terços da remuneração, quando afastado
por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, Recusar fé a documentos públicos significa dizer
determinada pela autoridade competente, enquan- que o servidor não pode se recusar a receber qual-
to perdurar a prisão; quer tipo de documento oficial (documento prove-
II - metade da remuneração, durante o afastamen- niente de órgãos públicos), com a exceção dos casos
to, em virtude de condenação, por sentença defini- em que existir suspeita de fraude ou qualquer outra
tiva, a pena que não determine a perda de cargo. irregularidade. 161
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IV - opor resistência injustificada ao andamento de XVII - cometer a outro servidor atribuições estra-
documento e processo ou execução de serviço; nhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de
V - promover manifestação de apreço ou desapreço emergência e transitórias;
no recinto da repartição; XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom-
patíveis com o exercício do cargo ou função e com o
O serviço nas repartições públicas deve ser execu- horário de trabalho;
tado com imparcialidade dos servidores, sendo regra XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
que seja evitado a exposição de convicções particula- quando solicitado.
res (ideologias políticas, religiosas etc.) que possam
intervir negativamente no ambiente de trabalho. CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICOS

VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções
dos casos previstos em lei, o desempenho de atri- públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídi-
buição que seja de sua responsabilidade ou de seu co brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de car-
subordinado; gos e empregos públicos. Tal proibição se estende,
inclusive, para as entidades da Administração Indire-
Atribuir serviço à pessoa de repartição, diversa ta. O caput, do art. 118, da Lei nº 8.112, de 1990, dispõe
responsabilidade fora de sua competência de atuação. no mesmo sentido:

VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de Art. 118 Ressalvados os casos previstos na Cons-
filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou tituição, é vedada a acumulação remunerada de
a partido político; cargos públicos.

A liberdade de associação sindical é um direi- Apesar de o referido texto legal dispor sobre
to fundamental previsto pela Constituição Federal. agentes públicos no âmbito federal, entendemos que
também possa ser aplicado aos agentes públicos dos
Sendo assim, é vedado ao servidor utilizar-se de sua
estados, municípios e Distrito Federal.
hierarquia funcional como meio de coagir outros ser-
A proibição de acumular cargos estende-se tam-
vidores a se filiarem a algum sindicato ou associação.
bém a empregos e funções em autarquias, fundações
públicas, empresas públicas, sociedades de economia
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo
mista da União, do Distrito Federal, dos estados, dos
ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou
parente até o segundo grau civil; territórios e dos municípios (§ 1º, art. 118).
Pela leitura do dispositivo, percebe-se que a pró-
pria Constituição Federal dispõe de um rol de casos
Essa proibição tem o fito de evitar a prática do
excepcionais em que é permitida a acumulação des-
nepotismo e garantir a aplicação da garantia constitu-
sas funções. Há entendimento praticamente unânime
cional da impessoalidade administrativa.
de que se trata de um rol taxativo, ou seja, são válidas
apenas aquelas hipóteses de acumulação de cargos.
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
Assim, as hipóteses de acumulação de cargos cons-
ou de outrem, em detrimento da dignidade da fun-
ção pública;
titucionalmente autorizadas são:
X - participar de gerência ou administração de
sociedade privada, personificada ou não personifi- z dois cargos de professor (“a”, XVI, art. 37);
cada, exercer o comércio, exceto na qualidade de z um cargo de professor com outro técnico ou cientí-
acionista, cotista ou comanditário; fico (“b”, XVI, art. 37);
XI - atuar, como procurador ou intermediário, jun- z dois cargos ou empregos privativos de profissio-
to a repartições públicas, salvo quando se tratar de nais na área da saúde (“c”, XVI, art. 37);
benefícios previdenciários ou assistenciais de paren- z um cargo de vereador com outro cargo, emprego
tes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro; ou função pública (III, art. 38);
z um cargo de magistrado e outro de magistério (I,
É proibido ao servidor exercer a chamada advo- parágrafo único, art. 95);
cacia administrativa. Essa é uma situação em que o z um cargo de membro do ministério público e outro
agente público, aproveitando de sua influência, faz de magistério (“d”, II, § 5º, art. 128).
uso de sua condição de servidor público para benefi-
ciar as pessoas que estiver representando. Segundo o § 2º, do art. 118, da Lei nº 8.112, de 1990,
a acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicio-
XII - receber propina, comissão, presente ou van- nada à comprovação da compatibilidade de horários.
tagem de qualquer espécie, em razão de suas Considera-se também como acumulação proibida a
atribuições; percepção de vencimento de cargo ou emprego públi-
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de esta- co efetivo com proventos da inatividade, salvo quando
do estrangeiro; os cargos de que decorram essas remunerações forem
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; acumuláveis na atividade (§ 3º, do art. 118).
Cargos em comissão são os cargos ocupados de
Fica proibido ao servidor público realizar emprés- forma transitória por servidores públicos nomeados
timos com taxas de juros excessivos. por autoridade competente. Nos termos do art. 119,
ao servidor também não será permitida a ocupação
XV - proceder de forma desidiosa; de mais de um cargo comissionado.
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repar- O servidor vinculado ao regime desta lei que acu-
162 tição em serviços ou atividades particulares; mular dois cargos efetivos, quando investido em cargo
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de provimento em comissão, ficará afastado de ambos Art. 132 [...]
os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver I - crime contra a administração pública;
compatibilidade de horário e local com o exercício de II - abandono de cargo;
um deles, declarada pelas autoridades máximas dos III - inassiduidade habitual;
órgãos ou entidades envolvidos (art. 120). IV - improbidade administrativa;
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na
RESPONSABILIDADE CIVIL, CRIMINAL E repartição;
ADMINISTRATIVA VI - insubordinação grave em serviço;
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a par-
Por fim, em relação à responsabilidade dos ser- ticular, salvo em legítima defesa própria ou de
vidores públicos, o art. 121, da Lei nº 8.112, de 1990, outrem;
é bastante claro ao dispor que “O servidor responde VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos;
civil, penal e administrativamente pelo exercício irregu- IX - revelação de segredo do qual se apropriou em
lar de suas atribuições”. Vemos, então, que uma única razão do cargo;
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patri-
conduta praticada pelo referido servidor pode ensejar
mônio nacional;
em responsabilização em três esferas distintas.
XI - corrupção;
A responsabilidade civil do servidor público
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun-
decorre da prática de atos comissivos ou omissivos,
ções públicas;
dolosos ou culposos, que sejam capazes de causar
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.
danos materiais ao erário (patrimônio público), ou a
terceiros, pelo que dispõe o art. 122, da Lei nº 8.112,
de 1990. Muitas dessas hipóteses impedem que o infrator
A responsabilidade penal do servidor tem seu retorne ao serviço público federal, por isso trata-se de
fundamento na apuração de uma conduta criminal, uma das penalidades mais gravosas;
isto é, a hipótese em que o servidor público possa pra-
ticar um ilícito penal, ou crime. A responsabilidade z Cassação de aposentadoria ou da disponibilida-
penal é, definitivamente, a mais grave e perigosa, uma de: o servidor inativo que houver praticado falta
vez que ela pode repercutir nas demais esferas, tanto punível com a demissão terá a sua aposentadoria
pela condenação do servidor condenado quanto pela ou sua disponibilidade cassada;
sua absolvição devido à falta de provas materiais ou z Destituição de cargo em comissão ou função
pela negação de sua autoria, sendo estas últimas hipó- comissionada: caso o servidor ocupante de car-
teses apenas exceções, segundo aludido pelo art. 123. go não efetivo cometa uma das faltas passíveis da
A responsabilidade administrativa resulta de pena de suspensão e demissão, poderá perder o
ato omissivo ou comissivo praticado pelo servidor seu cargo de confiança ou função comissionada.
no desempenho de cargo ou função, à luz do art. 124.
Consiste na instauração de processo disciplinar, Segundo o art. 136, a demissão ou a destituição de
motivo pelo qual haverá a verificação da conduta deli- cargo em comissão em decorrência da prática de atos
tuosa do agente, bem como a aplicação da pena mais contra o erário público, nos casos dos incisos IV, VIII, X
adequada. Imprescindível reforçar que a aplicação de e XI, do art. 132, implica a indisponibilidade dos bens
qualquer pena ao servidor público pressupõe um pro- (bens adquiridos pelo servidor em decorrência de
cesso administrativo, sendo assegurado ao acusado atos cometidos contra os cofres públicos utilizando-se
direito ao contraditório e à ampla defesa, sendo obri- da condição de servidor) e o ressarcimento ao erário,
gatória, inclusive, a presença do advogado em todas sem prejuízo da ação penal cabível.
as fases do referido processo (Súmula nº 343, do STJ). A demissão ou a destituição de cargo em comis-
Todavia, tal entendimento vem sofrendo alterações,
são, por infringência dos incisos IX e XI, do art. 117,
pois o STF já reconheceu na Súmula Vinculante nº 5
incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura
que a falta de defesa técnica no processo administrati-
em cargo público federal, pelo prazo de cinco anos.
vo disciplinar não é inconstitucional.
Ou seja, dentro desse prazo estabelecido, ainda que
Em relação às penalidades administrativas apli-
o ex-servidor público demitido ou destituído preste
cáveis aos servidores públicos, a Lei nº 8.112, de 1990,
(art. 127) prevê aplicação das seguintes sanções: novo concurso e se classifique, não poderá ser investi-
do e tomar posse de novo cargo.
z Advertência: é a sanção mais branda, aplicável Não poderá retornar ao serviço público federal o
por escrito para o servidor que cometer atos como: servidor que for demitido ou destituído do cargo em
ausentar-se do serviço injustificadamente; recusar comissão por infringência dos incisos I, IV, VIII, X e XI,
fé a documento público; retirar qualquer docu- art. 132, (parágrafo único, do art. 137).
NOÇÕES DE DIREITO

mento da repartição sem a devida autorização; Configura abandono de cargo a ausência inten-
manter sob sua chefia cônjuge, companheiro ou cional do servidor ao serviço por mais de 30 dias
parente até o segundo grau; entre outros; consecutivos (art. 138). Nesse caso, o servidor deixa
z Suspensão: aplicável somente quando o servidor de comparecer ao serviço por mera liberalidade por
é reincidente nas faltas puníveis por advertên- mais de 30 dias seguidos.
cia, desde que não tipifiquem infrações sujeitas à Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao
demissão do cargo. A suspensão não poderá ser serviço, sem causa justificada, por 60 dias, interpola-
aplicada por prazo maior a 90 dias; damente, durante o período de 12 meses (art. 139).
z Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri-
buída ao servidor público, uma vez que tem o con- Art. 140 Na apuração de abandono de cargo ou
dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será inassiduidade habitual, também será adotado o
aplicada nos seguintes casos: procedimento sumário a que se refere o art. 133 [...]. 163
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O procedimento administrativo sumário é aplicá- § 3º A abertura de sindicância ou a instauração de
vel somente em situações de verificação de acúmulo processo disciplinar interrompe a prescrição, até a
ilegal de cargos, inassiduidade habitual e abandono decisão final proferida por autoridade competente.
de cargo, e em todos esses casos é cabível e penalidade § 4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo
de demissão. começará a correr a partir do dia em que cessar a
E ainda para que se aplique o procedimento sumá- interrupção.
rio é importante que se siga os requisitos apresenta-
dos a seguir, indicando a materialidade da infração Do Processo Administrativo Disciplinar: Conceito,
administrativa, ou seja, apresentando provas de que o Princípios, Fases e Modalidades
fato ocorreu e deve ser julgado.
O processo administrativo é o instrumento desti-
Art. 140 [...] nado a apurar as responsabilidades do servidor por
I - a indicação da materialidade dar-se-á: infração praticada no exercício de suas atribuições ou
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indica- relacionada ao cargo que ocupa. O processo pode ocor-
ção precisa do período de ausência intencional do rer em procedimento ordinário ou em sindicância.
servidor ao serviço superior a trinta dias; A sindicância é definida como uma averiguação
b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação sumária promovida no intuito de obter informações
dos dias de falta ao serviço sem causa justificada,
ou esclarecimentos necessários à determinação do
por período igual ou superior a sessenta dias inter-
verdadeiro significado dos fatos denunciados. Compa-
poladamente, durante o período de doze meses;
rando com o processo penal, pode-se afirmar que a
II - após a apresentação da defesa a comissão ela-
borará relatório conclusivo quanto à inocência ou sindicância é como se fosse a “fase investigativa”, pois
à responsabilidade do servidor, em que resumirá as o fim dela não resulta em uma sentença ou decisão:
peças principais dos autos, indicará o respectivo ela serve primordialmente para apurar o que ocorreu
dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono e se é necessário instaurar o processo posteriormente.
de cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao Segundo o art. 145:
serviço superior a trinta dias e remeterá o processo
à autoridade instauradora para julgamento. Art. 145 Da sindicância poderá resultar:
I - arquivamento do processo;
Os responsáveis pela aplicação das penalidades II - aplicação de penalidade de advertência ou sus-
disciplinares serão (art. 141): pensão de até 30 (trinta) dias;
III - instauração de processo disciplinar.
I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes
das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Como forma de impedir que o servidor venha
Federais e pelo Procurador-Geral da República, interferir de forma negativa durante a investigação
quando se tratar de demissão e cassação de apo- da apuração de sua conduta, estabelece o art. 147 o
sentadoria ou disponibilidade de servidor vincula- seu afastamento preventivo:
do ao respectivo Poder, órgão, ou entidade;
II - pelas autoridades administrativas de hierar- Art. 147 Como medida cautelar e a fim de que o ser-
quia imediatamente inferior àquelas mencionadas vidor público não venha a influir na apuração da
no inciso anterior quando se tratar de suspensão irregularidade ao mesmo atribuída, a autoridade
superior a 30 (trinta) dias; instauradora do processo administrativo-discipli-
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades
nar, verificando a existência de veementes indícios
na forma dos respectivos regimentos ou regula-
de responsabilidades, poderá ordenar o seu afasta-
mentos, nos casos de advertência ou de suspensão
mento do exercício do cargo.
de até 30 (trinta) dias;
IV - pela autoridade que houver feito a nomea-
ção, quando se tratar de destituição de cargo em z Do Processo Disciplinar
comissão.
Uma vez encerrada a sindicância e constatada
Mesmo que a Administração Pública tenha o dever uma conduta irregular, temos o início do processo
de responsabilizar os seus servidores públicos pelas administrativo disciplinar (PAD) ou ordinário. Segun-
infrações praticadas de que tiver conhecimento, é do o art. 148,
importante observar que essas penalidades devem
ser aplicadas a contar da data em que o fato se tornou Art. 148 O processo disciplinar é o instrumento
conhecido. A prescrição da ação disciplinar é regula- destinado a apurar responsabilidade do servidor
mentada pelo art. 142. público pela infração praticada no exercício de
suas atribuições ou que tenha relação com as atri-
Art. 142 A ação disciplinar prescreverá: buições do cargo em que se encontre investido.
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis
com demissão, cassação de aposentadoria ou dis- Segundo o art. 149,
ponibilidade e destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; Art. 149 O processo será conduzido por Comissão
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. composta de três servidores estáveis designados
§ 1º O prazo de prescrição começa a correr da data pela autoridade competente, observado o disposto
em que o fato se tornou conhecido. no § 3º, do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal presidente, que deverá ser ocupante de cargo efeti-
aplicam-se às infrações disciplinares capituladas vo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de esco-
164 também como crime. laridade igual ou superior ao do indiciado.
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Não temos a figura de um juiz de direito no proces- Se a testemunha for servidor público, a expedição
so administrativo, e sim uma “autoridade julgadora”. do mandado tem que ser “imediatamente comunicada
A comissão não faz parte da autoridade julgadora, ela ao chefe da repartição onde serve, com a indicação do
fica encarregada de realizar um relatório contendo dia e hora marcados para inquirição” (parágrafo único,
todas as provas colhidas e todos os fatos devidamente art. 157). O servidor não pode se ausentar de seu servi-
investigados. ço sem apresentar uma justificativa válida para tanto.
Ao todo, são três as fases do processo administra- Concluída a inquirição das testemunhas, a comis-
tivo disciplinar (art. 151): são promoverá o interrogatório do acusado, observa-
dos os procedimentos previstos nos arts. 158 e 159.
I - instauração, com a publicação do ato que cons-
No caso de mais de um acusado, cada um deles será
tituir a comissão;
II - inquérito administrativo, que compreende ins- ouvido separadamente e, sempre que divergirem em
trução, defesa e relatório; suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será
III - julgamento. promovida a acareação entre eles.
Art. 152 O prazo para a conclusão do proces- A citação do indiciado está disposta no art. 161.
so disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, Tipificada a infração disciplinar, será “formulada a
contados da data de publicação do ato que consti- indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a
tuir a comissão, admitida a sua prorrogação por ele imputados e das respectivas provas.”
igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem. O indiciado será citado por mandado expedido
pelo presidente da comissão para apresentar defesa
z Do Inquérito Administrativo
escrita, no prazo de 10 dias, sendo assegurado dar vis-
O inquérito administrativo é a fase em que temos ta do processo na repartição, isto é, olhar página por
a apuração da responsabilidade disciplinar do servi- página, parágrafo por parágrafo, tudo o que já foi pro-
dor público. Ela compreende a fase instrutória (colhei- duzido no PAD (§ 1º, do art. 161).
ta de provas), a citação e apresentação da defesa do Considerar-se-á revel o indiciado que, regular-
servidor que está sendo acusado, além da produção mente citado, não apresentar defesa no prazo legal.
de um documento chamado relatório. A revelia será declarada por termo nos autos do pro-
cesso e devolverá o prazo para a defesa (caput, § 1º,
Art. 155 Na fase do inquérito, a comissão promoverá do art. 164).
a tomada de depoimentos, acareações, investigações Uma vez apuradas todas as provas, a comissão ela-
e diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, borará um relatório de tudo que foi constado no pro-
recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, cesso. Não é ainda uma decisão, pois o relatório será
de modo a permitir a completa elucidação dos fatos.
encaminhado para a autoridade julgadora.
Importante o conteúdo do art. 156, ao dispor que:
z Do Julgamento
Art. 156 É assegurado ao servidor o direito de
acompanhar o processo pessoalmente ou por inter- A fase do julgamento tem início com o recebimen-
médio de procurador, arrolar e reinquirir testemu- to do relatório da comissão e terá prazo máximo de 20
nhas, produzir provas e contraprovas e formular dias para decidir se acata o relatório ou não (art. 167).
quesitos, quando se tratar de prova pericial. O caput e parágrafo único, art. 168, dispõe, de modo
geral, que a autoridade julgadora não está subordina-
O art. 156 trata de um conteúdo muito importante,
da ao que foi dito no relatório da comissão.
ou seja, cuida do direito de defesa do servidor público.
Não é porque não estamos em um processo judicial
Art. 168 O julgamento acatará o relatório da comis-
(com a figura de um membro do Poder Judiciário) que
são, salvo quando contrário às provas dos autos.
não devem ser aplicados seus princípios mais básicos
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão
e fundamentais.
contrariar as provas dos autos, a autoridade jul-
É cabível, no processo administrativo, a aplicação
gadora poderá, motivadamente, agravar a penali-
dos princípios do contraditório e ampla defesa, a dis-
dade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de
paridade de armas, o direito de ter ciência e conheci- responsabilidade.
mento do processo, o direito de ser representado por
autoridade competente etc.
À luz do disposto no art. 172, o servidor que res-
A seguir, temos alguns meios de prova que são
ponder a processo disciplinar só poderá ser exone-
admitidos no processo administrativo, sendo, pratica-
rado a pedido, ou aposentado voluntariamente, após
mente, os mesmos meios de prova admitidos em pro-
a conclusão do processo e o cumprimento da penali-
cesso judicial.
dade, acaso aplicada. Ocorrida a exoneração de que
As testemunhas estão dispostas no art. 157:
NOÇÕES DE DIREITO

trata o inciso I, parágrafo único, do art. 34, o ato será


Art. 157 As testemunhas serão intimadas a depor convertido em demissão, se for o caso.
mediante mandado expedido pelo presidente da
comissão, devendo a segunda via, com o ciente do z Da Revisão do Processo Administrativo
interessado, ser anexado aos autos. Disciplinar

Quem convoca as testemunhas para colher seus A qualquer tempo poderá ser requerida a revisão
respectivos depoimentos — e quem faz toda a colhei- do procedimento administrativo, a pedido ou de ofí-
ta de todos os meios de prova — é a comissão, e não cio, quando se aduzirem fatos novos ou circunstân-
a autoridade julgadora que, por sua vez, somente vai cias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou
atuar no PAD quando todo o trabalho da comissão a inadequação da penalidade aplicada (art. 174).
tiver encerrado. 165
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A revisão é uma forma de defesa utilizada pelo Abuso de poder pode manifestar-se no exercício
acusado ou seu representante, para que a autoridade das funções administrativas sob duas formas: pelo
possa realizar um novo julgamento do PAD, porque excesso de poder e pelo desvio de finalidade.
apareceu um fato ou circunstância nova que compro- Excesso de poder é a hipótese de uso irregular dos
vem a inocência do requerente. poderes administrativos pela qual a autoridade pra-
A revisão de que trata este artigo poderá ser reque- tica algum ato desrespeitando os limites impostos,
rida em caso de falecimento, ausência ou desapare- exorbitando o uso de suas faculdades administrativas.
cimento do servidor público, por qualquer pessoa da Ao exceder sua competência legal, o agente respon-
família, ou, ainda, em caso de incapacidade mental do sável age com exageros e desproporcionalidade, o que
servidor público, pelo respectivo curador (§§ 1º e 2º, torna o ato praticado por ele absolutamente inválido.
art. 174). Mas o excesso de poder admite convalidação, ou seja, há
No processo revisional, o ônus da prova recai sem- hipóteses em que se pode corrigir vício cometido no ato
pre ao requerente, correndo em apenso ao processo preservando sua eficácia, dependendo do caso concreto.
original (arts. 175 e 178). Desvio de finalidade, por sua vez, é vício do ato
A comissão revisora terá 60 dias para a conclusão administrativo, praticado sempre por autoridade
dos trabalhos de revisão (art. 179). O prazo para jul- competente, que tem fim diverso daquele previs-
gamento será de 20 dias, contados do recebimento to, explícita ou implicitamente, nas regras de compe-
do processo, no curso do qual a autoridade julgadora tência da legislação (alínea “e”, parágrafo único, art.
poderá determinar diligências (parágrafo único, do 2º, da Lei nº 4.717, de 1965). A finalidade diversa não
art. 181). macula os requisitos essenciais dos atos administrati-
Lembrando que se da revisão do processo resultar vos (competência, objeto, forma, motivo), mas tende a
a inocência do servidor, ele tem direito de ser reinte- macular o ato, tornando-o nulo. O único caminho pos-
grado ao cargo que antigamente ocupava, exceto em sível para esse ato é a anulação, ou seja, não há pos-
relação ao cargo em comissão, que será convertido em sibilidade de convalidação. O desvio de finalidade
exoneração. pode ocorrer tanto nas condutas comissivas, em seu
A revisão do processo não admite a reformatio in campo de atuação, quanto nas condutas omissivas,
pejus, o que significa que não poderá resultar agrava- isto é, quando o agente público se abstém de realizar
mento da penalidade já aplicada (parágrafo único, do
tarefa legalmente imposta.
art. 182).
Exemplos de desvio de finalidade são bastante
comuns na Administração Pública brasileira:

z a construção de estrada cujo trajeto foi elaborado


PODERES ADMINISTRATIVOS com objetivo de valorizar a propriedade rural de
um governador;
A Administração Pública deve cumprir suas atribui- z a transferência de servidor público para outro
ções constitucionais por imposição legal. Para tanto, o Estado apenas para ficar longe da filha do delega-
exercício de suas funções depende de certas prerro- do de polícia da cidade;
gativas, ou Poderes, conferidos pela legislação. Esses z a nomeação de réu em ação penal a cargo público
poderes são considerados instrumentos de trabalho. para obter foro privilegiado e transferir seu pro-
Significa dizer que esses poderes-deveres são instru- cesso para o STF etc.
mentais, utilizados pela Administração com o objetivo
maior de promover a supremacia do interesse público. Percebe-se que, em todos os casos, há a sobrepo-
O fundamento jurídico para que a Administração sição de um interesse particular sobre o interesse da
possua tantos poderes e prerrogativas está contido no coletividade: os agentes estatais, dessa forma, pra-
princípio basilar da supremacia do interesse público ticam atos visando obter alguma vantagem pessoal,
sobre o privado. Para que o interesse público possa para eles mesmos ou para outrem, concretizando,
prevalecer, sempre, sobre os interesses individuais assim, o desvio de finalidade.
de cada cidadão, é imprescindível que a Administra-
ção permaneça em uma posição de superioridade em
Vício de
relação aos demais. competência
Antes de adentrarmos nos poderes administrati-
vos em espécie, convém fazer um estudo maior sobre Excesso de poder
as hipóteses de abuso de poder. Admite
convalidação
USO E ABUSO DO PODER ABUSO DE PODER
Vício de
Quando o agente público exerce adequadamente finalidade
suas competências, atuando em conformidade com a Desvio de
legislação, sem excessos ou desvios, diz-se que ele faz finalidade
Não admite
uso regular do poder. Entretanto, havendo hipóteses convalidação
de exercício de competências fora dos limites legais,
visando apenas interesses alheios, trata-se de clara
hipótese de uso irregular do poder, também denomi- O estudo dos poderes da Administração Pública,
nado abuso de poder. O abuso de poder, além de cau- assim, é de extrema importância para verificar quais
sar a invalidade do ato, constitui em ilícito ensejador são os seus limites de atuação. Para tanto, a doutrina
de responsabilidade pela autoridade competente que costuma dividir esse poder conferido à Administração
166 causou danos com seu uso irregular. em seis vertentes:
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z poder vinculado; qual é a forma mais correta de aplicação da lei, esta
z poder discricionário; perde um pouco de seu caráter geral e abstrato, seu
z poder disciplinar; campo de discricionariedade é reduzido a uma única
z poder hierárquico; forma válida de aplicação no âmbito jurídico. Por isso,
z poder de polícia; o poder regulamentar apresenta natureza vinculada.
z poder regulamentar. Existem diversas espécies de regulamentos
administrativos:
PODER REGULAMENTAR
z Regulamentos administrativos ou de organiza-
O poder regulamentar consiste na possibilidade do ção: são aqueles que disciplinam questões internas
Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Fede- de estruturação e funcionamento da Administração
ração editar atos administrativos gerais, abstratos ou Pública, bem como as relações jurídicas de sujei-
concretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei. ção especial do Poder Público perante particulares.
Seu fundamento legal encontra-se disposto no inciso Exemplo: regulamento que disciplina organização
IV, art. 84, da CF, de 1988: e funcionamento da administração federal (alínea
“a”, inciso VI, art. 84, da CF, de 1988);
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da z Regulamentos habilitados ou delegados: em
República: [...] alguns países, há a possibilidade de o Poder Legis-
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, lativo delegar ao Executivo a disciplina de maté-
bem como expedir decretos e regulamentos para rias reservadas privativamente à lei, havendo
sua fiel execução.
uma transferência de competência legislativa.
Tais regulamentos não são admitidos no direito
O artigo afirma que tal ato é de competência exclu-
administrativo brasileiro;
siva do Presidente, o que significa que seria indelegável
z Regulamentos executivos: são os regulamentos
a qualquer subordinado. Porém, isso não é totalmente
comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela
correto: o parágrafo único, do mesmo dispositivo cons-
legislação, permitindo a fiel execução da norma
titucional, diz que há a possibilidade de o Presidente
legal. É a hipótese do inciso IV, art. 84, da CF, de 1988;
delegar algumas de suas atribuições para os Ministros
z Regulamentos autônomos: são os que dispõem
de Estado, o Procurador-Geral da República ou ain-
sobre tema não disciplinado pela legislação. Há um
da para o Advogado-Geral da União. Além disso, este
conjunto de temas que a norma constitucional reti-
poder pode ser exercido, por simetria, pelos Governa-
rou da competência do Poder Legislativo e atribuiu
dores e Prefeitos. Assim, para fins didáticos, costuma-se
sua disciplina ao Poder Executivo. A EC nº 32, de
dizer que o poder regulamentar só pode ser delegado
2001, elenca dois temas que só podem ser disciplina-
excepcionalmente, com algumas restrições.
dos por decreto expedido pelo Presidente da Repú-
Afinal, quais competências do Presidente da Repú-
blica: a organização da administração federal; e a
blica podem ser delegadas? O art. 84 pode ser um tan-
extinção de funções e cargos vagos e não ocupados.
to confuso nesse sentido, mas a interpretação correta
é a de que, em regra, as competências do Presidente
são exclusivas e indelegáveis. PODER HIERÁRQUICO
Excepcionalmente, a matéria disposta no inciso
VI (dispor mediante decreto sobre a organização e funcio- Poder hierárquico é o poder que dispõe o Executivo
namento da administração federal quando não implicar para organizar e distribuir as funções de seus órgãos,
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos bem como ordenar e rever a atuação de seus agentes,
públicos; e a extinção de funções ou cargos públicos, estabelecendo uma relação de subordinação entre os
quando vagos), XII (conceder indulto e comutar penas, servidores do seu quadro de pessoas. As relações de
com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em hierarquia são características únicas, existem somente
lei), e na primeira parte, do inciso XXV (prover os car- no âmbito do Poder Executivo, isto é, não existe hierar-
gos públicos federais, na forma da lei) são competências quia entre órgãos do Poder Legislativo e do Judiciário.
que podem ser transferidas para as pessoas públi- Além disso, é importante frisar que não existe
cas previstas no parágrafo único, do referido art. poder hierárquico entre membros da Administração
84. Observe que a competência para extinguir o cargo Indireta, pois estes são entidades autônomas, que não
público enquanto ainda ocupado não pode ser delegada. se subordinam aos entes que o criaram. Pela hierar-
Uma das palavras-chave do poder regulamentar quia, há a imposição ao subalterno da estrita obediên-
é “regulamento”. Trata-se de ato administrativo que cia às ordens e instruções legais superiores, além de
tem por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quan- definir a responsabilidade de cada um de seus agentes
to ao modo de aplicação dos dispositivos legais, dan- e órgãos públicos.
NOÇÕES DE DIREITO

do maior concretude aos comandos gerais e abstratos Quanto às suas características, diz-se que o poder
presentes na legislação. Não se confunde com o decre- hierárquico é interno e permanente. Interno é o
to, que é outro ato administrativo o qual introduz o poder que atinge apenas os próprios membros da
regulamento em si. Decreto representa a forma do ato Administração, não tem o condão de atingir as rela-
administrativo, enquanto o regulamento representa ções dos particulares. É também um poder perma-
seu conteúdo. nente, porque não é exercido de modo esporádico e
Ambos os decretos e regulamentos são atos em episódico, como o que acontece no poder disciplinar.
posição de inferioridade em relação às leis e, por Do poder hierárquico são decorrentes certas facul-
isso, não são capazes de criar direitos e obrigações dades implícitas ao superior, tais como dar ordens e
aos particulares sem fundamento legal. Suas funções fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atri-
primordiais, no entanto, são a redução da margem de buições, bem como rever atos de seus inferiores.
interpretação das normas, pois se um decreto dispõe 167
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A delegação é a transferência temporária de com- O que existe para as entidades da Administração
petência administrativa de seu titular a outro órgão Indireta é uma forma de controle fiscalizatório e fina-
ou agente público. A delegação poderá ser vertical, lístico de seus atos, o qual se denomina supervisão
quando a matéria for outorgada a um outro órgão ou ministerial. A supervisão é feita pelo ente controla-
agente público subordinado à autoridade outorgante, dor, geralmente são os entes da Administração Direta
permanecendo na mesma linha hierárquica. Mas a (União, estados, municípios, Distrito Federal e os seus
delegação também poderá ser feita para outro órgão órgãos, ministérios e secretarias).
ou agente que esteja fora da sua linha hierárquica, A supervisão não se confunde com subordinação,
hipótese que denominamos de delegação horizontal. pois entende-se que na supervisão o ente controlado
O art. 12, da Lei nº 9.784, de 1999, dispõe do mesmo possui uma maior margem de liberdade do que os
modo: órgãos hierarquicamente subordinados. A supervisão
ministerial não admite, por exemplo, a possibilidade
Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular pode- de revisão dos atos praticados pela entidade contro-
rão, se não houver impedimento legal, delegar par- lada, pois a revisão é uma forma de controle de méri-
te da sua competência a outros órgãos ou titulares, to dos atos administrativos. Isso infere na autonomia
ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente garantida constitucionalmente a essas entidades.
subordinados, quando for conveniente, em razão de Cuidado para não confundir alguns conceitos.
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, Quando um ato administrativo é ilícito (contrário à
jurídica ou territorial. Lei), a hipótese de controle recai sobre a legalidade do
ato. Se o vício for insanável, a hipótese é de anulação,
Essa transferência de competência é sempre pro- e pode ser realizada tanto pela Administração Pública
visória, o que significa que pode ser revogada a qual- quanto pelo Poder Judiciário. Por outro lado, quando
quer tempo. o ato for considerado inconveniente e inoportuno,
A regra geral é sempre a delegabilidade das com- discricionário, o Poder Judiciário não pode exercer
petências. Todavia, a própria legislação (art. 13, da controle de mérito, pois essa é uma tarefa exclusiva
Lei nº 9.784, de 1999) assevera três matérias que não da Administração, dentro da sua linha hierárquica. O
podem ser delegadas. Assim, são indelegáveis: método mais correto para o ato inconveniente, neste
caso, é o da revogação. Esquematicamente, temos:
z a edição de ato de caráter normativo, pois cons-
tituem-se em regras gerais aplicáveis a todos os
órgãos, incompatível com a delegação; Importante!
z a decisão em recursos administrativos, para evi- Ato ilícito → controle de legalidade (vinculação)
tar que a mesma autoridade possa julgar o mesmo → Administração ou Poder Judiciário → Anulação
processo mais de uma vez pela delegação; Ato inconveniente/inoportuno → controle de mérito
z as matérias que forem consideradas de competên-
(discricionariedade) → somente a Administração
cia exclusiva do órgão ou autoridade.
Pública, dentro da linha hierárquica → Revogação
A avocação encontra-se disposta no art. 15, da Lei
nº 9.784, de 1999. Consiste na possibilidade da auto- Lembre-se de que são considerados entes da Admi-
ridade competente chamar para si a competência de nistração Indireta: as autarquias, as fundações, as
um agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida empresas públicas e as sociedades de economia mista.
excepcional e temporária, e somente pode ser realiza-
da dentro da mesma linha hierárquica, o que significa PODER DISCIPLINAR
que a avocação só pode ser vertical, não se admite a
avocação horizontal. Esquematicamente, temos: O poder disciplinar consiste na faculdade da
Administração de punir seus agentes, nas hipóteses
DELEGAÇÃO AVOCAÇÃO em que estes tenham cometido alguma infração de
ordem funcional. Correlato com o poder hierárquico,
Distribuição de Absorção de mas não se confunde com ele. No poder hierárquico,
competências competências a Administração Pública distribui e escalona as suas
funções executivas. Já no uso do poder disciplinar, a
Admite horizontal e Admite apenas Administração simplesmente controla o desempenho
vertical horizontal de funções e a conduta de seus servidores, responsa-
bilizando-os pelas faltas porventura cometidas.
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos Em relação às suas características, o poder disci-
dos inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus plinar é interno, não permanente ou temporário,
aspectos para a análise de sua manutenção ou inva- e discricionário. Assim como o poder hierárquico, a
lidação. É possível somente a revisão de atos prati- imposição de sanções pela Administração não se apli-
cados pelos órgãos públicos e agentes subordinados ca aos particulares, somente a seus próprios servido-
hierarquicamente. res, salvo as hipóteses de estes serem contratados pela
Para as entidades da Administração Indireta, real- Administração Pública. Todavia, distingue-se do poder
mente, não há como aplicar o poder hierárquico, uma hierárquico na medida em que é não permanente, isto
vez que, por definição, elas não integram a mesma é, será aplicado apenas se e quando o servidor come-
linha de hierarquia. São entes diferentes do seu cria- ter infração funcional.
dor, com personalidade jurídica própria, com patri- Percebe-se, então, que o poder disciplinar apresenta
mônio exclusivo e podendo se responsabilizar em caráter punitivo e sancionador, enquanto o poder hie-
168 juízo sem o auxílio da Administração Direta. rárquico advém da simples obediência dos subalternos
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para com a entidade detentora deste poder. A discri- licenças ou concessões pelo poder público. O legisla-
cionariedade do poder disciplinar traduz-se na possi- dor deve, então, elaborar os requisitos necessários
bilidade de a Administração em poder escolher qual para o exercício do poder de polícia pelo Estado.
a punição mais apropriada para cada caso, isto é, ela O poder de polícia tem por objeto a imposição de
possui certa margem de liberdade para o seu exercício. limitações à liberdade e propriedade dos particu-
Os servidores públicos que cometerem qualquer lares, instituindo condições capazes de compatibili-
infração no exercício de suas funções estão sujeitos zar seu exercício às necessidades de interesse público.
às seguintes penalidades, dispostas no art. 127, da Lei Tais imposições também podem ser aplicadas ao Esta-
nº 8.112, de 1990: advertência; suspensão; demissão; do. Isso significa que até mesmo o poder público pode
cassação de aposentadoria ou disponibilidade; desti- ter suas liberdades e propriedades sofrendo limita-
tuição de cargo em comissão; e destituição de função ções em face das necessidades do interesse público.
comissionada. A aplicação de qualquer uma dessas Para o seu exercício, a Administração Pública deve
penalidades depende de prévio processo administra- regular a prática dos atos ou a abstenção de fatos.
tivo, respeitada a garantia de contraditório e ampla Em regra, o poder de polícia manifesta-se em obrigações
defesa, sob pena de nulidade da sanção. negativas, ou de não fazer, impostas aos particulares,
limitando a esfera de atuação dos seus direitos. Excep-
PODER DE POLÍCIA cionalmente, pode também se manifestar mediante
obrigações positivas ou de fazer, como é o caso da impo-
A expressão “poder de polícia” pode ser interpre- sição da função social da propriedade ao dono do imó-
tada de duas maneiras: em um sentido amplo, cor- vel, disposta no inciso XXII, art. 5º, da CF, de 1988.
responde a qualquer limitação estatal à liberdade e O poder de polícia manifesta-se pela expedição de
propriedade privada, de origem administrativa ou atos normativos, como é o caso das regras sobre o
legislativa. Há também o poder de polícia em senti- direito de construir, ou por meio de atos concretos,
do restrito, mais utilizado pela doutrina, que engloba como a obtenção de licença para a reforma de um
apenas as restrições impostas pelas limitações admi- imóvel, cujo interesse é exclusivo do particular (pro-
nistrativas, excluindo as limitações de ordem legal. prietário do imóvel, no caso).
Em sentido restrito, envolve atividades administrati- Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de
vas de fiscalização e condicionamento da esfera priva- polícia, qual seja, agir em prol do interesse público.
da de interesses, em prol da coletividade. Por isso, o Estado deve conciliar os direitos individuais
O poder de polícia tem grande destaque no exercí- com o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica
cio das funções da Administração moderna, junto com da Administração Pública, pois tem como fundamento
a prestação de serviços públicos e o fomento à inicia- o princípio sistêmico da primazia do interesse público
tiva privada. Porém, essas duas funções representam sobre o privado.
uma atuação estatal ampliativa, enquanto o poder de
polícia representa uma atuação restritiva do Estado, Natureza Jurídica do Poder de Polícia
limitando a liberdade e a propriedade individual em
favor do interesse público. Quanto à sua natureza jurídica, é entendimento
O art. 78, do Código Tributário Nacional (CTN), tem majoritário que o poder de polícia é discricionário.
seu conceito legal de poder de polícia: Na doutrina, muitos autores costumam definir poder
de polícia, utilizando-se a expressão “faculdade que o
Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da Estado possui de impor limites...”. Isso quer dizer que
administração pública que, limitando ou discipli- não apresenta características de obrigação legal, mas
nando direito, interesse ou liberdade, regula a práti-
de uma permissão. A escolha sobre qual método utili-
ca de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse
zar para o exercício do referido poder, e quando, com-
público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
aos costumes, à disciplina da produção e do merca- pete somente à própria Administração Pública.
do, ao exercício de atividades econômicas dependen- Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de
tes de concessão ou autorização do Poder Público, à licença. A licença é ato administrativo relacionado ao
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e poder de polícia, que apresenta previsão legal para a
aos direitos individuais ou coletivos. sua obtenção, tratando-se por isso, de ato vinculado.
Com isso, podemos afirmar que a manifestação do
Diante de tudo que foi exposto, podemos concei- poder de polícia pode ocorrer mediante a expedição
tuar poder de polícia como a atividade da Administra- de atos no exercício da competência discricionária da
ção Pública, com fundamento na lei e na supremacia Administração, ou por meio de atos vinculados, com a
geral, que consiste na imposição de limites à liberdade devida previsão legal.
e à propriedade dos particulares, regulando a prática O poder de polícia também é em regra indelegá-
desses atos, ou a abstenção dos mesmos, manifestan- vel, uma vez que pressupõe a posição de superiori-
NOÇÕES DE DIREITO

do-se por meio de atos normativos ou concretos, tudo dade de quem o exerce, não podendo ser transferido
isso em benefício do interesse público. a particulares (inciso III, art. 4º, da Lei nº 11.079, de
Ao dizer que se trata de atividade da Administra- 2004). Obviamente, o poder de império é único e
ção Pública, procuramos enfatizar a concepção stric- exclusivo do Estado; se ele transferisse a particulares,
to sensu do poder de polícia, que não se confunde com seria um atentado contra a paz social.
as limitações à liberdade e ao direito de propriedade Todavia, isso não impede que o poder público
impostas pelo legislador. Por ser atividade da Admi- possa delegar, ao menos, as atividades consideradas
nistração, deve ser exercida respeitando os princípios preparatórias ou sucessivas do poder de polícia. Essa
da razoabilidade e proporcionalidade. delegação é possível, desde que esses entes que rece-
A fundamentação legal é outro aspecto importan- bem essa delegação (entes da Administração Indireta,
te do poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o pessoas jurídicas de direito privado, particulares etc.)
exercício de determinadas atividades à obtenção de tenham um vínculo com a própria Administração. 169
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Polícia Administrativa e Polícia Judiciária
Fato Jurídico
(Sentido Estrito)
A concepção do poder de polícia abrange muito FATO JURÍDICO
(Sentido Amplo)
mais do que a simples promoção de segurança públi-
Ato
ca. Todavia, imprescindível destacar as atividades Ato Jurídico
Administrativo
estatais de prevenção e repressão da criminalidade
sob a ótica do poder de polícia. Assim, costuma-se
dividir a atuação do Estado para promoção da segu- Assim, pode-se dizer que o ato administrativo é
rança pública em duas categorias de “polícias” distin- uma espécie de ato jurídico praticado pela Adminis-
tas: a polícia administrativa e a polícia judicial. tração Pública. Vejamos o conceito dado pelo doutri-
A polícia administrativa tem um caráter pre- nador Hely Lopes Meirelles (2016):
ventivo. Isso significa que a sua atuação deve ocorrer
antes da prática do crime, tendo por finalidade evitar a Ato administrativo é toda manifestação unilateral
sua ocorrência. Submete-se às regras de direito admi- da administração pública, que agindo nessa quali-
nistrativo. No Brasil, a polícia administrativa é exer- dade, tenha por fim imediato, adquirir, resguardar,
cida por diversos órgãos de fiscalização de diversas transferir, modificar, extinguir e declarar direito,
áreas, como saúde, educação, trabalho, previdência e ou impor obrigações aos administrados ou a si
assistência social. A polícia administrativa protege os própria.
interesses primordiais da sociedade ao impedir com-
Já Celso Antônio Bandeira de Mello (2010) concei-
portamentos individuais que possam causar prejuízos
tua os atos administrativos de forma mais abrangente:
maiores à coletividade.
A polícia judiciária, por sua vez, apresenta cará-
Declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes
ter repressivo. Sua atuação ocorre após a constata-
— como, por exemplo, um concessionário de servi-
ção do crime. Após a ocorrência do crime, a polícia
ço público), no exercício de prerrogativas públicas,
judiciária deve abrir um processo de investigação em manifestada mediante providências jurídicas com-
busca da autoria e materialidade do crime. Sua razão plementares da lei a título de lhe dar cumprimen-
de ser é a punição dos infratores. Rege-se pelas regras to, e sujeitas a controle de legitimidade por órgão
de direito processual penal. Ela incide sobre pessoas, jurisdicional.
ao contrário da polícia administrativa, que age sobre
a atividade das pessoas. A polícia judiciária é exercida Portanto, atos administrativos são ações pratica-
pelas corporações especializadas, denominadas Polí- das pela Administração Pública com objetivo de exer-
cia Civil e Polícia Federal. cer suas funções e cumprir suas atribuições; pode-se
dizer que é uma espécie do gênero atos da administra-
ção. Vejamos a diferença entre eles:

z Atos da administração: toda manifestação da


ATO ADMINISTRATIVO
Administração, compreendendo os atos de direito
privado, os atos materiais, os atos normativos, os
CONCEITO
atos de opinião/conhecimento/juízo/valor, os atos
políticos e os atos administrativos;
Tudo que praticamos em nossas vidas pode ser
z Ato administrativo: manifestação unilateral da
considerado como um ato. Mas, para o direito, os atos
Administração Pública com objetivo de atingir
são aqueles capazes de motivar efeitos jurídicos. E,
o interesse público por meio de efeitos jurídicos.
assim como as pessoas na vida privada, a Administra-
Esse conceito deve ser entendido como a atuação
ção Pública também pratica atos, os quais possuem
da Administração Pública, a qual, por meio de seu
potencial de produzir efeitos jurídicos diversos.
poder de império, impõe-se perante o particular.
Vejamos, primeiramente, o conceito de fato jurídi-
co, para que possamos melhor entender o conceito de
Vejamos o esquema a seguir:
ato administrativo. Fato jurídico em sentido amplo é
todo e qualquer acontecimento, de causa humana ou
ATOS DA ADMINISTRAÇÃO
natural, que tenha consequências jurídicas. Em sen-
Atos de Direito Privado
tido estrito será todo e qualquer acontecimento natu-
ral que tenha consequências jurídicas. O fato jurídico Atos Materiais
em sentido estrito é espécie do fato jurídico em senti- Atos Normativos
do amplo. Atos de opinião/conhecimento/juízo/valor
Da mesma forma, os atos jurídicos também são
Atos Políticos
espécies do gênero fatos jurídicos. Podemos entender
o ato jurídico como uma manifestação unilateral rele- Atos Administrativos
vante para o mundo jurídico. Como espécie do gênero
ato jurídico, temos os atos administrativos. Importante frisar o caráter infralegal dos atos
Por meio dos atos administrativos é que a Admi- administrativos, pois imprescindível é a submissão da
nistração Pública atinge os efeitos jurídicos relaciona- Administração Pública, seus agentes e órgãos à sobe-
dos aos diversos interesses públicos que intenta, de rania popular.
170 acordo com cada situação.
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Importante! Desta forma, a competência possui certas caracte-
rísticas próprias, a saber: obrigatória, intransferível,
É imprescindível que o ato administrativo este- irrenunciável, imodificável, imprescritível e impror-
ja previsto em lei, e seu conteúdo não pode ser rogável. Veremos de modo mais específico cada uma
contrário a ela (contra legem), mas deve comple- delas a seguir:
mentá-la, apresentando, então, uma conformida-
z obrigatória, porque representa um dever do
de (secundum legem).
agente público;
z intransferível, o que significa que, de modo geral,
REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS a competência é um quesito personalíssimo, não
pode ser transferido para terceiros;
Os requisitos ou elementos dos atos administrati- z irrenunciável, porque o agente público não pode
abrir mão de sua competência;
vos são assuntos com imensa divergência doutrinária.
z imodificável, o que significa que a competência,
A maioria dos concursos públicos ainda adota a con-
uma vez estabelecida, não pode sofrer alterações
cepção mais clássica dos requisitos dos atos adminis- posteriores;
trativos e, por isso, daremos maior destaque a ela. z imprescritível, porque a competência perdura ao
De modo geral, a corrente clássica, defendida por longo do tempo, ela não caduca;
autores como Hely Lopes Meirelles, tende a dispor z improrrogável, o que significa dizer que se é com-
cinco requisitos dos atos administrativos para a sua petente hoje, continuará sendo sempre, exceto por
formação, utilizando como inspiração o preceito legal previsão legal expressa em sentido contrário.
disposto no art. 2º, da Lei nº 4.717, de 1965:
No entanto, essas características não vedam a pos-
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio sibilidade de delegação, quando prevista em lei. Por
das entidades mencionadas no artigo anterior, nos isso, pode-se dizer também que a delegabilidade é
casos de: outra característica da competência.
a) incompetência; Porém, atente-se ao disposto no art. 13, da Lei nº
b) vício de forma; 9.784, de 1999:
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos; Art. 13 Não podem ser objeto de delegação:
e) desvio de finalidade. I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
Sendo assim, são cinco os requisitos ou elemen- III - as matérias de competência exclusiva do órgão
ou autoridade
tos do ato administrativo: competência, finalidade,
forma, motivo e objeto. Quando ocorre a ausência ou
Alguns atos, então, não podem ser delegados a
algum tipo de vício sobre um deles, pode-se ter até
outras autoridades, principalmente se tais atos são de
mesmo a nulidade total do ato.
competência exclusiva do agente público.
Atenção! Para auxiliar na memorização dos requi- No entanto, a lei permite a delegação e a avocação.
sitos/elementos dos atos administrativos, lembre-se Esta sempre ocorrerá no contexto hierárquico entre
do mnemônico CO-FI-FO-M-OB: os órgãos envolvidos, o que não se impõe ao instituto
da delegação, que poderá ocorrer entre órgãos sem
Competência subordinação hierárquica.
Finalidade
Forma Dica
Motivo
Objeto Algo que tem sido extremamente abordado em
prova diz respeito às competências indelegá-
Diante disso, cumpre analisarmos, a seguir, cada veis — competência exclusiva, atos normativos e
um deles. recursos administrativos. A fim de memorizá-las,
lembre-se do mnemônico CE-NO-RA:
Competência Competência Exclusiva
Atos Normativos
É o conjunto de atribuições de determinado agente Recursos Administrativos
público, entidade ou órgão. Para que haja o respeito
a esse requisito, é necessário que a autoridade que Em relação à avocação, somente será vedada quan-
NOÇÕES DE DIREITO

pratica o ato esteja respaldada por atos normativos, to às competências exclusivas do órgão subordinado.
Ademais, cumpre salientar que deverá se dar apenas
ainda que infralegais.
de forma excepcional, devidamente justificada e de
Competência diz respeito à capacidade do agente
forma temporária.
público para o exercício dos atos administrativos.
Vejamos agora alguns vícios que podem recair
É requisito de validade, haja vista que, no direito sobre o requisito competência.
administrativo, a lei é a responsável por estabelecer as Inicialmente temos o usurpador de função. Neste
competências atribuídas a seus agentes para o desem- caso, uma pessoa passa-se por agente público, exer-
penho de suas funções. Quando o agente atua fora dos cendo suas atribuições sem ter qualquer ligação com
limites da lei, diz-se que cometeu ato nulo por excesso a Administração Pública. Aqui não há possibilidade
de poder. É, por isso, sempre um ato vinculado. de convalidação do ato (conserto, correção), pois ele
é inexistente. 171
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Tal conduta é crime previsto no art. 328, do Código Podemos ter como base o exemplo clássico de um
Penal. Exemplo: pessoa finge-se de fiscal para extor- servidor que, ao cometer uma infração, é punido com
quir e aplica multa. a remoção para um local que possui déficit daque-
Em seguida, temos o excesso de poder, que ocorre le tipo de servidor. Vejamos alguns pontos para que
quando a autoridade competente pratica um ato até possamos identificar a finalidade geral e a finalidade
previsto no ordenamento jurídico, mas fora de suas específica.
atribuições. Tal ato é passível de convalidação, des- É sabido que a Administração Pública, pelo prin-
de que seja realizado pela autoridade que teria com- cípio da indisponibilidade do interesse público, não
petência para praticar o ato inicialmente. Exemplo: admite o cometimento de infrações e, sendo elas
superior hierárquico aplica pena de suspensão de 20 cometidas, deverão ser punidas. Ao punir o servidor,
dias, quando a lei permitia a aplicação de até 15 por a finalidade geral foi atendida, já que considerou o
ele, sendo competente outra autoridade para a aplica- interesse público. Contudo, a finalidade específica
ção de 20 dias.
que embasaria a remoção pelo motivo de carência
Finalmente, temos a função de fato. Neste caso,
daquele tipo de servidor foi violada, já que o ato foi
temos o exercício de um cargo público, por exemplo,
realizado com o intuito de penalizar o agente, pos-
por um empossado irregular. Imaginemos que João
suindo, assim, desvio de finalidade.
prestou concurso para um cargo que possui como
requisito o ensino superior; contudo, quando da apre-
sentação dos documentos, não apresentou o certifica- VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE
do de conclusão de ensino superior, detalhe este que
passou despercebido pelos responsáveis. Posterior- Forma
mente, o vício é identificado e João deixa de ocupar o
cargo. Assim, os atos praticados enquanto João exer- A forma é o modo pelo qual o ato administrativo é
cia a função pública deverão ser considerados válidos, exteriorizado; trata-se, portanto, do seu revestimento.
desde que tenha havido boa-fé dos terceiros interes- Ressalta-se que como os atos administrativos devem
sados, conforme teoria da aparência de legalidade, a obedecer estritamente às disposições legais, estão
qual prevê, por exemplo, que não há como o terceiro submetidos, em regra, ao princípio da solenidade.
interessado ser prejudicado pela irregularidade do Embora haja predominância da escrita, é permi-
agente se, a priori, não sabia sobre tal fato. tida a prática de atos administrativos por meio de
Atenção! Somente praticam atos administrativos gestos, palavras, sinais ou imagens. Como exemplos,
os órgãos públicos aos quais foi atribuída tal função. temos o guarda de trânsito, que emite gestos, a fim de
Os atos administrativos praticados por quem não pos- controlar o fluxo de automóveis em determinada via,
sua competência são considerados inválidos. ou o semáforo, que indica, por meio de imagem, quan-
do o condutor deve prosseguir e quando deve parar,
Finalidade entre outros.
Assim, trata-se de ato vinculado, quando exigido
Pode-se dizer que a finalidade é o objetivo que o por lei, e discricionário, quando a sua escolha couber
ato busca alcançar, é o seu propósito. De forma geral, ao próprio agente público.
todo ato administrativo tem como finalidade satisfa- Em regra, os atos administrativos são sempre exte-
zer o interesse público, contudo, cada um deles terá riorizados por escrito, mas podem também ser orais,
também uma finalidade específica. gestuais ou até mesmo expedidos por máquinas. O art.
Em outras palavras, a finalidade é o objetivo a ser 22, da Lei nº 9.784, de 1999, determina que:
almejado pela prática daquele ato administrativo. Em
muitos casos, o objetivo almejado é a proteção do inte- Art. 22 Os atos do processo administrativo não
resse público. Sempre que o ato for praticado tendo dependem de forma determinada senão quando a
em vista o interesse alheio, será nulo por desvio de lei expressamente a exigir.
finalidade.
Por exemplo: o trancamento de um estabelecimen- Em caso de equívoco ao exteriorizar determina-
to, após constatação de falta de cuidados higiênicos
do ato administrativo, o vício, geralmente, é sanável.
com os alimentos, visa à proteção da vida e da saúde
Contudo, o desrespeito à forma do ato acarreta sua
dos cidadãos que frequentam aquele local. Pode-se
nulidade.
afirmar, de modo geral, que a finalidade de um ato
De forma geral, pode-se dizer que enquanto no
administrativo sempre será a proteção dos direitos e
direito privado a regra é pela liberdade da forma, no
garantias fundamentais da pessoa humana.
No entanto, de acordo com o contexto aplicável, direito público a liberdade é exceção. Os atos adminis-
teremos uma finalidade específica àquele ato pratica- trativos devem seguir o formato que lhes é preestabe-
do. Diante disso temos dois conceitos: finalidade geral lecido por lei. Um exemplo são os concursos públicos,
(mediata) e finalidade específica (imediata). estabelecidos por um ato administrativo que informa
sobre o certame: o edital.
z Finalidade geral (mediata): satisfação do interes-
se público; Motivo
z Finalidade específica (imediata): alcance do
resultado específico esperado para o ato. Agora vamos ao requisito motivo, que correspon-
de aos fundamentos de fato e de direito que respaldam
O vício que recai sobre finalidade não poderá ser a execução do ato administrativo; em outras palavras,
convalidado. Aqui temos duas hipóteses, que vão é a justificativa para que tenha sido realizado o ato.
seguir a linha dos conceitos de finalidade colocados Vamos entender melhor isso.
172 acima.
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Em outras palavras, temos que o motivo é a circunstância de fato ou de direito que determina ou autoriza
a prática do ato, isto é, a situação fática que justifica a realização do ato.
Aqui temos duas definições passíveis de serem cobradas em prova.

z Motivo de direito: a previsão em lei de hipótese que irá permitir a execução do ato;
z Motivo de fato: a ocorrência da hipótese prevista em lei no mundo real.

Para o melhor entendimento, é interessante um exercício de imaginação. Imagine-se diante do espelho. A sua
imagem é uma projeção abstrata, enquanto você é real. Assim são os motivos de fato e de direito. Eles são como
o corpo e a imagem. Para que o ato possa ser praticado, você deve ter tanto a ocorrência na realidade como a sua
previsão abstrata em lei.
O motivo pode ser tanto requisito vinculado como discricionário, dependendo do comando legal imposto aos
agentes. Assim, o motivo será vinculado quando a lei expressamente obrigar o agente a agir de um certo modo,
como na hipótese de lançamento tributário (o fiscal da receita não tem direito de escolha, se deve ou não fazer o
lançamento).
Situação diversa é a do pedido de demissão de servidor público no caso de incontinência pública (inciso V, art.
132, da Lei nº 8.112, de 1990), hipótese em que a autoridade competente tem maior liberdade para avaliar se a
demissão é realmente ato necessário ou não, dependendo do caso concreto.
Temos agora uma informação com a qual você deve ter muito cuidado: não confunda motivo com motivação.
A motivação é o próprio ato de exposição do motivo. Para ficar mais clara a diferença entre motivo e moti-
vação, tenha em mente que o motivo é um acontecimento no mundo de algo que a legislação prevê, enquanto a
motivação é a exposição do fato, relacionando-o à previsão legal no próprio papel.
Ademais, tem-se que o motivo é elemento de formação, sendo, portanto, obrigatório estar presente em todos
os atos. Já a motivação não necessita ser sempre observada, contudo é obrigatória sua observância e, se não cum-
prida, resulta em vício de forma.

MOTIVO MOTIVAÇÃO

� Não é elemento de formação


� Elemento de formação
� Deve ser observada em regra, mas há atos que a
� Deve ser observado em todos os atos
dispensam
� Caso não observado, resulta vício de motivo
� Caso não observada, resulta vício de forma

Vejamos agora o que traz a Lei nº 9.784, de 1999, sobre a motivação de atos administrativos.

Lei nº 9.784, de 1999


Art. 50 Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e rela-
tórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

Há a possibilidade da motivação de um ato administrativo por meio da referência a outro ato ou processo. É o
que a doutrina chama de motivação aliunde, que significa “a outro lugar”.
Finalmente, é importante que se conheça a Teoria dos Motivos Determinantes, bastante cobrada em provas.
Segundo ela, se os motivos apontados no ato administrativo forem inválidos, também o será o ato administrativo
praticado, mesmo que a motivação tenha se dado de forma desnecessária.
É o caso de exoneração de ocupante de cargo em comissão. A lei prevê que, para esse tipo de exoneração, não
é necessária a motivação, sendo de livre nomeação e exoneração. Contudo, caso a autoridade exonere o ocupante
com fundamento (motivação) em falta de verba e isso não seja verificado, a exoneração torna-se nula, devido à
NOÇÕES DE DIREITO

referida teoria.

Objeto

Por fim, temos o objeto do ato administrativo, que será o próprio conteúdo do ato, seu efeito jurídico, a alte-
ração que ele causa. Pode ser confundido com a finalidade, porém esta possui efeito mediato, enquanto o objeto
possui efeito imediato.
Todo ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concer-
nentes a pessoas, bens ou atividades sujeitas ao exercício do poder público. É por meio dele que a administração:

z exerce seu poder;


z concede um benefício; 173
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z aplica uma sanção;
z declara sua vontade;
z estabelece um direito do administrado etc.

O objeto pode não estar previsto expressamente na legislação, cabendo ao agente competente a opção que seja
mais oportuna e conveniente ao interesse público. A definição de objeto do ato administrativo trata-se, por isso,
de ato discricionário.
Assim, todo ato administrativo, para ser formado, precisa necessariamente seguir os cinco elementos elenca-
dos anteriormente: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. O descumprimento de qualquer um desses
requisitos, via de regra, pode desencadear a nulidade do ato.
O vício no elemento objeto é insanável.
O motivo e o objeto são os elementos que constituem o mérito administrativo, que é a margem de escolha e
valoração por parte do agente competente.
O mérito administrativo também pode ser citado pelo examinador por meio do termo discricionariedade.
Nada mais é do que outra forma de se referir à margem de escolha que o agente competente tem diante de um
ato administrativo discricionário.
Por fim, ressalta-se a importantíssima informação quanto à vinculação e discricionariedade dos elementos do
ato administrativo, classificação que se estende aos requisitos. A competência, a finalidade e a forma possuem
somente natureza vinculada. Já o motivo e o objeto podem ter tanto natureza vinculada quanto discricionária, a
critério da lei. A fim de memorizar isso, atente-se às informações dispostas na tabela a seguir:

COMPETÊNCIA FINALIDADE FORMA MOTIVO OBJETO

Elemento vinculado Elemento vinculado


Elemento vinculado Elemento vinculado Elemento vinculado
ou discricionário ou discricionário
sanável, em regra insanável sanável, em regra
insanável insanável

Atenção! Para lembrar os requisitos do ato administrativo, utilize o mnemônico COFIFOMOB.


Recapitulando o exposto até aqui, vejamos o seguinte exemplo. Imaginemos que João, servidor público, faltou
por mais de 30 dias seguidos. Assim, a autoridade competente (competência), visando atender ao interesse públi-
co (finalidade geral), devido ao acontecido e conforme previsão legal (motivo), demiti-lo (finalidade específica),
mediante publicação de portaria (forma). Após a expedição da exoneração (objeto), João não poderá voltar a
exercer aquela função pública.
Atenção! Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os requisitos vinculados, enquanto o motivo, a fina-
lidade e a formalização são requisitos discricionários.

ATRIBUTOS

Atributos são as características dos atos administrativos que os distinguem dos demais atos jurídicos, pois
estão submetidos ao regime jurídico administrativo. Essas características traduzem em prerrogativas concedidas
à administração pública para que ela possa atender de maneira adequada às necessidades da população.
Os atos administrativos possuem características fundamentais para que possam atingir os fins a que se pro-
põem. São elas: presunção de veracidade e de legitimidade, autoexecutoriedade, tipicidade e imperatividade.
Para auxiliar na memorização de todos os atributos/características, tenha em mente o mnemônico PATI:

Presunção de veracidade e de legitimidade


Autoexecutoriedade
Tipicidade
Imperatividade

Ademais, outra dica que pode auxiliar é o fato de que os atributos iniciados por consoante estão presentes em
todos os atos administrativos.

Veremos cada um desses atributos de modo mais específico a seguir.

Presunção de Legitimidade e Veracidade

Os atos administrativos gozam de presunção de veracidade e de legitimidade; todo ato administrativo é tido
como válido e produz efeitos jurídicos, até que se prove o contrário. Em termos simples, significa que as informa-
ções trazidas pelos atos administrativos deverão ser tidas como verdadeiras (veracidade) e conforme a lei (legiti-
midade) até que haja prova em contrário. Uma vez praticado o ato administrativo, ocorre a inversão do ônus da
prova (em regra), cabendo ao particular provar eventual impropriedade que ele contenha.
Se, pelo princípio da legalidade, ao administrador só cabe fazer o que a lei permite, então, presume-se que o
fez respeitando a lei.
174
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Nosso direito admite duas formas de presunção: Importante ressaltar, ainda, que os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade impõem limites na
z presunção juris et de jure, que significa “de direi- atuação coercitiva dos agentes públicos. A autoexecu-
to e por direito”; é presunção absoluta, que não toriedade (leia-se o uso de força física) deve ser utili-
admite prova em contrário; zada com bom senso e moderação.
z presunção juris tantum, resultante do próprio
direito e, embora por ele estabelecida como verda- Tipicidade
deira, admite prova em contrário.
Finalmente temos o atributo da tipicidade. Ele
Atenção! A presunção relativa, que estudamos impõe que os atos administrativos praticados devem
neste momento, é também conhecida como presun- ser previamente definidos em lei, não cabendo ao
agente competente para a prática criar atos que não
ção juris tantum. Em sentido oposto, a presunção
sejam previamente constantes da lei.
absoluta, não aplicável neste tema, é também conhe-
Nesse contexto, o avaliador poderá usar o termo
cida como presunção jure et de jure.
ato inominado para referir-se aos atos administrati-
Portanto, a presunção atinge todos os atos, inclu- vos sem prévia previsão em lei.
sive aqueles praticados pela administração com base Sendo assim, a lei deve sempre estabelecer os
no direito privado. Qualquer que seja o ato pratica- tipos de atos e suas consequências, promovendo ao
do pela Administração Pública, será presumidamente particular a garantia de que a Administração Pública
legítimo e verdadeiro. não fará uso de atos inominados, sem tipificação, que
imponham obrigações cuja previsão legal não exis-
Autoexecutoriedade te. É um atributo que deriva do próprio princípio da
legalidade.
A autoexecutoriedade é a característica dos atos Portanto, a tipicidade é uma característica mar-
administrativos que confere à Administração Pública cante da expropriação de bens particulares pelo
a capacidade de executar diretamente seus atos inde- poder público. É o caso de desapropriação adminis-
pendentemente de recorrer a qualquer outro poder. trativa, hipótese em que o poder público tem a prer-
Os atos administrativos são unilaterais, ou seja, são rogativa de tirar da esfera de alguma pessoa física a
praticados por uma única parte, sendo esta a Adminis- titularidade sobre bem imóvel, transformando-o em
tração Pública. Em outras palavras, eles criam obriga- bem público.
ções, direitos ou efeitos jurídicos para terceiros sem a
necessidade de acordo ou consentimento desses. Imperatividade
De forma similar à imperatividade, nem sempre
estará presente nos atos administrativos. Temos também a imperatividade, que é o poder
da Administração Pública de impor ao particular seus
A expressão “auto” advém do fato de que o poder
atos administrativos, mesmo que contrários ao inte-
público não necessita de autorização judicial para des-
resse particular. É decorrente do poder extroverso do
constituir a situação irregular e violadora da ordem
Estado, que permitirá a imposição de deveres e obri-
jurídica, o que a difere da exigibilidade, que não tem gações ao particular.
o condão de, por si só, desconstituir a irregularidade Compreendida também como coercibilidade, os
do ato, apenas pune o infrator. Para tanto, necessita atos administrativos impõem-se aos destinatários,
da presença de dois requisitos: a previsão legal, como independentemente de sua concordância, outorgan-
nos casos de poder de polícia, e o caráter de urgên- do-lhes deveres e obrigações.
cia, a fim de preservar o interesse coletivo. A imperatividade garante ao poder público a capa-
De forma resumida, para facilitar seus estudos, cidade de produzir atos que geram consequências
pode-se dizer que a autoexecutoriedade poderá fazer- perante terceiros. O Estado somente consegue alcan-
-se presente em duas hipóteses: çar seus objetivos de forma eficiente se ele se encon-
trar em posição superior aos seus governados.
z casos expressamente previstos em lei; Assim, todo ato administrativo tem um caráter
z urgência da situação apresentada/grande possibi- obrigatório, sendo seu descumprimento geralmente
lidade de dano. vinculado à aplicação de sanções. Assim, a adminis-
tração poderá unilateralmente criar uma obrigação
Assim, não há necessidade de intervenção judicial aos particulares, mesmo sem a anuência destes.
nas hipóteses de: apreensão de mercadorias contra- Importante ressaltar que esse é um atributo que
bandeadas, na demolição de construção irregular, nem sempre estará presente nos atos administrativos,
pois mostrar-se-á apenas quando impuser condições
na interdição de estabelecimento comercial irregu-
NOÇÕES DE DIREITO

ao particular.
lar, entre outros. Todavia, afirmar que a execução
A justificativa da criação unilateral dos atos admi-
independe de manifestação do Judiciário não signifi-
nistrativos, ainda que contra a vontade dos admi-
ca dizer que escapa do controle judicial. Poderá ser
nistrados, é o poder coercitivo do Estado, também
levada ao crivo, mas somente a posteriori, depois de denominado poder extroverso ou poder de impé-
seu cumprimento, se houver provocação da parte rio. Esse não é um atributo comum a todos os atos,
interessada. mas tão somente aos que impõem obrigações aos
As medidas judiciais mais adequadas para contes- administrados.
tar a força coercitiva administrativa são o mandado Assim, não têm essa característica os atos que
de segurança e o habeas data (incisos LXIX e LXVIII, outorgam direitos (autorização, permissão, licença),
art. 5º, CF, de 1988). bem como aqueles meramente administrativos (cer-
tidão, parecer). 175
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EXTINÇÃO, DESFAZIMENTO E SANATÓRIA Desta forma, são várias as classificações dos atos
administrativos. Destacaremos aqui algumas que
Os atos administrativos possuem um ciclo de estão entre as mais cobradas em concursos públicos.
vida. Eles são criados, começam a produzir efeitos, e,
depois de um tempo, desaparecem. Vamos analisar Quanto aos Destinatários
com mais detalhes justamente o desaparecimento
dos atos administrativos, embora seja preferível uti- Os atos podem ser gerais ou individuais.
lizar o termo “extinção” (ou “invalidação”) dos atos
administrativos. z Atos gerais: os destinatários são indeterminados;
Para melhor compreensão do tema, a doutrina uti- z Atos individuais: seus destinatários são determinados.
liza-se de uma sistematização das formas de extinção
dos atos administrativos. A principal divisão que deve A classificação não leva em conta o número de des-
ser feita é em relação à produção de efeitos: existem tinatários, mas se eles são determinados ou não.
atos administrativos eficazes, bem como atos inefica-
zes. Quando ineficaz, o ato pode ser extinto pela reti- Quanto ao Grau de Liberdade
rada ou pela sua recusa pelo beneficiário. Tratando-se
de atos eficazes, há quatro formas de extinção dos Os atos podem ser discricionários ou vinculados.
atos administrativos:
z Atos discricionários: possuem margem de valo-
Extinção Ipsu Iure pelo Cumprimento dos Efeitos ração e escolha para o agente público que o prati-
ca, conhecida como mérito administrativo. Neste
É a extinção que ocorre pelo cumprimento integral caso, há uma avaliação subjetiva prévia à edição
dos efeitos do ato administrativo. É a extinção natural do ato. É o caso das permissões para o uso de bem
esperada por todo ato administrativo. Pode ocorrer público. No caso de o ato discricionário não ser
mediante: mais conveniente e oportuno para a Administra-
ção Pública, a solução mais correta para sua extin-
z esgotamento do conteúdo, como a vacinação de ção é a revogação;
enfermos após expedição de ordem de entrega das z Atos vinculados: são aqueles praticados pela
vacinas; Administração Pública sem nenhuma liberdade de
z execução da ordem, como o guinchamento de atuação; há pouca ou nenhuma margem de esco-
veículo; lha na prática dos atos administrativos. Assim, a lei
z implemento de condição resolutiva ou termo define todas as margens de sua conduta. Havendo
final, como o prazo final para renovação da CNH. vício no ato vinculado, pode-se pleitear a sua anu-
lação, pois trata-se de vício de legalidade. É o caso,
Extinção Ipsu Iure pelo Desaparecimento da Pessoa por exemplo, da concessão de aposentadoria para
ou Objeto o contribuinte beneficiário.

Os atos administrativos podem tratar das pessoas Lembrando os elementos dos atos administrati-
ou coisas. Desaparecendo um desses elementos, o vos (competência, finalidade, forma, motivo e objeto),
ato extingue-se automaticamente, pois perdeu a sua destacamos que a diferença nessa classificação que
utilidade. acabamos de colocar recai apenas sobre dois deles:
As pessoas “desaparecem” com seu falecimen- motivo e objeto. Ou seja, todos os demais termos são
to, como a morte de servidor público que receberia vinculados, enquanto estes dois que citamos são dis-
promoção; e as coisas, com a sua ruína ou destruição, cricionários, se assim for o ato.
como o desabamento de prédio que recebeu licença
para a sua reforma. Quanto ao Âmbito de Aplicação

z Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio Os atos podem ser internos e externos.
beneficiário abre mão da situação proporcionada
pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de z Atos internos: produzem efeitos apenas dentro da
cargo público a pedido do seu ocupante; estrutura da Administração Pública;
z Retirada do ato: é a forma mais importante de z Atos externos: impactam os administrados.
extinção dos atos administrativos para os concur-
sos públicos. É a extinção que se dá pela expedi- Destacamos que, uma vez que os atos externos
ção de um segundo ato, elaborado para extinguir recairão sobre o cidadão, deverão ser necessariamen-
ato administrativo anterior a ele. Comporta cin- te publicados, o que não se aplica aos atos internos.
co modalidades, que serão vistas com mais deta-
lhes: revogação, anulação, cassação, caducidade e Quanto à Manifestação de Vontade
contraposição.
Os atos podem ser simples, complexos ou
CLASSIFICAÇÃO compostos.

Atos administrativos existem dos mais variados z Atos simples: são aqueles que nascem da manifes-
tipos. Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e tação de vontade de apenas um órgão, seja ele uni-
agrupá-los, formando-se uma verdadeira classificação pessoal (formado só por uma pessoa) ou colegiado
desses atos. Portanto, passemos a analisar as diversas (composto por várias pessoas). O ato que altera
176 modalidades de atos administrativos. o horário de atendimento da repartição pública,
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emitido por uma única pessoa, bem como a deci- z Atos extintivos: também denominados atos des-
são administrativa do Conselho de Contribuintes constitutivos, extinguem um direito ou relação
do Ministério da Fazenda, que expressa vontade jurídica, são aqueles que põem termo a um direito
única apesar de ser órgão colegiado, são exem- ou dever preexistentes. Exemplo: a demissão de
plos de atos simples. Portanto, pode-se dizer que servidor público;
há uma única manifestação de vontade, ainda que z Atos modificativos: são os que têm capacidade de
de um órgão que seja composto por mais de um alterar a situação já existente, sem que seja extin-
agente público; ta. Todavia, não têm o condão de criar direitos e
z Atos complexos: são aqueles que se formam pela obrigações. Exemplo: a alteração do horário de
união de várias vontades, isto é, que necessitam da atendimento da repartição;
manifestação de vontade de dois ou mais órgãos z Atos declaratórios: afirmam uma situação já exis-
diferentes para a sua formação. Enquanto todos os tente, seja de fato ou de direito. Não criam, trans-
órgãos competentes não se manifestarem da for- ferem ou extinguem situação jurídica, apenas a
ma devida, o ato não estará perfeito; reconhecem. É o caso da expedição de uma certi-
z Atos compostos: são aqueles que advêm de mani- dão de tempo de serviço.
festação de apenas um órgão. Porém, para que
produzam efeitos, dependem da aprovação, visto Eficácia e Validade
ou anuência de outro ato, que os homologa, como
condição para a executoriedade. z Atos perfeitos ou imperfeitos: a perfeição diz
respeito aos atos que completaram seu processo de
Costuma-se afirmar que o ato posterior é acessó- formação, isto é, que já apresentam todos os cinco
rio do anterior, pois a manifestação do segundo ato elementos do ato administrativo (agente, forma,
não possui a mesma matéria do primeiro: ele apenas finalidade, objeto e motivo). Por outro lado, atos
complementa a aplicação deste. Exemplo: a nomeação
imperfeitos são os que ainda não completaram seu
de servidor público, que deve sempre anteceder a sua
processo de formação, seja porque carecem de um
aprovação em concurso público.
dos cinco elementos, seja porque recai uma con-
dição suspensiva que impede que o ato se torne
Quanto à Formação
perfeito;
z Atos válidos ou inválidos: a validade não é sinô-
Os atos podem ser unilaterais, bilaterais ou
nimo de perfeição, uma vez que possui relação
multilaterais.
com o ordenamento jurídico, e não com os elemen-
tos constitutivos. Todo ato administrativo válido
z Ato unilateral: manifestação de apenas uma
deve ter uma norma jurídica como fundamento,
pessoa;
caso contrário, é considerado um ato ilícito (inváli-
z Ato bilateral: manifestação de duas pessoas;
do), podendo ser anulado;
z Ato multilateral: manifestação de várias pessoas.
z Atos eficazes ou ineficazes: o critério analisado
aqui é a eficácia dos atos administrativos. Ato efi-
Quanto ao Objeto
caz é aquele que já está produzindo efeitos concre-
tos. São considerados eficazes porque sobre eles
Os atos poderão ser de império, de gestão ou de
não recai nenhum prazo ou condição suspensiva.
expediente.
Já os atos ineficazes são aqueles que não podem
produzir seus efeitos, seja por motivos de perfei-
z Atos de império: possuem em si o poder extro-
verso de Estado, impondo ao particular a vontade ção, seja pela ausência de um outro ato adminis-
da Administração Pública. Pode-se dizer que são trativo que o homologue. É o caso, por exemplo,
aqueles praticados pela administração em posição da investidura de candidato em um cargo público.
de superioridade perante os particulares, como na Tal ato por si só é ineficaz, se o candidato não tiver,
imposição de multa por infração administrativa; além de sido aprovado em concurso público, rea-
z Atos de gestão: praticados com intuito de gerir o lizado outro ato, que é a assinatura do termo de
patrimônio público, em pé de igualdade com os posse.
particulares. É o caso da alienação de bem público;
z Atos de expediente: são atos de mera rotina inter- Alguns autores, como Celso Antônio Bandeira de
na das repartições, sem conteúdo decisório, ela- Mello, salientam que há uma mescla dessa última
borados por autoridade subalterna, que não tem classificação, o que significa que o ato administrativo
capacidade decisória. Exemplo: numeração dos pode se encontrar de diversas formas, tais como:
NOÇÕES DE DIREITO

autos no processo judicial.


z perfeito, válido e eficaz;
Também quanto ao objeto (ou quanto aos efeitos z perfeito, válido e ineficaz;
dos atos administrativos), teremos outra classificação. z perfeito, inválido e ineficaz;
Poderão ser constitutivos, extintivos, modificativos ou z imperfeito, inválido e ineficaz.
declaratórios.
Os critérios apresentados não são exaustivos: há
z Atos constitutivos: geram uma nova situação outras formas de classificação dos atos administrati-
jurídica aos destinatários. Pode ser pela outorga vos adotadas por diversos autores. Escolhemos apre-
de um novo direito, como permissão de uso de sentar aquelas que têm mais chances de aparecer em
bem público, ou pela imposição de uma obrigação, uma questão de prova.
como estabelecer um período de suspensão; 177
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Destarte, atos viciados são aqueles que, em razão z na anulabilidade a convalidação é possível e só
de certos defeitos que ocorrem em sua estrutura ou pode ser apreciada mediante provocação da parte
formação, são tidos como inexistentes, inválidos ou interessada.
ineficazes.
Esses vícios podem incidir na competência, ESPÉCIES E EXTERIORIZAÇÃO
como nos casos de ausência de poder legal para agir
em nome do Estado (usurpação de função, abuso de Os atos administrativos tipificados pela legislação
poder ou desvio de poder, invasão de função) e de brasileira são diversos. Por isso, também é utilizada,
defeito pessoal do agente (loucura, embriaguez, pro- para fins didáticos, uma sistematização dos atos admi-
digalidade, alienação dos sentidos) ou, ainda, defeito nistrativos. A doutrina divide os atos administrativos
do agente provocado por terceiros (indução em erro previstos na legislação em cinco espécies distintas:
e coação).
Podem, também, incidir no objeto, quando lhe fal-
z Atos normativos: são aqueles que apresentam
ta licitude, moralidade, possibilidade e certeza, ou na
comandos gerais e abstratos para o cumprimento
forma, quando se pretere formalidade essencial à prá-
da lei. Alguns autores, inclusive, chegam a consi-
tica do ato ou quando essa é praticada irregularmente.
Os vícios também podem incidir no motivo, se derar tais atos “leis em sentido material”. São atos
baseados em fatos inexistentes, injustificáveis ou con- normativos: os decretos e regulamentos, as instru-
trários à lei. ções normativas, os regimentos, as resoluções e as
Por fim, se praticado em desacordo com a finalida- deliberações;
de prevista na lei, o vício atingirá a finalidade do ato. z Atos ordinatórios: correspondem a manifesta-
A doutrina brasileira não é unânime acerca das ções internas da Administração Pública decorren-
consequências decorrentes dos vícios que atingem os tes do poder hierárquico, estabelecendo regras de
atos administrativos. Atualmente, discute-se a apli- funcionamento de seus órgãos internos e regras
cação da corrente dualista, isto é, a aplicação pelo de conduta de seus agentes. Tais atos não podem
direito público da teoria da dicotomia das nulidades disciplinar as condutas dos particulares. São atos
acolhida pelo direito civil; isso ocorre tendo em vista ordinatórios: as instruções, as circulares, os avi-
as mudanças nos paradigmas informadores do direito sos, as portarias, os ofícios, as ordens de serviço, os
administrativo e a necessidade de adequar os postula- despachos, entre outros;
dos básicos do direito público à nova realidade cons- z Atos negociais: são aqueles que manifestam a
titucional e legal. vontade da administração em consonância com
A nulidade no direito civil obedece a um sistema o interesse dos particulares. Exemplos: a licença,
dicotômico, no qual, dependendo da intensidade do a autorização, a permissão, a concessão, a apro-
vício que atinja o ato jurídico ou dependendo do tipo vação, a homologação, a renúncia etc. Os atos
de interesse violado, a lei determinará a nulidade ou negociais podem ser vinculados (licença) ou discri-
a anulabilidade. cionários (autorização), definitivos ou precários,
No campo do direito administrativo existem duas sendo passíveis de revogação pelo poder público
correntes: monista e a dualista. Para os monistas, o
a qualquer tempo. A característica especial desses
ato é nulo ou válido, não aplicando ao direito adminis-
atos é que eles não disciplinam direitos, e sim inte-
trativo a dicotomia. Já para os dualistas, os atos admi-
resses dos particulares;
nistrativos podem ser nulos ou anuláveis, de acordo
z Atos enunciativos: também denominados “atos
com a maior ou menor gravidade do vício.
Tanto a nulidade como a anulabilidade estão pre- de pronúncia”, são aqueles que certificam ou ates-
vistas no Código Civil, que assim estabelece: tam a existência de uma situação jurídica peculiar.
Tais atos possuem caráter predominantemente
Art. 166 É nulo o negócio jurídico quando: declaratório. São atos enunciativos: as certidões,
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; os atestados, os pareceres etc.;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu z Atos punitivos: como o próprio nome supõe, são
objeto; os atos que aplicam sanções aos particulares, ou
III - o motivo determinante, comum a ambas as aos servidores que pratiquem condutas irregula-
partes, for ilícito; res, nos termos da lei. São atos punitivos: as mul-
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei consi- tas, as interdições e a destruição de coisas.
dere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; REFERÊNCIAS
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-
-lhe a prática, sem cominar sanção. MAZZA, A. Manual de direito administrativo. 8ª
Art. 171 Além dos casos expressamente declarados ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
na lei, é anulável o negócio jurídico: MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasi-
I - por incapacidade relativa do agente; leiro. 42ª ed. São Paulo: Malheiros, 2016.
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado
MELLO, C. A B. A Noção Jurídica de Interesse
de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Público. Grandes Temas de Direito Administrati-
vo. São Paulo: Malheiros, 2010.
Cumpre consignar que são duas as diferenças bási-
cas entre a nulidade e a anulabilidade:

z a nulidade não admite a convalidação e pode


ser decretada pelo juiz ex officio ou mediante
178 provocação;
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O serviço público em sentido amplo (lato sensu)
SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, tem sua origem com a denominada Escola do Serviço
CLASSIFICAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO Público, uma corrente doutrinária do século XX. Na
época, a doutrina começava a analisar com detalhes
E CONTROLE aquilo que ficou decidido no caso Agnes Blanco, na
França. Esse foi o caso primordial para decretar, de
Preliminarmente, é importante ressaltar que a ati- modo geral, que ao Estado era vedada a utilização do
vidade administrativa engloba: Código Civil para a apuração de sua responsabilidade,
quando causava danos na execução de serviços com
z fomento, que é a atividade administrativa de fundamento de direito público.
incentivo à iniciativa privada de utilidade pública. Para Roger Bennard, serviço público poderia ser
O fomento é realizado por meio de financiamentos, concebido como uma atuação ou, ainda, como uma
subvenções, favorecimentos fiscais e desapropria- ordenação responsável por abarcar todas as incum-
ções. Como exemplo é possível citar programas bências do Estado. A noção de serviço público muito
públicos de isenção do ICMS; se confunde com a de direito público.
z polícia administrativa, que é a atividade admi- A Escola do Serviço Público também influencia os
nistrativa que corresponde ao concreto exercício autores brasileiros. Para José Cretella Júnior (1980),
de restrições ao exercício dos direitos individuais serviço público é
em prol do interesse coletivo. A polícia adminis-
trativa é exteriorizada por intermédio de sanções, [...] toda atividade que o Estado exerce, direta ou
notificações, licenças e fiscalizações. Como exem- indiretamente, para satisfação das necessidades
plo é possível citar a necessidade de alvará para públicas, mediante procedimento típico de direito
o exercício de determinadas atividades. Trata-se, público. (Cretella Júnior, 1980, p. 59)
portanto, de limitações administrativas obrigató-
rias e previstas em lei; Podemos observar o caráter amplo e abrangen-
z intervenção, que é a atividade administrativa de te do instituto ao considerar também como serviço
regulamentação e fiscalização da atividade econô- público as atividades legislativa e judiciária, que pos-
mica de natureza privada, bem como da atuação suem um rol difuso de destinatários (uti universe).
direta do Estado no domínio econômico, por meio Com o passar do tempo, surge uma nova corren-
de empresas estatais; te doutrinária, que busca delimitar um pouco essa
z serviço público, que é toda atividade administra- abrangência da noção de serviço público. Essa cor-
tiva exercida sob regime total ou parcial público rente é defendida pela grande maioria dos autores da
atualidade, como Hely Lopes Meirelles e Celso Antô-
e executada direta ou indiretamente pela Admi-
nio Bandeira de Mello.
nistração Pública para atender as necessidades da
Serviço público stricto sensu, então, seria todo
coletividade.
aquele prestado pela administração ou por seus dele-
gados, sob regime de direito público, e fruível indi-
Desta forma, a atuação do Estado pode ser dividida
vidualmente por cada um dos destinatários, para
em dois setores: o setor do domínio econômico e o setor
satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da
dos serviços públicos. O domínio econômico tem natu-
coletividade, ou simples conveniências do Estado.
reza eminentemente privada, é o campo de atuação
A grande diferença dessa nova noção de servi-
primordial dos particulares e possui regulamentação
ço público diz respeito à sua abrangência. Somente
nos arts. 170 e seguintes, da Constituição Federal (CF). abrange as atividades da Administração Pública, não
Não é este o ponto de enfoque, mas é importante incluindo as funções legislativa e judiciária. Também
ressaltar que o Estado pode atuar no domínio econô- não deve ser considerada serviço público a explora-
mico, seja como agente normativo e regulador, seja na ção de atividade econômica, porque, nesses casos, o
exploração direta de atividades econômicas. Estado age em regime privado; bem como as ativida-
O setor dos serviços públicos, por outro lado, é o des de fomento, porque trata-se de um subsídio que
campo de atuação predominante do Estado. Este é se dá ao particular para que exerça certas atividades
encarregado, dentre outras funções, do exercício da com interesse coletivo.
função administrativa, que é a atividade concreta e Outro traço característico dessa nova corrente
imediata desenvolvida sob regime de direito público, sobre serviço público é a restrição da matéria para
para a consecução dos interesses coletivos. Dentre as apenas os serviços que possam ser fruídos singular-
funções administrativas, temos a prestação de servi- mente por cada particular (uti singuli). Tais serviços
ços públicos em sentido estrito. são custeados pelos próprios usuários, mediante o
Considerando o que foi exposto, cumpre esclare- pagamento de taxas ou tarifas.
NOÇÕES DE DIREITO

cer o que vem a ser serviço público e o que o diferen- Assim, para o serviço público stricto sensu, pode-
cia das atividades de fomento, do exercício do poder mos elencar, dentre todos os conceitos, alguns ele-
de polícia e da intervenção no domínio econômico. mentos identificadores que estão presentes em todas
as definições. São eles:
Conceito e Elementos Constitutivos do Serviço
Público z Elemento subjetivo: a titularidade do serviço
público é exclusiva do Estado. O serviço público
A matéria dos serviços públicos está contida, de é de responsabilidade do Estado e por ele deve
modo geral, na Constituição Federal e na Lei nº 8.987, ser prestado, direta ou indiretamente. Quando
de 1995, que disciplina o regime de concessão e per- a prestação do serviço se der por meio indireto,
missão dos serviços públicos. teremos uma delegação de serviço público por
meio de concessão ou permissão. Nesses casos, 179
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os particulares assumem apenas a prestação tem- Importante!
porária do serviço, mantendo a titularidade deste
sob responsabilidade do Estado. Então, nunca se Indispensável observar, contudo, que a titularida-
esqueça de que a titularidade de serviço público de do serviço público permanecerá com o Estado.
deve permanecer sempre com pessoa jurídica de
direito público; Também temos certas atividades que, embora
z Elemento objetivo: é a atividade caracterizada sejam consideradas de serviço público, contam com
como serviço público (geralmente atende a um serviços que satisfazem também interesses particula-
interesse público). O serviço público objetiva aten- res (elemento objetivo), como no caso do serviço de
der necessidade coletiva e proporcionar comodi- distribuição de alimentos em prisões.
dade para os usuários. Essa é a principal diferença Por fim, o regime do serviço público pode ser de
entre serviço público e o poder de polícia: enquan- direito privado (elemento formal), seguindo as nor-
to este busca uma limitação para o particular, mas da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) para
o regime de contratação de funcionários, e os bens
aquele proporciona uma atuação de natureza
podem ser alienados ou penhorados, pois pertencem
ampliativa dos seus interesses;
às empresas privadas.
z Elemento formal: em qual regime o serviço é
Assim, pode-se concluir que a noção de serviço
prestado. Na maioria dos casos, trata-se do regi-
público está intrinsecamente ligada à forma de atua-
me de direito público. O serviço público deve ser ção do Estado. Uma das principais dificuldades de
prestado sob o regime de direito público (ou par- buscar um conceito de serviço público reside justa-
cialmente público, como defendem alguns auto- mente nesse fato: a depender do modelo de Estado,
res). Mesmo quando o serviço está sendo prestado sua forma de atuação poderá ser mais liberal ou mais
por um particular (concessão, por exemplo), ele intervencionista. Desta forma, o conceito de serviço
será prestado por um regime parcialmente públi- público também poderá ser mais ou menos abrangen-
co. Nesses casos, o particular que estiver prestando te para cada país.
serviço público deverá obedecer aos princípios de José dos Santos Carvalho Filho é o autor jurista que
direito público inerentes à execução da atividade, apresenta muito bem essa dificuldade ao definir ser-
podendo incidir sobre ele algumas regras do direi- viço público como
to privado. Ex.: o art. 7º, da Lei de Concessões (Lei
nº 8.987, de 1995), permite a aplicação subsidiária [...] toda atividade prestada pelo Estado ou por
das regras do Código de Defesa do Consumidor (Lei seus delegados, basicamente sob regime de direito
público, com vistas à satisfação de necessidades
nº 8.078, de 1990) em relação aos direitos dos usuá-
essenciais e secundárias da coletividade. (Carvalho
rios do serviço público; Filho, 2015, p. 333)
z Elemento material: o serviço público é uma utili-
dade ou comodidade material prestada à socieda- É importante que nos atentemos para não confun-
de de forma contínua. É utilidade ou comodidade dir a prestação de serviço público com:
material porque é uma tarefa exercida no plano
concreto pelo Estado, e não apenas uma atividade z Obras: a obra de construção de um hospital não
normativa ou intelectual. Ou seja, caso estejamos se confunde com a prestação do serviço público
diante uma atividade essencialmente intelectual de saúde. A obra de construção de um terminal
exercida pelo Estado (função legislativa, jurisdi- de integração não se confunde com a prestação do
cional e política), é necessário que nos lembremos serviço público de transporte urbano;
z Poder de polícia: o serviço público oferta como-
de que ela não pode ser considerada como servi-
didade e utilidade para a sociedade. Já o poder de
ço público. Além disso, para ser serviço público,
polícia impõe limitações e restrições para o parti-
a prestação de serviço não pode ter início, meio e
cular, não oferecendo benefícios ou comodidade;
fim. Por isso uma obra de via pública, por exem-
z Exploração de atividade econômica pelo Esta-
plo, não pode ser considerada serviço público. do: ainda que exercida para buscar o interesse
público, a exploração de atividade econômica pelo
O fenômeno conhecido como a “crise do serviço Estado (empresas estatais) é feita sob o regime de
público” se deu com o advento do Estado Regulador, direito privado (Estado renunciando às prerroga-
na primeira metade do século XX. Ele traz a ideia de tivas públicas).
um Estado que procura regular as atividades consi-
deradas serviços públicos. Se antes a execução dessas Os Princípios Aplicáveis aos Servidores Públicos
tarefas era exclusiva do regime público, atualmente
a execução desses serviços pode ser feita sob regime Por estarem submetidos a um regime especial,
privado. O Estado carece de recursos para cuidar de que pode ser total ou parcialmente de direito públi-
co, os princípios de direito administrativo, previstos
tantos setores simultaneamente.
no caput, do art. 37, da CF, de 1988, são aplicáveis à
Em suma, por isso a necessidade de delegar tais
prestação dos serviços públicos. Porém, há ainda
serviços mediante concessão ou permissão, como
alguns princípios específicos aos serviços públicos
também criação de pessoas jurídicas próprias para
que devem ser melhor analisados. São eles:
controlar tais atividades. Há, assim, uma mitigação
dos elementos identificadores do serviço público. z Princípio da continuidade do serviço público: é
Atualmente, admite-se que os serviços públicos o princípio que diz respeito à obrigação do Estado
sejam executados por particulares (elemento subjeti- de prestar o serviço público, que não pode parar,
vo). Há uma delegação da execução do serviço, o qual dada a sua relevante finalidade pública. É dizer
poderá ocorrer mediante concessão ou permissão do que o Estado tem um poder-dever (obrigatorieda-
180 serviço público, nos termos da Lei nº 8.987, de 1995. de) de prestar tal atividade.
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O serviço deve ser ininterrupto, porém o § 3º, do „ É ilegítimo o corte no fornecimento de energia
art. 6º, da Lei nº 8.987, de 1995, admite que, nos casos elétrica em razão de débito irrisório, por confi-
de serviços concessionados a entidades privadas, não gurar abuso de direito e ofensa aos princípios
se caracterizam descontinuidade do serviço a parali- da proporcionalidade e razoabilidade, sen-
sação quando motivada por razões de ordem técnica do cabível a indenização ao consumidor por
ou de segurança das instalações, tampouco situações danos morais;
de inadimplemento do usuário, considerado o interes- „ É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços
se da coletividade. públicos essenciais quando a inadimplência
Portanto, temos que por este princípio, uma vez do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma
instituído o serviço público, ele deve ser prestado; vez que a interrupção pressupõe o inadimple-
desse modo, não deve sofrer interrupção. Além disso, mento de conta regular, relativa ao mês do
o serviço público deve ser prestado conforme a neces- consumo;
sidade da população, que pode ser: „ É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços
públicos essenciais quando o débito decorrer
„ absoluta, para o caso de o serviço ter que ser de irregularidade no hidrômetro ou no medi-
prestado sem qualquer interrupção, uma vez dor de energia elétrica, apurada unilateral-
que a população necessita permanentemente mente pela concessionária.
deste serviço, como no caso de hospitais, distri-
buição de água, entres outros; z Princípio da mutabilidade do regime jurídico: o
„ relativa, para o caso de o serviço ser presta- interesse público não é estanque, mas variável ao
do periodicamente, levando em consideração longo do tempo. A instauração de serviço público
as necessidades intermitentes da população, mediante certo regime jurídico não gera um “direi-
como no caso de biblioteca pública, museus,
to adquirido”, o que significa que o poder público
quadras esportivas etc.
pode alterar um estatuto ou contrato adminis-
trativo para promover maior adequação na pres-
Neste sentido, o inadimplemento do usuário gera,
tação do referido serviço;
no caso de o serviço ser facultativo, a possibilidade
z Princípio da isonomia dos usuários: trata-se de
do concessionário ou permissionário suspender sua
uma decorrência direta do princípio constitucional
prestação, desde que observadas as formalidades
da impessoalidade. O serviço público deve aten-
legais, que perdurará enquanto não houver o paga-
der a todos, geralmente de forma individualiza-
mento das tarifas ou preço público em atraso, como
da, sem discriminações e privilégios, respeitando
no caso do serviço de telefonia.
a igualdade formal e material (tratar igualmente
Em contrapartida, no caso de o serviço ser obri-
os iguais e desigualmente os desiguais, na medida
gatório, ele não pode ser suspenso, uma vez que sua
suspensão privaria o particular de serviços básicos e de suas desigualdades). Exemplos: cotas para uni-
integrantes do núcleo essencial da sua dignidade. versidades públicas; tarifa social com valores mais
Atente-se para algumas das teses do STJ sobre a baixos para usuários de baixa renda;
continuidade dos serviços públicos e interrupção de z Princípio da modicidade das tarifas: as tarifas
serviços públicos essenciais. não devem ser exorbitantes, pois o serviço deve
ser aproveitado pelo maior número de usuários
„ É legítimo o corte no fornecimento de serviços possível, independentemente de sua classe eco-
públicos essenciais por razões de ordem técni- nômica. O valor a ser exigido dos usuários deve
ca ou de segurança das instalações, desde que ser o menor possível para, também, remunerar o
precedido de notificação; prestador do serviço, com uma pequena margem
„ O corte no fornecimento de energia elétrica de lucro. Com o objetivo de reduzir ao máximo o
somente pode recair sobre o imóvel que ori- valor da tarifa cobrada, a legislação brasileira pre-
ginou o débito, e não sobre outra unidade de vê alguns mecanismos especiais, que se apresen-
consumo do usuário inadimplente; tam como fontes alternativas de remuneração do
„ É legítimo o corte no fornecimento de servi- prestador do serviço público. É o caso, por exem-
ços públicos essenciais quando inadimplente plo, de espaços publicitários utilizados nos arre-
o usuário, desde que precedido de notificação; dores de uma rodovia. A menor tarifa é também
„ É legítimo o corte no fornecimento de serviços critério essencial para avaliação de proposta em
públicos essenciais quando inadimplente pes- uma licitação do tipo concorrência pública;
soa jurídica de direito público, desde que pre-
cedido de notificação e a interrupção não atinja Dica
NOÇÕES DE DIREITO

as unidades prestadoras de serviços indispen-


sáveis à população; É prestado mediante pagamento de taxa ou tarifa.
„ É ilegítimo o corte no fornecimento de energia
elétrica quando puder afetar o direito à saúde z Princípio da obrigatoriedade/dever de presta-
e à integridade física do usuário; ção pelo Estado: o Estado tem o dever jurídico
„ É ilegítimo o corte no fornecimento de servi- de promover a prestação do serviço, e não uma
ços públicos essenciais quando inadimplente simples faculdade. Contudo, o serviço público será
unidade de saúde, uma vez que prevalecem os executado por ele direta ou indiretamente (conces-
interesses de proteção à vida e à saúde; são ou permissão). Ou seja, o Estado tem o dever de
„ É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços proporcionar a prestação do serviço, sendo sem-
públicos essenciais por débitos de usuário ante- pre responsável por ele, mesmo quando for pres-
rior, em razão da natureza pessoal da dívida; tado indiretamente; 181
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z Princípio da generalidade ou universalidade: o poder de polícia, da saúde, da defesa nacional
serviço público deve ser prestado à maior quanti- etc. Observe que não são somente as funções
dade de pessoas possível, à generalidade das pes- ligadas ao poder de império que caracterizam
soas. Deve buscar atingir a todos, não podendo ser um serviço público essencial propriamente
direcionado a determinadas pessoas ou grupo de dito. O uso do poder de império é relevante
pessoas específicas; para o critério da adequação;
z Princípio da cortesia: o serviço público deve ser „ Serviços de utilidade pública: são serviços úteis,
prestado com educação, com urbanidade. O pres- mas não considerados essenciais. Por isso, eles
tador do serviço deve entender que é fornecedor podem ser prestados pelo Estado, ou por tercei-
de serviço e tratar bem seu usuário; ros, mediante remuneração paga pelos usuários
z Princípio da transparência: o usuário do serviço e sob constante fiscalização. É o caso dos serviços
tem direito de receber informações sobre a presta- de transporte coletivo, de telefonia etc.
ção do serviço público, por parte da concessioná-
ria e do poder concedente (Estado), com o objetivo z Quanto à Adequação
de defender interesses individuais ou coletivos;
z Princípio da atualidade ou adaptabilidade: o „ Serviços próprios do Estado (indelegáveis):
serviço público deve ser prestado com técnicas são os serviços característicos do Estado bra-
modernas de prestação (dentro dos limites do pos- sileiro. Constituem aqueles serviços que se
sível). Em tese, quanto mais modernas as técnicas relacionam intimamente com as atribuições
de prestação do serviço, mais eficiente esse serviço do poder público, isto é, que possuem alguma
será. É proibido, portanto, o retrocesso da técnica. relação com o poder de império, que é único
z Princípio da regularidade: os serviços públicos do Estado. O Estado exerce tais serviços em
devem ser prestados sem variação significativa relação de supremacia, sobrepondo a sua von-
dos padrões técnicos exigidos. Assim, a regulari- tade à dos particulares. É o caso dos serviços de
dade diz respeito a sua estabilidade e manutenção segurança e de saúde, do poder de polícia etc.;
dos requisitos essenciais; „ Serviços impróprios do Estado (delegáveis):
z Princípio da eficiência: trata-se da obtenção de são, como o nome sugere, aqueles serviços para
bons resultados com a prestação do serviço, uma os quais o Estado, ao exercê-los, não necessitará
vez que este deve ser realizado dentro de uma do seu poder de império para se sobrepor. São
adequada relação entre custo e benefício, evitan- os que não afetam substancialmente as neces-
do, assim, desperdícios. É por este motivo que sidades da comunidade, mas satisfazem inte-
são válidas as exigências legais de prazo máximo resses comuns de seus membros, e, por isso, a
para atendimento de demandas dos usuários, de administração os presta remuneradamente por
padrões mínimos de qualidade do serviço, de res- seus órgãos ou entidades descentralizadas, ou,
trições aos aumentos de tarifas, entre outras; até mesmo, para particulares mediante regime
z Princípio da segurança: os serviços públicos de concessão e permissão.
devem respeitar os padrões e normas de seguran-
z Quanto à Finalidade
ça com o fito de preservar a integridade da popu-
lação em geral e dos equipamentos utilizados. São „ Serviços administrativos: serviços que a
exemplos de desrespeito ao princípio da seguran- administração executa para atender às suas
ça: choques elétricos decorrentes do simples con- necessidades internas ou preparar outros
tato com postes de distribuição de eletricidade e serviços que serão prestados ao público. São,
danos causados a eletrodomésticos em decorrên- assim, os serviços característicos da Adminis-
cia de variações bruscas na tensão elétrica. tração Pública. Um exemplo diferente — não
Da Classificação dos Serviços Públicos mencionado até o momento — é o caso do ser-
viço da imprensa oficial, que tem como função
Serviço público é toda atividade desenvolvida divulgar todos os atos prestados pelo poder
pelo Estado com a finalidade de atender às necessi- público, promovendo maior transparência e
dades sociais. Desta forma, cumpre salientar que a fiscalização de seus atos;
titularidade do serviço público é exclusiva do Estado, „ Serviços industriais: são os serviços que pro-
uma vez que particulares não podem prestá-los por duzem renda para quem os presta, mediante a
sua livre iniciativa. Tal participação pode ocorrer de remuneração da utilidade usada ou consumi-
forma direta ou por delegação (prestação indireta), da. Essa remuneração se denomina “tarifa” ou
mediante concessão ou permissão. “preço público”, sendo fixada pelo poder públi-
Neste sentido, os serviços públicos podem ser dos co, quer quando o serviço é prestado por seus
mais variados tipos, sendo uma tarefa difícil estabe- órgãos ou entidades, quer quando por conces-
lecer uma classificação deles. O professor Hely Lopes sionários, permissionários ou autorizatários.
Meirelles (2020) apresenta uma classificação para os Os serviços de energia elétrica, água e telefonia
serviços públicos, que podem ser agrupados com base são desta modalidade.
nos seguintes critérios:
z Quanto aos Destinatários
z Quanto à Essencialidade
„ Serviços gerais ou uti universi (coletivos):
„ Serviços públicos propriamente ditos: tam- são os serviços públicos que não possuem usuá-
bém são denominados de “serviços essenciais”; rios ou destinatários específicos, sendo a remu-
são aqueles imprescindíveis à sobrevivência da neração por tributos. Os serviços de iluminação
sociedade. Por isso, tais serviços não admitem pública e calçamento são remunerados por
182 delegação ou outorga. É o caso, por exemplo, do essa maneira;
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„ Serviços individuais ou uti singuli (singula- organização dos serviços, a criação de um órgão
res): são os que possuem de antemão usuários regulador e outros aspectos institucionais;
conhecidos e predeterminados, e o Estado já sabe, XII - explorar, diretamente ou mediante autoriza-
antes, quais são os beneficiados pela prestação do ção, concessão ou permissão:
referido serviço. Por isso, são remunerados por a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e
tarifa. É o caso do serviço de água e esgoto, de ilu- imagens;
minação domiciliar, de telefonia etc. b) os serviços e instalações de energia elétrica e
o aproveitamento energético dos cursos de água,
em articulação com os Estados onde se situam os
z Quanto à Forma de Uso pelo Destinatário
potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estru-
„ Voluntário: quando podem ser escolhidos tura aeroportuária;
livremente pelo destinatário, que pode tanto d) os serviços de transporte ferroviário e aqua-
aceitar como recusar a prestação do serviço. viário entre portos brasileiros e fronteiras nacio-
Exemplos: luz, telefone, gás, entre outros; nais, ou que transponham os limites de Estado ou
„ Compulsório: são aqueles obrigatórios ao des- Território;
tinatário, como no caso da vacinação infantil. e) os serviços de transporte rodoviário interesta-
dual e internacional de passageiros;
z Quanto à Forma de Prestação f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

„ Centralizados: são aqueles prestados pela pró- Aos estados, por outro lado, a Constituição men-
pria Administração Pública por meio dos seus ciona que compete explorar diretamente, ou median-
órgãos públicos. São exemplos: serviço peni- te concessão, os serviços locais de gás canalizado (§ 2º,
tenciário, segurança pública, saúde, educação, art. 25, CF, de 1988).
justiça, entre outros.
„ Descentralizados: aqueles em que o poder Art. 25 […]
público transfere a execução do serviço públi- § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
co para entidades da Administração indireta ou mediante concessão, os serviços locais de gás cana-
para empresas privadas ou particulares. Exem- lizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
plos: Banco do Brasil, Petrobras, Correios etc. provisória para a sua regulamentação.

Isso não significa que os estados somente podem


Dica
explorar serviços locais de gás canalizado, uma vez
A descentralização pode ser: que existem as competências comuns a todos os entes
� por outorga legal, no caso de o Estado criar, da Federação, atribuídas de forma remanescente.
por meio de uma lei, uma pessoa jurídica para Alguns exemplos de competências comuns estão
exercer o serviço; dispostos no art. 23, da CF, de 1988, como:
� por delegação negocial, no caso de um negó-
cio jurídico. Art. 23 É competência comum da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
Da Competência para Prestar Serviços Públicos
instituições democráticas e conservar o patrimônio
público;
A atual Constituição Federal, de 1988, atribuiu
II - cuidar da saúde e assistência pública, da
diversos serviços públicos aos entes da Federação. Em proteção e garantia das pessoas portadoras de
relação à União, os serviços públicos federais estão deficiência;
inclusos nos incisos X a XII, do art. 21, da CF, de 1988. III - proteger os documentos, as obras e outros bens
São, de modo geral: de valor histórico, artístico e cultural, os monu-
mentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
z serviço postal e o correio aéreo nacional; arqueológicos;
z os serviços de telecomunicações;
z os serviços de radiodifusão sonora e de sons e Compete aos municípios, na forma do art. 30, da
imagens; CF, de 1988, a prestação de serviços públicos de inte-
z os serviços e instalações de energia elétrica e o resse local, incluindo o serviço de transporte coletivo,
aproveitamento energético dos cursos de água, bem como o de atendimento à saúde da população,
em articulação com os estados onde se situam os em cooperação com os demais entes federativos. É
potenciais hidroenergéticos; evidente que aos municípios também se aplicam as
NOÇÕES DE DIREITO

z serviços de navegação aérea e aeroespacial e a competências comuns previstas no art. 23.


infraestrutura aeroportuária;
z serviços de transporte ferroviário e aquaviário Art. 30 Compete aos Municípios:
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais. I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no
Art. 21 Compete à União: que couber;
[…] III - instituir e arrecadar os tributos de sua compe-
X - manter o serviço postal e o correio aéreo tência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuí-
nacional; zo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
XI - explorar, diretamente ou mediante autoriza- balancetes nos prazos fixados em lei;
ção, concessão ou permissão, os serviços de teleco- IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada
municações, nos termos da lei, que disporá sobre a a legislação estadual; 183
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime z Serviços centralizados: são os serviços prestados
de concessão ou permissão, os serviços públicos de diretamente pelo poder público, em seu próprio
interesse local, incluído o de transporte coletivo, nome e sob sua exclusiva responsabilidade. A
que tem caráter essencial; União, os estados, os municípios e o Distrito Fede-
VI - manter, com a cooperação técnica e financei- ral são os titulares desses serviços;
ra da União e do Estado, programas de educação z Serviços desconcentrados: são os serviços públi-
infantil e de ensino fundamental; cos prestados pelo Estado, mas não por ele próprio,
VII - prestar, com a cooperação técnica e financei-
e sim por seus órgãos, mantendo para si apenas
ra da União e do Estado, serviços de atendimento à
a responsabilidade pela execução. Exemplos: o
saúde da população;
Ministério da Saúde, o Ministério da Fazenda, as
VIII - promover, no que couber, adequado ordena-
secretarias de Justiça, as ouvidorias, as auditorias
mento territorial, mediante planejamento e contro-
le do uso, do parcelamento e da ocupação do solo etc. Todas estas entidades que não são o Estado,
urbano; mas que “fazem parte” dele, não possuindo per-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico- sonalidade jurídica própria, realizam serviços
-cultural local, observada a legislação e a ação fis- desconcentrados;
calizadora federal e estadual. z Serviços descentralizados: são os serviços públi-
cos não prestados pelo Estado, e sim por terceiros,
Ao Distrito Federal compete, além das competên- com personalidade jurídica própria, podendo arcar
cias comuns, a prestação de todos os serviços esta- com os riscos do negócio por conta própria. Exem-
duais e municipais, nos termos do § 1º, art. 32, da CF, plos: o Procon (Programa de Proteção e Defesa do
de 1988, uma vez que tal ente possui as mesmas com- Consumidor), o Cadin (Cadastro Informativo de Cré-
petências legislativas dos estados e municípios. ditos não Quitados do Setor Público Federal), o INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), o DETRAN
Art. 32 […] (Departamento Estadual de Trânsito) etc. Aqui, a
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com- titularidade do serviço não é mais do Estado, e sim
petências legislativas reservadas aos Estados e dessa entidade terceira. Com isso, a responsabilida-
Municípios. de pela execução do serviço público recai primeira-
mente sobre o terceiro, mas é possível que o Estado
Por fim, em relação aos particulares, eles poderão se responsabilize também, porém somente de for-
prestar os serviços notariais e de registro, na forma do ma subsidiária (se o ente demonstrar não haver
art. 236, da CF, de 1988. patrimônio suficiente para fins de indenização).

Art. 236 Os serviços notariais e de registro são As formas de execução, que não se confundem
exercidos em caráter privado, por delegação do com as formas de prestação, são apenas duas: execu-
Poder Público. ção direta e execução indireta.
A execução direta ocorre sempre que o poder públi-
Tais serviços envolvem a organização técnica e co emprega meios próprios para a sua prestação. Aqui
administrativa, sendo destinados a garantir a publici- são englobadas tanto a Administração direta como a
dade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurí- Administração indireta, isto é, a execução por intermé-
dicos, nos termos do art. 1º, da Lei nº 8.985, de 1994. dio de pessoas jurídicas de direito público ou de direito
Os serviços de notas e registros são regulamentados privado que foram instituídas para tal fim.
pela referida lei.
Dica
Art. 1º As concessões de serviços públicos e de
obras públicas e as permissões de serviços públi- São pessoas jurídicas de direito público inte-
cos reger-se-ão pelos termos do art. 175 da Cons- grantes da Administração indireta as autarquias
tituição Federal, por esta Lei, pelas normas legais e algumas fundações públicas (exceção). São
pertinentes e pelas cláusulas dos indispensáveis
pessoas de direito privado integrantes da Admi-
contratos.
nistração indireta as fundações públicas (regra),
as empresas públicas e as sociedades de eco-
As parcerias público-privadas (PPPs) são contratos
administrativos de concessão, podendo apresentar-se
nomia mista. Por outro lado, os integrantes da
nas modalidades de concessão patrocinada ou conces- Administração direta são: a União, os estados, o
são administrativa, na forma do caput, do art. 2º, da Distrito Federal e os municípios.
Lei nº 11.079, de 2004. É uma hipótese que se mostra
muito mais viável e atraente para o particular, uma A execução indireta, por sua vez, ocorre sempre
vez que ele recebe uma contraprestação pecuniária que o poder público concede a pessoas jurídicas ou
do ente público, o que diminui o valor a ser cobrado pessoas físicas estranhas à entidade estatal a possi-
como taxa para os usuários do serviço. bilidade de executar os serviços, mediante o regime
de concessão e permissão.
Das Formas de Prestação e Meios de Execução A execução indireta caracteriza-se pelo fato de que
tais serviços são prestados pela esfera privada, isto
Formas de prestação dos serviços públicos dizem é, são empresas que não possuem qualquer tipo de
respeito ao titular do referido serviço. São várias as vínculo com a Administração Pública (direta ou indi-
entidades que podem prestar serviços públicos. Essas reta), ou seja, não fazem parte dela.
184 formas de prestação variam para cada tipo de serviço:
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DELEGAÇÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO, mas somente à pessoa jurídica ou a um consórcio de
AUTORIZAÇÃO empresas. É o caso, por exemplo, da Sabesp (Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que é
Os serviços públicos podem ser executados dire- sociedade de economia mista, na prestação do serviço
tamente pelo poder público, ou, indiretamente, por de abastecimento de água no estado de São Paulo.
terceiros, que podem ser pessoas jurídicas de direito Essa modalidade de contrato tem por objeto a pres-
público ou de direito privado. Aqui, há uma delega- tação de serviço público. A delegação ocorre apenas
ção da competência administrativa. Resta saber quais sobre a execução do serviço, nunca sobre sua titulari-
são as principais formas de delegação dos serviços dade, que continua sendo do poder concedente.
públicos. São três: concessão, permissão e autorização. Apesar de a execução do serviço público não ser fei-
O termo “concessão” é empregado para designar a ta pelo poder concedente, a legislação (art. 29, da Lei nº
atividade da Administração Pública de delegar ao par- 8.987, de 1995) prevê outras obrigações para o Estado.
ticular a prestação de um serviço, ou a execução de
obra pública, ou, ainda, o uso de bem público. Art. 29 Incumbe ao poder concedente:
Concessão de serviço público é o contrato pelo I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar
qual a administração promove a prestação indireta de permanentemente a sua prestação;
um serviço, delegando-o a particulares. Exemplos: ser- II - aplicar as penalidades regulamentares e
viço de transporte público de passageiros, transmissão contratuais;
áudio-sonora (rádio) ou por imagens e sons (televisão) III - intervir na prestação do serviço, nos casos e
etc. Possui previsão legal na Lei nº 8.987, de 1995 (Lei condições previstos em lei;
de Concessões dos Serviços Públicos), bem como previ- IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nes-
são constitucional no art. 175, da CF, de 1988: ta Lei e na forma prevista no contrato;
V - homologar reajustes e proceder à revisão das
Art. 175 (CF, de 1988) Incumbe ao poder público, tarifas na forma desta Lei, das normas pertinentes
na forma da lei, diretamente ou sob regime de con- e do contrato;
cessão ou permissão, sempre através de licitação, a VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regula-
prestação de serviços públicos. mentares do serviço e as cláusulas contratuais da
[…] concessão;
Parágrafo único. A lei disporá sobre: VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber,
I - o regime das empresas concessionárias e permis- apurar e solucionar queixas e reclamações dos
sionárias de serviços públicos, o caráter especial de usuários, que serão cientificados, em até trinta
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as dias, das providências tomadas;
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da VIII - declarar de utilidade pública os bens neces-
concessão ou permissão; sários à execução do serviço ou obra pública,
promovendo as desapropriações, diretamente ou
Art. 2º (Lei nº 8.987, de 1995) Para os fins do dis- mediante outorga de poderes à concessionária,
posto nesta Lei, considera-se:
caso em que será desta a responsabilidade pelas
[...]
indenizações cabíveis;
II - concessão de serviço público: a delegação de
IX - declarar de necessidade ou utilidade pública,
sua prestação, feita pelo poder concedente, median-
para fins de instituição de servidão administrativa,
te licitação, na modalidade concorrência ou diá-
os bens necessários à execução de serviço ou obra
logo competitivo, a pessoa jurídica ou consórcio
de empresas que demonstre capacidade para seu pública, promovendo-a diretamente ou mediante
desempenho, por sua conta e risco e por prazo outorga de poderes à concessionária, caso em que
determinado; (Redação dada pela Lei nº 14.133, de 2021) será desta a responsabilidade pelas indenizações
cabíveis;
X - estimular o aumento da qualidade, produtivida-
Dessa forma, podemos concluir que a prestação
de, preservação do meio-ambiente e conservação;
do serviço público pode ocorrer diretamente pela
XI - incentivar a competitividade; e
Administração Pública, ou indiretamente, median-
XII - estimular a formação de associações de usuá-
te delegação do serviço a concessionários e permis-
rios para defesa de interesses relativos ao serviço.
sionários — esta última, por expressa determinação
legal, necessita de prévio procedimento de licitação.
Assim, são deveres do poder concedente:
A concessão de serviço público é contrato admi-
nistrativo bilateral, o que significa que depende, para
a sua formação, além dos requisitos essenciais a todo z Regulamentar e fiscalizar a execução do servi-
negócio jurídico dispostos no art. 104, do Código Civil ço concedido: a fiscalização é uma forma de exer-
(agente capaz, objeto lícito, forma prescrita ou não cício de controle da execução do serviço público,
pois, por mais que o Estado não esteja realizando
NOÇÕES DE DIREITO

defesa em lei), da convergência de vontades distintas.


Temos, de um lado, o poder concedente, que tem a execução do serviço em si, nada impede que ele
por objetivo a execução do serviço público em prol da possa fiscalizar se a execução está ocorrendo de
coletividade; e, do outro, a entidade concessionária, forma correta. Ele pode mandar um agente vincu-
que deve executar o serviço, com o objetivo de lucrar lado à administração, ou um terceiro contratado
mediante a arrecadação de tarifas dos usuários bene- justamente para esse fim;
ficiados com aquele serviço. z Intervir na execução do serviço, nos casos pre-
O contrato deve ser obrigatoriamente por escrito, vistos em lei: a intervenção advém do próprio
sendo regido pelas regras de direito administrativo. ato de fiscalização. Se a execução do serviço não
Ao mencionar a transferência para pessoa jurídi- se mostrar adequada ou estiver conforme o que
ca privada, quis o legislador que a delegação do servi- foi explícito no contrato, o poder concedente pode
ço não pudesse, em regra, ser feita a pessoas físicas, requisitar a paralisação da execução, por exemplo; 185
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z Aplicar as penalidades previstas na lei e/ou no Sendo assim, incumbe à concessionária:
contrato: as penalidades pela inexecução do ser-
viço público estão previstas no art. 87, da Lei nº z Prestar o serviço de maneira adequada, utilizan-
8.666, de 1993, podendo variar de uma simples do-se de técnicas específicas de seu conhecimento,
advertência até multa ou uma declaração de inido- nos casos previstos na lei ou no contrato: esta é a
neidade para licitar ou contratar com a Adminis- tarefa primordial, pois a concessionária é a res-
tração Pública enquanto perdurarem os motivos ponsável pela execução do serviço público;
determinantes da punição ou até que seja promo- z Prestar contas da gestão do serviço ao poder con-
vida a reabilitação; cedente e aos usuários: é formada uma relação de
z Possibilitar reajustes e a revisão das tarifas hierarquia entre o poder concedente e o conces-
cobradas: a revisão é uma ferramenta que pode sionário. Por isto, este deve prestar contas de seus
ser utilizada tanto na fase de estipulação do con- atos ao seu superior, devendo informar se a gestão
trato como na fase de execução do serviço público. do serviço público está ocorrendo corretamente,
Se restar comprovado que a tarifa de um serviço se não há nenhuma falha ou defeito etc.;
público se tornou demasiadamente alta, é possível z Cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e
realizar alguns ajustes. Contudo, eles geralmente as cláusulas contratuais, havendo possibilidade
são muito pequenos e, via de regra, costumam ser de pedir indenização pela inexecução do contrato:
para elevar o preço da tarifa, e não para diminuí-la; é tarefa do concessionário exigir que tudo aquilo
z Atender às reclamações e outras queixas advin- avençado no contrato se torne realidade. Assim, se
das dos usuários, zelando pela boa qualidade o poder concedente se recusar a lhe outorgar algo
do serviço: não faria muito sentido os usuários estabelecido em contrato, ou se o valor da remu-
mandarem suas reclamações pela má qualidade neração não for igual àquele avençado, poderá o
do serviço prestado para justamente a concessio- concessionário pedir a rescisão do contrato, com
nária que está executando o referido serviço. Tais pagamento de indenização pelo poder público;
reclamações são recebidas pelo superior na linha z Promover desapropriações e construir servidões
hierárquica, para que ele possa tomar as medidas administrativas, mediante autorização do poder
cabíveis; concedente: estas são formas de intervenção do
z Declarar os bens necessários à execução do ser- Estado na propriedade privada. Pode ocorrer de
viço de necessidade ou utilidade pública: pode o concessionário, para a melhor execução de um
ocorrer de a concessionária, para equilibrar o seu serviço, precisar ocupar um espaço de proprieda-
patrimônio, pretender a promoção da alienação de de de um particular, seja para fins de desapropria-
um ou mais bens. Porém, o poder concedente pode
ção, seja uma outra forma de intervenção mais
atribuir alguns limites, declarando esses bens
branda, como construir uma servidão. Todas essas
como de necessidade ou como de utilidade públi-
hipóteses são possíveis, desde que mediante pré-
ca. Desta forma, esses bens tornam-se inalienáveis
via autorização, e desde que haja uma indenização
e impenhoráveis, o que significa que a concessio-
do particular, que teve sua propriedade privada
nária não pode se dispor deles livremente.
obstruída;
z Captar, aplicar e gerir os recursos financeiros
Por outro lado, o art. 31 da referida lei traz os
necessários à prestação do serviço: todos os encar-
encargos da concessionária, nos seguintes termos:
gos do serviço público ficam a cargo do concessio-
nário. Logo, faz parte dessa lógica que ele deve ter
Art. 31 Incumbe à concessionária:
poder de decisão sobre os recursos econômicos e
I - prestar serviço adequado, na forma previs-
ta nesta Lei, nas normas técnicas aplicáveis e no financeiros relacionados com a prestação do ser-
contrato; viço público.
II - manter em dia o inventário e o registro dos bens
vinculados à concessão; Por fim, o art. 35, da Lei nº 8.987, de 1995, dispõe
III - prestar contas da gestão do serviço ao poder sobre as modalidades de extinção da concessão do
concedente e aos usuários, nos termos definidos no serviço público. São seis ao todo:
contrato;
IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e Art. 35 Extingue-se a concessão por:
as cláusulas contratuais da concessão; I - advento do termo contratual; (Regulamento)
V - permitir aos encarregados da fiscalização livre II - encampação;
acesso, em qualquer época, às obras, aos equipa- III - caducidade;
mentos e às instalações integrantes do serviço, bem IV - rescisão;
como a seus registros contábeis; V - anulação; e
VI - promover as desapropriações e constituir ser- VI - falência ou extinção da empresa concessionária
vidões autorizadas pelo poder concedente, confor- e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de
me previsto no edital e no contrato; empresa individual.
VII - zelar pela integridade dos bens vinculados à
prestação do serviço, bem como segurá-los adequa-
z Advento do termo contratual: trata-se da extin-
damente; e
ção do contrato pelo encerramento de seu prazo
VIII - captar, aplicar e gerir os recursos financeiros
necessários à prestação do serviço. de vigência. É a extinção natural do contrato, haja
Parágrafo único. As contratações, inclusive de vista que nosso direito não admite contrato de con-
mão-de-obra, feitas pela concessionária serão regi- cessão por prazo indeterminado;
das pelas disposições de direito privado e pela legis- z Encampação ou resgate: nos termos do art. 37, da
lação trabalhista, não se estabelecendo qualquer Lei nº 8.987, de 1995, é:
relação entre os terceiros contratados pela conces-
186 sionária e o poder concedente.
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Art. 37 [...] a retomada do serviço pelo poder con- condições de caducidade, fiscalização e rescisão da
cedente durante o prazo da concessão, por motivo concessão ou permissão;
de interesse público, mediante lei autorizativa espe- II - os direitos dos usuários;
cífica e após prévio pagamento da indenização [...]. III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Aqui não ocorreu nenhum tipo de infração de
algum termo do contrato por parte da concessionária. Questão controvertida é a natureza jurídica da
Por isso, nessa modalidade de extinção, não é possível permissão. Após a Constituição, de 1988, o direito bra-
aplicar sanções ao contratado. O contrato será extinto sileiro passou a tratar a permissão como se fosse um
por encampação, portanto quando o poder conceden- contrato de adesão, como se depreende da leitura do
te entender que a manutenção daquele contrato não inciso I, do parágrafo único, do art. 175. Todavia, con-
atende mais ao interesse público. trato de adesão é remetente aos contratos de direito
Por fim, é importante salientar que a encampação privado, principalmente nas relações de consumo. Tal
é forma de rescisão unilateral do contrato, por meio modalidade de contrato é elaborada unilateralmente
da qual o Estado rescinde o contrato sem necessidade pelo fornecedor, obrigando a parte aderente apenas a
de recorrer ao Poder Judiciário — e sem necessidade manifestar o seu aceite.
de concordância da concessionária; Trata-se de uma característica presente também
nos contratos administrativos: as regras enclausura-
z Caducidade: é a modalidade em que a execução das no contrato administrativo são unilateralmente
do serviço não é realizada no todo ou em parte, elaboradas pelo poder concedente, antes mesmo do
ou pelo descumprimento de encargos atribuídos processo de licitação.
à concessionária. A caducidade deve ser declara- A confusão estende-se ainda mais no âmbito legis-
da havendo a ocorrência de um dos eventos des- lativo, como ocorre no art. 40, da Lei nº 8.987, de 1995,
critos no § 1º, do art. 38, da Lei nº 8.987, de 1995, ao dispor que:
tais como: a concessionária paralisar o serviço,
descumprir cláusula contratual, não cumprir com Art. 40 A permissão de serviço público será forma-
lizada mediante contrato de adesão, que observará
as penalidades impostas etc. A caducidade, assim
os termos desta Lei, das demais normas pertinentes
como a encampação, também é uma forma de res-
e do edital de licitação, inclusive quanto à precarie-
cisão unilateral do contrato de concessão;
dade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo
z Rescisão por culpa do poder concedente: caso o poder concedente.
poder concedente descumpra alguma regra esta- Parágrafo único. Aplica-se às permissões o dispos-
belecida no instrumento contratual, a concessio- to nesta Lei.
nária tem direito a ingressar em juízo, objetivando
à indenização dos danos decorrentes da extinção Talvez seja possível dizer que esse dispositivo “não
contratual. A indenização, neste caso, abrange faz sentido”, uma vez que dispõe que a permissão é
somente os danos emergentes (o que se perdeu uma espécie de “contrato precário”.
efetivamente), e não os lucros cessantes (o que ele Não parece correto admitir que a permissão seja
poderia ter ganhado); uma espécie de contrato regulado por normas de
z Anulação: é a modalidade de extinção em que direito privado, com princípios completamente distin-
consta vício de legalidade originário no contrato. tos dos princípios administrativos. Todavia, há diver-
O contrato perde sua eficácia desde a sua concep- sos autores que admitem tal possibilidade, inclusive o
ção (ex tunc), o que significa que a concessionária próprio Supremo Tribunal Federal, no julgamento da
não faz jus à indenização, exceto quanto à parte já ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 1.491,
executada do contrato; de 1998.
z Decretação de falência: como a concessão é con- A ação de inconstitucionalidade foi ajuizada pelo
trato personalíssimo, ou seja, as partes contra- Partido Democrático Trabalhista (PDT) e pelo Partido
tantes têm grande relevância para a execução do dos Trabalhadores (PT) contra dispositivos da Lei nº
serviço, havendo o desaparecimento da empresa 9.295, de 1996, que dispõe sobre os serviços de tele-
concessionária mediante falência, ou o falecimen- comunicações e sua organização. O relator da época,
to de empresário individual, o vínculo contratual ministro Carlos Velloso, votou pelo deferimento da
também desaparece. liminar para suspender os efeitos do § 2º, do art. 8º.
Este dispositivo determina que:
A permissão é outra forma de a Administração
Pública delegar a execução de serviço público para Art. 8º [...]
os particulares. Também possui previsão no art. 175, § 2º As entidades que, na data de vigência desta
da CF, de 1988, e na Lei nº 8.987, de 1995. A permis- Lei, estejam explorando o Serviço de Transporte de
são é unilateral, discricionária, precária e intuitu Sinais de Telecomunicações por Satélite, median-
NOÇÕES DE DIREITO

personae (personalíssima) e promove a delegação te o uso de satélites que ocupem posições orbitais
do serviço público mediante prévia licitação para um notificadas pelo Brasil, têm assegurado o direito à
particular denominado permissionário. concessão desta exploração.

O fundamento da ADI é que, no entendimento dos


Art. 175 Incumbe ao Poder Público, na forma da
lei, diretamente ou sob regime de concessão ou per-
referidos partidos políticos, tal dispositivo viola a exi-
missão, sempre através de licitação, a prestação de gência constitucional de licitação prévia à realização
serviços públicos. da concessão ou permissão de serviços públicos e ao
Parágrafo único. A lei disporá sobre: princípio da livre concorrência e defesa do consumi-
I - o regime das empresas concessionárias e permis- dor. É um tanto surpreendente afirmar que a permis-
sionárias de serviços públicos, o caráter especial de são de serviço público deve seguir normas e regras de
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as direito do consumidor (ramo de direito privado). 187
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Por isso, para todos os efeitos, vamos nos alinhar com a posição da maioria das bancas, definindo a permissão
como um contrato de adesão.
Importante destacar as diferenças entre permissão e concessão de serviço público, que podem ser determina-
das com base nos seguintes requisitos:

z Quanto à natureza jurídica: a permissão é unilateral, enquanto a concessão é contrato bilateral;


z Quanto aos beneficiários: qualquer pessoa pode ser permissionária, mas somente as pessoas jurídicas
(empresas) podem ser concessionárias;
z Quanto ao aporte de capital: a concessão exige maior aporte de capital; a permissão admite investimentos
de pequeno ou médio porte;
z Quanto à licitação: a concessão deve ser precedida de licitação na modalidade de concorrência ou diálogo
competitivo. Não há essa exigência para a permissão;
z Quanto à forma da outorga: a concessão dá-se mediante promulgação de lei específica. A permissão necessita
apenas de autorização legislativa.

A autorização, por sua vez, é um ato administrativo por meio do qual a Administração Pública possibilita ao
particular a realização de alguma atividade de predominante interesse deste, ou a utilização de um bem público.
A autorização é um ato unilateral, discricionário, precário e independente de licitação. Todavia, difere-se da per-
missão ante o fato de que o interesse da autorização é predominantemente privado. A exemplo, temos a autorização
para o porte de arma: apenas o particular tem interesse de ter em sua posse arma de fogo.
Parte da doutrina entende que é incabível a utilização de autorização para a prestação de serviços públicos,
por força do art. 175, da CF, de 1988.

REFERÊNCIAS

CARVALHO FILHO, J. S. Manual de direito administrativo. 28ª ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2015.
CRETELLA JÚNIOR, J. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 44ª ed. Editora Malheiros, 2020.

CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


O controle é um conceito atrelado à ideia de fiscalização. Logo, quem exerce controle sobre algo ou alguém é
geralmente quem detém o poder de fiscalizar os seus atos.
Tais noções podem ser aplicadas ao poder público, pois o legislador, ao determinar a sua esfera de competên-
cia, acaba também por impor limites à sua área de atuação. Assim, é de grande importância estudar os instru-
mentos jurídicos de fiscalização sobre a atuação dos agentes, órgãos e entidades componentes da administração
pública. O enfoque será sobre o controle dos atos administrativos.
Tais mecanismos de fiscalização possuem natureza jurídica de princípio fundamental conforme dispõem os
incisos, do art. 6º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967:

Art. 6º As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios fundamentais:


I - Planejamento.
II - Coordenação.
III - Descentralização.
IV - Delegação de Competência.
V - Contrôle.

CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE CONTROLE

A doutrina não é unânime em relação ao tema. Todavia, boa parte dos autores costumam dividir os diversos
tipos de instrumentos de controle dos atos administrativos com base nos seguintes critérios.

Quanto ao Órgão Controlador

z Controle legislativo: é o controle realizado pelo Poder Legislativo, ou seja, o parlamento, no exercício da
sua função fiscalizadora. O controle no âmbito federal é diretamente exercido pelas Casas do Congresso
Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) e, indiretamente, pelo Tribunal de Contas da União.

Exemplo: investigação realizada pelas Comissões Parlamentares de Inquérito — CPIs (controle parlamentar
direto) e auditoria realizada pelo TCU em uma obra pública (controle parlamentar indireto);

z Controle administrativo: é o controle dos atos administrativos feito pelos órgãos e entidades da própria
administração pública. É a manifestação do princípio da autotutela. E é, por isso, uma modalidade de contro-
188 le interno, podendo ser feito de ofício ou mediante provocação.
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Exemplo: revogação de um ato administrativo, anulação de um ato pela própria administração, etc.;

z Controle judicial: o controle feito pelos integrantes do Poder Judiciário no exercício da função típica, qual
seja, a função julgadora. Devido ao princípio da inércia da jurisdição, jamais poderá atuar de ofício, apenas
mediante provocação.

Exemplo: mandado de injunção e as ações sobre controle de constitucionalidade.

Realizado pelo Poder


Controle
Legislativo, no exercício da sua
Legislativo função fiscalizadora

Controle dos atos


ÓRGÃO Controle administrativos feito pelos
CONTROLADOR Administrativo órgãos e entidades da própria
Administração Pública

Controle feito pelos integrantes


Controle do Poder Judiciário no exercício
Judicial da função típica (função
julgadora)

Quanto à Extensão (Origem)

z Controle interno: quando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão analisando os seus próprios
atos, tem-se o controle interno de legalidade. É aquele exercido internamente, por cada um dos Poderes, em
relação aos seus próprios atos (exercendo a autotutela).

São exemplos de controle interno: as corregedorias dos órgãos públicos, que fiscalizam os atos praticados
pelos seus servidores através de comissões de inquérito disciplinar (PAD); os órgãos especializados que são res-
ponsáveis pelo controle interno de um poder, mesmo sem relação de hierarquia (ex.: CGU);

z Controle externo: quando a legalidade dos atos editados por um Poder está sendo analisada por outro Poder,
ocorre o controle externo de legalidade. Será controle externo, então, o controle dos atos administrativos exer-
cido por um Poder diferente daquele responsável pela sua edição.

Essa possibilidade está amparada no art. 2º, da CF, de 1988, ao afirmar que:

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

São exemplos de controle externo: anulação de ato administrativo do Poder Executivo pelo Poder Judiciário; o
controle realizado pelos Tribunais de Contas (que auxilia o Legislativo) sobre os atos do Executivo e do Judiciário;
o julgamento anual, pelo Congresso Nacional (Legislativo), das contas prestadas pelo presidente da República
(Executivo) — inciso V, art. 49, CF, de 1988, entre outros.
O controle externo de maior abrangência, certamente, é aquele exercido pelo Poder Judiciário, que tem a
prerrogativa de analisar a legitimidade e a legalidade dos atos editados pelos demais poderes, em caráter de defi-
nitividade (coisa julgada material).
Quanto ao controle externo devemos ficar atentos, pois quando usamos o termo em sentido amplo, podemos
dividi-lo em controle externo judicial e legislativo:

„ Controle externo judicial: realizado mediante provocação e atua somente sobre os aspectos legais da
atuação administrativa (controle de legalidade);
„ Controle externo legislativo: realizado mediante provocação ou de ofício, atua tanto em relação aos
aspectos legais, quanto de mérito da atuação administrativa (controle de legalidade e de mérito).
NOÇÕES DE DIREITO

Por outro lado, quando utilizamos controle externo em sentido estrito, ficaremos adstritos aos termos da Cons-
tituição Federal, que dispõe apenas do controle externo legislativo — o qual será exercido com o auxílio do Tri-
bunal de Contas.

Quanto à Natureza

z Controle de legalidade: consiste em verificar se o ato praticado está em conformidade com o ordenamento
jurídico, ou seja, verificar se ato é legal. Constatando-se a incompatibilidade da conduta administrativa com
a norma ou com princípios administrativos, a revisão da conduta (comissiva ou omissiva) é medida que se
impõe. 189
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A legalidade tratada aqui é de forma ampla. Dessa pode verificar aspectos relativos à legalidade do ato,
forma, legalidade irá englobar: ou seja, se a negação ou a concessão estaria de acordo
com os preceitos legais.
„ Normas em geral: a CF, de 1988; leis, resolu- Quando a administração pública efetua o controle
ções, instruções normativas, portarias, regula- de mérito e entende que não é mais conveniente ou
mentos, entre outros; oportuno manter a produção de efeitos de um deter-
„ Princípios administrativos: impessoalidade, minado ato administrativo, poderá, então, revogá-lo.
moralidade, publicidade, eficiência, contraditó- O controle de mérito pode ter dois resultados
rio e ampla defesa, razoabilidade e proporcio- distintos:
nalidade, etc.
„ Confirmação da conveniência do ato: no caso
O controle de legalidade pode ser realizado tan-
em que, após a análise do mérito do ato, cons-
to por meio de controle interno (dever de autotu-
tata-se que é conveniente ou oportuno para a
tela da administração pública), como por meio do
controle externo (exercido pelo Poder Judiciário ou administração que ele continue existente;
Legislativo). „ Revogação: quando o ato, embora seja válido,
O controle de legalidade interno refere-se à anu- é tido como inoportuno ou inconveniente para
lação de licitação pela própria administração, após a administração.
constatado vício de ilegalidade em seu procedimento.
O controle de legalidade externo refere-se ao Quanto à Iniciativa
exame de legalidade pelo Poder Judiciário no caso
de impetração de mandado de segurança, visando à z Controle de ofício: é aquele praticado pela pró-
nomeação de candidato aprovado em concurso públi- pria administração, no exercício do poder de
co, ou pelo Poder Legislativo. autotutela, independentemente da provocação
O controle de legalidade pode ter três resultados de terceiros. Ocorre, por exemplo, quando uma
distintos: autoridade administrativa anula ou revoga um ato
administrativo praticado por subordinado.
„ Confirmação da validade do ato: no caso em
que, após a análise da validade do ato, consta- Exemplo: ocorre o controle preventivo e de ofício
ta-se que ele não goza de nenhuma ilegalidade; quando o setor de Tesouraria da Prefeitura verifica se
„ Anulação: quando é detectada alguma ilegali- foram cumpridos todos os requisitos e se estão corre-
dade no ato, ele será retirado do ordenamento tos todos os documentos, antes de efetuar o pagamen-
jurídico por meio da anulação;
to de algum serviço ou compra de material;
„ Convalidação: quando o ato é ilegal, passível
de ser “consertado” e tal ilegalidade pode ser
z Controle mediante provocação: o controle pro-
suprida.
vocado é aquele que tem o seu início mediante o
z Controle de mérito: no controle de mérito, não acionamento ou a provocação de terceiros, a exem-
se analisa a conformidade da edição do ato com plo do que acontece nos recursos administrativos.
a lei, mas sim a conveniência e a oportunidade Se a administração pública proferir uma decisão
da conduta administrativa. Ou seja, não basta que que não é de interesse do particular, por exemplo,
o ato praticado pelo administrador público esteja este poderá recorrer à autoridade superior com o
apenas em conformidade com a lei, ele tem que objetivo de tentar rever a decisão.
ser oportuno, conveniente, adequado ou justo
para que a administração pública possa alcançar Quanto ao Momento
os seus fins. É o que chamamos, também, de con-
trole discricionário. z Controle preventivo, prévio ou a priori: é o con-
trole exercido antes da prática do ato adminis-
Em regra, o controle de mérito é feito pelo próprio trativo (antes da “perfeição” do ato), possuindo
Poder que praticou o ato (controle interno). Dessa for- natureza preventiva.
ma, somente o Poder Executivo pode exercer o contro-
le de mérito sobre os atos praticados por seus agentes, Como exemplo, temos a necessidade de aprovação
o que também ocorre em relação aos demais poderes. da nomeação do procurador-geral da República pelo
Também pode ocorrer o controle de mérito quan- Senado Federal. Veja-se que nesse exemplo também
do exercido pelo Poder Legislativo, o chamado contro- se trata de uma forma de controle externo, pois temos
le político, embora seja mais incomum.
um Poder (Legislativo) exercendo controle sobre
A exemplo, temos a concessão de férias ou licen-
outro Poder (Executivo);
ças a servidores: é um ato discricionário do adminis-
A regra no ordenamento jurídico atual é a de que
trador que os chefia, no que se refere ao momento
oportuno para a concessão. Ou seja, o administrador não existe a necessidade de homologação prévia dos
verificará qual o melhor período para que o servidor Tribunais de Contas para o alcance da eficácia dos
se afaste do serviço, de forma que o trabalho não seja atos ou contratos administrativos.
prejudicado. Todavia, a lei pode expressamente exigir que o Tri-
Nesse exemplo, somente o próprio administra- bunal de Contas exerça este controle prévio, em casos
dor é que poderá rever o ato de concessão ou não de excepcionais. Como exemplo, podemos citar as licita-
férias ou licenças a seus servidores. Não pode, então, ções para concessão de serviços públicos no âmbito
o Poder Judiciário interferir quanto ao mérito da con- federal, que devem estar no edital submetido à apro-
190 cessão ou não das referidas férias ou licenças, mas vação ao Tribunal de Contas antes de ser publicado.
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z Controle concomitante ou pari passu: controle Existe uma divergência doutrinária importan-
efetuado no ato administrativo durante a sua prá- te sobre o tema. Parte da doutrina (encabeçada por
tica, possuindo também natureza preventiva. Maria Sylvia Zanella Di Pietro) entende que o controle
por vinculação é o controle externo, visto que sai dos
Exemplo: auditorar atos ou contratos administrati- limites da hierarquia e exerce controle sobre outra
vos que ainda estão em curso, tal como uma obra que pessoa jurídica, mesmo que seja dentro de um mesmo
se encontra em andamento e que passa por auditoria poder (executivo). Todavia, tal posicionamento não é
realizada pelo TCU; unanimidade, visto que a outra corrente doutrinária
(encabeçada por Celso Antônio Bandeira de Mello)
z Controle subsequente, posterior ou a posterio- considera que se o controle por vinculação é exercido
ri: é aquele efetuado após a conclusão (após a dentro de um mesmo poder, tal controle será inter-
formação perfeita) do ato ou atividade adminis- no, não importando se seria exercido por uma pessoa
trativa com o objetivo de confirmá-los ou corrigi- (administração direta) sobre os atos praticados por
-los. Assim, primeiro pratica-se o ato ou realiza-se pessoa diversa (administração indireta).
o procedimento, para depois verificar a sua legali- O último posicionamento parece ser mais lógico e
dade ou legitimidade. É a forma mais utilizada de é o mais aceito pela doutrina, mas as provas de con-
controle e possui natureza corretiva. curso já alternaram bastante os dois entendimentos.
O mais correto seria que a banca não viesse a cobrar
Temos como exemplo a aprovação das contas de uma questão colocando em confronto os dois enten-
um administrador público pelo Tribunal de Contas: dimentos. Por sinal, já houve questão de prova que
primeiro houve a prática de inúmeros atos ao longo abordou essa temática e, posteriormente, anulou a
do ano (compra de materiais, gastos com pessoal, rea- questão por alegar divergência doutrinária.
lização de obras, etc.), depois são verificadas a legali- Convém fazer breves considerações sobre os con-
dade e legitimidade de todos eles. Outro exemplo é a troles administrativo, legislativo e judicial, haja vis-
homologação do procedimento licitatório; e o exem- ta que o critério da extensão abrange todos os demais.
plo mais usado em provas: a anulação e revogação de
atos administrativos. CONTROLE ADMINISTRATIVO

Quanto ao Vínculo O controle administrativo é a forma pela qual o


Poder Executivo e os órgãos da administração dos
z Controle hierárquico ou por subordinação: essa demais Poderes mantêm suas atividades em confor-
forma de controle é consequência das relações hie- midade com a lei, atendendo às necessidades do servi-
rárquicas existentes no interior da administração ço e aos requisitos técnicos e econômicos.
entre os diversos órgãos e agentes públicos. Ocor- Esse controle envolve a verificação da legalida-
re tipicamente no Poder Executivo (e atipicamente de e do mérito dos atos administrativos. Com isso,
nos demais poderes), caracterizando-se como um pode-se afirmar que o controle administrativo não é
controle interno, pois, em regra, os órgãos públicos restrito apenas à administração pública, haja vista
integram uma mesma pessoa jurídica — decorren- que os órgãos administrativos dos Poderes Legislativo
te do poder hierárquico. e Judiciário também podem exercer controle adminis-
trativo sobre seus próprios atos.
O fundamento do controle administrativo está no
Como exemplo, podemos citar o controle que
poder de autotutela que a administração possui para
uma Secretaria Municipal de Saúde exerce em rela-
rever, anular ou revogar os atos que seus órgãos e
ção aos Postos de Saúde do município, que são órgãos
agentes praticam, independentemente de autorização
públicos;
judicial.
A atuação da administração pública, como ente
z Controle finalístico ou por vinculação: é aquele
capaz de fiscalizar os seus atos por conta própria, pos-
que se materializa no poder de tutela que a admi-
sui respaldo em uma importante súmula publicada
nistração direta (União, estados, DF e municípios)
pelo Supremo Tribunal Federal. Observemos o que diz
tem em relação aos entes da administração indi-
a Súmula nº 473, do STF:
reta (autarquias, fundações públicas, empresas
públicas e sociedades de economia mista). Esse
Súmula nº 473 (STF) A administração pode anu-
controle não se fundamenta na hierarquia dos lar seus próprios atos, quando eivados de vícios
órgãos administrativos. Em regra, é necessário que que os tornam ilegais, porque deles não se originam
haja a expressa previsão legal para que o controle direitos; ou revogá-los, por motivo de conve-
finalístico possa existir. niência ou oportunidade, respeitados os direi-
NOÇÕES DE DIREITO

tos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a


Chamado também de supervisão ministerial ou apreciação judicial.
tutela administrativa. Exemplo: o controle do Minis-
tério da Fazenda (órgão integrante da estrutura da Quando o texto da súmula diz que a administração
União — administração direta) em face do Banco do pública pode “anular seus próprios atos quando eiva-
Brasil (sociedade de economia mista federal — admi- dos de vício”, ela faz expressa referência ao controle
nistração indireta). de legalidade. De fato, a anulação é a medida cabível
Atentemo-nos aos conceitos: a autotutela é o que para remover qualquer ato administrativo do orde-
fundamenta o controle interno que a administração namento jurídico, quando ele for elaborado em desa-
pública faz sobre os seus próprios atos. A tutela, por cordo com a legislação vigente (contra legem), ou pelo
sua vez, é característica da administração direta, que fato de o ato administrativo não seguir os parâmetros
o exerce em face da administração indireta. da legislação vigente (não é secundum legem). 191
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Por outro lado, a súmula também disciplina sobre elaborado, todo o procedimento licitatório ante-
o ato de revogação. Essa é a medida cabível para rior à elaboração desse contrato já produz efeitos
retirar o ato administrativo do ordenamento jurídi- para o competidor que apresentou uma efetiva
co, porque ele deixa de ser útil para a administração proposta, atendendo todos os requisitos do edital;
pública. É isso que a súmula insinua quando expressa z Controle posterior ou a posteriori: essa é a moda-
que o ato administrativo pode ser revogado “por moti- lidade mais comum de controle administrativo,
vos de conveniência ou oportunidade”. pois ela visa a validar ou a remover um ato que já
Essa é a principal característica do controle de está produzindo efeitos. Todos os atos de homologa-
mérito, o qual garante uma margem de liberdade para ção (licitação, concurso público), os atos de cassa-
o administrador escolher qual a solução mais adequa- ção (aposentadoria, disponibilidade), e os recursos
da para aquele ato administrativo. É dizer, em outras administrativos são formas de controle posterior.
palavras, que o administrador poderá revogar os atos
inconvenientes ou inoportunos, mas o administrador Os recursos administrativos são os instrumentos
deve anular os atos ilegais. destinados a proporcionar o reexame dos atos da
Outro aspecto importante apresentado pela súmu- administração pública. São eles: a representação, a
la diz respeito à retroatividade dessas medidas. Os reclamação administrativa, o pedido de reconsidera-
atos administrativos considerados ilegais não ori- ção, e os recursos hierárquicos próprios e impróprios.
ginam direitos e, por isso, o ato de anulação poderá Em relação ao critério de vínculo, o controle admi-
retroagir (eficácia ex tunc) até o momento da origem nistrativo também possui as duas vertentes, assim
daquele ato. Porém, os atos administrativos consi- expostas:
derados inconvenientes e inoportunos “deverão res-
peitar os direitos adquiridos”, o que significa que a z Controle hierárquico: como visto, essa é a moda-
revogação não pode retroagir até a data da criação do lidade de controle que advém da própria linha
ato (eficácia ex nunc). hierárquica existente dentro de uma entidade ou
de um órgão, e que determina quem dá ordens
Dica (superior hierárquico), e quem executa essas
ordens (subordinado). Todo controle hierárquico
Anulação: atos eivados de vícios. Medida de é uma forma de controle interno, porque mesmo
controle de legalidade. Efeito retroativo; que possa existir hierarquia entre dois órgãos dis-
Revogação: por motivo de conveniência ou opor- tintos, ainda assim estamos dentro de uma mesma
tunidade. Medida de controle de mérito. Efeito pessoa jurídica. É o caso, por exemplo, de ordens
não retroativo. emitidas por um delegado para um agente da Polí-
cia Civil estadual;
O controle administrativo apresenta-se como um z Controle finalístico: também pode aparecer com
dos mais importantes para nossos estudos pelo fato de a nomenclatura supervisão ministerial. Uma das
ele ser, também, uma das modalidades mais versáteis. poucas hipóteses cabíveis dessa modalidade de
Isso se dá pelo fato de que o controle administrativo controle é o exercício da fiscalização de atos de
poderá ser feito segundo critérios de legalidade e de uma entidade da administração indireta (autar-
mérito, mas também segundo os critérios de momen- quia, fundação, empresa pública, sociedade de eco-
to (oportunidade) do seu exercício, e também em rela- nomia mista) por um ente da administração direta
ção ao vínculo do controle. (União, estados, municípios, Distrito Federal). É o
Em relação a qual o momento mais correto para caso, por exemplo, da realização de auditoria para
instaurar controle administrativo, mencionamos que averiguar casos de “apagões” pela falta de oferta
o controle dos atos públicos poderá ocorrer em três de serviço de energia elétrica na Agência Nacional
momentos distintos. O controle administrativo funcio- de Energia Elétrica (ANEEL). A ANEEL é uma agên-
na da mesma forma. Para melhor explicar cada moda- cia reguladora e, como tal, ela possui certa autono-
lidade, vamos utilizar alguns exemplos: mia em relação ao seu ente criador, o que significa
que entre essas duas entidades não há uma relação
z Controle administrativo preventivo ou a priori: de comando-subordinação. É importante ressaltar
esse é o caso do exercício das atividades de polícia que todo controle finalístico é também uma forma
administrativa, como o trancamento de estabe- de controle externo, pois sempre haverá uma pes-
lecimentos alimentícios por motivos sanitários. soa jurídica fiscalizando os atos de outra.
Mesmo que nenhum cliente daquele estabeleci-
mento tenha feito uma reclamação formal quanto Lembre-se que a fiscalização contábil e financeira
à qualidade do produto, a administração pública, não é um exemplo de controle finalístico administra-
para proteger a saúde e a segurança dos cidadãos, tivo, pois, nesse caso, quem é a entidade controladora
pode trancar o estabelecimento e impedir que o é o Poder Legislativo (hipótese de controle legislativo).
proprietário continue exercendo suas atividades Para fins didáticos, atente-se ao fluxograma a
comerciais até ele regularizar a situação; seguir:
z Controle administrativo concomitante ou pari
Prévio
passu: a fiscalização deve recair sobre um gran-
de projeto, cujos efeitos serão produzidos em um Concomitante
longo período de tempo. Mencionamos as audito- Posterior
rias e demais medidas de fiscalização aplicadas em Controle
de Legalidade
Administrativo
contratos administrativos, mas podemos também de Mérito
citar como exemplo a verificação de dados pre-
Hierárquico Interno
sentes no cadastro dos licitantes interessados no
192 certame. Mesmo que ainda não tenha um contrato Finalístico Externo

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CONTROLE LEGISLATIVO z Controle operacional e financeiro: é o respeito
aos procedimentos legais de entrada e saída de
O Poder Legislativo tem como uma de suas funções verbas. Pode-se afirmar que todas as verbas públi-
típicas o exercício do controle, isto é, a fiscalização dos cas têm um procedimento específico para que
atos do Executivo. As hipóteses de controle legislati- entrem e saiam dos cofres públicos;
vo estão todas previstas na Constituição Federal, e se z Controle patrimonial: o patrimônio público não
dividem em dois grandes grupos, quais sejam, o con- envolve apenas valores financeiros (dinheiro), mas
também bens móveis, imóveis, direitos reais de
trole político e o controle financeiro.
garantia etc. As alterações patrimoniais do Estado
O controle político tem por finalidade a proteção
também estão sujeitas ao controle do Legislativo;
dos interesses superiores do Estado e da sociedade,
z Controle orçamentário: trata-se, pura e sim-
abrangendo a fiscalização dos atos do Executivo, plesmente, do cumprimento das regras previstas
quanto à legalidade e quanto ao mérito, questionan- nas leis orçamentárias. As leis orçamentárias são
do a conveniência e oportunidade dos atos à luz do aquelas que, de modo geral, dispõem sobre o que
interesse público. É o caso das autorizações dentro será gasto pela administração pública, bem como
das competências das Casas parlamentares, dispostas quanto será gasto em cada setor.
nos arts. 49 a 52, da CF, de 1988.
A atuação do Congresso Nacional no controle polí- Entretanto, o art. 70 também apresenta outro
tico é bastante ampla e geral, seja na apuração de aspecto importante: além de expor as espécies de con-
condutas irregulares — com o auxílio das Comissões trole, dispõe, também, sobre os parâmetros de fiscali-
Parlamentares de Inquérito (CPIs) —, seja para mane- zação. Sendo estes dois, atente-se:
jar o processo de impeachment do presidente da Repú-
blica, entre outros. z Legalidade: os gastos públicos devem estar com-
Não vemos o Congresso exercer seu controle polí- patíveis, primeiramente, com a lei orçamentária
tico com muita frequência, sob o argumento de que e, sobretudo, com a própria Constituição Federal.
Temos, aqui, a vinculação do dinheiro público com
o controle em demasia poderia demonstrar uma rup-
a legislação;
tura com o sistema de separação dos três Poderes.
z Legitimidade e economicidade: são parâmetros
Todavia, ele tem previsão constitucional, e deve ser que atuam de forma conjunta. A legalidade pro-
utilizado sempre que possível, independentemente cura verificar se o gasto alcançou a finalidade
dos interesses políticos por trás deste. almejada, analisando a Lei Orçamentária. Já a eco-
O controle financeiro, por sua vez, ocorre com nomicidade verifica a relação de custo-benefício
muito mais frequência e corresponde à avaliação da daqueles gastos, isto é, se foi o menor possível e,
legalidade e da qualidade dos gastos públicos. Tem com isso, o mais eficiente possível.
relação com a fiscalização (se o gasto ocorre de acordo
com as normas legais) contábil e financeira, prevista O art. 74, da CF, de 1988, preceitua a possibilidade
no art. 70, da CF, de 1988. de um controle interno, isto é, órgãos dentro dos três
Salientamos que, embora o Poder Legislativo ava- Poderes com funções que seriam para exercer a fis-
lie e questione o mérito da atuação administrativa, ele calização de seus próprios atos, com a finalidade de:
não é capaz de revogar os atos administrativos.
Dispõe o art. 70, da CF, de 1988 que: Art. 74 […]
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no
plano plurianual, a execução dos programas de
Art. 70 A fiscalização contábil, financeira, orça-
governo e dos orçamentos da União;
mentária, operacional e patrimonial da União
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
e das entidades da administração direta e indireta, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentá-
quanto à legalidade, legitimidade, economicida- ria, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
de, aplicação das subvenções e renúncia de recei- da administração federal, bem como da aplica-
tas, será exercida pelo Congresso Nacional, ção de recursos públicos por entidades de direito
mediante controle externo, e pelo sistema de privado;
controle interno de cada Poder. III - exercer o controle das operações de crédito,
avais e garantias, bem como dos direitos e haveres
O controle realizado pelo Congresso Nacional é um da União;
controle parlamentar direto e eminentemente políti- IV - apoiar o controle externo no exercício de sua
missão institucional (art. 74, CF/1988).
co. Da leitura do dispositivo constitucional, podemos
destacar quais são as modalidades de controle exerci-
Por fim, é importante ressaltar o papel do Tribu-
do pelo Congresso Nacional:
NOÇÕES DE DIREITO

nal de Contas da União (TCU) no exercício do contro-


le legislativo externo (parte final do art. 70).
z Controle contábil: é aquele que parte da ideia de O TCU é um órgão colegiado responsável em auxi-
contabilidade. Contabilidade é a técnica que possi- liar o exercício do controle externo, sendo disci-
bilita o controle das receitas e despesas públicas, plinado tanto pela Constituição (arts. 71 e seguintes),
por meio do registro numérico. O art. 77, do Decre- como por legislação específica (Lei nº 8.443, de 1992).
to-Lei nº 200, indica que: É composto por nove ministros, sendo três deles con-
vocados pelo presidente da República; dois, alterna-
Art. 77 Todo ato de gestão financeira deve ser rea- damente, dentre auditores e membros do Ministério
lizado por força do documento que comprove a Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice
operação e registrado na contabilidade, mediante pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e
classificação em conta adequada. merecimento. 193
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Os seis remanescentes são nomeados pelo próprio Este inciso diz respeito ao fato de que, quando se
Congresso Nacional. O regime jurídico desses minis- admitirem servidores e empregados públicos, o órgão
tros se assemelha ao regime dos ministros do STJ, que realizou a contratação irá encaminhar o ato de
sobretudo no que diz respeito à vitaliciedade no car- admissão para o TCU que, para fins de registro, deverá
go, regras de aposentadoria, vantagens pecuniárias, apreciar a legalidade do ato.
etc. Sobre esse assunto, o STF entendeu que os Tribu-
Quanto à sua competência, cabe ao Tribunal de nais de Contas possuem um prazo de cinco anos para
Contas, nos termos do art. 71, in verbis: que examinem o ato de admissão, sob pena de regis-
tro tácito8.
Art. 71 O controle externo, a cargo do Congres-
so Nacional, será exercido com o auxílio do Tri- IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos
bunal de Contas da União, ao qual compete: Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica
ou de inquérito, inspeções e auditorias de nature-
Salienta-se que, como se depreende do caput, do za contábil, financeira, orçamentária, operacional
art. 71, os Tribunais de Contas são órgãos auxiliares e patrimonial, nas unidades administrativas dos
das Casas Legislativas. Porém, apesar de ser um órgão Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e
auxiliar, não é subordinado à respectiva Casa. demais entidades referidas no inciso II;

I - apreciar as contas prestadas anualmente O TCU possui, também, a competência de fiscaliza-


pelo Presidente da República, mediante parecer ção nos órgãos e entidades da administração pública.
prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias
a contar de seu recebimento; V - fiscalizar as contas nacionais das empresas
supranacionais de cujo capital social a União par-
Neste aspecto, cabe ressaltar que é de competên- ticipe, de forma direta ou indireta, nos termos do
cia exclusiva do Congresso Nacional julgar as contas tratado constitutivo;
prestadas pelo presidente da República. Já ao TCU VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recur-
cabe apreciar as contas e apresentar parecer prévio sos repassados pela União mediante convênio,
em 60 dias. As bancas examinadoras podem induzir o acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres,
candidato a erro. a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
VII - prestar as informações solicitadas pelo
II - julgar as contas dos administradores e demais Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas,
responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre
da administração direta e indireta, incluídas as a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo operacional e patrimonial e sobre resultados de
Poder Público federal, e as contas daqueles que auditorias e inspeções realizadas;
derem causa a perda, extravio ou outra irregulari-
dade de que resulte prejuízo ao erário público; Como vimos, o TCU é órgão auxiliar do controle
externo. Deste modo, embora não seja subordinado
Quanto às contas dos demais administradores e às Casas, é necessário que esteja à disposição do Con-
responsáveis da administração direta e as entidades gresso Nacional para prestar informações relaciona-
da administração indireta, o TCU irá julgá-las. Relem- das às fiscalizações que lhe forem solicitadas.
brando que, quanto às contas do presidente, o TCU
apenas irá apreciar e emitir parecer prévio. VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilega-
Vejamos a tabela a seguir: lidade de despesa ou irregularidade de contas,
as sanções previstas em lei, que estabelecerá,
entre outras cominações, multa proporcional ao
CONGRESSO dano causado ao erário;
TCU
NACIONAL
O TCU poderá, quando presentes ilegalidades de
Apreciar e emitir parecer prévio
despesas ou irregularidade de contas, aplicar penali-
quanto às contas do presidente Julgar as contas dades aos agentes responsáveis.
Julgar as contas dos demais prestadas pelo
administradores e entidades da presidente IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade
administração indireta adote as providências necessárias ao exato cumpri-
mento da lei, se verificada ilegalidade;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade
dos atos de admissão de pessoal, a qualquer Verificada uma ilegalidade, o TCU poderá fixar um
título, na administração direta e indireta, incluí- prazo para que o órgão ou entidade adote as provi-
das as fundações instituídas e mantidas pelo Poder dências necessárias para corrigir o ato e dar fiel cum-
Público, excetuadas as nomeações para cargo de primento à lei.
provimento em comissão, bem como a das conces-
sões de aposentadorias, reformas e pensões, X - sustar, se não atendido, a execução do ato
ressalvadas as melhorias posteriores que não alte- impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos
rem o fundamento legal do ato concessório; Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irre-
gularidades ou abusos apurados.

194 8 RE 636553. Repercussão Geral – Mérito (Tema 445). Relator(a): Min. GILMAR MENDES. Julgamento: 19/02/2020.
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Podem ocorrer situações em que o TCU se depare É um tipo de controle exercido sempre median-
com alguma irregularidade ou abusos que não sejam te provocação e que abrange apenas o aspecto da
de sua competência. Nestes casos, o TCU deve repre- legalidade do ato administrativo. Os instrumentos
sentar (dar ciência) ao Poder competente sobre a irre- de controle judicial dos atos do Executivo são todas as
gularidade constatada. ações admissíveis que tratem sobre ilegalidade.
É o caso, por exemplo, do mandado de segurança,
Art. 71 […] do habeas data, do mandado de injunção, e das ações
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será de controle de constitucionalidade.
adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que
Dentre as características, podemos destacar a
solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medi-
necessidade de provocação decorrente do princípio
das cabíveis.
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo,
da inércia da jurisdição. O Judiciário não age de ofício,
no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas é necessário que seja provocado por legitimados para
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidi- que inicie o controle judicial.
rá a respeito. Cabe ressaltar também que o Controle Judicial rea-
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte impu- liza apenas o controle da legalidade dos atos e nun-
tação de débito ou multa terão eficácia de título ca de mérito. Em outras palavras, o controle judicial
executivo. pode apenas resultar na anulação dos atos adminis-
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacio- trativos e nunca na sua revogação.
nal, trimestral e anualmente, relatório de suas O controle judicial pode versar sobre os aspectos
atividades. de legalidade tanto em atos vinculados quanto em
atos discricionários. Nos atos discricionários (liberda-
Dica de de atuar dentro do previsto em lei), o Poder Judiciá-
O Poder Legislativo é o titular do controle externo, rio pode avaliar se a atuação se deu dentro ou fora dos
limites da autonomia do gestor. Lembre-se: o controle
mas este é exercido pelo Tribunal de Contas. Para
é somente quanto à legalidade e não sobre o mérito.
lembrar da atuação do TCU, por meio do controle
Parte da doutrina admite a hipótese de controle de
externo, lembre-se do mnemônico “COFOP”. O
mérito dos atos administrativos pelo Poder Judiciário,
TCU atua nos aspectos: contábil, orçamentário, apreciando critérios de conveniência e oportunidade,
financeiro, operacional e patrimonial. isto é, as razões que justificaram a prática daquele ato.
É o caso, por exemplo, da implementação de polí-
Do dispositivo apresentado, deve-se fazer duas ticas públicas, pleiteadas pelos cidadãos que passam
ponderações. necessidade, mas que não são cumpridas dada a inér-
Observe que o TCU possui uma função consultiva, cia do Executivo em implementá-las. Apesar de ser
ao emitir parecer prévio à prestação de contas do pre- uma posição crescente, ela é minoritária, pois a atua-
sidente da República. Isso porque o TCU não julga as ção do Judiciário é voltada para anular os atos admi-
contas do presidente — essa é uma tarefa exclusiva da nistrativos, e não os revogar.
Câmara dos Deputados. Mas o TCU também apresenta Para facilitar o estudo, vejamos a tabela compara-
função judicante, isto é, de deliberar sobre as contas tiva dos principais pontos divergentes entre o contro-
dos administradores, bem como dos demais responsá- le administrativo e o controle judicial:
veis pelos valores e bens públicos da administração,
seja ela direta ou indireta.
Lembre-se de que, para os servidores públicos, CONTROLE
CONTROLE JUDICIAL
qualquer ato que enseje em prejuízos financeiros ADMINISTRATIVO
ao erário é caracterizado como ato de improbidade
administrativa, nos termos da Lei nº 8.429, de 1992. Somente se inicia me-
Pode iniciar de ofício ou
A decisão do Tribunal de Contas poderá julgar as diante provocação,
por provocação
contas dos administradores como: nunca de ofício

Controle de legalidade
z Regulares: se apresentarem com exatidão aquilo Controle de legalidade
ou de mérito
expresso nos demonstrativos contábeis;
z Regulares com ressalvas: significa que há uma Anula ou revoga os atos Somente anula os atos
impropriedade formal, mas que não é suficiente
para causar prejuízo ao erário (questões de proce- RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
dimento, mera solenidade);
z Irregulares: quando as contas apresentam algum
Responsabilidade Civil do Estado no Direito
erro material capaz de ensejar prejuízos ao erário.
Brasileiro
Se houve prejuízo de fato, o Tribunal condena ao
NOÇÕES DE DIREITO

pagamento do débito, acrescido de juros, correção


Neste ponto, estudaremos a responsabilização do
monetária, podendo inclusive aplicar multa san-
Estado e de seus agentes quando da sua atuação. Ini-
cionatória de 100% do valor atualizado do dano.
cialmente, é necessário saber que a responsabilidade
CONTROLE JUDICIAL poderá ser contratual ou aquiliana.
Contratual será aquela responsabilidade que sur-
O Poder Judiciário também possui competência gir no bojo de uma relação contratual, o que pode
para exercer controle de atos do Executivo, o que não acontecer em inúmeros contextos diferentes.
deve ser de grande surpresa, uma vez que devido ao Já a aquiliana será a responsabilidade extracon-
sistema de jurisdição una e ao princípio da inafasta- tratual, aquela à qual o Estado está sujeito quando da
bilidade da jurisdição, todos os atos administrativos sua atuação no dia a dia, sem qualquer necessidade de
podem ser apreciados pelo Judiciário. existência de contrato para que ela se efetive. 195
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Estudaremos a responsabilidade extracontratual z Nexo causal: relação de causa e consequência
do Estado, conhecendo um pouco de sua evolução entre a conduta e o dano ocorrido;
até o ponto em que se encontra hoje no ordenamento z Dolo ou culpa: presença do elemento subjetivo.
jurídico brasileiro. Perceba que a evolução das teorias
entrega uma tentativa de proteger cada vez mais o Os precursores dessa teoria defendiam a distinção
indivíduo da atuação do Estado. da conduta estatal em atos de império e atos de gestão:
Antes de adentrarmos aos detalhes, é importante
que você tenha em mente que o conceito de agente
z Atos de império: são aqueles em que o Estado
público aqui será o mais amplo possível, englobando
atua em posição de superioridade em relação ao
tanto os servidores públicos, como particulares que
estejam atuando em nome da Administração Pública, administrado. Os atos de império continuam não
ainda que por meio de concessionários ou delegatários. sendo passíveis de responsabilização;
A responsabilidade civil do Estado passou por z Atos de gestão: o Estado estaria atuando em igual-
diversas fases ao decorrer dos anos. Em um primeiro dade de condições com o administrado, sendo pos-
momento, a ideia era a de que o Estado não seria cha- sível a sua responsabilização.
mado a indenizar os danos que seus agentes causam
(Teoria da Irresponsabilidade). Após essa fase, conce- Teoria da Culpa Administrativa
beu-se a ideia de que o Estado poderia ser chamado
a indenizar pelos danos causados com base na culpa Esta teoria também pode ser referenciada como
(Teoria da Culpa Comum e Culpa Administrativa). Culpa do Serviço, Teoria do Acidente Administrativo
Atualmente, entende-se que o Estado deve responder ou Culpa Anônima do Serviço Público.
com base no risco da atividade realizada (Teoria do
Segundo esta teoria, para que se configure a res-
Risco Administrativo e Teoria do Risco Integral). Vere-
ponsabilidade do Estado, basta que se comprove o
mos cada uma delas a seguir.
mau funcionamento do serviço público prestado. É o
Teoria da Irresponsabilidade famoso “faute de servisse” (falta de serviço — falha na
prestação do serviço público).
Adentrando à evolução da teoria, temos inicial- Veja que a evolução aqui recai sobre a desneces-
mente a teoria da irresponsabilidade. Ela tem suas sidade de apuração do aspecto subjetivo da conduta
origens no absolutismo, no qual os reis não teriam, em do agente, bastando verificar o proceder da própria
tese, a capacidade de errar (“king can do no wrong”). Administração Pública, ou seja, não é necessário que
Como os monarcas se confundiam com o próprio o agente causador do dano seja individualizado e que
Estado e os agentes públicos eram representantes do seja comprovada sua conduta culposa.
rei, não haveria possibilidade de culpa. Deste modo, Nesta teoria, para que a vítima seja indenizada, é
a atuação dos agentes estatais não gerava obrigações necessário comprovar:
indenizatórias ao Estado.
z Dano sofrido;
Teoria da Culpa Comum (Teoria da Responsabilidade
z Falta ou falha do serviço;
Subjetiva)
z Nexo causal: relação de causa e consequência
entre a conduta e o dano ocorrido.
Para facilitar o entendimento, é importante que se
reflita sobre a noção “normal” de culpa, que envolve
apurar a existência da culpa, por exemplo, em um Teoria do Risco Administrativo
prejuízo causado ao vizinho. Isso é o que o direito cha-
ma de responsabilidade subjetiva: é aquela em que a Segundo a teoria do risco administrativo, a Admi-
conduta do sujeito é analisada para que se conclua nistração Pública deverá ser responsabilizada sempre
sobre a sua responsabilidade ou não. É a culpa trazida que sua conduta comissiva ou omissiva ensejar pre-
no Código Civil para situações gerais, digamos assim. juízos aos administrados. Tal responsabilização dar-
Reforçando, temos aqui a Teoria da Responsabi- -se-á independentemente de dolo ou culpa.
lidade Subjetiva, que também pode ser chamada de Ou seja, aqui, temos o primeiro momento em que
Teoria Civilista ou Teoria da Culpa Comum. Esta teoria surge uma responsabilidade civil do Estado de natu-
considerava a responsabilidade do Estado com base reza objetiva, pois não será analisado o aspecto sub-
nas mesmas regras do direito civil. Nela, será impor-
jetivo da conduta que causou o dano.
tantíssimo o elemento subjetivo da conduta do agente
Por outro lado, temos o surgimento, nesse momen-
público.
Nesta teoria, entendia-se que o Estado deveria ser to, de causas atenuantes ou até mesmo excludentes
responsabilizado caso comprovado o dano sofrido, da responsabilidade. Diante do caso concreto, o juiz
caso tivessem seus agentes atuado com culpa em sen- analisa a própria conduta do prejudicado, assim como
tido amplo (dolo ou culpa em sentido estrito) e caso a de outros envolvidos eventualmente, atenuando ou
fosse constatada a relação de causalidade entre o excluindo a culpa do Estado no caso, de acordo com as
dano e a conduta estatal. condutas dos envolvidos.
Diante disso, para que se configure a responsabili-
dade do Estado, deveremos estar diante dos seguintes
requisitos: Importante!
z Dano: material, estético ou moral; A responsabilização do Estado não depende de
z Conduta oficial: agir de pessoa enquadrada como prova quanto ao elemento culpa, ou seja, a teoria
196 agente público; do risco administrativo é de natureza objetiva.
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Na Teoria do Risco Administrativo, para caracte- Em contrapartida, aqueles entes estatais de direito
rizar a responsabilidade do Estado, a vítima precisa privado que não prestam serviços públicos não respon-
comprovar: dem objetivamente e, sim, de forma subjetiva, em regra.
Para melhor ilustrar o exposto, veja o esquema a seguir:
z Dano sofrido;
z Existência da atuação estatal (independentemente
de dolo ou culpa); EMPRESAS
z Nexo causal: relação de causa e consequência ESTATAIS
entre a conduta e o dano ocorrido.

Teoria do Risco Integral


Exploradora
Prestadora de
de atividade
Entendida a teoria anterior, fica mais fácil com- serviço público
econômica
preender esta. Aqui, os ditames são os mesmos, com
exceção da existência de excludentes e atenuantes da
responsabilidade do Estado. Em outros termos, para
que reste comprovada a responsabilidade do Estado,
impõem-se os seguintes fatores: Responsabilidade Responsabilidade
subjetiva objetiva
z Dano: material, estético ou moral;
z Conduta oficial: agir de pessoa enquadrada como
agente público; Para facilitar seu estudo, vejamos os pontos a
z Nexo causal: relação de causa e consequência seguir, que representam os entes que respondem de
entre a conduta e o dano ocorrido. maneira objetiva:

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO z Todas as pessoas jurídicas de direito público:


BRASILEIRO POR ATO COMISSIVO
„ Administração Direta;
Depois de conhecer a evolução dos modelos de „ Autarquias;
responsabilidade do Estado, veremos como o tema se
„ Fundações de direito público;
encontra hoje no país. Temos a predominância da Teo-
ria do Risco Administrativo, ou seja, em regra, a res- z Pessoas jurídicas de direito privado que prestam
ponsabilidade civil do Estado brasileiro será apurada serviços públicos:
de forma objetiva, sendo possível a aplicação de cau-
sas atenuantes e excludentes diante do caso concreto.
„ Fundações públicas de direito privado;
Como vimos, os danos podem ser material, moral
„ Empresas públicas;
ou estético, havendo, segundo jurisprudência do STJ,
„ Sociedade de economia mista;
a possibilidade de cumulação.
A principal norma sobre o tema encontra-se no „ Particulares que prestam serviços públicos
texto da Constituição Federal. Vejamos: (concessionários, permissionários etc.).

Art. 37 (CF, de 1988) [...]


§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e Importante!
as de direito privado prestadoras de serviços
As fundações, sejam elas de natureza pública
públicos responderão pelos danos que seus agen-
tes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegu- ou privada, pertencem à Administração Indireta.
rado o direito de regresso contra o responsável São entes dotados de personalidade jurídica pró-
nos casos de dolo ou culpa. pria e respondem de forma objetiva, com base
na Teoria do Risco Administrativo. Nestes casos,
Abrangência cabe ação de regresso no caso de comprovação
de dolo ou culpa. Esse item foi recentemente
Conforme dispõe o § 6º, do art. 37, a responsabi-
cobrado em prova.
lidade civil do Estado brasileiro abrange as pessoas
jurídicas de direito público e as pessoas de direito pri-
vado que prestam serviços públicos. Quanto aos particulares que prestam serviços
NOÇÕES DE DIREITO

Deste modo, todas as pessoas jurídicas de direito públicos, devemos dividir a responsabilidade em pri-
público respondem objetivamente pela conduta de
mária e subsidiária. Vejamos:
seus agentes. Já para caracterizar a responsabilida-
Em um dano provocado por agente de uma conces-
de objetiva das pessoas de direito privado, devemos
sionária de serviço público, o particular deve cobrar
observar outras características.
Para que as pessoas de direito privado sejam respon- a indenização da própria concessionária: trata-se da
sabilizadas objetivamente, devemos atentar-nos ao fato responsabilidade primária (objetiva).
de que estas devem ser prestadoras de serviço públi- Por outro lado, caso a concessionária não possua
co, alcançando até mesmo aqueles que não pertencem à forças para cumprir a obrigação de reparar o dano
Administração Pública em si, mas que recebem, por dele- causado, a responsabilidade será do Estado de forma
gação, a incumbência de prestar serviços públicos. subsidiária (objetiva).
197
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Importante ressaltar que, em consonância com a A excludente mostra-se de maneira simples de
jurisprudência pátria, não haverá distinção no caso compreender: ocorrerá quando o cidadão prejudica-
de o terceiro prejudicado ser usuário ou não da pres- do, ou um terceiro, tiver culpa exclusiva no evento
tadora de serviço eventualmente envolvida em um danoso, de forma que a Administração Pública não
incidente. Vejamos: causou qualquer dano. Exemplos: cidadão avança o
sinal e colide com viatura oficial que estava respei-
Art. 37 [...] tando todas as regras de trânsito aplicáveis; pessoa se
I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas joga na frente do metrô para cometer suicídio etc.
de direito privado prestadoras de serviço público é
objetiva relativamente a terceiros usuários e
não-usuários do serviço, segundo decorre do art.
Dica
37, § 6º, da Constituição Federal. Veja o entendimento do STF no caso de acidente
II - A inequívoca presença do nexo de causalidade em transporte de passageiros:
entre o ato administrativo e o dano causado ao ter-
Súmula 187 (STF) A responsabilidade contratual
ceiro não-usuário do serviço público, é condição
suficiente para estabelecer a responsabilidade do transportador, pelo acidente com o passagei-
objetiva da pessoa jurídica de direito privado.9 ro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva.
Importante: as pessoas de direito privado respon-
derão segundo o § 6º, art. 37, da CF, de 1988, quando z Culpa Concorrente
prestadoras de serviço público.
A culpa concorrente, diferentemente da culpa
Ação Regressiva exclusiva da vítima, é uma causa atenuante e ocorre-
rá quando existir culpa concorrente da Administração
Ao fim do dispositivo (§ 6º, art. 37, da CF), temos a Pública com o prejudicado. Ou seja, são os casos em
possibilidade da ação regressiva. Essa ação regressi- que a vítima e o agente público provocam, por culpa
va não influencia de forma alguma na responsabilida- recíproca, a ocorrência do prejuízo (dano). O agente
de do Estado perante o prejudicado. Será apenas um público de fato causou dano, no entanto, o particular
instrumento do Estado para se ressarcir dos prejuízos também teve parcela de culpa.
causados pelos seus agentes. Exemplo: viatura oficial avança sinal e colide com
De acordo com a jurisprudência do STF, não é pos- cidadão que também avança sinal de trânsito.
sível ao prejudicado propor a ação contra o Estado Na culpa concorrente, é necessária a discus-
e contra o agente público simultaneamente. A res- são sobre culpa ou dolo, ou seja, aplica-se a teoria
ponsabilidade deve recair sobre o Estado, que irá, subjetiva.
se for o caso, cobrar o agente público por meio de A responsabilidade do Estado é reduzida de manei-
ação regressiva. Importante diferenciar que, nesse ra proporcional à sua contribuição para o resultado
momento, a responsabilidade será subjetiva (culpa danoso. Nesses casos, para determinar o maior culpa-
civil comum), ou seja, existente apenas quando com- do pelo dano, deve-se realizar a produção de provas
provado que o agente agiu com dolo ou culpa. periciais.
Devemos lembrar dos requisitos necessários à
caracterização da responsabilidade civil do Estado: z Caso Fortuito e Força Maior

z Dano: material, estético ou moral; Outra situação que ensejará a exclusão da culpa
z Conduta oficial: agir de pessoa enquadrada como da Administração Pública será a ocorrência de fatos
agente público; imprevisíveis e extraordinários, que são o caso for-
z Nexo causal: relação de causa e consequência tuito e a força maior. Em termos simples, devemos
entre a conduta e o dano ocorrido. entendê-los da seguinte maneira:

Importante: a responsabilidade pessoal do agen- z Força maior: eventos da natureza que causam pre-
te público causador do dano somente será subjetiva juízo sem qualquer participação humana. Exemplo:
perante o Estado, ou seja, apenas quando comprovar furacão;
que o agente agiu com dolo ou culpa. z Caso fortuito: situação extraordinária causada
por conduta humana. Exemplo: guerra.
Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade z Culpa de Terceiros

Temos também as excludentes e atenuantes, já Nesta hipótese, o dano foi causado por ato pratica-
abordadas anteriormente, mas que ainda carecem de do por outra pessoa (terceiro), ou seja, embora tenha
um detalhamento. ocorrido uma atuação do Estado no serviço público,
o dano foi causado por pessoa alheia (fora da relação
z Culpa Exclusiva da Vítima Estado x particular).
Nestes casos, a regra é que o Estado não responde
A culpa exclusiva da vítima é uma forma exclu- de maneira objetiva, vez que inexiste o nexo entre a
dente de responsabilidade estatal e ocorre quando o atuação estatal e o dano sofrido pelo particular. Entre-
prejuízo é consequência da intenção exclusiva do pró- tanto, na hipótese em que ficar comprovado que o
prio prejudicado. A vítima utiliza o serviço público Estado deveria agir para evitar o dano, mas se omitiu,
para causar dano a si mesma. ele poderá ser chamado a indenizar o responsável.
9 STF - RE: 591874 MS, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 26/08/2009, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
198 REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO.
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Para facilitar seu estudo, veja a tabela a seguir:

EXCLUDENTES ATENUANTES
Culpa exclusiva da vítima
Força maior
Culpa concorrente
Caso fortuito
Culpa de terceiros

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO BRASILEIRO POR ATO OMISSIVO

A discussão sobre a responsabilidade civil do Estado no caso de atos omissivos é um pouco mais complexa,
dependendo do tema específico e do direcionamento jurisprudencial. Por isso, conheceremos o tema de maneira
geral, adentrando aos casos específicos mais importantes e cobrados em provas.
Então, compilando com o que vimos no item anterior, teremos o seguinte:

z Responsabilidade por atos comissivos: responsabilidade objetiva / Teoria do Risco Administrativo;


z Responsabilidade por atos omissivos: responsabilidade subjetiva / Teoria da Culpa Administrativa.

Como regra geral, na responsabilidade civil do Estado brasileiro por ato omissivo, será aplicada a Teoria da
Culpa Administrativa. Deste modo, a vítima deverá comprovar a falha na prestação do serviço público, ou
seja, provar que era dever do Estado prestá-lo e que isso não ocorreu ou ocorreu de maneira deficiente.
De acordo com esta teoria, a pessoa lesada deverá comprovar o dano sofrido, a falha no serviço público e o
nexo de causalidade entre a falha do serviço e o dano sofrido. Basta que seja comprovada a omissão do Estado e
que esta deu causa ao dano, inexigindo a individualização do agente público.
Vimos, neste momento, a regra geral no que concerne à omissão estatal; porém, existem exceções.
Nos casos em que o Estado possui um dever específico quanto a sua atuação, adotando uma posição de garan-
te, e descumpre sua atribuição, será caracterizada a omissão específica. Na omissão específica, o Estado respon-
derá de maneira objetiva pelo dano que vier a causar. Neste caso, aplica-se a Teoria do Risco Administrativo.

OMISSÃO ESTATAL
Omissão genérica (imprópria) Omissão específica (própria)
Estado como posição de garante
Responsabilidade subjetiva
Responsabilidade objetiva
Teoria da Culpa Administrativa Teoria do Risco Administrativo

Decisões dos Tribunais Superiores

Um tema que costuma cair bastante em questões de prova diz respeito à morte do preso. Segundo entendi-
mento do STF, o Estado tem o dever de garantir que a pessoa do detento cumpra sua pena com dignidade, tendo
respeitados os seus direitos humanos fundamentais. Assim, o Estado, como regra geral, responde de modo objeti-
vo pelos danos sofridos pelos detentos quando é omisso no tratamento digno.
Por outro lado, existem situações em que o dano ocorreria em qualquer lugar, independentemente de o indi-
víduo estar preso ou não (ex.: problema de saúde prévio). Nestas situações, ocorre o rompimento do nexo causal
(requisito para responsabilidade), o que não gera a responsabilidade do Estado.
Vejamos o importante julgado:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR


MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. […]
2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o
Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso.
3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se
os direitos fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º, inciso XLIX,
NOÇÕES DE DIREITO

da Constituição Federal).
4. O dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando possível a atuação estatal no
sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável para a configuração da responsabilidade
civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal.
5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que não é possível ao Estado agir para evitar a morte do
detento (que ocorreria mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a
responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio doctorum a teoria do risco inte-
gral, ao arrepio do texto constitucional.
6. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou morte natural,
sendo que nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções exigíveis.
7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva
da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o resultado danoso. 199
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8. Repercussão geral constitucional que assenta a Outro caso que é bastante comum e costuma cair
tese de que: em caso de inobservância do seu em questões de prova diz respeito ao serviço público
dever específico de proteção previsto no arti- de transporte coletivo. Indaga-se como deve recair a
go 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o responsabilidade do Estado quando, por exemplo, um
Estado é responsável pela morte do detento. motorista de ônibus atropela um civil andando na rua,
9. In casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu que é considerado um terceiro não usuário do serviço.
a comprovação do suicídio do detento, nem outra Segundo o entendimento do STF, as pessoas jurídicas
causa capaz de romper o nexo de causalidade da concessionárias do serviço de transporte possuem
sua omissão com o óbito ocorrido, restando escor- responsabilidade civil objetiva quando o dano for
reita a decisão impositiva de responsabilidade civil
causado contra terceiros, sejam eles usuários do
estatal.
serviço ou não. A presença do nexo de causalidade é
10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.10
bastante evidente.
Outro julgado muito interessante, e cobrado recen-
CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTA-
temente em prova, diz respeito ao preso internado em DO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS
hospital de custódia encontrado morto nas proximida- JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS
des do local de fuga. Neste caso, o tribunal entendeu DE SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU
que o Estado é responsável pela reparação do dano se PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPOR-
constatada a falta de vigilância interna do estabeleci- TE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
mento. Vejamos: EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO
SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. PESSOA JURÍDICA I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas
DE DIREITO PÚBLICO (ESTADO DE SANTA CATA- de direito privado prestadoras de serviço público é
RINA). FUGA E MORTE, POR AFOGAMENTO, DE objetiva relativamente a terceiros usuários e não-u-
PESSOA QUE FORA INTERNADA EM HOSPITAL suários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º,
DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO. da Constituição Federal.
DEVER DE COMPENSAR O DANO MORAL SUPOR- II - A inequívoca presença do nexo de causalidade
TADO POR SEUS FAMILIARES. SENTENÇA PAR- entre o ato administrativo e o dano causado ao
CIALMENTE REFORMADA. terceiro não-usuário do serviço público, é condição
01. A “responsabilidade objetiva prevista no art. suficiente para estabelecer a responsabilidade obje-
37, § 6º, da Constituição Federal abrange também tiva da pessoa jurídica de direito privado.
os atos omissivos do Poder Público” (AgRgAI n. III - Recurso extraordinário desprovido.13
766.051, Min. Gilmar Mendes; AgRgRE n. 607.771,
Min. Eros Grau; AgRgRE n. 697.396, Min. Dias Tof- É importante destacar também os casos de danos
foli; AgRgRE n. 594.902, Min. Cármen Lúcia). decorrentes de comércio de fogos de artifício. Fogos
02. Cumpre ao Estado assegurar “aos presos de artifício são produtos altamente perigosos e que
o respeito à integridade física e moral” (CR, podem causar danos a diversas vítimas, sejam elas o
art. 5º, XLIX). Essa obrigação se estende às pes- adquirente do produto ou terceiros. O Poder Público,
soas internadas em hospital de custódia e tra- de acordo com previsão legal de determinados entes
tamento psiquiátrico. Se em razão da falta de federativos, possui o dever específico de fiscalizar o
vigilância o interno se evadiu e veio a ser encon- comércio de fogos de artifício (posição de garante).
trado morto, asfixiado por afogamento, em riacho O STF firmou entendimento de que é objetiva a
existente nas proximidades do instituto psiquiátri- responsabilidade civil do Estado quando houver a vio-
co, responde o Estado pela reparação do dano lação de um dever jurídico específico de agir, ou seja,
moral suportado pelos familiares da vítima.11 quando existir previsão legal que determine tal fim.
Vejamos o julgado:
Quanto aos presidiários que escaparam e causa-
ram danos, os tribunais têm entendido que, em regra, […] 4. Fixada a seguinte tese de Repercussão Geral:
o Estado não responde pelos atos praticados por fora- “Para que fique caracterizada a responsabilidade
gidos do sistema penitenciário, salvo por aqueles civil do Estado por danos decorrentes do comér-
danos que decorreram diretamente ou imediatamen- cio de fogos de artifício, é necessário que exis-
te do ato de fuga. Vejamos o entendimento do STF: ta a violação de um dever jurídico específico
de agir, que ocorrerá quando for concedida
Nos termos do artigo 37 §6º da Constituição Fede- a licença para funcionamento sem as caute-
ral, não se caracteriza a responsabilidade civil las legais ou quando for de conhecimento do
objetiva do Estado por danos decorrentes de crime poder público eventuais irregularidades pra-
praticado por pessoa foragida do sistema prisio- ticadas pelo particular”. 14
nal, quando não demonstrado o nexo causal direto
entre o momento da fuga e a conduta praticada.12

10 (RE 841526, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159
DIVULGAÇÃO 29-07-2016 PUBLICAÇÃO 01-08-2016).
11 TJSC, AC n. 2006.009090-4, Des. Ricardo Roesler; AC n. 2012.012798-7, Des. Júlio César Knoll; TJDF, AC n. 2007.011028788-8, Des. Waldir
Leoncio C. Lopes Júnior.
12 STF - RE: 598356 SP, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 8/5/2018.
13 (RE 591874, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-237 DIVULG
17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-10 PP-01820 RTJ VOL-00222-01 PP-00500).
14 (RE 136861, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 11/03/2020, ACÓRDÃO
200 ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-201 DIVULG 12-08-2020 PUBLIC 13-08-2020).
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Por fim, algumas questões cobram o entendimento Já a probidade é prevista em lei. A improbidade é
quanto aos danos decorrentes de má conservação gênero que alcança atos de ilegalidade, imoralidade
de rodovia. A jurisprudência entende que a responsa- e qualquer violação aos princípios da Administração
bilidade do Estado, quando há falta ou má prestação Pública. Ainda nos ensinamentos de Di Pietro,
de serviço público de conservação de rodovia, é subje-
tiva, e aplicar-se-á a Teoria da Culpa Administrativa.15 Comparando moralidade e probidade, pode-se afir-
mar que como princípios, significam praticamente
a mesma coisa, embora algumas leis façam referên-
cia às duas separadamente, do mesmo modo que
há referência aos princípios da razoabilidade e da
SANÇÕES APLICÁVEIS AOS ATOS DE proporcionalidade como princípios diversos, quan-
do este último é apenas um aspecto do primeiro.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI No entanto, quando se fala em improbidade como
Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERAÇÕES) ato ilícito, como infração sancionada pelo orde-
namento jurídico, deixa de haver sinonímia entre
DISPÕE SOBRE AS SANÇÕES APLICÁVEIS EM as expressões improbidade e imoralidade, porque
VIRTUDE DA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE aquela tem um sentido muito mais amplo e muito
ADMINISTRATIVA, DE QUE TRATA O § 4º DO ART. mais preciso que abrange não só atos desonestos
37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL; E DÁ OUTRAS ou imorais, mas também e principalmente atos ile-
gais. Na lei de improbidade administrativa (lei nº
PROVIDÊNCIAS
8.429, de 1992), a lesão à moralidade administrati-
va é apenas uma das inúmeras hipóteses de atos de
No dia 26 de outubro de 2021 foi publicada a Lei improbidade previstas na lei.16
nº 14.230, de 2021, que traz alterações significativas à
Lei de Improbidade Administrativa — Lei nº 8.429, de Em provas, é comum que o examinador traga
1992. Faremos a análise da Lei de Improbidade apon- probidade e moralidade como sinônimos e essa vem
tando tais alterações. sendo a regra nas provas, mas é importante que
A improbidade administrativa tem fundamento no você saiba essa sutil diferença caso a banca queira
princípio da moralidade e no § 4º, art. 37, da Constitui- aprofundar.
ção Federal:
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de
Art. 37 [...] improbidade administrativa tutelará a probidade
§ 4º Os atos de improbidade administrativa impor- na organização do Estado e no exercício de suas
tarão a suspensão dos direitos políticos, a perda funções, como forma de assegurar a integrida-
da função pública, a indisponibilidade dos bens e o de do patrimônio público e social, nos termos
ressarcimento ao erário, na forma e gradação pre- desta Lei.
vistas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Revogado

A primeira mudança importante da lei é que os


Dica
atos de improbidade passam a depender de uma con-
Para memorizar as sanções do mencionado arti- duta dolosa, ou seja, não é mais admitida a modalida-
go, utilize o mnemônico PARIS: de culposa nos atos de improbidade.
Perda da função pública O § 2º traz o conceito de dolo. Além disso, é impor-
Ação penal tante que você saiba que o dolo aqui descrito é o dolo
específico, ou seja, a intenção de alcançar o resultado.
Ressarcimento
Exemplo: um servidor frauda a licitação para benefi-
Indisponibilidade dos bens
ciar um amigo.
Suspensão dos direitos políticos
Art. 1º […]
Nesse sentido, percebe-se que a Administração § 1º Consideram-se atos de improbidade adminis-
Pública, além da legalidade formal, precisa observar, trativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º,
também, os princípios éticos de lealdade, da boa-fé e 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em
de regras que assegurem a boa administração. leis especiais.
O art. 1º dispõe que o sistema de responsabiliza- § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de
ção por atos de improbidade administrativa tutelará alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e
a probidade na organização do Estado. E qual seria a 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente.
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de
diferença entre probidade e moralidade? Existe dife-
competências públicas, sem comprovação de ato
rença ou são sinônimos?
NOÇÕES DE DIREITO

doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade


Ambas têm fundamento na ideia de honestidade, por ato de improbidade administrativa.
mas a moralidade é um conceito jurídico indetermi- § 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disci-
nado trazido como princípio constitucional no caput plinado nesta Lei os princípios constitucionais do
do art. 37, da CF. Segundo Di Pietro (2020), “a morali- direito administrativo sancionador.
dade exige basicamente honestidade, observância das
regras de boa administração, atendimento ao interesse Quando o legislador diz no § 4º que se aplicam ao
público, boa-fé, lealdade.” sistema de improbidade os princípios constitucionais
do direito administrativo sancionador, quer dizer que
15 REsp: 1595141 PR 2016/0109066-4, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 09/08/2016, T2 - SEGUNDA TURMA, Data
de Publicação: DJe 05/09/2016.
16 DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 33ª Ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 1041-1042. 201
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serão aplicadas as normas constitucionais relativas ao Art. 1º […]
direito penal que protejam e beneficiem o réu, como, § 8º Não configura improbidade a ação ou omis-
por exemplo, a retroatividade da lei mais benéfica. são decorrente de divergência interpretativa da lei,
Nesse sentido, observe este julgado do Superior baseada em jurisprudência, ainda que não pacifi-
Tribunal de Justiça sobre o tema direito administra- cada, mesmo que não venha a ser posteriormente
tivo sancionador: prevalecente nas decisões dos órgãos de controle
ou dos tribunais do Poder Judiciário.
[...] o tema insere-se no âmbito do Direito Adminis-
trativo sancionador e, segundo doutrina e jurispru- No § 8º a lei deixa claro que as divergências inter-
dência, em razão de sua proximidade com o Direito pretativas das leis, baseadas em jurisprudências, não
Penal, a ele se estende a norma do artigo 5º, XVIII, configuram ato de improbidade. Se um agente públi-
da Constituição da República, qual seja, a retroati- co, por exemplo, efetua a dispensa de licitação em uma
vidade da lei mais benéfica” (REsp 1.353.267; e, em hipótese na qual há divergência jurisprudencial a res-
idêntico sentido, o RMS 37.031). peito da possibilidade ou impossibilidade de dispensa,
em tal situação não há que se falar em improbidade
SUJEITOS PASSIVOS DO ATO DE IMPROBIDADE mesmo que posteriormente a interpretação prevalente
seja contrária ao ato praticado pelo agente. Esse dispo-
Os parágrafos 5º, 6º e 7º descrevem os sujeitos sitivo garante mais segurança jurídica.
passivos do ato de improbidade, que são aqueles que
sofrem o ato. São eles: SUJEITOS ATIVOS DO ATO DE IMPROBIDADE

z Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, O sujeito ativo é aquele que pratica o ato descrito na
bem como a administração direta e indireta, no Lei de Improbidade. Segundo dispõe a norma, conside-
âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e ra-se sujeito ativo os agentes políticos, servidores públi-
do Distrito Federal; cos, aqueles que exercem, ainda que transitoriamente
z Entidade privada que receba subvenção, bene- ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designa-
fício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes ção, contratação ou qualquer outra forma de investidu-
públicos ou governamentais citados acima; ra ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função. Aqui
z Entidade privada para cuja criação ou custeio entra a figura do mesário, do jurado, do estagiário etc.
o erário haja concorrido ou concorra no seu Além deles, temos como sujeito ativo também
patrimônio ou receita atual, limitado o ressarci- aqueles que, mesmo não sendo agentes públicos,
mento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do induzam ou concorram dolosamente para a prática
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. do ato de improbidade.

Art. 1º […] Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se


§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na agente público o agente político, o servidor público
organização do Estado e no exercício de suas fun- e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ções e a integridade do patrimônio público e social ou sem remuneração, por eleição, nomeação, desig-
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nação, contratação ou qualquer outra forma de
bem como da administração direta e indireta, investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
no âmbito da União, dos Estados, dos Municí- função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei.
pios e do Distrito Federal.
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos
Parágrafo único. No que se refere a recursos de ori-
de improbidade praticados contra o patrimônio
gem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta
de entidade privada que receba subvenção, benefício
Lei o particular, pessoa física ou jurídica, que cele-
ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou
bra com a administração pública convênio, contrato
governamentais, previstos no § 5º deste artigo.
de repasse, contrato de gestão, termo de parceria,
§ 7º Independentemente de integrar a administra-
termo de cooperação ou ajuste administrativo equi-
ção indireta, estão sujeitos às sanções desta Lei
valente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
os atos de improbidade praticados contra o
patrimônio de entidade privada para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no O art. 2º descreve o conceito de agente público;
seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressar- podemos dizer que o conceito trazido na lei trata de
cimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do agentes públicos em sentido amplo e seriam os:
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
z Agentes políticos;
Com relação às entidades privadas que, mesmo z Servidores públicos;
não integrando a administração indireta, recebem z Todo aquele que exerce, ainda que transitoria-
dinheiro público, “criação ou custeio o erário haja con- mente ou sem remuneração, por eleição, nomea-
corrido ou concorra no seu patrimônio ou receita”, o ção, designação, contratação ou qualquer outra
ressarcimento dos prejuízos será limitado à repercus- forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
são do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. emprego ou função;
Exemplo: uma entidade privada recebe R$ 55.000,00 z O particular, pessoa física ou jurídica, que cele-
de dinheiro público, então ela poderá pleitear em Ação bra com a Administração Pública convênio,
de Improbidade Administrativa o ressarcimento dos contrato de repasse, contrato de gestão, termo
prejuízos até o limite de R$ 55.000,00. de parceria, termo de cooperação ou ajuste
administrativo equivalente (particular equipa-
202 rado a agente público).
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Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no Já com relação ao Presidente da República não há
que couber, àquele que, mesmo não sendo agente a possibilidade de aplicação da Lei de Improbidade,
público, induza ou concorra dolosamente para a uma vez que o Presidente da República já tem um
prática do ato de improbidade. sistema próprio de punição dentro da Constituição
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colabo- Federal com uma previsão específica para crimes de
radores de pessoa jurídica de direito privado não
responsabilidade.
respondem pelo ato de improbidade que venha a
Lembre-se sempre de responder de acordo com
ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, compro-
vadamente, houver participação e benefícios dire-
o comando da questão. Se a questão citar “de acordo
tos, caso em que responderão nos limites da sua com entendimento do Supremo Tribunal Federal”,
participação. você já terá conhecimento suficiente para respondê-
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pes- -la. Se ela trouxer apenas o texto da lei, considere o
soa jurídica, caso o ato de improbidade adminis- texto legal.
trativa seja também sancionado como ato lesivo à
administração pública de que trata a Lei nº 12.846, Art. 7º Se houver indícios de ato de improbida-
de 1º de agosto de 2013. de, a autoridade que conhecer dos fatos repre-
sentará ao Ministério Público competente,
O art. 3º traz algumas novidades importantes, pois para as providências necessárias.
dispõe que: Parágrafo único. Revogado.
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que cau-
Salvo se,
sar dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamen-
Os sócios, os Não respondem comprovadamente, te estão sujeitos apenas à obrigação de repará-lo
cotistas, os pelo ato de houver participação até o limite do valor da herança ou do patrimônio
diretores e os improbidade e benefícios transferido.
colaboradores de que venha a ser diretos, caso em Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que
pessoa jurídica de imputado à pessoa que responderão
trata o art. 8º desta Lei aplica-se também na
direito privado jurídica nos limites da sua
participação hipótese de alteração contratual, de transfor-
mação, de incorporação, de fusão ou de cisão
societária.
Além disso, as sanções trazidas nessa lei não se Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de
aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato praticado incorporação, a responsabilidade da suces-
seja também sancionado como ato lesivo à Admi- sora será restrita à obrigação de reparação
nistração Pública de que trata a Lei Anticorrupção. integral do dano causado, até o limite do
Ainda com relação aos agentes políticos, pode-se patrimônio transferido, não lhe sendo apli-
citar como exemplos os Chefes do Executivo e seus cáveis as demais sanções previstas nesta Lei
auxiliares diretos; membros do Legislativo, mem- decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes
bros do Judiciário; membros do Ministério Público; da data da fusão ou da incorporação, exceto
membros dos Tribunais de Contas e representantes no caso de simulação ou de evidente intuito de
diplomáticos. fraude, devidamente comprovados.
A Lei nº 14.230, de 2021, incluiu expressamente
“agente político” como agente público, consolidando A responsabilidade sucessória teve alguns acrés-
o que a jurisprudência já decidia a respeito da aplica- cimos. Nas hipóteses de dano ao erário e enriqueci-
ção da Lei de Improbidade aos agentes políticos. Com mento ilícito, se houver o falecimento do causador
relação aos Chefes do Executivo, é importante ficar do dano, o sucessor ou o herdeiro ficam obrigados à
atento para a exceção quanto ao Presidente da Repú- reparação até o limite do valor da herança ou do patri-
blica. Veja: mônio transferido.
Essa regra já estava prevista no texto anterior da
Ementa: Direito Constitucional. Agravo Regimental Lei de Improbidade. A novidade agora é que a res-
em Petição. Sujeição dos Agentes Políticos a Duplo ponsabilidade sucessória de que trata o art. 8º apli-
Regime Sancionatório em Matéria de Improbidade. ca-se também nas hipóteses de:
Impossibilidade de Extensão do Foro por Prerro-
gativa de Função à Ação de Improbidade Adminis- z alteração contratual;
trativa. 1. Os agentes políticos, com exceção do
z transformação;
Presidente da República, encontram-se sujei-
z incorporação;
tos a um duplo regime sancionatório, de modo
que se submetem tanto à responsabilização
z fusão;
civil pelos atos de improbidade administra- z cisão societária.
tiva, quanto à responsabilização político-ad-
NOÇÕES DE DIREITO

ministrativa por crimes de responsabilidade Observe que o parágrafo único, do art. 8º-A, traz
[...]17. uma redação cheia de detalhes importantes e pode
ser muito explorado em provas. A banca examinadora
Ou seja, para os Prefeitos e Governadores temos pode usar tal dispositivo para elaborar questões que
a possibilidade de aplicação da Lei de Improbidade, podem induzi-lo ao erro. Por isso, é muito importante
inclusive com a possibilidade de duplo regime sancio- memorizar o conteúdo, já que a maioria das provas
natório (pela Lei de Improbidade e mediante impea- cobra o texto da lei. Sendo assim, atente-se para as
chment) e não há foro por prerrogativa de função, ou informações na tabela a seguir.
seja, o julgamento será em primeira instância.
17 Pet 3240 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-171 DIVULG 21-08-2018 PUBLIC 22-08-2018. 203
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IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qual-
FUSÃO E INCORPORAÇÃO quer bem móvel, de propriedade ou à disposição
de qualquer das entidades referidas no art. 1º
Responsabilidade da sucessora será restrita à obriga-
desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de
ção de reparação integral do dano causado
empregados ou de terceiros contratados por essas
Até o limite do patrimônio transferido entidades;
Não aplicando as demais sanções decorrentes de V - receber vantagem econômica de qualquer
atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou natureza, direta ou indireta, para tolerar a explo-
da incorporação ração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de
narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
Exceto no caso de simulação ou de evidente intuito
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de
de fraude, devidamente comprovados
tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA natureza, direta ou indireta, para fazer declara-
ção falsa sobre qualquer dado técnico que envolva
As hipóteses de improbidade administrativa estão obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
divididas em três espécies: quantidade, peso, medida, qualidade ou caracterís-
tica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer
z Art. 9º: atos que importam enriquecimento ilícito; das entidades referidas no art. 1º desta Lei;
z Art. 10: atos que causam prejuízo ao erário; VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercí-
cio de mandato, de cargo, de emprego ou de função
z Art. 11: atos que atentam contra os princípios da
pública, e em razão deles, bens de qualquer nature-
Administração Pública.
za, decorrentes dos atos descritos no caput deste
artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução
O art. 10-A, incluído em 2016, que tratava dos atos do patrimônio ou à renda do agente público, asse-
de improbidade administrativa decorrentes de con- gurada a demonstração pelo agente da licitude da
cessão ou aplicação indevida de benefício financeiro origem dessa evolução;
ou tributário, deixou de existir como espécie de ato VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer
e foi incorporado em uma das hipóteses de atos que atividade de consultoria ou assessoramento
causam lesão ao erário. para pessoa física ou jurídica que tenha interesse
Além disso, o rol de hipótese que antes era exem- suscetível de ser atingido ou amparado por ação
plificativo agora se tornou rol taxativo. O rol exem- ou omissão decorrente das atribuições do agente
plificativo é aquele que pode ser acrescido por outras público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para inter-
hipóteses, já o rol taxativo traz uma relação de situa-
mediar a liberação ou aplicação de verba pública
ções restritas às quais não haverá acréscimo.
de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer
Dos Atos de Improbidade Administrativa que natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato
Importam Enriquecimento Ilícito de ofício, providência ou declaração a que esteja
obrigado;
Com a leitura dos artigos você vai perceber que XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patri-
nesta espécie existe um enriquecimento, um aumento mônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes
patrimonial do agente com a prática dos atos descritos. do acervo patrimonial das entidades mencionadas
Observe os verbos: receber, perceber, adquirir, no art. 1° desta lei;
usar, incorporar, utilizar para conseguir qualquer XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, ver-
tipo de vantagem patrimonial indevida. bas ou valores integrantes do acervo patrimonial
das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrati-
va importando em enriquecimento ilícito auferir, Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam
mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de Prejuízo ao Erário
vantagem patrimonial indevida em razão do exer-
cício de cargo, de mandato, de função, de emprego Já nos atos que causam prejuízo ao erário, não há
ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º um proveito econômico pelo agente, ocorre um pre-
desta Lei, e notadamente: juízo aos cofres públicos. Aqui, o agente vai contri-
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem buir para que outro enriqueça às custas do dinheiro
móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem eco- público, deixar de observar alguma exigência previs-
nômica, direta ou indireta, a título de comissão, ta em lei, e essa inobservância causa algum prejuízo,
percentagem, gratificação ou presente de quem por exemplo: frustrar a licitude de licitação ou proces-
tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser so seletivo, acarretando perda patrimonial etc. Perce-
atingido ou amparado por ação ou omissão decor- ba que com esse raciocínio não dá para confundir as
rente das atribuições do agente público; duas espécies.
II - perceber vantagem econômica, direta ou
indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou Art. 10 Constitui ato de improbidade administra-
locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação tiva que causa lesão ao erário qualquer ação ou
de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprova-
preço superior ao valor de mercado; damente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
III - perceber vantagem econômica, direta ou malbaratamento ou dilapidação dos bens ou have-
indireta, para facilitar a alienação, permuta ou res das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
locação de bem público ou o fornecimento de ser- notadamente:
viço por ente estatal por preço inferior ao valor de I - facilitar ou concorrer, por qualquer for-
204 mercado; ma, para a indevida incorporação ao patrimônio
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particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, pública a entidade privada mediante celebração de
de rendas, de verbas ou de valores integrantes do parcerias, sem a observância das formalidades
acervo patrimonial das entidades referidas no art. legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
1º desta Lei; XVIII - celebrar parcerias da administração
II - permitir ou concorrer para que pessoa físi- pública com entidades privadas sem a obser-
ca ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas vância das formalidades legais ou regulamen-
ou valores integrantes do acervo patrimonial das tares aplicáveis à espécie;
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a XIX - agir para a configuração de ilícito na
observância das formalidades legais ou regu- celebração, na fiscalização e na análise das
lamentares aplicáveis à espécie; prestações de contas de parcerias firmadas pela
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao administração pública com entidades privadas;
ente despersonalizado, ainda que de fins educativos XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela
ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do administração pública com entidades privadas sem
patrimônio de qualquer das entidades menciona- a estrita observância das normas pertinentes
das no art. 1º desta lei, sem observância das for- ou influir de qualquer forma para a sua apli-
malidades legais e regulamentares aplicáveis à cação irregular.
espécie; XXI - Revogado;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou XXII - conceder, aplicar ou manter benefício
locação de bem integrante do patrimônio de qual- financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o
quer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº
ainda a prestação de serviço por parte delas, por 116, de 31 de julho de 2003.
preço inferior ao de mercado; § 1º Nos casos em que a inobservância de forma-
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou lidades legais ou regulamentares não implicar
locação de bem ou serviço por preço superior ao de perda patrimonial efetiva, não ocorrerá impo-
mercado; sição de ressarcimento, vedado o enriqueci-
VI - realizar operação financeira sem obser- mento sem causa das entidades referidas no art.
vância das normas legais e regulamentares ou 1º desta Lei.
aceitar garantia insuficiente ou inidônea; § 2º A mera perda patrimonial decorrente da
VII - conceder benefício administrativo ou fis- atividade econômica não acarretará improbi-
cal sem a observância das formalidades legais dade administrativa, salvo se comprovado ato
ou regulamentares aplicáveis à espécie; doloso praticado com essa finalidade.
VIII - frustrar a licitude de processo licitató-
rio ou de processo seletivo para celebração de
O parágrafo segundo, do referido artigo, reforça a
parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
dispensá-los indevidamente, acarretando perda
ideia de que os atos descritos na Lei de Improbidade
patrimonial efetiva; precisam de dolo, ou seja, a vontade livre e consciente
IX - ordenar ou permitir a realização de despe- de alcançar o resultado ilícito.
sas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou Dos Atos de Improbidade Administrativa que
de renda, bem como no que diz respeito à conserva- Atentam Contra os Princípios da Administração
ção do patrimônio público; Pública
XI - liberar verba pública sem a estrita obser-
vância das normas pertinentes ou influir de Com relação aos atos de improbidade que aten-
qualquer forma para a sua aplicação irregular; tam contra os princípios, a conduta do agente de
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que alguma forma vai violar os princípios que norteiam
terceiro se enriqueça ilicitamente; a atividade da Administração Pública. Como é um rol
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço
menor, se você memorizar as hipóteses do art. 11 e
particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
tiver em mente o raciocínio explicado acima nos arts.
material de qualquer natureza, de propriedade ou à
disposição de qualquer das entidades mencionadas 9º e 10, fica fácil identificar na questão o que é o enri-
no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servi- quecimento ilícito e o prejuízo ao erário.
dor público, empregados ou terceiros contratados
por essas entidades. Art. 11 Constitui ato de improbidade administra-
XIV - celebrar contrato ou outro instrumento tiva que atenta contra os princípios da admi-
que tenha por objeto a prestação de serviços públi- nistração pública a ação ou omissão dolosa que
cos por meio da gestão associada sem observar viole os deveres de honestidade, de imparcialidade
as formalidades previstas na lei; e de legalidade, caracterizada por uma das seguin-
XV - celebrar contrato de rateio de consórcio tes condutas:
público sem suficiente e prévia dotação orça- I - Revogado;
mentária, ou sem observar as formalidades II - Revogado;
NOÇÕES DE DIREITO

previstas na lei. III - revelar fato ou circunstância de que tem


XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, ciência em razão das atribuições e que deva
para a incorporação, ao patrimônio particular de permanecer em segredo, propiciando beneficia-
pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou mento por informação privilegiada ou colocando
valores públicos transferidos pela administração em risco a segurança da sociedade e do Estado;
pública a entidades privadas mediante celebração IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em
de parcerias, sem a observância das formali- razão de sua imprescindibilidade para a seguran-
dades legais ou regulamentares aplicáveis à ça da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses
espécie; instituídas em lei;
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa físi- V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o cará-
ca ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ter concorrencial de concurso público, de cha-
ou valores públicos transferidos pela administração mamento ou de procedimento licitatório, com 205
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vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou Novamente o legislador faz ênfase à proibição de
indireto, ou de terceiros; haver condutas culposas nos atos de improbidade
VI - deixar de prestar contas quando esteja obri- administrativa e caberá ao Ministério Público, titu-
gado a fazê-lo, desde que disponha das condições lar da ação, provar que nas hipóteses descritas nesse
para isso, com vistas a ocultar irregularidades;
artigo o agente tinha a finalidade de obter proveito ou
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhe-
cimento de terceiro, antes da respectiva
benefício indevido para si ou para outra pessoa.
divulgação oficial, teor de medida política ou
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, Art. 11 […]
bem ou serviço. § 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a
VIII - descumprir as normas relativas à celebra- quaisquer atos de improbidade administrativa tipi-
ção, fiscalização e aprovação de contas de parce- ficados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer
rias firmadas pela administração pública com outros tipos especiais de improbidade administrati-
entidades privadas. va instituídos por lei.
IX - Revogado; § 3º O enquadramento de conduta funcional na
X - Revogado; categoria de que trata este artigo pressupõe
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente a demonstração objetiva da prática de ilega-
em linha reta, colateral ou por afinidade, até o lidade no exercício da função pública, com a
terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante indicação das normas constitucionais, legais
ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido ou infralegais violadas.
em cargo de direção, chefia ou assessoramento,
para o exercício de cargo em comissão ou de con-
A exigência do parágrafo 3º diz respeito à neces-
fiança ou, ainda, de função gratificada na adminis-
sidade de motivação, fundamentação de todas as ale-
tração pública direta e indireta em qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal gações feitas, assim como deve ser feito nas decisões
e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante proferidas pelo Judiciário, indicando as normas que
designações recíprocas; foram violadas pelo agente público.
XII - praticar, no âmbito da administração públi- Ou seja, se o Ministério Público ingressou com uma
ca e com recursos do erário, ato de publicidade ação contra um agente público pelo suposto come-
que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da timento de ato de improbidade administrativa que
Constituição Federal, de forma a promover atenta contra princípios, não basta citar que cometeu
inequívoco enaltecimento do agente público e
tal ato, é preciso demonstrar de forma objetiva e indi-
personalização de atos, de programas, de obras, de
car as normas constitucionais, legais ou infralegais
serviços ou de campanhas dos órgãos públicos.
que foram violadas.
O nepotismo passou a ser considerado de forma
expressa como ato de improbidade que atenta contra Art. 11 […]
princípios. Já existe previsão sobre o nepotismo na § 4º Os atos de improbidade de que trata este
Súmula Vinculante nº 13, do Supremo Tribunal Fede- artigo exigem lesividade relevante ao bem
ral, mas o legislador resolveu incluir, também, no tex- jurídico tutelado para serem passíveis de sancio-
namento e independem do reconhecimento da
to da Lei de Improbidade, reforçando a vedação ao
produção de danos ao erário e de enriqueci-
nepotismo.
mento ilícito dos agentes públicos
Tal inclusão se mostra muito importante, pois,
§ 5º Não se configurará improbidade a mera
apesar de já existir uma decisão sumulada a respeito
nomeação ou indicação política por parte dos
da proibição do nepotismo por violar a Constituição
detentores de mandatos eletivos, sendo neces-
Federal, a falta de norma expressa sobre o assunto no
sária a aferição de dolo com finalidade ilícita
âmbito da improbidade administrativa poderia levar
por parte do agente.
a questionamentos com relação à aplicação de san-
ções. Agora, o nepotismo caracteriza ato de improbi-
dade que viola princípios e está sujeito às cominações O legislador deixa claro no § 4º, do art. 11, que os
legais previstas no art. 12, da Lei de Improbidade. atos de improbidade referidos no artigo exigem lesi-
vidade relevante ao bem jurídico tutelado, ou seja,
Art. 11 […] para que os atos aqui descritos sejam passíveis de
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas sanção, será necessário que o aplicador da norma (o
contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº juiz) no caso concreto observe se a conduta praticada
5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente have- foi capaz de causar uma lesividade relevante ao bem
rá improbidade administrativa, na aplica- jurídico protegido.
ção deste artigo, quando for comprovado na
Além disso, a aplicação da sanção por violação aos
conduta funcional do agente público o fim de
princípios não vai depender da ocorrência de danos
obter proveito ou benefício indevido para si ou
para outra pessoa ou entidade. ao erário ou de enriquecimento ilícito dos agentes.
Se, por exemplo, um agente público deixar de prestar
Outro ponto importante diz respeito à previsão contas quando estiver obrigado a fazê-lo, com vistas
do parágrafo primeiro, o qual dispõe que somente a ocultar irregularidades por ele praticadas, e ficar
haverá improbidade administrativa quando for provado o dolo da conduta mesmo não havendo um
comprovado o fim de obter proveito ou benefício prejuízo ao erário ou enriquecimento, o agente será
indevido. responsabilizado.
206
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Importante! benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, dire-
ta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
Com relação ao ato de frustrar procedimen- pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
to licitatório, tome cuidado, pois o examinador prazo não superior a 4 (quatro) anos;
pode te induzir ao erro, já que tal ato é encontra- IV - Revogado.
do tanto no art. 10 quanto no art. 11, sendo que § 1º A sanção de perda da função pública, nas
a diferença é: hipóteses dos incisos I e II do caput deste artigo,
Se houver perda patrimonial efetiva → Prejuízo atinge apenas o vínculo de mesma qualida-
de e natureza que o agente público ou políti-
ao erário;
co detinha com o poder público na época do
Se não houver perda patrimonial efetiva → Aten- cometimento da infração, podendo o magistra-
ta contra princípios. do, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e
em caráter excepcional, estendê-la aos demais
vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e
DAS PENAS a gravidade da infração.

Em decorrência da independência das instâncias, O § 1º dispõe que a perda da função pública só


as sanções previstas no art. 12 não excluem a possi- vai alcançar o vínculo que o agente público deti-
bilidade de responsabilização do agente em âmbito nha ao tempo do cometimento da infração.
criminal, civil e administrativo. Para facilitar seu estudo, vejamos um exemplo: um
Além disso, é importante não confundir o ressar-
servidor público efetivo que ocupa o cargo de Analis-
cimento integral do dano com a multa, são coisas
ta no Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região na
diferentes. O ressarcimento integral do dano ocor-
Comarca de Belo Horizonte foi licenciado para exercer
rerá sempre que houver dano; trata-se de uma conse-
o mandato eletivo de Prefeito no Município. No curso
quência lógica decorrente da conduta ilícita. Se, por
do mandato eletivo ele comete ato de improbidade;
exemplo, um agente público incorporar, por qualquer
nessa circunstância, caso ele seja condenado, a perda
forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou
da função pública será aplicada apenas ao mandato
valores integrantes do acervo patrimonial das entida-
eletivo, não atingindo seu cargo efetivo de Analista.
des referidas na lei, esse agente tem o dever de ressar-
Nas hipóteses previstas no inciso I do caput des-
cir o dano que foi causado a essa entidade, seja dano
se artigo (os casos que importam enriquecimento ilí-
financeiro ou patrimonial. Já a multa é uma sanção
cito), o Magistrado poderá, em caráter excepcional,
aplicada pela prática do ato ilícito.
estender a perda da função aos demais vínculos, con-
A Lei nº 14.230, de 2021, trouxe algumas alterações
sideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da
com relação às sanções. A suspensão dos direitos polí-
infração.
ticos terá prazo máximo de 14 anos e o valor das mul-
tas diminuiu. Veja:
Art. 12 […]
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro,
Art. 12 Independentemente do ressarcimento
se o juiz considerar que, em virtude da situação
integral do dano patrimonial, se efetivo, e das san-
econômica do réu, o valor calculado na forma dos
ções penais comuns e de responsabilidade, civis e
incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para
administrativas previstas na legislação específica,
reprovação e prevenção do ato de improbidade.
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito
§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica,
às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
deverão ser considerados os efeitos econômicos e
isolada ou cumulativamente, de acordo com a
sociais das sanções, de modo a viabilizar a manu-
gravidade do fato:
tenção de suas atividades.
I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
perda da função pública, suspensão dos direitos O § 3º respeita os princípios da razoabilidade e da
políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de mul- proporcionalidade, que consistem basicamente na
ta civil equivalente ao valor do acréscimo patrimo- adequação entre meios e fins e são divididos em três
nial e proibição de contratar com o poder público subprincípios:
ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por z Adequação: verificar se a decisão ou conduta
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio alcançará o ato/resultados almejados;
majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) z Necessidade: verificar se há um meio menos gra-
anos; voso e igualmente eficaz para ser adotado;
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens z Proporcionalidade em sentido estrito: significa
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, verificar se as restrições decorrentes são compen-
NOÇÕES DE DIREITO

se concorrer esta circunstância, perda da função


sadas pelos benefícios que serão gerados.
pública, suspensão dos direitos políticos até 12
(doze) anos, pagamento de multa civil equivalente
ao valor do dano e proibição de contratar com o No âmbito da Lei de Improbidade, o objetivo desse
poder público ou de receber benefícios ou incenti- parágrafo é que, na aplicação das sanções às pessoas
vos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, jurídicas, deve-se levar em consideração os efeitos
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da econômicos e sociais para não tornar inviável a conti-
qual seja sócio majoritário, pelo prazo não supe- nuidade das atividades prestadas pela pessoa jurídica.
rior a 12 (doze) anos;
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de Art. 12 […]
multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor § 4º Em caráter excepcional e por motivos rele-
da remuneração percebida pelo agente e proibição vantes devidamente justificados, a sanção de
de contratar com o poder público ou de receber proibição de contratação com o poder público 207
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pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de improbidade, observados os impactos econômicos e sociais
das sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, conforme disposto no § 3º deste artigo.

Com relação à sanção de proibição de contratar, em regra, será aplicada só no âmbito do ente lesado, por
exemplo, um servidor municipal cometeu um ato de improbidade que gerou lesão ao erário no respectivo Municí-
pio. Sendo assim, a proibição de contratar com o poder público será aplicada somente ao Município onde ocorreu
a lesão.
No entanto, excepcionalmente e por motivos relevantes devidamente justificados, a sanção de proibição de
contratar poderá extrapolar o ente público lesado.
Além disso, outro ponto importante acrescido pela Lei nº 14.230, de 2021, é a necessidade de a sanção de
proibição de contratação com o poder público constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas
(CEIS), observadas as limitações territoriais contidas na decisão judicial.

Art. 12 […]
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à apli-
cação de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, quando for o caso,
nos termos do caput deste artigo.
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o
ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto os mesmos
fatos.
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão
observar o princípio constitucional do non bis in idem.
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público deverá constar do Cadastro Nacional de
Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, observadas as
limitações territoriais contidas em decisão judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo.
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser executadas após o trânsito em julgado da sen-
tença condenatória.
§ 10 Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos políticos, computar-se-á retroa-
tivamente o intervalo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Conforme dispõe o § 6º, se um agente estiver sendo processado pelo mesmo fato nas três esferas (criminal, civil
e administrativa) e ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano em sede de improbidade adminis-
trativa deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias referidas.
O § 10 fala sobre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória. A sentença condenató-
ria transitada em julgado é aquela da qual não caiba mais recurso, tornando-se definitiva. Já a decisão colegiada
é a decisão proferida em 2ª instância. Sendo assim, a contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos
políticos será a partir da condenação em 2ª instância.
Importante lembrar, também, que as sanções trazidas no art. 12 só podem ser executadas após o trânsito
em julgado da sentença condenatória que será proferida após o regular processo judicial que garanta contra-
ditório e ampla defesa ao acusado.
Percebe-se que a parte das disposições gerais da lei, o capítulo referente aos atos de improbidade e o capítulo
das penas são os mais cobrados em provas de concursos. É claro que tudo que está previsto na lei pode ser abor-
dado em provas, mas já que esse é um dos tópicos de maior incidência, segue um quadro para facilitar a memori-
zação das sanções previstas na lei.

Quadro Comparativo das Penas

PREJUÍZO AO ATENTAM CONTRA


ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
SANÇÃO ERÁRIO PRINCÍPIOS
(ART. 9º)
(ART. 10) (ART. 11)

Perda da função
Sim Sim ---
pública

Suspensão dos direi-


Até 14 anos Até 12 anos ---
tos políticos

Perda dos bens


acrescidos Sim Sim, se houver ---
ilicitamente

Multa civil Valor do acréscimo patrimonial Valor do dano Até 24X o valor da remuneração

Proibição de contra-
tar ou receber benefí- Até 14 anos Até 12 anos Até 4 anos
cios fiscais

Importante: Ressarcimento integral do dano → aplicável sempre que houver dano efetivo.
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DA DECLARAÇÃO DE BENS Art. 14 Qualquer pessoa poderá representar à
autoridade administrativa competente para que
Na redação anterior, ou o agente entregava a seja instaurada investigação destinada a apurar a
declaração de bens elaborada por ele mesmo ou pode- prática de ato de improbidade.
ria de forma facultativa entregar a cópia da declara- § 1º A representação, que será escrita ou redu-
ção anual de bens apresentada à Delegacia da Receita zida a termo e assinada, conterá a qualifica-
ção do representante, as informações sobre o
Federal na conformidade da legislação do Imposto
fato e sua autoria e a indicação das provas de
sobre a Renda e proventos de qualquer natureza.
que tenha conhecimento.
Na atual redação, o agente deve entregar a declara- § 2º A autoridade administrativa rejeitará a repre-
ção anual de bens apresentada à Delegacia da Receita sentação, em despacho fundamentado, se esta
Federal (Declaração de Imposto de Renda). Tal decla- não contiver as formalidades estabelecidas no
ração deve ser atualizada anualmente e na data em § 1º deste artigo. A rejeição não impede a repre-
que o agente público deixar o cargo. Se o agente dei- sentação ao Ministério Público, nos termos do
xar de prestar a declaração ou prestá-la falsa, sofrerá art. 22 desta lei.
a pena de demissão. § 3º Atendidos os requisitos da representação, a
autoridade determinará a imediata apuração dos
Art. 13 A posse e o exercício de agente públi- fatos, observada a legislação que regula o processo
co ficam condicionados à apresentação de administrativo disciplinar aplicável ao agente.
declaração de imposto de renda e proventos Art. 15 A comissão processante dará conhecimento
de qualquer natureza, que tenha sido apresentada ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de
à Secretaria Especial da Receita Federal do Bra- Contas da existência de procedimento administra-
sil, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal tivo para apurar a prática de ato de improbidade.
competente. Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal
§ 1º Revogado. ou Conselho de Contas poderá, a requerimento,
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput designar representante para acompanhar o proce-
deste artigo será atualizada anualmente e na dimento administrativo.
data em que o agente público deixar o exercí-
cio do mandato, do cargo, do emprego ou da INDISPONIBILIDADE DE BENS
função.
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem A indisponibilidade de bens é uma medida caute-
prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente públi- lar que pode ser requerida antes ou no curso da ação
co que se recusar a prestar a declaração dos principal e visa garantir a futura devolução de dinhei-
bens a que se refere o caput deste artigo dentro do ro público em caso de condenação. Imagine que um
prazo determinado ou que prestar declaração agente público esteja sendo investigado pela possível
falsa. prática de ato que gerou enriquecimento ilícito; é
§ 4º Revogado. possível que o indiciado acabe com todo o seu patri-
mônio, transfira para outras pessoas e ao final do pro-
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO cesso judicial não seja possível o ressarcimento aos
PROCESSO JUDICIAL cofres públicos. Para evitar que isso ocorra, o Ministé-
rio Público irá requerer ao juiz essa medida cautelar
O procedimento administrativo é realizado inter- para garantir o ressarcimento do prejuízo quando for
namente com o intuito de investigar o suposto ato proferida a decisão transitada em julgado.
praticado por um agente público. O início do proces- Quando essa medida for deferida pelo juiz, o inves-
so administrativo pode dar-se de ofício, ou seja, pela tigado ou indiciado não poderá se desfazer de seus
própria administração ou mediante representação de bens. Tal medida de certa forma “trava” o patrimônio,
qualquer pessoa. Após a representação, a autoridade bloqueia os bens e ele não poderá, por exemplo, ven-
determinará a apuração dos fatos, observada a legis- der imóveis, movimentar aplicações financeiras, valo-
lação que regula o processo administrativo disciplinar res em conta bancária etc. Foram acrescidos alguns
aplicável ao agente; se for um agente federal, por exem- artigos que regulamentam de forma mais detalhada
plo, o procedimento observará a Lei nº 8.112, de 1990. a indisponibilidade. Além disso, não existe mais o
Já o processo judicial é instaurado no Judiciário sequestro de bens na lei.
mediante petição apresentada pelo Ministério Públi-
co, que é o titular da referida ação, para aplicação das Art. 16 Na ação por improbidade administrativa
penalidades referidas no art. 12 aos agentes públicos e poderá ser formulado, em caráter antecedente
aos particulares que, mesmo não sendo agentes públi- ou incidente, pedido de indisponibilidade de
cos, induzam ou concorram dolosamente para a práti- bens dos réus, a fim de garantir a integral recom-
posição do erário ou do acréscimo patrimonial
NOÇÕES DE DIREITO

ca do ato de improbidade.
São procedimentos independentes; no processo resultante de enriquecimento ilícito.
administrativo serão aplicadas as sanções de natureza § 1º Revogado.
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que
administrativa, podendo inclusive ser aplicada a pena
se refere o caput deste artigo poderá ser formu-
de demissão. O processo administrativo é mais rápi-
lado independentemente da representação de
do e a decisão de demissão em âmbito administrativo que trata o art. 7º desta Lei.
produz efeitos imediatos em decorrência dos princí- § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibili-
pios da autoexecutoriedade e da presunção de legiti- dade de bens a que se refere o caput deste artigo
midade dos atos. Sendo assim, a entidade que sofreu incluirá a investigação, o exame e o bloqueio
a lesão poderá instaurar um processo administrativo, de bens, contas bancárias e aplicações finan-
demitir o agente público e na ação judicial haverá a ceiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos
aplicação das demais penalidades referidas na lei. termos da lei e dos tratados internacionais. 209
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§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo apenas será deferido mediante a
demonstração no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo,
desde que o juiz se convença da probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento
nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias.

Importante ressaltar que agora a lei exige a demonstração de perigo irreparável, antes o Superior Tribunal
de Justiça entendia que o periculum in mora — perigo da demora — era implícito, presumido no referido disposi-
tivo. Com as alterações, é preciso demonstrar perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo.
Para entender melhor, imagine o seguinte. Um agente público está sendo investigado por, supostamente, ter
incorporado ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas na lei.
Há fortes indícios da prática do referido ato e no curso da investigação o Ministério Público percebe que o
agente está começando a dilapidar todo o seu patrimônio, gerando o perigo de dano irreparável ou de risco
ao resultado útil do processo, uma vez que essa conduta poderia inviabilizar o ressarcimento dos valores
indevidamente incorporados. No caso hipotético narrado, se o Ministério Público conseguir convencer o juiz de
que a conduta do investigado gera perigo de dano irreparável (desfazer-se do patrimônio) ou risco ao resultado
útil do processo (impossibilitando a futura reparação do dano), a indisponibilidade de bens será deferida.

Art. 16 […]
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório
prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras circunstâncias que
recomendem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida.
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar o
montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito.
§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida
a sua substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento
do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo.
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para
os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de descon-
sideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual.
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no que for cabível, o regime da tutela provisória de
urgência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de instru-
mento, nos termos da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 10 A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do
dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou
sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.
§ 11 A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis
em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e metais
preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do
acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.
§ 12 O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os
efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos.
§ 13 É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos depositados
em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta corrente.
§ 14 É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel
seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.

A nova lei trouxe alguns dispositivos que possivelmente vão gerar uma certa discussão entre doutrinadores e
estudiosos do direito administrativo e talvez você já tenha até lido algum artigo a respeito ou ouviu algum profes-
sor falando sobre isso, mas para provas de concursos, fique com o que está previsto na letra da lei. Para facilitar
o entendimento deste tópico, veja o fluxograma que segue:

Em caráter antecedente ou incidente


— antes ou no curso da ação principal
Pedido formulado pelo
Ministério Público Garantir a integral recomposição do
erário ou do acréscimo patrimonial
resultante de enriquecimento ilícito

INDISPONIBILIDADE O pedido deve Desde que o juiz se convença da


DE BENS demonstrar: probabilidade dos atos descritos,
após a oitiva do réu em 5 dias
� Perigo de dano
irreparável Não incide sobre:
� Ou risco do � Multa civil
resultado útil do
� Acréscimo patrimonial decorrente
processo
de atividade lícita

210
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A indisponibilidade de bens poderá ser decre- arts. 77 e 80 da Lei nº 13.105, de 16 de março de
tada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o con- 2015 (Código de Processo Civil).
traditório prévio puder comprovadamente frustrar a § 6º-A O Ministério Público poderá requerer as
efetividade da medida ou houver outras circunstân- tutelas provisórias adequadas e necessárias,
cias que recomendem a proteção liminar, não poden- nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei nº 13.105, de
do a urgência ser presumida. 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
A lei, em seu § 11, art. 16, traz uma ordem para que § 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos
o juiz determine a indisponibilidade dos bens, qual seja: do art. 330 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil), bem como quando
não preenchidos os requisitos a que se referem os
z Veículos de via terrestre;
incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando
z Bens imóveis; manifestamente inexistente o ato de improbidade
z Bens móveis em geral; imputado.
z Semoventes; § 7º Se a petição inicial estiver em devida for-
z Navios e aeronaves; ma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a
z Ações e quotas de sociedades simples e empresárias; citação dos requeridos para que a contestem
z Pedras e metais preciosos; no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o
z Apenas na inexistência desses, o bloqueio de con- prazo na forma do art. 231 da Lei nº 13.105, de 16
tas bancárias, de forma a garantir a subsistência de março de 2015 (Código de Processo Civil).
do acusado e a manutenção da atividade empresá- § 8º Revogado.
ria ao longo do processo. § 9º Revogado.
§ 9º-A Da decisão que rejeitar questões preli-
Além disso, existem hipóteses em que a indisponi- minares suscitadas pelo réu em sua contestação
bilidade de bens será vedada, §§ 13 e 14, do art. 16: caberá agravo de instrumento.
§ 10 Revogado.
z Quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos § 10-A Havendo a possibilidade de solução con-
sensual, poderão as partes requerer ao juiz a
depositados em caderneta de poupança, em outras
interrupção do prazo para a contestação, por
aplicações financeiras ou em conta corrente;
prazo não superior a 90 (noventa) dias.
z Bem de família do réu, salvo se comprovado que
§ 10-B Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvi-
o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial do o autor, o juiz:
indevida. I - procederá ao julgamento conforme o estado do
processo, observada a eventual inexistência mani-
PROCESSO JUDICIAL festa do ato de improbidade;
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas
No texto anterior da Lei nº 8.429, de 1992, tanto a otimizar a instrução processual.
o Ministério Público quanto a pessoa jurídica lesada § 10-C Após a réplica do Ministério Público, o juiz
tinham legitimidade para dar início à ação judicial de proferirá decisão na qual indicará com precisão
improbidade. Com as alterações trazidas pela Lei nº a tipificação do ato de improbidade administrati-
14.230, de 2021, o Ministério Público passa a ser o úni- va imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
co legitimado para propor a ação. o fato principal e a capitulação legal apresentada
pelo autor.
Art. 17 A ação para a aplicação das sanções § 10-D Para cada ato de improbidade administra-
de que trata esta Lei será proposta pelo Minis- tiva, deverá necessariamente ser indicado apenas
tério Público e seguirá o procedimento comum um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e
previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 11 desta Lei.
(Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta § 10-E Proferida a decisão referida no § 10-C deste
Lei. artigo, as partes serão intimadas a especificar as
§ 1º Revogado. provas que pretendem produzir.
§ 2º Revogado. § 10-F Será nula a decisão de mérito total ou
§ 3º Revogado. parcial da ação de improbidade administrati-
§ 4º Revogado. va que:
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo I - condenar o requerido por tipo diverso daquele
deverá ser proposta perante o foro do local definido na petição inicial;
onde ocorrer o dano ou da pessoa jurídica II - condenar o requerido sem a produção das pro-
prejudicada. vas por ele tempestivamente especificadas.
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput § 11 Em qualquer momento do processo, verificada
deste artigo prevenirá a competência do juízo para a inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará
todas as ações posteriormente intentadas que pos- a demanda improcedente.
§ 12 Revogado.
NOÇÕES DE DIREITO

suam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.


§ 6º A petição inicial observará o seguinte: § 13 Revogado.
I - deverá individualizar a conduta do réu e apon- § 14 Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurí-
tar os elementos probatórios mínimos que demons- dica interessada será intimada para, caso queira,
trem a ocorrência das hipóteses dos arts. 9º, 10 e intervir no processo.
11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade § 15 Se a imputação envolver a desconsideração de
devidamente fundamentada; pessoa jurídica, serão observadas as regras previstas
II - será instruída com documentos ou justificação nos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de
que contenham indícios suficientes da veracidade 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
dos fatos e do dolo imputado ou com razões fun- § 16 A qualquer momento, se o magistrado
damentadas da impossibilidade de apresentação identificar a existência de ilegalidades ou
de qualquer dessas provas, observada a legislação de irregularidades administrativas a serem
vigente, inclusive as disposições constantes dos sanadas sem que estejam presentes todos os 211
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requisitos para a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da demanda, poderá, em
decisão motivada, converter a ação de improbidade administrativa em ação civil pública, regulada pela
Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.

A possibilidade de conversão de ação de improbidade administrativa em ação civil pública é uma forma de
viabilizar a economia processual. Da decisão de conversão caberá recurso de agravo de instrumento.

Art. 17 […]
§ 17 Da decisão que converter a ação de improbidade em ação civil pública caberá agravo de instrumento.
§ 18 Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o
seu silêncio não implicarão confissão.
§ 19 Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em caso de revelia;
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 (Código de Processo Civil);
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato, competindo ao Con-
selho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros de Ministérios Públicos distintos;
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
§ 20 A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos
praticados pelo administrador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este venha a respon-
der ação por improbidade administrativa, até que a decisão transite em julgado.
§ 21 Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, inclusive da decisão que rejeitar questões
preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação.

ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CIVIL

A Lei nº 14.230, de 2021, trouxe de forma mais detalhada os requisitos para que se possa realizar um acordo de
não persecução civil no âmbito da improbidade administrativa. Trata-se de um acordo celebrado entre o Minis-
tério Público e pessoas físicas ou jurídicas investigadas pela prática de improbidade administrativa com o intuito
de não prosseguir com a ação caso o acordo seja aceito e homologado pelo Judiciário; entretanto, para a aplicação
desse acordo, devem ser observados alguns requisitos, veja:

Art. 17-A Vetado


Art. 17-B O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não
persecução civil, desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados:
I - o integral ressarcimento do dano;
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes privados.
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo dependerá, cumulativamente:
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou posterior à propositura da ação;
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão do Ministério Público competente para
apreciar as promoções de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da ação;
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo ocorrer antes ou depois do ajuizamento da
ação de improbidade administrativa.
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo considerará a personalidade
do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem
como as vantagens, para o interesse público, da rápida solução do caso.
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas
competente, que se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo de 90 (noventa) dias.
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser celebrado no curso da investigação de apuração
do ilícito, no curso da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença condenatória.
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério
Público, de um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor.
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá contemplar a adoção de mecanismos e procedi-
mentos internos de integridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação
efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras
medidas em favor do interesse público e de boas práticas administrativas.
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará
impedido de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento pelo Ministério Público do
efetivo descumprimento.

212
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Legitimidade para propor Ministério Público

I - integral ressarcimento do dano


II - reversão à pessoa jurídica lesada
Resultados da vantagem indevida obtida ainda
que oriunda de agentes privados

ACORDO DE NÃO I - oitiva do ente federativo lesado,


PERSECUÇÃO CIVIL em momento anterior ou posterior à
propositura de ação

II - aprovação no prazo de até


60 dias, pelo órgão do Ministério
Público competente para apreciar
Procedimento adotado (hipóteses as promoções de arquivamento
cumulativas) § 1º, art. 17-B de inquéritos civis, se anterior ao
ajuizamento da ação

III - homologação judicial,


independentemente de acordo
ocorrer antes ou depois do
ajuizamento da ação de improbidade
administrativa

O acordo de não persecução civil poderá ser realizado em 3 momentos:

z No curso da investigação de apuração do ilícito;


z No curso da ação de improbidade;
z No momento da execução da sentença condenatória.

O art. 17-C estabelece que a sentença deverá observar, além dos requisitos previstos no Código de Processo
Civil, também os trazidos na lei. Destaca-se que o § 2º fala sobre a hipótese de litisconsórcio passivo, que ocorre
quando se tem mais de um réu no processo. Nessas circunstâncias, a lei prevê que a condenação ocorrerá no
limite da participação e dos benefícios diretos de cada um, vedada qualquer solidariedade; ou seja, cada réu
responderá pela sua participação ou de acordo com os seus benefícios em decorrência da prática do ato ilícito.

Art. 17-C A sentença proferida nos processos a que se refere esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil):
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta
Lei, que não podem ser presumidos;
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre que decidir com base em valores jurídicos abstratos;
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem
prejuízo dos direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicio-
nado a ação do agente;
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada ou cumulativa:
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade;
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
c) a extensão do dano causado;
d) o proveito patrimonial obtido pelo agente;
e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva;
g) os antecedentes do agente;
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das sanções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente;
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, quando for o caso, a sua atuação específica, não
admitida a sua responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver concorrido ou das quais não tiver
obtido vantagens patrimoniais indevidas;
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios objetivos que justifiquem a imposição da sanção.
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade.
NOÇÕES DE DIREITO

§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocorrerá no limite da participação e dos benefícios diretos,
vedada qualquer solidariedade.
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.
Art. 17-D A ação por improbidade administrativa é repressiva, de caráter sancionatório, destinada à
aplicação de sanções de caráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado seu ajuiza-
mento para o controle de legalidade de políticas públicas e para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade
de agentes públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por danos ao meio ambiente, ao consumi-
dor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso
ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos
e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. 213
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Art. 18 A sentença que julgar procedente a z Se houver continuidade de ilícito, o juiz aplica a
ação fundada nos arts. 9º e 10 desta Lei con- maior sanção aumentada de 1/3 (um terço), ou
denará ao ressarcimento dos danos e à perda soma as penas optando por aquilo que for mais
ou à reversão dos bens e valores ilicitamente benéfico ao réu;
adquiridos, conforme o caso, em favor da pes- z No caso de prática de novos atos ilícitos pelo
soa jurídica prejudicada pelo ilícito. mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do
dano, a pessoa jurídica prejudicada procederá
a essa determinação e ao ulterior procedimen-
Importante!
to para cumprimento da sentença referente ao
ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou Nas hipóteses do art. 18-A, a suspensão de direi-
à reversão dos bens. tos políticos e a proibição de contratar ou de rece-
§ 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote ber incentivos fiscais observarão o limite máximo
as providências a que se refere o § 1º deste arti-
de 20 (vinte) anos (parágrafo único, do art. 18-A).
go no prazo de 6 (seis) meses, contado do trân-
sito em julgado da sentença de procedência da
ação, caberá ao Ministério Público proceder Esquematizando alguns pontos importantes:
à respectiva liquidação do dano e ao cumpri-
mento da sentença referente ao ressarcimento
Proposta pelo MP,
do patrimônio público ou à perda ou à rever- único legitimado
são dos bens, sem prejuízo de eventual responsa- (art. 17)
bilização pela omissão verificada.
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimen- Natureza repressiva,
to, deverão ser descontados os serviços efetivamen- caráter sancionatório
(art. 17-D)
te prestados.
Se não se identificam O juiz pode converter
O § 4º estabelece a possibilidade de parcelamento AÇÃO todos os requisitos a ação de improbidade
em até 48 parcelas do débito decorrente da condena- JUDICIAL para a caracterização em ação civil pública
ção, mas para isso o réu tem que demonstrar que não do ato de improbidade (§ 16, art. 17)
pode efetuar todo o pagamento de uma só vez. A assessoria jurídica que emitiu o parecer
atestando a legalidade prévia dos atos
Art. 18 […] administrativos praticados pelo administrador
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em público ficará obrigada a defendê-lo
judicialmente, caso este venha a responder
até 48 (quarenta e oito) parcelas mensais corrigi-
a ação por improbidade administrativa até o
das monetariamente, do débito resultante de conde- trânsito em julgado (§ 20, art. 17)
nação pela prática de improbidade administrativa
se o réu demonstrar incapacidade financeira
de saldá-lo de imediato. (Incluído pela Lei nº Importante: não existe mais a defesa prelimi-
14.230, de 2021) nar; o requerido já será citado para apresentar a
Art. 18-A A requerimento do réu, na fase de contestação.
cumprimento da sentença, o juiz unificará
eventuais sanções aplicadas com outras já DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
impostas em outros processos, tendo em vista
a eventual continuidade de ilícito ou a prática de As sanções trazidas na Lei de Improbidade Admi-
diversas ilicitudes, observado o seguinte: (Incluído nistrativa têm natureza repressiva, de caráter san-
pela Lei nº 14.230, de 2021) cionatório. O único momento em que a lei trata de
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz pro- alguma sanção penal é no art. 19, mas nesse caso a
moverá a maior sanção aplicada, aumentada sanção será aplicada ao denunciante e não ao agente
de 1/3 (um terço), ou a soma das penas, o que
que cometeu ato de improbidade.
for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
Art. 19 Constitui crime a representação por ato
II - no caso de prática de novos atos ilícitos
de improbidade contra agente público ou terceiro
pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
inocente.
Parágrafo único. As sanções de suspensão de
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
direitos políticos e de proibição de contratar
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denun-
ou de receber incentivos fiscais ou creditícios
ciante está sujeito a indenizar o denunciado pelos
do poder público observarão o limite máximo
danos materiais, morais ou à imagem que houver
de 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
provocado.
2021)
Art. 20 A perda da função pública e a suspensão
dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito
O art. 18-A traz a possibilidade de unificação das em julgado da sentença condenatória.
penas. Após o juiz proferir a sentença judicial tran- § 1º A autoridade judicial competente poderá
sitada em julgado, da qual não caiba mais recurso, a determinar o afastamento do agente público
próxima fase é cumprir o que foi determinado na sen- do exercício do cargo, do emprego ou da fun-
tença. Nessa fase de cumprimento, o juiz unificará, ção, sem prejuízo da remuneração, quando a
ou seja, vai reunir eventuais sanções aplicadas com medida for necessária à instrução processual
outras já impostas em outros processos da seguinte ou para evitar a iminente prática de novos
214 forma: ilícitos.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para CARLOS RENILDO COSTA - 010.822.983-10, vedada, por quaisquer meios e a qualquer
título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
§ 2º O afastamento previsto no § 1º deste arti- Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previs-
go será de até 90 (noventa) dias, prorrogáveis tos nesta Lei, será garantido ao investigado a
uma única vez por igual prazo, mediante deci- oportunidade de manifestação por escrito e de
são motivada. juntada de documentos que comprovem suas
alegações e auxiliem na elucidação dos fatos.
Muitas pessoas acham estranho quando se fala (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
que o afastamento do agente público do exercício do
cargo, emprego ou função ocorrerá sem prejuízo da
sua remuneração, mas isso ocorre em decorrência da SENTENÇAS CIVIS E PENAIS PRODUZIRÃO EFEI-
presunção de inocência. Todos se presumem inocen- TOS EM RELAÇÃO À AÇÃO DE IMPROBIDADE
tes até que se prove o contrário por meio do devido QUANDO CONCLUÍREM:
processo legal. Pela inexistência da
Portanto, enquanto não houver uma decisão con- Pela negativa da autoria
conduta
denatória, não é possível que o servidor seja, desde
já, condenado a perder sua remuneração. Esse afas- A ABSOLVIÇÃO CRIMINAL EM AÇÃO QUE DISCUTA
tamento ocorrerá quando for necessário para a ins- OS MESMOS FATOS, CONFIRMADA POR DECISÃO
trução processual ou para evitar o cometimento de COLEGIADA:
novos ilícitos. Por não ser uma sanção, deverá ter pra-
Impede o trâmite da ação de improbidade, havendo co-
zo determinado de até 90 dias, podendo ser prorro-
municação com todos os fundamentos de absolvição
gado mais uma vez por igual prazo. O afastamento
previstos no CPP
não é por 90 dias e sim por até 90 dias, sendo assim, se
o for determinado que o agente se afaste por 60 dias, a
prorrogação só poderá ser por mais 60 dias. DA PRESCRIÇÃO

Art. 21 A aplicação das sanções previstas nesta A prescrição ocorre quando o decurso do tempo
lei independe: impede que o titular da ação de improbidade possa
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio aplicar a sanção ao suposto autor do ato de improbi-
público, salvo quanto à pena de ressarcimento e às dade. Esse instituto existe no direito brasileiro para
condutas previstas no art. 10 desta Lei; (Redação resguardar a segurança jurídica. Sendo assim, o Esta-
dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
do tem um tempo determinado para poder sancionar
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo
os atos de improbidade. A demora do Estado extingue
órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou
Conselho de Contas. a possibilidade de punir o suposto autor do ato ímpro-
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou exter- bo praticado por agentes públicos e particulares.
no serão considerados pelo juiz quando tiverem Se, por exemplo, um agente público comete ato de
servido de fundamento para a conduta do agente improbidade que causa prejuízo ao erário, o Ministé-
público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) rio Público tem um prazo para ingressar com a ação e
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de efetivar as sanções previstas na lei; passado o prazo,
controle e as correspondentes decisões deverão ser o Estado não poderá mais responsabilizar o acusado.
consideradas na formação da convicção do juiz, Importante! Atente-se para este julgado, que tra-
sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta
ta da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao
do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
erário:
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efei-
tos em relação à ação de improbidade quando
concluírem pela inexistência da conduta ou Tese de repercussão geral STF nº 897 São
pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
14.230, de 2021) fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei
§ 4º A absolvição criminal em ação que discu- de Improbidade Administrativa.18
ta os mesmos fatos, confirmada por decisão
colegiada, impede o trâmite da ação da qual Com as alterações da Lei nº 14.230, de 2021, o pra-
trata esta Lei, havendo comunicação com todos zo prescricional passou a ser de 8 (oito) anos em
os fundamentos de absolvição previstos no art. 386 todas as hipóteses e a contagem se dá a partir da
do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 ocorrência do fato.
(Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
Art. 23 A ação para a aplicação das sanções pre-
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em
vistas nesta Lei prescreve em 8 (oito) anos, con-
outras esferas deverão ser compensadas com
tados a partir da ocorrência do fato ou, no
as sanções aplicadas nos termos desta Lei.
caso de infrações permanentes, do dia em que
NOÇÕES DE DIREITO

(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)


Art. 22 Para apurar qualquer ilícito previs- cessou a permanência. (Redação dada pela Lei nº
to nesta Lei, o Ministério Público, de ofício, a 14.230, de 2021)
requerimento de autoridade administrati- I - Revogado;
va ou mediante representação formulada de II - Revogado;
acordo com o disposto no art. 14 desta Lei, III - Revogado;
poderá instaurar inquérito civil ou procedi- § 1º A instauração de inquérito civil ou de pro-
mento investigativo assemelhado e requisitar cesso administrativo para apuração dos ilí-
a instauração de inquérito policial. (Redação citos referidos nesta Lei suspende o curso do
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento

18 [Lei 8.429, de 1992, arts. 9 a 11 (1)]. RE 852475/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em 8.8.2018.
(RE-852475) 215
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e oitenta) dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo,
esgotado o prazo de suspensão.
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será concluído no prazo de 365 (trezentos e ses-
senta e cinco) dias corridos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fundamentado
submetido à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias,
se não for caso de arquivamento do inquérito civil.
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se:
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma
sentença condenatória ou que reforma sentença de improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que confirma acórdão condenatório
ou que reforma acórdão de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão condenatório ou
que reforma acórdão de improcedência.
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do prazo
previsto no caput deste artigo.
§ 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relativamente a todos os que concorreram para a
prática do ato de improbidade.
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a
qualquer deles estendem-se aos demais.
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte inte-
ressada, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de imediato, caso, entre os
marcos interruptivos referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.

A lei traz hipóteses de suspensão e de interrupção do prazo prescricional. Vejamos:

z Suspensão: após a instauração de inquérito civil ou de processo administrativo, o prazo prescricional suspen-
de por até 180 dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo,
esgotado o prazo de suspensão;
z Interrupção: após a ocorrência das hipóteses previstas, volta a contar o prazo do zero.

Os conceitos de interrupção e suspensão são trazidos pela doutrina e é importante saber a diferença entre os
institutos para entender o conteúdo.
O § 5º traz uma inovação, que é a prescrição intercorrente. Essa modalidade de prescrição só ocorre depois
da apresentação da ação de improbidade, ou seja, ocorre dentro do processo e será contada pela metade.
Exemplo: um agente praticou um ato de improbidade há 6 anos, o Ministério Público apresenta a ação e no dia
da apresentação o prazo será interrompido. Na interrupção o prazo volta a contar do zero, ou seja, com a apre-
sentação da Ação de Improbidade Administrativa pelo Ministério Público voltaríamos a contar os 8 anos, mas na
prescrição intercorrente do § 5º o prazo volta a ser contado pela metade, ou seja, 4 anos. Podemos dizer então que
o prazo da prescrição intercorrente será de 4 anos.
Outro ponto importante é sobre a possibilidade de o Ministério Público, de ofício, a requerimento de auto-
ridade administrativa ou mediante representação, instaurar inquérito civil ou procedimento investigativo
assemelhado e requisitar a instauração de inquérito policial para apurar os ilícitos.
Percebe-se aqui algumas possibilidades trazidas pela lei para que o Ministério Público possa obter os ele-
mentos necessários para a instauração da ação de improbidade administrativa. E conforme os §§ 2º e 3º, art. 23,
o inquérito civil deve respeitar o prazo de 365 dias, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período.

Importante!
O prazo do inquérito civil é de 365 dias corridos, prorrogável uma vez por igual período mediante fundamen-
tação, ou seja, 365 + 365. Cuidado com as provas: são 365 dias e não 1 ano.

Prorrogável uma única vez por igual


período, mediante ato fundamentado
Será concluído no prazo de 365 dias
corridos Encerrado o prazo, a ação deverá ser
proposta no prazo de 30 dias, se não for
INQUÉRITO CIVIL caso de arquivamento de inquérito civil

Em 8 anos, contados a partir da ocorrência


A ação para a aplicação das sanções do fato ou, no caso de infrações
previstas na lei em estudo prescreve permanentes, do dia em que cessou a
permanência

Art. 23-A É dever do poder público oferecer contínua capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com
216 prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa.
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Art. 23-B Nas ações e nos acordos regidos por esta Dica
Lei, não haverá adiantamento de custas, de prepa-
ro, de emolumentos, de honorários periciais e de A Lei nº 9.784 é conhecida como “Lei do Pro-
quaisquer outras despesas. cesso Administrativo” e, em geral, as bancas
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as examinadoras costumam cobrar a “letra da lei”
demais despesas processuais serão pagas ao final. (a própria lei seca).
§ 2º Haverá condenação em honorários sucumben-
ciais em caso de improcedência da ação de impro- Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre
bidade se comprovada má-fé. o processo administrativo no âmbito da Admi-
Art. 23-C Atos que ensejem enriquecimento ilícito, nistração Federal direta e indireta, visando, em
perda patrimonial, desvio, apropriação, malbara- especial, à proteção dos direitos dos administrados e
tamento ou dilapidação de recursos públicos dos ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
partidos políticos, ou de suas fundações, serão res- § 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos
ponsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União,
setembro de 1995. quando no desempenho de função administrativa.
Das Disposições Finais § 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:
Art. 24 Esta lei entra em vigor na data de sua I - órgão - a unidade de atuação integrante da estru-
publicação. tura da Administração direta e da estrutura da
Art. 25 Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de Administração indireta;
junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e II - entidade - a unidade de atuação dotada de per-
demais disposições em contrário. sonalidade jurídica;
III - autoridade - o servidor ou agente público dota-
do de poder de decisão.
REFERÊNCIAS
Diante do dispositivo acima elencado, nota-se que
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da
a lei que regula o processo administrativo no âmbi-
República Federativa do Brasil de 1988. Brasí-
to da Administração Pública federal aplica-se aos três
lia, DF: Presidência da República. Disponível em:
poderes da União (Poder Executivo, Poder Legislati-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
vo e Poder Judiciário), no exercício de suas funções
constituicao.htm. Acesso em: 26 set. 2022.
administrativas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Portal da Câmara
Além disso, a lei define conceitos importantes.
dos Deputados, 2022. Disponível em: https://www. Vejamos:
camara.leg.br/. Acesso em: 26 set. 2022.
CARVALHO FILHO, J. dos S. Manual de Direito z Órgão: corresponde a uma unidade da Adminis-
Administrativo. 33ª Ed. São Paulo: Atlas, 2019. tração Pública que exerce uma função específica
CARVALHO, M. Manual de Direito Administrati- dentro de outra unidade maior, sendo que não
vo. 9ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2021. possui personalidade jurídica própria. Temos
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. como exemplo uma secretaria ou uma diretoria de
Guia da política de governança pública. Brasília: determinada entidade;
Casa Civil da Presidência da República, 2018. z Entidade: refere-se a uma unidade da Adminis-
CASTRO JÚNIOR, R. de. Manual de Direito Admi- tração Pública detentora de direitos e obrigações,
nistrativo. 1ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2021. pois possui personalidade jurídica própria. Como
DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 33ª Ed. exemplo podemos citar uma autarquia, fundação
São Paulo: Atlas, 2020. ou até mesmo uma empresa pública;
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasi- z Autoridade: trata-se do servidor público que,
leiro. 44ª Ed. Salvador: Juspodivm, 2020. representando a Administração Pública, possui
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. o poder de emitir ordens ou pareceres, podendo
34ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2019. influenciar diretamente na decisão de um proces-
PLANALTO. Portal da Legislação, 2022. Disponí- so administrativo, por exemplo.
vel em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/.
Acesso em: 26 set. 2022. Ao estudar a referida lei, pode-se ver que ela será
SENADO FEDERAL. Senado Federal, 2022. Dispo- aplicada tanto nos órgãos da Administração Pública
nível em: https://www12.senado.leg.br/hpsenado. direta como também da Administração Pública indi-
Acesso em: 26 set. 2022. reta, conforme evidenciado no fluxograma a seguir:
NOÇÕES DE DIREITO

Normas básicas sobre o Direta


LEI DO processo administrativo no
PROCESSO âmbito da Administração
LEI DO PROCESSO ADMINISTRATIVO ADMINISTRATIVO Federal Indireta
(LEI Nº 9.784/1999 E SUAS
ALTERAÇÕES) Lembre-se de que a Administração direta corres-
ponde ao conjunto de órgãos internos ligados a cada
Neste tópico, veremos os principais artigos da Lei um dos Poderes políticos integrantes da federação. Ou
nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que, basicamente, seja, ela compreende a União, os estados, os municí-
regula o processo administrativo no âmbito da Admi- pios e o DF.
nistração Pública Federal. 217
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Já a Administração indireta é composta por enti- e à interposição de recursos, nos processos de que
dades administrativas, dotadas de personalidade possam resultar sanções e nas situações de litígio;
jurídica própria. Alguns exemplos de entidade da XI - proibição de cobrança de despesas proces-
administração indireta são as autarquias, as funda- suais, ressalvadas as previstas em lei;
ções públicas, as empresas públicas (EP) e a sociedade XII - impulsão, de ofício, do processo adminis-
de economia mista. trativo, sem prejuízo da atuação dos interessados;
Veja na íntegra o que diz o caput, art. 2º: XIII - interpretação da norma administrativa
da forma que melhor garanta o atendimento
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre do fim público a que se dirige, vedada aplicação
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, retroativa de nova interpretação
motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segu- Neste sentido, o parágrafo único, do art. 2º, elenca
rança jurídica, interesse público e eficiência. os princípios e critérios que devem orientar a atua-
ção da Administração Pública no exercício de suas
Os princípios estabelecidos no art. 2º são de suma atividades.
importância para seu estudo, portanto, veja cada um Ademais, são estabelecidos também ao longo do
deles: texto da lei em comento os direitos dos administrados,
ou seja, das pessoas que se relacionam direta ou indi-
z Legalidade: a Administração só pode atuar quan- retamente com a Administração Pública, tais como os
do autorizada por lei; cidadãos, contribuintes ou servidores. Vejamos:
z Finalidade: proteção do interesse público;
z Motivação: obrigatoriedade de fundamentar o ato Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos
praticado (pressupostos de fato e de direito); perante a Administração, sem prejuízo de outros
z Razoabilidade: adequação dos meios aos fins; que lhe sejam assegurados:
z Proporcionalidade: meios adequados, necessá- I - ser tratado com respeito pelas autoridades e ser-
rios e proporcionais; vidores, que deverão facilitar o exercício de seus direi-
z Moralidade: respeito aos padrões éticos, à probi- tos e o cumprimento de suas obrigações;
dade, ao decoro; II - ter ciência da tramitação dos processos admi-
z Ampla defesa: é o que as partes têm para apresen- nistrativos em que tenha a condição de interessa-
tar argumentos em seu favor; do, ter vista dos autos, obter cópias de documentos
z Contraditório: o acusado terá o direito de resposta; neles contidos e conhecer as decisões proferidas;
z Segurança jurídica: previsibilidade e coerência III - formular alegações e apresentar documentos
na aplicação das leis; antes da decisão, os quais serão objeto de conside-
z Interesse público: atuação do Estado pautada no ração pelo órgão competente;
interesse público; IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advo-
z Eficiência: o melhor uso dos meios para atingir os gado, salvo quando obrigatória a representação, por
fins. força de lei.

Agora vejamos o parágrafo único, do art. 2º, que Sintetizando os direitos dos administrados, temos:
estabelece critérios a serem observados nos processos
administrativos: z ser tratado com respeito;
z ter ciência da tramitação dos processos
Art. 2º […] administrativos;
Parágrafo único. Nos processos administrativos z formular alegações e apresentar documentos
serão observados, entre outros, os critérios de: antes da decisão;
I - atuação conforme a lei e o Direito; z fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada
salvo exceções.
a renúncia total ou parcial de poderes ou competên-
cias, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse Estabelecidos os direitos dos administrados, temos,
público, vedada a promoção pessoal de agentes ou no art. 4º, deveres que precisam ser observados:
autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, Art. 4º São deveres do administrado perante a
decoro e boa-fé; Administração, sem prejuízo de outros previstos
V - divulgação oficial dos atos administrativos, em ato normativo:
ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na I - expor os fatos conforme a verdade;
Constituição; II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a III - não agir de modo temerário;
imposição de obrigações, restrições e sanções em IV - prestar as informações que lhe forem solicita-
medida superior àquelas estritamente necessárias das e colaborar para o esclarecimento dos fatos.
ao atendimento do interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de Sintetizando, os administrados devem:
direito que determinarem a decisão;
VIII - observância das formalidades essenciais
z expor os fatos conforme a verdade;
à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para z proceder com lealdade, urbanidade (afabilidade)
propiciar adequado grau de certeza, segurança e e boa-fé;
respeito aos direitos dos administrados; z não agir de modo temerário;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apre- z prestar informações e colaborar para o esclareci-
218 sentação de alegações finais, à produção de provas mento dos fatos.
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O início do processo é disciplinado nos arts. 5º a 8º. Por fim, atente-se ao seguinte:
Veja a disposição da lei:
z é vedada à Administração a recusa imotivada
Art. 5º O processo administrativo pode iniciar-se de recebimento de documentos e o servidor deve
de ofício ou a pedido de interessado. orientar o interessado quanto à necessidade de
Art. 6º O requerimento inicial do interessado, sal- suprir eventuais falhas;
vo casos em que for admitida solicitação oral, z os órgãos e entidades administrativas devem ela-
deve ser formulado por escrito e conter os seguin- borar modelos ou formulários padronizados para
tes dados: assuntos que importem pretensões equivalentes
I - órgão ou autoridade administrativa a que (assuntos similares);
se dirige; z quando os pedidos de uma pluralidade de interes-
II - identificação do interessado ou de quem o sados tiverem conteúdos e fundamentos idênticos,
represente; poderão ser formulados em um único requeri-
III - domicílio do requerente ou local para recebi-
mento (salvo preceito legal em contrário).
mento de comunicações;
IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos
O Capítulo V abrange os arts. 9º e 10, que dispõem
e de seus fundamentos;
sobre os legitimados como interessados no processo
V - data e assinatura do requerente ou de seu
representante.
administrativo. Veja:
Parágrafo único. É vedada à Administração a
recusa imotivada de recebimento de docu- Art. 9º São legitimados como interessados no
mentos, devendo o servidor orientar o interessado processo administrativo:
quanto ao suprimento de eventuais falhas. I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como
titulares de direitos ou interesses individuais ou no
Art. 7º Os órgãos e entidades administrativas
exercício do direito de representação;
deverão elaborar modelos ou formulários padro-
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm
nizados para assuntos que importem pretensões
direitos ou interesses que possam ser afetados pela
equivalentes.
decisão a ser adotada;
Art. 8º Quando os pedidos de uma pluralidade de
III - as organizações e associações representativas,
interessados tiverem conteúdo e fundamentos idên-
no tocante a direitos e interesses coletivos;
ticos, poderão ser formulados em um único requeri-
IV - as pessoas ou as associações legalmente consti-
mento, salvo preceito legal em contrário.
tuídas quanto a direitos ou interesses difusos.
Art. 10 São capazes, para fins de processo admi-
No que se refere às formas de início do processo nistrativo, os maiores de dezoito anos, ressalva-
administrativo, a lei estabelece que poderá dar-se de da previsão especial em ato normativo próprio.
duas maneiras. Vejamos:
Vejamos de forma esquematizada no fluxograma a
z De ofício: quando a Administração Pública, por seguir quais são as pessoas que a lei define que podem
iniciativa própria ou por determinação legal, ins- participar, acompanhar e interferir tanto no anda-
taura um determinado processo administrativo mento como no resultado do processo disciplinar:
com o objetivo de apurar ou decidir sobre algum
fato de sua competência; Pessoas físicas ou jurídicas
z A pedido de interessado: ou seja, quando uma Aqueles com interesses ou direitos
pessoa, seja ela física ou jurídica, que tenha direi- LEGITIMADOS Organizações e associações
to ou interesse em alguma questão administrativa COMO representativas
solicita a instauração do processo administrativo INTERESSADOS
Pessoas ou associações legalmente
para requerer, reclamar ou recorrer sobre deter- constituídas (quanto a direitos ou
minado fato. interesses difusos)

Para facilitar a compreensão, vejamos o fluxogra- Passaremos agora nossos estudos para um tema
ma a seguir: de grande importância e relevância para prova: com-
petência dos órgãos administrativos. Neste sentido, a
PROCESSO Ofício competência pode ser definida como um conjunto das
Por escrito
ADMINISTRATIVO (regra) atribuições conferidas aos ocupantes de um cargo,
(INÍCIO) A pedido do
interessado emprego ou função pública.
Oral (exceção) Além disso, a competência é uma condição de vali-
dade dos atos administrativos, conforme entendimen-
NOÇÕES DE DIREITO

to do Supremo Tribunal Federal: “a competência para


Conforme visto no art. 6º, na formulação por escri- a prática do ato administrativo, seja vinculado, seja
to devem constar os seguintes dados (requisitos): discricionário, é a condição primeira de sua validade”.
Conforme estabelece o art. 11, a competência é
z órgão ou autoridade administrativa a que se irrenunciável, ou seja, é de exercício obrigatório pelo
dirige; agente público, excetuando-se os casos de delegação e
z identificação do interessado ou representante; avocação legalmente admitidos. Veja na íntegra:
z domicílio do requerente ou local para recebimen-
to de comunicações; Art. 11 A competência é irrenunciável e se exer-
z formulação do pedido; ce pelos órgãos administrativos a que foi atribuí-
z data e assinatura do requerente ou de seu da como própria, salvo os casos de delegação e
representante. avocação legalmente admitidos. 219
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Os institutos de delegação e o de avocação decor- z nos casos em que a delegação poderá facilitar ou
rem do poder hierárquico (poder que a Administração até mesmo aprimorar o desempenho da atividade
Pública tem para auto-organizar-se). administrativa, devendo ser levados em conta os
A delegação, em linhas diretas, é a transferência aspectos relevantes para cada caso;
do exercício de competência de um órgão superior z quando houver compatibilidade entre as atribui-
para um inferior. ções dos órgãos ou autoridades envolvidas, mes-
A avocação, por sua vez, é a transferência do exer- mo que não haja qualquer relação de dependência
cício da competência de um órgão inferior para um entre delegante e delegado.
superior, na cadeia hierárquica.
Veja as definições estabelecidas pelo doutrinador Cumpre ressaltar também que a possibilidade de
Matheus Carvalho (2016): avocação temporária da competência da Administra-
ção Pública em caráter temporário refere-se à altera-
Avocação: desde que as atribuições não sejam ção temporária da competência, em que se transfere
da competência exclusiva do órgão subordinado, o exercício da competência de um órgão inferior para
o chefe poderá chamar para si, de forma tem- um órgão superior.
porária, a competência que deveria inicialmente O art. 13, por sua vez, estabelece o que não pode
ser exercida pelo agente subalterno. Saliente- ser objeto de delegação; em outras palavras, estabele-
-se, dessa forma, que a avocação é a tomada tem- ce limites para a delegação de competência. Vejamos
porária de competência legalmente atribuída a um
com muita atenção:
agente subordinado, por outro agente de hierar-
quia superior.
Art. 13 Não podem ser objeto de delegação:
Delegação: é a extensão de atribuições de um
I - a edição de atos de caráter normativo;
órgão a outro de mesma hierarquia ou de hie-
rarquia inferior, desde que não sejam exclusivas.
A delegação também é exercida de forma tempo- Atos normativos referem-se às normas em geral,
rária. Nesse sentido, é importante salientar que tais como leis, decretos, portarias, instruções norma-
a delegação não configura uma transferência, tivas etc. Tal vedação tem como escopo garantir segu-
mas sim uma extensão ou ampliação de com- rança jurídica na edição dos dispositivos legais.
petência, ou seja, o agente delegante não perde
a competência delegada. É designada cláusula Art. 13 […]
de reserva essa regra de manutenção da compe- II - a decisão de recursos administrativos;
tência pelo agente, mesmo após a delegação, e esta
cláusula está implícita nos atos administrativos de Refere-se aos atos que julgam as impugnações con-
delegação. Logo, se Maurício delega parte de sua tra as decisões administrativas, como, por exemplo, as
competência, para a prática de um determinado revisões.
ato administrativo, a Pablo, ambos se tornam com-
petentes para a prática da conduta, enquanto durar Art. 13 […]
a delegação III - as matérias de competência exclusiva do
órgão ou autoridade.
A possibilidade de delegação e avocação está dis-
posta nos arts. 12 e 15, da Lei nº 9.784, de 1999. Nos Matérias de competência exclusiva são aquelas
termos: que não podem ser delegadas ou transferidas, uma
vez que a lei ou constituição reserva a competência
Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular exclusiva para determinados órgãos ou autoridades.
poderão, se não houver impedimento legal, dele- Neste sentido, é importante que o aluno tenha
gar parte da sua competência a outros órgãos
memorizado o que dispõe o art. 13, pois trata-se de
ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
um tema comumente cobrado em provas. Para auxi-
hierarquicamente subordinados, quando for
conveniente, em razão de circunstâncias de índole
liar na memorização, veja o esquema a seguir:
técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo Edição de atos de caráter normativo
NÃO PODEM
aplica-se à delegação de competência dos órgãos Decisão de recursos administrativos
SER OBJETO
colegiados aos respectivos presidentes. DE DELEGAÇÃO Matérias de competência exclusiva do
[…] órgão ou autoridade
Art. 15 Será permitida, em caráter excepcional e
por motivos relevantes devidamente justificados, a
avocação temporária de competência atribuída Veja os demais dispositivos:
a órgão hierarquicamente inferior.
Art. 14 O ato de delegação e sua revogação deve-
O art. 12 trata da delegação de competência, que rão ser publicados no meio oficial.
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e
nada mais é do que a transferência da capacidade
poderes transferidos, os limites da atuação do
de decisão ou de ação entre órgãos ou entidades da
delegado, a duração e os objetivos da delegação
Administração Pública. e o recurso cabível, podendo conter ressalva de
De acordo com o dispositivo, somente poderá haver exercício da atribuição delegada.
a delegação de competência nos seguintes casos: § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer
tempo pela autoridade delegante.
z quando não houver impedimento legal, ou seja, § 3º As decisões adotadas por delegação devem
quando a lei não proibir ou não dispor expressa- mencionar explicitamente esta qualidade e consi-
mente que a competência de determinado órgão derar-se-ão editadas pelo delegado.
220 deverá ser exercida com exclusividade; […]
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Art. 16 Os órgãos e entidades administrativas § 2º Salvo imposição legal, o reconhecimento de
divulgarão publicamente os locais das res- firma somente será exigido quando houver
pectivas sedes e, quando conveniente, a unidade dúvida de autenticidade.
fundacional competente em matéria de interesse § 3º A autenticação de documentos exigidos em
especial. cópia poderá ser feita pelo órgão administrativo.
Art. 17 Inexistindo competência legal específica, o § 4º O processo deverá ter suas páginas numeradas
processo administrativo deverá ser iniciado peran- seqüencialmente e rubricadas.
te a autoridade de menor grau hierárquico para Art. 23 Os atos do processo devem realizar-se em
decidir. dias úteis, no horário normal de funcionamen-
to da repartição na qual tramitar o processo.
No que se refere à aplicação de impedimento e sus- Parágrafo único. Serão concluídos depois do horá-
rio normal os atos já iniciados, cujo adiamento
peição aos servidores, vejamos o que a lei dispõe:
prejudique o curso regular do procedimento ou
cause dano ao interessado ou à Administração.
Art. 18 É impedido de atuar em processo adminis- Art. 24 Inexistindo disposição específica, os atos
trativo o servidor ou autoridade que: do órgão ou autoridade responsável pelo processo
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; e dos administrados que dele participem devem ser
praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo
Refere-se aos casos em que o servidor possa aufe- de força maior.
rir algum benefício ou prejuízo, seja este pessoal ou Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo
profissional, com o resultado do processo disciplinar. pode ser dilatado até o dobro, mediante com-
provada justificação.
Art. 18 […] Art. 25 Os atos do processo devem realizar-se pre-
II - tenha participado ou venha a participar como ferencialmente na sede do órgão, cientificando-se o
perito, testemunha ou representante, ou se tais interessado se outro for o local de realização.
situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro
ou parente e afins até o terceiro grau; Uma vez realizados e documentados os atos pro-
cessuais, vejamos a seguir a “comunicação dos atos
Também será considerado impedido de atuar em processuais”, que é o meio pelo qual as partes tomam
processo administrativo o servidor que possua qual- conhecimento dos atos praticados e dos termos do pro-
quer envolvimento ou relação pessoal com qualquer cesso, assegurando o contraditório e a ampla defesa.
uma das partes do processo, ou até mesmo com as
provas que embasam a decisão processual. Art. 26 O órgão competente perante o qual tramita
o processo administrativo determinará a intimação
Art. 18 […] do interessado para ciência de decisão ou a efetiva-
ção de diligências.
III - esteja litigando judicial ou administrativa-
§ 1º A intimação deverá conter:
mente com o interessado ou respectivo cônjuge
I - identificação do intimado e nome do órgão
ou companheiro.
ou entidade administrativa;
II - finalidade da intimação;
Por fim, será também impedido o servidor nos III - data, hora e local em que deve comparecer;
casos em que existirem quaisquer conflitos ou contro- IV - se o intimado deve comparecer pessoalmen-
vérsias entre o servidor ou autoridade e o adminis- te, ou fazer-se representar;
trado ou seu cônjuge e até mesmo companheiros em V - informação da continuidade do processo
união estável. independentemente do seu comparecimento;
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais
Art. 19 A autoridade ou servidor que incorrer em pertinentes.
impedimento deve comunicar o fato à autoridade § 2º A intimação observará a antecedência mínima
competente, abstendo-se de atuar. de três dias úteis quanto à data de comparecimento.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar § 3º A intimação pode ser efetuada por ciência no
o impedimento constitui falta grave, para efeitos processo, por via postal com aviso de recebimento,
disciplinares. por telegrama ou outro meio que assegure a certe-
Art. 20 Pode ser argüida a suspeição de autoridade za da ciência do interessado.
ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade § 4º No caso de interessados indeterminados, desco-
notória com algum dos interessados ou com os res- nhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação
pectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins deve ser efetuada por meio de publicação oficial.
até o terceiro grau. § 5º As intimações serão nulas quando feitas
sem observância das prescrições legais, mas o com-
Art. 21 O indeferimento de alegação de suspeição
parecimento do administrado supre sua falta ou
NOÇÕES DE DIREITO

poderá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.


irregularidade.
Art. 27 O desatendimento da intimação não impor-
Quanto à forma, tempo e lugar dos atos do pro- ta o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a
cesso, veja na íntegra os dispositivos pertinentes: renúncia a direito pelo administrado.
Parágrafo único. No prosseguimento do proces-
Art. 22 Os atos do processo administrativo não so, será garantido direito de ampla defesa ao
dependem de forma determinada senão quando interessado.
a lei expressamente a exigir. Art. 28 Devem ser objeto de intimação os atos do
§ 1º Os atos do processo devem ser produzidos processo que resultem para o interessado em impo-
por escrito, em vernáculo, com a data e o local sição de deveres, ônus, sanções ou restrição ao
de sua realização e a assinatura da autorida- exercício de direitos e atividades e os atos de outra
de responsável. natureza, de seu interesse. 221
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A intimação é o ato primordial para dar o devido Art. 30 São inadmissíveis no processo adminis-
seguimento ao processo, seja ele disciplinar ou não, trativo as provas obtidas por meios ilícitos.
uma vez que é o ato responsável por dar a ciência às Art. 31 Quando a matéria do processo envolver
partes sobre os atos e termos processuais, para que assunto de interesse geral, o órgão competente
seja cumprida ou não alguma medida. poderá, mediante despacho motivado, abrir perío-
do de consulta pública para manifestação de ter-
Neste sentido, conforme evidenciado no art. 27, o
ceiros, antes da decisão do pedido, se não houver
recebimento da intimação não significa que o intima- prejuízo para a parte interessada.
do concorda com os fatos que foram alegados, tam- § 1º A abertura da consulta pública será objeto
pouco que venha a abrir mão do seu direito, objeto de divulgação pelos meios oficiais, a fim de que
do processo. pessoas físicas ou jurídicas possam examinar os
Ainda que o intimado não cumpra com a intima- autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale-
ção de forma imediata, ser-lhe-á garantida a ampla gações escritas.
defesa no curso do processo, ou seja, poderá apresen- § 2º O comparecimento à consulta pública não con-
tar em outro momento suas razões, provas e recursos fere, por si, a condição de interessado do processo,
para defender seus interesses. mas confere o direito de obter da Administração
resposta fundamentada, que poderá ser comum a
todas as alegações substancialmente iguais.
Dica
Atenção ao ponto que diz que a intimação obser- A lei estabelece, conforme elencado no artigo ante-
vará a antecedência mínima de três dias úteis rior, que nos processos administrativos que aborda-
quanto à data de comparecimento. rem assunto de interesse público da sociedade em
geral o órgão competente poderá abrir um perío-
do para que terceiros possam manifestar-se sobre a
Após o devido cumprimento dos atos e termos pro-
matéria do processo, antes da decisão final.
cessuais, anteriormente elencados, passa-se para a
fase de instrução do processo, ou seja, a fase em que
Art. 32 Antes da tomada de decisão, a juízo da
serão produzidas e apreciadas as provas, conduzindo autoridade, diante da relevância da questão, pode-
para a decisão processual. rá ser realizada audiência pública para debates
Neste sentido, a fase de instrução nos processos sobre a matéria do processo.
administrativos busca fornecer todos os elementos Art. 33 Os órgãos e entidades administrativas, em
necessários para que o processo seja analisado pela matéria relevante, poderão estabelecer outros
autoridade competente e posteriormente seja julgado. meios de participação de administrados, dire-
Vejamos os dispositivos pertinentes: tamente ou por meio de organizações e associações
legalmente reconhecidas.
Art. 29 As atividades de instrução destinadas a Art. 34 Os resultados da consulta e audiência públi-
averiguar e comprovar os dados necessários ca e de outros meios de participação de administra-
à tomada de decisão realizam-se de ofício ou dos deverão ser apresentados com a indicação do
mediante impulsão do órgão responsável pelo pro- procedimento adotado.
cesso, sem prejuízo do direito dos interessados de Art. 35 Quando necessária à instrução do processo,
a audiência de outros órgãos ou entidades adminis-
propor atuações probatórias.
trativas poderá ser realizada em reunião conjunta,
§ 1º O órgão competente para a instrução fará cons-
com a participação de titulares ou representantes
tar dos autos os dados necessários à decisão do
dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva
processo.
ata, a ser juntada aos autos.
§ 2º Os atos de instrução que exijam a atuação dos
interessados devem realizar-se do modo menos
Além da previsão legal do período de consulta
oneroso para estes.
pública, a lei prevê também a possibilidade de audiên-
cia conjunta no processo administrativo, ou seja, reu-
Assim, os atos de instrução do processo adminis-
nião de vários órgãos ou entidades para deliberarem
trativo necessários para conduzir a decisão proces-
sobre determinada matéria do processo.
sual serão realizados por iniciativa própria do órgão
Assim, a audiência conjunta tem como objetivo
que conduz o processo ou mediante sua solicitação. assegurar a eficiência dos atos administrativos, além
Vejamos o esquema a seguir para facilitar a de garantir também celeridade, permitindo que as
memorização: decisões administrativas sejam tomadas de forma
mais ágil e coordenada entre os órgãos envolvidos.
Destinadas a averiguar e De ofício
comprovar os dados
INSTRUÇÃO
necessários à tomada de
Art. 36 Cabe ao interessado a prova dos fatos que
Ou mediante tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao
decisão impulsão do órgão
responsável
órgão competente para a instrução e do disposto no
art. 37 desta Lei.
Art. 37 Quando o interessado declarar que fatos e
Cumpre ressaltar que, embora os atos de instrução dados estão registrados em documentos existentes
na própria Administração responsável pelo pro-
sejam realizados de ofício ou por solicitação do órgão
cesso ou em outro órgão administrativo, o órgão
responsável, não se poderá impedir que os possíveis
competente para a instrução proverá, de ofício,
interessados sugeriram ou requeiram a realização de à obtenção dos documentos ou das respectivas
provas ou diligências necessárias que sejam conside- cópias.
radas relevantes para o esclarecimento dos fatos. Art. 38 O interessado poderá, na fase instrutória
Seguem os demais artigos, para facilitar a leitura e antes da tomada da decisão, juntar documentos
222 da lei seca: e pareceres, requerer diligências e perícias, bem
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
como aduzir alegações referentes à matéria objeto Art. 43 Quando por disposição de ato normativo
do processo. devam ser previamente obtidos laudos técnicos de
§ 1º Os elementos probatórios deverão ser conside- órgãos administrativos e estes não cumprirem o
rados na motivação do relatório e da decisão. encargo no prazo assinalado, o órgão responsável
§ 2º Somente poderão ser recusadas, median- pela instrução deverá solicitar laudo técnico de
te decisão fundamentada, as provas propostas outro órgão dotado de qualificação e capacidade
pelos interessados quando sejam ilícitas, imperti- técnica equivalentes.
nentes, desnecessárias ou protelatórias.
Veja que o art. 39 abre espaço para que terceiros
O artigo anterior refere-se aos direitos dos interes- (pessoas que possuem direitos ou interesses na maté-
sados na fase instrutória do processo administrativo. ria do processo administrativo) possam apresentar
Os interessados terão os seguintes direitos: provas e informações que contribuam com o esclare-
cimento do processo.
z requerer ao órgão competente a juntada de docu-
mentos ou pareceres que possam contribuir para o Art. 44 Encerrada a instrução, o interessado
esclarecimento da matéria que é objeto do proces- terá o direito de manifestar-se no prazo máxi-
so administrativo; mo de dez dias, salvo se outro prazo for legalmen-
z requerer que o órgão competente realize diligên- te fixado.
cias e perícias, com a finalidade de comprovar ou Art. 45 Em caso de risco iminente, a Administração
esclarecer algum fato relevante para o processo, Pública poderá motivadamente adotar providên-
como, por exemplo, vistorias, inspeções, exames cias acauteladoras sem a prévia manifestação do
etc.; interessado.
Art. 46 Os interessados têm direito à vista do pro-
z levar ao órgão competente as alegações referentes
cesso e a obter certidões ou cópias reprográ-
à matéria objeto do processo, bem como as suas
ficas dos dados e documentos que o integram,
razões, argumentos ou defesas sobre a questão ressalvados os dados e documentos de terceiros
que está sendo discutida e que será objeto de deci- protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade,
são processual. à honra e à imagem.
Art. 47 O órgão de instrução que não for compe-
Cumpre ressaltar também que somente poderão tente para emitir a decisão final elaborará relató-
ser recusadas as provas propostas pelos interessados rio indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases
quando forem ilícitas, impertinentes, desnecessárias do procedimento e formulará proposta de decisão,
ou que tiverem o objetivo de atrasar ou prejudicar o objetivamente justificada, encaminhando o proces-
andamento do processo. Deste modo a recusa da pro- so à autoridade competente.
va deverá ser feita de forma fundamentada, isto é,
expondo as devidas justificativas. Um ponto importante para destacar é a limitação
do direito de vistas do processo por terceiro. Os ter-
Art. 39 Quando for necessária a prestação de infor- ceiros podem acessar e reproduzir os dados e docu-
mações ou a apresentação de provas pelos inte- mentos que fazem parte do processo administrativo.
ressados ou terceiros, serão expedidas intimações Contudo, tais informações e registros estão limitados
para esse fim, mencionando-se data, prazo, for- pelo direito à privacidade, à honra e à imagem; assim,
ma e condições de atendimento. terceiros não terão acesso às informações e registros
Parágrafo único. Não sendo atendida a intima- que pertençam ou digam respeito a outras pessoas
ção, poderá o órgão competente, se entender rele- que não sejam as partes do processo.
vante a matéria, suprir de ofício a omissão, não Deste modo, o referido dispositivo legal tem como
se eximindo de proferir a decisão.
objetivo garantir a transparência e a publicidade da
Art. 40 Quando dados, atuações ou documentos
Administração Pública, desde que respeitados os
solicitados ao interessado forem necessários à
direitos fundamentais consagrados na Constituição
apreciação de pedido formulado, o não atendimen-
to no prazo fixado pela Administração para a res- da República.
pectiva apresentação implicará arquivamento do No que se refere ao “dever de decidir”, vejamos os
processo. dispositivos pertinentes na íntegra:
Art. 41 Os interessados serão intimados de pro-
va ou diligência ordenada, com antecedência Art. 48 A Administração tem o dever de explicita-
mínima de três dias úteis, mencionando-se data, mente emitir decisão nos processos administrativos
hora e local de realização. e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de
Art. 42 Quando deva ser obrigatoriamente ouvido sua competência.
um órgão consultivo, o parecer deverá ser emiti- Art. 49 Concluída a instrução de processo adminis-
do no prazo máximo de quinze dias, salvo nor- trativo, a Administração tem o prazo de até trinta
NOÇÕES DE DIREITO

ma especial ou comprovada necessidade de maior dias para decidir, salvo prorrogação por igual
prazo. período expressamente motivada.
§ 1º Se um parecer obrigatório e vinculante deixar
de ser emitido no prazo fixado, o processo não Importante ressaltar que a Lei nº 14.210, de
terá seguimento até a respectiva apresentação, 2021, adicionou o “Capítulo XI-A” à Lei nº 9.784, de
responsabilizando-se quem der causa ao atraso. 1999, em comento. Deste modo, veja os dispositivos
§ 2º Se um parecer obrigatório e não vinculante adicionados:
deixar de ser emitido no prazo fixado, o proces-
so poderá ter prosseguimento e ser decidido com Art. 49-A No âmbito da Administração Pública
sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade de federal, as decisões administrativas que exijam a
quem se omitiu no atendimento. participação de 3 (três) ou mais setores, órgãos ou
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entidades poderão ser tomadas mediante decisão Parágrafo único. Não poderá ser arguida matéria
coordenada, sempre que: estranha ao objeto da convocação.
I - for justificável pela relevância da matéria; e Art. 49-G A conclusão dos trabalhos da decisão
II - houver discordância que prejudique a cele- coordenada será consolidada em ata, que conterá
ridade do processo administrativo decisório. as seguintes informações:
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se decisão I - relato sobre os itens da pauta;
coordenada a instância de natureza interinstitu- II - síntese dos fundamentos aduzidos;
cional ou intersetorial que atua de forma compar- III - síntese das teses pertinentes ao objeto da
tilhada com a finalidade de simplificar o processo convocação;
administrativo mediante participação concomitan- IV - registro das orientações, das diretrizes, das solu-
te de todas as autoridades e agentes decisórios e ções ou das propostas de atos governamentais rela-
dos responsáveis pela instrução técnico-jurídica, tivos ao objeto da convocação;
observada a natureza do objeto e a compatibilida- V - posicionamento dos participantes para subsi-
de do procedimento e de sua formalização com a diar futura atuação governamental em matéria
legislação pertinente. idêntica ou similar; e
§ 2º (VETADO). VI - decisão de cada órgão ou entidade relativa à
§ 3º (VETADO). matéria sujeita à sua competência.
§ 4º A decisão coordenada não exclui a responsa- § 1º Até a assinatura da ata, poderá ser complemen-
bilidade originária de cada órgão ou autoridade tada a fundamentação da decisão da autoridade ou
envolvida. do agente a respeito de matéria de competência do
§ 5º A decisão coordenada obedecerá aos princípios órgão ou da entidade representada.
da legalidade, da eficiência e da transparência, com § 2º (VETADO).
utilização, sempre que necessário, da simplificação § 3º A ata será publicada por extrato no Diário
do procedimento e da concentração das instâncias Oficial da União, do qual deverão constar, além do
decisórias. registro referido no inciso IV do caput deste artigo,
§ 6º Não se aplica a decisão coordenada aos os dados identificadores da decisão coordenada e
processos administrativos: o órgão e o local em que se encontra a ata em seu
I - de licitação; inteiro teor, para conhecimento dos interessados.
II - relacionados ao poder sancionador; ou
III - em que estejam envolvidas autoridades de Pode- Quanto à motivação dos atos, nos respectivos pro-
res distintos. cessos administrativos, vejamos as disposições do art.
50, da Lei nº 9.784, de 1999.
Conforme elencado no dispositivo, decisão coor-
denada no processo administrativo trata-se da pos- Art. 50 Os atos administrativos deverão ser moti-
sibilidade de decisão tomada de forma conjunta e vados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
integrada por três ou mais setores, órgãos ou entida- jurídicos, quando:
des da Administração Pública federal. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou
Art. 49-B Poderão habilitar-se a participar da deci- sanções;
são coordenada, na qualidade de ouvintes, os inte- III - decidam processos administrativos de concur-
ressados de que trata o art. 9º desta Lei. so ou seleção pública;
Parágrafo único. A participação na reunião, que IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de pro-
poderá incluir direito a voz, será deferida por deci- cesso licitatório;
são irrecorrível da autoridade responsável pela V - decidam recursos administrativos;
convocação da decisão coordenada. VI - decorram de reexame de ofício;
Art. 49-C (VETADO). VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre
Art. 49-D Os participantes da decisão coordenada a questão ou discrepem de pareceres, laudos, pro-
deverão ser intimados na forma do art. 26 desta postas e relatórios oficiais;
Lei. VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou
convalidação de ato administrativo.
Desta forma, é imprescindível que os terceiros § 1º A motivação deve ser explícita, clara e
participantes da decisão coordenada, na qualidade de congruente, podendo consistir em declaração de
ouvintes, sejam devidamente intimados, sendo eles: concordância com fundamentos de anteriores pare-
ceres, informações, decisões ou propostas, que, nes-
os interessados que sejam titulares de direitos ou inte-
te caso, serão parte integrante do ato.
resses que possam ser afetados pela decisão ou que
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natu-
tenham qualquer relação jurídica com a matéria ou o reza, pode ser utilizado meio mecânico que repro-
objeto do processo. duza os fundamentos das decisões, desde que não
prejudique direito ou garantia dos interessados.
Art. 49-E Cada órgão ou entidade participante é § 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados
responsável pela elaboração de documento específi- e comissões ou de decisões orais constará da res-
co sobre o tema atinente à respectiva competência, pectiva ata ou de termo escrito.
a fim de subsidiar os trabalhos e integrar o proces-
so da decisão coordenada.
A lei também dispõe sobre a desistência e outros
Parágrafo único. O documento previsto no caput
casos de extinção do processo. Desta forma, o art. 51
deste artigo abordará a questão objeto da decisão
diz-nos que o interessado poderá, mediante mani-
coordenada e eventuais precedentes.
Art. 49-F Eventual dissenso na solução do objeto da festação escrita, desistir total ou parcialmente do
decisão coordenada deverá ser manifestado duran- pedido formulado ou, ainda, renunciar aos direitos
te as reuniões, de forma fundamentada, acompa- disponíveis. Veja:
nhado das propostas de solução e de alteração
necessárias para a resolução da questão.
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Art. 51 O interessado poderá, mediante manifes- É importante mencionar, também, que a anulação
tação escrita, desistir total ou parcialmente do dos atos administrativos pode ser realizada tanto pela
pedido formulado ou, ainda, renunciar a direitos própria Administração Pública quanto pelo Poder
disponíveis. Judiciário, por meio de provocação.
§ 1º Havendo vários interessados, a desistência ou
renúncia atinge somente quem a tenha formulado. Revogação
§ 2º A desistência ou renúncia do interessado, con-
forme o caso, não prejudica o prosseguimento do
A revogação do ato administrativo é o desfazi-
processo, se a Administração considerar que o inte-
resse público assim o exige. mento de um ato válido; por motivo de conveniência
Art. 52 O órgão competente poderá declarar extin- e oportunidade, a Administração Pública retira-o do
to o processo quando exaurida sua finalidade ou universo jurídico. É importante ressaltar que o ato é
o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou válido e perfeito, porém, a Administração Pública, ao
prejudicado por fato superveniente. entender que o ato se tornou inconveniente ou ino-
portuno, resolve revogá-lo.
ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO A revogação do ato administrativo possui natureza
discricionária, ou seja, a Administração Pública pode
O Capítulo XIV dispõe sobre a anulação, revoga- revogá-lo por motivo de conveniência ou oportuni-
ção e convalidação dos atos administrativos. Trata-se dade, respeitados os direitos adquiridos. Trata-se de
de um importante tema para sua prova. uma análise de mérito realizada pela Administração.
Destaca-se que os efeitos da revogação não são
Art. 53 A Administração deve anular seus pró- retroativos, mas, sim, prospectivos (ex nunc), ou seja,
prios atos, quando eivados de vício de legalidade, fazem efeitos a partir da própria revogação. Todos os
e pode revogá-los por motivo de conveniência ou atos realizados até a data da revogação permanecem
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. válidos.
Art. 54 O direito da Administração de anular os Além dos pontos já apresentados, podemos desta-
atos administrativos de que decorram efeitos favo- car que o ato de revogação é um ato discricionário e
ráveis para os destinatários decai em cinco anos, apenas incide sobre atos discricionários.
contados da data em que foram praticados, salvo
comprovada má-fé.
Art. 55 Em decisão na qual se evidencie não acar- ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
retarem lesão ao interesse público nem prejuízo
a terceiros, os atos que apresentarem defeitos Ato nulo (contrário à
Ato válido e perfeito
sanáveis poderão ser convalidados pela própria norma jurídica)
Administração.
Desfazimento do ato por
Desfazimento do ato
motivo de conveniência
Anulação administrativo quando
e oportunidade da Admi-
eivado de ilegalidade
nistração Pública
A anulação é uma forma de desfazimento do ato
administrativo quando eivado de ilegalidade (ato Efeito prospectivo (ex
Efeito retroativo (ex tunc)
agride uma norma). A ilegalidade atinge a origem do nunc)
ato, ou seja, o ato é nulo desde o seu nascimento. Des-
ta forma, diz-se que a anulação do ato administrativo Natureza vinculada quan-
possui efeitos retroativos (ex tunc). do o ato é insanável Natureza discricionária
A anulação do ato possui natureza de decisão vin- Natureza discricionária (analisa o mérito)
culada, ou seja, a Administração Pública deve anular se o ato for sanável
seus próprios atos quando eivados de vício insaná- A anulação alcança
vel de legalidade. Essa regra comporta uma exceção: A revogação alcança
atos vinculados e
quando o vício for sanável, a Administração poderá atos discricionários
discricionários
optar entre anular ou convalidar o ato.
Destaca-se que há um limite temporal para a anu- Prazo de cinco anos Não possui prazo
lação dos atos, conforme dispõe o art. 54, que diz que
o direito da Administração Pública de anular os atos Convalidação
decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé. A convalidação, conforme dispõe o art. 53, é uma
Veja duas importantes súmulas do STF sobre anu- forma de corrigir e regularizar um ato administrativo,
lação e revogação: desde que não acarrete lesão ao interesse público, não
cause prejuízo a terceiros e os defeitos sejam sanáveis.
NOÇÕES DE DIREITO

Súmula n° 346 (STF) A Administração pública A convalidação gera efeitos retroativos (ex tunc),
pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
pois o ato é corrigido desde a sua origem.
Súmula nº 473 (STF) A Administração pode anu-
lar seus próprios atos, quando eivados de vícios RECURSO ADMINISTRATIVO E REVISÃO
que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência No que se refere ao recurso administrativo e à
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiri- revisão, vejamos os dispositivos pertinentes:
dos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial. Art. 56 Das decisões administrativas cabe recurso,
em face de razões de legalidade e de mérito.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
§ 1º O recurso será dirigido à autoridade que pro- recurso não poderá suspender a execução ou efeitos
feriu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no de uma decisão administrativa, até o seu julgamento.
prazo de cinco dias, o encaminhará à autoridade Ademais, conforme disposto no art. 63 da referida
superior. lei, o recurso não será conhecido nos seguintes casos:
§ 2º Salvo exigência legal, a interposição de recurso
administrativo independe de caução. Fora do prazo
Não será Perante órgão incompetente
Cumpre ressaltar que o recurso no processo admi- RECURSO
Conhecido Por não legitimados
nistrativo nada mais é do que o direito de pedir a revi-
são ou a reforma de uma decisão administrativa, que, Após exaurida a esfera adm.
ao entender do administrado, seja contrária aos seus
interesses ou direitos. Art. 66 Os prazos começam a correr a partir da
Para auxiliar no entendimento da fase recursal em data da cientificação oficial, excluindo-se da
processos administrativos, vejamos o fluxograma a contagem o dia do começo e incluindo-se o do
seguir: vencimento.

À autoridade Prazo de cinco dias SANÇÕES


RECURSO que proferiu
Se não a reconsiderar no prazo
a decisão
de cinco dias, o encaminhará à Por fim, a lei prevê a possibilidade de a Adminis-
autoridade superior tração Pública aplicar sanções aos administrados que
cometerem infrações administrativas ou violarem
as normas e os deveres estabelecidos pela própria
Importante! Administração.

A interposição de recurso administrativo inde- Art. 68 As sanções, a serem aplicadas por auto-
pende de caução (salvo exigência legal). ridade competente, terão natureza pecuniária
ou consistirão em obrigação de fazer ou de não
fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
Art. 57 O recurso administrativo tramitará no
máximo por três instâncias administrativas, sal- Desta forma, tais sanções deverão ser aplicadas
vo disposição legal diversa.
pela autoridade competente, ou seja, autoridade que
tenha o poder de impor tal penalidade. A sanção terá
O dispositivo estabelece um limite máximo de natureza pecuniária, a qual poderá dar-se de três
órgãos ou autoridades administrativas que podem formas:
revisar ou reformar uma decisão que seja contrária
aos interesses ou aos direitos do administrado.
z Multa: refere-se ao pagamento em dinheiro de
Desta forma, tal limitação visa garantir a eficiên-
uma determinada quantia, como forma de sanção;
cia, celeridade e a razoabilidade do processo adminis-
z Obrigação de fazer: realização de um ato ou
trativo, buscando evitar a demora desnecessária ou a
serviço que inicialmente não foi observado pelo
multiplicidade de recursos que possam acarretar pre-
infrator;
juízo para a decisão final da Administração Pública.
z Obrigação de não fazer: abstenção de um ato ou
serviço, o qual o infrator fez ou pretendia fazer,
Art. 58 Têm legitimidade para interpor recurso
porém de forma indevida.
administrativo:
I - os titulares de direitos e interesses que forem
parte no processo; Sendo assim, tais disposições visam garantir a
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem legalidade, proporcionalidade e a razoabilidade
indiretamente afetados pela decisão recorrida; das sanções administrativas, bem como assegurar a
III - as organizações e associações representa- proteção dos direitos e garantias fundamentais dos
tivas, no tocante a direitos e interesses coletivos; administrados.
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direi-
tos ou interesses difusos. REFERÊNCIAS
Art. 59 Salvo disposição legal específica, é de dez
dias o prazo para interposição de recurso adminis- CARVALHO, M. Manual de Direito Administra-
trativo, contado a partir da ciência ou divulgação tivo. 3ª Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2016, p.
oficial da decisão recorrida. 121.
§ 1º Quando a lei não fixar prazo diferente, o RMS nº 26.967-DF, rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma do
recurso administrativo deverá ser decidido no pra-
STF, julgamento em 26.02.2008, DJe de 03.04.2008.
zo máximo de trinta dias, a partir do recebimento
SILVA, N. M. de F. Requisitos de validade dos Atos
dos autos pelo órgão competente.
§ 2º O prazo mencionado no parágrafo anterior
Administrativos. Conteúdo Jurídico, 2012. Dis-
poderá ser prorrogado por igual período, ante ponível em: https://conteudojuridico.com.br/
justificativa explícita. consulta/Artigos/31668/requisitos-de-validade-
Art. 61 Salvo disposição legal em contrário, o -dos-atos-administrativos. Acesso em: 28 dez. 2023.
recurso não tem efeito suspensivo.

Diferentemente da regra dos processos judiciais, a


Lei nº 9.784 dispõe que os recursos administrativos,
em regra, não terão efeitos suspensivos, ou seja, o
226
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menor custo e as melhores condições para a empre-
HORA DE PRATICAR! sa. A administração pública também busca realizar as
suas compras com o intuito de garantir, entre outros
1. (CESGRANRIO — 2023) Um administrador de empre- quesitos, o menor custo, respeitando- se os princípios
sas exerce cargo comissionado em determinado presentes na Constituição Federal de 1988.
órgão público que está assoberbado de requerimen-
tos com pleitos diversos. Com o intuito de resolver Um desses princípios, que une qualidade, celeridade e
o problema, cria sistema de metas, com prêmios de menor custo na prestação do serviço ou no trato com
produtividade, buscando respaldo em autorização os bens públicos, é o princípio da
normativa recentemente aprovada. No caso em tela,
está sendo realizado o princípio, aplicável à adminis- a) razoabilidade
tração pública, da b) economicidade
c) impessoalidade
a) moralidade d) moralidade
b) publicidade e) publicidade
c) eficiência
d) organização 7. (CESGRANRIO — 2018) Conforme entendimento dou-
e) solidariedade trinário, os atos administrativos

2. (CESGRANRIO — 2018) No âmbito do princípio da a) subordinam-se ao fato jurídico do direito privado.


legalidade atuam a supremacia da lei e a reserva de b) são incompetentes quando considerados de interes-
lei. se pessoal do administrador público.
No que concerne à reserva de lei, a doutrina assente c) podem ser objeto de delegação em que conste a edi-
estabelece uma relação com a denominada ção de atos de caráter normativo.
d) permitem a exoneração do Servidor em estágio pro-
a) atuação negativa batório, sem as formalidades de apuração de sua
b) vinculação positiva capacidade.
c) juridicidade atual e) são delegáveis ao administrador, que pode adotar
d) mecânica limitativa fundamentos genéricos e indefinidos como de inte-
e) inclusão das lacunas resse público.

3. (CESGRANRIO — 2018) São princípios constitucio- 8. (CESGRANRIO — 2018) Quando um ato administra-
nais que regem a administração pública, EXCETO tivo é revogado por conveniência e oportunidade da
Administração, deve ser observado, quanto à forma, o
a) Legalidade princípio da
b) Impessoalidade
c) Moralidade a) simetria
d) Marketing b) motivação
e) Publicidade c) vinculação
d) acidentalidade
4. (CESGRANRIO — 2018) É considerado um princípio e) essencialidade
geral do direito administrativo, o princípio da
9. (CESGRANRIO — 2018) Quando se afirma que os atos
a) isonomia administrativos são sempre nulos, está sendo aplica-
b) dualidade da a denominada teoria
c) probabilidade
d) unitariedade a) diferenciada
e) finalidade b) circunscrita
c) monista
5. (CESGRANRIO — 2023) Determinado cidadão foi eli- d) especialista
minado de concurso público, a investigação social, e) avançada
por ter cometido ilícito sete anos antes do certame.
No recurso contra sua eliminação, aduziu que, além 10. (CESGRANRIO — 2023) J é gerente responsável pelas
do tempo decorrido, passou a exercer outro cargo compras do município Z e as realiza de acordo com a
público, onde permanece, com elogios a sua atuação. moldura legal existente. Dado ao excesso de trabalho,
Nos termos dos princípios aplicáveis à administração postula à autoridade local a indicação de novo ser-
NOÇÕES DE DIREITO

pública, o ato que eliminou o cidadão do concurso vidor para auxiliar nas tarefas necessárias. Houve a
ofende a edição de ato nomeando P para cargo efetivo no setor,
que, posteriormente, foi declarado nulo, sendo edita-
a) veracidade da nova portaria para designar P para exercício de
b) necessidade cargo em comissão. Nesse caso, observada a teoria
c) validade dos atos administrativos, houve a
d) publicidade
e) proporcionalidade a) permissão
b) conversão
6. (CESGRANRIO — 2018) A logística inbound de uma c) convolação
empresa é o setor da logística que, entre outras ativida- d) transformação
des, realiza a compra de materiais, sempre buscando o e) edição 227
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11. (CESGRANRIO — 2023) A Administração Pública 15. (CESGRANRIO — 2019) O Supremo Tribunal Federal,
indireta é composta por entes descentralizados, de ao julgar a constitucionalidade de lei que concedeu
competência do governo, criados para desempenha- passe livre às pessoas portadoras de deficiência,
rem variadas funções de serviços à população. Nesse assentou que, dentre os temas constitucionais, ocor-
sentido, existe uma entidade que assume a forma de reria a realização do fundamento da
pessoa jurídica, cuja criação é autorizada por lei, como
um instrumento de ação do Estado, dotada de perso- a) soberania
nalidade de Direito Privado, mas submetida a certas b) política
regras especiais, decorrentes dessa sua natureza c) dignidade da pessoa humana
auxiliar da atuação governamental. Ela é constituída d) autodeterminação
sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com e) origem
direito a voto pertencem em sua maioria à União ou
a uma entidade de sua administração indireta, sobre 16. (CESGRANRIO — 2019) Ao estabelecer o Supremo Tri-
remanescente acionário de propriedade particular. bunal Federal que não deve ser admitida a prerrogati-
va de foro para ex-ocupantes de cargos públicos, está
Essa entidade é chamada de sendo aplicado o fundamento constitucional da

a) empresa pública a) valoração


b) autarquia especial b) República
c) agência reguladora c) independência
d) sociedade de economia mista d) erradicação
e) agência executiva e) promoção

12. (CESGRANRIO — 2022) A iniciativa, no âmbito do pro- 17. (CESGRANRIO — 2019) O Supremo Tribunal Federal,
cesso legislativo, para a criação de uma autarquia ao julgar extradição, exerce, observados os direitos e
federal, que é ente da administração pública indireta, as garantias fundamentais expressos na Constituição
compreendida como o serviço autônomo, criado por Federal, o papel de
lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita
próprios, para executar atividades típicas da Admi- a) trabalhador voluntário
nistração Pública que requeiram, para seu melhor b) autoridade central
funcionamento, gestão administrativa e financeira c) órgão de execução
descentralizada, é atribuída d) agente especial
e) juiz natural
a) exclusivamente aos membros do Congresso Nacional
b) concorrentemente aos membros do Congresso 18. (CESGRANRIO — 2018) Nos termos da Constituição
Nacional e ao Presidente da República de 1988, o direito de propriedade é um direito
c) privativamente aos senadores
d) privativamente ao Presidente da República a) social, cabendo ao proprietário respeitar os limites da
e) privativamente aos deputados federais função social.
b) social, pois não possibilita ao proprietário dispor con-
13. (CESGRANRIO — 2018) Considerando as característi- forme o seu próprio e exclusivo interesse.
cas dos entes que compõem a administração pública c) individual, que impede qualquer tipo de intervenção
indireta, uma das diferenças entre as empresas públi- do Estado.
cas e as sociedades de economia mista baseia-se na d) individual absoluto, que possibilita ao proprietário
sempre dispor conforme o seu próprio e exclusivo
a) estrutura de propriedade interesse.
b) criação por meio de lei e) individual relativo, cabendo ao proprietário respeitar
c) regras de admissão de pessoal os limites da função social.
d) personalidade jurídica privada
e) possibilidade de falência 19. (CESGRANRIO — 2017) Nos termos da Constituição
Federal, é direito do trabalhador urbano e rural a redu-
14. (CESGRANRIO — 2019) O presidente de comissão de ção dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor-
sindicância e processo administrativo de determi- mas de:
nado órgão público competente para julgar todos os
servidores que pratiquem atos contrários ao Estatuto a) saúde, higiene e segurança
do Servidor deseja abdicar dessa função. b) saúde, higiene e alimentação
c) saúde, previdência e segurança
Nos termos da Lei nº 9.784/1999 e suas alterações, a d) saúde, cultura e higiene
competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos e) saúde, felicidade e segurança
administrativos a que foi atribuída como própria, sal-
vo os casos de delegação e 20. (CESGRANRIO — 2019) Um médico ortopedista, exer-
cendo suas atividades em determinado município,
a) transferência com horário livre, resolveu realizar concurso para
b) modificação ocupar cargo no Estado. Após aprovação no certa-
c) conexão me, ele passa a exercer atividades nos dois órgãos,
d) avocação o municipal e o estadual, ocupando cargos de médi-
e) continência co. Em determinado momento, o serviço de medicina
228 do Estado passa por uma troca de chefia. Esse novo
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chefe exige que o ortopedista modifique os seus dias
de plantão para melhor atender ao interesse públi-
co. Ocorre que os dias indicados coincidem com os
realizados no município. O ortopedista, então, requer
que seus dias de plantão sejam mantidos para poder
exercer seu direito de acumulação de cargos.

Nos termos da Constituição Federal, a cumulação,


quando prevista, é possível, desde que haja compa-
tibilidade de

a) conhecimentos
b) horários
c) gerentes
d) locais
e) órgãos

9 GABARITO

1 C

2 B

3 D

4 A

5 E

6 B

7 B

8 A

9 C

10 B

11 D

12 D

13 A

14 D

15 C

16 B

17 E

18 E

19 A

20 B

ANOTAÇÕES
NOÇÕES DE DIREITO

229
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ANOTAÇÕES

230
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Também é importante lembrar que:

z A soma ou subtração de dois números pares tem


resultado par:

MATEMÁTICA 12 + 8 = 20 | 12 – 8 = 4;

z A soma ou subtração de dois números ímpares tem


resultado par:
CONJUNTOS NUMÉRICOS: NATURAIS,
INTEIROS, RACIONAIS E REAIS 13 + 7 = 20 | 13 – 7 = 6;

NÚMEROS NATURAIS z A soma ou subtração de um número par com outro


ímpar tem resultado ímpar:
Os números construídos com os algarismos de 0 a
9 são chamados de naturais. O símbolo desse conjun- 14 + 5 = 19 | 14 – 5 = 9;
to é a letra N, e podemos escrever os seus elementos
entre chaves: N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, z A multiplicação de números pares tem resultado
14, 15, 16, 17, …}. par:
Os três pontos, conhecidos como reticências, indi-
cam que este conjunto tem infinitos números naturais. 8 · 6 = 48;
O zero não é um número natural propriamente
dito, pois não é um número de “contagem natural”. z A multiplicação de números ímpares tem resulta-
Utiliza-se o símbolo N* para designar os números do ímpar:
naturais positivos (excluindo o zero). Veja: N* = {1, 2,
3, 4, 5, 6, 7…}. 3 · 7 = 21;

Dica! z A multiplicação de um número par por um núme-


ro ímpar tem resultado par:
O símbolo do conjunto dos números naturais é
a letra N, e podemos ter ainda o símbolo N*, que 4 · 5 = 20.
representa os números naturais positivos, isto é,
excluindo o zero. NÚMEROS INTEIROS

Conceitos básicos relacionados aos números Os números inteiros são os números naturais e
naturais: seus respectivos opostos (negativos). Veja: Z = {..., –7,
–6, –5, –4, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, ...}.
z Sucessor: é o próximo número natural. O símbolo desse conjunto é a letra Z. Uma coisa
importante é saber que todos os números naturais
„ Exemplo: o sucessor de 4 é 5, e o sucessor de são inteiros, mas nem todos os números inteiros são
51 é 52. Ou seja, o sucessor do número “n” é o naturais. Sendo assim, podemos representar por meio
número “n + 1”; de diagramas e afirmar que o conjunto de números
naturais está contido no conjunto de números intei-
z Antecessor: é o número natural anterior. ros, ou ainda que N é um subconjunto de Z. Observe:

„ Exemplo: o antecessor de 8 é 7, e o antecessor Z


de 77 é 76. Ou seja, o antecessor do número “n”
é o número “n – 1”; N

z Números consecutivos: são números em


sequência;

„ Exemplo: 5, 6, 7 são números consecutivos,


porém 10, 9, 11 não são. Assim, (n – 1, n e n + 1)
são números consecutivos; Podemos destacar alguns subconjuntos de núme-
ros. Veja:
z Números naturais pares: são aqueles que, ao
MATEMÁTICA

serem divididos por 2, não deixam resto. Por isso, z Números inteiros não negativos: {4, 5, 6...}. Veja
o zero também é par. Logo, todos os números que que são os números naturais;
terminam em 0, 2, 4, 6 ou 8 são pares; z Números inteiros não positivos: {… –3, –2, –1, 0}.
z Números naturais ímpares: ao serem divididos Veja que o zero também faz parte deste conjunto,
por 2, deixam o resto 1; pois ele não é positivo nem negativo;
z Todos os números que terminam em 1, 3, 5, 7 ou z Números inteiros negativos: {… –3, –2, –1}. O zero
9 são ímpares. não faz parte;
z Números inteiros positivos: {5, 6, 7...}. Novamen-
te, o zero não faz parte. 231
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Operações com Números Inteiros
SINAIS NA MULTIPLICAÇÃO
Há quatro operações básicas que podemos efetuar
Operações Resultados
com estes números, são elas: adição, subtração, multi-
plicação e divisão. + + +

Adição – – +

É dada pela soma de dois números. Ou seja, a adi- + – –


ção de 20 e 5 é: 20 + 5 = 25.
– + –
Veja mais alguns exemplos:

z Adição de 15 e 3: 15 + 3 = 18; Atenção:


z Adição de 55 e 30: 55 + 30 = 85.
z A multiplicação de números de mesmo sinal tem
z Principais Propriedades da Operação de Adição resultado positivo: 51 · 2 = 102; (–33) · (–3) = 99;
z A multiplicação de números de sinais diferentes tem
„ Propriedade comutativa: a ordem dos núme- resultado negativo: 25 · (–4) = –100; (–15) · 5 = –75.
ros não altera a soma —> 115 + 35 é igual a 35
+ 115; z Principais Propriedades da Operação de
„ Propriedade associativa: quando é feita a adi- Multiplicação
ção de 3 ou mais números, podemos somar 2
deles primeiramente, e depois somar o outro. „ Propriedade comutativa: A · B é igual a B · A,
Independentemente da ordem vamos obter o ou seja, a ordem não altera o resultado —> 8 ·
mesmo resultado —> 2 + 3 + 5 = (2 + 3) + 5 = 2 + 5 = 5 · 8 = 40;
(3 + 5) = 10; „ Propriedade associativa: (A · B) · C é igual a (C
„ Elemento neutro: o zero é o elemento neutro · B) · A, que é igual a (A · C) · B —> (3 · 4) · 2 = 3 ·
da adição, pois qualquer número somado a (4 · 2) = (3 · 2) · 4 = 24;
zero é igual a ele mesmo —> 27 + 0 = 27; 55 + „ Elemento neutro: a unidade (1) é o elemento
0 = 55; neutro da multiplicação, pois ao multiplicar 1
„ Propriedade do fechamento: a soma de dois por qualquer número, esse número permane-
números inteiros sempre gera outro número cerá inalterado —> 15 · 1 = 15;
inteiro. Exemplo: a soma dos números inteiros „ Propriedade do fechamento: a multiplicação
8 e 2 gera o número inteiro 10 (8 + 2 = 10). de números inteiros sempre gera um número
inteiro —> 9 · 5 = 45;
Subtração „ Propriedade distributiva: essa propriedade é
exclusiva da multiplicação. Veja como fica: A · (B +
Subtrair dois números é o mesmo que diminuir de C) = (A · B) + (A · C), ou seja, 3 · (5+7) = 3 · (12) = 36.
um deles o valor do outro. Ou seja, subtrair 7 de 20
significa retirar 7 de 20, restando 13: 20 – 7 = 13. Usando a propriedade: 3 · (5 + 7) = 3 · 5 + 3 · 7 =
Veja mais alguns exemplos: 15 + 21 = 36.

z Subtrair 5 de 16: 16 – 5 = 11; Divisão


z 10 subtraído de 30: 30 – 10 = 20.
Quando dividimos A por B, queremos repartir a
z Principais Propriedades da Operação de quantidade A em partes de mesmo valor, sendo um
Subtração total de B partes.
Exemplo: temos 50 balas e queremos dividir entre
„ Elemento neutro: o zero é o elemento neutro 10 pessoas, isto é, queremos dividir 50 em 10 partes de
da subtração, pois, ao subtrair zero de qualquer mesmo valor. Ou seja, nesse caso teremos 10 partes de
número, este número permanecerá inalterado 5 unidades, pois se multiplicarmos 10 · 5 = 50. Ou, ain-
→ 13 – 0 = 13; da, podemos somar 5 unidades 10 vezes consecutivas,
„ Propriedade do fechamento: a subtração ou seja, 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 = 50.
de dois números inteiros sempre gera outro Algo que é muito importante, e que você deve
número inteiro → 33 – 10 = 23. lembrar sempre, são as regras de sinais na divisão de
números.
Multiplicação
SINAIS NA DIVISÃO
A multiplicação funciona como se fosse uma repe-
tição de adições. Veja: a multiplicação 20 · 3 é igual à Operações Resultados
soma do número 20 três vezes (20 + 20 + 20), ou à soma
do número 3 vinte vezes (3 + 3 + 3 + ... + 3). + + +
Algo que é muito importante, e que você deve lem- – – +
brar sempre, são as regras de sinais na multiplicação
de números. + – –

– + –
232
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Atenção: Representação Fracionária e Decimal

z A divisão de números de mesmo sinal tem resulta- Há 3 tipos de números no conjunto dos números
do positivo: 60 ÷ 3 = 20; (–45) ÷ (–15) = 3; racionais:
z A divisão de números de sinais diferentes tem
resultado negativo: 25 ÷ (–5) = –5; (–120) ÷ 5 = –24 8 3 7
z Frações: 3 , 5 , 11 etc.;
Esquematizando: z Números decimais com finitas casas: 1,75;
z Dízimas periódicas: 0,33333...
Dividendo
Divisor
Operações e Propriedades dos Números Racionais
30 5
As operações de adição e subtração de números
0 6
racionais seguem a mesma lógica das operações com
Quociente números inteiros. Veja:
Resto

Dividendo = Divisor · Quociente + Resto 15,25 + 5,15 = 20,4 15,25


30 = 5 · 6 + 0
+05,15
z Principais Propriedades da Operação de Divisão 20,40

„ Elemento neutro: a unidade (1) é o elemento 57,3 – 0,12 = 57,18 57,30


neutro da divisão, pois, ao dividir qualquer
número por 1, o resultado será o próprio núme- +00,12
ro —> 15 ÷ 1 = 15.
57,18

Dica! z Multiplicação de números decimais: aplicamos


o mesmo procedimento da multiplicação comum,
A divisão não possui propriedade do fechamen- contudo, precisamos ficar atentos à colocação da
to, diferenciando-se das demais operações com vírgula.
números inteiros. A divisão não possui essa pro-
priedade, uma vez que ao dividir números intei- 4,06 · 1,70 = 6,9020 ou 6,902
ros podemos obter resultados fracionários ou
decimais: 2 ÷ 10 = 0,2 (não pertence ao conjunto
dos números inteiros). 4,06 → 2 casas decimais

x 1,70 → 2 casas decimais


NÚMEROS RACIONAIS 000
2842 +
São aqueles que podem ser escritos na forma da 406
divisão (fração) de dois números inteiros. Ou seja,
A 6,9020 → 4 casas decimais
escritos na forma (A dividido por B), onde A e B
B
são números inteiros. z Divisão de números decimais: devemos multipli-
7 –15 car ambos os números (divisor e dividendo) por
Exemplos: e são racionais. Veja, também, uma potência de 10 (10, 100, 1000, 10000 etc.), de
4 9
modo a retirar todas as casas decimais presentes.
que os números 87, 321 e 1221 são racionais, pois são
Após isso, é só efetuar a operação normalmente.
divididos pelo número 1.
Atenção: qualquer número natural é também
inteiro e todo número inteiro é também racional. 5,7 ÷ 1,3
O símbolo desse conjunto é a letra Q e podemos 5,7 · 100 = 570
representar por meio de diagramas a relação entre os 1,3 · 100 = 130
conjuntos naturais, inteiros e racionais, veja: 570 ÷ 130 = 4,38

NÚMEROS REAIS
Q
É o conjunto que envolve todos os outros conjun-
tos, ou seja, aqui encontramos os números naturais,
MATEMÁTICA

Z inteiros e racionais, envolvidos de uma única manei-


ra. Dentro dos números reais, podemos envolver
todos os outros números dentro das operações mate-
N
máticas, sejam elas de adição, subtração, multiplica-
ção ou divisão.
O símbolo desse conjunto é a letra R e podemos
representar por meio de diagramas a relação entre os
conjuntos naturais, inteiros, racionais e reais. Veja:
233
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Lembre-se de que o conjunto dos múltiplos é
infinito!
Q Sejam dois números naturais x e y, temos que x é
divisor de y quando existe um número natural z tal
y
Z que z = de maneira que não haja resto na divisão.
x
R Dessa maneira, temos que 5 é divisor de 300, uma
N vez que 300 ÷ 5 = z, tal que z = 60.
Para encontrarmos os divisores de um número,
verificamos se o resultado da divisão é inteiro. Veja-
mos os divisores de 30:

30 ÷ 30 = 1
Operações e Propriedades dos Números Reais 30 ÷ 15 = 2
30 ÷ 10 = 3
As operações adição, subtração, multiplicação e 30 ÷ 6 = 5
divisão ocorrem com os números reais tal como ocor- 30 ÷ 5 = 6
re com os números racionais. 30 ÷ 3 = 10
30 ÷ 2 = 15
30 ÷ 1 = 30
NÚMEROS PRIMOS
Temos, então, que o conjunto D dos divisores de 30
Um número natural é definido como primo se
é dado por D = {1, 2, 3, 5, 6, 10, 15 e 30}.
tiver exatamente dois divisores: o número 1 e ele mes-
Perceba que, ao contrário do conjunto dos múlti-
mo. Contudo, temos que, por definição, os números 0
plos, o conjunto dos divisores é finito!
e 1 não são números primos. Lembre-se de que o 2 é o
único número par que também é primo!

Importante! POTÊNCIAS E RAÍZES


Não há consenso sobre haver ou não números
A matemática nasceu das necessidades huma-
primos negativos. Contudo, para seu conheci- nas de controle de sistemas de ordem social, como
mento, o conceito de primalidade para números o número de indivíduos nos rebanhos, as operações
inteiros é diferente. O número p precisa ser divi- financeiras antigas envolvendo trocas, a tentativa de
sível por 1, –1, p e –p, isto é, precisa ser dividido entender os processos astronômicos, entre outros.
por 1, –1, por ele mesmo e pelo seu inverso. As operações simples nasceram da contagem nos
dedos, por exemplo. A poderosa matemática que hoje
conduz aos estudos das previsões do tempo, do lança-
Para identificar um número primo, é necessá- mento de foguetes ao espaço, da física quântica e da
rio analisar seus divisores. Para isso, vamos estudar relatividade, teve origem nas contas feitas nos dedos!
um pouco mais a fundo múltiplos e divisores de um Logo, ela é derivada de raciocínios simples que, soma-
número. dos, levam à complexidade.
Nesse sentido, vamos seguir um raciocínio simples
MÚLTIPLOS E DIVISORES para que você entenda a potenciação, de onde ela nas-
ceu e, depois, sua operação inversa, a radiciação.
Sejam dois números naturais x e y, temos que x é Depois de um tempo usando os números, já em
múltiplo de y quando existe um número natural z tal notações escritas, deve-se ter percebido que a multi-
que x = y · z. plicação é a soma de fatores iguais. Veja:
Dessa maneira, temos que 30 é múltiplo de 3, uma
vez que 3 · z = 30, onde z = 10. De mesma forma, 30 é 3 + 3 + 3 + 3 = 4 vezes o 3 = 4 · 3 = 12.
múltiplo de 10, uma vez que 10 · z = 30, onde z = 3.
Vamos calcular alguns dos múltiplos de 2 multipli- Importante! Muitas vezes, vemos nos livros didáticos
cando o 2 por todos os números naturais de 0 a 10. um erro de notação matemática. O símbolo do produto
ou multiplicação pode ser x (que pode ser confundido
2·0=0 com a letra x num texto), * ou ·· . No entanto, não pode
2·1=2 ser *, em cima na linha, nem . embaixo. O asterisco e o
2·2=4 ponto devem estar no meio da linha. Um ponto na parte
2·3=6 debaixo pode ser confundido com a notação de decimal,
2·4=8 por exemplo, 3.2 é um decimal e 3 · 2 é 6.
2 · 5 = 10
2 · 6 = 12 Mesmo um número x ∈ R pode ser multiplicado
2 · 7 = 14 considerando sua parte fracionária ou decimal:
2 · 8 = 16
2 · 9 = 18 2.142857 + 2.142857 = 2 vezes o 2.142857=2 · 2.142857
2 · 10 = 20 = 4.285714.
Assim, temos que o conjunto N dos múltiplos de 2 é
N = {0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20...}.
234
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Usando o mesmo raciocínio, a potenciação nasceu Voltamos, então para a soma, i.e., 23 ∙ 20.5 = 23+0.5 =
da multiplicação de fatores iguais: 2 . Aqui, acrescentamos uma propriedade natural da
3.5

potenciação, os expoentes de mesma base podem ser


2 · 2 · 2 · 2 = 2 multiplicado 4 vezes por ele mesmo. somados; veremos mais sobre isso à frente.
Nossa intenção não é dar a resposta dessa potên-
Uma das principais evoluções que ocorreram na cia, mas mostrar que raciocinar sobre potência asso-
matemática foi o desenvolvimento das notações, uma cia as bases soma e produto e mostra que a potência
espécie de alfabeto modificado para que seja mais pertence ao conjunto R.
fácil a comunicação; essa linguagem matemática usa Pertencer a R significa que temos potências que
símbolos vários, alguns mais complexos, com signifi- pertencem aos conjuntos dos números naturais (N),
cados também complexos, mas não é o caso da lingua- aos inteiros (Z), aos racionais, aos irracionais. Vamos
gem utilizada no ensino médio. estudar cada caso, tanto de potenciação quanto de
A notação para 2 · 2 · 2 · 2 = 2 multiplicado 4 vezes radiciação em tópicos à frente.
por ele mesmo = 2^4. Em termos de radiciação, considere o raciocínio. O
Cada número recebe um nome para que possamos número 8 = 2 ∙ 2 ∙ 2 = 23 (leia as equações devagar e
nos comunicar sobre esse tema, a potenciação. traduzindo para a língua portuguesa, nesse caso, oito é
igual a três vezes 2 que é igual 2 elevado ao expoente 3),
4 → Expoente
2 que significa dizer que a raiz cúbica de 8 é um número

Base
que, ao ser multiplicado 3 vezes por si mesmo, é igual a
8; nesse caso, o número deve pertencer ao conjunto dos
O expoente recebe, também, o nome de potência; reais e ser positivo como condição necessária para usar
assim, dizemos que a base 2 está elevada a 4ª potência essa notação. A representação em linguagem matemá-
ou ao expoente 4. tica desse raciocínio é
3
8 = 2.
Para entendermos que os expoentes podem fazer Assim como na representação matemática da
parte de qualquer conjunto de número (aqui, vamos potenciação, cada número recebe um nome na estru-
até o conjunto dos números R ), precisamos compreen- tura da radiciação:

der um pouco mais sobre a multiplicação. Baseados
na soma que gerou a multiplicação, podemos fazer Índice 3
8
uma multiplicação um pouco mais complexa do que


aquela do exemplo acima usando os fatores de soma. Base
Vejamos:
35 · 10,5 = 367,5 é feito usando um algoritmo de Em geral nos problemas sobre radiciação, pode-
multiplicação aprendido cedo na escola: mos usar o conceito de fatoração.

35
× 10,5
Importante!
175
+ 00
A fatoração é a decomposição de um produto
35 por seus componentes básicos. Uma vez que
367,5 os números primos são por definição divisíveis
apenas por 1 e por si mesmos, fatorar um núme-
Aqui vemos a soma intrínseca na multiplicação; o ro qualquer é decompô-lo no produto entre os
uso desse algoritmo é feito multiplicando cada núme- números primos pelos quais ele é divisível.
ro do 10.5 por 35. Com o aumento de uma casa deci-
mal, o resultado do produto avança uma casa para a
esquerda, por isso, o 0 está debaixo do 7 e o 5, debaixo Para a raiz cúbica de 216 ^3 216 h , veja a fatoração
do 3. Feita a soma, conta-se o número de casas deci- em números primos:
mais, nesse caso, uma, e coloca-se no resultado da
soma a vírgula ou ponto após o mesmo número de 216 2
casas contadas nos produtos. 108 2
Um dos principais problemas no ensino de mate-
54 2
mática é a escassez de informações fornecidas aos
estudantes sobre o uso correto do sistema decimal. 27 3
É de bom alvitre que o estudante procure conhecer 9 3
melhor os algoritmos derivados das operações mate- 3 3
máticas básicas em função dos conhecimentos do sis-
1
tema decimal.
Em função do que explicamos, podemos fazer
aquela conta mentalmente, veja: separamos a casa Dizemos que 216 fatorado é 216 = 2 · 2 · 2 · 3 · 3 · 3 =
MATEMÁTICA

decimal, 0,5 e fazemos a multiplicação de 35 por 10, (23 · 33) = (2 · 3)3, fazendo a substituição 216 = (2.3)
3 3 3

que dá 350, e somamos a multiplicação de 0,5 vezes = 2 · 3 = 6. Observe que a multiplicação de bases dife-
35, que, na verdade, é a metade de 35, i.e., 17,5. rentes com o mesmo expoente é a multiplicação das
Agora ficou fácil, somamos 350 a 17,5 e temos bases, entre parênteses, elevada ao expoente igual.
367,5. Podemos ter casos vários casos dentro dos con-
Baseados nesse raciocínio, podemos, também, usá- juntos de números com algumas restrições que serão
-lo na potenciação, vejamos um caso como exemplo: mostradas à frente. Aqui, queremos que entenda as
23.5 = considerando a composição de fatores,temos, ideias e os raciocínios. Vamos analisar o caso de um
2 ∙ 21 ∙ 21 ∙ 20.5 = 23 ∙ 20.5
1
número cuja raiz enésima com índice de valor n (veja 235
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o que é índice na figura de raiz cúbica de 8, acima) de 2 vezes, porém –22 indica que está sendo multiplicado
um número qualquer não apresenta valor inteiro ou por si mesmo 2 vezes e o resultado multiplicado por
racional. (–1).
Considere 18 (nos casos em que o índice é omiti- Para a radiciação, as conclusões anteriores permi-
do, n = 2). Fatorando, temos: tem analisar dois casos distintos.
Se b > 0, para qualquer que seja o valor de n, a > 0,
18 2 que é uma propriedade básica da radiciação.
9 3 Vejamos isso com calma. A operação 4 = –2 é
uma afirmação incorreta, apesar de (–2)2 = 4, pois não
3 3
existe um número real que multiplicado por ele mes-
1 mo gere –2.
Aproveitemos para melhorar a relação entre poten-
2 ciação e radiciação e explicar o que dissemos acima.
Então, temos, neste caso 18 = 3 ·2 = 3· 2 .
n m = m
Veja que o 3 foi retirado da raiz quadrada por estar Temos que b b , e que um expoente elevado a
n
elevado ao quadrado, e o 2 permaneceu. Essa simpli- um outro expoente pode ser multiplicado, i.e., (an)m = an
ficação é considerada elegante entre os matemáticos. ∙m
. Veja que essa relação pode ser entendida diretamen-
te, pois multiplicando m vezes n, termos n · m.
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO COM EXPOENTES
NATURAIS Agora podemos explicar o motivo de 4 = –2
não poder existir dentro dos conceitos matemáticos.
Então, teremos:
Consideremos uma potência cuja base é a ∈ R e o
expoente é p > 0 e p ∈ N (lembre-se de traduzir cal-
41 = –2 & 4 2 = –2 & ]2 g2 = - 2 & (2) 2 = –2 &
1 1 1

mamente para o português a linguagem matemática).
2 2

Neste caso, o valor da potência é o número b ∈ R, cujo 1


(2) = –2b
raiz de índice p é o valor a.
Como solução para essa equação, pois nenhum
n número real –2 pode ser igual ao seu positivo, a não
a =b⟷
n
b =a
ser que seja afirmado que esse número é um módu-
Esta afirmação é a base tanto da potenciação quan- lo, i.e., independente da posição na reta dos números
to da radiciação com números inteiros e mostra o por- reais, o que interessa é sempre a distância do número
quê dessas duas operações serem inversas uma da em relação ao início dos eixos. O número 5 está 5 uni-
outra. dades à direita da origem da reta dos reais e o núme-
Quando tratamos de expoentes naturais, estamos ro –5 está 5 unidades à esquerda da origem da reta
analisando as bases para essas operações, também, dos reais; então, como o que interessa é a distância,
com os expoentes inteiros, racionais e reais. os sinais não fazem sentido e representamos o 5 como
Algumas considerações são necessárias, nem sem- modulo de 5, i.e., |-5|.
pre entendidas de modo intuitivo. Considere a afirma- Por outro lado, então, mostrando novamente a
ção a0 = 1 , a qual vale para qualquer que seja o valor 2
importância da notação, temos que (–5) = | –5| = 5
de a . Podemos interpretar essa igualdade como sendo 2
e não (–5) = –5 .
multiplicado por si mesmo de a 0 vezes e, como a é Para o caso de base negativa com expoentes tam-
alguma coisa, não pode ser nada, e, em termos mate- bém negativos ímpares, i.e., b < 0, a ∈ R apenas se n for
máticos, esse ente é necessário para que outras opera- ímpar resultando em a < 0, por exemplo,
ções provadas possam ser definidas, então a0 = 1.
Numa outra análise com exemplos, estudemos as 3 3
potências (–2)2, (–2)3 e –22:
3
–8 =
3
–2 = –2 3 = –21 = –2

(–2)2 = 1 · (–2) · (–2) = 4 Entretanto, isso não gerará um resultado dentro


(–2)3 = 1 · (–2) · (–2) · (–2) = –8 dos números reais se n for par. Faça o teste!
–22 = (–1) · 2 · 2 = –4
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO COM EXPOENTES
Os resultados dessas potências podem ser utili- INTEIROS
zados como base para qualquer outra potência de
expoente natural (lembre o que é base, expoente, índi- Lembre-se de que o conjunto dos números inteiros
ce e radicando). possui os números negativos, o que não ocorre com o
Qualquer que seja o valor de a , se ele estiver eleva- conjunto dos números naturais, então, os principais
n comentários aqui serão sobre os expoentes negativos.
do por um número par, resultará em b > 0· ( b = a)
Pela definição da radiciação, um índice n não pode
, pois, pelo princípio da multiplicação dos números,
assumir valores negativos ou racionais; entretanto,
multiplicar dois números positivos ou dois números
a mesma restrição não se aplica ao expoente de uma
negativos resulta sempre em um número positivo.
potência.
Caso a < 0, se ele for elevado a um expoente ímpar,
Pela noção de potência como o produto de um núme-
o princípio anterior determina que b < 0, pois a multi-
ro vezes si mesmo n vezes, a ideia de n < 0 não apresenta
plicação de números de sinais opostos resulta em um
sentido lógico em uma primeira análise; porém, se con-
número negativo (an = b).
siderarmos que o sinal do expoente diz respeito ao valor
Por fim, podemos considerar a importância de se
da base da potência, a situação se altera.
utilizar corretamente a notação apropriada, pois (–2)2
Veja o caso de 2–1. Ele representa o inverso da
indica que (–2) está sendo multiplicado por si mesmo
potência 21, portanto:
236
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–1 1 1 Podemos ler esse último termo como 24 multiplica-
2 = 1 = 1
2 2 do a si mesmo vez, isso pode ser transcrito como:
2
1
4· 2
= 22
Importante! 2

O inverso de um número qualquer a ∈ R é um Já no segundo caso, teríamos:


número qualquer b ∈ R que torne a igualdade a · b
4 2 = ^4 2 h2 = 4 2 2 = 4 4 =
1 1 1 1 1
1
= 1 verdadeira. Logo b = .
1 · 4
a 4 = 4
2 2 1
4 4
4 = 2 = 24 = 22 2
Considerando agora uma potência de base a e
–n 1
expoente n < 0, i.e., a = a n' para demonstrar uma Com essas comparações estabelecidas, podemos
relação mais detalhada, podemos mostrar que corre- definir uma potência de expoentes racionais mais
n claramente.
1 1
tamente temos a = n = n . Para uma base b ∈ R, um expoente m ∈ Z um índice n ∈
–n
a a
N e n ≠ 0, uma potência de expoentes racionais é definida
Essa definição é importante na resolução de pro- m m
m
blemas em equações exponenciais. Veja o exemplo: como b n = b , com ∈ Q, como já mostrado acima.
n

2 –1
2
2 ·3 2·2·3 POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO COM EXPOENTES
2 ·2 ·3 = = 2·3 = 6 REAIS
2 2
Uma observação importante é que, pela definição Por fim, ao tratarmos de potências cujos expoentes
acima, o número 0n é um símbolo sem significado, pertencem ao conjunto dos números reais, estamos
uma vez que o inverso de 0 não existe para o conjunto nos referindo aos casos em que o expoente m ∈ Q v
dos números reais. (ou) m ∈ I. Sendo Q o símbolo dos números racionais
e I dos irracionais.
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO COM EXPOENTES Os casos em que m ∈ I dificilmente são pedidos no
RACIONAIS ensino médio, apesar de existirem, e são calculados
a partir de aproximações utilizando expoentes racio-
Os números racionais são aqueles que possuem nais. Por exemplo, o número π com casas decimais
casas decimais finitas ou infinitas com repetição dos infinitas e não repetitivas é usado para calcular rotas
números. de navegações interplanetárias, a NASA usa o número
A potenciação com expoentes racionais abre pre- π com 15 casas decimais.
cedente para uma interpretação mais detalhada da No caso de um expoente irracional α e uma base
ideia da radiciação. Já vimos isso anteriormente, mas real a, temos então que, para quaisquer dois expoentes
agora falaremos novamente. racionais r e s tais que r < α < s, é verdadeiro ar < aα < as.
Tomemos
2 2 2 2
16 = 2 ·2 = (2·2) = 2·2 = 2 . É Como consequências das noções de potências de
expoentes naturais e expoentes negativos: 0α é um
possível perceber que, se 24 = 42 = 16 ⟺ 16 = 4 = 2
4

símbolo sem significado para α < 0, assim como aα


, melhorando para o uso dos números racionais mais
para a < 0, uma vez que números irracionais não
diretamente,
podem ser classificados como par ou ímpar.
1 1 4 Baseados nos conceitos e definições anteriores,
16 = (16) 4 = (2 ) 4 = 2 4 = 2 .
4 4
podemos agora listar as propriedades das operações

Agora tomemos 2 , sendo que ^ 2 h = 2 = 4 , por


2 envolvendo potências e raízes de números naturais.
Essas afirmações são válidas para quaisquer números
substituição 2 = 4 . Para descobrirmos como cal- a ∧(e),b ∈ R, p ∧ q ∈ R e n ∧ m ∈ N:
cular isso, apenas devemos nos perguntar quantas n
vezes devemos multiplicar 2 por si mesmo para z ap · aq = ap+q

que o resultado seja 4, tal que n b = 2 . Se a resposta 23 · 22=(2 · 2 · 2) · (2 · 2) = 2 · 2 · 2 · 2 · 2 = 25


for n=4, ela está correta. Vejamos, p
a p –q
q = a

4 = ^ 4 h = 4 2 2 = 4 4 = ]2 g4 = 2 4 = 2 2 =
1 1 1
2
1 1 2 1 z a
2.
2 ·

3
2
2 =2 ·2 =2 = 21
3 –2 3+(–2)
Acompanhe as operações acima com calma e
atenção. 2
Como raciocinar dessa maneira está longe da
MATEMÁTICA

z (a · b)p = ap · bp
praticabilidade em uma prova, vamos resumir isso
afirmando que qualquer radiciação de radicando b e (2·3)2 = (2 · 3) · (2 · 3)=2 · 2 · 3 · 3 = 22 · 32= 4 · 9 = 36
índice n pode ser escrita como uma potência de base
bal
1 p p
b e expoente . a
n b
=
b
p
z
Voltemos ao primeiro exemplo:
b3l
3 3
3 3 3 3 3 3
= = · · · = 3 3 = 27
2 2 ·2
·
1
4
1 2 2 2 2 2 8
16 = 16 2 = (2 ) 2 237
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z (ap)q = ap·q Foi usada a soma, pois 10 está mais próximo da
raiz exata de 9 do que da raiz exata de 16. Lembre-se
(22)2 = (22) · (22) = 22 + 2 =22 · 2 = 24 = 16 que essa fórmula é aproximada para você fazer uma
prova objetiva, não uma prova discursiva, mas, se
Dica você quiser usá-la, justifique.
Atente-seq à interpretação de notações! Ape- Veja que a 10 , usando uma calculadora, é
3.162277; portanto, a fórmula gerou uma boa aproxi-
sar de ap e (ap)q possuírem notações similares,
mação e mais fácil de executar do que o algoritmo de
o primeiro caso representa que o expoente p
cálculo de raiz quadrada.
está elevado ao expoente q, enquanto o segun-
Para calcular qualquer raiz (isso quase não é usado
do indica que a potência de ap está elevada ao no ensino médio), a não ser para raízes exatas, podemos
expoente q. usar uma aproximação também derivada do cálculo:
n p n·m p·m n
a = a x + (n–1) ·y
z n
x = n–1
n·y
2.2 3.2 3·2 3 3
4
26 = 2 = 2 2·2 = 2 2 = 2 = 2· 2
3
Por exemplo, para a raiz 11 , fazemos:
n n n
z a·b = a· b 3 3
3 11 + (3–1) ·2 11 + (2) (2 ) 11 + 2·8
11 = 3–1 = = =
1 1 1 3·2 3·4 12
6 = 2·3 = (2·3) 2 = 2 2 ·3 2 = 2· 3 11 + 16 27
= = 2.25
12 12
n n
a a
b
=
n O valor exato é 2.2239, portanto, uma boa aproxi-
z b mação novamente.

=b2l = 1 =
1
2 2 22 2
3 3 32 3
SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDAS
n p n p
z ( a) = ( a ) Foram várias as unidades de medidas usadas ao
longo do tempo desde a antiguidade. Não há muito
^ 2h =
4
2· 2 · 2· 2 = 2·2·2·2 =
4
2 =4
tempo, o número de sapatos no Brasil era medido
através do tamanho de feijões colocados um do lado
do outro em sua maior extensão. Isso ocorria na zona
m n m· n
z · a = a rural, onde, para comprar sapatos na cidade, uma pes-
soa fazia as compras para os outros, essa foi a origem

2 2 = ^2 2 h = 2 4 =
1 1
1 1 do número/tamanho dos sapatos no Brasil, mas em
2 4
2 = 2 outros países, os valores são outros.
Os pés, antebraço, braço de governantes eram as
A aplicação dos princípios anteriores facilita na medidas usadas nos países europeus. Devido a essa
hora de resolução de cálculos envolvendo números diversidade, a França convocou seus melhores cientis-
grandes ou expressões extensas. O primeiro caso per- tas para gerar um sistema métrico que pudesse servir
mite que operações envolvendo multiplicação ou divi- de base para relações internas e internacionais.
são sejam feitas utilizando valores menores, enquanto A França, no final do século XVIII, ofereceu ao
o segundo reduz expressões para formas mais inteligí- mundo o Sistema Métrico Decimal ou Sistema Inter-
veis e fáceis de analisar. nacional de Unidades (SI) com valores objetivos para
Agora, em termos de cálculo da raiz quadrada e as várias grandezas de comprimento, massa, tempo,
outras raízes, você receberá algoritmos que poderão principalmente, e seus múltiplos e submúltiplos.
diminuir em muito o tempo dos seus cálculos em
provas. COMPRIMENTO
Uma dica para cálculo muito aproximado de raiz
quadrada a partir do uso de cálculo diferencial adap- A medida de comprimento padrão do SI é o metro
tada para o ensino médio: (m), cujos múltiplos são quilômetro (km), hectômetro
(hm), decâmetro (dam), e os submúltiplos são decíme-
1 tro (dm), centímetro (cm) e milímetro (mm). Existem
x b w!
mais múltiplos e submúltiplos que não são tão impor-

√ (w) raiz exata de um número natural
N mais próximo de x tantes nessa fase de sua formação, o que não o impede
de pesquisá-los.
Por exemplo: As relações dos valores dos múltiplos e submúlti-
plos do metro são mostrados na tabela abaixo.
1
10 b 9 ! b 3 + 1 = 3 + 1 = 3 + 1.66667 =
2· 9 2·3 6
MÚLTIPLOS METRO SUBMÚLTIPLOS
= 3.166667 km hm dam m dm cm mm
1.000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001 m
238
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Dica A partir do ℓ, tem-se os múltiplos: quilolitro (kℓ),
hectolitro (hℓ) e o decalitro (daℓ); e os submúltiplos:
Para transformar m em km, pense que o km é decilitro (dℓ), centilitro (cℓ) e o mililitro (mℓ).
1.000 vezes maior que o m, logo o valor final de Um litro equivale a 0,001 m3, essa é uma relação
m deverá ser um número 1.000 vezes menor que que você deve ter em mente para fazer as transfor-
o valor inicial dado, i.e, se o desejo é transformar mações entre ℓ e m3 e, também, para os múltiplos e
10 m em km, a relação usada será 10/1.000 = submúltiplos de ambos.
0,01. Não faz sentido o m ser maior que o km!
MÚLTIPLOS LITRO SUBMÚLTIPLOS
MASSA kl hl da l l dl cl ml
1.000 m 100 m 10 m 1m 0,1 m 0,01 m 0,001 m
No SI as unidades de medidas de massa são km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
derivadas do grama. Os múltiplos seguem a mes- 1l 0,1l 0,01l 0,001l 0,0001l 0,00001l 0,000001l
ma nomenclatura e símbolos, i.e., k_ para mil vezes
maior que o grama, h_ para 100 vezes maior, da_ para
A tabela de conversão de expoentes cúbicos requer
10 vezes maior, logo, os submúltiplos são dez vezes
que a conversão seja feita usando 103 (1.000). Veja a
menores para cada medida a direita, i.e., d_ 10 ou 0,1
tabela a seguir.
vezes o valor do grama, c_ 100 ou 0,01 vezes o valor
do grama e, m_ 1000 ou 0,001 vezes o valor do grama.
Esse raciocínio serve para todos os casos. 103x 103x 103x 103x 103x 103x
De fato, em termos gerais, as transformações
seguem o modelo acima de cálculo, dos múltiplos K_ h_ da_ x_ d_ c_ m_
para os submúltiplos multiplica-se, para cada medida
à direita, o valor 10, e dos submúltiplos para os múlti-
plos, divide-se cada medida à esquerda pelo valor 10. ÷ 103 ÷ 103 ÷ 103 ÷ 103 ÷ 103 ÷ 103
Veja que esse algoritmo serve para todos os tipos de
medidas com capacidade de expoente 1, e está repre-
TEMPO
sentado na figura a seguir.
Medindo intervalos de tempo, temos como mais
10x 10x 10x 10x 10x 10x conhecidos hora, minuto e segundo. Veja como se faz
a relação nessa unidade:
K_ h_ da_ x_ d_ c_ m_
z Para transformar de uma unidade maior para uma
unidade menor, multiplica-se por 60: 1 hora = 60
÷ 10 ÷ 10 ÷ 10 ÷ 10 ÷ 10 ÷ 10 minutos. Ou seja, 4 h = 4 · 60 = 240 minutos;
z Para transformar de uma unidade menor para
ÁREA uma unidade maior, divide-se por 60: 20 minutos =
20 2 1
= = da hora.
60 6 3
As medidas de área são diretamente derivadas do
metro (m), assim como as de volume que serão estu-
dadas a seguir. O ponto central é a medida m2 e seus
múltiplos e submúltiplo são o km2, o hm2, o dam2 e
os submúltiplos do m2 são o dm2, o cm2 e o mm2. As
RAZÃO E PROPORÇÃO
conversões de medidas elevadas ao expoente 2 (ao
A razão entre duas grandezas é igual à divisão
quadrado) são feitas via múltiplos de 102 (100), veja
a figura: entre elas. Veja:

2
100x 100x 100x 100x 100x 100x 5

K_ h_ da_ x_ d_ c_ m_ Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (lê-se 2 está para


5).
Já a proporção é a igualdade entre razões. Veja:
÷ 100 ÷ 100 ÷ 100 ÷ 100 ÷ 100 ÷ 100
2 4
=
VOLUME 3 6
MATEMÁTICA

A medida de capacidade mais usada é o litro (ℓ Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6 (lê-se 2


ou L, deve ser representado em l cursivo ou com L está para 3 assim como 4 está para 6).
maiúsculo). Apesar de as medidas de capacidade deri- Os problemas mais comuns que envolvem razão e
vadas do ℓ serem vastamente usadas, as medidas de proporção é quando se aplica uma variável qualquer
capacidade no SI são os valores tridimensionais das dentro da proporcionalidade e se deseja saber o valor
medidas de comprimento derivadas do m3, que for- dela. Veja o exemplo:
mam o conjunto das medidas de volume. Nesse caso,
estudaremos as duas medidas e suas transformações, 2 x
= ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6
i.e., as medidas derivadas do litro e derivadas do m3. 3 6 239
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Para resolvermos esse tipo de problema devemos D
usar a Propriedade Fundamental da razão e propor- = 2.000
2
ção: produto dos meios pelos extremos.
Meio: 3 e x; D = 2.000 · 2
Extremos: 2 e 6. D = 4.000 (esse é o valor de Diego)
Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles
numa igualdade. Observe: Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
ber R$ 4.000.
3·X=2.6
3X = 12 z Somas Internas

X = 12 ÷ 3 a c a+b c+d
= = =
X=4 b d b d

Lembre-se de que a maioria dos problemas envol- É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno-
vendo esse tema são resolvidos utilizando essa pro- minador ao efetuar essa soma interna, desde que
priedade fundamental. Porém, algumas questões o mesmo procedimento seja feito do outro lado da
acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser proporção.
útil conhecer algumas propriedades para facilitar.
Vamos a elas! a c a+b c+d
= = =
b d a c
Propriedade das Proporções
Vejamos um exemplo:
z Somas Externas
x 2
=
a c a+c 14 - x 5
= =
b d b+d
x + 14 - x 2+5
=
Vamos entender um pouco melhor resolvendo x 2
uma questão-exemplo:
Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê- 14
=
7
mio de R$ 10.000 para seus dois empregados (Carlos x 2
e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro-
porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos 7 · x = 2 · 14
está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos. Quan-
to cada um vai receber? 14 · 2
x= =4
Resolução: 7
Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C
a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que Portanto, encontramos que x = 4.
Diego vai receber, temos:

C
=
D Importante!
3 2
Vale lembrar que essa propriedade também ser-
Utilizando a propriedade das somas externas: ve para subtrações internas.

C D C+D
= = z Soma com Produto por Escalar
3 2 3+2
a c a + 2b c + 2d
Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas), = = =
b d b d
então podemos substituir na proporção:
Vejamos um exemplo para melhor entendimento:
C D C+D 10.000
= = = = 2.000 Uma empresa vai dividir o prêmio de R$ 13.000
3 2 3+2 5
proporcionalmente ao número de anos trabalhados.
São dois funcionários que trabalham há 2 anos na
Aqui cabe uma observação importante! empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos.
Esse valor 2.000, que chamamos de “Constante de Resolução:
Proporcionalidade”, é que nos mostra o valor real das Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B
partes dentro da proporção. Veja: o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa,
temos:
C
= 2.000
3 A B
=
C = 2.000 · 3 2 3

C = 6.000 (esse é o valor de Carlos)

240
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Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3 X Y Z
funcionários na categoria B, podemos escrever que a
= = = constante de proporcionalidade.
4 5 6
soma total dos prêmios é igual a R$ 13.000.
Usando uma das propriedades da proporção,
2A + 3B = 13.000 somas externas, temos:

Agora multiplicando em cima e embaixo de um X+Y+Z 900.000


lado por 2 e do outro lado por 3, temos: = 60.000
4+5+6 15

2A 3B
= A menor dessas partes é aquela que é proporcional
4 9
a 4, logo:

Aplicando a propriedade das somas externas, X


podemos escrever o seguinte: = 60.000
4

2A 3B 2A + 3B X = 60.000 · 4
= =
4 9 4+9 X = 240.000

Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro- Inversamente Proporcional


porção, temos:
É um tipo de questão menos recorrente, mas, não
2A 3B 2A + 3B menos importante. Consiste em distribuir uma quan-
= = = 13.000 = 1.000
4 9 4+9 13 tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um
quinhão inversamente proporcional a três números.
Logo, Vejamos um exemplo:
Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes
2A inversamente proporcionais a 4, 5 e 6.
= 1.000
4 Vamos chamar de X as quantias que devem ser
distribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6,
2A = 4 · 1.000
respectivamente. Devemos somar as razões e igualar
2A = 4.000 ao total que deve ser distribuído para facilitar o nosso
cálculo, veja:
A = 2.000
X X X
Fazendo a mesma resolução em B: + + = 740.000
4 5 6
3B
= 1.000
9 Agora vamos precisar tirar o M.M.C. (mínimo múl-
tiplo comum) entre os denominadores para resolver-
3B = 9 · 1.000
mos a fração.
3B = 9.000 4–5–6|2
2–5–3|2
B = 3.000
1–5–3|3
Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa 1–5–1|5
receberão R$ 2.000 de bônus. Já os funcionários com 3 1 – 1 – 1 | 2 · 2 · 3 · 5 = 60
anos de casa receberão R$ 3.000 de bônus.
O total pago pela empresa será: Assim, dividindo o M.M.C. pelo denominador e
multiplicando o resultado pelo numerador temos:
Total = 2 · 2.000 + 3 · 3.000 = 4.000 + 9.000 = 13.000.
15x 12x 10x
+ + = 740.000
REGRA DA SOCIEDADE 60 60 60
37x
Diretamente Proporcional = 740.000
60
Um dos tópicos mais comuns em questões de pro- X = 1.200.000
va é “dividir uma determinada quantia em partes
proporcionais a determinados números. Vejamos um Agora, basta substituir o valor de X nas razões para
exemplo para entendermos melhor como esse assun- achar cada parte da divisão inversa.
to é cobrado:
MATEMÁTICA

A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em x 1.200.000


= = 300.000
partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor 4 4
dessas partes corresponde a:
Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro- x 1.200.000
= = 240.000
porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X 5 5
é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor- x 1.200.000
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de = = 200.000
6 6
razão. Veja:
241
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Logo, as partes divididas inversamente propor- 4x - 2 5
cionais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente, =
5x + 1 8
300.000, 240.000 e 200.000.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- 8 (4x – 2) = 5 (5x + 1)
ria com exercícios comentados de diversas bancas. 32x – 16 = 25x + 5
Vamos lá!
7x = 21
1. (FAEPESUL – 2016) Em uma turma de graduação em x=3
Matemática Licenciatura, de forma fictícia, temos
que a razão entre o número de mulheres e o número Para sabermos o total de pessoas, basta substituir
total de alunos é de 5/8. Determine a quantidade de o valor de X na primeira equação: 9x = 9 · 3 = 27 é
homens desta sala, sabendo que esta turma tem 120 o número total de pessoas nesse grupo. Resposta:
alunos. Letra D.

a) 43 homens. 3. (IBADE – 2018) Três agentes penitenciários de um


b) 45 homens. país qualquer, Darlan, Arley e Wanderson, recebem
c) 44 homens. juntos, por dia, R$ 721,00. Arley recebe R$ 36,00 mais
d) 46 homens. que o Darlan, Wanderson recebe R$ 44,00 menos que
e) 47 homens. o Arley. Assinale a alternativa que representa a diária
de cada um, em ordem crescente de valores.
A razão entre o número de mulheres e o número
total de alunos é de 5/8: a) R$ 249,00, R$ 213,00 e R$ 169,00.
b) R$ 169,00, R$ 213,00 e R$ 249,00.
M 5
= c) R$ 145,00, R$ 228,00 e R$ 348,00.
T 8
d) R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00
A turma tem 120 alunos, então: T = 120 e) R$ 267,00, R$ 231,00 e R$ 223,00.
Fazendo os cálculos: D + A + W = 721
M 5 A = D + 36
=
T 8 W = A – 44
Substituímos Arley em Wanderson:
M 5
= W= A – 44
120 8
W= 36+D – 44
8 · M = 5 · 120 W= D – 8
Substituímos na fórmula principal:
8M = 600 D + A + W = 721
600 D + 36 + D + D – 8 = 721
M= 3D + 28 = 721
8
3D = 721 – 28
M = 75 D = 693 ÷ 3
A quantidade de homens da sala: 120 – 75 = 45 D = 231
homens. Resposta: Letra B. Substituímos o valor de D nas outras:
A = D + 36
2. (VUNESP – 2020) Em um grupo com somente pessoas A= 231+36= 267
com idades de 20 e 21 anos, a razão entre o número W = A – 44
de pessoas com 20 anos e o número de pessoas com W= 267 – 44
21 anos, atualmente, é 4/5. No próximo mês, duas pes- W = 223
soas com 20 anos farão aniversário, assim como uma Logo, os valores em ordem crescente que Wander-
pessoa com 21 anos, e a razão em questão passará a son, Darlan, Arley recebem são, respectivamente,
ser de 5/8. O número total de pessoas nesse grupo é R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00. Resposta: Letra D.

a) 30. 4. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A respeito de razões, pro-


b) 29. porções e inequações, julgue o item seguinte.
c) 28. Situação hipotética: Vanda, Sandra e Maura receberam
d) 27. R$ 7.900 do gerente do departamento onde trabalham,
e) 26. para ser dividido entre elas, de forma inversamente
proporcional a 1/6, 2/9 e 3/8, respectivamente.
A razão entre o número de pessoas com 20 anos e o Assertiva: Nessa situação, Sandra deverá receber
número de pessoas com 21 anos, atualmente, é 4/5. menos de R$ 2.500.
120 4x Total de 9x
= ( ) CERTO ( ) ERRADO
121 5x
No próximo mês, duas pessoas com 20 anos farão 6x 9x 8x
aniversário, assim como uma pessoa com 21 anos, e
+ + = 7.900
1 2 3
a razão em questão passará a ser de 5/8.
Tirando o MMC entre 1, 2 e 3 vamos achar 6. Temos:
120 4x - 2 5
= = 36x 27x 16x = 7.900
121 5x + 2 - 1 8 + +
242 6 6 6
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79x Vamos esquematizar para sabermos quando será
= 7.900 direta ou inversamente proporcionais:
6

x = 600
DIRETAMENTE
PROPORCIONAL + / + OU - / -
Sendo assim, Sandra está inversamente proporcio-
nal a:
9x Aqui, as grandezas aumentam ou diminuem juntas
2 (sinais iguais).

Basta substituirmos o valor de X na proporção.


PROPORCIONAL + / - OU - / +
9x 9 $ 600 = 2.700
=
2 2
(Valor que Sandra irá receber é maior que 2.500). Aqui, uma grandeza aumenta e a outra diminui
Resposta: Errado. (sinais diferentes).
Agora, vamos esquematizar a maneira que iremos
5. (IESES – 2019) Uma escola possui 396 alunos matri- resolver os diversos problemas:
culados. Se a razão entre meninos e meninas foi de
5/7, determine o número de meninos matriculados. DIRETAMENTE
PROPORCIONAL
Multiplica cruzado
a) 183
b) 225 INVERSAMENTE
PROPORCIONAL
Multiplica na horizontal
c) 165
d) 154
Vejamos alguns exemplos para fixarmos um pouco
Total de alunos = 396 mais como funciona.
Meninos = H
z Um muro de 12 metros foi construído utilizando
Meninas = M 2.160 tijolos. Caso queira construir um muro de 30
H 5x metros nas mesmas condições do anterior, quan-
Razão: + tos tijolos serão necessários?
M 7x

Agora vamos somar 5x com 7x = 12x Primeiro vamos montar a relação entre as gran-
dezas e depois identificar se é direta ou inversamente
12x é igual ao total que é 396
proporcional.
12x = 396
12 m -------- 2.160 (tijolos)
x = 33
30 m -------- X (tijolos)
Portanto o número de meninos será:
Veja que de 12m para 30m tivemos um aumento (+)
Meninos = 5X = 5 x 33 = 165. Resposta: Letra C. e que para fazermos um muro maior vamos precisar
de mais tijolos, ou seja, também deverá ser aumentado
REGRA DE TRÊS SIMPLES E REGRA DE TRÊS (+). Logo, as grandezas são diretamente proporcionais
COMPOSTA e vamos resolver multiplicando cruzado. Observe:

Regra de Três Simples 12m--------2.160(tijolos)

A regra de três simples envolve apenas duas gran- 30m--------X(tijolos)


dezas. São elas:
12 · X = 30 · 2.160
z Grandeza dependente: é aquela cujo valor se 12X = 64.800
deseja calcular a partir da grandeza explicativa; X = 5.400 tijolos
z Grandeza explicativa ou independente: é aque-
la utilizada para calcular a variação da grandeza Assim, comprovamos que realmente são necessá-
dependente. rios mais tijolos.

Existem dois tipos principais de proporcionalida- z Uma equipe de 5 professores gastou 12 dias para
MATEMÁTICA

des que aparecem frequentemente em provas de con- corrigir as provas de um vestibular. Considerando
cursos públicos. Veja a seguir: a mesma proporção, quantos dias levarão 30 pro-
fessores para corrigir as provas?
z Grandezas diretamente proporcionais: o aumento
de uma grandeza implica o aumento da outra; Do mesmo jeito que no exemplo anterior, vamos
z Grandezas inversamente proporcionais: o aumen- montar a relação e analisar:
to de uma grandeza implica a redução da outra;
5 (prof.) --------- 12 (dias)
30 (prof.) -------- X (dias) 243
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Veja que de 5 (prof.) para 30 (prof.) tivemos um Analisando isoladamente duas a duas:
aumento (+), mas, como agora estamos com uma equipe
maior, o trabalho será realizado de forma mais rápida. 1.000 (panf.) -------- 40 (min)
Logo, a quantidade de dias deverá diminuir (–). Desta 2.000 (panf.) -------- X (min)
forma, as grandezas são inversamente proporcionais e
vamos resolver multiplicando na horizontal. Observe: Perceba que de 1.000 panfletos para 2.000 pan-
fletos o valor aumenta (+) e que o tempo também irá
5 (prof.) 12 (dias) aumentar (+). Logo, as grandezas são diretas e deve-
mos manter a razão.
30 (prof.) X (dias)
30 · X = 5 · 12 40 3 1000
= ·
X 6 2000
30X = 60
X=2 Agora, basta resolver a proporção para acharmos
o valor de X.
A equipe de 30 professores levará apenas 2 dias
para corrigir as provas. 40 3000
X
= 12000
Regra de Três Composta
3X = 40 · 12
A regra de três composta envolve mais de duas 3X = 480
variáveis. As análises sobre se as grandezas são direta-
X = 160
mente e inversamente proporcionais devem ser feitas
cautelosamente levando em conta alguns princípios:
As três impressoras produziriam 2.000 panfletos
em 160 minutos, que correspondem a 2 horas e 40
z as análises devem sempre partir da variável
minutos.
dependente em relação às outras variáveis;
Para fixarmos mais ainda nosso conhecimento,
z as análises devem ser feitas individualmente, ou
vamos analisar mais um exemplo.
seja, deve-se comparar as grandezas duas a duas,
mantendo as demais constantes;
„ Um texto ocupa 6 páginas de 45 linhas cada
z a variável dependente fica isolada em um dos
uma, com 80 letras (ou espaços) em cada linha.
lados da proporção.
Para torná-lo mais legível, diminui-se para 30 o
número de linhas por página e para 40 o núme-
Vamos analisar alguns exemplos e ver na prática
ro de letras (ou espaços) por linha. Consideran-
como isso tudo funciona:
do as novas condições, determine o número de
páginas ocupadas.
z Se 6 impressoras iguais produzem 1000 panfletos
em 40 minutos, em quanto tempo 3 dessas impres-
Já aprendemos o passo a passo no exemplo ante-
soras produziriam 2.000 desses panfletos?
rior. Aqui vamos resolver de maneira mais rápida.
Da mesma forma que na regra de três simples,
6 (pág.) -------- 45 (linhas) -------- 80 (letras)
vamos montar a relação entre as grandezas e analisar
cada uma delas isoladamente duas a duas. X (pág.) -------- 30 (linhas) -------- 40 (letras)
6 ? ?
6 (imp.) -------- 1.000 (panf.) -------- 40 (min) X
=
?
·?
3 (imp.) -------- 2.000 (panf.) -------- X (min)
Analisando isoladamente duas a duas:
Vamos escrever a proporcionalidade isolando a parte
dependente de um lado e igualando as razões da seguin-
6 (pág.) -------- 45 (linhas)
te forma — se for direta, vamos manter a razão, agora, se
for inversa, vamos inverter a razão. Observe: X (pág.) -- ----- 30 (linhas)

40 ? ?
= · Perceba que de 45 linhas para 30 linhas o valor
X ? ? diminui (–) e que o número de páginas irá aumentar
(+). Logo, as grandezas são inversas e devemos inver-
Analisando isoladamente duas a duas: ter a razão.
6 (imp.) -------- 40 (min) 6 30 ?
3 (imp.) -------- X (min) = ·
X 45 ?
Perceba que de 6 impressoras para 3 impressoras
o valor diminui (–) e que o tempo irá aumentar (+), Analisando isoladamente duas a duas:
pois agora teremos menos impressoras para realizar
a tarefa. Logo, as grandezas são inversas e devemos 6 (pág.) -------- 80 (letras)
inverter a razão.
X (pág.) ------- 40 (letras)
40 3 ?
= ·
X 6 ?
244
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Veja que de 80 letras para 40 letras o valor diminui Com 1 litro ele faz 10 km.
(–) e que o número de páginas irá aumentar (+). Logo, Sabendo que 1 L é igual a 1dm³, então podemos
as grandezas são inversas e devemos inverter a razão. dizer que com 1dm³ ele faz 10km.
Portanto,
6 30 40 10 km -------- 1dc³
X
=
45
· 80 1.100 km --------- x
10x = 1.100
6 2 1
= · x = 110dm³ (a gasolina que será consumida).
X 3 2
Resposta: Errado.
6 2
=
X 6 3. (VUNESP – 2020) Uma pessoa comprou determinada
quantidade de guardanapos de papel. Se ela utilizar 2
2X = 36 guardanapos por dia, a quantidade comprada irá durar
X = 18 15 dias a mais do que duraria se ela utilizasse 3 guar-
danapos por dia. O número de guardanapos compra-
O número de páginas a serem ocupadas pelo texto dos foi
respeitando as novas condições é igual a 18.
a) 60.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- b) 70.
ria com exercícios comentados de diversas bancas. c) 80.
Vamos lá! d) 90.
e) 100.
1. (CEBRASPE-CESPE – 2019) No item seguinte apre-
senta uma situação hipotética, seguida de uma asser- x = dias
tiva a ser julgada, a respeito de proporcionalidade, 3 guardanapos por dia -------- x
porcentagens e descontos. 2 guardanapos por dia -------- x+15
No primeiro dia de abril, o casal Marcos e Paula com- São valores inversamente proporcionais, quanto
prou alimentos em quantidades suficientes para que mais guardanapos por dia, menos dias durarão.
eles e seus dois filhos consumissem durante os 30 Assim, multiplicamos na horizontal:
3x = 2 · (x+15)
dias do mês. No dia 7 desse mês, um casal de amigos
3x = 30+2x
chegou de surpresa para passar o restante do mês
3x – 2x = 30
com a família.
x = 30
Nessa situação, se cada uma dessas seis pessoas
Podemos substituir em qualquer uma das duas
consumir diariamente a mesma quantidade de ali-
situações:
mentos, os alimentos comprados pelo casal acabarão
3 guardanapos · 30 dias = 90
antes do dia 20 do mesmo mês.
2 guardanapos · 45 (30+15) dias = 90. Resposta:
Letra D.
( ) CERTO ( ) ERRADO
4. (FUNDATEC – 2017) Cinco mecânicos levaram 27
4 pessoas ------- 24 dias minutos para consertar um caminhão. Supondo que
6 pessoas ------- x dias fossem três mecânicos, com a mesma capacidade e
Temos grandezas inversas, então é só multiplicar ritmo de trabalho para realizar o mesmo serviço, quan-
na horizontal: tos minutos levariam para concluir o conserto desse
6x = 4 · 24 mesmo caminhão?
6x = 96
x = 96 ÷ 6 a) 20 minutos.
x = 16 b) 35 minutos.
Como já haviam comido por 6 dias é só somar: c) 45 minutos.
6 dias (consumidos por 4) + 16 dias (consumidos por d) 50 minutos.
6) = 22 dias (a comida acabará no dia 22 de abril). e) 55 minutos.
Resposta: Errado.
Mecânicos ------ Minutos
2. (CEBRASPE-CESPE – 2018) O motorista de uma 5 ---------------- 27
empresa transportadora de produtos hospitalares 3 ---------------- x
deve viajar de São Paulo a Brasília para uma entrega Quanto menos mecânicos, mais minutos eles gas-
de mercadorias. Sabendo que irá percorrer aproxima- tarão para finalizar o trabalho; logo a grande-
damente 1.100 km, ele estimou, para controlar as des- za é inversamente proporcional. Multiplica na
pesas com a viagem, o consumo de gasolina do seu horizontal:
MATEMÁTICA

veículo em 10 km/L. Para efeito de cálculos, conside- 3x = 27 · 5


rou que esse consumo é constante. 3x = 135
Considerando essas informações, julgue o item que x = 135 ÷ 3
segue. x = 45 minutos. Resposta: Letra C.
Nessa viagem, o veículo consumirá 110.000 dm3 de
gasolina. 5. (IESES – 2019) Cinco pedreiros construíram uma casa
em 28 dias. Se o número de pedreiros fosse aumenta-
( ) CERTO ( ) ERRADO do para sete, em quantos dias essa mesma casa fica-
ria pronta? 245
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a) 18 dias. 8/x = 1/2 · 4/3 · 4/5
b) 16 dias. 8/x = 16/30 (simplifique 16/30 por 2)
c) 20 dias. 8/x = 8/15
d) 22 dias. 8x = 120
x = 120/8
5 (pedreiros) ---------- 28 (dias) x = 15 dias. Resposta: Letra E.
7 (pedreiros) ------------- X (dias)
Perceba que as grandezas são inversamente propor- 8. (CEBRASPE-CESPE – 2018) No item a seguir é apre-
cionais, então basta multiplicar na horizontal. sentada uma situação hipotética, seguida de uma
5 . 28 = 7 · X assertiva a ser julgada, a respeito de proporcionalida-
7X = 140 de, divisão proporcional, média e porcentagem.
X = 140 ÷ 7 Todos os caixas de uma agência bancária trabalham
X = 20 dias. Resposta: Letra C. com a mesma eficiência: 3 desses caixas atendem 12
clientes em 10 minutos. Nessa situação, 5 desses cai-
6. (CEBRASPE-CESPE – 2020) Determinado equipa- xas atenderão 20 clientes em menos de 10 minutos.
mento é capaz de digitalizar 1.800 páginas em 4 dias,
funcionando 5 horas diárias para esse fim. Nessa ( ) CERTO ( ) ERRADO
situação, a quantidade de páginas que esse mesmo
equipamento é capaz de digitalizar em 3 dias, operan- 3 caixas – 12 clientes – 10 minutos
do 4 horas e 30 minutos diários para esse fim, é igual a
5 caixas – 20 clientes – x minutos.
a) 2.666. 10
=
5
#
12
b) 2.160. X 3 20
c) 1.215.
d) 1.500. 5 · 12 · X = 10 · 3 · 20
e) 1.161. 60x = 600

Primeiro vamos passar para minutos: X = 10.


5h = 300min. Os 5 caixas atenderão em exatamente 10 minutos,
4h30min= 270min. não em menos de 10, como a questão afirma. Res-
min.-----Dias-----Pag. posta: Errado.
300 -------4-------1800
9. (VUNESP – 2020) Das 9 horas às 15 horas, de trabalho
270 -------3-------X ininterrupto, 5 máquinas, todas idênticas e trabalhan-
Resolvendo, temos: do com a mesma produtividade, fabricam 600 unida-
des de determinado produto. Para a fabricação de 400
300 (Simplifica por 30) unidades do mesmo produto por 3 dessas máquinas,
1800
=
4 trabalhando nas mesmas condições, o tempo estima-
· 270 (Simplifica por 30)
X 3 do para a realização do serviço é de
1800 4 10
= · a) 5 horas e 54 minutos
X 3 9
b) 6 horas e 06 minutos.
4 · X · 10 = 1800 · 3 · 9 c) 6 horas e 20 minutos.
d) 6 horas e 40 minutos.
X = 1215 páginas que esse mesmo equipamento é e) 7 horas e 06 minutos.
capaz de digitalizar. Resposta: Letra C.
Das 9h às 15h = 6 horas = 360 min
7. (VUNESP – 2016) Em uma fábrica, 5 máquinas, todas
operando com a mesma capacidade de produção, 360 min ------ 5 máquinas ----- 600 unidades (corta os
fabricam um lote de peças em 8 dias, trabalhando 6 zeros iguais)
horas por dia. O número de dias necessários para que
x ------------- 3 máquinas ---- 400 unidades (corta os
4 dessas máquinas, trabalhando 8 horas por dia, fabri-
zeros iguais)
quem dois lotes dessas peças é
360 3 6
= ·
a) 11. X 5 4
b) 12.
x · 3 · 6 = 360 · 5 · 4
c) 13.
d) 14. x · 18 = 7.200
e) 15.
x = 7.200 ÷ 18
5 máquinas -------1 lote --------- 8 dias ------------ 6 horas x = 400
4 máquinas -------2 lotes --------x dias -------------8 horas
Logo, transformando minutos para horas novamen-
Quanto mais dias para entrega do lote, menos
te, temos:
horas trabalhadas por dia (inversa), menos máqui-
nas para fazer o serviço (inversa) e mais lotes para X = 400min
serem entregues (direta).
X = 6h40min. Resposta: Letra D.
Resolvendo:
8/x = 1/2 · 8/6 · 4/5 (simplifique 8/6 por 2)
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10. (VUNESP – 2020) Em uma fábrica de refrigerantes, 3 10 · 1.000 = 100
máquinas iguais, trabalhando com capacidade máxima, 10% de 1.000 =
100
ligadas ao mesmo tempo, engarrafam 5 mil unidades de
refrigerante, em 4 horas. Se apenas 2 dessas máquinas Dessa maneira, 1.000 é todo, enquanto 100 é a par-
trabalharem, nas mesmas condições, no engarrafamen-
te que corresponde a 10% de 1.000.
to de 6 mil unidades do refrigerante, o tempo esperado
para a realização desse trabalho será de
Dica
a) 6 horas e 40 minutos. Quando o todo varia, a porcentagem também
b) 6 horas e 58 minutos.
varia!
c) 7 horas e 12 minutos.
d) 7 horas e 20 minutos.
e) 7 horas e 35 minutos. Veja um exemplo:
Roberto assistiu 2 aulas de Matemática Financeira.
Sabendo que o curso que ele comprou possui um total
3 máquinas ------------ 5 mil garrafas ------------ 4 horas
de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assistidas
2 máquinas ------------ 6 mil garrafas ------------ x por Roberto?
O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual,
Veja que se aumentar o tempo de trabalho quer dizer
devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração.
que serão engarrafados mais refrigerantes (direta) e
se aumentar o tempo de trabalho quer dizer que são
2 1
menos máquinas trabalhando (inversa). =
8 4
4 5000 2
= ·
X 6000 3 Precisamos transformar em porcentagem, ou seja,
2·X·5=4·6·3 vamos multiplicar a fração por 100:
10X = 72 1 · 100 = 25%
x = 7, 2 horas (7 horas + 0,2 horas = 7 horas + 0,2 · 60 4
min = 7 horas e 12 minutos)
Obs.: para transformar horas em minutos, basta Soma e Subtração de Porcentagem
multiplicarmos o número por 60 min. Logo, 0,2 horas
= 0,2 · 60 = 120 ÷ 10 = 12 min. Resposta: Letra C. As operações de soma e subtração de porcentagem
são as mais comuns. É o que acontece quando se diz
PORCENTAGEM que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe-
rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial
A porcentagem é uma medida de razão com base corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou
100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi- subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli-
nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar car pelo valor da grandeza.
como podemos representar um número porcentual. Exemplo 1:
Paulinho comprou um curso de 200 horas-aula.
30 Porém, com a publicação do edital, a escola precisou
30% = (forma de fração)
100 aumentar a carga horária em 15%. Qual o total de
30 horas-aula do curso ao final?
30% = = 0,3 (forma decimal) Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total
100
de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o
30% =
30
=
3
(forma de fração simplificada) aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100% +
100 10 15% das aulas inicialmente previstas. Portanto, o total
de horas-aula do curso será:
Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de (1 + 0,15) · 200 = 1,15 · 200 = 230 horas-aula
várias maneiras:
Dica
30 3
30% = = 0,3 =
100 10 A avaliação do crescimento ou da redução per-
centual deve ser feita sempre em relação ao
Também é possível fazer a conversão inversa, isto valor inicial da grandeza.
é, transformar um número qualquer em porcentual.
Para isso, basta multiplicar por 100. Veja: -
Variação percentual = Final Inicial
Inicial
25 · 100 = 2500%
Veja mais um exemplo para podermos fixar
0,35 · 100 = 35%
MATEMÁTICA

0,586 · 100 = 58,6% melhor.


Exemplo 2:
Juliano percebeu que ainda não assistiu a 200
Número Relativo
aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o número de
aulas não assistidas a 180. É correto afirmar que, se
A porcentagem traz uma relação entre uma parte e
um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres- Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o número terá
ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo caído 20%?
que estamos especificando. Para descobrir a quanto
isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000. 247
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A variação percentual de uma grandeza corres- 2x – x = 70 – 50
ponde ao índice: x = 20 deputadas fazem parte da Assembleia Legis-
lativa. Resposta: Letra D.
Final - Inicial 180 - 200
Variação percentual = = =
Inicial 200 3. (VUNESP – 2016) Um concurso recebeu 1500 ins-
20 crições, porém 12% dos inscritos faltaram no dia da
– =–0,10 prova. Dos candidatos que fizeram a prova, 45% eram
200
mulheres. Em relação ao número total de inscritos, o
número de homens que fizeram a prova corresponde a
Como o resultado foi negativo, podemos afirmar
uma porcentagem de
que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
a) 45,2%.
errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
b) 46,5%.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
c) 47,8%.
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
d) 48,4%.
Vamos lá!
e) 49,3%.
1. (CEBRASPE-CESPE – 2020) Em determinada loja, uma
Veja que se 12% faltaram, então 88% fizeram a prova.
bicicleta é vendida por R$ 1.720 à vista ou em duas
Pessoas presentes (88%) e dessas 45% eram mulhe-
vezes, com uma entrada de R$ 920 e uma parcela de R$
res e 55% eram homens. Portanto, basta multiplicar
920 com vencimento para o mês seguinte. Caso queira
o percentual dos homens pelo total:
antecipar o crédito correspondente ao valor da parcela,
55% de 88% das pessoas que fizeram a prova; ou
a lojista paga para a financeira uma taxa de antecipação
0,55 · 0,88 = 0,484.
correspondente a 5% do valor da parcela.
Transformando em porcentagem: 0,484 · 100 =
Com base nessas informações, julgue o item a seguir.
48,4%. Resposta: Letra D.
Na compra a prazo, o custo efetivo da operação de finan-
ciamento pago pelo cliente será inferior a 14% ao mês.
4. (FCC – 2018) Em uma pesquisa 60% dos entrevista-
dos preferem suco de graviola e 50% suco de açaí.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Se 15% dos entrevistados gostam dos dois sabores,
então, a porcentagem de entrevistados que não gos-
Valor da bicicleta = 1.720,00
tam de nenhum dos dois é de
Parcelado = 920,00 (entrada) + 920,00 (parcela)
Na compra a prazo, o agente vai pagar 920,00
a) 80%.
(entrada), logo vai sobrar (1.720 – 920 = 800,00)
b) 61%.
No próximo mês é preciso pagar 920,00 ou seja
c) 20%.
800,00 + 120,00 de juros. Agora é pegar 120,00
d) 10%.
(juros) e dividir por 800,00 resultado:
e) 5%.
120,00/800,00 = 0,15% ao mês.
A questão diz que seria inferior a 0,14%, ou seja,
está errada. Resposta: Errado. Vamos dispor as informações em forma de conjun-
tos para facilitar nossa resolução:
2. (CEBRASPE-CESPE – 2019) Na assembleia legislati- Graviola Açai
va de um estado da Federação, há 50 parlamentares,
entre homens e mulheres. Em determinada sessão
plenária estavam presentes somente 20% das deputa-
das e 10% dos deputados, perfazendo-se um total de 7 60% – 15% = 15% 50% – 15% =
parlamentares presentes à sessão.
Infere-se da situação apresentada que, nessa assem- 45% 35%
bleia legislativa, havia
Nenhum = X

a) 10 deputadas.
b) 14 deputadas. Vamos somar todos os valores e igualar ao total que
c) 15 deputadas. é 100%: 45% + 15% + 35% + X = 100%
d) 20 deputadas. 95% + X = 100%
e) 25 deputadas. X = 5%.
Resposta: Letra E.
50 parlamentares
Deputadas = X 5. (FUNCAB – 2015) Adriana e Leonardo investiram R$
Deputados = 50-X 20.000,00, sendo o 3/5 desse valor em uma aplicação
Compareceram 20% x e 10% (50-x), totalizando 7 que gerou lucro mensal de 4% ao mês durante dez
parlamentares. Não sabemos a quantidade exata de meses. O restante foi investido em uma aplicação,
cada sexo. Vamos montar uma equação e achar o que gerou um prejuízo mensal de 5% ao mês, durante
valor de X. o mesmo período. Ambas as aplicações foram feitas
20% x + 10% (50 – x) = 7 no sistema de juros simples.
20/100 · x + 10/100 . (50 – x) = 7 Pode-se concluir que, no final desses dez meses, eles
2/10 · x + 1/10 · (50 – x) = 7 tiveram:
2x/10 + 50 – x/10 = 7 (faz o MMC)
248 2x + 50 – x = 70
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a) prejuízo de R$2.800,00. J = juros
b) lucro de R$3.200,00. C = capital
c) lucro de R$2.800,00. i = taxa em percentual (%)
d) prejuízo de R$6.000,00 t = tempo
e) lucro de R$5.000,00. M = montante

3/5 de 20.000,00 = 12.000,00 TAXAS PROPORCIONAIS E EQUIVALENTES


12.000,00 · 4% = 480,00
480 · 10 (meses) = 4.800 (juros) Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é
O que sobrou 20.000,00 – 12.000,00 = 8.000,00. Apli-
importante saber a unidade de tempo sobre a qual
cação que foi investida e gerou prejuízo de 5% ao
a taxa de juros é definida. Isto é, não adianta saber
mês, durante 10 meses:
apenas que a taxa de juros é de “5%”. É preciso saber
8.000,00 · 5% = 400,00
400 · 10 meses= 4.000 se essa taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos
Portanto 20.000,00 + 4.800 (juros) = 24,800,00 – que duas taxas de juros são proporcionais quando
4.000= 20.800,00 /10 meses= 2.080,00 lucros. Res- guardam a mesma proporção em relação ao prazo.
posta: Letra C. Por exemplo, 12% ao ano é proporcional a 6% ao se-
mestre, e também é proporcional a 1% ao mês.
JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS Basta efetuar uma regra de três simples. Para
obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que
Juros Simples é proporcional à taxa de 12% ao ano:

A premissa que é a base da matemática financeira 12% ao ano ----------------------- 1 ano


é a seguinte: as pessoas e as instituições do mercado Taxa bimestral ------------------ 2 meses
preferem adiantar os seus recebimentos e retardar
os seus pagamentos. Do ponto de vista estritamente Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei-
racional, é melhor pagar o mais tarde possível caso xar os valores da coluna da direita na mesma unidade
não haja incidência de juros (ou caso esses juros temporal, temos:
sejam inferiores ao que você pode ganhar aplicando
o dinheiro). 12% ao ano ---------------------- 12 meses
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço Taxa bimestral ------------------ 2 meses
do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan-
tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma
Efetuando a multiplicação cruzada, temos:
remuneração em cima do valor que ele te emprestou,
pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei-
12% · 2 = Taxa bimestral · 12
ro por um certo tempo. Esta remuneração é expressa
pela taxa de juros. Taxa bimestral = 2% ao bimestre
Nos juros simples a incidência recorre sempre
sobre o valor original. Veja um exemplo para melhor Duas taxas de juros são equivalentes quando são
entender. capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan-
Exemplo 1: te final M, após o mesmo intervalo de tempo.
Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um Uma outra informação muito importante e que
regime de juros simples de 5% ao mês, para um amigo você deve memorizar é que o cálculo de taxas equi-
e que o mesmo ficou de quitar o empréstimo após 5 valentes quando estamos no regime de juros simples
meses. Então temos o seguinte: pode ser entendido assim: 1% ao mês equivale a 6%
ao semestre ou 12% ao ano, e levarão o mesmo capital
CAPITAL inicial C ao mesmo montante M após o mesmo perío-
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO do de tempo.
(1000,00)
1° mês = 1.000,00 1000,00 + (5% de 1.000,00) = 1050,00
2° mês = 1.050,00 1050,00 + (5% de 1.000,00) = 1100,00
Importante!
3° mês = 1.100,00 1100,00 + (5% de 1.000,00) = 1150,00 No regime de juros simples, taxas de juros
4° mês = 1.150,00 1150,00 + (5% de 1.000,00) = 1200,00 proporcionais são também taxas de juros
5° mês = 1.200,00 1200,00 + (5% de 1.000,00) = 1250,00 equivalentes.

Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais Juros Compostos


de juros.
MATEMÁTICA

Fórmulas utilizadas em juros simples


Imagine que você pegou um empréstimo de R$
10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser realiza-
J=C·i·t do após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês. Ficou
combinado que o cálculo de juros de cada mês será
M=C+J feito sobre o total da dívida no mês anterior, e não
somente sobre o valor inicialmente emprestado. Nes-
M = C · (1 + i ·J) te caso, estamos diante da cobrança de juros compos-
Onde, tos. Podemos montar a seguinte tabela: 249
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Observe um exemplo:
MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00
No regime de juros compostos com capitalização
1º MÊS 11.000,00 mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de
2º MÊS 12.100,00 meses que o capital de R$ 100.000 deverá ficar investi-
do para produzir o montante de R$ 120.000 é expressa
3º MÊS 13.310,00
por:
4º MÊS 14.641,00
log2, 1
Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver ao log1, 01
banco R$ 14.641,00 que é a soma da dívida inicial (R$
10.000,00) e de juros de R$ 4.641,00. Temos a taxa j = 1%am, capital C = 100.000 e mon-
Fórmula utilizada em juros compostos tante M = 120.000. Na fórmula de juros compostos:

M = C · (1 + i)t M = C x (1+j)t
120.000 = 100.000 · (1+1%)t
Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem-
12 = 10 · (1,01)t
plo. Veja:
1,2 = (1,01)t
M = 10.000 · (1 + 10%) 4

Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados:


M = 10.000 · (1 + 0,10)4
M = 10.000 · (1,10)4 log1,2 = log (1,01)t

M = 10.000 · 1,4641 log1,2 = t · log 1,01


log1, 2
M = 14.641,00 reais t=
log1, 01
Podemos fazer a comparação entre juros simples e Logo, questão errada.
compostos. Observe a tabela a seguir:
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS ria com exercícios comentados de diversas bancas.
Vamos lá!
Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1
Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1 1. (FEPESE – 2018) Uma TV é anunciada pelo preço
de R$ 1.908,00 para pagamento em 12 parcelas de
Juros capitalizados no final Juros capitalizados perio-
159,00. A mesma TV custa R$ 1.410,00 para paga-
do prazo dicamente (“juros sobre
mento à vista. Portanto o juro simples mensal incluído
juros”)
na opção parcelada é:
Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial
Valores similares para Valores similares para a) Menor que 2%.
prazos e taxas curtos prazos e taxas curtos b) Maior que 2% e menor que 2,5%.
c) Maior que 2,5% e menor que 2,75%.
z Juros compostos — cálculo do prazo: d) Maior que 2,75% e menor que 3%.
e) Maior que 3%.
Nas questões em que é preciso calcular o prazo
você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t” 1.908 – 1.410 = 498 (juros durante 12 meses)
está no expoente da fórmula de juros compostos. A J=C·I·t
498 = 1410 · 12 · i / 100
propriedade mais importante a ser lembrada é que,
49.800 = 16.920i
sendo dois números A e B, então:
i = 49.800/16.920
i = 2,94%. Resposta: Letra D.
log AB = B · log A
2. (CEBRASPE-CESPE – 2018) Uma pessoa atrasou em
Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente 15 dias o pagamento de uma dívida de R$ 20.000, cuja
B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A. taxa de juros de mora é de 21% ao mês no regime de
Uma outra propriedade bastante útil dos logarit- juros simples.
mos é a seguinte: Acerca dessa situação hipotética, e considerando o
mês comercial de 30 dias, julgue o item subsequente.
log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B
No regime de juros simples, a taxa de 21% ao mês é
B equivalente à taxa de 252% ao ano.

Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é ( ) CERTO ( ) ERRADO


igual à subtração dos logaritmos de cada número.
Também é importante ter em mente que “logA” No regime simples, sabemos que taxas propor-
cionais são também equivalentes. Como temos 12
significa “logaritmo do número A na base 10”.
meses no ano, a taxa anual proporcional a 21%am
250 é, simplesmente:
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21% · 12 = 252% ao ano Nova aplicação de metade que lucrou 6.200 / 2 =
Esta taxa de 252% ao ano é proporcional e também 3.100
é equivalente a 21% ao mês. Portanto, o item está J=C·i·t
certo. Resposta: Certo. J = 3.100 · 0,05 · 4
J = 155 · 4
3. (FUNDATEC – 2020) Qual foi a taxa mensal de uma J = 620 lucro da nova aplicação
aplicação, sob regime de juros simples, de um capital Somatório dos lucros:
de R$ 3.000,00, durante 4 bimestres, para gerar juros M = 1.200 + 620 = 1.820 dos lucros. Resposta: Letra
de R$ 240,00? D.

a) 8%. 6. (FCC – 2017) A Cia. Escocesa, não tendo recursos para


b) 5%. pagar um empréstimo de R$ 150.000,00 na data do ven-
c) 3%. cimento, fez um acordo com a instituição financeira cre-
d) 2%. dora para pagá-la 90 dias após a data do vencimento.
e) 1%. Sabendo que a taxa de juros compostos cobrada pela
instituição financeira foi 3% ao mês, o valor pago pela
J = 240 empresa, desprezando-se os centavos, foi, em reais,
C = 3.000
i=? a) 163.909,00.
t = 4 bimestres, ou seja, 4 · 2 = 8 meses. b) 163.500,00.
Substituindo: c) 154.500,00.
J=C·i·t d) 159.135,00.
240 = 3.000 · i · 8 e) 159.000,00.
240 = 24.000 · i
i = 240 / 24.000 Temos uma dívida de C = 150.000 reais a ser paga
i = 0,01 ou 1% após t = 3 meses no regime de juros compostos, com
Resposta: Letra E. a taxa de j = 3% ao mês. O montante a ser pago é
dado por:
M = C · (1+j)t
4. (VUNESP – 2020) Um capital de R$ 1.200,00, aplicado
M = 150.000 · (1+0,03)3
no regime de juros simples, rendeu R$ 65,00 de juros.
M = 150.000 · (1,03)3
Sabendo-se que a taxa de juros contratada foi de 2,5%
M = 150.000 · 1,092727
ao ano, é correto afirmar que o período da aplicação
M = 15 · 10927,27
foi de
M = 163.909,05 reais. Resposta: Letra A.
a) 20 meses.
7. (FCC – 2017) O montante de um empréstimo de 4
b) 22 meses.
anos da quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram
c) 24 meses.
juros compostos de 10% ao ano, será igual a
d) 26 meses.
e) 30 meses.
a) R$ 26.000,00.
b) R$ 28.645,00.
J = c. i. t/100 c) R$ 29.282,00.
65 = 1.200 · 2,5 · t/100 d) R$ 30.168,00.
65 = 30t e) R$ 28.086,00.
t = 65/30 · 12
t = 26 meses. Resposta: Letra D. Temos um prazo de t = 4 anos, capital inicial C =
20.000 reais, juros compostos de j = 10% ao ano. O
5. (IBADE – 2019) Juliana investiu R$ 5.000,00, a juros montante final é:
simples, em uma aplicação que rende 3% ao mês, M = C · (1+j)t
durante 8 meses. Passados 8 meses, Juliana retirou M = 20.000 · (1+0,10)4
todo o dinheiro e investiu somente metade em uma M = 20.000 · 1,14
outra aplicação, a juros simples, a uma taxa de 5% ao M = 20.000 · 1,4641
mês por mais 4 meses. O total de juros arrecadado por M = 2 · 14.641
Juliana após os 12 meses foi: M = 29.282 reais. Resposta: Letra C.

a) R$ 1.200,00. 8. (FGV – 2018) Certa empresa financeira do mundo


b) R$ 1440,00. real cobra juros compostos de 10% ao mês para os
c) R$ 620,00. empréstimos pessoais. Gustavo obteve nessa empre-
d) R$ 1820,00. sa um empréstimo de 6.000 reais para pagamento,
MATEMÁTICA

e) R$ 240,00. incluindo os juros, três meses depois.


O valor que Gustavo deverá pagar na data do venci-
J=C·i·t mento é:
J= 5.000 · 0,03 · 8
J= 150 · 8 a) 6.600 reais.
J = 1.200 de lucro b) 7.200 reais.
Montante do aplicado com lucro M= C + J c) 7.800 reais.
M = 5.000 + 1.200 d) 7.986 reais.
M = 6.200 montante inicial e lucro e) 8.016 reais. 251
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Aqui foram dados C = 6.000 reais, i = 10% a m e t = 3 O valor de x que torna a igualdade correta é cha-
meses. Aplicando a fórmula, temos: mado de “raiz da equação”. Uma equação de primeiro
M = C · (1 + j)t grau sempre tem apenas 1 raiz. Veja que se substituir-
M = 6.000 · (1,1)³ mos o valor encontrado de “x” na equação ela ficará
M = 6.000 · 1,331 igual a zero em ambos os lados. Observe:
M = 7.986 reais. Resposta: Letra D.
Para x = 4
9. (CEBRASPE-CESPE – 2018) Um indivíduo investiu a 10x = 5x + 20
quantia de R$ 1.000 em determinada aplicação, com 10 · 4 = 5 · 4 + 20
taxa nominal anual de juros de 40%, pelo período de 6 40 = 40
meses, com capitalização trimestral. Nesse caso, ao 40 – 40 = 0
final do período de capitalização, o montante será de

a) R$ 1.200.
b) R$ 1.210.
EQUAÇÃO DO 2º GRAU
c) R$ 1.331.
d) R$ 1.400.
Equações do segundo grau são equações nas quais
e) R$ 1.100.
o maior expoente de x é igual a 2.
Sua forma geral é expressa por: ax2 + bx + c = 0, em
Temos a taxa de 40% a. a. com capitalização trimes-
que a, b e c são os coeficientes da equação.
tral, o que resulta em uma taxa efetiva de 40%/4 =
10% ao trimestre. Em t = 6 meses, ou melhor, t = 2
„ a é sempre o coeficiente do termo em x²;
trimestres, o montante será:
„ b é sempre o coeficiente do termo em x;
M = C · (1+j)t
„ c é sempre o coeficiente ou termo independente.
M = 1.000 · (1+0,10)2
M = 1.000 · 1,21
As equações de segundo grau têm 2 raízes, isto é, exis-
M = 1.210 reais. Resposta: Letra B.
tem 2 valores de x que tornam a igualdade verdadeira.
10. (CEBRASPE-CESPE – 2017) Julgue o item seguinte,
CÁLCULO DAS RAÍZES DA EQUAÇÃO
relativo à matemática financeira.
Considere que dois capitais, cada um de R$ 10.000,
Vamos achar as raízes por meio da fórmula de
tenham sido aplicados, à taxa de juros de 44% ao mês
Bhaskara. Basta identificar os coeficientes a, b e c e
— 30 dias —, por um período de 15 dias, sendo um a
colocá-los na seguinte expressão:
juros simples e outro a juros compostos. Nessa situa-
ção, o montante auferido com a capitalização no regime
2
de juros compostos será superior ao montante auferido –b ! b – 4ac
com a capitalização no regime de juros simples. x=
2a

( ) CERTO ( ) ERRADO Veja o sinal ± presente na expressão. É ele que per-


mitirá obtermos dois valores para as raízes, um valor
utilizando o sinal positivo (+) e outro valor utilizando
Veja que a taxa de juros é mensal, e o prazo da apli-
o sinal negativo (–).
cação foi de t = 0,5 mês (quinze dias).
Vamos aplicar em um exemplo:
Quando o prazo é fracionário (inferior a 1 unidade
Calcular as raízes da equação x2 – 3x + 2 = 0.
temporal), juros simples rendem mais que juros com-
Identificando os valores de a, b e c:
postos. Logo, o montante auferido com a capitalização
a=1
no regime de juros compostos será inferior ao mon-
b = –3
tante auferido no regime simples. Resposta: Errado.
c=2

Substituindo na fórmula:

EQUAÇÃO DO 1º GRAU -b ! 2
b - 4ac
x=
A forma geral de uma equação do primeiro grau 2a
é: ax + b = 0.
O termo “a” é o coeficiente de “x” e o termo “b” é –(–3) ± √(–3)2 – 4 · 1 · 2
x=
chamado de termo independente. 2·1
Para resolver uma equação do 1º grau, devemos
isolar todas as partes que possuem incógnitas de um 3! 9-8
lado igual e, do outro, os termos independentes. Veja x=
2
um exemplo:
10x = 5x + 20 (vamos achar o valor de “x”) 3!1
x=
10x – 5x = 20 (passamos o “5x” para o outro lado do 2
igual com o sinal trocado) 3+1
5x = 20 x1 = =2
2
20
x= (isolamos o “x” transferindo o seu coefi-
5 3-1
ciente “5” dividindo) x2 = =1
2
252 x=4
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Na fórmula de Bhaskara, podemos usar um discri- Vamos aplicar no nosso exemplo:
minante que é representado por “”. Seu valor é igual Isolando “x” na primeira equação:
a: x = 10 – y

Δ = b2 – 4ac Substituindo “x” na segunda equação por “10 – y”:


4(10 – y) – y = 5 (faz uma distributiva)
40 – 4y – y = 5
Assim, podemos escrever a fórmula de Bhaskara:
–5y = 5 – 40
–5y = –35 (multiplica por –1)
-b ! D 5y = 35
x=
2a y=7
O discriminante fornece importantes informações
Logo, voltando na primeira equação, acharemos o
de uma equação do 2º grau:
valor de “x”.
Se Δ > 0 → a equação possui duas raízes reais e
x = 10 – y
distintas.
x = 10 – 7
Se Δ = 0 → a equação possui duas raízes reais e
x=3
idênticas.
Assim, x = 3 e y = 7.
Se Δ < 0 → a equação não possui raízes reais.

SOMA E PRODUTO DAS RAÍZES Dica


Método da substituição:
Basta saber que, em uma equação ax2 + bx + c = 0: � isolar uma das variáveis em uma das
equações;
–b
z a soma das raízes é dada por a ; � substituir essa variável na outra equação pela
c expressão achada no item anterior.
z o produto das raízes é dado por .
a
Há um outro método para resolver um sistema
Calcular as raízes da equação x2 – 3x + 2 = 0. de equação do 1º grau, que é o método da adição (ou
–b – (–3) soma) de equações. Veja:
Soma: = =3
a 1
c 2 z multiplicar uma das equações por um número que
Produto: = =2
a 1 seja mais conveniente para eliminar uma variável;
Quais são os dois números que somados resultam z somar as duas equações, de forma a ficar apenas
“3” e multiplicados, “2”? com uma variável.
Soma: 3 = (2 + 1)
Produto 2 = (2 · 1) Veja o exemplo:
Logo, 2 e 1 são as raízes dessa equação, exatamente
igual como achamos usando a fórmula de Bhaskara.
*
x + y = 10

4x - y = 5

SISTEMAS DE EQUAÇÕES Nesse exemplo não vamos precisar fazer uma mul-
tiplicação, pois já temos a condição necessária para
SISTEMAS DE EQUAÇÕES DE PRIMEIRO GRAU eliminarmos o “y” da equação. Então devemos fazer
(SISTEMAS LINEARES) apenas a soma das equações. Veja:

Em alguns casos, pode ser que tenhamos mais de


*
x + y = 10
uma incógnita. Imagine que um exercício diga que: x
+ y = 10. 4x - y = 5
Perceba que há infinitas possibilidades de x e y
que tornam essa igualdade verdadeira: 2 e 8, 5 e 5, 15 5x = 1
e –5 etc. Por esse motivo, faz-se necessário obter mais
uma equação envolvendo as duas incógnitas para Substituindo o valor de “x” na primeira equação,
poder chegar nos seus valores exatos. Veja o exemplo: achamos o valor de “y”:

*
x + y = 10 x + y = 10
3 + y = 10
4x - y = 5 y = 10 – 3
MATEMÁTICA

y=7
A principal forma de resolver esse sistema é usan-
do o método da substituição. Este método é muito sim-
Veja um outro exemplo em que vamos precisar
ples, e consiste basicamente em duas etapas:
multiplicar:
z isolar uma das variáveis em uma das equações;
*
z substituir essa variável na outra equação pela x + y = 10
expressão achada no item anterior.
x - 2y = 4
253
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Multiplicando por –1 a primeira equação, temos: A
= 0,4
b

(
- x - y = - 10 A = 0,4B
Substituindo essa última equação na primeira,
x - 2y = 4
temos:
0,4B = B – 3.000
Fazendo a soma: 3.000 = B – 0,4B
3.000 = 0,6B
(
- x - y = - 10
3.000
x - 2y = 4 B=
0, 6
–3y = –6 B = 5.000
–6 Lembrando que A = 0,4B, podemos obter o valor de
y= A:
–3
y= 2 A = 0,4 · 5.000
A = 2.000
Substituindo o valor de “y” na primeira equação, Total: A + B = 5.000 + 2.000 = 7.000
achamos o valor de “x”: O número de inscritos para o cargo B, em relação
ao total, será:
x + y = 10 5.000 5
x + 2 = 10 = . Resposta: Letra E.
7.000 7
x = 10 – 2
x=8 2. (FGV – 2017) O número de balas de menta que Júlia
tinha era o dobro do número de balas de morango.
SISTEMAS DE EQUAÇÕES DO 2º GRAU Após dar 5 balas de cada um desses dois sabores
para sua irmã, agora o número de balas de menta que
Júlia tem é o triplo do número de balas de morango. O
Vamos usar o mesmo método principal para resol-
número total de balas que Júlia tinha inicialmente era:
vermos os sistemas de equações do 2º grau que utili-
zamos no sistema de equações do 1º grau, ou seja, o
a) 42.
método da substituição. Veja um exemplo: b) 36.
c) 30.
(
x+y=3 d) 27.
2
x -y =-3
2 e) 24.

Me = 2 · Mo
Isolando x na primeira equação, temos que x = Após dar 5 balas = Me – 5 e Mo – 5. Agora, as de
3 – y. Efetuando a substituição na segunda equação, menta são o triplo das de morango:
temos que: Me – 5 = 3 · (Mo – 5)
(3 – y)2 – y2 = –3 Me – 5 = 3 · Mo – 15
9 – 6y + y – y2 = –3 Me = 3 · Mo – 10
y=2 Na segunda equação podemos substituir Me por 2
Logo, x = 3 – y = 3 – 2 = 1 · Mo.
2 · Mo = 3 · Mo – 10
Exercite seus conhecimentos com alguns exercí- 10 = 3 · Mo – 2 · Mo
cios comentados. 10 = Mo
O valor de Me é:
1. (VUNESP – 2018) Em um concurso somente para os Me = 2 · Mo
cargos A e B, cada candidato poderia fazer inscrição Me = 2 · 10
para um desses cargos. Sabendo que o número de Me = 20
candidatos inscritos para o cargo A era 3000 unidades Total: 10 + 20 = 30 balas. Resposta: Letra C.
menor que o número de candidatos inscritos para o
3 (CEBRASPE-CESPE – 2013) Considere que em um
cargo B, e que a razão entre os respectivos números,
escritório de patentes, a quantidade mensal de pedi-
nessa ordem, era igual a 0,4, então é verdade que o
dos de patentes solicitadas para produtos da indús-
número de candidatos inscritos para o cargo B corres-
tria alimentícia tenha sido igual à soma dos pedidos
pondeu, do total de candidatos inscritos, a de patentes mensais solicitadas para produtos de
outra natureza. Considere, ainda, que, em um mês,
3 além dos produtos da indústria alimentícia, tenham
a)
7 sido requeridos pedidos de patentes de mais dois
5
b) tipos de produtos, X e Y, com quantidades dadas por
9 x e y, respectivamente. Supondo que T seja a quanti-
4
c) dade total de pedidos de patentes requeridos nesse
7 escritório, no referido mês, julgue os itens seguintes.
2
d)
3
Se T = 128, então as quantidades x e y são tais que x
5
e) + y = 64, com 0 ≤ x ≤ 64.
7
254 A = B – 3.000 ( ) CERTO ( ) ERRADO
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Seja “a” a quantidade de pedidos de patentes da
 –b – √∆ b
–3 – √25
 fx( x==) ax 2a
+b > 0 →
= x>− ;
indústria alimentícia. Foi dito que esse total é igual = –2
1
à soma dos demais pedidos, que são x e y, ou seja, 2 · 2a
a=x+y 
–b + √∆ –3 +√25b 1
O total de pedidos é:  fx( x==) ax +b < 0 →
= x<− ; =
T = a + x + y = a + a = 2a  2
2a 2 · 2a 2
Como T = 128, temos
128 = 2a S = {–2,
1
}
a = 64. Resposta: Certo. 2

EQUAÇÕES LOGARÍTMICAS
Se, em determinado mês, a quantidade de pedidos de
patentes do produto X foi igual ao dobro da quanti-
Equações logarítmicas são aquelas equações
dade de pedidos de patentes do produto Y, então a
do tipo: logaf(x) = logag(x) ou logaf(x) = α, α∈ℝ e com
quantidade de pedidos de patentes de produtos da
(α∈ℜ*+ –{1}).
indústria alimentícia foi o quádruplo da quantidade
A fórmula para solucionar a equação logarítmica
de pedidos de patentes de Y.
é dada por f(x) = g(x) > 0 ou aplicando propriedade
( ) CERTO ( ) ERRADO inversa e transformando em equação exponencial,
logaf(x) = a → f(x) = aa.
Sendo x o dobro de y, ou seja, x =2y, temos que: Acompanhe o exemplo da equação logarítmica log4
a=x+y (3x + 2) = log4 (2x + 5). Para resolvê-la vamos seguir os
a = 2y + y seguintes passos:
a=3
Assim, as patentes da indústria alimentícia (“a”)  –2 b
f ( x= 0 →+xb>> 0 → x > − a ;
são o triplo das patentes de Y. Resposta: Errado.  3x + 2 < ax
 )

3
 f ( x= –5 b
Se T = 128 e a quantidade x foi 18 unidades a mais do que  2x + 5

) 0 →+xb>< 0 → x < − a ;
> ax
2
a quantidade y, então a quantidade y foi superior a 25.
log4(3x + 2) = log4(2x + 5) → (3x + 2) = (2x + 5)
( ) CERTO ( ) ERRADO (3x + 2) = (2x + 5) →3 x – 2x = 5 – 2 → x = 3

Se T = 128, temos que x + y = 64. Foi dito ainda que: S = {3}


x = y + 18
Substituindo x por y + 18, temos: Agora para a equação logarítmica log4(2x2 + 5x + 4)
x + y = 64 = 2 temos x igual a:
(y + 18) + y = 64
y = 23 unidades. Resposta: Errado. 2x2 + 5x + 4 > 0
∆ = b2 – 4ac = 25 – 32 = –7
logo, 𝑓(x) > 0, ⩝x∊ℜ
EQUAÇÕES EXPONENCIAIS E log4(2x2 + 5x + 4) = 2 → 2x2 + 5x + 4 = 42 → 2x2 + 5x + 4 =
LOGARÍTMICAS 16 → 2x2 + 5x – 12 = 0
∆ = b2 – 4ac = 52 – 4 · 2 · (–12) = 25 + 96 = 121
EQUAÇÕES EXPONENCIAIS
 – b – √∆ b
– 5 – √121
Equações exponenciais são aquelas equações onde a
 f
x
1
( x
= =
) ax + b > 0 →
= x > − ; = –4
incógnita x está no expoente, como: 2x = 32 e 2x – 4x = 2. 2a 2 ·a2
A forma de solucionar a equação exponencial é 
– b + √∆ – 5 +√121
b 3
deixando todas as potências com a mesma base, como  fx( x==) ax +b < 0 → = x<− ; =
a f(x) = ax é injetora, podemos dizer que potências  2
2a 2 ·a2 2
iguais e de mesma base têm expoentes iguais, ou seja,

S = & –4, 0
ax = ay ⇔ x = y, (a∈ℜ*+ –{1}). 3
Seja a equação exponencial 2x = 128, temos a solu- 2
ção o valor de x igual a:
MATEMÁTICA

2x = 128 → 2x = 27 → x = 7
FUNÇÕES
S = {7}
2 Quando temos a relação entre elementos de dois
Agora para a equação exponencial 52x +3x–2
= 1 conjuntos, sendo que cada elemento de um conjun-
temos x igual a:
to tenha ligação com somente um outro elemento do
2+3x–2 2+3x–2 outro conjunto, dizemos que é uma função. Para ficar
52x = 1 → 52x = 50 → 2x2 + 3x – 2 = 0
mais fácil de entender esse conceito, veja o exemplo
∆ = b2 – 4ac = 32 – 4 · 2 · (–2) = 9 + 16 = 25 abaixo: 255
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FUNÇÃO NÃO É FUNÇÃO função é definida para qualquer número real x. O con-
D tradomínio, por outro lado, é o conjunto de todos os
A B C
valores que f(x) podem assumir quando x varia sobre
2 4 1 4 o conjunto dos números reais.
4 8 Para encontrar o contradomínio da função f(x) =
3 6 x2, precisamos considerar todos os valores possíveis
6 16 5 que x² pode assumir para qualquer número real x.
8 20 Como x² é sempre não negativo para qualquer núme-
ro real x, o contradomínio é o conjunto de todos os
números reais não negativos.
Note que o conjunto A tem todos os seus elemen- Em notação matemática, o contradomínio CD(f) da
tos ligados apenas em um único elemento do conjunto função f(x) = x2 é:
B, então dizemos que é uma função. Já o conjunto C,
além de não ter todos os seus elementos sendo ligados CD(f) = {y ∈ R | y ≥ 0}
ao único elemento de D, ainda tem o “elemento 3” sen-
do relacionado a mais de um elemento do conjunto D. Isso significa que qualquer número real não nega-
Então, não há relação de função nessa situação. tivo (incluindo zero) pode ser assumido como valor de
saída (y) quando a função f(x) = x2 é aplicada a algum
DOMÍNIO, CONTRADOMÍNIO E IMAGEM valor de x no seu domínio R.

Há alguns pontos que você precisa saber identifi- Imagem da Função (I)
car em uma função:
É formada apenas pelos valores do contradomínio
Domínio da Função (D) efetivamente ligados a algum elemento do domínio. Em
outras palavras, é o conjunto de todos os valores de y que
É o conjunto em que a função é definida, ou seja, a função realmente assume para algum valor de x no seu
contém todos os elementos que serão ligados aos ele- domínio.
mentos de outros conjuntos (olhando para o nosso Para compreender melhor, vamos considerar a fun-
exemplo: de onde saem as setas). Trata-se do conjun- ção f(x) = 2x + 1. Para encontrar a imagem, precisamos
to A apenas, pois o conjunto C não é uma função. Em considerar todos os valores que 2x + 1 pode assumir à
medida que x varia sobre todos os números reais. Como
outras palavras, é o conjunto de todos os valores de x
esta é uma função linear, para qualquer valor de x, 2x + 1
para os quais a função produz um valor de saída cor-
será um número real. Em outras palavras, não há restri-
respondente. O domínio é uma parte fundamental ao
ções sobre os valores que 2x + 1 podem assumir.
se trabalhar com funções, pois determina quais entra-
Portanto, a imagem da função f(x) = 2x + 1 é o con-
das são aceitáveis e quais não são. Vamos considerar junto de todos os números reais. Em notação matemá-
o exemplo a seguir para ilustrar melhor o conceito de tica, a imagem Im(f) desta função é:
domínio de uma função. Considere a função:
Im(f)= {y ∈ R}
f((x) = x–3
Por fim, veja o exemplo abaixo para que sua com-
Para determinar o domínio dessa função, preci- preensão se dê de forma efetiva:
samos considerar a restrição de que o radicando (o
número dentro da raiz quadrada) não pode ser nega- 2 4
tivo, porque não podemos calcular a raiz quadrada de
um número negativo em conjunto dos números reais. 4 8
Portanto, o domínio de f((x) = x – 3 é o conjunto 6 16
de todos os números reais não negativos maiores ou 8 20
iguais a 3. Em notação matemática, o domínio D(f) é
dado por: D(f) = {x ∈ R ∣ x ≥ 3}.
Isso significa que qualquer número real não nega- Temos o conjunto A como domínio, o conjunto B como
tivo maior ou igual a 3 pode ser inserido na função contradomínio e o conjunto imagem definido pelo con-
junto formado apenas pelos elementos 8 e 16, pois os ele-
f((x) = x – 3 , como seu valor de x.
mentos 4 e 20 do conjunto B não estão ligados a nenhum
termo do conjunto A. Logo, eles fazem parte do contrado-
Contradomínio da Função (CD)
mínio, porém não fazem parte do conjunto imagem.
É o conjunto onde se encontram todos os elementos
que poderão ser ligados aos elementos do domínio. Neste Dica
caso, trata-se do conjunto B somente, pois, como já vimos, Função: relação de cada elemento do domínio com
o conjunto D não é uma função. Enquanto o domínio se apenas um único elemento do contradomínio.
refere aos valores de entrada para os quais a função é
definida, o contradomínio refere-se a todos os valores FUNÇÃO INJETORA, SOBREJETORA E BIJETORA
que a função pode assumir como saída. Em outras pala-
vras, é o conjunto de todos os valores de y que podem
Função Injetora
ser obtidos aplicando a função a valores no seu domínio.
Para exemplificar, considere a função f(x) = x2, que
Se cada elemento do conjunto imagem estiver liga-
mapeia números reais para seus quadrados. Neste
do a um único elemento do domínio, a função é cha-
caso, o domínio são todos os números reais, porque a
256 mada injetora. Vejamos o exemplo:
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A B f(x) = 3x
2 4
Quando “x” for igual a 1, por exemplo, precisare-
4 8 mos substituir o valor dele na função. Veja: f(1) = 3 · 1
6 16 = 3. Afirmamos, então, que, para x = 1, a função tem
resultado 3.
8 20
24 FUNÇÕES INVERSAS

O conjunto imagem é I = {4, 8, 16, 20}. Por mais Representamos a função inversa por “f–1(x)”. Para
que o 24 não esteja relacionado a nenhum elemento que uma função seja inversa, ela necessariamente
do domínio A, vemos que cada elemento da imagem precisa ser bijetora. Vamos obter uma função inversa
está ligado a apenas um elemento do domínio A. a seguir. Veja:

Função Sobrejetora f(x) = 2x

A B
Quando todos os elementos do contradomínio fize-
rem parte do conjunto imagem, teremos uma função 2 4
sobrejetora. Em outras palavras, contradomínio é 4 8
igual a imagem. Vejamos o exemplo:
6 12
A B 8 16
2 4
4 8 Na função inversa, as setas estarão no sentido con-
6 16 trário, ou seja, elas sairão do contradomínio para o
8 20 domínio, mas, claro, precisamos ter uma relação entre
as funções. Veja que, nesse exemplo, está fácil notar
10
que o contradomínio é o dobro do domínio, então a
função inversa será a metade. Veja:
Função Bijetora
f–1(x) = x ÷ 2
Se as duas coisas acima acontecerem ao mesmo A B
tempo, ou seja, se a função for injetora e sobrejetora
ao mesmo tempo, a função será dita bijetora. Vejamos 2 4÷2
o exemplo: 4 8÷2
A B 6 12 ÷2
8 16 ÷2
2 4
4 8
6 16 Siga os passos abaixo para achar a função inversa
8 20 de uma função f(x) qualquer.

z Sabemos que f(x) = y, então vamos usar “y” para


Atenção! facilitar o cálculo:

z Função injetora: cada elemento da imagem está „ substituir y por x;


ligado a apenas um elemento do domínio; „ substituir x por y–1;
z Função sobrejetora: contradomínio é igual a „ isolar o y–1.
imagem;
z Função bijetora: injetora e sobrejetora ao mesmo Vamos aplicar o passo a passo usando o nosso
tempo. exemplo acima:

REPRESENTAÇÃO DE UMA FUNÇÃO LEI DE z f(x) = 2x (trocar f(x) por y);


FORMAÇÃO z y = 2x;
z substituir y por x;
Vamos representar a função f: R → R, onde f(x) = z substituir x por y–1;
MATEMÁTICA

3x. O “R”, na situação, é o conjunto dos números reais. z x = 2y–1;


Portanto, a função f(x) tem como domínio todos os z isolar o y–1;
números reais, e também os tem como contradomínio. z y–1 = x ÷ 2 ou f–1(x) = x ÷ 2.
Lembre-se de que f(x) é igual a “y”, que é a nossa
imagem.
Para a lei de formação, entendemos que “x” assu-
mirá alguns valores que resultarão valores “y” da fun-
ção. Tudo isso é regido da seguinte maneira:
257
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FUNÇÕES COMPOSTAS Vejamos um exemplo. Seja f(x) = –3x + 5, então
temos:
Trata-se de uma função formada por duas ou mais
funções juntas. Veja um exemplo: z uma função de primeiro grau (pois o maior
Temos f(x) = x + 3 e g(x) = x + 2. Devemos encontrar expoente de x é 1);
as funções compostas: f(g(x)) e g(f(x)). z o coeficiente angular sendo a = –3 e o coeficiente
Usemos f(g(x)) primeiro, para entendermos como linear sendo b = 5;
resolver. z logo, seu gráfico é uma reta decrescente (a < 0), que
A primeira coisa que precisamos entender é que, cruza o eixo y na posição y = 5 (pois esse é o valor
no lugar de “x” em f(x), temos a função g(x), então de b).
vamos substituir pelo valor dela:
Vamos construir um gráfico da função afim f(x) =
f (x + 2) = x + 3 2x + 3.
Atribuindo valores aleatórios para “x”, temos:
Agora, no lugar de “x”, vamos substituir por “x +
2”: f(x) = 2x + 3
f(–1) = 2(–1) +3 = 1 — temos (x,y) = (–1,1)
f (x + 2) = x + 2 + 3 f(0) = 2 · 0 + 3 = 3 — temos (x,y) = (0,3)
f(1) = 2 · 1 + 3 = 5 — temos (x,y) = (1,5)
f (g(x)) = x + 5 (aqui está a nossa função composta). f(2) = 2 · 2 + 3 = 7 — temos (x,y) = (2,7)

Agora, vamos fazer com g(f(x)). Acompanhe nos Colocando os pontos no plano cartesiano, temos:
tópicos a seguir:
y
z g(x + 3) = x + 2;
10
z g(x + 3) = x + 3 + 2;
� g(f(x)) = x + 5 (aqui está a nossa função composta).
8

E
Atenção! 6

z f(g(x)) é conhecida, também, como fog(x) — “lê-se D


4
fog de x”;
z g(f(x)) é conhecida, também, como gof(x) — “lê-se C
gof de x”. B
2

FUNÇÕES PARES E ÍMPARES -2


x
-6 -4 0 2 4 6 8

Funções pares são aquelas em que f(–x) = f(x), ou -2


seja, quando “x” assume valores opostos e gera a mes-
ma imagem. Veja:
-4

f(x) = x – 4
2

f(3) = 32 – 4 = 5 -6
f(–3) = (–32) – 4 = 5
Raiz de uma Função Afim
Funções ímpares são aquelas para as quais f(x) =
–f(x), ou seja, quando “x” assume valores opostos e Para tirar a raiz de uma função do 1º grau, basta
gera imagens opostas. Veja: igualar a zero. Veja:

f(x) = 2x f(x) = 2x +3
f(4) = 2 · 4 = 8 2x +3 = 0
f(–4) = 2 · (–4) = –8 2x = –3
3
x=–
AFINS 2

Isso significa que x = – 3 deixa a função com a


Veja a função do tipo f(x) = ax + b. Chamaremos de
imagem igual a zero. Veja: 2
função de primeiro grau, onde a = coeficiente angular
e b = coeficiente linear. Essa função também é cha- 3
mada de função linear ou, então, de função afim. O f(–
) = 2x + 3
2
gráfico dessa função é uma reta. 3 3
O coeficiente angular dá a inclinação da reta. Se a f(– ) = 2(– ) + 3
2 2
> 0, a reta será crescente; e se a < 0, a reta, decrescen- 3
te. Já o coeficiente linear indica em que ponto a reta f(– ) = –3 + 3 = 0
2
do gráfico cruza o eixo das ordenadas (eixo y, ou eixo
f(x)). A seguir, verifique seus conhecimentos por meio
de alguns exercícios comentados.
258
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1. (FUNDATEC — 2020) Dois taxistas, Pedro e Aurélio, 4a = 8;
cobram suas corridas de maneiras distintas. Pedro utili- a = 2.
za a seguinte f(x) = 2,8x + 4,50 e Aurélio usa a g(x) = 3,20x Podemos, agora, encontrar o valor de b, usando a
+ 3,00, em que x é a quantidade de quilômetros rodados expressão b = 3a + 2:
e o resultado será o valor a ser cobrado. Supondo que b = 3 · 2 + 2;
Márcia quer fazer uma corrida de 8 km e fez orçamento b = 8.
com os dois, assinale a alternativa correta.
A lei dessa função, portanto, será:
f(x) = 2x + 8.
a) Indo com Pedro a economia será de R$ 1,70.
Para o ponto (x, 6), temos que o valor da função é
b) Indo com Aurélio a economia será de R$ 1,70.
c) Pedro cobra mais que Aurélio por corrida. f(x) = 6. Substituindo na expressão acima:
d) Aurélio cobra menos que Pedro por corrida. 6 = 2x + 8;
e) Ambos cobram o mesmo valor final. 6 – 8 = 2x;
–2 = 2x;
Pedro = 2,8 · 8 + 4,5 = R$ 26,90; x = –1. Resposta: Letra A.
Aurélio = 3,2 · 8 + 3 = R$ 28,60;
Aurélio – Pedro = R$ 1,70; 4. (FAURGS — 2017) Um vendedor recebe um salário
Indo com Pedro, Márcia economizará R$ 1,70. Res- mensal composto de um valor fixo de R$ 1.300,00 e
posta: Letra A. de uma parte variável. A parte variável corresponde a
uma comissão de 6% do valor total de vendas que ele
2. (FUMARC — 2016) Os gastos de consumo de uma fez durante o mês. O salário mensal desse vendedor
família são dados pela expressão pode ser descrito por uma expressão algébrica f(x),
em função do valor total das vendas mensal, represen-
C (r) = 2000 + 0,8 r tado por x.

em que r representa a renda familiar e C representa o A expressão algébrica f(x) que pode representar o
consumo mensal em reais. salário mensal desse vendedor é

Nessas condições, é correto afirmar que: a) f(x) = 0,06x + 1.300.


b) f(x) = 0,6x + 1.300.
c) f(x) = 0,78x + 1.300.
a) Se a renda aumentar em R$ 1.000,00, então o consu-
d) f(x) = 6x + 1.300.
mo aumentará em R$ 800,00.
e) f(x) = 7,8x + 1.300.
b) Se a renda diminuir em R$ 1.000,00, então o consumo
diminuirá em R$ 2.800,00.
c) Se a renda diminuir em R$ 500,00, então o consumo O vendedor recebe um valor fixo e uma comissão
também diminuirá em R$ 500,00. variável, conforme as vendas. O valor fixo é de R$
d) Se a renda dobrar seu valor, então o consumo também 1.300, ou seja, se temos uma função de primeiro
será dobrado. grau do tipo f(x) = ax + b, dizemos que b = 1.300.
A variável corresponde ao termo a · x; sendo x o
total de vendas, a comissão será de 6% de x, ou seja,
Vamos tomar como base o aumento de R$ 1.000 na
0,06x. Assim, o vendedor recebe:
renda:
f(x) = fixo + comissão variável;
C(r) = 2.000 + 0,8r;
f(x) = 1.300 + 0,06x. Resposta: Letra A.
C(1.000) = 2.000 + 0,8 · 1.000;
C(1.000) = 2.000 + 800 = 2.800;
Se a renda aumentar em R$ 1.000, então o consumo 5. (IDECAN — 2017) No depósito de uma loja de infor-
aumentará em R$ 800. Resposta: Letra A. mática encontram-se vários modelos de computado-
res. Dentre eles (2x + 8) apresentam disco rígido de
500 gb, outros (3x – 10) apresentam placa de vídeo. O
3. (IBFC — 2018) Os pontos de coordenadas (–3, 2) e (1,
número de computadores com os dois componentes
10) são elementos de uma função de primeiro grau.
é x, e o total de computadores é 74. O número de com-
Então para que o ponto (x, 6) seja um elemento dessa
putadores que apresentam apenas placa de vídeo é
função, o valor de x deve ser:
a) 22.
a) –1
b) 27.
b) 1
c) 28.
c) 2
d) 29.
d –2
Placa de vídeo = 3x – 10;
O ponto (–3,2) nos indica que, quando usarmos x =
Computador de 500g = 2x + 8.
–3, teremos f(x) = 2. Substituindo esses valores na
Total:
expressão acima:
MATEMÁTICA

(2x + 8) + (3x – 10) – x = 74;


2 = a · (–3) + b;
2x + 8 + 3x – 10 – x = 74;
b = 3a + 2.
4x – 2 = 74;
O ponto (1,10) nos indica que, quando x = 1, temos
x = 76 ÷ 4;
f(x) = 10. Substituindo na expressão: 10 = a · 1 + b.
x = 19.
Podemos substituir b por “3a +2” nessa última expres-
Apenas placa de vídeo:
são, como descobrimos anteriormente. Assim:
3x – 10 – x;
10 = a + (3a + 2);
3 · 19 – 10 – 19;
10 – 2 = 4;
57 – 10 – 19; 259
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47 – 19 = 28. Assim, podemos escrever a fórmula de Bhaskara:
28 possuem apenas placa de vídeo. Resposta: Letra
C. –b ! D
x=
2a
QUADRÁTICAS
O discriminante fornece importantes informações
As funções de segundo grau são representadas de uma função do 2º grau:
assim: f(x) = ax2 + bx + c, ou seja, são aquelas em que
as funções de variável x aparecem elevadas ao qua- z Se Δ > 0: a função possui duas raízes reais e
drado. Sabemos o seguinte: distintas;
z Se Δ = 0: a função possui duas raízes reais e
z a, b e c são os coeficientes da equação; idênticas;
z a é sempre o coeficiente do termo em x²; z Se Δ < 0: a função não possui raízes reais.
z b é sempre o coeficiente do termo em x;
z c é sempre o coeficiente ou termo independente. As funções de segundo grau têm um gráfico na for-
ma de parábola. Veja:
As funções de segundo grau têm duas raízes, isto f(x) = x2 – 3x + 2
é, existem dois valores de x que tornam a igualdade f(–2) = (–2)2 – 3(–2) + 2 = 12
verdadeira. f(–1) = (–1)2 – 3(–1) + 2 = 6
f(0) = (0)2 – 3(0) + 2 = 2
Cálculo das Raízes da Função Quadrática f(1) = 12 – 3 · 1 + 2 = 0
f(2) = 22 – 3 · 2 + 2 = 0
Vamos achar as raízes por meio da fórmula de f(3) = 32 – 3 · 3 + 2 = 2
Bhaskara. Basta identificar os coeficientes a, b e c e f(4) = 42 – 3 · 4 + 2 = 6
colocá-los na seguinte expressão: f(5) = 52 – 3 · 5 + 2 = 12

x= 2 - 12
-b ! b 4ac
2a 10

Veja o sinal ± presente na expressão acima. É ele 8


que permitirá obtermos dois valores para as raízes,
um valor utilizando o sinal positivo (+) e outro valor 6
utilizando o sinal negativo (–).
4
Vamos aplicar em um exemplo: calcular as raí-
zes da função f(x) = x2 – 3x + 2. Observemos o passo 2
a passo.
0
-2 -1 0 1 2 3 4 5
z Igualemos a zero;
x
„ x2 – 3x + 2 = 0.
Aqui, vale ressaltar que, quando “a < 0”, a parábola
z Identifiquemos os valores de a, b e c; tem concavidade para baixo, ou seja, a função terá um
ponto máximo que chamamos de “vértice”. Já quando
„ a = 1; “a > 0”, teremos a concavidade para cima e um ponto
„ b = –3; mínimo, também chamado de “vértice da função”.
„ c = 2.

z Substituindo na fórmula:
a>0 a<0
2
x = –b ! b – 4ac
2a
–(–3) ± √(–3)2 – 4 · 1 · 2 Concavidade para cima Concavidade para baixo
x=
2·1

3!9–8 Resumindo os tipos de gráficos olhando para o


x= valor de “a” e para o discriminante, temos:
2
3!1
x= a>0eΔ<0 a<0eΔ<0
2
3+1
x1 = =2 x
2
3-1
x2 = =1
2
x
As raízes da função f(x) = x2 – 3x + 2 são 1 e 2.
Na fórmula de Bhaskara, podemos usar um discri-
minante que é representado por “∆”. Seu valor é igual a:

260 ∆ = b2 – 4ac
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a>0eΔ=0 a<0eΔ=0 e) y = ax, com a ≠ 0, real

x Diretamente proporcional: quando aumenta y, obri-


gatoriamente aumenta x; quando diminui y, obriga-
toriamente diminui x.
x Já podemos eliminar as letras A, B e C — pois, quan-
do elevamos ao quadrado, todo número negativo
a>0eΔ>0 a<0eΔ>0 torna-se positivo, inviabilizando a proporcionalida-
de direta. Quando, multiplicando x, temos um termo
desconhecido negativo, o fato de sua negatividade
x o torna inversamente proporcional, então elimina-
x
mos a letra D. Nesse sentido, sobra apenas a alter-
nativa E. Resposta: Letra E.
Pontos de Máximo ou Mínimo
3. (VUNESP — 2016) Na equação 3x2 + 8x + a = 0, a
Esse ponto de máximo ou mínimo da função de 2º incógnita é x, e a é um número inteiro. Sabendo-se que
grau é chamado de vértice (xv, yv). Para calcularmos as o número (– 3) é raiz da equação, a outra raiz dessa
coordenadas dele, basta saber que: equação é

a) –7
Xv = –
b b) –2/5
2a c) 1/3
D d) 3/4
Yv = – e) 2
4a

No gráfico, fica: Usando a fórmula da soma das raízes, temos:


S = –b ÷ a;
y X1 + X2 = –b ÷ a;
X1 + (–3) = –8 ÷ 3;
V
yV X1 = –8 ÷ 3 + 3;
X1 = 1 ÷ 3. Resposta: Letra C.

XV 4. (FUNDATEC — 2015) A intersecção entre o gráfico das


0 0
xV funções y = f (x) = x2 – 6x – 8 e o gráfico da reta de coe-
yV x x
V ficiente angular 2 e coeficiente linear 1 ocorre quando:

Se a > 0, yv = Δ é o valor Δ é o valor


Se a < 0, yv = a) x = –9 e x = –1
a 4a b) x=1ex=9
mínimo da função máximo da função
c) x = –8 e x = 0
d) x = –1 e x = 9
Agora, verifique seus conhecimentos por meio de e) x = –9 e x = 1
alguns exercícios comentados.
Temos as equações:
1. (FUNDATEC — 2020) O valor mínimo da função de f (x) = x2 – 6x – 8 e f (x) = 2x + 1.
segundo grau f (x) =x2 –4x +1 é: Na interseção, é preciso igualar as funções para isso
acontecer. Então:
a) –10. x² – 6x – 8 = 2x + 1;
b) –7. x² – 8x – 9 = 0.
c) –6. Tirando as raízes pela soma e produto:
d) –5. S = –b ÷ a = –(–8) ÷ 1 = 8;
e) –3. P = c ÷ a = –9 ÷ 1 = –9.
Logo, x’ = –1 e x’’ = 9. Resposta: Letra D.
Mínimo da função de segundo grau se dá pelo yvértice.
yvértice = –Δ ÷ 4a; 5. (IBADE — 2018) Um automóvel tem seu consumo de
yv = –(b² – 4ac) ÷ 4a; combustível para percorrer 100 km estimado pela fun-
yv = –(16 – 4) 4 · 1; ção C(x) = 0,02x²-1,6 x + 42, com velocidade de x km/h.
yv = –(12) ÷ 4; Sendo assim, qual deve ser a velocidade para que se
yv = –3. Resposta: Letra E. tenha um consumo mínimo de combustível?
MATEMÁTICA

2. (VUNESP — 2019) Duas grandezas y e x, diretamente a) 55


proporcionais, são representadas, graficamente, por b) 35
uma função cuja expressão algébrica é: c) 50
d) 40
a) y = ax2 + bx + c, com a, b e c reais e a · b · c ≠ 0
b) y = ax2 + bx, com a e b reais e a · b ≠ 0 Como se quer descobrir a velocidade mínima, é
c) y = ax2, com a ≠ 0, real necessário calcular o xv (x do vértice):
d) y = ax + b, com a e b reais e a · b ≠ 0 Xv = –b ÷ 2a = –(–1,6) ÷ 2 · 0,02 = 40. Resposta: Letra
D. 261
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EXPONENCIAIS f(x) g(x)

A função f(x) = 2x é uma função exponencial. Perce- 9


ba que a variável x encontra-se no expoente. De modo 7
geral, representamos as funções exponenciais assim:
5
f(x) = ax. O coeficiente “a” precisa ser maior do que
zero e, também, diferente de 1. A função é crescente se 3
a > 1. Já se 0 < a < 1, a função é decrescente. 1
A função exponencial tem domínio no conjunto
dos números reais (R) e contradomínio no conjunto —5 —3 —1 —1
-1 1 3 5

dos números reais positivos, ou seja, f: R → R+*. Obser- —3


ve os gráficos das funções f(x) = 2x (crescente) e de g(x)
= 0,5x (decrescente): —5

f(x) g(x) Revise seus conhecimentos com os exercícios


comentados a seguir.
9

7 1. (CEBRASPE-CESPE — 2013) Tendo em vista que, em


5
determinado mês de 31 dias, a precipitação pluvial
média diária em uma localidade é representada, em
3 mm, pela função P(t) = 25𝒆−(𝒕−𝟏𝟔)², para t de 1 a 31,
1 julgue o item subsequente.

–5 –3 –1 –1
-1 1 3 5
A precipitação pluvial média no dia 1º foi igual ao
–3 dobro da ocorrida no último dia desse mês.
–5
( ) CERTO ( ) ERRADO

LOGARÍTMICAS Vamos substituir o primeiro (t = 1) e o último dia (t


= 31) na função dada; temos: e–
Antes de falarmos sobre função logarítmica, é inte- P(1) = 25𝑒−(1−16)²
ressante relembrar algumas propriedades importantes. P(1) = 25𝑒−(−15)²
Na expressão logab = c, chamamos o número “a” de P(1) = 25𝑒−225
base do logaritmo. Veja que o resultado do logaritmo P(31) = 25𝑒−(31−16)²
(c) é justamente o expoente ao qual deve ser elevada a P(31) = 25𝑒−(15)²
base “a” para atingir o valor b; assim, as propriedades P(31) = 25𝑒−225
mais importantes são: Veja que nesses dois dias os valores das precipita-
ções foram os mesmos. Resposta: Errado.
z logb 1 = 0 porque b0 = 1;
z logb b = 1 porque b1 = b; 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O número de Euler, nome
z logb bk = k porque bk = bk;
dado em homenagem ao matemático suíço Leonhard
z blogbM = M;
Euler, é um número irracional denotado por e, cuja
z loga (b · c) = loga b + loga c;
representação decimal tem seus 4 primeiros alga-
z loga (b ÷ c) = loga b – loga c;
rismos dados por 2,718. Esse número é a base dos
z loga bn = n · loga b;
z logam b = loga b. logaritmos naturais, cuja função f(x) = ln x = 𝑙𝑜𝑔𝑒x tem
inúmeras aplicações científicas.
A função f(x) = log5(x) é um exemplo de função loga-
rítmica. Veja que nela a variável x encontra-se dentro A respeito desse assunto, julgue os itens a seguir:
do operador logaritmo. De maneira geral, podemos
representá-las da seguinte forma: f(x) = loga(x). Assim, I. A função exponencial g(x) = ex, função inversa de ln
como nas exponenciais, o coeficiente “a” precisa ser x, é uma função crescente.
positivo (a > 0) e diferente de 1.
O domínio é formado apenas pelos números reais ( ) CERTO ( ) ERRADO
positivos — pois não há logaritmo de número nega-
tivo — e o contradomínio é o conjunto dos números
Como o número de Euler é maior do que 1, essa fun-
reais, ou seja, temos uma função do tipo f: R+* → R.
ção exponencial será crescente (a > 1). Resposta:
Se a > 1, a função é crescente; já se 0 < a < 1, a fun-
Certo.
ção é decrescente. Como exemplo, veja os gráficos de
f(x) = log2x e de g(x) = log0,5x:
II. A equação ln x = –4 tem uma única solução.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Desenvolvendo a equação, temos:


𝑙𝑛 𝑥 = –4
𝑙𝑜𝑔𝑒 𝑥 = –4
x = 𝑒−4
262 Logo, x assume um único valor. Resposta: Certo.
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III. Se a > 0 e ln a Є [10, 20), então ln a² Є [100, +∞). Isto é, o termo da posição 10 é o 19. Volte na
sequência e confira. Perceba que, com essa fórmula,
( ) CERTO ( ) ERRADO podemos calcular qualquer termo da PA. O termo da
posição 200 é:
Sabe-se que ln a² = 2 x ln a. Os valores de ln a² serão
o dobro dos valores do intervalo de ln a. Portanto: an = a1 + (n – 1) · r
se ln a está entre 10 e 20, o ln a2 estará entre 20 e 40. a200 = 1 + (200 – 1) · 2
Resposta: Errado.
a200 = 1 + 2 · 199
a200 = 1 + 398
a200 = 399
PROGRESSÕES ARITMÉTICAS E
GEOMÉTRICAS Soma do Primeiro ao N-ésimo Termo da PA

PROGRESSÃO ARITMÉTICA A fórmula a seguir nos permite calcular a soma dos


“n” primeiros termos de uma progressão aritmética:
Uma progressão aritmética é aquela em que os
termos crescem, sendo adicionados a uma razão cons- Sn = n $ (a1 + an)
tante, normalmente representada pela letra r. 2

Para entendermos um pouco melhor, vamos calcu-


z Termo inicial: valor do primeiro número que
lar a soma dos 7 primeiros termos do nosso exemplo
compõe a sequência;
z Razão: regra que permite, a partir de um termo, que já foi apresentado: {1,3,5,7,9,11, 13, ...}.
obter o seguinte. Já sabemos que a1 = 1, e n = 7. O termo an será, nes-
te caso, o termo a7, que observando na sequência é o
Observe o exemplo abaixo: número 13, ou seja, a7 = 13. Substituindo na fórmula,
temos:
{1,3,5,7,9,11,13, ...}
Sn = n $ (a1 + an)
2
Veja que 1 + 2 = 3, 3 + 2 = 5, 5 + 2 = 7, 7 + 2 = 9 e assim
sucessivamente. Temos um exemplo nítido de uma Pro- S7 = 7 $ (1 + 13)
gressão Aritmética (PA) com uma razão 2, ou seja, r = 2 e 2
termo inicial igual a 1. Em questões envolvendo progres-
sões aritméticas, é importante você saber obter o termo S7 = 7 $ 14
geral e a soma dos termos, conforme veremos a seguir. 2
98
Termo Geral da PA S7 = = 49
2

Trata-se de uma fórmula que, a partir do primei-


Dependendo do sinal da razão r, a PA pode ser:
ro termo e da razão da PA, permite calcular qualquer
outro termo. Temos a seguinte fórmula:
z PA crescente: se r > 0, a PA terá termos em ordem
an = a1 + (n – 1)r crescente.

Nesta fórmula, an é o termo de posição n na PA (o Ex.: {1, 4, 7, 10, 13, 16...} → r = 3;


“n-ésimo” termo); a1 é o termo inicial, r é a razão e n é
a posição do termo na PA. z PA decrescente: se r < 0, a PA terá termos em
Usando o nosso exemplo acima, vamos descobrir ordem decrescente.
o termo de posição 10. Já temos as informações que
precisamos: {1,3,5,7,9,11, 13, ...}. Ex.: {20, 19, 18, 17 ...} → r = –1;

z O termo que buscamos é o da décima posição, isto z PA constante: se r = 0, todos os termos da PA serão
é, a10; iguais.
z A razão da PA é 2, portanto r = 2;
z O termo inicial é 1, logo a1 = 1; Ex.: {7, 7, 7, 7, 7, 7, 7...} → r = 0.
z n, ou seja, a posição que queremos é a de número
10: n = 10. Dica
PA crescente: se r > 0;
MATEMÁTICA

Logo,
PA decrescente: se r < 0;
an = a1 + (n – 1) · r PA constante: se r = 0.
a10 = 1 + (10 – 1) · 2 Em uma progressão aritmética de 3 termos, o
a10 = 1 + 2 · 9 segundo termo ou o termo do meio é a média aritmé-
tica entre o primeiro e terceiro termo. Veja:
a10 = 1 + 18
a10 = 19 PA (a1, a2, a3)  a2 = (a1 + a3) ÷ 2
263
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PA (2, 4, 6)  4 = (2+6) ÷ 2  4 = 4 4 a1 + 6 · (–24) = 1.240
4 a1 – 144 = 1.240
Exercite seus conhecimentos com as questões a1 = 346
comentadas a seguir. Encontrando a4:
a4= 346 + (4 – 1) · r
1. (IBFC – 2015) O total de múltiplos de 4 existentes a4= 346 + 3r
entre os números 23 e 125 é: a4= 346 + 3 · (–24)
a4 = 274. Resposta: Letra D.
a) 25.
b) 26. 3. (CEBRASPE-CESPE – 2017) Em cada item a seguir é
c) 27. apresentada uma situação hipotética, seguida de uma
d) 28. assertiva a ser julgada, a respeito de modelos lineares,
e) 24. modelos periódicos e geometria dos sólidos.
Manoel, candidato ao cargo de soldado combatente,
O primeiro múltiplo de 4 neste intervalo é 24 e o últi- considerado apto na avaliação médica das condições
mo é 124. Veja que os múltiplos de 4 formam uma de saúde física e mental, foi convocado para o tes-
PA de razão igual a 4. Então, temos as seguintes te de aptidão física, em que uma das provas consiste
informações: em uma corrida de 2.000 metros em até 11 minu-
a1 = 24 tos. Como Manoel não é atleta profissional, ele pla-
an = 124 neja completar o percurso no tempo máximo exato,
r = 4 (podemos ir somando de 4 em 4 unidades para aumentando de uma quantidade constante, a cada
obter os múltiplos). minuto, a distância percorrida no minuto anterior.
Substituindo na fórmula do termo geral, vamos Nesse caso, se Manoel, seguindo seu plano, correr 125
encontrar a quantidade de elementos (múltiplos): metros no primeiro minuto e aumentar de 11 metros a
an = a1 + (n – 1)r distância percorrida em cada minuto anterior, ele com-
124 = 24 + (n – 1)4 pletará o percurso no tempo regulamentar.
124 = 24 + 4n – 4
124 – 24 + 4 = 4n ( ) CERTO ( ) ERRADO
104 = 4n
n = 26. Resposta: Letra B. Veja que no primeiro minuto ele percorre 125
metros, no segundo 125 + 11 = 136 metros, no ter-
2. (FCC – 2018) Rodrigo planejou fazer uma viagem em ceiro 125 + 2 · 11 = 147 metros, e assim por diante.
4 dias. A quantidade de quilômetros que ele percorrerá Estamos diante de uma progressão aritmética (PA)
em cada dia será diferente e formará uma progressão de termo inicial a1 = 125 e razão r = 11. O décimo
aritmética de razão igual a − 24. A média de quilôme- primeiro termo (correspondente ao 11º minuto) é:
tros que Rodrigo percorrerá por dia é igual a 310 km. an= a1 + (n – 1) · r
Desse modo, é correto concluir que o número de quilô-
a11 = 125 + (11 – 1) · 11
metros que Rodrigo percorrerá em seu quarto e último
dia de viagem será igual a a11 = 125 + 110 = 235 metros
A soma das distâncias percorridas nos 11 primeiros
a) 334.
minutos é dada pela fórmula da soma dos termos da PA:
b) 280.
c) 322. Sn = n $ (a1 + an)
d) 274. 2
e) 310. S11 = 11 $ (125 + 235)
2
Primeiro devemos achar o a1, para depois acharmos S11 = 11 $ 360
o a4. Devemos colocar tudo em função de a1, para 2
podermos substituir na média. Usando a fórmula S11 = 180 · 11
do termo geral:
r = –24 S11 = 1.980
an= a1 + (n – 1) · r A distância total percorrida é menor do que 2.000
Achando a1: metros. Logo, Manoel não completará o percurso no
a1 = a1 + (1–1) · r tempo regulamentar de 11 minutos. Resposta: Errado.
a1 = a1
Colocando a2 em função de a1: 4. (FCC – 2017) Em um experimento, uma planta recebe
a2= a1+ (2 – 1) · r a cada dia 5 gotas a mais de água do que havia recebi-
a2 = a1 + r do no dia anterior. Se no 65° dia ela recebeu 374 gotas
Colocando a3 em função de a1: de água, no 1° dia do experimento ela recebeu
a3= a1+ (3 – 1) · r
a3 = a1 + 2r a) 64 gotas.
Colocando a4 em função de a1: b) 49 gotas.
a4 = a1 + (4 – 1) · r c) 59 gotas.
a4 = a1 + 3r d) 44 gotas.
Substituindo na fórmula da média aritmética: e) 54 gotas.
(a1 + a2 + a3 + a4 ) ÷ 4 = 310
(a1+ a1 + r + a1 + 2r + a1 + 3r) ÷ 4 = 310
264 4 a1 + 6r = 310 · 4
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Já sabemos que a razão é r = 5 e que o a65 = 374, Soma do Primeiro ao N-ésimo Termo da PG
então, o a1 é dado por:
a65= a1 + (n – 1) · r A fórmula abaixo permite calcular a soma dos “n”
374 = a1 + (65 – 1)5 primeiros termos da progressão geométrica:
374 = a1 + 64 · 5
n
374 = a1 + 320 a1 · (q - 1)
Sn =
a1 = 54 gotas. Resposta: Letra E. q-1
Usando novamente o nosso exemplo e fazendo a
5. (CEBRASPE-CESPE – 2014) Em determinado colégio,
soma dos 4 primeiros termos (n = 4), temos: {2, 4, 8,
todos os 215 alunos estiveram presentes no primeiro
16, 32...}.
dia de aula; no segundo dia letivo, 2 alunos faltaram;
no terceiro dia, 4 alunos faltaram; no quarto dia, 6 alu- 4
2 · (2 - 1)
nos faltaram, e assim sucessivamente. S4 =
Com base nessas informações, julgue os próximos 2-1
itens, sabendo que o número de alunos presentes às 2 · (16 - 1)
S4 =
aulas não pode ser negativo. 1
No vigésimo quinto dia de aula, faltaram 50 alunos. 2 · 15
S4 = 1

( ) CERTO ( ) ERRADO S4 = 30

P.A. (215, 213, 211, 209,..., a25) Soma dos Infinitos Termos de uma Progressão
Geométrica
Termo Geral da P.A.
an= a1 + (n – 1) · r
Suponha que você corra 1000 metros, depois, você
a25 = 215 + (25 – 1) · (–2)
corra 500 metros, depois, você corra 250 metros e,
a25 = 215 + (24 · – 2)
depois, 125 metros — sempre metade do que você
a25 = 215 – 48 correu anteriormente. Quanto você correrá no total?
a25 = 167 alunos Observe que o que temos é exatamente uma progres-
Logo, 215 – 167 = 48 alunos ausentes. Resposta: são geométrica infinita, porém, essa PG é decrescente.
Errado. Quando temos uma PG infinita com razão 0 < q <
1, teremos que qn = 0. Entendemos, então, que quanto
PROGRESSÃO GEOMÉTRICA maior for o expoente, mais próximo de zero será. Por-
tanto, substituindo, teremos:
Observe a sequência a seguir:
a1 · (0 - 1)
S∞ =
{2, 4, 8, 16, 32...} q-1
a1
Cada termo é igual ao anterior multiplicado por 2. S∞ =
1-q
Esse é um exemplo típico de Progressão Geométrica,
ou simplesmente, PG. Em uma PG, cada termo é obti- Dica
do a partir da multiplicação do anterior por um mes-
mo número, o que chamamos de razão da progressão
Em uma progressão geométrica, o quadrado do
geométrica. A razão é simbolizada pela letra q. termo do meio é igual ao produto dos extremos.
No exemplo acima, temos q = 2 e o termo inicial é {a1, a2, a3}  (a2)2 = a1 · a3
a1 = 1. Da mesma maneira que vimos para o caso de Veja: {2, 4, 8, 16, 32...}
PA, normalmente, precisamos calcular o termo geral 82 = 4 · 16
e a soma dos termos. 64 = 64.

Revise o conteúdo visto com alguns exercícios


Termo Geral da PG
comentados.
A fórmula a seguir nos permite obter qualquer
1. (FUMARC – 2018) Se a sequência numérica repre-
termo (an) da progressão geométrica, partindo-se do
sentada por (6, a2, a3, a4, a5,192) é uma Progressão
primeiro termo (a1) e da razão (q):
Geométrica crescente de razão igual a q, então, é COR-
RETO afirmar que o valor de q é igual a:
an = a1 · qn-1
a) 2.
No nosso exemplo, o quinto termo, a5 (n = 5), pode b) 3.
MATEMÁTICA

ser encontrado assim: c) 4.


d) 8.
{2, 4, 8, 16, 32...}
a5 = 2 · 25-1 Vamos substituir os valores que já temos na fórmu-
a5 = 2 · 24 la geral da PG para acharmos a razão:
a5 = 2 · 16 an = a1 · qn-1
a5 = 32
a6 = a1 · q6-1
192 = 6 · q5 265
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192 ÷ 6 = q5 Então, o primeiro termo dessa progressão é:
32 = q5
a) Maior que 18.
q=
5
32 b) Maior que 15 e menor que 18.
c) Maior que 12 e menor que 15.
q = 2. Resposta: Letra A. d) Maior que 9 e menor que 12.
e) Menor que 9.
2. (IBFC – 2016) Se a soma dos elementos de uma P.G.
(progressão geométrica) de razão 3 e segundo termo Vamos usar a fórmula da soma da PG:
12 é igual a 484, então o quarto termo da P.G. é igual a:
n
a1 · (q - 1)
a) 324. Sn =
b) 36. q-1
n
c) 108. a1 · (3 - 1)
d) 216. 968 =
3-1
a1 · (243 - 1)
968 = 2
Temos que a2 = 12 e q = 3. Para calcularmos o quarto 1.936 = 242a1
termo, devemos usar a fórmula do termo geral da
PG. Veja: a1 = 1.936 ÷ 242
a4 = a2 · q4-2 a1 = 8. Resposta: Letra E.
a4 = 12 · 32
a4 = 12 · 9
a4 = 108. Resposta: Letra C.

3. (IDECAN – 2014) Observe a progressão geométrica ANÁLISE COMBINATÓRIA


(P.G.) e assinale o valor de y.
Para estudarmos probabilidade é necessário uma
P.G. = (y + 30; y; y – 60) boa base em noções básicas de contagem, ou seja, você
precisa saber muito bem o Princípio Fundamental da
a) +30. Contagem e é isso que vamos estudar agora.
b) +60. Primeiro, vamos aprender uma ferramenta impor-
c) –30. tante para o nosso estudo: fatorial.
d) –60.
e) –90. FATORIAL DE UM NÚMERO NATURAL

Em uma progressão geométrica, o quadrado do ter- Serve para facilitar e acelerar resolução de ques-
mo do meio é igual ao produto dos extremos. Logo: tões. Veja sua representação simbólica:
y² = (y + 30) · (y – 60)
y² = y² – 60y +30y – 1.800 Fatorial de N = n!
y² – y² +60y – 30y = –1.800
30y = –1.800 Sendo “n” um número natural, observe como
y = –1.800 ÷ 30 desenvolver o fatorial de n:
y = –60. Resposta: Letra D.
n! = n · (n-1) · (n-2) · ... · 2 · 1, para n ≥ 2
4. (FUNDATEC – 2019) A sequência (x-120; x; x+600) for- 1! = 1
ma uma progressão geométrica. O valor de x é:
0! = 1
a) 40.
b) 120. Exemplos:
c) 150.
d) 200. 3! = 3 · 2 · 1= 6
e) 250. 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24
5! = 5 · 4 · 3 · 2 · 1 = 120
Em uma progressão geométrica, o quadrado do ter-
mo do meio é igual ao produto dos extremos. Logo: Agora, veja esse outro exemplo:
x2 = (x – 120) · (x+600)
x2 = x2 + 600x – 120x – 72.000 Calcular 6!
x2 – x2 = 480x – 72.000 4!
480x = 72.000
x = 72.000 ÷ 480 Resolução:
x = 150. Resposta: Letra C. 6! 6·5·4·3·2·1 = 6 · 5 = 30
=
4! 4·3·2·1
5. (IESES – 2019) Em uma progressão geométrica de
razão r = 3 a soma dos 5 primeiros termos é igual a Poderíamos, também, resolver abrindo o 6! até 4! e
968. depois simplificar. Veja:
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6! 6·5·4! Então, resolvendo, teremos 5! = 5·4·3·2·1 = 120
4! = 6 · 5 = 30
=
4! maneiras de ordenar os livros na estante.
Agora, observe um outro exemplo:
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM Quantos são os anagramas da palavra CAJU?
Resolução:
Podemos, também, encontrar como princípio mul- Cada anagrama de CAJU é uma ordenação das
tiplicativo. Vamos esquematizar uma maneira que vai letras que a compõem, ou seja, C, A, J, U.
ser bem simples para resolvermos problemas sobre o
tema, observe o lembrete: CUJA ACJU
CAJU AUJC
z Identificar as etapas do enunciado; CAUJ CJUA ACUJ ...
z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
z Multiplicar. CUAJ CJAU AUCJ ...

Exemplo: para fazer uma viagem São Paulo-For- Desta maneira, o número de anagramas é 4! =
taleza-São Paulo, você pode escolher como meio de 4·3·2·1 = 24 anagramas.
transporte ônibus, carro, moto ou avião. De quantas
maneiras posso escolher os transportes? Dica
Resolução: usando o lembrete acima:
Anagrama é a ordenação de maneira distinta das
z Identificar as etapas do enunciado; letras que compõem uma determinada palavra.
z Escolher o meio de transporte para ida e para a
volta; Permutação com Repetição
z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
z Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ôni- Quantos anagramas tem na palavra ARARA? O
bus, carro, moto ou avião) e para a volta temos 4 problema é causado por conta da repetição de letras
possibilidades de escolha (ônibus, carro, moto ou na palavra ARARA.
avião); Veja que temos 3 letras A e 2 letras R. De maneira
z Multiplicar: tradicional, faríamos 5! (número de letras na palavra),
mas é preciso que descontemos as letras repetidas.
4 · 4 = 16 maneiras. Assim, devemos dividir pelo número de letras fatorial,
ou seja, 3! e 2!.
E se o problema dissesse que você não pode voltar
no mesmo transporte que viajou na ida. Qual seria a 5!
=
5·4·3! = 5·4
= 10
resolução? O desenvolvimento é o mesmo, apenas vai 3!·2! 3!·2·1 2
mudar na quantidade de possibilidades de escolhas
para voltar. Veja: Temos, então, 10 anagramas na palavra ARARA.
Resolução: usando o lembrete:
Dica
z Identificar as etapas do enunciado;
Na permutação com repetição devemos des-
z Escolher o meio de transporte para ida e para a
volta; contar os anagramas iguais, por isso dividimos
z Calcular todas as possibilidades em cada etapa; pelo fatorial do número de letras repetidas.
z Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ônibus,
carro, moto ou avião) e para a volta temos 3 possi- Permutação sem Repetição
bilidades de escolha (não posso voltar no mesmo
meio de transporte); Vamos imaginar que temos uma mesa circular com
z Multiplicar: 5 lugares e queremos ordenar 5 pessoas de maneiras
distintas. Observe as duas disposições das pessoas A,
B, C, D, e E ao redor da mesa:
4 · 3 = 12 maneiras.

PERMUTAÇÃO A E

Permutação Simples A
B D
E
Imagine que temos 5 livros diferentes para serem MESA MESA
ordenados em uma estante. De quantas maneiras é
possível ordenar? Para questões envolvendo permu-
MATEMÁTICA

tação simples, devemos encarar de um modo geral D C C B


que temos n modos de escolhermos um objeto (livro)
que ocupará o primeiro lugar, n-1 modos de escolher
um objeto (um outro livro) que ocupará o segundo Diante do conceito de permutação, essas duas
lugar, ..., 1 modo de escolher o objeto (um outro livro) disposições são iguais, ou seja, a pessoa A tem à sua
que ocupará o último lugar. Então, temos: direita E, e à sua esquerda B, e assim sucessivamente).
Modos de ordenar: Não podemos contar duas vezes a mesma disposição.
Repare ainda que, antes da primeira pessoa se sentar à
n · (n-1) · ... 1 = n! mesa, todas as 5 posições disponíveis são equivalentes.
267
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Isto porque não existe uma referência espacial (ponto foi a posição da Ana em relação à Clara. Assim, uma
fixo determinado). Nestes casos, devemos utilizar a fór- simples mudança na posição da ordem gera uma nova
mula da permutação circular de n pessoas, que é: possibilidade de posicionamento.

Pc (n) = (n-1)! COMBINAÇÃO

Em nosso exemplo, o número de possibilidades de Para entendermos esse tema, vamos imaginar
posicionar 5 pessoas ao redor de uma mesa será: que queremos fazer uma salada de frutas e precisa-
mos usar 3 frutas das 4 que temos disponíveis: maçã,
Pc(5) = (5-1)! = 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24 banana, mamão e morango. Cortando as frutas maçã,
banana e morango e depois colocando em um prato.
Agora cortando as frutas banana, morango e maçã
ARRANJO
para colocar em um outro prato.
Você percebeu que a ordem aqui não importou?
Imagine agora que quiséssemos posicionar 5 pes-
É exatamente isso, a ordem não importa e estamos
soas nas cadeiras de uma praça, mas tínhamos apenas
diante de um problema de Combinação. Será preciso
3 cadeiras à disposição. De quantas formas podería-
calcular quantas combinações de 4 frutas, 3 a 3, é pos-
mos fazer isso?
sível formar.
Para a primeira cadeira temos 5 pessoas disponí-
Para resolvermos é necessário usar a fórmula:
veis, isto é, 5 possibilidades. Já para a segunda cadei-
ra, restam-nos 4 possibilidades, dado que uma já foi n!
utilizada na primeira cadeira. Por último, na terceira C(n, p) = (n - p) !p!
cadeira, poderemos colocar qualquer das 3 pessoas
restantes. Observe que sempre sobrarão duas pessoas
em pé, pois temos apenas 3 cadeiras. A quantidade de Substituindo na fórmula, os valores do exemplo,
formas de posicionar essas pessoas sentadas é dada temos:
pela multiplicação a seguir:
4!
Formas de organizar 5 pessoas em 3 cadeiras = C(4, 3) =
(4 - 3) !3!
5 · 4 · 3 = 60 4·3·2·1
C(4, 3) =
1·3·2·1
O exemplo acima é um caso típico de arranjo sim-
ples. Sua fórmula é dada a seguir: C(4, 3) = 4

A(n, p) =
n! Dica
(n - p) !
No arranjo a ordem importa.
Na combinação a ordem não importa.
Lembre-se de que pretendemos posicionar “n” ele-
mentos em “p” posições (p sendo menor que n), e onde
a ordem dos elementos diferencia uma possibilidade Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
da outra. ria com exercícios comentados de diversas bancas.
Observe a resolução do nosso exemplo usando a Vamos lá!
fórmula:
1. (VUNESP – 2016) Um Grupamento de Operações
5! 5! Especiais trabalha na elucidação de um crime. Para
A(5, 3) = = = 5·4·3·2·1 = 60
(5 - 3) ! 2! 2·1 investigações de campo, 6 pistas diferentes devem
ser distribuídas entre 2 equipes, de modo que cada
equipe receba 3 pistas. O número de formas diferen-
Uma outra informação muito importante é que
tes de se fazer essa distribuição é
nos problemas envolvendo arranjo simples a ordem
dos elementos importa, ou seja, a ordem é diferente
de uma possibilidade para outra. Vamos supor que as a) 6.
5 pessoas sejam: Ana, Bianca, Clara, Daniele e Esme- b) 10.
ralda. Agora observe uma maneira de posicionar as c) 12.
pessoas na praça: d) 18.
e) 20.

CADEIRA 1ª 2ª 3ª Vamos descobrir o número de formas de escolher 3


OCUPANTE Ana Bianca Clara pistas em 6, visto que ao escolher 3 pistas, restarão
outras 3 pistas que vão compor o outro grupo de
Perceba que Daniele e Esmeralda ficaram em pé pistas. Dessa maneira, de quantas formas podemos
nessa disposição. escolher 3 pistas em um grupo de 6? Aqui a ordem
não é relevante, então, vamos usar a combinação:

CADEIRA 1ª 2ª 3ª C(6, 3) = 6!
= 6 · 5 · 4 · 3! =
6·5·4
=
6·5·4
=
(6 - 3) !3! 3!3! 3! 3·2·1
OCUPANTE Clara Bianca Ana
5 · 4 = 20. Resposta: Letra E.
A Daniele e a Esmeralda continuam de fora e a
Bianca permaneceu no mesmo lugar. O que mudou
268
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2. (IDECAN – 2016) Felipe é uma criança muito bagun- de possibilidades será dado pela combinação de 14
ceira e sempre espalha seus brinquedos pela casa. elementos, tomados um a um.
Quando vai brincar na casa da sua avó, ele só pode C(14,1) = 14 possibilidades.
levar 3 brinquedos. Felipe sempre escolhe 1 carrinho, Resposta: Letra D.
1 boneco e 1 avião. Sabendo que Felipe tem 7 carri-
nhos, 5 bonecos e 4 aviões diferentes, quantas vezes 5. (CEBRASPE-CESPE– 2018) Em um processo de coleta
Felipe pode visitar a sua avó sem levar o mesmo con- de fragmentos papilares para posterior identificação de
junto de brinquedos já levados antes? criminosos, uma equipe de 15 papiloscopistas deverá se
revezar nos horários de 8 h às 9 h e de 9 h às 10 h.
a) 100 vezes. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item a
b) 115 vezes. seguir.
c) 130 vezes. Se dois papiloscopistas forem escolhidos, um para aten-
d) 140 vezes. der no primeiro horário e outro no segundo horário, então
a quantidade, distinta, de duplas que podem ser forma-
das para fazer esses atendimentos é superior a 300.
Perceba que Felipe tem 7 carrinhos para escolher 1,
5 bonecos para escolher 1 e 4 aviões para escolher
( ) CERTO ( ) ERRADO
1, queremos formar grupos de 3 brinquedos, sendo
um de cada tipo. O total de possibilidades será dado
Quantos servidores há para escolher que ficará no
por: 7 · 5 · 4 = 140 possibilidades (conjuntos de brin-
1° horário? 15.
quedos diferentes). Resposta: Letra D.
Agora, já para escolher o que ficará no 2º horário,
temos apenas 14, pois um já foi escolhido para ficar
3. (CEBRASPE-CESPE – 2018) Em um aeroporto, 30 no 1º horário. Multiplicando as possibilidades = 15 ·
passageiros que desembarcaram de determinado 14 = 210. Resposta: Errado.
voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais
ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados
para ser examinados. Constatou-se que exatamente
25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou
em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6 PROBABILIDADE
desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
A teoria da probabilidade é o ramo da Matemáti-
Com referência a essa situação hipotética, julgue o ca que cria modelos que são utilizados para estudar
item que segue. experimentos aleatórios, ou seja, estimar uma previ-
são do resultado de determinado experimento.
A quantidade de maneiras distintas de se escolher 2
dos 30 passageiros selecionados de modo que pelo Espaço Amostral e Evento
menos um deles tenha estado em C é superior a 100.
Chamamos de espaço amostral o conjunto de todos
( ) CERTO ( ) ERRADO os resultados possíveis do experimento.
Imagine que você possui um dado e vai lançá-lo
Se 25 passageiros tiveram em A ou B e nenhum deles uma vez. Os resultados possíveis são: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6,
em C, então, C teve 5 passageiros (é o que falta para isso é o que chamamos de espaço amostral, ou seja, o
o total de 30). Vamos escolher 2 passageiros, de conjunto dos resultados possíveis de um determinado
modo que pelo menos um seja de C, teremos: experimento aleatório (não se pode prever o resul-
Podemos achar o total para escolha dos 2 passagei-
tado que será obtido, apenas podemos tentar achar
ros que seria:
algum padrão).
30 · 29 Agora, pense que você só tem interesse nos núme-
C30,2 = = 15.29 = 435
2 ros ímpares, isto é, 1, 3 e 5. Esse subconjunto do espa-
Agora, tiramos a opção de nenhum deles ser de C, ço amostral é o que chamamos de Evento – composto
que seria: apenas pelos resultados que são favoráveis. Conhe-
25 · 45 cendo esses dois conceitos, podemos chegar na fórmu-
C25,2 = = 25.12 = 300 la para calcular a probabilidade de um evento de um
2
determinado experimento aleatório, é o que podemos
Então, pelo menos um deles é de C, teremos:
chamar de probabilidade de um evento qualquer.
435 – 300 = 135.
Resposta: Certo.
Dica
4. (IBFC – 2015) Paulo quer assistir um filme e tem dis- Espaço amostral é igual a todas as possibilida-
ponível 5 filmes de terror, 6 filmes de aventura e 3 fil-
des possíveis e o evento é um subconjunto do
mes de romance. O total de possibilidades de Paulo
assistir a um desses filmes é de: espaço amostral.
MATEMÁTICA

a) 90. PROBABILIDADE DE UM EVENTO QUALQUER


b) 33.
c) 45. n (evento)
d) 14. Probabilidade do Evento =
n (espaço amostral)
Paulo tem disponível 14 filmes no total, 5 de terror, 6
de aventura e 3 de romance; e dentre esses 14 filmes
disponíveis tem que escolher um, portanto o total 269
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Na fórmula acima, n(Evento) é o número de ele- B: sair um número inferior a 4
mentos do subconjunto Evento, isto é, o número Para o evento A ser atendido, os resultados favo-
de resultados favoráveis; e n(Espaço Amostral) é o ráveis são 1, 3 e 5. Para o evento B ser atendido, os
número total de resultados possíveis no experimento resultados favoráveis são 1, 2 e 3. Vamos calcular rapi-
aleatório. damente a probabilidade de cada um desses eventos:
Por isso, costumamos dizer também que:
3 1
P(A) = = = 0,5 = 50%
número de resultados favoráveis
6 2
Probabilidade do Evento = 3 1
números total de resultados P(B) = = = 0,5 = 50%
6 2

Agora, voltando ao exemplo que apenas os núme-


E se caso tivéssemos o seguinte questionamento:
ros ímpares que nos interessam, temos: no lançamento de um dado, qual é a probabilidade
de obter um resultado ímpar, dado que foi obtido um
z n(Evento) = 3 possibilidades; resultado inferior a 4? Em outras palavras, essa per-
z n(Espaço Amostral) = 6 possibilidades. gunta é: qual a probabilidade do evento A, dado que o
evento B ocorreu? Matematicamente, podemos escre-
Logo, ver P(A/B) – leia “probabilidade de A, dado B”.
Aqui, já sabemos de antemão que B ocorreu. Por-
Probabilidade do Evento = 3 = 1 = 0,50 = 50% tanto, o resultado do lançamento do dado foi 1, 2 ou 3
6 2 (três resultados possíveis). Destes resultados, apenas
dois deles (o resultado 1 e 3) atendem o evento A. Por-
Se A é um evento qualquer, então 0 ≤ P(A) ≤ 1. tanto, a probabilidade de A ocorrer, dado que B ocor-
Se A é um evento qualquer, então 0% ≤ P(A) ≤ 100%. reu, é simplesmente:

2
P (A\B) = = 66,6%
3
Eventos Independentes
Uma outra forma de calculá-la é por meio da
Qual seria a probabilidade de, em dois lançamen- seguinte divisão:
tos consecutivos do dado, obtermos um resultado
ímpar em cada um deles? Veja que temos dois expe- P (A k B)
P (A\B) =
rimentos independentes ocorrendo: o primeiro lança- P (B)
mento e o segundo lançamento do dado. O resultado
do primeiro lançamento em nada influencia o resulta- A fórmula nos diz que a probabilidade de A ocor-
do do segundo. rer, dado que B ocorreu, é a divisão entre a proba-
Quando temos experimentos independentes, a bilidade de A e B ocorrerem simultaneamente e a
probabilidade de ter um resultado favorável em um e probabilidade de B ocorrer. Para que A e B ocorram
um resultado favorável no outro é feita pela multipli- simultaneamente (resultado ímpar e inferior a 4),
cação das probabilidades de cada experimento: temos como possibilidades o resultado igual a 1 e 3.
Isto é, apenas 2 dos 6 resultados nos atende.
P(2 lançamentos) = P(lançamento 1) · P(lançamento 2) Logo,

Em nosso exemplo, teríamos: 2 1


P (A∩B) = 6 = 3
P(2 lançamentos) =0,50 · 0,50 = 0,25 = 25%
Para que B ocorra (resultado inferior a 4), já vimos
Assim, a chance de obter dois resultados ímpares que 3 resultados atendem.
em dois lançamentos de dado consecutivos é de 25%. Portanto,
Generalizando, podemos dizer que a probabilidade
de dois eventos independentes A e B acontecerem é 3 1
P (A∩B) = =
dada pela multiplicação da probabilidade de cada um 6 2
deles:
Usando a fórmula acima, temos:
P (A e B) = P(A) · P(B)
1
Sendo mais formal, também é possível escrever P (A\B) =
P (A + B)
=
3 = 1 2 = 2 = 66,6%
·
P(A ∩ B) = P(A) · P(B), onde ∩ simboliza a intersecção P (B) 1 3 1 3
entre os eventos A e B. 2

PROBABILIDADE CONDICIONAL PROBABILIDADE DA UNIÃO DE DOIS EVENTOS

Neste tópico, vamos falar sobre um tema bem Dados dois eventos A e B, chamamos de A ∪ B
recorrente em questões de concursos. Imagine que quando queremos a probabilidade de ocorrer o even-
vamos lançar um dado, e estamos analisando 2 even- to A ou o evento B. Podemos usar a fórmula:
tos distintos:
270 A: sair um resultado ímpar P (A ∪ B) = P (A) + P (B) – P (A∩B)
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A fórmula pode ser traduzida como a probabilida- O “e” que aparece na pergunta é que determina a
de da união de dois eventos é igual a soma das pro- utilização da fórmula da interseção, pois queremos “a
babilidades de ocorrência de cada um dos eventos, probabilidade de sair um número ímpar e o número
subtraída da probabilidade da ocorrência dos dois 5”. Perceba que a ocorrência de um dos eventos não
eventos simultaneamente. interfere na ocorrência do outro. Temos, então, dois
Neste caso, quando temos A ∩ B = ϴ, ou seja, even- eventos independentes.
tos mutuamente exclusivos, tem-se que P (A ∪ B) = P Evento A: sair um número ímpar = {1, 3, 5};
(A) + P (B). Evento B: sair o número 5 = {5};
Imagine que você tem uma urna contendo 20 bolas Espaço Amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
numeradas de 1 a 20. Quando uma bola é retirada ao Logo,
acaso, qual é a probabilidade de o número ser múlti-
plo de 3 ou de 5? 3 1
Ora, veja que temos a palavra “ou” na pergunta e P(A) = =
6 2
isso nos remete à ideia de “união” dos eventos. Sen-
do assim, podemos extrair os dados para aplicar na 1
P(B) =
fórmula: 6
1 1 1
z P(A) = probabilidade de o número ser múltiplo de 3 P (A ∩ B) = P (A) · P (B) = · =
2 6 12

Múltiplos de 3 (3, 6, 9, 12, 15, 18) = 6 possibilidades Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
6 Vamos lá!
P(A) =
20
1. (CEBRASPE-CESPE – 2018) Em um grupo de 10
z P(B) = probabilidade de o número ser múltiplo de 5 pessoas, 4 são adultos e 6 são crianças. Ao se sele-
cionarem, aleatoriamente, 3 pessoas desse grupo, a
Múltiplos de 3 (5, 10, 15, 20) = 4 possibilidades probabilidade de que no máximo duas dessas pes-
soas sejam crianças é igual a
4
P(B) =
20
a) 1/6.
b) 2/6.
z P(A ∩ B) = probabilidade do número ser múltiplo c) 3/6.
de 3 e 5 d) 4/6.
e) 5/6.
Somente o número 15 é múltiplo de 3 e 5 ao mesmo
tempo. Basta calcular a probabilidade de vir 3 crianças (o
que a gente não quer). Depois subtrair de 1, para
1
P(A ∩ B) = obter os casos favoráveis.
20 6 5 4
Probabilidade de sortear 3 crianças: · · =
1 1 5 10 9 8
Aplicando na fórmula, temos: 1– = . Resposta: Letra E.
6 6 6
P (A ∪ B) = P (A) + P (B) – P (A ∩ B) 2. (VUNESP – 2017) Um centro de meteorologia infor-
6 4 1 6+4-1 9 mou ao CIPM que é de 60% a probabilidade de chuva
P (A ∪ B) = 20 + 20 - 20 = 20
=
20 no dia programado para ocorrer a operação. Mediante
essa informação, o oficial no comando afirmou que as
probabilidades de que a operação seja realizada nesse
PROBABILIDADE DA INTERSEÇÃO DE DOIS
dia são de 20%, caso a chuva ocorra, e de 85%, se não
EVENTOS houver chuva. Nessas condições, a probabilidade de
que a operação ocorra no dia programado é de
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral. A
probabilidade de A ∩ B é dada por: a) 59%.
b) 46%.
P (A ∩ B) = P (B\A) · P (A) = P (B) · P (A\B) c) 41%.
d) 34%.
Vale lembrar que P (B\A) é a probabilidade de e) 28%.
ocorrer o evento B, sabendo que já ocorreu o evento A
(probabilidade condicional). Se a probabilidade de chover é de 60%, então, a proba-
Se a ocorrência do evento A não interferir na pro- bilidade de não chover é de 40%. Para que a operação
MATEMÁTICA

babilidade de ocorrer o evento B, ou seja, forem inde- ocorra no dia programado, temos duas situações:
pendentes, a fórmula para o cálculo da probabilidade chove (60%) e ocorre a operação (20%) = 60% x 20%
da intersecção será dada por: = 12%
não chove (40%) e ocorre a operação (85%) = 40%
P (A ∩ B) = P (A) · P (B) x 85% = 34%
Somando as probabilidades desses dois cenários,
Imagine que você vai lançar dois dados sucessi- temos: 12% + 34% = 46%. Resposta: Letra B.
vamente. Qual a probabilidade de sair um número
ímpar e o número 5? 271
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3. (CEBRASPE-CESPE – 2019) A sorte de ganhar ou perder, Como queremos que seja escolhido um homem no
num jogo de azar, não depende da habilidade do jogador, sábado e um homem no domingo, multiplicamos as
mas exclusivamente das probabilidades dos resultados. 4 3 12 4
probabilidades: · = = .
Um dos jogos mais populares no Brasil é a Mega Sena, 9 8 72 24
que funciona da seguinte forma: de 60 bolas, numeradas 4
A questão é errada, pois não é igual ou maior
de 1 a 60, dentro de um globo, são sorteadas seis bolas. 4 24
À medida que uma bola é retirada, ela não volta para den- que . Resposta: Errado.
9
tro do globo. O jogador pode apostar de 6 a 15 números
distintos por volante e receberá o prêmio se acertar os
seis números sorteados. Também são premiados os
acertadores de 5 números ou de 4 números.
A partir dessas informações, julgue o item que se
ESTATÍSTICA BÁSICA
segue.
A probabilidade de a primeira bola sorteada ser um A apresentação de dados estatísticos por meio de
número múltiplo de 8 é de 10%. tabelas e gráficos fazem parte do ramo da Estatística
Descritiva. Esta tem por objetivo descrever um con-
( ) CERTO ( ) ERRADO junto de dados, resumindo as suas informações prin-
cipais. Para isso, as tabelas e gráficos estatísticos são
Múltiplos de 8: {0, 8, 16, 24, 32, 40, 48, 56, 64, 72...} ferramentas muito importantes.
Números da Mega Sena: 1 a 60.
Os múltiplos de 8 na Mega Sena são: 8, 16, 24, 32, 40, LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
48, 56, ou seja, 7 números. REPRESENTADOS EM TABELAS E GRÁFICOS
7
Logo = 11%. Resposta: Errado. Tabelas
60
4. (CEBRASPE-CESPE – 2017) Em um jogo de azar, dois Para descrever um conjunto de dados, um recurso
jogadores lançam uma moeda honesta, alternada- muito utilizado são tabelas, como essa a seguir, refe-
mente, até que um deles obtenha o resultado cara. O rente à observação da variável “Sexo dos moradores
jogador que detiver esse resultado será o vencedor. de São Paulo”:
A probabilidade de o segundo jogador vencer o jogo
logo em seu primeiro arremesso é igual a
VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)
2 Masculino 34
a) .
3
1 Feminino 26
b) .
2
1 Observe que na coluna da esquerda colocamos as
c) .
2 categorias de valores que a variável pode assumir, ou
1
d) . seja, masculino e feminino, e na coluna da direita colo-
8
camos o número de Frequências, isto é, o número de
3
e) . observações (ou repetições) relativas a cada um dos
4
valores. Veja, ainda, que foi analisada uma amostra de
Precisamos calcular a probabilidade do primei- 60 pessoas, das quais 34 eram homens e 26 mulheres.
ro jogador tirar coroa e o segundo jogador obter Estes são os valores de frequências absolutas. Pode-
1 mos, ainda, representar as frequências relativas (per-
cara. Probabilidade de o primeiro tirar coroa:
1 1 1 1 2 centuais): sabemos que 34 em 60 são 56,67%, e 26 em
e o segundo tirar cara: . Logo, · = . Res- 60 são 43,33%. Portanto, teríamos:
2 2 2 4
posta: Letra C.

5. (CEBRASPE-CESPE – 2017) Cinco mulheres e quatro VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS


homens trabalham em um escritório. De forma aleató- RELATIVAS (Fri)
ria, uma dessas pessoas será escolhida para trabalhar
Masculino 56,67%
no plantão de atendimento ao público no sábado. Em
seguida, outra pessoa será escolhida, também aleato- Feminino 43,33%
riamente, para o plantão no domingo.
Considerando que as duas pessoas para os plantões Note que a frequência relativa é dada por Fi / n,
serão selecionadas sucessivamente, de forma aleató- onde Fi é o número de frequências de determinado
ria e sem reposição, julgue o próximo item. valor da variável, e n é o número total de observações.
A probabilidade de os dois plantonistas serem homens Agora, vamos analisar uma tabela onde a variável
4
é igual ou superior a . pode assumir um grande número de valores distintos.
9
Vamos representar na tabela a variável “Altura dos
( ) CERTO ( ) ERRADO moradores de Campinas”:

Sábado: Há 4 homens possíveis, em 9 pessoas no VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)


4
total =
9 1,51m 12
Domingo: Há 3 homens possíveis, de 8 pessoas no
3 1,54m 17
272 total (uma já foi escolhida no sábado) =
8
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Utilizamos o gráfico de colunas ou barras justapos-
1,57m 4 tas para dados agrupados por valor ou por atributo.
1,60m 2 Vamos supor que estamos interessados nas idades de
alguns alunos. O gráfico relaciona as idades com as
1,63m 10 respectivas frequências.
1,67m 5 Idade X Frequência
1,75m 13 25

Frequência Absoluta Simples


1,81m 15 20

1,89m 2 15

Quando isto acontece, é importante resumir os 10


dados de maneira que fique mais fácil para uma leitu-
ra e interpretação da tabela. Na ocasião, vamos criar 5
intervalos que chamaremos de “Classes”.
0
20 23 27 30 33
CLASSE FREQUÊNCIAS (FI)
Agora suponha, por exemplo, que queremos saber
1,50 | – 1,60 33 a cidade natal de alguns alunos. Como algumas cida-
des possuem nomes muito grandes, poderíamos optar
1,60 | – 1,70 17
em usar um gráfico de barras justapostas. Veja:
1,70 | – 1,80 13
Cidade Natal X Frequência
1,80 | – 1,90 17
Salvador
O símbolo “|” significa que o valor que se encontra
ao seu lado está incluído na classe. Por exemplo, 1,50
| – 1,60 nos indica que as pessoas com altura igual a Florianópolis
1,50 são contadas entre as que fazem parte dessa clas-
se, porém as pessoas com exatamente 1,60 não são Rio de Janeiro
contabilizadas.
Veja novamente a última tabela, agora com a colu- São Paulo
na de frequências absolutas acumuladas à direita:
0 2 4 6 8 10 12 14

CLASSE FREQUÊNCIAS FREQUÊNCIAS AB-


(FI) SOLUTAS ACUMU- z Gráfico de Setores (ou de Pizza)
LADAS (FCA)
Esse gráfico tem a vantagem de mostrar rapida-
1,50 | – 1,60 33 33 mente a relação com o total de observações. Vamos
1,60 | – 1,70 17 50 supor que analisamos as notas trimestrais de alguns
1,70 | – 1,80 13 63 alunos. Veja como fica a disposição usando o gráfico
de pizza.
1,80 | – 1,90 17 80

A coluna da direita exprime o número de indiví-


duos que se encontram naquela classe ou abaixo dela.
Ou seja, o número acumulado de frequências do valor
mais baixo da amostra (1,50m) até o valor superior
daquela classe. Perceba que, para obter o número 50,
bastou somar 17 (da classe 1,60| – 1,70) com 33 (da
classe 1,50| – 1,60). Isto é, podemos dizer que 50 pes-
soas possuem altura inferior a 1,70m (limite superior
da última classe). Analogamente, 63 pessoas possuem
altura inferior a 1,80m.

Gráficos Estatísticos
Média de Notas Escolares Trimestrais
MATEMÁTICA

Uma outra maneira muito utilizada para a Estatís-


tica Descritiva são os gráficos. Vejamos a seguir alguns z Gráfico de Linha
tipos.
São mais utilizados nas representações de séries
z Colunas ou barras justapostas temporais. Vamos analisar a evolução de um ano para
o outro, se houve um crescimento ou um decréscimo
no número de alunos dentre as séries que estão em
evidência para estudo dentro da escola. Observe:
273
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Evolução anual no número de alunos do sétimo ao nono anos
35 X = X1+X2+ ⋯ +Xn
n
30
25
Veja um exemplo: calcular a média aritmética dos
20 números 5, 10, 15, 20, 50:
15
10 5+10+15+20+50 100
X= = = 20
5 5 5
.
0
2017 2018 2019 2020
A média aritmética é igual a 20.
sétimo ano oitavo ano nono ano

z Média Ponderada
Histograma
Para o cálculo da média aritmética ponderada (em
É muito utilizado na representação gráfica de que levamos em consideração os pesos de cada parte),
dados agrupados em classes (distribuição de fre- devemos multiplicar cada parte pelo seu respectivo
quências). Imagine que realizamos uma pesquisa peso, somar tudo e dividir pela soma dos pesos. Veja:
sobre os salários dos funcionários de uma empresa
de cosméticos e obtivemos a seguinte distribuição de X = X1P1+X2P2+ ⋯ +XnPn
frequências: P1+P2+ ⋯ +Pn

Interpretando a fórmula, temos uma lista de


SALÁRIOS EM FREQUÊNCIA números (x1, x2, x3, ..., xn) com pesos respectivos (p1, p2,
MILHARES DE REAIS p3, ..., pn), então, a média aritmética ponderada é dada
10 – 15 15 pela fórmula apresentada acima.
15 – 20 17
Veja um exemplo: um aluno prestou vestibular
20 – 25 13 para Engenharia e realizou provas de matemática,
25 – 30 7 Física, Química, História e Biologia. Suponha que o
peso de Matemática seja 4, de Física seja 4, de Química
Esses dados podem ser resumidos com um histo- seja 2, de História seja 1 e de Biologia seja 1. Suponha,
grama, como mostra o gráfico a seguir. ainda, que o estudante obteve as seguintes notas:

Salário dos Funcionários da Empresa de Cosméticos X Em MATÉRIAS NOTAS (XI) PESO (PI)
Milhares de Reais
18
16 Matemática 9,7 4
14 Física 8,8 4
12
10 Química 7,3 2
8
História 6,0 1
6
4 Biologia 5,7 1
2
0
(10 - 15) (15 - 20) (20 - 25) (25 - 30) Vamos calcular a média ponderada das notas des-
se aluno:
É importante destacar que a área de cada retângu-
lo é proporcional à frequência. 9,7 · 4 + 8,8 · 4 + 7,3 · 2 + 6,0 · 2 + 5,7 · 1
X=
4+4+2+1+1
MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL
38,8 + 35,2 + 14,6 + 6 +5,7
X=
Média 5

z Média Aritmética 100,3


X= = 20,06
5
A média aritmética é um valor que pode substituir
todos os elementos de uma lista sem alterar a soma
Mediana
dos elementos dessa lista. Considere que há uma lista
de n números (x1, x2, x3, ..., xn). A soma dos termos des-
Uma outra medida que estudamos em Estatística
ta lista é igual a (x1 + x2 + x3 + ... + xn). é a mediana (ou valor mediano), que é definida como
Para calcular a média aritmética de uma lista de número que se encontra no centro de uma série de
números, basta somar todos os elementos e dividir números, estando estes de forma organizada segundo
274 pela quantidade de elementos. Ou seja, um padrão. Ou seja, é o valor situado de tal forma no
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conjunto que o separa em dois subconjuntos de mes-
mo número de elementos. Veja os exemplos: 1,89 1

A: {2;2;3;8;9} = a mediana é 3. Na tabela acima, a maior frequência (15) está asso-


ciada à altura 1,77. Portanto, a moda é 1,77.
B: {1;5;5;7;8;9;9;9} = a mediana é a média entre os dois
termos centrais, ou seja, (7+8)/2 = 7,5.

Agora, observe esse outro exemplo e perceba que


os dados não estão ordenados. GEOMETRIA PLANA

C: {2;3;;7;6;6;8;5;5;5} POLÍGONOS E ÁREAS

Para acharmos a mediana é necessário ordenar Vamos considerar n (n ≥ 3) pontos ordenados A1,
os números primeiro e depois fazer a média entre os A2, ..., An. Consideremos também os n segmentos con-
dois termos centrais, pois o número de elementos é secutivos determinados por estes pontos (A1 A2 , A2 A3 ,
par. Vejamos: f, An A1) , de modo que não existam dois segmentos
consecutivos colineares. Definimos polígono como a
C: {2;3;3;5;5;5;6;6;7;8} = a mediana é a média entre reunião dos pontos dos n segmentos considerados.
os termos centrais, ou seja, (5+5)/2 = 10. Vejamos alguns exemplos:

Dica A

Moda: elemento(s) que mais aparece(m). D


Mediana: elemento central de um conjunto de
números.
� Se a quantidade de elementos for ímpar, então,
a mediana é o termo do centro. C
� Se a quantidade de elementos for par, então, B
a mediana será a média entre os dois elementos
centrais. K

Moda I

A moda é definida como sendo aquele valor ou


valores que ocorrem com maior frequência em um J
rol. É interessante saber que a moda pode não existir
e, quando existir, pode não ser única. Veja os exem- E
plos a seguir:
G
A: {1;1;2;3;3;4;5;5;5;7} = Mo = 5
B: {3;4;6;8;9;11} = não tem moda F

C: {2;3;3;3;5;6;6;7;7;7;8;9;10} = tem duas modas, ou seja, H


M1 = 3 e M2=7.
L M
Caminhando um pouco mais dentro do nosso Q O
estudo de Estatística, vejamos, agora, um exemplo de
quando temos os dados dispostos em uma tabela com
frequências e não agrupados em classes. Quando isso
acontece, a localização da moda é imediata, bastando
R P N
para isso, verificar na tabela, qual o valor associado à
maior frequência. Observe:
Polígonos.

ESTATURA (M) FREQUÊNCIA

1,53 3

1,64 7
MATEMÁTICA

1,71 10

1,77 15

1,80 5

1,81 2

275
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Região Poligonal
G
A região poligonal é a reunião do polígono com o
I
seu interior.

G H
F

A
F

J
D E B
Polígono côncavo.

Observação:

z em um polígono côncavo, a região poligonal é


C côncava.

Região poligonal. Nomenclatura dos Polígonos

Polígono Côncavo e Polígono Convexo Nomeamos os Polígonos de acordo com o número


n de lados:
Um polígono é convexo se, e somente se, qualquer
reta suporte, de um lado do polígono, deixar todos os z 1° caso: 3 ≤ n ≤ 9
outros lados em um mesmo semiplano dos dois que
ela determina. n = 3 — Triângulo
n = 4 — Quadrilátero
n = 5 — Pentágono
n = 6 — Hexágono
n = 7 — Heptágono
B n = 8 — Octógono
n = 9 — Eneágono

z 2º caso: n é múltiplo de 10
A
n = 10 — Decágono
n = 20 — Icoságono
C n = 30 ֫— Tricágono
n = 40 — Quadricágono
n = 50 — Pentacágono
n = 60 — Hexacágono

z 3° caso: n > 10 e n não é múltiplo de 10

E n = 11 — Unodecágono
D n = 17 — Heptdecágono
n = 26 — Hexaicoságono
n = 35 — Pentatricágono

Área de um Quadrado

Polígono convexo.
A área de um quadrado é dada pelo lado (L) ao
quadrado. Isto é, A = L2:
Observação:

z em um polígono convexo, a região poligonal é


convexa.

Por definição, um polígono que não é convexo é


côncavo
276
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B L C

h
L

B
H
L D
b
Área de um quadrado.
Área de um triângulo.
Área de um Retângulo
B
A área de um retângulo é dada pelo produto das
suas dimensões, comprimento vezes largura; ou seja,
base vezes a altura: A = b · h.

B C
h

Área de um triângulo retângulo.

b D A área de um triângulo retângulo também é dada


pelo produto da base pela altura, dividido por dois.
Área de um retângulo b·c
Desta forma, temos que A =
2
Área de um Paralelogramo
Área de um Losango
Á área de um paralelogramo é dada pelo produ-
to de uma base, ou seja, um lado, pela altura relativa, Á área de um losango é dada pelo semiproduto
D·d
isto é: A = b · h. das diagonais, isto é, A = , onde D é a diagonal
2
maior e d é a diagonal menor.
D

b
Área de um paralelogramo.
MATEMÁTICA

Área de um Triângulo

Temos duas situações no caso do cálculo da área


do triângulo.
A área de um triângulo qualquer é dada pelo pro-
duto da base pela altura, dividido por dois, que deno-
b·h
tamos como A = .
2
277
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B D

B
b

D Área de um trapézio retângulo.

Área do Círculo

Á área do círculo é dada pelo produto de π pelo


raio ao quadrado, ou seja, A = π · r2.

P
D

d r
C
Área de um losango.

Área de um Trapézio

Temos duas situações no caso do cálculo da área


do trapézio.
A área de um trapézio isósceles é dada pela soma
das bases (maior e menor) multiplicada pela altura,
^ b + Bh · h
Área de um círculo.

dividido por dois: A = .


2 PERÍMETROS
b
Quando nos referimos ao perímetro de um polí-
gono, estamos, na prática, indicando que nosso inte-
D resse diz respeito à soma dos lados deste. Portanto,
para calcular o perímetro de um polígono qualquer,
basta somar o valor dos lados.

h CIRCUNFERÊNCIA E CÍRCULO

z Circunferência: definimos circunferência como


o conjunto de todos os pontos de um plano, de
modo que a distância (r) a um ponto fixo é uma
B
constante positiva. A figura a seguir representa
uma circunferência λ, em que C é o centro (ponto
fixo), PC é um raio, com PC = r (constante positiva).
B

Área de um trapézio isósceles.

A área de um trapézio retângulo também é dada


pela soma das bases (maior e menor) multiplicada
P
pela altura, dividido por dois:

^ b + Bh · h
r
A= C
2

Circunferência λ.
278
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z Círculo: definimos círculo como o conjunto Perceba que o exercício nos fornece alguns dados: a
de todos os pontos de um plano cuja distância a hipotenusa é 5 m e um dos catetos vale 3 m, então preci-
um ponto fixo é menor ou igual a uma constante samos achar o valor do outro cateto. Sabemos que a² = b²
positiva. + c², então, substituindo os valores na fórmula temos que:

52 = 32 + x2 → 25 = 9 + x2 → 25 – 9 = x2 → x2 = 16 → x
= 16 → x = 4

Assim, concluímos que a distância x entre os pon-


P tos A e B corresponde a 4 metros.

r TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO


C
Consideremos um triângulo retângulo ABC, reto
em A. Os outros dois ângulos B e C são agudos e com-
plementares, isto é, B + C = 90º.
Para ângulos agudos, temos por definição:

TEOREMA DE PITÁGORAS

O Teorema de Pitágoras diz que em todo triângu-


lo retângulo, o quadrado da medida da hipotenusa é b
a
igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos.
Ou seja, o quadrado do lado oposto ao ângulo de 90°
é igual à soma dos quadrados das medidas dos lados
adjacentes ao ângulo de 90º. Colocando em fórmula
temos que: a² = b² + c². A c B
B Figura 1. Triângulo Retângulo ABC

cateto oposto a B B
sen B = =
hipotenusa A
a
c cateto oposto a C C
sen C = =
hipotenusa A

cateto adjacente a B C
cos B = =
A C hipotenusa A
b

Triângulo Retângulo ABC. cateto adjacente a C B


cos C = =
Vejamos um exemplo prático: você precisa cons- hipotenusa A
truir uma rampa com 3 metros de altura e com 5
metros de comprimento. Qual o valor, em metros, da cateto oposto a B B
distância x entre o ponto A e ponto B? tg B = =
cateto adjacente a B C
C
cateto oposto a C C
tg C = =
cateto adjacente a C B

3m 5m Observações:
MATEMÁTICA

z Os senos e cossenos de ângulos agudos são números


compreendidos entre 0 e 1, pois a medida do cateto é
sempre menor do que a medida da hipotenusa;
A B
X z O seno de um ângulo é igual ao cosseno do seu
complemento e reciprocamente:

sen x = cos (90º – x) e cosx = sen (90º – x)


279
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z No triângulo retângulo vale o Teorema de Pitágo-
ras: a2 = b2 + c2 GEOMETRIA ESPACIAL: ÁREAS E
VOLUMES
Exemplo: No triângulo retângulo a seguir, determine:
PRISMA
C
Vamos estudar os prismas retos, ou seja, aqueles
que têm as arestas laterais perpendiculares às bases.
Os prismas são figuras espaciais bem parecidas com
os cilindros. O que os difere é que a base de um pris-
3 ma não é uma circunferência.
O prisma será classificado de acordo com a sua
base. Por exemplo, se a base for um pentágono, o pris-
ma será pentagonal.

A 4 B

Figura 2. Triângulo Retângulo ABC, com catetos 3 e 4

z A hipotenusa BC
z Sen B Prisma triangular Prisma Prisma Prisma
z Cos B Pentagonal Hexagonal Quadrangular
z Tg B
z Sen C O volume para qualquer tipo de prisma será sem-
z Cos C pre o produto da área da base pela altura. Veja:
z Tg C
V = Ab · h
Para encontrar a hipotenusa, vamos aplicar o Teo-
rema de Pitágoras: A área total de um prisma será a soma da área late-
ral com duas bases.
z a2 = b2 + c2
a2 = 32 + 42 AT = Al + 2Ab
a2 = 9 + 16
a2 = 25 PIRÂMIDE
a = ± 25
A base de uma pirâmide poderá ser qualquer polí-
a=±5
gono regular, no caso estamos falando apenas de pirâ-
a=5
mides regulares.
Descartamos o valor negativo, pois estamos tratan-
do de medida e não existe medida negativa.

cateto oposto a B 3
� sen B = =
hipotenusa 5
Pirâmide Pirâmide Pirâmide
cateto adjacente a B 4 Triangular Quadrangular Pentagonal
� cos B = =
hipotenusa 5

cateto oposto a B 3
� tg B = =
cateto adjacente a B 4

cateto oposto a C 4
� sen C = =
hipotenusa 5
Pirâmide Pirâmide
Hexagonal Heptagonal
cateto adjacente a c 3
� cos C = =
hipotenusa 5 O segmento de reta que liga o centro da base a um
ponto médio da aresta da base é denominado “apó-
tema da base”. Por sua vez, indicaremos por “m”
cateto oposto a C 4 o apótema da base. E o segmento que liga o vértice
� tg C = = da pirâmide ao ponto médio de uma aresta da base
cateto adjacente a C 3
é denominado “apótema da pirâmide”. Indicaremos
por m′ o apótema da pirâmide. Veja:
280
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H H
m '

R C

A área da superfície lateral do cilindro é igual a


m k 2πrℎ e o volume do cilindro é o produto da área da
base pela altura: V = πr2 · ℎ.

Considere “k” a medida de um lado da base da CONE


pirâmide e considere “n” a quantidade de lados dessa
pirâmide. Mas se atente que a base não é um lado. Observe a figura a seguir:
Sabendo que um lado da pirâmide será sempre um
triângulo, temos que:
Altura
A área lateral da pirâmide é dada por:

(k·m’) Geratriz
Aℓ = n ·
2
A área total da pirâmide é dada por:

AT = Ab + Aℓ

O volume da pirâmide é calculado da mesma for-


ma que o volume do cone: 1/3 do produto da área da Base
base pela altura. Veja:
Vamos extrair algumas informações:
V = Ab $ h A base de um cone é um círculo, então a área da
3 base é πr2.
CILINDRO Quando “abrimos” um cone, temos seguinte figura:

Vamos estudar o cilindro reto cujas geratrizes são


perpendiculares às bases. Observe a figura a seguir:
G

base (círculo)
R

Geratriz
Temos, também, a área lateral que é dada pela fór-
mula πrg , onde “g” é o comprimento da geratriz do cone.
A distância entre as duas bases é chamada de altu- Para calcularmos o volume de um cone, basta
ra (h). Quando a altura do cilindro é igual ao diâmetro sabermos que equivale a 1/3 do produto entre a área
da base, o cilindro é chamado de equilátero. da base pela altura. Veja:

Cilindro equilátero: ℎ = 2r 2
rr h
V=
3
A base do cilindro é um círculo. Portanto, a área da
MATEMÁTICA

base do cilindro é igual a πr2. Em um cone equilátero a sua geratriz será igual ao
Perceba que se “desenrolarmos” a área lateral e diâmetro, ou seja, 2r.
“abrirmos” todo o cilindro, temos o seguinte:
ESFERA

Quando estamos estudando a esfera, precisamos


lembrar que tudo depende e gira em torno do seu raio,
ou seja, é o sólido geométrico mais fácil de trabalhar.
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c) 1.000 m².
d) 1.900 m².
e) 2.000 m².

A área de um quadrado é L². Inicialmente os lados


do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a
área seria A = 100² = 10.000 m². Porém, L foi regis-
trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% · 100 =
O raio é simplesmente a distância do centro da es- 90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8.100 m².
fera até qualquer ponto da sua superfície. Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
O volume da esfera é calculado usando a seguinte 10.000 – 8.100 = 1.900 m². Resposta: Letra D.
fórmula:
V= 4 3 3. (IDECAN – 2018) A figura a seguir é composta por
3 $ rr losangos cujas diagonais medem 6 cm e 4 cm. A área
E a área da superfície pela fórmula a seguir: da figura mede

A = 4 · πr2

A seguir, revise seus conhecimentos com alguns


exercícios comentados.

1. (VUNESP – 2018) Uma praça retangular, cujas medi-


das em metros, estão indicadas na figura, tem 160m
de perímetro.
a) 48 cm2.
b) 50 cm2.
c) 52 cm2.
d) 60 cm2.
× e) 64 cm2.

Sendo D e d as diagonais de um losango, sua área é


dada por:
Área = D · d / 2 = 6 · 4 / 2 = 12cm2
× + 20 Como ao todo temos 5 losangos, a área total é:
Figura fora de escala 5 · 12 = 60 cm2. Resposta: Letra D.

Sabendo que 70% da área dessa praça estão recobertos 4. (IBFC – 2017) A alternativa que apresenta o número
de grama, então, a área não recoberta com grama tem total de faces, vértices e arestas de um tetraedro é:

a) 450 m2. a) 4 faces triangulares, 5 vértices e 6 arestas.


b) 500 m2. b) 5 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas.
c) 400 m2. c) 4 faces triangulares, 4 vértices e 7 arestas.
d) 350 m2. d) 4 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas.
e) 550 m2. e) 4 faces triangulares, 4 vértices e 5 arestas.

Foi dado o perímetro dessa praça, que corresponde Um tetraedro é uma figura formada por 4 faces ape-
à soma de todos os lados. Logo: nas, veja:
2x + 2(x + 20) = 160
2x + 2x + 40 = 160
V
4x = 120
x = 30 m a
A área, portanto, será: a
Área = 30 · (30 + 20)
Área = 30 · 50 = 1500 m² C
Como 70% está recoberta por grama, 100 – 70 = 30%
não é recoberta. Logo: A
Área não recoberta = 0,3 · 1.500 = 450 m². Resposta: a
a
Letra A.
B
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Os lados de um terreno qua-
drado medem 100 m. Houve erro na escrituração, e ele foi
Temos 4 vértices A, B, C e V. Também sabemos que
registrado como se o comprimento do lado medisse 10%
temos 4 faces. O número de arestas pode ser conta-
a menos que a medida correta. Nessa situação, deixou-se
do ou, então, obtido pela relação:
de registrar uma área do terreno igual a
V+F=A+2
4+4=A+2
a) 20 m². A = 6 arestas. Resposta: Letra D.
282 b) 100 m².
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5. (VUNESP – 2018) Em um reservatório com a forma
ALCATRÃO (MG) FREQUÊNCIA
de paralelepípedo reto retângulo, com 2,5 m de com-
primento e 2 m de largura, inicialmente vazio, foram [10, 14) 2
despejados 4 m³ de água, e o nível da água nesse
reservatório atingiu uma altura de x metros, conforme [14, 18) 4
mostra a figura.
[18, 22) x

[22, 26) y

[26, 30] 2

Se a média de alcatrão na amostra foi de 20,4 mg,


× qual o valor de x-y ?

a) 6
h b) 8
c) 10
2
d) 12
e) 14
2,5
3. (CESGRANRIO — 2022) Em um determinado concur-
so, a nota final de cada candidato é calculada por
Sabe-se que para enchê-lo completamente, sem trans-
meio da média aritmética ponderada das notas de
bordar, é necessário adicionar mais 3,5 m³ de água.
quatro provas: Matemática, Português, Informática
Nessas condições, é correto afirmar que a medida da
e Inglês. A Tabela a seguir mostra os pesos de cada
altura desse reservatório, indicada por h na figura, é,
prova e as notas de um candidato em três delas, pois
em metros, igual a
ele desconhece sua nota na prova de Inglês.
a) 1,25.
Matemática Português Informática Inglês
b) 1,5.
c) 1,75. Nota 7 6 8 ?
d) 2,0.
e) 2,5. Peso 2 1 3 2

O volume total do reservatório é de 4 + 3,5 = 7,5m3. Supondo que esse candidato tenha recebido nota x na
Usando a fórmula para calcular o volume, ou seja, prova de Inglês, a sua nota final será dada por
Volume = comprimento · largura · altura
7,5 = 2,5 · 2 · h 44 + 2X
3=2·h a)
4
h = 1,5m. Resposta: Letra B.
21 + X
b)
8
22 + 2X
HORA DE PRATICAR! c)
4

1. (CESGRANRIO — 2021) Recentemente, a Organiza- 44 + X


d)
ção Mundial da Saúde (OMS) mudou suas diretrizes 8
sobre atividades físicas, passando a recomendar que 22 + X
adultos façam atividade física moderada de 150 a 300 e)
4
minutos por semana. Seguindo as recomendações
da OMS, um motorista decidiu exercitar-se mais e, 4. (CESGRANRIO — 2014) O Quadro abaixo apresenta o
durante os sete dias da última semana, exercitou- se, resultado de uma pesquisa de satisfação, em relação
ao todo, 285 minutos. Quantos minutos diários, em ao modo de transportes de uma determinada região,
média, o motorista dedicou a atividades físicas na com o total de pessoas para cada situação.
última semana?
TOTAL DE PESSOAS QUE USAM
a) Mais de 46 min
RODOVIÁRIO FERROVIÁRIO
b) Entre 44 e 46 min
c) Entre 42 e 44 min Satisfação Não 500 450
MATEMÁTICA

d) Entre 40 e 42 min
e) Menos de 40 min Sim 300 250

2. (CESGRANRIO — 2022) A Tabela abaixo representa De acordo com os dados dessa pesquisa, a probabili-
as frequências referentes aos resultados de alcatrão dade de uma pessoa
(mg) encontrados em cigarros sem filtro, a partir de
uma amostra de 30 cigarros selecionados de várias
marcas.
283
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
a) utilizar o modo rodoviário é de 53,3% e de utilizar o 8. (CESGRANRIO — 2018) Uma notícia disseminada nas
modo rodoviário e estar satisfeita é de 20%. redes sociais tem 2% de probabilidade de ser falsa.
b) utilizar o modo ferroviário é de 30% e de utilizar o Quando a notícia é verdadeira, um indivíduo reconhe-
modo ferroviário e estar satisfeita é de 16,7%. ce corretamente que é verdadeira. Entretanto, se a
c) utilizar o modo rodoviário é de 63,3% e de utilizar o notícia é falsa, o indivíduo acredita que é verdadeira
modo rodoviário e estar satisfeita é de 33,3%. com probabilidade p.
d) estar satisfeita é de 63,3%.
e) utilizar o modo ferroviário é de 36,7%. A probabilidade de esse indivíduo reconhecer corre-
tamente uma notícia disseminada nas redes sociais é
5. (CESGRANRIO — 2018) Em uma fábrica existem três
máquinas (M1, M2 e M3) que produzem chips. As a) 0,02p
máquinas são responsáveis pela produção de 20%, b) 1 - 0,02p
30% e 50% dos chips, respectivamente. Os percen- c) 0,98 + 0,02p
tuais de chips defeituosos produzidos pelas máqui- d) 0,02 - 0,02p
nas M1, M2 e M3 são 5%, 4% e 2%, respectivamente. e) 0,02 - 0,98p
Ao se retirar aleatoriamente um chip, constata-se que
ele é defeituoso; então, a probabilidade de ele ter sido 9. (CESGRANRIO — 2018) Observe, na Tabela abaixo, os
produzido pela máquina M1 é de, aproximadamente: tipos de pacotes de papel higiênico à venda em certo
mercado e a quantidade de rolos em cada pacote.
a) 0,025
b) 0,032 Pacotes Quantidade de rolos por pacote
c) 0,31
d) 0,55 Tipo 1 4
e) 0,78
Tipo 2 8
6. (CESGRANRIO — 2023) Uma moeda com faces cara Tipo 3 12
e coroa e um dado usual, com seis faces nume-
radas de 1 a 6, ambos honestos, serão lançados
simultaneamente. Ontem, foram vendidos três pacotes do tipo 1, dois do
tipo 2 e seis do tipo 3.
Qual é a probabilidade de o resultado do lançamento
ser coroa e um número par menor do que 6? Quantos rolos de papel higiênico foram vendidos
ontem?
a) 1
6 a) 24
5 b) 40
b) c) 72
6
d) 88
c)
1 e) 100
4
2 10. (CESGRANRIO — 2018) Com os elementos de A = {1, 2,
d) 3, 4, 5, 6}, podemos montar numerais de 3 algarismos
3
distintos.
1
e)
3 Quantos desses numerais representam números
7. (CESGRANRIO — 2018) Um banco lança um deter- múltiplos de 4?
minado fundo e avalia a rentabilidade segundo dois
cenários econômicos. a) 16
b) 20
O primeiro cenário é o de aumento da taxa de juros c) 24
e, nesse caso, a rentabilidade do fundo é certamente d) 28
positiva. e) 32
No segundo cenário, de queda ou de manutenção da
taxa de juros, a probabilidade de a rentabilidade do 11. (CESGRANRIO — 2022) Sejam a, b e c números reais
fundo ser positiva é de 0,4. Considere ainda que a pro- tais que a ≠ 0 e a < b < c.
babilidade de a taxa de juros subir seja de 70%.
É necessariamente verdadeiro que
A probabilidade de que a rentabilidade do fundo seja
positiva, é de a) a . b < b . c
b) b - a < c - b
a) 70% b c
c) <
b) 74% a a
c) 78% d) a . b < a . c
d) 82% e) a + b < a + c
e) 100%

284
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12. (CESGRANRIO — 2018) Considere o produto 6·0,2. 8
d)
15
Esse produto pode ser escrito como a fração
10
e)
6 21
a)
5 16. (CESGRANRIO — 2018) Em uma lanchonete, foram
5 produzidos 120 litros de refresco de laranja, adicio-
b) nando-se 30 litros de água a 90 litros de suco de
6
laranja. Em um restaurante, foi produzida uma quanti-
1 dade menor de refresco de laranja, segundo a mesma
c)
2 proporção usada na lanchonete, gastando- se apenas
12 15 litros de suco de laranja.
d)
100
Quantos litros de refresco de laranja foram produzi-
100 dos no total por ambos os estabelecimentos?
e)
12
a) 140
13. (CESGRANRIO — 2018) Em uma rede de distribuição b) 150
de gás verificou-se haver três vazamentos. As medi- c) 165
das estimadas do volumes de gás perdidos em cada d) 180
vazamento, até os reparos, foram 1,398 dam3, 1,45 e) 210
dam3 e 1,6 dam3.
17. (CESGRANRIO — 2023) Considere que, em média,
Em decâmetros cúbicos (dam3), a medida do maior dois funcionários de um banco atendam 80 clientes
vazamento excede a medida do menor vazamento em em um período de 5 horas. O banco deseja montar
uma equipe de funcionários para atender 500 clientes
a) 0,520 em, no máximo, 8 horas. Diante da média de atendi-
b) 0,392 mentos considerada e da intenção do banco, qual é o
c) 0,390 número mínimo de funcionários a serem utilizados na
d) 0,444 equipe?
e) 0,202
a) 5
14. (CESGRANRIO — 2018) Um professor de Matemática b) 7
escreveu no quadro a seguinte expressão: c) 8
d) 10
5 + 7 = 12 e) 20

Tal como foi apresentada, essa expressão é um exem- 18. (CESGRANRIO — 2023) Um carro partiu de um pon-
plo direto de que é FALSA a afirmação: to A até um ponto B andando com uma velocidade
constante de 80 km/h. Posteriormente o carro refez
a) A soma de dois números é maior ou igual ao dobro do o mesmo percurso, mas agora com velocidade cons-
menor número. tante igual a 100 km/h, e gastou 30 minutos a menos
b) A soma de dois números negativos é um número do que na primeira vez. Quanto tempo o carro levou
positivo. para ir do ponto A ao ponto B, na primeira vez?
c) A soma de dois números ímpares é par.
d) A soma de dois números ímpares é ímpar. a) 3h
e) A soma de dois números menores que dez pode ser b) 2h30min
maior que vinte. c) 2h
d) 1h50min
15. (CESGRANRIO — 2016) Uma determinada solução é a e) 1h30min
mistura de 3 substâncias, representadas pelas letras
P, Q e R. Uma certa quantidade dessa solução foi pro- 19. (CESGRANRIO — 2018) Na guerra do Golfo, em janei-
duzida, e sua massa é igual à soma das massas das ro de 1991, as forças iraquianas abriram as válvulas
três substâncias P, Q e R, usadas para compô-la. As de poços de petróleo e oleodutos ao se retirarem do
massas das substâncias P, Q e R dividem a massa da Kuwait. O volume de petróleo despejado foi estimado
solução em partes diretamente proporcionais a 3, 5 e em 770 piscinas olímpicas, causando o maior vaza-
7, respectivamente. mento deliberado de petróleo da história.
A que fração da massa da solução produzida corres-
ponde a soma das massas das substâncias P e Q uti- Sobre esse desastre ambiental, considere as seguin-
MATEMÁTICA

lizadas na produção? tes relações:

1 z Cada piscina olímpica tem 50 metros de com-


a)
2 primento, 25 metros de largura e 2 metros de
2 profundidade.
b) z 1 m3 equivale a 1000 litros;
3
z 1 barril de petróleo cru estadunidense (US bbl oil)
12 corresponde a, aproximadamente, 159 litros.
c)
35 285
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Qual foi a quantidade estimada, em barris de petróleo, a) 1
que foi despejada no Golfo Pérsico naquela ocasião? b) 3
c) 27
a) 16 mil d) 39
b) 190 mil e) 40
c) 1,6 milhões
d) 12 milhões 24. (CESGRANRIO — 2023) Um fabricante sabe que o
e) 120 milhões custo de produção de 1.000 pares de chinelos é de R$
8.800,00 e que o custo para a produção de 400 pares
20. (CESGRANRIO — 2023) é de R$ 4.900,00. Considere que o custo de produção
C(x) de x pares de chinelos é dado pela função defini-
da por C(x) = ax + b, em que b indica o custo fixo.

Sendo assim, o custo de produção de 2.000 pares de


chinelos, em reais, é igual a

Em cada uma das latas da Figura acima há apenas a) 24.500,00


lápis e borrachas. O número escrito em cada uma b) 17.600,00
dessas latas indica a quantidade total desses obje- c) 15.300,00
tos nela contidos. Uma dessas latas foi retirada e, d) 13.600,00
considerando-se apenas as quatro latas restantes, o e) 12.400,00
número total de lápis passou a ser o triplo do número
total de borrachas. 25. (CESGRANRIO — 2018) Um estudo revelou que o valor
da variável y = f(x), em milhares de reais, em função da
Considerando-se apenas as quatro latas restantes, o variável x, em milhares de peças, é dado pela função
número total de lápis existente nelas é igual a f(x) = Ax 2 + Bx + C, com x variando de 0 a 400. Consi-
dere que f(0) = 800, e f(100) = f (300) = 1.400.
a) 51
b) 48 Assim, o valor máximo que y pode assumir, em
c) 45 milhões de reais, é igual a
d) 42
e) 39 a) 1,2
b) 1,4
21. (CESGRANRIO — 2022) Para b ∈ R, considere a equa- c) 1,6
ção 2x + b = x2 - 2x - 4. d) 1,8
e) 2,0
A equação dada possui 2 raízes reais distintas quan-
do, e apenas quando, 26. (CESGRANRIO — 2023) A Figura abaixo é um esboço
da planta de um pequeno espaço comercial, que tem
a) b<8 o formato retangular e foi subdividido em quatro salas
b) b > -8 também retangulares. O ponto P está sobre a diago-
c) b = -8 nal AB. As áreas dessas salas estão indicadas nesse
d) b<0 esboço.
e) b ≠ -4

22. (CESGRANRIO — 2018) O quarto, o quinto e o sexto


termos de uma progressão aritmética são expressos
por x + 1, x 2 + 4 e 2x 2 + 3, respectivamente.

A soma dos dez primeiros termos dessa progressão


aritmética é igual a

a) 260
b) 265
c) 270
d) 275
e) 280
O valor de 2X + 3Y é igual a
23. (CESGRANRIO — 2017) A soma dos n primeiros ter- Y X
mos de uma progressão geométrica é dada por a) 4,8
3 n + 4 - 81 b) 5,0
Sn = 2x3 n .
c) 5,4
d) 6,0
Quanto vale o quarto termo dessa progressão e) 6,4
geométrica?

286
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27. (CESGRANRIO — 2016) Na Figura a seguir, PQ mede 6 30. (CESGRANRIO — 2022) Um laboratório possui dois
cm, QR mede 12 cm, RS mede 9 cm, e ST mede 4 cm. recipientes de vidro. O primeiro recipiente tem a forma
de uma esfera cujo raio mede R metros, e o segundo
tem a forma de um cone, cujo raio da base e cuja altu-
ra medem R metros.

A razão entre a medida do volume do recipiente


esférico e a medida do volume do recipiente cônico,
ambas dadas em metros cúbicos, é

a) 2
b) 3
c) 4
d) 6
e) 8

9 GABARITO

1 D
A distância entre os pontos P e T, em cm, mede
2 B
a) 17
3 E
b) 21
c) 18 4 A
d) 20
e) 19 5 C

6 A
28. (CESGRANRIO — 2018) Foram gastos 300 ladrilhos
para ladrilhar o piso de uma sala retangular. 7 D

Usando ladrilhos iguais para ladrilhar o piso de outra 8 B


sala retangular que, em comparação com a sala ante-
9 E
rior, tem o dobro da largura e o triplo do comprimento,
o número de ladrilhos que serão gastos é igual a 10 E

a) 200 11 E
b) 450
12 A
c) 1.500
d) 1.800 13 E
e) 5.400
14 D
29. (CESGRANRIO — 2018) Carlos e Eduardo estão em
15 D
um pátio circular e notaram que, se ambos estives-
sem sobre a circunferência que limita o pátio, então 16 A
a maior distância que um deles poderia ficar do outro
mediria 24 metros. Ao notarem isso, eles se dispuse- 17 C
ram em posições que realizam tal distância máxima.
18 B
Se Eduardo ficar parado em sua posição, e Carlos 19 D
caminhar até ele, pela circunferência do pátio, então,
a medida mínima do comprimento percorrido por Car- 20 B
los, em metros, será mais próxima de
21 B

22 D

23 A

24 C
a) 30 25 C
MATEMÁTICA

b) 15
c) 45 26 B
d) 38
27 A
e) 70
28 D

29 D

30 C
287
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ANOTAÇÕES

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A Regeneração também inovava ao propor a trans-
ferência da soberania – antes circunscrita ao rei – às
chamadas Cortes. As pressões exercidas pelas Cortes
constituídas fizeram com que D. João retornasse com

REALIDADE BRASILEIRA
sua família a Portugal, em abril de 1821, deixando,
entretanto, seu filho D. Pedro de Alcântara no Brasil.
A promulgação da Constituição proposta pela
Assembleia Constituinte de 1820 teria validade para
todos os portugueses, o que incluía os habitantes das
colônias portuguesas, inclusive na América. Algumas
FORMAÇÃO DO BRASIL
medidas, no entanto, causaram profundo desconfor-
CONTEMPORÂNEO to nos grandes comerciantes do Brasil que já estavam
acomodados sob os privilégios concedidos pela pre-
DA INDEPENDÊNCIA À REPÚBLICA sença da corte na colônia.
A presença da corte no Brasil (1808-1820) foi moldan-
Período Joanino do as consciências dos colonos a respeito da possibilida-
de de se constituir um governo real que permanecesse
Quando a corte portuguesa embarcou, fugindo estra- no Brasil. Assim, a ideia de independência começa a
tegicamente de Lisboa em novembro de 1807, o fez por- ganhar força por volta de 1821, como uma reação à Rege-
que tinha consciência dos acontecimentos recentes na neração de 1820, uma vez que esta era entendida como
Europa, em um momento em que o expansionismo de uma revolução contrária ao Brasil.
Napoleão Bonaparte parecia irrefreável. Com o conflito de interesses latente, os colonos que
Uma experiência ainda mais próxima de Portugal ganharam com a presença da corte reivindicavam um
acendeu para a monarquia o sinal vermelho e mos- governo no Brasil; a percepção da necessidade de um
trou que os prognósticos eram corretos: o rei espa- Estado Nacional brasileiro evoluiu, o que foi a grande
nhol, Fernando VII, foi deposto do trono por Napoleão, novidade revolucionária. Foi nessa configuração que
em maio de 1808. entrou a figura do príncipe regente, futuro D. Pedro I.
A fuga da corte portuguesa foi um sucesso em Outra determinação polêmica das Cortes era que
curto prazo; contudo, a longo prazo ocasionou uma as províncias do Brasil se transformassem em pro-
quebra de legitimidade do Império português em um víncias portuguesas, o que gerou, segundo comenta
momento em que os ares eram revolucionários. D. Pedro em carta a seu pai, “um choque mui grande
A presença da corte no Brasil causava incômodo nos brasileiros”. O que o príncipe regente precisava
em algumas parcelas da população; o exemplo mais fazer era equilibrar-se em um cenário instável, no
evidente desse desconforto foi a Revolução Pernam- qual havia a necessidade de se cumprir os decretos
bucana, que estourou na província de Pernambuco, das Cortes ao mesmo tempo em que era necessário
em 1817. Antes da chegada da corte, em 1808, essa corresponder os interesses do povo do território no
província ligava seu comércio diretamente a Portugal, qual ele se encontrava.
posto que as dificuldades logísticas – como rotas ter- Enquanto as Cortes foram convocadas com a fina-
restres ou fluviais – impediam o estabelecimento de lidade de reorganizar o Império Português dentro da
relações com o Rio de Janeiro. Somava-se ao fim des- dinâmica colonial, os colonos agrupavam-se cada vez
ses benefícios concedidos ao comércio pernambucano mais em torno da ideia de separação.
um período de graves secas e crises de abastecimento. Já em 1822, o príncipe regente também recebia
O movimento revolucionário pautava a necessi- pressões a fim de que retornasse a Portugal, o que
dade de se combater a crise e recuperar os benefícios gerou um episódio bastante curioso no dia 9 de janei-
comerciais, assim como a possibilidade de se romper ro de 1822, o “Dia do Fico”. Naquele dia, D. Pedro rece-
com a monarquia. Em partes, e por um curto período, os beu um requerimento que continha 8 mil assinaturas
revoltosos – homens livres, escravizados, ricos e pobres solicitando-o que ficasse no Brasil. Não se sabe quais
– saíram vitoriosos, uma vez que conseguiram destituir foram as verdadeiras palavras proferidas pelo jovem
o governo de Pernambuco e instalar brevemente uma príncipe regente; contudo, consagrou-se na memória
república; entretanto, foram violentamente reprimidos social a perspectiva de que ele ficaria a fim de preser-
com prisões e condenações em praça pública. var os interesses da população brasileira.
Na Europa, cessada a agitação política entre portu- Um governo foi organizado por D. Pedro logo após
gueses e franceses, a soberania lusa conseguiu, enfim, esse evento, tendo figuras proeminentes, como José
gozar de certa estabilidade, e um forte movimento de Bonifácio de Andrada e Silva, um moderado que fazia
pressões pôde ecoar a fim de que D. João retornasse campanhas por maior autonomia da colônia, mas não
REALIDADE BRASILEIRA

a Portugal. A relutância do rei em retornar causava reivindicava uma separação radical. Foram convoca-
indignação na população lusa, em um momento no dos representantes de todas as províncias e, mais tar-
qual a metrópole passava por uma grave crise de pro- de, uma assembleia legislativa e constituinte.
dução agrícola e de desvalorização do papel moeda. Já a politização da sociedade colonial, com a chegada
Essa agitação culminou na chamada Revolução Libe- da corte em 1808, deu-se em conteúdos bastante inova-
ral do Porto, também conhecida como Regeneração de dores. Aspectos da ainda recente Revolução Francesa
1820. O prolongamento da ausência régia na metrópole (1779) estavam em alta, sobretudo na crítica ao mode-
evidenciou que o “exercício da exclusiva vontade do rei” lo estamental de sociedade, procurando novas formas
não era mais cabível. Assim, profissionais liberais, advo- organização da sociedade, e também na crítica aos pri-
gados, médicos e comerciantes reuniram-se na cidade do vilégios da nobreza e dos corpos sociais mais altos.
Porto a fim de redigirem uma Constituição que, embora Depois da revolução de independência do Haiti
conservadora, propunha a limitação do poder do monar- (1804), esses conteúdos se tornaram inescapáveis. Era
ca e sua submissão à carta constitucional. preciso apropriar-se de alguns elementos e fazer uma 289
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revolução menos radical que a francesa e bem menos z Existência do poder moderador, que poderia sus-
radical que a de São Domingos, que fora liderada por pender os poderes legislativo, executivo e judiciário;
escravos que, em alguns dias, dizimaram os senhores z Poder hereditário;
de engenho e suas famílias para formar um governo z Voto censitário, calculado pela renda.
antiescravista, consolidado em 1804.
Esse movimento era muito temido na perspectiva Em reação ao autoritarismo, eclodiu, em Pernambu-
das elites coloniais brasileiras. A escravidão foi um
co, a Confederação do Equador, que exigia uma repú-
elemento importante: a dimensão do escravismo na
blica liberal, a abolição da escravidão e a ampliação
América Portuguesa era tão grande que foi capaz de
dos direitos sociais. Esse movimento teve como prin-
influenciar todos os outros aspectos da vida social,
como valores, formas de pensar, comportamento e cipal líder Frei Caneca, mas acabou sendo reprimida.
práticas políticas.
A independência, nesse sentido, mudou a forma de
compreender a sociedade: não era mais uma socieda-
de estamental legitimada por Deus, embora o rico ain-
da fosse rico, mas agora havia um parlamento; assim,
a escravidão tornou-se uma escravidão nacional, e
não mais portuguesa.
A chegada da corte também dinamizou fluxos eco-
nômicos internos, graças à necessidade de abasteci-
mento. Em verdade, essa dinâmica e a diversificação
da produção era anterior à chegada da corte, mas se
intensificou a partir de 1808. O Rio de Janeiro foi um
epicentro que conectou São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande de São Pedro (atualmente Rio Grande do Sul),
tanto é que essas foram as primeiras regiões a encam- O fuzilamento de Frei Caneca.
parem o projeto de independência centrada na figura
de Pedro I, justamente por esses auspícios econômi- Fonte: Meio Norte.
cos, mas também políticos.
Entre 1825 e 1828, ocorreu a Guerra da Cisplatina
entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do
Rio da Prata. Após um desgastante e custoso conflito
(o Banco do Brasil chegou a falir), a independência do
Uruguai foi reconhecida.
A instabilidade política também podia ser veri-
ficada em episódios como a Noite das Garrafadas,
demonstrando a grande divergência entre brasileiros
e portugueses. Juntava-se a isso a crise econômica e a
disputa pela sucessão do trono em Portugal, levando
D. Pedro I à abdicação do trono em 7 de abril de 1831.

Período Regencial
Independência ou morte, Pedro Américo.

Segundo a Constituição de 1824, a abdicação de D.


Fonte: Wikimedia Commons.
Pedro I levaria ao trono seu filho D. Pedro II. No entanto,
Durante 1822, houve diversos movimentos de oposi- ele tinha apenas cinco anos de idade naquela ocasião.
ção a Portugal, principalmente no Grão-Pará e na Bahia. Então, o Parlamento buscou uma alternativa: a regência.
Entre diversas tendências, venceu aquela que defendeu O período regencial durou de 1831 até 1840 e foi
a construção de um Estado independente que mantives- marcado por grandes conflitos regionais. Os grupos
se a escravidão e o poder das elites econômicas. políticos dividiam-se em:
Assim, a liderança de D. Pedro em 7 de setembro de
1822 era a garantia mais próxima da unidade em uma z Restauradores: Defendiam o retorno de D. Pedro I
imensa porção de terra marcada por regionalismos e, posteriormente, a coroação de D. Pedro II;
e profundas diferenças sociais, pois as elites temiam z Liberais moderados: Exigiam poderes monárqui-
que uma agitação social incluísse pobres e escraviza- cos com restrições;
dos (que somavam 80% da população). z Liberais exaltados: Favoráveis ao federalismo,
com maior autonomia das províncias.
Primeiro Reinado
Durante o período, foram criados: o Código de Pro-
Entre 1822 e 1831, tem-se a primeira fase adminis-
cesso Criminal, a Guarda Nacional, o Ato Adicional
trativa do Império, conhecida como Primeiro Reina-
do. A Assembleia Constituinte eleita em 1823 desejava (dando poder às assembleias regionais) e a Lei Feijó
a limitação dos poderes de D. Pedro I. (que abolia o tráfico no papel, mas fazia “vista grossa”
Durante a “Noite da Agonia”, o imperador cassou os para que ele ainda existisse na prática).
deputados opositores, impugnou as proposições consti- A instabilidade política acentuou-se com a eclosão
tucionais e outorgou a Primeira Constituição Brasileira, de diversos movimentos separatistas nas províncias
290 em 1824. Ela estabelecia, entre outras coisas: do país. Entre eles, destacam-se:
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Cabanada (1832-34, Pernambuco): Lutou pela res- O Império começou a sofrer com a legislação inter-
tauração da monarquia sob comando de D. Pedro I nacional inglesa para a proibição do tráfico, o que o
e pelo fim da escravidão; levou a aprovar duas medidas: a Lei Eusébio de Quei-
z Cabanagem (1835-40, Grão-Pará): Exigiu melhores rós (que extinguia o tráfico atlântico de escravos) e a
condições de vida para a população da região. Viti- Lei de Terras (que postulava que a terra só poderia
mou cerca de 30 mil pessoas; ser adquirida por meio de compra, excluindo futuros
z Revolução Farroupilha (1835-45, Rio Grande do escravizados libertos e os imigrantes europeus que
Sul): Pregou a independência do estado e o desejo começaram a vir para o país).
de melhores condições para os criadores de gado; Em 1864, teve início a Guerra do Paraguai, inicia-
z Sabinada (1837-38, Bahia): Lutou pela indepen- da a partir da intervenção brasileira sobre os gover-
dência da Bahia e pelo fim da escravidão; nos do Uruguai e da Argentina, o que foi contra os
z Balaiada (1838-41, Maranhão): Colocou-se contra interesses paraguaios na Bacia Platina. Em resposta,
a desigualdade social e contra as injustiças come- os paraguaios invadiram o atual Mato Grosso do Sul.
tidas pelas elites. A guerra opôs os paraguaios, liderados pelo ditador
Solano Lopez, à Tríplice Aliança, formada por Brasil,
Preocupando-se em garantir a unidade do territó- Argentina e Uruguai. No entanto, o Brasil acabou indo
rio, liberais e conservadores (antigos restauradores) bem mais além que os outros dois países, arrastando a
fizeram uma manobra constitucional e aclamaram D. guerra até o assassinato de Lopez em 1870. Mesmo vito-
Pedro II por meio do golpe da maioridade (1840). rioso, o Brasil passou a enfrentar um processo de crise.

Segundo Reinado (1840-1889)

Representação feita, em 1882, por Victor Meirelles sobre a Batalha


do Riachuelo travada durante a Guerra do Paraguai.

Fonte: Wikimedia Commons.

Crise da Monarquia e Proclamação da República

D. Pedro II em 1876. O conflito levou ao surgimento da Questão Militar,


envolvendo os direitos sociais e políticos dos militares.
Fonte: Wikimedia Commons. Com o surgimento do Partido Republicano, em 1873,
uma ala mais radical do Partido Liberal passou a con-
Com o golpe da maioridade, teve início o período testar a centralização monárquica. O movimento aboli-
conhecido como Segundo Reinado, que se estendeu cionista ganhava cada vez maior repercussão em busca
até 1889. Por meio de uma manobra conhecida como da aprovação de leis que dessem fim à escravidão.
“parlamentarismo às avessas”, D. Pedro II exercia Ademais, houve uma quebra no elo com os conser-
poder sobre a Chefia de Gabinete e sobre o Parlamento. vadores, quando o Império passou a recusar as inter-
Embora o legislativo fosse dividido entre o Par-
venções do Vaticano sobre a Igreja no Brasil, episódio
tido Conservador (saquaremas) e o Partido Liberal
conhecido como Questão Religiosa.
(luzias), ambos tinham posições semelhantes, como a
O rompimento definitivo viria com o fim da escra-
manutenção da escravidão e a centralização de poder
vidão. A partir da Lei do Ventre Livre, em 1871, e da
REALIDADE BRASILEIRA

pelo imperador.
Lei dos Sexagenários, em 1883, a abolição pareceu
O Segundo Reinado foi marcado também por uma
inevitável. No entanto, os escravocratas radicalizaram
fase de desenvolvimento econômico. O sucesso do ciclo
sua oposição aos abolicionistas a partir de 1885, proi-
do café (1830-1950) foi possível pelo fortalecimento da
bindo seus eventos e organizando ataques.
Inglaterra e dos Estados Unidos como mercados consu-
Diante da iminência de uma guerra civil, o Império
midores, além de algumas condições internas:
decidiu mediar o fim da escravidão com a Lei Áurea,
em 13 de maio de 1888, o que fez com que perdesse o
z Abertura de caminhos que ligavam o litoral ao inte-
rior passando pelo Vale do Paraíba; apoio dos cafeicultores do Vale do Paraíba, que fica-
z Disponibilidade de terras herdadas da política de ram conhecidos como “republicanos de última hora”.
vigilância na época do ouro; Por fim, um golpe militar com o apoio de setores civis
z Sistema de transporte modernizado com a instala- realizou a Proclamação da República, em 1889.
ção das ferrovias a partir de 1860. 291
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PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A
POLÍTICA DA ECONOMIA CAFEEIRA

Com a Revolução Industrial, a Inglaterra tornou-se


uma importante consumidora de café, que era utilizado
como estimulante para os seus trabalhadores. Até o sécu-
lo XVIII, a principal produtora da bebida era a colônia
francesa de São Domingo. Com o processo revolucioná-
rio que culminou na independência do Haiti, em 1804,
e a consequente retirada do principal produtor, houve
um impacto nas demais zonas produtoras mundiais. O
deslanche cafeeiro, no Brasil, a partir do final da década
de 1820, aconteceu por alguns legados da economia aurí-
fera. Dentre estes, destacam-se:

z um volumoso tráfico negreiro transatlântico entre Fonte: E. M. Newman/Wikimedia Commons.


os portos da África Central e o Rio de Janeiro (con-
trolado pelos negociantes); Na década de 1870, durante os períodos da “expan-
z a abertura de vias que cruzavam o Vale do Paraíba; são para o Oeste” e da “reconstrução”, os Estados
z a grande disponibilidade de terras virgens, deri- Unidos tiveram importante papel enquanto consu-
vada da “política das zonas proibidas” (ordenação midores de café, facilitados por meio de tarifas de
que buscava evitar o extravio de ouro ao impossi- importação mais baixas e barateamento nos custos
bilitar a abertura de novos caminhos ou o povo- do produto, de modo semelhante ao que ocorreu nos
amento em áreas onde inexistissem registros, países do norte da Europa em processo de industriali-
passagens e vigilância); zação, urbanização e aumento demográfico. Interessa
z sistema de transporte baseado em tropas de mulas destacar, ainda, a passagem do café de um mercado
(eficiente para a topografia acidentada do Centro-Sul). restrito e de luxo, no século XVIII, para um mercado
de massa industrial, no século XIX.
A consequência do modo de exploração vertical,
Com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808,
que priorizava a exploração do trabalho, levou ao
houve um crescimento vertiginoso da produção de
esgotamento dos solos e ao envelhecimento rápido
café, chegando a 67 mil toneladas em 1833, o que
dos pés, exigindo constantes utilizações de mata vir-
representava o valor total da produção mundial nas
gem. Nesse processo, o Oeste Paulista, a Zona da Mata
portas da Revolução Haitiana em 1790.
Mineira e o Sul de Minas ofereciam solos melhores,
A produção do Vale do Paraíba dominou o merca-
modo de plantio menos destrutivo (plantação em cur-
do mundial do café, com larga vantagem, até a déca-
va de nível) e novas formas de empreendimento (por
da de 1870, quando foi superado pelo Oeste Paulista e
meio do trabalho assalariado de imigrantes). Com
pela Zona da Mata Mineira.
isso, o ciclo do café teve um novo impulso e declinou
O crescimento cafeeiro dependeu de acordos polí- apenas na década de 1920 com a crise de superprodu-
ticos internos que dessem segurança ao elo entre ção e queda vertiginosa nos preços mundiais do café.
cafeicultura e tráfico negreiro: mesmo com a apro-
vação da Lei Feijó (7 de novembro de 1831) e com a O ESTADO GETULISTA
proibição do tráfico (imposta pela pressão inglesa), a
coalizão entre conservadores (saquaremas), liberais Washington Luís foi presidente do Brasil até outubro
moderados (luzias) e fazendeiros do Vale do Paraíba de 1930. Durante seu mandato, ocorreu uma série de
levou à revogação prática (não formal) da legislação, eventos que levaram a uma transição política tumultua-
o que a fez entrar para a história como a “Lei para da. Em comparação a seu antecessor, Arthur Bernardes,
inglês ver”. Após uma queda, entre 1831 e 1835, o trá- o governo de Washington Luís foi relativamente tran-
fico foi praticado, sistematicamente, até 1850, ano em quilo. No entanto, ninguém poderia prever os conflitos
que a Lei Eusébio de Queirós foi criada. Mesmo assim, que surgiriam durante a transição de poder. Os proble-
a legislação não impediu o crescimento do tráfico mas começaram quando Washington Luís insistiu em
interno para abastecer as lavouras de café do sudeste. apoiar o candidato paulista, Júlio Prestes, como seu pos-
O plantio realizado em modo vertical objetivava o sível sucessor (Fausto, B., 2019; Pandolfi, 2010).
aumento da exploração de trabalho escravo, pois con- Nas eleições anteriores, os mineiros haviam acei-
tava, em média, com 6 mil pés por escravo (em Cuba, a tado que Washington Luís, representante dos inte-
média era de 2 mil pés por escravo). Os escravos eram resses paulistas, fosse o candidato em 1926. Para
organizados em ternos (turmas) e alocados em fileiras equilibrar a chapa, o mineiro Fernando de Melo Via-
de arbustos sob o comando de um capataz. na foi escolhido como vice-presidente. No entanto, os
A partir da década de 1850, a elasticidade da pro- mineiros não estavam dispostos a permitir que um
dução brasileira ganhou um aliado fundamental: a representante dos interesses paulistas assumisse o
ferrovia. Com empréstimos ingleses, investimentos poder novamente.
de grandes cafeicultores e de empresários, à exemplo Em busca de apoio, os mineiros uniram-se aos
do Barão de Mauá, várias foram as ferrovias surgidas gaúchos, que até então mantinham uma boa relação
com a intenção de ligar os portos do Rio de Janeiro às com o governo federal. Para garantir a participação
regiões produtoras, como o Vale do Paraíba, o Oeste dos gaúchos na disputa, os mineiros concordaram em
Paulista, a Zona da Mata Mineira e o Sul de Minas. permitir a candidatura de oposição de Getúlio Vargas,
A imagem abaixo retrata a colheita de café no iní- com João Pessoa como vice (Schwarcz; Starling, 2018;
292 cio do século XX no interior paulista. Fausto, B., 2019).
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No dia 1º de março de 1930, um sábado de Carna- As tensões intensificaram-se quando Vargas indi-
val, os brasileiros que sabiam ler e escrever saíram cou um nordestino como interventor em São Paulo,
de casa para eleger o próximo presidente da Repú- pois havia um grande preconceito contra a população
blica — e escolher uma nova bancada de deputados nordestina na época. Em 1932, os paulistas passaram
federais. Essa seria a 12ª eleição presidencial da
a exigir a convocação imediata de uma Assembleia
República brasileira. O pequeno número de eleito-
Nacional Constituinte. Além disso, havia um senti-
res — votava o brasileiro adulto, do sexo masculino
e alfabetizado, correspondente a 5,6% da população mento evidente de que São Paulo estava “carregan-
[...]. (Schwarcz; Starling, 2018, p. 351) do o peso” do restante do Brasil, e alguns chegaram a
pregar o separatismo caso suas demandas não fossem
Após a apuração das eleições, Júlio Prestes foi atendidas (Schwarcz; Starling, 2018).
declarado vencedor em 1º de maio de 1930. Para Getú- No dia 9 de julho de 1932, estourou em São Pau-
lio Vargas, não restava outra opção senão aceitar a der- lo a revolução contra o governo federal. Os paulistas
rota e reassumir o governo do Rio Grande do Sul. esperavam contar com o apoio dos mineiros e rio-
No entanto, nem todos compartilhavam desse pen- -grandenses, porém esse apoio não veio. Na verdade,
samento. Surgiu um movimento, conhecido como o interventor do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha,
“tenentes civis”, que defendia uma resposta armada. apoiou Vargas e enviou tropas para combater os pau-
Embora o movimento tenha recebido muitas adesões, listas. São Paulo viu-se sozinho em meio ao conflito
inicialmente não possuía grande força. Entretanto, em
com o governo federal, contando apenas com a Força
26 de julho, João Pessoa, vice na chapa de Vargas, foi
Pública e a mobilização popular. O plano dos paulistas
assassinadopor João Dantas, um adversário político.
era atacar a capital da República e colocar o governo
Esse evento se tornou um marco, sendo o estopim
“contra a parede”, buscando negociar ou forçar uma
para a revolução que se iniciou em 3 de outubro de
1930 em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. O pre- capitulação. No entanto, eles falharam em seu plano,
sidente eleito, Júlio Prestes, foi deposto, e uma junta uma vez que o governo federal possuía uma enorme
provisória foi estabelecida. Porém, a junta não con- superioridade militar (Fausto, B., 2019).
seguiu resistir às pressões. Getúlio Vargas dirigiu-se a
São Paulo e depois ao Rio de Janeiro, acompanhado Em 1º de outubro de 1932, São Paulo assinou a ren-
por 3 mil soldados. Em 3 de novembro de 1930, ele dição. Num gesto característico, Vargas primeiro
assumiu a presidência do país. Com isso, terminava acertou as contas: prendeu os rebeldes, expulsou
a Primeira República brasileira (Schwarcz; Starling, os oficiais do exército, cassou os direitos civis dos
2018; Fausto, B., 2019). principais implicados no levante, despachou para o
Após conquistar o poder, Getúlio Vargas decidiu exílio as lideranças políticas e militares do estado,
manter-se no cargo, e não foram realizadas novas mandou reorganizar a Força Pública e reduzi-la ao
eleições; ele permaneceu como presidente do país status de órgão policial. A elite paulista estava der-
por 15 anos. Durante esse período, ele implementou rotada. (Schwarcz; Starling, 2018)
diversas medidas que tiveram impacto significativo,
como afirma Boris Fausto (2019): O ano de 1934 foi marcado pela promulgação
da Constituição em 14 de julho, que colocava fim no
z Centralização: pouco tempo após assumir o Exe- Governo Provisório de Vargas.
cutivo, Vargas dissolveu o Congresso e assumiu
também o Legislativo. Ele demitiu todos os gover-
nadores eleitos, com exceção do de Minas Gerais, Importante!
e nomeou interventores federais em seus lugares.
Em 1931, foi criado o Código dos Interventores, Essa nova constituição estabelecia o sistema de
que estabelecia as normas de subordinação ao República Federativa no Brasil.
governo federal. Essa centralização não se limitou
apenas à esfera política, mas também se estendeu
à economia, com o controle da Política do Café sen- No dia seguinte, em 15 de julho de 1934, Getú-
do assumido por Vargas; lio Vargas foi eleito pelo voto indireto da Assembleia
z Educação: os líderes políticos vitoriosos em 1930 Nacional Constituinte como presidente. Seu mandato
tinham preocupação em formar uma elite inte- estava previsto para terminar em 3 de maio de 1938.
lectual mais bem preparada. Neste sentido, um Segundo a nova Constituição, a partir do fim do
marco importante foi a criação do Ministério da mandato do presidente Vargas, as eleições para a pre-
Educação e Saúde. Como ditador, Vargas também sidência da República deveriam ser diretas, ou seja,
teve influência na área educacional; o povo teria o direito de escolher diretamente o pró-
REALIDADE BRASILEIRA

z Tenentismo: os “tenentes”, que apoiavam Vargas, ximo presidente. Mas o golpe no Novo Estado frustrou
passaram a fazer parte de seu governo, defenden- as expectativas democráticas (Fausto, B., 2019; Vianna,
do a continuidade de sua ditadura. Eles foram uti- 2010).
lizados para combater as oligarquias estaduais.
No dia 10 de novembro de 1937, tropas da polí-
No ano de 1932, as lideranças políticas começa- cia militar cercaram o Congresso e impediram a
ram a suspeitar de que Vargas tinha a intenção de entrada dos congressistas. O ministro da Guerra —
prolongar o seu governo provisório, o que levou à general Dutra — se opusera a que a operação fosse
mobilização para exigir eleições imediatas. Os paulis- realizada por forças do exército. À noite, Getúlio
tas estavam cada vez mais insatisfeitos com o governo anunciou uma nova fase da política e a entrada
de Vargas, que havia retirado deles o controle sobre a em vigor de uma Carta constitucional elaborada
produção de café e também a autonomia do Estado, por Francisco Campos. Era o início do Estado Novo.
ao nomear interventores. (Fausto, B., 2019, p. 311) 293
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Vargas foi o único civil a comandar uma dita- A vitória da oposição liberal nas eleições de 1965
dura no Brasil. Esse regime, que tocava as orlas do fez com que o governo planejasse, também, o controle
fascismo europeu1, teve como base a leitura de alguns do sistema eleitoral. Assim, o segundo Ato Institucio-
pensadores conservadores, como Alberto Torres, que nal (AI-2) tinha como finalidade evitar que a oposição
defendia a ideia de que era responsabilidade do Esta- ascendesse ao governo estadual de 9 estados nas elei-
do organizar a sociedade, realizar mudanças no país e ções do ano seguinte, ao mesmo tempo que almejava
dar um propósito à nação (Schwarcz; Starling, 2018). criar uma fachada democrática.
Uma das sugestões apresentadas consistia na imple- A manobra foi a seguinte: o multipartidarismo foi
mentação de controle social por meio da presença de substituído pelo bipartidarismo, a ARENA (Aliança
um Estado poderoso liderado por um indivíduo caris- Renovadora Nacional), partido governista, e o MDB
mático, com a habilidade de guiar as massas em dire- (Movimento Democrático Brasileiro), partido oposi-
ção à estabilidade (Capelato, 2010). cionista. Esse mesmo ato estabelecia eleições indire-
Durante o período do Estado Novo de Vargas, que tas para presidente, realizadas via Colégio Eleitoral. Já
ocorreu entre 1937 e 1945, houve uma forte presença o terceiro Ato Institucional (AI-3) previa eleições indi-
de autoritarismo, centralização de poder, restrição retas para os governos estaduais. A Lei da Imprensa
das liberdades civis e políticas, censura à imprensa e e a Lei de Segurança Nacional, de 1967, solaparam de
perseguição política. vez a liberdade de expressão e quarto Ato Institucio-
Vargas também implementou princípios trabalhis- nal (AI-4) foi baixado para garantir a aprovação da
tas, com políticas voltadas para os direitos dos trabalha- nova Constituição Federal.
dores. Um exemplo disso foi a criação da Consolidação Na intenção de erradicar a elite política e intelec-
das Leis do Trabalho, em 1943, que estabeleceu direitos tual reformista do coração do Estado, o governo de
e garantias para os empregados, refletindo sua tentati- Marechal Castelo Branco apelou ao uso irrestrito de
va de conciliar o controle estatal com uma abordagem Inquéritos Policiais Militares (IPMs), sendo mais de
favorável aos interesses trabalhistas. Além disso, Var- 700 processos tocados. Além disso, outras 3644 pessoas
gas impulsionou a industrialização e exerceu controle receberam sanções políticas baseadas nos Atos Institu-
sobre a economia, buscando consolidar um Estado for- cionais, o que correspondeu a 65% de todo o ocorrido
te com base em sua liderança carismática. dessa natureza nos 21 anos de ditadura, e 90% das 1230
Após enfrentar intensa pressão, em 28 de feverei- punições aos militares oposicionistas ao longo de todo
ro Getúlio Vargas anunciou que eleições seriam rea- o regime foram efetuadas sob seu mando.
lizadas em um prazo de 90 dias. Em 2 de dezembro A economia ficou a cargo de Roberto Campos, e suas
de 1945, ocorreriam as eleições para a presidência da principais medidas estavam sintetizadas no Plano de
República, e em 6 de maio de 1946, para os governos Ação Econômica do Governo (Paeg), cujas prioridades
estaduais. Vargas declarou que não seria candidato,
eram a contenção da inflação, o retorno da capacidade
mas foi durante seu governo que surgiu a candidatura
do Estado em investir em infraestrutura produtiva, a
de Dutra, então ministro da Guerra. O principal opo-
reorganização das finanças públicas mediante um novo
sitor seria Eduardo Gomes (Schwarcz; Starling, 2018;
sistema tributário e, por fim, a renegociação da dívida
Fausto, B., 2019).
externa a fim de alcançar novos empréstimos.
No que se refere à nova política salarial, os salá-
DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA
rios eram reajustados baseados em um cálculo que
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
considerava não somente a inflação dos últimos doze
meses, como também a previsão de inflação dos próxi-
Ditadura Militar
mos doze meses. Assim, “como a inflação era sistema-
z Castelo Branco ticamente subestimada, a nova legislação provocou
perda salarial sistemática, com perversos efeitos dis-
Cumprindo o rito institucional, o Congresso Nacional tributivos” (LUNA; KLEIN, 2014, p. 94).
elegeu, no dia 9 de abril de 1964, o Marechal Humberto Esse arrocho salarial era visto pelo governo como
de Alencar Castelo Branco, com 361 votos, à presidên- um fator para a insatisfação popular e para a conse-
cia da república. O discurso oficial afirmava, com apoio quente instabilidade do novo regime; assim, em 1964,
de importantes lideranças como Juscelino Kubitschek foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH),
e Carlos Lacerda, que os militares permaneceriam no mais tarde incrementado pela criação do Fundo de
poder apenas por um período curto, até que a corrupção Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), formando
fosse extinta e o crescimento econômico fosse retomado, uma política de financiamento para a construção de
gozando, assim, de grande legitimidade. Contudo, logo casas populares e um fundo para o trabalhador demi-
descobriu-se que a intervenção de 1964 seria muito dife- tido sem justa causa. Por fim, o projeto de moder-
rente das demais intervenções militares. nização autoritária pressupunha o controle das
No dia 9 de abril de 1964, o primeiro Ato Institucio- organizações de trabalhadores urbanos e rurais pelo
nal (AI-1) foi baixado, tendo sido elaborado por Fran- Estado, assim como a perseguição de líderes sindicais.
cisco Campos, simpatizante do fascismo e idealizador
do Estado Novo, e possuía validade de 2 dois anos. z Costa e Silva
Esse ato previa a cassação dos direitos políticos dos
cidadãos, o controle do Congresso Nacional, o decre- O Marechal Artur da Costa e Silva foi o segundo
to do estado de sítio, assim como marcava as eleições militar a ocupar a presidência e, empossado em 15 de
presidenciais para o dia 3 de outubro de 1965, o que, março de 1967, pertencia ao grupo conhecido como
evidentemente, não aconteceu. Esse ato marcou as “linha dura”, diferentemente de seu antecessor. Além
primeiras dissidências dos liberais que apoiaram ini- disso, implementou uma política externa mais nacio-
cialmente o golpe como Lacerda e Kubitschek. nalista e menos alinhada aos Estados Unidos.
294 1 Apesar disso, não deve ser considerado um regime fascista.
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Seu breve governo ficou marcado pela implementa- a oposição ganharia ainda mais espaço nas eleições
ção do quinto Ato Institucional (AI-5), cujo conteúdo de 1978, órgãos do governo passaram a disseminar a
viabilizou o terrorismo de Estado. Esse ato estabele- tese de que o Partido Comunista havia se infiltrado no
cia a cassação ampla e irrestrita de políticos e cidadãos, partido de modo a ampliar o número de votos.
suspendia o habeas corpus de presos políticos, permitia Além disso, militares de extrema direita respon-
a decretação de estado de sítio sem autorização prévia deram violentamente às medidas propostas por Gei-
mediante a centralização excessiva do poder Executivo sel, participando de diversos ataques terroristas, ao
Federal e, por fim, a censura prévia sob todos os meios mesmo tempo em que organizações anticomunistas
de comunicação e sob os produtos culturais. tornavam a ganhar fôlego. Ainda em seu governo,
39 opositores desapareceram e 42 foram mortos pela
z Médici repressão, o Congresso foi fechado por 15 dias e a cen-
sura foi largamente utilizada até 1976.
O terceiro presidente da ditadura foi Emílio Gar- Em outubro de 1975, o comando do II Exército, com
rastazu Médici, o general de maior patente entre sede em São Paulo, noticiou que o renomado diretor
os pré-candidatos e que também pertencia à “linha jornalístico da TV Cultura, Wladimir Herzog, havia
dura” palaciana. Seu governo ficou conhecido como suicidado. A notícia repercutiu negativamente, uma
os “anos de chumbo”, dada à violação sistemática dos vez que setores importantes da sociedade descredita-
direitos humanos. Todo cidadão era passível de ser vam o comunicado oficial. Diante do ocorrido, o pre-
acusado de subversivo, baseado em uma simples sus- sidente, tido como moderado, nada fez senão advertir
peita, e ficando sujeito à detenção, à tortura e à morte. o comandante do II Exército, Ednardo D’Ávila Melo.
Seu governo coincidiu, ainda, com o período do Em 1976, outra morte tornou-se pública e como-
“milagre econômico”, cuja taxa de crescimento veu a sociedade: o sindicalista Manoel Fiel Filho
médio foi de 10% ao ano. A maior expansão industrial apareceu morto após ser interrogado pelas forças da
ficou concentrada — e sustentada pelos juros baixos repressão. Somente após forte pressão houve a demis-
— no setor de bens de consumo duráveis, além de um são de D’Avila Melo pelo presidente. É importante des-
crescimento exponencial no setor automobilístico. No tacar que embora somente esses dois casos tenham
campo social, contudo, a situação não era favorável, repercutido de forma mais ampla, outras centenas de
uma vez que o arrocho salarial e a concentração de denúncias eram feitas em relação às torturas.
renda não permitiram a transformação dos ganhos de Já em abril de 1977, o governo, prevendo a derro-
produtividade dos trabalhadores. ta do partido governista nas eleições do ano seguinte,
O endividamento externo é, também, marca des- fechou o Congresso por 15 dias e editou um conjun-
se período, agravado ainda mais pela primeira crise to de medidas autoritárias conhecido como “Pacote
do petróleo, em 1971, quando os preços e os juros de Abril”. Esse pacote, em síntese, previa a extensão
internacionais cresceram vertiginosamente. O maior do mandato do presidente, de cinco para seis anos,
problema estava no financiamento das indústrias eleições indiretas para governadores de Estado e a
estatais mediante crédito de bancos privados inter- nomeação de um terço do Senado pelo presidente.
nacionais, que, por sua vez, possuíam taxas de juros A “Lei Falcão” foi promulgada na esteira do pacote,
altíssimas e flutuantes. O endividamento externo sal- inviabilizando o acesso da oposição à televisão.
tou de menos de 5 bilhões de dólares em 1964 para O governo Geisel, por fim, marcou um avanço na
mais de 90 bilhões de dólares em 1983; ao mesmo tem- industrialização pesada, sobretudo no setor elétrico,
po em que o Brasil ascendeu à condição de 10ª potên- nuclear, petroquímico e de equipamentos industriais,
cia do mundo, os indicadores de qualidade de vida o promovendo, ademais, a estatização da economia. Embo-
alocavam entre os últimos. ra tenha conseguido, em 1974, manter o crescimento
econômico, dependendo cada vez mais de quantidade
vultuosa de investimentos exteriores, é possível afirmar
z Geisel
que a crise econômica efetivamente havia se iniciado em
seu governo, intercalada com períodos de crescimento,
Ernesto Beckmann Geisel firmou-se como suces-
que seguiriam até o início do governo Figueiredo.
sor de Médici, tornando-se o quarto presidente da dita-
dura. O novo presidente ficou responsável por uma
z Figueiredo
nova fase de institucionalização do regime, conhecida
como “lenta, gradual e segura” até transição para um
O último presidente da ditadura foi João Baptista
poder civil.
Figueiredo, cuja promessa ao tomar posse foi a conso-
Geisel propôs quatro objetivos estratégicos: o pri-
lidação da abertura. O último presidente não possuía
meiro diz respeito ao restabelecimento da profissiona- a mesma expertise política de seu antecessor e não
lização dos quadros das Forças Armadas e à redução do
REALIDADE BRASILEIRA

conseguiu manter o controle do processo de abertura.


poder dos “linha duras”; o segundo propunha a manu- Seu governo ficou marcado pela maior crise eco-
tenção do controle da oposição de centro e de esquerda, nômica vivida pelo país e pelo fim do AI-5. Uma série
além daqueles indivíduos considerados “subversivos”; de protestos e a emersão de novos movimentos sociais
o terceiro planejava a construção de uma democracia ocorreram sob sua governança, assim como violentos
restrita e controlada; e o quarto previa a manutenção ataques terroristas praticados pela extrema direita
das elevadas taxas de crescimento, uma vez que era o militar, intencionando parar o processo de abertura.
principal mecanismo que atribuía legitimidade ao regi-
me frente às classes médias e empresariais. z Reforma Agrária
Somava-se a isso a aproximação do governo à
grande imprensa liberal. Contudo, alguns aconteci- A questão agrária, que há tempos vinha se arrastan-
mentos provam que a tendência autoritária do regime do no Brasil e foi fator importante na queda de Jango,
ainda estava em voga: com a vitória do MDB nas elei- também começou a ser rediscutida ainda no começo
ções parlamentares de 1974 e com as previsões de que do governo militar. Assim, o ministro Roberto Campos 295
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apresentou uma proposta do Estatuto da Terra basea- Ainda em 1985, a equipe econômica de Sarney
da em três aspectos: primeiro, a tributação progressi- decretou o congelamento dos preços, tentando dimi-
va da propriedade, levando-se em consideração seu nuir a inflação; estabeleceu um corte de 10% do
tamanho e produtividade; o segundo previa a desapro- orçamento e proibiu a contratação de funcionários
priação mediante indenização para o caso de terras públicos. Além disso, o cálculo da correção monetária
improdutivas; terceiro, a colonização de terras ociosas. passou a ser determinado pela inflação dos três últi-
Em outubro de 1964, o texto foi enviado para a apre- mos meses. Essas medidas reduziram a inflação para
ciação do Congresso. Contudo, tratava-se de um texto 7,2% em abril, mas diversas questões, sobretudo agrí-
bastante diferente do que fora apresentado ao público colas, elevaram-na a 14% em agosto.
dias antes, o que refletia conflitos de interesses. Em fevereiro, o governo apresentou o Plano Cru-
A principal alteração estava relacionada à des- zado, substituindo a antiga moeda, o cruzeiro, pelo
centralização do aspecto fiscal da reforma agrária cruzado. A nova moeda perdeu três zeros; assim, a
proposta pelo governo, uma vez que o mecanismo de conversão dos depósitos em bancos estabeleceu que
tributação progressiva ficaria a cargo dos governos cada mil cruzeiros equivaleriam a um cruzado. O pla-
estaduais. Nesse sentido, o conflito mais claro era entre no previa, ainda, o congelamento de tarifas, preços e
a perspectiva modernizante defendida pelos militares, serviços, além de basear o salário na média do poder
em detrimento à perspectiva conservadora dos gran-
de compra dos seis meses anteriores.
des proprietários e por membros da UDN. A queda de
O resultado foi a diminuição da inflação e um
braço entre o governo e as elites regionais resultou na
boom consumista, que rendeu boa popularidade ao
derrota do primeiro e na impossibilidade de se imple-
presidente naquele momento. Esse consumismo, con-
mentar o projeto de modernização do campo.
tudo, levou a uma crise de desabastecimento, fazendo
com que faltasse uma série de produtos na prateleira;
A Redemocratização e a Busca Pela Estabilidade
mesmo que o governo tentasse importar esses gêne-
Econômica
ros, não conseguia, pois, a burocracia herdada da dita-
dura impossibilitava.
Com a redemocratização e o fim do Estado Novo, O Cruzado II foi anunciado em novembro de
nove siglas partidárias foram criadas, sendo as princi- 1986, e previa o descongelamento dos preços, há mui-
pais a União Democrática Nacional (UDN), de caráter to exigido pelos empresários, e o aumento das tarifas
liberal e antigetulista; o Partido Social Democrático dos serviços públicos. A inflação, que estava contida,
(PSD), que uniu correntes diversas entre liberais e passou de 3% nesse mês para 16% em menos de três
desenvolvimentistas e o Partido Trabalhista Brasi- meses. Em 1987, o presidente foi em cadeia nacional
leiro (PTB), herdeiro do Varguismo. Com o insucesso de televisão para anunciar a moratória da dívida
do movimento queremista e a deposição de Vargas, externa do Brasil. A crise parecia não ter fim.
o ex-presidente apoiou-se – sem muita empolgação – Em 1988, o governo apresentou o Plano Verão,
no ex-ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra (PSD), criando a moeda “cruzado novo”, mas o plano foi
que veio a se eleger. um completo fiasco, pois, àquela altura, o governo já
A Constituição de 1946 previa: havia perdido toda a sustentação política e se tornara
extremamente impopular.
„ A autonomia entre os poderes Executivo, Legis- A partir desse momento, o país caminhou à hipe-
lativo e Judiciário, tendo o Congresso o poder rinflação, chegando a 83% em março de 1990. Preços
de inspecionar o governo federal, inclusive de supermercado eram reajustados todos os dias e filas
de sancionar qualquer medida econômica aconteciam em supermercados e postos de gasolina toda
empreendida pelo Executivo (medida que não vez que surgia o menor indício de aumento dos preços.
sobreviveu na prática); Ainda em 1987, iniciou-se o importante processo
„ A restauração do princípio federalista; da Constituinte, transformando os próprios congres-
„ A fixação do mandato em cinco anos, sem direi- sistas eleitos em 1986 no Congresso Constituinte, com
to à reeleição; ampla maioria do PMDB. Os debates foram acalora-
„ O direito de voto às mulheres; dos e algumas propostas do PMDB foram considera-
„ O direito de greve; das radicais demais, mas, de fato, muitos avanços se
„ O imposto sindical, visando à continuidade da tornaram constitucionais.
hegemonia do Estado nas relações entre traba- Há que se dizer, por fim, que até o final do gover-
lhadores e empregadores. no Sarney, nenhuma ruptura significativa em relação
à ditadura havia acontecido (a começar pelo próprio
z Governo Sarney presidente, como dissemos), e também porque nenhum
julgamento havia acontecido para punir militares envol-
A morte de Tancredo havia abatido enormemente vidos em crimes contra a humanidade. As esperanças
o país, levando a uma comoção que há bastante tempo se voltaram, enfim, para a primeira eleição direta que
não se via em um cortejo fúnebre: seu caixão subiu a escolheria um presidente da república em 21 anos.
rampa do Planalto em um gesto bastante simbólico,
pois se tratava do primeiro presidente civil após 21 z Governo Collor e Itamar Franco
anos de ditadura.
De todo modo, José Sarney, seu vice, assumiu a As eleições de 1989 tiveram 22 candidaturas e
presidência no dia 15 de março de 1985, e, mesmo foram vividas como a possibilidade real de mudan-
que fosse um aliado histórico da ditadura, as expec- ças. Por parte da esquerda, Lula encabeçava a chapa
tativas da população não diminuíram. Pelos próximos pelo Partido dos Trabalhadores (PT), advogando um
10 anos, diferentes governos tentariam, sem sucesso, programa radical, como a supressão da dívida exter-
organizar uma economia que herdava da ditadura na, considerada demasiadamente onerosa à classe
296 dívida externa e inflação monstruosas. trabalhadora. Do outro lado, estava o governador de
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Alagoas, Fernando Collor de Mello, até então desco- e privatizações de empresas estatais, além de dar
nhecido do grande público, mas que transmitia a ima- sequência à abertura comercial.
gem de ousado, jovem e vigoroso para cumprir sua O ministro também criou um padrão de valor
fama de “caçador de marajás”. monetário, conhecido como Unidade Real de Valor
Ambos eram promessa de novidade, mas Lula (URV), de modo a mostrar a equivalência entre uma
parecia radical demais, o que fez com que a grande URV — 647,50 cruzeiros em sua primeira aparição, em
mídia, políticos conservadores, empresários e mili- março de 1994 — e o cruzeiro real.
tares, temerosos de que o petista levasse a cabo jul- Além disso, os salários foram estabelecidos a partir
gamentos e punições, se aglutinassem em torno de de uma média da inflação dos últimos quatro meses.
Collor. Durante o segundo turno, Lula receberia apoio Após sucessivos testes, acompanhados pelo valor da URV
do PDT de Leonel Brizola, do PMDB e do novato PSDB. que permanecia fixo, a equipe econômica finalmente
A disputa foi dura. apresentou a nova moeda em julho de 1994: o real, um
Enquanto Lula crescia nas pesquisas de opinião sucesso que logo se converteu em inflação baixa.
e estouravam casos de corrupção em Alagoas, Collor Ainda durante o governo de Itamar, foi possível
passou a atacar seu adversário dizendo que o petis- chegar a um arguto acordo de renegociação da dívi-
ta confiscaria poupanças e apartamentos da classe da, após os norte-americanos finalmente aceitarem a
média, além de ser incentivador do aborto. As emis- proposta de Luiz Carlos Bresser Pereira de conceder
soras de televisão tiveram papel fundamental para o descontos para os montantes. Mas foi o sucesso do pla-
declínio do candidato esquerdista, transmitindo com no real que marcou seu breve período à frente da pre-
frequência os “alarmes” de Collor, em especial a Rede sidência, sucesso esse que impulsionou seu ministro
Globo, durante seu principal telejornal. Collor, assim, ao executivo federal.
foi eleito presidente pelo Partido da Reconstrução
Nacional (PRN), mas possuía desde o início quase z Governo FHC
nenhum apoio da estrutura partidária.
No dia 16 de março de 1990, foi apresentado o Pla- Fernando Henrique Cardoso tomou posse em
no Collor, que estipulava o bloqueio de todas as apli- 1995; é importante comentarmos que em seu governo
cações em bancos e depósitos em contas correntes, foi aprovada uma emenda constitucional que permi-
além da abertura comercial e do congelamento dos tia a reeleição de prefeitos, governadores e presidente
preços. Cerca de 95 bilhões de dólares foram confisca- da república. A votação foi permeada de acusações de
dos para bloquear a liquidez, a fim de conter a infla- compra de votos, que nunca foram devidamente apu-
ção, fazendo exatamente aquilo que supostamente radas, e permitiu que FHC se reelegesse em 1998.
A ampla mobilização popular reivindicando
seu adversário faria caso chegasse à presidência.
melhorias nas condições de vida, desde os movimen-
Ao fracasso de sua estratégia para economia,
tos organizados no final da ditadura, começou a fru-
somaram-se denúncias de corrupção no seu governo,
tificar nos governos de FHC. Em 1995, foi criado o
sendo a mais evidente a de seu irmão, Pedro Collor,
programa Bolsa Escola, em Campinas, cuja proposta
em maio de 1992. Pedro denunciou a existência de um
era a transferência de uma renda mínima a famílias
amplo esquema liderado pelo tesoureiro da campa-
pobres com a condição de manterem suas crianças
nha de Fernando Collor, conhecido como “PC Farias”.
frequentes nas escolas; em 2001, foi adotado pelo
Em seguida, o Congresso instaurou uma Comis-
governo federal, que foi capaz de estender o progra-
são Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as
ma a mais de 5 milhões de famílias. É do seu governo,
denúncias, descobrindo contas bancárias associadas a
também, o Bolsa Alimentação.
“laranjas” para o financiamento da campanha; desco- Contudo, há que se dizer que as primeiras mudan-
briram-se também “contas-fantasma” que financiavam ças no modelo de proteção social tiveram início com
reformas na casa do presidente, mas que logo desco- o primeiro governo civil após a ditadura e registra-
briu-se tratar de restos dos fundos da campanha, além das na Constituição de 1988, que pretendia garantir o
da compra de um carro para sua esposa com dinheiro acesso à saúde, à seguridade e à educação básica.
ilegal proveniente dos esquemas de PC Farias. Ao longo dos anos 1990, essas diretrizes começa-
Uma série de protestos tomou conta do país: a ram a se desenvolver, exigindo uma lenta descen-
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apresentou ao tralização de responsabilidades e recursos. Além da
Congresso um pedido de impeachment do presidente; descentralização e colaboração entre os níveis gover-
surgiu o Movimento pela Ética na Política, cuja orga- namentais, o Plano Real foi importante ao tornar
nização reunia cerca de 900 entidades; os estudantes possível maior fluxo de recursos para a área social,
tiveram papel importante e simbólico nos protestos: o que produziu, por exemplo, a municipalização da
por conta dos rostos pintados com as cores nacionais, assistência social e da rede básica de saúde. Os acessos
REALIDADE BRASILEIRA

ficaram conhecidos como “cara-pintadas”. à educação e à saúde se tornaram quase universais,


Em 29 de setembro de 1992, a Câmara autorizou a e a assistência social foi consideravelmente dilatada
abertura do processo de impedimento e, no final des- mediante programas de garantia de renda para idosos
se ano, Collor foi condenado no Senado por 76 votos e pessoas com deficiência.
favoráveis contra apenas 3. Antes disso, é preciso No governo FHC também foram criados programas
dizer, ele havia tentado manobrar a situação tentan- que formavam uma rede de proteção social, como a
do renunciar; o que não deu certo. Perdeu, assim, o previdência rural, e ainda programas não contribu-
mandato, e se tornou inelegível por 8 anos. tivos de assistência social: Bolsa-Escola, Erradicação
Quem assumiu em seu lugar foi o vice-presidente, do Trabalho Infantil, Bolsa-Alimentação, Auxílio Gás,
Itamar Franco, e foi em seu governo que finalmente Agente Jovem, Programa de Saúde da Família, Progra-
houve o controle da inflação. O Ministério da Fazen- ma de apoio à Agricultura Familiar. Nesses progra-
da foi ocupado por Fernando Henrique Cardoso, mas, houve uma opção pela transferência direta da
em 1993, e logo no início anunciou cortes de despesas renda monetária, distanciando-se de programas como 297
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os de distribuição de cestas básicas, que muitas vezes da previdência pública, garantindo sua sobrevivência
valiam à manipulação clientelista, tão comum na polí- a longo prazo; diminuir a pressão sobre os recursos,
tica brasileira. permitindo o resgate da capacidade de gastos públi-
O governo de FHC também foi pioneiro no enfren- cos; e aumentar a equidade, reduzindo as distorções
tamento de algumas heranças da ditadura, no cam- nas transferências de renda realizadas pelo Estado.
po da justiça de transição. Em 1995, foi instituída O governo petista optou, então, por iniciativas de
a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos, cuja forte impacto simbólico, no ambiente nacional e inter-
proposta era reconhecer os mortos e desaparecidos nacional. Nos primeiros dias da nova administração,
durante os anos repressivos, ritual bastante simbólico lançou-se o já mencionado programa Fome Zero e
para aqueles que perderam alguém e nunca chega-
uma reforma da previdência social. Com a reforma da
ram a ter sequer um atestado de óbito. Tempos depois,
previdência, procurava-se reparar privilégios vigen-
em 2001, surgiu a Comissão da Anistia, concedendo
tes, estabelecendo o mesmo teto para as aposentado-
indenizações às vítimas da ditadura.
rias dos empregados do setor público e privado. Essa
foi uma medida bem recebida pelas agências interna-
z Governo Lula
cionais, que esperavam que o novo governo demons-
Em 1º de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Sil- trasse moderação política e se mantivesse dentro dos
va, representante do Partido dos Trabalhadores (PT), parâmetros de austeridade fiscal.
assumiu a presidência do Brasil. Sua eleição signifi- No que se refere ao Fome Zero, faltava consistên-
cou, para muitos, a primeira grande mudança das eli- cia, pois muitas ações precisavam ser realizadas, e se
tes governantes desde a redemocratização, ainda que carecia de articulação de vários setores. A fragilidade
esse novo governo se sustentasse em uma coalização, do programa foi se evidenciando e, ainda em 2003, o
o que significa a inclusão de partidos que já haviam Ministério de Segurança Alimentar, que havia sido
estado no poder nos últimos dezenove anos. criado para mobilizar as ações necessárias para o fun-
As propostas de políticas sociais do Partido dos Tra- cionamento do programa, foi fundido com o Ministé-
balhadores indicam uma reunião de continuidades e rio da Assistência Social.
mudanças da forma de gestão, continuidade na política Assim, engendrou um novo programa de transfe-
econômica e algumas mudanças no âmbito social. rência de renda, o Bolsa Família, que unificou três
No que se refere à transferência de renda, que foi programas criados na administração de FHC: Bolsa-Es-
a caraterística mais marcante do governo de Lula, ela cola, Bolsa-Alimentação e Auxílio Gás. Também foram
indica uma movimentação caraterística de proteção realizadas iniciativas que priorizaram a ação gover-
social, o que se afastava das expectativas reformistas namental na área da educação; além disso, propôs-se
que pairavam sobre o Partido dos Trabalhadores. a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvi-
Com a redemocratização, como vimos, passou-se
mento do Ensino Fundamental e Desenvolvimento
a identificar a necessidade de redirecionar as ações
da Educação Básica (Fundeb), o que incluía o ensino
de políticas sociais como descentralização, participa-
médio no sistema de incentivos que vinham sendo
ção dos beneficiários nas tomadas de decisões, racio-
nalização dos gastos e maior isonomia na prestação realizados pela administração anterior.
de serviços e benefícios. Além disso, constatou-se ser Alguns autores argumentam que, embora de um
necessário políticas emergenciais voltadas para a ponto de vista de classe, o PT continua sendo um par-
população mais vulnerável economicamente. tido dos trabalhadores, principalmente no que se refe-
O percurso feito até aqui indica que, quando o Par- re à sua origem, pois é inegável que o PT foi criado por
tido dos Trabalhadores assumiu o governo em 2003, já e para trabalhadores. Houve um claro rompimento
haviam sido tomadas algumas ações visando a refor- com os interesses desse grupo; após assumir o poder,
ma do sistema de proteção social herdado da ditadu- as ideias, discursos e ações resguardadas pela direção
ra, além do êxito razoável na luta contra a pobreza, do partido apresentaram semelhanças embaraço-
principalmente no que toca ao acesso à educação e sas com as dos representantes da grande burguesia.
saúde; entretanto, pouco tinha sido feito para a redu- De todo modo, as multidões continuaram indicando,
ção das desigualdades notáveis entre ricos e pobres, em momentos cruciais, o Partido dos Trabalhadores
brancos e negros. E essa é uma questão fundamental. como seu representante.
Durante as eleições, a campanha de Lula ignorava O governo Lula reuniu em seus quadros adminis-
esses avanços, condicionando a resolução desses pro- trativos tanto líderes sindicais e intelectuais do PT,
blemas à sua vitória, e foi assim que Lula ganhou as quanto convictos neoliberais, o que o tornou, em uma
eleições, insistindo na redução da pobreza e das desi- análise mais sóbria, um governo muito pouco afeito
gualdades, embora sem propostas que embasassem aos interesses da classe que dizia representar. Lula
concretamente tal propósito.
cumpriu sua promessa de moderar as propostas mais
O governo Lula teve início com dois projetos para
radicais do programa petista antes do lançamento da
a área social: o Fome Zero, uma proposta de políti-
“Carta ao povo brasileiro”, de 2002.
ca de segurança alimentar para o Brasil; e Política
Econômica e Reformas Estruturais. O primeiro foi Um evidente exemplo foi a preocupação com o
fruto do trabalho de 45 pesquisadores orientados por pagamento da dívida externa, mesmo existindo pro-
José Graziano da Silva, e consistia em uma combina- blemas sociais evidentes, como rodovias danificadas
ção de políticas assistenciais com ações extensivas de e insuficientes, adversidades nas redes elétricas, de
incentivo à agricultura familiar. saúde, saneamento, entre outros. Essa foi uma escolha
O segundo documento, que foi preparado por eco- impensável para o Lula do século anterior. Assim, sua
nomistas de orientação liberal, focalizava a política administração deu prosseguimento à política econô-
econômica e incluía um capítulo de propostas de polí- mica de FHC, elevou o superávit, prometeu a flexibi-
298 tica social. Assim, ele pretendia: recompor o equilíbrio lização do mercado de trabalho e a reforma sindical.
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Dica A estratégia, no entanto, não foi bem sucedida,
pois, na busca pela governabilidade, Dilma perdeu
Superávit é o resultado positivo de todas as bastante popularidade, dado que se voltava cada vez
receitas e despesas do governo, ou seja, é o equi- mais à uma política econômica que primava pela
valente ao que o governo consegue economizar ortodoxia, sobretudo na austeridade fiscal e salarial,
para o pagamento de juros da dívida pública. pondo à parte os interesses populares, que represen-
FMI é a sigla do Fundo Monetário Internacional, orga- tavam o grosso de seu eleitorado.
nização financeira que pode oferecer ajuda financei- A opinião empresarial era a de que o Bolsa Família
ra pontual e temporária aos países membros. reduzia a procura por empregos e dificultava a con-
tratação; esse argumento é difícil de ser sustentado,
As limitações das administrações de Lula são evi-
tendo em vista que o valor do benefício sempre foi
dentes, embora seja difícil negligenciar os avanços no
muito inferior ao do salário-mínimo, que foi ganhan-
campo social. Por exemplo, a reforma agrária — pauta
do cada vez mais encorpo. Além disso, figuras públi-
importante para esquerda —, não foi considerada; e a
cas reconhecidas usavam os meios de comunicação
reforma tributária apenas aumentou a carga tributária,
evitando propostas como a taxação de grandes fortunas. para apontar que os gastos sociais e aumentos sala-
Outra crítica é que os programas sociais não se cons- riais eram responsáveis pela desaceleração do inves-
tituíram enquanto direito, ou seja, não foram incorpo- timento privado e da redução dos lucros.
rados enquanto emendas à Constituição, o que significa Quanto aos projetos sociais, Dilma tinha um gran-
que podiam ser retirados a qualquer momento. de desafio, considerando que seu predecessor, Lula,
conquistara popularidade amparando-se justamen-
z Governo Dilma te nesse tipo de programa. No primeiro mandato de
Dilma, o desemprego diminuiu, o salário-mínimo
Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do aumentou e a presidente deu sequência aos progra-
Brasil, foi eleita em 2010, em um contexto de otimismo mas de transferência de renda.
no qual a economia se recuperava dos efeitos da cri- Na questão dos avanços da legislação trabalhista,
se financeira global de 2008. Embora Dilma não tenha é possível apontar, por exemplo, a regulamentação do
explicitado seu objetivo em campanha, logo ficou evi- trabalho doméstico, que embora tenha incomodado os
dente o que pretendia: questionar o poder estrutural setores mais conservadores da população brasileira, foi
do capital financeiro na determinação de taxas de juros um movimento muito importante para os trabalhado-
e câmbio, o que significava se afastar do caminho das res da área, pois assegurava direitos básicos como jor-
políticas econômicas conservadoras do governo Lula. nada de trabalho regulamentada, férias e piso salarial.
Todavia, o governo não se preparou para lidar com as Em sua administração, uma das ações mais impor-
óbvias reações que vieram dos grupos que tiveram seus
tantes talvez tenha sido a ampliação do Minha Casa
interesses recolocados. Esses grupos possuíam, ainda, o
Minha Vida, programa habitacional que assegurou
poder sobre os meios de comunicação, manipulando as
moradia para 1,7 milhões de famílias apenas em seu
informações e não tardando a acusar o governo de “irres-
primeiro mandato. O programa oferecia subsídio para
ponsável tecnicamente” e “politicamente populista”.
O governo de Dilma não conseguiu sustentar a o financiamento de moradias à população de baixa
pretensão inicial, recuando diante da reação dos inte- renda, tornando possível o sonho da casa própria para
resses rentistas, que foram atingidos pela guerra dos famílias que teriam bastante dificuldade em adquirir
juros; assim, em abril de 2013, o Banco Central iniciou um imóvel em outras circunstâncias.
um novo ciclo de elevação das taxas de juros, que era No âmbito da saúde, Dilma lançou o programa Mais
apenas o início da retratação. Médicos, que atendeu seis mil municípios e estendeu
Os regimes de metas de inflação e de metas de supe- o acesso a médicos a cerca de cinquenta milhões de
rávit primária concediam enorme poder estrutural ao pessoas que residiam em municípios do interior e em
capital financeiro, de modo que, se hipoteticamente a áreas periféricas. Foram inauguradas 144 de Unidades
inflação subisse e o Banco Central não subisse também de Pronto Atendimento, e a Farmácia Popular distri-
as taxas de juros, provavelmente se veria bombardea- buiu remédios a mais de dez milhões de pessoas.
do por acusações de que sua autonomia estava compro- No setor educacional, Dilma lançou o Programa
metida pela interferência política. Se, por outro lado, a Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Empre-
arrecadação tributária diminuísse e o gasto primário go (Pronatec), que tinha como objetivo expandir e
não trilhasse a mesma direção, o governo era atacado, interiorizar as ofertas a cursos técnicos, além da for-
acusado de não cuidar da credibilidade da trajetória da mação inicial e continuada. Houve, ainda, a criação
dívida pública, tampouco da inflação.
REALIDADE BRASILEIRA

do Ciência sem Fronteiras, que visava a formação


Para conseguir pôr em prática suas intenções de
acadêmica de pesquisadores em programas de inter-
mudanças estruturais, o governo teria que se apoiar em
câmbio, oferecendo bolsas de estudos e financiando
ampla campanha pública que expusesse suas intenções e
projetos. Além disso, até 2014, as matrículas em cur-
motivações. Isso, contudo, não ocorreu, e o capital finan-
ceiro, por sua vez, reagiu rapidamente, mobilizando a sos superiores aumentaram em 122%, evidenciando
opinião pública e deslegitimando os discursos de Dilma, uma expansão do acesso ao ensino superior.
que tencionavam defender seu projeto econômico. Além de todos esses programas, foi no governo Dil-
A recuada do governo, traduzida pelo aumento dos ma que a chamada Lei do Feminicídio foi sancionada.
juros, foi uma tentativa de abrandar os ataques reali- Com a lei, o assassinato de mulheres, decorrente de vio-
zados pelos representantes ideológicos dos interesses lência doméstica ou discriminação de gênero, passou a
rentistas, procurando recompor o bloco de poder polí- ser considerado crime hediondo.
tico mobilizado pela administração de Lula, tática que
seria reforçada em 2015. 299
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Foi uma grande conquista, levando em conside- RACISMO
ração que o Brasil possui a 5° taxa mais alta de femi-
nicídios do mundo: no ano de 2010, eram registrados Conforme esclarece o filósofo Silvio Almeida, o
cinco espancamento a cada dois minutos; em 2013, se racismo não se caracteriza apenas pela violência direta
reportava um feminicídio a cada noventa minutos; e contra indivíduos de determinado grupo racial ou étni-
em 2015, o serviço de denúncia registrou 179 casos de co, uma vez que se trata de um fenômeno conjuntural.
agressão por dia. Neste sentido, Almeida (TV Boitempo, 2016) afirma
Foi também no mandato de Dilma que se inau- que “o racismo é uma forma de normalização e de com-
gurou a Casa da Mulher, programa que integra no preensão das relações”, na qual não há perplexidade
mesmo espaço serviços especializados de apoio aos por parte da população acerca de relevantes questões
diversos tipos de violências sofridas por mulheres. sociais, tais como: a pouca (ou nenhuma) representa-
tividade de pessoas negras em posições de destaque e,
Nesse espaço, têm-se acesso ao acolhimento e à tria-
também, a desigualdade no sistema tributário, que faz
gem, apoio psicossocial, juizado especializado em
com que as mulheres negras paguem mais impostos.
violência doméstica e familiar contra mulher, defesa
Portanto, em vista do elencado, compreende-se
pública, serviço de promoção de autonomia econômi-
que a sociedade atual, fruto do colonialismo e do sis-
ca, espaço de cuidado às crianças, alojamento de pas-
tema escravocrata, naturaliza as diversas formas de
sagem, entre outras ações de apoio. violência contra as pessoas negras.
O sistema escravocrata, hodiernamente, se con-
verteu em uma linguagem com graves consequências.
Segundo Schwarcz (2019), esse modelo enraizado
HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: moldou condutas, definiu desigualdades sociais, fez
LUTA ANTIRRACISTA, CONQUISTAS da raça um marcador social de classe e instalou uma
etiqueta de quem manda e quem obedece. Logo, her-
LEGAIS E DESAFIOS ATUAIS dou-se uma sociedade paternalista e hierarquizada.

Lilian Moritz Schwarcz, antropóloga brasilei- RACISMO ESTRUTURAL


ra, ressalta, em suas obras, importantes aspectos do
racismo no Brasil. Segundo a autora, em um primeiro
O racismo é estrutural porque se trata de um fenô-
momento, é imprescindível a desconstrução do mito
meno que abarca além da política e da economia, a
da denominada “democracia racial”.
subjetividade do indivíduo. Neste contexto, há uma
normalização das relações sociais que reproduzem as
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
condições de desigualdade. Por consequência, o racis-
mo não só constitui as relações denominadas “cons-
Em meados de 1930, o Estado brasileiro, à pro-
cientes”, mas também está presente no inconsciente
cura da concretização de uma identidade nacional,
coletivo e, dessa forma, de acordo com Almeida (TV
fomentou o surgimento de uma perspectiva distinta
Boitempo, 2016), “mais do que um fenômeno produzido
em relação à questão racial. Neste contexto, houve
a difusão de que a sociedade brasileira possuía uma por indivíduos, o racismo produz sujeitos”.
harmoniosa convivência entre as “raças”, em vista do Outrossim, o racismo é estrutural e estruturante
fenômeno da miscigenação. Logo, o Brasil seria livre porque não há qualquer política pública efetiva que
de segregação e preconceito em vista da “democracia se volte contra este cenário, nem mesmo por parte das
racial” (SILVA, 2016). pessoas que, explicitamente, se posicionam contra o
impasse. Logo, é contundente afirmar que o racismo
não é visto como uma patologia na sociedade brasilei-
Dica ra e, na verdade, constitui as relações em seu padrão
Gilberto Freyre, autor da obra “Casa-Grande & de normalidade.
Senzala”, é notável defensor da existência de Neste cenário, o sistema social/econômico de racis-
uma democracia racial no Brasil. Não obstante, mo estrutural contribuiu para com os privilégios de
poucos em detrimento de muitos, bem como aprofun-
hodiernamente, a teoria está ultrapassada e é
dou as desigualdades sociais. Devido às desigualdades
compreendida como um verdadeiro mito.
sociais, por exemplo, muitas pessoas são capazes de
indicar espaços que podem ser ocupados por determi-
A partir dos estudos do sociólogo Florestan Fer-
nadas raças (ideologia de senso comum).
nandes, entretanto, a ideia de “democracia racial”
desmantelou-se, uma vez que, estudando as particula- AVANÇOS E CONQUISTAS CONSOLIDADOS PELO
ridades do Brasil, o professor compreendeu que esta MOVIMENTO NEGRO
não passa de uma imagem idealizada. Na verdade, a
perpetuação do mito acentua a segregação e a posição Abaixo, vejamos alguns exemplos de conquistas do
inferior do negro na sociedade. Movimento Negro.
Schwarcz aponta que a escravidão no Brasil foi
marcada pela violência física e simbólica dos corpos z Racismo como crime inafiançável e imprescritível:
negros e, neste cenário, é contundente afirmar que, atualmente, o crime de racismo tipificado pela Lei
apesar da miscigenação cultural, não há uma demo- nº 7.716, de 1989, é inafiançável e imprescritível.
cracia racial. Neste sentido, a denúncia do crime pode ser feita
300 pela vítima a qualquer tempo;
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Dica
Em casos de racismo ou injúria racial, procure a Delegacia de Polícia e registre a ocorrência. Também é pos-
sível realizar a denúncia através do Disque 100.

z Cotas raciais nas universidades: as cotas raciais nas universidades geram impactos extremamente positivos na
educação brasileira, que repercutem, principalmente, nas classes sociais menos favorecidas.
z Valorização da cultura negra: Zumbi dos Palmares foi reconhecido como herói nacional e a História afro-bra-
sileira tornou-se obrigatória nas grades escolares.

Alterações Legislativas

Em janeiro de 2023, foi sancionada a Lei nº. 14.532, que tipifica como crime de racismo a injúria racial. O racis-
mo é compreendido como um crime contra a coletividade e, anteriormente à referida lei, a injúria era percebida
como um crime contra o indivíduo (SENADO NOTÍCIAS, 2023).
A Lei nº. 7.716 de 1989, que aborda crimes raciais, não havia englobado a injúria racial, que permaneceu
apenas no Código Penal. Neste cenário, com a nova alteração, as penalidades também foram modificadas. A pena
para injúria racial, antes da modificação legislativa, consistia em um a três anos e, após a mudança, passou para
de três a cinco anos (SENADO NOTÍCIAS, 2023).

Desafios Atuais

Apesar dos avanços, os negros ainda enfrentam diversos desafios. A desigualdade racial continua sendo uma
realidade no Brasil. Os negros têm menor escolaridade, menor renda e maior taxa de desemprego do que os bran-
cos. Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo entre negros é de 10,3%, enquanto entre brancos é de 4,3%. A renda
média mensal dos negros é de R$ 1.772, enquanto a dos brancos é de R$ 2.400. A taxa de desemprego entre negros
é de 13,4%, enquanto a dos brancos é de 10,2%.

z Racismo

O racismo é um desafio enfrentado pelos negros. O racismo é a discriminação contra alguém por causa de
sua raça ou etnia. Ele pode se manifestar de diversas formas, como a violência física, a violência psicológica e a
discriminação no mercado de trabalho.
De acordo com o Atlas da Violência 2022, os negros são as principais vítimas de homicídios no Brasil. Em 2021,
a taxa de homicídios de negros foi de 23,5%, enquanto a de brancos foi de 7,2%.

z Violência

A violência é outro desafio enfrentado pelos negros. Os negros são mais propensos a serem vítimas de violên-
cia policial, violência urbana e violência doméstica.
De acordo com o relatório “Violência contra a população negra no Brasil: 2022”, publicado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a taxa de homicídios por intervenção policial entre negros é duas vezes
maior do que entre brancos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Violência contra a população negra no Brasil: 2022. Brasília:
IPEA, 2022.
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Plano Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (PNPIR). Brasília: SEPPIR, 2022.
REALIDADE BRASILEIRA

HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA POR DIREITOS E DESAFIOS


ATUAIS
Os povos indígenas que ocupavam o território do Brasil podem ser classificados em quatro grandes troncos
linguísticos, a saber:

z Tupi: viviam no litoral e foram os primeiros a entrar em contato com os portugueses. Utilizavam-se da pesca,
caça e coleta na mata. Eram considerados desse tronco os tamoios, os guaranis, os tupinambás, os tabajaras,
entre outros;
z Macro-Jê: algumas comunidades viviam na Serra do Mar, mas se localizavam, principalmente, no Planalto
Central. Apenas no século XVII, foi que os grupos macro-jê passaram a ser atacados, por conta da escraviza-
ção indígena. Eram considerados desse tronco os timbiras, os aimorés, os Goitacazes, os carijós, os carajás, os
bororós, os botocudos, entre outros; 301
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Karib: ocupavam a região da Planície Amazônica, além dos atuais Amapá e Roraima. Bastante hostis aos inva-
sores, praticavam, inclusive, a antropofagia. Assim como os macro-jê, entraram em contato com os brancos no
século XVII, por conta dos aldeamentos religiosos e das fortificações militares. Eram considerados desse tronco
os atroari e os uaimiri;
z Aruak: estabeleciam-se na região amazônica e na Ilha de Marajó, com destaque para seus utensílios em cerâ-
mica. Eram considerados desse tronco os aruá, pareci, cunibó, guaná e terena.

Fonte: Atlas Histórico Escolar. 8ª ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 12.

BRASIL ANTES DA CHEGADA DOS EUROPEUS

Os tupis, por habitarem o litoral e terem sido os primeiros a entrarem em contato com os colonizadores, são
os mais conhecidos e descritos nos documentos da época. Sobre eles, temos conhecimento graças às descrições
feitas por padres, viajantes e funcionários da Coroa portuguesa que resultaram em uma imagem dos povos pré-
-cabralinos, como se todos fossem iguais. O que sabemos sobre eles serve de base para o entendimento das demais
sociedades tribais.
A organização social básica era a tribo, que se subdividia em aldeias ou tabas, cada uma delas com um chefe.
A aldeia era formada por um conjunto de quatro a sete ocas, dispostas de forma circular, delimitando uma praça
central — a ocara — onde eram realizadas as cerimônias religiosas, as festas e a reunião dos líderes para decidir
uma guerra ou migração. Geralmente, em torno da aldeia, era levantada uma cerca de troncos — a caiçara — com
a finalidade de defendê-la.
As aldeias ligadas entre si por parentesco, costumes e tradição formavam uma tribo. O parentesco garantia
a manutenção do modo de ser do grupo e perpetuava-se através de uniões obrigatórias com pessoas de fora. A
relação de parentesco criava a relação de aliança grupal, na qual o casamento significava uma possibilidade
de reforço do poderio do grupo. A família era patriarcal e o casamento poligâmico em algumas comunidades e
monogâmico em outras.
A chefia realizava a organização interna da aldeia. Entre os tupis, a chefia era exercida pelos homens mais
velhos e os líderes guerreiros. Eles tomavam as decisões sobre a guerra, a migração, as grandes caçadas e o sacri-
302 fício dos inimigos.
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Para prover a sua alimentação, os povos indígenas z Exemplos
caçavam, pescavam e coletavam crustáceos, frutos
e raízes. A divisão do trabalho nas aldeias obedecia De acordo com a Fundação Nacional do Índio
a dois critérios: sexo e idade. Os homens derruba- (FUNAI), entre 2019 e 2022, foram registrados 1.051
vam as matas, preparavam o terreno para o plantio, ataques a povos indígenas no Brasil.
caçavam, pescavam, guerreavam e confeccionavam Em 2022, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
canoas, arcos, flechas e adornos. As mulheres planta- registrou 180 assassinatos de indígenas no Brasil.
vam, colhiam, faziam cestaria e cerâmica. Quanto às Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
crianças, a divisão entre meninos e meninas ocorria tística (IBGE), a taxa de analfabetismo entre indígenas
a partir dos cinco anos de idade, quando as meninas é de 26,2%, enquanto a média nacional é de 9,5%.
brincavam e ajudavam as mulheres em seus traba-
lhos e os meninos seguiam o exemplo dos homens, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
buscando aprender sobre a caça e a pesca.
Quando os recursos próximos à aldeia se esgota- Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Relatório
vam, migravam para outro lugar. O nomadismo da Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2022.
população indígena também ocorria pela procura de Brasília: FUNAI, 2022.
um lugar ideal e quase utópico, chamado “terra sem Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Relatório
mal”, onde teriam prosperidade constante. Os indí- Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2022.
genas procuravam lugares próximos aos rios e lagos, Brasília: CIMI, 2022.
para ter acesso mais fácil à caça e, eventualmente, à Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
agricultura. A chegada em um território ocupado por (IBGE). Censo Demográfico 2022. Rio de Janeiro: IBGE,
outra comunidade podia gerar guerras.
Os povos indígenas estavam muito envolvidos com 2022
a natureza e tinham uma maneira peculiar de enten-
dê-la, por meio de uma concepção mítica de mundo.
A própria natureza era tida como uma dádiva das
divindades ou transformava-se na própria divindade, DINÂMICA SOCIAL NO BRASIL:
como a mãe-terra. Portanto, a religião indígena pode
ser classificada como politeísta.
ESTRATIFICAÇÃO, DESIGUALDADE E
Nas épocas de plantio, de colheita, de caça, ou nas EXCLUSÃO SOCIAL
estações de chuva ou de seca, os membros da aldeia
se reuniam e os pajés, líderes religiosos, relatavam as SOCIEDADES ESTRATIFICADAS
lendas e os mitos de cultuar. O pajé, preocupado em
manter vivas as tradições tribais, usava vestimentas As denominadas “sociedades estratificadas” são
especiais, como mantos, plumas coladas ao corpo, aquelas divididas em estratos sociais. Isto significa que
máscaras de madeira, visando à transmissão de sua os indivíduos que a compõem ocupam classes e cama-
mensagem. Também bebia o cauim, fumava o taba- das distintas. A estratificação pode ocorrer em âmbito
co, cantava, dançava e invocava os mitos. O ambiente econômico (há distribuição de riquezas e bens de for-
revestia-se dessa atmosfera mágica e religiosa, a fim ma distinta), em âmbito político (há desigual distribui-
de agradecer a chuva, uma boa colheita ou a decisão ção do poder de comandar a sociedade) e, por fim, em
do conselho de chefes para migração. âmbito profissional — nesta hipótese, há valorização
de algumas profissões em detrimento de outras.
Atualidade
DIFERENÇAS CULTURAIS E DESIGUALDADES
Atualmente, os povos indígenas representam cer-
ca de 0,5% da população brasileira. Eles ainda enfren- Embora se tenha elaborado a ideia de uma cultura
tam diversos desafios, como a perda de territórios, a nacional, como forma de preservar a unidade do Estado-
violência e a discriminação. -Nação, as sociedades nacionais e as sociedades em geral
se caracterizam por serem multiculturais. Quando o
z Perda de territórios debate da cultura ou das culturas se torna central para
pensar a realidade, seja ela nacional ou local, portanto,
Os povos indígenas têm seus territórios reconhe- também é necessário se atentar às diversidades e dife-
cidos pela Constituição Federal de 1988. No entanto, renças nos modos de pensar, de se organizar, nas cren-
esses territórios estão constantemente sendo invadi- ças, costumes e línguas presentes nessas sociedades. E
como o contato constante entre diferentes culturas, seja
dos por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros.
REALIDADE BRASILEIRA

nas relações de tolerância ou conflito, pensar uma socie-


dade multicultural é compreender que esses contatos
z Violência
entre culturas produzem seus desdobramentos.
Se, por um lado, a coexistência de uma enorme
Os povos indígenas são vítimas de violência física, diversidade de grupos e povos dentro de uma mesma
psicológica e simbólica. Eles são alvo de assassinatos, sociedade implica uma pluralidade de formas de ver,
ameaças e discriminação. perceber e se relacionar com o mundo de maneiras mais
diversas e complexas pode ser um grande desafio.
z Discriminação Todavia, essa relação entre diferentes culturas
nem sempre é de tolerância e respeito, tendo como
Os indígenas ainda enfrentam discriminação na desdobramentos relações intolerantes e discriminató-
educação, na saúde e no mercado de trabalho. Eles rias, a partir de marcadores como gênero, sexualida-
são frequentemente tratados como “inferiores” ou de, raça e etnia, assim como também em diferenças
“atrasados”. regionais e a discriminação à pessoas com deficiência. 303
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O que até então representa a diversidade humana, Região Nordeste
a partir das diferenças étnico-culturais e raciais, se
converte em formas de classificar e discriminar. Essas Dentre as manifestações culturais da região, pode-
diferenças são classificadas por grupos política, eco- mos citar as danças e festas, tais como a festa do “bumba
nomicamente e/ou culturalmente dominantes. Nesse meu boi”, o maracatu, a dança dos caboclinhos, o carna-
sentido, a produção da ideia culturalmente dominan- val, a ciranda, o coco, o terno de zabumba, a marujada,
te de normalidade também proporciona uma classifi- o reisado, o frevo, a cavalhada e capoeira. Além destas,
cação de anormalidade para os grupos culturalmente podemos mencionar, ainda, algumas festas de caráter
diversos. As diferenças sociais, portanto, se conver- eminentemente religioso, tais como a celebração de
tem em instrumento de produção e reprodução de Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim.
desigualdades sociais pelos grupos dominantes que Outrossim, a literatura de cordel também configu-
definem o que é social e culturalmente aceitável ra elemento forte da cultura nordestina, assim como
Se a cultura é o todo que constitui a vida humana, o artesanato, representado, principalmente, pelos tra-
a negação da diversidade cultural nas mais distintas balhos com e de rendas. No que tange à cultura culiná-
formas de discriminação se caracteriza também como
ria, são exemplos de pratos típicos a buchada de bode,
instrumento de desumanização do outro. O reconhe-
o acarajé, o vatapá, a canjica, a cocada, a tapioca, o pé
cimento da diversidade cultural também perpassa
de moleque, entre outros.
pelo reconhecimento do outro em sua humanidade,
uma vez que a cultura é aquilo que dá sentido a sua Região Norte
vida, que o humaniza e cria laços de pertencimento
para se viver em sociedade. Na região Norte, as duas maiores festas são o Círio
de Nazaré, que acontece em Belém, Pará, e o Festival
DESIGUALDADES E EXCLUSÕES VIVENCIADAS de Parintins, no estado do Amazonas.
CONTEMPORANEAMENTE NO BRASIL A influência de traços culturais característicos dos
povos indígenas faz-se muito presente na culinária do
Atualmente, a exclusão e a ausência de direitos Norte, marcada pela forte presença de ingredientes
sociais para pessoas negras ainda se perpetua, uma como a mandioca e os peixes. Além destes, podemos
vez que a troca de regime não anula a desigualdade citar outros alimentos típicos da região. São exemplos:
social. Neste sentido, as práticas, os costumes e as cren-
ças sociais continuam impregnadas pela cruel história z a carne de sol;
escravocrata, produzindo novas formas de racismo e z o tucupi (caldo da mandioca cozida);
discriminação. São exemplos destas condutas: z o tacacá (espécie de sopa quente feita com tucupi);
z o jambu (um tipo de erva);
z a mortalidade precoce da população negra (geno- z o camarão seco; e
cídio negro); z a pimenta-de-cheiro.
z o encarceramento; e
Região Centro-Oeste
z constante violência e os atos discriminatórios
estatais. As manifestações culturais mais conhecidas do Cen-
tro-Oeste são a cavalhada e o fogaréu, em Goiás, e o curu-
Outrossim, é importante apontar os retrocessos ru, típico do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. Na
sociais recentes presentes na sociedade, tais como os culinária, se destacam o arroz com pequi, a sopa para-
discursos que afirmam “não existir racismo no Bra- guaia, o arroz carreteiro, a Maria Isabel, a pamonha,
sil”, que abarcam os discursos reivindicatórios como o angu, o curau, além dos peixes comuns nos rios da
um “coitadismo” exacerbado. Segundo Schwarcz, é região, como o pintado, o pacu, o dourado, entre outros.
contundente afirmar que, enquanto persistir o racis-
mo, não poderemos falar em democracia consolidada. Região Sul

A região sul, historicamente, devido à imigração,


sofreu muita influência de alemães e italianos. Dentre
suas manifestações culturais, provavelmente a Festa
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã) são as mais
MOVIMENTOS SOCIAIS E GARANTIA conhecidas. Além destas, compõem a o patrimônio
DE DIRETOS DAS MINORIAS cultural imaterial da região o fandango, de influência
portuguesa, a tirana e o anuo, de origem espanhola,
a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a congada,
PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE CULTURAL NO
o boi de mamão, a dança de fitas e o boi na vara. A
BRASIL
cozinha sulista é famosa pelo churrasco, pelo chimar-
rão, pelo barreado (cozido de carne em uma panela de
Devido a suas dimensões continentais e, princi-
barro), pelo vinho, entre outros.
palmente, à história de sua formação, o Brasil é um
país que possui enorme diversidade cultural. De outro Região Sudeste
modo, podemos dizer que, em virtude da colonização,
a “cultura brasileira”, para além dos povos originá- Na região Sudeste, historicamente formada pelos
rios, sofreu grande influência dos colonizadores por- chamados “caipiras”, tal como aponta Darcy Ribeiro
tugueses, dos africanos escravizados, dos imigrantes (“O Povo Brasileiro”, 1995), as festas mais conhecidas
europeus e japoneses, entre outros. são a do Divino, dos festejos da Páscoa e dos Santos
Dito isso, estudaremos, agora, algumas das princi- Padroeiros, a congada, o carnaval, as festas de peão de
304 pais manifestações culturais de cada região do Brasil. boiadeiro e a Folia de Reis.
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Dentre os pratos típicos, os mais conhecidos são o mais direitos, podendo, aqui, ser elencada a reivindi-
pão de queijo, o feijão tropeiro, a carne de porco, a cação pelos direitos da juventude, de negros e negras,
feijoada, o bolinho de bacalhau, o virado à paulista, a das mulheres e dos trabalhadores.
farofa etc. Os movimentos sociais não são apenas reativos.
Eles podem, inclusive, levantar para debate temas
MOVIMENTOS SOCIAIS importantes e apresentar alguma luta que conside-
rem importante ser do conhecimento do conjunto da
Todos nós ouvimos, em algum momento da nossa sociedade.
rotina, noticiários a respeito de ações realizadas por Pode-se encontrar quem defenda que os movimen-
movimentos sociais, seja para reivindicação, seja para tos sociais têm ciclos de existência, os quais podem ser
contestação de algo. Mas o que de fato significa um observados no esquema abaixo:
movimento social? Ora, ele nada mais é do que uma
ação social coletiva, de caráter sociopolítico e cultural,
Começam com uma efervescência social,
constituída por elementos comuns aos indivíduos que
algum acontecimento que gera comoção ou revol-
o constroem e que compartilham de uma mesma cau-
ta. No entanto, nesta fase o movimento não tem,
sa. Um movimento social pode cumprir tanto o papel
ainda, nenhuma organização, com as manifesta-
de manter alguma situação quanto de mudá-la.
ções sendo uma reação diante de um fato
Na prática cotidiana, os movimentos sociais
podem assumir diversas formas de ação, que, por sua
vez, vão desde a realização de denúncias e passeatas
até mobilizações e ocupações de espaços públicos ou
privados. O intuito é a reivindicação ou contestação No segundo ciclo, há o clamor popular, isto é,
de alguma ordem. as pautas ficam mais delineadas
É importante destacar que, ao longo da história, os
movimentos sociais foram encarados e interpretados
de diferentes formas por autores das ciências sociais.
Algumas correntes interpretavam ações, a exemplo
de greves, passeatas e manifestações, como causado- No terceiro ciclo, aparecem organizações que
ras de conflitos na ordem social. Em última instância, dão direção ao movimento; surgem, também, lide-
como anômalas, prejudiciais e perturbadoras do fun- ranças, e as lutas começam a ter eficácia
cionamento da sociedade. Podemos considerar, aqui,
alguns autores expoentes dessa linha de pensamento,
como Émile Durkheim (1858-1917) e Talcott Parsons
(1902-1979).
Por fim, no último ciclo, o movimento social se
Entretanto, outras correntes interpretavam os
institucionaliza
movimentos sociais a partir de conceitos oriundos da
teoria marxista, como o de luta de classes e da opo-
sição burguesia versus proletariado, considerando
as ações coletivas como práticas fundamentais para Para a insurgência de movimentos sociais, há
o desenvolvimento da consciência da classe trabalha- quem defenda que alguns aspectos devem aparecer:
dora para pôr fim às mazelas sociais, enfim, para a
z é necessário que haja um contexto social que dê
realização da transformação social.
sentido e justifique seu surgimento;
Para Gohn (2011, p. 336), os movimentos sociais
z deve haver uma contradição entre a realidade
sempre existiram na história porque representam for-
social e as aspirações dos participantes do movi-
ças sociais organizadas, envolvendo as pessoas como
mento. Em outras palavras, um choque entre as
um campo de atividades e de experimentação social,
expectativas dos atores sociais e a realidade em
sendo essas atividades importantes “[...] fontes gera-
doras de criatividade e inovações socioculturais”. que estão inseridos;
Os movimentos sociais, portanto, demonstram o z crenças, valores e ideias que são entendidos como
quão viva está a sociedade e como ela caminha, reali- importantes e acerca dos quais tem-se certeza da
zando um “diagnóstico da realidade social”, apontan- importância da propagação;
do as fissuras estruturais e os problemas que precisam z a ocorrência de um fato gerador de insatisfação
ser solucionados. Para isso, elaboram estudos, pro- social e, consequentemente, do movimento social
postas e atividades que visam contribuir para a rea- — um estopim.
lização do seu objetivo. Os movimentos sociais não
REALIDADE BRASILEIRA

Os movimentos sociais, dependendo do contex-


necessariamente se contrapõem ao governo vigente,
to histórico e social, das pautas que defendem e dos
podendo tanto se opor à política desenvolvida por
atores sociais envolvidos no processo, podem ter vida
este quanto colidir e apoiá-lo.
longa ou curta.
Ainda de acordo com Gohn (2011), existem elemen-
tos que caracterizam os movimentos sociais, como: A Efervescência De Movimentos Sociais No Século
Xx
z possuir uma identidade;
z ter um opositor; No século XX, ocorria uma série de mudanças e
z fundamentar-se em um projeto de vida e sociedade. transformações em várias partes do mundo, sendo a
década de 1960 considerada um marco para a histó-
Integra as pautas gerais de grande parte dos movi- ria. A partir de revoltas estudantis na França, o mun-
mentos sociais a luta contra a exclusão, a pobreza, a do entrou em “colapso” e rebeliões se desenrolaram
fome e a desigualdade social, bem como a batalha por por todo o globo. 305
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Nos Estados Unidos, os movimentos pelos direitos civis tornaram-se mais fortes e intensos contra a segregação
racial e a violência praticada contra negros e negras, que reivindicavam a igualdade racial e direitos civis básicos,
como o acesso à educação.
Nesse período, destacaram-se como exemplos de desobediência civil e contestação da ordem vigente (segre-
gação entre brancos e negros) o pastor Martin Luther King e Rosa Parks, que, mais tarde, viriam a se tornar
símbolos de luta pelos direitos civis no país. As manifestações nas ruas dos Estados Unidos conformavam, assim,
uma identidade, uma causa, bem como a resistência do povo negro contra a lógica que operava para excluí-los e
marginalizá-los.

Marcha sobre Washington por Emprego e Liberdade — 28 de agosto de 1963. Fonte: Revista Galileu. Foto: Wikimedia Commons2.

Também nesse período, destacam-se movimentos de contracultura, que questionavam o consumismo, as


regras socialmente estabelecidas e os papéis tradicionais de gênero historicamente desempenhados, além da pre-
sença de movimentos nas ruas para contestarem o massacre que ocorreu contra o povo vietnamita pelas forças
americanas. Aqui, destacam-se, em especial, as lutas da população LGBTQIAPN+ e das mulheres, que acionaram o
discurso da igualdade e liberdade. Um marco desse período foi a produção da pílula anticoncepcional.
Destacam-se, aqui, também, os movimentos de libertação nacional, que eclodiram no continente africano,
contra o colonialismo e pela independência política, econômica e cultural de países como Moçambique e Argélia.
Ainda na segunda metade do século XX, países europeus, como França e Portugal, possuíam colônias na África,
sob grande repressão, violência e massacre de seus povos. Os movimentos sociais de luta pela libertação, apoiados
por movimentos de outras nações, realizaram levantes e ações contra as forças de ocupação colonial, lançando
mão da revolta armada e da convocação do povo em defesa da soberania nacional.

Povo na rua pela libertação e contra o domínio português em Moçambique. Fonte: DW. Foto: picture-alliance/dpa3.

2 Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/08/6-eventos-que-precederam-marcha-sobre-washington-


por-direitos-civis.html. Acesso em: 5 abr. 2023.
3 Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/cronologia-1974-2002-das-independ%C3%AAncias-ao-fim-da-guerra-em-mo%C3%A7ambique-e-
306 angola/a-17280940. Acesso em: 5 abr. 2023.
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Na América Latina, os movimentos sociais tomaram as ruas contra os governos autoritários que assumiram o
poder através de golpes militares. As movimentações iam desde ocupação das ruas com faixas e cartazes até atos
culturais em frente a teatros e cinemas. No Brasil, com as prisões, perseguições, desaparecimentos e assassinatos
de lideranças políticas, os movimentos intensificaram-se contra a ditadura militar, aglutinando diversos setores
da sociedade em torno da luta pela redemocratização.

Marcha dos cem mil. Fonte: Jornalistas Livres. Foto: Evandro Teixeira4.

Em 28 de março de 1968, o estudante secundarista Edson Luís foi assassinado pela polícia militar no restau-
rante da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecido como “Calabouço”, quando alunos se organizaram
para protestar contra o aumento do preço da comida. Esse episódio despertou grandes manifestações no Rio de
Janeiro e em São Paulo, protagonizadas, principalmente, pelo movimento estudantil. Destacam-se, nesse período,
os movimentos secundarista e universitário, que estiveram massivamente nas ruas contra as privatizações, por
melhores condições das estruturas de ensino, pela justiça social e em defesa das liberdades democráticas.
Os movimentos sociais desse período, através das mobilizações massivas e das pressões políticas para melho-
res condições de vida, acesso amplo e irrestrito à saúde, educação e defesa do patrimônio nacional, foram decisi-
vos para a conquista de direitos sociais, incorporados, posteriormente, pela nova Constituição Federal, de 1988.

1990: Surgimento E Novas Demandas Dos Movimentos Sociais

De acordo com Gohn (2011), na década de 1990 surgem novas formas de organização popular mais institucio-
nalizadas, diferentes dos movimentos que vinham ocorrendo em anos anteriores. Nesse período, ergueram-se os
fóruns, como o Fórum Nacional por Moradia e o Fórum Nacional de Participação Popular, que estabeleceram a
dinâmica de encontros e reuniões nacionais, com a definição de metas, análise de conjuntura nacional e articula-
ção de estratégias. Gohn (2011) indica que o ano de 1990 tem como um dos marcos a criação da Central dos Movi-
REALIDADE BRASILEIRA

mentos Populares, que gera um saltO a nível de organização dos movimentos populares de diversos segmentos e
uma maior aproximação da sociedade civil organizada com o setor público, através da concepção de programas
como o Bolsa-Escola e a Renda Mínima.
Essa década também se destaca pela implementação da política neoliberal no Brasil, com maior arrocho e
desemprego, carestia de vida e grande desigualdade social. Junto a isso, eclodem ações de movimentos que levan-
tam pautas a favor do emprego, contra as flexibilizações dos contratos e pela moradia digna. A autora também
destaca mais três movimentos sociais que cresceram nesse período: o do funcionalismo público, o dos ecologistas
e o dos povos indígenas, este último com pauta central sendo a demarcação das suas terras.
Nesse período, cresce o que viria a ser um dos maiores movimentos sociais da América Latina: o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Com a expansão da fronteira agrícola, maior concentração fundiária
e mecanização do campo — que contribuíram de modo significativo para o êxodo rural no Brasil —, o MST surge
com o propósito de organizar os trabalhadores do campo, que viviam em grande situação de pobreza, sem meios
4 Disponível em: https://jornalistaslivres.org/democracia-sem-povo-tem-nome-ditadura/. Acesso em: 5 abr. 2023. 307
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de produção, a lutarem por um pedaço de terra para continuarem no campo, produzindo e criando seus filhos
com melhores condições de vida. A tática realizada pelo MST consistiu nas ocupações de terras, que se tornaram
conhecidas em todo o país e que geraram grandes conflitos no campo. Ao ocupar terras improdutivas e levantar
acampamento, o movimento tinha como principal objetivo pressionar o governo a desapropriar a terra e destiná-
-la para a reforma agrária. Ao longo dos anos, muitos acampamentos transformaram-se em assentamentos, sendo
construídos, pelo movimento, escolas e cooperativas.

Marcha do MST até Brasília. Fonte: Agência Brasil. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil5.

O MST torna-se, assim, o principal movimento que protagoniza o conflito social no Brasil. No fim dos anos
1990, o país era marcado pela recessão, pelas reformas administrativas realizadas e pelo aumento das taxas
de desemprego. Nesse período, novos atores sociais surgem e os movimentos sociais de rua voltaram a crescer,
como a greve, o movimento estudantil e os protestos dos profissionais de educação, bem como as manifestações
indígenas.
No Brasil, o Movimento Diretas Já tomou as ruas. Com o intuito de pedir a volta da democracia, as mobiliza-
ções aconteceram no início dos anos 1980, quando, nos principais estados brasileiros, foram eleitos governadores
de oposição ao regime militar. Em São Paulo, venceu as eleições de 1982 Franco Montoro; em Minas Gerais, Tan-
credo Neves, e, no Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola. Milhares de pessoas saíram às ruas exigindo o fim da
ditadura e eleições democráticas para presidente. Esse movimento culminou com o deputado federal Dante de
Oliveira apresentando a proposta de Emenda Constitucional nº 5, devolvendo ao povo o direito de escolher seu
presidente, no dia 2 de março de 1983. Essa emenda foi rejeitada, o que fez com que as eleições presidenciais de
1985 transcorressem de forma indireta, com Tancredo Neves vencendo Paulo Maluf. Somente em 1989 voltamos
a escolher, através do voto, nossos presidentes, com a Câmara Federal restituindo o voto popular nas eleições
presidenciais.
O primeiro presidente eleito após a ditadura militar foi Fernando Collor de Mello, que assumiu a chefia do
país em 1990 e sofreu um processo de impeachment em 1992. O governo Collor começou com o confisco da pou-
pança dos brasileiros. Na década de 1980, um dos maiores problemas nacionais era a inflação alta. Isso minava o
poder de compra dos salários, ocasionando, entre inúmeras outras adversidades, o baixo crescimento econômico
do Brasil. Como uma medida para tentar abaixar a inflação, a equipe econômica da gestão Collor fez um plano
que bloqueou o dinheiro dos cidadãos depositado nas cadernetas de poupança. Tal providência reduziu de vez o
poder de compra dos brasileiros e gerou um desgaste muito grande para o governo, que passou a ser visto com
desconfiança pela população.
Somados a esse desgaste, começaram a aparecer escândalos de corrupção envolvendo o tesoureiro da campa-
nha de Collor, Paulo César Farias. Com o desdobramento da cobertura jornalística sobre os acontecimentos, sur-
giu um clamor popular pela destituição de Collor da presidência. Liderados pela União Nacional dos Estudantes
(UNE), jovens de todo o país saíram às ruas exigindo a saída do presidente, mobilização que ficou conhecida como
“movimento dos Caras Pintadas”. Todas essas movimentações foram decisivas para a alteração do cenário político
e para a consideração e incorporação de elementos políticos e sociais oriundos da demanda popular.
308 5 Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-02/dilma-vai-receber-mst-nesta-quinta-feira. Acesso em: 6 abr. 2023.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Protesto dos sem-teto por moradias no vão do MASP, em São Paulo. Fonte: Wikimedia Commons6.

Outro movimento social surgido nos finais da década de 1990 foi o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), cujo objetivo é a luta pela moradia. O MTST tem sua atuação nos grandes centros urbanos, organizando a
luta pelo cumprimento do art. 6º da Constituição Brasileira, que diz:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.

A forma de luta utilizada pelo MTST para chamar a atenção dos poderes públicos para o problema do déficit
habitacional é a ocupação de imóveis em situação irregular, ato gerador das maiores críticas ao MTST. Impor-
tante ressaltar que o direito à propriedade é garantido em nossa constituição, porém o direito à propriedade é
assegurado desde de que ela tenha função social. Por “imóvel em situação irregular” entende-se os que foram
abandonados e que estão ociosos.
Os ativistas do movimento são: pessoas que não conseguiram mais arcar com os preços dos aluguéis; famílias
que moravam em áreas consideradas de risco, e pessoas despejadas de suas casas. Um dos maiores problemas
brasileiros é o déficit habitacional. Dados de 2019 da Fundação João Pinheiro apontavam que a deficiência de
habitação brasileira era de 5,8 milhões de casas. Aqui, entram pessoas que não tem casa, bem como casas em que
moram mais de uma família.
A moradia é um direito fundamental. Nos últimos anos, nas principais cidades do país, o número de pessoas
morando debaixo de viadutos e marquises aumentou muito. Além disso, famílias inteiras nas ruas pela falta de
oportunidades de emprego foi outra situação constatada, assim como a insuficiência de políticas públicas gover-
namentais para solucionar essa realidade, vivida por milhares de pessoas. A moradia é um direito fundamental,
assim como educação e saúde, e é uma pauta urgente que precisa de atenção especial dos governos.
Observamos, portanto, que, ao longo de toda a história, os movimentos sociais tiveram um importante papel
no desenvolvimento das forças coletivas em torno de alguma bandeira, sendo a principal delas a luta contra a
exclusão e a desigualdade social. No entanto, observamos também que nenhum movimento é estático, mas são,
sim, forças que se modificam, incorporando novos elementos ao longo de sua trajetória e de suas experiências
sociais e políticas, podendo lançar mão de greves, passeatas, protestos, ocupações e negociações, dependendo de
cada situação.
Assim, os movimentos sociais foram fundamentais para pôr fim à situação de extrema desigualdade e violên-
cia, como vimos nas lutas pela libertação nacional, ou para a reivindicação de algo, como a contenda pela moradia
REALIDADE BRASILEIRA

e pela terra.

GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

Os direitos humanos têm como a universalidade, ou seja, tratam-se de direitos previstos para qualquer pessoa
independentemente de qualquer característica, origem ou local em que viva.
Entretanto, os direitos humanos são de extrema relevância para a proteção de grupos vulneráveis e minorias
que são vítimas constantes de violação de direitos humanos.
Porém, é necessário tomar cuidado com este assunto porque os grupos vulneráveis podem surgir em sua
prova.

6 Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:MTST_-_ABr-Masp_2014.jpg. Acesso em: 6 abr. 2023. 309


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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Isso porque os grupos vulneráveis e minorias
necessitam de medidas específicas de acordo com as DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
peculiaridades de suas necessidades. Por essa razão, CONCENTRAÇÃO DA RENDA E
existem diversos tratados que são estabelecidos entre
os Estados, seja no âmbito do sistema global, seja no RIQUEZA
âmbito do sistema interamericano, que têm como
premissa a proteção destas pessoas que fazem parte Conforme preceitua o site das Organização das
Nações Unidas de Portugal:
destes grupos.
São considerados grupos vulneráveis as mulhe-
A pobreza envolve mais do que a falta de recursos
res; as crianças e os adolescentes; os idosos; a popu-
e de rendimento que garantam meios de subsistên-
lação em situação de rua; as pessoas com deficiência cia sustentáveis. A pobreza manifesta-se através da
ou sofrimento mental e comunidade LGBT (lésbicas; fome e da mal nutrição, do acesso limitado à educa-
gays; bissexuais; travestis e transexuais). ção e a outros serviços básicos, à discriminação e à
Os grupos vulneráveis merecem atenção especial exclusão social, bem como à falta de participação
do Estado em virtude de serem constantemente víti- na tomada de decisões. (ONU Portugal, s.d.)
mas de violações de direitos humanos. Inclusive, os
sistemas de proteção estabeleceram tratados específi- Neste sentido, um forte indicador de pobreza abso-
co com normativa destinada à proteção destes grupos luta são as pessoas que vivem com renda abaixo do
como: Convenção sobre os Direitos da Criança; Con- Limiar Internacional de Pobreza que, hodiernamente,
venção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; corresponde a 1,90 dólar por dia (Silva, 2016, p. 230).
Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Segundo os dados das Nações Unidas, aproximada-
discriminação contra a mulher. mente 780 milhões de pessoas vivem nessas circuns-
Sobre as minorias, há que se esclarecer que decor- tâncias, totalizando 11% da população mundial.
rem das pessoas que em razão de sua origem, etnia
ou religião não ocupam uma posição dominante no Dica
Estado. E assim, por estarem à margem, são vítimas
constantes de violações de direitos humanos, razão Também existem pessoas que vivem em contex-
pela qual necessitam de proteção especial e da con- to de pobreza relativa, ou seja, possuem o míni-
cretização de medidas necessárias para que possam, mo para a subsistência e, neste sentido, não têm
de fato, gozar da igualdade. acesso a bens desejáveis pela sociedade.
Em relação a estes grupos, de forma a garantir que
se efetive a igualdade em seu favor, são estabelecidas Apesar dos números alarmantes, ao longo dos anos
algumas medidas concretas. Dentre elas, devem ser houve um significativo progresso acerca do objetivo
mencionadas as ações afirmativas. de erradicação da pobreza. Enquanto, em 2013, cerca
Ações afirmativas são as são medidas pontuais e de 11% da população mundial encontrava-se abaixo
que devem ser adotadas por certo período de tempo, do Limiar Internacional de Pobreza, em 1981, cerca
com o objetivo de amenizar ou mesmo cessar as dife- de 44% da população encontrava-se nessas condições.
Esse avanço está intrinsecamente ligado às inicia-
renças históricas havidas entre os indivíduos.
tivas globais para a erradicação da pobreza, tal como
Essas ações estão previstas na Convenção sobre a
a promoção da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sus-
eliminação de todas as formas de discriminação con-
tentável. Esta corresponde a um plano adotado pela
tra a mulher, inserida no ordenamento jurídico brasi-
ONU (Organizações das Nações Unidas) em setembro
leiro por força do Decreto n.º 4.377, de 2002 e também
de 2015, o qual foi elaborado em conjunto por diver-
no Estatuto da Igualdade Racial que foi expressamen-
sos líderes mundiais e representantes da esfera civil.
te trazido pela Lei 12.288, de 2010.
Nesta reunião, foram desenvolvidos 17 objetivos e 69
metas de desenvolvimento sustentável que deverão
Grupos vulneráveis e o sistema prisional ser aplicados até 2030 (ECAM, 2020).
Portanto, a erradicação da pobreza em todos os
Dentre as pessoas que fazem parte de grupos vul- seus âmbitos é um desafio de todas as sociedades con-
neráveis, não se pode perder de vista as pessoas que temporâneas. Para atingir esse objetivo é imprescin-
se encontram no sistema prisional. Os indivíduos que dível a articulação entre os governos, as instituições
estão em situação de encarceramento são potenciais internacionais e a sociedade civil.
vítimas de violações de direitos humanos.
No Brasil, já há alguns anos, o sistema prisional PAÍSES POBRES
não tem a estrutura necessária para que todas as pes-
soas que cumprem penas de privação de liberdade, Os países pobres são compreendidos como aque-
sejam elas decorrentes de medidas provisórias ou de les que enfrentam significativos impasses em áreas de
condenações definitivas, tenham respeitadas as con- distribuição de renda, educação, saúde e infraestrutu-
dições mínimas necessárias para a observância dos ra. Segundo os dados da ONU Portugal, a maioria dos
direitos humanos. indivíduos que vivem abaixo do Limiar Internacional
Em decorrência disso, que não é um problema de Pobreza — ou seja, com menos de 1,90 dólar por
apenas no Brasil, foram previstos tratados para a dia — encontram-se nas regiões da Ásia meridional e
proteção de grupos vulneráveis no âmbito do sistema África subsaariana
prisional. Outrossim, em vista dos impasses ocasionados —
Dentre elas, há que se mencionar o tratado das como a falta de emprego e suprimentos — pela pande-
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamen- mia da covid-19, as dívidas dos países pobres bateram
310 to de pessoas presas a seguir comentado. recorde em 2020 (ONU News, 2021).
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Neste sentido, a ajuda financeira e o planejamento Outrossim, a política adotada pelos governantes
internacional das organizações e países ricos podem exerce grande influência no desenvolvimento econô-
ajudar a mitigar as consequências da pobreza. mico de uma nação, uma vez que estes podem esta-
belecer políticas públicas, estimular a geração de
DESIGUALDADES SOCIAIS emprego, realizar uma maior redistribuição de ren-
da, investir em inovações tecnológicas, dentre outras
Segundo dados do relatório “Tempo de cuidar — medidas.
O trabalho de cuidado mal remunerado e não pago e
a crise global da desigualdade” da Oxfam que foram REFERÊNCIAS
divulgados em janeiro de 2020, os 2.153 bilionários
do mundo possuem mais riqueza do que 4,6 bilhões BILIONÁRIOS têm mais riqueza do que 4,6 bilhões
de pessoas — que correspondem a aproximadamente de pessoas, mais da metade da população mundial.
60% da população mundial (Diário do Nordeste, s.d.). Diário do Nordeste, s. d. Disponível em: https://
A desigualdade, entretanto, não se limita apenas à diariodonordeste.verdesmares.com.br/ultima-hora/
esfera econômica. mundo/bilionarios-tem-mais-riqueza-do-que-4-6-bi-
Existem desigualdades de gênero, escolar, racial, lhoes-de-pessoas-mais-da-metade-da-populacao-
regional, dentre outras e, por consequência, é possível -mundial-1.2200666. Acesso em: 20 jan. 2023.
compreender que ao abordar a temática, na verdade, DÍVIDA de países pobres bateu recorde em 2020. ONU
abordam-se distintas desigualdades sociais. News, 2021. Disponível em: https://news.un.org/pt/
Outrossim, as desigualdades sociais são intersec- story/2021/10/1766702. Acesso em: 22 fev. 2023
cionais, ou seja, as comunidades podem ser atingidas O que é a Agenda 2030 e quais os seus objetivos.
por uma ou mais formas ao mesmo tempo. ECAM, 2020. Disponível em: http://ecam.org.br/
blog/o-que-e-a-agenda-2030-e-quais-os-seus-objeti-
Desigualdade Econômica vos/. Acesso em: 16 mar. 2023.
PAINEL de Indicadores. IBGE, s. d. Disponível em:
A desigualdade econômica corresponde a uma dis- https://www.ibge.gov.br/indicadores. Acesso em:
paridade de renda e acesso a recursos entre grupos 23 fev. 2023.
PEREIRA, L. C. B. O conceito histórico de desen-
e regiões que resultam em diversos impasses sociais,
volvimento econômico. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
tais como a instabilidade política e o aumento da
Pobreza.
criminalidade.
POBREZA. ONU Portugal, s. d. Disponível em:
A origem da distribuição desigual de renda, por
https://unric.org/pt/eliminar-a-pobreza/. Acesso
sua vez, depende de diversos fatores, dentre eles: a
em: 07 jan. 2023.
falta de acesso à educação de qualidade; as diferenças
SILVA, A. e col. Sociologia em movimento. São
salariais e as discriminações.
Paulo: Editora Moderna, 2016.
Desigualdade de Gênero

A desigualdade de gênero, por sua vez, corresponde


ao tratamento distinto que a sociedade atribui a homens DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
e mulheres que se manifesta de diversas formas, como MEIO AMBIENTE
na disparidade salarial e na violência de gênero.
MEIO AMBIENTE
Desigualdade Racial
A preservação ambiental é um dos assuntos que
A desigualdade racial — que no Brasil atinge majo- mais preocupam o mundo atualmente. São nítidas as
ritariamente a população negra e indígena em vista consequências da ação dos seres humanos no ecos-
do histórico de exclusão e discriminação — reflete em sistema, alterando seu equilíbrio. O desenvolvimento
distintas áreas, tais como educação, saúde, trabalho, econômico, bem como a aceleração da urbanização,
dentre outras. acarretaram problemas sérios que afetam, inclusive,
o próprio desenvolvimento econômico. Um dos maio-
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO res problemas que os grandes centros urbanos têm é
a poluição, o crescimento do efeito estufa com o con-
O desenvolvimento econômico pode ser definido sequente aquecimento global.
como o: Entretanto, a preocupação com a preservação
REALIDADE BRASILEIRA

ganhou espaço no período Pós-Segunda Guerra Mun-


[…] processo de sistemática acumulação de capital dial, ou seja, é uma discussão recente e de importân-
e de incorporação do progresso técnico ao traba- cia central para o nosso futuro. Da mesma forma que
lho e ao capital que leva ao aumento sustentado da temos o meio empresarial, o meio econômico, o meio
produtividade ou da renda por habitante e, em con- político, tem-se, nas discussões sociológicas, o meio
sequência, dos salários e dos padrões de bem-estar natural (GIDDENS; SUTTON, 2017). A produção eco-
de uma determinada sociedade. (Pereira, 2008, p. 1) nômica é uma relação entre tecnologia e natureza. A
natureza é a fornecedora das matérias-primas, que,
Logo, indicadores diversos apontam para o avan- por meio da transformação industrial, tornam-se bem
ço econômico de um país, tais como: o PIB (Produto útil ao ser humano.
Interno Bruto), nível de investimento e emprego — Portanto, no entendimento das relações huma-
além do acesso a serviços básicos como educação, no/meio ambiente, deve haver conhecimentos sobre
saúde e moradia (IBGE, s. d.). como essa relação afeta a nossa vida social e como 311
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podemos fazer para estabelecer um relacionamento As atividades realizadas nestes locais que resul-
mais equilibrado possível. Esse é o x da questão. Todo tam na degradação da área são:
desenvolvimento econômico pressupõe consumo de
energia. Sem a ampliação desse desenvolvimento, não z construção de rodovias e ferrovias;
criamos postos de trabalho para incorporar as novas z construção de empresas: represas e hidrelétricas,
pessoas que chegam a cada ano no mercado de tra- por exemplo;
balho. Entretanto, quanto mais nos desenvolvemos, z prática de atividades agropecuárias;
mais precisamos de energia e mais extraímos da natu- z mineração;
reza a energia necessária. z exploração florestal;
z caça e pesca;
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL z construção civil;
z urbanização;
Desenvolvimento sustentável combina crescimento z queima de combustíveis.
econômico com a preservação ambiental. Não é uma
equação fácil de ser resolvida. Os países que hoje são Sendo assim, para recuperar o ecossistema é neces-
considerados ricos e desenvolvidos utilizaram de forma sário inserir uma certa quantidade de biodiversida-
destrutiva seus recursos naturais. Como salientado na de nele. É possível que seja um número mínimo de
seção anterior, quando se falou sobre o meio ambiente, espécies, levando em conta a variabilidade estrutural
não existe crescimento econômico sem um aumento per-
e funcional dos processos ecológicos que ali ocorrem.
manente de utilização de matérias-primas. Os países em
desenvolvimento, que precisam incrementar sua indús-
tria, fomentar a criação de tecnologias e diversificar sua
estrutura de produção necessitam cada vez mais dos
recursos presentes na natureza. MATRIZ ENERGÉTICA
Além de o desenvolvimento sustentável buscar o
equilíbrio entre produção econômica e preservação FONTES RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS
do meio ambiente, busca também o desenvolvimento
social da população. No Brasil as contradições sociais As fontes de energia são as matérias-primas utili-
são enormes e as desigualdades estão aumentando, zadas para a produção de energia, que movimentam
principalmente nesses tempos pós-pandemia. máquinas de maneira direta ou indireta. São extraí-
A pandemia provocou um decréscimo da ativida- das da natureza e precisam passar por processos de
de econômica em todo o mundo. Os países que mais transformação para gerar energia.
sofreram foram os menos desenvolvidos. Ofertar edu- As fontes de energia são classificadas como:
cação pública de qualidade, ampliar os serviços de
saúde para população, investir em ciência e pesqui- z Renováveis: hidrelétricas, energia solar, produção
sa, exigem cada vez mais recursos que só podem ser eólica (ventos) e geotérmica (do calor proveniente
aumentados com desenvolvimento produtivo. do interior da Terra), biomassa (produzida a partir
Como vimos, este é um problema que deve ser da utilização de matérias-orgânicas), energia das
olhado sob várias perspectivas. Não podemos olhar marés (força das ondas) e do hidrogênio (por meio
para ele somente através da ótica econômica. Se assim do processo de reação química entre oxigênio e
fizermos, vamos a passos largos destruir nosso meio
hidrogênio que acaba por liberar energia);
ambiente. Todavia, não podemos só olhar pela preser-
z Não renováveis: combustíveis fósseis como o
vação, assim iremos paralisar o desenvolvimento.
petróleo, carvão mineral, gás natural e gás de xis-
Chegamos a um estágio de desenvolvimento tecno-
to, além da energia nuclear, produzida por meio
lógico que permite a otimização da utilização da natu-
do processo de fissão (quebra) nuclear dos átomos
reza reflorestando e recompondo, em parte, o que foi
de urânio e tório.
usado. Todos os países exportadores de produtos pri-
mários, que geralmente são os mais pobres, precisam
cumprir uma série de exigências impostas pelos paí- O mundo contemporâneo está diante do desafio de
ses importadores desses produtos. Entre essas exigên- utilizar cada vez mais energias não poluentes e renová-
cias, uma das principais é se o produto é produzido veis, com o objetivo de reduzir os impactos da matriz
respeitando as leis ambientais do país. energética sobre o meio ambiente. No Brasil já temos
programas de produção de energia com o objetivo de
reduzir os impactos ambientais, como, por exemplo, a
produção de etanol para combustível veicular; ele foi
inserido no país nos anos 70 a partir do Programa do
BIOMAS BRASILEIROS: USO Álcool Brasileiro, principalmente a partir do 1º choque
RACIONAL, CONSERVAÇÃO E do petróleo, ocorrido em 1973, que provocou aumentos
RECUPERAÇÃO consideráveis no valor de barril.
O Brasil destaca-se também pela produção de
Ecossistemas que não têm mais capacidade de energia a partir de usinas hidrelétricas, com desta-
recuperação natural são considerados ambientes que para as Usinas de Itaipu, Ilha Solteira, Belo Monte,
degradados. Considera-se, neste caso, que eles perdem Cachoeira Dourada e Furnas.
a capacidade de adaptação às mudanças ocorridas. Em relação à energia eólica, merece destaque o
As florestas costumam ser degradadas devido a crescimento apresentado na região Nordeste na inter-
um alto consumo de madeira, alimento e água, por face continente-oceano (litoral), especialmente a Usi-
parte do ser humano. E os recursos degradados são a na de Prainha, no Ceará.
312 flora, a fauna, a água e o solo.
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A produção da energia solar, em especial no cintu- MUDANÇA CLIMÁTICA
rão do sol, localizado no Nordeste, e em várias usinas
na região Sul, também aumenta cada vez mais. Como As mudanças climáticas ocorrem devido a causas
evidência da biomassa, temos o processamento de naturais ou mediante atividades humanas. De acordo
cana-de-açúcar e a produção de etanol. com o Painel Intergovernamental de Mudanças Cli-
Em relação às fontes de energia não renováveis, máticas (IPCC), órgão das Nações Unidas responsável
destacamos a utilização de gás natural, que é impor- por produzir informações científicas, é certo que o
tado da Bolívia. As poucas reservas de carvão mineral aumento da temperatura na Terra tem sido causado
estão localizadas em estados da região Sul, principal- pela ação do homem.
mente Santa Catarina. Estima-se que, a partir da Revolução Industrial,
O processo de extração e refino de petróleo é reali- a temperatura global média tenha aumentado cerca
zado pela Petrobras desde os anos 50, quando ocorreu de 0,8 °C, sendo a maior parte desse aumento causa-
sua inauguração e, nesse quesito, podemos destacar da pela atividade de queima de combustíveis fósseis
as reservas localizadas nas Bacias de Campos e Santos. (gasolina, carvão mineral e outros) e desmatamento.
Existem dois tipos básicos de produção de produ- Tais atos são responsáveis pelo crescimento da con-
ção de petróleo: o onshore e o offshore. O primeiro centração atmosférica de dióxido de carbono (CO2) e
está relacionado à produção do petróleo em solo, ou outros gases de efeito estufa.
seja, dentro do continente. As principais bacias pro- A fim de amenizar o problema, a Convenção Qua-
dutoras de petróleo onshore são a: Potiguar (situada dro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima prevê
no Rio Grande do Norte) e do Recôncavo Baiano. Já a contenção das concentrações de gases de efeito estu-
o petróleo offshore é aquele produzido fora do conti- fa, buscando evitar interferências antrópicas perigosas
nente, ou seja, em mar; a maior produção deste tipo no sistema climático. Além disso, estudos apontam que,
está localizada na área do pré-sal. para impedir danos maiores à natureza, à humanidade
Também é importante destacar a presença das e à economia global, é preciso limitar o aquecimento a
reservas de petróleo no pré-sal, localizado entre os menos de 2 °C acima do nível pré-Revolução Industrial.
estados de Santa Catarina e Espírito Santo (dando des- Quanto ao efeito estufa, ele corresponde a uma
taque para a Bacia de Santos), totalizando uma área camada composta, principalmente, por gás carbôni-
co (CO2), metano (CH4), N2O (óxido nitroso) e vapor
de mais de 800 km de extensão. Essa reserva de petró-
d’água, gases que cobrem a superfície da Terra. Esse
leo está localizada a uma profundidade superior a 7
fenômeno natural é imprescindível para a manuten-
mil metros abaixo do nível do mar, por baixo de uma
ção da vida na Terra, pois, em sua ausência, o planeta
camada de sal com espessura de 2 km, o que durante
pode tornar-se muito frio, o que inviabilizaria a sobre-
muito tempo inviabilizou a sua exploração.
vivência de diversas espécies.
Com o desenvolvimento tecnológico, a Petrobras
já extrai grandes quantidades de petróleo na região.
Estima-se que as reservas no pré-sal ultrapassem 200
milhões de barris e, por conta dessas reservas encon-
Importante!
tradas, o Brasil passou a ser autossuficiente na produ- Naturalmente, parte da radiação solar que che-
ção de petróleo. ga à Terra é refletida, retornando para o espaço,
Em relação à energia nuclear, merecem destaque as enquanto a outra parte é absorvida pelos ocea-
Usinas de Angra I e II, construídas nos anos 70, porém nos e pela superfície terrestre devido à camada
sem muita representatividade na matriz energética de gases em torno dela. A parte retida é a causa
brasileira, que atualmente se divide da seguinte forma: do chamado Efeito Estufa (Figura 20). À medida
Lixívia e outras que a camada de gases estufa fica mais espes-
renováveis sa, mais calor é retido na Terra e, consequen-
Carvão
Outras não 1,4% 5,7% temente, maior é a temperatura da atmosfera
renováveis terrestre e dos oceanos, ocasionando o chama-
1,4% do aquecimento global.
Lenha e carvão
vegetal
1,4%

Petróleo e
Derivados da
derivados
cana
REALIDADE BRASILEIRA

36,4%
12,0%

Hidráulica
12,0%

Gás natural
13,0%
Nuclear
1,4%

Fonte: epe.gov.br Figura 20: Efeito Estufa7

7 APROBIO, 2019. Disponível em: https://aprobio.com.br/noticia/voce-sabe-o-que-e-o-efeito-estufa. Acesso em: 11 maio 2021. 313
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As Consequências do Aquecimento Global

São várias as consequências do Aquecimento Global e algumas delas já podem ser sentidas em diferentes
partes do planeta. Os efeitos provenientes das mudanças climáticas são problemas mundiais e atingem todos os
ecossistemas.
Estudos revelam que o significativo aumento da temperatura média do planeta tem elevado o nível do mar,
devido ao derretimento das calotas polares. Tal fato pode ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litorâ-
neas densamente povoadas, alteração no clima global e nas correntes oceânicas (Figura 21).

Figura 21: Efeitos do aquecimento global8

Ainda, pode-se citar, como consequências do Aquecimento Global, a ocorrência de eventos climáticos extre-
mos, como tempestades tropicais, inundações, ondas de calor, seca, nevascas, furacões, tornados e tsunamis, os
quais podem causar a extinção de espécies de animais e de plantas.
No Brasil, acredita-se que a elevação do nível do mar pode afetar regiões costeiras. Dentre os principais dese-
quilíbrios que as alterações climáticas podem causar, destacam-se o aumento da frequência e intensidade de
enchentes e secas, expansão de vetores de doenças endêmicas, mudança do regime hidrológico, perdas na agri-
cultura e ameaças à biodiversidade.
Entre as atividades humanas que favorecem o aumento do aquecimento, por emitirem ampla quantidade de
CO2 e de gases formadores do Efeito Estufa, estão a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia,
atividades industriais e transportes, conversão do uso do solo, agropecuária, descarte de resíduos sólidos e o des-
matamento. O Brasil é um dos líderes mundiais em emissões de gases de efeito estufa (GEE) em decorrência das
mudanças do uso do solo e do desmatamento.
Vale destacar que as áreas de florestas e os ecossistemas naturais são grandes reservatórios e sumidouros de
carbono, os quais absorvem e estocam CO2. No entanto, quando ocorre um incêndio florestal ou uma área é des-
matada, esse carbono é liberado para a atmosfera, contribuindo para o efeito estufa e o aquecimento global. Além
disso, as emissões de GEE pela agropecuária e geração de energia vêm aumentando ao longo dos anos (Figura 22).

Água CO2
Água
Fotossíntese
Lenha Vapor de água

Calor

Água + Minerais

O2 Resíduos de
combustão

Figura 22: Ciclo do carbono9

8 SBMT, 2019. Disponível em: https://www.sbmt.org.br/portal/relacao-explosiva-aquecimento-global-e-doencas-tropicais/. Acesso em: 11 maio


2021.
314 9 Blogspot, 2010. Disponível em: http://portalcienciaecultura.blogspot.com/2010/08/o-ciclo-do-carbono.html. Acesso em: 11 maio 2021.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Conforme citado, os principais GEE são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso. O CO2
constitui mais de 70% das emissões de GEE, permanecendo ao redor da superfície terrestre por, no mínimo, cem
anos, causando, assim, impactos no clima ao longo de séculos. Já o CH4, embora emitido em menor quantidade,
seu potencial de aquecimento é vinte vezes superior ao do CO2. Quanto ao óxido nitroso e aos clorofluorcarbonos
(CFCs), suas concentrações na atmosfera são menores, mas o seu poder de reter calor é de 310 a 7.100 vezes maior
do que o CO2 (NAHUR; GUIDO; SANTOS, 2015; WWF, 2021).
Como vimos, a partir da Revolução Industrial, tanto os países desenvolvidos quanto os países em desenvolvi-
mento têm elevado, consideravelmente, suas emissões de GEE. Segundo dados mais recentes, em 2020, a China
ocupava o primeiro lugar do ranking, em seguida, pelos Estados Unidos; o Brasil aparecia em décimo segundo
lugar. Juntos, os 15 principais países geradores de poluição emitiam 73% de todas as emissões de CO2 do planeta.

Quadro 2: Os 15 países mais poluentes do planeta em 2020

EMISSÕES EM
POSIÇÃO PAÍSES % DE EMISSÃO GLOBAL
2017(MTCO2)
1º China 10.668 30,2 %

2º Estados Unidos 4.713 13,4%

3º Índia 2.442 6,9%

4º Rússia 1.577 4,5%

5º Japão 1.031 2,9%

6º Irã 745 2,1%

7º Alemanha 644 1,8%

8º Arábia Saudita 626 1,8%

9º Coreia do Sul 598 1,7%

10º Indonésia 590 1,7%

11º Canadá 536 1,5%

12º Brasil 467 1,3%

13º África do Sul 452 1,3%

14º Turquia 393 1,1%

15º Austrália 392 1,1%

TOP 15 25.874 73,3%

RESTANTE DO MUNDO 9.390 26,7%

Fonte: Global Carbon Atlas, 202010

Aqui, cabe um questionamento: o que se pode fazer para combater o Aquecimento Global?
Existem inúmeras maneiras de diminuir as emissões dos gases de Efeito Estufa e, consequentemente, o
aumento do Aquecimento Global. Para isso, é necessário que ocorra, em caráter de urgência, a redução do des-
matamento, o investimento em reflorestamento e a conservação de áreas naturais, o incentivo ao uso de energias
renováveis, a utilização de biocombustíveis, a redução e o reaproveitamento de materiais, o investimento em
tecnologias de baixo carbono, entre outros. Tais medidas podem ser estabelecidas através de políticas nacionais e
REALIDADE BRASILEIRA

internacionais de clima (ANELLI, 2011; WWF, 2021).

Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)

Os países membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Frame-
work Convention on Climate Change — UNFCCC), base de cooperação internacional, buscam estabelecer políticas
para reduzir e estabilizar as emissões de gases de efeito estufa em um nível no qual as atividades humanas não
interfiram seriamente nos processos climáticos.
Vale ressaltar que a primeira reunião aconteceu em 1992 durante a Eco 92, Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro. O texto da Convenção foi assinado e ratificado por 175 paí-
ses, os quais reconheceram a necessidade de um empenho global para o enfrentamento das questões climáticas.
10 Disponível em: http://www.globalcarbonatlas.org/en/CO2-emissions. Acesso em: 28 nov. 2022. 315
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Após seu estabelecimento e entrada em vigor, os representantes dos diferentes países passaram a se reu-
nir anualmente, a fim de discutir a sua implementação. Tais reuniões são chamadas de Conferências das Partes
(COPs).
Desta forma, os países desenvolvidos, por serem responsáveis históricos das emissões e por terem mais condi-
ções econômicas para arcar com os custos, seriam os primeiros a assumir as metas de redução até 2012 (NAHUR;
GUIDO; SANTOS, 2015; MMA, 2021; WWF, 2021).
No ano de 2012, durante a COP 18, em Doha, estava prevista a finalização do Protocolo de Quioto. Porém,
observou-se que diversos países não atingiram as metas e o Protocolo foi prorrogado até 2020.
Atenção: o Protocolo de Quioto constituiu um tratado internacional que estipulou as metas de reduções obri-
gatórias dos principais gases de efeito estufa para o período de 2008 a 2012. Embora tenha havido resistência por
parte de alguns países desenvolvidos, foi acordado o princípio da responsabilidade comum.
Essa é uma ferramenta de mercado que possibilita, aos países que tenham a obrigatoriedade de reduzir suas
emissões, a compra de créditos de carbono de um país que já tenha atingido a sua meta e, portanto, possui crédi-
tos excedentes para vender.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é um instrumento que integra o Protocolo de Quioto e permite
que os países desenvolvidos invistam em projetos para a redução de emissões de gases em países em desenvolvi-
mento. As emissões reduzidas são contabilizadas e geram créditos de carbono, que podem ser comercializadas no
comércio de emissões. O MDL inclui, ainda, a implantação de atividades para a redução dos gases do Efeito Estufa.
Cabe ressaltar que esses projetos são baseados em fontes renováveis e alternativas de energia, eficiência e
conservação de energia ou reflorestamento. Todos com o foco nas reduções de emissões adicionais àquelas que
ocorreriam na ausência do projeto, garantindo benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo para a mitigação
da mudança do clima.
A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) é um plano de incentivo desenvolvi-
do no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 2013, durante a Conferência
das Partes em Bali, na Indonésia. Seu principal objetivo é indenizar os países em desenvolvimento pela redução
de emissões dos GEE provenientes do desmatamento e da degradação florestal. Ou seja, a cada ano, caso o país
diminua significativamente suas emissões relativas a desmatamentos e degradações florestais, ele terá o direito
de receber uma indenização da UNCCC.
Além disso, leva-se em consideração o papel da conservação de estoques de carbono florestal, manejo susten-
tável de florestas e aumento de estoques de carbono florestal denominado REED+ (REED plus, em inglês) (MMA,
2016).
Felizmente, existe uma série de iniciativas sendo aplicadas tendo em vista tais mecanismos. No Brasil, o World
Wide Fund for Nature (WWF), organização não governamental internacional que atua nas áreas da conservação,
investigação e recuperação ambiental, em parceria com o governo do Acre, vem apoiando a construção do REDD
no âmbito do programa de pagamentos por serviços ambientais.
Neste sentido, pode-se concluir que o REDD é uma importante ferramenta para os países com florestas nativas,
a qual busca contribuir para a conservação, redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa
(Figura 23).

Outras
UNFCCC GCF
Internacional fontes

Compensação
Pagamentos por por resultados
resultados de REDD+ Resultados (tCO2e) nacionais
(USD/tCO2e)

Nacional Comissão Nacional para REDD+

Benefícios (recursos, Informação, metas


Doméstico investimentos, direitos institucionais,
de captação etc desembolso etc Distribuição de benefícios
de acordo com regras
definidas nacionalmente
Estados Fundo Políticas e
Amazônia iniciativas

Figura 23: Distribuição de benefícios REDD+11

Em suma, a distribuição de benefícios do REDD+ tem início assim que o país em desenvolvimento apresenta à
UNFCCC todos os elementos para a obtenção do reconhecimento de seus resultados de REDD+. Quando o processo
é finalizado, os resultados de REDD+ medidos em tCO2 serão inseridos no Lima Information Hub.

316 11 MMA, 2016. Disponível em: https://www.bio3consultoria.com.br/o-que-e-redd/. Acesso em: 11 maio 2021.
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Na decisão 9, da CP 19, a COP decidiu estabelecer o Lima REDD+ Information Hub na REDD+ Web Platform,
como um meio para publicar informações sobre os resultados das atividades de REDD+ e os correspondentes
pagamentos baseados em resultados. O Lima REDD+ Information Hub visa aumentar a transparência das infor-
mações sobre ações baseadas em resultados de REDD+.
Assim, quando o país está apto a captar recursos de pagamentos por resultados, os pagamentos são efetuados
por diversas fontes internacionais, em particular do Fundo Verde para o Clima (GCF na sigla em inglês).
A distribuição de benefícios, portanto, ocorre de acordo com regras definidas nacionalmente. Não há regras
e/ou exigências quanto ao uso desse recurso, uma vez que o pagamento se deu por ações executadas no passado
(MMA, 2016).

A Resposta à Emergência Climática

Em novembro de 2021, os representantes dos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) esti-
veram reunidos por 12 dias com o intuito de estabelecer novas metas e estratégias capazes de frear o avanço de
um inimigo comum: a emergência climática. Ocorreu, portanto, na Escócia, a 26ª Conferência das Partes sobre
a Mudança Climática (COP 26). A reunião foi marcada pelo terceiro encontro entre os 195 países signatários do
Acordo de Paris.
Após cinco anos desde a assinatura do Acordo climático, chegara, então, a hora de fazer um balanço do que foi
realizado nesse tempo em prol da redução de emissão de GEE. Até o final de 2020, 75 signatários, que represen-
tam 30% das emissões, submeteram à ONU suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs na sigla em
inglês), por meio de documentos que especificam as metas e medidas que serão implementadas a curto, médio e
longo prazo, para diminuir as emissões.
A percepção geral foi de que as iniciativas apresentadas pelos países foram insuficientes para frear o aumento
da temperatura do planeta. “Os governos estão longe do nível de ambição necessário para limitar as mudanças
climáticas a 1,5 °C e cumprir os objetivos do Acordo de Paris”, analisa o secretário-geral da ONU, António Guterres,
em comunicado publicado no dia 26 de fevereiro de 2021.
Neste sentido, a orientação dada a esses países foi de que, até a realização da COP 26, suas metas fossem refei-
tas, a fim de que contribuam, verdadeiramente, com o controle da emergência climática (Figura 24). Para o secre-
tário-geral, “a ciência é clara: para limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C, devemos cortar as emissões
globais em 45% até 2030, em relação aos níveis de 2010” (LOPES, 2021).

Figura 24: Retrato da emergência climática12

Assim, esperava-se que 2021 fosse um ano decisivo para o cumprimento do Acordo de Paris em prol da preven-
REALIDADE BRASILEIRA

ção de uma verdadeira catástrofe, conforme prevê o Fórum Econômico Mundial. Nesse sentido, ao final da COP 26
ficaram acordados dois principais pontos:

z que os países desenvolvidos criariam um fundo de pelo menos US$ 100 bilhões para ajudar os países em
desenvolvimento e subdesenvolvidos a lidarem com os efeitos das mudanças que sentem em seus territórios,
bem como tentar diminuir o aumento da temperatura;
z a facilitação e regulamentação do mercado de compra de carbono, visando a diminuir as emissões.

No entanto, ambos os pontos têm sido criticados desde a assinatura do comprometimento entre os quase 200
países signatários da conferência. O primeiro, porque vários detalhes e prazos ficaram em aberto, deixando mar-
gem para o não cumprimento do compromisso (total ou parcialmente), além do valor de 100 bilhões de dólares
12Globo,2021.Disponívelem:https://revistagalileu.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/04/por-que-2021-e-um-ano-decisivo-para-o-cumpri-
mento-do-acordo-de-paris.html. Acesso em: 11 maio 2021. 317
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ser visto como insuficiente para seus objetivos — cien- era usada em moinhos para moer grãos, navegar em
tistas especialistas da área falam que o mínimo neces- barcos a vela e bombear água.
sário seria um valor na casa do trilhão. Essa energia consiste em aproveitar a força eólica
Já o segundo ponto recebe críticas não necessaria- (dos ventos) para gerar energia. Os danos ambientais
mente pelas regras desenhadas na COP 26, mas pelo dessa energia, quando comparados aos das fontes de
fato de ser uma compensação de poluição que parece energias tradicionais, são inexistentes. Mas, pensan-
ser contraditória. Isso porque permite que um país do fora da régua da queima de carvão ou petróleo,
muito poluente compre parte do “direito de poluir” de existem alguns impactos ambientais, pois modifica as
um país menos poluente. Ou seja, em outras palavras, paisagens com grandes torres e hélices, ameaçando
é como se o planeta não fosse integrado e as popula- pássaros quando instaladas em região de migração
ções não sofressem com os prejuízos locais por conta desses animais.
de negociações financeiras. Em relação aos humanos, a geração dessa energia
Por outro lado, existia uma expectativa alta em pode emitir ruídos incômodos e causar interferências
relação à COP 27 para rever e repensar alguns pon- em aparelhos como TVs. De modo geral, no Brasil,
tos e ser mais propositiva e eficiente do que a COP 26. existem perspectivas para o aumento da utilização
Na COP 27, ocorrida no segundo semestre de 2022, no da energia gerada pelos ventos (Camisa; Hernandes,
Egito, foram conversados e/ou pré-decididos alguns 2020).
pontos principais:

z a criação do Fundo de Perdas e Danos, o qual deve


ser alimentado pelos países mais ricos para ser
destinado e utilizado aos países mais pobres que
sofrem com os desastres consequentes das mudan-
ças climáticas;
z manter a meta de limitar o aquecimento global a
1,5ºC, no máximo;
z o acordo de reduzir as emissões de metano, apoia-
do por quase 150 países;
z a discussão sobre os protestos ambientais e suas
lideranças;
z e a discussão sobre as regras para facilitação e
maior viabilização para o comércio de carbono (que
acabou não saindo muito do lugar devido à insatis-
Parque eólico no Texas, Estados Unidos. Fonte: Wikimedia
fação dos que querem sua facilitação e à pressão Commons, 200413.
de ambientalistas sobre aspectos pouco transpa-
rentes e muito arriscados ambientalmente). Energia Solar

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA A energia solar é gerada quando a luz do sol cau-


sa um desequilíbrio na atmosfera, resultando no ciclo
Energia alternativa pode também ser pensada da água e no movimento do ar. Essa energia pode
como energia renovável ou sustentável; recebe essa ser aproveitada em parques eólicos e armazenada
terminologia pois é uma alternativa às fontes de ener- em represas para produzir energia hidroelétrica no
gia tradicionais, os combustíveis fósseis, como o gás futuro.
natural, carvão e petróleo. É considerada sustentá- Existem duas maneiras principais de aproveitar
vel porque sua utilização causa um menor impacto a energia solar: usando coletores solares ou sistemas
ambiental, e normalmente não traz tantos problemas de alta temperatura. Um método direto é usar células
climáticos (Freitas; Dathein, 2013). fotovoltaicas feitas de silício. Essas células convertem
O aumento populacional mundial é uma crescente a luz solar em eletricidade quando a luz incide sobre
que tem trazido preocupações em relação às fontes de elas. No entanto, essas células podem ser caras. O pro-
energias tradicionais, por conta do impacto ambien- cesso de conversão da luz solar em eletricidade ocor-
tal dessas fontes e pelo fato de não serem infinitas. O re quando os raios de sol interagem com os átomos
aumento populacional aumenta a demanda por ener- nas células fotovoltaicas, liberando elétrons e gerando
gia. É por esses motivos que as energias alternativas uma corrente elétrica (Santana et al., 2020).
têm se destacado. No Brasil, temos uma grande vantagem quando se
Dentre essas energias, pode-se destacar a biomassa, trata de energia solar. O país possui uma exposição
energia eólica, energia geotérmica, energia hidráuli- solar abundante em todo o território, e reservas de
ca, energia do mar e energia solar (Nascimento; Alves, quartzo, essenciais para a fabricação do silício, um
2017; Freitas; Dathein, 2013). Veremos algumas delas em material fundamental nas células solares. Isso traz
detalhes a seguir. diversos benefícios, como a geração de energia lim-
pa, sem emissão de gases poluentes em comparação
Energia Eólica com outras fontes de energia. Além disso, as instala-
ções solares requerem pouca manutenção e podem
A ideia de energia gerada a partir da força dos ven- ser utilizadas em locais remotos ou de difícil acesso.
tos iniciou-se durante o século XIX; naquele período, Os sistemas solares também têm uma vida útil longa.
13 GREEN Mountain Wind Farm Fluvanna 2004. Wikimedia Commons, 2004. Disponível em: https://tinyurl.com/3jdjbawe. Acesso em: 21 ago.
318 2023.
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No entanto, é importante mencionar que ainda desempenha um papel crucial na regulação do fluxo
existem algumas consequências ambientais associa- do rio, tanto em períodos chuvosos quanto na estação
das à energia solar. Durante a produção dos materiais seca. Essa regulação permite captar eficientemente
utilizados nos painéis solares, podem ser emitidas as chuvas em volumes adequados e criar diferenças
substâncias tóxicas. Além disso, os sistemas solares de elevação necessárias para a geração de energia
não funcionam durante períodos de chuva ou à noi- hidroelétrica (Nascimento; Alves, 2017).
te, pois dependem da luz solar para gerar eletricidade Apesar dos custos substanciais associados à cons-
(Nascimento; Alves, 2017). trução de usinas hidroelétricas, a utilização do recurso
hídrico como fonte de energia renovável e ambiental-
mente benigna é valorizada, uma vez que não emite
poluentes atmosféricos prejudiciais. Isso contribui
para os esforços na luta contra o aquecimento global.
No entanto, é importante considerar os impactos
significativos, tanto ambientais quanto sociais, resul-
tantes da instalação dessas usinas. Esses impactos
incluem a degradação da vegetação nativa, o acúmulo
de sedimentos nos rios, o risco de colapso das estru-
turas de contenção e a ameaça à sobrevivência de
espécies aquáticas, além das implicações sociais rela-
cionadas à realocação das comunidades locais (Nasci-
mento; Alves, 2017).
Painéis solares em Cariñena, Espanha. Fonte: Wikimedia Commons,
201514.
O Brasil hoje desfruta das hidroelétricas como
sendo sua principal fonte de energia, composto
Biomassa atualmente por 1220 usinas hidroelétricas com
capacidade total de 92.415MW instalada corres-
A biomassa engloba os recursos renováveis pro- pondendo a 61,34% na matriz elétrica brasileira,
venientes de matéria orgânica de origem animal ou e esses números tendo a subir nos próximos anos
vegetal. Esses recursos podem ser utilizados para com mais sete empreendimentos em construção e
gerar energia elétrica. No entanto, apenas uma parte seis para iniciar. (Nascimento; Alves, 2017, p. 2)
desse material é aproveitada como biomassa, conside-
rando as necessidades do próprio ecossistema. Assim
como outras fontes de energia renovável, a biomassa
é uma forma indireta de aproveitar a energia solar.
POPULAÇÃO: ESTRUTURA,
COMPOSIÇÃO E DINÂMICA
Importante!
Na definição de biomassa para a produção de DEMOGRAFIA
energia elétrica, os combustíveis fósseis são
excluídos (Nascimento; Alves, 2017). Teorias Demográficas

A questão do crescimento demográfico acelerado


A biomassa é uma das fontes que tem crescido mui- tem sido um dos assuntos mais polêmicos no campo
to no Brasil com sistemas de co-geração do setor das ciências humanas. Entre os fatos que determina-
industrial e de serviços e possivelmente tende a ram o acirramento dessas controvérsias, especialmen-
crescer muito mais aos longos dos anos. Vários são te no século XIX, está a publicação, em 1798, de uma
os fatores para esse crescimento sendo os princi- das mais célebres obras sobre o assunto: “Ensaio sobre
pais deles a capacidade já instalada até agora e o
o princípio da população”, de autoria do pastor anglica-
aumento do potencial da produção de cana-de-açú-
no e economista inglês Thomas Robert Malthus.
car, motivado pelo consumo crescente do etanol
[...]. (Nascimento; Alves, 2017, p. 2)
z Teoria de Malthus
Energia Hidráulica
Em 1798, Malthus publicou uma teoria demográfi-
ca, apresentando, basicamente, dois postulados, quais
REALIDADE BRASILEIRA

A construção de uma central hidroelétrica envolve


uma abordagem abrangente e coordenada, que inclui sejam:
vários elementos essenciais. Estes elementos são:
„ O crescimento da população em progressão
z o sistema de coleta e transporte de água; geométrica – PG, o qual era duplicado a cada
z a barragem; 25 anos;
z a estação geradora; „ O crescimento da produção de alimentos em
z o dispositivo extravasor. progressão aritmética – PA.

A principal função da barragem é interceptar a O economista previa a fome em consequência da


água e criar um reservatório para armazenamento falta de alimentos para abastecer as necessidades de
hídrico. Além de servir como reserva, o reservatório consumo do planeta.
14 PANELES solares en Cariñena, España. Wikimedia Commons, 2015. Disponível em: https://tinyurl.com/389k4834. Acesso em: 21 ago. 2023. 319
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Por ser um pastor anglicano, contrário aos méto- O que deve ser controlado não é a natalidade, mas
dos anticoncepcionais, propunha que as famílias só o consumismo supérfluo.
tivessem filhos se possuíssem terras cultiváveis para
poder alimentá-los. Estrutura da População
Ele não levou em conta o progresso técnico na
agricultura, por meio do qual uma área que, hoje, pro- A população da Terra está distribuída de forma
duz X¹ de gêneros agrícolas poderia, daqui a alguns irregular pelo globo. Ocorrem maiores concentrações
anos, produzir X² ou X³, desde que se modernizem as populacionais em algumas regiões e vazios demográ-
técnicas de plantio. ficos em outras. Fatores naturais, como o relevo, o cli-
Numa reunião de cientistas, realizada em 1952, ma, a vegetação e os rios contribuem para que ocorra
calculou-se que a capacidade de produção era capaz essa distribuição desigual dos grupos humanos pelos
de satisfazer as necessidades de 13,5 bilhões de pes- territórios.
soas. No entanto, em 1974, em outro congresso cien- As regiões que oferecem as melhores condições de
tífico, chegou-se à conclusão de que, com a aplicação ocupação pelo homem são denominadas ecúmenas.
dos recursos técnicos existentes, poderiam viver tran- Os vazios demográficos chamamos de regiões ane-
quilamente na terra cerca de 30 bilhões de pessoas. cúmenas, isto é, a ocupação humana se torna mais
É evidente que o espaço territorial do nosso plane-
difícil.
ta possui um limite e, por isso, o crescimento popula-
As regiões de montanhas, as regiões polares e as
cional não poderá ser elevado eternamente. Todavia
áreas de desertos são as que mais dificultam o pro-
esse limite depende menos do número de pessoas que
cesso de ocupação humana, sendo bons exemplos de
da forma mais ou menos racional com que se produz
regiões anecúmenas. No entanto, existem algumas
e do que é produzido.
regiões na Terra nas quais as densidades demográ-
ficas são elevadas, causando problemas por falta de
z Teoria Neomalthusiana
espaço. É o caso da Ásia, em especial as porções sul,
leste e sudeste do continente. Nessas áreas, estão con-
Em 1945, após a 2ª Guerra Mundial, em São Fran-
centradas mais da metade da população do globo e,
cisco EUA, os neomalthusianos, preocupados com o
“excesso de gente” na terra, defenderam uma política por isso, essa região é denominada um “formigueiro
de controle, em especial para os países subdesenvolvi- humano”.
dos, baseada em dois argumentos: Pela distribuição da população nos continentes,
notamos que a Ásia é o continente mais populoso, com
„ Um rápido crescimento populacional seria 59% do total mundial. Além disso, é, também, o conti-
um obstáculo ao desenvolvimento econômico nente mais povoado, com quase 80 habitantes/km² de
e, portanto, à melhoria das condições de vida densidade demográfica.
da população. Até porque grande parte des- A Oceania é o continente menos populoso e menos
ses investimentos são direcionados, obrigato- povoado. A Antártida é o continente não habitado
riamente, aos atendimentos sociais dos novos (despovoado). Já a Europa vem passando por um pro-
contingentes populacionais que surgem a cada cesso de redução da sua população, por conta das bai-
ano; xas taxas de natalidade. A população do continente
„ Existem áreas superpovoadas nas quais os africano, por sua vez, vem passando por um processo
problemas de fome, miséria e pobreza esta- de crescimento nas últimas décadas.
riam diretamente ligados às elevadas taxas de
natalidade. Crescimento Demográfico

As mazelas sociais existentes nos países subde- O crescimento demográfico no mundo é carac-
senvolvidos têm raízes bem mais profundas que as terizado pelo aumento do número de habitantes no
geradas pelo crescimento demográfico acelerado. planeta. Esse fenômeno é consequência do crescimen-
Neste sentido, acobertar os efeitos devastadores dos to vegetativo ou crescimento natural da população,
baixos salários e das péssimas condições de vida que resultado do saldo entre as taxas de natalidade (nas-
vigoram nos países subdesenvolvidos a partir de um cimentos) e de mortalidade (mortes). Quando as taxas
argumento demográfico ou, ainda, dizer que os paí- de natalidade são superiores às taxas de mortalidade,
ses subdesenvolvidos desviaram dinheiro do setor ocorre um crescimento vegetativo positivo, caso con-
produtivo para os investimentos sociais é, no mínimo, trário, o crescimento vegetativo é negativo – as taxas
hipocrisia. de mortalidade maiores que as taxas de natalidade.
As taxas de crescimento da população no mundo
z Teoria Reformista intensificaram-se apenas no final do século XVII e
início do século XVIII, já que, antes desse período, a
Os estudiosos desta teoria defendem a ideia de que expectativa de vida era muito baixa, fato que aumen-
os miseráveis não são responsáveis por sua miséria, tava as taxas de mortalidade. Em 1930, a população
por terem muitos filhos, como querem demonstrar da Terra já era superior a 2 bilhões de pessoas e, em
os neomalthusianos. Para eles, a origem da miséria, 1960, atingiu o número de 3 bilhões de pessoas, com
nos países subdesenvolvidos, tem raízes históricas na as taxas de crescimento médio populacional de 2% ao
política social e econômica direcionada para atender ano. Durante a década de 1980, a população mundial
à maioria da população. Neste sentido, a miséria não ultrapassou a marca de 5 bilhões de pessoas.
seria um fenômeno decorrente da falta de recursos Atualmente, a taxa de crescimento da população
financeiros, mas, sim, de fatores estruturais crônicos, mundial é menor que de 1% ao ano e é considerada
320 como a distribuição desigual da renda interna. baixa.
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No entanto, a expectativa de vida está aumentan- Com relação às migrações externas, pode-se citar
do em virtude de avanços na medicina, melhorias no dois tipos:
saneamento básico, maiores investimentos na saúde,
entre outros fatores. Portanto, o número de habitan- z Migração intercontinental;
tes do mundo continua aumentando, porém em um z Migração intracontinental.
ritmo menos acelerado que em outros momentos da
nossa história. A cada dia, cresce o número de imigrantes no
De acordo com dados divulgados, em 2021, pelo mundo. Esse fenômeno nunca afetou tantas pessoas
Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), a e tantos países na história da humanidade. As reper-
população mundial é de 7,874 bilhões de habitantes. cussões tornam-se cada vez mais complexas, princi-
Segundo as estimativas da Organização das Nações palmente, nos planos político e econômico.
Unidas (ONU), a população total do planeta atingirá No plano internacional, o principal motivo das
a marca de 9 bilhões de habitantes em 2050, ou seja, migrações é o econômico, que decorre das diferen-
haverá um acréscimo de pouco mais de 1,2 bilhão de ças existentes entre os crescimentos econômico e
habitantes, elevando a taxa de crescimento de 0,33% populacional. O deslocamento humano, nesse caso,
ao ano. está relacionado à busca de oportunidades de traba-
Vale ressaltar que o aumento populacional ocor- lho e de melhores condições de vida.
re de maneiras diferentes em cada um dos continen- Os países ou regiões que apresentam um cresci-
tes do planeta. No continente africano, por exemplo, mento populacional superior às suas capacidades de
registram-se índices de crescimento populacional em crescimento econômico costumam apresentar o fenô-
torno de 2,3% ao ano. Já a Europa, por sua vez, apre- meno da emigração. Já os países ou regiões em que o
crescimento econômico é superior ao populacional, o
senta taxa de 0,1% ao ano. A taxa de crescimento na
movimento é inverso.
América e na Ásia gira em torno de 1,1% ao ano e, na
Os EUA e a Alemanha, por exemplo, são os países
Oceania, 1,3% ao ano.
desenvolvidos que mais recebem imigrantes de acor-
do com a ONU. Em 1997, os dois países, juntos, recebe-
Transição Demográfica ram 1,4 milhões de pessoas, seguidos por Japão, Reino
Unido e Canadá.
O processo de transição demográfica faz parte A ONU calcula que mais de 2% da população
de estudos realizados pelo demógrafo estaduniden- mundial vive longe de seu país de origem. Entre
se Frank Notestein, durante a primeira metade do refugiados, imigrantes legais e ilegais, são, no total,
século XX. O estudioso pretendia confrontar, através 175 milhões de pessoas que deixaram a terra natal.
de números e dados, a teoria malthusiana, que, como Em sua maioria, chegaram ao país de destino por
vimos, afirmava que o crescimento demográfico mun- canais estritamente regulamentados, sobretudo aos
dial ocorria em ritmo exponencial, através de pro- países ocidentais. Os refugiados representam de 20
gressão geométrica (P.G). a 25% deste total. Os demais são, primordialmente,
Na transição demográfica, é possível verificar que pessoas que se reuniram a um ou vários membros de
existem tendências que comprovam que as popula- suas famílias ou trabalhadores temporários em situa-
ções, em diferentes espaços e diferentes momentos ção irregular. A taxa anual do crescimento da popula-
históricos, tendem a crescer de acordo com ques- ção migrante, que era de 1,2% entre 1965 a 1975, hoje,
tões e ciclos que se intensificam, alcançando o auge atinge 2,6% no período de 1985 a 1995 segundo a ONU.
e, depois, passam por um processo de redução pelos As migrações internacionais adquiriram dimen-
mais variados motivos. são mundial. Em consequência disso, atualmente, é
A teoria da transição demográfica afirma que o essencial fazer um balanço da magnitude e do signifi-
crescimento populacional não é um processo único e cado desse fenômeno. Se, por um lado, para os países
constante, podendo ocorrer variações de acordo com o do Hemisfério Sul, essas migrações são sumamente
período histórico e as condições socioeconômicas dos importantes, na medida em que dependem cada vez
locais. Afirma-se que a tendência é de que ocorra uma mais delas, por outro, os países do Hemisfério Norte
estabilização em relação ao crescimento demográfico, adotam medidas que convergem para um maior con-
por conta das sucessivas alterações nas taxas de nata- trole da imigração e desembocam na exclusão.
lidade e mortalidade. As principais consequências do
processo de transição demográfica são o aumento na URBANIZAÇÃO
expectativa de vida, o envelhecimento populacional e
a redução nas taxas de natalidade. Processo de Urbanização

As migrações Populacionais no Mundo


REALIDADE BRASILEIRA

Nem sempre o homem habitou em cidades. Os


primeiros habitantes eram nômades, portanto, não
Segundo a ONU, migração é uma forma de mobili- tinham residência fixa e viviam da caça, pesca e cole-
dade espacial entre uma unidade geográfica e outra. ta. Posteriormente, deixaram essa condição para se
Há tipos diferenciados de movimentos populacio- tornarem produtores. A partir de então, o homem foi
nais. Vejamos: se aglomerando em centros urbanos e desenvolvendo
atividades econômicas.
z Espontâneos: quando o movimento é livre; Sendo assim, o processo de urbanização tem duas
z Forçados: correspondem aos deslocamentos que fases marcantes. A primeira ocorreu com a Revolu-
são realizados involuntariamente, como nos casos ção Industrial, no fim do século XVIII, que provocou
de escravidão, de perseguição religiosa, étnica ou uma enorme migração (pessoas que habitavam áreas
política e de guerras; rurais saíram rumo às cidades). Cabe ressaltar que
z Controlados: quando o Estado controla, numerica- isso aconteceu somente nos países envolvidos na
mente ou ideologicamente, a entrada de imigrantes. Revolução e, não, em escala planetária. A segunda 321
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aconteceu após a 2ª Guerra Mundial, época em que Principais Indicadores Socioeconômicos
houve êxodo rural em massa, desencadeado pelo fas-
cínio urbano, pela busca por melhores condições de Para compreender a realidade socioeconômica das
vida e oportunidades de estudo e trabalho. populações e dos países ao redor do mundo, foram
O processo de urbanização ocorreu essencialmen- criados, ao longo dos tempos, importantes indicado-
te pelo deslocamento de pessoas oriundas das zonas res socioeconômicos, a saber:
rurais em direção às cidades. Esse fenômeno é carac-
terizado pela aglomeração de pessoas em uma área z PIB (Produto Interno Bruto): Corresponde à soma
delimitada, pela atividade produtiva – a qual deixa de das rendas internas e das riquezas produzidas em
ser agrícola para se tornar industrial e comercial – e um determinado local e em um espaço de tempo
também pela realização de prestação de serviços. estabelecido;
Esse processo não sucedeu simultaneamente no z PNB (Produto Nacional Bruto): É o resultado da
mundo, haja vista que os países industrializados já soma do PIB com a renda que chega do exterior,
haviam atravessado esse período. No caso dos países subtraído da renda que vai para fora do país;
em desenvolvimento e de industrialização tardia, o z PPC (Paridade de Poder de Compra): Serve para
crescimento urbano acontece, atualmente, de forma
avaliar o valor da moeda local, bem como o custo
acelerada e desordenada. A falta de planejamento
de vida (normalmente essa comparação é realiza-
urbano tem favorecido a proliferação de graves pro-
da com o dólar);
blemas, tais como a favelização, a falta de infraestrutu-
z Índice de Gini: É o cálculo que mede a concentra-
ra, a violência, a poluição (em todas as modalidades),
ção de riquezas de um país cujo resultado varia
o desemprego e muitos outros.
entre 0 (menor concentração de renda) e 1 (maior
Os índices de pessoas que vivem em cidades osci-
lam de acordo com o continente, país e áreas internas. concentração de renda);
A África, por exemplo, possui 38% de seus habitantes z Renda per capita: Compreende à renda por pessoa,
vivendo em cidades; na Ásia, são 39,8%; na América que é dada pela razão entre o PIB e a população;
Latina, 77,4%; na América do Norte, 80,7%; na Euro- z IDH (Índice de Desenvolvimento Humano): Estu-
pa, 72,2% e, na Oceania, 70,8%. da a qualidade de vida das populações e é estabele-
Em outra abordagem, tomando como princípio os cido através do estudo de três situações – renda per
países ricos e pobres, existe uma enorme disparidade capita, expectativa de vida e nível de escolaridade.
quanto ao percentual de população urbana e rural. Na O IDH varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais
Bélgica, por exemplo, 97% das pessoas vivem em cen- próximo a zero, piores são as condições de vida
tros urbanos, enquanto que, em Ruanda, esse índice das populações e, quanto mais próximo a 1 (um),
cai para 17%. melhores são as condições de vida das populações.
O fenômeno da urbanização produziu cidades cujo
número de habitantes supera os 10 milhões. Essas rece-
bem o nome de megacidades ou megalópoles, como,
por exemplo, Tóquio (Japão), com 35,2 milhões de habi- DESENVOLVIMENTO URBANO
tantes; Cidade do México (México), com 19,4 milhões;
Nova Iorque (Estados Unidos), com 18,7 milhões e mais BRASILEIRO: REDES URBANAS
tantas outras cidades espalhadas pelo mundo.
O processo de interligação entre as cidades possi-
Espaço Urbano e Problemas Urbanos bilita a formação de uma rede urbana. Neste processo,
cada cidade vai se especializando em atividades, cons-
O processo de urbanização ocorreu de forma tituindo assim certa hierarquia entre os municípios.
desigual em todo o mundo. O fenômeno ocorre, pri- Podemos citar o caso da cidade de Santos, onde
meiro, nos chamados “países centrais”, mesmo com está localizado o Porto, que possui uma função espe-
evidências de que as civilizações mais antigas tam- cífica na rede urbana no Estado de São Paulo. Dessa
bém apresentaram um processo de formação de espa- forma, ocorre uma interação entre as atividades rea-
ço urbano. Nos países periféricos, os quais foram, em lizadas no interior do Estado e a cidade de Santos, em
sua maioria, colonizados, o processo de urbanização decorrência da dinâmica do seu porto. Existem, assim,
ocorreu de forma tardia, em meados do século XX, o cidades com outras funções centrais, como podemos
qual acompanhou as revoluções industriais tardias citar logo abaixo:
dos países pobres.
Nos dois grupos de países, o processo de urbaniza- z Função religiosa: Juazeiro do Norte (CE), Apareci-
ção está ligado ao processo de industrialização e, no da do Norte (SP);
caso dos países periféricos, a urbanização acelerada z Função histórica e cultural: Ouro Preto (MG),
e desigual veio acompanhada de problemas sociais, Goiás (GO), Paraty (RJ);
estruturais, econômicos, dentre outros. Esses proble- z Função turística: Campos do Jordão (SP), Porto
mas, que ocorrem nos espaços urbanos, estão ligados Seguro (BA), Bonito (MS);
não somente à questão da falta de planejamento, mas z Função industrial: Contagem (MG), Cubatão (SP),
também do processo de desigualdade socioeconômica Volta Redonda (RJ), Camaçari (BA), Suape (PE).
presente nas cidades em âmbito mundial.
Os problemas estruturais, a desigualdade socioeco- De acordo com o nível de importância histórica,
nômica, violência urbana, segregação socioespacial, o algumas cidades podem exercer várias funções den-
inchaço das cidades, a macrocefalia urbana, preca- tro de uma rede urbana, como é o caso da cidade de
riedade de serviços públicos, como saúde, educação São Paulo. Com o passar do tempo, as cidades podem
e transporte público, falta de mobilidade nos grandes desenvolver outras funções dentro da rede urbana,
centros urbanos está entre os problemas decorrentes aumentando assim os seus contatos com um número
322 desse processo desestruturado. cada vez maior de lugares.
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Dessa forma, as cidades assumem o papel de dar z a rede centralizada por São Paulo, que também
dinâmica aos fluxos nos territórios, assumindo papéis abrange parte de Minas Gerais, Mato Grosso do
para comandar as políticas comerciais regionais, Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre;
nacionais e, em alguns casos, internacionais. z a rede do Rio de Janeiro, que também abrange o Espí-
O acúmulo de funções por uma determinada cidade rito Santo, o sul da Bahia e na Zona da Mata mineira;
permite que esta possua um maior poder territorial, e z a rede de Brasília influi no oeste da Bahia, em alguns
essas funções são determinadas pela presença de gran- municípios de Goiás e no noroeste de Minas Gerais;
des empresas, bancos nacionais e internacionais, e tam- z as outras nove redes de influência são centralizadas
bém servirá para atrair populações das mais diversas por Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Goiâ-
localidades em busca de melhores condições de vida. nia, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
As cidades, quando crescem, não permitem só o
surgimento e o crescimento de redes urbanas, mas O termo “metrópole” é empregado, atualmente,
também contribuem para o surgimento de redes ter- para designar as cidades centrais de áreas urbanas
ritoriais (transportes, telecomunicações, eletricidade). que assumem importante papel polarizador (influên-
Isso ocorre devido ao fato de que quanto maior for cia econômica, política, cultural etc.) dentro de suas
o crescimento de uma cidade, maior será a dinâmica redes. Assim, as cidades são classificadas segundo
de produção e distribuição de alimentos, assim como uma hierarquia a partir de seus graus de influência e
o deslocamento de cargas, mercadorias e pessoas por importância, começando por aquelas de importância
várias regiões do território. global e indo até às de importância local apenas.
A densidade e o tamanho das redes urbanas, assim A emblemática fotografia abaixo, de Tuca Vieira
como os nós difusores dos fluxos de informações, mer- (2007) retrata o Edifício Penthouse e a comunidade de
cadorias, bens, serviços e capitais, fazem da rede urba- Paraisópolis, ambos no bairro Morumbi, em São Pau-
na um fator importante na organização do território. lo, uma cidade global.
Do final do século XIX até por volta da década de
1970, as cidades eram classificadas através de um sis-
tema de pirâmide. Ocorria entre as cidades um pro-
cesso de dependência da cidade A com as cidades
vizinhas e, posteriormente, para se relacionar com a
cidade mais importante nessa hierarquia.
Cada cidade ocupava um papel dentro dessa hie-
rarquia, e para ocorrer uma mudança no papel e na
importância de cada cidade, deveriam passar por
um processo com vários degraus e etapas, mudando
assim a classificação das cidades de acordo com a sua
importância na rede urbana. Subir esses degraus e
passar por várias etapas significava ascender na hie-
rarquia urbana.
Com o desenvolvimento dos sistemas de transpor-
tes e telecomunicações, ocorreram alterações e surgiu
uma nova hierarquia urbana. O desenvolvimento das Fonte: Globo, 202015.
redes permitiu a integração de localidades mais dis-
tantes aos grandes centros, através do deslocamento Em grandes metrópoles, regiões metropolitanas
dos fluxos globais de informação, mercadorias e capi- ou, ainda, megalópoles, é comum que ocorram muitos
tal de forma cada vez mais intensa. problemas sociais, como a criminalidade, os conges-
tionamentos de veículos e a economia informal.
METROPOLIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA URBANA E São Paulo, o maior dos polos metropolitanos, ocu-
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL pa a desconfortável primeira posição no ranking das
cidades brasileiras com mais favelas – no total, abriga
A Rede urbana é o conjunto da malha urbana de 2018. O Rio de Janeiro também tem problemas agra-
um país e se constitui pela articulação e pela influên- vantes sob esse aspecto, abrigando a maior favela do
cia das metrópoles nas cidades médias e pequenas. país e uma das maiores do mundo: a Rocinha. A influ-
Para definir os centros da rede urbana brasileira, bus- ência do narcotráfico e do crime organizado são pro-
cam-se informações de subordinação administrativa blemas que causam muito impacto.
no setor público federal, no caso da gestão federal, Outro problema típico das grandes metrópoles é a
REALIDADE BRASILEIRA

e de localização das sedes e filiais de empresas para mobilidade urbana. Os grandes congestionamentos nas
estabelecer a gestão empresarial. avenidas desses polos representam uma das maiores
A oferta de equipamentos e serviços também adversidades, que, atualmente, também atingem as cida-
identifica que esses centros possuem informações des de médio porte. Por fim, vale ressaltar que inúme-
de ligações aéreas, deslocamentos para internações ras atividades econômicas envolvem ações à margem
hospitalares, áreas de cobertura das emissoras de da formalidade, ou seja, trabalhos que não possuem fir-
televisão, oferta de ensino superior, diversidade de ma registrada, não emitem notas fiscais, não possuem
atividades comerciais, oferta de serviços bancários, empregados com carteira assinada e, principalmente,
entre outros. Existem, no Brasil, doze grandes redes de não recolhem impostos para o governo.
influência:
15 BBC NEWS MUNDO. Quem mora em Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, vive em média 10 anos menos do que os moradores
do Morumbi. Globo, 2020. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2020/02/por-que-america-latina-e-regiao-mais-desi-
gual-do-planeta.html. Acesso em: 18 Jan. 2023. 323
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CRESCIMENTO DAS CIDADES E PROBLEMAS uma ocupação desordenada do espaço e provocando
URBANOS o processo de formação de periferias e, posteriormen-
te, da favelização.
Processo de Urbanização Como as cidades são lugares de segregação e exclu-
são a dinâmica de construção de imóveis e de ocupa-
Até quase a metade do século XX (por volta de ção de territórios atende ao interesse do capital (por
1940), o Brasil ainda era classificado como um país vezes especulativo), fazendo com que dentro de uma
que possuía atividades econômicas concentradas, em mesma área estejam, lado a lado, prédios verticais de
sua totalidade, no meio rural; a maioria da popula- alto padrão e condomínios horizontais, além do que,
ção vivia no campo. De acordo com o geógrafo Mil- em áreas não tão distantes, uma grande quantidade
ton Santos, o processo de urbanização brasileiro foi de pessoas vive em condições extremamente precá-
rápido, intenso, violento e heterogêneo no século XX, rias, em barracos, embaixo de viadutos e, até mesmo,
diferentemente de vários outros países do mundo. Tal em caixas de papelão. No contexto atual, esses fatores
processo provocou um conjunto de mudanças entre continuam ocorrendo, tendo em vista que o processo
as regiões do nosso país. de desigualdade e exclusão são cada vez mais percep-
O modelo agrário e exportador foi importante para tíveis na sociedade brasileira.
a estruturação urbana e territorial do país. Algumas A geografia urbana tem, como principal objetivo, o
cidades, como, por exemplo: São Paulo, Curitiba e Belo estudo do espaço geográfico das cidades, metrópoles e
Horizonte organizaram suas atividades comerciais megalópoles. Esse estudo ocorre a partir da observação
voltadas para a exportação. No final do século XIX e da produção do espaço e das atividades econômicas,
início do XX, o processo de urbanização do nosso país políticas e sociais, além da preocupação com a origem,
ocorria de forma lenta e gradual, em especial centra- crescimento, desenvolvimento e com as relações de
lizados nas cidades administrativas do setor agrário dependência e influência que uma cidade estabelece
exportador. No ano de 1872, cerca de 10% da popula- com todas as outras que estão em seu entorno.
ção brasileira vivia em áreas urbanas. Nesse contexto, Também, é objeto de estudo da geografia humana
destacamos as três principais cidades da época: Rio de a dinâmica de crescimento da população das cidades,
Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife (PE). a forma como ocorre o processo de organização terri-
No período entre 1940 e 1980, há menos de 40 anos, torial, o modo como se deram os diversos processos de
a localidade de residência de uma grande parcela da urbanização e quais foram os papéis desempenhados
população se inverteu. De acordo com o Censo demo- pelas cidades para a ocorrência do fenômeno, conhe-
gráfico de 2010, no ano de 1940 o índice de urbaniza- cido como êxodo rural. A geografia urbana trabalha
ção do país era de 31,24%. No ano de 1980, esse índice em linhas diferentes da geografia rural, pois o objeto
atingiu o percentual de 67,59. A população total do país de estudo da segunda é a análise e a compreensão dos
triplicou durante essas quatro décadas; já a popula- espaços rurais e agrícolas que foram se transforman-
ção urbana multiplicou-se por mais de sete vezes nes- do com o passar dos anos, mesmo estando separados
se mesmo período. Em 2010, a população brasileira, fisicamente (em alguns casos, não mais). O espaço
nas áreas urbanas, representava cerca de 84,36% da urbano e o espaço rural estão interligados, sendo que
população total do país, com um número de habitantes um acaba por exercer os processos de influência e
maior que toda a população do país em 1991. dependência para com o outro.
Já no ano de 2020, de acordo com dados do IBGE, a A geografia urbana tem vários conceitos que pro-
população residente em áreas urbanas está em torno porcionam o estudo e a compreensão do espaço geo-
de 84,4%, apresentando, assim, certa estabilização em gráfico nas cidades, como seus processos de alteração
relação aos grandes deslocamentos populacionais. O e transformação. Dentre os principais conceitos dessa
êxodo rural, por sua vez, vem apresentando quedas área de conhecimento, podemos destacar:
significativas nas últimas décadas.
É importante destacar que o crescimento urbano z Espaço ou meio urbano: compreende-se como es-
ocorreu de forma paralela ao processo de industriali- paço geográfico ou meio urbano as atividades, po-
zação e esteve concentrado em algumas áreas no país, líticas públicas e práticas sociais que são responsá-
em especial no Sudeste, com destaque para o esta- veis pela formação da paisagem de um determina-
do de São Paulo e para as cidades industriais de seu do território; nesse espaço, encontramos, em sua
entorno. O processo de industrialização serviu como composição, habitações (algumas organizadas e
incentivo para um processo acelerado de migrações bem estruturadas) e outras cidades, pontos de co-
internas para as regiões citadas. Neste contexto, as mércio e os complexos de indústrias. No espaço ur-
pessoas migravam em busca de empregos e melhores bano, a produção de atividades econômicas e toda
condições de vida. essa mega estrutura proporcionam hábitos que ca-
Porém, vale destacar que, como é uma lógica do racterizam o modo de vida do ser humano;
próprio sistema capitalista, o crescimento popula- z Cidade: o conceito de cidade está ligado ao proces-
cional dos centros urbanos de forma acelerada e so estabelecido de acordo com o número de habi-
desordenada, foi superior à oferta total de vagas no tantes; nesse espaço, caracterizado como cidade,
mercado de trabalho para toda a população. Tal fato ocorre a produção de diversas e variadas ativida-
gerou uma maior competitividade por empregos, des econômicas.
moradias nas áreas mais centralizadas e alimentos,
acirrando a segregação espacial. Os valores dos ter- De acordo com os critérios do IBGE, são conside-
renos em áreas urbanas não possibilitaram o acesso radas cidades rurais todas as cidades com popula-
de grande parte dos trabalhadores à casa própria e ção inferior a vinte mil habitantes. Assim, as cidades
acabou por expulsar das áreas centrais das cidades os podem ser divididas em cidades rurais e cidades urba-
trabalhadores mais pobres que se deslocaram à pro- nas, sendo que as cidades rurais podem se formar
cura de moradia em áreas inadequadas, degradadas em áreas que possuem as características do espaço
324 ou distantes dos centros das grandes cidades, gerando urbano;
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z Metrópole: a metrópole é uma capital do estado ou z quais são os impactos gerados pelo processo de
é uma cidade com altas taxas de desenvolvimento; industrialização nos centros urbanos, como a for-
promove impactos, influência e dependência em mação de ilhas de calor, ocorrência de chuvas áci-
relação às outras cidades, sendo que tais influên- das e o processo de inversão térmica.
cias são nos campos social, político e econômico;
Nesse contexto, a geografia urbana tem extrema
As metrópoles são classificadas da seguinte maneira: importância e nos ajuda a compreender o processo de
produção do espaço urbano, as relações que ocorrem
„ Metrópole Regional: exerce influência em ní- entre os seres humanos e esse meio, além de com-
veis e esferas locais e, como exercem influên- preender o crescimento das grandes cidades e como
cia, são de extrema importância para uma de-
ocorre o processo de influência dessas cidades com
terminada região;
outras localidades e territorialidades a partir da ótica
„ Metrópoles Nacionais: formada pelo conjunto
geopolítica. Também é possível compreender, através
de grandes cidades do país, realiza o processo
de impacto em diversas localidades e diversas da geografia urbana, como os processos de organiza-
regiões. ção das cidades, as políticas habitacionais deficitárias
que causam problemas habitacionais que são impul-
z Macrorregião, Megalópoles e Conurbação: com- sionados pelo crescimento das populações de forma
preende-se como macrorregião todos os municí- rápida e desorganizada.
pios que estão localizados em seus limites territo- A partir desses estudos é possível a criação e o esta-
riais e que se influenciam de forma mútua. As me- belecimento de políticas públicas que sejam eficientes
galópoles são formadas pelo conjunto de metrópo- e suficientes para a cidade se reestruturar e continuar
les que estão interligadas e próximas do ponto de crescendo, porém, a partir deste momento, de forma
vista geográfico. O processo de delimitação e de- organizada e planejada.
marcação das divisas e limites fica quase impossí-
vel de ser determinado. O processo de conurbação Problemas Urbanos
pode ser compreendido como a junção entre dois
ou mais municípios os quais se unem devido ao rá- As RIDEs foram criadas com o intuito de proporcio-
pido processo de crescimento de ambos e não é pos- nar o desenvolvimento econômico e social. A ideia é
sível identificar as áreas de limite de cada um. promover investimentos em áreas de extrema impor-
tância para o cidadão, como: saneamento ambiental,
Podemos destacar, também, outros objetos de
educação, turismo, segurança pública, saúde, habita-
estudo da geografia urbana, a qual não se limita em
ção, geração de empregos, proteção ao meio ambien-
somente compreender, entender e analisar os pro-
te, serviços de telecomunicação, infraestrutura, entre
cessos de urbanização em todo o mundo. Ocorre uma
correlação com outras áreas, como a história das outros fatores.
cidades, as suas principais características, os modos Vale destacar, que as RIDEs da região do Entorno
de produção que foram e são estabelecidos ali e com de Brasília — atende à demanda das cidades satélites,
todo o processo de relação que existe no meio urbano. sendo que algumas funcionam como cidades-dor-
Os outros assuntos que são desenvolvidos e estu- mitórios, na qual o cidadão só vai para dormir, pois
dados pela geografia urbana são: trabalha em outro município; a RIDE de Juazeiro e
Petrolina e, por último, a RIDE localizada na região da
z o processo de urbanização que ocorre em uma cidade; Grande Teresina no Piauí.
z os problemas que são gerados pelo fato de as cida-
des crescerem de forma não organizada e não
estruturada e quais são as consequências geradas
por esses processos; DESENVOLVIMENTO RURAL
z a questão da dinâmica de circulação de pessoas, os
desafios da implantação e da solução para os pro- BRASILEIRO: ESTRUTURA E
blemas de mobilidade urbana, o fluxo e a logística CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA -
no setor de transportes;
RELAÇÃO DE TRABALHO NO CAMPO
z os modelos e modos de produção que são repro-
duzidos nas cidades, bem como quais os tipos de
A estrutura da terra do Brasil é caracterizada pela
trabalho que são oferecidos naquela localidade
concentração: os grandes proprietários de terras têm
específica;
REALIDADE BRASILEIRA

o controle da maior parte das terras agricultáveis do


z como a população residente naquele fragmento
do espaço geográfico se relaciona com os espaços país. Este processo ocorre desde o período colonial,
públicos e privados e quais são os modos de vida e com o passar dos anos se agravou. A organização
estabelecidos ali; fundiária de um país pode ser compreendida de acor-
z como as cidades são caracterizadas e de que forma do com a dimensão das terras agricultáveis e distri-
seus bairros e /ou distritos são distribuídos; buição das propriedades. No caso do Brasil, os dados
z os problemas sociais enfrentados pelos habitantes, relacionados à questão mostram extrema desigualda-
em especial, a questão da desigualdade social, a de entre o número de pequenos e médios agricultores
concentração de renda; e o tamanho das propriedades rurais e suas respecti-
z como a dinâmica do êxodo rural contribuiu para vas posses.
o processo de surgimento e formação das favelas; Para melhor compreender a estrutura fundiária
z como ocorreu o processo de industrialização e o brasileira, o IBGE dividiu as propriedades em duas
estabelecimento de centros industriais; modalidades: 325
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z Agricultura Familiar: nela, o tamanho das proprie- Essa relevância destaca a importância duradoura
dades é menor que 4 módulos fiscais por família; da produção açucareira na formação econômica e
z Agricultura patronal: o tamanho das propriedades social do Brasil como colônia (Boris Fausto, 2019).
é superior a 4 módulos fiscais. Outro produto agrícola com destinação expor-
tadora no período colonial foi o fumo; embora não
rivalizasse em importância econômica com o açúcar,
Importante! ocupava um lugar significativo. A principal região de
produção do fumo encontrava-se no Recôncavo Baia-
Compreende-se como módulo fiscal o espaço
no. Diversos tipos de fumo eram cultivados, abrangen-
mínimo necessário para a viabilidade da explo-
do desde os mais refinados, destinados à exportação
ração econômica de uma propriedade rural. O para a Europa, até os mais rústicos, utilizados como
tamanho estipulado para um módulo fiscal varia meio de troca na costa da África. A viabilidade da pro-
segundo o município e a região do Brasil (poden- dução de fumo em pequena escala contribuiu para a
do variar entre 5 e 115 hectares – lembrando formação de um setor composto por pequenos pro-
que cada hectare tem 10 mil m²), dessa forma é prietários, constituído por pequenos produtores de
possível diferentes classificações para o mesmo mandioca ou imigrantes portugueses, conforme des-
espaço. tacado por Boris Fausto (2019).
Outro setor econômico associado ao ambiente rural,
embora não diretamente vinculado à agricultura, foi a
Para conhecer melhor a realidade do campo bra- pecuária, cuja influência perdura até os dias atuais.
sileiro, o IBGE faz levantamentos estatísticos, como o O início da criação de gado ocorreu nas proximidades
Censo Agropecuário, o último foi realizado em 2017 e dos engenhos, mas a expansão das plantações de cana-
apurou que 90% das propriedades do país se enqua- -de-açúcar levou os rebanhos para o interior. A pecuá-
dram na modalidade da agricultura familiar. ria desempenhou um papel crucial no desbravamento
Todas essas propriedades somadas, no entanto, do “grande sertão”, sendo responsável por impulsionar
representam apenas 27% das terras agricultáveis bra-
a ocupação de vastas extensões territoriais.
sileiras. Essas fazendas podem ser classificadas como
As atividades de criação de gado estenderam-
minifúndios (imóveis rurais menores que o módulo
-se para regiões como Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio
fiscal estabelecido para o município) ou pequenas
Grande do Norte e Ceará. No final do século XVII, as
propriedades (de 1 a 4 módulos fiscais).
propriedades pecuaristas no sertão baiano chegaram
Por seu turno, as propriedades que se enquadram
a superar em tamanho o território de Portugal, evi-
na modalidade não familiar ou patronal são as médias
denciando a magnitude e a importância desse setor
(com tamanho de 4 a 15 módulos fiscais). Como pode-se
na ocupação e desenvolvimento do território colonial
perceber, o Brasil tem propriedades ainda muito maio-
res, com várias dessas ultrapassando a marca de 600 (Boris Fausto, 2019).
módulos fiscais, o que, de acordo com o Estatuto da Ter- Caio Prado Júnior (2004) aponta que a estrutu-
ra, criado pelo Governo Federal nos anos 60, represen- ra agrícola desse período se fundamentava em três
ta o que se chama de latifúndio – grande propriedade. pilares:

z extensas propriedades rurais, conhecidas como


grandes latifúndios;
z a prática da monocultura, direcionando a produ-
SISTEMAS PRODUTIVOS ção para um único cultivo;
z e a utilização predominante de mão de obra
No período histórico que convencionou-se cha- escravizada.
mar de Período Colonial, a orientação econômica
do território que viria a ser o Brasil estava voltada Os elementos citados compõem a base econômica
para o papel de colônia destinada a prover o comér- que moldou a dinâmica agrícola no contexto colonial
cio europeu com mercadorias como açúcar, algodão brasileiro. Esse paradigma estava centrado na pro-
e ouro (Caio Prado Júnior, 2004). Embora houvesse dução em larga escala, em contraste com os modelos
uma diversidade de produtos, alguns se destacavam agrários de cunho camponês. De acordo com a análise
devido à sua significativa importância histórica (Boris de Caio Prado Júnior (2004, p. 119), os elementos deter-
Fausto, 2019). minantes da estrutura agrária no Brasil-Colônia foram:
A agricultura do açúcar assumiu uma posição
proeminente ao representar o principal núcleo de [...] o caráter tropical da terra, os objetivos que ani-
colonização e urbanização no “novo mundo”, mani- mam os colonizadores, as condições gerais desta
festando-se principalmente na faixa litorânea, notada- nova ordem econômica do mundo que se inaugu-
mente no Nordeste brasileiro. A introdução do açúcar ra com os grandes descobrimentos ultramarinos, e
no Brasil é atribuída aos portugueses, cujo estabeleci- na qual a Europa temperada figurará no centro de
mento da produção açucareira ocorreu entre as déca- um vasto sistema que se estende para os trópicos a
das de 1530 e 1540. fim de ir buscar neles os gêneros que aquele centro
Espelhando o que já haviam realizado na Ilha da reclama e que só eles podem fornecer.
Madeira, os portugueses plantaram cana-de-açúcar e
construíram engenhos nas capitanias de São Vicente As três características fundamentais sobre as quais
e Pernambuco. Ao longo do período colonial, o açúcar a agricultura se fundamentava, ao se combinarem
desempenhou um papel central na economia brasilei- e complementarem, surgiram como consequências
ra, mantendo-se como o produto mais crucial, mesmo necessárias dos fatores delineados acima (Caio Prado
326 durante o auge da exploração aurífera. Júnior, 2004).
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O mundo rural representou o ponto de partida Como mencionado anteriormente, o setor agro-
econômico no território verde e amarelo: desconsi- pecuário exerceu impacto significativo no território
derando a irrisória extração de pau-brasil — embora brasileiro desde o período de colonização. E mesmo
economicamente insignificante, seu impacto ambien- após o processo de industrialização, seu impacto con-
tal foi devastador —, outro componente econômico tinuou. A produção agrícola e pecuária, por exemplo,
relevante, embora limitado temporalmente, foi a desempenhou um papel significativo na composição
exploração aurífera. De toda maneira, o mundo rural, do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
em especial a atividade agrícola, dominou a cena eco- De acordo com dados do Centro de Estudos Avan-
nômica nos dois primeiros séculos do período colonial çados em Economia Aplicada (Cepea) — ESALQ/USP,
(Caio Prado Júnior, 2004). em 21 de dezembro de 2023, apesar de uma queda
Num estágio subsequente, durante o denominado acumulada nos primeiros nove meses do ano, atin-
Período Imperial, uma inovação significativa nas pri- gindo 0,91%, estima-se que o PIB do setor poderia ter
meiras décadas do século XIX foi a emergência da pro- alcançado a marca de R$2,62 trilhões em 2023, corres-
pondendo a 24,1% do PIB total do país; ou seja, quase
dução de café para exportação, evidenciando a longa
um quarto do PIB nacional provém do setor do agro-
trajetória de vínculo do mundo rural brasileiro com a
negócio. Este cenário evidencia a contínua relevância
exportação ao longo da história nacional. As primei-
do setor agropecuário na economia brasileira.
ras sementes da planta foram introduzidas no Pará
Ainda conforme relatórios do Cepea, o desempe-
em 1727 por Francisco de Melo Palheta, e, por volta de
nho do agronegócio foi impactado no terceiro trimes-
1760, o café já havia alcançado a então capital, Rio de tre de 2023 devido à diminuição dos preços em todos
Janeiro (Boris Fausto, 2019). os segmentos. Contudo, o resultado foi parcialmente
Contudo, foi no Vale do Paraíba que as condições mitigado devido à safra recorde no campo e ao cres-
propícias para a expansão comercial em larga escala cimento na produção pecuária, laticínios e volume
foram encontradas. Ao longo da maior parte do perío- de abates. Esses fatores impulsionaram um aumen-
do monárquico, o cultivo do café ocorreu mediante to na demanda por insumos e serviços relacionados
técnicas relativamente simples, algumas das quais, ao setor agrícola. O Centro de Estudos Avançados em
como a utilização ou degradação do solo, persistem Economia Aplicada também ressalta os produtos pri-
até os dias atuais (Boris Fausto, 2019). mários que se destacaram nas reduções de preços,
Uma característica recorrente é a dependência do incluindo algodão, café, milho, soja, trigo, além de boi
mercado externo, visto que, embora o consumo de gordo, frango vivo e leite.
café seja um hábito enraizado no Brasil, o mercado No âmbito das agroindústrias de base agrícola,
interno não conseguia, e ainda não consegue, absor- observa-se uma queda nos biocombustíveis, produtos
ver a produção em grande escala, destacando a neces- de madeira, óleos vegetais e na indústria do café. Já no
sidade contínua de buscar mercados externos. Do fim setor pecuário, as indústrias de laticínios e de abate
do período monárquico — últimas décadas do sécu- e preparação de carnes e pescados destacam-se pelos
lo XIX — até 1930, o Brasil seguiu sendo um país de declínios significativos (Cepea, 2023). Este panorama
predominância agrícola. O censo de 1920 aponta que reflete a complexidade e a dinâmica do agronegócio,
havia 9,1 milhões de pessoas em atividade, sendo 6,3 em que diversos fatores influenciam tanto as áreas
milhões, ou seja, 69,7%, os que se dedicavam à agri- primárias quanto as agroindustriais, moldando o
cultura. A economia continuou a ter, como seu eixo, o cenário econômico do setor no período analisado.
café (Boris Fausto, 2019). Dos setores mencionados, cabe um olhar sobre
Essa conjuntura passou por alterações significa- cada um.
tivas no decorrer do século XX, notadamente com o
processo de industrialização que se desenrolou no z A agricultura é um dos setores mais proeminen-
cenário brasileiro. Nos primeiros anos do referido tes no setor rural brasileiro. O destaque do setor
século, a sociedade — anteriormente voltada para está na exportação, na produção de milho, cana-
-de-açúcar, café, soja e algodão;
a exportação de produtos agrícolas — enfrentou
z A pecuária está relacionada à criação de gado
mudanças substanciais e desafios complexos (Scarla-
bovino, suíno e aves, também é uma atividade eco-
to, 1996; Mariano et. al., 2018).
nômica essencial. Sendo o Brasil um dos maiores
Nas regiões de maior concentração de riqueza no
exportadores de carne bovina e de frango do mun-
Brasil, observou-se um aumento na demanda por pro-
do, fator fundamental para impulsionamento da
dutos manufaturados, ao mesmo tempo em que as economia e geração de empregos;
importações encontravam obstáculos em decorrência z Por fim, a agroindústria desempenha um papel
de fatores internacionais, tais como a desvalorização da estratégico ao transformar produtos agrícolas in
REALIDADE BRASILEIRA

moeda nacional, crises e conflitos armados. Este contex- natura em produtos industrializados. Essa etapa
to propiciou o surgimento do processo de substituição é crucial para agregar valor aos produtos primá-
de importações no país, caracterizado pela adaptação da rios, promovendo maior diversificação na oferta
produção industrial para atender à crescente demanda de produtos agropecuários no mercado, além de
interna e pelo estabelecimento de parques industriais contribuir para o desenvolvimento econômico
nacionais (Scarlato, 1996; Mariano et. al., 2018). regional e nacional.
No intervalo entre 1933 e 1939, a indústria expe-
rimentou um notável crescimento anual de 7,2%. No Esses três pilares (agricultura, pecuária e agroin-
que concerne à efetivação do processo de industria- dústria) constituem uma tríade essencial para a sus-
lização brasileira, dados de 2016 indicam que 14,2% tentabilidade e o dinamismo do setor agropecuário
da população brasileira estavam empregados no setor brasileiro.
industrial (Scarlato, 1996; Mariano et. al., 2018).
327
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Atenção! associados ao uso indiscriminado de agrotóxicos susci-
tam dúvidas, pois resultam em prejuízos para a saúde
z A soja é um dos principais produtos agrícolas do humana, degradação ambiental e a manutenção de um
Brasil; suas extensas plantações e sua versatilida- sistema agrícola insustentável (Pozzetti et. al., 2021).
de tornaram essa commodity um produto essencial A origem dessa Revolução foi motivada pela apreen-
para a indústria alimentícia brasileira, para produ- são relacionada à iminente ameaça de uma significativa
ção de ração animal e para as exportações do país; crise alimentar global, agravada pelo crescimento popu-
z O café, produto que remonta ao período imperial, lacional desproporcional em relação à produção de ali-
é reconhecido no exterior pela sua qualidade. O mentos. Para abordar esse desafio, foi proposta a adoção
produto constitui uma importante fonte de recei- de técnicas avançadas, caracterizadas pelo emprego de
ta para o setor agrícola do país. O Brasil é um dos “tecnologias de ponta” (Pozzetti et. al., 2021).
maiores produtores e exportadores globais de café; Inicialmente, durante a Guerra do Vietnã, a empresa
z A cana-de-açúcar tem forte presença na região Monsanto, originalmente uma fabricante de produtos
centro-sul do país. É a principal matéria-prima químicos bélicos, desenvolveu o “agente laranja”, cuja
para a produção de açúcar e etanol em território aplicação foi posteriormente redirecionada para a pro-
verde e amarelo, desempenhando um importante dução de agrotóxicos após o término do conflito. Com o
papel na matriz energética brasileira intuito de preservar seus ganhos financeiros, a Monsan-
to efetuou uma transição para o setor alimentício, con-
Diante desse contexto, uma questão crucial é a centrando-se na fabricação de agrotóxicos e sementes
denominada “Revolução Verde”, um processo que geneticamente modificadas (Pozzetti et. al., 2021).
remonta ao século XX, no período pós-Segunda Guer- Essa estratégia envolveu uma reconfiguração da
ra Mundial. Este período ganhou notoriedade por sua imagem corporativa, juntamente com a propagação
natureza revolucionária, pois testemunhou o ápice da concepção de que a produção em larga escala, com
do desenvolvimento agrícola. Essa transformação foi a aplicação desses produtos, era essencial para mitigar
alcançada por meio de uma série de medidas que pro- a ameaça da fome global. No entanto, críticos susten-
moveram técnicas baseadas na melhoria genética das tam que, apesar de estudos indicarem que a produção
plantas, visando aumentar a produção de alimentos. orgânica seria suficiente para suprir as necessidades
A evolução das práticas durante a revolução efeti- alimentares da população mundial, a Monsanto, por
vamente impulsionou a produção, especialmente de meio de estratégias de marketing, enfatizou a supos-
grãos e cereais. Apesar dos benefícios evidentes na ta imprescindibilidade de agrotóxicos e biotecnologia
época, o processo enfrentou críticas contemporâneas (Pozzetti et. al., 2021).
devido aos seus impactos ambientais e ao processo de A agricultura familiar desempenha um papel
concentração de terras em poucas mãos, marcantes essencial no Brasil, não apenas assegurando a dispo-
nessa evolução. nibilidade de alimentos, mas também impulsionando
As críticas destacavam as preocupações relaciona- o desenvolvimento rural sustentável — uma alternati-
das ao uso excessivo de insumos químicos, à perda de va aos processos insustentáveis. No entanto, a realida-
biodiversidade e aos problemas associados à mono- de enfrentada pelos agricultores familiares é marcada
cultura. Além disso, a concentração de grandes pro- por desafios, como a limitação de área e o baixo valor
priedades de terras nas mãos de poucos proprietários bruto de produção, levando a uma significativa parce-
pode ter efeitos negativos na equidade e na distribui- la desses produtores vivendo em condições de extre-
ção de recursos, tornando-se um ponto de debate rele- ma pobreza. Nesse contexto, a inovação tecnológica
vante no cenário atual. mostra-se crucial, embora a falta de acesso a informa-
Em suma, a Revolução Verde deixou suas marcas ções e à infraestrutura inadequada representem obs-
em termos do volume de produção agrícola, e as refle- táculos significativos (Bittencourt, 2020).
xões sobre modelos mais sustentáveis e equitativos no A necessidade de inserção nos mercados desta-
âmbito social também devem ser observadas. Pode-se ca-se como uma estratégia vital, mesmo diante das
notar a questão sendo levantada por exemplo na pes- adversidades competitivas. A bioeconomia, o Progra-
quisa de Pozzetti et. al. (2021, p. 1-2), ao afirmarem: ma Nacional de Proteção da Agricultura Familiar (Pro-
naf) e a exploração de mercados alternativos, como
A conclusão a que se chegou foi a de que o uso de produtos tradicionais e o “mercado verde”, surgem
agrotóxicos, de forma indiscriminada tem trazido como oportunidades promissoras (Bittencourt, 2020).
inúmeros prejuízos ao meio ambiente, causando Em última análise, a promoção do empreendedoris-
desequilíbrio ambiental e o surgimento de inúme- mo, a busca pela modernização e o acesso a mercados
ras mazelas aos seres que habitam o planeta ter- emergentes são elementos fundamentais para viabilizar
ra; dessa forma, a revolução verde, da forma como a inclusão produtiva da agricultura familiar, superando
está concebida no Brasil, está em desacordo com os desafios estruturais e contribuindo para a transfor-
o Princípio da proibição de Retrocesso Ambiental. mação sustentável desse setor (Bittencourt, 2020).

Os efeitos adversos da Revolução Verde sobre o REFERÊNCIAS


meio ambiente abrangem a redução da fertilidade do
solo, a poluição dos recursos hídricos e impactos preju- FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2019.
diciais sobre a fauna e flora, agravados pela crescente BITTENCOURT, D. M. C. Agricultura familiar, desa-
dependência dos agricultores em relação a sementes fios e oportunidades rumo à inovação. In. ______ (ed.)
patenteadas. Este paradigma agrícola, caracterizado Estratégias para a Agricultura Familiar: visão de
pela intensiva aplicação de agrotóxicos, acarreta uma futuro rumo à inovação. Brasília: Embrapa, 2020.
multiplicidade de questões, sendo notável o eleva- MARIANO, M. F.; Gigliotti, M. S.; DOS SANTOS, A.
do consumo desses produtos no Brasil, o que o colo- L. Geografia do Brasil. Londrina: Editora e Distri-
328 ca como o principal consumidor global. Os méritos buidora Educacional S.A, 2018.
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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
POZZETTI, V. C.; MAGNANI, M. C. B. F.; ZAMBRANO, produção de grãos na safra de 2016/2017, com estima-
V. Revolução verde e retrocesso ambiental. Revis- tiva de 219.142,6 milhões de toneladas em uma área
ta Catalana de Dret Ambiental, Tarragona, v. de 59.536,2 mil hectares (Mariano; Gigliotti; Santos,
12, n. 1, 2021. DOI: 10.17345/rcda3013. Disponível 2018).
em: https://revistes.urv.cat/index.php/rcda/article/
view/3013. Acesso em: 16 jan. 2024. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
PRADO JUNIOR, C. Formação do Brasil Contem-
porâneo. 23. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, Com os ajustes do cenário internacional, a políti-
2004. ca externa brasileira parece encaminhar-se para uma
SCARLATO, F. C. Ética e globalização: a nova peda- reconfiguração sob a liderança de Lula III. Ao passo
gogia do cidadão. 1996, Anais.. São Paulo: GE/FFL- que o governo anterior, comandado por Jair Bolsona-
CH/USP, 1996. Acesso em: 16 jan. 2024. ro, alinhava-se aos Estados Unidos de Donald Trump,
adotando posturas conservadoras e desvinculando-se
de compromissos ambientais e regionais, a transição
agora sugere um retorno aos princípios que marca-
A INSERÇÃO DO BRASIL NO ram a Nova República. A retórica “O Brasil está de vol-
ta”, proferida por Lula em um evento internacional,
SISTEMA INTERNACIONAL como a Conferência do Clima da ONU (COP-27), apon-
ta para uma mudança de paradigma (Carvalho, 2023).
O BRASIL E O MERCADO MUNDIAL Sobre a agenda ambiental, Luiz Inácio participou
da COP-27; antes mesmo de tomar posse, foi ovaciona-
O Brasil foi influenciado pelo Consenso de Washin- do pela plateia e prometeu o fortalecimento dos com-
gton (1989) e adotou uma mudança significativa em promissos ambientais internacionais. No primeiro dia
sua política de comércio exterior no final do século de seu governo acenou positivamente para esse com-
XX, transitando de uma abordagem intervencionista promisso e assinou o decreto que reativou o Fundo
para uma postura de abertura comercial. Essa tran- Amazônia, desbloqueando R$ 3,3 bilhões em doações
sição foi acompanhada por programas de incentivo internacionais (Carvalho, 2023).
à exportação, como o “Avança Brasil” e a implemen- Outra medida do governo Lula III foi o envio da
tação do SISCOMEX (Mariano; Gigliotti; Santos, 2018). ministra Marina Silva para dialogar com as elites eco-
Inicialmente gerou instabilidade devido à entrada nômicas internacionais no Fórum Econômico Mun-
de produtos estrangeiros, provocando uma reorga- dial, em Davos; a ministra ressaltou o papel do meio
nização de diversos setores produtivos nacionais em ambiente na busca do desenvolvimento do país. Além
busca de uma maior competitividade. No entanto, na disso, o atual presidente, mais recentemente, articu-
primeira década do século XX, o comércio exterior lou para que a COP-30 seja realizada em Belém, na
brasileiro experimentou um notável aumento quanti- Amazônia brasileira. Já em relação aos países vizi-
tativo (Mariano; Gigliotti; Santos, 2018). nhos, existe uma direção nas negociações para que o
Apesar dos desafios econômicos, a balança comer- patrulhamento da Amazônia seja reforçado (Carva-
cial brasileira apresentou um saldo positivo em 2016, lho, 2023).
com exportações dominadas por produtos primários, É possível observar certo pragmatismo nas
como soja, açúcar, carne, minério de ferro e petró- relações do atual governo, por exemplo, ao visitar
leo. Os destinos principais dessas exportações foram tanto os Estados Unidos quanto a China, países rivais.
países desenvolvidos, como Estados Unidos, China E em relação à guerra na Ucrânia, evita tecer críticas
(maior parceiro comercial brasileiro) e os países da à Rússia, visando manter as boas relações com Putin
União Europeia (Mariano; Gigliotti; Santos, 2018). (presidente da Rússia) (Carvalho, 2023).
Essa pauta de exportação ressaltou o papel signi- Essa característica diplomática se estende aos
ficativo do Brasil como fornecedor de matéria-prima países do Sul Global: Lula alocou no primeiro ano de
para os centros industriais globais, levantando ques- governo mais diplomatas em todas as regiões do Sul
tões sobre a dependência em relação aos países indus- Global do que o ex-presidente Jair Bolsonaro. O dis-
trializados e a necessidade de medidas para mitigar curso do governo também aponta nessa direção, prin-
potenciais problemas, enfatizando a importância de cipalmente na busca por uma reaproximação com
políticas que fortaleçam a diversificação econômica e países africanos, tendo inclusive, assinado um acordo
a competitividade do Brasil no cenário global (Maria- de cooperação com Angola (Carvalho, 2023).
no; Gigliotti; Santos, 2018). Ademais, acerca da rivalidade Estados Unidos e
O desenvolvimento expressivo do setor agrope- China/Rússia, declarou que:
cuário nas últimas décadas está intrinsecamente liga-
REALIDADE BRASILEIRA

do à modernização, refletida na expansão das áreas China e Rússia, parceiros brasileiros nos BRICS, são
agricultáveis e na adoção de novas técnicas e insumos hoje vistas como potências rivais aos Estados Uni-
agrícolas. Essa modernização, impulsionada pela vin- dos e países europeus. Mais do que disputas econô-
culação da agropecuária ao capital, resultou em um micas e comerciais, essa rivalidade já se manifesta
considerável aumento da produtividade, destacando por meio de conflitos militares, seja por meio do
o Brasil como líder mundial nesse aspecto (Mariano; apoio às partes beligerantes no conflito sírio, seja
Gigliotti; Santos, 2018). no mais recente embate na Ucrânia. Isso soma-se
A concentração da modernização nas regiões à disputa desses atores por influência na Ásia, Áfri-
Sul, Sudeste e Centro-Oeste, focada na produção de ca ou, até mesmo, na América Latina, limitando a
commodities como soja e cana-de-açúcar, contribuiu capacidade de ação brasileira nessas regiões. (Car-
para que o Brasil se tornasse um dos maiores expor- valho, 2023, p. 138)
tadores de grãos do mundo. Dados do Ministério da
Agricultura indicam um crescimento significativo na
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O governo também destaca medidas voltadas para o campo dos direitos humanos; no primeiro mês do gover-
no Lula III, o país se retirou do Consenso de Genebra, devido ao seu caráter conservador, e aderiu ao Compro-
misso de Santiago e à Declaração do Panamá, que tem como objetivo maior igualdade de gênero. Também adotou
uma postura mais ativa no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH) (Carvalho, 2023).

Dica
Anteriormente citado, o BRICS, é um grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O objetivo
do grupo é promover a cooperação econômica e política entre as nações emergentes.
A participação brasileira no grupo tem destaque em áreas como o comércio internacional e cooperação em
desenvolvimento sustentável

REFERÊNCIAS

CARVALHO, T. Uma política mais estratégica? Perspectivas para a política externa de Lula III. Conjuntura
Austral, [s. l.], v. 14, n. 68, p. 135-149, 2023. DOI: 10.22456/2178-8839.133369. Disponível em: https://seer.ufrgs.
br/index.php/ConjunturaAustral/ article/view/133369. Acesso em: 14 jan. 2024.
SCARLATO, F. C. O espaço industrial brasileiro. In: ROSS, J. L. Geografia do Brasil. 4ª ed. São Paulo: Edusp, 1996.
MARIANO, M. F; GIGLIOTTI, M. S.; SANTOS, A. L. Geografia do Brasil. Londrina: Editora e Distribuidora Edu-
cacional S.A., 2018.
CEPEA, 2023. Disponível em: http://tinyurl.com/42phkhxr. Acesso em: 12 jan. 2023.

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A AFIRMAÇÃO DA


CIDADANIA
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

O Estado, para ser um Estado constitucional, deve ser um Estado democrático de direito. O Estado brasileiro é
democrático porque é regido por normas democráticas, pela soberania da vontade popular, com eleições livres,
periódicas e pelo povo, e de direito porque pauta-se pelo respeito das autoridades públicas aos direitos e garan-
tias fundamentais, refletindo a afirmação dos direitos humanos.
O Estado de direito caracteriza-se pela legalidade, pelo seu sistema de normas pautado na preservação da
segurança jurídica, pela separação dos poderes e pelo reconhecimento e garantia dos direitos fundamentais, bem
como pela necessidade do direito ser respeitoso com as liberdades individuais tuteladas pelo poder público.
Para Moraes (2018), existirá o Estado de direito onde houver a supremacia da legalidade. Ademais, o princípio
democrático exprime fundamentalmente a exigência da integral participação de todos e de cada uma das pessoas
na vida política do país, a fim de garantir o respeito à soberania popular.
O Estado constitucional, portanto, é mais do que o Estado de direito: é, também, o Estado democrático, introduzido
no constitucionalismo como garantia de legitimação e limitação do poder (MORAES, 2018, p. 41).

CONSTITUIÇÃO DE 1988 — ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL

A constituição promulgada em 05 de outubro de 1988 foi um divisor de águas no sentido de assegurar Direitos
e Garantias Fundamentais em relação ao ponto de vista constitucional.
Já do ponto de vista da Gestão Pública, a Constituição de 1988 é considerada um verdadeiro retrocesso buro-
crático. Vamos entender o porquê dessa expressão.
Após a redemocratização, o governo Sarney — diante de uma democracia incipiente e frágil — e aliado com
seu fraco apoio político, promoveu uma distribuição de cargos públicos entre os seus aliados, como forma de
garantir sustentação política e governabilidade, minimizando assim a transição da ditadura para a democracia.
Para combater esse loteamento dos cargos públicos, a Constituição de 1988 promoveu um surpreendente
engessamento do aparelho estatal, ao estender para toda Administração Pública (Administração Direta e Admi-
nistração Indireta) as mesmas regras burocráticas, tais como: necessidade de concurso público para contratação
de novos servidores e empregados, obrigatoriedade de licitação e centralização administrativa.
Neste sentido, a nova constituição é considerada um retrocesso burocrático sem precedentes, muito devido
aos seguintes fatores:

z perda da autonomia do poder executivo para tratar da estruturação dos órgãos públicos;
z retirou a flexibilidade operacional da Administração Indireta;
z instituiu a obrigatoriedade do Regime Jurídico Único para os servidores civis;
z abandonou o caminho rumo a uma Administração Pública Gerencial.

Na figura abaixo, percebemos que a Constituição de 1988 centralizou as atividades administrativas na esfera
330 federal e, por outro lado, descentralizou o poder político e a arrecadação de recursos.
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Centralização Administrativa
Constituição 1988
Descentralização Política e de recursos

Outro ponto também criticado pela literatura especializada é em relação ao seu conteúdo, extenso e minucio-
so, abrangendo assuntos que seriam mais bem tratados em legislação de nível inferior (Leis complementares e
Leis ordinárias).
No mapa mental abaixo sintetizamos as principais palavras-chave que você deve levar para a sua prova:

Perda da autonomia do poder


Executivo
Centralização administrativa
Retrocesso burocrático

Constituição de 1988

Descentralização
Engessamento estatal política
Regime único dos servidores

Em relação ao retrocesso burocrático, a Constituição Federal de 1988 pode ser considerada um grande marco
na busca pelo Estado do bem-estar social, assegurando a todos os cidadãos os famosos direitos e garantias funda-
mentais. O Estado Brasileiro através de uma constituição moderna e pragmática evolui para uma implantação de
políticas públicas que garantisse o mínimo existencial para cada Brasileiro.
Assim, muitas dessas previsões iniciais da Constituição foram alvo da tentativa de mudanças impulsionada
pela reforma da década de 90, cujos alicerces se encontram no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.

HORA DE PRATICAR!
1. (CESGRANRIO — 2016)

REALIDADE BRASILEIRA

Disponível em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/upload/mapa_popula%C3%A7%C3%A3o_absoluta_brasil_2010.gif>. Acesso em: 31


maio 2016

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título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O estado do Sudeste com menor população absoluta é Sobre a matriz energética brasileira, reconhece-se
que, comparada à matriz energética mundial, ela
a) Rio Grande do Sul apresenta
b) São Paulo
c) Rio de Janeiro a) mais equilíbrio, apesar de a participação do petróleo
d) Minas Gerais ultrapassar a média mundial.
e) Espírito Santo b) muito desequilíbrio, por ser mais dependente do
petróleo que a maioria dos países.
2. (CESGRANRIO — 2013) Em janeiro de 2013, o governo c) pouca expressão do setor renovável em relação ao
do Estado de São Paulo sancionou projeto que fecha setor não renovável.
empresas que submetem trabalhadores a condições d) menor representação das fontes de energia limpa.
análogas à escravidão. Essa medida do governo cas- e) participação inexpressiva do álcool combustível.
sa a inscrição no cadastro do ICMS dos estabeleci-
mentos comerciais envolvidos na prática desse crime, 5. (CESGRANRIO — 2016)
seja diretamente, seja no processo de produção, ou
ainda como nos casos de terceirização ilegal. Além Participação do setor informal na Economia Brasileira -
disso, os autuados ficarão impedidos por dez anos de 1950 a 2008 - em % do PIB
exercer o mesmo ramo de atividade econômica.

BONDUKI, A. Combate ao trabalho escravo. Conhecimento Prático


Geografia, n. 50. São Paulo: EBR, 2013. p. 20-21. Adaptado

No contexto mencionado, o ramo de atividade econô-


mica com a maior ocorrência de trabalho degradante
análogo à escravidão é o

a) naval
b) têxtil
c) aeronáutico
d) farmacêutico
e) automobilístico

3. (CESGRANRIO — 2013) A logística empresarial veio Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-E1HPciAYDno/


fornecer insumos de inteligência para racionalizar T7WAFVC8qqI/AAAAAAAALyU/NlsyZ52Rhfw/s1600/informal.png>.
os círculos de cooperação no espaço, ou seja, para Acesso em: 30 maio 2016
racionalizar o conjunto de uma série de fases e esca-
lões correspondentes aos distintos processos de De acordo com o gráfico acima, a evolução do setor
transformação por que passa o produto principal da informal da economia brasileira apresenta o seguinte
atividade até chegar ao consumo final, segundo Sonia comportamento:
Barrios. Por outro ângulo, de acordo com Bertha Bec-
ker, no Brasil da década de 1990, a logística empre- a) arrefecimento na década de 1990
sarial ganhou estatuto de planejamento territorial, b) aumento na década de 1950
na medida em que a política das grandes empresas c) estabilização na década de 1980
tornou-se mais autônoma em relação às políticas do d) estagnação na década de 1960
Estado. e) crescimento na década de 1970

CASTILLO, R. e TREVISAN, L. Racionalidade e controle dos fluxos 6. (CESGRANRIO — 2016) O Atlas Geográfico Escolar do
materiais no território brasileiro: o sistema de monitoramento de IBGE de 2002 apresenta uma classificação de cidades
veículos por satélite no transporte rodoviário de carga. In: Dias, L. e
Silveira, L. (Org.). Redes, sociedades e territórios. Santa Cruz do Sul:
no Brasil, tais como: centros regionais, metrópoles
EDUNISC, p.207. Adaptado.
regionais, metrópoles nacionais e metrópoles globais.

Esse conjunto de fases e escalões referido à logística Sendo assim, com base nesse Atlas, Rio de Janeiro e
do território é conceitualmente denominado Belo Horizonte são cidades classificadas, respectiva-
mente, como:
a) localidade central
b) difusão de inovações a) metrópole global e metrópole regional
c) hinterlândia metropolitana b) metrópole nacional e metrópole regional
d) zona de influência urbana c) metrópole global e metrópole nacional
e) circuito espacial da produção d) metrópole nacional e centro regional
e) metrópole global e centro regional
4. (CESGRANRIO — 2011) Estabelecendo-se uma rela-
ção entre espaço urbano/industrial e problemas
ambientais, um dos desafios a ser enfrentado no
mundo é gerar cada vez mais energia, ampliando a
participação de fontes renováveis e limpas.

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7. (CESGRANRIO — 2016)

Disponível em: <http://i216.photobucket.com/albums/cc225/faelsim/RMNordeste.jpg>. Acesso em: 30 maio 2016

Na Figura, as áreas urbanas destacadas nos estados do Nordeste correspondem, exclusivamente, a

a) regiões administrativas
b) centros regionais
c) regiões metropolitanas
d) capitais estaduais
e) regiões de integração

8. (CESGRANRIO — 2013) A economia brasileira cresceu com força no segundo trimestre. Com a ajuda da safra recorde,
a agropecuária foi um dos principais destaques do PIB, com a soja à frente desse desempenho. A previsão do IBGE é
de aumento de 23,7% na quantidade produzida em 2013, para um crescimento de 10,8% da área plantada. Somente
de soja, foram exportadas 17,5 bilhões de toneladas no início do ano. A soja, sozinha, respondeu por 12,6% das expor-
tações totais.

ALMEIDA, C., CARNEIRO, L. e VIEIRA, S. PIB surpreende e cresce 1,5% O Globo, 31 ago. 2013. p. 29. Adaptado

Na fronteira agrícola brasileira, o desempenho dessa produção para a exportação está mais consolidado na agricul-
tura modernizada da região

a) Sul
b) Norte
c) Sudeste
d) Nordeste
e) Centro-Oeste

9. (CESGRANRIO — 2014) Os portugueses introduziram, pioneiramente, na África e no Brasil, um tipo de agricultura


apoiada na monocultura açucareira em grandes propriedades, com mão de obra constituída predominantemente de
escravos. Toda a produção era embarcada em navios com destino à Europa. Esse tipo de agricultura persiste até hoje
no Brasil, com o protagonismo das exportações de produtos tropicais.
REALIDADE BRASILEIRA

MAGNOLI, D. e ARAUJO, R. Geografi a geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 1997, p. 239. Adaptado.

A atividade agrícola descrita acima é denominada agricultura de

a) jardinagem
b) regadio
c) subsistência
d) precisão
e) plantation

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10. (CESGRANRIO — 2012) Um aspecto fundamental da territorialidade humana é que ela tem uma multiplicidade de
expressões, referentes a vários tipos de territórios, com suas particularidades socioculturais. Assim, demandam-se
abordagens etnográficas. No intuito de entender a relação particular que um grupo social mantém com seu território,
uso um conceito definido como os saberes ambientais, ideologias e identidades – coletivamente criados e historica-
mente situados – que um grupo social utiliza para estabelecer e manter seu território.

LITTLE, P. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Série Antropologia, n. 322, 2002, p. 4.
Adaptado.

No texto acima, a definição apresentada por Paul Little corresponde ao seguinte conceito:

a) topofilia
b) topolatria
c) cosmografia
d) regionalidade
e) racionalidade

11. (CESGRANRIO — 2008) O gráfico abaixo compara a quantidade de CO2 emitida entre 1990 e 2006 nos Estados Uni-
dos da América (EUA), China e Europa, além do CO2 acumulado entre 1900 e 2006.

Nature, 2007. (adaptado)

Quais foram as unidades geográficas que mais contribuíram para o efeito estufa per capita no ano 1990, total no ano
de 2006, e total entre 1900 e 2006, respectivamente?

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Maiores contribuições para o efeito estufa

Per capita em 1990 Total em 2006 Acumulado entre 1900 e 2006

a) EUA China EUA


b) EUA EUA Europa
c) Europa EUA China
d) China Europa EUA
e) China China EUA

12. (CESGRANRIO — 2011) Durante os mais de trezentos anos de colonização, a América Portuguesa passou por diver-
sas alterações em sua estrutura político-administrativa.

Qual das associações abaixo apresenta a relação entre o evento e a sua causa direta?

a) Criação do Vice-Reino do Brasil – Tratado de Santo Ildefonso


b) Fim das Capitanias Hereditárias – domínio espanhol durante a União Ibérica
c) Criação do Estado do Maranhão – ameaças estrangeiras à região amazônica
d) Mudança da capital para o Rio de Janeiro – ocupação holandesa do Nordeste
e) Subordinação do Vice-Rei ao Conselho Ultramarino – Insurreição Pernambucana

13. (CESGRANRIO — 2010) A consciência do viver em colônias manifestou-se em um conjunto de episódios de revolta
ou de tentativa de sublevação – Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Conspiração do Rio de Janeiro – os quais,
a despeito de suas particularidades, explicitaram o crescimento de tensões e confrontos entre colonos, colonizado-
res e colonizados, em finais do século XVIII.A consciência do viver em colônias manifestou-se em um conjunto de
episódios de revolta ou de tentativa de sublevação – Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Conspiração do Rio
de Janeiro – os quais, a despeito de suas particularidades, explicitaram o crescimento de tensões e confrontos entre
colonos, colonizadores e colonizados, em finais do século XVIII.

PORQUE

A conjuntura de crise que afetara a economia mineradora gerou a estagnação do mercado interno colonial de tal
forma que a Coroa portuguesa, tendo em vista a compensação de sua receita, ampliou a carga tributária sobre a
agroexportação. Analisando as afirmações acima, conclui-se que

a) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.


b) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
c) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda falsa.
d) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda verdadeira.
e) as duas afirmativas são falsas.

14. (CESGRANRIO — 2011) A prosperidade da produção açucareira no Brasil chamou a atenção dos holandeses que, em
1630, invadiram Pernambuco, maior produtor de açúcar da época. Os flamengos passaram então a trabalhar no local,
adquirindo a experiência necessária do cultivo da cana-de-açúcar para, após sua expulsão, poderem utilizar este apren-
dizado, e foi o que aconteceu. Após a expulsão, foram para as Antilhas, onde prosseguiram com a cultura do açúcar,
passando a ser durante os séculos XVII e XVIII, concorrentes do Brasil no abastecimento do mercado europeu.

Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/ciclo-da-cana-de-acucar/>. Acesso em 11 out. 2011.

Quando o açúcar brasileiro perdeu força no mercado internacional, uma nova etapa da economia brasileira vem a se
consolidar.

Essa etapa é marcada, especialmente, pela expansão rumo


REALIDADE BRASILEIRA

a) ao Centro-Oeste, em busca de campos férteis, o que constituiu o ciclo do café.


b) ao litoral do Sul, em busca de ouro e pérolas, o que constituiu o ciclo do ouro.
c) ao Centro-Norte do país, em busca de pasto, o que constituiu o ciclo do gado.
d) à região Nordeste, em busca de plantas para extrativismo, o que constituiu o ciclo do pau-brasil.
e) às áreas interioranas, em busca de ouro e pedras preciosas, o que constituiu o ciclo da mineração.

15. (CESGRANRIO — 2010) “Em agosto de 1820, irrompeu em Portugal uma revolução liberal inspirada nas ideias ilustra-
das. Os revolucionários procuravam enfrentar o momento de profunda crise na vida portuguesa. Crise política (...);
crise econômica (...); crise militar (...). Basta lembrar que, na ausência de D. João, Portugal foi governado por um
conselho de regência presidido pelo marechal inglês Beresford.”

FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp. 1994. 335


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A Revolução do Porto de 1820 tinha aspectos contra- 17. (CESGRANRIO — 2013) Falar da vida privada das
ditórios no que se refere ao Brasil e Portugal. Se, para pessoas atrai público. Como jornalista de longa data,
Portugal, ela podia ser definida como liberal, conde- Laurentino Gomes conhecia bem esse fato, mas não
nando a monarquia absoluta e defendendo a elabora- poderia calcular aonde isso o levaria. Em 2007, nas
ção de uma Constituição para o país, no que se referia vésperas de sua aposentadoria, ao lançar 1808, o
ao Brasil, as Cortes de Lisboa adotaram medidas de primeiro volume da série que fecha agora com 1889,
caráter recolonizador que acabaram acelerando a última e melhor narrativa da trilogia que percorre o
Independência do Brasil. período da chegada da Corte portuguesa até o gover-
no Campos Salles, Gomes alcançou o feito inédito:
Dentre as medidas recolonizadoras das Cortes de Lis- manter por dois anos consecutivos um livro sobre a
boa que conduziram ao crescimento da ideia separa- História do Brasil no topo dos mais vendidos do País.
tista, aponta-se a(o)
Revista Isto É. São Paulo: Abril. 23 ago. 2013. n. 2.284, p.96.
Adaptado
a) aliança das Cortes de Lisboa com o chamado “parti-
do brasileiro” que, por temer uma revolução popular,
Esse último livro da trilogia traz a sinopse no subtí-
defendia a manutenção da subordinação do Brasil à tulo: Como um imperador cansado, um marechal vai-
Metrópole. doso e um professor injustiçado contribuíram para
b) anulação das medidas liberais adotadas no Brasil, no o fim da Monarquia e a Proclamação da República.
Período Joanino, que, se, por um lado, prejudicaram a Não restando dúvidas de que o imperador cansado é
burguesia lusa ao romperem o monopólio comercial, D. Pedro II e que o marechal vaidoso que proclamou
por outro, beneficiaram tanto os ingleses quanto os a República é Deodoro da Fonseca, resta identificar o
grandes proprietários rurais brasileiros. professor, que também era militar, considerado injus-
c) neutralização, pelas Cortes de Lisboa, da pressão tiçado por ter sido, segundo estudiosos, o cérebro e o
inglesa contra a recolonização, através do compro- idealizador de maior expressão da Proclamação.
misso de manter os privilégios comerciais obtidos
pela Inglaterra no Brasil, entre 1808 e 1821. Esse professor injustiçado é
d) envio das forças militares da Santa Aliança para con-
duzir a Família Real de volta a Portugal, independente a) Benjamim Constant
do desejo contrário dos brasileiros. b) Floriano Peixoto
e) envio de um representante direto das Cortes de Lisboa c) Lauro Sodré
para o Rio de Janeiro, que obrigava os representantes d) Quintino Bocaiuva
das províncias brasileiras a responderem somente a e) Rui Barbosa
ele.
18. (CESGRANRIO — 2011) A federação de 1891 abriu as
16. (CESGRANRIO — 2011) A segunda viagem ao inte- portas do paraíso para o coronel. [...] Surgiu o corone-
rior do país, rumo a São Paulo, começou no dia 14 lismo como sistema [...]. O coronel municipal apoiava o
de agosto, três semanas antes do Grito do Ipiranga. coronel estadual que apoiava o coronel nacional, tam-
O objetivo, como na vez anterior, era apaziguar os bém chamado de presidente da República, que apoiava
ânimos na província, dividida entre dois grupos polí- o coronel estadual, que apoiava o coronel municipal. [...]
ticos, um ligado à família do ministro José Bonifácio Aumentou também o dá-cá-toma-lá entre coronéis e
e outro, ao coronel Francisco Inácio, comandante da governo. As nomeações de funcionários se faziam sob
força pública e aliado da João Carlos Oeynhausen, consulta aos chefes locais. Surgiram o “juiz nosso” e o
presidente da junta provisória local. “delegado nosso”, para aplicar a lei contra os inimigos
e proteger os amigos. O clientelismo, isto é, a troca de
GOMES, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
favores com o uso de bens públicos, sobretudo empre-
gos, tornou-se a moeda de troca do coronelismo. [...] O
coronelismo, como sistema nacional de poder, acabou
Sobre o período da história do Brasil referido no texto,
em 1930, mais precisamente [...] em 1937.
analise as afirmações a seguir.
CARVALHO, José Murilo de. Metamorfoses do coronel. Jornal do
I – Os movimentos revoltosos tinham o objetivo de Brasil, Rio de Janeiro, 6 maio 2001. Adaptado.
efetivar a Proclamação da República.
II – As viagens foram realizadas por D. Pedro I como De acordo com o texto acima, ainda há clientelismo e
parte do processo que levou à Independência do coronéis no Brasil, mas o coronelismo, como sistema
Brasil. político nacional, já deixou de existir há décadas. Ele
III – As mudanças nos regimes políticos no Brasil foram surgiu na Primeira República e não sobreviveu à Era
feitas à custa de embates, gerados, muitas vezes, Vargas.
pela contradição de interesses entre grupos sociais.
Com base na definição apresentada no texto acima,
É correto o que se afirma em que mecanismo político, presente na “federação de
1891” e extinto em 1937, era responsável por arti-
a) I, apenas. cular os três níveis de governo do país num sistema
b) II, apenas. coronelista?
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas. a) Clientelismo
e) I, II e III. b) Voto censitário
c) Política do café com leite
d) Economia agroexportadora
336 e) Eleição dos governadores estaduais
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19. (CESGRANRIO — 2010) Após o término da Primei- enquanto milhares de sertanejos, solidários na misé-
ra Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiram a ria comum, organizaram movimentos religiosos, que,
hegemonia econômica em escala planetária, pas- em certo nível, chegaram a contestar a ordem social.
sando de país devedor a potência credora no merca-
do internacional, pois fizeram vultosos empréstimos Contra a fome e a miséria que aumentavam com a
aos países envolvidos no conflito, tanto a vencedores seca, houve reações da parte dos pobres do campo.
quanto a vencidos. Dessa forma, contribuíram para a
recuperação econômica da Europa, ao mesmo tempo Dentre os movimentos sociais abaixo, aquele que se
em que financiavam as próprias exportações, man- caracteriza como um movimento NÃO religioso é o
tendo elevados os índices de produtividade interna
através dos empréstimos aos países necessitados. a) da Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, incentivado
pela insatisfação da população.
A sensação de segurança absoluta impediu a correta b) de Canudos, em Belo Monte, na Bahia, liderado por
avaliação das tendências econômicas. O crédito fácil Antonio Conselheiro.
alimentava a continuidade da produção. A busca do c) de Juazeiro, liderado por Cícero Romão Batista.
enriquecimento rápido supervalorizou as ações das d) do Cangaço, liderado por Virgulino Ferreira da Silva,
empresas. Em 1929, tudo veio abaixo. Com o crack da Lampião.
Bolsa de Nova York, a crise se generalizou, provocan- e) do Contestado, ocorrido em Santa Catarina, liderado
do um cataclismo em todo o mundo, devido à inter- por José Maria.
dependência entre a economia americana e os países
do mundo capitalista. 21. (CESGRANRIO — 2014) Desde que o jornal integralis-
ta A Offensiva estampara as primeiras convocações
Analise as afirmativas abaixo sobre as repercussões para o evento na praça da Sé, esquerdistas dos mais
econômicas da crise de 1929 no Brasil. variados matizes idealizaram uma contramanifesta-
ção, combinada propositadamente para o mesmo dia
I - O Brasil, país de economia socialista e planificada, (7 de outubro de 1934), horário e local. “És amigo da
não fora atingido pela crise; fato este que abalou a liberdade? Queres que o Brasil marche para a paz e o
confiança brasileira no sistema capitalista e propa- progresso? Repugna-te o crime e a bandalheira? És
gou a ideia de superioridade do sistema socialista. amante da arte, da ciência e da filosofia? Pois, então,
II - Ao Brasil restou a opção de empreender uma mudan- guerra ao integralismo com todas as suas energias”,
ça de rumo no capitalismo liberal, inaugurando a fase incitava um panfleto da Federação Operária de São
intervencionista, na qual o governo passou a ter papel Paulo, de orientação anarquista.
exclusivo e decisivo no processo econômico.
III - No Brasil, a crise afetou o café e todos os produtos NETO, Lira. [ ] Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo
primários, que tiveram seus preços rebaixados, agra- (1930 -1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p.193.
vando o deficit da balança comercial e aprofundando
a depressão. O embate previamente anunciado entre esquerdis-
IV - No Brasil, ampliou-se o sistema de previdência tas e integralistas foi fatal e ocorreu no governo do
social, passando a ser responsabilidade do governo o presidente
bem-estar dos trabalhadores em caso de invalidez, de
velhice e mesmo de desemprego. a) Café Filho
b) Getúlio Vargas
Está correto APENAS o que se afirma em c) Jânio Quadros
d) Washington Luís
a) I. e) Juscelino Kubitschek
b) III.
c) IV. 22. (CESGRANRIO — 2010) Ao longo da república, na
d) I e III. sociedade brasileira, o exercício da cidadania sofreu
e) II e IV. transformações associadas a ações estatais promo-
toras de maior inclusão política e social, dentre as
20. (CESGRANRIO — 2010) A implantação do regime quais cita-se o(a)
republicano não modificou a situação das famílias de
trabalhadores do campo, que representavam, naquela a) voto feminino, a partir de 1934.
época, mais de dois terços da população nacional. As b) seguro desemprego, por meio da Consolidação das
grandes propriedades continuavam imperando tanto Leis do Trabalho (CLT).
REALIDADE BRASILEIRA

no litoral quanto no interior do país, onde predomina- c) direito de voto para os analfabetos, a partir de 1946.
vam os latifúndios improdutivos. Eram elas a razão d) reconhecimento da liberdade sindical, a partir de
principal da miséria e da submissão da massa rural. 1937.
e) proteção dos direitos indígenas, a partir de 1891.
Necessidades mínimas, como remuneração justa do
trabalho, boa alimentação e saúde, estavam longe de
ser atendidas, o que gerava insegurança e insatisfa-
ção, além de poder resultar, em certas condições, em
fatores de revoltas violentas contra o poder oligárqui-
co. Foi o que aconteceu em diferentes regiões entre
as últimas décadas do Império e as primeiras déca-
das da República. Bandos de cangaceiros irrompiam
no sertão, assaltando propriedades dos coronéis, 337
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23. (CESGRANRIO — 2011) O ano de 1961 marcou para o De acordo com a interpretação reproduzida acima,
movimento sindical nacional, segundo líderes operários, o principal motivo da mobilização dos militares bra-
uma transformação sensível, principalmente pelo apro- sileiros para destituir o presidente João Goulart em
fundamento das divergências existentes entre os dirigen- 1964 teria sido a percepção de que a
tes sindicais de esquerda (comunistas e não comunistas)
e do chamado grupo democrata, com resultados mais a) corrupção no Poder Executivo atingira um nível
favoráveis para os primeiros pela falta de penetração que alarmante.
os do grupo ‘democrata’ tem na massa de trabalhadores. b) quebra da hierarquia militar era estimulada pelo
presidente.
Diário Carioca, Rio de Janeiro, 3 jan.1962. c) solidez da família cristã estava sob ameaça de disso-
lução pelo ateísmo.
O início da década de 1960 foi extremamente contur- d) articulação de uma revolução comunista tinha apoio
bado para a política no Brasil. do governo federal.
e) mobilização popular contra Jango dava respaldo a
Do ponto de vista do movimento sindical, a transfor- uma intervenção militar.
mação citada na reportagem foi resultado da
26. (CESGRANRIO — 2014) A ditadura militar teve a dura-
a) morte do presidente Getúlio Vargas ção de 21 anos, de 31 de março de 1964 a 15 de mar-
b) campanha pela legalização do Partido Comunista ço de 1985. [...] Foi o mais longo período de supressão
c) articulação para a criação do Comando Geral dos Tra- das liberdades políticas na história republicana do
balhadores (CGT) Brasil.
d) tentativa de impedir a posse do presidente Juscelino
Kubitschek Revista Atualidades. São Paulo: Abril, edição 18, 2o sem. 2013,
e) organização de greves e mobilizações conhecidas p.110.
como “Panela Vazia”
O ano de 1968 foi um ano emblemático desse período
24. (CESGRANRIO — 2014) Juscelino Kubitschek chegou porque nesse ano aconteceu o seguinte conjunto de
à Presidência da República do Brasil com a promessa episódios:
de realizar nos 5 anos de mandato aquilo que, segun-
do ele, outros governantes levariam 50 anos para
a) a extinção dos partidos políticos, a decretação do
realizar. Para isso, ele instituiu um conjunto de medi-
AI-1 e a posse de Castelo Branco
das destinado a promover, a partir de vultosos inves-
b) a posse do presidente Costa e Silva, a decretação do
timentos, a dinamização da economia nas áreas de
energia, transporte, indústria, educação e alimentos. AI-2 e o sequestro do embaixador dos EUA
c) a posse do general Geisel, o início da abertura lenta e
gradual e o atentado ao Riocentro
Esse conjunto de medidas consta do
d) a Marcha dos Cem Mil, o fechamento do Congresso e
a decretação do AI-5
a) Plano Trienal, que se construiu com base numa visão
marxista. e) o fim do milagre econômico brasileiro, a posse do
b) Plano Real, que se construiu com base numa visão General Médici e a decretação do AI-5
neoliberal.
c) Plano de Metas, que se construiu com base numa 27. (CESGRANRIO — 2012) A vitória dos aliados na
visão desenvolvimentista. Segunda Guerra Mundial fez a democracia retornar
d) Plano de Integração Nacional, que se construiu com a muitos governos derrotados, incluindo a Alemanha
base numa visão liberal. Ocidental e o Japão. O começo do fim do domínio
e) Programa de Aceleração do Crescimento, que se colonial levou a democracia a algumas nações da
construiu com base numa visão estruturalista. África e de outros lugares. Alguns países latino-ame-
ricanos, inclusive o Brasil, com o fim da era Vargas,
25. (CESGRANRIO — 2011) Analise o depoimento do constituíram democracias limitadas e instáveis. Nes-
general Osvaldo Cordeiro de Farias, que foi ministro sa onda democrática, o Brasil passou por um período
do Governo Castelo Branco, acerca das causas do de grandes transformações.
golpe civil-militar de 1964.
Embora não se possa falar de uma liberdade ple-
Havia uma mentalidade revolucionária! Jango, nos últi- na, houve intensa efervescência política entre 1946
mos dias de seu governo, fez tudo o que era preciso e 1964. Multiplicaram-se os movimentos sociais e
para levantar o Exército contra ele, com as atitudes que a participação organizada de diferentes setores da
tomou. Em primeiro lugar, a rebeldia dos marinheiros. sociedade passou a ecoar na atividade política.
Oficiais da Marinha, naquele dia, procuraram-me em
prantos, chocados com a subversão hierárquica. Em BRYM, Robert J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo
seguida, o Comício da Central e a reunião de Jango com São Paulo: Thomson Learning, 2006, p.342. Adaptado
os sargentos, no Automóvel Clube. [...] A indignação
militar era enorme! [...] Quem fez a revolução militar não Alguns cientistas sociais consideram a existência de
fomos nós, foi Jango, com sua política, com suas atitu- algumas “ondas democráticas” importantes na histó-
des. Não há exagero nenhum nisso. Ele colocou o Exér- ria mundial. Uma dessas “ondas” inicia-se com o fim
cito num dilema trágico: rendição à anarquia ou reação! da Segunda Guerra Mundial, conforme apresentado
no texto.
CAMARGO, Aspásia; GÓES, Walder de (orgs.). Meio século de
combate: diálogo com Cordeiro de Farias. Rio de Janeiro: Nova Um exemplo marcante desse contexto no Brasil é
Fronteira, 1981. Adaptado. representado por
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a) greves de metalúrgicos na região industrial chamada 29. (CESGRANRIO — 2010) Nas cidades gregas da Anti-
“ABC paulista” guidade, a democracia limitava-se à minoria da popu-
b) movimento pela reforma agrária no Sudeste, chama- lação. Os escravos e as mulheres não tinham direitos
do de “Ligas Camponesas” políticos. Além disso, só aqueles que nasciam na
c) campanha em defesa da nacionalização do petróleo, cidade de Atenas podiam ser cidadãos.
chamada “O petróleo é nosso”
d) criação de novos partidos políticos, inclusive o cha- De acordo com a Constituição Brasileira de1988,
mado “Partido dos Trabalhadores” quem NÃO pode votar no Brasil atualmente são os
e) manifestação em defesa do ensino de horário integral,
chamada “Pelo horário integral no ensino público” a) maiores de 70 anos.
b) maiores de dezesseis anos.
28. (CESGRANRIO — 2011) c) estrangeiros naturalizados.
d) analfabetos.
e) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

30. (CESGRANRIO — 2009)

A Diplomacia dos Gramados

“Não há tese ou relação causal que explique a cone-


xão do sucesso do país com o sucesso da bola, mas
certamente há conexão que serve de gancho para
professores fazerem seus alunos memorizarem e
entenderem um pouco da história da República. (...)

Na Copa do México, em 1970, enquanto Pelé, Carlos


Alberto, Gérson, Tostão e Rivellino venciam a Itália por
4 a 1 na final, o regime autoritário celebrava cresci-
mento na economia de mais de 10% ao ano (....). Na
Espanha, em 1982, a ótima seleção nacional não foi
capaz de vencer a Itália de Paolo Rossi (...). Os anos
1980 foram então a década perdida, tanto na econo-
mia como no futebol. Ficamos sem rumo no México,
em 1986. Zico perdia o Pênalti contra a França de
Michel Platini enquanto o governo perdia a capacida-
de de pagar a dívida externa (...). Em 1990, o Brasil
teve uma de suas piores participações (...). Mas não
é que em 1994 o país recuperava o caminho do gol?”.

ALMEIDA, João Daniel Lima de e SANTORO, Maurício. A diplomacia


dos gramados. Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 1. no
7. pp. 36-40, janeiro 2006, passim.

Admita-se que a conexão entre economia e futebol


HENFIL. A volta da Graúna. São Paulo: Geração Editorial, 1993, p. proposta no texto seja mobilizada como estratégia
48. didática válida.Neste caso, qual, dentre os resultados
obtidos pela seleção brasileira em Copas do Mundo,
A charge do cartunista Henfil retrata, com muita iro- pode ser coerentemente associado aos eventos eco-
nia, o processo de abertura política vivido pelo Brasil nômicos indicados?
na década de 1980. O diálogo entre Graúna e Zeferino
faz uma referência crítica a qual das características Desempenho do Brasil na Desempenho do Brasil na
da política brasileira da época? Copa doMundo economia

a) 1970 – Tricampeão “Crise do milagre” e arrocho


a) À força do Partido do Movimento Democrático Brasi-
salarial.
leiro (PMDB), vitorioso nas eleições para o governo de
b) 1982 – Eliminação contra a Itália 1o choque
REALIDADE BRASILEIRA

São Paulo em 1982.


do petróleo e “estagflação”.
b) À comoção do povo brasileiro em função da morte
c) 1986 – Eliminação contra a França Confisco da pou-
de Tancredo Neves, presidente eleito que encerraria a
pança e moratória da dívida.
transição à democracia.
d) 1990 – Eliminação contra a Argentina Plano Cru-
c) À força da Aliança Democrática nas eleições de 1985,
zado II e hiperinflação.
contando com votos da dissidência do PDS nas elei-
e) 1994 – Tetracampeão Plano Real e estabilização da
ções indiretas para presidente.
moeda.
d) Ao apoio popular ao governo Sarney, principalmente
como “fiscais do presidente” após o anúncio do Plano
Cruzado.
e) Ao controle dos setores políticos dominantes sobre
o processo de abertura, responsável pela derrota da
emenda Dante de Oliveira em 1984.
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9 GABARITO

1 E

2 B

3 E

4 A

5 C

6 C

7 C

8 E

9 E

10 C

11 A

12 C

13 C

14 E

15 B

16 D

17 A

18 E

19 B

20 D

21 B

22 A

23 C

24 C

25 B

26 D

27 C

28 E

29 E

30 E

ANOTAÇÕES

340
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